Departamento Nacional de Saude Publica Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural no Estado do Pará A Prophylaxia da Lepra e das Doenças Venereas no Estado do Pará PELO Dr. H. C. DE SOUZA ARAÚJO CHEFE DO SERVIÇO Co]laborar!ores: Desembargador Judio Cesar de Magalhães Costa e Drs. Hilário Ourjão e Raymundo da Cruz Moreira. PUBLÍCAÇÂO DESTINADA Á COMMEMORAÇÂO DO CENTENÁRIO DA INDEPENDENCIA E Á CONFERENCIA AMERICANA DA LEPRA VOL. II LIVRARIA CLASSICA BBLEM-PARÁ 1922 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E NEGOCIOS INTERIORES * Ministro: Dr. Joaquim Ferreira Chaves DEPARTAMENTO NACIONAL DE SAUDE PUBLICA Director Geral: Dr. Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas INSPECTORIA DE PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS Inspector: Professor Dr. Eduardo Rabello SERVIÇO DE SANEAMENTO E PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA Chefe: Dr. Heraclides Cesar de Souza Araújo INSTITUTO THERAPEUTICO DA LEPRA E LEPROSARIA DO TOCUNDUBA Director: Dr. Bernardo Leibowitcz Rutowitcz INSTITUTO DE PROPHYLAXIA DAS DOENÇAS VENEREAS Director: Dr. Hilário Gurjão HOSPITAL DE SÂO SEBASTIÃO Director: Dr. Raymundo da Cruz Moreira Belém, l.° de Setembro de 1922. Exmo. sr. professor DR. EDUARDO RABELLO D. D. inspector de Prophylaxia da Lepra e das Doenças Venereas Cabe-me a honra de vos apresentar esta obra em que reuni os trabalhos realizados na secção de Prophylaxia da Lepra e das Doenças Venereas, d’este Serviço, no periodo decorrido entre Julho de 1921 a Junho de 1922. Na estatística da lepra não estão incluídos os casos matriculados em Junho porque não houve tempo para a re- visão das fichas e repetição dos exames de laboratorio. Auctorizado por telegramma n. 254, de 27 de Março ultimo, do Dr. Director da Prophylaxia Rural, mandei im- primir este fascículo que é destinado á Conferencia Ame- ricana da Lepra. Pelos dados e estatísticas nelle contidos vereis quão grave é a situação do Pará no ponto de vista da frequência e disseminação da Lepra, para cujo problema espero as vossas acertadas e promptas providencias. Apezar do meu grande esforço não sahiu um trabalho perfeito nem quanto á parte scientifica e ainda menos quan- to á parte material. Saúde e PVaternidade. Dr. Heraclides Cesar de Souza Araújo Chefe do Serviço. PRIMEIRA PARTE A FREQUÊNCIA E PROPHYLAXIA DA LEPRA NO ESTADO DO PARÁ Si para o mundo as doenças venereas são o problema mais sério de me- dicina social, no dizer judicioso de Rosenau, para o Pará é a lepra, que está reclamando dos Governos da União e do Estado medidas ur- gentes e decisivas de defesa contra o seu constante augmento e disse- minação. 5. A. A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO FARÁ FRIAEIRA PARTE A FREQUÊNCIA ePROPHYLAXIA on LEPRA NO ESTADO DO PARÁ PELO Dr. H. C. de SOUZA ARAÚJO DO INSTITUTO OSWALDO CRUZ A Noruega está quasi isenta de lepra porque poz em pratica o lemma de Hansen ; “A lepra é contagiosa; para a extinguir é ne- cessário isolar os leprosos.” Anraiier Hansen, 1885. CAPITULO I Hietorico da Lepra no Pará de 1746 a 1921 1. 11WPOHTAÇÃO E DISSEMINAÇÃO Desde 1916 venho affirmando, em trabalhos publicados, e cada vez estou mais convencido, de que a lepra foi trazi- da ao Brazil principalmente pelos escravos africanos, e em menor escala pelos proprios portuguezes, auctores dos dois maiores crimes que se podia commetter contra o nosso paiz: a implantação do regimen escravocrata—cujas consequências nos têm sido tão desastrosas, e a importação da lepra, o mais hediondo flagello da Humanidade. / Pela farta e importante documentação existente, está sobejamente provado que os nossos indígenas nunca soffre- ram, nem as tribus do extremo Norte nem as do extremo Sul e centro do paiz, do mal de Lazaro. Com referencia ao Estado do Pará consegui reunir da- dos de alto valor historico, os quaes provam que os primeiros 6 doentes de lepra deste vasto território eram negros africa- nos, escravos. E’ possível que desde os seus primórdios hou- vesse também umá pequeníssima parcella de leprosos euro- peus, sobretudo portuguezes das classes baixas, porque foi com estes elementos que a metropole deu inicio ao povoamen- to do iramenso território descoberto por Cabral. Da busca feita no Archivo Publico do Pará, .resultou o achado de in- números documentos, na sua maioria altamente interessantes, tanto sobre o augmento sempre crescente da lepra aqui, como também sobre as tentativas de sua prophylaxia, desde os primeiros annos do século XIX. A collectanea desses do- cumentos daria uma grande obra. Infelizmente a estreiteza do programma desta monographia não me permitte aprovei- tal-os todos. Poucos delles serão transcriptos in extenso; de muitos, porém, tirarei citações, não esquecendo nunca de lembrar os seus auctores. Começarei pela obra realmente preciosa de Arthur Vianna, « À Santa Casa de Misericórdia Paraense », publicada em 1902, nesta Capital, por ordem do benemerito cidadão Antonio José de Lemos, quando provedor daquelle acreditado estabelecimento de caridade. A’ pagina 119 deste grande livro se lê: « Desde os primeiros tempos da coloni- zação, a morphéa, transplantada de Portugal para o valle do Amazonas, desenvolvêra-se bastante, encontrando nas condi- ções climatéricas, na vida nutritiva dos habitantes e quiçá na absoluta communidade em que viveram sempre contami- nados e bons, elementos da propagação. Apezar da frequên- cia dos casos, jámais se preoccupou o governo colonial com esta moléstia...» Nota-se aqui que o auctor commetteu um erro de ob- servação quando diz que a lepra foi transplantada de Por- tugal, quando devia dizei-o da África. Quanto á frequência de leprosos nesta Capital, diz o mesmo auctor, logo adeante, «Nos principios do século XIX achava-se Belém mi- nada de leprosos; em todas as camadas sociaes tinha o ba- cillo de Hansen largo numero de victimas...» Desde 1804 a benemerita Associação da Santa Casa de Misericórdia co- meçou a se interessar pela sorte dos pobres lazaros, tendo, isolado os primeiros 5 delles em 1815, num barracão da an-. tiga olaria da fazenda do 1 ocunduba. Sobre este antigo es- tabelecimento tratarei em sub-capitulo especial, tal a sua im- portância no ponto de vista historico e de assistência. Em 1816 foi inaugurado ofíicialmente o Hospicio dos Lazaros e em 1822 havia nelle 61 leprosos, sendo 19 homens e 42 mulheres, conforme documento original consultado no Archivo Publico. Em carta de 18 de Julho de 1822 o cirur- gião dos lazaros Joaquim Carlos Antonio de Carvalho in- forma ao Provedor da Santa Casa que visitou o asylo do 7 Tocunduba e communica que «todos os íazaros que vieram de Santarém estão em péssimo estado e que já não ha mais togar para camas». Os lazaros vindos de Santarém eram em numero de 13, dos quaes 5 mulheres e 8 homens, todos escravos pretos e tapuios. Destes doentes o Juiz Ordinário Antonio Luiz Coe- lho enviou uma relação á Santa Casa, em data de 15 de Junho de 1822. Como se vê, começam a apparecer as estatísticas dos leprosos negros. Em officio de 20 de Julho de 1823 a Meza da Santa Casa informa a Junta Governativa Civil que: • ; ; 8 DOENTES DA CIDADE. Vae adeante a relação das ruas onde foram descobertos os 23 doentes da cidade. Delles apenas 3 eram escravos, e nas casas onde 2 destes viviam, havia le- prosos nas famílias dos seus senhores. 20 dos doentes eram filhos de familias ou paes, informa o alludido documento. Na rua das Flores, casas n.°« 66 e 105, existiam duas mulheres leprosas que não se deixaram recensear. FOCOS DE LEPRA EM BELÉM EM 1838: Rua dos Cavalleiros.. (hoje Dr. Malcher).... 2 doentes Rua da Queimada. ... ( » Carlos de Carva- lho) 2 » Travessada Barroca.. ( » Gurupá) 3 » Rua da Paixão ( » 13 de Maio).... 2 » Largo do Quartel ( » Saldanha Marinho 2 » Estrada de S. José ( » Av. lódeNovem- ( » bro 1 »’ ‘ : Travessa do Passinho... ( » Campos Salles).,. 1 » Travessa das Mercês.... ( » Dr. Fructuoso Guimarães) 2 » Largo do Rosário dos Pretos ( » Largo do Rosário) 2 » Rua dos Martyres ( » 28 de Setembro). 4 » Rua do Açougue ( » Dr. Gaspar Vian- na) 1 » Travessa daEstrella.. ( » Av. PArreira Pen- na) 1 » Total .... 23 Não sei qual das duas estatísticas seja a verdadeira; tenho a impressão que a da Santa Casa é posterior á do Coronel Marcos Bricio. Fia entre uma e outra uma differença de 37 doentes... Um anno depois, em 1839, havia no Tocunduba 31 le- prosos, sendo 17 homens e 14 mulheres, numero esse que não discorda muito da estatistica da Santa Casa, que dava para esse estabelecimento, em meiados de 1838, trinta e qua- tro enfermos. Vejamos agora o movimento de doentes no Flospicio dos Lazaros, segundo os dados emprestados aos differentés relatórios da Meza da Santa Casa, referentes ao annó de 1847. O relatorio de Janeiro desse anno consigna um total de 69 leprosos internados, sendo 43 homens e 26 mulheres, dos quaes 17 livres e 52 escravos, e destes 13 eram africa- nos legítimos. Estes dados corroboram a minha opinião so- bre a procedência da lepra e demonstram que esse mal já começava a atacar os brancos e os mestiços que conviviam 9 com os negros. O mesmo precioso documento especifica os 69 casos de accôrdo com a cor dos doentes, assim ; Pretos .... 43 Cafuzos. . 14 Mulatos ... 6 Brancos... 4 Mamelucos. 2 Total 69 Apenas 4 desses 69 leprosos eram brancos. Pelo relatorio citado vê-se que o Tocunduba recebêra leprosos dos seguintes logares do Estado, já então conside- rados novos fócos do mal; Santarém, Óbidos, Cametá, Aca- rá, Monte-Alegre, Capim, Marajó e Vigia. Em Março o numero de doentes era ainda o mesmo. Em Abril o total deli es baixou a 68, dos quaes 40 eram masculinos e 28 femininos, segundo officio do Secretario da Santa Casa, José Joaquim Ferreira Campos, ao Snr. Miguel Antonio Nobre, secretario do Governo. No fim de 1847 o secretario da Santa Casa Antonio Rodrigues d’Almeida Pinto enviou ao secretario do Governo Miguel Antonio Nobre, a seguinte valiosa estatística de 70 leprosos internados no Hospicio do Tocunduba. RESUMO: ESTADO SOCIAL: Escravos.. 57 Livres.... 10 Ignorados. 3-70 sexos: Masculino 41 Feminino 29 ESTADO CIVIL: Solteiros... 60 Casados ... 5 Viúvos 5-70 T0ta1.... 70 Quanto á côr, eram: Pretos 23 Mulatos .... 5 Cafuzos.... 8 Mamelucos. 2 Brancos ... 3 Total 41 Pretas .... 20 Cafuzas .. 5 Mulata .. 1 Mameluca, 1 Brancas .. 2 Total 29 Mulheres Homens Ainda era pequeno o numero dos brancos atacados de morphéa, pois 5 em 70 representam apenas 7 %. De 0 a 15 annos 6 De 16 »20 » 4 De 21 »35 » 22 De 36 »50 » 30 De 51 »60 » 8 EDA DE DOS DOENTES Pará 54 África (Angola) 11 Rio dejaneiro.. 1 Minas Geraes. . 1 Ceará 1 Maranhão .... 2 Total 70 NATURALIDADE *. Dessa estatística consta uma menina de 2 mezes, filha da leprosa Rosa Candida, cujo relatorio não informa si tam- Total 70 bem era ou não leprosa. Opino pela negativa, pois a littera- tura medica mundial cita apenas 2 casos de lepra em tão tenra edade,—entre 1 e 5 mezes. Mesmo nos casos de lepra congénita não creio que as lesões typicas se apresentem tão cedo. Dos 70 leprosos subtrahindo a menina de 2 mezes ficam 69; 19 destes nasceram nos seguintes logares do Estado: Cametá 4; Acará 3; Marajó 3; Santarém 2; Monte Alegre 2; Igarapé-miry 2; Capim 2 e Guamá 1. Póde-se deduzir que tenham sido esses os primeiros focos de lepra no interior do Pará. Outros focos mais intensos se formaram posteri- ormente, como veremos adeante. Pelo relatorio do Provedor da Santa Casa, para o l.° semestre de 1848, vê-se que o numero de asylados baixou nesse periodo a 66, de ambos os sexos, para subir a 77 em 30 de Julho, do mesmo anno, conforme relatorio do Prove- dor Geraldo José de Abreu. Nesse anno a Assembléa Pro- vincial subvencionou o Asylo com 4:000$000, importância que aquelle Provedor declarou ser insufficiente. Em 1853 existiam no Tocunduba 76 leprosos, sendo: 40 homens, 29 mulheres e 7 creanças. No relatorio da Santa Casa, para esse anno, escripto pelo Provedor de então, Sr. Joaquim Fructuoso Pereira Guimarães, lê-se o seguinte: ”... o Asylo do Tocunduba é um velho casarão e ne- cessita um novo edifício. Assim em lugar de se construir nn ci- dade de Santarém hum edifício para o mesmo fim como procura a Camara Municipal dessa cidade obter da Assembléa Le- gislativa Provincial, é mais conveniente que se levante em posição apropriada nesta cidade.” Entretanto a Meza da Santa Casa alvitrára á Junta Governativa, em officio de 20 de Julho de 1823, a cr cação de outro asylo em Santarém para attender aos seus doentes... Esta mudança de orientação, em 30 annos, indica que nesse periodo os casos de lepra augmentaram consideravel- mente nos dous focos—Belém e Santarém, sendo por isso necessários 2 asylos para elles. O asylo do Tocunduba terminou o anno de 1854 com 69 doentes, dos quaes 36 homens, 29 mulheres e 4 creanças. A despeza feita com a sua manutenção, nesse anno, subio a 10;115$060. Nessa épocha o administrador ganhava annuaes e os enfermeiros 120$000. A titulo de cura da lepra, as “auctoridades” proporci- onaram varias vezes aos leprosos do Tocunduba o contacto com variolosos, tão «certas» estavam ellas de que o leproso que adquiria a varíola ficava curado da lepra! Os resultados desastrosos dessa tentativa, que represen- ta uma verdadeira heresia scientifica, encontram-se em do- cumento original existente no Archivo Publico do Pará. Tra- ta-se do relatorio do Provedor da Santa Casa da Misericór- dia, Joaquim FVuctuoso Pereira Guimarães, referente ao an- no social 1854—1855, enviado ao Presidente da Província, Coronel Miguel Antonio Pinto Guimarães. Dessa preciosidade histórica transcrevo o seguinte trecho: «Hospital dos Lazaros—A respeito deste Hospital direi que em l.° de Julho de 1854 existiâo 76 enfermos; entrarão quinze e fallecerão 19; evadirão-se 3; existiâo em l.° de Ju- lho deste anno 69. Em Fevereiro deste anuo se desenvolveu entre estes enfermos a epidemia de bexigas que passou da enfermaria de bexigosos para dentro do hospital; forão atacados 19 enfer- mos, succumbirão 8 e curarão-se 11. Com este facto fica de- monstrado que os morphelicos não se carão, soffrendo a acção das bexigas, porquanto os que escaparão ficarão no mesmo estado; assim respondo a um convite que se publicou em um dos jor- naes do Império aos Médicos, para ensaiar este meio curativo, dizendo-se que um morphetico ficou curado radicalmente depois que teve bexigas». De 1854 passaram para 1855—69 leprosos, que, som- mados aos 22 entrados neste anno prefazem o total de 91, que se encontra no relatorio da Santa Casa «como entrados.» Nesse anno falleceram 23 e evadiram-se 3, passando os res- tantes 65 para o anno de 1856. Neste anno entraram 14, falleceram 6 e evadiu-se 1, ficando 72, dos quaes 37 eram homens, 28 mulheres e 7 creanças. No anno de 1856 e Ge- neral Soares de Andréa mandou entregar mensalmente á Santa Casa uma certa importância como auxilio do Governo para a manutenção do Asylo. Em 1862 foi recolhido ao Hospício um leproso vindo do município de Breves, em estado de completa mutilação dos pés e mãos. Isto indica ser Bréves outro provável fóco de lepra antigo. Em 1865 volta a Santa Casa a se impacientar e preoc- cupar com as frequentes entradas de leprosos de Santarém, no Asylo do Tocunduba. E’ o Provedor desse estabelecimento Manoel Rodrigues d’ Almeida que, em officio de 12 de Maio de 1865, commu- nica ao Presidente da Provincia Dr, José Vieira Couto de Magalhães, o internamento de mais 9 leprosos vindos de San- tarém. Este e outros factos mostram que aquelle municipio foi um dos mais antigos focos de lepra do Estado. Actu- almente não conheço a sua situação nesse sentido. Pelo relatorio da Santa Casa, para o anno de 1883, vê-se que o movimento de leprosos no Tocunduba pouco au- gmentou nesses últimos 30 annos, pois em 1882 existiam naquelle Asylo apenas 84 delles, sendo: homens 53 e mulheres 31. Em compensação nesse periodo era elevado o numero de alienados internados naquelle estabelecimento. Eram 30, dos quaes 20 homens e 10 mulheres, «amontoados» em 7 cellas immundas. Pobres leprosos que nunca tiveram descanço nem conforto! Ora a miséria extrema os ameaçava de morrerem á fome; óra os matavam de variola a pretexto de tentativa therapeu- tica; e por fim os inquietaram durante muitos annos com a indesejável companhia de loucos! A historia dos leprosos do Tocunduba, no século pas- sado, é um verdadeiro martyriologio. 2. O RSVL»O DO TOCU^DtJfifl—Tentativa de Prophyla^ia. A historia do «Hospício dos Lazaros» começa com a data da fundação da «Fazenda do Tocunduba,» que teve logar em 1746; e a da prophylaxia da lepra no Pará começa em 1816, quando foram isolados os primeiros cinco leprosos, com o fito preconcebido de afastal-os da communidade, pois a noção de que o leproso é a unica fonte de contagio do mal já dominava a consciência de dirigentes e dirigidos, naquella épocha. O officio enviado em 11 de Fevereiro de 1861, pelo Provedor da Santa Casa, Joaquim Fructuoso Pereira Gui- marães, ao Sr. José Coelho da Motta, Inspector do Thesouro Publico Provincial, esclarece satisfactoriamente os principaes pontos históricos sobre o assumpto. Dos documentos publi- cados nenhum lhe sobrepuja em clareza. Dou a seguir copia fiel do documento original, que se acha no Archivo Publico do Pará: «Secretariada Santa Casa de Misericórdia do Pará, 11 de Fevereiro de 1861, Ulmo. Snr.—Tendo em vista o officio de V. Sa. datado de 5 do corrente, exigindo que eu informe sobre o conteúdo dos papéis inclusos acerca do terreno, em que se pretende fundar o novo edifício para o hospital dos lazaros, cumpre-me dizer o que consta dos documentos existentes no Archivo da Santa Casa afim de o esclarecer. ((Os extinclos religiosos Mercenários celebraram em 1746, o contracto de aforamento das terras em Tocunduba, na razão de 632 braças de frente, começando da bocca do igarapé Tocunduba, e correndo o mesmo igarapé acima á mão es- querda, e de 47 1/2 braças de fundo. Feito o aforamento esses religiosos estabeleceram engenho e olaria no logar, onde existe hoje o hospital, e fizeram plantações. Os mesmos religiosos renovaram em 1755 o contracto de aforamento reduzindo á pensão annual de 35500 réis, a que pagavam em cacáo. Estes religiosos deram por esmola ao Hospital de ridade as terras do Tucunduba, com o engenho e olaria e plantações, como possuião. A Santa Casa entrou ná posse desta esmola ou legado e conservou o engenho e a olaria até o anuo de ISI4. Neste armo appareceu uma representação do Nobre Senado dirigido á Santa Casa, em que se pedia a fun- dação de um hospital, para nelle se recolherem os lazaros que andavam vagando pelas ruas. A administração da Santa Casa acolheo esta represen- tação, como devia; e pedio á Junta de successão do Gover- no da Capitania auctorisação e protecção para fundar o hospital dos lazaros. Assim auctorizada e protegida fez no edificio obras de que se carecia para reduzir ao estado de receber os enfermos lazaros. Em 1816 abrio ella o novo hospital com a assistência da dita Junta e nelle recolheo logo cinco (5) morpheticos. Desde aquelle anno de 1816 até a data de hoje tem servido sem interrupção de asylo aos lazaros, possuindo a Santa Ca- za aquelle terreno mansa e pacificamente, e sem contesta- ção dos limites pelos «heréos». Gomo foi feita a demarcação não se sabe; mas o que é certo é que a Santa Casa e os extinctos religiosos Mercenários tem estado de posse deste terreno ha 115 annos sem contestação alguma». Por uma portaria do Governador e Capitão General Martinho de Souza e Albuquerque, citada á pagina 59 do li- vro «In Memoriam» (Excerptos de Frei Caetano Brandão), publicado nesta capital em 1905, pelo senador Antonio Le- mos, quando Provedor da Santa Casa, tem-se a confirmação, pelo seguinte trecho, de que os frades mercenários doaram áquella instituição a Fazenda do Tocunduba ; « Quando D. Frei Caetano Brandão levantou a idéa da fundação do hospital do Senhor Bom Jesus dos Pobres Afflictos, os frades mercenários doaram ao património desta casa de caridade uma fazenda que possuíam á margem do Igarapé- Tócundiíha, em terreno aforado perpetuamente». Datando de 1786 a carta pastoral de Frei Caetano Bran- dão, sobre a creãção do hospital Bom Jesus, é provável que a alludida doação tivesse ticíô logar pouco tempo depois. A por- taria acima referida tem o n. 17 e a data de 17 de Janeiro de 1787. Essa portaria diz que a olaria do Tocunduba foi fun- dada pelo 6.° bispo, e visava o fornecimento de tijollos e te- lhas para as casas que se fossem construindo na cidade. Ha aqui contradicção entre o officio do Provedor da Santa Casa, de 11 de Fevereiro de 1861, e a portaria do Governador de 1787, no ponto de vista da olaria. Este ultimo documento, que precedeu aquelle em 74 ánnos<; parecé-me o verdadeiro. :' O fito da Santa Casa era exclusivamente prophylactico, quando decidiu fundar o Hospício dos Lazaros; como se vê do seguinte trecho do livro‘de A. Vianna: «Levada por altruisticos sentimentos de caridade e de interesse pela saúde publica, levantou a Santa Casa o projecto do estabelecimento de um hospicio, onde devia ser mantida a obrigatoriedade da reclusão dos lazaros ». Já se pretendia o isolamento obrigatorio como base se- gura de prophylaxia da lepra! Em officio de 17 de Outubro de 1804 a Meza da Santa Casa solicitou ao Conde dos Arcos que lhe fosse concedida permissão régia para um plano de loteria a partir de 1805, que serviria para auxiliar a creação de um Hospital para lazarentos. Em 24 de Outubro do mesmo anno José de Mat- tos Pereira Godinho encaminhou outra petição da Santa Casa, reforçando a primeira, na qual solicitava permissão para, por meio de uma loteria, angariar «meios de erigir um hos- pital de lazarentos de que lauto está precizando este Estado por vir grassando muito aquelle mal tão pernicioso á socie- dade». Como veremos adeante, só 11 annos mais tarde é que a Santa Casa foi attendida no seu pedido. No anno de 1810, segundo informa o historiador Sr. Braga Ribeiro, o Senado da Camara de Belém recommendou á Meza Administrativa da Santa Casa de Misericórdia, que mandasse estabelecer um lazareto em Tocunduba. Em 1814 a Santa Casa iniciou com os seus proprios re- cursos, a adaptação dum telheiro da olaria do Tocunduba, para constituir abrigo aos leprosos. Por aviso de 13 de Outubro de 1815 o Principe Regente D. Pedro concedeu á Santa Casa cinco loterias annuaes, de 16:000$000 cada uma, em beneficio do hospital dos lazaros. Foi approvado pelo Governo o plano dessas loterias, cada uma com 8.000 bilhetes a 2sooo, dos quaes 2.000 seriam premiados. Cada loteria distribuiria 14:080|>000 em prémios, ficando o saldo de 1:020$000, correspondente a 12% do seu valor total, para o alludido hospital. Os bilhetes foram im- pressos em Cayenna, quando ainda estava a Guyana Fran- ceza sob o jugo dos portuguezes (1808-1817), e a sua venda aqui foi iniciada em Agosto, de 1816, não tendo logrado bôa acceitação. A 2.a loteria foi extrahida em 1821, com immenso in- successo, e a 3.a, lançada em 1824, resultou em fracasso completo. Em 1816 tinha a Santa Casa terminado a transforma- ção do telheiro da olaria do Tocunduba em «edifício nosoco- miab). Acima da porta de entrada desse prédio está inscripto, como se vê na photographia n, 4: «Plospiçio dos Lazaros, fundado em 1815», que não cor- responde, segundo affirma o Sr. R. C. Alves da Cunha, nem ao inicio (1814) e nem ao fim das obras, 1816, quando esse estabelecimento foi inaugurado com o internamento de 5 le- prosos. Sobre a impropriedade desse prédio ao fim que o desti- naram, diz Arthur Vianna, á pagina 123 do seu livro sobre a Santa Casa, o seguinte: «Não se visou a hygiene, nem se attendeu as condi- ções de segurança e conforto que um estabelecimento des- tinado a reclusão de infeccionados, devia offerecer. O ter- reno não foi murado, nem ao menos cercado; ficou aberto, devassado, offerecendo múltiplas sabidas aos enfermos, im- possibilitando por completo a fiscalisação; a promiscuidade de homens e mulheres deu, como era de esperar, o tristíssi- mo resultado de constituir-se o asylo em verdadeira colonia de lazaros, onde a reproducção da especie implicou em in- fallivel reproducção da moléstia por hereditariedade»). Proprio ou improprio, o certo é que desde a sua fun- dação o Asylo do Tocunduba vem prestando relevantes ser- viços. Em 1820, portanto 4 annos depois da sua inauguração, já havia nelle 38 enfermos, épocha em que estes fizeram ao Conde de Villa-Flôr uma reclamação contra a má alimen- tação que lhes dava a Santa Casa. Esta se defendeu era offi- cio de 3 de Junho do mesmo anno, dizendo não ser verdade. Bem ou mal alimentados, os doentes procuravam abrigo nes- se pio estabelecimento, que em 1822 já continha 61 leprosos! Ha um século exactamente a Meza da Santa Casa fez uma representação ao Presidente da Província e aos Depu- tados da Junta Provisória do Governo Civil, solicitando « au- xilio para o Lazareto e bem assim auctorização para collo- çar nas egrejas a caixa de esmolas para os lazaros ». Essa representação, lida no seu original que se acha no Archivo Publico, tem a data de 8 de Setembro de 1822. Nova representação enviou a Meza da Santa Casa, em 20 de Julho de 1823, ao mesmo Presidente e Deputados, ex- pondo a situação precaria em que se achava sem poder man- ter o Hospital do Tocunduba e pedindo approvação para o plano da sua 3.a loteria, que, como vimos atraz, resultou num fiasco, e pedindo outros recursos do Thezouro Publico. Nesse documento foi reiterado o pedido de auctorização para a collocação das caixas de esmolas nas portas dos tem- plos, com os seguintes dizeres : «Esmolas para os doentes do Tocunduba». No mesmo anno a Santa Casa voltou á carga, pedindo soccorro material para custeio do Tocunduba, que fazia enorme despeza. Não sei quando a Santa Casa obteve auc- torização para pedir esmolas para o Tocunduba, mas ainda hoje existem nalguns pontos da cidade, caixas com aquelles dizeres: «Esmolas para os doentes do Tocunduba». Em officio de 21 de Outubro de 1833 o Provedor da Santa Casa propôz ao Presidente da Província a mudança do Asylo do Tocunduba para a Ilha do Tatuóca ou para Caratatuba, em terrenos seus, porque «a retenção de doentes dffectados do mal da morphéa no Tocunduba não preenchia os seus fins por estarem elles em çommunicação com os mora- dores dos sítios proximos e com os escravos da olaria...» Admira vêr-se como naquelle tempo de empirismo me- dico já se tinha absoluta certeza de que a lepra é contagiosa de homem a homem, e só se evitaria o seu augmento isolando rigorosamente os doentes-tocos contaminantes. Sabemos que foi o Marechal de Campo Soares de An- dréa quem dominou os amotinados cabanos em 1836. Resta: belecida a paz e a ordem na Provinda, começou esse illustre estadista a cogitar da execução de altas medidas adminis-r trativas, algumas bastante arrojadas para a épocha e dada a falta de recursos raateriaes com que luctava o Governo, Doutro lado é um conforto para nós brasileiros verifi- carmos que naquelle tempo já se cogitavam de medidas de tão elevado alcance moral e cujas bases scientificas ainda hoje seriam acceitas com poucos retoques. A Assembléa Legislativa Provincial começou a funcci- onar, tendo-se reunido pela l.a vez em 2 de Março de 1838. Parece que nessa épocha já Soares de Andréa conhecia não só de anditu, mas também de visn, a pobreza e a impro- priedade do Asylo do Tocunduba; viu e sentiu a vida de privações que levavam osv lazaros, e impressionou-se forte: mente com o horrendo quadro que se lhe offerecia e com a ameaça sempre crescente de maior expansão do flagello, que anniquilaria por certo a raça se não se pozesse obstáculos á sua marcha avassaladora. Andréa bateu então ás portas da Assembléa com um projecto de lei que honra a sua memória e a dos seus valo- rosos collaboradores. A exposição de motivos que acompa- nhou o referido projecto traduz a gravidade do problema e a largueza de vistas do administrador. Quem lêr hoje esse tra- balho, datado de 2 de Maio de 1838, sob o titulo «Informa- ções sobre os lazaros», verá pintada com cores sombrias a situação desses infelizes, que ainda hoje se debatem entre o desconforto, a miséria e a dôr!... Em homenagem á memória de Soares dAndréa, cuja obra me impressionou satisfactoriamente, publico aqui o seu retrato, reproducção photographica de um quadro existente no salão de honra do Instituto Historico e Geographico do Pará, e transcrevo, ipòis verhia, a sua exposição de motivos acima alludida e a lei sobre a prophylaxia da lepra, por elle sanccionada em 1838. INFORMAÇÕES SOBRE OS LAZAROS (Enviadas á Assembléa Legislativa Provincial, por Soares cPAndréa, em 2 de Maio de 1838) O Hospital do Tocunduba é um estabelecimento a to- dos os respeitos improprio dos fins a que he destinado. He pequeno, de mizeravel construcção e só capaz para o máo trato de Enfermos tirados dentre os escravos ou pessoas de condição muito approximada ás destes. Está muito mal situado não só em relação á Cidade, por ser muito proximo e dar lugar a que alguns doentes venham aqui clandestinamente; mas ainda quanto ao local que he no fundo de hum Igarapé cercado de pantanos e mat- tos e sem refrigério algum. Hum Hospital destinado a conservar os seus doentes por toda a vida deve ser collocado e construído de modo que torne a vida dos infelizes que a elle se recolhem, o me1 nos incommodo e pezado que for possivel. Independente do bom trato dos doentes e do bom ar- ranjo dos diversos Edifícios de que deva compor-se hum Hospital de Lazaros convem não menos que elle seja situa- do em lugar alegre e aprazível além de sadio, para que to- das estas vantagens concorram juntas aos allivio de seus males. Deve ter-se em conta as differentes classes ou jerar- chias de que inevitavelmente se compõem a Sociedade, por- que evidentemente não pode nem deve misturar-se hum jo- ven educado com mimo e no meio da abundancia e riqueza com hum escravo ou mesmo hum homem livre tirado das ultimas classes da sociedade. Semelhantemente não deve mis- turar-se huma Senhora ou huma Menina de Educação fina cora mulheres de côr, sahidas das classes mais indigentes e corrompidas, pois que entre mulheres as differenças de cos- tumes e educação tornão as distancias mais patentes e mais revoltantes qualquer mistura. Daqui podemos concluir que pelo menos deve haver em hum bom Hospital de Lazaros quatro departamentos bem distinctos e separados; hum para cada divisão entre os ho- mens e o outro para cada divisão entre as mulheres. No Hospital do Tocunduba existem: Homens brancos.. 1 de Côr ou Escravos.... 11 Mulheres de Côr ou Es- cravas 7 Consta existirem na Cidade e falta recolher: Homens brancos ou de melhor condição 12 de Côr ou Escravos.... 3 Mulheres de melhor con- dição 6 De Côr ou Escravas.... 6 Esta conta deve augmentar ainda quando as indagações se extenderem a outros logares da Província e que o trata- mento seja mais humano. Preciza-se portanto e desde já tres casas separadas para seis Senhoras e treze homens; e separadas para quatorze Escravos e homens de côr e para treze mulheres da mesma classe. Não achando proprio nem o Edifício nem o local do Tocunduba e constando-me que a Fazenda do fallecido Bu- lhão na ponte do Pinheiro hia vender-se fui examinal-a e ao mesmo tempo examinei o local do antigo lazareto. Este he distante hum pouco porque só tem lugar elevado dentro da Bahia de Sto. Antonio; tem pantanos muito proximos; e pre- ciza principiar tudo de novo. A Fazenda do Pinheiro tem huma boa caza de vivenda muito arruinada, e huma grande Olaria em máo estado e tem terras bastantes até para se hirem vendendo á medida que appareção compradores. O actual dono pede oito contos de réis por este estabelecimen- to que talvez não valha tanto, mas valhe muito ter hum edi fido quasi prompto (porque está arruinado de (inintelligivel) para recolher as pessoas de melhor condição e ter huma grande olaria que pode melhorar-se logo e dar commodo so- bejo ás outras classes e deixar ainda espaço para outros ar- ranjos. Ha terreno para obrigar alguns a trabalharem quanto lhe permittir a sua enfermidade—(inintelligivel) e também para dividir em pequenos jardins que servirão de distracção as Senhoras recolhidas. Tem muito boa agua e he a situa- ção mais alegre fora desta cidade. Pela sua distancia não dá azo a que os enfermos ve- nhão furtivamente á Cidade e como não he moléstia conta- gioza basta evitar a communicação intima entre os diversos sexos e nenhum damno pode vir de toda a outra communi- cação ou trato licito. Parecendo justo á primeira vista que os Senhores sus- tentem ali os Escravos e os Chefes de Família .-as pessoas que lhes pertencerem acho comtudo (inintelligivel) na prati- ca que hum Senhor de Escravos esteja perpetuamente a des- pender com um indivíduo que já lhe não serve ou que hum Pay ou Parente sustente fora de sua casa á hum filho ou irmão, quando talvez lhe custe manter-se precariamente. De flagellos geraes tocão ao publico o supportal-os; e por isto sou de parecer que ninguém seja obrigádo à sus- tentar regularmente as pessoas de sua casa recolhidas ao Hospital; porém quanto aos escravos já existentes eos que houverem de se recolher, que seus Senhores entrem por huma vez com 100$000, 50$000 ou nada segundo as suas posses e á simples instituição do Governo e que mediante esta con- tribuição percão o direito ao Escravo e as obrigações de outros soccorros. Quanto aos homens e Senhoras de mais distineção não deixarão de ser soccorridos por seus Parentes porque os ex- emplos de um (inintelligivel) Monteiro felizmente não hão de ser repetidos muitas vezes; mas em todos os çazos devem A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA’ General Francisco José de Souza Soares de Andréa (Barão de Caçapava), laxia da lepra no Estado, pela Lei n. 10 de 12 de Maio de 1838. '\ DK Y 1 YY KS Belém. Vista geral da ‘‘Lazaropolis do Tocunduba", inaugurada em 1816 encontrar no Hospital um tratamento que sem sér caprichozo seja conforme as suas circumstancias e não agrave os seus males ». Já por influencia do Marechal Andréa, a lei n.° 6, de 8 de Maio de 1838, que approvou o orçamento para o exer- cido financeiro de l.° de Julho de 1838 a 30 de Junho de 1839, consignou a quantia de 6:000$000, destinada á manu- tenção dos leprosos indigentes. A lei n.° 10, de 12 de Maio, que vae transcripta ade- ante, estabeleceu a fundação de uma leprosaria official, com- pletamente distincta do Asylo que a Santa Casa mantinha. Sobre este acto legislativo A. Vianna fez o seguinte judicioso commentario, quer na historia da Santa Casa, quer no seu trabalho «Villa do Pinheiro,» publicado em 1906: « A lei consignou as condições geraes que o estabele- cimento devia possuir e dispoz medidas conducentes, a im- pedir abusos já verificados e muito deploráveis; o legislador inspirou-se no quadro lugubre do Tocunduba, prescrutou as causas daquella profunda desorganização e empenhou-se em prevenil-as: o hospício seria estabelecido em logar saudavel e aprazível, de communicação diffiál com a cidade; haveria absoluta separação dos sexos; todos os doentes se recolheriam obrigatoria- mente ao asylo; aos senhores ficaria o dever de sustentar os escravos infeccionados salvo se pagassem uma taxa estipulada». A lei citada estabeleceu medidas acertadissimas, que, se tivessem sido executadas naquella épocha, com o rigôr determinado no seu artigo ó.°, naturalmente hoje não teríamos o desprazer de assistir o espectáculo acabrunhador que nos offerece Belém, com mais de 1 por cento da sua população leprosa, e dentre os doentes tres a quatro centenas de cre- anças de 10 annos para baixo. Naquelle tempo se o Governo Central tivesse ajudado o Governo Provincial, estou bem certo de que o Marechal Andréa teria executado á risca a sua previdente lei. Então, épocha em que a grande maioria dos leprosos era consti- tuída de escravos ou de gente de baixa posição social, nin- guém crearia obstáculos ao cumprimento das leis e regula- mentos postos em vigor. LEI N.° IO DE 12 DE MAIO DE 1838 «Cria hum hospital de Lazaros. Francisco José de Souza Soares d’Andréa, Official da Imperial Ordem do Cruzeiro, Marechal de Campo Graduado do Exercito do Brasil, Presidente e Commandante das ilrmas da Província do Pará, etc. . . Faço saber a todos os seus Habitantes, que a Assembléa Legislativa Provincial Decretou, e eu Sanccionei a Lei se- guinte : Artigo l.° Haverá nas immediações desta cidade hum Hospital, que se denominará dos Lazaros. Artigo 2.°— O Governo fica authorisado a dispender a quantia necessária e indispensável para esta obra. Artigo 3° —No cazo de haver algum edifício publico ou particular, que pela localidade e construcção mais apro- priado seja para o fim deste estabelecimento, poderá o Go- verno aproveital-o, indemnizando o proprietário de seu jus- to valor. Artigo 4.° O Hospital será estabelecido no lugar mais saudavel e aprazível que se achar, e em distancia tal, que os enfermos não possão facilmente vir á cidade. Artigo 5.° Haverá nelle inteira separação de sexos, e as divizões e commodidades possíveis para enfermos de todas as classes e condições de um e outro sexo. Artigo 6.° O Governo fará recolher neste Hospital todos os indivíduos, sem excepção de sexo, idade e condi- ção, que conhecidamente se acharem feridos do mal de Ele- fantiasis. Artigo 7.° Prestar-se-ha a estes enfermos todos os soccorros e commodidades possíveis, e haverá para as suas necessidades espirituaes e medicinaes hum Capellão e hum Medico ou Cirurgião approvado, que perceberão pelos servi- ços que prestarem, huma gratificação equivalente, marcada pelo Governo. Artigo B.° Cobrar-se-ha por huma vez somente, de cada enfermo que se recolher ao Hospital, ou de seu Pai, Tutor, ou Curador, sendo filho familia, ou orphão, hum quan- titativo qualquer, que será calculado segundo o Estado de sua fortuna e tratamento, excepto dos que forem tão pobres, que não possão entrar com cincoenta mil réis, os quaes fi- carão, ixemptos desta taxa, e supridos inteiramente pelo Hos- pital. Artigo 9.° Os Senhores dos Escravos enfermos que se recolherem ao Hospital, serão obrigados a prestar-lhes to- dos os soccorros, excepto se pagarem por hum a taxa con- forme se acha disposto no artigo antecedente, e então per- derão o direito, aos ditos escravos, e a obrigação d’outros soccorros. Artigo 10 O Governo fará o Regulamento preciso para bôa execução da prezente Lei e para o regimen, eco- nomia, e administração do Hospital; occupação honesta, sua- ve, e util dos enfermos. Nomeará os empregados que se julga- rem indispensáveis para o serviço do mesmo; ede tudo dará parte á xÂssembléa Provincial, quando se reunir em Sessão Ordinaria. Artigo 11 Ficam revogadas todas as Leis e disposições em contrario. • Mando por tanto a todas as Authoridades, a quem co- nhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cum- prão e façam cumprir tão inteiramente como nella se con- tem. O Secretario Interino desta Província a faça imprimir, publicar e correr. Dada no Palacio do Governo do Pará aos doze dias do mez de Maio de mil oitocentos e trinta e oito. Decimo Séti- mo da Independencia e do Império, (a) Francisco José de Sou- za Soares d’Audréa. L. P, Carta de Lei pela qual V. Excia. manda executar o Decreto da Assembléa Legislativa Provincial, que houve por bem sanccionar sobre o estabelecimento de hum Hospital de Lazaros, como acima se declara. (a) Pedro Valente da Costa a fez Para V. Excia. Ver Publicada e sellada nesta Secretaria aos 14 de Maio de 1838. O Secretario interino (a) Miguel Antonio Nobre Registrada a fls. do Livro 1 das Leis e Rezoluções. Se- cretaria do Governo do Pará, 14 de Maio de 1838. (a) Manoel Roque Jorge Ribeiro». O Presidente Andréa adquirindo de Benjamin Upton, por escriptura publica de 7 de Junho de 1838, a fazenda do Pi- nheiro, pela quantia de 8:0003000, conforme auctorização le- gislativa, deu provas de que tinha pressa em fundar o novo estabelecimento para isolamento dos lazaros. Sobre o historico do Pinheiro escreveu Arthur Vianna o seguinte: «A pittoresca villa do Pinheiro teve o seu inicio numa fazendola, situada numa ponta de terra, sobre a bahia do Guajará, chamada antigamente do Mel. Em 1701 o Governador interino do Estado do Maranhão e Gram-Pará, Fernão Carrilho concedeu a Sebastião Gomes de Souza, por carta de data e sesmaria, de 13 de Novem- bro, confirmada depois por Pedro 11, de Portugal, em 15 de Outubro de 1705, as terras marginaes da bahia do Guajará, desde o Igarapé Paracury até a Ponta do Pinheiro ou do Mel, entrando uma legua pelo rio Maguary. Este sesmeiro, por escriptura de 11 de Abril de 1710 fez doação das suas terras nos frades carmelitas, que fundaram duas fazendas Pinheiro, na ponta do Mel. e Livramento próxi- mo do igarapé Paracury, em cuja posse estiveram até 1824, anno em que venderam ao tenente coronel João Antonio Cor- rêa de Bulhões, por escriptura de 17 de Julho e pela quan- tia de novecentos mil reis (9001000). Por morte deste proprietário, passou o Pinheiro para as mãos de d, Maria Corrêa de Bulhões, filha do referido te- nente coronel e mulher de Benjamin Upton Júnior ». E emquanto se tratava da localização do futuro laza- reto, Andréa reclamou da Santa Casa o Asylo do Tocun- duba, baseado nos §§ l.° e 2.°, do titulo B.°, da lei de 6 de Maio de 1838, quando estes cogitavam apenas da fiscaliza- ção da applicação da subvenção votada. A l.° de Julho se- guinte aquella Instituição entregou ao Governo o referido Asylo, não sem protesto, para resguardar os seus direitos de posse. Com pouco tempo de gerencia nesse estabelecimento, viu-se o Governo incapaz, por insufficiencia de verba, de con- tinuar á mantel-o. Não podia também transferir os leprosos do velho asylo para a fazenda do Pinheiro, porque esta re- clamava obras de adaptação que o Thezouro Publico não poderia custear no momento. i\ssoberbado com as respdri- sabilidades que augmentavam cada dia, o Governo pediu á Assembleia uma lei auctorizando o a restituir á Santa Casa o Asylo de leprosos e a doar-lhe a fazenda do Pinheiro. Antes de votada essa lei, o Provedor daquelle estabe- lecimento, Geraldo José de Abreu endereçou, em 17 de Agos- to de 1839, um officio ao Dr. Bernardo de Souza Franco, então Presidente da Província, protestando contra o esbu- lho que se queria fazer á Santa Casa com a retirada das suas mãos do hospicio dos lazaros, «que se erigio no anno de 1814, no sitio Tocunduba, para asylo dos infelizes infeccionados do mal de lepra, afim de não vagarem pelas Praças e ruas da Cidade». A lei n. 43, de 15 de Outubro de 1839, auctorizou o Pre- sidente, pelo art. 16 do capitulo 7.°, a restituir á Santa Casa o Asylo do Tocunduba mas reduziu de metade a subvenção de 6;000|000 que lhe dava. creada pela lei n. 6, de 8 de Maio de 1838. Também por auctorização contida na lei n, 43, a Pre- sidência da Província entregou a Fazenda Pinheiro á Santa Casa,cuja pedreira continuaria a pertencer á Provincia, como consta do officio de 2 de Novembro do mesmo anno. Outro documento consultado diz que o Governo só restituiu o Asylo do Tocunduba á Santa Casa no dia 9 de Dezembro de 1839, por não poder mantel-o e ainda menos transferil-o para Pinheiro. Auctorizado pela lei n. 78, de 9 de Outubro de 1840, o Presidente da Provincia mandou entregar deíinitivamente a Fazenda do Pinheiro á Irmandade da Santa Casa, encorpo- rando-a ao seu património. Pelo relatorio de 30 de Julho de 1848, do Provedor Gerado José de Abreu, sabe-se que havia então 77 leprosos isolados* Neste documento queixa-se o Provedor da—«desordem na distribuição de alimentos, da falta de vigilância, dando origem a constantes fugas de doentes, homens que se não conformam com a sorte. «Vendem as roupas, os alimentos, etc, na cidade; em- briagam-se, promovendo no estabelecimento desordens. «O guarda não tem um meio á sua disposição para re- primir estas e outras turbulências; em suma vivem sem or- dem ou regimen algum: ali costuma a apparecer um Hespanhol a traficar a troco de bebidas tudo o que os enfermos podem vender; assim como pretas a comprarem as fructas de suas colheitas e es- tou informado que são vendidas aos habitantes da cidade ». No relatorio geral de 1848 o Provedor da Santa-Casa descreve cousas muito feias do Tocunduba; diz que a enfer- maria das mulheres não tinha nenhuma janella, de sorte que no verão ellas soffriam enorme calôr e que não tinham ne- nhum local onde passassem o dia, faltando-lhes também to- dos os objectos destinados a trabalhos manuaes. Informa mais que nas enfermarias só havia catres sem colchões, sem rou- pas de cama nem camisões para os doentes ; os curativos nos doentes eram «brutaes», pois que não havia nenhum facul- tativo para dirigil-os. Esse provedor reclamava uma junta de seis médicos para lavrar a sentença de separação do doente da sociedade. Achava elle que um só ou mesmo dous profissionaes não bastavam para fazer o diagnostico da lepra e decidir sobre o isolamento do doente. O actual regulamento federal estabelece a constituição de juntas medicas para decidir sobre os casos difficeis. Quando o medico é especialista em dermatologia e está habituado a vêr leprosos, o diagnostico de 90 por cento dos casos não offerece difficuldade. Por minha parte sempre que examino um caso atypico ou incipiente de lepra, mesmo que já tenha o meu diqgnostico firmado, costumo pedir a opinião de ura ou mais médicos do Serviço, fazendo constar a opinião de todos, na própria ficha do doente, quando se trata de caso verdadeiramente duvidoso ou suspeito. Em 1857 a Meza da Santa Casa solicitou á ASsembléa Legislativa vários auxílios para ella poder manter o Asylo e continuar a administrar a Fazenda do Pinheiro. Nada con- seguiu e as suas difficuldades foram augmentando de dia a dia. Em 1869 o Governo indemnizou a Santa Casa c0m.... e recebeu a Fazenda do Pinheiro, que transfor- mou em Villa. R. C. Alves da Cunha em seu artigo sobre o Tocun- duba, publicado na «A Palavra» de 19 de Outubro de 1918, conta que quando visitou pela primeira vez esse Asylo, em 1887, trouxe delle a mais desoladora impressão, porque o s,eu aspecto era tétrico e que os doentes vieram cercal-o no caminho para pedir-lhe dinheiro, comida, tabaco... Voltou ao Asylo 30 annos depois, e diz tel-o encontra- do muito melhorado, pois não apresentava o aspecto tétrico d’antanho; desappareceu a promiscuidade dos sexos; obser- vou ordem e respeito, e não foi mais abordado pelos doen- tes—com queixas e supplicas—como da vez primeira. Sobre o estado sempre precário do Asylo do Tocun- duba, assim se exprime o vice-provedor da Santa Casa, An- tonio José de Lemos, em seu relatorio de 1898: «O que alli se vê são simples grupos de barracas mal dispostas, sem ar e hygiene, que servem de aposentos aos enfermos, ,Pésa-nos dizel-o, mas, infelizmente, é a verdade. A associação da Santa Casa, como administradora desse es- tabelecimento, que é proprio do Estado, nenhuma culpa tem deste estado de cousas, pois a ella o governo faculta, por anno, unicamente os meios precisos para alimentar, vestir, calçar e medicar os doentes em numero sempre superior a cem, cabendo a cada um a diaria de 25222 ». Do relatorio do Dr. Azevedo Ribeiro, director-medico do mesmo Asylo, enviado ao Governo do Estado em 1898, copiei o seguinte trecho que traduz a verdadeira pobreza do estabelecimento, já então com cento e tantos doentes e dei- xando de recolher mais por falta de local e de recursos : «Cento e tantos infelizes ahi vegetavam e até hoje ainda lá duram como se não fossem irmãos nossos! Promiscuidade de homens e mulheres e até de pequeninos sêres, sem risos e sem alegria, abandonados; sim, quasi completamente aban- donados ! Arraial de horrores, formado de pequenas choupanas, com um casarão velho ao centro, ao qual deram em 1815 o titulo de «Hospício dos Lazaros». A Santa Casa de Miseri- córdia, que está encarregada da direcção deste proprio do Estado, em seus relatórios annuaes tem feito instantes recla- mações, nada tendo até hoje conseguido para melhoramento desse Asylo. O que fazer, pois, como contribuição ao estudo da lepra num estabelecimento como este. Nem ao menos a repetição do que se tem feito noutras paragens é possivel, attento a falta de sujeição dos lazaros, ignorantes e descren- tes, aborrecidos de si e de todos ». Em pleno periodo de riqueza, quando Governo e povo do Pará nadavam em ouro, quando o producto da sua in- dustria extractiva principal—a borracha —attingiu a preços inconcebíveis, ninguém se lembrou de applicar uma parte das rendas do Thesouro Publico em reformar o Asylo do Tocun- duba, tornando-o digno do fim a que o destinaram! E’ tris- te observar-se hoje as consequências dessa falta de previ- dência. ~ Talvez nesse periodo aureo não tivessem tido tem- po—administradores e politicos—de pensar nos pobres laza- rentos !. .. O relatorio da Santa Casa, de 1901, correspondente ao anno anterior, apresentado pelo provedor Dr. Lyra Castro, deu publicidade ás seguintes notas sobre o Asylo do Tocun- duba: « Este estabelecimento, srs. consocios, como sabeis, é um proprio do Estado, que o custeia. Pelas condições lastimosas em que se acha, como já temos feito vêr ao Governo em nossos anteriores relatórios e em outras peças officiaes, continua o hospício a reclamar a attenção dos poderes públicos, a quem mais uma vez appel- Íamos, no sentido de tornal-o uma cousa digna dos nossos dias, do fim para que foi real mente instituido e que attesta os nos- sos sentimentos humanitários... A verba que o Estado, pelos orçamentos annuaes, con- signa para o custeio do hospício, cuja despeza no anno fin- do, entre o que está pago e por pagar, foi superior a 120:0008000, e que para este anno o orçamento da Associa- ção fixa em 147:144$000, visto que os generos de l.a neces- sidade continuam a ser cotados por altos preços e as neces- sidades do estabelecimento accentúam-se de dia para dia, é de 35;000|000 réis, ouro, que, reduzido a papel, não poderá produzir no anno corrente mais de réis donde re- sultará um déficit orçamentario de 57:144^000. E’ de esperar que o Governo a quem nos vamos de novo dirigir, attendendo ao exposto, providencie em ordem a me- lhorar este estado de cousas, que muito affecta os créditos desta Associação ». E p Governo continuou surdo aos clamores e supplicas da pia instituição que se responsabilizou pela protecção dos leprosos indigentes, cuja triste sorte não tem impressionado os políticos, com raras excepções. Hoje, como em todos os tempos, os doentes do Tocun- duba têm a facilidade de sahir, sobretudo á noite, ou de eva- dir-se para não mais voltarem. Lá estão isolados os que que- rem, ou os que não podem viver fora, pois elles gozam ple- na liberdade de locomoção. Actualmente ha leprosos no To- cunduba que têm as suas amásias na cidade e de lá sahem á noite para se encontrarem com ellas, regressando ao Asy- lo quando querem. Conheço naquelle estabelecimento ura le- proso, em estado bastante adeantado, que têm uma amante —mulher sadia, que também conheço—na Avenida José Bo- nifácio, com quem se encontra quasi todas as noites, na casa delia. Não é a primeira vez que vejo umà mulher sadia ama- siada com um leproso. O relatorio de 1905, da Santa Casa, trata em suas paginas 15 e 16 dos passeios nocturnos dos lazaros, nos seguintes termos: , « Se, por vezes, um ou outro asylado, illudindo á nou- te a vigilância interna do estabelecimento, sahe deste para vir em passeio á cidade, não deve ser disso culpada a Ad- ministração, que maior vigilância não pode exercer no asylo, o qual, como é sabido, está situado num terreno que não é murado nem cercado de outro modo, permittindo, portanto, facil entrada e sabida por todos os pontos. Com o fim, pois, de adaptal-o inteiramente ao seu fim, ou de localizar o hos- pício em uma ilha, donde os asylados não tenham a facili- dade de communicar-se com a população de qualquer ponto do Estado, reiteramos os nossos pedidos aos poderes pú- blicos ». No relatorio do anno de 1909, também se encontra o seguinte tópico: «Os que se recolhem ao hospício, ou de motu proprio ou remettidos pelo policia, são simplesmente os indivíduos baldos inteiramente de recursos, que não têm onde abrigar- se, aos quaes ninguém pode dar agasalho, porquanto a mo- léstia é horrorosa e considerada transmissível pelo contacto. Os que têm familia ou dispõem de recursos para viver em ca- sas próprias, em qualquer ponto da capital, não vão por isso mesmo ter ao hospício; e, disseminados pela cidade, encon- trados nos bonds, nos hotéis, nos botequins, por toda parte emfim, em contacto constanteraente com pessoas sãs, con- stituem, sem exaggero, um numero quatro vezes, ou mais ainda, superior ao existente em Tocunduba». De 1890 a 1911 não se deram factos dignos de nota com referencia á prophylaxia da lepra. O asylo do Tocundu- ba permaneceu no seu statu-quo, sem melhoramentos materiaes, porém com regular augmento de doentes, como veremos pela estatística abaixo. Hm 1912 teve inicio novo movimento progressista. Na Camara dos Deputados do Pará o Sr. Dr. Antonino Emiliano de Souza Castro, então deputado e hoje muito di- gno Governador, apresentou um projecto estabelecendo a execução de varias medidas de prophylaxia da lepra. No anno seguinte, em 1913, o eminente Mestre Oswaldo Cruz, entrevistado pelo matutino carioca « O Imparcial», de- senhou claramente a triste situação do Brazil como sendo um paiz onde a morphéa assumira, pelo seu grande augmen- to e disseminação, o caracter de flagello social. Aconselhou Oswaldo Cruz medidas immediatas de defe- za. Infelizmente ellas não fôram desde logo executadas, po- rém, os seus sábios conceitos tiveram excellente acolhimen- to nas classes cultas do paiz e as associações medicas da Capital Federal e dos Estados iniciaram então uma grande propaganda, que resultou, oito annos depois, no magnifico programma de prophylaxia que se encontra no Regulamen- to Sanitario Federal, o qual já começou a ser applicado em vários departamentos da União, e, estou plenamente convi- cto de que, executado á rigor, dará os melhores resultados. O movimento iniciado na Camara pelo Dr. Souza Cas- tro repercutiu na Administração Publica, pois, como se vê do Relatorio da Santa Casa de Misericórdia, para os annos de 1913 e 1914, a directoria do Serviço Sanitario Estadoal e a Policia Civil começaram, desde então, a mandar para o isolamento todos os leprosos indigentes que iam encontran- do. O Serviço Sanitario chegou mesmo a tentar a organiza- ção de uma estatística rigorosa dos leprosos da Capital, en- cargo esse commettido ao operoso inspector sanitario Dr. Bernardo Rutowitcz, com quem ainda alcancei algumas ca- dernetas de recenseamento e muitos dados aproveitáveis. Sobre o augmento de doentes no Tocunduba, em con- sequência dessas medidas, escreveu o Provedor da Santa Casa, no seu alludido relatorio de 1914, o seguinte: «Em virtude da resolução tomada pelo Governo do Estado, no interesse da saude publica, de fazer recolher ao hospicio os elephantiacos pobres esparsos pela cidade, e cu- ja execução tem sido observada peia Repartição Sanitaria e pela Policia, o numero de as}dados, que, em principio de 1913 era de 124, subiu consideravelmente, e actualraente ele- vou-se a 184, o que determinou sensível augmento de despe- zas ao estabelecimento, cuja receita tem decrescido. Para acommodar os novos asylados, faltava logar, visto que alli se dispõe apenas de duas pequenas enfermarias e diversas barracas, todas estas occupadas. .. Quanto aos meios para fazer face ás despezas com esse augmento excessivo de asylados, aguardamos solução do Go- verno ». Nessa épocha era Governador o fallecido Dr. Enéas Martins que, attendendo as solicitações da Santa Casa, man- dou construir uma grande enfermaria no Tocunduba, entre as duas já existentes, com lotação para 30 leitos, mas que tem tido quasi sempre o dobro. E’ essa, actualmente, a melhor enfermaria daquelle Asy- lo, sobretudo depois da installação de duas bôas latrinas li- gadas por canos de grês e uma grande fóssa séptica, man- dada construir recentemente pelo Serviço de Prophylaxia Rural. Adeante tratarei de vários outros pequenos melhora- mentos introduzidos no mesmo estabelecimento, por minha or- dem, como Chefe daquelle Serviço. NOVA TENTATIVA DE PROPHYLAXIA. Pela historia ve- rifica-se que povo, associações e governos do Pará, desde 1800 até os nossos dias, nunca foram completamente indiffe- rentes ao assumpto—defeza contra a lepra. Estudando-se bem a questão vemos que o Pará, em si- tuação sempre inferior a vários Estados do Sul, tem feito, entretanto, muito mais que elles quanto á assistência aos le- prosos, que é também uma medida de prophylaxia do mal. Em 1917 foi iniciada uma nova tentativa de prophyla- xia da lepra no Estado, que, não tendo sido completamente victoriosa porque as obras projectadas não foram realiza- das, foi, entretanto, coroada do melhor êxito quanto á con- tribuição publica. Era governador do Estado nessa épocha o illustre pa- raense Senador Lauro Sodré. Como justa homenagem ao seu esforço e agradecimentos aos seus collaboradores nessa santa empreza, vou transcrever aqui alguns dos principaes documentos referentes a essa heróica tentativa, cujos fructos serão aproveitados opportunamente. Em 13 de Julho de 1917 a do Norte», o deno- dado matutino paraense que goza de alto renome e presti- gio merecido, publicou a seguinte nota official, noticiando uma reunião de auctoridades e technicos, realizada no Palácio do Governo, e presidida pelo Dr. Lauro Sodré, na qual se dis- cutiu um plano de prophylaxia da lepra. « PROPHYLAXIA DA LEPRA-IMPORTANTE REUNIÃO. Após visitar, ha poucos dias, o Asylo. do Tocunduba, o Sr. Dr. Lauro Sodré, governador do Estado, resolveu con- vidar para uma reunião em palacio, o director do Serviço Sanitario do Estado, o provedor da Santa Casa de Miseri- córdia, o medico director daquelle estabelecimento e outras pessoas, afim de ouvil-as a respeito da idéa do melhoramento a ser dado aos infelizes que se acham atacados de lepra e que, até agora, ainda estão mal abrigados. Da sua visita o Exm. Sr. Dr. Lauro Sodré trouxe a convicção de que o Pará não possue cousa que se possa, com rigor, chamar asylo de le- prosos, embora os pavilhões que alli existem e as casinhas e choças em que se abrigara os enfermos em grande numero, mais de 250, se acham em bom estado de conservação e com o possível asseio. A directoria da Santa Casa, sob cuja administração está o chamado asylo, faz o que pode edá aos doentes o melhor tratamento que lhe permittem dar os recursos escassos de que dispõe, Mas isto não basta. E o desenvolvimento do terrível movlms, e a necessidade impe- riosa de isolar os doentes por elle victimados em boas con- dições de trato e de hygiene, estão exigindo um esforço sobrehumano que nos permitta sahir dessa situação em que vivemos ha longos annos, cuidando dessa classe, a mais in- feliz dos seres humanos, que obrigados a viver fora do con- vivio social necessitam de conforto e abrigo que lhe devem dar os poderes públicos e toda a sociedade, de quem a hy- giene afasta os leprosos. Attendendo ao convite do chefe do Estado, reuniram hontem, pela manhã, no gabinete governa- mental, os Srs. Drs. Eladio Lima, secretario geral; Cyriaco Gurjão, director do Serviço Sanitario; Henrique Santa Rosa, director de Obras Publicas; Cypriano Santos, Souza Castro, Dionysio Bentes, Ausier Bentes, Camillo Salgado, Jayrne Aben-Athar, J. A. Magalhães, Azevedo Ribeiro e coronel Ignacio Nogueira. S. Excia. expoz aos presentes o motivo da reunião, pedindo que emittissem idéas sobre o modo de melhor amparar os desterrados da sociedade, accommettidos do terrível mal, visto ser insufficiente para alojamento dos doentes o local onde actualmente se acham. Usaram da palavra Dionysio Bentes, J. A. Magalhães, Souza Castro, Jayrne Aben-Athar, Henrique Santa Rosa, os quaes expenderam opiniões sobre o assumpto, sendo tomadas deliberações no sentido de ser em breve uma realidade a organização de um Serviço efficiente de prophylaxia do mal levantino entre nós. Não se póde ainda precjzar se se trata do estabelecimento de um hospital modelar ou da fundação de uma colonia em uma ilha apropriada, que provavelmente será a de Cutijuba. Para a installação e custeio desses serviços o governo cogita de estabelecer uma taxa sanitaria e recorrer ao auxilio dos municipios». (Da «Folha do Norte» de 13 de Julho de 1917.) Logo após esta reunião o Sr. Governador do Estado expediu para todos os municipios a seguinte CIRCULAR «Ao assumir as funcções do cargo, em cujo exercício estou, entrei a vêr e examinar os estabelecimentos públicos de toda ordem a fim de que fossem tomadas as providencias necessárias com o intuito de dar remedio ás faltas nelles verificadas, com a possível urgência e com os recursos de que pudéssemos dispor, dada a nossa situação financeira conhecidamente má. E assim se fez, acudindo-se ao que parecia mais ur- gente dentro dos escassos limites das nossas posses. Outras e muitas medidas ainda aguardam opportunidade para serem, como devem ser, realizadas. Não erraria dizendo que, de quantas coisas vi, a que mais me impressionou, pelo seu triste e lamentável estado, foi o chamado asylo de lazaros do Tocunduba, que a Santa Casa de Misericórdia, com os auxílios que lhe dá o governo, mantem com sacrifícios fáceis de avaliar, quando tanto custa amparar as victimas numerosas da miséria, que em tamanha copia batem ás portas dos estabelecimentos de caridade, insufficientes já para a população crescente desta capital, e aonde vêm ter egualmente os enfermos do interior do Es- tado, que não encontram onde asylar-se senão em Belém. Logo que isso verifiquei, entendi que era de meu dever dar o máximo de meus esforços para remediar um dos maiores males que affligem o nosso Estado, sabido como é de toda gente, que assusta a proporção que vae tomando entre nós o desenvolvimento da lepra, em bôa parte expli- cável esse facto porque não têm podido o governo nem os particulares até hoje agir de modo a crear neste Estado uma obra systematica de prophylaxia deste terrível morbus. Ouvindo as opiniões dos médicos competentes no as- sumpto, e que têm dado a contribuição dos seus estudos a esse problema, vi para logo que não podia o Estado, só por si, na crise financeira que está atravessando levar a êxito a tarefa de fundar aqui um asylo moderno para leprosos, feito como a sciencia moderna hoje ensina e aconselha a fazel-o, e em condições taes, que nelle encontrem agasalho e o tra- tamento, os doentes de todas as classes sociaes, que a hy- giene publica exige que sejam segregados, mas que ninguém teria o direito de fazel-o si condemnasse as victimas de tama- nho infortúnio á pena aggravada de um recolhimento a um logar, onde tudo falta para que mereça o nome que se lhe dá falsamente. Sendo assim, entendi de meu dever dirigir o presente appello a todos os conselhos municipaes para que ajudem o governo do Estado na obra humanitaria, que quer empre- hender com a construcção de uma leprosaria, feita tanto quanto possivel, de accôrdo com todas as regras da nova hygiene. Já o Conselho Municipal de Belém deu o exemplo, consignando no seu orçamento do anno corrente o auxilio de dez contos de réis para essa obra, a qual bem sei não é de hoje que se reclama, mas que bem póde ter agóra a sua indispensável realização, dado como já está o primeiro passo para que a tal fira possamos chegar. Nern me illudo quando espero que não faltarão também os soccorros das boas almas generosas, para que de nossa terra desappareça esse aleijão, que é o chamado hospital dos leprosos de Tocunduba, que deporia contra nós como um attestado de criminosa indifferença para com uma das grandes chagas sociaes, que em todas as nações cultas encontram senão a sua cura ao menos a attenuação de seus desastrosos effeitos, graças ás salutares providencias, que, assegurando aos que ella victima, o trato conveniente, impedem que ta- manho mal se extenda livremente, augmentando de anno para anno o numero dos doentes. Saúde e fraternidade —Lauro Sodré». Publicada e espalhada a circular acima, redigida com tanta proficiência, começou o movimento popular em bene- ficio da obra projectada. A presteza com que attenderam o appello as municipa- lidades, o commercio e o povo são um attestado da cultura e dos bons sentimentos da gente do Pará. Por toda a parte do mundo os grandes capitalistas ligam o seu nome, ainda em vida ou depois da morte, a uma instituição de ensino ou a um hospital ou aum laboratorio de pesquizas... que fundam ou a que legam importantes sommas. No Brazil são raris- simos taes rasgos de altruísmo, citando-se tres principaes, um, o legado de 7:500;000$000 á Santa Casa de S. Paulo, feito por um capitalista italiano; outro a doação de 1:000:000$000 para a fundação da Escola Pratica de Commercio de S. Paulo, feita em 1907 pelo Conde Alvares Penteado, e, recen- temente o importante legado Guinle, destinado á fundação d’um Instituto Therapeutico do Câncer no Rio de Janeiro. Sei que no Pará ha algumas fortunas consideráveis e bem podiam os seus possuidores dar inicio á fundação de uma le- prosaria modelo. As senhoras também não devem deixar de prestar o seu valioso auxilio a essa obra, tão ameaçadas estão as suas vidas como as dos seus queridos filhos, pelo flagello hor- rendo— a lepra. A sua acção bem podia se manifestar nes- ta emergencia, organizando uma aggremiação de «Damas Protectoras dos Lazaros» que trataria de angariar donativos quaesquer para distribuir aos leprosos indigentes, que vivera espalhados pela cidade, a supplicar migalhas de pão e rou- pas velhas ... Essas próprias senhoras poderiam manter um atelier de confecções de roupas para os doentes do Tocunduba e outros egualmente necessitados. Para angariar os donativos para o grande e pio esta- belecimento projectado constituiu-se a «Commissão de Dona- tivos ao Leprosario» composta dos Srs. Dr. Emmanuel Sodré, official de gabinete do Governador do Estado; Luiz Martins e Silva, do jornal «Estado do Pará» e secretario do Serviço de Hygiene Escolar; Manoel Luiz de Paiva, lente de musi- ca da Escola Normal; J. J. Monteiro de Paiva, corrector da Praça e director da Associação da Imprensa do Pará e Co- ronel João Alves Dias, membro do Conselho Municipal de Belém. Foram inestimáveis os serviços prestados por esta Com- missão, que se incumbiu de levar a effeito não só a propa- ganda da grande obra como também realizou vários festi- vaes que fizeram verdadeiro successo na épocha, citando-se como principaes o do «Circo Americano», que rendeu 1:704$000; o festival desportivo com todos os clubs filiados á «Liga Paraense de Sports Terrestres», que rendeu 1;664$000; a representação da revista «O Tapioca», que em 10 dias rendeu 492|300, líquidos, tendo sido pagos 4:300|000, pela sua montagem. A benemerita «Liga Feminina Lauro Sodré», composta de senhoras e senhoritas da alta sociedade de Belém, tendo á sua frente as Exmas. senhoras Dnas. Anna Sirene, Celeste Gama e Dra. Aurora Marques, conseguio an- gariar no Commercio e nas Repartições Publicas a elevada somma de 12:5008000. Como contribuição individual a mais elevada foi a do Dr. João Baptista Ferreira Penna, fazendei- ro em Marajó, na importância de 10:0008000. O «Diário Offi- ciab) de 28 de Outubro de 1920 publicou, in extenso, a rela- ção geral das quantias angariadas e recolhidas ao Thesou- ro do Estado, e a lista dos doadores. O total das importân- cias recebidas subio a 266:0418180. Esse dinheiro foi gasto pelo proprio Governo Lauro So- dré, em pagamentos urgentes, extranhos á construcção do Leprosario. Pela clausula 10.a do accôrdo firmado em 30 de Dezem- bro de 1920 entre os governos do Estado do Pará e o da União para ser creado neste Estado o Serviço de Sanea- mento e Prophylaxia Rural, nos termos do artigo 990 do Regulamento Sanitario baixado com o Decreto n. 14.354, de 15 de Setembro de'l92o, comprometteu-se o Governo Esta- tadoal a recolher immediatamente na Delegacia Piscai, a quantia de 200:000$000 para inicio da construcção do lepro- sario, ficando o Governo P'ederal responsável pelo restante da despeza da sua installação. As clausulas que tratam da fundação e manutenção do leprosario são as seguintes: Clausula ll.a O Governo do Estado recolherá á De- legacia Piscai do Thesouro Nacional no Estado do Pará a importância de duzentos contos de reis, á disposição do De- partamento Nacional de Saude Publica, e que representará a contribuição do Estado para a construcção de um leprosario; Clausula 12.a—A União com a maior urgência possível, construirá o leprosario, sem outro auxilio do Estado, assu- mindo a respeito compromisso formal; Clausula 13.a Terão preferencia para admissão no le- prosario os doentes internados por conta do Estado, que pelo seu tratamento pagará a taxa normal fixada, sem qual- quer abatimento; os particulares domiciliados no Estado, te- rão preferencia sobre os doentes dos outros Estados. Passou-se, entretanto, o primeiro anno de funccionaraen- to dos serviços de Prophylaxia Rural no Estado, tendo sido organizados vários trabalhos sobre estatística, prophylaxia e therapeutica da lepra, os quaes foram custeados exclusi- vamente pela ETnião, sem que o Estado até hoje podesse re- colher os 200:000|000 estipulados para o inicio da construc- ção do leprosario. Foram baldados os esforços do Governador do Estado Exra.° Sr. Dr. Souza Castro no sentido de cumprir a clau- sula ll.a do contracto, devido á terrível crise economica que atravessa o Estado. Pensa, comtudo, S. Excia., poder satisfazer o compro- A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA’ LAZAROPOLIS DO TUCUNDUBA Festa tio Natal em 1921 LAZAROPOLIS DO TUCUNDUBA Festa de S. João, em 1921 Instituto de Phophylaxia das Doenças Venereas, em 1921 A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA’ Grupo de leprosos no antigo Dispensário 33 misso contractual logo que seja ultimada a venda da Estra- da de Ferro de Bragança ao Governo Federal. DESPEZAS DO ASYLO DO TOCUxVDUBA. Ha cerca de 15 annos que as despezas com a manutenção do Tocunduba têm excedido muito de cem contos de reis annuaes. Para mostrar o seu constante augmento, offereço ao publico os seguintes dados colhidos por mim nos relatórios e orçamentos da Santa Casa: Em 1909 a receita da Santa Casa correspondente ás quotas addiccionaes dos impostos destinados ao custeio do asylo subio a 141:2835876, sendo que a despeza não excedeu a 123:4655708, deixando, portanto, um saldo de 17:818$ 168. Em 1910 a receita subio a 170:501 $950 e a despeza baixou a 113:158$910, ficando um bello saldo de 57:3435040; em 1911 a receita e a despeza foram approximadamente de 100:0008000, equilibrando se. Em 1912 volta o asylo a ter saldo, pois a receita foi de 103;9895587 e a despeza de.. .. 90:220$00 . Ficou o saldo de 13‘.7695587. De 1913 a 1920 o orçamento do asylo subio considera- velmente. Em 1921 a sua despeza foi orçada em 161:606$000, discriminada nas seguintes verbas; 3.» HOSPITAL DOS LAZAROS: - I Pessoal conforme a tabella n. 3 14:256|000 II Expediente, livros e outros objectos. 200$000 111 Drogas e medicamentos 16;000$000 IV Reparos e melhoramentos 2:800$000 c V Carretos e transportes .. .. v 3:300$000 VI Vestuário e calçado 18:0008000 VII Festividade de S. Lazaro. .. 50$000 VIII Conducção de cada veres 2:000$000 IX Custeio geral 1Q5:000$000 161:6068000 ( Do orçamento da receita e despeza da Santa Casa de Misericórdia do Pará, para o anno social de 1921). Além das despezas acima consignadas ha ainda o for- necimento de carnes verdes, feito por conta do Estado, pelo Curro do Maguary, com uma media mensal de 3.900 kilo- grammas, ou sejam 46.800 por anno, no valor total de 45:0Ó0$000. Sommada esta importância ao total acima, ve- mos que a despeza do Asylo do Tocunduba attingiu em 1921 á elevada quantia de 206:206$000. Dividida a despeza total por 268 doentes, que foi a média dos internados no anno pas- sado, vê-se que cada leproso custou á administração publica cerca de 7715000, ou seja uma diaria de 2$ 111, que não é, absolutamente, exaggerada. A alimentação dos doentes é far- ta e bôa, comparativamente com a alimentação do povo não só da capital como do interior do Estado. Nesta denomina ção de povo não implica a condição de indigência; faço a comparação entre a situação dos indivíduos isolados com a da população que trabalha e vive sem privações. Para o anno corrente de 1922 a Santa Casa orçou a despeza do Asylo do Tocunduba em 136:298$000, subordi- nada ás seguintes consignações, copiadas á pagina 7 do seu orçamento da receita e despeza para o referido anno social, impresso em folheto na Livraria Classica, desta cidade: 3.0 HOSPITAL DOS LAZAROS: I Pessoal conforme a tabella n 3... 10:448$000 II Expediente, livros e outros objectos 200$000 111 Reparos e melhoramentos • 2:800|000 IV Carretos e transportes... 3:300$000 V Vestuário e calçado 18:000$000 VI Festividade de S. Lazaro 50|0CX) VII Conducção de cadaveres 1:500$000 VIII Custeio geral 100:000$000 Total: 13ó:298500Q Houve em 1922 uma reducção de despe- za na importância de 25:3801000 em relação ao anno passado. As reducções foram feitas nas seguintes consignações: 11l Drogas e medicamentos 16:000$000 IX Custeio geral 5:000$000 I Pessoal 4:3BQSOOQ Total: 25:38050Q0 Esta importância representa a economia que está fazen- do a Santa Casa depois que o Serviço de Prophylaxia Ru- ral assumio a direcção technica e o custeio do tratamento dos leprosos isolados no Tocunduba. Fazendo apenas o tratamento hygienico dos doentes, com um receituário pequeno pois que o medico director visi- tava o asylo uma só vez por semana, gastava a Santa Casa em medicamentos, por anno, devemos calcular agora essa despeza augmentada para annuaes, tomado na devida consideração o augmento das visitas me- dicas para 3 vezes por semana, o tratamento especifico pe- las injecções de oleo de chaulmoogra e de hydnocarpato de sodio, ministrado em quasi dous terços dos doentes, e o au- gmento do receituário e dos curativos. Não incluindo as depezãs feitas em 1921 com os me- lhoramentos introduzidos no asylo, as quaes vão arroladas 35 adeante, calculo em 40:000$000 a despeza feita pelo nosso Serviço com o Tocunduba no seu primeiro anno de gestão. Especificando, temos: Director medico (metade do seu orde- nado) 6;000$000 1 chautfeur .... 2:400|000 1 enfermeiro-chefe 2:400$000 5 ajudantes de enfermeiro a 3605000.. 1:800$000 Escripturario 1:200|000 Utensílios médicos, drogas e medicamen- tos 24:000$000 Despeza com o auto e o cava 110...... 2:200$000 Total Rs. 4Q:000$00Q MELHORAMENTOS.—De Julho a Dezembro do armo findo o Serviço de Prophylaxia Rural introduzio, na medida dos recursos obtidos, vários melhoramentos no Asylo do Tocunduba. Os mais importantes foram os seguintes: Acquisição do prédio para o posto me- dico... 2:100$000 Mobiliário para o mesmo 400|000 2/3 do custo de 1 auto «Ford» para o serviço medico 2:000$000 1 fossa séptica com 2 latrinas. 1:000$000 Custo de 1 cavallo 2008000 Arreios e apetrechos para o mesmo.. . 2505000 24 camas de ferro, (colchões, travessei- ros e roupa de cama) 3;400$000 Total Rs. 9:35Q5000 Durante o primeiro semestre de 1922 não fizemos ne- nhum melhoramento no Asylo porque foi distribuído cre- dito apenas para o l.° trimestre e cujo saldo foi emprega- do na installação do Instituto Therapeutico da Lepra que funcciona desde Janeiro na rua Caldeira Castello Branco, no qual até 31 de Maio estavam matriculados 918 leprosos. DESCRIPÇÃO DO ASYLO.—As photogmvuras 2, 3 e 4 dão uma impressão real do que é o Tocunduba, actualmen- te. O Asylo está situado numa baixada, proximo do riacho Tocunduba, que lhe deu o nome, distante cerca de 2 kilome- tros da avenida José Bonifácio. A planta da cidade, desti- nada a mostrar as sédes das differentes secções do nosso Serviço em Belém, orientará melhor o leitor interessado, quanto á posição e situação do Asylo. O estabelecimento comprehende, actualmente, os se- 36 guintes prédios: á direita da entrada o chalet de residência do frei Daniel de Samarate e o posto medico; á esquerda o prédio da administração. Na praça do Tocunduba existem 3 pavilhões-enfermarias, com a frente para a entrada, com- portando; um, o mais antigo, representado nas photogra- phias 2 e 3, 16 a 20 mulheres, e os dous outros 80 a 90 ho- mens. Os restantes doentes se acham abrigados em 70 casi- nhas, barracas de paredes de enchimento, chão de terra ba- tida, sem tecto e com cobertura de têlhas, um terço delias, de cavaco e palha as restantes. Dessas barracas algumas estão em estado miserável e outras são bem conservadas, bastante limpas e enfeitadas de quadros, santos e figuras colladas pelas parêdes. Essas barracas foram construídas pelos proprios doen- tes, á sua custa. São ellas dispostas em torno das enferma- rias e as restantes, talvez 60, são dispostas em duas fileiras formando uma rua que vae desde pouco abaixo da casa da administração até proximo do igarapé do Tocunduba. A co- lonia dos lazaros é cercada por um grande igapó (terreno alagado), viveiro immenso de mosquitos. O impaludismo é endemico na zona. Durante a longa estação das chuvas o Asylo torna-se quasi inaccessivel, devido ás inundações que cobrem a estrada em vasta extensão. MOVIMENTO DA LEPROSARIA DO TOCUNDUBA.—Ape- zar de uma grande busca dada no Arcbivo Publico, no Ar- chivo da Santa Casa e de longas consultas de trabalhos scientificos e relatórios, não me foi possível conseguir' os dados completos do movimento do Tocunduba, nestes últi- mos 40 annos, como era do meu desejo. Consegui apenas os dados de 27 annos, salteados, e isso mesmo somente apóz um trabalho insano. No quadro abaixo verá o leitor tudo o que ha nos ar- chivos, de mais completo, sobre as entradas, sahidas e fal- lecimentos dos leprosos internados naquelle Asylo. São da- dos referentes a 27 annos, a contar de 1879 a 1921. Da maior parte dos annos intermediários consegui saber apenas o numero de doentes existentes. A frequência geral de le- prosos naquelle estabelecimento, nesse periodo de tempo, foi de 3.573, as entradas attingiram a 1.308 e os obitos a 943, ou sejam approximadamente tres quartas partes das en- tradas! Não sommei as sahidas por faltarem dados de 6 annos. As entradas que em 1879 foram em numero de 23, em 1884 de 28, augmentaram gradativamente até attingirem a 105 em 1914 e 112 em 1918, para baixarem a 82 em 1891,' naturalmente por falta de local para alojar mais doentes. Em 1879 existiam apenas 77, em 1888 já 133 e depois de 1895 até 1901 ficaram internados, em média, de 100 a 110 lepro- sos por anno. Esse numero começou a augmentar consideravelmente de 1908 em deante, até 1921; naquelle anno ficaram 142 e neste ultimo 268, que passaram para o anno corrente. De 1914 a 1917 o numero de entradas augmentou bastante, gra? ças á acção do Serviço Sanitario Estadoal, que declarou obrigatorio o isolamento de todos os leprosos indigentes. Foi nessa épocha que se tentou fazer aqui o recenseamento de todos os lazaros, sem o successo desejado. MOVIMENTO DO ASYLO DO TOCUNDUBA EM 27 ANNOS \nuos Exís- Entra- Sahi- Falle- Fica- tiam ram ram cerani rani 1879 77 23 5 20 75 1884 94 28 6 17 99 1888 133 3 42 88 1893 86 39 7 13 105 . 1895 106 25 4 16 111 1896 111 27 28 110 1897 110 14 2 21 101 1898 101 25 3 19 104 1900 108 23 3 21 107 1901 107 25 3 19 108 1904 92 20 32 80 1905 80 35 38 77 1906 77 33 19 91 1907 91 48 16 123 1908 123 32 13 142 1909 142 55 9 63 125 1910 125 32 10 27 120 1911 120 60 13 34 133 1912 133 49 4 55 123 1913 123 49 7 33 132 1914 132 105 23 38 176 1916 185 98 37 56 190 1917 190 110 17 66 217 1918 217 112 27 85 2171 1919 217 83 28 32 240 1920 240 76 5 58 253 1921 253 82 7 60 268 27 annos 3.573 1.308 943 Observações 'Grande mortali- dade por impa- ludismo. Período de isola- | mento obrigato- rio pelo Servi- ço Sanitario Es- tadoal. Augmento da mortalidade em consequência da grippe epidemi- ca. 38 A mortalidade geral correspondeu, como se vê no quadro acima, a quasi 3/4 dos leprosos entrados. Em 1909 a mortalidade augmentou devido ao impaludis- mo, que tomou o caracter epidemico, na leprosaria; e em 1918 devido á grippe. No capitulo sobre o estudo clinico voltarei a tratar da mortalidade causada pela lepra em Belém. Pela alta porcentagem de obitos na leprosaria do To- cunduba bem se pode ver que somente os leprosos em esta- do muito adeantado, já baldos de recursos para viverem cá fóra e sem mais esperanças na sua cura, procuram aquel- le Asylo. Até 1920 só se internavam no Tocunduba os lazaros indigentes, em ultimo gráo da enfermidade, e que, mesmo assim, eram forçados pela Policia ou pela Hygiene, a se iso- larem. Essa situação começa a se modificar: de um anno para cá, e sobretudo no 1." semestre de 1922, são innumeros os leprosos, mesmo casos incipientes e individuos de certos recursos, que pedem um leito, uma rêde ou uma barraca naquelle logar. O PLANO DO NOVO LEPROSA RIO O terreno escolhido para a séde da nova leprosaria fi- ca entre o velho asylo do Tocunduba e a Avenida José Bo- nifácio. Os lotes dos grupos A, B, C, F, G, H, I e K, situados entre as ruas Dr. Paes de Souza, Dr. Silva Castro e rão de Igarapé Miry, que vão desde a Avenida José Boni- fácio até o grande Igapó que deságua no riacho Tocunduba, ficaram reservados para as construcções das varias depen- dências do futuro estabelecimento. Pela copia photographica do projecto do leprosario pos- so descrever a séde de cada uma das secções importantes do futuro asylo. A entrada do terreno é pela Avenida José Bo- nifácio; ao lado esquerdo, ao lado direito e aos fundos é elle banhado por grandes brejos. A parte central é secca no ve- rão, mas inunda quasi toda no inverno. Nos lótes que margeiam a rua Dr. Silva Castro estão localizados: 1 posto policial, 1 casa de machinas, 1 hospital para homens, e a zona dos solteiros. Nos lótes que margi- nam a rua Barão de Igarapé-Miry estão localizados; a por- taria, o posto medico e laboratorio, a capella, o refeitório geral e a habitação de mulheres. A’ direita da rua Barão de Igarapé-Miry, numa pequena elevação do sólo, estão locali- zados : a pedreira, a rezidencia do pessoal administrativo e empregados, o hospital para mulheres, e zona dos casados, a zona dos menores, as terras da lavanderia, o isolamento, mais um posto policial e o necrotério. Nos fundos de tudo isso, existe o velho Asylo do Tocunduba. A PR O PH YLA XIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA’ Grupo de creanças leprosas no antigo Dispensário Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS YENEREAS XO ESTADO DO PARA’ Grupo de leprosas no antigo Dispensário Depois de uma longa observação verifiquei que o local escolhido não se presta para a séde de uma grande leprosaria modelo, assim também a distribuição de varias secções do futuro estabelecimento não me agradou ; a parte occupada pela administração deve ser completamente separada da sec- ção dos doentes. Além do inconveniente pela sua topographia, o terreno inunda quasi todo durante o «inverno» (como designam aqui a estação das grandes chuvas), difficultando enormemente o accesso de vehiculos ao velho asylo e ao local escolhido para o novo. Além de tudo isto ainda teria o Governo de despender mais de para indemnizar aos proprietários de lotes de terras que teriam de ser desapropriadas (estão ava- liados pela Directoria de Obras Publicas em afim de poder ser alli installada a leprosaria projectada. Com esta elevada quantia o Governo Federal poderá adquirir, longe de Belém, em local muito mais apropriado, terreno me- lhor, muito mais vasto e possuindo zonas adaptaveis á agri- cultura racional. Não devemos esquecer que qualquer leprosaria que deva ser agóra installada, terá de obedecer, seja ella grande ou pequena, modesta ou sumptuosa—ao typo de colonia agrícola. ASSENTAMENTO DA PRIMEIRA PEDRA. No dia 4 de Janeiro de 1920 foi assentada a pedra inicial da construcção da nova leprosaria. Sobre a solemnidade desse acto, transcrevo, da «Folha do Norte») de 5 de Janeiro do mesmo anno, a seguinte noticia : «O dia de hontern, certamente, deveria ter sido de in- tenso conforto e de alegria indizível para os desventurados lazaros do Tocunduba. A magnanima iniciativa do Governo do Estado, tão ge- nerosamente amparada por innumeras almas philantropicas, de construir uma Leprosaria, cujos benefícios são extraordi- nários áquelles desherdados da sorte, é uma verdade que muito o engrandece. Prova isso a expressiva solemnidade de hontern, que a todos impressionou magnificamente, do assentamento da pe- dra que serve de inicio á construcção daquella obra vul- tuosa. Muitas foram as auctoridades e pessoas gradas que se associaram ao acto, inclusive o Dr. Lauro Sodré, que se fez acompanhar dos Srs. Dr. Emilio Macedo, major Azevedo Vas- concellos e capitão Pedro Borges do Rego, official de gabi- nete, assistente militar do Estado e ajudante de ordens de S. Excia, respectivamente. No canto do quarteirão H, na estrada que vae para o Pocunduba e onde ficará installada a futura administração da Leprosaria, foi improvisado um estrado, coberto de pal- meiras, vendo-se ao centro, uma meza coberta com panno de velludo verde e, penduradas, tres plantas da Directoria de Obras Publicas, Terras e Viação, sendo duas sobre o pro- jecto dos edifícios, da lavra do Dr. Raymundo Vianna, au- xiliado pelo Dr. José de Castro Figueiredo, e outra, que re- presenta o estudo topographico, organizada pelo Dr. Rena- to Santa Rosa, que foi auxiliado pelo, agrimensor Manoel Valente Cordeiro. Os edifícios da leprosaria são destinados um para os elephantiacos solteiros e outro para os casados. Cerca de 8 1/2 horas o Dr. Raymundo Vianna leu a seguinte acta, lavrada em duplicata, num lindo pergaminho, pelo Sr. Ludgero de Azevedo, chefe da l.a secção das Obras Publicas; .> • «Aos quatro dias de Janeiro do anno de mil novecen- tos e vinte, trigésimo segundo da Republica dos Estados- Unidos do -Brazil, sendo governador do- Estado o Sr. Dr. Lauro Sodré, director da Repartição de Obras Publicas, Terras e Viação o Dr. Elenrique Américo Santa Rosa, di- rector do Serviço Sanitario do Estado do Pará o Dr. José Cyriaco Gurjâo, provedor da Santa Casa de Misericórdia o deputado Ignacio Gonçalves Nogueira e medico do Hospí- cio do Tocunduba o Dr. Azevedo Ribeiro, foi solemnizado o começo das obras da Leprosaria deste Estado, no terre- no situado a léste da avenida José Bonifácio, collocando-se a pedra fundamental no alicerce da parede septentrional do edifício destinado á administração, contendo dentro delia os jornaes do dia e as moedas correntes do paiz, achando-se presentes diversas auctoridades civis e militares e muitos cidadãos que assignaram a presente acta. E para constar mandou o Sr. Dr. director da repartição de Obras Publi- cas, Terras e Viação lavrar dois termos de egual teor, sendo um para archivar-se na Repartição de Obras Publicas, Terras e Viação, e outro para ser encerrado nesta pedra fundamental. E eu, Lugdero Bernardo de Azevedo, chefe da l.a secção da repartição de Obras Publicas, Terras e Via- ção, servindo de escrivão, o subscrevi e assigno». O Dr. Lauro Sodré assignou a acta, seguindo-se as demais auctoridades e todos os presentes. Por occasião dessa solemnidade o Dr. Azevedo Ribei- ro, director do velho Asylo do Tocunduba e orador official do acto, pronunciou memorável discurso, cheio das mais fa- gueiras esperanças e traçando um magnifico programma de prophylaxia da lepra. Disse elle que havia vinte annos vinha trabalhando por conseguir para os lazaros alguma cousa de melhor, de mais humano do que aquelle arraial tenebroso (o Tocunduba), onde vegetam tantos infelizes, dignos, por sua tremenda desventura, de cuidados mais carinhosos. Sentia-se cheio de jubilo ao assistir a collocação da primeira pedra da lepro- saria, que era realmente uma aspiração collectiva da popu- pulação paraense. Infelizmente passaram-se dous annos e meio e da gran- de leprosaria projectada só existe, enterrada no sólo, uma pedra contendo os jornaes do dia, algumas moedas da épo- cha e a acta do «acto solemne»... Faço votos para que dessa «pedra» nasçam outras, mi- lhares, se juxtaponham (porque os mineraes só crescem por juxtaposição) e formem os alicerces - profundos e solidos—, as paredes, largas e altas—, afim de constituirem o verda- deiro abrigo de que necessitam os desgraçados lazaros de Belém !... 3. AS TENTATIVAS DE CURA.— O eharlatanismo As tentativas de cura da lepra, datam da civilização egypcia, do tempo dos Pharaós, convindo referir o nome do 5.° rei Husapti (4.300 annos A. C.) edo Pharaó Tosorthros (3.a dynastia), que se occuparam sinceramente com o as- sumpto. Moysés agiu, no sentido therapeutico, como blaguer, emquanto que tomou algumas medidas acertadas de prophy- laxia do mal. Este tinha pendores para Irygienista e aquel- les para clínicos. No Pará as primeiras tentativas, muito em- píricas e charlatanescas, tiveram inicio ha um século, haven- do documentos de 1823 que referem ajguns factos isolados sobre o assumpto. A therapeutica da lepra se presta muito para eharlatanismo, e a prova disso tivemos nos factos oc- corridos aqui, no anno passado, com um conhecido charla- tão columbiano, que até hoje, um anno depois do inicio do processo que lhe mandei instaurar, por exercido illegal da me- dicina, ainda clinica e tem muitos adeptos, mesmo nas clas- ses chamadas de cultas, Os indivíduos que prestigiam taes typos, de refinados exploradores da credulidade publica que é inexgottavel—, eu classifico de curtos.. . e não de cultos. Officialmente só em 1840 o Governo do Pará começou a tomar interesse pela cura da morphéa, interesse esse des- pertado pelo grande numero de casos já então existentes. Naquelle anno appareceu em Belém um Sr. Manoel Domin- gues Barbosa, l.° cirurgião da Armada, que dizia curar a lepra com um preparado de sua descoberta. O Presidente da Província, Sr. João Antonio de Miran- da, desconfiando tratar-se de um refinado charlatão, enviou- lhe a seguinte intimação, em officio de 10 de Junho de 1840, publicado a 17 do mesmo mez no «13 de Maio», donde tran- screvemos : « Gonsta-me que V. Mcê., cura a moléstia denominada Elephantiasis, conhecida vulgarmente pelo nome de lepra, fazendo alarde dos seus curativos com os annuncios, que manda publicar, das pessoas, a quem tem prestado ps auxí- lios de sua arte, annuncios que fóra da Província têm sido transcriptos. A ser assim não pequena gloria deve caber a V. Mcê, por uma descoberta que tanto tem occupado os cui- dados de consummados sábios, e não pequena satisfacção também deve ter o Governo em utilizar-se de seu préstimo em beneficio de tantos elephantiacos recolhidos no Hospital, e de tantos outros dispersos pela Província, e fóra delia,"aos quaes todos deve chegar o conhecimento dos recursos que V. Mcê. emprega. Exijo, pois, que V. Mcê. me rernetta com a maior brevidade o receituário de que se serve no seu cu- rativo com declaração do tempo em que dá por curados seos enfermos. Informando-me ao mesmo passo se costuma curar tão terrível enfermidade em qualquer gráo, em que ella se ache. Quero mais saber, se a descoberta que ha feito é fi- lha dos seos estudos ou experiencias ou ao contrario colhi- da de terceiros. Pfinalmente mandar-me-ha uma relação das pessoas a quem tenha libertado de tão deshumano flagello. Deos guarde a V. Mcê. Palacio do Governo do Pará, 10 de Junho de 1840. (a) João Antonio de Mirando. Sr. Manoel Domingues Barboza, l.° cirurgião da Ar- mada». Não tendo sido satisfeita a exigencia do Presidente da Província, este officiou ao Capitão Cornmandante da Divisão Naval, superior hierarchico do alludido cirurgião, pedindo- lhe certas providencias: « Acabo de receber o seu offido de hoje datado relati- vo ao Cirurgião Manoel Domingues Barbosa, e outro deste em resposta ao meu Aviso de 10 do corrente, no qual delle exigia alguns esclarecimentos sobre o curativo da moléstia elephantiasis —. Era solução a tudo declaro-lhe, que faça constar á aquelle Cirurgião, que sou mui pouco amigo de ver illudidas ou sem observância as minhas ordens, que sem perda de tempo satisfaça completamente ao que lhe ordenei. Deos Guarde a V. Sa. Palacio do Governo do Pará, 12 de Junho ;de 1840. (a) João Antonio de Miranda. Sr. Capitão Tenente Antonio Firmo Coelho, Comman- dante da Divisão Naval». Este documento foi publicado no «13 de Maio» de 20 de Junho de 1840. Por aviso de 15 de Junho o Presidente da Província João Antonio de Miranda determinou ao Director do Hospital Geral Militar que constituísse uma commissão de trez profissionaes, sendo elle e mais dous, para examina- rem os doentes tratados pelo tal cirurgião da Armada, os seus remedios e as suas receitas, informando-lhe minuciosa- A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEBEAS NO ESTADO DO PARÁ Samuel de Jesus, orador da Leprosaria do Tocunduba A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA Pé de leproso Lepra mutilante. Todos os dedos mutilados ou absorvidos mente sobretudo. Transcrevo abaixò este aviso, porque elle mostra o real interesse que a administração publica estava tomando pelo importante assumpto. Além disso elle traduz a possibilidade, sempre presente, para os não especialistas, da confusão da lepra com outras dermatoses curáveis, nas quaes a acção do alludido medicamento podesse ter sido benéfica, sendo tomados taês Casos para reclamo do «processo de cura»: «Propalando-se a noticia de que o Cirurgião d’Armada, Manoel Domingues Barbosa, cura a moléstia denominada Elephantiasis, e não devendo o Governo olhar com indiflferen- ça para objecto, que em si contem elementos de tanta im- portância para a saude e prosperidade publica, diriji áquel- le Cirurgião a ordem constante do aviso incluso copia, a qual foi satisfeita pelos seos officios também inclusos de 12 e 14 do corrente. Necessito actualmente pois saber se com effeito foram curados e existem perfeitamente bons os indi- víduos, de que trata o primeiro officio, e se em verdade a moléstia que soffrerão, dado o cazo da cura era a Elephan- tiasis, ou alguma outra, que com ella se confundio; se os re- médios, de que trata o receituário junto ao segundo officio, se confirmão com os preceitos da arte, e se partem de um calculo bem combinado, ou finalmente qual o seu merecimen- to, ou o juizo, que sobre elles se possa formar, no caso de que os indivíduos, que s,e intitulam .curados, ainda padeção o mal. Para conseguir o primeiro destes fins, quero que o Director do Hospital, e mais dous facultativos se dirijão á residência d’aquellas pessoas, e communicando-lhes de minha parte o objecto de sua missão, fação as observaçoens ne- cessárias. O que tudo V. Sa. levará ao conhecimonto do re- ferido Director para sua execução, devendo com as informa- çoens que me remetterem, enviar os documentos que este acompanhão. Deos Guarde a V. Sa. Palacio do Governo do Pará, 15 de Junho de 1840. (a) João Antonio de Miranda. Sr. Major Hilário Pédro Gurjão, Inspector do Hospital Geral Militar». Do numero 16 do «13 de Maio », de 4 de Julho de 1840, transcrevo o curioso laudo da Commissão Medica nomeada para averiguar as annunciadas curas da lepra pelo cirurgião da Armada, Manoel Barbosa. Por esse documento se vê a que gráo de ousadia chegou o tal charlatão, e os perigos que da sua «therapeutica» poderiam resultar para suas vi- ctimas. O mais grave no ponto de vista social é que, 82 annos depois desse facto, outros aqui se reproduziram, talvez com maior escandalo e mais perniciosas consequências, sempre no tocante á cura da lepra, mostrando que a credulidade publica continua immutavel. Este assumpto presta-se a va- rias outras considerações que não me furtarei de fazer oppor- tunamente. O historico laudo publicado no 13 de Maio n. ló, de 4 de Julho de 1840, está redigido no seguinte teôr: lllm.o e Exm.° Sr. Os abaixo assignados nimiamente so- licitos pela honra e dignidade da Medicina, e igualmente de- sejozos de prestarem a V. Exc.íl o seu contingente a fira de que possa V. Exc.a promover os interesses e prosperidade desta Província, pela qual tem demonstrado exuberantes provas de zelo e amor, de bom grado se prestarão ao con- vite do Snr. José Custodio da Fonseca Paes para o auxilia- rem methodicamente no desenvolvimento das importantes questoens de Medicina, a que allude o officio de V. Excia. de 15 do corrente endereçado ao mesmo Snr. Paes, e em resposta terá a honra de levar ao conhecimento de V. Excia. o seguinte rezultado de suas indagações e analyses. I a QUESTÃO Saber se com effeito forão, e existem curados, e per- feitamente bons os indivíduos José Acacio Corrêa, José Ferreira Machado, Margarida Josefa, e Lourença Maria da Conceição, indigitados como Leprosos pelo Cirurgião da Armada Nacional Manoel Domingues Barboza. 2.a QUESTÃO Se em verdade a moléstia, que sofrerão e dado o cazo da cura era Elephantiasis, ou alguma outra que cora ella se confundia. Primeiro que tudo devemos declarar a V. Excia. que dos supramencionados indivíduos dois delles nunca fo- ram affectados de Elephantiasis, e nem o mais ligeiro sym- ptoma tiverão de tal enfermidade; estes são José Ferreira Machado, e Margarida Josefa. O primeiro enfermou da mo- léstia da pelle denominada syphilide ou syphiliroide, prove- niente da syphilis constitucional inveterada, a qual escolheu para Theatro dos seus estragos o systema cutâneo, e ahi se declarou, por maculas mais ou menos variagadas, dis- persas, ligeiramente elevadas, tendo a sua sede particular- raente sobre o tronco, e sendo de mais acompanhada de grande parte do Cortejo de symptomas syphiliticos secun- dários. Não está curado por não ter sido tratado debaixo dos preceitos da Sciencia de curar, e por ainda persistir uma boa parte dos. mesmos symptomas. A pezar disto elle se julga bom. Esta enfermidade da maneira por que se offere- ceu, não pode ser confundida com a Lepra. O segundo padeceu de um Exanthema tão ligeiro, que em sete ou oito dias se curou, e está bom, tanto da molés- tia Exanthematica, que lhe appareceu, como da Lepra, que nunca soffreu. Esta enfermidade não he possível confundir- se nunca com a Lepra. Quanto a.os outros indivíduos José Acacio Corrêa e Lourença Maria da Conceição, estes estão ambos eontami- A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA’ Lepra mutuante A lepra, caricaturista cruel A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA’ Horrendo aspecto das ulceras leprosas 45 nados de Elephantiasis. A do primeiro he benigna, mas re- belde, e a classificamos Lepra Abnormis; a do segundo he genuína, da incurável, e a classificamos Lepra Leontina. Tanto um como o outro não estão curados, nem pór tanto bons; no entanto elles se considerão melhores em virtude do tratamento a que se sujeitarão, no que muito se illudem. 3 » QUESTÃO Se os remedios de que trata o receituário junto ao se- gundo Officio se conformão com os preceitos da Arte, e se partem de ura calculo bem combinado, ou finalmente qual o seu merecimento, ou juizo que sobre elle se possa formar no cazo de que os indivíduos que se intitulão curados, ainda padeção o mal. Os abaixo assignados perfeitamente conhe- cedores da crassa ignorância, que animou o auctor dos an- nuncios da cura da Lepra, a gabar-se de ter curado esta enfermidade, e conseguintemente de ter descoberto agentes medicinaes capazes de remediar tão horrendo mal, desde alta antiguidade reputado como incurável, não só pelos mais profundos e instruidos talentos que tem dominado a Me- dicina, mais até pelos proprios Patriarchas, da Sciencia. pouco se demorarão era demonstrar os paradoxos, que o auctor da descoberta sem pejo se arrojou a declarar a . VLExcia. inculcando-os como axiomas, ou verdades Medi- cas. O charlatão dono da descoberta nada relata sobre os . symptomas, que observou nos seus doentes, de certo por nada saber dizer a semilhante respeito, por falta de conhe- cimentos necessários; no entanto sempre alguma cousa re- fere se bem que de passagem ácerca da Ethiologia da moléstia, e contando que muitas poderiam ser as causas do mal, sem as explicar, assim mesmo só a duas reduz aquel- las de que tinha derivado a Lepra dos seus doentes, e vem a ser o escorbuto e o venereo, ancora fiel do charlata- nismo. E por isso que elle ignora o estado de progresso, a que tem chegado em nossos dias a Pathologia do escorbuto, e da Syphilis ajudadas da Anatomia, Luz suprema da Me- dicina, assim a sua Therapeutica nestas duas moléstias he um quadro de contradiçoens, e decomposições, firmado em grande parte sobre uma matéria Medica desconhecida no Mundo Scientifico. Não sabemos como o auctor da descoberta considera a essencia da moléstia, porém pelo que colligimos do seu formulário podemos assegurar, que a Lepra, Escorbuto, e Syphilis são para elle tudo uma e a mesma couza; por isso que declara, que o tratamento he inteiraraente antiscorbuti- co, e de pois quando não conhece vantagem ou proveito o Antisyphilitico. Verdade he, que quando os práticos supoém, que a en- tidade syphilitica ou Escorbutica entertem a moléstia, lhes aplicão os seus contras, porém sempre sem resultados, uma vez que o diagnostico designa a Lepra como formal ou ge- nuina, e não se tem elles contentado com os chamados an- tídotos da quellas duas enfermidades, tem empregado inter- namento o alcatrão, o aconito, o mezereão, a agoa louro- cereja, o acido hydro-cyanico, a creosote, as cantharidas, o arsénico em dozes gradualmente maiores, e finalmente o ióde em altíssimas dozes, e apezar destas aplicações o rezultado tem sido por ora nullo. Muitas das formulas, de que elle uza são copiadas dos livros da arte, ainda que um pouco antigas, e algumas de- zuzadas, em o numero da quellas estão a la,Ia, 3a, 4a, esae em o destas a 2a e 6a e outras. Todas as pilulas constantes de seu formulário são bem conhecidas dos práticos, porém elle por desgraça sua não conhece muitãs delias, como por exemplo as atisyphiliticas do Doutor Cullerier, que sendo de uma só qualidade quan- to á composição, elle as considéra de baixo de dois núme- ros 1, e 2, o que indica haver segundo1 o seu pensar mais do que uma especie. Os topicos de que uza ou são conhecidos dos MedicoS, ou são extravagantes composiçoehs delle, entre os primei- ros estão o Ceróto de! Goulard, o de Spermaeeti &. mui applicados em a pratica diária; entre os segundos brilha o famozo unguento que compoz, monstruosidade horrenda, ge- rada de 15 drogas differentes em qualidades Physicas, Chi- micas e Medicas, fervidas todas em unto de porco (desco- berta nova) para formar o chamado unguento, que de certo nunca possuirá tal Este chamado unguento he hum Prothéo de virtudes medicas oppòstas, e diversas; he uma Polypharmacia de decomposições impossíveis de se imaginar. Alem deste compoz, diz elle, mais outro unguento, de uma onça de Mururé, e quatro onças de unto, o qual obra â maneira do mercúrio sem todavia promover o ptyalismo. Não sabemos até que ponto daremos credito a este di- to, por que nos custa a acreditar, que elle ignorando todas as propriedades Botanicas e Medicas do Mururé, por ser planta ainda mal estudada, e por não ter os prévios conhe- cimento pára aindagar melhor se atrevesse a ingerilla de baixo de qualquer fórma em o corpo humano. O mesmo pen- samos sobre o Marapuama, o Açacú, e outras plantas por ora desconhecidas da Matéria Medica, e de que elle alardea ter feito emprego e inteiramente duvidamos. Uza também como topico a manteiga de antimonio, cáustico energico, e violento e aqui prova elle cabalmente a sua ignorância, e charlatanice. Acauterização dos tuberculosos leprosos he prohibida pela san Therapeutica não só pelo temor de al- guma repercussão perigosa sobre qualquer das visceras im- portantes á vida, como também pela exasperação infalível, que taes agentes promovem sobre o systema cutâneo, exas- peração esta, que não apparece logo jmmediatamente, mas que em breve se manifesta, tqrnando os doentes mais he- diondos, e defeituosos. Muitos outros absurdos expende no seu arranzel ver- gonhoso, e mais particularraente quando pretende expôr ex- plicaçoens theoricas. Em conclusão diremos a V. Excia. que o author da descoberta da cura da Lepra he um completo charlatão, po- rém muito ignorante, e atrevido, que não só nunca curou tal enfermidade, mas até peiorou consideravelmente alguns outros, de quem trata, cujos nomes calou a V. Excia, como são uma tal D. Joaquina do Cafezal, e outros. Deos guarde a v. Excia, . , Pará, 27 de Junho de 1840. lllm.° e Exm.° Snr. Prezi dente desta Província Camillo José do Valle Guimaraens. Doutor Francisco da Silva Castro, José Custodio da Fon- seca Paes, Alexandre da Costa Araújo». Do relatorio de 19 de Agosto de 1840, do Presidente da Província João Antonio de Miranda, extrahi as seguintes informações sobre o tratamento da lepra pelas aguas mine- raes de Goyaz: ELEPHANTIASIS «O Poder Legislativo da Província não foi indifferente, o anno passado, á semelhante mal. Constando-lhe, que na Província de Goyaz se fizera a descoberta de Caldas, pró- prias para extinguir essa moléstia, decretou que se dessem réis a Luiz Antonio da Motta Nobre, para delia se ir tratar na referida Província. Infelizmente não gpsou o agraciado de semelhante beneficio, e não podémos ver o resultado dessa .medida legislativa, por quanto, ao entrar na Província sobredita deo alma á Deos. A respeito de maté- ria tão interessante julgo conveniente, para maior esclare- cimento vosso transcrever aqui o que á Camara dos Se- nhores Deputados foi no presente anno communicado em seu relatorio pelo Exmo. Ministro dos Negocios do Império. Declarando S. Excia. que o Sr. Presidente da Província de .Goyaz encarregara do exame das; aguas a Vicente Moreti Foggia, continua: «Colhe-se de seo relatorio, na parte baseada sobre in- formações que o dito Foggia obteve de pessoas de critério que com o uso das aguas thermaes sararão perfeitamente desde 1835 até o fim de 1838, além de um syphilitico, e de um dartroso, nove morpheticos; que obtiverão considerável melhora 17 enfermos desta ultima moléstia; que o uso das oo^]ot)Wrf^ tOtOtOtO^K^KMMKMKK^ WtO^O^G0^1C50T^W)tC^OcDOO<1 CS Oi CO tO N. 0 da Ficha tõ to C'5 •-klOtOCO ' ç3- S“’ pã- "—S- g®* CO «, *“ J=C S £a» S CO S^3 S3 X XX X X X X X X X XX X Branca X X X * X X XX X X X XX X XX x x x x X x x x X XXX Mestiça M » X X X X XXX * x Preta ES XXX X X X x X XX X X X X XXX XXX X x Solteiro £§ X X X X X XX XX X X X XX X XXX XXXX Casado r*3 t/j cn X X X XX Viuvo — X Menor de ID annos ® s* ? 3’ « 3 3's g s 1. Negociante Lavrador Agricultor Costureira Agricultor Caldereiro Costureira III 1 1 •"* 3 • 5S 7T3 C=j cõ* CO ° — I3SC = 3i = ÍÍÍSS S ;í 3 S 3 - 3 3 3 - 1-3 U*‘ 550 CO sal CO s=* C“3 Saô# 1 Menos de I anuo De 1 a annos i i? x x X X x X X De 6 a 0 annos í 7 l X x x x x x X X x X X X X x x. X De ti a 20 annos \ X V x x X. X X X X. X, X, X. X X. De 11 a 3S annos ■= \ x, x, x, x. X. X, V X X. X. X. 5 te VA wvm ~ \ . Vfccícss. tk». mm \ , J 'SOLíADOS NO ASVLO DO TOCONDUBfI família leprosa Diagn. clinico PESQUIZA 00 3ACILL0 BE HANSEN REACCÃO OE WASSERMAHH £ tu Sym- píflma f ctí s No mueo Ha Nos - 0 c OJ C 1 ii X X 1921 1 11 X X 1921 11 Falleeeu .. X X X |1920 Hygienico X X X X 4916 11918 i v ! 11 X X X 4918 Especifico >. X X X 1919 11 - X X X X X 1913 11 .. X \ V I \ x X 4917 x 1917 li Falleeeu .. X X 1921 Hygienico .. \ X 1919 il ■« X \ X X 1920 li .. X X 1917 Especifico X X 1917 11 HyPoesthesia X X X X 1921 1916 11 ff .. X X i 1921 li .. \ X 1914 X 1921 Falleeeu X X | V 1914 ff ! 4 3 14 4 2 22 1 2S 33 ui! 1 1 II 11 1 62 rt X! ECADES EGAOE ACTUAI SEXO RAÇA ! ESTADO CIVIL Edadc cm que a do- ença sc manifestou £ i Uaiurali- ta T3 £ 1 1 jS 1 I dade Profissão Residência 1 s | 1 s 1 ■£= 0 uo s Ui g * 2 Actual É I z CU M si Feminino s. I Solteiro 1 1 S5 1 z - i : í Tfanspopíe . 7 19 18 6 30 SC 13 28 9 22 22 ! 5 1 7 16 « II y 51 29124 X X Para’ X X Agríeultor Leprosaria X 52 46 40 X X Ceara’ i x X Maehinista V 53 69 68 X X França X X Negociante X 54 16 9 X X Para' X X Nenhuma X 55 56 31 X X R. G. Norte X X Empreg. Fubliec X 56 33 10 X X Para" X X Lavrador X 57 42 27 X X Ceara’ X X Jornaleiro X 58 39 29 X X Hespanhol X X X 59 44 15 X X Para’ X X lavrador X 60 21 14 X X Ceara’ X X Serviço dom. X 61 31 19 X X „ X X Empreg. no Com. X 62 22 17 X X Para’ X X Pescador X 63 18 2 X X X X Nenhuma X 64 22 17 X X „ X X Serviço dom. X 65 42 32 X X Maranhão X X X 66 17 11 X X Ceara’ X X Nenhuma X 67 16 13 X X Para’ X X X 68 18 13 X X Parahyba X X Serviço dom. X 69 27 23 X X Bahia X X X 70 21 14 X X Maranhão X X Lavradora X 71Í23 21 X X Para' X X Serviço dom. X 72 31 29 X X Ceara’ X X X 73 42 32 X X Para’ X X X 7459 55 X X Hespanhol X X Lavadeira -X 75 37 35 X X Ceara’ X X Serviço dom. X 76 37 14 X X Para’ X X Chapeleiro X 77 18 18 X X X X Nenhuma X 7833 28 X X Portugal X X Lavrador X 79:26:13 X X Para’ j X X X 80 28 18 X X „ X X X 811:21 Í18 X X X X X 82 57 51 X X Parahyba Para’ X X Jornaleiro X 88 23 9 X X X X Nenhuma X 8418 13 X X „ X X x 8532 13 X X „ X X X 86:19 6 X X X X X 87:32 18 X X „ X X Militar 88-31 13 X X Amazonas X X Empreg. no Com. 89 32 23 X X Maranhão X X x 90 36 28 X X R. C. Korte X X Kariíimo V 91 58 53 X X X X Lavrador X 92 46 38 X X Ceara’ X X Agricultor X 93 65 52 X X R. G. Korte X 1 X Jornaleiro 1 x 94 21 10 X X Para’ X X X 95 42' 32 X X Ceara’ | X X Carpina X' 96 97 25) 25; 15 15 X X X X R. C. Korte Para’ X X X X Jornaleiro j Marítimo I X X 98 23- 7 X X X X Jornaleiro X 89 32 28 X X Ceara’ X X Agrieulior X 100 311 201 X X Hespanhol i X X 1 ; ,, X J II 1 II 1 1 151 441231 12 li 1 SS! 34 ... 31 se 11 SS SB 13, il I 13 18128 131 V 63 FAMÍLIA LEPROSA Diagn. clinica PESQ01ZA DO BACÍLLQ DE HANSEN REACÇÃO GE WftSSERMANi S X X 11921 Especifico X X X X 1921 11902 Hygienica Nascida na Leprosaria fySbesla ”^nehas X X X X I19C4 X X 1918 Especifico X X 1921 » X \ X X X 1920 )) ! X X 1921 m X X 1921 )} X X 1913 Hygienieo Faiieeeu )> X X X X 1919 )) X X 1914 Especifico ¥%sii Blancius X X X X \ X X X X 1909 1920 1915 n i» j» Hyp°8sthesia X V X X X X 1917 1919 V ®anehas X X X 1921 1917 V >) X X 1917 n ítrÍfa niãos fiaashâs X X X X X X X X 1921 1920 1914 n n n )> X X 1919 V pí(st!iesia 'tÕ05>-‘- g 5? Actual era CSÍ Si •-*■ caool-ioah-i.tsSOjHiCOl-ktO tO !-*■ h-1- to wtJ h* to i *«3 s X X X X x .XXX X X X X X X X S Feminino ?°S -a -a g" P= -O “ * » 3 sf J! § W if Ss ÍT 3 - sT- S*- - »g3 3” pS. S -=r *"-0=1 S“,ci=! “.a “•p.p>a 3 3 —’-«a »>, S- »• =3 3. »>, =3 B». ££• sS- S3 3- 3. 031 sao po S p 2. - »0 »— Í=r- e=r sm- CO co — — CO CO CO SM go *=. w S» É3 C3. *-3 no as s X X XXX XXX X XXX S2 Branca PO 33- a=»i X XX XXXXXXXX X XX XX XX.XX X XXXX X SS Mestiça X X XXXX X X . XX XX = Preta XXX XXX X_ X XX XX XXX X XXX X X X SS Solteiro ESTADO CIVIL S5 XX X XXX XX XX X XXXX X X X xxx S? Casado í*í ss Viuvo XX X xx x — Menor de 15 annos r= CO CO oo g3 ” g3 co « o | 1 b 1 1 2. I | I 3 I 1 1, ■=-“ 1 ° S. Sg-=l'g-S“S. 1 1 s =, 1 Ho.” III § S. sS g =• S. S ígSsg-B-Ssr f jg g -|í |a3i>3i3|i W° “ ° 3 i“3S "-a —s C3 55* oo »i o CO SM 5õ’ SC3 TO CO sal TO ss TO So* Menos de 1 anno 2 S® ’ ST* * íT s® ■ t X X X De 1 a 6 annos X X XXXX XXS3 De 6 a 10 annos SI X XXXX XX x XX XX XXXXÊS De 11 a 20 annos =L 1 X X X X. xxx X X XX xxx XX X ES De 21 a 35 annos \ X. x xx «o \\ tte Và a. M amos \ —» v »»s 65 ■— FAMÍLIA leprosa - D agr . PESQDIZA DO BACILLO DE REACCÂO DE C 1,0 Syin- píoma clinico KANSEN WASSERMANN V * s i I I 1 S' i 1 s No muco nasal Na pelle Nos gangiios S P E o í n 1) B d 'o O c V E 2 c5 Observações s as 1 1 E 1 i f f Pos. Neg. Pos. Neg. Pos. Neg. s M s W HH £ Manehas 6 i 25 u 4 32 18 80 13 21 X X 1917 Especifico "Çesthesia «anchas X X X X X X X X X X X 1916 1914 1905 11 Rygienieo Específico » X X 1917 ,f!al Periupante «anchas X X X X X X 1909 1920 1919 11 Evadio-se n • X X X X 1916 1914 11 X X 1921 * X X X 1921 „ X X X X 1920 1920 11 » *1 X X 1913 « X X 1921 Hygienieo B,l°eslhesia «anchas X X X X X X X X X 1917 1915 1917 Especifico 11 Hygienieo « X X X 1911 * X X 1919 "í^sthesia HvJchas íesthesia ■anchas X X X X X X 1918 1918 1921 Espeeifieo 11 X X X 1918 X X 1918 Falleeeu ” X X X X X 1919 1917 11 Hyí0esihesia «anchas X X 1915 Nenhum Clinieamente não apresenta signal lepra X X X X X X 1919 192C Hygienieo X X X X X X 1915 1915 11 Falleeeu ” X X X X 1917 Espeeifieo ByPnesthesia X X X X X X 1907 1918 li Hygienieo Falleeeu x X X X X X X 1917 1917 Nenhum Espeeifieo Caso suspeito lanchas X X X X 1919 1921 Hygienieo Drtfctena t”anehas ranihema •Jesthesia > «anchas X X X X X X X X X X X X 1918 1920 1920 1916 1921 Espeeifieo Hygienieo 11 Espeeifieo Falleeeu X X X 1921 Falleeeu X X X X 1920 1921 11 Hygienieo Falleeeu X X X X 1907 Espeeifieo 1 X X X 1919 11 IO 11 1 ;A1 201,5 !43i37 60 110 AO 1 1 1 N.° da Ficha | EDADES EDADE ACTUAL SEXO Naturali- dade RAÇA ESTADO CIVIL Profissão Resídeneia Ediidc cm que a enra sc nianifcst to- ou s ets e? | ss •S $ — Dos primeiros sympt. | Menos de t anno | 1! s | De 11 a 20 annos “8 * ãi 1 Ej 1 «3 £ 1 s Menor de 15 annos z s ca ES ■ X! to ca crJ Transporte 2 26 Tl 36 15 101 49 43 84 23 ' T2 5T 14 1 1 1 1 ; 4 21 i 54 | 45 HÍ Ij 1511147 35 X X Para' X X i Lavadeira , Leprosâfiã X 152' 21 15 X X X 1 X Serviço dam. | X 153i 13 10 X X H X \ Nenhuma | 11 X 154 30 25 X X X X Lavrador X 155 35! 28 X X Ceara’ X X Serviço dom. 1» x 156 13 6 X X Amazonas X i X Nenhuma „ X 157 27 21 X X ■ Para' X X [ Lavrador „ X 158 54' 44 X X Pernambuco X X Cozinheira 1 1 159 36! 31 X X Sergipe X X Agricultor 11 X 160 26 24 X X Para’ X X Serviço dom. 11 X 161 38 28 X X Maranhão X X 11 ii X 162 25; 7 X X Para’ X X V 11 X 163! 33 13 X X X X Lavrador 1 1 X 164 41 24 X X X X Serviço dom. 1 1 X 165 7 X X X X Nenhuma 11 166 21 13 X X X X Serviço dom. . 11 167 19 6 X X X X Agrieultor 11 X 168 33 26 X X Portugal X X Carreiro 11 X 169 42 14 X X Para' X X Serviço dom. 11 x 170 39 26 X X Ceara’ X X Agrieultor 1 1 X 171 21 9 X X Para’ X X Nenhuma 11 X 172 27 24 X X X X Ferreiro ii ■ X 173 27 24 X X X X Nenhuma 11 X 174 14 7 X X Amazonas X X >1 11 X 175 20 14 X X Ceara’ X X n 1 1 X f ■’t 176 14 10 X X Para’ X X n Í1 X 177 22 10 X X X 1 X 11 1 1 X 178 20 15 X X Amazonas X i x 1? 1 1 X 179 33 17 X X Para' X ! x Pedreiro 11 X 180 26 18 X X Peru X X Empreg. no Com. 11 x 181 17 10 X X Para’ X x | Nenhuma 1 1 X 182 23 12 X X Maranhão X X Caldereiro 11 X 183 43 35 X X X 1 x Agrieultor ->1 X 184 42 32 ; X X Hespanhol I X X Cozinheiro 11 X 185 43 38 X X Ceara’ X X Agrieultor 1? ‘k 186 30 25 X X Parahyba X X Marítimo 11 X 187 23 12 X X Para' X X Nenhuma ii X 188 40 1C X X 1 M X i x Lavrador Tl X 189 20 14 X X X X Tl ii X 190 20 8 X ! X Maranhão X X Serviço dom. 11 X 191 33 26 X X Para’ X X 1 n 11 X 192 23 18 X X X X Lavrador ii X 193 13 10 X X X X Nenhuma 11 X 194 28 18 X X X X Agrieultor 11 X 195 31 19 X X R. G. Morte X X Jornaleiro 11 X 196 24 17 X X Para’ X X Nenhuma 11 X 197 36 32 ■ X X X X Serviço dom. 11 X X 198 45 39 X X Maranhão X X 11 199 25 11 X X Para’ X X Marítimo 11 X 200 25 18 X X | Rio de Jan. X X M X 3 j 37198 i 48118 135 65 153; III j 30 88 86 15 13 1 4 32 ]72162 '|20 li FAMÍLIA LEPROSA Diagn. clinico FESQDIZA DD BACILLO DE HANSEN REACÇÃO DE WASSERMANN B V ■■ * 1 • SjB- ptonia • s i I oS j No muco nasal Na pelie Nos ganglios E o +•< c (U 6 £ O 4-» c a> 6 C3 Observações _ 1=L CU =: aa B s£ B d 1 5S 5 1 s 1 s 1 Pos. Keg. ros. Keg. Pos. Heg. £ M 5 H ,, 1. 41 20 5 49 91 08 110 40 Manchas X X X 1911 Hygienico >> x X \ X 1916 Especifico Wttesia \ X X X X X 1920 1917 M Hygienico Manchas X X X 1916 Especifico Manchas X X X X X X 1920 1919 X X X X X 1918 1920 Hygienico Falleeeu ll " X X X 1921 Especifico Manchas X \ X 1918 X X X 1915 Hygienico Falleceu X X X 1903 X X X 1906 Manchas X X X 1916 Nenhum Nascida no Leprosario X X X X X 1915 Hygienico X X X X 1919 » X X X 1917 Mancha Manchas \ X X X X X 1913 1917 Especifico X X X X X 1911 Hygienico X X 1921 Específico » X X 1920 Hygienico )) X X 1918 Especifico Falleeeu U X X 1919 Hygienico X X 1919 Especifico Jí X X 1918 Hygieoieo X X 1917 Específico 1* X X 1920 Hygienico X X 1917 X X 1915 Especifico tymena Manchas X X 1919 Hygienico [ í X X 1917 1919 Especifico X X X 1918 X X X 1919 n Mypoesthesia Manchas X X X X 1912 1921 Hygienico Falleeeu X X 1920 Especifico ítlShesia dedos "•anchas X X X X X X X X X X X 1919 1918 1918 Hygienico )> Falleeeu X X 1920 Especifico X X 1914 Hygienico >» X X | X X 1914 Especifico ijJÃwia "MPoesthesia ■-05tN5i-J ã N.° da Ficha I~i:i4i-05t010c0t0t0ht‘.t0hj'r--t0t0i£-l0 :t0i4i.tOlO^.>(*.-g 3. Actual COCO K K w ►— l\0 CO CJl to H-*> K K CO h* K to : o o • Dos primeiros sympt. m | 09 I Menos de 1 atino De 1 a § annos c*a ~ De 6 a 10 annos *» CJ1 XX X X X X X X X X 'XXX X s De 11 a 20 annos X X X X X X XX X X X X X X X X XXX “ De 21 a 35 annos a XX X X X X X X XX X X S De 36 a 50 annos X X XX x . t ... s Mais de 50 annos ã XXXXXXXXXXXXX X X X X X X XX XX X XXX : x g Masculino 23 xxxxxxxxxxxxx XX XX x ■•> ’» X XXX S Feminino X * * S ■ S*'SS r° 5S__ 3*« - - w ~ 2* £gv, n, S j* » 2a™ 2*^2S- ç 3 2 ®®, o fw o jpS> yv\ gi9 su >--4“ po pj. f*®* —| jãS» ja»« —4» pa 2* 3« “"a * *~T* • ■* CO —o PU ■* 1 3- £131 CO CD “ 5" ° Ct» C3 *3. X=u» S= K3. —S CO S^í S3 XXXX X X XX XX gs Branca ■' ss X X X X X XXXXXX XXXXXX XXX XX XXX X X X X X X XXXXEi Mestiça oa cn X X X X X s Preta Sn XXXXXXXXXX XX XX XXXXXXXXX X X X X x ■ X gs Solteiro X XXX XX X XX X SC Casado C*T n cxv XXXXXX X s Viuvo = i =3 XX X Xe Menor de 15 annos -T* « g»„ S* S* _ 3 _ „ g* _ „ g» ro £| W TO ° S7 coT .£* gf “ *»- c? S g>" “ “1, “ «=J ro 2i » C»" |°| “g-’!* “ir ® sí i- » s s i 1 s 1’ ° i' - | 1 § i *s §■ 3 3 2. g- 3 2. g- 3 -• s 2. 3a3--i;; - a2. 3 a 3 , a £ 3 ® o ° 2. g- ~ =. Êf 2. 3 2. S* sa. 3 g- s-g-asug-BSMoog s*o»»---^-c|3s»>j||a,.«™aí|j* gesS S» õ5* CO J39S ca CB saa CO 5»’ - 1 s cra £*’ — - Menos de 1 anno | CJO 1 i X X ♦ De 1 a 5 annos s S :£ X XX X XXX XXX Vi X ss De 6 a 10 annos JP sL. 23 X XXXX X X XXXXXX XX S De 11 a 20 annos j g J X XXX X X X X X X st De 21 a 35 annos ST 1 \ . X XX X X XX s \ De 3D a DD annos \ .. X -. \ vte te nn amos / s* L* i / » 1 * gS, esr «T Í3C CO **• s- sr ss **° s? **f s* o* * s? ir **° s* ss «ir CO *2. 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X X X X >1 X X x X xx X De 21 a 30 annos S3 I «3 i O ■ X X X X X X ■ X X X X s Do 38 a 00 annos j ?= ; «ao XX X > X XX Mais de 80 annos JIL X X X X X X X X :x >1 ;* x x -y, XX X X X X X X X X X X X X X X \ X X i Masculino 09 sê X’ X' X X xxx XX "X X X X X x X X s Feminino >< C=D —a s» Sã C3 Í-** * * * CD S* Sr Portugal Ceara’ Amazonas Ceara’ Para’ Amazonas Ceara’ Para’ Portugal Para’ R. G. Norte Para’ -rj * _ * M 5* 3* m P? •“Ij ps jp po* í-"' pS* 2* S3. po* 09 ca* CD t _.: - j t __ cd - ps q a? • O ‘“aC- » 2 » ■ s» =3_ SM - - CD CD CO ST ? SB S4D __ —a »3 q; »- a®- S»3I o- W saa s= s- CO £30 ss X -X- X XX XX X XxX ■• X X x X X X x~ x X s Branca x x x XXX X X X X X X x X X X X X X X X X X s Mestiça X XX X X 1* X s Preta jg X XX X X X X X X X x x X X XXX XXX XX X — Solteiro e5 X x X XXX X X X X x Casado C-D S l?sO X X •» xx X ES Viuvo cr- J=3 X XX XX XX X X XX =1 Menor de 18 annos i||| |f 2 £ H C 3 §* §• o ® 3 s- -* » 8 s* 149 3 r? g i|l|ii|g|'' ' 1 a, ” 1' aa. S» 3 »> 12 »» *r* 0 2 -» rw c ° c= “ g F 3 “ s ií I1 i f |. E f i i" s J- i g I- g||«| ~s' 1 a. S - a||l|ia|ia'J S ra. 1 § g 3 ~ “ 1 ° | s =“ p “ i E 1' w S2a cS* oo P0 \ C=3 e— CO 5»’ Resídeneia — - Menos de 1 anno °° X X De 1 a 8 annos 2 C»3 SS X X x XXX x xx £ De 6 a 10 annos é* S- ss X X X XXX X X X X s De 11 a 20 annos 5 3 \ -- * - xt X X X X X X X ~ De 21 a 38 annos Is \ v: ‘X X. X ., '/, 'X*. te U a 80 annos I S r' \ v - - - ----- - _ * V. v>». -X*. >toY3, to m A _\ 1,3 Syia- Ptoiaa FAMÍLIA leprosa Diagn. clinica PESQÍIIZA DO 8ACILL0 0E HANSEN REACÇÃO DE WASSEHMANN Isolamento em i Tratamento Observações 1 ea 1 .1 E 5 c* 1 ca : No muco nasal Na pelle Nos ganglios s. s E Pos. 1 Neg. Pos. I Neg. Pos. Neg. ""esthesia lancha *^4esia Wanehas a . "ancha *ní%sia Queila Jaaehis " ««sthesia Al,fisíhesia Vhesia ®anehas }} ."anehas *phesia i» *^'íiiesia "sufixas /jfQpt:iâ "SíKftâS yy yy yy yy >> Viiiesia "J3?has 16 1 1 23 X X X X X ii X X X 31 ix X X X X 12 X X X X 72 X X X X X X X X X X X X X X X X A X 1 X X X 18 X X X X X X X X X X X X X X 26 X X X X X ■ x X X' X X X X X 173 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 88 X X X X X X X \ X X X X X X X X X 1921 1915 1921 1921 1915 1919 1913 1920 1920 1915 1920 1921 1920 1921 1913 1920 1916 1909 1909 1916 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1921 1922 1922 1922 Especifico Hygienico Especifico Hygienico Especifico yy yy Hygienico Especifico Hygienico Especifico M Hygienico Especifico Nenhum Hygienico »t n n Especifico Hygienico Específico M Hygienico Específico Hygienico Especifico Hygienico Especifico yy V i» yy yy yy yy yy yy yy yy Hygienico Especifico Hygienico Especifico yy yy >> Hygienico Fafieeeu E’ mala Faliecea Falleceu Caso suspeita Falieseu Falleeea Falleseu Falieeau Faiieeeu Faileceu Som afia de ordem superior Falleceu Falleeea Falleceu II16 26 2 74 38 16 32 32 103 233 36 1 ■■ . M M M M 05 O O O O O jf O* rft. 05 tO 1-k S N.° da Ficha === tõ *-■ tu to to = Ci o >-*■ to — Aetual css s c*a i c’ 30 CO CO xst* CO SB C9 33* — - Menos de 1 anno i S*3 >i ft -S — - De 1 a 5 annos gn 15 De 6 a 10 annos Sê X .X ss ! De 11 a 20 annos X = | De 21 a 35 annos 1 sr 83 \ v, ~ \\ to to a to amos \\ => ? — \ ~ \ Vk»!& te OR wm \ RESUMO: Total de fixas 305 sexos: Masculino 200 Feminino. 105 305 Solteiros 142 rQT.nft Casados 107 EfeT ADO Vjuvos 27 Menores 15 annos.. 28 Não informa por sof- frer fac. mentaes. 1 T0ta1.... 305 raças: Branca... 85 Mestiça .. 178 Preta 42 305 284 são brazileiros e 21 extrangeirds. Pará 107 Sergipe 2 Ceará 45 Bahia 2 naturalu Rio' G. do Norte... 22 Rio de Janeiro 2 Maranhão 15 Piauhy 1 dade dos Parahyba 10 Espirito Santo... 1 bràzileirOs Amazonas 9 Paraná 1 Pernambuco 3 Goyaz 1 Alagoas 2 Não informa 1 Total 284 Naturalidade dos 21 extrangeiròs: Portugal 8 Perú I Hespanha 6 Italia 1 França 4 Turquia 1 Total 21 EDADE ACTUAI. DOS ASYLADOS t EDADE EM QUE ADQUIRIRAM A DOENÇA ; De 6 a 10 annos 7 De 11 a 20 » 64 De 21 a 35 » 133 De 36 a 50 » 71 Maiores de 50 » 30 Menor de 1 anno I De 1 a 5 annos.... 8 De 6 a 10 » .... 53 De 11 a 20 » .... 99 De 21 a 35 » .... 82 De 36 a 50 » .... 34 Maiores de 50 » .... 12 T0ta1.... 305 Total. 289 Faltam informações de 16, dos quaes 2 soffrem das fa- culdades mentaes e nada dizem que mereça fé; 3 casos são apenas suspeitos; 3 nada têm e 8 nada souberam informar quanto ao inicio da doença. Quanto á existência de outros casos de lepra em suas famílias, obtive desses doentes as seguintes preciosas infor- mações ; / ST CO- 1 Sg-s «f 1 3= s; Pae leproso família leprosa S3 Mãe leprosa ~ Atús leprosos -fc- 52 Cônjuge leproso se Irmãos leprosos 55 50 Outros parentes lepr. 5 X gg Lepra tuberculosa Diagn. elinieo X X X ss Lepra anestliesiea x g Lepra nrixia X = s No muco nasal w o ca sS =2= CD oa o X X X 38 M 5 ta co ss — P9 CO M s *s e~*. s CO $ u X Positiva CO »»• c*a 09 x» co «n t*a > >> 91 Tamoyos, 13-A X X X X X Ceara’ X X v Dr. Moraes, 80 X 11 Ih 12 X X Para’ X X Monte Alegre, 12 X 12 17 15 X X yy X X yy Gentil Bitten., 5 X 13 14 15 16 17 18 17 12 28 22 25 33 14 11 27 21 22 31 X X X X X X yy Hespanha Ceará X X X X X X Serviço dom. Nenhuma Carregador V. Guarany, 57 Tamoyos, 4 João Balby s/n X X X X X X X X X Pará Itaiia Pará X X X X X X Electricista Engraxado? Marítimo José Bonifácio, s/n 9 de Janeiro, 21 Monte Alegre, 3 5 X X X 19 20 4ò 22 41 18 X X X X R.G. Norte Pará X X X X Nenhuma Conceição s/n Lomas Valent., 25 X X 21 22 23 32 16 33 25 14 X X X X R. G. Norte Para’ X X X X yy Serviço dom. V Guarany, 108 Conceição, 2 7 X X X X Ceara’ X X : Guarda iiíand. Oliveira Bello s/n X 24 21 19 X X Para' X X Nenhuma Curuzú, 21 X 25 26 27 28 29 30 31 3° 37 26 o 34 21 3 17 n \ X X X X Portugal Ceara’ X X X X Serviço dom. Agricultor Benj. Constant, 4 Av 25 Dezembro, 5 X x 19 19 9 45 38 38 17 45 20 15 11 15 37 15 20 48 10 42 23 14 28 15 12 X X X X X X Para' Para’ X X X X X X Nenhuma yy Polidor Cons. Furtado, 88 E. S. João s/n Curuçá s/n X X 35 32 36 15 42 18 11 9 X X X Ceará X X X X Nenhuma yy A. M. Theodoro, 2 Jurunas, 9-A X X 33 34 35 36 37 38 X X X X X X X X X X X Para' R.G. Norte Amazonas Ceara’ Para’ V X X X X X X X X X X X X » Serviço dom. Operário Nenhuma ú Serviço dom. Bom Jardim, 21 S. Jcronymo, 28 Romu. Seixas, 46 Caripunas 180, Humaytá s/n 14 de Março, 100-c X X X X X X X JJ X X Nenhuma T. Villeta s/n X ÓÔ 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 30 14 19 40 2 34 14 13 26 12 111 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X yy yy yy Rio G. Norte Para’ y> R. G. Norte Pernambuco Para’ X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X ” Empre. no Com. Serviço dom. Cozinheira Jornaleiro Nenhuma »» Serviço dom. Estudante Nenhuma Av. Ceará, 57 M. Barata, 93 Lauro Sodré, 136 Campos Salles, 40 3 de Maio s/n j Marq. Hcrval, 9 Pedreira (3 Tr) Curuzú s/n 9 de Janeiro s/n T. Chaco s/n T. Curro, 4 X X X X X X X X X X X X 1! II | 11 4, 20 13: Iljl II h| 181 24: 22141 22 » 3 12 li II 1 il 1 3, S IS III sl ' INSTITUTO THERfIPEUtICO Dfl LEPpfl / * M- " - ri*u g m S Jf §■ ~ - ■s.s r S sf. : ” j|f as ar »»r á*? »»' M /» 3 S | | f g & " fi«£££ S B tu 1 Al s S a : * _ * j®' _ # i §' “i»irg111®if ® si cS’ 5ã 4/5 i? 00 <=> * * « * _ s- ?f|l-M S M S-ã&SJgS-S-s^ g £° o? S- s- & ~ ~ f s f 1 ** s i. Pae leproso ■^3 Mãe leprosa SS Àvís leprosos 5£ ' ' Conjugo leproso C*3 — * ■ - . _ i Irmãos leprosos H X Outros parentes lepr. X X X X X X X X XX X X Lepra tuberculosa 2L ca oTd X XXX XXX XX X XX X M M M X Lepra anesilieslca 03 PO “•ca E5 XXX X xxx X X X XX XX XX XX X Lepra tnixla C=3 X X X X X X xxxxxxxxx X X x xxxxxxxxxxxxx XX XXX X X X X s = 5 S» =3 «O XXX' X X X X X X 1 ? C=3 ls-3 s» X -B - X M W ca PO e=s f g “ — X X X X XX X X XX Positiva 733 33» m eso X X X X X X X xxx X XXX X X X X X X XXX X xxx Negativa co c—» 5*3 3=-a SS «=» - X Antí-eomplementar S3 ” : « - 5 - = = s - 3 3 3 3 3 3 3;:=:;: - 3 3 3 3 3 3 3 3 - 3 3 3> 3 3 3 3-3 3 .3 3 s' 3 3 5 3 3 ■* - - a Isolamento - * s 3 3 - 3 - - i í 3 2 3. 333ÍS52SS. 2S3S - - s 3 S S S : 3 3 3 2 J Tratamento - * 0 o" i/» ra —i -< CJ -o 01 ra iA 78 c3 ; f5 I EBADES EDADE ACTUAL j SEXC naturali- dade RAÇA ESTADO CIVIL Profissão | Residência Edade em que a do- ença se manifestou E | ctí i H ’ E: M z s s g s= g J EE s 2. ec i -s O ss ec si cr» De 11 a 20 annos g c= ura I s cg S? cC «5 »;i Transporte i i 4 20 13 11 1 34 18 24 22 4 22 13 3 12 3 8 18 6 51 1715 X X Pará X X Calaíats T. Curro, i8 X 5214 10 X X X X Nenhuma Cons. Furtado, s/n X 53 17 8 X X 5? X X Sapateiro Benj. Constant, 113 X 54 21:19 X X ,, X X Marelneiro T. Humavtá s/n X 55 12 9 X X X X Nenhuma R. Pariquis s/n X 56 27/24 X X Amazonas X X Serviço ilcm. 3 de Maio s/n X 57 22:16 X X R. C. Norte X X Nenhuma ,, X 58 33||26 X X Ceará X X R. Curucá s/n X 59 1310 X X Para’ X X t) X 60 11 6 X X 33 X X 33 X 61 40 21 X X „ X X 31 Caripunas, 251 X 62 40 32 X X Hespaníia X X Bernal Couto, 9 X ,!] 63 54 51 X X Portugal X X Jer. Phnentel,4Q A y 1 64 30 29 X X Ceara' X X T. Bôa Vista s/n X 6o 26 25 X X Para X X Fune. publico 3 de Maio s/n X 66 45 42 X X R. G. Norte X X Operário 14 de Abril, 137 X 67 30 26 X X Hespanha X X lavadeira Gentil Bitten., 73 X 68 10 8 X X Para’ X X Nenhuma Diogo Moya, 23 X 69 25 17 X X Italia X X Pedreiro E. do Una s/n X 70 49 43 X X liaranliào X X Nenhuma R. Pariquis s/n X 71 9 7 X X Pará X X X 1 72 9 8 X X X X Estudante X 73 13 7 X X X X Nenhuma S. Amaro, 78 X 74 15 11 X X X X Villa União, 196 X 75 16 12 X X X X * V) Boul. Freitas, 63 X • j 76 22 19 X X ! R. G. Norte X X Jardineiro 3 de Maio, 67 X 77 16 11 X X Pará X X Nenhuma C. C. Branco, 220 X 78 10 5 X X „ X X Caripunas, 213 X ll 79 26 23 X X Syria X X E. S. João 157 X 80 18 10 X X Para’ X X Mundurucús s/n X 81 18 14 X X R. G. Norte X X Curuçá s/n X 82 18 11 X X Pará X X X 83 8 6 X X U X X 11 Campos Salles, 144 X 84 18 8 X X X X Ant. Baena s/n X 85 22 20 X X Portugal lx X R. A. Ervedosa s/n X 86 7 6 X X Para’ x X Arist. Lobo, 194-A X 87118 17 X X Ceara' . X X Av. Ceará, s/n X 88 25 23 X X ! Maranhão X X Curuzú s/n X 89 32 31 X X Paraliyha X X Fogtiisia Villa Ypiranga s/n X s 90 55 52 X X Hespanha X X Lavrador S. Jeronymo, 196 91 6 5 X X Para' X X Nenhuma S. Amaro, 58 X 92i39 27 X X Parahyha X X A. Ceará, 132 X si 93 53 52 X X Portugal X X R. Conceição, 4 s 94 60 55 X X Hespanha X X Campos Salles, 47 s. 95 55 44 X X Ceará X X Av. S. João, 106 96 44 38 X X Portugal X X Vassoureiro Q, Bocavuva, 8 V i 97 44 38 X IX Alagoas X X Funileiro Villa Izabel s/n 98 8 7 X X Para’ X X Nenhuma Lauro Sodré, 130 X 99119 18 X X 11 X X íend. ambulante Tamoyos, s/n X 100 24 22 X X 11 x X Engommaileira E. S. João s/n X íi 1 II 1! h 12 se | n 18 1 S 1 1 72128; ll 1 i 54 40 B 43 i27 8 28 S 20 III» ll j tn *•«?* c? tta* / s .-* s s- s a # „ _ ., „ „ „ / - » = S*|S' ê S S 3 •■ | | 3 1 | | / S SP g 3 s M. " °S S “ " « s / S g ST “ f f “ fr e l ###:|| - ~ ■§Sh L EL s: _ s Z E- S. e sr 3 M S ; S 3 / íf 1 — X Pae leproso 1 1 X X X Mãe leprosa 1 B — X Avís leprosos £ Cônjuge leproso M j X XXX X X X X - Irmãos leprosos 5*3 1 Sa X X X X Outros parentes lepr. XX X X XXXX XX M M x x ' x x ■ *■* í= ! Lepra tuberculosa 1 ca ,—, X X X X XXX XXXXXX X XXX >f X X = Lepra anesthesiea S‘j5* i ro X X XX X X X X = Lepra mixta «=. r3 X X X X X XX X xxxx XXXXXXXXXXXX X XX XXX xxxxx xxs 5* 1 =3S LJ~J| H 3 i XXX XXX X X X XXX X J= 22- g o ! - - ss= ; »m C=3 - - ~ Sú M ■ ** Cr3 er> oa = 3» «a po pj r— j “ jj S | ” X XX xxxx X XX X xxxx X X XX XX X = Positiva pa XX X XX X X X XXX X X X X X XXX 3 Negativa C*J" Tratamento CD 1- '. ■ :- &a CO* * ; ■ - 1 0 cr i/> ro ~~s < U) -r» 01 i^i IS> 80 ] ESTADO Edade em que a do- a A EfiSDES EGâB ACTUAL | sem ; Hip CIVIL enrase iminifcs ou A £ CS X) - t s 1 % § 1 g fiaíurali- dade 1 Profissão HesiÉncia 1 1 1 I CC. •& 1 g i £ — c= S ! s 4= (X3 *5 £ — B etí z «b S n ! | 2. a e ! S s 1 | = cg (A $\ « si s s « s s s íe * 1* 11“ 1“ !*■ se C=J 1=3 6=3 ífaiistopie 1 12 36 21 18' 6 12 28 64 40 6 43 21 5 26 8 20 31 28 11 4/ 101 15 14 \ X Para’ X X Nenhuma E. S. joâo, 118 X í 02 27 24 X -X B. G. Norte X X V R. Pariquis s/n X 103 14 7 X X Para’ X X T. Mercês, 4 X 104 31 26 X X X X Marinheiro Mundurucús s/n X 105 41 40 X X Parahyha X X PeilreifD C. Furtado, 174 106 50 45 X X Kespaiitia Para X X Nenhuma Pupinambás, 7 v ■; | 107 9 1 X X X X M Diogo Moya, 23 X s 108 57 51 X X Kespaniia X X n Av D. João, 212 ’■ 109 10 8 X X Papa' X X Mundurucús s/n X 110 5 3 X X X \ Tupinambás, 15 X 111 14 10 X X X X n jer. Pimemel, 74 X 112 12 7 X X X X C. Furtado, 255 X 113 48 33 X X Ceará X X Empre. no Cem. Lauro Sodré, 241 X 114 10 8 X X * Para' X ‘ X Kenlsuma Jer. Pimentel, 74-A X 115 21 20 X X Ceará X X Aristides Lobo, 3 3 X 116 28 27 X X R. G. Norte X X Jornaleiro Duque Caxias, 108 \ 117 24 18 11 X X Para' X X Nenhuma Monte-Alegre, 64 X . 11 118 15 X X X X 19 3 de Maio, 164 X ■ ■ 119 10 8 \ X .. X X S. Miguel, 20 X 120 19 6 X X X X >1 Monte-Alegre, 72 3 de Maio s/n X 121 10 8 X X X X r? X 122 49i45 X X Portugal X X Servente S. Francisco, 20 123 13 7 X X Para’ X X Nenhuma Villa Guarany, 9 X • 124 14 7 X X X X 11 T. 9 de Janeiro, 3 X 125 9 7 X X X X 99 X 126 50 45 X X - Ceara' X X Villa União s/n 'k 127 15 14 X X Para’ X X Mundurucús, 150 X i 128 46 39 X X Pernambuco X X Serz. Correia, 74-A 129 14 6 X ,x Para X X E. S. João, 174 X 13049 43 X X Ceara’ \ X « 95 19 . | 131 39 31 X X X X Carreiro Av. Ceará s/n X 132 54 49 X X X X Neiiliuma . S. Joao, 93 133 15 8 X X Para’ X ■ X T. Curro, 30 X 134 46 40 X X Ceara’ X X T. Humaytá s/n 135 14 10 X X Para’ X X 2 Dez., V.-’Nova, 3 X 136 10 8 X X M X X Boav. da Siiva, 41 X 137 9 5 X X X X A. Pedro M. (Ped.) X 138 17 13 X X ,, X X — T. Dr. Freitas, 152 X 139 14 10 X X .. X X — Q, Bocayuva s/n X 140 12 11 X X X X Nenhuma 5.a T. da Pedreira X 141 15 13 X X X X E. S. João, 118 X 142 23 22 X X Ceara’ X , X Carpinteiro C. C. Branco, 59 X 143 12 9 X X Para’ X X Nenhuma V. Guarany, 63 X 144 11 8 X X X X’ T. D. Pedro, 32 X 145 17 8 X X X X Villa Pombo s/n X ji 146 21 17 X X L 6. Norte X X Empreg. no Cora. Cons. Furtado s/n X 147 49 43 X X Portugal X X Alfaiate F. Guimarães, 53 V 148 41 37 X X Alagoas X X Nenhuma T. D. Pedro, 25 149 16 10 X X Para’ X X »9 T. Bòa-Vista, 5 X x s 150 39 38 X X Portugal X X Sapateiro 28 Setembro, 95-A íi! 2 2fl| S6 \u iâO.i b| IBS «i 1« 55 B i 80 as iM e 40 40 n 2Í liis4h^lHlM-(!!h!!UHiifíh{nínhí:'shu if 7 crr XXX X — Pae leproso FAMÍLIA leprosa •e* X «-» Mãe leprosa — - Avús leprosos Conjugo leproso Grt x x x x " Irmãos leprosos CO X XXX C” Outros parentes lepr. £: X XXXX X XXX X X X Eâ Lepra tuberculosa Diagn. clinico XXXXx xxx X X XXXXXXXX XX X X X XX X XX * Lepra anestliesiea s X X X X XXX XXX ES Lepra mixta X X X XXX XX XXXXX X XXX X X X X XX X XXX XX=â 5 No muco nasal FESQDIZA DO BACILLO DE HANSEN s XXXX X X XX XXXXX X X XXXXX X ES Jf - - f e=s CD - - Jr 3? CS=2 B9 tS S1 ~ CO oa J= XXX X XX XXXX XX X X SS Positiva pcs s=*> c*a cxa 3=» c*aS P3 » S C=3 SC- SB «7» GJfl XX XX XXX XXXXX XX X XXXX s Negativa CO x< «*» Anti-eomplementar e=3 n Isolamento em “ v i i Tratamento Observações 82 N.° da Ficha | EQADES EDADE ACTUAL SEIO Naturali- dade RAÇA ESTADO CIVIL ppoíissão Residãiieíâ Edade em que a do- ença se manifestou S = s s S s j 1 s eC .1 n 0 M H s i % eC pá C=3 1 ss % s Trasisporíe 2 20 os u 00 8 109 41 36 36 8 80 39 T 44 8 40 40 33 23 s 151 10 6 X X Pará X X Nenhuma R. Conceição s/n X 152 21!|20 X X n X X Ferreiro T. Timbó s/n X 153 25 19 X X Coará X X Caldeireiro E. do Una, 6 X 154 14 11 X X Para’ X X Nenliunia Monte Alegre, 64 X 155 31 28 X X Ceara’ X X Estivador E. do Una s/n X 156 18 12 X X Pará X X Nenhuma Arist. Lobo, 26-A X 157 17 10 X X X X Estudante Curuçá, 45 X 158 57 56 X X Ceara' X X Lavrador T. José Pio s/n s 159 10 7 X X Para’ X X Nenhuma Curuzú, 31 X 160 38 35 X X X X igrlenitor E. do Marco X 161 18 17 X X X X Pedreiro L. do Carmo, 2 X 162 17 10 X X X X Nenhuma Villa Corôa s/n X 163 21 7 X X ?> X X T. 9 de Janeiro s/n X 164 19 15 X X X X Gentil Bitten., 210 X 165 15 9 X X X X Villa Izabel s/n ,x 166 19 16 X X X X Encadernador Cons. Furtado, 65 X 167 16 8 X X X X Nenhuma Ruy Barbosa, 30 X 168 46 41 X X Paratiyha X X Pintor T. Humaytá, 207 X 169 11 6 X X Para’ X X Nenhuma Cons. Furtado, 180 X 170 37 34 X X Portugal X X „ „ (V. Sol) X 171 11 8 X X Para’ X X E, A. Tamand., 12 X 172 60 53 X X Hespantia X X S. Amaro, 22 X 173 34 23 X X Pará X X E. S. João s/n X 174 25 23 X X S. Paulo X X 28 de Setembro s/n X 175 17 12 X X Pará X X S. Silvestre X 176 18 14 X X X X Villa Teixeira s/n X 177 15 8 X X X X Mundurucús s/n X 178 19 12 X X X X T. D. Pedro, 25 X 179 10 7 X X X X T. Rom. Seisas, 95 X 180 12 6 X X X X ,Cons. Furtado, 86 X 181 jl2 8 X X n X X T. 9 de Janeiro s/n X 182,124 16 X X Alagoas * X Tel. s/fio (Escond.) X 183 8 6 X X Para X X Caripunas, 30 X 184 36 27 X X Ceará X X T. M. Evaristo s/n X 1851150 47 X X Pernambuco X X Serviço dom. R. Curuçá s/n X 186110 5 X X Para’ X X Nenhuma T. Curro, 30 X 187 40 39 X X Paraliyba X X Pedreiro C. C. Branco s/n X 188} 7 6 X X Para’ X X Nenhuma Ananind. (E. F. B. X 189 17 14 X X X X T. Timbo’ s/n X 190 17 15 X X X X Marcíneiro Av. Ceará, 52 X 191 16 10 X X X X Serviço dom. 3 de Maio s/n X 192 9 8 X X X X Nenhuma E. S. João s/n X 193 18 14 X X X ; X 3 de Maio, 125-A X 194 9 1 X X X X Mosqueiro < X 195 25 13 X X X X D. Pedro, 29 X 196 17 15 X X Coára' X jx Lavadeira T. S. Matheus, 7 X 197 14 14 X X Para’ X X Serviço dom. 9 de Janeiro, 406 X 198 24 20 X X X X Nenhuma 14 de Marco s/n X 199 12 10 X X X X E. do Una, 11 X 200 18 15 X X V X X Teleg. s/fio s/n X — 2 n eo!« 35 ia 140 60 106 80 9 81 41 8 88 11 9 SB 59 39 26 I 83 I S s § S |s S| » °|"fs' * S S“0 | “ ° s S 5' Í S « f# ( CO 5 X X X X Pae leproso FAMÍLIA leprosa CXI X Mãe leprosa oo X - Avós leprosos Cônjuge leproso =3 X X s Irmãos leprosos E3 X X X Outros parentes lepr. en X X X X X X X X X X X X XX * lepra tuberculosa =3 na —-*eca S r3 X X X X X X X X X X X XX XX KM XXX X X xxx ><1 X X X X sâ Lepra anestliesiea CDO XX X XXX =3 Lepra mista s XX XXX X XX x X X X X X X X X X X XXX X X X X X X X XX X X X M -a =35 li na —3 OO 5=1 'SR P9 S co — cd SB» S j=j cxa c*a era 2= 3ra» cr— cr— era C*3 c-n X XXX X XX X X XX X x X X X £ - - * li *S ss _ no - - s? ' “ M i 1“ s XX XX XXX x X X X X X £ Positiva na erra tS-CTS saa 3=»» o S? era s XX X XXX XX X X X X X xxx XX XX x s Negativa 0*3 ~ intl-eomplementar sa.saassísssss.sassssssssssssssssssssísísassjssassis^ Isolamento 09 CD Tratamento O cc tm ro —! -< CO -o o« ÍD UV i 84 __________ «jr cí EDADES EDAD i CTDAL SEXO RAÇA ESTADO Edadc cm que a do- A a CIVIL cnça se manifestou E- Naturali- oo -a o S f s 0 LÍI9 i dade s Profissão Residensia "1 S i % éá z 1 sL 03 OS OS í z í s= 1 s. -2 *s 1 s 1 r etí = as s s 3 as * 3 s s s s ã Transporte 2 28 80 45 35 10 140 80 108 85 8 87 47 8 58 1 9 53 59 39 26 1 201 10 7 X X Pará X X Nenhuma R. P. Prudencio, 8o X 202 32 24 X X X X Villa Izabel, 31 X 203 10 5 X X Rio c! Norte X X 204 35 28 X X X X R. S. Miguel s/n X 205 14 11 X X Para’ X X Av. Ceará s/n X 206 18 14 X X Ceara' X X TV Caripunas, 14 X 207 28 16 X X X X Villa Izabel, 13 X 208 12 9 X X Para’ X X R. dos 48, 8 X 209 47 33 X X Hespanha X X X 210 25 20 X X Ceara’ X X T. 22 Junho s/n R. Pariquis s/n Paes de Carv. 58 X 211 15 9 X X R. G. Norte X X x 212 22 21 X X Amazonas X X Marítimo X 213 12 2 X X Para’ X X Nenhuma Canudos s/n X 214 45 41 X X Piauíiy Para’ X X T. Piedade, 47-A X 215 5 4 X X X X E. S. Braz, 119 x 216 28 27 X X R.G. Norte X X Serviço dom. E. S. João, 208 X 217 34 32 X X Ceará X X 14 de Abril, 142 X 218 16 tí X X Pará X X Nenhuma R. Conceição s/n X 21y 7 62 X X „ X X TV D. João, 101 X 220 9 20 X X „ X X )) L. S. José, 5 221 21 X X X X TV Mocajuba X 222 40 39 X X X X Lavadeira Ruy Barbosa s/n % 223 27 25 X X „ X X Lavrador Uribóca (interior) X 224 23 10 X X X X Nenhuma T. do Curro s/n 225 19 16 X X X X 3 de Maio, 117 X \ 226 40 11 X X X X Cons. Furtado, 9 227 17 15 X X R. G. Norte X X 3 de Maio s/n x 228 20 13 X X Amazonas X X TV Cov.(atrazM.S. B.) X 229 7 1 X X Para’ X X C. C. Branco, 31 x 230 331 10 60 4 58 X X X X Ceará X X X X TV V 99 R. João Balby, 53 X X\ 232 54 46 X X R. G. Norte X X T. Maurity, 183 X 233 18 12 X X Pará X X S. Jcronymo, 220 X 234 45 43 X X Ceará X X Cov.(atraz M. S.B.) X 235 10 8 X X Pará X X M. Evaristo, 45-A 236 30 23 X X Portugal X X Estivador Q, Bocayuva, 39 X 237 58 52 X X Respanba X X Lavrador R. 28 Setembro. 89 L. S. Braz, 7 Th. Cond. (Can.) 238 239 13 12 8 6 X X X X Pará V) X X X X Nenhuma X 240 40 33 X X Ceará X X Pinheiro X 241 12 4 X X Pará X X 242 13 10 X X Portugal X X S. Amaro, 44 243 26 19 X X Amazonas X X Serviço dom. R. Curuçá 244 bb 54 X X Ceará X X T, 22 de Junho s/n 245 39 30 X X Pará X X Nenhuma Pariquis, 3 Villa Téta, 2 \ i 246 18 13 X X X X 247 50 45 X X Italia X X R. Conceição s/n X 248 29 25 X X Pará X X Serviço dom. Paes de Carv., 174 X 249 3b 31 X X R. G. Norte X X Lavrador Castanhal (E. F.B.) X 250 51 44 X X Parahyba X X Serviço dom. Ramal Pinh. ,, X > 3 38 94153 ti 15 !I0 30 132 109 9 139 09 9 13 1 15 61 n SI 32 m 85 /_ s, *!„ •' J'srM^s-srsr^&Sa ll-lnêt li zi*f| *. **S í|ií- »j# if f»e = f «■ = P ã ° sf™ ° " s r L L § JT Ê § _ ll f- ” S II |f 3 g I 3 f = f i Mãe leprosa ■ H5 rso ►o Avús leprosos 5* — X Cônjuge leproso tr— C*3 O X =3 Irmãos leprosos 5X3 crta ss XX X X X X X E= Outros parentes lepr. 3a- CT» 0*0 X X X X X X X X st Lepra tuberculosa S5 X X X X XXX XXXXXXXXX X X X X X X X X X = Lepra anesthesiea 5 H en X X X X X XX X £ Lepra mixta e=. r3 s XXX XXXXXXXX X X X X X X X X X XX X X XXX X X X X s 3> “ 3 sá XXX X X X XXX X x X XX X X X X X ST pa C= o - - w s •jS C=J - - M ST pa CB m cxs as sa» s *5*» =3 ss esa M era cn XX X X X X XXX X X X XX X s Positiva 33 s X XX X X X X X X X X XX X X X X X X X s Negativa 50 3=»( - ~ Anlí-coniplemenlar g» 6=3 335333333333 3333333* 3 3 5 2 3 - 3 3 3 5 5 3 3 3 33'33333333S3 - 3 1L Isolamento rS § t/» ra —s < &J >r» , 86 EDÍ.3ES EDABE ACTUAL SEXO ifiÇA i ESTADO Edade «n que a do- CIYIL onça se manifestou £ nJ Is" i 1 1 I Naturali- dade ! Profissão Besideneia 1 1 i 1 \ I 3 2 H B s = CT3 •8 = I «tí «s «3 £ ■§ -= ■= * 2 cC oS % = * = = ss S - SE s 2 S s s ~cè 1 Ifansporíe 3 36 94 59 43 15 179 80 132 109 9 109 59 9 li 1 15 67 72 SI 82 ; Ui 251 10 8 X X Pará X X Nenlninia Q, Bocayuva, 8 X 252 11 8 X X Ceará X X 14 de Abril, 142 X 253 17 15 X X Para’ X X T.Jurunas s/n X 254 56 51 X X Ceara’ X X D. Pedro, 25 V 255 11 3 X X Para’ X X J3 Tel. s/fio (Escond,) X 256 *i 3 X X >> X X Mundurucús, 19 X 257 22 15 X X 33 X X João Balby, 29 X 258 22 20 X X Ceara’ X X Caldeireiro 5, „ 58 X 259 39 35 X X 3? X X Serralheiro 14 de Abril, 142 X 260 56 52 X X Pernambuco X X Nenhuma Gentil Bitt., 159 S [ 261 31 31 X X Para’ X X T. M. Evaristo, 4 \ 1 262 10 10 X X ,, X X 2 de Dez,, 218 X 263 12 8 X X X X X 1 264 36 35 X X Ceará X X Lavadeira Av. Ceará, 71 14 de Abril, 142 \ 265 15 10 X X ,, X X Nenhuma X 266 32 21 X X Para X X Operário Bernal Couto, 1 X 267 46 46 X X Pernambuco X X Pintor 22 de Junho, 70 V 268 269 22 6 16 5 X X X X Fará t3 X X X X Nenhuma 33 Passag. Mach., 10 Çuruçá, s/n Monte-Alegre s/n X X 1 1 270 15 X X Amazonas X X n X 271 12 9 X X Para' X X V Q, Bocavuva, 24 X 272 55 52 X X Kespanha X X 33 Triumvirato, 50 * 273 85 23 X X Ceara’ X \ Serviço dom. Mundurucús sIn s 274 3 8 X X Para’ X X1 Nenhuma 275 5 8 X X X X X 1 276 44 37 X X Aiacõas X X Serviço dom. Santa Izabel x 277 25 23 X X R. G. Norte X X Costureira G. Passos (Can.) X i 278 45 41 X X X X lavrador Rio Cu a má X 279 24 23 X X Maranhão X X Marinheiro J. Pimentel, 41-H V 280 16 5 X X Pará X X Nenhuma T. M. Evaristo, 29 X 281 2322 X X X X Encadernador Mundurucús s/n X > 282 59 55 X X R. G. Rorte X X Lavrador Castanhal (E. F.B.) 283 35 25 X X Ceara’ X X E. Limp. Puhi. Av D. (oão, 117 X 284 39 38 X X Piauhy X X Empreg. Fiih. Av. S. João, 18 X 285 14 12 X X Para’ X X Nenhuma Cons. Furtado, 244 \ 286 34 22 X X Bespanha X X Costureira S. Francisco, 20 X 287 288 28 7 27 X X X X Pará Amazonas X X X X Nenhuma Costureira T. 9 de Janeiro 47 Boav. da Silva, 62 X \ 289 9 8 X X Para’ X X Nenhuma Caripunas s/n x 290 42 35 X X R. G. Norte X X Agente Policia 1 de Maio s/n V 291 25 20 X X Para' X X Nenhuma 14 de Abril s/n \ 292 37 31 X X Ceara’ X X Lavrador José Bonifácio s/n X 293 32 X X R. G. Norte X X Nenhuma 22 de Junho s/n X 294 28 22 X X Parahyba X X Agrleullor Col. Santa Rosa X 295 22 19 X X Amazonas X X Nenhuma R. da Industria, 50 X 296 24 20 X X R. G. Rorte X X r Canudos s/n C. C. Branco, 64 X 297 32 30 X X Para’ X X Fune. publico X 298 23 22 X X 33 X X Lavadeira Ang. Custodio, 44 X 299 10 9 X X 33 X X Nenhuma Dr, Assis. 80-B X 300, 17 14 X X 3’ X X 1 33 Gentil Bitten., s/n 11 6 42 iu|nMii Uni, in|in|io| !?5 74 14 B?l 1 21 76 82 67 38 13 j § S g s| ||s|» ss Sl"llf^l”||l“ §i~ á MS g-ff IJSSS'|! CS - g » to S” «»* ST s ~ f i 3 / // S“ 3 err 1 X _ X X *3 Pae leproso s X X X - Mãe leprosa S3 £<» ~ Avós leprosos — - Cônjuge leproso c— M ès© X X X X s Irmãos leprosos § S2 X X X X X =s Outros parentes lepr. O X X X X X X X ss Lepra tuberculosa 5 x x x x x* x x x x x X X X X X x X X X X X*? X X X X X X X X X X X X X x X g Lepra aneslheslca i!ê’ «an X x X x X ss Lepra mista s * XX xx xx XX xXXXxXX X X X x X X X XXX X X X X 5 3* S3 0 52 =i <â«3 X X X X X x XX x x X X X x X X X XX X X - $ s = cn oa - - s *T3 3» - - $ r— £La CD 03 C*3 CM =s s eu» S3 S2S a ~" i/l tS ‘f3 s x X XX X X =S Fosilíva £ i§ £>© x X X X X X XX X XXX X XX X X X g Megativa oo crã c*3 ra Ui 88 rt & u s o z EDADES EDADE ACTGAL SEXO Naturali- dade ’ RAÇA ESTADO cim Profissão Resideneia Edadc em que a do- ença se manifestou — Dos primeiros sympt. ca CCS s s ã i st i n i ES g •I 1 g M Z z s s IÍ3 eC 1 ea CP I S3 í Transporte 6 42 104 TO 52 16 203 ST 103 I3T 10 125 14 14 87 1 2i T6 82 61 38 13 301 3 3 X .X Parâ X X Nenhuma C. C. Branco, 59 X jj 302 21 16 X X Ceara’ X X Serviço úora. R. Curuçá, 136 X 303 7 6 X X Para X X Nenhuma Tamoyos s/n X j 304 15 14 X X X X Cons. Furtado, 242 X 305 34 30 X X Ceara’ X X Coinmerolanle Belém X i 306 17 12 X X Para’ X X Serviço iloms. T. D. Pedro, 21 X 307 35 32 X X Maranhão X X Nenhuma F. Guimarães, 157 X 308 8 7 X X Para’ X X Dr. Assis, 12 X 309 18 15 X X X X T. Piedade, 8-B X j 310 9 8 X X n X X 11 Anhanga (E. F. B.) X 311 7 4 X X X X 11 >y X 312 8 7 X X H X X R. Riachuelo, 15 X J 313 49 37 X X Rio C. Horíe X X 11 M. Evaristo s/n 314 13 11 X X Para’ X X Dem. Ribeiro, 49 X 315 11 6 X X X X R. S. Amaro, 58 X 316 12 9 X X X X Cons. Furtado s/n X 317 46 45 X X Bahia X X Empre. no Com. Pinheiro (E. F. B.) X 318 20 7 X X Para’ X X Nenhuma R. Santarém, 101 X 319 33 25 X X Ceara’ X X Serz. Correia, 101 X 320 15 7 X X Para’ X X Fer. Penna, 147 X 321 35 23 X X „ X X Empre. no Com. Ant. Barreto, 56-D X 322 17 1 X X X X Criãflo Tamoyos, 32 X 323 15 11 X X ,, X X Nenhuma Boav, Silva, 57 X 324 13 12 X X X X apr. marceneiro Caripunas, 22 X 325 20 19 X X X X Serviço iloni. Boav. Silva, 57 X 326 20 17 X X Amazonas X X Servente Villa União, 6 X i 327 4 3 X X Para’ X X Nenhuma M. Evaristo, 4-B X 328 38 35 X X M X X Pinheiro X 329 21 18 X X R. G. Norte X X Serviço dom. Castanhal (E.F. B.) X 330 21 19 X X Para’ X X Nenhuma G. Bittencourt, 12 X i 331 12 1 X X „ X X Rom. Seixas, 72 X 332 10 7 X X ,, X X X 333 40 34 X X „ X X 3 de Maio, 159 s 334 10 5 X X „ X X S. Amaro, 19 X 335 23 21 X X Ceará X X Costureira 3 de Maio, 104 X 336 43 30 X X Respanha X X Nenhuma Mosqueiro X 337 14 8 X X Para’ X X 11 Diogo Moya, 73 X 338 17 9 X X 11 X X Villa União, 22 X 339 11 9 X X 11 X X 11 Diogo Moya, 67 X 340 20 16 X X M X X Costureira Paes de Carv, 93 V 341 13 11 X X 11 X X Nenhuma L. S. José s/n X 342 10 6 X X 11 X X 11 A. S. João, 64 X 343 56 50 X X )"> X X Cesario Alvim s/n 344 50 45 X X Maranhão X X E. S. Braz, 108 345 32 30 X X Para’ X X 11 T. Gurupá, 54 V 346 39 9 X X X X 11 14 de Março, 56 X 347 21 19 X X Rio de Jan. X X Vend. ambulante Cons. Furtado, 197 X 348 19 15 X X Para’ X X Nenhuma V. Teixeira, 30 X 349 22 15 X X 11 X X ?1 Cons. Furtado, 179 X 350 17 7 X X ii X X 1 ( 11 Barão Mamoré s/n X |4 8 §1 124 91 §7 19 233 III 183 lg|| h|!i47 83!ig {104; :| 1 27 92 91 41 hfÊ?ÊSs. /«l»li|s — E=> _ c= cr> ra 3 3 S 3 « £2. 2 D í1 3 » <” ° sr « * ss sz Js s ff s 1 3 S S — r S* _ 2? 3» - s- ~TS S. g 3- 3 z, Z- = S => ' 3 " g. " Jjf =L • S * , " * , m j ao s9 §=* * s §. z ir f f If er ís ** |T 3 3 lí 1 5? 3 3 1 flf llKlill tf CO X X X X s Pac leproso 5S X X X s Mãe leprosa sem S5 CnO . Ws leprosos 5» — - Cônjuge leproso s X X X X X X K Irmãos leprosos S» O 23 X X X S£ Outros parentes lepr. 22 x x X X x X X X X X X 3 Lepra tuberculosa cr X XX x X X X X X X X X X X X X X X X X x x X X XXX X x X X 5 Lepra anesthesiea S3* SV>* X X X X X X X X a Lepra mlxla " 5= g| XXX X X X X X X XXX X X X X X X X X X X X XX X H 3 =EB S33 cã X X X X XX x X X X X X xx XXX x x X X XXX ts ? 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Furtado, 174 X 355 26, 221 X X 11 X X Jartlineiro Caripunas, 135 X 356 9 8 X X 11 X X Nenhuma Curuçá, 28 X 357 13 12^ X X V X X Serviço dom. 3 de Maio s/n X 358 10 9 X X X X Nenhuma 14 de Abril, 76 A X 3al) 360 15 12 X X „ X X S. Miguel, 22 X 16 13 X X X X Marceneiro Villa Nova X X 361 52 óO X X X X Nenhuma C. C. Branco, 160 332 13 12 X X X X Villa Natal X 363 58 50 X X Ceara’ X X 11 14 de Abril. 174 X 334 42 33 X X X X „ iS X 365 48 44 X X X X X 386 31 28 X X X X Pintor 3 de Maio, 104 X 367 33 23 X X R. G. Norte X X Cosi. lavadeira A. Tamandaré, 2 X 338 21 17 X X Para’ X X Serviço dom. Jer. Pimentel, 32 X 369 48 40 X X 11 X X Criado Marco X 370 b; 4' X X 11 X X Nenhuma 14 de Abril, 1 5 X 3/1 25 17 X X 1 X X S. Jeronymo, 112 X X 3/2 o4 51 X X Hespanha X X Serviço iloms. S. Corrêa, 22 3/3 30 29 X X R. G. Norte X X Nenhuma João Balby, 98 X 374 8 7 X X Para’ X X T. D. Pedro, 64-A X 875 14 3 X X X X Canudos X 376 34 30 X X Hespanha X X Serviço doms. G. Gurjão, 56 X 377 40 35 X X Para’ X X Oliv. Bello, 18 X 878 11 379j|16 lo! X X 11 X X Nenhuma 3 de Maio, 80 X 15: X X Parahyba X X 14 de Abril, 76 X 330j|30 X X Para’ X X Meehanieo A. S, João, 98-C X 331 8: X X X X Nenhuma Lauro Sodré, 211-A X 382 4542' X X 11 X X Lavadeira S. Jeronymo, 36 \ 383 18 14 X X li X X Nenhuma CL Bocavuva, 99 X 384 2o 18 X X 11 X X Serv. domésticos Tupinambás, 13 X 385 27 23 X X ?1 X X Pedreira X 386 13 12 X X Portugal X X Ang. Custodio s/n Canudos X 887|llõ 13 X X Para' X X Nenhuma X 388 8 7 X X >> X X G. Deodoro, 178-A X 389 16 12 X X » X X Villa Izabel X 390 53 46 X X Hespanha X X Serv. domeslicos 28 de Setembro, 89 N 391 23 22 X X R. Janeiro X X Engommadeira Bov. da Silva s/n X 392 393 20 41 7 40 X X X X : Ceará X X X X i Coimnereiante . Nenhuma Telg s/fio s/n j Rua da Industria s 394 9 4 X X Para’ X X I Cons. Furtado s/n X 395 18 15 X X X X Barão Mamoré s/n X 393 9 8 X X X X 397 10 9 X X X X V X 398 14 11 X X X X Cons. Fort., 80-A X 399 400 tO to 00 15 39 X X X X Syria X X X X Smpreg. no Cora. Commerciante C, C. Branco, 153 Dem. Ribeiro, 71 . X X II 1 10 53 139 104185 23 2'911! 204171 19 . ISO 93 19 120 II • li |l 31102 rn Jfl /S- jS S Bf M js- - f || §3 00 £Z -a pj 09 £3 V * f s » -' SJí Sr * » ' ff 3* * i? •*» EÊ. co sB" g 11 60 1 5‘ » & |? J5 ® g S *“ 3 “ « í ■ SM S 1 s X CO Pae leproso 3= X êõ Mãe leprosa H oo “ Avós leprosos £ =» X X - Cônjuge leproso E*5 S» X X s Irmãos leprosos 22 X X X X s Outros parentes lépr. s X XX X X X X X x = Lepra tuberculosa CT> CT3 ii tx! X X X X X X X XXX XXX X X X X X X XX X X X X XX X X XXX X n Lepra ansslheslea ÍE2.t3=2 =2 X X X X x x X s Lepra mixta = • X XXX X XXX xxx X X X X X X xxx XX x X X X X X XXX X g 3 STX 6=3 SM —3 £ X X X X X XXX X X X X X X X X X X ã M - - 3 *T3 K= t=3 - “ M -§ 3 s M X X X X X X X x x s Positiva S m i XX X X X X X X X xxx XX X XX X £ Negalíva t>o irri 1 m . 94 Mundurucús, s/n X 423 11 7 X X X X X 424 26 16 X X X X S. Jeronymo, 233 Pinheiro X 425 26 20 X X R. G. Norte X X Serv. domestico X 426 57 56 X X Ceara’ X X T. Cintra, 42 427 46 36 X X X X E. Farà Elee. 9 de Janeiro, 46 X 428 31 25 X X Piautíy X X Serv. domestico C. Furtado, 27-H X 429 32 30 X X R.G. Norte X X Polidor Corrêa Freitas s/n X 430 13 7 X X Para’ X X Nenhuma B. Constant, 8t X 431 16 15 X X X X Serv. domestico X 432 50 40 X X Ceará X X Nenhuma 14 de Abril, 2 N 433 30 23 X X R.G. Norte X X Lavadeira Monte-Alegre, 11 >> N 434 7 5 X X Pará X X Nenliuma X 435 16 14 X X X X Marceneiro P. Ho. Peixoto, 1 X 436 38 34 X X M Portugal Para’ X X Nenhuma Ilha das Oncas X 437 17 13 X X X X Monte Alegre, 27 X 438 32 31 X X X X Commereiante C. Furtado, L-C X 439 7 5 X X X X Nenhuma Pinheiro X 440 21 18 X X Parahyba X X Serv. domestico S. Miguel, s/n \ 441 21 10 X X Maranhão X X Villa Ypiranga X 442 26 20 X X Para’ X José Bonifácio 312 X 443 20 10 X X X X Carroceiro Q, Bocayuva, 3-B X 444 52 42 X X Hespanha X X Vendedor anih. Bom Jardim, 6 445 7 5 X X Para’ X X Nenhuma Honorio Santos, 1 X 446 19 15 X X X X José Bonifácio s/n X xj 447 58 55 X X Hespanha X X indigente E. S. Braz s/n 448 29 21 X X Para’ X X Serv. domestico C. Carvalho, 38 X x 449 29 28 X X Maranhão X X Caldeireiro Ruy Barbosa, 166 11 450 23 22 X X R. G. Norte X X Nenhuma Travessa de Breves X 18 10 60 104 122 10 23 281 iti! 222200 23 191108 21130 1 36 113 122 101 31 ss htl1'!••"!!!■ t"i1 '"}• //#*'/ f}{;fn’i{l!i! if x X x s Pae leproso H t— p— M r=o ÊS ss X x j= Mãe leprosa X t«*o Avós leprosos ss ~ Cônjuge leproso X * XX ss Irmãos leprosos X X X ES Outros paremos lepr. m X XX x XXX XX XXXXXX S Lepra tuberculosa CD C=3 gjjjg^gS* s?__ XX X .< X X X X XXX XX X XX X XXX XX xx x H Lepra anosiliesiea ss XX- xx x X X xx X — Lepra mlxta = XXX X X X X XXXXXX X XX XX XX XX X XXX g PO £3 S. 1=5 c=a CS3 SC“ 9=* cra ss C=» csj =3: aa. C*3 £ XXXXXX xx XXXXXXX XXX XXX XX s — - 3 T3 CD 22! = iao CD — - ã 3 » M s 5 X x X X X X X X X s Positiva s=ca &=» c*a c xn 3=» oo 5B C*3 XX XX, XX xx XX XXX X X X X S Negativa cun X - ínll-eomplemenlar — Isolamento em Hf Tratamento ■ . i 0 o" t/i ra —v < C.J -r» 01 ra in rt X EDADES EDADE ACTUAL SEXO RAÇA ESTADO CIVIL Edadc em que a do- ença se manifestou £ Natiiraii- a £E 1 O o z dade Profissão Residsnefa =5 I I cS 1 3 2 73 E ■=3 i az az Sg •g M g S M- s ■S as cO $ <£ s = SE s s s = s - ■S cS â 1 s s s s s s % Transporte 10 85 154 1221 70 23 287 163 222 205 23 131 ICO 21 130 1 36 113 122 101 5T lí 451 35 34 X X Ceara’ X X Sepy. domestico i,n Dezembro s/n X 452 22 19 X X Parahyiia X X Lavrador S. Izabel (E. F. 3.) X 453 15 14 X X Para’ X X Nenhuma T. Piedade, 31 X 454 31 16 X X Geará X X Operário Alemquer X 455 47 42 X X Portugal X X Nenhuma Villa Pombo s/n X 456 11 9 X X Para' X X Boav. da Silva, 82 X 457 60 40 X X Ceara’ X X 3 de Maio s/n S. Jeronymo, 322 João Balby s/n X 458 9 4 X X Para’ X X X 4o9 57 5 b X X n X X $ 460 11 10 X X 77 X X Diogo Moya, 67 X 461 24 18 X X R. C. Norte X X 14 de Março s/n Av. Ceará, 113 X 462 14 13 X X Para’ X X X 463 19 11 X X X X Torneiro X 464 32 29 X X Hespanha X X Nenhuma Oliv. Bei lo, L-O X 46o 9 2 X X Para’ X X Dem. Ribeiro, 4 X 466 14 7 X X R. C. Norte X X Canudos, 8-A X 467 15 8 X X Para’ X X Covões s/n X 468 40 39 X X 77 X X João Balby, 74-F X 469 39! 27 X X Ceara’ X X 3 de Maio s/n C. Furtado, 159-B X 470 8 3 X X Para’ X X X 471 37| 35 X X Ceara’ X X 71 T. Alemquer, 33 X 472 42 27 X X „ X X Serv. domestico T. Dr. Moraes, 82 X 473 28 27 X X Portugal X X Jornaleira A. Tamandaré, 82 X 474 14 10 X X Pará X X Nenhuma M. Evaristo, 4-B X 475 12 6 X X X X 77 X 476 28 27 X X V X X Villa Pombo, 65 X 477 13 6 X X X X 14 de Marco, 107 X 478 20 17 X X X X Vend, ambulante Olaria Una X 479 16 5 X X 71 X X Nenhuma Tamoyos, s/n X 480 34 30 X X Ceara’ X X Marítimo Telg. s/fio s/n X 481 40 36 X X Portugal X X Doeeiro Ant. Baena, Z-F-71 X 482 43 39 X X Parahyha X X Caldeireiro 9 de Janeiro, 153 Caraparú (F. F B.) X 483 37 34 X X Portugal X X Nenhuma X 484 16 13 X X Para’ X X T. do Curro s/n X 485 38 37 X X Portugal X X Benj. Constant, 32 X 486 68 64 X X Para’ X X Serv. domestico D. Marreiros, 52 > 487 14 12 X X 77 X X Nenhuma José Bonifácio, 81 X 488 10 8 X X 77 X X A. Ceará s/n X 489 9 8 X X 77 X X T. Caripunas X 490 20 19 .. X X 17 X- X Etnpreg.no Com. Rua Pariquis, 11 Castanhal (E. F. B.) X 491 20 18 X X Ceara’ X X Serv. domestico X 492 12 10 X X Pará X X Nenhuma Pedreira, 88 X 493 10 8 X X X X Ant. Barreto, 49 X 494 22 20 X X 77 X X Lavrador Bôa Vista, 32 X 495 8 6 X X 71 X X Nenhuma Campos Salles, 55 X 496 34 33 X X R. G. Norte X X Lavadeira T. Humavtá, 20 X 497 39 36 X X Ceará X X Agricultora Capanema E.F.B. X 498 13 9 X X Para’ X X Nenhuma S. Amaro, 52 X 499 36 34 X X Portugal X X T. Piedade, 57 X 500 17 5 X X Para’ X X Trabalhador Tymbiras, 11 X 1 1 10 T3 Í7Z 132 81 32 iil 183 248228 24 213 11125 145 | 1 |« 126 134 112 641 ll IHlfflN ST JT JF ™ g £5 S —» *»» 03 68 o E » w .s -3 Ês ** t*,™SocS'v*Sí' coo 150 o Oco °° ro S s- o M « se c% ££ S" Stí ~~ S- fS "co ê> 4=3 ” s- 3 3 3 ° g —f as £T “ - 1 ; f f 2S X SS Pae leproso =3 X s Mão leprosa sr» x - Avós leprosos 55S -ía- X * ~ Cônjuge leproso s Cd X XXX X X X â5 Irmãos leprosos =X3 e*o X XXX X ss Outros parentes lepr. :*=» S3 X X X XX X X s Lepra tuberculosa CP , , CO X X X X X X XXXXXX XX X X X X X X x X XXX X X X X X X X x s Lepra anesllieslea 5‘ S* S2 XX X XX XX X X X S2 Lepra niixla ° O X X X X x X X X X X x X X X x S 3> =23 H XX X X X X XX XXX XX XX XX XX X X X X XXX X X X X X XXX s 1? -1 1 - - s SB* J==J X BB S" 530 L^J ■P c— s = í Ir5 r*-j § X X XX XX X X «*» Positiva g» s X ■ X X X X X X X X X X XX X 2o Negativa tyi n rrj-c-p W 3»i 3S «= " X O" Anti-eomplementar C*3 C3 Isolamento CP* .. . _...... s? cr? 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Herval s/n X 515 7| 5 X X ,, i X j X Nenhuma R. Pariquis, :8 X 516 26 20 X X R, G. Norte X X E. do Marco s/n X 517 14 12 X X Para’ X X M E. S. João, 146 X 518| 52! 48' X X Ceará X X Costureira ,, 180 X 519 17 13 X X Pará X X Nenhuma 1 146 X 520 lOi 71 X X >1 X X r? Aristides Lobo, 97 X 521 32| 311 X X X X Commereianle Caraparú (E. F. B.) X 522 42 40 X X Sergipe X X Agrieullor Maracanã (Pará) X 523 19! 18 X X Para’ X X Carpina S. Silvestre s/n X 524 17! 15 X X l> X X Nenhuma Pedreira X 525 17 13 X X H X X T. Canno, 2 X 526 44 36 X ■ X R. Janeiro X X Marco X 527 50 45 X X Ceara’ X X Teleg. s/fio, 36 X 528 11 9 X X Para’ ! X X Mundurucús 2 X 529 10 7 X X 11 X X Fer. Penna, 23 X 530 12; 9! X X ll X X 3 de Maio s/n X 531 171 9 X X 11 X X S. Matheus, 74 X 532 60 50 X X Hespanha X X Mendiga C. Furtado, L-X 533 131 11 X X Para’ X X Nenhuma 1 B. Vista, 28(xMarco) X 534 15! 14j X X ll X X Estudante 22 de junho, 252 X 535 7i 6 X X 11 X X i Nenhuma Boav. da Silva, 63 X 536 19 11 X X 11 X X Belem X 537 10 8: X X V X X V i.° Dez., 30 (Can.) X 538 23 18 X X ll X X Caldeireiro Telg. s/fio X 539 40 27 X X Ceara’ X X Baeharel 5 de Abril, 25 X 540 47 35 X X Hespanha X X Carregador Tamoyos s/n X í)41 10 8 X X Para’ X X Nenhuma R. Conceição s/n X 542 22 21 X X Parahyba X X S. Matheus, 64 X 543 32 12 X X Para’ X X 11 V. União (B.Usina) X 514 10 8 X X li X X 28 de Setemb., 79 X 545 29 28 X X Piauhy X X Marilimo Boav. da Silva, 3 X 546 21 9 X X Para’ X X Nenhuma R. Santarém, 51 X 547 28 27 X X Geará X X Foguisia S. Jeronymo, 269 X 548 18 6 X X Para’ X X Nenhuma Cesario Alvim, 21 X 549 12 11 X X ll X X 11 X 550 10 8 X X 11 X x T. do Curro, 13 X ?i 10 BI 192(43 89 35155195 llmWíilíw 128 80 IBS j 1 42 142 Jjj Ís Ê Í |s sf 8 fsrgtsUãs&Bs 3 g S c5 l"lili“|srrifs f|f.fsff ff|||-a- “ s " s # |T g » S- s S ® í i i S f ® » “ais 3" 3 % 3 ~ 5T ~ & g II 1 tf 1 “ s NO X X X 3S Pae leproso cs X X X =3 Mãe leprosa SB* H - Avós leprosos - Conjugo leproso era X X X X s Irmãos leprosos ga £: X X s Outros parentes lepr. a» 53 í* X ÍX X X * ÍX s lepra tuberculosa « e=9 X < x. xj x x x X x XX XXX X XXX XX XXXXXX XXX X x X XX X X g Lepra anesthesiea »*ea » X X XX X X * 52 Lepra mixla " ’ ✓ XXX X xx X xx x XXX XX X 1 3 =as S» K? S X X X X X X X XXX XX XXX X X XXX X X X X X X X X X XX X X s M »a =; s - - pf -=< =T= 3=» C=T3 “ - $ ~ ua == •3 *»» =3 ass s era i; co CO § X X X XX X X * s Positiva £ rS NsO X X X XX X X X x X X X XX X x x X IS Negativa oo c-a cra <-a ?aa 5=-i =S CS 03 - knll-eomplententar » r*3 J a „ _ „ g5 em ç»' - „ v - - CO Tratamento • TO - ***n CP ■ j 1 O cr v\ o < BA -£» O» va ! CS Xi EOADES EDA9E ACTUAL SEXO RAÇA ESTAGO CIVIL ] Eilade cm (|iie.a (ltl- enoa se uianiftsto11 E cS na S cS M 1 i 1 I — Naturali- dade I Profissão Resldenela 1 I 1 c-3 c5 i — z «3 «3 ~ ss = 1 2 E r ■ S CO cg -S si S s s s s S 3E k - M £ sT ■M à a s S a a e&~ Transporte 10 31 IS2 143 83 33 333 193 277 248 27 234 123 30 161 1 1 42 142 133 123 63 !l 551 54|52 x X Ceara’ X X Conimereiante R. Roso Danin, 23 552 40!i38 X X Piauhy X X Emp. ila E. F, B, Boav. da Silva, 3 V 553 321132 X X Papahyba X X Foguisia Curuçá s/n X 554 44 29 X X Para’ X X Proi. de musie; T. Caripunas, 18 \ 555 21 13 X X X X Nenhuma 22 de Junho s/n X 556 9 7 X X n X X Caripunas, 1 X X 557 38 36 X X Piauhy X X Serv. domestico Bernal Couto. 45 558 47 43 X X Hespantia Para’ X X Jornaleiro Serz. Corrêa, 38-A \ 559 12 8 X X X X Nenhuma José Bonifácio, 81 X 560 33 27 X X Ceara' X X Ser*, domestico R. Curuçá s/n X 561 36 26 X X R. G. Norte X X Engommaileira R. Conceição, 9 X 562 5 4 X X Para’ X X Nenhuma Boav. Silva, 41 X 563 7 5 X X X X C. C. Branco, 2-F X 564 11 6 X X X X T. Breves s/n X 565 15 12 X X X X 16 Novembro, 84 \ 566 28 X X Ceara' X X Empre. no Com. B. S João do Bruno X 567 28 19 X X X X Serv. domestico Villa Izabel, 11 X 568 35 31 X X Barbados X X Lavadeira Boav. Silva s/n Villa Guarany X 569 29 14 X X Ceara’ X X Marceneiro X 570 49 46 X X X X Serv. domestico Boav. Silva s/n 571 17 14 X X Para' X X Nenhuma E. Tucunduba X 572 26 25 X X Ceará X X Lavrador S. Luiz (E. F. B) \ 573 35 35 X X R. C. Norte X X Marítimo Curuçá, 168 x XI 574 67 61 X X Bahia X X Commerciante João Balby 34 575 33 28 X X Barbados X X Enyomadeíra Riachuelo, 112 X \ 576 57 51 X X R. G. Norte X X Lavrador Villa União, 15 577 19 16! X X Para’ X X Trabalhador i.° Dez., 153-A X X 578 73 69 X X Maranhão X X Cozinheira Canudinhos s/n 579 12 9 X X Pará X X Nenhuma José Bonifácio s/n X 580 30 28 X • X X X Gentil Bitt., 65 X 581 12 7 X X X X José Bonifácio, 37 X \ 582 54 52 X X Sergipe X X Empreg. Pub. ,, s/n F. Guimarães, 72 t>83 44 40 X X Hespanha X X Nenhuma 584 12 10 X X Pará X X Man. Evaristo, s/n X 585 47 44 X X Portugal X X Serv. domésticos X 586 11 9 X X Para’ X X José Bonifácio s/n X X 587 52P51 X X Portugal Para' X X T. Breves, 44 588 4 3 X X X X Nenhuma J. Pimentei s/n X 589 9 8 X X X X Barão Mamoré s/n Tamovos s/n Gol. Prata E. F. B. X \ 590 591 54 40 51 33 X X X X Parahyba Ceara’ X X X X M Ayrieultor ■ X ?; j 592 60 53 X X Hespanha X X Nenhuma G. Deororo, s/n 593 50 48 X X Parahyba X X Estivador Monte-Alegre, 35 594 12 11 X X Pará X X Nenhuma Mundurucús, 133 X 595 10 8 X X X X X C. C. Branco s/n X 596 12 10 X X X Estudante X V 597 54 51 X X Ceara’ X X E. Pará Elec. Flor. Peixoto, 69 598 43 39 X X Portugal X X ; Horteleiro Boav. Silva, 3 599 39 35 X X Para’ X X Nenhuma Tamoyos, 48 X 600 27 24 X X .. X X Serv. domésticos 14 de Abril s/n X jA |( 11 112 65 204*151 iOi.it 335 215 201 263 60 250 161 61 116 f | fl 45 152151138 11 m 99 inuinm '(,%' hí f f / ss x - Pae leproso 52 ES x = Mie leprosa - Avôs leprosos — - Cônjuge leproso £ XX S Irmãos leprosos £ X X x X X X >1 — Outros parentes lepr. XX x = Lepra tuberculosa li1 XX X XX xxx X x X X X X X X X X X XXX XXX X g Lepra anesthesica S XXX X X X s Lepra ittixla s XX XXX XX XX X x x x g M if FESQUiZA DG BACILLQ DE HANSEN XXX X XX XXXXXXXXXX XX XX x x X X X X XX XX XXX X x g - X - ¥ 1' - “ $ j? M « x x x x g Fosiliva S=so 3» FT3 So 1*^1 S3 <=> 3=» , 2S C” is XXX XX XXXXXXXXXXXX XX XX XXX - Negativa XX " ínll-complementar Isolamento Ç5 ç? . = "ff"ffff """H“""H"""""“"""""I Tratamento O cr £ ro —i < CJ -O O* n to Cl rC u E d o 2Í EOADES EDADE ACTUAL SEXO Uatupali- tlade ■ RAÇA ESTADO cmi Profissão Hesidsneia Edade em que a do- ença se manifestou 15 lios primeiros syrapi. S5 Z Z a 5 « etí si 'H i s. 2 ’S 1 1 i s z 2 ss «3 eC g ca eg £ •s» Transporte n 85 204 104 101 44 385 215 201 289 30 253 131: 37 176 l 45 152 157 136 77 tf 601 341117 X X Para’ X X 1 Marceneiro Alc. M. Theod., 43 X 602 28 26 X X Maranhão X X Typographo Aristides Lobo s/n X 603 52 50 X X Italia X X Lavrador Pinheiro X 604 66 65 X X Ceara’ X X Nenhuma Ant. Barreto, 12 605 20 6 X X Para’ X X S. Matheus, 122 X 606 35 32 X X Bahia X X Foguista D. João, 69 X 607 32 26 X X Amazonas X X Nenhuma Jurunas, 37 X 608 43 38 X X Portugal X X Marco X 609 16 14 X X Pará X X Serv. domestico 28 Setemb., 258-D X 610 52 52 X X Portugal X X Commcrciantc B. Constant, 169-C 611 12 9 X X Para’ X X Nenhuma L. S. Braz, 41 X 612 14 9 X X X X V. do Pinheiro X 613 31 30 X X Parahyha X X Serv. domestico Duque de Caxias X 614 15 12 X X Para’ X X Villa Teixeira X 615 32 28 X X Geará X X Guarda muu. Q_. Bocavuva, 37 X 616 13 11 X X Para’ X X Nenhuma 3 de Maio, 53 X 617 23 13 X X X X Rom. Seixas, 111 X 618 13 9 X X X X C. Furtado, 34 X 619 19 16 X X X X T. S. Francisco, 15 X 620 42 36 X X R. G. Norte X X Bernal Couto, 34-A X 621 17 5 X X Para' X X L. S. José, 1 X 622 25 13 X X X X S. Matheus, 103 X 623 13 9 X X X X Buraco da Bolla, 3 X 624 20 9 X X X X Dom. Marreiros, 34 X 625 36 35 X X Ceara’ X X Zeladora Cemit. José Bonifácio s/n X 626 54 49 X X X X Nenhuma L. S. Braz, 69 X 627 19 12 X X Para’ X X C. Furtado, 80-A X 628 8 6 X X X X Villa União, 110 X 629 23 13 X X X X Operário Av. Independ. 184 X 630 15 10 X X X X Nenhuma T. D. Pedro, 38 X 631 54 42 X X Ceará X X Rom. Seixas s/n X 632 24 16 X X Para’ X X C. Furtado, 272 X 633 32 28 X X Ceará X X Serv. domestico „ 278 X 634 30 22 X X R. C. Norte X X Nenhuma R, Municipalid., 18 X 63o 10 8 X X Para’ X X Villa Izabel X 636 38 22 X X X X T. 3 de Maio, 120 X 637 28 20 X X n X X Serviço dom. X 638 18 11 X X V X X Nenhuma R. Apinagés s/n X 639 25 17 X X flmazoi as X X Jornalista José Bonifácio s/n X 640 42 38 X X Maranhão X X Estivador E. do Una \ 641 11 10 X X Para’ X X- Nenhuma Villa Sol (C. Furt.) X 642 16 11 X X X X X 643 17 12 X X R. G. Norte X X G, Bittencourt, 15 X 644 28 15 X X Pará X X Serv. domestico X 645 50 48 X X R. G. Norte X X Costureira 14 de Abril, 5 \ 646 14 13 X X Pernambuco X X Nenhuma Caripunas s/n X 647 15 14 X X Para’ X X Serv. domestico T. D. Pedro, 27 X 648 48 40 X X Ceara’ X X Nenhuma T. M. Evaristo, 4-B X 649 33 27 X X Maranhão X X Serv. domestico Oliv. Bello, 93 X 650 16 9 X X Para’ X X V T. 1.0 Março, 164 X |l2 8] m no 108 49 412 288 219;28E 80 283,144 40 188 i 48 188 118148 6813* 101 Í& M S SS S ~■ t*s 3 !£■ EStS3gg§ê*' SZ cS “* Sj g- •» 3 fS ' n ggg-| S" 3 ST S !' Jx» 1 / “ f |"9í“ip,S-ea| f ~ == ~ s ~ ||ff |í|S S ~ i i I i | IsS ¥ NO s | Pae leproso -*a | Hf § i CO CO ao- CND ES i Mãe leprosa .. j Avós leprosos cxn X - I Cônjuge leproso em cn X X X X X X s Irmãos leprosos & X a Outros parentes lepr. CO gg cr> XX XX XX XX X, XXX XXX x X S Lepra (ubereulosa S=T oã* co r* j XXX XXX X XX X X XXX x X XX X X x x S Lepra aneslliesica Si X X XXXXXXXX X S Lepra míxta g XX X XX xxx X X X X X X X X X XX g M =3 C3 »* =3 CO C3 ca cs — e® PESQQIZA DO BACiLLO DE HANSEN X X X X X X X X X XX X XX XX XX X X X X XXXXXX X X X ~ PO “ W TES CO -SB nr pa CO - “ M s ca ca St co CO - • $ s XX X X XX XXXS Positiva CO C*3 W-erj CO 3S <= |® m X X x X X X X X :■> X X X n Negativa X - Anli-eoinplemenlai' 3 «■ 5: S a S 5 3. 3 S S- S 3 3 3 3 3 3 3 í 3 3 3 3 -S 3 S 5 S 3 3 3' S 3 a 3 5 V 3 S S 3 í 3 3 3 S 2 -s' |. Isolamento C=3 C=3 a o <=3 =3= m -n -o -TB -n -3 po *-c co * • S“ ca. T=3 ee a -* EB . .. 3= - J J B3j CCS CD ® J J J J S-* 2 2, -« *» co, 2.-* a s. cPjjiij!! ■>■< j a» n 2.-* j j j 2. W CO SÕ cõ* M 2® Co p9 Si Tratamento CO SL 8 55" 7 Nenhuma V. Izabel, Z-D Monte Alegre s/n Cons. Furtado s/n Covões (S. Braz) X X N 661 yi 29 X X Ceara X X Mendigo X 662 663 8 15 4 11 x X X X Para’ \ X X X Nenhuma S. Jeronymo, 159 L. S. Braz s/n X X 664 665 15 58 9 55 X X X X 11 >1 X X X X Carregador Pedreiro T. de Breves, 21 Capim (Interior) X s 666 44 38 X X Sergipe X X Commereiante Hotel Universal X 667 18, 15 X X R. G. Norte X X Vendedor amh. Cannudinhos X j 668 41| 34 X X Portugal \ X Nenhuma Jer. Pimentel, 80 X 669 670 16 46 12 44 X X X X Para’ Parabyba X X X X - V Monte Alegre, 72 Mundurucús s/n X X 671 11 6' X X Para’ X X ” Estudante X 672 54; 53 X X Parabyba X \ Lavrador 673, 38,29 X X Para’ X X Serv. domestico „ 232-A X 674i 35127, X X X X Sapateiro G. Bittencourt, 202 s 675 676 43|ll0 40 34 X X X X Maranhão x X X Nenhuma Coslureira R. S. Boav., 16 V. Guaranv s/n \ x 67 71 1U 9 9 X X Pará X X Nenhuma Barão Mamorc s/n X jl 678, 11 X X X X Berna! Couto s/n X 679| 24 19 X X li X X Comraereiaiile E. S. João, 208 X 680 13 X X J5 X X' Nenhuma Campos Salles, 85 X 681 15 A X X » X X Marco da Lcgua X \ 682 46 43| X X Ceara’ X X Serv. domestico Villa Izabel 683 684 55 54;| X X AlagSas X X Lavadeira José Bonifácio s/n S. Jer (Covões) s 59 57| X X Ceara' X X Lavrador boolpi) 7 15 X X Pará X X Serv. domesticc Tamoyos s/n X 686 18 X X li X X R. Cametá, 12 X 687 43 33 X X Portugai X X Nenhuma C. C. Branco, 161 X 688 689 690 29 58 36 14 48 35 X X X X X X Para’ R. G. Norte Hespanba X X X X X X >> Serv. domésticos lavadeira Caripunas s/n 11 Arist. Lobo, 51 X X s \ 691 65 56 /II X X 1 Ceara’ X X Nenhuma Covões (S. Braz) 692 693 25 46 24 4f| X X X X j Para’ Portugal X X X X Foguísia Nenhuma T. Estrella, 1 50 s;n \ s 694 10 3i ■x X Para X X Lauro Sodré, 192 X 1 695 19 1011 X X ,, X X ' Ruy Barbosa, 105 X 696 697 16 36 10 33' X X X X R. G. Norte ix * X ; x Serv. domésticos Jurunas s/n Tiav. Óbidos, 38 X \ i 698 40 38 X X Maranhão X X Maritimo G. Bittencourt, 106 1 699 26 22 X 1 X R. G, Norte 1 Empregado pari. 1 A. T. Franco s/n X 700 ii 4 X X Pará 1 X i \ Nenhuma João Balby, 21-B | * A || ! 12 9! 299118124 08 4411259 \m 129 30 315 185 44 131 ! III «Imliwíi® 103 /#£ fa j S s £? p / f *# = a f g I J g |f Ê S HS g M g B3 0 “ » n> ™ o? ° 52' 5» Sa «X» - I J|l ar *** " S- x M s* ' M is S- W j=f ii =f °° M ͧ S 09 Ê S H ãj f,^ff*ÍUff Sr S. S' ° 3 Z2. S M 3 « «= oS33wta|5 s 3 ,.. r 5J S" jrr *c3 |“| = | Ç» co ss *-a »» 3 j Sã / ES Pae leproso 1 — Mãe leprosa SS i CJ1 X - Avôs leprosos S= 09 X x " Cônjuge leproso W os e=3 XX X X ên Irmãos leprosos SSO cr» X x x X X X X x X £ Outros parentes lepr. STi oo < x X X X X XX X X X X X fi Lepra tuberculosa CD C=S j § X X XX X X X X X XXX X X XX XX XX X X XX H lepra anestlteslea i:«« ; si X X X XXX X XXX x x X s Lepra tnlxln es • | 03 X X <í X X XX XX X X X X X X X X s ? 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CS - - - g 5‘ Isolamento em ca e=f s as co «* cp r® -# «- aes r* tx aa „ a= i*: - aa — — — « • - «, « - CD C=3 C=3 EtS £C CP fO Tratamento CP CD n co ro co CD rp -- — - ■ O iA < SJ ~r\ o» vsí (A rt X o £ a T3 o 2 EDADES EDADE ACTUAL SEXO Naturali- dade RAÇA ESTADO CIVIL Profissão Residência Edadc em que a do- ença se manifestou 13 1 Dos primeiros sympl. ss «3 ca «a De 11 a 20 annos ã í z sl £= 1 SH e 1 o ;S s s í I CCS 1 0 £ ê Transporte....... 12 91 299 118 124 06 441 259 329 36 '310 155 44 191 1 49 m 182 159 93 31 701 7 6 X X Para’ X X Nenhuma P. de Carvalho, 57 X 702 41 36 X X Bahia X X Solicitador R. Cametá, 15 X 703 18 15 X X Para' X X Ser». liomeslieo 9 de Janeiro, 18 X 704 18 9 X X X X Nenhuma José Bonifácio s/n X 705 11 8 X X 11 X X Marco X 706 17 11 X X X X V. Guaranv, 4 X 707 42 38 X X H. G. Norte X X Serr. domestico R. Santarém, 85 X 708 16 8 X X Maranhão X X Nenhuma 22 de Junho, 44 X 709 40 30 X X R. GJoHe X X Conceição, 9 X 710 25 25 X X Parahyha X X C. Branco, 165 X 711 12 9 X X Para’ X X Ser», ilomestieo C. Furtado, 13 X 712 48 38 X X R.G. Norte X X Nenhuma V. Teixeira X 713 40 35 X X X X S. Miguel, 113 X 714 16 9 X X Para’ X X 14 de Abril, 31 X 715 21 20 X X >1 X X Coeheiro Coch. S. Aguas X 716 19 7 X X 11 X X Marítimo 22 de Junho, 135 X 717 48 42 X X Geará X X Remador Fort. da Barra s 718 17 16 X X Papá X X Nenhuma L. Sodré, 12 X 719 33 32 X X n X X Villa Téta X 720 17 14 X X 11 X X 14 de Abril, 12/ X 721 49 42 X X Bahia X X Villa Maria s 722 16 15 X X Para’ X X 14 de Março, 78 X 723 56 52 X X Ceara’ X X T. 3 de Maio s/n 724 26 21 X X Para' X X Ser», liomeslieo Aristidcs Lobo, 50 X 725 52 52 X X Ceará X X D. João s/n 726 18 11 X X Para X X Estudante P. Prudencio, 212 X 727 10 8 X X X X Nenhuma G. Bitten., 202-A X 728 13 10 X X 11 X X S. Pedro, 48 X 729 7 7 X X H X X Estudante C. Furtado, 65 X 730 37 29; X X Pernambuco X X Empre. no Com. [4 de Abril, 16 X 731 26 25 X X Ceará X X Comluetcr bond L. S. Braz, 58 X 732 43 43 X X 11 X X Moíorneiro Cannudinhos, 11 s il 733 19 8 X X Para' X X Nenhuma Oliv. Bello, 21 -B X 734 44 26 X X H X X Rom. Seixas, 17-B X 735 45 36 X X H. G. Norte X X indigente Villa Teixeira, 30 s 736 35 32 X X Maranhão X X Jornaleiro T. Gurupá Hotel) X 737! 28 25 X X Amazonas X X Marceneiro C. Furtado, 95 X 7381 11 6 X X Para' X X Nenhuma Alemquer, 16 X 739 26 6 X X 11 X X Engcmmadeira G. Deodoro s/n X 740} 12 9 X X Ceara X X Nenhuma 14 de Abril, 138 X 7411 11 10 X X Para’ X X Estudante S. Miguel, 27 X 742Í 14 13 X X „ X X Àpp. oiiíeina S. Corrêa, 68 X 743 16 16 X X .11 X X E. Pará Elee. Villa Téta, 1 X 744 18 17 X X H X X Serviço dom. 9 de Janeiro, 3 X | 745 39 35 X X Hespanha X X Jornaleiro L. Redondo, 1 X íj 746 18 18 X X Pará X X Negociante E. Tocunduba X 747 55 45 X X R. G. Norte X X Nenhuma R. Roso Danin % 748 17 15 X X Para' X X 9 de Janeiro 66 X I1 749 21 15 X X X X D. Marreiros, 32-F X < J 750 53 44 X X - X x Empreg. Puhiieo Muaná (E. Pará) $ 12 SíWlB? m 60 417 210 35! 362 31 332 161 43 205 1 49192 195 170 162 ff! íta if -zj■íiii!ê f§' H&MíNiUf* #=fl 1 #5f t #■ H-Híz ff ê? X ss Fae leproso FAMÍLIA leprosa ES ES Mãe leprosa X X =" Avús leprosos «O X XX ~ Cônjuge leproso s xx xxx s Irmãos leprosos s H M , X H i5 Outros parentes lepr. s X X XXX XX XXX xxx is Lepra tuberculosa Diãgn. clinico XXXXXX X X XXXXX xxxg Lepra anesllieslca is XX X XXXXXX X XXXXXXXX X X X H Lepra mixla cIO X XX X XXX X X x X X X fg 3 Mo muco nasal T3 c*o gc _ nco C=3 ao aa XXX xx XX XXXXX XX X XXXXXXXX XX X XXX X XX XXXXX g *P os X w T3 SL r33 cõ “ s 3 M 1? XXXXXXXX XX XXX X xxx X S Positiva ra 3s» cra !=a 5-” r—o =g M ao X XX xxx XXXXXXXXX XXXX X XXX g» Negativa cuo - Anti-eomplemeníar Isolamento r—, , , . . c=3 03 i _ a sí 52, >* 2. -* >4 j a 2, a a cÓ' J CO CO* CT J J j J iro 52 CO M to’ oo* M* 22 M* $5 Sg CO CO rr> co Tratamento Falleeeu O cr* to ÍO —5 -< . BJ -o o» o to d X o E9A0ES EDADS ACTUAL SEXO RAÇA ESTADO CIVIL Edaáe em que a 0'0' cura se manifestou s Natoll- ■ç» d o ã 1 i (fl $ CS» 6=1 <=J ia s ca * s s às s s Transporte 12 I 94 1261 18] 136 . 47] 213 | I 361 362 3] 332 187 49 202 1 49 192 198 179 102 í V51 i 9 40 7 X X Pará X X Nenhuma Dr. Moraes, 9-A X /52 39 X X 1) X X Costureira Rom. Scixas, 23 X 753 24 22 X X X X Serv. domestico H. Santos c/Conc. X 754 17 16 X X X X Servente Jurunas, 27 X 75b 52 48 X X Hespanha X X Carreiro Tupinambás 7 X 756 40 45 X X X X Vendedor anili. Bernal Couto s/n X <5< 20 16 X X Para’ X X Lavrador Hotel Porto Rico X <58 49 41 X X R. G. Norte X X Pescador 3 de Maio, 120 N 759 10 15 X X Pará X X Costureira C. C. Branco, 31 X 700 10 9 X X V X X Nenhuma Jurunas, 21 X 701 49 46 X X Mapanhão X X Serv. domésticos H. S. João, iy Mosqueiro s 702 703 10 8 X X Para' X X lietiltunia X 12 9 X X X X Bernal Couto, 53 X 704 40 39 X X Ceara’ X X Serv. domestico Villa Guarany X Militar 1' Paes de Carv. 53 X 790 797 6 25 6 13 X X X X Para’ R. G. Norte X X X X Nenhuma Lavadeira Jurunas, 102 Bôa Vista s/n X X 798 799 800 36 17 12 25 11 7 X X X X X X Ceara’ Pará 11 X X X X X X Neubuma >i jy L. S. Braz, 42 14 de Março s/n 11 X X X J ,1 161102 2721188 !49 uiim 40 m 177; SS 210 1 ST 202 204)184 109 11 107 / ° *"* ~ s'S Z ES £ Ê ** * |Jã"'S3 ”f "s M|M,ss S ~ M Sis| SS ~ 0 ro ST % 5? ° £ «r % S ."• s 1 •“ ¥ s Pae Isproso ->TJ 5g c—* 55 X X X K I Mãe leprosa CO X — Avós leprosos s X* CO Cônjuge leproso X 1*1 XX X X X x x ss Irmãos leprosos ss X X X X s Outros parentes lepr. =5 X X X X! >1 x ii Lepra tuberculosa co esj S' s*0’ S.eaa CT> =3 cr» c*o era X X X X X X X X X X X X X X X X X X X XX XXX X XX g Lepra anesllieslea X XXX X x x X XX X xx xxxxs Lepra mlxta CO CO XX X XXX XXXXXXXXXXXX XXsl s No muco nasal FESQQ1ZA DO BAGILLQ DE KANSEN cín XX X XXXXXXXXXXXX x xx X XX XXXXXX X s *P (M • * - °*° 3> co sn» rr- so CO “ CO CO CO 00* cõ’ CO* OO* CO* CO* 2553°° CD CD CD CT5COCO CO ro Tratamento 0 C5X to < CO -0 2* rO j 00 d Xi EDADES EDAGE ACTUAL SEXO RAÇ ESTADO CIVIL Edade cm qne a 9°' ençii se manifestou^ % Naturail- CO d S s 1 r I s 1 datis tra Profissão Eesídencia 1 1 íS 1 Si O 2 — .1 = ut> r z § i s. ers ■I 1 o ■23 CO - ■55 1 -cfi E S s s S s 3S a- = -s s Transporte 16 102 m I9S 149 83 498 302 ã74 366 , 366 m 66 216 1 57 262 2C4 184 109 »lj 801 11 6 X X Para’ X X Nenhuma José Bonifácio, 34 X 802 10 8 X X X X Cons. Furtado 176 X ■ 803 26 21 X X H.G. Horto X X Serviço dom. Mundurucús, 10 R. Óbidos, 8 X 804 48 47 X X Alagoas X X lavadeira X 805 25 23 X X Portugal X X Serv. domestico R. Bom Jardim, 7 X 806 10 6 X X Para X X A. Ceará. 99 X 807 14 12 X X X X 14 de Abril, 124 X 808 14 13 X X X X Estudante Quint. Boc , 112-A X 809 17 8 X X X X Nenhuma C. Furtado, 24 X 810 28 27 X X X X Emp, da E. F. B. A. Ceará s/n X 811 46 45 X X Portugal X X Nenhuma E. S. João, s/n X 812 38 30 X X Hespanha X X ,, Conceição, 77 X X 813 45 40 X X R. G. Rorte X X Lavrador Joannes (Marajó) 814 18 17 X X Para’ X X Serv. domestico 14 de Abril, 122 X 815 26 12 X X X X Nenhuma ,, s/n X j 816 9 7 X X X X T. Alemquer, 26 X 817 24 23 X X R. G. Norte X X Serv. domestico Villa Izabel, 49 X 818 40 37 X X X X Rendeira R. G. Passos (Can.) X 819 10 9 X X Para' X X Nenhuma Ant. Barreto, 42 X 820 47 46 X X «. G. Norte X X Lavrador C. do Prata-E.F.B. X j 821 44 38 X X Para’ X X Serv. domestico 9 de Janeiro X 822 24 11 X X Ceará X X Nenhuma 22 de Junho, 2 X 1 823 64 62 X X Hespanha X X Villa Nova s/n 824 27 25 X X Ceara’ X X Castanhal (E.F.B.) X 825 18 17 X X Pernambuco X X T. do Chaco s/n X 826 56 51 X X Parahyba X X Cannudinhos 827 23 13 X X Para’ X X Oliv. Bello, 83 X 828 76 65 X X Maranhão X X Quint. Boc., 33 % 829 18 8 X X Pará X X Jer. Pimentel, 39-F X 830 18 11 X X X X Teleoraphísfa Americano E. F. B. X 831 53 39 X X Portugal X X Nenhuma C. C. Branco s/n X 832 16 8 X X Para’ X X Pinheiro X 833 5 4 X X X X C. Furtado, 255 X 834 59 47 X X R. G. Norte X X Pinheiro X 835 9 8 X X Para’ X X D. João, 174 S. José, 79 X 836 36 32 X X Hespanha X X X 837 32 29 X X Perú X X Agricultor S/Residencia X 838 21 20 X X R. G. Norte X X Engoinadeira José Bonifácio, 4 Tamovos, 16-F X 839 28 20 X X Bolívia X X Serv. domestico X 840 40 36 X X Ceará x X E. do Marco N 841 63 59 X X R. 6. Norte X X Nenhuma Antonio Baena 842 12 9 X X Para’ X X 14 de Março, 152 X 843 28 26 X X X X Serv. domestico A. Fer. Penna, 27-A X 844 44 39 X X B. G. Norte X X Jornaleiro S/Residencia X 845 40 37 X X Parahyba X X Pedreiro C. C. Branco s/n X 846 49 42 X X Portugal X X Carpina A, S.João, 1 52 X 847 21 6 X X Para’ X X Carvoeiro C. C.Branco, 178 X 848 10 9 X X n X X Nenhuma R. Curuçá, 26 X 849 34 33 X X Portugal X X Leiteiro G Bittencourt s/n X 850 18 12 X X Para’ X X Nenhuma E. do Marco s/n X 17 108 283 212 161 69 528921 4G4 105 41 919 184 57 229 1 58 214 215 184 121 45 /- g *Mg |f f- S? .§ % to °* &* £ S ã! rse e s s « s g s £ ” J s “ s ■§ TS s? 3 ff 3 § ff -S £ ff M ?■ S § B fS M ** £ S s ã £ ■s f?s l|f pj "os- Ha 1/0 ca £T £5 jÍ3 "ca. ua £? -' g ã * s ÁJ •gí ££ =?• ~ g ~ b W. 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Santarém, 24 %\ 859 511143 X X Portugal X X Empreiteiro S. Matheus. 78 X 860 67 Í65 X X Maranhão X X Nenhuma Asvlo Mendicidade % 861 23:20 X X Para’ X X Pedreira s/n X 862 35|31 X X Parahyba X X A. T. Martins s/n X 863 14 9 X X Pará X X 22 Municipalid., 58-A X 864 18 17 X X 22 X X Scrv. domestico X 865 21 20 X X X X Nenhuma 14 de Abri], 46 X 866 18 15 X X X X „ 124 X 867 38 31 X X Ceara’ X X Serv. domestico G. Bitten. s/n . X 868 17 5 X X Para’ X X X 869 12 7 X X V X X Nenhuma Pinheiro X 87044 41 X X V X X Lavrador S. Pedro, 9 X 871 80 28 X X Piauhy X X Meretriz L. Sodré, 90 X 872120 19 X X Para X X Vendedor arah. T. Breves s/n X 8731125 24 X X X X Serv. domésticos E. Tocunduba X 874.128 25 X X R.G. Norte X X X 875; 6 3 ' X X Para’ X X Nenhuma Independencia, 184 X 87632 28 X X Syria X X Empreg, no Com. 14 de Março, 107 X 877 10 8 X X Para’ X X Nenhuma Jurunas, 68 X 878 21 13 X X V X Rom. Coelho, 37 X 879 18 12i( X X X x 14 de Março oi-A X 880 19 13 X \ X X D. Marreiros, 52-F X 881 57 4õl X X Ceara’ X X „ Av. Ceará, 71 X 882 39 31 j X X Alagoas X X (de passag. sul) X 883 30 30j X X Portugal X X Cortiilor Pariquis s/n X 8841149 28 X X 22 X X Açougueiro Av. Ceará s/n X 8851|27 25 X X Pará X X Cozinheira Caripunas s/n X 88623 22 X X 22 X X Mialate Av. Ceará s/n X 887 6 4 X X 22 X X Nenhuma 22 de [unho, 72 X 888 18 11 X X X X T. Humaytá X V 1 889 53 52 X X Portuga! X X , Pedreiro L. da Polvora s/n 890 41 29 X X Ceara’ X X Nenhuma E, do Tucumduba X 891 11 10 X X Pará X X Pedreira X 892 27 25 X X Ceara’ X X Trabalhador R. Curuçá, 179 X 893 26 25 X X Para X X Lavadeira C. C. Branco, 141 X 894 16 12 i X X 22 X í X SeiV. domestico B. da Silva 85 X 895 19 18 X X 22 X : x ! Ferreiro Jurunas, 70 • X 896 21 11 "" X X ?5 X X Serv, domestico 22 de junho, 72-A X 897 7 6 |X X >2 X X Nenhuma C. Furtado 157 X 898 10 9 ix X >} X X Rom. Seixas, 194 X 899 16 10 X X X X Boa Vista, 164 X 900 13 11 X X 22 X X 22 A. T. Martins X In 115 238 228 toe io §41 m 428 426 46 833 2fi7 Si 233 1 61 223 230 209 126 48I / _ „ : Ã** & eT » irr M zT ff o “ S Mí * « »’ f" * ir « Hs & mt £? £* s f S s “ a ™ , , , ff- f ilfiff f fs «*,Sf~f 13*1* llsf tf|Jf f 1s - si|f|gs|s gssS|| íf3 “f ímii.s ifsi ro qJ «=< “■ DJ S ~ ro õ 5 S co ,2 » S nf* ca. «* «> £=r ET 60 ” ° S S *=* —“ jg • “ |ç-c5c»*Pí3eogt«=5-w’3 • r» «=* 00 ==■ lj s £ !sst gf *“ a cja gs Pae leproso 6b- 25 C~ C*3 cn Mãe leprosa «*=> “ Avós leprosos = =r Conjupe leproso s XX X X s Irmãos leprosos ira oc as- s X XX s Outros parentes lepr. li X X XX x X X X X XX XXX ji Lepra tuberculosa «a tx5 Cf» XXX x XXXX XXX XXX X X X x XXXXX X X XXXXXXXjH Lepra anestliesloa S» : gs X XX x S Lepra nilxta B X XX XX XXXX xx X X X X X X X X s : s Na muco nasal M CO *=> ca »** jS *=* sn *=» m CT3 SS ssa» ra c*a S5 XXXXX XXXX XXX XXX XX Xx X X X X X s Sr X " s $P- SBS SB CD - ~ M s >p s XX X XXX XXX “ Positiva ra tc* rv'i ss ==5 C» 2S: «=» ai » CM> cr XX XX XXX X XXXX X XXXX X X XXXXXÊI Negativa = Anli-eomplonioiilar ÍS55SSS3-3 3SS33SS3SSÍ3SS 335S5. 3S333SS32Í3333-S333.-Íi3|. Isolamento aaa=> =p o= = =x= =*= J53 « «a •ia r° r0 r® ‘-c '-«2 *—s «—c p* 5? =** í?f S -■=* r* « ,, sas =rr ÍS.tS s.m S SS ” m ro m to tu jís «aa ja s» EJ r/i cxj" Tratamento CD §‘ CS a *S ££ SSE BS i 5SS S3T BO» U j O O' < •n S* Tsl LTi cd 1 *5 1 DADES EDADE ACTUAL 1 SEXO R AÇA ESTADO CIVIL Edade em que a do- ença sc manifestou £ i Naturali- 09 Resldeneia cd ! TJ 1 1 ! 1 1 «3 i I dade “2 Proíissão 1 ! i s ío cÁ ■M , ■ il CC | « z to ss * S5 g i Branca H JÊ Solteiro 1 ê E= a c= ca cC s j 0 1 cC jj % í Transporte n 115 238 228 188 16 541 353 428 428 46 393 201 61 239 1 61 223 230 209 125 49 ‘>01145 42 X X Geará X X Nenhuma | T. Th. Cond., 145 X 902125 24 X X Pernambuco X X Scpí. domestico Ant. Baena, 61 X 900 20 15 X X Para’ X X Nenhuma i Porto do Sal X 904 12 9 X X Acre X X V 25 de Setem., 206 X 90524 18 X X Ceará X X Operário A. T. Martins X 900 00 59 X X Maranhão X X i.“ de Dezembro 907 20 23 X X Pernambuco X X Marítimo Villa Coròa, 63 X 908!i23 11 X X Bahia X X Nenhuma T. Maurity, 103 X 909 07 58 X X Argélia * Para 1 x X „ 88 910 52 48 X X X X T da Estrella, 126 X 911 33 31 X X R. C. Norte X X Ser?, domestico R. Conceição X 912 23 19 X \ Para’ 1 x X L. do Prado, 177 X 913117 16 X X X X Nenhuma Villa Beira-Sol X 914114 12 X X X X „ 22 de Junho, 191-G X 915 15 14 X X X X Vendedor Av. Ceará, 201 X 916 75 70 X X R. G. Korle 1 X X Nenhuma T. da Estrella Z X 917 33 29 X X Ceará X X Serv. domestico R. Duque Caxias X 918 37 37 X X Argélia 1 X X Vendedor arabui R. Cametá, 54 X 11 115103:235168 80 555 36 i! 438 434 48 388 216 63 24 1 61 221 2ãr 21c 1 0 il* 0 RESUMO; Total de fichas 918 sexos: Masculino 555 Feminino. 363 918 ( Solteiros 398 estado \ Casados 216 civil j Viúvos 63 l Menores 15 annos 241 Total 918 raças: Branca... 438 Mestiça.. 434 Preta.... 46 918 Dos 918 leprosos, 835 são nacionaes e 83 exlrangeiros. (Pará 537 Ceará 114 Rio G. do Norte 7H Parahyba 20 (Maranhão 22 Pernambuco.... 14 Amazonas .... 13 Piauhy 7 Alagoas 7 Bahia 7 Sergipe 4 Rio de Janeiro-. 4 Acre 1 São Paulo 1 Total 835 Naturalidade dos exlrangeiros : Portugal 37 Barbados 2 Hespanha 34 Argélia 2 Italia 3 Bolívia 1 Syria., 3 Perú 1 Total _B3 Total absoluto 918 jff* * * -- fíff if§ - [f* § - * / ss x as Pae eproso ês i Mae leprosa 5 ss ! «o Avós leprosos s52 =2 = Cônjuge leproso m 1 ctn X s Irmãos leprosos s ! * s Outros parentes lepr. »a- j X X XX X X “ Lepra luliereulosa cn X X XXXX X X X X X xg '' Lepra anesiheslea s;s s Lepra míxia S = | X XX X X g I s sas S3 CS> B X XXXXXX XXXX X xg ~a C*3 ' CO c=s ■ - - 3- -t=s rrs i aam Ç3 " “ JT H|| 3 T ,- d *1» =3 S2- c— ca S 1T. co M H X X s Positiva so ; a=» c»a X XX XX X X XXXS Negativa w cn 5X3 2=-í i Antí-coinplementap 2àS C*3 ca* Isolamento em »=3 C=í c=> ç=» c=> t=3C3C3 n? >» - =*r «2-j* „ =c ar so rss w ■* "* 03 - £D>tg -» CO CP O CO 52 CD to CO «O to' CO t»’ CO —a ÇO -Tl CD CO —o CO co Hco ns —a co *~a Tratamento . 0 cr* IA ra •< -o 01 ro IA EDADE ACTUAL DOS DOENTES: EDADE EM QUE ADQUIRIRAM A DOENÇA: De 1 a 5 annos 17 De 6a 10 » 115 De 11 a2O » 303 De 21 a 35 » 235 De 36 a5O » 168 Maior de 50 » 80 Total 918 Menor de 1 anno 1 De 1 a 5 annos 61 De 6 a 10 » 224 De 11 a 20 » 237 De 21 a 35 » 213 De 36 a 50 » 128 De mais de 50 » 52 Não informam 2 Total 918 Familia leprosa: tinham ou têm pae leproso, 33; mãe leprosa, 25 11 vós leprosos, 9; cônjuges leprosos, ll; irmãos leprosos, 85; outros pa- rentes leprosos, 71. Tola! de parentes leprosos 234. Formas clinicas da lepra: lepra tuberculosa, 196; lepra auesthe- sica 540; e lepra mixta 182. Maca nasal: Dos 918 doentes somente de 901 os resultados dos exames fôram considerados salisfactorios, e destes 436 foram positivos e 465 negativos. Dos restantes 17, 6 da fórma tuberculosa e 11 da fórma anesthe- sica tiveram os seus exames prejudicados ou suspeitos, resolvi por isso consideral-os como não realizados. Exame do pelle: Apenas 8 exames histologicos para pesquiza do bacillo de Hansen foram realizados no laboratorio do Serviço e no labo- ratório Kós, com os seguintes resultados: Lepra tuberculosa 1 positivo; Lepra aneslhesica: 3 positivos e 2 negativos, lepra wixla: 1 positivo e 1 negativo. Este exame positivo da forma mixta, pertencente á ficha R. 738, deixou de figurar na estatística, por um erro de revisão. Reacção de Wassermann: Foram feitas 607 em 501 doentes com os seguintes resultados: 203 positivos; 375 negativos e 14 anli-complemen- tares. No quadro abaixo vão melhor especilieadas laes reacções. PESQUIZAS DO BACILLO DE HANSEN NO MUCO NASAL Lepra tuberculosa j exame positivo 144 ou 75,8% (, 6 casos sem 196 casos t exame negativo 46 i exame Lepra anesthesica j exame positivo 187 ou 35,34% j 11 casos sem 540 casos ( exame negativo 342 * exame Lepra mixta i exame positivo 105 ou 57,7 % 182 casos } exame negativo 77 Total 901 A porcentagem dos positivos para lepra tuberculosa foi tirada de 190 casos, e o da lepra anesthesica de 529; os restantes ficaram sem exame. As porcentagens dos exames positivos baixaram consideravel- mente das obtidas nos exames dos doentes do Tocunduba. No capitulo 111 tratarei deste assumpto, dando as explicações sobre essa discordância. Revendo mais uma vez as íichas do Instituto, inutilizei 23 delias umas por terem duplicatas no Tocunduba ou no interior, e outras por não estarem completas. Para não annullar informações já insertas no Capitulo I, substitui essas íichas por outras tantas de doentes ma- triculados nos primeiros dias de Junho. Reacção de Wassermann Lepra tuberculosa 134 casos R. W. Positiva . TI ou 51,07 °/o R. W. Negativa 65 ou 46,76% R. W. An ti-complementar 3 ou 2,16% R. W. Positiva e negativa 5 R. W. Positiva 79 ou 25,07 °/o R. W. Negativa 231 ou 73,33% R. W. Anti-complementar sou 1,58% R. W. Positiva e negativa 4 R. W. Anti-complementar e negativa 2 Lepra anesthesica 309 casos R. W. Positiva. 53 ou 43,80 % R. W. Negativa 65 ou 53,70 % R. W. Anti-complementar Sou 1,50% R. W. Positiva e negativa 4 R. W. Anti-complementar e positiva 1 Lepra mixta 116 casos Foram feitas 575 reacções em sòros de 559 doentes, conforme se vê nos quadros acima. As porcentagens foram tiradas apenas dos exames positivos, negativos e anti-complementares. Nò Capitulo 111 farei os com- mentarios que esses números suggerem. FallecimenlosDurante os 11 mezes de trabalho teve o Rerviço informação do fallecimento dos 7 doentes das seguintes fichas: 66, 468, 515, 648 733, 828 e 834. E’ possível e até provável que hajam ainda fallecido outros mais. Sómente no fim do anno, quando fôr feita a revisão das residências, poderei obter dados completos nesse assumpto. estatística dos leprosos examinados NO INTERIOR DO ESTADO Por emquanto temos apenas 165 fichas de casos de lepra no interior do Estado, os quaes sommados aos 33 que se ma- tricularam nos dispensários da capital, e habitam o interior, fazem 198. Neste numero foram encontradas 4 fichas em du- plicata, isto é, fichas que tinham sido feitas no interior e poste- riormente os doentes foram isolados no Tocunduba, sendo de novo recenseadas. Essas 4 fichas foram declaradas sem effeito. O municipio de Belém possue, além dos leprosos da sua séde, mais os seguintes: Villa do Pinheiro, 14; Villa do Mos- queiro, 32; Vai de Cães, 1; Colonia Santa Rosa, 1; Ilha das Onças, 1; Carapani, 2; Entrocamento, 1; Ananindéua, 5; Ameri- cano, 3; Marituba, 1; Castanhal, 6; Anhanga, 2. Municipio de Igarapé-assú, 16, sendo: Villa, 1; Prata, 3; Timboteua, 2; Capanema, 4 e Peixe-Boi, 4. Cidade de Bragança, 53; Guamá, 1; Rio Capim, 1; Arapi- ranga, 1; Muaná, 2; Carataú, 1; Joannes, 1; Soure e Salvaterra, 17; Ponta de Pedras, 10. Os maiores fócos de lepra no interior do Estado, são; Bragança, Santarém, Cametá, Soure, Ponta de Pedras, Mosqueiro e Pinheiro. Naturalmente existirão muitos outros fócos menos conhe- cidos, os quaes só mesmo as commissões sanitarias ambulantes poderão descobrir. ESTATÍSTICA DOS LEPROSOS N.° da Ficha i Edades | EDADE ACTUAL SEXO Naturali- dade RAÇA ESTADO CIVIL Profissão Residência Edade era que a doei se manifestou ça i & \ * © PI "© = Dos prims. syinpt. l © i © i © ! © : ©r ! c I © ; ® © s s © © © S © © o © © De 11 a 20 annos © © © © ÍC © © Q © s © © © © 5© © Q Mais de ãO annos © JS s © © © © © © s © © "© ’© *© iZ2 © £ e s > Menor de lã annos Menor de 1 auno © © © © © © Sm © © © © © © © © C © © © . © © © Jl © p \ © © tf fí © p i 30 18 X X Pará X Nenhuma Bragança X 2 241114 X X X X X 3 12 6 X X X X X 4148 18 X X Ceará X X Lavrador „ X 5 42 32 X X H. Janeiro X X Nenhuma ,, X 6 35 31 X X Farâ X X Lavrador X 7 21 20 X X X X Nenhuma • ,, X 8 21 19 X X X x ,, X 9; 58 51 X X X X Insp.escolar ,, 5 10 39 31 X X X X Nenhuma ,, X 11 191(13 X X X X „ ,, X 12 17 13 X X X X Lavrador X 13 4236 X X X X X 14 55 49 X X R. G. Norte X X Nenhuma X 1527 18 X X Pará X X Lavrador X 1645 42 X X Ceará X X ,, X 17 20 17 X X Pará X X Nenhuma X 18 85 30 X X Maranhão X X Mendigo X 191164 54 X X Ceará X X Nenhuma ,, 20 35 32 X X Pará X X Lavrador X 2 li 401(36 X X ' X X Nenhuma ,, X 22 31 27 X X Portugal X X Negociante X 28 29 22 X X Fará X X Nenhuma ,, X 24 66 63 X X Geará X X Lavrador 25 66 59 X X X X n 26 22 13 X X Fará X X Engraxador ,, X 27 66 64 X X () X X Nenhuma ,, 28; 17 14 X X X X X 29, 17 11 X X X X Lavrador X 30 75 62 X X X X Nenhuma A ; 31 60 49 X X Ceará X X ,, X 32 9 7 X X Fará X X ,, X 33 14 7 X X X X X 34 15 13 X X X X Capanema (E.F.B.) X 35 22 22 X X X X Aux. comm. Ourem X 36 14 13 X X X X Nenhuma Tauary X 37 13 11 X X Ceará X X Bragança X 38 26; 18 X X Vigo-Hesp. X X Lavrador Benjarain Constant X 39 12 X X Pará X X Nenhuma Bragança 40 32 24 X X R, G. Norte X X Lavrador Tauarv X 41 55 54" X X Pará X X Nenhuma Bragança 42 70 67 X X X X Lavrador „ 43 43 39 X X X X Yizen x 4418 14 X X X X Diarista Bragança X 4526 25 X X X X Nenhuma X 46j i 12 11 X X X X X < 47 60; 59; X X Ceara’ X X 48(21 14 X X Pará X X X 49 16 14 X X X X }t ,9 X 4u IS 1 X X X X „ | | — 1 15 10 7 11 33 17 i ■ 29 20 1 25 12 6 7 " 1 1 3 19 111 s 3 Q 0 INTERIOR DO ESTADO / ss ss . »- SSSS ssr ss s? SS SS i? ** SS Sr. g*ssg?Sr sr ss SS SS g*' j gg s g >rg _ g . g gg = l|gs||’|l’|ll gs-g o f-Fs,I”'i°: r -v »■ H'o x x Pae leprosa FAMÍLIA LEPROSA Pae suspeito CO Mãe leprosa X X Mãe suspeita Avós lo) roses Cônjuge leproso CO H H H Irmãos leprosos CO X X X Outros par. lepr. XXX X X X XXXXXXXX XXXXXX X X X X X X X XX-XXXXXX XX Lepra Tuberculosa j Diagncst. clinico X X X X X X X lepra Anestbesica CO XXX X XX lepra Mixta 03 XXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXX o3 t=! í=j ° i B -ct Cd CO rCO C=J C o o o a ct> <=> cr c/a CO •“3 PD &CO cot CD c/a N.° da Ficha Bdades BQAQG ACTUAL SEXO Naturali- dade RAÇA ESTADO CIVIL Profissão Residência Edade em que a doeu se manifestou ça 1 ? 1 a Aetnal Dos prims. synipt. Menos de 1 anno De 1 a 3 annos i De 0 a 10 annos ; De 11 a 30 annos i 1 De 31 a 33 annos De 30 a 30 annos Mais de 50 annos Masculino e sa JS S ® 1 Branca Mestiça Preta Solteiro | Casado ( Viuvo O 0 0 4s s* 0 CS 01 1 Menor de 1 anno 9 rt w CS S De (t a 10 annos De 11 a 30 annos « 0 0 es ift SC ei fí © s I g ei & © Transporte.. 1 15 18 7 11 33 17 29 20 1 23 12 6 7 3 10 11 6 9 51 45 44 X X Pará X X Negociante Caratatéua X 52 8 2 X X X Nenhuma Mosqueiro X 58 60 59 X X Geará X X Pescador „ X 54 14 9 X X Pará X X Nenhuma 11 X 55 24 10 X X Parahyba X X 11 ,, X 56 56 44 X X R. G. Norte X X 11 X 57 22 20 X X Pará X X Pescador X 58 29 26 X X X X Nenhuma X 59 34 20 X X n X X 11 X 60 73 68 X X Ceará X X X 6 li,30 20 X X Pará X X X 62 11 7 X X X X Serv. dom. X 63 15 7 X X X X Nenhuma X 64 14 13G X X X X Domestica 11 X 65 28 14 X X X X Nenhuma 11 X 66 21 12 X X X X ,, X 67 38 32 X X X X ,, X 68 11 8 X X >> X X X 69 50 44 X X Ceará X X Carpinteiro 11 X 70 64 54 X X Pará X X Nenhuma ,, s 71 21 11 X X X X X 72 16 14 X X X X 11 11 X 73 11 5 X X X X „ X 74 11 8 X X X X ii X 75 23 10 X X X X „ X 76 16 7 X X X X X 77 80 75 X X X X Lavrador % 78 23 17 X X X X Nenhuma Soure X 79 25 21 X X X X X 80 38 25 X X X X X 81 10 6 X X X X X 82 61 55 X X X X Pescador 88 45 35 X X Portugal X X Nenhuma 11 X 84 21 15 X X Pará X X X 85 70 62 X X Minas X X X| 86 38 33 X X Piauhy X X 11 X 87 17 13 X X Pará X X ... X 88 58 49 X X Ceará X X X 89 10 3 X X Pará X X X 90 13 8 X X X X X 91 30 X X 11 X X 11 11 92 36 26 X X X X X 93 50 48 X X Maranhão X X Domestica Yizeu X 94 21 20 X X Ceará X X Nenhuma X 95 74 69 X X X X > 96 12 7 X X Pará X X X 97 7 5 X X X X '1 Gurupy X 98 33 29 X X X X Lavrador X 99 56 47 X X X X Ponta de Pedras X 100 57 51 X X X X „ ,, 5 27 31 15 22 63 37 52 45 3 46 23 12 19 1 II 4 14 31 19 13 !fi 119 1,0 Sym- FAMÍLIA LEPROSA Diagnost. clinico PESQUIZA DO BACÍLLO DE HANSEN REACÇÃO DE WASSERMANN C X % © © ct3 o o Observações ptoma © ..9 gg © © © a © © a © © © £ No muco Na Nos J=3 S "c 5=: -=tj O U) f— corpo 2 2 2 3 3 37 7 e 48 1 X X Domiciliar inchas X X X X X X ” Dr. Heiser {jj coxa Per icorP° .^sthBsia íeslh. pé X X X Dr, Heiser X X X X X X X X X X X ” u” dedo inchas X X X X ” - *P,°4 mãos X X X X X X X X X X X ” VÍÍ ,rnas «..Sr X X X X X X X X X X ” Pienxào dedos Pé X X X X X X X X >> KaJ .mãos utronco (•^chas Vi X X X X X X X >> X X x Dr. Heiser inchas X X X W’ .. fcajfcjj nlaoa Pl.:1 face K*a? dedos Ç4- face fachas X X X X X X X X X X ” ÍS*> nL"11®1 dor?'COxa DoJ Peraas «ir** L“' coxa X \ X X X X X X \ X )) X X X X Dorm Pds Cp!‘'aas lc- corpo X X X X X X ■ ” - ,i,tk »-P. X X X X ” «anchas X X X X X X X 1» Dr Heiser d’ dorso X X X X X X X X X X X X X x )» >> t 2 5 2 2 17 10 63 19 18 75 21 N.° da Ficha Edades í EDADE ACTUAL SEXO Naturali- dade RAÇA ESTADO CIVIL Profissão Residência Edatíe em que a doen se manifestou 5a % 5 * 1- S © Dos prims. synipt. C S B e CS © e s s »© a P b s «« O SS 4, p De 11 a 20 a imos © a ja Fi © p I De 30 a 50 annos © 5 ei ©5 © ff © © CB c a jã £ St © a TS s et © © d £ © .£d *© 'o © es p >■ ! Menor de 15 annos © © © es © © b © 05 et © P © et O Ti © P = © CS Fi d © P © © © © © Ft © P © | © © P Transporte.. 5 27 31 15 22 63 371 52 45 3 46 23 12 10 4 14 31 19 13 16 101 57 51 X X Pará X X Lavrador Ponta de Pedras X 102 15 18 X X X X Nenhuma X 103 18 16 X X X X „ X 104 40 X X X X Domestica ,, 105 20 8 X X X X Nenhuma X 106 25 X X X X 107 29 8 X X X X ,, X 108150 43 X X X X X 109 50 38 X X R. B, Norte X X Lavrador Peixe-Boi (E. F. B.) X 110 42 31 X X Pará X X Nenhuma X 111 39 34 X X R. G. Norte X X Lavrador X 112 29 27 X X Alagoas X X Domestica X 118 27 26 X X Pará X X Lavrador S. Miguel do Guamá X 114 32 27 X X X X Nenhuma X 115 30 X X X X Lavrador „ 116 36 32 •X X X X ,, X 117 29 X X X X Domestica Salinas 118 38 29 X X R. G. Norte X X Pescador X 119 66 26 X X Pará X X Lavrador X 120 23 16 X X X X Domestica Capanema (E.P.B.) X 121 62 20 X X Ceará X X Nenhuma X 122 30 26 X X R. G. Norte X X Agricultora V 4? X 123 21 18 X X Bailia X X Correcciona! Prata ,, X 124 35 30 X X Ceará X X Nenhuma X 125 17 7 X X R. G. Norte X X Rendeira Timboteua ,, X 126 55 45 X X X X Nenhuma ,, n X 127 25 20 X X X X Domestica Americano ,, X 128 52 51 X X Pará X X Agricultora Caraparú ,, 129 14 7 X X X X Nenhuma Magnary „ X 130 29 22 X X X X Ananindeua ,. X 131 26 43 X X Portugal X X Entrocamento ,, X 5 32 44 22 28 79 52' 68 58 5 Ob 36 10 20: 4 18 37 30 ííl 18 RESUMO: Sexos Total de fichas 131 Masculino 79 Feminino 52 131 Solteiros 60 Casados 36 Viúvos 15 Menores de 15 annos 20 Total 131 [ Branca.... 68 'Mestiça.... 58 y Preta 5 Total 131 Raças Estado civil Destes 131 leprosos são nacionaes 127 e extrangeiros 4. l&l L íiVr ' fí |g f|°S 3 s|s sfl” S-S. "S, 3 í=T I ff CO CO Pae leproso FAMÍLIA LEPROSA Pae suspeito 00 cn MHe leprosa CO CO Mãe suspeita CO co Avós leprosos Conjugo leproso CO CO X * x * * Irmãos leprosos CO H Ha Outros par. lepr. cS H H H H H H gg lepra Tuberculosa Diagnost. clinico CO CO H HH H HHH' HH HHH HH S lepra Anesthesiea CO H HHH H HH H H H X S lepra Mista CO H H H H H H S *T3 No muco nasal ji PESQUIZA DO BACILLO DE HANSEN il HHH H HHHHHHMHHHgS t=5 q<3 2? -c3 m para a ner- vosa. Considerando estes resultados assalta-me ao espirito a seguinte conclusão: houve erro na classificação clinica des- ses 204 leprosos porque as porcentagens de 76 para a for- ma tuberculosa é baixa e a de 38 para a forma nervosa é demasiado elevada. Dizem alguns auctores que só a reac- ção de Eitner poderá dar na lepra nervosa tão alta por- centagem de exames positivos. As minhas poucas experi- ências discordam dessa opinião. W. D. Sutherland e G. C. Mitra em 34 sôros encontraram 81 °/o de Wassermann posi- tivo na lepra tuberculosa e 20° o na lepra nervosa. No Sul empreguei como antigeno extracto aquoso de coração de cobayo, e aqui o mesmo extracto, porém alcooli- co, durante Julho e Agosto de 1921, e de lá para cá lipoides do coração de boi insolúveis na acetona. O Dr. Aben-Athar diz ser este ultimo antigeno, pre- parado pelo methodo Noguchi no Instituto Oswaldo Cruz, o mais especifico na syphilis, pelo menos. Confrontarei depois os resultados dos meus estudos fei- tos nos extremos Sul e Norte do Brazil. O Dr. W. Schufifner affirma que o extracto alcoolico do fígado syphilitico dá mais elevada porcentagem de reac- ção de Wassermann positiva que o aquoso. Deante de todos esses resultados e mais dos do Dr. Aben-Athar, que juizo se poderá fazer dos 41 exames de sôros leprosos feitos por Mathis e R. Beaujean, que obtive- ram apenas 1 resultado positivo num caso de lepra tuber- culosa, empregando a reacção de Wassermann modificada por Calmette e Massol ? Presos pelo parti-pris de affirmar ser essa reacção ab- solutamente especifica para a syphilis, esses pesquizadores dizem que o seu leproso que teve reacção positiva, era tam- bém syphilitico. Entretanto não provaram isso, como po- diam fazel-o, por meio da reacção de Eitner, ou empregan- do a tuberculina de Koch,' eomo antigeno, na reacção de Wassermann, segundo aconselham alguns pesquizadores eu- ropeus. ■ " Resumindo, verifiquei que em 10 dos trabalhos citados registram-se a presença de casos de lepra tuberculosa, dan- do como porcentagem de Wassermann positivo de 50 a 100°, o. Fazendo os cálculos encontrei exactamente 78 °/o como mé- dia geral para essa' forma clinica. Não pude estabelecer a mesma média para as outras formas clinicas da lepra por- que faltaram informações ou as que encontrei não me pa- receram acceitaveis. Devo citar ainda outros pesquizadores, dos quaes al- guns bastante reputados e celebres pelos seus trabalhos sci- entificos, que provaram ser a reacção de Wassermann fre- quentemente positiva na lepra tuberculosa e raramente po- sitiva na lepra nervosa. São eíles: Boas, Baermann e Wat- ter, Bicheler e Eliasberg, Faccini, Fox, Frugoni e Pisani, Lewin, Maslakowetz e Liebermann, Meier e Lie, Merkurjew, Mitsuda, R. Muller, Perutz, Montesanto e Sotiriades, Recio, Rocamore, Reinhart, Spindler, Suga, Wechselraann, Steffe- nhagen, e muitos outros REACÇÕES FEITAS NO INSTITUTO DE ITYGIENE DO PARA* Logo que iniciei 'os serviços de prophylaxia da lepra neste Estado, resolvi proseguir nas pesquizas sôrologicas, em leprosos, para completar as observações feitas no Pa- raná. Para que taes pesquizas fossem realizadas com o ri- gor technico que reclamara, confiei-as ao Director do Insti- tuto de Hygiene, Dr. Jayme Aben-Athar, antigo discípulo do Instituto Óswaldo Cruz, de Manguinhos, de cuja brilhante turma de 1907 fez parte. Apezar desse collega me ter de- clarado que essas pesquizas não lhe pareciam interessantes, no ponto de vista scientifico, eu insisti que as fizesse e hoje, após um anno de trabalho, elíe mudou de opinião, e não só considera preciosos os dados obtidos, como também acha conveniente proseguir nellas, experimentando vários anti- genos. Por suggestão minha vão ser feitas as reacções de Wassermann e de Eitner em liquidos cephalo-rhachêanos de leprosos da fórma nervosa. Desejo verificar se esse mate- rial dá maior numero de reacções positivas que o sôro. De Julho de 1921 a Maio de 1922 foram feitas 57p reac- ções de Wassermann em soros de 559 leprosos do Instituto Therapeutico. Destes, 543 têm uma só reacção e 16 têm 2 reacções em periodos differentes. Das 575 reacções reali- zadas, foram positivas 203 ou sejam 35,3 % a porcentagem global; 361 negativos ou 62,7 °/0 e 1L anti-compleraentares vou 2 °/0. A porcentagem global de 35,3 %de reacções positi- vas é muito baixa. Dos trabalhos extnangeiros o que me pa- receu mais approximado da verdade foi o de Photinos e Michaelis, que examinaram 204 sôros de leprosos de Creta, obtendo 56 % como positividade global. Nas primeiras reacções que fizemos, eu e o Dr. Leal Ferreira, em uma ultima série de 12 leprosos de Curityba, obtivemos 91,6 °/0 como positividade global, pois 11 resulta- dos foram francamente positivos e 1 anti-complementar. Devo declarar que nessa pequena série de doentes não ha- via nenhum da fórma nervosa. Distribuindo os resultados positivos, para cada uma das formas clinicas, dos 559 doentes com primeiros exames, te- mos; lepra tuberculosa, 51,07%; lepra mixta, 43,8% e le- pra nervosa, 25,07 %. Considero bastante satisfactoria a por- centagem de positividade para a fórma nervosa, porém mui- to baixas as demais. Qual será o motivo deste facto ? Haverá alguma influencia climatérica que reduza no sangue os lipoides que tornam a reacção positiva? Os elementos de que disponho como termos de refe- rencia são trabalhos realizados em regiões frias ou de cli- ma temperado, por isso tenho tendencia a crer ser o clima equatorial desta região o principal factor da reducção dos resultados positivos nos exames sôrologicos. Seria interessante confrontar os nossos resultados com outros de trabalhos realizados no Egypto ou nas índias, ou sejam em regiões de clima egual ou proximo ao desta zona. Infelizmente não tenho ás mãos nem conheço trabalho nesse teôr feitos em taes paizes. Pelo quadro que faz parte do resumo geral da esta- tística final do capitulo 11, vê-se que em 13 doentes a reac- ção de Wassermann foi positiva e tornou-se negativa após alguns mezes de tratamento intensivo com oleo de chaul- moogra. Dos sôros examinados pela primeira vez 11 foram impedientes, numero que equivale a 2 % do total das pri- meiras reacções; porcentagem essa inferior também á ob- tida por alguns auctores. De 2 casos de lepra anesthesica os sôros se mostraram anti-complementares no l.° exame e negativos no segundo. Da fórma mixta 1 soro impediente no primeiro exame tornou-se negativo no 20. Como todos es ses doentes estavam submettidos a tratamento intensivo pelo methodo do Dr. Heiser, é provável que esse facto tenha tido influencia nesses resultados. Vamos insistir nestas pes- quizas afim de, até o fim de 1922, podermos tirar algumas conclusões. Como principal factor da discordância de resultados das reacções de Wassermann na lepra devo citar a multi- plicidade de modificações do methodo clássico hoje postas em pratica por toda a parte, e além disso o systema de em- pregarem sôros frescos ou inactivados e ainda mais a gran- de variedade de antigenos em uso. Cada laboratorio ou cada pesquizador pretende hoje fazer a «sua» reacção de Wassermann. Não é debalde que o sabio governo allemão baixou um regulamento vigoroso sobre o methodo a adoptar e os elementos a empregar em tão preciosa reacção diagnostica. A REACÇÃO DE EITNER NA LEPRA A reacção de Eitner é a mesma reacção de Bordet Gengou applicada á lepra. Eitner preparava do seguinte modo o seu antigeno, por muitos auctores considerado especifico ; triturava fina- mente um leproma retirado por biopsia, e emulsionava a pasta em sôro physiologico phenicado. No momento do seu emprego era essa emulsão centrifugada energicamente e uti- lizado o sedimento, que se podia considerar como sendo uma suspensão dos bacillos da lepra. A riqueza dos bacillos de Hansen nesse extracto foi verificada microscopicamente. Diz Eitner que os sôros de indivíduos normaes e sy- philiticos não reagem na presença desse antigeno. A minha série de experiencias não está inteiramente de accôrdo com os resultados obtidos por Eitner. Empregando um extracto preparado segundo a tech- nica acima, Slatinéanu e Danielopolu fizeram a reacção em 26 sôros de leprosos do Asylo de Tikitesti-Dohogea, obten- do os seguintes resultados: 20 reacções fortemente positi- vas, 4 médias e 2 fracas, ou sejam 100 % de positividade, Além disso experimentaram o seu extracto em sôros normaes, sem obter o desvio do complemento. Mais tarde tomaram 21 sôros de outros leprosos e fizeram nelles a reac- ção de Wassermann com extracto alcoolico de figado de féto syphilitico, tendo verificado 11 resultados fortemente po- sitivos (50 °/0); 5 médios e 5 negativos. Como se vê estes resultados não diíferem muito dos obtidos com o extracto leproso. Os mesmos auctores fizeram a reacção de Was- sermann em 3 amostras de liquido cephalo-rhachêano, de leprosos, tendo verificado 2 resultados francamente positi- vos e 1 parcial. Gaucher e Abrami repetiram a reacção de Eitner com extracto aquoso de leproma, rico em bacillos, verificando um resultado constante positivo em 8 leprosos de fórma tuberculosa e negativo tanto num caso de lepra nervosa como noutras doenças. J. Sugai, Babes, Bruck e Gessner, Antonio Recio, An- tónio Serra, e outros pesquizadores obtiveram resultados idênticos aos de Eitner e Gaucher e Abrami empregando antigeno de leproma. Estes trabalhos são bastante interes- santes, mas a angustia do tempo não me permitte resurnil- os e commental-os, o que farei, se possivel, mais tarde, quan- do houver realizado uma grande série de taes reacções. Vejamos agora o que consegui nesse terreno. Por meio de biopsia retirei de um leproso dois lepromas, que foram triturados finamente, emulsionados em sôro physiologico phe- nicado e conservado na geladeira. O exame microscopico revelou a presença de bacillos da lepra nessa emulsão, não em grande numero como era desejável, porque foi feita a suspensão na proporção de 1 °/o. Com esse extracto, cen- trifugado ou não, fiz uma série de experiencias, que vou re- sumir adeante. O quadro abaixo demonstra terem sido em- pregados quatro antigenos differentes; lipoides de coração de vitello insolúveis na acetona a 1 % (o que adoptamos normalmente no Instituto de Hygiene para a reacção de Wassermann), tuberculina bruta de Koch a 1 para 50, sus- pensão de leproraa e vaccina anti-rabica. Tomei 24 sôros de leprosos, 1 de um doente suspeito e 3 de syphiliticos. Nas 22 primeiras reacções empreguei os 3 antigenos ; lipoides de coração de vitello, tuberculina bru- ta e suspensão de leproma, e na ultima série de 6 reacções empreguei, além desses 3 antigenos, mais 1, a vaccina anti- rabica. Resumindo os resultados consignados no quadro ade- ante, temos: Lepra tuberculosa 10 sôros, sendo: 1 fracamente po- sitivo e outro mediamente positivo no mesmo gráo com os 3 primeiros antigenos; lepra anesthesica 13 sôros, sendo; 2 fracamente positivos, sendo 1 com os 3 primeiros antigenos e o outro com todos os 4. O caso suspeito teve reacção fran- camente positiva com os 3 primeiros antigenos. Os 3 sôros syphiliticos deram os seguintes resultados; 1 positivo com os 4 antigenos, sendo mediamente com os 2 primeiros e fra- camente com os 2 últimos; 1 francamente positivo com os 3 primeiros e negativo com o 4.° antigeno; e 1 negativo com os 2 primeiros e fracamente positivo com os 2 últi- mos antigenos. Tres factos merecem menção especial: l.°— a baixa porcentagem de reacções positivas (4 em 24 sôros de leprosos declarados ou sejam 16,6 %); 2.°—todos os sô- ros positivos o foram tanto com a reacção de Wassermann como com a de Eitner; 3.°—os 3 sôros syphiliticos desvia- ram o complemento na presença da suspensão de leproma. Numero dos sôros ANTIGENOS Lipoides insolúveis na aceto- na ijioo (R. W.) Tuberculi- na bruta i[5° Suspensão de leproma Vaccina antira- bica DIAGNOSTICO A. P. X X X Lepra tuberculosa C. A. — — — ,, anesthesica 940 X X X X X X ,, tuberculosa 952 — — — 1.010 — — — ,, anesthesica 1.011 1.003 — — — *y 1.012 — • — — ,, tuberculosa M. P. — — — 863 — — — ,, anesthesica 957 991 — ■— — y y 1.017 — — — ,, tuberculosa 219 XXX X X XXX Suspeito 1.018 X X X ,, anesthesica 431 — — — B. P. — — — ,, incipiente J. S. — — — ,, tub. tratada 1.020 — — — — ,, tuberculosa 1.021 X X X X ,, anesthesica 1.022 — — — 1.023 — — — — ,, mixta 398 — — — — ,, tuberculosa 794 — — — — ,, anesthesica 943 — — — — ,, tuberculosa 9.336 XXX X X X X Syphilis 9.117 — — X X 9.321 X X X Com a maior parte destes sôros, envelhecidos de 10 a 15 dias, o Dr. Aben-Athar repetiu as reacções de Wasser- mann e de Eitner, tendo verificado maior porcentagem de resultados positivos e 8 anti-complementares. Esse collega não me quiz fornecer dados dessa sua experiencia, allegan- do 3 factos corapromettedores das reacções: 1— contaminação dos sôros deixados na geladeira; 2 do extracto de leproma; e 3 desconfiança de que a agua distillada, comprada nesse dia na fabrica de gêlo, continha qualquer substancia hemolitica. Interessado em augmentar o numero destas reacções, logo que o Dr. Aben-Athar reassumiu a direcção do Insti- tuto de Hygiene, encarregueio-o de proseguil-as. Das pri- meiras séries delias, feitas com emulsão de lepromas, sem- pre fresca, forneceu-me o Dr. Aben-Athar os seguintes re- sultados : ANTIGENOS N. dos SÕPOS Lipoides insolú- veis na acetona il5o (R. W) Suspensão de lepromas Tuberculina bruta x|io DIAGNOSTICO 929 X X X X ' X Lepra tuberculosa 947 XXX — — „ anesthesica 977 — X X „ mixta 982 — — — „ anesthesica 922 — ■ X X X X 935 959 Anti-comple- Anti-comple- Anti-comple- mentar mentar mentar „ mixta 961 X X X X — — „ tuberculosa 963 — — — „ anesthesica 938 — — — 972 — — — n 1007 — — — )} 1030 — — — 1031 — — X X a a 1032 X X — X X X X „ tuberculosa 1008 — — — „ anesthesica ‘ 1033 XXX X X X X n „ 9410 X X X X — — Syphilis 9438 — — — » 9518 X X X X — — ff 9622 — — — ff 9623 — — — ■ ff 9650 X X X X — — ff 9651 X X X X — — Pelo visto, em sua segunda série, o resultado que se apurou dos ensaios de desvio de complemento na lepra não divergio do já obtido. Dos tres antigenos empregados, afóra o syphilitico, cuja acção já é conhecida, tanto a tuberculina bruta como a suspensão do leproma não fixaram electiva- mente o complemento do sôro dos leprosos, ainda mesmo augmentando a dose de sôro a examinar para 0,2, c. c. e empregando-o fresco, não inactivado. Si, além do anti-corpo lipoidophilo, existe outro amboceptor mais especifico do que este é o que novos ensaios tentarão demonstrar. CAPITULO IY ESTUDO CLINICO Summario: Edades de acquisição do mal. Contagio. Symptomatologia. Formas clinicas predomi- nantes Mortalidade. I. EDADE DE ACQUISIÇÃO DO JVÍAL*. Sendo de alta importância para um estudo de conjuncto sobre a lepra saber-se a edade em que cada doente adquiriu o mal, procurei todos os meios ao meu alcance para conseguir essa informação. Estou bem certo de que de dous terços dos doentes exami- nados os informes obtidos se approximam da verdade; a ou- tra terça parte delles tinha duvidas sobre a épocha do appare- cimento do primeiro symptoma. Para estes casos adoptei e mandei adoptar a seguinte norma: assignalar na ficha, como épocha de tal acquisição, a sua edade no momento da matricula no Instituto ou isolamento no Tocunduba, menos um anno. Bem sei que na maioria dos casos este processo se afasta um pouco da realidade porque muitos dos doentes quando notam o primeiro symptoma da lepra já estão enfermos ha muito mais de um anno. Entretanto o quadro abaixo representa um grande esforço e bôa vontade, e os dados numéricos nelle con- tidos podem ser tomados como muito proximos da verdade. O facto de ter lidado com um povo intelligente, vivo e sa- bendo ler, facilitou-me a obtenção desses dados, scientifica- mente acceitaveis, pois são rigorosos quanto possivcis. O total das nossas fichas de lepra, até 31 de Maio ultimo, attingiu a 1.359; descontadas 5 fichas em duplicata restam 1.354 e destas 3 do Tocunduba não são de leprosos e mais 23 que nada informan quanto á épocha da acquisição da doença, ficam 1.328, como se vê do quadro seguinte. E destes 1.328 adquiriram a doença, antes dos 20 annos, 713 ou sejam approximadamente 56 °|°. De 21 a 50 annos 502, ou sejam pouco menos de 38 °|°, e os restantes 83, com mais de 50 annos. O quadro abaixo orientará melhor o leitor porque traz todas as informações obtidas nesse sentido. A minha estatistica veiu confirmar a que ha tempos pu- blicou o Dr. Jayme AbemAthar, no seu bello trabalho intitu- lado “A lepra como moléstia infantil e vaccinante” (Pará Me- dico, Vol. I, Anno II n. 3—1916) onde diz: “Resulta do que tenho visto, que, aqui no Pará, a maioria dos casos de lepra occorre antes dos 20 annos. Desta edade em deantc, os casos novos começam a ser raros... “... os casos novos de lepra têm uma edade habitual dif- ferente nos paraenses, e nos adventicios-nacionaes ou princi- palmente, extrangeiros. Isto é, nos (paraenses os casos novos de lepra expluem sempre nas creanças, em indivíduos meno- res de 20 annos, emfim, emquanto que os casos novos da eda- de adulta só se contam, em geral, entre os adventícios”. E conclue, adeante: “a) a lepra é uma moléstia da infan- cia; b) ha probabilidade duma auto-vaccinação que explica a immunidade dos adultos nativos”. Mais tarde me utilizarei de novo deste trabalho, quando tiver de estudar assumptos referentes aos obitos por lepra. Na estatistica seguinte constam 2 casos em que a bacillo- se de Hansen foi adquirida em tenra edade, dizem que antes de um anno. São os doentes das fichas 149 e 260, do Tocun- duba; a doente da ficha 136 affirma saber que o seu mal se manifestou quando ella tinha 12 mezes. A minha estatistica regista 10 casos de acquisição do mal de 1 anno para baixo. EDADE DE ACQUISIÇÃO DA LEPRA Nada informam 26 Tenra edade .... 2 1 anno 8 2 annos 7 3 17 4 „ 16 5 „ 23 6 49 7 60 8 69 9 „ •53 10 64 11 „ 46 12 „ , 37 13 50 14 48 15 annos 46 16 29 17 „ 29 18 „ 33 19 „ 27 20 „ 30 21 : 22 22 26 23 „ 23 24 18 25 „ .„* 29 26 20 27 27 28 „ 20 29 „ 20 30 „ 24 A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENER EAS NO ESTADO DO PARA' Família leprosa. Esta doente tem mais dois filhinhos, portanto quatro, aos quaes transmittiu o seu mal A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA’ Manchas hyperchromicas salientes Manchas escamosas e lepromas chatos 31 annos 22 32 „ ~... 22 33 ~ 16 34 „ 13 35 „ 26 36 „ 18 37 „ 11 38 „ 20 39 „ 15 40 „ 16 41 „ 8 42 „ 12 43 „ 11 I 44 „ 14 45 „ 12 46 „ 7 4/ „ 5 48 „ 9 49 „ 7 >5O „ 9 51 annos 16 52 „ 14 53 „ 4 54 „ 7 55 „ 8 56 „ 5 57 „ 1 58 „ '.... 2 59 „ 7 61 „ 1 62 „ 4 63 „ 1 64 „ 2 65 „ 3 67 „ 1 68 „ 2 69 „ 2 70 „ 1 75 „ 2 Total 1.354 2. DO CONTAGIO. Dos 1.354 leprosos recenseados, 1.011 declararam igno- rar como adquiriram a doença; 320, ou sejam 23,6 °|° do total, affirmaram ter convivido com leprosos, parentes ou não, at- tribuindo a acquisição do mal pelo contagio directo; nada in- formaram 23, dos quaes 2 por soffrerem das faculdades men- ta es e 3 por serem sadios, embora se achem internados no To- cunduba, Dos 1.354 leprosos examinados 439 declararam ter pa- rentes leprosos, sendo que na sua quasi totalidade foi o facto verificado por technicos do Serviço. Tinham—mãe leprosa 56; pae leproso 44; irmãos lepro- sos 148; cônjuge leproso 83, e outros parentes—9s. No Instituto Therapeutico da Lepra temos em tratamen- to muitos leprosos que têm vários irmãos atacados da mesma doença. Um casal apparentemente sadio (trata-se do porteiro da estação de São Braz, da Estrada de Ferro de Bragança) tem 4 filhos leprosos, todos era período adeantado, em trata- mento comnosco; temos mais duas leprosas, uma de Mosquei- ro, outra de Belem, cada uma com 3 filhos leprosos; paes ou mães leprosos com 1 ou 2 filhos soffrendo do mesmo mal, são commumnissimos nesta cidade. Sempre que a mãe é leprosa o numero de filhos leprosos é maior do que quando o pae é o doente. Isto se explica pela maior convivência que os filhos têm com as mães, sobretudo durante a primeira infanda, quando são mais receptiveis. E’ o que chamamos contagio familiar na pequena infan- da. Os casaes leprosos são mais raros que era de se suppôr, salvo casamento de 2 doentes, facto que indica ser o adulto menos receptivel que a creança. Quanto á concepção temos tido em o nosso Serviço lepro- sas muito adeantadas em estado de gravidez. O aborto é ra- rissimo entre ellas. Muitos dos leprosos matriculados no “Instituto Therapeu- tico da Lepra” são paes ou mães de próles numerosas. Vem a calhar, neste capitulo, a citação de algumas obser- vações interessantissimas que fiz no Tocunduba. A dona da ficha 129, uma preta de 35 annos, que vive no Asylo ha 7, exercendo o cargo de lavadeira, já contrahiu dons matrimónios, religiosos, com leprosos e não ficou leprosa. Do primeiro matrimonio teve cinco filhos, dos quacs trez ficaram leprosos (fichas 131 a 133). Uma outra antiga lavadeira do estabelecimento, com 51 annos de edade, goza saúde (ficha 267). Casou-se duas vezes; do primeiro matrimonio—com ho- mem sadio—teve 6 filhos, dos quaes sobrevive uma menina, e dos 5 que morreram um era leproso. 0 seu segundo matri- monio, religioso, feito no proprio Asylo, foi com o leproso da ficha 21. Os leprosos das fichas 163 e 164 têm uma filhinha, actual- mente com 7 annos, mas nascida no proprio asylo, a qual não apresenta signaes do terrivel mal. A doente da ficha 204 não passa, por emquanto, de sim- ples portadora do bacillo de Hansen, apezar de casada com um leproso (ficha 180), em estado bastante adeantado. Posso adeantar apenas que o exame do muco nasal desta doente foi positivo! Trabalhando em ura campo vasto, dentro do “fóco” mais intenso de lepra da America do Sul, tenho me esforçado por obter informes seguros sobre a transmissão dessa bacillose. As minhas observações vão de dia a dia fortalecendo mais as minhas idéas sobre a contagiosidade da lepra. São centenares os casos dessa doença nos quaes nenhum factor contraria a doutrina do “contagio directo de homem doente a homem são”, confirmando a opinião dos sábios que tomaram parte na conferencia da lepra em Berlim. São, comtudo. muitos os casos em que não se póde depis- tar o modo do contagio. Tenho casos interessantíssimos de creanças de famílias de outros Estados, aqui domiciliadas ha alguns annos. que adqui- riram a lepra não se sabe como, pois negam terminantemente a convivência com um doente dessa especie. Ha exemplos curiosos que só mesmo a transmissão pelos mosquitos explica- ria o modo de acquisição do mal. E’ interessante verificar-se que o i)ovo desta cidade acre- dita convictamente na transmissão culicidiana da lepra. Devo referir o facto, da existência aqui, em collossal abundancia, dos seguintes culicideos: Stegomyia calopus, Culex fatigans e Culex pipiens, incriminados pelo meu sábio Mestre Dr. Adol- pho Lutz como os “prováveis transmissores” do bacillo de Han- sen, que absorvem sugando leprosos em periodo febril. Mais frequente que no Sul são os accessos fdbris dos leprosos deste Estado. Commummente estou sendo consultado ou examinan- do leprosos em fortes paroxismos com recrudescência dos sym- ptomas cutâneos e febre bastante elevada e duradoura. Não devo deixar de referir também o facto, aqui frequén- te, de se encontrarem empregados domésticos, cozinheiros, la- vadeiras, amas secca ou de leite, arrumadeiras, etc., atacados de lepra, sem que os patrões o saibam e muitas vezes esse facto é do seu conhecimento. Os casos de acquisição do mal em uma fonte ignorada podem encontrar explicação nesse facto de minha observação. Doutro lado não se deve esquecer que em Belem convive-se obrigatoriamente com leprosos em toda a parte, até nos thea- tros e salões. Além disso merece ser citada também a possibilidade do contagio dos receptiveis com os portadores do bacillo de Han- sen, refractários á sua acção pathógena. Todos estes factos encontram base scientifica na patho- logia geral. Só o povo ignorante, do interior, é que acredita na here- ditariedade da lepra, aqui. Contra essa velha theoria derrotada, eu poderia ainda ci- tar innumeraveis casos isolados de lepra em creanças filhas de numerosas familias, cujos paes e irmãos mais velhos são abso- lutamente sadios. Uma moléstia que assim se apresenta não póde ser consi- derada hereditária. Como os filhos poderiam adoecer antes dos paes? Raros embora, mas apparecem sempre, em toda parte, al- guns casos de lepra congénita, só explicável pela passagem do bacillo de Hansen atravéz uma placenta lesada de qualquer fórma. Diz Blanquier que nos casos em que a placenta é sã, a creança de mãe leprosa nasce indemne do mal. A “Lepers Mis- sion”, das índias, tem verificado já em duas gerações que os filhos de leprosos separados em tempo dos seus progenitores não adquirem a lepra. Com Stecker, Falcão e muitos outros auctores acredito ser a mucosa nasal a principal porta de en- trada do bacillo de Hansen, no organismo humano. Pelas erosões cutaneas deve ser mais diffil a acquisição da doença. Tenho uma certa convicção de que o unico segredo ainda existente na epidemiologia da lepra será dentro de poucos an- nos desvendado. 3. PRIMEIROS SVjVTPTOMftS. De 1.324 dos 1.354 leprosos examinados foi possivel ob- ter-se uma informação sobre qual o l.° symptoma appareci- do. Quanto aos pródromos do mal, é sempre mais difficil con- seguir-se uma informação segura, em todo o caso posso offe- recer alguns dados interessantes. H. Léloir dá como symptomas pródromicos da lepra, os seguintes, que, apezar do seu tratado sobre o assumpto datar de 1886, ainda hoje são os mais commummente verificados: a) Febre, b) Fraqueza, abatimento, c) Somnolencia. d) Pertur- bações digestivas, e) Oppressão. f) Seccura do nariz. Epista- xis. g) Cephalalgia. Vertigens, h) Perturbações da sudação, i) Anomalias da secreção das glandulas pilo-sebeceas. j) Pru- rido. Hyperesthesia cutanea. k) Neuralgias. 1) Pemphigo. m) Alquebramento geral. Dores rheumatoides. Rhachialgia. n) Anemia, o) Perturbações da menstruação, p) Satyriasis. Todos estes symptomas foram registrados em muitas das fichas de mil e tantos leprosos, porém, os mais frequentemeníe narrados ou observados foram os seguintes: Hyperesthesia cu- tanea, com sensação de calor, ardôr, formigamento ou de pi- cadas; alquebramento geral como no estado de invasão da grippe, tanto que é corriqueiro ouvir-se os leprosos dizerem: “após um resfriamento, com fraqueza do corpo, comecei a fi- car assim. . somnolencia, com sensação de preguiça; febre, de regra com intermittencias, que não céde definitivamente á acção da quinina, como a febre malarica; seccura do nariz com epistaxis ou entupimento; comichão no nariz, acompanhada de coryza; dores vagas na cabeça, acompanhadas de um estado sub-vertiginoso; falta de appetite; dôres vagas nos membros; perturbação da menstruação, um dos symptomas relativamente mais frequentes nas moças, indo até á completa amenorrhéa após o periodo de invasão dâ doença; sérias perturbações da secreção sudoral eda pilo-sebacea, acompanhadas de quéda dos pellos. Um certo calôr, bastante incommodo, nos lobulos das orelhas, no dôrso ou nas plantas dos pés é muito suspeito de pródromo de lepra. A quéda dos supercilios, a começar das extremidades externas, o aspecto luzidio da face ou sua colora- ção arroxeada, o aspecto luzidio das mãos, com ligeira atro- phia da pelle ou ligeiro edema, são também signaes suspeitos de lepra incipiente. Fiz e faço sempre grande questão de ouvir do doente qual A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA’ Lepra nervosa. Satyriasis Lepra trophoneurotica. Homem com seios A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS YEN ER EAS NO ESTADO DO PARA A lepra produzindo as suas deformações o primeiro symptoma que observou cm si; quando se trata de creança de gente baixa, porque os paes não cuidam da hy- giene da sua pelle, passa a estes desapercebido o primeiro symptoma. Os primeiros symptomas observados maior numero de ve- zes, foram os seguintes: manchas chromicas ou hyperchromi- cas 667 vezes; manchas achromicas ou despigmentadas 142; manchas rosadas de aspecto erythematoso, 29; de regra as manchas achromicas se apresentaram insensíveis e as chromi- cas hypo ou hyperesthesicas. Em todo o caso não houve man- cha leprosa que não apresentasse perturbação da sensibilida- de. Anesthesias 151 vezes, hypoesthesias 52 e paresthesias 86, em regiões da pelle com ou sem maculas. Febre 177 vezes; a febre vem logo depois do contagio, segundo Gilbert e outros auctores; sensação de dormência, quasi sempre nas extremida- des, e quando nos braços, de preferencia na região cubital ou dorso das mãos. Observei 32 vezes lepromas, sem pródromos, nas orelhas, faces ou ante-braços. Este é um symptoma raro. Depois das observações de Léloir, na Italia, poucas vezes tem sido citado o leproma como primeiro symptoma. Em 56 casos o primeiro symptoma notado foi uma ulcera perfurante plantar, também observado como tal na Noruega por A. Han- sen, Léloir e outros. Ulceras, quasi todas nos membros, 23 vo- zes; rheumatismo 9 vezes succedidas a um resfriamento. Dores violentas na planta dos pés 2 vezes; espessamento das orelhas 21 vezes; erupções de vários aspectos 16 vezes; atropina dos musculos das mãos 21 vezes; vesículas 12 vezes; flexão dos de- dos das mãos, em differentes grãos, 17 vezes. Outros primeiros symptomas, observados em menor nu- mero de vezes: cephalalgias, calôr especial em certas regiões do corpo, ausência de suor, edemas, deformação dos dedos, es- pessamento da pelle, epistaxis, rhinite, erysipela, calafrios, for- migamento, frieiras nos pés, infiltrações da pellè dos mem- bros, prurido, cyanose das orelhas ou da cutis, pelle luzidia, sccca ou escamosa, espessamente do nervo cubital, e vários ou- tros symptomas de menos importância. Os números acima foram tirados directamente das fichas e não combinam em absoluto com os quadros estatísticos por- que estes não tinham espaço para todos os symptomas im- portantes . CONJUNCTO DE SYMPTOMAS ENCONTRADOS NOS LEPRO- SOS, NA OCCASIÃO DA CONFECÇÃO DAS FICHAS. Couro cabelludo; nenhuma lesão característica de lepra, salvo algumas vezes ligeira invasão delle por uma mancha hy- perchromica da fronte ou da nuca. A calvície é rarissima nos leprosos e de regra não corre por conta da lepra . Estatística de symptomas por vezes; Face: aspecto typico de lepra leonina 44; de lepra tropho- neurótica 53; edemaciada ou “bouffie” 11; cyanotica 9; infil- trada 138; hyperchromica com uma nuança característica 10; deformada 8; pelle luzidia 4; aspecto cadavérico 3; paralysia unilateral 1; erupção punctiforme 1. Sobrancelhas; quéda completa 111 vezes; desfalcadas 869; conservadas 293 vezes; sem informação em 82 fichas. Orelhas: hypertrophiadas 556 vezes; cyanoticas 314; de- formadas 42; ulceradas 19; escamosas 3 e atrophiadas e mur- chas 3. Nariz: com inflammação da mucosa 393 vezes; deforma- do 125; hypertrophiado 75; em sella 29; apenas achatado na extremidade 19; ulcerado 12; com perfuração do septo 58; com epistaxis frequente 52; entupido 6; cyanotico 4 e em co- meço de deformação 7. Olhos: o leucoma corneo, a iritis leprosa e a cegueira to- tal foram observados varias vezes. O Dr. B. Rutowitcz ficou de me fornecer a estatística das lesões occulares dos leprosos do Tocunduba e não o fez por falta de ophthalmoscopio. Lábios: vi vários leprosos com lepromas, Íntegros ou ul- cerados, localizados nos lábios. Pescoço: afóra rarissimas manchas não se encontram le- sões leprosas no pescoço e cujos ganglios só são enfartados ex- cepcionalmente . Garganta: as pharyngites e laryngites são frequentes nos casos adeantados de lepra tuberculosa. Nos casos de lepra ner- vosa pura, a garganta não apresenta lesões. Peito: nesta parte do tronco não são também muito fre- quentes as lesões typicas da lepra. Raras vezes tenho notado lepromas no peito, salvo nos mammillos em que são mais communs; ás vezes algumas manchas ou infiltração da pelle. Abdómen: nesta parte do corpo é mais commum se en- contrarem lesões typicas da lepra, sobretudo maculas. Dorso: nas costas se assentam muitas manchas, lepromas elevados ou lepromas chatos, em placas grandes, salientes. Nadegas: sobretudo nas creanças e moças tenho encontra- do manchas de todos os aspectos nas nadegas. Quasi sempre sâo ahi as primeiras. Braços: com atrophias 133 vezes; edemasiados e infiltra- dos 23; com ulcerações 32; com pelle cyanotica e luzidia são innumeros os casos. Lepromas de todas as formas e tamanhos também são observados frequentemente nos braços. Mãos: atrophiadas 499 vezes; em garra ou mão simiesca 91 vezes; edemaciadas 109; hypertrophiadas 20; com pelle lu- zidia 58; deformadas 36; cyanoticas 31; ulceradas 31; mutiladas 19; enormemente augmentadas e deformadas 3 e muitas com lesões menos importantes. Dedos; flectidos 303 vezes; hypertrophiados 169; deforma- dos 98; mutilados 93; em começo de mutilação 48; ulcerados 49; em começo de deformação 37; atrophiados 60; com ony- chorrhexis ou onychogryphose 21; matriz luzidia 178, e outras lesões menos características. Coxas: atrophiadas 66; ulceradas 18; pelle do joelho en- grossada 10; despigmenladas 8; com dormência 2; eschlero- dermia 2 e hyperchromicas cyanosadas 9, e com adenites in- guino-cruraes 178 vezes. Pernas: as lesões principaes observadas foram: ulceras 96 vezes; atrophia accentuada 97; edema 51; pelle hyperchromicj 51; pelle escamosa 33; pachydermia 11; pelle luzidia 53; cyano- tica 5 e infiltrada 7. Pés: ulcerados 76 vezes; deformados 52; mutilados 45; atrophiados 56; hypertrophiados 334; cyano ticos 176; pachy- dermia e eschlerodermia 17 e ulcera perfurante plantar 280 vezes. Artelhos; hypertrophiados 212 vezes; em deformação 169; deformados 84; ulcerados 94; mutilados e reabsorvidos 92; em começo de mutilação 59; muito engrossados 34; atrophiados 12; cyanoticos 12; com unhas esphaceladas 7; com unhas cabi- das 10; flectidos 6 e outras lesões de pouca monta. Outros symptomas observados em varias partes do corpo: Lepromas 594 vezes, sendo 501 lepromas Íntegros e os de mais ulcerados ou reabsorvidos; manchas 'indeterminadas 405 vezes; manchas; achromicas 670, chromicas 317, hyperchro- micas de regra cyanoticas 67, salientes 53, escamosas 49, com- pletamente anesthesicas 31, rosadas 41; cicatrizes de lepromas, de ulceras e de pyodermites 341 vezes; edemas 100 vezes; ulce- rações notáveis 97; grande infiltração dermica 84; erupções pruriginosas 128; e muitas vezes eczemas, pustulas, prurigo, pemphigo, pachydermia, vesículas, adenites, placas anesthesi- cas. Outros aspectos da pelle: cyanotica e fria 23, atrophia ge- ral 13, luzidia e secca 110, escamosa 67, espessada, na fronte, 11, crostosa 14; engrossada ou com pigmentação especial, mui- tas vezes. A escabiose orça, sem exaggero, em 70 a 80 °|° dos casos de lepra recenseados; a echtyma é muito frequente nos leprosos mal tratados da sarna. Grassa com relativa abundancia a trichophycea cutane.i nos leprosos. Tratei innumeros casos pelo methodo de Sabou- raud adoptado na cura do Eczema marginatum. A dysmenorrhéa e mesmo a amenorrhéa são communs entre as leprosas. Tenho observado muitas leprosas gravidas e os casaes atacados dessa doença são, pelo menos durante alguns annõâ, muito prolíficos e entretanto não observei ainda nenhum caso de aborto entre leprosos. Alguns casos bem adeantados do mal chegam a termo com a gravidez e dão á luz os seus filhos de aspecto sadio sem accidentes. DOENÇAS INTERCORRENTES A tuberculose não é rara entre os leprosos de Belem, mas é preciso notar que elia é frequente na população belemense em geral, O impaludismo é frequente entre os leprosos tanto do Tocunduba como da cidade. Em 247 exames de fezes de le- prosos do Instituto Therapeutico ficaram verificadas as se- guintes incidências de infecções por vermes intéstinaes: Ancy- lostomose 204; Ascaridiose 239; Trichuriose 223; Estrongy-.- lose 40 e Enterobiose 5, As porcentagens são muito mais elevadas que as do Tocunduba. FORMAS CLINICAS PREDOMINANTES Na classificação das formas clinicas dos casos de lepra recenseados, tivemos, eu e os demais médicos encarregados de tal serviço, de adoptar as únicas tres formas inscriptas no mo- delo da ficha da Inspectoria de Prophylaxia da Lepra; a tuber- culosa, a anesíhesica e a mixta. No ponto de vista pratico, para efféito da prophylaxia, con- cordo que essas informações são bastantes; scientificamentc, porém, ellas são demasiado insufficientes. Não queria que se mandasse adoptar a extensa chave do Dr. I. Ando, de Tokio, mas as fichas poderiam ter espaço e solicitar do technico in- formações sobre as variedades mais importantes daquellas ires formas clinicas classicas. Em mil e tantos casos poder-se-hia organizar uma interessante estatistica. Já havia notado com as fichas e agora obtive confirmação com os quesitos individuaes pedidos por aquella Inspectoria, que ella não é sufficientemente exigente na estatistica dos symptomas clínicos da lepra. Eu sou daquelles que pensam que, incumbidos de uina campanha de tal natureza, de um ramo qualquer da prophyla- xia, devemos procurar reunir a maior cópia possível de dados scientificos sobre todos os assumptos. De todas as campanhas de saneamento é essa a parte que mais perdura -—a scientificá; os resto é de duração mais ou menos ephemera. Além de satisfazer essa exigencia scientificá, as sub-classi- ficações das formas clinicas da lepra facilitariam a classifica- ção de muitos casos que embaraçam os médicos pouco affeitos a íaes trabalhos e pouco versados em dermatologia. Nada me- nos de seis médicos trabalharam commigo, durante o anno findo, nos dispensários anti-leprosos. Por fim ficaram só dois, effectivòs. Durante os primeiros mezes resultou uma vérda- A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA’ Deformações que a lepra imprime á physionomia Caso de lepra tuberculosa com lepromas miliares  PROPHYLAXTA DA LEPRA R DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA’ Lepra tuberculosa com adenités inguinaes deira balbúrdia na classificação clinica dos leprosos examina- dos. Fiz a revisão clinica de quasi todos os enfermos; em mui- tos delles, duzentos ou trezentos, fiz duas e tres dessas revisões, e então aproveitava a occasião para corrigir as fichas e annotar as melhoras que os doentes iam apresentando no correr do tratamento. Encontrei, por essa occasião, centenas de fichas com o diagnostico de lepra certo, mas a classificação clinica do doente errada. Muitos casos, relativamente recentes, estavam diagnos- ticados de lepra mixta... Bastava encontrarem maculas e zo- nas paresthesicas para incluírem naquella fórma clinica. Cor- rigi muitas fichas dos Drs. Bernardo Rutowitcz e Tertuliano Pacheco. Por fim resolvi mandar adoptar a seguinte norma para classificação das formas clinicas da lepra: fórma tuber- culosa— quando apresentasse o doente lepromas, em qualquer quantidade e de qualquer fórma, grandes zonas de infiltração, engrossamento das orelhas, etc.; fórm?, tuberculosa incipiente quando o doente apresentasse manchas hyperchromicas, sa- lientes ou não, com a pelle luzidia, ligeiro edema nas extremi- dades, orelhas, etc. (norma adoptada por H. Leloir); fórma anesthesica os casos typicos de mutilações, mal perfurante, flexão ou deformação dos dedos, atrophias musculares, en- grossamento de certos nervos, grandes manchas achromicas in- sensíveis ou hyposensiveis, etc.; fórma anesthesica incipiente— pequenas manchas achromicas ou quasi, com perturbações da sensibilidade, ligeiras atrophias dos musculos das mãos, en- grossamento dos nervos cubital ou mediano, começo de flexão nos dedos, etc. Sempre classifiquei de lepra anesthesica inci- piente os casos de mancha apenas visiveis, com zonas de anes- thesia. Casos representando apenas a ulcera perfurante plan- tar sempre inclui nesse grupo. Só classifiquei e classifico como íepra mixta os casos apresentando os symptomas typicos da- quellas duas formas clinicas, por exemplo: lepromas acompa- nhados de mutilação das mãos ou pés, ou de simples flexão dos dedos, com séria atrophia muscular. Um estudo cuidadoso das fórmas clinicas da lepra aqui, annotando-se todas as suas minúcias, daria um trabalho magni- fico e que serviria de modelo para os pesquizdores de outras regiões. São relativamente communs entre os nossos leprosos os casos de lesões nervosas produzindo nevrites periphericas, mye- lites e encephalites. O andar escarvante (denominação de Fran- cisco de Castro), chamado pelos francezes “steppage”, é resul- tante, segundo Aloysio de Castro, da paralysia dos extensores do pé. Sempre que ha ausência de flexão dorsal do pé apparece ou manifesta-se o andar escarvante, tão bem observado por Scheube em beribericos do Japão e em varias paraplegias to- xicas, “typo de flexão” (Charcol) e nas lesões dos extensores do pé (typo frequente Leyden-Moebius). A dysbasia unilateral flaccida, typo paralytico é communl entre as creanças leprosas, muitas delias ainda com a doença pouco avançada. Como se explicará aqui a degeneração dos extensores do pé? quando a parte superior dò corpo ainda não foi bastante attingida? O bacillo teria penetrado pelos pés e pernas, e invadido logo os nervos? E’ provável. A dysbasia unilateral é mais frequente, porém tenho tam- bém vários casos de dysbasia bilateral, sempre rectilínea e flac- cida, portanto do typo escarvante, ataxico ou paraplégico. As dysbasias bilateraes traduzem affecções medullares (Aloysio de Castro). Tenho um caso grave (o doente J. Carva- lho) com paraplegia flaccida, como sabemos em consequência duma myelite diffusa, produzindo o andar typo ataxico, acom- panhado do signal de Romberg. Estou bem certo de que os casos de dysbasia unilateral que tenho observado em creanças leprosas se filiam ás affecções dos nervos periphericos, sem compromettimento do encephalo. A causa do andar escarvante dos leprosos é, portanto, a paralysia dos musculos da região anterior da perna, innervados pelo sciatico poplitêo externo. Nos casos mais adeántados desapparece por completo a flexão do pé sobre a perna e o leproso não mantem mais no pé as chinellas, se não forem amarradas. No Tocunduba temos alguns casos typicos de andar es- carvante adeantado os quaes pela difficuldade de andarem cal- çados de chinellas, tamancos ou sandalias fazem lembrar os beribericos verificados por Scheube no Japão, Perturbações das faculdades mentaes em leprosos da fórma nervosa não são raras aqui. Já observei 4 no Tocunduba e 1 no Instituto. No relatorio do fim deste anno pretendo incluir uma estatística dos casos de lepra com lesões nervosas peripbericas, medulln- res e encephalicas. No Tocunduba temos alguns leprosos que tiveram no cor- rer do anno mais de 10 e até 14 paroxysmos febris, acompanha- dos de erupções maculosas ou nodulares. Estatística das formais clinicas: Lepra tuberculosa, 359; lepra anesthesica, 668 e lepra mix- ta, 321. Total 1.348. Os restantes 6 se referem a casos ainda não declarados, conforme sc vê na estatística do Tocunduba, á pagina 73. 4. JVIORTAIiIDADE Pelo quadro de movimento do Asylo do Tocunduba, em 27 annos salteados, que dei atraz, vê-se que a frequência total de doentes nesse período foi de 3.573; o numero de entradas 1.308 e o de obitos 943, numero este que representa quasi 314 das entradas e cêrca de 26,4 °(° da frequência geral. Média an- nual de mortalidade 34,9 nesse longo periodo. Do trabalho do Dr. Aben-Athar, atraz citado, extrahi os seguintes dados: total de obitos por lepra em Heiem de Janeiro de 1901 a Agosto de 1915—587 pessoas ou seja approximada- mente 37 a média annual. No período de nossa gestão do Tocunduba falleceram 57 leprosos em 11 mezes (Julho de 1921 a Maio de 1922) ou seja uma média annual de 62. Estes algarismos demonstram sobeja- mente que a mortalidade pela lepra em Belem tem crescido consideravelmente, pois este ultimo numero representa apenas a mortalidade no Asylo, a qual sommada á da cidade soffrerá ainda um augmento de ura terço e em certos annos o dobro, at- tingindo, portanto, de 90 a 120 a média annual de obitos por lepra nesta capital. A tendencia é para augmento sempre crescente. Quanto á edade, os 587 obitos da estatística do Dr. Aben- Athar estão assim distribuídos: Até 18 annos 103 Dos 19 aos 25 annos 97 „ 26 „ 30 „ 56 3i „ 40 „ 136 41 „ 50 „ 110 „ 51 60 „ 50 61 „ 70 „ 22 71 80 „ 11 81 90 „ 2 Total dos obitos 587 Ora destes indivíduos 352 eram paraenses, os qnaes, quan- to a edade assim se dividem; Até 18 annos 100 Dos 19 aos 25 annos 83 „ 26 „ 30 „ 41 31 40 „ 62 „ 41 „ 50 „ 38 51 „ 60 „ 16 61 „ 70 „ 6 „ 71 „ 80 „ 4 81 „ 90 2 Total dos obitos 352 Comparando-se a mortalidade global com a dos paraenses vè-se que não coincidem completamente. Entre os paraenses a mortalidade declina a partir dos 18 annos, eleva-se ligeira- mente no período da edade comprehendido entre 31 e 40 annos, para, de novo, declinar dahi em deante. Na mortalidade em globo eis o que se vê; os obitos declinam a contar dos 18 annos; dos 31 aos 50 annos, porém, elevam-se notavelmente, decahin- do dos 51 annos em deante. A mortalidade da lepra entre os extrangeiros, no mesmo período de 1901 a Agosto de 1915, inclusive, foi, por edades, a seguinte: Adventícios extrangeiros Até 18 annos 0 Dos 19 aos 25 annos 2 „ ■ 26 . „ 30 „ 2 31 „ 40 „ 9 41 „ 50 „ 14 51 „ 60 „ 7 „ -61 „ 70 „ 2 „ 71 : „ 80 „ 2 82 .. 90 „ 0 Total dos obitos 38 Si o mesmo se fizer em relação aos adventícios brasileiros o resultado será o seguinte; Adventícios brasileiros Até 18 annos 3 Dos 19 aos 25 annos 12 26 „ 30 „ 13 31 „ 40 „ 65 41 „ 50 „ 58 „ 51 „ 60 „ 27 61 „ 70 „ 14 71 „ 80 „ 5 „ 81 „ 90 „ 0 Total dos obitos 197 Vê-sc, portanto, que não só entre adventicios éxtrangeiros, mas, também, entre os adventicios brasileiros, a mortalidade cresce no mesmo período da vida, isto é, dos 31 aos 50 annos. Daqui se conclue que o periodo da vida em que a mortalidade da lepra é máximo não é o mesmo para os paraenses e para os adventicios; naquelles, a maior mortalidade se exerce em indi- víduos menores de 18 annos; nestes a mortalidade attinge ao acume dos 31 aos 50 annos.” Estatística dos 57 obitos occorridos no Tocunduba, con- forme referi atraz. Eram brasileiros 53 e 4 extrangeiros. Naturalidade: paraenses 28; caerenses 12; riograndenses do Norte 7; parahybanos 3; francezes 2; portuguezes 2; mara- nhense, alagoano e sergipano 1 de cada Estado. As suas edades por occasião do fallecimento eram: (De 11 a2oannos 10 ! A, .. . (Dell a 20 annos 4 p 21 „30 „ 12 i Ate"t,c'“ „21 ~30 „ 2 Paraenses |'■ 3, 6 mmm\ ”3, -40 ” 10 („41 „ 50 0 ' “ („41 „ 50 „ 0 I exlraní' ( 51 „72 „ 7 Estes dados de observação de um anuo apenas vêm confir- mar plenamente o trabalho do Dr. Jayme Aben-Athar. A lepra é, pelo menos no Pará, uma doença da infanda. Vejamos, agora, a duração da doença nesses leprosos, em cada fórma clinica. A estatistica se refere a 54 somente porque os 3 primeiros fallecidos não tinham fichas e faltam-me dados a seu respeito. De lepra tuberculosa morreram 22 pessoas, nas quaes ve- rifiquei, pelas respectivas fichas, a seguinte duração; De 1 anno 1 „ 5 annos 2 „ 6 „ 1 „7 „ 5 „ 8- „ 3 „9 „ 1 De 11 annos 3 „ 12 „ 3 „ 13 „ 1 „ 14 „ 1 „ 15 „ 1 T0ta1.... 22 casos De lepra mixta morreram 24 pessoas, com os seguintes períodos de duração do mal: Com 1 anno 2 ' „ 2 annos 2 ~ 3 ~ 4 jj ~4 „ 4 5 „ 2 || „ 6 „ 1 || || Com 7 annos 2 „ 8 ~ 1 ~ 11 ~ 1 „ 13 „ 2 ~ 23 „ 2 „ 30 „ 4 Total... 24 De lepra anesthesica morreram 8 pessoas. Periodo de duração da doença: Com 1 anno 1 ~ 5 annos 1 „6 „ 1 7 „ 1 Com 8 annos 1 9 * 1 „ 10 „ 1 „ 27 „ 1 T0ta1,... 8 Os 3 restantes falleceram em Julho de 1921, antes de con leccionadas as fichas e feitos os exames. 154 Os quadros acima assignalam a morte de 4 pessoas, cada uma com um armo apenas de enfermidade, sendo 2 de lepra mixta, uma de lepra tuberculosa e a terceira de lepra nervosa. Esta informação deve estar errada, e o erro deve correr por conta da ausência de dados bem seguros sobre a edade de acquisição da doença. Não creio absolutamente que, de lepra com um anuo de duração morra qualquer pessoa. Si essas 4 soffriam de lepra apenas ha um anno, morreram com toda a certeza de qualquer infecção intercorrente. As demais mortes, variando de 2 a 30 annos de duração da doença, podiam se ter dado pela lepra. Convem notar, entretan- to, que a lepra não se torna total ou mixta apenas com 1, 2 ou 3 annos de duração, portanto os outros cinco casos de lepra mixta cujos portadores morreram corn 2 e 3 annos de enfer- midade, parecem representar um erro de calculo. E’ quasi cer- to que esses doentes, já em estado adeantado quando foram confeccionadas as fichas, não sabendo informar a épocha em que observaram o primeiro symptoma do mal, foi adoptada pelo medico ou pelo administrador do Asylo a norma por mini es- tabelecida de annotar um anno antes do isolamento como sendo a edade de acquisição do mal. Fallecido o doente, foi feito o calculo de duração da in- fecção pelos dados encontrados na ficha, e esses dados, nos casos alludidos, nem sempre se approximam da realidade. Vou tratar de observar melhor estes factos para corrigir mais tarde tal defeito de estatística, que me parece grave. CAPITULO Y THERAPEUTICA E PROPHVLAXIA DA LEPRA I, TRERfIPEUTICfI. Não só com o fim therapeutico mas também e sobretudo prophy láctico, desde o momento da installação do nosso pri- meiro dispensário anti-leproso, em 28 de Junho de 1921, co- meçámos a tratar systematicamente todos os leprosos que se iam matriculando no nosso Serviço, sem fazer distincção en- tre as formas clinicas ou períodos de evolução da doença. Achei que o melhor meio de attrahir o doente ao exame e consequente estatística era offerecer-lhe consulta medica de especialistas, exames de laboratorio e tratamento, tudo gratui- tamente; e não me enganei o resultado foi magnifico. Nos 6 primeiros mezes de funccionamento do dispensário as ma- triculas foram num crescendo animador, pela confiança no Serviço, mas desolador, porque demonstrava o elevado nu- mero desses doentes nesta Capital. No segundo semestre o numero de matriculas foi se redu- zindo gradativamente até se manter entre 50 a 60 casos por mez, ao terminar o nosso primeiro anno de actividade. Esse decréscimo é muito natural porque a grande maioria dos le- prosos já estava recenseada e examinada. Assumimos a direcção do Asylo do Tocunduba e lá tam- bém introduzimos o tratamento systematico de todos os doen- tes. Raros os que o recusaram. Logo que me fiz medico e comecei a frequentar e traba- lhar em serviços dermatológicos, adquiri, pela leitura e obser- vação, a convicção de que até agora não ha outro medicamen- to tão efficaz quanto o oleo de chaulmoogra, no tratamento da lepra. Lembro-me muito bem da seguinte phrase do Professor Adolpho Lindenberg, pronunciada em 16 de Setembro de 1920, perante a Academia Nacional de Medicina: “Quem tiver expe- rimentado o oleo de chaulmoogra em grande numero de casos, chegará á conclusão de que se póde obter resultados definidos quanto á melhora e cura da lepra.” 156 Mac Donald e Arthur Dean, no seu bello trabalho intitu- lado “A lepra não é uma doença incurável”, apresentado sob a fórma de relatorio ao Departamento Nacional de Saúde Pu- blica dos Estados Unidos, dizem: “O remedio em que deposi- tamos a nossa fé, como sendo o melhor de todos, é o oleo de chaulmoogra.” Deante disso não podíamos assumir outra directriz. Re- solvi empregar systematicamente em todos os leprosos que o quizessem, esse oleo, sob a formula do Dr. Heiser, que se mos- trou efficaz em mãos de médicos notáveis. I.°—METHODO DR. HEISER Comecei o tratamento dos nossos doentes pelo methodo Dr. Victor G. Heiser, director da leprosaria de Culion, das Phi- lippinas. A sua fórmula é a seguinte: Oleo de chaulmoogra legitimo 600gr,0 Oleo camphorado 600gr,0 Resorcina 40gr,0 Mixturar e dissolver com o auxilio do calôr, em banho- maria, e depois filtrar. Sabemos que esse oleo é retirado das sementes de uma ar- vore chamada chaulmoogra, muito comrnum na Asia e ha pouco descoberta em abundancia na Oceania (Archipelago das Philippinas). Existem o legitimo e o falso chaulmoogra: a arvore que dá producto efficaz e a que dá producto inefficaz. Segundo o Professor J. F. Rock, botânico norte-americano, os asiaticos empregam o oleo das sementes do chaulmoogra ha muitos séculos, no tratamento de varias doenças da pelle e especialmente da lepra. A especie existente em Burma é o le- gitimo chaulmoogra “Taraktogenos kurzii”, classificado por George King em honra ao seu descobridor Kurz. A esta arvore que os burmanos chamam de “Kalaw”. O chaulmoogra do Sião é o “Maikrabao” ou “Hydnocarpus anthelmintica”, uti- lizado como ornamento das ruas de Bangkok. As especies do genero “Hydnocarpus” são as que dão oleo mais efficaz por- que é o mais rico em acido hydnocarpico. A especie “Gynocar- dia odorata”, cujo oleo só tem acido gynocardico, é hoje con- siderada “falso chaulmoogra” porque o seu producto é ineffi- caz no tratamento da lepra. Já estudei longamente esta questão do oleo de chauhnoo- gra e seus derivados em vários artigos de vulgarização scien- tifica e propaganda sanitaria, publicados em 1921, na “Folha do Norte”, os quaes vão ser reimpressos em folhetos. Desde o começo do serviço a formula de Heiser tem sido preparada na própria pharmacia da Repartição, que a expede para os dispensários e leprosaria em acondiccionamento especial A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PAR& trn índio de Rurma colhendo fruclos do chaulmoo-gra (Hgdnocavpus caslanea) Figura copiada do “The National Geographic Magazine” Washington, IMarço 1922. Floresta de Chaulmoogra em Kyolcta,“ em Burma, India_,^. A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARÁ Cacho no tronco da arvore do Chaui- moogra verdadeiro, n/lguraa copiadas da “The National Geographla Magazine"—Washington, Março 1922. e na medida das necessidades. E’ empregado o oleo sob a fór- mula acima, exclusivamente em injecções intramusculares, profundas, duas a trez vezes por semana, variando a dosagem entre 1 a 3 c.c., conforme a edade e fortaleza do doente. Ao terminar o primeiro anno de tratamento muitas de- zenas de leprosos apresentavam melhoras bastante animado- ras. Temos casos de lepra incipiente, nos quaes os symptomas da doença desappareceram completamente. Muitos doentes, portadores de manchas hyperchromicas, estão hoje attenua- dos: algumas das manchas se apagaram e outras desapparece- ram. Casos de lepra tuberculosa, com lepromas Íntegros ou ulcerados, apresentam também melhoras consideráveis. Sobre os resultados definitivos desse tratamento, espero poder organizar, no fim deste anno, uma estatística com a de- monstração descriptiva e photographica de todos os casos de lepra com melhoras evidentes. Todos os doentes estão satisfeitos com o tratamento e es- perançados em obter uma cura definitiva. Vejamos agora a frequência de leprosos nos nossos dis- pensários e o numero de injecções de oleo dadas em cada mez: lí>2l Matriculas Freqncxieia Injecções de oleo Julho 262 810 580 Agosto 108 1.124 1.031 Setembro 101 2.205 - 2.118 Outubro 77 2.229 2.158 Novembro 56 2.006 1.962 Dezembro 51 2.582 2.541 655 - 10.956 10.390 1922 Janeiro 83 2.925 2.779 Fevereiro 67 2.361 2.205 Marco 64 , 2.302 2.149 Abril 59 2.544 2.422 Maio 50 1.825 1.111 978 22.913 21.056 Na Leprosaria do Tocunduba foram applicadas nos doen- tes alli internados 5.994 injecções de oleo de chaulmoogra, as- sim discriminadas; Julho 348; Agosto 513; Setembro 474; Ou- tubro 601; Novembro 584; Dezembro 317. Em 1922: Janeiro 666; Fevereiro 649; Março 623; Abril 807; Maio 412. No mesmo periodo foram feitos nos doentes asylados 36.765 curativos, assim distribuidos pelos mezes: Julho 2.740; Agosto 2.153; Setembro 2.208; Outubro 2.702; Novembro 3.563; Dezembro 3.600; Janeiro 3.868; Fevereiro 3.704; Março 4.134; Abril 4.076 e Maio 4.017. No Instituto Therapeutico da Lepra temos dous enfermei- ros que fazem injecções e curativos em leprosos que não pódem frequentar o Instituto, Pela minha estatística geral verifiquei que de 1,354 lepro- sos recenseados até Maio, 976 haviam recebido injecções de oleo de chaulmoogra, de hydnocarpato de sodio ou de esteres ethy- licos do mesmo oleo. Terminámos o mez de Maio com alguns doentes recebendo de 80 a 90 injecções de oleo. No quadro geral de injecções verifiquei que predominam os doentes com o numero de 40 injecções para menos. Com 50, 60, 70 e até 80 injecções era naquella épocha pequeno o numero de doentes. Infelizmente eSses coitados não têm a devida constância no tratamento. Indivíduos que estão leprosos ha 10, 12, 15 e mais annos querem ficar curados era 6 e 8 mezes, o que é absolutamente impossível. E’ por este motivo que o tratamento curativo ou prophylactico só devia ser feito em Ic- prosarias próprias. Quanto á matéria prima para a preparação da formula de Heiser, isto é. o oleo de chaulmoogra, temos preferido empre- gar o da firma Merck, por ser o melhor. Productos importados de Londres produzem uma mixtura muito escura e menos ef- ficaz que aquelle. Segundo informam trabalhos de médicos de valor, das índias, a maior parte de oleo de chaulmoogra que se encontra nos mercados é de má qualidade. Felizmente no anno passado o dr. H. I. Cole, chimico do Bureáu de Sciencias da cidade de Manila, descobriu no archipelago das Philippinas, sobretudo na ilha Mandaháo, grandes florestas de chaulmoo- gra, das tres especies do genero “Hydnocarpus”, cujas semen- tes dão o melhor oleo para uso therapeutico. Calcula o dr. Cole obter 10 toneladas de sementes por anno e que cada tonelada fornece oleo para tratar, durante um anno, a mil leprosos. Informa aquelle technico que o oleo de Manila é chimica- mente mais puro que o da índia, e que brévemente o seu la- boratorio estará habilitado a fornecer esse producto aos paizes que delle tenham necessidade. Informa ainda o dr. Cole existirem actualmenfe na lepro- saria de Culion 5,000 leprosos, dos quaes a maior parte sem tratamento. O actual governador do Archipelago das Philippi- nas, General Wood, ordenou que se comprasse oleo de chaul- moogra para tratar a todos os doentes. Este governador se tem mostrado sinceramente interessado pela prophylaxia e therapeutica da lepra. 2.-METHODO DR. ROGERS Após longos annos de experiencias nas índias, o dr. Leo- nardo Rogers, professor de Medicina em Calcuttá, verificou que a parte realmente especifica do oleo de chaulmoogra no trata-* mento da lepra é o acido hydnocarpico com o qual preparou o liydnocarpato de sodio. Formula do Dr. Rogers: Hydnocarpato de sodio .. 3 grammas Agua distillada .... 97 grammas Acido phenico 1 gramma Citrato de sodio 1 gramma Preparada a solução é ella esterilizada por ebullição num frasco mergulhado num vaso contendo agua. Aconselha Ro- gers empregar-se este soluto em injecções intravenosas, 3 vezes por semana, na dóse de I|2 a 5 c.c. conforme a tolerância do doente. A base do methodo é começar o tratamento por 112 c.c. e ir augmentando a dóse de IJ2 em I|2 até 5 c.c. Esse augmento de dóse não é arbitrário, depende de reacções do doente. 0 apparecimento de diarrhéa, febre, ou outro symptoma desa- gradável, indicando a intolerância organica do enfermo, é mo- tivo para ser a dóse diminuída de I|2 c.c. até que o doente não reaja mais. Comprámos em Londres, da casa John Whyman o hydnocarpato de sodio e o acido hydnocarpico. Seguindo o me- thodo de Rogers, tanto na preparação do seu soluto como no seu emprego em leprosos, de Janeiro a Maio deste anno fize- mos 1.315 injecções numa série de doentes escolhidos para a experiencia. Até hoje não tivemos nenhum accidente a lamen- tar; todos os nossos doentes têm mostrado satisfactoria tolerân- cia organica com referencia a esse producto. As melhoras no- tadas foram muito mais lentas que as que se observam, de re- gra, no fim de 3 mezes de tratamento pelo methodo do dr. Heiser. Alguns doentes desesperançados pediram substituição do medicamento; muitos outros, porém, persistiram e hoje estão plenamente satisfeitos com os resultados. E’ cêdo ainda para se tirar uma conclusão a respeito da efficacia desse tratamento, entretanto o grande numero de observações de melhoras e de curas apparentes, publicado pelos drs. L. Rogers, Percy Peacock e E. Muir, são motivo para que não se suspenda a experiencia iniciada. No trabalho promeltido para o fim deste anno já poderei incluir informações seguras a respeito dos effeitos não só do hydnocarpato de sodio como também dos outros productos de- rivados do oleo de chaulmoogra. 3.°—METHODO DOS DRS. HOLLMANN E DEAN Desde 1919 que acompanho com vivo interesse as expe- riências feitas em Hawaii, no tratamento da lepra, por meio dos esteres ethylicos preparados pelo illustre Dr. Arthur Dean, professor de chimica na Faculdade de Honolulu. Li com alegria os resultados therapeuticos conseguidos peies Drs. Harry Hollmann, Arthur Dean, Mac Donald, Mac Coy e Hasseltine, e confio absolutamente na seriedade desses illustres pesquizadores que se tornarão benemeritos da Huma- nidade. Graças ás pesquizas dos chimicos Frederico Power, Gornall e Barrowcliffe, realizadas em 1904 e 1905, das quaes re- sultou a descoberta no oleo de chaulmoogra de uma nova série de ácidos gordurosos, representada por dois membros, o acido chaulmoogrico C 18 H 32 O 2 e o acido hydnocarpico C 16 H 28 O 2, o seu emprego em therapeutica deixou de ser empí- rico. Ambos esses ácidos foram isolados do oleo de chaulmoo- gra extraindo de sementes do “Taraktogenos Kurzii” e das plantas do genero “Hydnocarpus”. O Dr. Dean conseguiu isolar dos ácidos gordurosos do oleo de chaulmoogra 4 fracções, uma era o acido chaulmoogrico e as outras 3 eram mixturas de ácidos tendo propriedades muito differentes. Em virtude de serem solidas essas fracções e não servirem para injecções hypodermicas transformou-as o Dr. Dean em egual numero de esteres ethylicos, designados pelas lettra; A, B. C e D. Cada uma dessas fracções tem um ponto de fusão differente e foi empregada em uma série de leprosos. Mais tarde Dean preparou mais 3 fracções; E. F. e G., líquidos in- colores muito fluidos. Experiencias reiteradas provaram que as fracções médias são as mais efficazes. TRATAMENTO MODELO DE 1920 Injecções intramusculares de uma mixtura do total dos ácidos graxos do oleo de chaulmoogra combinado chimicamen- te com 2 °|° de iodo. Dóse de 1 c.c. até o máximo de 4 a 5 c.c. para adultos. Uma injecção por semana. Tres vezes ao dia, 1 V‘l hora depois das refeições, o paciente ingeria capsulas contendo a mesma mixtura de ácidos com 2 112 °|° de iodo. A dóse duran- te a l.a quinzena é de 0,66 centigrammas para as 3 capsulas; na 2.a quinzena o dobro; na 3.a o triplo e depois disso 3 capsulas de 1,25 gr. cada uma, por dia e para adultos de 60 kilos. Nesse anno pretendi adquirir em Hawaii esses produetos para empregar nos leprosos do Paraná e não consegui. O di- rector do Hospital Kalihi, em carta de 31 de Julho daquelle anno informou ser a producção destinada ao uso da estação experimental. Logo que comecei a trabalhar aqui tratei de adquirir os produetos do Dr. Dean para iniciar uma série de experiencias. Fui informado de que em Londres, na casa John Whyman, con - seguiria cousa idêntica. Encommendei então dessa casa os se- guintes produetos: acido hydnocarpico, hydnocarpato de sodio e esteres ethylicos dos oleos graxos do oleo de chaulmoogra. Recebi-os sem demora: do ultimo produeto apenas 200 gram- luas, não podendo fazer experieneia alguma com tão pouco medicamento. Empreguei-o em 2 doentes, nos quaes cheguei a injectar 5 c.c., 2 vezes por semana. O producto um liquido branco oleoso não produzia reacção, porém demorava a ser absorvido pelos musculos. Em Março deste anuo, visitando com o Dr. K. S. Wise o Asylo Co- corita, de Trindade, em cujos leprosos empregavam em peque- na escala o producto do Prof. Dean, lá eu o vi pela l.a vez: um liquido fluido de côr azul esverdeada escura. METHODO DR. DEAN DE 1922 Por intermédio do Departamento de Saude Publica norte- americano consegui 3 litros do verdadeiro producto de Dean preparado este anno. Acompanhou-os uma extensa carta do Dr. Hasseltine, actual director da estação experimental de Hawai i, na qual elle me communicou o novo methodo 1922 de em- pregar, nos leprosos, os esteres ethylicos do oleo de chaulmoo- gra. O producto recebido é uma rnixtura desses derivados do oleo, para ser usado sem iodo. Trata-se de um liquido perfeitamente limpido e bastante fluido, facil de aspirar na syringa e também de o injectar. Escolhi tres séries de leprosos, das tres formas clinicas, preferindo os doentes ainda não tratados especificamente, para iniciar nelles a nossa experiencia. Designei um medico especialmenté para fazer essas in- jecções e annotar nas fichas as alterações que fôr verificando nos doentes, emquanto estou ausente do Instituto. Mais tarde farei pessoalmente esse serviço. Desejando empregar esse producto em maior escala, es- crevi ao Dr. Hasseltine fazendo-lhe uma proposta de compra mensal de 2 a 3 litros delle. Com o que recebi estou injectando um doente antigo, no qual fazemos 2 vezes por semana uma injecção de 5 c.c., sem ter havido até hoje qualquer reacção alarmante. Em virtude da fluidez do liquido a sua applicação é mais facil que a do oleo, formula do Dr. Heiser, Opportunamente informarei ao publico sobre a acção des- se novo e precioso medicamento unica esperança de milha- res de leprosos... 2. PHOPHViifIXm. Muito tenho escripto sobre a prophylaxia da lepra. As me- didas basicas dessa prophylaxia são: o isolamento obrigatorio de todos os doentes, sem distineção de classes, em leprosarios do typo de colonias agrícolas e o seu tratamento systematico pelos novos processos. A 2.a parle desse vasto programma estamos realizando— o tratamento de centenas de leprosos, na leprosaria, no Instituto e em domicilio. Como propaganda essa medida foi óptima; e como resul- tado pratico promette grandes beneficies. Durante o 2.° semestre de 1921 publiquei na “Folha do Norte” uma série de 16 artigos sobre a therapeutica e a prophy- laxia da lepra os quaes serviram de propaganda dos nossos dis- pensários, que passaram a ter grande frequência. A leprosaria official deste Estado será installada no an- tigo Instituto do Prata, do qual dou aqui varias photographias. Combinei com o Sr. br. Governador do Estado o preço de 300:000$000 para acquisição desse estabelecimento do Estado. Haverá encontro de contas com o Departamento, recebendo o Estado apenas 100:00()$000 destinado a indemnizar os pequenos proprietários do Prata e a mudar de lá a Colonia Correccional. Segundo telegramma do Sr. Dr. Belisario Penna, esse negocio está prestes a ser realizado. Sobre o Instituto do Prata, onde será installada a nossa le- prosaria, com a vantagem de comportar desde já 300 a 400 doentes, transcrevo as seguintes informações: “A Colonia Correccional, fundada em 10 de Agosto de 1921, de accôrdo com a Lei n.° 1.747 de 18 de Novembro de 1918, está installada no edifício onde funccionava ot antigo Instituto da Infancia Desvalida em S. Antonio do Prata. O estabelecimento consta de um prédio de sobrado me- dindo 23m,00 de frente por 16m,50 de fundos, com dois pavi- lhões aos lados, medindo cada um 8 metros de largura por 48m,00 de comprimento, ligados ao corpo central por passadL ços de 19 metros de comprimento por 3m,90 de largura. A frente do estabelecimento mede 78 metros de compri- mento e é occupado por um passeio de cimento, com um gra- dil de ferro de 50 metros de comprimento, tendo ao centro um portão do mesmo metal com 3m,40 de largo que dá accesso ao prédio e por meio de um passeio de 8m,85 de comprimento, existindo uma escada de 9 degraus, construída de cimento ar- mado, e um patamar, que dão ingresso ao edifício. Corpo central Esta parte do edifício consta de duas salas de frente, divididas por um corredor, servindo uma de sala de visitas e a outra de secretaria, tendo cada uma delias uma janella de frente e duas dos lados, communicando ambas com o corredor por portas sobre o mesmo, havendo mais na secretaria uma porta que dá accesso a um gabinete. Com o mesmo corredor communicam mais dois gabinetes que ficam fronteiros, um a cada lado daquelle. Uma porta dá communica- ção entre o corredor e um salão ao lado esquerdo do edifício, o qual mede 8 metros de largura por 10 de comprimento, e tem duas portas quê dão ingresso, respectivamente, para a varanda lateral, e para a dos fundos, existindo para o lado daquella 4 Estação de Igarapé-assú (E. F. de Bragança), inicio do ramal Decauville do: Prata (21 kiloriielros) 4 PROPHYLAXIA 04 LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO 00 PARA Trem Decauville do Prata, no meio do caminho, com os médicos da Prophylaxia. que foram inspeccionar a Colou ia Correccional do Prata. A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA janellas e para o desta uma. Uma outra porta dá communica- ção do corredor para um pequeno salão, á direita, o qual, in- ternamente, communica com o salão já descripto, e por meio de porta e janella com a varanda lateral. Um outro salão communica internamente com o primeiro, e também por porta e janella com a varanda lateral, tendo a rectaguarda duas janellas. Atraz dos salões descriptos está a varanda da rectaguarda ou dos fundos, com doze metros de comprimento por 5 ditos de largura, tendo de cada lado um quarto, servindo o da esquerda de gazometro, sendo o da direita occupado por duas sentinas e mlctorios, ladrilhado de mosaico. Essa varanda communica com o terraço do pavimento superior por meio de uma escada e patamar de cimento armado, constando aquella de 7 degraus. O pavimento inferior communica com o superior por meio de dois lanços de uma escada que começa no corredor de en- trada, contando-se entre ambos 26 degraus. Pavimento superior Este pavimento consta de um corredor geral que mede 20m,20 de comprimento por 2m,30 de largura, exclusive o terraço ao fundo, e tem á frente uma ja- nella de sacada de ferro. Ao seu lado esquerdo contam-se uma sala e tres quartos, tendo á direita uma sala, um gabinete e egual numero de quartos. O terraço, de cimento armado, ladrilhado de mosaico, com 16m,60 de comprimento, por 4m,50 de largura, contem do lado esquerdo um pavilhão com duas sentinas, divididas por meia- parede de tijóllos, e á direita um outro com um banheiro e sen- tina. E’ cercado de balaustrada de cimento. Pavilhões lateraes O primeiro desses pavilhões, que fica na ala direita do edificio, comprehende uma sala de 18 metros de comprimento por 8 ditos de largura, na qual se encontra um lavatorio de pedra mármore, com oito torneiras, e que tem ao lado um meio pavilhão occupado por 4 sentinas de syphão e 5 mictorios de louça. Ligada a essa sala, porém divi- dida por parede de tijóllos, encontra-se uma outra que, como a primeira, communica com o passadiço por uma porta, o qual mede vinte e dois metros de comprimento por 8 ditos de lar- gura, encontrando-se nesta, como naquella, lavatorio egual com idêntico numero de torneiras, bem como outro meio pa- vilhão em tudo egual ao já descripto da sala ácima menciona- da. Seguem-se a essa sala, ou melhor salão, dois quartos que com elle communicam por meio de portas, sèndo elles dividi- dos entre si por parede interna de tijóllos, medindo um 7m,70 de comprimento por 3m,50 de largura e o outro 7m,70 por 4m,50. Este ultimo salão communica com a varanda lateral que vem dar ao passadiço que liga o pavilhão com o corpo central. Segundo pavilhão Esta parte do edificio consta de uma sala de dezenove metros de comprimento, por oito de lar- gura, tendo á frente desta uma pequena sala de nove metros de comprido por oito de largo; um corredor ligando a primeira a uma outra de 5 e meio metros de comprimento por 5m,6õ de largura, tendo em frente um outro corredor ligando a cozinha á dispensa. Contem mais a sala de refeições da Administração, com fim,Bo de comprimento por 8 metros de largura, tendo a dis- pensa que lhe fica annexa 6m,50 de comprido por 5 metros de largo. Existe finalmente um salão onde funccionou antigamen- te uma officina typográphica, a qual mede 7 metros de com- primento por 8 metros e vinte de largura. Os passadiços occu- pam dé cada lado dezenove metros de comprimento por tres metros e noventa de largura, as varandas lateraes têm um total de vinte e tres metros de extensão, sendo que a da frente consta de dczeseis metros de extensão, tendo, porém, uma e outras dois metros de largura. Todo o edificio é coberto de telhas francezas, tem ares de madeira de lei e é assoalhado de taboas de acapú, excepção feita das duas salas da frente e corredor de entrada do corpo cen- tral, cujo soalho é feito daquella madeira em combinação com o amarello o que lhes dá differente aspecto. Todo o edificio é illuminado á gaz acetyleno, para o que dispõe de bem montada installação. Prédio para quartel e cadeia Pertence tam- bém á Colonia Correccional esse prédio, onde presentemente se acha installado o quartel do destacamento da Colonia, e onde foram estabelecidas as prisões destinadas á clausura dos indivíduos remettidos pela Chefatura de Policia do Estado. E’ um prédio cujas paredes internas são construídas de ali- cerce de pedra, com argamassa de cimento e tijóllos com a mesma argamassa, mas que internamente é construído de ta- bique. Seu comprimento total é de sessenta e dois metros, me- dindo de frente dezesete metros. Consta de dois pavimentos: o superior, todo assoalhado de taboas de acapú, o inferior ladri- lhado á pedra e cimento. Contem na frente a escadaria de cimento armado, em fórma de lyra, com balaustrada também de cimento, constan- do de vinte degraus. Após o patamar dessa escada está o portão principal que mede fim,6o de largura, contendo, na frontaria, pavimento superior, quatro janellas, duas de cada lado, do portão principal. Pavimento superior Corredor com 57m,50 de extensão por 1m,90 de largura. Ao lado direito do edificio en- contram-se dois salões, existindo outros tantos ao lado esquer- do. O salão principal, á direita, mede 20 metros de compri- mento por 6 metros e 80 cents. de largura, tendo á rectaguar- da deste um outro com as mesmas dimensões. O primeiro sa- lão do lado esquerdo mede 10 metros de comprimento por seis Instituto do Prata, onde será inslnllada a leprosaria ofncial. Os 3 prédios principaes: no centro a adminislração; á direita os refeitórios e a cozinha; e ô esquerda os dormitorios. Comportam ao todo 200 internos e deverão ser reservados para as crianças leprosas. Nos fundos passa o rio Prata, no qual estão installados excedentes banheiros. A PROPHYLAXIA 0A LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO 00 PARA Instituto cio Prata. Kgreja e pavilhão dos rapazes. 10 salões no I,° pavimento, cpie comportam mais de 150 internos. Os porões servirão para officinas. Nos fundos passa o rio Maracanã. A PROPHYLAXIfI DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARÁ e oitenta de largura e o segundo, do mesmo lado, com onze metros e trinta de comprimento e seis metros e noventa de largura. Em seguida a esses salões encontram-se 4 quartos ao lado direito e 3 ao lado esquerdo assim discriminados: Lado direito: l.° Quarto medindo 4,60 metros de com- primento com 6m,80 de largo; 2,° quarto com 5m,30 por 6m,80; 3.° com 8m,40 por 6m,80; 4.° com 8m,90 por 6m,80. Todos es- ses quartos communicam com o corredor principal por meio de portas, contendo todos elles janellas que deitam para a par- te exterior. Lado esquerdoIo—Quarto medindo 4m,80 de compri- mento por 3m,80 de largura; 2o—com 7m,10 por 4m,80; 3° —com 5m,20 por 6m,80. Esses quartos como os do lado direito, communicam com o corredor principal por meio de portas e têm janellas que deitam para o lado exterior. Na parte média do edificio, ao lado direito, acha-se o com- partimento com lavatórios, banheiro e sentinas. Esse compar- timento que mede 9 metros e noventa cents. de comprimen- to por 5 metros e trinta de largura, contêm dois lavatórios de pedra mármore, medindo seis metros e cincoenta de comprido por meio metro de largo, tendo cada um oito torneiras; um banheiro com tanque, medindo este dois metros de comprido por noventa centimetros de largo, com duas torneiras, sendo uma simples e outra de chuveiro; quatro sentinas com sy- phões. Pavimento inferior—Portão principal, medindo um metro e sessenta de largura. Contêm 3 xadrezes, ou salas de deten- ção, sendo dois aos lados medindo 6m,60 de largo por 6rn,90 de comprido, cada um, com 2 portas e tres janellas, com gra- dis de ferro; 1 xadrez na rectaguarda desses, ao lado esquerdo, medindo 6m,80 de largura por 4m,60 de comprimento com 1 porta para o corredor e 2 janellas para o exterior, todas com gradis de ferro. Esse pavimento contêm tres salões, sendo um á direita, um á esquerda e outro á rectaguarda desses. O pri- meiro salão, á direita, mede 10 metros de comprimento por 6 metros e 70 cents. de largura, tendo duas portas ao lado es- querdo e 4 janellas á esquerda; o segundo mede 13 metros e 50 cents. de comprimento por 9 metros e 80 cents. de largo, com 2 portas e 5 janellas; o terceiro, na rectaguarda, mede 4 metros e 30 cents. de largo por 17 metros de comprido, conten- do dois tanques que medem, cada um, 1 metro e 30 centime- tros de comprimento por 70 cents. de largura. Nelle ha um forno para o fabrico de pão e 2 fogões de ferro (estes na cozi- nha) . O compartimento da cozinha mede 7 metros e 50 de lar- go por 4 metros e 70 de comprido, contendo duas torneiras ao lado direito do prédio. O corredor principal deste pavimento mede de extensão 57 metros e de largura 1 metro e 90 cents., havendo na parte média um corredor transversal com 16 me- tros e 60 de comprido por 1 metro e 70 de largo, com uma por- ta em cada extremidade. Contêm mais essa parte do edificio 7 quartos sendo 2 ao lado direito e 5 ao lado opposto; um ba- nheiro ao lado esquerdo, cujo compartimento mede 6m,80 de largo por 4m,30 de comprido, com 12 torneiras (6 de cada lado), um lavatorio com torneira, sentina e banheiro ao lado esquerdo. Quartos ao lado direito—Io medindo seis metros e noventa de largura com 10 metros de comprimento; 2o—com 9m,50 por 9m,80 de comprimento e largura respectivamente. • Quartos ao lado esquerdo—São cinco, medindo o lo—sIo—s metros e vinte de comprido por 7 metros de largo; o 2o com 9m,50 por 8m,40; o 3o com 8m,70 por 7m,10; o 4o com 4m,50 por 7 metros; o 5o mede 6m,50 por 7 metros. Todos esses quar- los têm portas de communicaçâo para o corredor principal c janellas para a parte exterior do edificio. O prédio contêm, no pavimento superior, 20 janellas ao lado direito e 19 á esquerda, todas deitando para a parte exterior. O edificio é coberto de telhas francezas e tem ares de ma- deira de lei; é forrado todo o corredor e o salão principal que fica á esquerda. E’ actualmente illuminado á kerozene, por estar imprestável a sua installação de acetyleno. SITIO *'‘SANTO ANTONIO” Esfa dependericia agrícola da Colonia Correccional, está situada em uma área de um kilometro quadrado, cercada de arame farpado, subdividida em differentes quadros de cem metros de frente por cem de fundos, cada um. E’ cortada pela estrada que liga esta circumscripção ao municipio de Belém, pela antiga colonia “lanetama”, pertencente á villa Castanhal. Contem esse departamento agrícola uma capella sob a in- vocação do Santo que lhe dá o nome, construída de tijóllos e cimento, coberta de telhas de fibro-cimento, mosaicada e for- rada; uma casa coberta de cavacos, tendo um pequeno sotão, mas em completo estado de ruinas; um barracão coberto de telhas de zinco, chão de terra batida. Servia para deposito dos instrumentos agrarios. Contem mais uma pequena casa assoalhada, coberta de telhas de fibro-cimento. também em estado de ruinas. Em frente á capella existe um sitio dentro de uma área de 200 metros de fundos por 100 de frente, contendo 40 pés de coqueiros, já fructificando, além de cacaueiros, laran- jeiras, etc. ínsUtulo- do, Praia,- Grupo de correceionaes. -dearvte ila 'A-dmrnistpaçàO.' Em -Maio de 1922. A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO 00 PARÁ Instituto do Prata. Servindo actualmente de Colonia Correccional. Feira livre na praça da villa, em Maio de 1022. A PROPHYLAX1A DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO 00 PARA SITIO “SÃO FELIX” Esta outra dependeneia agrícola, comprehende uma área de um kilometro quadrado, coberta de maítos baixos (capoei- ras), contendo uma casa coberta de cavacos, sem porém en- contrar-se alli plantações de especie algema. Fica situada ao lado esquerdo da Ferro-Carril-Prata, entre os kilometros de- zoito e dezenove. SITIO “SÃO FRANCISCO” E’ este um campo de pastagem, destinado á industria pas- toril, de quinhentos metros de frente por mil de fundos, área essa cercada de arame farpado. Está em mau estado de con- servação por não ter sido ainda utilizado pela Administração da Coionia, necessitando, porém, tão somente, de bem feita roçagem do matto que cobre toda a área e consequente queima. Sâo estes, em traços rápidos, os informes que me é dado fornecer sobre as differentes dependencias que constituem a Coionia Corrcccional do Prata, pertencente ao Governo do Es- tado. cumprindo-me observar que os colligi e apresento com a melhor bôa vontade. Cabe-me o dever de pedir sinceras desculpas por não me ser dado apresentar um trabalho mais extenso e minucioso o que se justifica pela exiguidade de tempo. Colonia Correccional de Santo Antonio do Prata, 31 de Maio de 1922. (a) José Euclydes Mendonça Beltrão. Capitão reformado da Policia do Estado. FINAL Hcsumo o meu programma de prophylaxia da lepra nas seguintes conclusões do meu trabalho sobre a “Frequência e prophylaxia da lepra nas Guyanas e Trindade”, enviado á Di- rectoria de Prophylaxia Rural em 30 de Abril ultimo. CONCLUSÕES Para que a prophylaxia da lepra seja realmente efficaz; para que a assistência medica aos leprosos obedeça a uma orientação scientifica, e as medidas de conforto moral e mate- rial sejam cada vez mais humanilarias, proponho, a quem de direito, a uniformização das leprosarias actuaes e futuras das Guyanas Franceza, Hollandeza e Ingleza, de Trindade, do Es- tado do Pará e dos demais Estados brasileiros, sob as seguin- tes bases: Ia Tornar obrigatorio o isolamento de todos os leprosos. 2a Construir colonias agrícolas para esse fim, em terreno amplo, sufficientemente distante dos centros populosos, ou de preferencia em ilhas. 3a Isolar os leprosos de todas as classes nesses estabeleci- mentos especiaes, e só excepcionalmente em domicilio. 4a Estabelecer que cada leprosaria tenha um Governador leproso, especie de prefeito, eleito annualmente pela maioria absoluta dos doentes isolados, votando os leprosos adultos de ambos os sexos. 5a Estabelecer que somente esse Governador seja o inter- mediário entre os isolados e as auctoridades constituídas, no concernente ás reclamações. 6a Nas leprosarias officiaes, e também nas particulares fiscalizadas pelos Governos, permittir: a) a liberdade de consciência; b) a cohabitaçâo dos leprosos casados; c) o casamento legal dos doentes que se isolarem celibatá- rios ou ficarem viúvos. 7a Estabelecer a separação obrigatória dos filhos dos le- prosos isolados, aindà indemnes do mal. 8a Segregar, immediatamente, após o nascimento, todo filho de leproso nascido no estabelecimento, que deverá ser aleitado artificialmente. 9a Promover a educação e collocaçâo dos filhos dos le- prosos logo que attinjarn a edade de 14 annos. 10a Admittir que os leprosos abastados se installem nas leprosarias com o conforto e luxo que as suas posses lhes per- mittirem. 11a Como trabalho para os leprosos validos preferir os seguintes: agricultura, avicultura, jardinagem, artes e officios. 12a Os estabelecimentos deverão ser providos de todos os re- cursos para que os doentes tenham toda a sorte de diversões e distracções aconselháveis. 13a Haver escolas e officinas de artes e officios para os dous sexos. 14a Haver rigorosa separação de sexos entre os celibatá- rios, quanto ás habitações. Durante o trabalho, os estudos e as diversões poderão estar juntos. 15a Cada leprosaria deverá ter hospitaes para os inválidos e casas de isolamento para os portadores de doenças contagio- sas ou transmissíveis intercurrentes. 16a Haver mais as seguintes secções medicas: a) Pavilhão para tratamento hygienico e curativos; b) Secção para tratamento especifico systématico pelos methodos modernamente em uso e therapeutica experimental; c) Laboratorio para diagnósticos e pesquizas scientificas, visando o esclarecimento de pontos controversos sobre a ethio- pathologia da lepra. 17a A administração deverá ser leiga e desempenhada por um medico e um superintendente residentes no estabeleci- mento; a) Ter uma pharmacia e pharmaceutico residente; b) Os enfermeiros e enfermeiras deverão ser sadios, ex- cepto para a secção de curativos que poderão ser feitos por enfermeiros leprosos; c) As enfermeiras e encarregadas de varias secções da ad- ministração poderão ser irmãs de caridade, contractadas, como em Trindade; d) Na cozinha, na padaria e na lavanderia geraes, não de- verão ser admittidos como auxiliares os doentes. e) Os leprosos isolados deverão ser educados no trabalho, para seu beneficio physico e moral, independente de paga mone- tária; entretanto, pára estimular, a administração deverá distri- buir mensalmente prémios aos que mais trabalharem e produ- zirem. Esses prémios deverão reverter sempre na melhoria do conforto da habitação do premiado. 18a A construcção das leprosarias poderá variar muito para cada região, quanto ao tamanho e material empregado. Mas não deverão differir entretanto quanto ao conjuncto. Em todos os casos a secção da administração deve ser sufficientc- mente isolada da secção dos doentes, e esta deverá ser consti- tuída de pequenas habitações isoladas, independentes, para dois, quatro ou seis doentes cada uma. Belém, 30 de Abril de 1922. (a)Dr. H. C. de Souza Araújo Chefe do Serviço Os leprosos do Tocunduba c do “Instituto Therapeutico” em duas preciosas mensagens datadas de Io de Agosto actuai e assignadas por cerca de 600 doentes, acabam de me testemu- nhar o seu agradecimento, a sua solidariedade moral e o seu desejo de verem proseguidas e ultimadas com brevidade as medidas de prophylaxia da lepra que estamos pondo em pra- tica a inteiro contento de todos elles. O facto delles reconhe- cerem que estamos trabalhando em seu beneficio já é o come- ço da victoria. Pelo grande auxilio que me prestaram na elaboração deste trabalho, apresento agradecimentos muito sinceros aos seguintes funccionarios do Serviço de Prophylaxia: Dr. Bernardo Rutowitcz, Martins e Silva, Almerinda Ga- ma e Antonio Souza. O primeiro e ultimo ajudaram-me a re- ver as fichas; o segundo reuniu no Archivo Publico do Pará muitos dos dados que figuram no capitulo sobre o historico da lepra no Pará, e D. Almerinda muito me ajudou na cor- recção das provas. SEGUNDA PARTE A PROPHYLAXIA DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARÁ O problema mais sério de medicina so- cial é o das doenças venereas, e o que reclama as mais urgentes me- didas para garantia da raça. fíosenau. A lucta contra a syphilis é mais ur- gente e exige mais energia em nosso paiz que em qualquer outro... O numero de soldados contaminados de 1914 a 1918 no exercito francez, em consequência da má organização sa- nitaria, está avaliado em muitas cen- tenas de milhares; o numero de mu- lheres infectadas é egualmente con- siderável e a extensão da epidemia não se deteve com a paz. E. Leredde (1921). SEGUNDA PARTE CAPITULO I A PROPHVLASÍIA DAS DOENÇAS venereas NO ESTADO DO PARÁ ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PELO Dr. H. C. de SOUZA ARAÚJO 1. pISTORTCO Sempre tive em mira organizar no meu paiz um ser- viço de Prophylaxia das Doenças Venereas, sob os moldes do de Montevidéo, cujo «Syphilicomio Nacional» e vários dos seus dispensários visitei, demoradamente, em fins de 1915 e começo de 1918. Como estudante e como medico achei que o serviço do Uruguay era perfeito e devia ser imitado por nós. Aproveitei a primeira opportunidade que me offereceram para tentar a realização do meu plano, já amadurecido. Foi no mesmo armo de 1918. Tendo eu sido nomeado pelo Ministro do Interior e Justiça, em 18 de Agosto daquelle anno, um dos chefes do Serviço de Prophylaxia Rural no Estado do Paraná, tive de elaborar um regulamento sanitario rural para o tal Ser- viço, no qual inclui artigos concernentes á prophylaxia da syphiíis e creando um «Dispensário Anti-syphilitico», em Curit}Tba. Esse Regulamento foi approvado pelo Governo do Paraná, que o mandou adoptar por decreto n, 779, de 8 de Outubro de 1918. Tal acto foi assignado pelos Drs. Afiou- so Alves de Camargo e Enéas Marques dos Santos, res- pectivamente Presidente e Secretario do interior daquelle Estado. O esclarecido e patriota Presidente Camargo, por esse e vários outros actos prestou ao seu e ao meu Estado natal serviços de alta relevância. No mesmo mez de Outubro foi installado, junto ao La- boratorio Bacteriológico daquelle Serviço, á rua Aquida- ban, n. 66, em Curityba, o primeiro «Dispensário Anti-sy- philitico » do Brazil. Nenhum outro, até aquella épocha, funccionava com programma egual ao seu. Os artigos de n, 85 a 97, do alludido decreto 779, re- gularam a prophylaxia da syphilis e das outras doenças venereas no Estado do Paraná. Seria fastidioso transcrevel-os todos, aqui, in-extenso, devo, entretanto, resumir os dizeres de alguns. Pelo artigo 84 ficou creado o Dispensário Anti-syphi- litico na Capital; o artigo 86 trata das pesquizas scientifi- cas para diagnostico e do tratamento especifico gratuito nos doentes indigentes; o artigo 87 estabeleceu a notifica- ção confidencial da doença á auctoridade sanitaria que che- fiar o dispensário; o art. 88 trata da execução de idêntica medida sanitaria no interior do Estado. O art. 91 creou a inspecção sanitaria das prostitutas da capital, determinando que seriam examinadas semanal- mente, no Dispensário, e tornando obrigatorio o tratamento especifico das que estivessem doentes e em periodo conta- giante. O mesmo artigo estabeleceu a multa de 20|000 para as que faltassem ao exame semanal, que seria dobrada em caso de reincidência. Os paragraphos l.° e 2.° desse artigo estabeleceram o modo de se fazerem os exames diagnósti- cos e os tratamentos das meretrizes e demais doentes, e o § 3.° estabeleceu a multa de 1008000 para a meretriz que fosse denunciada como fonte de infecção syphilitica em qual- quer indivíduo. O artigo 92 estabeleceu medidas de alta relevância, taes como a intervenção da policia afim de evi- tar o exercício do meretrício pelas mulheres com affecções contagiantes; medidas de protecção das menores e de re- pressão ao meretrício clandestino e ao proxenetismo. O artigo 94 exige das auctoridades sanitarias absoluto sigillo no concernente ás pessoas que frequentem o Dispen- sário; o artigo 95 auctoriza a concessão de attestados de saúde para casamento; o 96 trata da prophylaxia da syphi- lis nas zonas de penetração de estradas de ferro e o 98 da educação sexual e propaganda sanitaria. Como se vê, a orientação desse modesto serviço não era contraria aos bons princípios da moderna prophylaxia das doenças venereas, adoptada em qualquer paiz civilizado. Devido á epidemia de grippe de 1918, a frequência do Dis- pensário Anti-syphilitico foi pequena no periodo de Outubro a Dezembro. De Janeiro a Junho de 1919 a frequência augmentou e o serviço já funccionava regularmente. Quanto ás meretri- zes, frequentavam-no algumas, voluntariamente, e outras a nosso conselho e convite. Nesse periodo não pude pôr em pratica o meu programma de exame systematico dessas mulheres, porque a isso se oppôz tenazmente o meu collega de chefia, Dr. José Gomes de Faria, que é um abolicionista furibundo, na denominação felicíssima do Dr. Juan Antonio Rodriguez, fundador e director geral do Syphilicomio Na- cional do Uruguay. Reorganizado o Serviço de Prophyla- xia Rural pelo decreto n. 13.538, de 9 de Abril de 1919, quando Presidente da Republica o Dr, Delphim Moreira, e Ministro do Interior o Dr. Urbano Santos, preclaros e be- nemeritos brazileiros já fallecidos, foi, por portaria deste ultimo, o chamado «Ministro da Saúde Publica»), regulamen- tado o Serviço do Paraná, em 5 de Junho do mesmo anno. Por nimia gentileza do finado Ministro Urbano Santos fui incumbido de redigir o tal regulamento, que foi approvado sem nenhuma alteração. O paragrapho 2.° do artigo 2 desse regulamento manteve o «Dispensário Anti-syphilitico de Cu- rityba», mandando amplial-o nas medidas das necessidades. De accôrdo com a nova orientação, cada .Serviço Es- tadoal de Prophylaxia Rural passava a ter um só chefe e não dois, como até então. Fiquei só. O Dr. Gomes de Fa- ria foi chamado para o seu logar no Instituto Oswaldo Cruz. Regressando á Curityba, procurei o Chefe de Policia do Estado, Dr. Lindolpho Pessoa, hoje influente Deputado Federal, com quem cobinei a melhor maneira de ser feita a fiscalização sanitaria do meretrício, com o auxilio crite- rioso e indispensável da Policia Civil. Discutido o regula- mento e o meu programma, que levei escripto, ficou assen- tado que a policia nos auxiliaria em tudo, a começar pela identificação das meretrizes no Gabinete Medico-Legal do Estado. Este entendimento com o Dr. Lindolpho Pessoa teve logar em meiados de Junho de 1919. O delegado auxiliar Dr. Antonio de Paula ficou in- cumbido de organizar o recenseamento e o promptuario das meretrizes de Curityba, e o Dr. Moura Brito, director do Gabinete de Identificação e Estatística, creou uma ca- derneta de identidade especial para as mesmas, em cuja capa amarella se lê, além dos dizeres daquella Repartição, mais o seguinte: « Serviço Hygienico-policial das Meretrizes ». Tudo prompto em fins de Junho, a l.° de Julho baixei o «Regulamento interno do Dispensário Anti-syphilitico», que foi publicado no meu livro «A Prophylaxia Rural no Es- tado do Paraná» (Curityba 1919), da pagina 295 a 299. Desse regulamento convem destacar e transcrever aqui alguns dos seus artigos, para provar que sigo hoje a mesma minha orientação de 1918 e 1919. O artigo l.° diz; «O Dispensário Anti-syphilitico de Cu- rityba..... se destina especialmente á fiscalização hygienica do meretrício nesta Capital, visando a prophylaxia da sy- philis e de outras doenças venereas». Os artigos 2.° e 3.° cogitam dos methodos de diagnós- ticos e tratamentos dessas doenças, O artigo 4.° estabelece o seguinte: «No Dispensário só serão inscriptas, como meretrizes, as mulheres que trou- xerem cadernetas da Policia ou que declararem, esponta- neamente, exercerem o • meretrício, embora seja clandes- tino ».. . Os artigos 5.°, 6.°, 7.°, e B.° tratam do funccionamento do Dispensário. O artigo 9.° estabelece: «Todos os exames e trata- mentos feitos no Dispensário, em meretrizes, serão absolu- tamente gratuitos, excepto as injecções de 914 naquellas que não tenham lesões contagiosas, caso em que pagarão apenas o custo do medicamento».. . O artigo 10.° determina a hospitalização obrigatória, mas gratuita, das meretrizes com lesões contagiantes e a prohibição de exercer o meretrício ás que tenham lepra, tuberculose aberta, etc. (Artigo 11.°). Os artigos 12.°, 13,°, 14.° e 15.° tratam de minuncias do funccionamento dos serviços interno e externo do Dispen- sário e o artigo 16 diz que em circumstancias excepcionaes as auctoridades sanitarias solicitarão da policia medidas coer- citivas afim de obrigarem as meretrizes refractarias a com- parecerem ao exame, ou o fechamento dos prostíbulos, cu- jas proprietárias sejam insubmissas ou cujas casas estejam em condições anti-hygienicas ou sejam habitadas por varias mulheres interdictas. Os últimos artigos, de 17.° a 23.°, tratam ainda do func- cionamento do Dispensário e do preenchimento dos cargos e deveres dos funccionarios incumbidos desses melindrosos serviços de medicina social. A’ pagina 299 do meu livro sobre a Prophylaxia Ru- ral no Paraná, lê-se; «A nossa fiscalização hygienica do meretrício recebeu, na Repartição Central de Policia, a de- nominação de «Serviço Hygienico-policial das Meretrizes». Na organização delle a cooperação da policia tem sido va- liosissima e se os successos da campanha começam desde já a apparecer, é graças á sua efficiente acção traduzida pelo enthusiasmo e interesse que o incançavel Delegado- Auxiliar, Dr. Antonio de Paula, tem dispensado á novel or- ganização. A acceitação foi plena por parte do meretrício, por isso que até hoje só foram impostas duas multas por infracção do nosso Regulamento. « Os melhores elementos da classe medica paranaense apoiam a nossa iniciativa; a imprensa e a sociedade a ap- plaudem. «A nossa consciência e o desejo de prestar um va- lioso serviço á sociedade e á Patria, foram o nosso guia, e estamos tranquillo. porque em um futuro não muito remoto os benefícios dessa nossa modesta iniciativa hão de appare- cer, máo grado os eternos incontentaveis. «Demolidores ha por toda parte; os constructores são mais raros.. . Em l.° de Outubro de 1919 confiei a direcção do Dis- pensário ao meu distincto collega Dr. Luiz Osrnundo de Me- deiros, cujo relatorio do ultimo trimestre desse anno foi o indicio da bella producção do anno seguinte. O meu relatorio de 1920, relativo á prophylaxia das doenças venereas, foi publicado nos «Archivos Paranaen- ses de Medicina», Anno I, n. 11, de Março de 1921. Os da- dos publicados nesse relatorio enthusiasmaram os especia- listas e foram a mostra de que com bôa vontade póde-se conseguir alguma cousa, neste sentido, de realmente util á Sociedade. Os despeitados e os abolicionistas viraram o nariz... para não verem o desmentido das suas tristes previsões. Não me constrange affirmar que os bellos resultados colhidos em 1920, no Dispensário Anti-syphilitico de Curi- tyba,—o numero Um dos Dispensários .do Brazil— representam a maior conquista da minha orientação na prophylaxia das doenças venereas. O Dispensário de Curityba servio de modelo aos Dispensários do Pará e de outros Estados, e a fiscalização sanitaria do meretrício é hoje, entre nós, uma realidade consoladora. HTSTORICO DO SERVIÇO DO PARÁ. Ao partir do Rio para esta Capital recebi instrucções do Sr. Professor Edu- ardo Rabello, inspector geral de prophylaxia da Lepra e das Doenças Venereas, para, aqui chegando, estudar o meio mais pratico e mais economico de executar tacs serviços neste Estado, afim de lhe propor a sua organização. Não sei esperar. .. Quando tenho um serviço a realizar ou um plano a executar—ponho-o logo em pratica. A 9 de Junho telegra- phei ao Sr. Director de Prophylaxia Rural informando quaes as possibilidades encontradas para a organização desses ramos da Prophylaxia Rural e pedindo as ordens do Sr, Inspector Geral. Obtive como resposta o pedido de um memorial cir- cumstanciado sobre o assumpto, a ser enviado pelo correio, o que retardaria de 2 mezes, pelo menos, o inicio de tão importantes serviços. Tendo recebido do Governo do Estado o Instituto Pas- teur e o Laboratorio de Analyses, que fundi, constituindo o actual «Instituto de Hygiene do Pará», me foi ofterecido pelo Governo o prédio em que funccionava o primeiro da- quelles departamentos do Serviço Sanitarío Plstadoal Achando-o muito apropriado para os nossos Dispensá- rios, resolvi, immediatamente, acceital-o e adaptal-o para o nosso «Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas». Tendo recebido o alludido prédio a 16 de Junho, mandei fa- zer nelle varias obras e mobilial-o condignamente. A 28 de Junho de 1921 inaugurei nelle os Dispensários anti-venereos e anti-leprosos que iam constituir aquelle Ins- tituto. No mesmo dia 28 já a frequência de doentes foi regu- lar e foi augmentando cada dia. Não dispondo de verbas especiaes, as despezas com esse Serviço foram custeadas pela verba «Prophylaxia Rural» desde Junho até Outubro, pois só em 27 de Novembro é que aqui chegou o telegram- ma da Directoria da Despeza Publica, avisando a distribui- ção do credito de 66:920|000, destinado a pagar as despe- zas realizadas e a realizar-se até Dezembro, com os servi- ços de prophylaxia da lepra e das Doenças Venereas nes- te Estado. Essa verba foi sufficiente e cobriu todas as despezas correspondentes ao 2.c semestre de 1921. No dia 28 de Junho assumiu a direcção do referido Instituto o Dr. Sulpicio Ausier Bentes, tendo como assisten- tes os Drs. Bernardo Rutowitcz e Hilário Gurjão. Eu assumi pessoalmente a direcção dos dispensários de leprosos, em cujo serviço fui auxiliado pelos dous últimos collegas, até Dezembro de 1921. O Dr. Ausier Bentes, por motivos de interesse parti- cular, deixou a direcção do Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas no dia 13 de Julho. Designei para substi- tuil-o nesse cargo o Dr. Hilário Gurjão em virtude de estar o Dr. Bernardo Rutowitcz como director da Leprosaria do Tocunduba desde 2 daquelle mez. Para substituir o dr. Hi- lário Gurjão foi contractado o Dr. Elias Roffé, como assis- tente gynecologista do Instituto, cujo cargo exerceu até co- meço de Janeiro de 1922. Começando a funccionar, a 15 de Agosto, o Hospital de São Sebastião, como annexo daquelle Instituto e desti- nado ao isolamento de pessoas affectadas de lesões vene- reas, em periodo contagiante, assumiu a sua direcção, cu- mulativamente com a Leprosaria do Tocunduba, o Dr. Ber- nardo Rutowitcz, que foi substituido no seu consultorio do Instituto pelo Dr, Tertuliano Pacheco, No mez de Julho os diversos dispensários do novo estabelecimento funccionaram com frequência muito animadora. Transcrevo do meu rela- tório desse mez, o seguinte trecho, que faz parte do Histó- rico do Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas. «PROPHYLAXIA DAS DOENÇAS VENEREAS.—No dia 28 de Junho ultimo começou a funccionar o Instituto de Pro- phylaxia das Doenças Venereas, que installei no prédio do antigo Instituto Pasteur, á Rua João Diogo, nesta capital. O prédio, que foi posto á disposição deste Serviço pelo Go- verno do Estado, é situado no centro de um vasto terreno, em situação pouco devassada, e possue uma grande sala de espera e portaria, um consultorio para homens, outro para senhoras e um terceiro para creanças, e 2 para meretrizes, todos amplos, bem illuminados e mobiliados. Nada lhes falta. No fundo do prédio existem duas gran- des salas, que são separadas do resto do corpo do prédio por um largo corredor, servindo este para sala de espera e aquellas para os consultorios dos leprosos, sendo um para homens e outro para mulheres e creanças. O Instituto funcciona diariamente das 8 ás 18 horas. Todas as manhãs, das 8 ás 12 horas são attendidos, em consultorios independentes, homens, senhoras e creanças. As tardes são reservadas exclusivamente para o exame e tratamento das meretrizes. Os consultorios de lepra funccionam ás terças, quintas e sabbados, das 8 ás 13 horas, e pela estatística acima vê- se a grande frequência que elles tiveram no mez passado. Os consultorios antivenereos também tiveram grande movi- mento. A secção das meretrizes vae em franco progresso e o serviço tem sido muito bem recebido. Para a organização desta secção fui procurado no dia 7 de Junho ultimo pelo Sr. Desembargador Julio Costa, il- lustre Chefe de Policia deste Estado, que me disse ter o de- sejo de nos auxiliar neste Serviço. Mostrei-lhe como tinha organizado o serviço de prophy- laxia das doenças venereas no Estado do Paraná, com o auxilio da policia, e nos moldes do que se faz em Montevi- déo e combinámos varias medidas preliminares para o inicio de egual serviço aqui. Incumbio-se o Dr. Chefe de Policia de mandar fazer o recenseamento de todas as meretrizes desta capital, as quaes seriam localizadas era um unico bairro da cidade e possuiriam cadernetas de identidade; com estas se apresen- tariam ao Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas, para serem examinadas, uma vez por semana. Ficaria assim confiada á commissão de Prophylaxia Rural exclusivamente a parte medica do problema, e a policia se incumbiria do resto; localização, identificação, in- timações e fiscalização das meretrizes interdictas pelo Ser- viço, por doença, para não continuarem a exercer o mere- trício. Isto foi e está sendo feito. Estamos, portanto, com as nossas funcções bem defi- nidas - este Serviço só acceita como meretrizes, para effeito dos exames semanaes e tratamento, as mulheres que a elle se apresentarem com caderneta especial do Gabinete Me- dico-Legal do Estado. A’ policia compete todo o serviço externo. ; Não é opportuno discutir-se aqui sobre a conveniência ou inconveniência da regulamentação do meretrício. Sou de parecer que, com ou sem regulamentação, a prophylaxia das doenças venereas, que é um serviço puramente de or- dem medica, não póde ser realizada no meretrício sem uma intervenção criteriosa da policia. A minha experiencia, des- de 1918 até hoje, me permitte ter uma orientação pessoal neste sentido. Não quero discutir a questão da liberdade individual, que é ferida a cada momento nas nossas relações sociaes e políticas, e sou de parecer que as doenças vene- reas devem ser incluidas na lista das doenças de notifica- ção compulsória. Para mim, a fiscalização sanitaria do meretrício, em relação ao combate ás doenças venereas, tem o mesmo va- lor que a desratização na prophylaxia da peste. E’ de las- timar-se que neste ponto seja tão brando o nosso Regula- mento Sanitario, de modo a se tornar quasi impossível a execução de medidas efficazes. Foi sempre esta a minha opinião a respeito desta parte do magnifico regulamento sa- nitario em vigôr, tendo-a externado francamente ao Exmo. Sr. Director Geral do Departamento, Dr. Carlos Chagas, logo que o mesmo foi publicado, fazendo-lhe vêr que no Paraná o nosso Serviço obedecia a uma orientação mais rigorosa, que elle mandou conservar em virtude do presti- gio que nos dispensava o Governo do Estado. O Serviço do Paraná, que também era feito com o auxilio da policia, depois da minha transferencia para este Estado, parece ter tido outra orientação, segundo carta do Sr. Dr. Luiz de Medeiros, inspector sanitario e director do Dispensário Anti-venereo de Curityba, datada de 18 de Ju- nho ultimo, na qual elle diz :«0 Dispensário é que tem ido mal, muito mal. Depois que a acção da Policia não se fez sentir, o serviço quasi não mais existe. A nova orientação resultou no mais absoluto fracasso. Ha dias que não vem uma unica mulher. Hoje um delles...O Dr. Barreto está disposto a evitar a quéda do serviço». A referida carta me veio ás mãos acompanhada de uma cópia de um memorial enviado a 16 do mesmo mez de Junho, por aquelle collega, ao Chefe do Serviço de Prophy- laxia Rural no Paraná, communicando o estado de deca- dência do serviço anti-venereo e propondo-lhe varias medi- das amparadoras. Deste memorial transcrevo os seguintes trechos, muito significativos: «E’ por demais contristador o que no momento se ve- rifica. Aquelle movimento intenso que nos era dado obser- var, desappareceu por completo, estando o Dispensário com a sua frequência reduzida a um numero verdadeiramente irrisorio. Ao tempo em que dirigimos tal serviço (o Dr. Luiz Medeiros estava agora interinamente na direcção do Dispensário), tendo o auxilio criterioso da Policia, mal tí- nhamos tempo para attender ás mulheres que, diariamente, se nos apresentavam. Actualmente, passamos os dias á es- pera de uma ou outra mulher que ainda nos queira appa- recer. «Para a classe de gente a que é destinado, não ha meios suasorios, nem se póde levar á serio a brandura in- justificável do nosso Regulamento Sanitario. Não ha como cumprir, decididamente, aquillo que nos deve inspirar a de- feza da saúde publica. Levar o serviço como no momento, entregue aos caprichos de uma classe de gente, por natu- reza indifferente—senão mal disposta—ao bem estar e con- quistas da sociedade,— representa voltar as costas a uma victoria magnifica que nos custou uma somma immensa de trabalho». A mim me entristece muito saber em decadência um serviço que creei visando exclusivamente o bem publico, e que ella se verifica por motivo de ter sido abandonada a minha orientação, a qual me compete defender em toda a parte. Ha indícios, entretanto, de que a orientação central terá de seguir outro rumo. O topico da entrevista dada ao «Correio da Manhã», do Rio, pelo nosso benemerito dire- ctor-geral, Sr. Dr. Carlos Chagas, e publicada no dia 30 de Julho passado, é um indicio promissor. No capitulo «Pro- phylaxia da syphilis e das doenças venereas »—lê-se: «A prôphylaxia contra a syphilis e doenças venereas é também executada nos Estados Unidos com absoluto rigôr. A legis- lação sanitaria respectiva é alli incomparavelmente mais exigente do que entre nós, e a educação especial contra taes doenças attingiu também o máximo de desenvolvi- mento...». Seria desejável, a bem da saúde publica, que o Regu- lamento Sanitario fosse modificado no seu capitulo «Das Doenças Venereas», tornando-as de notificação compulsó- ria, com tratamento obrigatorio, assim como o isolamento dos casos contagiantes, sobretudo quando se tratar de me- retrizes, as quaes devem ficar debaixo de rigorosa fiscali- zação sanitaria ». (Da pagina 13 em deante do relatorio de Julho de 1921). Como resposta a este protesto recebi o telegramma que abaixo transcrevo, documento para mim valiosissimo, não somente por approvar a organização dos serviços aqui installados, mas sobretudo por declarar officializada a mi- nha orientação, a qual seria seguida pela Directoria Cen- tral e mandada adoptar noutros Estados. Si, ab initio os nossos serviços mereceram essa alta consideração do in- cançavel Director Geral da Prophylaxia Rural, actual men- te, após o seu l.° anno de existência, cheio de victorias e coroado de um successo incomparável, mereceria muito mais. A 23 de Setembro recebi do Rio de Janeiro o seguin- te telegramma official«Rio, 22 de Setembro de 1921.—N. 3.774.—Minhas calorosas felicitações extensivas dignos au- xiliares brilhante relatorio Julho. Accôrdo vossa orientação relativa doenças venereas, restabeleci Paraná serviço me- retrizes combinado com a policia, tal como fazeis ahi. Fi- cae certo vossa obra Paraná será continuada, e idêntica orientação seguirá esta Directoria outros Estados. Peço mandar todos os vossos artigos sobre lepra, para publicar em folhetos. Convém photographías illustrativas para cli- chés. Já solicitei permissão para applicar combate impalu- dismo sessenta contos destinados peste. Convem Governa- dor Estado incumbir algum representante combinar com- migo elevação verba serviço ahi para quinhentos ou seis- centos contos annuaes, como estão fazendo outros Estados. Só assim poderemos attender todas necessidades. Amazo- nas, fez accôrdo quinhentos contos. Santa Catharina qua- trocentos. Pretendo partir norte primeira quinzena Outubro. Saudações.—Belisario Penna, Director ». 2. O «INSTITUTO DE PROPpVIiftXIA DAS DOENÇAS venereas» O centro dos serviços de prophylaxia das doenças ve- nereas nesta Capital é o «Instituto de Prophylaxia das Do- enças Venereas», por mim fundado e funccionando no pré- dio do antigo Instituto Pasteur, á rua João Diogo, e inau- gurado no dia 28 de Junho de 1921. Esse Instituto comprehende as seguintes secções: 1. Dispensários. 2. Hospital para contagiantes. 3. Serviço de assistência sanitaria domiciliar. 4. Serviço de fiscalização e propaganda sanitaria. 5. Laboratorio de diagnósticos. Os dispensários que funccionam na séde do Instituto são a) Dispensário para homens b) Dispensário para senhoras e creanças Funccionam diariamente das 8 ás 12 horas. c) Dispensário para meretrizes, funcciona diariamente das 14 ás 18 horas. d) Posto de desinfecção para homens, funcciona diariamente das 20 ás 24 horas. Belém,' Fachada do Instituto de Prophyla.via das Doenças Venereas, com Dispensários separados para homens, mulheres e crean- ças, funccionando diariamente das 8 ás 18 e das 20 ás 2i horas. Nos domingos e feriados funccionam das 8 as 10 horas 4 PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARÁ A PBOPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA Planta do Instilulo de Prophylaxia das Doenças Venereas e) Dispensário para os operários cie ambos os sexos, funccionando nos domingos e dias sanctificados, das 8 ás 10 horas. 1. Os serviços desses dispensários comprehendem a consulta para qualquer doença venerea ou dermatose; os exames de laboratorio destinados a esclarecerem os dia- gnósticos clínicos; o fornecimento de medicamentos para uso interno ou externo; os curativos e pequenas interven- ções cirúrgicas e o tratamento especifico, por meio de in- jecções, de qualquer doença venerea ou dermatose, obede- cendo-se os methodos therapeuticos mais modernos e reco- nhecidos copio mais efficazes. Todo este serviço é gratuito para qualquer pessoa que se matricule no Instituto. A copia photographica da planta do Instituto, dá uma idéa da disposição dos vários dispensários. A sala de cura- tivos dos homens onde de manhã e á noite são tratados os gonorrhoicos agudos e os doentes de ulceras, etc. é repre- sentada também em photogravura e assim também a sala de exames gynecologicos e curativos das meretrizes. Como se vê pela copia da planta, o Instituto está ins- tallado em prédio isolado, que lhe garante bastante luz, ven- tilação constante e com a vantagem de não ser devassado. O prédio é bastante grande e bom. Tem agua, luz elé- ctrica e gaz em abundancia. Possue o Instituto uma grande sala de espera, dois largos corredores dispostos em T que também servem como ante-camara; a secretaria, e sete excellentes salas onde funccionam consultorios e dispensários. O prédio é cercado por um pequeno jardim e tem ao fundo o bioterio, onde são conservados os carneiros e co- bayos destinados a fornecerem sangue para as reacções de Wassermann. São também conservados ahi os coelhos des- tinados ao serviço anti-rabico, do Instituto de Hygiene. 2. O hospital para contagiantes venereos foi installado no antigo isolamento de variolosos do Estado, denominado «Hospital São Sebastião», situado no bairro de Santa Iza- bel, junto ao Hospital «Domingos Freire», destinado aos tuberculosos. Recebi aquelle estabelecimento nosocomial do Serviço Sanitario do Estado no dia 9 de Agosto de 1921, tendo co- meçado a funccionar, como annexo ao Instituto de Proph\r- laxia, no dia 19 do mesmo mez e anno. A administração do hospital estava confiada a um gru- po de religiosas, em numero de sete e mais :um capellão. As irmãs de caridade se oppuzéram a servir de enfermei- ras de meretrizes... e por isso eu mandei que ellas desoc- cupassem o estabelecimento, que foi desde logo confiado a uma administração leiga, que, bem fiscalizada, nada desme- receu da minha confiança e vae prestando o seu contingen- te valioso na realização do meu programma. A lotação do hospital, que era de 35 leitos, foi augmentada para 50, de- pois para 80, e varias vezes esteve sem uma vaga. Dentro dos limites das verbas distribuidas pela Dire- ctoria pôde o Serviço de Prophylaxia realizar vários melho- ramentos no Hospital de São Sebastião, os quaes serão pro- seguidos no 2.° semestre deste anno. No quarto capitulo des- te livro verá o leitor como está organizado e como func- ciona aquelle Hospital, hoje denominado «Asylo das Ma- gdalenas». Já ha mezes projectei a abertura de uma es- cola para as meretrizes analphabetas ou quasi, e a instal- lação de um atelier de costura, dentro do proprio hospital, para dar distracção e trabalho ás que estejam em condições de o executar. Brévemente esse melhoramento será uma realidade. Depois que o operoso collega Dr. Raymundo da Cruz Moreira assumiu a direcção do Hospital, foi organizado ahi um serviço de consultas e tratamento, o chamado consul- torio da porta, funccionando todos os dias, á tarde. A esse consultorio, especialmente gynecologico, vão recorrendo as mulheres das famílias pobres que habitam proximo ao esta- belecimento. Pelo alto credito e conceito que adquiriu, o Hospital de São Sebastião attrahe muitos visitantes e serve como o melhor dos elementos de propaganda sanitaria con- tra as doenças venereas. Onze mezes funccionou o hospital sob a gestão do Serviço de Prophylaxia, tendo estado com- pletamente cheio varias vezes, e nunca houve um doente ou uma doente sequer que sahisse descontente ou que trou- xesse qualquer' reclamação á chefia, contra a sua adminis- tração ou tratamento lá recebido. Com mais de uma cen- tena de meretrizes que estiveram internadas já conversei, e pedi a sua opinião sobre a vida no hospital, os tratamentos médicos e a sua alimentação, e de todos ouvi unanime elo- gio a tudo e a todos. De regra ellas sahem saudosas e vol- tam, muitos domingos a fio, visitar o estabelecimento e le- var mimos ás enfermeiras. 3. O Serviço de assistência domiciliar é destinado ás pessoas pobres, matriculadas no Instituto, e muito especial- mente ás meretrizes. Superintende este serviço uma excel- lente senhora, que exerce o cargo de enfermeira visitadora. Nas visitas domiciliarias ás meretrizes, feitas diariamente, es- pecialmente ás que por doença não compareceram ao Dis- pensário, e nas visitas aos operários é ella acompanhada por um guarda sanitario do Instituto, A enfermeira leva sempre comsigo, além dos medicamentos de urgência e des- infectantes, mais os folhetos de propaganda sanitaria, que distribuem largamente. Sempre que essa auxiliar encontra uma doente em estado melindroso, communica o facto a um dos médicos do Instituto para que tome as suas providencias, ou o leva á casa da doente dentro do mais curto praso. Tenho por habito percorrer, á noite, uma ou duas ve- zes por mez, algumas ruas da zona central do meretrício, observando como se portam as meretrizes, conversando com uma ou com outra, ás vezes entrando em suas casas para saber o seu estado de saúde, examinar as suas cadernetas sanitarias e indagar-lhes sobre a sua pontualidade nos exa- mes e pedir-lhes informações sobre o modo porque são tra- tadas pelos funccionarios do Serviço. Tenho sido sempre muito bem recebido e muitas ve- zes me são prestadas interessantes informações sobre a marcha dos serviços. Nunca reclamaram máo trato ou qual- quer acto de violência commettido por funccionarios nos- sos, reclamam, ás vezes, a nossa protecção contra outras mulheres ou indivíduos que as perseguem, e nunca deixá- mos de agir junto á Policia em seu beneficio. As meretri- zes tem no Serviço de Prophylaxia o seu melhor protector, e têm ellas verdadeira amizade e veneração pela enfermei- ra visitadora do Instituto. 4. O serviço de fiscalização e propaganda sanitaria é feito entre as meretrizes e nas classes proletárias por um corpo de 10 agentes, dirigido por um guarda sanitario Che- fe, pessoa respeitável e que merece toda a consideração da chefatura de policia. Estes funccionarios têm as regalias de agentes da po- licia civil para todos os effeitos. A sua funcção fundamental é a fiscalização sanitaria do meretrício e cada um delles trabalha em determinada zona, pois, além da zona central delimitada pela Chefatura de Policia existem varias outras sub zonas, em certos bair- ros populosos de Belém, onde vivem dezenas de prostitutas. Esses agentes recebem do director do Instituto, cada tarde, a relação das meretrizes que faltaram no dia ao exa- me medico e as denuncias de meretrizes chegadas de ou- tros logares do interior ou de outros Estados, e vão no dia seguinte de manhã convidal-as a comparecerem ao Dispen- sário. Nessas visitas que os agentes fazem ás suas zonas elles indagam do estado de saúde e das necessidades das meretrizes suas jurisdiccionadas afim de informarem ao me- dico e á enfermeira visitadora para que sejam tomadas as providencias indicadas, taes como o internamento das en- fermas no hospital, a visita domiciliar do medico ou da en- fermeira, etc. De regra as familias ou outras mulheres publicas que habitam essas zonas denunciam aos agentes as novas me- retrizes para serem identificadas e matriculadas no Institu- to. E’ muito commum as próprias meretrizes incipientes na «vida alegre», naturaes da capital ou vindas do interior, procurarem espontaneamente o Serviço Medico-Legal para se identificarem como taes, afim de ficarem sujeitas á fisca- lização sanitaria, ou irem directamente ao Instituto, solici- tar o seu exame e tratamento. Esses agentes de propagan- da visitam também as fabricas, onde convidam os operários a procurarem os Dispensários anti-venereos para se exami- narem e tratarem de graça Elles levam comsigo, para dis- tribuir, os folhetos com as noções geraes sobre syphilis, go- norrhéa, cancro molle, mandados adoptar pela Inspectoria Geral, do Rio, e outros sobre impaludismo e verminoses. A propaganda sanitaria feita desse modo tem sido co- roada de magnificos resultados, a se julgar pela frequência, cada vez maior, do Instituto de Prophylaxia. Os agentes inspeccionam também os domicilios e sem- pre que faltam a estes requisitos de hygiene levam ao co- nhecimento da Inspectoria de Policia Sanitaria que manda intimar os proprietários a melhorarem taes habitações. Como se vê, os nossos serviços se auxiliam uns aos outros, mutuamente, resultando disso beneficios incalculá- veis para a Saúde Publica. Em beneficio da classe das me- retrizes a Inspectoria de Policia Sanitaria intervém até na reducção dos preços dos alugueis das casas ou commodos. Na zona central os proprietários das casas onde funccionam prostibulos são ricos ou abastados judeus que sugam quan- to podem os minguados recursos das prostitutas. O decantado problema do meretrício clandestino vae sendo resolvido satisfactoriamente, no ponto de vista sanitario. Sempre que o Instituto recebe denuncia contra uma determinada mulher, que não é prostituta publica, mas que recebe em sua casa «certos amigos» ou que frequenta, «ás vezes», uma casa de «rendez-vous», é ella convidada a com- parecer ao Dispensário, de manhã, Ahi ella recebe as ins- trucções e conselhos para se defender contra as doenças venereas e é intimada a comparecer ao exame medico pelo menos duas vezes por raez, na consulta da manhã, indepen- dente de qualquer acção policial. As clandestinas se sujei- tam a qualquer exame e tratamento, contanto que não com- pareçam á tarde, juntamente com as meretrizes publicas, nem tenham de se identificar na policia. Costumamos res- peitar esse resto de pudôr de taes mulheres, delias exigindo apenas o indispensável para que a sua saúde seja conser- vada. Com o systema do exame matinal em dias préviamen- te marcados, consegui que comparecessem ao Dispensário muitas meretrizes clandestinas que representavam «os ca- sos diíficeis... » Sem as vistas da policia e das meretrizes publicas, essas mulheres se sentem bem e vão frequentando os nosssos Dispensários e fazendo delles proveitoso reclamo por toda parte, entre as pessoas das suas relações. A fiscalização sanitaria do meretrício está sendo feita também na cidade de Bragança, em dispensário annexo ao posto «Souza Castro». O Dr. Damasceno Júnior tem em- penhado o melhor do seu esforço na realização desse ser- viço e de vários outros, visando o bem publico da popula- ção bragantina, que não lhe regateia apoio nem applausos. A população de Mosqueiro tem pedido insistentemente a creação de um dispensário anti-venereo naquella villa, onde existem cerca de 60 meretrizes e mais de 30 leprosos sem nenhuma assistência medico-sanitaria. Já propuz á Directoria Geral a fundação desse dispen- sário, funccionando concomitanteraente nas villas do Mos- queiro e do Pinheiro, 3 dias consecutivos da semana em cada uma delias. Mosqueiro está ligada á capital por meio de uma linha de vapores e o percurso é feito em duas ho- ras. O vapor da linha vem e volta áquella villa todos os dias uteis. Nos dias feriados e santificados faz 2 e 3 via- gens. Pinheiro fica no meio do caminho entre Belém e Mos- queiro e é servida também por um ramal da Estrada de Ferro de Bragança. Temos de installar um dispensário em cada villa, funccionando o de Mosqueiro ás segundas, ter- ças e quartas feiras, e o de Pinheiro ás quintas, sextas e sabbados, com o mesmo pessoal: um medico, uma enfer- meira, um enfermeiro, um guarda sanitario e um servente. O material para exames de laboratorio—sangue, pús, secreções, muco-nasal, etc.,—será enviado diariamente ao Instituto de Hygiene da capital. No baixo Amazonas, na ci- dade de Santarém, ha necessidade de se installar também um dispensário anti-venereo. Quando tudo isso estiver em franco funccionamento-em Bragança, Mosqueiro, Pinheiro e Santarém—como em Belém, considerarei realizada a par- te mais valiosa, no ponto de vista medico-social, do meu programma de saneamento do Pará. 5. Por dois motivos poderosos não funcciona no pro- prio Instituto de Prophylaxia o seu laboratorio de diagnós- ticos: o Io é a falta de espaço, o 2o é a conveniência eco- nómica e de direcção technica de serem feitos em um só local, orientados por um unico especialista de renome, to- dos os exames, e pesquizas de diagnósticos microbiologicos, sôrologicos e experimentaes das diversas secções do Ser- viço. Esse centro de pesquizas é o Instituto de Hygiene, que funcciona nos fundos do palacio do Governo, ao lado da Chefia do Serviço e sob a competente direcção do Dr. Jay- me Aben-Athar. Nesse Instituto existem duas secções incumbidas de to- dos os exames solicitados pelos serviços de prophylaxia da lepra e das doenças venereas. Uma é a de reacção de Wassermann e outras pesquizas sôrologicas, confiada ao collega acima e a outra é a de pesquizas bacteriológicas e microscópicas confiadas ao dr. Antonio de Magalhães. Estou convicto de que rarissimos serviços ou centros de Cypridologia, do paiz ou do extrangeiro, estão tão bem apparelhados como os de Belém quanto á laboratorios de pesquizas diagnosticas. Nenhum serviço de prophvlaxia exige mais prompti- dão e rigôr nos exames de laboratorio que o das doenças venereas, de passo que um dispensário anti-venereo que não disponha de taes recursos scientificos não pôde reali- zar obra meritória. 3. REGUE ABERTO IMTERNO DO DE PRO PRVIíAXIA DAS DOERÇAS VENEREAS» DE BELiE|VI O Dr. Chefe do Serviço de Saneamento e Prophyla- xia Rural no Estado do Pará, resolve mandar executar o seguinte regulamento interno no «Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas» de Belém e nos' demais dispensá- rios anti-venereos do interior do Estado. Art. 1.0 O «Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas» inaugurado nesta Capital a 28 de Junho de 1921, e funccio- nando á rua João Diogo, no prédio do antigo Instituto Pas- tem*, se destina especialmente á prophylaxia das doenças venereas, como o seu nome indica, e mais ao tratamento das dermatoses. O Instituto comprehende as seguintes secções: SECÇÃO A—Dispensário para mulheres e creanças, funccionando diariamente das 8 ás 12 horas. SECÇÃO B—Dispensário para homens, funccionando diariamente das 8 ás 12 e das 20 ás 24 horas. SECÇÃO C Dispensário para meretrizes, funccionando diariamente das 14 ás 18 horas e mais o serviço de propa- ganda, fiscalização e assistência sanitaria domiciliar. SECÇÃO D—Dispensário para os doentes de dermato- ses. SECÇÃO E —Dispensário para os operários, funccio- nando nos domingos e feriados das 8 ás 10 horas. SECÇÃO F—lsolamento dos doentes no Hospital São Sebastião, com a lotação para 80 leitos. Art. 2.° Serão installados dispensários anti-venereos em Bra- gança, Mosqueiro e Santarém, independentes ou annexos a postos sanitários ruraes, funccionando dentro das bases des- te Regulamento. Art. 3o Serão matriculadas, examinadas e tratadas gratuita- mente em qualquer secção do Instituto todas as pessoas que o procurarem. Na secção C só serão matriculadas as me- retrizes publicas, identificadas no Gabinete Medico-Legal da Policia e portadoras de cadernetas de fiscalização sanitaria. Art. 4.0 O Instituto terá um medico Director e quatro assis- tentes: 1 gynecologista, 1 dermatologista e 1 bacteriologis- ta (este trabalhará no Instituto de Hygiene) e o director do Hospital. Terá mais um secretario; um guarda sanitario che- fe, 1 primeira enfermeira visitadora, 1 primeiro enfermeiro interno, e os enfermeiros ajudantes, escreventes, guardas e serventes necessários ao serviço. Todos esses funccionarios serão designados ou nomeados livremente pelo Chefe do Serviço. Na escolha dos technicos prevalecerão a compe- tência especializada, a capacidade de trabalho, e também o dom de iniciativa e energia indispensáveis para a execução de serviços de tal responsabilidade. Art. 5.° A’ Policia Civil compete, conforme accôrdo com o res- pectivo Chefe: 1. Recensear, identificar e localizar as meretrizes pu- blicas; procurar descobrir as clandestinas para submettel-as á vigilância sanitaria, independentemente de identificação; proteger as menores, nas ruas e por toda a parte; comba- ter rigorosamente o proxenetismo; auxiliar as auctoridades sanitarias na descoberta das meretrizes enfermas e prohi- bil-as de exercerem a profissão; fiscalizar as meretrizes in- terdictas que por qualquer circumstancia ficarem em domi- cilio. 2. Impedir por todos os meios que as meretrizes iden- tificadas se mudem para fóra da zona designada e que fal- tem aos exames médicos nos dias indicados nas suas cader- netas; fazer conduzir ao dispensário da manhã as meretri- zes clandestinas encontradas em logares suspeitos e identi- fical-as como publicas, desde que sejam apanhadas tres ve- zes em casas de tolerância; fechar os prostíbulos quando as suas proprietárias não auxiliem as auctoridades policiaes e sanitarias no sentido de manter as suas clientes em perfeito estado de saúde; coadjuvar o Serviço no cumprimento do regulamento sanitario quando a meretriz estiver atacada de doença transmissível, por exemplo: a lepra, a tuberculose aberta, etc.; fornecer ás Repartições Sanitarias os dados an- thropologicos e sociologicos destinados á sua estatística. Art. 6.° As prostitutas ficam sujeitas: a) a um exame medico no Instituto, por emquanto semanal e logo que seja possível bi-semanal (Art. 500 do Regulamento Sanitario); b) quando faltarem, sem justificação, ao exame, irão ao seu encalce a enfermeira visitadora e um agente; caso esteja doente serão tomadas as providencias indicadas, si bôa será levada ao Dispensário, si ausente será declarada, pela imprensa, no dia seguinte, suspeita de enferma ate' o pro- ximo exame; na noticia publicada figurará apenas o numero do seu prompturario e residência; c) em casos excepcionaes o medico irá examinal-a a domicilio. Si a chamado, cobrará pela visita e exame gynecologico 10$000; d) quando atacada de qualquer doença venerea em periodo contagiante a meretriz será isolada a pedido ou obrigatoriamente no Hospital; si a doença offerecer condi- ções de pouca contagiosidade a paciente poderá ficar em tratamento no ambulatório do proprio Instituto; a meretriz que tiver alta no Hospital será encaminhada ao Instituto para verificação de cura ou melhora; e) compete ás meretrizes examinarem rigorosamente os seus clientes e recuzal-os era caso de desconfiança de do- ença. Sobre este ponto serão aífixados cartazes nos dormi- torios de todas ellas, assim também outros contendo conse- lhos hygienicos; f) avisar á Policia Civil sempre que mudar de resi- dência para ser annotado no seu promptuario. Art. 7.° A fiscalização sanitaria do meretrício em Belém e nas demais cidades onde forem installados outros dispensários anti-venereos, divide-se em serviço interno e serviço exter- no, consistindo o primeiro nos exames e tratamentos das mulheres inscriptas e das que se apresentarem voluntaria- mente, ou mediante intimação ou convite, na séde do Insti- tuto. Os exames médicos dividem-se em clinico, no ponto de vista geral e dermatologico, em gynecologico com espe- culo, microscopico, bacteriológico e sôrologico, cujos resul- tados serão annotados no livro especial da secção C, no qual cada meretriz tem uma pagina. Na caderneta da meretriz o medico escreverá, após cada exame, uma das seguintes palavras: Bôa, Suspeita, ou Doente, luterdicta, conforme o es- Belém. Visita das autoridades estaduaes: representante do Governador do Estado; Intendente de Belém, Dr. Cypriano Santos; Desembargador Júlio Costa, Chefe ide Policia; Tenente-Coronel Dr. Luiz Lobo, Commandante da Brigada Militar do Estado; Dr. Cruz Moreira, Presidente da Sociedade Medico-Cirurgica do Pará e representante da “Folha do Norte”. A PROPHYLAXJA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARÁ Belém. Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas. Meretrizes aguardando o seu exame na sala de espera A PRQPHTLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA tado da examinada, datará e assignará. Em cada pagina da caderneta ha espaço para registrar o resultado das reac- ções de Wassermann, as injecções de neosalvarsan, isola- mento hospitalar, licenças para viagens, etc. Art. B.° O serviço interno comprehende os exames médicos feitos no Dispensário das Meretrizes, diariamente, das 14 ás 18 horas. Fazem os exames dois médicos, o director do Instituto e um assistente, auxiliados por duas enfermeiras; a chama- da é feita pelo guarda-chefe na sala de espera. No mes- mo horário são feitos, em salas contíguas, os curativos, la- vagens, injecções, colheita de material, etc., por uma enfer- meira e um enfermeiro. Nesse ambulatório são tratados os casos de gonorrhéa chronica que não offerecerem grave perigo de contagio; os casos de ulceras e outras dermato- ses, e feitas as pequenas operações cirúrgicas. As mulhe- res devem apresentar-se vestidas com decencia e portar-se respeitosamente, sob pena de censura. Quando taes exames fôrem bi-semanaes, como exigem os artigos 499 e 500 do Regulamento Sanitario, esse Dispensário funccionará tam- bém das 8 ás 12 horas. Art. 9.° O serviço externo consiste na visita, semanal do dire- ctor do Instituto ou de um dos seus assistentes aos prostí- bulos, em objecto de inspecção sanitaria ou para proceder ao exame gynecologico semanal em meretrizes que não de- sejem ou não possam comparecer ao Dispensário, O se- cretario e o guarda-chefe do Instituto devem correr tam- bém, semanalmente, a zona do meretrício e suas sub-zonas afim de colherem informações sobre tudo que possa inte- ressar a bôa marcha dos serviços de prophylaxia venerea. O Chefe do Serviço fará também, periodicamente, as suas visitas de inspecção aos prostibulos e habitações indi- viduaes das meretrizes, ás quaes indagará das suas neces- sidades, da pontualidade dos seus exames e do modo por- que são tratadas pelos funccionarios do Instituto. A bôa conservação e estado hygienico de taes habitações será ob- jecto de fiscalização da Inspectoria de Policia Sanitaria que, dentro do Regulamento Sanitario em vigôr intimará os res- pectivos proprietários a fazerem nellas os melhoramentos indispensáveis, reconstrucções e até demolições. Art. 10.° Todos os exames e tratamentos feitos no Dispensário, era meretrizes, serão absolutamente gratuitos. A sua pro- pria caderneta de identidade será paga pelo Serviço de Pro- phylaxia. A enfermeira visitadora fará curativos e trata- mentos em domicilio, distribuirá medicamentos e desinfe- ctantes, tudo de graça. Art 11.0 As mulheres publicas encontradas doentes em domici- lio, e que a juizo do medico não devam continuar a exercer o meretrício, serão declaradas interdictas e isoladas volun- tária ou obrigatoriamente, de accôrdo com o artigo 524 e seus paragraphos, do Regulamento Sanitario, no Hospital São Sebastião, de onde sahirão somente após não offere- cerem mais perigo de contagio. Esta hospitalização é tam- bém gratuita. Si a mulher isolada pedir para ser pensio- nista, para ter direito a tratamento especial, pagará uma diaria variando entre 4|ooo e 10$000. A enferma preferindq ser isolada em hospital particular tem direito a isso, mas fi- cará sob vigilância sanitaria do Instituto. Art. 12.° As meretrizes que soffrerem de certas doenças infecto- coníagiosas, taes como a lepra, a tuberculose pulmonar a- berta, etc., ficarão prohibidas de exercer o meretrício e te- rão de se isolar a domicilio ou estabelecimentos sanitários especiaes. Art. 13.° As proprietárias ou gerentes de prostibulos são obri- gadas a avisar as auctoridades sanitarias sempre que uma das suas clientes adoeça e não possa comparecer ao exa- me, sob pena de serem consideradas insubmissas ao Regu- lamento e nas reincidências serão passíveis de certas pena- lidades da Policia Sanitaria. Quando as proprietárias das pensões e casas de fendez-vous preferirem que as suas pen- sionistas sejam examinadas semanalmente, a domicilio, além de serem responsáveis pelas despezas decorrentes desse ser- viço, ficam obrigadas a reservar e adaptar uma sala para os exames gynecologicos e a fornecer não só o instrumen- tal necessário, mas também os demais utensílios. Taes habitações collectivas ficam sujeitas ás exigências da Policia Sanitaria. Art. 14.° Qualquer meretriz inscripta no Instituto como tal, po- derá conseguir dispensa do exame semanal e suspensão das obrigações que este Regulamento lhe impõe, desde que pro- ve na Policia Civil ter abandonado definitivamente o mere- trício. Após confirmação desse facto, por meio de rigorosa syndicancia e observação, durante 3 mezes, a sua matricula será cancellada e a sua caderneta incinerada pela Policia. Em caso de gravidez, o proprio medico do Instituto suspenderá os exames gynecologicos semanaes, temporaria- mente. Art. 15.° Nenhum medico do Instituto poderá prestar serviços profissionaes particulares ás meretrizes, nem mesmo a do- micilio, afim de não lhes dar occasião ou motivo para of- ferta de remunerações quaesquer. A infracção deste artigo será considerada de alta gravidade. E’ também terminan- temente prohibido a qualquer funccionario do Instituto re- ceber gratificações de pessoas nelle matriculadas e em tra- tamento. * Art. 16.° Nenhum medico ou auxiliar do Instituto poderá faltar aos dispensários por um só dia, sem prévio aviso ou licença do Chefe do Serviço, com tempo de providenciar quanto ao seu substituto. O director do Instituto deverá exercer rigo- rosa fiscalização para que não hajam faltas de moral ou administrativas em tal estabelecimento. Verificadas taes fal- tas o Chefe do Serviço punirá sevéramente os seus respon- sáveis. Art. 17.0 Qs casos omissos neste regulamento serão resolvidos, com ou sem audiência do director do Instituto, pelo Chefe do Serviço. Belém do Pará, l.° de Janeiro de 1922. Dr. Hera elides César de Souza Araújo. 4. PRIMEIRO RHHO DE FíJKCCIOHfIMENTO DO INSTITUTO Baseado nos dados numéricos que me forneceu o di- rector do Instituto, Dr. Hilário Gurjão, posso informar á classe medica e ao publico era geral qual foi o movimento do Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas durante o seu primeiro anno de funccionamento. CARTÃO DE MATRICULA FRENTE Prophylaxia Rural no Estado do Pará Serviço contra as Doenças Venereas Procure o Instituto de Prophylaxia d rua João Díogo (antigo Pasteur) para se tratar GRATUITAMENTE da syphilis, da gonor- rhéa c do cancro venereo. MATRICULA N... VERSO A Syphilis é doença muito perigosa para a pró- pria pessoa, para a familia e para a raça. Ella póde produzir doenças do coração, paralysia, loucura, de- formidade ou morte dos filhos. A Gonorrhéa ou «esquentamento» é, lambem, como a syphilis. muito perigosa; póde causar, no homem, lesões do coração e das juntas; na mulher, grande numero das affecções graves do útero e nos filhos a cegueira, O Cancro molle confunde-se muito com o can- cro sy phi li tico e a mesma ferida póde ter os micró- bios dé ambos. Só o medico, com o microscopio, está em condições de tirar a duvida. Para livrar-se de todos esses perigos procure logo um dispensário, assim que apresentar a menor • ferida ou corrimento suspeito. A Saúde Publica fornece GRÁTIS o tratamento nos dispensários. Todo e qualquer individuo que vae ao Instituto com o íim de fazer uma consulta medica para doença venerea ou dermatoses, é matriculado em livro especial, que se acha á entrada do estabelecimento. Essa matricula consta, além do numero, data e nome por extenso da pessoa consultante, de mais os seguintes informes de identidade; edade, côr, sexo, naturalidade, residência e profissão. Recebe o interessado o seu cartão de matricula, ape- nas levando manuscripto o numero do seu registro no livro da secretaria. Cada pessoa é inscripta uma só vez e o seu cartão de matricula serve-lhe para todos os tempos. Adopta- mos um cartão do tamanho e com os dizeres do modelo acima impresso. Não existindo na praça um papel-panno bastante resis- tente, usamos cartolina. Sempre que o cartão suja o doente pede outro. Feita a matricula do doente, um funccionario do Instituto o encaminha ao respectivo consultorio de accôrdo com a sua edade e sexo. Adoptamos também no Instituto os quatro modelos de fichas da Inspectoría Geral do Rio, sendo: uma para syphi- lis, outra para gonorrhéa, uma terceira para cancro molle e a quarta feita de modo a servir para qualquer dermatose, excepto a lepra, para a qual existe ficha especial. Não podendo dar aqui um fac-simlle dessas fichas, man- dei transcrever os seus dizeres, para conhecimento dos in- teressados. Serviço de Saneamento e Propliylaxía Rnral no Estado do Pará Inspectoría de Propiiylaxia da Lepra e das Doenças Venereas Numero da matricula Numero da ficha Dispensário de de 192.... Nome Idade Sexo Côr Profissão Nacionalidade Filiação Leia o outro lado do cartão SERVIÇO DE MEUEITO E PiPHMII RURAL «0 ESTUDO E 0 Pl' Inspectoría de Prophylaxia da Lepra e das Doenças Venereas SYPHILIS Numero da matricula Numero da ficha Volte ao Dispensário . Dispensário de de 192.... Nome Idade Sexo Cor Profissão Nacionalidade. Filiação Estado civil Quando se casou ? Residência. Quando se infectou? Fonte da infecção Houve desinfecção preventiva, quanto tempo depois? Localização da lesão inicial ~ Qual a lesão conlagianle? Onde? Marido ou mulher sgphilitico? Quantos filhos? Quantos mortos? Abortos, quantos? Tratamento anteriores (por ingestão ou por injecção)? Antecedentes familiares A ntecedenles pessoaes Historia da doença actual E’ fumante? Faz uso de bebidas alcoólicas? Localização exacta da affecção actual Exame rnicroscopico Wassermann Erupção Precoce Tardia Maculosa roseolar pigmentar Papulo-tuberosa ( ulcerada ) diffusa circinada Populosa miliar pequenas papaias grandes papulas Tuberosa (ulcerada) agminada circinada serpiginosa Pustulosa acuminada plana eehtijmoide Gommosa ( ulcerada) circumscnpta diffasa ('Designar si as lesões acima são disseminadas, em corgm- bo, confluentes, escamosas, croslaceas, cicatriciaes, etc. Exame da mucosa buccal fíetlexoi ' nejiexos ( rotutiam Romberg. Cephalea Órgãos dos sentidos í Albumina....... Liq. ceph. vac) Lgmphocglose.. [ Wassermann.. Exame do systemn nervoso : Destacar depois de registrado no ÍNDICE. VERSO DA FICHA O SYPHILITICO PRECISA SABER O SEGUINTE: 1) A syphilis é doença gravíssima, muito perigosa para a própria pessoa, para familia e para a raça. 2) A syphilis tem preferencia pelos vasos (aneurysmas) e systema nervoso (paralysias e loucura). Trate se para evi- tar esses males irremediáveis. 3) Os depurativos, os «remedios para sangue» podem fazer desapparecer os signaes da doença, mas não curam a syphilis: cuidado, pois, com os charlatães e com os elixires e específicos annunciados por toda a parte. 4) O tratamento curto ou interrompido engana mas não cura; procure sempre o medico e trate-se por 3 ou 4 annos. O governo fornece grátis o exame do sangue e os meios de cura nos dispensários. 5) A syphilis é muito contagiosa: tenha os objectos de uso proprio separado; evite também beijar as pessoas amigas. 6) Não abuse do álcool, nem do fumo. 7) syphilitico não deve se casar sem consentimento do medico. 8) Sua doença é curável, mas é necessário paciência, perseverança e obediência aos conselhos médicos.— Volte sempre ao dispensário EXAMES: do syst. gangl. lymphatico. » app. cardio-vascular )) » genito-urinario Albumina? » » gastro-intestinal .... » » íocomotor OBSERVAÇÕES TRATAMENTO NOTA: Mo-MERCURIO 8-SALVASAN N-NEOBALVABAN W-WABSERMAN L-LIQIIDO CEPH. RAC Ssrviço de Saneamento e Pfopbylaxiâ Rural no Estado do Pará Serviço de Prophylaxia da Lepra e das Doenças Venereas Numero da matricula Numera da ficha Dispensário de de 192... Nome Idade Sexo Côr Profissão .....Nacionalidade Filiação Volte ao Dispensário Leia o outro lado do cartão BEPIO DE SANEAMENTO E PBOPHMIA RURAL 10 ESTADO 00 PARA' Inspectoria de Prophylaxia da Lepra e das Doenças Venereas GONORRHÉA Numero da matricula Numero da ficha Dispensário de de 192... Nome Idade Sexo Cor Profissão Nacionalidade Filiação ; Estado civil Quando se casou? Residência ANAMNÉSE Antecedentes familiares e pessoaes Historia da doença actual—Dota da infecção Numero de infecções Denodo de incubação Fonte de infecção Erethra: corrimento dor Tumor Bexiga: globo vesical dor Temperatura Testículo e epidydimo Vaginal Cordão e canal deferente Próstata e vesículas .... EXUme rectal: ] Corrimento. Exame vaginal: \ e^ira J Vagina.. . Utero e annexos MICÇÃO Frequência J diurna 1 nocturna URINA I.° Copo f inicial 9.° Copo ; Dôc I fina 1....... ( total 3.° Copo ' Destacar depois de registrado no ÍNDICE. O doente de gonorrhéa também chamada blennorrhagia e « esquentamento » Precisa saber o seguinte: 1. Essa doença é muito contagiosa e perigosa para a própria pessoa, para a familia e para a raça. 2. Ella exige tratamento constante, feito pelo medico e não por charlatães ou pelo proprio indivíduo, com injec ções e medicamentos aconselhados e annunciados por toda a parte. Com esses tratamentos nada mais consegue senão o desapparecimento da purgação e tornar a gonorrhéa chronica. 3. Cuidado para não infectar a esposa; dessa infec- ção provêm grande parte das operações graves na mu- lher e da cegueira dos filhos. Consulte sempre o medico an- tes de se casar. 4. Cuidado com o pús, não leve as mãos sujas aos olhos. Lave sempre as mãos depois de urinar. 5. Nos Dispensários encontrará medico e tratamento gratuitos. 6. Sua doença é curável, mas é necessário paciência, perseverança e obediência aos conselhos médicos. VERSO DA FICBA OBSERVAÇÕES TRATAMENTO 200 Serviço de Saneaniento e Proplijflaxia Rural no Estado do Pari Numero da matricula Numero da ficha Dispensário de de 192... Nome Idade Sexo Côr Profissão Nacionalidade Filiação Volte no Dispensário Serviço ds Propiiylaxia da Lepra e das Doenças Venereas Leia o outro lado do cartão SERIO BE SHIIIEITO E PROPRMIA RURAL 10 ESTADO 00 PARA’ Inspectoria de Prophylaxia da Lepra e das Doenças Venereas CANCRO VENEREO SIMPLEs’ Numero da matricula Numero da ficha Dispensário de de 192... Nome Idade Sexo Côr Profissão Nacionalidade Filiação Estado civil Quando se casou ? Residência Quando se infectou? .../> Fonte da infecção Houve desinfecção preventiva, quanto tempo depois? Houve tralamepto anterior, qual? Outras informações Antecedentes pessoaes e familiares Historia da doença actual.. Localização exacta da lesão Exame microscopico / Inflammatoria. Adenite? Suppurada... ( Phagedenica Phymose ?. Balanite ? Ha associação mórbida?. Destacar depois de registrado no ÍNDICE. VERSO DA FICHA O doente de Cancro Venereo Simples, também chamado can- cro molle ou « cavallo » precisa saber o seguinte: 1. Quando tiver um cancro deve procurar o medico para saber si o Cancro é ou não syphilitico, o que ás vezes é difficil de affirmar. 2. O cancro póde parecer perfeitamente um cancro molle e ser também syphilitico; só o medico com o auxilio do microscopio póde tirar a duvida. 3. Fujam, portanto, dos charlatães que se propõem curar esses cancros com cáusticos e outros remedios, des- conhecendo si elles são syphiliticos ou não. 4. Nos dispensários encontrará exame do sangue, mi- croscópico e tratamento gratuitos. OBSERVAÇÕES TRATAMENTO Serviço de Saneamento e Propiijflaxia Rural tio Estado do Pará Serviço de Prophyiâxia da Lepra e das Doenças Yeaereas Numero da matricula.,. .Numero da ficha Dispensário de de 192.... Nome Idade. Sexo Cor. Profissão Nacionalidade Filiação Volte ao dispensário Leia o outro lado do cartão SEMICO OE SiEiEHTO E PiPHMU RURAL HO ESTADO 00 Pi#' J Inspectoria de Prophylaxia da Lepra e das Doenças Venereas DERMATOSES Numero da matrícula Numero da ficha Dispensário.... de. de 192... Nome Idade Sexo Cor Profissão ... Nacionalidade Filiação.: Estado civil..... Quando se casou?.. Residência Antecedentes pessoaes Doença eutanea anterior Séde Prurido ? Medica $0 Antecedentes hereditários (doenças dos genitores e collateraes?..... Doença actual Quando começou? Sede inicial Estado actual da lesão e localização ; Assignalar com um grypho (solitaria, discreta, confluente, symé- trica, generalizada J? Descripção clinica Prurid0?........ Dòr? Peitos Unhas Ganglios Perturbações secretarias Exames dos diversos apparelhos Associações mórbidas Wassermnnn Exame de urina Exames microscópicas Diagnostico Destacar depois de registrado no ÍNDICE. VERSO DA FICHA A Syph iI is é doença muito perigosa para a própria pessoa, para a família e para a raça. Ella pode produzir doenças do coração, paralysia, loucura, deformidade ou mor- te dos filhos. A Gonorrhéa ou «esquentamento» é, também, como a syphilis, muito perigosa; pode causar no homem lesões no coração e nas juntas; na mulher, grande numero das affec- ções graves do utero e nos filhos a cegueira, O Cancro molle confunde-se muito com o cancro sy- philitico e a mesma ferida pode ter os microbios de ambos. Só o medico, com o miscrocopio, está em condições de tirar a duvida. Para livrar-se de todos esses perigos procure logo o dispensário, assim que apresentar a menor ferida ou corri- mento suspeitos. A Saúde Publica fornece grátis o tratamento nos dispensários OBSERVAÇÕES TRATAMENTO Mezes Homens Mulheres Crianças TOTAL julho Agosto 604 417 335 367 I 250 i 304 577 381 295 177 194 208 141 115 143 127 94 123 Setembro Outubro Novembro Dpypmhrn i 2.277 1.832 743 4.852 AS MATRICULAS DE (921 Mezes Homens Mulheres Crianças TOTAL Janeiro 386 320 490 287 '293 272 298 212 316 165 133 127 155 93 110 94 65 64 Fevereiro Março Abril Maio Junho 2.028 1.251 579 3.858 AS MATRICULAS DE 1922 Resumindo a matricula verificamos que se inscreveram no Instituto: Homens 4.305 Mulheres 3.083 Crianças 1322 Total 8.710 Durante os 12 mezes de trabalho a frequência geral foi de 52.511 vezes, dando uma média mensal de 4.376. A matricula geral attingiu a 8.710 pessoas, com uma média de frequência de 6 vezes por pessoa durante o anno. 1921 Julho 2.331 Agosto 2.742 Setembro... : 4.556 Outubro ........... 5.055 Novembro 4.278 Dezembro 5.788 Total 24.750 QUADRO DE FREQUÊNCIA 1922 Janeiro 4.961 Fevereiro 4.193 Março 5.267 Abril 3.852 Maio 4.665 Junho 4.823 Total 27.761 MOVIMENTO DAS DIVERSAS SECÇÕES O serviço de prophylaxia das doenças venereas está dividido em tres secções independentes da de dermatoses: SECÇÃO A.—Para mulheres e crianças. Mulheres Crianças Com syphilis 641 Com gonorrhéa 808 Com cancro molle 3 Com syphilis 14 Com gonorrhéa. , 1 SECÇÃO B.—Dispensário para homens, dos quaes veri ficaram-se soffrerem de: Syphilis 711 Gonorrhéa 328 Cancro molle . 81 SECÇÃO C.—Dispensário das meretrizes. Os dados des- ta secção figuram no capitulo especial. SECÇÃO D.—Destinada aos doentes de dermatoses. Es- tavam enfermos: Homens 1.737 Mulheres 784 Crianças 418 A estatística das dermatoses mais communs vae ade- ante, na qual não se acha incluída a lepra, que constitue hoje serviço independente. ESTATÍSTICA DAS DOENÇAS Pelo relatorio que me entregou o Dr. Hilário Gurjão verifiquei que das 8.710 pessoas matriculadas 6.126 soffriam de doenças venereas ou de dermatoses, assim especificadas: syphilis 1.366; gonorrhéa 1.138; cancro molle 84; lepra 600; outras dermatoses conforme estatística abaixo 2.938. Das restantes muitas foram consultar para outros ma- les e outras ficaram para observação por serem suspeitas de lepra. Vejamos a porcentagem de cada uma das doen- ças diagnosticadas. SYPHILIS De 3.432 pessoas suspeitas de serem syphiliticas, as quaes forneceram sangue para reacção de Wassermann, obteve o Instituto os seguintes resultados: reacção de Was- sermann positiva em 1 366 ou sejam approximadamente 40 % delias; reacção de Wassermann negativa em 1.966 e rea- cção de Wassermann duvidosa em 100. Distribuídos os ca- sos positivos pelas edades e sexos, temos: Homens syphiliticos 711 ou 52,04% Mulheres syphiliticas 641 » 46,99% Crianças syphiliticas 14 » 1,02% Total de positivos 1.366 GONORRHÉA Para diagnostico desta doença foram feitas no Insti- tuto de Hygiene 10.764 pesquizas microscópicas de gono- coccus de Neisser, com os seguintes resultados: Pesquizas positivas 1.138 ou 10,57 °/o Negativas '. 9.577 Duvidosas 49 Dos casos positivos eram Homens .. 328 ou 28,92 % Mulheres 808 » 71,00% Crianças 1 » 0,08 °/o Estão aqui incluídas as pesquizas feitas nas meretrizes por isso o numero de mulheres infectadas é muito maior que o dos homens. CANCRO MOLLE Homens 81 Mulheres 54 Crianças 0 Total 135 DERMATOSES Segundo os dados estatisticos que me forneceu o dire- ctor do Instituto de Prophylaxia, Dr. Hilário Gurjão, foram registrados durante o anno os seguintes casos de dermatoses: Escabiose, 993; Eczemas, 407; Erysipela, 652; Ulceras não especificadas, 805; Leishmaniose, 20; Bouba, 10; Fila- riose, 4 e Tinhas, 48. Estes dados não me parecem rigoro- sos. Si todos os casos de sarna tivessem sido annotados, o numero delles excederia a 3.000; pois mais de um terço das pessoas matriculadas deviam soffrer dessa parasitose. Nas classes inferiores a escabiose, chamada pelo povo «curuba», designação que lhe dão os indios Tembés, como verifiquei no alto Gurupy, é frequentíssima. Talvez 80% dos habi- tantes dos arredores de Belém estão atacados pelo Sarcoptes scabiei. O mau habito de andarem as crianças nuas e des- calças, a brincarem pela terra, contribue muito para a alta frequência da sarna e das verminoses entre ellas. A erysipela é frequente também entre os nossos doen- tes, mas acho muito elevado o numero de 652 casos num anno. Naturalmente foram incluídos nesse total varias ou- tras doenças da pelle que os médicos do Instituto não sou- beram determinar porque não são dermatologistas. Dentre os 805 casos de « ulceras não especificadas» ha- via alguns de Ulcus tropicum que é a nossa ulcera phage- denica, mais commum aqui que no extremo sul do paiz. Os 20 casos de Leishmaniose diagnosticados clinica- mente pelos médicos do Instituto não tiveram confirmação do laboratorio. Essa dermatose é muito rara aqui em Be- lém. Casos realmente typicos, como os muitos que exami- nei e tratei no Rio e Sul, aqui só vi 2, um vindo do Acre e outro do baixo Amazonas. Infelizmente os médicos clíni- cos daqui abusam desse diagnostico. A Framboesia Utópica não é aqui mais frequente que no Rio, entretanto, além dos 10 casos do Instituto, vi outros pelo interior do Estado e no laboratorio da Capital. Quando estive ultimamente em Paramaribo e Trinidad verifiquei nessas colonias verdadeiras epidemias dessa espi- rochetose, cujo nome vulgar de «bouba» é conhecido em toda a America do Sul. Poucos casos (4) de filariose pro- curaram o Instituto de Prophylaxia; maior numero que esse cada posto sanitario rural registrou nas suas polyclinicas. E’ a filariose considerada um dos mais sérios problemas sa- nitários das Guyanas Pranceza, Hollandeza e Ingleza. Ob- servei a enorme frequência de casos graves dessa doença nas tres capitaes dessas colonias. Acho pouco elevado o numero de casos de tinhas (48) diagnosticados no Instituto, Essa dermatose é, relativamente ao que se observa no Sul. frequentíssima aqui. De escamas de alguns desses casos, o Dr. Jayme Aben-Athar isolou e identificou os seguintes co- gumelos : o Epidennophyton cruris, o Trichophyton rosaceum e o Trichophyton persicolor. Segue a estatística das dermatoses: Escabiose... 993 Homens 501 ou 50,45 % Mulheres .... 302 » 30,41% Crianças 190 » 19,13% Eczemas 407 Homens.. 265 ou 65,11% Mulheres 106 » 26,04 % Crianças 36 » 8,85% Erysipela 652 Homens 368 ou 55,98 % Mulheres 208 » 31,74 % Crianças 79 » 12,10% Ulceras não especificas 805 Homens 554 ou 68,81 % Mulheres 156 » 19,37 °/° Crianças 95 » 11,80% Leishmaniose 20 Homens '. .. 20 ou 100% Bouba 10 Homens.. 4 ou 40% Crianças 6 » 60% Filariose 4 Homens 4 ou 100 % Tinhas 48 Homens. 25 ou 52,08°/0 Mulheres 12 » 25% Crianças 11 » 22,91 % Thernpeutica—No tratamento tanto das doenças vene- reas como nas dermatoses os médicos do Serviço adoptam os methodos mais modernos e, nos casos de syphilis inicial ou secundaria, o tratamento intensivo e energfco. Tres me- dicamentos clássicos são adoptados . no Instituto no trata- mento da syphilis: os arsenicaes de Ehrlich, salvarsan (606), neosalvarsan (914) e o silbersalvarsan (2.000), predominan- do o 914, o mercúrio e os seus saes e o iodureto de po- tássio. No período de actividade decorrido foram feitas 11.993 injecções de benzoato de hydragyrio na dose de 0,02, em dias alternados, e 817 doses de neosalvarsan e silbersalvarsan. O mercúrio e o iodureto de potássio foram emprega- dos, largamente, por via gastrica, sobretudo nos doentes que não podiam, por qualquer circumstancia, ir ao Instituto tra- tar-se. No tratamento da gonorrhéa emprega-se no Instituto um tratamento local auxiliado com outro geral: são feitas lavagens urethraes e vaginaes com solutos desinfectantes apropriados, administrados internamente diuréticos e desin- fectantes urinários e feita a applicação, nos casos indicados, das vaccinas anti-gonococcicas de Park Davis, de New- York e a do nosso Serviço, preparada pelo Dr. Jayme Aben Athar. Essas vaccinas têm dado excedentes resultados. Appli cações feitas no Instituto: Lavagens urethraes 2.096 Lavagens vaginaes 948 Vaccinas anti-gonococcicas. 498 209 Na cura do cancro molle adoptamos tratamento local brando, coraprehendendo rigorosa hygiene da lesão e cau- terização com nitrato de prata ou chlorureto de zinco e aconselhada a balneotherapia quente. Em doentes de cancro molle foram feitos 1.057 cura- tivos. No tratamento das tinhas cutaneas adopto com suc- cesso e mandei empregar no Instituto o tratamento de Sa- bouraud, adoptado em Paris para cura do eczema maginado. Outros serviços—Total de consultas 7.789 e receitas man- dadas aviar na pharmacia do Serviço 1.979. Foram pratica- das 17 pequenas intervenções cirúrgicas, e vaccinadas e re- vaccinadas 956 pessoas. NOVOS SERVIÇOS Em l.° de Dezembro de 1921 inaugurei no Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas um posto nocturno de desinfecção, destinado aos homens e o dispensário para os operários, o qual funcciona nos dias santificados, feriados e domingos. Serviço nocturno—Foi o seguinte o movimento desta sec- ção de Dezembro de 1921 a Junho passado: Frequência geral (Homens) 2.335 Lavagens urethraes 804 Desinfecções prophylacticas 616 Injecções mercuriaes 279 Curativos de cancro 472 Este posto serve também a alguns doentes impossibili- tados da frequência diurna e funcciona das 20 ás 24 horas. SERVIÇO DOS FERIADOS E DOMINGOS Frequência 457 Consultas. 166 Mercuriaes 34 Injecções \ Neosalvarsan 33 ( Silbersalvarsan 14 Lavagens urethraes 47 Curativos simples 19 Curativos cie cancros 14 Colheita de sangue para R. W 57 Exames gynecologicos 8 Intervenções cirúrgicas 3 Receitas 24 Este serviço funcciona das 8 ás 10 horas da manhã. PESSOAL TECHNICO No segundo semestre de 1921 trabalharam na secção de doenças venereas os seguintes médicos: Drs. Sulpicio Ausier Bentes, Hilário Gurjão, Bernardo Rutowitcz e Elias Roffé, e nos dispensários de leprosos os Drs. Souza Araú- jo, Bernardo Rutowitcz, Hilário Gurjão e Tertuliano Pa- checo. A l.° de Janeiro deste anno os dispensários dos lepro- sos foram desmembrados do Instituto de Prophylaxia para constituir um serviço especial, independente, que foi instal- lado á rua Caldeira Castello Branco, n. 165-A, com a de- nominação de «Instituto Therapeutico da Lepra ». Desde então o serviço das doenças venereas ficou con- fiado exclusivamente a tres médicos : os Drs. Hilário Gur- jão e João José Henriques, respectivamente director e as- sistente gynecologista do Instituto, e o Dr. Raymundo da Cruz Moreira, como director do « Asylo das Magdalenas ». O assistente microbiologista do Instituto foi primeiro o Dr. Diogenes Ferreira de Lemos e posteriormente o bacte- riologista Ruy Whittlesey Tebyriçá, que foi ultimamente substituído pelo Dr. Antonio Pimenta de Magalhães. As reac- ções sôrologicas foram sempre feitas pelo Dr. Jayme Aben- Athar, no Instituto de Hygiene, e os casos mais difficeis de derraatoses, etc., foram e são de regra enviados a este Ins- tituto para ser feito o diagnostico por esse ultimo collega ou por mim. DESPEZAS Os serviços de prophylaxia da lepra e das doenças ve- nereas são mantidos pelo Governo Federal, independente de qualquer auxilio monetário dos Governos Estadoal e Muni- cipaes. E’ justo confessar, entretanto, que o auxilio material que a elles prestou o Governo Estadoal, cedendo-nos o ex- cedente prédio em que funcciona o Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas e o Hospital de São Sebastião, con- tribuio magnificamente para a sua installação. Os créditos requisitados pela Inspectoria de Prophyla- xia da Lepra e das Doenças Venereas e concedidos pelo Thesouro Federal, para o custeio desses serviços, foram os seguintes: de 66:9205000 para os últimos quatro mezes de 1921, tendo coberto todas as despezas do segundo semestre, e vários créditos, no valor total de 125:000$000, para o pri- meiro semestre do corrente anno. Estão, portanto, orçadas em 250:000$000 as despezas desses serviços para o corrente exercido. Já foram solicitados e espero que não demorarão a ser distribuídos os créditos para a installação da leprosaria of- ficial. CAPITULO II ESTUDO JURÍDICO SOBRE A PROSTITUIÇÃO E SOBRE OS MEIOS LEGAES DE COMBATE ÃS DOENÇAS VENEREfIS PELO DESEMBARGADOR JULIO CESAR DE MAGALHÃES COSTA Chefe de Policia do Estado do Pará A these, desde logo, imprime no leitor intelligente a na- tural curiosidade em ir conhecer a solução de um problema multisecular : o conceito da prostituição. Digamos, portanto, e antecipadamente que a vaidade não nos absorve ou ener- va de modo a pretender a resolução desse incognito insupe- rável. O conceito jurídico da prostituição continuará, como d’antes, em duvida até que as legislações regionaes, fazendo o consorcio da moral com o direito, estabeleçam uniforme a construcção prophylactica da sociedade legitima com o do- mínio exclusivo da familia. Isto não impede alguns traços de penna sobre os moti- vos em que assentamos a inconcussa verdade da asserção prejulgada, desenrolando as vistas sobre conceitos geraes ou um estudo superficial do assumpto em foco. Para conceituar, ou antes para satisfazer o compromisso com o distincto Director de Prophylaxia Rural neste Estado, no tocante a dar uma idéa do que vae pelas lettras juridi- cas sobre a prostituição, teríamos que attender a ethica e a ethnologia, de braços com a anthropologia e os movimen- tos sociologicos, ou melhor, teríamos que perlustrar longas paginas de varias sciencias para, ainda assim, dar apenas uma tonalidade superficial á almejada figura. D’ahi se vê quanto de tempo e trabalho, de esforço e estudo se faria preciso para debalde attingir a méta. 212 Na impossibilidade de pretender um tractado, o que seria indispensável para elucidar a especie, caminhamos em trilha modesta, no intuito unico de cumprir o dever imposto pelo contingente que cada qual, á medida de suas forças, tem de prestar a um serviço tendente ao desenvolvimento da sua Pa- tria, procurando dar vitalidade com os ensinos scientiíicos á nossa população, ainda na sua maior parte ignorante e do- entia. Os sentimentos, ou os instinctos, de piedade e de pro- bidade constituem, nas sociedades organizadas elementos in- dispensáveis á adaptação do indivíduo. Sem o concurso or- gânico de taes cellulas visceraes do mundo social, revelado por cada indivíduo, seria debalde tentar a consubstanciação dos seres em communhão tranquilla e ordeira, dada a varie- dade de temperamentos, a multiplicidade incalculável de idio- syncrasias. . A sociedade, pois, para ser considerada como ingenita formadora da conservação salubre de sua entidade ha de es- preitar qualquer tendencia inspirada na subversão daquelles elementos substanciaes. D’ahi surgirem os indivíduos apontados como nocivos e prejudiciaes. D’ahi o crime que a socipdade procura pre- venir e reprimir, creando normas, estabelecendo regras, e tudo, emfim, quanto julga necessário para afastar do seu seio aquillo que não attende a bôa ordem e a paz. Logicamente, em contraposição, dieta o direito, o con- juncto de condições essenciaes e evolucionaes, as quaes en- tende assegurar por todos os meios e modos, inclusive a vis impulsiva e a vis absoluta. Nesta lueta de interesses bons e maus, contrariados, força é confessar que cada ramo de actividade bem ou mal comprehendida, descortina um dominio especifico para a pro- phylaxia e para a therapeutica. Dar de um lado a seguran- ça do viver tranquillo e de outro inspeccionar e afastar os insubordinados ás regras adoptadas, abre-se um vasto cam- po, em cujo meio também se encontra com a mais hetero- genea apreciação doutrinaria a prostituição, ora estigma- tizada e atirada como cancro insupportavel e nefasto, ora tolerada e admittida como inseparável da civilização pelas ten: dencias do organismo humano, ora elevada á perfectibilida- de pratica com a característica de um direito! Para conhecer esse phenomeno universalizado, fatal- rnente poderoso, dar o seu encaminhamento e significal-o atraj véz dos povos, cultos ou barbaros, dizer de tantas cautelas e de tantas amarguras, da sensualidade e do recato, da pai- xão e da indifferença, da liberdade e da coacção, seria in- declinável um mundo de idéas, de preconceitos e, quiçá, de vacillações, desenrolando as sciencias nos seus princípios, nas suas theorias, nas suas contendas, nos seus raciocínios. Não é possível ir a esse quasi infinito buscar tamanhas lides, em regra plasmadas em imaginações fulgurantes, mas quasi sempre ao proveito do egoismo e da vaidade. Devere- mos, antes, rebuscar a sua génese, a sua indole, o seu des- envolvimento e a sua constituição, como quem busca os prin- cipies fundamentaes das sciencias, por via de inducção, es- tudando de modo positivo com o auxilio de observações, de experiencia, de comprovação, tendo á frente a historia e o direito penal como instrumentos de elucidação, sem esquecer certos conceitos dos clássicos, considerados escrínios sagra dos da familia. Temos, assim, que reunir aos caracteres genéticos de muitos phenomenos históricos e sociaes, a raiz profundamen- te humana e inextinguível: o costume formando o direito e este regendo os povos. Temos, sobretudo, de ver praticar e admittir como termo sensato e conciliador aquillo que resul- ta de preceitos positivados, obedientes por lealdades scienti- fica e humana ás convincentes explicações de Jean Cruet; « E, quando os deuses e os prophetas, pela transição das mo- narchias de direito divino, passam a palavra aos povos e aos homens d’Estado, estes julgam possível tirar do seu sen- timento, da sua vontade, da sua intelligencia, regras de di- reito completas, impondo-se em virtude de uma auctoridade própria á vida mesma. A fabricação destas regras é confia- da a orgãos especiaes : assembléas populares, conselhos mo- narchicos ou parlamentos republicanos. E’ a épocha da lei». Da congregação desses factores, onde se concentram a pie- dade e a probidade, mixto de amor e loucura, de trévas e de luz, comprehendido o fabrico das leis eseriptas ou falla- das, de conductas impostas ao ambiente por necessidade de conservação do indivíduo e da vida social, do seu aperfei- çoamento, cujo critério reside, como guia humano, na licção de Puglia, no util, de conceito experimental e formado á cus- ta do sentimento do prazer e da dor, e apóz, uma serie de necessárias experiencias, completou-se e modificou-se com o critério da correspondência e dos meios para com o fim que o indivíduo quer alcançar pelo bem estar proprio ou pelo dos outros homens. Ganhamos aqui o terreno das leis moraes e jurídicas, regulando as relações por méra vontade ou indo até á coac- ção para satisfazer o individuo mesmo ou a communhão. To- das ellas, dictando a organização social e o seu desenvolvi- mento, servem de apoio ao thema múltiplo de embaraços e labyrinthos que ora explanamos cheio de duvida e sem fixi- dez. Mas, não nos alonguemos. A prostituição, cujo berço não errariamos retrotrahindo á geração contemporânea da pri- meira humanidade, e que se attribue á Chaldéa como fada hospitaleira, apóz atravessar, deixando raizes profundas, Ba- bylonia, Arménia, Phenicia, Carthago, apóz maravilhar a Ju- déa, a Grécia, a França, o mundo, -em summa, esteve, ora envolta em desbragamentos innominaveis, ora sujeita a re- gras legaes vacillantes e de pouca auctoridade, sempre am- parada pelo amôr ostentoso ou latente do homem pela sua individualidade passional, egoista ou vaidosa, mas nunca es- pionada pela severidade consciente ligada ao dever de en- caral-a de modo elevado e digno em beneficio da sociedade e da familia. Séculos se passaram, continuando em progressão espan- tosa pari passa do individualismo exclusivo da carne sensual, companheira do proxenetisrao impenitente e provido de rea- lezas e fidalguias. O direito necessitava, porém, pôr embaraços á corru- pção dos costumes em prol do desenvolvimento intelligente, sensato e sobretudo são da collectividade e consequente pro- gresso das nacionalidades, encarou-se melhor o assumpto da prostituição; teve-se mais attenção ás gentes, procurando a harmonia das regras jurídicas com os dictames da moral. Dá-se-lhe, então, conceitos, embora latos; dá-se-lhe normas, embora intensivas e peculiares; dá-se-lhe algum freio, cui- da-se, em summa, de uma remodelação, embora ainda res- tricta, dada a impossibilidade de repressão absoluta. O conceito da prostituição, ensinam Garrara e Caloge- ro, é necessário divisal-o na liberdade do accesso pròmiscuo; Assim a mulher que engana o marido, embora, com vários amantes será uma dissoluta, mas não uma prostituta; uma rapariga que facilmente concede o gozo do seu corpo será corrompida e dissoluta, mas não pôde ser considerada pros- tituta. O caracteristico da prostituição é o commercio do cor- po publicamente e sem escolha (Yves Guyot). E’ prostituta, no verdadeiro e restricto sentido, a mu- lher que se entrega a quem quer que a requestre solicitan- do os seus favores, ainda que para ella seja novo e desco- nhecido. E, dada assim a liberdade de accesso, póde-se pre- scindir da venalidade (Calogero). Aliás o elemento do lucro soffre opposições bem justificadas. Seja, porém, como fôr, a prostituição implica na facili- dade da mulher em acceitar livremente, francamente, o com- mercio com a sua carne, ou por necessidade, ou por perver- são moral, ou por qualquer outro motivo instinetivo ou do- entio. A sociedade, entretanto, olhando a conducta humana por um prisma mais coherente com os dictames da razão, acceitando como superiores as licções de moral, e attenden- do a impossibilidade de pôr obstáculos seguros a tantos ins- tinctos indomáveis, aos desejos immanentes á carne, deve-sé mesmo proclamar, pôe de permeio o esforço das normas ju- rídicas com os elementos possiveis da coacção, dando desc- arte satisfacção á moral social, de modo que, ao menos cor- rija uma parte do mal impenitente, o perigo social constante. E’ bem de ver que muitõ escapa á acção da lei, mas já é alguma cousa empecer as aberrações, obstar a malda- de maior, refreiar os vidos mais perigosos. Não é tudo, nem mesmo a maior parte, porque, coherenteraente a existência humana traz comsigo a diversidade de sexo e é quanto bas- ta para embaraçar qualquer legislação sobre o absurdo da extirpação da, prostituição. Não se reprime o vicio ou o pec cado com as leis jurídicas, mas se regula a contravenção ou o crime, nas variadas especies dos maus costumes, naquillo que a moral entende mais attentatorio da moralidade huma- na e associativa. Garçon, commentando o Codigo Francez, orienta que as acções contrarias aos bons costumes no direito francez eram reprimidas muito energicamente. Sob o nome generico de crimes de luxuria, se punia o estupro, a concubinagem escandalosa, a aicovitice ou proxenetisrno, o adultério, a bi- gamia, o incesto, o rapto por violência ou seducção, a vio- lação, a sodomia, a bestialidade. Modificou-se, porém, com a Renascença. O legislador se collocou, entãoi sob um ponto differente, sendo assim suppresso grande numero desses cri- mes. Já não se pretendia attingir nem o vicio nem o pec- cado, e não se procurava mais punir uma acção porque fosse immoral em si; o acto immoral individual é collocado fora da esphera do direito positivo, e não depende senão da con- sciência. Cabe aqui a liCção do Direito Puro, dando como sancção para esta especie, principalmente, ou o impulso da Consciência ou a consideração da Opinião Publica, ou, ainda, a preoccupação do interesse pessoal exposto a soffrer algum ataque na força directriz de quem se deixa arrastar pelo desconhecimento do que parece ser bom; os actos peccami- nosos têm por si proprios os seus effeitos em recompensa. A lei não quer, pois, punir nem aquelle que commette uma acção contraria aos costumes, nem aquelle que se as- socia por sua própria vontade a uma egual acção realizada por um terceiro. Duas são as condições para a lei reprimir: a primeira que a immoralídade se tenha manifestado por um acto material cuja prova possa, ser adquirida com certeza; a segunda que este acto tenha causado um prejuízo social claramehte determinado, lesando os direitos de um particu- lar que não consentiu em sofírel-o. Sob a egide destas theo- rias, com ligeiras modificações em certas modalidades, es- tão quasi todos os codigos modernos. Procura-se punir tudo aquillo que visa mais o ultraje á sociedade, sem prejuízo certo, embora privado; procura-se acautelar a honra e a ho- nestidade da familia e o ultraje publico ao pudor. Nem se póde, em bôa razão, contestar o modo de vêr dos legisla- dores civilizados contra os maus costumes com a orientação que vão dando com reflexão madura. Ha, indiscutivelmente, ligações tão delicadas entre actos da vida social, relações tão melindrosas e interessantes, emanadas da própria pros- tituiçâo, que será sempre melhor e mais humano protegei-as que escurraçal-as. Como reflexo inilludivel admiremos aquel- las bellas paginas de Cruet na « A Vida do Direito» donde podemos destacar evidentes manifestos dessas asserções: «A transformação do direito sexual e familiar foi a consequên- cia de uma transformação das condições moraes e materiaes da vida privada ; nisto não se revela a iniciativa deliberada do legislador. Ainda mais, parece até haver perdido confi- ança no poder de intimidação dos textos legislativos: póde- se, com efleito, verificar neste campo uma especie de retira- da gradual das prohibições jurídicas e da repressão penal. As leis modernas já não conhecem a regulamentação minu- ciosa das relações sexuaes, e nomeadamente das relações conjugaes, de que os jurisconsultos musulmanos conservam a tradição, com as penalidades, não só sevéras, mas ferozes, com que as sociedades primitivas castigavam o adultério. O revéz das sancções penaes, ferindo o amor contra a natu- reza, amôr viril ou bestialidade, é hoje um facto adquirido, e onde essas penalidades persistiram, a sua applicação é uma occasião de escandalo, mais do que um instrumento de repressão. Em nenhum outro campo, a lei tem sido tão incapaz de prevalecer contra a soberania dos costumes privados, mes- mo pathologicos, ou dos hábitos sociaes, mesmo viciosos. E’ interessante apontar na evolução do direito francêz, alguns exemplos particulares em apoio destas observações geraes. Não é preciso ir mais longe para demonstrar o nascimento de direitos vários da própria prostituição, contra os quaes nada se póde allegar, ou antes se os adopta como impre- scindíveis á bôa ordem e ao aperfeiçoamento da sociedade. Os codigos das nações cultas estão cheios desses eloquentes exemplos de reerguimento da fraqueza humana, dessas ver- dades indiscutíveis, como notadamente se póde ver nas tu- telas, nos testamentos, nas heranças, no divorcio, no reco- nhecimento do filho, na provisão alimentar, na verificação da paternidade, e tantos outros casos justificativos do bro- cardo : error com munis fncit jus. Nos codigos penaes, onde se procura reprimir os delictos contra os bons costumes con- jugam-se direitos aos proprios agentes da depravação. Haja visto o direito de agir, tendo-se em attenção os factos vio- lentos ou contrários ao livre arbítrio. Nem por ser meretriz, a mulher perde o direito de dis- por do seu corpo. Assim aprecia Bento Faria, citando Zanar- delli, in verbis: «In meretnce, mal fjrado la sua vila deprava la, non ha aliemto la liberta di disporre di:sé stéssa, e Ia legge che punisce chi usa di vio/enza estende su tutti Ia sua protezione ; má d’a!lra parte, essa non resta per la súbita violenza carnale, vitu- pera ta come puó esse rio ragionavolmente considerata solto aspeito non serio la resistenza di chi exercita la prostituzione ». Essa tendencia precursora de amplitude aos almêjos psychicos significa o direito de liberdade a que devemos ho- menagens não só dentro das normas puramente expontâneas da consciência, como respeitáveis com os limites possíveis por obediência ás leis jurídicas. Ora, delia decorrem outros tantos direitos, aliás já demonstrados em parte e, assim, se verifica uma face inteiramente diversa á preconizada finali- dade criminosa. E’ possivel que entre muito em conta para a menor es- cala de contemplação ás medidas repressivas nas varias mo- dalidades do deboche e da concupiscência a fraqueza con- génita ao sexo feminino, nada obstante ao exaggero de al- gumas suffragistas. Os legisladores têm sido sobretudo ho- mens, e adoptam pensares realistas de Scippio Sighele, quan- do affirma que a analyse da criminalidade feminina pode dar idéa completa da psychologia da mulher, accrescentando que, sendo a affectividade da mulher menos extensiva que a do homem, deve ser mais intensiva tanto para o bem como para o mal. Este ponto de vista teve expressivas manifestações de applauso por parte de eruditos espíritos juristas, entre os quaes o Dr. Antonio José de Araújo, que se nos apresenta nestes termos: «E é uma verdade dura, mas uma verdade. A mulher é exaggerada em todos os sentimentos. Se ama, pratica heroismo, commette loucuras; se odeia, faz iniquida- des, ateia incêndios. Mas para o bem, ou para o mal a sua acção é limitada. O circulo dentro do qual exerce a sua ac- tividade, estreito que é, segregando-a do seio da sociedade, impede-a de expandir a sua actividade criminosa, e, restrin- gindo os seus meios de educação pratica, encobrindo ainda a sua consciência phenomenica, deve favorecel-a còm um certo ar de suavidade na punição». Não pretendemos acompanhar com rigor esses remigios egoistas na actividade febril de abnegação e esforço que tem produzido o genero frágil, quasi paradoxalmente, mas não será desproposito, por certo, declarar que muito influe a posição privilegiada do amôr, da paixão, porque, como en- sina Ribot, no «Essai sur les passions », a necessidade se- xual é o analogo da necessidade instinctiva; donde alguns auctores concluem que a physiologia que corresponde aos elementos inconscientes do amor sexual é a repetição das condições geraes das paixões nutritivas. Sustentam que, como a fome e a sêde, a necessidade sexual tem sua fonte em todo nosso organismo, também é toliiis subslancue, e que se póde dizer, sem metaphora «que nós amamos com todo nosso corpo». Encara-se, deste modo, não já o sexo frágil dando lo- gar ás leviandades mundanas, e d’ahi o exaggero de querer abrigar somente a mulher no circulo maléfico do prejuízo social; ahi anda também o homem, e, se bem apurarmos, talvez muito mais perniciosamente. Basta dizermos que che- 218 Ga em taes casos a vez de nomear o conluio da biologia com a sociologia. As necessidades, diz bem o Dr. J. Bar- nich na sua Política Positiva, são inherentes á natureza mes- ma do homem e se manifestam com gráos diversos na vida de cada indivíduo. As mais inferiores são representadas por necessidades da existência, que poderiamos chamar physico- organicas ou mais simplesmente physicas e que comportam, de uma parte necessidades inherentes á conservação, á re- producção do indivíduo ; de outra parte, necessidades menos prementes, que correspondem ao que se denomina commum- mente interesse pessoal. Uns e outros despertam, no homem, o desejo de os satisfazer e é o desejo que será o movei di- recto da actividade dos indivíduos. Quem não conhece nestas singelas licções um typo per- feito, verdadeiro, do mundo real ? Negar será pretender con- tradictar a si mesmo, obscurecer o sol. E de tudo se conclue que a jurisdicidade cumpre a sua majestosa missão nesse intrincado labyrintho de contrarie- dades penetrantes, palpaveis, em homenagem á moral que em paradoxo eloquente de piedade e de probidade repelle a fraqueza viciosa, prejudicial, nociva, ao mesmo tempo que suaviza muitos productos ou justifica outros tantos actos. Semelhante prestigio quer insinuar que a sociedade cul- ta não pode deixar de attender a factos humanos imprescin- diveis ou indeclináveis da existência, mas rende a veneração possível áquella Moral bellissima que Ruy Barbosa procla- ma como a da consciência humana que não vacilla; morai para moderar os grandes e estudar os pequenos, refreiar os opulentos e abrigar os pobres, conter os fortes e garantir os fracos. O estudo jurídico da prostituição nessa moral nos ori- enta, corrige, pune, regula ou toléra, porque quer ligar á segurança da dignidade g fraqueza da humanidade. Do ex- posto, com a summulação cóherente com um artigo de re- vista, comnosco hão de concordar que a prostituição não encontra traducção juridica precisa e absoluta, emquanto exis- tir o casal humano, E’ a consagração da admiravel conce- pção de Edmond Picard.—A diversidade das raças iníiue in- sensivelmente na geração juridica das edades. E’ necessário, no Direito, como em tudo o mais, ter e procurar o coração da sua raça, sentil-o bater, escutal-o, senão tudo é mentira, macaquice, disfarce. O Direito, dizia Aristoteles, não é como o fogo que arde egualmente na Pérsia e na Grécia. E’ nas suas exteriorizações variadas, um instincto ethnico, uma das funcções da alma. A ultima parte da these indaga os meios legaes de com- bate ás doenças venereas. Não menos que a outra parte envolve assumpto de alta transcendência, e ainda mais vasta exposição de caracter jurídico. Basta referir, o que aliás não é novidade, quanto têm preoccupado as legislações, dada a diversidade de esco- las e doutrinas, e a variedade de applicações do direito, não só quanto á attenuação e correcção do vicio ou peccado da prostituição pelos males que produz, como em relação á pu- nição dos crimes decorrentes ou concausados. Não seja, entretanto, motivo de recusa a algumas ex- planações mais ou menos precisas, com a brevidade que com- porta o nosso compromisso. Em traços geraes podíamos determinar a matéria como de hygiene social e therapeutica lato sensu. Ahi estariam incluídas não só a prophylaxia aos. cuidados dos doutores da Medicina Publica, como a prophylaxia sob a égide dos dou- tores do Direito Positivo. Deprehende-se, porém, da leitura do thema que o que se quer saber ou, pelo menos se precisa orientar, é quaes sejam os meios mais adequados, dentro das normas jurídi- cas, para combater o perigo enorme que vae tendo no am- biente nacional patricio, o mal venereo. Quasi não se fazia preciso ao mostrar que não se co- gita aqui de exercido da Medicina, o que seria dado aos doutos da sciencia, e bunca a um simples e modesto estudio- so do Direito. O que se pretende averiguar é a possibilidade de enfrentar por meios protegidos pela lei e com os recur- sos sábios da medicina as doenças venereas, mesmo contra a vontade da população culpada ou infectada. E’ se ha pos- sibilidade de coagir os individuos mais passiveis de con- taminação e propagação dos males aos domínios da hygiene social, por sua vez também, obrigada ao concurso brilhante e nobilíssimo da consagração de uma raça forte, sadia e al- tiva de sua soberania. O que se quer saber, em summa, é se é licito, se é legal a intervenção do poder publico a respei- to, não obstante importar em restricção á liberdade indivi- dual, e ainda os meios mais hábeis para o exercício desse interessante combate. Mais praticamente é o serviço de hygiene da prostitui- ção destinado á defeza da saúde publica, quer no sentido de punição, quer no sentido de attenuação ou extirpação com a intervenção do Estado. Ema, então, evidente que procuraremos discutir o pro- blema da intervenção e a sua applicabilidade deante do nos- so estatuto constitucional, E’ certo que, se fôramos colher argumentos nas doutrinas, dadas as condições ethicas e eth- nologicas de variação manifesta em muitos paizes, moureja- riamos entre opiniões mais ou menos justificadas, mais ou menos perigosas, e, em synthese, platónicas. Vem a pêllo este relato de Brasil Silvado, visando o assumpto do serviço es- pecial destinado a manter o decoro publico e a impedir a cor- rupção dos costumes, ao qual em Paris é dado o nome de Service des moeurs: « Importantíssimo e interessante é elle, pois que abrange o complicado problema da prostituição que, segundo uns, deve ser sujeita a disposições regulamentares, e, segundo outros, não o deve ser, militando a favor de am- bas as opiniões razões poderosas que obrigam a muita refle- xão e prudência. Os primeiros apoiam-se na incontestável necessidade de fazer respeitar a decencia publica por um lado, e de acau- telar o futuro physico da nação por outro; dous problemas cada qual mais serio, cada qual mais digno de attenção, cada qual mais fértil em consequências bôas ou más, conforme fôr encarado; os segundos apoiam-se na doutrina de que não se deve entrar em transacção com o vicio, assim como não se deve entrar em transacção com o crime, e qualificam de immoral qualquer regulamento estatuído sobre elle, declaran- do que os' males produzidos pelo vicio são 0 castigo dos que a elle se entregam ». A estes symptomas de moralidades peculiares dá o il- lustre escriptor a sua formal e recta approvação aos inter- vencionistas. Se os males pela prostituição fossem realmen- te um castigo efficaz e moralizador, isto é, produzissem o decrescimento do vicio, não ha duvida que a razão estaria do lado dos que não a querem regulamentada pelo poder publico; mas, ao contrario disso, entregue a si mesma, te- mol-a sempre visto erguer-se audaciosa e tudo contaminar, sem que a desgraça das victimas sirva de paradeiro aos seus terriveis progressos. O mesmo se dá quando administrações pouco intelligentes pretendem que regulamentação é suppres- são, e pensam que a prostituição pode ser violentamente sup- primida no organismo social. A palavra tem sido dada á me- dicina, e esta tem dado os mais solemnes testemunhos da ne- cessidade de diminuir os effeitos terriveis da falta de interven- ção policial, já que não é possível evitai-os completamente. Os que chamam de immoral a regulamentação esquecem que mais immoral é ainda a liberdade concedida á prostituição, e que criminosa e hypocrita deve ser a indifferença da aucto- ridade constituída, a quem a sociedade incumbiu a vigilância pelo decôrò publico, o zelo pelos interesses nacionaes, entre os quaes não é o ultimo a saude publica. Sem ser necessário produzir maiores argumentos, dada a difficuldade senão impossibilidade de levar a convicção em assumptos em que mais predomine o egoismo de raça e a pai- xão particular a cada povo, não nôs parece que haja melhor penetração para effeitos de aperfeiçoamento social e desen- volvimento vigoroso das nações que as luminosas aprecia- ções fixadas, incontestes sensatamente. A intervenção impõe-se.ante tão justificadas razões. Quando isto não baste, e ainda se insinue a precisão de um corollario, menos lato e mais prudente, reflicta-se sobre as expressivas palavras de Holtzendorff: « Tandis que les an- 221 ciennes Jegislations punissaient les témoins et les médicins qui as- sistaient à un duel, les lois rnodei nes les exernptent de toute peine, par la raison quils restreignent les conséquences dhm mal qui n 'e\islerait pns moins en leur nbsence. L 'Eglise, qui peut-être con- damne une guerre, envoie ses ministres à la suite des armées pour qu ’Us apportent leurs consolalions à ceux qui souffrent; elle ale droit d’agir ainci parce qií’elle sait fort bien que le fait par elle de se tenir à Vécart des champs de bataille n"exercerait au- cune espèce d*influence sur la conduite des bélligerants. 1/applica- tion la plus délicate de cette proposition se montre dans la regle- mentation ofjicielle' de la prostitutiòn qu’il est impossible de sup- primer violemment par des penalités et qu'il est dangereux de lais- ser s’étaler livrement en public. II serait toul á fait injuste de re- procher ici à VEtat d’encourager ou de favoriser la débauche par- ce quil cherche à mettre un frein à un dévergondage inévitable. Etant adrnis que. dans I'état actuei des choses, la prostituition ne peut-être supprimée, on ne saurait se demander qu une sente eho- se: c/est si les moyens proposés sont de nature à atteindre le but et si l'intervention des autorités ne risque pas d’aggraver le mal». Ahi se encontra a grande verdade e sobre a qual de- vem pensar maduramente os intervencionistas, como meio mais efficiente para chegar ao fim collimado, que não é ou- tro senão o aperfeiçoamento social. Legisle-se assim, sem paixão, sem excessos, tendo em vista o fim a que nos deve levar a intervenção, a moral social, a salubridade publica, ou numa phrase mais nacionalista: a salvação da nossa terra. Busque-se apurar entre os melhores paizes intervencio- nistas còmo Uruguay, França, Hespanha, as regras mais adaptaveis á nossa gente; rnodéle-se de accôrdo com o nos- so meio regional, e, de certo, chegaremos á méta ou, pelo menos, ficaremos proxirnos. Emquanto á face propriamente jurídica, e particularmente adequada ao nosso regimen polí- tico, pouco mais temos a dizer que não seja repetição do que todos os dias os juizes, os tribunaes, os mestres, emfim, luminosamente estão a pregar e a sentenciar. Constitue quasi uma chapa batida tal a reproducção dos conceitos favoráveis ás idéas que abraçamos, e, ora pacifi- cas do Amazonas ao Prata, do Rio Grande ao Pará. Te- mos que ,nella incidir ainda, porquanto nem todos os leito- res são juristas ou affeiçoados ás lettras jurídicas, nem to- dos os leitores manuseiam constantemente a severidade das normas do direito applicado. Comtudo, todos têm o dever de estar ao par do nosso progresso, do nosso adeantamen- to jurídico, e mais ainda o dever de contribuir para a esta- bilidade da Republica, em cuja constituição é matéria pri- ma a hygiene social. Não nos podemos estacar na inanição de regras antiquadas, desprezando o movimento evolucionista que se desdobra vibrante de luz e de proficiência como as immensas descobertas da Medicina Publica. Estejamos com Lafayette; «de geração em geração, a doutrina, tendo sempre por base a mesma collecção de tex- tos, progride, muda de physionomia, se enriquece, se com- pleta, se aperfeiçoa». Releva ponderar que estamos em propaganda contra as doenças venereas que não escolhem os scientistas, attin- gem a todos os inexperientes, os levianos, os ingénuos, os incultos, como os fáceis e os incautos Essa propaganda visa o beneficio geral, e seria de todo ponto inefficaz se não sur- gisse por uma vez um partido intervencionista tenaz, severo, tendo por concurrente máximo o legislador. A corrente abolicionista, que arrosta com as doutrinas subversivas da dissolução dos costumes, que tende a uma vida paradisiaca idealizada na licença, que quer perder a familia e o pudôr publico, não póde ser olhada, entre nós, com affeição. E’ uma planta venenosa para nossa educação social. Aschaffenburg, no «Crime e Repressão • dá-nos a feição typica das suas theorias. As razões em que se funda o chamado movimento abolicionista, argumenta aquelle es- criptor, residem exclusivamente no dominio affectivo, é di- gno de louvor o seu intuito idéalista, como lastimável a falta de comprehensão da questão generica que os seus partidá- rios revelam. A historia ensina que não é possível terminar com a prostituição. Os perigos desta, principalmente para a saude publica e para a moralidade da população, são taes que o Estado se vê obrigado a impedir, dentro de certos limites, a propagação de um mal que não póde extinguir. Mas, vamos á questão jurídica, em regra suscitada, e que versa sobre o texto constitucional, art. 72 § 24, sobre a liberdade profissional, a que se tem querido emprestar uma extravagante licenciosidade incompatível com o progresso dos povos cultos. Antes de tudo convem dizer que a prostituição não é possível encaixar, em bom senso, na garantia legal referente á profissão moral, intellectual ou industrial. Entretanto, como a declaração constitucional dos direitos envolve de modo ge- nérico qualquer garantia á liberdade individual e segurança publica, acceitemos o texto para manifestar a contradicta. Aqui vão, então, palavras de um nobre espirito, que reunem aliás pensamentos expressos da élite jurídica nacional, o Sr. Dr. Altino Arantes, ao tempo Secretario da Justiça no gran- de Estado de S. Paulo: «Agora, se volta á baila a interpre- tação do preceito constitucional, parece que não é mais li- cito pôr em duvida que o pensamento da Constituição é que a liberdade das profissões não é absoluta e incondicional, mas deve ser rodeada de garantias e cautelas que a própria Constituição assegura nos artigos 72, §§ e 73 e 78. O preceito 223 constitucional não dispensa a condição de capacidade e não exime das regras regulamentares do exercício de cada pro- fissão. Entender de modo contrario, é esquecer a noção do Estado, cuja policia intelligente não pode permittir essa in- vasão perigosa á saude e segurança de vida e fortuna de cada cidadão ». A. Echmein escreve: «para que os indivíduos possam exercer um direito ou gozar uma liberdade, não basta que o exercício e gozo sejam garantidos pela Constituição, pois, por mais legítimos que sejam, não são illimitados, têm suas restricções; o direito dos terceiros e o respeito a ordem pu- blica». Nesta brilhante marcha estão disciplinados todos os grandes espíritos, com argumentos bem pronunciados, de convicção prompta como se nota em qualquer revista de di- reito, em qualquer livro de doutrina sã, em qualquer collec- ção de jurisprudência. , . Nem de outro modo ser póde entender a Constituição de um paiz que inscreve na sua bandeira ordem e progresso. Reduzir a textos banaes, com interpretações amesqui- nhadas, aquillo que ao poder publico o legislador quiz attri- buir como demonstração de sabedoria e de aperfeiçoamento, é inverter a ordem legitima das cousas, procurando injusta- mente significar o que nunca jámais se pretendeu. Se a Con- stituição assegura os direitos concernentes á liberdade, á se- gurança individual e á propriedade com o livre exercício de qualquer profissão moral, intellectual e industrial, concomit- tantemente manda a Nação legislar privativamente ou com o concurso dos Estados, conforme a especie, sobre a policia, sobre o commercio, etc., etc. . Óra, é incomprehensivel que se cumpra tudo isso, de- lineado em contornos geraes, sem empregar os meios pre- cisos, os meios adequados para attingir o fim. Digamos com o illustre Marshall, presidente do Supre- mo Tribunal Americano; «O assumpto é o exercício desses grandes poderes de que a felicidade da nação depende es- sencialmente. Deveria ter sido a intenção d’aquelles que de- ram taes poderes assegurar a sua util execução, tanto quan- to a prudência hnmana póde fazel-o. Este desiderntum cer- tamente não seria alcançado com o encerro da escolha de meios dentro de limites tão estreitos que impedissem abso- lutamente o Congresso de poder adoptar uma medida idó- nea e conducente ao fim. . . „ , . Como deixar que campeie infrene a prostituição a titu- lo de liberdade legal, quando de sua natureza é um vicio perigoso ? O maleficio, em si considerado, consiste essencial mente em um excesso de liberdade (Ferranda. «O Titulo do Crime »). A liberdade deriva de ser a lei universal intrínseca ao homem, de ser o homem centro autónomo e soberano das suas determinações. A liberdade é força regulada, não arbí- trio irrefreiavel, actividade normal, não obrar inconsulto e fóra de termos, condições e modos, como bem exprime II Gioberti». Seria enfadonho continuar no apuro da verdade trans- cendental óra em fóco. Digamos da intervenção do Estado. E’ ella medida positivamente constitucional e a sua con- currencia com a União, perfeitamente amparada pela mesma Constituição é já direito pacifico a que não podem negar apoio os proprios investigadores das anomalias jurídicas. São actos de policia, e isto só por si justifica a intervenção con- currente, em assumpto de saude publica que é de policia. Leiamos o Manual da Constituição Brasileira, de Araújo Castro, « Poder de Policia »: « Entre os poderes concurren- tes deve ser incluído o poder de policia (po/ice .power) em virtude do qual se estabelecem restricções aos direitos indivi- duaes, em beneficio da manutenção da ordem, da moralidade, da saúde publica e da segurança, propriedade e bem estar dos cidadãos ». A palavra poliria, escreve Barthélerny, designa o con- juncto dos serviços organizados, ou das medidas prescriptas com o fim de assegurar a manutenção da ordem e da salu- bridade publica no interior do paiz. A lei que limita a liberdade de cada um no interesse da liberdade de todos permitte á auctoridade publica intervir antes que haja logar qualquer offensa ao direito. Os poderes que lhe são conferidos ( poderes de policia ) investem-na na attribuição de tomar de antemão certas medidas para evitar que se produza tal acto ou tal facto contrario ao direito. Parece fóra de duvida que, si em sentido restriçto o poder de policia comprehende somente as limitações que di- zem respeito á moral, á saude e á segurança publica, em sen- tido lato esse poder visa também assegurar medidas de inte- resse economico, a bem da collectividade. Todos esses trechos mostram á evidencia o direito que tem o poder publico de impôr todas as regras precisas para não consentir a affronta aos actos ou factos asseguradores da conservação e aperfeiçoamento social. O que nessas linhas ficou determinado está largamente desenvolvido o sentenciado em julgados do mais alto Tribu- nal do paiz, dos Tribunaes dos Estados, dos juizes Singula- res, fontes princípaes da melhor applicação do direito, Tomemos algumas gottas de pureza crystallina a esse manancial grandioso, jorrado do poder judiciário, columna mestre do governo do paiz, na phrase incisiva de Washing- ton. «O exercicio legal das profissões não se contêm só no cir- culo dos interesses particulares, interessa ao publico e á pró- pria vida social, cabendo a acção regularizadora dos pode- res defender e resguardar os interesses de ordem social. São licitas as restricções postas á liberdade desde que se tracté de serviços que devem ser fiscalizados pelo Estado. E’ legal o constrangimento exercido pela auctoridade poli- cial sobre meretrizes para o fim de impedir-lhes o transito pelas ruas e a permanência na porta de suas casas. Não con- traria a Constituição a disposiçãò de lei que entrega á po- licia a vigilância das meretrizes, vagabundos, ébrios e joga- dores. «A policia tem competência para adoptar medidas que obstem a violação do art. 282 do Cod. Penal, adoptando en- tre outras medidas, o da localização do meretrício em cer- tos e determinados sitios da cidade. « A regulamentação é indispensável desde que é neces- sário determinar o ponto em que o indivíduo sahe fora de um direito, commette um acto extranho ao direito, ou fére o direito de outro, abusando de sua liberdade. Regulamen- tar o exercício de um direito, não importa supprimil-o ». São notas tomadas á esmo em meio das innumeras de- cisões. Não nos furtamos, porém, ao agradavel desejo de transcrever ligeiros considerandos de uma das mais recentes sentenças do Egrégio Supremo Tribunal Federal, de 16 de Abril de 1921: * Considerando que não procede a arguida inconstitu- cionalidade, porquanto a necessidade de preservação da saúde publica não é de caracter local, Municipal ou de Estado, e sim de caracter nacional, e, sob certos aspectos, de carac- ter internacional, e que, sendo assim, ao Congresso Federal é que incumbe sobre elle prover, embora não privativamente, como dispõe o art. 35 § 1 da Constituição; «Considerando que uma vez promulgada a Lei Fede- ral provendo sobre o serviço de saude publica, cessam de vigorar as leis estaduaes, ou municipaes, na parte em que lhe fôrem contrarias, em virtude do principio que regula a hierarchia das Leis nos regimens federativos, como o nosso; « Considerando que o art. 67 da Constituição, referin- do-se ás restricções contidas na Constituição e Leis Fede- raes, em nada póde ser contrariado pelas Leis ou Regula- mentos impugnados, etc». Seria curioso que, diante de tudo isso, ainda se acre- ditasse a liberdade á altura de uma policia despótica, fazen- do cada um aquillo que bem entendesse. Nem é crivei que haja sociedade que isso admitta, nem é possível semelhante utopia pelo simples bom senso. Qualquer conílicto entre a liberdade individual e a li- berdade collectiva terá que ser decidido em pról d’esta; todo o privilegio individual e contrario aos interesses geraes será uma aberração, e por força tem que cessar. E em se tra- ctando de saúde publica, nada leva a palma do direito má- ximo: salus populi suprema lex. No tocante aos meios ou formas regulamentares para obter o melhor processo intervencionista afim de combater as doenças venereas, para não dar maior vulto a este já ex- tenso embora modesto trabalho, e mesmo porque será pro- nunciamento mais adequado aos doutos que as têm de orga- nizar, entendemos de toda conveniência as considerações de Brasil Silvado sobre o serviço policial de Paris e Londres, os trabalhos sobre Hygiene Social do Dr. Miguel Becerro de Ben- goa, onde a par de relatos das regulamentações existentes em paizes intervencionistas, surgem idéas praticáveis quer no meio quer na pratica dos serviços prophylacticos. Ahi se acham consubstanciadas as mais aperfeiçoadas doutrinas, re- vendo desde á prophylaxia da prostituição em Hespanha, Paris, Inglaterra, Escossia, Bélgica, Allemanha, Áustria, e Uruguay, alguns dos quaes em significativo progresso, até a hygiene da vivenda, a edade das prostitutas, a syphilis e a interpretação das estatísticas, a vigilância medica das mu- lheres, o augmento da prostituição e suas causas, o proxe- netismo, o amor grego, e a policia civil. Sobre este ultimo assumpto contêm apreciações interes- santes, que merecem reflexão e prudente applicação. Queremos acreditar que um estudo sobre o novo aspe- cto com as considerações apontadas por estes bellos espiri- ritos, e incluindo-se a localização do meretricio do modo mais liberal possível, poderemos conseguir o desideraturn jus- to do nosso problema hygienico-social. Só assim elevaremos o nosso paiz á uma raça forte e vigorosa, capaz da almel jada posição de saliência no concerto universal. E devemos fazei-o sem receio dos clamores dos icono- clastas : A hygiene defensiva moral e physica, são palavras de Ruy Barbosa e é quanto basta, constitue a arma pode- rosa da prevenção nacional a que nenhuma nação soberana tem o direito de renunciar. Belém, 31 de Maio de 1922. CAPITULO 111 A PROSTITUIÇÃO EM BELÉM: SUAS CAUSAS, LOCALIZAÇÃO, FISCALIZAÇÃO E ASSISTERCIA MEBICO-SAISUTARIA PELO Dr. HILÁRIO GURJÂO Sub-Inspector Sanitario e Director do Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas 1. R PROSTITUIÇÃO EJVI BELEM CAUSAS— Digam embora as nossas estatísticas o ele- vado numero de 7/2 mulheres publicas matriculadas, até 30 de Junho do corrente anno, no Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas, Belém não é um centro de prostituição profissionalizada dos grandes calogios ou das casas de «rendez-vous» Nunca possuímos as houses of UI fame da movimentada America do Norte nem les maisons de debauches para quem legislaram a severidade dos codigos yankees, in- glezes ou francezes. Essa prostituição, propriamente dita, \miam sine deleclu ncceptn, da definição romana, não a temos, felizmente, com todo o seu cortejo de odiosidades e mercantilismo, como a praticam as mulheres francezas ou, com melhor industria, as polacas. Ha em toda essa onda crescente das nossas mulheres dissolutas a miséria como factor principal do negocio do proprio corpo. No romance de cada uma observa-se a resistência he- róica que tiveram para entrar no portão largo que vae dar á estreita viela da devassidão publica; umas, a historia pas- sional dos indecifráveis meandros do amor; outras, levadas de mãos dadas pela ignorância; todas emfim, de rastos pela fome. O meretrício de Belém é pobre, analphabeto e doentio. Duas únicas pensões existem onde se abriga limitadíssimo numero de mulheres, que apezar de exploradas, se alimen- tam regularmente, trajando-se com alguma decencia, E’ uma affirmativa raathematica dizer-se que o movei principal da entrega dessa gente que se rende dia a dia, engrossando a fileira das muitas que estão sujeitas á nossa fiscalização sanitaria, tem sido a difficil situação de vida que atravessamos, de par com o analphabetismo. Das meretrizes identificadas apenas 318 sabem ler ou sejam 58 °/o de ignorantes. As classes pobres estão sem trabalho productivo e as poucas fabricas que possuímos ainda não comprehenderam que a mulher não é a escrava branca dos tempos moder- nos, de quem se julgam os seus proprietários com direito para lhes espoliar o suór de todos os dias de um trabalho honesto a troco de alguns tostões insufficientes para a sua própria manutenção. Sou dos que pensam que se os governos proporcionas- sem meios de trabalho, em asylos especiaes, ás mulheres publicas, entre nós pelo menos, teríamos a baixa immediata de mais de 80 °/0 dessas infelizes, que se destróem, nas ruas da amargura, aos deboches do vicio. No Hospital de S. Sebastião, mantido por esta Com- missão Federal, a experiencia tem demonstrado cabalmente esta verdade. O illustre professor de direito Dr. Nogueira de Faria, depois de varias visitas a este estabelecimento de saúde, suggeriu a idéa de um Asylo de Magdalenas, tão bem impressionado ficou com o estado moral das muitas in- ternadas. Na «Folha do Norte» de 26 de Setembro de 1921, lan- çou elle a primeira pedra do edifício, fazendo publicar o bellissimo documento litterario abaixo: «ASYLO DE MAGDALEYAS»— Ha quasi uma duzia de annos almas bem formadas, hastearam aqui, nesta formosa Santa Maria de Belém, o alvo estandarte da Nova Revela- ção. Eu não tinha fé. Procurei aquelles que a possuíam mil- lionariamente e que a mancheias a espalhavam por todos os necessitados, no enthusiasmo suggestivo de convencidos. An- dei bem, alistando-me voluntário nas hostes kardecistas. A partícula que me coube, enriqueceu-me por toda a vida, e o goso espiritual de possuil-a augmenta á medida que os an- nos passam e os cabellos brancos ficam. Os sonhos anda- vam de alma em alma, enfeitando-as dos sentimentos mais lindos. Este desejava um albergue nocturno; esse uma es- cola; aquelle um instituto de assistência á velhice desampa- rada; aquelle outro um patronato. .. Por que não teria eu, também, o meu sonho? E então, ao calor das idéas assim fraternalmente parti- lhadas, surgiu-me, entre reminiscências e claridades evange- licas, a de um Asylo de Magdalenas. . . Seria um edifício amplo, de portas abertas para a Cidade do Vicio, para a esterqueira da Rua Fatal onde a alma de tantas creaturas adoece e se corrompe com o corpo. E dentro desse edifício, em seus compartimentos predestinados, a saúde reconquis- tada : a, saúde da alma e a saúde do corpo. O trabalho, que é um excellente enfermeiro, curando as almas; o medico, curando o corpo. A multidão de infe- lizes que o meretricio aviltára,—lavando, engommando, cos- turando, plantando e colhendo, sadias e felizes. . . Esse era o meu sonho. Ha dias, após tantos annos, eu o vi quasi realida- de, embora por mão de outrem edificado. Não tive ciú- mes. Fui encontral-o agazalhado no Hospital de S. Sebas- tião, outFora de pungente fama, infundindo terror. Era, en- tão, a Casa da Variola, um departamento da Peste. Hoje, que transformação! Não tem nada, cousa algu- ma, do antigo hospital. Outra sorte o bemfadou. E’ uma casa de saúde. Logo á entrada, o olhar se perde, varando o corredor, —amplo, claro e todo sentinella- do por grandes vasos de crotons e de flores. Não possue a physionomia tristonha, o cheiro particular e incommoda- tivo, o silencio taciturno dos hospitaes. Na tranquillidade eloquente das coisas bemfazejas. De quando em quando, um riso expontâneo, uma phrase vivaz e franca, affírmando o socego de espirito, trahindo a convalescença, saudando a volta da saúde. Asseio impeccavel em tudo, das salas da frente á despensa, da despensa á cozinha. Visitámos as en- fermarias: arrumadas e limpas. interrogámos algumas enfermas; contentíssimas. Não precisariam dizei-o. As physionomias denunciavam esse esta- do d’alma. Em cada olhar—misto de indiscreções e confiden- cias, brilhava o espanto daquelle conforto que muitas delias não tinham tido nunca! Semblantes que o Vicio devastára, refloriam. A força natural da mocidade auxiliava a Sciencia. A primeira que lá entrou, Josepha Vianna, falou pelo grupo que me cercára. «Estamos bem aqui. Vivemos como vê: na melhor harmonia, como em familia... Só uma cousa nos falta: o trabalho... » E da alma? Ella sorriu, —um sorriso alegre, documentando a res posta: Ah, a alma! Também está se endireitando! Aqui também se trata disso! —e olhou expressivamente para dona Sophia, a segunda enfermeira. Não foram outras as aífírmativas, que senti serem sin- ceras, das demais internadas. A de nome Josepha Hosannah, uma joven cabocla santarena, tem esta preoccupação: abandonar a vida... Creou sobretudo medo á moléstia. Pouco mais distante, deparou-se-me a physionomia ir- requieta da Maria da Conceição, a quem, ura dia, lá na po licia, um agente apontou, usando o argot: —«Esta menina é o «azougue da zona», seu doutor... Pinta o sete». Elle não exaggerára: menina, sim. Dezeseis annos, talvez. Pois o proprio «azougue da zona» sente a influencia benéfica daquelle ambiente de ordem e moralidade. Não se ouve alli um palavrão. Seria natural que os tivessem as in- felizes. Não reclamam contra a prohibição de fumo e de ál- cool. Seria natural que reclamassem. Quantas delias não enfiavam os dias meio-embriagadas, de cigarro á bocca, gastando o vocabulário repugnante dos alcouces? Criam novos hábitos, entre os quaes o do asseio. Estão defronte de ura aspecto melhor da Vida. Seus espíritos recebem o primeiro convite do bem para o bem e o coração a primeira visita de sentimentos moralizados. Percebe-se naquellas almas uma inesperada, atordoante re- viravolta. E’ o instante opportuno, preciso, de soccorro mo- ral. Soou a hora da Regeneração. Muitas deixam o hospital chorando. Outras ao sahir levam o proposito do requeri- mento de «baixa na caderneta». Deus as inspire e as conduza para um destino melhor... Já me despedia quando a primeira enfermeira, Maria Silva, que tão nobremente cumpre o seu dever, me chamou: Por aqui. Venha vêr uma que entrou hoje. O doutor mandou isolal-a. Já fiz os curativos. Venha! Fui. Antes não fosse. Commoveria o coração mais duro aquelle quadro. No leito, uma pobre moça,—mocidade morta! clara, typo hespanhol, syrapathica, dezesete annos. Fora operaria, o miserável do patrão a prostituiu e a aban- donou. . . Um horror: no rosto, no pescoço, nos braços, nos pés, chagas e mais chagas. Pelo aposento um cheiro des- agradável,—misto de agua phenicada e podridão... olhei rápido e sahi... Quanta desventura e quanto soffrimento! Lá também ha creanças. Esta, de um anno talvez, ma- grita, pallida doentinha, mirrada mesmo. E a pobre mãe, tão contente, a embaial-a nos braços. A uma indagação minha, exclamou: —Está melhor! muito melhor! Nem parece aquella que eu trouxe! Agora, um casal, cinco e seis annos. A syphilis here- ditária já lhes atacava o organismo. Não fôra o hospital e que destino triste e que descendencia condemnada! Um outro tinha os olhos inflammados. Perguntei. A primeira enfermeira, condoida, respondeu: O Sr. sabe... Qualquer panno usado e atirado a tôa. O innocentinho apanhou... limpou os 01h05... Coitadito ! Fui, muito de industria, em hora propicia a uma visita assim demorada, minuciosa, da sala á cozinha. Não obser- vei o menor constrangimento ás minhas curiosidades, que eu encaminhei até o exame dos generos... Queria vêr com os meus proprios olhos, ouvir com os meus proprios ouvidos. Vi e ouvi. E quem assim o fizer retirar-se-á sentindo esta mesma imperiosa necessidade que eu senti de dizer a todos a grande obra que alli se faz: obra patriótica, obra gene- rosa, obra profunda e piedosamente humanitada. Quando eu sahia, entrava o Dr. Bernardo Rutowitcz, director do Hospital. Não resisti ao impulso natural que me pedia lhe désse um forte e sincero aperto de mão. E dei-lh’o ; parabéns, doutor! No bonde, rumo de casa, bemdizendo o meu dia, crente, de novo, na bondade humana, recordei o meu antigo sonho. Veiu á tona de minh’alma, transbordou de meu ser, pairou, no ar, ante meus olhos, em todo o seu esplendor, o Asylo de Magdalenas, com a multidão das regeneradas, lavando, cos- turando, bordando, plantando e colhendo, sadias e felizes... Porque não se faz isso no S. Sebastião? Porque as almas philantropicas, os corações piedosos, a nossa sociedade, erafim, agradecida, não auxilia, não com- pleta a obra do medico illustre fundador desse hospital? A regeneração daquellas desventuradas pelo trabalho, cujo ha- bito adquiririam, seria o remate glorioso, o mais beílo re- mate da grande obra do Dr. Souza Araújo, a quem não co- nheço e a quem, desde esse dia, voto a mais expontânea e justa das admirações.» Sei bem que é pensamento do illustre Dr. Souza Araújo, Chefe deste Serviço, quando os recursos orçamen- tados o permittirem, crear nesse hospital secções de traba- lho, taes como costura, lavanderia, etc., de par com aulas nocturnas, cujo valor nos excusamos de encarecer, por de- mais conhecido que é de todos sob qualquer ponto de vista. Charles Albert no seu interessante folheto a O amor livre» referindo-se ao trabalho das mulheres e á lucta que ellas têm antes de se entregarem á prostituição assim se expressa: não ha ninguém que não conheça mulheres explo- radas desta ou d'aquella fórma. E todavia não ha trabalho para todas que o reclamam. É* bem uma verdade essa resistência heróica de todas essas creaturas que se prostituem pelas circumstancias da sua vida miserável; dessa vida a que estão sujeitas as po- bres operarias; mais ainda, as desgraçadas amas, cujo he- roísmo está na própria profissão —roubar o leite dos seus filhos para o dos outros. As moças pobres, que maior contingente dão para o meretrício, são, infelizmente, consideradas pseudas prostitu- tas até pelas próprias leis. Os regulamentos e codigos preventivos não se esquece- ram de lhes fazer essa injustiça e já em 1895, em Auxonne, se lia numa disposição legal, semelhante humilhação a essa infeliz classe de gente toda creada ou domestica que chegar ao território para servir em hospedarias, cafés e togares públicos deverá munir-se, antes que chegue, dum aitestado medico passado por um facultativo da localidade, donde conste que não tem molés- tia contagiosa. De regra todos os paizes civilizados assim consideram as humildes filhas do povo; sempre uma fonte infectuosa suspeita, sempre uma mulher dissoluta! Verdade é que, não só as classes pobres soffrem esses vexames, póde-se dizer, como regra geral, quasi toda a mulher, que em sendo o sexo, pôr excellencia, sob cujo altar a Sociedade mais sacode o thuribulo de incenso, tam- bém mais aviltantemente delia se preoccupa para lhe atas- salhar, quanto pode, a honra. Em nossos dias, de costumes tão deturpados, de um meio social insinuado para se dizer, muito naturalmente que uma mulher que lucta tenmmenle pela vida tem, ainda outros re- cursos para viver melhor o nome de uma senhora periclita dentro da esphera dos seus proprios meios de vida. Não bastará a sua compostura social, indaga se de como lhes chegou ás mãos o vestido moderno ou a meia de seda que calça, muitas vezes compradas sabe Deus, com que sacrifício, ainda por causa dessa mesma Sociedade que, pe- las suas conveniências, fecha as portas ao trabalho dos que não sabem disfarçar a sua pobreza. Assim, em ambiente tão difficultoso para a vida de uma mulher, não é de admirar que centenas, exhaustas de luctar, cáiam, sem um amparo amigo e opportuno, na vereda tor- tuosa da prostituição, essa velha formula do amor, cujo berço dizem ser a Chaldéa, a patria montanhosa do velho patriarcha Abrahão. Assumpto de estudo atravéz os séculos da humanidade até nossos dias, seria inútil e fastidioso repetil-o citando theorias já publicadas e divulgadas nos meios scientificos in- tellectuaes. Tentemos apenas cimentar, com argumentos solidos, a segura afíirmativa de que o numero crescente de mulheres que fazem o meretricio em Belém tem como causa a situa- ção faminta que á Amazónia trouxe o desequilibrio da sua principal fonte de producção—a borracha, e as consequências da ultima guerra mundial. Penetremos nos açougues da carne humana, na zona do meretricio destinada pela policia. Corramos, ponta a pon- ta, a nojenta Io de Março ou a frequentada Padre Pruden- cio. (1) Casaria tortuosa, na maioria colonial, íiel herança da architectura dos primitivos portuguezes, semeada de ca- fés e quitandas sórdidas. De dia, mulheres, sem casacos, ca- misas sujas mostrando as mammas balofas e deformadas, sen- tadas nos passeios catam piolhos umas das outras, pernas ulceradas á mostra até ao joelho. Outras, cabellos desgre- nhados, semi-núas e semi-ébrias de noites mal dormidas atra- vessam a rua, constantemente, para beber cachaça nos bo- tequins ou comprar bananas nas quitandas. Cospem muito, nas casas e nos passeios; e para o leito da rua jogam cas- cas das fructas. E’ um espectáculo muito áquem dos nossos costumes o que se vê, diariamente, quasi durante todas as horas do dia, nesse local. A’ noite grupos de bohemios, soldados, marinheiros e in- veterados bêbados percorrem a zona, que não é muito mal illuminada a luz electrica, enxameando nos immundos cafés. As meretrizes syphiliticas espalham-se pelas portas, dando a cada transeunte um pouco do seu riso amarello e mentiroso do officio. Accedamos a um convite e entremos: luz escassa, di- visões de tabique, subdividindo compartimentos; sente se, sem grande esforço, a insufficiencia de ar para quem preci- sa respirar livremente. Cama de ferro sem colchão, cobrin- do a sua nudez rota colcha de americano fino; sobre a ban- ca, pequeno candieiro de kerozene e alguns cigarros, um la- vatório enferrujado e nada mais. Os outros quartos, para o interior da casa, muito peores. Na rua Padre Prudencio, em sendo as casas mais mo- dernas, comi algum mobiliário, as mulheres são sempre as mesmas; doentes e miseráveis. Qualquer que seja o assum- pto da palestra iniciada tende sempre a desviar-se para a necessidade que as obriga áquella vida infame, sem um meio de trabalho, sem qualquer amparo. A alimentação dessas desgraçadas é muito deficiente; comem ás deshoras, quasi sempre, algumas postas de peixe frito e bebem café requentado. Fumam e se embriagam: os dois vicios acompanham- n’as, como as doenças venereas, até o tumulo. O extrangeiro—o portuguez, o judeo —exploram n’as desapiedadamente, sobrealugando-lhes as subdivisões rendo- sas das casas, a cama, o colchão, a roupa, tudo emfim. Muito cedo, diariamente, o caixeiro bate-lhes á porta para fazer a cobrança rendosa do commercio odioso do seu patrão. Uma semana de impontualidade estará na rua e toda a zona, num bello serviço secreto de combinação entre os officiaes do mesmo officio, sabe a causa. (1) Ruas onde se localizam maior numero de meretrizes da cidade. Passa então essa mulher a viver ainda com mais diffi- culdades, tendo quando não consegue de prompto casa para morar, de se afastar para outros bairros da cidade, levando comsigo, como bagagem, o vestido do corpo. E esse commercio explorador de sujeitos que vivem á custa de mulheres é rendoso; alguns até são proprietários de casas e, outros, varias vezes têm ido á torra. Urge uma repressão policial contra taes indivíduos; infelizmente, como sempre, são tantos os embaraços que en- contram os poderes policiaes para taes medidas que quasi chegam a desanimar na lucta, e assim não fosse não teria- mos scenas idênticas em Pernambuco, no proprio Rio de Ja- neiro e outros Estados. O hospital para a maioria é quem lhes mata a fome e muitas têm sahido chorando quando o medico lhes dá alta. Quantas não têm ficado empregadas como creadas neste estabelecimento de saúde e tantas outras solicitado permissão para ficar trabalhando pela comedoria! Ha uma imperiosa necessidade de protecção para essa gente desgraçada afira de completar esse resultado sanita- rio-moral extraordinário que o nosso Instituto vem alcan- çando com um anno de funccionamento. Conhecida a causa desse numerário vergonhoso das nossas mulheres dissolutas, os créditos da nossa terra exi- gem uma medida defensiva, para que não pareça aos olhos dos que, lá fora, não sentem a vida do nosso meio, que Belém é um grande centro de mulheres perdidas. LOCALIZAÇÃO —Esta medida, puramente de funcção policial ainda não poude ser posta em pratica radicalmente entre nós. Aos poucos a Policia Civil vae reunindo as mu- lheres publicas numa determinada zona. Conseguiu, ainda assim, desde logo, o afastamento das mundanas das ruas mais expostas e concorridas como, por exemplo a avenida 15 de Agosto, onde muitas casas, portas escancaradas, affrontavam a moralidade publica depois das primeiras horas da noite. A zona, determinada pela Policia Civil para a localiza- ção do meretrício, comprehende as seguintes ruas: Lauro Sodré, da Praça Saldanha Marinho á avenida 15 de Agosto; Aristides Lobo, Riachuelo e General Gurjão, dentro do mesmo limite; Padre Prudencio a partir da rua Senador Manoel Barata até a Carlos Gomes; Primeiro de Março, da rua da Industria também até a Carlos Gomes; travessa Fructuoso Guimarães, da rua Lauro Sodré á mesma rua e rua Bailique em toda a sua extensão. Um dos motivos principaes da localização de rigôr não ter sido ainda praticável é sem duvida, a falta de casas na zona, cujos alugueis possam servir a todas as classes de mu- lheres. Por isso nos bairros suburbanos estão ellas muito fl PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARÁ Typo da caderneta de identidade das meretrizes. Capa de panno fl PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARA CARTEIRA DE IDENTIDADE ODIE] SERVIÇO MEDICO-POLICIA.Ii DAS MERETRIZES PROPHYLAXiA DAS DOENÇAS VENEREAS £ FíSCALISAÇÃO DA PROSTITUIÇÃO Promptuario especial Registo Civil n° / No Registo Criminal entrada. Frontespício da mesma caderneta espalhadas, sendo até pensamento do Dr. Eduardo Cher- mont, distincta auctoridade policial encarregada desse ser- viço, crear novas zonas nos bairros do Umarizal e Santa Izabel. O recenseamento feito pelo guarda chefe do Instituto de Prophylaxia das doenças venereas accusou o seguinte; Rua l.° de Março 78 meretrizes » Padre Prudencio 75 » » Aristides Lobo 58 » » Lauro Sodré 52 » » Riachuelo 47 » » General Gurjão 37 » Trav. Fructuoso Guimarães.. 20 » Total 367 Fora desse limite: rua Bailique 2 meretrizes; rua Car- los Gomes, 8; trav. Campos Salles, 4; rua da Industria, 5; rua 28 de Setembro, 8; rua Dr. Malcher, 2; rua S. Boa ven- tura, 3; av. Almirante Tamandaré, 5; trav. Monte-Alegre, 1; rua Angelo Custodio, 1; trav. S. Francisco, 1; rua Arcy- preste Manoel Theodoro, 4; av. Serzedello Corrêa, 1; trav. Santo Antonio, 2; av. da Independencia, 2; rua Conselheiro Furtado, 7; Villa União, 7; rua D. Januaria, 2; Villa Corrêa, 1; rua Bernal do Couto, 1; rua D, Pedro, 2; rua Manoel Fvaristo, 1; idem, Oliveira Bello, 1; Paes de Carvalho, 2, Quintino Bocayuva, 5; Caetano Rufino, 2; trav. da Piedade, 2; av. 22 de Junho, 4; rua Senador Manoel Barata 1; trav- de Cintra, 2 e 316 em outros bairros suburbanos, ainda não recenseados. Em resumo: Na zona destinada pela policia .... 367 Em varias outras ruas 405 Total 772 Na zona do meretrício, moram nas mesmas casas, além dessas raparigas, mais 310 pessoas, entre homens e crean- ças. Algumas famílias residem também ainda nessas ruas; umas, por terem casas próprias, outras porque preferem continuar a não ajudar a policia em tão efficaz medida de moralidade. Quanto ao estado sanitario das habitações occupadas, na zona escolhida pela policia, pode se considerar relativa- mente bom. Vejamos: RUAS Casas Assaaihadas Cimentadas Tem agua encanada Tem sen- tinas l.° de Março 44 68 quartos 23 quai los 44 44 Padre Prudencio 34 123 2 34 34 Fructuoso Guimarães.. 17 35' 2 17 17 Aristides Lobo 23 83 5 23 23 Lauro Sodré 27 55 8 > y 27 27 Riachuelo 23 79 1y — 23 23 Total 168 443 40 y y 168 168 Como se verifica todas têm agua encanada e sentinas hygienicas. A policia sanitaria do nosso Serviço intimou os seus proprietários e arrendatarios a fazerem limpeza geral das mesmas, caiando-as; collocando caixas automaticas nos W. C., removendo lixo dos quintaes, etc., Estas intimações vêm sendo cumpridas sem protestos. As casas dos suburbios, onde moram as meretrizes pro- priamente ditas—miseráveis, taes como as barracas das ruas Oliveira Bello, José Bonifácio, avenida 22 de Junho, villa Guara- nv, são as que estão em peores condições de hygiene e asseio. O PROXENETISMO—Para que se possa ter uma pequena idéa de que como vivem as pobres mulheres publicas sujei- tas ao proxenetismo aviltante que fazem meia duzia de ga- nanciosos extrangeiros entre nós, vale a pena compulsar os seguintes dados estatísticos, ainda do relatorio do guarda- chefe do Instituto, Rua l.° de Março 44 casas alugadas com 91 quartos sobrealugados Padre Prudencio.. 34 » » » 125 » » Fruct. Guimarães. 17 » » » 37 » » Lauro Sodré 27 » » » 63 » » Aristides Lobo —23 » » » 88 » » Riachuelo 23 » » » 79 » » Total 168 483 Residem nesses cubículos 505 pessoas, que pagam, na média, 2sooo por dia, aos exploradores do importante com- mercio ou sejam 1:010$000 por dia, contra, no máximo, 6725000, quantia porquanto alugam os proxenetas as 168 casas. Assim, fazendo cálculos pessimistas a favor dos ex- ploradores e optimistas para as exploradas, pois que ha quartos sobrealugados até por 6sooo e casas de aluguel in- ferior a 50$000, verificamos; 168 casas, como média geral 120$ por mez.,.,. 20:160$000 483 quartos, » » » 60$ » » .... 28;980$000 Lucro.. • 8:820$000 No anno, em seis ruas apenas, sem lotação completa porque ainda ha casas desalugadas, pelo calculo mais cri- terioso possível, 10õ:840$000. Por ahi se poderá avaliar quanto uma desgraçada mu- lher enche os bolsos dos seus bondosos senhorios que lhes sobrealugam tão acanhadas dormidas. Como nos referimos anteriormente, a meretriz paga também por aluguel a cama, o toucador, cadeiras e outros moveis de seu uso, variando a diaria de Issoo a Bsooo. Menos um terço do seu ganho, quando isso consegue ter em noites perdidas de somno, fica-lhe para a sua mise- rável alimentação. A policia civil estuda a maneira mais efficaz para dar um golpe de morte no audacioso commercio. Com os pró- prios recursos que lhe faculta o Codigo Penal, espera ape- nas occasião propicia, pois que contra a execução imme- diata da sua acção está o justificável receio de ficarem es- sas mulheres sem abrigo algum, dadas as exigências que hoje em dia em Belem fazem os proprietários de casas. Nem uma só se conseguirá alugar, sem o deposito ga- rantidor de tres mezes de aluguel ou, mais difficil ainda, uma fiança de cosa commemal. Por estas condições favorá- veis quasi a totalidade das casas da zona do meretrício es- tão alugadas aos agiotas ou ao taverneiro da esquina, pseu- dos proprietários de quarteirões inteiros, rendosamente so- brealugados. Felizmente todas as medidas de localização postas em pratica pela policia tiveram os applausos da imprensa e a acceitação da população e talvez por isso não tivemos a re- gistrar o esperado escandalo em torno da acção policial, não havendo quem quizesse, meretrizes ou proprietários de casas, usar dos recursos judiciários tão communs quando se iniciam taes campanhas. Emfim o poder da polida sobre essa localização, inso- phismavel direito tão brilhantemente estudado e discutido pelo illustre dr. Aurelino Leal, ex-chefe de policia da Capi- tal Federal, na Conferencia Judiciaria Policial, parece ter sido bem interpretado entre nós, pelo silencio como foi re- cebido, sem os encommodos aos Tribunaes para quem sem- pre appellam no infallivel recurso dos habeas-corpus os pre- judicados nos seus interesses pessoaes pelas medidas do bem publico. Ao desembargador Julio Costa, illustre Chefe de Poli- cia e ao dr. Eduardo Chermont, 2o prefeito, cabe, em gran- de parte, o successo dos resultados que vae alcançando a população da cidade com essa providencia de elevado al- cance moralizador, que é a localização do meretrício. FISCALIZAÇÃO E ASSISTÊNCIA SANITARIA—Foi So- lon, na democrática Athenas, no século VI quem tentou a primeira regulamentação da prostituição na sua Patria que vi- via de prazeres corrompidos. «Mandou comprar algumas escravas extrangeiras e instituiu o primeiro lupanar em Atbenas, dirigido por um funccionario do Estado, encarregado de depositar no The- souro publico os rendimentos havidos no nefando trafico da carne humana.» A evolução social trouxe depois as modificações mais apropriadas e modernas no mundo civilizado, esclarecendo bem melhor o assumpto, já então não só encarado pelo lado da moral publica, mas como medida de saúde, pela prophy- laxia das doenças venereas, que são os flagellos dos nossos dias, factores poderosos e máximos da degenerecencia das raças. A França, a Bélgica, a Hollanda, a Allemanha, toma- ram a si o interesse do problema que também veiu a me- recer a sua importância na Inglaterra, cujas leis são muito sevéras contra as meretrizes e vagabundos. No Brazil foi o estudo da matéria ventilada em 1888* quando da pasta da Justiça era ministro Ferreira Vianna. Nessa época, reunida uma commissão da Imperial Acade- mia de Medicina, tentou-se formular um, projecto de lei. Desde então, começou no nosso território o interesse pelo combate ás doenças venereas em conjuncto com a acção policial sobre a prostituição. Muito embora, descabi- das tenham havido algumas até quasi dando a perceber o desapparecimento dos trabalhos dessa prophylaxia, não se poderá dizer que fossem, de vez, abandonados. O distincto advogado Balthazar da Silveira diz; «Ven- cedora após luctas memoráveis, em nações adiantadas que se não descuidam de zelar pelo futuro de seus filhos, a re- gulamentação do meretrício não é uma medida immoral que affronte os brios sociaes.» Muito longe de humilhar ainda mais a infeliz mulher que se prostituiu, a prophylaxia sani- taria vem trazer-lhe o conforto, o allivio á dôr, o amparo á sua dupla desgraça de meretriz e doente, falando bem pela expressão do illustre Dr. Martineau —« não convem ty- rannizar a prostituta e nem também animal-a; convem sub- mettel-a a uma vigilância activa, porém benevolente, e of- ferecer-lhe meios fáceis de curar-se.» Está reservado ás escolas um dos maiores papéis no trabalho de propaganda scientifica de hygiene geral a todos os que nella apprendem a caminhar para a difficultosa es- trada da vida real. O illustre e velho professor Dr. Carneiro Leão, na sua magnifica obra sobre os «Problemas da Educação», em suc- cessivos capitulos trata com muito interesse e carinho dessa necessidade. «Tem-se de ensinar ao homem, desde criança, a capa- cidade e as possibilidades para triumphar na lucta pela vida; A presente Carteira s POLEGAR DIREITO * 0* O*S 000/Vf*S VOJYOOO*S 00 £ST*OO 00 o*o* «jíABIXETÍB DE IDEXTIEICACÃO 3DO ESTADO I>o PARÁ Marcas e signacs particulares visíveis ua vida ordinária: SERVIÇO MEDÍCO-LEGAL 1 —• A presente caderneta deverá ser exhibida ás aucto- ridades policiaes ou .«anilarias em inspecção ás ca- sas de mulheres, sempre que estas assim o exigirem. 2 —Deverá a portadora communiear á Policia, para ser archivado no Promptuario a cargo 1 77 1 78 14 11 79 8 87 15 11 136 11 147 16 11 91 4 95 17 11 66 5 71 18 11 56 5 61 19 11 21 3 24 20 11 20 2 22 21 11 10 1 1 11 22 11 9 — 9 EOADE DO iDEFLORAMENTO (continuação) BRASILEIRAS EXTRANGEIRAS TOTAL 23 annos 4 - 4 24 „ 4 — 4 25 „ 2 2 26 „ í 1 28 „ — 1 1 31 „ 1 , — 1 772 EDADE DO DEFLORADOR BRASILEIROS EXTRANGEIROS TOTAL Não informam 1 1 annns 320 1 26 346 1 13 3 3 14 1 1 15 16 17 5 5 3 l 4 11 3 14 18 19 23 2 25 Ji 26 2 28 20 44 44 21 22 34 34 3 i 5 42 23 11 • • 2S — 28 24 95 11 15 15 32 2 34 26 27 28 2Q V 12 1 13 9 1 10 11 17 1 18 ij 5 5 30 • 18 1 19 31 32 4 4 16 16 33 ,, . 6 6 34 35 9 9 } 1 8 8 36 8 1 9 37 38 11 ” 3 2 3 2 39 3 1 4 40 10 2 12 42 43 45 46 48 » ■ ■ * 9 2 11 í í 4 — 4 j 1 — l H « 2 ~~ 2 772 254 NATURALIDADE BRASILEIROS EXTRANGEIROS TOTAL Pará 282 282 Maranhão 79 — 79 Ceará 135 — 135 Piauhy 24 — 24 Parahyba 40 — 40 Pernambuco 37 — 37 Alagoas 9 ■— 9 Sergipe 1 — 1 Rio G. do Norte 42 — 42 Amazonas 50 — 50 Bahia 9 —• 9 S. Paulo 2 — 2 Rio de Janeiro 8 — 8 Goyaz 1 — 1 Acre 3 — 3 Rio G, do Sul 1 — 1 Barbados — 1 1 Polonia — 7 7 Galicia . — 1 1 Áustria — 2 2 Portugal — 6 6 Hespanha — 9 9 Italia — 3 3 Peru — 10 10 Servia . ~ l 1 Columbia — 2 2 i\merica do Norte. . . — 1 1 Ilha das Canarias.. . . — 1 1 Cayenna •— 1 i Boíivia — 1 1 Inglaterra — 1 1 Cuba — 1 1 França ■— 1 1 772 PROFISSÃO DO PAE BRASILEIROS i EXTRANGEIROS TOTAL Não informam 534 29 5(33 Seringueiros 6 — 6 Agricultores 58 3 61 Militar 6 6 Pescador 8 — 8 Emp. commercio 3 — 3 Marítimo n / — 7 Operário 38 8 46 Fogueteiro . . . ' 1 . 1 PROFISSÃO DO PAE (continuação) BRASILEIROS EXTRANGEIROS TOTAL Professor 1 1 2 Estivador 2 — 2 Funccionario publico. 6 — 6 Vaqueiro 1 — i Taverneiro 3 3 Engenheiro 1 — l Coramerciante 24 3 27 Machinista 2 1 3 Padre *, 1 — 1 Fazendeiro 5 1 6 Carroceiro 2 — 2 Açougueiro.. 2 •— . 2 Guarda-livros 1 •— I Photographo ........ 1 — I Padeiro 1 — i Delegado policia 1 i Pintor 1 1 Carregador 1 — 1 Talhador 1 — 1 Cantor de igreja — 1 I Mechanico — 1 I Leiteiro. — 1 1 Medico 1 — 1 Pdscal Fort of Pará. . 1 , — 1 Guarda sanitario . . . 1 * — 1 Peixeiro 1 Cozinheiro 1 1 772 PROFISSÃO DOS DEFLORADORES BRASILEIROS . EXTRANGEIROS 1 TOTAL j Não informam 209 13 222 Seringueiro 15 — 15 Fiscal-federal 1 — 1 Professor — 1 1 Estofador — 1 1 Foguista 5 — 5 Agricultor 58 1 59 Carregador 1 — 1 Militar 47 3 50 Marítimo 63 1 6,4:.. Escripturario P. Elect. 1 — 1 Pescador 2 — 2. Photographo 1 — 1 Jornaleiro 1 — 1 Emp. commercio..... 35 5 . 40 PROFISSÃO DOS DEFLORADORES (continuação) BRASILEIROS EXTRANGEIROS TOTAL Estudante 7 7 Commerciante 77 6 83 1'averneiro 6 — 6 Operário. 52 8 60 Barbeiro 13 13 Guarda-livros 9 ,3 12 Musico 1 — 1 Electricista 5 — 5 Mechanico 4 1 5 Escrivão 1 1 2 Machinista 8 — 8 Leiteiro * 1 _ 1 Telegraphista 3 — 3 Açougueiro 3 — 3 Fazendeiro. 3 — 3 Engenheiro 2 — 2 Ernp. Fort of Pará.. 1 — 1 Mercieiro 2 — 2 Artista 2 1 3 Tabellião . 1 — 1 Padeiro 3 — 3 Pratico pharmacia. .. 1 — 1 Carroceiro 9 1 3 Bacharel. 4 1 5 Medico 4 — 1 4 Despachante 1 — 1 Emp. Banco 1 . — 1 Contador 1 — 1 Bolieiro 1 — 1 Dentista 2 — 2 Cozinheiro í — i Motorneiro 2 — 2 Magarefe 1 — 1 Solicitador. 1 — 1 Estivador *> 3 Pharmaceutico 4 4 Pintor 1 — 1 Ambulante . .1 2 — 2 Doceiro 1 — 1 Talhador | 1 — 1 Carvoeiro 1 — 1 Bombeiro 1 — 1 Capataz Pará Elect,. . 1 — 1 Mascate 1 i Oleiro 1 { . 1 Fiscal de bond 1 1 — 1 PROFISSÃO DOS DEFLORADORES (continuação) BRASILEIROS EXTRANGEIROS TOTAL, Delegado l 1 Carreiro 1 1 Cinesiphoro O O 3 Trab. da Alfandega.. l — 1 Jardineiro 1 1 Jogador 1 — 1 Vagabundo 1 _ 1 Guarda-civil 1 1 Capataz.. 1 1 Tvpographo 1 1 Desp. Recebedoria... 1 1 Cocheiro 1 — 1 772 Dessa estatística tiram-se as seguintes conclusões: Gráo de instrucçno:—para brasileiras, 58,50% de anal- phabetas; para extrangeiras 63,26%; total de analphabetas 454 ou 58,80%. Estado civil:—solteiras 584 ou 75,64%; casadas 156 ou 20,20 %; viuvas 32 ou 4,14 %; sendo para extrangei- ras: solteiras 37 ou 75,51 %; casadas 8 ou 16,32 %; viuvas 4 ou 8,16%; para nacionaes: solteiras 547 ou 75,65 %; casadas 148 ou 20,47 %; viuvas 28 ou 3,87 %. Edade actual:—E’ grande o contingente fornecido ao meretrício pelas moças ainda amparadas pela lei, de me- nor edade, e o maior numero está nas primeiras edades ; De 13 a 20 annos 228 De 21 a3O » 417 As edades que prevalecem com maior numero são 21 annos 77 23 » 55 24 » . 53 De 13 a 18 annos de edade ha 78 meretrizes. Edade do defloramento:—Não incluindo 63 que não in- formam, verifica-se; Maior numero; 147 com 15 annos; menor numero 31 annos —l. A seguir; Destaca-se pela edade infantil 6 annos 1 7 » 1 8 » 3 9 « •. 1 10 » ..’ 5 11 » 15 12 » 64 13 » 78 14 » 87 16 » 95 17 » 71 18 » 61 O maior numero está na edade de 6 a 21 annos com a elevada somma de 487 mulheres. Edade dos defloradoresDesprezando-se 346 que não informam, temos : maior numero 44, com 20 annos e a seguir: 21 annos 34 22 » 42 25 » . 34 Ha maiores de 25 até 48:— 282 homens. Naturalidade: Maiores números: Pará , . ; 282 Ceará .. .. 135 Amazonas .. 50 Profissão dos paes:— Maiores números: Agricultores 61 Operários 46 Profissão dos defloradores: Maiores números: Marinheiros mercantes. 64 Operários. 60 Soldados ... 50 Agricultores 50 Vê-se a olhos mis a necessidade de medidas sevéras para evitar que a lei, que ampara e protege as mulheres de menor edade, seja melhor interpretada pelos responsá- veis pela sua obediência e respeito. Em tão pequena estatistica: 487 menores prostituidas ! O analphabetisrao é também o factor principal, quer quanto ás victimas, quer quanto aos auctores que, como mostra o quadro acima, recahe nas classes menos cultas, as mais pobres portanto de instrucção. Em 278 casas de meretrizes recenseadas pelo guarda- chefe do Instituto foram encontradas 166 menores filhos das mesmas, para os quaes vae o Dr. Chefe do Serviço pedir a protecção dos poderes competentes. Na imprensa o Secretario deste Serviço Sr. Martins e Silva fez um appello á Policia Civil, nesse sentido, va- lendo a pena transcrever um dos trechos do seu artigo «Creanças Abandonadas», publicado a 7 de Julho de 1921: «Agora que a Policia Civil vae dar começo aos seus trabalhos de localização de meretrizes, uma lembrança, tal- vez aproveitável a esse saneamento moral teria sido o inte- resse pela sorte das muitas creanças espalhadas aqui e acolá, em casas de prostitutas, caftinas ou botequins de iníima clas- se, que encontramos, na maioria dos casos, a deshoras. Rarissimas são, de facto, as casas livres onde a inno- cencia pura de uma ou mais dessas creaturinhas não se chafurda no lamaçal da corrupção diaria, que por alli vae no estonteamento dos noctívagos estravagantes e debo- chados. - Quantas vezes nós não temos encontrado meigas cre- anças, muito lindas algumas, fazendo janella na mesma pro- miscuidade, até álta madrugada, com prostitutas desmora- lizadas? n , * 1 Ha quem não tivesse assistido ao processo, muito com- mum e ignóbil entre nós, de se fazer dormir no mesmo quarto, onde a vôlupia campêa no delirio do álcool e da prostituição rebaixada e devassa, uma creança qualquer, fi- lha, parenta,ou cria, da mulher alli residente? Pois bem, neste momento em que o regimen policial corrige outros defeitos de caracter moral, não será demais a sua acção até ao término dessa praxe vergonhosa, alta- mente revoltante e indigna de nós mesmos, arrancando es- sas creanças dessas casas duvidosas, num amparo feliz e mais proveitoso, evitando o seu como que «curso de ap- prendizagem» para a porta larga do commercio da carne humana, tão triumphanté e progressivo na sua abominável acção, atravéz dos séculos da humanidade». O MAL VENEREO ENTRE AS MULHERES Syphilis:—Logo ao primeiro exame sanitario que se submette a meretriz em nosso Instituto, colhemos material para a reacção de Wassermann, enviando-o ao Instituto de Hygiene do Serviço. O quadro abaixo demonstra o coefficiente da syphilis entre as nossas mulheres publicas: REACÇÃO DE WASSERMANN Positivas 451 ou 62,20% Negativas 274 ou 37,79% Anti-complementares 7 Para brazileiras deu a porcentagem de 62,68% para positivas em 425 mulheres, e 37,31 % para negativas em 253 mulheres; para extrangeiras 55,31 % para positivas em 26 mulheres e 44,68 % para negativas em 21 mulheres. 260 Gonorrhéa:—Os primeiros exames para pesquiza de go- nococcus nas mulheres que se apresentaram no Instituto deram o seguinte indice: Positivos 251 ou 33,20% Negativos 505 ou 66,79% Prejudicados 4 Para brazileiras; positivos 236 ou 33,28%, negativos 473 ou 66,71 %; para extrangeiras 15 positivos ou 31,91 %, 32 negativos ou 68,08 °/0. A utilidade do nosso serviço de propaganda, pela far- ta distribuição de medicamentos, folhetos e diffusões dos conselhos prophylacticos feitos pela enfermeira visitadora e pelas nossas conferencias sanitarias, tem a significação no seguinte quadro abaixo. Nos primeiros mezes verifica-se a porcentagem cres- cente da infecção gonococcica entre as mulheres examina- das pela primeira vez e depois nas outras a baixa, á me- dida que se matricularam nos successivos mezes de func- cionamento dos nossos dispensários, já quando pela propa- ganda eíficiente sabiam, mais ou menos se defender e tra- tar da infecção. Mezes Examinada peia I.* vez EXAMES POSITIVOS NEGATIVOS PREJUDICADOS 1921-Julho 299 163—54,51°/0 133—44,48% 0 0 1 CO Agosto.... 169 31—18,34% 138-81,65% Setembro.. 88 15-17,04o/o 73-82,95«/o Outubro... 28 6—21,42% 22—78,57o/o Novembro. 24 7—29,16% 17-70,87o/0 Dezembro. 26 9 -34,61% 17-65,38o/0 1922—Janeiro. .. 24 5—20,83°/o 19-79,16o/o Fevereiro.. 17 4 —23,52% 13-76,47o/o Março .... 30 8—26,66% 22-73,33o/o Abril 20 2-10 % 17-85o/o 1-50/0 Maio 6 — 0% 6—100% Junho 23 2— 8,69 % 21-91,30o/o FREQUÊNCIA OE GONOCOCCUS NA SECREÇÃO VAGINAL Demonstra-se que sempre, a contar do segundo mez de funccionamento do Instituto, a porcentagem de negativos foi maior que a de positivos, chegando ao significativo nu- mero de 0,% (zero!!) para positivos no mez de Maio do corrente anno. Os resultados obtidos com os nossos trabalhos para combate desta infecção provam cabalmente com o seguinte mappa, cuja leitura dispensa commentarios. , .:i DECRÉSCIMO DA GONORRHÉA Mezes Total de exames POSITIVOS NEGATIVOS 1921- -Julho 308 201 ou 65,2570 107 ou 34,73 7o Agosto... . 373 67 » 17,9670 306 » 82,037o Setembro.. 950 81 » 8,527o 869 » 91,47 70 Outubro... 2.247 79 » 3,517o 1.168 » 51,98 7o Novembro. 941 47 )) 4,997o 894 )> 957o Dezembro. 1.232 147 » 11,937o 1.085 » 88,06 70 1922- —Janeiro.... 1.421 164 » H,547o 1.257 » 88,45 7o Fevereiro.. 1.161 122 » 10,507o 1.039 89,497o Março 1.227 178 » 14,507o 1.049 » 85,49'7o Abril 797 30 » 3,767o 767 96,237o Maio 487 18 » 3,6970 469 » 96307o Junho 451 16 » 3,547o 435 » 96,45 7o Estes 11.595 exames foram feitos no Instituto de Hy- giene deste Serviço, na secção de venereologia. Todas as mulheres com infecção gonococcica são isoladas também no Hospital de S. Sebastião. LESÕES Brasileiras Extrangeiras Total Collo ulcerado 50 3 53 Vagina » , 29 1 - 30 Vulva » 8 — v 8 Furcula » 3 — 3 Meato » 2 1 3 G, lábios » 3 — 3 Vestíbulo » 1 . — 1 Perineo » .... 2 •— 2 Cancroide na commissura... 1 — 1 » » vulva 2 — 2 » » furcula . 2 — 2 Mal de Pott 1 1 Todas as meretrizes com lesões syphiliticas contagiam tes são isoladas no Hospital de S. Sebastião, deste Serviço, com guia do Instituto. No relatorio geral apresentado pelo Ur. Cruz Moreira, seu actual director, estão sobejamente provados os bene- fícios desta casa de saúde. Este documento vae em um capitulo separado, o ulti- mo deste livro. contagiam ;e Serviço, PROPHYLAXIA E THERAPEUTICA Durante o anno fizeram se; EXAMES GYNECOLOGICOS 1921 Julho 312 Agosto 407 Setembro 1.030 Outubro 1.313 Novembro 959 Dezembro 1.235 1922 Janeiro 1.333 Fevereiro 1.104 Março 1.336 Abril 1.213 Maio 1.534 Junho 1.506 Ar ! 1° semestre 5.256 TOIALj 2o M 8.026 13.282 VISITAS DOMICILIARIAS FEITAS PELA ENFERMEIRA VISIT ADORA 1921— Dezembro. 596 1922 Janeiro 642 » —Fevereiro. 433 » —Março 621 » —Abril 467 » —Maio 228 » —Junho 447 Total 3.434 Applicaram-se: 236 injecções de Neo-salvarsan. Sendo as meretrizes doentes isoladas obrigatoriamente no Hospital, no seu movimento figuram os tratamentos, pois que o Instituto nesta secção do meretrício desempenha ape- nas o papel de fiscalização e assistência sanitaria. OBSERVAÇÕES; Estavam gravidas 10 meretrizes. Re- gistrámos uma doente soffrendo o mal de Pott e annotámos um caso de anomalia gynecologica; vagina de 2,5 centíme- tros e ausência de utero. E assim com esse trabalho efficiente e productivo ori- entado pelo Dr. Souza Araújo, chefe deste Serviço, firma- mos, de uma vez, o conceito deste Instituto que mantem um Dispensário de meretrizes, apparelhado dos mais moder- nos recursos, com a frequência diaria de 75 a 80, dentro dos meios suasorios e brandos como tão bem legisla o Re- gulamento Sanitario Federal. Não houve campanha que podesse destruir a obra vi- ctoriosa do nosso trabalho moralizado e scientifico e den- tro desse programma da Chefia do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural neste Estado é que vencemos, como vencerão todos os que fizerem e assim se orientarem. Ao terminar este capitulo do meu modesto trabalho consigno aqui, prazeirozamente, os meus agradecimentos ao Sr. Luiz Martins e Silva, digno secretario da Chefia do Ser- viço, pelo muito que me auxiliou na sua feitura. CAPITULO IV MOVIMENTO DO “Hospital são sebastião” De Agosto de 1921 a 30 de Junho de 1922 PELO SEU DIRECTOR Dr. RAYMUNDO da CRUZ MOREIRA Presidente da Sociedade Medico-Cirurgica do Pará. A assistência hospitalar em Belem, é hoje, incontestavel- mente, nma realidade. Attestado vivo do incessante desenvolvimento que entre nós vae tendo já a Sciencia da Vida, pouco ou nada, póde-se com segurança affirmar, deixam a desejar os serviços inhe- rentes a esse grande e importante problema da medicina con- temporânea. Quem quer que tome a si o encargo de dizer sobre a vida e o actual estado scientifico dos hospitaes do Pará, a prumo a consciência, fiel a balança da justiça, o scientista mais arguto, exigente mesmo nas pormenorisações do thema a elucidar, o viajor intelligente e affeito aos rigores da observação meticu- losa e sincero na deducção da critica comparativa, terá, forço - samente, o espirito desde logo impressionado pela idéa faguei- ra de que, neste longínquo e quasi esquecido rincão da Patria, as sciencias medicas também progridem a passos largos e se- guros, sob a égide feliz de iniciativas civicas e generosas. Comprovando o que vimos de affirmar, ahi estão, Como padrão de gloria para os nossos antepassados e contemporâ- neos, esses hospitaes grandiosos, amplos, hygienicos e confor- táveis, cheios de serviço á causa da humanidade soffredora, a repercutirem dentro em si milhares de benefícios, honrando o nome do Estado e das instituições beneficentes que os crea- ram. Como typos modelares, que bem rivalizar podem com os melhores do nosso paiz, ahi se erguem, entre outros e sumptuosos, os hospitaes de Caridade e D. Luiz I, cujas cons- trucções obedeceram aos rigores da moderna engenharia sa- nitaria e cujas direcções technico-scientificas são de ordem a attestar o valor da competência e da dedicação recommenda- veis aos posteros. No tocante á defesa da saúde da população, a acção dos poderes constituídos do Estado, também, desde muito tempo, se tem feito sentir entre nós, vantajosamente, com a creaçào e manutenção, aliás, com grandes dispêndios, de hospitaes de isolamento, que, indiscutivelmente, serviços inestimáveis e re- levantes tem prestado, a quando das epidemias diversas que infestaram a nossa capital, merecendo se assignalem, dentre elles, os hospitaes Domingos Freire, São Sebastião e São Rocque. Neste primeiro relatorio annual que apresentamos á Che- fia do Serviço, na desobriga do Artigo regulamentar, parece- nos imprescindível, porisso mesmo, o dever de, em rápido es- boço, embora em traços geraes, dizer algo sobre a historia desses isolamentos do Estado, que attestam perma- nentemente com brilho e exhuberancia incontestáveis, a acção altamente humanitaria dos nossos governos passados, em re- lação ao magno problema da saude publica. HOSPITAL DOMINGOS FREIRE O governo do Estado, pela lei n. 203 de 26 de Junho de 1894, foi auctorizado a dispender até a importância de cem contos de reis (100:0()0$000) com a construcção de um hos- pital de isolamento, para tratamento de moléstias infecto-con- tagiosas. Ao anno seguinte, já a lei de meios, sob o n.° 307 de 29 de junho de 1895, consignava no seu artigo 80, paragrapbo 12, o credito de cincoenta contos de reis (50:000$000), para occor- rer ás primeiras despesas 'com esse serviço. De accôrdo com os chefes das Repartições de Hygiene e Obras Publicas, foi então nomeada uma Commissão mixta de médicos e engenheiros para fazer a escolha do local que me- lhores condições offerecesse para tão louvável iniciativa. Pelo então director da Hygiene, Dr. Cypriano José dos Santos, foram designados os doutores João José Godinho, Francisco Marianno de Aguiar e Virgílio Martins Lopes dc Mendonça, e pelo doutor Henrique Américo Marques Santa Rosa, director da Directoria de Obras Publicas, Terras e Colo- nização, foi designado o engenheiro Raymundo Tavares Vianna. tíelem. Hospital S. Sebastião. Visita do Governador do Estado, Intendente de Belem, Chefe de Policia e outras auctoridades. fl PROPHYLAXIA DA LEPRA E DÁS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARÁ Balem. HospitalS. Sebastião (Asylo das M.igdalenasj. Isoaumjalo' para os portadores de allecçoes veuereas contagiardes. A PROPHYLAXYA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENERSAS KO ESTADO DO PARÁ' 267 A zona determinada para a nova construcção foi a limi- tada pela travessa José Bonifcio, praça Floriano Peixoto, Ave- nida S. Jeronymo e rio Guamá. Depois de diversos estudos e reconhecimentos feitos pela Commissão, ficou assentado que a área comprehendida entre o Cemiterio de Santa Izabel, tra- vessa José Bonifácio e rua dos Mundurucúis, era a mais apro- priada, já pela sua elevação, já pela constituição pedregosa de seu sólo. Das informações colhidas pela Commissão, soube-se que a referida área pertencia ao doutor Américo Marques Santa Rosa, Estevam da Costa Gomes, Antonio Theodorico da Cruz e outros. Resolvido, á vista disso, que o governo do Estado faria a acquisição dos terrenos comprehendidos pela rua dos Pariquis, travessa Barão de Mamoré e rua dos Mundurucús, em 9 de Se- tembro de 1895, por escriptura publica de compra e venda, foi adquirido o terreno do Dr. Américo Marques Santa Rosa, e sua mulher, D. Henriqueta de Araújo Santa Rosa, pela im- portância de 5:000$000, sendo também, na mesma data e da mesma forma, adquirido o terreno contíguo áquelle, ao sr. Estevam da Costa Gomes e sua mulher, D. Amélia Paiva da Costa Gomes, pela quantia de 4:000$000. Em quanto era derrubada a matta, terraplainado o perí- metro onde devia ser construído o novo hospital, a Commis- são ia organizando os seus planos e projectos, de modo que aos dois dias do mez de Junho de 1896, foram solemnemente iniciadas as obras com a collocação da pedra fundamental do primeiro pavilhão, hoje denominado Domingos Freire. 0 typo de hospital adoptado pela Commissão foi o dos hospitaes de isolamento da cidade de Stockholmo, sendo o pa- vilhão Domingos Freire destinado ao tratamento de variolosos. Em primeiro de Dezembro de 1899, foram concluídas as obras deste pavilhão, sendo logo entregue á Inspectoria de Hygiene. Devido, porém, á epidemia da febre amarella que então augmentava assustadoramente, resolveu o Governo mandar fazer o tratamento dos doentes indigentes atacados daquelle mal, no novo hospital e mandar construir um “hospital bar- raca” para o tratamento de variolosos. Ultimamente este hospital está servindo para o tratamen- to da Tuberculose. E’ de um aspecto risonho, cercado de ameno bosque, afas- tado da travessa Barão de Mamoré, cerca de 100 metros. Aéhando-se, por natureza, distante do centro povoado, pena é que seja desconhecido do publico tão sumptuoso tem- plo de Caridade. , . „ Sua construcção, que foi iniciada na admmistraçao do il- lustre Governador Dr. Lauro Sodre, sob o plano e direcção do 268 engenheiro civil Raymundo Tavares Vianna, embora de quan- do em quando interrompida, recebeu maior impulso no gover- no progressista do Dr. Paes de Carvalho, que teve a ventura de terminal-a, não poupando esforços para tornal-a uma obra completa, de estylo, digna do florescimento do Estado, naquelles tempos. As despezas, com todo o serviço de construcção do hospi- tal, montaram a duzentos e cincoenta contos de reis (250:000-$) dispendidos pelos cofres públicos. HOSPITAL DE S. SEBASTIÃO Construido sob o typo de “hospitaes-barraca-de-madeira”, este hospital obedeceu ao plano do engenheiro Maximino Cor- rêa, que, de accôrdo com os desejos do então governador, Dr. Paes de Carvalho, o delineou em tres corpos, independentes uns dos outros, mas ligados entre si por varandas cobertas que rodeiam toda a edificação, tendo fiscalizado a construcção o competente engenheiro Ignacio Baptista de Moura. Situado no mesmo terreno do Domingos /Freire, do qual dista apenas 130 metros, o hospital S. Sebastião, delle se se- para, por uma cerca de arame, com entradas independentes, sendo fechada a frente do terreno, pela travessa Barão de Ma- moré, parte com muro de alvenaria de tijollo e parte com cerca de ripas de acapú!; os lados de toda a área comprehen- dida por aquella grande propriedade do Estado e os fundos, estão todos cercados de arame, completando assim o isola- mento dos dois edifícios. Grandes portões, com campainha de aviso, dão amplas en- tradas a vehiculos para o serviço hospitalar. O edifício é vasto, tem de comprimento 120 me- tros sobre 22 de largura, e custou ao Estado cento e sessenta contos de reis (160:000$000). Em 1903, no dia 9 de Novembro, a Directoria do Serviço Sanitario communicou ao então governador, Dr. Augusto Montenegro, o apparecimento da peste no Estado. Foi desde logo apparelhado o hospital S. Sebastião, de mo- do a servir de isolamento das victimas do mal levantino. Os serviços de assistência publica, prestados por essa oc- casião ao povo paraense, que se debatia sob os horrores da ameaçadora epidemia, calaram no espirito da opinião publica, que se manifestou grandemente agradecida pela extincção do terrível flagello. No anno seguinte, porém, nos primeiros dias de Dezem- bro de 1904, foram denunciados 5 novos casos de peste, na avenida Gentil Bittencourt, proximidade do Muzeu Goeldi. Verificando-se, entretanto, que eram elles de natureza extraor- Belem. Hospilal S. Sebaslião. O seu director Dr. U. Cruz Moreira, presidente da Sociedade Medico-Cirurgica do Pará, no seu gabinete. /I PROPALAM DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARÁ Belem. Hospital S. Sebaslião. Pequeno laboratorio, vendo-se á esquerda o microscopista Dr. Pio Ramos A PR0PHYLAX1A DA LEPRA E DAS DOENÇAS ESTADOIDO PARA 269 dinariamente benigna, porisso, foram todos tratados em do- micilio, pelos médicos do serviço. E, como eram pessoas reconhecidamente pobres, o gover- no, além do tratamento, forneceu-lhes também os elementos de manutenção necessários até completo restabelecimento. HOSPITAL S. ROCQUE Debellado o flagello da peste, foi o hospital de S, Sebastião occupado por variolosos. Na espectativa, entretanto, de novo surto epidemico o governo houve por bem adquirir nas immediações do hospital “Domingos Freire”, uma casa particular, pelo aluguel mensal de cento e cincoenta mil reis (150$000), ampliando-a e dotan- do-a de todos os commodos precisos, e cercou-se dos elementos necessários para offerecer combate á doença causada pelo ba- cillo de Yersin-Kitasato, A casa pertencia, como ainda hoje pertence, ao sr. Plácido José Rodrigues, que a entregou ao governo, em menos de 24 horas, tal era a urgência da auctoridade Sanitaria nas provi- dencias a tomar. Constituia-se, deste modo, o terceiro hospital de isolamen- to com o nome até hoje conservado de S. Rocque. Todos os hospitaes são servidos por uma fóssa, typo “Louis Mouras”, de grandes dimensões, tendo agua canalizada do abastecimento da Cidade e são illuminados á luz electrica. Com o estabelecimento dos serviços de Saneamento e Pro- phylaxia Rural neste Estado, foi o hospital S, Sebastião entre- gue ao serviço federal, em conformidade ao accôrdo firmado entre o governo estadual e a União, passando, então, a servir de asylo ás infelizes vendedoras de amor e gosos, que forem attingidas por qualquer das affecções venereas em estado con- tagiante, ficando as mesmas sujeitas á fiscalização e á inspecção creadas pela Prophylaxia. O edificio do hospital fica situado em terreno alto e lim- po, como já se disse, visinho dos hospitaes Domingos Freire e S. Rocque. Ergue-se áo meio do citado terreno, ficanda-lhe aos fundos uma pittoresca floresta; aos flancos, jardins, horta e bosque, e, extendendo-se á frente, um bello descampado, por onde se ostentam algumas arvores e, passaros de toda a especie vôam e cantam. Compõe-se o prédio de tres grandes secções e é todo cons- truído de madeiras reaes, em perfeito estado de conservação, alpendrado em todo o seu contorno. A primeira dessas divisões, apresenta tres salas de frente, estando uma, a do lado esquerdo, transformada em capella, sob a invocação de São Sebastião; a de entrada, ao centro, servindo aos serviços da “Sala de Ban- co”, que tomou a denominação de “Sala Eduardo Rabello”; e a outra, do lado direito, que é o salão de recepção, denominada “Carlos Chagas”. Immediatamente em seguida a esta ultima, encontra-se uma outra grande sala, “Oswaldo Cruz”, onde o serviço instal- lou bem montado laboratorio para pesquizas bacteriológicas que acompanham a evolução do tratamento dos doentes. Atravessando um largo corredor, que liga a sala de entra- da ás outras partes do edificio, depara-se-nos a sala de trata- mento e pequenas operações, convenientemente apparelhada para os seus fins denominada “Souza Araújo”; e, contígua, encontra-se a Pharmacia, regularmente apparelhada dos ne- cessários medicamentos. Este conjuncto de compartimentos, ladeado ao fundo por amplo corredor avarandado, forma, já dissemos, a primeira secção do prédio, sendo que, das outras duas, uma aloja as en- fermarias, quarto de pensionistas e dormitorio de enfermei- ros; e, outra, abrange as salas de refeições, rouparia, dispensa, cozinha e quartos dos cozinheiros e creados. Entre esta ultima e a segunda secção ha uma puxada co- berta, que liga ao edificio como sua dependencia a casa da lavanderia, onde funccionam estufas dos melhores constructo- res francezes (Geneste, Hercher & Comp.), para desinfecção de roupas, ao calor de 100 a 120 gráos. A’ frente e ao lado esquerdo, está o desinfectorio manda- do construir pelo governo Montenegro, constituído de camaras de desinfecção, banheiro e compartimentos apropriados de entrada e sabida. Banheiros, sentinas, banheiros especialmente construídos para tratamento sulfuroso das dermatoses, adjacentes a todas as secções, formam outras dependencias. São quatro as enfermarias. Duas do lado direito, com as seguintes denominações: “Gaspar Vianna”, “Werneck Machado”.' Ao lado esquerdo ficam as outras duas, denominadas “Sil- va Araújo”, a primeira e a outra, innominada, porque acaba de ser adaptada e inaugurada. Dessas enfermarias, as duas que estão no serviço compor- tam 30 enfermos cada uma, e, as outras duas, oito doentes cada uma, havendo ainda quatro leitos para pensionistas. A lotação total do hospital, que tem estado quasi sempre completa, é, pois, de oitenta leitos. Ha, além disso, um compartimento separado que, refor- mado como foi, com as necessárias adaptações hygienicas, aconselhadas no caso, serve de isolamento ás pessoas que, além das venereas, são portadoras de doenças outras de natureza in- fecto-contagiosas. O serviço clinico do hospital, foi inaugurado em 19 de Agosto do anno passado (1921), ficando, desde logo sob a di- recção do Sr. Dr. Bernardo Rutowitcz, até Dezembro do mesmo anno, quando passou a ser dirigido pelo Sr. Dr. João José Hen- riques, que serviu até Janeiro do corrente anno. Em officio de 13 desse mez, o Dr. Chefe do Serviço de Prophylaxia solicitou de S. Exc. o Sr. Dr. Governador do Es- tado a designação do nosso humilde nome para na qualidade de inspector sanitario effectivo estadual assumir a direcção do referido hospital, como contractado, sendo confirmada a desi- gnação pelo officio de 19 de Janeiro, do Sr. Dr. Secretario Ge- ral do Estado, ao Sr. Dr. Cyriaco Gurjão, digno director do Serviço Sanitario Estadual. Somente nesta data, tomámos á nossa conta a direcção cli- nica do referido serviço hospitalar, e, no seu desempenho, te- mos envidado todos os esforços para corresponder á confiança que merecemos da Chefia do Serviço Federal. Annexo á clinica do Hospital, foi installado, como já disse- mos, um labora torio de pesquizas bacteriológicas, onde, desde Setembro de 1921, vem prestando intelligente e dedicada col- laboração, como microscopista estagiário, o académico de me- dicina, badharcl Pio de Andrade Ramos, que, a titulo gratuito, também serve como interno do hospital. O corpo de enfermeiros é dirigido pelo Sr. Domingos Si- mões da Costa, guarda effectivo de Ia classe do Serviço da Pro- phylaxia Rural, em commissão no posto de enfermeiro chefe encarregado do movimento interno do hospital, e que, superin- tende, também, o serviço de pharmacia, como habil pratico que é nesta secção de especialidade. Desempenham as funcções de l.a c 2.a enfermeiras, respe- ctivamente, Barbara Maria dos Santos e Cordolina Santos e Edma Bonnet, designadas especialmente para tratamento gy- necologico das enfermas contagiantes. São todos esses auxiliares dotados da melhor boa vontade e amor ao trabalho e de criteriosa conducta no desempenho dos serviços inherentes aos seus cargos. A administração da parte economica do Hospital faz-se atravéz do almoxarifado, do qual está encarregado, desde que se inaugurou o serviço, o Sr. Olyntho Gomes da Rocha, tam- bém digno de justos louvores e que presta suas contas directa- mente ao Sr. Secretario Geral do Serviço, á quem está entregue a superintendência immediata dessa parte administrativa. A ADMISSÃO DE DOENTES Constituindo o serviço hospitalar uma secção do Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas, ao qual está annexo, delle recebe para tratamento exclusivamente os doentes por- tadores de lesões contagiantes, de preferencia as meretrizes. Toda lesão em estado contagiante, já de natureza luética, já neisseriana ou de qualquer outra forma venerea, verificada em pessoas examinadas ou assistidas em ,tratamento no Dis- pensário do Instituto, constitue imperioso motivo de remoção para o Hospital São Sebastião. Admittido mediante caderneta de identificação policial e de guia firmada pelo director do Instituto, na qual se declara não somente o numero de matricula e os resultados das pesquizas pathologicas procedidas no Laboratorio Central, como tam- bém, tanto quanto possível, o diagnostico especializado da lesão que requer isolamento, é o doente inscripto no Livro Geral de Registro, cujo fac-simile abaixo reproduzimos (doc. n.° 1), designando-se-lhe o leito numerado e a papeleta apropriada á prescripção do tratamento e ministrando-se-lhe os conselhos práticos da bygiene do corpo e as instrucções prophylacticas concernentes aos estados pathologicos com que se apresentam. O Dia m z Mez 30 í» O I» 3 Edade Filiação Naíuralidai 3 Residência Côr Estado Profissão Matriculada no Instituto Permanência no Hospital I Itlenlilicaila na Policia Caderneta n T 1 Dia t/> s Moz ». W. Goiioeoeeus m m | CP z O fezes í» o c N Cutras > CP Fespizas TJ > -1 X R, W. O Conoeoeeus X> zc. r O Fezes o o o Outras CO Fespizas Diagnostico clinico OBSERVAÇÕES Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas do Estado do Pará ahno i 92 Hospital de S. Sebastiao n I) O n Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural Doc. N. I ”* ' * no Estado do Pará MOVIMENTO GERAL DO SERVIÇO CLINICO O serviço clinico, em geral, tem sido executado com regu- laridade. Os resultados práticos obtidos, que podem ser observados nas deducções dos quadros demonstrativos e mappas estatísti- cos que illustram o presente trabalho, demonstram com van- tagem a sua importância. Segundo já referimos, foi elle inaugurado em 19 de Agosto de 1921 e, desde então, até 30 de Junho do corrente anno, de- curso de 11 mezes, a quanto monta o periodo de tempo que este rclatorio abrange, apresenta um movimento geral que reputamos valioso. E tal, não somente, em virtude da efficiencia numérica dos internados, como principalmente, pelo que concerne ás preca- rissimas condições de estado geral, oriundas de infecções mix- tas e graves, de que são portadores os mesmos, que, ás vezes, trazem tres e mais entidades pathologicas definidas e de pro- gnostico sombrio. Mais de espaço, e sobre clles, assumpto faremos, de capital interesse. Atravéz do quadro relativo ao movimento geral do Hospi- tal, adiante exposto (doc. n. 2) observa-se que o numero de en- tradas é representado pelo total de 286 doentes, que, durante os 11 mezes, movimentaram as diversas enfermarias, no total de 771 casos clínicos. Comparando as cifras de entradas e existentes, vê-se que foram augmentando gradativamente nos primeiros mezes do serviço até que em Março tocaram o máximo (51, enfermos en- trados e, 54, existentes, num total de 105), sendo os primeiros mezes de Agosto, Setembro e Outubro, de menor frequência e respectivamente representados por 19, 48 e 55 entradas e exis- tentes. Póde-se affirmar que a frequência tende a augmentar, e, tanto assim, que a lotação, ao começo de 35, depois, 60, ultima- mente foi elevada para 80 leitos, diante da formal necessidade, determinada não só pelo grande e crescente numero de matri- culas no Dispensário do Instituto, como ainda pelo bom cre- dito com que se tem imposto o serviço hospitalar, a ponto de espontaneamente pedirem os interessados o seu internamento. Doc, n. 2 INSTITUTO DE PROPHYLAXIA DAS DOENÇAS VENEREAS Movimento Geral do Hospital de S. Sebastião De Agosto de 1921 a Junho de 1922 (11 mezes) iyi. Sei. Out. Ko». Dez. Jan. Fev. Mar. Abril Maio Jun. T6'»L p . . Existiam 19 35 23 47 1 47 50 54 73 69 68 485 Entraram 19 29 20 34 34 27 15 51 12 27 18 286 Somma 19 48 55 57 81 74 65 105 85 96 86 771 Tiveram alta curados 13 31 10 33 23 11 31 16 28 27 223 Falleceram 1 1 1 1 2 6 Somma 13 32 10 34 24 11 32 16 28 29 229 Passaram para o mez seguinte: 19 35 23 47 47 50 54 73 69 68 57 Dos admittidos eram: Nacionaes 18 28 20 34 34 27 15 49 11 26 18 280 Exlrangeiros . 1 1 2 1 1 6 Brancos 8 13 8 16 8 7 1 19 4 11 2 103 Pretos. 1 2 2 i 1 2 4 3 16 Mestiços 11 16 11 16 24 19 8 31 6 12 13 167 Homens 2 1 2 2 1 8 Mulheres 17 28 18 30 33 25 15 49 11 25 18 269 Crianças 2 1 2 2 1 1 9 Solteiros 14 26 16 28 32 22 12 45 10 22 16 243 Casados 4 2 3 3 2 5 3 5 2 4 2 35 Viúvos 1 1 1 3 1 1 8 Indigentes 19 26 20 34 34 27 14 50 12 27 17 280 Pensionistas 3 1 1 1 6 Masculinos . 2 1 2 2 1 1 1 — 2 12 Femininos 17 28 18 32 33 26 15 50 12 25 18 274 Meretrizes 16 23 16 29 33 22 14 49 11 24 17 254 Não meretrizes 8 6 4 5 1 5 1 2 1 3 1 32 Residentes em: Município de Belém 17 27 19 33 33 27 15 50 11 27 18 277 Outros municípios 2 2 1 1 1 1 l 9 Somma 19 29 201 34 34 27 15 51 12 27 18 286 Os enfermos admittidos a tratamento no Hospital obe- decem á seguinte classificação, relativamente á nacionalidade, cor, edade, estado civil, classe de admissão, sexo, profissão, residência, observada a efficiencia numérica e sua respectiva porcentagem: NACIONALIDADE Brazileiros. ... 280 97,90% Extrangeiros. . 6 2,10 °/° Brancos. 103 36,02 % Pretos 16 , 5,59 % Mestiços... 167 58,39% Côr Adultos: Mulheres,. 269 94,07% Homens.. 8 2,79 % Crianças 9 3,14% Edade Solteiros 243 84,96 % Casados 35 12,25 % Viúvos 8 2,/9 % E. Civil Classe de admissão Indigentes 280 97,90 0 o Pensionistas 6 2,10% Sexos i Masculino 12 4,20 % Feminino 274 95,80 % Meretrizes 254 ... 88,80 % Não meretrizes 32 11,20% Profissão Em Belem 277 96,85 °/o Em outros municí- pios 9 3,15 0 o Residençia EDADE A estatística das edades dos enfermos internados, (doc. n.° 3), apresenta-se-nos, desde logo, importante, sob o ponto de vista prophylactico-venereo. ooe. n. 3 INSTITUTO de prophylaxia das doenças venebeas Hospital S. Sebastiao QUADRO ESTATÍSTICO DAS EDADES DOS ENFERMOS De Agosto de 1921 a Junho de 1922 Enfermos: Entrados Tiveram alta i... Fallecerarn igt. Set. Out. Ho?. Dez. Jan. Fe?. Mar. Abril Maio Jun. TOTAL 19 29 20 34 34 27 15 51 12 27 18 1 286 — 13 31 1 10 33 1 23 1 11 31 1 16 28 27 2 223 6 Somma 13 32 10 34 24 11 32 16 28 29 229 A edade dos internados eram: De 0 a 10 annos — — — 2 1 9 _ 2 1 1 — 9 De 11 a 20 annos 4 9 9 7 15 9 8 23 5 10 12 111 De 21 a 25 annos 8 13 5 16 8 8 3 16 5 8 4 94 De 26 a 30 annos 3 5 4 5 6 6 2 6 1 6 2 46 De 31 a 35 annos — 1 2 2 3 1 1 1 — 2 — 13 De 36 a 40 annos 1 — — í — 1 — 3 — — — 6 De 41 a 45 annos — — — — 1 — 1 — — — — 2 De 46 a 50 annos 2 1 — -i- .— — — — — — — 3 De 56 a 60 annos 1 1 De 61 a 65 annos — — — 1 — — — — — — 1 Somma. 19 29 20 34 34 27 15 51 12 27 18 286 Belem. Hospital S. Sebastião. Caso de rupia syphilitica.  P&OPHYLAXIA OA LEPRA E DÁS DOENÇAS VENÉREAS NO ESTADO 00 PAR Belem. Hospital S. Sebastião. Chamado hoje Asylo das Magdalenas. Grupo de meretrizes atacadas de doenças yene- reas em período contagiante, phase em que o isolamento é obrigatorio. A PRÒPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VÈNERIAS NO ESTADO DO PARA E’ ainda o resultado triste e infeliz do descaso por parte dos poderes públicos de então, ás medidas inspiradas por Souza Lima e Publio de Mello e adoptadas, em 1902, pela Academia Nacional de Medicina e mais tarde, em 1916, secundadas por Ulysses Paranhos no l.° Congresso Medico Paulista. Oxalá tivesse desde o inicio vingado a magna campanha, antes mesmo do apparecimento dos arsenicaes de Ehrlich e não se nos depararia agora esse quadro horrível de tamanha de- vastação venerea, justamente no periodo mais florescente e es- perançoso da juventude. Observa-se, no referido quadro estatístico, que a edade mais aítingida pelo mal venereo, foi a de 11 a 20 annos, com o numero elevado de 111 enfermos, seguindo-se-lhe a de 21 a 25 annos, com o total ainda grande de 94 doentes. De 26 a 30 annos, o total de venereos é representado por 46 enfermos e dahi por deante decresce, em grandes propor- ções, sendo o de 31 a 35 representado por 13; de 36 a 40, por 6 e, depois, por 3, 2, 1 e 1. Assim, pois, abstracção feita de 9 creanças que, no con- jimcto geral, entram com a edade de 0 a 10 annos, a porcenta- gem, pela edade, dos venereos contagiantes, no Hospital, é re- presentada pelos seguintes algarismos: De 11 a 25 ânuos 205 74,00 °j° De 26 a 35 annos 59 21,29 °|° De 36 a 65 annos ...... 13 4,69 °\° DIAGNOSTICO E TRATAMENTO SYPHILIS -GONORRHÉAOUTRAS DOENÇAS VENEREAS Syphilis E’ critério hoje seguido pela maioria dos aucto- res, no que diz respeito ás diversas modalidades clinicas da syphilis, o do tempo de evolução da doença. Procuramos, no nosso serviço, adoptar uma tal tendencia, sem, entretanto, abandonar o critério anatomo-pathologico, de accôrdo com os caracteres clinicos das lesões e a symptomato- logia dos casos que se apresentavam a exame. Sendo exclusivamente reservado aos venereos contagian- tes o serviço hospitalar e, dada a circumstancia de se lhes con- ceder a competente alta, logo que cesse a causa do contagio, não nos foi possivel organizar com precisão a estatística da syphilis de accôrdo com a classificação ainda hoje adoptada; primaria, secundaria, terciaria e latente. Conseguimos, entretanto, observar que nos luéticos asy- lados, em numero de 172 (166 com reacção de Wassermann positiva e seis com reacção anti-complementar), predomina- ram as manifestações primarias e secundarias, sendo estas em maior proporção. 278 Este facto, de ordem pratica, nos parece corroborado por Fournier, quando affirma que os syphilomas iniciaes e as le- sões secundarias da syphilis, constituem para o hygienista um factor muito importante, sob o ponto de vista prophy láctico, devido ás suas acções grandemente contagiantes, devendo-se- lhes instituir, desde o inicio, o tratamento pelos arsenicaes de Ehrlich e seus derivados. De preferencia localizadas para o lado da pelle, mucosas e serosas, são lesões superficiaes, em geral, de accentuada be- nignidade, porém excessivamente contagiantes, pois que as suas secreções contem em abundancia os espirochetas de Schau- dinn. “Cest, en effet, au cours des deux premières périodes ou les mani festo tions atíeignent leur pias gr and degré de contagiosilé, que Von décèle treponêmes le plus faciliment ei le plus en faveur da role pathogène du parasite de Schaudinn dans la syphilis/’ (C. Le- vaditti et J. Boche, La Syphilis, pag. 244 J. No serviço a nosso cargo, digno de nota foi a frequência destas localizações secundarias, principalmente para o lado das mucosas genitaes: as syphilides erosivas ou ulcerosas, as syphi- lides papulo-erosivas, as syphilides-papulo-hypertrophicas, os condylomas da margem do annus, etc., observaram-se em ele- vada proporção, de modo a clamar bem alto a sua importân- cia sob o ponto de vista prophylactico. De todas as suas formas clinicas, a syphilis secundaria é a mais prejudicial á sociedade e até muito mais do que ao proprio doente. Em relação ás manifestações terciarias, é sabido que dif- ficilmente são contagiantes. Observamos as lesões desta natureza em muito menos fre- quência, pois, em geral, ellas se apresentam como lesões pro- fundas visceraes, e a quando de sua localização nos tegumen- tos, é pequena, quasi nulla, em suas secreções, a presença dos treponemas de Schaudinn-Hoffmann. Quanto ao período latente da syphilis, nenhum caso se nos foi dado observar no serviço e nem poderia sêl-o, porquanto esta forma clinica superintende os casos geraes que não tem localização diagnosticavcl e são apenas postas em evidencia pela reacção de Wassermann, não cabendo ao Serviço tomar delias conhecimento. Grande foi o numero das affecções genitaes e extra-geni- taes da lues, e em extremo variadas, no que concerne ás loca- lizações diversas com que se patentearam, sob o ponto de vista do diagnostico clinico. Se lançarmos as vistas para o quadro geral de diagnósticos (doc. n.° 4), que se organizou, abrangendo não só, principal- mente, as manifestações venereas de séde gynecologica, como NOTA —Documento n. 4 no fim do caprtulo. Belem. Hospital S. Sebastião. Sala de exames e curativos. A’ direita o enfermeiro Domingos Simões da Costa. A Pr.OPHYLAXIfI DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARÁ A PROPHYLAXIA DA LEPRA E DAS DOENÇAS VENERÊAS NO ESTADO 00 PARA Belem. Hospital S, Sebastião. Pharmacia. 279 ainda aquellas, vizinhas ou afastadas do apparelho genital, no- tar-se-á que, em frequência, predominaram; Na vulva, ulcerações e ulceras, 155; edemas, 34; bartholi- nites, 26; bartholinites suppuradas, 20; hypertrophia dos gran- des lábios, 15; vegetações da vulva, grandes e pequenos lábios, 30, etc. Na vagina, ulcerações e ulceras, 200; ulcerações e ulceras do eólio, 186; cervicites, 132; vegetações da vagina, 8, etc. No corpo do utero, metrites, 125; vícios de posição do úte- ro, 43; metrites hemorrhagicas, 34, etc. Affecções periuterinas, salpingites, 33; salpingo-ovarites, 25; metro-salpingo-ovarites, 26, etc. Fistulas vaginaes, fistulas recto-perineaes, 11; fistulas rc- cto-vaginaes, 10; fistulas anno-perineaes, 9, etc. No recto, annus e perineo, fissuras do annus, 61; condylomas do annus e perineo, 52; ulceras do perineo, 33; mamillos he- morrhoidarios, 29; ulceras do recto, 24; ulceras do annus, 22; vegetações do perineo, 18; cancroides do annus e perineo, 13, etc. Affecções afastadas do apparelho genital, ulceras dos mem- bros inferiores, 92; ulceras em diversas regiões do corpo, 51; adenites inguinaes, 47; abcessos em diversas regiões do corpo. 34; adenites inguinaes suppuradas, 25; arthrites localizadas, 16; adenites axillares, 8, etc. Reacções de Wassermann.—No Laboratorio Central, con- forme já referimos, são feitas, inicialmente, as pesquizas sôro- logicas para o diagnostico etiologico de lues, de forma que, ao se internarem os doentes no Hospital, se toma immediato co- nhecimento da positividade ou não da reacção de Wassermann, na sua maior ou menor intensidade de infecção, como primor- dial elemento de auxilio para o diagnostico clinico. No quadro estatístico, que adeante vae exposto (doe. n.° 5), verifica-se que no periodo de 11 mezes alli se praticaram 277 reacções de Wassermann, das quaes foram positivas 166 ou 59,9 °|°; negativas 105 —ou 37,9 °|°; anticomplementares 6 ou 2,2 °j°. Foram enviadas do Hospital ao Labora torio Central, no periodo de Janeiro a Junho (6 mezes), 20 amostras de sangue de enfermos em tratamento, para reacção de Wassermann e que deram o seguinte resultado: positivos 12, negativos 7 e 1 anticomplementar. D°c. n.6 INSTITUTO DE PBOPHYLAXIA DAS DOENÇAS VENEREAS Hospital S. Sebastião ESTATÍSTICA DA REACÇÃO DE WASSERMANN De Agosto de 1921 a Junho de 1922 Nos. de [Reacções Reacções | Positivas Reacções Negativas Reacções A.C. Oeanças lota! das entradas Agosto 19 14 5 19 Setembro 29 19 9 1 29 Outubro 20 12 7 1 20 Novembro 32 19 11 2 2 34 Dezembro 83 19 13 1 1 34 Janeiro 25 19 6 2 27 Fevereiro 15 8 7 15 Março 49 29 20 2 51 ' Abril 11 6 5 1 12 Maio 26 13 8 13 1 27 Junho 18 9 1 18 Som ma 277 166 105 6 9 286 . Sangue colhido de doentes internados no hospital e enviado ao Laboratorio Central para reacção de Wassermann. Janeiro Fev. Março Atril Maio Junho Total Reacção de Wassermann.. 12 — 3 — 2 3 20 / Positivo 7 2 2 1 12 Resultado Negativo (A. C 4 — 1 — — 2 7 1 — — — — — 1 Somma 12 3 2 3 20 Gonorrhéa.—Quanto mais cedo se fizer o diagnostico da gonorrhéa aguda, maiores são as probabilidades de cura e me- nores os perigos das suas varias e terríveis complicações. Era de ver, d’antes, a difficuldade com que* no terreno exclusivo da clinica, se haviam os profissionaes na elucidação de um diagnostico criterioso da gonorrhéa. Por mais que os caracteres clínicos da doença fossem estu- dados á luz de uma intelligencia clarividente e pratica, já em relação ás manifestações de seu período de estado e symptoma- tologia, já de sua marcha e prognostico, eram grandes os em- baraços, porquanto é sabido que os phenomenos encontrados, por exemplo, nas vulvo-vaginites blenorrhagicas, o podem ser também, e da mesma forma, nas vulvo-vaginites traumaticas, naquellas próprias das mulheres gravidas, nos corrimentos pro- vocados pelo câncer e nos que são consecutivos aos abortos, etc., etc. Hoje o diagnostico clinico da gonorrhéa é e deve ser sem- pre confirmado pelo diagnostico etiologico do laboratorio. E só dahi se pódcm esperar, com a applicação da therapeu- íica apropriada, os successos' da cura. No nosso serviço, os doentes, recolhidos já com os resulta- dos das pesquizas feitas no Laboratorio Central, são submetti- dos, desde logo, a rigoroso exame, para verificações de diagnos- tico clinico, no concernente ás formas aguda ou chronica e suas complicações respectivas. Pela estatística da gonorrhca, adeante exposta (doc. n.° 6), verifica-se que os casos examinados no Laboratorio Central at- tingiram o total de 277, dos quacs foram 112 positivos, ou 40,40 o[°; 160 negativos, ou 57,76 °l°, e 5 suspeitos. Doc. n. 6 INSTITUTO DE PROPHYLfIXIfI DAS DOENÇAS VENEREAS Hospital S. Sebastião estatística da gonorrhéa De Agosto de 1921 a Junho de 1922 Nos. da Exames Gaios Casos Positivos INegativcs Casos Suspeitos Greanças Total das entradas Agosto 19 8 10 1 19 Setembro 29 9 19 1 29 Outubro .... 20 5 14 1 20 Novembro 32 14 18 2 34 Dezembro 33 14 19 1 34 Janeiro 25 18 6 1 2 27 Fevereiro 15 4 11 _ — 15 Março 49 30 19 2 51 Abril 11 4 7 — 1 12 Maio 26 4 21 1 1 27 Junho 18 2 16 — — 18 Som ma 277 112 160 5 9 286 Material colhido no hospital e enviado ao Laboratorio Central, para pesquisa de Gonococcus: Janeiro Fev. Mi rço Abril Maio Junho Total Exames 11 11 6 11 22 26 87 / Positivo 4 2 2 1 — 1 10 Resultado < Negativo 4 3 4 9 20 20 60 (Suspeito Km primeiro exame 3 6 — 1 2 5 17 4 3 1 — 2 5 15 Km secundo exame 7 5 2 9 20 16 59 Km terceiro exame 3 2 2 — 5 12 Em quarto exame — — 1 — — — 1 Sorama 11 11 6 11 22 26 87 Do Hospital foram enviados ao Laboratorio Central para pesquizas de “gonococcus” 87 amostras de secreção de enfer- mos em tratamento e que deram os seguintes resultados: positi- vas, 10; negativas, 60, e suspeitas, 17. Em primeiro exame, 13; em segundo, 59; em terceiro, 12; em quarto, 1. As complicações da gonorrhéa, no pcriodo agudo da doen- ça, como na sua phase de chronicidade, são representadas no quadro estatístico dos diagnósticos (doc. n.° 4), por um numero muito elevado. Predominaram em frequência, (inclusive os casos clínicos do Consultorio da Porta), as vulvites, em numero de 165; as vaginites, 159; as metrites, 107; as urethrites, 89; as cystites, 26; as arthrites localizadas, 16, etc., além de muitas localiza- ções para o lado dos annexos do utero e suppurações da glan- dula de Bartholin, TRATAMENTOS Syphilis e gonorrhéa.— A syphiíis é curável e disso consti- tuem provas irrefutáveis as reinfecções que dia a dia se obser- vam, de par com o progredir da therapeutica antisyphilitica. Também ahi estão os casos, que se tendem a multiplicar, de luéticos, intelligentes e desvellados no seu tratamento, attingi- rem á extrema velhice, sadios e alegres, sem as complicações angustiosas dessa mocidade descuidada e prisioneira dos effei- tos terríveis da doença abandonada. Infecção geral que é, cujas manifestações se caracterizam, intervalladamente, por accidentes clínicos os mais diversos, a syphilis requer para seu tratamento uma conducta delicada e una pratica bem especializada.—“ Seul un médecin, et un me- deem especialement instruit, peut diriger un trnitement antisyphi litique et arriver à la guérisnn snns faire courir de danger nux mal ades' \ affirma Clement Simon (“La Syphilis", 1922, pag. 205). A systhematização do tratamento da syphilis, de accôrdo com as 4 modalidades das suas fórmas clinicas, é ainda hoje geralmente adoptada e, aliás, com muita razão de ser. O nosso serviço, destinado como é ao tratamento exclu- sivo das lesões contagiantes, não comporta fazel-a com rigor scientifico; mas, tanto quanto possivel a adopta de conformi- dade com as condições especiaiissimas dos casos clínicos em fóco. Assim, empregamos, em geral, os methodos de Foumier e Gennerich e, com relação aos accidentes de período inicial da doença, seguimos de preferencia o tratamento aconselhado por Leredde, preparando-se desta fórma o terreno orgânico para os effeitos prodigiosos da esterilização da syphilis, absoluta, approximada ou relativa que ella seja. MEDICAMENTOS EMPREGADOS Arsenicaes de Ehrlich. —De preferencia empregamos o novoarsenobenzol em injecções intravenosas, pelo methodo das soluções diluídas, utilizando-se, commummente, a agua bidis- tiliada para a solução. São praticadas com intervallos de 8 a 10 dias, em doses fracas ao começo, variando de 0,15 a 0,30, depois, em doses mais fortes, elevadas gradativamente, na proporção de 0,15, 0,20 e 0,30 para cada injecção, até a dose normal, tomando-se em muita consideração as reacções therapeuticas que appare- cerem. A dose de 0,90 reserva-se exclusivamente para os casos de lesões rebeldes ao tratamento especifico ou para as formas graves da syphilis terciaria, salvo contra-indicações formaes. Também o silbersalvarsan foi empregado no serviço, em menor escala, porém, e sob os mesmos detalhes de technica. São cada vez mais raros, hoje, os accidentes de arseno- benzenotherapia, graças ao aperfeiçoamento da technica na sua fabricação e dos cuidados de asepsia no seu emprego. Não nos foi dado observar no serviço accidente digno de menção, neste particular, e nunca tivemos casos de “crise ni- tritoide”, de Millian. Foram praticadas, no serviço hospitalar, conforme se póde verificar no quadro estatístico de tratamento (doc. n.° 7), 348 injecções intravenosas de néosalvarsan e 52 de silbersalvarsan, ou seja um total de 400 injecções cujos resultados therapeuíi- cos foram excellentes. (doc. n.° 9), SAES MERCURIAES Injecções mercuriaes solúveis. Injecções mercuriaes inso- lúveis-—O mercúrio póde ser introduzido no organismo, atravéz da pelle (pomadas mercuriaes), pelo tubo digestivo, pelas in- jecções intramusculares e por via venosa. No dominio da pratica, só se admittem boje estes dois últi- mos systemas. Sobre o valor e preferencia delles, variam as opiniões dos auctores:—-o tratamento por meio de injecções intravenosas de saes mercuriaes tem por vantagem a indolência absoluta e a rapidez de acção; porém, apresenta maior proporção de reinci- dências, pela maior eliminação do medicamento; as intramus- culares, ao contrario, garantem a continuidade de acção, pelo accumulo das doses administradas, em geral, de 2 em 2 dias. Em relação á questão da solubilidade ou insolubilidade dos saes hvdrargyricos, a pratica tem provado a superioi idade dos primeiros, no tratamento da lues, não só pela repulsa que têm os doentes pelos saes insolúveis, pois são, em geral dolorosos, como ainda pela proporção excessiva de estomatites e mesmo abcessos asepticos, “verbi-gratia”, o oleo cinzento, o calome- lanos, etc. Doc "■ 7 INSTITUTO DE PROPHYLAXIA DAS DOENÇAS VENEREAS Hospital S. Sebastião TRATAMENTOS O % P. M O U* s ~ < - 3 ~ O H CURATIVOS GYNECOLOQICOS : Lavagens vaginaes 3575 750 950 2050 1800 1855 2792 13772 Curativos e cauterizações. 710 250 700 950 1663 1778 2522 8573 Lavagens da urethra 132 116 317 231 705 254 1755 Lavagens da bexiga 133 115 318 232 304 251 1353 INJECÇÕES ENDOVENOSAS: Ncosalvarsan 95 27 27 61 73 20 848 Silbersalvarsan 5 22* 20 r1 52 Oxy-cyanargyrum 9 3 12 INJECCÕES INTRAMUSCULARES E SUBCUTÂNEAS : V a c c i n a s a n L i g o n o c o c c i c a s. 60 44 147 135 68 _ 454 Saes mercuriaes 796 49 122 110 85 248 304 1714 Saes de quinino 48 69 65 26 25 233 Oleo camphorado 42 26 42 18 30 81 52 299 Sôro-tonico 27 39 60 121 175 150 30 602 Strichnina 12 4 35 13 36 13 9 122 Ergo ti na 1 8 4 12 5 12 3 45 Adrenalina 1 2 3 18 6 31 2 35 Morphina 2 2 3 18 14 4 2 45 Sparteina 1 2 4 4 4 4 2 21 TRATAMENTOS DIVERSOS: Curativos em diversas re- giões do corpo 300 110 184 212 272 195 1273 Banhos sulfurosos 49 250 188 126 563 Applicação de electricidade fa radica 20 40 36 80 30 206 Applicação de ventosas.... — 4 18 28 16 30 26 122 Colletes de sinapismo — — 14 33 37 19 14 117 Cataplasmas emolientes.... — — — 60 66 32 20 178 Massagens diversas 49 213 195 60 517 PHARMACIA : Clinica interna) 75 145 38 60 103 143 193 203 231 244 136 222 120 129 821 1001 K°*“ S. Rooque j 14 14 5 7 25 85 44 106 Empregamos, no nosso serviço, somente os saes solúveis, que são applicados por via muscular quasi sempre, de 2 em 2 dias em doses de 0,01 e 0,02, restringindo-se o uso da via ve- nosa, tanto quanto possivel, em vista do aproveitamento delia para os arsenicaes de Ehrlich. Dos saes solúveis damos preferencia ao bi-iodureto, ao cyanureto e ao benzoato de mercúrio, cujas soluções se conser- vam sempre estáveis e são de acção bastante activa, nos effei- tos therapeuticos. No nosso serviço foram feitas, no período de Agosto de 1921 a Junho de 1922, (11 mezes), 1714 injecções mercuriaes, na sua maioria de benzoato de mercúrio e 12 injecções intra- venosas de cyanureto de hydrargyrio (doe. n.° 7). Sempre fazemos a substituição dos saes insolúveis pelos saes solúveis, a quando da opportunidade do emprego do me- thodo de Gennerich e Fournier, no tratamento da syphilis. lodo. Empregado sob a forma de iodureto de potássio é um medicamento realmente efficaz, principalmente em combi- nação com o mercúrio. Sua acção therapeutica tem sido evi- denciada, no nosso serviço, cora optiraos effeitos, na syphilis terciaria. Nos syphilomas iniciaes e nos accidentes secundários, parece carecer de valôr o seu emprego. Ultimamente a therapeutica antisyphilitica enriqueceu-se com a descoberta de Levaditi e Sezarac: o tartro-bismuthato de potássio e sodio, chamado Trepol. Ainda não tivemos opportunidade de empregal-o e, segun- do observações de syphilographos auctorizados, tem sido uti- lizado com successo no tratamento da syphilis. A vaccinotherapia combinada com o tratamento local in- tenso, que empregamos no serviço, tem dado os melhores re- sultados na cura da gonorrhéa, já no período agudo, como no chronico da doença. # Neste particular, é de notorio conhecimento, hoje, o ex- clusivismo do emprego, a sós, da vaccina ou do soro antigono- coccicos, aconselhado e seguido por vários especialistas. Não nos parece acceitavel o desprezo dos meios locaes de tratamento. O numero crescido de casos, quer de caracter agudo, quer de caracter chronico communç que temos tido sob vacão, attesta bem a efficacia do methodo clinico adoptado. Fizeram-se, no periodo de 11 mezes, 454 injecções de vac- cina antigonococcica, sendo, ao começo, preferidas as de Parke Davis e ultimamente as que se preparam no Laboratono do Serviço. Tratamento local.— O calor é, commummente, empregado desde os banhos geraes, na temperatura supportavel pelo cor- po, até á diathermia, maxime nas crises dos phenomenos in- flammatorios incipientes. E’ fóra de duvida que elle constitue optimo meio thera- peutico para a cura da gonorrhéa, pois além de ter proprieda- des bactericidas contra o germen, é um sedativo poderoso para as manifestações dolorosas da doença. Os curativos vaginaes consistem em irrigações antisépticas quentes, seguidas de applicações de tampões medicamentosos. Como antisépticos, são empregados, de preferencia, o per- manganato de potássio em solução a 111000 e a 2)1000 e o sublimado corrosivo a 1)1000, umas vezes isoladamente, outras associados um ao outro. O permanganato, indiscutivelmente, exerce acção efficaz contra a pullulação do germen, agindo o sublimado sobre os micro-organismos da flora vaginal, sus- ceptíveis de nocividade pela influencia da infecção gonococcica. Elevou-se consideravelmente alto o total dos curativos gy- necologicos, no Hospital, para o tratamento das doenças ve- nereas nas suas diversas manifestações clinicas. O quadro estatístico dos tratamentos (doc. n.° 7), evid:n- cia a nossa asserção: Lavagens vaginaes 13.772 Média mensal .. 1.252 Média diaria 41 Curativos e cauterizações ... 8.573 Média mensal 779 Média diaria 26 Lavagens da urethra 1.755 Média mensal 292 Média diaria 9 Lavagem da bexiga 1.353 Média mensal 225 Média diaria Cancro venereo simples e escabiose.— Os cancros venereos simples não foram observados com a frequência dos de natu- reza luética. Somente dois casos de phagedenismo se contam na nossa estatística e ambos sararam com o tratamento empregado. Na classe das dermatoses, entretanto, foi de notar a fre- quência das lesões determinadas pelo “Sarcoptes scabiei”. O hospital está convenientemente apparelhado para o tra- tamento da escabiose, já quanto ao tratamento local, já quanto á desinfecção das vestes pelas estufas do serviço. Foram applicados 563 banhos sulfurosos (doc. n.° 7), tendo sido de 152 o total dos casos de dermatoses (doc. n.° 4). Sala do Banco. O Hospital mantêm um consultorio para clinica externa, principalmente a gynecologica. Foi este o seu movimento geral (doc. n.° 8); Consultas 157 Curativos gynecologicos 1.081 Pequenas operações 5 Curativos em diversas regiões do corpo 368 Injecções de saes mercuriaes 126 Injecção de vaccina antigonococcica ... 22 Injecções de saes de quinino 61 Ooe. n. a INSTITUTO DE PROPHYLAXIA DAS DOENÇAS VENEREAS MOVIMENTO DO CONSULTORIO DA PORTA E PHARMACIA Hospital S. Sebastião De Agosto de 1921 a Junho de 1922 SALA DO BANCO Agt. Set. Cut. Ngv. Dez. Jan. Fev. Mar. Abril Maio Jun. TOTAL Consultas _ _ 30 17 . 9 28 57 16 157 Curativos gvnecologicos 90 90 217360 324 — 1081 Pequenas operações Curativos em diversas regiões — — — — — — 4 — 1 — 5 do corpo — 23 — — — 66 46 62 30 141 — 368 Injecções de saes mercuriaes .. Injecções de vaccinas antigono- — — 20 9 12 6 42 12 25 126 coccicas — 2 3 — — — — 9 8 — — 22 injeccões de quinino ~ “ 53 4 4 61 Receitas _ _ _ 6 14 9 28 57 16 130 Formulas — — — - 8 14 14 34 80 21 171 Pharmacia.— A pharmacia attendeu com regularidade c promptidão ao receituário, não só da clinica interna, como da externa, do Hospital, sendo o seguinte o seu movimento geral (doc. ns. 7 e 8); Clinica interna 821 receitas sob 1.001 formulas Clinica externa (da Porta) 130 receitas sob 171 formulas Hospital São Rocque 44 receitas sob 106 formulas Total, 995 receitas, sob 1.278 formulas. Resultados práticos.—Como acabamos de expôr, não po- dem ser mais lisongeiros os resultados práticos obtidos no ser- viço hospitalar a nosso cargo. Facil é observar, atravéz dos quadros estatisticos que acompanham o presente trabalho, a somma de esforços dedicadamente empenhados, compensados felizmente pela efficiencia do resultado conseguido. 0 numero de internados no Hospital, no periodo de 11 mezes, é representado por 286; o numero de venereos que ti- veram alta curados, por 223. Passaram para o mez de Julho 57 e falleceram 6. O coefficiente de internados que obtiveram alta curados éde 78 o]°, eo da mortalidade 2 ojo. Se, porém, considerarmos que dois obitos foram motivados por tuberculose pulmonar, o coefficiente de 2 °(° ainda decresce para 1,4 °j°. E’ de conveniência aqui declarar que somente após se ve- rificarem negativas as pesquizas de gonococcus, no Laboratorio Central, e completamente cicatrizadas as lesões contagiantes da lues, é que se deram as altas referidas. Cumpre-nos, ainda, pôr em relêvo, que as internadas, ao se recolherem ao Hospital, geralmente abatidas, cacbeticas, en- velhecidas pelas doenças e suas complicações, dentro de pouco tempo começam a modificar-se e a restaurar as forças perdi- das nos desvarios orgiacos do vicio; e tal não somente como resultante do tratamento racional e methodico, como egual- mente cm virtude da boa alimentação que o Serviço prodigali- za, e mais do obrigatorio repouso genesico que a hospitalização lhes impõe. E, como demonstração desta affirmativa, apresentamos no quadro estatistico de pêso (does. ns. 11 e 12), o seguinte balan- ço de médias: As doentes com alta, curadas, no mez de Maio, em numero de 25, quando entraram, constituíam um peso total de 1,208 kilos; pois, ao deixarem o Hospital, apresentavam a somma de 1.303 kilos, isto é, uma differença, para mais, de 95 kilos, o que dá a média de 3 kilos e 20 grs. de aproveitamento para cada doente. E no mez seguinte, de Junho, essa média foi ainda maior, isto é, de 3 kilos e 423 grs. Muito contribuirám para completo exito no tratamento das doentes que obtiveram altas, as operações, em geral gynecolo- gicas, a que as mesmas se tiveram de submetter, já no proprio Hospital, já no serviço de gynecologia do Hospital de Caridade. O documento n.° 13 demonstra com amplitude o movi- mento estatistico dessas intervenções cirúrgicas. Assim, pois, nasceu e vae evoluindo sob os melhores au- gúrios a assistência que no Hospital São Sebastião se está prodi- galizando ás victimas mais accessiveis do terrivel flagello, essas infelizes creaturas arremessadas pelo destino cruel ao holo- causto do meretrício por onde, no Pará, se iniciaram os múlti- plos serviços do magno problema sanitario mundial: A Pro- phylaxia das Doenças Venereas. Os resultados práticos até agora obtidos, são disso prova inconcussa. Os coefficientes de cura são lentos, é verdade, mas seguros NOTA—Documento n. 13 no fim do capitulo. Doc. n. 9 ALTAS CURADAS De Agosto de 1921 a Junho de 1922 HOSPITAL S. SEBASTIÃO Total das entradas .... *gi. Sei. Oilt. dor. Dez. Jan. Fe?. Mar. Abri! Maio Jun. Total 19 29 20 34 34 27 15 51 12 27 18 286 Total das altas .... 13 31 10 33 23 11 31 16 28 27 223 Coheflcienle de altas curadas 77.97 % Doc. n. 10 De Agosto de 1921 a Junho de 1922 MORTALIDADE *0i. Set. Oul. No». Dez. Jan. Fe». Mar. Abril Maio Jun. Total HOSPITAL S SEBASTIÃO Total das entradas 19 29 20 34 34 27 15 51 12 27 18 286 Total dos obitos 1 1 1 1 2 6 Coheíiciente de obitos 2,09% e radicaes e, assim, a sua progressiva efficiencia se evidenciará cada vez mais alta na objectivação maxima do ideal hygienico adoptado, isto é,o beneficiamento da saude do individuo, base da segurança dos interesses sanitários da collectividade e da ordem social. Para felicidade do paiz, ahi está a classe medica brasileira a se impôr como guarda avançada da grande campanha sanitaria, numa bôa vontade que se não imita e numa inexce- divel confiança que lhe caracteriza a patriótica attitude. Preciso é que os poderes públicos constituidos cumpram o seu dever, proseguindo na execução desse alto problema do saneamento do paiz, o qual, por si só, é sufficiente para levar á benemerencia e á glorificação o nome do presidente Epitacio Pessoa. Clement Simon, na explendida obra que dedicou aos seus filhos quando aos 16 annos, escreve, com acerto e civismo: --- “Bonne volonté et confiance se trouvent facilment dnns le monde médicale. Les crédits sont malheureusement difficiles á arracher aux pouvoirs publics. Le pai/s est, cépendant inléressé à la dispa- rition de la syphilis qui est, nons I’avons démontré, une maladie 7\on seulement individuelle, mais familiále et sociale. ( “La Sy- philis”, 1922, pag. 228). Abençoados serão, “ad futurum”, esses paladinos da yer- fdadeira campanha de saneamento do nosso Brasil, caminheiros (intrépidos que são da estrada aberta e illuminada pelo genio extraordinário de Oswaldo Cruz, o sabio-heroe, o patriota ardente, que - “plantou em vida e colheu na gloria ”. Benemeritos os governos que lhes dão mão forte, para a effectivação segura do mais nobre dos problemas sociaes: a garantia da saude, o aperfeiçoamento da raça, o progresso da Nação. Entre esses cruzados, que seguem as pégadas de Oswaldo Cruz, em busca da Palestina Santa, em que ha de transformar-se o Brasil saneado, coadjuvando na construcção da obra gran- diosa a que presidem Carlos Chagas, Belisario Penna, Eduardo Rabello, ao terminar este trabalho, não podemos deixar de pôr em relêvo o nome de Souza Araújo, que, incontestavelmente, não tem poupado os maiores esforços e a maxima dedicação, para que os beneficios da missão que lhe foi confiada floresçam e fructifiquem sob as bênçãos da nossa população agradecida. E nem se veja, nessas palavras, senão a leal expressão da verdade, que nós todos, seus collaboradores, devemos pro- clamar. Doc. n. II Hospital S. Sebasitão Çuadro estatístico de peso nas entradas e sahidas dos enfermos (altas em Maio de 1922) Números Maírieula | NOMES Peso de enír. Peso de sah. Diflereuta K1L0S KILOS KILOS 1 2187 M. V. S... 40 42 2 2 1138 F. N. C 54 60, 500 6,500 3 7134 R. S. M 49 52 3 2 4 7259 M. 0. M 58 60 5 6348 1. S. 37,500 45 45 7,500 3 6 1316 M. A. G 48 l 2074 M. S. A 36 40 4 8 1076 E. M. S 50 53 3 9 1950 H. A 40 43,500 3 500 10 . 672 E. R- 0 41 44,500 57 3,500 4 11 1315 M. F. C 53 12 1794 M. 1. C 39 43 4 13 1240 0. B. F 50 55 5 14 856 F. F. C 59 61 2 15 5043 T. F. S 57,500 60 2,500 2 16 4461 M. F. S 66’ 68 17 2007 R. S 52 57 5 18 6601 R. A. 0 40,500 48 42 1,500 »■» 19 2173 M. J. L 51 20 4452 M. J. C 34 38 4 21 2386 R. F. P 57 63 6 22 2590 O. S. M 50 59 9 23 2384 F. 0. C 55 59 4 24 2292 B. F 38,500 58 41 2.500 2.500 25 642 A. G 62,500 1.208 1.303 95 TOTAL em 25 internadas 1.303 ks. Differeilça para mais 95 ks. Media—3 ks. 20 gr. Doc. n. 12 Hospital S. Sebastião Quadro estatistieo de pêso nas entradas e sahidas dos cnfetmos Números Matricula NOMES Peso de entr. 1 KILOS Peso de sata. KILOS Diflerença ; KILOS 1 6227 J. F. N 49 53 4 2 1469 M. J. L 50 55 5 3 3525 A. B. S 48 52 4 4 6118 M. L. C 40 42 2 5 3307 D. w 44 50 6 6 3024 C. R. F 44, 500 50 5, 500 7 3623 A. F. A 48 50 2 8 2383 O. 0 57 60 3 9 1462 E. S. B 37 43 6 10 284 E. A. S 51, 500 54 2, 500 11 4946 T. M. 0 50 52 2 12 7625 M. R. G 55 59 4 13 1251 M. D 58 58 — 14 1571 M. F. S 44 46 2 15 1150 M. N M 40,500 46 5, 500 16 1633 F. M. C 50 53 3 17 4379 M. N. C B 37 37 — 18 644 E. S. M 51 4 19 877 S. C 41 41 20 3953 F. A 44 46 2 21 4176 E. M. C 46,500 52 5,500 22 3714 A. A. S 40 42 2 23 ‘ 863 M. C. C 48 52 4 24 1265 L. C 62 65 3 25 4069 L. A. B 46 51 5 26 4520 R. M. M 45 52 •y i j 1-227 1.310 89 (altas em Junho de 1922) TOTAL em 2(5 doentes 131(5 ks. Differença para mais 89 ks. Média 3 ks. 423 gr. Doc. n. 4 INSTITUTO DE PROPHYLAXIA DAS DOENÇAS VENEREAS Hospital S. Sebastião DIAGNÓSTICOS Agosto CO O Z Q Janeiro o o- 55 < ’«3 2= Junho fifíeeções da vulva: Vulvile gonococcica 7 7 6 7 13 6 5 26 32 30 26 165 Ulcera da vulva 4 12 6 15 7 18 15 25 15 16 20 155 Cancroide da vulva 2 3 3 3 1 5 6 7 6 8 11 55 Bartholinite 1 1 2 4 3 3 3 4 5 26 Edema dos grandes e peque- nos lábios 4 4 2 2 4 3 3 5 3 5 35 Vegetações da vulva 1 1 2 3 3 6 3 4 23 Hypertrophia dos grandes la- bios 1 1 2 6 2 2 4 2 4 24 Vegetações da vulva, grandes e pequenos lábios 1 1 1 1 4 3 7 5 3 4 30 Hypertrophia dos pequenos la- bios 1 1 1 3 1 3 2 3 15 Edema da vulva 1 2 1 2 2 3 4 11 5 3 34 Bartholinite suppurada 2 1 1 2 4 3 2 2 3 20 Abcesso da furcula 1 2 3 Abcesso da vulva 1 1 3 5 Tnmôr do grande labio (papi- loma) 1 l Cancroide do grande labio... 1 1 Fistula da glandula de Barlho- lin 2 2 Míecções da vagina e do eólio do utero; Ulcera da vagina 9 11 4 9 15 20 24 34 32 38 40 200 Ulceração e ulcera do eólio... 9 7 6 15 9 20 21 31 23 19 26 186 Cervicite 1 4 5 8 5 10 14 20 22 18 25 132 Vaginite gonococcica 6 7 5 6 11 7 8 30 31 29 19 159 Cancroide da vagina 1 2 2 3 1 4 5 3 4 5 30 Vegetação da vagina 1 3 4 8 Vulvo-vaginile de natureza di- versa 1 1 2 10 12 8 5 4 4 47 Atrezia do eólio 1 1 3 2 1 2 10 Vegetação do eólio do utero (labio inferior) 1 2 1 1 2 7 Câncer do eólio 1 1 1 3 Papiloma da vagina 2 1 3 Afíesções do eorpo do utero; Mefrite do corpo do utero.... 1 4 3 6 8 8 12 25 17 22 19 125 Metrite gonococcica 1 2 2 5 6 6 13 20 16 20 16 107 Metrite hemorrhagica 1 1 2 4 4 5 6 7 4 34 Vicio de posição do utero.... 2 3 2 3 2 4 3 8 7 5 4 43 Polypo uterino 1 1 1 1 1 5 Éfíecções perinterinas: Salpingite 1 1 1 2 3 3 4 5 7 6 38 Salpingo-ovarite 1 1 4 2 4 3 5 5 25 Paramelnte especifica 1 1 2 7 2 5 3 3 2 26 Metro-salpingo-ovarite 1 4 8 4 5 4 26 Kisto do ovário 1 1 • * (Continuação) DIAGNÓSTICOS o •<* CO => O o 2 Q Janeiro o o* c. ca S 5 o *co Junho CCS FisíJlas raglnaes; Fistula recto-vaginal Fistula perineo-vaginal.. Fistula ano-perineal Fistula perineal 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 2 1 1 2 1 1 i 1 2 3 2 2 3 1 1 16 9 9 1 Fistula recto-perineal 1 1 2 3 2 2 11 íííecções do recto, anus e perineo: Fissuras do anus 2 3 3 4 4 6 7 10 11 9 8 61 Condylomas do anus e perineo Estreitamento do recto 2 3 2 3 3 6 2 5 5 1 7 1 9 1 7 1 52 6 Ma mi lios hemorrhoidarios Ulcera do recto i 1 1 2 1 3 5 5 3 5 3 5 4 4 4 4 2 29 24 Pnptura do perineo 1 2 2 2 1 3 8 4 3 5 26 Uleera do perineo 1 3 2 2 3 4 3 3 3 4 5 33 Uleera do anus 1 2 1 1 5 3 5 4 22 1 1 2 4 4 3 6 21 Vegetarão do perineo 2 3 4 4 3 2 18 Papiloma do perineo 1 1 1 3 Cancroide do anus e perineo Alteeções do appãrelbo urinário; 1 1 2 5 3 1 13 Urethrite gonococcica 4 6 4 4 5 6 13 15 10 12 10 89 Ulceras do meato urinário... Cyslile gonococcica 1 1 1 1 1 2 1 2 4 6 5 3 8 3 4 3 5 2 4 3 34 26 1 1 2 2 1 1 8 1 1 2 2 4 5 4 3 22 1 1 2 Urethrite especifica 2 3 2 3 3 6 9 5 9 7 49 1 1 1 1 4 Vegetações do meato urinário Vegetação de parede anterior 1 1 2 2 1 1 4 1 3 1 3 2 5 1 20 8 1 1 1 2 3 2 10 Papiloma do meato urinário.. 1 1 1 3 Afíeeções afíasíadas do apparellio genital; Ulceras dos membros inferiores Adenite inguinal suppurada.. Adenite inguinal 3 1 1 4 i 3 1 1 8 2 2 4 1 2 13 4 18 10 3 8 11 3 5 12 4 3 11 3 3 13 3 3 92 25 47 Abcesso em diversas regiões, do corpo i 2 2 1 2 4 5 3 4 6 4 34 Fistula da região gluttea Dermatoses diversas 3 4 1 6 1 6 1 5 1 5 ’ 1 10 1 30 1 28 1 26 1 29 9 152 1 1 1 1 1 5 Ulceras em diversas regiões do corpo 4 3 3 4 4 7 8 10 8 51 Arthrite localisada “ 1 1 2 2 3 3 3 4 3 2 16 8 2 2 Pachydermia do membro in- 2 2 2 6 Fistula da parede abdominal 1 1 1 1 1 3 2 Polynevrile de natureza mixta Adenite axillar suppurada .. - 2 2 1 5 1 1 2 2 6 Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas MESES AN ESTHESIA SOM MA Operações gyneeologieas e de Cirurgia Geral Janeiro Fevereiro O D* L. *8 Abril o n 2 Junho Narcose Chloro- formica Rachianesihesia Anesthesia local pela Cocama Anesthesia local pela Stovaina Anesthesia local pela Novocaina í Anesthesia local pelo Chlorethyla Sem anesthesia <0 ■0*8. 03 cd <- *- 0) o a i- O Total das Anesthesias Salpingectomia unilateral,por salpingile suppurada 1 1 1 1 Resecção total dos grandes e pequenos lábios, por volumoso tumor; hypertrophia especifica generalizada 1 1 1 1 Resecção total do grande labio, por hypertrophia especifica. Resecção parcial do grande labio, por hypertrophia especifica Ablação a lhermocauterio de vegetações generalizadas da vulva, grandes e pequenos lábios e perineo 1 1 1 1 1 2 4 1 2 2 1 1 4 3 1 1 1 2 10 2 10 Ablação a lhermocauterio de vegetações generalizadas da vagina 2 1 1 2 2 Ablação a lhermocauterio de vegetações da vulva i 1 1 1 2 1 1 4 4 Ablação a lhermocauterio de vegetações á margem do anus.. Ablação a lhermocauterio de vegetações especificas do meato urinário 1 2 1 1 1 2 1 .... 4 1 4 1 Ablação e thermocauterização de vegetações do labio interi- or do collo uterino . 1 1 1 1 Ablação de vegetações especificas da vagina, disseminadas em pelotões pelas paredes lateraes, posterior, fundo do sacco de Douglas e collo do utero, de difficil pegada ao cirurgi- ão, praticada com auxilio da alça galvanocaustica, curetta- gem seguida de thermocauterização . 1 1 1 1 Cura radical, por excizão, de fistula recto-vaginal 1 i 2 2 2 Cura radical, pelo processo do avivamento do trajecto, de fistula recto-vaginal 1 1 1 1 OPERAÇÕES PRATICADAS NO HOSPITAL DE SÀO SEBASTIÃO No periodo de Janeiro a Junho de 1922. (6 meses) Doc. n. 13 295 Cura radical, por excizão, de fistula perineo-vaginal 1 1 1 1 3 .... 1 II .... 3 3 Cura radical, por excizão de fistula ano-peranial 1 1 2 9 2 Cura radical, por excizão, de fistula da nadega. i 1 • 1 . 1 Desbridarnento e raspagem de fistula profunda da parede abdominal . 1 1 1 Resecção de mamillos hemorrhoidarios externos 1 1 1 9 2 Incizão e drenagem de bartholinite suppurada 3 1 1 2 2 2 5 6 Ablação total da glandula de Bartholin, por volumoso kysto seroso 1 1 1 1 Raspagem e galvanocauterização de tumor erectil e ulcerado. especifico, da parede anterior da urethra 1 1 9 2 2 Incizão e drenagem de adenite axillar suppurada, com abla- ção de ganglios degenerados 1 2 2 1 Q Q Incizão e drenagem de adenite inguinal suppurada, com ablação de ganglios degenerados 1 2 1 1 1 3 Q Q Incizão e drenagem de adenite inguinal suppurada 5 2 1 3 ~r Q Desbridarnento a thermocauterio, raspagem e thermocaute- rização de anthrax da região lombar 1 1 1 t Abertura e drenagem dé flegmão da axilla 1 1 i 1 2 Incizão e drenagem de abcesso superficial da mamma 1 1 1 i 2 2 Incizão e drenagem de abcesso subaponevrotico da mamma 1 1 i 1 2 Thermocauterizacão de fissuras anacs 1 1 2 1 1 2 2 5 5 Incizão e drenagem de abcesso da coxa 1 1 1 1 1 i 3 3 Incisão e drenagem de abcesso do joelho 1 1 1 1 Incizão e drenagem de abcesso da nadega... 1 1 ”1 1 2 Raspagem e thermocauterizaçào de ulcera da vagina. 1 2 1 1 3 1 T K Raspagem e thermocauterizaçào de ulcera extensa da va- gina, rebelde ao tratamento 1 2 3 9 Raspagem e thermocauterizaçào de ulceras especificas da vagina e do collo, rebeldes ao tratamento 1 1 1 i o 2 Abertura de pequenos abcessos 1 2 4 1 2 1 ~T 2 6 * 10 10 Desbridarnento e larga drenagem de flegmão da mão 1 1 l 1 Abertura e drenagem de abcesso do couro cabelludo 1 1 1 1 Incizão de panarício 1 1 1 1 SOMMA 12 13 20 1 23 21 11 4 19 35 14 9 17 6 100 104 CAPITULO V NOSSAS ESTATÍSTICAS DE DOENÇAS VENEftEAS PELO Dr. HILÁRIO GURJÃO Sub-Inspector Sanitario e Director do Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas 1— DA SYPHILIS 2 DA GONORRHÉA 3 DO CANCRO MOLLE CONSIDERAÇÕES GERAES—Nas nossas estatísticas não estão incluídas as meretrizes que fazem parte de um capi- tulo especial. Os números destas estatísticas não combinam com os totaes dos exames apresentados na «Estatistica das Doen- ças », porque lá apenas damos os resultados positivos e, quando notamos differença em certos números, como acon- tece algumas vezes neste trabalho, o motivo dessa desigual- dade é o de muitas pessoas desejarem apenas saber o re- sultado do exame e terem feito tratamento fora do Servi- ço. Somente consideramos para as nossas estatísticas os casos dos doentes que fizeram ficha e se acham registrados no nosso archivo. No numero 808 de exames positivos de gonococcus em mulheres, temos 9 senhoras infectadas, os 799 resultados res- tantes pertencem ás meretrizes que foram contadas pelo nu- mero de infecções gonococcicas de que foram accommetti- das durante o anno. I—DA SYPHIUS Registrámos no nosso Serviço, no período de um anno de funccionamento, 792 casos de syphilis assim distribuídos; Homens. 556 Senhoras. 223 Crianças •... 13 Dividiremos em capítulos a nossa estatística para faci- litar a comprehensão. CAPITULO 1.0 7 casos em homens ou 63,63 % 2 casos em senhoras ou 18,18 % 2 casos em crianças ou 18,18 °/o Accidente inicial com manifestação 11 casos ou 1,40% e RW. positiva CAPITULO 2.0 Periodo de generali- zação ; 548 casos ou 66,40 % jcom manifestação ) e RW. positiva 404 casos em homens; ou 73,74 % 144 casos em senho- ras ou 27 % CAPITULO 3.° Homens Senhoras Período de generali- zação com localiza- ção especial. 82 casos ou 10,35% / arterial... 2 casos ou 2,43% 1 nervosa... 6 - » » 7,31% 1 caso ou 1,21% \ nasal 6 » » 7,31% J occular. .. 27 » » 32,92 % 2 casos ou 2,42 % \ auditiva.. 13 » » 15,85% 1 caso » 1,21% J pharyngéa 3 » » 3,65 % 1 » » 1,21% I ossea 3 » » 3,65% 15 casos » 18,29 % \ pulmonar. 2 » » 2,43% ÇAPITULO 4.0 com manifestação e RW. positiva 47 casos em homens ou 52.80 % 37 casos em senho- ras ou 41,57% 3 casos em homens ou 3,37% 2 casos em senho- ras ou 2,24 % Syphilis ignorada 89 casos ou 11,23 % sem manifestação e‘ RW. positiva CAPITULO 5.° Heredo-syphilis 27 casos ou 3,40 % 2 casos em homens ou 7,40 % 14 casos em senho- ras ou 51,85% 11 casos em crianças ou 40,74 % com manifestação ÇAPITULO (xo Diagnostico da syphilis com RW. negativa. 22 casos ou 2,77 % 21 casos em homens ou 95,45 °/o 1 caso em senhora ou 4,54 % RW, no liquor 2 casos ou 0,25 % CAPITULO 7.0 2 casos em homens ou 100% CAPITULO 8.0 8 casos em homens ou 72,72 70 Casos de syphilis sem RW. 11 casos ou 1,40 % 3 casos em senhoras OU 27,27 7o CAPITULO 9.0 Antes do tratamento 781 ou 98,61 % Positivos homens 548 casos ou 70,16 ° o senhoras 220 casos ou 28,16 0 o crianças 13 casos ou 1,66 % RW Depois do tratamento Positivos j 13 casos ou 1,61 % Negativos 33 casos ou 4,6 % I Positivos homens 7 casos ou .54,85 % senhoras 5 casos ou 38,46 °/o crianças 1 caso ou 7,69 % Negativos homens 19 casos ou 57,57 % senhoras 14 casos ou 42,42 % Admitte-se ainda que certos factores etiologicos pos- sam modificar a evolução das moléstias. A syphilis é, no consenso da maioria dos auctores, da- quellas em que melhor se aprecia a influencia dos climas e das raças responsáveis pelas tendências e localizações des- ta moléstia. Assim, Lacapére, entre outros, encontrou gran- des differenças syraptomaticas entre a syphilis dos europeus e a dos marroquinos. Nestes as lesões cutaneas e ósseas, de extrema severidade, predominam sobre as localizações vi- suaes e nervosas que são excepcionaes. Na Europa, pelo contrario, o treponema elege as ví- sceras e os centros nervosos e o terciarismo se caracteriza pela esclerose: myocardite esclerosa, atheroma arterial, ne- phrite intersticial, sarcocelio fibroso, glossite esclerosa, leu- coplasia, cellulite pelviana, mediastenite callosa, etc. As le- sões visceraes gommosas, destruetivas, são infinitamente mais raras. As próprias lesões nervosas assumem geralmente esta forma fibrosa; que são a tabes e a paralysia geral, senão uma esclerose syphilitica systematisada da medula ou do ce- rebro? Levaditi e Marie acenam cora uma explicação que põem em segundo plano o terreno; a localização da syphilis é funeção do germen, cujo tropismo decide da sua gravi- dade. Ha dois virus syphiliticos: um dermotropico e outro neu- rotropico, dissemelhantes ambos na duração da incubação, 300 no aspecto e na estructura histológica das lesões que pro- duz, na virulência e nas reacções de immunidade, o que tudo concorre para convencer que o treponema da paralysia ge- ral deve ser considerado como uma variedade differente do treponema da syphilis cutanea, mucosa e visceral. Com estes factos talvez se relacionem as modalidades clinicas que observamos no nosso Serviço onde, apezar da frequência vultuosa, escassos foram os casos de manifesta- ções visceraes e mucosas graves que tivemos de tratar. Outro ponto que convem assignalar, de passagem, é a importância prophylactica do sôro-diagnostico, nos dispensá- rios anti-syphiliticos. E’ um excellente meio para descobrir a syphilis ignorada, como se vê da nossa estatística. No decurso do periodo secundário, em doentes apre- sentando accidentes em evolução, a reacção de Wassermann foi positiva em todos os casos. Mesmo no decurso das ma- nifestações terciarias a porcentagem da reacção negativa foi pouco elevada, vinte e dois casos em 792 ou sejam 2,77 °/0 apenas. São taes, aliás, as differenças clinicas entre a sy- philis secundaria e terciaria que não se extranha encontral- as também no sôro, e muito apreciáveis nestes dois periodos da moléstia. 2 —DA GONORRHÉA- Temos registrado no Serviço 397 casos assim distri- buídos : Homens 387 Senhoras 9 Crianças. . 1 CAPITULO I Classificação dos casos Homens Senhoras Crianças aguda 92 casos ou 23,77 % 1 caso sub-aguda 81 » » 20,93 % chronica 214 » » 55,29 °/o 9 casos ou 100 0/o CAPITULO II Da!a do inicio da infecção Homens 2 dias 3 casos ou 0,77 % 3 » 13 » » 3,33 °/o 4 » 8 » » 2,06 °/o 5 » 19 » » 4,91 ° o 6 » 13 « » 3,33<>/o 7 » 2 » » 0,51 °/o 8 » 33 » » 8,52 o'o 9 » 2 » )> 0,51 o/o 10 » 12 » » 3,10 o/o U » 1 » » 0,25 0 o Homens 12 dias 5 casos ou 1,29° o 13 » 6 » » 1,54 °/o 14 » 2 » » 0,51 o/o 15 » 31 » » 8,01 % 16 » 1 » » 0,25 °/o 17 » 1 » » 0,25°/ o 1,8 » 3 » » 0,77 °/o 19 » 1 » » 0,25% 20 » 12 » » 3,10% 21 » 4 » » . 1,03% 24 dias 1 caso » 0,25 % 25 » 1 » » 0,25 °/0 1 mez 47 casos» 12,14 °/0 2 mezes 34 » » 8,78 % 3 » 24 » « 6,22 °/0 4 » Í5 » » 3,87 0 o 0 » 12 » » 3,10% 6 » 17 » » 4,38 °/o 7. » 1 » » 0,25 o/o 8 » 1 )> » 0,250 o 9 » 2 » » 0,51% 10 » 4 » » 1,03% 1 anno 16 » » 4,13 % 2 annos 13 » » 3,33 °/0 3 » 4 » » 1,03 % 4 » 5 » » 1,29 °/0 5 » 3 » » 0,77 °/o 6 » 1 » » 0,25 °, o 7 » 1 » » 1,03°/ o 8 » 1 » » 0,25 °/o 10 » 1 » » 0,25 °/o 24 » 1 » » 0,25 °/0 ignoram 7 » » 1,80 % Senhoras 1 mez 1 caso » 11,11 % 6 mezes 1 » » 11,11 „ 1 armo 1 » » 11,11 „ 2 annos 1 » » 11,11 „ » 1 » » 11,11 „ 12 ). 1 » » 11,11 „ 30 » 1 » » 11,11 „ ignoram 2 » •» 22,22 „ Crianças 5 dias 1 caso CAPITULO 111 Pesquisa do yermen Homens Positivos 328 casos ou 84,76 °/0 Senhoras Crianças Positivos 9 casos ou 100 °/0 1 caso ou 100 °/0 CAPITULO IV Numero de infecções Homens 1. a infecção. 187 casos ou 49,32 OJo 2. a » 99 » » 25,58 „ 3. a í> 50 » » 12,92 „ 4. a » 16 » » 4,13 „ 5. a » 7 » » 1,80 „ 6. a » 1 »■ » 0,25 „ 7. a » 2 » » 0,51 „ ignoram- 26 » » 6,17 „ Senhoras l.a infecção 8 casos ou 88,88 ° 0 ignora 1 » » 11,11 „ Crianças l.a infecção -1 caso 302 CAPITULO V Homens Período de incubação Senhoras 2 dias 43 casos ou 11,11% 3 dias 1 caso ou 11,11% 3 » 178 » » 45,96,, 5 » 1 » » 11,11 „ 4 » 51 » » 13,17 „ ignoram 7 casos » 77,77 „ 5 » 34 » » 8,78 „ 6 » 24 » » 6,22 „ Crianças 7 » 7 » » 1,80,, 3 dias 1 caso ignoram 50 » » 12,92 „ CAPITULO VI Fonte de infecção Homens —Coito com meretriz 387 casos ou 100% Senhoras— » marital 9 » » 100 % Crianças Contaminação em objecto de uso 1 caso CAPITULO VII Localisaçno da infecção Homens Senhoras Urethra 387 casos ou 100°/0 Vagina 7 casos ou 77,77 °/o Creanças Urethra 2 » » 22,22 °/0 Vagina 1 caso CAPITULO VIII Homens Complicações Arthrite 5 casos ou 1,29 °/0 Adenite 15 » » 3,87 „ Epidydimite 7 » » 1,88 „ Cystite 36 > » 9'J) „ Orchite 20 » » 5,14 „ Prostatite 27 » » 6,97 „ Funiculite .. . 9 » » 2,32 „ Utero e annexos 6 casos ou 64,44 °/0 Arthrite 1 » » 11,11 „ Utero 1 » » 11,11 „ Senhoras CAPITULO IX Duração do tratamento 1 mez 28 casos ou 7,23 °/0 2 mezes 57 » 14,73 „ Homens 3 mezes 21 casos ou 5.42 4 » 11 » 2*84 °/o 5 » 6 » 1,54 o/o 6 » • 8 » 2,0(3 o/o 7 » 3 » 0,77 «/o 8 » 8 >» 2,06 o/o 9 » 10 >» 2,58 % 11 » 3 » ■ 0,77 °/0 232 doentes de gonorrhéa fizeram tratamento irregular- mente, não entrando por isso na porcentagem dos curados. Senhoras 1 mez 1 caso ou 11,11 °/o 2 mezes 1 » ■» 11,11 o/o 3 » 1 » » 11,11 «/o 4 » 2 casos » 22,22 % 4 fizeram tratamento irregular. Esta doentinha fez tratamento fora do Serviço Criança A gonorrhéa ainda é hoje uma das doenças venereas que maiores males causam á humanidade. O gonococcus de Neisser seu agente causar, depois de penetrar no organis- mo, pode produzir graves perturbações, chegando mesmo em alguns casos até á morte. O extermínio completo desse germen, após ter infecta- do o individuo, é difficil, requerendo um tratamento muito longo, na maioria das vezes. Dos perigos e prejuízos desse ma! venereo para os in- fectados, a nossa estatística acima publicada, mostra com os seus números, a gravidade dos factos. Na classificação dos casos, chama-nos logo a attenção a maior porcentagem das gortorrhéas chronicas. Sabemos ser justamente nesse periodo que o gonococcus, depois de ter permanecido algum tempo na urethra, produz anatòmi- camente lesões múltiplas, epitheliaes e glandulares, com ten déncia ao estreitamento do canal. E’ ahi nessas localizações, onde o medicamento pouco age, e o profissional lucta desi- gualmente para debellar com brevidade a invasão do ger- men, sempre ameaçador de novos surtos, com maiores pro- babilidades de resistir ao tratamento pelo enfraquecimento do organismo e pela collocação de defesa do gonococcus. Alem desses inconvenientes, existem também as con- sequências tardias das infecções chronicas, que veremos mais longe. Em regra geral, é o proprio doente o responsável pela longa duração do seu mal. 304 Attentamos agora para o inicio da infecção e os nos- sos números mostram 55,29 ° „ de gonorrhoicos, procurando o Serviço com mais de um mez de doença, tendo dado bas- tante tempo ao gonococcus de se localizar, e produzir le- sões sérias e difficultar o tratamento. Infelizmente, o desconhecimento quasi completo das no- ções de Hygiene, ainda descuradas em absoluto na educa- ção da mocidade, colloca-a em condições de não saber se defender contra os males venereos e procurar tardia- mente o tratamento, com graves prejuízos para a sua saúde. Na nossa estatística, neste particular, encontramos para os homens infecções datando de um anno e mais. Esses ca- sos são de indivíduos, na maioria das vezes, portadores de fócos latentes, tornando-se activos em determinado momen- to, com todos os perigos de uma gonococcemia, muito a temer nessa situação Nas mulheres, também verificamos casos de muita du- ração, como 1, 2, 5, 19 e 30 annos, segundo as informações referidas pelas próprias enfermas. As causas dessas demo- radas infecções, na maioria em mulheres casadas, são va- rias. A inexperiencia de muitas esposas, desconhecedoras dos males venereos, leva-as a confundirem o corrimento gonor- rhoico com a leucorrhéa, deixando assim a infecção progre- dir, até que um dia, um symptoma alarmante desperta a sua attenção, obrigando-as a procurar o tratamento dessa do- ença desconhecida para ellas. Um dos outros motivos é o acanhamento que muitas senhoras têm de consultar o me- dico, para essa doença, que reputam vergonhosa. Nos casos mais antigos, o gonococcus já se tinha lo- calizado no utero ou annexos, explodindo novamente a en- fermidade em determinadas occasiões, como: fim de mens- truação, aborto ou parto, alem de outras causas. As informações imprecisas de alguns doentes, também podem induzir a erros na duração da infecção. Quanto á pesquiza do germen, a nossa estatistica apre- senta uma porcentagem de positivos, para os homens, de 84,76 °jo. A differença de 15,24% de negativos corre natural- mente por conta de algum defeito de technica, na colheita do material ou mesmo na preparação imperfeita da lamina a examinar. No periodo de incubação do germen, o nosso registro está de accôrdo com a opinião dos auctores, marcando uma média de tres dias e uma maxima de sete. O conhecimento preciso dessa incubação, orienta sem- pre um tratamento abortivo com a cura rapida da infecção. Consultando a fonte da infecção, a nossa estatistica in- forma, como foco de contaminação, para os homens as me- retrizes dando uma porcentagem de 100 %. Para as mulheres casadas, o coito marital, foi o res- ponsável do-seu mai. A maioria dos maridos, em regra geral, portadores da gotta-militar e talvez ignorando o periodo da sua contami- nação, vehiculam o germen que tantas vezes infelicita o lar. Na criança da nossa estatística, foi o descuido invo- luntário, talvez, de sua progenitora, fazendo commum uma bacia de uso, a causadora da infecção. Examinando a localização do germen verificamos, para os homens, ser a urethra o ponto de eleição em 100 °/o dos casos. Para as mulheres foi a vagina em sete casos e dois a urethra. Na criança a localização foi a vagina. Comprehende-se facilmente, sendo os orgãos genitaes o ponto de contacto sexual e existindo sempre num dos se- xos o germen, que a porta aberta á infecção seja a urethra ou vagina que reagindo contra a infecção produzem o cor- rimento gonococcico. Estas localizações naturaes, entre nós, são ainda um attestado de que as perversões sexuaes ainda não corrom- peram o nosso meio, como acontece frequentemente nas ca- pitães civilizadas. Commentando o capitulo das complicações, abordamos o assumpto mais serio da gonorrhéa. Nos homens, em primeiro logar apparece na nossa es- tatística a cystite, complicando a maioria dos casos, pertur- bação incommoda, trazendo na maioria das vezes uma ve- lhice de martyrios pela producção da incontinência da urina, em seguida vem a prostatite, de consequências muitas de- sastrosas, chegando até a impotência; depois encontramos a orchite, sendo causa de muitas zoospermias. A arthrite, com- plicação dolorosa e grave justifica innumeros casos de an- cylose, diagnosticada ás vezes tardiamente e inutilizando as- sim o paciente. Nas mulheres, maiores victimas das complicações go- nococcicas, os effeitos desastrosos dessa infecção, bastante vezes são funestos. Quantas estereis pelo gonococcus, quantas metrites e sal- pingo-ovarites, obrigando tantas vezes uma intervenção cirúr- gica gravíssima, terminando na maioria dos casos pela morte. Justamente encontramos nos nossos casos complicações de utero e annexos 64,44 °/0. Se a educação sexual fosse obrigatória, quantas infe- licidades não se evitariam. No tratamento a nossa estatística vera confirmar a lon- ga duração para o exterminio completo do germen. Vemos varias o periodo do tratamento de um a onze mezes. A porcentagem maior dos nossos casos é de dois me- zes para chegar-se á cura. Foram estes doentes portadores de gonorrhéa sub-aguda. Os tratados em um mez foram to- dos aquelles que procuraram o Serviço precocemente. Os portadores da infecção chronica fizeram um tratamento mui- to longo. Temos a lastimar o grande numero de gonorrheicos, que se trataram irregularmente, apezar dos nossos consei lhos, deixando assim o seu mal progredir e tornando-se por isso disseminadores do germen. Muito temos de esperar dos Serviços de Prophylaxia das Doenças Venereas, em tão bôa hora iniciados, e oxalá essa campanha persista, para termos dentro em algum tem- po coroada de exito, dando-nos uma raça forte para defeza e progresso da nossa cara Patria. 3—DO CANCRO VENEREO SIMPLES CAPITULO I Homens Senhoras Frequência dos casos Positivos: 9 casos ou 13% 1 caso ou 2õ% Negativos; 61 » » 81,33 „ 3 casos »75 „ Não foi colhido material em 11 casos ou 13,58 „ CAPITULO II Homens Duração da infecção 3 dias 1 caso ou 1,23% 6 » 4 casos » 4,93 „ 8 » 7 » » 8,64 ~ 9 » 1 caso » 1,23 „ 10 » 1 » » 1,23 „ 11 » 1 » » 1,23 „ 12 « 1 » » 1,23 „ 15 » 9 casos » 11,11 „ 18 » 3 » » 3,70 „ 21 » 7 » « 8,64 „ 25 » 7 » » 8,64 „ 1 mez 22 casos ou 27,16 % 2 mezes 10 » » 12,35 ~ 3 » 4 » » 4,93 „ ignoram 3 » » 3,70 „ Homens Senhoras Não foram feitas fichas des- sas doentes porque as mesmas não voltaram ao Serviço de- pois da primeira consulta. CAPITULO 111 Fonte de infecção Homens—Coito com meretriz. -. 81 casos ou 100 % CAPITULO IV Homens—no penis 81 casos ou 100 % Localização de infecção CAPITULO V Complicações Homens Adenites 51 casos ou 62,96 % Phymoses. . 2 » » 2,46 „ Balanites 4 » » 4,93 „ CAPITULO VI Associações Homens Gonorrhéa 13 casos ou 16% Syphilis 9 casos ou 11,11 % CAPITULO VII Tratamento Todos os doentes fizeram tratamento regular que cons- tou de cauterização e balnotherapia. O cancro venereo simples mais frequentemente cha- mado cancro molle, por lembrar um dos seus melhores si- gnaes para o diagnostico clinico, é também uma das doen- ças venereas bastante espalhadas, apparecendo algumas ve- zes sob a forma epidemica. O estreptobacillo de Ducrey produz em muitos casos le- sões graves pela invasão dos tecidos, podendo chegar até á amputação do penis quando o B. Ducrey fica abandonado a si mesmo ou outras vezes associando-se a outros germens augmenta a virulência de ambos, tornando mais perigosa a infecção por ser mixta. Na nossa estatística, a pesquiza do B. Ducrey, deu uma porcentagem pequena para os casos positivos, não obstante tratar-se clinicamente do cancro venereo simples. Julgamos ser a causa dessa porcentagem reduzida para os positivos, os defeitos de technica na colheita desse ma- terial. Actualmente estamos modificando o processo usado no Serviço para confirmar a nossa duvida. Commentando os nossos números, na parte referente á duração da infecção, verificámos apenas um caso de tres dias, si bem que os auctores são accórdes em que não haja periodo de incubação para o B. Ducrey, pelo menos expe- rimentalmente. Notamos na nossa estatística .a maior porcentagem na duração da infecção, para os casos de um mez. Acreditamos justificar essa demora, o terreno propicio dos portadores dessa aífecção, geralmente miseráveis orgâ- nicos, e falhos de qualquer cuidado hygienico. Os casos de dois e tres mezes observados no nosso Ser- viço, talvez imprecisos pela informação dos doentes, regis- tramol-os por estarem de accôrdo com os mestres como F. Balzer e Jorge Thibierge se bem que achem ser raros. A fonte da infecção, aqui, como em todas as doenças venereas, ainda é o meretrício, pois entre nós, é de 100 %, Este facto bem prova a urgente necessidade do isola- mento systematico dessas infelizes portadoras de lesões con- tagiantes. 308 Na localização da infecção no homem, entre nós, o pon- to de predilecção é o penis e os nossos números bem o de- monstram. Nas mulheres é a vagina e a vulva onde se en- contram o cancroide. A séde extra-genital é muito rara, segundo mesmo a opinião dos auctores. Thibierge rèfere um caso de cancro venereo simples localizado no couro cabelludo. As complicações deste mal venereo são bastante fre- quentes, e assim observamos 62,96 % de adenites, 4,93 % de balanites e 0,46 % de phymoses. Adenite inguinal, consecutiva ao cancroide não é pro- vocada pelo proprio estreptobacillo de Ducrey, si bem que já se o tenha isolado do pús da adenite e sim pelos germens, que se associando ao bacillo de Ducrey invadem os lymphati- cos e vão produzir a reacção glanglionar, terminando na maioria das vezes pela suppuração, facto importante na dif- ferenciação das outras adenites. Passando em revista as associações do B. Ducrey, en- contrámos no nosso registro 16 % de gonorrhéa e 11,11 °/o de syphilis complicando o cancroide. Podemos bem comprehender qual será a duração das infecções associadas e qual a gravidade dessa situação para o organismo. Quanto ao tratamento feito no Serviço, empregamos sempre o processo brando, geralmente aconselhado, ligeiras cauterizações e balnotherapia quente. O resultado obtido nos nossos doentes foi bastante ef- ficaz, curando-os geralmente entre vinte a trinta e cinco dias. INDÍCE Offieio de apresentação. PRIMEIRA PARTE A frequência e prophylaxia da Lepra no Estado do Porá, pelo Dr. H. (.'• de Souza A ranjo. CAPITULO I PAGINAS Historico da Lepra no Pará, de 1746 a 1921 5 1— Importação e disseminação 5 Fócos de lepra em Belém em 1838 8 2 Asylo do Tocunduba. Tentativas de prophylaxia 12 Informações sobre os lazaros enviadas à Assem- bléa Legislativa Provincial por Soares d’Andréa em 2 de Maio de 1838 10 Lei n. 10 de 12 de Maio de 1838 19 Nova tentativa de prophylaxia no Governo do Dr. Lauro Sodré, em 1917 28 Despeza da Leprosaria do Tocunduba 33 Descripçâo do Asylo de Tocunduba 35 Movimento da Leprosaria do Tocunduba 36 Plano do novo Leprosario 38 3 Tentativa de cura—O charlatanismo 41 Laudo da commissão que deu parecer sobre o pro- cesso de cura do cirurgião da armada Manoel Barbosa 44 O assacú e o assacurana 49 CAPITULO II Estatística dos leprosos recenseados.—Distribuição geogra- phica da lepra no Estado; seus principaes fócos em Belem.—Carta epidemiologica da Capital.... 58 1— Estatística dos leprosos do Asylo do Tocunduba... 58 Quadros estatísticos 00 a 73 2 Estatística dos leprosos matriculados no Instituto Therapeutico da Lepra 74 Quadros estatísticos 76 a 113 Estatística dos leprosos examinados no interior do Estado 115 a 121 Resumo geral da estatística 123 CAPITULO UI Pesquizas bacteriológicas e sôrologicas * 125 1— Pesquizas bacteriológicas 12.5 2 Pesquizas sôrologicas J2B Reacções de Wassermann 12s Reacções feitas no Instituto de Hygiene 133 A reacção de Eitner na Lepra 135. CAPITULO IV PAGINAS Estudo clinico ! 139 1— Edade da aequisição do mal 139 2 Do contagio 141 3 Primeiros symptomas 144 Conjuncto de symptomas encontrados nos leprosos, na occasião da confecção das fichas.. 145 Doenças intercorrentes 148 Fôrmas clinicas predominantes 148 4 Mortalidade, , 150 CAPITULO V Therapeutica e Prophylaxia da Lepra 1— Therapeutice.. 155 Methodo do Dr. Heiser 156 Methodo do Dr. Rogers 151 Methodo dos Drs. Hollraann e Dean 159 Tratamento modelo de 1920 160 Methodo Dr. Dean de 1922 161 2 Prophylaxia 168 Conclusões 167 SEGUNDA PARTE A PROPHYLAXIA DAS DOENÇAS VENEREAS NO ESTADO DO PARÁ CAPITULO l Organização dos serviços pelo Dr. H. C. de Souza Araújo 173 1— Historie© 173 Historico do Serviço do Parâ 177 2 Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas 182 3 Regulamento Interno do Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas de Belém 188 4 Primeiro anno do funccionamento do Instituto 194 Estatística das Doenças _ 205 Syphilis 205 Gonorrhéa 206 Cancro molle 206 Dermatoses 206 Therapeulica 208 Novos serviços. 209 Pessoal technico 209 Despezas 210 CAPITULO II Estudos jurídicos sobre a prostituição e sobre os meios le- ga es de combate ás Doenças Venereas peio de- sembargador Júlio Cesar de Magalhães Costa.... 211 a 226 CAPITULO Hl A prostituição em Belem, suas causas; localização, fiscalização e assistência medico-sanilaria,pelo Dr.Hilario Gurjâo 227 I—A1—A prostituição em Betem 227 Localização 234 Fiscalização e assistência sanitaria 237 «Habeas-corpus» 242 Dispensário das Meretrizes 248 Frequência 255 Quadros estatísticos 251 a 257 As creanças em casas de meretrizes 258 O mal venereo entre as mulheres 259 PAGINAS CAPITULO IV Movimento do Hospital de S. Sebastião pelo Dr. Raymundo da Cruz Moreira 265 Hospital Domingos Freire 266 Hospital S. Sebastião ”!!!!"”!!.'!!!!!!!!!” 268 Hospital S. Rocque ’ ’ ’ 269 A admissão de doentes ' 271 Movimento geral do serviço clinico 274 Nacionalidade 275 Edade 276 Diagnostico e tratamento 277 Syphilis 277 Gonorrhéa 280 Tratamentos 282 Medicamentos empregados*.... 283 Cancro venereo simples e escabiose 286 ; Resultados práticos 287 Altas curados 289 Quadros estatísticos 290 a 295 CAPITULO V Nossas estatísticas de Doenças Yenereas pelo Dr. Hilário Gurjão 297 Considerações geraes 297 1— Da Syphilis 297 2 Da Gonorrhéa 300 3 Do cancro venereo simples 306