WIA M738A 1883 V?CT; ^y^' m '&*&■:■■-.- -y/.-yy jyi XAUONA. LIBRAR» Of MEDICINE NLfl D013br27b •=) > > ^ y > > :> J> Z> >' :> 1 ^> > I> '> ^ > > :> ~> %> ~> 3>:o>~> 3. 5 z> > >r> :>- :> > >>\: -»'--» -Li > • > D*"i ~> > €>>. tOJ3QOQ&i-» - _j3fe> V» >V2> -^g> V> YJ> 1S> »o!> > 3> 3 5^> :.> __ J> 3> > > >~ ^> Z» O 2- i > "~" > i> 5 . o ~3> > )<■ > ~5> > ; > • vj3 J2> v, - ->'»■■> 3> j ■ '" > »• > ^> >>^^ ) ^> >",»> >.. ■ T> -> > > v> -^ -^ y > > v> > . ^ 3 X > >_> <^ - —*^ ^ *^^_ —^ 5 -> ^5>» i 5T3> >3» > > 3>- » > )S> ■»>Tj> 3>' í> ^> » > ^> -*yy> •; mír^xZ >t> ^> > -3>>>? £>1 > >> "» , O s> >. 2£> Á) P ^ > -> ? :>C -> > í> .= -> ) £> 3 ^J ^> » - » > > Z> _, Z>í> - ^ -> »>. >.i> ^l -» -> ->•» g > >z> ~y> i> 30"» J»»<»> . » ^ -^^^ ■* yy*^'»- ^ < íS(*' . Z>. L> ^> >;»z: *s vO"5> > > > > j>J>>>".1» _ í»-SX>t>35> "> "- "\ y&JZ>>3> ^>J?yl - d»í^» >:» ^>» > - j » ^ > . ' -■> » ~> -■ » - __ >. 3 O"» ^ * 1> 'S)5Z > 3 > .Z>^! J Ce 7 --//y+tj^ ^n-^ ^5 DA DILATAÇAO DO ESTÔMAGO NAS CREANÇAS E SEU TRATAMENTO % «^«^u*,^ »*&-//& JÍW- d^^lS. <%,J£^ '■&Hc~^f wl*~~^<^^^ yf/J/i; j»«^ £ 2^—^y^^. ju— fr- ^ a^C^^y^ ^ yy^Z £ ayt#^J-T^~y*>e<^ ' eh£^fky2^-*,^ J? Ao Ex.MO Sr. Conselheiro RODOLPHO E. S. DANTAS ~>{mC044M. DA DILATAÇAO DO ESTOIAGO NAS CREANÇAS )ílí E SEU TRATAMENTO SEGUNDO AS LIÇÕES FEITAS NA POLICLINÍCA DO RIO DE JANEIRO PELO yr DR. MONCORVO Professor de clinica das moléstias das creanças na mesma Policliníca; professor honorário da Faculdade de Medicina de Santiago do Chili; membro da Academia de Medicina do Rio de Janeiro ; membro correspondente da Academia Real de Sciencias de Lisboa, da Academia de Medicina de Roma, das Sociedades de Medicina de Paris, Marselha, Reims, Argel, Genebra, Lisboa, etc, etc. Wty ^ RIO DE JANEIRO TYP. DE O. IETJZINOEE & FILHOS, RUA DO OUVIDOR 31 1883 ! VVíIft Ml38á \883 p/t*, yo .én>yy-3 DA DILATAÇÃO DO ESTÔMAGO NAS CREANÇAS Nos mais antigos repositórios da sciencia en- contram-se provas bem evidentes de que, desde as mais remotas eras, a ectasia do estômago foi objecto da observação dos médicos. Nas próprias obras de Hippocrates, de Galeno e seus discípulos encontra-se, embora vagamente indicado, o facto da amplificação do ventriculo gás- trico coincidindo com perturbações digestivas. Então como depois nenhuma descripção especial mereceu, entretanto, a dilatação gástrica, e ainda menos houve quem indagasse a causa de sua pro- ducção. Só, em 1657, Riolan, observando com mais attenção alguns casos desta ordem, julgou poder interpretal-os, attribuindo a amplificação do ven- 6 triculo á perda da elasticidade de suas túnicas pela ingestão de copiosa quantidade de alimentos e de bebidas. Este perspicaz observador considerava, porém, exageradamente a polyphagia e a polydipsia como a causa única da ectasia. Este modo de julgar a questão foi, entretanto, largamente partilhado pelos que, apoz Riolan, se occuparam com este assumpto, taes como Spigelius e Bauhin. Até 1765, pouco ou nada se adeantaram os conhecimentos adquiridos acerca da dilatação gás- trica ; foi então que Van Swieten, primeiro que ninguém, traçou com admirável precisão o meca- nismo da gastroectasia, appellando para a paresia das paredes gástricas, vencidas em sua contractilidade. Posteriormente novas observações começaram a trazer proveitosos contingentes á este estudo, e, em 1794, J. P.-Frank consagrou-se attentamente ao estudo das causas da dilatação, fazendo notar entre ellas o valor da estenose dos orifícios, que até então não houvera attrahido devidamente a attenção dos clínicos e pathologistas. Por muito tempo ficou a questão da dilatação sujeita a controvérsias, sobretudo durante o período em que dominaram as doctrinas de Broussais, e ainda mais quando a reacção subsequente A^eiu fazer excluir a phlegmasia gástrica d'entre as causas pro- ductoras da ectasia do ventriculo. Entre os que 7 partilhavam este modo de ver destacavam-se Billard, em 1825, e Pézérot, em 1829. A primeira monographia, abrangendo este as- sumpto sob todos os seus pontos de vista, appareceu em 1833, devida a Duplay, então chefe de clinica medica de Rayer, no hospital da Piedade (1). Neste interessante estudo occupou-se o autor com as causas múltiplas da dilatação, assestadas ora nos orifícios, ora nos tecidos de suas paredes. A para- lysia da camada muscular do estômago foi sobretudo bem evidenciada por elle, distinguindo assim as ectasias de origem orgânica, não susceptíveis de cura, das devidas á paresia gástrica, contra as quaes a therapeutica encontrava já recursos, que hoje se nos deparam mais variados e profícuos. A freqüência da dilatação do estômago foi, graças a estes estudos, progressivamente verificada, tanto em França como na Allemanha e na Ingla- terra, onde novas pesquizas começaram a ser feitas. Foi assim que Petrequin, Louis e Cruveilhier, em França, Naumann, Canstatt, Bamberger, Oppolzer, Henoch, Hirsch, na Allemanha, Tood e J. H. Peebles, na Inglaterra, contribuíram successivamente para chamar a attenção dos clínicos para a dilatação gástrica. Apezar, comtudo, das observações trazidas á luz por estes observadores, a ectasia do estômago só (!) De Vampliation morbide de Vestomac considerei surtout sous le rapport de ses causes et de son diagnostic, in Arch. génér. de méd., t. III, 2.» sér., p. 165. 8 começou a ser objecto da preoccupação geral dos médicos depois que Kussmaul, de Strasbourg, pu- blicou, em 1870, sua notável memória sobre o trata- mento da gastro-ectasia pela lavagem do estômago (*). Kussmaul investigou largamente as condições em que se opera a ampliação do estômago, indicou com maior precisão que nunca os meios de diagnostical-a, e demonstrou por um crescido numero de factos as vantagens do emprego da bomba estomacal destinada ao esvasiamento e lavagem da cavidade gástrica. Elle estudou ainda de um modo particular a dege- neração granulo-gordurosa e colloide da camada mus- cular do ventriculo. De 1870 até 1882 grande numero de trabalhos viu a luz da publicidade sobre o assumpto em questão. Na Allemanha são dignos de especial menção os estudos de Leube, Biermer, Penzoldt e Ziemssen, na Inglaterra os de Wilks e Ekberg. Em França, além dos trabalhos de Leven, Du- jardin-Beaumetz e Faucher, varias theses inauguraes têm versado sobre a dilatação do estômago, taes como as de Blot (1872), Louradour-Penteil (1873), Le Poil (1877), Marchai (1879), Lechaudel (1880), Ducluzaux (1880) e Lafage (1881). Finalmente, em 1882, o Dr. H. Thiébaut, chefe de clinica me- dica da faculdade de Nancy, publicou a mais com- j Ia dilatation de Vettomac au moyen de Ia pompe stomacale. in Arcta .• sér.. d. 14/í. 9 pleta monographia sobre a dilatação do estômago, trabalho repleto de erudição e, sob muitos pontos de vista, de uma perfeita originalidade. Desta rápida resenha se deprehende a grande somma de observações colhidas de ectasia do estô- mago, ficando assim demonstrada sua extrema fre- qüência na edade adulta e na velhice. Apoz minuciosas e pacientes pesquizas, consul- tando todos os documentos relativos á freqüência da dilatação gástrica, não me foi possível encontrar um só caso registrado durante a primeira infância. Apenas Lafage faz menção, em sua já citada these, de um caso observado na edade de dez annos. O Sr. Thiébaut, que compulsou todos os mate- riaes relativos á questão, chegou á esta conclusão : que antes dos 20 annos a ectasia gástrica se mostra com uma extrema raridade. Em 38 observações que inseriu em sua monographia, nenhuma foi colligida abaixo de 18 annos, e apenas 2 entre esta edade e 20 annos. Em 19 casos observados por Hirsch, apenas 2 eram referentes a indivíduos menores de 20 annos. A raridade da dilatação gástrica na infância é, pois, um facto que se evidencia pelo completo si- lencio que a seu respeito têm guardado todos os autores que, mesmo depois dos trabalhos de Kussmaul, se hão consagrado, quer em tratados quer em mo- nographias ou artigos, ás perturbações digestivas na primeira e segunda infância. 10 Fleetwood-Churchill. Vogel, Meigs, Pepper, Lewis Smith, Steiner, D'Espine e Picot, Hillier, W. H. Davy, Edward Ellis, embora hajam descripto a symptomatologia da dyspepsia e mesmo do catarrho gástrico nas creanças de todas as edades, apezar mesmo de alguns delles, como Lewis Smith, terem feito sentir a freqüência da gastrite chronica nas creanças da mais baixa edade, nenhum allude, sequer de passagem, á ampliação do ventriculo. Este silencio geral dos pathologistas, particular- mente daquelles que se têm occupado das moléstias peculiares ás creanças, fazia crer fosse de facto a infância poupada a este estado mórbido do ventriculo gástrico. Minha attenção nunca fora, pois, dirigida nesse sentido, ou porque não tivesse o espirito pre- vinido para investigar a existência da ectasia ou porque o acaso não me fornecesse o ensejo de encontral-a sob minhas vistas. Estava, portanto, plenamente convicto da não existência de ampliação gástrica na infância, quando, no mez de novembro do anno passado, entrou para o meu serviço uma creança de 2 annos de edade, que, além dos signaes de syphilis hereditária e de accidentes de impaludismo, apresentava uma proemi- nencia tal do ventre, que simulava, á distancia, uma ascite chegada a um adeantado período. A exploração cuidadosamente feita demonstrou-me, porém, a exis- tência de uma ampliação gástrica bastante conside- rável, que era a causa dessa notável saliência abdominal (Obs. I). 11 Este interessante caso, que foi largamente obser- vado na clinica por todos que a acompanham, veiu demonstrar-me a possibilidade da producção da dila- tação gástrica em uma creança de tenra edade, consecutiva nesta a um inveterado catarrho do es- tômago. Achando-me deste modo previnido a este res- peito, tratei desde então de explorar com toda a attenção o estômago das creanças aífectadas de per- turbações digestivas datando de algum tempo, e tive o ensejo de encontrar oito vezes a dilatação gástrica no pouco espaço de alguns mezes. Estes casos foram observados : Em uma creança de 15 mezes. Em quatro ditas de 2 annos. Em uma de 2 annos e meio. Em uma de 3 annos e meio. Em uma de 4 annos. Em uma de 13 annos. Em relação aos sexos, cinco pertenciam ao sexo masculino e quatro ao feminino. D'entre estas creanças sete apresentavam sig- naes bem accentuados de syphilis hereditária, seis estavam sob a influencia do impaludismo, final- mente uma (Obs. IX), além dos accidentes da syphilis hereditária, apresentava symptomas inequívocos de tuberculose pulmonar em plena evolução. Em todos estes doentes, pois, havia a notar-se a preexistência ou a coincidência de estados mórbidos geraes, que, 12 segundo a experiência adquirida em relação ás outras edades, constituem uma condição favorável para a producção da ampliação gástrica. iEpli, Bobe-Moreau, Kussmaul e particularmente Ziemssen ligam, nos adultos, grande importância, como condição etiologica da ampliação gástrica, a prece- dência de moléstias geraes deprimentes, taes como a anemia, a chlorose, a febre typhoide, a febre puerperal, a tuberculose. Em relação a esta ultima, já, em 1843, Louis chamava a attenção dos clínicos para a coexistência da dilatação gástrica com a phthysica pulmonar, sendo aquella, para o eminente anatomo-pathologista, a conseqüência dos freqüentes sobresaltos produzidos pela tosse. Ultimamente o professor Bernheim, de Nancy, chamou de novo a attenção dos práticos para a freqüente coincidência da ampliação gástrica com a tuberculose pulmonar. O que nenhum autor incluiu ainda entre as causas predisponentes vem a ser a syphilis e o impalu- dismo, que, como viu-se, foram encontradas na quasi totalidade dos doentes em questão, sendo em quatro (Obs. I, II, III e VIII) observadas conjunctamente a syphilis e o impaludismo, em dous outros o im- paludismo isolado (Obs. IV e V), em dous a syphilis hereditária (Obs. VI e VII), coexistindo apenas em um (Obs. IX) a syphilis e a tuberculose. Ora, os práticos que observam em vasta escala nos climas tropicaes as desordens digestivas deter- minadas pela infecção palustre, taes como a gastrite 13 catarrhal chronica e a enterite chronica, tão fre- qüentes no nosso quadro pathologico, acceitarão sem difficuldade esta condição etiologica entre as causas que devem favorecer, em nosso clima, á producção da ectasia gástrica. A profunda distrophia geral que accarreta a syphilis hereditária, não poderá deixar egualmente, dadas certas condições especiaes, de contribuir para o mesmo resultado. A syphilis, hereditária sobretudo, poderá, pois, figurar ao lado das causas geraes de- primentes que os autores já acima citados mencionam entre as condições etiologicas da gastroectasia. Em resumo, pois, em todos os pequenos doentes a que alludo figuram entre seus commemorativos moléstias geraes distrophicas, taes como a syphilis, o impaludismo e a tuberculose. Das nove creanças affectadas de dilatação gás- trica mais ou menos accentuada, não ha uma só que não conte em sua anamnese um regimen alimentar viciado. Em quasi totalidade amamentadas por mulheres debilitadas pelos rigores da pobreza, mal nutridas e, em grande parte, enfraquecidas por anteriores e repetidas gestações, essas creanças foram ainda submettidas ao uso de alimentos grosseiros e incompatíveis com suas fracas forças digestivas. Na classe social a que ellas pertencem é, além disso, vulgar a abusiva e nociva administração de bebidas alcoólicas ás creanças, desde a mais tenra edade. 14 Na doentinha da observação I, muito poderosa- mente contribuiu para as desordens gástricas ahi registradas, o uso intempestivo do vinho e de um vinho necessariamente sophisticado, resultante, como de ordinário, da mistura de líquidos heteroclitos. A polyphagia foi, em grande parte desses pe- quenos doentes, uma das causas productoras das per- turbações digestivas. A ignorância dos pais e a tendência natural das creanças para a ingestão re- petida de copiosa quantidade de alimentos, muito contribuiram por sem duvida, em quasi todas, para as desordens alludidas. Em todas as nove creanças encontram-se sym- ptomas manifestos de gastrite chronica, havendo em quasi todas vômitos alimentares e catarrhaes carac- terísticos. Em todas a phlegmasia gástrica accarretára desordens funccionaes do intestino; notando-se assim em quatro constipação habitual (Obs. I, IV, V e VIII), em duas a constipação alternando com a lienteria (Obs. II e VI), em trez a lienteria habitual (Obs. III, VII e XI). Em todos esses pequenos doentes as desordens características do catarrho chronico do ventriculo pareciam ter sido a causa determinante da amplifi- cação desse órgão, precedendo a sua producção. No doente que faz o assumpto da ultima obser- vação (Obs. XI), as desordens gástricas datam, segundo as reminiscencias de seu pai, da edade de 15 quatro annos, mas é muito provável que esse pre- sumido inicio correspondesse á época em que as perturbações digestivas haviam pela sua incremen- tação attrahido a attenção dos pais. Nelle a dilatação gástrica attingiu muito maiores proporções que nos demais doentes, e oíFerece todos os caracteres typicos descriptos pelos autores que têm estudado a moléstia. D'entre todos os casos archivados, elle pôde ser destacado como typo, porque a dilatação, além de considerável, foi reconhecida e confirmada por quasi todos os meios de exploração ao nosso alcance. Este facto torna-se digno de interesse, por isso que nas outras creanças muitos d'esses diversos meios dç diagnostico não puderam ser postos em pratica pela indocilidade e irritabilidade com que os evitavam. É na verdade bem difricil e penosa a exploração minuciosa das dimensões gástricas em creanças dessa edade, que prorompem em estrepitoso pranto, agitam se, recuam, e executam as mais bizarras contorsões, assim que o medico procura mantêl-as immoveis para um demorado e paciente exame. O menino de que se trata prestou-se, porém, a uma minuciosa exploração que aqui reproduzo como descripção clássica da dilatação gástrica. A proeminencia da região epigastrica era em extremo accentuada, contrastando sobremodo com a emaciação notável da creança, e mostrava-se mais saliente para o lado esquerdo logo abaixo do rebordo costal. 16 Em toda a área correspondente a esse abaula- mento, a apalpação deixava perceber uma certa fluctuação, similhante á que se experimenta apal- pando um coxim de caotchouc. A pressão não despertava verdadeira dor, mas uma sensação de oppressão desagradável e apenas dolorosa. A percussão praticada desde o hypochondrio esquerdo até o hypogastro, denotava um som ver- dadeiramente tympanico que limitava mais ou menos regularmente a porção do abdômen proeminente. Assim ella denunciava que a grande curvatura do ventriculo chegava, ao nivel da linha mamelonar esquerda, a 2 centímetros abaixo da cicatriz umbilical e a trez centímetros abaixo deste ponto na linha média. No hypocondrio esquerdo a sonoridade denotava que o limite superior do estômago attingia até um centímetro abaixo do mamelão. Estes limites bem demarcados fizeram reconhecer a ampliação considerável do ventriculo. Fazendo o doente ingerir uma certa quantidade d'agua emquanto praticava-se a escuta ao nivel da cicatriz umbilical, percebia-se claramente a bulha produzida pela queda do liquido deglutido. Tomando-se entre as mãos a região epigastrica e praticando-se a succussão, produzia-se um ruido hydro-aereo, devido á agitação dos líquidos e gazes contidos na cavidade gástrica. 17 Mantendo o doente de pé e comprimindo-lhe bruscamente o epigastro, ouvia-se uma bulha parti- cular, similhante á que produz o choque de pe- quenas vagas sobre um batei em movimento. Esta bulha especial é devida á ondulação da parte superior do liquido, e só pôde ser bem apre- ciada quando o estômago contem uma certa quanti- dade de liquido; para alguns clínicos ella é melhor produzida collocando-se o paciente em decubito dorsal. A apalpação, a percussão, a succussão, a aus- cultação, etc, demonstraram, pois, associadas, a am- plificação da cavidade gástrica. Estes signaes physicos não são, tomados isola- damente, de um valor absoluto, mas, quando obtidos englobadamente, autorisam affirmar-se a existência da gastroectasia, sobretudo quando, como no caso vertente, coincidem com as perturbações gástricas características da gastrite chronica, taes como: os vômitos ácidos, mucosos e alimentares, a lienteria, etc. Os vômitos foram, no doente em questão, a prin- cipio exclusivamente alimentares; mas de uma certa época em deante, e ainda actualmente, elles tornaram- se matutinos e constituidos por um liquido contendo grande quantidade de muco transparente e viscoso, e de uma reacção extremamente ácida, a ponto de deixar nos dentes a mesma sensação que produz a mastigação de certos fructos ácidos, como o cajá por exemplo. Estes vômitos são copiosos e enfraquecem consideravelmente o menino. A 2 18 EUes são constituidos, segundo as experiências de Leven, pela serosidade transudada dos capillares da mucosa gástrica passivamente dilatados. Só assim se poderia explicar, de feito, esse considerável accumulo de liquido, que para alguns pathologistas seria exclu- sivamente constituido pela saliva deglutida e pela água ingerida. Ora, a absorpção dos liquidos não deixa absolu- mente de effectuar-se apezar das condições mórbidas da mucosa, além de que grande parte franqueia o pyloro. Além do liquido transudado na cavidade gástrica, encontra-se nelle grande quantidade de mucosidades viscosas, resultantes da hypersecreção das glândulas mucosas. Algumas vezes a reacção ácida do conteúdo gás- trico é devida á secreção exagerada do sueco gás- trico, outras vezes, como bem faz notar o professor Leube, de Iena, essa reacção resulta da grande pro- ducção de ácidos (butyrico, lactico, acetico), for- mados á custa da longa fermentação dos alimentos demorados no ventriculo. Por muitas vezes reco- nheceu mesmo Leube que havia deficiência de acidez do sueco gástrico, apezar da reacção ácida dos li- quidos eliminados pelo vomito, devida aos ácidos da fermentação butyrica, lactica e acetica. Além dos vômitos a lienteria, tão freqüente nos casos desta ordem, tornou-se, no doente a que me refiro, um estado habitual. Desde a edade de quatro 19 annos que ella se apresentou e nunca mais cessou até a presente data, sobrevindo poucas horas depois da ingestão dos alimentos. E a expressão mais notá- vel da imperfeição da elaboração gastro-intestinal, e explica em grande parte a emaciação que tanto im- pressiona logo que se observa o doente. Um outro phenomeno muito pronunciado, neste caso, vem a ser a sede, que nos doentes de dilatação gástrica é citado como muito freqüente por alguns autores, devida provavelmente á grande perda da serosidade do sangue transudado na cavidade gás- trica. O appetite conserva-se mais ou menos irregular, neste doente, mas em outras creanças elle era ca- prichoso e por vezes deficiente. A nutrição geral deste menino, acha-se ha cerca de nove annos, gravemente compromettida pelas con- stantes desordens da digestão, que acarretam, além da imperfeita elaboração dos alimentos, a absorpção muito deficiente das peptonas. Leube, extrahindo pela sonda o conteúdo gástrico algumas horas depois das refeições, poude reconhecer em casos análogos a presença de grande quantidade de peptona não absorvida. A congestão passiva dos capillares gastro-intes- tinaes e os depósitos de mucosidades viscosas que revestem então a mucosa gástrica, explicam em parte a lentidão ou a diíficuldade da absorpção pela mu- cosa digestiva. O accumulo das peptonas no ventri- culo, e que é também um dos obstáculos á mesma absorpção, constitue por sua vez um grave embaraço 20 á digestão das substancias albuminoides que ainda não soffreram modificação alguma. E este um facto da physiologia da digestão perfeitamente averiguado pelas mais recentes investigações. Demais, a falta quasi completa das contracções gástricas, que tão poderosamente influem sobre a secreção do sueco gástrico, vem associar-se ás desordens chimicas para tornar ainda mais imperfeita e incompleta a transfor- mação dos alimentos. A distrophia accentuada que se observa no doente em questão, é, pois, o corol- lario natural das profundas desordens digestivas já indicadas, não devendo contudo ser-lhe inteiramente estranha a tuberculose, cuja existência foi clara- mente averiguada pelos signaes percebidos no ápice de ambos os pulmões. Encontramos, assim, no menino da observação IX, reunidos todos os symptomas característicos da gas- trite chronica acompanhada de dilatação ventricular, dilatação que poude ser perfeitamente reconhecida pelos signaes physicos acima estudados. Não discutirei aqui todas as condições etiolo- gicas que podem originar a gastro-ectasia. No adulto as causas determinantes da dilatação são, em geral, todas as lesões assestadas no estômago que accarretam, além das desordens graves de suas funcções, o estreitamento espasmodico ou orgânico de seus orifícios, taes como o carcinoma, a ulcera chro- nica, a esclerose, a degeneração granulo-gordurosa e colloide da túnica muscular (Kussmaul). 21 Além d'estas causas, a dilatação pôde ser a con- seqüência das dyspepsias inveteradas acompanhadas sobretudo de gastrorrhea, e mais freqüentemente da inflammação chronica da mucosa ventricular. A falta de hygiene alimentar, o abuso das substan- cias irritantes, o alcoolismo, o uso prolongado e abu- sivo de certos medicamentos são ordinariamente as condições que presidem ao desenvolvimento da gas- trite chronica. Mas, além dessas causas directas, um grande numero de moléstias se acompanham facilmente da gastro-ectasia, como sejam a diabetes, a tuberculose, as febres graves, o impaludismo, a syphilis, as lesões hepaticas e cardiacas, etc. Em todos os casos que fazem o objecto destas conferências, a dilatação coincidia com a gastrite chro- nica, consecutiva ao uso intempestivo de alimentos grosseiros, incompatíveis com a fraqueza das forças digestivas, á irregularidade das refeições, ao uso in- conveniente de bebidas alcoólicas—causas estas que actuaram sobre organismos anteriormente predispostos pela syphilis hereditária, pelo impaludismo, pela tu- berculose e pelas péssimas condições hygienicas em que viviam. Os phenomenos que precederam e acompanhavam a gastro-ectasia eram, pois, característicos da inflam- mação gástrica em um período mais ou menos adean- tado. Em nenhum delles se poude presumir a exis- 22 tencia de outra lesão que influisse para a producçao da dilatação. O mecanismo pelo qual esta se opera não pôde variar do que se tem concebido em relação á dilata - ção nos adultos, segundo os exames microscópicos praticados por Cruveilhier, Andral, Naumann, Kus- smaul, Leven, Peazoldt, Fõrster, Reinhardt, Oppolzer, Schmitt, Thiébaut, etc. Nos exames microscópicos praticados nos cadá- veres de adultos têm-se encontrado como conseqüência da gastrite chronica, que mais freqüentemente é a causa da dilatação do ventriculo, alterações mais ou menos graves segundo o período attingido pela mo- léstia. A simples hyperemia da mucosa gástrica sobreveem lesões mais accentuadas, devidas á irritação nutritiva, taes como a hypertrophia das glândulas de pepsina e a proliferação do tecido conjunctivo inter- mediário. A este processo irritativo succede, em um período mais adeantado, a transformação regressiva desses elementos, — a degeneração gordurosa das cellulas epitheliaes e das de pepsina, ao passo que as villo- sidades se hypertrophiam. Ao lado destas lesões a camada muscular aug- menta de espessura, ás vezes mesmo de um modo considerável. Minuciosos e pacientes exames histologicos, pra- ticados em um estômago dilatado por Thiébaut, dei- xaram ver que esse augmento não era devido nem á 23 hypertrophia do tecido conjunctivo interfíbrillar nem ainda á das próprias fibro-cellulas, mas ao augmento provável do numero destas. Todavia, convém fazer notar que, em certos casos de dilatação considerável do estômago, têm alguns autores, como Naumann, Cruveilhier, Andral, Mou- chert, etc, encontrado extremamente adelgaçadas as túnicas gástricas e atrophiada a camada muscular (dilatação de fôrma atrophica de Cruveilhier). Qual será, pois, a pathogenia da dilatação, e como poderá esta conciliar-se com as duas condições mórbidas da túnica muscular gástrica ? Antes de tocar neste ponto, convém fazer ob- servar que o ventriculo é provido de um abundante plexo nervoso — plexo de Auerbach e Meissner —, proveniente de duas origens: do pneumo-gastrico e do grande sympathico. Ora, as experiências de Braam- Konckgeest, de Amsterdam, citadas por Flüger, parecem haver demonstrado ser o pneumo-gastrico o nervo motor do estômago, accelerando-lhe as con- tracções, e o sympathico o moderador destas mesmas contracções. Vê-se, pois, antes de tudo, que a contractilidade gástrica normal deve ser o resultado da acção sy- nergica daquelles dous nervos ; d'onde se podem depre- hender desordens funccionaes bem diversas, resul- tantes do predominio ou do enfraquecimento de qualquer delles. Nas condições geraes do organismo, a que já 24 precedentemente alludi, que favorecem á producçao da gastro-ectasia, o systema nervoso, mais ou menos profundamente modificado pelas desordens da nutrição entra a funccionar irregularmente, sobresahindo, como é notório, as aberrações da innervação gastro-intestinal. A paresia ou o esgotamento do nervo motor parece, pois, explicar o inicio da dilatação gás- trica, conforme quiz interpretal-a Rosenbach. A theoria expressa por este autor póde-se assim resumir : Nas circumstancias normaes o ventriculo esvasia- se quatro a cinco horas depois da chegada dos ali- mentos, mas, para que este facto se opere, torna-se necessária uma certa actividade da túnica muscular. Se, porém, a quantidade dos alimentos ingeridos excede consideravelmente da ordinária, ou a estenose, quer espasmodica quer orgânica, do pyloro offerece algum obstáculo, a expulsão do conteúdo ventricular pode ainda effectuar-se, comtanto que esse trabalho não seja superior á força contractil das paredes gástricas. Se por ventura a força muscular se enfraquece por deficiência (épuisement) da innervação, por occasião da refeição seguinte, novos alimentos virão jun- tar-se aos da precedente, e esse repetido accumulo na cavidade gástrica acabará por accarretar-lhe a dilatação das túnicas. Rosenbach propõe, pois, o termo insuficiência do estômago, em substituição ao de dilatação, para de- signar a ampliação gástrica. Para Kussmaul a dilatação é a conseqüência 25 do accumulo das substancias ingeridas, devido á es- tenose orgânica ou mecânica do pyloro; mas esta interpretação não pode applicar-se a todos os casos, visto como as autópsias têm, por mais de uma vez, deixado vêr a existência de consideráveis dilatações gástricas indepedentemente da reducção do diâmetro do orifício pylorico. Para alguns autores, nos casos em que a dila- tação succede á gastrite chronica, pode ella ser explicada pela lei estatuida por Stokes, em relação á paralysia das. túnicas musculares subjacentes á mucosa inflammada. Thiébaut pretende conciliar a sua interpretação pathogenica com os dous estados oppostos da túnica muscular — a hypertrophia e a atrophia. Em um caso, segundo elle, a falta de reacção da camada muscular, em virtude das prece- dentes condições mórbidas do estômago, determina o accumulo constante e progressivo dos alimentos no ventriculo; d'onde a distensão e a ampliação conse- cutiva. Nestas condições dá-se o adelgaçamento das túnicas gástricas, constituindo a fôrma atrophica de Naumann e Cruveilhier. As cousas, porém, não se passam sempre do mesmo modo: em outros casos as paredes gástricas, a principio relachadas por effeito da phlegmasia chronica, reagem afinal contra o seu conteúdo para expellil-o através do pyloro. Este esforço com- pensador accarreta a hypertrophia do plano mus- cular. A esse periodo de compensação succede, porém, 26 outro de esgotamento e de relachamento, que, por sua vez, é seguido de nova compensação. A produção prolongada destes actos acaba por determinar uma verdadeira hypertrophia excêntrica do órgão, como succede com o coração ou melhor, como quer Kussmaul, com a bexiga, na qual todos os obstá- culos ao seu esvasiamento accarretam ora a di- latação simples, ora a hypertrophica. Do que precede se pode assim concluir que a causa primordial da dilatação consiste na lucta entre o obstáculo a vencer e o esforço necessário para superal-o Ora, o accumulo dos ingesta acaba por vencer a contractilidade muscular gástrica e a dilatação é a conseqüência final. Esta fôrma pode coincidir com um estado apparente de saúde, como acontece em certos polyphagos. Outras vezes a falta de re- sistência precede o accumulo, sendo este a conse- qüência da não expulsão do conteúdo gástrico. É o facto mais freqüentemente encontrado nâs dilatações que coincidem com a anemia, a tuber- culose, as febres graves, etc Entendo, pois, que se deve distinguir o meca- nismo da dilatação em passivo e activo: segundo a causa procede do accumulo dos ingesta por estenose mecânica ou orgânica do pyloro, ou resulta do esgotamento (épuisement) primitivo da túnica mus- cular, devida provavelmente á paresia do nervo motor ou do pneumo-gastrico. É esta a causa mais 27 acceitavel da gastro-ectasia consecutiva á dyspepsia chronica e á inflammação inveterada do estômago. No primeiro caso dá-se a hypertrophia ex- cêntrica do estômago, por effeito de uma verda- deira asystolia gástrica; no segundo a dilatação é primitiva, por effeito da desordem da innervação motora (paresia gástrica). E inútil fazer observar que o accumulo pro- gressivo dos ingesta, neste caso, acabará por exagerar a ampliação, associando-se a esta causa a gastrorrhea, tão abundante nos casos de gastrite chronica. E esta a interpretação que se pode applicar ao mecanismo pelo qual se originou a dilatação gástrica nos pequenos doentes que fazem o assumpto destas conferências. Uma vez reconhecida a gastro-ectasia, qual de- verá ser a therapeutica a empregar para removel-a ? A trez sortes de meios se poderá recorrer neste intuito: Io regimem; 2o agentes therapeuticos; 3o lavagem do estômago. Percorrendo as observações que servem de as- sumpto a este estudo, ver-se-á que, em a totalidade dos casos, a falta de hygiene alimentar entrou por muito na producçao das perturbações digestivas pro- motoras da dilatação gástrica. Dous poderosos vicios actuaram em quasi todas, a saber: a ingestão copiosa de alimentos (polyphagia) e a intervenção prematura de substancias grosseiras, de mui fraca digestibilidade, 28 A primeira indicação, pois, a preencher é a que se refere ao regimen alimentar. Todos os physiologistas e clinicos estão de accordo que os doentes de affecções digestivas de- vem ser submettidos ao uso de alimentos de fácil digestibilidade. Entretanto, não ha questão mais difficil que a que se refere á digestibilidade dos alimentos, sobretudo quando se trata praticamente de resolver sobre o regimen a aconselhar-se ao doente. Clinicamente todos os observadores têm reco- nhecido quanto são variáveis de um individuo a outro as regras prescriptas sobre a hygiene ali- mentar. Doentes ha que digerem perfeitamente bem alimentos impossíveis aliás de serem elaborados por outros em perfeita identidade de soffrimentos. Em suas mais recentes investigações, dirigidas no sentido de estabelecer o grau de digestibilidade das differentes espécies de alimentos, o professor Leube guiou-se pela observação clinica e pela experimentação. Elle entende muito bem que uma substancia se diz de maior digestibilidade que outra, quando sua ingestão produz menos desordens subjectivas e não accarreta a aggravação dos soffrimentos gastro-in- testinaes. Por meio da deplecção mecânica do estômago poude elle julgar experimentalmente da digestibi- lidade da maior parte das substancias alimentares- Para este fim, Leube recorreu ao seguinte pro- cesso. Algumas horas depois da ingestão de uma 29 certa espécie de alimentos indicada ao doente, re- tirava-os pela sonda e examinava o grau de disso- lução das substancias ingeridas. No dia seguinte, or- denava ao paciente uma refeição composta de outras substancias, e, ao cabo de egual espaço de tempo, es- vasiava o estômago. Se o liquido então obtido en- cerrava menor quantidade de parcellas alimentares, concluia elle que os alimentos desta ultima refeição, eram de mais fácil digestão que os da precedente, se este facto se reproduzia por mais de uma vez. Com o freqüente emprego deste meio chegou, assim, o professor de Iena a estabelecer uma es- cala da digestibilidade da maior parte dos alimentos, dividindo-os em cinco classes, nas quaes se compre- hendem desde o leite, o caldo, os ovos quentes, as peptonas, como typos das substancias da mais fácil digestão, successivamente outros até as carnes gre- lhadas e assadas e certas massas (*). Os legumes são, em geral, de difficil digestão e na infância sobretudo são elles mal supportados. Entre nós o uso precoce que fazem as creanças, das classes menos favorecidas da sorte, da carne secca e da farinha de mandioca contribue como poderoso factor para a freqüência das graves desordens diges- tivas nellas observadas. É, pois, de rigor submetter taes doentes ao uso dos ahmentos que figuram na primeira categoria da escala de Leube, quaes sejam (i) ZeiUchr. für Klin. mcd., B. VI, n 3. 30 o leite, os ovos quentes, os caldos e particularmente a peptona. Tenho sempre recorrido com o maior proveito ao uso da carne artificialmente digerida, e de preferencia á que é recentemente preparada nesta capital e existente no commercio sob a fôrma de conserva. A nutrição geral, prejudicada pela deficiência da elaboração dos alimentos, é, mediante o uso prolon- gado da peptona, notável e promptamente reparada. Infelizmente o elevado preço desta preparação alimentar torna-a de diíficil emprego nos casos em que a extrema penúria dos pais não permitte pres- crevel-a por longo tempo. Nas creanças da primeira infância, sobretudo naquellas que acabam de desmamar-se, convém a administração exclusiva do leite de vacca ou de cabra e da conserva de peptona, alimentação esta que per- mitte um certo repouso, ao ventriculo, ao passo que satisfaz ao movimento nutrictivo tão intenso nesse periodo da vida. Em uma epocha mais adeantada da infância, ainda devemos submetter o pequeno doente a egual regimen, passando a outro mais complexo, depois que as perturbações digestivas se acharem favora- velmente modificadas. Em relação aos agentes medicamentosos a re- correr para o tratamento da gastrite chronica, na infância, cumpre satisfazer, como nos adultos, a certas indicações. 31 Contra a gastrorrhea tenho sempre administrado com decidido proveito o phosphato de cal, tão pre- conisado pelo Dr. Leven como modificador das con- dições osmoticas dos capillares gástricos. Ao phosphato de cal associo de ordinário o bicarbonato de sódio, que modera a hypersecreçao da mucosa digestiva, como ainda agora acaba de de- monstrar experimentalmente em relação á mucosa respiratória o professor Rossbach (*). Em todos os pequenos doentes que fazem o assumpto deste estudo, recorri a estes dous agentes medicamentosos associados, e em alguns delles já se patentearam as vantagens deste emprego. Em um grande numero de doentes verificou, como já disse, o professor Leube que, apezar da reacção ácida dos líquidos retirados do estômago, havia diminuição do ácido livre do sueco gástrico. Não é, por isso, absurdo então o emprego do ácido chlorhydrico. A lienteria, que tão freqüentemente acompanha o catarrho gástrico, é um dos primeiros pheno- menos que se dessipam, como se verificou no menino da obs. IX, cuja lienteria, datando de nove annos, modificou-se e reduziu-se em muito poucos dias sob a influencia do ácido chlorhydrico. Similhantes vantagens já foram demonstradas em outro trabalho que pu- bliquei sobre o tratamento da lienteria na infância (2). (i) Berliner Klin. Wocheuschr., n. 19 e 20. (2) Moncorvo. Da lienteria na infância e do seu tratamento pelo ácido chlorhydrico, £io de Janeiro, 1879. 32 Ao lado destes meios tendentes a corrigir as desordens das secreções gástricas, devem figurar aquelles que actuam sobre a túnica muscular, exci- tando-lhe a contractilidade, e entre estes sobresaem as strychneas, que exercem uma acção estimulante particular sobre as fibras musculares. Na infância como nos adultos tenho recorrido commumente com extrema vantagem á preparação conhecida sob a denominação de tinctura amarga de Baumé, que tam- bém mereceu a preferencia do Sr. Dujardin-Beau- metz. Para idêntico fim preconisa o professor Germain Sée o emprego da fava de Calabar, mas minha ex- periência pessoal não me tem demonstrado nenhuma superioridade desta sobre a fava de Santo Ignacio, que é o principal agente das gottas de Baumé. Não saberei assaz insistir, para preencher a indicação de que ora me occupo, na intervenção da electrotherapia, cuja divulgação no Brazil tem sido desde muitos annos uma das minhas constantes preoccupações. Os notáveis successos que do seu emprego tenho colhido no tratamento das gastropathias me autorisam a recommendar com extrema confiança tão precioso agente para modificar favoravelmente as condições mórbidas da túnica muscular do ven- triculo dilatado. Para este fim tenho quasi sempre dado prefe- rencia ao uso das correntes faradicas. De egual modo procedem Beard e Rockwell, de Nova York 33 por isso que, observam elles com razão, actuam áquellas muito mais vigorosamente sobre os músculos do que as galvanicas, e produzem, portanto, effeitos mecânicos mais poderosos. A' faradisacão localisada associam elles as correntes galvanicas sobre a medula. Onimus aconselha o uso destas ultimas, appli- cando-se o polo positivo sobre o epigastro e o nega- tivo posteriormente sobre a terceira vertebra dorsal. Elle não deixa, todavia, de recorrer simultaneamente ao emprego da faradisacão sobre o epigastro. Leube diz haver empregado também a electri- cidade com proveito para excitar a contractilidade da túnica muscular gástrica relachada. Nos doentes das observações I, VIII e IX a fara- disacão foi posta em acção, applicando-se os electrodes ora sobre o epigastro, abaixo das falsas costellas ora o polo positivo sobre a região dorsal, percorrendo o nega- tivo a área correspondente ao ventriculo ampliado. O êxito desta applicação ja poude ser satisfactoriamente apreciado por quantos tiveram occasião de examinar, na clinica, os doentinhos em questão. Na maior parte das creanças a indocilidade torna extremamente difficil o emprego deste meio, que aliás ainda não comecei a applicar nas outras em tratamento por motivos estranhos a minha von- tade. A genciana, a quassia, a calumba podem, como amargos, eupepticos e estimulantes da secreção gas- A 3 34 trioa, vir em auxilio da medicação que acabo de in- dicar. É, porém, conveniente fazer notar que estas substancias são, em geral, administradas com dema- siada confiança, havendo-se tornado quasi banal seu emprego no tratamento da totalidade das moléstias do tubo digestivo. Observa o professor Leube que a casca do con- durango, preconisada por Friedreich, e que a principio pouca ou nulla confiança lhe inspirava, tem lhe for- necido ultimamente constantes resultados, estimulando energicamente o appetite e facilitando as digestões. Ultimamente tenho recorrido, para o mesmo fim, com certa efficacia, á quassina, tanto crystallisada como amorpha. O uso universal das águas mineraes em todas as moléstias assestadas no tubo gastro-intestinal obriga- me a tocar, embora rapidamente, neste meio thera- peutico, o mais facilmente seguido aliás pelos doentes. Sem consagrar-lhe enthusiastica confiança, tão commum aliás entre a maioria dos médicos de quasi todos os paizes, acredito que o uso moderado de certas águas alcalinas poderá convir em casos de ca- tarrho chronico, simplesmente como auxiliar de outros agentes therapeuticos. Em todo o caso, é de vantagem que a água escolhida seja ingerida em pequenas doses, não devendo exceder, para as creanças, de 60 a 80 grammas de cada vez. Nos doentes affectados de di- latação gástrica sua administração deve sempre seguir- se á deplecção mecânica do ventriculo, É de egual 35 sorte conveniente fazel-a preceder por algum tempo a primeira refeição. Commette-se muito freqüentemente um abuso, aconselhando-se aos doentes, particularmente aos adul- tos, o uso de grande quantidade d'agua mineral durante o periodo das refeições; tenho mesmo visto entregar-se a dosagem dessas águas ao critério dos doentes. Ora, este facto é decididamente prejudicial ao exercício das funcções gástricas, quando mais não seja pela ingestão de grande copia de liquido com os alimentos. Ainda muito recentemente, o Dr. Fleischer, estudando experimentalmente a influencia de diversos factores sobre a digestão gástrica (x), observou que a ingestão de uma grande quantidade d'agua fria, em um indi- víduo mesmo em perfeito estado de saúde, accarretava demora da elaboração gástrica. Em um doente de gastroectasia com catarrho chronico, viu elle a ingestão de 500 grammas d'agua na temperatura ordinária demorar a digestão gástrica por mais de 7 horas. No tratamento da gastrite chronica um agente therapeutico tenho freqüentemente empregado, de ha longa data, com provada efficacia, e que vejo ir sendo de um certo tempo para cá menos acolhido pelos clínicos ; vem a ser o nitrato de prata. James Johnson (2), que foi talvez o primeiro a introduzil-o na therapeutica das moléstias do esto- (') Berliner Klin. Wnchense. 1882, n. 7. ("j An £ssay on IndiyestUm. London, líj26, 36 mago, foi successivamente imitado nesta pratica por Dick, Rueff; Budd, Krüger, Fischer, Hirsch, Wil- lième e outros. Já, em 1840, Parker, Copland e Hudson (*), haviam denunciado os bons effeitos co- lhidos do nitrato de prata usado internamente contra os vômitos líquidos, dependentes das desordens gás- tricas complicadas de ampliação do ventriculo. Muito posteriormente, em 1869, Alexander Fle- ming (2) occupou-se deste assumpto, insistindo sobre a eíficacia do nitrato de prata no tratamento de muitas dyspepsias e sobretudo do catarrho gás- trico. Elle apresentou o resultado de sua experiência, durante 4 annos, sobre esse methodo therapeutico. Na grande maioria dos casos, Fleming recorreu ao uso de uma solução de 2 a 20 centigrammas do sal de prata em 15 grammas d'agua distillada, que os doentes tomavam á noite por occasião de deitarem-se. Para as fôrmas mais graves recorreu este clinico á injecção por meio de uma sonda terminada por ori- fícios múltiplos e de uma seringa de estanho, usando para tal fim de uma solução de 5 a 20 centigrammas de nitrato de prata para 90 grammas d'agua distillada. Em alguns casos uma só injecção tornou-se suífi- ciente, em outros chegou o autor a fazer 3 e mais. Em 10 casos em que praticou a injecção intra- gastrica do sal de prata, conseguiu p Dr. Fleming decididos successos, fazendo por isso observar que este (!) Braithwi :«. -CS >'C' CSi< <£ c< c CL C- «o o ^JET __ __________ct>«ç «ti C '«Kj^ ■ c TC«r c<-•' XCOC CCC^í ?C «CCC r< ■ ■ cr < f<.c^^r« ♦..<-; «cc «aoccc: -i<Ç (d -" *< c crç»ci- cr