A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARÁ OSWALDO CRUZ Homenagem da Commissào de Prophylaxia Rural Departamento Nacional de Saúde Fálica Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural no Estado do Pará A Prophylaxia Rural NO ESTADO DO PARÁ PELO Dr. H. C. DE SOUZA ARAÚJO CHEFE DO SERVIÇO Oollaboradores: —Drs. J. A. Dias Júnior, J. Cvriaco GurjAo, Bernardo L. Ru- tovtitcz, J. Pinto de Oliveira, Domingos Acatauassú Nunes, Lauro df. A. Sodré, R. Felipe de Sousa, Jayme Aben-Athar, F. da Silva Mi- randa, Anastacio da Silva Monteiro, Hebmogknes Pinheiro, Geminiano Coelho, A. T. Damasceno Júnior e Paulo B. Rombo. PUBLICAÇÃO DESTINADA A’ COMMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DA INDEPENDENCIA VOU I PARÁ —BELÉM Typ. da Livraria GILLET Rua Cons. docw Alfredo, 52 1022 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E NEGOCIOS INTERIORES Ministro: —Dr. Joaquim Ferreira Chaves DEPARTAMENTO NACIONAL DE SAÚDE PUBLICA Director-Geral : Dr. Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas DIRECTORIA DE SANEAMENTO E PROPHYLAXIA RURAL Director;— Dr. Belisario Augusto de Oliveira Penna SERVIÇO DE SANEAMENTO E PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARÁ Chefe: —Dr. Heraclides César de Souza Araújo SERVIÇO DE SANEAMENTO E PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Fnnccionarios technicos em exercido quando terminou o seu primeiro anno de existência: Dr. Heraclides Cesar de Souza Araújo. Dr. José Alves Dias Júnior. Dr# Jayme Jacintho Aben-Athar. Dr. Francisco da Silva Miranda. Dr. Hermogenes Pinheiro. Dr. Bernardo Leibowitcz Eutowitcz. Dr. João Pinto de Oliveira. Dr. Lauro de Almeida Sodré. Dr. Hilário Gurjão. Dr. Anastacio da Silva Monteiro. Dr, Amaro Theodoro Damasceno Júnior. Dr. Tertuliano Pacheco. Dr. João José Henriques. Dr. Baymundo da Cruz Moreira. Dr. Geminiano Coelho. Dr. Paulo Baptista Rombo, Dr. Antonio Pimenta de Magalhães. Chimico—Professor Raimundo Felipe de Sousa, Desenhista Engenheiro Charles Henry. Pharmaceutico—Adarezer Coelho da Silva. SECÇÕES DO SERVIÇO FUNCCIONANDO AO TERMINAR O SEU PRIMEIRO ANNO DE ACTIVIDADE 1 —Posto Central em Belém, comprehendendo: a) Séde do Serviço. b) Instituto de Hygiene. c) Inspectoria de Policia Sanitaria, etc, d) Pharmacia. 2 Instituto de Prophylaxia das Doenças Venéreas 3 Instituto Therapeutico da Lepra. 4—Leprosaria do Tocunduba (da Santa Casa, sob a di- recção do Serviço). s—Hospital S. Sebastião. 6 Posto sanitario «Oswaldo Cruz», no Souza. 7 » » «Belisario Penna», na Pedreira. 8— » » «Carlos Chagas», em Mosqueiro. 9 » » «Souza Castro», em Bragança. 10— » » «Miguel Pereira», em Santa Izabel. H— » » ambulante na E. F. de Bragança. 12—Commissão ambulante na Ilha de Marajó. 13 —Sub-posto sanitario no bairro de São Braz. 14 —Sub-posto sanitario «Padre Antonio Vieira», no bairro de Monte-Alegre. 0 saneamento da Amazónia se fará quando o Governo o determinar. Mão esmorecer para não desmerecer. Oswaldo Cruz Belem, l.° de Setembro de 1922. Exmo. Sr. Dr. Belisario Penna D. D. Director do Saneamento e Prophylaxia Rural. Rio de Janeiro. Auctorizado pelo vosso telegramma n. 254, de 27 de Março ultimo, mandei imprimir este livro que é a summula dos trabalhos realizados pelo Serviço de Saneamento e Pro- phylaxia Rural neste Estado, sob a minha direcção, no seu primeiro anno de actividade. Esta modesta obra, elaborada para commemorar o l.° Centenário da Independencia do nosso querido e incompa- rável Brasil, representa um grande esforço, dedicação e pa- triotismo de todos os funccionarios e amigos deste Serviço, vossos modestos mas enthusiastas collaboradores. Lastimo não ter sahido um trabalho perfeito, como era do meu desejo. Como um dever de justiça devo declarar que os suc- cessos do nosso primeiro anno fôram devidos, em grande parte, ao prestigio e apoio incondicional que o Sr. Dr, Souza Castro, digno Governador do Estado, dispensou á nossa commissão; á bôa vontade inexcedivel do Sr. Dr. Ulysses Cajazeira, digno delegado fiscal do Thesouro Nacional, que sempre facilitou a bôa marcha dos serviços, e ao auxilio material do Sr. Dr. Cypriano Santos, digno intendente mu- nicipal de Belém, aos quaes apresento publico agrade- cimento. Saúde e Fraternidade. Dr. Heraclides Cesar de Souza Araújo. Chefe do Serviço. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARÁ PARTE GERAL CAPITULO I HISTORICO DO SANEAMENTO RURAL NO ESTADO DO PARÁ ATÉ 1920 PELO Sr. J. A. SIAS JÚNIOR Inspector sanitario Director do Posto «Belisario Penna» Com o advento do regimen republicano, poder-se-á dizer que o Pará nào mais descurou do saneamento de seu sólo ede sua gente, chegando a ser o território divi- dido em dezeseis circumscripções sanitarias, por decreto legislativo de 30 de Junho de 1894 quando a curul gover- namental era occupada pelo benemerito Dr. Lauro Sodré. C eminente gestor da administração publica paraense, num acto de elevado patriotismo, sobremaneira cuidou de nosso saneamento, abrindo ensejo a que outros continuas- sem a sua obra apenas iniciada. De facto, os governos due lhe succederam, animados de egual proposito, algo fi- zeram em beneficio da salubridade publica. Os Drs. Paes de Carvalho, Augusto Montenegro, João Coelho e Enéas Martins, prestaram ao seu Estado valiosos serviços, atra- Vez de actos e leis sanitarias, visando amparar as nossas Populações doentias ou pelo menos attenuar a grandeza oe nossos males. Augusto Montenegro foi um bem intencionado, olhando eoin sympathia os magnos problemas sanitários do seu uatal. Se ao Dr. Enéas Martins, seguindo a obra ' os seus antecessores, não lhe coubessem titulos de bene- uerencia, bastaria o facto da reorganização da Saude Pu- , ICa feita no seu governo (Decreto 3.042 de 2 de Janeiro 1914), para tornal-o digno de apreço de seus concida- 12 O Dr. Paes de Carvalho instituio a Commissão de Sa- neamento de Belém e seus arredores pelo Decreto n.° 647 de 25 de Fevereiro de 1899 e nol-o fundamentou, expla- nando em largos traços, em sua brilhante mensagem (1901), a situação sanitaria da nossa capital, nesse tempo, e, «re- cordando a importância que perante o hygienista assume esta circumstancia que se prende poderosamente á salubri- dade publica em qualquer cidade» e analysando com ele- vação de vistas as judiciosas ponderações dos competentes quando se referem ás condições sanitarias das cidades flu- viaes e palustres, como a nossa Belem, e os cuidados que ellas devem merecer dos poderes públicos. Neste caso, como ainda se refere a mensagem do então patriótico governo, «era evidente a conveniência da reali- zação dos estudos preliminares os mais completos que dei- xassem patente não só as condições de accidentação da superficie e as direcções dos cursos dagua, que sobre ella circulam, como também a influencia que sobre o sub-solo podem essas aguas produzir e o modo porque se mani- festa a sua fluctuação subterrânea». Estudou com critério a questão do saneamento da capital em relação á distri- buição das nascentes de abastecimento quanto á sua pu- reza e o modo de obtel-as, bem assim a conveniência da adopção de um systema de exgottos que melhor corres- pondesse ás exigências das cidades pouco accidentadas como a nossa. O serviço cadastral só por si constituiu (conforme reza ainda a mensagem) objecto de acurado esforço do gover- no, pois era já, nesse tempo, relativamente elevado o nu- mero de habitações construídas, orçando as mesmas por um total de 13.000, sendo apenas 2.500 barracas. O illustre Dr. Paes de Carvalho assim conclue a sua brilhante expo- sição, que vale transcrevel-a, como documento de probi- dade medica e elevado patriotismo: «Com a base segura da Pathogenia em que a sciencia moderna faz repousar a hygiene, indicando-lhe os organis- mos productores das moléstias infecciosas e os meios effi- cazes para a sua eliminação, não são, certamente, as medi- das destacadas as que se recommendam, mas as grandes medidas de conjuncto, que asseguram a pureza do ar e das aguas, a distribuição dos detrictos, a inspecção e lim- peza das habitações collectivas, a desinfecção dos logares contaminados, a eliminação dos pantanos e de todos os focos de infecção». O governo determinou, então, a execução dos traba- lhos, sob os seguintes pontos de vista: l.° Topographia, nivelamento e cadastro dentro de todo o perímetro urbano. 2.°—Estudo do solo, do sub-solo e das aguas; tempera- tura, pressão, luminosidade, electricidade e humidade do ar; quantidade e distribuição das chuvas, regimen dos ventos e das aguas correntes. Estudo das aguas cabidas sobre o Solo impermeável; drenagem; eliminação dos pân- tanos e utilização de suas areas. 3.° Exgottos de matérias fecaes, aguas servidas e pluviaes. 4.°—Hygiene das construcções e orientação dos novos arruamentos (mensagem de Fevereiro de 1901). A Commissão chefiada pelo illustre engenheiro Dr. Hen- nque de Santa Rosa elaborou minucioso relatorio, apre- sentado ao governo, abrangendo os estudos preliminares das questões mais importantes que interessavam, como ainda hoje, á hygiene da capital e dos seus arredores. A Commissão deu começo aos seus trabalhos com a divisão da cidade «em polygonos diversos, cada qual sub- dividido em polygonos secundários pelas linhas traçadas dos pontos perimetraes, executando os diversos trabalhos concernentes a cada polygono de modo a rectificar-se pelos outros os dados e observações anteriores, cadastro que abrange não só a configuração exacta das habitações em °ada quarteirão como também a das áreas cultivadas e das incultas e a avaliação das superfícies occupadas pelas uiesmas (mensagem de Fevereiro de 1901).» assim concluídos todos os trabalhos de polygo- uação na vasta extensão comprehendida pelo rio Guajará, desde as proximidades do matadouro até á extremidade da Estrada José Bonifácio, e por esta estrada e Praça Flo- Hano Peixoto até a Estrada de S. Jeronymo, por esta e pela 22 de Junho até o igarapé da Pedreira e deste ponto ao Guajará, (mensagem de 1901). Com os trabalhos com- plementares fez-se o levantamento da bocca do igarapé das Almas e dos affluentes do Una, do igarapé do Tocun- duba desde o prolongamento da Estrada de S. Jeronymo até o sitio da Pedreira, no Guamá, alem da Estrada José Bonifácio (idem 1901). A Commissão levou a effeito, com especial cuidado, o estudo das zonas aproveitáveis para a captação dos ma- uanciaes, extendendo-se em mais de 27 kilometros em uma e outra margem da Estrada de Ferro de Bragança e com- prehendendo todo o percurso e as nascentes dos igarapés do Utinga, Boiussúquara, S. Joaquim, Providencia, Ananin- inn3, emßca, Marituba e os seus affluentes (idem de ydl). Infelizmente os trabalhos da Commissão não pudé- lam proseguir; ainda assim foram realizados em Belem e seus arredores importantes melhoramentos que, devéras, ecommendam o seu incansável propugnador. E’ bem de eb Que semelhante esforço, aliás, louvável, representa ex- eellente contribuição, sob todos os pontos, á Hygienização, jend° certo que todo e qualquer apparelhamento prophy- actico deve partir de nossas capitaes cujos contornos, nos seus delineamentos sanitários, mal se esboçam ainda. O Dr. João Coelho recommenda-se pela cuidadosa ap- plicação dos dinheiros do erário publico nas suas grandes campanhas saneadoras, não somente dando combate ás nossas impiedosas investidas palúdicas como mais tarde, erradicando a febre amarella de todo o Estado. Foi nesse periodo, em 1912, que da tribuna da Camara estadoal o distincto Dr. Antonino E. de Souza Castro apre- sentou e justificou brilhante projecto creando no Estado um serviço sanitario especial de combate á lepra e ao pa- ludismo. Também do recinto daquella Camara, em varias legis- laturas, o deputado Veiga Cabral e o auctor destas linhas, apresentando e justificando projectos seus, cooperaram pela solução dos vitaes problemas de saneamento desta cidade, não esquecendo a necessária campanha contra o paludismo e a ancylostomóse, abundantemente espalhados pelo nosso interior. O governo do Dr. João Coelho foi o iniciador da pro- tecção sanitaria á nossa zona rural, precisamente quando em 1909 irrompeu em quasi todos os bairros suburbanos, em largos surtos epidemicos, esse ceifador de vidas que tem sido sempre e continuará a ser o ínexhoravel Palu- dismo. Organizou-se, então, uma Commissão medica chefiada pelo Dr. Antonio Pery-assú. Esta Commissão exercitou um largo programma prophylactico, seguindo uma orienta- ção technica de accôrdo com os preceitos scientificos, o que contribuiu para melhorar consideravelmente o péssimo estado sanitario de todas as zonas que circumscrevem a nossa capital. Uma turma de 150 homens desbravou as mattas em derredor das habitações, foram drenados todos os igara- pés e corregos que jaziam em completa obstrucção, expur- gadas as habitações contaminadas e removidos para o hos- pital de isolamento todos os casos graves e os que se apresentavam como reservatórios de virus, feita a quinini- zação e requininização, vigilância medica, policia de focos, pesquizas hematológicas para o conhecimento das formas do hematozoario; levantamento do indice endemo-epide- mico das zonas infestadas, etc., todo um traçado criteriosa- mente delineado que redundou na rapida effervescencia da curva malarigena, dando em resultado a melhoria do estado sanitario local, após cinco mezes de campanha porfiosa tra- vada quotidianamente com uma persistência merecedora de encomios. No emtanto é de lastimar que a brilhante victoria alcançada pela alludida Commissão tivesse tido apenas a curta existência das rosas de Malherbe: todo o ingente cahiu em injustificável descaso. Sinão fora a imprevidência dos nossos dirigentes, certamente todo esse trabalho, inçado de mil difficuldades e dispêndios de grandes sommas, não resultaria perdido nem se condem- naria ao negro abandono das cousas imprestáveis. Basta- ria, para o aproveitamento desse grande esforço offensivo, persistência defensiva de algumas turmas de conserva- ção das obras hydrographicas, além de mais alguns médi- cos zelosos e que melhor se preoccupassem das zonas de sua inspecção, porque sempre que se abandonam as medi- das que a prophylaxia oppõe aos elementos epidemiologi- cos da plasmodiose de Laveran, irrompem novos surtos cpidemicos que dizimam, desta vez, as pobres victimas que ainda cambalêam das primeiras infecções. Assim melhor se explicaria o novo surto epidemico de 1915 que, se alastrando vorazmente por todos os recantos da peripheria, ameaçava já o centro urbano com alguns casos fataes. E’ claro que medidas urgentes do então go- verno Enéas Martins, auxiliado pela bôa vontade de todos, oppuzeram desde logo barreiras á propagação do mal. Dessa feita a epidemia começou no logar denominado Entroncamento, kilometro 11 do centro urbano, á margem da Estrada de Ferro de Bragança. As excavações feitas uaquelle logar para extracção de materiaes de industrias, formaram ninho para uma abundantíssima fáuna anopheli- nica, e meia duzia de doentes provindos de Alcobaça, que °.paludismo transformou em authentico Moloch da Amazo- na, bastaram para reinfectar toda uma população que en- fregue ao abandono da vigilância defensiva, soffreu nova- uiente os embates da epidemia, que dahi se irradiou ata- cando e contaminando as margens da estrada de ferro oragantina e penetrando os suburbios da capital e alguns Pontos insalubres de nossa descuidosa zona urbana. Verdade é que as opportunas medidas do governo fo- ram auxiliadas pelo decidido e expontâneo esforço das ciasses medica e pharmaceutica de Belem, que puzéram á disposição do poder publico os seus valiosos serviços, além da contribuição de medicamentos que foram distribuídos gratuitamente aos doentes necessitados. , Mas como sóe acontecer sempre que estão em jogo os itos interesses de saúde collectiva, apenas aguardou o go- ®rno a modificação do estado sanitario local, logo deter- ddnou a suspensão dos trabalhos, que, se proseguissem, sem duvida, magníficos resultados. As meias me- didas têm sido sempre o nosso mal, e, como diria Belisario eniia, não alcançam nunca o fim collimado, e apenas con- cguern desmoralizar ou desacreditar preceitos scientificos e resultados garantidamente positivos e efficazes quando Pphcados em todos os seus detalhes. E’ que a tradiccio- al falta de verba vem de ha muito se arrogando o es- -1 an talho com que se vão alienando serviços inadiáveis. Vem de molde alguns topicos das impressões, que sobre a referida incursão publicámos, de collaboração com Albino Cordeiro, inspector sanitario do Estado, em Junho desse mesmo anno, no Boletim Mensal de Estatística da Ci- dade de Belém. «O Paludismo endemico no Pará, assumiu este anno, durante o inverno, proporções assustadoras. Manifestou-se desde Janeiro sob forma epidemica, á margem da Estrada de Ferro de Bragança (Entronca- mento), onde fez innumeras victimas, ganhando a pouco e pouco o nosso perímetro urbano. O Governo do Estado tomou as providencias que o caso requer e desdobrando os seus esforços numa acção synergica com a iniciativa bem apreciável das classes me- dica e pharmaceutica de Belem, deu começo desde logo á campanha anti-palúdica, creando postos de assistência em todas as zonas infestadas e ordenando a distribuição de saes de quinino aos paludicos alem das visitas domicilia- rias aos que não podiam comparecer aos postos indicados». E’ facil verificar que taes medidas produziram benéfi- cos effeitos, pela queda, sobremaneira sensivei, do traçado malarigeno senão pelo notável decrescimento numérico de doentes que, ao inicio da campanha, atravancavam os pos- tos de assistência do governo, as salas de banco dos hós- pitaes e os consultorios médicos particulares. E’ claro que na lucta contra o paludismo todas as forças sociaes devem operar em acção conjuncta; quer a energia dos poderes públicos, quer a louvável iniciativa individual, tudo deve convergir numa collaboração intelli- gente para que se possam auferir resultados encorajado- res, nas campanhas contra o mosquito propagador da in- fecção, cuja prophylaxia, evitando a sua diffusão assenta hoje em bases racionaes e scientificas. O saneamento do solo, em summa, o beneficiamento geral das regiões mal- sans comporta um sem numero de medidas de caracter complexo e de applicação systematica, que somente esta delicada peça de apparelho prophylactico encerra em seu desdobramento um dos mais importantes e difficeis pro- grammas a exercitar. Sabemos quão laborioso é operar contra os focos e milhares de collecções de agua estagnada que em paizes tropicaes innundam as extensas áreas pantanosas. Mas, se não se pode, no estado actual, fazer evoluir as grandes obras sanitarias para o desapparecimento relativo do mos- quito vehiculador, e com elle o elevado dizimo mortuário de Belem, contentemo-nos, todavia, em conservar o que se ha feito, que nada exprime em relação a maiores empre- hendimentos, mas que tem a vantagem de assignalar um esforço brilhante cujos resultados nol-o attestam os do- cumentos que ahi ficam. E’ possível que se os poderes competentes não se precaverem contra uma nova e prová- vel invasão todo o serviço redundará inútil desde que os postos não permaneçam abertos e a assistência não seja realizada. A quinotherapia deve ser praticada systemati- camente nos doentes portadores de parasitos e feita a ap- plicação preventiva nos individuos que vivem em coramum com os paludados da forma resistente. Estes habitando por isso mesmo, as regiões suspeitas e se'deixando picar pelos mosquitos vectores, que nas estações chuvosas pullu- lam em maior numero, concorrem para o recrudescimento das epidemias. Em 1914, Anhanga, logar outrora dos mais salubres e pittorescos, situado no kiloraetrò 90, da Estrada de Ferro de Bragança, viu-se ás súbitas transmudada num perigoso foco malarico que demoveu o mesmo governo Enéas Mar- fins a enviar alli o Dr. Antonio Figueiredo, chefiando uma Commissão medica afim de estudar e debellar o referido mal. Depois de pacientes estudos a dita Commissão, além do emprego da prophylaxia medicamentosa, poz em exe- cução varias obras saneadoras, entre as quaes avultaram, Pelo seu caracter de urgente necessidade, a drenagem e desobstrucção dos igarapés e pantanos, afóra o aterro de extensa e profunda lagoa considerada pela Commissão como um dos poderosos factores da epidemia palúdica uessa zona. O Dr. Antonio de Figueiredo e seus dignos auxiliares, aPós seis mezes de trabalhos porfiosos, deram por findo 08 seus applaudidos e bem aproveitados esforços. No segundo periodo governamental do Dr. Lauro So- dré, quando de novo punha os seus patrióticos préstimos a° serviço de seu Estado natal, reencetam-se novas cam- inhas, demonstrando aquelle estadista vivo empenho em mvar a bom termo as medidas prophylacticas que deve- riam ser postas em execução. E acaso não fosse a crise financeira, que feriu fundo a economia estadoal, a obra sanitaria desse governo attes- taria os seus esforços como verdadeiros padrões de bene- uierencia publica. No emtanto, mesmo assim, muito fez, fi- cando registado em sua administração o seu interesse em ®er util á terra paraense, creando por Decreto de 5 de Março de 1917, a Inspectoria de Prophylaxia do Paludis- -111 °> que, sob a nossa direcção inaugurou os seus trabalhos a 17 de Março desse mesmo anno. Ainda no governo de Lauro Sodré, o Dr. Antonino E. uc Souza Castro, então «leader» da bancada paraense na finara Federal, propugnou pelo saneamento da Amazo- nia> fazendo vibrante appello ao Governo da Republica, Prél destas longinquas e flagelladas terras. Coube tam- em a esse digno representante paraense, no fim daquelle o honroso encargo de procurador do Estado junto a. União afim de, a 30 de Dezembro de 1920, firmar o ac- cordo nos termos do Art. 990 do Decreto Federai n.° 14.354, de 15 de Setembro do referido anno, accôrdo para a creação do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural neste Estado. Nessa épocha de resurgimento, a Directoria Geral de Hygiene superiormente dirigida pela capacidade scientifica de Cyriaco Gurjão, soccorreu diversos de nossos municí- pios, enviando aos focos malarigenos varias Commissões medicas chefiadas por profissionaes competentes, e que acompanhados de ambulancias seguiam para as zonas ata- cadas onde se desempenhavam de seus árduos deveres. Desse modo vezes varias essas Commissões operaram em Monte Alegre, Breves, Alemquer, Gurupá, Soure, Ponta de Pedras, São Sebastião da Bôa-Vista, Prainha, Ourem, São Miguel do Guamá, Mazagão, Portei e outros logares onde se fizeram sentir urgentes medidas prophylacticas. Lembramo-nos de nossa acção sanitaria em Marapa- nim, onde conseguimos, após 21 dias de insanos labores modificar o estado geral desse ultimo município, com o tratamento ministrado a numero superior a 3.000 doentes. A proposito desses assumptos, em que annualmente o governo se vê a braços com difficuldades de attender de prompto a todos esses municípios, assoberbados pela inala- ria, vale transcrever os seguintes topicos de uma entre- vista que, referente ao paludismo no interior, demos ao «Estado do Pará» em 1917: «Penso que as municipalida- des devem auxiliar o Estado na campanha de prophylaxia anti-paludica, votando verbas em auxilio e soccôrros de seus munícipes, pois não é possível que municípios que rendem annualmente sommas bastante elevadas, pretendam permanecer ainda sob a tutela do Estado. Somente lou- vores merecem as municipalidades que assim venham a proceder, porquanto as verbas para tal fim são sempre ne- cessárias e bem recebidas pelo povo. Elias em nada pe- sam sobre os orçamentos, uma vez que o dinheiro a des- pender seja, de facto, applicado em beneficio da saude publica. Somente neste caso poder-se-ia operar algum tra- balho de prophylaxia no interior, onde o paludismo sempre dizimou as populações. Oxalá a idéa da comparticipação dos municípios na valorosa obra do saneamento vá a pouco e pouco ganhando vulto e que em breve todo o in- terior se compenetre de seus deveres em face da saúde e se mantenham as auctoridades em contacto com a Hygiene do Estado, para melhor andamento desta Inspectoria, cujos trabalhos, em via de organização, deixam, por isso mesmo, muito a desejar». Em magnifico relatorio desse mesmo anno, Cyriaco Gurjão, director de Hygiene, assim se expressa, quando se refere ás mortíferas incursões malaricas no interior: «O paludismo, associado á ancylostomose, são os dous flagellos que anniquilam as populações dos municipios do interior do Estado matando-as ou inutilizando-as com os estygmas de degenerescencia no periodo de cachexia a que são levados e por isso é de toda a conveniência, para a salubridade delles e o seu consequente progredimento, pois não se comprehende progresso sem a saúde, activar a campanha contra esses ceifadores de vidas tanto mais quanto o Governo Federal parece disposto a auxiliar os Estados nesse tentamen». Ao governo de Lauro Sodré, especialmente, cabe im- portante papel no saneamento rural do Pará com a crea- Çào definitiva da Inspectoria de Prophylaxia do Paludismo, referida linhas acima, sendo, então, abertas á assistência publica os seguintes postos sanitários: «Penitenciaria», no bairro do mesmo nome; «Miguel Pereira», no bairro de São Braz; «Gaspar Vianna», no bairro da Cremação; «Santa Luzia», no logar do mesmo nome; «Belisario Penna», na Pedreira, e «Jurunas», no bairro de egual nome. Foram creados ainda mais dous: «Oswaldo Cruz», no bairro do Souza e «Antonio Vieira», no bairro de Monte Alegre, ambos sob a nossa direcção e, finalmente, depois daquelíes, o de Murubira, na ilha do Mosqueiro. Todos esses postos eram dirigidos por distinctos profissionaes que sempre se mantiveram dignos e zelosos no encargo de suas afanosas attribuições. Attendiam a milhares de doen- tes, mesmo aos que se viam impossibilitados de sahir de seus domicilios, aonde iam até elles soccôrro e assistência. A Inspectoria extendeu a sua acção á margem da Es- trada de Ferro de Bragança, desde o Entroncamento até Igarapé-assú. A creação do Posto «Oswaldo Cruz» visava attender aquelie bairro e a margem do ramal do Pinheiro, inclusivé a villa e a povoação de São Joaquim. Para superintender °s serviços de Paludismo na zona bragantina, foi nomeado o inspector Dr. Matta Bacellar, tendo como auxiliares o r- Amaro Damasceno Júnior, um pharmaceutico e um de- jegâdo de saúde. Creou-se então o posto sanitario de nessa estrada. Em cada uma das localidades marginaes navia um representante idoneo da Inspectoria, encarregado na distribuição gratuita de quinino e fiscalização do estado samtario local. Assim, sob a denominação de «Postos de fcoccôrro» essas modestíssimas installações iam a contento qnininizando as populações de Ananindeua, Benevides, Americano, Apehú, Caraparú, Castanhal, Anhanga, Tu- juman e Igarapé-assú. O posto de Anhanga, kilometro yb, inspeccionava, também, parte da Colonia de Inhangapy numa extensão de 10 kilometros e attendia a chamados Para o kilometro 101, Granja Eremita, cujo trajecto do Principal posto de Anhanga dista seguramente 11 kilome- r°s. Este posto prestou relevantes serviços quando o pa- ludismo ahi grassou com intensidade maior, em 1917, at- tendendo a doentes acantonados na travessa do kilometro 94, em cuja extensão de 25 kilometros, nunca menos de 100 famílias soffreram o violento embate da epidemia. O posto de Igarapé-assú, dirigido pelo Dr. Amaro Da- masceno Júnior, inaugurou a sua séde no Retiro Sulamita, kilometro 116, da Estrada de Ferro, abrindo a sua con- sulta diaria pela manhã e acudindo a chamados nas resi- dências dos doentes impossibilitados de locomover-se. A Inspectoria, attendendo ás exigências do serviço, creou nesse município mais os seguintes postos de soccôr- ro, que trabalhavam sob a immediata inspecção da aucto- ridade sanitaria: S. Luiz, Livramento, Timboteua, Peixe- boi e Capanema. Na colonia de Inhangapy a Inspectoria installou o posto principal na escola municipal da villa e inaugurou em diversos pontos da colonia alguns outros de soccôrro: kilometro 6 da dita colonia (Sitio Santa Maria) igarapé André, Santo Amaro e Arêas, ficando este ultimo ás cabeceiras do rio Inhangapy. Todos esses postos obedeciam á orientação da Inspe- ctoria Geral e eram fiscalizados pelos auxiliares de saude da zona. Na parada 103 o posto de Tukuman attendia a doentes dessa região e, juntamente com o auxiliar de Anhanga soccorria aos paludosos da povoação do Carmo de Abaeté, situada á margem esquerda de um dos braços de origem do rio Marapanim, que atravessa a povoação de Anhanga. A circumscripção de Caraparú, foi dividida em 9 zo- nas e em cada uma estabeleceu-se um posto de soccôrro, sob cuidados de pessoas idóneas, precisamente instruídas, de accôrdo com as indicações da Inspectoria, ficando assim inaugurados os seguintes: Villa Nova, Cacáo, Igarapé-Itá, (Sitio Castanheira), Santa Quiteria, Amapehy, Jacaréquara, Igarapé Tajassuhy, (Sitio Santo Antonio), Jacundahy e Engenho, na fazenda de egual nome. Creou-se, também, um posto auxiliar no municipio de S. Miguel do Guamá, um dos grandes focos de malaria, no interior. Tendo dado resultados animadores os traba- lhos ahi realizados, as municipalidades de S. Domingos da Bôa-Yista e Ourém, animadas de intuitos patrióticos, com- binaram medidas que abrangessem esses dous municipios, ficando, então, os tres reunidos apenas numa região sani- taria, sob a direcção de um delegado de saúde e fiscaliza- ção da Inspectoria. Como serviços complementares, a Inspectoria mantinha sob sua fiscalização uma turma de 40 homens, que se em- penhava em trabalhos de saneamento, alargando o seu raio de acção nas zonas suburbanas com a esterilização de focos conhecidos, drenagem e rectificação de áreas pan- tanosas. Como se vê, o - extincto serviço de malaria no Pará desfructava uma bem orientada organização pratica. Vale transcrever os seguintes trechos do primeiro re- latório enviado á Directoria Geral de Hygiene e que se refere ao estado sanitario da Villa de Santa Izabel, á mar- gem da Estrada de Ferro de Bragança, antes e após as fedidas prophylacticas suggeridas pela então Inspectoria de Paludismo, em 1917. «Tenho a grata satisfacção de trazer ao vosso conheci- mento que se acha felizmente quasi dominada a terrível epidemia paludica que ha mais de dous annos vem asso- lando a população em toda a extensão servida pela Es- trada de Ferro de Bragança e em pontos mais afastados, °nde a população está sendo condensada. O mal, que teve inicio no Entroncamento, dizimando grande numero de habitantes desse bairro, invadiu a villa de Benevides, onde fez grande numero de viçtimas e logo depois se alastrando até Anhanga e adjacências, com caca- cter pernicioso de terçã-maligna. Na villa de Santa Izabel a mortalidade foi tão assom- brosa em 1915 que, devido á condemnavel indifferença dos poderes desse tempo, o distincto e humanitário medico Gr. Matta Bacellar resolveu inaugurar nessa villa um posto medico para acudir gratuitamente a centenas de pobres enfermos, baldos de recursos. A mortalidade que nos cinco primeiros dias montou a r°o, passou a 4 em Junho, 2em Julho e 1 em Agosto. Em tace do feliz resultado obtido, esse humanitário medico, re- gressou, então, á capital. Infelizmente na ausência desse ttmdico e por circumstancias especiaes ligadas á própria Natureza malarigena local, o paludismo ahi recrudesceu, ®mvando-se a cifra de mortalidade a 27 pessoas em Se- ®mbro, a 36 em Outubro, a 36 em Novembro, a 57 em Gzembro. No anno de 1916 a mortalidade foi maior ain- a’ subindo a mesma a 637. Egual intensidade foi verifi- ada no começo do anno de 1917, com a mortalidade de b Pessoas em Janeiro. Nesse mesmo rnez foi enviada Para essa pequena localidade uma Commissão medica que,' aos doentes atacados, conseguiu dominar a Pmemia que foi cedendo com o enfraquecimento do nu- ero de obitos, a 15 em Fevereiro, 8 em Março e graças s providencias tomadas pela Inspectoria de Paludismo, o bituario registou 4 em Abril, 4 em Maio e 1 em Junho, oram, então, medicados 716 doentes não havendo exag- gero em admittir o declínio dessa epidemia que só nesta °cahdade victimou perto de mil pessoas em menos de tres 1111108 (Extracto do relatorio do Dr. Matta Bacellar). Parece, entretanto, que apezar do elevado coefficiente o mortalidade por paludismo em Belém, houve, todavia, nsivel declínio dessa moléstia durante os 4 annos da ex- tincta campanha, conforme se conclue da estatística publi- cada por Cyriaco Gurjão e Albino Cordeiro, abrangendo a mesma 11 annos de observação, desde 1909 a 1919. Acrescentaremos o anno de 1920, cuja mortalidade excedeu de 54 obitos ao anterior. Mortalidade por impaludismo durante 12 annos: ANNOS N.° DE OBITOS 1909 1.159 1910 886 1911 713 1912 809 1913 708 1914 735 1915 785 1916 4 719 1917 : 542 1918 . 382 1919 299 1920 345 Sem duvida com o proseguimento dos actuaes traba- lhos, hoje a cargo da Prophylaxia Rural, os resultados da actual campanha sanitaria darão provas mais robustas e inconcussas do esforço desses denodados obreiros, que constituem os legionários da nova cruzada saneadora neste Estado. APPENDICE AO CAPITULO DO HISTORICO ACCÔRDO COM O ESTADO DO PARÁ Aos trinta dias do mez de Dezembro de mil novecen- tos e vinte, compareceu na Directoria Geral do Departa- mento Nacional de Saúde Publica, perante o respectivo Director Geral, Doutor Carlos Ribeiro Justiniano das Cha- gas o Doutor Antonino Emiliano de Souza Castro, depu- tado Federal, representante devidamente auctorizado do Estado do Pará e declarou que, tendo o mesmo Estado feito uma proposta ao referido Departamento, nos termos do artigo novecentos e noventa do Decreto quatorze mil tresentos e cincoenta e quatro, de quinze de Setembro de mil novecentos e vinte, para execução naquella região do paiz, por intermédio da Directoria de Saneamento e Pro- phylaxia Rural, dos trabalhos de saneamento e prophy- phylaxia rural, especialmente os de combate ás principaes endemias dos campos e que tendo sido a mêsma acceita, assigna com o referido Director Geral Doutor Carlos Ri- beiro Justiniano das Chagas, o presente accôrdo, por este approvado, de conformidade com o numero dezenove do artigo quarenta e sete do citado Decreto e com as teste- munhas abaixo assignadas e sob as seguintes condições: Primeira: O Estado do Pará acceita e obriga-se a promover a acceitação pelos municípios de todas as leis sanitarias, disposições e instrucções do Departamento Na- cional de Saúde Publica, relativas ao assumpto; Segunda: O Estado obriga-se a executar, na forma rio Decreto quatorze mil tresentos e cincoenta e quatro, de Quinze de Setembro de mil novecentos e vinte, todas as medidas necessárias á prophylaxia da lepra e das doen- ças venereas; Terceira: A União organizará, a exclusivo critério oo Departamento Nacional de Saúde Publica, os serviços oç prophylaxia rural, levando em conta as indicações re- gmnaes e estabelecendo serviços sanitários, de preferencia e com a maior amplitude, nas zonas mais attingidas pelas endemias, de população mais densa e de maior riqueza económica; Quarta:—Os serviços instituídos por este accôrdo se- rao executados, durante tres annos, sem intervenção de qualquer auctoridade estadual ou municipal, pelas Commis- |oes organizadas pelo Departamento Nacional de Saúde publica, sendo vedado aos médicos encarregados de taes cnbalhos o exercício da clinica remunerada; Quinta: O Departamento Nacional de Saúde Publica Publicará boletins trimestraes de todo o movimento dos espectivos serviços, remettendo ao Governo do Estado xemplares dos trabalhos executados, para conhecimento xacto dos resultados e dos benefícios colhidos; Sexta: O Governo do Estado obriga-se, de accôrdo °m o paragrapho segundo do artigo nono do Decreto res mil novecentos e oitenta e sete, de dois de Janeiro de 111 novecentos e vinte, a estabelecer, pelos meios legaes, ma taxa de valorização a incidir sobre os terrenos sanea- -08 °u um addicional sobre o imposto territorial; Sétima: —Os serviços só serão iniciados depois que o overno do Estado fizer devidamente á Directoria Geral Q? bmpartamento Nacional de Saúde Publica a prova de 4 e foi cumprida a condição .anterior; Oitava: —O Governo do Estado compromette-se mais mdemnizar a União, no prazo de dez annos, da metade da despeza a seu cargo na razão de oento e cincoenta contos de réis por anno de execução do presente accôrdo, com o custeio dos serviços, amortizando annualmente, a partir de mil novecentos e vinte e dois a importância de quarenta e cinco contos de réis e liquidando totalmente o seu debito no ultimo anno daquelle prazo; Nona: —Quando o Estado resolver suspender a conti- nuação dos serviços fica obrigado a notificar o Governo da União na primeira quinzena do quarto trimestre do exercício anterior áquelle em que deverão cessar os tra- balhos; Decima: O Departamento Nacional de Saúde Pu- blica distribuirá á Delegacia Fiscal do Thesouro Nacional no Estado do Pará a importância correspondente á des- peza do custeio de conformidade com as necessidades do serviço e dentro da quantia total annual de tresentos con- tos de réis orçada para este accôrdo; Decima Primeira: O Governo do Estado recolherá á Delegacia Fiscal do Thesouro Nacional no Estado do Pará a importância de duzentos contos de réis, á disposi- ção do Departamento Nacional de Saúde Publica, e que representará a contribuição do Estado para a construcção de um leprosario; Decima Segunda: —A União com a maior urgência possível, construirá o leprosario, sem outro auxilio do Es- tado, assumindo a respeito compromisso formal; Decima Terceira:—Terão preferencia para admis- são no leprosario os doentes internados por conta do Es- tado, que pelo seu tratamento pagar| a taxa normal fixa- da, sem qualquer abatimento; os particulares domiciliados no Estado terão preferencia sobre os doentes dos outros Estados; Decima Quarta:—As importâncias distribuídas á De- legacia Fiscal serão consideradas em deposito e poderão ser levantadas, livremente e em qualquer tempo, de ac- côrdo com as instrucções do Departamento Nacional de Saúde Publica, pelo chefe da commissão, o qual ficará res- ponsável e prestará as devidas contas, de conformidade com o disposto no artigo dezoito do Decreto numero treze mil quinhentos e trinta e oito, de nove de Abril de mil novecentos e dezenove; Decima Quinta: —A despeza correrá pelo fundo es- pecial creado pelo artigo doze do Decreto tres mil nove- centos e oitenta e sete, de dois de Janeiro de mil nove- centos e vinte; o fundo especial será indemnizado, com as amortizações do Estado, dos recursos por conta delle adiantados; Decima Sexta: —O Estado obriga-se a prestar todo o apoio moral e todas as precisas facilidades aos funccio- narios encarregados da execução dos trabalhos; Decima Sétima: A falta de cumprimento por parte do Estado de qualquer das condições, a que se obriga pelo presente accôrdo importa na rescisão immediata deste sem direito do Estado a qualquer indemnização e sob qual- quer titulo. E por' estarem assim accordes, lavrou-se este termo, que vai assignado pelo Director Geral do Departamento Nacional de Saúde Publica, doutor Carlos Ribeiro Justi- uiano das Chagas e pelo representante, devidamente aucto- rizado, do Estado do Pará, doutor Antonino Erailiano de Souza Castro e pelas testemunhas Álvaro Cotegipe Mila- uez e bacharel Armando de Oliveira Flores, abaixo assig- uadas. Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas. Dr. Ánto- >uno Emiliano de Souza Castro. Álvaro Cotegipe Mila- uez e Armando de Oliveira Flores. INAUGURAÇÃO DOS SERVIÇOS EM 9 DE JUNHO DE 1921 NOTICIA DA * FOLHA DO NORTE » DE 10: «Ficaram installados, houtem, os primeiros postos " A solemnidade da installação Falam S. Exc. o Sr. Dr. governador do Estado e o chefe do Serviço Traços geraes do trabalho a iniciar. Não sendo uma festa cheia de pompa, foi entretanto t 3°lemnissima cerimonia o acto inaugural, hontem, dos Jabalhos de saneamento e prophylaxia rural do nosso com as installações dos primeiros postos: «Os- vaiclo Cruz», no Souza e «Belisario Penna», na Pedreira. singeleza do acto, sem outros reclames que não a edandeza do facto —a partida inicial dessa extraordinária ramPanha sanitaria de soerguimento da nossa raça me- pCeu a honrosa presença das mais altas auctoridades do stado, representantes de classes sociaes e da imprensa, ct ,• s 9 horas da manhã, no carro official da Pará-Ele- Postado á praça da Republica, tomaram assento os As* h>rs. Souza Castro, governador do Estado; Heraclides ® kouza Araújo, chefe do Serviço; Abel Chermont, repre- r-11lante do Dr. Cypriano Santos, intendente de Belem; Cy- ja,9° Durjão, director do Serviço Sanitario; desembargador p 10 posta, chefe de policia e seu ajudante de ordens; Dr. runcisco Campos, major Emilio Mergulhão e capitão Can- dido Furtado, official de gabinete, assistente e ajudante de ordens, respectivamente, de S. Exc. o Dr. governador do Estado; Dr. Levy Loyola e Ruy Tebyriçá, da Commissão federal e representantes da imprensa. No posto medico do Souza, que estava completamente invadido, em quasi todas as suas salas, de doêntes e con- sultantes, em numero de seiscentas pessoas, calculadamente, receberam, á escadaria, o governador do Estado e o chefe do Serviço de saneamento e as demais pessoas, os Drs. Dias Júnior, inspector sanitário; Lauro Sodré Filho, Fran- cisco Miranda e João Pinto d’oliveira, sub-inspectores. Introduzidos no recinto do elegante prédio, construído alli especialmente, annos atraz, para os serviços médicos do Asylo de Mendicidade, a que fica annexo, o Dr. Souza Araújo deu-se pressa em começar a cerimonia da installa- ção deste posto central. Foram, então, as auctoridades e technicos, reunidos no gabinete de consultas, sob a presi- dência do chefe do Serviço Rural. Passou S. S., em seguida, a mostrar detalhadamente, em linguagem clara, os metho- dos de trabalho scientifico que a Commissão vae pôr em pratica, dizendo, de ante-mão, que, pela exposição que ia fazer dos processos adoptados, era de ver a necessidade da força de vontade, do acendrado amor ao trabalho e pa- triotismo de cada um dos seus collegas que, neste momento, com elle iniciavam no Estado o ataque sanitario. Os que, continúa S. S., não se sentirem bem com esse esforço má- ximo e, muitas vezes, até fatigante, para o cumprimento dos seus encargos podem naturalmente dar a sua demis- são voluntária, num exemplo do quanto não desejam crear embargos á victoria da campanha que requer mais que dedicação, o proprio sacrifício. Referindo-se aos demais auxiliares, como ás responsabilidades dos microscopistas e guardas sanitários, disse S. S. que o menor dólo, a menor falta que importe em mystificação seria, immediatamente punido com a demissão. Mostrou S. S., com muita clareza, o modo como deverá ser feita a escripturação technica de cada posto, baseada nas organizações dos serviços do Sul da Republica, cujos resultados práticos já estão eviden- ciados. Falou da prophylaxia da ancylostomose, seguindo os processos da missão Rockefeller que hoje são conside- rados pela experiencia como o systema mais pratico e fru- ctificante no combate das verminoses. Ensinou todos os detalhes das fichas individuaes e boletins de exames de sangue e de fezes para pesquiza dos ovos dos parasitos intestinaes, taes. como o Necator americanus ou o Aney- lostomum doudenale; Ascaris lumhricoides; Trichuris trichiura; Enterobius vermiculares; Taenia solium ou saginata ou outros helminthos. Vem dahi, continúa S. S., a grande parcella de respon- sabilidade do microscopista que deve ser acima de tudo, Concorrência popular defronte do Posto Sanitário “Oswaldo Cruz”, no dia de sua inauguração, em 9 de Junho de J 921. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Inauguração do Posto Sanitario “Oswaldo Cruz”. Auctoridades presentes: (da direita para a esquerda) Desembargador Julio Costa, Chefe de Policia; Drs. Souza Castro, Governador do Estado; Souza Araújo, Chefe do Serviço de Prophylaxia Rural; Dias Júnior, Inspector Sanitario; José Cyriaco Gurjão, Director do Serviço Sanitario do Estado. A V \\V ) V WN \ . JVA\ X MV,\x f\\ „ YnV P YDSY HSbv) Y’ r\\YPY Jfluito sincero scientificamente. Mostrou um apparelho que Jyouxe do Rio para os exames das fezes e os processos bem modernos para esses exames, pelos quaes, nem de leye, o microscopista pode sentir o odor da matéria exa- minada. Expoz as laminas usadas no Serviço e os medicamentos que vão ser usados, taes como o thymol, o quinino e o caríssimo oleo de chenopodio, ou de Santa Maria, como vulgarmente é conhecido, já devidamente preparados em capsulas de gelatina, com as dóses apropriadas. Referiu-se ainda, muito longamente ao papel impor- ante do guarda sanitario que requer ser um cidadão po- mo e cortez, de forma a fazer sympathias e não animosi- ades, vencendo ainda pela intelligencia, extremada pacien- m e dedicação «a rebeldia mal educada» dos que ainda ,^ao,.es^eÍam sufficientemente apparelhados para receber as medidas adoptadas. i Ademais, cabem ao guarda as responsabilidades de mi- strar aos doentes de suas zonas a medicação scientifica P escripta pelo medico, não podendo entretanto, nunca, em l s,° mgnm» esse auxiliar receitar de «motu proprio», alte- -1 „?u. diminuir dosagens, etc., e outras medidas que só ao as°l ?10na* Pódem competir. Esteve também mostrando do sas. que cnda guarda deve usar para o transporte s aiec^camenk)S e conducção de recipientes para as pli ° -as c*e fezes. Pediu S. S. desculpa da demorada ex- cacao estava fazendo, mas que, necessária assim achava, pois que era como o seu programma de traba- j °’ exposto alli, em presença do governo do Estado e col- gas, dos quaes também acceitaria todas as medidas que ca CooSSem ser suggeridas para o exito da missão a seu ec^a & S. a seus collegas que fizessem com amor a di? Re alli o Dr. Araújo frizou bem: apren- sgQa^m sim, porque eu a fiz, ha tres annos, na Commis- Par .c^efeher, para, mais tarde, chefiar os serviços do da a[|afr'Pois que, dentro em pouco, teriam a si o encargo apt i a~ c^os Post°s importantes que seriam creados com Lo V? uçao dos trabalhos. Dizendo da vinda do Dr. Levy ■ S6U assistente, contractado para o posto de Marajó, e f!? ue e^e também vinha fazer a sua aprendizagem anu’3 a"lar Com vontade de vencer, como todos os demais ra i uicorporados á Commissão. Depois de outras conside- vid°eS’ termiuou S. S. a sua palestra scientifica sempre ou- -0 com a mesma attenção e interesse. en ni seguida o Dr. Souza Araújo dirigiu-se ao salão em Um an i'a S* Exc. o Sr. Dr. governador do Estado e q a Vez aHi, rodeado pelas demais auctoridades, e o povo jl se acotovellava, na ancia curiosa de cada um que me- -1 quer ver e ouvir, fez ligeira allocução declarando inaugurado o Serviço Federal de Saneamento e Prophyla- xia Rural no Estado do Pará. S. S. diz que o posto central agora inaugurado con- servará o nome do immortal mestre Oswaldo Cruz, como homenagem a esse sabio, que não só firmou a consciência medica experimental no Brasil, como em toda a America do Sul. Elle pensava como a theoria de Augusto Comte os mortos guiarão os vivos e assim a recordação desse nome e a invocarão da grandeza profunda do saber do grande Mestre seriam alli o guia imperecivel para a conti- nuação dos seus trabalhos, dessa causa sacrosanta da ele- vação da nossa raça, incarnada na campanha redemptora do saneamento do Brasil. Também o segundo posto inaugurado conservaria o nome de Belisario Penna, como justíssima homenagem ao chefe do Serviço Geral no paiz, esse espirito trabalhador e culto que vem vencendo o problema sanitario com a direc- ção geral criteriosa, competente e decisiva dos trabalhos. Agradecia a presença e o apoio do governo estadual e pediria a imprensa sã e boa, a justiça dos serviços que a sua Commissão possa prestar ao Estado, abolindo os adjectivos pessoaes, para apenas dizer do valor dessa pro- paganda, que a ella deve caber, para o exito completo dessa grandiosa causa nacionalista e do quanto poderão conseguir o seu esforço, trabalho e dedicação, ao lado dos seus auxiliares. Pelo que alli se via elle podia affirmar que a educação sanitaria da população já estava feita, graças á vontade e competência do Dr. Dias Júnior; restava apenas completar a obra com os recursos com que contava a sua Commissão. Evidenciava bem tudo isso o desejo que o governo do Estado tem em conseguir o saneamento da sua terra, agora comprovado com essa campanha a ser iniciada pelo gover- no Federal, de accôrdo com o governo do Pará. Terminava, assim, numa sincera homenagem, dando um viva ao Dr. Souza Castro e ao Estado do Pará, que foram correspondidos com enthusiasmo. Usou da palavra, em seguida, S. Exc. o Sr. Dr. gover- nador do Estado: Illustre collega, começa S. Exc., ao assistir a inaugura- ção deste Posto, sinto a emoção rara de um ideal realizado. Ha cerca de 9 annos, justificava eu da tribuna da Ca- mara estadual um projecto de Lei, estabelecendo em todo o Estado a prophylaxia do paludismo e da lepra, como complemento forçado á conquista realizada da erradicação da febre amarella do nosso meio. Reclamava eu então tal medida como a aspiração mais palpitante de minha terra e o dever precipuo dos seus dirigentes a araparal-a pela valorização da raça, na con- quista da saude e do vigor dos seus filhos, quanto a enri- queeel-a pela efficiencia do trabalho do homem são e vigo- roso, capital de valor inestimável, o mais apto a produzir riquezas e a constituir património de grandezas moraes e materiaes. Nem outras foram as minhas palavras, aliás as primei- ras, pronunciadas na Gamara Federal, quando em 1918, obscuro representante do Pará, me alistei entre os propu- gnadores das medidas do saneamento do Brasil. Eleito governador foi a minha primeira iniciativa pro- curar alcançar para o meu Estado os favores da lei fede- ral, que de hoje em deante vamos fruir. E senhores em íueio as vicissitudes da grave crise financeira que nos as- soberba e que angustia os primeiros dias do meu go- verno, surge neste momento, desannuviando os horizontes, o fanal desta grande obra, que ora se inicia, guiando-nos ao destino a que nos fadou a grandeza deste recanto da Patria. Aos vossos talentos, á vossa dedicação, ao vosso pa- triotismo, Sr. Dr. Souza Araújo, em bôa hora foi confiada tão vultosa obra. O Pará vos recebe de braços abertos, e o seu governo, duplamente responsável, não poupará, vol-o affirmo, esfor- ços nem sacrifícios em bem da vossa missão. Finda a tarefa, que possa a minha terra, soerguida em vida florescente, vos render, em testemunho de gratidão e eiu homenagem aos vossos méritos, o culto que rende ao seu grande bemfeitor, que foi o grande mestre Oswaldo São os meus votos! Muitas palmas se ouviram. Após foram apanhadas varias chapas photographicas e finda a cerimonia começou o serviço de medicação, con- sultas e distribuição de remedios aos doentes feito pelos Dias Júnior e Francisco Miranda. O Dr. Souza Araújo limitou a jurisdicçào sanitaria dos dois postos, assim descriptos: Posto «Oswaldo Cruz» da margem do rio Guamá pela travessa José Bonifácio até 5, praça Floriano Peixoto, dahi pela margem direita da F- E- de Bragança até o kilometro 11, daqui tomando di- recção parallela á rua José Bonifácio, até o Guamá. Foram designados para servir neste posto os Drs. Dias júnior e Levy Loyola; escripturario Antonio Santos; guar- da-chefe Zacharias Cuoco; guarda de l.a João Gomes Faria; “•° Plácido Menezes e Luiz Ferreira dos Santos Bastos e .Constantino Lobato e José Steiner Couto; servente Elpidio Conceição Lobo. , Posto «Belisario Penna» começando do kilometro 11, °a E. F. de Bragança, margem esquerda, abrangendo as Povoações de São Joaquim e Sacramento, vae até o rio r*uajará, subindo por este até as travessas Bernal do Couto e. 22 de Junho; avenida de S. Jeronymo, até á praça Flo- riano Peixoto. Servirão neste posto os Drs. Francisco de Miranda e Lauro de Almeida Sodré; escripturario Jorge Victor Netto; guarda-chefe Affonso José Ribeiro; 1* classe Manoel da Costa Mathias; 2a Arthur de Castro França e João de Deus Barbosa Torres; 3.a José Hermenegildo Martins e José Honorato Torres; servente José Nicolau da Motta. Ficaram addidos a esses postos os sub-inspectores Drs. Hermogenes Pinheiro e João Pinto de Oliveira. —A’ tarde S. S. esteve novamente no posto tomando varias medidas concernentes ao Serviço. —Após a inauguração dos dois primeiros postos sani- tários ruraes nesta capital, o chefe do Serviço de Prophy- laxia, Dr. Souza Araújo, transmittiu ao respectivo director, Sr. Dr. Belisario Penna, no Rio de Janeiro, o seguinte tele- .gramma official, urgente: «Cabe-me a honra de communicar-vos que installei, tendo inaugurado, hoje, com a presença do illustre gover- nador e demais altas auctoridades Estado e representantes imprensa, os dois primeiros postos sanitários ruraes, um no bairro Souza, denominado «Oswaldo Cruz», e outro no bairro do Acampamento, denominado «Belisario Penna». Essas denominações já existiam para os antigos postos antipaludicos estaduaes e achei justíssimo conserval-as. O excellente prédio em que funcciona o primeiro posto foi cedido gentilmente pelo intendente municipal de Belem e tem terreno apropriado á installação de um serpentário; prédio segundo posto estamos acabando construir. Jurisdicção sanitaria cada posto ficou bem delimitada, tendo ambas cerca de 12.000 habitantes. Cordiaes sau- dações. » —Como matéria de contribuição da propaganda que a Folha poderá prestar á campanha nacional do nosso sa- neamento, damos os dizeres populares impressos no verso das fichas individuaes, e que são os mais rudimentaes pre- ceitos que cada indivíduo deve ter para se perservar do mal. «Roce o matto, o mais que puder, em volta de sua casa; não deixe também no seu terreno aguas paradas. Ahi é que vivem e se criam mosquitos que pela picada provocam as febres intermittentes. Com pouco dinheiro terá sua casa fechada para os mosquitos; o Posto lhe en- sinará a conseguir isso. O Posto também cura a sua febre; é preciso tomar o remedio, que elle lhe dér, nos dias marcados, mesmo que não esteja se sentindo doente. Os vermes produzem doenças tão sérias como a febre intermittente e que pouco a pouco tomam conta da pessoa e lhe estragam a saúde. E’ preciso ir se examinar no Posto e tomar o remedio que elle lhe dará de graça; e para não ficar peor ou não ter de novo a doença, é pre- ciso não obrar no chão. Faça a sua fossa barata; o Posto lhe fornecerá todas as indicações.» A proposíto da inauguração do Posto, o Sr. Dr. gover- nador do Estado transmittiu, hontem, os seguintes tele- grammas: Dr. Epitacio Pessoa, Presidente da Republica Rio Tenho a honra de communicar a V. Exc. que foram, hoje, inaugurados nos suburbios desta capital, com minha pre- sença e demais auctoridades do Estado e numerosa assis- tência os dois primeiros postos de Prophylaxia Rural, a cargo da Commissão Federal chefiada pelo Dr. Heraclides Souza Araújo. A população está confiante nos beneficios que advirão da humanitaria obra iniciada. Cumpre-me, em nome do Estado, agradecer a V. Exc. a manifesta boa vontade de seu patriótico governo auxiliando c Pará na realização de uma das suas mais ardentes aspira- ções como dever de humanidade e fecunda iniciativa em Prol do seu soerguimento economico. Attenciosas sauda- ções.—(a) Souza Castro. Dr. Alfredo Pinto Ministro da Justiça Rio Tenho a honra de communicar a Y. Exc. que foram, hoje, inaugu- rados no suburbio desta capital, os dois primeiros postos de Prophylaxia Rural, a cargo da Commissão chefiada pelo Pr. Heraclides Souza Araújo. Tive a satisfacção de assistir á solemnidade grande- mente concorrida, comparecendo também as auctoridades do Estado. Cumpre-me agradecer, em nome do Pará, a acção deci- sjva de V. Exc. na organização de tão relevante serviço na- cional. Attenciosas saudações (a) Souza Castro. Dr. Raul Leitão da Cunha, director da Saúde Publica. Rio.—Congratulo-me com V. Exc., pela inauguração, hoje, nos suburbios da capital dos dois primeiros postos de Pro- Pjiylaxia Rural, a cargo da Commissão chefiada pelo Dr. Heraclides Souza Araújo. Tive a honra de comparecer á solemnidade acompanhado das auctoridades do Estado e avultada assistência. População confiante relevantes bene- fícios lhe advirão Commissão Federal alvo de sympathias géraes.— Cordiaes saudações —(a) Souza Castro. Dr. Belisario Penna.—Directoria Saúde Publica. Rio. Tenho a mais viva satisfacção de communicar a V. Exc. a inauguração, hoje, nos suburbios de Belém, dos primeiros pos- tos de Saneamento Rural do Pará, um delles denominado «Belisario Penna», honra ao auctor do Saneamento do Brasil, cuja laboriosa capacidade profissional realçada de seu intrépido patriotismo ficarão na historia do nosso des- envolvimento como um dos mais bellos e mais fecundos exemplos. Cordiaes saudações. (a) Souza Castros (Da «Folha do Norte» de 10 —6 921). ACCÔRDO COM O MUNICÍPIO DE BRAGANÇA Aos vinte e seis dias do mez de Dezembro do anno de mil e novecentos e vinte e um compareceu nesta Chefia do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural no Estado do Pará, perante o respectivo Chefe Doutor Heraclides Cesar de Souza Araújo, o Coronel Childerico José Fernandes, intendente municipal de Bragança e declarou que, tendo sido auctorizado pelo respectivo Conselho Municipal nos termos da lei n.° 223 (duzentos e vinte e tres) de 10 de Dezembro do corrente anno, para execução naquelle muni- cipio dos trabalhos de -saneamento e prophylaxia rural por intermédio da respectiva Chefia do Serviço neste Estado, nos termos do artigo novecentos e noventa do Decreto numero quinze mil e tres de 15 de Setembro de mil e no- vecentos e vinte e um, assigna com o referido Chefe do Serviço, Doutor Heraclides Cesar de Souza Araújo, o pre- sente accôrdo por este approvado como representante legal neste Estado do Director Geral do Departamento Nacional de Saude Publica e de conformidade com o numero deze- nove do artigo quarenta e sete do citado Decreto e tam- bém em virtude do telegramma official numero quinhentos e sessenta e nove dé doze do corrente mez do Director de Saneamento e Prophylaxia Rural auctorizando não só a firmar o presente accôrdo, como a estabelecer Posto Sani- tário fixo na cidade de Bragança, com as testemunhas abaixo assignadas e sob as seguintes condições: Primeira: O Município de Bragança acceita e obri- ga-se a promover a acceitação pelos seus munícipes de todas as leis sanitarias, disposições e instrucções do De- partamento Nacional de Saude Publica, relativas ao as- sumpto ; Segunda:—A União organizará, a exclusivo critério do Departamento Nacional de Saude Publica, os serviços A Commissão de Prophylaxia Rural reunida no Instituto de Hygiene de Helém, a !) de Junho de 1922, para commemorar o primeiro anniveivario dos seus trabalhos. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTAOO DO PARÁ A PROPHYLfIXIA RURAL NO ESTADO DO PARÀ Commissão que iniciou os serviços Rural no Pará, em Junho e Julho de 1921. de Saneamento e Prophylaxia Rural, tanto na séde da co- marca como nas circumscripções judiciarias do Município, attendendo de preferencia as zonas mais attingidas pelas endemias, de população mais densa e de maior riqueza economica; Terceira:—Os serviços instituídos por este accôrdo serão executados, durante um anno, a começar de primeiro de Janeiro de mil novecentos e vinte e dois, sem interven- ção de qualquer auctoridade estadoal ou municipal, pelas commissões organizadas pelo Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural neste Estado, sendo vedado aos médi- cos encarregados de taes trabalhos o exercício da clinica remunerada; Quarta: O Intendente Municipal obriga-se, de accôrdo com a citada lei que auctorizou-o a firmar este contracto, a pagar no ultimo dia util de cada mez, a começar de Ja- neiro proximo, a quantia de um conto e quinhentos mil réis, correspondente aum terço das despezas mensaes cal- culadas para o custeio dos referidos serviços; Quinta: O pagamento estipulado pela clausula ante- por será feito directamente ao medico director do posto de Bragança, que justificará a applicação da referida impor- tância com documentos originaes cornprobatorios de despe- Zas realizadas com a manutenção do referido posto pe- rante o Intendente Municipal e a Chefia do Serviço; Sexta: O Intendente Municipal Obriga-se a prestar todo o apoio moral e todas as precisas facilidades aos tunccionarios encarregados da execução dos trabalhos; Sétima: A falta de cumprimento por parte do Muni- clPio de qualquer das condições, a que se obriga pelo pre- Sente accôrdo, importa na rescizão immediata deste sem di- reito do Municipio a qualquer indemnização e sob qual- quer titulo. E, por estarem assim accórdes, lavrou-se este termo que vae assignado pelo Chefe do Serviço de Sanea- niento e Prophylaxia Rural neste Estado, Doutor Heracli- bes Cesar de Souza Araújo e pelo Intendente Municipal ue Bragança, Coronel Childerico José Fernandes, e pelas testemunhas Doutor Jayme Jacintho Aben-Athar e Bacha- rel José Severiano Lopes de Queiroz, abaixo assignadas. P eu, Carlos Horacio e Silva, guarda-livros do Serviço o escrevi e assigno aos vinte e seis de Dezembro de mil e novecentos e vinte e um, nesta cidade de Belém, capital do Lstado do Pará. Dr. Heraclides Cesar de Souza Araújo. íAjilderico José Fernandes. Dr. Jayme Jacintho Abe?i- Athar. José Severiano Lopes de Queiroz. Carlos Hora- Cl° e Silva. ACCÔRDO COM O MUNICÍPIO DE BELÉM Aos onze dias do mez de Janeiro do anno de mil nove- centos e vinte e dois, compareceu nesta Chefia do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural, perante o respectivo Chefe Doutor Heraclides Cesar de Souza Araújo, o Doutor Cy- priano José dos Santos, Intendente Municipal de Belém, e declarou que, tendo sido auctorizado pelo respectivo Conse- lho Municipal, nos termos da lei numero mil e quarenta, de dezeseis de Dezembro de mil novecentos e vinte e um, para execução naquelle Município dos trabalhos de sanea- mento e prophylaxia rural por intermédio da respectiva Chefia do Serviço neste Estado, nos termos do artigo no- vecentos e noventa do decreto numero quinze mil e tres, de quinze de Setembro de mil e novecentos e vinte e um, assigna, com o referido Chefe do Serviço, Doutor Heraclides Cesar de Souza Araújo, o presente accôrdo, por este ap- provado como representante legal neste Estado, do Dire- ctor Geral do Departamento Nacional de Saúde Publica, e, de conformidade com o numero dezenove do artigo qua- renta e sete do citado decreto e também em virtude do telegramma official numero seiscentos e vinte, de tres do corrente mez, do Director Geral de Saneamento e Prophy- laxia Rural, auctorizando-o a firmar os accôrdos que jul- gar convenientes aos serviços de Saneamento e Prophylaxia Rural, com as Municipalidades deste Estado, com as teste- munhas abaixo assignadas e sob as seguintes condições: Primeira; O Municipio de Belém acceita e obriga-se a promover a acceitação pelos seus municipes de todas as leis sanitarias, disposições e instrucções do Departamento Nacional de Saúde Publica, relativas ao assumpto; Segunda: A União organizará a exclusivo critério do Departamento Nacional de Saúde Publica, os serviços de Saneamento e Prophylaxia Rural que serão executados por intermédio de uma commissão medica ambulante, corre- spondente a um posto sanitario de primeira classe, que tra- balhará na Estrada de Ferro de Bragança, de Ananindeua até Anhanga, e outras circumscripções judiciarias do Mu- nicipio, attendendo, de preferencia, as zonas mais attingi- das pelas endemias, de população mais densa e de maior riqueza economica; Terceira: —Os serviços instituídos por este accôrdo serão executados durante dois annos, a começar desta data e a terminar a trinta e um de dezembro de mil e nove- centos e vinte e tres, sem intervenção de qualquer auctori- dade estadual ou municipal, pelas Commissões organizadas pelo Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural neste Estado, sendo vedado aos médicos encarregados de taes trabalhos, o exercicio da clinica remunerada; Quarta: O Intendente Municipal resolve acceitar a intervenção da Commissào Sanitaria Federal, -nos termos do artigo quinhentos e cincoenta e quatro, do Regulamento em vigôr, e manda adoptar no JVJunicipio de Belém, todas es leis sanitarias e instrucções emanadas do Departamento Nacional de Saúde Publica, no que se referir á Fiscaliza- ção dos Generos .Alimentícios, Para execução deste dispo- sitivo o Serviço Federal agirá de accôrdo com o Director do Serviço Sanitario Municipal; Quinta:—Nos termos dos artigos mil e cento e trinta e quatro, mil e cento e trinta e cinco, mil e cento e cinco- enta e seis, mil e cento e cincoenta e nove e mil e cento e sessenta e dois, do Regulamento Sanitario Federal, os servi- Ç^s de policia sanitaria e hygiene das habitações, na ca- pital e noutros centros populosos do Município, serão exe- cutados conjunctamente pelos Serviços de Prophylaxia Eural e Sanitario Municipal. As penalidades referentes a esta clausula serão impostas nos termos dos artigos mil e cento e sessenta e oito e mil e cento e setenta e cinco do citado Regulamento; Sexta: O Intendente Municipal obriga-se, de accôrdo c°m a citada lei, que o auctorizou a firmar este accôrdo, a pagar a quantia de setenta e dois contos de réis an- nuaes para o custeio dos referidos serviços, sendo doze contos de réis pagos adeantadamente e directamente ao Eistituto Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, dos quaes seis contos de réis neste mez de Janeiro e os outros seis con- tos de réis no começo de Julho futuro, quantia destinada a requisição de saes de quinina para distribuição gratuita pela referida Commissão Ambulante, e os restantes ses- Septa contos, serão pagos adeantadamente por trimestre, até o fim do seu primeiro mez, em quotas de quinze con- pS de réis, directamente ao Almoxarifado do Serviço de Prophylaxia Rural, nesta capital; Sétima: O Serviço de Prophylaxia Rural obriga-se f Jarestação de contas por trimestres vencidos, por meio de °lhas de pessoal, facturas e contas originaes, comprovando .despezas effectuadas, directamente ao Intendente Mu- nicipal ; Oitava: Até o dia trinta de Junho de mil e nove- entos e vinte e dois este accôrdo poderá ser modificado MUanto á quota do custeio; Nona: Durante o tempo em que estiver em exe- uÇa° este accôrdo o Serviço de Prophylaxia Rural obri- §a-se a manter dentro do Município pelo menos tres pos- tos sanitários correspondentes á Commissão mantida pelo Município e custeados pela verba Estado-União ; Decima: O Intendente Municipal obriga-se a prestar todo o apoio moral e todas as precisas facilidades aos funccionarios encarregados da execução dos trabalhos; Decima primeira: A falta de cumprimento por parte do Município de Belém de qualquer das condições, a que se obriga pelo presente accôrdo, importa na rescizão immediata deste, sem direito do Município a qualquer in- demnização e sob qualquer titulo. E por estarem assim accórdes lavrou-se este termo que vae assignado pelo Chefe do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural neste Es- tado, Doutor Heraclides Cesar de Souza Araújo e pelo In- tendente Municipal de Belém, Doutor Cypriano José dos Santos, e pelas testemunhas Doutor Sulpicio Ausier Bentes e Doutor Jayme Jacintho Aben-Àthar, abaixo assignadas. E eu, Carlos Horacio e Silva, Guarda-livros do Serviço es- crevi e assigno aos onze dias do mez de Janeiro de mil e novecentos e vinte e dois, na séde do Serviço nesta cidade de Belém, capital do Estado do Pará. (aa) Heraclides Ce- sar de Souza Araújo. Cypriano José dos Santos. Sulpicio Ausier Bentes. Jayme Jacintho Ahen-Athar. Carlos Hora- cio e Silva. ACCÔRDO COM O SERVIÇO SANITÁRIO DO ESTADO Aos doze dias do mez de Janeiro do anno de mil no- vecentos e vinte e dois compareceu na Chefia do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural, perante o respectivo Chefe, Doutor Heraclides Cesar de Souza Araújo, o Doutor José Cyriaco Gurjão, Director do Serviço Sanitario do Es- tado e declarou que acceita o presente accôrdo para execu- ção, no Estado do Pará, do Regulamento do Departamento Nacional de Saúde Publica, approvado pelo Decreto nu- mero quinze mil e tres, de quinze de Setembro de mil e novecentos e vinte e um, com o seguinte limite de attribui- ções, conforme as clausulas abaixo entre a sua Repartição e o Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural no Estado do Pará, e assigna, com as testemunhas abaixo firmadas e o Chefe do Serviço, Doutor Heraclides Cesar de Souza Araújo, como representante legal, neste Estado, do Dire- ctor Geral do Departamento Nacional de Saúde Publica: Primeira: —O Serviço Sanitario do Estado do Pará adopta, para todos os effeitos, o Regulamento Sanitario federal, approvado pelo Decreto numero quinze mil e ires de quinze de Setembro de mil e novecentos e vinte e um, ficando o Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural en- carregado da execução da parte que trata de: a) Fiscalização do Exercício da Medicina, Pharmacia, Arte dentaria e Obstetrícia. b) Prophylaxia Gera[ das doenças transmissíveis. c) Prophylaxia especifica das doenças de notificação compulsória, das doenças venereas e do câncer. d) Policia sanitaria, em geral. Segunda:—Tornar-se-ão effectivas em todo o Estado as disposições do Regulamento Sanitario Federal no que diz respeito ao exercício da medicina, da pharmacia, arte dentaria e obstetrícia, bem assim a fiscalização das espe- cialidades e productos pharmaceuticos, sôros, vaccinas e outros productos biologicos, tudo de conformidade com o artigo cento e quarenta e nove do referido Regulamento; Terceira: —Ao Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural competirá a execução da clausula anterior, de que Rata o capitulo quarto do titulo quinto do Regulamento; nos seus artigos cento e cincoenta e cinco a cento e no* Vonta e seis, reservando-se o direito ao Serviço Sanitario do Estado de fazer o registro dos livros das pharmacias "artigo cento e sessenta e seis, paragraphos quinto e sexto e o termo de responsabilidade dos mesmos, como preceitua o artigo cento e sessenta e oito; Quarta: —Na parte do titulo terceiro— Prophylaxia Geral a que se referem os artigos duzentos e sessenta a trezentos e vinte e um, o Serviço Sanitario do Estado re- ceberá as notificações de todos os casos de doenças trans- missíveis que occorrerem dentro do perímetro urbano e o Serviço de Prophylaxia Rural as notificações dos que occorrerem na zona suburbana, devendo o isolamento noso- conhal do doente, sempre que fôr necessário ser feito P°r esta ultima Repartição. A vigilância do isolamento domiciliar—artigo duzentos e setenta e nove —; as desin- fecções—artigo duzentos e oitenta e oito a trezentos e cinco—e a vigilância medica —artigos trezentos e seis a trezentos e vinte e um serão feitas pelo Serviço Sanita- rio do Estado, quando no perímetro urbano; Quinta: —Na parte do titulo quarto—Prophylaxia es- pecifica das doenças de notificação compulsória das doen- ças venereas edo câncer o Serviço Sanitario do Estado íeceberá as notificações de todos os casos, com excepção apenas dos de lepra e doenças venereas, a cargo total- -IPeriteite do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural. , disposições contidas nos artigos trezentos e vinte e tres a trezentos e oitenta, de quatrocentos e trinta e dois a Quatrocentos e noventa e seis e quinhentos e trinta e cinco a quinhentos e trinta e nove, serão executadas pelo Serviço Sanitario do Estado, ficando o isolamento noso- comial do doente, quando necessário, a cargo do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural, a excepção dos casos de tuberculose; Sexta: —Os serviços de hygiene das habitações —capi- tulo segundo artigos seiscentos e dez a setecentos e cin- coenta e oito; Policia Sanitaria, «artigos setecentos e cin- coenta e nove a oitocentos e vinte e quatro, ficarão a cargo do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural, re- servando-se o direito ao Serviço Sanitario do Estado da fiscalização das habitações particulares, a excepção das casas onde residem meretrizes ou pessoas suspeitas de in- fecção venerea, como preceituam os artigos quatrocentos e noventa e nove e quinhentos, do Regulamento; S(etima: —Os serviços de hygiene escolar, assistência publica e hospitalar, ficarão totalmente a cargo do Serviço Sanitario do Estado; Oitava: O Serviço Sanitario do Estado se obriga a cumprir fielmehte todas as clausulas do presente accôrdo, prestando o seu apoio e precizas facilidades para a exe- cução dos trabalhos de saúde de que elle trata; Nona: —Os casos omissos neste contracto serão resol- vidos de commum accôrdo, pelo Chefe do Serviço de Sa- neamento e Prophylaxia Rural, e Director do Serviço Sani- tario do Estado. E, por estarem assim accórdes lavrou-se este termo, que vae assignado pelo Chefe do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural neste Estado, Doutor He- raclides Cesar de Souza Araújo, Doutor José Cyriaco Gur- jão e as testemunhas Doutores Jayme Jacintho Aben-Athar e Lauro de Almeida Sodré. Eu, Carlos Horacio e Silva, Ajudante de Almoxarife, servindo de Guarda-livros, o es- crevi e assigno aos doze dias do mez de Janeiro do anno de mil e novecentos e vinte e dois, na séde do Serviço nesta cidade de Belem, capital do Estado do Pará. (aa) Dr. Heraclides Cesar de Souza Araújo. Dr. José Cyriaco Gurjão. Dr. Jayme Jacintho Aben-Athar. Dr. Lauro A. Sodré. Carlos Horacio e Silva. CAPITULO II OITO ANNOS DE GESTÃO DO SERVIÇO SANITÁRIO DO ESTADO DO PARÁ Pelo seu Director Gera! Dr. JOSÉ CYRXACO 6UBJÃO Ao assumir a Directoria do Serviço Sanitario do Es- tado, em Junho de 1913, grassava nesta capital uma epide- mia de variola, que, importada do Sul da Republica pelo vapor «Sergipe», do Lloyd Brasileiro, se disseminou rapi- damente. Procurei logo, como meio de dar combate ao mal, incentivar o serviço de vaccinação e revaccinação, mstituindo postos vaccinicos e levando o meio prophyla- ctico aos pontos de onde eram removidos os doentes. Logo após a remoção e isolamento dos enfermos, era applicada a vaccinação em toda a área circumvizinha da casa infe- ctada que soffria rigorosa desinfecção, ficando os commu- mcantes sob vigilância medica. Até o mez de Dezembro desse anno foram notificados e removidos para o hospital Sebastião» 157 variolosos. A epidemia prolongou-se, dada a sua disseminação em vários pontos da cidade, até 0 mez de Maio do anno seguinte, quando foram isolados °s dois últimos doentes. Posteriormente, no mez de Agosto, nouve ainda uma notificação confirmada. De Janeiro a Agosto de 1914 foram feitas 145 remoções. A vaccinação e revaccinação attingiu em 1913 o elevado numero de 34.791, subindo a 18.774, no aiino seguinte. Desde Agosto de 1914 não mais se registou caso algum de variola, até que, ern principios do anno de 1920, foram verificados alguns 110 quartel do 26.° Batalhão de Caçadores e em uma pe- Jluena zona, nas proximidades do referido quartel, porém 10go extinctos com a applicação de medidas prophylacticas Postas em pratica pela Repartição Sanitaria. Em 1913 a variola não se limitou somente a capital do Estado, esten- deu-se a vários Municípios, como os de Bragança, Igarapé- Assil e Quatipurú, na margem da via-ferrea de Bragança, 8 mais aos de Curralinho, Breves e Itaituba. Dos tres Pnrneiros foram removidos 74 doentes e dos outros apenas fizeram-se 11.816 vaccinações nesses Municípios. Após a epidemia de 1913, que se extendeu até o anno "eguinte, a não serem os poucos casos assignalados no inartel do 26.° de Caçadores, foi considerado o Estado in- mraniente livre de variola. Entretanto, não ficou des- curado o serviço de vaccinação, antes pelo contrario acti- vou-se com perseverança, como se poderá vêr pelo quadro annexo, em que se verifica o serviço distribuído por me- zes e annos. No anno de 1914 apresentei ao Sr. governador do Es- tado a reforma do Serviço Sanitario que dirijo. A nova organização teve principalmente em mira iniciar uma activa campanha contra o impaludismo e a lepra, dois grandes flagellos implantados em todo o Estado. Esta reforma, porém, foi de curta duração, pois, por medida de econo- mia, teve de ser modificada e reduzida. Entretanto, para muitos municípios do interior do Estado, foram enviadas ambulancias, requisitadas pelos respectivos intendentes, para dar combate ao impaludismo. Taes foram esses mu- nicípios e localidades de Gurupá, Marapanim, Mojú, Moca- juba, Santarém Novo, Breves, Oeiras, Vigia, Faro, Cametá, Maracanã, Yizeu, Santarém, Monsarás, Souzel, Anajás, Afuá, Muaná, Alemquer, Curralinho, Macapá, Mazagão, S. Miguel do Guamá e S, João do Araguaya. Na povoação de Anhanga, zona da margem da Es- trada de Ferro de Bragança, vinha o impaludismo gras- sando sob fórma epidemica ha algum tempo, pelo que para lá fiz seguir o inspector sanitario Dr. Antonio Figueiredo, que iniciou uma campanha prophylactica de bons resulta- dos. Este inspector verificou, pelas suas pesquizas de la- boratorio, que, além do impaludismo, a população estava infectada pela ancylostomose e outras verminoses. Só nesse periodo foram quininizados 1.817 doentes e medica- dos 320, com thymol. Também, logo no inicio de minha administração, não me esqueci de chamar a attenção dos poderes públicos para o combate á lepra. E assim me manifestei em rela- tório dirigido ao Governo em 1914; «Uma doença que se fem disseminado no Estado de maneira assustadora é a lepra. Infelizmente não dispomos ainda de uma colonia des- tinada ao isolamento de leprosos; e o hospital designado para esse fim, o de Tocunduba, além de não prehencher os fins a que se destina, está, actualmente, com a sua lo- tação excedida, não podendo mais receber doentes. A Re- partição Sanitaria tem procurado fazer- o isolamento domi- ciliário, indicando as medidas a pôr em pratica, sempre que possível. Torna-se pois necessário fazer acquisição de um local onde possa ser installada uma leprosaria, em que o isolamento seja uma realidade, garantindo a população contra o contagio». Ao assumir o Governo o Dr. Lauro Sodré, S. Exc. procurou visitar o asylo do Tocunduba, c então verificou pessoalmente, a imperfeição e o desconforto dessa colonia de isolamento. Procurando resolver um pro- blema de tamanha utilidade para garantir o Estado contra a propagação crescente da doença, S. Exc. conseguiu do Go- verno Federal a dotação de uma verba para a construcção de um edifício destinado ao isolamento de leprosos, já tendo sido lançada a primeira pedra do edifício, como ini- cio dos trabalhos, que não fôram proseguidos. A commissão de Prophylaxia Rural, chefiada pelo Sr. Dr. Heraclides de Souza Araújo, que trabalha no Estado desde Junho do anno passado, está appiicando nos lepro- sos, cujo recenseamento já foi feito na capital, o tratamento modernamente aconselhado, sem, entretanto, ainda poder fazer o isolamento que se faz necessário. Em dezembro de 1915, como casos repetidos de impa- ludismo se tivessem manifestado na capital do Estado, na z°ua no Marco da Legua, sobretudo na estação do Entron- camento, foi alli installado um posto medico, superinten- dido pelo Dr. Bernardo Rutowitcz, que acudia os doentes ern domicilio ou em consultorio, fazendo a quininização me- lódica e regular. Tendo a doença se extendido até a rravessa 22 de Junho e bairro de S. João, fôram creados Posteriormente, mais oito postos médicos no bairro de L- Braz, Avenida Independencia, Travessa 22 de Junho, pargos da Penitenciaria e Santa Luzia e Travessa dos Jurunas, confiados a inspectores sanitários. Nesses postos foram attendidas 7.090 pessoas; procedeu-se ainda ao nive- lamento dos terrenos do Entroncamento, onde existiam §Tandes depressões pela retirada de areia, do que resultou a melhoria da situação sanitaria do local. ' Ainda em 1915 fôram importados do Sul e do Ama- zonas, nos vapores «Pará» e «Guanabara», tres casos de Mariola. Convenientemente isolados e submettidos os com- municantes á vigilância medica e vaccinação, não tiveram fchzmente reproducção. O governador Sr. Dr. Enéas Martins, resolveu, de ac- com esta Directoria, adaptar o hospital Domingos freire para o isolamento de tuberculosos, visto o Regula- mento Sanitario não permittir que portadores dessa doença ivessem accesso nos outros hospitaes, desde que estes não lsP°zessem de uma secção de isolamento. A Directoria concordou com essa medida, apezar de reconhecer que esse °spital, pela sua exiguidade, não poderia receber senão vln-ílumero limitado de doentes (40), o que de facto se tem cnficado. Entretanto é a tuberculose uma das doenças |Ue mais gravam o obituário de Belém, e a sua cifra de mortalidade vae crescendo cada anno, como se verá no luadro junto a este, e a reclamar medidas que entravem, sa marcha devastadora. No primeiro anno do governo do Sr. Dr. Lauro Sodré, gJJ1 1917, como continuassem se manifestando repetidos ca- s de impaludismo na cidade, S. Exc. resolveu por solici- cl c*a Directoria do Serviço Sanitario, crear uma secção cstinada ao combate dessa doença, cuja chefia coube ao Sr. Dr. Dias Júnior. Em Março desse anno fôram inaugu- rados nas zonas suburbanas da cidade 7 postos médicos, assim discriminados: 1 no edifício da Penitenciaria, em S. João, chefiado pelo inspector sanitario, Dr. Theodorico de Macedo; 1 na Pedreira, funccionando na escola municipal, a cargo do Dr. Hermogenes Pinheiro; 1 no Largo de Santa Luzia e outro na Uzina de Cremação, a cargo do Dr. Appio Medrado; 1 em S. Braz (mercado municipal) e outro no Instituto Lauro Sodré, a cargo do Dr. Mario Chermont; 1 na Travessa dos Jurunas, aos cuidados do Dr. Bruno Bittencourt. Mais tarde foi incorporado o posto do Souza, funccionando no Asylo de Mendicidade, que era municipal, com a Inspectoria do Dr. Dias Júnior. Os serviços prestados por estes postos fôram realmente extraordinários, bastando assignalar que, no curto periodo de tres mezes, fôram nelles medicados um crescido numero de doentes, na sua maioria atacados de impaludismo e verminoses. Em 1918, em relatorio dirigido ao governador do Es- tado, assim nos manifestámos: «E’ lisongeiro registar que neste periodo de um anno, de Julho de 1917 a egual mez de 1918, não peorou o nosso estado sanitario, antes tendeu a melhorar. Com effeito, nenhuma das doenças epidemicas que dizimam as populações entre nós se implantou; o im- paludismo, endemico no Estado, diminuiu sensivelmente, graças ás medidas postas em pratica, não só na capital como em vários pontos do interior do Estado, como se ve- rifica no quadro annexo.» Mais adiante disse: «Logo que foi estabelecido o serviço da campanha anti-paludica, em meiados do anno passado crearam-se diversos postos mé- dicos com aquelle intento, nos bairros mais afastados da cidade e na zona marginal da Estrada de Ferro de Bra- gança. O serviço que estes postos têm prestado é facil de vêr nos quadros annexos, nos quaes estão discriminados todos os dados colhidos. Quanto aos resultados, a diminui- ção da cifra de mortalidade por impaludismo, o decréscimo sensivel do numero de indivíduos que vizitam estes postos, estão a demonstrar como elles fôram proveitosos.» Sobre o Instituto Pasteur, installado no Estado no anno de 1917, assim me referi no relatorio apresentado ao governo, no anno seguinte: «O Instituto Pasteur, creado em meiados do anno passado, sob o vosso governo (Dr, Lauro Sodré), vem prestando relevantes serviços, confiado, como está, á competência do Dr. Jayme Aben-Athar. O Instituto começou a funccionar num momento em que gras- sava no Estado uma epidemia de raiva e quando eram enviados por conta do Estado, para o Instituto congenere de Pernambuco, não pequeno numero de indivíduos mor- didos por cães hydrophobos.» Em agosto de 1917 foi o Instituto franqueado ao pu- blico, tendo até o fim do corrente anno recebido em trata- mento 239 doentes.» No relatorio apresentado pelo Dire- ctor do Instituto em 3919, verifica-se que fôram tratados mais 272 individuos mordidos por cães e gatos. Destas pessoas falleceram 4, sendo, porém, que em um, a hydro- phobia se manifestou antes de terminado o tratamento, em outra o mal foi irromper oito dias após a conclusão do tratamento; assim só tivemos a lamentar dois insuccessos, 0 que dá uma mortalidade de 0,73 %. Em fins de 1918 irrompeu na cidade a epidemia da gHppe, importada pelo vapor «Ceará» do Lloyd Brasileiro, do Sul do paiz, onde então grassava. O vapor chegou ao Porto a 4 de Outubro, manifestando-se logo a doença na cidade. O primeiro obito verificou-se a 14 do referido mez. O mal disserninou-se de um modo assustador, obrigando as auctoridades sanitarias a se reunirem para tomar medi- das que se tornavam necessárias. Entre estas foi determi- nada a creação de postos médicos em diversos pontos da cidade, para accudir aos que a elles recorressem; foi feita também a adaptação dos hospitaes S. Sebastião e S. Ro- cque para receber os grippados pneumonicos e creado niais um hospital, o «Benjamin Constant», installado no grupo escolar desse nome. A epidemia fez grande mor- tandade no periodo de doi& mezes, declinando no mez de dezembro. O movimento dos hospitaes foi o seguinte: ENTRAI). CURAI). FALL. Hospital S. Rocque 102 87 15 » S. Sebastião 274 216 58 » Benjamin Constant 82 65 17 » Santa Casa 281 234 47 > Ordem 3.a S. Francisco... 250 220 30 » D. Luiz 1 458 436 22 Total 1.447 1.258 169 ou 13,06% de mortalidade. . O total da mortalidade pela grippe em Belém, nos °.ls mezes que durou a epidemia, attingiu a 544 obitos. A Pidemia extendeu-se a alguns municípios do interior do stado, aos quaes teve o governo necessidade de enviar soccorros. v Hm 1916, em consequência da secca que se desenvol- vi U alguns Estados do meio-norte, principalmente no houve um exôdo da população desses Estados, que dirigiu principalmente para o nosso. Cerca de vinte mil ce’SS9S nossos compatrícios fôram recebidos no Pará e re- c-1080 da possibilidade de introducção de doenças pestilen- aes por esse intermédio, o Director do Serviço Sanitario cordou com o governo o estabelecimento de uma hospe- davia, onde os immigrantes podessem ser fiscalizados antes de serem distribuídos pelo Estado. Esta hospedaria foi installada no Outeiro onde fôram inspeccionados e vacci- nados 16.152 immigrantes, tendo sido muitos isolados nos hospitaes S. Rocque e S. Sebastião como portadores de trachoma, dysenteria, varicella e sarampão. Poude, assim, o Estado ficar ao resguardo da explosão de qualquer epi- demia. Casos de diphteria não raro apparecem na cidade, principalmente nas estações de inverno; e é curioso veri- ficar que a moléstia não reveste, entre nós, o mesmo ca- racter de gravidade e disseminação que se observa nos paizes frios. Faziamos o isolamento em domicilio, sempre que era possivel, ou removiamos o doente para o Hospital S. Rocque, no caso contrario. A Repartição Sanitaria es- teve sempre provida do sôro especifico, para cura desta natureza. Talvez o nosso calor equatorial e a intensidade da luz solar sejam a causa da attenuação relativa do ba- cillo de Lceffler, em logares quentes como o nosso. A peste, que nos veio do Sul em Novembro de 1903, aqui se implantou por mais de oito annos, sendo a ultima notificação em Maio de 1912. Dahi em diante, temos es- tado inteiramente livres delia, nada obstante a nossa com- municação frequente com outros Estados, onde a doença grassa com alguma intensidade. Ainda pouco tivemos um caso de pneumonia pestosa procedente do Ceará, o qual convenientemente isolado, medida prophylactica esta secun- dada por outras auxiliares, não produziu casos novos. Da febre amarella está o Estado livre desde 1911, épocha em que a Commissão «Oswaldo Cruz» deu os seus trabalhos por ultimados, sem que nenhum caso mais fosse notificado até hoje. O feliz exito desta campanha, feita á custa do Estado, que com ella gastou não pequena somma, foi de grande utilidade e muito concorreu para facilitar a immigração de colonos, infelizmente tão arredios de nós pela grande mortalidade entre elles verificada em verda- deiras epidemias, que mais de uma vez se desenvolveram no Estado. Muito peza no obituário de Belém a mortalidade in- fantil por gastro-enterite. A causa principal desse facto reside no vicio da alimentação das creanças por mães ignorantes e desconhecedoras dos principios elementares da puericultura e a carência, entre nós, dos meios neces- sários para incentivar e desenvolver esses conhecimentos, nomeadamente a creação das «Gottas de leite», tão uteis para a acquisição do principal alimento da creança, livre de germens nocivos. A «Assistência e Protecção á Infân- cia», creada aqui por iniciativa particular, pouco póde ainda fazer, por dispor de exiguos recursos, esforçando-se entretanto no seu emprehendimento, que merece o apoio de todos os que conhecem qual o valor de cada vida põu- Pada, para o progresso futuro de uma nação. Em 2 de Junho de 1921 chegou ao Estado a Commis- são de Prophylaxia Rural chefiada pelo Sr. Dr. Heraclides de Souza Araújo, que pelo contracto assignado com o go- verno, veiu iniciar os seus trabalhos, tendo sido inaugura- dos no dia 9 do mesmo mez. Em 21 de Junho de 1921 baixou o governo do Estado um decreto pelo qual foi entregue ao Serviço de Prophy- laxia Rural, o Laboratorio Bacteriológico do Estado, a Pharmacia, o Instituto Pasteur e o Hospital de S. Sebas- tião e reduzido também o Serviço Sanitario do Estado, cujas attribuições fôram limitadas de accôrdo com as deter- minações do referido decreto e entendimentos entre o Chefe do referido Serviço e o Director do Serviço do Estado. Belém, Maio de 1922. Resumo da campanha de prophylaxia da febre amarella no Estado do Pará A Commissão «Oswaldo Cruz» de prophylaxia da febre amarella, deu inicio aos seus trabalhos em Belém a 12 de Novembro de 1910, com o seguinte pessoal: 1 Chefe da Commissão; 1 Inspector Geral; 6 Inspectores Sanitários; 10 Médicos auxiliares; 1 Administrador; 1 Almoxarife; 1 Escripturario; 4 Chefes de turmas; 20 Capatazes; 51 Guar- das; 25 Pedreiros; 25 Ajudantes de Pedreiros; 5 Cochei- Pps; 3 Moços de Cocheira; 12 Carroceiros; 2 Foguistas; 1 Bombeiro; 1 Ajudante de bombeiro; 2 Vigias; 1 Copeiro; 040 Serventes. Total: 513. Em Maio de 1911 estava erradicada a febre amarella de Belém, conforme o quadro abaixo: 1910 1910 notificações positivas obitos 96. Média diaria: 5,05 Novembro. 49. Média diaria; 1,63 Oezembro. 85. » » 0,74 Dezembro. 37. » » 1,19 1911 1911 notificações positivas obitos Janeiro.... 27. Média diaria: 0,87 Janeiro.... 15- Média diaria; 0,45 evereiro . 13. » » 0,46 Fevereiro .9. » » 0,32 4. » » 0,12 Março 1. » » 0,03 bnl 2. » » 0,06 Abril 1. » » 0,03 1 ai° 1. » » 0,03 Maio 0. » » 0,00 No anno de 1911, no obituário, encontram-se 37 obitos, porém somente 26 registados em Belém. 1912 Neste armo e no de 1913, os tres casos que estão re- gistados no obituário são das seguintes procedências: Em 3 de Março, um moço russo, passageiro do vapor «Rio Mar», procedente de Santarém. Chegou a 27 de Fe- vereiro, tendo adoecido no dia seguinte. Em 6 de Março, um passageiro do vapor inglez « An- selm», procedente de Manáos, desembarcou em estado ago- nico, vindo a fallecer no momento da entrada no isola- mento. Em 24 de Abri], um individuo portuguez, chegado do baixo Amazonas pelo «Rio Mar» no dia 14 de Abril, adoeceu dois dias depois, sendo internado no isolamento do Hospital D. Luiz I, onde falleceu a 18 do mesmo mez e anno. Eduardo Affonso, portuguez, 29 annos de edade, pas- sageiro do «Rio Mar» chegou de Santarém a 11 de Feve- reiro de 1913, indo hospedar-se á travessa de S. Matheus, n. 149, donde foi removido para o isolamento do hospital D. Luiz I a 14, fallecendo a 15 do mesmo mez e anno. 1913 José da Silva, portuguez, 29 annos, chegou de Manáos a 6 de Maio de 1913 no vapor «Mamoriá», de bordo do qual foi removido para o pavilhão «Oswaldo Cruz », onde falleceu a 9 do mesmo mez. Nicolas Schipmann, allemão, 30 annos, chegou de Ma- náos no dia 2 de Junho de 1919, no vapor do mesmo nome, de bordo do qual foi removido para o isolamento da Or- dem 3.a, onde falleceu a 8 do mesmo mez. Custo da extincção da febre amarella no Pará Novembro. ................. 1910 235:1668169 Dezembro................... 175:5891418 1911 410:7551587 Janeiro. ..................... 169:6918640 Fevereiro 135:944$907 Março . 148:6331781 Abril 120:9901677 Maio. 105:3858931 Despeza de 1910... ..... 680:6361836 410:7558587 Total geral 1.091:392$423 SECÇÃO DE DEMOGRAPHIA Mortalidade em Belém por tuberculose nos annos de 1910 a 1921 K> O 6 < Janeiro Fevereiro o o» cê Abril I 1 o ‘«3 o d 0 Julho o -P UI o <3 Setembro Outubro i O U S O S o Sh rQ S G> N O PI <: Eh O EH 1910 40 33 40 34 39 30 39 32 34 44 40 36 441 1911 46 30 32 39 41 44 35 39 32 33 37 36 444 1912 33 43 43 40 43 40 41 43 35 34 32 38 465 1913 42 40 45 44 38 46 40 45 40 40 43 33 496 1914 48 29 58 45 56 53 48 47 42 35 42 47 550 1915 37 44 43 52 47 39 48 41 46 39 33 45 514 1916 44 56 56 58 62 46 49 43 38 32 46 37 567 1917 47 48 46 39 45 50 41 50 44 41 46 42 539 j 1918 65 36 50 58 68 48 55 41 39 112 162 77 811 1919 68 50 70 61 59 50 46 56 54 45 51 42 652 1920 67 53 60 68 77 66 61 52 59 44 52 52 711 1921 57 46 66 54 69 54 41 42 44 38 40 70 621 — — Mortalidade em Belém por paludlsmo nos annos de 1910 a 1921 CO 0 1 O .Í3 *o « cj h> o U •H O h CD > O O o» í3 o o 5h a o N O PI TOTAL 1910 60 60 126 118 122 103 57 59 48 50 53 30 885 i 1911 44 53 75 72 83 67 55 59 65 56 41 43 713 11912 (Demograp lia annual) 809 -iyi3 77 73 88 69 64 58 44 46 42 59 48 40 708 ! 19U 68 65 75 65 84 70 63 59 44 43 45 34 715 11915 34 39 73 139 110 97 75 77 43 33 31 34 785 1916 44 39 58 68 75 62 67 50 67 72 49 68 719 11917 64 72 59 58 51 61 31 27 35 35 23 26 542 1918 16 43 27 30 26 33 43 44 32 28 15 45 382 1919 24 20 31 32 20 23 20 24 25 25 24 31 299 1920 22 12 34 41 41 29 29 34 26 22 29 26 345 1921 ! 38 37 37 30 37 36 38 34 21 33 20 44 405 MEZES A N N O S l ! 1 1904 1905 1906 1907 1908 1909 1910 1911 1912 1918 1914 1915 1916 1917 1918 1919 1920 1921 TOTAL Janeiro.... 178 1766 365 410 126 80 503 1020 63 1932 461 1381 191 1902 1143 3416 3443 18380 Fevereiro. — 337 514 805 306 51 16 209 513 24 1808 627 2348 943 2049 1159 9346 3228 24283 Março — 1316 199 624 267 104 97 851 451 91 5701 .257 2631 1765 1292 1134 7382 2565 26727 Abril — 1331 54 1167 147 164 152 318 1187 253 2434 123 1416 1474 1748 1968 7382 2231 23549 Maio •■•... — 800 14 801 289 68 1301 316 56 103 2075 24 951 1377 2289 1441 2098 1773 15776 Junho — 438 19 633 177 161 5830 205 414 3116 1193 46 569 721 1917 2573 . 4245 1143 23400 Julho — 547 38 634 164 115 2062 32 646 12369 1120 778 691 1093 2566 1835 1454 1660 27804 Agosto.... — 286 2199 794 334 132 1144 208 623 3779 268 1157 334 855 721 2146 1686 1079 17668 Setembro. — 964 1624 4190 578 130 823 186 579 2518 301 1297 513 784 836 3010 1510 1268 21111 Outubro .. 73 646 601 4453 717 20 288 137 690 1686 256 794 337) 698 878 2593 1409 1369 17645 ; Novembro 331 3126 331 2955 297 25 289 250 512 2297 246 744 147 779 484 1872 1549 977 17211 | Dezembro 268 3524 374 2312 253 195 1421 339 506 4257 174 1844 97 959 659 2511 2533 1399 23625 : Total 672 13493 7656 19733 3939 1291 13503 3554 7197 30556 17508 8152 11415 11639 17341 23385 44010 22135 257179 Vaccinação procedida pela Directoria do Serviço Sanitario do Estado do Pará Moléstias Ancylostom. Tuberculose Impaludismo Gastro-iut. Outras caus. Nati-mortos Total Geral 1 Anno 1915 29 23 363 486 466 316 1683 » 1916 22 33 313 689 598 381 2036 » 19171 39 17 215 578 450 341 1640 » 1918 51 14 103 663 532 449 1812 I » 1919 65 17 82 698 350 352 1564 Total 206 104 1076 3114 2396 1839 8735 j Mortalidade infantil em Belém do Pará nos anãos de 1915 a 1919 SECCÃO DE DEMOGRAPHIA CAPITULO 111 ASSISTÊNCIA HOSPITALAR EM BELÉM SEU HISTORICO E ESTADO ACTUAL PELO Br. BERNARDO LEIBOWITCZ BUTOWIICZ Inspector do Serviço do Prophylaxia da Lepra no Pará 1. —SANTA CASA DA MISERICÓRDIA Incumbido, peio Exm.° Sr. Dr. Chefe do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural no Pará para escrever llai dos capítulos do livro para o Centenário, sobre o re- gnnen hospitalar em Belém, desde o começo encontrei in- numeras difficuldades para poder desobrigar-me da hon- r°sa incumbência, devido á exiguidade da documentação sobre o assumpto. Sobre a Instituição da Santa Casa da Misericórdia, a niais antiga e benemerita associação de caridade em Belém, 6 a primeira, da qual nos vamos occupar neste trabalho, Nenhuma informação escripta existe sobre o período de yenipo decorrido entro o anno de 1616, quando fundada por Pnciativa de pessoas em destaque na nova povoação, até o j.lrn do século XVIII (*). Só em 1836 apparece o primeiro ivro de actas, e o registo mais antigo dos relatórios data de 1847. .. Para poder dar o esboço historico da Santa Casa, uti- como fonte principal, do valioso livro de Arthur tonna, «A Santa Casa da Misericórdia Paraense», no uUal, apezar de grande deficiência de subsidio publicado, e encontram todas as referencias existentes sobre a pia nshtuição, pacientemente recolhidas e fielmente annotadas. Em 1650, poucos annos depois de fundada a povoação e Nossa Senhora de Belém, surgio a ideia da creação da ' anta Casa da Misericórdia. Na vizinhança do convento S6p i- í * *^um inventario antigo, encontrado no archivo da Santa Casa pelo Ofíicial-Maior da ana I rancisco de SanFAnna Ferreira da Rocha, encontram-se as seguintes notas: !'ara f. * Aforamento de dez braças de chãos que tomou João Correia á Santa Casa da Misericórdia a or vasas por dous o nove annos, e passaram depois as mesmas casas á Irmandade.—Pará, 11 do Março de 1619. » * -°stamento do Domingos Fernandes, official de Pedreiro, natural da Ilha Terceira. Eia * úe Abril de 1619. * . { | (luo dá a entender que já em 1619 existia nesta cidade a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia. das Mercês, do lado oriental da rua de Santo Antonio dos Capuchos, foi fundada, junto á egreja da Misericórdia, a respectiva Santa Casa. Foi adoptado no novo estabeleci- mento, como lei organica, o compromisso do Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, datado de 1618, com uma associação similar, formando uma verdadeira po- tência de homens de elite da nova colonia, trabalhando em pról da pobreza enferma. O património da Misericórdia, por ser muito escasso, apenas permittiu manter parcamente o edifício durante mais de um século. Em 1667, D. Affonso VI concedeu á nova instituição varias regalias e privilégios idênticos aos que gozava a Santa Casa de Lisboa. D. Pedro II de Por- tugal, em 1669, confirmou as regalias concedidas. Estas vantagens todas tinham, entretanto, apenas valor moral, tendo a Santa Casa de luctar com innumeras difficuldades, devidas aos minguados recursos de esmolas e das quotas com que contribuíam os membros da meza para a manu- tenção do Hospital, sem possuir património algum, nem •renda fixa. O inicio do património data de 1737, com a escravidão dos indios, a qual muito contribuiu para a renda, relativa- mente elevada, que a Santa Casa recebia. Um grande abalo soffreu, portanto, a instituição com as leis pombali- nas de 1775, abolindo a escravidão dos indios. O patri- mónio da Santa Casa ficou compromettido para muito tempo, e as esmolas eram a unica fonte de renda para poder soccorrer aos enfermos indigentes. O proprio esta- tuto, que excluia os irmãos «não nobres» da direcção dos serviços da Irmandade, dava margem a dissenções con- stantes entre os irmãos, augmentando ainda as difficulda- des já existentes. Esse estado de cousas devia fatalmente conduzir á dissolução da Irmandade, se D. Frei Caetano Brandão, Bispo 'do Pará, no meio do mais justo regozijo popular, não tivesse tomado a si a pezada tarefa de reformar a Ir- mandade sobre bases solidas. Com o grande prestigio que o benemerito Bispo gozava na colonia, conseguio, supe- rando innumeras difficuldades, reunir os recursos necessá- rios para a construcção de um hospital. Este grande me- lhoramento foi realizado em 1787, quando foi inaugurado, no largo da Sé, o «Hospital do Senhor Bom Jesus dos Pobres» (em 25 de Julho). O novo edifício —um vasto casarão era naquelle tempo sufficiente para as exigências de um bom serviço, e os doentes alli recolhidos gozavam de todo o bem estar possível, e a caridade, estimulada pelo virtuoso sacerdote não lhes faltava. Ainda antes de terminada a construcção do novo hos- pital, fundou D. Frei Caetano Brandão uma Confraria com o fim de perpetuar a nova instituição. Na bella pastoral A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA Belem. Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Belem. Maternidade da Santa Casa A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA Sala de esterilização do Hospital da Santa Casa. Sala de operações asepticus da Santa Casa. 8 de Fevereiro de 1786, o benemerito Bispo intercalou a forma da nova Confraria em dezeseis artigos. A orien- tação sabiamente pratica, dada pelos novos estatutos á Ir- mandade, contribuiu para que rapidamente nascesse a Prosperidade da humanitaria empreza. Em pouco tempo toi constituído o património do hospital com casas e fazen- das importantes, em parte compradas, outras doadas, fi- cando a Irmandade como legitima possuidora do já vasto Património. O caracter exclusivamente religioso, dado á Irmanda- de, por uma orientação errónea dos diligentes, diminuio consideravelmente, com o correr dos annos, a fortuna ac- umulada, gasta em ostentações de grande pompa nos actos religiosos. Restavam, entretanto, recursos sufficientes a Santa Casa para poder soccorrer á pobreza desamparada. Na occasião da dominação dos rebeldes (Cabanos), em 1835} tornaram-se melindrosos os negocios da Santa Casa; trincheiras fôram construídas no proprio hospital; as fa- zendas do património saqueadas; os inquilinos das casas de propridade da Irmandade deixaram de pagar aluguel, fodos esses revezes abalaram profundamente o património da Santa Casa, coincidindo com o desapparecimento da renda do imposto sobre as embarcações (portaria do In- spector do Thezouro Nacional de 3 de Outubro de 1837). As fazendas, mal dirigidas, eram, em vez de fonte de ren- das, um sorvedouro inútil de dinheiro. A venda da parte improfícua do património, lembrada por varias vezes, não foi effectivada. Em 1848 reunio a commissão da Irmandade sob a pre- sencia do Dr. Pereira Guimarães e elaborou o projecto dc um novo compromisso reformando profundamente toda a velha organização da Associação. Pelo novo regula- aiento ficaram os negocios da Mizericordia subordinados 0s poderes públicos da Província, cujo presidente ficou °m o titulo de «Protector da Irmandade». As finanças da Irmandade, já anteriormente abaladas, diminuiram na occasião do apparecimento das duas chaf^es eP,deniias em Belém (febre amarella em 1850 e olera asiatica em 1855), tendo a Santa Casa abnegada- dnte supportado o pezo de novas despezas que lhe acar- lou .a affluencia enorme de victimas das epidemias, do esfa vez não foi possível effectuar a venda clamadnS Patramon*aes improduetivos, insistentemente re- compromisso de 1848 foi reformado em 1854, dando je.. ~a niaiores poderes ao Governo da Provinda para in- lid Vlr nos neg°cios da Irmandade. As eleições fôram abo- as» a Meza e a Junta Definitoria eram de livre nomea- ,_°, completamente isoladas, e vários compartimentos q ra Pensionistas. Nos corpos centraes ficaram localizados: grande salão do conselho, bellamente decorado, secreta- ca’ archivo, pharmacia e laboratorio, salas de operações e nsultas, aposentos para as religiosas, rouparia, cozinha, despensa e refeitórios. o-r as dependencias obedecem rigorosaménte ás re- u as de hygiene moderna, sendo muito asseiadas, altas, em illuminadas e arejadas. Possúe o hospital uma rede de exgoto própria, que despeja directamente na bahia do Guajará. O novo Hospital de Caridade é uma casa de saúde de primeira ordem, rivalizando com as melhores existentes em todo o Brasil. Os mais justos elogios têm sido feitos a esse estabelecimento por todos aqueJJes que tiveram occa- siào de visital-o, tanto pelo rigoroso asseio, como pela ma- neira attenciosa e desvelada com que são recebidos e tra- tados os enfermos pobres. O competentíssimo e illustrado corpo medico, pelos serviços profissionaes que presta á Santa Casa, tem con- corrido forte e efficazmente para bem elevar no conceito publico o estabelecimento. Intervenções cirúrgicas impor- tantíssimas são praticadas alli diariamente, dispondo a Santa Casa de um arsenal cirúrgico de primeira ordem, dos apparelhos mais modernos e aperfeiçoados. Em 1910 foi inaugurada a magnifica sala de operações asepticas. Este novo e importante melhoramento collocou o hospital, sobretudo no ponto de vista da asepsia mo- derna, a par dos principaes estabelecimentos congeneres europeus. Mantem ainda o Hospital uma pharmacia provida de medicamentos directamente importados do Sul e do ex- trangeiro. O estado actual do Hospital A Santa Casa é mantida pela associação denominada «Santa Casa da Misericórdia» e recebe enfermos de qual- quer origem ou procedência, gratuitos e contribuintes, sendo a diaria destes desde 6|ooo até 255000 A sala do Banco comprehende: A—Secção allopathica a) clinica medica; b) » ophtalmologica; c) » oto-rhino-laryngologica. Todas estas clinicas são destinadas a adultos e menores. B —Secção homoeopathica, também para adultos e me- nores. Possúe o estabelecimento 2 gabinetes: um de Radio- logia e outro de Biologia. Para o seu serviço clinico o estabelecimento conta com 8 médicos para a clinica medica; 10 para a clinica cirúr- gica; 2 gynecologistas; 4 para a clinica obstétrica; 2 de clinica ophtalmologica e laryngoscopica. Para a sala do Banco estão designados: 2 allopathas e 1 homoeopatha. Prestam alli também relevantissimos serviços um me- dico radiologista e outro bacteriologista. A pharmacia se acha sob a direcção de uma religiosa e é por ella responsável um pharmaceutico diplomado. Para o serviço interno mantem o Hospital 4 enfermei- ras, sendo 2 da Maternidade. Entre vários empregados de categoria inferior conta o Hospital 52, sendo 31 de sexo masculino e 21 de sexo fe- minino. Em 1920 era o seguinte o movimento dos doentes: Existiam em 1 de Janeiro—32B doentes, sendo 207 ho- mens e 121 mulheres. Entraram durante o anno—ss79 enfermos, sendo 3.575 homens e 2.004 mulheres. Sahiram durante o anno 5.111, sendo 3.249 homens e *•862 mulheres. Falleceram no mesmo anno 455, sendo 313 homens e *42 mulheres. No dia 31 de Dezembro de 1920 existiam 341 doentes: -20 homens e 121 mulheres. Destes doentes sahiram: curados 3.109, melhorados -*•713, sem melhora 159, mortos 455. No mesmo anno nasceram na Maternidade do Hospital Caridade 425 creanças, sendo 148 legítimos e 277 ille- timos. Foram attendidos nos consultorios de: Allopathia 10.181 doentes; Homoeopathia 6.186; Simples curativos 29.572. O património da Santa Casa subio em 1918 a -•620:1461032, em titulos, bens immoveis e semoventes, “ara 1922 foi orçada a receita em 1.172:7171578, e a des- Peza em 1.095:1925500. „ As praças do Regimento Militar do Estado também la° tratadas na Santa Casa, mediante pagamento pelo hezouro do Estado, sendo localizadas numa enfermaria Jppla, em melhores condições do que no antigo Hospital ditar (no largo da Sé), contendo 38 leitos, f Para o serviço desta enfermaria são designados 2 en- ®rmeiros profissionaes e uma religiosa; 3 facultativos dis- jnctos e esforçados, attendem aos serviços medico e cirur- í=lc° desta enfermaria. . Enfermarias geraes e quartos para pensionistas tio Hospital da Caridade j Pavimento superior: clinica medica— 2 enfermarias para Pa*?lo?8 6 1 Para mulheres; clinica cirúrgica—2 enfermarias } la. k°mens e 1 para mulheres. Pavimento terreo; clinica cli •Ca~ 1 e]Hermaria para homens e 1 para mulheres; lhelCa c*rurê’ica f enfermaria para homens e 1 para mu- .Numero de leitos de cada enfermaria: pavimento su- perior 54, idem terreo 32. Cubagem das enfermarias: pavimento superior— -33,m 45 x 9,mO5 x5m pavimento terreo 26,ml 5 x 8,m3O x 2,m4O. Numero de quartos para pensionistas de ambos os sexos: 15. Na Maternidade ha 3 enfermarias no pavimento supe- rior, destinadas exclusivamente á clinica obstétrica. Cada enfermaria, com a cubagem de 18,m5O x 7,m9O x 5,m 35, possue 20 leitos. Ha também 9 quartos para pensionistas. Além das enfermarias acima referidas, o Hospital pos- súe 2 Salas para tratamento de doenças venereas e 2 para clinica ophthalmologica. Nas enfermarias geraes são tratados os doentes das demais clinicas, todos, porém, pelo systema allopathico. Os quartos para pensionistas possuem as dimensões e demais requisitos de hygiene precisos. Maternidade Entre os serviços de grande valor que a benemerita associação da Santa Casa prestou á população desta ci- dade, occupa logar de destaque a creação da Maternidade, inaugurada em 15.de Agosto de 1914. Embora seja uma secção separada, fórma o edificio da Maternidade um conjuncto com o do Hospital, obedecendo ao typo da architectura deste e com o qual se communica interiormente, mediante um corredor de ligação. Cons- truído de accôrdo com as prescripções da hygiene mo- derna* contêm o edificio uma área central, bem arborizada, em redor da qual se acham dispostas as dependencias da Maternidade, todas ellas bem arejadas e com muita luz. Contêm o edificio as seguintes dependencias; vasto salão de entrada, mosaicado; gabinete dos médicos; portaria; 4 quartos para pensionistas de primeira classe e 4 para as de segunda classe; 3 enfermarias para indigentes com 20, 15 e 12 leitos respectivamente; sala de refeições; uma sa- leta de consultas com o indispensável para os exames da especialidade. As parturientes infeccionadas são isoladas, existindo uma sala separada para intervenções cirúrgicas e obstétricas para as mesmas. Existe também uma sala para intervenções obstétricas asepticas. Para poder isolar melhor as doentes de infec- ções puerperaes existe o projecto de construcção de um pavilhão, completamente separado do corpo da mater- nidade. Formam o corpo clinico especialistas de nomeada em Belém. Para o serviço interno da Maternidade existem: 2 religiosas —na administração; 2 parteiras e 4 serventes. Movimento da Maternidade em 1921 Entraram: indigentes 533, pensionistas 99. Mortali- dade; materna 16, fetal 84. Partos operatorios 47: cesa- riana abdominal 6; applicação de fórceps 23; versão 18; abortos 42; eclampsia 1; e varias perineorrhaphias e ex- tracções da placenta. Alguns detalhes sobre as enfermarias são mencionados na descripção da Santa Casa. 2. HOSPITAL D. LUIZ IDA SOCIEDADE PORTUGUEZA BENEFICENTE Serviram de base á descripção deste estabelecimento a «Historia da Sociedade Portugueza Beneficente do Pará», escripta por Arthur Vianna e os relatórios do hospital. . A idéa da construcção de um hospital proprio, peia Primeira vez appareceu em 1854, entre alguns membros c a colonia portugueza, a mais rica de todas as colonias no Pará. Foi Francisco Gonçalves de Medei- Jos Branco, simples empregado no commercio, quem, en- tusiasta pelas idéas elevadas, conseguio convencer um j5rupo de compatriotas ase interessarem pela realização j a generosa e philantropica instituição. Em 26 de Setem- de 1854 ficou fundada a poderosa sociedade, sendo o t u primeiro presidente Francisco Antonio de Moraes. Na Unjã° de 3de Outubro do mesmo anno, tendo o primeiro ! es!^ente se exonerado da funcção que exercia, foi eleito t esidente Francisco Gonçalves de Medeiros Branco. Em met utubro do mesmo anno foi .approvada definitiva- ate a lei fundamental da nova sociedade, que tomou o trJJ10 de «Beneficente», tendo acção muito vasta, além do f mmento dos doentes. Em 31 de Dezembro contava a SQciedade 27 socios. s . tardaram a apparecer desharmonias no seio da ra0]10013^6’ 0 clue c^eu motivo de o presidente se ter exone- ain ? 6n~ Naquella épocha os recursos da sociedade KvC . nno permittiam cogitar da construcção de um esta- pli e salas e aposentos das irmãs de caridade, pharmacia, pa. ]nete medico e installações sanitarias privativas das re- Na segunda secção, dividida em duas partes guaes, separadas por um corredor central, existem duas j5landes enfermarias de cada lado; diversos quartos para 1 ensionistas, sentinas e banheiros. No terceiro corpo ficam rsf C 1 partos dos enfermeiros e outros empregados, sala de eteições, rouparia, alraoxarifado, cozinha e despensa. A obra foi executada com uma celeridade admiravel, m 3 mozes. I edifício é vasto: tem de comprimento 120 metros e (jg iargura 22m. Toda a edificação éde madeira; as gran- CIqS ent‘ermai,ias e 0 E° corpo são forrados. A’ esquerda Um oc^m2O de largura, por 5,m5O de altura, bem arejadas e prepa- radas para 20 leitos cada uma, podendo, em caso de necessi- dade, ser augmentado o numero de leitos até 30. O serviço Cinico, a cargo do Serviço Sanitario Municipal, é feito alli diariamente por um dos médicos designados pela Di- rectoria, A administração interna está entregue ás religiosas da Crdein de SanfAnna, em numero de dez; destas 4 são exclusivamente occupadas nas enfermarias. Além das religiosas existem: um enfermeiro e uma enfermeira. 0 movimento das enfermarias em 1921 Doentes que passaram de 1920 —6; baixaram á enfer- rnaria durante o anno 238; tiveram alta 175, falleceram 48, Passaram para 1922 21. Durante o anno foram feitas 15 pequenas intervenções Clrurgicas. O serviço odontologico, mantido pelo Asylo, durante o anno findo attendeu a 395 asylados. A pharmacia do es- tabelecimento, dirigida por uma religiosa, aviou 1.592 re- ates com 2.998 formulas e 1.340 repetições. £ A cargo do asylo acha-se também a enfermaria de olheiros Municipaes, 16 leitos, confiada á direcção das ®hgiosas, existindo um enfermeiro para o serviço. O mo- npento dos doentes desta enfermaria em 1921 foi o se- è^Utnte: entraram 99, tiveram alta 96, passaram para 1922 —3. E’ Director-medico o Dr. Castão Vieira. . Pela Prophylaxia Rural foi feito no Asylo, com excel- ente resultado, o tratamento de verminoses e do irapalu- -ISrn°, continuando esse serviço no corrente anno. 10.— CASA DE SAUDE MARÍTIMA DO PARÁ p Casa de Saúde Maritima foi fundada no dia 24 de da^freiro 1920, tendo sido seu fundador o Comman- a,Ue Alberto Freire Autran. A actual Directoria, cujo andato termina em 24 de Fevereiro de 1923, é composta 08 Seguintes senhores: Mordomo—José da Silva Travas- sos; Thezoureiro José Mendes de Azevedo; l.° Secretario Benedicto de Souza Coutinho; 2.° Secretario Homero Monteiro da Fonseca; Archivista—Godofredo Duarte; Di- rector clinico Dr. Ophir de Loyola. Durante o anno de 1921, entraram para a Casa de Saúde 1.141 enfermos. Destes falleceram no mesmo pe- ríodo de tempo 12. O património do novo Hospital é representado em mo- veis, utensílios, e o saldo existente no Banco, na importância de 28:0975436, tendo sido a receita de 50:2245170, existindo em Caixa o saldo de 6:4461000. Existem 22 leitos, sendo todos exclusivamente para homens. Durante o anno de 1921 foram feitas 27 operações. Entre os doentes tratados na Casa de Saúde, figuram 95 de moléstias venereas. Corpo clinico: Drs. Ophir de Loyola, Acylino de Leão e Evaristo Silva; enfermeiro: Faustino Martins. A Casa de Saúde, destinada a prestar serviços á classe marítima, se acha localizada no bairro aprazível de Ba- ptista Campos. 11. —INSTITUTO DE PROTECÇÃO B ASSISTÊNCIA Á INFANCIA DO PARÁ Este benemerito Instituto, fundado em 6 de Outubro de 1912 pelo Dr. Ophir de Loyola, Professor Raymundo Proença e Dr. Nogueira de Faria, mantem os seguintes serviços: Dispensário paça attender as creanças desvalidas ma- triculadas; Pharmacia, onde se aviam gratuitamente as receitas formuladas pelo corpo clinico que compõe a al- truistica instituição; Serviço de assistência domiciliar para os doentes, cujo estado de saúde não permitte a ida ao Dispensário; Serviço de assistência maternal para o exame e o tratamento apropriado das mulheres gravidas pobres; obra de protecção ao berço, para o auxilio ás mulheres matriculadas. Mantem também o Instituto um posto vacci- nico. Grandes serviços tem prestado o estabelecimento para a propaganda do aleitamento materno por meio de concursos de robustez. Annexo ao Instituto existe um gabinete odontologico. Fazem parte da Directoria actual os seguintes senhores: Director-Geral —Dr. Ophir de Loyola; Yice-director Profes- sor Matheus do Carmo; Secretario Geral —Professor Ray- mundo Proença; l.° Secretario Mario Antonio Courcell; 2.° Secretario Álvaro A. Pires; Thezoureiro —Dr. João Penna de Carvalho, e diversos cooperadores. Belem. Hospício de Alienados A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTAOO DO PARA A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA Belem, Coso de Saúde Marilima. Belem. Instituto de Protecção e Assistência á Infancia. Movimento geral em 1921 No Dispensário.—Matriculados 2.400; consultas 6.890; altas curados 1.339; operações 12; curativos 6; receitas aviadas 3.696 com 4.421 formulas; creanças vaccinadas 10; injecções hypodermicas 9. Na assistência maternal. Consultas 14, exames 22, cu- ltivos 1. No Gabinete odontologico.— Consultas 74; extracções dentarias 106; tratamentos 8; obturações 33. Avaliação total dos serviços prestados Rs. 73:6591100. A receita do anno foi Rs. 12:900|440 e a despeza Rs .. 11:881.1200. São os seguintes os auxilios ao Instituto: do Governo Federal Rs. 10:0001000, do Governo do Estado ""Rs. 12:0001000, do Município de Belém Rs. 3:000$000. Desde a sua fundação até 31 de Dezembro de 1921 o 'nstituto em todos os seus serviços attendeu a 61.142 in- divíduos. CAPITULO IV ESTUDOS SOBRE A REMOÇÃO DO LIXO, SERVIÇO DE EXGOTTOS, MATADOURO DO MAGUARY E MERCADOS DE BELÉM PELO Br. JOÃO PINTO DE OLIVEIRA Sub-inspector sanitario rural Fiscal do Exercício da Medicina, Pharmacia, etc. 1. REMOÇÃO DO LIXO Os serviços de limpeza publica urbana, segundo o Dr. H. Patevin, comprehendem, em geral, a remoção dos re- síduos domésticos, isto é, os resíduos de cozinha, as cinzas dos fornos, restos diversos (trapos, papéis, utensílios inúteis) excepto, porém, as sobras de construcções e cinzas de for- nos industriaes. Em cada cidade, a composição do lixo e a quantidade relativa collectada variam segundo as esta- ções. De modo mais geral, ellas variam segundo a lati- tude, o clima, os costumes, e também segundo os usos locaes que, em muitos casos, admittem ou excluem certos elementos especiaes: lama, esterco dos jardins, etc. Os cadaveres dos pequenos animaes, assim como o lodo, a varredura das ruas, são collectados, ora com resíduos domésticos, ora á parte. Diz ainda Patevin que as condi- ções, segundo as quaes pódè ser effectuada a collecta, obe- decem, quasi sempre, ás circumstancias locaes e aos hábitos da população urbana. Nas pequenas agglomerações, o lixo e detritos diversos são quasi sempre depositados nas ruas em pequenos mon- tes que o Serviço Municipal, todas as manhãs, remove. Nos centros mais importantes, porém, essa pratica está banida e os resíduos domésticos e detritos são recolhidos em recipientes apropriados, donde são retirados, condu- zidos e despejados numa estação central. A’s vezes, a collecta é feita pela manhã, e outras ve- zes, effectuada pela manhã e á noite; e em alguns logares é a mesma feita continuamente, durante todo o dia. O systema das collectas múltiplas, em geral, presta-se melhor á organização interna do serviço, e á utilização economica do material rodante; mas, sob o ponto de vista da liberdade das ruas, sobretudo nos quarteirões de trafego intenso, a collecta única e matinal, é, de certo, a preferível. O destino dado ao lixo, nos grandes centros, é a inci- neração ou a utilização agrícola. Qualquer que seja, po- réni, esse destino, os resíduos domésticos são quasi sempre °bjecto de uma selecção ou escolha prévia. Ha para isso importante: entre os productos heterogeneos de que é formado o lixo domestico, alguns ha que apresentam va- i°r economico bastante elevado, emquanto que outros devem Ser eliminados, sob pena de embaraçarem o beneficiamento ulterior. Quando os excrementos são destinados á utiliza- do agrícola, é indispensável retirar delles os pedaços de Vldro, de porcellana, folhas metallicas, etc., que poderiam °utulhar os campos e, por occasião do trabalho, ferir os ho- mens ou os animaes. Esta operação pode também ser feita, c°m facilidade menor no mesmo logar da utilização. Ha uma categoria de detritos refractaria a todos os beneficia- mentos e a toda a utilização; taes são, por exemplo, os utensílios de ferro esmaltado, já imprestáveis. Esses aca- bam por constituir em torno das uzinas ou das estações c*e beneficiamento, entulhos ou montões, cujo augmento jarreta despezas que devemos prever, quando fizermos o balanço economico de um processo de utilização. . Entre os systemas de collecta e remoção do lixo, o mais geralmente adoptado nas grandes agglomerações, é o systema de collecta separativo. Este methodo separativo, segundo o qual os estéreos Uevein ser classificados em varias categorias, está muito uso nos Estados Unidos da America do Norte. Na Europa é adoptado, ha alguns annos, na cidade de Po- sdam e em Berlim no districto de Charlottenburgo. Muitas vezes a divisão do lixo é feita em tres lotes, egundo uma das duas formas seguintes: l.a) cinzas, resi- u°s e detritos de cozinha, resíduos diversos e varredu- as; 2.a) cinzas e varreduras, resíduos e detritos de cozi- la> residuos diversos. A segunda fórma é a mais em uso. A adopção do methodo separativo tem por consequen- a’ quasi constantemente, o regimen das collectas espaça- c.as’ a menos que se disponha de carros especiaes, capazes 0 receber ao mesmo tempo tres categorias de lixo. Co s®rviço de Limpeza Publica desta cidade de Belém, Np11? actualmente está sendo feito, muito deixa a desejar, .ú. übum dos systemas anteriormente descriptos se observa v bfAudo, com relação á remoção do lixo era geral, das nelre^uras e dos detritos domiciliares. Bigorosamente, ni ao systema unitário nem ao systema separativo, obe- dece o Serviço do lixo em Belém. Antes, um systema parti- cular, local, que uma orientação intelligente tentou remode- lar, moldando-o em methodos scientificos, não o conseguindo, como se vê, pela retrogradação á praxe tradiccional, abusiva, prejudicial, morosa e deficiente. Dessa remodelação, entre- tanto, restam ainda destroços que revelam a capacidade de quem dotou esta importante capital com a grande Uzina de Cremação, e com os carros de serviço da mesma. Lamenta-se, em verdade, quando se visita as installa- ções da Uzina de Cremação, que esse grande estabeleci- mento esteja quasi abandonado, paralysado o seu funccio- namento, nenhum serviço prestando a esta bella cidade, em cujo seio devera constituir um dos mais bellos melho- ramentos. Quando alli estivemos, em companhia do Exm.° Sr. Dr. Souza Araújo, illustre Chefe da Commissão de Sa- neamento e Prophylaxia Rural, sahimos contristados, ao ouvir do empregado que nos acompanhou na visita, que tudo alli está quasi paralysado, destinando-se o lixo colle- ctado -na cidade, a aterro de um horta particular, nas pro- ximidades da mesma uzina, pagando o interessado 500 réis por carrada; tendo até o forno principal sido removido dalli e vendido a uma empreza industrial de beneficiamento de couros. Entretanto, as informações prestadas, por escri- pto, pelo Sr. Administrador da Uzina de Cremação, contrari- ando o que nella observamos, em nossa visita, dão a enten- der que tudo alli anda ás mil maravilhas. Aliás, o digno Sr. Administrador, conforme nos informou o empregado, muito se tem esforçado para realizar tão importante ser- viço, e isso de accôrdo com a vontade do actual Inten- dente que, de certo, se as condições financeiras do Municí- pio melhorarem, ao menos restabelecerá, no que já foi, a Limpeza Publica desta importante cidade. Segundo as informações escriptas a que já nos referi- mos, a Uzina de Cremação de lixo e o grande estabeleci- mento onde se encontram, foram construídos pela firma Pereira Pinto & C.a, que os dotou com os mais modernos apparelhos para cremar lixo e animaes mortos. A edifi- cação foi fiscalizada pelo poder municipal e inaugurada a 31 de Janeiro de 1891. A administração da Limpeza Publica de Belém é orien- tada pela secção de obras da Communa, e está a cargo de um administrador, que detalha o serviço de collecta e inci- neração de lixo e animaes mortes. A divisão dos trabalhos é perfeita, havendo turmas de varredores, capinadores, limpeza de calhas, carreiros, etc., sob a vigilância de um corpo de fiscaes de serviço. A Empreza de Limpeza Publica de Belém dispõe de um estabelecimento contendo escriptorio, almoxarifado, of- ficinas de construcção de vehiculos, manufacturas de ar- reios, cocheira, traçagem de forragens, e galpões de abrigo A PROPHYLAXIA RURAL NO RtADO DO PARÁ Belem. Edifício dg, Uzina de Cremação Fornos da' m'Osirra "CJzimr A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO 00 PARÁ Carro de conducção de lixo. Belem. Canos de exgolto abandonados no Curro. de vehiculos, etc. Em todos esses departamentos, porém, ° serviço se acha quasi paralysado. O transporte de lixo e animaes mortos é feito por nieio de vehiculos apropriados, devidamente fechados e á Inacção animal, sendo empregado de preferencia o boi, fendo funccionado, sem grande vantagem para o serviço e durante alguns annos, um auío-caminhão a gazolina, con- forme as citadas informações do Sr. Administrador. A Uzina de Cremação é um grande estabelecimento, situado em terreno todo murado e occupa uma área de 4°.m X 70,m. (Phot n.os 16, 17 e 18). Compõe-se de uma construcção de estructura metallica de dois pavimentos. Por um plano inclinado de 70 metros de extensão, sobem os vehiculos conductores de lixo e ani- uiaes mortos, a uma vasta plataforma, calçada de granito, e guarnecida, lateralmente, com paredes de alvenaria. No alto da plataforma, existem oito largas portas auto- uiaticas, correspondentes a quatro fornos, e mais uma es- pecial para animaes mortos, por onde é despejado o lixo directamente dos carros conductores nas camaras incinera- d°ras. Os fornos são de fabricação da The HorsfaU Des- rKctor Company, Limited, da Inglaterra, systema moderno e aperfeiçoado e em uso em diversas cidades da Europa. Segundo o relatorio do Intendente Municipal de Belém, apresentado ao Conselho em 15 de Novembro de 1902, esses fornos têm capacidade para incinerar 80 toneladas de lixo e dez animaes mortos, em vinte e quatro horas. Presente- n'ente avalia-se em 100 toneladas, o lixo collectado na C!dade, por semana, A collecta nos domicilios, nas fabricas e estabelecimen- 0s industriaes é feita em vasilhas diversas (caixões, latas, Saccos, etc.), sendo que no bairro commercial muitas vezes 0 uxo é lançado a granel nas ruas. Essas vasilhas quasi sempre abertas, exhalam mau cliei- •?’ lnuito prejudicial á saúde publica, não sendo raro, como P* temos visto, montões de lixo entulhando as vias publicas attrahindo os urubús, cães, etc. As mais elementares re- todS rB’^ene urbana, entretanto, exigem que o lixo de * j a especie seja collectado nos domicilios, em depositos lac(!ados, de modo a impedir, entre outros perigos, a exha- Ça° de gazes fétidos e propagação de microbios pathoge- Co® Quu, porvertura se desenvolvam entre os estercos, oo medida contra o perigo da hydrophobia existente to?m a liberdade de cães vagabundos, em toda a cidade, 1917°U a un^c*Palidade, decretando em 10 de Julho de p /» a aPprehensão de todos os animaes desta especie, que dol^GníUra ossem encontrados na via publica, destinan- .os a Uzina de Cremação, onde seriam sacrificados e Gerados em seguida. Entre os diversos systemas que se propõem dar um destino final ao lixo, não resta duvida que o da cremação (parcial, é claro) é um dos melhores, se não o melhor, por mais efficiente e economico. Mas, para que produza esses effeitos economicos, é necessário que a collecta se faça de modo a se poder estabelecer uma divisão perfeita e com- pleta dos detritos e resíduos domiciliares daquelles que têm proveniência dos estabelecimentos industriaes; Ao mesmo tempo é de toda a conveniência que os depositos provisorios do lixo, isto é, os depositos domici- liares, sejam apropriados, de modo a não permittirem exha- lações pútridas, nem deixarem expostos microbios de facil transmissão, devendo ainda, notar-se que a remoção desses estercos, principalmente oriundos dos hotéis e estalagens, deve ser feita á tarde e pela manhã. Os primeiros ensaios de incineração do lixo fôram fei- tos em Londres, em 1870. Os resultados fôram medíocres. Mas, depressa o methodo aperfeiçoou-se. As cidades de Bruxellas, em 1872, e a de Hamburgo, em 1875, adopta- ram-no e construíram uzinas que funccionam ainda hoje, quasi nas condições mesmas da sua installação. Em Paris, em 1895, fornos de ensaios fôram annexados á Uzina Mu- nicipal e as experiencias proseguiram durante todo o anno, tendo sido os resultados publicados por M. Petsch, que os considerava muito favoráveis e capazes de maior applicação. Em Belém, como já vimos, o forno crematório data de 1901, quando foi inaugurado, necessitando agora de uma remodelação completa. 2.—-SERYIÇOS DE EXGOTTOS E’ noção rudimentar repetida por vários tratadistas que todos os seres vivos, desde os microbios até o homem, produzem excreções, resíduos de sua nutrição e de sua actividade vital, cuja accumulação, breve se torna prejudi- cial á sua existência. Os homens, porém, graças á faculdade que possuem de se locomoverem sobre dilatadas extensões, evitaram sem- pre, instinctivamente, a proximidade de taes focos de in- fecção. Se elles assim procediam, mesmo quando tinham uma vida nómada, com maioria de razões sentiam esta ne- cessidade, depois de agrupados em sociedades, em aldeias fixas, e cidades construidas. Estabelecidos na costa do mar ou sobre as margens dos grandes rios, aproveitavam os mesmos para accesso e para exgotto. A abundancia, sempre crescente, de dejectos dessas enormes agglomera- ções tornou-se tão considerável que os rios se transforma- ram em lamaçaes numa grande extensão de seu percurso, e o mar reconduzia, constantemente, para as costas, porção avultada das immundicies. Um tal estado de coisas apre- sentava graves perigos para a saúde publica, produzindo tempos em tempos hecatombes causadas por terriveis epidemias de peste, cholera ou typho. Essas doenças, cujas causas então eram ignoradas, cei- favam, de um só golpe, multidões de vidas humanas. Com a descoberta de Pasteur, chegou-se á conclusão de que se poderia evitar a propagação destes males, e até mesmo ®xtinguil-os em parte, bastando para isso sanear as habi- tações, remover as immundicies, e conseguir para os habi- tantes das cidades uma agua potável indemne, sobretudo, d° germens pathogenos. _ Na necessidade urgente da adopção de medidas que facilitassem a destruição das immundicies e protegesse os cursos d’agua, começaram as nações civilizadas a elaborar teis e regulamentos, prescrevendo a interdicção de lançar n°s igarapés e nos rios matérias excrementicias ou resi- duaes. Não existindo nenhum meio pratico de destruil-as, a não ser a limitada utilização das mesmas com o estrume, fiaram muitas vezes essas leis e regulamentos sem appli- CaÇão. Procurou-se, então, descobrir um processo que per- inittisse purificar as aguas dos exgottos, tornando-as inof- cnsivas, e numerosos trabalhos fôram emprehendidos com esse fim durante meio século, sobretudo na Inglaterra, na do Norte, na França e na Allemanha. Adoptaram os scientistas e hygienistas diversos syste- nas de exgottos, os quaes, em ultima analyse, se reduzem dois systemas, geralmente conhecidos e universalmente m nso: o systema unitário e o systema separativo. Estudaram as aguas dos exgottos da cidade e todas as aterias que têm curso nos referidos exgottos, e assim po- erarn os hygienistas determinar a quantidade e o valor e taes aguas e de taes matérias. sortes de substancias organicas, em proporções _ tremamente variaveis, contêm as aguas e os dejectos dos gottos das cidades: l.°) substancias ternarias, compostas os c.ait)ono e hydrogenio das quaes são mais importantes dp !,e-SÍdu°s cellulosicos de papel ou de vegetaes, amido, m r*nas e assucares, alcooles, ácidos orgânicos (láctico, hco, etc.), e as graxas; 2.°) substancias quaternarias aljll^oß^B também de carbono, oxygenio e hydrogenio, e §i disso de azoto, com proporções mais ou menos con- en^laveis de outros corpos mineraes simples, taes como o niet Ie’ 0 Phosph°ro? 0 arsénico, o ferro, o manganez, os IIQ aes alcalinos ou alcalinos terrosos, etc. Encontram-se veo- es^uos animaes eem uma multidão de detritos alb -0S dos Bao mais importantes a fibrina, as uannas, as caseinas, a lecithina, a uréa, etc. effe } desintegração mollecular das substancias ternarias, Gs . a'se sobretudo pelos microbios anaeróbios ou por 1 ceies microbianas capazes de viver ao abrigo do oxy- genio. Taes microbios tomam, então, o oxygenio de que necessitam, como todos os seres vivos, ás próprias sub- stancias que elles decompõem, e esta decomposição resulta na formação do hydrogenio livre ou hydrogenío carbonado (gaz dos pantanos) e acido carbonico. As substancias abun- dam sobretudo nos residuos dos matadouros, leitarias e cor- tumes e podem ser desintegrados por uma multidão de es- pecies microbianas, anaeróbias ou aerobias, isto é, capazes de viver e de se multiplicar na ausência ou em presença do ar atmospherico. Sua desintegração opera-se por uma serie de etapas successivas que conduzem á formação de peptonas de compostos ammoniacaes e de ammoniaco livre, com eliminação duma proporção mais ou menos elevada de azoto livre e de acido carbonico. Além dessas substan- cias organicas que se encontram dissolvidas ou em suspen- são, nas aguas de exgotto, estas encerram uma proporção egualmente muito variavel de substancias mineraes (areia, carvão, argilla, saes, etc.). A quantidade e a natureza destes corpos apresentam uma importância considerável e devem ser determinados tão exactamente quanto possivel em cada caso particular: uns insolúveis, pódem ser retidos por uma decantação con- veniente e levada por meio de dispositivo mechanico; outros, solúveis, são susceptiveis de favorecer ou impedir pheno- menos biologicos da desintegração da matéria organica. Os hygienistas costumam classificar as cidades, em seis categorias: I,°) cidades de planicies; 2.°) cidades de valles; 3.°) cidades de littoral; 4,°) cidades fluviaes; 5.°) cidades lacustres; e 6.°) cidades palustres. Conforme o relatorio da Commissão de Saneamento de Belém, ao tempo do Governo Paes de Carvalho, Belém não pertence a nenhuma dessas categorias: «é cidade de planí- cie porque é edificada sobre um sólo sensivelmente hori- zontal, varrido por todos os ventos; é cidade de littoral porque está sujeita quasi ao mesmo regimen de marés, tendo em alguns mezes do anno salôbras as aguas da bahia do Guajará; é cidade fluvial porque se acha edificada na confluência dos rios Tocantins e Guamá, em sólo de allu- vião mais ou menos permeável e sujeito á infiltração. Em- fim, rodeada de igarapés e terrenos alagados, Belém é uma cidade apaúlada.» Como cidade de planície, segundo o relatorio acima citado, a sua salubridade depende da altura de seus quar- teirões, da natureza de seus alluviões, e do grande ou pe- queno declive de seus terrenos para impedir estagnação d’aguas. Situada, como se acha, á margem da bahia do Guajará que fica sob a acção variavel e desencontrada das marés e das correntes dos diversos rios que nella desaguam, Belém apresenta um systema irregular de canalização na- toraJ. Além disso, a falta de declive que dá um aspecto quasi plano á cidade que se espalma em sentidos diver- gentes, interrompida por valles diversos, ás vezes bastante desenvolvidos, e cuja altitude é inferior á do littoral, per- ttnttindo assim uma successiva infiltração e consequente eWação do lençol subterrâneo, sob a influencia das marés, essa falta de declive, repetimos, éum obstáculo grande e o Unico que se offerece ao problema dos exgottos em questão. Segundo Afranio Peixoto, a questão dos exgottos, que e de importância primordial na Hygiene, embora ainda de- cida e sempre sem solução satisfactoria para todos os Cas°s, deve ser orientada, tanto sob o ponto de vista da constituição de redes de exgottos, como do destino final das aguas servidas, pelas condições locaes. Foram adoptados, nesta capital, os dois systemas de 0xgottos: o unitário e o separativo. Nenhum, porém, satis- íaz as exigências de um bom serviço. O systema unitário, adoptado desde o tempo do Império, em 1870, obedece a Urn. systema rudimentar: lavado pelas marés, é o único 9Ue está funccionando, abrangendo pequena área da cidade, e ao que parece condemnado a ser substituido, quando se completarem os trabalhos da construcção e estabelecimento ntegral do systema separador. A nova rede de exgottos, orientada, conforme já dis- emos, pelo systema separador, teve o inicio de sua con- l’Ucção, em 16 de Fevereiro de 1907; no projecto que o pabeleceu está previsto o tratamento biologico dos deje- anterior ao seu lançamento nas aguas da bahia do Ttlajará. E’ feito com tubos de grês, e destina-se a col- ectar matérias fecaes e aguas servidas. Enterrados na *loa determinada, existem 22 kilometros de tubos sem Unccionamento. Esta área não comprehende todo o peri- eti*° urbano, como se deprehende do contracto para a ganizmção desse systema de exgottos, lavrado em 7 de so ri *9o4’ pelo qual o contractante por si, seus succes- c 10sj ou empreza que organizar, obriga-se a construir, p n.Servar e custear, nesta cidade, na área edificada, com- enendida na primeira legua patrimonial, uma rede de tic^ott°s0tt°s de matérias fecaes, aguas servidas de uso domes- Un? 8 Oídustrial e aguas publicas, estabelecendo para isso * Çanallzação especial, de modo a irem estes liquidos e devvT38 *ecaes aum ponto de despejo final, depois de ab - mente depurados, a 900 metros da costa da bahia, âr IXO 0° igarapé Una. Ora, como se vê, a cidade abrange fran n?aior 0° que ada legua patrimonial. Continuando a tar^ißololol, a Jettra do Contracto, vemos que o contractante ambem se obriga: gott< dia, de manhã, ás 6 horas, e á tarde ás 3 horas, em carro da empreza concessionária, que são do typo dos Limpeza Publica. Os generos deteriorados, condemna- a°s pelo medico de serviço, são inutilizados com creolina e para o forno crematório. , O terceiro, situado á praça Floriano Peixoto, em frente a Avenida da Independencia, foi construido pelo engenheiro alinto Santoro, em virtude do contracto de 30 de Dezem- bro de 1909, tendo sido inaugurado em 21 de Maio de 1911; actualmente está sob a direcção da Intendência Municipal Ce Belém, em virtude da rescisão do contracto que linha com a firma Santoro da Costa & C.a. Divide-se em secções Para a venda de carnes de gado bovino, suino, lanígero, 1 cixe fresco, legumes, fructas, cereaes diversos, artigos de marinho, plantas, flores, etc, A secção para venda de carne ÕOnf8’ Pe*xe e verdura, occupa o pavilhão central que mede r’m X 20,m, tendo de altura total 15,mB5; a secção de ce- l3m8S ® occupada pelo pavilhão lateral esquerdo, e mede d-’m.X 34,m6O e a secção de fructas, fica situada na galeria que mede 4,mlO x 29,mBO. Externamente tem o eFCad° 24 compartimentos que, em sua maioria estão alu- ac> °S Para ° commercio a retalho. O mercado é aberto cio PUblico fo(f°s 08 dias, das 6 horas ás 14 horas, e func- c ,na sob a fiscalização da, administração do mesmo mer- -0,0 e de um medico do Serviço Sanitario Municipal, jg limpeza do mercado é feita diariamente, das 14 ás Ua b°ras’ Por empregados do mesmo mercado, e consiste rei Varredura e lavagem de todos os compartimentos. A noção do lixo e dos generos condemnados pelo medico, leila diariamente. CAPITULO V EXGOTTOS DE BELÉM ESTADO DO PARÁ PELO Sr. DOMINGOS ACATAUASSÚ NUNES Engenheiro-director de Obras da Intendência de Belém A liberdade, preciosa faculdade que colloca o homem na posse e no dominio da supremacia em relação a todas as outras creaturas animadas, livre actividade, attributo divino da acção e do pensamento, constituo a mais bella descoberta da Psychologia e é o diadema mais nobilitante que corôa a humanidade. Liberdade religiosa, liberdade moral, liberdade civil, li- berdade política, modulações do grande principio, quartéis do previlegio precipuo elevam o indivíduo se pratica as vir- tudes, distinguem-n’o se respeita as conveniências sociaes, dignificam-n’o se garante os direitos do povo, O desvaire e o crime são aberrações da liberdade, são nevroses conscientes, são estados morbidos de degeneração ou de decadência. Liberdade perfeita e sublime é a que se orienta pelos decretos de Deus, liberdade sem macula a que observa os dictames da Ethica, liberdade generosa e altruísta a que cura com desvelo os mais lidimos interesses dos homens. Feliz do povo que sabe confiar os seus destinos a mandatarios conscientes das suas liberdades e das suas responsabilidades. O Estado, como a sociedade e o indivíduo, é um or- ganismo sujeito aos phenomenos de nascimento, cresci- mento, vitalidade e morte e possúe orgãos que se encar- regam das funeções da sua existência, representados pelos poderes públicos. E’, pois, do bom funccionamento destes orgãos, da sua liberdade investida de responsabilidades, que resultam a paz e a felicidade do povo. Não basta aos poderes públicos pôr em pratica os ideaes mais alevantados de organizações políticas e admi- nistrativas, promover com melhores moldes a restauração dos mechanismos financeiros, planejar com largueza de vis- tas e sob normas modernas os remodelamentos materiaes das cidades, mas é essencial, necessário e primordial que defendam as populações dos ataques das enfermidades, do influxo dos germens pathogenicos e das consequências das condições deletérias que enfraquecem as actividades, detur- pam os meios de vida e lançam em ruina physiologica, m°ral e economica vastas regiões fadadas á abastança e aos surtos da civilização. Vem a proposito recordar as vibrantes palavras do primeiro ministro inglez Disraêli, pronunciadas por occasião da discussão da Lei Sanitaria na Gamara dos Communs eiP 1876, exaltadas com vigôr por Paulo Wéry, na sua ma- §astral obra sobre o saneamento das cidades: «A saúde publica é o fundamento sobre o qual repou- < sain a felicidade do povo e o poder do Estado. «Seja o mais bello dos reinos, dae-lhe cidadãos intelli- c ê'entes e laboriosos, manufacturas prosperas, uma agricul- tura productiva; que as artes ahi floresçam, que os archi- ' tectos cubram o só lo com templos e palacios; para c defender todos estes bens tende ainda a força, armas de < Precisão, esquadras, torpedeiros, si a população fica esta- c Cl°naria, si cada anno ella diminue em natureza e vigôr, a nação deverá perecer e é por isso que eu julgo que o < cuidado pela saúde publica é o primeiro dever dum ho- * mem de Estado.» Pioneiros destas ideias fecundas teem os europeus e pnericanos do norte encontrado, no nosso paiz, uma pha- rfn?e de nova tempera, apostolos da sciencia, cruzados et° bem. j, Mas, neste campo, eu encontro irmanados pelo mesmo c}e.al> por semelhantes esforços, pela aspiração do mesmo as artes liberaes e as artes mechanicas, os hygie- lstas eos engenheiros sanitários. Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Belisario Penna, Afra- -10 Peixoto e Arthur Neiva irradiam lampejos que se har- d(?npZam em intensidade com as cerebrações fulgurantes Francisco Passos, Paulo Frontin, Francisco Bicalho, Sa- ln,no de Britto, Baeta Neves e tantos outros. to«< • °kras eOB beneficies destes génios são monumen- e ljnpereciveis de gloria que se perpetuam de gerações du eraç^es» tendo a banhar-lhes as bases graníticas, cata- Pas de bênçãos e marulhosos applausos. Prof’ •ra uz> aurora de uma épocha repleta de acções fin í,lcientes e de resultados que estirpam do nosso paiz os o lamentos da insanidade, que restauram e tonificam todo ‘•ganismo social, é essa que nasceu congénita com os teg ?s proeminentes da campanha sanitaria, com os agen- mtellectuaes do saneamento do Brasil, nia i ° 80 tem Qnedado lethargica e indolente, a Amazo- ’ 5 evolução scientifica do paiz. Pará, chave da immensa bacia do rio Amazonas, " r°Pole dessa região que é tão grande como as raias de um paiz dilatado, em que a natureza é tão exhuberante que amesquinha os esforços do homem, luctou, ha décadas de annos, isolado e sem auxílios, contra a fereza dos mi- cro-organismos que numa ancia titanica querem vencer pelo numero e pela insidia a potência humana, querem anniqui- lar pela associação e pela proliferação os organismos su- periores em volume e em intelligencia; lucta sem tréguas, lucta de morte. A historia do nosso Estado refulge nos capítulos épicos desse combate pela conservação das especies porque a des- proporção dos elementos da victoria favorecia os hemato- zoarios e as bactérias de todas as especies. Quando Caldeira Castello Branco fundeou na vasta e caudalosa bahia do Guajará sorria, a natureza, sob as irra- diações de um sol tropical, trinavam debaixo das copas frondosas e virentes das arvores seculares as aves cano- ras, alçavam o vôo desde a superfície das aguas até os confins da atmosphera respirável, uma cohorte de pennas irisadas que pontilhavam o scenario de movimento animado que é a vida, de vida que é a mais alta expressão da creação. Mais tarde, ao pisar o sólo firme, quando o fundador de Belém num descortino do futuro vio a contingência do presente, quando avaliou com largueza de vistas o evoluir da semente que elle ia lançar sobre a terra e procurou, para isto, o recanto mais fecundo e conveniente da sua conquista, não se arreceiou nem do indio selvagem, nem da crueza das féras, mas teve a intuição nitida de que um perigo eminente o cercava, de que inimigos invisíveis se aprestavam para guerreal-o. E, de facto, a lucta estabeleceu-se desde que o homem civilisado palmilhou a terra inculta. A primeira arvore que tombou sob o machado do con- quistador, a primeira pá de terra que foi lançada sobre o caminho da praia á esplanada do castello, representam a genese dos trabalhos de saneamento desta cidade, a oxy- dação e a deseccação dos seus fundamentos. Poderíamos acompanhar as múltiplas phases desse in- término entrechoque respigando na historia local todas as epopéas de um campo no qual a sciencia vale mais do que os canhões e a abnegação brilha mais do que a coragem, mas é forçoso que nos conservemos dentro do perímetro que nos traçamos. Perfunctoriamente, como aeronauta que perlustra da immensidade os recessos do finito, nos deteremos a con- templar por um momento os feitos mais recentes, fulgidos e de maior destaque dessa épocha de campanha que vem da fundação de Belém aos nossos dias. Deixaremos de lado o vasto periodo no qual os homens tinham por si, somente, o empirismo e o instincto da con- servaçâo da vida, no qual os seus agentes hygienicos au- xiliares, poderosos mas, talvez, imperfeitamente comprehen- fliclos, eram, apenas, o rutilante sol do equador cujos raios bactericidas luctavam mais do que o punhado de heroes penetrava no coração da matta virgem e as copiosas chuvas que lavavam a átmosphera, encrespavam as super- heies das lagoas, destruindo os apparelhos hydrostaticos, mzendo naufragar os frágeis bateis que protegem e ani- cham os ovos das anophelinas, da Stegomyia calopus, do Lulex fatigam e de toda essa immensa familia de culici- deos, vehiculadores dos germens pathogenicos, e abatiam, ainda, faziam aterrar e anniquilavam toda a grey damni- nha de dipteros hematophagos. Não visaremos nas linhas que se seguem personalida- des políticas porque não é este o nosso escopo, mas faremos cpaltar os factos que recommendam á benemerencia pu- lca dois vultos que souberam enveredar a sua liberdade ia governança do Estado, pela estrada que conduz á por actos de altruísmo: um, medico de °meada, profissional dos mais competentes abraçando a ngenharia; o outro, engenheiro de largo tirocínio, de ex- Pmdencia abalisada, estreitando de encontro ao peito a medicina. José Paes de Carvalho, o douto governador, teve um , estes arroubos de genio, clarividência de scientista, conce- endo a necessidade de um plano antes da acção, do rne- i°d° na organização e na execução dos trabalhos. , Quiz abranger em um projecto geral todas as solilções g° Problema de saneamento do Estado, ainda que sabendo per impossível a conclusão de obras de tanto merecimento valor no curto período do seu mandato, já ein meio. deixaria, entretanto, com as obras em andamento ma norma, uma rota luminosa a nortear neste assumpto, aUelles qUe 0 succedessem. j D Legislativo estadoal veio ao encontro dos seus dese- de ’odand°-lhe outorga para a creação de uma Commissão c|° mento e para a remodelação do Serviço Sanitario das os trabalhos da primeira, elevaria Belém ao nivel seo- Cldades mais salubres do mundo e pela efficiencia da SUaUn-da eilv*ai>ia aos mais remotos lugares habitados da eil‘cumscripção administrativa os ensinamentos da hy- tiVo e’ as prescripções prophylacticas e os recursos cura- qUe ?01 ,° aureo decreto n. 647, de 25 de Fevereiro de 1899, a chUi-Sdtuiu a «Commissão de Saneamento de Belém», sob illum- do Provecto engenheiro, sob a direcção do espirito labo lnado ue ® 0 L>r. Henrique Santa Rosa, e com a col- COni;af° .de uma pleiade de profissionaes distinctos cuja Petencia se affirmou em demonstrações praticas de rele- vante utilidade, cujo valor tem reboado fora mesmo dos limites do nosso Estado e cuja actividade se tem conti- nuado a exercer nos múltiplos ramos da engenharia com proficiência e invulgar brilhantismo: Augusto Octaviano Pinto, Luiz de Farias Lemos, Eugênio Ackermann, Bento Miranda, Raymundo Yianna, Olympio Ohermont, Julio Al- ves da Cunha, E. Delaunay e Luiz Barrère. As instrucções que baixaram com esse decreto deram a synopse do vultuoso commettimento, traçaram a directriz dos ingentes trabalhos e nada escapou á argúcia scientifica do administrador, nem á illustração desses denodados ope- rários do Bem. O muito que foi feito, ainda que pouco em face d’aquillo que faltou fazer-se, abrilhantou os relatórios da Commissão, constellou as mensagens do governo, se desdo- brou em uma planta cadastral e ractificou nos exordios de um plano harmonioso que incentiva e estimula a realização de um ideal que é alevantado e sublime. João Antonio Luiz Coelho, o governador engenheiro e o engenheiro hygienista, teve a visão de que se achava no coração de uma cidade nascente, cercada de vasta região adornada da mais exhuberante flora, plantada num sólo que entumescia com as riquezas inestimáveis que continha. E, nessas phantazias de sonho que era antes uma as- sociação de idéas do seu espirito esclarecido, vio uma força extranha que jugulava todas as energias do progresso. Na cidade, queriam os palacios, a casaria, os monu- mentos se erguer do sólo onde rastejavam, as obras d’arte irromper das encostas e dos fundos das grotas, as fabricas e as uzinas elevar para o infinito as suas chaminés mon- struosas, o commercio estabelecer o intercâmbio mundial; nos campos, a agricultura cercada dessa volúpia de seivas estremecia na ancia de se expandir, as culturas estioladas aspiravam por uma éra de regerminação, os rebanhos e as manadas balavam e mugiam num appello vibrante pelo refi- namento e pelo aperfeiçoamento zootechnicos das suas raças, emfim os caminhos, as estradas, as vias ferreas queriam en- laçar, serpenteando por entre as terras e os campos, aos quaes levariam os elementos de vida e os complexos appa- relhamentos da civilisação, todo o regaço da extensa região cortada por um rio que era um mar, por uma caudal que se estendia e ramificava até os limites do horisonte. A sua vista ficou presa ao tremendo espectáculo, as suas retinas se dilataram num desejo de luz e de nitidez, as faculdades do seu espirito funccionaram acceleradamente e então pôde divulgar o monstro que empecia o soergui- mento das artes, o desenvolvimento das industrias, a ex- pansão do commercio e o resurgimento da agricultura. Esse monstro que era a endemia se abeberava na fonte da livre actividade, se encarniçava nos musculos que as alavancas do progresso e da civilisação que Sa° os homens e tinha tentaculos, como polvo, que iam bus- Car as suas victimas nos mais remotos logares, nos mais ermos recantos. E, o observador, pôde ver que o cerco das suas inves- tias malignas se tinha estreitado, que da zona dos campos devastada, passava a sugar a vitalidade humana na área da cidade, que o reducto em que se achava acastellado não demoraria cahir em poder d’elle. Dizem que o pesadelo causa uma sensação indefinível, que formando do nada imagens phantasticas intangíveis erea, a maior parte das vezes, para quem o experimenta a c°nsciencia irreal, momentânea, de uma impotência ou de manietação que tem diante de si um perigo proximo, trio e implacável. , Resulta d’isto uma angustia cruel, um soffrimento sem Ce\eza, uma oppressão que suffoca e perdura até os pri- meiros momentos da volta do centro sensorial ao dominio J;.as impressões reaes, á consciência do poder da intelligen- la e da força sem peias. Mas, quando o pesadelo revoca num somno penoso shidos aprofundados, quando corporifica tetricamente a °°rdenação assídua de ideias, quando esteriotypa scenas Jjue se estão passando ou prevê calamidades que se podem ar» deixa gravada no espirito a imagem apavorante, Uma especie de obcessão de todos os momentos, que es- guia á defeza, que incita á reacção. Roi isto que João Coelho sentio e, quando se levantou xtremunhado e decidido, tinha no espirito a imagem da Htezonia devastada, mas no mesmo âmbito o programma e morte ao monstro que a opprimia. q a sua energia brotou como irradiação primeira a c^e prophylaxia do paludismo cuja direcção foi tat 1&(*a aum Íoven luzeiro de Manguinhos, baixo de es- jstUra nfas grande de genio, filho da zona assolada e por ha? •111081110 revigorado por um alento de patriotismo que la de vencer. Dr. Antonio Gonçalves Peryassú, o entomologista o ]• culicideos o auctor da monumental obra que constitue coub r° 0r excehencia sobre os mosquitos do Brazil, que ren ir a **?re^a hercúlea de pôr um dique, de dominar e arr t i a *nvasão que o terrível morbus já havia feito nos da« a es mais aprazíveis, nos bairros mais procurados cercanias de Belém. Rorn‘ rS’ Anto»io c^e Figueiredo, Othon Chateau, Ageleu Albino Cordeiro e Eutychio Pinheiro foram os cas lares que mais se distinguiram nas pesquizas bactéri- as’ n°S exames microscopicos, na quininização precaucio- ’ lla aPplicação dos processos radicaes de cura, na remo- ção e eliminação dos focos de virus e nos requintes do expurgo e da desinfecção. Entretanto, ainda e sempre, o governo e a medicina sabia e despretenciosa julgaram imprescindível, neste mo- mento agúdo de esforços, a collaboração efficaz e pujante da engenharia sanitaria. Foi feito um appello á Intendência Municipal para que designasse um engenheiro dos que ornavam o seu quadro de funccionarios profissionaes no sentido de organizar um plano de defeza preventivo e parallelo á orientação prophylactica, para dirigir e assegurar os trabalhos de radicação dos resul- tados victoriosos da campanha. Se não fosse o dever de fidelidade histórica occultariamos o nosso nome neste feito que, por luminoso, ha de perdurar nos fastos sanitários do Estado e não diriamos que foi sobre os nossos hombros que pezaram as responsabilidades desta parte da acção, porém, fazendo-o, rendemos antes, um preito justo á abne- gação, ao esforço inaudito, á coragem sem limites desses homens-heróes que se arregimentaram sob as nossas ins- trucções, e de instrumentos em punho, cabeças ao sói, mergulhados muitas vezes nas aguas infectas dos pân- tanos, arrostando a ousadia dos insectos e das serpentes, desbravaram as mattas, cavaram nos leitos dos charcos, rasgaram a terra em sulcos profundos, deseccaram e ter- raplenaram as superfícies alagadas e construíram, emfim, um monumento inderrocavel de gloria para si e para os seus coetâneos. Sob os seus musculos de aço tombaram os gigantes das florestas como se fossem tenros fétos, deixando, nas clareiras abertas, ondas de luz cujos raios beneficos repel- liram os inimigos e sanearam os seus mais recônditos esconderijos; as algas e os nenuphares, as hervas e os arbustos que haviam invadido os leitos dos regatos e dos corregos, forçando o elemento liquido a sobrepujar as suas margens numa innundação apathica e apropriada a pos- tura de ovos das anophelinas, foram ceifados resurgindo então desses cahos verdejantes os cursos das aguas recti- ficados e as terras marginaes resequidas; as collecções de aguas estagnadas e os focos crystalinos de larvas e nym- phas que se extendiam nas profundezas das grotas e nos sopés das vertentes foram drenados e exgottados; os ter- renos alagadiços se tornaram firmes e enxutos; desappa- receram as fossas immundas escancaradas ao tempo, onde despejavam alluviões de carapanás nocivos pelos germens infecciosos que levavam nas patas, antes que recolhessem, na economia, outros mortíferos colhidos com o sangue das suas victimas; emfim, pontes e estradas foram construídas nas áreas conquistadas, para facilidade do transito, para desenvolvimento da edificação, mas sobretudo para venti- lação e insolação das futuras moradias. 0 resultado obtido, por médicos e engenheiro, em poucos mezes de trabalhos, com recursos monetários que estavam longe de serem avultados, excedeu a expectativa do governo, pelo declínio rápido da mortalidade e pelo augmento considerável dos casos positivos de cura e pelo repovoamento do sólo purificado, decidindo-o a uma acção Mais dilatada e intensa que visasse não somente o palu- dismo, mas outras enfermidades egualmente perniciosas e Mortíferas, que entibiavam as energias productoras do Estado. Um relatorio minucioso, illustrado com diagrammas e photographias de interesse palpitante, esclarecido com um Mappa n 0 qUaj se poude delinear pela primeira vez as Erecções e inscrever os nomes dos cursos d’agua que cir- cundam a cidade de Belém e penetram até o seu coração, assim como indicar os habitais dos culicideos devidamente classificados, foi apresentado ao governador como do- cumento que é de alto valor pelos dados scientificos e Pelos estudos especiaes que contêm. _ Estes trabalhos constituíram um dos capítulos mais brilhantes da obra fecunda que é a do saneamento deste Estado e foi seguido de um outro refulgente o da erra- dicação da febre amarella. Kão ensaiaremos ao menos a descripção desta nova Pbase da campanha porque nos faltaria espaço para tama- ní1° commettimento e colorido vivo de phrase para re- -Bistral-a. João Coelho encorajado pelo resultado da prophylaxia . paludismo lançou suas vistas para o sul do Brasil, onde ®Clntillava com fulgor inegualavel o genio de Oswaldo Epuz e conseguiu prender a sua attenção, attrahil-o para este rincão da nossa patria. Envoltos no resplandor dos seus conhecimentos vieram ? elementos complementares, technicos e pecuniários, in- lspensaveis para a efficiencia da grande obra. , Não podergjnos mesmo dizer tudo quanto de valioso e OIP fizeram os satellites que o circumvoluiram, porém, ais resonante que os maiores elogios, mais verídico do q e tQdos os summarios, está a proclamar os merecimentos Vin ®®^Ponda0nda empreza o seu resultado real, positivo e con- n Oswaldo Cruz, a quem os obstáculos não' detinham, 1 as difficuldades empeciam, coberto de glorias e seguro exito, veio, vio e venceu, rei i grande General vencedor de Pharnace, Ponto, podia sahir da sua bocca sem deslize. oiir/U* a»ora> um novo capitulo se esculpe no livro de folheamos. ple Puãge-lhe a contextura, orienta-lhe a marcha e inspira- -08 lances generosos uma nova revelação de talento e potencia de trabalho, um novo batalhador destemido e audaz que é o espirito crystalino, o caracter sem jaça de Heraclides de Souza Araújo. Não é mais o Estado quem fomenta a campanha,, é o Brasil que defende os seus filhos; não são mais a saúde e os interesses locaes que estão em jogo, porém a patria que se ergue sadia e fórte no conceito das nações. Vasto é o programma e difficil a sua execução, mas a victoria é certa pelo ardor dos combatentes e pelo seu apparelhamento scientifico. Quando algum historiador fizer a narração detalhada e meticulosa dos ernprehendimentos sanitários, neste Es- tado, ha de citar com particular relevo e fulgor os pontos culminantes que, nesta leve resenha, mencionamos, como exordio necessário ás noticias sobre exgottos de Belém que se vão seguir. A. Calmette e Imbeaux, medico e engenheiro com re- nomes feitos no mundo scientifico francez escreveram numa obra intitulada Egouts et vidanges: « Todos os seres vivos, desde os microbios até o ho- « mem, produzem excreções, resíduos da sua nutrição e ,da «sua actividade vital, cuja accumulação não tarda em tor- «nar-se prejudicial para sua existência. «A levedura da cerveja perece em algumas semanas «no liquido assucarado do qual ella terminou a fermenta- «ção alcoolica: da mesma maneira os animaes superiores «e o homem succumbiriam bem cêdo se fossem obrigados «a viver no meio das suas dejecções.» A observação já havia constatado que as epidemias que dizimam a humanidade se originam de preferencia nos lugares onde falta a hygiene e se accumulam as suji- dades de todas as especies. A chólera, o typho, a peste bubonica, cujas causas eram desconhecidas ceifavam multidões de "vidas, lançando o pânico e o terror em todos os centros densamente po- voados pela rapidez das contaminações e pelo coefficiente elevadissimo da mortalidade. Foram os trabalhos do eminente Pasteur que deram a conhecer os meios de se impedir não somente a propaga- ção desses agentes da morte, mas o seu nascimento nos sobejos orgânicos. São palavras suas cheias de ensinamentos as seguin- tes: «II faid vehieuler ces produits et les mettre en con- tact avec Voxygène de Vair qui détruit les germes mor- bidés.» Ora os elementos indispensáveis para a collecta, vehi- culação, afastamento, oxydação e nitrificação desses pro- duetos polluidos são em primeira linha drenos e as galerias de exgottos e a agua purificada, seguindo-se-lhes os pro- cessos de depuração natural, chimica ou biologica artificial, due têm preoccupado os mais esforçados hygienistas e engenheiros sanitários, sobretudo na Inglaterra, na Ame- rica ena França. A alvorada dos trabalhos de construcção de galerias de exgotto em Belém raiou com o anno de 1870. . Já em 1868 o então presidente da Província do Pará, Vlce-almirante Joaquim Raymundo de Lamare, no relatorio com que passou a administração da mesma Província ao ”r* Visconde de Arary, salientou a necessidade que se lhe urgente de serem melhoradas as condições da uygiene e da salubridade publicas pelo estudo e pela admissão de um systema de exgottamento dos pantanos, 'lue dentro da cidade e na sua circumvizinhança motiva- vam as enfermidades reinantes e affligiam a população em Pleno desenvolvimento. Essa necessidade tornou-se mais premente no governo ®eguinte, sob o nuto do Coronel Miguel Antonio Pinto porque no projecto das obras de construcção 0 caes de marinha deviam ser, desde logo, previstos os Pontos de descarga das futuras galerias de exgottos e o dessas obras, em execução administrativa por °nta do governo provincial, e debaixo da fiscalização do ngenheiro Julião Honorato Corrêa de Miranda, se fazia om presteza em frente ás ruas do Imperador e de Belém, ®to é, em frente á parte mais densamente povoada da Cl<*ade. O inicio, porém, das obras de exgotto só teve lugar Qln 1870, depois da assignatura do contracto lavrado entre lhesouro provincial e o engenheiro civil Augusto Mi- ei Andreossy, a quem fôram adjudicadas as mesmas ta r~aS’ Suas vanlagens e encargos em virtude da arrema- a que concorreu e foi aberta pelo edital de 14 de IJarÇo desse anno, sendo então Presidente da Província o 0r- Abel Graça. çj Tendo iniciativa e actividade, faltava porém, a An- eah°SS^~0 caP^ necessário para emprehender e levar a p 0 na° somente estas obras, como as de calçamento a Co. a; elePjPodos0dos de granito das ruas da cidade e as de strucção de marinha que simultaneamente contractára. e n I;,ecorreu, por este motivo, ás firmas Brambeer & C.a foim rl6 r®ie & C.a que se promptificaram a fazer-lhe o ©cimento de todos os materiaes de que precisasse. llle niciaram-se, assim, os trabalhos de exgotto do que faz de la° 0 Presidente Abel Graça em seu relatorio de 15 188(j °St° e Prosegulram com regularidade até Eesse anno surgiram divergências entre o concessiona- rio e os seus fornecedores que determinaram a paralyzação das obras e trouxeram como consequência a rescisão do contracto respectivo. Dessa éra em diante, a construcção continuou parcella- damente e sempre por pequenas empreitadas. Os governos, porém, tinham a preoccupação de resol- ver o problema de modo geral, fazendo organizar um plano que abrangesse toda a área edificada e desejavam commetter a execução dos exgottos a uma companhia par- ticular que os explorasse. E’ o que se infere da Lei n. 872 de 23 de Março de 1877, pela qual o presidente Dr. João Capristano Bandeira de Mello Filho, foi auctorizado a contractar, com quem melho- res vantagens offerecesse, a canalização dos exgottos de Belém. Com o advento da Republica resurgio a questão sani- taria em cuja linha de frente sempre se collocou o pro- blema de exgottos. A Lei n. 135, de 11 de Abril de 1890, auctorizou o pri- meiro governador deste Estado Dr. Justo Leite Chermont a conceder, a quem se propuzesse offerecendo as necessá- rias garantias, o direito de construir na capital uma rêde geral de exgotto de matérias fecaes, aguas servidas e pluviaes. Não teve feliz exito este novo tentamen do governo. Por outro lado, se o projecto primitivo, cuja execução foi iniciada pelo Dr. Andreossy já era por si mesmo defei- tuoso e incompleto, estabelecendo um tout à L’egont imper- feito, o methodo de construcção em parcellas e épochas differentes tornou-o, se não imprestável para o effeito de remoção das aguas e dos resíduos urbanos de toda a sorte, pelo menos de nenhuma valia sob o ponto de vista hygienico. Revendo-se esse primitivo projecto verifica-se que elle interessava, apenas, uma parte relativamente reduzida da actual cidade. Os subsequentes trechos de galerias fôram construídos á medida das necessidades mais urgentes e de desenvolvi- mento progressivo da edificação. Disto resultou uma rêde de conductores eivada de todos os vicios, em desharmonia com os preceitos technicos e, sobretudo, sem respeito aos mais comesinhos ensina- mentos da hygiene. Eil-a ao longo das nossas ruas sujeita ao exame e á critica conscienciosa dos especialistas. O critério que presidio a construcção dos exgottos foi o de aproveitar-se do melhor modo as condições naturaes do terreno, de fórma que os ejectos fizessem o seu curso simplesmente por gravidade. Assim, fôram estabelecidos tantos collectores quantas grotas ou depressões de terreno existiam alongando-se do coração da cidade para a sua peripheria, A cada um dos collectores principaes correspondeu Um ponto de descarga directamente no littoral ou mesmo em valias e corregos dentro da área que havia de ser for- Çosamente abrangida pela edificação. Ao assumirmos o cargo de Director de Obras Munici- paes de Belém não encontrámos uma só planta que nos todo o conjuncto de galerias collectoras dos an- llgos exgottos, aliás, ainda em funccionamento. Fizemol-a, Por isto, levantar e desenhar de forma que resaltassem á Primeira inspecção todas as diversas bacias topographicas servidas por galerias collectoras principaes e secundarias "~assim como os seus pontos de descarga. Essas galerias são de secções ovoides, têm paredes de Mvenaria de tijollos com juntas de argamassa de cimento 0 areia, e são revestidas inte-rnamente com argamassa de aiaterial idêntico. Para elucidar a descripção dessas bacias e dos emis- sários que as desafogam juntamos a este trabalho uma leproducçào da planta a que alludimos. p O exgottamento da área que se extende da praça Frei Metano Brandão até a travessa do Cano, entre a rua pl>- Assis e o littoral, faz-se directamente para a bahia do Uajará por meio de sargetas acompanhando as bordadu- as dos passeios e por drenos, de propriedade particular, °hocados no sub-solo dos quintaes e pateos. , Ao longo da avenida Almirante Tamandaré existem vaiiag descobertas constituindo o maior attentado ima- goiavel á salubridade publica, as quaes recebem os efflu- de uma Yasta Zona da cidade, delimitada pelas ruas gl'- Assis, Demetrio Ribeiro, 16 de Novembro, João Diogo, ‘ Matheus, Aristides Lobo, 15 de Agosto, avenida da Re- -1 oblica, Arcipreste Manoel Theodoro e Cezario Alvim. . delias descarregam os collectores construidos ao longo la S lUas Malcher, na avenida 16 de Novembro entre o Mr?v? os® e a rua J°ao Diogo, ena travessa S. v S,-entre Arcipreste Manoel Theodoro e praça Salda- p a .Marinho, além das aguas superficiaes das ruas não de canalizações apropriadas. Um outro trecho do r 00tor da avenida 16 de Novembro, com pendor em di- do °PPOSta ao primeiro, vae desaguar em plena doca Co ,r‘°'Pes°i depois de receber os effluentes da área j) í)reíl6ndida pela travessa da Vigia, ruas Dr. Malcher, e Ribeiro, João Diogo, S. Matheus, Aristides Lobo, avessa Dr. Fruçtuoso Guimarães. rà área limitada pelas travessas Dr. Fruçtuoso Guima- tos \ jde Agosto e rua Aristides Lobo, tem quatro pon- cle lançamento na bahia, correspondendo aos eixos das travessas Fructuoso Guimarães, Industria, l.° de Março e 15 de Agosto. Outra área distincta é a circumscripta pela travessa 15 de Agosto, avenidas da Republica, Serzedello Corrêa, S. Braz, Generalíssimo Deodoro, S. Jeronymo e travessa Benjamin Constant. Da mesma maneira que a precedente, descarregava no littoral em quatro pontos correspondentes á avenida Ferreira Penna, travessa da Piedade, doca do Reducto e travessa Benjamin Constant. Em consequência dos trabalhos de construcção do cáes do porto fôram estes pontos reunidos por meio de tubos addiccionaes de ferro a um emissário que leva os effluen- tes ao littoral na extremidade da doca Souza Flanco. Além das galerias principaes que exgottam as bacias acima enumeradas existem tres outras de menores dimen- sões servindo, apenas, as ruas por onde se alongam, *a saber: Na rua 28 de Setembro entre a travessa Ruy Bar- bosa e a doca Souza Franco onde despeja; na travessa 14 de Março entre a praça Justo Chermont e a avenida Conselheiro Furtado, lançando os effluentes na baixada que se ramifica para esse lado; finalmente na avenida Indepen- dência, entre as praças Justo Chermont e Floriano Peixoto, cujo lançamento de ejectos faz-se por um emissário em meio da travessa 9 de Janeiro, no trecho situado entre as avenidas Independencia e S. Jeronymo. Uma breve anályse, como esta, da disposição dos ex- gottos actuaes é sufficiente para a condemnação formal. Como se vê, elles não fazem mais do que facilitar a remoção dos effluentes dos terrenos altos para os baixos e lançal-os accumuladamente, in natura, no littoral ou em terrenos baixos outr’ora deshabitados, mas actualmente cercados e invadidos pela casaria. Os defeitos, porém, não param ahi. As galerias peccam por insufficiencia das secções cal- culadas em funcção dos affluxos e das declividades, occa- sionando inundações como succede na avenida Nazareth no ponto de ligação com a galeria da avenida 29 de Agosto, antiga índio do Brazil; por mudança brusca das mesmas secções, algumas vezes de mais para menos; pela situação de alguns trechos delias abaixo das cotas da preamar; pelo emprego de materiaes que nem sempre fôram devidamente escolhidos e expurgados de corpos extranhos; pelas innumeras fendas que apresentam por onde os effluentes se escoam para o sub-solo, contami- nando-o. Em matéria de atmosphera dos exgottos pretendeu-se estabelecer o systema preventivo da formação e accumula- ção de gazes, obrigando-se os proprietários dos prédios beneficiados pelos collectores domiciliários a dotarem as suas installações sanitarias com tubos de escapamento, que partindo das coroas dos syphões das sentinas fossem ter- minar acima dos telhados respectivos. A Lei sobre edificação urbana, em vigôr, mantem dis- posições neste sentido. As tomadas de ar seriam pelos múltiplos pontos de descarga, formando-se correntes de aeração que ventila- ram as galerias favorecendo as condições de existência dos micro-organismos aerobios agentes da nitrificação da matéria organica. No sentido de evitar-se a perturbação dessas correntes de aeração e a possivel exhalação de gazes em pontos in- convenientes foram previstas obturações das chaminés de mspecção dos exgottos por meio de tampas de ferro fun- ,do e das boccas de lobo pela adopção de syphões hy- draulicos. Na pratica, porém, estas providencias tiveram resultado de efficacia contestável porque os pontos de tomada de ar ao insufficientes, as tampas das chaminés não as fecham mrmeticamente, e as sahidas das correntes de aeração não Prehenchem devidamente os fins a que se destinam, seja Pela sua imperfeição, seja pela sua suppressão oriundas da ma vontade ou incomprehensão dos proprietários que, vez, preferem libertar-se dos gazes dos exgottos a°llocando um syphão isolador na sua canalização, do que aeilitar a sabida dos mesmos gazes para as camadas su- periores da atmosphera. . No exame das derivações domiciliarias temos encon- lado as maiores anomalias que são, quasi sempre, o re- Su*tado duma economia mal entendida por parte dos Proprietários acima alludidos ou da preoccupação dema- laha com os seus lucros por parte das firmas empreiteiras as construcções urbanas. Quando as obras são feitas por administração procu- m aquelles fugir ao cumprimento das disposições das .. 18 municipaes que subordinam as construcções de pre- °s á direcção de engenheiros civis, architectos e constru- diplomados, fazendo organizar e assignar os proje- e S profissionaes competentes, porém, confiando a sua ©cução a mestres de obras sem as habilitações devidas; H ando acontece serem as ditas obras commettidas a uma Prof’1 Constructora e empreiteira que tem ao seu serviço, int !SSÍOnaes de certa responsabilidade, intervém então o °.a^lesse do ganho entravando a liberdade destes e obri- har • OS-a falsearem os bons principies em proveito da ennonia de tempo e de material, hiv HUlta c^essas anomalias que os gazes dos exgottos te§ aclem frequentemente as habitações, que se dão frequen- exv obsfrucções nos collectores residuaes, que as matérias ementicias refluem para a superfície das áreas e dos quintaes, emfim que estes e outros malefícios- confinam o ar inspiravel dos aposentos, obrigam os moradores dos prédios á execução de incessantes trabalhos insalubres e contaminam o sólo, attentando contra a saúde e a vida dos indivíduos. O remedio para estes males seria a fiscalização profis- sional por conta dos proprietários das obras, mas como esta é systematicamente omittida cabe aos poderes muni- cipaes providenciar para que seja ella feita officialmente, como medida de salvação publica. Dir-se-ia que essas estão previstas e dadas nas Leis e nos Regulamentos da Municipalidade, mas é forçoso confessar-se que na pratica não têm ellas produzido os resultados desejados pela falta de provimento das directorias responsáveis, pela sua observância, com os funccionarios convenientes em numero e aptidão. Uma reforma administrativa municipal e uma revisão do quadro de funccionarios da Intendência se impõe para melhoria de serviços que tão de perto condizem com os interesses dos munícipes e faz parte do programma, feliz- mente fecundo e profícuo, ab origine, da actual gestão da communa de Belém. Nessa reforma hão de ser levados ao primeiro plano as directorias de obras e de hygiene porque são ellas que justificam a existência dos poderes municipaes, que dão cumprimento aos inilludiveis deveres que estes têm de zelar pela saúde, pelo conforto e pela felicidade dos habitantes do Município. Se tivermos em conta as imperfeições, os defeitos e a insufficiencia dos actuaes exgottos, negação de tudo quanto a engenharia sanitaria e a medicina aconselham para a construcção de canalizações deste genero e, por outro lado, as imperfeições e deficiências do nosso serviço de abaste- cimento de agua, porque motivo Belém não é devastada por epidemias mortíferas e a média da mortalidade se conserva ahi abaixo da de outras cidades providas de installações sanitarias incomparavelmente mais perfeitas? A questão é certamente complexa e se poderia allegar que, em certos casos, occorrem, em desfavor de outras re- giões, coefficientes de miséria, frio rigoroso, insolação, etc,, mas o que é indubitável é que, no nosso Estado, os agen- tes hygienicos naturaes são mais activos do que nas lati- tudes mais elevadas. Os dardejantes e seccativos raios do nosso sol equato- rial, as chuvas copiosas que lavam a nossa atmosphera, as emanações saudaveis do verdejante pomar onde se esta- beleceram as nossas habitações, a riqueza de oxygenio do nosso ar sempre agitado por leves brisas, são outros tantos auxiliares sanitários que agem por conta própria, bacteri- cidas purificadores de acção dilatada que, secundando os PLANTA DOS EXGOTTOS DA CIDADE DE BELÉM c C íàtxniítij - - Aa- j>&*.s>\x\X*4 cia*.' xoho»' df «**t- V'5 f,c^1- C --.-• - • - ——■— 1870 PHOP+fYLA X!A RU RA L decursos do engenho humano, expurgam a natureza dos germens infecciosos. A acção efficiente dos raios solares como agentes hy- gienicos naturaes é largamente conhecida dos fazendeiros grande ilha de Marajó, situada na fóz do rio Amazonas. As terríveis epizootias que malsinam e quasi extinguem as. manadas e os lotes de gado das zonas temperadas, como Sejam a febre aphtosa, o carbúnculo, o mormo e tantas outras, não resistem a canicula do estio nos campos mara- loáras. Os fazendeiros como meio prophylactico limitam-se a conservar as rezes espalhadas, abstendo-se de trab- a-1110 que as reuna ou accumule. . „Os estragos que estas moléstias occasionam nas popu- JaÇões bovinas e cavallares são motivadas pela falta de drenagem e deseccamento do sólo nas épochas hibernaes, 9Pando as aguas superficiaes vehiculam e disseminam os germens pathogenicos. Do que dissemos anteriormente se conclue que a ques- a° de exgottos, entre nós, era da competência do Estado, as em 17 de Março de 1898 o Conselho Municipal, por orça da Lei n. 187, auctorizou o Intendente a entrar em com o governo estadoal, que então se occupava °m o problema do saneamento de Belém, no sentido de 1 r°mover a construcção de uma rêde completa de exgottos °mprehendendo o serviço de remoção das matérias fecaes, guas servidas e pluviaes. tal consequencia desse accôrdo e como a execução de tal eniPrehendimento dependesse da existência de um capi- Javultado, que não poderia ser supprido com os recursos > puiarios da Municipalidade, votou o mesmo Conselho a ai n. 330 de 2 de Abril de 1902, outorgando ao Executivo Acuidade de chamar concorrentes, por espaço de seis me- Uie’ fnesta e na Capital Federal, para o estabeleci- nto e exploração dos exgottos da capital do Estado. -Neste sentido o Intendente Senador Antonio José de me?°S 8Z P editaes, com data de 11 de Abril do aeo m° anno> determinando que as propostas deveriam ser rinÍm^an^adas, entre outros documentos e especificações, s seguintes: tem <eraes e secundarias. Systema de lavagem das agua aS com determinação da procedência da geilg empregada nesse mistér. Demonstração das vanta- chnio systema proposto tanto quanto as condições te- LestiaS’ como também ás da hygiene publica e domiciliaria, em Ln° ,^os resíduos transportados pelas canalizações e, geral, tudo quanto interesse ao estabelecimento com- pleto do serviço e sua exploração pelo concessionário. Ta- beliã das taxas que deverão pagar os prédios existentes ou por construir dentro dos limites servidos pelas redes de exgottos, com discriminação da natureza dos prédios. Prazo para inicio e conclusão das obras. Documento que prove os recursos necessários para iniciar e concluir os trabalhos e bem assim de ter a necessária idoneidade pro- fissional.» Dentro do prazo da concorrência fôram apresentadas duas propostas subscriptas pelos engenheiros civis Drs. Ma- riano Alves de Vasconcellos e Joaquim Gonçalves Lalôr. Nomeou, então, o Intendente interino Sr. Major José Antonio Nunes, uma commissão technica para emittir pare- cer sobre estas propostas, compostas dos engenheiros mu- nicipaes; Miguel Ribeiro Lisboa, Domingos Acatauassú Nunes e Frederico Martin. As alludidas propostas fôram publicadas não somente na imprensa diaria, mas ainda em folhetos que tiveram larga divulgação. A commissão municipal não demorou em emittir um extenso e fundamentado parecer, apresentando-o em 24 de Dezembro de 1902 ao Intendente effectivo que o submetteu ao estudo e deliberação do Conselho Municipal. Como se verifica dos termos dos editaes de 11 de Abril de 1902, ficou, aos concorrentes, a faculdade de indicarem o systema de exgottos que julgassem mais consentâneo com as condições topographicas, meteorológicas e hydro- graphicas locaes. Ora, de todos os systemas de exgottos executados ou simplesmente imaginados dois são reputados como os que melhormente satisfazem as exigências da hygiene e da economia: o unitário e o separador, funccionando ambos sob a acção da gravidade. O systema mixto ou parcialménte separado, os syste- mas aspiradores de Berlier e de Liernur e o systema de recalque pelo ar comprimido de Schone apresentam incon- venientes praticamente insuperáveis que são accrescidos, nestes systemas mechanicos, com a necessidade da acquisi- ção de machinas caras, cujo custeio é sempre elevado. O illustre engenheiro brasileiro Dr. Francisco de Paula Bicalho ensina: «Pelo que temos exposto resulta que em face das exi- gências da hygiene moderna só podem ser admissíveis para as grandes cidades o systema separador com rede dupla ou o systema unitário.» E accrescenta: «Qualquer dos dois systemas resolverá amplamente o problema hygienico, mas pensamos que sem- pre que se disponha dos requisitos indicados deve ter pre- ferencia o systema unitário, porque não só exigiria menor capital para o estabelecimento de uma rede que realizasse 0 serviço de exgottos em sua plenitude aguas servidas, matérias fecaes e aguas pluviaes como também atravan- cará menos o sub-sólo, nas ruas.» Por seu lado Hobrecht no relatorio que escreveu sobre 0 saneamento de Alexandria affirma que «é inútil recome- çar sobre uma questão ha muito explorada e que não Servio senão para pôr em evidencia as qualidades do tjqio unitario, cuja superioridade, no caso geral, é hoje admittida Por todo o engenheiro experimentado.» A escolha do systema de exgottos a ser adoptado em Polém estava, porém, subordinada a condições Jocaes, a emgencias topographicas que tornavam improfícua a exe- oução do systema unitário no tempo em que se discutio este magno assumpto e que ainda perduram. Para mostrarmos a impossibilidade da execução deste systeina nas condições actuaes vamos transcrever, data vcnia, o seguinte trecho do precioso trabalho ainda inédito Un um illustre engenheiro paraense sobre o saneamento do utoral de Belém e pantanos adjacentes: p «Lançando um olhar sobre o mappa da cidade de elém é dolorosa a impressão que nos produz por vermos .a° r©duzida a área dos terrenos firmes circulados ou in- ercalados por extensas baixadas. Do lado do nordéste, s affjuentes do Una serpenteam distendendo-se largamente e a praça Floriano Peixoto. Não longe destas nascentes re vê, attingindo a mesma praça, as do affluente do iga- vaPú Tocunduba correi/do de norte para o sul e desenvol- endo-sg em vasta área pantanosa em grande parte das j rras occidentaes do património. Pelo lado do sul e su- a°este são as aguas do proprio Guajará que encontrando ! superfície do sólo abaixo das fluctuações do seu fluxo as1*'6^0 80 derramam em maior ou menor altura conforme oc eP?chas lunarek, abandonando-o successivamente por poasià° do refluxo das marés. Pelo noroéste, desde o t° ato 0 Una ou maig adeante até Yal-de-Cães nos obs GS Patr,m°niaes é o mesmo effeito do Guajará que se PeierVa P°r t°da a margem, ainda que em menor gráo trae o^stacul° que offerece a elevação dos terrenos cen- po ? cor.rendo parallelamente proximo. Por entre estes, io.a^In ainda o Guajará encontrando os leitos antigos dos IJajaP®s das Almas e Beducto provindo de depressões lpars °u menos avantajadas por elles invade e vae espa- do as suas aguas nessas mesmas depressões converten- -Bem áreas paludosas.» por estas condições o systema unitário é impraticável naS zonas baixas as suas galerias ficariam frequen- -3 actos ° rePÍe^as e extravazariam mesmo, refluindo os de- mora ~s°bre os leitos das ruas e nos pateos e quintaes das 101 adias urbanas. ai‘a que este systema podesse ser applicado, nessas áreas baixas, seria necessário em primeiro logar terraple- nal-as até uma cota de nivel conveniente, o que não é im- possível com os apparelhamentos modernos de que dispõe a engenharia, mas como em Belém as ditas zonas baixas occupam a maior portão da área destinada ao desenvolvi- mento da cidade e o custo dos trabalhos de levantamento do sólo resultaria muito elevado, julgou-se melhor abrir mão deste systema. Por outro lado Beckmann (Assainissement, pag. 46) parece ter escripto em favor do systema separador, para utilização no caso vertente, o seguinte periodo; «C’est ainsi, par exemple, que dans une ville déjà pour- vue d’un reseau d’égout écoulant dans de bonnes conditions les eaux pluviales et ménagères dont le déversement au cours d’eau le plus proche se trouve être sans inconvé- nient mais qui ne se prêterait pas aussi bien a I’envoi des eaux vannes, Fetablissement d’une canalisation speciale pour ces dernières eaux pourra être quelque fois un mode complementaire d’assainissement à la fois rationnel et eco- nomique.» E’ verdade que as galerias que possuímos são incon- testavelmente defeituosas e as suas maiores faltas provêm de não obedecerem a um plano geral, mas pensou-se que reservando taes galerias exclusivamente para uso de aguas pluviaes, depois de feitas a ampliação da rêde, as modifi- cações que se impõem e a revisão das canalizações de uso domestico, ellas poderão funccionar com os caracteres de canalização de segunda ordem, parte integrante de todo o systema separador. Foi por estas considerações que os dois concorrentes deixaram de propor o tout à Végout dando preferencia aos systemas separadores. O Dr. Mariano Vasconcellos propoz o systema rnixto ou parcialmente separado, também denominado pelo propo- nente systema inglez, obrigando-se apenas pela construcção das canalizações de fraco diâmetro destinadas á evacuação das aguas servidas e matérias fecaes. O Dr. Joaquim Lalôr propoz o systema absolutamente separado, obrigando-se a construir as canalizações para matérias fecaes, aguas servidas de uso domestico e indus- trial e a apresentar os estudos necessários para a execução das canalizações destinadas ao exgotto das aguas pluviaes. Um ponto essencial de divergência existia nessas pro- postas: a primeira admittia a parte das aguas das chuvas «cahidas sobre os telhados no fundo das casas ou nas áreas e pateos internos»; a outra as excluia inteiramente. Ora, o systema parcialmente separado resente-se nas condições actuaes da cidade, do mesmo inconveniente que o systema unitário, isto é, os seus conductos ficariam fre- quentemente inundados pelas aguas das chuvas e das piares enchentes, que os invadiriam pelos ralos dos pateos internos, tornando impossível o seu funccionamento, em- Quanto que o systema separador absoluto como foi definido e instituído pelo seu inventor o Coronel Warring escapa a estas graves causas de desarranjo. Foi este um dos motivos pelo qual a commissão te- chnica municipal encarregada de examinar e se manifestar as duas propostas, opinou pela do Dr. Joaquim La- !or; mas militaram, ainda, em favor delia outras razões de indiscutível valor: l.a—porque o systema separador abso- Juto dando somente logar ao serviço ordinário e não ao extraordinario permitte sempre a depuração final; 2.a por- Que pedia o prazo de 50 annos, emquanto que a proposta c°ncorrente queria o de setenta annos ou sejam quarenta por cento a mais; 3.a porque trazia menos onus do que a. concorrente para os proprietários ou moradores dos pre- dj°s; 4 a—porque se propunha a fornecer toda a agua pre- Cisa para o serviço de exgotto e, principalmente, a das caixas ?as Privadas; 5.a porque se obrigava a apresentar um pro- Jecto de drenagem geral da cidade o qual se impõe, tanto Quanto senão mais do que o da remoção das matérias ccaes e aguas servidas; 6.a—finalmente, porque marcava ara a execução um prazo certo e definido, ao passo que do seu concorrente subordinava o prazo respectivo á aia hypothese a da organização da empreza para a xPloração do serviço. Ao terminar o seu relatorio a dita commissão declarou 4ue «pronunciando-se a favor de uma das propostas por e parecer que offerece maiores vantagens ao interesse Ullicipal, o faz com as reservas constantes da apreciação lUe. das duas, ponto por ponto, fez, especialmente quanto 0 .systema de depuração final, visto que considera como ais conveniente o da bacteriolyse, com a installação de- Pcop a° enSenheiro Dibdin, que nenhum dos concorrentes q.q. , Farte importantíssima e debatida do problema de ex- dos *—GSSa c*a Purificação edo destino da massa total nlj .e3ePt°s mereceu especial attenção por parte dos enge- Preflr°S lrmnicipaes commissionados, que justificaram a sua as • erencia pelo processo biologico de purificação segundo ceSç.nstruc^es de Dibdin, depois de estudos sérios dos pro- hvrt°S COnhecidos, em face das condições topographicas e locaes. tifica attendendo ao resultado dessas especulações scien- de s.clue a alludida commissão deixou de lado o emprego dieffJ!'°Cessos mechanicos e chimicos considerados como §imeCtaZeS e’ c^os Processos biologicos, a epandage (espar- ato sobre o solo) por inapplicavel na nossa zona. 9ljre os dois primeiros diz a palavra auctorizada de 'ancisco Bicalho: «Com éffeito os processos mecbanicos e chimicos não são efficazes; ambos elles retiram das aguas apenas as matérias em suspensão e, quando muito, uma pequena parte das que estão em dissolução de sorte que o liquido resultante está muito longe de ser puro e entrará em pu- trefacção polluindo o manancial em que fôr lançado. Por outro lado todos estes processos deixam nos tan- ques grande quantidade de lamas que carecem de ser seccadas e reduzidas de volume por meio de compressão, produzindo grande massa de residuos solidos que atravan- cam as immediações das uzinas e constituem um sério embaraço para as municipalidades que ainda não descobri- ram uma utilização ou emprego para taes residuos». Sobre o terceiro, recorrendo-se á mesma fonte douta, lê-se: «O processo de depuração pelo sólo, inquestionavel- mente o mais efficaz e sem competidor, não é, infelizmente, como já tivemos occasião de dizer, applicavel por toda a parte. E’, com effeito, preciso que nas proximidades das cidades existam terrenos apropriados, quer por sua per- meabilidade, quer por seu relevo topographico comprehen- dendo, além disso, a superfície necessária para a depuração das aguas de exgotto. Taes terrenos devem achar-se em altitude tal que as ag\ias possam a elle chegar pela acção da gravidade sem emprego de machinas elevatórias; de- vendo ter um curso de aguas, proximo, ou um escoadoiro natural para remoção das aguas depois de filtradas. De- vem ser medianamente permeáveis para que a penetração das aguas não seja tão rapida que impeça a completa ni- trificação das substancias organicas e com espessura suffi* ciente para que a depuração seja completa». Examinando-se, ainda que rapidamente, a possibilidade de se obter nos arredores de Belém campos apropriados para a depuração por epandage e estudando-se as condições climatéricas da nossa zona em face do problema, resalta desde logo a impraticabilidade do processo nesta região. Já tivemos occasião de demonstrar que, dentro do pa- trimónio municipal, a área de terrenos baixos é muito maior do que a dos terrenos altos e que aquella fica, fre- quentemente, coberta pelas aguas do rio Guajará, além da impropriedade do sub-sólo que é de natureza argilosa su- perposta de exigua camada permeável; por outro lado os terrenos altos, de superfície reduzida e destinados em pri- meira linha ao desenvolvimento da casaria, são também inconvenientes para campos de epandage, pela necessidade que haveria de empregar-se machina elevatorial de grande potência. Se sahirmos do limite do património não encontrare- mos melhores condições porque permanecem a constituição geologica e o relevo do sólo até uma distancia incompati- V©l com o critério economico do problema. Um outro obstáculo ao emprego deste processo é a quantidade avultada de aguas pluviaes que cahem sobre o solo, sobretudo no inverno, tornando não somente difficil a filtração dos detrictos espargidos, mas arrastando-os antes clo devidamente purificados. Tendo em consideração as inconveniências dos pro- Cessos de purificação mencionados, justificou a commissão a que nos referimos a sua preferencia pelo processo de «apuração biologica artificial, como resultado obtido pelas Posquizas c]e Schoessing, Hiran Mills, Hass Warrington bowcolk e outros e ainda com as opiniões de peritos en- oarregados de estudarem o tratamento dos ejectos das ci- Pades de Manchester, Lawrence, Mawer Leith, Londres e Antigamente acreditava-se que a transformação da ma- 6ria organica era motivada pelo phenomeno de simples xydação; hoje, porém, depois de incessantes experiencias lc°u demonstrado que a nitrificação dessas matérias re- suita da intervenção de micro-organismos que pullulam nas Cauiadas superficiaes da terrra e nas aguas impuras. Este trabalho comprehende duas phases bem distin- . S: a primeira é de desintegração microbiana das mate- ias orgânicas ou fermentação séptica, occasionada por infinitamente pequenos denominados por Pas- ®Ur anaeróbios —, porque encontram favoráveis condi- de desenvolvimento e proliferação em meios despro- Ulos cie oxygenio; a segunda é a de transformação das «aterias azotadas, dissolvidas, em nitritos, depois em ni- J at°s solúveis e das matérias ternarias em productos *azosos e em agua, motivadas pela acção dos aerobios í/Jra.ouja vida e funcção activa ha necessidade de franca 1 Ov'são de oxygenio. r depois desta descoberta scientifica tratou-se de favo- r Cer’ 1108 exgottos, as condições de desenvolvimento dos Sei?°^Z'OS- resP‘ingindo-se quanto possível as necessárias aos s antiscios na esphera destes organizados, de nda mais; levou-se o aproveitamento dessas funcções eie Staneamento natural até a depuração da massa total dos etos sempre rica de matérias organicas. Co ~ma lnstallação de depuração biologica artificial se Ca P^e ordinariamente de bacias de decantação prévia ou fos aras cio deposito para areias, escorias, cinzas, etc., de on fu SePHcas ou bacias de digestão e de leitos bactericos otros nitrificadores. cien(V°m es*e aPParelhamenf° se consegue a maxima effi- cuvq la ?°. processo, sobre um espaço reduzido e no de- ahnimo do tempo. systema de Dibdin despertou grande enthusiasmo entre os hygienistas e engenheiros sanitários inglezes, e, consequentemente, foi introduzido em muitas cidades popu- losas e industriaes como Manchester, Salford, Leeds, Bir- mingham, Bradford, Chester, York e muitas outras, com bom resultado. Entretanto, em outras installações mais recentemente feitas,'como por exemplo na da cidade de Toulon, se obteve resultados ainda mais satisfactorios. Segundo Bicalho, as aguas dos exgottos sujeitas ao tratamento por este processo perdem mais de 99 % das impurezas que contêm; Dibdin affirma que a retenção da matéria organica nos leitos bactericos, verdadeiros campos de cultura dos germens da nitrificação, em cada contacto, era de cerca de 50 % da contida nas aguas de exgotto no momento da sua chegada, 75 % com dois e 82,5 % com tres contactos, resultando depois da acção dos micro-orga- nismos o enriquecimento do liquido com uma quantidade correspondente de nitratos, que indica o grão de depura- ção effectivamente obtido. Este systema de depuração é exactamente o mesmo, quer na eyandage agricola, quer na filtração intermittente sobre o sõlo permeável não cultivado, intervindo sempre os mesmos microbios. A unica differença consiste em que na depuração bio- lógica artificial accelera-se, regra-se e seria-se a vontade o trabalho dos microbios, emquanto que na epandage agri- cola ou na filtração intermittente os phenomenos accorrem segundo as condições locaes atmosphericas e geológicas. Pelos motivos expostos foi incluída no primitivo con- tracto a depuração pelo processo biologico artificial, de- vendo o lançamento dos ejectos, depois de tratados, effe- ctuar-se nas aguas do rio Guajará, por occasião da vasante, em ponto do littoral não abaixo do igarapé Una. Infelizmente não logrou egual exito, na firmeza das clausulas contractuaes, definitivas, a obrigação de serem, desde logo, construídas as canalizações destinadas ao ex- gottamento das aguas pluviaes e das de uso publico como lavagens de ruas, irrigações de jardins, remanescentes de fontes e chafarizes ornamentaes, ainda que aproveitando-se as existentes, depois de convenientemente modificadas e ampliadas. Entretanto, a construcção desta segunda rêde de cana- lizações não é dispensável, nem adiavel. A falta da remoção rapida das aguas das chuvas não só entretém, nos terrenos particulares, a humidade e a for- mação de pequenos pantanos, mas ainda occasionam ver- dadeiras inundações em alguns trechos de ruas e áreas circumvizinhas. Estes inconvenientes, em verdade, não são os menores. As vias publicas são o receptáculo de innumeraveis immun- Oicies que as vassouras da limpeza publica são impotentes para remover. Em todos os ângulos formados por calça- mentos e passeios, como nas juntas das pedras e lageas, accumulam-se matérias em decomposição e formam-se de- Positos de germens de natureza infecciosa, como os da pneu- monia, do tétano, da tuberculose, etc., que são arrastados Pelas aguas pluviaes, polluindo-as. Se depois desta pollui- ?a° ellas não são promptamente conduzidas para logares optantes onde possam ser purificadas, espalham-se sobre areas, por vezes consideráveis, contaminando o sólo com esses microbios perniciosos. Muitas experiencias e anályses têm provado que as aguas pluviaes, depois do seu curso nas cidades e apezar cía sua apparencia menos repugnante do que a das aguas eloacaes, offerecem sérios perigos para as funcções vitaes homem. A commissão que emittiu parecer sobre as propostas de exgottos chamou a attenção do Executivo Municipal Para o facto de nenhum dos proponentes obrigar-se a con- ®h’uir a segunda rêde de exgottos a que nos referimos, °ontecendo que apenas um delles estipulou a clausula de apresentar um projecto de drenagem geral da cidade, que Xecutaria mediante ajuste especial. Apezar deste aviso e de ter sido incluida no contra- d° uma obrigação que regulava a execução desta parte ssençial do systema separador, foi posteriormente suppri- aida, resultando o seu desmembramento em assumpto para t,°Va concessão que viria onerar, ainda mais, os particula- °u em obras de caracter administrativo que pezariam o orçamento da Intendência. Paul Wéry, citando M. P. Pignaut salienta o seguinte ,ocho da sua conclusão sobre os systemas de eliminação: <<íje système que nous venons de décrire (système arring), ainsi que tous les système séparés en general, eai°Se Sur une erreur hygiénique, en admettant que les ni x de piuie et de lavage des rues, que les eaux des can- eauxj en un mot, puissent être déversées sans inconve- nt dans les cours d’eau les plus voisins». stan endo sido obrigados a acceitar, por força das circum- diz Clas’ 0 systema separador absoluto, devemos desde já Ca a purificação e o destino final dos effluentes das sem llzaçÕos de segunda ordem não ficariam, no nosso caso, solução compativel com os ensinamentos da hygiene. ver i decorrer desta exposição teremos ainda que escre- ProbfemUmaS Pa^avras sobre esta parte importantíssima do dita^m nlateria de purificação dos ejectos ainda não foi Pista a +u^ma palavra e os engenheiros sanitários e hygie- c 8 trabalham com afinco para descobrir o melhor pro- cesso que allie á completa depuração dos efflueutes o menor dispêndio com as installações e o custeio do sõrviço. Sete annos depois de firmado o parecer da commissão municipal, o distincto engenheiro Dr. Lourenço Baeta Ne- ves, por incumbência do illustrado chefe das Commissões de Saneamento de Santos e Recife Dr. Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, apresentou um circumsíanciado relató- rio sobre o processo electrolytico de depuração das aguas de exgotto, praticado em Santa Monica, na Califórnia, ba- seado na purificação do seivage pelos reagentes chimicos resultantes da electrolyse dos proprios corpos nelle con- tidos. Este emprego economico da electricidade, que se apre- goa como efficaz na depuração dos líquidos e matérias dos exgottos, foi descoberto pelo Sr. John F. Harris e se achava em exploração pela «Califórnia Water Purification & Sanitation C.°», de Los Angeles. O Dr. Baeta Neves pessoaímente visitou as installações que são de uma simplicidade extrema, constando apenas de calhas de madeira nas quaes o effluente passa continuamente, sob electro-imans, entre chapas de ferro verticaes, longitudi- nalmente dispostas,'formando baterias de eléctrodos. Sem podermos nos extender sobre as theorias e o re- sultado do processo, como sobre as suas condições de func- cionamento pelo limitado quadro deste trabalho e pela exiguidade de tempo de que dispomos, respigamos no relatorio do Dr. Baeta Neves os seguintes conceitos: «Nesta purificação a acção directa da electridade não foi ainda determinada, tudo se explicando pelos reagentes chimicos resultantes da electrolyse do effluente, taes como os gazes em estado nascente, oxygenio, chloro, ozona e hydrogenio e pelos productos da desintegração dos elé- ctrodos. Dos estudos do Dr. Salathé (professor que gosa de alta reputação no meio scientifico americano), baseados em resultados de suas anályses, conclue-se que profundas modificações dão-se na constituição intima do effluente que se torna estável e neutro, devido á oxydação da matéria organica e transformações de compostos chimicos nelle contidos. No processo todas as substancias susceptíveis de ulterior putrefacção são tornadas insolúveis, estáveis». «A matéria organica viva não subsiste á acção do oxygenio chloro, ozona e hydrogenio nascente, e quando uma parte resista passando no effluente tratado, eila não é mais capaz de se desenvolver. Os mesmos gazes redu- zem, de modo extraordinário, os demais corpos orgânicos taes como albuminato, compostos azotados de constituição organica, assucar, ácidos gordurosos, etc., parecendo dar-se a completa oxydação dos corpos dos dois primeiros gru- pos, os quaes são considerados de grande importância nos chamados processos biologicos ou do septictanks». Tendo investigado durante mais de um mez tudo quanto se relacionava com o systema de tratamento de de Santa Monica, passando dias seguidos na uzina uepuradora do setvage, fazendo experiencias e ensaios so- bre os ejectos purificados, colhendo informações e obser- vundo os resultados do lançamento desses ejectos no oceano, o Dr. Baeta Neves teve escrúpulos de emittir uma opinião decisiva sobre a questão e opinou por uma instal- ação experimental desse systema em Santos, para que se Podesse julgar o processo de modo definitivo. O Dr. F. S. Rodrigues de Brito escrevendo sobre o Saneamento de Santos para a Revista de Engenharia, de . Taulo, por occasião da inauguração dos exgottos daquella Cldade, deu noticia da conclusão dessa installação, accres- ocntando que os seus resultados só podiam ser apreciados clePois de se ter maior numero de ligações de casas para a nova rêde e muito naturalmente o tempo necessário £>ara estudos e verificações por sua natureza demorados. , No caso de exito provável as vantagens serão consi- . craveis sobretudo para as cidades que disponham de orÇa hydraulica, capaz de accionar as machinas eléctricas Com este systema se põe em pratica o principio extre- apreciável, na engenharia sanitaria, da viação dos dejectos, sem os inconvenientes da estagnação; 1 vulation not stagnation. t , Entretanto, como dissemos, a sciencia não descança nos ftbalhos de investigação para a descoberta dos meios de Meação dos despejos dos exgottos, assim como de este- tzação das aguas de supprimento para as necessidades q vida humana e é bem possivel que os conhecimentos de ta°Urmont e de Nogier sobre a acção dos raios ultra-vlole- çl s e as suas applicações bem succedidas, propostas á ci- e ae da Marselha, ou ainda as irradiações do radium, tão bla *°co nestes últimos annos, possam solucionar o pro- Semrn os bactericidas e das transformações chimicas no ijjo- das aspirações do homem. c|og ienho o Conselho Municipal de Belém conhecimento pr termos do parecer da commissão technica sobre as ton^°S^as aPresentadas e havendo debatido o assumpto vo- qan,e aPprovou a Lei n. 354 de 11 do .Fevereiro de 1903, ou ° ao ET- Joaquim Gonçalves Lalôr, a seus successores Uesteiri^re2:a Tll6 organizasse a concessão para estabelecer, a cidade, uma rêde geral de exgottos. Obr n\ consequência apresentou, ainda, a Directoria de Conas Muuicipaes ao Intendente as bases para o referido Prirv!ac^0’ mas ° respectivo termo não foi lavrado até os ciros dias de Novembro. uari onvocon, então, o Intendente, uma reunião extraordi- d° Legislativo Municipal explicando, em longo officio o motivo porque a provocára e as duvidas que deveriam ser esclarecidas antes da redacção final e da assignatura do contracto de construcção e exploração dos exgottos. Essa reunião realizou-se no dia 11 de Novembro de 1903 e delia resultou a Lei n. 365 que foi sanccionada pelo Dr. Virgílio Martins Lopes de Mendonça, vogal mais votado, desempenhando as funcções de Intendente, por motivo de impedimento do effectivo. Finalmente, a 7 de Março de 1904 foi assignado o con- tracto para o serviço de exgottos geraes, achando-se no exercicio interino de Intendente o Dr. Francisco Mariano de Aguiar. Em virtude desse documento, o contractante, por si, seus successores ou empreza que organizasse, obrigou-se: «A construir, conservar e custear, nesta cidade, na área edificada, comprehendida na primeira legua patrimonial, uma rede geral de exgottos de matérias fecaes, aguas ser- vidas de uso domestico e industrial e aguas publicas, esta- belecendo para isso uma canalização especial, de modo a irem estes liquidos e matérias fecaes a um ponto de des- pejo final depois de devidamente depurados, no littoral do rio Guajará, abaixo do igarapé Una». «A adoptar, para canalização dessa rôde de exgottos de matérias fecaes, aguas servidas de uso domestico e in- dustrial e aguas publicas o systema separado, egualmente denominado —systema Warring,—podendo, se assim o acon- selharem os estudos definitivos, applicar, na parte baixa da cidade, apparelhos de sucção, afim de obter a necessá- ria elevação dos liquidos affluentes, para seu recolhimento nos collectores geraes, devendo construir tantos reservató- rios, quantos forem precisos para o despejo das aguas a exgottar», «A construir no ponto de despejo final, escolhido pelo Intendente, os tanques de aeração intermittente, necessários á depuração dos ejectos desta canalização, pelo processo de bacteriolyse, attribuido ao engenheiro Dibdin, com os me- lhoramentos que, porventura, lhes tenham sido applicado na data da sua construcção, adequados ao caso de Belém e de modo a não ser interrompida a depuração por neces- sidade de reparações, substituições do material dos filtros ou outras causas normaes». «A adoptar as disposições necessárias, no ponto do des- pejo final, em ponto convenientemente distante do littoral, para que o despejo só tenha logar nas tres primeiras quar- tas partes da maré de vasante, de maneira que, quando esta attingir o máximo de vasante, o ponto do despejo nun- ca fique descoberto». «A estabelecer, á sua custa, a rede-collectora geral sem- pre ao longo das ruas, de modo a receber as ramificações domiciliarias unicamente pela frente dos prédios». « A fornecer e montar, á sua custa, os apparelhos e machinismos necessários ao funccionamento da rêde geral, quer para sucção, quer para elevação, quer para lança- mento em suas uzinas, assim como os depositos d’agua Para chaças da canalização e os conductos que os ligarem a rêde geral do abastecimento d’agua». « A installar, á sua custa, as actuaes derivações domi- C|barias, ligadas ás galerias de exgotto das aguas pluviaes». «A executar, á sua custa, nas canalizações domiciliarias, 0 que exceder de 35 metros da canalização da frente do Prédio ao ponto de juncção na via publica». «A construir poços de inspecção (maniholas) em todos cruzamentos e mudanças de direcção da canalização, uevendo, na parte baixa da cidade, a execução dos mes- ?llos poços ser tal, que evite a penetração das aguas da uiiindação das marés, sem também difficultar o transito de carros e carroças». «A executar, de accôrdo com a lei numero trezentos e e cinco, de onze de novembro de mil novecentos tres, os planos approvados pela Intendência, e, por pre- *°s nunca superiores aos actualmente estabelecidos para s unidades de construcção, as obras necessárias ao serviço exgotto das aguas pluviaes e á drenagem geral da alclade, ficando a conservação e desobstrucção destas obras cargo da Intendência, não excedendo annualmente o Usto de taes obras a um por cento da taxa para esse fim Obrada». e * A fornecer a agua necessária ao serviço geral de de matérias fecaes, se a Intendência não quizer mar a si esse supprimento, ou se a agua necessária ao upprimento das caixas das privadas não fôr fornecida pelo astecimento do Estado de accôrdo com as estipulações listantes da clausula quarta deste contracto». z *& fornecer agua necessária á irrigação publica, fa- as 1C o as installações precisas em seu deposito d’agua para e c!escargas automaticas da lavagem da rêde geral de Utit'0^0’ c^e que as mesmas installações possam ser lzadas no serviço de extincção de incêndios», estabelecer nos poços de inspecção ou noutros tos, se assim fôr julgado conveniente, os apparelhos nu Ven!-ilação ou oxydação do auctor Reeves, em numero etosCa a dois por cada mil habitantes dos distri- Ca S^v*c^os P canalização de exgottos de matérias fe- íacil s^es apparelhos serão installados de modo a ser mente fiscalizado o seu funccionamento». Clos * estabelecer chaminés de ventilação nos extremos ear c°dectores geraes e nos pontos que os estudos indi- m como mais convenientes», iutei’ e.stabelecer no extremo das canalizações eem pontos mediarios approvados pelo Intendente, depositos d’agua munidos de apparelhos automáticos para chaças de, pelo menos, cem litros d’agua. Os apparelhos de chaça terão todos os melhoramentos modernos, inclusive os arrastado- res de. ar adoptados em Sidney, na Australia». Por estas clausulas essenciaes e outras de grande im- portância minutadas pela Directoria de Obras Municipaes e estipuladas no contracto de 7 de Março de 1904 vê-se como foram minuciosa e sabiamente previstas todas as bôas condições de construcção e funccionamento dos ex- gottos de Belém. O systema ficou definido, os typos das canalizações ficaram determinados, o ponto de despejo foi previsto, o tratamento dos ejectos estabelecido, os processos de venti- lação e lavagens dos conductos foram fixados, as machinas e os apparelhos escolhidos, as situações dos edifícios pre- cisadas, emfim a technica e os bons princípios exigidos não somente para a generalidade dos trabalhos como para os seus menores detalhes. Tendo-se preferido o systema separador absoluto não somente se curou das canalizações de pequeno diâmetro para o serviço ordinário de remoção de matérias fecaes, aguas servidas de uso domestico e industrial e aguas pu- blicas, mas ainda se estabeleceu obrigações relativas á con- strucção e manutenção das galerias destinadas ao serviço extraordinário, motivado pela necessidade do rápido exgot- tamento das aguas pluviaes. As relações entre os particulares e o concessionário ficaram esclarecidas, assim como determinadas as taxas de contribuição pelo serviço de exgottos e sua arrecadação. A clausula quarta do mencionado contracto, em suas alineas /, g e h, estipulou a este respeito o seguinte para cumprimento por parte da Intendência Municipal de Belém: «A cobrar e entregar ao contractante ou empreza que organizar as seguintes taxas addiccionaes do imposto pre- dial, calculadas da fórma seguinte, sobre o valor locativo dos prédios:—quatro por cento para o serviço de exgottos de matérias fécaes, sem a obrigação, para o concessionário, de fornecer a agua aos respectivos serviços; —dois por cento pelo fornecimento, pelo concessionário, de toda a agua destinada á lavagem da rede de exgottos e serviços das uzinas e para o funccionamento das caixas automaticas de descarga das privadas, ficando esta taxa de dois por cento reduzida á um por cento, no caso do Estado fazer, sem onus para o proponente ou empreza que organizar, o supprimento da agua necessária ao funccionamento das caixas automaticas. As taxas acima serão cobradas pela Intendência e entregues ao concessionário ou empreza que organizar á medida que a Intendência receber communica- ção da realização das installações prediaes». «A cobrar e arrecadar logo que fôrem approvados os planos apresentados pelo concessionário para começo das °bras de exgotto de aguas pluviaes e drenagem da cidade, 11,11 por cento sobre o valor locativo de todos os prédios (la mesma, taxa que servirá para o pagamento das referi- das obras ao contractante, na forma da alinea b desta Quarta clausula». «A dar ao contractante, seus successores ou empreza QUe organizar, durante todo o tempo da concessão, direito de cobrar, por semestre, em quotas partes proporcionaes, d custo das installações domiciliarias de modo que ellas bquem pagas em dois annos, salvo o caso de quererem os Proprietários mediante vantagens que 1 lies serão feitas na labella de preços approvada pela Intendência, pagal-as de UfUa só vez ou conforme outros ajustes. Nos prédios pro- v 1 clos de exgottos, no decurso dos últimos dois annos do Privilegio do serviço de exgottos, os pagamentos serão eitos por quotas correspondentes ao tempo que faltar para 0 término da concessão». 1 De accôrdo com os lançamentos municipaes, o valor ccativo dos prédios urbanos, no tempo da apresentação v.as propostas, era de Rs. 17.544:369|999. Calculando-se o Rudimento desta importância á taxa de 4 % estipulada para caso de não ser fornecida pelo concessionário a agua 7lecessaria para o serviço de exgottos, verifica-se que é de Ps- 701:7761799. la .~Por outro lado» avaliando-se o custo provável da instal- g a° completa dos exgottos, á vista do projecto relativo e . §'Undo dados práticos obtidos pelo estudo que fizemos eUS °^ras de saneamento do Recife, podemos affirmar que 0 uão excederia de Rs. 5.742:7205000. Desta fórma, a importância que o concessionário ia l 2 9o'r be*° serviÇ° de exgottos equivalia aum juro de 0 o sobre o capital empregado. v Pai’a o supprimento total da agua necessária para a la- mçw111 c^a r®de de exgottos, serviço da uzina e funcciona- teri ° das caixas automaticas de descarga das privadas Soba’ ° concessionário, uma majoração equivalente a 2 % 0 niesm° valor locativo, a qual importaria em Rs. ou seja ao juro de um capital de Rs '•°17:748$000, á taxa de 5 »/„. vem^aS ° cordracto previu também a hypothese do Go- ejm 0 do Estado fornecer a agua necessária para o forne- Patu i das caixas automaticas das privadas, cobrando, SuPprirnle^e’ morac*or do Predio a importância desse ruenj^es^e caso, caberia, ao concessionário, abastecer só- estinfl °S us^n9 tanks, para cujo serviço o contracto duJ •°u a taxa de 1 °/0 sobre a mesma base, o qual pro- la annualmente Rs. 17õ:544|370. Esta importância é equivalente ao juro a 5 % de um capital de Rs. 3.510:887$400. Como o concessionário pretendia transferir o contracto de exgottos para uma companhia extrangeira, como aliás o fez, estas taxas de 5 % são bem razoaveis e a de 12,2 % muito elevada, attendendo-se ao gráo de valorização do dinheiro nas praças européas, onde ia ser procurado. Por esta exposição vê-se como estavam bem ampara- dos os interesses do concessionário, porém havia ainda outra vantagem em seu favor. A construcção das canalizações domiciliarias seriam feitas pelo mesmo concessionário á custa dos proprietários dos prédios e as obras complementares de revestimentos seriam necessariamente confiadas á sua administração. Ora, se tomarmos para valor dessas obras a média de 500$000 por prédio (no Recife considerou-se baixa a média de 600|000), e calculando-se em dez mil o numero de pré- dios que precisam de novas installações ou remodelamento das antigas, o valor total dessas obras será Rs 5.000:000$000. No caso que o concessionário se limitasse a um lucro de 10 °/0 sobre esta importância, o seu beneficio seria de 500 contos de réis. Em 30 de Outubro de 1905, entretanto, de accôrdo com a Lei n. 418 de 15 de Setembro do mesmo anno, la- vrou-se na Secretaria da Intendência um termo additivo ao contracto primitivo, alterando a alinea f da clausula 4.a do citado contracto. Foi este o primeiro passo para favores extraordinários e reformas radicaes que haviam de soffrer o contracto pri- mitivo e todos os bons princípios pelos quaes se bateram a Directoria de Obras e o proprio Conselho por occasião da eleição de uma das propostas apresentadas. A 18 de Junho de 1906, o Conselho votou as duas Leis, abaixo mencionadas: Lei n. 446, creando a taxa de 6 % sobre o valor loca- tivo de todos os prédios existentes na primeira legua pa- trimonial do Município, especialmente para fazer face ao serviço de exgotto. Lei n. 447, auctorizandc o Intendente a fazer alterações no contracto de 7 de Março de 1904, assignado pelo enge- nheiro Joaquim Gonçalves Lalôr. De accôrdo com estas Leis o Intendente Senador An- tonio José de Lemos, innovou, a 30 de Outubro de 1906, o dito contracto de 7 de Março de 1904. Por esta innovação sobre a qual não foi ouvida a Di- rectoria technica, obteve o concessionário novas e grandes vantagens objectivadas na suppressão de obrigações que elle devia cumprir e na creação de encargos muito mais _FoSSft SÉPTICA DE CIMENTO ARMftbO ft&OPTftkA PELO SERVIÇO M Saneamento e Proph/laxia Rural dq Estado e>o Para: /° L. A /v T /S [Va/oay ctc/ 10 g/ 1-4 S£TC Ç s* o A B pezados não somente para a Intendência, como para os proprietários. Entre estes avultam a taxa a cobrar-se dos munícipes proprietários para o serviço de exgottos, que ficou firmada ein 6 °/0 sobre o valor locativo dos prédios, sem obrigação P°r parte do concessionário de fazer o supprimento de a§'ua, aliás, indispensável, para funccionamento das caixas automaticas das sentinas; e a garantia por parte da Inten- encia do pagamento dessa taxa sobre a quantia de qua- b)rze mil quatrocentos e quarenta contos de réis. Entre aquellas sobresahem: o encurtamento da cana- Jjzação de ferro, de recalque, pelo estabelecimento do ponto j 6 despejo não abaixo do igarapé Una, a indeterminação systema de apparelhamento da depuração e a mudança Qa obrigação de construcção das obras de exgotto de aguas pluviaes e drenagem geral da cidade em uma simples opção. T Nesse mesmo anuo, pelo mez de Agosto, havia o Pr- Joaquim Gonçalves Lalôr conseguido encorporar, em Eondres, um syndicato, com elementos financeiros dessa }^raÇa, sob a denominação The Amazónia Development ompany, Limited. Foi este syndicato que organizou uma companhia para tlni especial de assumir as responsabilidades e gosar das antagens do contracto de construcção e exploração dos xgottos de Belém. —«The Municipality of Pará Improve- lents Company, Limited». Em 16 de Fevereiro de 1907 foi esta companhia offi- , ahnente registrada no Ministério do Commercio, em Lon- , ras> mas o termo de transferencia do contracto a ella feito iei° p)r Lalôr foi assignado na Intendência de Belém, l°mente em 10 de Agosto de 1909. os rfara organ,za optado 340 litros, por cabeça, por dia, fazendo assim pro- isão para imprevistos». O projecto foi organizado prevendo-se o augmento da População, quando, somente, os escoadouros ficarão cheios. velocidade dos dejectos dentro dos conductos facilitará v hmpeza, sendo de 55 metros por minuto, desde que o oiume delles seja tal que exceda a metade dos diâmetros ctos canos. r Como em certas partes da cidade as construcções ra- eam e durante a estação secca diminue a contribuição de v^Uld°s para exgottamento, resulta que a quantidade e a ocídade dos dejectos, diminuem nos collectores corres- pondentes. bom^para 80 evitar depositos que poderiam prejudicar o aut funcci°namento dos exgottos fôram projectadas caixas pmatieas de lavagens (flushing tanks) nas partes supe- q 0 es dos canos, descarregando rapidamente o seu conteú- llle(;,Uma Yez por dia, de fórma que a agua enchendo os porm°.s canos e adquirindo uma velocidade de 55 metros minuto, limpe completamente os tubos e remova qual- quer sedimento ern systema de lavagens é indispensável, sobretudo tem roglões d© clima quente, para que os dejectos transi- s0ffrlaPÍdamente nos collectores e não tenham tempo de pejoer decomposição antes de chegarem ao ponto de des- que 10c*e de collectores foi, também, projectada de fórma Se pudesse extendel-a aos districtos adjacentes, logo que o exigissem a edificação e as condições de existência nelles. Reportando-nos á memória descriptiva a que alludi dou em seguida um rápido esboço do plano das canaliza- ções de exgotto. A cidade de Belém é dividida em duas secções por um espinhaço seguindo mais ou menos a travessa 15 de Agosto, pelo Theatro da Paz e depois seguindo a avenida Nazareth e a avenida Independencia, até a praça Floriano Peixoto. O projecto visava exgottar o districto situado ao sul e oéste deste espinhaço até uma estação de bombas na es- trada do Arsenal e o districto situado ao norte e éste até outra estação na doca Souza Franco. Os dejectos do districto sul-oéste teriam de ser puxa- dos, a bomba, por um cano ascendente de 0m,61 de diâme- tro, começando na primeira estação e seguindo a margem do rio até a doca Souza Franco, onde se juntariam aos dejectos do districto nordéste, ambos sendo lavados por uma continuação do cano ascendente de 0m,76 de diâmetro para os leitos de filtro, situados juntos do antigo mata- douro na margem do rio Guajará, onde depois de serem filtrados, seriam lançados, somente durante os primeiros tres quartos da maré vasante, para estar de accôrdo com as condições estipuladas na concessão. Diversos collectores mestres, recebendo a contribuição de toda a canalização secundaria, conduziriam os dejectos para as duas mencionadas estações de bomba. O escoadouro de emboccadura constaria de canos de ferro fundido com um diâmetro de 0m,84. Prover-se-ia na margem do rio uma camára de com- porta e uma linha de tubos de ferro fundido com um diâ- metro de 0m,91 que levaria o exgotto para a fóz um pouco alem da balisa que marca o nivel da maré baixa. Foram especificadas todas as obras de construcção de maniholas, nichos de lampeões, caixas automaticas de lava- gens, apparelhos de ventilação, drenagem das casas, etc. Para se avaliar a importância dos trabalhos, basta o conhecimento das extensões das canalizações e do numero de obras especiaes, a saber: Canos de ferro fundido de 0m,84 de diam 280 m. Canos de aço de 0m,76 de diam 1.950 » Canos de ferro fundido de 0m,61 2.780 > Canos de louça de barro vidrado de 0m,46 5.470 » Idem, idem de 0m,38 7.176 » Idem, idem de 0ni,30 5.962 » Idem, idem de 0m,23 43.183 » Total 66.801 » Obras especiaes: Poços de inspecção ou maniholas 329 Nichos de lampeões 69 Caixas de lavagem, automaticas 29 Chaminés de ventilação.. 230 ■Ligações e tampões 13.000 Sentinas publicas com pavilhões de alvenaria, contendo cada uma: 4 apparelhos sanitá- rios, 2 bacias de lavatorio e 5 mictorios.... 10 de ferro fundido para 4 pessoas 50 Lstações de bombas em edifício de alvenaria... 2 Leito bacterico, em alvenaria, com enchimento de ardósia ; 1 Leservatorio de alvenaria para os dejectos pu- rificados 1 A Directoria de Obras Municipaes, por determinação . 0 Chefe da Communa, examinou, detidamente, todo o pro- jecto e tendo verificado que só havia, em planta, a repre- sentação do emissário, do reservatório de dejectos, dos Çdos de purificação, dos canos de recalque, das estações te bombas e dos collectores principaes, approvou-o, sob c°ndição de ser apresentado, para exame antes da inau- guração dos trabalhos, o delineamento de toda a canaliza- ;aP secundaria, com indicação das obras especiaes, a ella dativas. Esta approvação foi feita em 25 de Outubro de 1912. o. A inauguração dos trabalhos de construcção dos ex- s>'°ttos se realizou em 8 de Fevereiro de 1911, solemnemente, .enh° collocada a primeira estaca de direcção dos canos Y recalque, na rua da Industria (actualmente Gaspar c lanna), qm situação próxima do cruzamento desta rua 111 a avenida Ferreira Penna. Dr ?sbveram presentes ao acto o Governador do Estado toi • aoao Antonio Luiz Coelho, o Intendente Senador An- c| M 0 José de Lemos, os engenheiros municipaes Drs. Fre- ob\ICo Martin e Acatauassti Nunes, o engenheiro fiscal das ** br. João da Palma Muniz, auctoridades federaes, da /csentantes da companhia concessionária, pessoas gra- ® o povo. me bada a direcção das obras seguiram-se auspiciosa- m„v :e 08 trabalhos de excavação do sólo e de assenta- mento cios canos. e an,° reJatorio escripto pelo engenheiro fiscal das obras ao yOsentado em 29 de Dezembro do mesmo anno de 1911, .tranintenJení:e> destacámos os trechos seguintes que mos- como avançavam rapidamente os trabalhos: soffr" a° °^stante as grandes excavações praticadas, não fejt a sabibridade publica com os movimentos de terra «Os trabalhos executados consistiram no assentamento da secção dos encanamentos de recalque, comprehendida entre a doca Souza Franco, passando pelas ruas da Indus- tria e 15 de Novembro, doca do Yer-o-pezo, lado norte, avenida 16 de Novembro até o parque Prudente de Moraes, travessia deste e rua Angelo Custodio, até a travessa de Óbidos, onde deve ficar a uzina n. 1, da companhia» «O encanamento nesta secção éde tubos de ferro e ficou construido inteiramente de accôrdo com o projecto approvado pelo Executivo Municipal, havendo nas inter- secções com as galerias de exgotto antigas, obedecido ex- trictamente ao estabelecido no detalhe de 9 de Janeiro deste anno». «Em relação á construcção da rede subsidiaria, fôram executados trabalhos nos sub-districtos n.os 4, 5 e 6, achan- do-se incompletas as obras». «O material empregado pela companhia é todo de pri- meira ordem e a mão de obra feita offerece todas as ga- rantias de trabalho bem acabado e estanque, favorecendo, tanto quanto a engenharia moderna o permitte, a não in- fecção do sub-sólo». «Os serviços de construcção dos exgottos se acham actualmente paralysados pelas difficuldades sobrevindas sobre a isenção de direitos aduaneiros que, concedidos para os primeiros materiaes importados, fôram posteriormente negados pelo Governo Federal». «Entretanto, estou informado pela companhia que em princípios de 1912 serão reencetados os trabalhos que pelo contracto têm prazo fixo para a conclusão». «The Municipality of Pará Improvements, Limited», á qual fôram transferidos os direitos e obrigações do con- cessionário, não estava satisfeita com todas as vantagens do contracto. Era preciso que a Intendência alienasse, ainda, alguns dos seus direitos e alliviasse-a de mais alguns encargos, mesmo com prejuízo dos interesses municipaes. Os pretextos para essa conquista fôram as difficulda- des que surgiram no processo de isenção de direitos adua- neiros para os seus materiaes e a intervenção da Port of Pará a proposito do ponto de descarga dos exgottos. Coube á administração desta companhia a iniciativa de uma questão, cujo desfecho em nada a servio, rever- tendo todos os proventos em beneficio da concessionária. Em 9 de Outubro de 1911 um dos directores da Port of Pará, Sr. Dr. Carlos Sampaio, em carta escripta de Lis- boa ao Governador do Estado Dr. João Coelho, assim se manifestou: «Quando estive ahi *ultimamente tive conhecimento de. um projecto em via de execução para o estabelecimento de exgottos, e foi tal a surpresa que me causaram certas me- didas que estavam sendo postas em pratica, que immedia- temente chamei a attenção dos meus companheiros de administração do Porto do Pará no sentido de evitar con- sequências funestas para as nossas obras que estão cus- tando somma de grande importância, e que muito seriam Prejudicadas». «Para não citar senão dois pontos capitaes devo con- fessar que extranhei que tendo-se adoptado o systema se- parado (separated system) não fossem collectadas as aguas a°s pateos internos e, o que é muito mais grave, tive uma jaipressão muito má, quanto ao tratamento final que se tencionava dar, antes do lançamento, ás matérias fecaes, porquanto tal tratamento semi-bacteriologico, se assim me Posso exprimir, não me parecia completo e, ao contrario, deveria ser bastante insufficiente para permittir que fosse Jançado junto ao littoral em local tão proximo da cidade e p.specialmente no nosso caso um affluente tão pouco puri- bicado». «Resolvemos, por isso, com sensível sacrifício pecunia- Il0> nomear uma commissão de homens notáveis que vies- Sern ao Pará, examinar o assumpto in loco e escolhermos Profissionaes dos mais habilitados dos Estados-Unidos e .a Inglaterra que são as duas nações que guardam a inteira em assumpto de hygiene das cidades». «Desse exame peço licença a Y. Excia. de dar-lhe co- necimento remettendo o relatorio junto pelo qual poderá erificar a gravidade dos defeitos do systema adoptado e 1 °derá também V. Excia. examinar as conclusões estabele- ças». „ «Devo, porém, declarar aV. Excia., desde já, com a anqueza e lealdade com que costumo usar em todos os ens actos, que discordo do parecer dessa commissão MUanto ao local que propõe para o lançamento do sewage, dã° fDor(lue não esteja convencido, como elles, que ahi se q 0 a oxydação necessária e completa, mas porque penso f e essa oxydação deve dar logar ao desenvolvimento de Zes> (lue nao sendo dissolvidos hão de atravessar a v . Sa fluida e espalhar na atmosphera odores desagradá- tegs’ (fUe produziriam uma péssima impressão aos. viajan- d°s vapores qué por ahi transitam diariamente». m'A minha opinião é que o ponto do lançamento seja niai ° ma*s afastado para além de Val-de-cães e que no 6 ac^°Pfem fQ(las as instrucções propostas nesse re- como taes medidas acarretam augmento bastante a colCloraVel no orÇamento das obras de exgottos do Pará, vitrGm^^n^a resPectiva, embora inclinada a acceitar os al- ParaSt~ln conviria ser substituída de maneira a evitar as recla- mações dos particulares, limpeza que somente se faria dnando se désse interrupção por culpa dos occupantes °s prédios; que deveriam ser modificadas ou eliminadas dntras clausulas de menor importância; e, finalmente, que ■'e accrescentasse á alinea j da clausula 4.a a condição de loderem ser effectuados os pagamentos a que ella se re- ere em apólices ao par a juros de 5 %, incluindo-se a im- Poctancia de £ 25.000 como auxilio pelo accrescimo de .bras, resultante do encanamento a fazer-se na distancia e cerca de cinco kilometros. f. 9 Conselho Municipal imbuído de zelo pelo interesse a feidade requereu, á Intendência, que fosse ouvida a Di- <-M -*a de Cbras sobre o assumpto da proposta feita pela unicipality of Pará Improvements». a Reportando-nos aos termos da informação prestada por nlol 8 dePartamento, em 2 de Janeiro de 1912, encontra- is "a minuciosa e analytica, estudando e esclarecendo Ro por ponto, toda a proposta aíludida. Começou a technica official mostrando que a comj)a- mont c°ntractadora dos exgottos estava na obrigação de contar.os aPparelhos de purificação dos dejectos em ponto ci) en*entewiente distante do Littoral (clausula l.a alinea ticu,0m terreno de propriedade da Intendência ou de par- çao ai> correndo, neste caso, as despezas de desapropria- aPen^°r Coll^a da mesma companhia; que, sendo assim, teriaaS Um cano de descarga dos ejectos já purificados pel (gle atravessar os terrenos accrescidos, no futuro, obras da Port of Pará, até attingir a caudal da ba- hia do Guajará; que tendo-se em consideração a situação dos mencionados apparelhos e a direcção dos ventos rei- nantes não havia razão para receiarse que as futuras construcções do littoral soffressem as consequências de exhalações desagradaveis ou malsães, oriundas das acções microbianas e das transformações chimicas em elaboração na phase de depuração. Prevista a purificação dos dejectos e o seu afasta- mento para longe da cidade por meio do despejo intermit- tente seria conveniente não acceitar-se, á primeira vista, a ailegação feita pela Port of Pará, mas officiar-se ao enge- nhemo-fiscal do Governo Federal junto á mesma compa- nhia, solicitando-se informações sobre o assumpto e natu- ralmente a sua opinião e a sua. attitude. Pensavam os profissionaes da Intendência que seria, realmente, melhor levar-se o ponto de despejo para além de Val-de-cães, por ser mais afastado da cidade e por dei- xar esta localidade a montante, porém, que eram sobremodo desarrasoadas as pretenções da «Municipality of Pará Im- provements», a proposito, devendo em todo o caso ser man- tida a depuração. Consideravam altamente lesivas aos interesses públicos as bases para a reforma do systema de exgotto e para a suppressão da purificação dos dejectos. Profligavam todas as consequências da substituição do systema como a construcção de extractores (over flows) e a suppressão de grande numero de flushing tanks, da limpeza periódica dos exgottos, do systema de aeração automatica de Reeves e o. aproveitamento das péssimas installações domiciliarias existentes. Finalmente, extranhavam que havendo a Municipalidade de Belém concedido o inaudito beneficio de se obrigar a adeantamentos por conta do futuro recebimento de impos- tos sobre exgottos, quizesse a cessionária, com ares de quem fazia favor, receber essas importâncias em apólices ao par, sujeitas ao juro de 5% e mais £ 25.000 a titulo de auxilio pelo accrescimo de obras resultante do encana- mento a fazer-se na distancia de cerca de cinco kilome- tros para despejo final. Estas e outras considerações que remataram a infor- mação dos engenheiros municipaes, fôram levadas ao seio do Conselho Municipal. Em 8 de Janeiro de 1912 o l.° secretario desta corpo- ração legislativa officiou ao Intendente nos seguintes ter- mos : «Exm.° Sr. Intendente. —Tenho a honra de transmittir a V. Excia., por copia, o parecer da 3.a Cornmissão, capean- do a petição da «Municipality of Pará Improvements, Ltd. >, o judicioso parecer da Secção de Obras Municipaes, tudo em original, afim de V. Excia. fazer a alteração do con- tracto, tendo em vista o referido parecer, approvado peio Conselho em sua sessão de 5 do corrente. —(a) Ignacio Gonçalves Nogueira, l.° Secretario». A’ cessionária, que mais prezava os seus interesses pecuniários do que a saúde jniblica, não convinham as alte- rações nos termos da informação alludida, porque visavam somente a mudança de situação do ponto de descarga dos effluentes. Assediou por isto os poderes municipaes com pedidos, Alegações, opiniões pessôaes, relatórios, que se afastavam da bôa technica e dos bons princípios. Em 7 de Junho de 1912 o Dr. Luiz de Souza Mattos, eftgenheiro-chefe da fiscalização das obras do porto, respon- dendo um officio do Intendente, datado de 27 de Maio do lljesmo anuo, declarou que perante a Commissão por elle °hefiada nada foi alvitrado pela Companhia Fort of Pará, eia opposição aos trabalhos a cargo da companhia de ex- §’°ttos, quanto ao lançamento do effluente na bahia do Luajará, porém que procurando informações junto ao re- presentante da companhia, sob sua fiscalização, lhe foram ornecidas copias da correspondência trocada entre esta c°nipanhia, a de exgottos e o Governo do Estado. Terminou dizendo que, embora não tivesse sido cha- gado a pronunciar-se sobre o assumpto, fal-o-ia após o co- mecimento do projecto que a Intendência acceitasse em definitivo. . E’ curioso este documento, porque o officio que o In- endente dirigiu á fiscalização das obras do porto provo- ava justamente a intervenção official do representante do joverno da União em assumpto tão relevante e em occa- |la° opportuna como era essa em que se pretendia uma lln°vaçào de contracto. j.. Não se percebe a razão pela qual o illustre engenheiro- . Seal differio a manifestação da sua opinião para tempo °Pportuno, visto como o ponto principal da questão, que c a ° local de lançamento dos effluentes, estava fixado em e a sua coo|)eraçào seria efficiente no momento escolher nova situação para o emissário. Yjj Entretanto, foi a Directoria de Obras Municipaes con- de tf’ P°r diversas vezes, para conferencias com o Inten- llagte e com o representante da companhia de exgottos, fac Uaes se discutiu a parte technica do problema em Cj 6 das objecções da Fort of Pará e nas quaes os func- a mar!°S technicos se manifestaram inteiramente contrários Con udança do systema de exgottos, concordando, apenas effli a esco^a de novo local de despejo intermittente dos pra ení:es para além de Val-de-cães, concedendo-so um ? Pa,‘a as installações de purificação. querVi * Municipality of Pará Tmprovements» que havia re- lcl° esta alteração não se deu por vencida e, pelo con- trario, julgou possível fazer maior conquista em proveito dos seus interesses argumentando em defeza de um ponto de lançamento continuo, in natura, nas proximidades do Arsenal de Marinha. Fez-se, para isto, duas excursões em lancha, a vapor, pelo curso dos rios que banham a cidade, nos dias 1 e 9 de Agosto do mesmo anno, registradas pela imprensa dia- ria, discutiu-se a direcção das correntes liquidas, as condi- ções de lançamento dos effluentes, a disseminação destes nas camadas aquosas, a digestão das matérias organicas no meio liquido, as possíveis exhalações fétidas dos resí- duos cloacaes, as contaminações das praias adjacentes e do ancoradouro dos navios, o envenenamento dos peixes e mariscos, emfim a polluição das aguas, algumas vezes para lavagens e mesmo para supprimento de pequenas embar- cações. A argumentação forçada da companhia concessionária se oppunha á solução simples e salutar proposta pela en- genharia official. O ponto de lançamento dos effluentes, em frente á praça Carneiro da Rocha, perto do Arsenal de. Marinha, e portanto em face da cidade, não soffria o confronto com o situado a jusante de Yal-de-cães, numa distancia pelo me- nos de 6.000 metros do começo da mesma cidade. Este ponto de descarga ficaria, abaixo de Val-de-cães, cerca de 2.000 metros e a montante da villa do Pinheiro, approximadamente, dez kilometros. O relatorio dos consultores da Port of Pará —Fuertes- Bartlett havia, aliás, indicado tres pontos como os que mais convinham á descarga do emissário: O l.° situado a sudoéste da cidade, em margem de agua funda do Guamá, isto é, a montante do littoral da cidade; o 2.° em frente á cidade, na ponta do Castello a 450 metros de afastamento do littoral; e o 3.°, proximo á fóz do Una, mas bem dis- tante da margem, além do canal navegavel devendo o tubo ser assentado abaixo do leito a dragar para esse canal navegavel. Ora, sabíamos com A. Calmette, Imbeaux, H. Pottevin (E'gout et vidanges) e com todos os especialistas no as- sumpto, que as matérias organicas putreciveis contidas nas aguas de exgotto, quando são lançadas nos rios polluem- n’os em uma certa extensão do seu percurso, mas que no fim de um trajecto mais ou menos longo as aguas desses rios vão readquirindo a primitiva pureza, até apresenta- rem-se tão limpas, como a montante da cidade que ba- nharam. E este phenomeno é consequência de uma série de de- cantações, de reacções chimicas e de degradações micro- bianas de uma grande complexidade, que soffrem os de- trictos, quer em suspensão, quer dissolvidos e que aquelles denominaram mito-depuração biolcgica. Estudado, especialmente na Allemanha e na America, eHe tem como seus principaes factores os microbios, mas °s animaes inferiores, as algas e os vegetaes aquaticos to- -111 am uma parte importante na sua realização, assim como certos animaes que se nutrem de microbios e vasa, taes c°fflo os mexilhões d’agua doce, os gasteropodos, os ver- des, os bryozoarios, certas larvas de insectos e mesmo a%uns peixes. Concorrem muito para a rapidez da depuração a tem- peratura, a intensidade das correntes e a composição chi- -111 ica das aguas mais ou menos favoráveis á vida das especies microbianas, animaes ou vegetaes. Sabíamos, também, que no nosso caso o estuário re- ceptor dos objectos differe essencialmente dos mais frequen- te§ similares, pelo volume das suas aguas e pela rapidez clas suas correntes; que o volume das aguas que passam eni frente á cidade é approximadamente de 682 milhões de cúbicos, durante um periodo de fluxo, havendo um Pgeiro accrescimo durante o refluxo; que a quantidade dos e3ectos desappareceria nesse immenso volume digestivo se Pudesse ser convenientemente diffundida nelle; que a des- Carga contínua e a velocidade das correntes concorreriam Para essa diffusão, mas, neste assumpto, ninguém póde fal- ar dogmaticamente. Os proprios Srs. Fuertes e Bartlett julgaram necessário se fizesse maior numero de experiencias sobre as cor- nes liquidas cjue reinam no nosso porto. E’ bem conhecido o phenomeno de conservação homo- e resistência á diffusão de líquidos de densidades e °ustituições differentes. Q As aguas doces dos nossos rios, quando penetram no da0an°’ se mantêm em grandes núcleos pardacentqs no meio rr 8 aguas salgadas de côr azulina por muito tempo e até «Uhdes distancias das suas emboccaduras; as aguas, forte- naescuras> do rio Negro se destacam das do Amazo- com onrle se derramam e somente por força da mutua impressão e do continuo movimento se mixturam e iden- llbcam. ça Era de receiar-se que isto acontecesse no caso do lan- ex anto dos effluentes perto do Arsenal e que os líquidos Pul^and°s viessem em núcleos, em agglomerações peram- rajl1r ern frente do nosso caes, extender-se ao longo da mu- Colr)a de encosto das embarcações, contaminando o porto ° seu contacto e o ar com as suas exhalações. Pescado abundante e fresco que abastece Belém vem ilos a?cos e praias distantes, mas as camadas sociaes me- abastadas pescam muito frequentemente em frente á cidade e sobretudo nas margens e rios da ilha fronteira, que é conhecida sob a denominação de ilha das Onças. O supprimento de agua aos grandes vapores é feito com recursos do abastecimento da cidade ou com as colle- ctas feitas em plena bahia de Marajó, mas quantas vezes os tripulantes das innumeras canoinhas que cruzam, a todo momento, a bahia do Guajará não se desedentam com as suas aguas. Por tudo isto, preferio, sempre, a Directoria de Obras, que o ponto de lançamento fosse abaixo de Yal-de-cães, onde além das vantagens do estuário caudaloso de que dispomos, se tinha a vantagem do afastamento dos centros povoados. Poder-se-ia mesmo, differir as installações de purifica- ção o tempo necessário para a verificação do resultado do lançamento in natura. Não se fez assim, entretanto. A «Municipality of Pará Improvements» requereu, de novo, ao Conselho, a innovação do seu contracto, de ac- côrdo com as bases que apresentou e este, cortando todas as discussões que poderiam surgir a respeito deste as- sumpto, sem dar á Directoria de Obras nova opportunida- cle de defender os interesses municipaes em jogo, baixou a resolução n. 281 de 6 de Setembro de 1912, publicada pelo Intendente Dr. Yirgilio Martins Lopes de Mendonça, cujo artigo primeiro está assim redigido: «Fica o Intendente auctorizado a modificar o contracto de 30 de Outubro de 1906, firmado entre a Municipalidade e a «Municipality of Pará Improvements» de accôrdo com as bases apresentadas pela mesma companhia e cons- tante da especificação junto á petição de 21 de Agosto e bem assim a attender ao pedido de auxilio para as mesmas obras, lavrando de tudo o necessário contracto». Vingaram, pois, os vehementes desejos da companhia com vanteigens muito maiores do que ella havia sonhado. Em 13 de Setembro de 1912 foi assignado o novo con- tracto, em virtude do qual auctorizou-se o estabelecimento do systema parcialmente separado em substituição ao abso- lutamente separado, com a mais flagrante injustiça ao Dr. Mariano Vasconcellos; supprimiu-se a depuração final dos effluentes; permittiu-se que o lançamento dos affluxos se fizesse, in natura, no rio Guajará, perto do Arsenal de Marinha; consentiu-se que fossem aproveitadas as actuaes canalizações domiciliarias quasi imprestáveis e anti-hygie- nicas; deixou-se á concessionária a faculdade de construir over-flows em communicação com as actuaes galerias de aguas pluviaes; e, cousa admiravel, obrigou-se a Intendên- cia a pagar á contractante a quantia de vinte mil libras ao cambio do dia do pagamento, como compensação dos prejuízos, por esta, soffridos, em consequência da sustação dos respectivos trabalhos, oriunda das difficuldades crea- das pela Companhia Fort of Pará. Consummado o acto de 13 de Setembro de 1912 e tendo §ido submettidas as novas plantas ao exame da Directoria de Obras, nada mais tinha esta a fazer do que verificar si se achavam ellas de accôrdo com o novo contracto e se os braçados de toda a rede de exgottos prehenchiam as bôas condições de escoamento. O novo projecto constou de uma planta geral de toda a canalização principal e secundaria, dos perfis e secções dos exgottos (20 folhas), uma planta das observações das correntes do rio a partir do ponto de descarga e um sue- lto memorial descriptivo do plano geral. Segundo esse projecto a área da cidade a ser provida de exgottos comprehenderia, apenas, as zonas habitadas e °nde existem canalizações de agua potável de accôrdo c°m a clausula 3.a alinea e e foi dividido em nove distri- tos com uma área de 690 hectares sem contar-se os par- hues e jardins. Cada um desses districtos seria atravessado por um c°llector secundário, que receberia o affluxo de toda a ca- nalização subsidiaria, encaminhando o para dois collectores Principaes que o levariam até a estação de bombas situada r«a Angelo Custodio, entre a rua de Óbidos e a avenida Almirante Tamandaré. local dar-se-ia a elevação mechanica do affluxo por um emissário iria ter á caudal da bahia do Gua- Jará em um ponto de descarga entre seis e sete metros de Profundidade, abaixo das aguas minimas e a seiscentos nietros do littoral, em situação próxima a jusante, do Ar- Senal de Marinha. , O projecto foi examinado rigorosamente e revistos to- jyS os cálculos de capacidade dos canos, constatando a lrectoria de Obras a necessidade de serem feitas algu- as modificações importantes ás quaes se submetteu a c°neessionaria. j Approvadas as plantas, fez-se uma reinauguração dos abalhos de construcção em 7 de Novembro de 1912. quasi desnecessário dizer-se que nem a zelosa Fort oh' a~á’ nem 0 fiscal federal, fizeram quaesquer outras apezar do novo ponto de lançamento dos effluen- aco ?nstituir muito maior ameaça de contaminação do cáes vist âVGI Porto e cl° Arsenal de Marinha, do que o pre- -0 ein contracto nas condições pre-estabelecidas. sio ipln f^ezembro do mesmo anno, o Sr. Dr. Diony- fom Je~*es> v°g’al municipal, tendo requerido algumas in- detelaÇ^6S sof>l’e 08 trabalhos de exgotto, ao Intendente, llrn 1 Pjmou este á Directoria de Obras que apresentasse clrcumstanciado relatorio a respeito, o que foi feito. 0 mesmo vogal quando assumiu, mais tarde, o exercí- cio do cargo de Intendente Municipal, convidou o distincto e provecto engenheiro sanitario Dr. Francisco Saturnino Rodrigues de Britto, Chefe das Commissões de Saneamento de Santos e do Recife, para vir examinar e emittir parecer sobre os exgottos em execução; quiz ouvir o juizo de um consultor technico extranho ás paixões locaes, pensando talvez que a engenharia official não se soubesse manter imparcial e serena, cônscia dos seus deveres profissionaes, no plano elevado das responsabilidades e do patriotismo. De facto o Dr. Saturnino de Britto esteve, entre nós e a elle fôram facultados todos os dados necessários/ ao mais franco exame e inspecção das obras em andamento. Do seu minucioso e fundamentado relatorio apresen- tado á Intendência em’ 12 de Julho de 1913, tenho grande prazer em transcrever os trechos abaixo, que fazem honra e exaltam o critério e os bons intuitos cia Directoria de Obras Municipaes, defendendo-a contra as argumentações apaixonadas e interesseiras. «A technica official anteriormente se pronunciára em favor dos bons princípios, antes adoptados, quanto ao sys- tema e ao destino dos exgottos. O systema separador parcial, adoptado no contracto de 1912 é menos conve- niente á cidade e á empreza que o systema separador completo, o qual foi o preferido, em concorrência publica e por este motivo indicado no contracto anterior, como de- vendo ser executado. Deve-se voltar ao systema separador completo». A Directoria de Obras Municipaes, que manteve sem- pre as relações mais cordeaes com o Dr. Dionysio Bentes, não somente comprehende e justifica o seu acto, deante das profundas alterações feitas no contracto, convidando o eminente engenheiro sanitario brazileirò para emittir pa- recer sobre o momentoso assumpto, mas ainda lhe é agra- decida pela occasião que lhe proporcionou de serem ple- namente applaudidas a attitude e os conceitos da mesma Directoria, por um profissional competente, probo e impar- cial, de nome feito no paiz e conhecido no extrangeiro pelas obras de saneamento de Santos e Recife, que execu- tou com mestria e perfeição. "Não podemos deixar de transcrever, também, um pe- queno trecho desse precioso relatorio, pelas idéas aprovei- táveis que seu auctor expende, relativamente ás zonas baixas da cidade. Essas idéas, aliás, egualmente concebidas pelas ela- borações cerebraes de outros profissionaes que se têm occupado do assumpto, especialmente da Directoria de Obras Municipaes, tem a sua originalidade na maneira de se as pôr em pratica, de accôrdo com os progressos scien- tificos da engenharia sanitaria. «O saneamento das terras baixas, ainda baldias, é também relativamente de facil execução: bastaria cortal-as de canaes de cimento armado á céo aberto analogos aos que projectei e executei em Santos, deixando avenidas marginaes a estes canaes e a estas vindo ter as outras ruas, de accôrdo com um plano geral, racionalmente orga- nizado. Póde-se mesmo executar um destes canaes, de rio a rio, vindo do sul (rio Guamá), saneando um grande baixio paludoso, atravessando um extremo da praça Flo- riano Peixoto, saneando um outro grande baixio ao norte, até sahir em ponto conveniente na bahia do Guajará, abaixo das obras do porto, ou mesmo para o lado do rio Una. Nos traçados destes canaes não deve predominar a preoccupação da linha réta, quando esta direcção difficulte ou encareça a execução; as linhas mixtas hoje preferidas pelos mais eminentes organizadores de planos das cidades, apresentam caracteres de apreciável belleza para as aveni- das marginaes aos canaes. A travessia da praça Floriano Peixoto, que está em altitude elevada (cerca de dez me- tros), tanto se pode fazer em tunnel como em valia a ater- rar depois de construído o tubo de communicaçào dos dois canaes; também se póde fazer a travessia em canal aberto construindo uma ponte para a passagem superior da ave- nida Tito Franco». «Trocando idéas com o illustre Sr. Dr. Dionysio Pen- tes, digno Intendente Municipal e com o distincto e crite- rioso collega Sr. Domingos Acatauassú Nunes, Director de Obras, tive a satisfacção de ver o interesse que ligaram a este assumpto como a todas as questões relativas ao sa- neamento da cidade. E, para mostrar como se póde pre- judicar por imprevidência o plano natural e racional do saneamento das terras baixas, citemos o que fez a Port of Pará na dóca Souza Franco, creando com o caes uma bar- ragem á sahida das aguas imprópria e inconvenientemente derivadas por uma valia lateral ás obras obstructivas que executaram. E’ preciso que o Governo da Republica tome conhecimento deste acto menos regular e providencie para Tue as obras federaes não sacrifiquem a cidade a que se propõem servir. Esta mesma empreza do porto, que se excedeu em zelos mandando vir consultores para dizerem do serviço dos exgottos, sem indagar da competência de outros poderes (que ainda, aliás, não haviam approvado °s projectos definitivos) se mostra menos solicita no res- peito ás condições preexistentes de exgottamento das aguas Pjuviaes vindas da cidade; a competência e prestigio do ulustre Dr. Carlos Sampaio podem ser invocadas para se conseguir corrigir, o que certamente por inadvertência, se fez de um modo inconveniente». Os trabalhos foram, entretanto, continuando com certa uiorosidade, pelo que a companhia contractante viu-se obrigada a solicitar do Conselho Municipal uma proroga- ção do prazo para a conclusão das obras. A lei n. 412 de 11 de Janeiro de 1915, concedeu pode- res ao Intendente para fazer essa prorogaçào por mais um anno á contar de 1 de Janeiro de 1916. A companhia, entretanto, parece que visava outros fins, porque não se apressou em ultimar as obras ás quaes estava obrigada, ao contrario paralysou-as completamente. Com effeito, aproveitando-se das apertadas circumstan- cias financeiras da Municipalidade e do pedido de uma moratoria, feito por esta aos seus credores externos, con- seguiu que estes impuzessem como condição para a reali- zação de um funding, a encampação das obras e do ser- viço de exgottos. Que a ambiciosa companhia tivesse a inaudita coragem de suggerir uma contra-proposta neste sentido, não é ad- mirável, mas o que causa espanto é o critério financeiro em que se firmaram os poderes públicos transactos para acceitar uma imposição simplesmente ruinosa para o erário municipal. Que lógica poderá justificar o adiamento, a curto prazo, de uma obrigação, sob a clausula de pagamentos de juros sobre juros, accrescida de um novo onus, contra os mais lidimos interesses da Municipalidade? Entretanto, este acto foi realizado em virtude da Lei n. 694 de Junho de 1915, Nos relatórios apresentados ao Conselho Municipal de Belém pelo Intendente Dr. Antonio Martins Pinheiro, em Maio de 1916 e Maio de 1917, encontram-se as informações sobre esta transacção. Compulsando-os, verifica-se que não somente a Muni- cipalidade assumiu o compromisso devido ao funding, na importância de £ 450.000 e á encampação, no valor de £ 400.000, mas, ainda, deu em primeira hypotheca aos seus credores, representados pela «Ethelburga Syndicate, Ltd.», os impostos a serem lançados sobre o serviço de exgottos de Belém, cuja installação se obrigou a concluir. O oneroso contracto relativo a essas operações foi assignado no dia 15 de Novembro de 1915, em Londres, pelo Dr. Paulo de Queiroz, a quem o Intendente havia conferido poderes para representar a Municipalidade nas negociações com os seus credores. O compromisso assumido por motivo da encampação dos exgottos, em moeda brasileira, ao cambio de 12, foi de 8.000 contos de réis; mas, actualmente, ao cambio de 7 5/1(i elle tem um valor equivalente a 13.128 contos de réis. Avaliámos, anteriormente, o custo provável da installa- ção completa de exgottos, no caso do systema separador absoluto, em 5.742 contos de réis. Da suppressão dos apparelhos de depuração dos efflu- entes resultaria uma economia de 2.000 contos de réis so- bre esta importância, mas se admittirmos como verdadeira uma das allegações da companhia contractante, que ne- nhuma vantagem, auferia com a mudança de systema de exgottos e as alterações decorrentes, porque a economia resultante daquella snppressão e do encurtamento do ■emis- sário seria coberta com as clespezas pelo augmento dos diâmetros dos canos e pela acquisição, já effectuada, de material para os filtros bactericos , ainda assim verifica-se como foi largamente beneficiada a com- panhia ingleza, sobretudo attendendo-se ao estado da instal- lação no momento era que foi entregue. Achavam-se collocados, apenas, os tubos de ferro entre a doca Souza Franco e a estação da rua Angelo Custodio, um trecho dos canos de ferro de recalque entre a doca Souza Franco e a travessa do Curro e 30.840 metros de canos de barro vidrado com os seus respectivos poços de inspecção (regareis, manholes). A installação completa dos exgottos do Recife, servindo uma área de 1.182 hectares, com 12.400 casas occupadas por 86.800 habitantes e cuja canalização com 112.534 me- tros de extensão está calculada para exgottar até 23.000 casas, com 161.000 habitantes, custou 8,200 contos. Além das obras feitas a «Municipality of Improve- ments, Ltd.», entregou á Intendência todo o material, ma- chinas e apparelhos que havia importado e com os quaes esta poderia ir continuando os trabalhos se tivesse recur- sos pecuniários, A ultima parte do contracto veio tolher, porém, com- pletamente, a acção da Intendência em relação aos traba- lhos de exgotto, porque impediu-a de fazer qualquer transacção no sentido de obter o capital complementar ne- cessário para a conclusão das obras. Não se pode comprehender como os nossos credores exigissem uma clausula tão contraproducente como essa da hypotheca da renda dos exgottos. Achando-se a Municipalidade com todas as suas rendas empenhadas para a garantia de compromissos anteriores, decrescidas por motivo da crise provocada pela grande guerra, não tem autros recursos para ultimar as obras. Seria preciso um entendimento com os ditos credores «o sentido de poder a Intendência haver a. quantia neces- sária para a conclusão dos trabalhos. Comprehende-se que elles têm interesse e vantagens incontestáveis nessa conclusão, porque o produeto das ta- xas sobre os serviços de exgottos darão para o custeio do pequeno empréstimo necessário á ultimação dos trabalhos e ainda deixarão margem para auxiliar o custeio dos com- promissos firmados no contracto de 15 de Novembro de 1915, emquanto que -nas condições actuaes aggravain-se, de dia a dia, as razões pelas quaes não podem proseguir os trabalhos, com a deterioração dos materiaes existentes em deposito, nesta cidade. Ao terminar esta ligeira descripção chronologica de tudo quanto se tem feito em matéria de exgottos de Be- lém, não posso deixar de encarecer a necessidade urgente de se providenciar para a effectivação de uma obra indis- pensável á prophylaxia desta cidade, mas é também tempo de se fazer honra aos conhecimentos, á dedicação e á pro- bidade dos nossos profissionaes, encarregando obras vul- tuosas como esta, a engenheiros brasileiros directamente commissionados pelos Governos do paiz. Os melhoramentos, o embellezamento e o saneamento que se têm verificado nos Estados do Sul da União, e mesmo entre nós, mostram aos extrangeiros o gráo de adeantamento e proficiência dos engenheiros brazileiros. Sigamos esse fecundo exemplo de patriotismo. Belém, Julho de 1922. CAPITULO VI A AGUA DISTRIBUÍDA Á POPULAÇÃO DE BELÉM E SUA ANÁLYSE BACTERIOLÓGICA PELO Assistente do Instituto de Hygieno do Serviço de Prophylaxia Rural Dr. LAURO DE ALMEIDA SODBÉ Generalidades.— A agua é incontestavelmente de todos os corpos existentes na superfície da terra um dos mais espalhados, pois cerca de 2/3 desta são cobertos por aquelle liquido. Dos elementos do meio cosmico é ainda a agua o mais capaz de ter influencia sobre a vida nos seus tres gráos, vegetal, animal e social, e nenhum tem mais utilidade real e gosa de maior importância. Nos dois primeiros gráos em que ella entra como alimento, como concluctora de alimento ou como modificadora desses alimentos, para poderem ser assimilados, ninguém poderá deixar de reconhecer-lhe tão importante papel. No terceiro gráo, isto é, no ponto de vista social, essa importância mais augmenta entrando ella então; na vida domestica, servindo ou de alimento ou con- correndo para a formação dos outros alimentos,- ou ainda permittindo a limpeza, a hygiene do corpo, da habitação e muitos outros usos domésticos; na industria tem também muitas applicações, entrando como força motora, como con- stituinte dos productos, por meio de sua temperatura, seu vapor, etc.; nas cidades serve para fins de ornamentação, Para auxiliar a retirada das immundicies, acarretando-as Para os exgottos, e muitos outros, sendo que o principal ® 0 abastecimento para alimentação publica. O problema da agua de bebida sempre foi uma das pnncipaes preoccupações dos governos e para a perfeição do qual não devem regatear recursos, sobretudo quando tratar-se de abastecer cidades e mesmo pequenos povoados, porque não devemos ignorar que a agua é o vehiculo das infecções intestinaes. No ponto de vista da hygiene o que mais interessa é a sua potabilidade. Antes dos methodos delicados de anályse que possuí- mos hoje era difficil, mesmo impossível certas pesquizas, limitando-se os antigos em procurar agua limpida, clara, fresca e de sabôr agradavel. Modernamente a agua que deve servir para alimenta- ção do homem deve ser agradavel no seu frescor, aspecto e gosto; ser destituída de cheiro e não deve conter sub- stancias nocivas ao organismo. O problema da potabilidade e purificação das aguas tem preoccupado muitos hygienistas e hoje em dia têm uma importância capital a anályse chimica e o exame ba- cteriológico, acompanhando sempre um o outro. Devido ao curto espaço de tempo, não podemos fazer um estudo como desejávamos. Dividiremos o nosso modesto trabalho em tres partes. Na primeira serão estudadas a captação, a adducção e a distribuição das aguas; na segunda trataremos do exame bacteriológico e na terceira diremos algo sobre os melho- ramentos aconselháveis. Historico. Sobre o serviço do abastecimento de agua na cidade de Belém, antes da rede de canalização, trans- crevemos as seguintes informações que gentilmente nos offereceu o Sr. Coronel J. Cyriaco Alves da Cunha, ex-secre- tario de Estado do Governo. «Em tempos idos o abastecimento d’agua a esta capi- tal, era feito dos poços que havia nos quintaes de grande numero de casas, recorrendo a estas os moradores daquellas que não os possuíam. Nalguns logradouros públicos também havia poços para a serventia geral. Nós ainda conhecemos o do largo da Sé (hoje praça Frei Caetano Brandão), o do largo do Quartel (praça Sal- danha Marinho), o do largo da Trindade (praça Barão do Rio Branco), os da travessa da Piedade (eram uns tres ou quatro), entre as ruas Aristides Lobo e a avenida de S. Jeronymo, os do Redondo, á estrada de S. José (hoje ave- nida 16 de Novembro) e os da estrada da Queimada (hoje travessa Carlos de Carvalho), eram uns dous ou tres, entre as ruas Conselheiro Furtado e Cezario Alvim. Presentemente ainda se vêm alli os boccaes destes poços, já entulhados e cheios de matto. Também ainda conhecemos os restos do chafariz da travessa da Piedade, mandado construir pelo Capitão-Ge- neral Souza Coutinho, ura dos melhores governadores que este Estado tem tido e que esteve 13 annos á testa da administração publica. Presentemente nada mais existe desta util obra, que foi demolida ha alguns annos. A respeito delia escrevemos as seguintes linhas na nossa obra Pequena Chorographia da Província do Pará, publicada em 1887, á pagina 58: A PROPHYUXIA RURAL KO ESTADO DO PARÁ Ulinga. Captação cTagua. Casa das machinas. Utiaga. Fundos da casa das machinas. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARÁ Bombas aspirantes e cale antes ao seryiço da remessa de agua para Belem. Utinga. Canal de-conducção d’agua para a bacia do Buiussúquára < 0 25.° Governador e Capitão-General do Grão-Pará e Pio Negro, Francisco de Souza Coutinho, mandou construir em 1801, na travessa da Piedade, quasi em frente á rua das Flores, um chafariz enterrado, de duas biccas de pedra, para as quaes o povo descia por duas escadas de cinco degraus. Hoje ainda restam as quatro paredes de tão util obra, as quaes ha 85 annos têm resistido á acção destruidora do tempo. Na face interior de uma dessas paredes ha uma pedra onde está gravado o anno de 1802, provavelmente o da conclusão da obra». Com o correr dos annos surgiu a idéa do lucro do commercio da agua, que começou a ser vendida pelas casas que não tinham poços, e conduzida em pipas, collocadas deitadas, em carros especiaes e puxados por um boi. Essas pipas tinham no meio e na parte superior uma abertura, e atraz, na parte inferior, uma torneira, por aquella recebiam o precioso liquido e por esta faziam-iFo passar para potes de folha de Flandres, que eram vendidos a vinte réis ($020), preço que foi depois subindo até ses- senta réis ($060). Num terreno á avenida S. Jeronymo, que hoje tem o n. 11, e num outro situado á praça Baptista Campos, entre as ruas dos Tamoyos e dos Mundurucús, havia poços com machinas e apparelhos especiaes para o enchimento das pipas, que recebiam a agua de dentro por meio de um conductor de madeira descoberto. A agua dos poços particulares, quando estes eram abertos, não passava por exame chimico nenhum afim de poder ser consumida, como tanto convinha á saúde publica. Aberto o poço, provavam a agua e de alguns, como sabemos, e de um fomos testemunha, os seus proprietários diziam; —E’ salobra; não presta para beber; serve só para lavar; e tratava de procurar outro poço d’onde podesse fazer o seu supprimento. Em 1881 ainda havia o commercio da agua em pipas, custando então cada pote sessenta réis ($060) quasi geral- mente. Entretanto os poderes públicos, já de longa data, vi- nham providenciando em beneficio da população. As leis provinciaes n. 264, de 14 de outubro de 1854, 110 n. 8, § 6.° do artigo 7.°, e n. 312, de 24 de Maio do 1858, artigo 7.° § 5.° e n. 3, auctorizaram as despezas necessárias para o abastecimento da agua. Posteriormente, em virtude da lei n, 521, de 23 de Se- tembro de 1867, foi, emfim, lavrado contracto com João Augusto Corrêa, em 30 de Outubro de 1869, sendo o mesmo aescindido por despacho da Presidência da Provinda, em 27 de Abril do anno seguinte. A lei n. 743, de 27 Abril de 1872, mandou contractar com Kalkmann Júnior e outros o serviço, que foi contra- ctado depois, em 16 de Agosto do mesmo anno, com Fran- cisco Maria Cordeiro e José de Yilla-Flôr. Este contracto foi rescindido pela portaria de 19 de Setembro de 1876. Em 1877, a 1 de Maio, foi sanccionada a lei n. 898, que mandou egualmente proceder aos necessários estudos para o abastecimento d’agua. Até que pelo artigo 17 da lei n. 1.031, de 8 de Maio de 1880, foi approvado o contracto celebrado com o engenheiro Edmundo Compton, no Thesouro Provincial, para o refe- rido serviço. Foi este cavalheiro quem começou, se não nos enga- namos, no mesmo anno, o assentamento dos tubos para o encanamento. Elle levantou uma excellente planta desta capital, com as correntes d’agua no sub-sólo e marcando a altura de diversos pontos. Tinha essa planta grandes dimensões e foi muito distri- buída entre nós. Possuíamos um exemplar, que mais tarde offerecemos ao Instituto Historico da Bahia, de que somos socio. Hoje parece que ella desappareceu completamente, por- que não a vemos em parte nenhuma. Já na Republica, o Governo do Estado, por decreto n, 34, de 11 de Maio de 1895, resolveu encampar a Compa- nhia das Aguas do Gram-Pará, por utilidade publica, trans- ferindo ao Estado o serviço das aguas por escriptura pu- blica e termo no Thesouro Provincial, em 31 de Agosto do mesmo anno, tomando posse o Governo no dia subsequente. Por decreto n, 104, de 5 de Setembro foi creada para o serviço, provisoriamente, uma repartição sob a denomi- nação de Inspectoria das Aguas de Belém, sendo organi- zada effectivamente pelo decreto n, 123 de 28 do mesmo mez. Mais tarde fôram collocadas torneiras publicas em di- versos pontos da cidade. Já fôram retiradas, restando, segundo nos consta, ape- nas uma, á avenida Gentil Bittencourt, esquina da travessa Dr. Moraes». 1. —O SERVIÇO DE CAPTAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO D’AGUA O serviço de abastecimento d’agua de Belém não é dos mais perfeitos, apezar de representar hoje uma grande somma dispendida principalmente depois que passou para os domínios do Estado. Installado por uma Companhia de capital limitado em 1881-1883 foi o serviço executado do modo mais economico por meio de modestas obras no que se refere á captação dos mananciaes, um reservatório para accumulação e um tanque cylindrico de distribuição, elevado sobre pilares de ferro fundido a 15m de altura, na parte extrema da área das edificações da cidade, em ponto elevado, e a 445m de distancia do reservatório subterrâneo, com uma capacida- de de 1.500m, recalcada a agua por meio de bombas e por uma canalização de 12 pollegadas de diâmetro. A rede da distribuição era formada por duas canaliza- ções principaes: uma seguia pelas estradas da Indepen- dência e Nazareth até a praça da Republica, e mais tarde prolongada até o largo da Sé, e a outra fazendo o per- curso pela estrada de S. Jeronymo até a mesma praça da Republica, e depois prolongada pelas travessas da Estrella e Santo Antonio, até a rua da Industria. Compunha-se a primeira canalização de tubos de 9” até a praça Tenreiro Aranha ou largo da Memória, se- guindo dahi em deante tubos de 8 pollegadas quando foi feito o prolongamento. E a segunda canalização também de tubos de 9” desde o largo de S, Braz até a travessa D. Romualdo de Seixas, dahi seguindo de 8” até a traves- sa Benjamin Constant e deste ponto em deante 7 polle- gadas até a' praça da Republica, na avenida índio do Brasil, por onde seguiu o novo prolongamento de 8” até a rua da Industria, canto do largo de Santo Antonio. Destas canalizações partiam as canalizações secundarias constituindo a rêde geral de distribuição formada de tubos de ferro fundido de 7 a 2 pollegadas de diâmetro, e de tubos de ferro galvanizado de 3/4” a 2 pollegadas con- vindo attender que numa extensão total de 63.113 metros predominavam os tubos de 3” em extensão de 50.487m, ou 80 °/0 do total. As extensões dos tubos de 7”, 6” e 5” eram respecti- vamente de 1.186m, 550m e 1.194m. Por esta má distribuição de rêde comprehende-se logo como seria defeituoso o serviço de abastecimento, tendo a vencer os inconvenientes das successivas reducções de diâmetro produzindo considerável attricto e perda de pres- são notável. A_ falta d’agua manifestou-se dentro de alguns annos ou pouco depois que o serviço passou para a propriedade do Estado, quando foi reduzido o custo do litro desse li- quido de 1 real para 1/2 real, e estabelecidas as torneiras publicas, dando logar ao augmento do consumo. Já a com- panhia tinha verificado a impossibilidade de attender ás necessidades publicas, por não poder satisfazer ao au- gmento de abastecimento com o material de que dispunha, e nem lhe convinha fazer reformas, augmentando o capital, quando o que tinha sido applicado obtinha grandes lucros, permittindo dividendos de 15 e 16 %, annualmente. Os mananciaes aproveitados eram unicamente as nas- centes do igarapé Utinga, ao lado direito da Estrada de Ferro de Bragança e a 7 kilometros de distancia do Cas- tello, aproveitadas sem a captação conveniente e não for- necendo mais de 3.000.000 de litros diariamente, penetrando no reservatório subterrâneo por meio de valias abertas no sólo, contaminando-se durante o trajecto de matérias orgâ- nicas resultantes de detrictos vegetaes. Mais adeante a 2 1/2 kilometros de distancia, havia outras nascentes, as do igarapé Buiússuquára incluídas na área desapropriada dos mananciaes, e que não eram ainda utilizadas, podendo fornecer, uma vez bem captadas, 4.500.000 a 5.000.000 de litros, diariamente. As machinas utilizadas para recalque do liquido eram apenas duas bombas horizontaes apparelhadas cada uma directamente a seu motor, e servidas por 3 caldeiras do typo Galloway, as quaes pelo seu longo uso davam um rendimento bastante diminuto e não excedente a 30 litros por segundo. Resolvido pelo Governo do Estado o melhoramento geral do serviço, foram installadas duas novas bombas Worthington de tríplice expansão, servidas por caldeiras Babcock & Wilcox, devendo cada uma satisfazer a uma aspiração de 300m,3 por hora; tratando-se de emprehen- der as obras de melhoramento da captação dos mananciaes e da regularização da rêde de distribuição, este serviço não podia ser resolvido sem a installação de um reserva- tório mais elevado que o existente por ser insufficiente a altura de 15 metros da caixa d’agua de S. Braz. Tratou o Governo por este fim de mandar vir dois novos reservatórios, com 25 metros de altura, devendo ser um installado no canto da travessa João Balby e outro no canto da rua Lauro Sodré e travessa l.° de Março, que foi o unico construído. Para estes reservatórios deviam ser as aguas recal- cadas por uma canalização de 0m,90 que foi collocada desde a casa de machinas no Utinga até o largo de S. Braz, subdividindo-se ahi em duas de 0m,65 de diâmetro que deveriam ir ter directamente a cada uma das duas cai- xas d’agua. Não tendo porém sido levantada a caixa de João Balby, ficou interrompida uma destas canalizações de 0m,65 e a outra em vez de ser dirigida para o tanque da rua Lauro Sodré foi levada para outro ponto da cidade no bairro de Baptista Campos a ligar-se com a canalização existente de 0,30 de diâmetro. Esta alteração foi um grande erro que pertubou inteiramente o plano primitivo da Com- missão de Saneamento, porque pela subdivisão da canali- Utinga. Canal de conducção d’agua para a bacia do Buiussuquara A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARÁ A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO 00 PARA Belom. Floresta do Ulinga. Bacia cie Decantação cFagua no Buiussuquára. zação de 0,90 em duas outras de 0,65 não havia perturbação na velocidade d’agua, por serem idênticas as áreas das secções; no emtanto que pela suppressão de uma delias, restabeleceu-se o inconveniente da restricção dos diâmetros, o que produziu grande prejuízo. Para o melhoramento da captação, cogitou aquella Com- missão de fazel-a directamente nas nascentes tanto do Utinga, como do Buiussúquára, reunindo-as em galerias filtrantes e aqueductos de manilhas de grês para despe- jarem as aguas no reservatório do Utinga; devendo, depois disso cuidar de aproveitar as aguas dos igarapés Ananin- deua e Marítuba, únicos julgados capazes de abastecerem regularmente a cidade, e que se acham 16 kilometros mais adeante na zona percorrida pela Estrada de Ferro de Bragança. Sob o governo do Sr. Dr. Augusto Montenegro fôram continuadas as obras de captação pelos novos systemas, e indo ainda aproveitar as nascentes de outro igarapé, o Catú, que corre para o lado do Guamá e cujas nascentes se acham entre as do Buiussúquára e do Ananindeua. Sobre outras obras que se seguiram, eis o que diz esse Governador, em sua mensagem de 1904: «Em 1901 ficaram concluidas as galerias subterrâneas filtrantes da 5.a nascente do Utinga, em uma extensão de 281m, com 11 chaminés de inspecção, as quaes são ligadas aum aqueducto de 180m, tendo 6 poços para a limpeza. «Concluiu-se ainda o encanamento de recalque na ex- tensão de 4.360 metros, sendo 900111 de tubos de 0m,65 e 3.490m de tubos de 0m,90; encetaram-se os trabalhos das galerias filtrantes nas nascentes do Marianna, a construc- çào de muros ao longo da valia do Cajueiro, a construcção da repreza da bacia do Utinga, a continuação da linha de recalque além do tanque de S. Braz e a conclusão do prédio destinado ás novas officinas. «Neste mesmo anno começaram a funccionar as duas bombas Worthington que têm dado optimo rezultado. «Em 1902 terminaram-se as galerias filtrantes da nas- cente de Marianna na extensão de 296m, com 10 chaminés de inspecção, 2 poços collectores, duas caixas intermediárias, 130 metros de linha de manilhas, ligando as chaminés aos poços e uma linha de tubos de ferro de 0m,40 de diâmetro, ligando o ultimo poço collector ao tanque subterrâneo, com o comprimento de 248m; concluiram-se os 2 muros lateraes na extensão de 332m, ao longo da valia do Cajueiro, iso- lando as aguas das nascentes das do igapó; ficaram promptas as obras de repreza na bacia do Utinga; fôram assentes 2.960m de tubos de 0m,65 em continuação ao enca- namento de 0m,90, do largo de S. Braz á rua Padre Pru- dencio, canto da civGnidci Gentil Cittoncourt| conclmo-so o prédio para as officinas á avenida João Balby e monta- ram-se todos os apparelhos que são movidos a vapor, inau- gurando-se a l.° de Julho as novas officinas que fôram retiradas assim de um corredor, á rua da Industria, onde funceionavam. «Proseguiram durante todo o anno os trabalhos topo- graphicos e de sondagem, ficando confeccionado o projecto de captação das nascentes do Buiussúquára, do Catú e do Agua Preta, sendo iniciados a 6 de Outubro, os trabalhos do Buiussúquára, os quaes consistem em uma linha de aspi- ração de tubos de 0,65 de diâmetro com uma extensão de 1.324m, tendo 4 reservatórios de ar, um tanque de alvenaria de pedra e cimento de 6,40 x 4,40 x 4,40, uma linha de inducção de tubos de 0m,90, um canal de alvenaria de ci- mento na extensão de 1.045m, um tanque de juncção das aguas de 24m de comprimento por 7,60 de largura e 1,60 de profundidade, uma linha dupla de 0m,30 e 110m de com- primento e finalmente uma repreza de alvenaria de cimento. «A linha de aspiração, o tanque e a linha de inducção fôram feitos com a maxima celeridade e a 14 de Novembro começaram a funccionar enriquecendo o abastecimento d’agua da cidade. Era simultaneamente feita uma linha Decauville ao longo do serviço para facilitar a conducção de materiaes. «Em 1903 terminaram-se todas as obras de captação do Buiussúquára, inclusive a linha Decauville até o tanque de juncção com uma extensão de 3.215 metros; e inicia- ram-se a 2 de Maio os trabalhos para a captação do Catú os quaes consistiam em uma linha dupla de 0,40 na exten- são de 2 kilometros para o lançamento, pela gravidade, dessas aguas ao tanque de juncção do Buiussúquára. «Entre o Buiussúquára e o Catú existe um espigão que foi preciso rasgar, produzindo um corte de 65.0Õ0m 3 de terra com a rampa de 1 por 3 metros. «Para facilitar a conducção dos materiaes assentou-se uma linha Decauville de bitola de 0m,60 num percurso de 6 kilometros. Tendo-se observado durante o proseguimento dos trabalhos, que não era possivel terminar o serviço a tempo de aproveitar-se para o verão este poderoso manan- cial, em consequência da natureza do material encontrado que é uma pissarra (mixtura de barro amarello e pedras miúdas) durissima, assentou-se uma linha de canos de 0,40 em nivel mais alto de 2m,50 de que o projecto, e com o auxilio de duas bombas centrífugas, pôde-se a l.° de No- vembro lançar as aguas do Catú no tanque de juncção do Buiussúquára, e assim augmentar o volume d’agua do abastecimento. «Ficaram promptos os encanamentos de 0,40 na ex- tensão de 1.100m até ao futuro tanque da travessa l.° de Março, ligando ao encanamento de 0,20 assente pelo Dr. P. Bezerra, outro de 0,20 na extensão de 330m para melhorar o abastecimento da parte alta da cidade, na circumvizi- nhança do futuro tanque; e outro de 0,20 na extensão de 700m em continuação á precedente até a estrada de S. João. «Sendo insufficientes as bombas actuaes para a descarga fornecida pelos mananciaes captados e necessários ao con- sumo da cidade, encommendei para a America do Norte uma bomba que recalcará 850m 3 d’agua por hora e duas caldeiras para a mesma, da força de 200 cavallos a vapor; e como as bombas Worthington e caldeira Babcock, actu- almente trabalhando, funccionam com optimos resultados, dei a preferencia a estes fabricantes; fôram também en- commendados os encanamentos de cobre de vapor para li- gar a nova bomba ás novas caldeiras e mais um outro para substituir as das actuaes machinas. «Em 1904 continuaram-se para a captação do Catú os trabalhos de desaterro do corte, assentamento de canos e rebaixo de encanamentos, collocado anteriormente. Em con- sequência do inverno muito rigoroso deste anno o córte desmoronou-se, obrigando a fazer-se rampa de 1 por 2 metros e em alguns logares até de 2 por 3 metros. «Preparou-se melhor o serviço do Buiussúquára ater- rando a forte baixa ao longo da bacia e do canal e sus- pendendo a linha Decauville nas travessias dos igapós. « Assentaram-se 270m de canos de 0,30, da extremidade do encanamento de 0,65 para a praça Baptista Campos; 200m de 0,20 do mesmo ponto á rua dos Quarenta e Oito; 2.600m de canos de 0,30 do novo tanque até a travessa Campos Salles; 500m de 0,20 por esta travessa até o Bou- levard da Republica, e finalmente 830m da travessa Cam- pos Salles até a rua Pedro Rayol. «Tendo chegado da America do Norte a bomba Wor- thington e as caldeiras encommendadas, assim como en- canamento de vapor para as mesmas, fôram estas instal- ladas». «Mandei proceder a avaliação de todos os proprios, encanamentos e obras da Directoria das Aguas, elevando- se á importante somma de 7.801:430$000. Esta cifra não significa o que se tem gasto com o abastecimento, mas realmente o que elle vale». A renda do exercido de 1903 foi de 282:7305500. Actual- mente diz a mensagem, «o volume d’agua fornecido é de 11.400.000 litros diários, ou o decuplo do fornecido em 1900». Em sua mensagem de 1906 lê-se o seguinte: «As ca- ptações do Buiussúquára, Catú e Utinga produzem no pe- ríodo de maior estiagem um volume de 15.000.000 de litros, conforme as observações feitas em 1903, 1904 e 1905 contra ° de 1.600.000 litros que encontrei ao iniciar a administra- ção ». Na mesma mensagem lê-se mais o seguinte: As obras feitas para a reunião do Buiussúquára ao Utinga por meio de machinismos para a aspiração do Catú ao Buiussúquára, empregando bombas centrífugas, são ins- tallações mechanicas multiplicadas que deviam ser evitadas, e que seriam dispensáveis com o aproveitamento dos iga- rapés Marituba e Ananindeua, que reunidos poderão for- necer nos mezes de maior estiagem mais de 200 litros por um segundo e poderão satisfazer a todo o serviço do abas- tecimento d’agua potável e dos exgottos de Belém. Estas informações nos foram dadas pelo Dr. Henrique Santa Rosa, ex-chefe da Commissão de Saneamento de Belém. O plano de aproveitamento desses igarapés foi estu- dado por esse illustre engenheiro, sendo orçado em 2.000 contos ouro a despeza para executal-o. A extincção da Commissão de Saneamento de Belém antes de concluir a sua missão, com o abandono de seus planos, trouxe más consequências para o serviço, que ficou desorganizado por muito tempo. Mais tarde outros melhoramentos fôram feitos para o serviço, como sejam a collocação do Stand Pipe situado á bocca da estrada do Utinga para onde a agua é recalcada, a fim de, pela extremidade do encanamento, despejar-se no tanque «Paes de Carvalho», que pôde desse modo ser cheio. O restabelecimento do hydrometro para a metragem da distribuição do liquido aos consumidores, supprimindo assim o systema de torneira livre que permittia o desper- dicio, a ponto de ser quasi insufficiente a agua enviada á cidade, veio facilitar muito o problema da distribuição cuja rede tem-se podido augmentar bastante. Resumindo podemos dizer o seguinte: O serviço das Aguas de Belém é explorado pelo Estado cuja administra- ção, no primeiro periodo governamental do Dr. Lauro So- dré, encampou, em 1895 á primitiva Companhia das Aguas do Gram-Pará que já vinha fazendo desde 1881. Ao passar para o Estado, as únicas aguas aproveita- das eram as das nascentes do igarapé Utinga que forne- ciam um volume diário máximo de cêrca de 3.500.000 litros, já insufficientes para o abastecimento da cidade, mesmo naquella épocha de pequeno numero de derivações. Successivamente tem o Estado effectuado grandes obras e captado novos mananciaes já construindo galerias de poços filtrantes no Utinga, já aproveitando as aguas dos igarapés Buiussúquára e Catú conseguindo assim garantir o fornecimento diário de 20.000.000 de litros ou sejam em media 155 litros por habitante dos prédios servidos. Esse abastecimento, si bem que relativamente não muito abundante, parece satisfazer ás necessidades da po- pulação, que, no seu interesse procura limital-as ás suas posses, attendendo ser o fornecimento hydrometrico. Com relação, pois, á quantidade d’agua fornecida e ao HIOPHYLAXIA rural Rêde de Abastecimento d Agua da Cidade de BELEM 1922 A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Utinga. Ponto de captação d’agua no igarapé Catú Belém. Reservatório d’agua «Paes de Carvalho», á rua Lauro Sodré. preço acha-se o Serviço normalizado: ha agua sufficiente e barata, visto como vigora a taxa de 1/5 de real por litro ou sejam $2OO por metro cubico, a não ser nos dez primei- ros mil litros obrigatorios, pagos a 1/2 real. A rêde de distribuição mede, actualmente, pouco mais de 100.000 metros, abrange toda a área densamente edifi- cada e grande parte dos bairros afastados, servindo appro- ximadamente, 11.000 derivações. O manancial mais afastado é o do igarapé Catú, cujas aguas são aspiradas por uma machina, ligadas a dois tubos adductores, funccionando um por gravidade, partindo do nivel das aguas, que quando baixado interrompe, passando então a funccionar o outro, por elevação. Essas aguas são conduzidas por gravidade e por meio de tubos de ferro fundido (0m,40 diâmetro) numa extensão de 5 kilometros a um tanque collector proximo ao ponto de captação das aguas do igarapé Buiussúquára, as quaes vão ter ao mesmo tanque depois de percorrerem uma linha de aspiração de tubos de 0m,65 de diâmetro com uma ex- tensão de 1.324m com 4 reservatórios de ar; do tanque de reunião, seguem por gravidade, numa extensão de um kilo- metro, a principio em tubos e depois em canal descoberto, até uma grande bacia da qual depois de decantadas pas- sam a um poço de onde são aspiradas numa extensão de 1.300 metros, por bombas da Uzina do Utinga, e ahi depo- sitadas no reservatório de accumulação, ao qual também são levadas por gravidade, as aguas do igarapé Utinga de duas séries de poços filtrantes. No igarapé Catú, depois da juncção com o igarapé Agua Preta, existe uma barragem com o fim de impedir o escoa- mento das aguas durante o verão, o que viria diminuir bastante o seu volume. Do reservatório de accumulações são as aguas aspira- das e calcadas directamente para a rêde de distribuição, cahindo as sobras no Reservatório de S. Braz, á entrada da avenida da Independencia; para o enchimento do Re- servatório «Paes de Carvalho» faz-se o recalque até ao alto do Stand Pipe, á entrada da estrada do Utinga cuja altura mede cerca de 40 metros, e distante 900 metros da Uzina, indo dahi por gravidade para o dito reservatório, situado no centro populoso da cidade, á rua Lauro Sodré, esquina da travessa l.° de Março. Existe também uma repreza em toda a bacia do Utinga. Outras nascentes do Utinga que ainda não mencioná- mos e que não deixam de ter sua importância, são as: do Cajueiro, Cercado e Barris, cujas aguas são conduzidas por valias muradas, e por gravidade vão ter ao reservató- rio, com um volume de 1.500.000 litros por 24 horas. No igarapé Murutucú, formado pela juncção do Utinga e do Buiussúquára, existe uma barragem com valvula, ser- vindo esta para dar escoamento ás aguas de um braço do Utinga não aproveitado para o abastecimento. Todo o serviço no Utinga, Buiussúquára e Catú está unido por uma linha Decauville de 0m,60 de bitola, em extensão de cerca de 6 kilometros. No serviço de aguas aqui de Belém, estas depois de chegarem ao reservatório unico de accumulação são logo aspiradas e recalcadas para a rêde de distribuição sem. a respectiva filtragem, pois sendo só um reservatório, e pe- queno para conter agua sufficiente para o consumo, não é permittido a passagem em filtros, sendo apenas decantadas. Isto traz como consequências, principalmente no começo das estações invernosas, tornar-se a agua amarellada e um tanto turva, devido ás chuvas e por não terem, muitas vezes, o tempo necessário de repouso para a sua clarifica- ção, acarretando desse modo detrictos vegetaes e terrosos, além de outras substancias. Passamos agora a tratar do exame bacteriológico. 2. ANÁLYSE BACTERIOLÓGICA DA AGUA A anályse bacteriológica determinou a existência dum indice ou signal de inquinamento das aguas dadas ao con- sumo, no qual assenta o juizo do hygienista. Esta apreciação decorre naturalmente não tanto do teôr microbiano da agua, mas principalmente da quali- dade destes germens que por sua acção pathogenica ou por suas relações com os homens ou demais animaes reve- lam a contaminação da agua por substancias excrementi- cias. As bactérias são seres viventes muito delicados que não se podem descobrir nas aguas senão fazendo-as cultivar artificialmente. O methodo ordinário de contagem dos microbios das aguas consiste em juntar determinadas quantidades deste li- quido a agar ou gelatina fluidificada que em seguida se vasa nas placas de Petri. Após um dado período de incubação a 37° para o agar e a 20° para a gelatina contam-se as colonias e do numero presente em cada placa deduz-se o numero de microbios contidos na agua ensaiada. Como se vê o processo não é difficil, pelo menos na apparencia, porquanto no ponto de vista de sua exactidão scientifica não são poucos os motivos de erro que limitam uma exacta apreciação dos resultados que elle fornece. Em primeiro logar as colonias contadas não represen- tam o numero real de bactérias contidas na agua porque muitos são os microbios que não germinam nestas placas como os nitrificantes, por exemplo; os anaeróbios, é claro que, dadas as condições da technica deixam também de se desenvolver. Por outro lado o methodo supprime também um per- feito isolamento de cada germen de modo que cada colonia derive da multiplicação de um só microbio. A composição do meio, sua reacção, o periodo e a tem- peratura de incubação são outros tantos factores dignos das maiores attenções. Gage e Adams, por exemplo, encontraram grandes vari- ações na composição dos caldos de carne que despojados de sua albumina perdiam até 1 por cento do seu extracto secco, sem contar as modificações da reacção que podem ir até 1 a 3 por cento. Resulta pois que o valor nutritivo do caldo, um dos meios de cultura que se empregam em bacteriologia, longe de ter a composição constante que se lhe suppõem, varia muito mais do que as substancias nutritivas, que se lhe in- corporam, exactamente dosados (1 por cento de peptona). Sidgwick e Prescott verificaram que a porcentagem de peptona tem sua influencia tão grande quanto á procedên- cia da gelatina no numero de colonias germinadas; e não só a quantidade como também a qualidade da peptona in- flue também na germinação das colonias; assim Gage e Adams registram números mais elevados com a peptona de Witte do que com a de Merck. O proprio sal tem tam- bém a sua parte nos resultados a ponto da American Committec on Standard Methods of Water Analysis re- commendar a sua omissão em todos os meios de cultura usados na anályse da agua. A reacção dos meios de cultura então tem uma impor- tância que se méde pelos methodos de titulação. Correntemente se confere a reacção dos meios de cul- tura usando como indicador o tournesol, uma vez que a experiencia demonstrou que a maioria dos microbios se des- envolve bem nos meios neutros ou ligeiramente alcalinos a esse reactivo. Mas ha microbios particularmente exigentes que recla- mam meios com reacção precisamente determinada. Dahi a necessidade de dosar a reacção dos meios de cultura de modo a poder comparar os resultados. O methodo mais co- nhecido é o do Dr. Eyse que propõe juntar aos meios nu- tritivos neutros a phenolphtaleina, quantidades variaveis de 0a 30 de solução N/l de acido chlorhydrico por litro con- soante a reacção almejada. Mas o erro pessoal na aprecia- ção da reacção bem como a presença de proteínas amido- acidas, carbonatos, phosphatos, etc., que têm a propriedade de ceder ou fixar os iontes H ou OH burlam a exactidão destes methodos de modo que actualmente a tendencia é exprimir a reacção de qualquer meio não em c. c. de solu- ção N/l de acido ou base mas pela quantidade de iontes H ou OH presentes no meio. Por motivos de ordem theo- rica e pratica convencionou-se exprimir a reacção dum li- quido por meio da concentração dos iontes H contidos numa unidade de volume. E assim a acidez ou a baci- dade estão em relação com a dissociação electrolytica, de- pendentes portanto não só da quantidade de ácidos’ ou bases livres existentes num liquido mas também da sua ionisação, do grão de diluição, da temperatura, etc. O aquecimento dos meios de cultura e mesmo o vidro que os contêm exercem uma accentuada influencia sobre a sua reacção. Estas considerações que visam mostrar como podem variar os resultados fornecidos pela contagem das bactérias duma determinada agua, ainda que salientando a necessi- dade de methodos e processos uniformes, não invalidam totalmente trabalhos deste genero que mesmo na sua rela- tividade não deixam de ter valor. Por isso mesmo decidimos usar neste trabalho o agar usual, ligeiramente alcalino ao tournesol, posto que ensaios preliminares nos tivessem mostrado a superioridade da ge- latina na qual mais abundantes e características fôram as colonias desenvolvidas. Infelizmente, porém, as condições ambientes obrigam a manter as placas constantemente na geladeira, cuja humidade parece facilitar o desenvolvimento dos bolores que rapidamente se disseminam por toda a su- perfície do meio. Isto posto eis o que resultou de nossas anályses: PEOOEDENOIA DA AGUA N. de colonias O. de agua W. de colonias l,0cc. de agua Data do ensaio Reservatório 10 116 19/6/922 Poço sem tampa 19 78 19/6/922 Poço com tampa oo oo 19/6/922 Agua de torneira 7 103 19/6/922 Culturas em placas de agar ligeiramente alcalino ao tournesol. As colonias fôram incubadas a 37° C. e conta- das 48 horas após a semeadura. A agua foi colhida em vasos esterilizados e transpor- tada acto continuo para o laboratorio. Como se vê da tabella escolheu-se para este ensaio amostras de aguas de procedência varia: do reservatório central donde é ella lançada para a cidade e duma das tor- neiras que abastecem dagua o Instituto de Hygiene. Ao mesmo tempo ensaiou-se agua de poços abertos, dos arra- baldes da cidade. Um destes poços (sem tampa) estava aberto ás intempéries e cercado de matto, o outro (com tampa), mantido em melhores condições tinha a sua aber- tura coberta com um tampo de madeira. Esses dois poços que medem 8m de profundidade, sendo 2m do lençol de agua, estão cavados proximos das habita- ções, sendo que ha bem pouco tempo o com tampa estava distante de uma fossa perdida de cerca de 3 a 4 metros, a qual por varias vezes com as enxurradas já havia trans- bordado contaminando assim toda a região que lhe estava próxima. O outro poço, é, o sem tampa estava situado a uns cincoenta metros do primeiro, devido a ser simplesmente cavado, sem protecção alguma em sua abertura, e já tendo por varias vezes transbordado com as enxurradas, foi sua agua abandonada da alimentação, servindo somente para outros usos domésticos. Suas paredes internas assim como as do outro não tinham a menor protecção. Todos dois es- tavam sempre descobertos com o fim de facilitar a retirada das aguas por meio de baldes. Isto tudo permittia aos inquinamentos se fazerem por duas vias, uma proveniente dos líquidos ou detrictos de toda especie, que podiam cahir pelo orifício superior da cavidade do poço, a outra pela infiltração que se fazia pelas paredes que não eram protegidas. Ora, sendo a camada das aguas existente na profun- didade do poço quasi estagnada, era de prevêr dadas essas circumstancias todas, terem ahi os germens se desenvolvido com certa facilidade. A apreciação dos resultados minuciosos acima referidos depende do exame das condições locaes topographicas e meteóricas, que podem fazer variar o regimen bacterioló- gico das aguas. As grandes chuvas que com tanta frequên- cia cahem em Belém podem influir no teôr bacteriano da agua que aqui se consome para mais ou para menos: para mais acarretando os microbios do sólo lavado pela enxur- rada, para menos diluindo a agua dos igarapés que contri- buem para o abastecimento. A insolação possivelmente dimi- nuirá o numero de bactérias da agua já elevando a sua temperatura já por acções diversas inherentes á luz solar. Talvez mesmo sejam estes uns dos motivos porque no poço desabrigado a contagem forneceu um numero infinitamente menor de bactérias do que na agua protegida com tampo que impedia a acção bactericida da luz solar ao mesmo tempo que vedava o livre accesso das aguas fluviaes. A insolação da agua póde ser apreciada também neste exemplo. Trata-se de uma agua de torneira, fornecendo agua da mesma procedência da acima referida e situada no mesmo local (Instituto de Hygiene), O cano que conduz a agua, porém, está exposto ao sol que aquece e portanto a agua que elle conduz a qual em certas horas do dia é bem quente attingindo a temperatura de 45° C. Um ensaio desta agua deu o seguinte resultado: 1,0 cc 30 colonias 0,5 cc 9 » 0,1 cc 7 » Cultura em agar ligeiramente alcalina ao tournesol. As colonias fôram incubadas a 37° e contadas 48 horas após semeadura. A agua foi colhida ás 18 horas, quando apre- sentava temperatura morna. Mas a unica presença de bactérias não basta para con- demnar uma agua. O que a inquina é a presença nella de immundicies e matérias fecaes que se revelam pela verifi- cação de certa abundancia do bacillo coli, entre outros. Este bacillo existe normalmente nas fezes do homem e dos ani- maes e apezar de não ser considerado hoje tão pathogenico, sua presença na agua significa a possível existência neste elemento de bactérias pathogenicas que com elle têm seu habitat no intestino do homem. A pesquiza deste microbio foi feita inoculando deter- minadas porções d’agua em tubos de caldo glycosado com neutral-roth e também em caldo biliar glycosado com to- urnesol. PROCEDÊNCIA DA AGUA Caldo glycosado com neutral-roth Caldo biliar glycosado com tournesol DATA DA CULTURA Icc. de agua 5cc. de agua loc. de agua 5cc. de agua Reservatório | 1 Poço c/tampa . » s/tarapa . i Torneira Fluores- cência e gaz Fluor, e gaz >> » » » ■> » Fluores- cência e gaz Fluor, e gaz » » » » » » acido e gaz acido e gaz » » » acido e gaz » » » » » » » » » 19/G/922 19/6/922 i 19/6/922 19/6/922 O resultado consta da seguinte tabella: Como, porém, outros germens além do bacillo coli podem fermentar a glycose, uma alça de cada um destes tubos foi semeada em placas de agar de Endo. Deram colonias rubras com reflexos metallicos as aguas do reservatório e dos dois poços; a agua da torneira porém não as continha. Transportadas para agar simples e inoculadas em agua peptonada verificou-se que estas colonias eram constituidas por um bacillo muito movei, Gram-negativo, productor do indol. Como também já se verificára que taes bacillos fer- mentaram a glycose e a lactose consideraram-se estes cara- cteres como sufficientes para os identificar com o Bacterium coli commune. CAPITULO Vil ANÁLYSE CHIMICA DA AGUA DO ABASTECIMENTO DE BELÉM PELO Pharmaceutico RAIMUNDO FELIPE DE SOUSA Professor de Chimica da Escola de Pharmacia do Pará e Chimico do Instituto de Hygiene. Sob o ponto de vista chimico, podemos dizer, sem exag- gero, dentro dos limites das anályses effectuadas, que a agua de alimentação desta capital é uma boa agua po- tável, que poderá mesmo tornar-se óptima, quando fôrem melhoradas as suas actuaes condições de distribuição. Com effeito, emquanto as aguas colhidas em vários pontos da cidade apresentam reacção positiva para azotitos, cuja presença não abona a agua que os contem, o mesmo não acontece com as aguas colhidas nas próprias nas- centes, que estão isentas dos referidos saes. Do exposto, é lógico deduzirmos que a bôa agua dos mananciaes não é irreprehensivelmente distribuida. Aliás, mesmo na captação já se pode notar senões; pois, antes de entrar nas bombas que a impellem para a urbs, a agua da chamada bacia do Buiussúquára já encerra vestigios que, embora tenues, não deixam de ser—vestigios de azotitos. Entretanto, cumpre dizermos desde já, não preten- demos, de modo algum, julgar finda a nossa tarefa sobre as aguas de Belém: absolutamente não. Cremol-a tão so- mente iniciada, porque, para se avaliar com justeza uma agua potável —é indispensável analysal-a repetidas vezes, em mezes differentes, de modo a adquirir conhecimento exacto das variações de sua composição com as estações annuaes. Porém, a execução perfeita de anályses desta ordem, presuppõe um apparelhamento capaz e emprego de reactivos chimicamente puros, afim de evitar a rémora da impro- vização de apparelhos, com os recursos do laboratorio, e da purificação prévia dos productos chimicos a utilizar. Ora, tendo sido estas as circumstancias dentro das quaes se tornou mistér agirmos, bem se comprehende ser este mais um motivo para vermos nos trabalhos até agora feitos uma anályse preliminar, tão somente preliminar. Mas, como as nossas anályses incidiram de preferencia sobre a agua de abastecimento do Laboratorio (que, como sabemos, se escôa de um reservatório montado nos altos do Palacio do Governo) e a da torneira ultimamente ins- tallada, que é servida pela agua da canalização da rua,— pelos seus resultados se pode, de algum modo, avaliar a qualidade da agua distribuida á população, quer a retirada directamente das torneiras, quer a que tenha de passar por um reservatório domiciliário, antes de ser applicada aos diversos usos domésticos. Os resultados analyticos que se seguem, são, pois, os referentes a pesquizas e médias de doseamentos praticados nas aguas referidas. Para melhor os julgarmos, confrontamol-os, adiante, com os limites estabelecidos pelos hygienistas de vários paizes e com os das melhores aguas da cidade de S. Paulo (Estado de S. Paulo). Desse confronto resulta o que dissemos ha pouco: a agua de alimentação de Belém do Pará é bôa nas nas- centes, mas não é irreprehensivel na cidade. Por múltiplas razões, cuja longa explanação addiamos para integrar o futuro Relatorio definitivo, não incluímos nos resultados das anályses a chamada reacção de pol- luição: assignalámos, entretanto, que o seu resultado foi francamente positivo na agua do reservatório do Labora- torio Central e na da torneira servida directamente pela agua da canalização da rua: francamente positivo na da bacia do Buiussúquára, e negativo nas aguas colhidas nas próprias nascentes. Em face do que dito fica, reputamos aconselháveis as seguintes medidas melhoradôras: a) reparos na bacia do Buiussúquára, de modo a evitar que as aguas ahi adquiram os azotitos não encontrados âquem deste ponto; b) lava- gem completa, successiva e periódica de todos os reserva- tórios, executada na ordem crescente de seus afastamentos das mananciaes; c) filtração physica, de maneira a depu- ral-as do óxydo férrico hydratado, em suspensão. Ao terminarmos, declaramos que bem sabemos que uma agua potável sob o ponto de vista chimico absoluta- tamente não está isenta de condemnação, uma vez que esta seja exigida pelo resultado de seu respectivo exame bacteriológico: mas, não desconhecemos, também, estas pa- lavras de um competente clássico, ás quaes as auctoridades modernas têm dado a mais formal sancção: «A cidade na qual não ha cholera nem febre typhoide tem bôa agua de alimentação; e a ausência de typho em uma cidade é o mais seguro indicio da bôa qualidade de sua agua.» Ou seja: « Une ville paie au cholêra et à la fièvre typhoide, le tribut qui lui impose Vimpureté de son eau d'alimen- tation; et la fièvre typhoide est le reactif de Veau fournie à une ville.» Anályse da agua potável de Belém do Pará Reacção ao Lithmato acida Reacção á Phenol-phtaleina acida Reacção ao Azul-soluvel acida Dureza total, em grãos allemães 00,100 Dureza total, em grãos francezes . • 00,179 Dureza total, em grãos inglezes 00,125 MILLIGRAMMAS GRAMMAS POR LITRO POR 100 LITROS Oxygenio dissolvido (em c.c.) 6,217 621,7 Matérias organicas: l.° —em meio acido: a) expressas em oxygenio 2,388.000 0,238.800 b) expressas em acido oxalico crist.— C2H204,2H20 18,805.500 1,880.550 2.° —em meio alcalino: a) expressas em oxygenio 5,128.000 0,512.800 h) expressas em acido oxalico crist.— C2H204,2H20 40,855.500 4,085.550 Extracto-secco a 110° C 55,625.000 5,562.500 Perdas por calcinação 27,500.000 2.750.000 Residuo-fixo ao rubro nascente 28,125.000 2,812.500 Azotatos não tem Azotitos, expressos em anionte azo- tozo Azo 2 ;... 0,000.010 0,001.000 Azotitos, expressos em anhydrido azo- tozo Az2o3 0,000.008.3 0,000.830 Ohloruretos, expressos em chloro Cl. 2,485.000 0,248.500 Chloruretos, expressos em chlorureto de sodio NaCl 4,095.000 0,409.500 Acido Sulphydrico e Sulfuretos não tem Ammoniaco livre 0,012.000 0,001.200 Ammoniaco albuminóide 0,008.000 0,000.800 Ferro, expresso em carbonato ferrozo acido (FeH2 (CO3) 2) 2,161.891 0,216.189 158 N. j ( Milligrammas e centhne- • tros cúbicos por litro) A B I II III IV V VI VII Agua de Agua m. Agua Agua Agua Agua Agua Agua Agua Agua Belém pura pura potável potável potável potável potável potável potável do Pará Dureza total 5-15 5-15 15-20 yy inf. 30 y y inf' 30 y y 0,179 Dureza permanente 2-5 — 2-5 5-12 y y 10-20 y y inf. 15 y y — » Oxygenio dissolvido — — sup. 3 — — 68 — — — 6,217 m 1 c3 o c3 ., í em acido oxal.0. meio acido < | em oxygenio... — inf. 1 * 1-2 inf. 20 inf. 20,5 — - 18,8 2,388 h O . .tem acido oxal,°. meio alcal.°< lem oxygenio... inf. 1 inf. 1 inf, 2 1-2 — z — — — 40,2 5,128 Extracto-secco a 110 c.... inf. 150 Jy — y y inf. 500 500-800 inf. 500 inf. 500 inf. 500 55,625 Extracto-secco a 180 c ... — — inf. 400 — — — — ■— -— — Perdas por calcinação inf. 15 — inf. 40 — yy y y — inf. 50 inf. 50 27,5 Residuo-fixo ao rubro ... — — — — —. — — — ■— 28,125 Sulfatos, em SO 3 2-5 5-30 — — inf. 60 y y 80-100 inf. 60 yy — Sulfatos, em C a S04.... 3‘8 •8-50 3-8 8-50 — y y — — — —- Alcalinidade, em C a CO 3. — — y J J 5 inf. 200 y y — — y y — Magnésio, em MgO — — y J 5 5 y y y y 180-200 — y y — í Cálcio, em C a 0 — —. yy y y inf. 30 yy — — y y — Ghloro, em C 1 15 40 — — 8 y y 20-30 inf. 15 — 2,485 Ohloro, em N a C 1 27 66 27 30-70 y y inf. 50 — — inf. 20 4,095 I Ammoniaco livre — — inf.' 1 — — — — — — 0,012 | Ammoniaco albuminóide. 0,05 — 0,05-0,1 — — — — — ■ — 0,008 j Azotatos, em Az 205 — — — — — — — — — — 1 Azotitos, em Az 203 — — — — — -— — — 0,008 j mi q (Grammas e cent. cub. **• por 100 litros) r i .. III V VI VII VIII IX Agua de Belém do Pará Temperatura da fonte 19 C 20 C 19 C 20 C 18 C 16 0 16 0 14 0 20 C » do ambiente.... 23 C 21 0 22 C 20 C 24 C 18 C 19 C 17 C 23 C — Reacção ao Lithmato Neutra Ligei. ac Ligei. ac Neutra Neutra Neutra Neutra Neutra Neutra Acida » á Phenol-plitaleína.. Acida Acida Acida Acida Acida Acida Acida Acida Acida Acida » ao Azul-soluvel — — — — — — — — — Acida » pelo violeta de me- i thyla Negativa Negativa Negativa Polluida Negativa ? 9 Negativa Negativa Dureza total 1,0 2,5 3,0 1,0 3,5 2,4 2,0 1,6 2,3 0,179 » permanente sem des- conto 0,5 1,3 1,3 0,8 2,0 2,0 1,8 1,4 2,0 j Gaz earbonieo livre 95,99 109,48 67,26 81,77 115,47 26,35 10,99 11,40 23,02 253,24 — 1 Oxygenio 203,97 240,89 358,72 168,82 150,12 251,83 384,84 148,12 621,700.000 Azoto e outros 029,90 530,56 706,25 122,66 710,18 653,57 423,33 723,51 695,06 — Gazes, volumes totaes 999,80 886,93 1132,22 373,25 975,77 931,75 819,16 883,03 971,32 — Matérias organicas, em oxy- genio (meio acido) 0,0240 0,0400 0,0440 0,0320 0,0320 0,1920 0,1440 0,2960 0,1680 0,238.800 Idem, idem, idem (m. alca- lino) 0,0240 0,0320 0,0320 0,0320 0,0320 0,2160 0,1760 0,2960 0,1680 0,512.800 ; Extracto-secco a 110 0 0,5800 1,1800 2,9000 1,8400 2,1900 3,8400 3,2100 3,2000 3,9000 5,562.500 Perdas pela calcinação 0,2700 0,4800 1,0000 0,6800 0,9000 0,9600 0,7000 1,1100 0,9100 2,750.000 i Residuo-fixo ao rubro 0,3100 0,7000 1,9000 1,1600 1,2900 2,8800 2,5100 2,0900 2,9900 2,812.500 Anhydrido azotico, Az 205..■. 0,0053 . 0,0330 0,1330 0,1070 0,0590 Traços 0,0180 0,0330 Traços Não tem » azotoso, Az 203 ... Ausenc. Ausenc. Ausenc. Ausenc. Ausenc. Ausenc. Ausenc. Ausenc. Ausenc. 0,000.830 Chloruretos, em NaC 1 0,3280 0,0820 0,2220 0,3390 0,3740 0,2920 0,7140 0,3860 0,6430 0,409.500 i Acido sulphydrico e suifure- tos Ausenc. Ausenc. Ausenc. Ausenc. Ausenc. Ausenc. Ausenc. Ausenc, Ausenc. Não tem ! j Amraoniaco livre 0,000? 0.0010 0,0050 0,0003 0.0010 0,0040 0,0030 0,0020 0,0040 0,001.200 ! » albuminóide 0,0020 0,0030 0,0080 0,0003 0,0030 0,0085 0,0050 0,0040 0,0080 0,000.300 1 Matérias insolúveis 0,1560 Notas sobre os quadros de resultados analyticos de aguas potáveis Quadro n. 1.— Os números representam milligrammas e centímetros cúbicos, por litro. A dureza está expressa em gráos francezes. A —Agua muito pura.—Limites admittido pelo Comité Consultatif de França. I—Agua potável. —França. B- Agua pura. Idem, idem, pelo Laboratoire Muni- cipal de Paris. II Agua potável. Idem, idem, idem. lII Agua potável. Idem, idem, pelo Congresso de Bruxellas, de 1885. IV— Agua potável. Idem, idem, pelas Stations Agro- nomiques de França. V Agua potável.—ldem, idem, por Tiemann. VI —Agua potável.—ldem, idem, pelos chimicos belgas. VII—Agua potável. Idem, idem, pelos chimicos suissos. Quadro n< 2.—As quantidades estão expressas em grammas e centimetros cúbicos, por 100 litros; e a dureza em gráos hydrotimetricos francezes. As aguas todas são da cidade de S. Paulo (Estado de S. Paulo), das quaes umas de nascentes e outras do abastecimento. I— Agua n. 11.—Chacara dr. L. Vasconcellos.— «E’ uma bôa agua potável, mas pobre em matérias mineraes». II— Agua n. 17.— «Brilhante». 6.a parada.— «E’ uma bôa agua potável e cuidadosamente tratada. Resta que seja protegida quanto a futuras polluições. III— Agua n. 18. —«SanfAnna». é.a parada.—«E’ bôa agua potável», IV Agua n. 19.— «Crystal» Saúde.— «E’ agua potá- vel, porém com tenues vestígios de polluição». V— Agua n. 22.— «Taboão».—Pedreira do Taboão.— «E’ uma bôa agua potável». VI— n. 26.— «Cotia». (após tratamento).—« E 7 agua potável de regular qualidade. A amostra colhida neste dia é inferior á colhida em outro dia, cuja anályse se segue a esta». VII —Agua n. 27.—«Cotia».—Reservatório do Araçá.— «As aguas do «Cotia» soffrem tratamento e, por isso, a sua composição é susceptível de variante. No dia em que se fez a colheita ellas se apresentaram, do ponto de vista chi- mico, como as melhores aguas do abastecimento». VIII Agua n. 28. Serra da Cantareira. (Reunidas).— «E’ agua potável de regular qualidade, não obstante a quanti- dade de matéria organica, cuja qualidade a dosagem do azoto albuminóide indica ser na maior parte de origem vegetal. IX—Agua n. 29.—Agua Funda e Ypiranga. —«E’ agua potável de regular qualidade». CAPITULO VIII PRIMEIRO ANNO DE FUNCCIONAMENTO DO INSTITUTO DE HYGIENE DE BELÉM Pelo seu director Dr. JAYME AEEN-ATHAR Inspector sanitario rural SUMMARIO: I.—Descripção do Instituto. Movimento geral e avaliação dos serviços prestados de Junho de 1921 a Maio de 1922. 2. Pesquizas scientificas especiaes: a) A principal causa de erro da reacção deWassermann. b) Yaccinação anti-rabica. Accidentes e mortalidade. c) Notas sobre um novo processo de cultivar o Micro- coccus gonorrhmae e preparar vaccinas microbianas. d) Outras pesquizas realizadas. 1. INSTITUTO DE HYGIENE DE BELÉM Descripção do Instituto O Instituto de Hygiene resultou da fusão do antigo Laboratorío de Analyses do Estado com o Instituto Pas- teur do Pará, mais recente, que funccionava em local dif- ferente. Encorporando-os ás responsabilidades do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural, entendeu o Sr. Dr. Souza Araújo, chefe do mesmo, dotal-o duma organização capaz de attender ás múltiplas exigências duma obra qual a que dirige, subsidiaria como é a Hygiene, da Physiologia, da Microbiologia e da Chimica. Installado num dos corpos do Palacio do Governo, bella construcção do século XVIII, dispõe o Instituto de Hygiene de luz, agua, gaz e força electrica á farta, que, com as adaptações e melhoramentos executados pelo Sr. Dr. Souza Araújo, lhe asseguram os requisitos indis- pensáveis a estabelecimentos desta ordem. Em diversas salas de piso de mosaico e paredes re- vestidas do mesmo material, até a metade de sua altura, funccionam os laboratorios que correspondem a outras tan- tas secções do Instituto, cuja organização se regula natu- ralmente pelas exigências do Serviço do qual elle é um dos departamentos. Comprehende portanto o Instituto as seguintes Secções 1 —Coprologia 2 Hematologia 3 —Yenereologia 4—Tmmunologia 5 Chimica 6 Hypodermia 7 Pasteur (antigo Instituto Pasteur do Pará). 1 Secção de coprologia destinada ao exame micro- scópico das fezes. E’ seu principal encarregado o Sr. Ma- noel Arantes Júnior, probidoso e competente funccionario que tem como auxiliar o Sr. Carlos Hygino da Silva, mi- croscopista por concurso. No mesmo local funcciona dia- riamente um posto para prophylaxia das verminoses e do impaludismo, onde, todas as manhãs, accodem dezenas de pessoas, moradoras na zona urbana, e que são solicitamente attendidas pelo sr. Arantes. Até esta data fôram medica- das neste local 5.001 pessoas (verminosas: 4.360 e impa- ludadas: 641). 2 Secção de hematologia. Ãctualmente sob a respon- sabilidade do Sr. Dr. Lauro de Almeida Sodré, destina-se principalmente ao diagnostico do impaludismo e outras hemozooses. Nella trabalhou, durante algum tempo, o Sr. Dr. Ferreira de Lemos. 3—A’ Secção de venereologia e lepra incumbe o dia- gnostico microscopico da gonorrhéa, do cancro molle e da syphilis, da lepra, além de quaesquer outras pesquizas mi- croscópicas e bacteriológicas exigidas pelas necessidades do serviço. A’ sua testa está actualmente o Sr. Dr. Anto- nio Pimenta Magalhães que substituiu o Sr. Ruy Tebyriçá, bacteriologista. Em qualquer destas secções as pesquizas não se limitam ao exame microscopico, mas se desdobram também em pesquizas bacteriológicas (culturas, inocula- ções, etc.) quando assim o exige o caso. E’ excusado di- zer que todos estes trabalhos obedecem a um critério technico, a um padrão que, embora não tolhendo a inicia- tiva individual, visa obter resultados comparáveis. 4—A Secção de immunologia encarrega-se dos dia- gnósticos sôfologicos (reacção de Wassermann, soro agglu- tinação, etc.) e do preparo de vaccinas microbianas. Esta secção bem como a secção Pasteur, consagrada á immuni- zação anti-rabica, estão sob a responsabilidade do director do Instituto. 5 A secção de chimica dirigida pelo Sr. Pharmaceu- tico Raymundo Felippe de Souza, Professor da Escola de Pharmacia do Pará, incumbe-se dos exames de urina e demais perícias chimicas que digam respeito á medicina e hygiene. nstituto de Hygiene. Secção de‘Bacteriologia. Dr. Jayme Aben-Alhar, Director; Dr. Antonio Magalhães microscopista-chefe e demais auxiliares A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA Instituto de Hygiene, no Palacio do Governo. Gabinete da Chefia do Serviço. Ao centro, o Dr. Souza Araújo e os seus auxiliares da administração Snrs. Martins e Silva, Carlos Horacio e Silva, ajudante de almoxarife e guarda-lívros, e Carlos Corrêa, dactylographo. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA 6—A secção de hypodermia, destinada ao preparo dos medicamentos injectáveis está a cargo do Sr, Affonso Machado, competente funccionario, digno da confiança que o elevou a este posto. Auxilia-o o Sr. Laurival Coelho da Silva. Movimento geral cio Instituto De 16 de Junho de 1921 a 31 de Maio do corrente anno produziu o Instituto de Hygiene o seguinte trabalho: 1 Fezes. Fôram examinados 31.556 amostras deste material, para pesquiza de vermes intestinaes. Deram re- sultado positivo; 31.160, e negativo 396, verificando-se 98,74 % de infecção geral. Continham ovos de Agchylo- stoma duodenale ou Necator americanus 24.678 (78,20 %), de Ascaris lumbricoides 30.139 (95, 50 %), de Trichuris trichiura 27.473 (87,06 %), de Strongyloides stercoralis 4.231 (13,40 %), de Enterobius vermicularis 986 (3,12 %), de Taenia 10 (0,03 %), e de outros vermes 13 (0,04 %)• Apenas uma vez foi encontrado ò Schistosomum mansoni. Dos protozoários pathogenicos o unico que se encontrou foi a Loeschia histolytica, 5 vezes. Isolou-se uma vez o bacillo paratyphico A. A identi- ficação foi feita estudando-o comparativamente com bacillos do grupo coli-typhico, e pela sôro-agglutinação. 2—Sangue. Para diagnostico do impaludismo fize- ram-se 5.229 exames com o seguinte resultado: positivos 2.017, negativos 2.968, suspeitos 10 e prejudicados 234. Dos casos positivos, 1.300 eram do Plasmodium falci- parum (64,45 %); 857 do Plasmodium vivax (42,48 %), e 7 do Plasmodium malariae, e mixtas (Pl. vivax e falei- panem) 47. Filariose. Fizeram-se 2 exames ambos com resultado negativo. 3 —Pús e secreções. A pesquiza do Micrococcus go- norrhwae exigio 10.097 exames com os seguintes resulta- dos: positivos 1.072 (10,6 %); negativos 8.654; suspeitos 80 e prejudicados 291. O bacillo de Ducrey-Unna foi pesquizado em 50 exames de secreções, dos quaes fôram positivos 8, negativos 41 e prejudicado 1. Muco nasal. Para pesquiza do bacillo de Hansen neste material, fizeram-se 2.302 exames com o seguinte re- sultado: positivos 923; negativos 1.367; suspeitos 4 e pre- judicados 8. Escarro. Fizeram-se 79 exames de escarro para pes- quiza do bacillo de Koch. Deram resultado positivo 49 e negativo 30. Secreção. Não se encontrou Leishmania em nenhum dos 12 casos examinados. Falsas membranas. Examinaram-se 3 para pesquizar o bacillo diphterico que foi encontrado 2 vezes. O exame microscopico foi completado pela cultura em meio de Loeffler. Escamas da pelle. De escamas epidérmicas isolou-se 2 vezes o Epidermophyton cruris, 1 vez o Trichophyton rosaceum, 1 vez o Trichophyton persicolor. Noutros 4 casos a cultura de material da mesma especie foi negativa. No pús dum abcesso do pavilhão da orelha encontraram-se elementos arredondados de duplo contorno (Cryptococcus?) que não se desenvolveram no meio de Sabouraud. De fal- sas membranas do conducto auditivo cultivou-se um cogu- mello que foi identificado com Glenospora graphii. 4 Hemoculturas. Fizeram-se 3; só uma foi positiva para Bacillus pestis; as outras duas fôram negativas. Trypanozomos. Está em estudo um pequeno trypano- zomo, muito movei, encontrado no sangue dum pequeno macaco, (chamado macaco de cheiro, Saimiri sciureus L.). Este trypanozomo, encontrado em 45 % dos macacos exa- minados, é transmissível á cobaya matando-a entre 8 a 10 dias e em cujo sangue sua frequência augmenta com as passagens. Os macacos eram procedentes do município de Santarém. Sôro-diagnostico. Eeacções de Wassermann: no sôro sanguíneo: 3.614, sendo positivas 1.486 (41,1 %); negativas 2.015; anti-complementares 89, e prejudicadas 24. Sôro-agglutinação para bacillos do grupo coli-typhico: 2, ambas negativas. 5 Secção de chimica. Durante os onze mezes decor- ridos de I,° de Julho de 1921 a 31 de Maio de 1922, foram analisadas nesta secção 374 amostras de materiaes diver- sos, e preparados 2 productos chimicos como abaixo se discrimina: CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAES AXALVSADOS Biologicos 281 Brornatologicos 91 Industriaes 2 Total 374 ESPECIFICAÇÃO DOS MATERIAES AXALYSADOS Biologicos ) Vaccinação anti-rabica. Accidentes e mortalidade Desde o inicio do serviço anti-rabico não temos regis- tado accidente digno de nota, senão dois abcessos. As vaccinas, preparadas com as precauções asepticas de rigôr, são perfeitamente toleradas e absorvidas pelo te- cido conjunctivo sub-cutaneo, na grande maioria dos casos. Certas vezes, porém, no decurso da segunda semana de tratamento ou mais tarde, a pelle reage. As inocula- ções até então bem toleradas provocam uma infiltração da hypoderme. A pelle congestiona-se e demacia-se, perde sua elasticidade e fica dolorida. A pouco e pouco, porém, estes phenomenos corrigem-se e a tolerância reapparece sendo já normal para o fim do tratamento. A explicação destes factos parece clara: representam elles méros exemplos de anaphylaxia local que têm no phe- nomeno de Arthus um simiie perfeito. A mortalidade verificada neste Serviço merece um commentario mais demorado. A mortalidade da raiva canina tem sido diversamente apreciada. A maioria dos auctores fixa entre 10 e 20 por cento a proporção de pessoas que, mordidas por cães rá- bicos e não tratadas, contrahiram a raiva. Remlinger orça em 15 por cento este numero. Babés (Traité de la rage, 1912) considerando que grande numero de dentadas não são registradas, ao contrario dos casos de raiva que nunca passam despercebidos e comparando o computo das pes- soas mordidas antes e após a instituição do tratamento pasteuriano, acha exaggerado avaliar em 10 por cento a mortalidade das pessoas mordidas e não tratadas, reduzin- do-a, por isso a 5%, apenas. Seja como fôr, o que é certo é que o tratamento abateu para menos de 1% a letali- dade da raiva, provento em que não se inclue a sua influ- encia sobre outras manifestações do virus rábico, menos dramaticas ainda que tão letaes como a raiva aguda, por todos inconfundivelmente identificável. A. Remlinger (Annales de Vlnstitui Pasteur, 1919) admitte, com effeito, que o virus rábico nem sempre se destróe na séde das dentadas, como é ponto assente. Pelo contrario, é muito possível que, mais frequentemente do que se julga, se localiza elle nos centros nervosos; onde, gradualmente, fenece quando causas opportunas (trauma- tismo, emoções, resfriamentos) não lhe acodem e provocam a explosão da moléstia. Certos factos animam a crer que o virus rábico attenuado póde gerar syndromas nervosas variadas e até syndromas de alienação mental. J. Cour- mont e Lesieur (Journal de Phys. et path. générale, 1906) responsabilizaram-no por certos casos de myelites transver- saes, hemiplegias, accessos apoplectiformes, etc. Neiva (Me- mórias do Instituto Osivaldo Cruz, 1916) encontrou no Bra- sil central grande numero de casos duma curiosa moléstia (disphagia espasmódica, mal do engasto, entalo ou engas- gue) cujas possíveis relações etiologicas com a raiva já tivemos occasião de sublinhar noutro locál (Pará-Medico, 1920). Assim raciocinando, pode muito bem ser que as esta- tísticas dos serviços aiiti-rabicos apparentem menos do que realmente contêm... Quando iniciámos o nosso serviço, impossibilitado de adoptar, por motivos economicos, o methodo de Hõgyes, na nossa opinião processo mais scientifico de vaccinação anti-rabica, decidimos seguir a fórmula preconizada pelo Instituto para o estudo das moléstias infectuosas de Berna. Seu mérito pareceu-nos conter-se no seu eclectismo, concilia- tório dos juizos extremados que regem a immunização anti-rabica. Iniciando o tratamento com medullas de 10 dias desce até a medulla de 2 dias, num praso de 18 a 21 dias, consoante a gravidade das dentadas, administradas do seguinte modo: Dia de tratamento Edade da medulla Dia de tratamento Edade da medulla l.° 10- -9 dias 12.° 4 dias 2.° 8- -7 » 13.° 3 3.° 6 » 14° 3 » 4o 5 » 15.° 5 » 5.° 4 » 16.° 4 » 6.° 3 17.° 3 » 7.° 3 » 18.° 2 » 8.° 6 » 19.° 2 » 9.° 5 » 20.° 3 » 10.° 5 24° 2 » 11.° 4 » Desta maneira, refugando o methodo clássico de Pas- teur que emprega medullas de 15 a 3 dias, também não abraçavamos processos mais intensivos e audaciosos nos quaes toda a immunização se faz com medullas virulentas. Ao mesmo tempo procurámos reforçar o tratamento lan- çando mão do soro anti-rabico fornecido por carneiro im- munizado segundo a technica de Marie (A. Marie. Étude exp. de la rage, 1909). Conseguimos assim obter sôros capazes de neutralizar in vitro, de 40 até 100 vezes o seu volume de emulsão centesimal de virus fixo. Ao contrario de Marie que o emprega de mixtura com um pequeno excesso de virus fixo no inicio do tratamento, e de Babés que o injecta no fim do tratamento, pensámos que melhor seria inocular o sôro puro no inicio do tratamento, conjun- ctamente com a primeira dose de vaccina. Assim fazendo esperávamos colher o melhor da sôrotherapia anti-rabica, com a introducção no organismo de anti-corpos especificos numa épocha em que melhor lhe aproveitariam por menos provável a localização do virus na cellula nervosa, sem prejuizo, antes com vantagem para a immunização activa, consequente á applicação da vaccina. E’ difficil apreciar a acção preventiva do sôro anti- rabico. In vitro neutraliza elle incontestavelmente o virus rábico. Experimentalmente, porém, a susceptibilidade va- riável dos cobayos para o virus fixo inoculado nos mús- culos (nos musculos porque queríamos, na medida do pos- sivel, approximarmo-nos das condições naturaes de infecção) invalida qualquer conclusão. Nas experiencias tentadas, que se não detalham para poupar espaço, não lográmos constatar nenhum poder preventivo no sôro anti-rabico, muito embora o seu apreciável titulo neutralizante (1/40.) Todos os cobayos inoculados, prévia, contemporânea ou consecutivamente á administração do sôro com virus fixo nos musculos da nuca, morreram dentro do mesmo praso das testemunhas, que muitas vezes lhes sobreviveram por muitos dias. O sôro era administrado por via subcutânea no intuito de evitar complicações cyto-toxicas ou anaphy- lacticas bruscas. Apezar do insuccesso, não consideramos, entretanto, encerrado o assumpto porque a sôrotherapia anti-rabica não foi ainda abordada com o critério que ten- tamens desta ordem exigem, quando, como no caso em apreço, se lida com germens não cultiváveis. A inoculação do antigeno, de mixtura com os tecidos em que elle proli- fera, desperta no animal inoculado não só a formação do anti-corpo especifico, mas também de cyto-toxina, precipiti- nas e agglutininas que lhe mascaram a acção especifica como P. Éoux, O. H. Robertson e J. Oliver (Journ. of Exp. Med., 1919, 1920) o demonstraram e de que é um exemplo concreto o sôro anti-typhico de Nicolle e Blaisot (Annales de Vlnst. Pasteur, 1916), efficaz no typho exanthematico ainda que excessivamente toxico. O méro tratamento des- tes sôros com globulos vermelhos ou com o tecido homo- logo normal, apezar de despojal-os de suas cyto-toxinas, agglutininas e precipitinas, com prejuizo, aliás, de seu teor especifico, não lhe diminue a acção toxica (P. Roux, Rober- tson e Oliver, 1. c.). Dahi talvez o contraste observado na acção do sôro anti-rabico in vivo e in vitro que, entre- tanto, não é neurotoxico consoante a affirmação de Marie, que também podemos attestar. O facto é que, qualquer que fosse o motivo, a sôro- vaccinação não melhorou a estatística do nosso serviço: a mortalidade registrada em 1918 foi de 0,59 % e em 1919 0,73 %. Dado o numero de pessoas tratadas o resultado não pode ser considerado muito brilhante. Assevera Babés que todos os institutos anti-rabicos têm logrado resultados comparáveis. A mortalidade oscilla entre 0,20 e 0,40 % e excepcíonalmente excede de 0,50 % ou desce a menos de 0,10 %. Em matéria de vaccinação anti-rabica ha um facto que deve ficar desde já assignalado: a mortalidade na Euro- pa, nos paizes mais cultos pelo menos, é menor do que nas respectivas colonias de além-mar. Assim em Paris, em 1918, de 1.803 pessoas tratadas morreram 3 ou 0,16 % e em 1919, de 1.813 morreram 3 ou 0,16%; a mortalidade média das 44.880 pessoas tratadas de 1886 a 1919 é de 0,31 %. Em Lyon, de 1900 a 1917, das 11.094 pessoas tratadas mor- reram 10 ou 0,09%; em Florença, de 1899 a 1918, recebe- ram o tratamento anti-rabico 7.612 pessoas das quaes só 7 contrahiram raiva (0;91 %). Na índia o Instituto Pasteur de Casanli accusa um passivo de 0,68 % em 22.519 pessoas tratadas de 1912 a 1916; em Coonor, na índia, ainda a mortalidade sobe a 0,73% na década 1907-1917. Que factores poderão contribuir para estas differen- çasV Babés affirma que as dentadas de lobos, nas regiões em que os ha, augmenta a porcentagem dos insuccessos; a seguir accusa o praso, muito variavel segundo os paizes em que os mordidos recorrem ao tratamento anti-rabico. Puntoni (V. Puntoni.—Annali d'lgiene, Poma, 1921) produz um facto que si fôr confirmado dará a explicação de muitos destes insuccessos regionaes e ao mesmo tempo em que singularmente ha de completar a vaccinação anti- rabica: a pluralidade do virus rábico. Em suas pesquizas deparou elle com um virus de rua fruindo propriedades biológicas differentes das do virus fixo e dum virus de rua de outra procedência. Não procurámos averiguar esta affirmativa que, por analogia com outras infecções nada tem de inconcebível. Mais duma vez, porém, visando conhecer a actividade do sôro anti-rabico por nós preparado, tivemos ensejo de ve- rificar a identidade do virus fixo de nosso laboratorio com o virus de rua de Belém: KIXTUSAS (Inoculação intra-cerebral) ANIMAES RESULTADOS Bulbo de cão diluído a 1/100 —sôro anti-rabico diluido a 1/10 (12-7-918) Cobayo (350 gr.) Besiste i Bulbo de cào diluido a 1/10 1 (12-7-918) Cobayo (450 gr.) Raiva (25-7-918)| Bulbo de cão dil. a 1/100 — sôro anti-rabico dil. a 1/10 Cobayo (400 gr.) Resiste Bulbo de cão dil. a 1/10 Cobayo (400 gr.) Raiva (3-1-920) 1 O insuccesso, pois, da vaccinação anti-rabica não se contêm totalmente nas causas acima apontadas. Estamos persuadido que muito contribue para elle, também, a saude das populações tratadas. Na índia autõchtones e europeus tratados com a mesma vaccina reagem differentemente. Em 10 annos, de mil europeus vaccinados, apenas um contrahiu raiva emquanto que, no mesmo periodo, morriam 100 hin- dús dos 8.000 vaccinados contra a mesma moléstia (J. W. Cornwall. Annual report Inst. Pasteur of Souther índia, 1917). Semple (Britsh Med. Journ., 1919) consigna tam- bém o mesmo facto: a mortalidade dos hindus vaccinados é de 0,68 % emquanto que a dos europeus é de 0,19 %. Na Argélia, na Malasia, na Indo-China os insuccessos são mais frequentes entre os indígenas do que entre os europeus (Babés, 1. c.). A resistência ás infecções depende das condições geraes do organismo. Não vale reproduzir aqui a série enorme de provas que argumentam em prol deste asserto. A nossa experiencia de todos os dias deu foros de trivialidade á menor resistência dos coelhos doentes ao virus rábico. Não ha ousadia em transferir esta noção a populações como as nossas, consumidas pelo impaludismo e pelas verminoses. Sua immunização impõe portanto maiores doses do anti- geno do que aquella que basta ao camponio francez, por exemplo. A vaccinação anti-rabica deve, pois, assumir feição regional, variavel com as condições de saúde reinantes. O successo colhido nestes dois últimos annos parece ter relação com a nova formula de immunização que ado- ptámos em 1920 e que é a seguinte: Tia de tratamento Edaàe da medulla Dia de tratamento Edade da medulla l.° 6 dias 12.° 3 dias 2.° 5—4 dias 13.° 3 » 3.° 4—3 * 14.° 2 » 4.° 3 15.° 2 » õ.° 3 16.° 4 » 6.° 2 » 17.° 3 7.° 2 » 18.° 2 » 8.° 1 » 19.° 3 » ■ 9.° 5 » 20.° 2 » 10.° 4 » 21.® 1 £ 11.° 4 » . O tratamento dura 18 a 21 dias, conforme a gravidade do caso, e consta duma injecção diaria de 2,5 c. c. da sus- pensão de 1/2 cent. de medulla em 3 c. c. de solução phy- siologica, sem addicção de substancia anti-septica nenhuma. Em 1920 e 1921 não registrámos insuccessos; a morta- lidade foi nulla. Este exito deve ser attribuido á intensi- ficação da vaccinação, porquanto parece certo que a viru- lência da raiva canina não se modificou, a julgar pelo resultado das inoculações no cobayo. Este animal é, com effeito, um excedente reactivo biologico da raiva, mais sensível mesmo do que o coelho (Nicolle, Remlinger, Ba- bes). Em nosso serviço os cobayos inoculados com virus de rua, morreram, na média, de raiva, em 1917, em 19 dias, e 1918, em 18 dias, em 1919, em 14 dias, em 1920, em 16 dias. A fórma furiosa excedeu de muito, em frequên- cia, a todas as outras manifestações clinicas da raiva. O emprego de medullas virulentas não parece ser tão perigoso como já se suppoz. O accentuado cyto-tropismo do virus fixo permitte recorrer, pelo menos no homem, ao germen vivo que não se cultiva no tecido conjunctivo. Elle faz parte do grupo dos virus neurotropicos tão bem estudados recentemente por Levaditi,. Harvier e Nicolau (G. R. Socíeté de Biologie, Julho, 1921). Todos estes virus (o da encephalite, o da raiva, da polyomyelite, o herpetico e o da vaccina) apparentam certas analogias: fil- trabilidade, invisibilidade, conservabilidade na glycerina, re- sistência egual e incultivabilidade. Si sua affinidade pelos tecidos de origem mesodermica é quasi nulla, bem grande é, em compensação, para os tecidos de origem ectodermica (epithelio da córnea, epiderme, mucosa naso-pharyngeana e buccal e systema nervoso central). Ha, porém, manifesta eleição de cada qual destes virus por um ou outro destes tecidos de origem ectodermica, O virus vaccinico tem pre- dilecção constante para a epiderme e para o epithelio cor- neo e inconstante para o tecido nervoso. Póde, entretanto, adaptasse ao systêma nervoso central (A. Marie) perden- do, então, mais ou menos, o seu dermato-tropisrao. O virus encephalitico tem o máximo de affinidade ectodermica geral podendo inserir-se em todos os tecidos derivados da ecto- derme. Pelo contrario, o virus herpetico que hoje se filia ao grupo encephalitico, manifesta uma affinidade constante para a pelle e para a córnea, mas inconstante para o cerebro. O virus polyomyelitico não tem affinidade alguma para a pelle nem para a córnea e para a mucosa rhino-bucco-pha- ryngea, mas exclusiva para o systêma nervoso central, prin- cipalmente para a medulla. A affinidade electiva do virus rábico é para o systêma nervoso central. Accentuada no virus da rua é maxima no virus fixo que graças a esta adaptação realiza o typo ideal da vaccina, porque se póde empregal-o vivo, sem lhe desnaturar as propriedades anti- genicas. Dahi a vantagem em usar medullas virulentas que, abundando em germens vivos, promovem uma immu- nidade mais prompta e garantida. Conclusões A vaccinação anti-rabica procedida com as devidas cau- tellas de asepcia é innocua. O sôro anti-rabico, preparado segundo a technica cor- rente, isoladamente não previne a raiva nos cobayos nem reforça a vaccinação anti-rabica do homem, apezar de neu- tralizar, in vitro, tanto o virus fixo como o das ruas. A mortalidade da raiva é funcção do estado sanitario das populações, o que exige correlativamente um methodo de vaccinação mais energico em regiões onde as endemias reinantes diminuem a resistência da gente. A vaccinação deve ser feita com medullas virulentas de 6 a 1 dias ou com virus fixo fresco convenientemente diluido. c) Notas sobre um novo processo de cultivar o Micrococcus gonorrlioeae e preparar vaccinas microbianas O Micrococcus gonorrhocae é incontestavelmente um dos microbios mais difficeis de cultivar. Dum modo geral sabe-se que exige meios albuminosos e já, pelo grande nu- mero de regras aventadas, se póde inferir que em nenhum desses meios o gonococco se desenvolve constante e luxu- riantemente, quanto o requerem as necessidades praticas. Bumm aconselha sangue humano, de placenta, coagu- lado; Wertheim, sôro humano e agar peptonado em partes eguaes; Kral acenselha sôro de novilho e agar peptonado em partes eguaes; Kieffer recommenda liquido asei tico e agar peptonado (a 3 a 4%) giycerinado; Hammer usa urina muito albuminosa esterilizada por filtração ou aque- cimento descontinuo; Wassermann recorre ao sôro de porco diluido com dois volumes d’agua e addicionado de 6 a 8 % de glycerina e 2 % de nutrose, que se usa assim liquido ou mixturado com porção egual de agar peptonado; Stein- schneider emprega agar a 3% com 2% de gemma cTovo e accrescido de 3 volumes de agua esterilizada e 0,1 c. c. de solução de phosphato de sodio a 20%; Pelletani recom- menda liquido amniotico mixturado com urina de féto e agar preparado com caldo de carne de féto; Wildholz, agar com 5 % de pseudo-mucina; Weil e Noiré, sôro de leite diluido em partes eguaes com agua peptonada a 2 %, addicionado de agar a 1,6 % mais 1 % de saccharose e 0,35 % de uréa. Lumière e Chevrotier servem-se dum meio composto de albumina, sôro de cavallo, mosto de cerveja e agar peptonado. O agar-sangue preparado conforme as indicações de Besançon e Griffon ou de Pfeiffer tem sido também recom- mendado como muito proprio para cultivar o gonococco. Não colhemos resultados com alguns dos processos acima ennumerados; mesmo com albumina humana raras vezes conseguimos isolar do pús urethral o gonococco e isto mesmo só quando empregamos sangue. Com sôro de cavallo ou de homem e com liquido ascitico o insuccesso foi constante. Carpano (Annali cVlgiene, 1919) recommenda o se- guinte processo de isolamento e cultura do Micrococcus gonorrhceae que, por sua facilidade de execução e pelos resultados que fornece, merece ser divulgado: consiste o methodo no emprego dum meio composto de agar e sôro hemoglobinico de cavallo que lhe valeu também muito successo na cultivação do Bacillus influensce. O meio em questão é preparado com agar duro (caldo de carne de cavallo com 2,5 % de agar) que se neutraliza primeiro em presença de phenol-phtaleina e depois se aci- dula juntando-lhe 4 % de acido chlorhydrico normal. A este agar assim preparado, encorpora-se depois o sôro hemoglobinico de cavallo. O sôro hemoglobinico de cavallo é de facil obtenção. Basta recolher em pequenos balões esterilizados, contendo pérolas de vidro, e com as devidas precauções asepticas, o sangue deste animal que se desfibrina more soiito. Em seguida vão os balões para a estufa a 37° C. onde permane- cem dois a tres dias e d’ahi passam para a geladeira na qual demoram um a dois mezes, até a hemolyse total dos globulos vermelhos. O sôro que adquire uma côr verme- Iho-escura, sem prejuízo de sua transparência, é então se- parado e fechado em ampollas e guardado na geladeira. O preparo dos terrenos de cultura é simples e expe- dito: basta juntar a cada tubo contendo o agar aconselhado umas 10 gottas de sôro hemoglobinico que deve embeber toda a superfície deste substracto. Estes tubos devem ser postos na estufa a 37° C. durante 24 horas para-verificar-lhes o possível inquinamento. Também se póde incorporar o sôro á massa do agar. A cada proveta contendo 10 c. c. de agar fundido e resfriado a 40° juntam-se 2 c. c. de sôro hemoglobinico. Effectuada a mixtura o agar é posto a so- lidificar em plano inclinado ou vasado em placas de Petrí esterilizadas. Obtivemos os melhores resultados com este meio de cultura, ligeiramente modificado no tocante ao substracto. Basta com effeito usar o agar peptonado usual, ligeira- mente alcalino ao totwnesoL. A addição do acido chlorhy- drico além de não influir no desenvolvimento do germen tem a desvantagem de comprometter a solidificação da ge- lose que amollece e não adhere bem ás paredes do tubo, tendendo assim a escorregar e accumular-se no fundo do recipiente, e difficultar a colheita da cultura. A 37° já se podem ver por transparência, 24 horas apóz a semeadura, as colonias, refringentes, arredondadas e granulosas do gonococco. Vistas á luz reflectida são lu- zidias e acinzentadas; são viscosas na consistência e se destacam e dissociam com certa difficuldade. Ao microsco- pio depara-se com coccos arredondados, dispostos aos pares ou em cadeias, uniformes nas dimensões um tanto grandes e Gram negativos. Quanto á vitalidade do gonococco neste meio de cul- tura, ao contrario do que affirma o seu auctor, que os en- controu vivos mesmo após 60 dias, mantidos a 37° em tubos fechados com paraffina, verificámos que ella cessa em 3 dias, tanto na estufa como á temperatura ambiente, o que impõe a repicagem frequente das culturas. Graças a este processo que nos permittiu isolar e cul- tivar o gonococco do pús blennorrhagico pudemos fornecer ao Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas e ao Hospital S. Sebastião, seu annexo, vaccina anti-gonococcica que deu resultados apreciáveis no tratamento da gonorrhéa e suas complicações. A voga da proteinotherapia, .das vaccinas e sôros he- terologos, muito tem contribuído para abalar o prestigio tantos annos usufruído pela immunização especifica. O proprio Wright, após os factos que observou no Transwall, concluiu pela existência duma immunização collateral que em certos casos constitue apreciável recurso therapeutico. A ennumeração dos successos obtidos pela bacterio- therapia especifica bem como a discussão dos successos lo- grados levar-nos-hia muito longe. Por ora, o que intentamos frisar é que muito tem valido para prestigiar o modo de preparar as vaccinas que, compromettendo-lhes o valôr antigenico, ao mesmo tempo lhes arrebata muito de sua especificidade. As vaccinas microbianas provocam no homem ou nos animaes duas especies de reacções: especificas, de que dão testemunho a subsequente apparição de anti-corpos e não especificas, thermicas e leucocytarias (M. W. Perry e J. A. Kclmer. Journ. of ImmunoL, 1918). Pick demonstrou que o calor, o frio, a coagulação parcial alteram a estru- ctura das molleculas da albumina: quando um antigeno é aquecido produz um anti-corpo que reage melhor com o antigeno modificado pelo calor. A sua especificidade, po- rém, não é totalmente abolida porque elle não reage com antigenos aquecidos de especie differente. Modificações mais profundas do antigeno alteram tanto a estructura de suas molleculas que lhe acarretam a perda dos caracteres peculiares á especie, a ponto de produzir um anti-corpo que, reagindo embora com o antigeno modificado, fica inerte em presença do antigeno intacto. Kolmer e Perry (1. c.) estudaram os effeitos, no coelho, duma série de vaccinas anti-typhicas preparadas com ba- cillos autolysados na agua destillada, com bacillos aque- cidos a 56° durante uma hora, com bacillos mortos pelo tricresol a 0,25 °/0, e pelo mercuropheno, com bacillos vivos e com bacillos sensibilizados mortos por acção do álcool. Todas estas vaccinas provocaram uma ligeira reacção leucocytaria e thermica. No tocante porém á pro- ducção de agglutininas e á fixação do complemento, o pri- meiro logar coube ás vaccinas preparadas com bacillos vivos ou autolysados, seguindo-se em ordem decrescente as vaccinas preparadas com bacillos mortos pelo mercurophe- no, pelo tricresol, pelo calor e pelo álcool. Levy delia Vida (Annali 1919) chegou ás mesmas conclusões experimentando com vaccinas prepara- das com bacillo paratyphico B aquecido a 60° durante uma hora ou tratado pelo fluoreto de sodio a 0,7 %, pelo formol a 0,5 %, pelo bi-chloreto de mercúrio a 0,025 °/0, pelo li- quido de Lugol a 10 °/0, pela chloretona a 0,5 °/0 e pelo ether a 37° durante 12 horas. As melhores vaccinas, no ponto de vista antigenico, fôram as preparadas com bacillos mortos pelo acido phenico e pelo formol. Também Carpano (Annali d'lgiene, 1920) verificou que os sôros anti-es- treptococcicos obtidos por inoculação de germens vivos são muito mais anti-infecciosos do que sôros da mesma especie fornecidos por cavallos tratados com estreptococcos aque- cidos a 60° durante uma hora. Infere-se destes exemplos que o methodo de Wright para preparar vaccinas, e que consiste em aquecer entre 55° e 65°, durante uma hora, as culturas ou suspensões bactericas, ás quaes se juntam empós lysol ou acido phe- nico em proporções convenientes, apezar de universalmente adoptado, muito compromette a acção therapeutica ou pro- phylactica destas vaccinas. Por isso mesmo decidimos abo- lir esta pratica, cingindo-nos a empregar o acido phenico, exclusivamente, que, na dose de 0,25 %, mata num periodo de tempo mais ou menos lento, variavel com as bactérias e a massa de germens, a maioria dos microbios pathogeni- cos e ao mesmo tempo garante a esterilidade das vaccinas que, aliás, devem ser preparadas dentro das regras da mais perfeita asepsia. As múltiplas occupações do serviço não nos permitti- ram, neste anno, justificar com dados experimentaes as vantagens desta modificação da technica. Mas o que temos visto applicando vaccinas phenicadas não aquecidas e vac- cinas aquecidas leva-nos a crêr que a intangibilidade do antigeno, resalvadas naturalmente as condições individuaes, que influem também na immunização, é o penhor máximo da especificidade e, portanto, da efficacia da vaccina. Concluímos, pois, que o methodo de Garpano, é o me- lhor processo de cultivar o gonpcocco e que as vaccinas microbianas não devem ser aquecidas. d) Outras pesquizas realizadas Tinhas cutaneas. As tinhas tonsurantes são muito raras no Pará. No couro cabelludo temos encontrado até esta data o Trichophyton violaceum (2 casos), o Trichophyton plica- tile (1 caso) e Microsporum equinum (1 caso). Isolámos também uma vez o Trichophyton crateriformis, este caso, porém, era, verosimelmente, de importação. A tinha fôra, provavelmente, contrahida em Lisboa, donde acabava de chegar a creança. Na barba, ainda não nos foi dado registrar manifesta- ção trichophytica nenhuma. Em compensação, porém, as tinhas da pelle glabra são de observação corrente, frequen- tíssimas como também o observou o Sr. Dr. Souza Araújo, tanto na capital, nos dois serviços, de lepra e de venereo- logia, como nas suas excursões pelo interior do Estado. Além da pityriasis versicolor em cujos exames nunca logrei vêr senão Malassezia furfur, Robin, as impigens são muito frequentes e se singularizam pelo seu aspecto clinico que aberra muitas vezes do herpes circinado por sua generalização, pela multiplicação e fusão das placas elementares desta dermatose ordinariamente discreta, redu- zida a limitado numero de círculos que se acantonam em determinadas regiões da pelle. Varias regiões podem ser attingidas no mesmo indiví- duo, ao mesmo tempo: as axillas, os braços e ante-braços, as mãos, a região malleolar, as pernas, a região poplitéa, as coxas e as virilhas, a região glútea, as regiões lombar e dorsoescapular, os hypochondrios mais a região umbilli- cal, a face podem ser invadidos por grandes placas sa- lientes, arredondadas, de contornos irregulares, mais ou menos vermelhos, constituídos pela confluência de pequenas vesículas, que muitas vezes se infiammam tornando-se pu- rulentas. Em 8 collegiaes tratados pelo Sr. Dr, Souza Araújo, da cultura das- escamas, parasitadas por um mycelio fle- xuoso, ramificado, pluriseptado e continuo ou dissociado em artículos ovoides ou esphericos, brotou em dois casos o Epidermophyton cruris, noutros dois o Trychophyton ro- saceum e num o Trichophyton persicolor. O Trichophyton rosaceum e o Epidermophyton cruris são, com effeito, os responsáveis mais frequentes por estas dermatoses. A predilecção do Trichophyton rosaceum pela pelle glabra onde elle provoca lesões de vastidão e exhuberan- cia inéditas é, a par de sua ausência nos phaneros cutâ- neos, onde nunca foi encontrado, facto que merece especial menção, porque lhe resulta disto uma historia clinica dia- metralmente opposta á que lhe traçaram na Europa. Ao envez dum parasito quasi exclusivo da barba surge-nos aqui, na pelle com lesões que nada têm de seccas, nem de torpidas, nem de apagadas. Parece assim que as tricho- phycias podem ter physionornia clinica particular a cada paiz, consoante causas mal averiguadas ainda, relativas á ambiencia, ao terreno e á virulência do cogumelo. Um caso de oto-mycose. Num caso de otite externa encontrámos um cogumelo que julgámos poder identificar com Glenospora graphii. O parasito muito abundante nas falsas membranas que se destacavam da mucosa do con- ducto auditivo medrou muito bem em agar Sabouraud, co- brindo em poucos dias a superfície do meio de cultura dum crescimento flocuoso a principio niveo e mais tardo amarello-escuro, olivaceo quasi preto. Os filamentos do thallo são septados, transparentes e incolores no começo e mais tarde amarello-escuro. Os hyphos ferteis são erectos, septados de longe em longe mais rectos e mais finos do que os filamentos mycelianos, ramificados e terminando por um conidio (aleuriosporio) ovoide, de paredes lisas e de côr cinzenta quando amadurecem. Trypanozomo do macaco. Com o Sr. Dr. Souza Araújo encontrámos no sangue dum macaco de cheiro (Saimiri sciureus L.) um pequeno trypanozomo dotado de grande mobilidade. Apezar de muito escasso, verificou-se a sua presença em 45 % de outros macacos da mesma especie que fôram examinados. E’ transmissível ao cobayo para o qual sua virulência cresce de passagem a passagem, até matal-os em 8 dias. O estudo deste trypanozomo vae ser proseguido. REGULAMENTO INTERNO DO INSTITUTO DE HIGIENE DE BELÉM DO PARÁ O Dr. Chefe do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural no Estado do Pará, resolve, para bem do publico serviço, fundir o Instituto Pasteur do Pará com o Labora- torio de Anályses do Estado, secções recebidas do Serviço Sanitario Estadoal em 16 de Junho de 1921 e passadas para a superintendência daquelle Serviço, por decreto do Governo do Estado, baixado no dia 21 do mesmo mez e anno, sob numero 3.844, em um unico departamento sob a denominação de Instituto de Hygiene de Belém do Pará. O Instituto funccionará na parte lateral do Palacio do Go- verno, com frente para a rua D. Thomazia Perdigão, onde se acham installadas o Gabinete da Chefia e outras secções do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural. Art. l.°—O Instituto de Hygiene de Belém do Pará será mantido pela verba «Prophylaxia Rural» do accôrdo da União com o Estado, e comprehenderá as seguintes secções, cinco das quaes fôram creadas na superintendência federal: 1 Coprologia ' 2 —Hematologia 3 Venereologia 4 Immunologia 5 —Chimica (antigo Laboratorio de Anályses do Estado) 6 Hypodermia 7 Pasteur (antigo Instituto Pasteur do Estado) Art. 2.°—O Instituto de Hygiene, ora regulamentado, destina-se especialmente ás pesquizas scientificas que in- teressarem directamente á Hygiene e á Saúde Publica e tendentes a elucidar vários problemas referentes á Patho- logia regional. Art. 3.° —Serão gratuitos todos os exames requisitados pelos directores, chefes ou assistentes do Instituto de Pro- phylaxia das Doenças Venereas, do Instituto Therapeutico da Lepra, da Leprosaria do Tocunduba, do Hospital S. Se- bastião e dos Postos e sub-postos sanitários ruraes, desde que taes exames sejam de material colhido entre os doen- tes matriculados e em tratamento nessas dependencias da Prophylaxia Rural. Art. 4.° —Os exames requisitados pelos directores dos Serviços Sanitários estadoal e municipal, Serviços Medico- legal e de Assistência Publica do Estado, para fins de es- clarecer assumptos de interesse da Saúde Publica, e pelos chefes de clinicas dos hospitaes de caridade do Estado, para doentes indigentes, internados ou em tratamento nos mesmos, serão também gratuitos, Art. 5.° —Os exames requisitados para doentes de cli- nica privada serão pagos adeantadamente, no almoxarifado do Serviço, de accôrdo com a tabella annexa. Art. 6.°—O tratamento anti-rabico feito na Secção Pas- teur custará 908000, sendo, entretanto, gratuito para os in- digentes e pessoas reconhecidamente pobres. Art. 7.° Rara Director do Instituto o Chefe do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural designará um inspe- ctor sanitario especialista, e para assistentes dois sub-inspe- ctores sanitários, médicos ou bacteriologistas, nomeados ou contractados, um chimico e tantos microscopistas quantos necessários. Art, B.° —Da renda bruta das varias secções do Insti- tuto serão retirados 20 °/0 para o respectivo Director e o saldo recolhido ao almoxarifado do Serviço para acquisi- ção de animaes de experiencia e outros gastos eventuaes da Secção Pasteur, que é de todas a mais dispendiosa e necessita sempre de fundos para as despezas de prompto pagamento. Belém, l.° de Janeiro de 1922. Dr, Heraclicles Cesar de Souza Araújo, Chefe do Serviço. Tabella de preços de exames do Instituto de Hygiene a que se refere o art. 5.° do respectivo Regulamento Interno 1 —Reacção de Nonne (para diagnostico da sy- philis nervosa) 150$000 2 —Reacção de Abderhalden (para diagnostico precoce da gravidez ede tumores malignos). 1508000 3 Reacção de Uhlenhuth (para fins medico- legaes) 1008000 4 Reacção de Wassermann (no sangue ou no liquido cpphalo-rhachêano, para diagnostico da syphilis) 508000 5 Reacção de Grúber-Widal (para diagnostico das febres typhicas ou paratyphicas, etc.) 508000 6 Diazo-reacção de Ehrlich 20$000 7 Exame bacteriológico de aguas 2008000 8 —Exame bacteriológico de fézes 508000 9 —Exame bacteriológico de urina 508000 10 Exame completo de urina 508000 11—Exame quantitativo de urina, por elemento.. 208000 12 Exame cytologico de urina 208000 13—Exame bacterioscopico de urina 208000 14 —Exame qualitativo de urina, por elemento ... 108000 15 Exame directo de sangue para diagnostico do Impaludismo, etc 208000 16 —Exame de sangue: contagem global 258000 17 Exame de sangue: contagem especifica 258000 18—Exame de sangue: taxa de hemoglobina 108000 19—Exame cytologico de liquido pleuritico ou do liquor 30$000 20 —Exame bacterioscopico de ulceras (syphilis, leishmaniose, ulcera phagedenica, granuloma venereo, dermatomycoses, etc.) 30$000 21—Exame bacterioscopico de muco nasal (para diagnostico da lepra, da ozena, etc.) 20$000 22 Exame bacterioscopico de escarro (para dia- gnostico de tuberculose, aspergillose, pneu- monia, espirochetose, etc.).. 20$000 23—Exame bacterioscopico de pús (para diagnos- tico de cancros venereos, de pustulas, furun- culos, abcessos, tumores, etc.) 20$000 24 Exame microscopico de fézes (para pesquiza de protozoários parasitos e vermes intestí- naes) 20|000 Culturas microbianas 25—Semeadura de sangue (para diagnostico das infecções typhica, paratyphicas, dysenteria ba- cillar, doença de sokodú, febre puerperal, ba- cillemia, etc.) .. 50$000 26 Semeadura de tecidos pathologicos (para vá- rios diagnósticos) 50$000 27—Semeadura de pús (para diagnostico da tu- berculose externa, de abcessos, peste, blasto- mycose, etc.) 50$000 28 Semeadura de fezes (para diagnostico da cho- lera, infecções do grupo coli-typhico, etc.)..... 1001000 Inoculações* experimentaes 29 —lnoculação de pús, escarro, urina, liquidos e tecidos pathologicos 50$000 Yaccinas 30 —Preparação de vaccinas autogenas, (para tra- tamento de acne, furunculose, febre typhoide, etc.), cada série 501000 Belém, l.° de Janeiro de 1922. Nota. Estes preços serão angmentados de 20 % quando a colheità do material a examinar íòr feita na residência do doente. O Instituto executa também quaesquer exames bromatologioos, por preços convencionados. CAPITULO IX FISCALIZAÇÃO DO EXERCÍCIO DA MEDICINA E POLICIA SANITARIA PELO Br. JOÃO PINTO DE OLIVEIRA Sub-inspector encarregado dessa fiscalização Iniciados nesta cidade os trabalhos da Commissào de Saneamento e Prophylaxia Rural, o Dr. Chefe do Serviço, desde logo, mandou que fosse posto em execução, para todo o Estado, o Regulamento Sanitario Federal, appro- vado pelo decreto n. 14.354 de 15 de Setembro de 1920. Em nota official, de 30 de Junho de 1921, a Chefia so- licitou o obséquio a todos os médicos domiciliados nesta capital de apresentarem os seus diplomas na séde da Com- missão, afim de serem legalizados os que ainda não es- tivessem registrados no Departamento Nacional de Saúde Publica. Para exercer as funcções de sub-inspector-fiscal do Exercício da Medicina e artes correlatas, fômos designado a 4 de Julho de 1921, pelo Dr. Chefe do Serviço, com aucto- rizaçào official da Directoria Geral de Saneamento e Pro- phylaxia Rural do Rio de Janeiro. Como nosso primeiro acto mandámos publicar na im- prensa as exigências do art. 155, do Regulamento Sanitario Federal em vigôr, e seus n.s 1 e 2 e paragrapho unico, que declara a obrigatoriedade de todos os profissionaes regis- trarem os seus titulos no Departamento de Saúde Pubíica, afim de poderem exercer a sua profissão no Paiz. Essa exlgencia foi encarada pelos interessados com applauso e solidariedade a esta fiscalização, tão profícua e proveitosa na campanha contra o charlatanismo, traduzida com interesse e cuidado no espirito da lei federal. Em sessão de 29 de Junho de 1921, a Sociedade Me- dico-Cirurgica do Pará approvou por unanimidade um voto de louvor proposto pelo Dr. Penna de Carvalho, á Commissão de Prophylaxia Rural, não só pelo inicio dos seus trabalhos como também pela campanha contra o ex- ercício illegal da medicina. As auctoridades deram o exemplo de obediência á lei sanitaria: no dia seguinte á publicação, entre outros titulos que hos chegaram ás mãos tivemos o do Dr. Antonino Emiliano de Souza Castro, Governador do Estado, que apezar de não exercer a sua profissão de medico, quiz nesse gesto traduzir o seu apoio moral á medida tomada por esta Commissão; também o Senador Cypriano Santos, Intendente municipal de Belém, que ha muitos annos não exerce a sua profissão, veio pessoalmente trazer o seu di- ploma. Além destes, tantos outros médicos distinctos, pro- fessores de escolas superiores e funccionarios públicos apresentaram os seus titulos profissionaes. Em menos de tres mezes a Secretaria registrava os seguintes titulos, que corresponde ao numero de profissio- naes que exercem a clinica neste Estado. Titulos apresentados até 9 de Junho actual Médicos 98 Cirurgiões-dentistas 17 Parteiras 4 Pharmaceuticos 62 Total 181 De accôrdo com o telegramma, de 3 de Julho de 1921, do Dr. Theophilo Torres, Inspector Geral da Fiscalização do Exercício da Medicina, estabelecemos o critério de an- notar aqui apenas os titulos já registrados na Directoria Geral do Departamento, enviando os que ainda não têm registro para o Rio de Janeiro, dirigidos áquelle Inspector Geral. Antes, porém, verificamos o pagamento do imposto do sello de verba nas respectivas repartições, observando a tabella B, paragrapho B.°, da lei n. 3.996, de 25 de Dezem- bro de 1920, da lei da Receita, para os titulos novos em que esse sello de verba não foi pago na Alfandega. Assim verificamos que dentre os titulos apresentados não estavam registrados no Departamento: Médicos 35 Pharmaceuticos 20 Dentistas : 10 Parteiras 3 A renda produzida para os cofres da União, pelo sello de verba foi a seguinte: Titulos de médicos (13) ‘ 8:500$000 » » pharmaceuticos (23) 2:760$000 » » dentistas (10) 1:200$000 » » parteiras (1) 20$000 Total 7:480$000 Para os cofres do Estado, por pagamento de emolu- mentos, registros, etc., foi recolhida na Recebedoria de Rendas a quantia de 2:1635400 Total da receita arrecadada 9:6435400 Médicos Dos 98 diplomas apresentados na Secretaria e todos devidamente registrados no livro proprio, enviámos para o Rio de Janeiro 35, para registro no Departamento. Verificámos: Diplomados por escolas extrangeiras 6 í do Rio de Janeiro. 62 » » » nacionaes : , D , . on 1 da Bahia 30 Quasi todos os titulos conferidos pela Faculdade da Bahia não estavam legalizados no Departamento. Foi o Dr. Carlos Ornstein, clinico nesta capital ha alguns annos, convidado a apresentar o seu titulo profis- sional e, como não estivesse legalmente habilitado para exercer a sua profissão no território da Republica, por se tratar de um diploma extrangeiro, da Imperial Universi- dade de Yienna d’Austria não revalidado, o Dr. Chefe do Serviço deu-lhe o prazo de 30 dias para satisfazer as exi- gências da lei. O Dr. Carlos Ornstein obedeceu a intimação, tendo se- guido para o Rio de Janeiro, onde revalidou o seu titulo na Faculdade de Medicina. De regresso apresentou-o na Secretaria, para ser transcripto no livro competente. O Dr. Carlos Silva, medico formado pela Universidade de Coimbra, apezar de ter feito exame da habilitação na Fa- culdade de Medicina da Bahia, não tinha o seu titulo regis- trado no Departamento, o que fez, por nosso intermédio. Os médicos militares se negaram a apresentar os seus diplomas, muito embora, por telegramma official de 7 de Julho, do Dr. Theophilo Torres, em resposta a uma con- sulta feita pelo Dr. Chefe do Serviço sobre si os médicos da armada deviam ou não registrar os seus titulos no De- partamento, ficasse esclarecida essa obrigatoriedade. Dentre os profissionaes que servem na armada e no exercito, neste Estado, somente os Drs. Marcilio de Azam- buja e Moss de Almeida em bellos exemplos de disciplina e respeito á lei, vieram apresentar os seus titulos legalmente registrados no Departamento, para serem transcriptos no livro proprio desta Repartição. Pharmaceuticos Dos titulos apresentados, apenas 8 estavam registra- dos no Departamento. Os demais 54 não tinham esse re- gistro. Os titulos da Escola de Pharmacia do Pará em numero de 46, enviámos para o Rio de Janeiro, em virtude da auctorização official do Dr. Theophilo Torres, por ser essa Escola fiscalizada pelo Governo federal e ter sido já du- rante annos atraz equiparada. Infelizmente, como não estivessem esses titulos assigna- dos pelo fiscal federal naquella épocha, fôram devolvidos, para serem enviados, pelos interessados, ao Barão de Ra- miz Galvão, Presidente do Conselho Superior de Ensino, solicitando-lhe a sua assignatura. Por equidade tenho consentido que os pharmaceuticos dessa Escola dêm a sua responsabilidade technica ás phar- macias de Belém, até á próxima reunião do Conselho de Ensino, quando o Dr. Matta Bacellar, que é actualmente fiscal federal desse estabelecimento, apresente em memorial, como prometteu, pedido da sua equiparação ás Escolas Officiaes da Republica. Dentistas Em virtude de não ser ainda equiparada a Escola de Odontologia do Pará não podem ser validos os titulos por ella expedidos. Este anno pediu a directoria dessa Escola a fiscali- zação federal, tendo sido nomeado fiscal por parte do Con- selho Superior de Ensino o Dr. Francisco Caribé da Rocha. Os titulos apresentados na Secretaria deste Serviço fôram: Formados pelo Rio 6 » pela Bahia 6 » por outras escolas 4 » por escola extrangeira 1 Destes, 10 não estavam registrados no Departamento. O cirurgião dentista João Rodrigues Ferreira, formado pela Escola de Odontologia do Pará, pelo seu advogado Sérgio Olindense, julgando-se prejudicado pelas medidas tomadas por esta sub-inspectoria de fiscalização, impetrou uma ordem de habeas-corpus ao Tribunal Superior de Justiça, sob os seguintes fundamentos: «Exmo. Ulmo. Sr. Presidente do Tribunal Superior de Justiça.—O solicitador Sérgio Olindense da Silva vem, mui respeitosamente, impetrar perante este Egrégio Tribunal uma ordem de habeas-corpus preventiva a favor de João Rodrigues Ferreira, cirurgião-dentista, brasileiro, residente nesta capital, com gabinete dentário á travessa de S. Ma- theus n. 15, que se acha em imminente perigo de cons- trangimento pessoal pelo facto que passo a expôr. Como é de conhecimento publico, ha mezes acha-se installada nesta Capital a Commissão de Prophylaxia Rural, creada pelo Departamento Federal de Saúde Pu- blica, para em acção conjuncta com o governo estadoal dar combate ao impaludismo e outras endemias reinantes neste Estado. Acontece porém, que o Chefe dessa referida Commissâo, Sr. Dr. Heraclides de Souza Araújo, em notas officiaes fornecidas á imprensa diaria (documento junto) e, pessoal- mente, resolveu scientificar a todos os cirurgiões-dentistas, inclusive o paciente, diplomados pela Escola de Odonto- logia do Estado do Pará, que o actual Regulamento do Departamento Federal de Saúde Publica não permitte aos mesmos o exercicio de sua profissão neste Estado, visto não ser essa Escola de ensino publico superior reconhecida pelo Governo Federal. Semelhante medida, a ser posta em pratica, vem ferir profundarnehte os interesses pessoaes do paciente, cerceando-lhe a liberdade no exercicio de sua profissão. Estribado no art. 2.°, titulo l.° da Constituição Política do Estado do Pará, que declara que como Estado exerce todos os poderes inherentes, â sua autonomia, e o Governo da União não poderá intervir nos seus negocios internos, fóra dos casos previstos no art 6.° da Consti- tuição Federal, e porque o paciente se acha habilitado a exercer, como de facto exerce, sua profissão de cirurgião- dentista com o diploma conferido pela Escola de Odonto- logica do Pará, reconhecida e approvada por lei do Con- gresso Legislativo do Estado, n. 1.451, de 22 de Outubro de 1914, jurando ser verdade o que allega, espera receber desse alto Tribunal a devida justiça deferindo a presente ordem de habeas-corpus a fim de que cesse por completo o seu constrangimento. 8-7-921. (a) Sérgio Olindense». Discutido o caso, o Tribunal resolveu não tomar conhe- cimento do pedido por ser incompetente a justiça estadoal. Ficou assim firmada a doutrina para tantos outros casos idênticos que teria esta fiscalização de encontrar. Como, porém, o Director da Escola de Odontologia solicitasse um praso para poder equiparar esse estabele- cimento, demos, por equidade, esse praso acautelador dos interesses de todos os diplomados nas condições do Sr. Ro- drigues Ferreira. Proseguimos, entretanto, a campanha contra os demais que não possuíam titulo algum que os habilitassem ao exer- cicio da profissão de cirurgião-dentista, obrigando a fecharem os seus consultorios os Srs. Pedro Bassalho, Edgar Teixeira, Francisco Vianna, A. Santos, João de Deus da Costa e outros. Este ultimo solicitou, por intermédio da Chefia deste Serviço, licença do Departamento Nacional de Saúde Pu- blica para poder exercer a sua profissão, adegando ter um diploma dado pela America do Norte e já ter um «ha- beas-corpus» do Tribunal Superior de Justiça do Estado que lhe garantia esse direito. Como essa licença fosse negada pelo Departamento, impetrou elle um habeas-corpus ao Juiz Seccional neste Estado, sob os seguintes fundamentos: «O bacharel e advogado Liberato Magno da Silva Castro, cidadão brazileiro no uso e goso dos direitos civis e políticos (arts. 69, paragrapho l.° e 70 da Const, da Re- publica), vem nos termos do art. 353 da 2.a parte do De- creto n. 3.084, de 5 de Novembro de 1898 e do art. 72, paragraphos 9.° e 27 da cit. Const. impetrar em sua pessôa uma ordem de habeas-corpus preventivo em favor do ci- rurgião-dentista João de Deus da Costa. Os fundamentos da presente petição consistem no re- ceio de offensa ao exercício dos direitos do paciente, que teme por parte da Inspectoria da Prophylaxia Rural, com séde neste Estado, violências, embora esteja amparado pela lei, cujo respeito e garantias o impetrante vem solicitar a Y. Excia. Em Agosto findo o paciente dirigiu ao Sr. Dr. Director Geral do Departamento Nacional da Saúde Publica uma petição com as seguintes allegações documentadas: O cirurgião-dentista Dr. João de Deus da Costa, diplo- mado em 22 de Março de 1907 pela National School of Dentistry New-York, ahi co7npletou os trabalhos exigidos pelos Laboratories Technicos do curso secundário, pas- sando em seus exames e sendo-lhe conferido este diploma (doc. 1). Em virtude do seu alludido Diploma e tendo desde 1908 sido reconhecido pelo município de Belém e pelo Es- tado do Pará cirurgião-dentista, foi pela sua qualidade de profissional nomeado pelo Sr. Dr. Presidente da Republica por Decreto de 20 de Março de 1912 capitão-cirurgião do 105 batalhão de infantaria da Guarda Nacional com parada na capital deste Estrado, tendo prestado affirmação e to- mado a respectiva posse no dia 15 de Novembro de 1912 (doc. n. 2). Pelo seu diploma é evidente que o paciente não é leigo em sua profissão; e foi justamente pela sua compe- tência profissional que o mencionado Decreto Federal de 20 de Março de 1912 conferiu-lhe a nomeação para um cargo, cujo exercicio competeria a um medico. Antes de* estudar nos Laboratories da America do Norte, e lá fazer o seu curso da arte dentaria, o paciente praticou longos annos nos gabinetes cirurgico-dentarios dos notáveis dentistas Srs. Drs. H. Jaramillo e Emilío Falcão; assim como, em sua clinica tem sido honrado com a con- fiança de médicos illustres, como os Drs. Rogério de Miran- da, Azevedo Ribeiro, Cruz Moreira, Olegario da Costa, Ca- millo Salgado, Bruno Bittencourt, Duarte Pimentel, Américo Campos, Lyra Castro, Pontes de Carvalho, Castro Valente, Rodrigues Ferreira, Rodrigues dos Santos, Moraes Bitten- court, Sá Pereira, Mattos Cascaes, Acylino de Leão e outros. De modo que, esta confiança despertou ex-adverso o despeito profissional. Dahi resultou que em 1914 fôsse o paciente denunciado judicialmente por uso de titulo illegal na arte dentaria (art. 150 do Cod. Penal). \ Correndo o processo os seus termos legaes, foi afinal absolvido o paciente, attendendo o Tribunal julgador que a controvérsia sobre casos jurídicos exclue a criminalidade; também, o mesmo Tribunal assentou o seu julgamento em que a alludida denuncia tinha contra si a bôa fé do de- nunciado a ausência de criminalidade deste e ainda em favor do mesmo o apoio de um Decreto do Poder Publico, o de 20 de Março de 1912, como tudo fica provado com o doc. junto n. 3. Deste accórdam de absolvição foi interposta appeliação para o Tribunal Superior de Justiça deste Estado o qual por unanimidade de votos confirmou a absolvição da 1.3 instancia, conforme o mesmo doc, n. 3. Esta sentença do Tribunal Superior de Justiça «passou em julgado, não tendo sido interposto recurso algum para o Supremo Tribunal Federal» como prova com a certidão constante no dito doc. n. 3 in fine. Portanto, o paciente está por lei isento de pena e culpa, conforme accordams ou decisões dos tribunaes deste Estado, cujos julgamentos são de natureza soberana para todos os effeitos jurídicos, como preceitua imperiosamente a nossa Constituição Federal (art. 61), pondo-se assim termo a taes accusações feitas ao paciente. Em vista do exposto e da exigencia do Decreto n. 3.987, de 2 de Janeiro de 1920, que não obstante não attinge ao paciente, este em homenagem ao Departamento Nacional da Saúde Publica requereu em face dos julga- mentos soberanos dos Tribunaes deste Estado e com a invocação do cit. art. 61 da Constituição Federal a licença prevista no art. 157 do mesmo Decreto n. 3.987. Essa licença foi, entretanto, segundo consta denegada; porque em rigor ella é concedida aos professores extran- geiros em transito em nosso paiz. Finalmente, a Folha do Norte de 20 de Outubro ul- timo publicou em nota official (doc. n. 4) qtfe o Sr. Dr. In- spector da Prophylaxia Rural com séde nesta capital reco- nheceu legaes os diplomas da Escola de Pharmacia deste Estado, conferidos no dominio da lei Rivadavia. Na mesma hypothese está o paciente, o qual foi diplo- mado (doc. n. 5) no gráo de cirurgião-dentista pelo Insti- tuto de Medicina Eléctrica, Cirurgia Dentaria da Universi- dade Escolar Internacional do Rio de Janeiro, sendo expedido o seu diploma no dia 12 de Maio de 1913, o qual depois de assignado pelo Director do alludido Insti- tuto, cuja assignatura está reconhecida pelo tabellião Her- mes, foi apontado e registrado no Cartorio de Registro Especial de titulos e documentos do Rio de Janeiro pelo respectivo official publico Sr. Dr. Álvaro Teffé. Attentos os fundamentos da exposição supra e princi- palmente em face das decisões dos Tribunaes deste Estado garantidas constitucionalmente com a sancção do art. 61 da Constituição Federal, as quaes «pozeram termo ás accusa- ções feitas contra o paciente» (art. 156 do Cod. Penal) é evidente que a Inspectoria da Prophylaxia Rural com séde nesta Capital não póde impedir ao paciente o exercício de sua profissão. Nestas condições, requer o impetrante em favor do pa- ciente, cirurgião-dentista João de Deus da Costa, uma or- dem de habeas-corpus preventiva para o livre exercício da arte dentaria, nos termos expressos do cit. art. 61 da Con- stituição Federal, cujo texjo é o seguinte; «•As decisões dos juizes ou Tribunaes dos Estados, nas matérias de sua competência, porão termo aos processos e ás questões,» Esta petição entrou no Juizo Federal a 18 de Dezem- bro de 1921. Em resposta ao pedido de informações feito pelo Dr. Juiz Seccional, o Dr. Chefe do Serviço enviou o se- guinte: «Belém, 26 de Dezembro de 1921. Exm.° Sr. Dr. Luiz Estevam de Oliveira, D, D. Juiz Federal da Secção do Pará. Tenho presente o officio n. 137 de 20 do corrente, em que V. Excia. me pede informações sobre o pedido de habeas-corpus preventivo feito a Y. Excia. pelo Sr. João de Deus da Costa, que deseja continuar a exercer, illegal- mente, nesta Capital, a profissão de dentista. Respondendo o citado officio, cabe-me o dever de esclarecer a V. Excia. sobre a situação em que se encontra o Sr. João de Deus da Costa, perante o Departamento Nacional de Saúde Pu- blica. O impetrante do habeas-corpus, para cujo despacho V. Excia. pede a esta Chefia informações, dirigiu-me em 15 de Agosto ultimo a seguinte petição: «Excellentissimo Sr. Dr. Inspector da Prophylaxia Ru- ral com séde neste Estado. Diz o cirurgião-dentista João de Deus da Costa que a bem de seus direitos requer a V. Exc. se digne de encaminhar ao Departamento Nacional de Saúde Publica o requerimento incluso acompanhado de seis documentos. P. deferimento e que se digne de aguar- dar a decisão pendente do dito Departamento de Saúde Publica. Belém-, 15 de Agosto de 1921. (a) João de Deus da Costa. E’ este o requerimento de que trata o impetrante do habeas-corpus em sua petição, o qual foi por mim encami- nhado ao Director Geral do Departamento Nacional de Saúde Publica, por intermédio do Director de Saneamento e Prophylaxia Rural, acompanhado do meu officio n. 100, de 19 de Agosto findo. A 3 de Novembro recebi o seguinte despacho tele- graphico: «Official. Dr. Souza Araújo, Chefe Serviço Pro- phylaxia Rural. Belém. De Rio, 27-10-921. Numero 477. Communico-vos foi indeferida Director Geral petição João de Deus da Costa. Saudações. Belisario Penna, Dire- ctor. » Este telegramma foi publicado na Folha do Norte de 4 de Novembro proximo passado, e no dia seguinte veio á Secretaria deste Serviço o Sr. João de Deus da Costa, acompanhado do seu advogado, tendo solicitado permissão para ver o original do telegramma acima, no que foi atten- dido. Estava também satisfeita a vontade do supplicante, que nos pedio para aguardar a decisão pendente do dito Departamento Nacional de Saúde Publica. O Sr. João de Deus da Costa é portador de um di- ploma de dentista pratico que lhe concedeu, em Março de 1907, a National School of Dentistry New-York, dos Esta- dos Unidos da America do Norte, com o qual deseja con- tinuar a exercer nesta Capital a profissão de dentista, in- fringindo as leis do ensino e sanitarias em vigor no nosso Paiz. Os artigos de números 155 a 157 do Regulamento Sa- nitário Federal, baixado com o decreto n. 14.354 de 15 de Setembro de 1920, e rectificado pelo decreto n. 15.003 de 15 de Setembro de 1921, estabelecem as exigências a ser cumpridas por quem queira exercer a arte de curar em qualquer dos seus ramos. Dizem os artigos: 155 —Só é permittido o exercicio da arte de curar, em qualquer dos seus ramos e por qualquer de suas formas: I— Aos que se mostrarem habilitados por titulo confe- rido pelas faculdades de medicina officiaes ou equiparadas na forma da lei; II Aos que, sendo graduados por escolas ou univer- sidades extrangeiras, se habilitarem perante as ditas facul- dades, na forma dos respectivos estatutos; lll—Aos que, sendo professores de taes universidades ou escolas, o requererem ao Departamento Nacional de Saúde Publica, que só concederá a permissão em vista de documentos devidamente authenticados e quando no paiz a que estas pertençam gosarem de idêntico favor os pro- fessores das faculdades brasileiras. Parag. unico—As disposições deste artigo serão egual- mente applicadas ás pessoas que se propuzefem a exercer as profissões de pharmaceutico, de cirurgião dentista e de parteira. Art. 156 —Os médicos, pharmaceuticos, cirurgiões-den- tistas e as parteiras que commetterem repetidos erros de officio serão suspensos do exercício da profissão, por um a seis mezes, além das penas previstas no Codigo Penal. Parag. unico —Os que habilitados ás diversas profis- sões acima declaradas, se derem ás praticas prohibidas pelo artigo 157 do Codigo Penal, além das penas ahi estabele- cidas incorrerão na suspensão por tempo egual ao da con- demnação. Art. 157—E’ condição para o exercício de qualquer das mencionadas profissões o registro do titulo ou licença no Departamento Nacional de Saúde Publica. Parag. l.°—A Inspectoria da Fiscalização da Medicina e da Pharmacia organizará a relação dos profissionaes cujos titulos se acham registrados, revendo-a todos os annos afim de lhe publicar as alterações. Nesta relação figurará ao lado do nome do profissional fac-simile de sua assign atura. Parag. 2.° —A infracção do disposto neste artigo sujeita á multa de 1:000$000, que será elevada ao duplo nas rein- cidências.» O Sr. João de Deus da Costa é infractor do artigo 157 e por isso passivel da multa de 1:000$000, porque não tem o seu diploma de dentista registrado na Repartição compe- tente do Departamento Nacional de Saúde Publica e insiste em continuar exercendo essa profissão. O Sr. João de Deus da Costa solicitou ao Director Ge- ral do Departamento referido licença para continuar no exercício da sua profissão, adegando possuir um diploma extrangeiro, ser capitão cirurgião da Guarda Nacional e ter obtido do respeitável Tribunal Superior de Justiça deste Estado habeas-corpus para exercer livremente a sua pro- fissão. O seu pedido foi indeferido, conforme o telegramma transcripto acima. E não podia deixar de sel-o: l.° porque as leis em vigor exigem que os diplomas concedidos por escolas ex- trangeiras sejam revalidados junto ás .escolas officiaes do nosso Paiz, para effeito do exercício da respectiva profis- são, e o do peticionário não se revestia dessa formalidade; 2.°—porque o decreto que o nomeou capitão-cirurgião da Guarda Nacional não o reconheceu nem podia reconhecer habilitado para o exercício daquella profissão; além disso sabe V. Excia. que para os postos de capitães e majores cirurgiães da Guarda Nacional não se exigiam quaesquer titulos, e ha mesmo muitos analphabetos possuidores de taes patentes. Como exemplo da facilidade com que se obtinham essas patentes, sem a menor syndicancia sobre a profissão dos pretendentes, cito o seguinte; em 1910 eu era um simples estudante do l.° anno do curso medico no Rio de Janeiro, e obtive uma Carta Patente para o posto de Major cirurgião, a qual me foi concedida por decreto de 28 de Julho de 1910, quando Presidente da Republica o Sr. Marechal Hermes da Fonseca, que a assignou com o Ministro Rivadavia Corrêa. Nunca me constou que taes patentes outorgassem aos seus possuidores habilitação legal para o exercicio da profissão de cirurgião dentista, e ainda menos de medico- cirurgião; 3.°—Só á União compete fiscalizar ou permittir o exercicio legal das profissões liberaes. Para que o diploma de dentista do Sr. João de Deus da Costa lhe dê direito ao exercicio dessa profissão na Republica, é necessário que elle o revalide perante uma das faculdades officiaes ou equiparadas, nos termos do art. 155, alinea II já citado. O decreto n. 11.530 de 18 de Março de 1915, que reorga- nizou o ensino secundário e superior na Republica, no ti- tulo exames e artigo 108, estabeleceu as condições para a revalidação de diplomas conferidos por faculdades extran- geiras para o exercicio de qualquer profissão, de accôrdo com as leis brasileiras. O artigo 108 do citado decreto es- tabelece que só poderão ser revalidados perante as escolas officiaes os diplomas conferidos por faculdades extrangei- ras quando authenticados pelo Cônsul do Brasil e validos para o exercicio da profissão no paiz de origem. O di- ploma do Sr. João de Deus da Costa não prehenche estas formalidades. A prova de que o proprio Sr. João de Deus da Costa estava conscio de que o seu diploma norte-americano, obtido em 1907, não lhe facultava o direito do exercicio da profissão de dentista na Republica, é que procurou tirar partido da libérrima Reforma Rivadavia, diploman- do-se, em 12 de maio de '1913, no grão de cirurgião den- tista pelo Instituto de Medicina Eléctrica, Cirurgia-Dentaria da Universidade Escolar Internacional do Rio de Janeiro, diploma que não lhe confere direito algum. Este Instituto de Medicina Eléctrica foi um dos muitos estabelecimentos creados no Rio de Janeiro, na vigência da Reforma Rivadavia, onde os incautos ou os muito exjyer- tos faziam cursos «eléctricos»... quanto á rapidez, para qualquer profissão liberal, ou mandavam pelo correio a quantia de sessenta mil réis, recebendo em troca, pela volta da mala, um diploma de dentista, de advogado, etc. Deve estar Y. Excia. lembrado da pilhéria do jornal ca- rioca A Noite, que por sessenta mil réis fez o seu porteiro diplomar-se «Medico» na Universidade Internacional de Lawrance & C.°, do Rio de Janeiro. Este segundo diploma do Sr. João de Deus da Costa, tem menos valor, perante o Departamento Nacional de Belem. Musèo Goeidi. Prédio principal. A’ esquerda está situada a. estaç;ão_meteorologica. Á PROPHYLAXYA RURAL NÔ ÊSTAÒO DÚ PARÁ fl PROPHYLAXIfI RURAL NO ESTADO DO PARA Jardim Zoologico do Musêo Goeldi. Gaiola de garças do Marajó. Saúde Publica, que a sua certidão de haver sido appro- vado em exames práticos feitos perante a escola de New- York. A nota official deste serviço publicada na Folha do Norte de 20 de Outubro de 1921, de que trata o impe- trante é a seguinte: «Pharmaceuticos. Ficou accordado com o director da Escola de Pharmacia do Pará a remessa de todos os títu- los dos diplomados por essa Escola, do periodo de sua equiparação até 1915, quando ainda attingidos pela lei Ri- vadavia. Os formados de 1915 até a presente data aguar- darão resolução do Conselho Superior do Ensino, depois do memorial que lhe vae offerecer o actual fiscal do Go- verno Federal junto a este estabelecimento, Dr. José da Matta Bacellar Júnior.» Este Serviço não considerou valido diploma algum, combinou apenas mandar para registro no Departamento os titulos de pharmaceuticos da Escola do Pará. Só o Departamento póde, antes de qualquer outra re- partição, registrar titulos. Esta auctoridade está plena- mente esclarecida pela troca dos seguintes telegrammas entre este Serviço e aquelle Departamento: « Official. Belém, 30 de Junho de 1921, Dr. Theophilo Torres, Inspector Fiscalização Exercício da Medicina. Rio. N.° 51. Por ordem Director Prophylaxia Rural iniciámos hoje fiscalização exercício da Medicina. Desejo saber se poderei registrar aqui titulos de escolas officiaes ainda não registrados no Departamento e também se os médicos que clinicam Estados têm de pagar sello de 200 e tantos mil réis na Recebedoria ou se esse imposto é só para os que clinicam no Districto Federal. Mandei multar, etc. Sauda- ções, Dr. Souza Araújo, Chefe Prophylaxia Rural.» Obteve esta Chefia a seguinte resposta: «Official. Dr. Souz,a Araújo. Prophylaxia Rural. Pará. De Rio, 3 de Julho de 1921. Resposta vosso telegramma dizer registro diplomas deve ser feito neste Departamento antes ser registrado outro qualquer logar. Médicos clini- cam Estados têm de pagar sello Thesouro Federal ou sua succursal Estado. Estimei saber vossa acção curandeiro columbiano. Ignoro ainda resultado referente médicos Pa- raná vossa denuncia. Penso porém está sendo instaurado processo contra elles. Secretario Directoria Geral 10 de Junho 1914 era Dr. Cassio de Rezende. Sds. Dr. Theophilo Torres, Inspector Fiscalização Exercício da Medicina.» Por este motivo é que este Serviço envia para o Rio todos os diplomas ainda não registrados no Departamento e foi o que combinou fazer com os diplomados pela Escola de Pharmacia do Pará, durante o periodo da lei Rivada- via. O Departamento é o unico competente para decidir da validade de diplomas ou dar licenças. E bem assim entendeu também o proprio impetrante quando dirigiu a este Serviço a sua petição para encaminhar ao Departa- mento e aguardar a sua decisão chegada agora desfavo- ravelmente aos seus interesses, por força de lei. Havendo quem aventasse a idéa de que a obrigatorie- dade do registro de diplomas no Departamento era lei recente, de 1920, portanto sem effeito retroactivo para os diplomados antes dessa data, este Serviço indagou desde quando havia tal exigencia, recebendo como resposta o se- guinte despacho: «Official. Dr. Souza Araújo. Prophylaxia Rural. Pará. De Rio, 5 de Julho 1921.—Resposta vosso telegramma 4 corrente communico registro diplomas exigido desde 29 de Setembro de 1851 decreto 858 art. 28. Desde esse tempo era obrigatorio pagamento emolumentos virtude lei de sello, cuja data inicial ignoro, mas Recebedoria Federal ahi poderá informar. Sds. (a) Theophilo Torres, Inspector Fiscalização Exercido da Medicina.» Esclarecida perfeitamente a questão se vê que só podem exercer as profissões de medico, pharmaceutico, cirurgião-dentista e parteiras as pessoas que tiverem os seus titulos legalizados no Departamento Nacional de Saúde Publica, que para isso exige a observância dos artigos 155, suas alineas, e 157 do Regulamento Sanitario Federal em 'vigor. Para terminar informo a V. Excia. que o impetrante de habeas-corpus está exercendo illegalmente a profissão de cirurgião-dentista, sujeito, portanto, á multa estatuída pelo artigo 157 do referido Regulamento, além do crime previsto pelo artigo 156 do Codigo Penal. Aproveito a opportunidade para reiterar a V. Excia. os meus protestos de elevada estima e distincta conside- ração.— Saúde e Fraternidade, (a) Dr. H. C. de Souza Araújo, Chefe do Serviço.» O Dr. Luiz Estevam de Oliveira, Juiz Seccional neste Estado, proferiu o seguinte despacho, valioso documento jurídico que firma insophismavelmente doutrina sobre todos os demais casos idênticos: «O advogado Dr. Liberato Magno da Silva Castro impetra a presente ordem preventiva de habeas-corpus em favor do cirurgião-dentista Dr. João de Deus da Costa para que, a coberto de qualquer coacção illegal que lhe possa crear a Inspectoria de Prophylaxia Rural, com séde neste Estado, exerça livremente a sua profissão. Justifi- cando o pedido allega que o direito do paciente é liquido e certo e resulta de uma situação legal incontestável, que assim se manifesta e fundamenta: a) a 12 de Março de 1907 o paciente foi diplomado cirurgião-dentista pela Na- tional School of Dentistry New-York, depois de ahi ter completado os trabalhos exigidos pelos Laboratories Te- chnicos do curso secundário e em virtude desse diploma foi, pela sua qualidade de profissional, nomeado por De- creto do Doutor Presidente da Republica a 20 de Março de 1912 capitão-cirurgião do 105 Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional, com parada na capital deste Estado, tendo prestado affirmação e tomado posse do cargo a 15 de Novembro do mesmo anno; b) a 12 de Maio de 1913 foi egualmente diplomado pelo Instituto de Medicina Elé- ctrica e Cirurgia Dentaria da Universidade Escolar e In- ternacional do Rio de Janeiro, tento sido o diploma, depois de assignado pelo Director do Instituto e reconhecida a firma pelo Tabellião Hermes, apontado e registrado no Cartorio de Registro Especial de Titulos e Documentos, do Rio de Janeiro, Dr. Álvaro Teffé; c) tendo sido denunciado judicialmente em 1914 como incurso nas penas do art. 156, do Codigo Penal por uso de titulo illegal na arte dentaria foi absolvido afinal pelo Tribunal Correccional, sentença essa confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça sem que nenhum recurso houvesse sido interposto para o Supremo Tribunal Federal, o que em face do art. 61 da Constituição da Republica, que prescreve «que as decisões dos Juizes ou Tribunaes dos Estados nas matérias de sua competên- cia porão termo aos processos e ás questões» e colloca definitivamente a salvo de qualquer novo vexame no exer- cício de sua profissão, julgado soberanamente legal pelas sentenças da Justiça deste Estado que o absolveram da accusação intentada. Em abono do allegado junta cinco documentos. O Dr. Chefe do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural neste Estado informou longamente sobre o caso no officio de fls. a fls. e o Dr. Procurador da Republica opi- nou no parecer de fls. pelo indeferimento do pedido e de- negação da ordem. O paciente prestou declarações oraes e escriptas constantes do auto de fls. e da petição de fls. Isto, posto; e attendendo a que, é matéria pacifica em nosso direito publico interno que a liberdade profissio- nal garantida pelo art. 72 § 24, da Constituição Federal não significa de modo algum que nacionaes e extrangeiros possam exercer profissões liberaes no território da Repu- blica, sem que para isso se hajam habilitados de accôrdo com o que estatue a lei ordinaria; attendendo a que nos termos dos arts. 155, 157, do Decreto Federal n. 14.354, de 15 de Setembro de 1920, os quaes consagram, aliás, princí- pios dominantes em nosso direito positivo desde os tempos do império,. é condição para o exercício das profissões de medico, pharmaceutico, cirurgião-dentista e parteira o re- gistro do titulo no Departamento Nacional da Saúde Pu- blica, devendo o titulo expedido por escola ou universidade extrangeira ser previamente revalidado mediante exame de habilitação prestado pelo seu portador perante escola na- 208 cional e na forma dos respectivos estatutos; ora, atten- dendo a que o paciente na qualidade de cirurgião-dentista, que diz ser, não pode èxercer a profissão sem antes do mais registrar o seu titulo, que deve ser préviamente re- validado, uma vez que foi expedido por instituto extran- geiro, como todo dispõe a legislação em vigor; attendendo a que o acto do Governo da União, nomeando-o capitão- cirurgião do 105 batalhão de infantaria da Guarda Nacio- nal, com parada nesta cidade, não importa absolutamente na dispensa do exame de habilitação, condição expressa- mente exigida por lei para reconhecimento da legitimidade do diploma mesmo porque nomeações da natureza da que distinguiu o paciente jamais consultaram o critério da ver- dadeira capacidade profissional, tendo incidido varias vezes em indivíduos sem o mínimo conhecimento da arte de curar em qualquer de seus ramos; attendendo a que o ti- tulo expedido pelo Instituto de Medicina Eléctrica e Cirur- gia Dentaria da Universidade Escolar e Internacional do Rio de Janeiro admittida a sua validade como ponto indis- cutível, não basta por si só, independente do registro re- gular para outorgar ao paciente idoneidade legal para. o exercido da profissão; attendendo a que as sentenças de primeira e segunda instancias da Justiça do Estado, que absolveram o paciente da accusação que lhe foi intentada por infracção do preceito consagrado pela sancção do art. 156 do Codigo Penal, não concluíram absolutamente pela legalidade do titulo de que era portador, mas apenas o li- mitaram a julgar improcedente a denuncia por ser mani- festa a bôa fé do paciente e controvertida a intelligencia do art. 72 parag. 24 da Constituição Federal, embora o Tribunal pensasse que a mesma Constituição não permittin o exercido da profissão sem titulo legalizado e idoneo (doc. 3, a fls.); em taes condições, attendendo a que as invocadas decisões não fizeram de modo algum causa jul- gada relativamente á legitimidade do exercício profissional do paciente, pondo, assim definitivamente termo â questão suscitada a respeito, consoante pretende o impetrante com fundamento no art. 61 da Constituição da Republica; conse- guintemente, attendendo a que o acto do Departamento Nacional de Saúde Publica negando, como fez, licença ao paciente para exercer a profissão de cirurgião-dentista, desde que não revalidou devidamente o seu diploma con- ferido por escola extrangeira não contraveiu nenhum prin- cipio constitucional ou de lei ordinaria, de modo a dar para elle uma situação de constrangimento illegal reparavel pelo habeas-corpus. Por tudo isso e pelo mais que dos autos consta julgo improcedente o pedido e denego a ordem im- petrada. R. Publique-se, Belém, 2-2-922.—(a) Dr. Luiz Es- tevam de Oliveira. Está este despacho do Dr. Juiz Seccional recorrido ex~ offido ao Supremo Tribunal Federal, onde aguarda o ha- heas~corpus a sentença final. Parteiras Somente 4 titulos nos fôram apresentados, sendo que um destes, de Luiza Biscioni, formada pela Universidade de Génova (Italia), foi devolvido pelo Departamento Nacional de Saúde Publica sem o competente registro, por não ser considerada legal a revalidação feita nesse diploma, pelo Serviço Sanitario do Estado, em 1897, quando a portadora chegou a Belém, afim de exercer a profissão. Fharmaciãs e Hospitaes Obrigámos a todos os proprietários de pharmacias de Belém a dar a sua direcção technica a um profissional res- ponsável. Idêntica exigencia fizemos aos hospitaes de Belém, até então, com as suas pharmacias entregues a leigos. De accôrdo com o art. 171 do Regulamento, communi- cámos a todas as pharmacias os nomes dos profissionaes que tinham titulos legalmente registrados no Departamento Nacional de Saúde Publica e as penas a que ficavam su- jeitos os pharmaceuticos que aviassem receitas de médicos não habilitados ao exercício da sua profissão. Fiscalizámos os livros de receituário semanalmente, visando-os. As pharmacias de Belém, hoje todas legalizadas, são as seguintes:—Pharmacia «Internacional», pharmaceutico responsável Clementino Barbosa de Lima; «Confiança», Paulino Rocha Víanna; «Peret», Oneglia Tabanelli Antu- nes; «Tocantins», Leandro Eustachio Tocantins; «Nacio- nal», Hermogenes de L. Vasconcellos; «Fonseca», Antonio Augusto C. Brazil; «Brazileira», Clovis Rodrigues Barata; «Pinto», Jayme de Aguiar Pinto; «Independencia», Guiomar Brigido; «Pasteur», Antonio de Almeida Genú; «Moderna», Moreira de Castro; «Povo», Domingas Augusta Soares; «Normal», Carlos Silva; «Tavares», Dalila da Cunha Coim- bra; «Pará», João Alves de Souza; «Miranda», C. Villaça; «Leite», Pedro Correia da Silva; «Chermont», José Peret; «Americana», João Renato Franco; «Beirão», Pedro Ba- ptista; «Central», Telesphoro Estellita Ferreira; «Nazareth», Luiz Antonio Serra Pinto; «Aurea», Feliciano Martins da Silva; «Oswaldo Cruz», Maria Angélica Condurú; «Baptista Campos», Josias Soares; «Belém», Benjamin Carneiro Leite Vieira Lisboa; «Cezar Santos», Arthur Kós; «Pontes», Joaquim Brito Pontes; «Nogueira», Ignacio Gonçalves No- gueira; «Kós», Odorico Kós; «Oriental», Pedro Claudino Duarte; «Homoeopatha», José Dumiense Pereira; «Homoeo- pathica Bacellar», Euridice Prado; «Maravilha», José de Moura Machado; «Salgado», Manoel Salgado dos Santos; «Soares», Serra Freire; «Espirita Paraense», Creoncedes Castro Sampaio; «Popular», Luiz Casanova Luz e §ilva; «Luso Paraense», Izaura Pires de Brito; «Brasil», Arminda Silva. «Hospital da Santa Casa de Misericórdia», pharmaceu- tico responsável Rodrigo Lyra de Azevedo; «Hospital da Ordem 3.a de S. Francisco», Maria Lecticia Coutinho de Oliveira; «Hospital da Beneficente Portugueza», Anna Ce- leste Coutinho de Oliveira; «Hospital da Saúde Marítima», Eliza Costa. Multas No dia 27 de Junho de 1921 este Serviço multou, por exercido illegal da medicina, em sua residencia-consultorio a Mamerto Cortes, que se dizia medico columbiano, espe- cialista no tratamento da lepra. Enviada a certidão de divida activa da multa de. 1:0001000 ao Procurador Geral da Republica foi feita a execução da mesma, não tendo sido dado bens á penhora para pagamento da referida importância por não ter o multado bens alguns, segundo allegação sua. O processo criminal iniciado na policia civil teve o seu término no Tribunal Correccional com a vergonhosa chave da prescripção, um anno depois de protelamentos e outros recursos por parte das auctoridades a quem estavam con- fiados os interesses da justiça publica. Multámos também a 19 de Fevereiro do corrente anno, a Saturnino Generoso Fernandes y Alonso por exercício illegal da profissão de medico. E’ um dos muitos audaciosos charlatães que annun- ciam na imprensa «curas maravilhosas», sem um refrea- mento por parte das auctoridades a quem cabia o direito de terminar com a pratica de taes abusos. A multa foi enviada áo Dr. Procurador Geral da Re- publica para os devidos effeitos e o processo criminal como os demais, dorme na gaveta dos escrivães até ao amanhecer da prescripção. Muito embora convicta esteja esta riscahzação do Ex- ercício da Medicina neste Estado de que lhe falta o auxilio e o prestigio necessários da justiça local, nem por isso deixará de continuar a cumprir o seu dever fazendo cam- panha, profícua ou improfícua, como queiram os respon- sáveis pela moralização dos seus actos, contra o charlata- nismo audacioso e grande que affronta os direitos de quantos, com sacrifício, conquistaram um titulo profissional que lhes dá direito ao exercício da sua profissão. Por infracção do art. 262 do Regulamento Sanitario Federal multámos o Dr, Carmo Cardoso, medico residente nesta Capital, que vinha tratando de um doente de varíola, sem ter feito a exigida notificação. O Dr. Carmo Cardoso, recolheu á Delegacia Fiscal a importância da multa após o indeferimento ao recurso que contra ella interpôz ao Dr. Chefe do Serviço. Também foram multados em 500$000 cada um, por in- fracção do art. 187 do Regulamento em vigôr, os Srs. Abra- hão Bendelack e A. de Souza, commerciantes na Yilla do Mosqueiro, (por venderem drogas em seus estabelecimentos commerciaes). Estes senhores recorreram da multa ao Dr. Chefe do Serviço, tendo conseguido que as mesmas fossem reduzidas para 100$000 cada uma, nos termos do art. 175 do mesmo Regulamento. Receituário Espirita Inspeccionámos a 25 de Julho de 1921 o Dispensário Homceopatico Espirita Paraense, á rua Aristides Lobo, n. 27 e como não tivesse um pharma- ceutico responsável pela sua direcção technica, intimámos a Sociedade União Espirita, que é a sua proprietária, a cumprir as exigências do Regulamento Sanitario Federal. O Sr. Antonio Pinheiro Filho, director-presidente, cum- priu a intimação, apresentando como responsável o phar- maceutico Sr. Creoncedes Sampaio e como medico o Dr. José Teixeira da Matta Bacellar, formado pela Faculdade de Medicina da Bahia e com o seu titulo legalmente registrado no Departamento Nacional de Saúde Publica, que assigna todo o receituário. POLICIA SANITARIA E FISCALIZAÇÃO DE GENEROS ALIMENTÍCIOS A 16 de Janeiro do corrente anno firmou este Serviço accôrdo com a Municipalidade de Belém para os serviços de saneamento e prophylaxia rural nas zonas suburbanas e ribeirinhas do limite municipal. Pela clausula quinta, accordou-se iniciar na cidade, conjunctamente com o Serviço Sanitario Municipal, os ser- viços de fiscalização dos generos alimentícios e policia sa- nitaria, assim distribuídos: 1. Inspecção dos hotéis, pensões, repartições publicas, collegios, asylos, officinas, habitações collectivas, emprezas industriaes e agrícolas, etc., etc. 2. —Policia Sanitaria das fabricas, mercearias, pada- rias e outros estabelecimentos commerciaes subordinados á fiscalização dos generos alimentícios. 3. Policia Sanitaria dos logradouros públicos, chaca- ras, quintaes, capinzaes, estábulos, etc. 4. Recenseamento de todos os funccionarios e opera- rios de fabricas, casas de negocios de generos alimenticios, hotéis, pensões, etc., para effeito das inspecções medico- sanitarias a que estão os mesmos sujeitos por lei. 5.° —O funccionario da Prophylaxia Rural assistirá a inspecção dos mercados, mercadinhos e fiscalização de leite, carnes, etc. Depois do accôrdo começámos os nossos trabalhos, cujos resultados, como era de esperar, foram beneficos para a po- pulação. Durante alguns mezes de serviço, de 16 de Janeiro a 31 de Maio, foi este o movimento desta secção a nosso cargo. Fiscalização de generos alimenticios Visitámos diariamente os mercados de Belém para as- sistir e examinar a carne que se destina ao consumo pu- blico, tendo sido verificado o seguinte: Carne de gado vaccum: examinados 531.375 kilos, dos quaes 1.571 foram condemnados por imprestáveis para o consumo. Carne de gado suino: examinados 82.760 kilos, condemnados 7. Carne de gado lanígero: examinados 2.179 kilos, todos de bôa qualidade. Carne de tartaruga; examinados 2.110 kilos, de bôa qualidade. Visceras de gado vaccum: examinados 14.927 kilos, condemnados 117. Peixe; examinados 81.096 kilos, condemnados 1.448. Camarão: examinados 1.168 kilos, todos de bôa qualidade. Farinha de mandioca: examinados 8.023 kilos, todos de bôa qualidade. Mercearias: Nas 695 mercearias que visitámos con- demnámos os seguintes generos por imprestáveis para o consumo publico: Peixe secco, 1.083 kilos; camarão secco, 178 kilos; feijão, 921 kilos; cebolas, 21 kilos; carne secca, 205 kilos; touci- nho, 67 kilos; polvo, 5 kilos; carne de porco, 69 kilos; carne de gado salgada, 85 kilos; banha, 19 kilos; doces, 15 kilos; café, 25 kilos; carne de capivará, 958 kilos; con- servas diversas, 6 kilos; batatas, 4 kilos; milho, 228 kilos; farinha 89 kilos. Caes do porto: Todos os generos que se destinam ao consumo na cidade são por nós examinados demorada- mente, com o medico do Serviço Sanitario Municipal, nos galpões da Port of Pará, não sendo permittida a sahida dos que não estejam em bôas condições. Neste serviço fizemos: GENEROS Examinados Avariados Oondemnados Peixe secco 10.882 k.s 345 k.s 1 Carne de gado salgada ... 14.627 » — 1.488 » | » » porco » 1.283 » — 364 » Pirarucú 296.897 » — 7.379 » Xarque 75.301 » — — Feijão 5.960 » —• 3.180 » j Camarão secco 15.583 » — 224 » Farinha de trigo 19.880 » 382 k.s 308 » Toucinho 89 » — Milho 55.680 » — Bacalhau 600 » — — Manteiga 120 » — 40 » Café 55.440 » 360 » 50 » Assucar 286.200 » 3.780 » — Banha 119 » — —- Batatas — — - 33.000 » — — Leite: Também examinámos 145.413 litros de leite dos quaes fôram condemnados por imprestáveis ao consumo publico 336 litros. Este serviço é dirigido pelo competente veterinário municipal Sr. A. Bona. Kesumo seral GENEEOS j Examinados Condemnados | Nos mercados 723.638 k.s 3.143 k.s Nas mercearias — 3.978 » Nos galpões da Port of Pará 871.661 » 13.378 » Total 1.595.299 k.s 20.499 k.s Estavam avariados 4.522 kilos de diversos generos que permittimos fôssem retirados do caes depois de beneficiados. Policia sanitaria Conforme o estabelecido nas bases do accôrdo fazemos policia sanitaria completa nas habitações sujeitas á nossa fiscalização; todos os moradores são recenseados e intima- dos a exame de saúde no Serviço Sanitario Municipal e obrigados os proprietários a cumprirem as exigências do Regulamento Sanitario Federal na parte a que se refere a esses trabalhos de policia sanitaria e hygiene das habi- tações. Fôram estes os serviços executados: Casas inspeccionadas e reinspeccionadas: Mercea- rias 685; botequins e cafés 190; hotéis e restaurants 87; padarias 89; casas de commissões e consignações 43; casas de commodos e habitações collectivas 64; officinas 43; está- bulos e cocheiras 37; fabricas 58; quitandas 307; hortas e chacaras 14; estancias de madeira 4; pensões 8; kiosques e garapeiras 18; depositos de mercadorias 15; hospitaes 2; estabelecimentos públicos 2; depositos de sal 3; barbearias 53; habitações particulares 4; confeitarias 3. Nas casas inspeccionadas fôram recenseadas 2.856 pes- soas para effeito de inspecção medico-sanitaria. Intimações:—Fôram expedidas intimações para: Construcções de sentinas 77; concertos de sentinas 121; limpeza de casas 142; impermeabilização do sólo 62; vários melhoramentos 97; mudanças de estabelecimentos commer- ciaes 6; melhoramentos em barbearias 79. Os proprietários dos estabelecimentos commerciaes nas ruas abaixo, cumpriram as intimações feitas para a imper- meabilização do sólo, dentro do prazo legal de 30 dias: Avenida da Independencia, 4 casas; travessa Campos Salles 3; rua Senador Manoel Barata 2; rua Riachuelo 1; boulevard da Republica 1; travessa Gurupá, 1; travessa dos Jurunas 1; rua Mundurucús 1; rua Carlos Gomes 1; travessa da Piedade 1; travessa Ruy Barbosa 1; praça Ilha Moreira 1; rua 28 de Setembro 1; avenida de S. João 6; rua da Municipalidade 1; travessa Manoel Evaristo 1; rua Bernal do Couto 2; avenida Generalíssimo Deodoro 1; avenida Conselheiro Furtado 1; e avenida S. Braz 1. To- tal—32 casas. Resumo geral Casas inspeccionadas e reinspeccionadas.... 1.379 Pessoas recenseadas para exame de saúde. 2.956 Intimações expedidas 374 Intimações cumpridas 117 Sendo: impermeabilização do sólo, 1.766m2—em 32 ca- sas; limpeza de quintaes e reformas de fossas sanitarias 85 casas. Para as demais intimações ainda não exgottaram os prazos para a execução dos melhoramentos exigidos. Todos os serviços desta secção tiveram o concurso va- lioso do Serviço Sanitario Municipal, do qual é director, o illustrado collega Dr, Sulpicio Ausier Bentes. SEGUNDA PARTE GEOGRAPHIA MEDICA Sanear o Brasil é povoal-o; é enriquecel-o; é moralizal-o. Eelisario Penna A saúde, no globo, é independente da fatali- dade das latitudes: é uma conquista do esforço e do conhecimento humanos. Afkanio Peixoto SEGUNDA PARTE GEOGRAPHIA MEDICA CAPITULO i CONDIÇÕES MEDICO-SANITARIAS DAS ZONAS SOB A ACÇÃO DO POSTO «BELISARIO PENNA» Dr. J. A. DIAS JÚNIOR Pelo seu director Inspector sanitario 1. DESCRIPÇÃO DO POSTO Dentre os serviços levados a effeito pela extincta Prophylaxia do Paludismo, merecem especial menção os trabalhos no bairro da Pedreira, numa vasta extensão de terras tanto insalubres como en- xarcadas. Effectivamente, a 17 de Março de 1917, uma turma de drenagem composta de 40 homens iniciou o serviço de saneamento no logar denominado—Lava-Pés—á margem do corrego do «Enge- nho», um dos ramos de origem do grande igarapé—Una que, colleando as terras baixas de extensas zonas pantanosas, vae desa- guar na bahia do Guajará. Começou-se, então, o desbravamento do mattagal com a abertura de drenos para o necessário escoa- mento das aguas, que, permanecendo estagnadas, ahi davam a per- feita impressão de uma grande bacia com profundidade de dois metros em alguns pontos. Desde logo improvisou-se uma barraca de lona, situada a tres metros acima do nivel das aguas, a qual se communicava á terra firme por uma estiva de assahyzeiros de dois metros de altura sobre quinhentos de extensão. A referida barraca acommodaria a turma encarregada dos tra- balhos de deseccamento. A 24 de Maio do referido anno, em com- memoração da grande data nacional, e em regosijo aos primeiros resultados dos serviços iniciados, foi inaugurado, em pequeno trecho beneficiado, um pequeno barracão, dando-se-lhe a expressiva deno- minação de «Acampamento 24 de Maio», nome, aliás, com que vem sendo designada a futura praça ou logradouro, onde, actual- mente, assenta, edificado em excedentes condições, q Posto Sani- tario da Prophylaxia Rural. Proseguiram os trabalhos com o desbravamento e destocamen- to de grandes áreas, drenagem, rectificação de cursos d’agua, aber- tura de canaes artificiaes, aterro de extensões enxardadas e sub- mersas outras por obstrucção dos drenos naturaes. A terraplena- gem, que se fez com o auxilio de linhas de Decauville destendidas em varias secções, consolidou os terrenos em que, mais tarde, se deveria implantar a primeira estaca commemorativa do novo e so- lido barracão que, denominando-se «Belisario Penna», se destinava a recolher centenas de doentes abandonados á dura contingência da própria sorte. Então, com o natural desenvolvimento desses trabalhos, dois importantes bairros Pedreira e Telegrapho sem Fio —se acham hoje ligados por uma via de communicação que, atra- vessando os terrenos deseccados, collocou esses dois populosos nú- cleos em posição vantajosa, em relação ao posto, cuja pittoresca situação em meio da baixada divisória ia a contento preenchendo a nobre missão a que fôra destinado. Mas para atlingir a esses resultados compensadores fôra necessário enfrentar os primeiros rudes golpes de uma grande peleja, antepondo-se ao nosso cami- nhar a exhuberancia selvagem da natureza da Amazónia. Houve momento em que essa modesta campanha ganhou em tamanho e vultuou-se em difficuldades insuperáveis. Entretanto, com o que se deixava feito bem poder-se-ia aquilatar o quanto seria possível realizar, por ventura não nos faltassem elementos preciosos. To- davia, o primeiro marco fixado no inicio desses ligeiros ensaios pro- phylacticos attestava o pouco que fizéramos e o muito que ainda poderíamos produzir. 0 que alli se prenunciava claro era a cer- teza de que os serviços sanitários daquellas zonas pantanosas, des- dobrados em condições normaes a outras zonas da peripheria ur- bana, infestadas egualmente do mal paludico, trariam necessaria- mente benefícios maiores, resultados mais compensadores. O que até então se conseguira na Pedreira poder-se-ia conquistar em ou- tros togares palustres que circumscrevem a nossa urbs, desde que, numa acção harmónica e conjuncta, tornássemos mais vultuosos e efíicientes os nossos serviços prophylacticos. O que não mais se discute é que toda e qualquer campanha saneadora executada em terrenos malsãos só alcança resultados satisíactorios quando, ao lado da quinotherapia e dos cuidados de protecção, visa de preferencia o beneficiamento do sólo. A victoriosa e debatida formula, de que não ha climas inhospitos, nem sólo doentio é questão resolvida em sciéncia. Depende tudo do saneamento das regiões favorecidas por condições climáticas que inclementam as proliferações, origi- nando as endemias que vão dizimando o homem á falta de cui- dados prophylacticos tão deploravelmente ignorados quanto rigorosa e precisamente indispensáveis. Os grandes problemas economico- fínanceiros, sempre estiveram ligados entre povos organisados aos estudos medico-sanitarios que em. ultima synthese é a hygienização do sólo. Isto feito, é claro que da gleba beneficiada surgirão os elementos de vitalidade para o povoamento, riqueza e moralidade da terra mater. 0 roteamento dos campos, a drenagem das terras enxarcadas, o preparo do sólo malsão para serem entregues ao cul- A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO OQ PARA Pedreira. Barracão onde funccionava o Posío Belisario Penna. Primeira visita do Dr. Souza Araújo em 6 de Junho de 1921 O mesmo visto á distancia. Pedreira. Posto Sanilario Belisario Penna” em Dezembro de 1021, funccionando em seu novo prédio. Visita do Governador do Estado, Intendente Municipal, Chefe de Policia, Cônsul Hyppolilo de Vasconcellos, etc. A PRQPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA tivo compensador, são obras realizáveis ede effeito decisivo, assim cheguem até ahi os meios prophylacticos salvadores. Hoje, em dia, o Posto Rural «Belisario Penna», obra que foi do esforço e da tenacidade de uma duzia de abnegados, e por sua bizarra collocação em terras, outr’ora, eminentemente enxarcadas e condemnadas, por malsans, ao utilíssimo convivio humano, é bem o vivo exemplo do quanto póde a hygienização, que transmuda a natureza pelo amanho e cultivo do sólo. Os importantes melhora- mentos, a quasi radical reforma introduzida pela Cpmmissão de Prophylaxia Rural nesse já evocativo casarão, cuja memorável tra- dição de porfiadas pelejas só póde dignificar aos que nellas se em- penharam, exprime bem de outra face, num relevo de antiga me- dalha syracusana, a capacidade de trabalho do brilhante espirito organizador que é Souza Araújo, O posto «Belisario Penna», nas condições em que agora se acha, # preenche perfeitamente ao humanitário fim a que se destina, bem localizado, de construcção solida e elegante, avulta da pitto- resca paizagem, dando-nos agradavel impressão. Todas as suas secções, devidamente organizadas, obedecem aos requisitos exigidos a estabelecimentos dessa ordem. Além do gabinete do- chefe do Posto, da sala de exame de doentes e do espaçoso salão de expe- diente servido por mobiliário adequado; no centro do edifício, ven- tilada e hygienica, nota-se ampla varanda de consultas e conferen- cias, seguindo-se-lhe a secção de pharmacia, onde é feita a mani- pulação e distribuição dos medicamentos. No mesmo corpo do edifício ha pequena, mas confortável, enfermaria, contendo dez lei- tos e ao lado direito o almoxarifado. Annexo a esses comparti- mentos, em logares apropriados, duas pequenas officinas, de carpin- taria e ferraria, acham-se em condições de acudir a urgentes reparos de utensílios empregados nos seus trabalhos pela Prophylaxia Rural. O posto tem o seguinte corpo administrativo; o director-me- dico, auxiliado por ura sub-inspector sanitario, um escripturario, um guarda-chefe, dois guardas sanitários de l.a classe e seis guardas de 2.a e 3.a classes, além de um servente e vinte e cinco homens diaristas encarregados do serviço de pequena hydrographia. Dentro dos novos melhoramentos a introduzirem-se alli, cogita-se da crea- ção de um serpentário, uma estação meteorologica, um parque e um bioterio. Gora esse intuito já se acham entaboladas nego- ciações com a Municipalidade para serem transferidos á Gommis- são de Prophylaxia os terrenos necessários á installação daquellas novas e utilíssimas secções. O posto sanitario «Belisario Penna» foi inaugurado no dia 9 de Junho de 1921 e iniciados os trabalhos systematicos de prophy- laxia rural a 24 do mesmo mez, atrazo esse motivado pelas obras de restauração da parte antiga do prédio e construcção da parte moderna. As obras só terminaram em Outubro de 1921. 2. O BAIRRO DA PEDREIRA E SUA POPULAÇÃO O bairro da Pedreira é um dos mais povoados de Belém. O numero de seus habitantes orça, seguramente, em 3.000, muitos dos quaes alli vivendo desde os primeiros dias de sua infancia. A sua principal avenida, denominada Pedro Miranda, apresenta agra- davel aspecto collocada em terreno alto e solido, com grande nu- mero de moradias, mór parte barracas cobertas de palha, algumas de telha, outras de zinco. Essa é a parte mais elevada, pedre- gosa e enxuta do logar. A grande faixa que circumscreve as ter- ras altas é geralmente baixa e húmida e se transforma, maximé no rigor da quadra hibernal, em verdadeiros pantanaes conhecidos na Amazónia sob a denominação de—igapós. Esta immensa baixada, inçada de luxuriante vegetação marinha, é cortada em todas as di- recções por innumeros pequenos aífluentes e confluentes do igarapé da Pedreira, um dos ramos de origem do grande igarapé Una que, após alguns kilometros de sinuoso e longo percurso, vae desaguar na bahia do Guajará. Contornando as terras altas, nas proximidades da orla da matta, á beira dos igapós e fontes de origem desses collectores, numero- sas choupanas ou palhoças e roçados de pequena plantação denun- ciam a existência dessa gente que, numa scintillante pagina de psychologia e justificado humorismo, a Monteiro Lobato approuve denominar— Jéca Tatú». Realmente, naquelles afastados recantos do pittoresco bairro, apegados ás suas tradicionaes superstições e rotineiros costumes, existe um como desdobramento desse interessante typo nacional, que se caracteriza pela sua notável feição de completa indifíerença a tudo que, de facto, não se restrinja ás cousas que lhe pareçam mais necessárias ao seu viver simplorio é o nosso mestiço. Em idênticas condições ás cafuas do Sul e aos mucambos do meio Norte, as nossas palhoças, como o nome está a indicar, são inva- riavelmente cobertas e revestidas de palha que o .cipó embyra amarra e segura a meia duzia de forquilhas que lhes formam o arcabouço. Tres compartimentos ligados por estreitas portas de taquára, uma sala, um quarto e, no beiral da baixa cobertura, a pequena dependencia da varanda, que também serve de cozinha, eis, no conjuncto, a caracteristica dessas extranhas habitações. A’ frente, numa ou noutra moradia, que apenas differe das primeiras pela maior amplitude, está o copiár dominando o terreiro onde imperam, como divertimentos de nossos mestiços, o carimbo e o coco, dansas de origem africana, que se distinguem por seus movimentos ora frenéticos, vertiginosos, de requintada sensualidade ou então, mais rythmicos, mais suaves e mais lentos, de uma lan- guidez deliquescente. E’, também, no terreiro que, em festivas noi- tes joanninas, se exhibe o famoso boi bumbá de que Mello Moraes Filho, no seu íolk-lore brasileiro, nos dá um estudo completo e perfeito. E, para a natural exigencia daquella vida descuidosa, ahi está, servindo a um tempo de cama e mesa, o tradiccional tripé, larga esteira de guarumans traçada e destendida no chão de terra batida. Como objectos de uso domestico, o nosso mestiço possue, espalhados pelo interior da palhoça, dois ou tres bancos rústicos, um giráo de tabocas ou de varas agrestes, alguns alguidares, pa- nellas de barro, cuias pitingas e colheres de páo. A um canto o pilão, que recolhe os grãos de café ou de milho que devem ser pisados pela «mão de pilão». Lá fóra, no terreiro, cacarejam algumas gallinhas ariscas, cis- cando o chão e, junto ao brazeiro que moquêa o peixe ou a caça, um sordido cão, de quando em quando, rosna e fareja. E, particu- laridade interessante; o mesmo cão que lhe guarda a casa e lhe consegue, por vezes, o alimento, conduz as pulgas que lhe bicham os pés. Se, por ventura, transpomos o limiar de sua choupana, desde logo nos acolherá affavel, embora um tanto desconfiado. Offerecerá de seu café, exquisita infusão dev alguns bagos da pre- ciosa rubiacea de mistura com pipocas de milho queimado. Aliás a alimentação dessa gente, quando não abunda o peixe fresco, compõe-se quasi que exclusivamente de feijão, salgados, assahy, bacaba, tacacá e pirão de farinha d’agua de que fazem mingáo e bebem o xibé. Dessa má e insufficiente alimentação, pobre em elementos nu- tritivos, advém, em grande somma, a baixa de hemoglobina, que attinge, em múltiplos casos a porcentagem média que não vae a mais de 47 %. Além dessa péssima alimentação, o nosso mestiço desedenta-se nagua de sujíssimos poços destampados e contamina- dos de detrictos de toda a especie que as enxurradas arrastam para o interior dos mesmos. De maneira que, bebendo dessa agua polluida de fezes que elle proprio espalha no sólo que eile mesmo palmilha a pés descalços, tudo contribue para a elevada porcenta- gem do Necator americanus que se vêm observando no seio das populações ruraes. Afinal, tudo isso provém, sem duvida, do analphabetisrao dessa gente, que apenas agora ingressa ao seio das communidades á pro- porção que até ellas vão avançando o progresso e a obra do sa- neamento. Não é, pois, de extranhar que, em tratando-se-lhe das vantagens dos medicamentos e das regras de hygiene individual ou collectiva, nos escute com alguma duvida e mesmo desconfiança. E’ que, no caso, o seu rentedio* o tratamento, os conselhos, as prescripções ainda vêm de origens bastante recuadas, que lembram passados episodios cabalísticos, extranhas lendas mysteriosas dessas regiões de assombramentos e maravilhas que é a nossa Amazónia. Ahi, em noites de plenilúnio, no terreiro de suas choças, debulham- se as millenarias lendas da formosa e encantada Yara, crendices que avivam á lembrança episodios de matinta-perêras, cobras grau- des dos peráus e trefegos curupiras, os endiabrados moleques da matta, que perseguem os viandantes perdidos nas selvas. E; de- véras curioso ouvir essa gente, nos momentos de evocadoras nar- rativas dizer da vida de S. Cosme e S. Cypriano, o advogado dos íeiticeiros e de Santa Barbara e S. Jeronymo, quando no céu tem- pestuoso zig-zagueam coriscos e ribomba o trovão apavorante. Ao exotismo de semelhante gente, caldeada aos ferreos grilhões das crenças e dos preconceitos, das velhas superstições e dos erroneos costumes é que se deve levar a palavra educadora, que a regenére e a civilise. Cabe, nesse sentido, a alta missão humanitaria de salvar e redimir, pela palavra e pelo remedio, como legisla, com acerto, Beli- sario Penna, toda essa multidão que para ahi vive vida de abandono e de ignorância crassa. Para feliz êxito dessa campanha quantas difficuldades a vencer, quantas energias a gastar! Aqui bem se enquadram os conceitos de Barros Barreto e Mario Magalhães; «Destruir preconceitos, vencer desconfianças, afastar animosidades, para conquistar syrapathias e fazer adeptos em um meio entre hostil e retrahido é cousa que só se consegue á custa de muita perse- verança e um grande dispêndio de energia». Porque, afinal de contas, bem aspera e nem sempre compensadora é a incumbência que nos pésa aos hombros, com o nobilitante intuito de desviar o nosso ignorante de seus arraigados costumes. Mas se isto se dá com os que vivem existência quasi selvagem á beira do matto, certamente não acontece com a gente que ha- bita as zonas centraes, onde já conseguimos levar a nossa acção saneadora. De facto, os que povoam a Pedreira na sua parte mais central, de população mais concentrada, constituem já um núcleo mais adeantado, mais progressista, ainda que ahi se avantage o typo do mestiço predominando sobre o branco. Comquanto vivam ainda em promiscuidade, «factor de grande efficiencia na porcen- tagem moral», outros são os costumes e mui diverso é o modo de viver delles, não somente quanto á constituição dá familia, senão também pela distribuição methodica de trabalho honesto. As casas da zona central apresentam outro typo de cons- trucção, se bem que rudimentar, mas já differindo das primeiras descriptas; na maioria, barracas de chão, de páo a pique, tomadas de barro, cobertas de palha ou zinco, ou mesmo telha, algumas rebocadas, caiadas e assoalhadas, com soífriveis installações sanita- rias. As mulheres fazem renda e cuidam dos affazeres domésticos e os homens empregam a sua actividade na exploração de pequenas industrias incipientes, do carvão, farinha, canna, fructas, aves, porcos e cereaes. E’ que, como poderosos factores da civilização, ahi se installaram o Posto Medico e a Escola. Impulsionados pela intensa propaganda que ahi desde muito se vem operando e agora, secun- dada e revigorada pelo benemerito Serviço de Prophylaxia Rural, os seus habitantes identificados com o Posto Medico e imbuídos de idéaes mais elevados, que, afinal, se vão casando harmonicamente com os patrióticos intuitos do programma sanitario rural, accorrem ao Posto, obedecem aos conselhos de propaganda, não desconhecem já o perigo dos pés descalços e da ingestão das aguas polluidas. Constróem, restauram e modificam para melhor os seus modestos apparelhos sanitários que, em ultima anályse, é a fossa fixa, em condições de satisfazerem ás exigências da vida rural. E, o que é mais, de tamancos aos pés, de chinellos ou mesmo de alpercatas, com tanto que de qualquer forma, por todos os meios ao alcance do pobre, se defendam contra o sólo infestado, centenas de creanças se dirigem ao Posto para o tratamento e dahi á Escola para o combate contra o analphabetismo. E’ digna de registo uma outra larga faixa de terra, que se estende para o mar, desde o logar—Lava-Pés, nos terrenos do acampamento até a bahia do Guajará seguindo o curso do grande igarapé Una pela margem esquerda até a emboccadura do mesmo. A extensa zona, actualmente beneficiada pelo Posto «Belisario Penna», abrange no seu conjuncto uma população calculada em pouco mais de 5.000 almas disseminadas era pequenos núcleos que ahi se vão formando e lentamente progredindo. Daremos somente os dois mais importantes: Telegrapho sem fio e Villa Izabel. Predomina ahi o mesmo typo de barracas, a maioria de chão balido, cobertas de palha e zinco, algumas assoalhadas, rebocadas e pintadas. A população pouco differe, nos hábitos e costumes, das que se vem descrevendo linhas acima. È; natural que em todos os logares, onde predomina o elemento popular, vários de seus trechos recebam denominações pittorescas, com que os habitantes definem, com abundancia de propriedade, o que lhes mais aguça a curiosa attenção. Ha com a sua côr local, denominações como estas: Escondido, Bêcco do Bezouro, Guéla da Morte, Bòcca do Acre, Lava-Pé, Sovaco da Besta, Volta da Tripa, Baixa Verde, etc. São nomes que ficam perpetuados atravéz de successivas gerações e que bem difficilmente se consegue apagar da lembrança do povo. Outra cousa que merece nota é a predominância do typo mestiço (59%) naquelles logares, vindo apóz o branco (33 °/0) e, finalmente, o negro (7,9°/0). Não resta duvida que os nossos elementos ethnicos se vão differenciando gradativamente pelo cru- zamento, sem selecção, dos tres typos de que se compõe a nossa nacionalidade o branco, o negro e o indio. E’ bem a accentuada fusão, que desde recuados tempos coloniaes se vem operando, ainda quando os senhores de engenho e os seus filhos, tirados dos ele- mentos brancos da colonia, se amancebavam com as chamadas «mucamas», jovens escravas, com as quaes não poucos descen- dentes tiveram. Em consequência desse cruzamento ou fusão de typos differenciaes, accrescidos pela introducção de outros elementos extranhos, de origem latina e teuta, a raça negra cada vez parece mingoar no nosso Paiz para dar origem á mestiça, a que maior numero de representantes nos offerece, especialmente no Nordeste e Norte brasileiros. Neste proposito vale triumphante a opinião de Afranio Peixoto e outros que, estudando o assumpto, calcularam que—«em mais tres séculos ellas tenham desapparecido nas diluições successivas de sangue branco, depurado o Brasil do sangue negro que lhe impuzeram». 3. —POLICLÍNICA e propaganda A polyclinica tem a vantagem de reunir no Posto grande nu- mero de doentes de varias enfermidades. O medico tem nelles largo campo de pesquizas com a selecção de outros cuja moléstia não podendo ser curada no Posto, são elles enviados a dispensários especializados do Serviço, com a. vantagem de não se perder o doente e, o que é mais, do reconhecimento da procedência do fóco. A lepra e as moléstias venereas estão neste caso. Não ha negar que o Posto deve manter-se' sempre em contacto com as populações que elle serve e attrahil-as mesmo com a dis- tribuição dos medicamentos indispensáveis ao tratamento das mo- léstias das classes desfavorecidas, gente humilde e bôa que ahi vae morrendo á mingua do remedio salvador. E não se diga que o benemerito Serviço Rural, instituindo para a pobreza a distribuição criteriosa dos medicamentos mais communs, á maneira de intelli- gente propaganda, vá soífrer, afinal de contas, abalos economicos que lhe attribuem os que pensam de modo outro. Ademais, não vale prescindir nas campanhas saneadoras dos remedios mais com- muns, aquelles mais em voga, os que, finalmente, o uso consagrou como indispensáveis ao bom exito dos grandes emprehendimentos sanitários. E’ claro que o medico não exhibirá uma polypharmacia no tratamento ou numa simples indicação a seu boníssimo doente. O medico receitará de accôrdo com o meio, procurando, sempre que fôr possível, simplificar as formulas de modo a satisfazer a sua consciência e contentar ao mesmo tempo a seu consulente. Não ha duvida que a prescripção de um soluto arseno ferruginoso, por exemplo, preparado ahi mesmo no Posto, uma trivial formula car- minativa, uma outra diaphoretica, etc, sem causar maiores damnos ao bom desempenho do Serviço, se recommendam como excedentes factores de propaganda no meio ignorante, soerguendo as forças combalidas a milhares de anemiados que, no decorrer das medi- cações systematicas, clamam pelos restauradores adjuvantes. Ligei- ros cuidados de asepsia applicados por vezes em plena ulcera, que nunca vio asseio, bastam para melhorar as condições da mesma e até sarar. Quer isto dizer que os doentes, sahindo curados de suas ulceras de longos annos e de sua grave opilação, que lhes deu origem á chaga, desde ahi valerá a sua propaganda testimunhal muito mais do que poderia realçar toda e qualquer íalação theorica em favor da Prnphylaxia, Um doente de paludismo, que tem as suas heraatias destruídas, necessita corrigir, como o verminotico, a sua hemoglobina, ingerindo na convalescença elementos reparadores. E’ para o Posto que elles affluem. E se podermos reunil-os uma vez por semana, em torno da mesa medica, tanto melhor. Apro- veitar-se-á a opportunidade para dizer deante de grandes massas de doentes e interessados algo de proveitoso. Assim fazemos nós aqui e, a tanto malhar, como accentúa Belisario Penna, vamos conseguindo, com a palavra e com o exemplo vivo do proprio do- ente, alguma cousa pela formação da consciência sanitaria nacional. 0 Posto não perderá vasa na propaganda de seus trabalhos. Apro- veitará tudo que fôr de material apreciável para fundamentar ou encarecer a utilidade dos serviços de Saneamento e Prophylaxia Pharmacia do Serviço dirigida pelo Pharmaceulico Aderezer Coelho da Silva A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO 00 PARÁ A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARÁ Pedreira. Terraplanagem em.redor do novo prédio. Rural. E: para satisfazer essa real indicação que instituímos no nosso Posto, além das reuniões ás sextas-feiras, para consultas ge- raes, mais uma outra, ás quartas, para tratamento das verminoses, fóra das zonas, a doentes provindos da nossa polyclinica e que, ori- entados pelo medico, no dia das consultas geraes, voltam ao posto para o tratamento apóz o respectivo exame coprologico. Vale dizer que somente a polyclinica tem fornecido á secção de verminoses no Posto numero superior a 4.500 exames de fezes. Nas zonas subordinadas ao Posto que dirijo existem 48 leprosos, já recenseados na secção competente. Em brilhante conferencia realizada no Instituto de Hygiene da Faculdade de Medicina de S. Paulo, a 22 de Novembro do anno proximo findo, reconhecendo a utilidade da convivência das populações doentes com os postos sanitários e, para o bom exito da campanha saneadora, assim confirma Belisario Penna, nas linhas abaixo, a excellencia desse valiosissimo elemento de propaganda: «A’ proporção que se tornam conhecidos os postos e se firmou na consciência do publico a confiança na sua acção, a frequência augmenta progressivamente, tanto mais que elles não se limitam ao tratamento e prophylaxia do impaludismo e das verminoses, mas fazem polyclinica e até intervenção cirúrgica e curativos ahi se praticam». E’, pois, necessário, é util, é proveitoso e, sobretudo, pratico a manutenção dos serviços de polyclinica nos Postos de Prophylaxia Rural, como se está a exercitar no Pará com real aproveitamento e a contento das classes desfavorecidas. Posto sanitario sem assistência é como o mestre-escola sem discipulo é posto morto, escola fechada. 4. —PROSTITUIÇÃO E DOENÇAS YENEREAS —OS CASAMENTOS Parece evidente a ausência do meretricio entre os moradores do bairro que vimos descrevendo, sendo por isso diminuta a fre- quência ao Posto de pessoas atacadas de doenças venereas. Isso põe em relevo a vantagem das ligações matrimoniaes que alli vão alcançando resultado, fazendo decrescer os casos de prostituição. Os raros consulentes que, contaminados pelas doenças vene- reas, accorrem á polyclinica do nosso posto, nem sempre adquiri- ram a doença naquelle bairro. Entretanto, intensa propaganda se ha feito ahí, visando amparar as classes desfavorecidas e sem de- feza contra as inevitáveis disseminações dessas doenças arrumado- ras que tem crestado a flor juvenil de tanta vida util. O enlace matrimonial civil, como o religioso, é geralraente bem acceito pelos habitantes dos bairros suburbanos. Na Pedreira a porcentagem da união civil orça em 75 %. Quer isto dizer que apenas 25 °/0 de sua população vive em esta- do de mancebia. Comquanto animadora a elevada porcentagem do casamento civil ahi, melhor ter-se-ia conseguido se, por ventura, os poderes públicos creassem nos bairros afastados, onde as popu- lações proletárias se adensam e raream os meios de transportes o registro de casamento —de modo a tornar exequível e mais facil a união legal. E’ certo que a difficuldade de transporte, a grande distancia a vencer, a ignorância, emfim, tudo contribue para con- traindicar o processo regular do casamento civil no seio das popu- lações ruraes. Mas de outro lado, tornar-se-ia louvável o desenvolvimento de uma propaganda intelligente, no meio ignorante, das vantagens do casamento civil, como fundamento legal da família. A Egreja, ze- lando pela difíusão das uniões religiosas e, collimando o sentimento catholico da maioria da população brasileira, vae edificando por to- dos os bairros pequenos templos, onde as classes pobres conjugam, sem tropeço, o acto religioso. Mas somente o casamento religioso não basta para a futura garantia da familia em face das leis civis. Neste ponto a justiça nos impõe esta verdade: A Egreja, num gesto de incomparável nobreza, chega mesmo a pregar a necessidade das ligações legaes perante as leis humanas e as leis divinas, aconse- lhando sempre a preceder á união catholica o acto civil. Aos poderes públicos compete, animados dos mesmos intuitos e egual propaganda, crear o registro de casamento civil nesses afastados e populosos bairros a que nos referimos. E’ obra de pa- triotismo, que realizaria a obra humana de afastar do meretrício ou da amancebia, gente, aliás, com intuitos mais nobres. Outra face do problema social a resolver no seio do proletariado é, sem duvida, a creação, nesses logares, do—registro de nascimento para filhos de gente pobre que, á mingua de recursos pecuniários e na impossibilidade de vencer difficuldades outras, deixa em longo esque- cimento o que lhes cumpria fazer se os poderes officiaes não an- dassem sempre divorciados das aspirações populares. O erro se justifica, em parte, pela própria condição social dessa gente. Mas o que não parece justo, senão condemnavel, é o erro, ainda maior, em que incidem, no coração da urbs, certos paes que não dão a registro seus filhos. De facto (e já escreveramos isto no Boletim de estatística de Belem em 1915) se computarmos o movimento de nascimentos com o de obitos occorridos em Belém, a differença para menos daquelles sobre estes é, sobremodo, accentuada e se- ria para causar apprehensões se, de facto, a causa do excedente de obitos ficasse precisamente averiguada. Mas não é tal. O que se verifica de anormal, neste caso, é bem a carência de elementos comprobativos para a feitura de uma estatística regular oriunda do registro de nascimento. 0 departamento registrador, ainda que bem organizado, não funcciona, todavia, a contento, sendo de lastimar que para isso concorra a indifferença criminosa de paes descuidados que não dão a registro os seus filhos, pesar de insignificante somma necessária para essa formalidade. Do registro de nascimentos po- der-se-á afferir o gráo de progresso e civilização das collectivida- des. Os paes que incidem neste erro prejudicam o raechanismo do serviço de estatística e contribuem, sobremodo, para crearem uma posição falsa na vida do futuro cidadão. Uma activa propaganda aconselhando aos paes a necessidade de registrar os nascimentos nas repartições competentes, sem du- vida, fructificaria, maximé se aos indivíduos provadamente pobres o departamento registrador deixasse de cobrar os emolumentos exi- gidos. E’ tempo de reflectir no assumpto a bem dos serviços esta- tisticos do paiz. 5. —CLIMA E SALUBRIDADE —LONGEVIDADE Pela sua excellente posição em sólo alto e pedregoso, com quanto grande porção de suas terras mergulhem ainda em extensos pantanaes, a Pedreira possue um clima agradavel. Ventos brandos ahi sopram constantemente de N. E., amenisando a atmosphera ca- lida das horas p. raeridianas. No rigor do verão os ventos alí- sios muito attenuam a elevação do calor ambiente, e em vários de seus tractos, principalmente nas zonas elevadas e enxutas, onde su- perabunda a agua de bôa qualidade, já se póde viver com relativa saúde e bem estar. E não ha exaggero em dizer que alguns de seus moradores ahi attingem idade bastante avançada e não raro succumbem á senilidade, já macrobios. O bairro da Pedreira foi em tempos atraz, perigoso foco de paludismo. Os serviços de prophylaxia executados pela extincta Inspectoria de Malaria e agora secundados pelo Saneamento Rural muito contribuíram para a reducção dos fócos. Os casos ahi vão rareando de modo a ficarem circums- criptos a pequenas faixas das extremidades, onde o Paludismo pa- rece constituir-se ainda em fóco permanente. A lucta contra a ancylostomose tem dado ahi magníficos re- sultados. Com a'porcentagem da taxa de hemoglobina que se ha elevado de modo accentuado em doentes que, exhibindo, ao inicio do tratamento, a miserável taxa de 15, 20, 30 % revigoram o san- gue com o elevado coefficiente de 70, 75, 80 °/0 apóz a cura. A intensificação da vaccinação, e revaccinação, se ha feito em todas as zonas com real aproveitamento sendo elevado o numero de pessoas que se submettem ou voluntariamente procuram a lympha antivariolica, subindo por centenas os attestados positivos forneci- dos nas zonas e no Posto, principalmente ás creanças que se valem dos nossos serviços para as devidas matriculas escolares. Poder-se-ia dizer que, excluídas as duas endemias que ainda constituem os flagellos das populações ruraes, mas que tendem a modificar-se pelas medidas salvadoras postas em pratica, alguns fócos de lepra, disseminados pelas zonas e já notificados era dis- pensários especializados para esse fim, o populoso bairro da Pe- dreira desfructa actualmente lisongeiras condições sanitarias. Pedreira: Recenseadas, 3.139 pessoas e verificados 38 velhos além de 70 annos, sendo do sexo masculino, 12; feminino, 26; brancos, 6; mestiços, 21; negros, 11. Hemoglobina, media, 55,03 %. Telegrapho: Villa Izabel Recenseadas 5.929 pessoas. Ve- lhos acima de 70, 46; masculinos, 10; femininos, 36; brancos, 12; mestiços, 29; negros, 5. Hemoglobina, media, 52,64 %• Total'- —B4 velhos sobre 9.074 recenseados; masculinos, 22; femininos, 62; brancos, 18; mestiços, 50; negros, 16. Media geral de hemoglobina, 53,83 %. A’ proposito deixámos aqui o excellente caso, bastante conhe- cido e divulgado pela imprensa desta capital e do Rio de Janeiro, da existência secular de Manoela Monteiro Cavalcante, branca, re- sidente á travessa Villeta, no bairro da Pedreira, cujo attestado de obito foi por nós passado, quando veio a faliecer (marasmo senil) com a invejável idade de 143 annos. Alcançou assim o record mundial da senilidade, pois ultrapassou o numero de annos do fa- moso turco Djaure Ghencino que o Times, de Londres, publican- do-lhe o retrato, em Dezembro do anno p. passado, diz ser a creatura mais velha do mundo. Manoela residia com a sua neta, Maria Feitosa Lima, a mais nova, de 45 annos de edade. Casada com o alferes Agostinho José de Carvalho, natural de Pernambuco, teve dessa união apenas tres filhos. 0 seu marido tomou parte saliente nos acontecimentos de 1835 e em toda a guerra do Paraguay e, quando vivos, sabiam con- tar aos seus os mais interessantes episodios desses feitos e da In- dependência, citando a velhinha factos e datas com surprehendente vivacidade, apenas concebivel nos espiritos lúcidos e moços. Gomo essa macrobia, que residiu durante 12 annos no bairro da Pedreira, outros existem ahi, velhinhos, quasi centenários, que ainda cuidam dos seus misteres. 6.—HIDROGRAPHIA SANITÁRIA Considerámos a drenagem das aguas um dos elementos de toda a base do serviço de prophylaxia. Sendo a cidade de Belém ge- ralmente plana e cortada de igarapés e cheia de pantanaes, não será facil saneal-a sem o concurso dos estudos preliminares de to- pographia e nivelamento afim de determinar préviamente as cótas para o declive dos drenos e as convenientes direcções dos mesmos. Confirma o nosso parecer o facto de varias zonas a sanear perma- necerem a baixo do nivel das marés medias e outras abaixo das grandes marés, circumstancia que concorre poderosamente para au- gmentar o coeíficiente de insalubridade devida ao accumulo de ma- térias organicas depositadas pelas enchentes íluviaes. O bairro da Pedreira, por exemplo, onde iniciámos o serviço pela drenagem de alguns trechos de origem do igarapé Una é uma zona que bem poderia ser saneada desde que a engenharia sanitaria concorra com os elementos technicos para a divisão da mesma em áreas poly- gonaes nas quaes fiquem distribuídos os cursos d’agua em bacias, determinadas as extensões das mattas, pantanos, campos de cultu- ra, etc., onde se devem projectar redes de drenos para «pontos obrigados», de conformidade cora as cótas verificadas era cada se- Pedreiras. Obras de Saneamento. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARÁ A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA Pedreira. Novos serviços de drenagem. cção polygonal. E? sabido que nos drenos naturaes e a «céu aberto» o escoamento se verifica pela acção da gravidade e por isso mesmo as ramificações auxiliares, que se tenham de proceder, obedecerão á cóta do dreno principal, ou dreno mestre. As secções transversaes e longitudinaes dos drenos devem ser objecto de prin- cipal estudo para a boa conservação e, sobretudo, estabilidade dos mesmos. Ademais, a obstçucção dos igarapés e corregos que se ramificam em centenas de braços outros, affluentes e confluen- tes dos mesmos, produzindo a infiltração das grandes áreas, satura o sólo de humidade, diminuindo-lhe o coefficiente de porosidade ne- cessário á penetração do ar, que se deve verificar nos terrenos de feição salubre, ou melhormente, agrícola. A sciencia fornece os meios toda a vez que se pretende proceder ao escoamento dos rios e igarapés, desde que se tenha em vista o estado da maior ou me- nor velocidade das correntes. Os trabalhos de terraplenagem, que dizem com o movimento de terras para deseccação de zonas pan- tanosas, obedecerão, sem duvida, a preceitos technicos, pois de modo outro não se transportariam grandes volumes de terra sem prejudicar, sobremaneira, o nivelamento geral da zona em que se está operando. O serviço do igarapé Una já se fez sentir em al- gumas secções do seu percurso e com resultado efficaz quanto ao abaixamento do nivel das aguas numa cóta superior a 80 centíme- tros, havendo áreas completamente deseccadas e que permanecem enxutas até o presente. Mas não é tudo; verifica-se, porém, que o serviço emprehendido, que afinal ainda é o esforço de pygmeu em face da obra de gigante, não devêra permanecer em simples con- jecturas ou elementares ensaios de technica sanitaria. Estaria elle, pela enormidade de tão importante emprehendimento, a exigir maior amplitude. Trata-se, pois, de dar vasão a grandes volumes d’agua e cogitar da capacidade dos drenos referidos. Tornar-se-ia neces- sário proceder á verificação dos cursos d’agua suppriraindo-lhes as curvas e múltiplas sinuosidades dos igarapés que alongando o seu percurso, lhes reduzem as declividades, além das secções de vasão que devem obedecer a processo de ampliação, tanto quanto possí- vel, de accôrdo cora o volume da massa liquida. Ha mesmo ne- cessidade de aberturas de novos drenos auxiliares para a collecta das aguas reprezadas em zonas cujo coefficiente de salubridade de- pende do enxugo das mesmas. 0 exemplo deste caso, além de outros em pontos diversos da zona suburbana, está na presença das aguas estagnadas do grande pantanal que, tendo origem nas immediações da avenida S. Jeronymo e con- tornando as terras altas dos bairros da Pedreira, 22 de Junho e Telegrapho sem fio, de ambas as margens do igarapé Una, vae ter- minar proximo á bahia do Guajará. Não seria para causar sur- prezas o desapparecimento do extenso pantano, a que nos referimos, se possível fosse beneficial-o por meio da feitura de um canal de fórma trapezoidal cuja área da secção de vasão e declividade fossem convenientemente determinadas e bem estudadas as condições do seu traçado. Este canal poderia partir da emboccadura da cana- lização do exgotto que desagua na travessa 9 de Janeiro e, então, seguiria em linha recta ou em largos trechos rectos," conforme me- lhor indicasse a topographia do terreno, até a secção mais larga do igarapé Una. Isto feito, as extensas zonas servidas por esse melho- ramento entrariam em franca salubridade 'Foram executados os seguintes trabalhos de saneamento nas zonas sob a inspecção do Posto; Matto desbravado. 1.604.902m 2 Pantanos deseccados 304.844 m 2 Drenos abertos 1.269 m Drenos rectificados 19.774 m Cursos d’agua rectificados e drenados 24.787 m Material de aterro extrahido dp leito de iga- rapés em rectificação 3.187 m 3 Desaíerros 3.974 m 3 Pantanos aterrados 8.113 m 3 Linhas Decauville estendidos 1.490 m 7. —TRABALHOS REALIZADOS DE 24 DE JUNHO DE 1921 A 31 DE MAIO DE 1922 Total de recenseados em 9 zonas de serviço systematico (pessoas).... 9.074 Total de primeiros exames de fézes. 11.556 Sendo: No serviço domiciliar 7.515 No ambulatório 4.041 Positivos para qualquer verme.... 11.425 ou 98,86% Negativos para o mesmo fim 131 ou 1,13% Ancylostomose .... 9.299 ou 80,46 % Ascaridiose 11.121 ou 96,14% Positivos para Trichuriose 10.471 ou 90,60 »/„• Enterobiose 310 ou 2,72% Estrongylose 883 ou 7,64 % Outras infecções.. . Segundos exames após 4 medicações 763 Positivos para qualquer verme..... 732 ou 95,93% Negativos para o mesmo fim 31 ou 4,06% Ancylostomose 296 ou 38,78 % Ascaridiose 542 ou 71,17% Positivos para Trichuriose 648 ou 84,92 % Enterobiose 27 ou 3,53 % . Outras infecções... Taxa de hemoglobina: Primeiros exames 7.873 Media geral 47,95 % Segundos exames 650 Media 59,36 % Das 9.074 pessoas recenseadas em todas as zonas 1.433 andam calçadas e 7.641 descalças. Forneceram amostras de íézes para os primeiros exames 7.515 pessoas. Das que andam calçadas 762 estavam atacadas de ancy- lostomose, dando uma porcentagem de 67,70% sobre 1.137 exami- nadas. Das que andam descalças, 4.934 eram infectadas pelos ancy- lostomos sendo a porcentagem de 77,35% sobre 6.3 T& examinadas. Entre as 9.072 pessoas recenseadas 4.035 sabem lêr e 5.039 são analphabetas. Das que sabem lêr, 3.380 forneceram amostras de íézes. Destas estavam parasitadas com ancy los tomos 2.760 com a por- centagem de 85,65% sobre o numero de examinadas. Das que não sabem lêr 4.135 forneceram amostras para exames. Destes, 3.236 revelaram o mesmo verme: porcentagem de 78,23% sobre o numero de examinados. Com relação á profissão, verificámos que de 336 marítimos recenseados, 244 forneceram íézes para exame; 195 estavam para- sitados com ancylostónios\ média de .79,91 % sobre o numero de examinados. De 164 lavradores recenseados fizeram exames de íézes 142. Estavam parasitados com ancylostómos, 119 ou sejam 83,80 %. Raças:—Das 9.074 pessoas recenseadas em 9 zonas eram: Brancos 3.001 ou 33,08% Mestiços 5.357 ou 59,03 % Negros , 716 ou 7,90% Do ambulatório 4.041 eram; Brancos 763 ou 16,40% Mestiços 3.004 ou 74,33% Negros 274 ou 6,78 % Medicações:—Foram dadas as seguintes medicações de che- nopodio: Primeiras 8.114 Segundas 5.196 Terceiras 3.203 Quartas 1.897 Quintas e mais 602 19.012 1861 casas. Cadastros e inspecções-. Fôram cadastradas e inspeccionadas Installações sanitarias: Acceitaveis 196 ou 10,53% Defeituosas 963 ou 51,74% Inexistentes 702 ou 37,72% Intimações expedidas:—446. Cumpridas —B9 ou 19,95 % sobre 446 Melhoradas. 23 ou 25,84% sobre 89 cumpridas Novas 66 ou 74,15% sobre 89 cumpridas Total 89 média geral sobre 446 expedidas 19.95% Apezar dos nossos esforços pouco fizemos em relação á cons- trucção de fossas nas zonas sob a nossa inspecção. Esperamos, entretanto, alcançar um bom êxito agora, que o elevado numero de tratamentos contra as verminoses, consolidaram os créditos do Posto, para depois «iniciar por parte o serviço de saneamento que é o que dá mais trabalho, aborrecimentos e tem maior numero de rebeldes» (Relatorio do Paraná). Abastecimento dl agua'.— 9.074 pessoas recenseadas se abas- tecem de 963 poços, 9 fontes e 2 canalizações, dando uma porcen- tagem para poços de 9,51%, para fontes de 0,09% e para cana- lização de 1,01%. Serviço de vaccinação systematica: Das 9.074 pessoas recen- seadas foram vaccinadas contra a variola 4.447 e revaccinadas 2.532. Total de vaccinações e revaccinações 6.979. Porcentagem sobre 9.074 pessoas 76,96%, mais de dois terços. Attestados ex- pedidos 441. Campanha contra o impaludismo Doentes matriculados nesta secção 3.287 Total de exames de sangue para pesquiza de he- matozoarios i 3.287 Resultado Positivos 1.220 Negativos 1.522 Prejudicados 545 Os positivos revelaram; Plasmodium vivax 542 ou 44,42 % Plasmodium falciparum 673 ou 55,16 % Plasmodium malarice 5 ou 0,40% Assoe, dos dois primeiros 15 ou 1,22% Exames do baço. Dos 1.220 doentes com exames de sangue positivo tinham : Baço palpavel 623 ou 51 % Baço impalpável 597 ou 49% Desses 1.220 doentes apenas 117 apresentavam febres no acto do primeiro exame clinico. Taxa de hemoglobina. Doentes com o baço palpavel; Média de hemoglobina 48,9 % Doentes com o baço irnpalpavel: Média de hemoglobina. 51,1% Betem. Posto “Belisario Penpa” cm Dezembro de 1021. Um dia de conferencia saniloria pelo Dr. Dias Júnior (Bairro da Pedreira). A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARÁ A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARÁ Belem. Posto “Belizário Penna”. Um dia dè consulta Edade dos impaludados De 0 a 5 annos 214 De 6 a 20 annos 665 De 21 a 40 annos 244 Acima de 40 annos 97 1.220 Consultas: Aos impaludados matriculados fôrara dadas no anno 18.392 Injecções: Solutos de saes de quinina ' 9.246 Sendo: De 0,50 65 De 1,0 2 487 De 1,5 5.642 De 2,0 1.052 Soluto de azul de methyleno: Total 316 Polyclinica : Consultas geraes. 34.992 Sendo; Escabiose (sarna) 1.765 Ulceras 1.000 Outras moléstias 32.227 Curativos de pequena cirurgia. 372 CAPITULO II CONDIÇÕES MEDICO-SANITARIAS DAS ZONAS SOB A ACÇÃO DO POSTO «OSWALDO CRUZ» Pelo seu director Dr. FRANCISCO DA SILVA MXBANDA Inspector Sanitario Rural 1. DESCRIPÇÃO DO POSTO No dia 9 de Junho de 1921, com a presença de S. Excia, o Sr. Dr. Governador do Estado e altas auctoridades civis, fôram inaugurados os dois primeiros postos da Prophyla- xia Rural, neste Estado, nos suburbios da Capital, deno- minados Souza e Pedreira. O acto inaugural foi uma solemnissima cerimonia, que recebeu frenéticos applausos da numerosa e selecta assis- tência. O Posto do Souza tomou a denominação de «Oswaldo Cruz», como homenagem a perpetuar entre nós o nome do grande e inolvidável mestre, e funcciona em um bello edi- ficio, á margem oriental da Estrada de Ferro de Bragança, no kilornetro 10, cedido ao chefe do Serviço de Prophylaxia Rural pelo Sr. Dr. Intendente Municipal de Belém e o Posto da Pedreira recebeu a denominação de «Belisario Penna», em honra ao auctor do Saneamento Rural do Brasil, de cuja laboriosa capacidade ficará na historia do nosso des- envolvimento um dos mais fecundos exemplos. No posto do Souza, completamente invadido por grande numero de doentes e consultantes, em quasi todas as suas salas, fôram recebidos o Dr. Governador do Estado e o Chefe do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural, Dr, H. C. de Souza Araújo e demais pessoas que os acom- panharam, pelos Drs. Dias Júnior, Francisco Miranda e Lauro de Almeida Sodré. Introduzidos no recinto do elegante prédio, pela Muni- cipalidade construído, annos atraz, especialmente para o serviço de assistência medica na Estrada de Ferro de Bra- gança, o Dr. Souza Araújo começou irnmediatamente a ce- rimonia da installação do posto. A’s 17 horas o Chefe do Serviço de Prophylaxia Rural, Dr. Souza Araújo, voltou ao Posto «Oswaldo Cruz» e alli delimitou a jurisdicção sani- taria de cada um dos postos inaugurados pelo modo se- 235 guinte: Posto «Oswaldo Cruz» —da margem do rio Guamá pela travessa José Bonifácio até a praça Floriano Peixoto, dahi pelo lado esquerdo da avenida Duque de Caxias até uma linha parallela á travessa José Bonifácio e que se di- rige ao rio Guamá passando pelo kilometro 11 da Estrada de Ferro de Bragança. Posto «Belisario Penna» partindo do kilometro 11 até o Guajará, subindo por este até as travessas Bernal do Couto e 22 de Junho; avenida de São Jeronymo até a praça Floriano Peixoto. Para servir no Posto «Oswaldo Cruz» foram designa- dos: Dr. Francisco da Silva Miranda, director; Dr. Lauro de Almeida Sodré, auxiliar; escrevente, Jesuino Gonçalves; guarda chefe, Zacharias Cuoceo; guardas sanitários de l.a classe, João Gomes de Faria; de 2.a, Jayme Rodrigues de Araújo e Luiz Ferreira dos Santos Bastos; de 3.a, José Steiner do Couto e Constantino Lobato do Nascimento; ser- vente José Trindade de Belém. Fôram designados para servir no posto «Belisario Pen- na»; como director, Dr. José Alves Dias Júnior e auxiliar, Dr. Levi de Moura Loyola; escrevente, Alfredo Ferreira Lopes; guarda chefe, Affonso José Ribeiro; de l.a classe, Manoel da Costa Mathias; de 2.a classe, Arthur de Castro França, José Hermenegildo Martins e José Honorato Torres; servente, José Nicolau da Motta. Ficaram addidos aos dois Postos os Drs. Hermogenes Pinheiro e João Pinto de Oliveira. O Dr. Souza Araújo, depois de ter tomado ainda ou- tras medidas concernentes aos trabalhos, sahiu, acompa- nhado dos seus auxiliares, em direcção ao Entroncamento (Estrada de Ferro de Bragança) e ahi deu inicio ao re- censeamento da primeira zona, serviço que dirigiu pesso- almente durante oito dias. Merece ser descripto, ainda que succintamente, o pré- dio onde funcciona o Posto «Oswaldo Cruz», tantas são as bellezas de estructura e o conforto que nelle se encontram. Ao transpor o solido e elegante gradil de ferro pelo amplo portão que o biparte, a impressão é mais agradavel ao atravessar o lindo jardim, que antecede a sumptuosa escadaria de lioz, que dá accesso ao vestíbulo, onde se en- contram quatro bancos de espera. Este pavimento é todo revestido de mosaico allemão, em desenho de cores claras, de um tom suave. Os roda-pés de madeira são altos e bem trabalhados, e bem assim o forro, que é todo feito de pla- cas metallicas em relevo; as paredes pintadas em grandes almofadas imitando 'mármores amarello e côr de rosa. A’ direita, dá entrada para o gabinete de consultas; á esquerda, para o salão de visitas e ao fundo, para a sala da bibliotheca. O gabinete de consultas é assoalhado de pau amarello e pau ferro, em losangos concêntricos, e tem as paredes pintadas de azul e branco, imitando louça polida, permit- tindo lavar-se com sabão, á esponja. A mobilia consiste em um pequeno armario contendo medicamentos e alguns ins- trumentos para pequenas intervenções cirúrgicas e cura- tivos; um sofá para exames clínicos; um lavabo de porcel- lana encimado por pequena estante onde se vêm vidros com soluções antisépticas; uma mesa com cadeira para o medico e mais duas cadeiras. O salão de visitas ostenta luxuoso assoalho de bellis- simo desenho, trabalhado em pau setim, acapú, amaro- gonçalo e pau-rôxo, tudo bem envernizado. As paredes são pintadas a oleo, cor de salmão e o fôrro, também pin- tado a oleo, mas rosa pallido. A mobilia rica, sem sumptuosidade, é de jacarandá e palhinha. Consta de um sophá, duas poltronas, 'seis cadeiras pequenas, quatro de encosto para centro de sala, mesa-jar- dineira, dois porte-bibelots e duas columnellas para vasos ou estatuetas. O salão, vasto e attrahente, é aclarado por uma janella tríplice na frente e outra lateral, o que fal-o bem arejado, além das portas que o communicam com o vestíbulo e a sala de bibliotheca. Esta é assoalhada de macacahuba, pau-amarello e acapú, formando lindo mosaico. O tecto, como os demais, é de ferro apainelado, com talha e pintura a sete côres brandas e as paredes são pintadas a oleo em grandes re- ctângulos imitando mármore branco veiado de verde. A luz é fornecida por tres janellas, das quaes duas dão para o saguão central do edificio. Da bibliotheca, por uma porta á direita, passa-se para o vestiário, pequena sala caiada, com assoalhado de pau- amarello e acapú em largas fitas e fôrro pintado de branco. Em seguida ao vestiário é installada a secretaria em uma sala, abrindo á direita, uma janella para o pateo late- ral e á esquerda, uma porta para uma galeria coberta, de piso mosaicado, formada de painéis de vidro emmoldurados eni armação de ferro, ligando a bibliotheca á sala dos guar- das e deixando, á direita, o almoxarifado. A sala dos guardas, bastante espaçosa, de forma re- ctangular, abre duas janellas para o saguão central e uma, á esquerda, para o pateo lateral; uma porta, á direita e, duas ao fundo, dando serventia a tres quartos. Por uma quarta porta ao fundo passa-se para ura vasto terreno mosaicado, coberto por ampla «marquise» de vidro engastada em ferro. A sala dos guardas está ligada á bibliotheca, pela es- querda, por uma galeria recurvada, de vidro e ferro, onde ha banheiro, gabinete sanitario, pharmacia e cozinha. Ao fundo do edificio fica um grande quintal, todo mu- A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARÁ P»elem. Posto anli-paludico do S. Braz dirigido pelo Dr. Lauro de Almeida Sodré. Um dos muitos casos íilariose (Klophantiasis arabum no bairro do Souza A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARÁ Belem. Fm caso de bouba (Frambiose lropica(. rado, que se presta perfeitamente para a installação de um serpentário. No meio do saguão central, impectuoso e elevado jacto d’agua emerge de uma piscina circular. Os porões são amplos, bem arejados e bastante altos, permittindo andar livremente; o. sólo, impermeabilizado por espessa camada de concreto de cimento. Foram dados os maiores cuidados technicos e de mão de obra á construcção do edificio. Os alicerces são de pedra e cal até fóra do sólo; as paredes, de tijolos rectangulares, ligados por argamassa de cimento e areia. O vigamento é todo de acapú. A zona a cargo do Posto «Oswaldo Cruz» abrange uma grande área limitada ao Norte pela avenida Duque de Ca- xias; a Léste por uma parallela á travessa José Bonifácio que, partindo daquella avénida, passa pela estação do En- troncamento da Estrada de Ferro de Bragança, no kilome- tro 11, e vae terminar á margem esquerda do rio Guamá e á Oéste pela avenida José Bonifácio. Dentro desta grande área ficam os seguintes edifícios públicos do Estado: Instituto Lauro Sodré; mananciaes d'agua do Utinga; Linha de Tiro Hilário Gurjão; Hos- picio de Alienados; Estação Central da Estrada de Ferro de* Bragança; Estação do Entroncamento da mesma Es- trada; Hospitaes de isolamento São Sebastião, Domingos Freire e São Rocque; Leprosaria do Tocunduba; Postos policiaes do Souza e São Braz; Escolas de Canudos e os de propriedade do Município, taes como: Posto «Oswaldo Cruz»; Asylo de Mendicidade; Bosque Municipal Rodri- gues Alves; Mercado da Praça Floriano Peixoto; Cemi- tério de Santa Izabel. Os prédios particulares mais importantes são: Fabrica de Oleos e de Beneficiamento de Algodão LToença; Cam- pos de «foot-ball» Remo e Paysandú e algumas bellas e confortáveis vivendas de verão. As demais habitações são constituídas de barracas com paredes de barro ou madeira, caiadas ou pintadas, com co- bertura de telhas côncavas de barro ou zinco ondulado; pavimento assoalhado de madeira ou cimentado e de pe- quenas palhoças, de paredes toscas de barro, cobertas com pàlha de übuassú ou übussú (Maniçaria saccifera) tendo o piso de terra batida. Estas palhoças, sem hygiene e desertas de conforto, exiguas para o numero muitas vezes crescido dos seus mo- radores, contem sala, communicando por um corredor com pequena sala de refeições, que também serve de cozinha e um quarto, sem janella, formado por uma das paredes la- teraes e tres meias paredes, abrindo urda porta para o corredor. Homens, mulheres, creanças e, até animaes domésticos, dormem promiscuamente no unico quarto da habitação. Ahi a vida é pobre; a alimentação defficiente e de má qualidade. Consta de peixe salgado, apenas cozido, quasi sempre deteriorado, e de farinha de mandioca. A essa tendencia piscivora, as mais das vezes parca e inconstante, vem juntar-se o uso dos vinhos de fructos sil- vestres, entre os quaes sobresaem a bacaba e o assahy, a cujo sueco addicionam exaggerada porção de farinha, causa principal de pyroses chronicas, pela constante fer- mentação desse excesso de produetos feculentos. Um dos maiores males, também, é o conceder-se as creanças a liberdade de se alimentarem sobre posse, per- mittindo-se-lhe ainda que estejam comendo a toda hora, es- pecialmente mancheias de farinha secca, quando não mistu- ram-n’a com agua para fazerem o conhecido chibé. Esses desregramentos, numa alimentação já de si tão nociva e imprópria á especie humana, trazem como conse- quência males que atacam a população rural da nossa terra. Não ficam, porém, ahi todos os desacertos na alimen- tação da nossa gente rústica: além dos fructos silvestres, alguns dos quaes precisam de ser cozidos para que possam ser utilizados —como o piquiá e a popunha, todos bastan- tes oleaginosos,—como o uxy e o umary,—faz o nosso ta- puio uso immoderado de chás, especialmente de folhas de caféeiro, e mingáus de toda especie, sobremaneira indi- gestos e nocivos, quaes sejam os de tucuman, mucajá, ba- caba e até do proprio assahy. Prefere a nossa gente esse engodo tão prejudicial ao seu organismo, acompanhado da preguiçosa morbidez dos somnos prolongados, á tonifica- dora actividade de um trabalho proveitoso. A esse conjuncto de causas pathologicas associam-se as consequências desorganizadoras do alcoolismo e do ta- bagismo, completando a degradação do nosso povo, já ven- cido definitivamente para as grandes luetas da vida. A parte central da zona forma um planalto, de 16 a 18 metros de altitude, e constitue o divisor de aguas dos iga- rapés das duas vertentes: bahia do Gaujará e rio Gnamâ. São igarapés da vertente da bahia do Guajará; o São Joaquim, que nasce num igapó, á direita da linha do ra- mal do Pinheiro da Estrada de Ferro de Bragança. Este igarapé é um affluente da margem esquerda do igarapé do Una, que vae desaguar na bahia do Guajará, á esquerda da antiga Olaria Una. O Jacy, affluente da margem esquerda do igarapé São Joaquim, nasce nos fundos da propriedade do agri- mensor, Sr. Innocencio Bentes. Os da vertente do rio Guamá são: igarapés do Utinga e Buiussúquára, affluentes da margem direita e esquerda, respectivamente, do Murutucú, que desagua no rio Guamá. Estes dois igarapés Utinga e Buiussúquára, são os que for- necem agua para o abastecimento da população da capital. Encontra-se também o igarapé Tocunduba, que nasce nos terrenos fronteiros ao Asylo de Alienados, corre paral- lelamente á avenida Tito Franco até a praça Floriano Pei- xoto por traz da Estação Central da Estrada de Ferro de Bragança e dahi, parallelamente á travessa José Bonifácio até desaguar no rio Guamá. E’ este igarapé que forma a grande baixa alagadiça, que se estende desde o Boulevard Corrêa de Freitas, na Bandeira Branca, até o rio Guamá. Estão integralizadas na mesma área tres grandes pro- priedades territoriaes pertencentes: Jupatituba ao Sr. Co- ronel Emilio Adolpho de Castro Martins; Murutucú ao Banco do Brasil e Pedreira ao Dr. Charles Ernest Brisard, sua esposa, D. Umbelina Brisard e sua cunhada interdicta, senhorinha Amélia de Miranda Quadros. 2. —TRABALHOS REALIZADOS a} Serviço contra as verminoses A campanha contra as verminoses sendo a parte mais importante da vida dos Postos Ruraes, por este ponto co- meçaremos a nossa exposição. Desde 9 de Junho de 1921, inicio do serviço rural neste Estado, até 31 de Maio do corrente anno, o posto «Oswaldo Cruz» effectivou os seguintes trabalhos: Pessoas recenseadas 10.506 em 10 zonas com os se- guintes resultados: Primeiros exames coprologicos... 7.368 Positivos para qualquer verme... 7.2770u98,76% Negativos para o mesmo fim 91 ou 1,24% Ancylostomose.... 6.084 ou 83,22% Ascaridiose 7.113 ou 97,04% Trichuriose 6.614 ou 92,22% Estrongylose 643 ou 10,65% Enterobiose 1970 u 2,29% Outras infecções. 4ou 0,35% Positivos para Segundos exames coprologicos... 716 Positivos para qualquer verme.. 6950u97,06% Negativos para o mesmo fim 21 ou 2,94% Ancylostomose... 231 ou 34,36% Ascaridiose 583 ou 79,40% Positivos para Trichuriose 6380u85,18% Estrongylose 31 ou 5,24% Outros parasitos. 2ou 1,83% Primeiros exames para verificação da taxa de hemo- globina pelo methodo de Tallquist, foram feitos 7.490, dan- do como média geral a porcentagem de 55,61 %. Segundos exames—fôram feitos 1.052 exames, obtendo- se como média geral a porcentagem de 62,81 %. Raças Das pessoas examinadas eram: Brancos 2.525 ou 34,26 °/0 Mestiços 4.413 ou 59,89 °/0 Negros 430 ou 5,85 °/0 7.368 Medicações Contra as verminosas fôram dadas as se- guintes ; Primeiras 5.753 Segundas 4.244 Terceiras 3.058 Quartas 1.898 Quintas e mais * 783 Inspecções Fôram inspeccionadas e cadastradas 1.821 15.736 casas, encontrando-se com installações sanitarias: Acceitaveis 550 Defeituosas 83 Inexistentes 1.188 1.821 Mediante intimação nossa fôram : Melhoradas 19 Construídas 249 Intimações Fôram expedidas 828 intimações das quaes fôram cumpridas, 268. Abastecimentos d 1 agua—São providas de canalização geral, 361 casas; de corregos e fontes, 147; de poços, 819 e as demais supprem-se das vizinhas. Prophylaxia da Variola Fôram vaccinadas e revac- cinadas 5.691 pessoas, sendo: vaccinas 4.617, e revaccinas 1.074, sendo expedidos 1.866 attestados. b) Serviço contra o impaludismo Doentes matriculados nesta sec- Total de exames de sangue para pesquiza de hematozoarios... 2.369 Positivos 905 ção 2.369 Negativos 1.341 Prejudicados 123 PROPHYLAXIA RURAL 1922 Cidade de BELÉM dcy CJic/ít . 4 CU?CO"uXy oLoâ Se/CS> c^. 2 3 ivO tU/iAyto cto' JJ í> y C-cvxúcv ctcvó Soedi/Ç-O/ò ‘'Ve/i T^e-"oe-. O 3 iu>LélXi-Lo SlO eccvp OUybbCt> cía \!op 'OCX, Ji iXoJiy S ui-o ( 3-0 o Bcvi itei uto) 5 oojj otool/ 3. Se/LcvOLóoõb coi i/CMi/tc-0 ). 6 cK? oop 3)o-i-iM/iujjoO tí-ce-Loc-.^Su- èc/Ooui/to-Oe. Cl Cccrpo cCc> Co\sc./’/v ci/ouo íe-rvioao' 10 Soo-to - cu-utvjo a-Lvuolóco 3. Sò'' & CL Cl Iíl co C.H Os positivos revelaram: Plasmodium vivax 409 ou 45,19% Plasmodium falciparum 494 ou 54,58% Plasmodium malarice 2 ou 0,22 % Associações dos dois primeiros. 20 ou 2,20 % positivo eram: Idade dos impaludados. Dos que revelaram exame De 0 a 5 annos ... 179 De 5 a 15 annos 326 De 15 a 50 annos 370 De mais de 50 annos 30 905 Consultas: Aos impaludados matriculados foram dadas 10.411 Medicamentos gastos. Injecções : De soluto de saes de quinino.. 4.939 Sendo : De 0,50 : 228 De 1,0 4.711 De soluto de azul de methyleno. 1.050 Comprimidos: De saes de quinino 67.050 Sendo: De 0,25 27.800 De 0,50 39.250 Capsulas De azul de methyleno e quinino.. 0,10x0,40. 5.600 De saes de quinino 0,50 3.300 Polyclinica: Nesta secção foram matriculadas 4.748 pessoas, ás quaes o Posto forneceu medicamentos varias vezes. CAPITULO Ml CONDIÇÕES MEDIOOSANITARIAS DA REGIÃO PERCORRIDA PELA ESTRADA DE FERRO DE BRAGANÇA (Relatorio dos trabalhos da Commissão Ambulante que operou nessa região, de Junho de 1921 a Maio de 1922) PELO Dr. ANASTACIO DA SILVA MONTEIRO Sub-inspector sanitario rural Encerrado o primeiro anuo dos trabalhos de Prophylaxia Rural, neste Estado, cumpre-nos relatar o movimento de uma secção deste Serviço, a nós confiada. Referimo-nos á Commissão’ Ambulante que operou na vastís- sima zona agricola da Estrada de Ferro de Bragança, a mais im- portante e a mais extensa do Estado, como também, infelizmente a mais atacada pelas Yerminoses e pelo Impaludismo os dois maiores pesadellos da população rural do nosso Paiz. A zona bragantina estende-se em direcção Leste, rumo á cidade de Bragança, fazendo um percurso de 246 kilometros; é servida por estradas de ferro e possue um dos climas mais agradaveis do Estado. A região divide-se em 3 municípios todos muito importantes e densamente habitados pelos emigrados do Nordeste, que lhes em- prestam a característica especial dos sertões dalli. Encontrámos em todo o seu vasto percurso, agrupamentos co- loniaes de pequeno movimento, povoados e villas muito importantes pelas rendas e producções dos seus núcleos coloniaes. Para evitar a monotonia que a descripção de cada povoado ou villa em que trabalhámos, fatalmente traria a esta exposição, re- solvemos, uma vez que ha uniformidade no typo, descrever de um modo geral o aspecto que apresentam. Pouco conseguimos saber relativamente á historia da fundação de cada um desses povoados, mas uma vez installados, aqui e a acolá, com caracter provisorio, foram evoluindo gradativamente sem entretanto tomarem a directriz das localidades progressistas. Possuem todos a rua principal a que margina á linha ferrea e mais algumas ruas e travessas em numero sempre inferior a dez. Não ha alinhamento das ruas e o typo de construcção é sem- pre o mesmo e o peór possível. Predomina a casa de taipa, coberta com cavacos, muito baixas e escuras, sem soalho e sem reboco, prestando-se bem para abrigar 243 os mais perniciosos insectos inimigos do homem, taes como: as pulgas, os percevejos, anophelineos, e talvez o «Barbeiro». Têm, em geral, dois ou tres compartimentos, uma porta de frente e uma janella muito pequena, quando existe; uma porta de fundos, compartimentos onde se acha o fogão quasi sempre duas pedras e onde se fazem as refeições. Existem entretanto algumas casas com melhor apparencia, co- bertas de telha e assoalhadas, com algumas janellas, rebocadas e caiadas, mas em proporção insignificante e sempre mal situadas e de typo acachapado, o que as torna quentes, e desagradaveis ao aspecto. Os quintaes sem installações sanitarias são lameiros de porcos, cuja criação é muito abundante e feita com a maxiraa liberdade, até nas próprias ruas. Abrimos aqui excepção para as villas de Igarapé-Assú e Capa- nema, localidades progressistas onde já se observa melhor typo de construcção, mesmo porque são a séde dos dois municípios mais importantes da zona: Igarapé-Assú e Quatipuní. A inslrucção primaria é pouco cuidadaj mas encontrámos algu- mas escolas, quer publicas quer particulares, com frequência regular, Exgottos, limpeza e conservação das ruas, illuminação publica, etc., são melhoramentos bastante descurados, pelos respectivos di- rigentes em quasi todos os logares em que acampámos. A matança de gado para abastecimento é feita uma ou duas vezes por semana, o que obriga a alimentação com carne salgada e peixes seccos, mal tratados, muitas vezes em franca decomposição. A actividade e o movimento desses povoados e villas se ac- centúa aos domingos, dia reservado pelos colonos para a feira dos seus productos. E’ quando a povoação regorgita de homens e animaes por que onde está o colono está necessariamente o cavallo, seu compa- nheiro de todos os momentos, o seu meio de locomoção, de transporte de carga, o motor do seu engenho, e afinal o orgulho de sua apresentação em todos os actos alegres ou tristes. O povoado movimenta-se e anima-se, as tavernas repletam-se e o álcool, representado pela cachaça, entra infelizmente, em acção. Durante a semana os dias são longos e monótonos cora a li- geira animação apenas que lhe traz a chegada dos comboios. Com isto dizemos resumidamente do costume e aspecto dos povoados onde trabalhamos e que fôram respectivamente, Ameri- cano, S. Izabel, Caraparú, Anhanga, Castanhal, S. Luiz, Timboteua, Peixe-Boi e Capanema. Estudaremos agora de modo geral o estado sanitario de toda a zona inspeccionada e trabalhada. Eis o povoado aos domingos. Outr’ora prospera, saudavel e feliz toda essa vasta região, aeha-se actualmente em estado precário, quer sob o ponto de vista sanitario, quer sob o ponto de vista economico-financeiro. O impaludismo e as verminoses, os mais terríveis flagellos da nossa raça, fazem ahi, annualmente, milhares de victimas. 244 Proíundamente anemiantes, reduzem essas populações á extrema miséria organica, tornando-as improductivas e inefíicientes. Vemos, cora profundo pezar, em cada habitante, uma cellula viva da Nação em franca decadência. São todos, com rarissimas excepções indivíduos portadores dos estigmas dos dois grandes males alludidos. Pela falta de assistência medica ou hygienica, deficiência de recursos e extrema ignorância em que vivem, tornam-se accessiveis a todas as doenças. E’ doloroso vel-os e ouvil-os! O impaludismo que de ha muito vem malsinando essa pobre gente, tem se manifestado ultimamente sob a fórma de violentos surtos epidemicos, arrastando na sua faina destruidora, um numero incalculável de vidas uteis, levando o lucto e a miséria a todos os lares. Antes não se verificara nessa região nenhuma doença, com caracter epidemico, a não ser a ultima epidemia de grippe que tendo assolado o Paiz inteiro, fez também ahi algumas victimas. Não ha recurso medico em toda a zona, encontrando-se apenas algumas pharmacias, servidas em sua maioria por práticos licen- ciados, inteiramente alheios á causa do saneamento. Também não existem hospitaes, quer publico quer particula- res, para soccorrer os doentes, falta que se torna em extremo sensível. ’ . Dos tres municípios em que está dividida essa zona, só dois têm em seu orçamento leis de caracter sanitario: o de Belém e o de Igarapé-Assú. O primeiro consignou uma verba annual de 72 contos para os serviços de saneamento, sendo por isso creado, depois do respectiva contracto com a Chefia do nosso Serviço, um Posto fixo com séde em Santa Izabel e com jurisdicção em toda a área comprehendida entre Ananindeua e Anhanga, numa extensão de dezenas de kilome- tros. O segundo consignou em seu orçamento uma verba annual de 12 contos para o saneamento rural, não tendo, entretanto, até aqui, o Intendente respectivo feito qualquer contracto com o Serviço, por falta de numerário, conforme nos asseverou. E’ com pezar que registramos aqui esse facto pois bem co- nhecemos das necessidades da grande população desse Município, onde trabalhámos cêrca de cinco mezes combatendo violento surto de impaludismo, que atlingiu simultaneamente as povoações de São Luiz e Timboteua, a elle pertencentes, e onde a frequência de do- entes ao Posto foi sempre considerável, como se vê pela photogra- phia que iliustra este trabalho. O terceiro Município não contêm em seu orçamento lei nen- huma de caracter sanitario, sendo para notar a bôa vontade que encontrámos, por parte do Intendente, em auxiliar os trabalhos da nossa Commissão, durante 13 dias que alli permanecemos. Todo o trecho percorrido como parte integrante que é, da baixada Amazonica, está sob a influencia dos mesmos factores A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Belém. Barraca do bairro de Santa Izabel. Belém. Barraca de taipa e cobertura de palha de übussú. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Belém. Palhoça do bairro de Santa Izabel, vista de frente Palhoça do bairro de Santa Izabel, vista pelos fundos. optimos para o desenvolvimento das endemias, taes como as ex- tensas e densas florestas, temperatura média annual muito elevada, sólo e atmosphera sempre húmidos e grandes áreas periodicamen- te inundadas pelas enchentes dos innumeros rios que cortam a zona em vários pontos e onde é facil a procriação das anophelinas, que ahi se encontram com abundancia. E’, com tudo, de notar, que existem localidades onde as con- dições mesologicas parecem desfavoráveis á biologia dos hematozoa- rios, sendo esses logares considerados como verdadeiros sanatórios pelos impaludados e das povoações vizinhas que alli se restabelecem era pouco tempo e mediante tratamento pouco intensivo. Trata-se de povoados em que a floresta já se acha muito afas- tada, collocados acima do nivel do mar e tendo temperatura annual relativamente baixa, com indice anophelinico bastante reduzido. Nunca se verificou nesses povoados a explosão de um surto epidemico de impaludismo, registrando-se apenas casos isolados e raros autochtones. Foi o que observámos sobre o desenvolvimento dessa doença em toda a região. Para a pesquiza de hematozoarios fizemos 611 esfregaços de sangue que deram resultado positivo 296 vezes, sendo para o Plas- modium vivax 95, para o Plasmodium falciparum 201; dos res- tantes fôram negativos 296, 1 suspeito e 18 prejudicados. Entretanto o numero de impaludados, com diagnostico clinico, inscriptos nas cadernetas, sobe a 8.064, sendo inteiramente impos- sível, dada a grande frequência de doentes, colher sangue para maior numero de exames. Fizemos 15.795 tratamentos nos quaes gastámos 6.742 injecções e 62.600 comprimidos de 0,50 e 0,25 centigrammos de saes de quinina. Predominou a fórma maligna sendo a sua porcentagem 67,9 °/0 que denota a extensão e gravidade da infecção que, felizmente, cedeu com o energico combate que lhe oppuzémos. Para determinação da taxa de hemoglobina, empregámos o me- thodo de Tallquist, o, mais simples se bem que o menos preciso, conseguindo fazer 6.663 exames, cuja porcentagem média geral foi de 39,35 %. Fizemos intensa propaganda sanitaria por meio de conferencias publicas e por meio de folhetos largamente distribuídos. Todo o serviço era feito quasi que exclusivamente no Posto e em hospitaes improvisados por nós, em cada localidade, onde reco- lhíamos os doentes que chegavam ao Serviço, em estado grave, de regra conduzidos em rêdes. Para systematização e efficiencia da campanha de combate ao impaludismo em toda a área percorrida, julgámos indispensável a creação de um ou mais Postos fixos para séde dos serviços que por sua vez installariam sub-postos, também fixos, em cada locali- dade, com pessoal relativo á extensão de cada núcleo colonial e sob a fiscalização directa do medico. Oulrosim, construir em cada povoado um hospital para o tra- famento systematico dos doentes e finalraente executar, de accôrdo com as necessidades locaes, as demais medidas de saneamento rural, insertas no programma do Departamento de Saúde Publica que vem sendo cumprido neste Estado, na medida do possível. Não menos proficuo íoi o serviço de combate ãs verminoses que macabramente associadas ao impaludismo, vem, de ha muito, infelicitando a nossa gente, em todo o Paiz. E’ deveras alarmante a porcentagem por nós encontrada em milhares de exames feitos, de indivíduos parasitados por vermes os mais divesos, principalmente pelo Necator americanus o maior ini- migo do Brasil, na feliz expressão do grande mestre Belisario Penna. Assim, em Americano, S. Izabel, Anhanga, Castanhal, S. Luiz, Timboteua, Peixe-Boi e Capanema, colhemos 4.408 amostras de fézes para exames microscopicos cujos resultados revelaram ovos de Necator em 4.260, Ascaris 4.379, Trichuris 4.261, Strongyloides 1.075 e Oxyurus 165, ou sejam as porcentagens de 96,64 99,34 96,66—24,41 e 3,74, respectivamente. Em 500 creanças de 0 a 5 annos, examinadas, eram portado- ras de Necator 427, de Ascáridas 481, de Trichocephalos 444 e de Estrongyloides 93, com as porcentagens 85,40—96,20—88,88 e 18,60. De 1.678 indivíduos de 6 a 18 annos, examinados, apresenta- vam-se infectados pelo Necator 1.653, pelas Ascáridas 1.677, pelo Trichocephalos 1.642 e pelos Estrongyloides 588, dando as se- guintes porcentagens de 98,51—99,94 97,85 e 35,04. Em 1.683 indivíduos de 19 a 40 annos, eram portadores de Necator 1.650, de Ascáridas 1.675, de Trichocephalos 1.639 e de Estrongyloides 331, com as porcentagens respectivas de 92,09, 99,52, 97,38 e 19,66. Em 486 individuos de 41 a 60 annos, tinham Necator 472, Ascáridas 485, Trichocephalos 478 e Estrongyloides 59 com as se- guintes porcentagens; 97,12, 99,79, 98,35 e 12,13. Em 61 individuos de mais de 60 annos, apresentavam Necator 58, Ascáridas 61, Trichocephalos 58 e Estrongyloides 4, com as porcentagens seguintes: 95,08, 100%, 95,08 e 6,55. A associação mais commum—Necator Ascáridas—Trichoce- phalos é representada pela significativa porcentagem de 97,54, sendo apenas encontrados 16 individuos, todos de menos de 2 an- nos de idade, izentos de vermes. Dos 4.408 individuos examinados 767 eram brancos, apresen- tando as seguintes porcentagens, nas infestações: Necator 97,78, Ascáridas 99,45, Trichocephalos 98,17 e Estrongyloides 17,47, 3.521 eram mestiços encontrando-se infestados por Necator 90,71, por Ascáridas 99,28, por Trichocephalos 96,30 e por Estrongyloides 26,04 e os negros em números de 120, apresentavam as seguintes porcentagens nas diversas infestações: 96,66, para o Necator, 100% para Ascáridas, 97,50 para Trichocephalos e 20 % para Estron- gyloides. Fôram examinados 2.438 individuos do sexo masculino e 1,970 do feminino, com as seguintes respectivas porcentagens; Necator 96,80 e 96,44; Ascáridas 99,34 em ambos os sexos; Trichocepha- los 96,80 e 96,49 e Estrongyloides 25,02 e 23,65. E' bera eleva- do o gráu de infestação nas mulheres, o que tem por causa a sua coparticipação nos trabalhos agrícolas. Demonstrada a gravidade da infecção pelos diversos vermes, resta-nos dizer, do combate que emprehendemos contra essa ende- mia, durante todo o periodo de nossa actividade. Foram recenseadas 21.340 pessoas, que receberam contra a helminthose em geral 32.805 medicações sendo 20.800 primeiras, 8.106 segundas, 3.165 terceiras, 623 quartas e 111 quintas. O anti-helminthico empregado de preferencia foi o chenopodium, de que foram gastos 21 kilogrammos. Applicámos também 1.832 grammas de thymol. Gastámos 1.300 kilos de sulphato de magnesia e 65 kilos de oleo de ricino. Em mappa já enviado a essa Chefia, fazemos relação detalhada de todos os medicamentos gastos. 0 tratamento contra as helminthoses era feito exclusivamente no Posto, pois não era possível, pelo caracter da Commissão, fazer esse serviço em domicilio, systematicamente, como é do programma da Prophylaxia Rural. Entretanto, com a organização que demos ao trabalho, depois da pratica adquirida, conseguíamos medicar avultado numero de verminoticos, diariamente, tendo chegado a 500, algumas vezes, o numero de doentes attendidos. Estamos certos, de que a efficiencia desse trabalho executado como acima ficou dito, deixou muito a desejar, comparado com a dos Postos fixos, que bem installados e completamente appare- Ihados, pódem fazer um serviço systematico e completo. Máo grado, entretanto, todas as desvantagens de um serviço ambulante, foi grandemente profícuo o esforço que empregámos, pois conseguimos reduzir flagrantemente, em um anno de actividade, o coefficente de infestação, o que fez volverem á actividade, centenas de indivíduos, normalisando-se a vida em todos os povoados. Após a demora indispensável, a Commissão se transferia para o povoado vizinho, também atacado, que insistentemente reclamava pela sua actividade. Com a confiança que logo o serviço foi adquirindo, tornou-se considerável a frequência ao Posto, sendo algumas vezes necessário o concurso das auctoridades locaes, para evitar qualquer perturba- ção da ordem e da bôa marcha dos trabalhos. Procedemos também á inspecção do maior numero de casas, que o tempo nos permittíu, conseguindo em muitas, fôssem feitas installações sanitarias e outros trabalhos taes como: limpeza de quintal, aterros etc., sendo de notar a bôa vontade com que rece- biam e cumpriam os nossos conselhos e intimações. Urge intimar a Estrada de Ferro a conduzir depositos de íézes nos seus carros, que são permanentes disseminadores do mal. Resta-nos agora descrever o trajecto da Commissão fazendo as referencias necessárias a cada localidade em que estivemos. Dias após a installação do Serviço em Belém, constantes soli- citações dos moradores de Americano e Anhanga, povoados margi- naes da Estrada, determinaram a partida de uma pequena expe- dição, composta apenas do Dr. João Pinto de Oliveira e um guarda sanitario, a qual acampando em Americano e Anhanga, por espaço de 8 dias, recenseou 580 pessoas, medicando contra verminoses 473, todos com primeira medicação. Desses doentes 464 apresen- tavam infecção palustre e receberam 532 tratamentos, constantes de injecções e quininização por via gastrica. Contra a variola, applicou 330 vaccinas e colheu material para 26 exames de sangue para pesquiza do hematozoario de Laveran, sendo encontrados 19 positivos, 17 para Plasmodium vivax e 2 para Plasmodium falci- parum. Em l.° de Julho o Dr. Pinto de Oliveira íoi chamado á Capi- tal, para assumir o cargo de Fiscal do Exercício da Medicina e Artes correlactas, por designação do Dr. Director Geral, em tele- gramma de 28 de Junho. Dias depois seguimos para os mesmos logares, acompanhado de um guarda sanitario e em 18 dias fôram recenseadas 893 pes- soas, sendo-lhes applicadas 482 primeiras medicações contra helmin- thoses. Fôram registrados 735 casos de impaludismo, que recebe- ram 903 tratamentos constantes de injecções e quininização a com- primidos. Apenas 6 exames fôram feitos para pesquiza de heraatozoarios e nelles foi encontrado o P. vivax 2 vezes e o P. falciparum 5, porque um dos examinados, era portador de dupla infecção. Por determinação da Chefia recolhemo-nos á séde. O caracter demasiado transitório dessas duas expedições, ti- rou-lhe a importância e sobre ellas nada nos occorre dizer, mesmo porque, nos mezes subsequentes e mais a vagar, estivemos nessas localidades. A Commissão Ambulante definitivamente organizada e que agiu durante 8 mezes, começou a sua actividade a 19 de Outubro do anno p. findo, em Americano, onde chegamos no mesmo dia, acom- panhados dos guardas sanitários Tasso Alencar e João Amazonas dos Santos e ambulancia necessária. Americano é ura dos muitos povoados marginaes da Estrada e está situado no kilometro 58, Município de Belém. Localidade outPora prospera, hoje muito decahida pelos cons- tantes surtos palustres, que de 1908 para cá, têm perseguido essa localidade. Ahi além dos trabalhos que se acham incluídos como os demais da região no mappa geral annexo, fizemos diversas viagens em animaes para a colonia Ferreira Penna, num percurso de 18 kilo- raetros, attendendo doentes que se achavam préviamente avisados para esse fim. Demorámos em Americano 12 dias. A 31 de Outubro, para attender uma solicitação dos morado- res do Rio Garaparú, endereçada á Chefia e a nós encaminhada para ser attendida, levantámos acampamento e para ali nos diri- gimos. De passagem por S. Izabel tivemos necessidade de demorar até 3 de Novembro quando houve transporte para Caraparú, sendo at- tendidos nesses dias todas os doentes que nos procuraram. A 3 de Novembro partimos para Caraparú em animaes até o ponto de embarque á margem do rio do mesmo nome, onde já nos aguardava a embarcação que nos conduziu á villa. Em Caraparú operámos em dois pontos, no Alto e no Baixo Caraparú, sendo regular o movimento de doentes. Não conseguimos ahi material para pesquizas mas verificámos que toda a população está sob a acção nefasta do impaludismo e das verminoses. Volvendo de Caraparú operamos novamente em S. Izabel, onde demoramos mais tres dias aguardando o comboio que nos conduzio a Anhanga. A 13 de Novembro inaugurámos o serviço em Anhanga, no ki- lometro 9õ, onde um violento surto de impaludismo agia intempes- tivamente. Em Anhanga tivemos um movimento de doentes extraordinário o que nos obrigou a recorrer a essa Chefia solicitando um auxiliar para se encarregar da escripta, no que fômos attendidos, sendo en- viado o guarda Benigno F. Gama que, dahi em diante, desempe- nhou accumulativamente as funcções de escripturario. Sensivelmente melhorado o estado sanitario desse núcleo co- lonial, nos transferimos para o kilometro 86 do mesmo districto, onde também, depois de farta quininização, conseguimos melhorar o estado sanitario, normalizando-se a situação desse povoado. A frequência cada vez raâior de doentes nos obrigou a solicitar mais um auxiliar sendo enviado o guarda João de Deus Lima que acompanhou a Gommissão até ser recolhida á sede. Ò serviço do kilometro 86 foi a continuação do iniciado no 95 não havendo por isso maior referencia a fazer. Demorámos em Anhanga 43 dias deixando a população desse importante núcleo colonial bastante melhorada. A 30 de Dezembro, seguimos para Castanhal, onde iniciámos os serviços, com uma frequência diaria de 400 doentes em média. Castanhal é uma das mais importantes localidades da Estrada, dotada de uma estação de l.a classe, com uma população appro- ximada de 15.000 habitantes e, aliás, um dos raros pontos onde o impaludismo não se manifesta com tanta gravidade. Ahi, por determinação dessa Chefia, passamos o archivo dos nossos trabalhos á Gommissão de S. Izabel, dirigindo-nos em se- guida para S. Luiz, no municipio de Igarapé-Assú, onde chegámos a 17 de Janeiro. Ahi trabalhámos sem trégua combatendo outro surto epidemico de impaludismo que nos occupou até 11 de Março, quando, depois de larga quininização, conseguimos êxito. Soccorrida a população de S. Luiz, sem perda de tempo par- timos para Timboteua, povoado visinho com cêrca de 9 mil habi- tantes e também atacado violentamente pelo impaludismo que ahi victimava 8 e 10 pessoas diariamente exterminando famílias in- teiras. Demorámos em Timboteua, até 22 de Abril, quando nos pas- sámos para Peixe-Boi afim de attender á solicitação dos seus ha- bitantes. Em Timboteua, ficaram dois guardas, attendendo exclusiva- mente aos doentes de impaludismo. Tendo pedido sua transferencia para o Oyapock o guarda Tasso Alencar, foi substituido pelo guarda Aurélio Cruz e como, ainda assim, fossem poucos para o serviço, recorremos á Chefia, solici- tando mais dois guardas, no que, fomos attendidos, sendo enviados Torquato Franco e Camillo Motta. Peixe-Boi é um dos pontos mais saudaveis de toda a zona percorrida, concorrendo bastante para isso a sua situação topogra- phica, clima etc. De Peixe-Boi, destacámos dois guardas, para attender Capa- nema, ultimo ponto era que trabalhámos. Capanema, localidade quasi isenta de impaludismo, mas sujeita ás verminoses, villa bastante habitada, é séde do Município de Qua- tipurú e possue um núcleo colonial importantíssimo. Ahi trabalhámos durante 13 dias attendendo um numero con- siderável de verminoticos. Juntámos a este um mappa geral em que vae detalhadaraente descripto todo o trabalho desta Gommissão, mencionando as loca- lidades em que operámos. Para completar este relatorio, fazemos seguir as seguintes obser- vações colhidas no decurso dos trabalhos; A lepra é pouco frequente nesta região, pois só compareceram ao Serviço 11 doentes, dos quaes fôram tiradas as fichas respecti- vas; certo é que só nos últimos tempos de trabalho pudémos prestar melhor attenção a este assumpto. Com relação ás dermatoses, observámos serem ellas frequen- tíssimas, sendo raro o individuo que não apresente erupção cutanea. E’ também grande o numero de ulcerados. Conseguimos registrar 320, ministrando-lhes 2.736 curativos que eram feitos diariamente no Posto. Os habitantes desta zona constituem familia muito jovens, predominando o casamento religioso, sendo insignificante a porcen- tagem das ligações illicitas. Por esse motivo a prostituição é muito reduzida. Contra a varíola, fizemos 1.820 vaccinações e 18 revaccinações. No tratamento do impaludismo fizemos também 4.292 exames de baço sendo encontrados 2.752 em estado inflammatorio. Cerca de setenta por cento das creanças da primeira infancia que compareceram ao Serviço, soffrem de gastro-enterite aguda ou chronica o que tem por causa o mau habito, infelizmente genera- lizado entre essa gente, de alimentar as creanças precocemente com papas e mingaus. Inquerindo systematicamente as mulheres que compareciam ao Posto conduzindo creanças em franca miséria physiologica, cobertas de erupções e pequenos abcessos, sobre o modo como alimentavam os filhos, a resposta era sempre a mesma: dou papa, mingaus ou pirão porque o meu leite é pouco ou não presta. E’ deveras lastimável ouvir-se confissões dessa natureza! O coefficiente da mortalidade infantil nessa região é assustador, pelo motivo exposto. Não poupei palavras no sentido de combater aquelle habito pernicioso reservando sempre uma parte das conferencias sanitarias para essa campanha patriótica e humana. Não me cançava de verberar, mesmo durante a consulta, con- tra esse péssimo costume, ensinando-lhes o modo mais pratico e salutar de alimentar os filhos, defendendo o leite materno que para todas ellas é considerado imprestável para a alimentação. Uma dessas mães infelizes, com a maior naturalidade, contou- me a seguinte historia; «tenho leite bastante a ponto de ter neces- sidade de extrahir uma cuia e mais para deitar fóra afim de não me encommodar, mas não dou ao meu filho porque uma pessoa entendida disse que o meu leite era muito fraco e que era melhor não dar á creança». E assim essa pobre creança passou a ser alimentada com papas e mingaus que eram dados durante o dia sem a menor observação de hora, sempre que sentisse fome. E’ mais ou menos esta a triste historia contada por centenas de mães interrogadas por mim, nessa região. Urge uma providencia dos poderes constituídos nesse sentido, pois é incalculável o numero de creancinhas que alimentadas pre- cocemente, daquelle modo, se encontram em toda essa grande zona soffrendo as graves consequências resultantes de tão perigoso pro- cesso de alimentação. Fôram muitos os casos de polyclinica attendidos por nós, todos porém de pouca importância, poupando-nos por isso de lhes fazer mensão especial. Fiscalizámos o exercício de medicina e os generos alimentícios, conforme determinação verbal da Chefia sendo applicada uma multa de quinhentos mil réis (500S000) ao indivíduo Felix Farag por vender drogas de sua manipulação sem que para isso se achasse legalmente habilitado. *0 multado, entretanto, apezar de ter assi- gnado o auto de multa, tendo assim sciencia do mesmo, não depo- sitou a importância respectiva, dentro do prazo legal sendo o auto respectivo entregue ao fiscal Dr. Francisco Miranda, para os de- vidos fins. Eis em resumo o que observamos no decorrer dos trabalhos que nos fôram confiados, sendo nossas ultimas palavras um appêllo em favor dos milhares de brasileiros que habitam a Estrada de Ferro de Bragança e que bem necessitam de assistência medica. Trabalhos realizados de Junho de 1921 a Maio de 1922 Serviço contra as verminoses: Total de pessoas recenseadas em 9 villas que a Commissão percorreu na margem da Estrada de Ferro de Bragança 21.340 Primeiros exames coprologicos 4.409 Positivos para qualquer verme 4.392 ou 99,60 % Negativos para o mesmo fim 17 ou 0,40% Ancylostomose .... 4.260 ou 65,57 % Ascaridiose 4.379 ou 99,31 % Trichuriose 4.261 ou 92,62 % Estrongylose 1.075 ou 24,15% Enterobiose 165 ou 3,74% Positivos para Exames de sangue para determinação da taxa de hemoglobina fôram feitos 6.663, dando como média geral 39,35 %. Raças.—Das 4.409 pessoas examinadas eram: Brancas 768 ou 12,65 % Mestiças v 3,521 ou 79,85% Negras 120 ou 7,50 % Medicações pelo oleo de chenopodio. Fôram dadas 32.805, sendo: Primeiras 20,800 Segundas..,.. 8.106 Terceiras 3.165 Quartas 623 Quintas 111 32.805 Inspecções.—Foram inspeccionadas e cadastradas 578 casas encontrando-se com installações sanitarias: Acceitaveis 225 Defeituosas 94 Inexistentes 295 578 Mediante nossa intimação fôram: Melhoradas - 52 Novas 140 Intimações.—Fôram expedidas 232, Cumpriram-se , 192 Não cumpridas 40 232 Abastecimento d'agua\— A maioria da população que habita a margem da Estrada de Ferro de Bragança abastece-se da agua dos igarapés, sendo pouco frequentes os poços. Prophylaxia da varíola.—Fôram vaccinadas e revaccinadas 1.838 pessoas, sendo: Vaccinações 1.820 Revaccinadas 18 1.838 A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA Paredes de enchimento. Cobertura de cavaco. Costumes do interior. A colheita do assahy. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Costumes do interior. Jangada. Sewiço contra o impaludismo. Doentes matriculados nesta, secção 8.064, Exames de sangue para pesquiza de hematozoario de Laveran: Positivos 317 Suspeitos 1 Negativos 275 Prejudicados 18 611 Os positivos revelaram; Plasmodium vivax 95 ou 26,79 % Plasmodium jalciparum 201 ou 73,21 °/0 Assoe, dos dois primeiros 15 ou 4,73% Exames de baço. Nas pessoas matriculadas foram feitos 4.292 tendo-se encontrado: Palpaveis . 2.750 ou 64% Impalpáveis 1.540 ou 36% Edade dos impaludados'. De 0 a 5 annos 33 De 6 a 18 annos 88 De 19 a 40 annos 170 De 41 a 60 annos 24 De mais de 60 annos 2 317 Consultas.— Aos impaludados matriculados foram dadas 15.795. Injecções.—Fôram appiicadas as seguintes: Soluto de azul de methyleno 1.519 Solutos de saes de quinino 4.429 Oleo camphorado ■ 794 6.742 Comprimidos de quinino gastos: De 0,50 34.600 De 0,25 28.000 62.600 Polyclinica: Consultas geraes 7.776 Sendo: Ulceras ..... 320 Curativos em feridas 2.736 Pequenas intervenções cirúrgicas 24 Escabiose 1.680 Outras dermatoses 3.016 Propaganda sanitaria.—Fôram realizadas 40 conferencias cora uma assistência approximada de Iõ.OOO pessoas e distribuídos al- guns folhetos e cartazes de propaganda. Observação. A Commissão percorreu as seguintes villas que marginam a Estrada de Ferro de Bragança; Americano, Caraparú, Santa Izabel, Castanhal, S. Luiz, Timboteua, Peixe-boi, Capanema e Anhanga. CAPITULO IV CONDIÇÕES M E DIOO-S ANIT ARI AS DA ILHA DO MOSQUEIRO E DEMAIS ZONAS SOB A ACÇÃO DO POSTO «CARLOS CHAGAS» PELO Sr. HERMO GENES PINHEIRO Sub-inspector sanitario Director do Posto « Carlos Chagas» I.—INFORMAÇÕES GERAES A villa do Mosqueiro está assente na costa Occidental da ilha do mesmo nome, á margem da bahia de Marajó e tem uma extensão superior a 11.000 hectares ou 110.000.000 de metros quadrados, medidos sobre uma ampliação do mappa do Engenheiro Santa Rosa, combinado com o da costa do Pará, do Oapitão-tenente Nobrega de Yasconcellos, segundo refere o Dr. J. Palma Muniz, no seu trabalho: «Patrimónios dos Conselhos Municipaes». Esta villa, distante de Belém, 18 milhas, demora sobre uma ilha plana, de chão pedregoso, areento e espelha o seu lindo rosto nas curvas marulhosas da bahia de Marajó, lambendo-lhe as plantas as aguas sussurrantes dos rios Pra- tiquára e Murubyra. Sua população ascende a 7.774 ha- bitantes. A temperatura média annual desta ilha, próxima do continente, excede sempre de 23°, 27o* e 28° e concorre para que, nesta região, em virtude do indice de calôr elevado e da humidade atmospherica conservada pelas grandes mat- tas, para favorecer accentuadamente a procriação de ano- phelineos e sua actividade constante. Ha ainda a circumstancia de ser o terreno, plano, com uma rica rede hydrographica e sujeito a grandes innun- dações annuaes e periódicas. Nesta região observámos no anno proximo passado um surto epidemico e tefnos tido sciencia de outros havidos annos atraz— eem épochas diversas. Desde 1854 o Mosqueiro pertenceu primitivamente á freguezia de Bemfica e como um districto desta freguezia', abrangia, em seus limites, terras da ilha, terras da costa e terras da ilha Caratateua ou Caratatuba. Foi elevada á categoria de freguezia pela Lei n. 563 de 10 de Outubro de 1868 e teve os foros de villa pela Lei n. 324 de 6 de Julho de 1895 e a Lei n. 753 de 26 de Fevereiro de 1901 concedeu á Intendência Municipal de Belém os terrenos occupados pelo districto do Mosqueiro, os quaes fôram incorporados ao seu património. Dá ac- cesso á villa uma ponte de base metallica, com alpendre na extremidade que avança para a bahia, descobrindo-se logo uma praça, com regulares edificações. Num dos prédios dessa praça se acha installado o Posto Sanitario «Carlos Chagas». Sem exgotto e sem canalização d’agua, o abastecimento deste liquido á população é servido por poços ou pelas aguas correntes. O que, á primeira vista, fére quanto á agua do Mos- queiro é a fraquissima quantidade de saes de cálcio. Ha também silica ferruginosa em suspensão, cuja quantidade deve variar segundo a épocha da estação em que seja ex- trahida a agua. O que é egualmente característico na agua do Mos- queiro é a presença de sal marinho; mas a quantidade desse sal não impede o seu emprego para a alimentação e usos domésticos. E’ mais que provável que este sal marinho provenha de infiltrações de agua do mar; por consequência a gra- duação da agua deve variar segundo as chuvas, as esta- ções, e todas as causas que actuam sobre as infiltrações. Finalmente, quanto á matéria organica não ha certa- mente mais do que na agua de Belém. Todas as ruas desta villa são de sólo areento e as que ficam mais próximas do porto de embarque conservam-se sempre limpas, não acontecendo o mesmo com as que demoram mais para o interior, as quaes se acham cobertas de capim e arbustos, quasi todas com depressões e na es- tação invernosa conservam collecções d’agua, offerecendo meio propicio ao desenvolvimento e proliferação dos mos- quitos. Fôram cadastradas, até agora, 1.162 habitações assim discriminadas quanto aos seus typos: Coberturas: de telha, 432 e o restante de palha. Piso: soalho, 332; de terra batida o restante. Paredes: Na zona A: de tijollos, 15; rebocadas e caiadas, 120; de taboas, 48; sapé, 6; pachihuba, 4, Z B: de tijollos, 17; rebocadas e caiadas, 180; de taboas, 30; sapé, 14; pachihuba, 5; zona C: de tijollos, 44; rebocadas e caiadas, 382; de taboas, 165; sapé, 85; pachihuba, 23. Total geral, 699. O restante das habitantes foi cadastrado no interior, cujo typo predomi- nante é a barraca. Em regra geral os quintaes das habitações não eram limpos, encontrei-os invadidos pelo matto, servindo de pasto á criação de aves domesticas e em muitas delias ao gado suino. No interior, esses animaes vivem em promiscuidade com os habitantes das choupanas. Pouco a pouco, com os con- selhos e intimações, essas condições vão se modificando. Diversas epidemias Por vezes esta villa tem sido visitada por entidades mórbidas de caracter epidemico, em épochas diversas, tendo os poderes publico enviado os necessários recursos. Assim é que em 1903 o impaludismo irrompeu, tendo sido regular o numero dos atacados. A principio fôram medicados pelo Pharmaceutico Francisco X. Dias Cardoso e depois pelo Dr. Remigio Filgueiras, commissionado pelo Sr. Intendente, como Inspector Sanitario Municipal. Em principio de Junho de 1905, casos de febre de máu caracter, de forma epidemica, fôram verificados nas po- voações Boa Vista e Carananduba, tendo sido designado o Dr. Miguel de Lima Mendes para dar combate a essa epidemia. O numero dos attingidos pelo mal elevou-se a 258, ten- do-se verificado poucos obitos. Em 1905 e no anuo seguinte, de 1906, esta pittoresca villa foi presa da terrivel variola e grande foi o numero de doentes e fallecidos, como se verifica: Atacados do mal 58; falleceram, 21 e ficaram curados, 37. Esta epide- mia durou de 6 de Novembro de 1905 a 28 de Fevereiro de 1906. Foi estabelecido o isolamento na 8.a rua desta villa, sob a direcção do Pharmaceutico Cardoso, auxiliado pelo enfermeiro Manoel Farrio, funccionando até 11 de Ja- neiro de 1906, quando o mesmo Pharmaceutico foi substi- tuído pelo Dr. Almeida Couto. Em 1907 nova invasão do mesmo mal, que terminou a 30 de Setembro do mesmo anno, sendo verificados apenas sete casos (7) e desta vez fôram soccorridos pelo Dr. Eutychio Pinheiro, auxiliado pelo mesmo Pharmaceutico Cardoso. Esta epidemia não se prolongou devido ás promptas providencias prophylacticas que fôram postas em pratica. Como nos demais logares, a epidemia de grippe foi violenta. Deram-se 431 casos, sendo adultos, 352, e creanças, 79. Do sexo masculino, 294 e feminino, 137. Em 1920 o impaludismo se alastrou sob a forma epi- demica e de um modo também violento, durando todo o anno, tendo-se manifestado no lugar Murubyra. Foi commissionado pelo governo para dar combate a essa epidemia o Dr. Pedro Nunes Rodrigues, Só na villa fôram notificados 244 casos. Leis municipaes de caracter sanitario A Lei n. 292 de 23 de Março de 1901 auctorizou o In- tendente a entrar em accôrdo com o Governo do Estado sobre o serviço de Hygiene e a Lei n. 1.040 de 16 de De- zembro de 1921, auctorizou o Intendente a contractar com a Commissão de Prophylaxia Rural, deste Estado, a partir de Janeiro de 1922, o serviço de saneamento das locali- dades do interior do Município e daquellas que forem ribei- rinhas da Capital. Recursos médicos e medicamentosos Não existe medico residente nesta villa e o da Prophy- laxia Rural attende todas as vezes que é chamado. Ha uma pharmacia que vae remediando as necessida- des do publico. Antes da installação do Posto -nesta villa, os recursos médicos vinham de Belém em soccorro daquellès que disponham de posses, pois, na villa não existia profis- sional, a não ser um Pharmaceutico diplomado, intellígente e de bôa vontade, mas que, á falta de recursos pecuniários não podia manter a sua pharmacia de molde a preencher todas as necessidades medicamentosas da população da villa, a qual também sem recursos, não dava elementos para o desenvolvimento dessa mesma pharmacia. 2. DESCRIPÇÃO DO POSTO —SEU PESSOAL O Serviço de Prophylaxia Rural, instituído pelos de- cretos n.os 13.001, 13.055 e 13.139 de 1 de Maio, 6 de Junho 16 de Agosto de 1918, continúa subordinado ao Ministério da Justiça e Negocios Interiores, por intermédio da Dire- ctoria Geral do Departamento Nacional de Saúde Publica. Visa sobretudo, as tres grandes endemias dos campos: Ancylostomose, impaludismo e doença de Chagas, além das outras entidades mórbidas que reinam no Paiz com ca- racter epidemico ou endemico. O Sr. Dr. Souza Araújo, Chefe da Commissão de Pro- phylaxia Rural neste Estado determinou a installação do Posto do Mosqueiro, ao qual deu o nome do eminente sci- entista Dr, Carlos Chagas, depois de adaptado o prédio, sito á praça da Matriz, esquina da rua Delamare, que foi inaugurado no dia 14 de Julho de 1921. Contêm o prédio as seguintes dependeneias: Uma sala da Directoria e se- cretaria, outra parte para deposito de medicamentos offi- ciaes, uma outra destinada aos doentes da polyclinica e ainda uma quarta para os trabalhos dos guardas, além de um pequeno compartimento que serve de deposito do ma- terial de drenagem e desbravamento das mattas, termi- nanclo por uma área onde está um banheiro e acha-se ins- tallado um W. C. (fóssa perdida c/ syphão). Serviu neste Posto, desde a sua installação como Director, o Dr. Levy Loyola até o dia 21 de Julho, quando, por motivo de moléstia foi substituido pelo sub-inspector sanitario Dr. Hermogenes Pinheiro, que ainda se acha na sua direcção. Guarda de l.a classe João Gomes de Faria, que pediu sua exoneração a 21 de Setembro desse mesmo anno; guarda de l.a Arthur de Castro França e o de 3.® Oscar de Sá Rangel. Actualmente funccionam neste Posto o mesmo Director, um escripturario, o Sr. Argemiro Lassance Tobias, um guarda-chefe Sr. José Steiner do Couto; um guarda de l.a Sr. Arthur de Castro França, o de 2.® Sr. Antonio Constan- tino Ayres Pereira e o de 3.® Sr. Pedro Gomes de Moraes. Um continuo, que também é remador e mais outro remador. Condições medico-sanitarias da ilha do Mosqueiro em 1920 a 1921 Esta ilha, talhada pela natureza para possuir todas as commodidades da vida, ainda se acha presa desses fla- gellos que empobrecem as populações: o impaludismo e as verminoses. E ainda mais: conta-se perto de oitenta le- prosos que vivem espalhados por toda a ilha em constante promiscuidade com a população indemne. Observámos que na porção littoranea o impaludismo não se implantou de molde a produzir casos que recla- massem constantes solicitações da Prophylaxia, ao passo que,' no interior, que é cortado pelos rios e igarapés, os serviços de combate e defeza fôram sempre postos em pra- tica e os resultados ficam exarados em largos traços, no decurso desta exposição. Como é facil de prever, essa con- dição do littoral, banhado pelas aguas, salsas em certa épocha do anno, recebendo ventillação dos campos mara- joáras, não dá guarida aos mosquitos que, fugindo á per- seguição de fortes rajadas dos ventos, se transportam a outras bandas, isto é, para o centro da ilha, onde vão en- contrar meio propicio ao seu habitat e proliferação nas habitações onde vive o homem e de preferencia com culi- cidios diversos entre os animaes, em estábulos e cocheiras. Vivem os mosquitos, preferentemente, em logares som- brios, onde a vegetação é mais abundante e próxima de collecções d’agua, dahi se afastando a procura de alimen- tos,—sangue principalmente, sendo que outras vezes são impellidos pelos ventos que os conduzem mais longe, e, assim podem alcançar as habitações, onde vão encontrar os meios fáceis de alimentação. As anophelinas, isto é, aquelles mosquitos capazes de transmittir o impaludismo, são habitualmente ruraes, prefe- rindo os campos, picando no crepúsculo e na aurora; na parte do interior desta ilha, campeiavam, fazendo centenas de victimas, porque ahi o meio lhes era propicio ao seu desenvolvimento, em virtude da existência de collecções de agua —grandes poças, pequenos bréjos, verdadeiros pân- tanos. Aspecto Póde-se considerar essa ilha apresentando dois aspe- ctos: uma porção alta, littoranea e de solo areento, açoitada pelo vento e lavada pelas aguas da bahia e outra, baixa, cheia de depressões de varias dimensões, verdadeiras la- goas, sendo a maior situada nas campinas da zona A, que começa proximo ao cemiterio da villa e vem terminar a 1.300 metros do littoral, verdadeiros fócos larvados de ano- phelinas.. Na porção alta, littoranea, o impaludismo não encontrou pabulo para a sua devastação, porque, além das circum- stancias alludidas, os que ahi moram, são geralmente vera- nistas e pessoas que se previnem contra as picadas das anophelinas, utilizando-se de mosquiteiros durante a noite, emquanto que na outra porção, baixa, o hematozoario ata- cou centenas de pessoas receptiveis. Um outro fóco de infecção fica situado na zona C do Chapéo-virado, representado por uma vasta depressão do terreno, em plena matta, que margina a estrada, depressão que conserva aguas pluviaes estagnadas por estações con- secutivas e cobertas de folhas e detrictos, que ahi se amon- toam e putrefazem, constituindo um excellente meio para a vida e proliferação dos mosquitos. Saneamento e Prophylaxia Obstruir essas depressões, drenar os terrenos fazendo sangradouros para os rios que lhes ficam atraz, são as me- didas a tomar para, de vez, erradicar o impaludismo nesta villa, com o concurso de outros meios prophylacticos para serem postos em pratica pela população, meios esses con- stituídos pelos princípios de hygiene, aconselhados reiteradas vezes pelo serviço de prophylaxia nesta secção—na for- mula unica: «Acautelae-vos contra os mosquitos e obser- vae os preceitos de hygiene». No interior da ilha, então, essas condições favoráveis ao habitat e jwoliferação dos mosquitos se accentuam, em virtude da densidade da vegetação que torna essas zonas sombrias, quasi todas ellas apresentando depressões com collecções de aguas paradas e em alguns logares observá- mos que as habitações, póde-se dizer, estavam situadas den- tro da matta, sem que seus moradores tivessem o cuidado ao menos, de desbravar o matto que invadia as suas bar- racas ou choupanas, feitas de páo a pique, barreadas umas, forradas de palhas seccas outras, mas, todas ellas de sólo poeirento. Completamente fechadas, muitas dessas habitações só possuíam uma porta de entrada, sem janellas ou outras aberturas por onde podessem a luz e o ar penetrar, em beneficio dos que nellas habitam. E em relação ás infecções verminoticas a grande maioria das habitações resentia-se até de simples fossas fixas, sendo usada ainda a pratica de fazerem dejecções no matto, onde também depositavam as fezes recolhidas em vasos, em suas habitações e aquelles, cujas habitações já possuiam sentinas, descuidavam-se de trazel-as convenientemente fe- chadas, á prova de mosquitos. Quanto á infecção verminotica não se apercebiam que o que determinava o amarellão ou opilação, fosse o ancy- lostomo e os outros vermes desconhecidos delles, pois, só julgavam que o intestino humano fosse o receptáculo do Ascaris lumbricoides. Para remover as .causas de infecção palustre foi levado a effeito o serviço de drenagem, fazendo communicar as lagoas da zona A e derivando suas aguas para a bahia, ficando assim deseccados os pantanos que estavam próxi- mos, enxutos esses terrenos e como consequência pôde-se observar, desde logo, que sensivelmente fôram se modifi- cando as condições de salubridade dessa zona, em razão também da intensificação da apphcação do quinino. Quanto- ao outro fóco, situado na zona C, em Chapéo- Virado, não fôram ainda executados os trabalhos hydro- graphicos necessários, porque, por ordem da Chefia da Prophylaxia fôram suspensos esses serviços, não tendo sido, entretanto, descurada a quininização intensiva dos habi- tantes dessa zona. Essa tarefa será emprehendida, pois, todos sabemos que, combatendo os mosquitos responsáveis peia transmissão dessa doença, pelos meios postos em pra- tica pela Prophylaxia, livraremos essa região, que nesta villa não tem escapado a surtos de epidemias, em diver- sas épochas, pois, corrente é, que não havendo o mosquito transmissor, as outras condições podem sobrar, pois, a do- ença não se propagará e ficará isolada no proprio doente. Educação liygienica, hábitos e alimentação E’ de admirar que os habitantes do Mosqueiro, a 18 milhas distante de Belém, em relação constante com ele- mentos de valor moral, intellectual e profissional, ainda desconheçam, na sua grande maioria, os rudimentares prin- cípios de Hygiene e as vantagens decorrentes dos meios prophylacticos empregados para a prevenção das moléstias que maltratam, depauperam e fazem succumbir os homens, pois, em relação a prevenção contra a picada dos mosqui- tos, rarissimos eram os que se preveniam de mosquiteiros e em quasi todas as casas as vasilhas de depositos de agua permaneciam, por muitos dias, sem serem renovadas, alem do pouco ou nenhum cuidado observado nos quintaes, escava- dos em certos logares e cheios de montões de lixo, onde os viveiros de Mosquitos se alastravam irapenitentemente, por- que nessas escavações se encontravam aguas paradas e es- tagnadas. Desde as primeiras semanas que entrei em contacto com os habitantes desta villa, vi, desde logo, que teria de derrocar as crendices, as abusões e a rotina e infiltrar no cerebro do homem rude e do não analphabeto pretencioso e vasio, as noções scientificas da biologia e da Hygiene. De facto, salvando excepções, não foi pequena a lucta para convencer e conseguir que recebessem, contra as ver- minoses, as medicações necessárias e quando se lhes pedia amostra de fézes para os respectivos exames, escarneciam, com ares de nojo, dos funccionarios deste serviço. Por es- tas e por outras razões, armei-me dos conselhos do mestre Belisario Penna, ensinando-lhes a razão de ser das leis sa- nitarias e das suas exigências e assegurando-lhes a cura certa, se infectados estivessem das verminoses, espalhando egualmente os preceitos de Hygiene, prophylaxia e eugenia entre todas as classes, afim de ajudar a formar a «con- sciência sanitaria nacional». Contra todos os preceitos de Hygiene e sujeitos ás in- fecções verminoticas, em geral a população rural desta ilha anda desprovida de calçados, mas, sempre munida de cha- péos de palha, da palmeira denominada carnahuba, os quaes lhes cobrem as cabeças. Anemiados, de baço palpavel, ventre proeminente são apathicos e indolentes em razão das infecções paludicas e verminoticas. Habituam-se, entretanto a tudo cuidar, menos da saúde, chegando para elles, como maná do Céo, o serviço de Pro- phylaxia, que vae procural-os e levar-lhes os remedios para os seus males. A alimentação da população rural é quasi que exclu- sivaraente retirada da pesca, abundando o peixe de pelle ou de couro, para usar da linguagem delles, peixes de di- mensões enormes taes como a pirahyba, o méro e o cação e arraias, além dos chamados de igarapés e de mariscos, que ahi abundam. Nutrem-se egualmente de todos os fructos que a fértil terra lhes prodigaliza, não havendo para elles selecção; tanto lhos sabem a banana e a laranja como o mais agreste dos fructos taes como o uxy, umary e o piquiâ, este muito oleoso e de polpa delgada. Os fructos de certas palmeiras, reduzidos por processo de esmagamento da polpa, diluida em agua e coada, con- stituem a alimentação principal dessas populações ruraes. Refiro-me ao assahy, bacaba e patauâ. Da mandioca fazem farinha e ao liquido resultante da expressão da massa dão o nome de tucupy, liquido que usam na arte culinaria e também como medicamento externo nos casos de polynevrite. Como alimento solido usam um preparado dessa mesma tuberosa, a que denominam beijtis, excedentes e nutritivos, pois, contem grande quantidade de amido. Dos fructos dão preferencia ás mangas, que abundam em toda a ilha. 3. —TRABALHOS REALIZADOS DE 14 DE JULHO DE 1921 A 31 DE MAIO DE 1922 Serviço contra as verminoses Pessoas recenseadas em 5 zonas sob inspecção do Posto 3.510 Primeiros exames coprologicos.... 3.250 Sendo: Positivos para qualquer verme... 3.2140u98,90% Negativos para o mesmo fim 36 ou 1,10% Ancylostomose.... 2,839 ou 87,98% Ascaridiose 3,164 ou 97,35% Trichuriose 3.025 ou 93,07 % Estrongylose 398 ou 12,24% Enterobiose 213 ou 6,05% Outros parasites. lou 0,03% Positivos para Segundos exames coprologicos... 290 Sendo: Positivos para qualquer verme.. 2750u94,82% Negativos para o mesmo fim 15 ou 5,17% Ancylostomose.... 121 ou 41,72% Ascaridiose ......... 1900u65,51% Trichuriose 238 ou 82,06% Estrongylose.. 16 ou 5,51 % Enterobiose 3ou 1,03% Positivos para Primeiros exames da taxa de he- moglobina 3.748 Dando a média geral de 52,63 % Raças Das 3.250 pessoas examinadas eram; Brancas 452 ou 13,90% Mestiças 2.349 ou 72,07% Negras 449 ou 13,83% Medicações pelo oleo de chenopodio: Fôram dadas 8.222 Sendo: Primeiras 3.035 Segundas 2.208 Terceiras 1.601 Quartas 1.178 Quintas e mais 800 Inspecções Fôram inspeccionadas e cadastradas 1.162 casas, encontrando-se com installações sanitarias: Acceitaveis 345 ou 29,77% Defeituosas 163 ou 14,02% Inexistentes... 654 ou 56,21 % Mediante intimação nossa fôram: Melhoradas: 21 Construídas 84 Intimações Fôram expedidas 750 intimações sendo cumpridas 105. Abastecimentos d'agua 70% da população abastecem- se de poços e os restantes de igarapés, fontes, etc.. Prophylaxia da variola—Fôram vaccinadas e revac- cinadas 2.507 pessoas, sendo: vaccinas 2.124, e revaccinas 383, sendo expedidos 280 atíestados. Serviço contra o impaludismo Pessoas matriculadas nesta sec- ção 934 Total de exames para pesquizas do hematozoario 277 Resultado: Positivos 89 Negativos - 166 Prejudicados 22 Os exames positivos revelaram: Plasmodium vivax 13 ou 15,16 % Plasmodium falciparum 76 ou 84,84% Exames de baço Entre as 934 pessoas matriculadas fôram encontrados: Palpaveis 311 ou 33,29 % Impalpáveis 623 ou 66,71 % Idade dos impaludados: De 0 a 5 annos 22 De 5 a 15 annos ... 32 De 15 a 50 annos 34 De mais de 50 annos 1 89 Medicamentos gastos Injecções: De soluto de sal de quinino 740 De soluto de azul de methyleno 100 840 Comprimidos: De sal de quinino 0,25... 5.500 Idem, idem 0,50 4.000 9.500 Capsulas: De azul de methyleno e quinino 0,10x0,40 1.000 Polyclinica: Consultas geraes 2.821 Sendo: Pequenas intervenções cirúrgicas 49 Curativos de ulceras 162 Escabiose 870 Outras doenças 1.738 Serviço cie Saneamento. Fôram realizados nas zonas sob a inspecção do Posto: Drenos abertos.... 3.794111 Drenos reparados 5.224 m Pantanos aterrados 155 m 2 Cursos d’agua regularizados 1.042 m Matto desbravado 1.44411,2 CAPITULO V CONDIÇÕES MEDICO-SANITARIAS DAS ZONAS SOB A ACÇÃO DO POSTO «MIGUEL PEREIRA» (SANTA IZABEL) Pelo seu director Dr. GEMIIíIAUO COELHO Sub-inspector sanitario contractado I. CONSIDERAÇÕES GERAES A VILLA E SUA POPULAÇÃO Temos a honra de vos apresentar o relatorío dos serviços rea- lizados pela Gommissão que dirigimos de 21 de Janeiro a 31 de Maio, deste anno, e, se nos apresentando o ensejo, fazemos ligeiros commentarios e annotações em torno dos trabalhos, afim de melhor elucidar o assumpto. Esta Gommissão nasceu de um contracto patriótico, assignado en- tre o Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural no Pará, represen- tado pelo Dr. Heraclides Cesar de Souza Araújo, seu digno Chefe e a Intendência Municipal de Belém, pelo Dr, Gypriano José dos Santos, seu emerito Intendente e baseado em lei especial do Conselho Mu- nicipal, com o fim de debellar as endemias e epidemias, senão sanear a Estrada de Ferro de Bragança e localidades ribeirinhas, dentro do Municipio, deante das incursões periódicas de surtos epi- demicos de impaludismo, em diíferentes pontos da Estrada, de na- tureza a causar enormes prejuízos, com um numero assombroso de decessos, o que era humanamente doloroso, bem como as endemias existentes e radicadas, não só da infecção paludica, como das ver- minoses, aliás da nefasta ancylostomose, em toda a vasta região acima fallada e de effeitos perniciosos á economia do Municipio. Esse contracto foi assignado em 11 de Janeiro de 1922 e logo organizada a Gommissão Medica, com séde na villa de Santa Izabel e que tomaria a seu cargo o combate do impaludismo e das ver- minoses e outros serviços decorrentes, em toda a vasta extensão da Estrada de Ferro de Bragança, começando em Ananindeua e ter- minando em Anhanga, e villas e colonias adjacentes. Foi-me con- fiada a direcção dos trabalhos, auxiliado por um grupo de íunccio- narios technicos e indispensáveis a taes eraprehendimentos, como sejam; um medico auxiliar, um guarda chefe, um microscopista, um escripturario, quatro guardas sanitários eum servente. Difficuldades havidas no momento, quanto a material e medicamentos indispen- sáveis á grandeza e ao íim da missão, protelaram de alguns dias a partida, no emtanto esta tendo se dado no dia 21 ás 6 horas da manhã e chegando a Com missão ás 8 horas, ao ponto escolhido para séde dos nossos serviços a villa de Santa Izabel. A villa de Santa Izabel está situada entre os kilometros 40 e 52, da Estrada de Ferro de Bragança; nasceu com a colonização, de elementos extrangeiros, das vastas terras da antiga Estrada de Bragança; fazia parte nos seus primórdios, da colonia Benevides, assim chamada em homenagem ao Dr. Francisco Maria Corrêa de Sá Benevides, então Presidente da Provinda, depois chamada colo- nia de Santa Izabel de Benevides e inaugurada a 13 de Junho de 1875. Em 1878, foi destacada de Benevides, sob o nome de nú- cleo de Santa Izabel, com elementos nacionaes, cearenses, perse- guidos pelos horrores da fome, que, aqui, vinham procurar allivios aos seus soffrimentos e impulsionar esta immensa, vasta e übérrima região bragantina. E’ limitada, ao Norte, com o município da Vigia, pela sexta travessa da colonia Santa Rosa; ao Sul, com a povoação de Caraparú, pela linha denominada Travessão do Governo ou an- tiga Linha Telegraphica; a Leste, com a povoação Americano, com o rio Ita e colonia Ferreira Penna; a Oéste, com a quarta travessa de Benevides, até ao logar Aracy. Foi elevada á categoria de villa em 1906. O seu clima é quente e húmido; as horas diurnas e as primeiras da noite são quentes, nas estações de verão; durante a phase invernosa predomina a humidade, e as madrugadas, quer no inverno ou no verão, são agradaveis. E’ atravessada, serpeada, em toda a sua extensão, pelas grandes voltas de tres igerapés—lga- rapé-assú, Porongaba e Tybiriçá, qué, convergindo, se reunem em um só que se dirige para as terras de Caraparú. A sua população, segundo o ultimo recenseamento de 1920, foi avaliada em 1.479 pessoas e o da Prophylaxia Rural deu, somente 1003, differença para menos de 476 pessoas, devido talvez ao ultimo surto epide- mico, que estamos debellando e que ceifou algumas vidas, como também ao exôdo da população, que, na sua quasi totalidade, é de elementos nordestinos, predominando o cearense, é attrahido pela miragem illusoria dos enganosos invernos do torrão nativo. A villa, no seu perímetro urbano, é typica da região; suas ruas bem tra- çadas, largas e rectas, dão-lhe uma topographia bella e correcta, embora as suas edificações façam-n’a de caracter e feitio colonial, senão dum povoado enorme; tem uma só rua mac-adamizada, porém em máo estado de conservação, sendo a sua principal artéria a rua Bragantina, percorrida, em toda a sua extensão, pelo leito da Estrada de Ferro, seguindo-lhe mesmo a curvatura, que é bastante pronunciada; as ruas estão ao sabor da natureza, pouco limpas, não roçadas, algumas mesmo em estado precário de asseio e con- servação, não sendo disto culpada a Municipalidade, que paga en- carregados para esses mistéres, desleixados, aqui e em quasi todos os pontos da zona de nossa jurisdicção, facto que tomaremos na devida consideração, chamando os relapsos ao cumprimento de seus deveres, desde que para isso temos poderes, baseado no Regu- lamento Sanitario Federal, que nos dá o direito de verificar se são cumpridas as posturas raunicipaes e observados os preceitos de hygiene. Não ha exgottos nem agua encanada; seus moradores ser- vem-se, em sua maioria, das aguas dos poços existentes nos quintaes das casas, dos quaes muitos têm sido melhorados, al- guns reformados, poucos aterrados ou condemnados; uma outra parte retira esse precioso liquido das poucas fontes naturaes, vul- garmente chamadas «olhos d’agua»; quasi ' todos empregam as aguas dos igarapés, nos seus outros mistéres domésticos, como sejam; a decocção, a lavagem de roupa, etc. As aguas servidas, polluidas e das chuvas são levadas aos igarapés, por meio de valias mal traçadas e cavadas em algumas poucas ruas; observando isto, foi que vos pedimos em Abril ultimo auctorização para mandar lim- par as valias existentes, abrir outras e conserval-as, afim de assim drenar aquellas aguas servidas e polluidas, que nesta phase inver- nosa que atravessámos, estagnavam, por todos os pontos da villa, constituindo viveiros de mosquitos. Predomina o typo da casa de taipa, muitas cobertas de te- lhas, a maioria de cavacos, poucas de sapé e raras de zinco; as edificações, pela norma de sua própria construcção, seguem o feitio caracteristico de todas as casas do interior do norte do Brasil: pequenas, acanhadas, sem luz, sem ar, de chão batido quasi todas, em sua quasi totalidade rebocadas e caiadas, algumas achaletzadas, existindo diversas em ruina, assim mesmo habitadas, o que é para contristar. Quatro construcções bôas, de tijolos e assoalhadas, exis- tem: o Grupo Escolar do Estado e tres edificações particulares. 2. —A REPREZA Um dos nossos primeiros actos foi examinar a repreza, deno- minada Empreza Bragantina, de Silva Lima & C.a destinada no seu inicio, a um fim progressista e civilizador o da illuminação elé- ctrica da villa, e então, devido á sua inviabilidade a tão elevado mister, servia para mover machinismos fabricadores de farinha; condemnamol-a, mandando-a evacuar, por julgal-a perigosa, per- niciosa, localizada como estava no centro desta localidade, de po- pulação densa, e não satisfazer, absolutamente, aos requisitos exi- gidos pelo Regulamento Sanitario 'Federal, nos seus mais comezi- nhos preceitos de hygiene, a obras de tal monta; era um fóco evi- dente de anophelineos, constiluia um perigo eminente ás vidas dos moradores locaes. Feito o seu esvasiamento, vi o leito coberto de detrictos de todas as especies, além do completo emmaranhamento de paus, cipós, etc., tudo isto, com a semi-correnteza das aguas, quando cheia, a falta de destocamento e limpeza das margens e a obscuridade, produzida pelas arvores, existentes dentro do seu leito, concorria, estou certo, para o desenvolvimento, alastramento e per- manência da plasmodiose de Laveran, nos moradores das suas vi- zinhanças, quasi todos com diagnostico hematologico confirmado. 3.—0 IMPALUDISMO Esta localidade tem sido flagellada, periodicamente, de ha tem- pos para cá, por epidemias de malaria: esta visitou-a em 1907, em 1915 e, agora em 1922, tendo sido, segundo informam os ha- bitantes, a de 1915 a mais terrível e o seu coefficiente de morta- lidade subido a proporções aterradoras. A Estrada de Ferro, em sua extensão immensa, não conhecia esta terrível infecção, o seu povo vivia tranquillo e feliz, quando trabalhadores e operários da Estrada de Ferro de Alcobaça e muitos outros desventurados, vin- dos das inhospitas regiões do «Inferno Verde» o Amazonas, dos seus seringaes maléficos, installarara-se aqui e se espalharam, em busca de trabalho, por todos os recantos desta vasta região, trazendo, no entanto, no sangue, o traiçoeiro hematozoario -de La- verau, que encontrando o seu transmissor—a anophelina fez apparecer a epidemia, que se alastrou triumphalmente, doidamente, matando sêres fortes, dizimando homens, anniquilando vidas: foi o inicio e tem sido o pezadello da zona da Estrada de Ferro de Bra- gança que ha pago tão enorme tributo. Ao chegarmos a esta localidade, nossa impressão foi de fran- ca tristeza, dolorosa, deante do seu aspecto, outríora, segundo as tradições, movimentada, alegre, prospera e feliz; sentimos que algo de anormal se passava, respirava-se uma atmosphera pesada de sof- frimentos ede dôres e divisava-se, nos poucos transeuntes encon- trados, a côr ictérica, sinão a cholemia, a anemia, consequentes aos grandes soffrimentos, ás grandes infecções. Passadas as primeiras horas, em providencias para obtenção duma casa, que servisse, con- digna e modestamente á installação do Posto e pessoal,que não foi dif- ficil, iniciámos o serviço, denodada e enthusiasticamente, porque vía- mos nelle a grandeza do fim a realizar. O quadro que se nos apre- sentou aos olhos, nas nossas visitas domiciliarias, foi o mais dolo- roso, sinão um dos mais tétricos possíveis. Todas as casas, com raras excepções, tinham os moradores tomados pela infecção pa- ludica acamados, esquálidos, anemicos, trementes, no horror dos calafrios, escaldantes nos paroxymos da febre. Era um quadro enorme de pavor, a epidemia paludica uma verdade, urgia uma reacção de combate, sem trégua, sem descanço, afim de vêr levan- tados esses desgraçados, condemnados á morte certa, se o especifico heroico, sob a fórma de um sal de quinino, em dóse massiça, não lhes levasse aos organismos debilitados, a vida. A villa de Santa Izabel era então uma vasta enfermaria de paludados, precomatosos alguns; juntando-se, a tudo a miséria, a falta de recursos medica- mentosos e pecuniários a miséria reinava como soberana. Trabalhavamos todos da Commissão, sem descanso, sem esmo- recimentos, das 6 horas da manhã ás 6 da tarde e entradas pelas noites a dentro, isto do primeiro dia da chegada aos fins de Janeiro, 9 dias sob o sol torrido das manhãs, embaixo de aguaceiros inter- mináveis, ás tardes. As medicações especificas, pelo quinino, em injecções intra-mus- culares e intra-venosas, estas ultimas nos casos desesperadores e a exiincção daquelle fóco de anophelineos, que era a repreza, deram, em resultado, a melhora rapida do estado sanilario da villa, não havendo mais casos fataes, pela plasmodiose de Laveran, que, antes, eram de 5 a 6, diários, numero espantoso para a pequena popu- lação da localidade. Felizmente o ataque foi franco e decidido, firme e racional, do contrario teríamos muitas vidas ainda a perder, desgostos a soffrer, perdas económicas de vulto, se a Prophylaxia Rural não interviesse, no momento preciso, por se tratar de um surto epidemico, em que se manifestavam casos francos de terçã- maligna em organismos combalidos, debilitados pelas verminoses, destacadamente a ancylostomose. Hoje o perigo passou, poucos casos existem, e infimo é o numero dos que procuram o Posto e o guarda-sanitario da zona urbana, era sua inspecção diaria, não ve- rifica mais um só caso novo, e, se acontece encontrar, é o de alguma recahida, devida a considerações fortuitas, notadamente as de negli- gencia ou de rebeldia, innata nos doentes ruraes. O numero de pessoas matriculadas no Posto e tratadas contra o impaludismo ascende a 756, tendo recebido medicações, em Maio, 159 pessoas, isto mesmo para tratamento de complicações, advindas e consequentes da injecção, portanto, receber medicação comple- mentar ao tratamento. Destes 756, continham Plasmodium falci- parum 124, que dá uma porcentagem de 16,4, bem notável para uma população, constituída na sua maioria, de pobres e heroicos filhos do trabalho, sem recursos outros que esse trabalho insano e titânico de todos os dias, sob sol e chuva, ainda mais a luctar contra a falta de conforto material, de recursos medicamentosos. O nosso serviço contra o impaludismo segue a technica rigorosa, exigida pelos modernos ensinamentos: é systematico, intensivo, feito em domicilio ou no Posto, soccorrendo-se de todos os dados sobre o doente, para melhor elucidação do tratamento a seguir e perfeito conhecimento da íórma parasitaria a historia completa do doente é tomada era livro especial, auxiliada dos outros dados necessários, como sejam: exame hematologico, taxa de hemoglobina para veri- ficação do grão de anemia, exames de baço, etc. 4. —DAS VERMINOSES Esta commissão iniciou o combate ás verminoses, no dia l.° de Fevereiro, após o abrandamento daquelle surto epidemico. As verminoses, como o impaludismo, estiolam e anniquillam os mora- dores desta immensa região, notadamente a ancylostomose, que é de regular coefficiente de infecção; os moradores, em sua totalidade, são verminoticos e, se alguns isentos existem, são lactantes ou indi- víduos medicados por outras Commissões, do nosso serviço, aqui já estacionadas anteriormente. E' horrorosa esta realidade, grandiosa a obra evangélica do Governo, procurando exterminar estes males, que, antes de ser pa- triótica, é sublimemente humanitaria. A incidência da infecção, pelo ancylostomo, nesta villa, verificada ser mais baixa que noutras regiões, por esta Commissão, tem sua razão de ser e comprehende- se pelo facto de já ter trabalhado, aqui, a Commissão do Dr. Anas- tacio Monteiro, que medicou cerca de 800 pessoas, e a construcção de fossas, levadas a effeito, fossas essas que constituem elementos primordiaes de defesa na prophylaxia das vermincses. Dividimos, para maior facilidade e melhor methodo de serviço anti-verminotico, a vasta região, de nossa jurisdicção, em zonas, tantas quantas ne- cessárias e á medida do desenvolvimento dos trabalhos, localizados nas villas, povoações e colonias, e estas, por sua vez, sub-divididas em duas, tres ou mais, conforme sua extensão e diíficuldades de locomoção. As duas primeiras ficaram localizadas na villa de Santa Izabel, séde do Posto, uma, constituída dc perímetro urbano e a outra, do suburbano; as demais, em numero de seis, ficaram com suas sedes em Caraparú, Benevides, Bemfica, Anhanga, Inhangapy e colonia Santa Bosa, constituindo cada uma delias um Sub-Posto, tendo á sua testa, effectivamente, um guarda sanitario, encarregado do ser- viço. Faltam, ainda, installações idênticas, era Castanhal e colonias, Americano, Apehú, Ananindeua, Marituba, que as terão em tempo e occasião opportunos, por serem menos necessitadas de auxilios immediatos e prementes, que as demais. A zona urbana da villa teve o seu serviço feito systematicamenle, com a technica adoptada pela chefia do Serviço e installámos, no Posto, um ambulatório, destinado aos moradores da vizinhança e das travessas, afastadas do Posto, dois, tres e, ás vezes, quatro e mais kilomelros e que viriam diariamente, receber suas medicações, aqui, até que normalizasse o serviço e, assim, podessem recebel-as, tam- bém, em seus domicilies. Foram recenseadas, até 31 de Maio, 1.101 pessoas, propria- mente da zona urbana da villa e fôram examinadas 939, para dia- gnostico parasitado, dando uma porcentagem geral de 96 (polyhel- minthose), e 57,50 para a ancylostomose, coefficiente baixo, em relação ás outras regiões, por motivo já explicado. Verificámos que todas as casas, com poucas excepções, possuem as typicas fossas perdidas, algumas condemnadas, outras já melho- radas, as poucas, que não tinham tão beneficos instrumentos de serventia domestica e hygienica vão sendo intimadas e cumprindo essas intimações, sem queixumes, até mesmo com satisfacção, o que conforta sobremodo. Desde que se trata, de fossas, e cujo fito unico é fazer a pro- phylaxia das verminoses, chamamos a attenção a quem de direito para as sentinas dos vagões da Estrada de Ferro de Bragança, que servidas, diaria e permanenteraente, pelos viajantes, moradores da immensa região bragantina, infectados evidentemente, vão espalhando as fézes emittidas no leito da Estrada, e este, percorrido, palmilhado constantemente, pelos incautos moradores destes logares, que na sua maioria andam descalços. A quantidade de fézes é diminuta para a enorme extensão percorrida; mas trata-se de qualidade, que no caso é a peior, a mais nociva, e desde que nos empenhamos no combate ás verminoses, maximè da ancylostomose, cujo culpado penetra pela pelle, e que as vamos medicando systematicamente, afim .de extinguir, erradicar esses males, pensamos não seria impro- cedente acabar com essas rotineiras usanças sanitarias dos nossos comboios, modificando-as ou substituindo-as por outras mais scien- tificas, menos damnosas: sentinas de fundo automático, balde remo- vível, de facil limpeza, em estações intermediárias ou ao término de viagem, e o problema estará resolvido. O criterioso Codigo de Policia Municipal, que tão intelligente- mente visa os interesses da saúde publica, se resente, no emtanto, dolorosa, imperdoavelmente de regras e preceitos, de princípios, de leis, concernentes ao emprego de fossas, sua obrigatoriedade, como elemento indispensável a toda habitação, quer pobre, quer abastada; esta villa, como parte integrante do Município de Belém, guia-se pelas mesmas leis, enfeixadas no referido Codigo, que, no emtanto, encara os interesses da saúde publica, com grande carinho e ele- vação de vistas. O Serviço, á medida das* necessidades e do desenvolvimento dos trabalhos, ia installando Sub-Postos nas villas e povoações da irnmensa região, sob nossa jurisdicção. O primeiro Sub-Posto in- stallado foi o de Caraparú, a cuja testa ficou o guarda-sanitario Henrique de Mello Rodrigues, cujo serviço foi iniciado no dia 23 de Fevereiro; o segundo installado, foi o de Benevides, iniciado no dia 10 de Março; terceiro, o de Bemfica, installado no dia 20 do mesmo mez, ficando, á testa dos mesmos o guarda sanitario Aarão Bittencourt Cohen; quarto, o de Anhanga, em 22 de Março, a cuja testa ficou o guarda sanitario Cyro Barata Jucá; quinto, o de ínhangapy, no dia 25 de Abril, ficando encarregado do mesmo, ò guarda sanitario Aristides do Amaral Araújo; sexto, o da colonia Santa Rosa, tendo iniciado o serviço o guarda sanitario Hermene- gildo Martins. K. de F. de Bragança. Posto Sanilario '‘Miguel Pereira”, em Santa Izabel. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARÂ Sub-poslo sanilario de Timboteua. Da commissão do Dr. Anaslaoio Monteiro E. de F. de Bragança Barbearia da roça Resumo dos trabalhos realizados nestes seis Sub-Postos, até 31 de Maio CO crá >> CO b£ ci a *> & S bfl "3 ' , ci u ci O a> m & a ci rEj « O O o Serviço contra as ver- minoses: Total cie pessoas recen- seadas 907 423 600 1337 723 1126 Examinadas 889 229 304 799 495 543 Das qnacs eram infecta- das 882 226 299 795 494 536 Infecção geral (polyhel- minthose) 99,21% 98,67% 98,35% 99,49% 99,99% 98,71% ! Das examinadas, tinham ancylostomo 701 159 236 026 436 441. Porcentagens para ancy- lostomo 78,85 69,43 77,63 78,34 88,08 81,21 Exame de sangue: Taxa de hemoglobina.... 835 276 425 517 425 543 Media geral 47,43% 38,24% 32,49% 49,73% [58,3% 69,59% Abaixo de 70 % de he- moglobina 820 268 424 510 406 498 : Tratamento contra as verminoses: Pessoas medicadas pela l.a vez 091 406 420 630 420 549 Serviço contra o impa- ludismo : Doentes examinados e j tratados 178 10 18 445 39 Serviço contra a va- rio la: Numero de pessoas vac- cinadas e revaccinadas. 446 260 148 399 403 424 ; 5.-OUTRAS DOENÇAS Em 1918 a ceifadora eterna appareceu, sob a fórma de grippe hespanhola, aqui na villa, permanecendo por algum tempo roubando milhares de vidas e, como resquício ainda de sua passagem nefas- ta, ficaram tuberculoses francas, asthenias muitas, das quaes alguns já desappareceram, no decorrer destes 5 mezes de nossa estadia aqui, não obstante os esforços inglorios por nós empregados. A lepra, infelizmente, encaminhou-se para esta região e, aqui, vive; encontrámos alguns casos, em numero de 5, o bastante para temer o seu alastramento: tres moradores das visinhanças e dois do perímetro urbano, cujos exames, clínicos e de laboratorio foram confirmados. As fichas estão em andamento, em dois e feita em um. Havendo dois leprosos na villa, e sendo a sua população de 1001 pessoas, a porcentagem para a infecção é de 0,18. A syphilis é muito espalhada e immensos são os casos verificados na polyclinica, notadamente de ulcerosos, que, aqui, são incontáveis. Temos feito o tratamento racional indicado, visando a conservação da especie e a eugenia, pela’ próle, que nos moradores locaes é proverbial, pelo numero e pelo facto de ser o casamento, encarado como uma realidade, e, não se conformar com o habito das ligações illicitas. O povo não era vaccinado, o que se torna quasi incrível: a vaccinação systeraatica, quando pelo recenseamento, deu optimos resultados, positivaram-se, quasi todas as que fôram applicadas e, hoje, poucas são as pessoas que não estão immunizadas contra a variola; vaccinaram-se, até aqui, 1.843 pessoas, sendo extrahidos 253 attestados. 6. —TRABALHOS REALIZADOS DE JANEIRO A MAIO DE 1922 Serviço contra as verminoses: Total de pessoas recenseadas em 73 zonas sob a inspecção do Posto 6.307 Primeiros exames coprologicos: Fôram realizados 4.198 Sendo: Positivos para qualquer verme.... 4.131 ou 98,40 % Negativos para o mesmo fim..... 67 ou 1,60 °/0 ' Ancylostomose .... 3.139 ou 74,77 % Ascaridiose 3.981 ou 94,83 % Trichuriose. 3.339 ou 79,51% Estrongylose 250 ou 5,95 % l Outras parasitas... 27 ou 0,64% Positivos para Primeiros exames de sangue—Para determinação da taxa de hemoglobina, pelo methodo de Tallquist foram feitos 3806, dando como média geral 46,21 °/0. Raças—Das 4.198 pessoas examinadas eram: Brancas 1.059 ou 25,22 °/0 Mestiças 2.968 ou 70,70 °/0 Negras 171 ou 4,07 °/0 Medicações pelo oleo de chenopodio: Total 5.860 Sendo: Primeiras 3.770 Segundas • 1.489 Terceiras 486 Quartas 111 Quintas 4 Cadastros e inspecções Fôram cadastradas e inspeccionadas 671 casas, com installações'sanitarias: Acceitaveis 26 Defeituosas 9 Inexistentes 636 671 Mediante intimação nossa foram: Melhoradas 4 Construídas • 26 Abastecimento dl agua—Da população que habita nas zonas sob a jurisdicção do Posto 45 % abastecem-se d’agua de poços e 55 °/0 abastecem-se de fontes, rios, corregos e igarapés. Prophylaxia da varíola Fôram vaccinadas e revaccinadas 1.894 pessoas. Sendo; Vaccinações 1.843 Revaccinações 51 1.894 Attestados expedidos.... 253 Serviço contra o impaludismo: Pessoas matriculadas nesta secção i.442 Total de exames para pesquiza do hema- tozoario 1.419 Sendo; Positivos 712 Negativos 593 Prejudicados 114 Incompletos 23 1,442 . Os positivos revelaram; Plasmodium vivax 433 ou 60,81 °/0 Plasmodium falciparum 279 ou 39,18% Exames de baço. Nas pessoas matriculadas foram feitos 4.292 tendo-se encontrado: Palpaveis 1.009 ou 69,98 % Impalpáveis. 433 ou 30,02 % Edade dos impaludados—Dos que revelaram exame positivo eram: De 0 a 5 annos 79 De 5 a 15 annos 195 De 15 a 50 annos 397 De mais de 50 annos 41 712 Medicamentos gastos * Injecções 6.516 Sendo: De soluto de saes de quinina 6.468 De soluto de azul de methy1en0........ 48 Comprimidos (Quinino) 31.000 Sendo: De 0,25 14.000 De 0,50 17 000 Capsulas—(Azul de melhyleno) e quinino a 0,10x0,40 1.500 Consultas: Aos impaludados foram dadas . 12.847 Polyclinica: Consultas geraes. ~ 1,124 Pequenas intervenções cirúrgicas 23 Escabiose. . 875 Outras moléstias 326 Prapaganda sanitaria Conferencias realizadas, 6; assistência cêrca de 1.500 pessoas; folhetos distribuídos, 250. ERRATA Existem 13 zonas e não 73. Fôrani feitos 1.442 exames de baço e não 4.292. CAPITULO VI CONDIÇÕES MEDICO-SANITARIAS DO MUNICÍPIO DE BRAGANÇA PELO Sr. A. DAMASCENO JUNIOE Sub-inspeetor sanitario Director do Posto « Souza Castro» A cidade de Bragança está situada a Io 11* e 30” de latitude Sul e 3o 31’ e 36” de longitude Occidental do meridiano do Rio de Janeiro. A população do Município é de 44.486 habitantes verifica- da após os trabalhos de recenseamento em 1919, sendo assim um dos municípios mais populosos do Estado do Pará. O clima é quente e húmido e definem-se perfeitamente as duas estações de inverno e verão. O Município de Bragança, de accôrdo com a legislação e com a sua posição geographica, delimita-se: com o município de Vizeu pelo leito do rio Emburanunga, desde a fóz até á sua nascente e desta por uma linha recta até ás nascentes do rio Cury, braço direito do rio Caeté; com o município de Ourém pelo leito do rio Cury, citado, desde ás nascentes até o ponto de juncção com o rio Caeté e pelo leito deste, subindo até ás nas- centes; com o município de São Miguel do Guamá por uma re- cta convencional, traçada das nascentes do Rio Caeté até á ex- tremidade sul do prolongamento da estrada telegraphica de Salinas a Capanema, prolongada até seis kilometros da Villa de Capanema, situada á*margem da E. de F, de Bragança; com o município de Igarapé-assú por esta linha de seis kilometros acima; com o município de Quatipurq por uma recta conven- cional traçada da Villa de Capanema até ás nascentes do rio Assahyteua, pelo leito deste e das nascentes até á fóz do rio Quatipurp, no oceano Atlântico, e com o oceano Atlântico pelas costas comprehendidas entre a fóz do rio Quatipurú e Embu- ranunga, inclusive as ilhas que se acham nesse percurso. A Lei n,° 73 que estabelece estes limites é de 28 de Setem- bro de 1840, porém os municípios circumvizinhos e mesmo o município de Bragança não se conformam com elles, havendo constante desharmonia em virtude da falta de uma lei que de- termine, de uma vez para sempre, o exacto limite de cada mu- nicípio. Bragança, cidade e sede do município, é a mais antiga das cidades paraenses depois de Belém, capital do Estado. Em Março de 1616, Pedro Teixeira indo com destino a São Luiz do Maranhão, afim de dar novas da fundação de Be- lem, cabeça da capitania do Gram-Pará, passou em terras da actual cidade de Bragança onde encontrou já uma modestíssi- ma povoação. Os indios Tupinambás que habitavam as mar- gens do rio Caeté atacaram-n’o sendo, porém, vencidos . Em 1622, Felippe IV da Hespanha e 111 de Portugal doou a Garpar de Souza, pelos serviços prestados ao Brasil, quando governador-geral, a capitania de Gurupy que se extendia desde o Tury-assú ao Caeté com 20 léguas de fundo para os sertões (9|2|1622); fundou o seu donatario uma povoação com o nome de Souza. Em 1632, Gaspar de Souza doou a seu filho Álvaro de Souza, quando em 1633 o governador-geral Francisco Coelho de Carvalho doou esta mesma capitania a seu filho Feliciano Coe- lho de Carvalho, havendo, porém, reclamação deste acto á Corte de Madrid, foi de novo esta restituída a Álvaro de Souza. Este tratou de fazer progredir a povoação, conseguindo eleval-a á categoria de Villa em 1663; porém, mais tarde, decahiu, ficando reduzida a simples povoação. Em 1637, fundou-se uma povoação á margem do rio Gu- rupy denominada Vera Cruz do Gurupy. Em 1664, esta povoação transpoz-se, fazendo-se forte cor- rente emigratoria para a antiga e decadente povoação do Sou- za; colonizaram-na e ergueram nos escombros da povoação do Souza a povoação que denominaram Vimosa, mais tarde Souza do Caeté, a qual recebeu a visita do governador Luiz Yaz. Em 1753, o XIX governador capitão-geral Francisco Xa- vier de Mendonça Furtado fez forte corrente immigratoria com ilhéos angraenses e micalenses, dando o Duque de Bragança, por essa occasião, o nome de Villa de Nossa Senhora de Bra- gança. Dessa data em deante o actual município progrediu constantemente creando elementos proprios pelo seu grande commercio com a cidade de S. Luiz, capital do Maranhão, e Belém, capital do Pará. O município de Bragança resentiu-se com o movimento da Independencia, sendo eleita a camara sob o novo regimen so- mente em 1823. Em 1824, uma horda de bandoleiros e malfeitores, sabida do Urumajó, investiu contra a Villa. A primeira camara eleita segundo a lei de l.° de Outubro de 1828 e que deu organização aos municípios do Império, foi empossada em 1829. Sob a agitação política de 1835 (Cabanagem), Bragança serviu de abrigo ás pessoas que se destinavam ao Maranhão, temerosas da sanha dos revoltosos que dominavam quasi todas as regiões do Estado do Pará. A Lei n.° 252, de 2 de Outubro de 1854, elevou Bragança á categoria de cidade e séde do municipio do mesmo nome, pelo seu progresso e grande commercio. Dessa data até á proclamação da Republica, o municipio íoi sempre prospero. Após o regimen republicano, foi seu pri- meiro intendente José Caetano Pinheiro. A gestão de 1910 a 1912 foi a mais feliz e progressista, deixando o que ainda hoje se vê, se bem que em mina. A cidade de Bragança, situada a 16 kilometros da fóz do rio Caeté, em cuja margem esquerda assenta, fica localizada em uma planicie com ligeiro declive para o rio; está ligada á capital do Estado por uma via ferrea com a extensão de 233 ki- lometros e á colonia Benjamin Constant por um ramal syste- ma Decauville, de 21 kilometros. Possue doze ruas e doze tra- vessas, tendo algumas praças que em tempo foram ajardina- das. As ruas acham-se, actualmente, em péssimo estado de con- servação, apresentando vestigios de antigos calçamentos. Não ha exgotto. Apezar de um contracto firmado com a Municipalidade, afim de ser assentada a canalização d’agua na cidade, Bragan- ça resente-se ainda dessa falta que urge providenciar a hem da sua população e da hygiene. Toda a cidade de Bragança é constituída de bons prédios, terreos e sobrados; as construcções são solidas, de architectura modesta e agradavel. As installações sanitarias, quasi todas de- feituosas, em muitas casas não existiam; porém, após a acção do nosso Serviço, foram os proprietários obrigados a con- struil-as. Os quintaes das habitações estão mal tratados e sem cultura alguma. Em todas as habitações criam-se gallinhas e outros animaes domésticos, sendo avultada a criação de porcos que, após a nossa estadia, foi prohibida no quadro urbano; desapparecendo, assim, o mau aspecto produzido por esses ani- maes vagueando pelas ruas. O estado sanitario, apezar da pouca hygiene que dominava a cidade, não era assustador graças ao seu clima especial; a não serem as verminoses que invadem a todos os recantos do nosso paiz e o paludismo que ainda e sempre dominará o nosso Estado, emquanto as medidas sani- tarias especificas não se alliarem ás drenagens systematicas dos grandes pantanos, como também á extincção do analpbabe- tismo que é de uma grande porcentagem em todo o interior do nosso Estado, Bragança goza de regular salubridade. O estado de opilação dos habitantes de Bragança tem melhorado consi- deravelmente a ponto de alguns refractários já se terem con- vencido da acção benefica desse tratamento. Dentre as epidemias que assolaram a cidade de Bragança, contam-se: a cholera, em 1877, que muito dizimou os seus ha- bitantes; o typho, em 1903, causando innumeras victimas, sen- do este importado do Maranhão, e a varíola, em 1915, que foi promptamente debeilada pelos auxílios enviados pelo então go- vernador do Estado, Dr. Enéas Martins, Alguns médicos estiveram de passagem nesta cidade e ou- tros residiram pouco tempo, entre elles contam-se os Drs. Vallc Sardinha Júnior, aqui failecido; Domingos Pinheiro, Agapito Moura e actualmente o Dr. Raymundo de Athayde. Existe uma unica pharmacia de propriedade do sr. João da Costa Rodrigues, diplomado pela Faculdade da Rahia, a qual está regularmente montada de accôrdo com as necessidades lo- caes. Não existe hospital em Rragança, porém, o seu actual intendente Coronel Childerico Fernandes, dissemos fazer parte do seu programma administrativo a construcção de um. Houve na épocha da variola um isolamento provisorio particular. Esse isolamento nos foi cedido pelo seu proprietá- rio, afim de ser utilizado em qualquer emergencia. O posto de Prophylaxia Rural da cidade de Rragança iniciou os seus servi- ços a 23 de Outubro de 1921, com o caracter de ambulante, sob as vistas do Dr. Heraclides de Souza Araújo, DD. Chefe da Pro- phylaxia Rural no Estado do Pará. A l.° de Janeiro de 1922, foi firmado o contracto com o município, estabelecendo-se o Poslo fixo, sob o nome “Dr. Souza Castro”, tendo já nessa épocha, partes dos seus trabalhos em franca execução. Em 21 de Abril do mesmo anno foi inaugurado solemne- mente pelo Dr. Heraclides de Souza Araújo, em presença dos representantes das altas auctoridades federaes e estaduaes e do esforçado chefe actual do município, Coronel Childerico Fernandes. Abaixo transcrevemos a acta dessa solemnidade: “Em nome dos Exmos. Snrs. Drs. Ministro da Justiça e Negocios Interiores e Director Geral do Departamento Nacio- nal da Saude Publica e Director de Saneamento e Prophylaxia Rural, declaro inaugurado o Posto Sanitario desta cidade de Rragança, com a denominação de “Souza Castro”, em signal de justa homenagem ao Exmo. Snr. Dr. Ahtonino Emiliano de Souza Castro, DD. Governador do Estado do Pará. Bragança. 21 de Abril de 1922, Dr. Heraclides Cesar de Souza Araújo, Chefe do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural no Es- tado do Pará. Pelo Dr. Governador do Estado, Francisco de Araújo Campos. Por si e pelo DD. Dr. Intendente de Belém. Abel Chermont. Childerico José Fernandes, Intendente Muni- cipal. Dr. Amaro Theodoro Damasceno Júnior, Director do Posto. Dr. Augusto Raul de Borborema, Juiz de Direito. Se- guem-se as assignaturas de todos os presentes, em numero de 189. O pessoal administrativo deste Posto compõe-se, além do Director, dos seguintes auxiliares: um microscopista, Snr, An- tonio Siqueira Mendes; um escrevente, Snr. Rosemiro Lameira Pontes; quatro guardas sanitários de 2.a classe, Srs. Orcino Aureliano Dias, Oscar Grego da Silva, Manoel José de Siqueira Mendes e Eduardo de Souza Gosta; dois praticantes diaristas, Srs. Maximiano da Silveira Martins e Benedicto de Oliveira Pantoja e um servente, Snr. João Paulo Lopes. Possue o Posto as seguintes dependencias: uma sala de clinica geral e operações, tendo um pequeno arsenal, afim de attender as operações de pequena cirurgia; uma secretaria, uma sala especial para medicação de verminoses e impaludis- mo, uma pequena enfermaria com 4 leitos; pharmacia, camara photographica, duas salas de espera, uma sala para os guardas, quartos dormitorios para os guardas e um quarto dormitorio do Director. Acham-se installadas no prédio tres sentinas com ligação a fossas asepticas. Comprehende os serviços de Verminose, Pa- ludismo, Syphilis, Lepra, Tuberculose, Assistência ao Meretrí- cio, Fiscalização dos generos alimenticios, limpeza da Cidade, de accôrdo com o Snr. Intendente Municipal, bem assim a po- licia sanitaria. Verificámos vários casos de Tuberculose, porém não em avultado numero como era facil presumir, em vista da grande falta de escrupulo da parte dos doentes atacados desta terrivel doença. Como a Syphilis, é a Tuberculose um dos flagellos que vem dizimando a nossa população rural, devido em grande parte a essa falta de cuidado e ignorância dos mais rudimenta- res principios de hygiene. Assim é que, tendo verificado aqui muitos casos desta doença, temos feito um tratamento intensivo, applicando aos doentes as injecções dè collobiases e terebenthina injectavel e as novas injecções de géodyl. Temos ainda, por especial estudo inosso, usado no trata- mento da Tuberculose a gordura fundida do Jacaré (Oleo dc Jacaré), com algum resultado animador. Pelas nossas observações, verificámos nos doentes submeí- tidos a esse tratamento, o augmento de peso, diminuição da tosse e expectoração, fazendo também ceder as hemoptyses. A’s primeiras applicações deste medicamento, que vimos estu- dando com muita attenção, verificámos que os doentes são acommettidos de ligeira diarrhéa, todavia sem gravidade, res- tabelecendo-se logo a normalidade das funcções intestinaes com a continuação do medicamento. O perigo é nenhum; reacções nullas e o doente accuzando sempre sensiveis melho- ras. Em tempo opportuno, com mais apurado estudo e maior numero de applicações, poderemos dizer algo sobre os resulta- dos scientificos desse medicamento, tão facil de obter-se noi grandes lagos e rios da Amazónia. A Lepra nesta cidade é, em relação á Tuberculose, muito mais frequente, havendo famílias inteiras atacadas da bacii- lose de Hansen. Pelo nosso recenseamento, a população da cidade orça em 3.223 habitantes, tendo o nosso serviço verificado 51 casos po- sitivos dos quaes podémos tirar fichas e mais 22 suspeitos. Ini- ciado, porém, o nosso tratamento dos mesmos pelo Oleo de Chaulmoogra, vamos verificando com prazer as sensíveis me- lhoras dos nossos doentes. Existem no interior outros casos que até hoje ainda não nos foi possível verificar. Da nossa polyclinica podemos observar que quasi todas as pessoas que procuraram o nosso Serviço, apresentavam sympto- mas clínicos de syphilis e também muitos casos de bouba, os quaes submettemos ao tratamento pelo 914, com feliz resulta- do. Para a Syphilis temos também applicado as injecções de Trepól sobre as quaes não podemos fazer, por emquanto, um juizo seguro e julgar de sua acção especifica, apezar do grande conceito que na actualidade vae tendo esse novo medicamento. As Mycoses são communs de preferencia nas creanças, as quaes temos submettido a tratamento pelo processo de Sa- bouraud, com algum resultado. Tivemos ainda occasião de observar e tratar um caso de trachoma, um de balantidiose e um de amebiose. O Paludismo na cidade de Bragança, apesar de ser esta cercada de pantanos, não é tão assolador como na zona central da E, de F. de Bragança; no emtanto os habitantes do interior do município são muito atacados pelo hematozoario de Lave- ran. Os casos dessa doença apparecidos nesta cidade têm sido tratados com feliz exito pelos medicamentos específicos. As Verminoses, como já dissemos, são a endemia que dia a dia avança em nossos sertões, deixando quasi toda a popula- ção esquálida e decadente, concorrendo para essa dissemina- ção, além de outros, o mau habito, quasi geral, de andarem os seus habitantes descalços. Grande tem sido também o numero de doentes que teem vindo a este Posto para o tratamento de ulceras. A estes doen- tes submettemos previamente ao tratamento anti-verminoso, fazendo em seguida cauterisar as ulceras torpidas com acido azotico e applicando depois a pomada de dermatol, acido saly- cilico e calomelanos, sendo innumeros os casos de completa cura. Ulceras de tres e quatro annos cederam ao terceiro tra- tamento, cicatrizando rapidamente. Não conseguimos, porém, o mesmo resultado satisfactorio em ulceras antigas com a ap- plicação da tintura de iodo, nitrato de prata e as pomadas de oxydo de zinco e Beclus. Em geral as ulceras aqui tratadas são malleolares e nellas não encontramos, até hoje, a leishmania, parecendo não existir esta dermatose no município de Bragança. A prostituição é relativamente facil nesta cidade, pois ma- triculamos em o nosso serviço 41 meretrizes e innumeras ou- tras escaparam-se para o interior, fugindo do nosso alcance. Em quasi todas as matriculadas os exames são positivos para o gonococco; a reacção de Wassermann também nos tem re- velado casos positivos para sy^hilis. As familias residentes na cidade são muito hospitaleiras e em geral bem educadas e de hábitos distinctos. Predomina dentro da cidade o sexo feminino, e em geral as senhoritas são claras e bem parecidas. A próle de quasi todos os casados é numerosa. Existem grandes facilidades nas ligações illicitas entre a classe pobre e analphabeta, assim como a maioria dos casa- mentos, nesta classe, é religioso. As meninas, já na puberdade são logo preferidas dos amo- res occultos, só despertando a idéa da união ao ter o primeiro filho. 0 nosso serviço de vaccinação, logo ao chegarmos a esta cidade foi systematico. No emtanto, quasi toda a população já se havia submettido á vaccina por occasião da epidemia da va- ríola, em 1915; porém, mesmo assim muitos de seus habitantes ainda a contrahiram. Temos feito observar a lei da obrigatorie- dade da vaccina, especialmente nos estabelecimentos de in- strucção publica e particular, aos quaes temos fornecido muitos attestados. TRABALHOS REALIZADOS DE OUTUBRO DE 1921 A MAIO DE 1922 Serviço contra as verminoses Total de pessoas recenseadas nas zonas sob a jurisdicção do Posto 6.499 Primeiros exames coprologicos.... 3.229 Positivos para qualquer verme... 3.155 0u97,70% Negativos para o mesmo fim 74 ou 2,30% Ancylostomose... 1.928 ou 59,39% Ascaridiose 3.113 ou 96,40% Trichuriose 1.881 ou 58,25% Estrongylose 81 ou 2,51 % Enterobiose 62 ou 1,92 % Outros parasitos. Sou 0,25% Positivos para Primeiros exames da taxa de he- moglobina 5.929 Dando a média geral de.. 54,42% Raças Das 3.229 pessoas examinadas eram: Brancas 1.052 ou 32,60% Mestiças...., 2.099 ou 65,% Negras 78 ou 2,40% Medicações pelo oleo de chenopodio: Fôram dadas 8.888 Sendo; Primeiras 6.438 Segundas 1.459 Terceiras 645 Quartas 257 Quintas e mais 89 Inspecções Fôram inspeccionadas e cadastradas 1.872 casas, encontrando-se com installações sanitarias: Acceitaveis 565 ou 30,18% Defeituosas 848 ou 45,30% Inexistentes 459 ou 24,52% Mediante intimação nossa fôram : Melhoradas 100 Construídas 126 Abastecimentos d’agua—J)a. população deste Município 60% abastece-se d’agua de poços e 40% d’agua dos igara- pés, fontes e rios. Prophylaxia da varíola Fôram vaccinadas e revac- cinadas 348 pessoas, sendo: vaccinações 167, e revaccinações 181, sendo expedidos 490 attestados. Serviço contra o impaludismo Pessoas matriculadas nesta secção 455 Total de exames para pesquizas do hematozoario 455 Sendo : Positivos 263 Negativos 191 Prejudicado 1 Os exames positivos revelaram: Plasmodium vivax 172 ou 65,39% Plasmodium falciparum 91 ou 34,61 % Exames de baço Entre as 114 pessoas .examinadas fôram encontrados: Palpaveis 50 ou 43,86% Impalpáveis 64 ou 56,14% Idade dos impaluda dos: Dos que revelaram exames positivos eram; De 0 a 5 annos 13 De 5 a 15 annos 63 De 15 a 50 annos 179 De mais de 50 annos. 8 263 Medicamentos gastos Injecções: De soluto de sal de quinino 1.892 De soluto de azul de methyleno 772 2.754 Comprimidos: De sal de quinino 0,25 . 6.000 Idem, idem 0,50 17.500 23.500 Capsidas : De azul de methyleno e quinino 0,10x0,40 2.750 Consultas: Aos impaludados fôram dadas 1.136 Polyclinica: Consultas geraes 7.449 Sendo: Pequenas intervenções cirúrgicas 355 Curativos de ulceras 2.040 Curativos diversos 2.771 Outras moléstias 2.283 Propaganda sanitaria Foi realizada uma conferencia com uma assistência de cerca de 700 pessoas, tendo-se dis- tribuído 300 prospectos de propaganda. CAPITULO VII CONDIÇÕES MEDICO-SANITARIAS DAS CIDADES DE PRAINHA, CHAVES E SOURE PELO Dr. PAULO BAPTISTA BOMBO Sub-inspector sanitario rural 1.-CIDADE DE PRAINHA E\uma pequena cidade do interior do Estado, occupando um pequeno planalto á margem esquerda do rio Amazonas Cercando-a pelo lado de Oeste, corre extenso igarapé cujas aguas vão se derramar num grande pantano a que denomina ram de Lagôa do Pery. Do lado de Léste descortina-se enorme e verdejante campina toda alagadiça. A cidade de Prainha é atravessada por 6 ruas e cinco travessas. Essas ruas e travessas que são desprovidas de todo e qual- quer calçamento e que têm também os seus leitos muito acci- dentados, offerecem logo á vista, mal impressionando, grossei- ras e archaicas construcções que, na sua quasi totalidade, já caminham para a mais completa ruina. Verificámos ahi a existência de 150 habitações assim dis- tribuidas: 45 de cal e tijollo e cobertas de telha; as restantes são as choupanas de gente muito pobre e obedecem aos typos os mais diversos. Existem as denominadas palhoças que são totalmente construidas de palha. Outras são ainda de pau barreado, apre- sentando a cobertura feita de palha. Quanto ao piso de todas essas choupanas é de terra batida. Prainha é a séde de uma intendência actualmente a cargo do sr. Bernardino Nunes de Oliveira. Possue uma collectoria estadual, um cartorio de tabellião, uma agencia do Correio Geral, uma estação telegraphica da Amazon River, tem duas escolas publicas, sendo que, uma é estadual e a outra municipal e também uma promotoria pu- blica. O seu município é banhado pelos rios Sapucaia, Oiteiro, Ipurú, Uruárá, Tamuatahy, Camapó, Juary, Arumahú, Virace- bo, Ingatuba, Tanaquára, Guajurú e Iry, dando elles o nome ao povoado a que pertencem. No município existem 20 fazendas, todas de criação. A região que é em alguns pontos um pouco montanhosa, apresenta enormes mattas ainda virgens. Num desses pontos mais elevados onde estivemos, no lo- gar denominado “Serrinha”, encontrámos uma fonte d’agna crystallina e fresca. Clima. E’ uma região muito quente e sujeita a frequentes aguaceiros. A temperatura que se eleva muito durante o dia, váe declinando com a approximação da noite, chegando mesmo a fazer bastante frio já pela madrugada. ESTADO SANITARIO Como em quasi todas as cidade do interior do Estado, a cidade de Prainha também não possue exgotto. Os seus habitantes, na sua quasi totalidade, servem-se do matto para as suas dejecções, sendo rarissimas as casas que possuem a sua fóssa. Por occasião dessa nossa inspecção fize- mos ver aos seus habitantes o perigo a que estavam sujeitos com tão gravissima falha. Aconselhámos então a que, com a maior brevidade possível, mandassem fazer essas construcções imprescindíveis. ABASTECIMENTO D’AGUA Este é feito com a tirada do rio Amazonas, em natureza, sendo rarissimas as pessoas que a usám filtrada. Tivemos mes- mo a curiosidade de verificar da existência de apenas 6 filtros em toda a cidade, incluindo o que gentilmente nos foi cedido por um negociante, durante a nossa permanência alli. Quanto ao estado sanitario da população era o mais deso- lador possível quando lá chegámos; era um amontoado de in- divíduos macillentos, esqueleticos, anemiados, na sua quasi totalidade atacados de impaludismo e verminoses, com o baço grandemente hypertrophiado e o tegumento coberto de ul- ceras. Logo ao chegarmos soubemos que durante o mez de Ja- neiro desse anno havia surgido a grippe de caracter epidemico. tendo ceifado dezenas de vidas. Ainda encontrámos alguns casos desse mal que tratámos. Alimentação.—A alimentação na classe mais miserável é a mais deficiente possível. Esta gente se alimenta de alguns fructos do matto, da farinha d’agua e ás vezes de peixe e isso. quando se animam a pegar num anzol, o que é muito custoso devido á sua indolência. Vivem na mais completa ociosidade, passando os dias in- teiros estendidos em immundas redes ou mesmo deitados no chão das palhoças e, ainda, seminus ou cobertos de andrajos. Abusam muito do álcool e do fumo, vicio esse que tam- bém é extensivo ás mulheres e creanças. População.—A população de Prainha, pelo ultimo recen- seamento, se elevou a 6.000 habitantes em todo o município, sendo que apenas 600 na cidade. Religião.—Professam o catholicismo. Commercio—O commercio se limita a algumas mercea- rias de turcos. IMPALUDISMO E VERMINOSES Installámos logo o nosso posto medico, numa casa mais ou menos em boas condições que, para esse fim, nos foi cedida pelo seu proprietário. Examinámos e medicámos 578 doentes de impaludismo dos quaes 476 apresentavam o baço palpavel, ou sejam 82,3 °j°. Verminoses.—Pessoas recenseadas 455. Demos 455 primei- ras medicações, 370 segundas, 315 terceiras e 240 quartas me- dicações. Total, 1.380. Total de hemoglobina —18.960 para 455 exames. Média 41,7 °l°. VACCINA ANTI-VARIOLICA Yacçinámos e revaccinámos 315 pessoas e demos 52 attcs- tados de vaccinação. Foram também tratadas cerca de 100 pessoas atacadas de varias doenças, predominando a escabiose e as ulceras. 2. CIDADE DE CHAVES (Ilha do Marajó) O seu município que é o mais extenso dos onze, de que é constituída a grande ilha de Marajó, fica situado á fóz do rio Amazonas. Limita-se com o município de Afuá por uma li- nha recta, partindo dos limites Léste da fazenda de Santa Lu- zia que pertence á Afuá até ás nascentes do rio Charapussú e destas, por outra linha recta, até ás nascentes do rio Cha- máiahy, no logar denominado Porto Grande, inclusivé. Limi- ta-se com o município de Anajás, também por uma linha recta, partindo do logar Porto Grande, até á fóz do igarapé Trovão, pelo affluente do rio Cururú até ás suas nascentes e destas, por outra recta até o ponto, fronteiro á fóz do igarapé do Francez, pelo affluente do rio Mocoões, descendo até á fóz do igarapé Peixe-boi e, subindo pelo affluente deste, até ás suas nascentes. Limita-se com os municípios de Cachoeira e Soure por uma linha recta partindo das nascentes do igarapé Peixe-boi, afflu- A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Ilha de Marajó. Lado de Chaves. Lado de Soure A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Ruinas da Amazónia. Intendência Municipal de Breves. Trecho da cidade do Amapá. ente do rio Mocoões até a ilha da Fazenda Santa Izabel, inclu- sivé; desta ilha por outra recta até á fóz do rio Mocungal, afflu- ente do rio Apihy; dahi, por outra recta até ás nascentes do rio Tartarugas, pelo affluente deste rio até á sua fóz. Limita- se ainda com o rio Amazonas por uma linha recta, da fóz do rio Tartarugas até á fazenda Santa Luzia, envolvendo as ilhas dos Camaleões, Melancias, Puampézinho, Flexas, Mexiana, Caviana, Viçosa, Cyriaco, Bragança e as que formam o archi- pelago da Caviana. Clima —E’ muito quente e húmido, como em quasi to- das as regiões do Estado do Pará, tornando-se muito insalu- bre durante a estação invernosa, devido ás constantes chuvas que encharcam completamente os campos, deixando-os quasi que intransitáveis, sendo justamente nessa épocha que a inalaria toma maior incremento. Também, segundo informações colhidas no logar, soube- mos que, no período de transição do inverno para o verão, sur- gem quasi que annualmente, e com grande intensidade, a grip- pe e o sarampo. O inverno que tem o inicio no mez de Janei- ro, se prolonga até Junho; o verão transcorre de Julho a De- zembro, sendo amenizado com os ventos que sopram de Léstc e Noroeste. Nessa estação as noites são frescas e muito agradaveis. No inverno sopram os ventos de Norte e Nordéste. HISTORICO DO MUNICÍPIO A sua origem se encontra na catechese dos tempos colo- niaes, pelos religiosos capuchos da província de Santo Anto- nio, derivando de uma antiga aldeia de indios Aruães. A costa Norte da ilha de Marajó, região mais alta, visita- da desde os primeiros passos da colonização do Grão-Pará, permittiu o assentamento de um centro de catechese. Os fra- des capuchos installaram-se no ponto onde está hoje assentada a cidade de Chaves a 0o 10’ e 30” de latitude sul e 6o 42’ e 2” de longitude Occidental do meridiano dó Rio de Janeiro. São estes os limites da cidade: Ao Norte, rio Amazonas; a Oeste rio Cruary; a Léste o igarapé denominado Aturamaria e ao Sul rio Cururú, affluente do Anajás. A cidade de Chaves, logo á primeira vista, já apresenta um aspecto bem desolador, apresentando-se as suas ruas cobertas de verdadeiros mattagaes : —Chaves dá-nos a impressão de uma cidade em ruinas. Salubridade—Durante as seccas, no periodo que vae de Julho a Setembro o impaludismo recrudesce com maior inten- sidade nas circumscripções de Goiabal e Cururú que são su- búrbios da cidade. Nas demais circumscripções que são as comprehendidas pelas fazendas de criação, os seus habitantes gosam de saude niais ou menos relativa. Os moradores da cidade, na sua quasi totalidade gente paupérrima muito ignorante, vivem na maior promiscuidade, abrigados em infectas palhoças e completa- mente alheios ás mais rudimentares noções de hygiene. A ali- mentação dessa gente é a mais deficiente possível devido á sua grande miséria, oriunda certamente da ociosidade que tem como factor responsável a ancylostomose de que se encon- tram infectados. ZONA DE CRIAÇÃO E’ a pecuaria a mais importante industria desse munici- pio, concorrendo para isso a região que é muito apropriada provida de extensas campinas com bebedouros naturaes e isentos de parasitos e outros males que perseguem a criação. Além dos pequenos criadores que são aliás em grande nu- mero, possue o municipio 40 importantes fazendas de gado vaccum, perfazendo approximadamente um total de 82.000 rezes. São as seguintes as suas principaes fazendas: A dos Anjos, Santa Catharina, Monte Negro, Cajueiros, Monguba, Pacoval, Angá Redondo, Gloria, Marajó, Nazaré th (ilha Mexiana) eas de Capinai, Santa Maria e SanfAnna, na ilha de Caviana, além de algumas outras. A sua principal exportação é á do gado vaccum que é feita para o Curro de Belem e Guyana Franceza. Esse municipio também cria grande quantidade de porcos, para cuja industria se presta admiravelmente. SERVIÇOS MÉDICOS PRESTADOS PELA COMMISSÃO NO MUNICIPIO Fazenda Santa Catharina-—Conforme determinação da chefia iniciámos os nossos trabalhos nessa fazenda, onde de pas- sagem para a cidade de Chaves estacionámos durante 4 dias, tendo alli chegado a nossa commissão no dia 14 de Abril do corrente anno. A Fazenda que é de propriedade da viuva Pe- dro Chermont e Filhos tem a sua séde installada num pequeno planalto. A casa cuja construcção é muito recente, obedeceu a todas as regras da hygiene e possue optimo banheiro e fóssa bacteriológica. Para facilidade dos nossos Serviços um dos seus proprie- tários mandou reunir na séde todos os seus vaqueiros que se fizeram acompanhar das respectivas famílias. Recenseámos 105 pessoas, sendo examinadas para helminthoses 95, cujos exames coprologicos deram o seguinte resultado: Ancylostomos 92 pessoas, Ascaris lumbriooides 88, Tri- churis 87 pessoas. Pessoas não infectadas encontrámos uma. Fizemos 104 exames de sangue para a verificação da taxa de hemoglobina, verificando uma média de 48,31 ojo. Fizemos 89 medicações contra helminthoses. Impaludismo—Foram verificados 22 casos de impaludis- mo. Desses doentes que foram convenientemente medicados, 19 apresentavam o baço palpavel. Outras doenças Blennorrhagia 2, Sarna 9, Grippe 1, Hér- nia 1 e Ulcera 1. Terminado o serviço na Fazenda, fizemo-nos transportar em canoa para a cidade de Chaves. Alli, infelizmente, devido a não termos encontrado uma casa que se prestasse para a ins- tallação do nosso posto medico, fomos obrigados a fazer o ser- viço exclusivamente nas zonas. Recenseámos 599 pessoas, tendo sido examinadas para o tratamento de helminthoses 482, das quaes 481 infectadas e uma isenta. Fizemos duas medicações, sendo que a l.a em 454 pessoas e a 2.a em 218, perfazendo um total de 672 medicações. Fize- mos 572 exames para verificação da taxa de hemoglobina que deu uma média de 44, 87 °|°. Impaludismo—Foram constatados 147 casos, dos quaes, 125 apresentavam baços palpaveis. Esses doentes foram todos convenientemente medicados. Foi examinado o baço de 691 pessoas encontrando-se 143 (12 °|°) com esse orgão palpavel. QUADRO GERAL DAS HELMINTHOSES NO MUNICÍPIO (CIDADE DE CHAVES E FAZENDA DA FORTALEZA) Pessoas recenseadas 704, Exames de hemog. 602, infecta- dos pelo Ancylostomo 555, Ascaris lumbricoides 583, Trichuris 591, Strongyloide 22 e outros vermes 2. Vaccinas (anti-variolica)—Procedemos a vaccinação sys- tematica, sendo vaccinadas e revaccinadas 622 pessoas. Fossas Verificámos em toda a cidade apenas 11 fossas perdidas e 2 bacteriológicas. Outras doenças Syphilis 5 casos, tuberculose 3, sarna 21, ulceras 9, bouba 8, rheumatismo articular 3, hérnia 3 e pro- lapso do útero 1. 3. —CIDADE DE SOURE (Ilha do Marajó) O seu município delimita-se com o de Chaves pelo afflu- ente do rio Tartarugas, desde a sua fóz, até o lago de egual no- me; com o de Cachoeira, pelo affluente do rio Camará, desde a sua fóz até o igarapé Cararupú e, da fóz deste igarapé por uma linha recta, incluindo as nascentes dò rio Paracauary, m- do ter ao ponto em que o rio Tartarugas sae do lago de igual nome, linha essa que passa na divisória das fazendas do Retiro, Reburedo, Dominguinhos, e Matinadas, pertencentes ao município de Soure e as fazendas Guajarás e Mocajúja perten- centes ao município de Cachoeira. HISTORICO DO MUNICÍPIO Origina-se da antiga aldeia dos indios Mamanazes que, posteriormente, teve a denominação de Villa, outorgada por Francisco Xavier de Mendonça em 1757, com o qual entrou para a independencia do Império. A sua decadência levou o conselho do governo da Província do Pará a supprimil-a em 1883, sendo o seu território então reunido á villa de Monsarás, de cujo município fez parte até 1859, não obstante a lei n. 138 de 9 de Novembro de 1847 ter-lhe concedido o titulo de Villa. A falta de cumprimento dos seus habitantes do artigo da lei que determinava a installação do Município, somente de- pois de construida a casa da Gamara e a cadeia, demorou de 11 annos para a execução da resolução da Assembléa Provincial. Somente mais tarde, em 1858, o presidente da Província, man- dou que a Gamara Municipal de Monsarás elegesse a nova Ga- mara de Soure, eleição essa que ficou apurada em 8 de Janeiro de 1859 por áquella Gamara que era então constituída por An- tonio Joaquim Leite Bittencourt, presidente e vereadores Luiz Henrique de Faria, Constantino da Silva Gaio, Francisco de Paula Guemór e Antonio Jeronymo dos Santos. Em 20 do mesmo mez de Janeiro de 1859, teve logar a solemne installação do Municipio de Soure, tendo comparecido o capitão Leite Bittencourt, acompanhado do secretario da Ga- mara de Monsarás Raymundo Amando Rodrigues e, proferido o juramento legal, foram empossados os primeiros vereadores de Soure: Christovam Antonio de Mello, presidente e Raymun- do Gonçalves de Figueiredo, Meandro Constante de Figueire- do, Victor Antonio de Rocha, Bento José de Sousa Al- ves, José Ferreira de Brito Júnior e o padre Ambrosio Henri- que da Silva Hegnes, vereadores. Soure obteve a cathegoria de cidade pelo decreto n. 194 de 19 de Setembro de 1890, O seu Conselho actual se compõe de um presidente e de mais 8 membros ou vogaes. SITUAÇÃO GEOGRAPHICA DA CIDADE Soure obteve a categoria de cidade pelo decreto n. 194 15” de longitude Oeste do meridiano do Rio de Janeiro. Delimi- ta-se ao Norte pelos campos de criação; ao Sul e a Léste, pela bahia de Marajó; a Oeste pelo rio Taracauary, antigo igarapé Grande, ficando a mgrgem esquerda deste rio. Soure que é uma cidade de grande futuro, já possue commercio bem regular, pre- dominando as mercearias, além de muitos ramos de commer- cio, possuindo ainda dois pequenos hotéis. E’ a séde de uma Intendência, possue ainda 3 collectorias (federal—estadoal—municipal), 2 cartorios, uma estação te- legraphica do Amazon River, uma usina de illuminação publi- ca, uma Prefeitura de Policia, uma agencia do Correio, um curro e um cemiterio. A cidade de Soure é servida por nave - gação particular. O Syndicato dos Fazendeiros mantem um pequeno navio que faz semanalmente a viagem da cidade para a capital e vice-versa. As ruas que cruzam a cidade symetricamente apre- sentam um aspecto muito pittoresco, devido a sua arborisa- ção. São todas plantadas de mangueiras que, diminuem a grande intensidade solar que, em certas horas do dia, é verda- deiramente causticante. Ha nas suas construcções pobreza e falta de estylo, sendo muito limitado o numero de casas mais ou menos confortáveis e que, são feitas de cal e tijolo. Essas construcções, na sua maioria não obedecem ás leis da hygiene, pois são casas unidas umas ás outras, ficando assim as alcovas sem a menor ven- tilação, com grave risco para a saude. As restantes são as cabanas de pobres, construidas umas exclusivamente de palha e outras de paredes barreadas. Essa gente, como quasi toda a do interior, vive na maior promis- cuidade e mal alimentada. Alimenta-se de peixe e fructos do matto. Soure, possue ainda o arrabalde denominado do Bairro Novo que é muito grande. SALUBRIDADE—CLIMA 0 seu clima que é muito secco, é o melhor de todo o Esta- do do Pará, depois de Salinas. Soure, refugio dos habitantes da Amazónia, mantem durante a estação calmosa uma tempera- tura muito amena. Possue uma bellissima praia de banhos, cha- mada do Mata-Fome e que é muito procurada pelos veranistas fica situada na bahia de Marajó. Não possue rêde de exgotto, tendo porém fossas bacterioló- gicas (raras) e perdidas. A agua para o consumo é tirada dos poços que é filtrada por muitos dos seus habitantes. Zona de . criação—Como em quasi todos os municipios da ilha de Marajó, também Soure possue grandes campos de cria- ção apropriados, com bebedouros naturaes, sendo, portanto, a pecuaria uma das suas principaes industrias. Possue o muni- cipio 18 importantes Fazendas de criação que, reunidas a in- numeros pequenos criadores, perfazem um total de 80.000 re- zes. Gado cavallar—conta o municipio com umas 9.000 cabe- ças de gado dessa especie. Também existe grande criação de gado suino. A sua piin- cipal exportação é a do gado vaccum. TRABALHOS EXECUTADOS PELA COMMISSAO Teve a nossa Commissão o melhor acolhimento da parte do Dr. Antonino Mendes, seu actual intendente que, com o seu secretario, o Sr. Euclydes de Figueiredo, com a maior bôa vontade e egual interesse, nos facilitaram logo da melhor maneira possivel, a installação do nosso posto medico. Foi-nos cedida para esse fim, para o qual se prestou per- feitamente, uma casa situada num dos melhores pontos da ci- dade. Procedemos logo ao recenseamento que, devido á nossa curta permanência alli, não poude ir além de 1897 pessoas. Por informações colhidas soubemos da existência de appro- ximadamente 5.000 habitantes, parecendo-nos não ser exag- gerada essa cifra, porquanto, possuindo a cidade 10 ruas e 22 travessas, se limitou o nosso recenseamento ás 4 primeiras ruas. Obtivemos dos 1.628 exames de fezes que fizemos o se- guinte resultado para helminthoses: Pessoas infectadas pelo Ancylostomo 1.138, Ascaris 1.562, Trichuris 1.564, Strongyloide 46 e outros vermes 7. Fizemos 1.687 exames de sangue para a verificação da taxa de hemoglobina. Média de hemoglobina 45,96. INDICAÇÕES CONTRA HELMINTHOSES Foram feitas 1.194 primeiras medicações. Impaludismo Foram constatados 210 casos, sendo que desses doentes 167 apresentavam o baço palpavel. Total de exames do baço 1.295 com 156 palpaveis ou 12 °|°. VACCINA ANTI-YARIOLICA Foram vaccinadas 659 pessoas e revaccinadas 650. Lepra Verificámos 14 casos, dos quaes tirámos as respe- ctivas fixas. Outras doenças—Hérnia 1 caso, tuberculose 5 casos, grip- pe 2 casos, bronchite asthmatica 2 casos, ulceras 8 casos, rheu- matismo syphilitico 1, e rheumatismo blennorrhagico 2. CAPITULO VIII ESTUDOS FEITOS E SOCCORROS PRESTADOS PELAS COMMISSÕES MEDICAS AMBULANTES PELO Sr. H. C. SE SOUZA ARAÚJO Chefe do Serviço A parte mais interessante do saneamento rural sâo as excursões pelo interior, pelos grandes rios, pela costa, sejam essas viagens em objecto de soccorro medico, sejam em objecto de estudo. A primeira parte do meu programma de viagens de estudo já realizei: do Gurupy ao Oyapock e Guyanas. Faltam- me realizar as viagens mais importantes, no ponto de vista nosographico, do extremo Norte brazileiro: as inspecções me- dico-sanitarias do baixo Amazonas, do Tapajós, do Xingú, do Tocantins e do Araguaya, respectivamente até as fronteiras dos Estados do Amazonas, Matto Grosso e Goyaz. No segundo semestre deste anno pretendo espalhar com- missões por essas magnificas regiões, indo pessoalmente dar inicio aos trabalhos de cada uma. São necessárias quatro ou cin- co commissões, cada uma trabalhando de 3 a 6 mezes, confor- me a região e a densidade de população. Em Outubro de 1921 sahiram da capital quatro expedições, duas das quaes demora- ram 3 mezes, 1 cêrca de 10, e a outra commissão ambulante tornou-se fixa, com séde em Bragança. Os soccorros médicos e medicamentosos prestados por taes commissões em toda a ex- tensão da Estrada de Ferro de Bragança, no município deste nome, em Vizeu e Alto Gurupy e em 3 municípios do littoral: Salinas, Marapanim e Curuçá, e a sua farta documentação es- tatística e scientifica aproveitável, compensaram, sobeja- mente, os esforços e dinheiros dispendidos. Antes e depois dessas expedições sahiram também outras para os seguintes logares: Anajás, Ponta de Pedras, Guamá, Prainha, Chaves, Soure, Amapá e Oyapock. Os chefes de algumas dessas com- missões escreveram capítulos especiaes sobre os seus traba- lhos; os outros, que eram contractados, deixaram o Serviço, e, para não ficarem os seus relatórios inaproveitados, vou re- sumil-os neste capitulo de conjuncto. Resumirei também os trabalhos e estudos que realizei nas minhas excursões, dentro do Estado. No mez de Junho de 1921, logo depois de inaugurados os nossos postos da capital* fiz duas viagens de inspecção: uma no município de Cachoeira (Marajó), como membro da co- mitiva do Dr. Governador do Estado, e outra em toda a exten- são da Estrada de Ferro de Bragança, desde Belém até Befija- min Constant. Encontrei a parte habitada do município de Cachoeira completamente alagada. Não era possível, na occa- sião, iniciar na séde da comarca qualquer obra de saneamento. A zona percorrida pela única via-ferrea do Estado me pa- receu muito mais necessitada. Visitei todas as suas villas, po- voados e cidade, observando a sua topographia, os typos das habitações e o aspecto physico dos seus habitantes. Por essa inspecção visual verifiquei que a parte comprehendida entre Ananindeua e Peixe Boi apresentava não só condições physi- cas mais propicias á endemicidade do impaludismo e das ver- minoses, como também os seus habitantes me pareceram em precário estado de saúde. De Capanema á Bragança, e mesmo até á Colonia Benjamin Constant, a situação sanitaria me pa- receu muito melhor. No correr do primitivo anno de trabalho pude verificar que não errei na minha observação, e os capí- tulos especiaes e quadros que fazem parte deste livros confir- mam essa asserção. A 23 do mesmo mez de Junho mandei a primeira com- missâo medica incumbida de tratar centenas de impaludados de Americano até Anhanga—, importantes povoados da refe- rida estrada. Tal serviço nunca mais poude ser suspenso. Em Outubro a Commissão foi augmentada, depois outra vez em Janeiro e trabalhou incessantemente até 8 de Junho deste anno, sempre dentro da zona que considerei insalubre á primeira vista. Nos primeiros mezes deste anno surgiram surtos epidemicos de inalaria em vários povoados dessa Estrada e foram taes e tão justos os pedidos dos seus habitantes que a Intendência da Capital resolveu auxiliar o Serviço de Prophylaxia no combate ao mal. Mediante accôrdo firmado em 11 de Janeiro entre as duas citadas repartições foi installado em Santa Izabel, a2l do mesmo mez, imi posto sanitario custeado pela municipali- dade de Belém, compromettendo-se o Serviço que dirijo de conservar, dentro do município da Capital, 3 postos sanitários emquanto a Intendência mantivér o seu. Em Julho de 1921 inspeccionei a villa do Mosqueiro e ar- redores, inaugurando nella, a 14 do mesmo mez, um posto sa- nitario fixo, e, em companhia do Dr. Governador do Estado, fiz uma viagem de inspecção a Abaeté, Cametá e Mocajuba, nas margens do rio Tocantins. Cuidadosa observação me demonstrou que essa região ri- beirinha não necessita soccorros médicos com a urgência que reclamam os subúrbios da capital, o littoral Norte e zonas peTr corridas pela Estrada de Ferro de Bragança, por serem estas as mais povoadas, as mais productivas actualmente e aquellas cujo máo estado sanitario não permitte contemporizações. Fiz ainda uma viagem de inspecção ao município de Soure (Ma- rajó), á Colonia Correccional do Prata e á Ilha Caratateua, em objecto de exame de leprosos e escolha de local para a leprosa- ria offjcial. A começar pelo municipio de Vizeu vou tratar dos traba- lhos e estudos realizados em varias regiões do Estado, durante o Io anno de actividade do nosso Serviço. I. MUNICÍPIO de yizeu Expedição ao Alto Gurupy Iniciados e bem encaminhados os serviços de inspecção medico-sanitaria da cidade de Vizeu e povoados vizinhos, a 29 de Outubro de 1921, dos quaes tratarei adeante, emprehendi uma viagem de estudos ao Alto Gurupy, tendo, de antemão, organizado o meu itinerário. O fim principal da viagem era a visita aos índios Tembés e Tymbiras, com o fito de verificar o seu estado sanitario e condições de vida. Iria mos até o posto “Felippe Camarão”, acima de Jararáca e si possível até Ara- pariteua. Gontractada a conducção com o Sr. João Ramos e organizada a expedição partimos na manhã de 3 de Novembro. Viajámos num grande batelão, que baptizei com o nome de “Victorioso”, tripulado por 10 homens, bem armados e muni- ciados. com o fim de caça e de defesa contra os índios “Uru- bújs”. Acompanhou-me nessa excursão o guarda sanitario chefe Zacharias Cuoco, funccionario de confiança, competente e acti- vo que trabalha commigo ha cêrca de 4 annos. No diário, que segue, descreverei por alto o itinerário e aspecto da viagem e com mais minúcia o estado de cultura e condições sanitarias das populações que vivem ás margens do bello rio Gurupy, que divide o Estado do Pará com o do Ma- ranhão. Subindo o rio gastámos até “Felippe Camarão” 13 dias; descendo, com a ajuda das corredeiras e de “todos os santos”, fizemos a viagem em 5 dias e 2 noites. DIÁRIO l.° dia 3| 111921. Partida ás 6 horas da manhã, quando raiava p sol. Tempo bpm todo o dia, sem fazer muito calor. Almoçámos ás 11 horas dentro do batelão, pois tínhamos ahi a nossa cozinha e cozinheiro. Parámos ao meio dia, á margem esquerda do rio, no arraial Jaraquára, para o almoço da tri- pulação. Esse arraial possue cerca de uma duzia de palhoças habitadas por pescadores, que visitámos. Observei a vida de miséria que leva essa gente, que não cultiva o sólo e tem hábi- tos tão primitivos. A’s 13 horas, em pleno sol, apanhei á borda do rio uma anophelma (Cellia albipes), quando sugava um companheiro de viagem. A’ noitinha apanhei mais quatro ano- phelinas, dentro do batelão. Chegámos ás 22 horas á villa do Gurupy. De Yizeu a esta villa, em mais de metade do trajecto, o rio tem as margens baixas, alagadas e cheias de mangue, e as aguas completamente turvas, barrentas. Depois o seu aspecto muda: as margens são altas, as aguas limpidas e a floresta de ambos os lados mais cerrada e elevada. Em Gurupy hospe- dámo-nos em casa do negociante cearense Manoel das Neves, onde, pouco antes de meia noite nos foi servido um bom chá de herva matte do Paraná. 2.° dia 4|ll. A villa do Gurupy é uma grande povoação, bem arruada; tem mais de 60 habitações, comprehendendo as casas e barracas, bem situada á margem esquerda do rio, num immenso e branco areal. A 15 de Outubro passado foi inaugu- rada na villa uma estação telegraphica de primeira classe, que é trasladora entre o Nordeste e a Amazónia. Acompanhado do Sr. Neves e outros auxiliares percorri, das 7 ás 11 horas, vários pontos da villa, visitando doentes. Notei grande numero de pessoas opiladas e de cerca de 20 doentes que tratei, mais de metade era impaludada. Em Gurupy observei alguns factos que merecem registro. Durante a noite ouvi uma cantiga de muitas pessoas, especie de ladainha ou reza, que se prolongou até á madrugada, não nos deixando dormir. Indagando do facto sou- be tratar-se de um guardamento de creança morta, habito esse introduzido na região pelos cearenses. De manhã fui chamado a essa casa para ver alguns doentes. Estavam reunidas quatro numerosas familias, vindas do Ceará, ha muitos annos, entre as quaes encontrei mais de 10 casos de impaludismo chronico. A morta era uma menina de 12 annos, que, pelos informes, conclui ter fallecido dessa doença. Havia na casa mais de 30 pessoas. Homens e mulheres loquazes e de aspecto intelligente, mas todos analphábetos. O mais velho delles, homem magro e alto e sadio pediu-me medicamentos para vários impaluda- dos de sua família, uma receita para sua mulher, que verifi- quei ser cardíaca, e por fim “pediu também dinheiro”. Aos de- mais impaludados, uns com febre e todos com baço hypertro- phiado, forneci comprimidos de quinino. Chamado á outra casa, em cuja sala de frente funccionava uma escola primaria mixta, encontrei na varanda uma velhinha cearense, fazendo renda. Tinha ella mais de 60 annos e trabalhava sem oculos. Queixava-se a velhinha de grande peso nas pernas, que encon- trei com grande edema dos pés aos joelhos. Nada na face nem no tronco. Coração normal. Tratava-se de uma nephritica, que tinha á porta da sua casa o seu principal remedio um aba- cateiro —, de cujas folhas tomaria o chá, em logar da agua commum. Alegrou-se a velhinha ao saber que dentro de um mez estaria muito melhor. Numa terceira casa onde fui levado, balançava-se numa rêde uma mulher magríssima, nariz em sella, cicatrizes pelo corpo, dentes estragados e gomnias nas pernas. Apparentava mais de 40 annos quando tinha apenas 26! Era um caso typico de syphilis terciaria com velhice pre- coce. Na quarta habitação, uma palhoça de 2 por 3 metros, apenas coberta, tendo armadas umas rêdes immundas, encon- trei um preto leproso, ainda joven, uma mulata robusta, sua irmã solteira e que me disseram ser sua “amásia”, e seis crean- ças menores de 10 annos, sendo 3 filhos do leproso e 3 de sua irmã. Das seis creanças cinco estavam núas, sentadas ao chão terreno arenoso tendo defronte asi uma grande cuia com mingáu de farinha que comiam com as próprias mãos. Asso- ciavam-se a ellas vários patinhos, porquinhos e cães famintos, cada qual mais prompto em metter o focinho na cuia e apanhar o seu boccado. E o leproso limitava-se a dizer: “enxota o bicho creança... enxota...” Numa rêde, armada junto ao fogo estava uma menina de 3 annos, sobrinha do leproso, que apre- sentava o ventre crescido, a pelle das coxas murcha e enruga- da, a face atrophiada, lábios distendidos e dentinhos á mostra, choramingando sem cessar. Indaguei o que tinha a menina e a sua mãe, enxugando as lagrimas com a ponta de sua sujis- sima blusa, respondeu: “ella tem muitas hemorrhoides... ” Pedi para ver e ella disse: “é dentro da barriga...” (?!). O meu diagnostico deste caso foi de gastro-enterite chronica, em começo de athrepsia. Indiquei á pobre mãe o regimen a seguir e dei-lhe dinheiro para comprar algo. Do leproso fiz a ficha sanitaria. Essa casa representa um dos quadros frequentes da miséria sertaneja do nosso paiz. Na quinta casa examinei uma mulher que se achava ha dois mezes no fundo de uma rêde. Apresentava a face emma- grecida e a côr da cute indicava tratar-se de uma hepatica. Disse-me ter 30 annos e ter tido filhos, de 2 maridos. O exame somático revelou: Figado bastante hypertrophiado com grande ascite. Nada lhe pude fazer além de umas indicações therapeu- ticas. Percorri mais umas 8 casas examinando e medicando vá- rios doentes. Proseguimos a viagem ao meio dia, tendo chegado ás 17 horas á povoação denominada Gurucáua, onde tive noti- cias do fallecimento de mais de 30 creanças, de Julho a Setem- bro, por occasião do surto epidemico de impaludismo que ahi se manifestou depois da grande enchente de Abril e Maio. Pernoi- támos em Campinho, lado maranhense, na casa do collector estadoal João de Almeida. Ahi também mediquei alguns doen- tes de impaludismo, ulceras e opilação. -3.° dia sjll. Partida de madrugada, com bom tempo. A’s 10 horas chegámos ao Maracanãhd, propriedade do cearense João Silva, do lado paraense. Silva habitou o Alto Gurupy, jun- to ao rio Uruahim, extrahindo balsamo de copahyha, durante 10 annos; cahido o preço desse producto a uma ninharia, transferiu a sua residência para esse togar, onde se installou em terreno devoluto, cuidando exclusivamente de agricultura, desde fins de 1919. A sua habitação é melhor que as demais ribeirinhas. As suas terras são fertilissimas: a canna de assa- car, o café, a banana, a mandioca, e todos os cereaes germinam c produzem com abundancia. Nesta safra, com um rotineiro engenho manual de canna, o sr. Silva já fabricou 1.200 kilos de assucar mascavinho e brévemente iniciará o fabrico de aguardente. Queixasse amargamente o agricultor cearense de dois grandes males regionaes; o “impaludismo” e os “indios Urubus”, que lhe não dão tréguas. A começar desta zona até o Alto Gurupy a vida dos moradores está constantemente ameaçada por aquelles terríveis indios, com os quaes, affir- mam todos, vivem alguns criminosos fugidos da Guyana Fran- ceza, que, num período de 20 annos assassinaram centenas de pessoas e causaram o abandono de muitas propriedades agrí- colas da região. Na estrada da linha telegraphica os indios per- seguem todos os transeuntes, tendo já assassinado a vários boiadeiros e guardas-fios, e os que fazem hoje o serviço de inspecção da linha entre Maranhão e Pará têm de andar com- pletamente armados e municiados. Dentro do proprio canna- vial nenhum empregado do Sr. Silva penetra sem levar á mão o seu rifle. Ao lado da moenda vi também dois rifles carrega- dos e promptos para a defesa da propriedade e das vidas. Os gentios, disse-me o Sr. Silva que se tornaram bandidos, es- preitam-nos da matta dia e noite, e sempre que encontram um individuo desarmado, fléxam-no e o assassinam com muitos fe- rimentos. As casas não pódem ficar sem homens, e homens corajosos, porque sempre que elles deixam sós as mulheres e creanças desprotegidas, é quasi certo o ataque, o assassínio, trazendo como consequência final o saque e muitas vezes o incêndio da propriedade. Percorremos vários pontos das plan- tações desse propriedade, acompanhados de alguns camaradas armados para a nossa defesa. Actualmente os indios têm vindo caçar porcos junto ás casas dos seus donos. Darei adeante, se o espaço me permittir, informações mais minuciosas sobre os taes indios Urubúls. A casa do Sr. Silva que dista do Gurupy cêrca de 200 metros foi penetrada pelas aguas deste rio por occasião da grande enchente de Maio ultimo, que durou 15 dias. Almoçámos á beira do rio e partimos ao meio dia, tendo chegado uma hora depois á Marianna, onde saltámos para visi- tar a aldeia abandonada ha dois annos, em consequência de um ataque de indios, do qual resultou a morte de 9 pessoas. As demais fugiram espavoridas. Proseguindo, chegámos ás 15 horas ao porto de Bella Aurora, que fica á margem esquerda do rio e é propriedade do engenheiro sul-riograndense Guilher- me Linde, que vive nesta região ha mais de 20 annos, em explo- ração de minas diamantiferas e auríferas. Attendendo ao con- vite do Sr. Linde resolvemos pernoitar em sua casa e ahi per- A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Gurupy. Batelão em que viajou a expedição Souza Araújo. O mesmo atravessando á vara, as grandes corredeiras. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Pescadores com flexas no rio Gurupy. Pescadores com pary no igarapé da região da ilha. manecer o dia seguinte, com o fim de verificar o estado sani- tário desse povoado emquanto a tripulação preparava uma co- bertura de folhas de Übim (palmeira do genero “Geonoma”), para nossa protecção e da nossa bagagem na região do Alto Gurupy, onde as chuvas, nesta épocha, já são frequentes. 4.° dia 6|ll. Domingo. Bella Aurora. A 300 metros de distancia do rio, que é nessa altura de grande belleza pela limpidez de suas aguas, elevação e alta vegetação de suas mar - gens, com a largura de cêrca de 600 metros e magnifico para natação, - fica a casa de residência do Dr. Guilherme Linde, de typo colonial, com larga varanda na frente, provida de va- rias cadeiras de embalo e rêdes. A casa é situada no ponto mais elevado do terreno, num gramado, com uma magnifica vista sobre o rio e toda cercada de arame farpado para defendel-a do ataque dos indios. Em redor dessa habitação ha quatro ruas com cêrca de 20 palhoças e mais de 100 habitantes. Os homens são todos empregados ou na mina ou na propriedade rural do Dr. Guilherme. A mina aurífera fica a 30 kilometros da re- sidência, num logar chamado Annel, no interior das terras de sua sesmaria, da qual diz o Sr. Linde possuir documentos da antiga metropole e affirma possuir muitos outros terrenos no Maranhão. De sociedade com o engenheiro Renato Santa Rosa, obteve o Sr. Linde dos governos do Pará e do Maranhão a con- cessão das quedas dagua do Gurupy, num total de 107.000 H. P. para producção de energia electrica destinada ás minas, fabrica de papel de umbahuba, estrada de ferro e illuminação de cida- des numa distancia de 250 kilometros, etc. Mostrou-me o Dr. Linde fragmentos de carvão de pedra do Gurupy, pepitas de ouro de alluvião e vários minérios, garantindo-me ser esta uma das regiões mais ricas e futurosas do Estado do Pará. E’ do seu programma a organização, no extrangeiro, de varias emprezas para explorar taes riquezas. Quanto ao clima de Bella Aurora informou-me o engenheiro Linde o seguinte: Temperatura: média annual 25° a 26° C.; maxima 31° a 32° C; minima 20° C. Humidade relativa 84 ojo. Média annual das chu- vas 2.700 a 2.800 millimetros, com 160 a 190 dias de quéda por anno. Evaporação 600 a 615 millimetros por anno, A estação das chuvas começa em Dezembro e vae até Julho. Os mezcs mais seccos são: Outubro e Novembro. O calor é constante mas supportavel graças á viração que vem do Oceano; as noites são frescas depois das 22 horas. Nunca se registrou nenhum caso de insolação. Esses dados se referem a 5 annos de observação pessoal. Estado sanitario. Quasi todos os habitantes andam descal- ços; as creanças, como por todo o Estado do Pará, a começar pela Capital, andam núas, as meninas até 6 e 7 annos e os me- ninos até aos 10. Os homens só trabalham de calças. De todas as habitações de Bella Aurora somente a do Dr. Linde tem la- trina, e essa mesma inacceitavel por faltar a fóssa, ficando os excrementos na flor da terra, de onde são espalhados pelos animaes domésticos. Aproveitando o domingo examinei 57 dos habitantes do logar, dos quaes 56 levaram amostras de fe- zes para exame microscopico, cujo' resultado foi o seguinte: ancylostomose 100 °|°; ascaridiose 94,64 °|°; trichuriose 76,8 °|°; estrongylose 16,65 °j°. Predominaram as seguintes associações de vermes: Necator, ascaris e trichuris 35 vezes; Necator, As- caris, trichuris e estrongyloides 10 vezes. Fiz 56 exames de sangue para verificar a taxa de hemoglobina, encontrando 62 °|° momo média. Mediquei cerca de 20 impaludados e pedi de Belém medicamentos para os opilados. Ao povo reunido acon- selhei medidas geraes de prophylaxia, tendo o Dr. Linde pro- mettido mandar construir fossas nas habitações de todos os seus empregados. Notei com prazer a facilidade que encontrei para examinar as populações do interior, que se mostram sa- tisfeitas e nos têm recebido com carinho e consideração. 5.° dia 7|ll. Partimos ás 7 horas, chegando á Camiranga. colonia de negros, da lado paraense, ao meio dia. Habitam ahi mais de 50 negros vindos ha muito tempo do Maranhão e que se empregam em serviço de extracção do ouro, o que não obsta de viverem em plena miséria. A doença ahi predominante é o impaludismo. Conseguimos comprar em Camiranga 300 excel- lentes laranjas, ovos e 4 alqueires de farinha d’agua para a tripulação. Proseguindo a viagem chegámos ás 16 horas á co- lonia do Gurupy, antiga colonia militar D. Pedro de Alcantara, do lado do Maranhão, onde procurámos contractar um piloto pratico para as passagens das cachoeiras e não o conseguimos. Os indicados como melhores não acceitaram o convite por mo- tivo de doença em pessoas de suas familias. Esteve no batelão em conversa commigo o chefe local José de tal, que me infor- mou terem morrido ahi, de impaludismo, dezenas de pessoas e existirem ainda muitas doentes. Esta colonia é um antigo e intenso fóco de ulcera phagedenica. Seguimos viagem ás 17 horas indo pernoitar á beira do rio, lado esquerdo. 6.° dia B|ll. Partimos de madrugada. A’s 16 horas visi- támos, do lado maranhense, o celebre “Cacaual dos Jesuitas”, abandonado ha muito tempo, onde encontrei ainda bellos ca- caueiros (“Theobroma cacau”) carregados de fructos. Deixan- do esse logar subimos á direita, pelo braço esquerdo do rio, atravessando com certa difficuldade a primeira extensa corre- deira. Pernoitámos á beira do rio. Quanto ás “caçadas” foi este dia o mais interessante para mim; na primeira parada os rema- dores, mergulhando, apanharam com as mãos vários peixes nos buracos das pedras do leito do rio: 9 anujás, especie de ba- gre de 1 palmo de tamanho que elles matavam mordendo-lhcs a cabeça, e alguns cascudos ou tamoathás (“Callichthys longi- filis”) e num poço de um arroio marginal apanhámos á mão 5 mussúls ou peixe-cobra (“Engystoma Symbranchus marmo- ratus”), todos comestiveis. São os seguintes os outros peixes comestíveis, encontrados em abundancia no rio Gurupy: Snru- by (“Platystoma fasciatus”), que é o maior, Pacú branco (“My- letes rhomboidalis”), Jejú (“Erythrinus unitaenistus”), o Tu- cunaré (“Cichla ocellaris”), o Mandubé (“Ageniosus brevifi- lis”), a Piranha branca (“Serrasalmo serrulatus”), a Piaba branca (“Curinatus (Anodus) vittatus”), a Trahira (“Macro- don trahira”), e mais os seguintes bastante conhecidos, e cuja classificação scientifica ignoro: Mandy, Anujá, Jacundá, Pira- nambú, Pacú-fidelis (peixe chato saborosíssimo), e Pira- pocú, peixe comprido, com um bico longo quasi como o do socó-boi, passaro muito commum no médio e Alto Gurupy, Piáu e o Aracu. Como se vê, num rio que tem tal abundancia dê peixes, a alimentação dos regionaes não é muito difficil. Os caipiras e os indios cozinham os peixes com agua e sal sem outro condimento e os comem com angúi de farinha dagua. Fiz também a minha “caçada”: durante o dia capturei 2 motu- cas amarellas, chamadas de “Membécas”; 3 motucas pequenas, de azas pretas com extremidades brancas, denominadas “Cabo verde”; 1 mosca amarella, menor que a varejeira, chamada “mosca de leite” e á hora crepuscular apanhei, dentro da em- barcação, 4 exemplares de anophelinas, que os regionaes cha- mam de “murissóca” e 2 phlebotomos, conhecidos aqui por “tatuquira”, e no Sul do paiz por mosquito cangalha. Pernoi- támos na barranca do rio. A tripulação e o guarda sanitario dormiram, como de costume, em rêdes armadas nas arvores das margens do rio. Eu preferi dormir sempre dentro do ba- telão em minha cama de campanha, não tendo podido armar mosquiteiro por ser baixa a tolda da embarcação. 7.° dia 9| 11. Levantámos acampamento ás 6 horas. Gas- támos mais de meio dia atravessando corredeiras. A’s 13 horas passámos pela ilha Pirateua, onde os indios mataram ha tem- pos duas creanças, rasgando-as por tracção nos membros in- feriores, á vista da própria mãe que fugiu com uma creancinha de peito, numa “montaria”. Após esse triste episodio os mora- dores do sitio o abandonaram. Ha cerca de 15 dias os indios mataram, na roça, proximo á casa do Dr. Guilherme Linde, com 14 ferimentos de fléxa, a um dos seus trabalhadores que estava desarmado; dois outros que assistiram o crime e também não tinham meios de defesa, fugiram pelo matto, indo sahir em Marianna. A’ tarde quando fôram buscar o cadaver encon- traram-no núl e verificaram terem os indios roubado as panei- las, louça, farinha e a ferramenta, espalhando pelo chão os peixes que estavam cozidos. A mulher do roceiro assassinado me offereceu, no dia 7, em Bella Aurora, a fléxa que estava no corpo do cadaver, atravessando o abdómen e encravada na es- pinha dorsal. Mais ou menos nessa épocha (22 de Outubro) outro grupo de indios atacou alguns moradores do Caêtê, a 4 léguas de Bragança, tendo assassinado 3, dois homens e uma mulher gravida de 9 mezes, e ferido outras pessoas. A pedido das auctoridades policiaes fiz exame nesses cadaveres, no ce- mitério de Bragança. Todos os annos, no período das seccas, os Urubus costumara vir do Maranhão, atravessar o Gurupy e atacar os moradores desta região, do Caêtê e do Guamá, onde commettem roubos e assassinatos. A’ tarde cahiu uma chuva torrencial, que nos atrazou a viagem, obrigando-nos a fazer pouso logo depois de atravessada a corredeira Cicantan. B.° dia —10(11. A chuva se prolongou hontem pela noite a dentro, tendo impedido que os remadores armassem em terra as suas rêdes, tendo elles, coitados, dormido amontoados sobre o assoalho e cargas do batelão, debaixo de toldas moveis. Par- timos de manhã com bom tempo, chegando ás 11 horas ao por- to de Itamaoary ou Itamagoary. De Cacaual até Itamaoary atravessámos muitas corredeiras, bastando citar as mais im- portantes; Jutaiteua, Algibeira, Pirateua, Peito de Moça, Ci- cantan, Cicantanzinha, Arroz Doce, Panella e Bacurúyra. Ter- minado o almoço no porto mandei descarregar e lavar o ba- telão, emquanto fui com o guarda chefe e João Ramos, o em- preiteiro da viagem, visitar a villa, onde mediquei vários doen- tes e por motivo de nova chuva torrencial tivemos de pernoi- tar na aldeia quando era o nosso desejo dormir no porto para partirmos de madrugada. Juntamente com o Sr. João Ramos, o contracfante da viagem, e o guarda sanitario Zacharias Cho- co, visitei toda a aldeia de Itamaoary, que possue mais de 25 casas, de paredes barreadas e chão batido, sem tecto e cobertas de cavaco ou de palha. Vivem nesta aldeia abandonada cêrca de 100 habitantes, negros na sua grande maioria. A situação da aldeia é de plena miséria, pois ahi nada encontrámos para com- prar: nem leitão, gallinhas, ovos, nem mesmo bananas ou pei- xes! Não havia na aldeia sal, assucar nem kerozene, artigos que o Sr. Ramos teve de andar distribuindo de graça ou para futuro pagamento em generos de producção local. Gente im- produetiva no meio de uma natureza rica e de terra fertilissi- ma. Muitos negros trabalham na extracção do ouro, cujas mi- galhas vêm trocar por cachaça na aldeia. .. As condições sani- tarias locaes são péssimas. Examinei, á tarde, em varias casas que visitámos, no intervallo de duas grandes pancadas de chu- va, mais de vinte doentes aos quaes distribui dos medicamen- tos de que dispunha. Todas as creanças e muitos dos adultos que examinei apresentavam o baço hypertrophiado. Vi também vários casos graves de opilação. Na casa de uma familia caeren- se, gente branca e de boa apparencia, encontrei um menino de 10 annos, com impaludismo chronico, em completo estado de anasarca. Ha tres dias que era esperada a sua morte, a qual teve logar ás 20 horas. A familia de que me refiro, que veio do Acre trazendo alguns recursos, está hoje em completa miséria, permittindo o casal que uma sua filha, de 16 annos, bonita e robusta, exerça na própria casa o meretrício. A sua segunda filha, menina de 13.annos, segue o mesmo caminho, e dizem os vizinhos que já está deflorada. Tenho notado que o proble- ma sexual no interior do Pará está resolvido, mas do modo mais immoral possivel. Dado o modo de vida dessa gente rús- tica, da prostituição precoce que entre ella se observa, da sem- cerimonia coní que se ajuntam negros com brancos, homens que entre os demais habitantes são respeitados ou temidos, com qualquer meretriz de baixo estofo, paes e mães que entregam as filhas a trôco de qualquer donativo ou que as exploram sem- vergonhamente, só tenho uma conclusão: este povo é amo- ral. A distancia dos centros civilizados, a falta de communica- ções, a desidia das auctoridades, a ignorância e a penúria em que vivem as populações do interior, são os principaes factores dessa situação de miséria social. Na villa de Guarakessaba, no Paraná, quando o medico do posto de Prophylaxia me commu- nicou que era habito ahi certos homens mais ou menos abasta- dos “encommendarem” do interior do municipio as filhas dos caipiras para suas concubinas, causou-me esse facto não só admiração mas estupefacção, habituado como eu estava a con- viver com a população dos Campos Geraes, onde nasci, e onde são punidos sevéramente taes crimes de moral, quando não pela Justiça, ao menos pelos offendidos em sua honra... 9.° dia-—11(11. Proseguimos viagem ás 5 horas, levando mais um remador e dois pescadores, cada um destes com a sua “montaria”, contractados para nos fornecerem peixes e caças durante o resto da viagem, até Jararaca. Logo que sahimos de Itamaoary, penetraram na embarcação dois phlebotomos, que nos acompanharam bastante tempo. Um delles me picou no ante-braço esquerdo, causando dôr mais intensa e reacção local maior que a picada de “borrachudo” (“Simulium”). As primeiras corredeiras atravessámos com muita difficuldade, correndo riscos. O tempo correu magnifico até ás 16 horas quando cahiu forte chuva. A’ tardinha atracámos á barranca esquerda do rio, onde pernoitámos. Havia no pouso alguns phlebotomos e raras anophelinas. 10.° dia —12(11. Proseguimos viagem ás 5 horas. De hon- tem para hoje os caçadores mataram os seguintes passaros, que foram aproveitados para a alimentação: Caróqa (passaro ne- gro, do tamanho de um jacú, que se alimenta de peixes). Mu- tum fava e Mutum pinima, ambos do tamanho da jacutinga do Sul, de cor preta, com a extremidade das pennas da cauda e azas branca, o segundo com penninhas brancas, macias, aci- ma da cauda, e o primeiro com pennas marron no abdómen, e com pennacho preto luzidio, que usam encastoarem em ouro. para servir de berloque. Mataram, á tarde, um “socó-boi”, passaro grande, rajado de amarello e preto, do qual tirámos as azas, e um jacamim, passaro do tamanho de uma gallinha, de cor azul marinho. Pescaram os seguintes peixes: Pacú-fide- lis (peixe chato gostosissimo); Mandubé, Mandy, Tucunaré e outras duas especies comestiveis; Pirapocú, peixe comprido de bico longo quasi como o do socó-boi, e Jacundá, peixe cinzento escuro. Na manhã de hoje vimos, atravessando o rio, uma gran- de anta (“Tapirus americanus”), que foi perseguida pelos ca- çadores, sem resultado: ella conseguiu evadir-se. Pelas pégadas que vimos no barranco, tratava-se de uma anta do tamanho de uma novilha. A viagem vae correndo sem attractivos, mas ser- vindo-me.de repouso. A’s 17 horas atracámos á barranca es- querda para o pernoite. A’ hora crepuscular a embarcação foi invadida por grande numero de borrachudos e phlebotomos; estes últimos nos atacaram vorazmente. Durante a noite, com magnifico luar, João Ramos conseguiu pescar com linha vários surubys, piranhas e mondubés. Ouvimos ao longe o cantar continuo de mutuns e jacamins. 11.° dia —l3|ll. Preparados para proseguir viagem ás 5 horas só o fizemos ás 6 e meia por motivo de uma fortissima pancada de agua que cahiu. Durante a espera que o tempo me- lhorasse e mesmo após a partida do logar Curupira, onde dor- mimos, notei que a canôa, debaixo da' tolda, tinha sido invadi- da por uma grande abundância de phlebotomos, dos quaes con- segui apanhar, sem a menor difficuldade, em tubos de vidro proprios, 37 exemplares. Depois que passámos a ilha das Antas não appareceu mais nenhum desses insectos. Desta ilha volta- ram os pescadores contractados em Itamaoary, deixando-nos provisão de peixes para o resto da subida. De manhã avistámos, na barranca do rio, um jacaré de pouco mais de 1 metro, e á tarde nos arredores da margem direita, 1 grande macaco rui- vo, chamado aqui Cayára. Mais 2 especies de peixes foram pescadas hoje: Piáu e Aracú e morto mais 1 socó, que servirá para isca á pescaria da próxima noite. A’s 16 e meia horas atravessámos a fóz do rio Coracy-iParaná. A’s 17 e meia parámos no logar denominado Cocalzinho, para o jantar e pernoite. A’s 10 horas da noite 9 camaradas que dormiam em suas rêdes na margem do rio ou- viram assobios característicos de indios— primeiro signal de encontro e que, segundo aquelles, significa chamada dos com- panheiros. Eu, que dormia no batelão, nada ouvi. Os camara- das, desconfiando de uma surpreza dos indios ou de um ataque pela madrugada, resolveram proseguir viagem até um ponto mais seguro. Notei que elles estavam realmente amedrontados não só pela ligeireza com que desfizeram o seu acampamento e se metteram na canôa, como também pela sua linguagem emotiva e pela dextreza com que remaram para sahir desse lo- gar. Fazia um luar magnifico e os remadores remavam com tanta força que não pude dormir mais pela trepidação que produzia na minha cama. Chegámos ás 2 horas e 50 da madru- gada na ilha do Camaleão, que dizem ser o logar mais seguro de todo o Alto Gurupy, onde passámos o resto da noite. 12° dia—14(11. A’s 6 horas levantámos acampamento c proseguimos a viagem com um pouco de chuva. Da ilha Ca- maleão até a ilha Canindé-mirim passámos só uma corredei- ra, a do mesmo nome desta ultima ilha. Penetrámos em segui- da no furo do Canindé que com o furo do Gurupy-una, que atravessámos depois, são considerados os logares predilectos dos ataques dos indios. Devido á estreiteza desses canaes e a pouca correnteza de suas aguas são elles utilizados • pelos in- dios para a sua passagem do Maranhão para o Pará, facto que se observa no verão. Consta que as aldeias dos Urubus são nas cabeceiras do rio Gurupy-una, affluente maranhense do Gu- rupy. Apezar de não termos notado nenhum indicio da pre- sença dos indios, actualmente, nesses logares, o pessoal da embarcação estava francamente receiosa de um ataque delles, á fléxa. partido do interior da matta. Depois das ilhas Canin- dé-mirim e Canindé-assu’ vem o furo Gurupy-una e a corre- deira do mesmo nome, donde se avista, em um braço esquer- do do rio, a grande corredeira Tapirussu’, de passagem muito perigosa em todas as épochas do anno. Dahi em deante atra- vessámos mais as seguintes corredeiras: Jacarécanga, Magda- lena. Lavandeira, Muca-ussA, que é a ultima das maiores e de mais difficil travessia. De manhã eao meio do dia cho- veu um pouco. A’s 17 horas atravessámos a corredeira Rabo de Mucura, onde a canôa foi invadida por muitos borrachu- dos, não tendo apparecido durante o dia nenhum phlebo to- mo. A’ tardinha atravessámos mais a corredeira Tapéua e pernoitámos no logar chamado Tapéuzinho, magnifico pouso do lado esquerdo. Sendo do meu desejo chegar amanhã a Felippe Camarão, para que os remadores fizessem mais uma madrugada, prometli-lhes uma gratificação. Não tenho en- contrado mais anophclinas. Na hora do almoço capturei na matta uma grande aranha carangueijeira, de côr marron-cla- ro, que matei com agua fervente e conservei no álcool, para a collecção zoologica da Prophylaxia. 13° dia—ls de Novembro. A’s duas da madrugada pro- seguimos viagem, lendo atravessado a ultima corredeira do rio, denominada Pedra de Amolar, pela manhã. Daqui até Cajú-apára o rio pcrmitte franca navegação em batelão, não tendo mais nenhuma corredeira; desse logar para cima só se viaja em cascos (pequenas canôsa) gastando-se do Uruahim até a ultima cabeceira do Gurupy, 25 a 30 dias. Da cabeceira desse rio até o Tocantins, faz-se a travessia pelo sertão, a pé, em trez dias. Dizem haver alguns moradores por esses loga- res. A’s 9 e meia chegámos ao Sitio Novo, lado maranhense, onde encontrámos 2 caçadores vindos de Jararaca, qúe ha- viam morto uma anta das legitimas, disseram elles, (“Tapi- rus americanus”), da qual comemos, no almoço, excellente assado. Partimos ás 11 horas levando mais um remador e apezar da marcha accelerada só chegámos a Uruahim ás 16 horas. O rio, de Itamaoary para cima, apresenta aspecto mui- lo mais bonito que para baixo. As barrancas são elevadas em vários pontos e a floresta marginal muito mais frondosa, comquanto não tenha ainda o aspecto de tropical. Nas mar- gens vêm-se muitas e bellas palmeiras e dizem que nas cabe- ceiras do rio existem os grandes madeiros paraenses. Junto á íoz do rio Uruahim, affluente do lado esquerdo do Gurupy, existe uma pequena aldeia de indios Tembés, cujo chefe é o capitão Caetano, que veio do Guamá ha 10 annos e aqui vive cercado de certa consideração, que grangeou pela sua opero- sidade e seriedade. Foi elle quem me prestou informações sobre as actuaes difficuldades da travessia do Gurupy para o Guamá, que eu pretendia realizar. Proseguimos viagem ás 20 horas com o fito de amanhecermos em Jararaca. Em Urua- him adheriram aos nossos mais 2 remadores Tembés, ao todo 3 rapazes desta tribu, que se mostraram hábeis e resistentes remadores, tendo a sua presença estimulado os nossos cama- radas, vindos de Vizeu, os quaes se mostraram sempre pre- guiçosos, e, desde então, a nossa embarcação parecia ter sido transformada em uma lancha a vapor, pela velocidade com que singrava as grandes aguas, actualmente bastante corren- tes, do Gurupy. A’s 22 horas chegámos á Bôa Vista, outro pe- queno núcleo de Tembés, e ahi os canoeiros dormiram até ás 2 da madrugada, tendo partido ás 2 e meia. 14° dia—16(11. A’s 7 horas em ponto desembarcámos em Felippe Camarão, lado maranhense, séde do posto de pro- tecção aos indios, do mesmo nome, do qual é encarregado o Sr. João de Aragão Mendes e auxiliar o Sr. Miguel Silva. FELIPPE CAMARÃO Ficámos hospedados no prédio onde funcciona o posto de protecção aos indios, Felippe Camarão, que é o melhor da aldeia, que está situada na margem direita, numa bella cur- va do rio Gurupy, cerca de uma hora acima do riacho deno- minado Jararaca. O Posto Felippe Camarão foi fundado em 1911, pelo engenheiro Pedro Ribeiro Dantas, actual inspector de protecção aos indios, no Estado do Maranhão. A aldeia é alinhada em diversas ruas, com 24 barracas (algumas casas de paredes barreadas e cobertas de palha, e o restante palho- ças), das quaes 6 do posto, 2 de particulares e 16 de indios. Habitam em torno do posto 173 pessoas, sendo 129 indios Tembés e 44 christãos. Na aldeia funcciona uma escola publi- ca, na qual estão matriculados 20 meninos. Os indios não põem obstáculo em mandar os seus filhos á escola, contanto que o Governo lhes forneça roupa. Aldeias subordinadas ao Posto: (lado paraense) Urua- him, Bôa Vista, Olho d’Agua, Bôa Esperança, Nazareth, Ma- noel Antonio, Arapariteua, Bocca Funda, Gurupy-mirim, Pa- nema e Bacaba (11 ao todo), todas povoadas por Tembés, A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Rio Gurupy. Posto “Felippe Camarão”, de Protecção aos índios. Rio Gurupy. Grupo de indios Tembés e Tymbiras reunidos no posto “Felippe Camarão”, no dia do regresso da expedição Souza Araújo. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Irem do rama! de Decauvdle da “Colonia Agrícola Benjamin Constant” passando sobre o rio Caeté. Gurup\. Resto ca aldeia Marianna, onde os indios Urubís assassinaram 9 pessoas ha 2 annos. excepto Manoel Aníonio, que o é por Tembés e Tymbiras, e Arapariteua exclusiva mente por Tymbiras. Tabas: (lado ma- ranhense), Felippe Camarão, Apu-y, Bacury, Cajú-apára, Santo Antonio, Tauary, todas habitadas por Tembés, e Baca- bal, habitada por Tymbiras. Em 1919 o total dos indios su- bordinados ao Posto attingia a 1.230, sendo 1.122 Tembés e 108 Tymbiras, Actualmente este numero deve ser um pouco mais eleva- do, os Urubús, indios descendentes dos Turyuáras, têm, como já disse atraz, as suas aldeias entre o Gurupy-una e o Gurupy, não muito distante de Felippe Camarão. Informaram-me aqui existirem nas cabeceiras do Gurupy aldeias dos Guaja- járas, e que os Tembés vieram de Grajahú e os Tymbiras de Pindaré, Estado do Maranhão. Estas duas tribus podem vi- ver na mesma aldeia mas não se ligam muito, tendo eu veri- ficado que os Tymbiras se consideram superiores aos Tembés. Não ha differenças culminantes nos costumes dessas duas tribus; ha, no entretanto, differenças de caracter e de senti- mento que merecem ser destacadas. Os Tembés são francos, alegres, expansivos, obedientes, mansos e mais adaptaveis aos nossos hábitos do que os Tymbiras. Os Tembés são de esta- tura mediana, atarracados, fórtes, existindo entre elles ver- dadeiros typos de athletas; têm a physionomia expressiva e intelligente, e os que falam o portuguez mostram-se loqua- zes, As photographias que acompanham este trabalho dão uma ideia do physico desses indios. As mulheres Tembés têm o mesmo aspecto; são bellas dos 14 aos 20 annos, solteiras, de bello corpo e bonitas de rosto; e outras da mesma edade, ca- sadas ha 2 ou 3 annos, já em franca decadência physica. As mulheres Tembés são mudas entre extranhos; com o conheci- mento e a intimidade tornam-se mais expansivas e mais agra- da veis. São bastante amorosas e ficavam muito satisfeitas quando, para examinar ou medicar, eu collocava os seus filhi- nhos ao meu collo. Depois de uma ou duas visitas ao consultorio, mostra- vam-se um pouco mais expansivas na conversa e sorriam sempre; nas suas casas procuravam ser mais agrada veis, em- bora não falassem o portuguez. Dentro de casa andam semi- nuas, e fóra usam um saiote; raras tem saia e blusa. Carre- gam os filhos nos flancos, ora direito ora esquerdo, sustenta- dos por uma faixa a tiracóllo, posição que facilita a amam- inentação de um ou de outro lado. Trazqhi os seios nús, de vegra deformados. As indias Caigangs, do sul do paiz, condu- zem os filhos no dorso, sustentados por uma larga faixa de envira ou embyra, presa á testa. Os Tembés são mais traba- lhadores e mais curiosos que os Tymbiras; adoptam a polycul- tura; plantám feijão, milho, canna, arroz, mandioca, fumo etc., mas muito pouco de cada coisa. Fazem canoas perfeitas e moram em barracas soffriveis, criando alguns animaes domésticos. A’ noite fazem serão il- luminados parcamente pela combustão de um pouco de breu, calophonia, espalhado em taboinhas, e reunem-se homens e mulheres para se occupar da confecção do tabaco. Nas visi- tas que lhes fiz fiquei conhecendo os cigarros, feitos com fi- bras da arvore Tauary. Homens e mulheres fumam esses lon- gos cigarros e de regra quasi todos elles na edade madura, soffrem de uma bronchite chronica, rebelde, que na região at- tribuem á acção toxica do Tauary. As mulheres também se occupam de tecer fibras para vestes ou enfeites, e os homens fazem paneiros, cestos desde os mais grosseiros, para condu- cção de farinha, feijão, animaes, etc., até ás cestinhas artisti- cas. Assisti também a confecção da farinha dagua “tirama”, desde a maceração da mandioca em póços dagua mais ou me- nos parada, até o seu seccamento em fórnos. A maceração vae até o ponto em que a mandioca larga a casca, depois é ella transportada para cochos, uma especie de canôa, cheios dagua, até completo amollecimento, quando é esmagada ou ralada. Depois desta operação vae ao sol e por fim ao forno. De- pois de ralada é levada ao tipiti, que é uma especie de cyiin- dro feito de trança dc envira ou embyra, de comprimento va- riavel entre dois ou mais metros, e calibre de 30 a 40 centime- tros. A massa da mandioca é collocada dentro do tipiti, que é pendurado no esteio ou cobertura da casa, amarrando-se na extremidade inferior um peso,—uma ou mais pedras. Quan- do a agua da mandioca (chamada tucupy) deixa de escorrer tiram a massa amylacea e levam-na ao sol, depois ao forno, para seccar. Resulta sempre uma farinha grossa que é gran- demente usada por todos os habitantes do interior do Pará. Os Tymbiras vivem quasi exclusivamente da caça eda pesca, plantando pouca mandioca, fumo, e, com raras exce- pções, canna, etc. Isto denota grande atrazo mas não os cen- suro por essa falta quando se verifica o mesmo habito de vida entre os nossos caipiras, que estão mais relacionados com os centros de commercio. Si deve haver censura, esta cabe aos caipiras, que, penetrando nos sertões retrogradaram adoptan- do os costumes dos selvicolas. As duas tribus são propensas a crer nalguma coisa, e acceitariam, de bom grado, qualquer religião. Os Tymbiras adoram o sol “Coracy” que saúdam ao romper do dia. Aos filhos dos indios o administrador do posto dá qualquer nome, fazendo uma especie de registro civil. Por occasião da minha visita, um padre do Maranhão mandára se offerecer para percorrer a região fazendo bapti- zados. Parece que a Inspectoria não permittiu tal incursão, allegando que a orientação do Serviço é contraria á isso, devi- do a influencia positivista dos seus dirigentes. Competia ao governo mandar ao menos fazer o casamento e o registro ci- vil, para legalizar a situação daquella bôa gente, fortalecendo e moralizando as suas ligações. Casamento.—Os Tymbiras são monogamicos e os Tem- bés polygamicos. Os primeiros adoptam a “moral Çhristã”, só pódem e de- vem ter uma mulher; os outros seguem a “moral musulma- na”: casam-se com tantas mulheres quantas possam manter. Entre os Tymbiras o casamento de dois jovens, mesmo de- pois de combinado pelos paes, como é costume, exige um preliminar rigoroso: o noivo e a noiva são segregados, sepa- radamente, em tocaias, especie de prisão, onde são alimenta- dos pelos outros, durante 3 a 6 mezes, até que fiquem gordos e fortes. Só então soltam o noivo da prisão e obrigam-no a carregar grandes toros de pau. Se elle conseguir fazel-o—ca- sará; em caso contrario, não. Percebe-se o fundo moral dessa exigencia: só o homem forte, sadio e apto para o trabalho po- derá casar-se. E’ uma medida de eugenia empirica. Não ati- nei com o fim do sequestro da noiva; naturalmente é para obrigal-a a não namorar outro, durante a prova a que é sub- mettido o seu noivo. Disseram-me, entretanto, que as premis- sas da primeira noite nupcial são reservadas ao chefe da al- deia. Os bons paes tiram as suas filhas do poder dos genros que não gostam de trabalhar ou que se tornam improduetivos por doença ou qualquer outro motivo. Em “Felippe Cama- rão” tive occasião de verificar um exemplo destes. Os Tym- biras dão aos seus filhos o nome de um ser ou cousa que elles avistam em primeiro logar, na occasião do nascimento. Por exemplo:—Joaquim: Banco, Macaco, Jacaré, Aranha, etc., etc. Os Tembés festejam com cânticos e danças, durante vá- rios dias, o apparecimento do catamênio de suas filhas. E’ a festa da puberdade que só póde ser realizada de dia. Entre elles o casamento de dois jovens depende apenas da permuta de redes, que o moço propõe á moça de sua escolha, e passam a morar juntos, em casa dos paes da noiva. Desde então o noivo passa a pertencer á familia do sogro, para a qual se compromette a trabalhar sempre. Quando se trata de segundas núpcias, de um ou de ambos os lados, a unica formalidade é o ajuntamento expontâneo! Este facto é uma expressão do amôr livre. A separação, nos dois casos, é lambem relativamenie facil, ou pelo “divorcio”, motivado quasi sempre pelo adultério, o marido abandonando a mulher r os filhos, ou pela “imposição” dos paes ou dos parentes da mulher, quando o marido não é trabalhador. Em certos casos o marido leva os filhos comsigo. E’ quasi uma lei a obrigação que pelo casamento contráe o marido de passar a morar com os sogros, para quem deve trabalhar. São raros os que se furtam a esta obrigação, que faz lembrar o regimen patriarchal, exigindo o sogro a devolu- ção da filha. Ha casos de troca de mulheres, por exemplo: um pae, um tio, ou um irmão dá a filha, a sobrinha ou a irmã em casa- mento a um indivíduo, com a condição deste lhe dar em tro- ca uma irmã, filha, etc. Dahi resultam muitos casos de bi ou polygamia. No Alto Gurupy citam-se casos de um Tembé sey marido de duas, quatro ou cinco mulheres. Actualmente é mais raro este facto; entretanto conheci dois delles casados cada um com duas mulheres. Ambos eram velhos, e velhas também eram as suas primeiras esposas, emquanto que as se- gundas eram bastante jovens. Allegam elles que, estando velhos, precisam de quem os ajude nos serviços da casa e da agricultura. Ha casos de doação de filhas a indivíduos extranhos á tribu. Estes têm o mesmo direito de polygamia entre os Tem- bés. Dizem que as duas tribus obrigam os desvirginadores a amparar as suas victimas, mas, que ha mais seriedade entre os casaes Tymbiras que entre os Tembés, Não ha prostitutas publicas indias nas tabas, mas fóra do seu meio conheci al- gumas Tembés exercendo esse baixo meio de vida. O Serviço de Protecção prohibe o connubio de extranhos com as indias, como havia no tempo dos regatões seringueiros, fazendo uma \igilancia. rigorosa c moralizadora. Houve épocha em que o prcprio Tembé alugava a sua mulher ao seringueiro, ou a qualquer viajante, facto que nunca mais se verificou depois da fundação daquelle Serviço. Para se tornarem felizes e se- rem uteis á Patria estes indios precisam apenas de mais pro- tecção, de instrucção e de assistência medica. Seria desejável que o Governo do Maranhão ou do Pará mandasse casal-os pela lei civil, convertendo as suas existên- cias num ambiente mais cheio de realidade, sem ignorância dos bons costumes, civilizando-os, ensinando-lhes a viverem trabalhando, para a prosperidade pessoal e engrandecimento do nosso paiz deste Brasil que é mais delles que nosso e que tanto amamos. • Estado sanitario.—Em Jararaca examinámos 57 “chris- tãos”. Exames de fézes 38; infecção geral 100 °|°; Necator 35 ou 92,1 °|°; Ascaris 37 ou 97,95 0)°; Trichuris 30 ou 78,95 °|°; Strongyloides 8 ou 5,8 °|°; Enterobius 1 ou 2,6 °|°. Taxa de he- moglobina 50 exames e 61,1 0)° de média geral; exames de baço 50, dos quaes muito palpaveis 19 ou 38 °|°; hqmatozoa- rios verificados: Plasmodium vivax e Plasmodium falcipa- rum; injecções de quinina 14; medicações contra as vermino- ses, pelo thymol, 52. Verifiquei que os indios adultos, Tembés e Tymbiras, são bem constituídos e de aspecto sadio * As novas gerações são mais debeis e mais doentias. Tem-se a impressão que o impaludismo começou a pene- trar na região apenas ha 10 annos. Os velhos habitantes da zona referem que esse mal data de poucos annos. A ancylos- tomose deve ter sido adquirida por elles ha mais tdmpo. Durante os 5 dias que permaneci em Felippe Camarão, pude recensear e examinar clinicamente 273 indios, sendo 244 Tembés e 29 Tymbiras. Foi preciso um esforço inaudito para conseguir de 102 delles amostras de fezes para o exame mi- croscópico. Pelo resultado desses exames, feito pelo guarda sanitario-chefe, sr. Zacharias Cuoco, verifiquei que a ancy- lostomose existia era 100 °|° dos indios examinados, quer Tem- bés quer Tymbiras. As demais verminoses existem nas se- guintes porcentagens: Ascaridiose 96 °|°; Trichuriose 58 °[°; Estrongylose 29 °j°; e o Oxyuro só foi encontrado em 2 delles. Clinicamente alguns desses indios apresentavam os sym- p tomas da opilação intensa. A verificação do seu grão de anemia, feita pela pesquiza da taxa da hemoglobina, em 213, adoptando o methodo Tallquist, deu como média geral 58 °]°. Para estabelecer o gráo de anemia paludica na região, exami- nei o baço de 209 indios, encontrando 114 ou sejam 54,5 °j° com essa viscera francaímente palpavel e dolorosa. Pelos pou- cos exames hematologicos que pude fazer, verifiquei a exis- tência entre elles dos dous plasmodios mais communs neste Estado, o da terçã benigna e o da terçã maligna. Aos doentes de impaludismo fiz varias injecções de quini- na e distribui, entre indios e christãos, 2 mil comprimidos do mesmo precioso alcalóide, á razão de meia gramma de bisul- fato cada um. Por intermédio do encarregado do posto continuarei a prestar assistência medica a todos os indios que recenseei e exa- minei. Contra a ancylostomose mediquei, também, empregan- do o thymol com lactose, a 245 indios. Todos elles acceitam de muito bom grado os nossos reme- dios, e mostraram-se satisfeitos e gratos pelos resultados obti- dos. Na occasião das medicações tive o prazer de verificar fa- ctos que denotam não serem os nossos indios nenhuns cretinos, e terem elles lógica bastante, para discernir o bem do mal, e o que está bem do que está mal feito. Mas de uma vez fui surprehendido com a recusa de medica- mento por indios ou indias, que allegavam não terem sido exa- minados como o foram os outros. O exame que eu fazia num de cada grupo era obrigado a fazer em todos os seus componentes. Si eu auscultava o coração de um doente, tinha de auscultar os dos demais. A’s vezes não me parecia necessário esse exame, mas para satisfazer a lógica exigência dos que só acceitariam a medicação após exame com- pleto, passei a fazel-o em todos. Noutros assumptos também pude verificar que'o indio Tembé tem uma intelligencia suffi- cientemente lúcida para o meio em que vive e a educação que recebeu, e é digno do amparo não só dos governos como tam- bém de todo o individuo civilizado. Com referencia á lepra, á syphilis, e á doença de Carlos Chagas, os resultados da minha observação me auctorizam a affirmar que ellas não existem entre os indios do Gurupy. Também não encontrei nenhum caso de leishmaniose, a cha- mada ulcera brava na Amazónia, nem dermatomycoses. O regresso.—A’s 13 horas de 20 de Novembro deixámos o posto “Felippe Camarão”, de regresso a Vizeu, por não termos podido voltar á Belem atravessando o sertão, do Gurupy ao Guarná, em virtude de não haver mais estrada, nem picada. Descendo o Gurupy, aportámos nas aldeias indígenas de- nominadas: Tres Furos, Boa Vista e Uruahim, onde pernoitá- mos. No começo da viagem combinei com o contractante de transporte e com os remadores uma gratificação para cada um delles, caso chegássemos a Vizeu no dia 25 de Novembro, para que eu podesse estar em Belem no fim do mez. Na madrugada de 21 partimos de Uruahim. Estavamos prevenidos de que a descida do rio era muito mais perigosa que a subida, por causa das corredeiras; nesse mesmo dia atravessámos uma das peiores delias—a Tapirussú, no furo do Gurupy-una, Desde Jararaca nos acompanhou, co- mo piloto, o indio Terabé chamado Thiago, reconhecido como o mais pratico do Gurupy. Esse Tembé é um rapaz de uns 25 annos, baixo, de constituição robusta, energico, sisudo, sem ser antipathico. E’ um excellente remador e piloto. Nos momen- tos difficeis, em cuja travessia das corredeiras era necessário exigir de cada remador o máximo de esforço, o dono do bate- lão gritava: “Vamos rapaziada!... Vamos com Deus!... Re- ma fundo!.. . Rema com gosto rapaziada!” Quando o perigo era maior, appellava também para as “Santas”, gritando; “Vamos com Deus e Nossa Senhora!... Coragem rapazia- da! Cuidado!...” Vi muitos dos tripulantes fazerem o signal da cruz cada vez que iamos penetrar numa forte corredeira e nos momentos de maior risco. O piloto Tembé faliava pouco, dando ordens energicas, como estas: “Rema fundo rapaziada! Deixa correr!... Escor- rega o pau!... ” Em certo momento da travessia da grande corredeira Ta- pirussú, no ponto mais perigoso, o piloto Tembé gritou: “Ca- boclo está faliando!... ” Queria elle dizer que estava ouvindo vozes dos Urubus. Foi um verdadeiro pânico! Quasi que os remadores largaram os cabos com que sustentavam a embarcação. Foi preciso uma demonstração de energia e coragem de minha parte para evitar maior perigo, que seria o de abandonar a embarcação á mercê da correnteza das aguas! Eu, o guarda chefe e o cozinheiro mu- nimo-nos de rifles e collocámo-nos a postos para a defesa da A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Alto Gurupy. Grupo de creanças Tembés, defronte do posto “Felippe Camarão”, após medicadas contra as verminoses. Alto Gurupy. Grupo de índias Tembés, no mesmo posto, depois de medicadas contra as verminoses. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Alto Gurupy. Jararaca. Posto “Felippe Camarão”. Amostra da robustez dos índios Tembés. Alto Curupy. Jararaca. Belleza e robustez das índias Tembés. Moças de 15 e 16 annos. tripulação, que não se podia preoccupar com outra cousa que não fosse a travessia da cachoeira. O cozinheiro postou-se sobre a tolda do batelão, eu á direi- ta e o Zacharias á esquerda, espreitando cuidadosamente as margens do rio. Nada vimos nem ouvimos. A’s 17 e meia horas chegámos á ilha Camaleão, excellente pouso, sempre preferido pelos viajantes, pela segurança que offerece. No dia 22, ás 5 horas, sahimos da ilha Camaleão e ao meio-dia parámos á margem direita para o almoço. Ahi os remadores mataram um grande macaco, chamado guariba, que deve ser a especie Alouata belzebul, pois, além de ser um mácaco grande e negro, tem as mãos e pés e terço ter- minal da cauda ruivos. Comemos da sua carne, que é saboro- síssima. A’ tarde atracámos á margem esquerda para o pernoi- te . A’s 6 horas de 23, com uma bella manhã, proseguimos a via- gem. A’s 8 e meia atravessámos a grande corredeira Itamaoa- ry, que tem, de extremo a extremo, uma differença de nivel de 11 metros. Foi a passagem mais perigosa e mais bonita que ti- vemos em toda a viagem, tendo exigido uma tactica especial do piloto e pioneiros. Na ilha de Tapéua, junto á corredeira desse nome, encontrámos o Dr. Guilherme Linde, que vinha de che- gar de suas propriedades do Maranhão, onde permanecêra du- rante 10 dias, em exploração de diamantes. Chegámos ao por- to de Itamaory ás 9 horas e sahimos ás 12, após o almoço, Neste porto vi, pela primeira vez, vários exemplares de jabotys, das especies encarnada ou jaboty carumbé e a amarella ou jaboty tucum. As especies mais communs neste Estado são as seguin- tes: Testudo tabu lata, Nicoria punctularia, Platemys platyce- phala, etc. Não identifiquei as que vi por falta de pratica. De Fe- lippe Camarão trouxe duas pacas e um caitétú—Dicotyles tor- quatus. Uma das primeiras morreu na viagem. Dos jabotys extrahi muitos carrapatos de duas côres e tamanhos differentes, destinados ao museu do Instituto Oswaldo Cruz. Nessa tarde passámos, sem accidente, as corredeiras: Maguary, Maguaryzi- nho, Cicantan e Cicantanzinho, e ao atravessarmos a denomina- da “Cachoeira”, no momento de maior velocidade do batelão, partiu-se o leme e estivemos na imminencia de naufragar, quasi chocando-se a nossa embarcação em um grande blóco de pedra, onde iria se esphacelar si os pilotos Thiago e Manoel Geraldo não tivessem agido prompta e intelligentemente—virando a di- recção do batelão, em orientação contraria á da correnteza, e detendo-o. Aportámos á margem esquerda, a vara e com bastante difficuldade, e ahi foi preparada uma “esparrela” que substi- tuiu o leme até o fim da viagem. Nesse dia pernoitámos de- fronte do cacaual e no dia 24 partimos de madrugada, atraves- sando, sem a menor difficuldade, a corredeira do Gurupy-mi- rim, e levando marcha accelerada chegámos ás 10 horas em Bella Aurora, onde almoçámos, partindo ao meio-dia. Apezar da marcha forçada só atravessámos a corredeira S. Antonio ás 18 e meia, e isso mesmo graças á coragem, á pratica e energia do piloto tembé. A’s 20 e meia horas aportámos na villa do Gu- rupy, onde me demorei apenas o tempo sufficiente para expe- dir alguns telegrammas e, pára aproveitarmos a maré, prose- guimos a viagem logo depois. A’ uma hora da madrugada parámos acima da pedra Cotiú, por estar muito escura a noite e existir ahi um dique eruptivo que atravessa o rio, formando cachoeira na baixa mar, apenas com um pequeno canal no centro, por onde passam as embarca- ções . A’s 5 da manhã de 25 partimos, já com o refluxo da maré, chegando a Vizeu ás 10 e meia horas. Tendo a viagem corrido muito bem, o proprietário do batelão em que viajámos conser- vou-lhe o nome de “Victorioso”, que lhe dei. AS MINAS AURÍFERAS DO GURUPY Em 1850 foi constituída a “Montes Aureus Brazilian Gold- mining Company Limited” que trabalhou na exploração das minas dos Montes Áureos, no Maranhão, até 1858. A despesa total da empreza foi de 150.000 libras, sem resultados. A concessão imperial para a exploração dessas minas, cu- jos veios de ouro começam da corredeira Tapéua, pertencia a Cândido Mendes de Almeida, Manoel e Antonio da Rocha Mi- randa, que organizaram a Companhia de Mineração do Mara- nhão, de que eram os maiores accionistas, tendo vendido depois a empreza aos inglezes, por 100.000 libras. Dahi veio o come- ço da fortuna Rocha Miranda. Em 1905 o dr. Guilherme Linde explorou, com auctoriza- ção do governo do Maranhão, os veios auríferos desde o Guru- py até Montes Aureus. Procurou abrir a mina velha, abando- nada ha 45 annos, tendo verificado que os veios estavam cor- tados por dique eruptivo, e a mina cheia dagua. Naquelles montes foram, o engenheiro Linde e mais 82 homens, seus camaradas, atacados pelos indios Urubús, que conservam como seus os machinismos da antiga installação ahi abandonados, de cujo ferro se utilizam para a feitura de armas. Desse encontro, que durou 20 minutos, segundo me infor- mou o proprio sr. Linde, resultou a morte de muitos indios e de um italiano que os acompanhava e ferimentos em dezenas de trabalhadores, tendo os Urubús atirado cerca de 2.000 fle- xas contra numero egual de balas. Na volta de Tapéua o dr. Linde me mostrou 2 latas de manteiga cheias de pedras brancas, crystallinas, que elle me ga- rantiu serem diamantes legitimos, e mais 2 saquinhos cheios de carbonatos. Perguntando-lhe quanto valeria tudo aquillo, elle me respondeu que no minimo 100:000$000 e que era o pro- ducto de 10 (dez) dias de exploração! nos seus terrenos do Ma- ranhão. Do lado do Pará junto ao rio Macaco, a 5 léguas de Bella Aurora, o dr. Linde possue uma mina de ouro, de onde tem tirado algumas dezenas de kilos desse precioso metal. 0 dr. G. Linde, segundo elle mesmo me informou, expor- ta para os Estados Unidos todo o ouro e pedras preciosas que obtem, sem pagar os devidos impostos. Os negros de Camiranga e Itamaoary também exploram minas de ouro do lado paraense, cujo producto vendem áquel- le engenheiro. Si todas as informações do engenheiro Linde forem fundadas, a região do Gurupy é um verdadeiro “El-Do- rado”. OS URUBU’S E SEUS CRIMES 0 que abaixo se lê é devido em grande parte ás informa- ções que me prestaram as seguintes pessoas: João Silva, que morou durante 10 annos no Alto Gurupy e actualmente reside em Maracanã-hú; dr. Guilherme Linde, que reside na região do médio e baixo Gurupy, ha cerca de 20 annos; Apollinario Tavares que mora no Alto Gurupy, entre os indios, ha 30 annos; João d’Aragão Mendes e Miguel Silva, encarregado e auxiliar do posto “Felippe Camarão”, acima de Jararaca. Muitas das in- formações que aqui ficam registadas eu pude verificar pes- soalmente. Informaram-me que os indios Urubús pertencem á tribu Tury-rara, que era mansa e habitava a região do rio Capim, até á épocha da Cabanagem. Com a derrota dos cabanos um tal Manoel Ramos, com receio de se.r preso, internou-se na matta, com aquelles indios e muito tempo depois voltou ao rio Capim, onde saqueou a casa do seu proprio irmão de nome João Ramos, tendo sido reconhecido por uma preta velha da família, graças a uma cicatriz de queimadura com uma moeda de 10 réis, que elle Manoel tinha na face. Desde então os in- dios tornaram-se ladrões e assassinos. Como disse atraz, actual- mente os indios Urubús vivem junto ás cabeceiras do rio Gu- rupy-una, no Estado do Maranhão, de onde passam para o Pará, durante o verão, quando as aguas do rio Gurupy estão baixas. Já vimos que a sua travessia se faz pelo furo do Gurupy- una e ilhas do Canindé-mirim e Canindé-assú. Examinei bem estas passagens, que me parecem bastante batidas. Segundo os actuaes habitantes da região, os Urubús já assassinaram, de uns 10 annos a esta parte, a cerca de 400 pes- soas e expulsaram do Gurupy a mais de duas mil, as quaes se viram obrigadas a abandonar as suas propriedades. Em 1920 atacaram as minas de ouro do Macaco, roubando rifles e ferramentas. Annotei os seguintes crimes commettidos pelos gentios, nestes últimos tempos; Na praia Grande, perto de Arapariteua, mataram uma mulher; noutro ponto acima mataram um se- ringueiro e feriram outros; atacaram o posto de Jararaca tres vezes com a do armo passado, quando incendiaram um rancho- deposito de cereaes pertencentes aos Tombes; em Uruahim também commetteram assassinatos e roubos; no Sitio Novo, Dionysio Anastacio dos Santos, vulgo “Gibóia”, tantas vezes o atacaram que este teve de fugir com a sua familia, abando- nando grandes plantações de café, cacau, canna, fumo, etc., etc., de que ainda vi vestigios; no porto de Itamagoary mata- ram, ha 3 annos, um homem e feriram sua mulher; no Bar- abaixo de Uruahim, lado maranhense, propriedade do coronel reiro, pouco abaixo daquelle povoado, mataram um velho, uma mulher e uma creança e feriram um, rapaz, tendo os de- mais moradores do bairro abandonado as suas casas; atacaram também uma familia numerosa na ilha Pirateua: a primeira vez roubaram; na segunda, em 1916, mataram duas meninas. rasgando-as ao meio, e flexaram a mãe delias e uma outra mulher, quando fugiam a nado. Consta que o chefe dessa fa- milia conseguiu vingar-se mais tarde, matando vários indios, quando atravessavam o rio, enfileirados e distrahidos. Ha 3 annos o coronel Deoclecio Coelho abandonou a sua fazenda do Cacaual, devido aos constantes ataques daquelles selva- gens; abaixo de Camiranga visitei, tirando um instantâneo que vae adeante, o logar denominado Marianna, onde os Urubus assassinaram só numa casa 9 pessoas. O resto dos habitantes fugiu. Em Bella Aurora, no logar Tira Couro, 15 dias antes de minha chegada, elles mataram, a flexadas, o lavrador de nome Raymundo Eva. Poucos dias antes de descermos o Gu- rupy os indios haviam saqueado uma casa proximo á villa desse nome. No dia 22 de outubro de 1921 mataram 2 homens e uma mulher e feriram outro homem, a 4 léguas de Bragança. Fiz o exame desses cadaveres, a pedido da policia daquella ci- dade e curativos no homem ferido, que ficou em tratamento no posto de Prophylaxia de Bragança. Ainda no anno passado commetteram varias depredações na Colonia Benjamin Con- stant e mataram 2 moças em Ourem, no Guamá. Logo depois do meu regresso do Gurupy os Urubus com- metteram naquella região mais os seguintes crimes; atacaram um grupo de esmoleiros que conduziam uma bandeira e uma imagem de S. Benedicto, matando dois homens, Raymundo Santos, que foi picado em pedaços e dado aos cães e Ánacleto de tal, e feriram 4, tendo roubado 1 rifle e 1 espingarda. Nada soffreram as mulheres por terem ficado na colonia Oso- rio. Logo depois atacaram os guardas do telegrapho em Ma- racá-çumé, logar onde debandaram o grupo de esmoleiros, lançando a imagem de S. Benedicto ao rio... Na mesma occa- sião atacaram o posto “Felippe Camarão”, matando um tembé e ferindo outros, quando pescavam. Os tembés desse posto mandaram uma commissão a S. Luiz do Maranhão, pedir ga- rantias . JORGE ALMIR Em 1912 esteve em Uruahim e Jararaca um tal Jorge Al- mir Cockrane, que se diz inglez nascido na Arabia e parente do almirante Cockrane; fala inglez, francez, allemão, russo, arabe e castelhano, e assevera ser chefe dos indios Urubus. Esse individuo—que é loiro, alto, vestindo casemira—, foi visto pe- los senhores João Silva e Miguel Silva, em Uruahim e Jarara- caca e lhes prestou as seguintes informações: Disse que os in- dios Urubús pertencem á tribu Tury-rara, originaria do rio Capim; que o s,eu primeiro chefe nas actuaes aldeias do Ma- ranhão foi um corsego, de quem Jorge se fez genro; que, mor- rendo o corsego, um filho deste e elle Jorge assumiram a chefia dos indios; que, um sentenciado de Cayenna, de nome Nazaro, habita ha muitos annos em companhia dos indios, conseguindo após a morte do corsego, revoltar 3 aldeias indigenas contra el- les, Jorge e seu cunhado, arvorados em chefe; que, desde então Nazaro governa 3 aldeias e Jorge com o seu cunhado outras tres; que elle garante não ser a sua gente a responsável pelos constantes ataques, roubos e assassinatos commettidos na re- gião do Gurupy e sim a de Nazaro, com quem vivem mais de 11 criminosos fugidos da Guyana Franceza e alguns assassi- nos, brancos e pretos, do município de Grajá-hú (Maranhão). Nessa occasião Almir insistiu muito para que Miguel Silva, empregado do posto de protecção aos indios de Jararaca, o acompanhasse até ás aldeias idos Urubú(s, em visita, cujo con- vite Silva recusou receioso de uma cilada, tendo voltado do meio do caminho. Dessa vez Almir foi até o núcleo sertanejo e regressou pouco depois á Jararaca, onde permaneceu mais alguns dias, sem nunca querer pernoitar na casa de Miguel Sil- va. Este, desconfiando tratar-se de um embusteiro ou crimino- so, prendeu-o e conduziu-o até Yizeu, entregando-o ás aucto- ridades para o enviarem á presença do inspector geral de. pro- tecção aos indios, em S. Luiz do Maranhão. Poucos dias de- pois as auctoridades de Yizeu deram-lhe soltura. Apesar desse aggravo Almir promettera nunca atacar o posto “Felippe Ca- marão”. Mais tarde, *em 1918, Jorge Almir appareceu de novo ás populações do Gurupy e promettera nunca atacar as proprieda- des e trabalhadores de Guilherme Linde e João Silva. Ao dr. Guilherme elle mandou uma carta, intimando-o a ir levar-lhe, em determinado logar, 500 balas de Winchester e outros ob- jectos. A intimação foi escripta em bom francez, e cumprida tielmente. Nella se continha a ordem a Guilherme para ir só, embora fosse armado. Conta o dr. Guilherme que foi, em canoa, descendo lentamente o rio Gurupy, conforme determina- ção, e que num determinado logar foi chamado á beira do rio, d° lado do Maranhão. Ahi se viu cercado por um grande grupo de diz elle que talvez 200 ou mais! Como o medo produz allucinação visual, é bem possivel que não fossem tantos. .. Não conta bem Guilherme Linde a combinação que fizera com Almir para que as suas propriedades nunca fossem atacadas... Adeante transcreverei a carta acima alludida, que considero muito interessante. Pelas descripções que me fizeram desse homem, tenho a impressão e quasi a certeza de que elle se acha embrenhado na matta em missão especial de alguma socie- dade sabia (histórica, geographica, ethnographica...) da Eu- ropa, incumbido de estudos do sólo, mas especialmente em objecto de estudos dos indigenas... Jorge Almir é, realmente, um homem illustrado. Deve ser engenheiro. Por nimia gentileza do dr. Guilherme Linde transcrevo, a seguir, o conteúdo da carta que lhe enviou Almir: (Escripta em meia folha de papel de carta inglez, a lapis, lettra miúda, correcta e perfeita. Vê-se pela calligraphia e or- tographia que elle é homem instruído e naturalmente ainda moço). “Monsieur le Docteur Guilherme. J’ai I’honneur de Vous presenter me respects. Je désir* de Vous parler aujourd’hui dans votre interêt. Pour celá, il faut que Vous prendriez une petite “canôa” et descendriez lentement le Gurupy au coté de Maranhão á peu prés a 4 heures du soir. Je Vous attendrai et appellerai. II faut venir “tonl seul”. Vous pouvez apporter des armes, si Vous voulez, mais “pas des personnes” avec Vous. Si Vous voulez être le maitre ici dans cette region, si Vous voulez être riche, si Vous étes sage et si Vous aimez Votre enfant;—venez;—si non, restez, mais alors Vous repentirez plus tard. Voulez Vous bien accro- cher un mouchoir blanc devant votre maison, si Vous venez, aussitôt que Vous avez reçú cette lettre. Je vous prie d’agreer I’expression de mes meilleurs sentiments.—Qeorge d’Almir, Sous-chef des Indiens Tury-rara, dit “Urubúls”. ” Esta carta não tem data, mas deve ser a referida atraz co- mo tendo sido recebida em 1918. Nella também não se vê a intimação para a entrega de 500 balas de Winchester. E’ pro- vável que tivesse acompanhado essa carta um bilhete nesse sen- tido, sem que nella se fizesse qualquer referencia, como a acom- panhou outro documento interessante que vou noticiar abaixo. Depois que li a carta acima, que tenho em meu poder para offerecer ao Museu Nacional, juntamente com outros docu- mentos, mais convicto fiquei de que Almir habita os sertões, entre os gentios, em missão especial de estudos. Informaram- me que Almir vae de 2 em 2 annos á Europa e leva comsigo tudo quando descobre de interessante nas selvas. Acompanha- va esta carta uma planta de levantamento de um rio, atraves- sando “terreine minereaux”. Atraz dessa planta se vê a parte numérica assignalando 60 longitudes em gráus, minutos e se- gundos, nitidamente graphados em 30 linhas. O levantamento do rio começou em Chapada Grande e terminou em Jatobal, tendo sido collocadas 5 estacas, que elle designou na planta em allemão—“Wasserpfahl” (a sua graphia está errada; Wasser- fall), em logares com as seguintes denominações: “As pedri- nhas” de 23 m.; “Boa Vista”, 42 m.; “Rosa”, 19 m.; “Bom Caso”, 23 m.; e “Anta”, 16 m. Essa planta regista muitos nomes de logares em portuguez, p. exp. Chapada Grande, Tauary Grande, Morrote, S. Miguel, S. João da Beira do Rio, Nicoma, Santa Maria, Porto Ramos, Claridão, Santa Anna, Santa Julia, Tirador, Tomhador, S. Lú- cia, Morro Preto, etc., etc.. A sua calligraphia é bôa e o dese- nho nitido, feito com lapis em varias cores e tinta preta. Julgo ser um documento precioso da região do Gurupy, lado mara- nhense. A planta e a carta de Almir estavam amarradas em uma fibra vegetal, enfeitada com pennas de passaros, de côres muito vivas para chamar a attenção, e foram encontradas sobre a cerca da frente da casa do dr. Linde. Quando estive excur- sionando pelo Gurupy tive grande desejo de me encontrar com esse sr. Almir, para, si possivel, acompanhal-o até ás aldeias indígenas que elle chefia. Acabo agora de saber que elle appa- receu de novo em Bella Aurora, muito recentemente. HABITAÇÃO E ALIMENTAÇÃO DOS MORADORES DO GURUPY Varias photogravuras que illustram este trabalho dão uma idéa do typo de habitação mais commum na região do Gurupy, como em quasi todo o interior do Estado. Essas figuras dizem melhor que qualquer descripção que eu pretendesse fazer. São barracas e palhoças. As primeiras têm as paredes barreadas e as outras tanto as paredes como a cobertura são de palha. No Alto Gurupy empregam a palha do Übim para esse mister e os indios fazem caprichosas coberturas e paredes desse “ma- terial”. Elles dormem em redes, em redor do fogo. Como uten- sílios e moveis quasi nada. Tudo muito rudimentar. Os indios sentam no chão. Rarras palhoças têm banquinhos, pratelei- ras. .. Quasi todas têm cuias com farinha d’agua, paneiros com peixes, com mandiocas, com fruetos; outras cuias servem de bacias, de copos, de pratos... Panellas de metal, colheres, etc., quasi não se encontram. Os caipiras que vivem na região mo- ram em habitações muito pouco melhores que as dos indios. Dizem esses patrícios que os objectos absolutamente indispen- sáveis á sua vida são: a Winchester, o terçado, a canoa e o remo. A primeira serve para a caça e para se defenderem con- tra os indios Urubus, que os perseguem dia e noite; a canôa e o remo destinam-se á pesca e também á fuga: quando são ata- cados por um grupo considerável de indios e não podem se de- íender, tomam a canôa ás pressas e fogem pelo rio. Quando voltam, de regra, não encontram mais nada da antiga morada... Assim vivem os nossos patricios pelas margens do Gurupy e quando eu lhes indagava porque não construiam casa melhor, porque não plantavam..a resposta era sempre a mesma; não convem, vivemos aqui sem garantias, a nossa morada aqui é provisória, pois só permanecemos emquanto os Urubus não nos vêm roubar, expulsar ou assassinar! Vivem da pesca e da caça; poucos cultivam a terra. Quem vê esses caboclos com as suas casas desprovidas de tudo, tem a impressão de que elles são nómadas, e que tudo alli é de du- ração ephemera. 0 seu unico meio de transporte é a canoa, que chamam de “ montaria”. A sua alimentação principal é a farinha d’agua e o peixe. A’s vezes, caças mortas a tiro: antas, veados, macacos, pacas, cotias..., o que é mais difficil porque exige uma bôa arma de fogo e munições. Esses moradores comem também o jaboty, do qual existem varias especies pelo sertão. A farinha d’agua é o seu principal alimento na falta de outra coisa comem-na com agua fria (chibé). Aves e outros animaes domésticos só para os dias de festa, por exemplo, quan- do chegam os esmoladores do Divino... Para os Santos são reservados os leitões, os patos, as gallinhas, etc., e nos dias que recebem o grupo de “foliões” gastam tudo que ha de melhor, e embriagam-se, commettendo depois, ainda em nome do Di- vino, ou de S. Benedicto, toda a sorte de immoralidades... Infeliz do nosso caboclo que não tem outro motivo de ale- gria, de goso, que não seja o do deboche...—a pretexto de religião. Os governos devem mandar engenheiros agronomos per- correr o interior do Estado, ensinando os caipiras a cultivarem o sólo e a tirarem delle o seu alimento e o seu conforto. Com a apprendizagem do trabalho começará a sua desanalphabeti- zação e brotará no seu espirito uma centelha de ambição—de felicidade, de riqueza, de instrucção, de civismo... CIDADE DE VIZEU No dia 28 de Outubro de 1921 iniciei, auxiliado pelo dr. J. de Castro Valente e outros funccionarios oontractados para o combate ás epidemias, o serviço de inspecção medico-sanita- ria da cidade de Vizeu e povoados vizinhos, que dirigi durante 5 dias, seguindo depois para o Alto Gurupy. Do relatorio do dr. Castro Valente extrahi os seguintes da- dos: “Vizeu é uma pequena cidade, situada á margem esquer- da do rio Gurupy, duas horas acima da sua fóz, em terreno mais ou menos accidentado. Tem 166 casas, das quaes 86 as- soalhadas, com paredes rebocadas e cobertas de telhas de bar- ro; as demais são de paredes barreadas, chão batido e cober- tura de cavaco e palha. Apenas 16 delias tinham fossas perdi- das. A cidade tem 5 ruas, 6 travessas e 3 praças; o seu clima é quente e secco, amenizado pelos ventos marinhos, que sopram predominantemente em direcção N.E., sendo as noites frescas e agradaveis. ” O estado sanitario geral de Yizeu é bastante precário, não dispondo essa pequena cidade de nenhum recurso medicinal. Dizem que o impaludismo ahi penetrou em 1902 e implantou- se endemicamente. Fiz pessoalmente os primeiros exames he- matológicos para confirmação dos diagnósticos clínicos dessa infecção, em numero superior a 20, encontrando o “Plasmo- dium vivax” em cerca de 80 °j° dos casos, o que aberra dos factos verificados noutros logares onde o parasito da terça ma- ligna é sempre predominante. Vi casos muito graves de ulce- ras, que diagnostiquei immediatamente de phagedenicas, tendo visto ao microscopio a confirmação plena desse dignostico. Não encontrei nenhum caso de leishmaniose, nem de dermato- mycose rara. Um dos remadores do batelão que me conduziu ao Alto Gurupy estava atacado de tinha cutanea, generalizada em todo o dorso, nadegas e coxas. Raros casos de lepra. A opi- lação é o mal maior da população. Trabalhos realizados pela Commissão: Censo sanitario: 1.464 pessoas, das quaes 180 vindas do Maranhão. Fezes examinadas: 871, com 864 positivas para qualquer verme (99,2 °|°). A frequência das principaes vermi- noses attingiu ás seguintes porcentagens: Ancylostomose 77,5 °j°; Ascaridiose, 96,3 °|°; Trichuriose, 64,4 °|°; Estrongylose, 3,55 °|°, e 6 casos de Oxyurose. Fôram feitas 1.151 exames de Sangue pela escala Tallquist, obtendo-se como media geral de hemoglobina 55,4 °|°. Contra as verminoses em geral foram ad- ministradas 1.705 medicações e vaccinadas e revaccinadas 583 pessoas. De 65 exames hematologicos apenas 28 foram positi- vos para hematozoarios, sendo 25 “P. vivaz” e 3 “P. falcipa- rum”. Os demais exames ficaram prejudicados pela má qua- lidade do soluto corante de Giemsa empregado. Todos os casos chronicos de impaludismo, alguns muito graves, apresenta- vam o baço bastante hypertrophiado. Outras doenças dignosticadas clinica e bacteriologicamen- te: lepra 3 casos; com exame de muco negativo foram feitas mais 2 fichas além dessas 3. Tuberculose pulmonar, 2 casos; gonorrhéa, 4, com exame miscroscopico positivo, e 1 negativo: ulcera phagedenica, 6 casos, dos quaes 4 com exame microsco- pico positivo; e muitos outros casos de polyclinica, de menos importância. A Commissão trabalhou em Vizeu pouco mais de um mez e seguiu para Salinas. CIDADE DE SALINAS Pela descripção que o dr. Castro Valente fez de Salinas, de cujo relatorio tirei os dados abaixo, estou convencido de que é esse o único logar privilegiado do Pará!... Se não, veja- mos: “Salinas é uma cidadezinha banhada pelas aguas do Atlântico, cujas ondas se vêm quebrar em suas praias de bran- cas e finas areias. E’ procurada durante,o verão pelos “tou- ristes” e pessoas doentes que vêm nella gosar de seus tonicos e excellentes banhos de mar. A’ beira mar ergue-se um monu- mental pharol de Ia classe, construcção solida e elegante, e cujas lentes poderosas emittem, pela rotação, uma luz branca, visivel, por eclypses, num raio de 25 milhas marítimas. Sua co- lumna tem 70 metros e a escada que conduz á cupola 242 de- gráus. A cidade tem 4 ruas e 5 travessas. Tem telegrapho e correio nacionaes. A cidade é plana em toda sua extensão, ha- vendo, no emtanto, á rua S. Thomaz, uma grande depressão no centro da qual se acha situado o poço, chamado da Intendên- cia. O seu clima é excellente, devido á sua posição geographica privilegiada e á sua altitude acima do nivel do mar. E’ varrida durante o verão por ventos que sopram geralmente de E. e N.E., sendo as noites muito frescas e agradaveis. Logar muito saudavel, não tendo tido noticia de qualquer surto epidemico aqui. Cadastrámos na cidade 78 habitações, havendo algumas cobertas de telhas de barro, mas a maioria o é de palha, sendo que muitas delias têm latrinas. Nessas 78 casas recenseámos 470 pessoas. A base da alimentação da gente da cidade é o pescado, muito abundante no inverno, havendo carne somente aos domigos. Encòntram-se com abundancia—leite, ovos e aves domesticas. A agua potável de que se serve o povo é fornecida por dois poços, sendo ambos protegidos por paredes de taboas de acapu’, os quaes são fechados á noite. Junto de cada poço existe um banheiro publico, franqueado ao povo somente du- rante o dia. Ha também proximo da cidade fontes de agua potável como a de caranã. Trabalhos realizados durante um mez de permanência da Commissão; Censo sanitario; 821 pessoas, das quaes 423 forneceram amostras de fezes para exame microscopico, que deram o seguinte resultado: positivos para qualquer verme: 417 ou 98,6 °|°. A frequência das verminoses mais graves é relativa- mente baixa nesta cidade: Ancylostomose, 58,4 °|°; Ascaridiose, 96,9 °|°; Trichuriose, 23,6 °|°; 6 vezes “Strongyloides stercora- lis” (1,4 °|°) e 1 oxyuro (0,23 °|°). Verificação da taxa de hemoglobina de 628 pessoas, ob- tendo-se a seguinte media geral: 55,2 °j°. Contra as verminoses foram dadas 979 medicações. Foram vaccinadas e revaocina- das 320 pessoas. As outras doenças verificadas foram as se- guintes: impaludismo 2 casos (com exame hematologico nega- tivo), vindos de fóra. Lepra, dentro da cidade, 3 casos e talvez mais; gonorrhéa, 4 doentes, e syphilis, 3; escabiose, cerca de 40 casos, e varias dezenas de pessoas tratadas de outras doenças. PROPHYLAXIA RURAL 1922 G U Y A N A i> >,B OCE A N 0 atlântico estado A M A Z 0 N A S j Abelem PA\ R A Mappa do Estado do Pará mostrando a distribuição dos postos e sub-pos- tos sanitários: I—Belém—Posto Central; 2 —Mosqueiro —Posto «Carlos Chagas»; 3—Santa Tzabel—Posto «Miguel Pereira»; 4 Bragança Posto «Souza Castro»; 5 a 18 indicam, respectivaraente, os seguintes logares inspec- cionados ou onde funccionaram commissões de soccorro: Igarapo-assú, S, Mi- guel do Gnamá, Vizen, Bella Aurora, Felippc Camarão, Salinas, Marapanim, Curuçá, Ponta de Pedras, Soure, Anajás, Chaves, Prainha, Montcnegro (Amapá), c Clovelanclia (Oyapock). Pedreira. Igapó, (alagado) proximo ao posto K PmMUmjUIKM. HQ Í.SIMJO 00 P&R& Typo Hercúleo de negro Saramacá Em Vizeu fiz uma conferencia de propaganda sanitaria e em Salinas o dr. Castro Valente fez outra. CIDADE DE MARAPANIM Esta pequena cidade é situada á margem esquerda do rio Marapanim, próxima do Oceano. Diz o dr. Bruno de Moraes Bitetncourt, a quem incumbi da inspecção medico-sanitaria de Marapanim e Curuçá, que essa cidade está situada em terreno alto na frente e que por ser bastante ventilada é meio fresca • mas na parte baixa, do lado dos mangaes, é muito quente e c nesse ponto que se encontra o maior numero de impaludados. Suas aguas, para beber e serventia caseira, são tiradas de poços, alguns bem cuidados e outros, em maior numero, com a aber- tura na flor da terra, tendo como única protecção 4 pedaços de madeira em fórma de coivára e por onde penetram sem diffi- culdades as aguas das enchentes e tudo que se encontra na su- perficio do sólo. Rarissimas são as casas que têm latrinas, c, devido a isso e a outras causas, raro é também o morador de tão bello logar que não esteja infectado por vermes intesti- naes. A cidade divide-se em dois povoados separados por iga- rapés. As cabeceiras do rio Marapanim são bastante povoadas. Trabalhos realizados em Marapanim pelo dr. Moraes Bitten- court e seus auxiliares, microscopista e guarda sanitario: Censo sanitario: 1.010 pessoas, das quaes 895 forneceram amostras de fezes para exame microscopico, e este foi positivo para qualquer: em: 894 ou seja, despresado o erro microsco- pico,—uma população totalmente verminotica. Muito elevada foi ahi a incidência da Ancylostomose: 95,3 °J°; da Ascaridiose: 99,1 °j°; da Trichuriose: 94,75 °|°; Es- trongylose: 10,3 °(°; e Oxyurose ou Enterobiose, 17 casos ou 1,9 °(°. O gráu de anemia nas pessoas recenseadas foi verificado ser considerável, pois em 608 exames de sangue encontrou-se como media geral de hemoglobina 54 °|°. Contra as vermino- ses em geral foram dadas em Marapanim 602 medicações e vac- cinadas 157 pessoas. Sobre o impaludismo são parcas as informações que offe- rece o relatorio do dr. Bittencourt: não trata nem dos exames hematologicos nem também dos exames de baços. Diz apenas que havia impaludismo e que os tratou; e os tratou porque hou- ve considerável gasto de medicamento especifico. CIDADE DE CURUÇÁ’ A cidade de Curuçá está situada na margem esquerda do rio do mesmo nome, pertissimo do Oceano, ou melhor num braço de mar... Infelizmente nada encontrei de realmente interessante no i elatorio do dr. Moraes Bittencourt, com referencia a esta cida- delia em decadência. Parece tratar-se de um povoado mal situado e em estado sanitario muito grave. Lendo o relatorio apresentado ao sr. Ministro da Marinha, em 1920, pelo capitão-tenente medico dr. Othon de Moura, lá encontrei as seguintes informações sobre as condições sanitarias de Curuçá e outros logares do littoral sul do Estado; “Localidades de indice endemico elevado, cen- tros de pescadores, com a mesmo população mirrada e incapaz —como em Mosqueiro—-infestada pelas verminoses, pelo pa- ludismo e pelas ulceras, tendo a aggravar-lhe os males, a into- xicação ethylica, muito em habito nessas paragens. São peque- nas cidades e villas, situadas á margem de rios ou braços de mar, de difficil accesso á navegação, terras baixas com depres- sões accentuadas, onde na épocha das aguas se constituem peque- nos lagos e pantanos... E’ evidente o marasmo em que vivem as suas populações, numa resignação estóica a todos os males, enfermiça, apathica, perdida de toda a noção de estado hygi- do... Confunde, porém, com saúde o estado morbido que se tornou normal para elle e no meio em que vive. E com taes po- pulações o progresso é sempre tardo, quando não é a esta- gnação ou a decadência se observa. Vigia, por exemplo, é a mais antiga cidade do Estado, pois a sua fundação precedeu a da capital. E’, no emtanto, uma cidade que, sem ter tido perío- do florescente, se apresenta em franca decadência.” Trabalhos realizados em Curuçá: Censo sanitario: 1.352 pessoas, e destas 1.107 forneceram fezes para exame, encontrando-se ovos de vermes em 1.094 ou sejam 98,8 °{°. São as seguintes as porcentagens das prin- cipaes verminoses: Ancylostomose: 94 °j°; Ascaridiose: 97,6 o[°; Trichuriose: 93,6 °|°; Estrongylose: 2,9 °|°, e Oxyurose em 8 delias, ou sejam 0,72 °{°. Foram feitos 777 exames de sangue para verificação do gráu de hemoglobina, encontrando-se co- mo media geral 46,7 °|°, mais de 7 gráus abaixo da media geral de Marapanim, o que indica ser ahi mais frequente o impaludis- mo que lá, pois, no ponto de vista da endemicidade das vermo- noses a situação dos dois povoados é idêntica. Contra as vermi- noses foram administradas 432 medicações. Fôram também vaccinadas contra a variola 203 pessoas. O dr. Bruno nada informa sobre o indice esplenico nesta região, nem também o numero de impaludados que tratou, que devia ter sido grande, pois elle foi combater um surto epi- demico dessa infecção. De 38 exames hematologicos realiza- dos, 15 deram resultado positivo, sendo 10 para o “Plasmodium falciparum” e 5 para o “P. vivax”. Basta este facto, da predo- minância da terçã maligna sobre a benigna, na proporção dc 2 para 1, para se fazer um juizo sobre o máu estado sanitario do logar. Lamento muito não constar do relatorio do collega enviado á Curuçá uma informação sobre o indice endemico paludico pelo menos da cidade, onde elle mais trabalhou. PONTA DE PEDRAS Acompanhado de um bom auxiliar o dr. Bernardo Ru- towitcz trabalhou alguns dias na séde do municipio marajoá- ra denominado Ponta de Pedras. O fim principal de sua via- gem foi recensear alguns casos de lepra denunciados ao nosso Serviço pelas auctoridades locaes. Conseguiu esse collega fazer, na segunda quinzena de dezembro ultimo, 10 fichas de leprosos declarados e annotar informações e colher muco de mais de 4 suspeitos. Parece que no interior desse municipio existe maior numero ainda. Para aproveitar a viagem levou o dr. Rutowitcz uma pequena ambulancia de medicamentos, tendo medicado 403 pessoas, sendo 284 de verminoses e 119 de impa- ludismo. Verificou também o gráu de anemia da, população, cuja porcentagem foi de 52,2, e vaccinou a 15 pessoas. Infelizmente o dr. Rutowitcz não soube aproveitar também o seu tempo para verificar o indice esplenico, em mais de 400 pessoas que examinou. CIDADE DE ANAJA’S Outro municipio marajoára, Anajás, reclamou também, no começo do segundo semestre de 1921, soccorros médicos. Fiz immediatamente seguir para lá o medico contractado dr. Anastacio Monteiro, de cujo relatorio retirarei alguns dados. Auxiliado por dois homens postos á disposição daquelle medico, poude elle medicar a 432 pessoas, sendo 146 no interior, na fa- zenda denominada Anajás do Brabo, 74 no dia da sua chegada á cidade e mais 212 posteriormente. Contra as verminoses elle deu 365 medicações e foram enviados medicamentos para as demais pessoas recenseadas; quasi todas, porém, soffriam também de inalaria. BAIXO AMAZONAS Não nos tendo sido possível iniciar no primeiro anno de actividade qualquer serviço permanente no Baixo Amazonas, região grandemente necessitada de recursos medicamentosos e sanitários, a não ser uma pequena expedição de soccorro reali- zada em Prainha, pelo dr. Paulo B. Rombo, acho que não é descabido incluir aqui alguns dados que sobre a mesma me forneceu o dr. Othon de Moura. O dr. Moura, a primeira vez que aqui esteve, veiu como me- dico do cruzador “José Bonifácio”, em missão de estudo e sa- neamento do littoral. Do seu relatorio apresentado em 1920 no Ministério da Marinha, extrahi as seguintes notas sobre Cantarem; “Esta cidade, situada á margem do Tapajós, é a segunda do Estado. A sua característica climatérica é a mesma a reí?iáo do Baixo Amazonas, em geral, quente e excessiva- -111 ente húmido, o que torna mais supportavel a temperatura, principalmente á noite. Como as demais cidades paraenses, as construcções que ladeiam as principaes ruas, são prédios de construcção regular, embora inestheticos. Os demais, casebres esconsos, casas de taipa, algumas não tendo attingido á con- clusão, o soalho de terra batida, quando não são miseras chou- panas de palha, meio occultas, em ruas onde o matto cresce em plena liberdade. A parte mais central, asseiada, gosa de muita salubridade. E alli se demonstra ao vivo quanto é calum- niosa a lenda de insalubridade da região. Assim é que as ende- mias, e são diversas, que assolam a sua zona peripherica e ou- tras cidades da região, não a flagellam, pelo desenvolvimento hygienico que vae tendo, de pouco tempo é verdade. Em 381 exames de fezes de habitantes indistinctos da cidade o dr Othon verificou as seguintes porcentagens de infecções yer- minoticas: Qualquer verme, 96,9 °j°; Ancylostomose, 66,5 °|°; Trichuriose, 45,5 °|°. Em 47 exames de alumnos do Collegio S. Clara a infecção geral foi de 91 °|° e a ancylostomose attin- giu apenas a 51 °|°, que são realmente baixas. Outras doenças: ulceras diversas, 8; leishmaniose, 6 casos; paludismo, 10; dy- senteria balantidiana, 4, e tuberculose pulmonar, 3 casos. A respeito de Prainha e Gurupá, diz o dr. Othon de Moura o seguinte: “Gosando os fóros de cidade, esses pequenos agrupamen- tos disformes de habitações, situados á margem do Amazonas, são o mais vivo flagrante de decadência e da miséria. A ancy- lostomose, o paludismo, as ulceras, a dysenteria, numa asso- ciação macabra, desenvolvem a sua obra de degradação e des- truição, no que são auxiliados pelo uso immoderado do álcool, sob a fórma de aguardente de canna.. . E nessas cafúas que o matto muita vez ameaça invadir, como a querer expulsar o intruso que por fraco não poude domar a natureza rude, vivem os nossos infelizes patricios, miseros trapos a acobertar-lhes a nudez, no mais criminoso desamparo, sahindo nos inter-ac- cessos palustres, a angariar o alimento para si e para seus fi- lhos. Isso mesmo quando a dysenteria ou a ancylostomose não o prostram e as ulceras por pouco desenvolvidas, lhes permit- tem a marcha. Nem siquer lhes resta, nesta afflictiva situação, a espe- rança de obter um lenitivo, pois nenhuma assistência se lhes dá.” O Baixo Amazonas precisa ser attendido com a possivel brevidade. E’ do meu programma organizar uma grande com- missão sanitaria para trabalhar permanentemente nessa região, com o caracter de itinerante, e se ainda não foi orgnizada o úni- co motivo foi a falta de verba. A pequena verba do accôrdo primeiro cobre apenas uma parte das despesas dos serviços já installados. Logo, porém, que o accôrdo seja reformado, com augmento de verba, essa medida será a primeira que eu porei em pratica. S. MIGUEL DO GUAMA’ O dr. Bruno de Moraes Bittencourt foi enviado em março ultimo a S. Miguel do Guamá, em commissão de soccorros médicos, a pedido da população daquelle municipio. Do seu relatorio extrahi os seguintes dados: “A cidade está situada á margem direita do rio Guamá, em frente a uma cachoeira, ponto terminal das celebres pororócas, que se manifestam pe- riodicamente nesse rio. Foi fundada por D. Frei Miguel de Bulhões, bispo do Pará, em 1758. Sua posição geographica é: Lat. S. 10,Io, 42’, 3”. Longitude O. 40, 14’, 16” do meridiano do Rio de Janeiro. A população do município se acha hoje redu- zida a pouco mais de 8.000 habitantes, quasi todos entregues á lavoura do tabaco e da mandioca. Ha pequenas producções de cacáu, castanha e cereaes diversos, que são consumidos em Bo- lem.” Diz que a cidade está em franca decadência. Tratando da alimentação, informa: Sua alimentação actual é péssima, constando quasi que exclusivamente de peixe salgado, em pés- simo estado de conservação; quasi sempre guri juba ardido c fedorento, remettido de Belem e alli vendido por bom preço, apesar de sua imprestabilidade... Durante duas semanas de permanência, o dr. Bruno tra- tou 382 verminoticos, 428 impaludados e 42 portadores de infecções diversas. Infelizmente não o acompanhou nenhum microscopista, de passo que não resultou dessa expedição ne- nhum dado estatístico aproveitável. O dr. Bruno colheu sangue de 29 impaludados, cujos exames foram feitos no Instituto de Hygiene, tendo sido 8 positivos, 5 para o parasito da terça be- nigna e 3 para o da maligna. INSTITUTO DO PRATA Em maio ultimo fui, acompanhado do dr. Bernardo Ru- towitcz e outro auxiliar, inspeccionar a situação material e sa- nitaria do antigo Instituto do Prata, hoje Colonia Correccic- nal do Estado. Examinamos 126 pessoas, encontrando dentre ellas vários casos de opilação adeantada e impaludismo. Na séde da Co- lonia ou Villa do Prata predominam as verminoses e nos bair- ros distantes o impaludismo. Demos a primeira medicação a 109 ancylostomosados, e mandei administrar-lhes mais tarde a segunda. Fiz apalpação do baço em 125 pessoas, encontrando apenas 30 com resultado positivo, ou sejam 24 o[°. Medicámos 42 impaludados, dos quaes colhemos sangue, para pesquisa dos hematozoarios. Deixámos medicamentos sufficientes para a cura radical desses doentes. Yaccinámos e revaccinámos a 125 pessoas. As condições sanitarias do Prata não são bôas, mas, com pequeno esforço, poderão tornar-se satisfactorias. CIDADE DE MONTENEGRO (Amapá) Em 14 de janeiro deste anno segui para a Guyana Brazi- leira, em viagem de estudos e inspecção medico-sanitaria. Na ida o vapor “Oyapock”, da Amazon River, em que viajei, fez o seguinte itinerário: Partida de Belem, dia 14, ás 17 horas; Ia parada em Cóccal, para receber lenha, dia 15 á 1 h. 40 m.; dahi proseguimos, atracando no trapiche da cidade de Breves, no mesmo dia, ás 11 h. 30 m.; seguimos para S. Francisco do Tajapuru’, para receber lenha, chegando ás 16 h.; dahi conti- nuámos para Macajubim, onde chegamos ás 20 h. e prose- guimos para Sobral, onde chegamos ás 7 h. de 16, ainda para carregar lenha; continuámos viagem para S. Cruz do Boius- sú, chegando ás 14 h., recebendo ahi mais 60 passageiros, emi- grantes, que se destinavam ao Núcleo Colonial do Oyapock; dahi seguimos para Afuá, onde chegamos á 1 h. de 17, desem- barcando ahi alguns passageiros; seguimos para Chaves, onde fundeamos ás 6 e meia do mesmo dia; aqui também desembar- caram vários passageiros. Sahindo de Chaves, fundeámos ás 21 h. proximo de Bailique, esperando maré para ahi chegar, o que se fez ás 24 h. de 17, ahi desembarcando o ajudante da Capitania do Porto, capitão-tenente Lago, e um auxiliar; sahin- do de Bailique, fundeámos na Barra do Amapá, no dia 18 ás 19h. 40 m., seguindo para o porto da cidade do Amapá (Mon- tenegro), onde chegámos ás 11 h. de 19; dahi seguimos com destino ao Oyapock, chegando na fóz deste rio ás 16 h. de 20. Sahimos ás 11 h. de 21 e ás 13 h. fundeámos defronte de Santo Antonio, séde do destacamento federal. Proseguindo em lan- cha, chegamos á colonia de Clevelandia ás 16 horas do mesmo dia. As cidades que visitei nesse percurso, taes como Breves, Afuá, Chaves e Montenegro, estão em plena decadência e todas em condições sanitarias dignas de lastima. O municipio de Breves, um dos que renderam mais de mil contos por anno, quando a borracha tinha bom preço, tem agora a sua séde em ruinas. A cidade de Montenegro, antigo Amapá, apezar de ser cabeça de um municipio rico em pecuaria, não é mais que um pequeno povoado em ruinas e abandonado. Essa cidadella é situada á margem direita dum estreito braço do rio Amapá, em terreno baixo, sempre alagado. Nunca vi logar tão mal situado. Não tendo eu podido permanecer em Amapá fazendo in- specção sanitaria e tratando os impaludados, por me destinar á inspecção do Oyapock, incumbi desse serviço o microsco- pista sr. A. Ferro e Silva, que também é pharmaceutico muito experimentado e quartannista de medicina. Do relatorio do sr. Ferro transcrevo os seguintes dados estatísticos: Censo sani- tário: 704 pessoas, das quaes 699 deram fezes a exame, com 684 positivas para qualquer verme, ou sejam 97,85 °l°. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Villa do Oyapock, na fóz do mesmo rio. Colonos para o núcleo “Cleveland , na villa do Oyapock. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Vapor francez “Oyapock”, linha de Cayenna. Oyapock. Sto. Antonio. Quartel do destacamento Federal, defronte de Saint Georges. A frequência das diversas verminoses attingiu as seguin- tes porcentagens: Ancylostomose, 83,5 °l°; Ascaridiose, 97,6 °|°; Trichuriose, 90,5 °[°; Estrongylose, 4,4 °|°, e Enterobiose, 2,7 °j°. Fôram en- contrados também uma “Taenia solium” e dois “Balantidium coli”. Fôram feitos 747 exames de sangue pela escala Tall- quist, obtendo-se como media geral de hemoglobina 62,5 °|°. Essa verificação foi feita por grupos: na cidade a porcentagem foi de 68,5 °]°; nas fazendas de 69,5 °]° e entre os habitantes ribeirinhos apenas 50,5 °|°. O sr. Ferro trabalhou também nas seguintes fazendas; Pluma, Cachoeirinha, Engenho Serra e San- to Antonio. Contra as verminoses em geral deu o sr. Ferro 752 medi- cações, sendo 607 de la,Ia, 110 de 2a e3sde 3a vez, e vaccinou e revaccinou a 722 pessoas. Foi feito o exame de baço em 747 pessoas, das quaes ape- nas 62 tinham esse orgão francamente palpavel, ou sejam 8,3 °j°. Para pesquisa de hematozoarios foi colhido sangue de 26 doen- tes, e destes 9 tinham “Plasmodium vivax” e 2 “P. falcipa- rum”. As laminas destes casos foram revistas no Instituto de Hygiene, tendo sido confirmados os diagnoticos. Fôram at- tendidas ainda dezenas de doentes de outras infecções, predo- minando os casos de escabiose, ulceras e gonorrhéa. O sr. Ferro trabalhou com dois auxiliares contractados. NÚCLEO COLONIAL CLEYELAND, DO OYAPOCK A séde do núcleo colonial do Oyapock recebeu o nome de Clevelandia, dado pelo director do Povoamento do Sólo, do Ministério da Agricultura. Nada tendo Cleveland com o laudo arbitrai suisso que reconheceu os direitos brasileiros na zona da Guyana contestada pela França, que abrangia desde o rio Amapá até o rio Oyapock, não acho explicação para a denomi- nação de Clevelandia para a futura cidade da nossa fronteira Norte. O laudo de Cleveland, a favor do Brasil, se refere ás terras das Missões, contestada pela Argentina; mas lá já existe, no Estado do Paraná, uma cidade e município com o nome de Clevelandia. Por arbitragem de 20 de outubro de 1916, ficou para Santa Catharina grande parte do território desse muni- cípio, mas, ainda que relatiyamente pequeno, elle continua a perpetuar o nome do grande presidente norte-americano. Apesar dos tratados de Utreeht e de Yienna, pelos quaes a França renunciou as suas pretenções sobre a Guyana Brasi- leira, em maio de 1895 o governador da Guyana Franceza man- dou ao Amapá o aviso de guerra “Bengali”, a pretexto de libertar um tal Trajano, que se collocára sob a protecção da- quella colonia, e estava prisioneiro na cidade de Amapá. Essa expedição invasora constava de 60 soldados de infantaria de marinha e alguns fusileiros navaes, commandados pelo capi- tão Lunier. Os brasileiros do Amapá estavam alertas e, sob o commando dç Veiga Cabral, prepararam uma “boa recepção” aos affrontadores da nossa soberania... Travou-se um renhido combate entre os invasores e os nossos patricios, do qual resul- tou a morte do capitão Lunier, graves ferimentos em outros officiaes, dos quaes se salientou o tenente Destroup, e morte de dezenas de marinheiros. Os restantes debandaram... A victoria integral foi nossa. Levados esses factos ao co- nhecimento do governo da Republica Franceza,—gravíssimos mas resultantes de actos criminosos de soldados seus,—o Rra- zil lhe propôz se resolvesse a questão do território contestado por meio de arbitragem. Foi nomeado arbitro o presidenle da sabia Republica Suissa, que, em 14 de Abril de 1898, proferiu a sua sentença, dando-nos ganho de causa. Por acto de 1 de dezembro de 1900 foi referendada essa decisão. Como se vê não teve nenhuma interferencia na questão o presidente Cle- veland. Devia-se dar a esse novo núcleo de população um no- me puramente nacional, de preferencia que não lembrasse o ga- nho de causa na contenda que tivemos com a França. Taes de- mandas deixam sempre no espirito publico da nação vencida odio ou prevenção que se deve tratar de esquecer. Situação geographica. Latitude N. 3o 48’ 57” 6. Longitu- de em tempo a O. G. 3h. 27’ 26”1. A altitude ainda não foi de- terminada. A séde fica a 70 kilometros da fóz do Oyapock, na margem direita, pouco abaixo dos saltos da Grand’ Roche, que são os maiores de todo o rio. A séde é o ponto terminal do trecho navegavel do Oyapock. Dahi para cima só em canoas, gastando-se de 20 a 30 dias para se attingir as cabeceiras do rio. A séde, cuja fundação teve logar a 3 de maio de 1921, consta, por emquanto, dos seguintes prédios: o da administra- ção, todo de madeira, com 2 pavimentos, todo pintado a oleo, envidraçado e coberto de telhas francezas; o da escola publica, um pavimento, do mesmo material do primeiro; e o hospital, já quasi terminado. Os prédios provisorios são: no porto, dois barracões, cobertos de palha, destinados ao alojamento dos im- migrantes; num delles funccionam a pharmacia e o consulto- rio medico; um barracão de palha, armazém da firma forne- cedora Affonso, Fonseca & Ca; a padaria, o hospital provisorio e varias habitações familiares. No porto está installada a ser- raria, a vapor, que já começou a funccionar. Varias construc- ções definitivas estão em obras. Atraz do prédio da administra- ção está installada a estação meteorologica, que é de 3a classe. De cada lado do novo hospital existe uma vasta área de terra desbravada a já cultivada. No mesmo dia da chegada visitá- mos todas essas dependencias da séde e installámos o nosso consultório e laboratorio numa bôa sala de frente do prédio da administração, a qual está reservada para a agencia do correio. Estado sanitario. O serviço sanitario da Colonia compre- hende a assistência medica e medicamentosa de todos os func- cionarios da Commissão e colonos, e da população que já resi- dia na zona. Na séde existia um hospital provisorio por occa- sião da minha visita, sendo que em 5 de maio, depois do meu regresso, foi inaugurado o hospital definitivo, do qual dou aqui duas figuras. O pessoal incumbido deste Serviço consta de 1 medico, 1 pharmaceutico, 1 ajudante, 1 dentista, que faz as funcções de enfermeiro chefe do Hospital e 2 guardas sanitá- rios . Sobre as condições medico-sanitarias da região extraiu os seguintes dados dos relatórios do dr, Feliciano Mendonça, operoso e competente medico da Commissão. Do Io relatorio (15 de outubro, 1920): “Passo, agora, a expôr aV. S.a o que observei relativamente à epidemiologia da parte do Oyapock por mim percorrida, que vae desde a sua emboccadura até á cachoeira da Grand’Roohe. A inalaria reina endemicamente, sendo a maioria dos habitantes victima delia, na sua phase chro- nica, pois desde pequenos são logo infectados. O indice endé- mico malarico, traduzido sobretudo na esplenomegalia das creanças, é elevado. Das creanças por mim examinadas, quasi todas encontrei com o baço augmento de volume. Vi grande numero de pessoas em pleno accesso; e, quanto ás outras, era raro encontrar uma cuja historia clinica não registasse uma série de accessos todos os annos, e nas quaes o mais simples exame não deixava duvidas no espirito sobre a causa do seu to- do de doente, muitas vezes confirmada pelo exame microscó- pico do sangue. Por obséquio do “Maire” de Saint-George, vil- la franceza da margem esquerda do Oyapock, onde o serviço de obituário está organizado, os seguintes dados me foram fornecidos: Anno 1919. População approximada: 1.040 habi- tantes; total de obitos, 34; mortalidade por 1.000 hobitantes, 32,70. Anno de 1920 (até o mez de outubro), População ãppro- ximada 1.040 habitantes; total de obitos 33, mortalidade por 1.000 habitantes, 38,00. Estes dados são referentes unicamente á margem franceza; do lado brasileiro não existem assenta- mentos. Em outros tempos o Destacamento Federal era sem- pre dizimado; hoje todos voltam para Belem, apenas pago o tri- buto de frequentes accessos de inalaria, mas, em geral, por fal- ta absoluta de recursos médicos e de medicamentos”. Resultado dos primeiros exames de sangue: 45 °j°, “Plas- modium vivax”; 15 °|°, “Plasmodium falciparum”; 40 °|°, nega- tivos. Notou na villa do Oyapock muitos mosquitos, inclusive anophelinas; em Santo Antonio, séde do Destacamento, quasi a totalidade dos mosquitos vistos eram anophelinas, que pica- vam a qualquer hora; na bocca do Pontanary, onde começa o terreno do núcleo colonial, as anophelinas só picavam á noi- tinha. Estas observações tiveram logar em setembro e ou- tubro. Resultado dos exames de fezes feitos na villa do Oyapock; Trichuris 84 °l°; Ascaris, 53 °|°; Necator, 46 °l°, e outros ver- mes, 7 °|°. Refere ter visto 2 casos de ulceras que diagnosticou clini- camente Leishmaniose, porque os exames de esfregaços foram negativos. Após varias citações e considerações, termina: “Ape- nas será preciso, portanto, applicar “as medidas que a propby- laxia já encontrou e methodizou para que se torne habitavel, ou por outra, para que os que a procurarem possam saneal-a, povoando-a e construindo centros habitáveis, possiveis de se- rem salubres”, conforme palavras de Oswaldo Cruz, ao referir- se ao Valle do Amazonas em 1913, ao que parece, pelo que expuz aV. S.a, mais doentio do que odo Oyapock. Está, pois, nas mãos do Governo colonizar a zona do Oyapock, e, agora, no seu dever. A malaria, seu mal (maior) “só recúia diante da civilização. E a colonização é civilização”. 2o Relatorio. 31 Dezembro, 1920. Narra duas viagens de inspecção feitas ás turmas de exploração e locação, de 16 de outubro a 25 de novembro. “Quanto á observação nosologica, no espaço de tempo que abrange este relatorio, registo o quasi desapparecimento das anophelinas e, finalmente, seu desappa- recimento tanto na Villa do Oyapock, como em Santo Antonio e na região da futura séde.” Fez 14 exames de sangue; só 3 positivos, c destes 2 casos chronicos e 1 agudo, novo (soldado do Destacamento)... Mas, se o impaludismo desappareceu com o desapparecimento das Anophelinas, com a entrada do inver- no as doenças dos apparelhos respiratório e digestivo se ma- nifestaram em maior numero que o commum... Apezar do que vos acabo de relatar, não foi máu, mas antes bom o estado sanitario da Commissão durante esse tem- po. Refere que continua a prestar assistência medica gratui- ta aos soldados do Destacamento Federal de Santo Antonio e aos demais habitantes da região. 3*' Relatorio. 1 Julho, 1921. Fez 49 exames de sangue: po- sitivos para impaludismo 24, sendo 10 de “P. vivax” e 14 de “P. falciparum”. 22 exames de fézes positivos para vermes ihtestinaes. “O impaludismo, que deve ser ainda por muito tempo a nossa maior preoccupação, de quasi ausente nos 3 primeiros mezes do anno, augmentou gradualmente nos 3 úl- timos deste 1° semestre. ... Em Abril e Maio foram por mim colhidas anophelinas nos terrenos da Séde, desapparecendo em fins de maio e ju- nho. Coincidindo com a presença desses insectos, aqui surgi- ram alguns casos de impaludismo. Em Junho, com a ida dos colonos para os seus lotes, na margem direita do Oyapock, novos casos appareceram, vindos dahi, mais numerosos, no fim de Junho. Foi a fórma maligna da terça a mais observada, ao con- trario do que se deu até Dezembro de 1920. Quasi todos os ca- A PROPHYLAXIA RURAL NC ESTADO DO PARA’ Oyapock. Núcleo colonial “Cleveland”. Colonos recem-chegados. A PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO DO PARA’ Maroni. Guyana Franceza. Grupo de Saramacás. Oyapock. Negrinhos Saramacás em Tampac, lado francez. sos foram facilmente jugulados, com excepção de 3 ou 4 mais rebeldes. Desses, 2 tiveram como complicações polynevrites e 1 nevralgia no districto dos peroneiros. Um, Mário Teixeira, falleceu em Belem. Propõe a quininização obrigatória, no pe- ríodo pré-epidemico, e a protecção mechanica dos colonos a construcção de fóssas fixas em todos os lotes, etc. Final: “Es- tas são as medidas que me parecem mais necessárias por em- quanto, no que diz respeito á saúde. Apezar das difficuldades em pôl-as em pratica, ellas serão de tanto mais facil applicação quanto mais cedo vierem, porque, conforme a feliz expressão de um experimentado nestes assumptos, dr. Rieux, chefe de “La campagne antipaludique á I’armée française d’Orient”, esta obra vasta e delicada, quasi sempre difficil, exigindo a fé de um verdadeiro apostolado, é questão de constância e continuidade no esforço”. 2o semestre (só 4 mezes). 56 exames; negativos 8, positivos 48, sendo T. benigna 14, T. maligna 24, associação dos 2 plasmodios 10. Julho—7 exames, 1 positivo para Terçã ma- ligna e 6 negativos; Agosto 19 exames, 2 negativos, Terçã be- nigna 8 e T. maligna 9. Setembro 15 exames, todos positi- vos; Terçã benigna 4, T. maligna 9 e associação dos 2 plasmo- dios 2. Dezembro 15 exames, todos positivos; Terçã benigna 2. T. maligna 5 e associação 8. Em Outubro e Novembro o dr, Feliciano Mendonça esteve ausente. Nossos exames. De 22 de Janeiro a 5 de Fevereiro fize- mos na séde da Colonia os seguintes exames. Trabalho mais extenso realizámos em 5 dias no Alto Gurupy, mas aqui além de termos de permanecer 15 dias, esperando vapor para Cayen- na, a distancia em que os colonos se acham da Séde retardou a sua vinda ao nosso consultorio. Os exames de fézes foram feitos por mim, pelo dr. Feliciano Mendonça e Ferro e Silva. Os exames de sangue, para diagnostico de impaludismo, serão ultimados em Belém, porque o microscopio da Commissão não permitte um exame seguro. Verminoses. Pessoas recenseadas, 329; exames de fézes, 274, sendo 270 positivos (98,5 °|°); com “Necator”, 215 (78,5 °|°); com “Ascaris”, 231 (84,3 °|°); com “Trichuris”, 230 (83,9 °j°); com “Strongyloides”, 43 (15,7 °|°); com “Entero- bius”, 8 (2,9 °j°); com Trematodeo indeterminado 3, com“Schis- tosomum mansoni” 1, com “Taenia solium” 1, com “Balan- tidium coli” 1. Exames de sangue pelo Tallquist 232; media geral de he- luogoblina 68,5 °l°; no pessoal da Séde e Colonia, 69,5 °[°; nos habitantes do bairro Martinica (Espirito Santo), abaixo da Sé- de e fóra dos limites da Colonia 58,5 °|°. Medicações pelo che- nopodio: las 244, 2as 4, total 248. Gasto de chenopodio 500,0 grs. e sal amargo 13 kilogrammos. Vaccinações 145 e revacci- nações 159; total, 304, Impaludismo. Pessoas examinadas, 191; com baço pal- pável, 46 ou 24 °l°. Casos agudos no consultorio, 16. Exames de sangue, 11. Medicamentos gastos: 6 caixas de ampollas de Butantan, 50 ampollas a 1,0 de chlorhydrato de quinino e 600 comprimi- dos de bisulfato a 0,50. Vimos 2 casos muito graves de polynevrite paludica; um moço de 20 e poucos annos e uma moça de 18. Têm sido re- gistados no hospital outros casos de neuro-impaludismo. O dr. Mendonça emprega muito o azul de methyleno, só ou asso- ciado á quinina. Doenças venereas. Exame dermatologico e genital, 123 pessoas; com syphilis 4, sendo 1 caso contagiante, com syphilis papulosa exuberante na vulva, etc., e placas mucosas na va- gina e bocca. Com gonorrbéa 4, sendo 2 agudos e 2 chronicos. Dermatoses. Registámos 61 casos de escabiose, mas ha muitos outros. Tinha cutanea 5 casos; echtyma 2; ulceras aty- picas 2; casos banaes 3. Trouxeram-nos de Café-Socá (lado francez) um preto com uma grande ulcera na perna, que elles chamam “pian-bois”, mas que não é Leishmaniose. De Clevelandia segui em viagem de estudos da lepra, para as Guyanas e Trindade, cujo relatorio faz objecto de outro trabalho. Os dados sobre as condições sanitarias da região do Oyapock fôrarn copiadas por mim dos relatórios que o Dr. Feliciano Mendonça offereceu ao Sr. Engenheiro Dr. Gentil Norberto, digno chefe da «Commissào de Colonização do Núcleo Cleveland», a quem apresento aqui sinceros agra- decimentos pela gentil acolhida que me dispensou, e bem assim aos demais amigos Dr. Deocleciano Coelho de Souza, e distincto collega Dr. Mendonça, respectivamente sub-chefe e medico da referida commissào. Oyapock, Uma das enfermarias 'lo llospllal “Simões Lopes” na séde (lo Núcleo Colonial "Clevelond . 4 PROPHYLAXIA RURAL NO ESTADO 03 PARA RURAL NO ESTADO DO PARA Oyapòck. Hospital «Simões Lopes» na séde do Núcleo Colonial Cleveland, CAPITULO IX ESTUDOS SOBRE A FREQUÊNCIA E EXTENSÃO DAS HELMINTHOSES E DO IMPALUDISMO NO ESTADO DO PARÁ PELO Dr. H. C. DE SOUZA AKAUJO Chefe do Servido 1. —HELMINTHOSES Nenhuma novidade introduzi na organização dos ser- viços de prophylaxia das helminthoses, continuando a ado- ptar o methodo intensivo e systematico, por me parecer o melhor, e cujos resultados práticos são evidentes. No re- censeamento dos habitantes das zonas subordinadas a qual- quer dos nossos postos sanitários ruraes continuo a ado- ptar a mesma caderneta que organizei, em 1920, para o Serviço do Paraná. A’ muita gente parecerá uma caderneta complicada.., Não, ella é simples e pratica, e contem ape- nas as columnas exigindo os dados indispensáveis com re- ferencia ás casas inspeccionadas e aos individuos examina- dos. Dou a seguir uma copia de uma pagina da nossa caderneta, que tem 20 centímetros de comprimento por 19 de largura. A caderneta tem 50 folhas, abertas 25, e cada pagina 21 linhas, sendo uma para sommas e 20 para o censo sanitario. Cada caderneta comporta, portanto, 1.000 inscri- pções, que é o máximo por mim estipulado para cada zona. A caderneta aberta tem 52 centímetros de comprimento e 52 columnas, destinadas aos seguintes fins: 1 —data do censo; 2—numero da casa do doente; 3—nome por extenso do doente; 4—sua residência, rua ou zona; s—sexo;5—sexo; 6—cor; 7—edade; sem estes dados não poderíamos organizar a es- tatística das verminoses e outras infecções por edades e nas differentes raças; B—nacionalidade; 9—estado civil; com os dados desta columna poderemos em qualquer épocha for- necer aos governos informações seguras sobre a porcenta- gem de casamentos civis ou religiosos e de ligações illicitas nas regiões trabalhadas pela Prophylaxia; 10—profissão; 11—sabe lêr?; 12—religião; 13—é eleitor?. Ninguém poderá negar a importância, no ponto de vista social e político, dos dados obtidos pelo preenchimento destas ultimas 3 colum- nas; 14 e 15—se referem ao estado dos pés da pessoa inscripta si calçados ou não, com ou sem lesões; 16 e 17— indagam si a casa onde mora o indivíduo em questão tem íóssa e de que typo; si não tem, exige que se inscreva o numero da intimação que lhe foi expedida para construir uma; 18 e 19—tratam da data da vaccinação anti-variolica e do numero do certificado expedido; 20—é destinada ao numero do censo; 21 e 22—data e porcentagem de hemo- globina verificada por occasião do primeiro exame do doente; 23 e 24—data e resultado do primeiro exame mi- croscópico de fezes; 25—resumo do exame clinico; 26 e 27 droga e dosagem inscriptas pelo medico apóz o resultado do exame das fezes; 28 a 31—datas das 4 primeiras medi- cações administradas contra as verminoses; 32 e 33, 34 e 35 —segundos exames de sangue e fezes; 36 a 39—segunda série de quatro medicações caso continue o indivíduo ainda infectado; 40 e 41, 42 e 43—terceiros exames de sangue e de fezes nas zonas em revisão para fechamento. Na colu- mna 44 são annotadas as curas microscópicas da ancylosto- mose. Da columna 45 a 51 a caderneta é reservada para o serviço anti-paludico, com as seguintes primeiras informa- ções de cada doente: data do exame clinico e resultado; data e resultado do exame hematologico; resultado do exa- me do baço, si palpavel ou não; tratamento indicado, cura e uma ultima columna, a 52, para observações. Quando o medico é caprichoso e faz e exige no seu posto um serviço perfeito, todas essas columnas são utiliza- das conscienciosamente. Não podemos adoptar o modelo de caderneta da Directoria, porque é muito deficiente. 339 DATA » ; N." da casa i ' Nomes ■ Residência Sexo H 1 Côr H as z H 1 â H as 0 j Edade Nacionalid ade ril Estado Cit Profissão Sabe ler? Religião E’ eleitor? Calça- dos? Lesões ? CO Typo Intima- ção 1 Latrinas Data Certifi- cado Yaceinas N.° do doente Data * O w H 8» 3 Hemoglo- bina Data Result. w * 3 O* O -o S5 í o 1 i... ._ Exame e tratamento «la» Verminoses Hlalarta Datas das Hemo- globina Infecção j Datas das Hemo- globina Infecção Exame i Exame Notas Exame il $ \ ® 1 Medicações i 2 O 2.» Medicações 3.“ H CÇ uo sangue i: I o Medico |; 2 o I p Exame Exame I Exame Exame 5 c* cC Tratamento p SP j 1 1 i.» 3.» 4.» cC tc % 2 * i ! ,r).« 6.“ 7.‘ 8.» «e % ■2 3 ác 75 1 1 1 p í p (p p 0) « ( P áS i e i 1 . li ' 1 ji Ij . i 1 r . [ Caderneta do serviço domiciliar (Lado esquerdo da pagina) (Lado direito da pagina) No serviço interno dos postos adoptamos o modelo de fichas organizado pela Directoria, uma para cada doente, servindo tanto para os impaludados como para os vermi- noticos. As cadernetas ficam em poder dos guardas e as fichas no archivo do posto. Para o serviço de impaludis- mo adoptamos livros especiaes para matricula dos doentes, contendo todas as informações exigiveis em sciencia. Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural no Estado do Pará N Posto de—. de ...de 192.... Nome Idade Côr Yolte ao Posto em Leia o outro lado deste cartão Serviço de Saneamento e Prophylaxiã Rural no Estado do Pará Posto de. ... de de 192.... Nome , Sexo Idade..... Côr Nat Prof Residência Tem latrina? ~v. Agua: —de bica? de rio? de poço? de fonte? EXAME DE FEZES TRATAMENTO | Dia Mez N. A T E 0. P. Dia Mez Medicação 1.» 2.» 3.» EXAME TRATAMENTO Dia Mez Diagnostico Dia Mez Medicação • ' 1 | Ficha rural (frente) N HELMINTHOSES OUTRAS DOENÇAS | Dia Mez Heraogl. Hematias Peso Altura | Per. thor. Gap. Resp. F. musc,; DADOS HEM ÁTICOS E ANTHROPOMETRICOS DESTACAE SOMENTE DEPOIS DE BEGISTBADO NO ÍNDICE. Roce o mato, o mais que puder em volta do sua casa; não deixe também no seu terreno aguas paradas. Ahi é que vivem eso criam mos- quitos que pela picada provocam as febres intermitteutes. Com pouco dinheiro tem sua casa fechada para os mosquitos; o Posto lhe ensinará a conseguir isto. O Posto também cura a sua febre; é preciso tomar .o remedio, que elle lhe dér, nos dias marcados, mesmo que não esteja se sentindo doente. Os vermes produzem doenças tão sérias como a febre intermittente e pouco a pouco tomam conta da pessoa e lhe estragam a saúde. E' preciso ir se examinar nos Postos e tomar o remedio que elle lhe dará de graça; e para não ficar peior ou não ter de novo a doença, é preciso não obrar no chão. Faça a sua fossa barata; .0 Posto lhe for- necerá todas as indicações. OBSERVAÇÕES Ficha rural (verso) PESQUIZA DO HEMATOZOARIO EXAME DO BAÇO j Dia Mez B M. A Methodo de exame Dia | Mez Dimensões j 1 i f MEZ l 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1G Symbolos i i ■ ■ 17 18 19 20 21 22 23 24 1 1 W 2G 27 28 29 30 31 MEZ 1 2 3 4 5 G 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1G * ) • 17 18 19 20 21 23 23 24 25 2G 27 28 29 30 31 MEZ 1 2 3 4 0 , G 7 8 9 10 11 12 13 14 15 10 I 17 18 19 20 21 22 2P, 24 25 26 27 28 29 30 31 ! 1 lIHP A liUl> ISMO TRATAMENTO Adoptamos também o seguinte cartão, modelo da Dire- ctoria, para cadastro das casas, o qual preenche todas as exigências. Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural no Estado do Pará POSTO DE Local N Moradores / adultos xvioracioies menores Responsável Residência .. . Inspecção Sanitaria por em DESCRIPÇÂO DA CASA ESPECTE DpsiHpnoia... Piso Cobertura Paredes CONSTKUCÇÃO Dp tijolos Rphooarias p pa.iarlas Fflhripfl Dp ta.hoas . Dp q piqnp Sitio Dp fpllias Ph apara, Dp 711100 Hnrfa, Dp sapp Dp marlpira ABASTECIMENTO DE AGUA EVACUAÇÃO DOS DEJECTOS De De De 1 <£ § £ 1 frfl.hinpfp sanitario * pha.fa.ri? pnhlipn Paixa dp d paca vga pnl | pppnn snpprfipial Vaso pom syphãn mm rpvpsti in pn f:r» Aaspnto pnm tampa fppbndn í oxydanto-liqiipfaptora pom hmnha |< liquefactora ou solubilizanto [ filtrante pmfpndidadP dn lpnp.nl ísftOOO Distancia entre o poço e a fossa. Poço no mesmo nivel que a fossa Poço mais elevaeio que a fossa •. pantanoso plano pin dpplivp 1. a Intimação: N Data Cumprida em Exigências Multa em Relevada em 2. a Intimação; N Data Cumprida em NOTAS Na execução dos serviços dos postos ruraes ordenei que fosse cumprida, fielmente, a seguinte orientação : l.° Cada posto deve ter no máximo tantas zonas quan- tos são os dias uteis da semana, afim de que cada manhã o medico medique ou examine as pessoas recenseadas numa delias, reservando as tardes para o serviço da séde do posto, taes como: consulta grátis, tomar conhecimento dos accidentes, fiscalizar a escripta e dar ordens para o serviço da manhã seguinte. 2.° O methodo de campanha contra as verminoses ado- ptado é o systematico pelo qual as pessoas de cada zona são recenseadas, examinadas e tratadas em seu proprio do- micilio. Vejamos agora os trabalhos realizados no correr do primeiro anno de actividade da nossa commissão. a) Polyhelminthóse Quadro n. I—Com dados de 16 postos sanitários e com- missões ambulantes, trabalhando nos Municípios de Belém, Bragança, Igarapé-assú, Quatipurú, Vizeu, Salinas, Marapa- nim, Curuçá, Soure, Chaves e Montenegro, nos quaes fôram recenseadas 76.742 pessoas e destas 45.713 deram amostras de fezes para primeiros exames microscopicos, organizei o quadro n. 1, referente á polyhelminthóse ou sejam as infec- ções associadas ou infecção por qualquer verme. Dos 45.713 primeiros exames 45.122 fôram positivos para ovos ou larvas de diversos vermes. Portanto, a infec- ção geral attingiu a 98,7 %, que representa o precário es- tado sanitario do Estado, porque essa incidência se refere a mais de 20 logares do Pará, comprehendendo as cidades do interior, a região das ilhas, o littoral N. e o littoral S., de extremo a extremo da costa paraense. O censo sanita- rio que fazemos não visa apenas o combate ás verminoses, no interior, mas também o combate ao impaludismo e ou- tras doenças, de passo que das 30.000 pessoas restantes, sem exames de fezes, mais de metade foi matriculada para tra- tamento de malaria, e as outras matriculadas com certeza no ultimo mez do anno, ainda não tinham o resultado do exame coprologico. Praticamente devemos considerar in- fectada pelos vermes a totalidade da população do Estado, porque a éUfferença de 2 a 3 % de resultados negativos representa o erro microscopico. A porcentagem geral va- riou entre 97,7 a 100 %. QUADRO N. 1 POLYHELMINTHOSE Infecção (*eral l)a«lot> relativos ao periodo de Junho de 1921 a Alfaio de 1922 POSTOS Censo sanitaric Exames Positives 0/ " Oswaldo Cruz, Souza 10.506 7.368 7.277 98,76 LBelisario Penna, Pedreira 13.135 11.556 11.425 98,86 Carlos Chagas, Mosqueiro 5.110 3.250 3.214 98,89 Souza Castro, Bragança 6.499 3.229 3.155 97,70 Miguel Pereira, Santa Izabel 6.307 4.198 4.131 98,40 Commissão ambulante, (E.F.B.). 21.340 4.409 4.392 99,61 Cortume do Maguary 495 370 364 98,37 Ambulatório do Inst. de Hygiene 4.121 4.121 4.046 98,18 Serviço de Lepra *..... 517 517 517 100 Vizeu 1.464 871 864 99,20 Alto Gurupy 387 196 196 100 Salinas 821 493 417 98,58 Marapanim 1.010 895 894 99,88 | Curuçá 1.352 1.107 1.094 98,82 Soure 1.897 1.628 1.590 97,66 Chaves 704 602 592 98,33« Montenegro (Amapá 747 699 684 97,85 Oyapock (Cleveland) 330 274 270 98,53 76.742 45.7131 45.122 98,70| ' Quadro n. 2 Para a confecção deste quadro utilizei' me dos dados microscopicos de 16 serviços differentes es- palhados por toda a costa paraense e penetrando um pouco do seu interior. Este quadro visa mostrar, num golpe de vista, a frequência das principaes helminthóses que serão estudadas adeante, cada uma de per si. Consta no quadro um total de 45.713 primeiros exames de fézes humanas, das quaes, como vimos acima, 45.122 tinham ovos ou larvas de helminthos. Dessas 45.713 pessoas examinadas pela pri- meira vez, estavam infectadas pelos ancylostomos: 36.210 ou 79,21 %; pelas ascáridas 44.099 ou 96,46 %; pelo tricho- cephalo 39.745 ou 86,94 °/0; pelo estrongyloide 4,161 ou 9,1 % e por outros vermes, predominando o oxyuro, 1.196 ou 2,61 %. Em capítulos especiaes estudarei separadamente cada uma das verminoses. h) Ancylostoniose A frequência da ancylostomose no Pará, verificada em dezenas de mil exames, é de 80 %. Praticamente deve-se considerar ainda mais elevada essa porcentagem porque SÉDE DE POSTOS E LOGARES INSPECCIONADOS Censo sanita- I rio completo ca o o nS g \À <4 N o> NUMERO E PORCENTAGEM DE INDIVÍDUOS INFECTADOS COM: Ancylostomos Ascáridas Trichocephalos Estron- gyloides Outros parasitas N.° % N.° % N.° % N.° % N.° % Oswaldo Cruz, Souza 10.506 7.368 6.084 82,57 7.113 96,53 6.614 89,76 643 8,72 197 2,67 1 Belisario Penna, Pedreira 13.135 11.556 9.299 80.46 11.121 96,23 10.471 90,61 883 7,64 315 2,72 Carlos Chagas, Mosqueiro . 5.110 3:250 2.839 87,35 3.164 97,35 3.025 93,07 398 12,24 213 6,55 1 Souza Castro, Bragança : 6.499 3.229 1.928 59,61 3.113 96,40 1.881 52,25 81 2,50 70 2,16 Miguel Pereira, Santa Izabel 6.307 4.198 3.139 74,77 3.981 94,83 3.339 79,53 251 5,97 27 0,64 Coininissâo ambulante (E. F. de B.) 21.340 4.409 4.260 96,57 4.379 99,31 4.261 96,62 1.075 24,15 165 3,74 Cortume do Maguary 495 370 296 80,0 338 91,35 326 88,10 42 11,35 11 2,97 Ambulatório do Instituto de Hygiene 4.121 4.121 2.435 59,08 3.920 95,12 3.665 88,93 342 8,29 113 2,74 1 517 517 429 82,97 505 97,67 467 90,32 94 18,18 7 1,35 Yizeu 1.464 871 675 77,48 839 96,32 561 64.40 31 3,55 6 0,68 | Alto Gurupy 387 196 193 98,46 190 96.93 133 67,85 49 2,50 4 2,04 1 Salinas 821 423 247 58,39 410 96,92 100 23,64 6 1,41 1 0,23 Marapanim 1.010 895 853 95,30 887 99,10 848 94,74 92 10,27 17 1,89 j Curuçá 1.352 1.107 1.041 94.03 1.081 97,56 1.036 93,58 32 2,89 8 0.72 | Soure 1.897 1.628 1.138 69,89 1.562 95,94 1.564 96,06 46 2,82 7 0,42 Chaves • • • • • 704 602 555 92,19 583 96,84 591 98,17 22 3,65 2 0,33 1 Montenegro (Amapá) 747 699 584 83,54 682 97,56 633 90,55 31 4,43 19 2,71 | 1 Oyapock (Cleveland) • • 330 274 215 78,46 231 84,30 230 83,94 43 15,69 14 5,10 76.742 45.713 36.210 79,21 44.099 96,46 39.745 86,94 4.161 9,10 1.196 2,61 QUADRO N. 2 FRE(JUENC1A DE INFECÇÃO PELOS DIVERSOS VERMES INTESTINAES o erro microscopico é de 10 a 15 %, segundo os helmintho- logistas norte-americanos. O total de exames coprologicos feitos attingiu a 45.713 dos quaes 36.210 fôram positivos para ancylostomos, o que equivale a 79,21 %• A frequen- cia dessa grave infecção é quasi a mesma em todos os to- gares inspeccionados ou trabalhados. Estudemos a sua distribuição geographica por Municípios, a começar pelo de Belém, um dos maiores e de todos o mais povoado e o mais rico. Belém Sommando-se os dados dos postos do Souza, Pedreira, Mosqueiro, Santa Izabel, Maguary e serviços da capital, temos: 31.380 exames e destes 24.521 positivos para ancylostomose, ou sejam 78,14 %• A situação do interior do Município da capital é muito precaria; basta dizer que fora o centro de Belém, os exames dos habitantes dos seus suburbios e interior revelaram infecção superior a 80 %. Das pessoas cujas edades não offereceram duvidas fiz o quadro n. 3. No Município de Belém fôram examinadas 4.891 creanças de 0 a 5 annos e destas 3.062 ou 62,7 % es- tavam infectadas pelos ancylostomos; de 6 a 18 annos, 11.266 pessoas com 9.542 infectadas ou 84,7 %; de 19 a 40 annos 10.115 com 8.196 infectadas ou 80,7 %, e de 4.221 pessoas de 41 annos para cima 2.995 ou 70,9 °/0 estavam infectadas. Esses números falam mais alto que todos os outros argumentos contra as opiniões dos críticos que dizem não devia a Commissão de Prophylaxia trabalhar no Município da capital. Como assim, senhores, si as condições sanitarias do Municipio de Belém são mais precarias que as de qual- quer outro Municipio?! 62,7 °/o das creanças menores de 5 annos estão soffrendo de ancylostomose, assim como 84,7 °/0 dos adolescentes e jovens de 6 a 18 annos; 80,7 % dos homens que pela edade —l9 a 40 annos—deviam apresentar o máximo de traba- lho? E como poderão elles trabalhar si estão opilados ? O periodo de maior desenvolvimento physico e intellectual é o da adolescência, mas como se poderá processar essa evo- lução si esses indivíduos estão anemiados e parasitados? Os inimigos da Prophylaxia que o são também da saúde do povo não deviam ignorar que o regulamento ein vigor manda sanear primeiramente os Municípios mais ha- bitados, mais attingidos pelas endemias, e de maior riqueza economica! Pois é o que estabelece o artigo 990 do regu- lamento sanitario no seu paragrapho 10.Io. Ainda no Municipio da capital fôram examinados 6.932 brancos com 5.574 infectados ou 80,4%; 17.480 mestiços com 13.128 infectados ou 75,1 % e 1.858 negros dos quaes 1.618 infectados ou sejam 87% Vejamos agora a frequência da ancylostomose nos demais Municípios: Bragança 3.229 exames com 1.928 posi- tivos ou 59,6%; Igarapé-assú e Quatipurú 4.409 exames e destes 4.260 positivos ou 96,6%; Vizeu e Gurupy 1.067 e 868 positivos ou 81%; Salinas 423 exames e 247 positivos ou sejam 58,4%, que é a mais baixa infecção verificada em todo o Estado; Marapanim com 895 exames e destes 853 positivos ou 95,3%; Curuçá 1.107 exames e destes 1.041 positivos ou 94%; Soure 1.628 exames e 1.138 positivos ou 69,9%; Chaves 602 exames e destes 555 positivos ou 92,2%, e Município de Montenegro (comprehendendo o Oyapock) 973 exames e destes 799 positivos ou 82%. Os Municípios em melhor condição sanitaria de todo o Estado são como se vê no quadro n. 2, Salinas, Bragança e Soure. Ahi a frequência da ancylostomose não attinge 2/3 do gráo de incidência dos outros Municipios, nem tam- bém o impaludismo dizima os seus habitantes como nos demais. Em qualquer paiz da Europa que fosse verificada a frequência da ancylostomose na porcentagem 10% em uma determinada região, seria isso motivo para adopção de ri- gorosas medidas prophylacticas, e, entretanto, nós somos obrigados a considerar «salubres», dentro deste Estado, logares com 50 e 60% da sua população infectados pelos ancylostomos! Vejamos agora a frequência da ancylostomose em 5 grupos de indivíduos de edades differentes: De 0 a 5 annos 6.895 examinados e 4.413 infectados ou 64%; de 6 a 18 annos 16.650 examinados e 14.285 infectados ou 85,8%; de 19 a 40 annos 15.103 examinados e 12.382 infectados ou 82%; de 41 a 60 annos 5.197 examinados e 3.807 positivos ou 73,25%; acima de 60 annos 981 examinados e 597 positivos ou 60,85%. Total geral 44.836 examinados e 35.484 infectados ou 79,14%. Quiz verificar também o gráo de infecção pelos ancylostomos nas diversas raças, obtendo os seguintes dados: de 11.255 brancos examinados estavam infectados 8.918 ou 79,23%; de 26.372 mestiços examinados estavam infectados 20.459 ou 77,57 °/0; de 2.441 pretos examinados estavam infectados 2.112 ou 86,52 °/0. Examinei também 102 indios no Alto Gurupy, encontrando todos elles infectados. SEDE DE POSTOS E LOGABES INSPECCIONADOS 0 a 5 annos De 6 a 18 annos De 19 a 40 annos u 4 a 60 annos Acima de 60 annos TOTAL S ei X w Posit. % Exam. Posit. % Exam. Posit. 0/ lo i X w Posit. 01 lo S ct X W Posit. % s c3 X w Posit. % Oswaldo Cruz, Souza 1.146 750 65,44 2.541 2.324 91,46 2.586 2.188 84,60 933 706 75,66 162 116 71,60 7.368 6.084 82,571 Belisario Berma, Pedreira, 1.981 1.277 64,46 4.407 3.840 87,13 3.806 3.208 84,28 1.171 866 73,95 191 108 56,54 11.556 9.299 80,46 Carlos Chagas, Mosqueiro. 358 257 71,78 889 801 90,10 1.146 1.069 93,28 706 605 85,69 151 106 70,19 3.250 2.838 87,321 Souza Castro, Bragança... 429 213 49,65 1.204 885 73,50 1.123 649 57,79 371 144 38,81 102 37 36,27 3.229 1.928 59,70 Miguel Pereira, S.ta Izabel. 607 360 59,30 1.539 1.240 80,57 1.493 1.169 78,29 475 320 67,36 84 50 59,52 4.198 3.139 74,77 Commissao arabt.6 (e.f.b.). 501 427 85,22 1.678 1.653 98,51 1.683 1.650 98,03 486 472 97,11 61 58 95,08 4.409 4.260 96,62 Amblt.rio do Inst. deHyg.. 799 418 52,31 1.890 1.337 70,74 1.084 562 51,84 307 107 34,85 41 11 26,82 4.125 2.435 59,08 Vizeu 128 83 64.84 278 242 87,05 323 265 82,04 115 75 65,21 27 10 37,03 875 6^5 77,49 : Alto Gurupy 18 17 94,44 66 65 98,46 79 78 98,73 28 28 100 5 5 100 196 193 98,46 Salinas.. 78 26 33,33 146 91 62,32 138 97 70,28 40 20 50 21 13 61,90 423 247 58,39 Marapanim 145 134 92,41 332 319 96,08 285 277 97,19 110 102 92,72 23 21 91,30 895 853 95,30 Curuçá 178 149 83,70 431 424 98,37 354 333 94,01 123 116 94,30 21 19 90,47 1.107 1.041 94,03 i Soure 283 127 44,87 684 527 77,04 448 345 77,04 171 123 71,92 42 16 38,09 1.628 1.138 69,90 S Chaves 95 80 84,21 236 221 93,64 194 181 93,29 60 00 93,35 18 17 100 602 555 92,19 Montenegro (Amapá) 114 81 71,05 252 246 97,65 1 248 209 84,27 66 42 63,63 19 6 31,57 699 584 83,54 Oyapock (Cleveland) 35 14 40,0 77 70 90,90 113 102 82,92 35 25 71,42 14 4 28,57 274 215 98,461 6.895 4.413 64% 16.650 14.285 85,79 5.103 12.382 81,98 5.197 3.807 73,25 981 597 60,85 44.836 35.484 79,14 QUADRO N. 3 FREQUÊNCIA DA ANCYLOSTOMOSE POR EDADES SÉSE SE POSTOS E LOGARES Brancos Mestiços | Negros ii índios INSPECCIONADOS Exame Positivo 0/ 1 10 Exame j Positivo | % Exame Positivo % Exm.| Posit.) % i Osivaldo Cruz, Souza... 2.525 1.957 77,50 4.413 3.747 84,90 430 340 [ 79,06 1 1 Belisario Penna, Pedreira 2.896 2.477 85,53 7.750 5.089 65,66 808 732 90,59 i Carlos Chagas, Mosqueiro...... 452 379 83,84 2.349 2.052 87,35 449 408 90,86 i Souza Castro, Bragança 1.052 564 53,61 2.099 1.317 62,TA 78 47 60,2o \Miguel Pereira, Santa Izabel.. 1.059 761 71,86 2.968 2.240 75,47 171 138 80,701 í Commissão ambulante (E. F. B.) 768 750 97,65 3.521 3.394 96,39 120 116 96,66 1 Yizeu iAlto Gurupy 315 38 215 35 68,25 94,73 380 21 303 21 79,73 ÍOO 81 35 55 35 67,90 100 102 102 100 Salinas 119 67 56,30 299 177 59,19 5 3 60 Marapanim 460 438 95,21 378 360 95,23 3 3 100 Curuçá - 342 317 92,69 452 431 95,35 29 29 100 I i Soure 611 443 72,50 935 630 67,37 82 65 79,26 i Chaves 150 142 94,66 378 343 90,74 74 70 94,59 1 Montenegro (Amapá) 320 260 81,25 341 286 83,87 38 38 100 Oyapock (Clevelancl) | 148 113 1 76,35 88 69 78,40 38 33 86,84 11.255 | 8.918 79,23 26.372 20.459 77,57 2.441 2.112 86,52 1102 102 1100 FREQUÊNCIA DA ANCYLOSTOMOSE NAS DIVERSAS RAÇAS QUADRO N. 4 c) Ascaridíose Vemos no quadro n. 2 que de 45.713 pessoas exami- nadas 44.099 estavam infectadas pelo Ascaris lumbricoides ou sejam 96,46 0/.o Esses números representam os totaes absolutos. O gráo de ipfecção é quasi egual em todos os Jogares onde trabalhámos. Pelo quadro n. 5 verificamos que em 6.895 creanças de 5 annos para baixo encontrámos 6.366 infectadas pela lombriga, portanto 92,32 7.,; na edade de 6 a 18 annos, examinados 16.650 com 16.230 infectados ou 97,47°/0; de 19 a 40 annos 15.103 examinados com 14.765 injfectados ou 97,76 0/o, que é a porcentagem mais alta, em adultos de 19 a 40 annos, quando é noção generalizada que as ascáridas atacam preferentemente a infanda; de 41 a 60 annos 5.197 examinadas com 4.987 infectadas ou 95,76%, e de 981 pessoas com mais de 60 annos, ainda encontrámos 908 atacadas por esses vermes (92,66 °/0). Quadro n. 6—Em 11.255 pessoas brancas examinadas 10.746 estavam infectadas pelas ascáridas, o que corresponde a 95,47 °/0. Esta infecção elevou-se um pouco nas outras raças, assim, temos: de 26.372 mestiços examinados revela- ram-se infectados 25.640, ou sejam 97,22 °/0; de 2.441 negros 2.365 estavam infectados, portanto, 96,88 °/0 e de 102 indios examinados 98 infectadas ou 96 %. SÉDE DE POSTOS E LOGARES INSPECCIONADOS 0 a 5 annos De 6 a 18 annos De 19 a 40 annos i De 41 a 60 annos de Acima 60 annos TOTAL à ei * w 1 0/ lo g X W ’oo O Cu % g d X w CO O fu 0/ fo s CTÍ X M « ô a, 0/ lo S CS X «... OQ O o, 0/ /o à ei X W '5 (S °l lo Oswaldo Cruz, Souza 1.14b 1.041 90,83 2.541 2.476 97,44 2.586 2 545'98,41 933 895 94,85 162 156 96.29 7.368 7.11,3 96,53 Belisario Penna. Pedreira. 1.981 1.876 94,69 4.407 4.246 96,34 3.806 3 710 97,47 1.171 1.123 95.90 191 166 86.91 11.556 11.121 96,23 Carlos Chagas, Mosqueiro. 358 322 89,941 889 877 97,55 1.146 1.132 98,77 706 689 97,59 151 144 95,36 3.250 3.164 97,35 Souza Castro. Bragança... 429 357 83,21: 1.204 1.181 98,08 1.123 1.108 97,60 371 366 98,65 102 101 99.01 3.229 3.113 96,40 Miguel Pereira S.ta Izabel. G07 547 90,11! 1.539 1.476 95,90 1.493 1.439 96,38 475 446 93,89 84 73 86,9 4.198 3.981 94,83 Commissão ambt.e ( e. f. b ). i 501 481 96,00 1.678 1.677 99,94! 1.683 1.675 99,52 486 485 99,79 61 61 100 4.409 4.379 99,31 Amblt.rio do Inst. de Hyg.. 799 753 94,24 1.890 1.842 97,50 1.084 1.026 94,64 307 264 85,99 41 35 85,36 4.121 3.920 95,12 Vizeu 128 117 91,40i 278 270 97,12 323 310 95,97 115 115 100 27 27 100 871 839 96.32 Grurupy 18 18 100 66 64 96,96 79 77 97,46 28 26 92.85 5 5 100 196 190 96,93 Salinas 78 74 94,87 146 143 97,94 138 135 97.82 40 38 95 21 20 95,23 423 410 96,92 Marapanim 145 143 98,62 332 330 99,39 285 283 99,29 110 109 99.09 23 22 95,65 895 887 99,10 Cu ruça 178 172 96,62 431 425 98.60 354 344 97,17 123 120 97,56 21 20 95,23 1.107 1.081 97,56 Soure 283 246 86,92 684 678 99,12 448 438 97.76 171 160 93,56 42 40 95,23 1.628 1.562 95,94 Chaves 95 88 92,63 236 234 99,15 194 189 97,42 60 56 93,33 17 16 94,11 602 583 96,84 Montenegro (Amapá) 114 103 90.35 252 252 100 248 243 97.98 66 66 KKJ 19 18 94.73 699 682197,56 Oyapock (Cleveland) 35 28 80 ' ‘ 59 76,62 113 111 98.23 35 29 82.85 14 4 28,57 274 231 84.30 0.895 6.366 92,32 16.650 16.230 97,47 15.103 1 14.765 97.76 5.197 4.987 95.95 " !981 908 92,56 44.826 43.256 96.47 QUADRO N. 8 FBEQIENCIA UA ASCARMUOSE POR EDADES 352 1 SÉDE DE POSTOS E LOGARES INSPECCIONADOS Brancos Mestiço Negros índios Exame Positivo 1 0/ lo 1 Exame Positivo % Exame Positivo % Exm. Posit. % Oswaldo Cruz, Souza 2.525 2.410 95,44 4.413 4.294 97,30 430 391 90,93 Belisario Penna, Pedreira 2.896 2.810 97,03 7.750 7.505 96,83 808 806 99,75 Carlos Chagas, Mosqueiro 452 432 95,57 2.349 2.291 97,53 449 441 98,66 Souza Castro, Bragança 1.052 975 92,68 2.099 2.062 98,23 78 76 97,43 Miguel Pereira, Santa Izabel. 1.059 986 93,10 2.968 2.829 95,31 171 166 97,07 Commissão ambulante (E.F.B.) 768 763 99,34 3.521 3.496 99,28 120 120 100 Vizeu . 315 278 88,25 380 366 96,31 81 70 86,41 Alto Gurupy 38 37 97,36 21 21 100 35 34 97,14 102 98 96,07 Salinas 119 112 94,11 299 293 97,99 5 5 100 Marapanim 460 454 98,69 378 376 99,47 3 3 100 | Curuçá 342 331 96,78 452 431 95,35 29 29 100 1Soure 611 573 93,78 935 907 97 82 82 100 Chaves 150 146 97,33 378 365 96,56 74 73 98,64 Montenegro (Amapá) 320 317 99,06 341 328 96,18 38 37 97,36 Oyapock (Cleveland) i 148 122 82,43 88 76 86,36 38 32 84,21 11.255 10.746 95,471 26.372 j25.640 97,22 ! 2.441 2.365 97,29 102 98 96,07 FREQUÊNCIA DA ASCARIDIOSE NAS DIVERSAS RAÇAS QUADRO N. 6 d) Trichnriose Os quadros 7 e 8 mostram o alto gráo de infecção das populações do Pará pelo Trichuris trichiura, um dos mais resistentes helminthos a todos os processos therapeuticos. Temos verificado neste serviço algumas centenas de pessôas já tendo sido medicadas 4 vezes e mais pelo oleo de che- nopodio, e entretanto as suas fézes continuam a mostrar a presença de ovos de tricocephalo. Pelo quadro n. 2 vemos que de 45.713 pessôas examinadas 39.745 tinham Trichuris trichiura, ou seja approximadarnente 87 % o gráo geral de infecção, incidência muito elevada. Distribuindo essa infecção por edades, temos: pessôas examinadas de 0 a 5 annos 6.895 das quaes 5.269 infectadas ou 74 %; de 6 a 18 annos 16.650 examinadas eram 15.115 infectadas ou 90,8 °/0; de 19 a4O annos 15.103 examinadas e 13.358 infectadas ou 88,4 °/„; de 41 a 60 annos 5.197 exa- minadas e 4.437 infectadas ou 85,5 %; acima de 60 annos, 981 examinadas e 773 infectadas ou 78,8 %. A mesma infecção distribuída pelas raças apresenta as seguintes incidências: brancos 85,5 %, mestiços 86,9 %, pre- tos 91,6 % e indios 57,8 Interessante este facto da mi- nha observação a ancylostomose attingiu entre os indios 100 °/0 de frequência e a trichuriose apenas 57,8 °/0 quando esta ultima helminthose no computo geral é 7,7 % mais frequente que a necatoriose. e} Estrongylose A estrongylose atacava apenas 4.161 pessôas das 45,713 examinadas, ou sejam 9,10 %• Estudando a sua distribui- ção nas differentes edades e raças temos: em pessôas de 0 a 5 annos 6,42 %; de 6 a 18 annos 11,9 °/„; de 19 a 40 annos 8,17 °/0; de 41 a6O annos 6,36 % e acima de 60 an- nos 5,9 %. Na raça branca atacava 7,16 % das pessoas examinadas; nos mestiços 9,77 %; nos negros 13,64 °/„ e nos indios 29,4 °/0. SÉDE DE POSTOS E LOGAEES INSPECCIONADOS 0 a 5 annos De 6 a 18 annos De 19 a 40 annos De 41 a 60 annos Acima de 60 annos TOTAL à X w O % à c* X m Posit. % à eS * W •H CO O fk 0/ lo Exanx. CO O PM 0/ /o Exam. CO O PM % ! à c« X W O çu % j Oswaldo Cruz, Souza 1.146 873 76,17 2.541 2.398 94,37 2.586 2.361 91,29 933 834 89.38 462 148 91,35 7.368 6.614 89,75 j Belisario Penna, Pedreira. 1.981 1.624 81,97 4.407 4.141 93,96 3.806 3.493 91,77 1.171 1.057 90,26 191 156 81,67 11.556 10.471 90,61 1 Carlos Chagas, Mosqueiro 358 284 79,32 889 837 94,15 1.146 1.116 97,38 706 652 92,35 151 136 90,06 3.250 3.025 93,071 Souza Castro, Bragança... 429 196 45,68 1.204 787 65,36 1.123 664 59,21 371 187 50,40 102 47 46,07 3.229 1.881 58,25 Miguel Pereira, S.ta Izabel 607 395 65,07 1.539 1.295 84,14 1.493 1.235 82,71 475 354 74,52 84 60 71,42 4.198 3.339 79,53 | Commissão ambt.e (e.f.b.). 501 444 88,62 1.678 1.642 97,85 1.683 1.639 97,38 486 478 98,35 61 58 95,08 4.409 4.261 96,641 Amblt.rio do Inst. de Hyg.. 799 634 79,34 4.890 1.771 93,70 1.084 968 89,29 307 259 84,36 41 33 80,48 4.121 3.665 88,93: Vizeu 128 69 53.90 278 197 70,86 • 323 219 67,80 115 63 54,78 27 13 48,14 871 561 64,40 Alto Grurupy 18 15 83,33 66 44 66,66 79 52 65,82 28 18 64,28 5 4 80 196 133 67,851 Salinas 78 21 26,92 146 39 26,71 138 31 22,46 40 5 12,50 21 4 19,04 423 100 23,64 Marapanim 145 138 95,17 332 315 94,87 285 270 94,73 110 105 95,45 23 20 86,95 895 848 94,741 1 Curuçá 178 154 86,51 431 412 95,59 354 338 95,48 123 112 91,05 21 20 95,23 1.107 1.036 93,581 Soure. 283 997 80,21 684 682 90,70 448 443 98,88 171 170 99,41 42 42 100 1.628 1.564 96,06 Chaves j 95 88 92,63 236 235 99,57 194 192 98,91 60 59 98,33 17 17 100 602 591 98,171 Montenegro (Amapá) 114 81 71,05 252 248 98,41 248 234 94,35 66 58 87,87 19 12 63,15 699 633 90,551 i Oyapock (Cleveland) 35 26 74,28 77 72 93,50 113 103 91,15 35 26 74,28 14 3 21,42 274 230 83,941 6.895 5.269 74,05 16.650 15.115 90,78 5.103 13.358 88,44 5.197 1 4.437 85,54 981 773 78,79 44.826 38.952 86,901 FREQUÊNCIA DA TRICHURIOSE POR EDADES QUADRO N. 7 355 SEDE DE POSTOS E LOGABES INSPECCIONADOS ! Brancos Mestiços Negros índios Exame Positivo % Exame Positivo 7o Exame j Positivo % Exm. Posit 0/ 1 10 i —— • Osivaldo Cruz, Souza Belisario Penna, Pedreira 2.525 2.232 88,39 4.413 4.012 90,91 430 380 88,37 2.896 2.742 91,82 7.750 6.955 89,74 808 774 95,79 Carlos Chagas, Mosqueiro 452 410 90,70 2.349 2.183 92,93 449 432 96,21 Souza Castro, Bragança. 1.052 590 56,08 2.099 1.236 58,88 78 55 70,51 Miguel Pereira, Santa Izabel. 1.059 835 78,84 2.968 2.361 79,54 171 143 83,62 Commissão ambulante (E. F. B.) 768 753 98,04 3.521 3.391 96,30 120 117 97,50 Yizeu 315 186 59,04 380 256 67,36 81 47 58,02 Alto Gurupy 38 30 78,94 21 16 76,19 35 28 80, 102 59 57,84 Salinas 119 42 35,29 299 55 18,40 5 3 60, Marapanim 460 434 94,34 378 364 96,29 3 3 100 Curuçá 342 320 93,56 452 418 92,47 29 29 100 Soure 611 577 94,43 935 903 96,57 82 82 100 Chaves 150 146 97,33 378 371 98,14 74 74 100 Montenegro (Amapá) 320 288 90, 341 310 90,90 38 35 92,10 Oyapock (Cleveland) 148 120 81,08 88 77 87,50 38 35 92,10 j • 11.255 9.703 85,54 26.372 22.908 86,86 1 2.441 2.237 91,63 ' 102 59 57,84 FREtJUENEIA DA TRICHURIOSE NAS DIVERSAS RAÇAS QUADRO N. 8 SÉDE DE POSTOS E LOGAEES INSPECCIONADOS 0 a 5 annos De 6 a 18 annos De 19 a 40 annos De 41 a 60 annos I de Acima 60 annos • TOTAL 1 á trS X 1 w O PM 0/ IO S X W -♦-1 cn O P* % s d X W -M O % á d X W O 0/ ío S d X W •fH CO 0 01 0/ /o j 1 a cô X w CO O % Oswàlão Cruz, Souza i.i u; 74 6,45 2.541 322 12,67 2.586 185 7,15 933 50 5,35 162 12 7,40 7.368 643 8,72 Belisario Penna, Pedreira. 1.981 112 5,65 4.407 426 9,66 3.806 254 6,67 1.171 79 6,74 191 12 6,28 11.556 883 7,64 | Carlos Chagas, Mosqueiro. 358 45 12,56 889 184 16,64 1.146 127 11,08 706 62 8,77 151 16 10,59 3.250 398 12,24 Souza Castro, Bragança... 429 7 1,63 1.204 33 2,74 1,123 30 2,67 371 10 2,69 102 1 0.98 3.229 81 2,50 Miguel Pereira. S.taIzabel. 607 30 4,94 1.539 100 6,49 1.493 92 6,16 475 23 4,84 84 6 7,14 4.198 251 5,97 Com missão ambt.e ( e.f.b ). 501 93 18,42 1.678 588 35,04 1.683 331 19,66 486 59 12,13 61 4 6,15; > 4.409 1.075 24,381 Amblt.rio do Inst. de Hyg.. 1 799 56 7, 1.890 270 10,95 1.084 65 5,94 307 14 4,56 41 — — 4.121 342. 81,29 Vizeu 128 3 2,34 278 12 4,31 323 9 2,78 115 7 6.08 27 — — 871 3ll 3.55 Gurupy 18 5 27,77 66 14 21.21 79 20 25,31 28 9 32,14 5 1 20 196 49 25,0 ! Salinas 78 — 146 4 2,73 138 2 1.44 40 — — 21 — — 423 6 1,41 Marapanim 145 7 4,82 332 33 9,93 285 45 1.5,78 110 6 5,45 23 1 4,34 895 92 10,27 Curuçá 178 — — 431 16 3,71 354 15 4,23 123 1 0,81 21 — — 1.107 32 2,69 Soure 283 4 1,41 684 26 3,80 448 13 2,90 171 3 1,75 42 — — 1.628 46 2 891 Chaves 95 3 3,15 236 11 4,66 194 \ O 2,57 60 1 1,66 17 2 11,76 602 22 3.65 Montenegro (Amapá) 114 3 2.63 252 34 13,49 248 20 8,06 66 3 4,54 19 í 5.26 699 61 4,43 Oyapock (Cleveland) 35 1 2,85 77 13 16,88 113 23 18,69 35 4 14,42 14 2 14,28 274 43 15,691 I 6.895 443 6,42 16.650 1.987 11,93 15.103 1.236 8,17 5.197 331 6,36 981 58 5,91 44.826 4.055 9,041 FREQEEXCIA DA ESTRONGYEOSE POR EDADES QUADRO N. 9 357 SÉDE DE POSTOS E LOCARES Brancos 11 Kestiços Negros índios l INSPECCIONADOS Exame j Positivo % Exame Positivo % | Exame Positivo % Exm. Posit. % Oswaldo Cruz, Souza 2.525 243 9,62 4.413 374 8,47 430 26 6,04 * Belisario Penna, Pedreira 2.896 207 7,14 7.750 609 7,85 808 67 8,29 Carlos Chagas, Mosqueiro Souza Castro, Bragança Miguel Pereira, Santa Izabel.. Commissão ambulante (E. F. B.) 452 1.052 1.059 20 26 40 4,42! 2,47 3,77 2.349 2.099 2.968 297 52 197 12,64 2,47 6,68 449 78 171 81 3 13 18,04 3,84 7,6 768 134 17,44 3.521 917, 26,04 120 24 20, Vizeu Alto Ourupy 315 14 4,44 380 7 1,84 81 1 1,22 38 119 8 2 21,05 1,68 21 299 5 4 23,80 1,33 35 5 6 17,14 102 80 29,41 Marapanim Curuçá Soure Chaves 460 342 42 6 9,13 1,75 378 452 47 3 12,43 0,66 29 1 3,44 611 10 1,63 1 935 4 0,42 82 o 2,43 150 4 2,66 378 15 3,96 74 3 4,05 320 21 6,56 341 38 11,14 38 1 2,63 i Oyapock (Cleveland) 148 29 19,59 88 9 10,22 38 5 13,15 1 11.255 806 7,16 26.372 2.578 9,77 2.441 233 13,64 ii 102 30 29,41 FREQUÊNCIA DA ESTRONGl'ROSE NAS DIVERSAS RAÇAS QUADRO N. 10 f) Outras helminthóses A enterobiose é aqui, como nos Estados do Sul, pouco frequente, facto que tem toda explicação na sua própria epidemiologia. Distribuindo pelos postos temos a seguinte frequência: Posto «Belisario Penna» 315; posto «Oswaldo Cruz» 197; posto «Souza Castro» 67; Instituto de Hygiene 103 ou 2,5 °/0; Vizeu e Gurupy 10; Salinas 1; Marapanim 17; Cu- ruçá 8; Soure 7; Chaves 2; Montenegro 19 e Oyapock 4. A teniose é ainda menos frequente neste Estado. Foi veri- ficada apenas 2 vezes no Instituto de Hygiene; 2 em Soure; 1 em Oyapock e outra no Gurupy. g) Associação de vermes O quadro n. 11 mostra as vezes em que encontrámos as differentes helminthóses associadas. A associação aqui chamada de triângulo A. N. T. foi verificada 28.424 vezes em 45.713 primeiros exames copro- logicos. No fim da primeira série de medicações esse triân- gulo é desfeito com o desapparecimento do Necator. Exames da taxa de hemoglobina Pelo quadro n. 12 vê-se que nos diversos postos fixos e ambulantes fôram feitos 43.048 exames de sangue pelo methodp Tallquist, para verificação do gráo de anemia da população rural, obtendo-se como média geral 51,7 %. E’, como se vê, muito baixa esta média geral, e isto indica a acção altamente deleteria das endemias sobre os organismos dos nossos patricios. Por um exame rápido do quadro n. 12 verifica-se que a mais baixa média, 39,35 °/o>. se refere á Estrada de Ferro de Bragança, e obtida dum total elevado de exames—-6.663. Dois factores se associaram ahi para produzir tão grave baixa da porcentagem de hemoglobina nos habitantes mar- ginaes daquella via ferrea: um as verminoses, que além de endemicas na região atacam o total da população, e outro, o impaludismo que, na occasião dos trabalhos da Commis- são ambulante dizimava sob a forma de uma terrivel epi- demia, Noutros logares de ancylostomose endemica e com a mesma extensão que ahi se verificou, como por exemplo em Marapanim, sem a acção concomittante do impaludismo epidemico, obtivemos a média de 54°/0 de hemoglobina, portanto, cerca de 15 grãos a mais que na região da Es- trada de Ferro. Em ordem ascendente vem depois Prainha, onde a média da hemoglobina foi de 41,7 °/0. Ahi também a si- tuação sanitaria da população é gravíssima, pois ella é atacada em egual intensidade pelos dois maiores flagellos dos nossos campos: a inalaria e a ancylostomose. Soure, Chaves, Curuçá, Santa Izabel e o bairro da Pedreira estão em egualdade de condições: as médias geraes de hemoglo- bina não attingiram a 58 °/0! Pelos segundos e terceiros exames de sangue, realizados apóz uma e duas séries de medicações, estamos verificando a subida gradual das médias de hemoglobina a 55, 60 e 65°/0. Dei ordem aos directores dos postos sanitários «Os- valdo Cruz», «Belisario Penna» e «Carlos Chagas», que são os mais antigos, para que iniciássemos o fechamento das zonas A, B e C de cada um delles. No proximo re- latório, que será do 2.° semestre de 1922, apparecerá, espero convicto, considerável melhoria do estado sanitario da po- pulação dessas zonas. Nas pessoas que se acham submettidas a duas séries de medicações contra as verminoses e estejam curadas do impaludismo, conto vêr a taxa de hemoglobina subir a 70°/ o e ahi permanecer desde que sejam afastadas as pos- sibilidades de reinfecções. QUADRO N. 11 ASSOCIAÇÕES DE VERMES Necator, Ascaris e Trichnris 28.424 Ascaris e Trichnris 5.484 Necator, Ascaris, Trichnris, Estrongyloides 3.956 Necator e Ascaris 2.244 Necator, Ascaris, Trichnris e Oxyuros 964 Necator e Trichnris 328 Necator, Ascaris, Trichnris, Estrongyloides e Oxyuros.. 117 Necator, Ascaris e Estrongyloides ; 98 Necator, Ascaris e Oxyuros 44 Necator, Trichnris e Estrongyloides 22 Ascaris, Trichnris e Oxyuros 18 Necator e Estrongyloides .' 16 Ascaris, Trichnris e Estrongyloides 16 Necator, Trichnris e Oxyuros 14 Necator e Estrongyloides.' 13 Necator, Ascaris, Trichnris e Tíenia Solinm 12 Ascaris e Oxyuros 4 Necator e Oxyuros ; 3 Trichnris e Estrongyloides 3 Trichnris e Oxyuros 2 Necator, Ascaris, Trichnris e Tíenia Saginata 2 Trichnris e Tíenia Solinm 2 Ascaris, Estrongyloides e Schistosoma 1 Ascaris e Tíenia Solinm 1 Necator, Ascaris e Tenia Solinm 1 Necator, Ascaris e Trematodeo 1 Ascaris, Trichnris e Schistosoma ] Ascaris, Trichnris, Estrongyloides e Oxyuros 1 Necator, Ascaris, Trichnris, Estrongyloides e Trematodeo 1 U. de vezes Vermes isolados OBSERVAÇÃO Ascaris • 2.793 Trichnris 478 Necator.... 89 Estrongyloides . 4 Tsenia Solinm 3 ()xyuros . 2 Trematodeo indeterminado . 1 Amebas. 14 Balantidinm coli 7 Pessoas isentas Negativos absolutos..., 527 Protozoários SÉDE DE POSTOS E 1.0GARES INSPECCIONADOS Recen- seados N. de exa- minados Média P. C. Abaixo de 70°/o COM ANCYDOSTOMOS SEM ANCYEOSTOMOS MÉDIAS ZONAS N. de exames Taxa média N. de exames Taxa média [ Osivaldo Cruz, Souza 10.506 7.490 56,61 6.714 3.266 56,09 1.497 75,76 1 Belisario Penna, Pedreira....! 13.135 7.873 47,95 6.925 6.414 45,79 603 48,95 ; Carlos Chagas, Mosqueiro.... 5.110 3.748 52,63 2.920 1.977 53,41 | 1.096 56,39 i Souza Castro, Bragança 6.499 5.929 54,41 5.929 1.935 54,71 1 1.615 57,15 Miguel Pereira, Santa Izabel 6.307 3.806 46,21 3.649 1.764 48,21 1 576 52,57 Commissão ambulante (E.F.B.) 21.340 6.663 39,35 6.625 1.762 41,26 62 55 Vizeu 1.464 1.151 55,42 896 599 55,81 i 154 81,07 ! Alto Gurupy 387 319 59,75 207 183 59,28 2 60 Salinas 821 628 55,21 340 226 58 174 60,94 1 Marapanim 1.010 608 54 522 523 53,23 26 52,88 Curuçá 1.352 777 46,71 709 625 46,10 36 46,10 Soure 1.897 1.687 45,95 1.618 936 42,77 264 44,86 Chaves 704 676 46,59 674 555 39,71 41 43,78 Oyapock (Cleveland) 330 232 68,5 180 165 68,48 44 67,50 ; Prainha 455 -455 41,7 444 — — Montenegro (Amapá) 747 747 62,50 596 585 58,19 109 59,26 S. Miguel do Guamá 803 259 44, 229 72.867 43.048 51,7% 39.179 21.160 52,14 6.292 55,99 EXAMES 1> A TAXA HEMOGLOBINA QUADRO N. 12 Tratamento das helminthóses Pelo quadro n. 13, que vae abaixo, dou a demonstra- ção do numero de medicações dadas durante o anno findo contra as helminthóses em geral, as quaes attingiram á bella cifra de 104.860, assim discriminadas: primeira vez 57.714; segunda vez 25.531; terceira vez 12.943; quarta vez 6.274; quinta e mais vezes 2.398. Os medicamentos empre- gados fôram: oleo de chenopodio. em grande escala, talvez 90°/ o das medicações dadas e thymol, encapsulado com lactose, ambos elles adquiridos da Commissão Rockefeller, O chenopodio se mostrou bastante activo no combate á ancylostomose, em primeiro logar, em segundo á ascári- diose e pouco efficaz na trichuriose. Considerações mais amplas sobre a therapeutica das helminthóses farei opportunamente; por agora devo apenas informar que me parece muito conveniente empregar-se o thymol pelo menos duas vezes apóz a primeira série de 4 medicações pelo chenopodio. Pelo quadro n. 13 vê-se bem que ainda não adheri ao partido dos prophylactas que de- fendem o emprego de duas únicas medicações contra as verminoses. Para uma região como esta, onde a maioria dos ancylostomosados é grandemente infectada, esses dois tratamentos pouquíssimos ou nada adeantam. Installado o Posto tanto faz dar-se 2, como 4 ou 6 medicações: a des- peza pouco augmenta, porque numa grande zona rural o serviço completo nunca fica prompto antes de um anno, incluindo-se a construcção de fossas, etc., e nesse periodo de tempo póde-se perfeitamente administrar 6 medicações a todas as pessoas recenseadas e nos doentes graves até duas séries completas. Não abandonei e não abandonarei a minha antiga orientação de mandar examinar systematicamente as fézes de todas as pessoas recenseadas nas zonas de serviço in- tensivo, porque acho ser isso da obrigação das Commissões Sanitarias, pois se essas commissões officiaes não fizerem o serviço mais perfeito possivel, quem o ha de fazer? Além disso onde os governos e as sociedades medicas encon- trarão números e dados exactos para a organização das suas estatísticas? Infelizmente é hoje tendencia muito generalizada nos serviços de prophylaxia do nosso paiz abandonar de vez os exames microscopicos ou fazel-os apenas em pequeno numero em cada região para terem uma idéa do grau de infecção dos seus habitantes. O povo não aprecia essa orientação. Começámos aqui o serviço systematico e intensivo tão perfeito e exigente quanto possivel, de passo que o povo adquiriu a noção firme da necessidade de taes exames e não se submette a tratamento sem primeiro conhecer o re- QUADRO N. 13 Medicações dadas contra as verminoses em geral durante o periodo de Junho de 1921 a Maio de 1022 POSTOS 1.* vez 2.a vez 3.a vez 4.a vez 5.a vez TOTAL 5.753 4.244 3.058 1.898 783 15.736 Belisario Penna, Pedreira. 8,114 5.196 3.203 1.897 602 19.012 Carlos Chagas, Mosqueiro 3.035 2.208 1.601 1.178 800 8.822 Souza Castro, Bragança 5.706 1.371 645 257 89 8.068 Miguel Pereira, Santa Izabel....... 3.770 1.489 486 111 4 5.860 Comrnissão ambulante (E. F. B.).. 20.800 8.106 3.165 623 111 32.805 Laboratorio Central 2.913 1.089 414 70 9 4.495 Vizeu 1.115 569 21 — — 1.705 Alto Gurupy 997 297 — — — 594 Salinas 979 - — - — — 979 Marapanim 599 3 — — — 602 Curuçá 187 245 — — — 432 Soure 1.194 — — — — 1.194 Chaves 454 218 — — — 672 Montenegro (Amapá) 607 110 35 — —' 752 Oyapock (Cleveland) 244 4 — — • — 248 Anajás 353 12 — — — 365 Ponta de Pedras 284 — — — — 284 Prainha 455 370 315 240 — 1.380 São Miguel do Guamá 855 — — — — 855 57.714 25.531 12.943 6.274 2.398 104.860 sultado do exame microscopico, que exige seja inscripto no seu cartão de matricula. Este facto indica que o povo está recebendo uma educação sanitaria proveitosa e se tornará cada vez mais exigente. Muitíssimas vezes tenho attendido a pessoas dos postos ruraes que vêm pessoalmente ao laboratorio saber o resul- tado do seu segundo exame de fezes, afim de vêr se deve ou não submetter-se á 2.a série de medicações. O exame do sangue para verificação da taxa da hemoglobina também é muito apreciado pelo povo que se habituou a assistil-o por occasião do censo sanitario e terminada a l.a série de tratamento pede um 2.° exame para saber se a sua anemia diminuiu, e muitas pessoas fazem questão de repetil-o dias apóz cada medicação. Porque não fazel-o então ? Si elle além do fim pratico que traz ainda serve de magnifico ele- mento de propaganda sanitaria ? Abandonar os exames de fézes e de sangue e reduzir o tratamento prophylactico a 2 únicas medicações—tornando o serviço absolutamente empi- rico, com o qual um povo mais ou menos instruído não concordará—é o caminho mais curto para a desmoralização dos serviços sanitários officiaes. Tenho sido censurado por desejar o serviço o mais perfeito possivel... O reconhecimento dessa minha exigencia é para mim bastante elogioso. Continuarei a incutir no espirito publico a necessidade de todos esses exames e tratamentos e farei e mandarei fazer sempre que possível serviço systematico rigoroso. Um, dois ou tres exames de fézes e de sangue, quatro, seis ou oito medicações contra as verminoses, são a base de uma campanha destinada a deixar resultados práticos evi- dentes. Duas medicações a um terço ou metade das pessoas recenseadas em cada zona, sem nenhum exame diagnostico —não é obra meritória... 2. —DO IMPALUDISMO Desejava estudar não só a frequência como também a distribuição geographica do impaludismo no Pará compara- tivamente com os dados climatologicos de cada região, tendo para esse fim conseguido da Directoria de Metereologia do Rio os mappas meteorologicos de Conceição do Araguaya e de Santarém; com alguns estudiosos consegui dados de Belém, de Soure, Alcobaça e Óbidos; e com o Musêo Goeldi os mappas de 22 annos de observações meteorológicas feitas em Belém, Procurei reunir grande cópia de dados e documentos afim de, apóz acurado estudo comparativo, me utilizar dos elementos que offerecessem mais garantia. Os dados obti- dos do sr. A. Romain, mediante pagamento, estavam eivados de erros e os do Musêo Goeldi também, de passo que re- solvi desprezar tudo quanto estava feito para fazer de novo. Com os dados seleccionados naquelle musêo e com os que me tiveram a bondade de fornecer os distinctos engenhei- ros Santa Rosa e Palma Muniz, espero fazer esse trabalho mais tarde. índice parasitario No correr do nosso primeiro anno de trabalho fôram feitos nos nossos laboratorios 8.200 exames hematologicos para diagnostico da plasmodiose de Laveran, dos quaes 8.627 positivos, sendo: Plasmodium vivax 1.772; Plasmo- dium falciparum 1.797; Plasmodium malarice 7; associa- ção dos dois primeiros 51. Estes dados figuram no quadro D, logo adeante. A distribuição geographica dos hematozoarios encontra- se no capitulo VIII e nos demais capítulos sobre condições medico-sanitarias de diversos districtos. O quadro A mos- tra o indice parasitario geral. QUADRO A Plasmodium vivax 401 ou 22,6 % 1.371 ou 77,4% Plasmodium falciparum 425 ou 23,7 % 1.372 ou 763, % Plasmodium malarice 3 ou 42,9 % 4 ou 57,1 % Associação dos 2 primeiros. 12 ou 23,5% 39 ou 76,5 % Total 841 ou 23,2 % 2.786 ou 76,8 % JUNHO A NOVEMBRO DEZEMBRO A MAIO Secca: de Junho a Novembro, Chuvosa: de Dezembro a Maio. Dos 1.772 Plasmodium vivax encontrados 22,6 % o fôram na estação secca, e 77,4 % na estação chuvosa. Dos 1.797 Plasmodium falciparum encontrados 23,7 % o fôram pa estação secca e 76,3 % na estação chuvosa. A frequên- cia de ambos foi approximadamente a mesma para cada um delles. A associação desses 2 plasmodios também foi observada na mesma proporção: na estação chuvosa tres rezes mais que na estação secca. O Plasmodium malarice foi encontrado apenas 7 vezes: 3 na estação secca e 4 na chuvosa. QUADRO B Estação secca Junho a Novembro de 1921 Infecções pelos: Plasmod. vivax Plasmod. falciparum CREANÇAS ADULTOS TOTAL CREANÇAS ADULTOS TOTAL Junho 21 29 50 75,7% 9 7 16 24,3% Julho 16 18 34 75,5% 5 6 11 24,5% Agosto 32 32 64 64,6% 15 20 35 35,4% Setembro 29 24 53 38,1% 43 43 86 61,9% Outubro 35 45 80 36,2% 72 69 141 63,6% Novembro... 61 59 120 46,8% 59 77 136 53,2% Total 194 207 401 48,5% 203 222 425 51,5% 48,3% 51,7% 47,8% 52,2% No quadro B eu mostro a frequência dos Plasmodia vivax et falciparum, em cada mez da estação secca: de Junho a Novembro, distribuídos entre adultos e creanças. Este quadro é muito interessante porque mostra o augmen- to constante do hematozoario da terçã maligna a começar de Agosto, e a Setembro já domina a terçã benigna. Exem- plo : em Junho dos exames positivos 75,7 % revelaram o Plasmodium vivax, e 24,3% o Plasmodium falciparum; em Setembro Plasmodium vivax 38,1% e Plasmodium falciparum 61,9 %. Entretanto no total geral esses dois parasitos quasi se equilibram: Plasmodium vivax 48,5 % e Plasmodium falciparum 51,5 %. Vejamos agora quanto ás edades dos doentes; Plasmodium vivax creanças 48,3 % e adultos 51,7 % Plasmodium falciparum » 47,8 % » 52,2 % Para o indice parasitario as creanças contribuíram com menor numero que os adultos. QUADRO C Estação chuvosa— Dezembro de 1921 a Maio de 1922 Infecções pelos: Plasmod. vivax Flasmod. falciparum CREANÇAS ADULTOS TOTAL CREANÇAS ADULTOS TOTAL Dezembro.... 43 50 93 33,8% 86 96 182 66,2% Janeiro 129 134 263 39,4% 173 231 404 60,6% Fevereiro.... 97 77 174 44,2% 111 109 220 55,8% Março 131 152 283 46,5% 123 202 325 53,5% Abril 142 107 249 65,0% 51 83 134 35% Maio 168 141 309 74,3% 46 61 107 25,7% Total ' 710 661 1.371 50% 590 782 1.372 50% , 51,8% 48,2% 43% 57% No quadro C estudo a frequência de cada um desses hematozoarios mez por mez da estação chuvosa, isto é, de Dezembro a Maio. Vemos ahi o Plasmodium falciparum dominando o terreno durante 4 mezes, de Dezembro a Março: Dezembro—Plasmodium vivax 33,8% e Plasmodium falciparum 62,2%. Março Plasmodium vivax 46,5 % e Plasmodium fal- ciparum 53,5 %. O mais interessante é que no total geral esses parasitos se equilibram: 50% cada um. Quanto ás edades vejamos a frequência das infecções: Plasmodium vivax: creanças 51,8 % e adultos 48,2%. Plasmodium falciparum: creanças 43 % e adultos 57 %. O quadro D resume todas as pesquizas e porcentagens de infecção. QUADRO D PLASMODIUM VIVAX PLASMODIUM FALCIPARUM Creanças....... 904 ou 51,02% 793 ou 44,13% Adultos 868 ou 48,98% 1.004 ou 55,8 % Total 1.772 ou 49,65 % 1.797 ou 50,35 % Resumo geral—Pessoas infectadas pelos: meiros—sl vezes. Plasmodium malarice—total 7. Associação dos 2 pri- índice esplenico Pelo quadro E vemos que de 12.979 pessoas examinadas 6.187 apresentavam baço palpavel, ou sejam 47,6%! Felizmente esta porcentagem não indica exactamente o índice endemico paludico da região, porquanto a maior parte dos exames foi feita em pessoas que fôram aos Postos porque se sentiam doentes de febre, suspeita de impaludismo. Também não é o indice esplenico rigoroso dos impalu- dados examinados porque nalgumas commissões visou-se o «indice endemico» tendo-se palpado o baço systematica- mente de todas as pessoas recenseadas. Como indice es- plenico dos impaludados a porcentagem é baixa, e como indice endemico paludico deve ser superior á realidade. Assim esses dados se referem á impaludados no Souza, Pedreira, Mosqueiro, Santa Izabel, (exames feitos por oc- casião de um sério surto epidemico), Estrada de Ferro de Bragança, Prainha e Bragança. Em Soure, Chaves, Mon- tenegro, Alto Gurupy, Oyapock e Instituto do Prata os exames fôram systernaticos visando o indice endemico. Nos tres últimos logares fiz pessoalmente taes exames. Considerando isoladamente a porcentagem de cada Posto, vemos quão grave é a situação sanitaria de certas regiões do Estado. Mesmo nos arrabaldes da Capital, as porcen- tagens de baços palpaveis attingem a 51 % para a Pedreira e 36,5% para o Souza, como se vê muitissimo elevadas, mesmo representando, como representam, indice esplenico exclusivamente dos paludados. E’ a prova de que a mala- ria é endemica nos suburbios de Belém. Para as altas por- centagens verificadas em Santa Izabel e Prainha, 69,9 % e 82,3 %, por cujas exactidões são responsáveis respectiva- mente os Drs. Geminiano Coelho e Paulo Baptista Rombo, só acho uma explicação—de serem esses logares de alta endemia paludica. Não contava haver no Estado logar onde o indice esplenico fosse superior ao alto Gurupy, ve- rificado por mim mesmo, mas agora por esses dados julgo ser a situação sanitaria do baixo Amazonas mais precaria que a de qualquer outra zona do Pará. Essa região reclama uma providencia que, por falta de recursos não pude attender durante o I,° anno de trabalho. QUADRO E LOGARES N. DE EXAMES POSIT. PORCEXT Posto «Oswaldo Cruz» (Souza) .... 1.143 417 36,5 % Posto «Belisario Penna» (Pedreira).... 1.220 623 51,0% Posto «Carlos Chagas» (Mosqueiro».. 934 311 33,3 % Posto «Miguel Pereira», (Santa Izabel) 1.442 1.009 69,9 % Commissão E. F. de Bragança 4.290 2.750 64,0 % Prainha 578 476 82,3 % Soure 1.295 156 12,0% Chaves 691 143 20,7 % Alto Gurupy 209 114 54,5 % Oyapock 191 46 24,0 % Bragança 114 50 43,8% Montenegro 747 62 8,3 % Instituto do Prata 125 30 24,0% Indice esplenico Total 12.979 6.187 47,6% A reacção de Wassermann no impaludismo 0 que acontece com o sôro dos paludicos em período de accesso—desapparecimento da alexina—acontece também com o dos doentes de escarlatina, resultando disso uma reacção de Wassermann positiva, embora essa positividade seja fugaz e de menor intensidade que na syphilis. Na phase mais intensa de pesquizas sôrologicas pelo methodo clássico de Wassermann ou pelas suas múltiplas modificações, uma grande pleiade de experimentadores pu- blicou innumeros trabalhos e estatisticas sobre a reacção de Wassermann no sôro de impaludados e cujos resultados hoje estão sendo «controlados» e corrigidos. Encontraram alta porcentagem de Reacção de Wasser- mann positiva em malaricos os seguintes auctores, segundo citação do Dr. Emilio Lorentz: Boehm 35%; Schoo 58%; Yalerio 40 % com extracto de baço paludico e de figado syphilitico; Merer e Bonfiglio 79 %; De Blasi 52 %; e outros 20, 18 e 16 %. Schueffner verificou uma grande differença na positi- vidade dessa reacção no impaludismo consoante a especie de antigeno empregado si extracto aquoso de figado sy- philitico 79 % e si extracto alcoolico 9 % !! As pesquizas mais recentes, isto é, destes últimos tem- pos, parecem offerecer resultados mais rigorosos. G. Mathis e P. Heymann empregando o methodo de Calmette e Massol tiveram resultado negativo com 21 sôros, 13 de paludosos da forma maligna, 5 da benigna e 3 da quartã. I. de Jong e Arthur Martin estudaram no Oriente du- rante a ultima guerra, 300 sôros de impaludados, só encon- trando Wassermann positivo quando havia syphilis «verifi- cada, declarada e antiga». Eu também quiz contribuir para a resolução desse ponto de pathologia experimental, por todos os motivos interessante. Fiz Reacção de Wassermann classica em sôros de paludosos, empregando como antigeno um extracto al- coolico de coração de vitello. Os resultados fôram os se- guintes : 19 reações em sôro de indivíduos com Flasmoclinm vivax no sangue: todas negativas. 6 reacções em sôros de impaludados chronicos, todos com exame microscopico do sangue negativo. Resultado : 1 positiva -)—[- e 5 negativas. 4 reacções em sôros de indivíduos com Plasmodium falciparum no sangue. Resultado: 1 positiva -f- + e 3 ne- gativas. 1 unica reacção com sôro de um indivíduo infectado com dois Plasmodia, o vivax e o falciparum: fortemente positiva (+ + ++)• Total de reacções: 30, com 3 positivas ou 10 %. Como interpretar este resultado ? A positividade da re- acção de Wassermann teria sido em consequência da infec- ção plasmodica, estando os indivíduos em periodo de franco accesso, resultando disso um desequilíbrio colloidal das albu- minas do sangue, sobretudo das suas glubolinas, ou porque se trata de indivíduos syphiliticos ? Prefiro optar pela segunda hypothese. Depois de cura- dos do impaludismo examinarei de novo a esses 3 indiví- duos, clinica e sôrologieamente, afim de vêr se elles têm ou não lues. Só no futuro poderei resolver esta incógnita. 3. —PROPHYLAXIA DE OUTRAS DOENÇAS Varíola Pelo quadro n. 14 vê-se que fizemos também um ser- viço considerável neste sentido. Era do meu desejo vêr vaccinadas ou revaccinadas todas' as pessoas recenseadas em cada secção do Serviço. Infelizmente isto não foi possivel: ora por falta de lympha em quantidade sufficiente e na maioria por falta de capri- cho ou verdadeiro interesse dos médicos e demais funccio- narios que trabalham no interior. Ha por toda a parte elementos retrógrados ou mal orientados que nunca estão dispostos a realizar um serviço perfeito. Insisto sempre pela vaccinação de todas as pessoas no acto do recenseamento, occasião em que é feito o seu exame clinico, de sangue (verificação da taxa de hemoglobina), ou colheita de sangue para diagnostico da malaria, etc, etc. Nada custa fazel-o, entretanto, poucos directores de postos cumpriram essa determinação. Por justiça cito o director do Posto «Belisario Penna», Dr. Dias Júnior, por- quanto os demais não tomaram egual interesse. A Commissão Ambulante da E. F. B. que recenseou e medicou a mais de 20.000 pessoas não chegou a vaccinar a decima parte delias. Assim também outras commissões. Incluo aqui 2.631 vacci- nações e revaccinações feitas na l.a quinzena de Junho ultimo, na villa do Pinheiro, por occasião do ultimo surto epidemico de variola, perfazendo um total de 19.919 vacci- nações e 6.716 revaccinações, portanto, 28.073 como total geral. Empregamos lympha vaccinica fornecida pelo Depar- tamento Nacional de Saúde Publica e pela filial do Instituto Oswaldo Cruz, do Maranhão, a cujo competente director, Dr, Cassio Miranda, muito agradeço o grande auxilio que nos prestou com tão bôa vontade. Aproveito a opportunidade para dar uma ligeira notí- cia do surto epidemico de variola occorrido ultimamente nesta capital, em cujo combate empenhamos o melhor do nosso esforço. No dia 22 de Abril ultimo, desembarcou nesta capital, vindo de Portugal, pelo vapor Hildebrand, um pas- sageiro de 3.a classe, accommettido de variola, o qual foi habitar a casa n. 3 da travessa São Pedro. Esse doente tratou-se occultamente. No dia 25 de Maio seguinte foi no- tificado a este Serviço um caso suspeito de variola na allu- dida casa acima. Na manhã seguinte fui acompanhado dos drs. Cyriaco Gurjão e Albino Cordeiro, respectivamente, director e inspector sanitario do Serviço de Hygiene Esta- doal, verificar o facto, que teve confirmação. Descobrimos também outro caso de variola que estava sendo tratado pelo Dr. Carmo Cardoso, havia 8 dias, sem ter feito notifi- cação, e na vespera déra-se o fallecimento da lavadeira desse doente, de variola hemorrhagica, segundo diagnostico do dr. Cyriaco Gurjão. O doente notificado foi recolhido ao Hospital S. Rocque, a cargo deste Serviço, no mesmo dia e multado em 5001000 o Sr. Dr. Carmo Cardoso, por in- fracção do art. 262 do Regulamento Sanitario Federal, cuja multa foi satisfeita dentro do praso legal. Na circumvizi- nhança do foco os guardas sanitários da Hygiene*Estadoal vaccinaram todos os habitantes. O dr. Cruz Moreira, director do Hospital S. Sebastião, deste Serviço, assistiu ao primeiro doente de variola, de 26 a 31 de Maio. A l.° de Junho contractei o Dr. Joaquim Paulo de Souza para dirigir o Hospital S. Rocque, o qual foi por nós preparado para receber outros variolosos, caso apparecessern, como appareceram. O primeiro doente foi isolado a 26 de Maio, mais 2 em 2 de Junho, 1 em 8, 2em 5, 4 em 11, 2 em 12, 1 em 16 e 1 em 17. Total 14, sendo: 7 adultos e 7 menores. Desses 14 doentes, 7 fôram removidos de Pinheiro, os 4 primeiros a 11 de Junho, tendo eu mesmo ido com outros auxiliares deste Serviço buscal-os. No dia 13 mandei os funccionarios do Serviço Carlos Hygino da Silva e Manoel Marques iniciar na villa do Pinheiro o ser- viço systematico de vaccinação anti-variolica. Tendo appa- recido outros doentes fiz seguir para aquella villa o medico contractado Dr. Pontes de Carvalho para dirigir o serviço de combate ao mal. Além de rigoroso serviço de policia sanitaria em Pi- nheiro, a Commissão chefiada pelo Dr. Pontes fez varias desinfecções e vaccinou de 13 a 21 de Junho a 2.631 pes- soas, sendo 1.754 vaccinações e 877 revaccinações, cujas pessoas ficaram registradas em livro especial do Serviço. Informa o Dr. Pontes em seu relatorio que a Commissão vaccinou a cerca de 700 pessoas na ponte de embarque e desembarque, e na estação da Estrada de ferro, sem tempo de registrar os seus nomes no livro competente. O serviço feito em Pinheiro foi o mais rigoroso e perfeito possivel. Tendo a Directoria Geral negado verba para o custeio das despezas com o combate á variola, fiz recolher-se a Commissão que estava prestando tão bons serviços em Pi- nheiro e dispensei a 22 de Junho o Dr. Joaquim Paulo, tendo a Hygiene Estadoal mandado o inspector sanitario Dr. Bruno Bittencourt proseguir os serviços de vaccinação e policia sanitaria naquella villa e confiado a direcção do Hospital de S. Rocque ao inspector sanitario Dr. Américo Campos. Desde esse dia a despeza com o pessoal desse hospital passou a correr por conta do Estado, e as demais —alimentação dos doentes, roupa, desinfecção, medicamen- tos, etc.,— por conta da Prophylaxia Rural. Restituímos o Hospital de S. Rocque ao Estado com 14 varioiosos, a 22 de Junho, tendo sido isolados mais alguns doentes depois dessa épocha. Por occasião desse surto epidemico mandei intensificar o serviço de vaccinação e revaccinação em to- dos os postos sanitários deste Serviço. QUADRO N, 14 Vaccinacçôes e Revaccinaçôes realizadas no período de Junlio de 1921 a Maio de 1922 PROPHYLAXIA D 4 VARÍOLA POSTOS Vaccinações Bevacc. Total Osivaldo Cruz, Souza Belisario Penna, Pedreira: 4.617 1.074 5.691 Serviço domiciliar 4.447 2.532 6.979 Ambulatório — — 1.438 Carlos Chagas, Mosqueiro 2.124 383 2.507 Souza Castro, Bragança 905 872 1.777 Commissão ambulante (E. F. B.). 1.820 18 1.838 Curtume do Maguary 41 — 41 Laboratorio Central 129 29 158 Yizeu 562 21 583 Alto Gurupy 447 16 463 Salinas 300 20 320 Marapanim ... 155 2 157 Curuçá 203 — 203 Soure 659 650 1.309 Chaves : 622 — 622 Ponta de Pedras 15 — 15 Montenegro (Amapá) 659 63 722 Oyapock (Cleveland) 145 159 304 Prainha 315 — 315 Pinheiro 1.754 877 2.631 Total 19.919 6.716 28.073 Teriamos a lamentar a entrada da peste no Estado se medidas urgentes e precisas não fôssem tomadas por este Serviço quando fortuitamente ella nos visitou, em Janeiro Peste do corrente anno. Embora um caso imprevisto, nos encon- trou apparelhados para a execução das medidas de pro- phylaxia exigidas pela technica para a defeza sanitaria da cidade e, não fôsse isso, naturalmente, não ficaria nesse unico caso, confirmado na pessoa do doente Mc. Gluckin, engenheiro americano, passageiro do Polycarp, procedente de Fortaleza, Estado do Ceará. A 29 de Janeiro communicou-nos o Sr. Dr. Director do Serviço Sanitario do Estado que a bordo do referido navio inglez havia um caso de febre amarella, solicitando-nos as providencias necessárias. Sobre este facto o Dr. José Alves Dias Júnior, inspe- ctor sanitario, servindo interinamente como Chefe do Ser- viço, offereceu circumstanciado relatorio, do qual transcre- vemos o seguinte: «Procuramos o Exm. Sr. Dr. Governador do Estado e delle solicitamos o Hospital de isolamento S. Rocque que, até então, estava á disposição do Desembargador Chefe de Policia para o serviço de Assistência Publica. Entregue pelo Governo a esta Commissão o referido hospital, fômos nesse mesmo dia, á noite, tratar de verificar as condições do estabelecimento e adaptal-o ao fim a que se ia destinar. Durante a noite fizemos com a turma de trabalhadores contractados, sob a direcção do guarda-chefe do posto sani- tario «Belisario Penna», Affonso José Ribeiro, o expurgo á fumigação de enxofre nitrado em todos os compartimen- tos com uma cubagem total de 412,m 3 500. No dia seguinte, ás 3 1/2 da tarde, recebemos o doente no caes da «Port of Pará», em companhia do Secretario deste Serviço, do Dr. Carlos Ornstein, seu medico assistente e da enfermeira contractada, senhorita Edma Bonnet, de nacionalidade ingleza, e que serve no nosso Hospital de S. Sebastião, destinado ao isolamento de venereos conta- giantes; em seguida dirigimo-nos ao Hospital de S. Rocque, acompanhados por Mr. M. F. O’ Hara, engenheiro americano, seu collega e companheiro de trabalho nas obras do Nor- deste, passageiro do mesmo vapor, e que pedira permissão para se isolar voluntariamente com o seu amigo. Transportados em carro proprio da «Pará Electric» chegaram os viajantes ao isolamento ás 6 horas da tarde. Depois de ligeiro repouso colhemos em duas laminas sangue para pesquiza do hematozoario do impaludismo, dada a hypothese, que se poderia dar, de um caso de febre biliosa hemoglobinurica, o resultado dessa pesquiza foi negativo. Os symptomas apresentados pelo doente eram: febre, ictericia, albuminúria, hematúria. A’ noite, no mesmo dia em que deu entrada no isola- mento, começou o enfermo a ter escarros hemoptoicos, le- vando-nos á presumpção, de accordo com o nosso collega Dr. Jayme Aben-Athar, director do Laboratorio, de que se poderia tratar de um caso de peste pneumonica. Colhemos então o escarro que, examinado por aquelle collega, reve- lou a presença de um coco-bacillo, Gram-negativo, vacuoli- sado, em grande quantidade. Nesse mesmo dia noticiava o Estado do Pará estar confirmado tratar-se de um caso de febre amarella, segundo a communicação feita ao repórter desse diário pelo medico- assistente Dr. Carlos Ornstein, de forma que nos obrigou a publicar a seguinte nota official: « Ainda nada se póde positivar quanto ao diagnostico do engenheiro americano passageiro do Polycarp, isolado no Hospital de S. Rocque. Estão sendo feitas todas as pesquizas de laboratorio para esse fim. Depois desses resultados o Serviço de Pro- phylaxia fornecerá nota á imprensa». A’ tarde fomos ao isolamento em companhia dos colle gas Drs. Jayme Aben-Athar e Carlos Ornstein, sendo por essa occasião, o doente clinicamente examinado pelo Dr. Aben-Athar que, depois de auscultal-o detidamente, encon- trou ura foco de broncho-pneumonia no pulmão esquerdo. Colheu este collega sangue para hemocultura e fez no enfermo uma injecção sub-cutanea de 100 centimetros cúbi- cos de sôro anti-pestoso. A hemocultura revelou o caso, confirmando a presença de um estrepto-cocco-bacillo Gram negativo, vegetando per- feitarnente á temperatura do laboratorio. Duas cobayas foram inoculadas hypodermicamente, com o escarro do pestoso, vindo uma delias a morrer 15 dias depois. Em consequência do resultado dos trabalhos do Laboratorio, affirmamos pela imprensa tratar-se de um caso de peste pneumonica. Immediatamente communicamos o facto á Directoria Geral e aos chefes de Prophylaxia Rural do Amazonas, Maranhão e Ceará. Na cobaya morta fôram observadas lesões peculiares á peste, e do seu sangue foi cultivado um cocco-bacillo Gram —negativo vacuolisado. Tratando-se de um caso de peste despresarnos desde logo, as medidas de prophylaxia da fe- bre amarella para tomarmos a do caso, de accôrdo com o Regulamento Sanitario Federal. Fôram injectados com sôro anti-pestoso todas as pes- soas que estavam em contacto directo com o doente e vacci- nadas as que estavam residindo no Hospital, quando delle nos apropriamos. Estabelecemos vigilância rigorosa sobre todos os vacci- nados e injectados e immediato cordão sanitario de inter- dicção para o referido hospital. Passou desde logo a func- cionar o desinfectorio do Hospital S. Sebastião que servia aos médicos, enfermeiros e todas as demais pessoas que estavam em contacto com o pestoso. Procedemos á desinfecção dos demais compartimentos do referido hospital de isolamento, a formol, para fran- queal-os aos internados que estavam acanhadamente accom- modados nas primeiras salas destinadas aos mesmos. Diariamente visitávamos o enfermo, em companhia do Secretario, acompanhando a marcha da moléstia e o traba- lho do seu medico assistente. No dia 7 de Fevereiro, ás 8 horas e 15 minutos, veio a fallecer o doente, sendo immediatamente observadas todas as prescripções regulamentares para o seu enterramento, em ataúde proprio, devidamente lacrado e pixado. Dirigi pessoalmente esses trabalhos do enterramento, em companhia de enfermeiros e do guarda-chefe Affonso José Ribeiro. Depois de retirado o cadaver foram as dependencias interdictas e removidas as demais pessoas que assistiram ao doente, as quaes ficaram oito dias em observação. O local onde occorreu o obito foi desinfectado a formol, gastando-se 61 kilos e 875 grammas, a razão de 50 gram- mas por metro cubico, num espaço de cubagem de 412.m:ísoo. Continuando o nosso vizinho Estado do Maranhão a ser um fóco de peste, conforme communicação feita a esta Chefia pelo Dr. Costa Rodrigues, chefe do Serviço de Sa- neamento e Prophylaxia Rural no Maranhão, temos tomado todas as medidas preventivas para defeza sanitaria da ci- dade. Em conferencia com o Director da Saúde Maritima Fe- derai Dr. Othon Chateau, Dr. Cyriaco Gurjão, Director do Serviço Sanitario do Estado e Exmo. Dr. Governador do Estado, assentamos varias medidas, entre estas a prohibição terminante do atracamento de qualquer embarcação proce- dente daquelle Estado, via Vizeu, sem primeiramente rece- ber em Bragança, no posto sanitario «Souza Castro», a necessária carta de Saúde, Com o apparelho Clayton expurgamos as galerias da «Port of Pará», numa extensão de 1.840 metros, com a cubagem de 2.760 metros. Fôram incinerados 283 ratos encontrados mortos no local». Como se vê pelo relatorio apresentado pelo Dr. Dias Júnior, esta Commissão tomou todas as medidas para im- pedir a propagação do mal, tendo a Repartição Sanitaria Estadoal se limitado a communicar a este serviço a che- gada do doente «suspeito de febre amarella». CAPITULO X NOTAS ADMINISTRATIVAS 1. —PESSOAL: —PRIMEIRAS NOMEAÇÕES, CONCURSOS E QUADRO GERAL DO FUNCCIONALISMO MARTINS E SILVA Secretario do Serviço Considerações geraes Para as Commissões que se organizam, a rigorosa escolha do pessoal que as deve compor é bem um dos mais importantes assumptos de estudo por parte dos Chefes de Serviço. Dessa selecção, em grande parte, depende o êxito dos pro- grammas a executar pelas Chefias que, naturalmenle, ver-se-hão em- baraçadas se não procurarem gente habilitada e idónea. Verdade é que a orientação geral vale sempre por uma dire- ctriz a seguir para um resultado satisfactorio mas, não ha a negar, que o concurso de bons elementos ajuda essa orientação a ser uma realidade. A Chefia deste Serviço sempre teve em consideração essa ri- gorosíssima escolha para os cargos desta Commissão; nenhum íunc- cionario foi admittido sem que se observasse a sua capacidade de trabalho, com estágios; a sua intelligencia; o seu moral e até o seu proprio physico que, parecendo a muitos factor de somenos impor- tância, reputamos como elemento imprescindível nos indivíduos que exercem funcções nas commissões de saúde, principalmente, em se tratando de guardas sanitários, cidadãos a quem está confiada a parte delicada e intelligente do tratamento domiciliar dos doentes de endemias ruraes. Não poderão conseguir vencer a «rebeldia mal educada» de populações de analphabetos, descrentes nos resultados que possam ter da medicação especifica, guardas sem facilidade de expressão, faltos de iniciativa e reconhecimento antipathicos. O guarda sani- tário é quem vae diariamente de lar em lar, dar de uma a cinco, ou mais vezes, o tratamento anti-helminthico e, para o desempenho dessa missão, é bem preciso ter em conta todas essas qualidades o, mais ainda, até a própria côr, edade, etc., requisitos que consti- tuem os elementos de victoria para o successo desse mister. A apprendizagem nos postos sanitários completa a formação dos conhecimentos de que necessita um bom guarda, auxiliar im- mediato do medico no posto. Dentro dessa norma foi que a Chefia determinou a abertura de concursos não só para esse cargo como também para os demais do Serviço, por ser o meio mais pratico e seguro de conseguir bons auxiliares. De facto, o concurso, quando moralizado, é o caminho mais digno e idoneo para o preenchimento dos logares públicos; afasta a influencia do afilhadismo com a justiça ao regimen da compe- tência. No concurso o candidato inscripto diz logo das suas apti- dões, da sua capacidade intellectual e póde até reunir, se já tiver prestado serviço militar ao paiz, a preferencia da nomeação. Somente os technicos não estão sujeitos a concurso neste Ser- viço, os demais funccionarios para os cargos a preencher só serão admittidos mediante essa prova de habilitação, cujos bons resulta- dos a experiencia nos tem demonstrado. Programma de trabalho Por occasião da inauguração do posto sanitario «Oswaldo Cruz», o Dr. Chefe do Serviço, em discurso proferido, encareceu a necessidade da força de vontade de todos os seus funccionarios, o accendrado amôr ao trabalho e patriotismo de cada um dos seus collegas que, com elle, iniciavam os importantes serviços de sanea- mento e prophylaxia rural no Estado. As suas ultimas palavras tiveram a franqueza das seguintes expressões: «os collegas que se não sentirem bem com esse esforço que os trabalhos vão exigir, esforço até muitas vezes fatigante para poder cumprir a tarefa dos seus encargos, devem pedir a sua demissão volunlaria, num exem- plo de que não desejam crear embaraços á victoria da campanha do saneamento que requér, mais que dedicação, o proprio sacri- fício ». Referindo-se aos demais funccionarios disse: «o menor dôlo, a menor falta que importe em mystificação será punida com a de- missão que me facultam as minhas attribuições regulamentares», A Chefia do Serviço tinha assim delineado o seu programma com referencia ao funccionalismo da Gommissão. E? grato, entretanto, registar que todos os funccionarios têm ser- vido com a melhor da sua bôa vontade, dando o possível da sua actividade. 0 nosso expediente, quer nos Postos, quer na Reparti- ção Central, tem ido além das 18 horas e, muitas vezes, se prolon- gado até á noite. A secretaria funcciona sempre até as 7 horas da noite e nos últimos mezes de Junho e Julho os trabalhos se prolongaram até as 24 horas. Vencimentos 0 funccionalismo da Gommissão é relativamente pequeno para a complexidade dos serviços qqe fazemos, tanto assim que muitos funccionarios accumulam cargos diversos, sem outra remuneração, laes como o dr. Bernardo Rutowitcz que altende no Instituto The-' rapeutico da Lepra e na Leprosaria do Tocunduba; o Secretario do Serviço que desempenha também as funcções de administrador do Hospital de S. Sebastião; o Dr. Lauro de Almeida Sodré tra- balha no Instituto de Hygiene e no Posto consultorio de S. Braz e outros. O proprio Dr. Chefe do Serviço tem a seu cargo a direc- ção directa do Instituto da Lepra, attendendo ahi aos doentes novos e á revisão das fichas, além dos seus múltiplos affazeres da Chefia. No Instituto de Hygiene, durante a ausência do Dr. Aben-Athar, que foi em commissão para Manaus, esteve dirigindo pessoalmente o Laboratorio e trabalhando na secção Pasteur. A cada funccionario cabe portanto quasi o máximo de pro- ducção, exemplo aliás que vem do proprio Chefe, sempre disposto e infatigável para o trabalho. Infelizmente o limite estreito de uma verba de 300;000$000 annuaes não permittiu que os vencimentos fôssem compensadores. O Dr. Chefe do Serviço adoptou a tabella de vencimentos mais razoavel aos interesses da Commissão, tendo em vista que, quanto menor íôsse a despeza com o pessoal, tanto maior seria a verba para material. Augmentada a verba, augmeutados serão, equitativamente, os vencimentos. Os trabalhos realizados por este Serviço falara bem alto da economia e critério como foi gasta a importância de tão pequena verba, distribuída para o saneamento e prophylaxia rural no Estado do Pará:—são elles respostas insophismaveis para todas as inter- pellações. a) Primeiras nomeações Organizoa-se esta Commissão após a chegada do Dr. Chefe do Serviço tendo sido os primeiros funccionarios nomeados a 9 de Ju- nho do anno findo. Durante esse mez e o seguinte ficou definitivamente organizado o quadro do funccionalismo que iniciou os trabalhos neste Estado, a saber; Dr. H. C. de Souza Araújo, Chefe do Serviço; drs. José Alves Dias Júnior e Jayme Jacintho Aben-Athar, inspectores sani- tários, drs. João Pinto de Oliveira, Hermogenes Pinheiro, Levi de Moura Loyola, Francisco da Silva Miranda, Lauro de Almeida So- dré, Hilário Gurjão, Bernardo Leibowitcz Rutowitcz, sub-inspectores sanitários; drs. Sulpicio Ausier Bentes, Anastacio Monteiro, Dioge- nes Ferreira de Lemos, Elias Rofíé, médicos contractados; Ruy Whitllesey Tebyriçá, bacteriologista; Adarezer Coelho da Silva e Raimundo Felipe de Sousa, pharmaceuticos; Manoel Arantes Jú- nior microscopista; Carlos Horacio, guarda-livros; Luiz Martins e Silva, escripturario-archivista; Antonio de Araújo Santos, Jesuino Antonio Gonçalves, Alfredo Ferreira Lopes, Maria Bandeira Brasil e Diva Lisboa escreventes; João Lobão Brito Pereira, auxiliar de es- cripta; Elias Marques da Gosta, enfermeiro de l.a classe; Zacharias Cuoco, Affonso José Ribeiro, guarda-chefes; João Gomes de Faria, Manoel Affonso Machado, Domingos Simões da Costa e Manoel da Costa Mathias, guardas de l.a classe; Jayme Rodrigues de Araújo. Arthur de Castro França, Manoel Ferreira dos Santos Bastos e João de Deus Barbosa, guardas de 2.a classe; Hugolino Pinheiro dos San- tos, Mathias Dias da Silva, José Honorato Torres, José Hermenegildo Martins, José Steiner do Couto, Constantino Lobato do Nascimento, guardas sanitários de 3.a classe; Abdon Theodorairo Baptista, João Firmino Pantoja, José Nicolau da Motta, Francisco Militão de Souza, Manoel Florencio da Motta, José Trindade Belém, Horacio Martins Coelho, serventes; chaufíeurs: José Lucas de Senna e René Magno Delgado. Com o desenvolvimento crescente dos trabalhos da Commissão houve necessidade de augmento no quadro dos funccionarios e, para isso, o Dr. Chefe do Serviço mandou abrir os respectivos con- cursos. b) Concursos O primeiro concurso realizado neste Serviço foi para guardas sanitários a 7 de Julho de 1921. Inscreveram-se 15 candidatos, inclusive 3 guardas de 3.a classe que fizeram exame de promoção. Effectuadas as provas, sob a presidência do Dr. Chefe do Serviço, tendo como examinadores dois technicos da Commissão —um ins- pector e um sub-inspector sanitários foram approvados apenas 10 candidatos, 2 desistiram, sendo os restantes inhabilitados. A organização seguida nessa prova serviu, depois, para a norma de todos os demais realizados no correr do anno e firmou também o critério para os que ainda tenham de ser effectuados, quando as necessidades do Serviço assim o exigirem. Para a inscripção nos concursos de guardas sanitários observa-se o seguinte: Só podem ser inscriptos cidadãos menores de 35 e maiores de 18 annos, de bôa saúde e conducta exemplar. O candidato inscreve-se na Secretaria do Serviço, dando essas informações, registrando o seu nome e local onde reside, indepen- dente de qualquer despeza. Consta de duas provas o exame: a escripta e a oral A pri- meira versa sobre os seguintes pontos; I—Qual é o programma da Prophylaxia Rural? II 0 que é a Malaria? Como se evita a opilação? Para que servem as vaccinas e os sôros? 111 —Como se transmitte o Impaludismo? IV Qual a frequência da Trichuriose e Oxyuriose no Pará? Como se adquire a Teniose? Quaes as obras de saneamento do sólo aconselháveis para combater o Impaludismo? V Quaes são as obrigações do guarda sanitario? Quaes são os mosquitos transmissores do Impaludismo, como se os reconhecem como larvas e adultos? Quaes são os typos de fossas usadas na zona rural? VI Quaes são as verminoses mais communs no Brasil e em que parte do paiz? Quaes são os medicamentos empregados As provas: no tratamento do Impaludismo, sua dosagem e a épocha de administrar? Como se cura a opilação? Na prova oral o candidato será arguido em vinte perguntas so- bre os seguintes assumptos; I—Quaes são as obrigações do guarda sanitario? II 0 guarda póde alterar a dosagem do medicamento feito pelo medico? 111 Descripção da caderneta de recenseamento. IV Descripção do attestado de vaccina. V —Descripção do livro de intimações. Vl—Para que serve a latinha que é distribuída durante o recenseamento? Vil —Em quantas partes se divide o serviço de Prophylaxia? Qual a primeira? Qual a segunda? VIII— Qual a attribuição do guarda que não faz o recenseamento? IX —Si durante a medicação houver algum accidente, o que deve fazer o guarda? X—Antes de iniciar o recenseamento em uma casa, qual a medida que se toma afim de evitar que seja recenseada duas vezes? XI —Qual o material que deve levar o guarda quando vae re- censear? Quaes os medicamentos que deve levar o guarda? Xll—Quaes são os exames de sangue que são feitos durante o recenseamento? XIII—Quanto á vaccina antivariolica o que sabe? XIV Quanto ao systema de agua usada para alimentação, qual o aconselhável? XV Quaes as fossas aconselhadas nas zonas ruraes e nas ci- dades? XVI —Quaes os conselhos a dar ao povo para evitar a opilação e outras verminoses? XVII Quaes os conselhos a dar ao povo para evitar a Malaria? XVIII —Antes da cura destas doenças quaes os exames que devem ser feitos? Para que com mais cabedal possam os candidatos entrar nos concursos lhes é permittido o estagio nos postos, depois de inscri- ptos. Desta fórma, adquirem excedentes conhecimentos práticos, es- tando por occasião dos exames senhores das funcções do cargo para o qual se candidataram. O concurso, assim feito, dá excedentes guardas sanitários, ha- bilitados para o trabalho e cheios de amor ao estudo, certos de que as suas promoções só serão conseguidas ainda por meio de pro- vas de habilitação. A 3 de Setembro realizou-se o segundo concurso, já muito mais movimentado. A inscripção fechou, depois de 30 dias, com o elevado numero de 127 candidatos. A banca examinadora foi composta dos Drs. José Alves Dias Júnior, Francisco da Silva Miranda, Lauro de Almeida Sodré e presidida pelo Dr. Chefe do Serviço. Responderam á chamada 75 e faltaram 52 dos inscriptos, tendo sido classificadas 24, desclassificadas 26 e julgadas nullas 25 provas. Nesta mesma data submetteram-se a concurso de promoção dois guardas de 3.11 classe, sendo approvados. O ultimo concurso teve logar a 20 de Fevereiro do corrente anno, com a inscripção de 137 candidatos. Presidiu a banca o Dr. José Alves Dias Júnior, inspector sanitario, servindo então como chefe interino do Serviço, e examinaram os Drs. Francisco da Silva Miranda e Paulo Baptista Rombo. Compareceram 59 candidatos, dos quaes fôram approvados 24, inhabilitados 35, tendo faltado 78. Resumo total: Inscriptos nos tres concursos 279 Faltaram 130 Inhabilitados 91 Approvados 58 Todos os candidatos approvados já fôram aproveitados, obede- cendo-se o critério das suas classificações, de 33 a 18 pontos. Microscopistas Para os cargos de microscopistas do Serviço abriu a Chefia concurso a 24 de Julho de 1921, dando a preferencia aos pharma- ceuticos e estudantes de medicina. Inscreveram-se 8 candidatos que, examinados pelos Drs, Souza Araújo, Chefe do Serviço, Jayme Aben-Athar e Ferreira de Lemos, o primeiro director e o segundo bacteriologista assistente do Labo- ratorio Central, fôram todos inhabilitados. Os pontos sobre que versaram as provas fôram os seguintes; i Descripção e manejo do microscopio. ll Conservação dos apparelhos de microscopia, lII Materiaes para exame; escarro, fézes, urina, pús, etc. IV Collecta de material para exame. V— Fixação e coloração. • VI— Exame ao microscopio. VII— Malaria, descripção do parasito. VlllMalaria, preparação das laminas e exame ao microscopio. IX—Noções sobre os germens da tuberculose, diphteria, typho, lepra, tétano, peste, etc. Os examinadores têm o direito de julgar e classificar cada uma das provas do concurso (escripta e pratica oral). A prova pratica é feita no Laboratorio Central. Gonsentio o Dr. Chefe do Serviço que os tres candidatos que obtiveram maior numero de pontos fizessem estagio, tendo-os, depois de um anno, nomeado effectivamente. Escripturarios e dactylographas-escrerentes Para os cargos de escripturarios foi aberto concurso a 26 de Agosto de 1921 e encerrada a inscripção a 30 do mesmo mez com o numero de 34 candidatos. Destes, íôram classificados 6, desclassificados 13 e não res- ponderam á chamada 15. Também na mesma data efíeetuou-se o concurso para dactylographas-escreventes, com a inscripção de 12 candidatas. Foram desclassificadas 3, não concluio a prova 1; faltaram õ e íôram approvadas 3 candidatas. A banca examinadora destes dois concursos foi composta pelos professores públicos Abel Martins e Silva, lente de algebra da Es- cola Normal; Nelson Ribeiro, professor de portuguez e secretario do Gymnasio Paes de Carvalho, e presidida pelo Dr. Chefe do Serviço. As provas, escripta e oral, constaram de portuguez, arithmetica. escripturação de um posto rural e dactylographia, para as escre- ventes Todos os candidatos approvados, quer escripturarios, quer es- creventes, já íôram nomeados para servir nas diversas dependencias do Serviço. Tem a Chefia dado preferencia a professoras normalistas para as nomeações de escreventes de postos, quando em egualdade de classificação nas provas do concurso. O elemento feminino está prestando a esta Commissão um va- lioso contingente de trabalho; de regra, nos cargos de escreventes e enfermeiras os seus serviços têm sido efficientes. Ouarda-livros O cargo de guarda-livros foi preenchido depois de exame de habilitação feito pelo candidato em presença do Dr. Chefe do Serviço. Aberta a inscripção, apresentaram-se apenas tres con- correntes, tendo sido contractado o que obteve melhor classificação, Sr. Carlos Horacio e Silva, que também desempenha as funcções de ajudante de almoxarife. c) Quadro geral dos funccionarios, em Junho de 1922 Estão assim distribuídos os actuaes funccionarios deste Serviço; Repartição Central—Gabinete da Chefia e Secretaria: Dr. Heraclides César de Souza Araújo Cheíe do Serviço. Dr. Charles Henry Desenhista engenheiro. Martins e Silva—Secretario. Almerinda da Rocha Gama—l.a dactylographa-escrevente. Carlos José Corrêa Dactylographo. Maria Bandeira Brasil Escrevente. Benedicto Procopio Servente. Instituto de Hygiene: Dr. Jaymê Jacintho Aben-Athar—lnspector-sanitario-director. Dr, Lauro de Almeida Sodré—Sub-inspector-assistente. Dr. Antonio Pimenta Magalhães Medico contractado, bacterio- logista. Raimundo Felipe de Sousa Chimico contractado. Manoel Arantes Júnior—Microscopista. Maria Amélia Bezerra Microscopista estagiaria. Antonio de Souza Motta Escrevente. Manoel Affonso Machado Auxiliar da secção Pasteur. Laurival Coelho da Silva—Auxiliar da secção de medicamentos Alberto Souza Auxiliar da secção de chimica. Abdon Theodomiro Baptista—Servente, íloracio Martins Coelho Servente. luspectoria da Policia Sanitaria e Fiscalização do Exercício da Mediei» a Dr. João Pinto de Oliveira—Sub-inspector sanitario Jesuino Antonio Gonçalves Escrevente. Pharmacia: Adarezer Coelho da Silva Pharmaceutieo. Vicente Laureano Figueira de Mello Auxiliar. Manoel Florencio da Motta—Servente. Almoxarifado: Carlos Horacio e Silva—Guarda-livros e ajudante de almoxarife Manoel Marques —Escrevente. Portaria: João Firmino Pantoja— Porteiro. Posto «Oswaldo Cruz»: Dr. Francisco Miranda Inspector sanitario-director. Judith Aben-Athar Escrevente. Raymundo Pereira Duarte Guarda-chefe-interino. Jayme Rodrigues de Araújo Guarda de l.a classe. Hugolino Pinheiro dos Santos —Guarda de l.a classe, Gregorio Benedicto Pinheiro Guarda de 2.a classe. Luciano Andrade Silva —Guarda de 2.a classe. Pelagio de Amorim Miranda Guarda de 3.a classe. Ray mundo Modesto Sobrinho Guarda de 3.a classe. José Trindade de Belém Servente. Posto «Belisario Penna »: Dr. José A. Dias Júnior Inspector sanitario-director. Dr. João Pinto de Oliveira Sub-inspector sanitario. Alfredo Ferreira Lopes—Escrevente, Affonso José Ribeiro Guarda-chefe. Manoel da Costa Mathias •—Guarda de l.a classe. José Honorato Torres Guarda de l.a classe. Raymundo Nogueira—Guarda de 3.a classe. Antonio Rodrigues Nunes Guarda de 3.a classe. Carlos Mario Walraven—Guarda de 3.a classe. Herminio Salgado da Silva Guarda de 3.a classe. Steliano Marques Pereira Guarda de 3.a classe. Raymundo Lopes Telles— Guarda de 3.a classe. José Nicolau da Motta Servente. Este posto tem uma turma de 25 serventes da secção de Hy drographia Sanilaria. Posto * Carlos Chagras»: Dr. Hermogenes Pinheiro Sub-inspector sanitario-director. Argemiro Lassance Tobias—Escrevente. José Steiner do Couto Guarda-chefe interino. Arthur de Castro França Guarda de l.a classe. Antonio Constanfino Ayres Pereira Guarda de 2 a classe. Pedro Gomes de Moraes Guarda de 3.a classe. Diomédes Corrêa Servente. Posto « Souza Castro » : Dr. Amaro Theodoro Damasceno Júnior Sub-inspector tario-di redor. Antonio Siqueira Mendes—Microscopista- Rosemiro Lameira Pontes Escrevente. Orcino Aureliano Dias Guarda de 2 a classe. Oscar Grego da Silva Guarda de 2.a classe. Manoel José de Siqueira Mendes Guarda de 2.a classe. Eduardo de Souza Costa—Guarda de 2.a classe. Maximiano da Silveira Martins Praticante. Benedicto de Oliveira Pantoja —Praticante. João Paulo Lopes Servente. E uma turma de 6 trabalhadores. Posto «Migfuel Pereira : Dr. Geminiano Coelho Sub-inspector contractado-direclor Edgard Bentes Rodrigues— Microscopista. Hermenegildo da Motta Araújo Escrevente. Zacharias Cuoco Guarda-chefe Henrique de Mello Rodrigues—Guarda de 2.a classe. Hermenegildo Martins Guarda de 2.a classe. Aristides do Amaral Araújo Guarda de 2.a classe. Cyro Barata Jucá Guarda de 3.a classe. Aarão Bittencourt Cohen Guarda de 3.a classe. .lulião Castello Branco Pará-assú Guarda de 3.a classe. Leonardo Castro Servente. E 2 trabalhadores em valias. Commissão ambulante da listrada de Perro: Dr. Anastacio Monteiro Sub-inspector-director. Benigno Farias Gama—Guarda de l.a classe, João Amazonas dos Santos—Guarda de 2.a classe. Torquato da Silva Franco.— Guarda de 2 a classe. João de Deus Lima—Guarda de 2.a classe. Camillo da Motta Júnior—Guarda de 3a classe, Aurélio Vieira da Cruz—Guarda de 3.a classe. Commissão ambulante de Fraiuba, Chaves e Sòure: Dr. Paulo Baptista Rombo—Sub-inspector-director. Carlos Hygino da Silva Microscopista. Olivio Rodrigues—Guarda de 2.a classe. Manoel Araújo Filho Guarda de 3.a classe. Frederico Souza —Guarda de 3.a classe. Constantino Lobato do Nascimento—Guarda de 2.a classe, ser- vindo na erapreza industrial «Gortume Maguary», na Estrada de Ferro de Bragança. Tasso de Oliveira Alencar Guarda de 2.a classe, servindo, em commissão, no «Centro Agrícola Cleveland», Oyapock, Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas: Dr. Plilario Gurjão—Sub-inspector sanitario-director. Dr. João José Henriques Assistente gynecologista. Antonio de Araújo Santos Secretario, Domingas Augusta Soares Dactylographa. Joaquim Torres Costa Guarda-chefe. Anna Figueira Mendes—Enfermeira visitadora. Elias Araújo 2.° enfermeiro. Constância Ribeiro da Silva 2.a enfermeira. Maria Freire de Souza—3.a enfermeira. Francisco de Assis Lameira Agente sanitario. Simplicio Torres—Agente sanitario. Jorge La-Rocque -Agente sanitario. Adolpho Uchôa Agente sanitario. José Soares de Lima —Agente sanitario. Olyntho Silva Agente sanitario. José Sampaio Campos Ribeiro—Agente sanitario. Oswaldo Gusmão Feio—Agente sanitario. Francisco Militão de Souza—Servente. José de Souza Bastos Servente. Hospital de São Sebastião: Dr. Raymundo da Cruz Moreira Director contractado, Dr. Pio de Andrade Ramos—Microscopista estagiário. Martins .e Silva (secretario do serviço) Administrador. Domingos Simões da Costa—Eníermeiro-chefe. Barbara Santos—l.a enfermeira. Cordolina Santos 2,a enfermeira. Edma Bonnet—2.a enfermeira. Olyntho Gomes Rocha—Almoxarife. Francisco Thomaz da Silva Cozinheiro. Benigna Maurinha Lavadeira Silverio Pinheiro Servente. Raymundo Araújo —Servente. Hospital São Rocque: Dr. Joaquim Paulo de Souza Medico contractado. Instituto Therapeiitico da I>epra e Leprosaria do Tocuuduba: Dr. Bernardo L. Rutowitcz— Inspector-director. Dr. Tertuliano Pacheco Assistente contractado. Elias Marques da Costa—l.° enfermeiro. Maria Gecilia de Almeida Enfermeira. Antonio Augusto Pereira de Souza Escrevente. Ezequiel Balby Cordeiro Enfermeiro visitador. José Julio da Silva Guarda de o.a classe. Arnold Lorentz Servente. Maria Portella Servente. Gentil Campos Sanches Servente. Ignacio Lopes de Oliveira Filho Servente. RaymUndo Rarros Jardineiro. Esta secção tem mais 5 ajudantes de enfermeiros na Leprosaria. Garagfe: José Lucas de Senna Chauífeur. René Magno Delgado Ajudante chauífeur. João Camillo Servente. O numero total de funccionarios é de 142, inclusive cinco leprosos validos, que servem na Leprosaria do Tocunduba, auxiliando o enfermeiro Elias Marques da Costa. O nosso primeiro anniversario Commemorando o primeiro anniversario dos trabalhos desta Commissão, reunidos os funccionarios, numa festa intima no Posto Central, offereceram ao Dr. Chefe do Serviço uma moção de solida- riedade, cujo teôr tem a mais alta significação moral. Este do- cumento, que é manuscripto, levou a assignatura de 118 funccionarios e está assim redigido; «Ao Exm.° Sr. Dr. Heraclides Gesar de Souza Araújo, Chefe do Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural, neste Estado. Caríssimo Chefe; Ahi tendes neste documento a palavra leal dos vossos func- cionarios. Acceitae-o, crente da sua sinceridade e certo da sua significação moral. O tempo poderá destruil-o, mas no ultimo apagado das suas lettras scintillará ainda a belleza radiante das cores vivas das suas expressões. Essas ficarão guardadas religiosamente como reminiscências saudosas da terra paraense no intimo de vossa alma, lá onde se abrigam somente as recordações das horas felizes da vossa vida publica. E’ talvez, carissimo Chefe, o papel mais sincero, mais puro de sentimentos que ficará em vosso poder, como attestado de con- fiança e solidariedade de vossos funccionarios. Nem uma só palavra tem a hypocrisia das manifestações ex- temporâneas; acceitae-o, pois, a saudação sincera dos vossos amigos que são todos os funccionarios deste Serviço. Belém, 9—Vl 922». O Dr. Souza Araújo agradeceu, em poucas e sinceras palavras, essa prova de amizade e confiança de seus auxiliares e, em seguida, offereceu-lhes, particularmente, um lunch cordial. A’ noite, no «Palace-Theatre», realizaram-se duas conferencias de propaganda sanitaria, sendo uma feita pelo Dr. Chefe do Ser- viço, e outra pelo Dr. Jayme Aben-Athar, director do Instituto de Hygiene. Vale a pena transcrever as noticias da imprensa sobre este facto, tendo-se em vista a campanha injusta que ella havia ante- riormente feito contra este Serviço. Traduzem essas noticias alguma cousa que deixa transparecer a significação do victorioso lemma de Oswaldo Cruz—« Não esmorecer para não desmerecer». De facto, o Serviço estava victorioso, depois de um anno de lucta e de trabalho eíficiente: a imprensa cessara a sua campanha injustificável e o povo bemdizia os favores recebidos, dando as mais cabaes e eloquentes provas de confiança á Commissão. «Commemorando, ante-hontem, o l.° anniversario dos trabalhos da Prophylaxia Rural, o corpo medico e os demais íunccionarios que a constituem levaram a eífeito varias demonstrações de justo regosijo pelo auspicioso facto. Das festas realizadas avultaram as duas conferencias no Palace- Theatre pelos illustres clinicos Drs. Heraclides de Souza Araújo e Jayme Aben-Athar e o baile no salão nobre do Theatro da Paz promovido pelo Grémio dos Funccionarios da Prophylaxia Rural, Perante numerosa e selecta assistência, que oecupava as ca- deiras e os camarotes do Palace, ás 8 1/2 horas da noite, após a entrada dos Srs. Drs. Governador do Estado e Intendente de Belém e outras altas auctoridades, o Dr. Aben-Athar deu inicio á sua pa- lestra, sob o thema suggestivo «a Syphilis e o Casamento», pren- dendo a attenção do auditorio por espaço de meia hora e sendo ao terminar, bastante applaudido. Seguiu-se-lhe com a palavra o Dr. Souza Araújo, que produ- ziu a sua conferencia abordando a importante these sobre «o Im- paludismo:— o grande mal da Amazónia». 0 talentoso scientista brasileiro, a cujas mãos, era tão bôa hora, foram confiados os trabalhos da repartição que superior- mente dirige no Estado, durante mais de uma hora discorreu com a proficiência que todos lhe reconhecem sobre o assumpto que se propoz versar. Illustrando a sua palestra com explicações a giz num quadro preto, o conferencista positivou, com clareza, os argumentos em torno da existência e da inoculação do microbio de Laveran, nome do medico que descobrio o famoso hematozoario que tantos males sem remedio causa ás populações das terras araazonicas, por suas próprias condições climatéricas, campo mais facilmente aberto ao domínio da febre palustre. Mostrou o Dr. Souza Araújo a facilidade da inoculação e a surprehendente multiplicidade do microbio em horas e dias seguidos nos indivíduos enfermados pela picada do mosquito transmissor do impaludismo. Com dados estatísticos provou os beneficios que hão aprovei- tado as nossas populações do interior com os trabalhos prophyla- cticos de um anno. Fez varias outras considerações de caracter scientifico sobre o problema do saneamento da Amazónia, terminando a conferencia com uma patriótica peroração a respeito do futuro e grandiosidade da nossa Patria. Longa salva de palmas coroou as ultimas palavras do Chefe da Prophylaxia, sendo o mesmo abraçado pelos’ presentes. Terminadas as duas conferencias, rumaram diversas das pessoas que as assistiram para o Theatro da Paz, em cujo «foyer» teve logar o baile annunciado. A festa, dedicada ao Sr, Dr. Souza Araújo e ao corpo medico do Serviço, rodeou-se de brilhantismo, sendo observado, rigorosa- mente, o explendido programma das danças que decorreram anima- das até ás 2 horas da madrugada. A orchestra, sob a direcção do professor Clemente Souza, esteve impeccavel». (Da Folha do Norte, de 11-6-922). «Fez ante-hontem um anno que fôram inaugurados nesta capital os trabalhos da Commissão de Prophylaxia Rural do Pará, era tão bôa hora instituída para a humanitaria e diíficilima tarefa do saneamento da nossa população, devastada pela ancylostomose, pelas verminoses, pela lepra e pelo impaludismo, Çommemorando esse auspicioso acontecimento a referida Com- missão fez realizar no Paíace-Theatre, na noite de ante-hontem, duas interessantes conferencias scientificas, que fôram ouvidas por uma incomputavel e selecta assistência, á qual emprestava realce a classe medica do Pará e o elemento feminino do nosso meio social. Dessa distincta assistência destacamos as seguintes pessoas ;'Dr. Souza Castro, Governador do Estado, acompanhado do seu ajudante de ordens; Capitão Cândido Furtado, Coronel Luiz Lobo, com mandante da Força Publica do Estado; Gapitão-tenente Álvaro Amarante, com- mandante da Escola de Apprendizes Marinheiros; Drs. Luiz Barreiros, Cruz Moreira, João Pinto de Oliveira, Geminiano Coelho, Victor Ferreira Lopes, Arthur Porto, Pio Ramos, Francisco Palmeira, Gy- priano Santos, Intendente de Belém; Ophyr de Loyola, Abel Cher- mont, Auzier Bentes, Desembargador Julio Costa, chefe de Policia; Drs. Ferreira Teixeira. Oscar de Carvalho, Camillo Salgado, Caribé da Rocha, Penna de Carvalho, Amanajás Filho, Augusto Meira, Luiz Estevam de Oliveira e senhora, João Henriques, Hilário Gurjão e Bernardo Rutowitcz, commendador Jayme Abreu e muitas outras, cujos nomes nos escaparam. A’s 21 horas foi dado inicio á solemnidade, tendo a presidil-a, o senador Cruz Moreira, presidente da Sociedade Medico Cirúrgica do Pará, o qual depois de apresentar á assistência o conferencista, Dr. Jayme Aben-Athar, concedeu-lhe a palavra. A Syphilis e o Casamento foi o thema sobre o qual discorreu proficientemente e com rara eloquência o erudito e conhecido scien- tista paraense. Demonstrou até á evidencia, com a sua palavra persuasiva, o perigo que ha no casamento contrahido entre pessoas syphiliticas, do qual fatalmente virá o depauperamento da raça e a degenerescencia da vitalidade. Vibrantes palmas recebeu o conferencista ao terminar a sua palestra. Substituiu-o na tribuna o Dr. Heraclides de Souza Araújo, para ler a sua conferencia cujo thema foi O impaludismo:—o grande mal da Amazónia. Conforme se deprehende do titulo, essa palestra prendeu-se in- teiramente ao grave assumpto do debellamento desse eterno e de- vastador mal amazonico, que corroe impiedosamente o organismo do nosso povo, anniquilando-lhe as energias vitaes, tirando-lhe o animo de viver e tornando-o num ser irreal, sem crença, sem am- bição, fraco e pusillanime. O Dr. Souza Araújo, além das calorosas palmas que recebeu ao terminar, foi bastante felicitado e abraçado pela maioria dos presentes. A’s 23 horas foi encerrada a solemnidade pelo Dr. Cruz Mo- reira, tendo o Dr. Heraclides Araújo agradecido á assistência a sua comparência áquella ceremonia. Os Drs, Cruz Moreira, Amanajás Filho, Caribe da Rocha, Ophyr de Loyola e Penna de Carvalho estiveram representando a Sociedade Medico-Cirurgica do Pará, da qual são Directores. A Provinda do Pará, acquiescendo ao gentil convite que lhe foi feito, fez-se representar na conferencia pelo seu auxiliar João Malato». (DVI Provinda do Pará, de 10-6-922). «Foi condignamente commemorado o l.° anniversario da instal- lação da Prophylaxia Rural neste Estado, da qual é Chefe o Dr. He- raclides de Souza Araújo. No Palace-Theatre realizaram suas annunciadas conferencias de propaganda sanitaria os Drs. Jayme Aben-Athar e Souza Araújo, e, no Theatro da Paz, o Grémio de Funccionarios daquélla repartição deu elegante festa dedicada ao Chefe da Gommissão e ao corpo medico. A’s 8 1/2 da noite, em presença de uma selecta e distincta assistência, constituída pela alta sociedade belemense, deu-se inicio ás palestras, sendo o acto presidido pelo Dr. Cruz Moreira, especial- mente convidado para esse fim, na qualidade de presidente da So- ciedade Medico-Cirurgica do Pará. No palco destacavam-se os retratos dos Drs. Belisario Penna, Carlos Chagas e Gaspar Vianna. O Dr. Cruz Moreira abrio a sessão e, depois de breves phrases sobre o fim que alli os congregava, deu a palavra ao Dr. Jayme Aben-Athar. Este facultativo occupou a attenção da assistência durante meia hora, dissertando sobre o thema —«A Syphilis e o Casamento». O orador, ao concluir, recebeu muitas e justas palmas. Seguio-se na tribuna o Dr. Souza Araújo, Chefe da Commissão de Prophylaxia Rural, cabendo-lhe a these —«O Impaludismo: o grande mal da Amazónia», Ao começar a sua palestra, disse o orador ser seu dever prestar sincera homenagem á memória do grande sabio francez Laveran, o descobridor do microbio do impaludismo, íallecido ha dias em Paris. Cerca de uma hora dissertou o Dr. Souza Araújo, illustrando a sua conferencia com demonstração no quadro preto. 0 orador recebeu, ao terminar, muitos applausos da assistência, O Dr. Cruz Moreira, encerrando o acto, agradeceu a presença das auctoridades e famílias. Entre o elevado numero de pessoas presentes, tomámos as seguintes; Dr. Souza Castro, Governador do Estado; Senador Cy- priano Santos, Intendente de Belém; Dr. Luiz Estevão, Juiz seccional e familia; senador Ferreira Teixeira, Drs. Dias Júnior, Francisco Mi- randa, Amaro Damasceno Júnior, Antonio Magalhães, Hilário Gurjão, Oswaldo Barbosa, Cyríaco Gurjão, Hermogenes Pinheiro e Ophir de Loyola e famílias, capitão-tenente Álvaro Amarante, commandante da Escola de Apprendizes Marinheiros; Dr. Amazonas de Figueiredo, Dr. Oscar de Carvalho, Dr. Camillo Salgado, representando a Fa- culdade de Medicina do Pará; Dr. Azevedo Ribeiro, Eugênio Morisson de Farias, pela firma Antunes Simões & Comp., Dr. Coelho de Souza, Dr. Luiz Barreiros, Dr. Penna de Carvalho, Dr. Américo Campos, Dr. Otto Santos, Dr. Bernardo Rutowictz, Dr. Lauro Sodré Filho, J. J. Monteiro de Paiva, commissão de alumnos da Faculdade de Medicina, o representante do Estado, etc. Destacavam-se na assis- numerosas e distinctas íamilias. A entrada do Palace tocou uma banda de musica. Depois de terminar a cerimonia do Palace, teve inicio o fes- tival do Grémio dos Funccionarios da Prophylaxia Rural, no Theatro da Paz, do qual daremos amanhã noticia detalhada». (Do Estado do Pará, de 10-6—922). A’ noite no salão de honra do Theatro da Paz os funccionarios que não constituem o quadro technico offereceram um baile dedi- cado ao Dr. Souza Araújo, Chefe do Serviço e aos médicos da Commissão. Ainda do Estado do Pará tomamos a seguinte noticia: «O elegante sarau de ante-hontem no Theatro da Paz, obteve um brilho pouco vulgar, que lhe deu o cunho distincto de uma solemnidade. Promovido pelo Grémio dos Funccionarios da Prophylaxia Rural, em homenagem ao Dr. Souza Araújo, o baile attrahiu a alta re- presentação da sociedade paraense. Até tarde, estiveram alli o Dr. Souza Castro, Governador do Estado, o homenageado e as figuras de maior relevo da classe medica de Belém, innumeras famílias e cavalheiros. O serviço de «buffet» foi abundante e variado, e alta madru- gada, ainda se dansava animadamente, aos accórdes da magnifica orchestra do professor Clemente Souza. O que foi essa festa, diz bem o que ficou no espirito de todos... Reminiscências vivas de saudades... » 2. PHARMACIA; SUA REORGANIZAÇÃO E MOYIMENTO ANNUAL for ASABÉZES COELHO DA SILVA Pharmaceulico rosponsavol pela sua direcção technica A esta Commissão foi entregue pelo Governo do Estado a pharmacia da antiga Inspectoria de Prophylaxia do Impaludismo, creada no Governo Lauro Sodré, Continuei, pela confiança da Chefia do Serviço, respondendo pela sua direcção technica. A Directoria da Escola de Pharmacia do Pará dirigiu o se- guinte officio ao Dr. Chefe do Serviço, datado de 6 de Junho do corrente anno. Ulmo. Sr. Necessitando installar a pharmacia desta Escola no prédio onde actualmente funcciona, peço a V. S. providenciar no sentido de me ser entregue os moveis, utensílios e vasilhames que se acham na pharmacia dessa Repartição e que pertencem a esta Escola, conforme tive occasião de communicar verbalmente a V, S. quando installou o Serviço de Prophylaxia Rural neste Estado. Aproveito o ensejo para apresentar a V. S. os meus protestos de alta estima e subida consideração. Deus guarde aV. S. (a) Ma- noel C. da Cunha Coimbra, director. Ao Ulmo, Sr. Dr. Heraclides de Souza Araújo, D. D. Director da Prophylaxia Rural no Estado do Pará». Em resposta a Chefia enviou o seguinte: N. 197. Belém, 13 de Junho de 1922 Ulmo. Sr. Pharmaceutico Manoel G. da Cunha Coimbra. D. D. Director da Escola de Phar- macia de Belém do Pará. Nesta,—Procurando satisfazer o vosso pedido expresso em officio de 6 do corrente, solicitei informações ao Sr. Dr. Director do Serviço Sanitario do Estado, sobre a pro- priedade dos moveis, utensílios e vasilhames que se achara na pharmacia desta Repartição, visto terem sido estes objectos e todo o pessoal que trabalhava nesta Secção traspassado do Serviço de Prophyiaxia do Impaludismo, para o de Saneamento e Prophylaxia Rural. Do Dr. José Cyriaco Gurjão, director do Serviço Sanitario Estadoal, recebi a seguinte informação aqui transcripta: «Exmo. Sr. Dr. Chefe do Serviço de Prophylaxia Rural neste Estado.—Em relação ao officio dirigido pelo Sr. Director da Escola de Pharmacia, tenho a informar-vos o seguinte: os corpos de ar- mações e demais utensílios actualmente utilizados na pharmacia annexa ao Serviço, sob vossa direcção, pertenceram, primitivamente, ao Hospital da Brigada Militar do Estado e depois, com a reforma do Serviço Sanitario do Estado no Governo do Dr. Augusto Montene- gro, que creou a Pharmacia do Estado, íôram elles utilizados na organi- zação da referida pharmacia, que funccionou de 1902 a 1914, quando foi extincta no Governo do Dr. Enéas Martins, Quando o Serviço de Prophylaxia Rural delles se utilizou, estavam na secção de Pro- phylaxia do Impaludismo, chefiada pelo Dr. José Alves Dias Júnior. O balcão fazia parte dos moveis da Secretaria do Serviço Sanitario do Estado. Reitero os meus protestos da mais alta estima e con- sideração. Saúde e fraternidade, fa) Dr. Souza Araújo». A troca dos oíficios acima esclarece períeitamente a legitimi- dade da posse da pharmacia deste Serviço por parte desta Com- missão, valendo a pena a sua transcripção para a completa eluci- dação do assumpto. A situação precaria de finanças que atravessava o Governo Estadoal não permittiu que estivesse a pharmacia, por occasião da sua entrega, provida de todas as drogas e vasilhames necessários para um movimento mais ou menos complexo, como o que se ia verificar com os trabalhos de saúde desta Commissão federal. Teve o Dr. Chefe do Serviço de fazer a sua reorganização e supprimento pelo almoxarifado do quanto necessário para o fim a que se destinava. E assim desde o primeiro mez de funccionamento tem-se mantido perfeitamente apparelhada para o movimento cres- cente que a expansão dos trabalhos vae reclamando dia a dia, como se verifica pelos dados que aqui vão inclusos. As drogas que consumimos são importadas algumas do Sul, das casas Moreno Borlido & Gomp., Drogaria Berrini, Alves Kastrup, Commissão Rockefeller, do Rio de Janeiro e outras adquiridas na praça, na pharmacia e drogaria Cesar Santos & Comp. e outros. Com pezar, mas em bem da verdade, diremos que maiores são as diíficuldades que encontra esta Commissão quando tem necessi- dade de comprar na praça alguns medicamentos urgentes dos mais necessários para os seus serviços, tantos são os embaraços encon- trados, já pelo elevado preço de occasião, já até pela própria recusa de vendagem, como aconteceu com a Pharmacia e Drogaria Beirão que se nos recusou vender oleo bruto de chaulmoogra para os tra- balhos dos dispensários de prophylaxia e therapeutica da lepra, ameaçados de serem interrompidos. A Drogaria Central, como nos tivesse faltado pela demora de remessa do Instituto Oswaldo Cruz saes de quinina, vendeu-nos a HOOSOOO o kilo, exigindo pagamento á vista! E’ esta a situação de apertos que tantas vezes se encontra esta Commissão federal sempre que, por demora de remessas ou faltas nos nossos fornecedores, necessita de qualquer droga. Haveria para evitar esses abusos commerciaes necessidade de mantermos sempre grandes stocks mas, infelizmente, as difficulda- des financeiras que tem atravessado esta Commissão não permittiram a manutenção desses stocks. A importação directa sempre foi mais vantajosa e o ideal seria se o Departamento Nacional de Saúde Publica tivesse o seu grande deposito official de medicamentos para supprir todas as commissões de saúde do paiz dentro de um serviço regular de remessas, ►co- brando-se dos seus valores em cada distribuição de créditos. Assim em grande parte, resolveria estas situações de aperturas que cada um dos muitos serviços de Prophylaxia Rural do paiz estão experimentando, como nós outros, com as maiores economias para a Nação. Para atlender ao desenvolvimento crescente dos trabalhos desta commissão, adquiriu a Chefia uma excellente machina typo allemão do fabricante Fritz Killians para confecção de comprimidos de qui- nina de 0,25 a 0,50 centigrammas. Produz 65 comprimidos por minuto. Temos também uma machina para manipulação de pilulas, do fabricante J. W. Pindar. Estes apparelhos são movidos á ele- ctricidade e trazem muita economia para o Serviço pois que a dis- tribuição de quinina era cachetes, além de mais retrograda é também mais dispendiosa. Para os serviços do Instituto Therapeutico da Lepra e Lepro- saria do Tocunduba manipulamos soluções de oleo de chaulmoogra sob a formula do Dr. Victor Heiser, director da Saúde Publica nas Ilhas Philippinas, e soluto de hydnocarpato de sodio, formula do Dr. Rogers. Depois de perfeita esterilização é enviada em vasilha- mes proprios aos dispensários. Temos o grato prazer de informar que, muito embora seja tal soluto favoravel ás suppurações, devido os elementos que entram na sua preparação, taes como a resorcina, corpo bastante irritante, não temos registado senão rarissimos casos de abcessos, dentre as milhares de injecções dadas nos doentes assistidos pelo nosso Serviço. A pharmacia prepara também solutos para injecções de qui- nina. benzoato de mercúrio, sob a formula do Dr. Gauchét, sôro- tonico, etc. O nosso receituário é muito grande; attendemos ao Instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas, postos sanitários e dispensários de lepra. Durante o anno foi este o movimento do receituário: ANNOS MEZES FORMULAS RECEITAS 1921 Junho 7 7 » Julho 283 150 » Agosto 332 210 » Setembro 410 385' » Outubro 455 385 » Novembro 470 340 > Dezembro 1.621 449 1922 Janeiro 1.500 715 Fevereiro 1.234 620 » Março 3 525 1.210 Abril 482 245 > Maio 128 ■ 99 Total 10.447 4.815 Annexo á pharmacia tem a secção de emballagens para atten- der aos serviços de ambulancias para as commissões e postos mé- dicos no interior do Estado. Durante o anno expedimos 778 ambulancias, assim discrimi- nadas: AN NOS MEZES Total do mez 3 921 Junho 13 Julho 63 Agosto 55 » Setembro 58 » Outubro •60 » Novembro 77 Dezembro 89 1922 Janeiro 78 Fevereiro 64 Março 72 » Abril 66 » Maio 83 Total geral 778 Estas ambulancias foram expedidas para varias localidades e postos, a seguir; Posto «Belisario Penna», no bairro da Pedreira; Posto «Osvaldo Cruz», no Souza; Posto Consultorio «Antonio Vieira», Posto Consultorio de São Braz, Posto «Souza Castro», em Bragança; Posto «Miguel Pereira», em Santa Izabel; Posto «Carlos Chagas», no Mosqueiro; Instituto de Prophylaxia das Doenças Ve- nereas, Hospital de São Sebastião, Instituto Therapeutico da Lepra, Leprosaria do Tocunduba, Peixe-Boi, Timboteua, Maguary, São Luiz, Inhangapy, Castanhal, Ananindeua, Benevides, Anhanga, Americano, Centro Catholico, Garaparú, Macapá, Guajará-assú, Oyapock, Bujarú, Anajás, Vizeu, Óbidos, Ponta de Pedras, Curuçá, Vigia, São Cae- tano de Odivellas, Soure, Chaves, Cayenna, São Miguel do Guamá, Santarém, Marapanim, Gurupy, Salinas, Ourém, Prainha, Colonia Correccional, Prophylaxia Rural de Manaus, Cametá, Porto'de Móz, São Sebastião da Bôa Vista e Mazagão. Póde-se avaliar o movimento deste departamento pela sahida de medicamentos, assim discriminados: Saes de quinina, 261 kilos e 300 grammas; ampollas de qui- nina, 31.756; comprimidos de quinina, 350.087; pilulas de quinina, 80.576; sulfato de magnésio, 5.030 kilos e 540 grs.; oleo de ricino, 1.084 kilos e 24 grs.; oleo de chenopodio, 113 kilos e 70 grs.; po- mada de Helmerich, 277 kilos e 520 grs.; pomada de oxydo de zinco, 190 kilos e 800 grs.; álcool á 36°, 2.665 litros e 750 c.c.; algodão hydrophilo, 566 kilos e 800 grs.; ampollas benzoato mer- cúrio, 12.720; oleo chaulmoogra, formula Dr. Heiser, 54 kilos,; vi- nho quinado, 745 litros. Attende ainda a Pharmacia aos pedidos de todos os Postos Ruraes assim como ás commissões ambulantes nas diversas locali- dades do interior do Estado, Em cada Posto ha uma pequena pharmacia, destinada aos seus trabalhos. Estas são suppridas por esta dependencia de accôrdo com pedidos assignados pelo director do Posto e a mim dirigidos, á medida que as necessidades de occasião vão reclamando. A distribuição de medicamentos nas pharmacias dos Postos é feita sempre por um guarda-sanitario, designado pelo director para esse fim. Não ha que receiar absolutamente quanto á manipulação, visto como, os medicamentos que sahem da Pharmacia Central do Serviço, já vão dosados e promptos a serem administrados. O Posto de maior frequência é o «Belisario Penna», que tem a sua pharmacia melhor apparelhada ao seu funccionamento. A manipulação nesse posto, é feita por pessoa pratica no serviço, não oíferecendo, portanto, perigo nenhum. Esta Goramissão, mantem também no Hospital de São Sebastião, uma pharmacia que está annexa a Central do Serviço, recebendo desta os medicamentos necessários ao seu funccionamento. A pes- soa encarregada de preparar as receitas passadas pelo medico-dire- ctor, tem a pratica necessária para o desempenho das suas funcções. Ahi ha um livro de entradas de medicamentos e o respectivo recei- tuário. Prestam o seu valioso concurso neste departamento, o Sr. Do- mingos Simões da Costa, que foi transferido no começo do anno corrente para o Hospital de São Sebastião e Vicente Laureano Fi- gueira de Mello. 3. —SECÇÃO DE CONTABILIDADE POR CABIOS HORA CX O £ SILVA Guarda-livros e Administrador Créditos distribuídos Compulsando os livros de escripturação «Diário», «Caixa», «Razão» e « Empenho de Despesas»,alem de vários documentos per- tencentes ao archivo desta Secção que comprehende também o Al- moxarifado Geral deste Serviço, verifica-se o seguinte movimento no anno financeiro de 1921:—Todas as verbas postas á disposição deste Serviço, durante o anno de 1921 montaram a somma de Rs 426:9201000, assim discriminadas; verba—Receita Especializada— (para occorrer ás despesas com o serviço de prophylaxia rural no Es- tado do Pará) Rs. 300:0001000; verba—Receita especializada—(para occorrer ás despesas com o serviço de prophylaxia da lepra e das doenças venereas) Rs. 66:9201000 e verba 29.a —Soccorros Públicos —(para occorrer ás despesas com o combate ás epidemias) R 5.... 60:000^000. Da primeira verba fôram feitas duas distribuições de credito â Delegacia Fiscal do Thesouro Nacional neste Estado, sendo a primei- ra por Ordem No. 64, de 4 de Maio de 1921, na importância de Rs. 120:0001000 e a segunda por Ordem No. 1718 de 7 de Outubro do dito anno na importância de Rs. 150;000$000 e um deposito de Rs, 30:0001000 no Thesouro Nacional para ser feito adeantamentò ao Chefe do Serviço, Dr. H. C. de Souza Araújo, para organização da Gommissão iniciadora dos serviços de saneamento e prophylaxia ru- ral neste Estado, comprehendendo a compra de medicamentos e ar- tigos de laboratorio. As outras duas verbas fôram distribuídas ambas á Delegacia Fis- cal do Thesouro Nacional neste Estado, a primeira pela Ordem No. 1788 de 17 de Outubro (Rs. 60:000$000) e a outra pela Ordem No. 1900 de 19 de Novembro (Rs. 66:9201000) ambas da Directoria da Despesa Publica. A escripturação dos livros a cargo desta Secção, que obedece á norma geralmente seguida das partidas dobradas, de accôrdo com as disposições do Godigo de Contabilidade da União e as instrucções emanadas da Directoria Geral de Saneamento e Prophylaxia Rural, no Rio de Janeiro, conforme a circular No. 872 e que fôram publi- cadas no «Diário Official» No. 202 de 27 de Agosto de 1921, está em perfeita ordem e nos- fornece o «Balancete» annexo extrahido a 31 de Dezembro de 1921. As despesas elevaram-se durante todo o exercício a Rs.. .. .. 422:6241132, sendo gasta com material a quantia de Rs. 262:4761490 e com pessoal a de Rs. 160:1451642, ficando das trez verbas um saldo de Rs. 4;295|868, como se vê do Resumo dos créditos e das despesas: Movimento do exercício de 1921 Verba do l.° Semestre 150:0001000 Despendida desde a partida da Gom- missão, do Rio de Janeiro, em Maio de 1921, até 31 de Ju- lho do mesmo anno: Material 110:6411490 Pessoal 39:3581510 15Q:000SQQ0 Verba do 2,° semestre 150:0001000 Verba de Lepra e Doenças Vené- reas 66:9201000 216:92Q5000 Despendidas desde l.° de Agosto até 31 de Dezembro de 1921; Material 108:7731300 Transporta 108:7731300 Transporte 108:7738300 Pessoal 107:7471132 216:5208432 Saldo 399:568 ~~216:9208000 Verba 29.a «Soccorros Públicos»— «Combate ás epidemias».... 60:0001000 Despendida desde 17 de Outubro até 31 de Dezembro de 1921: Material 56:1031700 Saldo 3jpÕ6$3ÕÒ Recapitulação Incluindo todas as verbas á dispo- sição do Serviço, as despesas montaram a Rs 422:6241132 Assim discriminadas: Material 262:4781490 Pessoal 160:1451642 422:624|132 Saldo total 4:2951868 426:9208000 Total das verbas 426:9201000 Sendo: Prophylaxia Rural—primeiro e se- gundo semestres de 1921... 300;000$000 Prophylaxia da Lepra e das Do- enças Venéreas 66:9201000 Combate ás epidemias 60.0001000 Rs. 426:9208000 APPLICAÇÃO DOS DINHEIROS PÚBLICOS Pelo Balancete demonstrativo da applicação dada á verba «Re- ceita Especializada», posta á disposição do Serviço para custeio dos serviços de saneamento e prophylaxia rural neste Estado, verificam- se períeitamente caracterizadas as duas phases principaes dos tra- balhos: a sua phase inicial de organização e installação e a sua pha- se de franco íunccionamento. Effectivameote se examinarmos detidamente, cada uma de per si, todas as importâncias dos gastos eííectuados nelle consignados encontraremos logo em principio a quantia dé Rs. 30:000000, rece- bida como adeantamento pelo Chefe do Serviço, Dr, Souza Araújo, no Thesouro Nacional, para occorrer ás despesas da Commissão or- ganizadora e iniciadora dos trabalhos a serem realizados nesta Capital. Esta importância servio para adquirir o material necessário á primeira installação da Commissão e os medicamentos precisos aos Postos Rnraes. Desta quantia foi gasta a importância de Rs 10:0001000 com acquisição de 50 kilos de bi-sulfalo e 25 kilos de chlorhydrato de quinino comprados ao Instituto «Oswaldo Cruz» de Manguinhos. Gastou-se mais Rs. 6:9031000 com material (Micros- cópios, centrifugadores, laminas, capsulas e chenopodio) comprado á Commissão Rockefeller. A factura de Alves Kastrup & C.a, de Rs. 1:837$000, corresponde a 386 dóses de neosalvarsan e silber- salvarsan. O saldo de Rs. 11:2601000 foi empregado em utensílios, material de expediente e obras scientificas que constituem a biblio- íheca do Serviço. No mez de Junho foi despendida a quantia de Rs. 38:5975000, sendo a importância de Rs. 10:1671300 da factura de A. Pires Nunes despendida com medicamentos; a factura de James Bremner e Antunes Simões & G.a representam, a primeira o custo de um automovel marca «Buick» e a segunda o preço de uma «voiturette» «Ford» empregada na conducção de medicamentos. A conta de Rs. 3:9095900 de M. Matheus do Valle representa o custo da adaptação do antigo Laboratorio do Estado á séde e Instituto de Hygiene do Serviço e reforma no prédio onde funcciona o Ins- tituto de Prophylaxia das Doenças Venéreas. A quantia de Rs 2:000$000 da conta da Imprensa Official foi gasta com a publicação, com o fim de propaganda, de 5.000 cartas pastoraes sobre o sane- amento rural. Com a reedificação e melhoramentos realizados no Posto «Belisario Penna», na Pedreira, foi despendida a quantia de Rs. 4:251S000 da conta de Fonseca Diniz & C.a Em Julho as despesas com material elevaram-se a Rs 39:310$800, assim discriminadas, as mais importantes: installações eléctricas em vários departamentos do Serviço (conta de José M. Rodrigues Pereira) Rs. 1:916$800; apparelhos e material de labo- ratorio (conta de Moreno Borlido & Ca) Rs. 18:3645650, appare- lhos de ultra microscopia (conta de Fernandes Malmo & G.a) Rs. 3:1761000. A importância de Rs. 2:7335690, gasta no mez de Agosto, re- presenta o custo de 475 carteiras de identidade das merett-izes ma- triculadas no Dispensário Anti-venéreo. No mez de Outubro figuram despesas que fòrara efíectuadas em Agosto e Setembro e que só foram liquidadas neste mez por- que não havia sido distribuído o credito necessário ao seu paga- mento, o que só veio a ser feito nessa occasião. As despesas neste mez montaram a Rs. 31;703|750. As contas de Manoel Pedro & C.a, Fonseca Diniz & Ga, M. Aííonso & G.a, M. Matheus do Valle e José M Rodrigues Pereira, no total de Rs. 4:156|800 referem-se a diversas obras realizadas com a construcção do prédio do posto da Pedreira e melhoramentos na Leprosaria do Tocunduba. A. Faciola e Antunes Simões & G.a (c/c na importância de Rs. 5;7375500) forneceram utensílios e material de expediente. Gesar Santos & C.a (c/ de Rs. 1:244$000) e J. S. de Freitas & C.a (c de Rs. 7435000) forneceram, o primeiro, medicamentos e os segun- dos, moveis. A quantia de Rs. 4:1771500 das duas contas do Lloyd Brazileiro representa o custo das passagens fornecidas aos funccio- narios que compunham a Commissão vinda da Capital Federal. E, A, Garcia e Matadouro do Maguary, cujas contas importaram em Rs. 2;8295160, forneceram aos internados do Hospital de S. Sebas- tião, aquelle, generos de primeira necessidade e este a carne fresca necessária ao seu consumo. Neste mez foi despendida cora acquisi- ção de carteiras de identidade das meretrizes do Instituto de Prophy- iaxia das Doenças Venereas a quantia de Rs. 8151790. Em Novembro apenas foi gasta a importância de Rs. 8:1201000, sendo Rs. 6:0001000 cora as despesas urgentes do Serviço e Rs... 2:1201000 (conta de Humberto A. Claros) com a construcção de um chalet no Tocunduba para servir de Posto Medico da Leprosa- ria alli installada. O ultimo mez do exercício de 1921, consigna uma despesa de Rs. 68;949|550, sendo a seguinte a sua discriminação: Material de expediente e utensílios 4:027|100 Moveis 2:568$000 Generos ao Hospital de S. Sebastião 2:2221600 Carne fresca ao mesmo Hospital 2:092|200 Medicamentos 7005200 Material e medicamentos necessários a 3 Postos Ruraes (Factura da Commissão «Rockefeller ») 36:7701400 Gamas, lençóes, colchões e travesseiros aos lepro- sos do Tocunduba 4;118$000 Impressos e artigos de livraria 4:251140(3 Obras no Posto «Belisario Penna» 7411800 Animaes de laboratorio, carretos e pequenas des- pesas 2:1995850 Medicamentos e artigos de laboratorio 9:2581000 Total Rs 68:9491550 Do exposto verifica-se que as despesas, realizadas todas dentro dos limites das verbas votadas e distribuídas, fôram effectuadas com o máximo critério e debaixo da mais rigorosa economia. Apezar de não estar o serviço sujeito ao regimen da concor- rência publica, as compras effectuadas, tanto nesta praça como nas do sul da Republica, fôram feitas áquellas casas que mais garantia offereciam, não só quanto aos preços como também quanto á qua- lidade do material adquirido. Cora este systeraa da justa applicação das verbas, todo o ma- terial comprado, em abundancia, preenche cabalmente o seu fim e emprego, permiltindo, por este motivo, a realização de um trabalho o mais eíficiente que é possivel, estando todas as secções deste Serviço providas de tudo o que lhes é necessário ás suas respe- ctivas tarefas, existindo, além disso, todo o material que não é de consumo immediato em perfeito estado de conservação representando quasi o seu primitivo valor. Realmente, da importância gasta com-material (Rs. 219:4141790) existe em moveis e utensilios, íóra as bemfeitorias executadas em edifícios do Governo do Estado, onde funccionam os Departamentos da Saúde Publica, os quaes fòram gentilmente cedidos ao seu uso independente de qualquer mensalidade, cerca de Rs. 50:0001000, como se verificou do Inventario procedido em Outubro de 1921, e enviado á Directoria Geral, no Rio de Janeiro. Convém notar ainda que grande parte da importância dos adeantamentos recebidos para custeio das despesas de prompto pa- gamento, como sejam as despesas de lavagem de roupa, de casa, carretos, fretes de ambulancias e outras despesas dessa natureza, foi despendida com material, sobretudo medicamentos, necessário ao Serviço. Passemos agora a examinar a demonstração relativa á verba 29.a Soccorros Públicos—. Esta verba foi posta á disposição deste serviço e mandada ap- plicar ao combate do impaludismo no interior do Estado em virtu- de do telegramma n. 401 de 5 de Outubro de 1921 do Sr. Di- rector Geral da Prophylaxia Dr. Belisario Penna. No mez de Outubro houve apenas a despesa de Rs. 3905000 de material e a de Rs. 2:610S000 de pessoal, por ter sido este o mez era que foram iniciados os serviços systematicos e intensivos de combate ao impaludismo no interior do Estado custeados com esta verba, o que até então se fazia com a verba de Prophylaxia Rural, nos Postos do Serviço. Nesta data partiram quatro Commissões Ambulantes levando a diíferentes pontos do interior do Estado a acção benefica e huma- nitaria da Prophylaxia Rural, sendo uma delias organizada e che- fiada pelo proprio Chefe do Serviço, Dr. Souza Araújo que, cora os parcos recursos de que dispunha, percorreu todos os pontos mais assolados pela epidemia paludica, internando-se nos mais invios ser- tões paraenses até onde se fazia, mister a sua acção saneadora. Em Novembro e Dezembro despendeu-se mais, sobretudo com medicamentos. De facto, exceptuando-se a conta de Lopes & . Gui- marães de Rs. 841S000, de utensílios necessários ás Commissões Ambulantes e a de A. Faciola de Rs 1:063$500 de artigos de li- vraria, as demais contas, de Cesar Santos & C,a (Rs. 9731000 e Rs. 2:805$900), a de Freire Guimarães & G.a (de Rs. 14:380S000) e a do Instituto «Oswakjo Cruz» (de Rs. 15;Ò00|000) se referem a medicamentos. Só a do Instituto «Oswaldo Cruz» representa o valor de 150 kilos de bi-sulfato de quinino que foi todo gasto nesta cruzada con- tra o grande mal amazonico. Gomo aconteceu á verba Receita Especializada —as impor- tâncias recebidas por adeantamento, por conta desta, não íôràm so- mente- gastas com os pagamentos urgentes de somenos importân- cia e sim também, em grande parte, gastas com a acquisição de medicamentos. Com o pessoal, na sua maioria contraclado, foi gasta a somma de Rs. 15:6501000, durante os mezes de Outubro a Dezembro; en- tretanto, os trabalhos das quatro Commissões Medicas (pois tantas fôram organizadas) proseguiram, sendo o restante das despezas pagas pela verba «Rural». O saldo da verba 29.a Soccorros Públicos foi applicado no pagamento de parte da despesa feita em Março findo com o ser- viço de combate á peste. De Janeiro a Maio deste anuo fôram distribuídos os seguintes créditos : Para custear as despesas com o serviço de saneamento e pro- phylaxia rural; Rs. 75:000$000, pela ordem N. 401 de 15 de Março e aviso N. 143 de 9 de Fevereiro de 1921. Para custear as despesas com o serviço de prophylaxia da lepra e das doenças venereas: Rs. 62:5001000, sendo: Pela Ordem N. 466 de 24 de Março e Aviso N. 240 de 25 de Fevereiro 35:0001000 Idera, idem N. 734 de 11 de Maio e Aviso N. 431 de 8 de Abril 27:5001000 62:500$000 Não nos é possível fazer a demonstração das despesas effectua- das com estas verbas em virtude não só da tardia distribuição dos créditos respectivos, como por serem elles parte das verbas estipu- ladas para as despesas do l.° semestre. Com effeito, empenhadas todas as despesas effectuadas por conta destes créditos resulta ainda um déficit superior a Rs.. .:. . 100:0001000, correspondente á ditíerença da verba do contracto primitivo e do que vae agora ser firmado (augraentando a verba annual de 300 para 500 contos). E’ de justiça dizer-se que, se não fosse a bôa vontade, até este momento ainda não desmentida, do Illustrissimo Snr. Dr. Ulysses O. Gajazeira, muito digno Delegado Fiscal do Thesouro Nacional neste Estado, a favor deste Serviço, não saberíamos dizer que mão futu- ro estaria reservado á nossa Repartição que, assediada pelos credo- res e sem verba para pagar os seus propríos funccionarios, seria pela falta de credito levada talvez ao anniquillamento ou pelo menos veria o seu esforço em grande parte inutilizado. Felizmente, porém, essa auctoridade com o tino e perspicácia dos bons administradores, soube ver no Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural a realização de um trabalho patriótico, como é todo aquelle que no nosso paiz se relaciona com o soerguimento da saúde publica nacional, e, desde o seu inicio até hoje tem sido elle incansável em dispensar obséquios ao nosso Serviço, chegando ao ponto de mandar pagar as suas folhas de pessoal até mesmo sem o credito distribuído. Apraz-nos terminar o nosso modesto trabalho com estas justas referencias a esse grande amigo da Prophylaxia. Balancete Demonstrativo da applicação dada á verba —Receita Especiali- zada— da Consignação;—Material e Pessoal; da sub-consignação Para occorrer ás despesas com o Serviço de Saneamento e Prophy- laxia Rural no Pará. Idem, idem, com o Serviço de Prophylaxia da Lepra e das Doenças Venéreas Prophylaxia Rural 300:0001000 Lepra e Doenças Venereas...... 66:9208000 Total Rs ~36(b92ÕSÕOÕ Maio: Adeanlamento 30:000$000 Junho: Folha de ajuda de custo 2;775|000 Conta de Antunes Simões & Ga. . 2:000$000 » » A. Pires Nunes 10:167$300 » » James Bremner 6:500$000 » »M. Malheus do Valle. . . 3:9095900 » » A. Faciola 4;356|300 Folha de pagamento a diaristas.. 9625500 Conta da Imprensa Offieial 2;000$000 > de J S. de Freitas & C.a.. 1:675$000 » » Fonseca Diniz & C.a .. . 4:251|000 38:5975000 Julho Conta de J. M. Rodrigues Pereira. 1:916$800 » » Moreno Borlido & C.a. . 18:3641650 » » Fernandes Malmo & C.a. 3:176$000 » » Freire Guimarães & Ca. 1:8538600 Despesas de prompto pagamento . 6:000-1000 Conta de Cesar Santos & Ca.... 5:622-|750 » » Antunes Simões Ca. . 1:491$100 » » J- Carlos Silva 8855900 31):310|800 Agosto: Conta do Gabinete Medico Legal . 2:7338690 Outubro: Despesas de prompto pagamento , 12:000$000 Conta de Manoel Pedro & G.a. . . 1:000$000 » Fonseca Diniz & (i.a... 1:116$400 » » M. Aff ouso & C-a 3008000 » » A. Faciola 2:172|500 » » Cesar Santos & C.a. .. . 1:244$000 Transporta 17:8325900 110:6418490 MATERIAL Transporte 17:832|900 110:641|490 Conta de Antunes Simões & G.a.. 1:064$800 » do mesmo 635|500 » » Lloyd Brazileiro 3:770|500 » » mesmo 4071000 » de J. S. de Freitas & C.a.. 580|000 » do mesmo 1635000 > de M. Matheus do Valle... 1:308$000 » »J. M. Rodrigues Pereira. 4325400 » » E. A. Garcia 4071500 » do mesmo 577|200 » » Matadouro do Maguary. 1:844|460 » » Gabinete Medico-Legal. . 7001890 » mesmo 1145900 » de Antunes Simões & C.a.. 1:864$700 31:703|750 Novembro: Despesas de prompto pagamento . 6:000$000 Conta de Humberto A. Glarós 2;120|000 8:1208000 Dezembro; Conta de A. Faciola 880|400 » do mesmo 8951000 » » Matadouro do Maguary. 814|000 » de Fonseca Diniz & C.a... 7415800 » » Tavares Cardoso & C.a. * 1:384$500 » »J. Kislanov & Irmão ~ . 2:568|000 » » Lopes & Guimarães..., 2:1998850 » » E. A. Garcia 297|000 » » do mesmo 731|000 » » Antunes Simões & C.a. . 900|400 » » Lopes & Guimarães .... 4:118$000 » dos mesmos 434|500 » de Antunes Simões & C.a.. 963|000 » » A. Faciola ' 2588000 » do mesmo 2741500 » de Tavares Cardoso & G.a. 559|000 » » S. Rolla 4. 1:247$000 » da Commissão Rockefeller . 36:7705400 » de Moreno Borlido & C.a . . 7:986|100 » dos mesmos 1:271$900 » de. E. A. Garcia 7651600 » do mesmo 4035200 » de Antonio A. Velho 48^1200 » do Matadouro do Maguary.. 1:278$200 » de A. A. Ramos 5025800 » » Manoel Vieira da Fonseca. 2235200 68:9498550 Transporta 219:4148790 Transporte 219:4145790 Folha de pagamento dos funcciona- • rios (Prophylaxia Rural): Abril e Maio 6:8365630 Junho 12:5281230 Julho 19:9931650 Agosto 19:8371000 Setembro 20:481 $B4O Outubro 16:3181500 Novembro 16;701|000 Dezembro 17:327|000 130:023|850 PESSOAL Folhas de pagamento do pessoal do instituto de Prophylaxia das Doenças Venereas, Hospital S. Sebastião, Instituto Theura- peutico da Lepra e Leprosaria do Tocunduba; Outubro 5:361 $792 Novembro 5:145$000 Dezembro 6:575|000 17:0815792 366:5201432 Saldo Rs 399 $568 Balancete Demonstrativo da applicação dada á verba 29.a Soecorros Públicos —da consignação Material, da sub-consignação:—Para occor- rer ás despesas com o com- bate ás epidemias 60:000|000 Outubro: Despezas de prompto pagamento . 3901000 Novembro: Conta de Cesar Santos & C,a.. .. 9735000 » » Lopes & Guimarães... . 841|300 Despezas de prompto pagamento. 5:000$000 6:814|300 Dezembro. Conta do Instituto «Oswaldo Cruz». 15:000$000 » de Freire Guimarães & C.a. 14:380$000 » » Cesar Santos & C.a.... 2:805$900 » »A. Faciola 1:063|500 33:2495400 Transporta 40:4535700 MATERIAL Transporte 40:453^700 PESSOAL Folha de pagamento de Outubro . 2:610|000 Idem, idem, de Novembro 6:450$000 Idem, idem, de Dezembro 6:590$000 15:6501000 56:1035700 Saldo Rs 3:8961300 60:0001000 RENDA EVENTUAL A renda eventual do Serviço foi produzida pelos trabalhos re- munerados do Instituto de Hygjene, Instituto «Pasteur» e cessão de medicamentos, pelo custo, ás Intendências do interior do Estado, á Santa Casa de Misericórdia á firma Saunders & Davids desta praça que mantêm, a sua custa, um Posto de Prophylaxia Rural no Gor- lume Maguary de sua propriedade, etc. A importância desta renda devia ser utilizada pelo Serviço na liquidação de suas contas de prompto pagamento, o que não só facilitaria a respectiva prestação de contas como traria ao Serviço uma certa" «aisance» neste mo- mento, em que por falta de distribuição de créditos os adeantamen- tos para satisfazer as despesas dessa natureza lhe têm sido negados pela Delegacia. Demonstração Renda do Instituto de Hvgiene e Instituto «Pasteur»: Julho '... 1921000 Agosto 200$000 Setembro 4001000 Outubro 264|000 Novembro 2165000 Dezembro 488|000 1:760$000 Produzida por materiaes e medicamentos cedidos pelo custo ás Intendências do interior do Estado, ao Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural no Maranhão, á Santa Casa de Misericórdia desta Capital e á firma Saunders & Davids 8:7325260 10:4925260 Esta importância, addiccionada de outra emprestada pelo Dr. Chefe do Serviço, foi depositada na casa Berringer & C.a, como garantia de um negocio de cambio eífectuado para paga- mento de encommendas de medicamentos e de artigos de labora- tórios feitas da Allemanha, e que agora começam a chegar. Nos momentos de apertura do almoxarifado tenho recorrido sempre ao Dr. Souza Araújo, Chefe do Serviço, que tem emprestado para pagamentos urgentes, quantias superiores a 10, 12 e até.... 16:0001000, contra vales que bem sei não terem nenhum valor legal. 405 CONTAS DEBITO CREDITO SALDOS DEBITO CREDITO Thesouro Nacional, conta de fundo especial. 426:994$000 294:208$532 132:785$468 Ministério da Justiça, idem 422:t>98$132 426:994$000 — 4:295$860 Despesa Empenhada 348;282$532 422:772$132 — 74:489$600 Caixa 72:492$260 54:000$000 18:492$268 — Thesouro Nacional, conta de adeantamento. — 62:000$000 — 62:000$000 Material 222:501$590 34:512$700 187:988$890 — Despesa Liquidada 7 4$000 348:208$532 ■— 348:134$532 Pessoal 160:145$642 — 160:145$642 — Contas Correntes 10:802$800 10:802$800 — Eenda Eventual 10:492$260 10:492$260 — — Thesouro Nacional — 10:492$260 — 10:492$260 1.674:483$216 1.674:483$216 499:412$260 499:412$260 Carlos Iíorado Guarda-livros. Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural no Estado do Pará, em 31 de Dezembro de 1921. BALANCETE DO RAZÃO ÍNDICE PAGINAS Officio de apresentação- 9 Parte Geral Capitulo I—Historico do Saneamento Rural no Estado do Pará ate 1920, pelo Dr. José Alves Dias Júnior 11 Mortalidade por impaludismo durante 12 annos 22 Accôrdo com o Estado do Pará 22 Inauguração dos serviços era 9 de Junho de 1921 25 Accôrdo com o Município de Bragança 92 Accôrdo com o Município de Belém 94 Accôrdo com o Serviço Sanitario do Estado 9(1 Capitulo II —Oito annos de gestão do Serviço Sanitario do Es- tado do Pará, pelo Dr. José Cyriaco Grurjão-. 99 Resumo da campanha da febre amarella no Estado do Pará-.- 47 Custo da extincção da febre amarella 4(1 Secção de demographia. (Quadros estatísticos) de 47 a 48 Capitulo III—Assistência Hospitalar em Belém, pelo Dr. Ber- nardo Leibowitcz RutoAvitcz 49 I—Santa1—Santa Casa de Misericórdia 49 2 —Hospital D. Luiz I, da Sociedade Portugueza Beneficente. ”>7 9—Ordem Terceira de São Francisco (52 4 —Hospitaes de isolamento.. (54 õ Hospital Domingos Freire (>õ Hospital OsAvaldo Cruz (Kl Hospital S. Rocque (5(5 (s—Hospital de S. Sebastião (Kl 7 Hospício de Alienados 08 8 Hospital Militar da 7.,a Região 70 9 Enfermarias do Asylo de Mendicidade 71 10 —Casa de Saúde Marítima do Pará 71 11 Instituto de Protecção e Assistência á Infancia do Pará... 72 Capitulo IV—Estudos sobre a remoção do lixo, serviços de exgottos, Matadouro do Maguary e Mercados de Belém, pelo Dr. João Pinto de Oliveira 74 1 —Remoção do lixo 74 2 Serviço de exgottos 78 9 Matadouro do Maguary 89 4 Mercados de Belém ; 84 Capitulo V—Exgottos de Belém —Estado do Pará, pelo Dr. Domingos Acatauassú Nunes 8(1 Capitulo VI—A agua distribuída á população de Belém e sua anályse bacteriológica, pelo Dr. Lauro de Almeida Sodré.- 199 1 Generalidades 189 2 Historico 140 1— 0 serviço de captação e distribuição d Agua 142 2 —Analyse bacteriológica da agua 150 Capitulo VII—Anályse chimica da agua do abastecimento de Belém, pelo pharmaceutico Raimundo Felipe de Sousa .... 155 Anályse da agua potável de Belém 157 Nota sobre os quadros de resultados analytieos de aguas potáveis ; 100 Capitulo VIII —Primeiro anno de funccionamento do Instituto de Hygiene de Belém, pelo Dr. Jayme Aben-Athar 101 1 Instituto de Hygiene de Belém 101 Descripção do Instituto 101 Movimento geral 108 2—Pesquizas seientiticas especiaes 109 a) —A principal causa do erro da reacção do Wassermann... 109 h) Vaccinação anti-rabica Accidentcs e mortalidade 179 r )—Notas sobre um novo processo de cultivar o Micrococcus gonorrheae e preparar vaccinas microbianas 185 d)—Outras pesquizas realizadas 189 Regulamento interno do Instituto de Hygiene 191 Capitulo IX—Fiscalização do Exercido da Medicina e Policia Sanitaria 194 Médicos 196 Pharmaceuticos 190 Dentistas 197 Parteiras 209 Pharmacias e Hospitaes 209 Multas 210 Policia Sanitaria e Fiscalização de Generos Alimentícios.... 211 PAGINAS Geographia Medica Capitulo I Condições medico-sanitarias das zonas sob a acção do Posto «Belisario Penna», peio Dr. José Alves Dias Júnior..., 217 I—Descripção do Posto 217 2 Bairro da Pedreira e a sua população 220 B—Polyclinica e propaganda 228 4—Prostituição e Doenças Venéreas—Os casamentos 225 5 Clima e salubridade—Longevidade 227 6—Hydrographia sanitaria 228 7 —Trabalhos realizados de 24 de Junho do 1921 a 81 de Maio de 1922 280 Capitulo II —Condições medico-sanitarias das zonas sob a acção 284 do Posto «Oswaldo Cruz», pelo Dr. Francisco da Silva Miranda 284 I—Descripção do Posto 284 2 —Trabalhos realizados 289 Segunda Parte paginas Capitulo III—Condições medico-sanitarias da região percorrida pela Estrada de Ferro de Bragança, pelo Dr. Anastacio da Silva Monteiro 242 Trabalhos realizados de Junho de 1921 a Maio de 1922 251 Capitulo IV—Condições medico-sanitarias da ilha do Mosqueiro e demais zonas sob a acção do Posto «Carlos Chagas», pelo Dr. Hermogenes Pinheiro 255 1 — Informações geraes 255 Diversas epidemias 257 Leis municipaes de caracter sanitario 258 Recursos médicos 258 2 — Descripção do Posto ; 258 Condições medico-sanitarias da ilha do Mosqueiro em 1920 e 1921 259 3 — Trabalhos realizados de 14 de Julho de 1921 a 31 de Maio de 1922 , 263 Capitulo V— Condições-medico-sanitarias das zonas sob a acção do Posto «Miguel Pereira», pelo Dr. Gerainiano Coelho-. 266 1 — Considerações geraes —A villa e sua população 266 2— Repreza 268 3— O impaludismo ■ 269 4— Das verminoses 270 5 — Outras doenças 273 6—Trabalhos realizados de Janeiro a Maio de 1922 274 Capitulo VI — Condições medico-sanitarias do Município de Bragança, pelo Dr. A. Damasceno Júnior 277 Trabalhos realizados de Outubro de 1921 a Maio de 1922.... 283 Capitulo VII—Condições medico-sanitarias das cidades de Prai- nha, Chaves e Soure, pelo Dr. Paulo Baptista Rombo 286 1 — Cidade de Prainha 286 2— Cidade de Chaves -. 288 3— Cidade de Soure 291 Capitulo VIII—Estudos feitos e soccorros prestados pelas com- missões medicas ambulantes, pelo Dr. H. C. de Souza Araújo , 295 1 —Município de Vizeu 297 Expedição ao Alto Gurupy 297 Felippe Camarão 308 As minas auríferas do Gurupy 316 Os «Urubus» e seus crimes 317 Jorge Almir 319 Habitação e Alimentação dos moradores do Gurupy 321 Cidade de Vizeu 322 Cidade de Salinas 323 Cidade de Marapanim 325 Cidade de Curuçá 325 Ponta de Pedras 327 Cidade de Anajás 327 Baixo Amazonas 327 São Miguel do Gruamá 329 Instituto do Prata 329 Cidade de Montenegro (Amapá) 330 Núcleo Colonial Cleveland (Oyapock) 331 PAGINAS Capitulo IX Estudos sobre a frequência e extensão das hel- minthoses e do impaludismo no Estado do Pará, pelo Dr. H. C. de Souza Araújo 337 I—Helmintlioses1—Helmintlioses 337 a) Polyhelminthose (Infecção geral) 343 Infecção geral 344 b) —Ancylostomose 344 c) Ascaricliose 350 d) Triclmriose 353 e) Estrongylose 353 /') Outras helminthoses 358 g)— Associação das helmithoses 358 Exame da taxa de hemoglobina . 358 2 —Do impaludismo 364 índice parasitario 364 índice esplenico 366 A reacção de Wassermann no impaludismo 368 3 Prophylaxia de outras doenças 369 Varíola 369 Peste 371 Capitulo X—Notas administrativas 375 I—Pessoal, primeiras nomeações, quadro geral dos funccio- narios, por Martins e Silva . 375 2 Pharmacia, sua reorganização e movimento annual, por Adarézer Coelho da Silva 390 3 Secção de contabilidade, por Carlos Horacio e Silva,...- 394 ERRATA PAG» LINHA ONDE SE LÉ: LEIA-SE: 14 42 effervescencia defervescencia 18 38 comparticipação cooparticipação 218 41 imlementam incrementam 219 ~) eminentemente imminentemente 219 12 exprime- exprimem 220 48 traçada trançada 222 48 satisfazerem.... satisfazer 227 19 ...resultados. Cora apor-\ centarjem etc / .resultados com a porcentagem etc;. 228 10 devida devido 232 4 consolidaram consolidou 232 10 (Rdaiorio do Paraná)... A Prophylaxia Rural no Estado do Paraná (Dr. Souza Araújo). E como estes ainda ha outros descuidos de revisão, sobretudo, de pon- tuação e construcção, que o leitor corrigirá.