mÊm mm ^■^j3&>^'.-\jy-i. {#'■$•■ Jlli PtÉí WC 262 B862a 1888 34630690R ML X. »■< -*C'"- ■■■*. c*c- ?J£ a <,*<*CcBfc.; NLM D51b7b51 1 NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE _ y< < «mc * c^-Cíá c •< rSc c c cae «■ ce>«^2 c a cc .< c <: c C" c < c c; f. -*C c < cc • - c «KL «M«. • •<<: ■MO" HT << c 4tiK£!( C' c c < ** A.< C< ^-.ítíl %$: '.'• "■ NLM051676211 í€% *^«c me ç - C «'CCCHT' c «cr c < <«r- «c :cvc« c cr.ccc«ci■<• « <: «. <. cc< c <- CCc Cj^ < C4KL c «:cíc-<^C C * — c <«fVcc *sc«. C edo JS^agcCüxaies Gr. ZSC d.© Brito. m fitofafici Tendo tido de apresentar á Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro uma dissertação, cuja defesa constitue a ultima das multiplices provas exigidas aos médicos estrangeiros, nos seus exames de revalidação de diploma, para o exercicio da sua profissão do Império do Brazil; e havendo assistido na Republica Argentina á epidemia de cholera asiático, que ahi teve lugar ultimamente,— occor- reu-me escrever uma monographia sobre essa doença, seguida das observações que, sobre ella, colhi na minha clinica, e das considerações que me parecessem opportunas. Estando porém desacompanhado dos meus apontamentos, bem como dos meus jornaes e livros, por mim annotados, durante os meus dez annos e meio de tirocinio clinico,— vi-me na necessidade de mudar de plano, não desistindo X completamente do assumpto, mas restringindo-o a algumas considerações sobre a pathogenia e o tratamento do cholera asiático, que é o que, n'esta doença, ha de mais moderno e mais interessante, sob o ponto de vista scientifico, e de mais inr portante e mais proveitoso, sob o ponto de vista clinico. Assim pois não me occupei, senão inci- dentemente, do que se refere á sua symptoma- tologia, marcha e terminação, anatomia patholo- gica, diagnostico differencial e prophylaxia ; este ultimo assumpto deduzindo-se facilmente da patho- genia ; e encontrando-se os outros bem tratados, em qualquer compêndio de pathologia medica, aparte pequenos detalhes, e a maneira errônea de explicar alguns phenomenos. Em questão de tratamento, passei em silencio todos os verdadeiros horrores que teem sido recommendados e prati- cados por um empyrismo, somente perdoavel, até que os últimos trabalhos, sobre esta doença, nos vieram descobrir o seu processo mórbido, e o seu tratamento racional. É este mesmo trabalho que, com ligeiras mo- dificações, faço agora reimprimir; antecedendo-o de algumas generalidades sobre physiologia pa- thologica e pathogenia; e supprimindo as propo- sições, em numero de três sobre cada uma das vinte e seis cadeiras ensinadas na Faculdade, e os Aphorismos Médicos, de autor clássico, que concluiam a obra. XI Tendo encontrado, sobre vários assumptos, discordancias as maisassignaladas, muitas vezes em questões de observação fácil, adoptei sempre as opiniões, que me pareceram melhor deduzidas ; e, se acaso alguma vez omitti o nome do obser- vador, não foi com intenção de exproprial-o dos seus direitos de paternidade ; porque declaro aber- tamente que, se apresento algum modo de ver novo, não pretendo invocar, de futuro, os meus direitos de prioridade sobre elle, se porventura for confirmado e acceite ; prefiro desistir d'elles ao trabalho, talvez irrealisavel, de averiguar, e che- gar a concluir, se alguma vez o li ou o ouvi n'alguma parte, ou se o discorri eu mesmo. Não dei o tratamento de senhor a nenhum dos autores a que me refiro, como é costume fazer com os que estão vivos ; porque entendo que os obreiros da sciencia, vivos ou mortos, são sempre dignos de egual respeito, e que este não consiste na maneira cerimoniosa de tratal-os. Além d'isso não tenho a pretensão de que nenhum d'elles leia o que escrevi, de modo que, tratando-os a todos como ausentes, creio ter procedido acerta- damente. Se este trabalho, quando eu o concluí, nada valia, não acontece outro tanto agora que, tendo-o submettido á censura do illustrado professor da Cadeira de Pathologia Geral da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, o Exm. Sr. Dr. José XII Benicio de Abreu, alcançou inesperadamente o mérito de ter provocado da amabilidade d'este cavalheiro a seguinte Carta, que abre com chave de ouro a minha humilde obra. Acceite pois S. Ex., por este facto, os cordeaes agradecimentos do mais enthusiasta admirador do seu formoso e robusto talento. Rio de Janeiro, 28 de Março de 1888. uttÁetme cQfáciv-iet cie J^w^wo. Jllm. jjir. íjr. guilherme Jraoter de Ijjriíü. ^&om a maior0 aiienção li o trabalho que* CV. S. dignou-se* coiifiar-me, bondoso de mais, desejando que* emittisse* o meu juizo acerca d&? seu valor7' scientifico. ZNão é com facilidade* que* poderia abalan- çar-me* a ser* crítico de* assumpto scientifico que* actualmente* preoccupa o espirito dos0 homens0 de* sciencia em todos os pontos0 do mundo civilisado. Portanto, não ê juizo de* mestre, que-? vou emittir, mas0 simplesmente* rápidas0 considerações0 de* obscuro observador, que* contempla extasiado a evolução scientifica, em suas0 applicações directas0 á pathologia, á clinica, e á hygiene* publica. XIV ZNem deve* ser ainda definitivo o juizo a emittir acerca de* taes° matérias, quando se* sente*, a cada momento, a queda e* desprestigio de* certas0 doutrinas, admittidas0 até ha pouco como verda- deiras0 e* actualmente* condemnadas, quasi sem discussão. SVesta marcha rápida que* tem tomado a medicina, sob o influxo da experimentação scientifica e* da observação clinica, é de* prever* o quanto deve* de* aproveitar a medicina clinica, encontrando em fontes0 positivas0 mananciaes0 de* ensinamento para a cura e* prophylaxia das0 moléstias. 'fèois0 bem, no meio do labyrintho em que* actualmente* nos0 achamos, vendo de* um lado a sciencia antiga, não podendo resistir á critica posi- tiva dos0 factos, e* de* outro a sciencia moderna, enriquecida por tantos descobrimentos0 importantes, e* descortinando não mui longe* dilatados0 hori- sontes, que* deixam perfeitamente* entrever o seu Ülimitado e* infinito,— o estudo da bacieriologia, quer sob o ponto de* vista pratico ou theorico, é a questão do dia, é a questão magna, apezar de* séculos0 muito remotos0 já terem dado foros0 de* cidade* e* importância, á doutrina dos0 infinita- mente* pequenos. XV W meu illustre* collega collocando-se* na van- guarda dos0 estudos0 experimentaes, descreveu o que* de* mais0 corrente* existe* acerca das0 bac- cterias, e* sua funcção como elemento etiologico. ^oi por demais0 minucioso neste* assumpto, e-z, sentindo o enthusiasmo que* disperta o estudo da bacteriologia, chegou a enunciar algumas0 con- clusões, precipitadas0 talvez na aciualidade, mas0 que* estão de* accordo com as° premissas0 firmadas0 nas observações0 microscópicas0 e* nos0 estudos0 da pathologia experimental. c&omo complemento ás° doutrinas expendidas, entrou no estudo clinico, relativo á etiologia, pathogenia e* tratamento do cholera asiático, sem- pre^ em harmonia com as° opiniões0 firmadas0 na primeira parte* do seu trabalho, h assim que* o tratamento do ^Dr. ¥5antani, que* tando o seduziu e* teve* de* empregal-o com successo nas0 epidemias0 do cholera asiático que* observou nas0 republicas0 do ^raia, ê ahi discutido vantajosamente, d luz da physiologia pathologica e* da doutrina microbiana. Si o tempo o permittisse, e* mais0 ainda as° minhas0 habilitações, em matéria tão difficil e* de* subido valor, teria motivo para emittir juizo completo e* bem favorável acerca do talento, estudo e* capacidade* do illustre* collega; este* facto XVI porém não me* priva de* felicital-o, animando-o a proseguir na senda ora trilhada sob bons0 aus- pícios, certo de* que, em nossa pátria, os° homens0 de* sciencia nunca são estrangeiros. %>e* x). A hypodermoclyse e as injecções intra-venosas sào, no período asphyxico do cholera, os meios de que actualmente dispomos, para restituir ao sangue a água e demais elementos que elle perdeu. O liquido, que se injêeta, procura imitar a com- posição chimica do soro sangüíneo normal. A hypodermoclyse, quando Cantani a propoz, 87 encontrou grande repugnância em seradoptada; e só o foi dezenove annos mais tarde, em Ná- poles, na epidemia de 1884. 0 apparelho da hypodermoclyse é o mesmo da enteroclyse, com a única differenea de se adaptar, á extremidade livre do tubo de caout- chouc, uma agulha capillar. Cantani emprega, e aconselha, um apparelho mais complicado, em que, em vez de um, ha dous reservatórios concentricos; circulando, entre elles, água quente, de maneira a manter, á tem- peratura conveniente, o liquido da injecção; e serve-se de um trocarte com torneira e fôrma especial, em vez da agulha capillar, com o fim de evitar a entrada do ar no tecido sub-cutaneo. Estas precauções, porém, como tive oceasião de observar, são desnecessárias: porque o liquido a injectar conserva perfeitamente a temperatura que se lhe tem dado, durante o pequeno lapso de tempo que a injecção tarda em fazer-se; e porque, tendo tido o cuidado de expulsar previa- mente todo o ar, contido no tubo e agulha ca- pillar, não ha a receiar tal entrada de ar no tecido cellular; além do que não está provado, nem creio, que esse pequeno accidente possa dar lugar a quaesquer phenomenos, que prejudiquem o doente, ou o resultado da operação. A vantagem do emprego de apparelho, em que a força da injecção seja determinada pelo 88 peso do próprio liquido a injectar, é, como disse, ha pouco, fallando da enteroclyse, a regularidade d'essa força, o que não acontece, quando se em- pregam injectores aspirantes-prementes. Entre- tanto, não dispondo do longo tubo de caoutchouc, indispensável n'este apparelho, não deve ser isso motivo bastante para deixar de fazer-se a hypo- dermoclyse a um doente cholerico, em collapso asphyxico, desde que se disponha de um d'esses irrigadores, ou seringas modernas que se encon- tram freqüentemente em casa dos doentes, e d'um trocarte explorador, que-qualquer clinico traz na sua carteira. Cantani prefere que o tubo se bifurque, de modo a permittir fazer duas injecções ao mesmo tempo, em pontos distantes, em vez de uma só, toda n'um ponto. Mas, essa disposição cio tubo complicando o apparelho, não permittindo já aproveitar o da enteroclyse, mais vale fazer duas injecções successivas, em vez de simultâneas, escolhendo os dous pontos á vontade. A formula indicada, e usada por Cantani, e que eu usei também, sem modificar, é a se- guinte : Água............. Chloreto de sódio. Carbonato de soda Dissolva. 1000\ 4> grammas. 3) 89 Esta formula é apenas uma pequena variante da de Latta, e empregada, pelos médicos escos- sezes, nas suas injecções intra-venosas. O liquido a injectar deve ter a temperatura de 38° a 39° C, e ser dividido em duas injec- ções successivas. A penetração do liquido, no tecido cellular subcutaneo, faz-se facilmente, vendo-se a formação de um grande bolso, que promptamente desap- parece, pela absorpção rápida, que fazem os tecidos ávidos de água. A pelle é descollada de todas as suas adherencias ao tecido cellular, em toda a extensão do bolso formado, ficando portanto mal alimentada, n'uma extensão maior ou menor, segundo o tamanho do bolso; e d'ahi a necessidade de preferir, a uma injecção de um litro, duas de meio litro, simultâneas ou successivas, em dous pontos, mais ou menos affastados ; e a de preferir também regiões, em que a mortificação, que possa sobrevir á pelle, seja menos nociva. As regiões escolhidas teem sido: as lateraes do pescoço, a externa da coxa, e a inferior e lateral do ventre ; sendo preferida esta ultima, excepto nas mulheres em estado de gravidez adiantada. Quando se faz a hypodermoclyse, são notáveis as melhoras immediatas, que experimenta o doente. Vê-se logo : reanimar-se a physionomia,' diminuir a dyspnea, attenuar-se a cyanose, minorar a algi- 90 dez, cessarem as caimbras (se as havia ainda), reapparecer o pulso, e, ás vezes, desde logo, fazer-se a excrecção da urina. O augmento da pressão arterial, como resul- tado da hypodermoclyse, provou-o experimen- talmente Maragliano, servindo-se do sphygmo- manometro de Basch. Maragliano junta três grammas de sulfito de soda, á solução de Cantani para a hypoder- moclyse; e repete-a geralmente a cada quatro horas, empregando cie cada vez meio litro, em dous ou mais pontos. Também na enteroclyse usou dous litros da solução de tannino a 1 %> e a 40° C.— Fazia banhos gemes quentes, com mostarda, no período algido, prolongando-os, até que o thermometro, applicado na bôcca do doente, subia a 37°,5 ou 38° C; repetindo-os, quando a temperatura descia além de 36°,5 C. Deve notar-se que a algidez do cholerico nem é subjectiva, nem apenas peripherica. Como excitante diffusivo pre- feria o ether, em injecções hypodermicas; rejeitando os alcoólicos, que muitas vezes faziam reapparecer o vomito. Como tônicos do systema nervoso, empregava o quinino e a estryclmina, em injecções sub-cutaneas. Cantani recommenda, na hypodermoclyse, o emprego da água distillada, isto é, esterilisada, com receio de que ella vá ser portadora de mi- cróbios coma; mas eu creio essa precaução inútil, 91 porque esses micróbios seriam ahi perfeitamente inoffensivos, e difficilmente penetrariam no intes- tino delgado. Em todo o caso convém não des- prezar essa recommenclaeão. As experiências em que se determinou o contagio do cholera, por meio de inoculações no peritoneo, não provam, a meu vèr, outra cousa, senão que o bacillo coma, uma vez introduzido nos tecidos, pode chegar até ao intestino, e tanto menos difficilmente, quanto mais próximo tiver sido inoculado; não tem lugar, pois, uma verdadeira inoculação, como nas do- enças virulentas. O bacillo coma não deixa de actuar como um verdadeiro parasita; somente que chega á superfície do intestino, atravessando os tecidos. Esta sua penetração nos tecidos pôde ser também expontânea, comprehende-se; mas o que não é crivei é que se faça atravez dos intestinos, da superfície livre d'estes para dentro, emquanto se produz a corrente de serosidade da diarrhea cholerica ;— de modo que os casos que se citam ultimamente de haver-sc encontrado bacillos coma, no sangue e nos tecidos de cadá- veres de cholericos, não toem outra explicação, senão a da penetração d'elles, depois da morte do doente, ou, pelo menos, depois do primeiro período da doença, tendo-lhes sido favorável a acidez que encontraram nos tecidos. Os saes alcalinos empregados teem um papel importante a desempenhar na hypodermoclyse. 92 A acidez do sangue dos cholericos, entrados no periodo asphyxico, verificada a primeira vez, em cadáveres recentes, pela commissão presidida por Strauss, em Alexandria, e por Manfredi, em individuos ainda vivos, — acidez ligada directa- mente á perda da serosidade do sangue, á resultante seccura dos tecidos, e á accumulação, n'aquelle, dos resíduos de assimilação d'estes — não é, por si só, causa bastante que explique o collapso dos cholericos; ha também a considerar a acção simultânea do veneno cholerico sobre a circulação. E certo que um certo grau de alcalinidadedo sangue é indispensável á vida. Se o grau de alcalinidade diminue um pouco, perturba-se immediatamente a nutrição geral do organismo; e, se diminue muito, compromettem-se desde logo as funcções nervosas. Crê-se que, quando o sangue chegue a ter reacção neutra, se deprimirá muito a circula- ção ; e que se produzirá mesmo a paralysia do coração, quando elle tenha reacção accentuada- mente ácida. Ora os tecidos, como resultado do seu trabalho cellular, é principalmente ácidos que produzem, e descarregam constantemente no sangue. Este, recebendo esses ácidos, no estado normal consegue desembaraçar-se d'elles; mas, se a circulação é deprimida, como acontece no cholera pela acção do veneno cholerico sobre o coração, — vêr-se-ha d'elles sobrecarregado. Esta sua mesma acidez é a seu turno causa depri- 93 mente do movimento circulatório. E assim se produz cada vez maior acidez, e maior tendência a paralysar-se o coração. O organismo encontra-se, pois, n'um circulo vicioso, de que não pôde, por si só, sahir. Houve um observador que encontrou alcalina a reacção do sangue dos cholericos. Ignoro as condições das suas observações; mas supponho que esses resultados terão explicação facil, sem alterar em nada o processo mórbido que attribuo ao cholera. Os excitantes diffusivos, e os tônicos car- díacos, podem dar-lhe uma vida emprestada, reani- mal-o um pouco, mas o seu effeito é fugaz, se essa outra causa da paralysia subsiste. É necessário, portanto, ao mesmo tempo, remover esta; e é o que se consegue, fazendo entrar na circulação um liquido alcalino. A hypodermoclyse pôde, e deve, ser repetida varias vezes, até que o doente entre em reacção. A enteroclyse deve também ser feita ainda n'este período, porque alguma absorpção de água se fará pela superfície do intestino. Somente que, na formula usual, se supprimirá o laudano, que, como já disse, está então fortemente contra-indi- cado. No mesmo intestino grosso, se não ha normalmente digestão, ha sempre absorpção. É n'elle que os residuos da digestão perdem a 94 sua água, formando-se as fezes sólidas. Na diarrhea esses residuos são mais ou menos líquidos, porque; ou vieram acompanhados de grande quantidade de água, ou se demoraram tempo insufriciente no intestino grosso; dando-se o primeiro caso quando teem sido ingeridos já com esse excesso d'agua, ou a adquirem por dyalise intestinal,— e o segundo quando, por alguma causa, se teem exagerado os movimentos peristalticos intestinaes. Cantani ultimamente propoz modificar a sua formula de solução para a hypodermoclyse, pelo menos nos casos mais graves, augmentando a dose do carbonato de soda, ou juntando-lhe soda cáustica, carbonato de potassa, ou mesmo sulfíto de soda, como já disse que usava Maragliano; e também ainda o sulfato de soda, como Maragliano egualmente usou'. Em defesa muito natural, e muito bem cabida, da hypodermoclyse, Cantani insiste muito em que ella se faça, de preferencia, antes do doente chegar ao terceiro período, como incapaz de prejudical-o, e como mais efficaz que quando a algidez está já muito pronunciada, por- que, n'este caso, as condições de absorpção são mais desfavoráveis. Em Paris, na ultima epidemia, em 1884, fizeram-se, ainda que com pouco resultado, injecções intra-venosas; como também algumas intra-peritoneaes, com resultado fatal. 95 Não ha motivo para preferil-as á hypoder- moclyse, sendo esta uma operação mais facil, e em que o liquido injectado se vai misturando com o sangue rápida, mas gradualmente, á proporção que é absorvido; em vez de, como na injecção intra-venosa, ir interpôr-se á massa sanguinea. Além d'isso, na injecção intra-venosa, não se improvisa tão facilmente um apparelho; não é operação tão innocente; nem tão facil, porque, ás vezes, não se encontra nenhuma veia, que se preste á operação, sobretudo nas crianças, em que lia que desistir d'ella, como aconteceu a Hayem. Este professor, no seu livro já citado, occupa-se largamente dos resultados, por elle obtidos, com as injecções intra-venosas, ou trans- fusões, como prefere chamar-lhes; e chega á con- clusão de que, com ellas, salvou 30 °/0; e, sem ellas, 50 % dos seus doentes. Apesar de que declara que, não podendo applicar a transfusão a todos, só a applicou aos doentes mais graves; em todo o caso parece que a transfusão é inferior aos outros meios de que se serviu, exeepto á injecção intra-peritoneal, porque, com essa, mor- reram todos os doentes. Hayem entretanto, é en- thusiasta da transfusão; e, a respeito da hypo- dermoclyse, não faz d'ella sequer a mais pequena referencia; nem como processo a rejeitar, nem como pormenor histórico. A mesma enteroclyse, 96 é também passada em silencio, apesar de ser uma applicação já então vulgar em Itália. Pois a estatistica da hypodermoclyse, admit- tindo mesmo que exaggere um pouco o algarismo dos casos curados, dá apenas uma mortalidade de 30 % resultado muitissimo mais vantajoso que o obtido por Hayem com a transfusão. VI SUMMARIO : — Terminação do processo mórbido do cholera asiático. — Paralysia cardíaca.— Reacção.— Tratamento bacteriológico. O ataque cholerico termina, nos casos fataes, pela paralysia cardiaca; e, nos casos de cura, pelo período chamado de reacção. Esta paralysia cardiaca é a que, tendo lugar logo no principio da doença, occasiona o cholera fulminante; dependente este, como já disse, não da acção, sobre o coração, dos venenos originados pelos elementos histologicos,—mas da acção do ve- neno especifico do cholera,por intermédio dos filetes do sympathico distribuídos na mucosa intestinal. O cholera fulminante é pois o resultado : ou da maior susceptibilidade do individuo, para a acção das leucomainas do cholera, sobre os effeitos intestinaes do grande sympathico; ou da sua susceptibilidade menor para a acção corro- siva d'ellas sobre a mucosa do intestino;—da mesma fôrma que, por exemplo, o ópio produz, n'uns individuos, grande effeito suporifico, que n'outros não causa, e que n'uns dá grande prisão de ventre, que não occasiona n'outros. E' ainda por uma questão, de maior ou menor resistência orgânica, que o doente tem um col- 98 lapso asphyxico, mais ou menos accentuado; e que, sahindo d'elle, muitas vezes, em vez de passar ao estado de reacção, cahe n'um estado typhoso, de que difficilmente se levanta. A excreção da urina é que serve então ao clinico de guia, no seu prognostico. O doente emquanto não urina, não entra em reacção; não porque a micção a vá determinar, mas, ao con- trario, porque a secreção da urina é um dos effeitos d'essa reacção. Consiste esta no levantamento da circulação, irrigação sangüínea de todos os tecidos, e con- seqüente volta d'elles ao seu trabalho de nutrição. Comprehende-se bem a avidez, com que todos os elementos histologicos entregarão ao sangue o seu ácido carbônico, e os seus productos de desassimilação, e se lhe apoderarão da água, e dos elementos assimiláveis que elle trouxer, ao mesmo tempo que do oxygeneo, de que são por- tadores os glóbulos rubros; e, portanto, a in- tensidade das oxydações, que se produzirão. Os glóbulos rubros não perdem, durante o período asphyxico, a sua propriedade de fixar o oxygeneo; senão, pelo contrario, adquirem maior avidez para elle, como foi provado por Maragliano. Assim pois desenvolve-se, no doente, calor, em grau variável, dependente da força d'essa reacção; e essas mesmas combustões são um excitante do coração. 99 Ha agora um circulo virtuoso; como antes o havia vicioso, no período asphyxico. Antes, tudo eram condições desvantajosas, que se arrastavam umas ás outras. Agora, tudo são elementos favo- ráveis, ajudando-se mutuamente. Compete ao clinico não confiar no acerto da chamada força medicatriz da natureza, e graduar essa reacção, afim de evitar um desastre, como o deve fazer também nas doenças infectuosas propriamente'ditas. Nestas, a febre, na minha opinião, é sempre um symptoma benéfico, per- feitamente comparável á tosse nas enfermidades phlegmasicas das vias respiratórias; as remissões seguem-se á morte dos micróbios, por effeito do calor do mesmo acesso febril que elles occasio- naram,— micróbios, que sahem então mortos nas secreções, notando-se depois no sangue a diminuição do numero d'elles;— sendo, portanto, em regra, um erro formidável empregar hypo- thermicos, nestes casos; mas não deve deixar-se de intervir, por esse processo, desde que o estado geral do doente, tornando-se grave, exija inter- venção ; e ainda mesmo que se tenham applicado já os microbicidas com acção sobre o micróbio especifico da doença infectuosa propriamente dita, que se combater. Para concluir o tratamento do cholera asiá- tico, resta-me citar o tratamento bacteriológico, a que já me referi na primeira parte d'este trabalho. 100 Consistiria, n'este caso particular, em com- bater o bacillo coma com o bacterium termo, ou outro micróbio, hostil para este, e inoffen- sivo para o homem; fazendo enteroclyses com elle, n'um liquido de cultura que lhe assegurasse a sua alimentação, caso no intestino não a en- contrasse. Seria pois um tratamento só para o primeiro período da doença. O intestino grosso contém normalmente ba- ctérias termo, não se encontrando n'elle o bacillo coma. A sua presença em maior abundância poderia explicar a immunidade de certos in- dividuos para o cholera; quando não provenha do vigor das suas funcções gástricas. Seria por- tanto questão de provocar no intestino uma guerra de bacillos. Cantani fez, a respeito d'este assumpto, ex- periências de que ignoro as conclusões. Concluindo, creio ter deixado demonstrado ser o cholera asiático uma doença da classe das microbianas, do gênero das virulentas, e da es- pécie das parasitárias; o seu processo mórbido, e o seu tratamento racional; — e poder-se chegar também á conclusão de que não é uma enfer- midade tão difficil de evitar, e de curar, como até aqui se acreditava; senão que, pelo contrario, pôde perfeitamente evitar-se e curar-se. iustzdicie Introducção................... Carta do Dr. Benicio de Abreu PRIMEIRA PARTE Algumas generalidades sobre physiologia pathologica e pathogenia. I.— Vida. — Doença. — Mal-estar. — Saúde perfeita. — Agentes physiologicos, pathologicos, e medicamentosos.—Agentes physicos, chimicos e moraes.— Atrophia, hypertrophia, dege- neração, e regeneração.—Acção do tempo. —Tendência do organismo para o estado physiologico.—Hereditariedade histologica dos caracteres pathologicos, e dos caracteres phy- siologicos.— Cachexia senil..—Morte natural.— Precocidade da morte.—Evolução cada vez mais curta dos organismos. — Força medicatriz da natureza. — Attenuação natural dos effeitos das infecções virulentas propriamente ditas, e do poder das immunidades.—Agentes pathologicos infectuosos: miasmas, virus, e miasmas-virus.......................... II — Parasitas.— Micróbios : pathogenicos e não pathogenicos. —Leucomainas e ptomainas ; influencia do meio sobre ellas. —Transformismo microbiano.—Leucomainas differentes, pro- vindo do mesmo micróbio especifico..................... III.—Classificações dos micróbios ; seus caracteres ; seu estado de incubação.—Incubação das doenças.— Receptividade, ou não receptividade do organismo.—Diathese.— Immunidade e predisposição : temporárias ou permanentes ; completas ou incompletas.................................................. 13 Pags. IX XIII 1 6 II Pags. IV.— Acclimação.— Virus attenuados.— Inoculações preventivas e curativas ; casuaes e propositaes.......................... 22 V.—Cultura dos micróbios.— Inoculação de virus attenuados (continuação)............................................... 26 VI.— Inoculações: casual e proposital (continuação).—Marcha das doenças virulentas.— Reproducção dos micróbios..... 37 VII.— Miasmas, virus, e miasmas-virus.— Doenças miasmaticas, virulentas, e miasmatico-virulentas.— Outras classificações das doenças infectuosas.— Metastase....................... 41 VIII.—Vehiculos dos agentes infectuosos.—Incubação nas doenças parasitárias.—Tendência a suppôr contagiosas as doenças miasmaticas propriamente ditas............................. 49 SEGUNDA PARTE Algumas considerações sobre a pathogenia e o tratamento do cholera asiático. I.— Definição do cholera asiático.—Bacillo coma; historia do seu descobrimento ; seus caracteres........................... 55 II.— Vehiculos do bacillo coma ; immunidade para elle.— Impos- sibilidade de inoculações preventivas.—Processo mórbido que determina.................................................... 62 III.— Fôrmas clinicas do cholera asiático; sua marcha e períodos. — Tratamento do primeiro período.......................... 69 IV.— Tratamento do segundo período.— Enteroclyse; sua defi- nição, historia e technica.................................... 75 V.—Tratamento do terceiro período.— Hypodermoclyse; sua definição, historia e technica.— Outras applicações.......... 82 VI.— Terminação do processo mórbido do cholera asiático.—Para- lysia cardiaca.—Reacção.— Tratamento bacteriológico...... 97 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ^ Physiologia Pathologica e Pathogenia Ceraes e soism: A PATHOGENIA E 0 TRATAMENTO DO CHOLERA ASIÁTICO Guilherme Cândido Xavier de Brito Rio de Janeiro TYPOGRAPHIA PERSEVERANÇA 8j Rua do Hospício 8j 1888 ■5: j»r> r^E^r >> 3>> > V» *> Si > ->~J> - >>1>^> 3» >i^> < ^ > J>>3> > > * ""WS V\ ----- > > > > > \ i.m^»3* ^> > > ^ = v>>^> >>> ?.g? j> » > ;> -^ ] y>? jsl> > > 9 -> >• i ^ 1.V > ^> • >>G^2 > - > > JO I ) > o 5 ^^^ ') .JS»»^»'^ > -^ ■*£*;>;»»>■ ■ >^ê» - -2- ' ~>2^ »!> -> X »- - j »> ->-^ >^> > » J& >*» > >"» :$} ^> -^>^ .-*» ^5V> » ** 5» - - - »~& ° >> Ovj£> X» ;»vi ,.>T> 5»> "J» > ■» > (Ti "!fe i ÍJfc > %.»' _ - » > i&> >^ >>• U3BB> *r> ^r> y >3* » ^ ■ <> >?> > "> 3> >*- > > fe r» > ' ^ > > ~»> > >, ►> > » >j> ^ "~> "> v> > >> : > »>T> >>'> >^ >T >:> >> > ^ "^*^* ~'- ^ O > > í> 3M» > >1» >>■>.. > >>!> > ^^ > ^»^^> >>. »> > > » » :> >>> > >■■> » > >^ > > "> > >> >v> > >^> >^> 5» ^ > »^ > > > >3 ^> - ^> ■ > "^^ >» : — > > >-> >» > ) > >> > > >> > > •> > ">■> -»-> > -> > > ~> > _> z> > > > > :> > > » :> > > > > £ > v>> >)) > >)>> >>■)> > ))J>J> >>» )> > 3 > > >■ ^J» »>^ >»» JT^ >^X> > » >Z> »»>* >J> ,.^> j>* > >»^ j > > > kj >«J> > > >7> » ; »^ 3JT3 >;7> J»^ i5 > > > >:> > >>> >> o> > > >:>->'>> >^> >">>>> >> > > > >» >?>>>> 3> > > >Z> > ->> > o> >> > >> > > >>^ >:> ^ » ^j >» >^> >y y» > jí> ^» >>> > j> > > >> >- • '■o A? • £» 3 : > j»i ^ »:&. > > ) JW5» » >n> >, 2n ^ ^ x«> >• >>oj ^ >*» * > jss> ,^^\> £?>7\ ^ »-m WC 262 B862a 1888 34630690R ■.•.tíftmm KM* NLM GSlb7bEl 1 NATIONAL LIBRARV OF MEDICINE ■itóV Bs« ■ »ÍÍifiraiii üiü WMgg uSsrSSBSSBSBBi WÊm >.'>.. 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