F£269 1883 FARINHA QUESTÕES HYGIENICAS WAA FZ26q 1883 6313O570R NLfl D51M710b 7 NATIONAL LIMAUr OT MEDICINE aaoNiq xaaads lix! /%à f j v NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY nIOIIVN IC33W dO AÜVl ít-'X t NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY aNiDiasw do Aavaan wnoiivn 3nidiq3w do Aavaan wnoiivn snioiqsw do Aav \ >4 1 ií NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY SNiDiasw do Aavaan wnoiivn 3nidio3w do Aavaan wnoiivn snidiosw do Aav NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY s: v* aNiDiaaw do Aavaan wnoiivn snidicisw do Aavaan wnoiivn snioichw do Aav 1.: ■^Í€n NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY 3NOia3w do Aavaan wnoiivn 3NiDia3w do Aav QUESTÕES HYGIENICAS IEPMTISIO ANIMAL ESGOTOS DO RIO DE JANEIRO E SÜA INFLUENCIA SOBRE A SAÜDE PUBLICA ALG-ÜNS CONSELHOS HYC-IENICOS AO POVO PELO (U.I-. JpQLlCL S9ll£&. ^flLLLUllLCL Módico das Casas de Detenção e de Correcçao do Rio do Janeiro, etc, etc. RIO DE JANEIRO TYPOGnA.PHIA NACIONAIi 1883 s L, \ WAA IS83 -------------_^ NATIONAL LIBRARY OF MEDICINL t>:rHESDA 14, MO. Collecciono neste opusculo alguns artigos meus, publicados na í/w/io Medica e no Jornal do Commercto, em 1880 e 1881. Rio de Janeiro, 19 de Março de i883. Dr. João Tires Farinha. HYGIENE MEPHITISMO ANIMAL A questão da influencia das emanações pútrido- animaes sobre a saúde tem sido longamente debatida. Denodados campeões do velho e do novo mundo têm apresentado e defendido suas idéas sobre este assumpto. Em medicina ha poucas questões que, como esta, tenham sido tão controvertidas. Desault, Orfila, Parent-Duchatelet, Paulo Du- bois, Warren e muitos outros acreditam que as emanações putrido-animaes, em vez de serem offen- sivas á saúde, exercem uma influencia benéfica, fortificando a constituição, curando certas moléstias e oppondo-se ao desenvolvimento de outras. Chomel, Desgenettes, de Lassone, Pringle, Tar- dieu e outros crêm que estas emanações são pre- judiciaes á saúde. Warren firma sua opinião na robustez e na boa saúde de que gozam os curtidores de pelles, 6 baleeiros, fabricantes de sabão e de velas de sebo, emfim de todos aquelles que trabalham em matérias pútridas, que são ainda poupados pelas epidemias, como observou-se por occasião da terrivel epidemia de febre amarella, que assolou Philadelphia em 1795 e Boston em 1798. No antigo matadouro publico de S. Christovão eram detestáveis as condições hygienicas, e nas immundas gra- xeiras que lhe ficavam próximas, não me consta tivessem sido observados casos de febre amarella ou de cholera asiática, durante as epidemias que temos atravessado. Clark, Rusk, Lawrence e outros afifirmam que os coveiros tornam-se immunes ás febres malignas, moléstias epidêmicas e contagiosas. Fleury diz que, perto de Bristol, existiu du- rante dous annos uma fabrica de óleo extrahido de cadáveres, que espalhava emanações de cheiro nau- seabundo insupportavel; e que nem por isso houve em tempo algum accidente digno de nota entre os operários e moradores visinhos. Rousseau affirma que, nos 36 annos em que traba- lhou no Museu de Historia Natural de Paris, edificio construido sem as condições hygienicas necessárias para tal mister, elle e seus collegas jamais sentiram incom- modo algum de saúde, dissecando, durante muitos dias, animaes grandes, como elephantes, ursos, etc, em adiantado estado de putrefacção. Fleury narra a historia do celebre anatomista, pro- fessor da Faculdade de Medicina de Paris, Antônio Du- bois, quando os amphitheatros particulares daquella capital eram fornecidos directamente de cadáveres. 7 Elle, para fazer provisão, tractava de illudir a vigi- lância dos guardas dos cemitérios, espalhando pelas visi- nhanças dos mesmos mulheres publicas, para provo- carem scenas escandalosas; e, então, aproveitando-se da àistracção dos guardas attrahidos por taes actos, pene- trava no cemitério e mettia no carro quatro ou cinco cadáveres, ao lado dos quaes se retirava, sem que nunca tivesse sentido perturbação alguma em sua saúde. Paulo Dubois confirma a asserção de Fleury e accrescenta que seu pai conservava peças anatô- micas em maceração, durante muito tempo, no próprio quarto em que dormia, gozando sempre de boa saúde, tanto que morreu na avançada idade de 83 annos. Navier refere que em Abril de 1773, fazendo-se uma exhumaçao na igreja de S. Saturnino, de Saulieu, na occasiao em que achava-se cheia de gente, espalhou- se um cheiro infecto; e quede 120 meninos e meninas que se achavam presentes 114 adoeceram gravemente, assim como mais setenta e tantas pessoas adultas, inclu- sive os padres e o coveiro, morrendo 18. Fleury diz que tem-se citado exemplos de coveiros morrerem instantaneamente, estando no exercicio de suas funcções, mas que é preciso concordar em que estes casos são excepcionaes, e em que nada provam em relação á influencia das emanações pútridas, do mesmo modo que o mephitismo dos esgotos de águas servidas e dos depósitos de matérias fecaes não destroe a boa saúde habituai de seus alimpadores. Diz mais que parece demonstrado ser nos primei- ros momentos da decomposição cadaverica que se des- prende do abdômen um gaz deletério, cujos effeitos 8 tóxicos foram indicados por Fourcroy e Orlila; mas que isto não passa de um incidente particular, que não resol- ve a questão geral das emanações pútridas. O professor Chomel assegura ter-se desenvolvido d\ senteria, em poucas horas, em alguns discípulos seus, que fizeram a autópsia n^im individuo asphyxiado em deposito de matérias fecaes (fosse d'aisance). Alguns nosographos, como Arcet, e entre nós o distincto professor Dr. Torres Homem, acreditam que os gazes desprendidos das matérias fecaes accumuladas produzem algumas vezes d}'senteria e outros acci- dentes. O Barão de Lavradio, ex-presidente da Junta de Hygiene, diz no seu relatório de 16 de Março de 1869 ter sido atacado de diarrhea e de eólicas intestinaes, que lhe duraram alguns dias, depois da visita feita, por ordem do governo, a uma das nossas galerias de esgotos. Desgenettes, Vaydy, De Lassone e Pringle affir- mam terem observado vômitos, diarrhea e dysenteria como conseqüência da influencia das emanações despren- didas de matérias fecaes e de animaes em putrefacção. Tardieu, em sua these de concurso (Voiries et Cimetières), para a cadeira de hygiene da Faculdade de Medicina de Paris, em i852, não prova de maneira po- sitiva a influencia maléfica das emanações pútridas; assim na pagina 35 diz: « A influencia nociva das emanações pútridas está demonstrada de uma maneira evidente, mas não cons- tante ; depende de circumstancias mal conhecidas entre as quaes deve-se attender, em primeiro logar, ao modo da putrefacção, á natureza das emanações, ao gráo de 9 concentração e á resistência que lhes oppõe o organismo, em virtude da robustez individual ou do habito adqui- rido. » Fleury, porém, pergunta qual é esse modo de pu- trefacção, essa natureza de emanações e esse gráo de concentração. Tardieu contradiz-se algumas vezes : assim na pagina 144 de sua referida these, accrescenta elle de ma- neira genérica: « Quanto aos effeitos das emanações provenientes dos depósitos de animaes mortos e matérias fecaes (voi- ries) sobre a saúde dos obreiros e dos habitantes circumvisinhos, póde-se afrlrmar, sem hesitar, de modo geral, que não são nocivas. » Ainda na pagina 119: « Um facto bastante notável, e surrkiente para demons- trar o que se deva pensar sobre a acção das emanações das matérias fecaes, nos foi referido por M. Chevreul, inspector de Bondy, homem muito intelligente, que obser- vou em si próprio o effeito de semelhantes emanações. Quando teve de assumir o emprego que ainda hoje occupa, sua saúde estava profundamente compro- mettida. Havia trazido de Sologna, onde teve importantes trabalhos, febres que minaram-lhe a constituição, e bem assim um grave ataque de cholera asiática que acabara de depauperar-lhe notavelmente as forças. Tencionava deixar definitivamente ^o serviço pu- blico, desde muito interrompido, quando chegou a Bon- dy. Depois de i5 dias sua saúde era [outra ; completo e rápido restabelecimento o convenceram de que sua IO residência junto de uma esterqueira, em logar de ser nociva, foi-lhe assaz salutar. Tela nossa parte estamos muito dispostos a admittir a probabilidade do Jacto. » Fleury, a nosso ver, também é contradictorio. Apreciando todas estas questões, assim se pronuncia, ao terminar , a respeito da influencia das emanações pútri- das de natureza animal sobre a salubridade publica: « i.° Quando a putrefacção de substancias ani- maes se opera em atmospheras fechadas, produzem-se, algumas vezes, gazes não respiraveis ou deletérios, que dão logar quer á asphyxia, quer a um envenenamento mais ou menos grave. 2.0 Em circumstancias excepcionaes, ainda mal determinadas, os corpos animaes em putrefacção ao ar livre desprendem gazes deletérios, provavelmente for- mados por ácido sulphydrico e hydrogeneo phospho- rado. Este desprendimento dá-se sobretudo durante o primeiro periodo da putrefacção do abdômen dos ani- maes. 3.° O desprendimento destes gazes deletérios con- stitue um verdadeiro mephitismo, podendo produzir accidentes graves ou mesmo uma morte instantânea, como o mephitismo dos esgotos e dos depósitos de matérias fecaes (fosses d' aisance); mas, como este ultimo, este mephitismo accidental não implica a nocividade geral e absoluta das emanações pútridas. 4.0 Em presença dos focos immensos de putrefac- ção, que espalham emanações pútridas sobre popula- ções consideráveis, sem augmentar a mortalidade, sem produzir e desenvolver moléstias de origem miasmatica, se é obrigado a reconhecer a inocuidade geral das ema- II nações pútridas, provenientes da decomposição das ma- térias animaes, e talvez deva-se admittir que estas emanações exerçam, ao contrario, uma acção favorável e prophylatica. 5.° Citam-se exemplos de diversas moléstias mais ou menos manifestamente produzidas pelo effeito das emanações pútridas; mas o numero destes exemplos é relativamente mui pouco considerável: não destroe a regra geral, e deve-se antes imputar a circumstancias individuaes ou a predisposições particulares. 6.° Deve-se reconhecer, com Londe, que a força do individuo, sua boa saúde, o exercicio do corpo, os bons alimentos e o habito das emanações pú- tridas diminue a aptidão para ser perniciosamente affectada por ellas, emquanto que as causas oppostas as augmentam. » Na actualidade podemos conciliar estas idéas tão contradictorias, professadas por homens tão distinctos, acreditando que, si as emanações pútridas de natureza animal não exercem, em geral, acção nociva sobre a saúde, ha entretanto certas circumstancias em que os effeitos deletérios se manifestam; não podendo sua existência ser contestada, á vista de numerosos factos, que se acham archivados nos annaes da sciencia. Esta diversidade de resultados, que têm dado logar a opiniões divergentes e contradictorias, que pro- fessam os autores, pôde ser explicada pela natureza das emanações pútridas, seu gráo de condensação, as condições do logar em que se produzem, o estado de confinacão atmospherica e a permanência dos individuos nessas localidades. 12 Essas emanações, produzindo uma infecção nao especifica do ar atmospherico, podem dar em resultado a manifestação de diversas moléstias de caracter infeccioso, as quaes variam, segundo as differenças individuaes, as condições meteorológicas e as constituições médicas. E' assim que pensa o nosso notável hvgienista, o professor Dr. Souza Costa, e quasi todos os modernos hygienistas. (N. 7 da União Medica, Julho de 1881.) ESGOTOS DO RIO DE JANEIRO HISTÓRICO I As primeiras obras de esgotos da cidade do Rio de Janeiro datam dos tempos coloniaes. Mui difficilmente poderíamos organizar um resumo histórico das mesmas, si não fossemos soccorridos pelos trabalhos dos iliustrados finados frei José da Costa Aze- vedo, monsenhor Pizarro e Dr. Haddock Lobo, visto como nos archivos não existem colleccionados outros. Como se lê no Tombo das terras municipaes do Dr. Haddock Lobo, já antes da segunda invasão fran- ceza, em 1711, commandada por Duguay-Trouin, existia uma tortuosa valia que, recebendo as águas plu- viaes do então chamado Campo da Cidade, se estendia pelas ruas da Ajuda, Guarda-Velha, largo da Carioca, ruas de Uruguayana e Aíjube, hoje da Prainha, indo ter- minar nas praias de Santa Luzia e Prainha. 14 O governador Luiz Vahia Monteiro, vendo quanto era dirhcil e dispendiosa a continuação das obras da muralha começada pelo brigadeiro João Mace, em 1711, para defender a cidade das freqüentes invasões, resolveu substituil-a por um grande canal que pudesse ser navegável em toda sua extensão, e que deste modo melhor servisse á defesa da cidade nas occasiões de ataque. Foi assim que, sendo em parte aproveitada a antiga e tortuosa valia existente, foi ella augmentada e melho- rada, principalmente no ponto correspondente á rua de Uruguayana. A porção da valia comprehendida entre o largo da Carioca e a praia de Santa Luzia foi gradualmente des- apparecendo com a edificação e com os aterros que se fizeram. A parte comprehendida, porém, entre o largo da Carioca e Prainha foi ainda conservada e melhorada pela câmara municipal, á vista da Carta Regia de 21 de Abril de 1725, que ordenou fossem as sobras das águas do chafariz da Carioca encanadas para esta valia, que recebia também em todo seu trajecto as águas pluviaes das ruas do Cano, hoje Sete de Setembro, Ouvidor, Rosário, Hospicio, Alfândega, Sabão, hoje General Câmara, S. Pedro, Violas, hoje Theophilo Ottoni, e Aljube, hoje Prainha. Sendo esta grande valia descoberta, servia por isso também de receptaculo a todos os despejos immundos que os habitantes mais próximos iam lançar-lhe, além das matérias fecaes que nella despejavam o seminário de S. José e a cadêa do Aljube. i5 Também ia ter a esta extensa valia uma outra menor que dava esgoto ás águas pluviaes e ás dos mangues existentes no logar em que hoje está situada a parte da Cidade Nova, comprehendida dentro da zona occu- pada pelas ruas da Princeza e Príncipe ( dos Cajueiros). Ainda, apezar dos melhoramentos feitos, esta valia era tão mal nivelada que nas épocas de prea- mar a água entrava por ella até á altura da rua da Alfândega, e na occasião das chuvas torrenciaes as águas refluindo e transbordando inundavam as ruas adjacentes, espalhando desta fôrma as matérias immundas nella depositadas. A cidade ficava depois destes transbordamentos em tal estado] de infecção que raro era o individuo, que^podia resistir immune ás constantes epidemias de pyrexias, taes como febres intermittentes, perni- ciosas, então chamadas febres podres malignas. Não só devido ao que acabamos de referir, como também ás myriades de mosquitos que se origina- vam nessa valia, o vice-rei Conde de Cunha viu-se obrigado a mandal-a tapar com grandes lages; o que comtudo não melhorou as condições hygienicas de tão poderoso foco de mephitismo, como encontra-se n'um dos paragraphos da Memória Thilosophica eTatholo- gica do Rio de Janeiro attribuida a frei José da Costa Azevedo, que assim se exprime: « Quando a valia estava descoberta, o ar livre accelerava a putrefacção ; e á medida que se desen- volviam os máos vapores, se diffundiam na atmosphera e dissipavam successivamente, entrando na economia geral dajnatureza, ficando assim menos damninhos, 10 por estarem menos condensados, ou por não obrarem com forças unidas ou simultâneas. Porém, com a valia coberta, havia sem duvida menos quantidade de ma- térias putresciveis ; mas ha quanto abundem para fazer o malefício, porque : não havendo remoção abundante de ar dentro, os vapores mephiticos se detêm e se espessam, e tendo-se augmentado em massa e volu- me rompem por qualquer fenda ou furo, e vêm com força damnar a atmosphera.» A1 medida que a cidade foi-se estendendo, outras vallas menos importantes foram sendo construidas, o que servia mais para peiorar as condições hygienicas do que para dar escoamento ás águas pluviaes, que du- rante as chuvas fortes alagavam, e ainda alagam, certos pontos da cidade. Assim devia de acontecer, porque taes obras eram feitas aos poucos, sem o mais comesinho preceito scien- tifico, quando era preciso estudar maduramente a tão difficil topographia da nossa capital, cercada de gigan- tescas montanhas e contendo mesmo em seu seio não pequenos morros. A segunda valia, construida mais tarde, foi a que começava no fundo das chácaras e quintaes da rua do Rezende entre a dos Inválidos e Riachuelo (antiga rua de Mata-Cavallos), passava pelos fundos dos terrenos da rua dos Inválidos até chegar á do Senado, aonde, atravessando por baixo do solo, seguia pela rua do Conde d'Eu, próximo ao campo da Acclamação, rua do Areai, Formosa (hoje General Caldwell), e ia terminar no mangue da Cidade-Nova. Esta valia conservava-se quasi sempre obstruída, 17 em conseqüência do barro que descia dos morros de Santa Thereza, Paula Mattos e Senado, por occasião das nossas freqüentes chuvas torrenciaes; e também em conseqüência dos despejos de toda ordem que nella faziam os moradores das casas, cujas chácaras e quintaes ella atravessava. Em algumas ruas, as águas, não achando escoa- mento, subiam a quatro e cinco palmos de altura, depo- sitando espessas camadas de um barro por tal fôrma viscoso, que chegava até a vedar o transito, durante muitas horas e ás vezes dias ! As emanações mephiticas, não só dos pântanos, como também das immundicias que se espalhavam corrompendo a atmosphera, tornavam este bairro da cidade assaz insalubre, isto é, muito sujeito a febres paludosas de máo caracter, lymphatites perniciosas, etc, como refere o Sr. Barão de Lavradio, presidente da Junta central de hygiene publica, no seu relatório de 16 de Março de 1869. Estas e outras menos importantes e defeituosas vallas serviam mais para infeccionar a cidade do que para dar escoamento ás águas pluviaes. Pôde-se francamente dizer que até á creação da companhia City Improvements o despejo das matérias fecaes, águas servidas, etc, era feito nas vallas e praias. Surgiram algumas emprezas para fazer a remoção das matérias fecaes, mas, lutando com grandes despe- zas, tiveram vida ephemera. Destas emprezas a que melhor preencheu seus deveres foi a de Rhodes, sendo por isso a que viveu mais tempo. 2 i8 Comprehende-se bem que a classe menos abastada de nossa cidade, não podendo despender com essas emprezas que appareceram, continuaram a fazer os despejos nas vallas e nas praias, isto é, nos logares mais próximos e nos quaes nada pagavam para cumprir tal necessidade. Bem triste era, pois, o espectaculo que dávamos até á creação da companhia City Improvements. A attenção dos estrangeiros que aportavam ás nossas plagas era logo attrahida pelo nojento e fétido quadro que se lhes apresentava ; porquanto, nem mes- mo os logares de embarque e desembarque, como o antigo cães dos Mineiros e Pharoux, eram poupados! Lembro-me de que, tendo vindo ao Rio de Janeiro em i853, e morando em uma casa que dava fundos para a então chamada praia ou cães dos Mineiros, admirava-me, e era ainda uma criança, da linguagem e das acçÕes barbaras dos pretos que, carregados de immensos barris, cheios de matérias fecaes de muitos dias, iam atiral-as nas praias da cidade mais freqüen- tadas para embarque e desembarque ! Não exageramos, dizendo que era quasi impossivel transitar-se ao escurecer pelas ruas mais próximas do litoral, tal era o fétido ambiente e a turba-multa de negros carregados que se encontrava a cada passo. O Sr. Barão de Lavradio mui chistosamente diz em um dos paragraphos do já citado relatório de 16 de Março de 1869 : « Quem viu estes batalhões de carregadores, atra- vessando a passo accelerado por certas ruas, como as da Guarda Velha, Ajuda, Ouvidor, Rosário, e outras, com- 19 postos em sua maior parte de escravos ou pretos liber- tos, já velhos, estropiados e bêbados, que encontravam nesse trabalho um meio mais lucrativo do que em outros; alguns dos quaes pareciam a cada momento precipitar-se com a carga pesada que conduziam, atro- pellando a todos qeu passavam; e que procuravam livrar-se de uma castatrophe desagradável, não pode ainda hoje deixar de estremecer á lembrança dos sustos por que passou de ser assaltado por um tigre (expressão vulgar com que se designavam os barris cheios de maté- rias fecaes). » ESGOTOS ACTÜAES II O decreto n. 1629 ^e 2^ de Abril de 1857, que concedeu ao Sr. tenente-coronel João Frederico Rus- sell privilegio para organizar uma companhia que se encarregasse de construir um systema mixto de esgotos, isto é, de esgotos para as águas pluviaes, matérias fe- caes e águas servidas, semelhante aos que são usados em Leicester e outras cidades da Inglaterra, é um padrão de gloria para o Exm. Sr. Visconde de Bom- Retiro, então Ministro do Império. Actüalmente os esgotos da cidade estão divididos em cinco grandes districtos, que trabalham indepen- dentes uns dos outros. As galerias que recebem as matérias fecaes e águas servidas das habitações, funccionam sem de- pendência das . que recebem as águas pluviaes das praças e ruas. Ha nas ruas e praças, sobre os passeios, largas, aberturas cobertas com uma chapa de ferro, deno- 22 minadas entradas lateraes, as quaes servem para dar ingresso aos trabalhadores encarregados da limpeza das galerias principaes. Nessas entradas lateraes existem apparelhos pró- prios para a lavagem das galerias (flushing iancks), mas que não trabalham por falta de água, elemento essencial ao nosso systema de esgotos !... Ha também nas praças e ruas pequenas aberturas mais elevadas que o nivel das calçadas, denominadas ventiladores, e que servem para arejar as galerias. Em cada prédio ha um cano de ferro de mais ou menos dez centimetros de diâmetro, contendo em seu extremo superior uma bacia com syphão, na qual se fazem os despejos. Cada bacia tem ao lado um tubo para receber o encanamento d'água, que deveria nella espalhar-se pelos furos que tem ao redor, e que se existisse traria grandes vantagens, não só porque as ma- térias fecaes seriam logo acarretadas, como também não poderiam desprender-se gazes; mais por falta d'agua até agora não foi cumprida esta cláusula do contracto ! As águas pluviaes das praças e ruas escoam-se por intermédio dos receptaculos ou boeiros engra- dados, que existem de distancia em distancia. As matérias fecaes, acompanhadas das águas plu- viaes dos quintaes e pateos das habitações e auxiliadas pela gravidade e pela inclinação, vão ter aos cinco depósitos conhecidos sob a denominação de casas das machinas, onde por meio de machinismos de alta pressão são chamadas á superfície e desinfectadas. 23 A inclinação das galerias é de seis pés inglezes por milha. As matérias sólidas são recolhidas, e as liquidas são lançadas ao mar depois de filtradas. O i° districto abrange uma área de 2,323,200 metros quadrados, contém cerca de 7,632 casas, e comprehende a parte da cidade entre o hospital da Santa Casa da Misericórdia, as vertentes dos morros de Santo Antônio e Senado, campo da Acclamação e morro do Livramento. Neste districto houve necessidade de fazerem dous tunneis, um atravez do morro do Livramento, na ex- tensão de 458 metros e 70 centimetros ; outro me- nor, atravez do morro da Conceição, de 77 metros. A companhia City Improvements aproveitou-se da antiga valia da rua da Uruguayana, como artéria principal das galerias de esgoto das águas pluviaes deste districto. Esta valia tem uma extensão de 1,227 metros e 60 centimetros, e vai desaguar no mar em frente do largo da Prainha, como já tivemos occasião de re- ferir . Existem construidos neste districto 7,312 metros de galerias principaes e 27,343 metros de ramifica- ções dos esgotos de matérias fecaes. A casa da machina deste districto demora na fralda do morro de S. Bento na rua Primeiro de Março, em frente ao portão do arsenal de marinha. O 20 districto abrange uma área de 411,400 metros quadrados, com cerca de 5,200 prédios e comprehende as freguezias de Santo Antônio, de Santa 24 Anna e do Espirito Santo, até á rua de S. Christovão exclusivamente. A este districto vão ter as galerias de esgoto, que por ordem do governo e em virtude de requi- sição dos proprietários foram construídas nos arra- baldes de Catumby e parte do Rio Comprido. A respectiva casa da machina está situada na praia do Sacco do Alferes, onde vão ter as matérias esgotadas nesta vasta zona. Ha neste districto três galerias para as águas pluviaes: a ia na rua do Bom Jardim, a 2a na rua das Flores e a 3a, que começa na rua dos Inváli- dos, segue pela rua do Senado e travessa do mesmo nome, campo da Acclamacão, e rua do Visconde de Itaúna, indo despejar as águas no canal do mangue. A extensão das galerias de águas pluviaes deste districto é de 3,399 metros. As galerias principaes de matérias fecaes tem uma extensão de io,o35 metros, e as ramificações de 20,^94 metros. O 3o districto comprehende parte das freguezías de S. José e Gloria; isto é, oecupa uma área de 3,823,600 metros quadrados, contendo três mil e tantos prédios. E' limitada pelo morro de Santa Thereza e ponte do Cattete. As galerias para as águas pluviaes do 3o districto vão acabar no mar, perto do convento da Lapa, no cães da Gloria e defronte ás ruas do Príncipe e Princeza (do Cattete). O comprimento dessas vallas é de 2,420 metros. A extensão das galerias de matérias fecaes é de 6,943 metros e a das ramificações das mesmas 11 i36. 20 A casa da machina deste districto está situada no cães da Gloria, junto ao morro do mesmo nome. Mais tarde foram reunidos a este districto os esgotos das Larangeiras. O 4* districto abrange as freguezias do Engenho Velho e S. Christovão, até o cemitério publico do Caju. Contém cerca de 2,450 prédios. A extensão das galerias geraes é de 36,5oo metros. A casa das machinas deste districto está situada na praia de S. Christovão, junto ao hospital dos Lázaros, contendo duas machinas a vapor de força de 20 cavallos cada uma. O 5o districto comprehende a freguezia da Lagoa, desde a ponte do Cattete até á rua de Humaitá, emfim o arrabalde denominado Botafogo. Esgota i,85o prédios, pouco mais ou menos. A extensão das galerias geraes é de 33,5oo metros. A casa das machinas dispõe de duas a vapor, de força de 20 cavallos cada uma; e está localisada na praia de Bota- fogo, junto ao morro do Pasmado. A Companhia City Improvements n-stes dous últi- mos districtos já foi dispensada de construir esgotos para as águas pluviaes, visto ter o governo contratado com outra empreza esse serviço. III As galerias principaes dos esgotos são construídas de tijolo, têm a fôrma oval e variam de dous metros de altura e um metro e 10 centímetros de largura até um metro e 5o centimetros de altura e um metro de largura. 26 Ainda ha galerias menores, porém estas são circu- lares e o diâmetro é de 5o centimetros. Os tubos ou canos das ramificações são feitos de barro, e têm mais ou menos a metade do diâmetro das galerias acima apontadas. Em cada districto ha, como já dissemos, uma casa para as machinas, contendo dous grandes reservatórios, denominados câmaras de recepção ou de reunião, das matérias fecaes, que ahi vão ter pela acção da gravi- dade e pelo declive das galerias, que é de seis pés inglezes por milha. Pela aspiração das bombas, movidas por machinas a vapor, são as matérias elevadas, desinfectadas nos cylindros de desinfecção e lançadas nos tanques de preci- pitação, onde se opera a separação da parte solida da liquida. Esta, assim desinfectada, é lançada ao mar depois de filtrada. As machinas que movem as bombas em cada dis- tricto são duplas. As do i ° districto são de 40 cavallos cada uma; as do 20 de 29 cavallos; as do 3o uma de 20 e outra de 8 cavallos; as do 40 e 5o districtos de 20 cavallos cada uma, como dissemos acima. Os tanques de precipitação são duplos em cada districto e têm um filtro na parte posterior. Os agentes chimicos empregados na desinfecção são o sulphato de alumina, o carvão vegetal e a cal. A dosagem empregada é a seguinte: duas partes de sulphato de alumina para uma e meia de cal e carvão. 27 A matéria fecal, assim desinfectada e secca, denomi- nada pelos francezes poudrette, é com grande vantagem empregada na agricultura. Entre nós não se tem tirado o resultado que na Europa se obtém da poudrette, pelo facto de não ser conhecida a preparação prévia que a mesma tem de experimentar antes de ser empregada no terreno. A grande porta (pont stock) que impede a commu- nicação directa das câmaras de recepção com o mar, só é aberta na occasião de fortes chuvas torrenciaes, dando assim sahida ás matérias fecaes sem terem passado pela prévia desinfecção. E\ pois, um grande erro a vulgar supposição de que os encanamentos de matérias fecaes estão em communicação directa com o mar, podendo as marés altas fazel-as refluir para as galerias, occasionando pelo revolvimento emanações deletérias. Desde a conclusão das obras do 3o districto, denominadas de ensaio, em Fevereiro de 1864, até hoje, tem o governo nomeado diversas commissões de illustrados engenheiros e médicos, encarregando-os de examinar os trabalhos existentes e dar parecer a res- peito das queixas e reclamações que têm apparecido, taes como : desprendimento de emanações fétidas pelos syphÕes e bacias das habitações; volta ás bacias, depois de ?pouco tempo, das matérias fecaes e águas servidas nellas lançadas ; má collocacão dos boeiros ou ralos destinados a receber as águas pluviaes dos quintaes e áreas; fétidos e efíluvios emanados das enfradas la- teraes, etc. 28 Todas estas com missões nomeadas têm preenchido as suas funcções, apres entando, depois de sérios estudos, relatórios, nos quaes indicam os meios de poderem ser sanados alguns dos defeitos existentes. O Sr. Barão de Lavradio aponta, no seu citado relatório de 1869, algumas das causas que têm con- corrido para a imperfeição de certos trabalhos execu- tados por occasião da construcção das galerias, como seja haverem sido entregues taes. serviços a empreiteiros inhabeis (como são quasi todos os mestres de obras no Brazil) que, desejando auferir grandes lucros, só tinham em mira. entregar a obra concluida no menor espaço possivel de tempo. Estes empreiteiros não cuidavam, por ignorância ou economia, de estabelecer uma base solida em que descançassem algumas galerias e canos. E por isso que, posteriormente, com a depressão do terreno balofo em que foram collocados, mudam de nível e são encon- trados rachados, quebrados ou desarticulados, dando assim logar a infiltrações no solo. Foi o que se observou em 1868, quando, por não funccionarem devidamente os encanamentos da travessa da Barreira e rua do Espirito Santo, houve necessidade de reformal-os; e o que tem-se obsenvado depois, chegando-se mesmo a encontrar tubos separados na extensão de algumas pollegadas! IV No nosso fraco modo de entender, não são somente as emanações fétidas desprendidas das matérias fecaes 29 contidas nos esgotos, que podem notavelmente infeccio- nar certos pontos da cidade. Acreditamos antes que mais perigosos sejam os effluvios palustres e de matérias vegetaes, desenvolvidos nos boeiros das ruas, quintaes, e em algumas entradas lateraes; porquanto temos observado que grande quan- tidade de lama e de matérias vegetaes é acarretada pelas chuvas e pelos varredores de ruas e trilhos para os boeiros que existem nas ruas de distancia em distancia, onde permanecem quasi sempre mezes, infeccionando a atmosphera do ambiente visinho. Estas causas de infecção poderiam ser completa- mente removidas, si a Companhia City lmprovements fosse obrigada a visitar, limpar e desinfectar com mais assiduidade os boeiros das ruas e as entradas lateraes, empregando também com mais liberalidade, nessa occa- sião, os necessários agentes desinfectantes. Além destes focos de infecção, outros também apparecem por occasião das excavaçÕes que são feitas quando ha obstrucçÕes nas galerias, e que são princi- palmente devidas, como já tivemos occasião de referir, á alluvião das terras que descem dos morros, sempre que chove mais intensamente. Acreditamos que todas as excavaçÕes venham cau- sar inconvenientes á salubridade publica dos logares aonde ellas sejam feitas ; porquanto nos devemos lem- brar de que a nossa grande capital está quasi toda edifi- cada sobre um terreno paludoso, que foi elevado e deseccado á custa'de toda a sorte de immundicias. Não é, portanto, para admirar que, sendo revolvidas terras impuras de um solo paludoso, produzam-se deletérios 3o effluvios palustres e emanações mephiticas das substan- cias animaes e vegetaes, expostas á acção do sol e da humidade durante alguns dias. Do que temos observado, chegamos á conclusão de que ha dous meios importantes de se poder sanar as continuadas obstrucçÕes que se dão nos nossos esgotos, occasionando deste modo todos os inconvenientes tão conhecidos e já apontados, a saber: i.° Estabelecer vastas câmaras, onde as águas plu- viaes passem, deixando sobre ralos ou outros apparelhos mais próprios as terras acarretadas pelas chuvas. Este inconveniente, isto é, o deposito de terras nas galerias, foi notado pelo illustrado Dr. Mello Barreto, então enge- nheiro fiscal da Companhia City Improvements, por occa- sião da visita que fez em 1866 á galeria do cães novo da Gloria, onde as águas que descem do morro de Santa Thereza pela rua de D. Luiza levavam para aquella galeria enorme volume de terras. A medida então suggerida pelo Dr. Mello Barreto foi a de depósitos de arêas feitos sob os lagedos, nos pontos em que as águas pluviaes fossem recebidas. Não foi mais do que um aperfeiçoamento das bouches sous trottoir usadas nas ruas de Paris. A Companhia City Improvements adoptou este melhoramento para as obras novas e denominou-o sandpits. 2.0 Desviar completamente as águas pluviaes dos encanamentos de matérias fecaes. Este meio foi apresentado como o mais profícuo pela ultima commissão nomeada pelo governo, da qual fizeram parte os Srs. Drs. Barão de Lavradio, Antônio Paulo de Mello Barreto e M. Buarque de Macedo. 3i No relatório apresentado por esta commissão em 5 de Janeiro de 187b, encontram-se sábios conselhos a respeito das medidas que devem ser tomadas para obviar os defeitos existentes, alguns dos quaes foram já por nós apontados. A principal de todas as medidas aconselhadas pela commissão foi a introducção de forte volume d'agua nas galerias e mais dependências dos nossos esgotos, ao que o governo se obrigou quando concedeu o privilegio. Esse forte volume d'agua servirá não só para dar, pela sua correnteza mais ou menos constante, maior impulso á marcha das matérias fecaes, como também para diminuir consideravelmente o desprendimento de gazes deletérios; porquanto a água dissolve e condensa muitos gazes; nella a decomposição das matérias animaes e vegetaes se produz mais lentamente. Além deste principal melhoramento, outros devem ser introduzidos obrigatoriamente como na Inglaterra que, pelo Public Health act de 1848, obrigou os proprie- tários a construir latrinas (Water Closets) em gabinetes só a ellas destinados e o mais possivel afastados do cen- tro da habitação, com todas as condições necessárias de ventilação e de abundância d'agua para lavar o recepta- culo após haver servido. Entre nós o que vemos ? Os proprietários mandam muitas vezes collocar os receptaculos de águas servidas e matérias fecaes, isto é, suas latrinas nas cozinhas, junto do fogão, apenas sepa- radas do mesmo por um ligeiro tabique. E' por isto que tão facilmente se sente nas habitações o máo cheiro dos gazes desprendidos sempre que ha falta d'agua ou dá-se 32 qualquer outro inconveniente. Estes inconvenientes são quasi sempre devidos á in- cúria ou má vontade dos nossos escravos ou criados, que, não dando importância alguma ao que fazem, dei- xam ir com as águas servidas talheres, chicaras, etc. Diversas vezes tem-se encontrado pannos de cozi- nha obstruindo os canos e nos quartéis espadas quebra- das e até barretinas! ESGOTOS DE ÁGUAS PLUVIAES V Para obviar os freqüentes alagamentos da cidade depois de qualquer chuva mais forte, visto como eram insuflficientes os encanamentos para esse fim construídos pela City Improvements, tratou o ministério das obras publicas de celebrar com Joseph Hancox, em 3o de Janeiro de 1877, um contracto para edificação de esgotos destinados ás águas pluviaes, completamente indepen- dentes dos existentes, sob o seguinte plano: Dividiu a cidade em dous grandes districtos; com- prehendendo o i° a área limitada a leste e norte pelo mar, ao sul pelas ruas do Conde d^u, Riachuelo, Man- gueiras, Largo da Lapa ao cáes novo da Gloria, e final- mente pelo lado de oeste pelas ruas de Catumby, do Visconde de Sapucahy, canal do Mangue e ponte do Aterrado, ao todo 6,570.000 metros quadrados. O 20, comprehendendo a parte que começa do cães novo da Gloria e vai terminar na Lagoa do Rodrigo de Freitas; sendo limitado do 'ado de oeste pelas vertentes 3 34 da serra de Santa Thereza e pelo de leste com o litoral, abrangendo uma área de 10,960.000 metros quadrados. Eis aqui em resumo as obras que deverão ser feitas, segundo consta do referido contrato : Construcçâo de i5 galerias de fôrma circular de tijolos e argamassa de cimento, as quaes terão diâme- tros variáveis de um a dous metros, perfazendo a exten- são total de i4,82im,45. Construcçâo de ramaes ou collectores com seg- mentos feitos de tijolos e argamassa de cimento, e com diâmetros internos variáveis de om,4Õ a om,6o na exten- são total de 45,5gi metros. Encanamentos de tubos de grés vidrados, de om,i5 a om,3o de diâmetros internos, em extensão total de 32,625ra,20. Construcçâo de tanques de recepção d'agua, depó- sitos de arêa, entradas para limpeza das galerias ; tudo conforme os typos constantes do referido projecto. Assentamento de raios simples e duplos, de tam- pões nas entradas das galerias e mais peças metallicas necessárias ao serviço. i.a As galerias serão circulares e construídas de tijolos com argamassa de cimento e arêa, na proporção de uma parte de cimento e duas de arêa. Serão dos três seguintes diâmetros : 1 metro, ira,5 e 2 metros, tomadas estas dimensões do interior. A espessura, em geral de om,35, poderá reduzir-se até om,20 para o menor diâmetro por deliberação da ins- pectoria geral das obras publicas. 35 2.a Si o terreno em que tiver de descansar, fôr solido e impermeável, limitar-se-ha a accommodal-o á fôrma exterior da galeria, de modo a dar-lhe a conveniente estabilidade; no caso contrario será o terreno conso- lidado com alvenaria hydraulica, concreto, ou pelos meios que em cada caso será indicado pela referida inspectoria. 3.a Os intervallos, que ficarem entre o extra-dorso da galeria e os taludes da excavação, serão cheios com alvenaria de pedra a secco, com a espessura que fôr fixada pela mesma inspectoria: a consolidação do fundo estender-se-ha até á base deste revestimento. 4-a Os collectores ou ramaes segmentaes terão igual- mente a fôrma circular, sendo o numero de segmento de quatro ou seis no sentido da secção. Terão estes collectores om ,46 a om ,60 de diâmetro no interior e espessura nunca maior de ora ,20. 5.a Estes collectores serão assentados do mesmo modo que as galerias, com as quaes se ligarão. 36 6.a As ramificações de diâmetros inferiores áquelles serão feitas com tubos de grés vidrados, de procedência Lancashire, Yorkshire e Dorsetshire, empregando-se tubos ou manilhas de im ,o5a om ,3o de diâmetro in- terno. As juntas destes tubos serão feitas com cimento. As galerias e ramaes collectores serão assentados com declives comprehendidos entre o,ooi5 e o,ooi5, segundo a indicação dos respectivos perfis. As ramifi- cações de tubos de grés, principalmente as que têm de ligar as pequenas caixas de recepção com as galerias e collectores, terão o maior declive que fôr possivel dar-lhes, afim de facilitar o escoamento dessas caixas. 8.a O encontro de qualquer ramal com a galeria far- se-ha em sentido obliquo com a direcção geral da mesma galeria, de modo a evitar tanto quanto fôr pos- sivel a perturbação do regimen das águas no interior desta. 9-a Os tanques de recepção terão a fôrma rectangular e serão construídos de alvenaria de tijolos e argamassa 37 de cimento e arêa nas proporções que forem indicadas. Receberão as águas por meio de ralos simples ou du- plos, de ferro fundido, devendo no segundo caso, sempre que fôr possível, um dos ralos ser assentado no sentido vertical, segundo o meio fio dos passeios das ruas e outro horizontal ao nivel das sargetas. Em todos os casos estes ralos occuparão os pontos para onde convergirem as águas das calçadas. io.a Os tanques de ralos simples terão em geral om,90 de comprimento e 3om,o de largura e profundidade tal que fique o fundo situado pelo menos oin,6o abaixo da embocadura do ramal que o põe em communicação com a galeria ou coUector próximo. Os tanques de ralos du- plos, si estes forem dispostos no mesmo plano, terão comprimento ou largura dupla, conforme a disposição dos ralos. n.a Os depósitos de arêa poderão ser construídos pelo mesmo systema que os precedentes ou com alvenaria de pedra, devendo neste caso ser emboçados interna- mente ; cabendo ao engenheiro que dirigir os trabalhos indicar para cada caso o systema de construcçâo. Terão em geral 9 metros de comprimento, 3 de largura e 3 metros de profundidade a contar da embocadura dos ramaes de communicação com a galeria ou coUector próximo. Serão cobertos de abobadas de tijolos, offere- cendo uma entrada ao menos para sua limpeza. 38 12.a As entradas para limpeza das galerias serão pra- ticadas no eixo das mesmas com intervallo de ioom a i5om; quando, porém, fôr impossível dar-lhes esta posição, sel-o-hão ao lado. Construídas de tijolos com argamassa de cimento, serão fechadas com tampões de ferro fundido assentados sobre encaixe do mesmo metal. Do mesmo modo serão fechadas as entradas dos depósitos de arêa. i3.a Na execução das obras acima especificadas observa- rá o empreiteiro strictamente os desenhos respectivos do projecto ou os que lhe forem fornecidos pelo inspector geral das obras publicas, cujas instrucções seguirá, sem discrepância, nos casos de omissão ou deficiência. As galerias até agora construídas têm sido em differentes pontos dos dous districtos, estando promptas somente as seguintes : A que começa na rua do Rezende e vai pelas dos Arcos, Mangueiras, largo da Lapa até o mar junto ao Passeio Publico. A da rua do Príncipe do Cattete. A do largo do Machado, rua do Cattete, rua Dous de Dezembro até ao mar. A rua do Paysandú. A que nasce na rua de Humaytá e desce pela de S. Cle- mente até o mar, reunindo-se com a dos Voluntários da Pátria na praia de Botafogo, junto ao riacho do Berquó. 39 A da rua dos Voluntários da Pátria está em parte construída. Acha-se quasi concluída a que vai desaguar no mar, junto ao Hospício de Pedro II, e que abrange as ruas do Hospício, Polixena, General Polydoro até á da Real Grandeza. VI Os esgotos construídos fora da cidade têm dado bom resultado pratico, escoando prompta e facilmente as águas pluviaes dos logares por onde passam ou onde vão recebel-as; mas o da cidade, que começa na rua do Rezende, não tem offerecido idêntico resultado não só devido ao grande volume de terras acarretadas pelas águas que descem dos morros do Senado, Paula Mattos e Santa Thereza, como também ao pouco declive das galerias. O illustrado hygíemsta Dr. Souza Costa, no bri- lhante artigo que publicou no Jornal do Commercio de 7 de Março de 188o, mostra os inconvenientes que podem resultar da estagnação de águas e outros corpos animaes e vegetaes em quadra de intenso calor e de epidemia de febres infecciosas, nos reservatórios e galerias de águas pluviaes. Na nossa humilde opinião, concordando plena- mente com o distincto hygienista Dr. Souza Costa, avançamos mais a proposição de que os estragos que se estão observando na presente epidemia de febres infec- ciosas, nas ruas do Riachuelo, Rezende e adjacentes, são 40 principalmente devidos á estagnação de águas, lamas e mais detrictus nas galerias, depósitos e boeiros dos esgotos de águas pluviaes. O grande mal que podia trazer á salubridade publica a estagnação de águas nas galerias e boeiros da Companhia City Improvements já em nossa these inaugural, sustentada em 1875, havíamos apontado. Urge que o governo, quanto antes, mande executar as medidas aconselhadas pelo professor Dr. Souza Costa. CONCLUSÃO VII Algum tanto debatida e contradictoria tem sido, de certo tempo a esta parte, a questão da influencia dos esgotos da City Improvements sobre a saúde publica. Uns affirmam que as pyrexias infecciosas que rei- nam nesta capital, principalmente nos mezes de Dezem- bro a Abril, como febre amarella, febres remittentes biliosas, de caracter typhoide, etc, são originadas e pro- pagadas, quasi que exclusivamente pela City Impro- vements. Outros combatem estas opiniões e sustentam que diversas têm sido as causas que têm feito peiorar, de alguns annos a esta parte, as condições hygienicas da cidade do Rio de Janeiro. A' frente dos primeiros acha-se o Sr. Barão de Lavradio, ex-presidente da Junta central de hygiene publica. A' testa dos segundos acham-se o Dr. Antônio Corrêa de Sousa Costa, professor de hygiene de nossa Faculdade de medicina, Dr. José Vieira Fazenda, 42 Dr. Antônio Paulo de Mello Barreto, ex-engenheiro fiscal do governo junto á companhia City Improvements, e outros. O Sr. Barão de Lavradio acredita que o augmento da mortalidade que tem havido nesta capital seja devido ás emanações mephiticas desprendidas das casas das machinas, das entradas lateraes; ás excavaçÕes que a companhia manda fazer em conseqüência das obstruc- çÕes que se dão nos seus encanamentos, etc Os Drs. Antônio Paulo de Mello Barreto e José Vieira Fazenda responderam cabalmente ás imputações e argumentos apresentados pelo Sr. presidente da Junta central de hygiene publica, nos seus relatórios de 16 de Março de 1869 e 28 de Julho de 1873 ; o primeiro no seu relatório de 3o de Outubro de 1873 e o segundo na sua importante these inaugural de 1871 e em diversos artigos que publicou na Revista Medica de 1874. O Sr. Barão do Lavradio, na pag. 66 do seu relatório de 16 de Março de 1869, ao apresentar a estatística mortuaria desta capital, diz que fraco con- curso podem prestar á elucidação da questão ver- tente os trabalhos estatísticos até então organisa- dos; porquanto peccam por inexactidão e falta de methodo!... Segundo os relatórios do mesmo presidente, a mor- talidade tem sido a seguinte de 1853 para cá: 1853 a l856............................. 34,492 Média annual........................ g^ 1857 a 1860 39,062 Média annual........... ............ 9>?66 43 1861.................................... 8,587 1862.................................... 8,634 i863.................................... 8,645 1864.................................... 8,159 Total do quatriennio................. 34,025 Média annual........................ 8,525 i865.................................... 9,600 1866.................................... 8,735 1867.................................... g,o3o 1868.................................... 8,414 Total do quatriennio.................. 35,779 Média annual........................ 8,944 1869.................................... 8,688 [870.................................... IO,2l4 1871.................................... 9>547 1872.................................... io,338 Total do quatriennio.................. 38,787 Média annual........................ 9i696 i873................................... ^,190 1874.................................... I0i2b2 1875.................................... 11,d6d 1876.................................... 14,016 Total do quatriennio.................. 5i,o33 Média annual.......... ............... 12,708 1877.................................... !?^8 1878.................................... l3'757 1879.................................... IO*799 Total do triennio..................... 34,624 Média annual........................ 11,541 44 Desta estatística resulta que a mortalidade tem augmentado sensivelmente depois que começaram a funccionar os esgotos da City Improvements. Em todos os paizes do mundo tem-se observado que depois da construcçâo de uma obra da ordem do nosso actual systema de esgotos melhoram as condições hygienicas e por isso decresce a mortalidade das cidades em que são feitos idênticos aperfeiçoamentos. Entre nós quaes serão, pois, as causas que têm concorrido para que este facto não fosse observado ? Sem negarmos absolutamente que as emanações provenientes dos esgotos tenham podido concorrer para esse augmento de mortalidade, julgamos todavia que em matéria desta ordem não devemos deixar em silencio numerosas causas positivas para abraçarmos exclusi- vamente uma problemática. Temos tido, neste imperfeito trabalho, occasião de manifestar nossa opinião a respeito de algumas imper- feições existentes, que a nosso ver dão logar a ema- nações deletérias; agora, porém, completando nossa opinião anteriormente emittida, diremos que, quando tenham logar semelhantes emanações mephiticas, essas não poderão ter acção além de certos limites. Para corroborarmos esta nossa opinião temos os freqüentes exemplos de febres infecciosas reinarem em Santa Thereza, Paula Mattos, Engenho-Velho, An- darahy, Botafogo, S. Christovão, etc, onde não che- gavam os esgotos, e aonde, ainda em alguns destes arra- baldes, não chegam. O augmento crescente e rápido da nossa população nestes últimos annos, augmento tão considerável que 45 quasi a tem duplicado, invalida a nosso ver toda ar- gumentação apresentada, explicando claramente o facto. Alem disso outras causas concorrem ainda para este resultado, como vamos indicar. Os pântanos existentes ainda hoje em muitos quin- taes e chácaras das ruas dos Inválidos, Rezende, Riachue- lo, Senado, Conde d'Eu, em quasi toda a Cidade Nova, no Cattete, e todos os outros tão conhecidos que perdu- ram até agora, apezar das repetidas reclamações da im- prensa ! A lama que ha quasi sempre nas ruas ainda calça- das pelo systema antigo. A humidade e água empoçada que se conserva nas sargetas de todas as ruas, proveniente das bicas das es- quinas, etc. Os eífluvios desenvolvidos nos depósitos e boeiros das águas pluviaes, em alguns dos quaes ellas permane- cem tempo indefinito, de mistura com matérias vege- taes e animaes em decomposição. Os coriiços que existem disseminados por toda cida- de, muitos dos quaes são ignorados, porquanto acham-se no interior de casas que exteriormente apresentam o aspe- cto de uma só habitação, como conheço um grande, na rua Sete de Setembro, cuja entrada é por uma elegante loja de alfaiate, e outro na rua da Assembléa, cuja entra- da é por uma loja de fazendas! O povo deu a denominação de cortiços a certas estalagens que, em grande numero, acham-se espalhadas por toda a cidade e arrabaldes. A denominação popular, por que essas habitações 40 são conhecidas, serve bem para explicar a angustia do espaço oecupado por cada alojamento ou morada. Muitos alojamentos não têm mais do que uma estreita porta que, fechada, só e insuficientemente pôde dar entrada ao ar por um orifício que nella existe. Pois bem, são nesses tão limitados espaços que pernoitam e vivem famílias compostas de quatro, cinco e mais pessoas. Os italianos, engraxadores de botas, músicos am- bulantes, etc, que formigam nesta cidade e que vivem em communidade, dormem nesses quartos aos magotes. Estes focos de infecção até bem pouco tempo eram tolerados; e a Câmara Municipal permíttia que novos fossem construídos ! ! As casas ao rez do chão, humidas, escuras, mal ventiladas, algumas mais baixas do que a rua, como são em geral aquellas habitadas pela gente menos abastada, que vive accumulada e respirando um ar sempre viciado. Os hospitaes e casas de saúde espalhados pelo centro da cidade. As casas de vender escravos, nas quaes esses in- felizes vivem em peiores condições do que os ita- lianos nos cortiços. Os aterros feitos com lixo, como estão ainda agora praticando junto ao Asylo da Mendicidade! A montureira da empreza Gary na praia de D. Manoel. Os insufticientes e immundos mictorios que não são desinfectados, nem lavados. A ourina putrefacta que existe nos passeios e sargetas de muitas ruas. 47 As excavaçÕes continuadas feitas pela reparti- ção das obras publicas, por causa dos encanamentos d'água, e bem assim pela companhia do Gaz. Em 1871, quando desenvolveram-se febres infeccio- sas no Cattete, por occasião das excavaçÕes que então alli se faziam, estas eram praticadas pela companhia do Gaz, para assentamento de novo encanamento. A s celebres graxeiras que ficavão próximas do ma- tadouro, tão conhecidas dos mor adores de S. Christovão, S. Francisco Xavier, Villa Izabel, etc. A grande derribada de arvores que tem havido, por causa da edificação nos nossos arrabaldes e princi- palmente em Santa Thereza, roubando-se assim o ozona que poderia vir purificar a atmosphera da cidade. Finalmente as mutações bruscas de temperatura, por que tem passado, de alguns annos a esta parte, a nos- sa capital, onde depois de dias quentes temos outros humidos e frios. Alem destas causas, desejávamos saber que influen- cia exercerá sobre o augmento da mortalidade o cres- cimento que a população tem tido desde i865 para cá, já pelos nascimentos, já pelos immigrantes, que em grande numero têm affluido a esta capital, muitos dos quaes, devido á longa viagem, má alimentação, falta de ventilação desses porões infectos, onde dormem accu- mulados, chegam gravemente doentes e aqui morrem? Que influencia exercerá também sobre o augmento da mortalidade a parte dessa população transitória dos navios, que cada vez mais freqüentam nosso porto, e que, estando a bordo quasi que nas mesmas con- dições dos immigrantes, chega doente e aqui morre ? °4 48 Que influencia exercerá sobre o augmento da mortalidade a gente que vem das provincias buscar aqui allivio a males incuráveis e que morre? Finalmente, que influencia exercerão sobre o au- gmento do mortalidade os moradores dos lugares pró- ximos e os trabalhadores das estradas de ferro que vêm morrer nos nossos hospitaes de impaludismo ? Como é portanto que, abandonando-se quasi com- pletamente o estudo comparativo de todas estas cau- sas que tanto ou mais do que o máo funccionamento dos esgotos de matérias fecaes da City Improvements, po- dem concorrer para o apparecimento e desenvolvi- mento de certas febres infecciosas e finalmente para o augmento da mortalidade, attribue-se só a elles a origem de tantos males ? Achamos mais justo que seja lançada de preferencia á nossa Municipalidade e Governo a culpa do augmento da mortalidade do que á Companhia City Improvements, porque esta fazendo mal o seu serviço pôde infeccionar um ou outro ponto da cidade, ao passo que aquelles aban- donando-a, deixam-a entregue a todos os focos de infec- ção que enumeramos; dando assim lugar á origem e propagação das pyrexias infecciosas, que apparecem principalmente de Dezembro a Abril, em que a atmos- phera torna-se mais quente e humida. Não fosse a posição de vereador procurada como meio de figurar nas lutas eleitoraes, ou como pedestal para encaminhar bem os negócios pessoaes; não fosse essa eleição mais do que a expressão do sentimento popular e não uma farça previamente estudada e arran- jada, que teríamos vereadores que se interessassem 49 devidamente pelos melhoramentos do seu municipio, não deixando existir tantos focos de infecção. Para combater as imputações dos que dizem que a febre amarella tornou-se endêmica entre nós depois da creação da Companhia City Improvements, temos a opinião do finado Conselheiro José Martins da Cruz Jobim, ex-Lente e Director da Faculdade de Medicina desta Corte, que na ultima conferência que fez na Esco- la Publica da Gloria, franca e lealmente emittio seu esclarecido juizo a semelhante respeito, dizendo que, si quando a cidade estava em peiores condições hygienicas do que agora não éramos freqüentemente visitados pelo typho icteroide, era porque não estávamos, como hoje, em communicação tão directa com os portos infeccio- nados. Realmente foi depois que estreitamos nossas rela- ções com a America do Norte que o flagello começou a apparecer quasi todos os annos entre nós. E não é de admirar que importemos deste modo o miasma especifico da febre amarella, desde que se souber que os paquetes norte americanos e outros vapores que entrão mensalmente em nosso porto d'aquella procedên- cia, fazem escala na Ilha de S. Thomaz, onde a febre amarella reina endemicamente sempre e epidemicamente quasi sempre. Importado deste modo o germen e encontrando aqui todas as condições para seu desenvolvimento, appa- rece e rapidamente propaga-se pela cidade. Trate a Câmara Municipal e o Governo do calçamen- to e asseio das ruas e do interior das casas, quintaes e áreas. 4 5o Sejão todos os proprietários obrigados a introduzir água nos receptaculos da City Improvements; e bem assim seja esta Companhia obrigada a usar mais liberal- mente dos necessários e indispensáveis desinfectantes, nas portas lateraes, boeiros, etc. Mande o governo limpar por meio de dragas, o ancoradouro e muitas de nossas lodosas e immundas praias. Estabeleça o governo um lazareto fora da barra para a quarentena dos navios de procedência suspeita. Ao terminar não podemos deixar de declarar que, á vista dos factos que observamos e apontamos neste incompleto trabalho, não acreditamos que o actual sys- tema de esgotos, por si só, como querem aquelles que citámos, tenha exercido má influencia sobre a salubri- dade publica do Rio de Janeiro. Alps Conselhos Hypicos ao Foto i Varias noticias. — Conselhos hygienicos. — Escre- ve-nos o Sr. Dr. João Pires Farinha: « Os melhores desinfectantes para destruir o miasma que produz a. febre amarella são incontestavelmente, segundo as opiniões dos médicos norte-americanos, mexi- canos, e segundo nossas próprias observações, o ácido phenico e ãsfumigações de alcalrão. « O ácido phenico deve ser dissolvido em álcool na seguinte proporção : — i5o grammas de ácido phenico para 25o de álcool —; e assim desinfectadas as latrinas, o lixo e todos os logares immundos das casas. « As fumigações de alcatrão, que se obtém quei- mando alcatrão, convém muito para desinfectar as rou- pas de indivíduos que tenham estado doentes ou morrido de febre amarella, e bem assim para purificar o ar atmospherico, livrando-o desse quid que produz tão terrível moléstia. 02 « Procuremos todos usar destes meios tão fáceis e baratos para ver si poderemos sustar a propagação da epidemia, que vai gradualmente se espalhando por toda a cidade. — Dr. João Tires Farinha. » ( Jornal do Commercio do 11 do Fovoroiro do 1880. ) II Varias noticias. —Conselhos hygienicos. — Es- creve-nos o Sr. Dr. João Pires Farinha: « Insistimos em aconselhar ao povo a necessidade da queima de alcatrão nas ruas e no interior das casas para purificar o ar atmospherico e assim debellar esse quid até hoje hypothetico e mysterioso, que produz a terrível moléstia denominada typho icteroide ou febre ama- rella . « Tem sido deste modo que em certas cidades ma- rítimas dos Estados-Unidos da America do Norte e do México, os médicos encarregados da hygiene publica têm conseguido paralysar epidemias devastadoras. « As latrinas, os canos de esgoto, os ralos das ruas, das áreas e quintaes devem ser desinfectados com ácido phenico, que é uma substancia extrahida do alcatrão do carvão de pedra. « O alcatrão proveniente do carvão de pedra é o que mais convém, por isso que sendo o que mais facil- mente arde, é também o mais barato. 53 « Um kilogramma de alcatrão poderá se obter no commercio por mil réis e na fabrica de gaz por preço inferior. « Quinhentas grammas ou meio kilogramma de ácido phenico se poderá obter de 3$5oo a 4$ooo. » ( Jornal do Commercio de 13 do Fevereiro do 1880. ) III Conselhos hygienicos. — Escreve-nos o Sr. Dr. Pires Farinha: « Para demonstrar pratica e evidentemente a acção desinfectante do alcatrão em relação ao miasma palu- doso e ao productor da febre amarella, basta lembrar que até o estabelecimento da fabrica de gaz da Cidade- Nova, em 1854, era essa parte da cidade dizimada, principalmente nas proximidades do canal do Mangue, pelas febres paludosas e pela febre amarella, e dessa data em diante têm desapparecido das proximidades da referida fabrica do gaz semelhantes febres. « Ao que deve ser isso attribuido senão ás emana- ções desprendidas do alcatrão do carvão de pedra (gou- dron de houille), que a fabrica de gaz despeja no canal do Mangue? D4 « Descurado como foi até certo tempo o canal do Mangue, o que teria sido dos moradores da proximidade do mesmo si não fossem os resíduos do carvão de pedra queimado para a fabricação do gaz de illuminação? > ( Jornal do Commercio de 14 de Fevoreiro de 1880 . ) Vtí, --/■ '& V '£? isw jo Aavaan ivnoiivn >*AL LIBRARY OF MEDICINE Í 3NiDia3w jo Aavaan ivnoiivn NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE □ O- NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE 3NiDia3w jo Aavaan ivnoiivn t-y % vf* NAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE SNiDiasw jo Aavaan ivnoiivn NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE 1 < fo $ < i\ INAL LIBRARY OF MEDICINE qíw jo Aavaan ivnoiivn NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE 3NiDia3w jo Aavaan ivnoiivn tf * ^s/^- 3NiDia3w jo Aavaan ivnouvn I s ^ SPEEDY BINDtR . Syracuia, N. Y. ----- Stockíot», Call». WAA F226q 1883 63130570R NLM 0514710^ 7 NATIONAL LIBRA** OF MEDICINE