SERVIÇO SANITARIO DO ESTADO DE SÃO PAULO N. S. N. 14 0 QUE VENDEM OS HERVANARIOS DA CIDADE DE S. PAULO F. C. HOEHNE BOTÂNICO DO INSTITUTO BUTANTAN S. Paulo Casa Duprat — Rua S. Bento, 21 1920 SERVIÇO SANITARIO DO ESTADO DE SÃO PAULO N. 14 N. S. 0 QUE VENDEM OS HERVANARIOS DA CIDADE DE S. PAULO F. C. HOEHNE BOTÂNICO DO INSTITUTO BUTANTAN S. Paulo Casa Duprat — Rua S. Bento, 21 1920 RKSUMO INTRODUCÇÃO. HERVANARIOS E CURANDEIROS. /AATERIAL CONSTATADO: PARTE I — Relação do material Botânico adquirido dos hervanarios desta cidade e examinado por nós. PARrE II — Productos animaes e mineraes; amuletos, fetiches, cruzes e artefactos a que se attribuem virtudes absurdas. APFLIC AÇÕES ÍNDICE INTRODUCÇÃO Levavamos a meio caminlio o nosso estudo sobre as plantas medicinaes e estavamos dando a ultima demão ao nosso trabalho sobre os vegetaes antlielmin- ticos, quando recebemos do Dr. Arthur Neiva, muito digno Director Greral do Serviço Sanitário deste Estado, a incumbência de informarmos, urgentemente, sobre o que se vende nas hervanarias de-sta Capital. Quem tenha visitado alguma vez uma destas casas a que se dá o nome de “Hervanarias”, ou quem tenha tido ensejo de examinar a misceJilanea que os herva- narias diariamente expõem nas feiras desta cidade e que, tendo algumas noções de historia natural, saiba, por istq, algo a resipeito da balbúrdia reinante em tudo que se refere á nomenclatura e applicação the- rapeutica popular, poderá avaliar a importância e ajuizar da difficuldade com que depára o individuo num semelhante encargo. 6 Junte-se a isto a má vontade qne nasce da descon- fiança muito natural nos individuos que fizeram deste ramo de negocio o seu meio de vida, a escassez de tem- po, apenas 4-5 mezes, para dar-se cumprimento ao en- cargo, e fácil será comprehender-se a impossibilidade de fornecermos uma informação completa ou perfeita. Saber-se o que vendem os hervanarios e o que fa- zem os curandeiros, se nos afigura uma questão de magna importância para a saude publica e considera- mos muito bem empregado todo o tempo e dinheiro que se dispenda para o seu completo elueidamento. Confes- samos, entretanto, ser ella de tal ordem que só muitos annos de trabalho continuado e perseverante poderiam resolvel-a. Parecerá talvez absurda a alguém essa nossa as- serção. Convém, porém, que se saiba que os individuos que a este genero de negocio dedicam sua aotividade, não vendem exclusivamente plantas ou liervas brasi- leiras, mas que expõem á venda também vegetaes ex- trangeiros, vários objectos zoologicos e egualmente artefactos de matéria mineral. Fossem esses objectos sempre e por todos vendidos com o mesmo nome e esti- vessem elles sempre em condições de ser identificados scientificamente, em muito decresceria a difficuldade; mas assim não é, em regra, são fragmentos de cascas, de folhas ou mesmo raspas de lenlio que se vendem sob nomes e para fins os mais variados deste mundo. Declaramos desde já que de modo algum poderia- mos nos conformar em fazer este trabalho limitando- nos a procurar nas obras já publicadas sob o nome de diccionarios, etc., os nomes technicos correspondentes aos vulgares com que adquiríamos o material. Este processo tem sido, aliás, seguido por alguns autores, como se poderá verificar mais adeante neste nosso es- tudo. Por meio delle são repetidos erros comettidos pelos primeiros autores. Tivemos o cuidado e a pacien- 7 cia de identificar cada uma das amostras que adquiri- mos e critério bastante para deixar assignalada qual- quer duvida que surgisse em nosso espirito sobre a identidade do material de uma ou outra especie. E’ possivel, sim, mais que provável, que erros sejam en- contrados nesta nossa despretenciosa informação, ti- vemos entretanto o maior cuidado >em evitai-os. Apresentando-vos estes resultados, desejamos dei- xar bem patente que se baseiam os mesmos nas amos- tras e respectivos nomes vulgares com que as adquiri- mos nesta praça e que, de modo algum, podemos nos reaponsabilisar pela legitimidade do material que ama- nhã poderá ser adquirido dos mesmos vendedores e com os mesmos nomes populares. E’, aliás, frequente, e a nós isto suooedeu por varias vezes, como se poderá ver pelo que mais adeante expomos, que um hervanario qualquer que vende lioje um vegetal sob determinado nome, amanhã fornecel-o-á com outro e talvez para fins di- versos. E, nem sempre é isto fructo do descuido... A isto devem elles aliás o sucoesso que teem. Se sempre ap- pellidassem uma mesma especie pelo mesmo nome e a indicassem para os mesmos fins, em pouco tempo ella se tornaria conhecida de todos que a usassem e não tardaria que os préstimos do hervanario passassem a ser dispensados. Não se póde chamar isto de “má fé”, não, é apenas uma garantia para o negocio; um meio como tantos outros de que lança mão o negociante. Enumerando, pois, as especies por nós constatadas, nos reportaremos sempre ao material adquirido, exa- minado e areliivado em nosso Gabinete para evitar que duvidas futuras venham pairar sobre este modesto trabalho. O nome com que foi adquirido o material será sem- pre o primeiro, pouco nos importando aqui ser elle ou não o correspondente verdadeiro do scientifico. O nu- mero é o da amostra archivada. 8 Os vários synonymos nem sempre correspondem realmente ao nome vulgar com que foi adquirido o ma- terial; a respeito dos mesmos damos sempre uma expli- cação nas observações que fazemos. Para facilidade da consulta e para tornar este tra- balho mais util aos que se interessam pelo estudo das especies medicamentosas da nossa flora, juntamos ao indice dos nomes vulgares e scientificos, uma lista dos vários usos e applicações communs das especies cons- tatadas. Ao senhor Euclydes da Costa Soares, a quem en- carregamos da confecção do indice e revisão deste trabalho, aqui externamos nossos agradecimentos pela bôa execução, e, ao senhor Oecilio Lopes, proprietário da “Hervanaria St.a Isabel”, somos igualmente muito gratos pela amabilidade e promptidão com que nos attemdeu, permittindo que examinássemos varias her- vas e amostras na sua casa commerciaL Que este despreteneioso e modesto trabalho possa servir de estimulo a muitos patricios e que em breve possamos ver colligados os esforços dos botânicos, clii- micos e médicos, no intuito de estudarem scientifica- rnente todos estes vegetaes da nossa flora, hoje empre- gados empiricamente pelo povo, com o fim de se apurar o que de aproveitável e utilidade real houver no meio de tanto material, são os votos sinceros que fazemos ao passal-o ás vossas mãos. HERVANARIOS E CURANDEIROS Pelo nome de “Hervanario” designamos eommu- mente o individno que negocia em hervas e cascas medicinaes, amuletos e fetiches, bem como em oleos, resmas e outros productos vegetaes, animaes e mesmo mineraes que servem para curar ou prevenir contra os males physicos e moraes. Entre nós, não raro, o her- vanario ou naturista desempenha também o papel de “Curandeiro”, outra individualidade que se especialisa nos processos naturaes e, ás vezes, sobrenaturaes com que extingue os males do corpo ou os do espirito. Se procurássemos syndioar ou inquerir da origem destas duas profissões affins, verificaríamos que a sua historia se confunde com aquella dos “Brahmanes” e “Fakirs”, da índia, e com a do,s “Obe/ahs” ou “Vuduis’7 da África, perdendo-se no chãos mythico dos séculos. A miscellanea a que se dedicam, mostra bem a sua origem liybrida e fins suspeitos a que se destinam. “Pagé” ou “Utiarity”, são, entre os índios, enti- dades de profissões semelhantes e, se compararmos os 10 seus processos e cabalistica com a cios acima citados, veremos confirmada a nossa opinião de qne estas pro- fissões são tão antigas quanto a nossa raça. Ordinariamente os homens precisam, sim, não podem existir sem alguém qne se proponha a aliviai-os dos seus males, sem alguém que sobre elles exerça uma força suggestiva e que os convença a fiar e confiar-se a elle. Esta força que o medico muitas vezes não consegue exer- cer sobre os seus clientes, exerce-a o “Curandeiro” sobre o ignorante, e, muitas vezes até sobre pessoas que se poderiam chamar cultas, e exerce-a a tal grão de con- vencer-se elle proprio, algumas vezes, ser dotado de forças sobrenaturaes e ser um previlegiado de entre os homens, e é então que faz successo. E dizer-se que os curandeiros são incapazes de curar a quem quer que seja, seria um erro. Elles curam cie facto, porque nada lia comparável á fé, principalmente quando se trata de moléstias nervosas em que muitas vezes a sim- ples suggestão pode curar o doente. Mas, antes de continuar nas nossas considerações, volvamos por alguns instantes a nossa attenção para o que é o “Obeah” ou o “Vudu” dos africanos e vejamos se ternos ou não carradas de razão em vir affirmando que todas as citadas profissões são congeneres. Nla revistas “The Museum Journal” cio “Univer- sity Museum”, de Philadelpliia. numero de Jnlio de 1917, o Dr. B. W. Merwin, publica um interes- sante artigo que vem muito a proposito desta questão. Neste artigo, intitulado “A Voodoo Drum from Ilayti” o autor descreve o costume ou religião africana in- troduzida e conservada até á presente data pelos negros de Hayti e outros pontos cia America do Norte. Fal- tando do chefe da seita ou pratica, elle diz: “Entre vários ritos e praticas, o chefe d’uma sociedade de Vudus, usando de astúcia e poder suggestivo, é capaz de fazer encantamentos, exercicios e jogos cabalisticos, 11 tudo para conseguir impor-se ao respeito dos seus se- melhantes e realçar a sua posição, conseguindo dest’- arte garantir o seu prestigio. O “Obeah” tem conheci- mentos sobrenaturaes de medicina, conhece todas as liervas e outras substancias boas ou toxicas e possue senso bastante para guardar segredo nas cousas de sua profissão, usando sempre os mesmos meios para os mesmos fins. A elle affluem os demais negros, buscando uns ia cura das suas moléstias, outros a proteeção con- tra os inimigos, este o meio para conseguir captar a confiança e symipathia de uma representante do bello sexo e delia obter concessões e favores, aquelle final- mente, a pista de ladrões e raptores ou ainda o des- cortino do futuro, delle adquirindo amuletos e objectos preservatorios de múltiplas cousas e para múltiplos fins. E’ ainda o “Obeah” ou “Vudu” quem vende gar- rafas, latas velhas e cascas de ovos com sangue de vá- rios animaes, oleos, resinas, etc., bicos de papagaios, dentes de cachorros, de jacarés, de cobras, terra de determinadas sepulturas, cachaça, hervas varias, etc. Este objectos dão ao portador ou possuidor supe- rioridade sobre seus semelhantes, livrando-os de pe- rigos, do quebranto, de mãos olhados, etc. Pelos negros ignorantes o “Vudu” é respeitado e temido, a ponto de uma pessoa que souber ter sido amaldiçoada por elle, se ir definhando e até morrer de puro pavor. Um ladrão que souber que o “Obeah” descobrio o seu furto é capaz de confessar o roubo e de restituir tudo que tenha subtraliido aos outros. Além disto este curandeiro exerce ainda as funcções de sacerdote”, etc. Pelo exposto verificamos que, com effeito, pouca differença existe entre esta entidade africana e o “Pagé” dos indios, pois também este accumula as fun- cções de medico e de sacerdote. O costume ainda bastante em voga na Bahia, co- nhecido por “Oandombê” ou “Candomblé”, talvez não 12 seja nada mais que uma fórma do Vuduismo acima descripto para a 'raça negra 11a America do Norte. Se- gundo nos informou o nosso amigo Dr. Afranio do Amaral, também nelle existe um chefe com attribuições e poderes idênticos aos do Yudú, isto é, um refinado curandeiro. Como acontece com 0 “Candomblé”, também no “Vuduismo” existem os sub-chefes, os individuos que se vão iniciando na profissão. Nas reuniões que por vezes teem logar em qualquer canto retirado da matta ou em local liermo e solitário durante a noite, o diri- gente da festa recebe o cognome de “Papaloi” se fôr homem e de “Mamaloi” se fôr mulher. E, mais que em outras, desempenha, nestas occasiões, também 0 papel de sacerdote e, como tal, depois de todos os adeptos se acharem reunidos no local previamente indi- cado, elle os exhorta a continuarem na pratica das cerimonias de sua devoção e a lembrarem-se com res- peito e veneração da serpente sagrada e bem assim a cultivarem 0 odio aos brancos que foram seus algo- zes. Depois de todos os presentes terem tomado atti- tude de respeito e emquanto a fogueira armada crepita, rende-se culto á serpente, que, segundo todos acreditam, se acha presente, encerrada em uma caixa de madeira collocada junto á fogueira. Concluida essa cerimonia, com vozes lugubres e plirases deseonnexas, começa o sacrifício de um gallo, ao qual o “Papaloi” mata trin- cando-llie a cabeça com os dentes. Emquanto vibra 0 bumbo, feito de um cone alongado de madeira e coberto 11a abertura mais larga por um couro crú, no meio de tregeitos e movimentos cabalísticos, intercalados de varias cerimonias e dizeres suggestivos, 0 sangue do gallo sacrificado é, pelo sacerdote, passado 110 rosto de totdos os presentes e 0 restante bebido pelo officiante. As vezes o gallo é substituído também por bode na ex- piação. Quando, porém, mesmo este ruminante não sa- 13 tisfaça, o chefe pode pedir para o sacrifício um bóde sem chifres, isto é, um specimen humano. Uma creança póde ser reclamada pelo “Papaloi” ou “Mamaloi”. O autor cita, além destes factos, ainda o de ter sido certa vez sacrificada uma creança, cujas carnes foram depois devoradas, em parte crúas e em parte cosidas, pelos assistentes da festa. Diz elle mais que o caracteristico eclio do bumbo, os cantos lugubres e o cheiro do sangue, além da grande quantidade de cachaça consumida, cotloeam todos os assistentes em um verdadeiro estado de hvsteria, que em pouco lhes muda as physionomias. E findas as corne- dorias e as bebidas, os cultores começam a dança, uma especie de batuque, conhecida ali por “Loiloichi” ou uDança do estomago” e bastante celebrizada em toda a África. Esta dança toma, com o avançar das horas, cada vez mais incremento, as scenas mais degradantes e immoraes tomam logar e o dia amanhecendo encontra o grupo de f este jantes em uma orgia da peior especie. Então, exhaustos Cacáo, Fumo, Amenduim, Matte, Cóca, e ou- tras. A historia de todas ellas perde-se na memória mythica dos barbaros que habitavam esta terra, de quiem eram os senhores, antes de aqui aportar Chris- tovam Colombo. Ignoramos por completo onde, e de que modo, qualquer delias chegou primeiro ao conhe- cimento do homem e quem as divulgou e transplantou de uma para outra localidade deste continente, assim como qual das virtudes tivesse sido primeiramente uti- lisada e em que caso de moléstia o foi”. Quando nos achavamos entre os indios, em Matto- Grosso, por mais de uma vez os inquerimos a respeito de uma ou outra especie util, por elles cultivada ou usada na therapeutica, para conhecermos a origem ou liistorico da planta em questão, mas, com raras exce- pçÕes nos diziam qualquer cousa verosimil, em regra contavam uma lenda, mais ou menos, não raro bas- tante interessante, porém, sempre afastada da verdade ou do possivel. Assim contaram elles, por exemplo, a historia da mandioca: ”Havia, muitos annos passados, 17 um casal, que teve dois fillios, uma menina e um menino; a primeira era odiada pelos paes, que viam no segundo o digno herdeiro do glorioso nome da família e por isto o amavam, distinguindo-o com favores, sempre ne- gados á filha, que triste e macambúzia se entregava á meditações sem poder olvidar a triste sina que presidia a sua vida. Um dia, já cançada de trabalhar e receber em recompensa apenas os escarneos e ralhos dos paes, Mani, pois assim se chamava a menina, disse a sua mãe: Minha mãe, vejo que não vos posso agradar, que me odiiaes, amando só a meu irmão, peço portanto que me enterreis, porque talvez desfarte consiga tor- nar-me util a vós. Attendendio ao pedido da filha, os paes enterraram-na no campo perto de casa. Ali, ella não se sentindo -satisfeita, pedio que a transferissem para a matta, onde a terra, dizia, era mais fresca. Roçaram pois um pedaço da matta e ali enterraram a menina, que não mais se queixou. No fim de determi- nado prazo, viram nascer da cova uma p-lantinha, da qual, de accordo com a previa instrucção da filha, cui- daram bem. Esta planta desenvolveu-se em arbusto dando flores e fructos, mas como estes não prestassem, resolveram arrancai-o, e, assim fazendo, verificaram que eile possuia grossas raizes, e, assando-as, constata- ram serem muito saborosas e alimentícias. Partiram por isto o tronco da planta em múltiplos pedaços e os enterraram, brotando delles outros tantos pés de Mani, ou mandioca, que elles e nós cultivamos até hoje”. Assim explicam, não só a origem desta planta tuberifera, mas também a razão porque roçam o matto para plantal-a, pois, com acerto, dizem que a mandioca não dá bem em campo limipo. — No norte do Brasil os indios já contam de outro modo a historia desta planta. Nas lendas e mytlios que os indios contam a res- peito da origem dos seres, elles não raro incluem tam- bém a das plantas, cuja cneação sempre attribuem a 18 um ente sobrenatural. Não raro é ainda um ser desta ordem que lhes ensina a fazer uso dos vegetaes. Veja-se, por exemplo, o que Farabe eonta, no “Museum Jour- nal”, a respeito dos indígenas da. Gfuyana e Amazonas. Entre os selvicolas de hoje, como de todos os tem- pos, a medicina é, em regra, previlegio de um ou mais indivíduos de cada tribu, ordinariamente de velhos ex- pertos que passam a vida a observar e a estudar os vegetaes e os animaeis gozando, por isso, a fama de esculápios sábios, temidos por todos os filhos da tribu. A poder de ameaças, movimentos cabalísticos-, ritos e rezas conseguem captar o respeito de todos, a ponto de serem considerados infalliveis nos seus diagnósticos e prognosticos. Quantas vezes ouvimos Bororos e outros selvicolas dizerem com ar de respeito, do seu Pagér “Elle é bom memo, quando diz morre, morre memo, não ha onde escapar”. O prognostico destes Pagés não falha elle se cumpre naturalmente ou a muque. Farabe, estando entre os Mondurucús, indios em cuja companhia passámos também alguns dias, obser- vou que o indivíduo encarregado das fmicções de me- dioo-saoerdote, tem tal influencia sobre os filhos da tribu, que quando elle diz que um destes é causador de determinada epidemia e desgraça e ordena o seu exter- minio, é immediatamente obedecido. O chefe nomeia dois ou tres indivíduos para cumprirem a missão de sacrificar o indicado pelo Pagé, e este, embora se trate de um parente, nunca foge a esse dever humanitário. Assim como o restante da vida publica e privada destes barbaros, a confusa e vaga noticia que possuem dos remedios é uma prova de que são as relíquias de uma raça outrora mais forte, mais adeantada e que possuia conhecimentos mais profundos de medicina, conhecimentos que hoje não passam de miserável fra- gmento de uma sciencia primitiva acommodada á na- tureza- Nestes argumentos somos ainda consolidados “PAI IGNACIO” Uma tenda em que são vendidas hervas medicinaes e passarinhos no Mercado Velho 19 pela existência das ramas das cidades e dos grandes monumentos precolombianos, dos monolithos gigantes- cos de Quijaguéra em Guatemala, gravados de liiero- glyphos até lioje indieifrados. Pois bem, destes mesmos indios aprenderam os portuguezes e hollandezes nma parte da medicina ainda hoje em voga entre nós, fazendo-o, ás vezes, sem grande cuidado ou a precisa observância. “Dos char- latães ou curandeiros indígenas, diz Martins, os immi- grados portuguezes e hollandezes aprenderam o uso desses remedios e, sem maior reflexão, começaram a applical-os”. Longe da verdade estaria entretanto quem acredi- tasse que todas as plantas, hoje empregadas na medi- cina popular, tivessem sido indicadas aos colonos pelos indigenas; é mais provável que uma grande parte, tal- vez cincoenta por cento delias ou mais, fosse desco- berta pelos proprios invasores estrangeiros ou intro- duzida por elles ou com o escravo africano. Destituídos de recursos medicinaes e sem as hervas que habitual- mente empregavam em casos de moléstias, os immi- grados no Novo Mundo, viram-se obrigados a procurar suooedaneos na flora da nova patria; neste objectivo regulavam-se especialmente pela analogia exterior, isto é, pelo aspecto, aroma, sabor ou côr do vegetal que en- tão passava a ser designado com nomes que lhes eram familiares. Assim encontraram os portuguezes, aqui, hervas da família natural das Compostas, que para elles tinham affin idades ou, pelo menos, semelhança com o alecrim (Rosmarinum officinale, L. da fam. das Labiatas) e deram a uma especie de Baccharis este antigo nome vulgar. Outras, ainda do mesmo ge- nero, com estipulas decurrentes, como as da Genista tridentata, L., em Portugal conhecida pelo nome de “Carqueja”, foram aqui baptisadas com egual nome. Entre as Gencianaceas conheciam elles a Erythraea 20 centaurium, Pers, como “Gentaurium” ou “Gentaurio”, vendo aqui a Dejanira erube.scens, Cham. et Schlech, também da mesma família, com siabor e, talvez, propriedades idênticas, não trepidaram um só momento em chamai-a de “Gentaurio do Brasil”. Da mesma fôr- ma foram encontradas especies, entre as Myrtaceas, que receberam por motivos idênticos o nome de “Murta”; entre as Polypodiaceas, as (pie foram chamadas “Feto Macho”; nas Labiadas outras que receberam o nome de “Salva”. “Mangerona”, “Hortelã”, “Mangericão”, “Al- favaca”, e até “Agua da Golonia”. Entre as Cruciferas viram aqui representante para o “Mastruço”, planta que 11a Bahia foi representada pelo Chenopodium am- brosioides, L., da fam. das Chenopodiaceas. Nas Le- guminosas não faltou uma para 0 “Senne”, outra para o “Alcaçuz”, etc. e é de se ver como, não raro, em cada Estado do Brasil, é uma especie diversa que recebeu o nome conhecido. Da mesma forma, ora pela analogia externa, ora por propriedades idênticas, uma infinidade de vegetaes brasileiros foi baptisada com nomes per- tencentes antes a especies europeas ou africanas. Das especies lioje conhecidas e usadas na therapeu- tica vulgar, uma boa porção foi descoberta pela obser- vação dos liabitos dos animaes domésticos e selvagens. Assim nos relataram pessoas insuspeitas, em Matto- Grosso, ter se descoberto as virtudes auti-ophidicas do “Machiné” (Zarnia Brongniartii, Wedd), observando que o lagarto grande, depois de ter brigado com uma cobra, corria veloz a um specimem desta Cycadacea e cavando o solo roia uma parte do rhizoma tuberoso da planta, retirando-se horas depois sem nada soffrer. Sempre que encontrávamos um exemplar atacado pelos dentes de qualquer animal roedor, dizia-nos 0 nosso camarada: “Stá abi a prova provada, veja como o bicho comeu p’ra se curá”. Desta forma dizem ainda ter se descoberto as virtudes da “Casca d’Anta”, que em lio- 21 menagem ao facto recebeu esse nome; da “Purga de veado”, “Purga de lagarto” e tantas outras cujos nomes bem indicam a sua origem. Outras vezes apenas o acaso eontribuio fazendo com que se experimentasse as virtudes de um vegetal. Lem- bramo-nos ainda de um artigo publicado lia poucos mezes em uma revista do Rio, sob a epigraplie “Gran- de descoberta”: “Um pobre trabalhador com a booca ferida, chupando maracujás, verificou que o sueco desta fructa, lhe ardia na ferida, que poucos dias depois cicatrisou, ficando completamente curada”. “Eis um grande vulnerário”, commentava o articulista. Uma pessoa que havia lido este artigo, attribuindo taes vir- tudes á casca, já fallava em fazer uma cultura de ma- racujás para convertel-a n ’um medicamento maravi- lhoso ! E, eis alii, como se descobrem e são lançados ao mercado os novos preparados. Quando esitvemos entre os indios Parecis, pergun- tamos certa vez a um dos seuis chefes como haviam os Nhambyquaras chegado ao conhecimento das virtudes toxicas de uma especie de Strychnos, que empregam no fabrico do “Eryvá”, veneno idêntico ao “Curare” dos indios do norte do Brasil. “Um homem”, disse-nos elle, “viu certa vez um tatá correndo pelo campo e o perse- guiu procurando agarral-o, mas em pouco o animal alcançou um buraco, mettendo-se por elle. Para dali retiral-o o homem arrancou a raiz de uma arvore que ali perto crescia e metteu-a pelo buraco a dentro, con- seguindo desse modo alcançar e ferir o animal, que immediatamente voltou deitando a correr novamente pielo campo. Em pouco, porém, foi esmorecendo na carreira até ficar como que paralytico. O caçador pôde assim apanhal-o facilmente e, impressionado com c caso, foi experimentar a raiz da referida planta, fazen- do delia pontas para as suas flechas, e, felicidade inau- dita ! os animaes feridos com estas pontas apresentavam 22 em pouco tempo os mesmos symptomas do tatú. Como porém, era impossível guardar sempre frescas as pon- tas das flechas feitas da raiz e como depois de seccas perdessem a virtude, comprehenderam os indios que o melhor era preparar o extracto da pilanta e, para que se conservasse pastoso e toirnal-o ainda mais aotivo, juntaram-lhe mais sete plantas egualmente toxicas e assim obtiveram o veneno que hoje empregam com o nome de “Eryvá”. O latex mais ou menos viscoso de uma especie de Asclepias, muito comcmum nos campos de Juruena, é empregado pelos indios para curar as dores de dentes; talvez que a intenção primeira fosse obturarem o dente com este liquido solidificante e obtida a cura passassem a usal-o para o fim acima indicado. Martius classifica estes casos de “Felizes achados” e diz que justamente os paulistas foram os que mais casos desta ordem tiveram a registar. Elles se celebri- saram por isto e ainda hoje muitos dos remedios ser- tanejos teem o cognome de “paulista”; assim por exem- plo a “Purga dos paulistas” (Joannesia princeps, Vell.) também conhecida vulgarmente pelo nome de “Anda- assh”, e varias outras. Uma grande copia destas plantas medicinaes e úteis foi também introduzida com o negro de África, outras vieram dia Europa e até mesmo da índia, paiz este com que o Brasil, no tempo dos portuguezes e hollandezes, mantinha muito mais relações comrner- ciaes que aotualmente. Lembrando-nos da multidão de plantas a que os Brahmanes e os Fakires attribuem virtudes salutares, não é para admirar que, com o con- tacto com esses povos, tivessem sido implantados aqui, com a vinda dos portuguezes, os mesmos costumes e crenças a respeito dos vegetaes, chegando-se quasi a adjudicar a cada planta virtudes insignes para deter- minadas partes do corpo humano segundo a analogia 23 que apresentassem orgãos relativos, cousa que aliás já se fazia no tempo de Aristoteles. , Considerando todos os factos expostos, não é para admirar que de dia para dia cresça a anarchia rei- nante, não só na nomenclatura, como ainda mais na thenapeutica popular, e urge por isto que se tome mais a serio a questão, procurando analysar tudo para .orien- tar o publico a respeito do que tem realmente valor e sobre aquillo que é inútil. E, para não repetir, clia- mamois a attenção do leitor para o trecho que de Mar- tius transcrevemos na introducção do nosso trabalho sobre os anthelmintioos vegetaes. Agora, queremos ainda frisar: no Brasil existem hervanarios e curandeiros criteriosos e conscienciosos e hervanarios e curandeiros exploradores. Os primei- ros receitam e vendem hervas e cascas ao lado de ou- tros objectos com o intuito de ganharem a vida e sendo ao mesmo tempo úteis aos seus semelhantes; os últi- mos querem também viver, mas procuram ganhar honras e dinheiro por processos deshonestos, abusando da bôa fé dos ignorantes, não terpidando mesmo em administrar, quando peitados por alguém, drogas e her- vas altamente toxicas, com o intuito de liquidarem um antagonista ou inimigo qualquer. No ultimo numero podem ser classificados muitos dos curandeiros, denominados feiticeiros, que têm o seu acampamento no interior do nosso Paiz e exercem muitas vezes tal influencia sobre a indole do povo, de quem se fazem chefes acatados e temidos, que se tor- nam capazes de perturbarem a ordem publica. Os curandeiros diagnosticam, receitam e fornecem geralmente a herva ou droga, sem darem ao doente o nome destas ultimas. Já os hervanarios procedem di- versamente, elles diagnosticam também algumas vezes, 24 mas em regra limitam-se a fornecer as hervas, cascas on outros objectos que lhes solicitam os freguezes. Al- guns delíeis, demonstram, pelos proprios annuncios, te- rem vocação para as duas cousas e ainda para o espi- ritismo. Olhando porém para qualquer um dos annuncios dos hervanarios desta cidade, ou daquelles do Rio de Janeiro, temos de concordar que, ainda são muito raras as casas deste genero que negociam conscienciosamente. Vejamos, por exemplo, o que annuneia um liervanario da cidade do Rio de Janeiro a respeito do seu defu- mador: “Defumador indiano. Esta defumação composta de arbustos aromáticos, taes como: páo sandalo, pão santo e outros, além de ter a vantagem de perfumar o corpo e os aposentos, matar os insectos que convivem nos mesmos e nas roupas, tem ainda outra maior que consiste em ser um talisman-attractivo, tanto para tran- sacções como para descanço do espirito. Ha mais de 12 annos vendem-se, etc.”; e mais este: “Nia Hervanaria (tal) resa-se creanças contra o mão olhado e cobreiro. Grátis”. E muitíssimos outros poderiamos citar affins destes onde se vê transparecer a má fé e o dolo. Em algumas liervanarias estabelecidas nesta ci- dade, no Mercado chamado dos Caipiras, encontram-se as hervas empilhadas sob um telheiro baixo, de zinco, exhalando fétido pútrido, cobertas de môfo, misturadas, uma miscellanea, emfim, que mais parece um deposito de lixo que um armazém de hervas medicamentosas ou salutares. Muito conviria que o Serviço Sanitario diri- gisse as suas vistas para este ramo de negocio, evi- tando assim o perigo que representa uma tal falta de hygiene, e que se regulamentasse, não só a colheita, preparo, acondicionamento e conservação, mas ainda a venda destas hervas e cascas medicamentosas, prevendo 25 ao mesmo temipo a impossibilidade de ser o publico enganado ou ludibriado por individuos poucos escru- pulosas que se entregam por vezes a esta industria. E si nesse regulamento fosse ainda prevista a neces- sidade da identificação scientifica de cada especie ve- getal exposta á venda, fácil seria á Policia e á Saúde Publica controllar a acção dos hervanarios e curandei- ros e muito teria o Paiz a lucrar com um serviço desta natureza. MATERIAL COMSTfiTF\DO I RELAÇÃO DO MATERIAL BOTÂNICO ADQUIRIDO DOS HERVANARIOS DA CIDADE DE S. PAULO E EXAMINADO POR NÓS Abacateiro d) Syn.: “Abacateiro roxo”. Nom. Sc.: Persea gratíssima, Gaertn., da fam. das Lauraceas. P. us.: Folhas. Obs.: As folhas desta planta, misturadas com as do “Infallivel”, que para o Sr. Cecilio Lopes é o mesmo que “Chapéu de Couro” (Echinodurus grandiflorus, Miq., var. Clausenii, (Seub.) e “Capim Gromôso” ou “Trapoeraba” (Commellina agraria, L.), cozidas, for- necem um chá que, tomado na razão de 3 chioaras ao dia, é, pelo naturista supra, considerado bom para ar- thritismo. Ois effeitos diuréticos e mesmo aphrodisiaeos des- ta planta são geralmente proclamados com enthusiasmo por quantos tenham experimentado as suas virtudes. Abútua (2) Syn.: “Bútua”, “Butuá”. Nom. Sc.: Abútua spc., da fam. das Menisper- niaceas. P. us.: Caule. Obs.: O material adquirido compõe-se de pedaços de caule, radiados logitudinalmente, não permittindo um identificação mais segura. 32 Além dos nomes acima citados, disse-nos o Sr. Ce- cilio Lopes, ser o “Jaraguá Miudo”, referido em seu livrinho de reclame, synonymo de “Abútua Preta”, asserção esta que puzémos de lado, por conhecer-mos até hoje como “Jiaraguá” apenas uma Oraminea, o An- dropogon rufus, Kunth. As propriedades mediciniaes da “Abútua” já são tão conhecidas que ella já se acha incluida em todas as pliarmacopéas modernas. Agoníáda (3) Syn.: “Sucuúba”, “Arapué”. Nom. Sc.: Plumeria lancifolia, Muell- Arg., das Apocynaceas. P. us.: Cascas Obs.: “ Contra a asthma, falta de regras das se- nhoras e para resolver bubões. “Bebe-se”, diz o Sr. C. Lapes. Em seu livrinho de reclame, este mesmo senhor, chamando-a de “Arapué”, a recommenda, em mistura com as cascas da raiz do “Oamará-assú” (a Aristolo- chia brasiliensis, Mart., segundo opinião sua), “Canu- do Amargoso” que para elle é synonymo de “Páo Pe- reira” (Geissospermum Vellosi, Pr. Alt.) e “Cassia Mansa” ou “Eedegôso” (Cassia occidentalis, L.), na dose de 3-4 chácaras de chá, por dia, contra as febres intermittentes, etc. A respeito desta planta escreve o Dr. Theodoro Peckolt o seguinte: “A casca é um remedio popular, principalmente como emmenagogo e anti-febril. Veja-se o meu caderno da Exposição de 1861, pag. 32.” “O alcaloide que achei na casca e chamei “Agonia- dina” considero muitissimo importante, e deve ser in- troduzido na medicina; principalmente importante, 33 - porque póde talvez supprir a quinina na cura da febre intermittente; dado em igual dóse tem a mesma acção tkerapeutica, segundo as poucas experiencias que delle tenho.” “Sendo fabricado razoavelmente, póde ser dado por menos da metade do preço da Quinima”. “A arvore cresce em qualquer terreno máo, porque a sua cultura não terá de lutar com difficuldades que acha a arvore da quina.” Esta ultima parte é um facto, o material que nos servio para fazer o confronto com as cascas adquiridas aqui do hervanario Cecilio Lopes, foi colhido na encosta das montanhas em que existe a Vista Chineza, no Rio de Janeiro, logar de terrenos Íngremes e sem grande fertilidade. Alcaçuz (4) Syn.: “Páo doce”. Nom. Sc.: Periandra dulcis, Mart-, da fam. das Leguminosas, sub fam. das Papilionaceas. P. us.: Raizes. Obs.: A planta de que nos provém o alcaçuz das pharmacias é a Glycyrrhiza glabra, L., da qual veio a denominação vulgar para a nossa. Está hoje verifi- cado que também a nossa “Raiz doce” (Periandra dul- cis, Mart.) encerra princípios analogos aos da citada planta européa. Vejamos o que a respeito escreveu o Dr. Th. Peckolt: “Este vegetal que nasce espontanea- mente- nos sertões de Minas em terras pedregosas, me- receria toda a attenção do Governo para ser cultivado em grande escala, como se pratica na Europa com o cultivo de Glycyrrhiza glabra, L.”. “A raiz de modo nenhum é inferior á daquella eu- ropéa e no extracto não se póde achar nenhuma dif- ferença.” 34 “1000 grammas de raiz forneceram-me 133 gram- mas de um extracto igual ao que se acha no commercio; purificado dá 95 grammas de extracto puro.” “Em 1000 grammas de raiz achei Matéria ceracea 2,220 gr. Resina molle de cor amarella . . 2,950 ” Acido resinoso 5,980 ” Matéria extractiva amarga . . . 4,900 ” Matéria extractiva saccharina. . 22,000 ” Matéria extractiva insipida . . 17/820 ” Glucose 5,000 ” Glycyrrhizina 2,500 ” Sulphato de cal e potassa . . . 1,100 ” Amido, substancias albuminosas, malato de cal, dextrina, etc- . . 74,530 ” Matéria lenhosa e agua . . . 857,000 ” “A Glycyrrhizina é a mesma Glycoside como na raiz de aloassus da Europa; obtem-se reduzindo a raiz a a pó e tratando-o com álcool, distillando-se e es- gotando o residuo com agua distillada, tratando a so- lução aquosa filtrada com acetato de chumbo emquanto houver precipitado, misturando com agua o precipitado separado e bem lavado, desprendendo do chumbo pelo gaz hydrogenio sulphuretado, fervendo com o suiphu- reto de chumbo e filtrando quente, evaporando até a consistência tenue de extracto, sacolejando repetidas vezes com álcool de 0,819 peso especifico, tratando igualmente o liquido filtrado com etber, distillando até ao estado quasi secco a solução etherea, dissolvendo o residuo em agua distillada quente, filtrando, precipi- tando desta solução aquosa a glycyrrhizina com acido muriatico puro, separando por filtração o precipitado 35 e lavando com agua até que uma solução de nitrato de prata não apresente mais reacção alguma de chloro e seccando então em vácuo.” Como vemos é uma fonte de renda que aguarda apenas ser explorada criteriosa e scientificamente. Os campos de Minas, principalmente aquelles dos arredo- res de Póços de Caídas, que tivemos ensejo de visitar ultimamente, possuem esta bella planta aos milhares de exemplares. Aqui uma raiz de meio palmo vale cinco tostões! Alecrim de cheiro (5) Syn.: “Alecrim de Casa”, “Alecrim das Hortas”, Rosmarin” dos allemães. Nom. Se.: Rosmarinwn officinale, L., da fam. das Labiadas. P. us.: Planta toda, mas especialmente as folhas, qne exhalam um cheiro muito agradavel. Também ven- dem as flores, tanto nas pharmacias, como nas herva- narias. Obs.: Os allemães cultivam e conhecem esta planta também pelo nome de “Kranzenkraut” (Herva para coroas) e usam-na, não só como condimento e aromati- zante, mas também para tecel-a entre os louros e myr- tos das grinaldas. E’ uma planta melifera. Nas regiões onde ella é nativa o mel das abelhas adquire um aroma e sabor peculiares desta planta. Da “Herba Rosmarinii” obtem-se um oleo de que se prepara uma substancia camphoroide crystalina, que é empregada como emmenagogo, estomacal, etc. Essa mesma substancia é também a base da “Eau de la reine d’Houngrie” dos franoezes, que é das aguas de toilette uma das mais apreciadas. 36 No Brasil, como bem indica o nome vulgar, esta planta é cultivada em quasi todas as hortas e jardins particulares; sendo empregada como planta decorativa, coimo herva codimentosa ou medicinal, é conhecida de todos. Alecrim do Norte (6) Svn.: “Alecrim do campo”. Nom. Sc.: Baccharis spc. da Secção das “Angus- tifoliae” de Baker; da fam. das Compostas. P. us.: Summidades vegetativas e folhas. Obs.: Esta planta e a “Vassourinha” (Baccharis dracunculifolia, I). C.) são muito affins e quer nos parecer que qualquer uma delias, bem como as especies mais próximas, encerram propriedades analogas, e re- cebem em outros pontos do Brasil nomes idênticos. Alevante (7) Syn.: “Levante”, “Hortelã”. Nom. Sc.: Mentha syvestris, L., fôrma crispa, da fam. das Labiadas. P. us.: Folhas. Para distillação ospecialmente as summidades floridas. Obs.: Esta planta está sendo cultivada no Horto “Oswaldo Fruz”; delia já obtivemos, pela distillação, o oleo essencial, qu,e, segundo 'experieneias feitas pelo Dr. Vital Brasil, é anthelmintioo. O vulgo emprega as folhas desta Labiada especial- mente em chás peitoraes e estomacaes para as oreanças, misturam-nas também com as do “Poejo” (Mentha pulegium, L.) para combater vermes intestinaes em creanças. 37 Alfazema (8) Syn.: “Aspic” dois francezes, “Lavendel” dos al- lemães. Nom. Sc-: Lavandula officinalis, L., da fam. das Labiadas. P. us.: Summidades floridas. Obs.: O termo “Lavandula” deve ter se originado do latim “Laoare” que quer dizer lavar, banhar. Os romanos usavam esta planta para aromatizar a agua em que se banhavam e, ainda lioje, o seu consumo é maior na industria de perfumaria que na medi- cina. No sul da França onde ela é nativa, distillam- na os camponezes directamente no campo, para onde fazem transportar alambiques e resfriadores, tal como fazem, na Argentina, segundo o Dr. Adolpho Doering (Sobre la essencia de la Menta argentina Bistropogon) com o Bistropogon mollis, Kth. Distillando a planta no proprio logar em que ella vegeta e é colhida, evitam que com o transporte se volatilise uma parte do oleo essencial que ella encerra em grande porcentagem. As principaes virtudes deste oleo residem na sua energia como estimulante para o systema nervoso. Algodoeiro (9) Syn.: (“Perbéba, é o nome dado a esta planta pelo Sr. Cecilio Lopes). Nom. Sc.: Gossypium barbadense, L-, e as varias especies affins cultivadas em todas as zonas calidas e temperadas do globo; fam. das Malvaceas. P. us.: Aqni se vendem as raizes. 38 Obs.: As follias e as sementes desta planta, em de- coctos, são usadas contra as dysinterias; as sementes esmagadas são, além disto, usadas em emplastros como emolliente para abcessos, ulceras, etc. e, em tintura acética, para a hemicrania. As raizes servem para fa- zer estancar as hemorrhagias uterinas e hemoptyses; são também consideradas diuréticas na razão de 16 grammas, em infusão em 500 cc. de agua e dividida em tres doses por dia. O infuso das sementes é também anti-dy smen orrlieico e diz Joaquim Moreira que, em Pernambuco, o sorvem as mulheres, por seis dias ante- riores á época mensal, para facilitar-lhes e mesmo pro- vocar o fluxo. Dragendorf confirma esta virtude e diz serem as raizes tidas como abortivas. (Vide Dr. Alfredo Ant. de Andrade, “Os subproductos do Algodão; suas relações nas plantas brasileiras; o oleo, a torta e va- lores relativos, “Sociedade Nac. de Agricultura, 1916, pag. 59”). Cecilio Lopes aconselha o uso das raizes, sob o nome de “Perbéba”, em mistura com a “Baiz Brava” contra as “regras demais” e hemorrhagias. Alho (10) Nom. Sc.: Allium, sativum, L., da fam. das Lilia- ceas. P. us.: Escamas ou cascas. Também os dentes, isto é, os bolbilhos de que se compõem os bolbos desta planta, são empregados como vermífugo, sudorifico e para outros fins. 39 Alho Grande (ii) Syn.: “Alho Grosso da Hespanha”, “Alho Poró”, “Alho Macho”, etc. «. Nom. Sc.: Allium scorodoprasum, L., da fam. das Liliaceas. P. us.: Bolbilhos. Obs.: Caminlioá affirma serem os bolbos desta planta diuréticos e maturativos, em cataplasmas. Dis- seram-nos serem elles mais usados como condimento e que, empregando-os como maturativo, os aquecem ao fogo para depois rasparem e collooarem a pasta assim obtida sobre as partes inflamadas e apostemadas. Althéa (12) . Syn.: “Althaea”, “Guimauve” dos francezes, “Arz- neilicher Eibiscli” dos allemães. (0 Sr. Cecilio Lopes, confunde-a também com o “Malvaisco”, nome que temos visto mais de uma vez ser dado a Malva parviflora, L.). Nom. Sc.: Althaea officinalis, L., da fam. das Malvaceas. P. us.: Desta planta empregam-se quasi todas as partes; as folhas, flores e raizes. Segundo Lanessan, as flores são usadas para preparar as tisanas emol- lientes e fazem também parte das “quatro flores pei- toraes”. As raizes são aconselhadas como emolli entes e apparecem nas pharmacias sob o nome de “Radix Althaea”; ellas devem sua propriedades a uma sub- stancia muscilaginósa, que segundo Schmidt & Muller, tem a seguinte formula chimioa: HC12H20O10 e pouco differe da “Gomma arabica” que possue uma molécula a mais de agua. As folhas são, nas pharmacias, conhe- cidas pelo nome de “Folia Althaea”. 40 Amor Secco (13) Syn.: “Amor do Campo”, “Carrapixo do beiço de boi”, do Campo”, etc. Nom. Sc.: Desmodium adscendens, D. C-, da fam. das Leguminosas, subf. das Papilionaceas. P. us.: Toda a planta. Obs.: Esta plantinha campestre deve o seu nome ao facto de serem os seus fructos providos de pequenos pellos cerdosos prehensis que os tornam altamente adherentes ao pello dos animaes. A unica utilidade desta planta, conhecida por nós, é de ser uma* forrageira de primeira ordem, prestan- do-se muito bem para fenagem. Amora Branca (14) Syn.: “Svlva Branca”, “Amora Verde”, “Amora da Silva”, “Basilico”. Nom. Sc.: Rubus brasiliensis, Mart., da fam. das Rosaceas. P. ns.: Folhas, segundo Cecilio Lopes; Martins reoammenda entretanto os fructos, af firmando serem superiores aos da Fragaria para fins therapeuticos; elles encerram, segundo esse autor, acido malico, assu- car e matéria gelatinosa, além de outras substancias. Anda-assú (15) Syn.: “Purga dos Paulistas”, “Purga de Cavallo”. “Andauassú”, “Anda”. P. us.: Sementes. 41 Obs.: Purgativo energico, também é usado para combater febres malignas. As sementes em maior dóse são muito usadas, na veterinária, como purgantes para cavallos, donde lhes veio o nome de “Purga de Oavallo”. Angélica (16) Nom. Sc.: Angélica archangelica, L., da fam. das (Jmbelliferas. P. us.: Raízes e fructos. Obs.: As raízes desta planta, conhecidas pelo nome de “Radix Angelicae” nas pharmacias e os fru- ctos “Fructus Angelicae”, são aromatieo-estimulantes e importantes não só na pharmacognose como na pre- paração de loções e essencias. Para o norte do Brasil, principalmente Geará, o Dr. Francisco da Rocha, regista com o mesmo nome vulgar a Guettarda angélica, Mart., que se estende para o sul até á Bahia, Minas e Rio de Janeiro, e da qual elle affirma o seguinte: “Raiz. Tonico, estomacal e febrífugo poderoso. E’ grandemente empregado no tratamento dais dyspepsias e em todos os casos de fe- bres, principalmente na febre puerperal. Infusão : 8 grammas de raiz, agua fervendo 200 grammas na razão de tres chicaras por dia”. Desta mesma planta Martius affirmia ser a raiz, principalmente a casca, amarga, sub-acre, aromatica, incisiva, preservativa, anti-febril, e dada também contra as diarrhéas dos bois e dos cavallois. O material da “Angélica” examinado é procedente da Europa, da Casa Ribeiro da Costa, do Porto. 42 Angico (17) Syn.: “Paricá”. Niom. Sc.: Piptadenia colubrina, Btli., da fam. das Leguminosas, subf. das Mimosoideas. P. as.: Resina, casca, etc. Obs.: A respeito desta planta escreve o Dr. Fran- cisco Dias da Rocha: “Peitoral, liemostatico, vulnerário e anti-blenorrhagico. E’ usado em infusão c xarope no tratamento da bronchite, tosse e outros soffrimentos das vias respiratórias, em tintura nas contusões e gol- pes e em maceração na blenorrhagia. Internamente: In- fusão de 8 grammas de casca de angico em 200 gram- mas de agua fervendo, em dose de 3 cliicaras por dia. Xarope: Cascas 50 grammas em 600 grammas de agua; ferver e fazer xarope, administrando-o na razão de tres colheres de sopa por dia. Maceração: Cascas 60 grammas em 1000 grammas de agua, deixar macerar por dois dias e tomar na razão de tres chicanas por dia”. Interessante, talvez, é saber-se que uma especie muito próxima desta, também vulgarmente conhecida pelo nome de “Angico”, é a planta a que se deve o vicio do rapé. Parecerá absurda esta asserção, entretanto não é. Quando os da comitiva de Christovam Colombo, viram os selvicolas deste continente aspirar um pó par- dacento, elles, que antes haviam notado estes mesmos homens fumarem as folhas da Nicotiana tabacum, L., julgaram que esse pó ou rapé fosse feito das mesmas folhas seccas e moldas, e, sem prévio exame, fizeram propaganda desta nova applicação do tabaco, implan- tando assim, em poucos annos, o terrivel vicio. Mais tarde botânicos houve que verificaram ser o pó, usado pelos indios, feito das sementes torradas da Piptadenia pelegrina, Bth. 43 A resina que é muito preconizada como peitoral, foi beim descrípta por Cardemoy (Gomimes et resines d'origine exotique), que af firma ser tão util quanto a das especies de Acacias que produzem a “Gomma Ara- bica”. Não é esta a unica especie que o vulgo distingue por este nome; existem não só outras deste genero, mas também de Pitliecolobios e Acacias que se conhe- cem pelo nome de “Angico”, tendo, não raro, um se- gundo nome para differencial-as umas das outras. Anileira (18) Syn.: “Guajaná Timbó”, “Timbó”. Nom. Sc.: Indigofera anil, L., da fam. das Legu- minosas, subf. das Papilionaceas. P. us.: Raizes. Obs.: Aconselham-nas misturadas ás do “Fe- degoso” (Cassia occidentalis, L.) e folhas de “Banacéa” (Solanum cernum, Vell.), para curar gonorrhéa e ou- tras moléstias venereas. Outros autores affirmam ser a raiz também util contra as epilepsias, icterícias e anti-ophidica. Em Matto-Grosso disseram-nos mais de uma vez ser esta e a Indigofera lespedezoides, H. B. K. em- pregadas, pelos nativos, para tinguijar peixes. Ambas são conhecidas ali pelo nome de “Timbó Mirim” ou “Anileira”. O primeiro nome lhe é dado especial- mente para distinguil-a do “Timbó”, que é a Magonia pubescens, St. Hil, arvore muito commum nos cerrados daquelle e de outros estados do Brasil. O Dr. Alfredo Augusto da Matta diz que a “Ani- leira” é também antispasmodica, sedativa e empregada 44 - contra a choréa e a epilepsia, aconselhando-a na formula do Dr. Monteiro da Silva: Raiz de anil em pó 8 grammas Tintura ou ext. fluido de Gengibre . . 4 grammas Tintura ou ext. fluido de Valeriana . 4 grammas Camphora 2 grammas M. e d. em 24 papeis, usando 3 por dia. Em mistura com a “Brejauba” aoonsellia-a, o Dr. Monteiro da Silva, para combater as flores brancas e oiPros corrimentos e bem assim contra as moléstias do utero. As raizes e o pó das sementes são insecticidas e as primeiras são também usadas contra os vermes intes- tinaes; razão porque já a incluimos nas especies cul- tivadas em nosso Horto. Em tempos idos as Indigoferas, e principalmente a especie em questão, eram cultivadas em maior escala e delias obtinha-se a indigotina e o anil. Aperta-Ruão (19) Nom. Sc.: Leandra lacunósa, Cgn., da fam. das Melastomaceas. P. us.: Folhas e ramos novos. Cecilio Lopes af- firma que as empregam contra a. queda do Utero. Ob.: Todas as Melastomaceas são mais ou menos tanniferas, mais ou menos adstringentes, o que o povo cliama de “Apertar”. O nome “Aperta Ruão” não é dado só a esta es- pecie, mas a outras da mesma familia e ao Piper adun- cum, L., das Piperaceas, que é fornecedor do “Piper Longum”, das pharmacias, empregado contra as odon- talgias e recommendado contra gonorrhéas. 45 A respeito desta ultima especie Caminhoá diz: “As folhas têm mais ou menos os mesmos usos que as do “Masco”; são também adstringentes, pelo que, são usa- das pelas mulheres impudicas para' tonizarem os or- gãos genitaes” etc. Quer nos parecer que este é o fim principal para que se vende o material da especie supra. Arnica (20) Syn.: “ Wohlverleih” dos allemães. Nom. Sc.: Arnica montana, L., da fam. das Com- postas. P. us.: Tintura das folhas e flores. Obs.: Os vários empregos da tintura desta espe- cie exótica, importada não só pelos hervanarios, como pelos pharmaoeuticos, são por demais conhecidos para que ainda fosse necessário expol-os aqui. Arnica do Campo (21) Syn.: “Arnica”. Nom. Sc.: Chionolaena spc-, da fam. das Com- postas. P. ns.: Folhas. Obs.: Embora o material não permitta uma iden- tificação segura, quer nos parecer que >se trata da Chio- nolaena latifolia, Baker. Em Matto-Grosso indicaram-nos, com o nome de “Arnica do Campo” ou “Arnica da Chapada”, outra especie deste genero, cujas folhas são estreitas. Esta mesma planta encontramos mais tarde em Lagoa Santa. O aroma e virtudes desta ultima especie, que por rnais 46 de uma vez tivemos occasião de empregar, nada dif- ferem das da especie exótica acima citada. Ella fornece uma tintura bastante corada e de cheiro forte e agra- davel, que, para uso interno, parece levar vantagem á importada. Aroeira (22) Syn.: “Aroeira branca”, “Aroeira brava”. Nom. Sc.: Lythraea molleoides, (Vell.) Engl., da fam. das Anacardiaceas. P. us.: Folhas e raizes. Obs.: Não conseguimos saber o fim para que se emprega esta especie. — O Dr. Baptista de Andrade tem preparado a esseneia das sementes desta planta e das do Schinus terebinihifolius> Baddi, affirmando ter ella a mesma applicação que a esseneia de terebenthina. Sob o nome de “Aroeira mansa” ou “Aroeira ver- melha” vendem também material de Schinus terebin- thifolius, Raddi. Arruda (23) Syn.: “Ene” dos francezes, “Raute”, “Garten- raute” ou “Weinraute” dos allemães. Nom. Sc.: Rutci graveolens, L., da fam. das Ru- taceas. P. us.: Folhas. Obs.: As folhas desta planta encerram um oleo volátil muito aromatico e de sabor amargo que é pre- conizado contra a liysteria. Desde a mais remota anti- guidade é conhecida esta planta e empregada como for- tificante dos nervos e sudorífico; ella é igualmente afa- mada como aperitiva, razão porque os romanos a em- 47 pregavam até como tempero. Tomada em dóses elevadas é toxica. Usam-na também como emmenagogo e para provocar abortos. Elfa cogestiona fortemente o utero, podendo occasionar hemorrhagias graves e mesmo fu- nestas. As sementes são insecticidas e anthelmintieas. Existe entre o povo a superstição de que seja esta planta dotada de virtudes contra o “mão olhado”, empregando-a por isto, os feiticeiros, nos seus traba- lhos ou “bruxariais”. Em casa do Sr. A. Brocus, pintor e professor na Escola de Bellas Artes do Rio de Ja- neiro, tivemos oocasião de admirar o quadro da feiti- ceira, em que se vê uma preta, empunhando um ramo de arruda, tocar uma serpente, emquanto de um lado se observa uma moça, talvez a cliente, e de outro alguns collares de “Lagrimas de Nossa Senhora” e figas de “Guiné”, “Azeviche”, etc. E’ um quadro que reproduz bem um habito muito inveterado entre os pretos e mes- mo entre o nosso povo. Artemigem (24) Syn.: “Artemizia”, “Artemija”. Nom. Sc.: xlrtemisia vulgaris, L., da fam. das Compostas. (?). P. ns.: Capítulos e summidades floridas. Obs.: Planta exótica, hoje cultivada em quasi to- dos os paizes do mundo e considerada vermífuga, em- inenagoga e tónica. Empregam-na também como anti- choreioa e anti-epiileptica; muito preconizada como a “Camomilla”, para creanças durante o periodo da den- tição. 48 Arúca (25) Syn.: “Jasmim do Matto”, “Herva de Lagarto”. Nom. Sc.: Calea pinnatifida, Less., da fam. das Compostas. P. us.: Snmmidades vegetativas e folhas. Obs.: O. Lopes affirma ser esta planta um magni- fico remedio para cortes recentes e um bom estomacal. “Jasmim do Matto” é nome pelo qual recebemos a planta do interior deste Estado em 1917, com a informação de ser um bom remedio. “Jasmim do Campo” é o nome que o caipira dá ao excremento de cachorro alvejado pela aoção do tempo, o qual é reputado um magnifico remedio contra a tisica e varias outras moléstias. Assahy (26) Obs.: De uma caixa com este rotulo, adquirimos do Sr. Cecilio Lopes uma amostra, que se compuulia de tres pedaços de puo, os quaes examinámos cuidadosa- mente, verificando ser, um delles, de raiz de uma pal- meira (?), talvez da que é conhecida pelo nome supra; dois outros, egualmente de apenas vinte centimetros de comprimento e 5-6 mm. de diâmetro, um tanto sinuosos, de casca escura e rimósa, pertencentes, incontestavel- mente, á uma das especies de Erythroxylum, talvez o Erythroxylum deciduum, St. Hil., muito commum aqui em S. Paulo, até a Argentina e Minas Greraes, arvore pequena que é vulgarmente conhecida pelo nome de “Fructa de Pombo”. 49 Sabemos qne as raízes de algumas especies de Eu- terpe são empregadas na medicina popular; mais usa- dos, porém, são os fruetos de cuja polpa os indígenas preparam uma especie de vinho saborosíssimo. Também o palmito é bastante apreciado. Quando chamámos a attenção do Sr. C. Lopes para a mistura que havíamos verificado, respondeu-nos: “O nome “Aissahy” foi dado por mim a este páo, que, tam- bém, pela sua applieação, poderia ser chamado “Páo para os dentes”. Disse-nos mais que este lenho tem a propriedade de enrigeoer as gengivas e de clarear so- bremaneira os dentes. E ’ pois provável que o nome fosse dado só aos paosinhos que suppomos de um Ery- throxylum e que na caixa tivessem ido parar outros de origem diffe rente. Para conservar e clarear os dentes são emprega- dos taimbem palitos feitos do lenho do Psidium guyava, Kaddi, vulgo “Goyabeira”; os do Erythroxylum, po- rém, encerrando alguma partículas de cocaina, talvez seja daquelles um suocedaneo vantajoso. Aveia (27) Syn.: “Hafer” dos allemães. Nom. Sc.: A vena sativa, L., da fam. das Grami- neas. P. ns.: Palha. (Usam da mesma maneira também as sementes). Avença (28) Syn.: “Capillaria”, “Adianto”. Nom. Sc.: Adiantum cuneatum, Langsd. et Fée, e outras especies affins, da fam. das Polypodiaceas. 50 P. us.: Folhas. Obs.: Consideram, em geral, o Adianto um ma- gnifico peitoral, fortalecedor dos pulmões. Azevinho (29) Syn.: “Azevim”, “Páo azevim”, etc. Nom. Sc.: llex aquifolium, L., da fam. das Aqui- foliaceas. P. us.: Lenho. Obs.: Esta madeira é vendida para a manufactura de figas e amuletos vários. Ella é, como a do Buxus sempervirens, L., da fam. das Buxaceas, empregada para toda a sorte de marcenaria e esoulptura mignon. As fabricadas figas do “Azevinho”, gozam de especial fama contra os quebrantos, máo olhados e feitiçarias. Azougue dos pobres (30) Syn.: “Cipó Azougue”, “Tuyuya Quiabo”, “For- quilha”, Quiabo de Cipó”, “Gronú”, “Azougue do Bra- sil”, “Abobrinha do rnatto”, etc. Nom. Sc.: Wilbrandia hybiscoides, Manso, da fam. das Cucurbitaceas. P. us.: Fructos e raizes. Obs.: Também a TF. verticillata, Cgn., é conhecida pelos mesmos nomes populares. A planta é considerada anti-siphilitica e, segundo Caminhoá, purga itva, sendo os fructos fortemente drásticos. A Wilb. hybiscoides, Manso, recebida do interior deste Estado, está sendo cultivada com relativa facili- dade em nosso Horto. a mais importante-e mais sortida da cidade RUA GENERAL CARNEIRO N.° 46 HERVANARIO SANTA ISABEL 51 Babosa (31) Syn.: “Aloés”. Nom. Sc.: Aloe arborescens, Mill., especie de flo- res vermelhas e folhas verde-fuscas que attinge 3-4 metros de altura; e Aloe vera, L., com flores amarellas e tronco muito menos desenvolvido, geralmente de menos de metro de altura, ambas communs aqui nas hortas e jardins; fam. das Liliaceas. P. us.: Folhas. Obs.: Das folhas, muito carnosas e succulentas, aproveitam a .seiva mucilaginosa para applicar na ca- beça, porque consideram-na boa para fazer nascer o cabello. Verificamos que o material é vendido vivo, o que é relativamente fácil, pois as folhas se conservam verdes durante muitos mezes quando cortadas com uma parte do tronco; tivemos mesmo occasião de observar que alguns specimens assim expostos nas casas de her- vas se achavam floridos e que desenvolviam raizes, embora se achassem pendurados nos umbraes das por- tas e exposos aos raios solares durante uma parte do dia. Em Socotora explora-se esta planta e outras do mesmo genero. Delias obtêm os indígenas o “Tayef” ou “Scobr” dos arabes por um processo simples e facílimo. Os que se entregam a tal industria, nos proprios cam- pos onde as plantas florescem, cavam um pequeno bu- raco no chão junto a cada exemplar e o revestem com um pedaço de couro crú de cabrito; feito isto cortam grande numero de folhas da planta e collocam-nas sobre o couro, em uma grande roda, de forma que o sueco que escorre da parte onde as mesmas foram cortadas se deposite na parte mais funda do couro. Duas e, ás vezes tres, camadas de folhas mais velhas são collo- 52 cadas assim, e dentro de 3-4 horas ficam esgotadas de toda a seiva, que é de cor amarello-e sve rdeada, sabor ligeiramente adocicado e clieiro nauseante. Em regra exportam esta substancia sem outro preparo para a A rabi a. Dentro de um mez, pela evaporação natural da agua, ella se torna mais densa e viscosa, recebendo então o nome de “Tuyef geslieeshah” e valendo muito mais nos mercados; com mais 15 dias de condensação este producto se solidifica ainda mais e então é ven- dido, com o nome de “Tuyef kasahiul”, pelo dobro do valor em estado fresco. Na pharmacologia este pro- duioto recebe o nome de “Aloe lúcida”, provindo prin- cipalmente do Aloe Perryi, Baker, e é de cor pardo- amarellada, ou avermelhada, e transparente em cama- das delgadas. Em pó é amarello claro. Do material vendido nos mercados, apenas uma pequena parte procede de Socotora e é extrahido do Aloe Perryi, Baker. Da Colonia do Cabo e África do Sul, onde são exploradas outras especies do como A. africana, A. ferox, A. spectabilis, Mill., e A. succotrina, Lam., algumas também cultivadas na índia, provem uma grande parte. Os processos empregados na obtenção da seiva, nestes últimos paizes, são os mes- mos descriptos para Socotora, com a differença de que a seiva, depois de recolhida das pelles, é despejada em largos alguidares, onde fica livre de impurezas, passando em seguida a grandes tachos aquecidos a fogo brando para a evaporação da agua; dali a massa viscosa e pastosa é despejada em caixotes apropriados, cujo peso liquido, depois de cheias, é de 200 kilog. cada uma. Na região do mar Mediterrâneo obtem-se egual- mente “Aloe” da A. vera, L., uma das especies qne fo- ram introduzidas no Brazil. Este producto vem aos mercados sob os nomes de “Aloe hepatica” ou “Aloe barbadensis”; não é tão claro e nem tão limpido é me- KQ Oo nos solúvel na agua que o anteriormente citado; em agua morna, porém, ou em álcool ambos se dissolvem perfeitamente. A substancia que pela reacção acida, ao esfriar-se, se separa da solução em agua, ou que, pela junção desta á solução alcoolica, se isola, é a “Resina de Aloe”. Todos os autores concordam em ser o “Aloe” um drástico e que esta propriedade reside especialmente no principio amargo e crystalisavel descoberto por Ro- binquet e por elle appelidado de “Aloina”. Embora em menor quantidade ainda se emprega hoje esta sub- stancia na medicina. Em forma de pillulas purgativas “Pillulae Aloeticae” ou ainda em tinturas “Tintura Aloés” ella é receitada constantemente. O “Aloe” en- contra também applicação como insecticida, e é por isso empregado nos navios como protector da madeira e no embalsamamento dos cadaveres no Oriente. Tratando- se o “Aloe” pelo acido nítrico, obtem-se o “Acido aloi- nico” que produz tintas constantes, de rara belleza, o que contribuiu para o seu aproveitamento na industria de tinturaria. A “Babosa” vegeta em qualquer terreno, por mais seoco e a rido que seja, não exige nenlium trato e desenvolvense perfeitamente em todos os climas cálidos ou temperados do globo. O Dr. Dias da Rocha, no seu trabalho citado, refe- rindo-se a esta planta diz: “Eollias. Peitoral, emoliente e revulsivo. A polpa da folha macerada com assucar é empregada, com muito proveito, contra a bronchite ou tuberculose pulmonar incipiente, e passada pelo calor do fogo é usada em emplastros nos tumores, panarícios, espetadelas e golpes, e, em cataplasmas, no engorgita- mento do figado e do baço. Para uso interno prescreve elle : “Maceração. Polpa das folhas de herva babosa 10 grammas; retalhe e la- ve nove vezes e addicione 10 grammas de assucar refi- 54 nado, deixando macerar por 8 a 10 horas. Torne depois uma colher de sopa pela manhã, em jejum”. As formulas prescriptas por Chernoviz são múlti- plas e mais completas, principalmente aquellas em que o “Aloe” entra como contingente. Caminhoá diz que os “Aloés” são drásticos ou cal- mantes, conforme a parte empregada. A polpa das fo- lhas, sem os tegumentos, é refrigerante ou tónica; a rezina e os tegumentos da folha são drásticos. “Aloes verde” é, segundo o Dr. Alfredo Augusto da Matta, no Amazonas, nome dado a (Agave foetida. L.) Fourcroya gigantea, A7ent., a Amaryllidacea que, aqui e outros pontos do nosso Paiz, é mais conhecida pelo nome de “Piteira”. Conforme Pio Corrêa, o pri- meiro nome é dado, a esta planta, em Reunião e na Algeria, affirmando ser a mesma diurética, anti-scor- butica e anti-syphilitiea. Balieira preta (32) Syn.: “Camará”, “Cambará”, etc. Nom. Sc.: Lantana spe. ?, da fam. das Verbena- ceas. P. us.: Folhas. Obs.: O estado do material não permitte identifi- cação scientifioa, compondo-se de folhas já bastante estragadas; é, porém, muito provável que se trate do proprio “Cambará vermelho”, isto é, de Lantana ca- mara, L., planta também conhecida pelo nome de “Cam- bará de espinho”. Nao logramos desvendar onde o Sr. Ceei lio Lopes deseobriu o suggestivo nome com que appelidou a planta em questão. 55 Barba de Bóde (33) Syn.: “Capim de Bóde”. Nom. Sc.: Aristida pallens, Cav., da fam. das Gra- mineas. P. us.: Folhas e raizes. Obs.: Contra as moléstias do figado, Cecilio Lo- pes aconsellia-a da seguinte maneira: “Raizes de “Cas- sia meuda” (Cassia occidentalis, L.), “Capim de Bóde”, “Verbena Falsa”, “Raiz de Tangaraca”, “Joveva” e as folhas de “Cipó de Cobra”, misturar e tomar em chás”. — Não teria ahi talvez havido confusão, por causa do nome, com o “Capim de Bóde dos Prados” (Trogopogon pratensis, L.), que vegeta no sul da Eu- ropa e é ali usado como diurético, apperitivo e peitoral! Barbas de Milho (34) Syn.: “Estigmas de Milho”. Nom. Sc.: Zea maís, L., da fam. das Gramineas. P. us.: Os pistillos ou estigmas, (vulgarmente chamadas barbas de milho) que coroam as cariopses. Obs.: Estigmas de milho fazem, desde muitos de- cennios, parte do património tlrerapeutico e são com- mumente empregados na medicina. Barbatimão (35) Syn.: “Charãosmho roxo” (nome este dado pelos hervanarios de S. Paulo). 56 Nom. Sc.: Stryphnodendron barbatimão, Mart-, da fam. das Leguminosas, subf. das Mimosoideas. P. us.: Cascas. Obs.: A casca desta arvore contem de 40 % e mais de tannino e é, em vários pontos do Brasil, em- pregada na industria de cortumes e na medicina. Se- gundo Lanessan, ella pertence ao grupo das “Cascas da virgindade”. Delia lançam mão as mulheres impu- dicas, para prepararem o banho com que lavam os orgãos genitaes; pelo poder stypico elevado da casca, estes banhos fazem oontrahir-se os lábios vaginaes. Francisco Dias da Rocha, no trab. cit., affirma ser a casca do “Barbatimão” hemostatica, tónica e adstrin- gente e usada, no Ceará, contra as hemoptises, liemor- rhagias uterinas, flores brancas, gonorrliéa e escorbuto ; aconselha-a também, em cosimento, para gargarejos no tratamento do escorbuto e feridas na bocea ou gar- ganta, bem como para lavar feridas e golpes. Interna- mente prescreve-a na dóse de 2-3 chicaras de chá por dia, conforme a gravidade do caso. Em Matto-Glrosso, conhecem também, além das va- rias espeoies de Stryphnodendron, que recebem o mesmo nome vulgar, duas outras especies de Dimorphandras, a D. Gardneriana, Tul., e a D. mollis, Bth., que possuem identicas propriedades. Bardana (36) Syn.: “Boldrana”, “Herva dos Pegamaços”. Nom. Sc.: Xanthium strumarium, L., var. brasili- cum, Baker., da fam. das Compostas. P. us.: Folhas. Obs.: Não é esta a unioa especie vegetal com o mesmo nome vulgar. 57 Oecilio Lopes affirma entrar esta planta 11a fabri- cação do celebre “Sabão da Costa” que, segundo diz, se compõe de “Passarinheira” (especies de Strutanthus e Phoradendron), “ Carobmha” (Jacaranda caroba, D. C.) e “Herva Rosa” ?. Um dos Hervanarios do mercado velho affirmou-nos, porém, que este sabão de cor quasi negra e cheiro nauseante, vem de Juiz de Fóra, Minas, onde é fabricado de cinzas e cebo.- Isto nos parece mais razoavel e provável, pois lá, tivemos occasião de ver, por mais de uma vez, os allemães e roceiros em geral, prepararem um sabão muito seme- lhante ao vendido aqui como “Sabão da Costa”. Este preparado possue a fama de amaciar e embellezar a cutis. Xanthium strumarium, L., var. brasilicum, Baker, é muito commum aqui em S. Paulo, vegetando de pre- ferencia nos terrenos adjacentes ás habitações; as cre- anças que brincam com os seus fructos para jogal-os nos cabellos e vestes umas das outras, conhecem-no pelo nome de “Carrapicho do Grande”. Baririçó (37) Svn.: “Rhuibarbo do Campo”, “Batatinha do Purga”, etc. Nom. Sc.: Trimezia caracasana, De. Vriese (?), da fam. das Iridaceas. P. us.: Bulbos. Obs.: Dizem que assados no borralho são muito purgativos. Todas as especies do genero Trimezia, que na Flora Brasiliensis figura com o nome de Lans- bergia, são reputadas laxativas e vulgarmente conheci- das pelo nome de “Rhuibarbo” ou “Baririçó”. Estes nomes não são entretanto exclusivamente dados á estas especies, elles se extendem também a especies de outras famílias naturaes de plantas. 58 Batata de Beri (38) Syn.: “Bananeirinha”. Nom. Sc.: Canna spc. (?), da fam. das Cannacea:,. P. us.: Khizoma tuberoso. Obs.: Só conseguimos examinar o rhizoma, que o vulgo appelida de batata, mas pela descripção da planta, feita por quem nos vendeu aquelle, não podemos dedu- zir outra cousa, sendo talvez a própria Canna coccinea, Mill., que é bastante commum em S. Paulo. Sob o mesmo nome vulgar venderam-nos no mer- cedo velho a “Batata do Baririçó”. Batata de Perdiz (39) Svn.: “Batatinha do Campo”. Nom. Sc.: Gesnera allagophylla, Mart., da fam. das Gesneriaceas. P. ns.: Batata. Obs.: As batatas adquiridas já s-e achavam tão resequidas que, se não nos auxiliasse o material do nosso Hervario, impossivel seria a sua identificação. O material que mais tarde tivemos oecasião de exa- minar no mercado velho estava em muito melhores con- dicções, mas nos foi mostrado como sendo “Batata do Campo”, nome que está mais geralmente acceito no Brasil. 59 Batata de Purga (40) Syn.: “Jalapa”. Nom. Sc.: Dipladenia gentianoides, Muell. et Arg., da fam. das Apocynaceas. P. us.: Rhizoma tuberoso. Obs.: O nome vulgar supra applica-se, geralmente, na pharmacia, ao Convolvulus operculatus, Glom., da fam. das Convolvulaceas ou á Mirabilis jalapa, L., da fam. das Nyctaginaceas; citamos esta ultima mais adeante com o -nome de “Maravilha”. Parece-nos que neste caso o nome vulgar apenas define a proprie- dade purgativa do rhizoma da planta. No mercado velho tivemos ensejo de ver uma bella collecção destes rhizomas e observar ao mesmo tempo que a seiva que delles exsuda se torna preta e um tanto consistente com a influencia do ar e da luz. Afiançou-nos o vendedor serem elles dotados de virtudes medici- naes tão activas que se tornam capazes de expulsar do corpo todo e qualquer mal que tenha adquirido. “Põe tudo p’ra fóra”. Batatinha do Campo (41) Nom. Sc.: Trata-se provavelmente de alguma es- pecie de Philodendron, da fam. das Araceas. P. us.: Rhizoma tuberoso. Obs.: O nome dado a este material cabe antes á Gesnera allagophylla, Mart., da fam. das Gesneriaceas, que é conhecida também pelo nome 'de “Batata do Campo” e que o Sr. Ceicilio Lopes nos vendeu com o de “Batata de Perdiz”. 'Os rhizomas ou as batatas de algumas Araceas são reputadas medicinaes e empregadas especialmente para combater o rheumatismo. 60 Baunilha (42) Syn.: “Vanilla”. Nom. Sc.: Vanilla planifolia, Andr., da fam. das Orchidaceas. (A’s vezes também as favas provêm de es- pecies affins). P. us.: Os fructos, que são pelo vulgo appelidados de favas. Obs.: Tanto 11a medicina, como na industria, são múltiplos os empregos dados ás pseudo-capsulas desta bella Orchidacea: Delias se extrae a “Vanillina” que hoje já encontrou um succedaneo synthetico no pre- paro da resina de algumas Pinaoeas. A “Baunilha” é ainda por muitos considerada altamente aphrodisiaca e estimulante. Benjoin (43) Nom. Sc.: Styrax benzoin, Drvand, da fam. das Styracaceas. P. us.: Resina. Obs.: A resina vulgarmente conhecida pelo nome de “Benjoin” é obtida da especie supra, ao norte de Sumatra, onde a especie é indigena e cultivada para a exploração industrial. Ella é de cor amarello-casta- nhado e manchada de branco opaco; é completamente solúvel no álcool e contém o “Acido benzoico”, cuja for- mula chimica é a seguinte: C7H602, e “Acido cinna- mico” representado pela formula: C9H902. Mais que na therapeutica, esta resina é empregada como incenso para defumações diversas. 61 Bico de Corvo (44) Syn.: “Amendoeirana”. Nom. Sc.: Cassia splendida, Vog. (f), da fam. das Leguminosas, subi. das Caesalpinioideas. P. us.: Raizes. Obs.: O material adquirido se compões de peda- ços de caule e raizes, sendo impossivel identifical-o scientificamente. Em 22 de setembro de 1917 recebemos de S. Roque, entre outras amostras de vegetaes repu- tados medicamentosos, alguns pedaços de ramos e fo- lhas com o nome supra, material este que verificámos, mais tarde, ser de Cassia splendida, Vog-, planta bastan- te comimum aqui nos arredores de S. Paulo, e cujas pro- priedades não poderão se afastar muito daquellas do “Fedegoso” (Cassia oecidentalis, L.). Bocúba (45) Syn.: “Bicuiba”, “Bicubiba”, “Vicuiba”, “Ucuú- ba”, “Urucuúba”. Nom. Sc.: Myristica bicuhyba, Scliott. (?), da fam. das Myristicaceas. P. us.: Sementes e o cebo extrahido destas. Obs.: Cecilio Lopes aconselha-as nas recahidas de parto. As semente são excitantes, aromaticas e tónicas, preconizadas no tratamento do rlieumatismo. O oleo qne d’ellas se extrahe tem sido empregado algumas vezes como succedaneo da manteiga do Cacáo no tra- tamento das liemorrhoides. 62 Boldo (46) Nom. Sc.: Peumus boldus, Meld.,. da fam. das Monimiaceas. P. us.: Folhas e cascas. Obs.: Todas as partes da planta, mas especial- mente as cascas e as folhas, encerram um oleo essen- cial muito aromatico, de sabor um tanto picante, que a torna preconizada como condimentar e medicinal. No Ohile, onde é nativa, conhecem-na pelos nomes de “Boklu” ou “Boldo”, sendo delia provenientes as “Folia Boldu” das pharmacias. Borragem (47) Nom. Sc.: Borrago officinalis, L., da fam. das Borraginaceas. P. us.: Summidades floridas. Obs.: Empregada esipecialmente como sudorifico. Lanessan affirma entretanto que as summidades flo- ridas desta planta são empregadas em infusão como emollite e diaphoretioo, principalmente na medicina popular. Bucha (47-a) Syn.: “Bucha dos Paulistas”, “Fructa dos Paulis- tas”, “Cattú-Picina” dos índios de Malabar e “Luffa” dos arabes, “Esfregão”, etc. Nom. Sc.: Luffa cylindrica (L.) Rom., (Luffa aegyptica, MilL), da fam. das Cucurbitaceas. 63 P. us.: Sementes e o tecido fibroso envolvente. Obs.: O conjunto fibroso, semelhante a uma es- ponja, qne resta do fruoto, depois de se ter lavado a polpa e retirado as sementes, é pelo povo aproveitado para substituir as esponjas, razão porque o conhecem pelos nomes de “Esfregaço”, “Esfregão”, etc.; os alle- mães lhe dão ainda o nome de “Luffaschwamm”. Esta parte picada sem ser lavada fornece pela decocção um liquido amargo que é preconizado e muito usado como purgante. Além desta especie, que provavelmente foi em eras remotas introduzida no Brasil, temos mais duas, a saber: Luffa acutangula, (L.) Roxb., que se distin- gue pelas sementes destituídas da estreita ala que cir- cumda as da citada e pelas folhas com maior numero de lóbos menos profundos, e a Luffa operculata, (L.) Cogn., cujos fructos são pouco maiores que um ovo de gallinha, tendo a casca cheia de pequenas eleva- ções espiniformes e folhas muito menores que as das duas precedentes. A Luffa operculata, (L.) Gogn., que é conhecida pelos nomes vulgares de “Buchinha do Norte”, “Bu- chinha”, “Buchinha dos Paulistas”, “Purga de Pae João” e “Espongilla” (em Nova Granada), possue polpa ainda mais purgativa que as outras duas espe- cies e autores ha que affimiam ser hydragóga. En- contramol-a em algumas hervanarias do Rio de Ja- neiro, aqui é também conhecida, mas aetualmente nenhum hervanario a possue. Martius diz que o ex- tracto do fructo é comparável ao das “Coloquintidas”, principalmente contra a hydropsia e ophtalmias cliro- nicas, na dóse de tres grãos; em dóse maior, diz elle, promove dores violentas e póde se tornar perigosa. Esta ultima especie é pelo Dr. Dias da Rocha, citada como “Cabacinha”, nome este que também en- contrámos em uso no Rio de Janeiro, entre alguns her- 64 vanarios, mas que julgamos descabido para esta planta, visto se referir mais frequentemente a especies de Lagenaria. A classificação scientifica que este autor dá para a especre, “Momordiea buclia, S. Paio”, igno- ramos de onde tivesse sido copiado, pois nem a Flora Brasiliensis de Marti us e nem o Index Kewensis, citam o mesmo, entretanto elle o cita até com uma variedade. Asseveram também que a polpa, que encerra um principio activo conhecido pelo nome de “Buchinna” (seg. Dias da Rocha), é empregada contra os vermes intestinaes. Cabreúva (48) Syn.: “Cabriúva”. Nom. Sc.: Myrocarpus frondosus, Fr. Allemao, da fam. das Leguminosas, subf. das Papilionaceas. P. us.: Casca e seiva- Cajueiro '(49) Syn.: “Acajú, “Oacajú”. Nom. Sc.Anacardium occidentale, L., da fam. das Anacardiaceas. P. as.: Cascas, gomma, fructos, pedúnculos car- nosos e folhas. Obs.: A casca se prescreve eontra a diabete para reduzir'as urinas (seg. Lopes). Engler affirma serem as raizes empregadas para vários fins therapeuticos na illia da Martinica; diz mais que o deoocto das folhas é uma bebida embriagante, mesmo em dóses pequenas, e que o sueco dos pedúnculos (cajus) é considerado diurético, sudorífico e anti-syphilitico. As castanhas são empregadas como vesicatório. 6õ Calúmba (50) Syn.: “Milhomens”. Nom. Sc.: Aristolochia brasiliensis, Mart-, da fam. das Aristolochiaceas. P. us.: Caule. Obs.: O nome “Calúmba”, pana esta planta é, in- contestavelmente resultado de uma comparação mal feita, pois aquillo que - se oonliece por este nome em Portugal e no Brasil é a Jatrorliiza palmata, Miers-, da fam. das Menispermaceas, planta da África orien- tal, usada como estomacliica, excitante do systema circulatório e suidorifico podendo produzir vomitos e mesmo a-ocidentes graves quando usada em dóse mais elevada; ella deve as suas virtudes medicinaes á “Co- lombina”, “Berberina” e ao “Acido Colombinico”, prin- cipios que possuem a vantagem de serem tonicos sem serem adstringentes ou estimulantes excessivos. A con- figuração do tecido cellular do caule das Aristolochia- ceas assemelha-se muitissimo ao das Menispermaceas, o clieiro oaracteristico das primeiras denuncia entretanto facilmente o grupo de que se trata. Esta “Calúmba” é vendida como nacional; existe á venda, porém, também a “Calúmba verdadeira” ou “Calúmba estrangeira”. Cambará (51) Syn.: (Ciom o nome supra distingue o vulgo varias especies de Lanternas, differenciando-as pe- la cor das flores, revestimentos de. espinhos, etc.; assim existem: “Cambará roseo”, “Cambará vermelho”, “Cambará branco”, “Cambará roxo”, “Cambará de 66 espinho”, “Cambará manso”, “Cambará bravo”, etc., etc.). “Ruim” e “Chá de Pedestre” são outros nomes dados á mesma planta aqui em S. Paulo. — “Xumby” 6 como a designa o Dr. Monteiro da Silva, no Rio de Janeiro. Nom. Sc.: Lantana camara, L., da fam. das Ver- benaceas. (Esta é o “Cambará vermelho” ou “Cam- “bará de espinho” do povo). P. us.: Folhas, flores e ramos finos. Obs.: O “Cambará de espinho” é considerado o rnais forte de todos, preferindo o povo tomar o “Cam- bará roxo” (Lantana lilacina, Desf-), ou o “Cambará branco” (Lantana brasiliensis, Link.), cujas virtudes embora mais brandas são consideradas de maior re- sultado pratico. O nome “Chá de Pedestre” que aqui é dado a esta Lantana, é, em outros pontos do Brasil e mesmo no Estado de S. Paulo, dado á Lippia pseudo-thea, Sohauer, de propriedades analogas ás da Lantana. Em Minas tivemos occasião de ver que o nome “Cambará” ou “Camará”, não serve só para designar espeeies de Lantana, mas que é também empregado para distinguir espeeies de Vochysia. O maior emprego encontram as Lantanas, no pre- paro de xaropes e chás peitoraes, onde as suas vir- tudes tem se mostrado realmente dignas de attenção. Camomilla (52) Syn.: “Matricaria”. Nom. Sc.: Matricaria camomilla, L., da fam. das Compostas. P. us.: Summidades floridas e capítulos floraes. Obs.: Empregam-se em infusão como stomachicas, 67 carminativas, antispasmodicas e calmantes. Para isto toma-se 5 grammas de capitulos floraes para um litro de agua quente, depois de perfeitamente saturado to- ma-se o liquido na razão de 3-4 cliicaras por dia: dóses muito fortes aotuam como vomitivo. Como emmenagogo ou antiapasmodico empregam-se outras especies de ge- neros affins. O Dr. Narodetzki (La Medicine végétale) diz que das flores desta planta póde-se preparar egual- mente um insecticida de primeira ordem. Camphora (53) Nom. Sc-: Cinnamomum camphora, (L.) ]ST. & E.r da fam. das Lauraceas. P. us.: Essência crystalisada. Obs.: A camphora é empregada para vários mis- teres, o povo a usa mais especialmente, dissolvida em álcool ou aguardente, contra rlieumatismo e para feri- mentos recentes, etc. Camphora (54) Obs.: Uma pequena Composta ornamental, de crescimento meio arbustivo, cujo aroma lembra o da camphora verdadeira e que é muito cultivada nos jar- dins de S. Paulo. Por não termos tido oceasião de en- contrar material florido tornou-se-nos impossível a iden- tificação scientifica; estamos entretanto cultivando a planta no nosso Horto, para identifical-a logo que esteja florida. 68 Canhamo (55) Syn.: “Maconha”, “Moconha”, “Liamba”, “Diam- ba”, etc. Nom. Sc.: Cannabis sativa, L., da fam. das Mo- raceas. P. us.: Summidades floridas (femininas) e as sementes. Obs.: Nas sementes e flores femininas desta planta se acha encerrado um oleo resinoso volátil que é narcotico e estimulante; razão porque estas partes são fumadas ha séculos pelos arabes e africanos. Estes últimos trouxeram o vicio da Diamba ou Muconha para o Brasil e, ainda hoje, não são raros os que a elle se entregam. Sobre o uso do “Canhamo” no Brasil vários tra- balhos têm sido compilados e feitos per pessoas que, estudando o vicio que elle oocasiona, nelle enxergam um perigo eminente para o nosso povo. O individuo fruindo-o degenera mentalmente a ponto de se tornar louco e mesmo perigoso á sociedade. Este vicio florio especialmente na Arabia e Egypto, onde indivíduos houve que delle se aproveitavam para conseguirem os seus intentos malignos. Canna de Macaco (56) Syn.: “Oanna do Brejo”, “Gostos”, etc. Nom. Sc.: Costus brasiliensis, K. Schumann, da fam. das Zingiberaceas. P. us.: Caule. 69 Obs.: Affirmam pessoas insuspeitas ser esta planta um dos mais effieazes diuréticos. Outras aconselham-na contra a gonorrliéa. Para usal-a colhem os caules e ex- premendo-os como quem expreme a canna extrahem o sueco que é a parte tomada pelo doente. Martius diz: uO sueco de todos os Costus é muci- laginoso, acidulo, refrigerante antifebril e usado para as dores nephriticas e contra a gonorrhéa”. Canna-fistula (57) Syn.: “Canaficier” dos francezes. Nom. Sc.: Cassia fistula, L., e também Cassia quin- angulata, Ricli., da fam. das Leguminosas, subf. das Caesalpinioideas. P. us.: Polpa das vagens. Obs.: A polpa desta planta é empregada desde muitos decennios como purgante brando e outros fins medicinaes. A aeção purgativa é devido a “Cathartina” que a polpa encerra em grande porcentagem. Além das duas especies citadas muitas outras affins fornecem polpa de propriedades analogas. Cannela (58) Nom. Sc.: Cinnamomum zeilanicum, Breyn., da fam. das Lauraceas. P. lis.: Cascas. Obs.: As cascas são vendidas nas pharmaeias com o nome de “Córtex Cinnamoni Acuti”. Elias encerram um oleo ethereo muito aromatico e picante que en- contra applicações varias na medicina, culinaria e ainda na perfumaria. 70 Cannela Sassafraz (59) Syn.: “Sassafraz”, “Casca preciosa”, etc. Nom. Sc.: Ocotea pretiosa, Meissn., da fam. das Lauraceas. P. us.: Cascas e sementes. Obs.: Tanto as sementes como as cascas são acon- selliadas, em infusão no álcool, contra o rheumatismo, como estimulante, antispasmodico e peitoral. As cascas foram adquiridas do Sr. Cecilio Lopes e os fructois de um preto da feira do largo do Arouche. Estes últimos se achavam tão deteriorados que só o calyx poderia ainda conter qualquer essencia, mos- trando-se as semente completamente podres. Esta planta não deve ser confundida com o “Sas- safraz” da America do Norte (Sassafras officinale, Nees), nem tão pouco com “Sassafraz” da Nova Wales do Sul (Doryodhora sassafras, Endl.), da fam. das Mo- nimiaceas. Do Sassafras officinale, Nees, especie de um ge- nero da mesma família a que pertence o “Sassafraz” nacional, provém o “Safrol” (C10H10O2) e o “Safrene” (C10H16), que são produotos extrahidos das raizes e da casca. Fructos e casca de “Pichurim” ou “Sassafraz” provém de varias especies de Lauraceas e a efficacia é sempre mais ou menos a mesma. Capa-Homem (60) Syn.: “João da Co-sta”, “Paina de Pennas”. Nom. Sc.: Echites peltata, Vell., da fam. das Apo- cynaceas. 71 P. us.: Caule e folhas. Obs.: As partes desta planta são usadas contra as orcliites e inflammações em geral. O nome “João da Costa” é dado também a varias outras plantas, veja-se, por exemplo, “Cnratombo”. Capim Gommôso (61) Syn.: “Trapoeraba”, “Marianninha”, “Grama”, etc. Nom. Sc.: Commelina agraria, Kunth., da fam. das Commelinaceas. P. us.: Folhas e caule. Obs.: Como muitas outras especies da mesma fa- mília, portadoras do mesmo nome vulgar, é emolliente, diurética, anti-rheumatica e recommendada também contra a liydropsia e angina. Foi a esta planta que o Dr. Luiz Pereira Barreto se referiu no seu artigo sobre plantas forrageiras, no Estado de S. Paulo, este anuo, quando tratou de uma “Trapoeraba”, que recommendava calorósamente aos criadores de gado. Capim-Limão (62) Syn.: “Capim-Cidreiro”, “Capim-Clieiroso”, “Her- va-Cidreira”, etc. Nom. Sc.: Andropogon schoenanthus, L., da fam. das Gramineas. P. us.: Rhizoma e folhas. Obs.: Alguns dos nomes supra citados são dados egualmente a plantas de especies differentes, por exem- plo, o de á Kyllingia odor ata, Valil., 72 da fam. das Cyperaceas e o de “Herva-Cidreira” ao “Cidrão”, Lippia citriodora, Kunth., da fam. das Verbe- naceas. As virtudes principaes desta planta são as sudo- ríficas. Cará de Sapo (63) Syn.: “Cará do Matto”, “Cascos”. Nom. Sc.: Dioscorea laxiflora, Mart., var. truncata, da fam. dais Dioscoreaceas. P. us.: Tuberas. Obs.: A tubera por nós adquirida do Sr. Cecilio Lopes, encontrava-se completamente exsiceada e redu zida a uma espessa e dura crosta que de modo algum poderia ser identificada scientifieamente, nem trazer proveito a qualquer pessoa. Em poucois dias consegui- mos entretanto encontrar, nos arredores de Butantan, a planta que produz estas tuberas, fomos tão felizes que encontramos vários exemplares portadores de ba- tatas bastante grandes, e confrontando este material colhido com o do nosso Hervario conseguimos identifi- car a especie. Quando frescas, as tuberas são algo acha- tadas e semelhantes ás da D. sinuata, Vell., que é co- nhecida vulgarmente pelo nome de “Caratinga brava”; ellas são protegidas por casea de um castanho escuro exteriormente e internamente de cor alvo-amarellada; mastigada, a massa deixa um sabor amargo-picante na booca, que com a deglutição se sente ainda por muito tempo na garganta. A respeito das Dioscoreas, diz Martius: “Os ho- moeopathas empregam as folhas dynamizadas como anti-herpeticas e as tuberas são, segundo alguns, uteis na cura da lepra-tuberculose, porém mais usados como comida”. Sabendo-se que, em muitos logares do Brasil, 73 chamam as tuberas das Dioscoreas de “Inhame” e aquellas das Calocasias e Alocasias, de “Cará”, e, que estas ultimas são reputadas úteis contra a lepra-tuber- culose, chega-se á conclusão de ser preciso pôr de qua- rentena a indicação de Martins. “Cascos” é o nome que Peckolt dá para esta planta, mas quer nos parecer que tivesse havido algum engano da sua parte, na classificação da especie ou então na descripção das tuberas. Cardo-Santo (64) Syn.: “Papoula de Espinho”, “Papoula do México”. Nom. Sc.: Argemone mexicana, L-, da fam. das Papaveraceas. P. uis.: Caule, folhas e isumimidades floridas. Obs.: Caminhoá affirma: “O deoocto dos ramos, como o de toda a planta, é usado na America contra certas a.ffeeções da pelle e do apparelho urinário; di- zem que o sueco desta Papaveracea contém também a “Morphina”; entretanto, o sueco e o oleo extrahido das sementes são cáusticos, e usados no tratamento das ulceras de máo caracter. E mais que é toxico em fortes doses, e liypnotico em dóses therapeuticas. O látex, de cor amarello-enxofre é abundantissimo nesta planta. Carnahúba (65) Syn.: “Carandá”. Nom. Sc.: Copernicia cerifera (Arruda Cam.) Mart., da fam. das Palmeiras. P. us.: Kaizes (eeg. Lopes). 74 Obs-: O emprego que encontra a cera desta planta, cujo consumo augmontou consideravelmente depois que se inventou o qohonograplio, é conhecido bastante ; menos conhecido é entretanto o aproveitamento das raizes na medicina; sabemos todavia que as empregam como al- terante e diurético. Dr. Dias da Roclia, diz mais que ellas são um depurativo poderoso, empregado no tra- tamento das affecções cutaneas, syphilis e rheuma- tismo. E’ posisivel que fostse também uma raiz desta planta a encontrada entre o material registado sob o nome de “Assahy” ou “Pão para os Dentes”. O nome “Coqueiro-Carandá” que Caminhoá diz ser dado, em Matto-Grosso, a esta palmeira, está errado. Lá todos a conhecem, como no norte da Argentina, pelo nome de “Carandá” sómente. Carobinha (66) Syn.: “Carobinha do Campo”,.“Caróba do Campo”, “Camboatá Pequeno”, etc. Nom. Sc.: Jacaranda caróba, P. D. C., da fam. das Bignoniaceas. P. us.: Folha,s. Obs.: A infusão ou alcoolatuna das folhas é um depurativo tonico conhecido de todos os caipiras e mesmo da classe medica. Ella é usada contra as escro- phulais, boubas e nas varias manifestações da syphilis. Os mesmos nomes vulgares isão dados ainda á ou- tras especies affins, cujas virtudes therapeuticas são idênticas. Pelo nome de “Caróba” ou, ainda, “Caróba da Mat- ta” distingue o vulgo ais especies mais arborescentes deste genero, que apparecem nas mattas, taes como a rJacaranda semiserrata, Cham. e outras muitas. 75 Segundo o Dr. Alfredo Augusto da Matta, os prin- cípios activos, nesta planta, são: o alcaloide “Caro- bina” e a resina balsamica chamada “Carobana”. A raiz de uma especie amazonica, diz elle, é bastante mais activa que as folhas; ella encerra o alcaloide até 3 por mil, ao passo que as folhas isó dão de 1, 5 a 2 por mil. No seu trabalho, este autor dá varias receitas desta planta e diz entre outras que o Dr. Mennel, na Europa, recom- menda a “Caroba” na blenorrhagia. E ’, pelo que pudemos observar, uma das folhas que mais se vende nas varias hervanarias, aqui em S. Paulo. Carqueja (67) Syn.: “Baccliaris”. Nom. Sc-: Baccliaris genistelloides, Pers., var. tri- mera, Baker, da fam. das Compostas. (Muitas outras especies além desta recebem o mesmo nome vulgar e são usadas para idênticos fins). P. us.: Caule, raizes e flores. Obs.: O decocto desta planta é considerado tonico- amargo e febrífugo. A respeito das “Carquejas” (Baccharis) Martins escreveu o seguinte: “Estas hervas devem ser admi- nistradas em forma de pillulas com a parte amarella da casca de laranja. O seu extracto é amargo-resinoso e substitue perfeitamente a losna nas debilidades inteis- tinaes, anemia e nas grandes perdas sanguíneas”. Carrapixo rasteiro (68) Nom. Sc.: Acanthospermum brasilum, Sclirank., da fam. das Compostas. 76 P. us.: Planta toda. Obs.: Mucilaginósa, tónica, diaplioretica, etc.em- pregada contra a diarrhéa e como refrigerante. Além dais duas especies de Compostas conhecidas vulgarmente pelo nome de “Carrapicho”, “Carapixo” ou ainda “Carrapixo”, A. brasilum, Scli, e II. liispi- dum, D. C., que os hervanarios também appelidaram de “Espinho Bravo”, outras especies vegetaes das va- rias famílias naturaes são ainda conhecidas por este nome. Em seu trabalho, o Dr. Alf. Augusto da Matta regista-o para o Bidens pilosus, L., o que nos parece ser fruicto de um engano, porque os Bidens são conhecidos em todos os pontos do Brasil pelo nome de “Picão”. Carvalho (69) Nom. Sc.: Quer cus pedunculata, Eichl. e ontras es- pecies affins, da fam. das Fagaceas. P. us.: Cascas. Obs.: Além das cascas de varias especies, que apparecem nos mercados sob o mesmo nome commum, também se usam as galbais de muitas outras que se vendem pelo nome de “Gallias de Carvalho”. Os rece- ptaculos dos fructos, assim como as próprias bolotas, são considerados e vendidos como medicamentos e encontradas na liervanaria St. Isabel. Casca de Anta (70) Syn.: “Mialambo” ou “Melambo” na Nova Gra- nada e “Córtex Winterii” nas pharmaciais. Nom. Sc.: Drimys Winterii, Forst., da fam. das Magnoliaceas. P. us.: Cascas. - 77 Obs.: As cascas são empregadas, em decooto e in- fusão, contra 'escorbuto ie consideradas tónicas e esto- macaes. Elias encerram um oleo etbereo laore-aromatico que é contido em cellulas amplas aggregadas. Para to- mar, contra cólicas e dores do estomago, aconselham uma infusão de 5 grammas de cascas trituradas para 200 oc. de agua fervendo. St. Hilaire tece grandes elogios ia esta preciosa casca e incita os brasileiros a usa.l-a para os fins acima indicados. O nome da planta nasceu do facto de terem os indí- genas observado que a anta roia a casca desta arvore quando não >se >sentia bem do estomago, e, segundo o povo, foi graças a isto que se teve conhecimento das virtudes da mesma casca. Cascas do Panamá (71) Syn.: “Quillaya”, “Ecoree de Panamá”, “Quillais savonneux” dos francezes. Nom. Sc.: Quillaja saponaria, Molina, da fam. das Rosaceas. P. us.: Oasca e lenho. Obs.: Este material apparece nos mercados em pedaços grandes ou picado. Ni estas ultimas condicções encontramol-o em casa do Sr. Oecilio Lopes. Não é sempre a mesma especie que apparece no mercado sob o nome citado, outras, taes como a Quillaja Poeppigii, Walp., egualmente nativa no Chile e Q. bra~ siliensis, Mart., do sul do Brasil, fornecem material idêntico. A infusão dos fragmentos do lenho ou da casca é diurética. Ella encerra grande porcentagem de “Sapo- nina”, substancia emetico-cathartÍGa e diurética que a torna utilisavel na medicina. - 78 O pó que, ao mexer neste material, se aspira, pro- voca tosse e espirros, c que difficulta sobremaneira n trituração do lenho. Geralmente 100 grammas de casca para 400 de álcool forte, produzem pela maceração, no fim de 5 dias, uma tintura forte bastante para ser dissolvida em dois litros de agua morna. Esta solução assim obtida tem a propriedade de emulsionar [) ode rosamente os corpos graxos, servindo para lavar os cabellos, pelles, estofados, etc. Catinga de Mulata (72) Syn.: “Tasineira”. Nom. Sc.: Chrysanthemum vulgare, Bernh., (Tana- cetum vulgare, L.), da fam. das Compostas. P. us.: Folhas. Obs.: A infusão das folhas é considerada estomacal e serve para lavar feridas, ás quaes se applica também o pó das mesmas folhas. Planta exótica, nativa na Asia, Europa, etc., mas hoje cultivada no Brasil e em vários outros paizes- Catuába (73) Syn.: “Caatuyba”, (“Batuaca”, anagramma arran- jado talviez pelo naturista Lopes). Nom. Sc.: Anemopaegma mirandum, A. D. C., da fam. das Bignoniaceas. P. us.: Cascas e raiz. Obs.: O material adquirido aqui se compõe de fragmentos de casca e entrecasca, não permittindo uma identificação scientifica, mas, no Rio de Janeiro, tive- mos occasião de examinar material melhor e de co- 79 lher também informações mais seguras a respeito do vegetal e verificamos então tratar-se de facto da mes- ma especie dada com este nome pelo Dr. Monteiro da Silva e outros autores. A “Oatuába” que o Dr. Alfredo Augusto da Matta descreve, 11a sua “Flora Medica Brasiliense”, pag. 80, sob o nome de Erytliroxilcm catuaba (nome buscado naturalmente no Boletim Pharmaceutico de Silva Araújo, que não é citado no “Regni vegetabilis cons- peotus; vindo além disso omittido 0 nome do autor, será nova para 0 autor?) é, segundo uma informa- ção obtida do Sr. João Geraldo Kuhlmann, botânico que trabalhou algum tempo na região amazonica, o Phyllantus nobilis, Muell. Arg., com que concorda aliás a própria descripção do primeiro. A planta descripta por este é arvore da floresta, a verdadeira “Catuába” entretanto, é um arbusto campestre de menos de um metro de altura, com folhas ternadas, isesseis, foliolos estreitos, lineares, de margens fortemente recurvadas, que cresce em quasi todos os campos do Brasil, sendo citado também 11a Flora Brasiliensis com os mesmos nomes vulgares. Monteiro da Silva diz: “Eista planta góza de justa fama como estimulante nervino, tão util corno apliro- disiaoa, sem trazer nenhum prejuizo ao organismo”. E mais: “A “Oatuába” é um estimulante eneirgico, levan- tando as forças do indivíduo e tonificando o seu sys- tema nervoso, tão abalado, a ponto de parecer um velho, quando ise trata ainda de um organismo novo e de as- pecto robusto. O a pelle de qualquer erupção, elimina c acido urico e areias, depura o san- gue, descongestiona o figado, cura o rheumatismo got- toso, previne a arteriosclerose fazendo eliminar o! acido urico do sangue”. Verificamos que a variedade supra possue muito maior numero de glândulas oleosas no limbo da folha que a forma typica. Justamente esta variedade é a me- nos comimum nos arredores desta cidade. 86 Chapéu de Napoleão (83) Syn.: “Fava contra o rheumatismo”. Nom. Sc.: Thevetia neriifolia, Juss., da fam. das Apocynaceas. P. us.: Capsuliais. Obs.: As capsulas, vendidas a 500 rs. cada uma, são usadas como amuletos. Também 11a pinga, diz o Sr. Cecilio Lopes, ellas são efficazes contra 0 rheumatismo. Entre os Índios 0 uso deistas cascas ou capsulas é muito mais frequente do que entre os civilisados. Fa- zem delias grandes colares e braceletes que usam ao pescoço, nos tornoselos, nos braços acima do biceps e nas pernas abaixo dos joelhos. Gostam immensa- mente destes atavios, não porque creiam na sua effi- cacia prventiva ou curativa, mas porque apreciam 0 ruido que produzem as capsulas ao baterem umas de encontro ás outras. Para elles estes objectos não pas- sam de guizos ou campainhas com que adornam os seus corpos nús. Veja se também “Coração de Jesus”, nome esse com que 0 Sr. Cecilio Lopes nos vendeu as folhas desta mesma planta. O Er. Alfredo Augusto da Matta, dá esta planta com 0 nome de “Jorro-Jorro” (nome este com que tam- bém a regista Oaminhoá) e diz que ella encerra a “The- vetima”, um pó branco muito amargo, de formula C54H340 24, solúvel a 14° em 122 partes de agua, so- lúvel 110 álcool e insolúvel no ether; e um glycoside iso- lado por Blas. As sementes, diz ainda o mesmo autor, encerram de 35 ia 41 % de oleo (De Vry) e 57 % quando tratadas pelo benzol; é claro, transparente, densidade 0,9148 a 25°, solidificando-se a 13°. Elle encerra 63% de triloínia e 37 % de tripalmina e tristerina (Oude- 87 mans). De Vry nelle obteve a thevetina na proporção de 4 %. Esta, fervida em solução acida, se transforma em theveresina, substancia amorpha, branca, forte mente isoluvel na agua fervendo, no álcool, insolúvel na benzina ie no chloroformlio. E’ bastante amarga e tem por formula C48H70On. São toxicos. Tanto Caminhoá como o autor supra citado, são aocordes no que diz respeito a toxidez das glyoosides encerradas por esta planta. Caminhoá, por exemplo, affirma: “E’ planta muito venenosa, entretanto seu sueco, que é a parte activa, sendo tomado até a dose de 10 eentigrammas, passa por anti-periodico; em dóses um pouco mais fortes provoca vomitas, e, emfim, gra- dativamente augmentado, os symptomas são cada vez mais assustadores, até que produz a morte”. “Nóz de Cobra” é ainda outro nome registado para este vegetal. Charruinha Branca (84) Nom. Sc.: Mikania nummularia, 1). C-, da fam. das Compostas. P. us.: Toda a planta. Obs.: Esta especie não differe muito da Mikania officinalis, Mart., que é o verdadeiro “Coração de Je- sus” e bastante oommum nos campos adjacentes a esta cidade e empregada contra as febres intermitentes, de- bilidade em geral ou para o estomago, cujas virtudes tem sido comparadas com aquellas da “Casearilha”. A “Charruinha Branca” é aconselhada contra ais moléstias do figado. Sob o nome de “Charruinha roxa” vendem os her- vanarios ainda uma especie do Eupatorium, cujas vir- tudes devem rivalizar com as da “Charruinha Branca”. 88 “Charrúa pequena” é segundo Pio Corrêa, Bcicclia- ris tridentata, Vialil., egualmente da fam. das Compostas e muito frequente aqui em S. Paulo, sendo considerada febrífuga e diurética. Choupo (85) Syn.: “Pappel” dos allemães. Nom. Sc.: Populus, Sps. f, da fam. das Salicaceas. P. us-: Gomos (Botões vegetativos). Obs.: Este material é ò mesmo vendido nas pliar- macias sob o nome de “ Gemmae Populi” e provém de varias especies do genero referido. Além destes gom- mos e gêmmas empregam-se também, na medicina, a casca e o carvão que se obtém do caule. No Horto temois cultivado o “Choupo Branco” (Populus alba, L-), que, corno as outras especies, ve- geta perfeitamente aqui em S. Paulo- Cidrão (86) Syn.: “Herva Cidreira”. Niom. Sc-: Lippia citriodorá, (Liam.) Kunth., da fam. das Verbenaceas. P. as.: Folhas. Obs.: Ais folhais -deste vegetal são empregadas na medicina desde muitos annos- Elle é nativo na Argen- tina, Chile e Uruguay, mas é hoje cultivado em quasi todos os paizes do mundo, graças á fragancia das suas partes vegetativas. Na pharmacopéa franceza é citado como “ Verveine odorante”. 89 O nome de “Herva cidreira” é dado também á Me- lissa officinalis, L., da fam. das Labiadas, que vegeta no sul da França, onde é cultivada em grande escala e conhecida pelo nome de “Citronelle”. Cinco em Rama (87) Svn.: “Potentilha”, “Potentilla”, e “Blutwurz” ou “Ruhrwurz” dos allemães. Nom. Sc.: Potentilla silvestris, Nack., da fam. das Rosaceas. (Alguns autores citam também a P. reptans, L., como sendo empregada e conhecida pelo mesmo nome vulgar). P. us.: Rhizomia on estolonos. Obs.: Nas pharmacias conhecida pelo nome de “Rhi- zoma Tormentillae”. Propriedades adstringentes e em- pregada algumas vezes como emmeriagogo. Cinco Folhas (88) Syn.: “Caroba de Flor Verde”. Nom. Sc.: Cybistax antisyphilitica, Mart., da fam. das Bignoniaceas. P. us.: Folhas, raiz e ramos. Obs.: Considerada diapboretioa e util contra as moléstias sypuilitieas, não sendo a única planta com aquelle nome vulgar. Por “Cinco Folhas” são conhe- cidas algumas especies de Vitex, da fam. das Verbe- naceas, no Estado de Minas-Geraes. Esta planta é egualmente cultivada emi nosso Horto, de onde já fornecemos material ao Dr. Adolpho Lin- denberg, que pretendia estudar a sua acção thera- peutica. 90 Cipó Almecega (89) Ob.: O material adquirida do Sr. Cecilio Lopes, compõe-se de pequenos tóros do caule, cujo tecido le- nhoso é poroso casca mais ou menos grossa e liza, en- trecasca farta de resina perfeitamente crystalisada. O Lr. Monteiro da Silva e o Dr. Alfredo Augusto da Matta dão a Mikania setigera, Schultz, da fam. das Compostas, como sendo o “Cipó Cabelludo” apre- sentando ainda o primeiro a mesma especie como “Ci- pó Almecega”. Isto nos autorisa a crer que “Cipó Alme- cega” e “Cipó Cabelludo” sejam synonymos o que entretanto não se dá com o material em mão; o “Cipó Cabelludo” adquirido aqui. em casa do Sr. C. Lopes, é Mikania hirsutissima. D. C., e delle discor- dam absolutamente os pedaços adquiridos sob o nome de “Cipó Almecega”. Da Mikania setigera, Schultz, não tivemos ainda occasião de comparar material. Monteiro da Silva aconselha as folhas e a liaste, em banhos, para o rheumatismo, nevralgias e para- lysias, dizendo que a alcoolatura, usada uma collieri- nlia de chá em um cálice de agua, tres vezes ao dia, combate as dores rheumaticas, nevralgia, dores inter- c-ostaes ou de cadeiras ou rheumatismo sacro-lombar. Cipó Cabelludo (90) Syn.: “Cipó die Cerca”. Nom. Sc-: Mikania hirsutissima, D. C., da fain. das Compostas. P. us.: Folhas e caule. Obs.: O Sr. C. Lopes aconselha-a contra a nephrite e como diurética. A. A. da Matta accrescenta ser a 91 planta em questão anti-albuminurica, o que aliás é asse- verado também pelo Dr. Monteiro da Silva, que pres- creve a detcocção em chicaras de chá, de hora em liora. O “Cipó Cabelludo” é uma trepadeira muito com- mum nos arredores desta cidade, que poderia ser cul- tivada tão facilmente como o “Guaco” (Mikania ama- ra, Willd- var. Guaco), e com a vantagem de ser ainda uma planta muito mais ornamental, principal- mente quando desabrocham as flores, disipostas em ca- pítulos e constituindo enormes cachos alvos, muito pro- curadas pelas abelhas. Cipó Caboclo (91) Syn.: “Cipó die Caboclo”, “Cipó de Carijó”, “Cipó Vermelho”, “Çambaibinha”, “ Cambaiba”. Nom. Sc.: Davilla rugosa, Poir., da fam. das Dille niaceas. P. us.: Caule, cascas e raizes. Obs.: As virtudes thierapieutioais desta planta já eram apregoadas por St. Hilaire, Martins e outros bo- tânicos ou medicas que delia tiveram conhecimento: E’ fortemente adstringente e usada como vulneraria, contra febres, orchites, etc. Um dos nomes orais interessantes quie dão a esta planta, e que bem demonstra a tendencia que o vulgo tem para repetir o que ouve, é o de “Cipó da Villa Rugósa” que ouvimos de um dos hervanarios desta ci- dade. Vê-se claramente que o liomem tendo ouvido algures o nome scientifico da planta deturpou-o para o que acima citamos. Cousa idêntica já haviamos obser- vado certa vez em Minas, quando perguntando a al- guém o nome vulgar do “Cliá Mineiro” nos respondeu promptamente: “Chá Mineiro” não é o “Chapéu de 92 Couro”, como querem alguns, mas o “Aqui-Nó-Duro”; referiu-se a Echinodurus. Em alguns logares chamam esta Dilleniacea tam- bém de “Capa Homem”, nome que deve ser conservado para a Echites peltata, Vell., da fam. das Apocynaceas. Cipó Chumbo (92) Syh.: “Pios de Ovos”, “Cipó Dourado”, etc. Nom. Sc.: Cuscuta obtusiflora, II. B. K. e outras especies da fam. das Convolvulaceas. P. us.: Planta toda. Obs.: Antiphlogistiea; contra hemoptise, inflama- ções da booca e abcessos internos. O pó da herva é também aconselhado para gargarejos em casos de amy- gdalites e laryngites. Cipó Carneiro (93) Nom. Sc.: Haemadityon Gaudichaudii, A. D. C. ? da fam. das Apocynaceas. (?) P. as.: Caule. Obs.: Os pedaços de caule, adquiridos do Sr. C. Lopes, são revesti dois de espessa camada de cortiça e temido o tecido lenhoso dividido em vários gomos, que irradiam do centro para a periferia, e póros bastante grandes que o atravessam em avultado numero em sen- tido longitudinal. Todo o aspecto do lenho é o de uma Aristolochiacea ou Menispermacea. Resta-nos colher um exemplar da especie supra para podermos fazer a comparação, porque nenhum dos hervanarios quiz nos arranjar material completo da planta. 93 Cipó Cruz (94) Syn.: “Gepocruz”, “Raiz Preta”, “Cainca”, “Cani- marca”, “Purga Preta”. Nom. Sc.: Chiococca brachiata, Ruiz et Pav., da fam. dais Rubiaceas. P. us.: Raiz e follias. Obs.: “Cainca” é o nome usado em Matto-Grosso e outros pontos do interior do Paiz, e, “Cipó Cruz”, o com que se designa a planta aqui em S. Paulo e ou- tros Estados do sul do Brasil, sendo, porém, mais em- pregado para distinguir especies de Bignoniaceas, cujo caule cortado transversalmente apresenta o tecido em fórma de cruz de Malta; na Chiococca, ao contrario, foi a disposição dos ramos que motivou o nome para o ve- getal. Aliás, a designação de “Cipó” não fica muito bem para esta planta, que é mais arbustiva que trepadeira. “Cainca”, “Gainana”,- “Ganinana”, “Gruzeirinha”, “Raiz Preta” e “Puiu”, são os nomes registados por Martius para esta e outras especies affins. Diz elle também que no principio acre-nauseoso, descobriram Caventon e outros o “Acido Cainico” ou “Cainanum”, que se apresenta em crystaes estreitados, solúveis em seissentas partes de agua ou de etber e cm menor por- ção de álcool. Gardner c também Martius Citam esta planta como empregada pelo povo contra ia mordedura das cobras, fim este para que nol-a indicaram também no Estado de Matto Grosso, onde em regra se tem muita fé na sua effioacia nnti-ophidica. 94 Cipó de S. João (95) Nom. Sc.: Pyrostegia venusta, Miers., da fam. das Bignoniaceas. P. us.: Caule Obs.: Não conseguimos saber n fim para que é vendida esta planta. Cipó Sumrna (96) Syn.: “Piriguaia”, “Piraguaya”, “Pereiuár”. Niom. Sc.: Anchietea salutaris, St. Hil., da fam. das Violaceas. P. us.: Paizes e caule. Obs.: As raízes são purgativas e o caule é depura- tivo. A maior appli cação desta planta é para as mo- léstias da pelle, em virtude da acção depurativa que lhe é própria. 0 sueco da raiz, em fresco, é um bom purgante, bastando tomar-se uma colher de sopa em jejum. Monteiro da Silva faliando das virtudes depu- rativas desta planta, diz: “Para mim o “Cipó Sumrna” é o iodureto de potássio vegetal com todas as suas qualidades curativas sem as partes prejudiciaes, como irritantes da mucosa do estomago, que produz no in- feliz doente a mais rebelde dyspepsia”. Cóca do Levante (97) Syn.: “Coque du Levant” dos framcezes, “Kockel- kõrmer” dos allemães. Nom. Sc-: Anamirta cocculus, (L.) Wright et Arn., da fam. das Menispermaceas. P. us.: Sementes. 95 Obs.: Na pharmacologia conhecidas por “Fructus Oocculi”. Encerram “Pierotoxina” e são usadas para tinguijar os peixes, falsificar cerveja e fornecem tam- bém uma banha, usada na índia para fabricar vellas. As raizes e os caules são febrífugos. Este material é importado de liervanarias da Europa. Cocculus (98) 'Syn.: “Abútua Preta”. 'Obs.: Quanto a esta synonymia existe, indubitavel- mente, uma confusão, porque, “Cocculus” é o nome ge- nérico de um grupo de Menispennaceas, que hoje é ac- ceito com o de Chondrodendron. De Chondrodendron platyphyllum, St. Hil., provém a “Riadix Pareirae Bra- vae” das pliarmacias, podendo “Cocculus” ser portanto synonymo de “Parreira Brava”, mas não de “Abútua Preta”. (Veja-se este nome). Coloquintida (99) Syn.: “ Maçã de Ooloquintida”, “Koloquinthe” dos allemães e “Fructus Colocyntliidis” das pliarmacias. Nom. Sc.: Citridlus colocynthis, (L.) Schrad., da fam. das Cucurbitaceas. P. us.: Fructos (Polpa e sementes destes). Obs.: Os fructos lapparecem nos mercados descas- cados e completamente resequidos, sendo de cor alva e muito esponjosos; us sementes amarello-claras são duras e brilhantes; ia polpa muitíssimo amarga. O ta- manho dos fructos regula com o de uma laranja. Ma- terial importado da Europa. - 96 Condurango (100) Syn.: “Geierinde” dos allemães. Nom. Sc.: Marsdenia condurango, Reiclib. f. ? da fam. das Asclepiadaceas. P. us.: Casca e raizes. Obs.: Empregada ha muitos decennios como es- tomacal. Sob o nome de “Córtex Condurango” apparecem nos mercados, além desta, especies de Macrocepis; plantas que também vegetam na Colombia, Equador e parte da zona septentrional da America do Sul. E’ de suppor que algumas das especies affins indígenas do Brasil sejam dotadas de virtudes idênticas. Congonha de Bugre (101) Syn.: “Congonha”, “ Yapon”, “Miatte”, “Yerba de Paios”, etc. Nom. Sc.: Villaresia congonha, Mders (?), da fam. das Icacineas. P. niS.: Folhas. Obs.: No Paraguay misturam esta herva, segundo affirmiação de pessoas insuspeitas, com a “Herva Mate” (llex par agua,yensis, St. Hil., da fam. das Aquifolia- ceas. O chá preparado com esta e outras especies af- fins da Villaresia é de sabor agradavel e altamente diurético. No nosso Horto estão sendo cultivadas va- rias especies do genero citado. 97 Contas de Nossa Senhora (102) Syn.: “Lagrimas de Nossa Senhora”, “Marientrã- nen” dos allemães, “Contas p’ra Rosário”, “Capim de Nossa Senhora”. Nom. Se.: Coix lacrvma, L., da fam. das Gramineas- P. us.: Ajs sementes e seus invólucros. Obs.: Diuréticas, mas mais commumente usadas para confeeção de rosários que são considerados vir- tuosos contra o quebranto, a feitiçaria, etc. Pertencem ao grupo dos amuletos. Copahyba (103) Syn.: “Oleo de Copaliyba”, “Oleo vermelho”, “Co- pahybeira”. Nlom. Sc.: Copaifera Langsdorffii, Desf., da fam. das Leguminosas, subf. das Caesalpinioideas. P. as.: O oleo. Obs.: Contra a gonorrhéa, o Sr. C. Lopes acon- selha: cosimento de “Raiz Brava” (Urera baccifera, Gaudích. ? ), “Folhas de Bugrinho” (Codia salicifolia, Chain.), “Raiz de Tangaráca” (dada como synonymo de “Herva Tostão”, Boerhaavia paniculata, Rieh), “Cipó Dourado” (Cuscuta obtusiflora, H. B. K.) e um pouco de oleo de “Copahyba”, e tomar em vez de agua, o decocto da “Canna do Brejo” (Costus brasiliensis, K. Sehumann. Relativamente á “Tangaráca” reeommendamos ver a nossa nota sobre “Herva Tostão”. O oleo de “Copahyba” é muito preconizado contra o rheumatismo e muitas outras moléstias. Elle é ex- 98 trahido das arvores por meio de furos, feitos com o trado, que atravessam todo o tecido lenhoso, donde escorre durante alguns dias; ás vezes é também con- tido em grandes cellulas e, então, uma só arvore póde dar cerca de cincoenta ou mais garrafas do mesmo liquido. Coração de Jesus (104) (0 verdadeiro nome vulgar desta planta é “Cha- péu de Napoleão” ou “Jorro-Jorro” no norte do Brasil. Vide n.° 83). Nom. Sc.: Thevetia neriifolia, Juss., da farr. das Apocynaceas. P. us.: Folhas. Obs.: Ignoramos onde tivesse o Sr. C. Lopes ido encontrar o nome “Coração de Jesus” para esta Apo- cynacea; talvez a conformação das capsulas o tivessem suggerido, mas justamente isso foi o motivo do nome vulgar “Chapéu de Napoleão”. “Coração de Jesus” designa a Mikania officinalis, Mart-, uma pequena Com- posta erecta, commum nos campos seccos, cujas folhas oppostas em cruz teem a forma de um coração e as mar- gens crenadas. (Veja-se o n.° 84, “Charruinha Branca”. Cordão de Frade (105) Syn.: “Rubim”, “Cordão de S. Francisco do Grande”. Nom. Sc.: Leonotis nepetaefolius, R. Br., da fam. das Labiadas. P. us.: Planta inteira. Obs.: Recommendado para o banho das creanças frágeis ou debilitadas. Chernoviz aconselha 500 gram- Hervanario na feira do Largo do Arouche 99 mas de herva desta planta paira um banho. Outros au- tores attribuem-lhe também qualidades becliicas,, bal- samicas, anti-spasmodicas, tónicas, etc., recommendan- do-a em xaropes e tinturas; dizem ainda que a tintura é usada nos aocessos de asthma, assim como o extracto que contem a “Leonotina”. Cordão de Frade do Pequeno (106) Syn.: “Iierva de Macahé”, “Gordão de S. Fran- cisco do Boxo”, etc. Noan. Sc.: Leonuris sibiricus, L., da fam. das La- biadas. P. us.: Planta toda. Obs.: Os mesmos empregos que a precedente. Coronhas (107) Syn.: “Mucuna”. Nom. Sc.: Mucuna altíssima, D. C. (!), da fam das Leguminosas, subf. das Papilionaceas. P. as.: Sementes. Obs.: A f firmou-nos o Sr. C. Lopes serem as raspas destas sementes asadas, em aloool, contra as febres- Penduradas ao pescoço das creanças ellas tem a vir tude de prevenir contra o quebranto e máo olhado. As sementes de qualquer uma das especies de Mu- cuna possuem as mesmas propriedades. Cotó-Cotó (108) Syn.: “Follia Grossa do Sertão”, “Chá de Bugre”, “Casca Branca”, “Congonha de Gentio”, etc. 100 ■ Nom. Sc.: Rudgea viburnoides, Btli., da fam. das Rubiaceas. P. us.: Casca e folhas. Obs.: As follias são grossas e quebradiças, depois de seccas verde-amarelladas; 11a face superior, excepção feita da nervura central, glabras e 11a dorsal, como nos ramos e peciolos, bastantemente fusco-tomentósas. A casca é branca, mais ou menos suberósa e laminada, bastante espessa. Martins diz serem as folhas desta planta dotadas de virtudes anthsyphiliticas e usadas contra rlieuma- tismo, inchaço dos membros, dyspepsia, asthenia, etc. A infusão deve iser dada em doses moderadais com xa- rope ou oanella; em doses fortes produz cólicas violen- tas e provoca vomitos. Cotyledon (109) Nem. Sc.: Cotyledon orbiculatus, L., da fam. das Crassulaceas. Obs.: Esta planta foi por nós encontrada em expo- sição na casa do Sr. Cecilio Lopes, que não nos soube dar o nome vulgar da mesma, razão porque a citamos aqui com o nome gene rico. Gaminhoá e Schõnland a indicam como usada con- tra a epilepsia, mas recommendam para isto dóses muito moderadas. Cragoatá (110) iSyn.: “Oaravatá”, “Gravatá do Matto”, “Gra- vatá”, etc. Nem. Sc.: Bromelia fastuosa, Ldl., da fam. das Bromeliaceas. P. as.: Fnictos. 101 - Obs.: Os fructos bastantemente amargo-picantes, são 'Comestíveis, crús como cozidos, empregados tam- bém como vulnerário, para xarope contra a tosse, refrescos, etc. Vários autores affirmam serem elles também anthelminticos. Em Matto Grosso tivemos ensejo de verificar que os índios Bororos apreciam muito estes fructos, comendo-os em quantidades respei- táveis, á qualquer hora do dia ou da noite, tanto em estado crú corno ligeirameote cozidos; dizem elles que pelo ultimo processo elles não “picam tanto na gar- ganta”, tornando-se portanto mais supportaveis. Nos mezes de Agosto a Outubro, época em que amadurecem os fructos desta planta, são elles encontra- dos não só em todas as hervanarias, mas nas quitandas e feiras em grande quantidade. Cravo de Defunto (ui) Syn.: “Cravo de Defunto Dobrado” ou “Cravo de Defunto dos Jardins”. Nom. Sc.: Tagetes erectus, L., da fam. das Com- postas. P. us.: Follias e flores. Obs.: Autores ha que affirmam serem as folhas desta planta usadas, em mistura com vinagre, para temperar a comida, prinoipalmente as saladas. De uma especie affim, (Tagetes minutus, L.), sabe- mos ser anthelmintica, e, como as propriedades da essencia pouco devem variar, é crivei que também esta espeoie seja empregada como vermífugo. E’ uma planta de origem exótica, mas que hoje se encontra em todos os terrenos baldios dos arredores das cidades e nas taperas. 102 Curcúma (112) Syn.: “Saissafrão”, “ Gelbwurzel” dos allemães, “Turmeries” dos francezes e “ Gurmemei”. Nom. Sc.: Curcuma spc., da fam. das Zíngíbe- raceas. P. us.: Rhizoma. Obs.: Das varias especies deste genero provém a “Ouroumina”, que é magnifica matéria corante, e um oleo, o “Oleo de Curcuma”. Diversas especies são em- pregadas na medicina, sendo por isso desde séculos cultivadas em vários paizes. D'entre estas destaca- se a Curcuma longa, L., da qual, só da China, índia e ilhas adjacentes são exportadas annualmiente para maiis de 6.000 toneladas de rhizomias. Cyprestes (113) Syn.: “Pinheirinho”, “Cupreissus”, etc. Nom. Sc.: Cupressus sempervirens, L., (forma masculina), da fam. das Coníferas. P. us.: Vendem tanto os fructos (maçãs), como os ramos e summidades floridas masculinas. Obs.: Esta planta originaria da Pérsia, mas lioje cultivada em quasi todos os paizes do mundo e fre- quentemente, nos parques e jardins da no'Ssa cidade, é uma arvore bastante ornamental e muito resinosa, como acontece com as Coníferas em geral. Dizem que o oleo essencial desta planta é insecticida e o decocto das follias e fructos tonico, febrífugo e vulnerário. 103 Dandá Africano (114) Obs.: O material adquirido não permitte iden- tificação scientifioa. Affirma o Sr. Oecilio Lopes, ser o “Dandá Africano” a mesma cousa que a “ Junça”. Este ultimo nome é dado ao Cyperus esculentus, L., que for- nece os rhizomas conhecidos nas pharmacias pelo nome de “Bulbuli Trasi”, “Duleinia” ou, ainda, “Amêndoas da Terra”, cujo sabor se assemelha ao das amêndoas e usados como suecedaneo do café. A julgar pelo aspecto e baseado nos parcos tra- balhos que possuimos sobre as Cyperaceas, presumimos tratar-se aqui do Cyperus longus, L., ou de alguma es- pecie muito próxima. Dandá do Brasil (115) Syn.: “Tiririca dos Jardins”, “Jacapé”. Nom. Sc.: ?í!í? P. us.: Rhizoma e tnberas. Obs.: No Rio de Janeiro, o nome mais conhecido para esta especie, é “Titirica”, nome qne se estende ainda á outras especies. Na medicina popular empre- gam o rhizoma desta planta como excitante, anti-spas- inodico e diurético. Talvez tivesse havido, da parte de quem colheu esta planta, confusão, pois, uma especie muito mais empre- gada e mesmo mais util é a Kyllinga odorata, Vahl., que a primeira vista facilmente se confunde com a pre- cedente. Dos seus rliizomas extraem um oleo aromatico empregado na perfumaria e preconizado egualmente comio antLspasmodico, excitante e diurético. 104 Dormideira grande (116) Syn.: “Sensitiva”, “Dorme Maria”, etc. Nom. Sc.: Mimosa Velloziana, Mart., da fam. das Leguminosas, subf. das Mimosoideas. P. us.: Folhas e caule. Obs.: Não é esta entretanto a única especie que recebe aquelles nomes vulgares, o de “Sensitiva” pelo menos estende-se á todas as Mimosas da secção das Sensitivae assim como ás das Somniantes e Asperatae. Convém saber que o nome “Dormideira” é só exoe- pcionalmente dado a especies deste grupo de plantas, muito mais conhecidas por “Sensitivas”; aquelle é mais proprio da Papaver somnifera, L., isto é, da “Papoula”. Dormideira metida (117) Syn.: “Sensitiva”. Nom. Sc.: Mimosa, spc. ? da fam. das Leguminosas, subf. das Mimosoideas. (A’s vezes nos apresentavam a Mimosa pudica, L., outras a Mimosa invisa, Mart., mais conhecida pelo ncfme de “Malicia de Mulher e ainda outras especies affins do mesmo genero. P. us.: Folhas e ramos nó vos. Obs.: As “Sensitivas” são mais ou menos mucila- ginosas. As raizes da Mimosa invisa, Mart-, “Malicia de Mulher”, são consideradas toxicas. Veja-se também a nota da precedente. Douradinha (118) Syn.: “ Gritadeira”, “Douiradão”. Nom. Sc.: Palicourea rígida, H. B. K., da fam. das Rubiaceas. - 105 P. us.: Raiz e folhas. Obs.: “ Douradinha”, é nome com que o vulgo dis- tingue uma das muitas variedades desta especie, que já conta mais de 6 bem definidas. “Douradão” e “Gritadeira” são nomes dados ás variedades maiores da especie. “As folhas e entreeasco dos raminhos novos, diz Martius, figuram entre os egregios diuréticos e dia- plioréticos. Passiam por moderadores dos movimentos do coração e das artérias, da mesma forma que a Digi- talis purpurea, com a qual, debaixo de diversas rela- ções, podem ser comparadas as virtudes. São úteis na dysorasia sypbilitiea, principalmente para as erupções cutaneas, entorpecimento pituitoso da bexiga, emba- raços urinários, tumores dos membros, e começo de en- rigecimento da próstata. Pá-se em infusão, na dóse de um escropulo ou meia drachma, em seis onças de agua a ferver”. Embira (119) Syn.: “Pimenta do Sertão”, “Pindahyba”, “Pa- cóva”, “Pigeriçu”, etc. Nom. Se.: Xylopia frutescens, Aubl., e Xil■ sericea, St. Hil. ?, da fam. das Anonaceas. P. tis. : Casca dos fructioulos e sementes destes- Obs-: Os orgãos acima são considerados condimen- tares, tonieos e excitantes. Martins diz que os fructos desta planta brasileira são usados para substituir aquelles da Xylopia aethio- pica, Rieh., a verdadeira “Pimenta da Costa” o “Moh- dos allemães ou o “Poivre du Guinée” dos franoezes, fructos que, entre os habitantes de Uaday, correm como moeda, e são pelos mesmos conhecidos pelo nome de “Kimba” ou “Kumbá”. 106 A verdadeira (segundo affirma C. Lopes) “Pi- menta da Costa” é vendida também aqui em S. Paulo. Ella nos pareceu ser entretanto outra cousa e não uma Xylopia. Sob o nome de “Embira” vendem os hervanarios ainda pequenos móllios da entrecasca de especies das Thymelaeaceas e Anonaceas, que segundo affirmaram só servem para amarrar outros objeotos ou plantas. Espeiina (120) Syn.: “Purga de Carijó”, “Tomba-Tomba”, etc. Nom. Sc.: Cayaponia espeiina, (Manso) M. Pax., da fam. das Cucurbitaceas. P. us.: Raizes ou rliizomas. Obs.: Ais raizes desta planta são reputadas anti- syphiliticas e os fructos -são empregados frequente- mente na veterinária. Planta bastante frequente nos campos adjacentes a Tatuliy e nos Estados de Matto-Grosso, Minas, etc. Espinheiro (121) Syn.: “Maricá”, “Espinheiro p’ra Cerca”. Nom. Sc.: Mimosa sepiaria, Bth., da fam. das Leguminosas, subf. das Mimosoideas. P. ns.. Folhas. Obs.: O deoocto das folhas é mucilaginoso e empre- gado com vantagens contra as tosses e bronchites. Arvore muito frequente nas margens do Rio Pi- nheiros (que talvez tivesse sido denominado, vamente, “dos Espinheiros”, pois é assim que ainda hoje pronunciam os italianos quando se referem ao logar aquelle nome). 107 Espinho Bravo (122) Syn.: “Carrapixo”, “Gruagrilla” dos argentinos. (Por alguns também conhecido por “Espinho de Car- neiro”). Nom Sc.: Aconthospermum hispidum, D. C., da fam. das Compostas. P. us.: Toda a planta. Obs.: Preconizada util contra as moléstias do fi- gado como o “Carrapixo rasteiro”, já citado sob o numero 67, sendo possível que encerrem egualmente os mesmos principios. São efficazes ainda contra outras moléstias. Espinho de Carneiro (123) Syn.: “Carrapixo Bravo”, etc. Nom. Sc.: Xantkium spinosum, L., da fam. das Compostas. P. us.: Toda a planta. Obs.: Usada como purgativa e no tratamento das dermatóses. Esta planta recebeu, como ainda outras, este nome vulgar, pelo facto de emmaranharem-se os seus fructos na lã das ovelhas, o que torna sobremodo difficil o aproveitamento completo da lã dos carneiros oreados em campos em que esta Composta abunda. Encontra- mol-a com bastante frequência nos campos circumja- centes á cidade de Campinas. Eucalyptus (124) Nom. Sc.: Eucalyptus, sob os nomes de “Sernen Foeni Graeci” ou uSemen Trigonellae”. Elias são egualmente empregadas na veterinária e na indus- tria de tecidos e, ás vezes, como forragem. Dizem que, no Egypto e nos demais paizes onde ella é cultivada, 113 serve também de alimentação ao homem, depois de convenientemente torradas; os grêlos são egualmente aproveitados como verdura. Segundo Ebers, estas se- mentes são a base principal do preparado egypciano conhecido pelo nome de “Kyphi”, que em eras remotas servia a fins religiosos áquelles povos da terra dos pharaóes. O sabor das mesmas é caracteristico e en- joa ti vo. “Hornklee” é nome que os allemães dão também a Lupinus corniculatus, L., que não possue as mesmas propriedades medicamentosas, mas que é uma forra- geira de primeira qualidade. Féto-Macho (131) Nom. Sc.: Dryopteris felix-mas (L.) Scliott., da fam. das Polypodiaceas. P. us.: Rhizoma e parte inferior do caule. Obs.: O material adquirido é importado da Casa Dr. Moraes Castro, do Porto, Portugal. Pelo etlier extrae-se da planta em questão o “Acido Filicilico”, crystalino e incolor, cuja formula chimica é C14H2805, que é tido como sendo a parte activa da mesma. No Brasil, onde apparece também esta espeoie cos- mopolita, varias outras têm sido dadas como magnifi- co» sucoedameos, especialmente como anthelminticos. Martius citando varias Polypodios, como succeda • neos do “Féto Macho”, acere scenta: “Todas estas especies citadas, abundam em stryphno, matéria go- mósa ie oleo acre, e são empregadas contra os vermes intesti/naes, do mesmo modo que na Europa o Aspidium felix-mas” (que é synonymo do Dryopteris supra ci- tado). Destas especies estamos cultivando algumas na estufa do Horto. 114 “Figueira Brava” (132) Syn.: “Figueira do Inferno”, “Stramonio”, “Da- tura”, etc. Nom. Sc.: Datura stramonium, L., da fam. das Solanaceas. P. os.: Folhas, raiz e sementes. Obs.: Os cigarros feitos das folhas desta planta são preconizados contra a astbma. A “Daturina”, al- caloide que esta planta encerra, é toxica, convém por isto muito cuidado na sua administração. Em alguns logares lançam mão desta planta para hypnotizar as pessoas, pois possue as propriedades da “Cannabis sativa, L., a “Diamba” ou “Maconha” do norte do Bra- sil e as do Solanum dulcamara, L., a “Doce Amarga” de que os antigos preparavam o “Elixir do Amor”, de que tivemos occasião de fallar no nosso trabalho sobre anthelminticos vegetaes. Dr. Alfredo Augusto da Matta cita, no seu traba- lho, uma especie affim, com o nome de “Maricaua”, da qual diz o seguinte: “As pessoas que usam a “Mari- caua” declaram que a hypnose se manifesta de modo agradavel, produzindo sensação de bem estar, e que o indivíduo se assemelha a verdadeiro médium, respon- dendo a todas as perguntas, e por listo o povo diz que a pessoa tem c condão de “advinhador”. Fica elle en- tretanto com a vontade abolida. E ’ portanto uma planta perigosa, relembrando certas propriedades da “Fi- gueira do Inferno”, Datura stramonium, L.” Veja-se também o que se refere ás amostras compradas sob os nomes de “Tinguaeiba Brava” e “Trombeteira”. “Zabumba” é nome com que ella é, segundo o Dr. Dias da Rocha, conhecida no Ceará. 115 Fragaria (133) Syn.: “Morango”. Nom. Se.: Fragaria vesca, L., da fam. das Ro- sáceas. P. us.: Raiz e follias. Ob.: A “Fragaria” contém uma pequena porcenta- gem de tannino e é ligeiramente adstringente, o que torna a sua deoocção util no tratamento das diarrliéas e para gargarejos contra a angina e outras affecções da garganta. Propriedades idênticas possuem também * outras cspecies affins, taes como a Fragaria indica, Andr., nma especie que foi introduzida e que hoje se encontra em estado asselvajado aqui nos arredores de S. Paulo. Fumaria (134) Syn.: “Erdraucli” dos allemães; “Herva Mulari- nlia” e “Catharina Queimada” em Portugal. Nom. Sc.: Fumaria capreolata, L., da fam. das Papaveraceas. P. us.: Toda a planta. Obs.: Como outras hervas, também esta vem da Casa Ribeiro da Costa. Lisboa, Portugal, sendo repu- tada estomacliica e aperitiva. Fumo (135) Syn.: “Tabaco”, “Herva Santa”, “Petúm”, etc. Nom. Sc.: Nicotiana tabacum, L., da fam. das Sola- naceas. P. as.: Folhas. 116 Obs.: As folhas seccas desta planta são vendidas, nas hervanarias, para vários misteres O decocto das mesmas é usado como inseoticida e parasiticida enér- gico, propriedades estas que se encontram também con- centradas no fumo preparado, em rolo. Genciana (136) Nom. Sc.: Gentiana lutea, L., da fam. das Gentia- naceas. P. us.: Rhizoma, flores e ás vezes toda a planta. Obs.: As raizes, material vendido aqui mais fre- quentemente, vêm em tóros de poucos centímetros, são de consistência pastosa, .sabor amargo e clieiro desagradavel. O sabor é devido á “Gentiopicrina” (O20H30O22), corpo neutro, crystalisavel. Os empre- gos, ora como tonico, ora como aperitivo-amargo, são conhecidos desde muitos séculos; e múltiplas são as es- pecies deste genero e de outros affins com virtudes analogas. Gengibre (137) Syn.: “Ingwer” ou “Ingber” dos allemães; “Gin- ger”, “Gengembrg”, “Gember” e “bngfaier”. Nom. 'Sc.: Zingiber officinalis, Rose., da fam. das Zingiberaceas. P. as.: Rhizoma. Obs.: Nos mercados o rhizoma appareoe, ou descas- cado em duas faces cu com a casca toda; no primeiro caso elle é appellidado de “Gengibre de Bengala”, jus- tamente por ser exportada deste paiz a maior parte rPaquellas condições, e no segundo, de “Gengibre de Barbados” ou ”G. Preto” por ser oriundo de Barba- dos. Elle encerra até 2,2 % de oleo essencial, que é muito usado na medicina, industria, etc. 117 Gervão (138) • Syn.: “Gerbão”, “Verbena Falsa”. Nom. Sc.: Stachytarpha cayennensis, Vahl., da fam. das Verbenaceas. P. us.: Ramos e folhas. Obs.: Contra as dores do estomago e nas febres, Oecilio Lopes aconselha-a, sob o nome de “Verbena Falsa”, em mistura com “Herva Benta” e “Porrete”, na dose de 1 chi-cara de chá depois das refeições. Veja-se também o n.° 128, sob o nome de “Fede- goso”, onde ella entra em outra receita do mesmo autor. Os nomes vulgares supra registados abrangem va- rias especies do genero, sendo todas mais ou menos estimulantes, sudoríficas e diuréticas. Dr. Alfredo Augusto da Miatta aconselha fazer uma infusão a 10 % e empregar em pequenas dóses. Do alcoolato obtido pela distillação do maoerato das folhas, aconselha elle tomar-se 2-3 grammas em 20-30 de agua assucarada, e o extracto fluido até 3 grammas em cada 24 horas. Girasol (139) Nom. Sc.: Helianthus annuus, L-, da fam. das Compostas. P. us.: Sementes. Obs.: O oleo extraindo das sementes é considerado ntil á industria e usado na medicina. Girasol do Matto (140) Syn.: “ Grindelia”, “ Malmequer do México”. Nom. Sc.: Grindelia robusta, Nutt. (?), da fam. das Compostas. 118 P. us.: Capitulos floraes e caule. Obs.: O material adquirido está muito fragmentado e não permitte uma identificação segura; os capitulos floraes teem o involucro quasi ovoide, composto de seg- mentos -espessos e, como as flores e achenios, cobertos de uma camada vernicósa. Não podemos entretanto af- firmar positivamente tratar-se ou não do “Gum-plant” dos americanos -do norte. No Brasil existem 4-6 especies deste genero, que são vulgarmente conhecidas pelos nomes de “Mal-me- quer” e “Grindelia” e consideradas vulnerarias, esto- maohicas e emmenagogas. Uma especie existente na Republica do Perú é ali empregada para ourar feridas. Goiabeira (141) Nom. Sc.: Psidium guajava, Raddi., da fam. das Myrtaceas. P. us.: Folhas. Obs.: Ternos visto empregarem, com máximo re- sultado, as folhas mais novas para combater as diar- rliéas. Elias são, como as de varias outras Myrtaceas, adstringentes e tanniferas. Além das folhas emprega-se egualmente a casca e as raizes para vários fins. Goivo Amarello (142) Sym.: “Gyroffleé Jaune” e “Ravanelle” dos france- zes, “Common Wallflower” dos inglezes e “Gelbweil” dos allemães. 119 Nom. Sc.: Cheirantus Cheiri, L., da fam. das Cru- cif eras. P. us.: Flores. Obs.: Pelo mesmo nome vulgar conhecem também as diversas variedades da Matthiola incana, R. Br., que da especie supra se distinguem pelo ovário e revesti- mento sericeo-pubeseente das folhas e inflorescencias. O “Goivo” é cultivado em quasi todos os jardins e representado por grande numero de variedades, todas muito ornamentaes. Grama (143) Syn.: “Grama dos Jardins”. Nom. Sc.: Stenotaplirum americanum, Sclirank., da fam. das Gramineas. (Syn. — St. glabrum Trin.). P. us.: Caule e rliizoma. Obs.: Sob o nome de “Grama” outras espeoies são vendidas nas liervanarias e nas pharmacias. A “Radix Gra.minis” provém de Agropyrum repens, Beauv., de que é synonymo Triticum repens, L. Veja-se também “Graminha” e “Capim Gomoso"”. A presente especie é empregada especialmente como diurético. Graminha (144) Syn.: “Bermuda-Grass” dos americanos do norte, “Grama Fim” ou “Graminha do Matto”. Nom. Sc.: Cynodon dactylon, Pers., da fam. das Gramineas. P. us.: Rhizoma. Obs.: E’ desta planta que provém a “Radix Gra- minis Italici” das pharmacias, que é usada na thera- 120 peutica para os mesmos fins e com egual resultado da “Radix Gramiinis”, isto é, o material que vem do Agro- pyrum repens, Beauv. Ambas são fortemente diuréticas. Muito resistente ao calor e ás grandes seccas e for- necedor de uma forragem de primeira qualidade é o Cynodon dactylon, Pers., no sul dos Estados Unidos da America do Norte, tida como a base da forragem verde para o gado. Ajproveitam-no também em muitos logares para fixar as dunas e aterros, fins estes para os quaes dá os melhores resultados, graças ao seu rhi- zorna muito rijo e bastante profundo. Guaco (145) Syn.: “Cipó Caatinga”. Nom. Sc-: Mikania amara, Willd., var. guaco, da fam. das Compostas. P. us.: Toda a planta, mas principalmente as folhas, Obs.: Em S- Paulo, Rio de Janeiro e Minas, empre- gam-na especialmente conitra as tosses e coqueluches; o Pr. A. Augusto da Matta, que a regista com o nome de “Cipó Catinga”, diz .entretanto que ella é, no norte, do Brasil, empregada contra rheumatismo, gotta, sy- philis, tosse e mordeduras de cobra. Para este ultimo fim é usada, entre nós uma especie affim, a Mi- kania cordifolia, Willd., aqui denominada “Ilerva de Cobra”. Guandu (146) Syn.: “Feijão de Guandú”, “Andú”, “Guando”. Nom. Sc.: Cajanus indicus, Spreng-, da fam. das Leguminosas, subf. das Papilionaceas. P. us.: Folhas, sementes e a raiz. 121 Obs.: Ignoramos os fins para que empregam esta planta, sabemos apenas serem as sementes comestíveis e consideradas diéta para 0 tratamento de algumas moléstias. Guaraná (147) Syn.: “Uaraná”. “Cupana”. Nom. Sc.: Paullinia cupana, Kunth., da fam. das Sapindaceas. P. us.: As sementes (só ao preparado destas e ao nome especifico cabe a designação vulgar de “Cupana”). Obs.: O “Guaraná” foi, como tantos outros prepa- rados medicinaes, um legado que nos deixaram os abo- rígenes, que delle faziam uso e até culturas, muito antes de aqui arribar Christovam Colombo; ainda boje, o melhor preparado é aquelle feito pelos indios Maués na Amazónia, que possuem grandes e antiquissimas culturas desta Sapindacea. Elle é considerado um mag- nifico estimulante e também usado como refresco diu- rético ; as suas virtudes já foram reconhecidas e incor- poradas ao património da therapeutica official e múl- tiplos têm sido ultimamente os preparados medicinaes que têm por base o “Guaraná”. Em Matto-Grosso, onde indubitavelmente se consomme relativamente muito maior quantidade de “Guaraná” que em qualquer outro Estado do Brasil, elle é, para muitas pessoas, o sub- stituto do café da manhã. Recordamos ainda as vezes que éramos despertados ao alvorecer pelo rinchar do “Guaraná” sobre a grósa. Um pedaço de “Guaraná” (não rachado, mas firme e inteiro), uma grósa, um copinho, uma pequena colher e um pouco de assucar, fazem siempre parte da bagagem de quem vae viajar ou trabalhar na matta, quer no seringai quer no poayal. Dr. Thecdoro Peckolt expõe, no seu trabalho “Anal. de Mat. Med.” uma boa analvse. 122 Guassatónga (148) Syn.: “Vasisatónga”, “Uassatónga”, “Língua de Teú”, “Língua de Lagarto”, “Petumba”, “ Café do Dia- bo”, “Páo de Lagarto”, “Fructa de Saliyra”, etc. Nom. Sc.: Casearia sylvestris, Sw., e outras es- pecies affins do mesmo genero, da fam. das Flacour- tiaceas. P. us.: Raízes e folhas. Obs.: O material que examinámos era da especie acima citada, mas, antes disto, já havíamos recebido, por mais de uma vez, material de especies affins, do interior do Estado e do Dr. Campos Novaes, de Cam- pinas, trazendo a Cas. inaequilatera, Camb., que parece ser uma das mais empregadas sob o nome de “Guas- satonga”. Estas plantas tsão, desde muitos decennios, usadas pelo povo para debellar as moléstias da pelle, erupções cutaneas; são também consideradas diuréticas e dia- phoreticas em uso interno, vulnerarias applicadas ex- ternamente. Affirmou-nos um senhor em Tatuhy, exis- tir já um preparado feito por um americano, tendo por base a “Guassatónga”, e que tem encontrado a maior acceitação por parte do povo. Parece-nos que esta é uma das plantas que merecem um estudo serio, pois sabe-se que especies da mesma familia, como a “Chálmogra”, na índia, e a “Sapucainha”, aqui no Brasil, já gozam da grande fama no tratamento da lepra. Guayaco (149) Syn.: “Páo Santo”. Nom. Sc.: Guayorcum officinale, L., cia fam. das Zygophyllaceas. 123 P. us.: Lenho e córtex. Obs.: Este material, empregado como sudorífico e anti-venereo, é importado da Europa. Attesta o autor da monographia das Zygophyllaceas, na Flora Brasi- liensis de Martius, não ter (sido ainda encontrado ne- nhum representante do genero Guayacum, no Brasil; entretanto, quando passamos pela primeira vez em Co- rumbá, Matto-Grosso, em 1908 tivemos occasião de ver que em uma serraria daquella cidade era aproveitada uma madeira de cor castanlio-esverdeada, que nos dis- seram ohamamse “Páo Santo”, de cheiro perfeita- mente egual ao da importada sob este nome; delia trou- xemos uma amostra para o Museu Nacional. Mais tarde, encontrámos, nos mercados de Assumpção, Paraguay, pequenos vasos para chimarrão, torneados do mesmo “Páo Santo”, procedente do Estado de Matto-Grosso; parece-nos, pois, fóra de duvida ser este genero repre- sentado na flora do Brasil; - Guiné (150) Syn.: “Herva Pepi”, “Mucurá-caá” (este ultimo na Amazónia). Nem. Sc-: Petiveria hexaglochin, Fiscli. et Mey., da fam. das Phytolaccaceas. P. us.: Toda a planta. Obs.: Cecilio Lopes diz: “A infusão da planta em álcool é excellente remedio para as dores de dentes e para friccionar nos casos de paralysia parcial”. A planta é sudorífica, anti-spasmodica, estimulante e, segundo o Dr. A. Augusto da Matta, também empre- gada no tratamento do beri-beri. A especie mais usada é a Petiveria alliacea, L., que pouco differe da presente. 124 Herva Benta (151) Syn.: “Sana-Mundo”. Nom. Sc.: Geum urbanum, L., da fam. das Rosaceas. P. us.: Raizes, folhas e flores. Obs.: O material vendido p*elo Sr. Cecilio Lopes compõe-se de folhas e flores, entretanto, é sabido que as partes mais empregadas da planta, são as raizes. Na pharmacia, estas ultimas, são conhecidas pelo nome de “Radix Caryophyllatae”, delias extrae-se uma sub- stancia tannica e um oleo ethereo, que são considera- dos os principios activos da planta. O material adquirido foi importado de Portugal, da Casa Ribeiro da Costa, cidade do Porto. jJa-Eicho . (152) Syn.: “Acataya”, “Pimenta cPagraa”, “Acataya ver- melha”. Nom. Sc.: Polygonum acre, H. B. K. e outras affins, da fam. das Polygonaceas. P. iis.: Toda a planta. Obs.: Martins diz: “O sueco desta planta é estimu- lante, aperiente e empregado contra a estranguria e dysenteria sanguinea. A herva é empregada em banhos ou cataplasmas contra as dores arthritioas e hemor- rhoidaes”. Em Matto-Grosso dão o mesmo nome e empregos á Cuphea melvilla, Ldl., que é uma especie próxima da “Sete Sangrias” (Cuphea balsamona, Cham. et Sch- leclit.) e ao Polygonum acuminatum, H. B. K. Affir- mam pessoas insuspeitas serem todas estas especies magnificas para o tratamento das liemorrhoides. 125 Os nomes “Acatava” ou “Caataya” são também da- dos a Vandellia diffusa, L., da fam. das Scrophularia- ceas, que é mais conhecida pelos nomes de “Mata-oanna”, “Orelha de. Rato”, “Purga de João Paes”, “Doura- dinha” e “Papa-terra”, sendo empregada como diuré- tico, emmenagogo, emetico e como aiithelmintico. O nome “Papa-terra” foi dado a esta planta, naturalmente pelo facto de ser também administrada aos indivíduos geophagos, appetite extravagante que é produzido pela ancylostomiase, moléstia que os sertanejos denominam de amarellão ou opillação. Herva de Bugre (153) Obs.: O material adquirido compõe-se exclusiva- mente das folhas, não permittindo identificação scien- tifiea. E’ provável quo-sa*trate de uma especie de Vil- lar esia ou de Ilex. O nome vulgar “Herva de Bugre” ou “Chá de Bugre” é dado em S. Paulo, também ao “Chá de Soldado” (Iledyosmum brasiliense, Mart., da fam. das ChlorantJiaceas), que .segundo a opinião daquelles que o teem experimentado é de sabor agradavel e compa- rado ao do “Chá Preto”. Herva de Passarinho (154) Syn.: “Enxerto de Passarinho”, “Passarinheira”, etc. Nom. Sc-: Phoradendron spc.? e Struthanthus spc.? da fam. das Loranthaceas. P. ns.: Planta toda. Obs-: I>e uma analyse feita pelo Dr. Th. Peckolt, deduz-se que estas parasitas possuem, em regra, as 126 propriedades ligadas ás da planta sobre que vivem. (Vide Dr. Th. Peckolt, Matéria Medica Brasileira, pag. 50 e 51). Qualquer uma das especies dos gemeros supra men- cionados é aqui usada para lavagens uterinas, etc. Segundo C. Lopes, esta planta entra também na preparação do “Sabão da Costa”. Para isto veja-se o que dissemos sob o numero 36. Dr. Alfredo Augusto da Matta, aconselha esta planta contra a leucorrhéa, bromchites e hemoptises, reoommendando o oosimemto da planta na proporção de 5 :100. Herva de S. João (155) Syn.: “Mastruço”. Nom. Sc-: Ageratum conizoides, L., da fam. das Compostas. P. us.: Planta toda. Obs.: Sob o nome de “Herva de S. João” appa- rece também, algumas vezes, o Mélampodium canipho- rosmoides, Baker., que é uma herva. rasteira. Herva de St. Antonio (156) Syn.: “Herva Santa” (não segundo Cecilio Lopes, mas outros hervanarios). Nom. -Sc.: Baccharis vulneraria, Baker-, da fam. das Compostas. P. us.: Folhas (que, de preferencia, devem ser em- pregadas verdes e frescas). Obs.: O material adquirido, composto de frag- mentos de caules e folhas, ser-nos-ia irnpossivel iden- tificar. mas, felizmente, possuíamos a especie cultivada 127 e desta maneira foi facil fazermos a comparação. O nome pelo qual nol-o vendeu o Sr. Cecilio Lopes não corresponde á especie, veja-se o num. 161 e o que ali citamos a este respeito. Herva de St. Barbara (157) Nom. Sc.: Solanum argenteum, Dun., da fam. das Solanaceas. P. us.: Folhas e ramos. Obs.: O Sr. Cecilio Lopes vende este material como estomachico, entretanto, o Dr. Campos Novaes, de Cam- pinas, mostrou-nos esta mesma especie com a obser- vação de ser uma das melhores contra a suspensão das urinas e relatou-nos um caso interessante sobre a sua efficacia. E’ esta a primeira vez que vemos dar o nome vulgar supra ao Solanum em questão; “Santa Barbara” ou “Herva de Sta. Barbara” é nome com que se conhe- ce, em Portugal, a Barbarea vidgaris, R. Br., da fam. das Cruciferas. Herva de St. Luzia (158) Syn.: “Flor d’Agua” (este nome, segundo o Dr. A. A. da Matta, é dado sómente na Amazónia). Nom. Sc.: Pistia stratiotes, L., da fam. das Araceas. P. us.: Planta toda. Obs.: O nome “Herva de St. Luzia” que temos visto ser dado, em vários logares do Brasil, á especie em questão, é também applicado a algumas espeeies do genero Euphorbia, plantinbas rasteiras do grupo da E. brasiliensis, Lam. e da thymifolia, Burm., (sendo esta ultima, no Maranhão, também conhecida pelo nome 128 de “Bacurausinlio”). Interessante ainda é que, tanto uma «como outras especies conhecidas pelos mesmos no- mes vulgares, embora de familias diversas, servem para os mesmos fins. Elias são empregadas contra as ophthal- mias. O autor supra citado affirma ser a Pistia tam- bém usada como emolliente applicada sobre inflamma- ções de qualquer espeeie e que em infusão dá bom re- sultado nas diabetes insípidas. Herva de St. Maria (159) Syn.: “Menstruço”, “Mastruço”, no norte do Bra- sil; “Formigueira”, “Herva Formigueira”, “Herva do México”, “Oravinlio do Mabto”, “Herva Ambrósia”; “Wurm-Kraut” dos allemães, “Herbe aux vers” dos francezes, “American Wormseed” dos «inglezes, etc. Nom. Sc.: Chenopodium ambrosioides, L., da fam. das Chenopodiaceas. P. us.: Planta toda ou só as summidades floridas. Obs.: Empregada não só como insecticida ou an- thelmintico, mas para vários outros fins. Herva Moura (160) Syn.: “Garachieliú”, “Pimenta de Gullinha”, “Her- va de Bicho”, etc. Nom. Sc.: Solanum nigrum, Linn., da fam. das Solanaceas. P. ns.: Planta toda. Obs.: Oaminhoá diz: “A “Herva Moura” é usada para diversos fins; por exemplo, «como emolliente, em- quanto nova; adstringente, sedativa, ou narcótica, de- 129 pois de velha; é muito preconizada nos casos de rlieu- matismo, nevralgias, leucorrhéas, metrites e ainda nos de varias moléstias cutaneas. Herva Santa (161) Obs. I: — Sob ©ste nome vendeu-nos, o Sr. Ce- cilio Lopes, a Vernonia affim de V. scabra, Pers., planta que pouco antes nos liavia dado como sendo a “Herva de St. Anna”, nome este com que n’outra oeca- sião nos vendera uma especie de Ilyptis on Salvia (ve- ja-se também este ultimo nome, num. 162). Obs. II:—-A verdadeira “Herva Santa” é a Bac- charis vulneraria, Baker., especie que o Sr. Cecilio Lo- pes nos vendeu como sendo a “Herva de St. Antonio”, pequeno arbusto, pouco ramoso, glabro, caule e ramos na parte superior algo angulosos, folhas ovo-lanoeola- das, agudas, com tres nervuras irradiantes da base do limbo e estendendo-se até pouco acima do meio; flo- res em capítulos até 50 flores, com involuero aver- melhado na base, dispostos em grandes paniculos ter- minaes cujos ramos inferiores são sustidos por folhas gradativamente decrescentes. As folhas são applicadas sobre as feridas em nome do Padre Santo e no de St. Barbara, adherindo fortemente, graças á viscosi- dade de que se acham revestidas. Em Minas tivemos oocasião de ver empregal-as com magníficos resultados. Obs.: Veja-se a observação anterior. Em julho de 1917 recebemos esta planta (“Herva Santa” verdadeira) de Perús, deste Estado, de onde nol-a enviaram para identificação. Agóra a cultivamos no Horto. 130 - Herva SanfAnna (162) Nom. Sc.: Provavelmente uma especie de Hyptis ou de Solvia, da fam. das Labiadas. • P. us.: Folhas. Obs.: Veja-se a observação da anterior. Em outra oocasião foi-nos vendida, com o mes- mo nome vulgar, uma especie de Vernonia affim de V. scabra, Pers., da fam. das Compostas. O material se compõe de tallos e folhas picadas que não penmittem uma identificação segura sem ma- terial para confronto. A planta que em Portugal se conhece pelo nome de “Herva de SanfAnna” é a Kuhnia arguta, H. B. K., de Nóva Granada. No Brasil, e mesmo aqui em -S. Paulo, conhecemos também a Vernonia macrophylla. Lesse., por esse nome ou pelo de “Folha SanfAnna”, mas a nenhuma destas especies pertence o material adquirido e examinado. Herva Si I vi na (163) Syn.: “Herva Thereza”. Nom. Sc.: Polypodium vaccinifolium, Langsd. et Fischer., da fam. das Polypodiaceas. P. us.: Planta toda. Obs.: Adstringente, e empregada contra as hemo- ptyses e tosse. Sob o mesmo nome vulgar são agrupadas varias especies affins deste genero, que se caracterisam pelo crescimento rasteiro e por serem geralmente epi- pliytas; frequentes em todas as mattas, vegetando em abundancia sobre arvores seculares ou sobre as rochas, cobrindo-as a maneira de hera. 131 Herva Terrestre (164) Syn.: “Gundermann” dos allemaes; “Lierre Ter- restre” dos franoezes. Nom. Sc.: Glechoma hederacea, L., da fam. das Labiadas. P. us.: Folhas e caule. Obs.: Usada contra a tosse. A’s vezes empregam- na também como carminativo e eimnenagogo. Herva Tostão (165) Syn.: “Tangaráca”, “Bredo de Porco”, “Pega Pinto”. Xom. Sc.: Boerhaavia paniculata, Ricli., da fam. das Nyctaginaceas. P. ns.: Planta toda. Obs.: Esta planta é aconselhada contra a icterícia, engorgitamento do figado, febre biliosa, febre liemo- globinuria, e como diurético inoffensivo nas icterícias da primeira edade. Foi analysada pelo Dr. Peckolt. (Vide Dr. Alf. Augusto da Matta, Flora Medica Brasiliense, pag. 218). O nome “Selidonia” que o autor citado dá para esta planta, é, em S. Paulo e sul do Brasil, dado a Trixis divaricata, Spreng., uma Composta já citada sob os nomes de “Celidonia” e “Herva Andorinha”. “Tangaráca” nome com que são conhecidas a Boer- haavia hirsuta, Willd., e a B. paniculata, Ricli., mas dado também a uma especie de Palicouria, da fam. das Bubiaceas, próxima da “Douradinlia” (P. riqida, Ei. B. K.). 132 Hortelã do Matto (166) Syn.: “Alfavaca do Campo”. Nom. Sc.: Ocimum gratissimum, L. (!), da fam. das Labiadas. P. us.: Caule, flores e follias. Obs.: Reeommendada contra as tosses. Os nomes vulgares, “Hortelã do Matto” ou “Hor- telã do Campo” referem-ise geralmente a especies de Peltodon, plantas de crescimento rasteiro e flores dis- postas em pseudo-capitulos, sobre longos pedúnculos completamente despidos. As especies de Ocimum, cul- tivadas desde séculos e empregadas na medicina e in- dustria de perfumaria, são mais geralmente conhecidas pelo nome de “Alfavaca” ou “Alfaaca”, como pronun- ciam os guaranis. A essencia obtida pela distillação das folhas e das flores, muito empregada no fabrico de licores, goza de grande fama como febrífugo e anti- cephalalgico . Os bulbos do Ocimum Balansae, Briq., são, no Paraguay, usados em infusões com que banham os pés, em casos de resfriados, etc. A respeito do Ocimum incanescens, Mart., diz o Dr. Alf. Augusto da Matta o seguinte: “Usada em infusão e em xarope, em doses até 60 grammas por dia. Ex- tracto fluido, usado uma colher das de chá em agua assucarada. Por dia, 2 a 3 vezes”. Diz mais que é be- cliica, estimulante, carminativa e util no tratamento da coqueluche. Hortelã do Matto (167) (Segunda amostra) Nom.: Hyptis spc.f da fam. das Labiadas. P. us.: Folhas. 133 Obs.: Veja-se tudo que dissemos com referencia á amostra anterior. Aqui temos um caso em que sob o mesmo nome vulgar, aliás mal indicado, se encontram duas especies distinctas com as mesmas indicações therapeuticas- Em additamento ao relatado no numero anterior temos a dizer que a verdadeira “Hortelã do Matto” ou do Campo, (Peltodon radicans, Polil., Pelt. longipes, St- Hil., etc.) é também designada, pelos naturaes, com os nomes de “Paracary”, “Meladinha”, etc. Hortelã Pimenta (168) Syn.: “Hortelã Apimentada”, em Portugal. Nom. Sc.: Mentha piperita, L., da fam. das La- biadas. P. us.: Toda a planta, mas principalmente as fo- lhas e sunimidades floridas. Obs.: A planta encerra um oleo ethereo que é muito aromatieo e preconizado contra o máo hálito, tosse, bronchites e como anthelmintico. Para este ultimo fim o povo costuma misturar as suas folhas com as do “Poejo” (Mentlia pulegium, L.) e algumas sementes de “Paeová” (Renealmia exaltata, L.). Eista planta está sendo cultivada no Horto “Os- waldo Cruz” desde 1917, c varias vezes temos feito a distillação, obtendo um oleo muito util no tratamento da ancylostomiase. Hyssopo (169) Syn.: “Hysope” dos franoezes; “Ysop” dos alle- mães. Nom. Sc.: Hyssopus officinalis, L.. da fam. das Labiadas. 134 P. us.: Flores e folhas. Obs.: Empregada nas affecções pulmonares, na razão de 5 grammas de herva para um litro de agua fervendo, devendo permanecer em infusão durante meia hora. Imbaúba (170) Syn.: “Umbaúba”, etc. Nom. Sc.: Cecropia spe.f da fam. das Moraceas. P. us.: Folhas e rebentos nóvos. Obs.: Adstringente. Usada contra os corrimentos, leucorrbéa, etc. Uma das especies mais usadas, talvez pelo facto de ser bastante commum, é a Cecropia adenops, Mar- tius, também conhecida pelo nome de “Pão de Pre- guiça”, assim alcunhada por serem os seus renovos pro- curados com avidez pelo animal com este nome vulgar. Imburana (171) íSyn.: “Jamburana”, “Umburana”, “Aroeira do Sertão”. Nom. Sc.: Bursera leptophloeos, (Mart.) Engl., da fam. das Burseraceas. P. us.: Sementes. Obs.: A resina desta arvore, balsamico-terebenthi- nioide, é empregada como o “Elemi”. As sementes mui- to aromatieas são juntas ao fumo, com o fim de aro- matizal-o, cousa que também se costuma fazer com as amêndoas do “Cumarú” ou da “Fava Tonga”. O oleo extraindo das amêndoas da “Imburana” tem vários empregos tlierapeuticos. O nome “Jamburana” é, pelo Dr. Alf. Augusto da Matta, bb. cit., dado a uma Piperacea. 135 Incenso (172) Syn.: “Olibano”. Nom. Sc.: Boswelia serrata, Roxb. e outras es- pecies affins do genero -e de outros da fam. das Bur- seraceas. P. us.: Resina. Distingue-jse o “Incenso Macho” constituido pelas primeiras lagrimas de resina escor- rida do tronco, por consequência mais puro, do “In- censo bruto” resultante da ultima resina em mistura com detrictos diversos. Obs.: Entre nós o “Incenso” ou “Olibano” é em- pregado quasi que exclusivamente nas defumações. O nome “Incenso” é, aqui -em S. Paulo, também dado a uma especie de Pittosporum, muito cultivada como arvore de sombra. Incenso Preto (173) Svn.: “Estorraíque”. Nom. Sc.: Styrax officinalis, L., da fam. das Sty- racaceas. P. us.: Resina. Obs.: “Styrax officinalis” on “Calamitus” são no- mes com que esta substancia é conhecida e vendida nas pharmacias. Entre nós encontra os mesmos empregos que a precedente. Inula Campana (174) Syn.: “Enula Campana”. Nom Sc.: Inula Ilelenium, Adans., da fam. das Compostas. P. us.: Raiz. 136 Obs.: As raizes, grossas, de sabor agradavel e chei- ro peculiar, apparecem nas pharmacias sob o nome de “Radix Helenii” ou “Radix Enulae”. Elias encerram uma substancia activa conhecida pelo nome de “Hele- nina” e uma “Oamphora”, graças ás quaes são empre- gadas, em alcoolaturas, para acalmar as comichões dos darthros e na cura da sarna. Ha, alem disto em seus tecidos abundancia de “Inulina”. A campliora é conhe- cida no commercio pelo nome de “Campliora de Alant”. Ipé (175) Syn.: “Ipê”, “Ipé cio Brejo”, “Ipé amarello”, “Páo d’Arco Amarello”, etc. Nom. Sc.: Tecoma umbellcita, Mart-, cia fam. das Bignoniacects. P. us.: Casca, de preferencia a camada liberiana ou entrecasca. Obs.: E’ aconselhada, como adstringente, em gar- garejos, usada nos casos de estomatite e no tratamento de ulceras da garganta, principalmente nas de origem syphilitica. Caminhoá, dando estas indicações, confunde o “Páo d’Arco Amarello” com a “Ipéúva” (Tecoma ipe, Mart.), que em S. Paulo é também conhecida pelo nome cie “Ipé Roxo”, e em Matto-Grosso e noroeste deste penúltimo Estado, por “Ipêuva” ou (forma estrupiada) “Peúva”. Para os mesmos fins e com o mesmo nome vulgar apparecem, nos mercados e hervanarias desta cidade, outras especies affins de flores amarellas. 137 Jaborandy (176) Syn.: “Jaborandy da Matta Virgem”. Nom Sc.: Piper leptostachyum, (Kunth) (?), da fam. das Piperaceas. P. us.: Raízes e folhas. As primeiras são forte- mente picantes e sialagogas. Obs.: Tratando-se de material incompleto impos- sível se torna a identificação da especie, sendo bem provável não se tratar do Piper jaborandi, Velh, pois a planta é completamente glabra, inclusive nas partes mais novas. Varias são as especies affins deste genero, consi- deradas portadoras de virtudes antiophidicas e ainda commumente empregadas como suidorifico, estimulante e aperitivo. O Sr. Oecilio Lopes disse-nos ser “Zanga-Tempo” outro nome desta planta, revelando-nos isto estribar clle a sua affirmação no emprego de outro “Jaborandy” (Pillocarpus pennatifolius, Lem., da fam. das Ruta- ceas) contra a calvice, por ser considerado um gerador de cabello, virtude attribuida ao “Zanga-Tempo” (iden- tificado pelo Sr. Monteiro da Silva como Anthurium crassinervum, Schott, da fam. das Araceas) e nunca aos “ Jaborandys” das Piperaceas. Jaboticaba (177) Ntam. Sc.: Myrciaria jaboticaba, (Velí.) Berg., M. cauliflora, (Mart.) e M. trunciflora, Berg., da fam. das Myrtaceàs. Obs.: Principalmente as duas ultimas são repeti- das vezes aconselhadas corno medicinaes. 138 No Mercado Velho tivemos oocasião de ver que um dos hervanarios vendia também as cascas das fru- ctas desta arvore, depois de ter chupado a polpa das mesmas. Japecanga (178) Obs.: O material' compõe-se de grandes pedaços de raizes, vinoso-avermelhadas, que por falta de ma- terial para confronto e ausência de folhas e flores, torna-se impossivel identifical-o, tratando-se provavel- mente de uma espeoie de Smilax, da fam. das Liliaceas. Japecanga Branca (179) Syn.: “Salsaparrilha”, “Salsa Gorda”, ou ainda “Salsa Caróba”, segundo o Sr. Cecilio Lopes. Nom. Sc.: Herreria spc. (talvez II. salsaparilha, Mart.), da fam. das Liliaceas. P. us.: Raizes. Obs.: As raizes em nada differem das da fíer- reria salsaparilha, Mart. O Sr. Cecilio Lopes disse-nos que, não ignorando chamar-se esta planta “Salsaparrilha”, costumava ven- del-a pelo nome de “Japecanga Branca”, por ter o povo se habituado a designal-a assim. O nome “Japecanga” refere-se sempre a especies de Smilax. Esta planta é considerada como um dos depurati- vos mais energicos, sendo por isso usada frequente- mente nos casos de erupções, affecções cutaneas, etc. Japecanga Vermelha (180) Nom. Sc.: Smilax spc., da fam. das Liliaceas. P. us.: Rhizoma. 139 Obs.: Todas ou, pelo menos, a maioria das especies deste genero são usadas como depurativo e conhecidas pelo mesmo nome vulgar “Japecanga”. São considera- das anti-syphiliticas, sudorificas e anti-rheumatieas. Jarrinha Preta (181) Syn.: “Jarrinha”, “Milhomens do miudo”. Nom. Sc.: Aristolochia rumicifolia, Mart. et Zucc., da fam. das Aristolochiaceas. P. us. Caule e raizes. Obs.: Contra moléstias ou fraquezas do peito, seg. C. Lopes, que aconselha usal-a alternativamente com a banha de Capivara. Jatahy (182) Syn.: “Jatobá”, “Jutahy”, etc. Nom. Se.: Hymenaea stilbocarpa, Hayne, da fam. das Leguminosas, subf. das Caesalpinioideas. P. us.: Casca e resina. Obs.: Não é a única especie conhecida e usada sob o mesmo nome popular e para os mesmos fins. Affir- mam também.que á polpa dos fruetos tem proprieda- des beoliicas. Jequirity (183) Syn.: “Padre Nosso”, “Tento do miúdo”, “Caro- lina miúda”, “Ollio de Pombo”, etc. Nom. Sc.: Abrus precatorius, L., da fam. das Le- guminosas snbf. das Papilionaceas. P. us.: As sementes, bicolores, são desde séculos usadas para confeccionar collares, rosários e objeotos decorativos. 140 Collin (Toxicologie végétale, pag. 67 e 68) affirma que as raizes são, na índia, na África e nas An- tilhas, algumas vezes empregadas como suceedaneo do “Alcaçuz”, apparecendo nos mercados sob o nome de “Liane de Reglisse”. As sementes reduzidas a massa são usadas ás ve- zes contra ophthalmias. Elias encerram uma substancia muito toxica, conhecida pelo nome de “Abrina”, que é um albuminoide de propriedades analogas ás da “Rici- na”. Collin acha por isto prudente que se interdicte a entrada das mesmas no mercado, ou que se difficulte de toda a maneira o seu aproveitamento na confecção dos objectos acima citados. Segundo elle, vários acci- dentes bastante graves têm oocorrido graças ao facto de eollocarem-nas em forma de collares ao pescoço das creanças ou por terem sido administradas em dóses elevadas contra qualquer moléstia. Lewin, diz ainda Collin, cita um caso em que um menino morreu por ter ingerido algumas destas sementes. Taubert affirma que as sementes são toxicas e que na índia aproveitam- nas frequentemente como instrumento de crime. Os fakires da índia, usam estas sementes nas suas magicas, e, quando reduzidas a pó, no preparo de pe- quenas agulhas que vendem aos exploradores do com- mercio de couros, que, collocando-ás na .ponta de uma pequena vara ou lança, as atiram ao gado, de forma que se quebrem na pelle do animal ao atravessal-a, o que é bastante para produzir-lhe a morte dentro de poucos dias, indo, então, esses indivíduos obter do pro- prietário, gratuitamente ou por importância mínima, o couro do animal. Como não fica vestigio algum do fe- rimento, impossivel se torna ao dono conseguir apurar a causa da morte do seu gado, e os negociantes explo- radores vão enriquecendo, mórmente quando os couros attingem bons preços. 141 Jequitibá (184) Nom. Sc.: Couratari legalis, Mart., da fam. das Lecythidaceas. P. us.: Seiva extrahida do tronco. Obs.: A seiva de “Jequitibá” é fortemente adstrin- gente e empregada em gargarejes contra as affecções da garganta ou da booca. Existem já vários prepara- dos que teem por base a seiva do “Jequitibá”. João da Costa (185) Syn.: “Curatombo”, etc. Obs.: Segundo Ceeilio Lopes, “João da Costa” é egual a “Orelha de Onça” (Cissampelos ovalifolia, D. C). Antes disto já nos vendera, porém, Echites peltata, Yell. com aquelle nome. Monteiro da Silva, que é quem parece estar com a razão, diz que “Curatombo” é, no Espirito Santo, o que em Minas chamam “João da Costa”, em sua opi- nião uma Violacea trepadeira. Não será o mesmo “Ci- pó Suma” (Anchietea salutaris, St. Hil.)? Jucá (186) Syn.: “Páo Perro”, “Ymirá-Itá”, “Ibirá-obi”, etc. Nom. Sc.: Caescilpinia ferrea, Mart., da fam. das Leguminosas, subf. das Caesalpinioideas. P. as.: Cascas. Obs.: Esta planta já está sendo explorada, sendo a base de vários preparados medicinaes, preconizados contra a tosse, etc. 142 Junco (187) Nom. Sc.: Juncus Sellowianus, Kuntli., cia fam. das Juncaceas. P. us.: Rhizoma e folhas. Obs.: As varias especies das Juncaceas são desde séculos usadas contra as pedras da bexiga, dores ne- phriticas e outros males provenientes do mal funccio- namento do apparellio urinário. Ignoramos, porém, o fim para que é vendido o material ela especie supra aqui em S. Paulo. Juquery (188) Syn.: “Jucery”, “ Jiquirióba”, etc. Nom. Sc.: Solanum juceri, Mart-, cia fam. cias So- lanaceas. P. us.: Raízes. Obs.: Aqui usado como calmante. Obs.: Em 1917 recebemos do interior deste Estado uma raiz semelhante que, cultivada no nosso Horto, deu origem a planta com que conseguimos identificar o ma- terial adquirido na Hervanaria St. Isabel. Na Amazónia conhecem, segundo o Dr. Alfredo da Matta, outras plantas com o mesmo nome vulgar. (Vide ob. cit. pag. 150). Pio Corrêa escreve “ Juciri” e dá o nome “ Juquery” como synonymo de Mimosa pudica, L., que é a ver- dadeira “Sensitiva”. 143 Jurubéba (189) Syn.: “Joveva”, segundo C. Lopes. Nom. Sc.: Solanum aff. variabile, Mart., da fam. das Solanaceas. P. us.: Folhas e a raiz. Obs.: O material adquirido compõe-se de folhas, já bastante moidas e fragmentadas, que muito se asse- melham com as da especie anterior. (Veja-se também o num. 128. O nome “Jurubéba” não define uma especie, mas sim um grupo de especies do genero Solanum. Nellas encontra-se, segundo o Dr. Alf. Augusto da Matta, um alcaloide, a “Jurubebina” e duas resinas: “Jurubina”, talvez de acção analoga a da “ Podophyllina” e a “Ju- rupebina”, quasi inerte (D. Freire), além de matéria mucilaginosa em abundancia. São considerados bons desobstruentes, tonicos, vul- nerários, diuréticos e magnificas para combater as icterícias, o engorgitamento e inflamação do figado e do baço. Labaça (190) Nom. Sc.: Rumex crispus, L., da fam. das Poly- gonaceas. P. us.: Toda a planta. Obs.: O material adquirido foi importado pelo Sr. C. Lopes da casa Costa Ribeiro & Comp., do Porto. A especie é também representada na flora brasileira, figurando já na “Flora Brasiilensis” de Martins. E’ considerada alterante e depurativa, tónica, e rocommendada na obesidade. Diz o Dr. Alf. Aug. da Matta, que esta planta encerra em suas raizes um al- caloide, que foi por Boucquillon denominado “Rumi- cina”. 144 Laranja (191) Nom. Sc-: Citrus aurantium, L., var sinensis, da fam. das Rutaceas. P. us.: Folhas. Obs.: Das flores frescas extrae-se um oleo muito aromatico e delias prepara-se também a “Agua de flo- res de Laranja”. Também as folhas e a casca das fru- ctas fornecem oleo muito precioso e util. Laranja Amarga (192) iSyn.: “Bitter 0 range” dos inglezes; “Poonerance” dos allemães. Nom. Sc.: Citrus aurantium, L, subsp. amara, L., da fam. das Rutaceas. P. us.: Essência, cascas, follias e fructos. Obs.: Segundo o Dr. Alfredo Aug. da Matta, os fru- ctos encerram tres glucosides: a “Hesperidina”, a uIso- hesiperidina” e “Auranciamarina”, alem de oleo essen- cial. Desta e de e-species affins provém o oleo de neroli, distillado das flores. Limão Bravo (193) Syn.: “Negra-mina”. Nom. Sc-: Siparuna spc. ?, -da fam. das Monimiaceas. P. us.: Folhas. Obs-: Sob o nome supra são conhecidas varias espe- cies do mesmo genero, entre as quaes as mais communs aqui em S- Paulo, são: S. erythrocarpa, D. 0. e S. cuya- bana, D. C. Existefri já na praça alguns preparados que têm por base o “Limão Bravo” e que são preconizados con- 145 tra as tosses, etc. Cecilio Lopes prepara também umas balas que vende em grande quantidade, cuja base é ainda a Siparuna. Limão Gallego (194) Syn.: “Limão miúdo”, “Citrone” dos allemães; “Limone” dos italianos e “Limonier” dos francezes. Nom. Sc.: Citrus medica, L., subsp. limonum, (Ris- so) Hook., da fam. das Rutaceas. P. us.: Sueco dos fruetos, folhas, cascas, etc. Obs.: Emprega-se o sueco especialmente para re- frescos e contra as febres acreditando-se que o seu effeito no tratamento das febres intermittentes é comparável ao do quinino. Os fruetos vendidos nas her- vanarias são, como aquelles expostos pelas pliarmacias, completamente seccos. Veja-se também o que o Dr. Al- fredo Augusto da Matta, ob. cit. pag. 157. escreve a respeito. Lingua de Vacca (195) Nom. Sc.: Chaptalia nutans, Hemsley, da fam. das Compostas. P. us.: Planta toda. Obs.: Esta planta, como a Chaptalia integrifolia, Baker, e preconizada como balsamica e febrífuga. O Dr. Dias da Rocha, (Bot. Med. Cearense, pag. 72) cita uma “Lingua de Vacca”, do Ceará, como sendo Tussilago vaccina, Vell., que deve ser idêntica á e>spe- cie supra citada, e attribue-lhe propriedades tónicas, emmenagogas e anti-herpeticas, aconselhando-a na dóse seguinte: Raiz de “Lingua de Vacca” 10 grammas em 300 grammas de agua, para tomar 3 chicaras por dia. Diz mais que em infusão é usada contra a suspensão das regras e nas bleimorrhagias e erupções da pelle. 146 Linhaça (196) Nom. Sc.: Linum usitatissimum, L., da fam. das Linaceas. P. us.: Sementes. Obs.: As sementes são ricas em oleo, hoje empre- gado em larga escala na industria; delias prepara-se também emplastros usados na medicina. Esta planta está sendo cultivada em nosso Horto desde 1917, tendo-se verificado vegetar perfeitamente no clima de S. Paulo, produzindo até duas colheitas por anno. Lirio (197) Syn.: “íris”, “Lirio Florentino”; “ Veilchenwurzel” dos allemães. Nom. Sc-: íris florentino, L., da fam. das Iridaceas. Obs.: O nome “Veilchenwurzel” qne os allemães dão a esta planta, devido ao cheiro peculiar do seu rhi- zoma, fazendo lembrar o das violetas, bem apreciável quando se mastiga um pedaço da raiz, tem, por mais de uma vez, induzido a erro, fazendo suppor que se trata das raizes da Viola odorata, L. O rhizoma appa- rece nas pliarmacias sob o nome de “Radix Iridis” e encerra uma substancia eamphoroide que o tornou util á medicina. No Oriente usam-no no aformoseamento da cutis, esfregando-a com a seiva do mesmo em estado fresco o que provoca o seu enrubecimento. Por isto o aproveitam ainda para misturar com o pó de arroz e talco, recebendo então o nome de “Pó de íris”. A substancia crystalisavel que se extrae do rhizoma é conhecida pelo nome de “Camiphora de íris” e ana- loga ao “Acido Myristieo”. Uma raizeira na feira do Largo do Arouche 147 Nem todo 0 material vendido nas pharmacias pro- vém da especie supra, uma boa parte do mesmo é de duas especies affins, a saber: íris germanica, L. e I. pallida, Lamark. Losna (198) Syn.: “Absintho”; “Wermuth” dos allemães. Nom. Sc.: Artemísia absinthum, L., da fam das Compostas. P. us.: Folhas. Obs.: O chá de “Losna” é reputado estomachico, tonico, aperitivo, estimulante e vermifugo. Graças a estas virtudes esta planta é lioje cultivada em quasi todos os paizes do mundo. Louro (199) ííom. Sc.: Laurus nobilis, L., da fam. das Lauraceas. P. us.: Folhas e fructos. Obs. Nas pharmacias estas folhas são conhecidas pelo nome de “Folia Lauri” e os fructos pelo de “Bac- cae Lauri”. Na cuiinaria este material encontra mais emprego do que na medicina. Macella (200) Syn.: “Maroella”, “Massella”, etc. Nom. Sc.: Achyrocline satureoides, D. C., da fam. das Compostas. P. us.: Flores. Obs.: Amarga, estomacal e anti-diarrheica. E’ commumente usada ipara enchimento de almofadas e acolchoados. 148 Malícia de Mulher (201) Syn.: “Sensitiva miúda”. Nom. Sc.: Mimosa invisa, Mart., da fam. das Le- guminosas, subf. das Mimosoideas. P. us.: Eaizes, folhas e caule. 'Obs.: O Sr. C. Lopes diz: “Para inflamações da garganta, em gargarejos mornos, emprega-se a “Malicia de Mulher”, misturada com a “Silva Branca” (Rubus brasiliensis, Mart.), ou a casca de “Jequitibá” (Coura- tari legalis, Mart.)”. A respeito desta planta (dando-a como synony- ma da Mimosa pudica, L.), escreve o Dr. Alfredo Au- gusto da Matta, o seguinte: “A “Sensitiva” encerra um principio activo de acção liypnotica (?); um principio extractivo e mucilagem (Descourlitz); e substancia tan- nica (Th. Peckolt)”. Este mesmo medico aconselha o seu uso moderado e com cuidado e diz que o sueco das folhas ou da raiz é toxico; na dóse de 100 grammas produz violenta congestão para OiS orgãos genesicos (priapismo) e morte. Elle dá, além. disto, varias for- mulas dos Drs. José Silva, Érico Coelho e Pires Fa- rinha, que considera bôas. Malva (202) Syn.: “Malva de Casa”, “Malva das Hortas”, etc. Nom. Sc.: Malva sylvestris, L., da fam. das Mal- vaceas. P. us.: Folhas e flores. Obs.: Como muitas outras espeeies affins, emollien- te mucilaginosa; desde muitos séculos usada na medi- cina. Planta exótica cultivada e já asselvajada em vários paizes. 149 Malva Cheirosa (203) Syn.: “Malva de Cheiro”, “Gerânio Crespo”, “Mal- va Rosa”, etc. Nom. Sc.: Pelaryonium graveolens, L., Herit., da fam. das Geraniaceas. . P. us.: Folhas. Obs.: O Dr. Ezequiel C. de Souza Brito, na sua mo- rograpliia intitulada “Malva Rosa”, tece grandes elo- gios a esta planta das hortas, que elle considera uma especie nova, talvez hybrida, que colloca perto da es- pecie aqui em questão. Elle a empregou, com magnifico resultado, no tratamento da coqueluche das creanças. Alguns confundem a “Malva Maçã” (Pelargonium odoratissimum, L., Alt.) com a especie supra. Ambas e o Pel. zonalef L., são plantas exóticas, mas hoje en- contradas em quasi todos os jardins do Brasil e prin- cipalmente aqui em S. Paulo. Mamão Macho (204) Nom. Sc.: Caricci papaya, L., da fam. das Cari- caceas. (Fornia masculina). Obs.: Caminhou diz, que, na Bahia, “Mamão Ma- cho” corresponde a Carica chilensis, PL, eispecie cul- tivada naquelle Estado; mas, quer-nos parecer, que houve de sua parte confusão nisto, pois a especie em questão tem de commum com C. papaya, L., as flores masculinas em exemplares distinctos e dispostas em longos paniculos, e as femininas solitárias ou em gru- pos de 2-3 nas axillas dos peciolos, distinguindo-se, porém, pela fôrma do ovário, fructo pentalojado e in- florescencias masculinas paucifloras. 150 Parece-nos que esta nomenclatura vulgar ainda se estriba nas mesmas razões que serviram a Frei Con- ceição Velloso, quando classificou a forma masculina do nosso “Mamoeiro”, Carica papaya e a feminina C. mamaya. As .sementes do “Mamão” são vermifugas; as fo- lhas sedativas e calmantes, mas em dóse elevada consi- deradas toxicas; as raizes frescas são rubefacientes e o látex tem a propriedade de destruir os callos, for- nece a “Papaina” que possue grande numero de indica- ções na therapeutica e faz desapparecer as manchas furfuraceas do rosto, fim este para que deve ser em- pregado em solução. Veja-se também as nótas juntas á descripção desta planta, no nosso trabalho sobre os anthelminticos vegetaes, e o trabalho do Dr. Alf. Aug. da Matta. Mandioquinha (205) Syn-: “Mandioqueira”, “Mandioca do Campo”. Nom. Sc.: Didymopanax spc., da fam. das Ara- liaceas. P. ns.: Raizes e caule. Obs.: Temos as nossas duvidas a respeito dos no- mes supra citados, parecendo-nos que nem sempre se referem ao Didymopanax, mas ainda ao “Buclio de Boi” ou “Bolsa de Pastor” (Zayhera tuberculata, Burm.), pois era com as raizes desta ultima especie, que mais se pareciam as que examinamos numa Her- vanaria do Mercado Velho, depois de termos visto ou- tras na Hervanaria St. Isabel. As raizes desta ultima especie são consideradas anti-syphilitica, passando as folhas por venenosas. 151 Mangerona (206) Syn.: “Margelaine” dos franoezes; “Mayoran” ou “Meiran” dos allemães; “Origano”. Nom. Sc.: Origanum vulgare, L. var.?., da fam. das Labiadas. P. us.: Folhas. Obs.: A verdadeira “Mangerona” é Manjorana hor- tensis, Mõnch. (que é egual á M. majoraria, Karst.); planta muito aromatica, da qual se extrae pela distil- lação das folhas e summidades floridas, um oleo essen- cial crystalisável, que se emprega na medicina como anti-spasmodico e tonico. Estas mesmas virtudes se en- contram em quasi todas as Labiadas aromaticas. A planta acima citada é mais commumente empregada como condimento. Manacá (207) Syn.: “Manacan”, “G-eratataca”, “Cangambá”, etc- Nom Sc.: Brunfelsia hopeana, Bth., da fam. das Solanaceas. P. us.: O Sr. O. Lopes expõe as folhas á venda. Martins e St. Hilaire aconselham e dizem que as partes usadas isão as raizes, cuja medulla reduzida a pó, é em- pregada para curar bicheiras, etc. Os usos desta planta são múltiplos e variados. Algumas vezes servem-se delia como abortivo. O Dr. Alf. Aug. da Matta, ob. cit. pag. 169, pre- ferindo o nome proposto por Pohl, (Franciscea uni- flora, Pohl.) na parte chimica sobre esta planta, diz o seguinte: “encerra matéria corante extractiva e um principio activo a “Manacina”, de formula C14H23Az405, 152 - soluvel no álcool e na agua; e uma glucoside a “Esculi- na”, solúvel a quente nestes mesmos veliiculos, Brandt isolou um segundo alcaloide a “Manaceina” C15H25Az209. E, continuando diz mais: “A “Manaceina” possue pro- priedades purgativas, diuréticas e emmenagogas- A raiz é um anti-syphilitico, e alterante poderoso no rheuma- tismo polyarticular”. E-ste autor acoselha-a nas seguintes doses: como diurético, pó da raiz de 1 a 3 gramimas e como pur- gativo ou emmenagogo em dóse um pouco mais ele- vada. O decocto a 30 % ; o extracto fluido até 50 centig., tres vezes ao dia; xarope até 80 grammas por dia. O seu testemunho a respeito desta planta é o se- guinte: “Prescrevi o extracto fluido em nove doentes, sendo 5 de rheumatismo articular e 4 de rheumatismo polyarticular, obtendo resultados muito lisongeiros em todos elles. Em dois casos de syphilis, primeira phase, com extracto fluido nas doses de 25 a 50 centigr. os resultados foram idênticos”. Mangueira (208) Syn.: (Segundo o Sr. Cecilio Lopes, “Andiróba”, nome que conhecíamos para a Carapa gúyanensis, da fam. das Meliaceas, de cuja casca é extraliida a “Carapina”). Nom. Sc.: Mangifera indica, L., da fam. das Ana- cardiaceas. P. us.: Kaiz e casca. Obs.: A resina da casca é considerada depurativa e o seu sueco, em fraca dóse, é aconselhado contra as diarrhéas clironicas, as folhas são tidas por anti- asthmaticas quando novas e as sementes como vermífu- gas. A seiva é também usada algumas vezes, em gar- 153 garejos, contra as laryngites e affecçÕes da garganta ou da bocca e ainda nos casos de metrorrhagia. Veja-se também este mesmo nome no nosso traba- lho sobre anthelminticos. Manná (209) ISHom. Sc.: Fraxinus ornus, L., da fam. das Oleaceas. P. us.: Resina. Obs.: Além da resina da especie aqui citada, o pro- ducto conhecido pelo nome supra provém de Tamarix mannifera, L., da fam. das Tamaricaceas. Fraxinus or- nus, L., é cultivado no sul da Europa e a sua resina contem maior porcentagem de “Manada”. Algumas es- pecies de Cassias, Astragallus e outras Leguminosas além de Myrtaceas e Rosaceas, fornecem um producto similar. Maracujá (210) Syn.: “Passiflora”. Nom. Sc.: Passiflora edulis, Sims., da fam. das Pas- sifloraceas. P. us.: Folhas, raiz e sementes. Obs.: Aconselham o nso do chá das folhas contra a falta de somno, e em mistura com as raizes, contra os vermes intestinaes. Ha poucas semanas recebemos do Dr. Baptista de Andrade pequena amostra do oleo extrahido das se- mentes, além de uma garrafa de licor por elle prepa- rado destes fructos. A especie supra não é a unica empregada para os vários fins, múltiplas outras possuem virtudes analogas. 154 O Dr. Alf. Augusto da Matta, cita a Passiflora macrocarpa, e outras, como empregadas na Amazónia, na indicação therapeutica: “A “Passiflora” não é um narootico, porém um sedativo nervino; ella é sedativa e calmante e empregada nas affecções nervosas; o seu emprego diminue por instantes a tensão arterial, e, activando a respiração, deprime a porção motriz da medulla”. No trabalho sobre os anthelminticos tivemos occa- sião de nos referir ás virtudes vermicidas desta uti- líssima planta. Marapuama (211) Syn.: “Miraquim”. Obs.: O material adquirido compõe-se de pedaços de madeira e cascas, sendo impossivel imdentif'içarmos a especie, Sabemos, porém, que “Mirapuama” ou “Ma- rapuama” é uma planta da Amazónia e empregada no tratamento do rlieumatismo. Talvez que seja a própria “Muirapuama”, (Ptychopetalum olacoides, Btli.) das Olacaceas que é citada pelo Dr. Alf. Augusto da Matta e preconizada como tónica neuro-muscular e ainda con- tra a ataxia locomotriz, paralysias parciaes, neurasthe- nia sexual, astlienia circulatória e gastro intestinal, grippe, etc. Aos interessados recommendamos o tra- balho do Dr. A. A. da Matta. Maravilha (212) Syn.: “Bonina”, “Falsa Jalapa”, etc. Nom. Sc.: Mirabilis jalapa, L., cia fam. cias Nijcta- ginaceas. 155 P. us.: Tuberas e raizes (batatas). Obs.: O mesmo nome é dado ainda á “Maravilha dos Jardins” (Calendula officinalis, L.). A Mirabilis jalapa, L. é uma planta nativa do Mé- xico que foi introduzida no Brasil e outros paizes, onde hoje se encontra em estado semi-asselvajado, sendo as suas flores com grande variação de colorido muito ornamentaes. Ella fornece a “ Radix Nyctaginis Meclio- cannae” das pharmacias, cujas virtudes purgativas são das mais energicas. Maria Molle (213) Syn.: “Catião”. Nom. Sc.: Senecio brasiliensis, Less., da fam. cias Compostas. P. us.: Pollias. Obs.: Esta planta é muito commum nos arredores de S. Paulo, e por mais vezes a temos recebido do interior do Estado, com a indicação de ser medicinal, mas ignoramos ainda qual o seu emprego. Marmello (214) Nom. Sc.: Cydonia vulgaris, Pers., cia fam. cias Rosaceas. P. us.: Sementes. Obs.: As sementes em infusão, uteis para garga- rejos e collyrios são também emollientes. Geralmente 8 grammas de sementes em 500 grms. de agua fer- vendo dão um magnifico chá ou gargarejo. Os fnictos são aproveitados na medicina para xaropes contra a tosse. 156 Marmellinho do Campo (215) Nom. Sc.: Alibertia elliptica, Schumann!, da fam. das Rubiaceas. Obs.: Desta planta não vimos material, obtivemos apenas a informação de que é habitualmente vendida nas hervanarias. Marroio Branco (216) Syn.: “Marroio-Commum”, “Herva Virgem”, “Bon- bomem”, “Marrochemin”, etc. Nom. Sc.: Marrubium vulgare, L., da fam. das Labiadas. P. us-: Folhas, caule e flores. Obs.: Caminlioá diz que as flores são excitantes aromaticas, anti-spasmodicas, e que passam por em- menagogas e febrifugas, além de fornecerem matéria corante. Planta nativa na Europa, mas lioje cosmopolisada pela cultura. No Brasil ella é cultivada desde muitos annos e asselvajou-se nos estados meridionaes. Attri- bue-se a grande dispersão desta planta ao facto de terem os cálices fructiferos pontas recurvadas, que facil- mente se agarram ao pello das cabras ou á lã dos car- neiros que assim as transportam para muito longe. (Veja-se Hermann Wagner, “Deutsche Flora”, est. 799). Massarandúba (217) Nom. Sc.: Mimusops (varias especies), da fam. das Sapótaceas. P. us.: Cascas. 157 Obs.: Aqui só encontranms cascas já bastante dete- rioradas; entretanto o Dr. Alfredo Augusto da Matta, receita a seiva ou o latex, dizendo encerrar tannino, substancias azotadas, resina solúvel no ether e na essencia de terebenthina, e uma substancia analoga á borracha e ser aconselhado contra o enfraquecimento pulmonar, tuberculose e outras doenças bronclio-pul- monares. Mastruço (218) Syn.: “Menstruço”, “Mentruço”, etc. Nom. Sc.: Coronopus didymus, (L.) Sm., da fam. das Cruciferas. P. us.: Toda a planta. Obs.: Sob os nomes supra citados indicam, na Bahia, Pernambuco e outros Estados do norte do Brasil, o Chenopodium ambrosioides, L., da fam. das Cheno- podiaceas, planta que aqui e em todo o sul do Brasil até a Republica Argentina, é conhecida como “Herva de St. Maria”; no Rio de Janeiro, dão o nome de “Mastruço” ao Lepidium ruderale, L., outra especie das Cruciferas. Empregada como anti-eseorbutico. Meimendro Branco (219) Nom. Sc.: Hyoscyamus albus, L., da fam. das So- lanaceas. P. us. Folhas, etc. Obs.: Além desta e da que se segue existe ainda o “Meimendro Amarello” (II. aureus, L.), que possue as mesmas virtudes therapeuticas. Todos os Hyoscyamus são narcóticos e muito ve- nenosos, em dóses elevadas. A acção da “Hyoscianina” 158 é analoga á da “Atropina”, razão esta porque conside- ram o “Meimendro” um suocedaneo da “Belladona”. Dizem que ás vezes usam os allemaes as folhas destas plantas para engordar rapidamente os cavallos que pretendem vender, pois parece ter a mesma acção sobre estes que o “Arsénico”, sendo a mais aotiva das especies o Hyoscyamus niyer, L. Meimendro Negro (220) Nom. Sc.: Hyoscyamus niyer, L., da fam. das So- ianaceas. P. us.: Folhas, etc. Obs.: Esta planta encerra em seus orgãos vegeta- tivos mais de 0,1 % de “Hyoscyanina”, sendo empre- gada na medicina desde muitos séculos. Melancia (221) Syn.: “Wassermelone” dos allemaes. Nom. Sc-: Citrullus vulgaris, Schrad., da fam. das Cucurbitaceas. P. ns.: Sementes. Obs.: Das sementes prepara-se uma especie de or - chata ou xarope diurético, que é pouco usado actual- mente. Melão de S. Caetano (222) Syn.: “Herva de S. .Caetano”, “Momordica”, etc. Nom. Sc.: Momordica charantia, Linn., da fam. das Cucurbitaceas. P. ns.: Folhas, sncco dos fructós e raízes. 159 Obs.: As folhas passam por anti-hemorrhoidicas e calmantes, usando-se para este fim 0 cosimento das fo- lhas em clysteres; passadas ao calor do fogo ellas são empregadas contra as dores rlieumaticas. Dr. Alf. Au- gusto da Matta, diz que 11a Amazónia empregam a in- fusão das folhas no tratamento da leucorrhéa e nas menstruações acompanhadas de cólicas e, além disso, que o sueco das mesmas é prescripto, internamente, como purgativo ou antlieknintico e, externamente, con- tra as sarnas. Mil Folhas (223) Obs.: O material adquirido sob este nome compõe- se de flores e folhas já bastante deterioradas e fragmen- tadas, parecendo pertencer a alguma especie de Trifo- lium da fam. das Leguminosas. Este material vem de uma casa de Portugal, em pacotes rotulados com o nome “Milefolium”. Conhecemos pelo nome “Mil Folhas” ou “Milefo- lium” a Achillea millefolium, L., da fam. das Compostas e o “Mil Folhas da Agua” ou Myriophyllum brasilense, Camb., da fam. das Halorrhagaceas. A primeira destas é usada na medicina como adstringente e amargo-es- tomachica. Milhomens (224) Syn.: “Mil Homens”, ”Milliome” e, segundo Cecilio Lopes, “Camará-assú”. Nom. Sc.: Aristolochia brasiliensis. Mart. et Zuec., bem como outras especies affins do mesmo genero, das A ristolochiaceas. P. u-s.: Raizes e caule. Obs.: Recommendada como tonico-amarga, antise- ptica, diurética e febrífuga, além de estomacal e abor- tiva. 160 iO nome vulgar “Camará-assú”, dado pelo Sr. Ce- cilio Lopes a esta planta, é neste Estado, usado para designar a Cordia Chamissoniana, Stend., da fam. das Borraginaceas. Um outro synonymo apresentado no trabalho do Dr. A. A. da Matta, para uma das especies deste ge- nero, é “Urubucaa”. (Veja-se ob. cit. pag. 279). Meliloto (225) Syn.: “Trevo de Cheiro”. Nom. Sc.: Melilotus officinalis, Desv., da fam. das Leguminosas, subf. das Papilionaceas. P. us.: Planta toda. Obs.: Planta, desde séculos, conhecida e empregada na medicina como emolliente, servindo para preparar emplastros, A’s pharmacias, esta e outras especies, fornecem a “Herba Meliloti Citrini” e “Flores Meli- loti Citrini”. Mirrha (226) Syn.: “Oanha” na Abyssinia e “Chaddasch” na A rabia. Nom Sc.: Commiphora abyssinica, (Berg.) Engl., da fam. das Burseraceas. P. ns.: Resina. Obs.: Este material é vendido aqui quasi exclusi- vamente para defumações de casas, egrejas, etc. Mulungú (227) Syn.: “Suiná”, “Sa patinho de Judeu”, “Bico de Papagaio”, etc. 161 Nom. Sc-: Erythrina spc. (?) (varias especies do mesmo genero encontram idêntico emprego na medicina popular), da fam. das Leguminosas, snbf. das Papilio- naceas. P. us.: Cascas. Obs.: Segundo Pias da Roclia, o decocto das cascas da Erythrina cor alio denclron, L., (no Ceará conhecida pelo nome de “Mulungú) é empregado como peitoral, calmante, emolliente e no tratamento da asthma, bron- chite, tosses convulsivas, insomnias e e excitações ner- vosas. Em dóses elevadas ella é usada para bochechos nos casos de abcessos gengivaes. No primeiro caso elle recommenda 4 grammas de cascas em 250 grammas de agua, na dóse de 3 chicaras por dia. A respeito desta planta escreve o Dr. Alfredo Au- gusto da Matta o seguinte: “Physio-therapia: Hypno- tico e sedativo. Becliico e peitoral. Tive oocasião de empregar o exitracto fluido até 1 gr. e 70 por dia, ob- servando resultados idênticos aos registados nos estu- dos e experiencias de Paulo da Fonseca, Corrêa de Azevedo, Caminlioá e Torres Homem, e de Rey e Loza, do México. A hypnose nenhum mal-estar produzio, de onde se conclue que o “Mulungú” não occasiona fortes liyperhemias para o cerebro”. Este mesmo medico dá ainda varias formulas para o seu emprego. Embora o material adquirido não permitta uma comparação segura, por se achar muito deteriorado, estamos propensos a crer que se trate de Erythrina mulungu, Mart. Murupá (228) Syn.: “Quassia”, “Murubá”. Nom. Sc.: Quassia amara, L., da fam. das Sima- rubaceas. P. us.: Lenlio e casca. 162 Obs.: Os cortes feitos nos fragmentos do lenho adquirido estão perfeitamente de acoordo com os de- senhos dados pelos Drs. Lanessan e Engler. Este material é, nas pliarmacias, vendido com o nome de “Lignum Verum” ou “Lignum Surinamensis” e procede quasi todo do norte do Brasil, onde a especie 6 indígena ou do Panamá e Colombia, onde foi in- troduzida e é cultivada. Esta casca encerra quatro glu- cosides homologas, das quaes a principal é a “Quassina” extrahida por Vinkler, cuja formula é C^H^O3 e “Pi- crasminas”. Aquella crystalisa em prismas brancos e opacos. Na madeira encontram-se também saes, oleo volátil e matéria gommosa (seg. A. A. da Matta). Tónica e muito amarga, recommendada como ex- citante das funcções gastricas por augmentar a secre (,‘ão salivar e biliar. Musgo Branco (229) Syn.: “Musgo da Oorsica”, “Musgo da Islandia”, etc. Nom. Sc.: Chondrus crispus, Lyngb., da fam. das Gigartinaceas. (Algas). P. us.: Todo o thallo. Obs.: Esta planta, é desde séculos usada como emol- liente, na medicina, é a “Carragaen” dos francezes, “Carrageen” dos alie mães e “Musgo da Islandia” das nossas pliarmacias. Tal como acontece com o “Helmin- thochorton” ou “Wormmooses” das pliarmacias, (Alsi- dium helminthtícliortos, Kiitzing), também o material citado apparece, muitas vezes misturado com outras especies de algas marinhas, pertencentes, por vezes, a famílias muito diversas; e, se existe um principio activo nestas plantas, fica provado que elle não é exclusivo da especie em questão, mas a diversas thallophytas marinhas. 163 - Mutamba (230) Syn.: “Guacima”, “Guaxuma”, “Guaxima Macho”, “Guaxima Torcida”. Nom. Sc-: Guazuma ulmifolia, Lam., da fam. das Sterculiaceas. P. us.: Liber da casca. Obs.: No norte do Brasil empregam a maceração do liber da casca contra a qnéda do cabello, o cosi- mento, na razão de 15 grams. para 300 grams. de agua, como anti-blenorrhagico, peitoral, etc., e o xarope con- tra a astlima. St. Ililaire affirma ser esta casca usada, na Martinica, para clarear o assncar e como sudorífico e anti-syphilitieo. O Dr. Alf. Augusto da Matta diz: “A “Mutamba” é considerada remedio popular contra a syphilis; e, em uso topico, para impedir a quéda do cabello e destruir as affecçÕes parasitarias do couro cabelludo. O vulgo usa egualmente o xarope do entrecasco nas doenças dos broncliios”. As fibras desta Sterculiacea são, como as de algu- mas especies affins, aproveitadas na industria têxtil. O material vendido pelo Sr. Oecilio Lopes, com- pÕe-se de fragmentos de casca, com a superficie cas- tanlio-avermelhada, o que combina bem com a descri- pção que delia faz St. Hilaire. Nó de Cachorro (231) Obs.: O material adquirido do Sr. Cecilio Lopes, compõe-se de um pedaço de raiz bastante espessa, re- vestida de uma casca grossa e algo avermelhada, de tecido lenhoso poroso e alvo-amarellado de sabor ad- stringente, que em tudo faz lembrar as Billeniaceas; e, como o Dr. Monteiro da Silva, preconiza a Davillci 164 rugosa, Poir., como extremamente estimulante e apliro- disiaoa, é de crer que aqui se trate desta especie. Este material goza da fama de ser altamente esti- mulante e aphrodisiaco, razão porque o vendem em doses verdadeiramente homceopathicas e por preço elevado. Para os mesmos fins e com idêntico nome vulgar usam, em Matto-Grosso, o caule e as raizes de uma Malpighiacea. Além destas, outras especies vegetaes gozam fama e são frequentemente empregadas como aphrodisiacos. De entre essas destacam-se: o “Cipó Cravo” (Tynnan- thus elegans, Miers, Bignoniacea que estamos cultivan- do no Horto), o “Taperibá” (que é o mesmo “Cajá”, Spondias lutea, L.), a “Catuába” (Anemopaegma mi- randum, A. D. C.), o “Curatombo” (uma Violacea) e a “Damiana” (Turnera diffusa, Willd.). Esta ultima é, talvez, a melhor estudada e mais vulgarisada; nos Estados Unidos da America do Norte e no México, onde também apparece em estado expontâneo, é ella objeoto de estudo e experiencia desde 1874; delia pro- vém a droga conhecida pelo nome de “Damiana” ou “Extracto Turnerae Aphrodisiacae fluido”, vendida nas pharmacias e drogarias. Nogueira (232) Nom. Sc-: Juglans regia, L., da fam. das Juglan- daceas. P. us.: Follias e casca. (Também o oleo das nózes é vendido pelos hervanarios d’aqui). Obs.: A infusão das folhas, rica em tanmno, é acon- selhada como adstringente para injecções vaginaes. A casca das nózes verdes é tónica e digestiva sendo o ex- tracto preconizado como anthelmintico e purgativo. A casca interna das raizes é visicante (Lanessan). .165 Nóz de Kola (233) Nom. Sc.: Cola acuminata, K. Br., da fam. das Sterculiaceas. P. us.: Fructos (ou só as sementes). Obs.: A. Pouchet affirma serem estas sementes nu- tritivas e estimulantes em estado fresco, mas sem effeito algum depois de seccas. Talvez para evitar a perda destas propriedades é que se inventou o processo de conserval-as em cebo (de elephante, segundo a versão popular), sendo então vendidas sob o nome de “Oby”. Dizem que na África os naturaes empregam estes fructos para modificarem a agua. A “Nóz de Kola” em estado fresco tem um sabor amargo-adstringente, que com a exsiecação é muito attenuado. Ella entra em vários preparados pliarma- ceuticos e assim é largamente usada na tlierapeutica moderna. Nóz de Moscada (234) Syn.: “Nóz-Moscada”. Nom. Sc.: Myristica fragrans, Houltuyn, da fam. das Myristicaceas. P. us.: Sementes. Obs.: Segundo Lanessan a “Moscada” deve suas propriedades a um oleo graxo que encerra em abun- dancia e no commercio conhecido pelo nome de “Man- teiga de Moscada”. Esta substancia contém a “Myristi- na” ou “Myristiquina” (C45H8^06). Mais que na medi- cina a “Moscada” é usada na culinaria. Oleo de Côco (235) Nom. Sc.: Cocos nucifera, L., da fam. das Pal- meiras. 166 P. us.: O oleo extrahido dos fructos. Obs.: O “Oleo de Côco”, como emolliente, substitue com vantagem o ”01eo de Amêndoas Doces” e, a agua contida nos fructos é aconselhada contra os vomitos rebeldes durante a gravidez. Oleo de Dendê (236) Syn.: “Maba” dos africanos. Norn. Sc.: Elaeis guineensis, L., da fam. das Pal- meiras. P. us.: O oleo extraindo dos fructos. Obs.: Empregado como emoliiente na medicina. Alguns autores lia que suppõem ter sido esta especie introduzida com o negro da África. Isto é muito provável e fácil de ser provado, pelo facto de appa- recer o “Dendeseiro” apenas nas regiões do littoral, mais povoadas (embora já esteja mais ou menos asselvajado em algumas destas) e faltar completamente nas florestas virgens do interior. Pelo littoral, elle ex- tende-se desde as Guyanas até ao sul da Bahia. Nia Áfri- ca elle constitue desde séculos uma das melhores fontes de renda do nativo, sendo de Guiné e outros paizes o oleo exportado em larga escala para Europa. A respeito deste producto regista Caminhoá, na Botanica Geral e Medica, pag. 1842, um facto bastante interessante que aqui vamos transcrever para proveito daquelles que se interessam pelo estudo destas questões. Eil-o: “Entre outros factos interessantes, lembraremos o seguinte, que testemunhamos na casa de saúde do pro- fessor Dr. Antonio José Alves, na Bahia: vários ne- gros, cujas pernas estavam endemaciadas havia bas- tante tempo, sem causa apparente, e sobretudo na re- gião maleolar, foram por uma preta africana exami- 167 nadas, reconhecendo ella que haviam “Bichos do Tor- nozello” (animaes parasitas muito communs na África, Vermes de Medina), rebeldes a todo 0 tratamento em- pregado; então, a pedido nosso, e mediante promessas, encarregou-se de tratal-os á nossa vista. — Para isto, começou empregando sobre os tornozellos dos pacientes cataplasmas de farinha de mandioca com azeite de den- dê (Oleo de Palma do Commercio); no seguinte dia tirou as cataplasmas, havendo em quasi todos dois fila- mentos brancos, e pequenos, que ella segurou cuidado- samente, e amarrou cada um com uma linha fina e forte, sem despedaçal-os, e prendeu-a 11’um fragmento de palito; poz de novo a cataplasma de azeite de clendê e farinha de mandioca; no seguinte dia havia outra por- ção fora, que ella enrolou também no palito, e assim procedeu durante 7 ou 8 dias, até que saliio todo o ani- mal parasita, 0 qual reconhecemos ser a Filaria medi- nense, ou variedade d’aquella (?). — Dizia a curan- deira, que sem aquellas precauções 0 animal se partiria, e determinaria a formação de tumores que suppuram fortemente, e que são de lenta, si não impossivel, ci- catrisação”. Olho de Cabra (237) Syn.: “ Tento”. Nom. Sc.: Ormosia dasycarpa, Jackes, Onn. nitida, Yog. e outra da fam. das Leguminosas, subf. das Pa- pilionaceas. P. us.: Sementes. Obs.: Estas sementes, graças á sua forma, resis- tência e bello colorido (preto e vermelho), são usadas para servirem de tentos ao jogo de cartas, ou ainda 11a confecção de collares, pulseiras e outros adornos. 168 Acreditam alguns individuos terem estas sementes propriedades analogas ás do “Jequirity” (Abrus pre- catorius, L.) e do “Olho de Pombo” (Rhynchosia pha- seoloides, P. D. C.). Olho de Pombo (238) Syn.: “Favinha brava”, “Olho de Cabra Pequeno”, “ Jiquirity miúdo”. Nom. Sc.: Rhynchosia phaseoloides, D. C-, da fam. das Leguminosas, subf. das Papilionaceas. P. us.: Sementes. Obs.: Este material é mais commumente usado para confeccionar collares e outros objectos decorativos. As sementes são um pouco menores que as do “Je- quirity” (Abrus precatorius, L.), mais orbiculares e ligeiramente comprimidas dos lados mas distinguem-se daquellas especialmente pelas maculas (a macula ne- gra oocupa, em Abrus precatorius L., o lado do liilo e na Rhynchosia phaseoloides, D. C-, justamente o lado opposto). As sementes da Rhynchosia lobata, Desv., são bas- tante menores que as da especie em questão. Os fazendeiros dizem que as folhas do “Olho de Pombo” são toxicas para o gado; talvez a toxidez deste vegetal possa ser attribuida a glycoside que algumas especies de Leguminosas encerram, que em contacto com os fermentos do bucho do gado transforma-se em “Acido Cyanhydrioo” produzindo a intoxicação do animal. Sobre esta questão escreveu o Dr. Luiz Pieollo, em 1917, um interessante e instructivo artigo no “Estado de S. Paulo”. As sementes foram por nós mandadas analysar e a informação que recebemos é que nenhuma substancia toxica foi encontrada. Yeja-se o que dissemos a res- peito do “Jequirity”. 169 Orelha de Onça (239) Syn.: “João da Costa” (seg. Cecilio Lopes), “Ore- lha de Burro” e “Equerepauar” na Nova Granada. Nom. Sc.: Cissampelos ovalifolia, D. C., da fam. das Menispermaceas. P. us.: Raiz e folhas. Obs.: St. Hilaire diz que as raizes, muito amargas, desta planta, são usadas em decoctos contra as febres intermittentes. Outros autores a dão como desobstruen- te e empregam-na contra a ictericia. Orelha de Páo (240) Nom. Sc.: “Urupé”. Nom. Sc.: Fomes sepiater, Cooke, ou outra especie próxima da fam. das Polyporaceas. (Cugumelos). P. us.: Pructiculo completo. Obs.: Parece que desta planta se faz os mesmos usos que do Polyporus officinalis, Fr., que durante muitos annos possuiu grande fama eurativa na medi- cina, mas que hoje caliio em desuso. O nome “Orelha de Páo” òu “Urupé” é dado a va- rias especies de Cogumelos que crescem na madeira em decomposição e sobre ella desenvolvem os sens fru- ticulos. Oróbó (241) Syn.: “Kola Macho”. Obs.: Ao que nos parece trata-se dos fructos da Cola acuminata, R. Br., conhecidos também pelo nome de “Nóz de Sudan” e que encontram varias applica- ções na África, onde a planta é indígena. 170 Affirmou-nos um liervanario ter por habito ven- der sómente casaes, isto é, um “Oby” e um “Orobó” juntos, e que o primeiro destes é o fructo verde da plan- ta citada, encarnado em cebo de elephante, nada nos adeantando quanto ao segundo. Interessante é que todo o cuidado é empregado para não deixar caliir alguma gotta ou particula do cebo do “Oby” no assoalho da casa, pois affirmam que quando isto acontece, a caipora persegue o negociante até reduzil-o a completa penúria. Ory (242) Obs.: Trata-se de uma substancia alva. pastosa e algo oleosa, commuimente embrulhada em papel imper- meável, e indicada para a pelle. E ’ provavelmente a polpa de algum coco mistu- rada com qualquer cebo, sendo talvez “Ayry” o verda- deiro nome deste producto, mas a ausência completa de qualquer aroma caracteristico dos fructos das pal- meiras, induz-nos a crer que o material presente se componha de cebo ou oleo animal em mistura com outras substancias, Só o chimico poderia averiguar a verdadeira procedência desta droga. Sob o nome de “Coco Ary-assú” vende-se, na Her- vanaria St. Isabel, outra substancia também preconi- zada para a cutis. Pacová (243) Syn.: “Mimosina” (seg. o Dr. Monteiro da Silva, que reserva este nome para o seu preparado, alcoola- tura, que faz dos fructos frescos). Nom. Sc.: Renealmia exaltata, L., da fam. das Zin- giberaceas. - 171 Obs.: Aqui, em regra misturam as sementes do “Pacová” com “Poejo” (Mentha pulegium, L.) e “Hor- telã Pimenta” (Mentha piperita, L.), para combater os vermes intestinaes. O Dr. Monteiro da Silva, autor do preparado su- pra, empregado para tingir o cabello, preconiza tam- bém o rhizoma do “Pacová” contra o rheumatismo cbro- nico, dizendo que o mesmo actua vantajosamente como carminativo e estimulante da mucosa gástrica, augmen- tando a secreção dos fermentos digestivos. Para isto emprega-se a alcoolatura, preparada com raizes frescas, na dóse de uma colherinha de chá em um cálice de agua antes das refeições e á noite. Pode->se também usal-as em decocções. Esta planta apparece em vários pontos do Brasil e não é rara nas immediações desta cidade. Já possuí- mos alguns exemplares em cultura, que mandamos tra- zer de um logar distante apenas tres léguas. Palma Benta (244) Obs.: Sob este nome vendem, nas hervanarias, as folhas de Palmeiras e Cycadaceas, qne no domingo de ramos foram submettidas em qualquer igreja á asper- são de agua benta. O chá preparado com taes folhas tem usos diversos, gozando estas de extraordinária fama pela protecção que dispensam a quem as guarda em casa, evitando assim o raio e os effeitos damninhos da inveja ou do ciúme. (Sympathia). Palmatória (245) Syn.: “Cacto”. Nom. Sc.: Opuntia monacantha, Haw., da fam. das Cactaceas. 172 P. us.: Caule (vulg. palmas). Obs.: O que o vulgo chama de palmas são. os arti- culos dilatados e carnosos do caule desta cactacea. Al- guns autores affirmam ser este material sedativo. Panacéa (246) Syn.: “Braço de Preguiça”, “Braço de Mono”, “Ve- lame do Matto”, “Capoeira Branca”, “Bolsa de Pastor do Matto”. Nom. Sc.: Solanum cernuum, Yell., da fam. das Solcinaceas. P. us.: Caule e folhas. As vezes empregam mesmo as inflorescencias. Obs.: Preconizam as decocções deste material con- tra a gonorrhéa, males do figado, coração, etc. Papoula (247) Nom. Sc. Papaver somniferum, L., da fam. das Papaveraceas. P. us. Sementes e resina. Obs.: As sementes são empregadas contra a insom- nia. Desta planta extrae-se, na China, Japão e índia, o “Opio” da seguinte maneira: quando as capsulas se acliam bastante desenvolvidas, mas ainda verdes, pra- tica-se nellas uma serie de pequenos sulcos com um instrumento cortante, dos quaes escorre lentamente o latex resinoso, que se torna pastoso até o dia seguinte, sendo então recolhido e acondiccionado em folhas da própria planta e enviado ao mercado depois de mais ou menos concentrado. 173 As sementes são vendidas aqui ainda nas capsulas, geralmente importadas da Casa Riedel, de Berlim va- riando o preço de 500 a 1000 réis cada uma. Os mesmos hervanarios fornecem também as flo- res da “Papoula”. Paracary (248) Syn.: “Boia-caa” (do nome vulgar). Nom. Sc-: Acanthospermum brasilium, Schrank., da fam. das Compostas. P. us.: Toda a planta. Obs.: Por esses nomes vulgares são designados duas plantas diversas, além da presente: o Tetraula- cium veronicaefolium, Turcz., da fam. das Scrophula- riaceas, e o Peltodon radicans, Polil., das Labiadas. O nome vulgar para o Acanthospermum brasilum, Schrank., é .“Carrapixo”, uma herva rasteira, amargo- mucilaginosa, empregada como diurético e diaphore- tioo e contra as diarrhéas. Os nomes que C. Lopes dá a esta planta estão portanto errados (veja-se tam- bém a “Hortelã do Matto”). Paratudo (249) Nom. Sc.: Lasegue erecta, Muell. arg., da fam. das Apocynaceas. P. ns.: Folhas e as inflorescencias com os ramos novos, segundo C. Lopes. Obs.: Foi a primeira vez que vimos dar a esta planta aquelle nome vulgar. Por “Paratudo” conliecia- mos a Gomphrena officinalis, Mart., da fam. das Ama- rantaceas; a Tecoma aurea, U. C-, das Bignoniaceas e, ainda, a Almeidea obovata, Mart-, da fam. das Rutaceas. Ignorávamos mesmo que a Lasegue erecta, Muell- Arg., fosse dotada de virtudes therapeuticas. 174 Parietaria (250) Nom. Sc.: Parietaria officinalis, L., da fam. das Urticaceas. P. us.: Planta toda. Obs.: O Pr. Pio Corrêa dá como synonymo deste no- me vulgar a Gesnouina boehmerioides, Miq-, natural- mente por engano, porque, sob nóta a esta especie, é feita, pelo autor da monographia na Flora Brasiliensis, de Martius, vol. IV, I, pag. 194, citação da Parietaria officinalis, L., e naturalmente foi isto que o referido autor não percebeu. Ignoramos se aquella especie, Parietaria rubicunda, Mart., que se distingue desta pelas nervuras irradiantes da base do limbo foliar, seja também vulgarmente conhecida pelo nome supra, ou que possua virtudes idênticas. Pariparóba (251) ■Syn.: “Caapéba”, “Cipósinho de cobra”. Nom. Sc.: Piper Hilarianum, Steud., da fam. das Piperaceas. P. as.: Folhas. Obs.: O nome “Cipósinho de Cobra” não corres- ponde a este vegetal, foi talvez adoptado pelo Sr. C. Lopes para desnortear os seus clientes ao oompulsa- lem o seu livrinho de propaganda. “Cipó de Cobra” é a Mikania cordifolia, Willd., por outros também co- nhecida por “Guaco”, nome este mais oommum á M. amara, var. guaco, Bth., já citada sob o num. 145, esta especie é também designada por “Herva de Cobra”, “Caapéba”, “Cipó de Cobra”, etc., nomes dados ainda 175 a Cissampelos glaberrima, St. Hil., da fam. das Me- nispermaceas, a “Herva de Nlossa Senhora” de outros pontos do Brasil. A “Capéva” ou “Caapéba”, no norte também cha- mada “Oapeua”, preconizada contra a ictericia, empre- gando-se de preferencia as raizes. Delia extrahiu o Dr. Peckolt um principio activo que denominou “Pa- riparobina” encontrando ainda nas raizes duas resinas, acido resinoso, nitraoto de potássio, substancias albu- minoides, saes inorgânicos e outras matérias extra- ctivas. Pata de Vacca (252) Syn.: “Unha de Vacca” (este nome é mais conhe- cido). Nom. Sc.: Bauhinia fortificata, Link., da fam. das Leguminosas, subf. das Caesalpinioideas. P. us.: Baizes e folhas. Obs.: Cecilio Lopes affirma ser esta planta um diu- rético que mesmo as senhoras em estado de gestação podem tomar sem prejuizo. O nome vulgar não designa uma, mas varias es- pecies do mesmo genero. Sob os nomes de “Unha de Veado”, “Pata de Veado” ou “Casco de Burro”, são vendidas outras es- pecies deste genero, que servem para fins idênticos. Páu cTAlho (253) Syn.: “Guararema”, “Ibirarema”, “Ubirarema”, etc. Nom. Sc.: (lallesia gorázema, Moq., da fam. das Phytolaccaceas. P. us.: Madeira, raizes, casca e follias. 176 Obs.: As folhas e a madeira contusa, em decocto, têm fama contra 0 rheumatismo, hydropisias, tumores 11a prostrata e affecções darthrosas. Aqui, 0 lenho desta planta é empregado para ma- nufacturar figas e amuletos, afamados contra 0 feitiço e a inveja. Alguns autores consideram a decocção do lenho anthelmintica. Com 0 mesmo nome vulgar existem 110 Brasil outras especies vegetaes de familias differentes, taes corno a Agonandra brasiliensis, Miers., da fam. das Olacaceas, e a Crataevia tapia L., da fam. das Cap- paridaceas, que se caracterisam pelo cheiro peculiar do lenho. A primeira é ainda conhecida por “Páu d’Alho do Campo” e a segunda pelo nome de “Tapiá”. Páu Parahyba (254) Nom. Sc.: Simaruba versicolor, St. Hil., da fam. das Simarubaceas. P. us.: Lenho e casca. Obs.: O “Córtex Parahybae” é artigo qne desde muitos aimos empregam na medicina. O povo geral- piente acredita 11a virtude antiophidica desta casca, uzando-a também contra os vermes intestinaes, febres, syphilis, etc. St. Hilaire affinna ter visto empregarem esta planta, no interior do Brasil, para exterminar piolhos e outros parasitas do homem ou do gado. Diz elle que observou, em uma collecção de varias exsiocatas ve- getaes que havia reunido, e que, devido a um descuido, foram atacadas por insectos destruidores, que só quatro specimens de S. versicolor, St. Hil., não haviam sido destruídos por esses animaes. 177 Páu Pereira (255) Syn.: “Canudo Amargoso”. Nom. Sc.: Aspidospermum subincanum, Mart., da fam. das Apocynaceas. P. us.: Cascas. Obs.: As cascas são muito adstringentes e empre- gadas tanto na industria de cortume como na medicina. O Dr. Alfredo Augusto da Matta regista com o nome supra outra Apocynacea, o Geissospermum Vellosi, F. All., que apparece frequentemente no Kio de Janeiro portadora de um alcaloide descoberto pelo Dr. Ezequiel dos Santos que denominou “Pereirina”. Hesse descobrio ainda um segundo a que deu o nome de “Geissosipermina”. Além disto as cascas encerram matéria gommoso-resinósa amarga e outros principios. Do Dr. Octavio Vecchi, do Horto Florestal da Comp. Paulista de Est. de Ferro, recebemos, com o nome vulgar supra, também o Platycyamus Reynellii, Bth., da fam. das Leguminosas. Pecegueiro (256) Nom. Sc.: Prunus pérsica, L., da fam. das Rosaceas. P. us.: Flores. Obs.: As flores têm uma acção levemente purgativa sendo administrada, em xarope, ás creanças, na dóse 30-60 gottas. As amêndoas das sementes do “Pecegueiro, assim como as folhas e a casca, fornecem, pela distillação, uni liquido que contem regular porcentagem de “Acido Prussico”, além de um oleo essencial. Caminhoá affir- ma que este material é calmante, mas que deve ser empregado com a maxima cautella, pois, desenvolvendo o “Acido Cyanhydrico” no organismo, póde intoxicar 178 ou mesmo produzir a morte. O seu emprego principal, na medicina, é como hyposthenisante, nas moléstias inflammatorias. Pé de Perdiz (257) Syn.: “Curraleira”, “Alcamphoreira”, “Herva Mu- lar”, etc. Njom. Sc-: Croton antisyphiliticus (Mart.) Muell., Arg., da fam. das Euphorbiaceas. P. us.: Folhas, caule e raizes. Obs-: Este como Croton campestris, St. Hil., (“Ve- lame do Campo”), considerado diurético e depurativo é empregado frequentemente contra a syphilis. Aconse- lham o uso das folhas, decocções, na dóse de 10-20 partes para 500 de agua; raizes em pó, como purgativo, até 50 centigrammas e extracto fluido na dóse de uma gramma duas vezes ao dia. O Dr. Dias da Rocha aconselha a receita seguinte: Raiz de “Velame do Campo” 4 grannnas, agua 200 grammas, ferver e tomar de .uma só vez. E para pur- gante : Oomma da mesma raiz 15 grammas dissolvida em uma cliicara de chá, para tomar de uma vez. (Pa- rece-nos, porém, que o “Velame” por elle citado não é Croton spc., como affirma, mas uma Macrosiphonia). Veja-se também “Velame Branco”. Perobinha (258) Obs.: O material adquirido composto de fragmen- tos de folhas soltas e pedaços de caule, não permitte precisar a especie vegetal de que proveio. Com o mesmo nome vulgar recebemos, em 1917, do interior deste Estado, um ramo sem flores da Swee- tia elegans, Bth., da fam. das Leguminosas, subf. das Papilionaceas, e mais tarde recebemos igual amostra do 179 Serviço Florestal da Comp. Paulista de Estradas de Ferro, com o nome de “Perobinha do Campo”; é pos- sivel que aquelle material provenha desta especie (?). Picão (259) Syn.: “Cuambú”, “Goambú”, “Cariophillata”, seg. Chernoviz. Nom. Sc.: Bidens pilosus, L., da fam. das Com- postas. P. us.: Planta toda. Obs.: Este material é commumente empregado em mistura com o “Fedegoso” contra as ulceras sórdidas e para amaciar as glandulas mamarias quando entumeci- das ou induradas. A lierva é ligeiramente aeri-muci- laginósa, contendo a raiz mais partículas resinosas- Chernoviz diz que o summo das folhas é usado contra a ictericia na dóse de 30-60 grammas. Recebemos também material idêntico do Dr. Á. Neiva, com a indicação de ser usado contra os vermes intestinaes. As propriedades citadas, bem como o nome vulgar, não se restringe á especie mencionada, mas a outras affins do genero Bidens, Cosmos, etc. Picão Branco (260) Nom. Sc-: Galinsoga parviflora, Cav., da fam. das Compostas. P. us.: Toda a planta. Obs.: Plantinha lierbacea cosmopolita, qne vegeta de preferencia nos terrenos já cultivados, podendo ser considerada uma das liervas mais damninhas e preju- diciaes ao lavrador. Os mesmos empregos da precedente. 180 Pichurrim (261) Syn.: “Pncliury”, “Puchery”, “Puchiry” e “Piclie- ry”, etc. Nom. Sc.: Acrodiclidium puchury-major, (Mart.) Mez., da fam. das Lauraceas. P. us.: As sementes. Obs.: Arvore da Amazónia e do Pará. O nome vulgar e as propriedades são communs a varias especies affins desta familia de plantas. As sementes são empregadas, em tintura, contra a dyspepsia, diarrhéa, leucorrhéa e ainda contra a cholera. São estimulantes, tónicas e de sabor um tanto acrLpicante. “Puchury-Mirim é nome com que o vulgo distingue uma Nectandra, cujas sementes possuem virtudes ana- logas á especie supra. Pimenta da Costa (262) Obs.: Esta pimenta é vendida a razão de 10$000 cada uma, e as sementes a 100 réis ou mais. Affirma o iSr. Cecilio Lopes serem ellas empregadas como con- dimento no preparo dos vatapás e outros quitutes. Da Xylopia aethiopica, A. Kich., da fam. das Ano naceas, provém a verdadeira “Pimenta de Guiné”, a que deveria corresponder a “Pimenta da Costa”; en- tretanto, a julgar pela que vimos vender aqui, com este nome, deixou-nos serias duvidas sobre a sua iden- tidade, pois differe bem do typo dos fruietos das Xy- lopias. 181 Pinhão do Paraguay (263) Syn.: “Pinhão de Purga”, etc. Nom. Sc.: Jatropha curcas, L., da fam. das Eu- pliorbiaceas. P. us.: As sementes fornecem 26-42 % de oleo acre- doce que só em pequenas dóses póde ser empregado como purgativo. Obs.: Mais de uma vez já tivemos conhecimento de casos de intoxicação em creanças, e mesmo adultos, que por gulosice abusaram destas sementeis ou aos quaes foram receitadas em dose elevada, como simples purgante. O Dr. Octavio Yecchi, do Serviço Florestal da Estrada de Ferro Paulista, relatou-nos que, no in- terior deste Estado, vários japonezes, recem-chegados, achando sabor em taes sementes e desconhecendo seus effeitos nocivos, de tal maneira abusaram delias, que em pouco tiveram de ser soccorridos pela assistência medica, que só com grande trabalho os conseguio sal- var da morte. E’ um purgante drástico que só póde ser empre- gado para adultos na dóse de 2 a 4 grammas de oleo. Pinheirinho de Jardim (264) Syn.: “Lyeopodio”. Nom. Sc.: Lycopodium spe., da fam. das Lycopo- cliaceas. P. us.: Caule e follias. Obs.: O material examinado não estava fructifi- cado, mas, a julgar pelo aspecto, é muito provável que se trate do L. cernuum, L., ou do L. clavatumf L., bas- tante frequentes principalmente a ultima, em quasi todo o Brasil. 182 Autores lia que affirmam ser o pó (micro e ma- crosporos) usado na veterinária para matar os para- sitas do gado. Na medicina é empregado como seccativo e a planta como purgante e vomitorio. Pinheiro (265) Nom. Sc.: Araucaria brasiliana, Lamb., da fam. das Pinaceas. P. us.: Resina e cascas. Obs.: Raras vezes empregados entre nós os pro- ductos mencionados, para fins tlierapeutioos, prefere- se geralmente os de outras plantas exóticas embora talvez tão efficazes como aquelles. A Araucaria brasiliana, Lamb-, é uma arvore muito commum nos estados meridionaes do Brasil e tem gran- de importância como fornecedora de madeira, que dia a dia vae encontrando maior aooeitação e empregos. Também os fructos (Pinhões) são apreciados pelo povo e fornecem uma fécula alva, bastante nutritiva. Pirixi (266) Nom. Sc-: Irisene portulacoides, Moq., da fam. das Amarantaceas. P. us.: Planta toda. Obs-: Um preto da feira do largo do Arouche, de quem adquirimos o material em questão, disse-nos que o receitava contra as “Flores Brancas” (f luores bran- cos), em decocto, fazendo o doente observar o mais rigorosamente possiviel a dieta prescriípta. “Foi n’um sonho, especie de visão que tive em certa noite” disse-nos o preto, “que recebi a informação sobre as virtudes desta preciosa plantinha”. 183 Pitanga (267) Nom. Sc.: Stenocalyx sulcatus. Berg., da fam. das Myrtaceas. P. us.: Folhas (segundo C. Lopes). Obs.: Este hervanario indica-a para as constipa- ções, e o Dr. Dias da Rocha, como util no tratamento das febres, contra as diarrhéas e febres das creanças, receitando-a da seguinte forma: 2 grammas de folhas de “Pitanga” para 150 grammas de agua fervendo; tomar 3 chioaras por dia. — Também o Dr. Alf. Au- gusto da Matta diz que a infusão das folhas, dá bons re- sultados no tratamento das febres terçans na primeira infancia, assim como a recommenda nos casos de fe- bres palustres. Poaya de Matto-Grosso (268) Nom. Sc.: Polygala spc-, da fam. das Polygalaceas. P. us.: Raizes- Obs.: O material vendido aqui, com este nome vulgar, não pertence como de direito á Uragoga ipeca- cuanha, Baill., da fam. das Rubiaceas. Os nomes cor- respondentes ás especies de Polygalas emeticas, corno a presente e affins, são “Poaya do Campo” e “Ipeca- cuanha do Campo”, ambas preconizadas no tratamento da febre biliosa. Poaya (269) Syn.: “Poaya Branca”. Nom. Sc.: Richardsonia brasiliensis, Gromez, da fam. das Rubiaceas. P. ns.: Raizes. 184 Obs.: Esta planta é a fornecedora da “Poaya on- dulada”, das pliarmacins. Gultivamol-a ha alguns annos no Horto “Oswaldo Cruz”. Poejo (270) Nom. Sc-: Mentha pulegium, L., da fam. das La- biadas. P. us.: Planta toda. Obs.: Desde 1917 esta planta está sendo cultivada no Horto “Oswaldo Cruz”, e o oleo essencial que já conseguimos distillar, segundo se póde deduzir das experiencias feitas pelo Dr. Vital Brasil contra a an- cylostomiase dos cães, parece ser um bom anthelmin- tico. A herva é muito preconizada, em chás, para as dores de barriga e febres das creanças. Empregam-na também, misturada á “Hortelã Pimenta”, contra os vermes intestinaes, etc. (Veja-se a observação feita no n.° 243). Porrete (271) Syn.: “Quassia do Campo”. Nom. Sc.: Eupatorium spe., da fam. das Compostas. Obs.: O material adquirido compõe-se de flores e fragmentos de folhas, já bastante moldas, não permit- tinido a identificação da especie, nem mesmo por com- paração. A respeito desta planta escreve o Dr. Monteiro da Silva, o seguinte: “Planta dos campos de Minas, muito amarga, empregada nas dyspepsias, embaraços gástricos e nas febres, gozando muita fama em Minas e por isto chamada “Porrete”, isto é, de effeito prom- pto. Usa-se a alcoolatura, na dóse de uma colhersinha de chá em um cálice de agua, antes das refeições e á 185 noite, e a sua infusão, na proporção de 20 para 200 grammas de agua, tomada então ás canequinhas, de 2 em 2 horas. Quassia (272) Nom. Sc.: Quassia amara, L., da fam. das Sima- rubaceas. P. us.: Lenho. Obs.: O lenho muito amargo dessa planta é em- pregado na therapeutica, ha muitos decennios, e co- nhecido nas pharmaeias pelo nome de “Lignum Quas- siae Verum”. Delle fazem copos, cujo uso é aconselhado ás pessoas que soffrem do estomago, recommendando- se deixar permanecer a agua nos mesmos durante 12-24 horas, antes de bebel-a. Quebra Pedra (273) Syn.: “Herva Pombinha”, “Arrebenta Pedra” e “Phyllantko”. Nom. Sc.: Phyllanthus corcovadensis, Muell. Arg. e muitas outras especies affins do genero da fam. das Euphorbiaceas. P. us-: Ramos e folhas. Obs.: As virtudes diuréticas e dissolvedoras dos cálculos renaes destas interessantes plantinhas, têm sido comprovadas varias vezes, razão porque já ini- ciamos a sua cultura em maior escala no nosso Horto, sendo facilimo e rápido o seu desenvolvimento. 1SG Quina (274) Obs.: O material se compõe de pedaços de casca grossa, de côr avermelhada, e não conseguimos identi- fical-o. Provém certamente de alguma especie das Ru- hiaceas, do grupo das “Falsas Quinas”. Quina Amarella (275) Obs.: Os fragmentos de casca algo esponjosa, côr amarellada e sabor amargo, adquiridos com este nome, são indetermináveis, sendo, porém, provável que se trate da “Quina do Campo” (Strychnos pseudoquina, St. Hil., da fam. das Loganiaceas), planta que é bas- tante commum nos campos de S. Paulo, Minas, Goyaz, Matto-Grosso, etc., e que goza de grande fama como febrífuga e estomacal. Veja-se o numero seguinte. Quina do Campo (276) Nom. Sc.: Strychnos pseudoquina, St. Hil., da fam. das Loganiaceas. P. us.: Cascas. Obs.: Este material concorda perfeitamente com a descripção dada pelos vários autores c.omo a de (St. Iíilaire, Plantes usuelles des brasiliens, pag. 1) que é bem completa, onde são tecidos grandes elogios ás vir- tudes da “Quina do Campo”. Quitôco (277) Syn.: “Quitôc”. Nom. Sc.: Pluchea laxiflora, Hook e Am., da fam. das Compostas. 187 P. us.: Planta toda ou só a raiz. Obs.: Considerada carminativa e anti-hysterica. Planta de flores amarelladas ornamentaes e muito aro- maticas, bastante commum nos arredores de S. Paulo. A Pluehea quitoc, D. C., PI. oblongifolia, D. C., e mais duas outras especies brasileiras, egualmente com- muns 110 sul do Brasil, são conhecidas pelo mesmo no- me vulgar e empregadas para 0 mesmo fim. Ratania (278) Syn.: “Ratainlia” ou “Ratanhia”. Nom. Sc.: Krameria triandra, Ruiz et Pav., e af- fins, da fam. das Leguminosas, subf. das Caesálpinioi- deas. (Antes subordinada á fam. das Polygalaceas). P. us.: Raizes. Obs.: A “Radix Ratanliiae” e o “Córtex Ratanliiae” são productos que desde séculos fazem parte do pa- trimónio therapeutico, sendo ainda empregados 11a in- dustria, e exportados especialmente da região andina do Perú e da Bolívia, onde a planta expontaneamente, numa altitude que varia entre 1.000 a 2.600 metros sobre o nivel do mar. Encerra mais de 20 % de “Acido Rátanliico”, além de assacares e gonama em menor por- centagem. Sob a fornia de pós ou de aguas odontalgi- cas é, no Perú e na Bolivia, desde tempos immemoriaes empregada cumo magnifico conservador dos dentes. O extracto, cor de sangue, das raizes é ainda usado para adulterar ou falsificar 0 vinho. Na America do Sul existem outras especies affins, que fornecem producto similar, que é exportado para diversos mercados europeus sob o nome de “Ratanliia Sabanilla”, etc., exceptuando-se o da Kram. argên- tea, Mart., do Pará e norte do Brasil, que recebe o no- me de “Ratanhia do Pará”. 188 Em Matto-Grrosso colhemos material da Kram. spartioides, Berg., especie ali bastante frequente, mas não tivemos noticia a respeito do seu aproveitamento na industria ou na medicina. Rhuibarbo (279) Syn.: “Rhabarber” dos allemãesi Nom. Sc.: Rheum officinale, Baill. (provindo tam- bém de R. palmatum, L., var. tangutinum, Rgl.), da fam. das Polygonaceas. P. us.: Rhizoma. Obs.: As primeiras noticias a respeito desta uti- lissima planta officinal datam de 2700 annos antes de Christo. Plinins já louvava os seus effeitos, e, até a nossa éra, ella continua a prestar á humanidade ser- viços inestimáveis. Do “Rhuibarbo da China” retira-se o “Acido rlieo- tannioo” (C26H16014), o “Acido Rheumico” (C20H16O9), a “Pheoretina” (Cl6H1607) e a “Ghrysophanina), isu- mera á “Aligarina”. O “Rhuibarbo” é um dos melhores purgantes que se conhece. Convém, porém, não eonfundil-o, com o nacional, isto é, com o “Baririçó” que registámos sob o numero 37. Romã (280) Syn.: “Romeira”. Nom. Sc.: Púnica granatum, L., da fam. das Myr- taceas. P. us.: Cascas. 189 Obs.: Não só as cascas do tronco e das raizes, mas as sementes da “Romã” são empregadas na medi- cina. As raizes passam por excellente vermicida, espe- cialmente contra tenias, sendo muito empregadas pelo povo. Rosas (281) Obs.: Sob o’nome de “Rosas” ou “Petalos de Ro- sas” são vendidos os petalos de differentes varieda- des e especies do genero Rosa, da fam. das Rosaceas, cultivadas entre nós. Os petalos da rosa são aromáticos, adstringentes e empregados externa ou internamente. Elias consti- tuem a base da “Conserva de Rosas” que é administra- da com vantagens contra a tisica, diarrhéa, atonia dos orgãos digestivos, leueorrhéa, etc. Em infusão na agua fervendo são aconselhadas nas anginas chronicas e nos casos de aphtas, ulceras, etc. Isto seg. Chernoviz, que indica varias receitas, tendo por base os petalos de rosas. Yeja-se também “Cem Folhas” n.° 78. Sabina (282) Syn.: “Sabine” dos francezes e “Sade-Wacholder” dos allemães. Niom. Sc.: Juniperus sabina, L., da fam. das Pi- naceas. P. us.: Sementes e, mais commumente, as folhas. Obs.: A “Sabina” é empregada na therapeutica desde muitos séculos como emmenagogo e mesmo abor- tivo, graças á sua acção excessivamente estimulante sobre os musculos do utero. 190 Sabugueiro (283) Syn.: “Sureau” dos francezes, “Holunder” dos allemães e “Edler” ou “Bore-tree” dos inglezes. Nom. Sc.: Sambucus nigra, L., e mais frequente- mente , Sarnb. australis, Cliam. et Schlecht, da fam. das Caprifoliaceas. P. us.: Folhas, casca, flores e raizes. Obs.: A infusão das flores muito* aromatica e de sabor agradavel, é sudorifica; as folhas, da mesma for- ma, são diuréticas, laxativas e em dose maior também purgativas; a entrecasca é purgativa e vomitiva, po- dendo, em dóses mais elevadas, trazer consequências funestas. Em vinho o decocto das raizes é purgativo- hydragogo. As bagas devem ser ainda mais activas, foi, entretanto, justamente o que encontramos á venda na Hervanaria St. Isabel. Affirmam autores insuspei- tos que as bagas encerram “Acido Malioo”, “Acido Citrieo”, matéria corante e gomma e que na entrecasca se encontra o “Acido Valerianieo”, “Acido Tannico”, matéria extractiva, assucar e pectina, além de gom- mas e saes diversos. A infusão das flores, contra constipações é acon- selhada na proporção de 4-6grammas de flores para mil partes de agua; o decocto da entrecasca na de 20-30 grammas para 500 de agua, como emeto-cathartico. As “Piores do Sabugueiro” (Sambucus fiori) provêm da casa Paganinia Villani & Oomp., de Milano. Sacco-Sacco (284) Nom. Sc.: Andropogon spc.. da fam. das Gramineas. P. us.: Inflorescencias. Obs.: O nome “Sacco-Sacco” não foi encontrado 191 em nenhum dos autores que consultámos, sendo pro- vável que tivesse sido inventado pelo hervanario que nos vendeu este material, que affirmou tel-o da Casa Monteiro da Silva & Comp., do Rio de Janeiro. As in- florescencias fazem lembrar muito o Andropogon spa- thiflorus, Kuntli., não pertencendo, entretanto, a esta especie. Salgueiro (285) Nom. Sc.: Salix spc., da fam. das Salicaceas. P. us.: Renovos e folhas tenras. Obs.: A infusão deste material é reputada tónica, febrífuga e rica em “Salicina”, alcaloide bastante co- nhecido e preconizado como febrifugo. E’ bem provável que este material nem sempre provenha da mesma especie e que as suas proprieda- des therapeuticas sejam communs a outras affins. O “Salgueiro” citado e descripto pelo Dr. Almeida Pinto (Diocionario de Rotanica Brasileira, pag. 388) deve ser uma Borraginacea, como elle affirma. Salsa das Hortas (286) Syn.: “Salsa de Glieiro”, “Cheiro”. Nom. Sc.: Petroselinum sativum, Hoffm., da fam. das Umbelli feras. P. us.: Toda a planta. Obs.: Totalmente aromatica servindo as folhas de tempero, ou usadas externamente como resolventes. Esta planta já era conhecida e preconizada por Dios- corides e Plinius. 192 Salsaparrilha (287) Nom. Sc.: Smilax spc. ?, da fam. das Liliaceas. P. us.: Kaizes. Obs.: O nome vulgar supra é mal empregado, quan- do se refere a especies de Smilax, elle é mais frequen- temente escolhido para designar a Herreria salsapar- rilha, Mart., (Veja-se o numero 179). Temos entre- tanto a observar que a troca de nomes vulgares entre estas duas especies já se acha bastante arraigado no Estado de S. Paulo, principalmente, na cidade. Tam- bém o Pr. Almeida Pinto, ob. cit. pag. 389, chama atten- ção para isto, dizendo: “Ha muitas salsaparrilhas pró- prias do Brasil, onde são conhecidas debaixo do nome vulgar de “Japecanga”, e enumera então algumas es- pecies de Smilax e a Herreria. Converia pois que fi- casse estabelecido definitivamente serem as primeiras distinguidas pelo nome de “Japecanga” e a ultima, com especies affins, por “Salsaparrilha”. O material das Herrerias, ou Smilax, é empregado desde muitos annos como depurativo excellente, exis- tindo já uma grande exportação para paizes da Eu- ropa e da America do Norte. E’ muito preconizado contra a syphilis e todas as suas formas, na proporção de 30 grs. para 1000 de agua fervendo. Salvia (288) Syn.: “ Salva dos Jardins”. Nom. Sc.: Salvia officinalis, L., da fam. das La- biaclas. P. us.: Pollias. Obs.: Briqnet affinna serem muitas as especies de “Salvia” com virtudes tónicas e anti-spasmodicas. 193 (Segundo o autor citado, o nome Salvia deve ter tido origem no termo “Salvare”, latim; um aphorismo da Escola de Salermo, diz-se ter sido o seguinte: “Cur moriatur homo, cui Salvia crescit in horto”). Entre nós a “Salva” ou “Salvia” é cultivada prin- cipalmente para servir de condimento. Samambaia (289) Nom. Sc.: Pteridium ciquilinum, (L.) Kuhn., da fam. das Polypodiaceas. P. us.: Folhas. Obs.: As folhas da “Samambaia” são consideradas aniti-rhenmaticas e emolli entes. O Dr. Monteiro da Silva escreve o seguinte a respeito desta planta: “A “Sa- mambaia” e o rheumatismo. Era geral na zona agrioola a fama da Samambaia na cura do rheumatismo. E quanta gente se admirava de uma praga tão detestada, possuindo uma virtude medicinal de alta monta. Em um lavrador que soífria ha muitos annos de rheuma- tismo chronico, que o impossibilitava de andar ou fa- zer qualquer movimento, a Samambaia deu um quináo nos ioduretos e nos salicyiatos. Cansado de tomar essas drogas e outras, sem conseguir um resultado positivo, tratou de procurar nas hervas o lenitivo para o seu mal. Usando o cosimento da fronde (folha) e ramos do féto tão conhecido, em poucos dias ficou curado. Já se podia molhar e resfriar sem apparecer mais a re- belde diathese. Uma chicara pela manhã, ao meio dia, á tarde e á noite, foi quanto bastou para livral-o de um tormento atroz. Quanto mais a noticia da cura se espalhava pelo campo, mais o numero de adeptos da flora augmentava e o nome da planta bemfazeja era repetido como uma cousa de superior valia. Quem diria que o chá de Samambaia, — uma praga — curasse ao 194 Sr. Carlos Fonseca! Esta impressão mais se avolu- mava pelo facto do doente ser muito popular e bem- quisto, como um homem bom e honrado. Elle tornou-se dahi por diante um propagandista tenaz da utilíssima planta e teve muitas oocasiões de observar vários casos de cura de rheumaticos entrevados. Um dia, passando pela porta de um colono, viu o pobre homem encostado a uma muleta, marchando com muita difficuldade, quei- xando-se de fortes dores nas juntas. Olhando ao redor da casa descobrio uma moita de Samambaia e, apon- tando para lá, disse ao rheumatico: — Ali está o seu remedio; colha as folhas, deposite dentro de uma ti- gela e derrame sobre ellas agua fervendo e tome á vontade. Nunca passára pela ide a daquelle homem que aquella herva que elle cortava tantas vezes com a .en- xada pudesse curar o seu mal. Tratou, porém, de pre- parar e de usal-a do modo indicado. Qual não foi o seu espanto, quando começou a notar que as dores iam diminuindo, que já podia andar com facilidade. E do terceiro dia em diante, não precisou mais das muletas. Nessa occasião de novo passava pela sua porta o bom amigo, que logo perguntou pelo seu estado de saúde. Com os olhos marejados de lagrimas, elle não sabia como havia de agradecer ao bom homem o reme- dio, que o curou e ágora o deixava livre para poder trabalhar, o que tanto precisava para poder alimentar e vestir a sua familia. Como este, muitos casos de cura foram sendo conhecidos”. “Por meu lado e amigo como sou da nossa flora (diz ainda o mesmo senhor) comecei a receitar, ora a decocçãõ, ora a infusão da Samambaia, sempre com os melhores resultados que se póde desejar”. A classificação que este medico faz não está certa. Não se trata de. Pteris caudata, L., especie que vive, com frequência, nos barrancos e logares menos ex- postos das encostas do Rio de Janeiro, Minas e S. Tenda para a venda de hervas medicinaes no Mercado Velho Pendurados veem-se “Figas de Páu d’alho”, “Jatobás”, “Pelles de lagarto” e “Pacová” 195 Paulo, cujas frondes são muito menores, duplo-pin- nadas ou pinnadas, attingindo apenas de 30-40 cm. de comprimento. Do interior deste Estado recebemos em 1917 ma- terial do Pteridium aquilinum, (L.) Kulin., que nos foi indicado com util no tratamento do rheumatismo. Trata-se de uma especie cosmopolita, cuja grande distribuição ainda não se sabe a que attribuir. Entre nós ella tornou-se uma verdadeira praga em muitas zonas, oecupando de preferencia os terrenos primiti- vamente cobertos de matta e constituindo ahi forma- ções que se estendem por vezes a muitas léguas qua- dradas. Além da utilidade que tem como planta medicinal, a “Samambaia” fornece um rhizoma bastante espesso, que em alguns logares da África e na Ilha de Tene- riffe são reduzidos a pó e empregados para preparar pão. O “Pão de Helecho” daquella ilha é feito deste rhi- zoma. Os rebentos, emquanto tenros são colhidos como aspargos e servem de alimento ás pessoas do interior. Em Minas tivemos oocasião de provai-os e confessa- mos que não são de todo intragáveis e bastante ali- menticios. Sandalo '(290) Syn.: “ Sandelholz” dos allemães. Nom. Sc.: Santalum álbum, L. e Sant. freycinetia- num, Graud., da fam. das Santalaceas. (?). P. us.: A madeira ou essencia oleosa. Obs.: Trata-se aqui do “Sandalo Branco”, que algum tempo era considerado officinal, mas que hoje é empregado apenas 11a perfumaria. Nem todo o ma- terial que nos mercados mundiaes apparece _ sob este nome provém das especies supra mencionadas; uma boa parte é também fornecida por especies de Epicharis, 196 da fam. das Meliaceas. O “Sandalo Vermelho” que vem das índias e das ilhas Philippinas, provem de Ptero- carpus santalinus, L., da fam. das Leguminosas. O ma- terial que sob este mesmo nome procede da ilha Mocha, da costa do Chile, é, segundo Reed, proveniente de Escallonia macrantha, Hook., da fam. das Saxifra- gaceas. Só pela amostra é impossivel precisarmos a qual destas especies deve pertencer o material vendido aqui em S. Paulo. Sanguinaria (291) Syn.: “Homriana Thee” dos allemães. Nom. Sc.: Polygonum avicidare, L., da fam. das Polygonaceas. P. us.: Planta toda, especialmente caule e folhas. Obs.: Planta cosmopolita, de virtudes talvez idên- ticas ás dos nossos Polygonum acre, H. B. K., e Polyg- acuminatum, H. B. K., citados sob numero 152. Sanguinaria (292) Nom. Sc.: Sanguinaria canadensis, L., da fam. das Papaveraceas. P. us.: Rhizoma. Obs.: O rhizoma desta planta é um emetico pode- roso e em alta dóse póde produzir intoxicação, pois é narcotico-acre e perigoso, em dóse pequena, porém, passa por iser estimulante e tonico. Elle deve a sua acção ao alcaloide que encerra e que foi descoberto por Dana, que o denominou “Sanguinarma” (C70H05AzO4). Se- gundo G D. Gíbb, o rliizoma da “Sanguinaria” con- 197 tem ainda outros dois alcaloides, a “Puccina” e a “Por- phyroxina”, este ultimo talvez idêntico ao que cons- titue a base do “Opio”. Esita é mais conhecida pelo nome de “Sanguinaria do Canadá”. Santolina (293) Syn.: “Heiligenpflanze” ou “Cypressenkraut” dos allemães. Nom. Sc.: Santolina chamaecy paris sus, L., da fam. das Compostas. P. us.: Planta toda. Obs.: Esta planta tem ainda os seguintes nomes: “Santolina verdadeira”, “Abrotano-Fémea”, “Garde Robe” dos francezes, etc. Costumam queimal-a para defumar os aposentos, os armarios, etc., possuindo grande poder insecticida, além de ser considerada ver- micida. Esta planta está sendo cultivada no Horto “Os- waldo Cruz”, para estudo do seu poder anthelmintico. O termo “Santolina” dado por Caminhoá, ob. cit., pag. 2907 é resultado de um erro typographico, pois deve ser “Santonina”. Sapé (294) Syn.: “Sapé Macho” (que é o verdadeiro nome desta planta) e “Jucapé”. Ntam. Sc.: Imperata caudata, Trin., da fam. das Gramineas. P. us.: Estlinos (raizes). Obs.: Diurética, dissolvente e sudorífica. Tem os mesmos empregos e nomes que a Imperata brasilien- sis, Trin. 198 Sapé Macho (295) iSyn.: Os verdadeiros nomes vulgares da especie em questão são: “Herva Lanceta”, “Marcella miuda” e “Mbuyboty yubá mi” (este ultimo, segundo Barbosa Rodrigues, dado pelos Guaranis, vide Mbaé Kaá pag. 39) e “Arnica”. Nom. Sc.: Solidago microglossa, D. C., da fam. das Compostas. P. us.: Folhas. * Obs.: Planta vulneraria. Monteiro da Silva diz: “Planta estimulante, que substitue a “Arnica”. Este autor a cita com o nome vulgar de “Marcella do Cam- po”, que, como o adoptado pelo Sr. Oecilio Lopes (Sapé- Maclio), deve ter sido inventado para desnortear os clientes. Vide também o numero precedente. Saponaria (296) Syn.: “Saponaire” dos francezes e “Seifenkraut” dos allemães. Nom. Sc-: Saponaria officinalis, L., da fam. das Caryophyllaceas. P. us.: Raizes e folhas. Obs.: As raizes e folhas são de sabor amargoso e, quando maceradas em agua, fornecem um liquido saponaceo, encerrando ainda regular porcentagem de “Saponina” (C32H54018). A “Saponaria” é de ha muitos séculos empregada na medicina como tónica e aperitiva, bem como dia- phoretica. Nos mercados as raizes apparecem sob o nome de “Radix Saponariae” e as folhas com o de “Folia Saponariae”. 199 Sassoia (297) Syn.: “Fumo Bravo”, “Suçuya”, “Herva de Col- legio”, “Herva do Diabo”, etc. Nom. Sc.: Elephantopus scaber, L., var. tomento- sus, Scliultz Bip., da fam. das Compostas. P. us.: Planta toida. Obs-: Segundo Martius, esta planta é emolliente, sendo o seu decocto usado como febrifugo e sudorifico. Empregam-na também como anti-syphilitico. Os nomes supra citados, principalmente “Suçuaya” ou “Suçuya”, são dados a varias especies deste genero, das Compostas, e é de crer que as propriedades sejam idênticas em todas ellas. Senne (298) Syn.: “Cassia”. Nom. Sc.: Cassia, spc. ?, da fam. das Leguminosas, subf. das C aesalpinioideas. P. us.: Polpa dos fructos. Obs.: A maior parte do “Senne” que apparece nos mercados provém de especies asiaticas e africanas do genero citado, e, só pelo material preparado, é impos- sivel precisar-se de qual procede. O adquirido e exami- nado é importado de Portugal. Em Matto-Orosso tivemos occasião de verificar que o nome vulgar acima é dado especialmente a Cassia Langsdorffii, Kunth, C. uniflora, Spreng. e C. Desvauxii, Collad. Serpão (299) Syn.: “Thymo”, “ Tliymia.n” e “Quendel” dos alle- mães, “Serpolet” dos franeezes. 200 Nom. Se.: Thymus serpyllum., da fam. das La- biadas. P. us.: Folhas e flores. Obs.: Material importado da Europa. As proprie- dades desta planta são analogas as do “Thymo Verda- deiro” (Thymus vulgaris, L.), do qual se extrae o “Thy- mol”, mas que póde ser obtido desta. Ambas são em- pregadas como estimulante externo ou como bons an- theknintioos. Serpentaria (300) Syn.: “Serpentaria da Virginia”. Nom. Sc.: Aritolochia serpentaria, L., da fam. das Aristolochiaceas. P. us.: Raizes, radioulas, etc. Obs.: Esta planta era anteriormente muito empre- gada como diurético, sudorífico e estimulante, hoje ra- ras vezes é usada na tlierapeutica. O rhizoma desta planta é curto e quasi fusiforme e delle são emittidas as raizes, em grande numero, que têm um sabor acre- picante e cheiro agradavel. Sete Sangrias (301) Syn.: “Caxanil” no México; Herva de Sangue”, “Sete-jsangrias”, “'Cuphea”, etc. Nom. Sc.: Cuphea balsamona, Cham. et Schlechtd-, da faim. das Lythraceas. P. us.: Planta toda. Obs.: Anti-venerea, diaphonétiea e anti- thermica. Estas mesmas virtudes são encontradas em outras es- pecies affins, do mesmo genero, que são, pelo vulgo, appelidadas com os mesmos nomes. O nome “'Sete San- grias” é ainda dado a varias plantas de familias dif- 201 ferentes, assim ao Symplocos parviflora, Bth., da fam. das Symplocaceas; ao Lithospermum officinale, L., da fam. das Borraginaceas, etc-, isendo, porém, mais co- nhecidas por esse nome as Cupheas. Cecilio Lopes, de quem adquirimos o material su- pra, affirma ser o mesmo empregado, em decoctos, como refrigerante do sangue. Sucupira (302) Syn.: “Faveira”, “Fava de St. Ignacio”, “Sebe- pira”, etc. Niom. Sc.: Pterodon pubescens, Bth. ?, da fam. das Leguminosas, snbf. das Papilionaceas. P. us.: Cascas, sementes e raizes (batatas). Obs.: “As cascas são anti-diabeticas e as semen- tes, na pinga, boas para curar o rheumatismo”, affir- ma Cecilio Lopes. O nome “Sucupira” para a especie supra não fica bem. Este nome é dado, em todo o Brasil, con- forme tivemos occasião de verificar, ás especies de Bowdichias, principalmente as B. virgilioides, H. B. K. e B. nítida, Spruce. “Faveira” é o nome pelo que se conhece mais geralmente as especies do genero Pte- rodon. Além das folhas, cascas e favas o Sr. Cecilio Lo- pes vende também a raiz (”Batata de Sucupira”) desta planta, cujos empregos desconhecemoiS. As favas, isto é, as sementes, de casca ossea e cheia de grande poros ou lojas de um oleo muito aromatico e pegajoso, são vendidas como amuletos em todas as hervanarias desta cidade; em regra pedem de 300 a 500 réis por uma. 202 Tamarindo (303) Syn.: (Pelos arabes, os fructo são conhecidos pelo nome de “Andelê”, e a polpa vem aos mercados sob o nome de “Pulpa Tamarindi”). Nom Sc.: Tamarindus indica, L., da fam. das Le- guminosas, subf. das Caesalpinioideas. P. us.: Polpa dos fructos. (O Sr. Cecilio Lopes vendeu-nos também as folhas e renovos). Obs.: Affirmou-nos este hervanario, serem as fo- lhas e renovos úteis no tratamento das febres. A polpa dos fructos é empregada para preparar as “Tamari- nadas”, refrigerantes e muito preconizadas contra as febres intermittentes e gastricas. Ella contem: “Acido Citrico”, “Acido Malico”, “Acido Tartarico”, “Bi-tar- trato de Potássio”, “Glucose”, “Pectina”, “Levulose”, além de matérias feculentas. Isto, segundo a analyse procedida por Vauquelin na proporção seguinte: Acido Citrico 9,40 Acido Tartarico 1,55 Acido Malico 0,45 Bi-tartrato de Potássio. . . . 3,25 Glucose 12,50 Matéria feculenta 4,70 Gelatina vegetal 6,25 Parenchyma 34,35 Agua 27,55 Além destas nótas o Dr. Alfredo Augusto da Matta, expõe variais formulas para o emprego da pol- pa do tamarindo e egualmente os meios práticos para o seu preparo e conserva. 203 Tanchagem (304) Syn.: “Tansagem”, “Tans achem” e “Tensaja”, etc. Nom. Sc.: Plantago tomentosa, Lam. ?, da fam- das Plantaginaceas. P. us.: Planta toda. Obs.: O nome vulgar supra não se refere a uma especie exclusivamente. Todos os Plantagos, com pou- cas excepçÕes, são, pelo vulgo, conhecidos pelo nome de “Tansagem”. Folhas e raizes empregadas contra as febres e mo- léstias uterinas; adstringentes e tónicas e por isto tam- bém usadas em gargarejos contra as anginas e mo- léstias da garganta. As folhas frescas, bem amassadas, são consideradas vulnerarias. As varias especies são pelo vulgo differenciadas pela juneção de um qualificativo ao nome, assim tem elle: “Tanchagem lanceolada”, “Tanchagem pardacen- ta”, “Tanchagem arenaria”, etc. Tapixingui (305) Syn.: “Capixingui”, etc. Nom. Sc.: Croton spc.f (Affim de C. echiniocarpus, Muell. Arg), da fam. das Euphorbiaceas. P. ns.: Folhas, casca e raizes. Obs.: Adquirimos cascas e folhas, material que não se presta a identificação exacta da especie. Aliás o nome vulgar abrange varias especies da secção a que pertence o Croton floribundus, Spreng., que em São Paulo é ma is conhecido corno “Capixingui”, ou Capihi Xinguhi, segundo Caminlioá, não estando certa a sua identificação corno C. campestris, St. Hil. A casca é considera anti-syphilitica. 204 - Tayuya (306) Syn.: “Abobrinha” (iseg. C. Lopes). Nom. Sc-: Cayaponia tayuya, (Miart.), da fiam. das Cucurbitaceas. P. us.: Raizes. Obs.: Tivemos oocasião de ver, no Mercado Velho desta cidade, algumas raizes tuberósas desta planta, vulgarmente conhecidas por “Batatas de Tayuya”, que tinham mais de um metro de comp. por 15-25 cm. de diâmetro. E ’ um dos melhores depurativos da nossa flora. 0 Dr. Alf. Aug. da Matta cita esta mesma planta com o nome de “Oabeça de Negro”. Thuia (307) Syn.: “Lebensbaum” dos allemães. Nom. Sc-: Thuja occiãentalis, L., da fam. das Pinaceas. P. us.: Ramos novos. Obs.: Planta nativa na America do Norte, mas lioje aoclimatada em vários paizes, de propriedades exci- tantes, aromaticas, diaphoréticas e anti-rheumaticas. Tilia (308) Syn.: “Linde” dos allemães, que cultivam varias especies sob o mesmo nome vulgar. Nem. 8c-: Tilia, *spc?., da fam. das Tiliaceas. P. us.: Flores. Obs.: As flores encerram um oleo ethereo e são muito mucilaginosas, tendo por isso vários empregos na therapeutica. (Material importado). - 20õ Tinguaciba (309) Syn.: “Tembetarú”. Nom. Sc-: Fagara tingoassuiba, (St. Hil.), da fam. das Rutaceas. P. us.: Raízes e casca. Obs.: O material adquirido compõe-se de fragmen- tos de casca e madeira; a primeira é coberta por uma epiderme na entrecasca e a ultima é ligeiramente branco amarellada. Convém notar que o nome vulgar não define uma só especie, mas varias do mesmo genero, das Rutaceas. As cascas são tidas corno estimulantes e estoma- caés e receitadas contra as cólicas e vários embaraços gástricos. Tinguaciba Brava (310) Obs-: O material adquirido com este nome é oriundo da Datura stramonium, L., fam. das Solanaceas. Pela indicação dada pelo Sr. C. Lopes, que nos vendeu o material, verificasse facilmente, que houve engano da parte de quem o separou, porque elle diz: “Para febres intermittentes e cólicas, preparado em pinga ou tin- tura”, isto é, a indicação exacta que geralmente dão para a “Tinguaciba”. Vide numero anterior. Trombeteira (311) Syn.: “Baboso”, “Zabumba da Branca”, etc. Nom. Sc.: D atura suaveolens, Humb. et Bonpland e D. arbórea, L., da fam. das Solanaceas. P. us.: Folhas. Obs.: Como medida de precaução o Sr. C. Lopes teve o cuidado de juntar ao material a nóta: “Venenosa”. 206 Planta toxica, empregada para os mesmos fins e de virtudes analogas ás da “Figueira do Inferno” (D. stramonium, L.), (Vide o n.° 143). Tussilagem (312) Svn.: “Huflattich” dos allemães, “Unlia de Ca- vallo” dos portuguezes e “Tussilage” ou uPas d’âne” dus francezes. Nom. Sc.: Tussilago farfara, L., da fam. das Com- postas. P. us.: O sr. 'C. Lopes vendeu-nos follias já bastante trituradas, entretanto, Lanesisan indica o uso das flores como peitoraes e o rliizoma como util no tratamento das escrófulas, não se referindo á utilidade das folhas. Ucuúba (313) Syn.: “Urucuúba” (Vide também “Bucuiba”). Nom. Sc.: Myristica sebifera, Swartz?, da fam. das Myristicaceas. P. ns.: A matéria graxa extraliida da «emente. Obs.: E/ste material vem acondicionado em peque- nos tubos de taquara fina, de 13-15 cm. de oomp. por 12-14 mm. de diâmetro. E’ preconizado no tratamento do rheumatfsmo, especialmente para fomentações das partes doridas. E’ muito provável que esta substancia seja adulte- rada com cebo ou oleo animal. Urtiga Branca (314) Syn.: “Urtiguina”. Nom. Sc.: Urtica urens, L., da fam. das Urticaceas. P. us.: Toda a planta. 207 Obs.: Diurética, uso interno, em infusões; externa- mente applicam-na, em fricções ou mesmo em açoites brandos, ao longo da espinha dorsal na cura de para- lysias. Produz quando viva empolamento da pelle, urticação. Urtiga Brava (315) iSyn.: “Urtiga Vermelha”, “Urtigão” e, segundo C. Lopes, “Raiz Brava”. Nom. Sc.: Urera baccifera, Gaudich., e outras af- fins, da fam. das Urticaceas. P. us.: Planta toda. Obs.: O. Lopes aconselha o uso das folhas contra as flores brancas. Os mesmos empregos da precedente. Urucúm (316) Syn.: “Urucú”, “Açafroa” na Bahia, “Roucu” dos francezes, “Achiolt” no México, “Bixé” dos indios da Amazónia, etc. Nom. Sc.: Bixa orellana, L., da fam. das Bixaceas. P. us.: Sementes e polpa das mesmas. Obs.: Este material tem grande reputação no tra- tamento da dyseoteriía e em dose elevada, passa por purgativo. Mais importantes são as sementes para a indus- tria, pois a matéria corante que