Surgeon Generars Office No, jã33f%-4 "\ \ 2 lo>\<\ l COLEECCÃO 5 • NA HISTORIA DA CHOLERA EPIDÊMICA. ABBACANIO O RELATÓRIO DO COLLEGIO DOS MÉDICOS DE PHILADELPHIA, HUM* HJSTOnft COMPT.ETV DAS C \ VS KS . DAS APPARENClAS MÓRBIDAS DEPOIS D.» MORTE, E DO TRATAMENTO DA MOLÉSTIA, ■/ PELOS D*s. JiELL e CONDIE. TRADUZIDA E ACCRESCENTADA POR J. LIIVO COUTINHO, MEDICO PELA UNIVERSIDADE DE COIMRRA , DIRECTOR DA ESCOLA DE MEDECIKA DA. BAHIA , B HELLA PROFESSOU DE PATHOLOGIA ÉXTKRÍNA ; SÓCIO HOIVORAUIO DA ACADfcM.A BEAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA. E DA SOCIEDADE DE MEDECINA I.O BIO DE JAIVBIBO. POR GEORGE E. FAIRBANKS , ÍOCTOR EM MEDECOA PRtv t.MVEnsiDADE DE EDEMBÜRGO . E SÓCIO DA SOCIEDADE BEAL DE MliDECI.NA HA. MLS.UA CIDADE. 0af)ta, NA TYPOGRAPHIY DO DIÁRIO. 1Ò3J. \833 PREFACIO. Posto que a moléstia denominada Cholera Morbus , Cholera F.pidctnica etc. , que nVsics últimos annos tem grassado em varias parles do Mundo , incutindo terror e desanimo nos seus habitantes , não tenha , por felicidade nossa, ainda appaie. idoem nosso Solo, eliija quem julgue queo clima Salutifero do Brasil o ha de livrar deste ter- rível ílagcllo , com tudo, quando consideramos a marcha excêntrica da moléstia, nascendo no índostan , e dahi estendendo-se em Iodas as dirccções *, de hum lado, até as Ilhas mais remotas, que existem nupielíes mares , e por outro, isto he , para oOueste , até chegar á Europa , cuja maior parte já iemella percorrido, fazendo mais ou menos estragos conforme o auxi'io de circunstancias locaes j re- pentinamente, e quando menos esperado, apparecendo na America do Norte, onde se acha aclualmeute cm rá- pido progresso pari o Sul d'cstc Continente , fazendo cm algumas partes estragos quasi idênticos aos da índia ; pa- recendo assim que para semelhante doença nenhuma loca- lidade, ou latitude, se deve considerar orno privilegiada, não julgamos prudente ficar no descuido , e esperar que primeiro apparcça o mal para depois o combater, mas IV PREFACIO. antes , contando com a sua chegada como certa , ínteirár- roo nos bem de sua natureza, e Índole, afim de desarma- la de seus tenore< , ca>o entre nós appareça. E de que medo melhor podemos conseguir este fim 3 senão approveitando-nos tia experiência adquerida nos paizes que cila já tem visitado , e inquirindo'os meios ou preventivos, ou curativos, que os seus habitantes tem achado úteis, para apresenta-los em lingoagem vulgar , e intelligivel á iodos? Eis o motivo da traducção que agoua offerecemosaos nossos Concidadãos. l\ão pcrtendemos affirmar positivamente que a nv les- tia hade apparecer infalivelmente no Brasil Na própria índia, certos disliictos do paiz escaparão a doença quando outros , e vizinhos, eslavão soffrendo terríveis estragos ; e o Brasil também pôde gozar da mesma felicidade dos primeiros : as observações pore'm que temos coiligido acerca da moléstia , nos tem convencido da necessidade de alguma prevenção. Os phenomenos que tem precedido á Cholera cm outros paizes já se tem observado entre nós : como , por exemplo, a moléstia que existe, ha tempos, entre o gado;.a mortandade das gallinhas ; a muita fre- qüência das febres inlermittentes, o transtorno das esta- ções, apparecendo fruclas fora do seu tempo, e faltando quando devião ser abundantes; a secca que aclualincnte existe, não fallando ainda do caracter detidamente ei.ule- rico das mobílias que ultimamente tem prevalecido n'es- ta Cidade. Persuadido pois que ha mais motivos para fazer-nos esperar huma visita da Epidemia-do que de escapar in- teiiainente d'ella , ha muito que perlendiamos eniittir PREKACiO. V algumas observações, tiradas das obras dos Médicos In- dia ticos, sobre a moléstia ; porém a falta de experiência própria, as idéias conti adicionas sobre sua natureza, e índole, eainda mais , a grande divergência de opiniões , acerca do seu tratamento, existindo entre os mais celebres Médicos da Europi, motivou nossa demora: porem um aca- so feliz, e talvez ordenada pela Divina Providencia, nos fez vir a mão a obra que agora oíTerccemos traduzida , irn- r. essa, oanno passado , nos Estados Unidos, onde não só encontramos hunia historia snecineta cia moléstia, desde o seu apparecimento em 1817, mas a sua natureza tão bem explicada , os seus symptomas examinados com tanto discernimento, os meios preventivos tão claramen- te expostos, e o melhodo curativo, próprio á seguir , explicado de hum modo tão -lúcido , e inlelligivel, que nestas circunstancias nós dem:>s pressa á verte-Ia em li 11- goagem cummum , por estarmos persuadidos , que ne- nhuma outra existe mais útil, ou mais adaptada , ás ne- cessidades deste paiz. O apreço que os-médicos eo Povo dòs Estados Unidos fiz( rro desta obra, foi tal , que no curto espaço de pouco mais de hum mez se precisou de hunia segunda edição : este facto, bem como a distribuição das matérias, consta- rá dos prefácios i\u primeiia^. e .-cguuda edição que aqui igualmente appresentamos liaduzidos. « 0 Pielatorio do Collegio dos-Médicos-de Philadelphia » contem hunia completa mais succiucta narração de » todas as enusas dignas de commemoracão acerca da d marcha yto^raphica e localidades da Cholera, e das cias- » scs'da& pessoas principalmente aífectadasj assim como VI PREFACIO. n sufíicicntes e satisfactorias provas de não ser a moles- » tia contagiosa, e da inutilidade absoluta das reslricções » de quarentena: KUe termina com Precauções Sanitárias )) dcfacilcomprehensão, indicando os meios de prevenção, » por via de hum raciona! syslema deilygiene, adaptado » aos lugares, hiliabiiaçãcs, e ás pessoas. O Relatório abra- » ça quasi tudo quanto interessa particularmenteao leitor » e em geral, ao publico; e serve de introducção a mesma » obra. « Para a preparar pois, o Rcdaelor teve a felicidade de » obter os serviços dos Senhores Doutores Bell, eCondie: » o primeiro, reconhecido author do Relatório , tinha » recolhido muitas informações importantes acerca da » moléstia: e o segundo se achava habilitado, pela sua » familiaridade coma lingoa Alemãa á approveitar tudo » que se achasse de interessante nos escriptos dos seus » Médicos. Os trabalhos combinados destes Senhores » darão , ( pensa o Redactor , ) hum resumo mais exac- » to e importante do methodo pratico no curativo da » Cholera, dos seus symptomas, e das circunstancias »> modificantes desde o apparecirnenlo da moléstia em » Bengala, em 1817, até o presente, do que qualquer » outra obra até aqui publicada. » « A necessidade de fazer em pouco mais de hum mez , » huma segunda edição d'esta obra, he sem duvida mui- » to lisongeira para os seus aulhores : a sua satisfação se » augmenla, ainda mais, com o conhecimento de que os » princípios , nVlIa advogados , acerca das causas mo- » difieanles da Cholera , dos meios de prevenção , e do » methodo curativo , forão plenamente continuados por PREFACIO. VII » todas as circunstancias que accompanharao o seu appa- » recimento em Philadephia. A natureza verdadciramen- » te epidêmica da moléstia , sua incommunicabilidade , » a conveniência em evitar os estimulos internos, tanlo » para a prevenir , como para cura-la, a efíicacia das » sangrias geraes , ou locaes , ou ambos , conforme o pe- to riodo da moléstia , e o habito do doente, os bons ef- » fitos de vomitorios , dos remédios mercuiiups e se- » dalivos, são princípios que , inculeados e aconselha- » dos na primeira ediçlo, forâo de grande efíicacia e » sancionadas pela experiência domestica : ficando só- » mente aos authores a tarefa deos extender e augmen- » tar por meios de provas , e casos tirados de quasi todas » as partes do Mundo. » Os traductores copiarão fielmente o texto da obra : no appendix supprimirão algumas paginas que erão pura- mente históricas , referindo tão somente aquellas quedi- zião respeito ao apparecimento da moléstia na índia, durante o século passado , e por fim accrescentáo algu- mas outras noticias interessantes que apparecerão depois da publição do original. Dezembro i833„ RELATÓRIO D O COLLEGIO DOS MÉDICOS. _/_\. Commissao nomeada , pelo Collegio dos Medicps , para investigar imparcialmente os fados, que se referem » cholera epidêmica, em conseqüência de um requerimen- to , á este fim , remettido pelo Concelho da Saúde , teci a honra de dizer: Que depois de varias reunioens, e uma livre com- municação de seos sentimentos , sobre o modo de nie!::or corresponder aos desejos do Conselho de Saúde, e cum- prir com as obrigaçoens , qua lhe foram inipo4..e peío Collegio, decidio, que uma narração suscinta , abraçan- do os factos principaes, que se referem á origem, e pro- gresso da cholera, seriando só a mais instructiva; mas forneceria as melhores bases para as medidas sanitárias de prevenção, com que termina o presente relatório, concebido e executado da maneira seguinte. 1.° A marcha geographica da cholera , e a ordem si>c« cessiva, em que os difierentes paizes, aijtrictos e Cida- des foram attacados. 2.° Os Phenomenos atmosphericos, e outros, prece- dendo e acompanhando o seo progresso. 3.° As localidades em que a moléstia mais tem gras- sado, e aonde tem causado os maiores estragos, 4.° As classes das pessoas ; e o modo de viver d'a- quellas que morreram em maior numero. Depois de, n'esta ordem, enumerar os fací:o» , e cir- cunstancias principaes, a Commissao passa a iudagar os modos de impedir a extensão, e de mitigar a violência da moléstia, no caso de apparecer n'este paiz ; e nV;ta parte do trabalho não se esqueceo de examinar os mo- tivos d'aquelles, que evitando toda a communicaçâo com os lugares onde existe a moléstia, esperavam escaptir ab' solutamente delia. A Commissao não pôde descobrir mo- tivo algum valido para similhante opinião ; pois que as suas indagações , mais adiante exaradas , tem mostrado claramente, que todas as tentativas, pela izolaçíío, a incomuiuaicabilidade por meio de cordões sanitários . • 2 Rklàtorio no Coí l*gio nos Mkdicos a quarentena a mais rigida para excluir a moléstia, tefn singularmente falhado eni todos os paizes, e Cidades da Europa, por mais bem imaginadas, e executadas, «;iie tenham sido, com zelo, e energia. A moléstia tem-se mostrado no meio de uma Cidade, e escolhido, para as suas primeiras victimas, pessoas qne não tinham tido, communicação alguma com lugares, ou pessoas affecta- das; além de ser provado, que a communicação livre entre os doentes de Cholera, e os-sãos, náo tem com- promettido estes últimos , nem augmentado a^ probalida» de de um attaque mais extenso. A Commissao por liiu termina o seo relatório, aconselhando as medidas sani- tárias, a respeito de lugares, habitações, e pessoas*, que a experiência tem claramente indicado. /. Marcha geogruphica, e ordem successiva em que a Cholera invadio os differentes Países, * Cidades. T. Marcha geogiiàphica. A maior parte dos es- «•riptores sobre a Cholera estão de accordo, qua ella se mostrou primeiramente em Jessore, vilia distante G2 mi- lhas ao N. E. de Calcutá, no meado de Agosto d« 1817; mas he bem sabido, que seo apparecimento, n'es- ta ultima Cidade, foi quasi contemporâneo, e até, ha quem diga, anterior á sua existência em Jessore. Os Re- latórios Médicos de Bengala afiàrmum positivamente, que a moléstia, mostrando-se nos districtos de Nuddeah, e Mymemsing, no mez de Maio de 1817, ahi grassou lar- gamente em Junho, e chegou á Dacca em Julho; e an- tes do fim de Novembro, poucas Cidades, ou villas, n'uma área de muitas mil milhas, escaparam d1 um at- taque. Em toda a extensão do Delta do Ganges, e prin- cipalmente nas parte* visinhas aos Rios Hoogly, e Jel- linghy, a massa da povoaçáo foi sensivelmente' diminuí- da pela pestilencia ; e he desnecessário enumerar miu- dameuíe aqui os estragos que a Cholera fez, nas diffe- rantes Cidades, e Villas de Iíindostan, que estavam na duecrao do Ganges, e de suas agoas tributarias. Dtlhi, a antiga capital d'aquelle paiz, collocada na costa Occi- dental do Junina, íbi attacada em Julho de 1818: a mo- léstia se mostrou em Bombaim, na costa occidental, era Agosto- " -m Madrasta, na costa oriental da península, eiu Outubro de 1818. Em Trincomalee, na ilha de Cey» lon, foi pela piimeua vez observada ein Dezembro da SOBRE A CHOLERA EPIDÊMICA s mesmo anno; mas desde 1817, Calcutta tem padecido regularmente todos os annos; e a mesma observação se pode applicar á Bombaim, e a Madrasta, à excepçao de dous annos. Em 1820, achamos que a cholera se tinha declara- do em Cochin China, Tonquin, e nas ilhas Philippi- nas : e no fim do anno estava em Canton, c na parte inericiioiial da China, propriamente dita: Pekin , ua ca- pital, foi attacada em annos successivos, e na Tartaria Chinesa, a Cholc:;; se mostrou em duas épocas differen- tes, com um intervallor conideravel. Na ilha de Java, appareceo era Abril de 1821, e nas ilhas Molucas, e em Canton, pela segunda vez em 1823: em Julho de 1821, mostrou-se em Muscat, na extremidade meridio- nal do Golfo Pérsico; e no mesmo anno em Bsssorah , e em Bagdad. A Pérsia tem sido exposta aos seos es- tragos cinco vezes successivas desde 1S21 até 1830: em 1822, a moléstia estava em Mesopotamia, e na Syria, tendo-se estendido do lado de Oeste até Tripoli, nas costas domar mediterrâneo; e no anno de 1824 até Ti- berias naJudéa, na mesma costa. Em Setembro de 1823 a moléstia declarou-se era Astracan, Cidade grande, e populosa , collocada na era- bocadura do Volga , na costa septentrional do mar Cas- piano; mas desapareceo d'ali logo, e não se declarou mais em parte alguma do Império da Rússia, senão no fim do anno de 1829, quando a Cidade de Orenberg foi attacada ; no fim de Julho de 1830 , declarou-se de no- vo em Astracan, em cuja Cidade, e Província, a mor- tandade foi desta vez excessiva. Quasi no fim de Setem- bro do mesmo anno declarou-se em Moscow, e em Ju- nho de 1831 em S.' Petersbourgo , e em Archangel. Ri- ga, e Dantzic tinham começado a soffrer d'esta peste em Maio do mesmo anno; e então foi descoberta entre os feridos, e presos que tinham sido condusidos á Pra- ga, subúrbio de Varsovia, porém separado delia pelo vistula; e no mesmo dia no Exercito Polaco, depois da batalha de Inganie. A Hungria foi o theatro da» suas operaçoens, em Agosto do mesmo anno de 1831: em Berlin, e em Prussiaa daclarou-se em Agosto; em Vienna em Setembro, e em Hambourgo era Outubro d'aquelle mesmo anno. O primeiro lugar attacado pela Cholera em Ingla- terra, foi Sunderlaiid, porto de mar no Condado de 4 S.-EL.A1C-E-10 ~? r^t.tfÇGIO" DOS MeDICOS Dur.IíKm ■ a moléstia di.ha apparecido lá em Agosto de ÍÍ-3Í', ;R.'ois não ouepou a attençáo geral, nem causou receios bonito ;>;.- í;m do anno-, e desde eiit^o se mosl-ou em New-castle-upou-Tvne, e em vários outros lugares contíguos íio norte de Inglaterra; e em Kaddingíon , Edimburgo, Gla-co;v, e outras Villas em Escossia De- clarou-se em Londres no inverno do anno passado , e no verão, em Dublin, Belfast , Cork, e outros luga- res na Irlanda. No principio de Abri!, a sua presença foi .-imiuncsada em Paris, e depois disto, não só tem apparecido nas Villas pequenas vísinhas à Capital, mas também em vários outros lugares da França. II, Ordem, successlra em que os âifferenles patzes e dis- trictos tem padecido da Cholera. A moléstia durante o anno de 1817 , em que pela primera vez se descobiio em varias partes de Bengala, foi principalmente limitada á esta Província ; e não ap- part-ceo mais em parte alguma com a chegada do inver- no q'í quelle mesmo anno: até esta época, a extre:.». ida- de mais meridional da costa, na direcção do Sudoeste,, que tinha sido attacada foi Cuttack, e naquelia do Nor- deste, considerando Calcuttá como o centro, Silhet. No anno seguinte de 1818- a ordem de successao foi muito regular, havendo um mez de intervallo para cada gráo de latitude, Ganjam que se acha em 19.°, e algumas milhas,. latitude do Norte, foi attacada no dia 20 de Março ; e Madrasta em 13.° de latitude tam- bém do Norte, no dia 8 de Outubro ; e esta propor- ção se conservou durante o tempo seco , e quando não havia impedimento á continuada communicação commer- ci; I que prevelece na costa de Cbromandel. De Madrasta para o Sul a ordem de successao foi acelerada. Digno he de notar-se aqui, qüe durante o espaço de dous me- res,. principiando do dia 10 de Outubro, o porto de Madrasta se acha annualrnente fechado ; e em conseqüên- cia do* ventos prevalesceutes, e da força, com que as ondas batem- sobre a totalidade d'aque!la costa desabri- gada, todas-as embarcaçoens são forçadas a abandonal-a , e as pequenas puxadas, para a terra : porém apesar dis- to, como acabamos de notar,, os lugares ao- Sul foram accoannettidos pela moléstia.- n'umn- succes-ião i.inda mais Kapid» do que a d'aquelies «O' Norte desta Cidade, Não muito differentc- foi a ordem de succe^ão «n. SOBRE A 6HOLEEA EPIDÊMICA 5 que os lugares no interior da Península foram attaca- dos; porque a moléstia appareceo quase simultunemen- te no porto do mar de Madrasta,' e no lugares de la- titude paralellas, no interior. Em Masulipatam, Vii- la na costa de Coromandel perto da boca do rio Kris- •tnah , a moléstia se mostrou no dia lü de Julho de IMS, e em Punderpoor sobre um dos ran.os originaes d'este rio, e distante algumas centenas de milhas, n!uma direcção W. N. W. appareceo no dia ü do mesmo niez sendo attacados mais tarde os lugares intermédios Bellary, no centro da Península, e em iatiude de 15.°, foi attacado em 8 de Setembro. Neilore, sobre a cos- ta oriental, soffreo pela primeira vez no dia 20 do mes- mo mez ; de maneira que n?o podemos hi.aginar pro- gresso algum directo da malestia , nem ctiuba suu-íaa- ciai de sua pa.sngom da costa para o interior, ne.n do interior para a cosia. Também o longo espaço entre a apparecimento da moléstia em Cuttr.ck, eo fim de Se- tembro de 1S17 , e me Ganjam no dia 20 de Março de 1818, não nos deixa supjiòr a transmi^ão de alguma causa substancial da moléstia de mi i d'estes lugares pa- ra o ouíro , sendo ambos, sitados sobre a costa, e com pequena distancia. Aska , perto de Ganjat», e sobre a estrada principal ao Sudoeste de Cuttack, nSo foi visi- tada pela moléstia, senão no dia 23 de Abril de 1818. Na China, achamos que a moléstia, em um an- no aitacou as povoaçoens sur.cessiva-isente , na direcção do Sudoeste desde a Tartaria até Pekin ; em outra, do Nordeste , desde Cantou ate Pekin. A Pérsia foi at- inada em differentes annos pela cholera , e a ordem de successao, fcssim , como da direrçno foi irregulv.r. Des- de Bassorah, na extremidade do Golfo da Perfis, pas- sando pela Mesopota';iia e Aleppo , e no decurso da Cos-, ta da Syria, a dirrtçáo foi do Norte para o Oeste, e seos attaquc-s m.o ícram r/uraa saccessão bem determi- nada ; pois que o intervallo entre o seo apparecimento em Bassoi.ih, e em Damasco, foi de quatro annos, quan- do uma taruRiia poderia atravessar esía distancia quv^i em outro» tautos mezes. O Egypto, contíguo á Syria . o entretendo co"; esta >:ma communição continua por mar , e por teria, u-ío soíireo os estragos da cholera, senão oito aiiits os únicos, que sofriam da moléstia; um quarteirão c:c uma so rua tem sido attacado da moléstia ; e até ha exemplos aonde os seos estragos foram limitados á um lado só de uma quitanda ; nestas cirunstancias basta, muitas y«**$ ,. a «nica mudança do acampamento de algu-. &ia» luiihus u« distancia, para fazer cessar innuediaU.^ 8 Relatório do Côllegio dos Medico» mente a continuação dos attaques; c quando a moléstia assola uma povoaçao, os habitantes se livram igualmen- te abandonando por algum tempo as suas casas, ainda que, em conseqüência disto , se exponham necessariamen- te á muitas privações , que seriam consideraaas geral- mente, como causas excitantes da moléstia. Tem-se dito, que a direcção em que a cholera tem siiccessivamente apparecido , era para o oeste, mas isto he falso se considerarmos a ordem chronologica , em que ella tem feito os seos attaques , ou se escolhermos al- gum lugar como o ponto, ou origem da qual podesse- mos suppôr que tem divergido. Por exemplo no anno de 1823, achamos que a cholera se mostrou tantos gráos a leste de Calcuttá — v. g- nas ilhas de Banda, e Timor- como ao Oeste, ou nas costas da Syria, e da Jüdéa; nao tendo sido a direcção do seo progresso, nem para o noroeste, e nem para o nordeste. ->//• Phenomenos atmosphericos , e outros , precedendo, e acompanhando a moléstia, Um grande numero dos Médicos, e Cirurgioens Bri- tânicos na índia notaram freqüentes, e grandes diver- gências da ordem usual das estaçoens, ante*, e durante a existência da cholera; e fallaram de trovoadas muito mais fortes, do que as acostumadas; ventanias fortíssi- mas , tempestades, e grandes pancadas de agoa ; senti- ram-se também terramotos em varias partes de ilindos- tan. No tempo em que o grande exercito, debaixo do Marquez de Hastingfs, sofria tão terríveis estragos da moléstia ; o thermometro variava de 90.° até 100/ de Farenheit; o calor era humido, e suffocante ; e o at- Biosphero se achava n'uma calmaria perfeita. A origem da moléstia em Calcuttá tem sido attri- buida ao extremo calor, e secura da estação, seguida de fortes chuvas; e ao uso de alimentos impróprios, v. g., mà qualidade de peixe, o arroz novo , &c. Na ilha de Java, quando a cholera appareceo, se representava o tempo como extraordinariamente quente, e seco. Em Bombaim houveram maiores chuvas , em o mez 3 numerosas ilhas, baixas e pantano^as, que existem no Delta do Ganges, formadas pelos difierenies tsnaes por onde este rio procura o oceano : as Sunderhunds si*o .■;- bertas de mattas, e habitadas por tigres, cobras, e t -* tios animaes nocivos. Calcuttá. — No relatório sobre a existência da cho- lera maligna, remcttido ao Governo pelo primai ■■•> mogid- írado daquella Cidade, em 15 de Setembro de 1817, se yfii.rma que a moléstia estava grassando, coto extrema violência, principalmente nos diitricíos pobre.-, e insalu- bres da Cidade, e subúrbios ; e ali na verdade n scena foi triste. Para dar uma idéa da extrema miséria da clas- se inferior dos índios, e Mussulmanos, neste tempo, se- rá preciso fallar dos seos costumes, e habitaçoens. A Ci- dade de Palácios fôrma comente uma metade da Cidade de Calcuttá, e que he a lugleza; a outra he a Cidade nativa, que contém, juntamente com os subúrbios, qui- nhentos mil habitantes : a Cidade nativa consiste princi- palmente de becos miseravei-: , estreitos, sujos, e sem calçadas; e a maior parte das habitaçoens s;io cabanas baixas, com as paredes construídas de taipa, esteiras, e ■er.nas ; e cobertas com t;,olos pequenr.-. Entre a po- voaçao numerosa destes inunundoá recentaculos , em (jue abundam toda a qualidade de mão cheiro, animal, e ve- getal , a mt.-iestiu fez estragos temíveis : apenas susten- tados por uma parca dieta de mão arroz , os pobres obrei- ros que tinham estado todo o dia oecupados ao sol em peus misteres, voltavam ás suas cabanas -i-o estado o m;us próprio para contrahir a mclestia. Exauridos pelo calor, e fadiga; e fechados durante a noite, com as suas ta- milias , muitas vezes em numero de seis, ou oito .pes- soas . ifuin lugar pequeno, onde não peiiviri\ a o ar fres- po, foram attacados pela cholera em couucüs; e uma 1Ê Relatório no Colí.egio »os Ms»icos prrçSo espantosa, dEquelles? que foram attacados, succum- hio no decurso de poucas horas. Isto acconteceo princi- palmente na jarte mais baixa da Cidade, e subiirbios; e nas aldêas adjacentes de Kidderpore, >i:>nickt«lla, Eb- tally, Chitpore, Sealdah, &c. A condição, na verda- de, dos habitantes destes últimos lugares, apenas se pô- de imaginar: estas aldêas são compostas de choupanas àc taipa, ou palha, as quaes individualmente tem de seis até dó^e pés cm quadro, e tão perto uma das outras, que «penas se pôde passar por entre ellas : em cada uma destas habifaçoens insalubres, mora uma fandlia inteira, o muitas vezes, aos próprios habitantes se ajuntam va- cas, e outros animaes domésticos: estes lugares são, de mais a mais, interrompidos em suas communicaçoens por lagoas, larcos reges, e canaes, que, no tempo chuvo- to, fcam sendo receptaculos d'aguas estagnadas e ervan- ças semiputridas. Bombaim. — O frio, e a humidade foram causas pre- disponentes mais fortes: na aldêa de Kamati, situada em lugar muito baixo, rodeada d'agua no tempo das chuvas, e cujos habitantes são principalmente Hamauls, isssás expostos ás influencias do dia, e da noite, a mo- léstia foi mais rápida no seo progresso, e em proporção" seguida de maior mortandade. Na classe superior mui- tos indivíduos foram attacados; porém poucos sucumbi- ram quando se procuravam os soecorros á tempo. Dos dous Corpos de tropas nativas, o das recrutas, por lhe faltar fardamento , e outras commodidades , padeceo mais, tendo a moléstia apparecido primeiramente n'um beco daquella aldêa. Madrasta.— Varias circunstancias locaes , e um esta- do peculiar do tempo , parecco influir muito nas varia- çoens da moléstia: os sitios limpos, secos, e arejados foram, sem duvida, os mais sadios; quando, ao con- trario, aquelles que estavam sujos, e humidos, e que eram habitados pelas classes inferiores, geralmente apre- rsentavam um grande numero de doentes ; e nestes a mo» lestia pela maior parte tomava um máo caracter; como acconteceo em Vipery, bairro cheio d'agua estagnada, e receptaculo de toda a qualidade de immundice; e ain- da mais no bairro, aonde, com toda a rasão se suspei- tou , que a epidemia de Madrasta tivera tido ahi sua origem ; c onde muitas victimas suecumbiram ao seo fu« rar; porque notou-se que a doença prevalecera, nos dou3>3, S0ERE A CHOLERA EPIDEMlfcJU 13 «u tres primeiros dias , quasi exclusivamente entre 09 naturaes, que residiam em cabanas, ao redor das quaeg muitos materiaes nocivos, e corruptos, tinham sido accu- mulados ; em quanto que aqueíles, que occupavam ca- sas , quasi contíguas, padeceram menos; ainda que com- parativamente mais do que os habitantes das ruas adja- centes, e mais distantes: a humidade, e exposição ao ar parece ter sido a cansa occasional. Durante o reinado da cholera no Batalhão 89, es- tacionado no Eorte de S. Jorge, em Fevereiro de 1828$ ella inteiramente se limitou a uma extremidade do quar- tel; e as tres companhias, que occuparam o andar su- perior da extremidade septemptrional, foram as únicas, que soffreram : vendo-se que a moléstia augmentava dia- riamente nestas tres companhias, foram ellas removidas para um outro quartel abobadado dentro do mesmo For- te ; e desde então notou-se, que não appareceo mais um único caso : a extremidade doentia do quartel era con- tígua ao fosso do Forte, como também ás letrinas, e eosinhas dos Soldados; e a um cano, que passava im- mediatamente por debaixo do angulo do noroeste ; e cu- jas exalaçoens , ae vezes , são excessivamente nocivas ; uma outra causa modificante era a situação do quartel, ex- posto aos penetrantes ventos do nordeste (terral ) : por- que batendo elles sobre o glacis, e entrando directa- mente nos dormitórios pelas tres horas da madrugada, depois de uma noite quente, e mormacenta, tocavam os Soldados, que ordinariamente 9e achavam nús, e fati- gados pelo calor antecedente. Na marcha do 1.°, e 8.9 Batalhão de Cavalleria ligeira á Seroor, durante os me- zes de Fevereiro, Março, Abril, e Maio, o Cirurgião deste Corpo diz , que teve oceasião de observar a ne- cessidade de bem se escolher um terreno elevado, e lon- ge das águas, para o seo acampamento ; e que nSo ap- pareceo exemplo algum de cholera no campo, antes de ehegarem ás visinhanças de Chittledung, onde, infeliz- mente , tendo-se acampado sobre as margens de uma la- goa com muita água estagnada, foi lastimoso vêr, que em poucas horas depois de fazer alto, não menos de qua- torze Soldados foram enviados ao hospital, attacados da forma mais violenta de cholera spasmodica ; e então teve a opportunidade ( continua o mesmo Cirurgião) de re- presentar ao Officíal Commandante, a probabilidade de ter sido este infortúnio causado pelo acampamento no lugar 14: Relatório do Collegio dos Médicos acima dito, íendo a satisfação de observar, que, pondo toda a attençoõ, e cuidado acerca disto, a moléstia em poucos dias deixou repentinamente o campo ; e não accon- te^eram senão tres exemplos depois de uma marcha de dous mezes. Em um grande campo . em Candeish, observou-se que uma divisão á esquerda da linha, fuffreo muito da moléstia , em quanto que outra da extremidade oppcsta escapou inteiramente: a primeira estava ífum local mais baixo, e mais abafado do que a outra, que se achava entre dous outeiros, aonde existia uma forte corrente de ár. Tendo marchado a divisão, que tinha sido exem- pta da moléstia, a outra ^ que veio occupar o seo lugar, gosou da mesma immunidade, quando a epidemia ainda reinava em outros lugares do campo: e que esta immu- nidade não se deve attribuir á falta de susceptibiiidade, he provado, ao menos neste caso, porque a primeira destas divisoens, que havia escapado, soffreo muito ao depois em sua marcha, tendo deixado aquelle acampa- mento. O Batalhão 53, que se achara eitacionado, quan« do a moléstia appareceo, em um local arejado, e um tanto elevado, junto de Trichinopoly, nao escapou del- ia, mas foi o ultimo acomir.etido. Em Masulipatam a cholera appareceo primeira atente entre os presos n'um dos quartéis abobadados daqueila praça, e por algum tempo se limitou à elie antes de se estender aos mais, porque, era o peior de todos, str.do mal arranjado, atravancado, e cxcessivamsnte humido; e durante todo o tempo for- neceo mais exemplos do que todos os outros ; passando- se ainda muito mais tempo para que a moléstia se es- tendesse à povoaçao livre ; e outros presos , que se acha- vam ao mesmo tempo n'uma prisào seca ecommoda, pa- deceram muito menos. Chegando á Madrasta duas divisoens de recrutas Eu- ropeas, uma foi aquartelada nos quartéis abobadados do Forte, e a outra nos quartéis sobre o Monte, na dis- tancia de oito milhas; a primeira foi attacada, em quan- to que a segunda ficou livre; mas sendo , támbem , man- dada para o Monte, não padeceo mais. Um Corpo acam- pado sobre uni terreno baixo, n'um tempo muito chu- voso, foi severamente visitado, e de treze pessoas que foram attacadas morreram seis: depois de alguns dias. mudado para um lugar mais elevado, um só indivíduo qílocceo y e ainda assim foi na aua marcha para o lugar SOBRE A CHOLERA EPIDÊMICA. 15 novo. Durante um attaque da epidemia, experimentado em Abril de 1823, pelo Bstalhão 69, no seo aquarte- lamento, aquellas companhias, em que mais prevaleceo a moléstia, ftram mudadas, pelos conselhos do seo Ci- rurgião , para um terreno elevado na visinhança , e elle assevera que não appareceo um só exemplo naquelle cam- po. O reapparecimento da moléstia em Palamcotta he as ■ sim descripto. " A cholera principiou os seos estragos ao nordeste do Forte, e estendeo-se geralmente por toda a parte, entre as casas pequenas, sujas, e abafadas: o hospital escapou á sua influencia, talvez porque estava collocado sobre um terreno elevado, e aberto de todos os lados ; nenhum doente de mais de noventa que ali se achavam recolhidos, sofíreo da cholera, á excepçaõ de um , que estava no costume de se ausentar de noite. A' respeito do predomínio da moléstia, na divisão central do exercito Britânico, na Índia, em o aiino de 1818, colligimos , que nos tres lugares de acampamento, o ter- reno era baixo, e humido; a água suja, estagnada, e salobra, achando-se , em todas as partes, logo a dous ou tres pés abaixo da superfície da terra ; e as suas vi- sinhanças cheias de matérias pútridas animaes e vege- taes; quando pelo contrario em Erich , aonde o exerci- to recobrou a sua saúde, a situação era elevada , e sa- dia, e a água clara, e pura d'um rio corrente. Para ainda mais estabelecer as differenças de localidade, se- ria bom ajuntar, que a moléstia, ainda que tivesse fei- to tantos estragos no campo, não chegou a Allahabad, senão quatro mezes depois, apezar de que a communi- caçaõ entre esta Cidade, e o campo tivesse sido gran- de ; e alguns corpos desta divisão , estacionados á uma pe- quena distancia , escaparam , não obstante haver ali chega- do um corpo affectado , vindo da divisão principal. Do re- sultado uniforme das perguntas feitas aos Oíiiciaes da poli- cia nos vários departamentos , parece que as filias de Sy- lhet, onde a cholera grassou mais, eram considerados pelos habitantes como insalubres, esujeitos as febres intermitentes. Seringapatam. — He um dos lugares mais insalubres da índia : está situada n'uma bacia, formada de todos os lados, por outeiros; e rodeada até uma considerável distancia de plantaçoens de arroz , regadas por canaes, que partem do rio Cauvery : a mortandade que ali pro« duzio a cholera, foi proporcionalmente maior do que a. de qualquer outra parte da península. 16 Relatório bo Collegio dos Médicos Em Nudea.— Os lugares elevados e secos, e- os an- dares superiores das casas, foram mais isentos, do que os lugares baixos, pantanosos , e cubertos de uma ve- getação superabundante. Nos quartéis do Batalhão L,a- ropeo, em Berhampore, de vinte e quatro casos, a cho- lera, era derasete, teve lugar em duas companhias, que habitavam o lugar mais baixo. Observaçoens semelhan- tes tem sido feitas á respeito de febres remitentes em i ai- zes mais ao norte. Pringle , r.os conta o numero dos doentes, entre os soldados em Flandres, aquartelados sobre o andar da terra, em quanto que aqueües, nos andares superiores , escaparam. Na Pérsia. Tabriz. — A moléstia, diz o Snr. Cormick, come- çou primeiramente n'aquella rarte da cidade que he mais baixa, cuja, e cheia de habitantes pobres; e estendeo- se de quarteirão em quarteirão , acabando os seos es- tragos em um , antes de os principiar em outro ; era mais rtestructiva nas casas baixas, e mais cheias de ha- bitantes. Na Rússia. Moscow.— O maior numero de mortes teve lugar nos districtos pantanosos, visinhos á Moskwa, e Kanal, rios que freqüentemente se enchem, e de maneira tal, que suas agoas entram pelas janellas inferiores das ca- sas adjacentes. o Collegio dos Médicos Tendo-se attençaõ ás causai predisponentes, ou as circunstancias modificantes , debaixo das quaes a molés- tia appareceo, na Rússia; nlo nos devemos esquecer igual- mente de dixer, que os habitantes, sobre tudo, as clas- ses inferiores, vivem em aposentos abafados, e aqueci- dos por estufas, que lhes dão o calar dos trópicos, sem çom tudo lhes dar a sua ventilação; e o ar assim, nio se renovando, se torna nocivo, e pestilento. Na Polônia. Em Varsovia. — As habitaçoens das classes inferio- res , que foram as que soffreram mais desta moléstia, são muito sujas, e pouco, ou nada ventiladas; situadas principalmente nas margens do Vi-ítula , naõ passam de meras choupanas; e por isso acconteceo, que nestas, e nas ruas baixas, e estreitas, a moléstia, e as mortes fo« raia freqüentes. Na Prússia. Berlin.— A maior parte dos que soffreram da cho- lera, moravam em ruas obscuras, e quasi inacessiveis aos raios do sol, e aos ventos: suas habitaçoens eram bai- xas , hum idas, e muitas tezes porcas: as moradas are-. jadas, cujos habitantes cuidaram do aceio , e limpeza, fi- caram isentas dos attaques: quarteiroens inteiros, como Frederichstad, em conseqüência de suas casas bem are- jadas, e espaçosas ; e de suas ruas bem ventiladas por correntes de ar, foram com poucas excepçoens, preser-^ vada^ da pestilencia ; e até estas excepçoens oceorreram tão ta':mente nas casas posteriores. Em Berlin, os primeiros attaques da cholera appa- receram entre os banqueiros do rio Spree, que corre pe- lo meio. da Cidade; e nas casas, que se avisinhavam im- mediatamente ao rio. Em geral as ruas. de Berlin sa8 largas, e arejadas ; e as. classes mais pobres da povoa- çaõ , em vez de serem amontoadas em becos intermediá- rios, e ruas estreitas, oecupam os subúrbios; e por isso, .íikrlin sofreo comparativamente pouco da, moléstia. Vi-.-nua. — A. localidade preferida pela moléstia foi a mesma, que ella escolheo sempre nas outras partes ; mas a classe do povo foi diüerente ; e a nobreza que reside na parte antiga, e baixa da Cidade, perto do Danu- SOBRE A CHOLERA EPIDÊMICA. 19 bio, e nos primeiros andares das casas, foi a que soffreo mais. Hamburgo. — Está situado sobre o Elba, e uma par- te da Cidade está construída sobre ilhas formadas pelas divisoens do rio, de maneira que, quando o mar se le- vanta, as margens do rio sao muitas vexes inundadas; e perto de mil e oito centas cavas, que são habitadas por ramilias , ficam igualmente cobertas ; ha também um gran- de numero de ruas, e becos pequenos, e humidos, ha- bitados pelos pobres ; e nos quaes raras vezes penetra os raios do sol. A cholera appareceo primeiramente na- quella que se chama a cava profunda , entre a cla.^e mais baixa, e mais necessitada dos pobres; e n'um tempo quando os cordoens sanitários , e as restricçofus as mais rigidas de quarentena tinham sido adoptadas para preve- nir a sua vinda da Prússia. Em Breslau, Capital da Silezia, a moléstia foi ao principio observada no subúrbio do Oder, lugar muito hu- mido, cheio de pântanos, e águas estagnadas; e aonde prevaleciam febres intermittentes de muito máo caracter, Na grande Bretanha. A parte meridional de Sunderland, em que princi- piou, e grassou mais a moléstia, consiste em ruas, que são, pela maior parte, becos estreitos, atravancados com casas cheia* de pobres , mal calçadas , e com uma goteira no meio, na qual todas as imundices, próprias das ha- bitaçoens humanas, incautamente se deitam; e com ain- da maior falta de aceio se deixam ajuntar por semanas, inteiras sobre o pasto commum. Os habitantes necessita- dos sujos, esfarrapados, e morrendo de fome das peio- res partes de Newcastle, Gateshead, e Glascow , os mo- radores dos becos de Rotherhithe , S. Giies, Chelsea, S. Mary-le-bonne em Londres, foram os que padeceram, prin- cipalmente na grande Bretanha. Dia-se também ,' que em Londres, as margens do rio Tâmisa foram o theatro da cholera. Em Paris, o primeiro apparecimento da moléstia se notou entre os habitantes miseráveis da ilha da cidade, que he formada por uma divisão do Sena , as ruas são ahi estabelecidas sobre entulhos , e as casas amontoadas, e mal ventiladas. 3 * iO Relatório do Collegio pós Médicos JV. Classss do povo, e modo de viver, dos que tem mor- rido em maior numero. Be todas as causas pre.lisponentes de um atUque de cholera, dizem os Cirurgiões da Índia, a fadiga em con- seqüência de viagens, ou de trabalhos ao sol , foi a mais poderosa : por isso achamos que os soldados em marcha , o as pessoas, cujas occupaçoens ás expõem ao tempo , como os barqueiros, pescadores, lavradores, jardintiros, cortadores de capim , lavandeiras, carregadores &c, fo- ram os mais sugeitos á moléstia. Na Índia, a cholera attacou mais , ou menos , as varias classes dos habitantes em proporção , que se acha- vam expostas á fadiga , e á modos irregulares de viver. Os Europeos soffreram comparativamente menos do que os naturaes ; e d'estes as classes superiores menos, do que as inferiores. As mulheres soíÍTeram menos do que «*.-8 homens; e os meninos menos ainda do que as mu- lheres. De 481 mortos em onze dias em Bombaim, 254 foram homens, 172 mulheres e 55 meninos. Na Europa, mormente em Inglaterra, as proporções íião foram as mesmas; pois que as mulheres soffreram em alguns lugares igualmente com os homens. No norte da índia, os Mahomeíanos, que usavam d'uma dieta mais nutritiva, e andavam mais bem vestidos, do que os ín- dios, foram geralmente menos sugeitos á moléstia. Que ieto não dependia da maior robustea organiea dos pri- meiros se deprehende do effeito , que se seguio á uma diminuição accidental de suas forças ; porque quando a cholera reinava em Delhi , era no tempo do anno, eiu •jue os Mahometanos observam o jejum do Ramazan; e todos os bons Musulmanos se abstem do comer em quanto o sol se acha por cima do orisonte. As pessoas, desta seita pois soffreram mais durante o jejum, do que os Índios, que seguiram o seo ordinário modo de viver. Em Calcuttá muitos jornaleiros soffreram , não em pro- porção de suas forças constitucionaes, mas sim de sua debilidade, ou desfatecimento accidental. Os obreiros tra- balhando nos arsenaes , e que se achavam expostos ao sol, aiada que recebessem melhores ordenados, e vives- sem de um melhor modo em quanto á dieta, e outros arranjos domésticos, foram com tudo mais. freqüentemen- te attacados do que os jornaleiros da classe inferior, em- pregados á sombra, nas prensas de algodão. SOBRE A CHOLERA EPIDÊMICA. 21 Em Madrasta, notou-se que escaparam muito pou- cos das classes inferiores, que eram dados á bebidas al- cohoiisadas, ou que dormiam expostas ao ar da noite. Tem-se igualmente observado a respeito das causai da moléstia em Bombaim, que as fadigas, a dieta pou- co nutritiva, o máo vestiário, e a exposição ao frio, e particularmente à humidade, predispõem a um attaque. N'aqueiU Cidade a cholera foi quase limitada áquella ciasse do povo, que soifre os maiores trabalhos, e pri- vaçoens , e que são muitas vezes obrigados , por falta de uma rede, a dormir sobre o chão, tendo apenas um ao panno para lhes servir de cama. Os Europeus, diz outro Escriptor, se tornam pre- dispostos á doença por intemperança, e com maior cer- teza , se elles se expõem estando bêbados, ao ar da noi- te , ou dormem n'ura lugar desabrigado. As fadigas, e desabrigo , á que são expostos os naturaes , junto com uma falta de vestiário , máo comer , o uso de frutas frias , como meloens , pepinos , verduras , &c. os expõem certamente á moléstias, e nunca deixam de mais ou me- nos produzir febres, e desarranjos dos intestinos, n'es- te tempo do anno (Julho de 1818); mas que agora, diz o mesrno Escriptor , estas affecçoens ordinárias se tornaram mais raras do que o costume, prevalecendo em seo lugar a cholera. O mesmo affirmam , com uma unanimidade singular, quase todos os authores, não somente da Índia, mas da China, Pérsia, Rússia, Polônia, Alemanha, e Ingla- terra &c. A moléstia foi mais extensiva, e mais perni- ciosa nos seos effeitos, entre os servos da Rússia, que vivera na maior porcaria, e são habituados á intempe- rança a mais revoltante : as casas em que a moléstia ap- pareceo em Moscow eram habitadas por uma classe de pessoas muito pobres, habitualmente porcas, acostuma- das a bebedice; e ellas eram muito baixas, e humidas; e até mesmo cavas : muitos d'estes aposentos, habitados por trinta, ou mais indivíduos, nao tem mais do que nove pés em quadro; e por toda a parte da Europa, os que soffreram mais foram os pobres, mal vestidos, mal nutridos, e os bêbados ( * ) ( * ) Ista se e^oreveo antes de se receberem as noticias dos estragos da moléstia em Paiíb. Ella ali parece ter segui-- do uma marcha mais extensiva, porém com tudo , a maior paç-. 22 Relatório do Collegio dos Médicos Quando as pessoas de distincção succumbem á doen- ça, podemos como nos exemplos do Marechal Deibitsch, e oGram Duque Constantino , achar uma explicação em uma excessiva anxiedade mental, na intemperança, e costumes desordenados. Affirma-se, com fundamento, que em noventa , ou cem exemplos em S.* Petersburgo , as vicíinaas ordinárias da cholera foram as pessoas de cos- tumes irregulares, e dissolutos, de constituiçoens enfra- quecidas, de saúde alterada, mal nutridas, e vestidas; e que se abandonaram ao uso de licores espirituosos. As comidas grosseiras , e ácidas ; o vestiário do rús- tico , feito de pelle de carneiro, que pouca3 vezes se ■muda, e (pie sempre he usado, ainda mesmo n'esta es- tação, (Junho) os jejuns religiosos prolongados, os ex- cessos subsequentes na comida, e bebida, os aposentos excessivamente abafados dos Russos de todas as classes, a sua sensibilidade em conseqüência das mudanças repen- tinas da temperatura, os tornam em nossa opinião, di- zem os Médicos Inglezes , que se achavam por aquel- le tempo em S.* Petersburgo , summamente sujeitos à moléstia. Em Varsovia os indivíduos affectados pertenciam ge- ralmente á classe baixa: a sua condicção, como colli- gimos de Médicos intelligentes he miserável : sua comi- da , consiste em pão grosso, e trigueiro, agoardente d« batatas, carne, e sardinhas salgadas, queijo do paiz, e uma massa feita com agoa, summamente indigesta. Tres bêbados, depois de uma de suas orgias, pe- receram da moléstia em quatro horas ; e ura creado bê- bado, n'uma hospedaria de Varsovia, em que assistiam dous Médicos Francezes, foi encontrado morto em sua cama. O effeito de intemperança em predispor aos attaques, e mesmo em desenvolver a moléstia, he provado por fa- etos , porque depois de haver a cholera principiado a declinar em Riga, o uso mais largo de bebidas esoiri- tuosas, e outras irregularidades, durante as festas da Pás- coa , causou um augmento temporário de novos exem- plos. A declaração da moléstia em Gateshead , no nor- te de Inglaterra, foi logo conseqüente ás festas Baccha- te dos doentes foi da classe já indicada , v. g. os pobres necessitados, os mal nutridos, es mal vestidos, e os dados 4 excessos. SOBRE A CHOLERA EPIDÊMICA. 23 na es das vesporas do Natal : as mulheres de eonductu irregular foram as mais freqüentes victimas da choiera. Qualquer mudança repentina nos costumes de um indi- víduo, ou de um povo, como o ajuntamento de pessoas para festas religiosas , e outras , ou dos soldados nos quartéis, e acampamentos, são as causas mais predispo- nentes da moléstia. Na Índia, em occasião de ajuntamen- tos de peregrinos para adorar Juggernaut, a mortanda- de foi excessiva : as mesmas lastimosas conseqüências fo- ram observadas na multidão d'aquel!es de Mecca. A mo- léstia mostrou-se primeiramente em Polônia, entre os sol- dados , na curta e memorável , porém infeliz campanha de 1S31 : e predominou mais especialmente nos que es- tavam fatigados por longas, e forçadas marchas , expos- tos ás inclemencias do tempo, e que não tiveram cau- tella acerca de sua saúde. Os Batalhoens que se acam- param em terrenos baixos, e pantanosos, entre montanhas, foram os primeiros que mais soffreram , tanto mais quan- to a sua comida, muito parca, quase toda ella consistia em carne de porco. Depois da batalha da Inganie, em 10 de Abril, que foi longa, e sanguinolenta, os sol- dados Polacos esquentados, e fatigados pelos seos gran- des esforços, beberam avidamente agoas turvas das la- goas , e pântanos , e antes da noite do dia 12 muitos morreram da cholera. Entre as causas desta moléstia, nenhumas operam mais promptamente, ou mais destructivamente do que o espirito inquieto, e desanimado. Este facto foi notado pelos Médicos da índia , e da Europa : e era opinião accreditada por todos, que durante o predomínio da mo- léstia em S.1 Petersburgo , muitos haviam morrido de sus- to. O único servente dos doentes, que morreo de cho- lera no hospital de Sunderland , foi uma enfermeira; el- la á vista das outras era nora no estabelecimento, e ti- nha mostrado muito susto, em conseqüência do que se julga, que morrera. A comida diminuta, e insalubre, tem sido já men- cionada com') uma das causas tendentes á induzir um at- taque da cholera. Este objecto he de bastante importân- cia para aqui nos estendermos em maiores observaçoens. Alguns dos Médicos Inglezes na índia, affirmaram, que a moléstia era claramente devida ao uso que fizeram os naturaes do arroz viciado. Este grão he o seo comer or- dinário, e quando as colheitas sáo diminutas, ou o grão• S4 Relatório do Collrgio do9 Médicos viciado pelas estaçoens h úmidas, podemos concebei .co- mo os habitantes devem ser sujeitos á varias moléstias, sendo as principaes aquellas que attacam o estômago e as entranhas. Os Médicos Russos também notaram o ef- feito das comidas más, e indigestas no desenvolvimento da cholera naquelle paiz. Esta idéa se acha consignada expressamente nas instrucçoens precaucio: r.rias , emitti- das pelos Governos Russo, e Austríaco, e pelos conse- lhos Mecacos de Hamburgo , e Berlim, á respeito das comidas , que se devem evitar, e que vem a ser os fru- tos verdos, e aquosos, a cerveja, o hydrom^i , a sopa azeda, os cogumelos, os pepinos, e melcsas; a salada, o peixe moido , e as comidas gordas geralmente. A voa- da de pepinos, e melancias, muito abundantes no Ou- tono de 1829, foi prohibido em Orenberg. II. Meios de prevenir a extensão, e de mitigar a vio- lência da cholera. Ha quem julgue ser possível prerenír a invasão da cholera pestilencial ou mortífera n'uma Cidade ou dis- tricto. Esta opinião se deriva da persuasão de que a mo- léstia he transmissível por pessoas , ou fazendas, ou am- bas juntamente: e que deste modo pôde ser eommuni- cada dos doentes aos sãos, e de um lugar aonde exis- te á outro até então isento. A grande massa de factos sobre a historia da cho- lera, accumulados durante os quinze annos passados, dif- ferem totalmente d'esta crença. Repetiremos alguns aqwi, principiando com o primeiro apparecimento da moléstia em varias partes do mundo. He admittido geralmente pelos Médicos da índia Britânica , que a cholera declarou-se em varias partes de Bengala, quase simultaneamente, ou ao menos sem estas terem tido conimunicação umas com as outras : e supposto seja admittido também, que estes rompimentos da doença, de que alguns tiveram lugar até ein Maio de 1817, fossem anteriores ao seo apparecimento em Jes- sore , em Agosto do mesmo anno : he com tudo' usual, fallar da cholera como principiando n'esta ultima Cida- de, e o certo he, que a sua origem, podia com igual justiça, ser attribuida a Calcuttá, aonde a sua presen- ça se manifestou quase no mesmo tempo, como em Jes- sore* Seul mais examinar a questão da propagação t oti SOBRE ACHOLER A EPIDÊMICA. 25 da extensão da moléstia na índia; (pois que n'ajuel- le paiz não se pôde fazer comparação alguma entre os effeitos de uma communicação livre, e interrompida, se não em um só exemplo ) passaremos a fallar das primeiras medidas restrictivas postas era execução n^quella parte do mundo ; a excepção acima dita , foi a circunstancia ja mencionada da moléstia apparecer n'uma successao tão rápida em lugares ao sul de Madrasta, á tempo, que a navegação, e a communicação entre aquella Cidade, e estes, era inteiramente interrompida pela força da mon- ção , como tinha feita nos lugares ao norte da mesma Cidade , quando a navegação estava desembaraçada , e a communicação commercial livre. O Governador da Ilha de Bourbon prevenido, pe- los estragos da moléstia nas Mauricias, tomou todas as cautelas possíveis para impedir toda, e qualquer com- municação entre ella , e todos os lugares ou portos sus- peitos ; e n'esta intenção estabeleceo uma quarentena mui rigorosa; mas, apezar destas medidas , a moléstia appareceo na Ilha. Comemorando as noticias das tentativas feitas , na Europa , para evitar a moléstia , por meio da medidas restrictivas de isolação, e não communicação, com As- tracan ; devemo-nos lembrar, que esta Cidade foi acom- mettida pela moléstia, durante algum tempo, em 1823, que então declinou sem se estender ás Províncias contí- guas , mas as observaçoens dos Médicos , que agora aqui emittimos, se referem á doença de 1830. A Cholera appareceo primeiramente CO milhas distan- te de Astracan, á bordo da embarcação de guerra Ba- kon, ultimamente chegada de Sara, lugar á este tem- po, livre da Cholera: esta embarcação foi detida em qua- rentena em Seidlitz , distante sessenta milhas de Astra- can , e nenhum dos doentes entrou nesta Cidade. A Cho- lera manifestou-se rápida, e simultaneamente em muitas partes da Cidade, sem que os doentes tivessem tido com- municação alguma com os lugares supra citados ,• a pri- meira pessoa affectada da moléstia em Astracan , tam- bém não tinha chegado de lugar algum suspeito, mas foi um residente da Cidade. Era Orenburg as restric- çoens de quarentena foram igualmente infruetuosas. Da carta officíal , assignada pelo Medico , Officíal de Policia, e outros, depois das indagaçoens as mais mi- uuciosas, sabemos, que o homem primeiro attacado da 4 26 Relatório do CoLLBCto nos: Médicos Ch oi era em ,S. Petersburgo, não tinha tido communica- ção alguma directa com pessoas, que tivessem vindo de outros lugares ; nem se podia descubrir coinmunicação pessoal alguma entre quasquer dous dos cinco, ou seis pioneiros e?iemplos, que occorreram , (devemo-nos lem- brar,) á tempo que a Cidade estava rodeada de cordões saritarios, e existia um systema rigoroso de quarentena , posta em execução , debaixo das vistas do governo , e com um immenso apparelho de força militar. As indagaçoens as mais exactas, e minuciosas, ins- tituídas em Moscow, como sabemos de um Medico Iu- glez, e outro Alemão, que se achavam presentes, pro- \ix:ã sem coníradicção que a moléstia não fora importa- da ú aquella capital, mas, que ali nascera espontanea- incnte. Descobrio-se que os quatro primeiros doentes , nem tinham estado ein lugares infectos, nem tido com- municação alguma com pessoas vindas de taes lugares. O Cônsul Britânico ( cujo relatório he confirmado pelo governo Livoniano) nos diz , que a moléstia appa- re.:eo simultaneamente eru trez lugares differentes em Ri~- ga : os primeiros exemplos foram dous pedreiros, traba- lhando nos subúrbios denominados Petersburgo , uma pes- soa na citadella , è uma seninrra residente na Cidade. Ne- nhuma destas pessoas tinha tido a mais pequena communi- cação com as equipagens dos barcos, ou com outros estran- geiros : dizem que Dantzic recebera a moléstia deRiga; a verdade he que houveram dous exemplos na distancia (fuma milha Alemã daquella Cidade no dia 27 de Maio; dous na mesma Cidade, em differentes partes , no dia 20; e outros no dia 29, em duas ou tres aldèas perto delia. Mas a primeira embarcação que sahio de Riga, depois do apparecimento da moléstia , naõ chegou á Dantzic, se naõ no dia 30 de Maio; e ella tinha uma carta de saúde limpa. O Capitão d'esta embarcação mor- reo no dia 31 de Maio,, suspeito da Cholera; mas dis- to naõ-houveram provas; seja o que for, a moléstia ti- nha apparecido em Dantzic tres dias antes da chegada da embarcação da Riga: com a Polônia a communi- cação tinha- cessado' desde o principio do inverno. Bveslau , Capital de Silezia gòsando de um syste- ma de quarentena, que parecia o mais perfeito, naõ só sobre as, fronteiras da Província como também sobre o, Oder, foi-Pepentinamente aterrada, pelo apparecimento da moléstia,era-um dos seos subúrbios. O primeiro exeras- SOBRE A CHOLERA EJPIBfMirA. 27 pio foi de uma mulher, que nunci tinha munic;uío tem o-str'.ugeiro algum , ou com fazendas suspeitas cie contagio. Em pou- cos dias, depois da sua mo; ::■ , muitas pessoas foram at- tacadas da Cholera, em muitas partes da Cidade, dis- tantes umas das outras. Em algumas das Cidades remotas da Alemanha , e da Hungria , além da suspensão total de communicação entre lugares onde existia, e os outros visinhos, ou distvntes, ca- da casa em que alguma pessoa se achava attacada da Chole- ra , foi immediatamente cercada por uma guarda, e tola a communicação entre ella , e as casas visinhas suspendi- da ; apesar disto, novos exemplos continuarão á appa- recer diariamente, em .differentes partes da Cidade; e as medidas assim tomadas parecerão antes augmentar o numero das victimas , do que diminuir a extensão da moléstia. Berlin , apesar de cordões sanitários , compostos das melhores tropas do reino , debaixo dos olhr.s do pró- prio Soberano, ficou sendo um theatro para os estragos da Cholera. Os habitantes de Hamburgo, olhando anciosamente para a Prússia , e o paiz á Leste, e empregando todos os meios ao seo alcance para impedir a chegada da mo- léstia por aquella parte, a vio apparecer-repentinamente em seo seio, nascendo, por assim dizer, da terra da cava profunda, cujos oecupantes foram as primeiras vic- timas. Medidas restrictivas semelhantemente iaipe ;t<>- \>e- io governo Austríaco , tiveram a mesma falta de suc- cesso ; e Vienna soffreo da moléstia depois do nutras Cidades da Hungria, e da Polônia, n'urr.a suc.-.3f-.;ío mais rápida, do que se tinha observado cm muitos lu- gares, aonde barreiras arteficiaes não existiam. Sabendo-;:q que a Cholera tinha feito tantos estragos fr.i Mecca, o Paehá do Egypto ordenou uma quarentena ri- gorosa, para todas as pessoas, e fazendas viadas d-3 Ará- bia. A Caravana de Mecca foi era conscquenci.t posta ifum lazaretto, tres léguas distantes ('o Cairo. Trinta dias se haviam passados depois de sua sabida da primei- ra Cidade, tendo perdido na viagem d?z pe= . - tia prevalecente. Em Moscow quinhentos e oitenta e se- te doentes da Cholera ; e oitocentas e sessenta padecen- do de outras moléstias, foram admittidos no hospital de Ordinka, que consiste em um só edifício de tres andare?, comraunicados por escadas collocadas dentro das enferma- rias : os mesmos enfermeiros cuidaram de todos os doen- tes ; os differentes utencilios foram distribuídos sem t'•>- tineçaõ entre elles, e a roupa de todos lavada pelas mesmas pessoas. Dos oitocente-s, e sessenta enfermos su- pracitados nem um só foi attscado da Cholera; e de cen- to e vinte tres empregados do hospital, dous unicauieuíe soffreram, um homem, e uma mulher, ambos predispos- tos á moléstia pela sua coudueta irregular, de que já tinham sido censurados. Na índia, e na Europa se podia citar niuito9 exem< pios; de uma isenção total da moléstia, depois de uma çorarauniçaçaõ constante cora. os doeateà; as inulh«ras que SOBRE A CHOLERA EPIDÊMICA. 81 lavaram a roupa no hospital de Oremberg ficaram livres; bem como os criados que ajudaram os doentes á entrar, e sahir dos banhos, esfregaram os corpos , curaram os cáusticos &c. nos hospitaes Russos, e outros. O Physico mór do hospital civil de Dantzic diz, que houveram cinco criados sempre ao pé dos doentes ; oito homens empregados em administiar as fumigaçoens, e os banhos; nove Médicos visitaram os doentes , um dos quaes se achava sempre de dia na enfermaria , e dous vigiavam de noite ; destas vinte e duas pessoas nenhuma só adoe- ceo. Tenho visitado, disse o Doutor White, o hospital de Gateshead, durante o tempo que tive a honra de ser Medico daquelle estabelecimento; e muitas vezes fatiga- do , e abatido respirei horas inteiras a atmosphera das suas enfermarias; mas eu, os empregados, os enfermeiros, todos igualmente expostos, havemos escapado. Nenhuma pessoa da profissão soffreo algum attaquc desde o princi- pio da epidemia; e ninguém poderá suppôr qi-ce aos Mé- dicos , e enfermeiros assistisse algum direito de escapa- rem inteiramente aos attaques da Cholera ; sendo assim de admirar que sua proporção tenha sido tão pequena, quando se considera que a fadiga excessiva e a perda de sono, que experimentam, são causas mais que pre- disponentes da moléstia; e ainda muito mais differente seria o res dtado, se os Médicos, amigos, e empregados fossem obrigados á administrar os seos serviços nas; par- tes fexadas, e abafadas de uma Cidade, ou Villa;. e nas casas inimundas, humidas, e mal ventiladas, cujos habi- tantes principalmente são as victimas da moléstia. Por. isso he do dever dos governos, e das authoridades mu- nicipaes prover nos arranjos necessários para o recebi- mento dos pobres, era hospitaes adequados, e tomarem medidas para a evacuação dos moradores das cavas, e ha- bitaçoens subterrâneas, e todas aquellas, emíira, que se> acham sujas, e abafadas. Medidas TíRnADEiHAS db prevenção. He do- nosso dever considerar agora nos meios mais próprios para evitar a exiençaõ da moléstia, uma vez que ella appareça; e he isto tudo quanto podemos fazer. Supposto não possamos alterar, ou melhorar o estado da atmosphera , que dá origem , o» acompanha essencialmen- te' a moléstia., nem mudar as localidades > onde pela? maior/ 32 Relatório do Collegio dos Médicos parte tem o seo assento, com tudo podemos fazer muito para enfraquecer os seos terríveis effeitos, evitando que os homens se exponham á aquellas causas occasionaes , e predisponentes, que augmentam a sua fatalidade. As me- didas sanitárias promulgadas, e executadas neste intento se reduzem aos ires gêneros seguintes; 1.° as que se re- ferem ao lugar: 2.' ás habitaçoens: 3° ás pessoas. Regulamentos samtarios 1.° As que se referem ao lugar. — As ruas devem ser varridas diariamente; todos os monturos, e imundices, de qualquer natureza que sejam, removidas para longe, e os canos lavados a miúdo com água corrente. Não se deve igualmente soffrer nos quintaes, ou nas praças mon- turo algum ou ajuntamento de sisco, matérias animaes, ou vegetaes; todos os.foss.os, ou charcos devera ser en- tulhados com terra; e removidos todos os obstáculos, que se oppozerem á uma livre ventilação dos becos, e ruas estreitas. ü?.° As que se referem ás habitaçoens. — As cavas de- vem ser enchutas, e os canos limpos, ou nelles se de- ve lançar de tempo em tempo água com uma porção de Chlorureto de cal. Esta substancia também deve ser es- palhada pelo chão das cavas, particularmente daquellas, onde não ha uma livre corrente de ar : dissolvida em água com uma pequena quantidade de cal, cora ella se caiará& as paredes das cavas, gabinetes, e aposentos, onde muitas pessoas se ajuntam para trabalharem. He indispensável uma livre ventilação das salas, e quartos de dormir: o chaõ deve ser varrido, e as camas, lan- r;ois &c. arejados ao menos uma vez por dia. Todo o cuidado se deve ter na ventilação", e constante renova- ção de ar, em todas as salas, e lugares, onde se ajun- tam muitas pessoas, como nas escolas, igrejas, fabricas &c. o ar deve ser introduzido de modo, que se evitem as correntes, isto he, para não soprar sobre as pessoas quando quentes, e suadas. Pessoa alguma, podendo evitar, deve dormir em ca- yas^ ou lugares subterrâneos de qualquer sorte que se- ja; pois que a experiência tem mostrado, que os que assim praticam, são mais susceptíveis aos attaque» da Cho- lera: os que dormem nas lojas, ou em andares pouco ele- vados da terra, s5o mais expostos ao perigo do que a- BORRE A CHOLERA EPÍOEMtCA. 33 qxielles que dormem nos segundos, ou terceiros andares da mesma casa. O Doutor Livingston até notou na Chi- na , que em algumas casas, as pessoas que dormiam era camas às vezes escapavam , quando as que dormiam nò chão, ou sobre uma esteira no mesmo quarto, tinham a moléstia, e de caracter mais maligno. A maior parte dos doentes, de que tratou aquelle Medico, se achavam no tempo do attaque, em quartos pequenos, e mal ven- tilados, principalmente no andar térreo. A reunião de muitas pessoas no mesmo quarto vi- cia a atmosphera, e se nelle dormem, entaõ se augmett- tam as probabilidades de um attaque , tornando-se por isso os quartos muito entulhados mais favoráveis ao ap- parecimento da doença. 3.* As que se referem ás Pessoas. — O aceio pessoal deve ser rigorosamente promovido por ablucçôes regula- res, ou banhos d'agoa á uma temperatura, que as sen- saçoens, e a experiência do indivíduo tiver mostrado ser mais salutar, e agradável: as fricções da pelle com uma toalha grossa, ou uma escova macia, são muito reconi- niendaveis, principalmente nas pessoas, que tiverem sido repentinamente resfriados , ou cujos pés se acham habi- tualmente frios ; e então pode-se esfregar estas partes com agoa morna , e sal; com sal fino, ou com farinha de mostarda. O vestuário, e principalmente, o calçado deve ser bastante grosso, para abrigar o corpo das re- pentinas mudanças da atmosphera , ou de um resfriamen- to repentino, quando aquecido: aflanella, ou tecido de algodão do paiz são preferíveis para o vestuário interno. Deve-se evitar a exposição ao ar nocturno, e ao se- reno; e os que são obrigados a sahirem de noite devem- se cobrir com roupa mais grossa, do que a do dia. Se- rá útil um banho quente depois de um resfriamento re- pentino , ou de se haver molhado á chuva. Os que são obrigados á sahirem de madrugada , não o devem fazer sem comerem primeiro alguma çousa; por exemplo , uma pequena porção de pão feito no dia antecedente, e fiambre com molho de pimenta, ou mos- tarda , bebendo ao depois um pouco de chá de gengi- bre , ou cousa similhante , preparado na véspera : :\s comidas devem ser simples , e de fácil digestão , con- sistindo naquelias cousas , que a experiência tiver mos- trado serem nutritivas, e sadias: sendo mister com tu- do acauíelarem-se do uso das carnes salgadas , e defu* 5 31 Relatório no Collegio dos Mfdicos madas; e especialmente da carne de porco gorda ; por- que á esta, em alguns lugares, se tem attribuido a pre- dieporição a Cholera. Os lagostins, carangueijos &c. , sao decididamente perniciosos ; bem como todas as verduras cruas, e indigestas; e aí; frutas verdes, que se deve.com todo o cuidado evitar. Não se faz preciso mudar as be- bidas ordinárias usadas nas familias, de manhã , e de noite ; e nem se deve fugir do uso de leite , tão vulgar era qua- se todas as partes deste paiz : esta observação porém não se entende cá respeito do leite coalhado, que, durante o predomínio da moléstia , deve ser cuidadosamente evitado. Tem-se observado por toda a parte , que a predis- posição aos attaques da Cholera era augmentada por ha- bitos de intemperança ; e isto nos deve por em rigorosa cautela. Os que não são acostumados ao uso de bebidas fortes não devem por fôrma alguma recorrer á ellas: e os habitualmente intemperantes , ou sujeitos á excessos, devem immediatamente principiar uma reforma t!e vida. A abstinência das bebidas espirituosas, sempre conveniente, he ainda mais necessária em teiiipo.de uma visita de pes- tilencia: o uso do gengibre, e da pimenta de malague- ta , como adubos , pôde substituir á estimularão alcho- lica : e até estas substancias podem ser tomadas separa* damente, a primeira em forma depirulas; e a secunda de chá, á intervallos regulares, por aquelie que tem de- sistido das bebidas espirituosas. Aos pobres , e necessita- dos , cujo comer he pouco, e de má qeaiidade, como, as verduras aquosas, mao pão &c., se d*>ve supprir um au- mento melhor, na fôrma de bom caldo animal, bom pão do dia antecedente, e uma porção conveniente de leite. Na Gallicia o fornecimento de um melhor alimento destribuido á custa do governo Austríaco pelas classes in- feriores , pareceo contribuir tanto como qualquer outra medida para impedir a extensão da moléstia. N'uma fa- brica de assucar em S. Petersburgo, onde todos os obrei- ros tinham uma ração augmentada, nem um indivíduo foi attacado. Pode-se dizer de certo, que o ar puro, a co- mida boa, e substancial, e o espirito tranquillo são os melhores preservativos contra a Cholera. A temperança, e a regularidade de vida, que a to- dos os respeitos, he tão útil em precaver os homens da maior parte das moléstias, he ainda mais necessária para evitar um attaque da Cholera. (*) (*) O seguinte caso he um exemplo de quanto pôde con- SOBRE A CHOLERA EPIDÊMICA. 35 A Commissao , em conclusão , julga do seo dever aconselhar positivamente ás Authoridades competentes da tomar as medidas necessárias para o estabelecimento de hospitaes temporários em varias partes da Cidade, á fira de receberem os doentes de Cholera , que não tiverem em suas casas os arranjos, e commodidades necessárias; á cuidar em remover todas as pessoas, que habitam, e dormem em cavas, e outros aposentos feixados , abafados o mal arejados, naquellas ruas, ou becos, onde a mo- léstia , uma vez apparecendo , sem estas medidas precau- cionarias, fará estragos temíveis. Póde-se enumerar muitos aposentos subterrâneos, e cavas em differentes partes da Cidade, aonde vivem pes- ioas, e trabalham: não somente os moradores destes lu- gares são mais sugeitos á moléstia ; mas ainda são me- nos vantajosamente situados para o restabelecimento de seos attaques; nem podem ser propriamente soccoiridos pelos ÜViedicos, enfermeiros, ou amigos, sem detrimento, e até perigo destes últimos , que assim serão obrigados á respirar um ar abafado, humido, e impuro ; e sugei- tos á constipaçoens, passando de um ar quente, para taes lugares, frios e huiuidos. tribuir a cautela e a temperança, para preservar os Europeos dos attaques da Cholera no clima doentio da índia. Duas di- visoens de Soldados, uma de 300 , e a outra de 100 pessoas, foram estacionadas em lugares contíguos , quando a Cholera ap- pareceo. A divisão menos numerosa se resolveo logo á viver temperadamente , evitando o ar nocturno , e as outras causas predisponentes , que mais obvias eram , á (im de ver , se por este modo, escapava á moléstia. Este plano teve um tão feliz resultado , que apenas uma só pessoa das 100 foi attacada. A divisão maior ao contrario, não tomou cautela alguma, e con- tinuando a viver como d'antes, a décima parte do seo nume- ro succumbio. ( Iíemiedy p. 90 e 9\. ) 5 ♦ Sê Orísem da cholera epidêmica. CAPITULO I. Antes de principiarmos á fallar dos s>/mpton'.as da Cholera, de suas apparencias depois da morte, e do seo traíanevto, naõ será talvez fora de propósito offerecer- mos, depois de algumas observaçoens sobre as moléstias epidêmicas, e endêmicas, um breve resumo dos factos, que abraçam as causas, e os meios que temos podido descobrir para evitar um attaque da moléstia. A moléstia denominada Cholera morbus, de que ago- ra tratamos, naõ he mais do que uma variedade aggra- vada, ou epidêmica, de uma doença bem conhecida de todos; e que he freqüentemente observada, pelo veruü, em quasi todos os climas. As causas occasionaes mais ordinari.s saô as grandes fadigas , a exposição ao sol do dia, e ao ar frio e sereno da noite, o uso de co- midas indigestas , especialmente verduras cruas , fruetas verdes, certas qualidades de caça, e de peixe, como la- gostins e carangueijos , e a bebida de licores ainda you- co fermentados. Nas regioens e paizes, que ficam entre os trópicos, a Cholera-morbus he endêmica, isto he, unia moléstia que reaparece annualmente em certas estaçoens, por influencia de agentes próprios ao paiz, taes como,, o ar, o terreno, e a exposição á ventos particulares, a comida, e as agoas. A febre intermittente , per exemplo , lie endêmica nos lugares baixos e pantanosos , ou no« terrenos alluviaes, e volcanicos, como os pântanos de Lincoln , e Cambridgeshire em Inglaterra , partes de Provença, e Bretanha em França; o valle do Pó, o paiz ao redor da Roma na Itália - e as partes orientaes de muitos dos estados ao Sul d'*ste paiz ; porem ainda que as causas das febres intermittentes estejam presentes pela maior parte do anno em differentes partes , com tudo os habitantes naõ soffrem necessariamente da mo- léstia, porque tendo-se as cautellas necessárias, isto he, evitando-se os extremos da temperatura, o sol quente ee dia, o ar frio da noite, o uso de comidas indi.ves- t;:s e pouco nutritivas, e das bebidas espirituosas, usan- uo-se de mais a mais de vestuário que agasalhe, muita MOLÉSTIAS ENDÊMICAS. S7 gente -pôde' viver longos annos n'um paiz sesonatico sem contraldr a moléstia. Aceoritece as vezes, que moléstias, limitadas geral- mente á certas partes d'ura paiz, se estendam , e se mo:4rão com symptomas aggravados , e disto havemos tido nestes últimos dez anãos um exemplo na occorren- cia das febres remittentes, e intermitteníes em lugares até então i/entos : e mesmo nas partes elevadas, e mon- tanhosas dos Estados-Unidos, onde nunca antes constou ter ali apparecido a moléstia. Taes accontecimentos po- dem ser as vezes o resultado de mudanças atmospheri- cas extraordinárias , ou aberrações da ordem regular das estaçoens ; posto que em outras muitas oceasioens naõ possamos descobrir cousa alguma evidente, ou combina- ção que explique o apparecimento das referidas molés- tias: quando ellas se acham assim espalhadas por gran- des porçoens do paiz, attacando os habitantes em gran- de numero, e com violência extraordinária, saõ denomi- nadas entaõ febres remittentes, eintermitteníes epidêmicas. Uma outra illustração familiar da differença que existe entre as influencias ordinárias, ou endêmicas, e as epidêmicas, se acha no catarrho : situaçõas particulares., elevadas, frias, e expostas aos ventos de Leste, sugeitam. ,os habitantes aos defluxos, ou catarrho durante os me- zes do inverno, e da primavera. Nas latitudes septentrio- naes, todos estamos acostumados a ver, e a maior parte a sentir esta moléstia , e suas variadas desordens sem he- sitarmos em assignalar a causa. O catarrho epidêmico ou a Influenza , que attaca a povoação .toda de um paÍ7,, ou de um continente, pelo contrario , não admitte só es- tes estados conhecidos, e mudanças do tempo como cau- sas únicas, e necessárias; alguma cousa de mais existe., que só podemos apreciar por seos effeitos. Seria de certo muito pouco philosofico deduzir da extensão geral das febres remittentes, e intermittentes, ou. ,da Influenza, e do numero das pessoas nttucadas, ifuma successao rápida, com symptomas análogos, que qualquer destas moléstias he, como dizem , contagiosa , isto he, que as pessoas previamente gozando de saúde, possam ser affectadas pela communicação com os doentes. Todos nós admittimos, nestes casos, uma causa commum, cuja natureza porém flão se pôde precisamente conhecer por nossas sensações, e nem por instrumento alguui inventa- do, mas que ajuizámos depender de algum vicio geral S8 E EPIDÊMICAS. da atmosphera. Que uma grande mudança existe na cons- tituição atmospherica, sabemos pela diminuição e ma qualidade dos cereaes, e fructas da terra; pelas molés- tias, e mortandade dos animaes bravos, e ainda mais dos domésticos , nos tempos das visitas epidêmicas : com- binando-se de mais a mais om esta mudança no ar , phe- nomenos terrestres extraordinários, como terramotos, eru- pções volcanicas, a impuridade das águas nas cisternas, a morte dos peixes nos rios, &c. &c. Qualquer que seja o estado da atmosphera quando dá origem á uma moléstia epidêmica, temos bastante e- videncia para asseverar, que ella se torna ainda mais efficaz em augmentar a intensidade, e complicarão da en- fermidade, combinando-se com outras causas locaes , tacs como a natureza do terreno, sua elevação acima do nível do mar, com o estado apreciável do ar, e o predomí- nio de certos ventos. Desta sorte durante a existência de uma epidemia do inverno, ou de uma Influenza, ainda que a maior parte da povoação d'um paiz se acha affe- ctada pelo estado mudado , posto que desconhecido, do ar atmospherico, e se queixe de tosses , inflanimações da gar- ganta , dores do peito, e das extremidades; com tudo, o maior numero dos que padecem, vivem nos lugares baixos, e hurnidos, expostos ao frio e humidade, ou á um vento L'este: nas epidemias outonaes também sofrem mais, os que são expostos ás alterações do calor do dia, e ao frio e humidade da noite ; os que trabalham era terrenos pantanosos , e dormem no chão ( ou se mais bem situados ) se acham expostos á impressão continuada d'um vento, Soeste. Tão óbvios são os effeitos debilitantes, e prejudiciaes de certos ventos , nos tempos das visitas epi- dêmicas , que tem sido muitas vezes considerados como os conductores do principio pestilencial, que as causou, e sustenta. Thucydides nos informa, que houve quem jul- gasse, que a peste de Athenas fora conduzida do Egyp* to, pelo vento Sul, que continuou a reinar por muito tempo precedendo , e acompanhando o predomínio da mo- léstia n'aquella primeira Cidade. Os ventos de Leste, conhecidos por geradores das febres intermitteníes, aggra- vando-as quando presentes, e promovendo recahidas^Vio muitas vezes os precursores das moléstias violentas. Os verões que precederam aos atíaques das febres amarella3 em Gibralíar, nos annos de 180-t, 1810, 1814 iora.a principalmente, notáveis pela longa continuação dos vea- Causas das 39 los de Leste ; e" ha provas também do predomínio e"os ventos de Soeste durante similhantes epidemias nas índias Occidentaes, e varias partes dos Estados-Unidos. Uma atmosphera estacionaria, onde tem havido uma calmaria longa, com pouca, ou nenhuma agitação do ar pelos ventos, he uma causa predisponente, e poderosa das moléstias epidêmicas; e ainda mais pestifera he um ar estagnado, cheio de exalaçoes de corpos vivos, como nos casos de estarem muitas pessoas fechadas em lugares estreitos, e que não admittem a necessária ventilação. As prisões, os acampamentos, os navios, e mesmo os hos- pitaes, tem por este motivo sido os theatros das temíveis moléstias, a quem propriamente se dá o epitheto de pes- tileucias. Um ar viciado não somente he a causa da mo- léstia , e da morte d'aquelles que o respiram continua- mente, como fazem os que habitam as celiulas abafadas e hitmidas de uma prisão, ou os que se acham amon- toados nas enfermarias de um hospital ; mas também tem causado a destruição dos indivíduos, que se acham, mes- mo por pouco tempo, no alcance de sua acção ; como por exemplo os Médicos, e outras pessoas em suas vi- sitas de soccorro, e de misericórdia ás habitações do cri- me , da miséria, e da pobreza. Na historia Ingleza encontram-se exemplos memorá- veis dos effeitos terríveis d'um ar estagnado ; o primeiro acconteceo em Inglaterra , o segundo na índia Britâni- ca. Nas Assizes Pretas , que tiveram lugar , na Cida- de de Oxford , no anno de 1577, no principio do mez de Julho, tamanha foi a multidão, que o ar ficou completa- mente viciado, e morreram aos menos 15C0 pessoas: umas ( os jurados ) quasi immediatamente , e outras depois de alguns dias : e destas algumas 200 morreram , fora de Oxford , desde o dia 4 até 12 de Julho ; " depois destas mortes ,, dia Stone , "ninguém mais morreo d'aquella doen- ça , pois que ninguém a communicou á outrem, e nem delia morreo mulher, ou criança alguma.,, O segundo exemplo he ainda mais terrivel , sendo a mortandade causada pela crueldade vingativa. De 146 pessoas, per- tencentes á feitoria Ingleza em Calcuttá, e que tinham sido aprisionadas pelo Surajah Donllah, e fechadas du- lante a noite n'um calabouço, meio «ubterraneo , e que tinha unicamente desoito pés em quadro, e uma só a- bertura para a admissão do ar, e da luz, vinte e tres somente se acharam vivas na manhã seguinte. Iguaes exem," 40 Moléstias Epidêmicas. pios dos efeitos produzidos pela viciaçaõ do ar, se ob- servam , não poucas vezes, entre os escravos amontoados nas cubertas das embarcações empregadas no trafico da escravatura. A natureza, e mais especialmente a qualida- de da comida, á respeito das suas propriedades nutritivas, modifica muito a predisposição a um attaque de molés- tias epidêmicas: a falta de comer, nos tempos de cares- tia , he primeira, e mais severamente sentida pelas clas- ses mais pobres da povoação; e d'ahi nasce uma das causas da mortandade , que se observa mais cedo entre ellas, e em maior porporçaõ do que a d'aquellas, que se acham era melhores circunstancias. Digno também he de notar-se, que a peste, que segue á fome, naõ se deriva somente da carestia, e falta de comer, mas também de uma de- terioração das suas propriedades nutritivas, em conseqüên- cia do estado viciado da atmosphera , e de um desvio da ordem acostumada das estaçoens; e por fim de ura augmento de susceptibilidade para contrahir a moléstia, excitado geralmente nas pessoas por este estado viciado da atmosphera: também os tempos das grandes caluni- dades nacionaes, agitando e deprimindo os espíritos do povo , o torna mais susceptivel dos attaques da moles* tia : o abandono até um certo gráo da agricultura; e as iníerrupçoens do commercio, além da influencia das causas ja citadas, o reduz á padecer tanto como por falta de comedorias. Na historia dt Europa, notamos, <|ue as pestilencias maÍ3 extensas , e mais destruetivas, prevalece- ram nos tempos do maior barbarismo, quando a guerra, e a pilhagem eram as principaes oecupaçoens dos homens; quando a agricultura se achava atrazada , e quando o com- mercio estava muito pouco seguro para permittir o trans- porte dos grãos, e outras substancias alimentares de um paiz onde sobravam, á outro, que experimentava a ca- restia , ou a fome. Neste breve esboço das moléstias epidêmicas , nau he nosso intento enumerar suas visitas nos differentes paizes, desde as primeiras eras até agora: mas algumas noticias não deixarão de aproveitar. Sabemos que a Gré- cia , assim como Roma soffreram varias vezes epidemias devastadoras á qnem deram o vo no de pestes. Thucydi- des nos deo uma eloqüente descripçaõ d'aquella , que assolou a Attica, e de que tanto soffreo Athenas du- rante a guerra do Peloponez > ; e julgou-se entaõ que esta peste T tirando a sua origem da Ethiopia, se este»- Noticias de ♦i dera d'ahi ao Egypto, Lybia , Pérsia, e Grécia. Naõ de- vemos com tudo suppôr, como recentemente disse um author moderno, (*) que esta moléstia , ou outra de uma origem, igualmente supposta , se propaga pelo con- tagio de uma pessoa á outra ; ella apparece primeiro no lugar, onde as causas originaes, ou segundai ias saõ as mais poderosas. " Se o estado da atmosphera por iodas as partes do mundo , em qualquer tempo dado, se acha igualmente viciado por alguma causa desconhecida , os seos effeitos se mostraram primeiramente naquelles lu- gares , onde este estado do ar, se acha mais poderosa- mente ajudado pelas victaçoens locaes, êomo accontrce xas Cidades , e terrenos pantanosos. „ Em Athenas a cau- sa local mais forte, foi a accumulaçáo do» habitantes do campo na Cidade , para evitar os insultos dos Lacede- monios. O reinado do Imperador Justiniano foi notado, além de outras circunstancias , por uma peste , ou antes , uma successao de pestes, "que quasi distrnio o gênero hu- mano , e que ,, segundo a expressão de Procopio, histo- riador contemporâneo , " não se pôde attribuir á causa alguma, senão á vontade de Deos: esta assolou todo o mundo , attacando todas as classes do povo , sem respei- to ás suas differentes constituições, costumes, ou idades; e sem attenção ás suas moradas, modos de viver, ou dif- ferentes occupaçoens : sendo uns attacados no inverno, outros no verão , e muitos nas outras estaçoens do anno.,, A pestilencia a mais terrível, e destructiva, que ja- mais appareceo no mundo, veio no intervallo dos annos de 1345, e 1350; as historias d'aquelle tempo affirmarii que teve a sua origem na China : mostrou-se no Egy- pto, Syria, Grécia, e Turquia, em 1345; na Itália, e na Sicilia, em 1347; na França, e nas partes meri- dionaes d'Hespanha, e em Inglaterra em 1348; na Ir- landa, Hollanda, e Escossia em 1349; e na Alemanha, Hungria, e no Norte da Europa, em 1350. Neste tempo vio-se um Cometa; assim como varias espécies de meteoros; as estaçoens foram irregulares, e se desenvolveo uma immensidade de insectos; os animaes domésticos adoeceram , e morreram ; e innumeraveis pei- xes se acharam mortos sobre a praia : tão mortífera foi (*) Noah Webster. A Brief History of. Epidemic and Pes- tilentiul Diseases &c. 6 4G Cholera epidêmica. existe, he no gráo, e não na indole. Mas a historia da Medicina nos prova , que até mesmo como uma epide- mia, produzindo uma grande, e repentina mortandade, ja se tem mostrado em varias épocas, desde os mais re- motos tempos. Esta moléstia he bem escripta por Aretoeo, e Paula iEgeneta : o primeiro diz , " que a Cholera he uma mo- testia aguda , com matérias amontoadas no esophago, e parte superior do estômago, as quaes são regeitadas por vômitos, em. quanto que todas aquellas que nada u no estômago, e nos intestinos, passam por baixo. Dia tam- bém, que os fluidos que passam pela boca, são ao prin- cipio como água, e que ao depois os que sahein pelo ano stercoraes , ajuntando, que sobrevém coustriter.ens dos tendoens , e espasmos dos músculos dos braços, e ü--s per- nas ; e que , em quanto os seos dedos se torcem , as unhas ficam azues , e as extremidades frias , e cobertas de suores. ,, Temos outra descripçaõ igualmente fiel feita por Cce« lio Aureliano, que diz ser a moléstia acompanhada de " dores do ventre , soltura, oppressão da região precordial, vômitos de humores , e de bilis amarella , seguidos de ma- térias que se parecem algum tanto com o claro de ôvo ; de calor intenso, sede ardente, espasmos dos tendoens, e dos músculo* das barrigas das pernas, e dos braços ; a re- gião precordial repuxada com dores semelhantes aquellas da paixão iliaca; o semblante em coílapso, e os olhos avermelhados.,, Avicenna também indica vômitos , e jatos aquosos, com espasmos, como symptomas da moléstia ; e elle he seguido, disse o author (*), que citamos, por centenas de escriptores Asiáticos. Sydenham falia de uma Cholera-morbus epidêmica , que appareceo no anno de 1609, acompanhada dos sym- ptomas seguintes : " vômitos desordenados, e dejecçoens de humores viciados, com grande difficuldade, e dores; do- res fortíssimas, e tensão do abdomem, e dos intestinos; cardialgia , securas, pulso freqüente, calor e ancias ; mui- tas vezes o pulso he pequeno, e irregular; náusea, e suores colliquativos , contracçoens dos nfembros , desmaios , extremidades frias, e outros symptomas desta natureza, (*) M.r Corbyn. A treatise ou the Epidemic Cholera , asit t.*s prevailed in Índia, ItióZ. Ceoleba tima folestj/ íriwíjente 47 que assustam os expectadores, e ás vezes causam a mor- te do doente dentro de vinte e quatro horas. "Além dis- to , n^uma carta escripta ao Doutor Brady , diz o mes- mo Sydenham , que no fim do veraõ de 1676, a Chole- ra-morbus grassou epidemicamente ; e sendo augmentada pelo calor excessivo da estação, occasionou eonvulsoens mais fortes, e mais duradouras do que as que até então se tinha observado; pois que não só o abdômen, como geralmente accontece , mas também todo* os músculos do corpo, e com especialidade, aquelles dos braços e das pernas foram attacados de espasmos v ioíentissimos , de ma- neira que, ás vezes, os doentes cabiam da cama, torcen- do-se variadamente para verem se podiam mitigar a sua violência. ,, O Relatório do Conselho Medico de Madrasta for- nece provas do apparecimento da Cholera na Índia, va- rias vezes durante o século passado. Bontits, Medico Hollandez, que escreveo em Ba- tavia no anno de 1609, diz, que a Cholera predomina- va endemicamente naquelle lugar, e ás vezes attacava com tanta violência, que matava qnasi todos os doentes em um só dia. Le Begue de Presle também aflirma, que reinara em Bengala no anno de 1762 , matando 30,000 negros, e 800 Europeos. Na obra do Sr. Curtis, sobre as moléstias da índia, acha-se uma carta do Doutor Pais- ley, datada em 1774, em que se faz mençaõ da molés- tia, que naquelle tempo reinava epidemicamente, em Ma- drasta : conclue-se também dos Annaes do Conselho Me- dico , que ella reinava epidemicamente em 1769, ou 1770. No anno de 1775 a Cholera invatho as Mauricias, e no anno de 1781 , uma divisaS das tropas de Bengala foi attacada em Ganjam : 5,0l0 indivíduos affectados da mo- léstia foram admittido? no Hospital durante o primeiro dia, e pelo fim do terceiro, a metade da divisão inteira se achou accommettida. Muitos dos que gosavam previa- mente uma perfeita saúde, cahiram repentinamente mor- tos, porém a maior parte daquelles, que sobreviveram á primeira hora, se restabeleceram. No mez de Abril de 1783, durante uma festa re- ligiosa em Hurdwar, vinte mil pessoas morreram da Cho- lera , e nos annaes de Madrasta se aítirma , que esta mo- léstia reinava epidemicamente em Arcot no anno de 1787. Os Cirurgioens Indiaticos , r.otam o seo apparecimento j em districtos particulares nos annos de 1780, e 1814,. ■44 NAÕ SAÍ} CONTAGIOSAS. Pelo fim do século deeimo quarto, ou nos annos de 14S3, ou 1485, appareceo em Inglaterra uma nova es- pécie de peste, chamada o Sndor Ànglicanus, ou a doen- ça sudatoria dos Inglezes , porque julgou-se, que esta moléstia , ou teve seo principio em Intçiaterra , ou atta- cava somente os Inglezes: mas ella prevaleceo em diffe- rentes épocas, na Irlanda, Alemanha, Suécia, e Hollan- da : e quando reinava assim na Europa, se observou, como prova de uma deterioração geral da atmosphera, que ella mesma, ou alguma outra moléstia pestilencial existia em outros diversos pai/es. As numerosas historias das moléstias epidêmicas, igual- mente provam , que os habitantes de- differentes paires eram dellas affectadas por causas ordinárias , e que nun- ca communicarauí a moléstia aos que se achavam sãos. No anno de 1654, a peste appareceo em Chester, situa- da a o Noroeste de Inglaterra; e no mesmo anno em Di- namarca , Rússia, Hungria, e Turquia. O anno em que a grande peste attacou Marselha, foi notável por um excesso de mortandade nas outras Cidades principaes da Europa, e também, em vários lugares da America. Mui- tos authores faliam da introducçaõ da peste em Marselha por meio de uma embarcação chegada do Said ; isto po- rem não passa de pura ficçaõ , pois que se confessa, que no tempo em que a embarcação deixou Said , a peste ali não existia. Algumas pessoas da tripulação morreram com effeito durante a viagem , de uma febre maligna ; porém esta moléstia, qualquer que fosse sua natureza, não foi trazida de Said, mas teve sua origem á bordo da em- barcação , e não se communicou aos habitantes de Mar- selha , pois que haviam decorrido seis sdiiaias desde a chegada da embarcação , e a morte dos marinheiros, até o apparecimento da peste naquella Cidade. Que a mo- léstia nasceo ali espontaneamente , prova-se por se ter ella assim desenvolvida doze annos antes em Dantzic, não obstante o emprego dos meios mais rigorosos de qua- rentena , e de guardas , para excluir a sua vinda da Po- lônia, Hungria, e Rússia. Alguns lugares, que se acharam na linha directa de communicação com outras onde reinava a peste, escapa- ram ; e a mesma observação se tem feito acerca da Cho- lera : uma só explicação basta para semelhantes casos em ambas as moléstias, isto he , que a concorrência das cau- sas locaes não forara suficientes para pôr em effeito a cons- Noticias priores de 45 tituiçaft geral epidêmica da atmosphera. No tempo em que a peste desolava a Verona , e Padtia em 1720, a Ci- dade de Vicenza , que se achava entre ellas , escapou ; po- rém no anno seguinte soffreo muito, em quanto as pri- meiras ja se achavam , e ficaram livres desta calamidade. A vaidade nacional não peraiilte que se dê por ber- ço de qualquer moléstia pestileucial ao seo próprio paiz : e para desculpar a sua indolência , seos vícios e falta de cuidado, lhes dá uma origem estrangeira. A peste sempre foi, e continua á ser uma moléstia freqüente no Levante: outr'ora costumava ella mostrar-se, á miúdo, em varias partes da Europa occidental; ruas ultimamente, no sé- culo passado , deixou de apparecer nestes paizes cujos habitantes agora se persuadem, que não pode reappare- cer entre elles , sem que seja importada da Turquia , do Egypto , ou da Azia menor; porém, perguntaremos nós, d'onde procederam estas pestes mortíferas, que assolavam a Europa, quando muitos lugares dos que mais soffre- ram , não tinham commercio algum com o supposto do- micilio de semelhantes doenças ? A pe-de foi tão freqüen- te, e severa em Inglaterra, Dinamarca, Suécia, e Ale- manha nos séculos dez , onze, doze, e quatorze, antes de existir o commercio estrangeiro, como em qualquer outra época ; sem fallarmos com tudo da peste universal do tempo de "Vortigerh, em 448, que jamais foi excedida, em quanto sua extensão, e violência, senão pela pesti- lencia preta de 1348. A companhia do Levante foi em seo principio esta- belecida pela Rainha Elizabeth , no anno de 1581, e o acto da incorporação expressamente diz , que Sir Edvvard, Osborne , seos associados, e as mais pessoas incorporadas, tinham á seo próprio custo descoberto, e principiado um commercio com a Turquia : antes deste tempo os gêneros, e mercadorias do Egypto, da Syria, e da Turquia, eram todas importadas da Itália, em embarcaçoens Genoeaas, ou Venezianas. Tendo pois suecintamente mostrado , que o flagello actual do mundo, a Cholera, não differe em sua car- reira , e extensão das outras moléstias epidêmicas, e nem tem causado tamanha mortandade como algumas dellas , resta a decidir, para concluir nossa tarefa, >e ella he, ou não , uma moléstia nova. Como endêmica he uma mo- léstia de freqüente oceorrencia; o seo caracter epidêmi- co náo lhe comtuunica differença especifica ; e se qualquer 42 Moléstias endêmicas esta peste, que ao menos a metade, e ha quem diga, os dous terços do gênero humano pereceram : foi mais tiestructiva nas Cidades, e não morreo, em lugar algum , menos de um terço de seos habitantes. Em muitas Ci- dades, de dc« pessoas morreram nove, e muitos lugares ficaram de todo despovoados. Dizem í^ue em Londres entenaram-se 50,000 pessoas em um só Cemitério. Em Norvvich igual numero pereceo. Em Veneza morreram 100,000. Em Lubec 90,000; em Florença, o mesmo nu- mero. No Oriente dizem , mas não podemos com certe- zn affirmar, que pereceram, n'um anno, vinte milhoens de pessoas. Em Hespanha a doença durou trez annos, e matou a terça parte da sua po ulação. Em Inglater- ra, e provavelmente em outros paizes, o gado foi aban- donado , e espalheu-se livre por toda a terra. Os ce- reaes apodreceram nos campos por falta de segadores, e, depois de acabar a pestilencia , viram-se grandes n:nne- ros de casas, e de edifícios de toda a qualidade cahin- do em ruinas. Ainda que no anno antecedente tivesse havido abundância de mantimentos ; com tudo , o abando- no da agricultura, durante a afnicção geral, deo lugar a uma grande fome : a diminuição no numero dos jorna- leiros foi tal, que os poucos que sobreviveram, pediram ao depois salários exorbitantes, e o Parlamento de In- glaterra se vio obrigado a intromeltefVe , e limitar os salários, e até obrigal-os a trabalhar. Veja 23. Ed. III. A. D. 1350. A mesma moléstia checou até as altas latitudes do Norte, e mostrou-se na Islândia, aonde fez tantos estra- gos, que se julga que esta Ilha, ao depois, nunca mais recuperou a sua povoação; e foi ali, que a doença to- mou o nome de morte negra. Esta mesma pestilencia causou uma mortandade ini- mensa entre os Frades, e os Clérigos seculares de to- das as classes: em Avignon , Cidade de França, onde primeiramente se observou a moléstia, morreram sessen- ta Carmelitas antes de que os Cidadãos tivessem noticia da sua existência; e quando esta se sobe, espalhou-se o boato de que os Frades se tinham degolado uns aos outros. Hum façto importante na historia d'esta epidemia, e cpposto á idéa de ser ella contagiosa, he , que a moléstia se mostrou primeiramente n'uma Cidade , que nem hs coíu»:erciai , e nem porto do mar : e n'um Convento cheio AS EriDEMIAS 43 provavelmente de Frades, preguiçosos, e pouco aceados. O motivo de aqui apresentarmos a enumeração das pestes, qne apparecernm no reinado de Justiniano , e no principio do décimo quarto Século, he para mostrar aos nossos leitores, que o gênero humano, em épocas ante- cedentes, tem parlocido mais, e mais tem sido visitado por epidemias, do que nestes últimos annos, pelo ha- gello tão temido da Cholera; e também para elles co- nhecerem a grande influencia de civilisação, em melho- rar o nosso estado actual , quando o atigmento dos co- nhecimentos, nos fornecem meios para promover as nos- sas commodidades pessoaes , e nos protegem contra in- fluenciais mórbidas. Ainda que a mortandade produzida pela Cholera tenha sido terrível , não podemos com tudo deixar de confessar , que tem sido pela maior parte li- mitado á uma classe particular, cuja situação e costumes a reduzem ao nivel da maior parte dos povos das ida- des médias, ou barbaras, expondo-a ás mesmas calami- dades nas épocas das doenças epidêmicas. Quando uma moléstia pestilencial, denominada febre amarella, Chole- ra , ou qualquer outra, apparece agora n'uina Cidade , um numero muito pequeno dos habitantes são vhtimas d'ella. Nas épocas antecedentes, as moléstias análogas, chamadas vulgarmente pestes quasi depovoaram uma Ci- dade. Temos ja citado a perda de 90,000 Cidadãos em Florença, quasi» um terço da povoação, pela peste de 1347. No anno de 1359, sendo igualmente visitada , a mor- tandade foi avaliada em 100,000; pelo contrario, as mor- tes da Cholera na Cidade de Moscovv, com uma povoa- ção de 350,000, em 1S30, foram menos de 5,000; o mes- mo acconteceo em S.1 Petersburgo com uma povoação quasi igual. Vienna, que tem uma povoação de 300,000 , não perdeo 4,000: e até em Paris, onde a mortandade foi excessiva, chegando á mais de 15,000, se considerar- mos a povoação d'aquella Cidade, tendo 800,000 habi- tantes, não podemos deixar de reconhecer o atigmento dos meios de que gosam actualmente os habitantes do inundo civilisado, para evitar de todo, ou ao menos para diminuir muito a violência dos seos attaques. No Orien- te a mortandade da Cholera tem sido excessiva : mas es- te facto serve a confirmar a nossa proposição, pois que sabemos , que a massa da povoação daquella parte do globo, se acha ainda no mesmo estado de semi-barbaris- mo, em que vivia ha cinco, ou mesmo dez séculos pas- sados. 0 * 48 No VERAÔ. Os casos sporadicos de Cholera podem accontecer em quasi todas as estações do anno , e em quasi todos os climas , em conseqüência de imprudências na dieta , prin- cipalmente de se encher o estômago com comidas adu- badas , acres, ou indigestas; da acçaõ repentina do frio, quando se está quente, e suado, ou de bebidas frias tomadas nas mesmas circunstancias; da introducçaõ acci- dental de varias substancias venenosas no estômago; da intensa agitação do espirito, e de varias outras causas. A doença , com tudo , prevalece mais nos climas quen- tes ; nos mais temperados se acha quasi sempre limitada aos mezes do verão e do outono. Em Inglaterra , appa- rece , diz Sydenham , no fim do verão, e no principio do outono , com tanta regularidade, como as andorinhas na primavera , ou os cucos no estio. Em conseqüência de apparecer nos climas tempera- dos durante o calor do veraõ, e no tempo da fruta , tem-se attribuido geralmente, ao menos pelos authores Inglezes, aos effeitos de uma temperatura elevada sobre o systema, e ao uso immoderado de fruta, principal- mente da que he pouco madura, viciada, ou azeda. Naõ admitte duvida que se pôde referir muitos casos da moléstia á agencia combinada d'estas duas causas. Ha muitos outras porém , capazes de produzir um attaque da Cholera durante os mezes vernaes, e outumnaes: e en- tre estas póde-se enumerar tudo quanto dá origem ás lebres ordinárias, e outras queixas da estação, como a intemperança de qualquer natureza que seja, exposição ao sereno, mudanças repentinas do calor , e secura da atmosphera , as fadigas &c. Em quasi todas as cidades dos Estados Unidos , prin- cipalmente em New York, e em Philadelphia, fora um grande numero de adultos, que saõ victimas d'esta moléstia, muitas centenas de crianças perecem delia an- nualmente. De todas as mais Cidades, só de Philadelphia he , que podemos conseguir informaçoens exactas sobre o numero de mortes produzidas pela Cholera, por uma serie de annos, e nellas achamos, que durante os dez annos findos em o 1." de Janeiro de 1832, 2437 indi- víduos, saõ indicados como mortos d'esta moléstia. Des- te numero 114 tinham maií de 10 annos de idade. ChOLEItA UMA MÔLEáTlA FREQÜE.VTE 4ô Mortes de Cholera em Philadelphia durante os ulti' mos 10 annos. Annos. Menores de Maiores de Total. dez annos. dei : annos. IS22 199 13 212 1823 252 13 265 1824 355 9 164 1825 197 12 209 1826 233 11 244 1827 299 10 239 '1828 284 7 291 1829 239 18 257 1830 232 4 236 1831 303 17 320 2323 114 2137 Nos Relatórios do Conselho de Saúde donde se ti- rou esta informação, a moléstia nas crianças tem o no- me de Cholera infantil} e dos adultos de Cholera morbus. % 50 Causas da CAPITULO II. Causas da Cholera.—O modo como as causas ordinárias, e appreciaveis de moléstias dão principio á Cholera nos he desconhecido: que a sua causa existe na atmosphera temos motivo para crer, mus debaixo de que fôrma, ou de que maneira combinada , naõ he fácil descobrir ; porém , o que muito nos anima he saber positivamente, e de um modo, que nao admitte duvida, em conseqüência do que temos observado na historia da moléstia , que a sua causa occulta, geral} ou aeria , he comparativamente innocente, senão for ajudada pela accaõ dos agentes occasionaes conheci- dos á que somos sugeitos. Vários desvios do estado ordinário do tempo, e das estaçoens; vicissitudes extraordinárias, com uma mudan- ça no estado electríco da atmosphera, tem precedido, e acompanhado o apparecimento da Cholera n'um pai/, ou n'uma Cidade. Isto provavelmente , de per si , não seria sufficiente para produzir a Cholera, senão fosse ajudado pela addiçaõ da causa predisponente de localidades des- favoráveis. A principal sede, e domicilio da Cholera está nos sitios baixos, e humidos; nas margens dos nos, e nas visinhanças das lagoas , e pântanos ; e nos lugares co- bertos de vegetaes corrompidos, ou imtnundicias de qual- quer natureza. Em todas as Cidades principaes do Hindostan, como em Calcuttá, Madrasta, i-ombaim, Seringapatam <°*c. &c. ; da Rússia, como em Moscovv , S.' Petersburgo, As- tracan; da Alemanha, como em Vienna, Bresláo, Ber- lin, Hamburgo; da França, como em Paris, e outros lugares; da Grande Bretanha, e Irlanda, como Londres, Sunderland, New-Castle, Gateshead, Musseiburgo, Du- blin , Cork &c. se tem comprovado este facto. Testemunha igual offerecem Montreal, Quebec, e outros lugares nas margens do Rio S. Lourenço. As lo- calidades desfavoráveis onde se encontra ruas estreitas , >ruitas casas pequenas, mal ventiladas, e cheias de ha- Cholsiià eimüemica. 51 oitantes, tornam-se ainda mais nocivas. As casas baixas, e subterrâneas, augmentam muito mais o risco de uma in- fecçaõ, e o perigo de uma terminação fatal. * A experiência tem igualmente mostrado, á respeito do modo de viver, que as pessoas desregradas que se entre- gam aos appetites sensuaes, e que cuidam pouco do aceio das suas pessoas; ou que não tomam uma suíficiente quan- tidade de alimentos bons, e nutrientes, são com especiali- dade sugeitas á esta moléstia, e á morrerem dos seos atra- ques. O" bêbado por toda a parte tem sido escolhido por victiina logo que ella apparece n'um lugar: as mulheres d'uma vida dissoluta, tem sido também as primeiras a padecer da Cholera, tendo o seo modo de vida irregular, inutilisado á isenção comparativa de que geralmente go- sa o sexo feminino. As conddas de má qualidade, irritando o estômago, e tripas , muitas vezes são causas excitantes da Cholera. Na índia, falhando a colheita do arroz, e ficando este vi- ciado, os habitantes, cuja subsistência depende geralmen- te oeste grão, padeceram muito da moiesíia. B"altas iguaes, e má qualidade do trigo produziram o mesmo effeito na Rússia, e na Polônia. Por toda a parte onde as fructas aquosas, e as ervagens como pepinos, meloens , repolhos, convés &c. são muito usadas, e formam uma porção prin- cipal do alimento, a moléstia fez grandes estragos. As carnes, ainda que nutritivas, mas que exigem forças di- gestivas maiores, devem ser evitadas; como a carne de porco gorda, a carne preparada aofumeiro, os lagostins, i liiangueijos , mariscos &c. Das bebidas, os licores distillados são especialmente perniciosos; sempre impróprios para ouso habitual, diffe- rem pouco dos venenos quando usados, aonde prevale- ce a Cholera epidêmica. A água, em todas as circuns- tancias, a melhor das bebidas, e que pode ser adminis- trada em conveniente temperatura, e fervida, ou prepa- rada de varias formas, não só se acommoda melhor no e tomago, mas fica sendo mais salutar, e saudável do que qualquer outro fluido. Deve-se receiar muito de qualquer abatimento con- ideravel do systema nervoso, pois que muito favorece ura ttaque da Cholera: por isso devemo-nos esforçar por afu- entar os cuidados, os sustos, e as paixoens depriiaeu- es em geral. Muitos tem sucemabido unicamente ao sus- .», e pelo mesmo motivo, que se aconselha a tranquili- 1 7 * 52 Prevenção »a dade do espirito, se deve manter o eqrilihrio das sen* saçoens , e das funçoens era geral, por meio de regula- ridade nas horas de dormir, de comer, e do exerc*cio diário do corpo. Uma grande exposição ao sol, e ás fadigas, ?ao cau- sas predisponentes assãs fortes da Cholera ; e se as cir- cunstancias exigem imperiosamente esta exposição, então faz-se preciso maior circunspecção no modo de viver á outros n.uitos respeitos, bem como o evitar-se cuidadosa- mente o ar nocturno , o sereno, e as chuva?. Prevenção da Cholera. — Os meios de evitar um atta- que da Cholera facilmente se offerecem ao leitor, depois de conhecer bem as causas oceasionaes da moléstia. As medidas preventivas , e precaucionarias consistem em evi- tar cuidadosamente as situaçoens onde o ár se acha im- puro, estagnado, e carregado de humidade ; bem como todas as causas , que tendem á diminuir a energia do sys- tema . pe'a superexcitaçaõ, ou debilidade directa; á im- pedir as funçoens da pelle; e á excitar irregularmente o canal digestivo. A primeira cousa, e a mais importante para evitar a Cholera, ha uma temperança perfeita, não commetten- do excesso de qualidade alguma ,. e nem pondo a eco- nomia em rudes provas do quanto pode soffrer, quer pela abstinência , quer pela repleçaõ. A segunda, he o maior aceio possível da pessoa, do vestuário, e da habitação. A terceira he preservar o corpo, quando esquentado, ou suado, por rneio de vestuário competente, da impres- são repentina do frio secco, ou humitlo ; e isto com mais cautela do que nas circunstancias ordinárias; para o que se deve trazer camisinhas de algodão, ou melhor de lã , apezar de serem ellas um pouco incommodas, e oppres- sivas. Os pés principalmente se devem conservar sempre quentes, e seccos. As horas do dia e da noite, que sao menos próprias para a saude ; os grandes ajuntamentos; os improbos trabalhos, e fadigas intellectuaes, são outras tantas cousas que se devem evitar, e que merecem a at- tenção daquelles que desejam diminuir os riscos de um attaque da Cholera. Um outro preceito não menos importante he de não dormir em camas humidas, ou em quartos baixos, humi- dos , e mal ventilados ; e evitar a exposição ao ar no- cturno dos lugares pantanosos, ou acharcados; e finalmea^ Cholera epidêmica. 53 te se não deve tomar, durante o predomínio da Cholera cm um lugar, remédio algum, que não seja aconseiha- de pelos respectivos Médicos. Todos os suppostos, preser- vativos , e específicos contra a moléstia, ofiérecidos pelos Charlatoens, devem ser classificados entre os meios man efficazes para produzir um attaque. Em quanto durou a moléstia em Montreal, a Poli- cia, com toda a rasaõ, ordenou aos Boticários, que nã« preparassem, ou vendessem sem receita de Facultativo, os vários medicamentos particulares , tão avidamente pro- curados com as vistas de prevenir, ou impedir a molés- tia : as mesmas restricçoens foram aconselhadas ultima- mente em New-Vork. N'um attaque da Cholera, o tem- po , a presumpçaõ , e as esperanças de curar a moléstia, dependem muito da prompta administração de remédios ap- propriados; mas, por mais urgente que seja a necessi-. dade de soccorro, ninguém o deve administrar ao aca- so, com o risco de augmentar, em lugar de diminuir o. perigo do enfermo. Até aqui nada temos dito acerca do modo, e con- ducta que devem ter as nossas suthoridades publicas , pa- ra impedir a introduccão da Cholera neste paiz-. Per- suadidos como estamos de que todos os factos dependen- tes da origem , e do progresso da moléstia, provam , que ella he uma epidemia proveniente de alguma mudança na constituição da atmosphera , ajudada , e posta em acção por emanaçoens terrestres, julgamos, que qualquer ten- tativa para excluir a moléstia por regulamentos de qua- rentena, sempre nociva aos interesses commerciaes d'uma Nação, ou um systema de incomruunicabilidade absoluta com os paizes onde reina a moléstia , será tão ridícula como inefficaz. Temos visto qual tem sido o resultado destes meios, postos em execução , com todo o rigor , e poder que pertence aos Monarchas ahsolutos do Norte da Europa; e em nenhum caso tem elles podido impe- dir o progresso da moléstia, quando, bem pelo contra- rio, tem certamente augmentado as mizerias , e padeci- mentos do povo , e o numero das victimas : de facto , «m semelhante systema de incommunicabilidade tem sido abandonado, não só como inútil, mas principalmente no- civo. Ainda que o poder do Governo não possa ser pro- veitoso em impedir a chegada da epidemia ás nossas cos- tas, pôde ser com tudo para diminuir a sua malignida». 4e, e quartar que muito se extenda entre nós. 54 A CHOLERA Para isto faz-se mister que se estabeleça, quanto an- tes, um bom systema de policia medica; tomando-se me- didas eflicazes para entreter* o aceio , e ventilação com- petente das nossas Cidades, e seos subúrbios; ensinan- do á todas as classes a necessidade de temperança , e principalmente a de se absterem de toda a qualidade de bebidas espirituosas ; e promovendo por todos os meios possíveis as coinmodidades dos pobres : fazendo com quf se não exponham á fadigas excessivas , ao frio e á humi- dade , e ao ar impuro de moradas sujas, mal ventiladas, e atravancadas ; for lecendj-lhes comida barata , de boa qualidade, e em quantidade sufficiente, e principalmen- te , em vez de inspirar ao povo um susto desnecessário, deve o Governo esforçar-se continuamente por tranqüi- lizar , e fortalecer o seo espirito , inspirando confiança em todas as classes dos nos»os Cidadãos. A' proporção oue se for pondo em execução estas importantes medi- das, podemos ficar descinçados de que uma grande par- te do perigo , resultante da introducção da Cholera n'es- te nosso paiz, será diminuído. (*) "" A Cholera não he contagiosa. — Depois do lúcido re- latório-do Collegio dos Médicos de Philadelphia, em que se mostra o caracter verdadeiramente epidêmico da Cho- lera , pouco mais he preciso para corroborar as conclu- soens, que á vista de muitos factos addicionaes tirou aquel- le illustre corpo , isto he de que a Cholera morbus não era contagiosa. Uma grande maioria dos Médicos, e Ci- rurgioens da índia são decididamente do mesmo parecer ; pois que as suas observaçoens os conduziram aos seguin- tes resultados. l.° Que os Médicos, os ajudantes, os enfermeiros dos hospitaes &c. , não foram mais sugeitos á contrahir a moléstia, do que o resto do povo, e era muitos ca- íos foram mesmo menos sugeitos. (*) O Extracto seguinte de regulamentos officiaes emittidos >elo Governo Austríaco dará um avUo útil ás nossas Authoridades lomesticas. " Ordenando-se ás Authoridades das differentes Cida- les, e Villas , um rigoroso cuidado, e inspecção sobre todas as tavemas , hospedarias , e casas de pasto ; bem como sobre todos os gêneros comestíveis , e lugares onde elles se vendiam , para prevenir quanto possível fôr a intemperança do povo, e a_vei:aa de comedorias impróprias, e muito partieularmente'de pão que vendiam os padeiros. ,, NAÍÍ CONTAGIOSA. 0.Í- 2.* Que não foi communicada pelo v^^tuario, e í-imas dos doentes, aos são3, ou mesmo aos qne ja so tf riam- ou- tras moléstias. 3° Os batalhoens de tropa, na sua marcha de um lugar r:.ra outro, são attacados de repente ao chegar em certos t,gares, e a moléstia com igual rapidez desappa- rece em um, ou dous dias , depois de mudarem de ter- reno. 4.° A moléstia apparece repentinamente n'i;m iugar, se demora c■.ma ou duas semanas , e com igual rapidez desapparece. bL Certos lugares de um sitio, ou de um campo são attacados cora preferencia ás outras, e isto mesmo acon- tece , quando a communicação he livre. 6.° As margens dos rios, e dos canaes , são mais su- geitos á moléstia , do que os lugares elevados , e seccos. 7." Mudando o tempo, ás vezes de>apparece a mo- léstia. 8." A Cholera evita Cidades , e Villas intermediárias , para attacar as mais distantes : este facto não se pode ex- plicar p^las doutrinas de contagio. 9." A isolaçaõ , e a incouimunicabilidade cora os doen- tes , poucas vezes, ou nunca, dá certeza de escapar do attaque. 10.° A tripulação de uma embarcação vinda da In- glaterra , foi attacada da moléstia logo ao dar fundo no ancoradouro de Bombaim, e antes de ter communicado com a terra. Ella tinha passado pela direcção da costa de Malabar, que se achava na distancia de oito, ou dez milhas. Este facto deve decidir para sempre a questão , mostrando o poder das influencias atmosphericas em pro- duzir a moléstia. " Em uma \isita da Cholera , " diz o Dr. Meikle , Me- dico que foi empregado muitos annos na Índia,, duas ou tres companhias á direita das Ihiha» foram attac.?das; e os attaques continuaram por mais de um mez sem passar jamais á algum outro indivíduo nas linhas das outras com- panhias: estes soldados diariamente se exercitavam juntos, compravam o seo comer no mesmo bazaar, e tiravam água dos mesmos poços. Nas passagens de alguns rios particu- lares, contado he o destacamento que faz alto sem pa- decer : nestes casos a moléstia se mostra sempre nas bar- racas, que mais se avisinham do rio, deixando as outras intactas. ,, 56 A CHOLERA Na Europa , dous factos acerca da origem local, e da extensão da Cholera tem provado: 1.° que as medulas res- trictivas as mais bem imaginadas, por meio de cordoens sanitários, e quarentenas rigorosas, não serviram de nana para evitar a moléstia em Astracan , Moscov. , S.' Pe- Tersburgo, Dantzic, Berlin, Bresláo, Vienna, ííambur- ro, Pnris, Sunderland , New-Castle , Cairo, e Alexan- dria. Se medidas taes podesscm servir, de certo teriam tido efíeito, postas em execução como foram pelos gover- vos desnoticos da Rússia, da Prússia, e da Áustria. 2." Que os documentos ofuciaes provam , que a Cholera ap. pareceo , c atacou indivíduos em Astracan , Moscow , S.' Petersburgo, Riga, Dantzic, Warsavv, Berlin , Bresláo, Vienna, Hamburgo, Paris, Cairo, e Alexandria, que não tinham tido communicação com pessoas de fora , e nem com outras que tinham actualmente a Cholera, ou a ti- "'. esscm tido : demais a moléstia attacou no espaço de pou- cas horas, muitos indivíduos em partes differentes, e até remotas destas Cidades, e as quaes não podiam ter in- feccionado uns aos outros. A Cholera appareceo primei- ramente em Inglaterra, na Citiade de Sunderland, ape- zar das guardas costas, e da quarentena; e o seo ap- parecimento nas outras Cidades, e Villas de Inglaterra, da Escossia não pôde ser aítribuído á uma origem fo- rasteira. Durante algumas semanas, e mesmo mezes, an- tes de apparecer a Cholera na sua furraa epidêmica, e virulenta tinham occorrido casos sporadicos , e notou-se uma grande tendência ás irregularidades gástricas, e in- testinaes, e muitas vezes uma diarrhea incommoda. Na linguagem do Dr. Kirk de Greenock , nós di- ríamos, -" pessoa alguma que examina rigorosamente e sem preoccupagoens os hábitos d'esta moléstia . pôde formar conclusoens outras, que não sejam aquellas , de que em todas as suas grandes irrupçoens. a Cholera he uma epi- demia dependente das influencias atmosphericas , ou ma- lária. Basta que qualquer sem prejuízos lêa a excellen- Áe descrípção graphica, que dá o Dr. Lavvrie do appa- recimento da moléstia em Gateshead , e em Gasteshead ■Fell para se convencer de que os infelizes attacados na manhã do dia 26 de Dezembro, foram accommettidos de uma epidemia atmospherica , e nãc de contagio. il Os habitantes de Gateshead, "diz o Dr. Lavvrie .. deitaram-se aa noite do dia 25 de Dezembro, em perfeita seguran- ça, e livres de susto, mas antes de nascer o Sol do dia N *Ô CONTAGIOSA. 57 36, cmcoenta e cinco indivíduos estavam attacado3 , dos quaes, snccumbiram trinta e dous antes do Sol posto do mesmo dia.' E náo tenho duvida que uma predisposição occasionada pelo estado da atmosphera existe nas locali- dades da Cholera, algum tempo antes do seo appareci- mento. ,, Muitos indivíduos que morreram da Cholera em New Castle, diz o Sr. Lizars, de E^imburgo , foram exami- nados, e alguns até 16 horas depois da morte, sem com- muuicar contagio: todos os práticos desta Cidade, á ex- cepçaõ d'um só. afíirmam, que a moléstia não he con- tagiosa. O Doutor Eyfe, de Gateshead , diz que de ses- senta e sete indivíduos attacados, quarenta e quatro per- tenciam á outras tantas familias, compostas cada uma de tres á oito pessoas , das quaes muitos dormiram na mes- ma cama com os doentes : sua communicação foi illimi- tada : e até era impossível separaral-os. Os Médicos de Montreal, onde ultimamente predomi- nou a moléstia, tiraram as mesmas conclusoens. O Doutor Kane, de Plattsburgh no seo Relatoiio, em resposta á questão, se a Cholera he contagiosa . diz: 1.° Muitos casos de Cholera houveram na Cidade, pe- lo menos seis semanas antes do dia 10 de Junho, «con- sequentemente antes da chegada das embarcaçoens, e dos emigrados: a moléstia porém declinou no decurso de 10 ou 15 dias, e não appareceram mais casos desde este tem- po até depois do dia 10. 2* Quando a moléstia appareceo no dia 10, para hos servirmos da linguagem de alguns Médicos , appare- ceo como um chuveiro de saraiva, attacando simultanea- mente todos os subúrbios da Cidade, e sem a possibili- dade de ter havido communicação entre as suas victimas. Nem ella principiou entre os emigrados, para d'ahi se estender, como de um centro para a circunferência, por todas as partes da Cidade. 3.° Ella não pôde ser attribuida certamente ao con- tagio : porque os enfermeiros, e aqnelles , que passavam a maior oarte do seo tempo entre os doentes, não foram mais attacados do que aquelles que náo se achavam assim expostos. A primeira noticia officíal da Cholera em New-York, dada pelo Conselho de Saúde no dia 5 de Julho, mos- trou vinte um casos, dos quaes tres se achavam no Park Hosnital. dous no de Bellevue, um na casa de soccor- 3 58 A CHOLERA NAÕ CONTAGIOSA ro , e doze em differentes ruas nas partes baixas da Ci- dade. He impossível provar, nem ha mesmo quem possa rrêr, que estes vinte um indivíduos tivessem sido attaca- dos sticcessivamente depois de ter tido communicação cem outros doentes de Cholera, A mesma observação se ap- Ílica igualmente ao apparecimento da moléstia em Phi- adelphia, Norfolk, e outras Cidades. Causa, ou acçaõ alguma, transmissível de pessoa á pessoa, pode explicar © attaque violento, e repentino de tantas pessoas, como acconteceo na noite do dia 5 , e na manhã do 6 de Agos- to , na cadêa de Arch street desta Cidade: a moléstia ali, como nas outras partes, teve evidentemente uma ori- gem local. O Dontor Lewis G. Beck, escrevendo de Buffa- ío, diz : " O parecer não só do Conselho de Saúde, maj de todos os Médicos com quem tenho conversado, he de que a Cholera aqui mesmo nasceo : os primeiros exem- plos occorrreram entre os residentes, e por ora não tem havido um só entre os emigrados recém-chegados. Desde o dia 15 até o dia 25 de Julho, o Conselho de Saúde fez mençaõ de cincoenta e seis casos, dos quaes terá mor« rido 18: as mortes, porém, pela maior parte, tem sido limitadas aos intemperados, aos irregulares, e á aquelles que de todo não tem feito caso dos ordinários sympto* nias precursores ,, Tentou-se em. Buffalo evitar a molés- tia per meio de quarentena. Semelhantes tentativas fo- ram igualmente infelizes era Albany, e em todas as mai» Villas do Estado de New-York, onde a Cholera fez es- tragos consideráveis. O systema de seccar os canaea, de excitar o povo á levantar-se em massa, para fazer retro* ceder para a Canada os infelizes emigrados, ou ao me- nos para não passarem daquelle lugar, foi totalmente in« fructueso. A ignorância apoiada pela crueldade tornou-. se mais terrível. Symptomas da cholera epidêmica 59 CAPITULO III. Os symptomas prominentes da Cholera são repetidos vômitos, e dejecçoeus alvinas de um fluido viciado, e que varia de apparencia. Nos casos violentos, estas evacua- çoens são acompanhadas de dores spasmodicas do ventre, e dos membros, palidez e contracçaõ da face, frio das extremidades, e uma prompta perda das forças vitaes. O termo Cholera, pelo qual se designa esta molés- tia, he inteiramente impróprio; porque, longe destas eva- cuaçoens consistirem em uma secreçaõ excessiva, e vicia- da de bilis, como inculca este nome, em quasi todos os casos da Cholera , esta secreçaõ ao principio se acha de- ficiente. He verdade, que nos exemplos mais ligeiros des- ta moléstia, depois de algumas horas de sua acçaõ, as evacuaçoens de bilis principiam ; mas ellas, longe de se- rem um symptoma essencial da moléstia, saõ geralmente, pelo contrario, o signal de uma terminação breve c fa- vorável. Em todos os attaques violentos da Cholera , ha uma auzencia absoluta de bilis nas evacuaçoens, que, sendo primeiramente ralas e aquosas, se tornam ao de- pois como lavagens de carne; ou brancas, e rnucilagino- sas, assemelhando-se á água de arroz ou de gema rala , e ás vezes também de uma côr escura , ou me.:• "lada. A Cholera nas circunstancias o'?- mas, que de facto, náo differeui em nada dos Epidêmica m uma vez de todos os 9eos> excrementos sólidos, produzin- do umasensaçaõ de excessivo abatimento, e fraqueza, que se não pode descrever: Desmaios sobrevem; a pelle se torna fria, e ha muitas vezes tontices , e sussurros nos ouvidos ; as forças locomotrizes são geralmente em pouc* espaço de tempo anniquiladas; apparecem contracções es- pamodicas, ou sobresaltos dos músculos dos dedos das mãos, e dos pés , e estas affecções se estendem gradual- mente pelos membros até o tronco do corpo, mostrando- se ordinariamente debaixo da forma de espasmo tônico, e clonico, ou, em outras palavras, consistindo, pela maior parte das vezes, antes em uma contracção permanente de que em movimentos convulsivos das fibras musculares: o- pulso desde o principio he pequeno, fraco, e accelera- do, e depois de um certo intervallo, especialmente so- brevindo espasmos, ou vômitos excessivos, se abate re- pentinamente, e logo não se faz mais sentir nas parte* externas : A pelle, que logo do começo se acha de uma temperatura inferior á natural, se torna cada vez mais fria; e supposto em alguns casos seja secca , comtudo no geral ella he cuberta de copiosos suores frios, ou de uma humidade viscosa : nosEuropeos, a pelle toma mui- tas vezes uma côr livida, e se torna flaccida como n'ura estado de collapso: os beiços se fazem azúes , e as u- nhas apresentam uma similhante côr; e a pelle das mãos, e dos pés fica rugosa , como se fosse cozida, e então se acha insensível, até a acç.io dos agentes chimicos ; ma3 aanda assim o doente se queixa geralmente de um calor urente na superfície do corpo , e rejeita as cubertas da; cama: os olhos se encovam, e se rodeiam d« um circulo livido; as corneas se tornam flaccidas, e a conjunctiva freqüentemente injectada de sangue; as feiçoens se aba-/ tem , e o semblante todo se torna de ura aspecto cada- verico assaz característico da moléstia : Ha sempre uma; secura ardente, e desejos de bebidas frias, ainda que a boca naõ esteja sempre secca, A lingoa he branca, hu* mida, e fria, e uma urgente sensação de dôr, e de ca- lor urente no epigastrio incommoda freqüentemente o em» fermo ; pouca, ou nenhuma urina , o bilis , ou saliva■., se segrega ; a vós se faz fraca, como ouça, e fora do na- tural ; a respiração he opprimida e geralmente vagarosa ; e o hálito do doente he quasi frio. Durante o progresso destes symptomas, o estômago-^ a as entranhas sào affectadas. de vario* modos, Depois da», 64 Symftomàs «a primeiras descargas por vômitos, ou jatos, por mais se- v ros que esteiam estes symptomas, as matérias evacua- das são sempre aquosas , e n'uma grande maioria de ca- -os., são sem côr, inodoras, e homogêneas: em alguns porém, sío turvas assemelhando-se á agoa suja: era ou- tros, de uma eór verde ou amarelladn. Ha outra appa- fcucia muita ordinária, he a que se chsma emphatica- mente dejecções de canja, ou jatos que se assemelham á. i»(>a de arroz , pelos muitos flocculos mucosos que na- dam na parte incolora , aquosa, ou serosa da evacuação. Os vômitos não se differenciam dos jatos senão em que os primeiros são ordinariamente misturados com algumas porções de alimentos. Ambos estes symptomas não são de muita d-ira, porque, ou se curam pela arte, ou então o corpo se impossibilita para continuar em violemos es- forços ; e estes, assim como os espasmos, desapparecem mui- to tempo antes da morte. Se se tira sangue, este he sempre escuro, ou quasi preto, viscoso, e sahe com va- gar, e difficuldade. Pelo fim do attaque sobrsvem agita- ção . desassocego, e por fim ancias ; e a morte checa muitas vezes, em dez, ou doze, e geralmente em de- solto, ou vinte horas depois da invasão da moléstia. Durante todo este coníiicto mortal, e comrriocão do corpo, os incluído aquel- les do estado de reacção , ou anastasis. A nessa historia seria portanto incompleta, se deixássemos de chamar a attenção dos nossos leitores á opinião de que a Cholera asphyxia, isto he, a Cholera violenta, e rápida, deve ser antes considerada como um estado de febre, muitas vezes infelizmente, grave, e fatal, do que uma moléstia distineta : o estado de Cholera estabelecida, e formada , he marcado geralmente por diarrhuea , e outros desarran- jos das funções: o terceiro estado, eu ode reacçaõ, cor- responde á elevação febril , que sobrevem ao frio das fe- bres intermittentes, ou ainda mais, ao eslupor que a- companha os intermittentes perniciosos, ou malinas. Em ambos estes casos, a asphyxia violenta, quehe distin- ctiva de Cholera, e o coma das febres intermitíentes podem matar o doente; e n'elles também se o enfermo sobrevive, pode vir a febre, e phlegmasias igualmente destruetivas , e mortaes. O Sr. Searle, escriptor judicioso, que presenciou a moléstia tanto na índia, como na Polônia diz, que a " Cholera se achava geralmente baseada sobre uma febre de typo inflammatorio bilioso, ou d'ella era seguida ; sen- do na Europa de um caracter atônico, remittente , ou typhoideo. Na Europa também os symptomes cholericos foram menos evidentes do que na índia, e a febre se- gundaria indicava menor reacção simples. " Que supposto ella seja remittente, comtudo nos primeiros dias he geralmente intermittente; apparecendo pela maior parte das vezes quasi na mesma hora, e pre- êedida de frieza das extremidades, tremores dos beiços, E A FEBRE 73 e abatimento da circulação: mas em conseqüência da ex- citação produzida pela inílammação, que pela maior parte das ve/es se forma nos órgãos previamente congesícs , as int'. i i.issões se tornam ímperfeiii-.s , e por conseqüência . a moléstia toma uma forma remittente , e. quando combina da com a debilidade, uma forma typhoidea. ,, Na Polônia, quasi todos os casos que foram abando- nados, ou maltratados desde o principio do attaque, pas- savam por esta forma de febre ; o que prova exuberante- mente serem os symptomas cholericos o resultado de ura estado, ou forma de febres. A seguinte passagem he as- sa/ importante. " Como comprobatorio do que fica dito, e para mos- trar a connexão que existe entre a Cholera , a febre, e a Dysenteria , ajuntarei a noticia de um gráo mais ligeiro da moléstia, e que predominou muito em Varsovia, no mez de Agosto, {onde, segundo se me informa, a fe- bre e a dysenteria são annualmente muito vulgares na mesma estação. A seguinte historia do seo ioodo insidioso de attaque, he a melhor que pude conseguir dos meos doentes. Uma sensação de plenitude na regiam precor- dial , languidez e impossibilidade ao trabalho , quer mental qner corporal, as vezes com tontices, ou dores de cabeça ; este ultimo symptoma porém foi freqüente- mente acompanhado de uma forma obscura de febre, so- mente sentida á certas horas do dia: a lingoa vistosa, branca, ou saburrosa , apparecendo as vezes inchada, e mostrando nos seos lados as impressões dos dentes; ou pelo contrario, ella era preternaturaln>onte limpa, macia, e vermelha; os beiços pallidos, ou chumbados: os olhos de uma «ôr de margarita, e rodeados de ura circulo escuro ; o semblante descorado ; o appetile as ve- zes muito pouco alterado , ainda que a digestão fosse geralmente imperfeita, indicada pela flatulencia, e dis- tenção depois do comer; o ventre no principio consíipa- do , seguido pcréra em geral de relaxação, e esta , quan- do acompanhada de inílammação, termina freqüentemente em evacuações sanguiuolentas, e muco-purulentas,. ou, em outras palavras , pela dysenteria. t; Os symptonai precedentes, variando com o tempo e as circunstancias contingentes, podem continuar duas, tres, ou mais semanas: o indivíduo sente-se doente mas não faz caso de^-hs symptomas, senão quando a influen- cia depressoria da ai.íic<*u.rn , que precede, ou acompa- 74 CoNNEXAÕ 1ÜÍRI A CHOLERA nhâ b tempo" chuvoso; ou um attaque de indigestaô, re> suítante do uso dè algum? comida imprópria , como ba- tatas, repolhos, saladas &c, uina bebida copiosa fria, fadigas, ou exposição ao Sol, on ao frio, excita o at- taqus da Ci-oíera, principiando com vômitos, ou jatos, f- segsddo de espasmos das pernas, feições lividas, pelie fria, e pulso abatido : e este estado do corpo, se o doen- te escapa, he quasi sempre seguido de uma febre typhoi- dca , remittente, ou íntermittente ; tendo paraxismos diá- rios, e as vezes mais a miúdo; e que geralmente não são precedidos de um frio bem marcado, mais do que uma sensação de horripilação, tremores, ou agitação dos bei- ços, e abatimento da circulação. Um attaque d'esta na- tureza, certamente, não he outro í-enão o de uma feire, baseada sobre torpor das funções, e congestão do fíga- do , e dos órgãos chylopoeticos : e pode ser aítribuido á respiração continuada de uma atmosphera impura, porém de ura grào menor do que d'aquella que geralmente dá Origem á Cholera; como resulta da ventilação imperfeita das Cidades, e do—estado impuro dos canos, ou quando se acham diferentemente constituídas, em conseqüência das emanações de um pântano, ou de qualquer monturo que se acha na visinhança das suas moradas. ,, As idèas qne nos temos formado da Cholera, como sendo propriamente um estado de febre cholerica, são de irais confirmadas pelos extractos seguintes de duas car- tas publicadas pelo Dr. Negri. Medico intelligente Ita- liano, residente em Londres. Estas mostram a grande se- melhança , senão identidade, entre a Cholera Maligna, e as febres perniciosas, descriptas por Torti, ha mais de cento e quarenta annos. " Paliando do caracter d'estas febres , Torti diz, A febre íntermittente perniciosa, mas especialmente aquel- la, que toma a forma terçaa, mata quasi no principio do paroxismo, quando he accompanhada de vômitos bi- liosos excessivos, e dejecções de humore* biliosos igual- mente viciados em quantidade, e em qualidade, sendo as vezes claras, outras coradas, e em alguns casos de uma bilis verde, e viscosa; e aos quaes se ajuntam soluços, a voz rouca, e sonora, olhos encovados, dores do es- tômago, suor ligeiro da testa, pulso fraco, e as extre- midades frias, ou lividas; em uma palavra, todos os symp- tomas que geralmente denotam a Cholera-morbus, do qual porém esta espécie de affecção cholerica deve ser distin- E A PEÍAt n guida ; pois que rtào he senão trm simples Sffntpt&ma d» febre, à cujo período segue , como uma sombra segue um corpo. ,, Torti falia de uma febre perniciosa choletica era que o doente fica quasi exhaurido, todo frio, pfOs'- trado, com o pulso quasi anniquilado, olhos encova- dos, e respiração difficil. O Dr. Negri também cita Mercato, Medico d'El-Rei de Hespanha, que falia de uma terçaa perniciosa, appreseníando os mesmos sympto- mas como a Cholera, e muitas vezes passando á uma fe- bre perniciosa. A seguinte passagem tirada da obra do Dr. Morton, e citada pelo Dr. Negri, será lida cora interesse no tempo presente. " Entre os symptomas innumeraveis que accompanham estas febres, não se acha algum que>não possa chegar á um grande auge, para fazer perigar a vida do doen- te, de modo que a. febre typho (observada nos seos pe- ríodos de frio , calor, e suor, ) sobrevem , tornando-ss impossível o distinguir-se peèa urina, temperatura, pul- so, ou mesmo por qualqner outro meio; mas occultada debaixo da apparencia de frio, vômitos, diarrhea, Cho- lera morbus, eólica, ou outra moléstia, que muitas ve- zes engana ao medico. ,, Torti , assim como Morton , administrava a quina o mais cedo possível, e era grandes quantidades, e esta pratica he aconselhada pelo Dr. Negri , tendo elle ex- perimentado os seos bons effeitos nas febres mahirias da Itália. O mesmo Dr. está persuadido que -ãCholera ma- ligna actual pertence á mesma classe de moléstias, que foi presenciada por Mercato em Hespanha, Torti em lia» lia, e Morton em Inglaterra. Elle aconselha o uso da quina em grandes dozes logo no principio da mo- léstia. O exemplo seguinte tirado da obra de Torti , for- nece, (diz o Dr. James Johnstone ) um retrato perfeito da Cholera que agora predomina em Sunderland. " Quando cheguei ao pé do doente, elle ja estava attacado por algumas horas. Achei-o frio como mármo- re, com o pulso, se me he permittido as*im dizer, de todo anniquilado, respirando laboriosamente, e cora a côr livida. Havia algum torpor, mas nenhuma confusão das faculdades intellectuaes, (elle nunca foliou de dili- rio) e a secreção da urina era diminuída. Administrei a quina em grandes dozes; e um calor brando se espa- 10 * 76 CoNNEXAo ENTRE A CHOLERA E A FfiBRE lhou logo pelo corpo todo; o pulso se restabeleceo gi pualmente; a respiração se tornou natural; o serablai derdeo a sua cor de chumbo ; a urina voltou á sua qui tidade natural, e em tres dias o doente se achou tot mente restabelecido. „ Apparenctas nos corpos 77 CAPITULO IV. A seguinte descripçaõ das apparencias observadas nos cadáveres das pessoas que morreram da Cholera , he ex- trahida do excellente Relatório redigido pelo Sr. Scott, e enviado á Commissao Medica de Madrasta. O aspecto exterior dos cadáveres dos Europeos , dif- ferio pouco daquelle , que apresentavam durante a vida , pois que a superfície era livida, os sólidos encolhidos, e a pelle das mãos e dos pés enrugada. Não havia ten- dência alguma particular do corpo á putrefacção, nem fedor da cavidade abdominal. As cavidades do corpo for- radas de membranas sero^us , bem como as mesmas mem- branas , não appresentavam signaes mórbidos peculiares ; achando-se quasi sempre n'um estado natural ; e se al- gumas desviações d'este estado se encontraram , não ti- nham relação evidente com a Cholera. As superfícies co- bertas , ou forradas pelas membranas mucosas , pelo con- trario , quasi sempre mostraram indicios de moléstia. Os bofes se acharam muitas vezes n'um estado na- tural, e isto aconteceo mesmo nos casos em que existiam antes da morte muita difiiculdade de respirar: as vezes porém eram engorgitados de sangue preto, e tão grosso, que lhes faziam perder o seo aspecto natural, asseme- lhando-se antes ao ligado, e ao baço : quando em ou- tros casos, elles se apresentaram em um estado opposto , isto he, encolhidos, e resumidos á ura volume assaz pe- queno ; e deitados na cavidade de cada um dos lados da espinha, deixavam o thorax quasi vasio, apparencia es- ta, que foi attribuida á formação, ou exhalaçaõ de ura gaz; mas quando o cadáver foi mergulhado em agoa an- tes de se abrir o thorax , nenhum gaz escapou: o san- gue dos bofes era sempre preto. O coração, e os grandes vasos se acharam distenaidos com sangue, mas não taõ geralmente como a fraqueza evidente das forças , que os movem , e a retirada do sangue para o centro, nos te- ria, indusido á crer. O engorgitamento das cavidades di-- ?s Apparencias nos corpos reitas do coração não he peculiar á Cholera ; mas, achan- do-se algumas vezes as cavidades esquerdas também cheias de um sangue escuro, e preto, podemos suppôr que esta apparencia mórbida he mais peculiar á moléstia. Na cavidade abdoraiuai, O pe?itone em alkohol, e água . .$ Albumen cõbinado c soda Matéria gorda: crystallina...... oleosa......... Muriato de Soda.....) Muriato de Potassa ... 5 Carbonato de Soda. • • • ) Phosphato de Soda. . . . > Sulfato de Soda......j Carb. de Cal...... Carb. de Magnesia. . Phosp. de Cal..... Phosph. de Magnesia Phosp. de Ferro . . • Perda........• • •' Total S3TADO ti SAÚDE DE Í.1-CANU 0 906 . 00 78 . OU O.Oü 1 .69 2.10 1 .20 1 .0 6.00 2.. 10 0.91 1 .00 CÍIOLEÜA MALIGNA 1000.00 I 854.00 133.00 0.40 > *4.80 1.40 4.00 0.00 1. CO 0.60 1000.00 DIARRHEA 1ULIOSA CHOILRA MALIGNA UfcWAJ'. 2 921..75 61.85 ,0.00 * 5.20 1.90 5.00 2. 30 1.10 0.90 1000.00 3 866. 80 124.0 0.00 * 4.00 1.23 2. 17 0.5 0.70 1.5 1000.00 As dejecções eram compostas de agoa , muco, carbo- nato, acetato, muriato, phosphato, e sulfato de soda. Não havia albumen, nem indicios de caseum, nem dos princípios da bilis. As matérias flocosas eram compostas de albumen, e fibrina. He importantte saber que a por- ção examinada foi tomada antes de se ter administrado re- médio algum. (*) A matéria orgânica, e e albumen sae tomadas junta- mente com a soda. 10 » §4 Teatamunto da cholsra epidêmica CAPITULO V. Neste Capitulo, passaremos successivamente em re» distas os principaes agentes therapeuticos empregados no curativo da Cholera, considerando, ao mesmo tempo, o seo valor relativo. Esta moléstia não se acha menos sugeita á ura tra« lamento bem dirigido , do que qualquer outra, igualmen- te rápida em sua marcha : os remédios próprios appli- «ados no seo principio, e com a discrição que elles exi- gem , tem pela maior parte conduzido á uma terminação favorável : e a difiiculdade consiste em persuadir os doen- tes á procurarem os soccorros médicos' bastantemente cê- *to; pois que a perda de algumas horas diminue muito as esperanças do curativo. " Se a moléstia ,, diz Annes- ley, cuja experiência no tratamento da Cholera Epide- í»ica, durante o seo predomínio na índia, foi grande, *'he attacada no seo principio, ou dentro de uma hora depois de sua invasão, então se cura com tanta facili- dade como qualquer outra enfermidade aguda; mas a ra- pidez do seo progresso , exige os mais activos esforços para a mitigar, e a perda de uma hora pôde ser a cau« sa da perda de uma vida.,, (*) Na Europa, e neste paiz, a diarrhea, ou desarran- jos dos intestinos , indicados por flatulencia , dejecções repentinas, aquosas, ou mucosas, são, na maior parte éos casos > symptomas precursores da forma mais violen» ta da moléstia. O remédio , cujos bons effeitos , no tratamento da Cholera pareceo mais geralmente verificados, e cuja ap- plicação, logo no principio da moléstia, mais se acon- selha , he a sangria. Praticada no braço no primeiro estado, e quando • pulso he cheio, e a temperatura natural, he muitas ve- ves sufliciente para pôr termo á moléstia : o doente se aeha logo aliviado , e principalmente quando a cabeça (*) Diseaseg «f índia, p. 175, Sangria 8â lie demasiadamente affectada: a sangria deve ser feita na postura horisontal, e o doente deve ficar quieto por algum tempo depois. O Dr. Dyrsen nos aconselha de augmen- tar a sahida do sangue por meio de fricçfSes, applicadas a superfície do corpo , com baetas anilhadas em água quente , ou a sangrar durante a inamersão n'um banho quente. Segundo o Sr. Pell, nenhum doente morreo do at- taque da Cholera quando era possível continuar a san- gria até que o sangue corresse livremente das veias, sua côr se renovasse, e a oppressâo do peito diminuísse; e o mesmo aconselha que, quando o sangue principia acor- rer, se deixe continuar, atè que se observem estas mu- danças. A regra ordinária da applicação da sangria nas moléstias agudas, isto he de deixar correr atè que ap- pareça a syncope, não convém na Cholera , por ser muito difficil o levantor do desmaio os doentes affectados de se- melhante moléstia (*) O parecer do Sr. Kennedy , he que, em noventa de cem casos onde os doentes succum- biram apesar da sangria, se achará, indagadas bem ás cir- cunstancias, que sangue algum tinha corrido das veias a- bertas, ou que, se correo, foi em gotas, ou n'um fio pequeno, e interrompido, excedendo raras vezes á algu- mas onças; e pelo contrario, accrescenta o mesmo au- thor, que quando o sangue sahio livremente na quantia de vinte, ou trinta onças, e esta depleção era auxilia- da por medicamentos próprios, os doentes geralmente se curavam, (t) O Sr. Corbyn parece ter sido um dos primeiros à reconhecer a superior efficacia das sangrias copiosas logo no principio d'esta moléstia. No appendix se verá um re- latório de casos, que elle tratou d'e. acompanhada de outros symptomas de gran- el, debilidade: -ainda mesmo quando o systema se ach.« exaurido pelas evacuações previas, ou a superfície toda do corpo he cuberta de um suor frio e pegajoso. Mui- tes Médicos affirmam a utilidade das sangrias, mormente quendo precedidas por sinapis; os , applica a«l de calor se- co , de fricções na superfície do corpo, e estimulantes dif- f sívís applicados internamente. Em alguns casos de Cho- leia, áit o Dr. Lefevre, o pulso ces^a muito cedo, mas ■aberta una veia, o sangue no principio sahe com vagar, gsadualmente a corrente se torna mais cheia , e mais for- te, o pulso bate sensivelmente, e o coração, assim ali- viado, se acha em estado de continuar a circulação. Os únicos casos em que a sangria parece duvidosa, durante o primeiro estado, são os que accontecem nas pessoas velhas, abatidas; e n'aqnellas cujas constituições são totalmente arruinadas pela intemperança. Quando não se pôde tirar sangue do braço, e os es- pasmos continuam, quando se sente uma dor aguda, e calor ardente no epigastrio, quando a pelle he fria, e coberta de um suor frio e pegasojo; e quando, finalmen- te , ha oppressâo do peito , difiiculdade da respiração, dor excessiva, e confusão da cabeça, com grande into- lerância da luz; o pulso imperceptível ou nenhum, e um cheiro cadaveroso do corpo , o Sr. Annesley aconselha ainda a applicação immediata de vinte , ou trinta san- guesugas no embigo , e no Scrobiculum cordis; con- juntamente com fricções de terebentina , e uma pirula de Calomelanos internamente, em quanto se applicam ao mesmo tempo sanguesugas ás fontes da cabeça e á nucha, No estado avançado da moléstia, ainda alguma oc- rasMo se offerece ás vezes para as depleçôes sanguineas e ella, diz o mesmo author, he notada por uma tenta- tiva, ou esforço da circulação, como para vencer algum embaraço; e he ura symptoma muito favorável, que nun- ca se deve desprezar: logo que isto se appresente, se deve praticar a sangria, porém com discrição. Broussais, em lugar da sangria geral, manda appli- car sanguesugas ao epigastrio , e baixo veutre : o Dr. Lefevre desapprova a sua applicação, e nos parece com justiça, por ser a sua operação um pouco vagarosa; mas elle aconselha com preferencia as ventosas sarjadas : a pratica de mais de um dos hospitaes de Cholera , em Philadelphia, fornece provas bastantes da efiicacia d'es- Fricções sbccas e rdbkca ikntss 87 tas ultimas applicadas á região epigastrica e ao resto da superfície do abdômen. Fricções seccas — S;o remédios de summa utilidade em todos os casos da Cholera: ellas convém man, e são mais efficazes logo no principio do attaque ; e podem ser feitas simplesmente com a mão, ou com uma baeta quen- te , ou escova macia; e se são continuadas, ellas resia- belecem a circularão das extremidades previamente tuas e insensíveis; mas exigem muita perseverança, e uma lcnça continuação; porque he necessário manter a circu- lação uma vez restabelecida: motivo este, que só admitte a sua applicação nas circunstancias onde se achaô bastan- tes pessoas para servir ao doente. Tem-se. aconselhado varias fomentaçoens para ajudar ósseos effeitos; porém, podem ser substituídas pela simples esfregáção com a mão , salpicada de vez em quando com uma pequena portão de gomma fina, ou de óleo alcanforado, a fim de evi- tar as esfoladuras. A fricção deve ser moderada , prin- cipiando nas extremidades superiores e inferiores , onde a circulação se acha sempre mais languida, e proceden- do gradualmente ás coxas, abdômen, e peito. As pelles de coelho, ou baetas quentes impregnadas com a fuma- ça penetrante de benjoiui sío muito convenientes para es-. tas fricções, por sua qualidade estimulante e brandamen? te tônica ; e o seo cheiro nao d-rixa de ser summamen- te grato áquelles que assiste u nY n hospital muito cheio de doentes. "Assim pois, " diz Corbyu, com muita ra- zão ,, estimulando, os nervos cutâneos , evitando as ap- plicaçoens rudes e indis • etas , veie f.os os órgãos prin- cipaes internos sympatis.r logo cora a superfície; as ar- térias se acharão excitadas para propellir o sangue nas veias correspondentes, e o calor animal se desenvolverá para de novo circular pelas extremidades, e pelle!! Rubifacientes. — O abatimento da circulação sen d*» grande, ou as fricções simples, acima aconselhadas, dei- xando de. produzir o desejado effeito, ou havendo uma falta de assistentes, .ou de bons enfermeiros para âs po- rem em pratica , precisa recorrermos aos rubifacientes , que são de duas classes : 1.° as fomentações. ■ estimularia trs ; e 2.° os sinapismos. O linimento composto do espi- rito alconforado, e amraonia serve para todos os. casos.. Quando os espasmos são intensos, o Sr. Annesley appror- va mais o espirito de Terenbentina ; e sendo preciso, uuii irritante mais forte, pôde servir o seguinte-. 88 Calo* sbcco Tintura de Caatharidas ,.... duas oitavas. Alcanfor.................... trez oitavas. Liniraento de Sabão c ópio,.. quatro onças ; mistura-se. Ou Farinha de mostarda em pó fino. duas oitavas. Espirito de Terebentina..... onça e meia. Azeite doce................. meia onça: misture-se. As emborcaçSes com os licores espirituosos são evi- dentemente impróprias, pois que sua rápida evacuação tende a augmentar a frieza da superfície. Entre as applicaçoens externas as mais fortes, me- lhores , e indispensáveis para restaurar a accão do or- ganismo , e a sensação , podemos enumerar os sinapis- mos; e são elles igualmente os rubefacientes mais for- tes , que podemos applicar. Pode-se dizer que são indispensáveis, e que apenas existe período algum da doença , em que não possam ser applicados com vantagem: em quanto dura a moléstia, são indicados , e devem ser contmuadamente renovados. (*) A dôr do ventre, e até os vômitos são, muitas ve- zes diminuídos instantaneamente pela applicação de um grande sinapismo ao abdômen ; a sua applicação á tem- {>o poupa muitas dores ao enfermo (t) Nos casos vio- ento3 da moléstia, a applicação de sinapismos aos tor- nozelos, pulsos, barrigas das pernas, partes internas do9 braços, e das coxas, e ao longo do espinhaço he mui- to aconselhada em vários tratados de Cholera, e estamos persuadidos, pelos optimos effeitos que temos visto resul- tar desta pratica, que ella nunca deve ser despresada ; e só seria bom talvez demorar a sua applicação até se conhecerem os effeitos das fricçoens secas bem adminis- tradas. Quando a pelle se acha esfolada em conseqüên- cia dos sinapismos, a* fomentaçoes anodinas , e até o ópio pulverisado, salpicado sobre a superfície dolorida , será útil para aliviar a dor, e as nausias. (j-) Calor seccv. — Este remédio he muito aconselhado por (*) Corbrm p. 203. (t) Lefevre, »bs. M tke Ntf, eutd Treat. of Cholera ' frieaa e torpor da pelle, como o effeito de uma innervação deficiente , tem empregado mais particu- larmente os irritantes externos para restaurar esta fun- ção : juntamente com os sinapismos, elles tem usado de fomeotações com linimentos estimulantes; e Mi Petit a- eonselha a applicação de baetas molhadas, por exemplo, em o espirito de terebentina misturado com o alkali vo- latiL fluido, ao longo dó espinhaço para depois passar uni ferro de engommar quente por cima dellas, e- na raes» una direcção. Este, juntamente com os outros meios de restaurar o calor, contribue poderosamente à reacção e ao restabelecimento do calor vital, e da circulação ca- pillar. As moxas , e os cauterios também tem sido ap- plicados á mesma parte, e com o mesmo fira, assim co- v/ío para diminuir os espasmos. Até se tem applicado o cauterio actual no período de collapso. (*) Banho de Vapor. — Este tem sido classificado entre os remédios contra-irritaníes da Cholera. O calor secco de aikohol, e de enxofre pode ser cons'iderado como aná- logo, áquelle ja aconselhado, com a vantagem de produ- zir uma applicação mais igual e uniforme. O apparato Vèsicação do ácido nitrico. — Este ácido não produz pro- priamente a vesicaoaõ , e seo effeito he antes o de um caute- rio. Sendo da gravidade especifica de 30°, e se a pelle do do- ente ainda conserva um certo gráo de vitalidade, uma mistu- ra de- duas partos, do ackto- com com uma d'agoa será de suf- ficiente força; e o ácido assim diluído se applica à pelle por meio de uma penna de gallinha. Se a pello fica immediatamen- te descorada, (no Europeo se torna côr de palha) e se a dor produzida he„ aguda,, e ardente, esta única applicação he bas- tante ; e entaõ se deve- lavar a parte immediatamente com agoa tepida , ou neutralisai; previamente o ácido, que resta sobre a pelle, com uma solução aHialina. Se a applicação nem he se- guida de mudança de côr,. e nem de dôr, neste caso deve-se uzav de ácido puro. Se por fim. o ácido nitrico naõ produz ef- feito algum nqa íjeryirerao* enta,õ dí> ácido sujphurico. (*) O Dr. Kirt tem applicado o cauterio actaal era tres exe*op'..>;;, porém sem successo. O melhor lugar para sua ap» pjicagaü he a- uu«;Jia,_ onde a cabeia se une uo cspÍRbicaP e Bakho qüentè &! simples e bem conhecido de Jennuigs serve muito berh para a applicação do ar aquecido pelo alkohol. Para b enxofre o banho portátil melhorado pelo Sr. Boyd Reilly merece a nossa recomoiendação assim como a approva1- ção geral. O vapor ordinário ou humido dVgoa á uma tempo1- Tatura elevada, tem sido largamente usado em varias par- tes da Europa, no período do collapso da Cholera; e eomo colligimos do Dr. Ucelli daCrimea, e outros, còm vantagem evidente. Alguns tem desapprovado a applica- ção do vapor humido á pelle, ja alagada, e humedecida pelo suor frio , e affirmam ser de summa importância con- servar a pelle secca, pela esfregaçaô constante de pannos seccr.s e quentes. Esta objecçao porém he hyporneiica, e baseada sobre idéas errôneas. 0 principal obecto hè de excitar a acçaõ dos capillares cutâneos; e o calor com- binado com agoa na forma do vapor, he um dos meios mais efticazes, e certos de produzir este effeito. Diz-se também que o uso do banho de vapor causa uma pleni- tude , e turgescencia dos vasos da cabeça , e uma deter- minação do sangue ao cérebro. Este effeito porém pôde- ser evitado, e neste tempo he comparativamente de me- nor importância do que o collapso e prostração de que hé taã necessário despertar o doente. Quando aconselhamos o banho de vapor, as nossas observações se referem uni- camente áquelle, em que a cabeça do doente se acha fo- ra do banho, e corisequentemente em que elle não rea- pira o vapor. (*) Banho quente. — A respeito das vantagens deste ré« médio ha alguma divergência de opinião entre cs diffe-> rentes escriptores no tratamento da Cholera; e em quanto alguns, como são muitos Médicos da índia, e a maior ao longo do espinhaço mesmo. O Dr. Barry diz , que o Dr. Lange , de Croustadt, curoa pelo cauterio doíe de quatorze do- entes. Isto porém parece quasi incrível. (*) De uma experiência n;5 pequena dos ^ffeitoa dos ba- nhos de vapor podemos aconselhar bem aquelie em que o doen- te Tespira o vapor: n'esta fonna o ópio se administra cora mui- ta vantagem , e se apparecer alguma determinação á cabeça, facilmente será obviada pela appliçaçaõ de Uni» toalha molhada com agoa fria ao redor d'ella. T.' 12 * 93 Banho quente parte dos da- liussia e dá Alemanha, o tem por um rv médio de grande efficacia, excitando a actividade ador- mecida da circulação, e determinando o sangue á super- ficie do corpo; outros tem absolutamente reprovado o seo uso. Em S. Petersburgo, diz o Dr. Lefevre, o uso do banho quente, no principio da epidemia, foi quasi uni- versal, mas logo cahio em desuso, e o julguei sempre prejudicial por cau.-a do abatimento produrido pelo acto de transportar o doente da sua cama atô o banho, por sua própria acção sobre o organismo, a dôr e os encom- modos que o doente experimenta na transição repenti- na do frio para o calor. Estas objecções nos parecem ser antes devidas ao modo indiscreto de administrar o banho, do que ao banho mesmo. O mesmo Dr. Lefevre admitte que se elle he empregado logo no principio do attaque , quando a excítaçaõ he ainda considerável he muito útil e até agradável. Elle considera porém pre- feríveis o banho de vapor, o calor secco, e as fricções. Outros aconselham a applicação de fomentações quentes, cataplasmas &c. A evidencia porém a favor do banho quen- te, no tratamento da Cholera, he tal que não deve ser regeitado assim taõ ligeiramente. A este respeito encon- tra-se muito bom senso nas observações seguintes do Sr. Kennedy, que assim se exprime. "No tratamento da Cholera , alguns Médicos limitam os seos encomios ao- uso do banho quente ; outros aconselham o banho de va- por com exclusão do primeiro, e ultimamente uma ter» ceira classe (*) fcínnra que uma cataplasma de sementes de linho he superior á qualquer dos outros dous reu>e- dios. Um leve gráo de reflexão poderia haver convenci- do á estes tres partidos que elles se achavam divididos unicamente sobre u^ra questão de nome. A virtude me? dica de todos elles he a mesma , e consiste simplesmente na applicação do calor, e humidade á superfície do cor- po. Para se resolver a questão, he mister ter-se em vista o effeito que estes remédios, individualmente , produzem n'um tempo dado, sobre o doente; e quando existe uma concorrência devemos escolher de entre elles o mais for- te. O banho quente he certamente o agente mais efficaz- e conveniente da classe á que pertence; elle eommunica calor ao corpo com maior rapidez do que o banho d* Tiapôr, ou a cataplasma; e a força reláxante da sua hu- (*) Warsaw Ccmmittee of.'Healtff Banho qüentb 93 aiidade he igual: deve pois ser pr< íendo , continua elle, n'aquelles períodos da moléstia ca. que he indicado • calor humido; e em eonsequencia do :eo poder superior, devemo-nos lembrar que he preciso maior cauíella para que não seja applicado improprianicue , ou por ura tem- po muito prolongado ,, O Sr. Reniiedy considera o prin- cipio do attaque como o período próprio para a sua ap- plicação. (*) Os seguintes preceitos para a applicação do banha quente são dados pelo Dr. H«mett. » eu b.o da Commis- sao Medica Britânica em Dantzic, que assim diz. " Faz- se preciso acautelareru-se contra o uso indiscreto dos ba- ldios quentes e de vapor, no período do calor, depois que os suores tem apparecido e principalmente se forem frios e pegajosos; assim como quando se tiver formado distinctaraente a congestão venosa, que se observa prin- cipalmente no cérebro, e no coração, e que parece aug- mentar estes suores. O banko deve ser administrado , ou no momento critico em que principia a moléstia , ou ao menos logo depois, se ainda for admissível. Para obviar as determinações de sangue á cabeça, podem-se fazer de tempos á tempos applicações frias, estando o doente n» banho, e na qual deve ser collocado com muito geito , e cautela, tendo-se muito cuidado em que a posição do seo corpo esteja em um plano algum tanto inclinado, e a sua cabeça, pescoço e hombros sustentados convenien- temente ; a iminersão do corpo no banho deve ser por pouco tempo, e simplesmente pelo que for bastante p;.ra se lhe communicar o calor, e fazer com que seos effei- tos se manifestem : deve-se retirar delle o doente com o rr\esmo geito, e cautela com que se o meteu, bem em- brulhado em baetas quentes, e logo posto n'uma cama, e o seo corpo ligeiramente esfregado com toalhas quen- tes, seccas, e grossas, mas de ura tecido de linho mol- le; e enxuto á proporção que o suor se for formando. Muito geito e cautela saõ precisos para o manejo pes- soal d*esta parte essencial do curativo,, (t) O banho quen- te sem duvida tem falhado á muitos Médicos, em con- seqüência de não ser applicado. em uma temperatura bas». (*) Kennedy on Cholera. (+) Reports to the British Gfovernmeat, by John Ha- «aetU M. £)> 94 Ópio tante elevada, nem continuado por bastante tempo. " Ea conheço,, diz o Sr. Greenhow "ura homem que pade- ceo da Cholera, no anno passado, em Archangel, e que foi restaurado de ura estado de asphyxia perfeita , por um banho quente prolongado pelo espaço de hora e meia.,, A respeito das objecções que se tem feito ao uso deste remédio, em conseqüência do perigo que corre o doen- te fazendo algum esforço voluntário; ou da necessidade de conservar elle uma posição perfeitamente horizontal durante a suspensão da circulação, o mesmo author res- ponde com muita razão, diiendo "que o doente pôde ser mettido no banho e tirado delle com tanta rapi- dez e com tão pouco encommodo que ficam perfeitamen- te desvanecidas as objecções levantadas. ,, Em Paris se achou eíte remédio útil, e alguns do3 Facultativos daquella Cidadã o aconselham mui distai- ctamente. Ópio. — Remédio algum dos que tem sido propostos para o tratamento da Choler» pôde ter tantos attestados n seo favor como o ópio. Qnasi todos os Médicos, se- jam quaes forem as suas opinifes á respeito da natureza da moléstia , o administram em uma forma qualquer ja em um, ou outro período da moléstia. Uns o acon- selham em dozes avultadas, outros porém pensam, que administrado em pequenas he mais efficaz, e menos su- jeito a produzir conseqüências damnosas. O Sr. Orton, julga provável, que uma única doze de ópio , dada logo na invasão da moléstia será sufHciente na maior parte do3 casos á suspender perfeitamente o seo progresso; mas'elle nos acautella contra o seo uso excessivo. Quando admi- nistrado era dozes maiores, os seos effeitos secundários, e talvez immediatos , são, pensa elle, um augmento da- quella oppressâo das forças vitaes, que denota tão for- temente os gráos mais intensos da moléstia. Elle o pre- fere em substancia, como menos sujeito á ser regeitado do que em tintura: quatro grãos deve ser a primeira doze, e deve ser repetido senão produzir uma mudança favorável, porém em porções menores, e com interval- los de trez á seis horas. (*) Os Médicos Polacos, e -al- guns dos Alemães, comtudo, reprovam a administração ,do (Jpio na Cholera. O cérebro, e a medulia espinal ten- dera, cora tanta rapidez, á tomar nesta moléstia, ura es- (*) Essay on the Epidemic Cholera. P, 304, et seg. Caeohelawos 05 fado eongestivo, diz o Dr. Hille, que o Opto', rriesmd em pequenas dozes, se torna ura remédio muito dúvido- 10 pela sua tendência á augmentar este estado mórbido de taes órgãos. A maior parte dos Médicos de Warsavv (*) e de Riga (+) partilham esta opinião. Tentaremos no ca- pitulo seguinte, por definir as circunstancias precisas era que se pode administrar o Ópio com mais vantagem, e felicidade Calomelanos. — A administração dos calomelanos na Cholera , he uma pratica que tem sido seguida pela maior parte dos Facultativos Inglezes na índia , e he muito' gabado por aquelles que tem visto esta moléstia no Norte da Europa. Em muitos casos, ouso dos calomelanos tem sido prodigioso, dando-se em dozes de um escropulo, ou de meia oitava, que, assim mesmo, são consideradas corno as mais pequenas que se podem dar nesta moléstia; ou- tros porém tem condemnado o remédio em semelhante quantidade, e o aconselham em doses menores , repetidas a miúdo, e geralmente combinadas cora o ópio. A evi- dencia que se allega á favor dos bons effeitos dos ca- lomelanos, de qualquer forma administrados, parece a primeira vista perfeitamente concludente, mas para for- mar nossa opinião á tal respeito, devemõ-nos lembrar, que em todos os casos allegados, tem-se administrado, ao mesmo tempo, outros remédios importantes, especialmente., as sangrias, as fricções e as foaientações estimulantes à superfície do corpo, combinados geralmente com os banhos quentes. Quasi todos os Escriptores estaõ de accordo que o curativo da moléstia depende principalmente da prome- ta e judiciosa administração destes últimos remédios ; muitos os consideram por si só suftícientes, e que os outros internamente dados saõ inúteis , senão absoluta- mente perniciosos. Entre os Médicos da Rússia, da Po- lônia , e da Alemanha ha poucos que aconselham o uso dos calomelanos, e a maior parte d'elles positivamente" os-reprovam nos primeiros períodos da Cholera; bem como a grande voga que lhe deram os facultativos Indiaticos. Em Varsovia, diz o Dr. Hille, o resultado da experiên- cia tem mostrado, que os calomelanos administrados era. (*) Beobachtungen uber die Cholera, p. 116\ (+) Naehricten Rigaer aertze uber die hèrrschende Ch»;. lera Jb^kiemie; p» 330, $6 VoWlTOSIOS E riBGANTIS dozes grandes, ou em pequenas, repetidas a miúdo, fizeram mais mal do que bem, e por isteo o seo uso foi aban- donado de todo , ou entaõ administrados n'uma única dose d'alguns grãos combinados cora o ópio. (*) O Dr. Gibbs, escrevendo de Sl. Perterburgo, diz positivamen- te , que os caloifielanos em dozes de escrúpulo , e de meia oitava, nau aproveitarão aos doente6 d'aquella Ci- dade (+) e o Dr. Lefevre muito bem observa , que as pequenas dozes, combinadas com ópio naõ podem servir de utilidade alguma nos primeiros períodos. " Nos casoã menos urgentes, continua elle, onde a quantidade do ópio he sufficiente para mitigar a acçaõ espasir.odica , e quando os calomelanos podem obrar gradualmente, es- ta combinação, sem duvida, pôde Ser útil; mas haô de seguir a sorte de todos os específicos gabados, que sen- do administrados 6em discernimento, até perdem a.virtu- de que naturalmente poderiam ter. ,, Em Dunaburg naõ »e administrou os calomelanos, e de 745 exemplos, doa quaes muitos se 3charaõ nos últimos períodos da, u oles- tia quando visitados pelos Médicos, 75 somente succum- biram. f\) Vomitorios. — Vários Facultativos tem aconselhado os vomitorios logo no principio da moléstia para evacuar a9 eruezas do estômago; mas, coaio diz o Dr. Lefevre, cora pouca vantagem. A sua efficacia, como mais adiante mos- traremos, depende principalmente do peri«do da molés- tia , e da constituição e costumes antecedentes do doen- te. Aquelles de que mais se usou foram principalmente a Ipecacuanha, o sulfato de zinco, ou uma solução de sal em agoa morna (duas colheres em uma medida), para ser bebida de uma vez. Na Gram-Bretanha, o vomitorio de mostarda teve muita acceitação; e se dava á beber então, quanto antes, uma mistura de tres cu- lherinhas de farinha da mostarda com duas chicaras d'a- goa morna. Purgantes.—Estes, ainda que considerados por «1- (*) Ueber die Assiatische Cholera, p. 115. (+) Observatioas ou Cholera. Ed. uued, & Surg. Journal p. 396, Vol. 36. (í) I>ber die Cholera in Dunaburg, von Dr. Ewertz, Joor. f. Cbirurg, a. Augenheilhunde, p. 313, Vol. 17. Enehata 9T guns Médicos como remédios indispensáveis no tratamento da Cholera, com tudo não parecera, á excepção dos Ca- lomelanos, ter sido geralmente empregados, senão depois de haverem diminuído os symptomas mais urgentes., e vio- lentos da moléstia. N'este tempo porém s5o geralmente admittidos, e produzem os melhores effeitos. " Elies são indicados em quanto os intestinos não fazem bem e re- gularmente as suas funcções, e as dejecções conservam uma apparencia fora do natural ; nem se deve receiar, que o seo uso possa reproduzir a moléstia, em quanto to- mamos estes signaes por nossa guia; e as recahidas são mais freqnentes se deixamos de os administrar: a quan- tidade de matérias nocivas evacuadas por muito tempo de- pois de diminuir a violência da moléstia, prova muito bem esta asserçaõ. ,, Tal he o resultado da experiência do Dr. Lefevre a respeito de purgantes. O Sr. Orara diz, que estes são indispensáveis, depois da crize favo- rável, para prevenir, e remover os restos das seqüelas mórbidas, que tantas vezes accompanham a moléstia. El- les produzem evacuações copiosas de fezes, e de bilis vi- ciada. O Sr. Annesley confirma o mesmo : em quanto as dejecções, pela continuação dos purgantes, não tomaram uma côr parda e escura, e uma consistência competente, este Sr. nunca considerou muito seguro o curativo dos seos doentes. Uma forte dose de Calomelanos , " diz o Dr. Lefe- vre, he muitas vezes útil no principio da convalescencia, como pira influir sobre todas as secreções ; mas a purgação simples do ventre, tão necessária depois da moléstia , he melhor produzida por pequenas e repetidas dozes de óleo de ma mona. ,, As virtudes deste ultimo remédio tem sido gabadas, e de uma maneira muito positiva, pelos Facul- tativos da índia e da Europa. "A sua ultilidade, diz o Sr. Scott (*), foi considerável, e parece qua ha bas- tante evidencia para merecer um uso mais extenso.,, He universalmente admittido que os purgantes, que produzem dejecções freqüentes, aquosas, seguidas de dores, e te« nesmo, são summamente nocivos. Enemata. — Quando a irritabilidade do cstor-.ago , ou os vômitos continuados impedem a exhibicão du remédios pela boca, os crysteis em alguns casos parecera úteis. No principio de um attaque produzem pouco efitito , pcu que (*) Madras Reports. 13 98 Estimulantes internos do maior numero dos casos, são immediatamente rejeita* dos em conseqüência da grande irritabilidade dos intesti- nos: porém nos últimos periodos, especialmente naquel- les onde os espasiros são fortes , e os intestinos continuam á estarem dolorosos com evacuações seguidas de dores, sao de summu utilidade. Nestes casos um crystel composto de duas chicaras de infusão de linhaça com dez (vinte, ou trinta ? ) gotas de Laudano , dá um alivio immediato ; e o ópio administrado deste modo he menos prejudici.il de que quando administrado em bebi Ia. (*) Cristeis de agoa quente de uma temperatura superior á do sangue , tem sido preconizados nos cas^s de grande collapso, e frieza geral da superfície do corpo; estes, depois de se demorarem algum tempo no recto, podem ser retirados por meio de uma seringa, e substituídos por outros. Os crysteis de fumo, como logo veremos, tem sido aconselhados, e ap- plicados. O Sr. Fyfe falia muito bem de crysteis de mos- tarda ; e diz, que em muitos casos, elles tem provocado uma evacuarão de urinas até então suppriiuidas. Estimulantes internos.—A administração do Ether, agoardente de França, ammouia, e outros estimulantes, tem sido muito aconsi ihada , especialmente nos periodos adiantados da moléstia ; e a sua repetição inculcada atè que a reacçüo esteja perfeitamente estabelecida, para en- taõ serem gradualmente diminuídos. Dizem também que os seos bons effeitos são menos evidentes no primeiro pe- ríodo da inolesria , do que quando os suores pegajosos, a intensa friesa da superfície do corpo , o pulso quase imperceptível, e o semblante abatido indicam um estado de collapso, do qual, senão for promptamente levanta- do, a perda do doente he inevitável. Mas a experiência de todos os Paizes , ( segundo nos parece, ) tem mostra- do não só a inutilidade, mas ainda os effeitos decidida- mente- perniciosos dos estímulos internos no período do coi lapso; estes tendem unicamente á abater mais o do- ente, e á fa/er perder todas as esperanças do seo res- tabelecimento. Quando elles são úteis, he somente no prin- cipio, ou no período da formação da moléstia em car- tas pessoas de temperamento nervoso, affectadas de sym- ptomas neuralíyh os , e antes de sobrevir a congestão, ou a infiaramarüo subsequente; e n'estas he que sao pro- (') Pc Lefevre Ob-ervations. kc. On Cholera-Moibus, p. 63 et \t-;. Sudnitrato »f. bismüTjTo 93 prios, o Ether alcanforado, ammonia &'c. Muitos Fa- cultativos, he verdade, tem administr do copiosair.cnte os estimulantes os mais fortes, e logo desde o principio do attaque; pratica muito danosa e que deve ser reprova- da. Os estimuLnites em todas as circunstancias exigem muito discernimento e cautela, e sem isso produzirão el- les certamente mais damno do que bem ficio. O Sr. Bell com muita justiça acautela os seos leitores contra a pra- tica taõ geralmente adoptada na índia, de administrar do?es fortíssimas n"o só de estimulos internos, mas tam- bém de calomelanos com ópio; e affirma que alguns in- divíduos, que no principio da nolestia pireciam alivia- dos com elles, comtudo succumbirara no fim, á seos rui- nosos effeitos. (*) Subnitrato de Bismutho. — Lendo os relatórios feitos por alguns dos Médicos Polacos, e Alemães, acercados bons ttfeito: do Subnitrato de Bismutho, em todos os casos, e em todos os períodos da Cholera, deveríamos concluir certamente, que em fim se tinha descuberto um especifico para o curativo d'esta moléstia. Uma experiên- cia mais larsa porém tem mostrado, que o titulo que o Bismutho adquirio ao principio como um remédio certo na cura da Cholera não he merecido, pois que muito?, até avançaram que elle era incapaz de produrir algum effeito bom; e se fosse administrado indiscretamente se- ria necessariamente pernicioso. O Dr. Lefevre, que tem mostrado, não pouco tacto, na estimação do valor dos differentes remédios propostos para o tratamento da mo- léstia, julga que se pode tirar muita vantagem do u.-ra deste preparado quando usado prudentemente. Nenhum re- médio parece ser mais prompto para acalmar os espasmos, e os vômitos, do que este, e quando administrado com moderação, não produz sobre o organismo os effeitos e incommodos, que se seguem ao uso de outros remédios mais fortes. As dozes aconselhadas pelo Dr. Leo, ura dos apaixonados d*este remédio, são de dous à quatro grãos repetidos de duas em duas, ou de quatro em qua- tro horas. O Dr. Leievre nos aconselha de continuar o seo uso atè que os espasmos e os vômitos cessem; e se assim não acontecer era seis ou oito horas, entüo o seo w-o deve ser suspendido. Deve senotíir, conforme o testemu- nho do Dr. íaum, que se encontrou grande iníiaaumação nas (*) Treatise ou Epidemic Cholera. * 13 * TOO Car&ojjatgs e saes neutros tripas d'acpuelles, que morreram depois do uso do Bísmuthoi Os Carbonates e os Sues neutros.—As terras alkali- nas , e os Saes tem sido aconselhados, em conseqüência da persuasão, de que existe um excesso de ácido no es- tômago , e nas tripas , e que este mesmo excesso até con- tribuo para formar a côr escura, que o sangue apresenta na Cholera. O Dr. Ainslie gaba muito a efficacia do sub- carbonato de magnesia em fortes doses. O Sr. Corbyn colloca esta substancia entre os remédios sedativos, e fal- lando do seo uso na moléstia de que agora tratarmosi, diz r " A circunstancia de colLocar a magnesia na lista de remédios sedativos pode excitar alguma surpreza: mas eu applico o termo no seo sentido próprio, em conseqüên- cia do poder que esta tem de acalmar. Eu attribuo a causa da Cholera á um excesso de ácido nas primeiras vias; qualquer remédio pois que tenha o effeito de ali- viar os espasmos violentos, e de diminuir a irritabilidade, lie sem duvida ura- sedativo. Um excesso de ácido pro- duz espasmos, jatos , e vômitos ; e estes são removido» pela qualidade neutralizante da magnesia. Não conheço remédio therapeutico algum, cuja operação seja menos appreciuda do que a da magnesia; e a nossa ignorância de suas qualidades curativas, se deve attribuir á nossa ignorância da dose em que ella deve ser administrada. A maior parte dos- práticos clínicos consideravam a dose de meia, ou de uma oitava como sufficiente ; esta quan- tidade porém não he bastante mesmo para neutralizar uma pequena porção de ácido; e por isso, não resul- tando effeito algum, o Facultativo conclue que não existe ácido do estômago; pelo contrario, se a dose (fallo -a- gora dos adultos) tivesse sido augmentada á trez, ou quatro oitavas, não só o ácido, teria sido destruído, mas os espasmos, os vômitos, e a secura teriam igualmente cessado; e evacuações alvinas substanciaes apparecido. Nos climas trópicos o excesso do ácido nas primeiras vias he a origem de um grande numero de desarranjos cons- titucionaes, indicados pelas affecções do estômago, e dos intestinos, produzindo ulcerações da garganta, e erup- ções da pelle. „ Os nossos leitores Médicos ja saberão, sem duvida, das opiniões emittidas pelo Dr. Stevens, da Ilha de Santa Cruz, acerca da causa da côr preta do sangue na febre amarella, e dos remédios próprios para obviar este symp» toma, e, ao mesmo tempo, .mitigar, e curar a moléstia. CAKBONATOS « 8AES NEUTROS }01 Ü6tes consistem principalmente nos preparados salinos sjrn« pies, taes como o muriato, e o carbonato de soda, j> jnuriato de potassa &c. Tendo idéas idênticas acerca da Cholera, alguns dos Médicos de Londres, e esr/ocjalmen- te Sr. Wakefíeld, na Cadeia de Cold Bath Fields tera empregado, segundo nos havemos informado , com mui- ta vantagem os remédios acima mencionados. (*) Posto que os purgantes salinos sejam considerados ge- ralmente como impróprios durante uma visita da Cholera Epidêmica, com tudo não faltam exemplos dos seos bons effeitos no curativo da moléstia Nas Mauricias, ou Ilha de França, alguns Facultativos ordenavam de duas em duras horas, duas oitavas do sulfato de soda (sal de Glauber) dissolvidas em ura copo de agoa e mel , até 'que as evacuaçoens se tornassem biliosas. Todo o copo não se dava de uma só vez, mas sim era porções , á in- tervallos de um quarto de hora, e o remédio em muitos casos se repetia até doze e mais vezes : depois de sua adu'ilustração se dava uma taça de infusão fraca de aiyapa' tia e crysteis emolientes : affirniarse que alguns dos pro- prietários d'aquella Ilha seguiram com muita vantagem este tratamento , quando os seos escravos eram attaca- dos da moléstia» O uso do muriato de soda, em porções pequenas, he segundo o Dr. Penou , uma pratica popular na Rús- sia , depois de se te,r. dado uma porção maior para pro- duzir os vômitos. As conclusões que poderemos dedu/ir d'estes factos, *ão,.que os saes neutros, em pequenas do- ses, são úteis na Cholera. Não temos fallado na inhalação do gás oxygenado , nem do uso do galvanismo, entre os remédios da Cho- lera; porque as poucas experiências que se tem feito com estes agentes não authorisam por ora a sua applicação , ain- da mesmo quando isto se podesse fazer com menos dif- (*) A seguinte he a formula aconselhada pelo Dr. Stevens. Bicarbonato de soda, meia oitava.. Muriato de soda, vinte grãos.. Clorato de Potassa, sete grãos. Mistura-se e dissolve n'am copo o d'agoa, para se dar a« doente, de hora em hora, em quanto a reacção não se houver bem evidentemente estabelecido. Os irritantes externos, e aa fricções, conjunctivamente com crysteis d'agoa quente e salj tem sido ás vezes empregadas.. 102 Bebidas ficuldade, do que a que necessariamente deve acompanhar o seo uso. Muito poderiamos estender este Capitulo, com a no- ticia de vários outros remediou que se tem proposto, e fortemente aconselhado no tratamento da Cholera , mas não havendo nós, as infoniaões neces-arias para deci- dir da sua cfficacia, julgamos mais prudente limitar as nossas observações á aquelles mais geralmente emprega- dos, e acerca de cujos effeitos; temos tido uma experiên- cia assàs extensa. Resta nos somente accrescentar ás ob- servações ja feitas, algumas palavras acerca das bebidas próprias para os doentes, e o tratamento geral, que a moléstia exige no seo período secundário. Bebidas. — Uma singular differença de opinião exis- te entre os Escriptores que tratam da Cholera, a respei- to das bebidas próprias, e convenientes aos enfermos. Al- guns prohibiram os diluente^ de toda a qualidade , em conseqüência de julgarem que estes augmentav ;m os vô- mitos. O grande desejo do doente, he d'agoa fria ; ei- le parece soffrer a sede mais cruel, e á qual evidente- mente n^o podemos desatender sem augmentar muito os seos parlecimentos , e finalmente a moléstia que elle sof- fre O Sr. Scott , de commum accordo com os melhores práticos capitula com a necessidade de administrar algum diluente brando, mas affirma qne este deve ser morno, pois considera as bebidas frias sempre perigosas, e mui- tas vezes fataes; e esta opinião foi geral entre os Mé- dicos da índia. O Sr. Annesley porém , administrou agoa fria ligeiramente acidulada com ncido nitrico. Esta foi a bebida geral no hospital que estava debaixo da sua di« recção, e parecia que ella aliviava o symptoma'mais in- coramodo da moléstia , a sen-açío de ardencia no estô- mago. (*) Pela experiência dos Médicos Europeos na ín- dia, parece decidido que as bebidas frias não são mais prejudiciaes do que as mornas, e que podem ser admi- nistradas livremente quando pedidas pelo doente. O Dr. Lefevre diz, que a limonada resfriada pelo gelo, foi usa- da com vantagem, e que as classes inferiores dos Rus- sos bebiam o seo quass do costume, e, como parecia, sem prejuízo; accrescenta de mais, que o ácido n tricô pôde ser vantajosamente misturado com a bebida ordiná- ria ; na quantidade de cincoenta gotas, em libra e meia (*) Annesley on the diseases of índia. Bebidas 103 cTagoa , «doçada á vontade , fôrma urra bebida agradá- vel. O Sr. Orton permittia somente pequenas perçôes de uma ligeira infusão de gengibre misturada com assucar e leite. (*) O Sr. Dyrsen, de Riga, diz, que, quando a sede he urgente, as bebidas mornas , e mesmo quentes, síio as melhores; porque são retidas, e até dezejadas pe- los doentes. Elle aconselha infusões de varias plantas li- geiramente aroa.aticas, e quando o doente as repugna , as subsistue com o chá preto ordinário ; mas quando o enfermo deseja muito as bebidas frias , diz , que estas podem ser dadas em pequenas quantidades , e sem receio de funestas conseqüências ; e acerescenta de mais , que o leite fresco, um tanto resfriado, foi muito útil, e que quando a diarrhea foi considerável, o cozimento de ar- ros, ou de cevada , ou o caldo de tapioca &c. , não dei- xou de ser proveitoso, podendo se ajuntar á cada una destas cousas , quando havia perfeita ausência de dôr, ou s< nribilidade do abdon en , uma pequena porção de vi- nho. Uma chicára de cafíé forte muitas vezes tem sus- pendido os vômitos, e com muita promptidão: e o mes- mo author, aconselha ao doente, no caso do estômago rejeitar as bebidas, de engolir pequenas por<,õe3 de ge- lo, reduridas em forma de pirula, enrolando-as entre os dedos : (t) esta pratica também he aconselhada por Broussaís. O testemunho mais forte á favor da agoa morna he dada pelo Dr. Stnrm , Cirurgião do Exercito Polaco , que, escrevendo do campo nus visinhanças de Kamienka, assim diz, "o tratamento que nós agora seguimos, pro- vavelmente ja estará conhecido, porque se encarregou ao Dr. Kelbig de o publicar nas gazetas. Este consiste sim- plesmente na administração ao doente de um tanto de agoa morna , ou antes quente , na quantidade de um calix , de quinze em quinze minutos, ou de meia em meia hora ; e quando o enfermo tem bebido quatorze copos d'agoa, o curativo he completo, á excepção de uma ligeira diarrhea, que não deve ser immediatamen- te .suspendida. Os effeitos deste plano são tão promptos, (*) O Sr. Bell e alguns outros Médicos da índia adminis- traram a limonada fria. Bell on Cholera p. 108. Lefevre on CKo- lera p. 82. Orton on Cholera, p. 309. (t) Rurzgefaste anvreisung die Orientalische Cholera p. 37. Wi Tratamento ü'a febre Choi.erica; e eflficazes, que geralmente dentro de duas horas, on mesmo antes, o doente se acha restabelecido, mormente quando se usa delle á tempo. (*) Tratamento do estado de Reatrção, ou da Febre da Cho» lera. — Depois de ter removido os symptomas mais urgentes- da moléstia, isto he , depois que os vômitos, e os jatos tem sido suspendidos, a acção do coração restabelecida, e a circulação, e calor da superfície do corpo restaura- da, a attenção do Medico deve ser dirigido á impedir, ou á remover a congestão local, evitar a reacção desor- denada, e a produzir uma acção salutar das viceras. A congestão he mais freqüente, depois de passar o primeiro período, ou aquelle do collapso, no fígado, nos bo- fes, e ás vezes na cabeça também, para a qual, a san- gria he o remédio o mais certo. Quando os symptomas febris, se mostram com determinação ao cérebro, a san- gria convém muito, assim como o uso prudente dos cáus- ticos , e das applicações frias á cabeça Quando aos remé- dios administrados no primeiro período da moléstia, não se tem seguido o melhoramento das vísceras, então se fazem precisas as dozes moderadas de Calomelanos, se- guidas de Óleo de Mainona , ou outro purgante brando. Logo que as dejecções se tornarem feculentas, o doente pôde ser considerado livre do perigo^, e os purgantes sus- pendidos, porém nunca antes, e se alguma sensibilidade, ou dôr se conserva fixa em qualquer parte do abdômen ou na regiaõ do estômago , então convém a applicação das sanguesugas. (t) A debilidade excessiva, -que necessariamente conti- nua por algum tempo depois de passar os symptomas do firimeiro período da moléstia, pareceria exigir os estimu- antes, e tônicos fortes, e uma dieta nutritiva; porem estes remédios são perigosos. A debilidade simples, raras vezes he perigosa n'esta, ou em qualquer outra molés- tia ; e o melhor modo de a curar, he por uma dieta leve', pOuco irritante e simples, combinada com o exercício hein regulado. A mudança de ar he um meio poderoso para ajudar a eonvalescencia da Cholera, com tanto que esta (*) Beobachtungen uber die Asiastische Gkolfer», voa Dr. Hille, pag. 92 (t) Bell. 0tt Cholera. — Annesley ou the diseases of ia- 4ía. CeNVAI,E3CENCIA m possa ier eífectuada «em muita fadiga, e sem se expor as intempéries atmosphericas. (*) Apenas he preciso lembrar, que para evitar um se- gundo, e talvez fatal attaque, muito convém, que o doente, por algum tempo depois do seo restabelecimen- to , cuide em evitar todas as causas occasionaes da mo- léstia. O maior aceio, a temperança n todos os respei- tos, o vestuário competente, tranqüilidade do espirito, o exercício e sono regular, são os únicos meios tanto pa- ra segurar um perfeito restabelecimento da saúde , come para delia gozar. j(f) Orfcoa o a Cholfja. 14 Revista analítica CAPITULO VI. Tendo passado successivamente em revista os diâV- ..-•■/••!.ir'-- agentes therapeuticos aconselhados pura o curati- vo da Cholera, e mostrado as indicações que elles de- vem preencher; passaremos agora à fazer uma analyse dos symptomas da moléstia, comparados com o tratamen- to; e-rtós propomos por fim indicar aos nossos leitores, as differentes circunstancias, em que elles se veraõ ne- cessitados a obrar com promptidão, e energia. Quer comparemos a epidemia com a nossa Cholera endemiea, em relação ao progresso, e phenomenos das duas moléstias, quer confrontemos cada um dos differen- tes estados desta epidemia com qualquer período de ou- tras moléstias familiares, naõ devemos, aqui, nos Esta- dos-Unidos, olhar para ella com- admiração, e nem co- mo uma moléstia particularmente nova, e anômala. No Capitulo-em que se tratou dos symptomas, ja. temos tido occasião do mostrar que a differença entre a Cholera epi- dêmica , e a endêmica, ou mesmo esporádica, consistia an- tes no gráo, do que na índole; e se a combinação de sympíomas na ultima exige um tratamento rasoavel, e nieíhodico, também á primeira não podemos negar uma semelhante indicação. Seria empirismo confiar-mo-nos na cura de qualquer moléstia, á um só e único remédio cora exclusão dos outros, ou á mesma routina , e successao de remédios, sem attender ao período da moléstia, ou á ida- de, constituição, e hábitos do doente. Más diz-se, que a faita de successo no tratamento da Cholera Epidêmica desanima á todos, e que as diiíerenças, que se encontrara na pratica da generalidade dos Médicos, são suíficientes para excitar duvidas á respeito da utilidade de qualquer tentativa na cura de semelhante enfermidade. Na verda- de, he iastimoso ver numerosas, e repentinas mortes da Cholera; mas se fosse concedido á alguém evitar um gran- de numero d'esta8 fatalidades, tendo-se em vista a situa- ção, e os costumes das pessoas atracadas} e o seo des- Dos svmptomas 10ff «nido desde os primeiros symptomas, isto indicaria não tanto uma falta de habilidade, e fracos recursos da ar- te, como a posse de poderes quasi milagrosos. Em quanto á segunda observação, naõ he de admirar qu? o tra- tamento da moléstia na índia cliffira daquella da Rússia, ou, que a pratica achada útil nos casos dos Soldados Europeos, e dos c»-ridos civis da Companhia das Índias, não seja applicavel aos servos miseráveis, suje5?, e bêba- dos da Rússia, ou á escoria do povo nas Viilas, e Ci- dades da Gram-Bretanha, e da Irlanda. Fazendo a comparação entre os agentes therapeuti- cos que tem sido aconselhados, e usados no tratamento, da Cholera, e aquelles de qua estamos acostumados á usar, ou que ordinariamente applicamos com promptidão na nossa forma endêmica da moléstia, naõ podemos en- contrar nenhum outro, e nem descuberta alguma interes- sante. Naõ falíamos agora dos muitos pertendidos espe- cíficos, que gozaram de uma reputação ephemera na Cho- lera, como o alcanfor, óleo de cajeput, flores do bismu- tho, &c. nem dos remédios secretos fraudulamcnte ven- didos por charlatãos avarentos. Mas ainda que nos seja permittido escolher o nosso modo de tratamento, nem por isso se segue, que o de- vamos fazer sem discernimento. O Medico Ameriano iem bons fundamentos para estabelecer ura ralio medendi òj Cholera Epidêmica, derivados da sua familiaridade com a moléstia endêmica. Elle tem todos os annos, diante dos seos olhos, um simulacro desta moléstia , na Cholera ln- fantutn, ou endêmica das nossas Cidades, entre a qr.ai, e a primeira ha, não unicamente uma semelhança, mr.s muitas veies, uma perfeita identidade. Em ambas, exis- te pela maior parte um estado percursor, denotado pela diarrhea, e os mais symptomas de irritabilidade intesti- nal ; em ambas temos evacuações da mesma natureza, e igualmente variavei* : no segundo periodo se encontram , tanto n'uma como n'outra , os mesmos symptomas de col- lapso dos capíUares da pelle, que se acha fria , e quasi rugada; assim como as feições abatidas, e mudadas. Em ambas, o primeiro, e violento periodo da Cholera he se- guido de febre, e vários grãos de complicação das phleg- inasias dos outros órgãos. He verdade, que pela maior parte das vezes, o segundo periodo, ou aq-uelíe propria- mente chamado cholerico , faz maio.E* progressos na Cho- vera Epidêmica, do que na variedade endereça q^o at- 1$S Revista analytica taça ás crianças; mas nos temos visto exemplos de ura progresso quasi tão rápido, e de uma terminação quasi tão violenta desta ultima, coro da primeira moléstia. A febre Choierica, em geral, he mais disiinetamente mar- cada , e de uma duração maior na Cholera infuntum do que na variedade epidêmica ; mas, até mesmo nisto , não ha tyn.ptíiuias characteristicos que mostrem uma differen- ça especiíh-a entre as duas moléstias: e apezar de serem fortes' es provas da rritação. g istro-intestiual , e os symp- tomas da Cholera Infantum claramente dependentes d'e!- la, comtudo as dissecçôes não tem á este respeito, mais do (jue na variedade epidêmica , uniformente augmenta- do os nossos conhecimentos; de modo que, até na incer- teza de sua pathologia, ha uma semelhança assás gran- de entre estas duas moléstias. Aparentado com a Cholera, se considerarmos mai* especialmente a irritação gástrica, e suas conseqüências, os espasmos violentos dos músculos do abdômen , e das extremidades, he tombem a Colica Biliosa, moléstia as- sás freqüente nos nossos Estados do meio, e do Sul. As causas principaes desta moléstia saõ as mesmas que as da Cholera, v. g* os injestos irritantes, e a suppressão repentina das funçoens cutâneas, pela repentina exposi- ção ao frio, quando se está quente, e enfraquecido pe- las fadigas e grande insolaçaô ; elia constituía, muitas ve- zes, a invazão, ou o primeiro periodo da febre bilio-s. Já ternos fallado do pnrallclio entre o estado do frio , e as vezes, «^matoso das febres intermittentes, e o col- lapso da Cholera : em ambas a mestra ordem de partes se acha nff ctada pela congestão, como as vísceras abdo- Hiinaes, os bofes, o coração, e o cérebro: era ambas, a u.orte tem acontecido n'esíe periodo ; e em ambas, a reac- ção pode sobrevi, para alivio immediato do doente, ipresoutando ro.oò e differentes symptomas, que exibem para o seo curativo, remédios de uma natureza differen- te dos que eram administrados no primeiro periodo. Recapituiando pois,, achamos, que a nossa moléstia ordinária, a Cholera endêmica, naõ só dos adultos, mas ainda das crianças, admitte uma identidade de causas , e de phenomenos pathologicos com as da Cholera epidê- mica, e que entre esta ultima e a Colica liliosa, e o estado d.- frio das febres intermittentes, ha uma seme- lhança iruito grande. Todas estas doenças endêmicas, fa- miliares era varias secçoens do nosso Paiz , terá a. sua Doa SYurTOMAír *"» «ede, e a sua causa alimentar nos mesmos órgãos , como primitivamente no canal gastro-intestinal ; e segundaria, e synipathfcticamente, no fígado, baço e muitas vezes no eerebro , que se acham engorgitados. As impressões sa- bre a pelle tem , na verdade , uma influencia muito im- portante nestas moléstias, pois que, senaõ fosse a con- tinuada debilidade, e a deterioração da função . dVsta superfície, mantida pela residência n'ura ar insalui.-re c humido, falta de aceio, e vestuário competente, o canal digestivo naô teria adquirido aqnella smveptibtL- dade pelu qual os ingestos Fazendo-se irritantes , são, cauj sas oceasionaes das moléstias de que faltamos : mas nau he menos verdade também, que a superfície ga-tro-intes tinal he a principal sede da irritação de que dependem principalmente os hymptomas characíeristicos. Pode ser que esta nossa asserçaõ precise de maior elucidação; e muito especialmente por haverem vários Es- criptores considerado a Cholera como uma variedade da Asphyxia, causada por um principio venenoso peculiar in- troduzido pela inspiração nos bofes , e talvez era parte absorvido pela pelle. Influídos com esta idéa, elles tem dado á moléstia o nome da Cholera Asphyxia ; porém ao nosso ver, esta hypothese he mais especiosa do que ver- dadeira , pois que se toma por causa primaria o que na realidade naõ he senão ura dos muitos de seos effei- tos, e que ainda assim mesmo naõ se acha sempre pre- sente. A invasão da Cholera não he caracterizada pelas symptoaras da Asphyxia, que as vezes podem naõ appa- recer atè durante o decurso inteiro dos casos mais vio- lentos. Mas, logo no principio, achamos motivos paia naô admittir a identidade de Asphyxia com o estado de collapso da Cholera. Quer produzida pela inhalaçaõ doa gazes venenosos, ou pela submersaõ dentro d'agoa , ou pelo strangolamento, os symptomas d'Asphyxia , especial- mente no aspecto externo do Corpo, siio differentes da- quelles que se notào no estado chamado asphyxiado de Cholera. Na primeira, juntamente cora a cor livida da pelie, ha muitas vezes uma plenitude sobrenatural do sys- tema capilar; o rosto e as extremidades são intumescidas , e enxadas., os olhos resplandescentes, e como sahindo das suas orbitas: apparencias estas muito differentes da pel- le encolhida , dos capilares cahidos em collapso, e das feições conti aludas , e olhos encovados da Cholera. Na, Asphyxia ordinária, a suspensão t e a morte das outra* 110 RlSVISTA AlíAtií-TICA funções são subsequentes, e cauzadas por aquella dos bofes: quando pelo contrario na Cholera, o embaraço da respiração se segue áquelle das outras funções, e longe , de ser a primeira ásuccumbir, he sempre uma da3 ulti- mas. Em uma só variedade de Asphyxia, a saber, a que he produzida pelo frio, parece que ha alguma semelhan- ça: e aqui, he digno de notar-se, que a suspensão da vida, e a Asphyxia não são devidas á gases deletérios, nem ao ar applicado aos bofes, mas à debilidade , e'á mor- te produzidas pelo frio continuado e intenso, obrando pri- maria, e principalmente sobre a pelle, e desta por meio do systema nervoso, sobre elles. Duvidando assim da propriedade do termo Cholera Asphyxia, e da pathologia de que elle se deriva, como muito parcial e mesquinho para ofierecer uma explicação de todos os phenomenos da moléstia , não quereim s com- tudo que alguém supponha que negamos a possibilidade das moléstias dos bofes, ou , para fallar mais claramente, das moléstias da superfície mucosa dos bofes, causadas por um ar viciado, poderem valentemente influir sobre os outros órgãos, e dar lugar á outras e graves pertur- bações das funções, além das que caracterisara a Asphy- xia. A operação mórbida do ar dos pântanos, ou malá- ria em geral, se exercita ordinariamente por intermédio dos bofes; e isto he provado pelos muitos factos de at- taques eminentemente mortaes de febres, que sobreven» quando se tem respirado o ar viciado das cavernas, ca- io» de limpeza, das sallas abafadas, hospitaes e prisões, e dos porões das embarcações. Entre ettes factos o se* guinte vem muito a propósito, por se assemelhar á algu- mas das historias de Cholera Epidêmica. No mez de A- gosto de 1829, vinte e dous rapazes, assistindo n'um Col- legio perto de Clapham, na visinhatiça de Londres, fo- ram attacados, no espaço de tres ou quatro horas, de symptomas gravíssimos de uma violenta irritação do es- tômago e dos intestinos, espasmos ou subsulíus dos mús- culos dos braços, e excessiva prostração das forças. Um delles, que tinha sido attacado do mesmo modo, tres dias antes, morreo em vinte e cinco; e um dos outros era vinte e tres horas. Sendo examinados depois da morte , as glândulas Peyerianas dos intestinos se acharam, no pri- meiro , augmentadas , e qnasi tuberculozas : no segundo, haviam também ulceráçõès da túnica mucosa dos peque- ssos intestinos, e amolecituento da mesma túnica do ia- Dos Syjíptoma in- testino Colon. Tendo-se suspeitado naturalmente um en- venenamento accidental, os vários utencilios, assim co- mo as comidas usadas pela família, foram examinadas, mas sem resultado algum , e a única circunstancia que pare- cia explicar o accideníe, foi, que dous dias antes de que adoecesse o primeiro menino, um cano de limpeza, mui- to sujo, tinha sido aberto; e os seos conteúdos espalha- dos sobre um quintal, na vizinhança do lugar onde os meninos costumavam brincar. Outro orgaõ importante , cujas impressões influem po- derosamente sobre o reato do systema he a pelle: auxi- liadora dos bofes na exalação, e absorpçaô dos gazes, e vapores aquosos, esta também exercita sobre o estôma- go, e o aparelho digestivo era geral, uma influencia mar- cada. Posto que raras vezes, ou nunca, dê ingresso aos corpos, ou gazes venenosos, á malária, ou outras espé- cies de ar viciado, a pelle, quando impedida em suas funções pela grande exposição ao frio, e á humidade , ou pelas grandes alternativas do frio e do calor, combi- nadas com a humidade, favorece singularmente a for- mação das febres, e outras desordens, entre as quaes as que affectam o canal dejestivo são as mais serias. Tem-se suf- ficientemente ruostnofe que de duas pessoas, ou de duas series do-.pessoss usando das mesmas comidas, o respiran- do o mesmo ar dos terrenos baixos, e pantanosos, que a que cuida de manter as funeções da pelle, por via de vestuário- competente, fricçces-e abluções, conservará a sua saúde, em quanto que o outro , pouco cuidadoso des- tas cousas, será sujeito á febres intermittentes, c remit- tentes, e á dysenteria. A variedade dè moléstias que so- brevem á exposição do corpo, previamente esquentado, o banhado de suores, ao frio secco , ou combinado cora a humidade nos he familiar, bem como, que os máos ef- feitos d'esta exposição se augmentam , dada uma impres- são parcial, como acontece quando uma pessoa, demasia- damente aquecida, se assenta n'uaia corrente de ar frio, ou molha os eeos pez. A terceira, e principal superfície , cujas impressões se repartem muito prompta e entensivaniente pela eco- nomia animal, e produzem tão constantemente uma se- rie de phenomenos mui importantes á vida, he a mem- brana mucosa digestiva , ou a que forra o estômago e os intestinos, e que, variando em sua sensibilidade se- gundo as diversas regiões, e sendo differentemente afie-- MS Revista Analytica tada pelas varias qualidades de injesto» nutritivos, pelas substancias medicinais e venenosas, exercita uma influen- cia poderosa sobre todas as outras funções , sendo por isto preciso observar attentamente suas muitas e varia- das aberrações. Se ella recebe promptamente as impros- sfies feitas primitivamente sobre a pelle e bofes, não he menos prompta era transmittir á estas mesmas partes, as impressões recebidas dos seos próprios estimulos. As trez grandes superfícies pois, cujas impressões pro- du/era importantíssimos phenomenos , tanto nas moléstias como na saúde , são í. A mucosa respiratória. II. A cutânea. 111. A mucosa digestiva. A primeira d'estas trez superfícies he aflectada pelas differentes qualidades e estados da atmosphera, e parti- cularmente sendo esta secca ou humida , densa ou rara; os differentes gases , e as emanações do solo , e de ma- térias vegetaes e animaes corruptas ; além de poder tam- bém ser de vários modos modificada, e afectada por in- termédio dos outros órgãos. A segunda he modificada pela atmosphera , e mais particularmente pelo seo estado quente ou frio , humi- do, ou secco; e também pelas secreções do suor, poei- ra, e sujo, que se deixa seccar, e ficar sobre ella: e pelos differentes artigos de vestuário. A terceira se irrita pela numerosa classe de estimu- los nutritivos, medicinaes, e venenosos, e entre estes ul- tiraosvse devera enumerar como principaes os espíritos al- coholisudos. As i i;pressões feitas sobre qualquer d'estas superfí- cies, nlo só modificam a condição das outras duas, mas também influem sobre o systema nervoso, excitando, ou deprimindo as funções do axis cerebro-spinal , para af- foctar o raciocínio, a sensação, e o movimento. Cada uma delUs recebera irradiações separadamente emanadas do seo centro para augmentar a sua actividade , ou di rainuir a sua acç?io , conforme os seos differentes estados. Consenta- neos cora a diffusão de impressão recebidas d'estas su- perfícies, especialmente da digestiva mucosa, pelo axis cérebro spinal, se observam phenomenos modificados da circulação e das differentes secreções. Partindo destes princípios, he evidente, que se nos propomos á resolver o problema de até onde, por exera- Das SrBFTonAS. US pio, a superfície mucosa digestiva , ou em outras palavrass o canal ali-uentar pôde tolerar, ou soílrer os vários inges- tos sem effeitos mórbido»-: he preciso trazer á lembrança as modiiicaçoens de sua vitalidade, cansadas pelo estado da superfície mucosa respiratória, e pela pelle. Tão im- portantes, de facto , sa.» estas modificações, que .existe-! - duvidas á respeito das partes que primitiva e c-ipeciai- mente sao affectadas em certas moléstias , e de cujaj aberraçoens dependera principalmente os phenomenos mór- bidos. Na moléstia de quo agora tratamos, a Cholera, temos ja citado a opinião de alguns escriptores, de quo ella he propriamente ,. na peior fôrma, uma Asphyxia; em quanto que outros, e talvez cora igual ra.saõ atlir- mam que o torpor da pelle, como se fosse aiTectada de uma morte temporária , he a causa dos outros phe- nomenos do canal alimentar , da circulação e respiração tardia , e quasi supprimida &c. Temos ja dado á conhe- cer as nossas duvidas acerca da doutrina de Asphyxia na Cholera ; e igualmente temos contra a sua origem cutânea. Se escolhêssemos um exemplo, o mais simples e menos sujeito á ser contrariado, de uma serie de phe- nomenos , que se seguem á uma sedação da pelle, se- riam sem duvida os causados pela intensa e continuada applicação do frio : e aqui na verdade encontraríamos frieza e constricção da peile, e dos tegumentos, o pul- so pequeno, e por fira extineto, a respiração vagarosa, e difficil, o ar expirado frio, com congestão do cérebro e dos bofes ; mas em vão procuraríamos a sensação fria da pelle, e a sua exudação víscosa ou serosa , os espas- mos, os vômitos, os jatos, e era fim, o collapso pe- culiar do corpo, e os olhos encovados. Nenhuma varie- dade de Asphyxia, quer de origem pulmonar, quer cu- tânea , pôde ofterecer a serie dos syptomas carateristicos da Cholera ; estes só podem accontecer , quando os desarran- jos gástricos, ou gastro intestinaes se achara combinados cora aquelles das outras partes; he então somente que as feiçoens próprias dos incommodos de semelhantes par- tes, ou a verdadeira physonomia da moléstia se mostra claramente. Se envenenarmos os bofes, ou a pelle, te- remos uma serie de symptomas fataes, mas esti-s nunca .serão os da Cholera, sem que o veneno chegue até o apparelho digestivo: logo porem, que os intestinos rece- bem o veneno, temos todos» os symptomas da Cholera, S-& administrarmos, por exemplo, uma dose excessiva de 15 .114 A 1NMERVAÇAÔ NEJt DIMINUÍDA fumo, om «<: dedaleira , veren os os vômitos e cr j .tos , o suor ifeiy, a; feições encolhidas, e abatidas, • os too- vimentcs úreg alares, e convulsivos, a circulação e a nspiiaçaõ qnasi oxtincta, o sangue sem ser desçabonia- do : e em fim muitos dos sympto.jas da Asphyxia de que a pouco falíamos. Se passarmos em revista a serie de symptomas da Cho- lera, s-*.á evidente, que unia grande maioria d'este» po- de indicar somente desarranjos do aparelho digestivo ; bem como em primeiro lugar,. a expressão peculiar das fei- ções, chamadas semblante da Cholera; fehões agudas e lineares; faces chupadas,, os ol-io-i tncovndos,. com um circulo livido ao redor: e que he bro senão o semblan- te hyppocratico taó freqüente companheiro da dysenteria, e diarrhea chronica, e que, ainda que se mostra como percursor da terminação fatal de outras moléstias dilata- das , nunca acontece si-ra que o tubo digestivo se ache aftectado, eomo, por exemplo, na diarrhea colliquitiva da phiíhisica pulmonar? As caiaibras e os espasmos passando ás- vezes á con- vulsões regalares do systema muscular, na Cholera, são outras tantas provas de irritação gastro intestinal , como se observa em vários gráos, desde aquelles dos pés e das pernas que incommodam õ sono dos dyspepticos , que con- tra o seo costume, tem ceado e bebido vinhos azedos, até as contorç^es violentas e terríveis do corpo todo, co- mo acontece na Colica Biliosa, e na Colica Pictorum. O abatimento da circulação, e a friildade da pelle, attribuidas á inabilidade dos bofes para desempenhar as suas funções da descarbonisação do sangue, são antes phe- nomenos concomitantes , do que propriamente effeitos. Tem-se attribuido todos estes phenomenos mórbidos á uma innervação deficiente, ou á una prostração do sys- tema nervoso ; a explicação, porém , n»o he satisfactoria-, e depende de analogias remotas e obscuras. A synco- pe representa a innervação suspendida, ou a morte tem- porária do systema nervoso, acarretando, ao depois, a dos tecidos que d'elle tiram a sua vitalidade. O cora- ção cessa de bater, ou bate- com muito pouca força, os capíUares dos bofes e da pelle cabem era collapso; ha frialdade e paWdez da pelle, e perda da expressão. intellectual do semblante, bem como de todas as forças musculares: em tudo isto porém não ha uma represen- tação do collapso da Cholera. N'egta moléstia, em vez. .KM SUSPPNTtnA NA ClíOLERA. 4 IS da* feições se acharem seren-s, platéias, e sem expie»- s»o particular como i.a syiicope, elfes apprt entam ui; a expressão terrível, a pelle naõ he pálida, h.as como sf fosse tinta. Os músculos naõ saõ flaccidos, mas, pelo con- trario, saõ como defmados , posto que proninentes de- baixo da pelle em todo o seo contorno. O grande cen- tro do systema nervoso, o cérebro, muitas vezes não per- de nada de sua energia, na Cholera, e as funções intel- lectuaes são perfeitamente conservadas; a luedulla espi- ■al he também sobre maneira activa , o que indica , du- rante o progresso da moléstia, a violenta acção convul- siva dos músculos voluntários , e, depois da morte, a sua vascularidade, e vermelhidão augmentada. Até os múscu- los da vida orgânica, ou os involuntários estíío bem lon- ge de indicar, não só uma inuervação deficiente mas ainda desigual) e irregular. Elles naõ são relaxados nem exauridos, como aconteceria se os centros nervosos, que oi supprem, fossem mortos, eu anniquilados, e ao con- trario, se acham muitas vezes n'uma contraegão violenta e rude, ou antes n'um estado espasmodico, como os en- contramos nas paredes do coração, e nas túnicas muscu- lares do canal gastro-intestinal, e da bexiga urinaria. Juntamente com a innervaçaõ suspendida devemos na- turalmente esperar uma perda da acçao ordinária das mem- branas , e do aparelho secretorio e nutritivo; e he isto o que se vê acontecer na Cholera. Mas devemo-nos lem- brar, que o excesso mesmo da irritação nervosa, ou sua má destribuiçaõ, se assemelha muito, aos olhos de um observador superficial , á uma ausência total, ou dimi- nuição. Tomamos, por exemplo, uma pessoa attacada de dôr violenta, como na pleuresia, ou gastritis causada por venenos irritantes; como nas queimaduras da pelle, ou até no panaricio, e cujo systema nervoso se achará por conseqüência era um grande gráo de exaltação, e ir- ritabüidade, e elle apresentará, por isto mesmo, o sem- blante pallído, e quasi livido, as feições agudas, o pulso pequeno, e concentrado, a pelle fria e viscosa , ou tal- vez , coberta de um suor copioso , a respiração excessiva- mente appressada e l.iboriosa , as secreçóes parcas, e até supprimidas; mas apezai- disto ninguém, que s;ja versado na pathalogia, ou no tratamento das moléstias , se lem- brará nestes casos de provocar a estimulaçaõ do systema nervoso, para, por este meio, restaurar as secreções, e aliviar a circulação, e a respiração opprioiida : %"anali" 116 EviDífN IAS DA R.;ndo ainda mais c-i?i symnt-omas, havemos de deseubrir, que ae secreções não sè acham tanto sunnrimidas como áesordenadas. A exudacaõ serosa da pelle na Cholera, a*sim como a de algumas outras moléstias, não lie em conseqüência de debilidade, de prostração, on perda do poder nervoso^ uras o resultado de um grande gráo de excitarão nervosa approximando-se da agonia. Quando a pelle se «chi sujeita á uma acçío realmente deprimente, e sedí.tiva, pela qual a expansão nervosa se adormece e a innervação se diminue, e se suspende, como acon- tece depois da exposição ao frio intenso, nunca acontece apparecer esta exudacaõ serosa , ou suor frio. A secreçaõ , e evacuação copiosa das urinas acompa- nha freqüentemente á uma grande excítaçaõ nervosa, e se*;ao a encontramos na Cholera, he porque a excessiva irritação do canal digestivo, e suas evacuações, e a da ■pelle , servem de revulsivos ao trabalho dos rins: a pa- iidez da pelle, he outro phenomeno que se não pode ■explicar pela supposição de uma innervação deficiente; quando, ao contrario, he sempre uma prova de um esp- iado de forte excitarão do systema nervoso, como obser- vamos, nas mudanças de côr, as vezes duradouras, pro- duzidas por violentos paraxisrnos de raiva, e de ciúmes; ou por mordeduras de cobras venenosos. Podemos também citar, para ainda mais demonstrar, que as seleções são viciadas, ou desordenadas, antes do que sttpprimidag, as evacuações excessivas do estômago r e dos intestinos, de um fluido aquoso, seroso em sua natureza, e não diflêrente daquelle fornecido pela pelle. Tem-se dito que estas evacuações sa / ino somente o ef- feito da debilidade, ou de uma innervação deficiente, ■Mas que ellas também, de sua parte, servem de aug- mentar o abatimento do systema geral. Uma suspensão ria ficção nervosa, ou o collapso dos nervos, não podia. i'e forma alguma dar de si secreções tão copiosas, por- que de facto, íaes fluidos podara ser considerados como tecreções da membrana mucosa digestiva. Parece-nos, que as observações acima feiras acerca da condição da pel- le, se applicam justamente áquella do canal digestivo. He o esce-s.o resino da excítaçaõ, e irritação nervosa, que dá origem á estris evacuações, suecedendo que, mo- deradas as primeiras, as segundas diraititiem. Os capíUa- res pi.recém ei-eolhidos he verdade, mas não estão nem torpurosos e nem mortos; o seo estado he direitamente- Innükvaijaõ abgwentaba. 1Í7 devido á esta condição mórbida do systema nervoso, es- pecialmente de sua espansão peripherica, pelo que estes vasos se acham privados do seo volume ordinário, e ca- pacidade, para admittir o cruor do sangue, e por con- seguinte, as materiiS precuas á formação de uma secre- çaõ saudável. Nos os podemos estimular brandamente, se empregamos os meios que mo irritem ainda mais os ner- vos; porém a pratica mais segura he de diminuir a ir- ritação destes, para os vasos, n'este caso, tornarem a cobrar a sua plenitude, e habilidade própria. Paia de- monstrar que a sensação de unia prostração excessiva na Cholera não be necessailamente devida aos vômitos, e aos jatos, basta referir-rao-nos ao bem conhecido facto., e vera a ser, de que esta prostração aterradora, e ató fatal pode sobrevir sem eitas evacuações : e de certo ella nem sempre he- em proporção da violência da moléstia. Na precedente airaly^e dos symptomas da Cholera, temo-nos f síorçado. qitau* < -es h* possível, para nos conformamos cora -os fe .-s r -f.-.rieos.; e se d'tstes ha- vemos formado uma-o;i tão : fe a justiça , e se diga, que não foi sem boas, e sudicieiitas razoes. Julgamos ter tirfsj-n demonstrado que o termo ChoUra Asphyxia , co- mo appiieado á -a, oi es lia de que traí a'nos, he enganador, por- que njs primeiros periodos, e na maioria dos seos svmp- tom^, i!."o lia apparencia de Asphyxia ; e mesmo no seo período adiantado, ou de collapso, os phenomenos não são semelhantes. He também igualmente claro para nos., que a serie de symptomas na Cholera não podera re- sultar de uma simples diminuição da innervação , o» da operação de um veneno sedativo, anniquilando o po- der nervoso. Ja temos expendido quaes os motivo; que assim nos obrigavam a pensar, e que se podera resumir á estes. I. O cérebro , principal centro do poder nervoso, con- serva a sua energia; suas funções peculiares para o de- senvolvimento das faculdades intellectuaes são poucas ver /es desarranjadas* - II. A medulla espinal, á julgar Cr suas funções pe- la acção irregular, e muitas vezes desordenada dos mús- culos voluutarios, seos espasmos, e até convulsões , e pela sensibilidade da pelle, se acha n'um estado de energia, e irritação. A sua apparencia, depois da morte, oídinaria- wente indica, que ella fora- preteraaturaliuente excitada. lIS A SUPERFÍCIE mucosa digestiva. III. As sensacn"» geralmente naõ saõ diminuídas. A despeito da innervação do systema dos gânglios , ou do grande sy-mp^tico , temos provas qnasi igualmente for- tes da sua actividade na, 1. Forte acçaõ espasmodica dos músculos da vida or- ganica , que elle aviventa, como o coração, e as túni- cas musculares do canal digestivo. 2. Nas abundantes secreções aquosas de toda a su- perfície interna d'este canal, e a crusta adventicia de inateria extranha, taõ freqüentemente vista depois da mor- te , forrando esta mesma superfície. 3. Na intensa sensação de secura, e caior, e de- sejo para as bebidas frias.  condição dos bofes pode ser citada como prova de uma innervação deficiente ; mas o contrario se provará se reflectirmos, que naõ existe a respiração suspendida, e o engorgitamento da membrana mucosa pulmonar, co- mo na verdadeira morte temporária dos nervos na Asphy- xia. A respiração, na verdade, se acha opprimida, mas •lia he mantida na Cholera até o fim; e demais, ella he muitas vezes apressada e excitada. A frialdade do ar expirado, he prova de uma diminuição de calorificaçaõ, em conseqüência do collapso dos capíUares ; mas , bem co- mo em um estado semelhante da pelle, deforma alguma indica uma falta de excítaçaõ nervosa. Nos diríamos que esta ultima se acha em excesso; e que de facto, em to- do o organismo, os symptomas indicam não a asthenia, mas sim a nevrostenia. Esta opinião será ainda mais confirmada se exami- narmos as principaes causas da Cholera, que todas con- tribuem á manter este estado morboso do systema nervo- so. As causas predisponentes, o uso de licores espirituo- sos, o viver n'uma atmosphera abafada e humida, o pouco aceio pessoal, a exposição continuada ao sol, tornam este systema mais , e permanentemente, excitavel : e o mesmo effeito produzem , a operação continua das comidas pou- co nutritivas, as paixões deprimentes, os excessos vene- reos &■>.:. A desviação , ainda que ligeira da routina or- dinária da vida, basta para produzir uma acção mórbi- da n'um systema nervoso , predisposto á nevrosthenia : e por isto achamos, que a comida insólita, ou com ex- cesso , ou qualquer estimulo desuzado , como por exemplo , um remédio mal applicado, pode produzir os desarran- jos de todas as funções começando por aquellas do esto- A PARTE PRINCIPAL QUB PADECE I IV «ago. Tão susceptível se torna o corpo das pessoas, que se tem por muito tempo exposto á acçao das cansas pre- disponentes, que a sedaçao da pelle produzida pelo ar nocturno, facilmente . x, ;U a moléstia, pela simples aug- mentaçaõ da excitabilidade da superfície n.ucosa digesti- va com ingestos, que sem isto, poderiam ter sido reti- dos, e digeridos sem incommodo. Posto que tenhamos francamente admittido a parte1 importante que as superfícies cutâneas, e respiratórias tem na producçaõ das moléstias em geral, e especialmen- te da Cholera, comtudo n»o estamos menos persuadidos , como n'estas paginas, mais de uma vez nos temos esfor- çado de provar, que os phenomenos essenciaes e chara- cteristicos de Cholera , estas alterações de funcções que produzem a morte, dependem de uma condição mórbi- da da membrana mucosa digestiva. Se perguntamos quaes são as yictimas d'esta terrível moléstia, acharemos que sho uniformemente as pessoas, cujo apparelho digestivo, e, principalmente, cuja superfície gastro-intestinal mucosa, ae tem achado por muito tempo n'um estado de nevros- thenia permanente. O bêbado, o goloso, o que se en- che com ceas de alimentos grosseiros, ou cujo estômago se acha constantemente irritado por comidas de nature- za dura, fibrosa ou azeda, ou que se naõ alimenta suf- ficientemente , se acham no primeiro estado da nevros- thenia permanente. Os que comem cousas á que nao são acostumados, ou que saõ reconhecidamente de dif- ficil digestão, como por exemplo, quasi todas as fru- tas verdes, os pepinos, e melões; quasi todos os ma- riscos, a carne de porco gorda, o grão viciado, saõ su- jeitos á acção das segundas , ou causas occasionaes. No primeiro estado, a predisposição mórbida, ou um certe gráo de começo da moléstia está, sem duvida, na super- fície mucosa digestiva, e í e igualmente certo, que no- segundo, o estimulo mórbido primeiramente influirá nesta mesma superfície; e por isso o que temos dito do estado nevrosthenico das membranas em geral, se applica mais particularmente á mucosa digestiva. Desta predisposição mórbida, ou irritação actual, dependem as principais, e Biais importantes alteraçoens das funçoens, que constituem a Cholera; e ; inda que a mucosa digestiva receba, por via das sympathias, as impressões mórbidas que' podem primitivamente obrar sobre a pelle, e a membrana mu- cosa respiratória, predispoudo-a, em consequencisu a adoe»- 199 A SUPEFICIE MTJCTO/SA DIGESTIVA PADECE eer, não ha duvida que, uma vez mórbida, transmitte á estas mesmas partes maior sorama de irritação do que a que d'ellas recebeo. As funções da peile podem ser impedidas pelo frio, e humidade nocturna, e o indivi. duo, assim aftectado, accordar com arripiaraentos , e quei- xar-se no dia seguinte, de dores dos. membros e da ca- beça, mas certamente não teia o suor frio, e copioso, e nem o estado nevrosthenico da pelle , senão quando se achar desarranjada a superfície gastro-intestinal, e sobre- vir geralmente a náusea , a dor , e desassocego, ain- da-que nem sempre os vômitos, e os jatos. Semelhan- te raciocínio se applicará á irritação iransmittida e re- cebida, da membrana mucosa pulmonar. Uma duvida que se pôde propor à esta idéa de que a raembrana mucosa digestiva he a que toma a parte mais essencial na producção da Cholera, he, que em alguns casos accontece o collapso, e a morte repentina , sem os vômitos, ou os jactos. Porém, nSo temos visto exemplos análogos de morte repentina produzida por uma nevrosthenia fatal, e insuperável d'esta membrana , co- mo accontece na apoplexia sem ruptura, nos derramamen- tos de líquidos depois de uma comida copiosa, convul- sões, suores frios, e coma produzido por certos irritam- tes do estômago, como a fruta veude &c. ? A nevrosthe- nia bem caracterisada he, como temos visto, incompatí- vel com secreções copiosas e naturaes: o maior gráo de nevrosthenia impede sempre as secreções, ou se estas ja se achara accumuladas sobre a mucosa digestiva, tal he o estado de espasmo tônico era que se acha o poder mus- cular, que embaraça a sua sabida. Temos ja dito, que ha uma grande semelhança entre o principio da Cholera Epidêmica, e da Febre IntermiU tente. As suas causas geraes também são as mesmas, sendo ambas produzidas pela acção dos agentes mór- bidos sobre as trez grandes superfícies, cutânea , mucosa- respiratoria, e mucosa-dig^stiva. Era ambas, o estado vio- lento, ou do frio , he denotado pela nevrosthenia , juntar mente com a função suspendida dos capillares , que se acham aftectadas cora uma espécie de espasmo , e negara por isso, uma passagem ao sangue. Este estado dos ca- píUares das membranas , cutânea , respiratória , e digesti- va ,, forçosamente se oppoem á regular circulação do san- gue , e á hematosis. A oppressâo do coração , em con- seqüência de suas cavidades se aabacera engorgüadas de Causa da cotonAçAÔ suspendida 121 sangue, posto que seja uma causa assaz importante na serie de symptomas , naõ he comtudo a causa da demora e suspensão da circulação, ruas um effeito d sta mesma demora e suspensão, em conseqüência da incapacidade dos capiüares em transmittir o sangue chs artérias, ás vêas das extremidades, nas differentes ramificações aortaes do corpo, e das da artéria pulmonar dos bofes. A per- sistência da incapacidade destas ultimas necessariamente impede a decarbonizaçao do sangue, ou a sua mudança de escuro e venoso em vermelho e arterioso. Ha tam- bém outra causa que impede a acção do coração ; pois que elle em commum com outros músculos, se acha n'um estado de espasmo, ou contracção irregular, em conse- qüência de uma innervação excessiva , ou desigual, e de- sordenada estimulaçaõ do poder nervoso; e porque tam- bém suas vêas se acham engorgitadas, não tendo nem o poder de se despejarem nas auricufes, nem de se appro- veitarem da assistência do vis-a tergo do sangue que de- ve ser fornecido pelos capíUares , que se achara então em collapso. Ura dos effeitos d'estes embaraços á livre circulação dx> sangue, he a sua demora, ou congestão nas vísceras maiores; e que esta he um effeito, e não uma causa dos principaes' phenomenos mórbidos, se prova pela circuns- tancia de ser essa , as vezes, removida em muito pouco tempo depois que se tem mitigado a nevrosthenia, com remédios administrados próprios á remover somente este estado, mas que obram quasi exclusivamente sobre as membranas. Naõ devemos comtudo occultar, que, se dei- xarmos continuar esta mesma demora, ou congestão , ella contribuirá muito á accelerar a terminarão fatal; e d'ahi nasce a conveniência , e até a necessidade absoluta de a diminuir por meios especialmente dirigidos à este fim, que são a sangria geral, se esta se pode praticar , ou a depleção local por meio de sanguisugas e ventosas sar- jadas É-das ultimas tem, não somente, a vantagem de tirar o sangue das vêas engorgitadas, mas alliviam tam- bém a nevrosthenia das membranas. Mas, apezar disto, não podemos esperar remover inteiramente a congestão an- tes de que o estado normal das tres superfícies supraci- tadas esteja restaurado, e assim deveremos, em quanto tiramos o sangue para diminuir a intensidade de um effeito incommodo, procurar alliviar ao mesmo tempo , o estado nevrosthenico das membranas por remédios appropriados. 1(3 122 Collapso na febre íntermittente Ha na Cholera uma extraordinária differença nas fun- ç~es dos systemas, nervosa e vascular. A innervação he, como temos visto, excessiva, apezar da penúria de san- gue arterioso nos centros nervosos. A circulação , he va- garosa , impedida, e quasi anniquilada, naõ só no seo OPgüo central, o coração, mas nos seos instrumentos pe- risphericos , os. capilferes. Estes dous systemas naõ pare- cem ajudar ura ao outro: elles não são ambos turporo- sos ou 11.oitos , por um dado espaço de tempo, como acon- tece na syncope, e em alguns estados análogos do cor- po ; nem são elles ambos excitados activa, e morbifica- mente, como nas phegmasias , e nas febres inflamatorias; e uma forte prova desta falta de harmonia de arçSo en- tre o systema nervoso , e vascular , he a diminuição de ca- lorificuçaõ que em si mesmo he o effeito desta desarmo- pia , pois que para ella he pieciso a acção nervosa, e a circulação capillar ; a primeira como o agente primário, iíi?.s incompetente para produrir um semelhante effeito vem o adjutorio -da segunda» Um dos. nossos deveres pois, na administração de remédios, he de restaurar esta harmonia , para pôr em acção os capíUares, chamando-os á aquelle mesmo estado em que se costumam achar, no estado quente, ou de reacção, da febre íntermittente: e para produzir um resultado tão vantajoso, nos Vemos, as vezes, no risco de desafiar a inflammaçaõ. Confundindo em um só os dous estados separados dos systemas vascular, e nervoso, no periodo frio da febre Íntermittente, e na depressão ou collapso da Cholera , se tem tentado pro- duzir a reacção do apparelho circulatório, por um uso pródigo de estimulantes. As vezes, elles tem sido pro- veitosos, porém, ordinariamente, só servem de provocar um gráo ainda maior de nevrosthenia, retardando assim a reacção dos capíUares, ou se por acaso esta se effei- tua, visto ser forçada por estes remédios, he seguida de uma piegmasia confirmada das membranas mucosas, di- gestiva , e pulmonar. Temos muitas vezes protestado contra o uso dos es- timulantes diffusiveis no estado frio da febre íntermitten- te , e temos tido oceasiões de mostrar as vantagens de uma pratica opposta. Ja tínhamos emittido idéas idênti- cas á respeito do tratamento da Cholera na primeira edi- ção d'esta obra, antes que a moléstia se tivesse mostra- do nesta Cidade, e fornecido occaziões de a observar pes- soalmente; e experimentar o valor das nossas opiniões. CoLLAÍÜO KA FEBRE ÍNTERMITTENTE 123 Muita satisfação temos tido, sabendo pelos casos que te- mos presenciado, que as nossas opiniões anteriores foram tão plenamente confirmadas ; e ainda mais , quando vimos tanta conformidade de opiniões á respeito do tratamento ?eral da moléstia, entre os Facultativos de Philadelphia. Io principio de seo apparecimento, pareciam elles ura pouco indecisos, e dispostos ao empiricismo ; porém o império dos princípios logo se restabeleceo, e com elle uma pratica sãa e judiciosi. Depois de se saber que somos contrários á adminis- tração de estimulantes internos no estado frio da febre íntermittente, avançamos agora que até ha oceasiões era que devemos recorrer, n'esle periodo, ás depleções san- güíneas : e por isso reproduzimos no texto, não só cb- mtí prova desta asserção, mas também como guia de uma pratica que tem sido tão felizmente proveitosa no trata- tamento'da Cholera, o seguinte caso, que vem em uma nota, da noss^i primeira edição. Nos o descreve cofe , tal'qual- foi relatado por ura dos authores d'esta Obra, o Dr. Bell, no 'Jornal Med. e Cirurg. da America do Norte , V. Vlll. O doente tinha tido ura attaque de fe- bre biliosa.por cuja causa tinha sido varias vezes san- grado nô braço, e se tinham applicado ventosas sarja- das ao aBdoraen. A convalescencia parecia quasi restabe- lecida: ò doente tinha cobrado poucas forças apezar de sè lhe ter permittidò caldos ligeiros de substancias ani- maes, e alimentos farinicéós: viziteio na tarde do dia 17 dè Setembro, db anno passado (1828), e achei-o n'uni estado de grande apathia , e desmarcada inclinação ao sono: o pulso estava pouco alterado, nem havia ou- tro algum symptoma novo. Ordenei immediatamente ura cáustico á "ducha, e um laxante de magnesia, e rhuibar- bé> pára tomar ás hora9 de se deitar. As 11 horas da noite fui chamado com muita pressa, e á minha chega- da encontrei o doente n'um estado de coma completo, perfeitamente insensível à todos os objectos de vista, de som $ e de tacto ; suas extremidades , ao princípio esten- didas, permaneciam ao depois em qualquer posição em que se as punham ; o pulso quasi imperceptível , e a respi- ração muito vagarosa. Foi impossível fazer com que be- besse cousa alguma, ou desse o mais pequeno siiraal de intelligencia : ■ applicando a minha mão ao Epigastrio, senti a oorta abdominal bater com bastante força; e o tóesaio fizeram as carótidas-: as contrações do coraçSo» 16 * !*4t Concordância da thso-ria eram freqüentes, e laboriosas. Tinha-se applicado ©cáus- tico, mas elle não tinha tom»do. o n-uiedio interno. Ses- senta sangujsugas forom applicidas imu-ediatamente ao epigastrio, e sinapismos às extremidades. Depois que aa sanguisugas se começaram á encher , o p,ul»o começou, tam- bém á tomar alguma plenitude , e quando eiías cahicaro , ja elle tinha recobrada o seo volume naturol, e estava inolle,. e coropressivel., O doente principiou então. á. mo- ver os olhos, os músculos da boca, e da face; virou^se um pouco para um lado, hocejo.u , e estirou-se. As ex- tremidades se achavam ainda frias, pois que n.ío tinhaiti sido affectadas pelos sinapismos. Antes de cahirera todas as sanguisugas, a pelle se humedeceo, em varias partes; e por fim, o suor oecupou a face y o tronco, e as ex- tremidades y á excepção, das mãos, e dos. pés. Durante a noite se administraram, com intervallo*,. Çlvsteres,.q\e a- goa morna ; e de manhã , ainda que languidõ ,.,.açhei-o recostüdo em. sua cama, ton ando algum ligeiro alimen- to. Na tarde d'este mesmo dia elle experimentou alguns calafrios., que desappacecerara á noite, sobrevindo uma ligeira humidade da-pelle-. Na tarde d'outro, dia., (19) ás- oito. horas o- ac-bei quasi no u. esmo estado que no dia 17 r estando comple- tamente comatoso. Bastantes ventosas foram, applicadas ás fontes, e sobre o abdômen, para tirar obra de dez,on- ças de sangue. O effeito foi- felicíssimo y e o restabele- cimento, ainda mais pcompio do que no primeiro attaque, e nesta, oceasiaõ também se usar.au dos clysterea, d'agoa fria. Resta-nos agora mostrar como o tratamento dos- di- versos estados da Cholera se conforma cora o no*so mo»- do. de explicar os symptoiuas d,'esta moléstia : e se hou* ver a concordância que suppomos , claro, está que os te- médios, devera ser principalmente da classe dos calman- tes, sedativos., e depietorios,, com exclusoõ dos. estinm-- lantes diffusivos.. Na roevrosthenia , ou ua excítaçaõ. morbosamente augmentada da expansão nervosa da pel- le v a serie das novas acçoens produzidas pelos remédios,. pôde ser considerável, sem existir com tudo> entre elles ajgu.ma differença especifica bem characterisuda.. *?ort exem- plo , para alliviar esta nevrosthenia quando, se mostra na superfície do corpo, e até quando, consiste nanevral- gia de uma parte, empregamos as firiqçoens ligeiras çom, a mãe, ou. alguma substancia branda, ç d'ahi, oas.« Com a 1-ratioa 125 ctt principalmente o bom resultado do magnetismo ani- mal, assim como o calor, e as fómentaçoens emolíientes , todas dirigidas para amaciar « nervo y ou a expansão nervosa extit-ida, e para remover, por assim dizer, a nua tensaõ e erectismo. Os meios, dhrectamente sedativos, como o frio, e alguns dos narcóticos * também, te ra sido empregados , e- com o intento , e effeito q.uasi semelhan- te d'aquelles ácúua enumerados. Outras de uma classe mais estimulante ás vezes alliviam, produzindo sensações de uma uaturesa uiixta, que nascem da excítaçaõ dòò capíUares, e de uma acçaõ mais igual entre estes, e o tecido nervoso, q,»e os anima. A esta classe, pertencera os rubefacieutes, e qs sinapismos : estes differentes remé- dios saí) precisamente os que tem sido empregados na Cho- lera ,, s i.gorai se conhece que sáo os ra- lhores, porque restaurara, brandamente a plenitude, e acçaõ dos capib- lares,. e, ao mesmo tempo , abrandam o tecido nervoso. Por isso he, qne o. calor, as fricçoens assíduas, e li- geiras., e »s sinapismos se tem achado geralmente mais útil, do. que o calor excessivo, as fricíúens-. rudes, eps- sadas , e os cáusticos, para restaurar a acçaõ natural da peliev Dirigindo a nossa attençaò somente á. nevrosthe- nia,. cuja reducçáo, de per si, muitas vezes basta para permittir. a reacçaõ e plenitude dos capillares, reconhe- cemos entre os melhores meios para,a.diminuir, a agoa,. desde a temperatura, em. que g«da-,. até. ura ou dous gráos da do sangue. Os banhos , frios,, tepidos , e quen- tes, posto, que nos pareçam differentes segundo as sen- saçoens que nos causara , todos elles se ach-mi, essencial- mente na. classe de sedativos, variando cada-, uni , as vezes, nos seos effeitos, segundo o. estado u>ndo á estes meios succede uma reaceSo modera- f. i , nao se achando presentes symptomas mórbidos urgen- tes, podemos seguir sem perigo os con«i lhos da Acade- mia France/a, isto he, diminuir a actividade do nosso tratamento, e observar o resultado dos remédios ja ad- ministrados. Porèra; se o habito do doente for sanguineo, ou >e elle se queixar de dôr do ventre, cephalalgia , ou vertigem, com o pulso accelerado, devemos recorrer à sangria. Como dissemos no ultimo capitulo, este remé- dio, quando applicado no principio do attaqne, basta muitas vezes para curar a moléstia : se esta porém esti- ver mais adiantada, e a sangria do braço parecer difii- cil, ou duvidosa, um vomitorio de Ipecacuanha, segui- do de ventosas sobre o abdômen tem sido proveitoso. Nas historias de quatro casos de Cholera tratados pelo Dr. Desgenettes , no Hospital dos Inválidos, dizem, que dous, á quem entre outras cousas se administraram os vomito- rios de Ipecacuanha, morreram; era quanto, que ou- tros dous, á quem, depois do vomitorio, se applicaram as ventosas, ficaram bons: o narrador deste facto não diz , que a Ipecacuanha fosse nociva; mas dá lugar á suppôr, que as ventosas foram úteis. Temos motivos para crer, que esta successlo de remédios tem approveitado no tra- tamento da Cholera em Phyladelphia. Havendo calor do estômago , e muita sensibilidade da região epigastrica , a applicação de sanguixugas sobre a parte atfectada accarreta grande aliivio. Posto que os estimulos deffusivos, ou aquelles, cu- ja acção iminediata he sobre o systema nervoso , são per- niciosos neste estado da Cholera , com tudo os estimu- los íocaes , e que obram sobre o tecido capillar da mem- brana mucosa digestiva são muitas vezes úteis. Temos notado , que os vomitorios sSo omito efficazes no curati- vo desta moléstia. Os purgantes também , era muitos ca- sos, são igualmente proveitosos. O Dr. Recamier, depois da operação da Ipecacuanha, tem administrado o sulfa- to, e o carbonato de soda , e de magnesia era doses pur- gativas ordinárias: e dizem , qr.e este simples remédio tem combatido poderosamente a diarrhea cholerica, e eífeitua- do numerosos curativos. Nas Índias Orientaes, na Ingla- terra, e n'este paiz os calomelanos , ou simples, ou com- binados com ópio , tem sido ura remédio favorito. Com» as vezes, o seu erfeito he de tranqüilizar, e diminuir a 17 * 132 Tratíkrkto no irritação do estômago, nMo deixa desr-r útil, tanto mais porque sua acção se estende também ao fígado , e as glân- dulas mucosas' do canal digestivo. He necessário porém confessar, que, nos casos onde naõ ha susceptibilidade do organismo á acçSo de remédios , como acontece no esta- do avançado da moléstia , os calomelanos, mesmo era for- tes doses, muitas vezes ficam sem ciei to no canal ali- mentar: demais aquelles que duvidam da rüü virtude, af- firma m , que senô> tivermos quebrado a força da malestia pelas ean<;rias, e applicaçbes externas, e talvez por um emetico , ou pelo ópio, o doente ha de sarar srm a ad« n-irus^-ncHo dos calomelanos, ou qualquer outro purgan- te ; nas esta duvida he mais especiosa do que solida. A quantidade de fluido se.o-mucoso , que eohre a superfí- cie interna do canal intestinal , posto que por effeito de r:v>a irritação anterior, estorva comtudo a acção natural das parlas , a não permitte que as substancias medicinaes , e ali- mcntures produzam ósseos próprios, e dezejados effeitos» lie útil, também, mudar o modo de acção , ou a ne- vrosthenia, que deo lugar á esta secreção ; e he por is- so, que os calomelanos, em fortes doses, seguidos pelo rhuibarbc, e magnesia, ou o óleo de ricino, tem pro- duzido tão bons resultados, evacuando grandes quantida- des de matérias escuras, viscosas, e nocivas, cuja deten- ção niío poda deixar de ser muito prejudicial. Nos mes- mos náo temos hesitado, em alguns casos, cie administrar a infusão de 'senna cora o sal de Glauber, depois dos calomelanos, e com optimo effeito. Parece aqui o lugar próprio de fali irmos da conve- niência , qí;e ha em se administrar uma suficiente dose de ópio , para aliviar o espasmo , que tantas vezes ator- menta o doente; para diminuir a agitação, e conciliar o sono ; em fira para remover, em alguns casos, a nevros- thenia. A evidencia positiva acerca d'este objecto , aju- dada pela saa theoria, he muito forte e decisiva para se duvidar da eflicacia de uma forte dose de CO, ou 100 got-íis de laudano, no. principio da moléstia, se o doen- te nao tiver commettido excessos no comer, ou nos inges- tos geralmente; e se elle não se queixar muito de ce- phalalgia , « tontice, ou nao for sujeito á uma excessiva determinação para esta parte ; mas sim se achar vexa- do com cainbras nos dedos dos pés, ou das mãos, e es- pasnrOsde; nvüsculos abdorninaes. Se as indicações esti- verem primeiramente á favor da sangria , a administra»- Segundo período da croleíia. IS* çSo subsequente do laudano parece, as vezes , obrar co» mo por encantamento, pondo fim immediatamente á mo- léstia. Em ambos os casos porém , o doente deve ficar na sua cama ; devera-se-lhe fazer applicações quentes aos pés, fricções brandas às extremidades inferiores, e abriga- rem-no com cubertas para facilitar, o que o laudano tanto tende á produzir , isto he, uma transpiração geral e branda. Sf/mptomas Particulares.— Se pcdessemos separar, por um momento, o vexame de um só orgam , do que sofre o organismo inteiro , e quizessemos receitar para synipíoinas particulares , tentaríamos em primeiro lugar aliviar os vômitos ; e em segundo, a diarrhea, isto he, se a diarjhea cholerica, como muitas vezes acontece, pre- cede os vômitos, ou se persiste depois da suspensão delles ; e ern ultimo lugar os espasmos. Vômitos e cardialgia com secv.ra excessiva. — Estos symptomas são principalmente aliviados pelos revulsi- vos cutâneos, pelas sanguisugas applicadas ao epigastrio, ou pelos vesícatorios ao mesmo lugar , e o uso interno do gelo ; a agoa de Seltz fria, ou a limonada, resfria- da pelo gelo, em pequenas quantidades; a bebida effer- vescente ; o acetato de chumbo ; o gelo ao epigastrio , e, as vezes, o caffé ou chá verde, frio, e em pequena quan- tidade , tem approveitado. Diarrhea. — Se esta for acompanhada de dor, e ir- ritação abdominal, a Academia Franceza affirn.a, que a applicação de sanguisugas ao ano he proveitosa ; assim como a agoa de iVango; agoa de arroz com gelo, o ge- lo puro, o cozimento da raiz derhatania; os opiatos pe- la boca , on misturados cora mucilagem , e dados em clys- teres; apezar de que estes últimos remédios, ao mesmo tempo que suspendiam a diarrhea, pareciam as vezes re- novar os vômitos. O carvão em pó fino, em doses de meia oitava, todas as horas, foi achado útil em Paris, con- vertendo a diarrhea cholerica , em biliosa. Caimbras. — Quando estas eram excessivas, chegando á convulsões, foram combatidas, em Paris, por uma lar- ga sangria, e o banho quente; e internamente pelo ópio, e o nitrato de bismutho. As emborcaçbes anodinas , ou o laudano puro; as fomentaçoes emollientes e opiados ; as fricções de terebentina pura, ou misturado com o al- kali volátil; a massagem (*) ou a compressão dos músculos, (*) Massdge. Palavra derivada, segundo Savary, do árabe 134 Tratamento do estado azul foram os meios principaes externos. Uma atadura enrola- da apertadamente em uma extremidade, fr quentes vezes suspendeo as caiu br as, mas, como diz a Acad?mia Fran- ceza, a sua acçao era puramente local , mio tendo in- fluencia alguma sobre o progresso da moléstia. A sangria, os bandos," e os linimentos, pelo contrario, não só ali- viaram os espasmos, mas produziram um effeito sobre a moléstia em geral. Terceiro Periodo, Azul, ou de Collapso.—Depois das premissas ja annuuciadas , podemos , coai muita jiisíiçí , repetir a linguagem ja usada em outra oceasiâo , e di- zer :— Nos casos em que o estado do Collapso ameaça, ou tem actualmente sobrevindo, com espas. oí violentos, e excessiva frieza da superfície, o nosso tratamento de- ve ser prompto e energético. Dirigidos pela pratica que conhecemos ser boa , e feliz na Cholica Biliosa, onde existe excessiva dor do abdômen , e cai; It-ts dos múscu- los voluntários, como seja o sangrar livremente , admi- nistrar grandes doses de laudano , e metter o doente em o banho quente, poderemos acereditar que um semelhan- te curativo he igualmente conveniente no eftauo critico de collapso da Cholera; porém aqui he mister prodiga- lizar ainda mais do que n'aquella doença , todas as va- riedades de estimulantes externos; as fricções com as bae- ta? quentes, ou com a farinha de mostarda, e espirito de terebintina; o calor secco, introduzindo-se o ar quen- te debaixo das cuberta» da cama , ou fazendo-se ao cor- po applicações de tijollos , ou ferros quentes, sacos d'area eu sal quente, baetas &c., sinapismos ao epigastrio, ao longo do espinhaço, e ás partes internas das barrigas das perues , bem como dos braços. Mas trazendo á lembrança a nevrosthenia que ainda existe , he preciso usar cora discrição d'estes estiinubtn- tes externos, e julgar da sua elficacia . pelo poder que possuem de produzir uma reacçaò iramediata dos capíUa- res. Alguns Médicos, partilhando a opiniáo do Dr. Re- camier, afirmam que os sinapismos, e todos os rubefa- cientes sao igualmente ineficazes, bem como os estimu- lantes iuternos, e os tônicos ne periodo a«ul da Cho- mass , comprimir brandamente , designa urna operação , pela qnal se aperta , amassa , ou sacode monacntanaa?nente a» diversas par- tes do corpo de um indivíduo, cora o fim de activar a toni- ^idade da pelle, e dos tecidos a"* sentes. T, Ou no de coIíLapso 135 lera. He verdade, que quando mesmo se excita a vesi- eaçaò . a peii» he tüo somente desorganizada pela inflat.*- mücaó local, e ueai ha di?ícrença ou mudança de exci- tacaü no resto d* pelle, e tão pouco dos orgaos inter- nos. As fricções • a massagem n-ouerada, porém assídua, são preferíveis aos irritantes fortes, ao menos ás extre- midades, e sobre o ahdomea. O methodo de Mr. Petit, de cauterizur o espinhado, e assim alterar a innerva- ção pelos meios ja mencionados no capitulo precedente, tem produzido um bom effeito, e em algnns casos até tem levantado »s indivíduos do estado do collapso. A sua operação era ajudada por vários meios accessorios , taes como os tijollos quentes, embrulhados em pannos molha- dos com vinagre , applicados ás extremidades ; fricç"es com o cozimento de mostarda , e a alcali volátil; e o uso interno da infusão de erva cidreira, ou deortelaa. Tam- bém se administrava , as eolheres , de hora em hora , uma mistura composta de vinte gotas de laudano, uma onça de xarope ethereo, outra de agoa distillada de flores de tilia , e mais outra igual dose da de melissa ; fricções de um linimento composto de duas onças de óleo de Macei- la camphorada , uma oitava de laudano , e outra do al- kali volátil fluido , applicadas á muido. Níio nos devemos esquecer da pratica do Dr. Recamier , ja mencionada , e applicada á este estado , á saber , a emborcação por um ou dous minutos, d'agoa na temperatura de 58° té 6(>J de F. sobre o doente, que deve ser depois bem en- xuto, e posto n'uma cama quente. Internamente elle ad- ministrava, de quarto em quarto de hora , uma colher da solução de sulfato , ou bi-chlorato de soda conforme & estado do estômago. Esta ultima receita do Dr. Recamier muito se asse- melha com a pratica conhecida era Inglaterra , debaixo do nome de pratica do Dr. Stevens , e de que ja temos fallado, ê he preciso ainda lembrarmo-nos. A combina- ção salina , nas proporções mencionadas n» ultimo Ca- pitulo d'esta obra, se tem conhecido ser summamente útil era todos os estados da molestii , e conforme o testemu- nho de alguns práticos , cuja exactidão e fidelidade de observação merece confiança , até tem levantado os do- entes do mesmo estado de collapso. Entre os meios internos ^ empregados pelos pratico» Britanr.icos, para. restaurar o doente do estado de col- lapso, e efteituar a reacção, são os vomitorios de naú.-* 136 Tratambnto do estado azul tarda, seguidos do laudano e ether, de cada ura vinte e cinco gotas, misturado com onça e meia de agoa de ortelãa pimenta forte; ou as pirulas de ópio em doses ds um gráo; agoardente de França misturada com agoa quen- te, ou a agoa quente simples: da eficácia d'cste sim- ples e ultimo remédio, era outras circunstancias idênti- cas da economia animal , podemos fallar com muita certeza. A respeito do livre uso da agoardcrate, e outros es- timulantes da mesma natureza diffusivos, não podemos fa- zer melhor do que dar aqui a opinião do Dr. Rirk, coui quem perfeitamente concordamos. " A agoardente , pergunta elle, será remédio con- veniente em qualquer estado d'esta moléstia ? No meo relatório havia permiítido o seo uso, em pequena quan- tidade, por não querer fazer innovação na pratica estabe- lecida, reprovando-a inteiramente; mas he agora do meo dever afirmar, positivamente, que o copo de agoarden- te , que se vê sempre á cabeceira do doente da Cholera , náo pôde ser administrado sem perigo : pois que es seos intestinos se acham u'um estado de acção augmentada, e de inflararuação : no mesmo estado se acha o cérebro, e a medulla espinal; assim como os symstemas vascula- res, e os grandes nervos. Que he o que podemos ganhar pela administração da agoardente ? Não produzimos senão uma excítaçaõ diffusa temporária, pelos seos poderes es- simulantes, e unia espécie de sedação das sensações pe- la sua influencia narcótica; e he possível que estes ef- feitos possam acarretar alteração alguma d'aquella con- dição mórbida do systema, que he, como temos visto, a causa da Cholera ? Dir-rne-haõ , que a agoardente be- bida, e em clysteres, tem muitas vezes produzido bons effeitos. Que seu uso pois seja limitado, e nunca se ad- ministre de qualquer modo que seja, senito nos casos ex- tremos da moléstia , onde até aqueíle estimulo temporá- rio, que elía dá ao organismo, podo ser utii; e ainda que toque, e irrita os tecidos mórbidos, cora tudo tal- vez , n'estes casos extremos , o seu uso pôde ser indi- cado. Mas nos estados precursores em quanto a excíta- çaõ, e nma excítaçaõ intensa existe; em quanto sabemos que muitas partes vitaes se acham excessivamente irrita- das, e que a nossa obrigação he de diminuir esta ac- çaõ , eu nunca vejo o copo de agoardente na cabeceira do doente sem tremer: e he por isso que os Práticos ijatelligentes se tornara de dia era dia, cada vez mais acau- OU UO DE COLLAVSO 137 telades no uso de um tal estimulante. Sei que me tenho muito adiaiiíado n'esta minha positiva ccndemnaçao , mas estou persuadido que aquelles que me seguem , decidi- ram a questão á meo favor , pois que as minhas opi- niões são baseadas sobre a pathologia adnuttida da rao- Icsiia. Quando julgo necessário algum cordeal , prefiro os vinhos puros, por ser o seo uso menos irritante aos tecidos inflammados do que o alkohol. , Para se fazer una idéa mais favorável do pratico Bri- tânico , apresentaremos um esboço tia de alguns dos Mé- dicos de NewCastle, durante o predomínio da moléstia n'aquella Cidade. Veja-se o Appendix. Neste esboço ha uma observação bem tocante, feita pelo Dr. RirkJ na conclusão do seo relatório acerca da pratica depletante, e sedativa do Dr. Frost: e ella he a seguinte.—Peço, " diz o Dr. Kirk „ ao leitor de com- parar o resultado d'esta pratica, em que as mortes fo- ram na proporção de duas em onze, cora a da Aldeada Hartley , em que se administrou a agoardente, e o ópio , e com a q uai de trinta e quatro indivíduos doentes , mor- reram trinta e dous. A experiência de uma grande maioria , e cremos que podemos di/er , de todos os Médicos de Philadelphia , na Cholera , he positivamente opposto ao uso dos estimu- lantes. No estado de collapso, ou no estado azul, estes remédios parecem summamente prejudiciaes , e accelerara a terminação fatal. Não conhecemos um só caso , era que o enfermo se restabelecesse depois de ura excessivo uso dos estimulantes; quando, pelo contrario , sabemos de vá- rios , e nao poucos, em que se levantou de ura estado gravíssimo, e desesperado, pelo uso degelo simples, ad- ministrado internamente, copiosas ventosas sarjadas ao ab- dômen , e a applicação ordinária de sinapismos. Acerca do detalhe minucioso d'esta pratica, nos referimos ao Ap- pendix, onde se verá a sua applicação no Hospital esta- belecido era Southwark, para os doentes de Cholera, e dirigido pessoalmente por ura dos authores d'esta obra. Poderíamos offerecer maiores provas, tiradas da pratica dos outros Hospitaes, porém como não possuímos os diários , náo julgamos próprio fallar mais particularmente ôVila. Uma outra variedade do tratamento branda, ou anti- phlogistico , que consiste na administração de remeúi >s sa- linos, dados em pequenas doses, e á intetvaüos certos, 18 Í3S Tratamento do estado azul e da qual temos falhado mais de uma vez , foi também empregada com bons resultados. A pratica de Annesley na índia, exarada no Appen- dix, he digna de attenção, e também como cotuproba- toria de nosso experiência n'este paiz , era quanto res- peita a sangria do braço, e extracção local de sangue , Dor meio de sanguisugas; e bem assim á favor do livre úso dos Criomelanos, segundo nossas preoccupações ; e dos purgantes, depois que apparece a reacção. Apezar de se descrever por extenso , noAppendíx, a pratica do Sr. Annesb y , e do que d'ella ja havemos dito, cora tudo in- troduziremos aqui inia parte de suas direcçoes. " Quando não se poder obter sangue do braço , e Os espasmos continuam; quando se sente dor aguda, e calor ardente no embigo, e no epigastrio, e estes sym- ptomas são intensos; quando a pelle se acha fria , e ba- nhada de uma humidade fria, e viscosa ; e quando exis- tem oppressâo do perto, e dificuldade de respiração, dor excessiva e confusão de cabeça, com grande intolerância da luz, o pulso extincto, ou quasi imperceptível, e um cheiro cadaveroso do corpo ; devem-se applicav vinte, ou trinta sanguisugas immediatamente ao embigo, e ao epi- gastrio, uma pirula de calomelanos, repetidas vezes, e as fricções de teTebentina devem ser continuadas. Deve-se applicar sanguisugas também ás fontes da cabeça, e á nucba. "Quando as sanguisugas sangrão bem, sua applica» çHo he sempre utii , e se as deve deixar ficar até que s"e enchem bem; depois de ellas cahirem devem-se applicar um grantle cáustico, ou um sinapismo á toda a superfí- cie tío abdômen. As vezes as sanguisugas pegão, mas não tirara sangue ; e neste caso se es deve retirar immedia- mente, o pôr se em seo lugar-o cáustico, ou sinapismo. Quando os intestinos estão muito irritados, e deitam cons- tantemente um fluido aquoso, he então que se podera ad- ministrar diminutos clysteres anodynos com alcanfor; 'tam- bém o drogue amere, especifico usado pelos Jesuítas, po- derá ser utii em favorecer a acção dos calomelanos, que devera ser repetidos de duas em duas horas, ate que o doente tenha tomado trez ou quatro escropulos. Clj/slercs de varias composições tem sido muito usa- dos nos differentes estados da Cholera. No estado de col- lapso, clysteres copiosos de agoa morna se usaram no Nor- te de Inglaterra, e com feliz resultado. O Snr. Irizars aconselha o uso de agoa quente, que a mao pôde suppôr- Ou DO DE GOIiLAPSO '^ 1 lar, na quantidade de trez ou quatro libras, misturada com uma colher de laudano. Em alguns casos era que ella foi retida nos intestinos por espaço de uma hora, saluo de todo fria; e por isso, senão apparecer a reacção algum tempo depois da introdueçao do eiyster, se o deve repe- tir, em menos de uma hora, tendo-se a cautela de ex- trahir o primeiro por via da seringa. O principal agen- te aqui empregado he o «alor applicado a uma grande superfície intestinal; e a agoa quente simples, assim re- petida, -tem provado ser mais eficaz era aliviar os espas- mos, e collapso, do que o laudano. A applicação, pelo espaço de cinco minutos, de um panno ao ânus fará com que o sphincter retome o seo tono, e o clyster fique re- tido por horas inteiras : se porem elle se achar muito re- laxado, então n'este caso usaremos do meio lembrado pe- lo Dr. Clanny de Sunderland, que he o de tapar sim- plesmente o rectum coin ura pedacinho de vela de cera coberta de banha. Os clysteres estimulantes de espirito de tepebentma, alcanfor &c. são retidos por mnito pouco tempo, e ex- citara uma grande irritação local, e as vezes evacuações sanguiuolentas, sem com tudo favorecer a reacção geral, e por isso, são reprovados. Influído por uma hypothese de que existe uma cons- tricção espasmodica de algum dos órgãos importantes, co- mo, das ventriculas do coração, dos intestinos, e do du- eto da bexiga urinaria, assini como dos órgãos secretq- res ; alguns dos Práticos Britânicos tem administrado clys- teres de fumo; usa-se d'elle em infusão na proporção de meia até uma oitava por libra d'agoa. O Sr. Baird, de New-Castle ( Inglaterra ) que , segundo pensamos, foi Mes- tre de semelhante pratica, nos diz, que "se a sua opi- Jiiao pathologica tivesse sido opposta ao ' facto, o podero- so remédio, que elle administrou, teria sem duvida man- dado o doente para a sepultura. ,, E supposto os casos, que o Dr. Kirk tem aunexado ao seo tratado sobre a Cholera, pareção merecer alguma confiança, com tudo., não nos podeníos esquecer de que os symptomas produ- zidos por uma excessiva dose de fumo, ífuma pessoa sã, sào quasi os mesmos que se encontrara no collapso da Cho- lera, cora esta diíferença, que no primeiro caso, a ne- vrosthenia dura muito pouco tempo , ou he quasi imper- ceptível, sendo seguida de uma prostração completa, e mortal: como ura sedativo, náo aliviando o espasmo te- 13 * 140 Tratamento do estaco azul. tauico, mas a causa d'este espasmo, isto he , a excessi- va nevrosthenia, o fumo talvez merece alguma attenção: o í}v. Kiik di/. , que elle presenciou a administração do fumo em dez casos; e, ainda que em dous senão salvou a vida do eeicrmo, somtudo, em todos appareceo tu a completa reacção ; e todos os symptomas melhoraram. Arteriolomia. — Além da sangria local , por meio de sanguisugas, ou ventosas, e da do braço, e da veiaju- gular, pela lanceta, se praticou em vários indivíduos a ■arteriotomia, e da qeai, he preciso confessar, dizem os Archives Gentrales de Medécine, (*) parece que senão tem tirado algum proveito. Os Srs. Majendie, Recamier, Gendrin, e outros, abriram a artéria temporal, e ella , assim rasgada, gotejou algumas collieres de sangue de cor de rosa, e com a sua fluidez diminuída; gotejou co- mo se fosse de um tubo veneno. Em dous indivíduos der cidiram abrir a artéria radial , ura pouco acima da ar- ticulação do dedo poiegar , por ser aqui muito superfi- cial, e fácil para laquear. Observou-se então, que este tronco vascular só continha um fraco fio de sangue, cu- jo movimento era de tal maneira vgaroso, que o san- gue apenas apparecia nos beiços da ferida ; o impulso ven- tricular era quasi extincto , de modo que , para obviar alguma bemorrhagia, bastava uma simples compressa, e e a atadura ordinária. O sangue , plástico e delgado, ape- nas tingia duas ou trez voltas da atadura que cubria a ferida da artéria; e, apparecendo a reacção, não houve bemorrhagia propriamente dita; sendo por isso desnecessa- Tia a laqueação da artéria. Estes factos não são novos, e os Cirurgiões de Ber- lin ainda se adiantarão mais, e o que frieram , se pode chamar um passo falso. A artéria brachial, e até a cru- ral, foram abertas, e com muito custo se acreditará, que U;:; Cirurgião celebre, cujo nome se occulta, se atrevesse á abrir a artéria carótida , porque os outros troncos ar- teriaes não tinham fornecido sangue. Diz-se de mais, que estas ultimas artérias sendo igualmente vasias , ou pobres, o operador introdurio u-n.a tenta pelu aorta até o ventri- culo esquerdo, a fira de excitar novas contracções ; e a morte se seguio á estas manobras, ainda que semelhante facto tenha sido negado por um dos amantes d'esta proeza (*) Edinburgh Med. Surg. Journal, for July, 1833c OU DO DE COLLAPSO .141 eirurgical, e não tenha havido tempo para se ver morrer o doente de hemorrhagi». Llectro-Punctura. — Em alguns dos peiores casos de collapso, mostrando-se os doentes insensíveis á toda qua- lidade de estimulos, este remédio foi usado com algum beneficio. Por este meio, o Sr. Baiily resu: itou alguns doentes, que se achavam n'ura estudo desesperado. Um agente ainda mais forte , a caulerisaçâo do epi- gastrio, foi também applicado; mas o Sr. Dupuytren , queseservio d'elle, comtudo, não a aconselha muito. (*) Devíamos ja ter mencionado o tratamento da Cho- lera por Alib• rt, que (como Torti) a considera inira espécie particular de Íntermittente pernicioso, e adminis- trou pirulas de Snlfato de Quimna , de hora em hora, vinho quinado, as colheres, todas as meias horas , clyste- res de quina, e o calor externo. Não conhecemos as van- tagens positivas d'este methodo, pois que foi logo mo- dificado pela administração previa de Ipecacuanha, e as- sim foi considerado muito feli/-. O facto he, que o nu- mero de curativos, dos que se achavam debaixo da di- recção do Sr. Alibert, he maior do que de qualquer ou- tro hospital de Paris, cujos relatórios temos visto. Injecções aquosas, e salinas nas veias.—Falíando era .ultimo lugar, desta espécie de tratamento medico cirúr- gico, julgamos ter-lhe dado o lugar que merece, quer considerado em respeito da sua innocencia, quer da uti- lidade como remédio. A hypothese, donde sua origem se deriva, he fácil de se explicar: e consiste em que , em conseqüência das immoderadas evacuações fluidas, sahidas da membrana mucosa digestiva , e da pelle , os vasos san- güíneos tem perdido uma grande quantidade do soro, e por isso o sangue, tornando-se grosso, e íibrinoso, ten- de a coagular se nos grandes vasos, e nas cavidades do cor. çho, nao podendo asrim circular: d'ahi vem a asphy- xia, cora os seos concomitantes symptomas, tal como o (*) Este hábil pratico aconselha antes a depl(-ç"o directa, e a sedaçaõ, quando a moléstia se tem declarado. Estas são produzidas pela applicação de sanguisugas ás partes doloridas do «bdomeit, por bebidas calmantes , como sejam cosimentos de ca- beças de papoulas adoçadas com xarope de gomma arábia, e o acetato de chumbo , que elle considera sedativo "-por exceU lencia ,, administra tres , quatro , ou cinco grãos- d'éste sal, dis- solvido i'uaa çhicara do cosimento, quasi todas as hora». 142 Tratamento do estado azul estado azul, e de collapso. A indicação pois, como se nos diz, he de reparar esta perda, pelos meios artilb íaes , porém, infelizmente para esta especulação, acontece as- sás freqüentemente, que o collapso, nem he precedido por uma copiosa exudatão serosa da pelle, nem de eva- cuação do estômago , ou intestinos : por tanto n'estes ca- sos, nao he po*sfvel que o sangue tenha perdido a sua fluidez, e então as suas alterações não pod m ser causa- das pela perda das suas partes salinas e aquosas, ou do seo soro. Era tempo f-lgura existio uma proporção bem evidente entre a prostração das funções geralmente, e a evacuarão do eoro pelas vias mpnciotudas. A alteração do sangue, de facto, deuendo de desvios pre-existentes de órgãos importantes; daquelles á-que ja temos dirigido a nossa attenção, v. g., as membranas mucosas digestivas , respiratórias, e a pelie ; e sem que nos mudemos, ou me- lhoremos esta sua -condirão mórbida, pelos meios a-ppro- priados, elles nem influíram, nem serão influídos pelo san- gue , com probabilidade de algum bom resultado. As nos- sas tentativas para modificar directamente uma d'estas su- perfícies, a mucosa respiratória, ou a dos bofes, por meio do gaz oxygenio, do gaz oxydo-nitroso, do chlor, da ara- monia, ou do ether, cora elfeito, uão tem sido muito sa- tisfactorias. O agente hvgienico natural do ar fresco, he, sem duvida, o melhor que se pode adaptar á condição dos bofes, e ura que na pressa e anxiedade de soccorrer, e no embaraço occasionado pelo atravaneamento, ao re- dor do doente, de amigos anciosos, e espectadores in- trusos, e ociosos, he muitas vezes esquecido. Restam as outras duas superfícies para serem influídas pelos agen- tes, e no modo ja acima indicado; e sobre ist» pode- mos comtudo observar, que alguns, em quanto admit- tem a hypoth-ese dos symptomas aterradores da Cholera serem principalmente o eííeito de haver perdido o san- gue as suas porções salinas e aquosas-, julgara fornee£r um bom remédio, administrando repetidas doses de subs- tancias salinas dissolvidas era agoa, cora o intento de se- rem ellas absorvidas no estômago e intestinos. Sem que- rer attribuir muito valor á esta pratica, apezar de ad- mittirmos a absorpçaô fácil das soluções salinas , em cir- cunstancias ordinárias, náo podemos facilmente perceber a força da objecçaíS, que alguns fazem , bazeada na idéa de que ja existe uma quantidade superabundante destes saes derramada, ou filtrada dos vasos sangüíneos no ca- Ou do de Collapso 143 ral intestinal. Isto he substituir, a chymica no lugar da physiologia , e fa-zer-mos esquecer, que não estamos tra- tando de cavidades inertes, e nas quaes podemos, á von- tade, deitar, ou d'ella tirar uma certa quantidade de fluidos chimicos; porém sim, de órgãos vi taes, que mo- dificam do seo modo próprio as substancias que se lhea appresentam. Alguns, porém, dos que saõ oppostos ao uso de re- médios salinos tomados em bebidas, tem se mostrado, comtudo, mais favorável á um modo mais directo de oa introduzir na circulação ; e este se tem assim effectuado , introduzindo-os n'uma veia aberta para este fira. Antes de recorrer a uma pratica taõ perigosa, e atrevida, de- vemos perguntar á nos mesmos, se 1.° no estado par- ticular cm que o doente se acha n'esta occasião, naõ ha outros meios que olfereçam uma probabilidade de o restabeleer ? E 2." se esta pratica, ainda que offereça um alivio temporário, nao introduzirá no corpo novas causas de moléstia subsequente? A resposta à primeira pergunta naõ he taõ fácil, post® que nos seja permittido dizer, que alguns indivíduos , considerados quasi mori- bundos, se restabeleceram por meios apparenteraente sim- ples, como as fricções continuadas, e o banho, e cuja única esperança de vida pureceria aos amigos -d'esta pratica depender unicamente das injeçções nas veias. Era resposta á segunda pergunta , podemos asseverar que a morte se seguio era todos dos poucos casos, em que se experimen- tou esta pratica em Philadelphia , e que de mais de trinta individuos assim tratados no New York, dous só sobre- viveram. Em Edindiurgo, onde este systema de injecça£ na Cholera foi primeiramente experimentado j os curati- vos saõ appresentados como cinco, e as mortes como dez , dos doentes que foram tratados por este modo. Todavias para que se naõ supponha que estamos preocupados con- tra esta pratica , daremos no Appendix , a Carta do 'JPr, Latta, explicando as causas, e os motivos de recorrej á esta pratica, e os argumentos e factes á seo favor. Oser- varemos, comtudo, que parece não se .haver deixadopa$- sar bastante tempo entre as injeçções nas veias, e .a pu- blicação dos curativos, para authorizar uma resuitad* J44 Thatambnto da febre cholrrica foram bem depressa mudados em choro pela morte do doente, se não foi por mais alguma cousa. (*) Tratamento do estado de Reacção, ou da Febre Cho- lerica.— Seria bom se podessemos quasi esquecermos da existência do estado passado de prostração e collapso , que oecupa tanto os nossos espíritos, á ponto de produrir uma iiéa fixa, e com receio de debilidade, e nos persuade â recorrer-mos ao uso dos estimulantes na reacção, ou terceiro periodo da moléstia. Os eflciíos nocivos do illi- niitado uso de agoardente, c de laudano nos primeiro! periodos, incluindo o de collapso, se mostram evidente- mente na complicação dos symptomas pelas phlegraasias (*) O Dr. AnJerson de Rochester ( Iaglaterra ) dá a his- -toria de cinco casos tr tados pt l.;s itijecçoes saliims nas veias, e dos quaes, como elle assevera, tres foram felizes. MdS qual he a prova ? Elle di/. que dous morreram, um depois de se in- jectarem 305 onças, e o segundo lÜO. Os outros, continua el- le, foram hontem escolhidos, para se submetterem á este plano de tratamento. E muito estimo poder acerescentar com a utili- dade mais decidida ; n'este momento elles se acham todos con- valpscentes. Isto cora effeito nio he senão zombar dos seos eollcgas : convalescente no dia depois da operaçío ! Como se a- chavam elles no dia seguinte , mortos ou restabelecidos ? A pri- meira he mais provável de que a segunda. Nos dous casos que elle confessa haverem terminado fatalmente, apezar da reacção, manifestada pelo restabelecimento do pulso , e da côr natural do semblante, comtudo, continuou sempre á escorrer dos intesti- nos, durante todo este tempo, uma enorme evacuação serosa. .Nisto pois deve existir alguma cousa essencialmente errone». Em alguns dos casos do Dr. Luta , havia restabelecimento de todas as funcçííes , incluídas a seen-ção da bilis, e da urina, mas, comtudo, a morte sobreveio., .apezar também dos outros remédios , á cujo uso elles se tornam aptos em conseqüência d1es- ta mesma reacção, ou livraaça da morte próxima. Em um caso 0 doente, uma mulher, foi restaurado, pelo tratamento de in- jecçoes, tanto que ella almoçou com go^to, porém ella morreo também no segundo dia depois da operação. Se o Dr. Latta tivesse querido citar este caso, no dia antececente a morte, poderia, assim como o Dr. Andenon, ter annunciado que sua doente se achava convalescente. Quando a reacção he bem res- tabelecida, e as secreções restauradas por outros methodos de tratamento, acontece que o doente morre como depois das in- jecçoes salinas nas veiasi Parece-nos que não, sem que elle te- nha de todo despresado os conselhos, que *c Ibe dao. Ou do r.srADO dl reacçaõ 145 da superfície gastro-intestinal, e oppressâo do cérebro. N'este estado precisa recorrer-mos ao» meios indicados por uma pathologia rational, e ser guiados na nossa pratica pelos symptomas da lezao, e inílammação dos órgãos. A paciência, e firmeza são agora virtudes indispensáveis; a primeira para alrazar a muita pressa que ordinariamente se põem, a fira de elevar o c. ganisrao, por meio de gran- des estimulos, á um estado imaginário de Torças; e a segunda, para nos fazer perseverar judiciosamente nas de- pleções locaes, e n'ura tratamento refrigerante, para mo- derar a excítaçaõ de certos órgãos, taes como o estôma- go, os intestinos, ou o cérebro, e impedir uma ínílam- mayâo desorganisadora. A Cholera Epidêmica da índia, em seo progresso, e symptomas parece differir d'aquelle que predominou na Europa e ifeste Paiz, em dous pontos importantes; e vem a ser, a auzencia, ou a raridade dos symptomas pre- cursores na diarrhea, &c., em quanto á primeira; e da febre segundaria: e quando esta sobreviirha, assemelhava- se aos attaques biliosos próprios d'estas latitudes , pois que era caracterisada por pelle árida, e quente; a lingoasuja, sabuirosa, e resseceada ; boca árida ; securas; náuseas; se- creções viciadas; desassocego; vigílias; pulso freqüente, e variável; e as vezes, delírios, estupor, e outras affec- ções evidentes do cérebro. (*) Na maior parte dos ca- sos, em que a moléstia terminou fatalmente depois de apparecerem estes symptomas, tomou os caracteres de uma febre lenta, ou typhoidea, com a lingoa preta, dura, e saburrosa, os dentes e beiços cobertos de limo: em ou- tros porém a febre segundaria teve uma marcha um tanto ditferente, sendo a reacção denotada por um maior gráo de energia, em conseqüência de ser o cérebro evidente- mente aíiectado; o pulso chegava até 120 pulsações, ca- lor interno, especialmente nas grandes cavidades, cora excessiva secura. A este estado de excitarão suecedeo logo o do collapso: e então, entre os mais symptomas, se notava a auzencia absoluta da irrilabilidade do estôma- go, que previamente tinha exi&tido. Na Europa, e n'este Pai/, a febre consecutiva a Cholera, era de mais freqüente occorrencia, e mostrou diffeientes variedades, das quaesNis principaes dependrim da constituição e hábitos anteriorou do indivíduo, e do Bengal Reporta, p. 56. 19 Í4fJ THATAjtfÊííto ru FKr.rtí. Ci!ot*-hicA tratamento á que tinha rido submeltido, durante' a *P* gundó periodo da moléstia, ou do seo subsequente esta» dó de collapu). O-i intemperados, os golos©*, os predis- postos á phlegmasias dos órgãos, correram muito perigo cera esta reacção, e o mesmo acontecerá aos que foram estimulados com agoardente, e outros excitantes duranta Oá primeiros periodos da moléstia. Fallando-se da pratica estimnlai?'e de Majendie,' era ura dos hospitaes de Pa- ria, o escriptor nos Archives Gencrales , ja citados diz t ■»=*•" este tratamento era as ve/eá seguido de ura gráo dè reacção assás difficil á combater: A circulação, sen- do eycitada pelo alkohol, logo produz congestões no ce* rebro, e apparelho digestivo ; e em mais de um doente sobreveio delírio, e depois, coma profundo, ao qti 1 sue- enmbiram. Neste estado congestivo a depleç.o local, e geral se acharam sempre igualmente inúteis, como as ap» plicaçôes frias á cabeça, e os revulsivos mais activos aos pés. „ Uma dos melhores descripções do estado de reacção, Jfyné nos temos visto , he a dada pelo Srs. HasleWood , e Mordey na sua " Historia e Tratamento Medico da Cho- lera que predominou em Sunderland, em 1831 „ u A ter-» mina^aõ fatal do estado frio, ou azul da Cholera,, di- zem estes authores, "acontece muitas vezes sem abdo algum, ôb precedido fomente de alguns pequenos esfor- ços convulsivos do peito : outras porém , «pp^rece umai ligeira amostra de reaeçaõ , indicada por algun.a palpi- taçaô das carótidas, e calor do thorax, seguido de so- ro, de que he difficil despeitar o doente .• iuda per ura momento: e no qual se o deixássemos , talvez sobrevi- veria muito poucas horas. Era conseqüência das grandes riosírs de »pio administradas em alguns d*estes casos, fstavamos ao principio dispostos á attribuir este estado ao rtarcotism©; mas fomos ao despois convencidos , de que feto naô aconterii bómente nestes casos, mas qoe antes Se devia attribuir á tendência geral do estado febril d» Cholera á produair a congestão cerebral. " O estado comatoso era as vezes precedido de um at- raque de delírio frárioso: o doente rejeitava as cober'as da cama, e querendo letsantar se para dar em todos que pe lhe avizinhavam, delira va de&ordei&aíhoiente t mostra- va bastantes fbrç»s musculares, porém, a luta era cur- ta ; e logo se seguia uma insensibilidade total. " Quando os espasmos x os vômitos., e os jatos te- Ou -do estado de heAcoaõ, 147 >nham eessado ; quando o pulso tornava á se fazer sensí- vel , a respiração á ficar desembaraçada, e um calor brando se espalhava gradual, e geralmente por toda a superfície do corpo, o doente cahia n'ura somno tranquil- lo, que continuava algumas horas, acompanhada de uma ligeira transpiração ; elle accordava alliviado , afhrman- do estar de todo restabelecido, pedia que comer e dese- java levantar-se. He n'este mesmo periodo que o assistente se pôde muitas vezes enganar : uma experiência porém muito limitada será bastante para o convencer de que ha ainda um periodo da moléstia , que exige os seo-; assíduos cuidados , e ura enérgico tratamento. Um syrn- ptoma quasi infallivel então he uma engorgitaçaõ consi- derável dos olhos; a.cornea parece embaçada, e vasos cheios de sangue vermelho se observam na superfície da aclerotica, sendo em maior numero na parte inferior doa olhos. (*) Este aspecto he ditferente do da inflamação ; 03 rasos são grandes e numerosos, mas terminam repentina- mente , formando raras vezes o tecido vascular que s > observa na ophthalmia: a vermelhidão he escura, e sem ser accompanhada de dor: também se nota n'esta mesma occasião um certo gráo de estupor, e se o doente move rapidamente a cabeça, se queixa de uma dor profunda- mente situada. A iingoa he coberta de uma saburra bran- ca, e he alguma cousa secca; ou se torna vermelha, lus- trosa, e rachada. As secreções não se restabelecem ; o-U se isto accontece, ellas appresentam um aspecto fora do natural: a suppressão da urina continua ainda por trez ou quatro dias: n'estes casos seo restabelecimento he se- guido de vexame da bexiga, e dores quando quer urinar, nascendo talvez da sensibilidade accumulada da membra- na mucosa, portanto tempo privada do seo estimulo na- tural. As evacuações alvinas se tornara excessivamente fé- tidas , e contém uma abundância de bilis viciada, e de (*) O caso seguinte acconteceo na pratiea do Dr. Ogdea. — John Parkin , de idade de quatro annos, foi attacado grave- mente da Cholera Maligna, no dia \1 de Dezembro: durante o período do frio , os olhes se mostraram se^cos, e encolhidos, e a metade inferior de cada uma das corneas se tornaram opa- cas. O menino se vestabeleceo, No estado febril um onyx. se for- mou em ambas as corneas , onde se tinha previamente observa- do a opacidade. Durante um periodo de quasi trez semanas , » menino perraaneceo n'um estado de incoherencia. 11) * 148 Tratamento da Febre Cholrrica matéria glutinosa , as vezes em grandes massas, que dão o aspecto fíocculoso, semelhante ás das primeiras evacuações. "O doente, de facto, se acha accommettido de uma febre que muito se assemelha a febre ordinária d'est« Pai/.; tomando, em alguns casos, um typo remittente, ou íntermittente, mas sempre accorapanhada de uma for- te tendência ás congestões locaes, especialmente do cére- bro : mas quando existia uma forte predisposição, ou era outras palavras, quando algum órgão se achava , em con- seqüência de causas naturaes, ou accidentaes, sobrema- neira enfraquecido , foi sempre n'este , que se declarou a congestão. "Os primeiros symptomas do coma, são as mais das vezes tão insignificantes que escapam a attenção ; mas o. pulso conservando-se freqüente, com as evacuações féti- das e aquosas, e principalmente a continuada suppressão, ou diminuição na secreção da urina, indicara que a cousa nuo vai bem ; então a somnolencia augmenta gra- dualmente , o somno he accompanhado de stertor: o do-> ente pôde ainda, he verdade, ser acordado, e engulir o que se lhe offerece ; mas logo torna à cahir no mesmo estado. Se se examinam os olhos, se ha de achar augmen- to de engorgiírunento, a pnpilla dilatada, e pouca ou ne- nhuma sensibilidade á luz: este phenomeno as vezes se observa em um olho. unicamente , e um coma completo logo se estabelece. " O periodo da convalescencia nas fôrmas mais graves da Cholera, tem sido geralmente prolongado, e muitas semanas se passam primeiro que o doente recobre a sua costumada saúde: porém como os doentes na maioria dos casos , tem sido pessoas de constituições enfraquecidas , não se pôde bem attribuir a demora do restabelecimento á quaiiaaue alguma peculiar da moléstia , pois que o mes- mo accontece com outras, que dependem de um desar.- ranjo igual da constituição : a digestão continua imper- feita; os intestinos se desarranjam por qualquer pequeno erro de dieta; e em alguns casos , uma diarrhea chro- nica assás teimosa sobrevem. Em fim , muito cuidado he ne- cessário para impedir uma recahida da moléstia original. " Quando o doente morre cora estes symptomas, he ordinariamente de dous á seis dias depois de haverem co- meçado. *' O symptoma mais decididamente favorável no se- gundo periodo da Choltia , he uma copiosa e piompt Ou DO ESTADO DE R1ACCAÕ 149 secreção de urina sadia t n'este symptoma nos podemos fiar com segurança; e sem elle, nunca avançaremos cora certeza um prognostico favorável. "O encomraodo mais duradouro porém da Cholera, lie o estado de irritação, e debilidade do systema muscular.,. que continua á doer com o mais leve movimento, e á ser sujeito á uma repetição constante de cairabras. Estes attaques occorrem ordinariamente de madrugada, ao des- pertar, e quasi sempre o doente he por elles acordado: também elles sobrevem commummente depois de um longo jejum, ou qualquer desarranjo. do estômago , e dos in- testinos „ Diz-se que os meninos se restabelecem db estado -i- taleptico, ou do collapso, mais rapidamente do que os adultos. 0 primeiro symptoma de restabelecimento n'clles, era uma leve injecção da conjunctiva ,. com indicios de nm desassocego geral, e agitação da cabeça : á estes se se- guiram muitas vezes todos os symptomas da inílammação cerebro-meningeal , ou hydrocephalus, que senão fosse ra- pidamente combatida , mataria o doente. Em um d'estes casos o Dr. Fife, de New-Castle, mandou fazer doze applicações de sanguisugas à cabeça. O tratamento no estado de reacção, ou na febre Cholerica verdadeira, será regulado pelos signaes de in- flammação e congestão dos órgãos importantes, taes co- mo o cérebro, os bofes, o fígado, e a superfície gastro- intestinal. Elle consiste geralmente da applicação de ven- tosas, ou de sanguisugas ao epigastrio, e ás fontes da ca- beça , e do frio á estas mesmas partes, conforme a pre- ponderância da moléstia da cabeça, ou do estômago ; na administração dos calomelanos em pequenas doses, ou da pirula mereurial, seguida do óleo de ricino, rhuibarbo, magnesia &c. Quando o pulso he opprimido, se deve pra- ticar uma sangria do braço. Para maiores esclarecimen- tos sobre semelhante objecto , convidamos o leitor à ler as observações judiciosas do Sr. Annesley , expostas^ no Appendix. Neste periodo quando ha vigílias, e espasmos irre- gulares,. mas sem muita excitação febril, um cáustico ap- plicado á nucha produz muitas vezes um bom effeito. Nes- te estado temos tirado vantagem do uso do sulfato de quinina. O ópio e alcanfor são úteis nas pessoas de cons- tituições enfraquecidas, e de costumes intemperados, on~ de he diffisil conciliar o sorano. HO Dieta tios coNTAL-sseENTM. A dieta dos convalescentes deve ser simples, porém nutritiva, tendo attenção na escolha dos artigos, segun- do os hábitos e costumes adquiridos. Para alguns , hu- ma dieta láctea, ou de arroz com leite, pão com leite, gerecaia &c. convém peifeitamente. Para a maior parte dos indivíduos, os caldos ligeiros de substancias animaes, como chá de carne, ou agoa de frango, he preferível , sendo logo seguido pelas mesmas carnes , ou gallinha , costeletas de carneiro , ou bifes com pão e arroz. A ri- gorosa prohibição de estimulantes durante o periodo da mo- léstia , não se estende ao da convalescencia ; e por isso, áquelles cujos estômagos tem sido accostumados, por mui- to tempo, á uma estimulaçSo maior do que a simples- mente nutritiva, concedemos adubos , como a pimenta da índia , ou de Malaqueía , e a mostarda. Aos habitual- mente intemperados, quando elles se restabelecem da Clio- lera , ao bom vivant , e ao goloso , se pôde permittir um pouco de vinho , sendo puro e bom.' O vinho do Por- to , que costuma ser geralmente adulterado, não eonvém de modo algura ; e a cerveja , sendo velha , será então melhor : porém a pratica mais certa , tanto á respeito do estado presente, como dos resultados futuros, he a de se administrar á estas pessoas, de dia, um simples amar- go ( e d'estes ha poucos tao bons como o sulfato de Qui- nina , ou no seo lugar, uma infusão de macella, de ca- lomba &c. ) e quando ha insomnia, uin opiato de noi- te. Seguindo este plano nos conduziremos o doente, por todo o periodo da convalescencia, sem concedermos na- da ao seo appetite depravado para as bebidas fortes, por- que, de facto, antes o tiramos dos seos mãos costumes, e nem certamente lhe damos pega para se desculpar quan- do se demandar, vendo-se fora dos nossos euidados. APPE1NDIX. —■•• ♦-■>*>— ( A. ) — Veja-se pagina 85. Hehtorio de Cosas, de Cholera tratados no. Hospital do 14 Ba- talhão de Üua Magestudc Britânica, desde o dia 14 , atè o dia 31 de. JUarcfi de 18.28. Por Frederick Carbyn, Êsg. Será utii introduzir aqui , como prefacio á e?te Relatório s o plano geiM de tratamento uotado , e aconselhado pelo Senhor Corbyn. ** Tendo assim enumerado minuciosamente cs remédios, e as suas qualidades, pasmamos á. sua apilicição. Persuadidos, co- rno Cotamos, de que a parle mais material do eifeilo da molés- tia consiste tm uma iniLminuçúo incipiente, daqui se segue, 4jue o r< mcdio , que primeiro se deve applicar, he a sangria; c-ste na veidiitle, lie o mais importante, porém, ao mesmo tempo , lie um daqutlles que necessita de muitas restricçees neste cufco, como em todas as mais inflarcmações. As rcstric- ções , e limitações ã respeito desta pratica devem ser deter- nvinüdas pelo can.cter, e habito i\o indivíduo. O natuTal da Índia não posuue o metiuo habito jihlelhorico, e inSkmmatorio , como o Europeo, nem necessita da mesma traantidade de deple- çao; nms ambas setf.em ussíaii como q «alor ardente do r?[g Api*KKnix. estômago, deve-se administrar quatro oitavas de magnesia, n'om vehiculo conveniente, como por exemplo, a agoa dairo , de cevada. Depois d'isto se deve dar ao doente o seguiute. Tintura de Ópio Ph. L. 100 gotas. Agoa................. uma onça. Estes remédios devam ser repetidos tantas quanta vezes lo- rem rejeitados. Também se pode deitar immediatamente o se- guinte clystei-. Óleo de nlamona onça e meia. Agoa......• • meia libra. Este clyster se pode repetir todas as duas, ou tres horas, e depois dos calomelmos, e da bebida acima apontada, se de- ve dar, e repetir de quatro em quatro horas até produzir o seo devido eifeito. Jalapa em pó oitava e meia. Cremor de Tartaro meia oitava. Agoa........uma ouça. Logo no começo do attaque se deve applicar sinapismos ás plantas dos pés, e palmas das mãos; um grande cáustico sobre a região epigastrica, e abdominal. Deve-se mitigar a sede com agoa d'arro* , ou de cevad.i , tendo em dissolução uma porção de sal commum, e se esta continua , pode se dar agoa de cal, ( aqua caleis. ) A repetição da sangria , dos calomelanos , da be- bida opiada, e do purgante, assim como a quantidade do pri- meiro , e as doses dos tres últimos remédios , dependem de cir- cunstancias , e só podem ser determinadas pelo juiio do assis- tente. Alguns costumam usar rfesta oceasiao do banho quente; mas não podemos diier, que havemos observado muita utilida- de do seo uso; a fadiga da immersiso, o risco de apanhar ar ao sahir, o tempo, e o trabalho que exige, concorrem á fazer preferir o uso de outros remédios para excitar uma determina- ção â superfície. Nos preferimos a que se chama a massagr ou a acção de comprimir com as palmas das mãos , os músculos das pernas , e dos braços. „ Pode se apreciar a fé, que mereceo este tratamento, do Semanário do Conselho Medico de Bombaim , que diz o seguinte. " Acerca do curativo da moléstia, temos pouco que dizer. A pratica tão judiciosa, e promptamente adoptada pelo Dr. Bur- rell , no Regimento 65 prova decididamente, que a sangria he a ancora de salvação de uma pratica feliz , naõ só para os Europeos , mas talvez para os naturaes, comtanto que se a possa praticar logo no começo da moléstia, e em quanto as forças vi- taes aivvda conservam bastante poder, para produzir um fio co- pioso : Ja tem sido bastantemente provado que a debilidade de que os doentes tanto se queixam , não he se.não apparente. Os oalomelanos na ordem de remédios, seguem ás sangrias, e quaii- Afpenoii. 153 do empregados em doses competentes, com a combinação do ópio, principalmente na invasão da moléstia, parecem igualmente efficazes entre os naturaes, como a sangria entre os Europeos, para suspender o seo progresso. Em. todos os casos acima men- cionados, quando presenciamos a moléstia no começo do atta- que, um só escropulo de calomelanos, com 120 gotas de lau- dano, e uma onça de Óleo de Mamona, dada sete ou oito ho- ras depois, era suficiente para completar o curativo. O bom re- sultado d'esta pratica he igualmente evidente do Relatório do Dr. Taylor, que dó suficiente prova do effeito dos Calome- lanos n'esta moléstia. Todos os mais remédios, ria nossa opinião devem ser considerados como meros auxiliares, sem duvida muito úteis n'este sentido, e dos quaes nunca devemos esquecer, par- ticularmente o banho quente, e as fricções estimulantes. „ He digno de uma commemoracão particular, que o maior numero, «enão todas as mortes no Relatório tabular, foram de doentes á quem se tinha administrado agoardente. (*) (*) O Dr. BurrelI mandou o seguinte Relatório. Sangradas 88 morreram 2 Não sangradas 12 morreram 8 100 10 O Dr. Taylor dá este outro. Remédios administrados á 7459 Dos quaes morreram 441 $«ndo uma porção d* quasi seis por cento. 80 Relatório de Casos de Cholera tratados no Hospital do Regimento 14 de Sua. Mageslade Britânica, desde o dia 14 ate o dia 31 de Março de lS-ig. Numes. Quando at-tacados. Suando fjiriu-ííos no Hos-pital, Estado do doente quando Remed,ios administrados. Suando morreo. admittido. | Observações. fticíia/d E.vans. dia. h. 11 a m. li. 7 m. Jatos , vômitos , e dores pe-lo umlre , pulso quasi im-perceptível , feições em collapso, espasmos, caim-bras, grande abatimento. Calomelanos em doses <;c es-eropnlo, com laudano. ÍYi-çees, vesicatorio ao epe;as-trio, magnesia para fa:rer cessar os vômitos, s,iu;:ia de J.4oz , bebidas etiervis-centes.e depois, pur^citei. Convalescente. Ütccatt Gower. 15 8t. 11 t, Vômitos , freqüentes jatos aquosos, caimbras nas per-nas , oppress&o , grande aiiatimenlo, semblante c a-hido, extiemidades frias , voz desigual, pulso imper- Calomelanos em doses de es-eropulo, com laudan\ ma-gnesia para fizer cessar os vômitos , fricções , a 1 <;-.-.n-for , ammoaia . e pindas de ópio, agoardente queu- 16 de Março. s3f«U»e& Murphy. 15 1 m. 0 m. ceptível, Jatos , vômitos com caim-bras , pulso fraco , extre-midades frias, desassoce* Í?S>, e secura, grande aço-nia, e afflicção , evacua-ções aquosas. t.e, e sagu, Calomelanos em doses de es-crúpulo com laudano , foi sangrado até'>i oz. magne-sia para fa,:er cessar os vo-mites , fricções , c depois, pequenas doses droalome- Sahio bom. fcieorgt Lpng. 16 lt, 6 t, Colicas , dores pelo ventre , e epiunstrio, oppressâo . desassoce^o , náusea , vo. mitos,.latos aquosos, pul-so fraco, lanos , e a-.itimotiio. Sangrado duas vezes , calo-melanos cm fraudes doses, depois calomelanos com anümonio e purgante*- Sábio bom. rhonias Miighes. 16 5 m. 8 m. Joseph Clarke. George Deane. Thomas Purcell. Joseph Kettridge. William HoJlis. 16 12 t. 16 6 m. 16 5t. 16 8 t. 8 tj 11 t, Tontices, vômitos , jatos , e eólicas, extremidades fri- as , olhos encovados, pul- so nenhum , voz apenas sensível , desfalecimento. Vômitos e jatos freqüentes, pesu do estômago, pulso aecelerado e fraco, desfa- lecimento. Vômitos , e jatos violentos, dor do epigastrio, desas socego , pulso quasi ne nhuth , espasmos, olhos encovados , extremidades frias , desfalecimento. Vômitos, e jatos , tontices , grande abatimento , pulso fraco , auzensia de caim- bras , olhos encovados. Jatos, vômitos, e dores do lado direito, caimbras agu- das das pernas, pulso fre- qüente e pequeno , gran- de desassocego, e secura. Dor do epigastrio , náusea , pulso freqüente, semblan- te curado , vômitos e ja- tos violentos, auzencia de caimbras. Fortes doses de calomelanos com laudano, vekieatorio ao abdômen, fricções, ago- ardente quente , e sagu. Sangria de 20 oz., fortes do- ses de calomelanos, mag- nesia para fazer cessar os vômitos , foinentaçies, e depois purgantes. Sangria de 14 oz. calomela- nos em doses de escrOpu Io com laudano, vesioato rio ao peito, magnesia pa- ra fazer cessar os vômitos, fricções, agoardente quen te , e sãgu. Sangria de 20 oz., fortes do ses de calomelanos, e de- pois purgantes. Sangria de 20 oz., fortes do- ses de calomelanos com laudano, vesicatorio aoepi- gaítrio, fricções, clysteres anodynos, e depois peque- nas doses de calomelanos e antimonio, agoardent. quente e sagu. Sansrado duas vezes , calo melanos em doces de es- cropulo , véíicatorio ao e- gastrio - magnesia para fa- zer eessar os vômitos , e depois, purgantes. 16 de Março. 16 de Março, Sahio bonsi Sahio bom. Melhor , con- valsscente. Siláo boto. Relatório de Casos do Cholera tratados no Hospital rf# Regimento 14 de Sua Magestade Britânica, desde o dia 14 aié o dia 31 de Março de 1828. ( Continuado. ) Nume». Quando at- tacados. Jehn Herd. James Edwards. John Shirley. dia. h. IG 10 t. 16 10 m. 17 2n>. Quando mviu dos ao Hos- fv.tch a t. Estado do doente quando admittido. Colicas repentinas , vomito; e jatos, dor ilo epigastrio . caimbras das peruas, pul- so freqüente mas pequeno pelle fria , olhos encova dos. Vômitos, e jatos , pulso fra- co, desassocego, extreini- midades Irias , progresso de abatimento, oppressâo, semblante cabido. Vômitos , jatos , caimbras suores friores , pulso ne nlium , grande abatimen to, semblante medonho , sensação viscosa da pelle dor do epigastrio e ventre Remédios administrados. Quando morreo. Sanaria de CO oz. , calome- lanos em doses deescropo- lo com lau 'ano, vesicato- rio ao epigastrio , magne- sia para ia/, r cessar vômi- tos , clysteres anodynos e deoois pequenas doses de calomelanos e antimonio, purgantes. Sangria de 14 oz., calomela- nos em doses de esrropu- lo com laudano, magnesia para fazer cessar os vomi tos, calomelanos e antimo- nio em pequenas doses, sa- gii e vinho. Calomelanos em doses de es- rropulo com laudano, fri Ções quentes , cáustico ao epigastrio banhos quentes, magnesia para faz»r cessar os vômitos , sagú , agoar- dente, e depois calomela- nos , autimonio, e pur g-antes. latos aquosos continuaram muitos dias e.om grande franqueza e i-.ichaç-ão dos pés Convalescente. 17 de Março. Observações. Sahio bom. Henry Cavanaugb George Baxter. JohnButterworth. Henry Moore. Chr. Travesick. Thomas Carrotts, Willi»m Moore. 17 6 m. 17 7m. 17 12 m. 17 11 m. 17 4t. 17 11 ni. 17 11 m. 8 m. 12 m. 8 t. 8 t. Vômitos, e jactos, pulso fra- co, pelle quente, semblan- te pouco a'terado, exces- siva secura. Dor asíuda do t stomago com vômitos e jatos , caimbras nas pcrnai , pulso peque- no , e fraco . progresso de abatimento , olhos enco- vados. Jatos , vômitos , dor do ab- dômen, extremidades frias, pulsa apenas perceptivtl, semblante cahido, voz fra- ca. Dor de estômago , anxieda- de, proaresso de abatimen- to, jatos e vômitos, pul- so freqüente. Vômitos biliosos, freqüen- tei» jatos aquosos , anxie- dade , desassocego , ten- dência á desmaiar, dor d< epigastrio, grande secura progresso de abatimento. Vômitos, caimbras, puls< freqüente e cheio, ptllt quente , dor do abdômen peito e cabeça. Dores agudas do estômago, vômitos e jatos violentos, abatimento , mãos frias , pulso insensível, eaiml: do pescoço, e extremida- des. Sangria de 30 oz. , calome- lanos em doses de escrú- pulo , e depois purgantes. Sangria de 20 oz.. calomela- nos em doses de cserupo Io com laudano , fricç-ões , cáustico aoepigastrio, ago- ardente quente, e sagú. Calomelanos em doses de es- crúpulo com laudano, ve- sicatorio aoepigastrio, fric- ções, agoardente quente e sauü. Sanaria de 20 oz., calomela- nos em fortes doses, mag- nesia para fazer cessar os vômitos , e depois calome lanos , antimunio, e pm- gantes. Sanaria de 20 oz. , calome- lanos em doses de escro pulo com laudano, e de- pois calomelanos, antimu- nio e purgautes. Sanaria de 20 oí. , calome- lanos em doses de escro polo , cáustico ao episgas trio e puraante. angri de 20 oz., calomela- nos em doses de escropu- lo com laudano, cáustico ao peito , fricções , agoar dente quente , e sagú. Sahio bem. 17 de Março. 17 de Março. Teve nm atta- que violento no Fort Wil- liam. Sahio bom. 21 de Março. Sahio bom. Relatório dt Casos dr Cholera tratados no Hospital do Regimento 14 de Sua Magestade Brita dtsde o dia 14 até o dia 31 de Março de 1828. (Continuado.) Nomes. Thomas Dobson. üeorge Wyatt. James Gray, Edward Rosse, John Davis. Suando at- tacados. dia, 17 h. 10 m. 18 In, 18 õ m. 18 7m. 18 5m. Suandoenvia-\ des ao Hos- pital. t. 11 m. Estado do doente quando edmitiido. Remédios administrados. Quando morreo.] Observações. Dor de epigastro, grande'Sangiado tres vezes, calome- abatimento e prostração, lauos em fortes doses, ma- nausea (teve Cholera em Muttra) pulso cheio. Jatos e vômitos, dor de es tomago , caimbras , pulso freqüente , mas fraco , se- blante curado. Colica, dor de ventre, jatos, e vômitos, caimbras no epigastrio, jatos aquosas, pulso cheio , anxiedade , vômitos verdes. Colica, náusea, dor de ca- beça, jatos aquosos, an- xiedade , e desasoeego , pulso freqüenta, progres- so do abatimento. Jatos , e vômitos violentos de um iluido aquoso, dorj pelo ventre, txtieuiidudesi frias, grande desasoeego, caimbras, sembbnt" ca- bido, pmece que as tor- ças estão se declinando rapidamente. gnesia para fazer cessar os vômitos , pequenas doses de calomelanos , antimo. nio, e purgantes. Sangria de SO oz. calomela- nos em doses de escropolo magnesia para fazer cessar os vômitos. Sangria de 30 oz. calomela- nos em doses de ■; ..ropulo com urn grão de o;io, ma- gnesia para fazer cessar os vômitos e depois ealooae- lanos e antimonio, em pe- quenas doses, e purgantes. Sajria de 30 oz. calomelanos em doses de escropulo, fo- mentações, magnesia para fazer cessar os vômitos, e d.-pois purgantes. Calomelanos cm doses de es- rropulo com ópio, magne- sia para faz-i cessar os vô- mitos, fricções, cáustico ao atubmen, bebidas estimu- lantes, agoardente esagü. 18 de Marco. Sahio hora. Sahio bom; Sábio bom. (Seorge Laek. James Lawion. t John Beasley. Thomss Radsford William- Topham. George Aldbury. Willíam Lepper. 18 1 t. 3 t. 18 1 t. 3 t. 7 t. 16 51. 7 t. 18 21. 8 t. 18 5t. 10 t. 18 8t. 12 t. 18 5t. 1 Vômitos e jatos, muita dor pelo ventre , desasoeego, pulso fiaco, secura, ten- dência ao desmayo , an- xiedade , aiflíc«ão, muito abatido para dar a histo- ria da sua moléstia. Dor de cabeça e do estôma- go, vômitos com desaso- eego, ausência de jatos. pulso freqüente, anxieda- de, e semblante aftiicto. Dor do estômago com ja- tos viqleutos, vômitos a- quosos, pu!st> freqüente, suores frias , semblante cahirio. Dor do estômago com vô- mitos e jatos,, pulso fre- qüente, pelle quente. Dor do estômago com vô- mitos , pulso freqüente, e pelle quente. Dor pelo ventre com vô- mitos , pulso freqüente , pelle quente , fortes ca- imbras d,as pernas , rede urgente , tremores fortís- simos , Dor pelo ventre e epigsslrin com tendência a d.-sinayar par.ee muito abatido. Sangrado duas vepes, calo- melanos em doses de es- crnpulo , com laudano , cáustico ao peito, tncçòVs, e depois caiomcbnos em peqntmas doses e purgan- tes. Sangrado tres vezes , fortes doses de calomelanos , e depois calomelanos e auti- muuio em pequena» doses. com fomentações purgali- vas, San ria de 25 oz. fortes do- ses de calomelanos cur laudano, cáustico ao pei- to, f-i-çõe:-, magnesia pa- ra fazer essar os vômitos mai. bebidas de laudam com ammonia. anaria de '50 nz. fortes do Zts de calomehuies, o de pois purgantes. angria d,." 20 oz. calomela- nos em der. s de estiopu Io, e depois pur.aanles. angrado ihm". vj-zís forte: doses de calomelanos, con laudaim, m rrnesia para Ia zer cess.a o> vômitos, caus tico ao peito agoardenti quente e sagu, depois pe- quenas doses de calomela- nos e antimonio com pui ^an.es. Sangria de 20 oz. pnrgantes. 21 de Março. Sábio bom. Convalescente. Sahio bom, Sahio bom. Bêbado, expos- to ao Sol, au- sentou-se do campo todo o dia, sangrado a 40 oz. com allivio unme. diato. ' Sahio bom. Relatório de Casos de Cholera tratados no Hospital do Regimento 14 de Sua Magestade Britânica, desde » dia 14 até o dia oi de Março de 1828. (Continuado.) Nomes. Suaudo at- tacados. Quando envia-\ r, . , , , , , d fios Estado ao doente quando pitai. admiti ido. Remédios administrados. 2uanao morreo. Ob servaço( Samuel Marvin, John M' Crea. Michael Brady. Antbony Murray. dia. h, 19 11 m. 11 11 m. 19 lt. 19 5 i t. 1 t. Vômitos e jatos, dor de epi gastrio , pulso freqüente . semblante aneioso, e des- asoceaado, caimbras, pe< frios, collapso, d.sf.iüeci- mento, oppressâo na re- gião precordial. Dor no estômago, nmsea pulso freqüente , pelh quente , muito desas >ce. gado, grande secura. Dor do estômago com vo. mitos , pulso freqüente , pelle quente , semblante corado, grande secura. Vômitos, ejati>3, muito des- asocegado e aneioso, dor do epigastrio , grande se- cura, pulso fraco, caim- bra» das pernas, e lom- bos , vômitos de um flui- do branco, muito abati- do para dar a historia de sua moléstia. Sanaria d; 30 oz. fortes do- ses de calomelauüs, mag- nesia para faz r cessar .;. vômitos, cáustico ao epi- gastrio, fricções, agoardee- te quente, e sagu. Sangria de lõ oi. calomela- nos em doses de escrúpu- lo com antiinonio < lystç- res de Ipecacuanha, e pur- gantes. Sangrado duas vezeí, calo melanos em doses de fs cropulo com laudano, ma gnesia para fazer et asar o vômitos, e depois calome lanos e aniimonio e un cáustico ao pescoço. Calomelanos em doses de es- cropulo com laudano, ve zicatorio ao epigastrio, ma gnesia para fazer cessar os vômitos , fricções , sagüi quente , e agoaident» , e depois pequenas doses de' calomelanos, antimonio, e purgantes. 20 de Maryo. Sahio bom. Convalescendo Sahio bom. John ílowe. 18 8 t. 1* 8 t Edward Moore. James Watts Thomas Grav. John Whitehead. ThomaaThompson 20 5 m. 20 1$ m. 30 8 m. 6 t. Dores do peito e dos mem- bros , jato;. grande desas- socego, pulso freqüente-, anxiedade , vômitos sec- cos , a dor e a oppressâo sojrevieram repentina- mente com tontices e ten- dência á desmaiar. Tontices , vômitos de um fluido verde e auiargoso , dor do epigastrio, pulso fraco, linaoa suja, ausên- cia de jatos, grande secura. Vômitos biliosos e aquosos , Calomelanos em do: jatos, dor do perícardio e ventre, desassocego, an- xiedade, progresso de aba- timento , pulso fraco. Vomites de um fluido verde. amargoso, bilioso, e aquo- so , jatos e dor do pericar- dio e centre, ligeiras oaim- cras, oppressâo, pulso col- lapso , fraco , grande aba- timento. Vômitos e jatos , tontices. caimbras das pernas, doi- do estômago , abatido e aneioso , pulso quasi im- perceptível. Tontices , e. dor da cabe vômitos amargosos e aquo- sos , abatido e cahido, uu sencia de jatos, pulso qua si imperceptível, peile fria Calomelanos cm doses de es- cropulo, magnesia paia la- zer cessar os vômitos, clys- teres anodynos , e depois pequenas doses de calo- melanos e antimonio com purgantes. Calomelanos em fortes do- ses , magnesia para fazer cessar os jatos , e depois purgantes. de es. cropulo , cáustico ao epi- gastrio , maanesia para fa- zer cessar os vômitos, fric- ções e depois purgantes. Calomelanos em doses de es- cropnlo com ópio , cáusti- co ao peito, maanesia pi- ra fazer cessar os vomi'os, e depois pequanas doses <'.-■ calomelanos , antimonio , e purgantes. Calomelanos em doses de es- eropulo com laudano, ma gnesia para fizer cessai ns vômitos, cáustico ao estô- mago , fricções , e depoi? calomelanos, antimonio , e pu gantes. Calome anos em ii-.» es de es- ei-opi Io com laub: ."- caus- tico ao este sia para fazer ce-,, o os vô- mitos, fricções , e depois purgantes brandos. Itdut-jrfo de G:-■■- de Choiera Ir at adis ro Ui^piíni do !\ ;y--.ire- 11 de Sua Magc desde o -dia 14 ato o dia dl de Março de 1828. ( í\<;: imundo. ) ,7-7ie En';*i:C(! Wüliam Ivinr. fícerac Oel.iltrec. Lcggins. li. 8 m. Quando envia- dos ao Hos- Estado do íhivte quando odvnJhio. lie medi os c ,.t 21 7 t. Cavalia;;-| 21 7 m. :-'■■ I 11 TO. fontice.i , dor do epigas-jrortes doses d*, c.-b.^-ebp.osj I iio , uausr a , |r,ii).-, cr.ini- com laudano, cwosic.s .e. bra» das pernas , desasso-j cpigasíi 10 , magticsia para cego , inuiio abiudo , pul-, suspender os vombja , c so fraco, attacado i-c;h:ii-I depois'pequenas doses d. tinameiitc. I caionu btios , antimonio t e i.-um puraan Vimiit limbras violen- tas , pulso fraco , austu- cta de jatos , dui.oite r eoinalrseoiieia ;c: detec- ções verdes e bilicias. Caloinelano; em' doses de es cropulo com laudano, ;,au. ur.vlo tres vezes, niaane- si-i pira fazer passar vômitos, fricções, e calo- melanos com autônomo. Vômitos seguidos de iatos [Calomelanos èm doses de es- dores dos membros , suo- res frios , pulso fraco , op- pressâo , grande secura , progresso de abatimento. Jatos , dor d" epigastrio tem vomitado, pulso fra- co, voz tremula, parece op- primido , e o.mçado , fre- qüentes canonia» , dejec- eões brancas < aquosas. cropulo com laudau C v si pz.iv fazer ce vômitos , bebidas efferves- cenles , cáustico ao gastrio , e espinhaço • bidas estimulantes , aa dente ouento o saa;: Calomrlr.tios em dor-cs d f r-et -opulo, cáustico ao pi to , magnesia para b/.;- cessar os vômitos, frio õ< ■? agoardente quente, e saen e depois purgantes. 28 de IVIai., ..Iiio bo.m. Conva! iscente, D oll ípso du- ro circo cias, o dep .-ís so- breveio delí- rios , o cal :r leapu.ireeeo n.is extvemi- dsobs , n.r-s ínovi-ee ív- pentin iinkley.! 22 10 m. muito abatido, apenas po- de contar a historia da sus niolettia , ex irem idade: frins , parece desfalecen- do , suores frios , pulso quasi iiiipsicepiivel. Jatos e vômitos, parece a-'CaIomelanos em doses d bacido e canrado, pulso e) escrspulo com laudano. com laudano, ma. gnesei ;>ai : fj,:er cessar os vomito;, bebidas anodi- nas com etl-.cr. fricções, vinho quente, e sagü ■espiraçao fraca, Jatos aquosos, durante o dia, abatido , pulso fre- qucuíe e cbeio, olh.os eii-| Te\ e is , e>: eessiva secura pi- riesia para fazer ees vi. mitos , cáustico a. gasírio, c pequenas dose: de calomelanos e antimo nio. Calorm 'im-s em doses de es cropulo com laudano, ma- gnesia para faz. r cessar os vômitos , fricções, fomen taçõe-, sagu e vinho, pe- quenas doses de nos, c antimonio e purgan- tes. Sangria de 20 oz., ealomeia- nos "in doses de escropu- lo com inudano, e depois calomelanos e antimonio, purgantes. Caiome':moS cm doses de es- , ciloiiit lauos, an- timonio em jjeqneiins do- ses, clvstcres cnodiiios. ISa, dr zeS, peque- uns doses de calomelnno, ,j c antimonio, <-lj «ler..;, .loe-j dinos, purgantes buiudus. ' John Mills. Jeremíali Fretter James Willis. Thomas Cooper. jPatrick Carey. ?3 9 m. 33 12 t. 23 7m. no haspital 24 5 m. 24 1 t. 10 m. ohsevad» 10 h. m. Dor do peito, e do epig.cs. trio, vômitos e jatos, pul- so cheio , anxiedade e desasoeego, pelle humida e viscosa. Vômitos e jatos, dor de epi- trio , grande desasoeego , pelle fria e humida, pul- so molle, collapso, abati- mento, auxiedade. Fortes dores de cabeça, do res do estômago, vômi- tos biliosos , pulso fre- qüente, olhos avermelha- dos. Vômitos, e jatos , desasso cego, pelle fria e humi. da , pulso imperceptível, semblante cabido. Vômitos e jatos , desasoce go, pelle fWa e viscosa, suores fr;os , collapso, ex- cessiva secura , voz mu- dada , olhos pesados e encovados, Vomkos e jatos , caimbras das coxas , desasoeego , pulso freqüente, anxieda- de , e oppvessão. Sangna dr. Ifi oz. oalomeb. nos cm doses de escrúpu- lo com laudano, elystei anodino. Calomelanos em doses de e .- eropulo, cáustico ao ser-l biculum cordis, o espinha- ço , fomentações, fricçaes, agoardente quente e sagu. Sangria de 20 oz. , calome- lanos em doses de escrúpu- lo , magnesia para fazer cessar os vômitos , cáusti- co ao epigastrb), pequenas doses de calomelanos e an- timonio , bebidas efferves- centes. Fortes doses de calnmela- nos com ópio, fricções. cáustico ao epigastrio, be- bidas estimulantes, agoar- dente quente e sagu. Clysteres anodynos, calome- lanos em doses de escrúpu- lo com ópio, fricções, cáus- tico ao epigastrio, e depois pequenas doses de calome- lanos e ppio , agoardente! quente , e sagú. Calomelanos e ópio em pe quenas doses, magnesia pa- ra fazer cessar os vômitos fricções. 24 de Março. 23 de Março, 25 de Março. Convalr.ccente. Convalescente. Se achava á lti 1 dias no liosui- tal com bubào as 7 horas da manliâseaxa- va bem, ás 10 | muito abatido e morreo ás 7 da tíde. Lotivaicsceute. Relatório de Casos de Cholera tratados no Hospital do Reginmsto 14 de Sua Magestade Britânica, desde o dia 14 aié o dia 31 de Março de 182S. (Continuada.) Nomes. Quando at-tacados. Quando envia-dos ao lios-pdat. Esl.ido do riori!?? quando Remédios administrados. Quando morreo, Observa ções. Jmncs Et'pps. • li-.i. b. 24 5§ m. h. 8 m. Desma- o t durante o exer-cício, nuiio fraco, tem vo-mitai.'o , peh > fraco, pel-le '| ; • . - , tontice , an- Calomelanos em doses de es-cropt.'o, calomelanos e an-timonio em pequenas do-ses, sagu e vinho. Sahio bom. Wdbbm M- Le- 24 9t. 10', t. xic.lc.i_- ...• eo.-.iimcnto., Do, c'o , stornago e »«.: '■ : Coleci-brios em doses de es- . Convalescente. land. pulso freqüento, \ s Irn , caimbras das mã is , , •: ■ nas, coxas, h.us - :os d■■ pesewço , e peito - dor á erop:.:\> e-)>n ópio, magne-si-i para fizer cessar os vô-mitos, cáustico ao rpigas-tno , s.oigna de 20 oz. Dtm: M' lutobi. 24 ôm. 10 m. epigastrio. Dor pelo ventre, fc;n jbu vômitos verdes, e '■■;'.< ■-sos, pulso freqüente , p. 1-le viscosa. ' "ei >m»i inos cm doses de es-e-.-"p.ilo,( :iu-'tico aoepigas-trio, frio ões, sangria de20 oz , depois pequenas doses de calomelanos e antimo- Convalescente. Mich. Whiiaker. 2t 2 m. 1'onlices, náusea, gr-id secura , dor da cat) i a , pulso freqüente, c.utubias. nio , clvsteres anodinos. S:ui -rado'iluas vc-zes , fortes doses de calomelanos. - Convalescente. Ib:-»V Tunler. 24 6 t. das pern.ai. 1 Vomito» e jato-, I: 'T >-i su-ja , pelle im.u.-h', , e vis-cosa , semblante coiv.do .' pai-o ficqueuto. Ce.lomele.rios em doses de cs-cropulo com ópio, magne-sia p;n a taz-r cessar os vô-mitos , sangria de 25 oz. - Con-valescente. Simon i.vonard. | | 2i 10 m. 25 21. [õ.it.s caimbras dos pés, peruas e ab lomen , olhos ens.oados, suor frio, pul-so nenhum, grande •ws-*»- Cal j'ii'.'b.-„o3 eui doses de es-crúpulo com ópio , fnc-eo s, cáustico ao epigas-trio, agoardente quente,. 25 de Março, J saeea» ç abatimento. e sagu. ' Joseph Sylvester. 28 5 m. 3 t C :-o-r;e Havle. John Atkins. Jehn Ward. John Chell. 26 5t. 2G 9t. £G 8 t. 27 8 t. 1 t. 11 t. Jatos, abafimento, muito ca- iu le , náusea, vomites e dor do epbastrio e peito, muito Cíduao quando vo- mita. Atia-aelo rie jatos e vômi- tos aquosos. parece aba- ti,.o dor e peso do es- Iccogo, lingu.i branca. pulso fraco, pelle viscosa. Vômitos de um flui.'o asse- melliao-lii-s" átiíoa dar ro;:. e,v: no eston.e. :o , c- epiL.-islrio, depois appme- ccram jatos , o'y~ r sa- cio:, e veimclhos, pulse fraco , pelle fria, caim- bras das pernas. Fraco , e laiiguido, dor do estômago, e epigastrio , tem lido jatos, mas sem vômitos, pulso regular ,| e antimonio , pur^amc mas f,.,co, hngoa I.rança.| Fortes \oinitos biliosos, se-Pequenas doses de calonie- guidos de jatos iquosus.j lanes com opio , fricções cppriínidn, mio-o ,-:.;,*d,i.| civsteres -.ínodincs , bebi. Calomelanos eni peouenns «1(.^>, deste:.. .--...Vi,cor- pos de Dover, purgante-., e tônicos. Pequenas ôo?--:. de cr.lomela- nos com opio, cp-sicrcs a- nodinos, cáustico ao epi- gastrio, pequenas doses de pós de Dover, magnesia pa- ra b-er ccs--i.r os vômitos. bub s doses de calomelanos rom opio, maguesia paia fazer íe.ssHV os vômitos , cáustico ao peito , depois peii.ie.nas dosos de cal leuos com opio, antimo- nio , calomelanos e pur- gantes* Calomelanos em doses de escrúpulo, depois peque doses de cabinelano tns"e, pulso iraco. ?or- tes caimbras de. p; ro..:- . e coitas, snore., iius, pel- le vim . sa, dor e peso do epi^istrio. di-.s estimulantes, cáusti- co ao epigastrio , ago.cr- dente e sagu, I.M.T-hor. Convale* sente Convalesceu' Melhor. Melhor. Relatório de Casos do Cholera tratados no Hospital do Regimento 14 de Sua Magestade Br.lanicu. desde o dia 14 ai-, o dia 31 de Março de 1828. ( Continuado. ) Nomes. John Rickett. Mat. Darlow. John Baker. fred. Hobbs. Jumes W Çol- • lo-Jgh. 2uando at- tacados. dia. h. 28 5 m. 6t. 28 7t. 28 5t- W 5t, Quando envi tios ao Hos pitai. Estado do doente quando admittido. Remédios administrados. Quando morreo. Vômitos seguidos de jat biliosos, fortes caimbras das pernas, fortes dores do epigastrio , olhos ver- melhos e pcados , pelle fria e humida. grande se- cura , pulso fraco. .latos, vumuis bdtosos, dor do estômago , pulso fre- quente, grande desasoce- g°- Tontices, dor de cabeça e o epigastrio, vômitos bi- liosos , jatos uraentes , grande secura, pulso fra- co, peile humida, e fna; pálido e abatido. Dor pelo ventre , e epigas- trio, jatos e vômitos aquo- sos, pulso fraco, grande secura, abatido, e triste, lingoa suja, lijeiras caim- bras. Queixa-se de peso do epi- gastrio, vômitos, e jatos, tontices, pulso freqüente, pelle humida. Cáustico ao epigastrio, for- tes doses de calomelanos com opio, clysteres ano- dinos. Sangrado duas vezes , calo- melanos em doses de es- crúpulo , coin opio. Pequenas doses de calome- lanos com opio, fricções, cáustico ao peito , ety-te- res anodyuos , maguesia para fazer cessar os vômi- tos, sangria de iò oz., de- pois purgantes. Calome!.mos em doses de es- cropulo com opio, cáusti- co ao peito, fricções, ma- gnesia para fazer cessar o vômitos, clysteres anodi- nos. Calomelanos cm doses de rs | cropulo com opio, sangii; de 16 oz., depois brando, purgantes. Coir.aleseente C on vale -iceate. [> TI M Coiivaiescente ^ O i Convalescente s.ob Carlile. 1 26 101. 11 t. Daniel Jordan. j ->l 1 w. I Ezekiel Boot. 28 71. Timothy Silby. John Murtin. 29 3 m. David Pradtt, 29 3m. S m- Bf m. « m. Attacado de tontices , e se- aura , com sensação de abatimento, pulso freqüen- te porém languido , tris- te e cabido. Desmayou durante o exer- cício , peso do estômago , parece cahido e triste , pulso fraco Vômitos seguidos de fortejs caimbras das pernas, dor do estômago , pulso fre- qüente echeio, pelle quen- te, grande secura. Vômitos, dor do 'epigastrio, olhos pegados e verme- lhos , grande desassocego, pulso fraco, grande secura. Grande anxiedade , e desfa- lecimento , jatos fétidos vômitos aquosos, dOr agu- da dó epigastrio, cajmb.ras' das pernas , pulso fraco semblante cabido, voz mu dada,'pelle fria e visco sa , abatimento augmen tando. Dor aguda do epigastrio , seguida de vômitos, pul- so fraco, pelle fria, de sassocego. Calomrlanns em doses escujoido , e purg- brandos. Pequenas dose* d.* i deu. -i lanos , e purgantes bran-( dos, sangrado duas vezes. Sangria de 30 oz. , calome- lanos em dós: s de esero- pulo , depois pequenas do- ses de calomelanos , e an- timonio, purgantes bran- dos. Sangria de 15 oz. , calome- lanos em doses de escro- pulo , depois -purgantes brandos. Pequenas dos^s de calome- lanos cóm laud-.no , vcsi eatorio áo epigastrio ,*"fric- ções , clysteres anodyuos bebidas estimulantes, ago ardente e sagú. Calomelanos em doses de escropulo com opio , e purgantes brando?, 2a de Março, Convalescente, Convalescenie. Convalescente. Foi d'uma cõs- tituifjão muita delicada, teve uni furte atca- ► qus de febre remittente em Dezembro, e a dysenreria em janeiro. Convalescente. jielatorio à. Casos de Cholera irutados no Hospital do Regimento "*j££?aiaig ^^^ desde o dia 14 até o dia 31 de Mar Co de 1828. (Continuado.) .fíbii, 3ycMcy. 'y üliam Mouk*. Quando at- tacados. dia. h. 29 5 m. Jinl-liii"'!!!!'! dos ao Hos- pital. 7 t. 21* 12Í t. meio dia. joseph íame» Ha b» i 39 12 11 t. 4 si. 30 Estado do doente quando admittido. Remédios administrados. Vômitos , jatos aquosos , matéria vomitada se as- semelha com a agoa de arroz, dor aguda pelo ven- tre e no epigastrio, for- tes caimbras das pernas e coxas , semblante tris- te , olhos pegados« pul- ls» fraco. Olhos pesados elanguidos, semblante triste, desmaios, vômitos de um fluido su- jo liinoso, dor aguda do epigastrio , e pelo ventre, grande oppressâo, caim- bras dos pçs e das pernas, pulso vagaroso e fraco, pelle humida , grande se- cura. Fortes caimbras, soffrendo muitos vômitos aquosos, dor ardente do epigas- trio , pnlso fraco, pelle quente. Jatos aquosos urgentes, vô- mitos de um fluido gros- so, e bilioso» pulso fra- co ,dor do epigastrio» muj- to opprimido , grande de- bilidade, olhos laue,ui4o«, Calomelanos em freqüentes doses com opio , fricções , cáustico ao epigastrio, be- bidas estimulantes , clys- teres anodynos, magnesia para fazer cessar os vô- mitos, sagü, e agoardente, 2uando morreo.] Observações. Convalescendo Calomelanos em doses de es cropulo com land.ino, ve- sicatorio ao epigastrio, sa gú , e vinho , e depois pe quenas doses de calome lanos e antimonio. Sangrado duas rezes , ca. lomclanos cm doses de es cropulo, purgantes bran dos. Çalomelano* em dose* de escropulo com opio , ma- gnesia para fazer cessar ps vômitos , cáustico ao epigastrio , clysteres ano- diuos , bebidat estimuUn- 30 de Março. Convalescente. Convalescem!» Williaip Scott. leorge Pollard. 30 5 na $ Um. S m. 1 t. Jokn White, il » «. te», fricçõe», stgü. e agoar- dente- Calomelauos em doses de escropulo com antimonio, e purgante» brandos. desfallecimeuto , suores frios , respiração laborio- sa , grande secura. Adoeceo durante o exerci- do , dor da cabeça e das costas , vômitos ligeiros , desassocego , pulso fre- qüente . pelle natural , tontices , grande, secura. , Parece muito languido e e»- Pequenas doses de calame- tupido ? respiração Jato- Janos com opio , clyste- rioaa , jatos amarellos e res anodynos, cáustico ao aquosos , Vômitos amar-. epigastrio , magnesia pa g-osos e biliosos , dor de um lado, calor do epí- §ast rio , desmaios, gran. e secura , pulso cheiff e mo lie , ltrigoa branca. Dor da estômago com náu- sea , dor da cabeça, de- sassocego , pulso freqüen- te , pelle seçca , semblan t» corada, grande secura ra fazer cessar as vômi- tos . purgantes brandos , sagu quente e vinho, Calomelanos em dosei de escropulo , sangrado duas vezesf purgantes. Coavalapeenda Cosvalei ceada Convalescendo 17â APPKNDIX.' ( B.) — Veja-se pagina 137. ( Resumo do tratamento adoptado por tres Práticos em •ier.ia deve hesitar, se o doente possuir algum vigor de corpo, em iiundar sangrar copiosamenle , precedendo ou acompanhando esta deph ç-iio , um leve vomitorio de ipecacuanha, ou d'agoa com sal, ao íjuul se seguirá um cljster anodyno. Eu costumo adiai» Appsndix. 175 nistrar depois uma pirula de dou3 grãos de calomelanos , com a sexta parte de um graõ de opio, de meia em meia hora, com a mistura cretácea, ou o julepo salino, no estado de effervexen- cia • e isto por algumas horas, até apparecerem dejecções com mistura de bilis. Para ajudar a operação d'estes remédios, es- pscialmente se os vômitos sao excessivos, mando deitar clyste- res emollientes mornos, e depois administro o tratamento da Febre continua. No estado de collapso, ou quando este se avi- zinha, doa uma colher pequena de mostarda em uma pouca de agoa morna, de cinco em cinco minutos, até fazer vomitar, e no mesmo tempo mando deitar clysteres eopiosos de agoa mor- na com sabaõ, tantos quantos se poderem deitar, Tenho acha- do esses meios mais profícuos para restabelecer o calor do qua os externos , de qualquer natureza que sejam : comtudo , nao des- preso estes últimos, e mando fazer applicações quentes aos pés, mjos , e axiilas , assim como esfregar bem o doente com um linimento estimulante de Espirito de Terebintina , Tintura de Capsicum , e Óleo Alcanforado ; applicando ao depois, pelo es- paço de duas horas, o banho de ar quente, na temperatura de 81." F. No entanto, logo que o vomitorio tem produzido o seo devido effeito, dou seis grãos de calomelanos, com um quarto de grão de opio de quarto em quarto de hora, junto com duas colheres de uma mistura composta de tres oitavas de Espirito de sal ammoniaco , e a mesmo, quantidade de Espirito de Min- derero, misturado com caffé quente; dando de mais a mais para bei.or, fluidos quentes á miúdo, e copiosamente. N'este perio» do tenho experimentado as^az freqüentemente a sangria , porém sem beneficio algum ; e esta com eífeito parecia-me apressar a morte do doente. Os clysteres devem ser repetidos á miúdo , em quanto não apparece a reacção. O terceiro periodo , ou o de reacçaô , naõ exige outro tratamento que nao se ja o do nosso ordinário Typhus Mitior, com a única excepçaõ de que a san- gria naõ deve ser usada, senão com a maior cautela, porque como me parece , he em conseqüência de ser ella muito copio- samente praticada, em casos impróprios, que o estado de col- lapso reapparece, e o doente morre. Ha geralmente n'este pe- riodo uma tendência á congestão no cérebro, ou no ligado, e que exige a applicação de sanguisugas , e de cáusticos. A mor- tandade na minha pratica , era , durante as primeiras tres sema- nas , exactamente na proporção de dous á um , mas desde que principiou este mez de Janeiro, tenho tido sete casos, para a maior parte dos quaes fui chamado com tempo , e d'estes seis se a- cham convalescentes, e um só morreo. Na Villa de Walls-end , com uma povoação de 3000, tem acontecido até aqui somente quinze casos, e quatro mortes. " Nas observações acima, só me tenho referido à rainhs pratica individual, e aos seos resultados. Apezar de ter tidci 176 Appendix tres doentes em uma só casa, naõ tenho, por ora, encontrado facto algum que confirma a doutrina de contagio. Sou com respeito. D. M. Aliam. Blackett Square, Sabbado 14 de Janeiro de 1832. ( C. ) — Veja-se pagina 137. Pratica do Dr. Condie, em Southzsark , no Hospital des- tinado para a Cholera. Primeiro Período. Dores no estômago e nos intestinos;. sensação de lassidai*; ronco das tripas, como se o vento passasse por meio de um fluido; freqüentes tontices, e dores de cabeça, e também do» res nos joelhos e nos lombos; pulso variável; lingoa cuberta de um muco ralo e branco, ou amarello; ou muito sabnrrosa no centro, e vermelha nos lados; appetite diminuído; sede aug- mentada ; freqüentes dores pungentes , ou lancinantes nas bar* rigas das pernas. Estes symptoma6 saõ , pela maior parte das vezes, accompanhauos de náuseas, freqüentes jatos aquosos, ou uma inclinação constante á ir á banca sem poder deitar consa alguma ; ou unicaraante uma evaeuaçaõ rala e viscosa , as vezes misturada com sangue : e este periodo pode durar alguns dias , ou somente algumas horas , antes de sobrevir os verdadeiros symptomas da Cholera : a occurrencia d'estes últimos depende principalmente dos hábitos e constituição previa do doente. Nas pessoas debilitadas, e nas intemperadas , as evacuações intesti- naes sao. logo desde o principio geralmente muito copiosas, se- rosas , e produzem, uma sensação de extremo abatimento, de fraqueza, e até de desmayo; n'estes casos os espasmos, os voc mitos, e o collapso podem sobrevir em poucas horas: qualquer imprudência no comer, ou no beber, exposição imprópria &c. fará também accelerar o apparecimento do segundo , oa terceiro periodo. Tratamento. —>- Este varia algnma cousa conforme a idade, constituição , e habito, do doente , e as indicações tiradas dos symptomas que em cada caso se appiesentam. Tenho tirado., muitas vezes , vantagem da sangria do braço; outras, as sanr guisugas e ventosas ao estômago saõ decididamente úteis; as- sim çomp os pediljyia, seguidos de fricções ás extremidade». Appendix1 177 Nos casos em que a diarrhea he considerável, o óleo de riei- no, combinado com uma porção competente de opio, modera brevemente este symptoma; em outras porém , onde a diarrhea era mais copiosa, o opio combinado com a pirula mercuri.d , tem feito, em pouco tempo, cessar as evacuações pelo ano, e depois de algumas horas, produzido evacuações escuras, e con- sistentes , e então cessam todos os symptomas incommodos. Nos casos onde existem symptomis dysentericos , tenho sempre con- seguido um perfeito curativo por meio de sangrias no- braço, e ventosas, ou sanguisugas á região epigastrica, seguidas pela pi- rula mercurial combinada com opio: com este tratamento appa- receram evacuações escuras , como alcatraõ , o as funções do es- tômago, e das tripas, logo se restabeleceram. N'e«te periodo he muito preciso grande cuidado no vestuário, e na dieta. Em quanto continuavam os symptomas mórbidos , tenho limitado os meos doentes exclusivamente a agoa de gomma y ou de arroz, bebidas frias, e em pequenas porções; e por alguns dias de- pois de se restabelecerem as evacuações naturaes , á mingáos fei- tos de avêa , e leite fervido engrossado com farinha, ou bolaxa. Segundo Período Dore9 violentas do estômago, e tripas, repetidas á miúdo;: dores de cabeça e das costas ; continuados vômitos , e jatos de um fluido assemelhando-se á agoa de arroz ^ sede urgente, e espasmos fortíssimos, principalmente dos músculos das extremi- dades. A pelle ainda morna r porém alagada em suores, e com uma qualidade viscosa; a lingoa como no primeiro periodo; tem. peratura das mãos, e dos pés, diminuída; o pulso assaz fre- qüentemente cheio, e com alguma firmeza, outras vezes, muito compressael , ou pequeno e contrahido ; as faculdades intellec- tuaes intactas;, o semblante indicando grande anciedade ou so- frimento. Neste estado a secreçaõ da urina he , muitas vezes inteiramente suspendida, ' Tratamento---Medidas activas são precisas, pois que se estes symptomas não forem logo moderados, o collapso sobre- virá em pouco tempo. Do grande numero de doentes que te- nho visto n'este periodo,. não tenho perdido um só. Meo cos- tume invariável he de abrir uma veia no braço, e tirar quanto sangue permittir o- estado, do pulso. Se a quantidade extrahida or pequena , ou os symptomas não foram bem evidentemente ai- liviados com esta primeira perda , então mando applicar vento- sas sarjadas ao ep.gastrio ,. e as vezes , ao longo do espinhaço. Depo.s mando esfregar bem as extremidades com um linimento composto, de duas partes de azeite doce, e quatro de alkali vo- Lit.l, fluido-: e, conclutdo isto, applicar sinapismos aos tornoze- lo*,, coxas, pulsos, e braços, e ao abdômen, caso não se te, 178 Appenmx nha n'elles applicado ventosas sarjada?. Internamente adminis» tro agoa gelada, em pequenas porções, ou quando o estômago se acha muito irritado, uma colher pequena de gelo em po, de quinze em quinze minutos. He muito importante evitar que o doente beba muita quantidade de fluido. Depois que o estô- mago se torna mais tianquillo, o que acontece geralmente era pouco tempo; se dá uma pirula, composta de meio até um graõ de opio , com tres até cinco grãos da pirula mercurial , de tres em tres horas ; com este tratamento os espasmos dimi- naem e emfim cessam , as vezeâ , n'um espaço de tempo muito pequeno ; 03 vômitos se suspendam ; e as evacuações intestinaei param de todo. Passado algumas horas porém, apparecem jatos copiosos, e consistentes de matérias escuras, e muito fedoren- tas , e brevemente feculentas, e o doente pode ser considerado convalescente. N'este estado os estimulantes são sempre preju- diciais , e, por desgraça, eu os tenho visto bastantes vezes, francamente administrados. Tenho experimentado o banho quen- te , mas niío tirei nenhum bom resultado do seo uso, pois que os doei.íes náo podem tolerar o calor , que me parece antes auj. raíntar os seos sofrimentos. O ünimenco acima meucionado fará mais beneficio por suas propriedades rubefacient.es , e me parece que diiniuite rapidamente o suei1 debilitante , de que a pelle se acha constantemente alaga.";.. Nunca tenho experimentado os clysteres de fumo, por isto mesmo que tenho sempre podido curar os meos doentes , em poucas horas, sem elles; as veze» e particularmente nos bebat i» tenho observado uma tendência á cor.gejtão do cérebro, e n*e=te caso, as ventosas á cabeça tem sido muito úteis. Terceiro Período. Este pode muito bem ser dividido em dous periodos. Nó y imeiro , a pelle se acha fria , e coberta com ura copioso suor viscoso; a lingoa fria; as extremidades enrugadas, e com caim- bras ; o semblante, as mãos, e os pés , lividss ; os olhos en- covados; as feições contrahidas ; jatos, e as vezes vômitos; dor do estômago; o pulso pequeno, fraco, e abatido; suppressão das urinas; as falculdades intellectuaes intactas; grande secura; desejo constante do ar frio. Tratamento.— E.te he o periodo principiante do collapso, e exige muitas cautelas no seo tratamento. Na pratica do Hos- pital , tenho sido muito feliz em produzir a reacção, e resta- belecer o doente. As fricções com o linimento ja indicado fo- ram geralmente usadas em primeiro h>gar, seguidas, ao depois, de grandes sinapismos ás extremidades, calor secco aos pés, e gelo internamente. O doente era bem agazalhado na cama; e fuaudo se abria alguma veia do brago geralmente se obtinha ai- Appendix 179 gumas onças de sangue; e com a sangria, tenho sempre obser- vado que o pulso se tornava mais forte , a proporção que sa- hia o sangue. Passadas algumas horas , renovando-se os sinapis- mos e as fricções, podíamos quasi sempre extrahir maior a- bundancia de sangue , e tendo tirado algumas onças , a reacção ordinariamente apparecia: porém quanto as nossas tentativas para tirar sangue do braço, eram infruetuosas, grandes ventosas ap- plicadas ao epigastrio, e ao peito, e depois sarjadas, geralmente sangravam bem. Mas apezar d'este tiatamento he preciso con- fessar que a reacção se mostrava muito vagarosamente : os pri- meiros symptomas de melhoramento são a cessão dos suores pro- fusos, um desenvolvimento, para assim dizer, das feições, e o desapparecimento da apparencia enrugada das extremidades , e da côr livida da pelle iTestas partes. Freqüentes vezes passa- rum-se dous dias , sem apparecer algum calor decidido da pel- le, e a lingoa até ficava por mais tempo fria e livida. A pro- porção que a reacção se hia desenvolvendo, mandei subminis- trar a agoa retfriada pelo gelo , em lug.ir do próprio gelo. N'este estado precisa-se ainda de maior cautela de que no antecedente , á respeito da quantidade das bebidas, apezar de ser iutensa a secura. Tenho visto doentes levantarem-se da cama, e irem ao pote d'agoa que se acha na sala , e beber até duas libras antes de se poder obstar, e quando impedidos de assim fazer, tem bebido até as matérias vomitadas , e esvasiavam da sua agoa morna , os vasos empregados para os aquecer , e entaõ conse- qüências funestas sempre se tem seguido á taes inconsideradas repleções, pois que o estômago, se o fluido não he immedia- tamente reje.tado pelo vomito, se acha distendido , e o peifeito collapso logo sobrevem. N'este periodo os opiados, e ainda mais os estimulantes, de qualquer natureza quo sejam, dados interna, mente são darnnosos : tenho visto doentes morrerem quasi imme- diatamente depois da applicação de uns ou outros. Áte nos ca- sos , onde por este tratamento se não tem conseguido salvar a vida do doente, a chegada do estado final tem sido demorada, e os soffrimtmtos mais diminuídos. Tenho experimentado o ca- lor secco, e o banho quente, assim como de vapor, e tenho notado que todos, por mais judiciosamente qne fossem applica- dos , augmentavain os soffrimeutos do doente , e não produziram o mais pequeno beneficio para impedir a marcha da moléstia senão quando eram applicados, tão somente, ás extremidades in- feriores. Tenho exr.tiin.entado lambem as injecções de substan- cias salinas nas veias, mus ape/nr d'elias produzirem prompta. mente a reacção, a morte se seguio finalmente em todos estes casos. Logo que a reacção se estabelecia dava a pirula mercu, nal, e sempre, segundo notei, com bom resultado. Segunih) pe.iodo , ou o do collapso perfeito. A pelle a lin- goa, e as faces liius , e de uma côr azul, escura, ou roxa as ^«o Appíndix extremidades enrugadas, a superfície do corpo coberta de um copioso suor frio, que parece sahir em grandes gotas dos po- tos da pelle. Não se pode perceber pulsação alguma nas artérias superficíaes , e a acção do coração he vagarosa e fraca : evacuações Involuntárias sahem dos intestinos: a voz he baixa, rouca, e quasi extincta : O corpo exhala um cheiro peculiar, e muito desagra- dável: a respiração he curta, freqüente, com um esforço pe- culiar do peito: o doente se queixa de uma dôr ardente no e- pigastrio, e pede incessantemente agoa fria, e ar fresco: he S.umm:imente desassocegado , ou dormita com os olhos meio a- bertos, e as pupillas muito viradas para cima. As faculdades intellecíuaes ainda se acham intactas. Tratamento.— Quando os doentes chegam á este estado as esperanças do curativo são muito fracas, comtudo, no Hospital de Saothwark , a reacção as vezes se tem estabelecido , até em ca- sos desesperados, e os doentes escaparam. A sangria do braço, n'estes casos, nao tem lugar, pois que sangue algum correrá das veias; e até as ventosas , applicadas ao abdômen , poucas vezes extrahem sangue ; comtudo , appareça , ou não sangue , a sua applicação á esta parte , e ao longo do espinhaço , e mes- mo as ventosas seccas , me pareceram em muitos casos, summa- mente utii. As fomentações oleosas applicadas á superfície do corpo, parecem próprias para fazer diminuir a copiosa exuda- ção serosa. Os estimulantes applicadõs á esta mesma superfí- cie , produzem pouco effeito em conseqüência do torpor da pelle não permittindo o seo estimulo. He geralmente melhor embru^ lhar o doente em baetas, e por fora d'estas, applicar arêa quen- te , ou garrafas cheias d'agoa de umn temperatura elevada. In- ternamente o único remédio que não he absolutamente perni- cioso , he o gelo em pó, ou agoa, por meio d'elle, resinada: em alguus casos as evacuações dos intestinos eram supprimidas por meio de clysteres de gomma , opio, e acetato de chumbo. Sc a reacção se estabelecer, como as vezes com este tratamento acontece, faz preciso vigiar bem o doente , e logo que o pulso se faz sensível, e se augmenta em volume, o uso judicioso da lanceta, ou a sangria local, he absolutamente necessário, para segurar o restabelecimento do doente: muitas vezes também será utii applicar ventosas á cabeça , e á nucha. Tenho visto que os estimulantes, usados copiosamente n'este periodo da molés- tia , em lugar de produzirem um calor brando da pelie, um augmento gradual na freqnencia , e volume do pulso, e uma di- minuição da sensação de ardencia, e de dôr do estornado, de repente cauzarem um calor intenso, e ardente da superfieie de corpo, uma vermelhidão escura do semblante, augmento de sen- sibilidade gástrica, grande desassocego &c. , e estes symptomas, depois de durarem um pequeno espaço de tempo , eram segui- dos de coma profundo, delírios, evacuações escuras, e floculo- Appendix 181 sas do e-tomngo, subsultos tendinozos, as reses convulsões, e morte. Os symptomas secundários devem ser tratados, confor- me a sua sede, e caracter. Em muitos casos, principalmente de velhos bêbados, e confirmados, onde a reacção se tinha per- feitamente estabelecido , e o doente convalescia ja por dous ou tres dias, o deliriam tremem sobreveio: e todos estes, que eu tenho visto, u excepção de um só, morreram. Em caso alsum dos que eu tenho tratado, ou cujo cura- tivo tenho dirigido, hei notado o periodo typhoideo mencionado pelos Kscriptores do Contiuente da Europa , seguir-se á reacção tli Cholera, e me inclino a pensar, pelo que tenho observado, Cjue estes symptomas eram produzidos pelos estimulantes , im- prudentemente , administrados para excitar a dita reacção. Depois da reacção se ter perfeitamente estabelecido, tenho tisto o doente cahir repentinamente, outra vez, no estado de collapso, permanecendo n'elle alguns dias até morrer. (C.) — Veja pagina 149. Tratamento da Cholera na Índia. 0 Sr. Annesley dà o seguinte summario do methodo , que eralmente se seguio no tratamento da Cholera Espasmodica Epi- emica, nos Hospitaes que estavam debaixo da sua direcção. " 0 doente suppondo que tinha sido admittido no hospital, com todos os symptomas da Cholera, por exemplo ao meio dia, mandava-se lhe fazer uma sangria , e se lhe dava uma pirula com- posta de um escropulo de calomelanos, e dous grãos de opio, be- bendo ao depois uma porção da mistura alcanforada. O corpo , e as extremidades; eram bem esfregadas com baetas seccas e aquecidas , e se applicavam garrafas , cheias de agoa quente , ès mãos, e aos pes: se os espasmos eram fortes, se usava em fomentaçaõ do Eipirito de Terebentin». Dentro de uma hora se percebia ge- ralmente os effeitos d'estes remédios; se a moléstia tinha di- minuído alguma cousa, ou se continuava em sua marcha. No i..!ini'i:o caso náo se f«/ia mai* nada senão de noite, tempo em que se lh» repetia a pirula. de> calomelanos , e se deitava um cly-ter. Na mauhi seguinte os intestinos deviam ser de novo pleuamente evacuados, e entaõ he que se podia considerar o Ui.cnte como salvo. Quuudo poiém se náo podia tirar sangue do braço; quan- do existia dôr e ardencia na região umbilical, e epigastrio, e «flLs erum muito urgentes; quando a pelle estava fria, e ba- nhada de suores frios, e que ainda existia oppiessão do peito, e difiiculdade de respirar; dôr excessiva, e confuzão da cabe- fra, com grande intolerância da luz; pulso nenhum ou qmisi imperceijtivel, e um cütiio cadaveroso do corpo, se uppLcava I 1S2* ApPEtfDlX imittedíatamenle vir-te, oti trinta sanguisugas ao embigb , c epiJ gastrio; vt-petia-se â pi?u!u de calomelanos, e continuava-re com as fricções de Espirito de Terebentina. Também se applicavam san^nisugas ás fontes da cabeça, e á nncha. Q nndo as sanguisugas sangravam bem , a sua applicação «Ta sempre seguida de vantagem decidida, e por isso , se as deixavam ficar para bem se encherem: e depois de cahirem, se applicava- um grande cáustico, sobre o abdômen todo. As vezes as sanguisugas pegavam , mas não tiravam sangue algum : n*este caso,. se as tirava immediatamente para se appÜGar , em seo lugar, o sinapismo, ou cáustico. Quando os intestinos estaõ muito irritados , e evacuam constantemente um fluido aquoso , peque- nos clysteres anodinos com alcanfor eram muitos úteis, e a dro- gue amére , especifico usado pelos Jesuítas, paTecia entaõ muito Utii para favorecer a operação dos calosielanos, que se repetiam , de duas em duas horas, até o doente ter tomado tres, ou qua- tro escropulos. " Nos casos em q*e nao podemos logo diminuir a violên- cia da moléstia , naõ temos outro remédio senão combater os symptomas mais urgentes , e sempre o devemos fazer com ener- gia log© que elles apparecem : e por isso nunca se deve deixar tí doente sem um assistente capaz dt obrar conforme as circuns- tancias , e que possa approveitar.qualquer mudança que appareça. " As vezes, no estado adiantado da molestiu , se offereça uma oceasiaõ para tirar sangue ; e isto he indicado por um es- forço , ou tentativa do systema , como para vencer algum obs- táculo , e he um symptoma muito favorável , e que nunca se deve desprejr.r. Esta reacção indica que a constituição está fa- zendo um esforço para restabelecer a circulação, porém nSo o pode conseguir, sem ser ajudado pela extracção de sangue. Esta circunstancia he de summa importância no tratamento da Che- íera Epidêmica,. porém exige tacto e discernimento, para bem nos approveitar-mos d'esta mudança na circulação logo que ap- parece : nos a devemos sempre esperar, e ella, por si mesmo, indica ^conveniência, bem como o tempo , de praticar a sangria. ''■D'c-sie modo se continua o traíamento, as vezes com sig- Maes evidentes de melhora, outras porém, sem fazer a mais pe- quena impressão sobre a moléstia : comtudo, ordinariamente de»- poii ile algumas heras, a mesma doença vai mostrando o quer devemos sempre esperar, e até mesmo contar com uma mudança favorável, que sempre he accompanhada de evacuações alvinas escuras, pardas, e feculentas. Logo. que eüai se mostram, ha esperanças de perfeito curativo, e os . calonudur.os di-vem sei se- guidos de um purgante activo, se o estornado o [iode receber; e sendo , de clysteres repetidos até p;oduzis\;tn evacuações co- pi"r ; \ seguinte bebida he a forma de purgante que tenhffi nelhor, e mais conveniente para o estômago» . Appekdis iss R. de Pós compostos de Jalappa meia oitava. Agoa de Orteláa apimentada duas onças, M. " E sendo da maior conseqüência produzir evacuações al- binas copiosas o mais breve possível, se esta bebida náo produ- zir o devido effeito dentro de tres horas, se deve repetir. " A urina nem he segregada nem expellida durante a conti- nuação da moléstia; qnando pois esta se manifesta, o que acon- tece assaz freqüentemente quando as evacuações alvinas se tor- nam copiosas, he, sempre um signal muito favorável. " A moléstia geralmente se termina de uma forma , ou de outra, no espaço de doze, ou dezoito horas, mas comtudo , quando chegamos a diminuir a violência do attaque, he ainda preciso muito cuidado, e attenção para preservar o doente dos effeitos do transtorno geral que a sua constituição tem soffrido. " Resta agora fallarmos do tratamento subsequente; e n'este periodo a indicação he evitar as congestões das vísceras abdo- minaes, e thoracicas, e também do cérebro ; das quaes algu- ma geralmente padece mais ou menos, e as vezes, todas ellaa são simultaneamente affectadas. " Algumas vezes os olhos sao muito resplandecentes , as pu- pillas contrahidas com manifesta intolerância da luz ; e comtudo os doentes insistem que não tem dores de cabeça, e que podem encarar a luz sem incommodo algum. " O pulso também he assaz freqüentemente opprimido , e ^ bate com difiiculdade, apezar de se ter tirado umá grande quan- tidade de sangue durante o primeiro periodo da moléstia. " Estes symptomas exigem uma attenção immediata, e quan- do fortes, se deve tirar sangue do braço , porém geralmente a applicação de sanguisugas será bastante, e eu as considero me- nos perigosas do que a sangria geral, pois que ellas, se- gundo meo pensar, despejam os vasos capitlares, e concorrem á regular a circulação, sem diminuírem as forças ; circunstan- cia muito importante, quando a constituição tem ja padecido tanto. " Quando o doente se mostra muito sensivel á qualquer com- pressão sobre o abdômen, se lhe deve applicar sanguisugas em grande numero, e principalmente sobre a região do figido ; e o mesmo se deve fazer ás fontes, e atraz das orelhas, se a cabeça for affectada. " Em qnanto estes symptomas de oppressâo , e de conges- tão exigem a attenção mais minuciosa, não nos devemos com- tudo esqaecer do estado do canal alimentar, das secreçües 4os pequenos intestinos, e das evacuações alvinas. íl Ainda que a irritabilidade do estômago , continua as ve- zes por muito tempo , comtudo ella he geralmente logo diminuí- da, e este orgam ecr^erva tudo que recebe, quer remédios , au. alimentos ; psrém como os pequenos intestinos mostrara . uai 24 * 154 ApPENDÍX. clisíecçõe» um a&pecto muito particular, desde o duodenura até © ececum ; como elles se acham muito contrahidoj no seo dia- '■metro, e appresentam um aspecto grosso, e polpozn : e coma •guando abertos, se acham cheios de uma matéria da cor de nata grossa, visguenla , e pegajosa, assemelhando-se exactamente ao queijo de nata velho, que obstrue o seo canal, e como, de mais a mais, esta matéria se acha em todos os casos f.itaes da Cholera , podemos muito bem ajuizar que existe também , até um certo ponto, em todos aquelles que saram; e por isso a ^ua remoção he de sunima importância. " Os purgantes porém não parecem no principio ter muita influncia sobre esta matéria, pois que não produzem senão de- jecções aquosas; e assim, cm quanto estas continuam, pode- mos estar certos que o todo não vai bem : ainda que o doente diga que as dejecções são copiosas, e fáceis , sempre as deve- rmos examinar com muito cuidado ; e em quanto as matérias a. cima não apparecem , nunca julgo haver feito muito progresso no curativa. " Tenho sempre achado os calomelanos, em dozes de um --escropulo, mais úteis para remover esta secreção peculiar, e as vezes es tenho combinado com o aloes , repetindo-os de manhã ■e á noite, até as dejecções se tomarem de uma côr parda, e •escura, consistentes e substanciaes : e e.ntão a bebida purgaíi- ">a , e os* clysteres foram ao depois administrados com optimo .resultado. "■ Esta pratica foi regularmente seguida todos os dias de -companhia com as sanguisugas, cáusticos &c. &c. conforme as ■circunstancias. Em um ou dous dias, as dejecções se mostravam geralmente verdes, e escuras, cores estas que sempre indicam a volta de uma acção saudável ; mas os calomelanos apezar dis- to, e as bebidas purgativas, foram continuadas por mais cin- co, ou seis dias-, até as dejecções se tornarem mais naturaes, f o semblante do- doente indiear um melhoramento visível. Lm tratamento alterante se seguio depois d'isto, por um mez ou mais-, conforme hiam exigindo as circunstancias :-e este ultimo he muito necessário, para evitar: uma recahida, assaz freqüente , e sempre perigosa. " Este methodo de tratamento-da-Cholera Epidêmica, que foi adoptado no Hospital General de Madrasta, debaixo da mi- nha direcçaõ , durante o predomínio da moléstia, desde 1819 até 1823, foi seguido de um suecesso, que muito excedia á» minhas esperanças. ,?. Afpe-woik 185 (D.) — Veja pagina , 143. Carta do Dr. Lalta, ao Secretario da Commissao Central de Saúde explicando a Razão, c o Resultado da sua Pratica no Tratamento da Cholera, pelas Injccçôes Aquosas e Sa- linas. Leith 23 de Maio de 1832. genhor,__Tendo me partecipado o meo amigo o Dr. Lewihs o desejo que vos tinheis de receber algumas informações á respeito do Bieo methodo de tratar a Cholera por meio de in- jecções salinas nas veias , he com muito gosto que vos offereço as seguintes; e supposto, desde que principiei este methodo, se me tenha offerecido muito poucas oceasiões para observar seos effeitos, comtudo, julgo que posso offerecer bastantes provas, para convencer aos que naõ estaõ de ante-maõ preocupados, de ser elle naõ só livre de perigo , mais ahida decididamente utii. Naõ tenho visto ainda um só symptoma desfavorável que se lhe possa altribuir ; e naõ duvido afliançar que , applicado com discernimento, será um dos melhores, e mais eflicazes remédios que se possa usar no segundo periodo da Cholera, ou n'aquelle estado atterrador de collapso, á que as vezes se vê o systema reduzido. Antes de começar será bom dizer, que o methodo que te- nho adoptado, se me oceorreo em cousequencia de ler na Lan- teta, as observações sobre o Relatório feito pelo Dr. 0'Shaug- nessy , acerca da pathologia chimica da Cholera Maligna, e pela qual parece, que, n'esta moléstia, ha grande falta d'ág.oa e das matérias salinas do sangue: d'esta falta depende o estado gros- so, preto, e frio do fluido vital, que produz evidentemente a •maior parte dos symptomas d'aqueila doença terrivel , e he, sem duvida , muitas vezes a causa da morte. Os phenomenos produ- zidos pela injecçaõ venosa provam a exactidaõ d'esta minha o- piuiaõ. Logo que soube do resultado do analysis feito polo Dr. O' Shaugnessy, tentei chamar o sangue ao seo estado natural, in- fectando copiosamente nos intestinos agoa morna, tendo em dissolução os saes necessários; administrei também internamente, ■8 á intervallos , a mesma solução , pensando que o poder de ab- ; sorpçáo não estaria totalmente perdido ; porém , por estes meios , não obteve effeito algum-bom, parecendo pelo contrario augmen- tarem-se assim as eólicas, os vômitos, e jatos, diminuindo-se • ainda mais as forças do doente : achando assim que estes meios 5 ■de combinação com os outios ordinariamente usados, eram in°- ^•ertos, ou nocivos, resolvi-me emüaa á introduzir o fluido., dirtv- 186 Appendix ctamente na circulação : e n'isto , nao tendo precedente algum para minha guia, procedia com muita eautella. A primeira pes- soa sobre quem experimentei, foi uma mulher idosa com quem ti- liha ja esgotado os temedios ordinaries, sem produzirem um so sym- ptoma favorável, e a moléstia, invencível , continuava em sua mar- cha. Ella tinha chagado apparentemente ao ultimo periodo da sua existência, e nada mais lhe podia fazer mal, porque na verda- de , ella se achava tão desfallecida, que receiava não poder a- promptar o apparelho antes de ella expirar. Tendo introduzido, com muita eautella, um tubo na veia basilar, esperei anciosa- mente os effeitos: onça depois de onça tinha sido injectada, mas não se observou mudança alguma appreciavel. Perseverando ain- da , pareceo-me que ella principiava á respirar com menor difiicul- dade , e em breve as feições agudas, olhos encovados, queixo cahido, frio, e pálido, que indicavam as visinhanças da morte, começaram á se reanimar; o pulso, que por muito tempo tinha cessado de bater, se tornou sensível; no principio pequeno e freqüente, se fez gradualmente distineto, mais cheio, firme, e menos rápido; e no hreve espaço de meia hora, tendo-se inje- ctado seis libras da solução , disse ella, com ann voz firme, que se achava livre de todo incommodo, ficando até disposta a gra- cejar: assentou-se que só precisava de dormir um pouco, por- que suas extremidades eram quentes, e todas as feições tinham o aspecto de saúde, e contentamento. Sendo este o primeiro ca- so, julguei a minha doente salva, e tendo muita precisSo de al- gum descauço, deixei-a ao cuidado do Cirurgião da casa, po- rém apenas me tinha auzentado , quando os vômitos e jatos reap- .parecendo, a reduziram ao seo prévio estado de debilidade. Não me parteciparam este acontecimento, e ella morreo cinco horas e meia depois que a tinha deixado. Como ella g03ava previa- mente de uma constituição sãa, não duvido crer, que se o re- médio, que ja tinha produzido tão bom resultado, tivesse sido re- petido , se desafiaria uma completa reacção, e o caso seria se- guido de um feliz resultado. Não tendo á mão o numero da Lanceta que dá o analyse do Dr. O' Shaugnessy , servi-me da do Dr. Marcet, diminuin- do alguma cousa dos ingredientes salinos , que conforme as ul- timas anaíyses ficaram abaixo da3 quantidades naturaes. Dissol- vi de duas à trez oitavas do muriato de soda, e dous escrú- pulos do subcarbonato de soda, em seis libras d'agoa , que ia- jectei na temperatura de 112.° F. Quando a agoa se acha ele- vada unicamente á temperatura de 100." a injecção produz uma sensação extrema de frio, e de rigor; e se chega á 112 exci- ta repentinamente o coração , o semblante se torna corado , e o doente se queixa de uma grande debilidade. Ao principio o doente sente pouco, e os symptomas continuam sem alteração, até,que o sangue, misturando-se com o fluido injectado, se to- Appfrtfmx m fia quente e liquido ; o melhoramento d© pulso, e do EtniMan». te he quasi simultâneo ; a expressão cadaverica cede gradual^ mente aos signaes da animação restabelecida; se diminue a op- pressâo terrível da região precordial ; os oihos encovados, e meios cobertos da pai, ebra se fazem mais cheios , e por rim , se mostram com o seo brilhantismo natural; o aspecto livido des- npparece , o ca'òv do ^orpo volta , e este torna á adquirir a sua cor própria; as palavras não são mais sussurrozas, pois que a voz ao principio reapparece com o tom peculiar da Cholera, e ultimamente toma o seo timbre natural, e o pobre doente, que havia poucos minutos, se achava opprimido de vômitos, jatos, e sede ardente , se mostra repentinamente aliviado de todos es- tes symptomas incommodos: o sangue tirado então e exposto ao ar, apresenta a sua cor vermelha, e natural. Taes sympíomos tão satisfáotorios ao doente, e ao Medico , não devem auíhorizur á este ultimo para diminuir os seos cuidai dos, pois qne ainda se precisa da maior vigilância. No princi- pio , a mudança he tão grande que elle se capacitará de que tude está feito, e poderá deixar o seo doente por algum tem- po: mas se a diarrhea torna á apparecer, elle o pôde achar, depois de duas ou trez horas , no mesmo estado de aba- timento. Logo que se reproduzir a reacção pela primeira in- jecção , se deve administrar copiosa, e rapidamente algum esti- mulo brando, como a agoardente misturada com agoa morna, «juntando-se-lhe algum adstringente. Também se deve procurar a encher o colon com ais uni fluido adstringente: e que isto se faz preciso he evidente em conseqüência de poder. a. diarrhea aquosa tornar á apparecer com violência , e não sendo então combatida, produzirá em breve a morte do doente; portanto, logo que o puiso se tornar, outra vez, á se fazer insensível ,, e as feições á contrahirem-se , se deve repetir a injecção ve^ nosa, tomando sentido porém que o fluido de que se usa con- serve a sua temperatura própria. A injecção deve ser feita mui- to vagorosameníe, excepto nos casos em que o doente se acha muito abatido , porque então ella pôde,. no principio, ser com maior rapidez,. até se produzir um certo gráo de ex- cítaçaõ, mas depois, naõ deve exceder a quantidade de duas ou trez onças por minuto ; e he esta a occasiaó de se administrar os adstringentes pela boca, que seram retidos , pois que duran- te a operação , os vômitos geralmente cessam. Estes remédios se devem continuar,. e repetir conforme exi- gem os s\mptomus até que a reacçaõ seja permanentemente esta- belecida. Naõ tenho observado algum symptoma violento em con- seqüência de uma rápida injecção do fluido, mas pareceo-me , que a injecção apressada do systema era seguido de um gran- de augmento de evacuações , e um abatimento mais repentino das fdrffas^Yitaes. A quantidade que se deve iujectar depende dos e% 188 Appbndix feitos prodtmdoa, e a sua repetição, das exigências do orga^ nisino, que variam geralmente em proporção da violência da diar- rhea; se o gráo do collapso for grande, uma quantidade mui/r será preciso , ainda que nao sempre , pois que em algumas pes- soas , uma perda muito pequena, produz um graude abatimen- to, e por isso acontece, que as vezes ha grande collapso, sem ter precedido muitos vômitos, jatos, ou exalaçóes cutâneas. Posto que em todos os casos, e até nos mais desesperados, os symptomas da Cholera foram removidos , comtudo alguns dos meo3 doentes succumbiram, o que attribui á uma ou outra das eeguintes causas, ou a quantidade injectada era muito pequena, ou os seos effeitos eram malogrados em conseqüência de existir grande desarranjo orgânico , ou a sua applicação era muito tarde. Tenho ja indicado um caso que falhou ein conseqüência de falta na quantidade, e este se pode contrastar com um outro em que a injecçaõ introduzida tinha sido copiosa. Uma mulher de idade de 5o annos , muito pobre , mas que tinha gozado pre- viamente de muito boa saúde , foi a t tacada no dia 13 do cor- rente mez , as quatro horas da manhã , da formi mais aggrava- da da Cholera , e as nove horas e meia se achava reduzida á um estado quasi desesperado : o puLo linha de todo desappa- recido, e até na axilla ; e as forças estavam tio diminuídas, que me resolvi á não experimentar os effeitos da injeiçaõ por julgar que não haviam esperanças de poder ella escapar; e por- que a falha da experiência poderia dar occasião aos preocupa- dos, e illiberaes para criminar a pratica: porem decidi-me ao depois à fazer a tentativa, e na presença dos Doutores Lewin« , e Craigie , e dos Cirurgiões Sibson e Paterson, iajectei cento e vinte onças , quando como por encantamento , em vez do as- pecto pálido de uma pessoa nas visinhanças da morte , a circu- lação se restabeleceo, a vida e os espíritos reappareceram; po- rém a diarrhea voltou , e em tres horas ella se achou de novo Euccumbida Injectaram-se mais cento e vinte onças , e com o mesmo feliz resultado. N'este caso trezentas e trinta onças fo- ram injectadas no espaço de doze horas , tempo em que a reac- ção se achou completamente estabelecida ; e em quarenta e oito horas, ella e»tava totalmente boi, e fumando o seo cachimba livre da moléstia. Depois d'isto , para ter melhores commodos , foi removida para o hospital , onde , talvez em conseqüência d« contagio, ligeiros., symptomas typhoideos appareceram , mas ella Be acha agora convalescente. A segunda- causa de falta de sueces^o he a presença de moléstia orgânica, que talvez torna o indivíduo mais susceptí- vel dos atUiq-n-s da Cholera: e o mal latente, que d' Faltando uas injecções venosas, o Jornal Mêdico-Cirurgic© àk Londres, de Outubro 1832 diz, "Contra todas as espe- ranças ,as. injecções saliitii9 não só foram feitas sem detrimento , mas em quasi todos os casos» produziram um efieitp prompto r n coimo reauimante sobre todo o-organismo;. restabeleceram o j•nl.-jo , a temperatura,. e o volume do corpo. Tal poder immenso stíbre uma moléstia, e, podemos dizer, sobre a própria morte, lie mais do que a natureaa pode permittir 'T. e ainda assim a-, chamos dous inconvenientes principaes que resultam do uso das injecções: isto he, ou os fluidos se escapam do corpo com maior rapidez do que antes da injecçaõ, ou a cabeça e os bofes se tornam opprimidos, e a morte sobrevem entá.o, porém, de um n»ocl« difíerente do da Cholera-: d'es.tes-. dous acontecimentos te- mos visto provas evidentes e sobejas. Reconhecendo pois os ef- feitos ph-ysiologicos extraordinários, e quasi milagrosos, das in- jecções salinas, não podemos deixar de denunciar, comtudo, os, pLeuomenos pathologicos, e funestos que muitas vezes se seguem, 11 Na- Gazeta. Medica de Junho de 1832 ,. o Dr. Lavvrie,. de Glascovv , dá o resultado das suas observações sobre este tra-- tamenío,. Seguindo as direcções do Dr. Latta,. ellp injectou,. deatro de poucas hopas- de 70, até 150 onças, e todos os seos «ifciues, no numero de ssis , morreram. Em todos estes casos, (*') A.quj..fiaaljuza a obra original. Appekdix. * injecçaõ produzio um beneficio temporário, mas em alguns, atè pareceo accelerar a terminação fatal. Em um caso elle ex- perimentou a addição do álbumcn -, em outro o soro do sangue de boi; em outro o soro rnmanò ; e «""um quarto o próprio stu- güe humimo ; cm dous pequenas quantidades de agoardente; c-»s «utio ig'.;.d numero, alfb.rras gotas de laudano; porém to- dos morreram. O Dr. L. suspeitou então , que a quantida- de injectada era muito grande, c servio-se depois de 30 ou- •çi'i somente de cada vez, ihtroduZindo-as gradualmente, e ob- servando bem os seos effeitos. Com estas precauções quatro in- dividuos se restabeleceram: mas, diz elle, que tantos tem mor- rido apezar de todas as cautelas , que elle quasi abandonou de todo este tratamento, julgando-o inútil, senão prejudicial. De 26 casos que o Dr. L. injectou , 11 morreram. Elle observou os mesmos phenomenos, de que temos acima fallado, isto he, a sahida rápida dos fluidos pelas entranhas, e tanto que, uni mesmo doente até lhe disse, ijue á proporção que se lhe ínet- tia o lluido nas veias, se escapava pelo estômago. 0 Sr. Clot Bey sobre a Cholera no Egypto, a Nos Annales de Ia Medccine Phjjsiologiqne do Dr. Brous- Bais, de Setembro passado, se acha algumas exeellentes e ius- truetivas observações sobre a Cholera, durante o seo predomí- nio 90 Egypto, escriptas pelo Dr. Clot, Medico Fraucez esta- belecido muitos annos n'aq'aelle paiz, onde foi elevado pelo Pa- cha á dignidade de Bey , e que se acha actualmcnte cm Fran- ça, para onde foi mandado aceompiuiliar alguvt.; estudantes, que vieram com o fim de se aperfeiçoarem na sua profissão, e vi- sitar as escholas médicas de França : d'ostas observações olle- recemos o seguinte resumo. " Em Junho de 1831 foi annunciado no Cairo , que a Cíu>- leia tinha apparecido em Mecca; e pelo dia 15 do seguinte mez de Agosto , ja ella se tinha estendido ao mesmo Cairo. O terror e o desanimo que logo se seguio foi com e (feito terrível. A mortandade excedeu á das mais falaos epidemias , e ameaçou â exterminarão total da povoação do Cairo A moléstia cia tíc« intensamente violenta , e a nuílidade do tratamento tão comple- ta, que apenas escapava uma ou outra pessoa dos que tinham sido attacados. A cada passo encontrávamos nlj/na miserável , accommettido repentinamente da pestilencia, cihir no clião co- mo ferido de raio , e morrer depois de uma ou dous horas de pádecimento : não havia hospital , excepto um , que era o mili- tar porém casas de maneira alguma. Deitados nas ruas , mor- reram ao desamparo; e poucas vez.es podiam obter uma pouca d'a "na para aliviar a devorante sede. A resignação dos Mussul- nianos cue nunca, tinha suecumbido as peiores pestüeiieias, co- ]<■« A?PENDIX hí' ;ne cedia pela primeira vez; e «s Turcos, se; ?,hIo o exer»- p!o <'os seos Pa.chas , abandonaram o lugar. Os syinplomas enu- menr/i-js pelo Sr. Clot, são os mesmos que temos c>*eivado nos cís-jí. craves ccontecidos aqui , mas no Egypto c-.íiio ;i'c.-,te paiz,, houveram vários 51 aos de virulência, e poucos ou nenhuns es- c-paiam de tod". Nos casos mais favoráveis Lr.vbvn somente per- da do appetite . náuseas , leves vômitos , e jatos. O Sr. Ciot no seo tratamento he decididamente Broussayis.- ta : quando era chamado a tempo, mandava sangrar o doente, e applicar-lhe sinapismos, e fricções, administrando internamente bebidas moinas, e opio em porções cou^àdeiaicis :. se havia muita dôr do epigastrio, applicava sanguisugas, ou ventosas sar- jadas. Em alguns cases repetia a sangria duas ou tres vezes : po- rém se o doente se achava no periodo frio, a sanaria era inú- til , pois que o sangue não corria; a indicação co.isistia então em restaurar a circulação cutânea, e para este fim, sinapismos, fricções, vestuário quente, e bebidas, às quaes se ajuntava al- gum narcótico, eram' ordenadas. Se o calor da pelle voltava, 1 sangria se praticava immediatamente. O tratamento antiphlo-;is- tico , posto em rir.orosa execução desde o começo da moléstia , era o único , cuja eíficacia , comparativamente com outros , era o mais constante. O Sr. Clot pensa que tem salvado muitos por este tratamento ainda mesmo do peiqr estado : e tão persuadi- dos ficaram os povos de sua efficaçia superior, que costumavam pratical-a em si mesmos , logo no primeiro appareciment^ dos symptomas. O Tenente Coronel de um regimento, cujo Cirurgião tiuha fugido vergonhosamente, salvou quasi todos os Saldados attacados, sangrando-os elle mesmo. Durante o predomínio da pestilencia o Ceo era encoberto, de máo agoiro, e obscurecido por um \co pardo; o SM emittia uma luz pallida e doentia, que , quando estava para se pôr, tornava-se verde , sendo segui- do de um ciupusculo duradouro, cuja luz avermelhada durava al- gumas I..~i-as. Sobre a importante questão da propagação da moléstia , o Sr. Clot. hc de parecer que t v • não se faz, pelo contagio, mas por intermédio da atmosfera. As suas razões sao taõ justas, e fortes que merecem uma comemor'.çao purticular. I. A moléstia mostrou-se quasi no mesmo tempo por todo o F.j,ypto; e por isso apparecia cm muitos lugar.?s que não tinham lido commu-. nicação com Iíaggiar., onde se observou o primeiro caso. II. Os cerrai!",, vigiado- com o maior cuiüado, não ficaram i/entos.. III. Os marinheiros de mui ias embarcações, no ancoradouro de Ale:;aixliia, foram attacados, e sem haverem tido communica- ção cem a terra. O vice-Rei d'E,rypto tinba-se mettido a bor- do de '•!. 1 fx!) -.reação . logo 110 apparecimento da moléstia, mas. .;«, ro vários doe seos doBu=ticos suecessivamente morreram , vio-. se obrk.ido á mudar varias ve/.es de embarcações. IV. Quir.b*..-. Appendix 193 tos Bedouins, acampados no Dexerto, muitas leg»as distantes de Abouz bel, e separados por uma rigoroza quarentena, não escaparam. V. Algumas Villas ficaram izentas apezar de uma communicação constante com lugares infectos. VI. Havia uma grande desigu :b!ade na mortandade de differentes lugares e de- baixo de circunstancias quasi idênticas. VIII, Os bazauis une se ti.ih.-m fechados no principio , foram reabertos quando a moléstia se achava em declinaçaõ para a venda da roupa, e mais effeitos dos que tinham morrido ; e ainda que náo usassem de cautela al- guma , a moléstia nã* tornou à apparecer. IX. A rapidez atíer- radera com que- a moléstia chegou á seo auge de destruição. Será possível suppôr que uma moléstia, meramente contagiosa, podesse no decurso de cinco ou seis dias adquirir o máximo da sua intensidade, e depois de durar apenas um mez, com igual rapidez desapparecer ? X. A disseminação quasi universal da moléstia , em alguma das suas formas , desde a morte por assim dizer de raio dos casos malignos , até a leve diarrhea dos rr.ais brandos. O Sr, Clot, ainda que um anti-contagionista decidido, comtudo admitte , que a Cholera , como as outras epidemias , pode debaixo de certas condições, adquirir uni caracter con- tagioso. Medigo-Chirurg.: Review Ju'y 1833. Processo para fazer neve em todos lugares e en> todas as e:,ta-. ções , sem o soecorro das neveiras , por MM. Du- marcay e Boub^ni. Tem-se procurado achar o meio fácil e menos dispendiosa •Je fazer a neve; o processo que vamos descrever, tem co .>- Untcmente preenchido ambas estas condições. 0 apparelho necessário compoem-se : 1." De um caixão pe páo de carvalho, de 15 polegada:. «. 6 linhas de comprido, de 3 polegadas de largo e de 6 poie- gadas de altura, devendo todas estas medidas ser tomadas por dentro. 2." De duas caixas de lata , construídas da mesma forma , mas tendo cada uma 12 polegadas de comprido , 7 linhas de largura, e 6 polegadas e 6 linhas de altura. O caixão de páo, he destinado a receber a mistura frigo- rífica; as duas caixas de lata deverão conter a agoa, que sp propõem converter em neve. A mistura frigoriica , compoem-se de 3 libias de ácido sul- phurico , enfraquecido por uma addiçno tal de agoa, cjue ik"o marque mais que 41 çráos ao areómelro ou pesa-acidos de Beuu- mé ■ na falta deste instrumento, pode chegar-se a este resulta^ do misturando sete partes cm peso de apido sulphurico do com-. mercio, que indica em geral 66 grãos. ao. areómctao. com. çija> 194 AfífcaTDií «ideravelmenee. He necessário tjwís evitar toí» » precipitação lan- çando a agoa no ácido , chi o ácido na agoa , e sobre tudo , não empregar para esta operação se nao uma vasilha de barro forte e bem cosido, que oíFeneça uma resistência conveniente. Quando a temperatura tiver chegado á da atmosphera em que s« está, em outros termos , lo~o que a mistura tiver arre- fecido, estará capaz para o uso a que S3 destirta. Lançar-se-hl então na dose de 3 libras no caix&o d*e páo , e se lhe ajunta.i ao mesmo tempo 4 libras de isulphato de soda bem pulveriís- do.. Agitar-se-ha por um iusír.trte esta mistura com uma cspaU- la de páo, e nella se mergulharão as duas caixas de lata, cheias primeiramente de sgoíi para. Estas duas caixas deverão eollocaY-se de maneira , que dei- xem entre si , e ;;= paredes interimes do caixão de páo , um pequeno intervallo, a fim de que a mistura do ácido e do sal, possa circular livremente cm roda das caixas de lata. O effeito desta mistura he tal, que um thermometro, que nella fosse mergulhado indicaria, quasi instantaneamente, um aba- timento de 13 grãos e mais. No fim de 10 minutos , a agi-a contida nas caixas de lata principia a turbar-se , e em breve se formam pedaços de gêio pegados ás paredes interiores. Quinze minutos depois, a agoa das. cai\as e a mistura frigorifica serão reduzidas a uma temperatura commum , e esta ultima não será então mais utii para continuar a operarão. Convém pois proce- der a nova -mistura , qae substituirá a primeira, e na qual de- verão mergulhar-se de novo as caixas de lata. Os pedaços de gelo augmcntarão bem depressa de volume , serão adherentes ás paredes interiores , e he preciso despegalos cuidadosamente. Es- ta operação far-se-ha mui facilmente, apertando repetidas vezes com os dedos , para as approximar uma da outra , as folhas de lata que formam os maiores lados das cai-xas ; por este meio , a parte da agoa que não foi convertida em gelo se porá dire- ctamente em contactO com as paredes da lata, e receberá im- mediatamente o effeito das misturas frigoríficas. Esta pequena ope- ração he da maior importância, e o suecesso depende quasi in- teiramente da sua execução. Em geral, depois de 48 ou ôO mimit#s, a agoa acha-sd totalmente convertida em gêio; se contra toda a espectaçáo, o resultado sahir de um modo imperfeito, seri necessário re- correr á uma terceira mistura e proceder, como ja indicamos para as duas primeiras. Cada uma das duas boóetas conterá uma lamina de gelo, mui pura e mui solida, dè libra emeia de peso. Para completar esta nota, resta apresentar algumas observa- ções geraes. Operando-se durante o veraõ, será mui utii pre- parar as misturas em uma adega ou loja térrea , cuja tempera- tura constante seja, pouco mais on menos, de lôgnlo%; ein- pregar-se-haia agoa tirada do pôfo naquellte ínombrUo , -e se potá ÀPPENDIX 195 co partes de agoa igualmente em peso. São indispensáveis al- gumas reflexões , a respeito desta primeira operação. No momento em que se fizer a mistura do ácido e da agoa , (jue acabamos de indicar, inanifestar-se-lia mui grande desenvol- vimento de caloriio, e a temperatura do liquido se elevará cor.» na dita loja o sal, e o ácido, algum tempo antes de se Usa- rcm. Além disto, as diversas manipulações, que se acabam de indkar, exigem algumas precauções, a fim de uso saltarem á cara ou sobre os vestidos, algumas porções da mistura frigorífi- ca. Uma só gota desta mistura, composta de ácido sulphurico, que se introduzisse nos olhos, produziria um effeito funesto, ê os vestidos onde ella tocasse ficariam estragados. Finalmente , de- ve empregar-se algum cuidado na escolha do sulphato de soda, nao sendo conveniente usar daquelle que estiver começando á des- fazer-se. A falta de observância deste requisito , contribuiria ne- cessariamente para fazer falhar a operação. Quando se nâo quer fazer immediatamente uso da neve , envolver-se-ha esta em um panno de lãa ou em palha, e se collocará no sitio mais fresco que houver. Eis aqui o processo simples e econômico de Mr. Deceur» demanche. Prepare-se um vaso de barro ou de vidro de boca larga, e um cylindro de lata, ( cantini piora ) , ou um tubo de vidro. To- mem-se cinco libras de snlphato de soda bem pulverisado; po- nha-se este sal no vaso de que acima falíamos ; e lancern-se*Ihe por cima quatro libras de ácido sulphurico a 36 gráoé , e mtr- gullie-se depois nesta mistura o cylindro de lata , que deve con- ter a agoa, que se quer congelar; tenha-se o cuidado de itgi- tar a mistura , a fim de que a acçaõ reciproca do sal e do a- cido seja mais prompta , e mais completa. Logo que se conheça que a agoa está congelada ,, tire-se o cylindro e mergulhe-se , ti- rando-o de repente , em um vaso de agoa quente , para que maíg facilmente a neve formada se despegue. As únicas precauções, que se devem tomar nesta operação consistem, em arrefeeer as duas substancias em vasos pouco susceptíveis de serem condueto- r.es dq calorico.. p % m. BAHIA NA TYP. DO DIÁRIO RUA DO TIJOLOt) Casa n.° 34, iMDm RELATÓRIO DO COLLEGIO DOS MÉDICOS. Marcha Geográfica, e Ordem de Successao em qoe n Cholera primeiro altaon os differenles paizes e cidndcs. Phenomenos Almosphericos , e nuirus precedendo, e aceon panliando a mo- léstia. — Loi alidades da Cholera na Indin , Per.-ia , Rússia , Po- lônia , Alemanha , Grani Bretanha , e França. — As (lasses d. Povo , e o modo de viver do< que morrsrão em maior nu- mero. — Meios de pievcnir n extenção, e de mitigar a violência da Cholera.—Inutilidade de Qnaiínilenaeiw Iodas as Cidrde.-. prin- cipaes da Europa , que forão visitadas pela moleslio. - A Cho- lera não he Iransferivel por meio de pessoas, ou fazendas. — Não he contagiosa. — IWeios ás Prevenção pelos Regulamen- tos Sanitários — á respeito de Lugar, Ilibitação . e Pessoa. — Vanlígeiis da temperança , e Caulela , para evitar a Moléstia. Pag. 1 — 35. CAPITULO I. Da origem da Cholera. —He freqüente como Moléstia Ende-* nica. Illuslração de Endemias , como por exemplo as Febres Rmilteiites, e Intermitlentes.—Differença entre Moléstias En- dêmicas e Epidêmica-. — Inflnenza, outro exemplo de Molés- tia Epi lemien. —Causas da» M sendo a reacção que se segue a depressão , e ao col- lapso. — Semelhança geral dos symptomas na Azia, Europa , e America. — Connexão enlre a Cholera , e a fehre. Pagina 5g — 76. INDEX\ CAPITULO IV Das J99' ; apparencias mórbidas observadas nos cadáveres dos ou- . ao da Cholera. Pag. 77__83; CAPITULO V. Tratamento da Cholera: quando cuidada com tempo, a mo- léstia não he incurável. — Sangria. — Frcições seccas. —Ru_ befacientes. — Cáusticos. — Calor secco. — Banho de vapor. — Banho quente. — Opio. — Calomelanos. — Vomitorios.__ Purgantes. — Clysteres. — Remédios salinos. — Bebidas. Pag. 84 — io5 CAPITULO VI. Revista Annlilica dos symptomas da Cholera Epidêmica. — Semelhança com algumas das nossas Moléstias Endêmicas, Cho- lera infantil , Colica biliosa , Eslarlc frio da Febre Inlermit- Sente. —Cholera Asphyxia hum termo enganador. — Os symp- tomas não são de Asphyxia. — Moléstias produzidas p >r meio de Ar impuro applicadas á Membrana Mucosa Pulmonaria; e tam bem por meio de impressões sobre a Pelle. — O canal Diges- tivo affectado por intermédio d'estcs Órgãos. —A terceira su- perfice, sobre a qual as impressões mórbidas são mais aclivas em produzir Moléstia , he a Mucosa Digestiva. — Os Symp'omas ca- racterísticos da Cholera podem occorrer somente quando esta ul- tima ordem de partes se acha afíectada.—Expressão do sem- blante na Cholera, ss assemelha à que se observa nas moléstias Gastro-Lnterilis. —Syncopn não appr-esenta-o collapso da Cho- lera. — Nem se pôde explicar os Symptomas d'csta moléstia , pela supposição de huma innervação deficiente ou suspendida. — rTnnn revista dos Symptomas mostra huma condição opposta , ou de innervação netiva. — Huma Nevrosthenia verdadeira se acha presente. — A circulação impedida , como se faz. —. Conges- tão. —Meios de a remover. —Separação das funções dos svsle- mas vascular , e nervoso na Cholein. —Prctesto contra o uso dos estimulos internos no estado frio da Febre íntermittente, e pela analogia e evidencia no collapso da Cholera. _ Trata- mento tdaptado aos differentes estados.—A marcha-ordinária he administrar os Remédios Sedativos e Deplelorios. — Appli- cações Externas — fricções—. sinapismos — banho quente, ©■ 200 INDEX. cmollientes , —banho frio , e fricções com gelo. Primeiro , ou estado formatorio , como tratado —applicaçois á pelle —vomito- rios, ventosas ou sanguesugas —calomelanos —remédios salinos—« purgantes.— Opio, quando próprio. — Syuipiomas particulares, como traladrs, \ «>uiito>, diarriiea , ccaiailua-—. Terceiro pe- riodo , ou do collapso como tratado. —Grande superioridade até n'este estado das revulçocs á p He » da depicção , e da se- dação , sobrea pratica e.-timulante. —Tratamento seguido no Norte de Inglaterra , e na Philudciphia. — 11 fereneia á do An- ne.-ley iii Índia. — Arteriotomia achada inútil — Injecção de fl.iidts nas veias, huma pr tica nem julilicada pelas premis- ea» , nem pelos resultados. — Quarto periodo , ou da lebre Cho- lerica — como tratado.— Perigo de estimular. — Reu.edins para aliviar a determinação local, e a congestão, Pag. íou — i5o. ApPENDIX-. Relatório de casos de Cholera tratados no Hospital do Bata- lhão i4 de Sua Magestade Brilnnnicn . desde o «lia i4atéo 3i de Março de 1838 Por Frederick Corhyu Esip Pag. 101- Iírüuuio do tratamento seguido porvires P.aticos Eminentes de New-Caslie, naCholeia. Pag. 172. Pratica do Uoiilnr Condie no hospital de Southwonrk, P. 176. Sobre o uat menl») da Cholera na índia. l^g- »8i. Carta d<> Doutor L.lta, ao Secretario da commissao central de Saude em LonJres ,dando huma idéia d> íuilionab e dos Re- citados da sua Pratica , no Tralumeulo da Cholera por meio de lnjecçòes Salina- e Aquosas. Pag. i85. O Dnuior Lawrie Sobre as Injecrões Salinas. P;:g 190. Tiilaniento da Cholera no Kgyplo. J\tg. 191. Processo p.ira fazer neve em iodos os lugares e em todas as estações, sem o soCvOto dos ueveiro9, Pag. ig5. m*