NOCOES 7 DE BACTERIOLOGIA PETA) DE. EODOLPHQ GALVÃO • • 4 Diplomado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Membro da«Société Française d’Hygiéne > de Pariz; da Sociedade de Medicina de Pernambuco ; do Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano ; da Sociedade de Anthropologia e Jurisprudência Medica, do Rio de Janeiro. Director do «Instituto Pasteur» de Pernambuco e Inspector Geral de Hygiene Publica do mesmo Estado. PRECEDIDO DE UMA CARTA DO DE. BENJAMIN ANTONIO DA EOCHA FAEIA Professor de Ilygiene e Historia da Medicina na Faculdade do Rio de Janeiro. RECIFK / 6 OFFKTNAS DO «JORnK L DO RECIFE» 47 — Rua 15 de Novembro — 47 1293 liio, 5 de Fevereiro de 1899. Jllustre Collcga c Sr. Dr. Rodolpho Galeão. Agradeço-vos, penhoradissimo, a gentileza de vossa carta acompanhando os fascículos do livro que em boa hora resolvestes publicar sob o mo- desto titulo de «Noções de Bacteriologia». Parece-me a mim, e neste pensar não estarei isolado, que o vosso esforço, rematado em pleno êxito, com a impressão desse livro, é digno do me- lhor apreço de quantos cultivam ou acompanham a sciencia bacteriológica entre nós. De sobejo ha compêndios estrangeiros que desse assumpto se occupam a farta, e as edições que se renovam, em pequenos intervallos, attestam a curiosidade do mundo medico pelas questões bacteriológicas, solvidas umas, outras em viva controvérsia no indagar da etiologia e disse- minação das moléstias transmissíveis, por vezes crudelíssimas, no evolver das epidemias. Para nós, porem, essa abundancia de manuaes, compêndios e tratados estrangeiros de bacteriolo- gia, tão grande que mais parece especulativa in- dustria que sciencia pura, traz a quem procura nieiar-se na pesquiza microbiana, hesitações, em- baraços, confusão na escolha dos methodos e pro- cessos a empregar para chegar sem demora a re- sultados seguros. Dessas difticuldades vem o vosso livro em grande parte libertar os neophytos, por explanar o assumpto de modo claro, conciso e methodico, ex- posição de quem praticamente conhece o que es- creve e sabe quão difficil se torna, neste particular, iIlustrar pela escriptura o que pela experiencia 6 demonstrado. Bem haja portanto o vosso livro, que vem prestar valioso serviço aos que estudam, vulgari- sando noções de grande monta em biologia e hv- giene, e constituir, aos mesmo tempo, eloquente prova de vossa competência, adquirida no conví- vio dos laureados mestres da Europa. Tal foi a impressão que colhi da attenta lei- tura de vosso compendio ; felicito-vos sinceramen- te pelo modo galhardo com que vos houvestes da operosa empreza, que applaudo, sem restrieções. Amigo e Collega Adm.,f"‘ e Obrig.'> B. A. da Rocita Faria. PREFACIO Nous vivons dans un temps oú il est bon de vm*e, quand on s'interesse aux ehosps de la médecine. Bouchard.—Les viicrobes pathogénes. As Noções de Baderioloyia não são mais do que as notas tomadas diariamente pelo seu obscuro au- tlior durante o curso de inicrobia technica feito no correr da pbase escolar de 1895—90 no «Insti- tuto Pasteur», pelos professores Roux e Metciini- KOFF. Outro mérito não tem, pois, este livro senão o de resumir fielmente, embora em estylo laconico, as idéas (Faquelles eminentes bacteriologistas, as- sim como a excellente technica seguida no «Insti- tuto», cujo ensino fecundo e original attrahea con- currenciade médicos de todos os pontos do globo, (pie muitas vezes solicitam com um e maisannos de antecedencia um logar nos ambicionados labo- ratórios d’aquelle estabelecimento de ensino extra- ofticial, unico em seu genero, não somente na Fran- ça como no mundo inteiro. Reunindo em volume aquellas notas desti- nadas ao Governo do Estado de Pernambuco, que nos eommettera honrosa incumbência scientifiea na Europa, não tivemos somente o proposito de demonstrar que eumpriramos conscienciosamente umaclausula contraetual ; visamos um fim mais pratico c maisutil compendiando noções e proces- sos, fpie apezar de conhecidos de quantos no nosso paiz dão-se a estudos de microbia, não estão eom- tudo publicados em livro, formando um corpo de doutrina; mas existem em uma dispersão desolado- ra para aquelles que precisam consultal-os, por uma infinidade de revistas, memórias e communi- cações ás diversas associações scientificas e congres- sos internacionaes. E’ pois a primeira vez que a summa das lições theoricas e praticas professadas no «Instituto Pas- teur» apparece compendiada em qualquer lingua ; e, fazendo-o em idioma vernáculo, pensamos pres- tar um pequeno serviço aos eollegas brazileiros, que porventura não tenham tempo de consultar publicações estrangeiras sobre assumptos de bacte- riologia, que cada vez torna-se mais indispensável ao clinico, sob o tríplice ponto de vista do diagnos- tico, tratamento e prophylaxia, tal é hoje a sua importância na pratica nu dica. Rodolpho Galvão. Pariz—Fevereiro de 1896. (*) (#) — Este livro escripto em Pariz ha trez armes, só agora pôde sahir á luz da publicidade aqui em Pernambuco, por motivos que não vêm ao caso explicar, mas que não dependeram absolutamente da vontade do author. Recife—Marco de 1899. 7?. Cr. GENERALIDADES A expressão «microbio» foi introduzida na seiencia em 1878 pelo conhecido ex-professor da faculdade de medici- na de Straslmrgo, o Doutor Sedillot. Nenhuma das denominações que têm sido propostas para designar estes seres infinitamente pequenos, que fazem o assumpto da bacteriologia, foi maia geralinente aeceita do que esta, que tornou-se logo popular e que convém tanto ás bactérias propriamente ditas, como aos levedas, aos mofas ou balares e aos infusorios, pertençam esses micro-orga- nismos ao reino animal, ao vegetal, ou ainda ao reino neut ro dos protistas, como quer Haeckel, que os colloca ao lado das moneras. O professor Koux define microbio um ser bastante pe- quena para sá poder ser visto com a auxilia do microscopio. Os microbios existem em toda a parte : na agua que bebemos ; no ar que respiramos ; nas poeiras atmospheri- cas ; no solo que pisamos: na superfície do nosso corpo : no tubo intestinal do homem e dos animaes. E’ maisdifficil evital-osdo que os encontrar para uma demonstração. Nada com effeito mais fácil : basta aban- donar a matéria organica a si mesmo, nas condições ordi- nárias de temperatura e de humidade, para que ella ex- perimente logo uma alteração devida aos microbios. Abandone-se ao ar um pedaço de pão humedecido, 2 que elle lião tardará a cobrir-se de manchas negras e esver- deadas, ou de longos filamentos brancos e de aspecto sedo- so :—é o que se chama vulgarmente bolor ou mofo, ou antes é a obra de microbios banaes : é o mucormucedo, um micro- organismo da familia dos cogumelos. Dotado de longos filamentos mycelianos quando culti- vado sobre o pão, que constitue para elle um excellente meio de cultura, esse organismo torna-se excessivamente pequeno quando cresce sobre outro terreno que lhe con- venha menos. Uma tal vegetação ao ar livre é uma prova de que n?esse ar abundam os grãos ou sementes do mucor mucedo, que pode ser visivel a olho nú, quando toma um tão grande desenvolvimento. Examinemol-o ao mieroscopio para bem conhecer a sua estructura anatómica. Veremos desde logo que elle é for- mado por tubos entrelaçados, constituindo uma especie de feltragem, de onde partem filamentos aereos brancos, que dão esporos pretos, osquaes estão encerrados em uma mem- brana e collocados na extremidade do filamento myceliauo. Logo que a membrana rompe-se elles se escapam e espa- lham-se no exterior. Ha diversas variedades de mucor : alem do mucedo temos o ramosu, o corymbifero e o rizo- podi forme. Se em logar do pão fizermos a experiencia com uma talhada de laranja, de limão, ou de qualquer fructo acido, outro organismo virá se cultivar ahi : desta vez será o pe- nicilium glaucum, que também dá filamentos aereos, com esporos na extremidade livree divide-sedichotomicamente. Quando parasita das aves este organismo torna-se ex- tremamente pequeno, de modo a poder ser examinado ao mieroscopio ; justamente como se dá com o mucor quando desenvolve-se nas tinhas, tornando-se assim parasita do homem. Um outro cogumelo, o aspergillus niger, cultivando-se admiravelmente bem no liquido de Kaulin (de que falla- remos adiante), dá esporos sem membrana de envolucro ; 3 a sua estructura, porem, é muito similhante a dos outros dousjá descriptos; o filamento aereo intumesce e toma o aspecto de uma esphera ; sobre a superfície d’esta nascem fibrillas perpendiculares trazendo os esporos. Este modo de fructifieação não é o unico que possuem esses organis- mos ; elles têm um outro : quando dous filamentos se en- contram ha conjugação e consequente reproducção, confor- me ensina a botanica. Introduzidos na economia e se desenvolvendo como parasitas dos seres vivos, esses cogumelos nem sempre se apresentam ao observador de modo tão visivel ; embaraça- dos cm sua evolução elles modificam-se morphologicamente e os esporos não têm mais a mesma eonstrucção dos es- poros aereos ; finalmente alguns d’elles também podem-se tornar pathogenicos, produzindo no homem uma mycose especial. O a&pergillus fumigatus parece se muito com o niger, apenas os seus esporos têm uma côr mais atteuuada. In- jectando-se uma cultura d’elle em um cão, a autopsia do animal revellará a existência de nodulos, em cujo interior encontram-se filamentos, sem fructifieação aerea, bem en- tendido. Em França os criadores do pombos,‘especialmente os indivíduos encarregados de alimental-os ou de ceval-os, (,gaveurft) são contaminados ás vezes pelos pombos, que são sujeitos a adquirir uma moléstia parasitaria, a qual com- muniçada ao homem pode causar hemoptyse, dando logar a erros de diagnostico. Lá chamam a esta moléstia «tuber- culose aspergillar». Se é o vinho que deixamos exposto ao ar observare- mos na superfície do liquido um véo, uma espeeie de pelli- cnla, chamada «flor do vinho», que é produzida por um co- gumelo parasitario chamado mycoderma vini, pnllulando muito bem idaquelle meio. Observado ao microscopio o mycoderma vini, apresenta-se sob a forma de cellulas ovaes, reproduzindo-se por meio de rebentos. Elle desenvolve se 4 á custa do assucar, transfonuando-o em agua e acido car- bónico. Estes organismos, possuindo a propriedade de destruir e de transformar o assucar, são chamados saccha- romycetos e operam essa transformação desprendendo calor ao contacto doar, sem fazer entretanto o liquido fermentar. Se pelo contrario a transformação se fizer ao abrigo do ar, em vez de CO2 II20, teremos então uma fermentação ou a transformação do assucar em álcool. Examinemos ainda uma infusão de malt em via de fer- mentação ; ella conterá cellnlas muito similhantes ás pre- cedentes, reproduzindo-se por meio de rebentos, como o demonstraram Cagniard de Latour e Pasteur, e formando rosários. O levedo de cerveja não se estende entretanto em véo avelludado como as cellnlas do mycoderma vini: elle vive na profundeza do liquido, e são as bolhas de gaz, des- prendidas pela fermentação, que o arrastam para a superfície. Sob a influencia do seu desenvolvimento o liquido mo- difica-se e transforma-se : o assucar n’elle contido desdo- bra-se em acido carbonico e em álcool ; é esta a sua fuuc- ção e o saccharomyceto é o typo do microbio-fermento. Convém notar a differença que ha entre esses dons co- gumelos : um gosta do ar e por isso vive na superfície do liquido ; o outro foge d’elle e refugia-se nas camadas infe- riores, onde vai viverá custa do acido carbonico. E’ a Pas- teur que devemos esta descoberta . O mycoderma vini transforma o álcool em acido carbo- nico e em agua ; mas se mudarmos as condições de exis- tência d’esse cogumelo, obrigando-o a viver na profundeza de um liquido assucarado, elle tornar-se-á um fermento e agirá exactamente como o levedo de cerveja, transforman- do o assucar em acido carbonico e em álcool. Assim, se- gundo as condições de existência em que forem collocados, os cogumelos exercerão funeções differentes. Nesta ordem de ideias, e sabendo-se que os mofos, a que alludirnos mais atraz, podem se transformar em fer- mentos, é licito pensar que a origem primitiva desses le- 5 védos talvez tivesse sido um mofo, euja forma inicial per- deu-se ; ou então que ainda não se pôde encontrar toda a serie de transformações. Estas formas de bolor, transmu- tadas em levedo, podem, como o oidium, uma vez intro- duzidos no organismo, tornar-se pathogenicos. Vejamos ainda um pouco de vinho exposto ao ar e apresentando na superfície um véo excessivamente fino, muito tenue ; agora éo mycoãerma aceti, agente da fermen- tação do vinagre e vulgarmente denominado «mãi do vina- gre». Suas cellulas são muito pequenas e só podem ser observadas ao mieroscopio com umaugmonto de 300 a 400 diâmetros; ellas têm as extremidades arredondadas, algu- mas vezes são ligeiramente estrangulados no meio ; cercan- do cada elemento existe uma zona glutinosa, ligando-os entre si. E’ a zoogléa, liquido viscoso que cabe no fundo do vaso e forma a «mãi do vinagre». Sob o ponto de vista da reproducção o mycoãerma aceti é um typo novo: o estran- gulamento existente 11a cellula adulta e de que já falíamos, accentúa-se cada vez mais até dividil-a em duas, que, uma vez separadas, vão constituir dous novos seres autonomos. O mycoãerma aceti é um schyzomycetc, planta que se re- produz por scissiparidade. Uma infusão ou maceração organiea, uma infusão de feno, por exemplo, dará também bactérias. O liquido, que a principio é claro e transparente, vai pouco a pouco tur- vando-se ; em seguida apparece um véo na superfície, cons- tituído por bactérias providas de zoogléa. Essas bactérias são compostas de filamentos unidos ponta á ponta ; no centro de uma cellula apparece uma se- paração, um septo, que a divide em duas, que vão mais tarde viver independentes. A sei são se opera em um espaço de tempo muito curto, e ir essa occasião a cellula deixa de ser redonda para alongar-se : temos em nossa presença um bacilto, obacillodo feno; elle é movei e tem pequenos fila- mentos lateraes que servem de orgãos de locomoção, ope- 6 vando movimentos rápidos:— são os eilim vib rateis, que eahem quando a zoogléa invade a cellula. ‘ As velhas cel- lulas perdem, pois, os seus movimentos. A cellula é constituída por uma membrana de envo- lucro e o seu conteúdo póde ser posto em evidencia por meio de reactivos. Examinada ao misc rosco pio, com um augmento de (500 ou de 700 diâmetros, a nossa maceração de feno apresentará também infusorios, ei liados ou não, mona das e outros organismos maiscomplicados, cujo estudo não cabe aqui. Ao lado d'esses infusorios encontraremos numerosas bactérias : umas alongadas, com as extremidades arredon- dadas e providas de orgãos de locomoção, como o bacterium; outras possuindo sómente movimentos«brownianos» ; umas apresentam-se reunidas aos pares ; outras estão isoladas / algumas outras estão amontuadas em talhas. Umas vivem exclusivamente no ar, são aerobim ; outras fóra d’elle, são anaeróbias ; certas dent re ellas vivem de ambas as maneiras. Algumas vivem á custa da matéria morta, não fazem mal ao homem, são saprophytas-, algumas outras nutrem-se, pelo contrario, da matéria viva, são parasitas e produzem moléstias nos corpos a que se agarram. E’ agora a occasião de classificar todas essas especies. A primeira classificação de mierobios, de algum valor, foi a de Conh, que baseando-se principal mente sobre as diffe- rençasde formas omittioum caracter muito importante como é o da reproducção. Conh classificou assim os mierobios: Sphero-bacterias ou bactérias espliericas, só contendo o ge n e ro micro coecus. Micro bactérias ou bactérias em curtos bastonêtes, con- tendo o genero bacterium. Desmo-bactérias ou bactérias filamentosas, com os gene- ros bacillus e vibrio. Spiro-bacterias ou bactérias em espiral, com os generos spirillum e spirochcete. 7 Em unia cellula de bactéria que vai reproduzir-se observa-se um ponto brilhante, com envoluero proprio, que vai pouco a pouco invadindo a cellula até fazel-ades- apparecer completamente : é o grão do bacillo, chamado também enãosporo ; é a fôrma de resistência do microbio. Ao passo que a cellula ordinaria morre rapidamente sob a induenciade ligeiros antisepticos, do calor á60°, pela deseecação, ou pela exposição prolongada á luz, suecede ao contrario, que o esporo resiste a todas essas causas de destruição esó morre a 120°.de calor húmido. Esta resis- tência dos esporos aos agentes de destruição é um caraeter muito importante e tem por fim conservar e perpetuar a espeeie. Out ras bactérias não dão endosporos ; mas porventura serão cilas privadas de fôrmas de permanência1? —Por certo que não. Geralmente nas bactérias de formas esphericas, nos cocei especial mente, uma das cel lu- las engrossa em todos os seus diâmetros, suas paredes adquirem uma espessura muito maior do que as das cellu- las visiuhas, torna-se muito mais resistente do que estas, sem entretanto attingir jamais a resistência do endosporo. A’ esta categoria de bactérias chamou-se arthrosporadas, e arthrosporo á cellula que desenvolveu-se maise adquiriu maior resistência do que as outras, garantindo até certo ponto a perpetuidade da espeeie. Foi apoiando-se íôesses factos da reproducçãoe levando também em conta a morphologia dos microbios que o Dr. E. Roux propoz a seguinte classificação, cuja princi- pal vantagem é não ter um caraeter absoluto de fixidez, e supportar dentro dos seusquadros qualquer alteração resul- tante de novas descobertas no terreno da reproducção das bactérias. 8 ENLOSPORAEAS M i crococc us (ochrolencus) Sarei na (Hauser) Formas arredondadas. Bacidus Clostridimn Formas baeillares Formas rectas. Formas em espiral. Vi brio Spirillum Formas fila- mentosas Sem bainha. Leptotrix Beggiatoa Cladothrix Crenothrix Com bainha. Divisão longitudinal Pasteuria ramosa ARTHROSPORADAS Micrococcns Staphylococcus jAscococcus Streptococcus (Leuconostoc Merista Sarei na Fornias arredondadas... Forma reeta Bacteriuin Spirulina Spirochoeto Formas em espiral.- Como vê-se, esta classificação nada tem de absoluta ; tal bactéria que hoje não apresenta a forma endosporada, ou melhor, cuja forma endosporada ainda nao e conhecida, poderá mais tarde, depois de investigações ruais felizes, apresentai' esporos, deixando assim a segunda parte do quadro proposto pelo Dr. Roux, para tomar logar entre os microbios classificados na primeira serie. 9 Para terminar este capitulo eis aqui algumas particu- laridades sobre certos germeus comprehendidos no quadro precedente :—Quando o bacillo deforma-se para dar o esporo, tomando o aspecto de uma pera ou de um badalo? é do clostriãium que se trata. Uma falsa dichotomisação indica o cladothrix ; ao passo que divisões longitudinaes, em forma de couve-flôr, denunciam o Pasteuria ramosa, que durante muito tempo acreditou-se ser o unieo com aquella forma ; mas investigações recentes levam a crer que ba mais outros. Este micro-organismo é o interme- diário entre as bactérias e os mofos. Quando os mierobios apresentam-se empilhados, em tulhas irregulares, é do slaphylococcus que trata-se ; do mesmo modo deve-se pensar no streptococcv.s quando os germeus revestirem a forma de um rosário. Bactérias se dividindo em cruz e agrupadas por qua- tro, tomando o aspecto de páos das cartas de jogar são as sareinas ou o merista ; pequenos grãos em rosários assim como as massas glutinosas indicam o leuconosloc, que tam- bém póde apresentar-se cercado de uma bainha glutinosa, que eonstitue para o germen uma espeeie de casca, ou camada protectora. Finalmente deve-se ter bem presente no espirito que segundo as condições de cultura e de vida, a forma dos mi- cróbios modifica-se muitas vezes ; sendo o polymorpliismo das bactérias um facto admittido por grande numero de bacteriologistas da maior authoridade. MOEPHOLOGIA DAS BACTÉRIAS STJMMARIO—Parentesco das bactérias com as cyanophycéas. — Polymorphismo das bactérias. — Theorias de Conh e de Noe- gcli. — Descoberta do baciVus zopfii.— Pesquizas diversas.—Pleomorphismo das bactérias pathogenicas.—Estructura das cellulas bacterianas. — Modos de repro- ducção. As bactérias têm sido consideradas ora como auimaes, ora como vegetaes. Os primeiros observadores que estudaram esses micro- organismos notaram que muitos d7elles moviam-se e que eram dotados de orgãos de locomoção—os cibos vibra- teis — ; dbihi veio a ideia de classificar os microbios no reino animal. Assim pensava Leuwenhceek quando descreveo os lep- totlirix e os vibriões ; sendo esse modo de ver também ac- ceito por Mtiller, Ehreuherg e Dujardin. Esta opinião predominou até a epoea em que reconhe- ceu se que certos vegetaes — as algas—por exemplo, são dotadas de uma motilidade bem caracterisada. Mais tarde Davaine, estudando a bactéria do carbúnculo, provou que 12 certas espeeies microbianas conservavam-se na mais abso- luta immobilidade durante todo o cyclo de sua existência. Posteriormente os trabalhos de Conh e de Robin deixa- ram tora de discussão a existência de propriedades que iden- tificavam as bactérias como reino vegetal ; então foram ellas definitivamente classificadas ífiesse reino. Hoje todos os naturalistas estão deaccordo n7 este ponto. Em que classe, porem, do reino vegetal deverão entrar os microbios? E7 ahi que começam as divergências entre os botânicos modernos. A principio foram elles classificados entre os cogume- los, porque acreditou-se que, como estes, eram as bactérias destituídas de chlorophylla. Um exame mais aprofundado mostrou que as bactérias tinham antes mais pontos de contacto com certas algas, do que com os cogumelos, e que se approximavam muito do grupo das cyanophycêas. A própria questão da chlorophylla parece estar resolvida ; porquanto nota-se que o sueco cel- lular é incolor, mas a matéria corante existe na espessura da cellula ; além d7isso as cellulas das cyanophycêas não apresentam núcleo, como se dá também com as bactérias, que são d7elle privadas. As algas têm entretanto condições de existência muito diversas. A 50 ou a 60° de temperatura ellas apre- sentam-se sob a forma de corpos redondos, ou ovaes, re- vestindo muitas vezes as formas em espiral (esta ultima é mesmo a mais espalhada na natureza) e reproduzem-se por divisão, formando colonias reunidas por membranas ou tú- nicas glutinosas e dispostas em camadas excêntricas. -Nas palmellaceas, algas chlorophyllianas, encontra-se um d7esses exemplos. A questão de saber se a evolução d7esses organismos inferiores se faz pela successão de uma serie de formas dif- ferentes, em outros termos: o pleomorphismo ou poly- morphismo das bactérias, continua a ser uma questão con- trovertida ; sustentando uns o monomorphismo ; outros um 13 pleoniorphismo completo ; outros, emíim, um polymorphis- rao mitigado. Conh, por exemplo, pensa que um baoillo pode trans- formar-se em leptothrix e que este por sua vez pode dar nascimento a um bacillo e assim por diante. EUe acredita também que um coceus pode dar um rosário, mas que um vibriãosó poderá dar um vibrião. Para Ncegeli, o illustre professor de botanica de Mu- nieh, as bactérias não representam especies particulares, mas sim uma mistura original de formas, entre as quaes é difficil estabelecer limites precisos e nitidos ; d’ahi concluio clle que os microbios constituem uma única especie iinraen- sa, illimitada, sob formas as mais variadas e variaveis : re- dondas, ovaes, longas, curvas, em espiral, etc., por meio de uma evolução successiva. Ncegeli pensa igual mente que as di Aferentes funcções das bactérias também se poderiam reunir em uma só espe- cie ; é assim que para elle, o mesmo mierobio que preside á íermentação lactica, poderá em outra phase de sua evolu- ção operar a fermentação butyrica. Essa theoria exagerada de pleoniorphismo originou-se talvez de enganos de observação em culturas liquidas, con- tendo varias especies não separadas e trazendo por isso grande confusão. Koch, estabelecendo as culturas em placas, eontra- dietou taes opiniões o fez experiencias não permittindo mais a iIlusão proveniente do viver promíscuo de muitas especies de micro-organismos na mesma cultura. Não obstante Kíirtli conseguio obter um exemplo de pleoniorphismo : isolou de um meio cm putrefacção uma bactéria oval—o bacterium zopfii — e cultivou-a em placas, cm caldo, em gelatina, em agar-agar e sobre batatas. Fa- zendo variar a composição de seus meios Ktirth chegou a este resultado :—se o desenvolvimento do mierobio é retar- dado, elle reveste a fornia oval ; e se levar-se mais longe o 14 embaraço opposto ao desenvolvimento da bactéria pode-se obter o leptothrix, ou mesmo uma forma espirillar. Alguns observadores sustentam que os microbios sa- prophytas são polymorplios, mas que os patliogenicos não o são ; entretanto forneceu-se logo a prova do contrario com os coco-baeillos do cholera das gallinhas e do hog-cho- lera, obtidos sob varias formas. Emfim, prevaleceo atheoria de que o pleomorplusmo é possível nas bactérias, pathogenicasou não ; e n’este sen- tido o bacillusproâigiosus tem sido considerado ora como ba- ci 11o, ora como microcoeo. Quando não foi mais possível negar-se essas transfor- mações do indivíduo, pretendeu-se negal-as para as especies, que devem guardar a mais completa nitidez de fronteiras entre si, no dizer dos que sustentam o monomorphismo ; segundo esse modo de ver o bacillo da tuberculose não pode ser confundido com o da lepra. Não ha duvida que a passagem de uma ospeeie para outra é mal definida e a questão continua aberta, como aliás sticcede com as raças humanas: branca, amarella e negra, cujo problema ainda não pôde ser claramente resol- vido, diz Metchnikoff. Forçoso é porem reconhecer que de um modo geral os microbios sapropliytas, bem como os parasitas, são pleo- morphos: em que peze ao mérito de Conh, o notável pro- fessor de Breslau, quesóadmitte o pleomorphismo exterior, e isso mesmo limitado á duas únicas especies; em que peze a Koch e seus seguidores, que não apresentam factos em contrario aos que foram observados por experimentadores da ordem de Bay Lenkeister, de Cienkonowiski e de Zopf, que estão também em eontradicção com Winogradsky, outro observador distincto, não ha negai-o. E apezar de tudo, continua a questão aberta, como dis- semos ; principalmente depois que reconheceu-se tres for- mas do bacillo tuberculoso. Continuemos, porém, a mostrar outros caracteres que 15 approximam as bactérias (las cyanophycéas : um dos mais notáveis está na estruetura de suas cellulas. Sabe se que toda cellula—animal, ou vegetal—é con- struida sob o mesmo plano: urna membrana de envolucro, uma massa protoplasmiea, um núcleo, com o seu nueleolo ; ora, as bactérias, como as cyanophycéas, fazem excepção á regra e não entram n’esse schema, por isso que falta-llies o núcleo. A sua membrana é de composição chi mica mal definida : no exterior existe uma camada gelatinosa mais ou menos desenvolvida, ás vezes pouco apparente e reunindo os in dividuos em colonias ; como exemplo temos opneumococo. O conteúdo da cellula bacteriana é constituído pelo proto- plasma pouco desenvolvido e por uma substancia nuclear qne a enche quasi toda, o que fez outr’ora pensar-se que essas cellulas tinham núcleo disseminado no plasma. AVurtz, que sustenta a opinião precedente, affirma que a cellula tem uma substancia nuclear que se colore melhor do que a massa protoplasmiea; ao passo que não épossível colorir os vacuolos. Nas cyanophycéas distinguem-se muito bem estas duas camadas—a peripherica e a central—, circumstancia que afasta estas cellulas de qualquer outra cellula animal ou ve- getal. As bactérias ás vezes são dotadas de eilios vibrateis, dispostos nos dons polos ou extremidades; outras vezes os cilios são mais numerosos e espalhados por toda a super- fície, como no vibrião do cholera. Nunca, porem, observa- ram-se nas bactérias movimentos protoplasmaticos. Quanto á reproducção, faz-se do mesmo modo que nas cyanophycéas : transversalmente nos bacillos ; em cruz nos cocos, de modo a formar colonias de tetracocos; e por divisões cubicas (nos tres sentidos), o todo reunido por uma massa zoogleica. A reproducção por meio de rebentos faz-se apenas nos cogumelos e nos levêdos ; e quaudo tem lugar nas bacte- 16 rias é somente em certas formas de involução, quando têm sido desfavoráveis as condições de desenvolvimento; facto que também se dá com as cyanophycéas. Conhecidos todos estes factos deve-se concluir que ha identidade entre as bactérias e as cyanophycéas % —Pensamos que não ; e o mais que se pode avançar é que ha grande analogia entre ambos osgrupos, affirmando-se com o professor Metchnikoff: «que de todos os seres vivos são as cyanophycéas que mais se approximarn das bactérias.» As bactérias, com elfeito, são em muitos casosendospo- radas ; ao passo que as cyanophycéas são arthrosporadas : ahi está certamente uma razão em contrario da identidade dos dons grupos. Em resumo: no estado actual dos nossos conhecimentos sobre este assumpto não se pódem resolver definitivamente algumas questões propostas n’este capitulo; não é porém desarrazoado acreditar que os microbios são talvez micro- phytas da familia das cyanophycéas. possuindo um pleo morphismo extenso. CULTURA DOS MICROBIOS SUM MAR IO — Meios de cultura.— Infusões organicas. — Causa da sua alteração.— Geração espontânea.—Esterilisação das infusões organicas. — Meios ácidos e al- calinos. —- Esterilisação discontinua. — Autoclave.—- Separação.— Diluição nos líquidos. — Sementeira fraccionada. — Meios solidos : suas vantagens. — Pre- paração das batatas--Methodo dãs cam- panulas.- - Methodo dos tubos. — Modo de semearas batatas. —Aspecto de cer- tas culturas. Modificações operadas nas batatas pelos mierobios. — Diversas substancias que podem ser incorporadas ás batatas.—Outros meios solidos. Em um meio conveniente os mierobios pullulam com milita rapidez, conforme jâ vimos. Uma infusão de feno, por exemplo, que no primeiro dia é perfeitamente limpida, logo depois apresenta se turva, porque um grande numero de especies microbianas vem procurar ahi o seu alimento. Sequizermos estudar uma das especies, o baciUus sub- tilis, por exemplo, nos veremos embaraçados para seguir a 18 sua evolução e desenvolvimento; porque, estudando-o ao microseopio, veremos numerosas especies, visinhas, ou mesmo bem diíferentesd’aquelle micro-organismo, ás quaes poderemos attribuir as 1 ransformações peculiaresao bacillus subtilis. Será entílo necessário obtennos o nosso microbio em estado de pureza e desacompanhado de querquer outro germen. A primeira cousa que se deve procurar é natural mente um meio de cultura, um terreno, sobre o qual o microbio possa vegetar em boas condições ; esse meio pode ser li- quido ou solido : pouco nos importa isso por ora, com tanto que elle sirva de alimento ao micro-organismo e que seja preparado com a precisa e indispensável pureza, exi- gida no inais alto gráo pela technica becteriologica. O meio não é indiíferente : certas especies vivem bem onde outras não se podem acolimar. Os micróbios fazem a escolha dos alimentos que se lhes apresenta, e muitas vezes ligeiras modificações introduzidas na preparação do meio impedem o desenvolvimento de certos germens. Ja vimos que em geral elles se desenvolvem muito bem sobre as matérias organicas, mas não basta isso ; precisa- mos de meios que se conservem puros. Se fizermos ferver qualquer d’esses meios de cultura, os seres vivos que ahi se acharem morrerão com certeza na grande maioria : entretanto hão de ficar sempre alguns germens mais resistentes, cujo desenvolvimento ulterior irá t urvar o liquido, se t ratar-se de um meio desta natureza. Foi justa mente baseando-se na observação d’este facto que outPora emittio-se e sustentou se a theoria da geração espontânea e que deu lugar a ardentes e memoráveis dis- cussões entre Pasteur e Pouchet, de Ruão. A matéria organica, diziam os que sustentavam a exis- tência da geração espontânea, 6 apta para evoluir e dar formas vivas de seres ; ella traz em si mesmo poderes ca- pazes de destruil a ; em taes condições é impossível con- servai-a ; é inútil preparar a matéria organica, desde que 19 ellii traz em seu seio a semente da vida e o germen da des- truição. Durante o anuo de 1855 Pasteur emprehendeo uma serie de experiencias celebres que vieram derrocar inteira- mente a theoria da geração espontânea. Elle demonstrou que os pequenos organismos—os mi- cróbios—como dizemos hoje, procedem de pais similhantes a si mesmos ; fez ver mais que por toda a parte : no ar, na agua, no solo, nas poeiras em suspensão lia germens, e são elles que, cahindo nos recepientes abertos ou mal fe- chados dão origem aos seres que ahi se desenvolvem depois. Se prepararmes um caldo de carne nas mesmas condi- ções em que as cosinheiras o fazem e o guardarmos em um recipiente arrolhado com algodão, o caldo conserva-se-á transparente e conseguintemente puro. Foi isso que Pasteur demonstrou e expozem sua cele- bre memória sobre a geração espontânea, que como dis- semos, deu origem á notável e apaixonada polemica scienti- fica entre o grande Mestre, de um lado, e sábios do mereci- mento de Pouchet, Joly e Trecul, do outro. — Agindo por esta fornia, objectavam os antagonistas de Pasteur, vós matais a força germinativa da infusão : a ebullição modifica a matéria organica ! — Não, replicava-lhes Pasteur. E para provar-lhes a sua negativa desarrolhava o vidro e logo o liquido turva- va-se, porque os germens exteriores cahindo sobre o con- tendo do vaso começavam a se nutrir e a proliferar. Pro- vado estava que a força vegetativa dhiquelle liquido não tinha sido destruída e o que lhe faltava era a semente. Em um balão de gargalo comprido Pasteur introduzia o liquido nutritivo, que era fervido em seguida, juntamente com o vaso ; depois alongava o gargalo á lampada, cur- vando-o em forma de pescoço de cysne, deixando, porém, na extremidade livre um orifício muito estreito, por onde o ar1 podia penetrar, depositando as poeiras que traz em suspensão nas paredes sinuosas do gargalo. 20 Em quanto o vaso mantinha-se na sua posição natural como liquido em repouso, este conservava-se limpido inde- finidamente ; mas logo que, por um movimento proposital, inclinava-se o balão, de modo a pôr o liquido em contacto com as paredes impuras do gargalo, onde se achavam de- positados os germens fecundos trazidos pelo ar, o contendo do vaso turvava-se, transfoi mando-se em rica cultura mi- crobiana. Estas memoráveis experiencias eram feitas perante uma commissão presidida pelo celebre chi mico J. K. Dumas ; ellas foram decisivas e desde aquelle momento a theoria da geração expontâneo cessou de existir. Este apparelho tão simples que acabamos de descrever, é o mesmo, com ligeiras variantes, de que ainda hoje se servem todos os laboratorios para taes experiencias. Adquirido este ponto, isto é : que podemos obter meios de cultura conservando-se indefinidamente puros, precisamos saber em que condicções se consegue esse resul- tado. O agente empregado para a esterilisação dos meios de cultura é o calor. Desde já, porém, devemos fazer a dis- tincção entre calor sêcco c calor húmido. Ernquanto que o calor sêcco para ser efficaz precisa ser elevado a um gráo em qne destroe a matéria organica, o calor húmido actúa do mesmo modo a um gráo muito menos elevado, que não chega a decompor a matéria organica. Para matar-se, por exemplo, os esporos do Penicillium glaucum não são precisos menos de 150° e mesmo 180 gráos de calor sêcco. Em presença do vapor d’agua sob pressão obtem-se o mesmo resultado com 100 ou 115 gráos. Entretanto com a temperatura da ebulliçao d’agua, a 100 gráos, nem sempre se consegue a esteril isação. Se é certo que no estado vegetativo as cellulas morrem, os es- poros que têm uma resistência muito maior, escapam; ele- vando-se, porém, essa temperatura a 115gráos durante nus 21 20 minutos, não ha esporo, de quantos conhecemos presen- temente, que deixe de succiunbir. A urina, matéria muito alteravel, aquecida a 100° consérva-se indefinidamente ; ao passo que o leite nas mesmas condições não tarda muito a, coagular-se. Este facto é devido a ser o leite neutro, ou alcalino ; emquanto que a urina éacida; a maior parte das espeeies microbianas vive facilmente nos meios alcalinos. Bastian, medico inglez, depois de ter aquecido urina a 100° deixou cahir por acaso um pedaço de potassa dentro do vidro que continha a urina. Logo que o meio tornou-se básico os micróbios começaram a pullular; invocou-se este facto em favor da geração espontânea. Veio Pasteur e cortou immediatamente a questão, ex- plicando que, alealinisando-se aquelle meio, tinha-se pura e simplesmente facultado aos esporos que não morreram a 100° e que não vivem em um meio acido, as condições para se desenvolverem. Ha portanto germens, resistindo a 100" e não se desen- volvendo em um meio acido, que podem dar a illusão de uma esterilisação, que para ser real, deve n’este caso ser elevada a 115° ; isso por via de regra. Certas substancias usadas como meios de cultura não supportam, porem, um calor a 180° ou mesmo a 115° (hú- mido) sem se alterar. Pode-se, entretanto, por um artificio conseguir este ri- lisar taes substancias recorrendo-se ao methodo dos aqueci- mento* successivos ou aquecimento descontinuo, que consiste em aquecer-se a um gráo relativamente baixo e durante uma ou mais horas de cada vez, em dias successivos. Tyndall, author do processo, explicava a esterilisação da seguinte maneira : os organismos e as cellulas vegeta- tivas morrem, supponhamos, a 100° : uma vez resfriado o liquido, os germens que escaparam ao primeiro aquecimento proliferam ; um segundo aquecimento mata esses novos indivíduos, nascidos dos esporos, e assim successivamente. 22 A theoria é seductera e até certo ponto racional, mas talvez não seja verdadeira; sendo provavelmente a explicação esta outra: o ser organisado que 11a primeira vez resistio a uma causa de destruição, vai-se enfra(iuécendo e acaba por succumbir, se é submettido á mesma causa duas 011 mais vezes successivas. Entre as substancias que não suppportam altas tem- peraturas e que são usadas nos laboratórios citaremos a gelatina e o serum. Acima de 1.15° a gelatina não prende-se ás paredes d os tubos ou das placas (phenomeuo que se deve evitar, como veremos mais adiante); então recorre-se ao processo dis- fíontinno: cada vez, durante tres dias consecutivos, aquece- se a substancia por espaço de 15 minutos, á 100° ; findo o ultimo aquecimento o meio está completamente esterilisado. Com o serum é preciso procedermos com muito cui- dado, operando a uma temperatura muito menos elevada, para evitar que elle se coagule, o que tem logar a 0’. Por isso aquece-se a 58° durante um periodo de quatro a oito dias e durante tres horas em cada dia. O apparelho para a esteril isação pelo calor é o autoclave, apparelho indispensável a qualquer laboratorio, mesmo medi ocre meu te i nstal lado. É uma marmita de Papin, um pouco mais complicada, possuindo um manometro e um tliermometro regulando respectivamente a pressão e a temperatura internas do ap- parelho, que é aquecido a gaz, como aliás devem ser todos os apparelhos de um bom laboratorio. Uma tampa se adapta á marmita por meio de para- fusos ; um anel de borracha entre a tampa e a marmita permitte a obturação hermetica. Na parte superior da tampa ha uma torneira e uma valvula de segurança. No interior da marmita existe um cesto de arame de cobre, munido de tres pés, de modo a ficar um intervallo 23 entre o fundo do cesto e o da marmita; iTeste cesto é que são collocados os objectos a esterilisar. Para fazer-se funecionaro ap parelho começa-se por deitar um pouco d’agua na marmita, de modo a tocar apenas o fundo do cesto metallico; em seguida collocam-se n’este os objectos a esterilisar. Os liquidos não devem encher completamente os recipientes, afim de que durante a ebul- lição as rolhas não sejam attingidas. Todos os objectos que tiverem de ser esterilisados no autoelave devem ir para dentro húmidos; os balões e tubos de vidro devem conter um pouco d’agua. E’ dos mais simples o manejo do autoelave, deven- do se entretanto attendera certas regras. Uma vez collo- cados os objectos no cesto metallico e apertados os para- fusos solidamente, abre-se a torneira col locada no alto da tampae approxima-se um phosphoro inflammado dos tubos de gaz, antes de abrir-se a torneira que dá passagem a este; sem esta precaução, istoé: abrindo se a torneira e em seguida chegando se o phosphoro acceso ao nivel dos bicos, se dará uma explosão, que pode queimar a mão do operador. Este phenomeno é proveniente da mistura do gaz com o ar atnmspherico. Pouco a pouco a temperatura da agua contida no in- terior do apparelho eleva-se até a ebullição, o que se conhece pela sabida do vapor d’agua, que se escapa pela torneira da tampa; todo o ar existente no interior vai sendo expel- lido pelo vapor. Quando o jacto de vapor é bem continuo e produz, por oeeasião de sua passagem um ligeiro assobio, pode-se ter certeza de que não ha mais ar no interior do ap parelho o fecha-se catão a torneira. Se no interior fi- casse ainda um pouco de ar não haveria concordância entre a-temperai ura e a pressão ; portanto a torneira só deve ser fechada quando dentro da marmita não houver mais ar. Quando o manometro marcar 115°, ou a temperatura que se quizer obter, diminue-se a chammadegaz até que o gráo de ealôr se conserve estacionado. Em geral 15 minu- 24 tos é um espaço de tempo sufficiente para (pie a esterili- sação seja completa ; pode-se, porém, para mais segurança prolongar a operação até 20 minutos. Apagado o gaz espera-se que a temperatura desça a 100° para abrir-se então o apparelho, afim de evitar que, com a diminuição brusca, de pressão, os líquidos se agitem tumultuariamente e vão tocar ás rolhas. Agora que ja temos um meio absolutamente puro, vamos procurar obter uma cultura de uma dada especie microbiana nas mesmas condições. Para isso serve-se o experimentador de tubos com- m uns de experiencias, usados nos 1 abo rato rios de chi mi ca, contendo cerca de 10 centímetros cúbicos do liquido nu- tritivoe previamente esterilisados, segundo a teehnica que acabamos de expor. Os tubos são tampados com uma buelia de algodão. Toma-se umagotta da cultura impura, com oauxiliode uma varinha de vidro, ou de outro instrumento que a isto se preste, sempre previamenteesterilisado, edeixa-se cahir no liquidocontido no tubo, que será designado pelo numero 1. Agita-se bem o tubo e temos uhi uma primeira diluição. D’esta toma se uma segunda gotta, sempre com as mesmas precauções, esemea-se um outro tubo, que terá o numero 2, e assim por diante até á GH, 7a ou 8a diluição, na qual je se encontram muito poucos microbios, facilitando assim o en- contro do germen que procuramos. E’ este o methodo das diluições, ou das sementeiras successivas. Em vez de líquidos, nós poderemos lançar mão dos meios solidos, e hojeé mesmo o processo mais seguido pelos bacteriologistas. A batata, conhecida entre nós por batata ingleza, cons- titue um excedente meio de cultura, porquanto contem uma substancia hydro-carbouada, amydon, saes diversos, matérias azotadas, etc. E’ finalmente um meio simples, 25 de fácil acquisição eque reune todas as boas condiçõe s para nutrir os microbios. Escolhe-se uma batata de casca bem lisa, sem olhos, ou que não esteja grelada ; começa-se por laval-a, esfregando-a com uma escova dura, com o fim de desembaraçar mo nos da terra e outras impurezas adherentes á casca. Em seguida colloca-se a batata em um crystallisador conti ndo nna solução de sublimado a 1/2000, onde as ba- tatas ficarão immergidas durante uma hora 5 passado esse tempo cosinham-se as batatas e, finda a cocção, são ellas, assim duplamente esterilisadas, collocadas em outro crys- tallisador, forrado por uma rodella de papel mata-borrão, imbebido na solução de sublimado. Com umafaca que tem-se previamente esterilisado na chamma de un. bico de gaz, divide-se a batata em duas par- tes iguaes, devendo-se ter o cuidado de deixar a faca esfriar antes de servir-se dJella : do contrario parte da polpa adhere á lamina e o córte não sahirá nítido. O operador tem disposto antes á sua esquerda o vaso que deve receber as culturas ; e á direita um outro vaso com a solução mercurial. na qnalelle lava a sua mão esquer- da que tem de segurar a batata. Um ajudante levanta um pouco a tampa do vaso em que estão os tubérculos, de onde o operador tira um d’elles e com a faca esterilisada toma um pouco da semente e estende-a sobre a superfície que re- sulta da divisão da batata, como quem distribue manteiga em uma fatia de pão. D’esta batata, assim semeada, toma- se uma pequena partícula da polpa, que se espalha do mesmo modo em uma segunda batata ; esta fornecerá a se- mente para uma terceira e assim snccessivamente, até oito ou dez culturas, obtendo-se por este meio uma serie de dyna- misações da semente primiliva, analogas ás diluições que já estudamos atraz para os meios liquidos. Os microbios semeados crescerão fixados, por assim dizer, ao solo que se lhes forneceo, formando grupos de eolonias, que apre- sentam aspectos curiosos e caracteristicos. 26 Emquanto os micro-organismos proliferam, o vapor d’agua contido na batata condensa se na tampa do crytalli- sador, com teudencia a formar gottas ; para evitar que estas caiam sobre a preparação inclina-se um pouco o sys- tema, ou então guarnece-se o céo interior da tampa com uma rodella de papel hydrophilo. As batatas foram cosidas a 100’; mas já sabemos que esta temperatura não extingue todos os germens, principal- mente o bacillo da batata, que poderi i desenvolver-se e in- vadir a preparação, mascarando-a; por este motivo é que deixa-se o tubérculo durante uma hora meigullmdo na so- lução de sublimado, que completa a este ri 1 isação. Este é o processo de Kocli e que incontestavelmente marca um progresso notável na technica bacteriológica ; entretando alem de ser um tanto moroso e complicado, tem o inconveniente, e não pequeno, de poder deixar a prepa- ração, ser invadida pelos germens exteriores, todas as vezes que para semear, ou por motivos de estudos, se tiver neces- sidade de levantaras tampas dos crystallisadores ; pelo que esse methodo quasi não é mais seguido nos laboratorios. Muito mais pratico, mais simples e offerecendo uma segurança e uma eominodidade completas é o processo dos tubos, imaginado pelo professor Roux, methodo preferido geralmente hoje. Eis aqui em que consiste o processo de Roux : toma- se uma batata lavada em agua commum e sem precauções especiaes e cortam-se as duas extremidades do eixo mais longo. Com um instrumento, especie de saca-bocado de de forma cylindrica, tira-se da batata um cylindro da massa que vem já dividido em duas partes, no sentido longitudional, pelo septo existente em uma das extremi- dades do saca-bocado ([emporte-piêce) que é introduzido vertical mente na batata de alto -a baixo. Aliás, na falta d’este instrumento, a operação pode ser feita com o auxilio de qualquer outro instrumento cortante. 27 Os pedaços ou meio-cylindros do batata são lavados em agua comumm, enxugados em papel buvard e colloca- dos, cada um, dentro de um tubo, dito de Roux. São tubos um pouco mais calibrosos do que os tubos ordiná- rios de ensaio e que têm um pequeno estrangulamento em sua parte inferior. Arrolhados com algodão são os tubos collocados no autoclave, onde ficam durante vinte minutos expostos com o seu contendo, a uma temperatura de 115 gráos, sufficiente para esterelisal-os. Terminada a operação estão os tubos promptos para receber as sementes. Com uma espatula de platina, de pequenas dimensões, e previamente passada pela cliamma, toma-se um pouco da semente a espalhar na superfície plana do semi-eylindro de batata e risca-se de dentro para fora e de baixo para cima com a platina assim carregada dos germens, um traço em zig-zag. na polpa da batata. Fecha-se o vidro com algodão e cobre-se este por sua vez com uma carapuça de borracha, para evitar-se a queda de poeiras sobre o algodão ; depois col locam-se todos os tubos semeados e assim preparados em uma estufa, cuja temperatura é de 37 gráos e onde as culturas fazem-se bem e rapidamente, conservando-se em bom estado durante muito tempo. O estrangulamento que se nota no tubo reteni a agua que ealie por occasião do aquecimento e vai assim entre- tendo a humidade na preparação, sem o que esta seccaria, ficando imprestável ; a carapuça de borracha impede por seu lado que a humidade se evapore e que os esporos de certas especies de mofo, cahiudo sobre o algodão germi- nem, dando filamentos que atravessem a trama da bucha, vão mais tarde contaminar com os seus esporos a cultura. Emfiin pode-se empregar ainda a batata sob a forma de uma pasta, á qual se podem juntar também outras substancias que modifiquem o meio, augmentando, ou di- minuindo o seu poder nutritivo. E’ sabida a maneira de- licada pela qual os meios reagem sobre os microbios e vice- 28 versa : para facilitar ou para difficnltar o desenvolvi men- to dos germens pode-se introduzir nos substrato: de cultu- ra . peptonas, assucar, saes, ácidos, e tudo quanto sequizer ; mas depois de taes addições não se deve esquecer que todo e qualquer meio destinado á cultura dos mierobios deve ser antes este ri lisa do no autoclave de Chamberland. Não são as batatas a uni ca matéria usada nos labora- tórios para as culturas solidas ; outras muitas substancias se prestam a isso : as cenouras, as beterravas e quasi todos os legumes preenchem bem a fu noção de nutrir os mierobios, que, conforme já dissemos, sabem manifestar as suas preferencias por tal ou tal alimento. E’ assim que o staphylococcuspyogenes aureus, preferin- do as matérias assucaradas, dá as colonias mais densas e mais bellas sobre as cenouras e sobre as beterravas, Os pedaços de madeira secca, os galhos mortos que cahem das arvores, quando húmidos, constituem um solo propicio para a vegetação de certas variedades de cogu- melo. A citar ainda : o pão sobre o qual já vimos o mu- cor mucedo cultivar-se de proferencia ; o pão azymo, sobre o qual o bacillò de Kiel dá uma cultura muito caracteristica, com uma bei la côr vermelho-escarlate ; este germen quando desenvolve-se sobre as hóstias cansa assombro aos devotos, que acreditam ser aqui 11o sangue ; facto que já teiii dado logar a grosseiras e calculadas mystificações. Temos ainda as pastas feitas com amydon, féculas, difFerentes fa- rinhas de vários cereaes, trigo, arroz, milho, etc., consti- tuindo todos bons meios de cultura, uma vez que sejam preparados com todas as precauções antisepticas. Mierobios ha que transformam direetainente o amydon em agua e acido carbonico e algumas vezes em assucar. Primeiramente elles liquefazem o amydon, depois levam mais longe a transformação, chegando mesmo até a fabri- cação dos ácidos láctico e butyrico. Quando estes últimos productos apparecem em abuu- 29 dancia sobre o terreno das culturas, em regra geral a pro- liferação dos germens não continua, porque a acidez é con- traria a vida de um grande numero de pequenos organis- mos. Remove se, porém, este inconveniente muito serio, neutralisando-se o acido que vai-se formando no decurso da evolução da cultura, com um pouco de carbonato de cal, ou outro sai básico. Uma cultura da bacteridia do carbúnculo sobre amydon fará a principio a liquefacção da pasta; depois produzir- se-á assucar e finalmente appareeerão os ácidos : ífesta oe- casião suspende se a cultura. Formar-se-á um sal decai e teremos como ultima producção, crystaes de acetato de cal, facilmente descoberto pelas suas reacções e caracteres pró- prios. Todavia esses meios solidos de cultura, que incontes- tavelmente são de uma grande utilidade quando se quer obter com rapidez grandes colonias microbianas, são infe- lizmente de uma conservação difflcil, quando se quer, ou se precisa guardal-as durante períodos de tempo mais ou menos longos. Não ha então outro remedio senão recor- rer-se aos meios líquidos, dos quaes vamos tratar no capi- tulo immediato. CALDO DE CARNE SUMMARIO — Modo de preparar o caldo. — Repartição pelos vasos de cultura.— Es- terilisação dos vasos.— Matraz-distribui- dor. — Diversas formas de vasos. — Ma- neira de semear o caldo. — Aspecto das culturas.—Modificações produzidas pelos microbios. — Modo de recolher o caldo com a pipetta.— Tubos afilados.— Caldo preparado com diversos orgãos.—Infusão diversas. — Meios artificiaes.— Líquidos de Pasteur e de Raulin.—Licor de Conh. —Vantagens dos meios líquidos. A’ frente dos meios liqnidos vem o caldo de carne, cuja maneira de preparar vamos aprender : Tomam-se 500 grammas de bôa carne de boi, pesada depois de desembaraçada da gordura e dos tendões ; cor- ta-se em pequenos pedaços e bota-se a macerar em um litro d’agua durante 24 horas a frio, ou durante umas 5 horas sómente, se a temperatura ambiente não é muito baixa. No fim de qualquer d’esses períodos de tempo espre- me-se o todo atravez de um panno de linho bem limpo e previameute molhado. Se depois de espremido o caldo 32 não attingir as 500grammas, completa-se esse volume addi- cionando agua. Em seguida leva-se o caldo ao fogo até a ebullição, tendo a cantei la de agitar constantemente o liquido afim de que não pegue no fundo do vaso. Juntam se 10 gram- mas de peptona e 5 de sal marinho. Se o caldo está acido (oque se reconhece pelo papel de tournesol) neutralisa-se-o por meio de uma solução de soda á 1/10, ou por uma solu- ção concentrada de bicarbonato de sodio. Colloeado o caldo em um pequeno caldeirão de ferro es- maltado, é levado ao autoclave, onde será aquecido a 120° e durante um quarto de hora. Filtra-se o liquido ainda quente e se reparte pelos diversos recipiantes previamento estéril isados. Não devem ser esquecidas certas precauções que na pratica têm grande importância. E’ assim que durante a cocção deve-se agitar constantemente o liquido, porque a fibrina coagulando se pode dar lugar a que o caldo pegue no fundo do caldeirão, segundo o termo usado pelos cosinheiros. O filtro não pode deixar de ser molhado, afim de que a gordura não passe atravéz de suas paredes. A escolha da peptona a ajuntar tem sua importância, devendo-se usar sempre da mesma marca, porque a com- posição d’essas substancias varia com os fabricantes. No « Instituto Pastem » usa-se da peptona Chapoteaut. Não é demais repetir que os microbios são exigentes na escolha de seus alimentos eque qualquer descuido pode ser causa de insuccesso em uma cultura. Como a peptona é acida, é preciso sempre alcalinisal-a com a soda, esterilisando-se (já se entende) previamente ambas as substancias. Os phosphatos que o caldo contem são tanto menos so- lúveis quanto a temperatura é mais alta ; elles se precipi- tam fazendo uma especie de colla no fundo do cãldeirão. E’ depois que se forma este precipitado e quando a 33 temperatura tem attingido o grão máximo desejado, que se deve filtrar o caldo para evitar que os phosphatos dis- solvam-se novamente, quando o liquido esfriar. Na auzencia do antoclave também se poderia conse- guir a esterilisação do caldo em quatro ou cinco aqueci- mentos suceessivos ; e esse processo moroso e um tanto in- certo, não deixará de ter a vantagem de evitar que, sob as al:as temperaturas, a potassa aetuando sobre as maté- rias o; ganic; s mude um pouco a côr do liquido, que fica mais carregado ; o que não deixa de sei' um embaraço para bem observar-se a cultura mais tarde. Também é de bôa pratica preparar-se de uma só vez uma grande porção de caldo ; porque assim, na serie do estudos ou de experiências que se tiver de fazer, tem-se a certeza de operar sempre sobre um meio idêntico a si mesmo, não liavendo probabilidade de enganos prove- nientes da composição diversa dos d iffe rentes caldos, em- bora preparados segundo a mesma technica acima indicada. E’ cousa fácil guardar e conservar uma grande quan- tidade de caldo. Em um matraz de 800 centímetros cúbicos de capacidade, fechado á lampada e guardado ao abrigo da luz em um armario fechado, o caldo conserva-se indefini- damente. Uma buclia de algodão coberta com papel poderá servir também para obturar o vaso ; mas o ar circulando atravez da trama de algodão produziria no liquido uma oxydação lenta não apreciarei pelos reagentes chi micos, mas'revelada por certos micróbios muito delicados e que não poderiam mais viver ahi. O microbio do carbúnculo proliféra muito bem em um caldo recentemente preparado ; mas se o liquido tem sof- frido a aeção da luz durante duas ou tres horas, já as cul- turas quasi não se fazem ; e o do tétanos deixará também de cultivar-se em um caldo que tenha sido exposto ao ar, durante algum tempo. Quando se quizer fecha r os balões á lampada, é preciso 34 escolher vasos de fundo redondo ; porque a torma esphe- roidal 6 que melhor resiste sis pressões : um matraz de fundo chato posto no autoclave e submettido a uma alta temperatura, quebrar se-á infallivelmente. Raramente experimenta se sobre tão grande porção de caldo, como a que os grandes balões contêm. Ha varias especies de vasos de cult ura ; os mais sim- ples, baratos e sobretudo os mais commodos são os tubos de ensaio. O matraz «Pasteur» é de uma capacidade maior do que os tubos, pelo que presta-se a culturas mais extensas ; alem d’isso é munido de uma rolha de vidro ouca, por onde o ar pode passar atra vez de uma bucha de algodão, que enche o interior da rolha de vidro. Para os mierobios que precisam de uma maior quan- tidade de ar os vasos devem ter um amplo fundo chato, de maneira que o liquido possa oíferecer uma larga superfície ao arque por ahi circula. Ha ainda balões possuindo de cada lado um tubo ou um braço curvo, por onde se pode forçar a passagem do ar ou de um gaz qualquer, para ficar em contacto com a cultura ; qualquer, porem, (pie seja o fluido a empregar-se deve elle passar primeiramente atravez da agua para satu- rar-se de humidade e não apressar a evaporação do liquido nutritivo, especialmente se o balao tem de ir áestufa, como é a regra. Uma precaução ainda é necessária sempre que se tiver de aquecer os vasos de vidro com as respectivas buclms de algodão : vem a ser não levar-se o aquecimento alem ISO.'1, porque um pouco acima d’esta temperatura a matéria or- gânica começa a ser destruída e o algodão decompondo- se dá nascimento a prodnctos antisepticos, que secahirem no interior do vaso, podem matar as culturas. E’ por intermédio do matraz-pipetta ou matraz-dis- tribuidor que se faz o transvasamento do liquido contido nos grandes balões para os vasos menores e para os tubos. 35 Uma vez retirada a quantidade de liquido que se quer, fecha-se de novo o balão á la rapada e colloca-se era logar escuro. — Como se deve semear o caldo ? — Por meio de um fio de platina, que foi anteriormente esterilisado até o vermelho-rubro em uma chamma de gaz ou de álcool, recolhe se um pouco da semente, mergulhando simplesmente a platina no liquido de onde vem a semente, ou raspando levemente uma particula da substancia, se ella é solida. Em seguida mergulha-se a platina no caldo que tem de receber a somente, agitando-a um pouco e fechando im- mediatamente o tubo com algodão; tudo porem sem tocar com os dedos na abertura do mesmo tubo. Levadas as culturas á estufa de incubação, no fim de algumas horas já o liquido está se turvando, signal evidente de que tem prin- cipiado a proliferação dos mierobios: então é muito facil seguir e observar todas as phases da operação. O bacillus subtilis precisa de 8 a 10 dias para deseu- volver-se no caldo, e quando o faz deixa caliir no fundo do tubo pequenas espheras. O bacillus micoyde deixa o li- quido perfeitamente claro, mas deixa ver no fundo do tubo flocos alvos e densos. Um streptococcus dará pequenos novelos, que se dis- põem ao longo das paredes do vidro. O bacillo de Kiel desenvolve-se na superfície do liquido e a sua matéria co- rante dissemina-se por toda a massa, tingindo-a com a côr vermelha própria d’aquelle organismo. A bactéria do carbúnculo dá um grande floco, que fluctua no meio do li- quido transparente. O farcino do boi dá umas escamas que sobrenadam na cultura. Emfini os mierobios apresentam-se no caldo sob um aspecto particular, que muito facilita o diagnostico. Convém entretanto lembrar que a idade das culturas e a natureza do meio modificam o seu aspecto, sendo iudis- 36 pensavel, para bem distinguil-as á simples inspecção, um graude liabito de observar taes culturas. Nem todos os caldos são idênticos ; o gráo de acidez do liquido pode variar, se a carne de onde proveio con- tinha maior ou menor quantidade de acido láctico ; por isso todo caldo deve sei- ensaiado previamente, acidifican- do-se-o, neutralisando-o, ou ainda alealisando-o, conforme a preferencia dos microbios por qualquer d’esses estados. Na carne encontram-se os elementos indispensáveis á vida dos seres organisados: phosphoro, enxofre, cal, magne sia, matérias h y d ro-ear bona d as, substancias azotadas, etc. Algumas vezes os microbios transformam a matéria azotada em ammoniaco ; 11’este caso a cultura torna-se al- calina e teremos phospliatos ammoniaco-magnesianòs e ammoniacos compostos. Muitas vezes também os micro- bios fabricam productos aualogos tis diastases ; e são estes os mais interessantes debaixo do ponto de vista bio-ehimieo. Em logar da carne de vacca pode-se empregar a de qualquer outro animal, usado ou não, para alimentação do homem. Da mesma maneira todos os orgãos do ani- mal : figado, baço, pulmões, etc., podem servir para a fa- bricação dos caldos de cultun. Também as matérias vegetaes poderão servir para o mesmo fim. O malt ou centeio germinado fornece um exeellente meio : 10 grammas de malt pilado para 100 grani mas d’agua, que se aquece de 55° a 58° durante uma hora, afim de que se faça a saecharificação e haja mal tose, dextrina, etc., constituem um meio de predilecção dos fer- mentos, cogumelos, tinhas, etc. Comtudo esses liquidos orgânicos não poderão servir para a analyse rigorosa das propriedades bio-chimicas de um microbio. Para tal fim são necessários outros liquidos contendo matérias fixas e exactamente dosadas; pelas de- composições operadas e pelo calculo das quantidades res- tantes dos princípios miueraes contidos em um liquido teste- 37 rnunha, ter-se-á com precisão mathematicauma analysequan- titativa. Foi com este intuito que Pasteur organisou a seguinte solução : Agua 100 grammas Assucar candi 10 » Carb. de ammoniaco 1 graimna Cinzas de levêdo 1 » Este liquido era destinado a uma cultura do levêdo de cerveja. O assucar candi é um corpo perfeitamente de- terminado ; o carbonato de ammoniaco é um alimento azo- tado, onde os microbios vão buscar o azoto de que preci- sam ; nas cinzas eircontrarão elies os phosphatos e as ma- térias mineraes, igualmente indispensáveis á vida. Foi com o auxilio doeste reactivo que Pasteur assentou as bases da sua theoria das fermentações. O grande ehimico allemão Liebig ensinava que a fer- mentação era produzida pela addição de um corpo cha- mado fermento a uma matéria fermentavel. As eellulas eram animadas de um movimento particular, que trans- mittindo se ao corpo fermentavel o deslocavam, decom- pondo-o ou alterando-o ; ellas praticavam, segundo Liebig, uma destruição ; operavam uma obra de morte. Pasteur provou, que pelo contrario, ellas faziam obra de vida. E para demoustral-o tomava o seu licor mineral e punha-o em contacto com uma unica cellula viva de levêdo ; ao mesmo tempo que a fermentação se fazia, Pasteur obtinha uma geração inteira de eellulas vivas. Fundou se assim solidamente a grande theoria da fermen- tação, que em ultima analyse é a mesma das moléstias in- fecciosas. Raulin procurando um meio que fosse superior a todos os líquidos naturaes para a cultura do aspergilluS niger, imaginou a seguinte composição : Agua 1,500 grammas Assucar candi 70 » 38 Acido 1 nítrico 4 grammas Nitrato do annnoniaco 4 » Phosphato do annnoniaco 0,60 » Carbonato de potassa 0,40 » Sulfato de annnoniaco 0,25 » Sulfato de zinco 0,07 » Sulfato de ferro 0,07 » Si li cato de potassa 0,07 » O acido tartrico é destinado a acidificar o meio, porque comoé sabido, os bolores gostam dos ácidos, e n?esteliquido o aspergi do negro dá a mais bei la cultura. Fazendo-se variar a composição do liquido em qual- quer direcção, suprimindo-se, por exemplo, um dos ele- mentos, obtem-se lima diminuição de poso na colheita de mofo. O ferro não é absorvido; mas a planta crescendo pro- duz um sulfo cyanureto de potássio, queimpederia o seu de- senvolvimento senão fosse o sulfato de ferro, que se combi- nando com aquelle sal remove tão grande inconveniente. Estas expenencias e estudos levaram o author a abrir uma nova via á agricultura, mostrando a influencia da na- tureza do soloe dos diversos adubos. * Também Oonh propoz o liquido abaixo : Agua distillada... 200 grammas Tartrato de annnoniaco 2 » Phosphato de potassa 2 » Sulfato de magnésio 1 gramma Phosphato-1ri básico de cal 0,1 » Se os meios soíidos apresentam uma grande vantagem para o estudo extemporâneo dos microbios, os líquidos lhes são bem superiores quando se quer fazer longas pes- quizas. Com effeito quaesquer que sejam as precauções que se tomem, não se poderia impedir a deseccação no fim de um tempo mais ou menos longo e, por consequência, a morte da cultura. 39 Os caldos, pelo contrario, podem se conservar indefi- nidamente, tendo-se ainda a vantagem de operar sobre um meio idêntico, na longa serie de experiencias a fazer : o (pie não succederia com os sol idos que estão sugeitos a va- riações que compromettem os resultados, os quaes nunca podem ser comparados entre si. GELATINA E GELOSE SUMMARIO— Preparação da gelatina nutri- tiva.—Maceração.— Filtração.— Repar- tição pelos vasos de cultura. — Esterili- sação. — Tubos rectos. — Tubos inclina- dos.—Isolamento das especies.— Semen- teiras por picadas. — Caracteres das cul- turas.—Liquefacção da gelatina.—Meios solidos transparentes.— G-elose ou agar- agar.-—Gelose nutritiva, sua preparação. — Os microbios não liquefazem a gelo- se.—Geléa de lichen.—Gelose-gelatina. Um rneio liquido addicionado de gelatina quando se resfria adliere ao vaso; este meio nutritivo foi introduzido na technica bacteriológica por Kocli. A gelatina é um producto da dilatação da osseinaque se obtem tratando-se pelo vapor d’agua á alta temperatura, ossos descalcificados pelo acido chlorhydrico. Depois d’esta simples manipulação a gelatina ainda é impura : é preciso lavai-a sob um filete d’agua que remove as impurezas ; depois dissolve-se-a em agua fervendo e re- colhe-se o producto em álcool, que a precipita. .Recome- ça-se esta operação duas, trez ou quatro vezes, até obter se uma aelatina pura. 42 "NTos laboratorios, para obter-se a gelatina nutritiva, usa-se do seguinte processo: faz-se macerar durante cinco ou seis horas 500 grammas de carne de vacca em um litro d’agua ; espreme-seem um pan no, juntam-se aosuccoobtido 100 grammas de gelatina extra-branca e 5 grammas de sal marinho : aquece-se ao banlio-maria até 60 gráos para dis- solver a gelatina ; alcalinisa-se ligeiramente com a soda e leva-se de novo ao banlio-maria, durante uma hora e a 100 gráos de temperatura. Se a coagulação nãose fizer bem e se o liquido não ficar claro, deixa-se esfriar até 55" e jun- ta-se a clara de um ovo diluida em 50 centímetros cúbicos d’agua ; mexe-se o todo e aquece-se de novo a 100’. Feito isso filt ra se a quente e reparte-se pelos tubos de cultura, tendo-se o cuidado de não sujar o orifício d-estes. Esterili- sa-se final/nente aquecendo a 100° durante trez dias succes- sivos. Dissolvendo a gelatina a 60° tem-se por fim não fazer coagular as matérias albuminoides ; pelo mesmo motivo, durante a cocção, é preciso agitar constantemente toda a massa liquida. Junta-se a soda no fim da fusão para obter- se uma alcalinisação definida : mas não deve excedel-a porque a gelatina se modificaria, produzindo-se glycocolla, que não coalharia nem se apegaria ao vaso ; phenomeno este indispensável para o fim que se tem em vista usando da gelatina como meio de cultura. Emfim elevando-se a temperatura a 100" consegue-se a coagulação das matérias albuminoides, que se precipi- tam, aprisionando nas malhas de sua rede os saes terrosos e os restos de fibras musculares, deixando o liquido lím- pido. Apezar d’isso nem sempre o liquido é inteiramente claro ; é por isso que junta-se* a clara d’ovo. E’ evidente que para fazei-o deve-se deixar o liquido esfriar até um ponto em que a albumina não se coagule antes de ter-se espalhado por toda a massa ; coagulação que se dará mais tarde aquecendo-se de novo o liquido j ir essa 43 occasiao as impurezas restantes serão detidas pela albumi- na coagulada em todos os pontos. Quando a temperaturaé muito baixa, é preciso fazer- se a filtração a quente, em um funil especial, que permitte fazer a operação ao abrigo do ar ambiente. Obtida a fil- tração reparte se o liquido pelos vasos de cultura, pre- viamente esterilisados. Como não pode se aquecer a ge- latina a 115°, visto ella não solidificar-se mais, só pode-se conseguir matar os germens n’ella contidos, por meio do aquecimento descontinuo, que faz-se a 100- e em tres dias consecutivos. Preparam-se muitos tubos ao mesmo tem- po com porções variaveis do liquido, contendo de 1 a 3 centímetros cubicus. IPestes tubos uns são collocados verti cal mente, e outros são inclinados quasi em plano horisontal para ter- se uma superfície mais vasta. Sobre a gelatina podem ser cultivados os germens ou os esporos. Nos meios líquidos faz-se, como já vimos, uma separação dos microbios por diluição ; sobre batatas é dif- ficil reconhecer-se os microbios não coloridos ; alem d’isso os processos são longos ; em gelatina, porem, semeando- se antes do endurecimento da massa os germens ficam es- palhados por todos os pontos do liquido ; e quando este coagula-se elles ficam presos, formando colou ias bem dis- tinetas, que podem ser estudadas atravéz das paredes transparentes do tubo. Semea-se a gelatina quando solidificada, por meio de estrias ou de picada; rd este ultimo caso a agulha de plati- na levando a semente é introduzida vertical mente no eixo da massa, até muito profundamente. Para as estrias servem os tubos em que a gelatina resfriou e adherio es- tando o vidro muito inclinado. Risca se com a platina a superfície livre da substancia a semear, fazendo-se um traço mais ou menos sinuoso ; parallelamente a este po- dem-se fazer outros traços. Está entendido que todas essas manipulações exigem grande cuidado para evitar-se 44 o contagio, que, ao menor descuido, pode attingir o opera- dor : este corre grande perigo manejando germens vi- rulentíssimos que podem dar a morte. Tío fim de poucos dias apparecem as colonias de mi- cróbios. Alguns d’elles liquefazem a gelatina ; quando isso tem logar forma-se na parte superior da picada uma ca- psula, Com a forma de um funil ; o phenomeno é devido á decomposição do meio, em presença da diastase seeretada pelos germens, e serve para caracterisar certas especies de microbios, os quaes podem dividir-se em dous grandes grupos : microbios que liquefazem a gelatina e microbios que não a alteram. Ao lado de vantagens reaestem a gelatina um grande inconveniente ; visto como muito difficil é o seu emprego nos paizes quentes ; a 23- ella funde-se. De outro lado, na immensa maioria dos casos a cul- tura das especies pathogenicas (justamente as que mais nos interessam) precisa soffrer a incubação na estufa, com uma temperatura variando de 35 a 48 gráos. Claro está que n’estas condições não se deve pensar em tal producto para as culturas. Um substratum possuindo todas as vantagens da ge- latina sem os inconvenientes d’esta, encontrou-se na gelo.se (como é conhecido em França), ou agar-agar, como o de- nominam os allemães, ou simplesmente agar, como o uso irá abreviando. A gelose ou agaf é um producto colloide, isomero da cellulose e que foi estudado pela primeira vez por Payen, que o extraio de certas algas, dando lhe o nome de gelose, quando em 1859 apresentou á Academia de Sciencias de Pariz os seus traoalhos sobre o assumpto. O agar usado nos laboratorios vem geral mente de uma alga do mar das índias, o—Gelidium spiriforme, da ordem Floridêas. 45 E7 esta especie qne fornece em abundaneia a droga conhecida no cotnmercio por agar-agar, on ainda pelo nome de vareck corne, como também chamam na França. Prepara-se a geléa nutritiva de agar, fazendo-se mace- rar durante algumas horas 500 grammas de carne muscular bem picada, em um litro d’agua; depois espreme-se ejun- tam-se 10 grammas de peptona e 5 ditas de sal marinho (tudo como para a gelatina), leva-se á ebulição, filtra-se e alcalinisa-se francamente com a soda. Divide-se em seguida 15 grammas de agar em peque- nos pedaços e junta-se ao liquido, que de novo vai até a completa fusão ou dissolução do agar, agitando-se sempre a massa que é depois aquecida a 120", durante 25 mi- nutos. E’ indispensável elevar o aquecimento áquella tempe- ratura, assim como alcalinisar francamente, se se quizer obter um liquido claro e transparente. Uma vez obtida uma reacção alcalina bem accentuada filtra-se o liquido sobre papel Chardrin e reparte-se ainda a quente pelos vários tubos, pelo mesmo processo que já in- dicamos para a gelatina. Não é demais insistir sobre a alcalinisação da gelose, qne precisa ser bem nitida, do contrario, sob a influencia do calor, os ácidos mesmo fracos a transformarão rapidamente em assuear analogo á galactose, alterando profnndamente o meio nutritivo. Quando quente é a gelose limpida, mas resfriando-se ella o é menos,' deixando entretanto ver bem as culturas. No fundo dos tubos fica sempre uma pequena porção d’agua que impede a adhesão do substratmn ás paredes -do vaso, de sorte que a massa foge sob a agulha quando se tem de semear; mas levando-se os tubos uma segunda vez á estufa remove-se este embaraço e a gelose seecando um pouco pela peripheria, os bordos da massa adherem afinal ao vidro. Sendo uma substancia de natureza eelluloide o agar- 46 agar não offerece uni alimento para os micróbios, e de or- dinário não é atacado por elles : serve apenas de supporte ás culturas. Para semear-se a gelose segue-se a mesma technieaque já conhecemos para a gelatina. As culturas, embora um pouco menos pronunciadas, offerecem todavia os mesmos aspectos (pie sobre a gelatina; não dando-se entretanto a liquefacção, nos casos em que esta tem lugar n’aquelle outro meio. Outras algas visinhas dbiquellas que fornecem o agar, podem dar uma substancia a na Ioga, servindo para os mesmos fins. E’ assim que Miquel, o conhecido director do obser- vatório meteorologico do Parque Mont-souris, prepara uma geléa nutritiva com productos de uma planta marinha — o ChondruH crispus, íámilia das Gigartinndas, ordem das Flo- ridéas, que encontra-se desde os Açores até as costas da Noruega. E’ esta planta que fornece os elementos para a prepa- ração dos productos conhecidos no commercio por geléa de Carraghaen ou de musgo da Irlanda. Miquel toma 300 gram- mas dolichen e ferve durante uma hora em 10 litros (Fagua. Obtida a dissolução côa-se o liquido, que tem uma côr cinzenta clara ; leva-se de novo ao fogo, durante muitas horas, filtra-se a quente, evapora-se e obtem-se então bolos sol idos e seccos da alga. Quando se quer preparar um caldo com esta substancia é na. proporção de um gramma para cem partes do sueco de carne e a gelose obtida só liquefaz-se a 60 grãos. Em vez de caldo, poderemos nos servir de uma solução de peptona no preparo da gelose. O extracto de carne de Liebig serve para o mesmo fim, e é justamente n’este ultimo meio que o bacillo do carbúnculo dá bellos esporos. Também pode-se combinar em porporções diversas a gelatina com a gelose, obtendo-se meios nutritivos parti- cipando das vantagens de ambas as substancias isoladas. 47 O ponto de fusão passa a ser inais elevado : de 30 a 35 gráos, o que incontestavelmente é de uma grande vantagem. A combinação é também excedente para fazer-se o isolamento das especies. Obtem-se o agar gelatinado ou a gelose-gelatina preparando se a gelatina pelo processo or- dinário, já descri pto, e depois de bem alcalinisado junta-se 1/2 por cento de agar. O aquecimento pode ser elevado a 120°, porque não ha receio de que o meio deixe de solidificar-se ; por isso que a presença da alga remove aquelle inconveniente da gelatina pura. Nestas condições é inútil esterilisar previamente os tubos, cujo contendo supporta sem inconveniente aqnella temperatura ; e por isso a esterilisação faz-se em um só tempo. FILTRAÇÃO SUMMARIO — Esterilisação dos meios que não podem ser aquecidos. — Liquidos contendo albumina. — Esterilisação por filtração.—Filtros de Pasteur e Joubert. —Filtros de terra cotta.—Tubos filtran- tes.—Filtro Chamberland.— Maneira de recolher e repartir os liquidos. — Modi- ficações operadas no liquido pela filtra- ção.—Filtração sob pressão de acido car- bónico. — Preparação do serum de san- gue.—Sua esterilisação.- Liquidos orgâ- nicos naturalmente estereis,— Liquidos da ascite, do hydrocele, do amnios.—Uri- na. — Albumina do ovo. — Cultura nos ovos.—Humor aquoso. Ja vimos que o melhor processo de esteril isação é o aquecimento a 115° no autoclave ; mas já vimos também que nem todos os meios supportam uma temperatura ele- vada sem perder as suas qualidades nutritivas. Entretanto nas experiencias e estudos delaboratorio ha necessidade de encontrar-se meios analogos aos que certos microbios pa- thogenicos encontram no organismo humano. Nos meios orgânicos, como por exemplo, na infusão 50 de malt, a maltose altera-se pelo ealôr alto : do mesmo modo, as substancias assucaradas erystallisáveis, a nréa e outras decompõem-se a uma temperatura elevada. Assim, foi preciso procurar-se um outro processo de esterilisação e pensou-se na filtração. Os microbios, se bem que infinitamente pequenos, porque alguns d’elles attingem apenas a um milésimo de millimetro de comprimento, são comtudo corpos solidos, pelo que imaginou se que podiam ser filtrados. Pasteur e Joubert inventaram um filtro de gesso assim constituído : em um tubo de forma especial elles introdu- ziram um tampão de algodão e em seguida um tubo de gesso, que por sua vez era coberto de algodão : o appare- lbo era introduzido em um balão, munido de uma tubu- ladura lateral que permittiaa aspiração ; do outro lado do balão havia uma segunda tubuladura afilada e fechada á lampada, servindo mais tarde para a distribuição do li- quido filtrado. Todo o apparelho era cuidadosamente es- terilisado. Pasteur construio esse apparelho para demonstrar que em uma cultura só os corpos solidos eram pathogenicos, ao passo que o liquido era inoffensivo. Effectivamente elle podia injectar nas veias de um cão uma grande quanti- dade de cultura de carbúnculo filtrada sem que o animal désse a menor demonstração de parecer doente ; entretanto algu ns corpúsculos recolhidos sobre o filtro matavam o cão rapidamente. Ficou também demonstrada a eíficaeia d5esse novo processo de esterilisação. A espessura do filtro não tinha maior importância : alguns centímetros bastavam, mas o gesso tinha certos inconvenientes e não pequenos : alem de não ser aquello corpo insolúvel e o sul- fato de cal dissolvido produzir alterações nocivas noliquido, succedia que a dissolução podia deixar lacunas nas paredes do filtro, abrindo assim uma porta á passagem dos mi- crobios. Demais os filtros de gesso só podiam servir para pequenas quantidades de liquido e estragavam-se rapida- 51 mente, sendo preciso desmanchai-os e moldal-os de novo, após cada operação. Procurou-se melhorar o filtro juntando o gesso ao amiantho; mas pouco se adiantou: pelo que ensaiou-se utilisar na eonstrucção d’aquelles apparelhos, a terra de faienças ou barro de Choisy le Roi, fabricando-se cylindros oucos da grossura de um lapis, que eram montados em tubos esterilisados, ou em balões, com oauxilio de diversos dispositivos ; os lapis eram soldados com cera Gollaz, e quando tinha-se de limpar o filtro, era preciso fundir a cera polo calor. Por meio de diversos artifícios conse- guia se filiar de dentro para fóra evice-versa ; mas posto que esse filtro representasse um progresso, não podia servir para a filtração em grande escala. Ohamberland, um dos discípulos mais aproveitáveis da escola pastoriana, introduzio algumas modificações no filtro, e augmenfando o calibre dos tubos dotou os labora- tórios com o bom filtro que leva o seu nome, filtro que ra- pidamente entrou nos usos domésticos, em escala vas- tíssima E não ha duvida que o filtro Ohamberland é um bom apparelho, com a condição, porém, de serem tomadas certas precauções antes de usai-o, afim de que não fiquem annul- ladas as suas propriedades esterilisantes. E’ assim que antes do seu emprego devem as velas ser aquecidas a 1.15° e ensaiadas, para ter-se a certeza de que não ha em suas paredes qualquer lacuna ou falha, princi- palmente porque filtra-se ordinariamente sob uma pressão de trez a quatro afmospheras. O ensaio é muito simples: liga-se o filtro a um folie, como esses de borracha usados nos pulverisadores de toilette e mergulha se a véla em agua ; fazendo-se actuar o folie com uma certa pressão, si sahirem bolhas finíssimas de ar é que existe qualquer falha ou rachadura, devendo por isso a véla ser regei tilda por imprestável. Esta prova, bem como a esterilisação 52 prévia no autoclave, são indispensáveis; e inútil é usar-se de um filtro que não foi assim tratado. Examinando-se ao microscopio um córte da parede de uma véla Chamberland, como se examina um córte histo- logico de um osso, vê-se que os póros são muito maiores do que as dimensões dos microbios. E porque então estes organismos não atravessam aquelles buracos ! E’ que dá-se dá ahi um phenomeno de capillaridade, onde só os líquidos passam, emquanto que os microbios ficam detidos na pa- rede externa da véla. Chega um momento em que os microbios aceumulam-se em tão grande quantidade que o liquido não passa ruais; diz-se então que o tubo colmata-se ; n’este caso é preciso desembaraçar as suas paredes exteriores d’essa camada de impurezas e esterilisar de novo o filtro ; mas desta vez, a 180° para que tenha logar a destruição da matéria organiea e a desaggregação seja completa. Assim tratados são entretanto excedentes os filtros Chamberland ; mas se os deixarmos por muitojtempo expos- tos á humidade sem os limpar, sobretudo em tempo de calôr, os mofos vegetando sobre as paredes do tubo, in- sinuarão os seus filamentos atravez dos póros, deixando cahir as sementes ou esporos no liquido a filtrar. E? por isso que deve-se recorrer com frequência a esterilisação dos filtros. O Dr. d’Arsouval recommenda que se faça a filtração sob fortes pressões, obtidas pelo acido carbonico, que por si mesmo ja é um parasiticida, anniquilando perfeitamente as formas vegetativas da maior parte dos germens, não tendo, porém, a menor aeção sobre os esporos. A alta pressão que o apparelho de d’ Arsonval desenvolve tem a sua utilidade : os liquidos albuminosos (pie diificilmente passariam sem pressão, a ella submettidos, passam de- pressa; isto bem entendido, no começo, porque com a con- tinuação o apparelho colmata-se como todo e qualquer outro ; até mesmo um pouco mais cedo por causa da grande 53 velocidade com que o liquido vai passando no principio da operação. Ha outro inconveniente ainda no apparelho de (PArsonval : o acido carbouico, cuja acção é quasi nulla quando o gaz está no estado livre, toma, submettido á pressão, propriedades novas e vai alterar as toxinas mesmo tempo o vaso e o liquido deeultura, a qual faz-se muito bem, o que se conhece por certos signaes exteriores, como sejam : a lividez do ovo, a albumina que se liquefaz, a gemina que enegrece ; é uma cultura quasi anaeróbia. E’ preciso notar que a albumina de todos os ovos não éa mesma; o ovo de pato, por exemplo, differe do da gal- linha na maneira de reagir sobre os microbios. Pode-se ainda, com uma pipetta, tirar um pouco da clara para qualquer vaso de cultura, podendo-se também misturar com outras substancias. As mais bellas bacteridias do carbúnculo ootem-se no humor aquoso do olho ; foi ideste meio que Koch fez os seus importantes estudos sobre aquelle germen. O humor aquoso pode ser retirado do olho dos animaes vivos ou mortos, introduzindo-se uma pipetta no globo ocular do animal. O liquido sobe por capillaridadee fecha-se depois a pipetta á lampada. SEPARAÇÃO DOS MICROBIOS SUMMARIO -Vantagens da gelatina; cul- turas sobre placas ; sua esterilisação. — Diluição da semente.—Maneira de esten- der-se a gelatina sobre as placas.— Boce- tas dc Petri.— Tubos de Esmarch.— As- pectos das colonias. — Colonias liquefa- zendo a gelatina.— Exame microscopico. — Variações no aspecto das colonias do mesmo microbio.-— Estructura das colo- nias.—Ineonvenientes da gelatina.—Pla- cas de gelose.— Gelose gelatinada.-— cul- tura sobre porta objecto. — Cultura em cellulas -— Repicagem. — Contagem das colonias.—cultura dos anaeróbios. Não basta fazer-se a cultura de microbios em um meio puro para estudar-se a vida d’esses micro-organismos : é preciso ainda isolal-os; mas esta operação 6 muito deli- cada e constitue um dos pontos mais importantes datechniea bacteriológica. Começa-se por liquefazer um tubo de gelatina e coi- local-o em um banho-maria, ou simplesmente aquecel-o ao calor da mão. Semêa-se uma pequena quantidade de uma mistura microbiana, de maneira que a gotta 58 introduzida espalhe-se o melhor e o mais possível portoda a massa de gelatina ; depois derrama-se esta sobre placas de vidro. Logo que a gelatina esfria, coagula-se aprisio- nando em certos pontos os microbios esparsos, que mais tarde se desenvolvem em eolonias, com o seu aspecto ea- raeteristico. Se as eolonias forem muito numerosas (o que sueee- derá se o liquido que forneceu a semente for muito rico em microbios) (dias se prejudicarão mutuamente : as es- pecies que liquefazem a gelatina impedirão (pie as suas visinhas prosperem, roubando-lhes o terreno nutritivo. Este inconveniente é evitado desde que se fizer uso so- mente de tubos em terceira e quarta diluição, porque os ger- mens sendo nos últimos tubos relativamente raros, as eolo- nias se formarão á distancias convenientes uma das outras. Feitas estas manipulações é preciso esperar que a-gela- tina esfrie até 30 grãos, ponto em que ella é ainda bem liquida e permitte todas as operações de cultura, sem que os germens morram. As placas de vidro são ordinariamente reetangulares, tendo uns doze centimetros de comprimento sobre nove de largura. Dispõe-se a placa ou placas em baudeijas de folha de Flandres, esterilisando-as em seguida a 180’. Deve-se deixai-as arrefecer mesmo no forno para que não se quebrem com a mudança brusca de temperatura. E7 preciso também segurar as placas com uma pinça sada, ou pelo menos não tocarmos com os nossos dedos nos pontos em que tem-se de derramar a gelatina. Estas placas devem estar collocadas em um plano rigo- rosamente horizontal, no momento de-receber em o liquido ; este deve, quando coagulado formar uma camada de igual espessura e tão delgada quanto possível. Vários apparelhos usados nos laboratorios garantem uma horisontalidade perfeita das placas e operam o res- friamento rápido da gelatina. A citar entre outros o de Koch, munido de um parafuso, que subindo, ou descendo, 59 estabelece o nivellamento procurado ; mas este apparelho. composto de vários crystallisadores, está abandonado; não somente por causa de sua fragilidade e complicação, como também por que traziam alguma morosidade nas mani- pulações. Actualmente o apparelho empregado é o do professor Koux. E7 elle constituído por um tambor ou caixa metal - 1 ica, munida de um parafuso para dar a horisontalidade pei feita, por movimento de subida ou descida ; horisonta- lidade verificada com precisão no nivel de bolha de ar que existe no proprio apparelho ; este ainda é disposto de ma- neira que pelo interior da caixa passe uma corrente de agua fria, cuja temperatura pode ser abaixada artifieialmente, ou por meio do gelo, ou por qualquer mistura refrigerante, col- loeada dentro do tambor Este apparelho simples, solido e até elegante, produz a solidificação das placas de gelatina collocadas na sua superfície superior, quasi que instan- taneamente. Uma campa nula de vidro abriga as placas, cobrindo-as. Para que as culturas se desenvolvam é preciso que a gelatina não fique muito secca ; pelo que collocam se as placas em camara húmida, a qual é constituída por dous crystallisadores, servindo um delles de tampa ou cobertura do outro: o crystallisador inferior é guarnecido de papel mata-borrão imbebido em uma solução de sublimado; no interior dos vasos ha unssupportes de vidro formando pra- tileiras; cada uma d7estas é forrada por uma tira de papel buvard para evitar que as placas escorreguem. As placas são collocadas nas pratileiras, de modo que as mais carre- gadas de germens fiquem nos andares inferiores. Para diminuir as probabilidades m grande abundancia no tubo digestivo, es- pecialmente no estomago do homem. Apresentam em geral a côr amarella e seus diversos matizes ; o ar aviva a colo- ração própria de cada uma das variedades. O bacilhis pyocyanicus é um microbio que se encontrava outPora com muita frequência nas salas de cirurgia dos hospitaes produzindo o puz azul dos curativos, curioso phe- nomeno que tanto intrigava os cirurgiões antigos, que o reconheciam não somente pela côr, como também pelo seu cheiro caracteristieo. Antes do emprego dos antiseptieos ei a commum o puz azul, que acreditava-se ter sido secre- tado pelo doente ; e até alguns práticos viam rfiessa com- plicação microbiana um excellente symptoma de feliz pre- sagio para o paciente ! Observando-se, porem, que fóra do contacto com o doente os pannos e fios dos curativos contaminados trans- mittiam ás compressas limpas uma especie de contagio, continuando-se a notar as manchas azues, occorreo a ideia de que talvez fosse um microbio, como de facto é, a origem do singular phenomeno. Os estudos começaram pelas propriedades chimicas do puz azul. Tratando os pannos pelo chloroformio, Por- dos obteve alguns crystaes e isolou uma substancia corante — a pyocyanina, comportando se cbimicamente como as matérias corantes vegetaes basicas, como é por exemplo, a tintura de touruesol. 134 Em seguida Gessa rt procurou o microbio e couseguio isolar um pequeno bacillo desenvolvendo-se no caldo, em gelatina, gelose e em geral nos meios ligeiramente alcali- nisados. Semeado pelo processo das estrias sobre agar aquelle germen diffunde sua matéria corante pela massa de gelose, que toma uma coloração azul esverdeada. No caldo essa coloração pende mais para o amarello e o mi- crobio cultiva-se algumas vezes em véo; tornando-se a cul- tura incolor, se lhe falta o ar. Quando a matéria corante é tratada pelo chloroformio, vê-se no liquido uma camada fluorescente esverdeada ; isto significa (pie o microbio tem mais de um pigmento. Cul- tivado em albumina só obtém se mesmo esta matéria fluores- cente, e repetindo-se a cultura muitas vezes, o microbio perde a faculdade de secretar a pyocyanina. Oliimicamente esta nova matéria corante offerece os mesmos caracteristicos da fluoresceina ; mas se eolloearmos a cultura albuminosa em um balão com um pouco de pep- tona o microbio passará a fabricar a pyocyanina, que nos parecerá mais azul do que de ordinário, e um pigmento ti- rando a verde, que pela oxydação torna-se pardacento. O meio por exeellencia para a cultura d’este microbio é um caldo glycero-peptonisado a 5%, ao qual junta-se agar em dose sufficiente para que o substrato adhira ás paredes do vaso. A pyocyanina obtem-se facilmente tratando-se uma cultura em caldo, ou gelose pelo chloroformio; basta dei- xar o chloroformio em contacto com a cultura sem agi tal- os. O chloroformio tinge-se de azul e pela evaporação abandona a pyocyanina, que apresenta-se sob a forma de longas agulhas azues. A pyocyanina exposta ao ar oxyda-se e dá a pyoxan- tliose, emquanto que o pigmento verde que se obtem nas culturas em que entra uma peptona glycosada, em presença do ar torna se pardo. 135 Em summn, variando-se as condições da cultura, ou melhor : submetteudo se á oxydação os productos de secre- ção do microbio, obtem-se cinco pigmentos elaborados da seguinte forma : I Caldo pyocyanina II Albumina pig. fluorescente verde jjj .Solução peptonisada (pyocyanina e pigmento (Glycerina — gelose (verde. IV Peptoua glycosada pigmento verde. V Productos pardacentos de oxydação. Gessart creou, portanto, varias raças do bacillopyocya- nico : a raça-A-completa, criada em caldo, dando a pyocya- nina e o pigmento venlcfluorescente. Aquecida a cultura a 57" de temperatura, só apparece o pigmento fluorescente verde proprio da raça—F—em que transformou-se aquella ]>rimeira raça. A raça—P—dá a pyocyanina só ; mas aquecida a 57° produz uma raça nova chamada—R S—que não dá matérias corantes. Fm vez de aquecer as culturas a 57° póde-se fazer passal-as repetidas vezes pelo organis- mo do coelho, fixando-se por este processo as diversas espe- eies ou raças do bacillo. Guignard e Cliarrin conseguiram modificar a morpho- logia do bacillus pyocyanicus juntando álcool e acido borico ao caldo : por este meio elles obtiveram formas mais longas, que voltam entretanto á morphologia dos cocci quando as culturas ficam velhas. Pas experiencias de Charrin resulta que o bacillo pyocyanico não é perigoso quando procede do ar ou da agua ; mas quando elle tem a sua origem no puz é um mi- crobio virulento, cujo poder toxico augmenta por successi- vas passagens atravez do organismo do coelho, tornando- se mortal na dóse de algumas dezenas de ceutimetros cúbicos. Injc 'ctado em dóses menores sob a pelle de pequenos 136 uni times, elle dá origem a uni i moléstia ehronica, que no fim de duas ou tres semanas traduz-se pela paralysia de uma ou mais patas do animal ; paralysia que póde augmentar progressivamente até matai-o, ou então retroceder e o ani- mal curar-se. Quando apparece a paralysia não se encon- tram mais os microbios no sangue. Depois da morte en- contra-se degenerescencia amyloide dos rins, infarctus ou um rim pequeno contraindo, ao passo que o coração esquer- do é sempre hypertroplnado. O microbio elabora, de facto, uma substancia toxica, da qual, segundo parece, origina-se a paralysia. Â maté- ria corante azul é inoffensiva. Retira-se a substancia toxica de culturas vivas ou mortas, por meio de filtração sobre a vela Chamberland ; esta substancia injectada em pequenas dóses confere uma especie de immunisação e o serum dos animaes assim vaccinados parece ter uma acção preven- tiva contra a aggressão dos microbios. No homem o puz azul é hoje raríssimo por causa da applicação systematica dos processos antisepticos nos cura- tivos cirúrgicos. Ao contrario das a Afirmativas dos cirurgiões antigos, resulta das observações clinicas modernas que o puz azul ap parecendo em grande quantidade em um doente, só lhe póde ser nocivo. O professor Bouchard poz em evidencia o antagonismo d’esse germen com o microbio do carbúnculo, injectando ambos os productos em pontos visinhos, sob a pelle de coelhos: 12 sobre 16 d’esses animaes inoculados d’aquelle modo resistiram. Outros experimentadores (Blavametchisky) notaram que as duas bactérias eram envolvidas pelas cellulas, quan- do injectadas no olho do coelho, de modo que não podiam desenvolver-se; mas verificaram também que por este meio não consegue-se a immunidade dos animaes, que con- tinuam a ter o mesmo gráo de receptivida.de. 137 Semeando-se os dons germens em uma boceta de Petri e fazendo-se estrias, em um sentido com o germen pyocya- nico, e em outro com o do carbúnculo, nota-se que nos pon- tos de intersecção ha linhas que o germen do carbúnculo não transpõe. O bacillo pyocyanieo desenvolve-se em crescente e dá um cheiro especial, que tem a singularidade de impedir o desenvolvimento do microbio do carbúnculo, quando am- bas as culturas são collocadas uma ao lado da outra, em uma eamara húmida. Bactérias Photogenias Ao terminar este capitulo parece-me de utilidade di- zer algumas palavras, a titulo de informações complemen- tares, sobre a propriedade que têm certos microbios de luzir na obscuridade. Encontra-se a phosphorescencia em varias especies mi- crobianas. Foi Pfluger quem notou primeiramente (1875) que os clarões emittidos pela carne do baealháo fresco (Macé) eram devidos ao desenvolvimento de um certo germen, e que este micro-organismo dava origem á phos- phoreseencia que tão frequentemente nota-se no mar do Norte. Em 1878 essa espeeie recebeo de Cobn o nome de Micrococcus Phosphoreus, germen que também tem sido en- contrado no salmão e em outros peixes. Algumas dessas curiosas especies desenvolvem-se na carne. Nuesk refere que em poucas horas toda a carne de um mesmo açougue ficou contaminada; entretanto não é só na carne, ou no peixe, que estes micro-organismos de- senvolvem-se : a gelatina é para elles um bom meio de cul- tura (*) e na agua salgada elles vivem durante muito tempo. (1) Uma tarde domez de Dezembro de 1895, quando trabalhava- mos no laboratorio do professor Ronx. em companhia de outros colle- 138 O ar é necessário â produeção da pliosphoreseencia ; na auzencia do oxygenio ella não se faz. As culturas feitas na obscuridade, ou em plena luz, são igual mente phos- phorescentcs : isto significa que o facto de ter sido cultiva- do em presença, da luz não influe para que o mierobio perca a propriedade de luzir no escuro. As chronicas medicas da antiguidade referem o phe- noineno observado em certos indivíduos, cujo suor luzia na obscuridade ; o plienomeno era sem duvida nenhuma devido a alguma bactéria luminosi contida no suor, ou idelle de- positada pelo contacto com as roupas contaminadas por qualquer maneira. gas, já sendo muito escuro e não estando ainda accêsos os bicos de gaz entrou o professor Chantemesse com um vaso de cultura do «anicrobio phosphoreseenteS> envolvido em um jornal e desembrulhou-o em nossa presença, causando surpresa a todos o clarão que partio do vaso de cul- tura. A intensidade era tal que cada um de nós pôde ler um trecho do jornal, á luz d aquella curiosa lampada. CARBÚNCULO BACTERIDIA NO SUMMARIO—Moléstias carbunculosas dos ani- maes.— Pustnla maligna do homem.— O carbúnculo é inocuIaVel.— Commissão do Eure e Loire.— Experiências no coelho, no cobayo e no rato.—Autopsia de um animal carbunculoso. — Bacteridia carbnnculosa . sua descoberta.—Culturas sobre os diversos meios.—Esporos : condições para a sua for- mação.— Propriedades dos esporos.—Bac- téria asporogenia Reeeptividade dos di- versos anitnaes para o germen. Sob o nome generico fie carbúnculo confundiram-se outr’ora varias affecções, taes como a septicemia, as gan- grenas, as infecções pútridas e outras.—Ohabert, professor da Escola Veterinária de Alfort, foi o primeiro que procu- rou metter um pouco de ordem rdesse chãos, distinguindo tres formas de carbúnculo, o quejá não era pouco. J\Ta realidade ha duas moléstias distinetas. Por ora vamos nos occupar com o carbúnculo baderidiano, aquelle que ataca com frequência o boi, o carneiro e o ca vai lo. — Vo boi a moléstia manifesta se com grande intensi- dade e rapidez : o animal fica triste, cessa de comer, inclm-se- 140 lhe o ventre e dentro de pouco tempo morre quasique fu 1 - minado. O cavallo apresenta os mesmossymptomasprodro- mieos, tem cólicas, os seus pellos cahein á menor tracção e o animal morre também em breve espaço de tempo. No carneiro a moléstia caminha ainda com maior rapidez ; e, sem que ninguém suspeite a existência da menor indisposi- ção, no dia seguinte são encontrados mortos nos curraes ou nos estábulos, 10, 20, 30 animaes! Os pastores sabiam que o mal era contagioso e que os indivíduos que manipulavam as carnes de um animal ear- bunculoso, tendo qualquer arranhadura ou escoriação nas mãos, viam desenvolver-se nos pontos escoriados um edema particular com uma insignificante vesícula, que eia seguida de uma infecção geral, traduzindo-se por pheno- meuos graves, que terminavam ordinariamente pela morte em 36 ou 48 horas;—era a pustula maligna, moléstia temí- vel e que é muito commum em toda a parte onde existe o carbúnculo. A autopsia de um animal carbuneuloso offerece ás vis- tas do operador um phenomeno que prende logo a attenção : —vem a ser o grande desenvolvimento do ventre (estomago e intestinos) que transudam uma espuma sanguinolenta. O baço attinge proporções enormes, chegando a adquirir quatro ou cinco vezes o seu volume normal e torna-se tão molle que tem antes o aspecto e a consistência de uma polpa. Esta lesão é caracteristica e deu logar a que o carbúnculo fosse chamado também sangue de baço, denominação pela qual é conhecida a moléstia entre os criadores, em França. O sangue apresenta alterações especiaes : coagula-se mal, é negro, viscoso e adhere aos dedos. Na base do co- ração encontram-se pequenos fócos hemorrhagicos, e nos rins grande congestão ; de sorte que as urinas mostram se sanguinolentas, sobretudo nos carneiros, que apresentam o pissement de sang, como chamam os pastores francezes a este signal, qjpe lhes serve para diagnosticar com ante- 141 cedencia a moléstia em animaes que ainda não têm os ou- tros symptomas caracteristicos. Na França era o carbúnculo muito vulgar, especial- mente em Eeauce, onde fazia cada anno grandes estragos; só ahi calculava-se em seis milhões de francos o prejuizo annual dos criadores. Estes, alarmados com aquellas per- das tão consideráveis, nomearão uma commissão de pessoas julgadas competentes para estudar o mal ; foi essa commis- são conhecida na historia do carbúnculo por Commissão do Eure e Loire, que em 1852 transportou-se a Pariz afim de ouvir o parecer de Rayer e Davaine. Fizeram experiencias para saber se o carbúnculo era uma moléstia, isto é : uma entidade mórbida especifica, ou se derivava de causas múltiplas e diversas ; e com este intuito elles inocularam bois e fizeram passagens dos bois para os carneiros e d’estes para o cavai lo. Inocularam ainda coelhos, eobayos e ratos com productos pathogenicos ex' trahidos da pustula maligna do homem, moléstia ifiesse tempo muito eomrnum n’aquelles logares. A commissão tendo sempre encontrado o carbúnculo após aquellas inoculações concluio que tratava-se de uma moléstia uuica. Já era um progresso no estudo da questão. Em que condições fazia-se a contaminação!—A com missão fez cohabitar carneiros sãos com os doentes ou com cadaveres carbunculosos : a transmissão não se dava; logo o virus não era volátil, segundo a expresssão d’aquella epoca. As inoculações eram feitas com sangue, polpa das orgãos, serosidade, etc e reproduziam sempre o carbúnculo. Logo depois das inoculações ou mesmo algumas horas mais tarde nada apresentavam os animaes de anormal, até que apparecia um edema circulando o ponto inoculado. A partir d’esse momento osganglios intumesciam eficavam dolorosos, sobrevinha em seguida a febre e terminava tudo com a morte, que não tardava. A autopsia revelava o edema especial que circundava 142 o ponto inoculado, de cujos tecidos saliia um liquido claro com estrias sanguinolentas e de consistência gelatinosa. Os ganglios eram tumefactos ;os intestinos congestionados ; o baço enorme e o figado negro. Entretanto no carneiro o edema peripherico falta muitas vezes; no homem, porém, nunca deixa de appare- cer. Nhiquelles aniniaes a bexiga contem urina sanguino- lenta, mas os pulmões nada apresentam de anormal. O exame microscopico do sangue, feito com um aug- mento de 300 a 400 diâmetros, deixa ver os globulos ver- melhos amontoados em tu lhas irregulares e não reunidos em pilhas, como no estado normal. Nos espaços livres no- pun-se pequenos bastões (bastonetes) transparentes, duas ou trez vezes ruais longos do que o diâmetro dos globulos, não raras vezes reunidos dous a dons, pelas extremidades. Davaine e Eayer viram estes bastonetes em 1850, e deram-lhes a denominação de bacteridia do carbúnculo, chamando a attenção ao mesmo tempo para a sua immobili- dade e transparência. Pollender estudando o sangue de uma vacca carbun- culosa no correr do anuo de 1855, encontra os mesmos bastonetes, comportando-se como formas vegetaes e dando as mesmas reacções histo-chimicas ; mas elle nenhuma con- clusão soube tirar d7esta sua observação. Dous annos mais tarde (1857) Brauell verifica a pre- sença dos bastonetes no sangue de animaes carbunculosos, muito tempo antes da morte dos mesmos animaes; sendo certo que os bastonetes augmentavam na razão directa da intensidade da moléstia e ainda depois da morte. N’esse momento aquelle observador assignala-oscomo tendo adqui- rido movimentos, quando na verdade elle os confundia com o vibrião séptico, passado do intestino para o sangue. Este facto observa se sempre que um experimentador pouco attento procura inocular o carbúnculo servindo se do sau- 143 gue do um animal em putrefacção : elle consegue apenas inocular o microbio da septicemia. Em 1863 Davaiue lê perante a Academia de Sciencias, de Paria a celebre memória em que elle declara que o «car- búnculo é uma moléstia especifica, causada pelo desen- volvimento de um organismo particular no corpo da viotima.» E como prova, elle aecrescenta que o carbúnculo não podendo passar á placenta, .o feto conserva-se indemne (piando a mãi é atacada do mal ; e ruais: que o sangue d’esta inoculado, reproduz sempre o carlmnculo ; ao passo que nenhum resultado se consegue com o sangue do feto. Esta allegação de Davaiue não érigorosamente exacta : estudos mais aprofundados fizeram ver posteriormente que algumas vezes (bem raras, é verdade) encontra-se o bacillo no sangue do feto. Jaillard e Leplat combateram as doutrinas de Davaiue argumentando com uma serie de experiencias por elles feitas, em que commetteram evidentemente o erro de inocu- lar a septicemia porjpassagens successivas.deuns para outros animaes, os quaes morriam todos. Elles não encontravam os hnslonetes, mas também não se preoccupavam com os víbriões. Era debalde que Davaiue mostrava aos seus contradictores os seus erros, fazendo-llies ver pelo exame cadavérico dos animaes por elles inoculados, que as lesões encontradas não eram de modo algum as do carbúnculo. Vieram novas objecções, affirmando os antagonistas de Davaiue que a causa do carbúnculo não era os basto - netes e sim os princípios alterados do sangue, as matérias albuminoides, etc. Estava a questão n’e«te pé quando Koch conseguio fa/pr culturas suecessivas no humor aquoso do olho, repro- duzindo o carbúnculo na 4 a ou na 5a cultura fóra do sangue. Afinal, em 1877, veio Pasteur e resolveu definitiva, mente o problema, matando a questão. Elle estudou pro- fundamente o assumpto e como chimico fez culturas suc- 144 cessivas muito puras, em urina esterilisada, em caldo eem agua de levêdo ; apresentou finalmente um microbio aero- bio podendo-se cultivar fóra do organismo e tendo um aspecto différente do germen encontrado no corpo dos animaes. Pasteur demonstrou que quando cultivado ao ar o mi- crobio do carbúnculo dá endosporo; que o mesmo germen póde viver em uma temperatura de IS a 40 gráos; mas que a temperatura que mais llie convém está comprehen. dida entre 33 e 38 gráos ; que se a temperatura desce a 14° a esporulação não se faz mais e as formas vegetativas tor- nam-se monstruosas ; que finalmente a 42° elle ainda vive, sem dar, porém, esporos. No corpo dos animaes os endos- poros não se formam á falta de ar. A bacteridia filamentosa morre entre 55 e 57°, ao passo que os esporos resistem até 88°, sendo necessário para ma- tai-os, que elles fiquem sob a acção d’aquella temperatura durante 15 minutos. A7 temperatura de 98° a morte so- brevém rapidamente. No vacuo, immergidos no álcool ou nas soluções an- tiseptieas, os esporos ainda resistem. Continuando suas experiencias, Pasteur cultivou-os em meios variados e mos- trou que no sangue oxygenado os baeillos dão esporos e que o oxygenio sob pressão, que mata as formas vegetativas, deixa os esporos intactos. Phle ainda demonstrou que os germens mais bellos são os que se obtêm em culturas feitas no humor aquoso ; sendo certo que o bacillo prolifera igual mente bem nos outros meios solidos ou liquidos. Em tubos de gelatina, semeado por picadas elle dá filamentos, que, partindo perpendicularmente do eixo da picada para a peripheria do vaso, tomam o aspecto de uma escova de limpar os tubos dos cachimbos, liquefazendo ao mesmo tempo a gelatina. A gelose preparada com caldo de carne sem peptona é 145 um bom meio de cultura para o bacillo. Sobre batatas as culturas são espessas, a leguminosa ennegrece e a bactéria vive á custa do amidon, que ella transforma em assucar e depois em ácidos, os quaes por sua vez devem ser neu- tralisados com o carbonato de cal. Algumas vezes suceede que em certos meios a cultura filamentosa não dá esporos, sem que se saiba a razão d?isso. Pastenr notou que em culturas velhas sobre gelatina a bacteridia perde a propriedade de formar esporos. Se- meando-se caldo com um pouco de sangue carbunculoso e expondo-o a uma temperatura de 42°,5 a bactéria desen- volve-se, mas não dá esporos ; apenas nota-se no interior do bacillo uns pontos brilhantes, chamados microspóros, ou Jni- no* esporos de Chauveau, que nada têm de commum com os verdadeiros esporos. Semeados de novo esses filamentos em um meio aquecido a 33", que é a temperatura óptima da bacteridia, obtêm-se novos esporos ; mas para obter-se de- finitivamente a bacteridia asporogenia, isto é: privada da propriedade de esporular, deve-se lançar mão do processo moderno do Dr. Roux, que recommendamos de preferencia a outro qualquer. Consiste o processo no seguinte : divide-se por um grande numero de tubos de ensaio (de 3(5 a 50) caldo de vitello peptonisado e ligeiramente alcalinisado, á razão de 10 centimetros cúbicos por tubo. Os tubos são divididos em varias series de 10 tubos cada uma, levando a numera- ção 1, 2, 3, 4...10. Faz-se uma solução de acido phenico a 1 cj0 (sem álcool) e deita-se em cada tubo uma certa quanti- dade desta solução phenicada, em progressão ascendente, a começar do primeiro tubo, de modo que o contendo de cada um corresponda á seguinte tabella : N" 1 0,c_^20 N” 2 0,c‘c’40 ísT" 3 0,cc,60 K° 10 2,tí'c'00 146 Isto quer dizer que cada tubo conterá respectivamente 2, 4, 6,....20/10,000 de acido plienico. Os tubos são arro- lhados com algodão, sendo ainda fechada á lampada a ex- tremidade que fica acima da bucha de algodão, para evitar-se a evaporação do acido plienico durante a esterilisação no autoelave. Terminada esta e depois de resfriados os tubos, cada um delles é aberto e semeado com uma gotta de san- gue earbunculoso e collocado na estufa, á uma temperatura de 33° a 37°, havendo antes a cautela de cobrir os tubos com um barette de borracha. Tempos depois, 10 diasmais tarde, examina-se a cultura e ver-se-á então que alguns tubos não apresentam nenhuma pullulação: são justamente os de numero 7 a 10, onde émais forte a proporção de acido plienico ; os de numero 1 a 3, contêm bactérias e esporos; e os intermediários : 3, 4, 5, 0, podem apresentar bacteridias, mas nunca esporos. Entretanto é preciso operar sobre um grande numero de series, porque nem sempre as cousas passam-se assim ; os processos de preparação da bacteridia asporogenia são todos muito falliveis, sendo entretanto este que descreve- mos, o melhor e o que tem dado resultados mais seguros. Além disso a propriedade de tornar-se asporogenia varia um pouco, como demonstraram Arnonld e Surmont, com a procedência da bactéria. Elles conseguiram facilmente tornar asporogenia uma bacteridia proveniente do Instituto Pasteur ; ao passo que nada conseguiram com uma outra por elles colhida,de um caso de carbúnculo humano. Para verificar-se a existência dos esporos obtidos nas condições acima expostas não basta o mieroscopio :é neces- sário aquecer-se uma parte da cultura a 65°, de maneira a matar as formas vegetativas. Inocula-se depois o li- quido ; si o carbúnculo reproduzir-se é que ahi ha esporos. O bacillus anthracis póde ser dado esperi mental mente, pela via hypodermica ou mesmo pela via gastrica. Os di- 147 versos animaes têm receptividade variavel para ogermen : o carneiro é de todos o mais reeeptivel ; em seguida vêm o boi e o cavallo, sendo este o mais resistente dos trez. O camundongo (souris), o eabayo e o coelho contrahem facil- mente o mal. O rato propriamente dito, o cão adulto, es- pecialmente os cães de pello branco (porque?) resistem muito mais ás inoculações do carbúnculo. As aves, com especialidade os pombos e as gallinhas, offerecem uma extraordinária resistência. Entretanto essa resistência póde ser vencida por certos artifícios:—fa- zendo-se, por exemplo, a ablação do baço de um cão o ani- mal adquirirá facilmente o carbuuculo ; injectando-se pó impalpável de carvão no sangue de um animal refraetario este contrahirá a moléstia, se lh’a inocularem ; parece que os leucocytos abarrotando-se de carvão ficam sem acção para defender a economia. Fazendo-se baixar a temperatura das gallinhas, que sabe-se ser de 43°, mergulhando-se-lhes as palas em agua muito fria, durante algum tempo, como fez Pasteur tantas vezes em suas conhecidas experiencias, aquellas aves adqui- rem o mal. O mesmo resultado elle conseguia administrando chloral ou morphina aos gallinaceos. As rãs, que são re- fractarias, deixam pelo contrario de o ser quando se eleva artificialmente a sua temperatura. Emfim, convém ainda notar que a idade e o estado de saúde de um individuo póde fazer variar os effeitos da in- fecção, e que tal dóse de virus, inoffensiva para um animal de bôa saúde, matará seguramente o mesmo animal en- fraquecido. A quantidade e a idade da cultura injeetada têm igualmente uma grande importância para o exito das experiencias. ETIOLOGIA DO CARBUUCULO SUMMAitIO— Frequência do carbúnculo —Inquérito de Delafond em França. Theoria da plethora.—Campos malditos.— Experiências de Davaine : papel dos inse- ctos ; a moléstia no inverno.—Etiologia do carbúnculo ; os esporos.—Experiências de Pasteur. — Perigos do enterramento dos cadaveres carbunculosos. — Os vermes.— Propkvlaxia do carbúnculo : a moléstia só dá uma vez. Ja sabemos que o carbúnculo é uma moléstia epide- mica, inoculavel e causada por um micro-organismo — o bacillus anthracis. A sua etiologia deduz-se das proprieda- des dbiquelle germen, propriedades que já deixamos estu- dadas no capitulo precedente. E’ o carbúnculo uma moléstia muito espalhada na Europa e conhecida em quasi todos os pontos do globo : epidemias do mal têm sido notadas com frequência na França, Italia, Hespanha, Allemanha, Sibéria, Argentina, Brazil, etc. ; a moléstia é tão frequente na zona intertropi- cal, como nos paizes frios. O paiz de Beauce é na França a terra classica do car- búnculo ; é justamente lâ que também a zoopathiatem sido mais estudada, graças á iniciativa dos criadores e talvez mesmo por causa da proximidade de Pariz. Era no verão que a moléstia fazia maiores estragos; todos os annos rfaquella epoca desenvolvia-se terrível epi- demia, que matava milhares e milhares de carneiros e tam- bém auimaes de outras especies, não deixando de atacar os grandes ruminantes. Os pastores acreditavam que a moléstia era devida a um excesso de sangue na economia, não só porque os ani- maes urinavam sangue, como também pelo enorme volume (pie o baço adquiria, devido á congestão intensa de que era séde aquella viscera. Esta ideia errónea dos pastores foi, sem mais exame, aceeita por Delafond, que defendeu-a sob o nome de theoria da plethora, a qual foi geral mente óombatida, e com vantagem, por quantos estudaram o as- sumpto racional mente e baseados em elementos scientiíicos. Logares havia em que a mortalidade eia verdadeira- mente espantosa ; em outros a moléstia tornou-se perma- nente, aponto de serem as herdades ífelles situadas, aban- donadas pelos proprietários, que nenhum resultado tiravam mais da criação de carneiros n’aquellas pastagens, designa- das por campos malditos, pela gente do logar. Entretanto bastava remover os rebanhos para um ponto contiguo e apenas separado dos campos malditos por uma sim- ples cerca, para que a epizootia cessasse. A observação d’este facto e o conhecimento dos casos de contagio por inoculação no correr das experiencias anteriormente feitas, fizeram com que ninguém désse o menor valor á theoria dos pastores, defendida ingenuamente por Delafond. Davaine teve a ideia de explicar o contagio pelas pi- cadas dos insectos : elle apanhava algumas moscas e collo- cava-as sob uma campanula de vidro juntamente com um pouco de sangue carbunculoso ; depois cortava a tromba e as patas d’esses insectos e inoculava-as em auimaes, que muitas vezes adquiriam assim o carbúnculo. Ha ir essas experiencias um facto digno de nota: é 150 151 que no contagio natural do carbúnculo baeteridiano, quasi nunca se encontra edema no corpo dos animaes; em quanto que estas picadas apresentavam constantemente um edema bem desenvolvido. Davaine explicava o facto allegando que as moscas quando estavam armadas de seus esporões picavam mais profundamente, penetrando sob o derma; era mestas condições que apparecia o tumor edematoso, que, pelo contrario, não se desenvolvia, quando as moscas estavam (lesarmadas. Querendo saber si o virns carbunculoso resistia ou vivia muito tempo, elle fez experiencias n’esse sentido e chegou á conclusão de que no sangue putrefacto os ger- mens morriam ; ao passo que seccando-se immediatamente o sangue retirado de um animal, a bactéria conservava a sua vitalidade e reproduzia a moléstia, uma vez inoculada. IVestes factos tirou Davaine as seguintes illações para a sustentação do sen modo de ver sobre a transmissão do mal pelas moscas : dizia elle que as moscas pousando nas peças de carne, nas pelles espichadas, no sangue emfim, este adheria ás patas do inseeto, onde seccava rapidamente. O inseeto conservava a semente ea transmittia aos animaes, picando-os ou simplesmente pousando sobre qualquer es- coriação, que por ventura o animal tivesse em sua pelle. Não ha difficuldade em acceitar-se esta explicação que é muito natural; e nem Davaine, com justiça, póde ser ac; cusado de erro de experimentação ; sómente ignorava-se, ao tempo em que elle fez seus estudos, a ex i ste n c i a d os esporos, que só muito depois foram descobertos; assim como elle desconhecia o facto, hoje corrente, de que si as formas vege- tativas do germen pódem viver oito ou dez semanas sobre o sangue secco, ellas perdem todavia a virulência depois d’esse periodo de tempo. Só os esporos vão muito além ; graças a elles o carbúnculo perpetuava-se ívaqucllas regiões, con- taminando os rebanhos, com ou sem a intervenção das moscas, isto não vem ao caso. Objectou-se-lhe a pouca frequência do carbúnculo no 152 inverno. Davaine replicou lógica e triumphalmente que 11’aquella estação as moscas eram raríssimas, ou não existiam de todo, visto o frio matal-as ; o que na verdade é um facto tora de contestação. Perguntou-se-lhe ainda porque em certas montanhas do Auvergue os carneiros contrairiam a moléstia, ao passo que em outras montanhas muito visinhas das primeiras os re- banhos conservavam-se indemnes? —Era porque as moscas, uma vez adstrictas a um certo rebanho, acompanhavam-ido para toda parte sem deixal-o rnais.—Argumento um tanto fraco, mas ainda acceitavel. Mostrou-se-lhe o facto de dons rebanhos separados apenas por uma barreira de arame farpado : um conta- minado de carbúnculo, e o outro inteiramente livre da mo- léstia. Davaine, que achou sempre explicações verosimi- lhantes, d’esta vez vio-se embaraçado para sustentara sua opinião de que as moscas representavam um papel de- cisivo na transmissão do carbúnculo ; opinião que foi aliás partilhada por muitos médicos d’aquella época, sem outro exame que não a palavra, uns dos outros, que receberam a ideia de Davaine. Abriu-se então um inquérito scientiíico, nomeando-se para isso uma com missão, cujos membros tinham infeliz- mente opiniões preconcebidas sobre a questão e|confundiain carbúnculo bacterídiano com carbúnculo symptomatico : o resultado foi nunca se entenderem e portanto nada poderam concluir. Foi a Pasteur que coube a honra de demonstrar em 1876 á evidencia o papel do esporo, que Davaine não chegou a conhecer para tudo explicar ; elle que foi o único até então a fazer estudos conscienciosos e a tirar conclusões racionaes de suas observações e experieneias, adiantando sem duvida, alguma cousa de scientiíico no estudo do carbúnculo, no tempo em que o assumpto andava tão embrulhado e a bac- teriologia não tinha adquirido ainda o direito de cidade. Pasteur projectou uma luz intensa sobre o debate : elle 153 transportou-se ao paiz de Beauce e começou os seus estudos no proprio centro onde se elaboravam as epidemias celebres e mortíferas de carbúnculo. Alli fez elle com que os car- neiros comessem esporos e conseguiu ver o carbúnculo des- envolver-se nbiquelles animaes, em cujos excrementos eram encontrados também os esporos. Acompanhando a moléstia, elle notou que a temperatura subia logo depois da ingestão eque a morte vinha logo pôr termo aos soífri mentos do animal, cuja autopsia revelava todos os signaes do car- búnculo adquirido por contagio natural. Se os esporos eram administrados aos carneiros junta- mente com corpos duros, cheios de arestas e capazes de comprometter a integridade da mucosa gastro-intestinal, o numero de animaes contagiados augmentava. Facílima a explicação do phenomeno : as escoriações feitas pelos corpos duros ao longo do tubo intestinal eram outras tantas portas de entrada abertas ao microbio, que sem isso passava muitas vezes intacto sob a forma de es- poro e era rejeitado com os excrementos, ou era atacado em sua forma vegetativa pelo sueco gástrico. Pasteur reconheceu ainda que nem todas as espeeies ani- maes adquiriam o mal pela via gastrica : assim succede com o coelho e o cobayo que não são contaminados por aquelle meio ; emquanto que o boi, o carneiro, o cavalloe o camun- dongo (souris) contrahem a moléstia ingerindo o germen. Partindo do conhecimento d’este facto o experimentador genial pensou, e com razão, que si os animaes adquiriam a moléstia pela via gastrica era porque o carbúnculo devia existir sob a fôrma de esporos na superfície do solo, onde aquelles animaes pastavam. Convencido de que o facto era verdadeiro, Pasteur dirigio-se a alguns dos famosos campos malditos, tão com- inuns no paiz de Beauce, e reeolheo um pouco de terra, que diluio em agua commum, deixando por fim a mistura re- pousar durante algum tempo. Depois aqueceo a terra até 154 unia temperatura que mata a maior parte dos mierobios, mas é sem acção sobre os esporos do carbúnculo. Aquella terra inoculada em alguns animaes deu-lhes a moléstia, da qual morreram quasi todos ; difficilmente, porem, o experimentador conseguio culturas puras d’esses germens. Entretanto ficara estabelecido e fora de contes- tação «que o germen do carbúnculo existia na terra, e que era pastando n’aquellos logares, que os carneiros recebiam o contagio.» Como explicar-se a existência de tão grande quanti- dade de esporos carbuuculosos em certos e determinados campos?—Os animaes mortos da moléstia eram esfolados e divididos sobre aquelle sólo, onde cabiam também o san- gue e as urinas sanguinolentas, verdadeiros meios de cul- tura, proprios para a proliferação de germens. Sob a in- fluencia do ar formavam-se os esporos, cuja grande resis- tência é bem conhecida hoje : e assim perpetuava-se a mo- léstia n’aquellas pastagens. Ainda mais : os pastores alimentavam os cães, que cos- tumam acompanhar os rebanhos, com a carne carbunculosa ; muitas vezes aquelles animaes, ainda com a boca ensan- guentada, mordiam as ovelhas ;—nova origem da moléstia, que d’esta vez tinha sido verdadeiramente inoculada. E por fim eram os restos dos animaes superficialmente enterrados alli mesmo no campo ; durante a noute certos animaes carniceiros vinham revolver as covas ;—outra fonte de contagio. As bacteridias assim espalhadas e em contacto com o ar davam esporos, de sorte que no fim de algum tempo certas pastagens apresentavam uma quanti- dade assombrosa de germens carbunculosos; e estavam assim constituídos os taes campos malditos, onde nenhum rebanho era poupado. Entretanto si os esporos ficassem sempre na superfície do solo expostos á influencia da luz e do ar, no fim de algum tempo elles seriam infallivelmente destruídos ; assim porem não succedia porque todos osannosas terras eram revolvi- das e os germens passavam para as camadas inferiores, onde ficavam ao abrigo dos elementos destruidores. Si a terra continuava secca nada de anormal observava-se; logo, porem, que clmvia não tardavam a apparecer as epidemias. Pasteur explicava assim ophenomeno :—Os vermes do solo (minhocas) procurando seus alimentos, introduziam nos intestinos aquella terra contaminada ; mais tarde, re- montando á superfície do solo esses mesmos vermes deixa- vam ahi, com os seus escrementos, os esporos que tinham trazido das camadas inferiores. Koch combateo esta ex- plicação, mas Pasteur replicou-lhe por uma serie de novas e rigorosas experieucias, que deixaram o facto bem esta- belecido. Das pesquizas de Pasteur e dos factos por ellas revela- dos, deduzia-se facilmente a prophylaxia: —era preciso não enterrar mais os cadavercs de animaes carbunculosos, que entrando em putrefacção forneciam o oxygenio e o calor necessários á formação dos esporos. Com este intuito crearam-se cemitérios especiaes, cer- cados de muros, para o enterramento tios corpos contami- nados ; mais tarde, ainda fez-se cousa melhor :—passou-se a dissolver os eadaveres dos carneiros em acido sulfurico, que é baratissimo em França ; essa dissolução era reunida depois aos phosphatos, constituindo então um excellente adubo, isento de esporos e muito procurado pela lavoura. O homem era muitas vezes contaminado directamente, adquirindo com frequência a pustula maligna, cuja gravi- dade é de todos conhecida. Entretanto não é esta a unica forma humana do carbúnculo ; é assim que os operários que manipulam a lã nos centros manufactureiros, ou em outra qualquer circuinstancia, como emBradford, na Ingla- terra (woolsorter's disease) e em Vienna os trapeiros, são muitas vezes contaminados pelas vias respiratórias (car- búnculo pulmonar') apresentando uma pneumonia especial, com edema do mediastino, em geral difficil de diagnos- ticar-se, a não ser p o st mortem. O carbúnculo pode ainda, 156 se bem que mais raramente, penetrar no organismo hu- mano pelas vias digestivas, trazendo grande prostação, febre e mais signaes caracteristieos da moléstia, inclusive bactérias no sangue. Hoje a pustula maligna quasi que desappareceo com- pletamente da França, com especialidade de Pariz, em cujos hospitaes notavam-se outFora numerosos casos sa- bidos da classe dos magarefes e talliadores dos açougues. As precauções tomadas explicam o facto da raridade hoje observada. O carbúnculo só dá uma vez; este facto ja era co- nhecido no começo dos estudos, porque notou-se que os raros animaes que escapavam á moléstia eontrahida natu- ralmente, inoculados mais tarde, nunca tiveram o carbún- culo. VACCINAÇÃO CONTRA 0 CARBÚNCULO SUMMARIO — O esporo conserva a virulência da bacteridia que o gerou. — Resistência dos esporos aos diversos agentes. — Atte- nuação da bacteridia. — Escalas de viru- lência.— Yaccina: sua escolha e conser- vação. — Acção dos antisepticos sobre as culturas. — Aquecimento do sangue.— Ex- periências.— Yolta á primitiva virulência ; exaltação d’esta por meio de passagens suc- cessivas. — Toxina elaborada pelo bacillas anthracis.—Vaccinação pela toxina.—Pro- priedade do serum dos animaes immunisa- dos contra o carbúnculo. — Modo de vac- cinar. Adquirido o facto de que um primeiro ataque da mo- léstia conferia a immunidade, Pasteur procurou em seu laboratorio descobrir um vinis attenuado que produzisse uma moléstia ligeira, capaz entretanto de preservar os animaes do carbúnculo, do mesmo modo que na especie humana a vaccina confere a immunidade contra a variola. Logo em começo elle conseguio attenuar a bactéria; mas o esporo que é a forma de resistência do microbio, continuava a ter a mesma virulência, e Pasteur demonstrou que este esporo conserva também a mesma virulência da 158 bactéria que o gerou. Então elle procurou modificar as formas vegetativas do germeu : a 14 gráos obtinha-se uma forma hypertrophiada, monstruosa, que não dá esporos ; acima de 41 gráos appáreciam filamentos abundantes, porém nada de esporos. A’ temperatura de 42 gráos e meio appareciam os falsos esporos de Chauveau, que nada têm de comnium com os verdadeiros: são, como já vimos no capitulo precedente, uns pontos brilhantes que observa-se no interior dos bastonetes, quando desenvolvidos em uma cultura de caldo alcalinisado, feita em um balão (porque em tubos a evaporação é rapida e não permitte aquelle re- sultado), a semente sendo proveniente do sangue fresco de um animal carbunculoso. Não se podia levar além 42,°5 a aquecimento da cultura, porque a 44° já o desenvolvi- mento do germen era quasi nullo, e a 45" parava definiti- vamente. A bacteridia crescia leutamente sob a forma de fila- mentos curvos espalhados pelo liquido, de onde desappare- ciam os flocos caracteristicos das culturas ordinárias. Todos os factos observados n’aquellas experiencias de Pas- teur são rigorosamente exactos e têm sido posteriormente verificados por todos os bacteriologistas. Um carneiro inoculado n’aquellas condições morria no fim de tres dias. A mesma cultura um pouco mais velha actuava mais vagarosamente, podendo até poupar o animai si a deixavam ficar ainda mais velha. Uma cultura de 10 ou 12 dias, inoculada em um carneiro, communica-lhe a mo- léstia sob uma fôrma benigna, que não o matará. Levan- do-se mais longe a expcriencia clmga-se a não matar mais nem o coêlho, o cobayo ou o camundongo, que são na ordem em que estão indicados os mais sensiveis ao carbúnculo, d’entre os pequenos animaes usados nos laboratorios. Nem sempre, porém, as] cousas passam se com esta nitidez : todas as cellulas do liquido não têm a mesma actividade na mesma occasião e no mesmo individuo, por 159 motivos que são —-Os grandes animaes resistem.—Líquidos de cultura pri- vados de mierobios,-—Serum dos animaes vaccinados. O cholera das gallinhas é lima moléstia que ataca a maior parte das aves domest icas, e muito especial mente as gallinhas. Um dos principaes symptomas da moléstia éa diarrhéa ; d?ahi veio-lhe a denominação de cholera, pela si- milhança que apresenta a moléstia com o cholera aziatico. O cholera das gallinhas reina às vezes esporadicamente; mas de ordinário é uma doença epidemica, que faz grandes estragos rios gallinheiros e é dotada de grande poder de ex- pansão. A sua intensidade é tal que em um gallinheiro de 3,000 cabeças, no fim de quatro dias, chegou-se a observar uma mortalidade de noventa porcento! Depois de uma irra- diação brusca, a moléstia segue ordinariamente a marcha clironica. 168 Sabia-se que o mal era contagioso e que era reprodu- zido por inoculação. Em 1800 Delafond fez diversas ino- culações com o sangue e couseguio reproduzir a moléstia com todos os caracteres que ella apresenta quando adqui- rida natnralinente : « o cholera das gallinhas» é por con- seguinte uma moléstia microbiana, inoculavel, contagiosa e epidemica. Clinieamente ella affecta varias formas. Na forma ful- minante o animal isola-se, deixa pender as azas, agacha- se, a plumagem arripia-se, a cristã toma a eôr violacea e no fim de algumas horas a ave cessa de viver. Na forma ordinaria a gallinha fica triste, deixa de comer, ás vezes bebe, mas encolhe-se, tem os olhos fecha, dos e fica somnolenta a maior parte do tempo. Sobre vem logo uma diarrhéa aquosa abundante, de aspecto espumoso, às vezes com traços sanguinolentos: a morte dá-se no fim de 3<> a 48 horas. A forma ehronica succede quasi sempre a um ataque agudo de que a ave parece curada e traduz-se por uma especie de caehexia que mata entre 8 e 10 dias. A autopsia revela o seguinte : do bico escorre uma es- puma sanguinolenta ; o anus é saliente ; a pelle é coberta de ecchymoses ; os vasos abdominaes estão replectos de um sangue negro e formam arborisações. O baço é normal, mas os intestinos são congestionados ; o pericárdio contem um liquido amarello-citrino que coa- gula-se em contacto com o ar ; os pulmões apresentam-se hyperemiados e algumas vezes mesmo hepatisados. Todos os humores contêm microbios visíveis independente de qualquer coloração. Em 1880 Toussaint fez desses germens uma excellente descripção ; depois Pasteur descobrio o meio de atte- nnar a sua virulência. Foi no correr desses estudos que elle fez a maior parte de suas descobertas em microbia. O germen productor do cholera das gallinhas tem a forma ovoide e encontra-se de preferencia entre os globulos sanguíneos. Quando coloridos é nos dous polos que a 169 t inta é mais visivel. Nos casos em que a moléstia tem sido mais longa os microbios são mais alongados e tomam quasi a forma bacillar, conservando, porém, as extremidades ar- redondadas. Nas culturas o germen apresenta a mesma tendencia a alongar-se, á proporção que ellas envelhecem. O microbio não toma o gram, masacceita bem as côres da anilina. O seu methodo de eleição é, porém, o da tliio- nina phenicoda, cujo colorido accentua-se mais, conforme já vimos, para as extremidades do cocco-bacUlo, como já tem sido também denominado esse germen, por causa de sUa forma ovoide alongada. O microbio do cholera dasgallinhas cultiva-se em caldo ordinário. A principio o meio turva-se uniformemente sem apresentar caracteres particulares ; mais tarde, porém, os germens depositam-se no fundo do vaso deixando o li- quido perfeitamente limpido. Em gelose o microbio deixa um rastilho esbranquiçado ; mas desenvolve-se mal quando aquelle meioé puro. No serumsolidificado cultivam-se re- gularmente os germens que são aerobios, exigindo oxyge- nio livre e uma temperatura de 30 a 37 gráos. Conforme já vimos, inoculados elles reproduzem a mo- léstia, facto que também se dá quando são introduzidos pelas vias digestivas. Quando inoculados pela via subcutânea notarn-se lesões variadas no ponto de penetração: abcessos, escaras, etc., mas sem gravidade quando a moléstia evolue rapidamente: muito serias, pelo cont rario. (piando a moléstia marcha len- tamente. O microbio não dá esporos : elle conserva a forma vegetativa e por isso mesmo é muito sensivel aos agentes exteriores. O ealôr a 58° durante alguns minutos, os an tisepticos em geral e a deseccação matam aquelle germen ra- pidamente. Mas também collocado em boas condições, sua virulência não desapparece logo, como acontece com o carbúnculo. Fazendo-se uma primeira cultura do germen poder-se-á 170 ter todos os quatro ou oito dias umacultura-filhaque fixará a sua virulência, segundo a data em que tiver sido semeada. Esta attenuação é hereditária e pennitte praticar a vacci- nação nas mesmas condições que a do carbúnculo ; isto é : inoculando-se primeiramente um virns fraco, e outro mais forte, doze dias mais tarde. A virulência da segunda vaccina deve ser tal que mate cinco, .sobre dez gallinhas ainda não inoculadas anterior- mente. A segunda inoculação confere a immunidade contra a moléstia. Na pratica a inoculação faz-se na ponta da aza, por cansa da reacção local que se pode pro- duzir, tanto mais grave, quanto a moléstia geral fôr mais benigna. Quando um gallinlieiro é invadido pelo cholera é muito difficil desinfecta]-o. Os antisepticos são muitas vezes de um valor illusorio, porque os micróbios penetram no solo, onde conservam-se muito bem durante dous ou tresannos. Os passaros em geral morrem injeetados com uma dóse do virus que não mataria uma gallinha, ou mesmo um pombo. O coelho é animal muito sensível ao «cholera das gal- linhas» e adquire a moléstia por ingestão; é mesmo uma propriedade commum a todos os roedores a de contrahir aquella moléstia pela via digestiva. Esta cireumstancia foi aproveitada na pratica para a extincção de coelhos, que em certos paizes, como na Aus- trália, So reproduzem em numero tão considerável que constituem uma verdadeira praga muito prejudicial á lavoura. Então communicam-lhes o germen da moléstia, e em pouco tempo uma extensa epizootia desenvolve-se, alliviando os campos dos estragos d’aquelles roedores. Igual procedimento tem-se 11a Rússia com o .spermophilo, outro pequeno animal damninho que causa grande mal á lavoura dbiquelle vasto paiz. Ocobayo, porém, resiste fortemente ao bacillo : quando muito, consegue-se um pequeno abcesso no ponto inoculado, 171 em cnjo puz eneontra se o germen que vai infectar o solo, onde outros animaes podem contrahir a moléstia. Os grandes animaes são refractarios ao microbio do eliolera das gallinhas. O serum dos animaes hyper-vaecinados confere a im- munidade contra a moléstia. ROUGET E PNEUMO-ENTERITE SUMMARIO «Rouget» agudo e clironico : symptomas e lesões.—Gráo de lethalidade. — Bacillo do «rouget» no sangue e em ou- tros orgãos.—Methodos de coloração.—Cul- tura sobre os diversos meios.—Conservação dos microbios. — Animaes receptiveis. — Contagio.—Attenuação do bacillo.—Serum dos animaes immuuisados.—Septicemia dos ratos.—Similhança do bacillo d’esta moléstia com o do «rouget».—pneumo-enteeite dos porcos —«Hog-Cholera» e suas diversas denominações.— Distincção entre esta mo- léstia e o «rouget». — Cocco-bacillo da pneumo-enterite : seus caracteres.— Toxina do «hog-cliolera».—Propriedades do serum dos animaes immunisados. Em certas circumscripções da Bretanha reinava an- nualmente uma epizootia atacando os porcos. Os prejuí- zos provenientes d7essa moléstia attingiam á enorme cifra de quatrocentos milhões de francos em cada anuo ! Esta mo- léstia é o rouget, que apresenta ora a forma aguda, ora a clironica, havendo muitos casos em que o mal reveste a forma super-aguda. N’este ultimo caso o porco deixa de comer, tem calefrios e deita se na palha, procurando abrigar-se ; em seguida apparece a febre, a respiração tor- na-se offegante : apparecem manchas vermelhas ao redor das orelhas ou na face interna dos membros posteriores; mas nem sempre ha tempo para se manifestarem as man- chas ; o povo chama então sangue branco a essa forma da moléstia, que termina sempre pela morte. A forma aguda dura de dons a tres dias e manifesta-se com os mesmos symptomas já descriptos, porém menos ac- cusados. As manchas vermelhas apparecem em grande abundancia 5 em seguida vem uma diarrhéa que conduz muitas vezes á morte. A forma chroniea succede ordi- nariamente a um ataque agudo do mal : as manchas vão ficando mais desmaiadas e o animal emmagrece considera- velmente. E’ nesta forma que observam-se ás vezes lesões articulares, que levaram a pensar-se que o animal tinha a gôtta. Os porcos de menos de quatro mezessão raramente accommettidos do mal : nos outros mais idosos a moléstia é acompanhada de uma verdadeira endocardite. Pasteur e Thuillier estudaram o rouget no departa- mento de Yaucluse ; no correr das experiencias elles veri- ficaram que o sangue e a polpa dos orgãos trausmittiam a moléstia, e que esta ainda era mais contagiosa quando dada pelas vias digestivas, Estudando o sangue ao microscopio elles descobriram entre os globulos sanguíneos uns pequenos bacillos, não em grande numero ; estes germens tomam o grani, que é mesmo 0 seu methodo de eleição ; entretanto a tliionina é também própria para coloril-os. Em caldo peptonisado e alcalino o rouget cultiva-se fa- cilmente, mas a cultura é muito discreta: o liquido mos- tra-se apenas ligeiramente turvo e quando é agitado deixa perceber umas ondulações sedosas. Em gelatina o bacillo dá estrias excessivamente finas, com prolongamentos muito tenues, só mente visíveis á uma grande claridade, apresentando um aspecto similhanteao de pellos mergulhados no liquido. Em gelose e sobre ba- tatas as culturas são ainda menos visíveis. O microbio 175 vive indifferentemento no ar 011 fora d’elle, preferindo, porém, o estado aerobio. Não dá esporos e morre a 58° de temperatura, assim como em presença dos antisepticos, em diluições muito fracas. Inoculando-se a cultura em um porco, o animal não morre; entretanto a injecção intra venosa communica o mal sob uma forma mais grave, como dá-se com a in- gestão. A inoculação, porém, é fatal para outras especies : nos logares onde reina a moléstia observa-se a contaminação natural dos coelhos, dos ratos e dos pombos. Como já vimos, o microbio do rouget não da esporos ; se elle persiste nos chiqueiros é por um processo analogo ao do germen do cholera das gallinhas. Para conservarmos o germen do mal do porco é neces- sário fazei-o ao abrigo do ar, em ampollas de vidro, fecha- das á lampada. Sempre que se quizer utilisar o germen é preciso rejuvenescei-o por meio de uma cultura; n’estas condições elle readquire a mesma virulência que tem no sangue ; pelo que é preferivol conservar o sangue. Nos chiqueiros faz-se o contagio pela ingestão de ali- mentos contaminados pelas dejecções dos animaes doentes. E’ mais ou menos do mesmo modo que dá-se a contamina- ção nos mercados ou feiras de porcos. As epizootias do rouget podem tomar um gráo de lethalidade extraordiná- rio, como suecedeo em 1893 na Hungria, onde chegou-se a registrar 22.000 mortos em 28.000 porcos atacados ! Prepara-se uma vaccina contra o rouget pela attenua- ção de um virus, que se consegue collocando uma cultura muito activa na estufa, onde os microbio» vão perdendo a sua virulência progressivameute, a ponto de não matarem mais os coelhos ou os pombos, porém ainda matarem os ratos. N7este gráo elles conferem ao porco uma immunida- de duradoura. Ha também outro processo de attenuação, que consiste em fazer se passar o microbio pelo organismo do coelho ; 176 mas então é preciso fazer se uma cultura do germen em caldo, entre cada uma das passagens de coelho a coelho. No fim de algumas passagens nota-se que quanto mais virulento é para o coelho (porque n’este animal a viru- lência exalta-se) menos perigoso é elle para o porco. —A attenuação proveniente do habito que um micró- bio adquire vivendo em uma especie nova explica talvez a vaccina jenneriana, observa o professor Roux. A vacci nação contra o rouget faz-se segundo o processo posto em pratica contra o carbúnculo e o cholera das galli- nlias : dous virus de intensidades differentes, guardando-se um intervallo de 12 dias entre as duas injecções. As raças grosseiras de porcos, os javalis, as velhas raças francezas, são mais resistentes do que as raças finas inglezas, que apre- sentam grande receptibilidade para o mal. A idade mais conveniente para a vaccinação é a de quatro mezes ; uma unica vaccinação, (com os seus dous tempos, já se vê), chega de sobra para preservar os porcos durante sua curta existên- cia, destinados, como são esses animaes, a morrer novos. Os varrões, porém, devem ser vacci nados de dous em dous annos. Os bons resultados colhidos em França com esta vac- cina são evidentes. A mortalidade media dos porcos não vacci nados e atacados de rouget é de 25% ; ao passo que para os vacci nados é apenas de um por cento. Fazendo-se uma especie de molho com os musculos de coelhos hyper- vaccinados obtem-se uma sorte de serum que é preventivo e póde mesmo algumas vezes curar os animaes contami- nados, nos casos em que o moléstia está apenas em começo. Esta immunidade, porém, não persiste. O microbio do rouget tem tanta similhança com o da septicemia do rato que quasi torna-se impossível diíFcren- cial-os. Os symptomas são os mesmos nas duas moléstias e as culturas têm a mesma apparencia ; somente, em caldo, 0 microbio da septicemia dá prolongamentos, por ventura 177 ainda mais tenues, do que os da outra moléstia. O germen da septicemia é aero-anaerobio e é muito mortífero para os ratos, mas não mata os pombos, e injeetado no porco só lhe causa lesões locaes. Durante algum tempo quiz-se con- fundir todas as moléstias do porco conhecidas pelas deno- minações de rouget, mal vermelho, purpura, erysipela, urti- caria, emfim todas as moléstias contagiosas do porco, com a pneumo-enteritc infecciosa que ataca esse animal e é uma doença « contagiosa, virulenta, inoculavel devida a uma bactéria ovoide, e caracterisada elinicamente pela pre- sença de tocos inflammatorios no pulmão e intestinos» (No- card). A diarrhéa acompanha sempre o desenvolvi- mento da moléstia, notando-se ás vezes manchas vermelhas ao redor das orelhas do animal e ainda em outros togares. O diagnostico differencial entre o rouget e a pneumo-en- terite do porco, em certos casos duvidosos, firma-se injectan- do-se os productospathologicos em animaes. Comeffeito: o rouget mata o coelho e o pombo ; mas poupa o cobayo. A pneumo-enterite, pelo contrario, mata muito rapidamen- te o cobayo, uvas poupa o coelho e o pombo. A moléstia tem uma synonimia muito variada nos di- versos paizes : em França è conhecida por pneumo-enterite (Cornil e Chantemesse) ; na Inglaterra infectious-pneumo- enteritis e moine fever (Klein) ; na Allemanha Schweineseu- che (Loeflier e Schuetz) ; na Suécia svinpest (Selander) ; na Dinamarca consideram-na a diphteria do porco ; nos Esta- dos Unidos hog-cholera tSalmon) ; hog-fever (Law) esivine- plague (Detmers). Certos anthores querem ver uma diffe- rença entre algumas d’estas denominações, que designam, segundo elles, moléstias diversas ; mas os trabalhos recen- tes de bacteriologistas de varias nacionalidades estão de aeeordo sobre a unicidade da moléstia. No começo o mal produz congestão para os pulmões 178 e intestinos : os folliculos inflammam-se, as placas de Peyer ulceram-se e a diarrhéa não tarda a vir. Nos pul- mões encontram-se verdadeiros derramamentos serosos e em certos pontos ha hepatisação. No campo do microscopio divisa-se um bacillo ovoide parecendo um coccus, ou melhor, um cocco-bacillo, que não pode ser confundido com outros ; elle não toma o grani, mas acceita bem a thiouina. Nas formas chronieas a diarrhéa não cessa e a au- topsia deixa ver falsas membranas, sob as quaes a mucosa ulcerada apresenta uns pontos amarelladas. O microbio injectado reproduz a moléstia. Absor- vido pelas vias digestivas causa diarrhéa e, a menos que as doses sejam enormes, em geral elle não mata, quando intro- duzido pela via gastrica. Cultivado em caldo deixa o liquido turvo ; em agar no- ta-se uma camada húmida e bastante espessa ; e sobre gela- tina apresenta-se em colonias de aspecto mucoso. O ba- cillo é dotado de movimentos, com especialidade nas cul- turas novas ; elle pode matar rapidamente um coelho e 11’esta especie a sua virulência exalta-se por meio de pas- sagens successivas. Na primeira passagem os microbios encontrados no sangue do animal são um pouco longos ; mas nas seguintes, quando a sua virulência já é mais elevada, elle volta á forma curta ; é 11’este estado de grande exalta- ção que o microbio mata em qu atro ou cinco horas um coelho, produzindo-llie polyuria e paralysia. O animal deita-se, solta um grito e logo depois morre. Este mesmo virus evolue no porco muito mais lenta- mente : é preciso cerca de uma semana para chegar á ter- minação fatal, e muitas vezes o animal escapa. Aquecendo-se a 58" um pouco de sangue de um coelho morto de hog cholera, todas as bactérias morrem ; si o liquido fôr, para maior segurança, filtrado na vela Cham- berland, matará, na dóse de meio, ou de um centímetro 179 cubico, um coelho, produzindo-lhe todos os symptomas da moléstia aguda. Entretanto si o liquido fôr aquecido a 70, as suas propriedades modificam-se e os animaes sensíveis o supportarão em doses elevadas, ficando, porém, os coêlhos cacheticos. Selander injectou pequenas dóses d7esta to- xina e foi progressivamente auginentando-as até uma quan- tidade tal, que injectada a primeira vez mataria com cer- teza o animal. Se n7esse momento lhe injectarmos um virus muitoactivoo animal resistirá ; succumbirá, porém, se lhe ministrarmos uma dose sufilciente de toxina. Isto quer dizer que a immunisação contra o virus do hog-cholera apparece muito mais cedo do que a immunisação contra a sua toxina ; porque virus e toxina são cousas diver- sas, conforme veremos opportunamente. O professor Metchnikoff demonstrou que o serum dos animaes hypervaccinados pelas toxinas possue qualidades preventivas, e que a vaccinação praticada com este serum pode ser efficaz, já havendo mesmo se dado o contagio. Todavia o serum não tem acção sobre as toxinas. Quiz-se estabelecer uma distincção entre o hog-cholera e pneumonia infecciosa ; mas sob o ponto de vista bacterioló- gico tal distincção é um pouco phantasista, e é o caso de lembrar que o bacillo pode ter duas virulências, produzindo effeitos clínicos um pouco differentes, sobretudo exer- cendo sua acção sobre orgãos diversos. Ainda póde-se admittir que um mesmo germen tendo duas portas de en- trada, em uma vez entra pelas vias respiratóriase em outra pela via digestiva. N’este caso as ligeiras variações clinicas não podem ser devidas ao modo de penetração do germen na economia?—Segundo o professor Roux não se deve fazer distincção entre os germens das duas moléstias, ou melhor : entre as duas formas da moléstia. O hog-cholera ou pneumo-enterite do porco é mais fre- quente do que o rouget, na America do Norte. Os médicos dhiquelle paiz muito têm estudado a moléstia : mas a des- 180 peito dos trabalhos de Salmon e de outros, não se conhece ainda a vaccina contra a swine plague, como já possuímos uma contra o rouget; entretanto em Cincinnati e Chicago são enormes os prejuízos provenientes d’aquella primeira moléstia. MORMO SUMMÁRIO— «Mormo» nos equideos e no ho- mem. — «Mormo e farcino.»—Formas da moléstia.—Symptomas e lesões.-—Contagio. —Trabalhos de Rayer.—Bacillo do mormo : sua cultura.— Experiências de Nocard. — Attenuação do virus.— Productos toxicos do bacillo.— A malleina.— Injecções nos animaes : reacções caracteristicas.—A mal- leina fixa o diagnostico nos casos duvido- sos.— Natureza e propriedades da « mal- leina». O « morino » é uma moléstia que ataca de preferencia os equideos, mas que póde-se communicar ao homem e a ou- tros animaes. Quando a moléstia manifesta-se nos orgãos internos e ataca as fossas nasaes, recebe o nome de mormo propriamente dito; qnando ella ataca unicamente os or- gãos externos toma a denominação de f«reino, que tanto no homem como no cavallo, não é mais do que a manifesta- ção eutanea do mormo. No cavallo o farcino reveste a forma aguda ou chro- nica ; a primeira, muito mais rara do que a outra, traz uma grande elevação de temperatura; apparece de repente uma inchação em um dos membros, a qual desapparece do 182 mesmo modo, deixando porém em seu logar uma erupção composta de botões, que não tardam a amollecer e ulcerar- se, complicando-se muitas vezes de phagedenismo. Os vasos lymphaticos inflammam-se e as ulcerações pódem ser em grande numero e d’ellas succumbir o animal. Quando a moléstia apparece sob a forma chronica apresenta uma serie de elevações disseminadas pelo corpo; essas elevações deixam escapar, pela ulceração que não tarda a apparecer na sua parte central, um liquido viscoso, a que dão o nome de «oleo de farei no». Uestes poutos ulce- sados partem traços de lymphaugites constituindo «a corda rarcinosa», que vai terminar nos ganglios, que por sua vez são duros e engorgitados, porém sem nenhuma tendenciaá fu ppu ração. O inonno, isto é : a outra manifestação do mal, pode igualmente ser agudo ou chronico. No primeiro estado a temperatura sóbe ás vezes até 42°. Uma especie de corri- mento (jetage) muco-purulento, cor de ferrugem, sanguino- lento, faz-se pela venta do cavai lo; apparecem sobre as narinas umas pequenas saliências, que transformam-se em pustulas e por fim em ulceras. Logo após vem a dyspnéa, indicando que os pulmões foram invadidos pelo mal. Ha derramamento nas pleuras e nas articulações, grande esgota- mento e a morte põe termo ao sotfrimento do pobre animal, quando a moléstia não tem de passar ao estado chronico, o que é o caso mais commum. Este estado caracterisa-se por um corrimento chronico rebelde, ulcerações nasaes e engorgitamento de ganglios ; na mucosa nasal percebem-se ulcerações, ou então «cicatrizes estrelladas» muito importan tes para o diagnostico. No espaço comprehendido entre os dons ramos da maxilla inferior (auge) como chamam os frau- cezes, apparece uma glandula endurecida, cheia de bossas, sem tendências a suppurar, que os veterinários consideram de alto valor para o diagnostico, ainda mesmo que seja essa glandula o único signal notado. As lesões encontradas, autopsiado o animal, são ca- 183 racreristicas. No estado agudo do mormo o pulmão é o orgão maiscompromettido : infarotus, núcleos pneumonicos, deixando correr puz ao córte ou á simples pressão, der' ramamento nas pleuras e espessamento dos tecidos. En- contram-se também no pulmão tubérculos amarellos, ou translúcidos, cercados de uma zona congestiva ; na forma chronica dá-se a evolução completa (Fesses tubérculos. Na mucosa pituitária vêm-se ulcerações que estendem-se pela traeliéa, pelos grossos bronchios e até pelos de menor calibre. O mormo é muito contagioso e o homem está sujeito a contrahil-o por intermédio do muco-catharro nazal do ca- vallo, do ])iiz das ulcerações, do sueco das glandulas, das lesões pulmonares, etc. Os indivíduos que tratam dosani- maes estão muito expostos ao contagio do farcino ou do mormo. No homem o farcino caracterisa-se pelos cordões de lymphangite, sobre os quaes apparecem as ulcerações. Quando a moléstia tem sido inoculada na face é mais grave do que em outra qualquer parte; no estadochronico o farcino dura muito tempo c póde terminar pela cura. O mormo apresenta-se no homem acompanhado de abcessos subcutâneos ou intra musculares, que acabam por ulcerar-se. Ha febre intensa, ulcerações das fossas nasaes, estado geral grave seguido de morte em poucos dias. A forma chronica póde durar annos. Foi estudando o mormo humano em 1837, que Rayer demonstrou a identidade da moléstia no homem e no ca- vallo. Mais tarde outros fizeram inoculações de uns a ou- tros animaes. O asno é de todos o mais sensivel e é consi- derado o melhor «reactivo» para o mormo agudo. Eis a ma- neira de inoculal-o :—cortam-se os pellos da fronte do ani- mal, praticam se sobre a pelle escarificações vertieaes epa- rallelas; deixa-se correr um pouco de sangue e esfrega-se a região com um chumaço embebido do puz suspeito. Alguns dias depois a temperatura sobe, os vasos lympha- 184 ticos inflammam-se e vêm por fim adenites múltiplas; nos pontos inoculados appareeem as ulcerações, de onde tran- suda um liquido purulento. O animal póde morrer dentro de cinco ou seis dias, sendo muito raro que elle viva mais de quinze dias. Também aquelle animal póde apresentar o mormo chronico. Cita-se o caso de Arloing, que tendo inoculado em um jumento productos duvidosos, e só tendo obtido uma reacção muito insignificante, acreditou não ter inoculado o mormo. Mas o animal, tendo sido mais tarde e por um outro motivo sacrificado, todas as lesões da moíestia foram encontradas no pulmão. O cão resiste, mas afinal adquire o mormo por ino- culação. O cobayo serve para fazer o diagnostico rápido da mo- léstia, que éacompanhada de sarcocéle agudo, sobretudo se ataca os cavallos de sangue. Esta propriedade foi utilisada por Straus, que inoculou cobayos machos no peritoneo e conseguio ver desenvolver-se sempre n’estes pequenos ani- maes o sarcocéle agudo. O microbio do mormo foi descoberto, quasi que ao mesmo tempo, por Bouchard, Capitan e Charrin em França, e por Schuetz e Loeffier na Allemanha. O bacillo encon- tra-se em todos os productos mormosos; no corrimento nasal e onde elle é mais raro e vem de mistura com outros germens ; tem a forma de bastonêtes com as extremi- dades arredondadas e nada tem de caracter istico ; toma e perde facilmente as cores. Aos abcessos amarei los são os bacillos um pouco mais abundantes. Depois de fixada a preparação é preciso coloril-a pelo azul de Lceffler, ou pela fuchsina de Ziehl, ou ainda pelo azul de «toluidina,» que são as cores que o bacillo recebe melhor. Corna thioninae o álcool elle conserva uma cor avermelhada. Aos cortes de tecidos encontra-se o bacillo em grande abundancia, quando as lesões são agudas ; é raro, porém, 185 e difficil de achai-o nas lesões antigas. Os tubérculos mormosos teein uma grande analogia com os da tubercu- lose ; mas distinguem-se dos tubérculos d’esta moléstia pela auzencia de cellulas gigantes ; são antes detritos cellulares constituídos por leucocytos polynucleares degenerados : é no meio d’estes detritos que estão os bacillos amontuados; ahi o processo do álcool e da thionina deixa ver os ba- cillos coloridos de vermelho e os restos de cellulas de azul. islão é difficil obter-se culturas do bacillo, tirando-o dos tubérculos, onde el)e existe quasi no estado pureza, e semeando-o directamente em qualquer meio que possa sup- portar a temperatura ordinaria da estufa ; sem esta tempe- ratura o microbio não prolifera. O meio liquido que mais lhe convém é caldo peptonisado, contendo4% deglycerina. Em gelose, semeado por estrias, apparecem pequenos pontos brancos que nada têm de especial; sobre batata, porém, a cultura é caracteristica : a tuberosa torna-se acin- zentada e vai escurecendo até íicar preta ; na superfície notam-se traços pardacentos que vão tomando um matiz mais carregado, chegando até a côr do chocolate. E’ pre- ciso que a batata não seja acida, e a de côr amarella ainda fornece melhores culturas. Isolado e cultivado o bacillo, é ainda necessário para fixar o diagnostico, inoculal-o em animaes. Do corrimento nasal ou muco expellido pelas narinas dos animaes doen- tes inocula-se um pouco sob a pelle de um cobayo (nunca no peritoneo) porque os microbios associados poderiam produzir uma peritonite mortal, antes do germen mormoso desenvolver-se. Em seguida nota-se uma nodosidade que amollece no centro e é acompanhada de adenite. Faz-se a ablação do ganglio, que depois de triturado e diluido em caldo é então inoculado no peritoneo de um segundo co- bayo ; dous ou tres dias mais tarde desenvolve-se uma or- chite e o pequeno animal morre antes do primeiro que 186 tinha sido inoculado sob a pelle e que lhe forneceo o germen do mal. O coelho resiste muito mais do que o eobayo. A ino- culação subcutânea é acompanhada de uma nodosidade in loco, mas sómente depois ode ter uma opinião absoluta a respeito, responde aquelle sabio bacteriologista á sua própria inter- rogação ; mas ha todo o fundamento para dizer-se que a morphéa é uma moléstia contagiosa, transmittindo-se em condições que nós ainda não conhecemos. A moléstia pode curar-se espontaneamente, maximé em sua forma maculosa, mas deixando sempre traços inde- leveis : manchas cutaneas. Muitas vezes tem sido a lepra anesthesica confundida com a syringomyelia, cujos sym- ptomas reproduz ás vezes com extraordinária fidelidade. A forma tuberculosa da morphéa, pelo contrario, quasi nunca cura espontaneamente. N’esta forma certos orgãos internos são algumas vezes affectados e tem-se assim uma lepra renal, hepatica, pulmonar, etc. A tubereulina provoca reacções interessantes sobre os morpheticos : quasi que as mesmas observadas nos tubercu- losos. A injecção de productos de ambas as moléstias em 202 cobayos afastará, porém, qualquer duvida entre os dous germens, pois é sabido que o da lepra inoculado não dá resultado, ao passo que o outro nunca deixa de desenvol- ver-se nbiquelle aniinalsinho. A lepra pode ainda confundir-se com a tuberculose cocco-bacillar; mas esta moléstia, não é como a morphéa, uma moléstia exclusivamente humana (atè hoje, pelo menos) e ]>or isso podemos desenvolvel-a em cobayos, o que não é possível com a lepra, conforme já vimos. Demais o cocco- bacillo, que tem sido bem estudado por Malassez e Vignal, não toma o ziehl e tem uma forma ovalar; é disposto em cadeias e desenvolve-se bem em todos os meios, formando massas zoogleicas, que reunidas vão constituir os tubérculos. E’ principalmente uma moléstia dos roedores. — Ha de certo algumas outras moléstias capazes de se confundir com a lepra ; isto somente no terreno da clinica, mas nunca sob o ponto de vista bacteriológico. TUBERCULOSE SUMMARIO.—A tuberculose é inoculavel.—- A moléstia é causada por um microbio.—Pro- cura do bacillo nos productos tuberculosos. Coloração. — Inoculação dos productos no eobayo.— Culturas sobre serum e nos meios glycerinados. — Resistência do bacillo aos diversos agentes.— Tuberculose das aves : particularidades do bacillo:—Variação da virulência do germen“tuberculoso.—Conta- gio da tuberculose.—Leite e carne dos ani- maes tuberculosos.—-Passagem do bacillo ao feto.— O bacillo nas poeiras.—Substancias chimicas contidas nas culturas do bacillo. — Tuberculina : sua preparação e proprie- dades. Laennec tinlia entrevisto o contagio da tuberculose ; mas foi a Villemin que coube a gloria de dar a prova ex- perimental do facto, no decurso do anuo de 1866. Dous annos mais tarde, era 1868, elle publicou o seu livro notá- vel onde veem relatadas as experieneias que conduziram o operoso investigador francez a fazer a bella descoberta. Villemin em suas inoculações systematicas conseguio demonstrar a trausmissibilidade da tuberculose, de sorte que 204 hoje sabe-se que a miséria physiologica, o frio, a humida- de não pódem crear a moléstia : quando muito são causas adjuvantes ou propicias, no sentido de diminuir a resistên- cia do organismo e preparar um terreno favorável ao des- envolvimento do germen. Si a descoberta de Villemin marca uma era nova para. os estudos da tuberculose e firmou definitivamente entre os clínicos o conceito do contagio, cuja noção forneceu á prophylaxia uma orientação differente no modo de consi- derar os tuberculosos, um progresso não menos importante e de consequências mais fecundas nos trouxe a descoberta do bacitto da tuberculose, feita em 1884, porKoeh, que poz em evidencia o germen colorindo-o pelo azul de methy- leno, pela vesuvina e pelo pardo de Bismarek. Este processo um tanto longo, foi posteriormente sub- stituído com vantagens por outros mais rápidos.—Ehrlich emprega o processo de banhos corantes a quente com o «violeta anilinado»; mergulha depois a preparação em um banho acido (solução de acido azoticoaum terço por cento) e por fim lava-a com agua. O acido nit rico póde ser substituído pelo acido sulfurico a 5%. A coloração também póde ser feita pelo processo de Ziehl-Nelsen :— immerge-se o corte durante um quarto de hora na fuchsina de Ziclrl a frio ; mergulha-se durante alguns segundos na solução acida e lava-se ; termina-se a descoloração pelo álcool absoluto, até que o corte'tenha apenas uma côr de rosa pallida. Lava-se e em seguida mer- gullia-se a preparação no azul de methyleno. Lava-se. Por fim faz-se agir por alguns instantes o álcool absoluto; depois a essencia de girofle e xylol e monta-se no balsamo. O Dr. Borrei, chefe do laboratorio do professor Roux recommenda um bom processo, attribuido por elle a Kuhne, excellente para colorir os cortes do pulmão, porque não al- tera a disposição e a forma das eellulas, como succede ás vezes com os ácidos mineraes. Consiste este processo em tratar a preparação pela hematoxylina de Bçehmer ou pela 205 hemateina durante cerca de dons minutos, lavar em agua dis- tillada e colorir a frio pela immersão durante 15 minutos na fuchsina de Ziehl. Tratar o córte (alguns segundos) pela solução aquosa (a 2%) de chlorhydrato de anilina. Des- corar finalmente pelo álcool absoluto. Por este processo as cellulas de fundo ficam incolores, excepto os núcleos. Para terminar clarêa-se a preparação com a essencia de girofle e xylol e monta se no balsamo. E’ importante saber-se que o bacillo de Kocli toma difficilmente as eôres basicas de anilina, mas uma vez colo- rido, o microbio conserva energicamente a substancia co- rante, mesmo quando fica em contacto com deseorantes po* derosos como são as soluções de ácidos mineraes. Quando se quizer examinar um escarro ou opuz de um tuberculoso, deve-se recolher a parte mais densa e fazer duas preparações : uma de fundo em azul. e o microbio em vermelho. Em certas lesões tuberculosas como no lujnis os bacillos são raros. N7este caso o methodo de Weigert dá bom resultado, mas é preciso ainda fazer inoculações para ter se a certeza do diagnostico. Os bacillos nãoappa- recem ou porque são em pequeno numero, ou porque teem chegado a um estado tal de velhice, que não podem mais ser coloridos. Ordinariamente o animal escolhido para essas inocula- ções é o cobayo, que é considerado o melhor reaetivo para o bacillo da tuberculose. Com os ganglios d’este animal faz-se uma injecção no peritoneo de um segundo cobayo, que morrerá talvez mais depressa do que o primeiro. Todas as manipulações devem ser feitas com o rigor anti-septico que exige a techniea bacteriológica. Quando se tiver de examinar ou submetter a qualquer experiencia tecidos provenientes de um animal morto, são necessárias certas precauções. Com um ferro em braza queima-se a parte superficial do orgão, do baço, por exemplo, e com um escalpei lo esteril isado raspa se ou corta-se um pouco da substancia e esmaga-se com uma espatula e areia esteri- 206 lisadas, de modo a destruir as cellnlas, deixando os bacillos em liberdade. Em seguida semea-se em meios espeeiaes, em se rum coagulado, conforme recommenda Ivoch ; este serum será esterilisado pelo processo de aquecimento dis- continuo, a 58°. A cultura é repartida por muitos tubos (50, 100 e mais) porque o bacillo desenvolve-se mal sobre os outros meios e não é conveniente estar mudando de meio. E’ muito em- pregado o serum de carneiro, que, distribuído por vários tubos, deve ser esterilisado na estufa a uma temperatura de 39° bem precisos. No fim de umas tres semanas começam as culturas, que se manifestam por umas escamas na su- perfície do serum, e vão sempre augmentando durante dons ou tres mezes. Uma. vez obtidas as culturas é neces- sário inoculal-as em animaes, que logo contradirão a mo- léstia ; vistas ao microscopio as colonias apresentam-se grupadas em forma de bigodes. O professor Roux aperfeiçoou consideravelmente a te- chnica das culturas do bacillo da tuberculose, com o seu processo da glycerina addicionada a outro qualquer meio, o que dá excedentes resultados. O agar com 4% de glyce- rina fornece um terreno, onde a principio o bacillo cresce mal, mas na segunda ou terceira cultura o microbio des- envoh c-se muito bem; forma-se na supeaficie uma pelli- cula, que fornece uma bôa semente. Esta será semeada em caldo glycerinado; tendo-se a cau- tela de depositar a pellicula na superfície do caldo, onde deve ficar lluctuando, desenvolver-se-á muito bem no fim de 12 a 14 dias e ás vezes até muito mais cedo. Quando a semente provem dos escarros, deve-se ter sempre em mente as impurezas d’estes, que vem invaria- velmente acompanhados de bactérias vulgares. Kitasato propoz que os escarros fossem recolhidos no momento da expecto ração, tendo o doente lavado previamente a bocca com um antiseptico ; que o producto fosse recebido em uma 207 boceta de Petri igual mente ostorilisada e depois, então, se fizesse a distribuição pelos tubos deagar gelatinado. Nos escarros tuberculosos os inicrobios habituam-se a viver como saprophytas e por isso vivem melhor nas cultu- ras do que os de outra procedência ; pelo que propoz-se guardar esses escarros em suecos de collodio esterilisado que inoculam se no peritoneo dos cobayos, onde mais tarde encontram-se grandes quantidades do bacillo em via de desenvolvimento. Em batata o bacillo desenvolve-se bem si tivermos o cuidado de regar a batata com agua glycerinada. E’ preciso alcalinisar sempre os meios. O microbiogosta tambern dos meios vegetaes. O bacillo da tuberculose só morre a uma temperatura de 65 a 70" e não dá esporos. Deseccado elle só morre a 00", uma temperatura muito approximada do ponto da agua fervendo á pressão ordinaria. íSubmettido a este gráo de calor o microbio morrerá dentro de alguns minutos ; ainda assim é preciso que o calôrouo liquido aquecido atravessem a camada de matéria albuminosa que habitualmente protege o bacillo. O mesmo acontece com os anti-sépticos, qne só agem com efticacia, quando conseguem vencer esta espeeie de couraça e entrar em contacto directo com ogermen. A proposito convém lembrar que o sublimado é um máo an- tiseptico para o bacillo da tuberculose, porque elle forma um albuminato que até protege o microbio ; para este caso especial o acido phenico é muito superior ao sublimado. Todas as considerações que precedem applicam-se igualmente á tuberculose dos mammiferos, especialmente a dos bovideos. Quanto á tuberculose aviaria, merece uma noticia especial. As aves são muito sngeitas a epidemias de tubercu- lose ; a contaminação dá-se provavelmente pelas vias diges- tivas. O germen da tuberculose aviaria desenvolve-se nos diversos meios com o mesmo aspecto; apenas um pouco mais 208 rapidamente do que a tuberculose humana. As culturas ap- parecem sob a forma de massas viscosas entre 35 e 40° de temperatura. Inoculadas matam o coelho mais rapida- mente do que as que provêm do homem. O eobayo resiste um pouco mais ao baeillo da tuberculose a viaria, que n7este animal generalisa-se raramente. As gallinhas, por sua vez, resistem muito ao baeillo da tuberculose humana, e Straus diz que inoculando-se-lhes grandes dóses, cilas morrem antes de cachexia do que de tuberculose. Met- chnikoff encontrou na tuberculose aviaria cellulas de steptothrix ; mas essas mesmas formas foram também en- contradas por Fischel na tuberculose humana.— Será o mesmo baeillo!—E’ bem possível que seja uma raça, uma variedade do microbio, resultante da passagem do baeillo de Koch atravéz do organismo das aves, mas uão uma especie differente, como querem Gamaleia e Straus. A tuberculose é como já dissemos, uma moléstia conta- giosa ; é um facto hoje bem elucidado e fóra de toda a dis- cussão. A propagação da vacca ao homem póde-se fazer nas condições naturaes. Kocard salientou a frequência da tuberculose nas vaccas leiteiras em França ; mas o leite só torna-se verdadeiramente perigoso quando ha tubérculos nos peitos do animal ; a mesma cousa succede com a carne muscular, que não deve ser regeitada senão no caso de tu- berculose generalisada. Quanto á transmissão do germen, da mãi ao feto é raríssima, conforme resulta das observa- ções extensas de Nocard c de outros que têm aprofundado esta questão. Das culturas tuberculosas extrahio Koch pela primeira vez uma substancia a que deu-se o nome de tuberculina, (pie não é mais do que uma toxina secretada pelo baeillo. Obtem-se a tuberculina, que a principio tantas esperanças despertou como meio curativo da moléstia, de qualquer cultura do microbio em caldo glycerinado. Este veneno tuberculoso contem, alem da tuberculina propriamente dita, todos os princípios do baeillo ; junta á glycerina ella 209 tem unia consistência viscosa. Quando injeetada em indi- víduos tuberculosos ella determina uma forte elevação de temperatura, seguida de queda brusca e morte. Os ani- maes doentes também reagem á tubereulina, mas no estado desande nada apresentam ; ha, pois, uma substancia parti- cular que actua sobre os tubérculos. Esta aeção electiva fez da tubereulina um reactivo ma- ravilhoso para diagnosticar-se a tuberculose dos bovideos, mesmo quando não existe o menor signal clinico da molés- tia. Uma tuberculose incipiente que não é suspeitada pelos outros meios de exploração, é revelada pela tuber- culina. Fazendo-se precipitar um volume de tubereulina por vinte volumes de álcool absoluto, obtem-se um producto, que lava-se no álcool e torna-se a dissolver em agua :—é o prin- cipio activo da tubereulina. Para obter-se a tubercu- lina bruta é preciso precipital-a de novo pelo álcool a 60°; mas este producto é impuro, porque contem uma matéria albuminoide unida á tubereulina, que pode ser d*ella sepa- rada por precipitação por meio do acido chlorliydrico. Depois de purificada é a tubereulina solúvel no álcool, onde o sal marinho precipita-a. Também ella pode ser aquecida a 100’ ; as suas reaeções são numerosas e appro- ximam-se das reaeções de certas matérias albuminoides. Prepara-se a tubereulina com os corpos de microbios mortos. Esses cadaveres baeillares encerram ainda outra substancia activa, que injeetada nos animaes lhes produz uma cachexia. Straus e Gamaleia encontraram uma sub- stancia necrosante que denuncia-se pelo cheiro especial que se desprende da tubereulina : é talvez uma proteína. Hoje não se emprega a tubereulina no tratamento da tuberculose humana por não ter dado resultado, e nem também os clínicos servem-se d7ella para o diagnostico da moléstia, que se faz perfeitamente pelos processos bacterio- lógicos, tão seguros, quanto inoffensivos para os doentes ; mas a tubereulina presta serviços relevantes e incontesta- 210 veis para diagnosticar-se a melestia nos bovideos, antes que ella se revele por qualquer signal clinico. Foi o qne ficou da importante descoberta do bacterio- logista allemão, que tanto barulho fez no inundo, ainda ha poucos annos. F, apezar de tudo não é pequeno o serviço que presta a tuberculina. PNEUMONIA STJMMAItlO.—A pneumonia é uma moléstia in- fecciosa.—- Microbios nos escarros pneumo- nicos.—Diplococcos lanceolados.—Pneumo- cocco. —- Culturas sobre os diversos meios —Acção sobre os animaes.—Organismo en- contrado por Pasteur em 1880.— Immu- nisação por meio da toxina.—Serum dos animaes immuuisados.—Ensaio de trata- mento da moléstia. — Pneumobacillo de Friedlander. — Antagonismo entre este germen e a bacteridia do carbúnculo. A pneumonia tem sido considerada como uma molés- tia, ora geral, ora local. Em certos casos, nas prisões, nos hospícios de velhos, tem-se observado que a pneumonia affecta formas epidemicas ; em taes condições occorreo a idéa de que talvez fosse uma doença microbiana ; e logo os bacteriologistas poseram-se a procurar o germen do mal nos escarros avermelhados dos pneumonicos. Talamon em 1883 encontrou um microbio especial que apresentava-se geral mente disposto dons a dous, ao qual elle denominou díplococco por causa d’esse agrupa- mento. E como as extremidades apresentassem mais ou menos a forma de uma lança, elle juntou áquella deno- minação o termo lanceoludo. 212 No tecido pulmonar e mesmo na circulação geral Tala- mou também vio o seu diplococco, tal qual se apresentava nos escarros cor de ferrugem. Inoculado sob a pelle o microbio não produz grande cousa ; mas levado ao pulmão de um coêllio elle determina um exsudato fibrinoso e uma hepatisação do tecido, acom- panhado tudo de derramamento para a pleura. As cul- turas de Talamon eram feitas em uma solução de extracto de carne de Liebig. Por essa mesma epoca Friedlander publicava uma me- mória 11a qual descrevia um microbio mais alongado do que o de Talamon, reunido também dons a dous e em cadeia e que elle encontrara nos escarros pneumonicos e no pulmão doente. No campo do microseopio o microbio mostrava-se cercado de uma aureola incolor ou capsula transparente. Por sua vez Fraenkel encontrou o mesmo organismo de Talamon, que elle descreve com grande precisão em seus menores detalhes.-- Eis-nos em presença de dous micró- bios que se differeuciam por sua forma e sobretudo por suas reacções sobre os colorantes, visto como odeTalamon- Frseukel toma o gram, emquanto que o de Friedlander não o toma. Qual dos dous é o bacillo da pneumonia? Depois de longas discussões os bacteriologistas poseram-se de accordo e hoje todos reconhecem a especificidade do bacillo lan- ceolado. O de Friedlander encontra-se as vezes nos pneu- monicos, accidentalmente, no segundo plano. Em 95% dos casos de pneumonia encontra se o bacillo de Talamou-Frsenkel; ao passo que o outro só excepcional mente é achado, e isto mesmo no começo da moléstia. Ca- sos ha em que apparecem estreptococcos, mas a titulo de complicação. Para pôr-se em evidencia o bacillo de Talamon-Frsen- kel estende-se um pouco de escarro pneumonico em uma lamina, fixa-se e tinge-se rapidamente pelo violeta de gen- 213 ciana. Os microbios aj> parecerão com essa cor ; ao redor de cada diplococco, sobre o fundo mais claro da prepara- ção, notar-se-á uma zona transparente constituida pela ca- psula gelatinosa que o cerca, separando-o dos elementos visinhos. Esta capsula pode-se colorir com um pouco de acido acético, ficando a preparação ahi mergulhada durante algum tempo. A coloração pelo methodo de Gram dá ao microbio um matiz muito carregado, quasi negro. Inoculado um animal sensível, um rato, por exem- plo, com uma diluição de escarros pneumonicos, sob a pelle do ventre ou do dorso, o animal suecnmbirá em menos de 30 horas. No ponto de inoculação nota-se ape- nas um exsudato muito fraco. O animal não morre de pneumonia, mas sim de uma septicemia aguda; o microbio é encontrado no sangue e nos orgãos. Basta semear uma gol ta do sangue em caldo e levai1 a cultura á temperatura de 30° gráos para vermos o germen proliferar. A gelatina não póde servir por causa da temperatura exigida. Em gelose formam-se pequenas colonias transpa- rentes que nunca se alastram. Noserum coagulado obtem- se também colonias similhantes a gottas de orvalho. Em batata quasi nada apparece. Visto ao microscopio o microbio proveniente das cul- turas não apresenta mais a aureola ; vêm-se apenas os di plococcos juntos pelas extremidades, ás vezes reunidos em cadeia. Deu-se-lhes o nome streptococcus lanceolotus de Pasteur. No serum, porém, o germen conserva a sua au- reola. Elle não vive muito tempo nas culturas : morre no fim de 7 a 8 dias ; para eonserval-o é preciso fazer re- picagens. Além disso elle secreta matérias acidas á custa do caldo e então é preciso neutralisar o meio para poder- se conservar o germen mais tempo. Em ampoulas fecha- das e no sangue o microbio dura, por um prazo mais 214 longo, mas é indispensável fazei' uma cultura, antes ossivel um juizo seguro sobre suas tentativas e sobre seu methodo. Por oceasião do reapparecimento do cholera na Europa, no decurso do anuo de 1892, veio de novo a ordem do dia a vaccinação contra a moléstia ; pôde se então confirmar e desenvolver a descoberta de Ferran sobre a vaccinação contra a peritonite dos cobayos, provocada pelo bacillo virgula. Haffkine vaccinou durante dois annos mais de 32,000 pessôas na índia, servindo-se de culturas do vibrião em injecções subcutâneas. Os jornaes assignalaram resulta- dos summarios a que não se pôde prestar fé ; em todo o caso mortalidade era maior do que a obtida por Ferran. O melhor resultado conseguido por Hafkiue refere-se a um regimento de Cawnpore, no qual todas as pessôas vaecinadas treze mezes antes ficaram indemnes ; ao passo que deram-se 19 casos de cholera entre os soldados não vac- cinados. E’ difficil acceitar que tenha sido aquella immu- nidade devida á vaccinação, porque mesmo nos animaes quando cila parece efficaz só protege durante alguns mezes (Ferran limita o prazo a dois mezes) ; duas pessôas que submetteram-se á celebre experiencia feita no «Instituto Pasteur)) e que seis mezes antes tinham sido vaecinadas em Pariz por Haffkine, ambas adoeceram como as que nunca tinham sido inoculadas. A descoberta da propriedade preventiva e curativa do sangue e do leite dos animaes vaecinados contra as mo- léstias infeetuosas, tem sido applicada por vários bacterio- logistas ; Lazarus e Klemperer usaram do sangue ; mais tarde Ketcher applicou o leite e verificou-se que esses li- qnidos preservam os cobayos contra a peritonite dos cobayos. Instruídos pelo que se dá no tétano e na diphteria, 272 pensaram alguns bacteriologistas que se tratava aqui de uma acção antitoxica ; mas as investigações feitas por Pfeiffer e Wassermann demonstraram pleuamente que na injecção previa, quer o serum, quer a vaccina eomosbacil- los premunem os animaes contra a infecçâo dos microbios e nunca contra a intoxicação pelo veneno do vibrião. Diante da differença fundamental entre a peritonite do cobayo, que é uma infecçâo produzida pelo bacillo pul- lulando na lympha e no sangue, eo eholera intestinal, que é uma intoxicação devida ao veneno elaborado no intestino pelo vibrião, podia-se esperar uma acção muito diversa do serum preventivo nas duas moléstias. De facto, as ex- periências feitas demonstram que a quantidade de serum sufliciente para pfeservar quinhentos cobayos, da peritonite cholerica, é incapaz de preservar um coelho de mamma contra o eholera intestinal. Os ensaios feitos até agora para curar o homem cho- lerico não têm dado resultados; concluir-se d’ahi, porem, pela impossibilidade de lutar contra o eholera idesse ter- reno, não seria justo; somente é preciso encontrar-se um serum capaz de agir contra a toxina : na sua ultima publi- cação Pfeiffer aununcia que já obteve um começo de pro- priedade antitoxica em alguns dos seus soros. No mesmo sentido trabalha-se em vários labaratorios da Europa. Os epidemiologistas têm verificado que ha localidades indemnes de eholera. ; ás vezes a immunidade de uma po- pulação é passageira ; outras vezes é duradora como em Versailles, Montpellier, Lyon, Stuttgart, etc. Da mesma maneira quando o eholera desenvolve-se em qualquer logar fica-se sorprehendido de ver a marcha que segue a epidemia, que expande-so ora uma incrível rapidez, ora com inexplicável lentidão. Esse eonjuncto de factos indica que a acção pathoge- niea do bacillo virgula depende de algumas condições par- ticulares em que o mierobio pode-se achar. A supposição de que a flora microbiana que cerca o vibrião cholerieo 273 exerce ama grande influencia sobre acção dhiquelle orga- nismo, levou os experimentadores á descoberta do cholera intestinal dos pequenos roedores ; por isso tem-se o direito de pensar que no homem os mesmos factores intervêm para o desenvolvimento da moléstia. Esta hypofhese, que ainda não pôde ser rigorosamente demonstrada, está muito de accôrdo com o que sabe-se da microbia e epidemiologia do cholera. Sanarelli mostrou que o vibrião cholerico pôde viver nas aguas de um dos logares indemnes clássicos : a cidade de Versailles. A na- tureza cholerica d’esse vibrião deu, em uma experiencia no homem, um caso de cholera, tendo também sido veri- ficada a propriedade de dar o phenomeno de PfeifFer, por aquelle distincto bacteriologista. A immunidade local não tira, pois, ao vibrião a sua virulência ; ella depende de outras causas, que devem revistir um caracter também local ; ora, entre os factores d'esta ordem deve-se collocar no primeiro plano a flora microbiana, que pôde favorecer ou inhibir a acção do germen. Sobre os mierobios favore- cendo a acção do vibrião cholerico já ha factos bem esta- belecidos : mas no sentido opposto nada ha ainda feito. Entretanto proseguem os estudos n’esta direcção. DIPHTERIA SUMMARIO—O bacillo nas falsas membranas.— Pesquisas.— Coloração.—Isolamento sobre serum coagulado.— Colonias diphtericas.—- Resistência do bacillo.— Acção do germen sobre os animaes.—Parai ysia diphterica ex- perimental.—- O bacillo não prolifera nos orgãos.—Attenuação do microbio.—Bacillo pseudo-diphterico.— Associações microbia- nas na diphteria.—Yeneno diphterico nas culturas.-—Paraiysias toxicas.—Proprieda- des do veneno diphterico. — Immunidade conferida aos animaes.—Processos diversos. —Serum dos animaes immunisados.—An ti - toxina.— Tratamento especifico da molés- tia ; seus resultados. Foram principal mente os trabalhos de Klebs e de Lceffler que contribuíram para tornar conhecido o microbio da diphteria, que é uma moléstia earacterisada essencial- mente pela formação de falsas membranas resultantes de uma infiltração fibrinosa, seguida de mortificação do derma mucuso. Esta falsa membrana é de côr acinzentada e re- produz-se rapidamente toda a vez que (* destacada. Em geral a moléstia conserva-se localisada durante algum tempo e só mais tarde generalisa-se infeccionando o organismo. 276 Lceffler demonstrou a presença de microbios nas falsas membranas ; mas os bacillos são difficeis de isolar. Para isso começa-se por semear um pedaço das falsas membranas sobre se rum gelatinado. Também a cultura póde ser feita em tubos de gelatina, submettendo-se depois a uma tempe- ratura de 20 ou 22 gráos centígrados. Os bastonetes obtidos por este meio são immoveis e colorem-se facilmente com uma solução aquosa de azul de methylene. Elles tem alguma similhança com os bacillos da tuberculose, sendo, porém, um pouco mais delgados. As culturas aquecidas a 60.° ficam estereis. A diphteria semeada em ser um coagulado dá colonias salientes na superfície, apresentando no centro um pouco claro e na periplieria uma zona mais carregada. Em ge- latina glyceriuada o microbio cresce muito bem, mas sus- pende-se a cultura logo que o meio deixa de ser alcalino. Em caldo a proliferação do gerrnen faz-se regular mente, sem que o meio fique turvo ; apresenta um peq ueno deposito no fundo do vaso, quando apparece a acidez ; um pouco mais tarde a reacção muda ea cultura volta á alcalinidade. E’ n’essa occasião que apparecem os crystaes phosphato- magnesianos, provenientes da transformação das matérias azotadas em alcalis. Ha entretanto algumas raças do ba- cillo que turvam o caldo. O microbio é aerobio-anaerobio, mas na presença do ar prolifera muito melhor. Em clara d’ovo, em batatas, em gelose, o germem cresce mal. Juntando-se a qualquer dos meios um pouco de assucar os resultados são mais apreciáveis, porém dentro de pouco tempo a transformação das matérias hydro carbonadas em ácidos suspende a cultura. Um bom meio de cultura para o bacillo da diphteria é um caldo obtido de carne velha, saturado de carbonato de cal ; o microbio conserva-se vivo nos meios durante mezes. Não dá esporos e a 58.° morre. Os antisepticos fracos, que aliás o attingem difficilmepte por causa da 277 membrana que o protege, também d i st roem aquelle micro- organismo rapidamente uma vez em contacto com elle. Guardado em logar secco e ao abrigo da luz elle con- serva-se durante annos: o Dr. Roux semeou com resultado um pouco de uma falsa membrana conservada durante trinta annos por um medico, cujo filhinho fallecera da moléstia. O bacillo de Klebs encontra-se principalmente na su- perfície das falsas membranas. Abaixo da superfície d’estas ha uma camada fibrinosa e com granulações, sob esta ainda ha uma também fibrinosa, mas reticulada, na qual encon- tram-se grupos do bacillo ; mais abaixo ainda existe uma camada mucosa muito congestionada contendo globos san- guineos e leucocytas. Outros microbios de natureza diversa da diphteria acham-se misturados com os de Klebs na superfície da membrana, ao contrario do que se dá nas camadas mais inferiores, onde quasi que só ha bacillos puros da di- phteria. Inoculados nos animacs os bacillos de Klebs dão uma moléstia similhante á diphteria do homem, da qual morrem os animaes. Um cobayo inoculado sob a pelle apresentará um edema no ponto picado e morrerá em 24 horas. O edema é coberto de estrias sanguinolentas; os vasos abdominaes são congestionados. Ha derramento pleural e hyperhemia para os rins. —Às gallinhase pombossuccumbem rapida- mente ; o cão dura de tres a quatro dias, e a vacca c o carneiro também succumbem ao mal. Para reproduzir-se a moléstia com o seu cortejo ha- bitual de symptomas, basta colloear o germen sobre uma mucosa lesada (estando intaeta o microbio não prolifera ); inoculado na trachèa de um coêlho este apresentará em breve o croup com os seus symptomas : ruido de bandeira (bruit de drapean) suffocação, falsas membranas com os 278 bacillos e por fim a morte. Os ratos e os camundongos são refractaiios á dipheteria. A principio negou-se a especifidade do bacillo de Lceffler e attribuiu-se a producção de falsas membranas a estreptococeos ; de facto estes microbios estão muitas vezes associados ao da diphteria nas falsas membranas ; mas culturas puras do bacillo de Lceffler, inoculadas dão a pa- ralysia ãiphterica, que jamais é produzida pelo estrep- tococco. Nos coelhos essa paralysiacomeça pelos membros posteriores e vai invadindo progressiva mente o corpo do animal até a morte, que é a terminação constante ; ao passo que as crianças escapam muitas vezes. Querendo-se acompanhar o desenvolvimento do bacillo nos coêlhos inocula-se uma serie ao mesmo tempo e vai-se sacrificando successivamente cada animal 2, 4, 6, 8 horas depois da inoculação. Observa-se então que a cultura faz-se bem no começo, mas suspende se depois, porque os microbios são envolvidos pelo exsndato fibrinoso das falsas membranas e não podem estender-se. N7este caso porque a moléstia é mortal %—Simples- mente porque a diphteria não é de maneira alguma uma infecçao, e sim uma intoxicação como veremos mais longe. E7, pois, uma moléstia especifica muito variavel em sua virulência. Iía bacillos diphtericos que matam em 24 horas um cobayo de 500 grammas ; outros levam 0 e 8 dias para consuminar a sua obra ; outros menos activos causam apenas lesões locaes de que o animal restabelece se ; finalmente os ha também de uma virulência nulla. Consegue-se artificial mente tornar quasi neutro o ba- cillo : toma-se uma falsa membrana e semea-se ; ella vai apresentar diversos grãos de virulência ; depois de tel-os ensaiado em vários animaes, escolhe-se aquella colonia que mostrou-se mais virulenta e semea-se em gelatina glyce- rinada ; a principio ella crescerá bem, até que a producção de ácidos venha embaraçar o seu desenvolvimento. O ba- cillo collocado n7estas condições desfavoráveis perderá 279 gradualmente sua virulência ; antes, porém, que elle morra, toma-se um pouco da cultura e semea-se em outro tubo de gclose glycerinada e assim por diante até que não haja mais virulência. Ha ainda outro processo : deixa-se sêccar e envelhecer uma falsa membrana em uma folha de papel ; semeando-se parcellas d’essa membrana em épocas diAferentes vê-se que cada dia as culturas vão se tornando menos activas. Em resumo : no homem uma mesma membrana contém colonias de uma virulência variavel. Esta virulência pôde ser attenuada por meios artificiaes. O baeillo conserva-se por muito tempo, mas vai-se attenuando. Nas pessoas gozando boa saiíde encontra-se nos pro- ductos da garganta o baeillo, que cultivado reproduz todos os signaes do baeillo de Klebs. Estes bacillos pseudo- diphtericos encontram-se nos serviços hospitalares de crianças doentes de sarampam ; é ahi que os doentinhos adquirem muitas vezes a diphteria. —Será um microbio diAferente do outro '? Pensa o Dr. Roux que trata-se sim- plesmente de uma forma attenuada do baeillo de Lceffler. Ao lado das anginas diphtericas authentieas, ha outras de falsas membranas causadas por microbios differentes d’este que estudamos. Podemos citar as anginas causadas por estreptococcos, as do estaphyloeoccus, as do pneumo- cocco e mesmo as do coli-bacillo. Ao lado d’estas appare- cem no larynge e no pharynge outras lesões produzidas por um pequeno coccus, muito delgado e que foi visto pela primeira vez pelo Dr. Roux e por Ycrsin, denominado coccus de Brisou, assim chamado porque foi o menino d’este nome que o forneceo. Esta criança entrou para o Hospital dos «Enfants malades» gravemente doente de croup, escapou, póde-se dizer, milagrosamente, tendo, em desespero de causa, soflfrido duas vezes a operação da tra- eheotomia. O coccus de Brisou desenvolve-se em serum em coló- nias similhantes ás do baeillo diphterico, cultiva-se em 280 serum dando colonias similhantes ás do bacillo diphterico, mas as colonias são mais lisas e mais salientes. O diagnostico pelo microscopio é em todos os casos de indeclinável necessidade. Em um caso suspeito de di- phteria procede-se assim : — toma-se um pouco das falsas membranas e faz-se immediatamente uma preparação entre lamina e laminula, que examina-se ao microscopio ; em seguida, e para maior segurança, seinea-se a mesma moni- brana em tubos que são levados á estufa. Si é mesmo da diphteria que se trata, as colonias ap- parecerão lá para a decima oitava hora. A precocidade das culturas não deixará n’este caso a menor duvida e o exame microscopico completará o diagnostico. Só o coccus de Brisou seria de capaz de proliferar tão depressa ; mas sendo a sua forma bem differente do bacillo de Klebs, a confusão não será possível. Deixando-se a cultura na estufa mais de 18 horas corre-se o risco de ver desenvolverem se outras especies mi- crobianas. Esta cultura fornece ainda indicações úteis para o prognostico bacillos longos entrelaçados, colonias nu- merosas indicam uma diphteria grave. Poucos bacillos, colonias raras, microbios curtos, colloeados mais ou menos parallelamente, indicam, pelo contrario, que o caso será benigno. E' necessário examinar se existe associação micro- biana: si, por exemplo, encontra-se o estreptococeo. Para reconhecel-o deixa-se a cultura envelhecer na estufa. Quando apparecem entre as colonias diphtericas pequenos pontos que tomam o (/mm, é que ha estreptoeoccos compli- cando o caso, cujo prognostico deverá ser considerado grave, porque é muito provável a apparecimento da broncho- pneumonia. O facto de se acharem os ganglios cervicaes entumeci- dos e a eôr pardacenta das falsas membranas indicam também a presença de estreptococcas. Si o microbio as- sociado fôr o pnenmococco devemos receiar terríveis 281 complicações para o pulmão ; e si fôr o estaphylococco é uma bronehite que virá aggravar a sorte do doente. Em summa, não é demais insistir-se sobre a importância do diagnostico bacteriológico, mesmo porque muitas crianças entram indevidamente para os serviços destinados especial - mente para a diphteria, moléstia que os meninos podem 11’este caso contrair. O bacillo de Lcefiler persiste na bocca dos convales- centes muito tempo depois da cura ; por isso em França nos serviços nosocomiaes não se dá alta ou boletim de exeat, sem que se esteja seguro, por exame microscopico e cultu- ras muitas vezes repetidas, de que o bacillo desappareceu completamente. Além d’isso os ex doentes devem fazer frequentes gargarejos e bochechos boricados. Ha uma especie de diphteria, nasal muito insidiosa, tra- duzindo-se por catharro do nariz, diffieuldade de res- pirar e uma ligeira febre ; as pessoas affectadas constituem focos ambulantes de contagio, visto como por manifestações tão ligeiras, ninguém guarda o leito. A’s vezes ha certas soluções de continuidade na mucosa labial diffieeis de sarar, porque contêm o bacillo ; eis ahi uma outra fonte de contagio. Conservando os productos das falsas membranas sua virulência durante muito tempo, segue-se que as desinfec- ções são de rigorosa necessidade ; essas desinfecções devem ser meticulosas e muito serias, não só nos aposentos como nos moveis, roupas de cama e do doente, mesmo quando já tenham decorrido alguns mezes. Pelo que já conhecemos pode se tirar algumas indica- ções sobre o tratamento : as cauterisações das falsas mem- branas, sobre serem inúteis são perigosas, como tudo que póde escoriar ou lesar a mucosa, o que daria logará formação de novos fócos de cultura do bacillo. Os antisepticos são também inúteis porque não podem attiugir os microbios, estando estes protegidos pelas falsas membranas, e quando são muito toxicos ha ainda o perigo da absorpção por 282 parte literia inoculado cm um cobayo desenvolve-se no ponto de inoculação sem es- palhar-se pelos outros orgãos, não generalisa-se. Trata-se pois de uma moléstia analoga ao carbúnculo, ao eholera das gallinhas, ao rouget do porco, etc., nas quaes aliás en- contra-se sempre uma grande quantidade do bacillo. Na diphteria o numero de germens é muito mais li- mitado e não basta para explicar plenamente a infecção. E’ preciso pois admittir se que o microbio não gene- ralisando-se, não póde entrar directamente em conflieto com a cellula, não luta, por assim dizer, corpo a corpo com os elementos primordiaes do nosso organismo, mas o faz por intermédio de alguma cousa, e essa alguma cousa é o veneno por elle secretado, é a sua toxina, que absorvida vai perturbar profundamente a economia. E’ portanto a diphteria uma doença toxica, como o demonstrou brilhante- mente a bacteriologia e como já deixavam suspeitar as lesões necropisicas e os symptomas observados. Si guardarmos durante tres ou mais semanas na estufa a 87a uma cultura do bacillo dipliterico, este des- envolver-se-á sob a forma de véo, cahindo mais tarde no fundo 1 c-c- toxina iodada 1/10. Não houve reacção. » 17° $> 1» 1/4 c.c. toxina iodada. Ligeiro edema sem febre » 22° » » 1 c-c- » » » » » » » 23° » » 2 c.c. » » » » » » » 25° » » 3 c.c. » » >>%»>> » 28c >> » 5 c.c. » » » » » » » 30°, 32°, 36" dia 5 c.c. » » » » » » 43°, 46°, 48’ 30 c.c. toxina pura. Edema considerável, dis- sipado em 24 horas. •» 53° dia 60 c.c. » » » » » » » » 57°, 63°, 65", 67" dia 60 c,c. » » » » » » » » 72° dia 90 c.c. » » » » » » » » 89° » 260 c,c, » » » » » » » Fste cavàllo recebeo, pois, no decurso de 80 dias cerca de 800 centímetros cúbicos de toxina apresentando apenas mu edema passa- geiro com o augmento de um gráo de temperatura, quando as injec- ções erão maiores. Sangrado no 87‘ dia este mesmo animal receboo uma novainjecção de 200 c. c. de toxina, sem inconveniente. Em media são necessários tres mezes para, a immuni- sação de um cavallo. Terminadas as injecções de toxina deixa-se o animal repousar durante 8 ou 10 dias antes de tirar-se-lhe o sangue. Um cavallo póde fornecer cerca de quatro litros de sangue em cada sangria ; esta pode ser re- petida, guardando-se intervallos de 20 ou 30 dias. Prati- ca se a sangria na jugular, por meio de troeart, ficando a canula ligada a um tubo de borracha que despeja em um 287 boccal, tildo rigorosamente esterilisado, segundo technic bacteriológica. O sangue é então abandonado á coagula- ção espontânea e pode fornecer dois litros de serum. Havendo muitos aninmes ao mesmo tempo a fornecer se- rum é conveniente misturar o sangue de todos elles, por- que assim obtem-se um ser um uniforme. Trata se agora de conservar o serum ; para isto toma- se uma pipetta de Ohamberland, aspira-se o liquido, que é dividido então pelos pequenos frascos; em cada um d’estes bota-se um pequeno pedaço de camphora previa- mente passada pelachamma do gaz como agente de conser- vação ; o frasco é final mente fechado com uma rolha de bor- racha esterilisada e guardado ao abrigo da luz. Na Euro- pa o serum assim conservado dura mezes e annos com as suas propriedades normaes. Também é possível conser- var-se o serum no estado solido fazendo-o evaporar no vasio ; quando quer-se fazei- uso d’elle c só juntar-lhe 8 ou 10 vezes o seu volume de agua esterilisada ; mas esta .solu- ção tem o inconveniente de produzir um edema passageiro ; ó por isso que na Europa pr«.ferem a forma liquida e só expedem o serum secco para os paizes do clima tropical, onde o producto liquido perde rapidamente as suas pro- priedades. Enifiin o eavallo que está fornecendo o soro deve ter a sua immunidade entretida por novas injecções de toxina, injecções que podem ser feitas de uma só vez (3()0a 500) no momento mesmo em que se acabou de reti- rar-lhe sangue e pela mesma canula que para este fim tem- se deixado no logar ; ou então, o que é mais util, recor- re-se ás injecções subcutâneas repetidas. Na Allemanha o methodo de immunisação corrente- mente empregado é o de Behring ; em Hochst-sobre-o Mein, nas proximidades de Frankfort, existe uma grande installação de mais de 000 cavai los, que fornecem o serum antidiphterieo em larga escala. Os primeiros trabalhos de Behring sobre serotherapia antidiphteriea repousavam sobre o principio do enfracpie- 288 cimento das culturas polo triehlorureto de iodo ; clle inje- ctava dóses crescentes de culturas, cada vez contendo menor quantidade de triehlorureto de iodo. Em pouco tempo elle obtinha o que elle chamava base de immunidade ( Graundimmunitat). Transposta essa Ia phase do processo elle inoculava então dóses crescentes e completava a resistência organica. As quantidades e os intervallos das doses eram calculados segundo a duração e intensidade da ultima reacção : as dóses só eram augmentadas quando a ultima injecção tinha sido supportada pelo animal sem a menor reacção. Roux no seu processo também juntava á sua toxina um pouco de iodo, sob a forma de licor de Gram ; mas hoje esta addição tornou-se facultativa, e em Pariz ó in- diAferente começar a immunisar-se com a toxina iodada ou pura. Quando se tem feito uma serie prolongada de injecções e tem-se motivo para suppôr terminada a immunisação pra- tica-se a sangria conforme já deixamos indicado e divide se o serum por pequenos frascos onde elle ficará conserva- do com um pouco de camphora ou acido phenico; é ne- cessário, porém, conhecer o valor anti-toxico do serum antes de empregai-o como meio therapeutico. Roux injecta o serum antidiphterico em um cobayo de 500 grammas na dóse de um centesimo de centímetro cubico ; vinte quatro horas depois injecta 1/2 c. cubico de cultura virulenta de diphteria ; si o animal resiste, isso 6 : se a dóse serum foi sufficiente para neutralisar a acção da toxina, elle considera o soro capaz de ser utilisado no homem. Bellring estabeleceu a unidade antitoxiea do que elle chama serum normal, que é aquelle que na dóse de 10 een- ti gram mas neutralisa exactamente um c. cubico do veneno. IJm centímetro cubico d’este serum contém portanto uma unidaãc-behring. O bacteriologista berlinez estabeleceu que a dóse therapeutica simples é equivalente a 600 289 unidades, que vem a ser o minino que se deve injeetar para inicio de tratamento. Ehrlich notou que o leite dos animaes immunisados tinha propriedades anti-toxicas ; este facto, porém, tem apenas o interesse de uma descoberta theoricae de nenhum valor pratico, porque a extrema diluição da toxina no leite impededede lançar-se mão d’este liquido para o trata- mento dos doentes. Confirmado pelo exame mieroscopico e bacteriológico, ou simplesmente suspeitado como tal um caso qualquer de croup, deve-se sem perda de tempo tratal-o por meio das in- jecções de serum antidiphterico ; e, tendo em vista a mais rigorosa asCpsia, escolhe-se uma seringa especial de capa- cidade de 10 c. c. ou mesmo mais, e esterilisa-se em uma solução de soda a 1 fc, que é aquecida a 100° e onde a se- ringa é deixada durante cinco minutos ; em seguida pra- tica-se a injecção. Quanto á seringa, tanto o modelo de Koch, como o deKoux preenchem bem o fim que se tem em vista. O logar do corpo em que deve ser feita a picada ne- nhuma importância tem e cada um escolhe o que lhe pa- rece melhor. A pelle é lavada com agua quente e sabão e esfregada com uma escova aspera, depois com álcool e com uma solução phenicada ou de sublimado. Não é ne- cessário massar a região após a injecção : a reabsorpção do serum faz-se rapidamente, de sorte que a proeminência local desapparece logo. No logar da picada passa-se um pouco de collodio iodoformado. A questão da quantidade de serum a injeetar em um caso de croup tem uma grande importância, pois não basta, como muito bem diz o Dr. Funck, chefe dos trabalhos do «Instituto Serofch era pico» de Bruxellas, «começar-se por uma injecção de 20 c. c. de serum de Boux, ou de 10 c. c. de um dos tres soros de Behring e limitar se a aguardar os acontecimentos ! O papel do medico em presença de um caso de croup deve ser muito mais activo : as ultimas 290 estatísticas mostram a vantagem de injectar-se uma dóse sujficiente de auti-toxina, segundo a gravidade do caso.» De facto assim é : a dosagem varia com a phase em que a moléstia está ; varia com o processo morbido local, com a existência de uma infecção secundaria, com a idade de criança, etc. Nos serviços hospitalares que empregam o serum mais concentrado é onde tem-se colhido os me- lhores resultados. O professor Roux recommenda para as anginas diphtericas puras duas ou tres injecçôes, representando de 40 a 50 c. c. de serum ; e para as anginas associadas cerca de 70 c. c. Quando a associação microbiana é com o es- troptocoeco, além do serum antidiphterico, injecta-se tam- bém o serum de Marmorek. Na Allemanha a grande fa- brica explorada em Hochst pela firma Meister LnciuS e Bruning, sob a fiscalisação de uma commissão official, fornece tres especies de serum : N° 1 • contendo 000 unidades-beliring em 10 c. c., re- presentando a (lóse therapeutica mais simples applicavel a todas as crianças de tenra idade e bastando, sempre que o tratamento tem começado no 1- ou 2- dia moléstia. N° 2 contendo mil unidades, em 10 c. o., applicavel aos casos de media intensidade. N° 3 contendo 1,500 unidades, reeommendado nos casos graves, ou para os doentes que começaram tarde, ou ainda para aquelles que tenham o larynge eompromettido por qualquer forma. Para os adultos qualquer d’estas doses é insufficiente : ellas devem ser repetidas pelo menos uma vez, de seis a dozes horas depois da primeira injecção ; por segurança também deve-se proceder assim com os meninos maiores de cinco annos. Um dos e liei tos mais promptos das injecçôes de soro antidiphterico é a melhora brusca do estado geral do 291 doente, affirmam todos que applicam ou têm visto applicar o novo tratamento. Em seguida a formação de falsas membranas é ra- pidamente suspensa e, segundo nota o Dr. Boux, ellas desapparecem no fim de 36 a 48 horas. Quando a intervenção é tardia e o caso é grave pode- se não conseguir tão brilhante successo ; as falsas mem- branas ameaçam o doente de asphyxia immediata e não lia rernedio senão recorrer a tracheotomia, que tornou-se quasi desnecessária com o novo rernedio ; e com a intubação ou tubagem do larynge, processo rei mportado recentemente da America do Norte em Fi ança, onde tinha sido descoberto em 1848 pelo professor Bouchu ; mas este modesto e ope- roso author teve a má sorte de ter contra o seu precioso invento a immensa authoridade de Trousseau que preconi- sava a tracheotomia ; de modo que o processo não teve quasi applicação em França e cahiu no esquecimento. Agora, porém, foi elle reimportado por alguns médi- cos e tem sido calorosamente preconisado pelo Dr. Chail- lou, como bem superior á sangrenta tracheotomia, nos poucos casos em que esta era ainda empregada, apezar do tratamento especifico ; de .sorte qne com os dois processos combinados, a abertura da trachéa é hoje inteiramente ex- cepcioual, emquanto que outFora era a regra ; salvava, é certo, os doentes da asphyxia immediata, mas era impo- tente diante da intoxicação produzida pelo veueuo diphterico. Não acontece mais assim com o novo tratamento Beh- ring-Boux, que fez baixar immediatamente e por toda a parte a porcentagem da mortalidade produzida pela ter- rível moléstia, considerada o terror das mãis, que hoje só podem bemdizer os authores, que na phrase de um dis- tincto bacteriologista, «escreveram um dos mais bellos ca- pitulos da therapeutica». FIM ÍNDICE Carta ao author I Prefacio II Generalidades 1 Bactérias chromogenias 129 SUMMARIO—<$ Miero-bacillus prodigiosas $> : sua diiíusão e sua cultura sobre os diversos meios.— Formação da matéria corante ; pro- priedades d’esta matéria.— Raças do bacillo sem pigmento — Pleomorphismo do bacillus prodigiosus.— Bacillo vermelho de Kicl.— Bacillo pyocyanieo.—Coloração azul dos pan- nos dos curativos.— Pyocyanina.— Culturas. —Propriedades da 'matéria corante ; funcções chromogenias.— Diversas raças do bacillo pyocyanieo—A cção sobre os diversos meios. —Moléstia aguda e moléstia chronica.—Yac- cinaçao dos coêlhos.— Bacillo pyocyanieo e corbunculo.—bacteeias photogenias. Caldo de carne 31 SUMMARIO.— Modo de preparar o caldo.—Re- partição pelos vasos de cultura.—Esterilisa- ção dos vasos.—Matraz distribuidor.—Diver- sas formas de vasos.— Maneira de semear 0 caldo.—Aspecto das culturas.—Modificações produzidas pelos microbios —Modo de reco- lher o caldo com a pipetta.—Tubos afilados.— Caldo preparado com diversos orgãos.—In- fusão diversas.—Meios artificiaes. • Liquides de Pasteur e de Raulin.—Licor de Conh.— Yantagens dos meios liquidos. 294 Carbúnculo bacteridiano 139 SUMMARIO— Moléstias carbunculosas dos ani- maes.—Pustula maligna do homem.— O car- búnculo é inoculavel.—Commissão do Eure e Loire.—Experiências no coelho, no cobayo e no rato.—-Autopsia de um animal carbuncu- loso.— Bacteridia carbunculosa ; sua desco- berta.—Culturas sobre os diversos meios.— Esporos : condições para a sua formação.— Propriedades dos esporos.— Bactéria asporo- genia.—Receptividade dos diversos animaes pa--a o germen. Cholera das gallinhas 107 SUMMARIO—Caracteres da moléstia : symp- tomas, lesões.-Microbio : coloração e cultura ; acção local injecções.—Attenuação das cultu- ras.—Vaccinação : lesões locaes.—Conserva- ção do virus no solo. — O virus nos laborató- rios. — Especies sensíveis : aves, coelhos, - Os grandes animaes resis tem.—Líquidos de cultura privados de mi- cróbios.—Serum dos animaes vaccinados. Cliolera e vibrião 253 SUMMARIO— Investigações de Koch.— Ba- cillo virgula no intestino. — Coloração. — Yalor dignostico do vibrião.—Isolamento.— Raças do microbio.— Culturas.— Reacçio indol-nitrosa.— O bacillo no homom e nos animaes.—Formas de involução.— Peritonite cholerica.— Phenomeuo de Pfeilfer.— Es- poros. — Cilios. — Espirillos. — Vaccinação contra o cholera.—Toxinas cholericas.—Hy- potheses sobre a epidemiologia do cholera. 295 Colibacillo 237 SUMMARIO—Bacterium coli rcmmune : seus caracteres, sua diffusão.—Acção sobre os animaes.—Virulência variavel ■—Acção sobre o homem.-—Toxina do bacterium coli.—Im- munisacão dos animaes. — Serum, — Simi- llianças entre o colibacillo e bacillo typhico —Distincção entre ambos os bacillos. Cultura bacillo sobre os animaes.-—Iufecção, ou into- xicação P— Yeneno typhico.— Immunisação dos animaes.—Serum dos animaes immunisa- dos.—Papel da agua na propagação da mo- léstia. — Conservação do bacillo no solo.— Outros modos de transmissão da febre ty-, phoide. 297 Febre recurrente 24.4 SUMMARIO—Simptomas principaes.—Spiro- c.licete Obtrmeieri.—Caractéros d'este micró- bio.—Auzencia de culturas.-—Coloração.-—A molesfa nos macacos.—Inoculação no ho- mern.—Etiologia da febre recurrente.—Pá- thogeuia da crise. Moléstia dos gansos. Filtração 49 SUMMARIO— Esterilisação dos meios que não podem ser aquecidos.—Liquides contendo al- bumina.— Esterilisação por filtração.—Fil- tros de terra cotta.—Tubos filtrantes.—Fil- tro Cliamberland.—Maneira da recolher e re- partir os líquidos,—Modificações operadas no liquido pela filtração.— Filtração sob pressão de acido carbonico.—Preparação do ser um de sangue:—Sua esterilisação.— Liquidos orgâ- nicos natural mente estereis.—Liquido da as- cite, do hydrocele, do nninios.— Urina.— Albumina do ovo. Cultura nos ovos.—- Humor aquoso. Clclat ina o gelose 41 SUMMARIO—Preparação da gelatina nutritiva —Maceração.—Filtração. — Repartição pelos vasos de cultura.—Esterilisação.—Tubos rec- tos.— Tubos inclinados. Isolamento das es- pecies.— Sementeiras por picadas.—Caracte- res das culturas.—Liquefacção da gelatina.— Meios solidos transparentes.—Gelose ou agar- agar.— Gelose nutritiva, sua preparação.— Os raicrobios não liquefazem a gelose.—Geléa de lichen.—Gelose-gelatina. Inoculações experimentaes S‘> SUMMARIO—Preparação das matérias a inocu- lar. — Seringas. — Os animaes : maneira de contei-os.—Escolha da região a inocular.— 298 Utilidade de ensaios em varias especies.— Quantidade de virus a injectar.—Associação de diversos virus.— Gaiolas para os animaes inoculados.—Limpeza e conservação dos ins- trumentos. Lepra 1.00 SUMMARIO - Descoberta de Hausen O ba- cillo da lepra: suas propriedades e modo de coloração.—Tentativa de culturas do bacillo. Inoculação da lepra nos animaes.— O bacillo nos tecidos e orgãos humanos.— Pseudo-tu- berculoso bacillaiv—Tuberculose zoogleica.— Propriedades do microbio d’esta moléstia.— Inoculação nos animaes. Microbios do ar 91 SUMMARIO —Poeiras e microbios do ar—De- monstração de sua existência.— Analyse do ar contendo germens—Contagem d'estos.— Maneira de semeai-os.—Inconvenientes dos meios gelatinados.—Experiências deMiquel. —Influencia das estações—Ar dos aposen- tos ; dos hospitaes ; das montanhas ; do mar. Ar expirado.—Germens patliogenicos.— Variações dos germens durante as horas do dia.—Apparelhos registradores. Microbios das aguas 99 SUMMARIO—Insufficiencia da analyse clnmica. —Quantidade e qualidade dos germens.— Experiências de Pastour.—Modo de recolher a agua a examinar. Ensaios preliminares.— Methodo das sementeiras fraccionadas em caldo.—Placas de gelatina. -Methodo de Mi- quel.—Exame chimico auxiliar do exame ba- cterioloerico.-—Agnas de lio.—Agua de ali- mentação de Pariz.—Aguas dos poços.— Aguas dos esgotos de Pariz.—Sua puriflca- cação nos campos de cultura.-—Filtração das 299 aguas potáveis,-—Desinfecção pelo calor.— Influencia do ar e da luz.—O ozona.—Mi- cróbios no gelo ; na agua! distillada ; nas aguas g.izozas.- -Aguas potáveis e epidemias. —Estudos relativos ao assumpto. Micróbios do solo llõ SUMMARIO—São numerosas as especies micro- bianas do solo.— Elias variam com a natureza do terreno.—Contagem dos mierobios.—Modo de recolhel-os.—Processos de cultura.—Ob- servações de Muntz e Seliloesing.— Experi- ências de Winogradsky.—Fennentos nitrosos e nítricos.—Mierobios desnitrificantes.-—Ob- servações de Gayon e Dupetit.— Fermentos da cellulose.—Fermentação das estrumems. —Fixação do azoto atmospberico pelo solo.—• Experiências sobre as nodosidades das legu- minosas.— Bacteroides dessas nodosidades,— Bacillos fixadores de azoto.—Importância dos mierobios do solo. — Polluição das aguas sub- terrâneas.— Itnportancia da natureza do solo —E roluçao de certos mierobios pathogenicos. —Transporte dos mierobios pelas aguas de alimentação. Mierobios pyngenios 219 SUMMARIO — -Suppuração e mierobios.—Bac- teridia do laboratorio de Pasteur.— Fre- quência relativa de bactérias no puz : sua procura ; color-ação.— Puz dos abcessos an- tigos— Staphylococcus ctureus ; sua cultura. —Moléstias ausadas pelas bactérias.—Furuu- culos.—Osteo-myelite.— Pyohemia.— "Varia- ção da virulência.— Substancias toxicas ela- boradas pelos mierobios.—Erysipela.—Papel pathologico do estreptococco no homem.— Serum anti-estreptococcico. — Pode haver suppuração sem microbio ? 300 Monuo 181 SUMMARIO — «Mormo» nos equídeos e no homem.—«Monno e farcino». — Formas da moléstia.—Symptomas e lesões.—Contagio.— Trabalhos de Rayer.—Baoillo do mormo : sua cultura.— Experiencios de Nocard.— Atte- nuação do virus.— Productos toxicos do ba- cillo.—A malleina.—Injecções nos auimaes : reacções caracteristicas.— A malleina fixa o diagnostico nos casos duvidosos.—Natureza e propriedades da «malleina». Moiphologia dus biifderirts 11 SUMMARIO— Parentesco das bactérias com as cyanophycéas. — Polymorphismo das bacté- rias.—Tlieorias de Conhe de Noegeli.—Desco- berta do bacillii8 zopfii.—Pesquizas diversas. Pleomorphismo das bactérias pathogenicas. Estructura das cellulas bacterianas.—Modos de reproducção. Paludismo 249 SUMM \RIO—As manifestações malaricas são devidas a um parasita.—Trabalhos anteriores á descoberta hematozoarin, em 1878.— Pleo- morphismo do parasita. Diversos aspectos do microbio. — Sua evolução. Inoculações.— Procura do germen. - Coloração.—Hemato- zoario dos animaes. I * 11 o n í n o n i a 211 SUMMARIO A pneumonia é uma moléstia infecciosa. Microbios nos escarros pneumo- nicos. Diplococcos lanceolados. Pneumo- cocco. - Culturas sobre os diversos meios. - Acção sobi’e os animaes.— Organismo encon- trado por Pasteur em 1880.— lmmunisação 301 por meio da toxina.—Serum dosanimaes im- raunisados.— Ensaio de tx*atamento da mo- léstia. — Pneumo-bacillo de Friedlander.— Antngomsmo eutre esto germen e a bacteri- dia do carbúnculo. líouget o Fnoumo-onterite 173 SUMMARIO —«R no sangue e em outros orgãos.— Methodos de coloração.— Cultura sobre os diversos meios.—Conservação dos microbios.—Animaes receptiveis.—Contagio. —Attenuação do bacillo.—Serum dos animaes immunisados.—Septicemia dos ratos. - Simi- lhauça do bacillo d'esta moléstia com o d > <^rouget?>.—PNEUMO-KNTBBITE dos porcos. — «.Hog-Cholera» e suas diversas denomina- ções.— Distincção entre esta moléstia e o <£ronget».—Cocco-bacillo do pneumo enterite1 seus caracteres.—Toxina dò «hog-cholera».— Propriedade do serum dos animaes immunisa- dos. Suparaosío dos microbios 57 SUMMARIO—Yanlagens da gelatina ; cultu- ras sobre placas ; sua esterilisação.—Diluição da semente.—Maneira de esteuder-se a gela- tina sobre as placas.—Bocetas de Petri.— Tubos de Esmarch.—Aspectos colonias. —Colonias liquefazendo a gelatinaA-Exame microscopico.—Variações no aspecto das co- lonias do mesmo microbio.—Estructura das colonias.—Inconvenientes da gelatina.— Pla- cas de gelose.—Gelose gelatinada.—cultura sobre porta-objccto.— Cultura em cellulas.— Repicagem.—Contagem das colonias.—cul- tura. DOS ANAERÓBIOS. 302 Teta no 1!) 1 SUMMARIO—O tétano c contagioso.— Obser- vações clinicas.—Experiências : inoculações. —Desceberta do bacillo.— Kilasato isola o microbio.— Morphologia. — Esporulação.— Coloração.—Culturas.— Resistência do ba- cilo.—Isolamento.—Toxina.—Immunisação. —O serum a;iti tetânico : acção curativa e acção preventiva.—Resultados obtidos. Tuberculose 230 SUMMARIO—A tuberculose é inoculavel.— A moléstia é c tusada por um microbio.— Pro- cura d i bacillo nos productos tuberculosos.— Coloração.— Inoculação dos productos no cobayo.— Culturas sobre serum e nos meios glyceriuados.— R isistencia do bacillo aos di- versos agentes.— Tuberculose das aves : par- ticularidades do bacillo.—"Variação da viru- lência do germen tuberculoso.—Contagio da tuberculose.—Leite e carne dos animaes tu- berculoses.—Passagem do bacillo ao feto.— O bacillo nas poeiras.—Substancias chimicas contidas nas culturas do bacillo.—Tubercu- lina : sua preparação e propriedades, Vaceinação contra o carbúnculo • 157 SUMMARIO— O esporo conserva a virulência da bacteridia que o gerou.—Resistência dos esporos aos diversos agentes.—Attenuação da bacteridia.—Escalas do virulência.— Yaccina : sua escolha e conservação.—Acção dos antise- pticos sobre as culturas.—Aquecimento do sangue.—Experiências.— Volta á primitiva virulência ; exaltação d esta por meio de pas- 303 sigens successivas.—Toxina elaborada pelo bacillus anthracis.—Yaccinaeão pela toxina. —Propriedade do serum dos auimaes immn- nisados contra o carbúnculo.—Modo de vac- cinar. DR. R0D0LPH0 GALVÃO NOÇÕES Dil BACTERIOLOGIA RECIFE 1899