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OPHIASE. Dermatose chronica, com hypertrophia das papillas, espcssamento escamoso das camadas epidérmicas, de- vido á falta de secreções perspiratoriasfolliculares. Stmptomas. Divide-se em benigna e grave. Benigna. — Pelle sôcca, espessa, escamosa, esfolian- do-se parcial e gradualmente. Grave.—Pelle espessa, fendida, dura, rugosa, sem dôr nem coceira. Escamas seccas, duras, espessas, resis- tentes e superpostas, de côr branca luzente e com um «irculo em derredor, denegrido ou circumdado de pontos farinosos pouco adherentes. Base vermelha, calor, dôr, mas sem coceiras. Tratamento. Os medicamentos que mais têm aprovei- tado são: Coloc, hep. e plumb. d. h. h 1 2 ICTERICIA ICTERICIA. Côr amarella da pelle, das conjunctivas e das ourinas por effeito de obstáculo ao derramamento da bilis no duodeno; ou de irritação dos orgaos biliares. Symptjmas. A ictericia pôde ser simples ou benigna, fe- bril, symptomatica e grave. Simples ou benigna.—Côr amarella, pallida das azas do nariz e das conjunctivas; depois, de toda a pelle; prurido por todo o corpo; vômitos, perda do appetite, constipaçao, matérias fecaes descoradas, acin- zentadas, ourinas amarelladas manchando as roupas. I. febril.—Succede ás affecções gastro-intestinaes, os symptomas precedentes tôm mais acuid de ; vômitos, diarrhéas biliosas; manchas hepaticas na pelle; pulso accelerado; dores no hypocondrio direito, ás vezes es- pontâneas, aggravadas pela pressão, susceptíveis de irra- diar-se para as costas. I. symptomatiea.—Côr amarello-esverdeada, ama- rello-palha, estado cachotico, effeito de febres intermit- tentes antigas, de cancro do figado, de peritonite, de moléstias do coração, etc, I. grave.— Os symptomas da febril, exagerados com: syncopesmais ou menos repetidas, delirio, caimbras, cardialgia violenta, suffocação, anciedade precordial, vômitos multiplicados aquosos e biliosos; insomnia, prostração, calefrios repetidos, inappetencia, constipa- çao; epistaxis, hematemese, hemoptysis, hematurias, convulsões, pulso freqüente, depois lento, pequeno, mise- rável ; ourinas fortemente córadas ou amarellas. Tratamento. O medicamento principal é merc, o qual no maior numero dos casos basta para a cura. Tendo, porém, o doente já feito uso deste medicamento ou mes- mo tendo abusaio dclle, chin. deverá ser preferido, o IDIOTISMO 3 qual poderá ser alternado com merc, se esto não fôr sufficiento na primeira hypothcse. Nos casos obstinados em que nenhum dos dous me- dicamentos tem podido obter a cura serão: Rep., sulf., ou lach. os preferíveis, os quaes ainda podem ser al- ternados, em caso de necessidade, com merc. Sendo a ictericia conseqüente á contrariedade ou á cólera: Cham. ou n.-vom. merecem a preferencia, ou ainda : lach., e sulf. Para as ictericias produzidas pelo abuso de certas subst ncias medicamentosas deve-se empregar, contra as por effeito da quina: Merc, bell., cale e n.-vom. Contra as por effeito do mercdrio: Chin., hep., lach. e sulf. Contra as por effeito do rhuibarbo : Cham. ou merc Além disso se tem ainda empregado com vantagem: Acon., ais., ars, cale., carb.-v., cep., dig., ox.-ac e talvez em alguns casos particulares se possa empregar: Ambr., cupr., nitri.-ac, puls. e rhus. I. dus receio nascidos. —Nos primeiros dias que suecedem ao nascimento, declara-se nas crianças ictericia, que, no maior numero de casos, não tem gravidade alguma e cede ordinariamente ao uso de banhos e roupas bem sêccas, etc.; todavia algumas vezes toma caracter mais grave e então reclama os meios médicos. Tratamento. Em geral a cura obtem-se mediante o emprego de algumas doses de merc ou de chin., se o primei.o não obtiver a remoção completa do mal. IDIOTISMO. Vide Alienação mental. 4 ILÉOS ILÉOS. MISERERE, PAIXÃO ILIACA, VOLVULUS, CHORDAPSE« Colicas ou dores vivas na região peri-umbilical com espasmo, movimentes anteperistalticos do intestno, e vômitos Esta moléstia tira seu nome da parte do in- testino — ileon — na qual parece ter sua sede. A denominação do iléos serve para designar dous soffrimcntoü gravíssimos do intestino, devidos ao obstá- culo do curso das matérias fecaes, e á estrangularão intestinal. Estrangulação interna. — Symptomas. Ha três espécies que são: Ia, estreitamento ou obliteração devida a pressão externa; 2a, rotação ou entortilhamento do canal intestinal ou de parte delle ao redor de um eixo formado por outra parte; 3, finalmente, cstrangulação formida por anneis e bri Ias cellulo-membranosas, ou adhorencias do appendice vermiforme. Symptomas. Dôr violenta, súbita nos intestinos depois de um esforço, de um desvio de regimen ou di in- gestão de uma bebida gelada; distensão rápida do ab- dômen; anciedade; náuseas; vômitos biliosos; depois de matérias fecaloides e de fezes; constipaçao. Pulso filiforme, calor fraco, face alterada, olhos encovados. Invaginaçâo intestinal. — Yolvulus, inters-sus- cepção. Symptomas. Náuseas e vômitos em principio, depois coli as violentas, constipaçao ora obstinada ora incom- pleta ; febre, sede, anciedade, regorgitações, soluços, face nippoeratica; signaes do peritonite; tumor extenso de fôrma cylindrica, alongada, seguindo o trajecto do grosso intestino e tendo sua sede, quasi sempre, no fianco es- querdo. IMPERFURAÇÔES 5 Tratamento. Os medicamentos empregados para os casos de iléos quando são devidos a estrangulação espas- mo Jica dos intestinos, sHo principalmente: Op., veratr., plitmb., ou talvez: Coce, thui. e n.-vom. Sendo ao contrario, effeito de inflammação deve-se preferir : Acon., sulf., ou: Lach., bell. e merc. Nos casos de invaginaçâo, além destes medicamentos deve empregar-se o tratamento de M. Delotz, que con- siste no emprego de azeite doce em alta dose, o qual em nada altera os medicamentos homoeopathicos acon- selhados. IEIODYCEIDITE. Vide Febre typhoide. IMPERFURAÇÔES. OCCLUSÕES. Occlusão mais ou menos completa das aberturas exter- nas dos canaes de comn. uni cação dos órgãos com o exterior. Elias podem ser congenitaes ou accidentaes, completa* ou incompletas. ImnerfnraçS© do anns.-A imperfuracão pôde ser incompleta mas permitiir ainda a sahida do meco- nium, não dando todavia lugar á sahida das fezes. Outras vezes a imperfuracão é completa o feita pela pelle. Symptomas. Tumor escuro, fluetuante, cheio de meeo- nium, augmentando quando a criança grita e faz esforços de defecação. 6 IMPERFURAÇÔES I. comp"eta, nins iníerna —Nota-se a poucas linhas para dentro da abertura analun tabiquc com todos os característicos da precedente emais: agitação, eólicas, vômitos (de leite, de matérias verdes e de meconium mais ou menos alterado), soluços, distensão do ventre, embaraço da respiração, côr azulada da pelle, resfria- mento. Tratamento. Sendo incompleta: dilatação por meio de mechas, esponjas preparadas, suppositaris. Resis- tindo a estes meios — incisão com o bisturi. Sendo com- pleta — incisão simples ou cruei il, excisão, uso de sondas. Havendo ausência do recto; ânus artificial pelo mcthodo de Littre ou pelo de Callissen. I. da boca.—Tratamexto. Sendo reconhecido visivel o recem-nascido victima deste vicio de conformação: in- cisão linear no sentido do orifício bocal, depois separação das partes divididas por meio de panno fino de linho induzido de cerôto. Sendo encontradas adherencias ás gengivas ou á lingua, destrui-las com tesouras ou bisturis. I. da glnnde. —Incisão segundo a extensão da im- perfuracão. Sonda de espera até completa cicatrisaçâo, afim de evitar o estreitamento da abertura feita arti- ficialmente. I. do prepucio.—Operação da phimosis. I. ila vagina, ou do Hymen. Symptomas. Até a época menstrual esta imperfuracão pouco ou nenhum incommodo produz, mas chegada a época ou em cada uma dessas épocas, displicência, dôr nas cadeiras, peso no baixo ventre; fadiga geral, cepha- lalgia, peso na vulva e sensação do um corpo que quer descer; tumor abaixo do púbis ; saliência mais ou menos considerável entro os grandes labijs, vermelha, denegrida, elástica, resistente, indo!ora á pressão, com fluetuação obscura: dysmenorrhéa, amenorrhéa. Tratamento. Incisa-se a membrana de cima a baixo com um bisturi recto, pontudo. Tendo o hymen adquirido IMPETIGO 7 resistência e espessura, ineisa-so camada por camada, fazendo do dedo conductor. Depois da operação, injecções vaginaes com água tepida ; cura-se com uma mecha induzida de cerôto. IMPETIGO. MELITAGKO, DARTROS CRUSTÁCEOS. Erupção cutânea não contagiosa, composta de manchas crostosas e pequenas pústulas. Symptomas. Pequenas pústulas confluentes, assentadas sobre manchas vermelhas, salientes e dolorosas, as quaes (pústulas) dão lugar á formação de crostas molles, ama- reladas, espessas, irregulares, e se renovão por deseccação mais ou menos abundante, deixando, depois de são, marcas persistentes; enfarte dos ganglions correspondentes. Ha as seguintes espécies de impetigo: 1." I. erjsipelatodes.—Assim chamado quando as pústulas repousâo sobro manchas erysipclatosas. 2.» I. esparsa.—Quando ellas são esparsas, dissemi- nadas oecupando os membros. 3.* I. scabiila, meüsagra dartrosa—Quando deixão transsudar um liquido ichoroso, escuro e fétido. 4a I grannlata, porrigo. — Quando as pústulas oecupão do preferencia o couro cabelludo, acompanhadas de inflammação, coceira, transsudação, de crostas es.uras com cheiro nauseabundo. 5 a I Larvalis (crostas de leite).—Quando oecupão o rosto das crianças de peito ou que ainda mamão. 6 a I llodens — Em outros casos coceira, depressão, transsudação, cicatriz central, deprimida, franzida, lisa, 8 IMPOTÊNCIA estendendo-se do angulo interno do olho aos lados do> nariz, ou ainda ganhando profundidade. Geraes. Nullas ou apenas inappetencia e cephalalgia. Tratamento.—Local. Cataplasma de fecula, lavagens emollientes, glycerina, óleo de amêndoas doces ; pó de amidon, glycerado de amidon, banhos tepidos; cortar os cabcllos; lavagens de água tepida e leite. Geral.—§ 1.° Os melhores medicamentos contra estas erupções são em geral:—1) Ars., lyc, sil., sulf.; — 2) Cale, cie, ciem., dule, graph., lach., merc, rhus.;—3) Alum., aur., baryt., bell., con., hep., natr.-m., nitri.-ac, oleand., sep. e slaph. § 2.° Para o impetigo scahida: Lyc. e sulf. Para o I. Sparso: Cie, lach. e sulf. Para o I. Rodens :—1) Ars., sil., sulf;—2) Cale, graph., hep., merc , rhus., sep., staph.;— 3) Alum., aur., bell., cie, ciem, op., natr.-m. e nitri.-ac. § 3.° Para as crostas ao redor dos olhos:—1) Ars., hep., merc, sulf;—2) Cale, oleand., petr., sil., staph. Para as crostas atraz das orelhas ou nas orelhas:- 1) Graph., hep., merc, oleand., petr., sulf.;—2) Baryt., cale, lyc, mez., puls., sep. e staph. Para as crostas na face:—1) Cale, graph., rhus., sulf.;—2) Ars., cie, lyc, merc. e sass. Para as crostas nos lábios: Amm., bell., cale, caus., graph., hep., kreos., merc. e sil. Para as crostas nos mamelões : Ars., cham., graph., hep., lyc. e sulf. IMPOTÊNCIA. Enfraquecimento ou abolição da acção dos órgãos ge- nitaes, com persistência dos desejos venereos. Tratamento. Os melhores medicamentos são : Baryt., INDIGESTlO calad., cann., con., lyc, mosch., mur.-ae, natr.-m., sulf., ou mesmo em alguns casos: Chin., graph., hitos., lach., n.-mosch., mags.-aus. e petr., ou principalmente: Catuaba. INCOKTINENCIA RAS OURINAS. Vide Enurésia. INDIGESTÁO. APEPSIA. Perturbação do acto da chimificação. Symptomas.—Locaes. rouco tempo depois da comida, peso penoso no estômago, sensação de calor insólito na garganta, repugnância para os alimentos, tensão, pleni- tude e calor no epigastrio com náuseas, soluços, arrotos ácidos, fétidos, com cheiro de ovos podres; sonoridade ou som massiço acompanhado de fortes dores ; vômitos alimentares, ácidos ou azedos; borborygmos; os vômitos allivião; evacuações abundantes. Geraes. Pulso fraco, ás vezes concentrado, antes lento que accelerado; respiração embaraçada, em relação com a distensãodo estômago; cephalalgia; dores contusivas nos membros; congestão cerebral podendo simular a apoplexia. Tratamento —§ 1.° Os melhores medicamentos contra os desarranjos da digestão por alimentos indigestos ou por sobrecarga do estômago, são em geral: AnL, arn., ip«c, n.-vom., puls., ou ainda; Acon., ars., bry., co,rl.- veg., chin., coffi., hep., ign., natr. e staph. 10 INDIOESTÃO § 2.° Sendo a indigestão por sobrecarga do estômago, basta muitas vezes uma chavena de café forte para curar os primeiros incommodos. Para os que restarem, se deve empregar: Ant., ipec, n.-vom., puls., ou mesmo: Acon., arn., ars. e bry. Para as indigestões nas crianças que tôm o máo habito de comer demasiadamente cousas indigestas e nocivas, os medicamentos são : Ipee, puls., ou Chin. e n.-vom. As indigestões produzidas por cousas gordas, a carne de porco, os pasteis, etc, exigem de preferencia : Puls., ou Carb.-v. ou ipec. As causadas pelos gelados, por frutas ou por outras cousas que resfriem o estômago : Puls. ou ars., ou mesmo : Carb.-veg. Para as indigestões por abuso de vinhos : Carb.-veg., n.-vom., ou ainda: Ant., coff., ipec. e puls. Por vinhos ácidos, principalmente: Ant., ou puls. Por vinhos de enxofre: Puls. Para as produzidas pelo vinagre, cerveja já azeda e outros ácidos : Acon., ars. carb.-v.,hep., ou ainda: Lach., natr.-m., sulf. e sulf.-ac Para as produzidas por carne ou peixes corrompidos : Chin. ou puls. se carvão pulverisado e misturado com aguardente não curar; ou mesmo quando depois do emprego deste meio restarem ainda incommodos. Por cousas salgadas: Carb.-v., ou ainda: Ars. ou nitr.-ac. § 3." Além disso contra as dores de cabeça por effeito de uma indigestão, se deve empregar de preferencia: Ant., ipee, arn., bry., carb.-v. e puls. Contra o embaraço gástrico : Ant., ipec. n.-vom., puls., ou ainda: Arn., bry. ou alum., berb., magn.-c. (Vide Gastroses.) Contra as flatulencias: Asa., carb.-v., chin., n.-mosch., n.- vom., puls. (Vide Flatulencia.) Contra as eólicas : N.-vom., puls., ou ainda : Ars., caps., hep. (Vide Colicas.) Contra as diarrhéas; Ipec, puls., ou : Sulf. n.-vom. (Vide Diarrhéa.) inflammação 11 Contra as erupções miliares ou urticarias: Ipee, puls., ou bry. Contra a febre, sobretudo: Bry., caps. ou ant. INFLAMMAÇÃO. Exageração da circulação e innervação com exaltação da sensibilidade eaffluxo excessivo e anormal dos fluidos sanguineo e lymphaiico para um tecido ou órgão, dando como resultado augmento, suspensão e destruição das funcções que lhes são inherentes. A infliisBiniaçüo se revela pelos seguintes caracte- res : inchação, calor, rubor e dôr, os quaes podem ser mais ou menos intensos, conforme não só a intensidade da sua invasão,, como n tureza do tecido ou órgão in- vadido. A inflaniniaçno pôde ser aguda ou chronica. Aguda quando goza da propriedade de produzir os caracteres acima, podendo terminar por um dos se- guintes estados : suppuração, endurecimento e gangrena. A cbroiiica ainda pôde terminar pela resolução, dadas certas circumstancias, mas a mais freqüente ter- minação é o endurecimento e amollecimento. A inflammação pôde ser geral ou local, isto é, pôde invadir mais de um órgão ou limitar-se a uma parte do órgão, ou a um apparelho completo do corpo humano. Os caracteres constituem o cortejo de symptomas que a den ncião á apreciação do pratico, soffrcndo, porém, modificações especiaes a cada apparelho ou a cada órgão, pela especial textura e natureza intima da com- posição dos tecidos que entrão na formação do órgão affcctado. As terminações da inflammação sao também sujeitas, até certo ponto, á composição e maneira do arranjo 12 INFLAMMAÇÃO do tecido affectado; assim, por exemplo, nos tecidos cellular, parenchymatoso, etc. A suppuração é a terminação mais ordinária; e em certos casos quasi obrigada da inflammação que sobre- veio. Nas inflammações chronicas a terminação para se effcituar em ordem a trazer saudo perfeita, carece passar pelo cadinho do tratamento para que, fazendo-as mudar de estado, muitas vezes dando-lhes acuidade, de- rivando-as, sejão-lhes impi essas direcções diversas ás do desenvolvimento que, em circumstancias normaes de chronicidade, perpetuarião a lesão adquirida. Assim, pois, póde-se dizer em geral que ha inflammação quando em um ponto ou órgão do corpo humano se notar: rubor, calor, dor, augmento de volume, peso e tensão. Tratamento.—Inflammação aguda. O primeiro agente antiphlogistico geral é, sem contradicçao, o repouso da parte inflammada, o qual será tanto mais completo quanto mais a isto se prestar o órgão por sua natureza intima de composição e de funcções. Depois vem a dieta, como corollario indispensável, a qual deve ser tanto mais abso- luta quanto o estado de acuidade da inflammação e a natureza do órgão o exigir. Aceitos estes preliminares, vêm a classe dos medicamentos indispensáveis para dar direcção conveniente aos liquidos affluidos em excesso para a parte, e debellar a exaltação nervosa, resti- tuindo-lhe a moderação normal. O medicamento por excellencia é acon., o qual será considerado em muitas oceasiões como especifico infallivel, maxime nos casos de inflammução das membranas sorosas, com calor excessivo e febril, pulso duro e accelerado, etc. Depois delle viráõ aquelles que a natureza do órgão o a especialidade da inflammação (o que está escripto em artigos especiaes) indicar. Inflammação chronica. O que acon. é nas inflammações agudas, sulf. o é nas chronicas; assim, pois, se pode dizer que, guardadas as indicações especiaes a cada inflamma- ção particular de um órgão, sulf é o medicamento a em- pregar no começo das inflammações chronicas, maxime se ellas dependerem do vicio psorico. 1NS0MNIA 13 O pratico, porém, deve attender á natureza da inflam- mação e procurar no correr desta obra as indicações acon- selhadas para cada caso de inflammação chronica de cada órgão, o que lhe evitará perda de tempo, visto como nem sempre sulf. é indicado particularmente para todos os casos. EJÍSOEAÇÃO. GOLPE DE SQL. Rubor erytheraatoso da pelle, devido á congestão local e seguido de inflammação na parte, por effeito da acção demorada dos raios solares. Tratamento. Dieta, repouso, banhos frios emollientes. Havendo perigo de meningite (Vide meningite.) Havendo cepbalalgia e febre: Bell., acon., bry., rhus., ou: Lach. e sulf. INSOMNIA. AGRYPNIA. Perda do somno, devida a causas diversas, como sejão: excitação exagerada do systema nervoso e circulatório, dôr niais ou menos intensa, inchação, etc. Tratamento.— § 1.° Quando não é conhecida a causa que produz a insomnia e que ©lia, por sua persistência, àiama a attencão do pratico e traz em sobresalto o 14 INSOMNIA paciento, deve-se empregar os seguintes medicamentos: —1) Acon.,bell., coff., huos., ign., misch., n.-vjm., op.,puls.; — 2) Ars., bry., cale, carb.-v., chin., con., graph., hep., hal., lach., lyc, merc, natr., natr.-m., phos., sep., sil. e sulf. § 2.° Aconitum, sendo a insomnia produzida por in- quietações do espirito. Belladona, quando o doente tem grande vontade de dormir sem poder; ou havendo: angustia, agitação e visões; caracter assustadiço pelas cousas presentes; ou havendo ao mesmo tempo: somnolencia pela manhã e á noite, porém muito cedo Coffea, sendo a insomnia conseqüência de grande alegria ou de excitação agradável ; ou nas crianças em conse- qüência de vigílias prolongadas; ou mesmo nas pessoas que têm abusado do café. Hyosciamus, contra insomnia por excitação nervosa, maxime depois do moléstias graves, ou nas pessoas sen- siveis e irritaveis. Ignatia, se tem sido produzida a insomnia por commo- ções depr.mentes, como pczares, idéas tristes, etc. Moschus, em muitos casos de insomnia por superexcita- çâo nervosa sem outros soffrimcntos, sobretudo nas pessoas hypocondridcas ou hystericas. Nux-vomica, quando a insomnia é conseqüência de me- ditação, do leituras prolongadas; ou quando foi produzida por caie; ou havendo á noite: grande affluencia de idéas que impeção o somno. Opium depois do medo, pezar, etc, ou havendo visões de phantasmas, etc.: ou se se manifesta nos velhos. Pulsatilla, nas pessoas que comerão á noite, ou havendo í grande affluencia de idé s que impeção o doente de ador- mecer; ou ainda: fervura de sangue, congestão paia a cabeça o calor ancioso. § 3.° Para a insomnia das crianças com gritos, eólicas, jactações, etc, são segundo as circumstancias: Acon. bell., INVAGINAÇÃO 15 cham., coff., jalap., rháb., ou ainda : Bry., cin., ipec e senn. Aconitum e coffea, são principalmente indicado?, ha- vendo grande agitação com calor febril. Belladona, prefere-se, se a criança grita durante horas e dias inteiros sem causa apreciável. Chamomilla, merece preferencia havendo ao mesmo tempo : dores de cabeça ou de ouvidos Jalap3, havendo: fortes eólicas com diarrhéa. Rhabarbarum, havendo: desejos freqüentes de ir á banca, com tenesmo e eólicas. Para a insomnia das mulheres paridas o medicamento principal é millef. INTERTRIGO. Vide Erythema. INTOXICAÇÃO. Vide Envenenamento. Ii\V AGITAÇÃO. Vide Iléos volvulus. 16 IRITE, 1R1DITE, ETC. IRITIS, IRIDITE, IRITE, CORÉRIAEYSIA. CRYSTALLOIDITE, CAPSULITE, PERIPHAKITE, PHAKITE, CRYSTALLITE, HYALITE. Inflammação da iris, da cápsula crystalloide, do crys- tallino ou da membrana hyaloide. A irite divide-se em escrofulosa, syphilitica, rheuma- tismal e arthritica. A primeira e quarta espécies têm sido chamadas : iritis sorosas; a segunda e terceira pa- renchymatosas. A iritis ainda pôde ser aguda ou chronica; a primeira tem três gráos de inflammação que merecem ser co- nhecidos. Symptomas.— Primeiro grão. Iris embaciada, pouco contractil, pela luz obliqua, cornea sã, mas a câmara anterior é vista cheia de humor aquoso turvo e escuro; injecção perikeratica ainda pouco considerável: photo- phobia, lagrimejamento e vista ligeiramente perturbada. Segundo gráo. A injecção perikeratica, a photophobia e o lagrimejamento são intensos; pupilla contrahida e pouco dilatavei; a iris verde, esverdinhada ou averme- lhada ; a luz deixa vôr a câmara anterior cheia do frocos albuminosos, parecendo a câmara ter augmentado do ca- pacidade ; luòres brilhantes; dores agudas, lancinantes; nevralgias ciliares de todos os ramos do quinto par, ás vezes a metade da cabeça; febre e insomnia. Terceiro gráo. Dores menos intensas; lagrimejamento e photophobia menos considerável, mas em compensação a iris coberta de exsudatos; derramamento sanguineo ou puuilento em seu párenchyma; pupilla deformada, des- igual, msensivel á acçáo da atropina; em alguns casos (nos escrofulosos) formação de abscessos pequenos na espessura da iris; hypopyon. ISCOLOCHIOS 17 Estado chronico. Descóramento da iris; estreitamento da pupilla; injecção perikeratica fraca. Pelo opthalmos- copio vê se esthas e manchas negras sobre um íundo ver- melho ; estas manchas reúnem-se para formar um circulo ; pela luz lateral distinguem-se as mesmas manchas com a côr escura natural. Na iritis syphilitica, colorisação do circulo vermelho em cob:e violaceo sobre o pequeno circulo; distorsao an- gulosa; espessamento tomentoso e floconoso; erupção na superfície anterior da membrana, em principio acha- tada, depois proeminente; antecedentes syphiiiticos do doente. As vezes um ou mais condylomas na iris; cornea ordinariamente turva. Tratamento. Os melhores medicamentos contra esta inflammação são: Aps., bell., ciem. ,mere, plumb., seneg. e sulf. ISCHIDROSE. Suppressão mórbida do suor, ou transpiração cutânea : da dos pés chama-se podischidrose. Tuatamento. Os melhores medicamentos para fazer reapparccer o suor são:— 1) Cupr., kal., natr.-m., nitri.-ac, sep., sil., ou:—2) Acon., bell., bry., dulc, petr.,plumb,, sabaá. e sulf. ISCOLOCHIOS. SUPPRESSÃO DOS LOCHIOS. Vide Parto. D. H. II K KERATITE. CORNÉITE. Inflammação da cornea transparente. Hoje são descriptas sete espécies de keratites, que são: Ia, Jceratite pannosa, pannus, ou Jceratite vascular, superfi- cial; 2a, escrophulosa, lympha-keratite superficial circum- scripta; 3a, Jceratite vesiculosa; 4a, ponctuãda (alterações mórbidas da membrana de Descemet); 5a, Jceratite diffusa (disseminada, parenchymatosa); 6», Jceratite suppurativa (abscessos da cornea); 7 a, finalmente, Jceratite ulcerosa (ul- ceras da cornea). I. KLerfQtite pnsiisaooa.— Symptomas. Por effeito da inflammação da conjunetiva a camada epithelial da cornea, tornando-se desigual, assemelha-se a um vi- dro embaciado, e fica coberta em varias direcções de uma rode de vasos que serpenteio da peripheria para o centro; ha lagrimejamento, photophobia. Segundo a agu- deza da inflammação, assim é o aspecto que apresenta a cornea. Se a moléstia é aguda a cornea tem uma côr pardo- clara com ligeira colorisação avermelhada, em relação- com o numero de vasos desenvolvidos. Sendo chronica o aspecto é differente e apresenta duas fôrmas (pannus tenuis): uma fina, mas constituida por uma camada opaca o vascular, deixa distinguir, não só toda a KERATITE 19 cornea, mas até a pupilla; a segunda (pannus crassus, sar- comatoso) tem a camada opaca e vascular mais espessa e semelhante a uma membrana fungosa, pelo que é impos- sivel mesmo saber-se onde termina a esclerotica e começa a cornea, que parece coberta de uma camada mucosa. Esta inflammação é o mais das vezes o resultado da in- versão dos cilios (cabellos) para o globo do olho. (Tri- chiasis.) Tratamento. O pannus cura-se fazendo desapparecer a causa que o produzio, mesmo quando é trachoma- toso, por meio de uma operação que consiste em cortar o ligamento palpebral externo na direcção da funda, e tendo de extensão um centimetro, ou mesmo cortar o orbicular, de modo a alargar definitivamente a abertura palpebral. Nos casos rebeldes — operação de syndcc-lf Xa. K. siiperfieitj.3 cXxxsii;ci}r?^*a. -- (Escrophu- losa, lymphatica.) Opacidade circumscripta da cornea, de côr cinzenta; dores ciliares, photophobia, injecção sub- conjunctival ligeira, circumdando a cornea; ás vezes de fôrma triangular com o vértice para a opacidade. Neste ponto perda da camada epithelial, tanto mais conside- rável e profunda, quanto o vicio es rophuloso tem feito progressos. Tratamento. Repouso do órgão; proscripção absoluta do emprego da água fria. Tratamento geral, applicavel ao vicio escrophuloso. K. vesücis?:-n.—Rara; todavia foi descripta por Bowman, Graefe, "\7eber e Mooren; o característico desta fôrma é a de uma ou muitas vesiculas trans- parentes, cheias de um liquido muito limpido, formadas á custa da camada epithelial e das camadas superficiaes da cornea. Pela eliminação das paredes das vesiculas, a pequena opacidade deixada na cornea desapparece em pouco tempo. Dores ciliares, lagrimejamento e photophobia in- tensa, acompanhando o desenvolvimento das vesiculas, para desapparecer logo que o liquido tem sido eliminado, reapparecendo se novas vesiculas se desenvolverem. 20 KERAT1TE Tratamento. O tratamento consiste na destruição da vesicula, o que se consegue praticando com uma tesoura curva um golpe que a circumscreva completamente, tendo antecedentemente picado a vesicula com a ponta da própria tesoura. Bv. ponctuãda. — (Alterações mórbidas da mem- brana de Descemet.) Esta é constituída por pontos ou pequenas manchas, formando um grupo triangular, de b.ise inferior, na face posterior e inferior da cornea. Symptomas. Além destas manchas, humor aquoso turvo; hypertrophia local da membrana epithelial, da membrana de Descemet, vista com o microscópio, semelhando um epithelioma. Iris inflammada e com depósitos iguaes aos mencionados na cornea. K.. diffusa. — Inflammação da cornea caracteri- sada por uma opacidade cinzenta, espalhada sobre toda a superfície da cornea. Esta inflammação pôde affectar um ponto da cornea, simulando a espécie ponc- tuãda, e ser devida a iritis sorosa. Injecção peryke- ratica moderada; lagrimejamento. Pelo ophtalmoscopio vê-se a camada epithelial rugosa, e parecendo como picada por uma agulha. Sensação de poso nos olhos, perturbação da vista, photophobia ligeira. Tratamento. Compressas de água quente sobre o olho ou olhos doentes, feitas da seguinte fôrma : dobra-se um panno fino e macio três ou quatro vezes, embebe-se em água quente a 40 grãos centígrados, e applica-se, con- servando-se e reapplicando-se por espaço de três a doze horas por dia, durante quinze dias, sendo necessário. Abstenção completa de collyrios; medicação interna gorai. K.. suppuratiya.— [Abscessos da cornea).—Sympto- mas. Ha duas fôrmas: uma acompanha-se de pheno- menos inflammatorios mais ou menos intensos, como injecção perikeratica franca; outra tem a marcha in- sidiosa sem symptomas inflammatorios; é a infiltração indolente de Graefe. A primeira fôrma (abscesso sthenico) começa por dores ciliares intensas, lagrimejamento considerável e forte; KERATITE 21 injecção sub-mucosa, maxime no limbo conjunctival, o qual incha mais ou menos; no centro da cornea vê-se então pequenos pontos esbranquiçados, os quaes augmen- tão de tamanho até um grão de milho, e fazem re- levo na cornea. A côr desses pontos varia desde o cinzento azulado até o amarello palha. Estes pequenos pontos podem reunir-se, e formar um só que tome a metade da cornea. De ordinário sendo as camadas da cor- nea profundas, o ponto affectado não é rubro na super- fície externa; sendo ao contrario a membrana de Des- cemet a interessada, presta-se á elevação na câmara an- terior do olho. O abscesso tendo-se aberto, deixa uma ulcera visivel pela luz oblíqua, com a particularidade de, em seu começo de formação, apresentar a superfície lisa, formando a camada epithelial que o cobre pelo correr do desenvolvimento ; rugosidades e em alguns pontos pequenas perdas de substancia. Segunda variedade. Absccssos indolentes da cornea; têm de notável a ausência completa de phenomenos inflam- matorios ; nota-se a principio um pequeno ponto ama- rellado no centro da cornea, o qual vai-se estendendo em poucos dias até adquirir as dimensões da cabeça de um alfinete; deste ponto se estende rapidamente a grande parte da superfície da cornea, produzindo a eli- minação destas partes citadas e deixando em seu lugar ulceras extensas e perfurações, terminando então a keratite por um estaphyloma considerável ou por um leucoma extenso. O que ha de particular, é que ape- nas se nota uma fraca injecção subconjunctival de- nunciada por tez rosea fraca, na peripheria da cor- nea. Quando, porém, as camadas profundas da cornea são atacadas, a iris se descora, produz-se forte hy- perimia em seus v; sos grossos e desenvolve-se um hypo- pion com extrema faci.idade, seguindo-se os estragos aci- ma referidos. Alem destas duas fôrmas de keratite suppurativa, ha uma terceira espécie, felizmente muito rara e que se des- envolve de ordinário por effeito da secção ou lesões dos nervos do quinto par, ou também nas cianças quando atacadas de tumores intra-craneanos, do encephalites 22 KERATITE chronicas ou de outras affecções cerebraes; é a keratite nervo-paralytica, a qual se caracterisa como a precedente, pela ausência de phenomenos inflammatorios, pela pal- lidez, pela cedemacia da conjunctiva, pela ausência com- pleta de secreções, e pela côr opalina da cornea, tendo o centro de côr amarella pronunciada. Em conseqüência da proeminencia do centro da cornea, a camada epithelial desse ponto é eliminada, e fórma-se uma ulcera, a qual se estende com rapidez, apresentando o fundo pultaceo. Esta espécie de keratite pôde dar em resultado a perda com- pleta da cornea, se todos os filetes do quinto par forão cor- tados; em caso contrario, á proporção que a paralysia fôr diminuindo, vão-se fazendo reacções e a cura estabelece-se. Tratamento. O tratamento varia conforme a keratite ó stJienica ou aslhenica ou insidiosa, assim, no Io caso, o tra- 11monto deve ser enérgico, com a mira de alliviar o doente das dores ciliares, empregando para isso não só os medi- camentos abaixo indicados, mas instillações de solução de atropina; no 2o caso, além dos medicamentos deve usar-se das compressas de água quente, as quaes serão tanto mais demoradas, quanto fôr mais insidiosa a keratite, cessando somente este emprego quando o abscesso formado se cir- cumdar de uma aureola cinzenta, e proeminar a não dei- xar duvidas (Graefe), ou mesmo até a reparação daa perdas por um tecido transparente (Wecker). Podem aa compressas ser embebidas de preferencia em um cozimento de camomilla e meimendro, ao envez da água pura. Quando o abscesso está completo e que o pús enche a câ- mara anterior do olho, deve-se praticar a paracentese com o fim de evacuar o pús e oppôr obstáculo á distensão for- çada da cornea. A. paracentese deve ser feita na parte mais declive do abscesso, mas sempre em um ponto da circumferencia da cornea, tendo a cautela de introduzir a agulha obliquamente abaixo do abscesso, em ponto ainda transparente, e levantar a ponta do instrumento para não ferir o crystallino, logo que a ponta do in- strumento tenha passado a face posterior da cornea. Para um operador exercitado uma faca lanceolar é muitas vezes preferível á agulha de paracentese. keratitb 23 Os medicamentos principaes contra a keratite ulce- rosa são : — 1 ) Euphr., hep., sil.— 2 ; ) Ars., bell., cale lach., merc, natr. e sulf. K.. ulcerosa.— Nesta o trabalho necrobiotico es- tabelece-se desde o começo da inflammação. Esta espécie também tem duas fôrmas como a precedente — keratite ulcerosa sthenica, a qual se caracterisa pelos phenomenos inflammatorios mais ou menos intensos, o keratite ulcerosa asthenica, onde esses phenomenos são pouco notáveis. A primeira tem a marcha muito rápida, emquanto que a se- gunda, além da lentidão em que progride, de espaço em espaço faz paradas que simulão a cura, para depois con- tinuar desassombrada no seu desenvolvimento. K.. ulcerosa sthenica. — Symptomas. Dores ciliares intensas, lagrimejamento e injecção perikera- tica e photophobia consideráveis abrem a scena. Exa- minando-se a cornea encontra-se uma opacidade parda- centa que occupa as partes centraes ou periphericas desta membrana. Dias depois, a côr desta ulcera se modifica tornando-se branco-escura, ás vezes amarellada e prosegue seu curso até que se regenere o epithelio e que a cura se faça, ou que destruindo a cornea e as camadas mais pro- fundas desta membrana, se faça a hérnia da membrana de Descemet (Keratocele); ou mesmo uma opacidade con- siderável se estabelece e destroe o órgão. K. ulcerosa asthenica.—Nesta todos os sympto- mas são de pouca intensidade, conservando sempre a ulcera a côr esbranquiçada. Nesta espécie ha a fôrma que o Sr. Roser capitulou de ulceras a hypopyon por com- plicar-se sempre de derramamentos Ínterlamellares e de um hypopyon. Esta fôrma começa por uma opacidade circumscripta branco-amarellada, que se transforma rapi- damente em ulcera, estendendo-se mais em superfície do que em profundidade (Wecker). O resultado de todo este trabalho inflammatorio ó a formação de um hypopyon. Durante elle, a pupilla con- trahe-se, a iris perde a mobilidade, descóra-se e hy- perimia-se. 24 KYSTOS Tratamento. A base do tratamento deve ser o emprego das compressas quentes, como no precedente caso. Será bom, para facilitar a formação de novas camadas de epithelio, conservar o olho (as palpebras) sempre fechado pelo uso de uma atadura apropriada. A paracentese deve ser empregada, porém repetidas vezes. O uso da faca lanceolar para esta operação, feita a incisão pela esclerotica, é preferível, abrindo-se larga- mente perto da cornea, e praticando-se, logo depois, a operação da pupilla artificial (Iridectomia), com o fim não só de facilitar a visão, que a opacidade embaraça, mas de prevenir a communicaçao da inflammação ás membranas internas do olho. É de necessidade o emprego de instilla- ções de atropina e o uso interno dos medicamentos indica- dos para o caso de keratite suppurativa. KYSTOS. TUMOR ENKISTADO. Sacco sem abertura, ordinariamente membranoso, for- mado accidentalmente pela dilatação dos conductos excre- tores das glândulas ou dos cul-de-sacs, cujo orifício acaba por se obliterar (Robin). Distinguem-se varias espécies de kystos, que são: kystos sorosos, mucosos, hydaticos, hematicos ou sangüíneos, os quaes podem ser formados em vários pontos do corpo, como sejão: nas vesiculas que não têm conductos excretores, nas de Graef, e nas synoviaes, além do derramamento san- guineo interlaminoso, que se pôde enkystar formando tumor. Merecem particular menção, para descri rção sympto- matica, os kystos da cavidade poplitea, do pescoço (ganglio- nares); os kystos foetaes, os pilosos, dos ovarios; os do KYSTOS 25 figado (hydropisia enkystada do figado); os mucosos; os mucosos dos grandes lábios; os do utero; os kystos dos ovarios; das palpebras; do seio; os kystos sorosos; os do testículo, etc. Symptomas dos kystos em geral. Tumores do volume variável, duros, circumscriptos, indolentes, moveis, sem fluctuação, sem mudanç i de côr da pelle, ordinariamente de fôrma arredondada, com elevações ou bossas e um pouco molles. Tratamento. Puncção e injecção simples ou iodada; sedenho. Kistos cm particular. — Kysto articular da cavidade poplitea.—Symptomas. Tumor do tama- nho de um ovo de gallinha, globuloso, indolento e inoffen- sivo quando a perna está em meia flexão, fluctuação sen- sível, difEcil na posição opposta. Faz hérnia através do ligamento posterior da articular femuro-tibial; é feito á custa da synovial da articulação, e pôde sueceder a uma hydarthrose. Tratamento. O desta ultima moléstia (Hydarthrose), devendo haver a cautela de conservar a perna em extensão — no momento de fazer-se qualquer injecção, com o fim de impedir a entrada do liquido na synovial — se entre esta e o kysto houver alguma communicaçao. K. do pescoço. — Symptomas. Tumor arredon- dado, sem mulança de côr na pelle, indelente, situado na parte anterior e média do pescoço, ás vezes de um só lado; fluctuação rara, e acompanhando os movimentos do larvnge. Tratamento. Puncção com um trocate e injecção iodada; ou incisão, curando-se com fios induzidos de glycerina ou cerôto simples; lavagens com água alcoolisada. K. ftetaes e kystos pilosos dos ovarios. Os fcetaes são produzidos pelo desenvolvimento do foeto nos ovarios, e em conseqüência quasi impossiveis de serem diagnosticados durante a vida. 26 KYSTOS Os pilosos encerrão cabellos e ás vezes dentes, ossos, retalhos de pelle, etc ; estão no mesmo caso. Já tivemos, porém, occasião de vêr este diagnostico feito pelo eximio pratico Dr. Antônio Polycarpo Cabral, em uma doente do Hospital da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, confirmado depois pela necropsia. Tratamento. Deve ser symptomatico dos accidentes que produzirão o kysto. K. d© figado.— Symptomas.— Locaes. Dôr surda, obscura, na região do figado; augmento de volume do órgão em relação cm o kysto, fazendo saliência no hypocondrio direito. Geraes. Desarranjos da digestão; anciã, ascite, peri- tonite. Tratamento. Em primeiro lugar attender e curar aa desordens causadas pela compressão do tumor nos órgãos circumvizinhos; depois puncção com um trocate, tantas vezes repetida quantas carecer para evacuar o liquido que se renovar, fazendo afinal injecções com partes iguaes de água e tintura de iodo. K mucosos.— Em geral, como exemplo tem-se os lobinhos, os signaes, os meliceres, etc, os quaes se desenvolvem nos folliculos sebaceos, e nos pilosos, contendo matéria esbranquiçada semelhante a papa (Atlieroma), ou da consistência de mel (Mélicérés), ou finalmente pêllos, etc. Symptomas. Pequena elevação da pelle, que augmenta progressivamente, provida de um orificio de onde se pôde fazer sahir matéria semelhante ao sebo; não produz conseqüências além da deformidade. Tratamento. Esvasia-se, comprimindo moderadamente. Extirpação do sacco por meio do bisturi. K.. dos grandes lábios. — Symptomas. Tumores de diversos tamanh< s desenvolvidos nos grandes lábios, maxime na parte inferior, ou perto do annel, produzindo KYSTOS 27 a principio embaraço e alguma dôr, principalmente na occasião do coito, tendo a fôrma arredondada ou oblonga, elásticos, molles e fluctuantes. Regnoli os chama Jiydro- cele da mulher. Tratamento. Simples puncção para os pequenos, e in- cisão larga para os de maior volume, e para quando reapparecerem. Curativo com fios sêccos, afim de fazê-los suppurar por algum tempo. K.. mucosos do «íero. — Pstes têm predilec- çâo pelo collo do utero e lábios do orificio uterino. Contêm um liquido albuminoso, espesso, viscoso e gelatiniforme. Symptomas. Leucorrhéa abundante, irregularidade das regras, ou hemorrhagias uterinas. Depois incommodo, dôr no utero, no hypogastrio, nos lombos e na parte superior das coxas. Tumor saliente na vagina, flaccido, molle, meio fluctuante e indolente ao toque. Tratamento. Excisão e cauterisação das cavidades dos pequenos. K.. dos ovarios.— Podem ser sorosos, albuminosos, gelatinosos e sólidos. Elles são uniloculares, multiloculares ou vesiculares. Becquerel dá noticia de três espécies de kystos, que denomina colloides, os quaes têm a mesma denomina- ção para Cruveilhier, Virchow; não são senão os kysto- sarcomas, e os kysto-carcinomas, ou cancros dos ovarios, para Scanzoni. Symptomas.—Locaes. Começo lento, insensivel e des- apercebido. Pouco a pouco vai augmentando o volume do ventre; depois tensão, peso, repuxamentos. O ventre, do lado doente, fica deformado por um tumor bocelado e desigual, mais ou menos volumoso ; som massiço, limitado e mais notável do lado do kysto; sonoridade do lado opposto e na parte superior do abdômen, seguindo uma curva de convexidade superior. Geraes. Perturbações das funcções digestivas, circula- tórias e da respiração; constipaçao, cedema das extremi- dades inferiores, dyspnéa, emaciação e perturbações nervosas. 28 KYSTOS Pela apalpação se sente um tumor liso ou bocelado, fluctuante ou não, conforme o kysto é unilocular ou multi- locular, e contém liquido ou matéria solida. Sendo volu- moso, o utero pôde ser deslocado, a menstruação suppri- mida ou somente desarranjada. Tratamento.—Cirúrgico. Paracentese (puncção) tantas vezes repetida quantas fôr indicado. Sendo unilocular, movei e sem complicações, e que encerre um liquido claro, soroso, sanguineo ou purulento, punção com o trocate e injecção com uma solução iodada. Quando o liquido fôr espesso, viscoso e albuminoso, sonda de demora e injecções iodadas. Havendo reproduc- ção do liquido — ovariotomia. Medico. Os melhores medicamentos são: Aps., dulc. e sabin. VL. das palpebras. — (Chalazions, lithiasis, etc^ São pequenos tumores que têm sua sede ou no bordo livre das palpebras, ou em sua espessura, ou finalmente abaixo da conjunctiva, cheios de liquido soroso ou de matéria sebacea. Tratamento. Extirpaçâo com tesouras; depois cau- terisa-se o fundo da chaga com um lápis de nitrato de prata. KL. ^ do seio.—São uni ou multiloculares, sorosos, sero- sanguineos e sero-mucosos. Symptomas. Sendo multilocular, tumor pequeno, duro, movei, indolente e bocelado; desenvolve-se ora lenta e ora rapidamente. Quando adquire grande volume, além de produzir peso, pôde tornar a pelle rosea; sendo volumoso e unilocular; fluctuação. Tratamento. O geral. K. do testículo.— Começão lentamente; são in- dolentes, com elevações e desigualdades na superfície do testículo; fluctuação e peso. Tratamento. Ablação do testículo. L EARYNGITE. ANGINA LARYNGEA. inflammação da membrana mucosa do larynge. Divide-se em laryngite aguda simples, em chronica simples, ulcerosa ou tísica laryngea, em estridulosa ou falso croup, em cedematosa ou cedema da glotte, em pseudo- membranosa ou croup. Laryngite aguda simples. — Symptomas. — Locaes. Sensibilidade ou dôr no 1 irynge, com voz alte- rada, rouca ou extincta; deglutição difficil, sensação de um corpo estranho no larynge, com symptomas de as- phyxia, escarros mucosos, csbranquiçados e espumosos. Geraes. Em relação com a intensidade da inflammação. Tratamento. Os melhores medicamentos são : Acon., hep., spong., ou: Brom., cham., dros., hydr., ipec, lach., merc, phos. e sen. Havendo perigo de asphyxia imminente: Tracheotomia. L.. chronica simples. —Symptomas.—Locaes. Rou- quidão, aphonia, dôr no larynge, expectoração amarel- lada, escura, opaca, embaraço da respiração. Pelo exame feito com o laryngoscopio — rubor mais ou 30 laryngite menos intenso de toda a região; deformação geral ou parcial da epiglote, das arytenoides e dos ligamentos aryteno-epjgloticos, com deposição de mucosidades es- branquiçadas nos bordos livres das cordas vocaes; gra- nulações isoladas ou confluentes do tamanho de um grão de milho miúdo ou de uma ervilha. Geraes. Pouco pronunciados ou nullos. Tratamento. Evitar o frio, fallar pouco. Os medicamentos aconselhados para a aguda são aqui de muito proveito, mudada somente a dynamisação, que deve ser mais alta; isto é, 18, 24 e 36. L. ulces. 23a giz tieÊca laryEge©.— Divide-se em aguda ou chronica. Aguda.— Symptomas. Na convalescença de uma mo- léstia aguda, ou espontaneamente, o doente accusa dores de garganta, mais ou menos violentas, respiração difficil, voz rouca e alterada, febre, etc. Dias depois, ou mesmo logo no seguinte: voz extincta ou completamente rouca, dores na garganta e no larynge, augmentadas pelos esforços da tosse e até pela palavra; tosse freqüente e como croupal com expectoração mucosa ou sanguinolenta, ou muco- purulenta abundante; respiração anciosa, sibilante e estridente; febre. Chronica.—Symptomas. Lentos ou súbitos. Dôr pouco intensa; as bebidas sahem pelo nariz; voz rouca, depois dura, tosse freqüente, e eructanle com expectoração abundante, espumosa, viscosa, esfriada, não sanguinolen- ta, respiração embaraçada; febre. Tratamento.—£ietetico. Repouso da palavra, dieta, flanella sobre o corpo; evitar o frio e a humidade. Medico. Os medicamentos que devem ser empregados de preferencia são:—1) Arg. — 2;) Ars., cale, carb.-v., caus., dst, phos. ou:—3) Dros., hep., iod., kreos., led., mang. e nitri.-ac. Para a tisica laryr.jsa, que nos adv:jados, nos pregadores, nos professores e em geral em todos os que LARYNGITB 31 são obrigados a fallar muito, um dos medicamentos que mais tem aproveitado ó arg., maxime se comendo entra alguma parte no larynge. li. estridulossa oaa falso crossp. — Symptomas. Tosse forte, sonora, rouca, apparecendo por quintos, pre- cedida alguns dias de rouquidão; voz enrouquecida, entrecortada, mas em geral forte; respiração rápida, entrecortada, arquejante; inspiração estridulosa, sibi- lante, sonora e como o canto do gallo. Pouca ou nenhuma dôr no larynge. Expectoração mucosa. Examinando-se o pharynge e o larynge, são achados no e tado normal, apenas um pouco vermelhos. Durante os accessos, face congestionada, lábios azulados, olhos espantados, cabeça voltada para trás ; signaes de asphy- xia, pouca ou nenhuma febre. Tratamento. Os melhores medicamentos são: Ambr., bell., bry., dros., hyos., ipee, pJios., spong., ou : Acon., cale, carb.-v., cin., hep., iod., n.-vom. e sulf. Havendo ameaça de suffocaçâo — tracheotomia. Wj. oederoitasrc oa c3t*o™.r, dri glete.—Sympto- mas. Mal estar ou dôr intensa no larynge com deglu- tição embaraçada ou impossivel, e sahida dos liquidos pelo nariz; respiração difficil, levada ao ponto de or- topnéa, havendo a circumstancia de ser a expiração fácil e como que exigida para a expulsão de um corpo estranho, e a inspiração muito penosa e sonora; voz rouca, penosa, extincta, como de cabra. Murmúrio respiratório fraco, tosse ás vezes sêcca, abafada; expectoração mu- cosa ; purulenta ou sanguinolenta. Infiltração e inchação das partes constituentes do pharynge, e da epiglote, com inchação, algumas vezes do pescoço, ás vezes uleeraçâo. Accesso3 de suffocaçâo por effeito de exacerbações que ordinariamente são violentas; produzindo, além do phe- nomeno acima enumerado, pelle livida, vultuosa, olhos salientes, symptomas de asphyxia, resfriamento das ex- tremidades, anciedade e agitação, symptomas que no intervallo dos accessos são substituidos por prostração e modorra. Febre mais ou menos pronunciada. 32 LARYNGITE Tratamento. — O medicamento por excellcncia é apis., o qual em caso do não dar resultado e havendo perigo de suffocaçâo, deve ser seguido da Tracheotomia. E<. pseudo-mcmbranosa ou croup. — Para a symptomatologia e tratamento medico. (Vide Croup.) Resta-nos somente dar a descripção da Tracheotomia, com suas indicações e manual operatorio. Tracheotomia.— Indicações.— Esta operação deve ser praticada quando houver: 1°, suffocaçâo permanente ou ancsthesia; 2o, quando houver locilisação da diph- theria; 3°, quando o individuo tiver pelo menos de dous annos de idade em diante. Manual operatorio. São necessários três ajudantes: um para lavar e afastar as bordas da chaga; outro para manter a cabeça e outro para impedir os movimentos do doente. Os instrumentos necessários são: bisturi recto, sonda canulada, flexivel, um bisruri abotoado e tesouras for- tes ; pinças e fios para ligaduras; dilatador de Trous- seau, canulas duplas, uma lanada; esponjas finas e água tépida, sjlução de alumen ou nitrato de prata para cau- terisar a trachéa, e taíetá gommado. Operação.— Deitado o doente com a cabeça revirada para trás, o operador colloca-se á direita; tendo reco- nhecido a cartilagem cricoide, attrahe com a mão es- querda para cima o laryngo de modo que a pelle fique bem tensa, incisa a pelle e a aponevrose cervical super- ficial em um ou dous tempos, desde a base do larynge até o bordo superior do sterno; fixa-se com o dedo, ou com um tenaculo, a cartilagem; descobre-se e separa-se os sterno-hyoidianos, e os sterno-thyroidianos, intro luz- se o dedo no fundo da chaga, com o fim de verificar se ha alguma anomalia arterial, comprime-se algum vaso que esteja dando sangue, em vez de liga-Io ; limpa-se bem o sangue, procura-se reconhecer bem a trachéa, introduz- se nella o bisturi verticalmente e depois de a ter pene- trado, divide-se os cinco ou seis primeiros anneis, ou mais se fôr preciso (um centímetro e meio de extensão). lepra 83 Acabada a incisão para impedir a penetração ou der- ramamento interno do sangue, introduz-se o dedo na abertura feita, fazendo voltar-se o doente immediatamente para diante. Nesta occasião introduz-se o dilatador de Trousseau fazendo-o acompanhar, logo depois, da canula, a qual é mantida ao redor do pescoço por ataduras ou cadarços passados nos anneis lateraes, tendo anteceden- temente envolvido a canula em tafetá gommado. Curativos consecutivos.—Envolve-se o pescoço do doente com uma pasta de algodão fino cardado ou com uma gravata frouxa de lã ou de seda; limpa-se a canula com a lanada, tira-se as falsas membranas com uma pinça. No fim de dous ou três dias tapa-se a canula com o fim de A"êr se as vias respiratórias estão livres; toca-se as falsas membranas do pharynge com um pincel en- sopado em uma solução de 8 grammas de ácido chlorhy- drico e 60 grammas de mel rosado. De vinte e quatro em vinte e quatro horas cauterisa-se fortemente as bordas da chaga com nitrato de prata, reti- ra-se definitivamente, no fim de õ a 6 dias, a canula, e faz-se o curativo com fios e cerôto simples. O doente pôde ser alimentado logo que a febre des- apparece. LEATIGO. Vide Ephelides. EEPRA. MALANDRIA, APHOS, LEUCE, OPHIASIS, SPILOPLAXIA, LEONTIASIS, LEONTINA, ELEPHANTIASIS. Dermatose chronica, caracterisad-i: Io, por esca- mas duras irregularmente orbiculadas, com uma aureola vermelha e algumas vezes atravessadas por sulcos D. H. II 3 o± LEPRA cinereos, denegridos; 2o, por tuberculos desiguaes com asperezas, feridas profundas e largas placas de cicatrizes indeléveis; 3o, por tumores nodosos, vegetações, fungosi- dades lardaceas com deformação da pelle, espessamento e hypertrophia de tod ■■ o tecido tegumentar. Symptomas. Em conseqüência dedesarranjos da digestão por effeito de alimentação viciosa, como sejão: a carne de porco usada quotidianamente, o abuso do café, a farinha de milho azeda e mal preparada, declarão-se umas man- chas, que a principio sao avermelhadas, depois tornão- se lividas, produzindo a sensação de picadas de agu- lha; mais tarde nessas manchas produz-se anesthesia de todo o tecido subjacente e erupção semelhante ao pso- riasis ouptyriasis com descamação. É este o primeiro pe- ríodo da moléstia. No segundo período formào-se bolhas que, rompendo-se, deixão em seu lugar ulceração de fundo lardaceo especial, a qual gozando de propriedade phage- denica vai-se estendendo e destruindo todos os tecidos circumvizinhos, sem exceptuar mesmo os fibrosos. Neste período ha hypertrophia do rosto com ou sem tuberculos. No terceiro as ulcerações do segundo tomão caracter grave, e além de invadirem o tegumento externo, esten- dem-se ás mucosas dos olhos, do pharynge, do paladar, pene- trando de concomitância com as externas, que têm ocea- sionado a queda dos dedos e mesmo de todo? os ossos das mãos e pés, produzem cegueira e morte. Tratamento. Quando a moléstia está em via de pro- gresso é considerado quasi infruetifero; todavia alguns medicamentos têm sido empregados com a esperança de melhorar o estado do individuo. Os medicamentos que convém empregar de preferencia são: — 1) Assacú —2;) Alum., ars., carb.-an,, graph., natr., petr.,phos., sep., sil., sulf. — 3 ;) ZDulc, daph., rhus., card.- benit. Dietetico. Mudança de clima, exereicio, grande asseio, vida sóbria, regimen vegetal; carnes brancas, legumes frescos, frutas aquosas, leite; abstinência de carne de porco, de peixes de pelle e de carnes negras e salgadas. LEÜCO-ANGEITE 35 LETHIASIS. Vide Cálculos. LEI7CO-ANGEITE. ANGIOLEUCITE, LYMPHANGITE, LYMPHATITE. L flammação dos vasos lymphaticos. Divide-se em superficial e profunda. \j. —A. superficial.—Symptomas.— Locaes. Por effei- to de chagas e inflammações da pelle apparecem estrir.s, faxas e placas vermelhas e escuras no trajecto dos vasos lymphaticos, produzindo manchas crysipelatosas em redor da lesão primitiva, com dôr local, tensão e inchação; inchação dos gânglios correspondentes. L.—A. profunda.—Conseqüente a lesões também profundas : esta lymphatite produz-se com dôr, peso e in- chação; enfartes sub-aponevroticos, com inchação de todo o membro; rubor ou manchas como na superficial com a differença de conservar-se a pelle luzidia no intervallo das manchas. Tumefacção dos gânglios profundos. Geraes. Nullos na superficial; na profunda são mais ou menos intensos, segundo a intensidade ou extensão da inflammação: assim, horripilações, calefrios e calor; perturbações da innervação e do apparelho digestivo. Tratamento. Os melhores medicamentos são:—l)Acon., aps., bell., graph., lach., merc, puls., rhus.; —2} Arn., ars., bry., camph., cham., chm., hep., nitri-ae, pJios., plumb., sil., sulf.;-— 3) Amm., aur., chin., euphr., hyos., sep. u thui. ?6 leucorbhAa LEECOMA. Vide Manchas. EEECOPHEEGMA&IA. Vide Anazarca. LEUCORRHAGIA. Yide Catarrlio utero-vaginal. LEUCORRHÊA. Oorrimento de um liquido aquoso, albuminoso, semi- transparente, opaco, muco-purulento, sem alteração no- tável das partes sexuaes da mulher, provindo ora do utero e ora da vagina. Leucorrhéa uteriua. — Symptomas. O corrimento é composto de muco transparente e albuminoso; molha as roupas sem as empastar de modo notável; a mucosa vaginal conserva-se sã e o tecido do collo chronicamente inflammado. LEUCORBHÊA 37 li. Vaginal.—O corrimento é cremoso, caseoso, muco- purulento, espesso e esverdinhado; engomma fortemente as roupas e as mancha; a mucosa vaginal é encontrada es- pessa, inflammada, amollecida ou coberta de granulações. Quando o corrimento é francamente purulento, obser- va-se ulcerações na mucosa da superfície e mesmo da cavidade do collo do utero; as manchas da roupa são então esbranquiçadas: ha vaginites. Estas secreções or- dinariamente misturão-se na vagina e tornáo difficil, sem o exame ocular. o diagnostico differencial. Tratamento. Os melhores medicamentos contra a leu- corrhéa ou fluxos brancos, são : Cale. puls., sep., sulf., ou: Acon., agn., alum., amm.. ars., bov., cann., carb.-v., caus., chin., coce, con., iod., mez., magn.-m., millef, natr., natr.- m., n.-vom., petr., sabin. e stann. Deve-se notar que nos casos ligeiros e recentes a leu- corrhéa não produz symptomas geraes que mereção es- pecial menção, mas quando é chronica e abundante pôde oceasionar desordens na nutrição, dando como resultado emmagrecimento, pallidez, desarranjos da digestão, dys- pepsias, gastralgias, enteralgias, desordens nervosas, chlo- roses, etc, pelo que, sendo uma moléstia tão freqüente e quasi endêmica em certas localidades de varias pro- víncias do Império, julgamos acertado especialisar as circumstancias da escolha dos medicamentos e sua appli- cação apropriada a cada caso em particular. Assim, pois, para a leucorrhéa acre, corrosiva e recente: Alum., ars., cham., con., kreos., phos., puls., sep. e sulf. Enfiraquecedora: Stann. Aquosa-sorosa: Puls. Branca : OaJc. e puls. Como clara de ovo: Amm.-ni., petr. e plàt. Ardente: «XX carb.-an., fluor.-ae. kreos., puls.. eulf-ac. Côr de carne : Coce. Produzindo coceiras ■. Con., lach. e phos. Dolorosa : Sep. 38 TyICHEN Espessa : Puls e sep. Fétida : Kreos., natr. e n.-vom. Amarella : — 1) Sep.;—2) N.-vom., etann. e sulf. Leitosa : Cale, pids. e sil. Mucosa: — 1) Pids.; —2) Lach , natr., sass. e stann. Puriforme : Merc. Pútrida : Natr. Sangssir-Tn^enia : Coce, rliin., sep. e sulf.-ac. Antes das regras:—l) Cale, lach.;—2) Carb.-v., chin. e plios. B&airan&e as regras : Alum., coce, lct<*h., e tine; puls. Pepiíis das regras: Alum., puls., rut. e sabin. Pepois da cessa sitia das regras: Sabin. e rut. C«&5M cobiças :—1) Magn.-m.;—2) Ign., magn., puls. sep. e sulf. Cosu face parida : Puls., sep. e ars. LICHEN. Inflammaçã'i chronica da pelle, nao contagiosa, affec- tando de preferencia os órgãos sccretores do pigmento, e exhaladores da pelle. Divide-se em simples agudo, simples chronico ou agrius. Simples agudo.— Symptomas. - Locaes. Erupção simultânea ou successiva de papulas pequenas, ago-lo- meradas, da côr da pelle, ou um pouco avermelhadas, com prurido, calor, e seguidas de descamaçáo. L. simp!es chronico.— As papu^s, embora con- servem a côr da pelle, tornão-se espessas e se esfolião ; são pequenas saliências apreciáveis pelo tacto. LTP0MA 39 Wj. agrius. —Aqui as papulas muito numerosas, ver- melhas, inflammadas, salientes, luzentes, estão assentadas em uma superfície erythxmatosa, e produrem calor ar- dente, coceira ■? pruri!o; depois pequenas ulcerações sobre as papulas ; superfície mor ti ficada, e oscamas. Gteraes Nullas ou j;ouco notáveis; excepeao feita do lichen agrhis, onde até o moral é affectado. Tratamento. O* melhores medicamentos contrn as di- versas espécies são, em geral :—1) .a^on., bry., cie, coce, dule, lyc, mur.-ae, natr.-m., sulf.;—2)agar., amm., ars., cale, rarb.-v., con., n.-jugl., phos.-ac, staph., e stront. No lichen simples os melhores medicamentos são : co-c, e dule, se não houver symptomas gástricos, por- que n°stas «ondições, s:lo : ei-., lyc, -mur.-ae, e fiulf. Para o lichen strofulus ou os botões de dentição:— 1) ri-., caus.. con.; —2) graph., merc, rhus. e sulf. LIENTER1A. Vide Diarrhéa. LIPOMA. LOBIXHOS. Hypertrophia do tecido cellular e adiposo de qual- quer ponto do corpo. Symptomas. Tumor de volume variável, sem mudança de côr da pelle, indolente, um pouco duro, de fôrma arredondada, desigual, lobulado. Tratamento. Üauterisaçflo cm potassa cáustica ou pós de Yienna ; extirpação. 40 LTTPÜS LUMBAGO. DORES DE CADEIRAS. Rheumatismo da região lombar, com particularidade das massas musculares. Symptomas. Em conseqüência de um esforço para le- vantar um peso, de um grito ou da impressão de frio, dôr violenta nas cadeiras, augmentada pelo movimento; allivio pela immobilidade; febre, agitação e insomnia, de- cubitus dorsal; ausência de dôr á pressão; appetite con- servado. Tratamento. Os melhores medicamentos são: Bry., n.-vom., puls., rhus. e sulf. Nos casos rebeldes: applicaçâo com um pincel de ool- lodion elástico. LUPI7S. ESTIOMENE, DARTRO VIVO, DARTRO ROEDOR. Dermatose que tem por caracter especial a inflammação tuberculosa da pelle, com prurido, rubor e calor ; e por propriedade corroer a pelle, oncie se desenvolve, no sen- tido da profundidade (Lúpus terebrante, perfurante), ou de sua superfi ie (Lúpus .ambulante, serpiginoso). LUXAÇÕES 41 Symptomas. Manchas, proeminencias tuberculosas, as quaes seulcerão estendendo-se em superfície e profundidade, com inchação, destruição das partes molles e das cartila- gens. (Lúpus excedens.) Em certos casos o lúpus em vez de ulcerar-se e produzir os symptomas enumerados, apresenta-se debaixo da' fôr- ma de manchas lividas com hypertrophia da pelle subja- cente. Tratamento. Os principaes medicamentos contra esta dermatose são em geral: — 1) Ars., sil., sulf.; — 2) Cale, graph., hep., merc., rhus., sep., staph.; — 3) Alum., aur., bell., cie, ciem., con., natr-m. e nitri.-ac Para o Lúpus facial escrophuloso: — 1) Ars., bell., hep., merc, sep., sil., staph., sulf; — 2) Alum., cale, nc, ciem., yraph., natr.-m., nitA.-ac e rhus. Para o Lúpusidiopathico (no nariz): — 1) Staph.; — 2) An., aur., cale, sep,, sil. e sulf. LUXAÇÕES. DESLOCAÇlo. Ruptura permanente da harmonia de relações nas su- perfícies articulares dos ossos. Podem ser acidentaes ou traumáticas, espontâneas, pa- thologicas ou consecutivas, graduaes (Nelaton) e congenitaes. Symptomas. xdudança de relações das superfícies ósseas com deformação do membro; na altura das articulações, que antes erão planas, elevações ou depressões; encurta- mento ou alongamento dos membros; ás vezes, porém, 42 LUXAÇÕES o comprimento fica n rm 1; embaraço ou impossibili- dade dos movimentos de adducção ou de abducção; dôr mais ou menos forte, produzida por qualquer tentativa de movimento; em algumas luxações crepitaçâ \ Tratamento. — Oirubgico. Reduzir a luxação, mantê-la reduzida, com o fim de restituir ao membro sua directriz e funcções normaes; combater os accidentes e complicações. A reducção compõe-se de três manobras indispensáveis, as quaes soffrem modificações de direcção e estão sujeitas a indicações differentos, segundo a articulação luxada. As manobra^ sio: < ontra-extensão, extensão e coaptação, as quaes varião con órme o processo adoptado. A contra-extensão tem por fim impedir o osso contíguo de ceder á tracção. Para executa-la carece-se ora das mãos de um ajudante robusto, ora de toalhas e pannos dobrados, applicados so- bre o osso com que está articulado o que se luxou e solida- mente fixo a um ponto resistente, como seja um pilar, uma porta ou uma argola presa á parede. A extensão laz-se também com os mesmos meios pelos quaes os ajudantes puxão ou fazem tracções na direcção indicada pelo operador, a qual é variável segundo a espé- cie de articulação luxada. As tracções devem - er moderadas e lentas se a luxação fôr antiga, por causa das adherencias e bridas fibrosas que tenhão adquirido. A coaptação consiste em restituir o osso luxado á nor- malidade, isto é, pô-lo em contacto com a superfície com que estava antes do accidente. Quando a coaptação é perfeita, ou quando ella se obtém, ouve-se um ruido no interior da articulação, a dôr dimi- nue logo, e os movimentos da articulação, ainda que limi- tados, se tornão possíveis. Estas manobras nem sempre são praticaveis sem o con- curso de alguus meios differentes. Assim, por exemplo, para que a contra-extensão se possa fazer, é necessário, se o indivíduo é plethorico, fazer um tratamento preparatório em ordem a enfraquecê-lo, por LUXAÇÕES 43 meio de dieta, banhos prolongados, embrocações emol- lientes, oleosas, etc. Para a extensão é necessário bvinhos quentes, gritar com o doente, distrahi-1 > com o fim de vencer a contracção muscular, e em ultimo caso empregar o chlorof rmio, para fazer a anesthesia. Para con'er a luxação depois da coaptação è indispen- sável o uso de apparelhos apropriados á espécie de luxação, empregando em caso de necessidade, bnnhos, duches e mo- vimentos regulados, feitos com prudência, se a articulação tarda a adquirir suas funções Medico. Os melhores medicamentos são: — 1) Agn., rhus., millef; — 2) Amm., rut.; —3) Agn., bell., bry., puls.;—4) Cale, carb.-an., carb.-v., ign., lyc, natr., maga.- aus., natr-m., nitri-ae, n-vom.,petr., phos., sep. e sulf Antes e depois das operações manuaes necessárias, de- ve-se recorrer a arn. em locçòes, e fazer tomar internamente vo doente 3 glóbulos, ou uma gotti de tintura da 30* dynamisação diluída em meio copo d'agua, uma colher grande de 2 em 2 horas: se isto não bastar deve ser substituída a arn. pelo rhus. três glóbulos da 30a dyna- misação, em meio calix d'agua e tomado de uma s© vez por 24 ou 48 horas.) Se apezar do emprego do rhus., depois da 3" ou 4" dose com o intervallo prescripto, a melhora não fizer progressos, ou que mesmo depois de reduzida a luxação haja ainda, de tompos a tempos, dores ou fraqueza contí- nua da articulação lesada, deve-se recorrer aos medica- mentos indicados acima. Deve-se, além disso, em certos ca-os, tomar em con- siderarão : Contra as lesões das membranas synoviaes, quando ellas provierem de luxação : — 1) Amm., arn., bry., rut.;— 2) Cale, natr., natr.-m., phos.;—3) Agn., carb.-an., carb.-v., lyc, mags.-aus., n.-vom.,petr., e sep. Contra as das partes ósseas: — 1) Calend., phos-ac, puls. e rut. Emfim, co-tra a convulsões, que seguem ás vezes as 44 LUXAÇÕES luxações, mesmo o tétano traumático, ós medicamento» são: Arn., e se não bastar: Ang. ou coce Para a febre traumática: Arn., e se não fôr sufl&ciente : Bell., cie, cin. ou : Cale e hep. Accidentes.—São de duas ordens; os primitivos sfto: as contusões, ruptura dos ligamentos e dos músculos, ai fracturas, as dilacerações dos vasos e nervos, as chagas e oa abscessos febris; os consecutivos são: inflammação, gan- grena, tétano e ankylose. luxações em particular. — EuxaçOes do sterno.— Symptomas. — Dôr no sterno augmentando-se pela pressão e pelos movimentos da respiração. l.° Deformação. Curvatura da espinha com saliência das apophyses espinhosas; as duas primeiras costellas e suas cartilagens parecem afundadas; as outras levan- tadas ; deformação do osso com saliência da parte inferior, ficando a superior funda. 2.° Dimensão. O sterno diminuído. 3.6 Posição. O doente curvado com a cabeça para diante. Tratamento. As manobras operatorias têm por fim trazer a porção superior do sterno á sua posição primitiva, o que se obtém levando o tronco para trás na extensfto, calcando com uma das mãos sobre o mento e com a outra sobre a symphísis pubiana; depois, pressão methodica de cima para baixo sobre o vértice da peça inferior; põe-se depois compressas graduadas sobre o fragmento inferior é uma atadura de corpo. L. da clavicula. A clavicula pôde luxar-se por sua extremidade interna ou sternal, ou por sua extre- midade externa ou acromio-clavicular. Na interna a luxação pôde fazer-se para diante, para trás ou para cima. Na externa a luxação pôde ser êub-acromial, supra- acromial, sub-caracoidiana. \j. interna para diante. — Symptomas. — 1." Deformação. Nota-se uma saliência óssea, movei diante LUXAÇÕES 45 do sterno, e uma depressão abaixo da saliência; a clavicula está dirigida para diante, para baixo e para dentro. 2.° Dimensão. A espádoa está mais próxima do sterno, e em conseqüência ha encurtamento da distancia do lado doente. 3.<> Posição. A cabeça e o corpo inclinados para o lado luxado; o braço do lado luxado sustentado pela mão opposta. 4.° Mobilidade. Na adducção combinada com a elevação, os movimentos são penosos e limitados. Tratamento. Leva-se as espádoas para trás e exerce- se pressão sobre a cabeça da clavicula, repellindo-a para fora, para cima e para trás. A luxação mantem-se reduzida applicando-se uma funda de mola, com uma das pelotas sobre a parte luxada e a outra sobre a parte dorsal; ou usa-se do apparelho de Dermaquay. (Eig- 66). L. interna para trás. — Symptomas. Dôr local. l.° Deformação. Espádoa para diante, para dentro e levantada; clavicula collo- cada obliquamente para baixo, para dentro e para trás; a excavação supra-cla- vicular desapparece; o re- bordo anterior da cavidade sternal torna-se saliente; fórma-sc depressão no lado externo desta saliência ; a extremidade externa da clavi- cula fica saliente fora. 2.° Dimensão. A espádoa approxima-se da linha média, em conseqüência fica diminuída a distancia normal desta Unha á extremidade do hombro. Fig. 66. — Apparelh o Dermaq uay para a contenção das luxações dã clavicula. 46 LUXAÇÕES 3.° Posição. A cabeça um pouco inclinada para o lado luxado, os demais symptomas como na precedente. 4.° Mobilidade. Os movimentos da espádoa embara- çados ; alguma dyspnéa e embaraço na deglutição. Tratamento. Pux;ir a espádoa para fora e para trás com as mãos, tendo o joelho apoiado sobre o tronco. Se a luxação fôr para cima dirigir o cotovello do lado doente para diante, para dentro e para cima. Para conter a reducção é necessário collo car entre aa espádoas uma almofada, mantê-la com uma atadura ou usar do apparelho de Demarquay. Ia. interna pera cima.— Symptomas. Dôr local. 1.° Deformação. A cabeça da clavicula luxada faz sa- liência acima do sterno e depressão em baixo. 2.° Dimensão. Diminuição da espádoa. 3.° Posição. Espádoa abaixada, dirigida para diante e próxima da linha média. 4.° Mobilidade. Diíficiildade de movimentos, com dôr. Tratamento. Leva-se a espádoa para fora, para cima e para trás, comprime-se directamente sobre a clavicula. Mantem-se a reduc- ção por meio do espartilho de Demarquay. I- externas supra acra- sraíiaes.— (Eig. 67.) Symptomas. Sensação de rasga- mento no momento do accidente, com dores. l.° Deformação Saliência dura, anedondada, mais ou meuos no- Fig. 67.—Articulação do tavel no vértice da espádoa; hombro. abaixo da saliência depressão precipitada; espádoa achatada, clavicula dirigiua para ei : a, para diante ou para trás do acromion. 2.° Dimensão. O braço augmenta de extensão, fica maia comprido e pendente ao lado do tronco. LUXAÇÕES 47 3.° Pcsição. Como nas primeiras. 4.° Mobilidade. Mobilidade passiva e movimentoa muito penosos. Tratamento. Elevar o braço e leva-lo para cima, para fora e um pouco para trás, abaixa se ao mesmo tempo a clavicula, comprimindo-se directamente sobre ella. E (iifficil conter-se reduzida. L. externas sub-acromiaes. — Symptomas. — 1.° Deformação. Espádoa achatada ; o acromion faz sali- ência, a clavicula luxada produz depressão. 2.° Dimensão. Coto da espádoa approximado do sterno, consequentemente—encurtamento da distancia primitiva. 3.° Posição. Braço pendente ao longo do tronco. 4.° Mobilidade. Movimentos voluntários, principalmente para cima, quasi impossíveis ; os passivos fáceis. Tratamento. Deve-se puxar com geito e devagar a es- pádoa para fora e para trás; depois, prende-se por meio de uma atadura de corpo o cotovello contra a parto anterior do peito. L. externas sub-coracoideanas. — Symptomas. Dôr local intensa. l." Deformação. Abaixamento do côío da espádoa; sente-se na axilla a extremidade externa da clavicula e a apophyse coracoide, e o acromion salientes debaixo da pelle. 2.° Dimensão. Augmento da distancia do sterno ao acromion. 3.° Posição. B aço pendente, mas com as dimensões normaes. 4.o Mobilidade Os movimentos, evcepção feita para cima e para íóra, sao fáceis. Tratamento. Mantem-se o braço applicado contra o tronco; um ajudante pega em cima com a mão direita, e em baixo com a esquerda; o braço faz um movimento de rotação de dentro para tora, pega então na clavicula 48 LUXAÇÕES e a tira de debaixo da apophyse coracoide, depois põe-se uma atadura contentiva. li da espádoa sub-corac«ideana completa ou para diante (Fig. 68).— Symptomas. l.° Deformação. O doente apresenta o coto da espádoa achatado, principalmente na parte posterior; o acromion sabido para fora ou saliente; além disto sente-se uma sa- liência arredondada, que é a cabeça do humerus, na cavi- dade da axilla, um pouco para cima e para fora. 2.° Dimensão. Diminuição da cavidade sub-clavicular e alongamento do braço. 3.° Posição. O cotovello fica Fig. 68. —Luxação sub-coracoi- afastado do tronco; o braço deana completa (Malgaignie). ^ mta^o pMa fópa; Q antc_ braço dobrado sobre o braço, o tronco inclinado para o lado luxado. 4.o Mobilidade. Os movimentos espontâneos são diffi- ceis, os communicados dolorosos, com crepitação em certos casos. Tratamento. Reducção, a qual se faz nos três tempos indicados no começo do capitulo. 1.° Extensão. Prende-se o laço extensor na parte in- ferior do humerus, para que a flexão do ante-braço sobre o braço se possa effeituar (Pig. 69). 2.° Contra-extensão. A contra-extensão ó feita passan- do-se uma toalha dobrada ou qualquer laço forte que não contunda, por baixo da axilla doente, e é mantida ou por ajudantes ou em um pilar ou argola presa a qual- quer ponto da sala, ou mesmo a um páo atravessado em uma porta. 3." Coaptação. O cirurgião eolloca-se por íóra do mem- bro lesado com uma mão na cabeça do humerus, que luxações 49 está na cavidade axillar, e a outra sobre o cotovello; quando as tracções têm levado a cabeça do osso aovponto sufficiente, empur- ra-se para cima e para fora , abai- xando-se ligeira- mente o cotovello e assim balança-se a cabeça do humerus. Executa-se ainda esta manobra collo- cando as duas mãos na cavidade axillar e os dous pollegares reunidos sobre o acromion. Se a contracção muscular fôr con- siderável, chloro- formisa-se o doente. Para estas mano- bras convém que o doente esteja dei- tado em uma cama, ou assentado sobre uma cadeira alta, pjg. 69. — Reducção da luxação da cabeça com as pernas es- do humerus, sub-coracoideana completa e para tendidas. diante' A difficuldade desta reducção tem reclamado modifi- cações deste processo. Alguns operadores têm creado processos especiaes com o fim de facilitar as manobras. Conhecem-se quatro principaes, que são: o de White, de Malgaigne, o de Mothe e o de Latour. Processo dos três primeiros (Fig. 70). — Eleva-se o braço; um ajudante faz a contra-extensão sobre o coto da espádoa ou com a palma da mão livre ou mesmo com o calcanhar, fazendo ao mesmo tempo a extensão com um laço passado na extremidade inferior do humerus (Fig. 71). Se a cabeça do humerus estiver fortemente applicada d. u. II u -3^77 50 LUXAÇÔE9 contra as paredes do peito, faz-se executar um movi- Fig. 70 —Processo de Malgaigne. mento de balanço ao humerus com o calcanhar ou com Fig. 71. — Proceeso de Chassaignac para a reducção pelo processo do calcanhar. o ante-braço do cirurgião, colocado debaixo da axilla, ou mesmo com o joelho (Fig. 72). Processo de Latour. Imprime-se ao braço movimentos de rotação de fora para dentro, para traz, r a cabeça do humerus para trás e para fora, para a cavidade olenoide. LUXAÇÕES 51 Faz-se executar um ligeiro movimento de rotação e approxima-so o braço do tronco (Fio-. 73). Curativo. Cobre-se a espádoa de compressas ensopadas cm tintura de arnica ou cachaça sim- ples, e immobilisa-se o braço durante 15 a 20 dias (Fig. 74). La sub - coracoi- ileana incompleta. — Os symptomas são os mesmos, porém menos pronunciados; o trata- mento é como acima proporcionado ás neces- sidades da lesão. L. sub-glenoidia- na ou para baixo. —Symptomas. l.° Defor- Fig. 72.—Reducção pelo processo do mação. Coto da espádoa joelho. achatado; tensão do dcltoide; saliência muito pronun- ciada do acromion, conservação da cavidade subcla- vicular; a cabeça do humerus está subeutanea e na axilla (Fig. 75). 2.° Dimensão. O membro fica mais alongado, e a parede anterior da axilla mais alta. ÍJ.° Posição. O cotovello fica muito afastado do tronco. 4.° Mobilidade. Os movimentos voluntários tornão-se impossíveis, emquanto que os communicados são pouco ou nada dolorosos, excepto na adducçao. Tratamento. O mesmo que o aconselhado para a luxação sub-coracoideana. Ia. intra-coracoideana ou para diante. — * Symptomas. — 1.° Deformação. O deltoide está muito 52 LUXAÇÕES pouco achatado, á excepçflo da parte posterior do acromion. Na cavidade sub-clavicuíar nota-se enorme saliência devida Fig 73. — Reducção da deslocação do humero pelo calcanhar. á presença da cabeça do humerus, a qual não é encontrada na cavidade axillar (Fig. 76). 2.° Dimensão. Encurtamento do braço. 3.° Posição. O cotovello fica approximado do tronco e dirigido para trás. 4.° Mobilidade. Os movimentos voluntários e os com- municados são impossíveis; ás vezes crepitação. Tratamento. A reducção se obtém fazendo-se a ex- tensão para baixo, oblíqua a principio, depois horizontal- mente, combinada com um movimento de pre são exercida pela mão sobre a cabeça do humerus, ou mesmo ba- lançando-se com o joelho ou o ante-braco posto na axilla ("Vide na pag. 51 Fig. 72). li, sub-acroaniaes, sub-espinhosas ou para trás.— Symptomas.— 1.° Deformação. Acha-se a espádoa lançada para fora, o acromion e a apophyse espinhosa salientes; abaixo delles uma depressão ; fora e atrás saliência considerável formada pela cabeça do humerus (Fig. 77). LUXAÇÕES 53 2.° Dimensão. Braço alongado ou normal. 3.° Posição. O braço na rotação para dentro, o co- tovello para dian- te, porém afastado do tronco. 4.° Mobilidade. Os movimentos para trás e para fora , além de muito dolorosos, são impossíveis. Tratamento. Comprime-se com os pollegares so- bre a cabeça do humerus, tendo os dedos apoiados sobre o coto da espádoa; ouentáo imprime se ao| o ^ braço movimen v , de balanço, ele-/ vando ligeira-1 mente o cotovello \ e levando-o para fí trás. 74.— Atadura especial para a deslocaçao do húmero. L. da articulação do cotovello—Estas pode u ser para diante, para trás, completas ou incompletas, com ou sem fracturas ; para dentro ou para fora, simul- tâneas ou isoladas. L. completa dos dous ossos do ante-braço para trás (Fig. 78). — Symptomas. — 1.° Deformação. O diâmetro ante-posterior do cotovello augmenta, a olecrana faz saliência considerável para trás, acima das duas tuberosidades do humerus; na parte externa acha-se uma saliência que é feita pela cabeça do radius, que rola debaixo dos dedos nos movimentos de pronação ; na 54 LUXAÇÕES parte anterior a cabeça do humerus faz saliência debaixo da prega do cotovello. Fig- 75.—Deslocação do humero :,«.„. para baixo ou infra-glenoidal. Fig. 76.-Luxaçao uifra-coracoidlana. 2.° Diminuição. Encurtamento do braço. Fig.77.-~Luxação sub-acromial. Fig 78.—Deslocação da articulação do cotovello do braço esquerdo. 3.° Posição. O ante-braço fica meio dobrado e em pronação. LUXAÇÕES 55 Mobilidade. Os movimentos voluntários ficão abolidos; os communicados são pouco extensos, os lateraes quasi impossíveis. Tratamento. A reducção praticado fazendo a extensão sobre o ante-braço estendido ou dobrado; comprime-se com os dedos a olecrana, ou faz-se dobrar o ante-braço sobre o braço, e calca-se fortemente com a mão fixada sobre a olecrana, ajudando-se de um movimento de balanço, para o que serve-se de um ajudante ou do joelho ou do ante-braço do cirurgião, collocado na prega do cotovello (Fig. 79). Fig. 79. ■ Reducção da luxação do cotovello direito pelo processo de Chassaignac. O curativo faz-se envolvendo o braço meio dobrado em compressas embebidas de arnica em tintura; ap- plica-se uma atadura em 8 de algarismo. No fim de oito dias levanta se o apparelho. Va incompleta para fora. — Symptomas. Os mes- mos que a precedente, porém menos pronunciados ; o signal evidente segundo Malgaigne — é a saliência da 56 LUXAÇÕES olecrana em um plano sensivelmente inferior á saliência epitrochlear. Tratamento. O mesmo que para a precedente, mas adaptada a intensidade menor. Ia. completa pac*afóra — Symptomas.— l.« Defor- mação. Saliência dos dous ossos para a face externa do braço, e em conse niencia augmento do diâmetro trans- verso, e depressão notável na face interna : ligeira depressão ou superfície achatada no ponto occupado pela olecrana. Esta luxação é rara. 2.° Dimensão. Braço curto. 3.° Posição. O ante-braço em pronação e como tor- cido sobre seu eixo. 4.<> Mobilidade. Os movimentos de extensão e deflexão fazem-se com difficuldade. Tratamento. Abraça-se o humerus com ambas as mãos, de modo que os pollegares fiquem sobre a "olecrana, a qual pelo esforço adquirido pela posição é levada por estes dedos para dentro em principio e depois para diante; isto tendo precedido extensão e contra-extensão. li. incompleta para fora.—Symptomas. — 1.° Deformação. A cabeça do radius está para fora; dentro a epitrochlea faz saliência; abaixo delia ha uma depressão e a olecrana fica mais para fora. O diâmetro transverso acha-se augmentado. 2.° Dimemão. Normal. 3.° Posição. Ante-braço um pouco dobrado. 4.° Mobilidade. Conservada. Tratamento. Estende-se o ante-braço, faz-se voltar a ex- tremidade superior para fora e empurra-se para dentro. Ia. incompleta para dentro. — Symptomas. — 1.° Deformação. O epycondylo faz saliência para fora, de- pressão abaixo; a olecrana no mesmo plano que a epi- trochlea, ou excedendo-a algumas vezes; a cabeça do ra- dius vai para o meio do cotovello ou proemina um pouco adiante. LUXAÇÕES 57 2.° Dimensão. Normal. 3.° Posição. O ante-braço em pronação e ligeiramente dobrado. 4.° Mobilidade. A extensão é limitada, mas a flexão normal. Tratamento. Faz-se a extensão sobre o ante-braço; cruzão-se os dedos na prega do cotovello e comprime- se de dentro para fora com os pollegares as superfícies dos ossos ck> ante-braço luxado. li. para trás e para dentro. — Symptomas. — 1." Deformação. O condylo humeralfaz saliência fora; abaixo ha uma depressão; atrás ha saliência feita pela cabeça do radius ; a olecrana sobe um ou dous centímetros para dentro; o bordo interno da trochlea faz saliência adiante e dentro. 2." Dimensão. Encurtamento. 3.° Posição. O ante-braço fica em supiu ção e dobrado. 4.° Mobilidade. Quasi nulla. Tratamento. O operador deve collocar-se por detrás do doente, cruza os dedos sobre a prega do cotovello, apoia os pollegares sobre a olecrana, faz exercer tracções sobre o punho e a impelle para fora e para diante. li. para diante, completa ou incompleta.— Symptomas. — 1.° Deformação. O radius e o cubitus fazem saliência na prega do cotovello; atrás nota-se profunda depressão na cavidade olecraniana; abaixo desta cavidade a extremidade inferior do humerus produz uma saliência transversa; abaixo delia acha-se um vasio. 2.o Dimensão, Ha a notar a seguinte anomalia: en- curtamento da face anterior e alongamento da posterior. 3." Posição: O ante-braço dobrado sobre o braço quasi em angulo recto; a mão e o ante-braço inclinados para fora. 4.° Mobilidade. Impossibilidade de movimentos. Tratamento. Faz-se a extensão sobre os ossos do braço dobrado; cruza-s; as mãos de modo que os dedos se 58 LUXAÇÕES apoiem em um dos lados do cotovello e repelle-se a sa- liência óssea com os pollegares. Havendo fractura da olecrana, ha crepitaçlo e mobilidade dos fragmentos. ti. isolada do cubitiisparatrás.— Symptomas. — 1.° Deformação. Saliência do humerus na parte interna do cotovello; saliência da olecrana atrás, pelo que augmento de diâmetro antcro-posterior da parte: além disso, no lado externo do co- tovello existe um angulo saliente (Fig. 80). 2.° Dimensão. Bordo externo do ante-braço normal, mas o interno encurtado. 3.° Posição. O ante-braço fica meio dobrado. 4.° Mobilidade. Tanto a flexão como a extensão são impossíveis: o doente accusa dores e entorpecimento nos dous últimos dedos da mão. Tratamento. Posto o ante-braço em supinação procede-se á extensão; Fig. 80.—Deslocação iso- então o operador cruza os dedos na lada do cubito para trás. prega do cotovello, apoiando os pol- legares sobre a olecrana, a qual depois impelle para diante e para baixo. li. completa e incompleta do radius para diante.—Symptomas.— 1.° Deformação. Saliência da ca- beça do radius na prega do cotovello, variando com os mo- vimentos que lhe são impressos; ligeira deprexao atrás e fora. 2.J Dimensão. O lado externo do ante-braço fica rimais curto. 3.° Posição. O ante-braço dobrado ; a mão na prona- çao, um pouco inclinada para fora. 4.° Mobilidade. Todos os movimentos produzem dôr. Na luxação incompleta os mesmos symptomas, mas nao tão consideráveis. LUXAÇÕES 59 Tratame.n-to. Posto o ante-braço em supiuação faz-se sobre a cabeça do radius luxada uma forte pressão com os pollegares, de cima para baixo, depois de dentro para fora e de diante para trás. Mantem-se o ante-braço meio dobrado por espaço de duas ou três semanas. li. completas e incompletas do radius para trás.- Symptomas.—1." Deformação. Atrás e fora, cabeça do radius movei durante os movimentos de pronação e supinação; corda do biceps tensa. 2.° Dimensão. Encurtamento do bordo externo do ante-braço. 3.° Posição. O ante-braço fica em pronação, mais dobrado. 4.° Mobilidade. Tanto a flexão como a extensão sao limitadas ; a supinação é quasi impossível. Tratamento. — Faz-se a contra-extensão sobre o braço, a extensão no ante-braço posto em supinaçáo ; abrange-se o cotovello com ambas as mãos, e comprime-se com os pollegares o radius de cima para baixo, e de trás para diante, emquanto um ajudante põe o braço em extensão. Contém-se a reducçáo pondo-se compressas graduadas, atrás e fora, e uma atadura em 8 de algarismo. li. do radius para fora.— Symptomas.— 1.° De- formação. Pouco notável; a cabeça do radius faz saliência no lado externo do cotovello, deixando uma depressão entre esta saliência e a olecrana. 2.° Dimensão. Encurtame to do bordo externo do ante-braço. 3.° Posição. O ante-braço em meia flexão ; a mão em pronação. 4.° Mobilidade. A supinação é impossível; os movi- mentos são dolorosos. Tratamento. Faz-se a extensão sobre o ante-braço que deve estar dobrado em angulo recto; empurra-se o radius para dentro com os pollegares. 60 LUXAÇÕES L. do punho para trás.—RadZocarpiaua. -Sympto- mas. — 1.° Deformação. Saliência lisa, convexa na parte posterior do ante-braço, correspondendo á primeira fileira dos ossos do carpo ; saliência das extremidades inferiores do radius e cubitus para diante, pelo que augmento con- seqüente do diâmetro ante-posterior do punho. 2.° Dimensão. Encurtamento do ante-braço, tomando- se na extremidade do dedo médio. 3.° Posição. M;Io dobrada. 4.° Mobilidade. Os movimentos além de dolorosos são muito diminuídos. Tratamento. Feita a contra-extensão no ante-braço perto do punho, e a extensão no carpo, pega-so o punho ou toda a mão, e com os pollegares impei !e-se o carpo para baixo no sentido do descollocamento. L. para diante. — Symptomas. — 1.° Deformação. Saliência adiante e atrás, uma gotteira transversal. 2.° Dimensão. Encurtamento. 3.° Posição. Flexão da mão e dos dedos. 4.° Mobilidade. Diminuída e dolorosa. Tratamento. Idêntico ao pre- cedente. La. ilio-sciatica ou ilia- cit para cima e para fora (Fig. 81). — Symptomas. Esta luxação é constitui da pela sahida da cabeça do femur (osso da coxa) da cavidade co- tiloide para a parte inferior da fossa iliaca externa, tendo o grande trochanter para diante; produz dôr e inchação. 1.° Deformação. Por effeito da sahida do femur da cavi- dade cotiloide, acha-se na prega da virilha uma excavação; Fíg. 81. — Luxação iliaca para cima e para fora. LUXAÇÕES 61 na região glutea a saliência da cabeça do femur com eleva- ção da prega glutea e alargamento e saliência para fora do quadril. 2.° Dimensão. O membro fica mais curto. 3.° Rotação do membro para dentro (Fig. 82). 4.° Mobilidade. Com quanto os movimentos communicados sejão possíveis, os voluntários são com- pletamente abolidos. Tratamento. Deita-se o doente sobre o lado são ; a coxa luxada deve ficar dobrada em angulo recto sobre a bacia, a perna sobre a coxa; colloca-se um laço contra-extensor na prega da virilha, de lado, e de modo a prender o membro pela raiz; o laço extensor é posto acima do joelho; faz-se executar tracções lentas, constantes e reguladas pela contracção muscular, seguindo o eixo do femur collocado nesta po- sição (Nelaton). Cheg-ado pouco Fig- &2. —Luxação para abaixo da caridade, tfez-se entrar cima e para fóra' a cabeça do femur, dirigindo-a com attenç3o. Fig. 8-3.— Processo de Cooper. Cooper deitava o doente de costas; punha o laço 62 LUXAÇÕES extensor acima do joelho e puxava a coxa doente até que cruzasse a sã, depois fazia que executasse uma ligeira rotação para fora (Fig. 83]. Malgaigne faz a extensão sobre o joelho dobrado e empurra com a mão a cabeça do femur para fora e para dentro. Reduzida a luxação applica-se compressas embebidas em tintura de arnica, e obriga-se o doente a guardar repouso na cama. L,. sciatica para baixo e para fora. —Symp- tomas. Nesta, a cabeça do femur sahindo da cavidade cotiloide, vai collocar-se ao nivel da gotteira que está acima da tuberosidade sciatica, tendo o grande trochanter para diante (Fig. 84). 1 ° Deformação. Acha-se na região inguinal uma depressão e sente-se a cabeça < o femur fazendo saliência acima da tu- berosidade sciatica. O grande trochanter está para fora c para diante. 2.° 1'imeusão. Segundo Ne- laton o-membro fica mais largo na extensão e mais curto na flexão. 3.° Posição. O membro con- serva-se na adducção e em ro- tação p;ra dentro, com a coxa dobrada sobre a bacia. Muitas vezes o doente accusa entorpe- cimento e dôr. Membro in- r íg. 84.— Luxação scmica para •■ i baixo. cnaao. Tratamento. Como o precedente. Segundo Malgaigne deve fazer-se tracções seguidas do movimento de rotação do membro para fora e de uma pressão sobre a cabeça do femur tendo antecedentemente dobrado a coxa. luxações 63 li. iscbio-pubiana ou no buraco oval «tu para baixo e para dentro (Fig. 85).— Symptomas. — ].° Deformação. Achatamento da nádega, abaixamcnto da prega das nádegas, e convexidade da parte interna e superior da coxa. 2.° Dimensão. O membro fica mais longo 3 ou 5 cen- tímetros. 3.° Posição. A coxa fica dobrada sobre a bacia, com adducção (li membro e rotação para fora (Fig. 86). Fig. 85.—Ischio-pubiana. Fig. 86.—Fôrma exterior da coxa na deslocação do femur para cima e para diante. 4.° Mobilidade. Segundo Malgaigne deve-se levantar fortemente a coxa para fora e fazer uma ligeira tracçao neste sentido, comprimindo-se então sobre a cabeça do femur com a mão. 64 LUXAÇÕES Este processo na luxação incompleta é excellente, mas não dando nas completas igual resultado, deve preferir- se o seguido para a luxação ilio-sciatica. li. ilio-sciatica ou para cima e para dentro. —Symptomas. A cabeça do femur vai pôr-se em relação com o púbis, nas proximidades da chanfradura ilio-pu- biana. 1.° Deformação. A cabeça do femur faz saliência na prega da virilha deixando uma depressão na nádega; o grande trochanter é abaixado e levado para diante. 2.° Dimensão. Normal. 3.° Posição. A coxa fica na extensão em rotação para fora e muitas vezes em adducção. 4.° Mobilidade. Os movimentos voluntários são im- possíveis. Tratamento. Nelaton manda deitar o doente de costas com a perna estendida sobre a coxa; leva-a para fora e imprime-lhe movimento de rotação para dentro. Nas luxações recentes convém começar pelos processos cujos meios aconselhados são mais brandos. Deve-se com- binar a rotação com a flexão. Esta tem por fim livrar a cabeça do femur dos obstáculos que a retém no ponto para onde foi na occasião do accidente; a rotaçáo faz-lhe percorrer os pontos da circumferencia da cavi- dade, pondo-a afinal em relação com a ruptura da cápsula por onde ella sahio. li. da rotula para fora.—Symptojias. — 1.° Defor- mação. Em conseqüência da sahida da rotula fica nesse lugar uma forte depressão; o joelho augmenta de largura visto como a rotula vem collocar-se de chapa no lado de fora; acima do condylo fica uma corda tensa obliquamente de dentro para fora, formada pelo vasto-interno; abaixo encontra-se a saliência feita pelo ligamento rotuliano, dirigida de baixo para cima e de dentro para fora. 2.° Dimensão. Normal. 3." Posição. A perna ou fica em flexão ou em extensão. LUXAÇÕES 95 4.° Mobilidade. Os movimentos passivos $lo imptfssi- veis; os communicados pouco extensos e dolorosos na lu- xação completa. JNa incompleta a deformação é menor; ha, porém, sa- liência do bordo externo da rotula para fora; do bordo interno no centro da roldana articular e a perna conser- va-se na extensão. Tratamento. Yalentim manda estender a perna sobre a coxa, dobra-la sobre o tronco e empurrar a rotula para diante e para dentro. Como meio contentivo emprega-se a atadura de Scultet ou dextrinada, e uma joelheira. L. para dentro. —Symptomas. O joelho fica enor- memente deformado com saliência dentro e cavidade fora. Tratamento. O mesmo que no caso precedente, com a differença de empurrar a rotula de dentro para fora. Li. da tíbia para trás. — Symptomas. — 1.° Defor- mação. Encontra-se duas saliências : uma para diante, feita pelos condylos do femur, e outra atrás feita pela tíbia: a rotula é achada collocada horizontalmente com a face anterior para baixo e a posterior para cima; o diâmetro antçro-posterior, portanto, augmentado. %° Dimensão. Encurtamento da perna. 3.° Posição. O membro conserva-se em extensão. 4.° Mobilidade. Os movimentos são possíveis, mas dolorosos; o membro conserva-se em extensão ou meia flexão, com apparente encurtamento ; a rotula com a di- recção oblíqua que assumio abaixa-se ; o ardor conservâ- se, porém, com claudicação quando a luxação é incom- pleta. Tratamento. O processo ordinário é—feita a extensão sobre a perna e a contra-extensão sobre a bacia, praticar uma pressão forte em sentido inverso da luxação, sobre as extremidades ou superfícies articularcs do femur e tíbia. Guillon entende melhor collocar o ante-abraço debaixo d. h. n ^ 66 LUXAÇÕES da curva da perna, e fazer pressão sobre o peito do pé, de maneira a obrigar a perna a dobrar-se sobre a coxa e esta sobre a bacia. Curativo. Immobilisa-se a perna e applica-se compressas embebidas cm solução de tintura de arnica. Ei. para diante.—Symptomas.—1." Deformação. A rotula fica horizontal; abaixo do joelho acha-se um sulco ou rego de concavidade inferior. O diâmetro antero- posterior augmenta. 2.° Dimensão. Ha encurtamento da perna. 3.° Posição. A perna fica estendida ou em meia flexão. 4.° Mobilidade. Na completa os movimentos sao possí- veis, mas dolorosos; na incompleta os movimentos possí- veis são os de diante para trás. Ha encurtamento ligeiro da perna e saliência da tíbia para diante, emquanto que a dos condylos para trás é menos pronunciada. Tratamento. Reduz-se esta luxação exercendo tracções sobre o pé, impellindo as partes luxadas em sentido con- trario á luxação. Mantem-se o membro em repouso e combate-se os accidentes inflammatorios. La. para dentro. — Symptomas. — 1.° Deformação. A saliência do femur é para fora e a da tíbia para dentro; a rutula fica inclinada para o lado interno. 2." Mobilidade. Na incompleta ha impossibilidade ou pelo menos difficuldade de andar. Tratamento. Como o precedente, fazendo-se a pressão de modo a levar as partes luxadas em sentido inverso da luxação. li. para fora. — Na incompleta disposição opposta á precedente. Nas lateraes incompletas, a deformação é mais consi- derável ; a rotula é levada para o mesmo lado que se luxou. Tratamento. Como no caso precedente, com a modifi- cação da direcção. LUXAÇÕES 67 La. das vertebras cervicaes. — As primeiras vertebras do pescoço podem luxar-se e dar lugar a phenomenos que, infelizmente ainda que muito graves, ob;igão o pratico á simples expectação ou quando muito ao emprego de palliativos. Todavia convém conhecer-lho os symptomas para evitar confusões e tentativas extem- porâneas : assim quando depois de um geito no pescoço o doente apresentar a c ibeça inclinada para diante, face vultuosa, olhos salientes, boca entre-aberta, pulso pe- queno, e perda do movimento, deve-se suppôr que houve lux ção entre o axis e o atlas. As outras vertebras do pescoço também se podem luxar e então obrigão o enfermo a conservar a cabeça desviada, a face voltada para o lado opposto á luxação, com im- possibilidade de endireita-la; uma saliência anormal atrás do pescoço com deformação da superfície anterior, e algumas vezes paralysia; no momento ou pouco depois do accidente, ha um ruído e ruptura. Tratamento. Já disse nos que era apenas palliativo, pela impossibilidade e perigo mesmo da reducção. M MAMITES. MASTOITE, MASTITE, POILE, ENGORGITAMENTO LEITOSO. Inflammação da glândula mamaria e do tecido cellular ambiente. Symptomas. Em conseqüência de uma pancada ou de nma queda — inflmamação de uma ou de ambas as mamas, com compromettimento do tecido cellular interglobular, dando em resultado o endurecimento e enfarte do seio. Depois dos partos, durante o aleitamento — calefrios seguidos de calor: febre mais ou menos intensa, enfarte dos ganglions, excreção de leite suspensa; dôr pungi- tiva, ás vezes tão forte que produz symptomas cerebraes; suppuração; formação de um abscesso em um foco ou em muitos (Poile). Fendas no mamelão. Tratamento.—§ L° Havendo formação de um abscesso sendo superficial, deixa-se aos esforços da natureza a abertura; sendo profundo faz-se uma punção com o bisturi. § 2.° Os melhores medicamentos contra a excoriação dos mamelões são: Arn., sulf, ou: Cale,, cham., ign., millef. e puls. MAM1TES 69 Chamomilla, convém quando os mamelões estiverem muito inflammados, se todavia a doente não tiver já abusado deste medicamento. Neste ultimo caso serão: Ign. ou puls. os preferíveis, ou então : Merc ou sil. Em todos os casos de simples excoriação, arn. merece ser empregada em primeiro lugar, e depois quando não completar a cura: Sulf. ou cale Além desses medicamentos se pôde depois empregar Caus., graph., lyc, merc, n.-vom., sep. e sil. § 3° Para a inflammação das mamas, propriamente dita, os melhores medicamentos são : Bell., bry., carb.-an., hep., merc, phos., sil. e sulf. Belladona, é principalmente indicada, estando os seios inchados e duros, com dores lancinantes, rubor erysipe- latoso que sahe de um ponto central e sè irradia para a circumferencia (alternando com bry. é a melhor ma- neira de empregar este medicamento). Bryonia, estando os seios duros, rijos e engorgitados de leite, com dores tensivas ou lancinantes no tumor; calor ardente no exterior, sobretudo se se juntão phe- nomenos febris, com sobreexcitação do systema vascular. So bry. fôr insufficiente, deve-se recorrer á bell. Hepar, se apezar do emprego de bell., bry. e mer. a sup.pu ração começar a formar-se. Mercurius, quando nem bry., nembell. puderão debellar a inflammação erysipelatosa e que restão partes duras e dolorosas no seio. Phosphorus, quando hep. não puder prevenir a sup- puração, ou quando já houver ulceração completa das mamas e mesmo ulceras fistulosas, com bordos duros e callosos, ou se se declararem suores ou diarrhóas colli- quativas, com tosse suspeita, calor febril á tarde, rubor circumscripto da; faces e outros symptomas de febre hectica. Silicia, se phos. nada fizer contra a suppuração das mamas, com ulceras fistulosas e symptomas de febre hectica. 70 MASTüRBAÇAO § 4.° Para as affecções schirrosas e carcinomatosas das mamas; os melhores medicamentos, contra o endureci- mento das glândulas mamarías e as nodosidades, são: Apis., bell., cale, oxal-ae, carb.-an., con., sil., ou ainda: Ciem., coloe, graph., lyc, merc, nitri-ac, phos., puls., sep. e sulf. Se a moléstia tiver sido produzida por uma contusão serão: Arn., carb.-an. e con. os preferíveis. Para o cancro do seio deve preferir-se : Ars., ciem., sil., ou talvez ainda: Bell, con., hep. e kreos. MANIA, MONOMANIA. Yide Alienação mental. MASTODYNIA. Dôr nevrálgica das mamas, devida a superexcita- ção nervosa ou a estado fluxionario do apparelho ma- mario. Tratamento. Os melhores medicamentos são: — 1) Bell., bry., cham., coce, hep., puls., rhus.; —2) Acon., apis., cale, chin., merc, n.-vom., sep., sil. e sulf. HIASTlJRBAÇiiO. Yide Onanismo, Spermacrasia. MÉL03NA 71 MELANCOLIA. Vide Hypocondria. MELICERES. Kysto ou tumor cheio de matéria semelhante a mel. Para a descripção e tratamento Y. Lobinho, Kysto. DIELITAGRO. Yide Impetigo. MÉLOENA. ENTERORRHAGIA, MOLÉSTIA NEGRA, MELCENORRHAGIA. Exhalação de sangue negro e venoso na superficie da membrana mucosa intestinal, devida a varias causas : em geral, á plethora local, a estado geral idiopathico da economia! ou a lesão symptomatica de affecções directas do intestino ou de algum órgão vizinho. Tratamento. Os medicamentos empregados com pro- veito são: Ars., chin., veratr., ou ainda: Ipee, n.-mos., petr., phos., plumb., sulf e sulf-ac 72 MSKDíGITE MENINGITE. MENINGINITE, ARACHNITES, PEITES, PIEMERITE. Inflammação as membranas do cérebro e da medulla racbidiana. Divide-se em simples, rheumatismal e tuberculosa}. As simples, em aguda ou chronica, primitiva e secundaria. Meningite simples, aguda e primitiva. — Symptomas. Dôr de cabeça violenta, contínua, com exa- cerbações, localisada ordinariamente na fronte, produ- zindo queixas incessantes e arrancando gritos ao doente, principalmente ás crianças; agitação extrema, delírio, somnolencia succedendo ao delírio, ou alternando com elle; coma e perda do conhecimento ; língua sôcca, suja; constipaçao com retracção do ventre; vômitos biliosos abundantes e freqüentes: photophobia ; deformação, dila- tação ou contracção e immobilidade das pupillas; perda da vista; strabismo ; perversão ou abolição da sensibili- dade com enfraquecimento muscular; face animada e contrahida; olhos espantados, brilhantes ou vidrados, en- covados e sem expressão; contracções e convulsões; anes- thesiae hypcresthesia; medo; espanto; estupor; riso estú- pido ; seceura dos lábios e das narinas; alternativas de rubor e de pallidez; respiração irregular; pulso vivo a principio, depois irregular, pelle secca. Na meningite chronica simples os symptomas são: abatimeuto e somnolencia, e os demais da aguda, sem a intensidade da primitiva. Na meningite secundaria simples os phenomenos pro- cedem como na febre typhoide alguns faltão no comôço: ha irregularidade da respiração e da circulação; a cons- tipaçao é rara. MENINGITE 73 Tratamento.— § 1.° Compressas frias ou bexigas com água gelada em permanência na cabeça; o quarto deve ser bem arejado e ter meia obscuridade; silencio em volta do doente, o qual deve conservar a cabeça alta em travosseiros de palha, e o pesco o livre. § 2.° O melhor medicamento para as inflammações cere- braes em geral é bell., que pôde em certas circumstancias ser precedida de acon. Em alguns casos particulares se tem também empregado com grande vantagem: Apis., bry., hyos., op., stram., sulf, e talvez que ainda se possa empregar em certos casos: Camph., canth., cin., coce, cupr., dig., hell., lach. e merc. As que provêm de sol forte exigem de preferencia: Nitri., bell., camph., ou lach. e acon. As que provêm de congelação ou de violento res- friamento da cabeça: Ars. e hyos. A inflammação cerebral pela repercussão de uma ery<- sipela ou de um exanthema como a escarlatina, por exem- plo, exige de preferencia: Bell.^ rhus. ou lach., merc. e phos. A produzida por suppressão de uma otorrhéa: Puls. ou sulf. Se a inflammação cerebral tem tendência para se trans- formar em hydrocephalo, os medicamentos principaes são: Bell., merc ou lach., e se o hydrocephalo já estiver decla- rado, os medicamentos serão: Bry., hell., sulf. ou acon., dig., cin., con., Jiyos., op. e stram. § 4.° Para as indicações particulares fornecidas pelos symptomas de cada um dos medicamentos aconselhados consulta-se: Aconitum, no começo da moléstia e quando houver: febre inflammatoria com divagaçao e delírio, dores violen^ tas, ardentes por todo o cérebro, maxime na fronte; face vermelha e vultuosa, olhos vermelhos, etc. Belladona, so o doente enterra a cabeça nos travesseiros, e quando o menor ruido e a menor luz o exasperão, ou ha- vendo : dores violentas, lancinantes, ardentes, na cabeça; 74 MENOPAUSB olhos vermelhos, brilhantes, com olhar furioso; face rubra e vultuosa; somno soporoso; forte calor na cabeça com pul- sação violenta das carótidas; perda do conhecimento e da palavra ou murmúrios e delirios violentos; movi- mentos convulsivos dos membros, construção espasmodica da garganta, com dysphagia e outros symptomas de hy- drophobia, vômitos, dejecções e ourinas. Bryonia, havendo: calefrios prolongados com rubor da face, calor na cabeça e sede forte; vontade contínua de dormir, com, delirios, sobresaltos, gritos e suor frio na fronte; dores pressivas, ardentes na cabeça, ou pontadas que atravessão o cérebro. Cina, se houver: vômitos com lingua limpa, ou evacua- ção de lombrigas tanto por cima, como por baixo. Opium, havendo: somno soporoso com roncos e olhos meio abertos e atordoamento depois de despertar; vomito freqüente; apathia completa com ausência de todo o de- sejo e de toda a queixa. MENOPAUSE. MENESPAUSIA, IDADE CRITICA DAS MULHERES. Cessação natural da menstruação (idade critica). Symptomas. Irregularidade ou cessação da menstruação; corrimento branco, hemorrhoidas; algumas vezes conges- tão sangüínea para a cabeça, para o peito e vários outros órgãos. De ordinário baforadas de calor, abafamento e palpitações; o mais ordinariamente cephalalgia e verti- gens, erupções cutâneas e vários soffrimentos cutâneos. Tratamento. Os melhores medicamentos são: Lach., coce, con., puls , rut. e sulf. Lachesis é quasi especifico para os soffrimentos que apparecem nas mulheres che- gadas a esta época. METRITE 75 MENORRHAGIA. Corrimento mórbido muito abundante das regras. Para o tratamento Y. Metrorrhagia. MENTAGRA. Yide Acnea. METRITE. Inflammação do utero. Divide-se em aguda simples, em chronica e em metrite do collo. ISetrite aguda simples. —Simptomas. —Locaes. Dôr pouco considerável nos casos ligeiros, e aguda nos graves, irradiando-se ao sacrum, ao ânus, ás virilhas e ás coxas; constante, augmentando-se pela tosse, espirros, apalpação e toque rectal ou vaginal; peso quasi constante no perinêo; calor e mal-estar na região pelviana e no utero ; abaixamento do utero, que fica mais pesado, maior e com calor exagerado, reconhecível pelo toque anal ou vaginal; collo do utero, mais volumoso, mais molle, de um vermelh) escuro; orificio do collo fechado; algumas vezes entre-aberto com sulcos ; ás vezes a consistência augmenta-se; corrimento a principio so- roso, depois muco-purulento; ás vezes metrorrhagia, dysmenorrhéa ou amenorrhéa. 76 METRlTÍ Geraes. Nullos ou pouco pronunciados nos casos ligei- ros ; nos mais agudos: febre, pulso pouco accelerado, pelle normal ou sêcca. 1H. chronica.—Symptomas.—Locaes. Os mesinos que os da aguda, porém com desenvolvimento mais lento e mais moderado; as dores umas vezes são contínuas, outras intermittentes, simulando a eólica uterina, mas augmentadas pela pressão, pelo coito, pela estação em pé ou assentado por muito tempo, pelo andar a pé ou em carro e mesmo pelos movimentos do tronco. Pertur- bações da menstruação. G-eraes. Os mais notáveis são: perturbações da digestão e nevralgias do tubo intestinal. II. do collo.—Symptomas. Dores que aügmentülopfelo andar, pela defecação, e pelo coito; corrimento seroso ou sero-sanguinolento, diarrhéa alternando com constipaçao; estes phenomenos nas épocas menstruaes aggravão-se; peso e incommodo na bacia; calor anormal da vagina, sentido pelo toque vaginal. Tratamento. Os melhores medicamentos são: Acon., hell., cham., coff., merc, n.-vom., ou em alguns casos Aps., bry., canth., chin., ign., lach., plat., puls., rhus. e see. Aconitum, convém sempre no começo dõ tratamento, se houver: forte febre inflammatoria, maxime se a molés- tia tiver sido causada por susto durante o parto oü na época das regras. Belladona, se a inflammação apparecer depois do parto com suppressão dos lochios ou adherencia da placenta; ou se houver: peso, tracçao e pressão no hypogastrio com ferroadas ardentes, dores de cadeiras e dores lanci- nantes na articulação côxo-femural, que não permittem nem movimento, nem qualquer presão. Chamomilla, maxime se a inflammação ó devida a eontrariedade ou cólera depois do parto, com se- creção abundante de lochios e corrimonto de sangue negro misturado de coalhos: quando ao contrario a METRORRHAGIA 77 moléstia proveio do abuso da cham., os melhores medica- mentos são: Acon., ign., n.-vom. e puls. Coffea, sendo a affecção devida á influencia de ale- gria viva, súbita, maxime durante as regras ou o parto. Mercurius, quando as dores do utero são lancinantes, pressivas, terebrantes, e principalmente se ao mesmo tem- po houver pouco calor, porém suores freqüentes ou ca- lefrios. Nux-vomica, havendo: dores pressivas e intensas no hypogastrio, aggravando-se pela pressão e o toque, dores de cadeiras violentas; constipaçao ou dejecções duras; ischuria, dysuria ou estranguria; inchação do orifício do utero com dôr de mortificação e picadas no baixo ventre; aggravação pela manhã. Para a metrite epidêmica: Apis. METRORRHAGIA. PERDAS UTERINAS. Hemorrhagias uterinas devidas a varias causas, como 8$jão -.aborto, parto, um corpo estranho no utero (polypo) ou outra qualquer lesão orgânica. Symptomas. São locaes ou geraes. A metrorrhagia tem graduações de intensidade e qualidade de hemorrhagia, pelo que, para facilidade da descrípção, foi dividida em três gráos differentes Locaes. Hemorrhagia mais considerável na época das regras, com peso, enchimento, fadiga e sentimento.de quentura fora do costumado na bacia; dôr na bacia irradiando-se para as coxas e para os lombos, colicaa uterinas com Cuntracções. 78 METRORRHAGIA Geraes. Abatimento, molleza e cephalalgia, acceleração e pequenez do pulso, horripilações, resfriamento das extremidades, vertigens e zumbido dos ouvidos, desar- ranjos de estômago. Io gráo. O sangue sahe em oXas abundantes; não existem coalhos ; o collo do utero norxal. 2o gráo. Neste a hemorrhagia é mais abundante do que no primeiro; o sangue se coagula e sahe de envolta com o liquido; o collo está entre-aberto e apresenta algumas granulações, erosões e até, ás vezes, ulcerações. De ordinário neste gráo ha complicações de leucorrhéa. 3o gráo. A hemorrhagia é ainda mais abundante; o collo entre-aberto e tumefacto; o utero mais pesado e mais baixo, desviado de sua posição normal e inclinado; os symptomas geraes são mais pronunciados. Tratamento.—§ 1.° Os melhores medicamentos contra o fluxo muito copioso, assim como contra as hemorrhagias fora do tempo das regras, são em geral:—1) Arn., bell., bry., cham., chin., cin.-an., croc,ferr., hyos., ipee, millef, plat., puls., see, sep.;—2) Acon., apis., cale, carb.-an., ign., magn.-m., n.-vom., phos., sil., sulf, veratr.;—3) Ais., iod., cann., rut. e vai. § 2.° Quando estes incommo los apparecem nas mu- lheres plethoricas (hemorrhagias activas) deve-se usar de preferencia: Acon., bell., bry., cale, cham.,ferr., n.-vom., plat., sabin., sulf, ou ainda: Arn., croc, hyos., ign., ipee, phos., sil. e veratr. Nas mulheres fracas, esgotadas e cacheticas (hemor- rhagias passivas) : Chin., croc, puls., sec, sep., sulf, ou: Carb., n.-vom., ipec, puls., rut. e veratr. Se é somente na época das regras ou mesmo quando estas são muito abundantes (menorrhagia) os melhores medicamentos são: Acon , bell.,bry., cale, cham., ign., ipec, magn.-m., natr.-m., n.-vom., phos., plat., sec, sep., sil., sulf. e veratr. Para as metrorrhagias que sobrevêm durante a prenhez, depois do parto ou em conseqüência de parto falso, os M0RM0 79 medicamentos são: Bell., cham., croc, ferr., plat., sabin., ou: Arn., bry., cin., Jvyos. o ipec. Para as que se manifestão na idade critica: Puls. ou lach. MOLÉSTIAS NERVOSAS. Yide Nevrose. MOLÉSTIAS VENEREAS. Yide Syphilis. MOLÉSTIAS \ERMINOSAS. Yide Helminthiasis. MORMO. Affecção febril, virulenta e contagiosa, tendo a pro- priedade de produzir alteração profunda do sangue; secreção puro-sanguinolenta da pituitaria (membrana mucosa do nariz), e erupção pustulosa, purulenta, ecchy- motica ou gangrenosa da pelle. Divide-se em agudo, chronico ou farcinoso. Morino agudo. — Symptomas. Dores intensas nas articulações, semelhantes ás do rheumatismo articular 80 M0RM0 agudo, muitas vezes geraes, mas principalmente tendo predilecção pelas espádoas, cotovellos, joelhos, ou mesmo na espessura das carnes. Sendo devido á infecção, displicência, quebramento dos membros, calefrio intenso, prolongado, errático; pros- tração extrema; náuseas, vômitos, diarrhéa, cephalalgia; inflammação erysipelatosa da face, do couro cabelludo (caboca), ao nivel clts articulações na espessura dos mús- culos, terminando grande numero de vezes por uma escara gangrenosa, desnudação e ulceraçáo da pelle e das mucosas, etc. Inflammação das partes molles do rosto (nariz, olhos, etc), com tez amarellada ou livida, empas- tamento e inchação das palpebras. Secreção amarella, espessa, acre da mucosa das palpebras. Sendo consecutivo á inoculação, observa-se durante alguns dias tensão, aspecto erysipelatoso do ponto inocu- lado e dos circumvizinhos. Existindo chaga os bordos tomão aspecto descorado e fungoso, deixando transsudar pús sanioso. Ás vezes declarão-se todos os symptomas de phlebite e de lymphangite, com enfarte dos ganglions e suppuração do tecido cellular. Depois declarão-se pústulas pontudas ou chatas, ás vezes discretas, outras confluentes, na face, no tronco e nos membros com aureola rosada, tendo pús no interior, soroso, fétido e com carnicâo gangrenoso. As pústulas são grande numero de vezes substituídas por phlyctenas cheias de liquido sanguinolento ou denegrido, ou por tuberculos avermelhados semelhantes á nozvi e fáceis de romper-se. Tratamento. Isolar o doente, tendo o cuidado de entreter o maior asseio não só na própria pessoa, mas em tudo que o cerque. O ar do quarto deve ser constantemente reno- vado, maxime na época de grandes calmas ou dias muito chuvosos do inverno. Como meio de garantir-se contra a infecção convém não dormir em cavallariças, maxime se houver cavallos doentes. Tendo-se qualquer chaga nas mãos, nos dedos ou ATÜGUET 81 nas faces, deve-se abster completamente de qualquer con- tacto com os cavallos doentes. O melhor medicamento contra o mormo é: Phos.-ae, ou mesmo ars. mais tarde con virá também: Sulf. ou cale. II. chrouico ou farcinoso.—Symptomas. Dôr na trachéa com estrangulação ; voz alterada ou extincta; tosse com dyspnéa e expectoração. As vezes bronchite capillar ou pneumonia. Occlusão ou entupimento das narinas com dôr na raiz do nariz e entre os olhos, estendendo-se aos seios frontaes. Muco nasal misturado com sangue ou coalhos, ás vezes com pús escuro; ulceração das fossas nasaes, do véo do paladar, do pharynge, larynge e trachéa, com ou sem crostas. Engorgitamento dos gânglios submaxillares. Dores articulares e musculares; diarrhéa ; febre; tez ama- rellada e térrea; emmagrecimento; cachexia profunda. Tratamento. O mesmo que o antecedente. MLGLET. APHTAS COM PELLE LARDACEA, STOMATITE PSEUDO- MEMBRANOSA. Phleo-masia epidêmica e contagiosa da mucosa da boca com producção de uma pelle lardacea, com a propriedade de se estender a todas as partes do apparelho digestivo. Symptomas da invasão da moléstia. — Nas crianças, onde principalmente é mais commum do que nos adultos, observa-se erupção crythematosa, que se estende até a axilla e que se pode communicar aos mamelões da mãi ou da ama, Yem depois diarrhéa e alguns movimentos febris. 6 D. H. II 82 MUGUET Tratamento. Deve-se isolar o doente, não o deixar muito tempo na cama, fazê-lo passeiar; renovar constan- temente o ar do quarto; evitar o frio e a humidade: ter a cautela de lavar de vez em quando a boca com uma esponja embebida em água pura ou assucarada. Fazer o mesmo aos mamelões invadidos. Se a criança já tinha passado a ser alimentada com sopas, tornar a dar-lhe o seio, continuando o alimento. Os medicamentos que mais aproveitão são: Borax., chlorhydr.-ae, merc e sulf. Moléstia confirmada.—A boca e principalmente a lingua ficão muito vermelhas, quando se tira a camada pseudo-membranosa que cobre a lingua; abaixo delia encontra-se a lingua vermelha, escura, transsudando em muitos casos sangue. As papillas inchão 3e e tornão-se salientes immedia- tamente depois do rubor; a inchação e as papillas augmentão; dias depois, porém, diminuem progressiva- mente. Do segundo ao terceiro dia faz-se uma exsudação pseudo-membranosa sobre a lingua e no ápice das papil- las, a qual toma a fôrma de pequenos pontos isolados, que logo depois se reúnem na face interna dos lábios e das faces, e de massas pouco extensas, tendo a fôrma de folhas membranosas sobre a abobada palatina e o véo do paladar. Três ou quatro dias depois tanto os pequenos pontos como as placas adquirem extensão e espessura e invadem parte ou a totalidade da cavidade bocal. Tratamento. O meio mais seguro é tirar as falsas mem- branas com o fim de obter a resolução da inflammação, que com a presença dellas continuaria augmentando de intensidade. Para isto envolve-se o dedo indicador de umadas mãos em um pedaço de panno duro, fricciona-se fortemente com elle toda a boca da criança até tirar, se não toda, ao menos a possivel matéria que invadio a mucosa, a qual nem sempre tem esta côr, ás vezes é amarellada e escura, mas sempre molle e facií de des- manchar-se nos dedos. Depois passa-se ligeiramente por toda a cavidade bocal, inclusive a lingua, tendo a cautela MYELITE 83 de conservar a boca bem aberta com uma rolha de cortiça, um lápis de nitrato de prata. Esta operação deve ser renovada se o muguet reappa- recer. Depois de terminada cada operação destas deve-se passar um pincel de fios, ensopado em leite puro ou diluido, quando as superfícies estivorem muito vermelhas e irri- tadas. Se se formarem ulcerações de fundo amarello ou vermelho, do bordos tilhados a pique e ovalares deve-se tocar com uma solução de água salgada. Para o tratamento interno e geral Y. Stomacace. MYDRIASIS. Dilatação permanente com immobilidade absoluta da pupilla, devida á nevrose da iris ou a um estado con- gestionai. Tratamento. Os melhores medicamentos são: — 1) Bell., cham., merc, natr., natr.-m.; — 2) Acon., arn., bry., iod., kali.-hidry.,phos., rhus. e sulf MYELITE. SPINITIS, RACHIALGITE. Inflammação da medulla espinhal. Divide-se e.v. aguda e chronica: em myelite do bolbo- cephalico, dã porção cervical, da região dorsal, e da porção lombar. 84 MYELITE Aguda. — Symptomas. Dôr viva sem exacerbações no- táveis, augmentada pelos movimentos do tronco e prece- dida ou não de formigamento e de entorpecimento dos dedos das mãos e dos pés. Dores nevrálgicas nas pernas; sensibilidade geral enfraquecida ou exaltada; convulsões parciaes ou paralysia completa do movimento, ou somente movimentos involuntários, obrigando os membros que estavão estendidos a dobrarem-se; ou mesmo rijeza notável nelles. Paralysia da bexiga e do recto; ourinas alcalinas, tubo digestivo intacto. 1.° ilyelite do boSbo ceplialico. — Symptomas. Perturbação dos sentidos, delírio furioso, trismos, rangido dos dentes, lingua vermelha e sêcca; deglutição difficil, mutismo, respiração freqüente e tumultuosa, vômitos; ás vezes hydropisia, contracção dos membros, convulsões, dyspnéa; movimentos irregulares do coração, hemiplegia ou paralysia geral completa. 2.o M. da porção cervical.—Symptomas. Dôr forte na nuca e na parte superior do pescoço, com rijeza dos mús- culos dessas partes e dos membros superiores ; respiração diaphragmatica, embaraço da respiração pulmonar; for- migamento nos dedos e febre. 3.° M. da região dorsal. — Symptomas. Estremeci- mentos convulsivos e contínuos do tronco ; agitação geral seguida de resolução; respiração curta e precipitada; palpitações irregulares do coração, febre. 4.° 11. da porção lombar. — Symptomas. Paraly- sia dos membros inferiores, precedida e acompanhada de dores profundas nos lombos; dejecções involuntárias ou constipaçao; retenção ou incontinencia das ourinas, aperto no ventre e contracções convulsivas de suas paredes, seguidas ás vezes de eólicas. Na mulher — menstruação difficil com eólicas e dores lombares e nas coxas. Tratamento. Os medicamentos que na maior parte dos casos se deve empregar são : Acon., bell., bry., coce, dule, pu: Ars., dig., ign., puls., nitigl. e veratr. myopia 85 Se a febre fôr intensa com agitação e sede: Acon. será o preferido,qualquer que seja a sede da inflammação. Quando a inflammação fôr da porção lombar: Bry., coce. e n.-vom. convém de preferencia, ou mesmo rhus. Sendo a região dorsal com accessos de angustia, pal- pitações do coração, etc Os melhores medicamentos são : Ars., dig. e puls. Sendo da porção lombar e que o ventre soffra mais, com frio e caimbras, os melhores medicamentos são: Coce, ign., n.-vom. e veratr. Sendo as porções do bolbo cervical as affectadas, o medicamento preferível é : Bell., e talvez ainda : Dule Sendo a myelite produzida pelo sarampão, com grande disposição das partes affectadas para a exsudação, o prin- cipal medicamento é : Dule II. chronica. —Symptomas. Dôr com alternativa de diminuição e recrudescencia; formigamento, entor- pecimento e fraqueza seguidos de paralysia nos pés e pernas; flexão involuntária das pernas e braços com movimentos de approximação ou afastamento, umas vezes por esforço do paciente e outras independentes de vontade; sensibilidade variável desde a nulla até á exaltação; rijeza; contracção e convulsões clonicas, me- nores, porém, que as da myelite aguda. Ourinas alcalinag : febre rara; bexiga e recto nem sempre affectados. Tratamento O aconselhado para a aguda, devendo neste caso preferir-se as altas dynamisações de Jahr a quaesquer outras. MYOPIA. VISTA CURTA. A myopia é a dificuldade congenital ou adquirida de distinguir os objectos além, de uma distancia menor do que a média commum, devida: 1', a grande 86 MYOPIA refringencia dos meios do olho; 2o, ao afastamento mais considerável da refina atrás do crystallino; 3o, ao exer- cido vicioso ou abusivo dos olhos; 4o, á má organisação do esqueleto do olho ; 5o, finalmente, segundo Giraud Teulon, á contractura ou pequenez congenital ou ad- quirida, espasmodica, do músculo ciliar. Aspecto dos olhos das pessoas myopes.—As vezes não ha nada de particular, porém o maior numero dos olhos myopes são proeminentes e duros, a cornea muito con- vexa, a câmara anterior profunda e a pupilla dilatada. Particularidade da visão nos myopes.—1.° Yêem os objectos pequenos mais distinctamente do que quem não é myope, pela razão de os verem sob um angulo visual maior, em conseqüência de se approximarem mais delles. 2.° Yêem também mediante luz mais fraca, porque estando os objectos mais próximos, maior quantidade de raios luminosos entra no olho. 3.° Podem vêr também mais distinctamente e a maior distancia, quando a intensidade da luz obriga a pupilla a contrahir-se. Os myopes vêem os objectos situados além de sua força visual duplos ou múltiplos. Tratamento. Óculos concavos graduados; gymnastica ocular; exercicio telescopico do olho, tenotomia, myo- tomia. Os medicamentos que têm sido empregados com melhor resultado são : Amm., anae, con., carb.-v., nitri.-ac, petr., pJws., phos.-ac, puls. e sulf. Para a myopia conseqüente a uma sclero-choroidite são principalmente;. Puls. e sulf. Para a que procede do abuso do mercúrio : Carb.-v., nitr.-ae, sulf. ou -puls. Para a proveniente de febres typhoides ou de perdas debilitantes, principalmente: Phos.-ac N NECROSE. CARIE SÊCCA. Mortificação do tecido ósseo quer por causa diathesica quer por causa local. A necrose divide-se em superficial e em invaginada. Mecrose superficial.—Symptomas. Dôr surda, fixa, exasperando-se á noite, quando a causa foi syphilitica, ou pelo frio, quando foi rheumatica: desnudação de parte ou da totalidade do osso, com descóramento das partes molles circumvizinhas; tumor mal circumscripto com adherencia por sua base ás partes subjacentes; côr tri- gueiro-suja do osso com circulo inflammatorio circum- screvendo a porção que tem de ser eliminada, e desen- volvimento de botões carnudos na parte que fica abaixo da porção necrosada: abertura do abscesso dando sahida a pús e detrítus do periostio mortificado; fistula. W. invaginada. — Symptomas. Dores mais violen- tas do que na precedente; trajecto fistuloso de bordas fungosas; febre. Quer numa quer noutra necrose o estylete introduzido nos trajectos fistulosos encontra o osso e dá som claro e sêcco, além de resistência e.pecial ao se- qüestro quando não está solto, ou mobilidade na ponta do instrumento, no caso contrario. 88 NEPHRALGIA Tratamento.— Cirúrgico. Augmenta-se a abertura da fistula com o bisturi ou com esponja preparada, e extrahe- se com pinças os sequestros : em caso de necessidade ap- plica-se a coroa do trepano, ou a goiva e o malho, e combate-se os accidentes locaes. Medico. Os melhores medicamentos são : Asa., aur., cale, sil. e sulf. M. do maxillar inferior. — Symptomas. Além dos da necrose em geral, os seguintes: engorgi- tamento das faces e das partes superiores e lateraes do pescoço; suppuração abundante e fétida; fistulas na boca, no pescoço e na face; abalo e queda dos dentes. Tratamento. O mesmo da geral. NEPHRALGIA. NEPHRODYN1A. Dores na região dos rins por causa mecânica (cálculos), inflammatoria ou nervosa. Symptomas. Apparece de repente dôr local obtusa, lancinante, irradiando-se e augmentando-se; pressão acompanhada de tremor geral e de resfriamento da pelle; ourinas abundantes, esbranquiçadas e claras, outras vezes raras, vermelhas, espessas, sanguinolentas e mucoso- purulentas; soluços, náuseas, vômitos, constipaçao, suo- res frios; pulso pequeno, retracção dos testículos. Tratamento. Os melhores medicamentos quando a causa que a produzio é mecânica, são : Lyc, sass., ou : Millef., ox.-ac; cep.; ant., cale, phos., rut. e zinc. NEPHR1TE 89 Quando, porém, a causa é inflammatoria ou nervosa, os melhores medicamentos são: Bell., cann., canth., n.-vom., puls., ou: Ais., alum., benz.-ae, cep.,berb., cale, hep., lyc, millef. e sass. NEPHRITE. PYELITE, Inflammação do parenchyma dos rins. Divide-se em aguda, chronica, simples, calculosa, albu- minosa, ou albuminuria (moléstia de Bright). Nephrite aguda simples.—Symptomas.— Locaes. Dôr viva, profunda, surda ou superficial na região dos rins, irradiando-se para todas as partes do ventre, com tensão nas regiões genito-ourinaríxs, augmentando á menor pressão, pelos movimentos de tosse, do tronco, de espirros, assim como pelo decubitus sobre o lado doente, pelo calor da cama, e ordinariamente com exa- cerbações. Emissão de ourinas menos abundante e rara, as quaes são albuminosas, vermelhas, sanguinolentas, ou escuras, quando a nephrite é traumática; em caso con- trario, e quando é espontânea, pallidas, purulentas ou não. Retracção do testículo do lado doente, ou de ambos, se os dous rins estiverem affectados. Geraes. Náuseas, vômitos, inappetencia, alteração e cons- tipaçao; pulso duro e freqüente, pelle sêcca. Tendo-se formado um abscesso no rim, o qual póde-se abrir no bassinete, depois de alguma calma reapparece a febre com calefrios e dôr pulsativa. Fórma-se o tumor na re- gião lombar entre os músculos e o peritoneo. Ás vezes é difficil reconhecê-lo por ser muito profundo. Quando o abscesso se abre, o pús ou derrama-se na ÔO ííephtutí: bexiga, o que se reconhece pela ourina tornar-se puru- lenta, ou no colon, pela mistura com as fezes. IV simples chronica.— Symptomas.— Locaes. Em começo o doente sente desejos freqüentes de ourinar, com sahida dolorosa, pouco abundante e incommoda das ou- rinas. Depois, quando a nephrite se pronuncia, ha dôr es- pontânea, surda, profunda, persistente, com exacerbações ligeiras, provocada pela pressão sobre o flanco esquerdo e região lombar ou pelos próprios movimentos do doente. Não ha, como na aguda, nem retracção do testículo nem suppressão das ourinas: a este ultimo respeito se observa que ellas são pouco abundantes e alcalinas no momento da emissão, turvas e contendo saes calcareos, phospha- ticos e ammoniaco-magnesianos, e mais glóbulos mu- cosos. Tratamento. Os medicamentos que têm sido emprega- dos com melhores resultados são: Bell., cann., canth., n.-vom.,puls., ou: Ais., alum., benz.-ac, cep., berb., colch., hep., lyc, sass. e mülef. Belladona, quando houver: dores lancinantes nos rins, estendendo-se ao longo da uretra até a bexiga, com aggravação periódica, angustia e eólicas. (Se bell. não fôr sufficiente hep. o será.) Cannabis, havendo : dôr desde os rins até o púbis, com angustia. Cantharidas, sendo as dores lancinantes e incisivas, com emissão dolorosa, somente de algumas gottas de ourina, ischuria completa, ou ainda sendo as ourinas misturadas de sangue. Nux-vomica, tendo sido a nephrite oceasionada por suppressão de hemorrhoidas ou por congestão abdomi- nal, com tensão, enchimento e pressão na região rinal. Pulsatilla, manifestando-se a nephrite com amenorrhéa ou regras muito pouco abundantes em pessoas delicadas; ou ainda havendo: ourinas tanguinolentas, com sedimento purulento. NEPHRITE 91 IV calculosa ou eólica nephritica,—Yide Ne- phralgia. IV albuminosa albuminuria, moléstia de Bright. — Divide se em acidental, passageira ou permanente, em aguda e chronica. Aguda.—Symptomas. Dôr surda na região rinal, aug- mentada pela pressão ; molleza, peso e fadiga lombares; diminuição progressiva das forças, depois inchação das palpebras, oedema dos malleolos, do escroto; hydropisia, ascite; são freqüentes estas hydropisias (anazarca e as- cite) nas mulheres pejadas; perturbações do systema ner- voso, eclampsia e coma: a estes symptomas se juntão amaurose, amblyopia e diplopia. ( Característicos. As ourinas tornâo-se menos abundantes do que as bebidas ingeridas, sempre abaixo da quantidade normal, de côr escura ou vermelha, amarellada ou da côr de borra de vinho; de aspecto turvo, com cheiro in- sipido, assemelhando-se, depois de 24 horas de repouso, a caldo de carne; pela agitação torna-se espumosa como acua de sabão, dando pela ebulição com algumas gottas de ácido nitrico, albumina concreta ou precipitado se- melhante á clara de ovo; encontrão-se nella os tubuli. A albuminuria permanente constitue a moléstia de Bright. Tratamento. Os melhores medicamentos são:—l)Apis, bell, chin., ferr., n.-vom., phos. puls., rhus., sulf, ve- ratr.;— 2) Acon., Jiyos., bov., cale, carb.-v., hep., lyc, merc,natr., natr.-m., millefl,phos.-ac,petr.;—3 )Benz.-ae, colch., dig. e dule Dietetico. Evitar o frio e humidade, repouso, dieta; roupas de flanella. V. albuminosa. Forma chronica —Symptomas. Pouco differem da aguda; perturbações nas funcções di- gestivas como sejão: vômitos e diarrhéa menos freqüentes do que na aguda. Todos os symptomas têm menos in- tensidade, mas as complicações são mais numerosas o mais diversas. Tratamento. O mesmo que para a fôrma aguda, 92 FBV*ALGLAS NEVRALGIAS. Dores mais ou menos vivas, locaes, ás vezes lanci- nantes, circumscriptas e limitadas ao trajecto dos nervos, tendo por característico exacerbações intermittentes. Tratamento.— § l.« Os melhores medicamentos são em geral:— 1) Acon., arn., ars., bry., cep., cham., chin., coff., hep., ign., merc, n.-vom., puls., rhus., veratr.; —2) Apis., bell, caps., colch., coloe, con., kal., kalm., magn.-c, mez., phos., rut, sep., spig., stann., staph., thui., valer., verb.;- 3 ) Agn., alum., anae, arg., asa., asar., aur., baryt, cale, canth., caus., coce, ferr., graph., hyos., led., magn.-aus., natr., natr.-m., rhod., sabin., sass., spong., stront., sulf., tine § 2." Se a nevralgia é produzida pelo café os me- dicamentos principaes são: — 1) Cham., coff., ign., n.- vom.;— 2 ) Bell, canth., caus., coce, hep., merc, puls. e sulf. As nevralgias devidas a resfriamentos exigem: — 1 ) Acon., cham , chin., coff., hep., merc, puls., rhus.;—2) Ars., bell., bry., carb.-v., lyc, n.-vom., phos., samb., sep., spig., sulf. e veratr. As das pessoas plethoricas principalmente:— 1) Acon., arn., bell,ferr.,hyos., merc, natr.-m., n.-vom., puls.;—2) Aur., bry., cale, chin., lyc, nitri.-ac,phos., sep. e sulf. Nas pessoas sensiveis e nervosas, principalmente : — 1 ) Acon., ars., bry., cham., chin., coff., hep., ign., valer., veratr.; —2) Asar., aur., coce, canth., ferr., magn.-ars., phos., puh., rhus., sU. e staph. As nevralgias por abuso do mercúrio exigem sobre- tudo : —1 ) Am., carb.-v., cham., chin., hep., puls. ;—2) Arg., bell., dule, guai., lach., lyc, mez., phos.-ac, sass. e sulf. nevralgias 93 Vevralgia do grande sympathico. gastro- enteralgia, eólica nervosa. — Symptomas. Dores intermittentes mais ou menos vivas, forçando o doente a curvar-se para diante e comprimindo o abdômen, pre- cedidas de molleza. náuseas, abatimento geral, frio nos pés e oppressão. Tensão no ventre com tympanite e constipaçao ; lingua carregada de saburras, perda de appetite, soluços e vômitos, face anciosa e contrahida. Tratamento. Yide Enteralgia. IV do olho.—Divide-se em sub-orbitaria e em ciliar. V. sub-orbitaria.— Symptomas.— Communs. Dores continuas ou intermittentes com exacerbações violentas á noite, com lagrimejamento, photophobia e podendo dar lugar a conjunetivites; calor no nariz, super-secreção nasal e zumbido de ouvidos, espasmos e tremores da face. V. ciliar.—Em principio dôr surda gravativa, depois photophobia, contracção da iris, piscadura dos olhos, la- grimejamento abundante. Tratamento.—Os melhores medicamentos são : Bell., spig., ou : Acon., ars., puls., rhus. e sulf. V. do ouvido, otalgia. — Symptomas. Dôr lan- cinante podendo oecupar todo o apparelho auditi- vo, desde o pavilhão da orelha até o condueto au- ditório interno e estendendo-se á cabeça, fac:, fronte, olhos, etc. Tratamento.— § 1.° Os melhores medicamentos são em geral: — 1 ) Bell, cham., merc, puls., sulf, ou: —2) Am., chin., dule, hep., n.-vom., plat, spig.;--3) Ant, bor.,bry., cale, magn., phos.-ac ;-4) Millefl, ais. o cep. Para a otalgia inflammatoria são sobretudo: Bell, merc, n.-vom., puls., ou: Bor., bry., cale e magn. Para a otalgia rheumatismal: Bell, merc, puls., ou: Am., chin., hep. e n.-vom. 94 NEVRALGIAS Para a produzida por um resfriamento ou transpiração supprimida: Cham., chin., dule, ou. Merc,puls. esulf. § 2.° Deve-se consultar de preferencia : Belladona , havendo : picadas no ouvido e atrás das orelhas ; dores de dilaceração e picadas até a garganta, com zumbido nos ouvidos, sensibilidade ao menor ruido; affecção dolorosa da cabeça e dos olhos, com photophobia, face rubra e quente, congestão de sangue na cabeça. Chamomilla, havendo : picadas como por facas ou dores tensivas até o olho; ouvidos sêccos e tapados, grande sensibilidade ao menor ruido; impressão, mobilidade ex- cessiva que torna as dores insupportaveis. Mercurius, dores lancinantes, profundas ou despedaça- doras, estendendo-se aos dentes e á face, com sensação de frio nos ouvidos, aggravação das dores pelo calor da cama, ou rubor inflammatorio das orelhas; corri o sento de ce- rume, suores abundantes, sem allivio. Pulsatilla, dores despedaçadoras como se alguma cousa fosse saliir pelos ouvidos ; rubor, incliação e calor da orelha externa; ou dores lancinantes que invadem todo o lado affectado da cabeça e que parecem insupportaveis, fazendo mesmo perder a razão, maxime nas mulheres. V. dftrso-intercostal ou thoracica intercos- tal.— Symptomas. — Locaes. Dores espontâneas ou provo- cadas pelas grandes inspirações, tosse, movimentos dos braços, do tronco, etc., surdas, contínuas ou intermittentes, augmenfadas pela pressão ; quando são intermittentes as dores têm o caracter de picadas. Estas dores têm com- mummente três pontos de eleição: Io, posterior ou ver- tebral, atrás, perto da sahida do nervo; 2o, lateral, que é na parte mé ia do espaço intercostal; 3o, anterior, exter- na ou epigastrica, no bordo externo do sterno. Geuaes. Phenomenos de reacção ligeiros e pouco dura- douros, o que igualmente se dá a respeito das funcções respiratórias e digestivas. Tratamento. Os principaes medicamentos são:—1) Am., NEVRALGIAS 95 acon., bry., n.-vom , puls.;— 2) Aps., benz.-ac, camph., cham, caus., ^olch., hep., ign., merc, millef, ox.-ac, rhod., rhus., sass., sep., thui., valer, e veratr. V. lombo-abdominal.— Symptomas. Dôr espontâ- nea ou provocada por catarrhos uterinos, pelo coito exa- gerado ou por desejos venereos não satisfeitos, ordinaria- mente de um só lado, violenta; um pouco para fora da linha alba, irradiando-se para as paredes do ventre, porém mais intensa no ponto primitivo, com sensação de torsão e acompanhada ou precedida, nas mulheres, de dismenorrhéa, de amenorrhéa e de chlorosc. Exacer- bações ou reapparecimentos intermittentes. Tratamento. Além do tratamento interno, nos casos rebeldes, applicação de 30 grammas do collodion elás- tico e uma gramma de morphina na parte dolo- rosa. Para o tratamento interno Y. Lumbago. V. sciatica femoro popliteo ou sciatica. — Todo o trajecto do nervo sciatico e de suas ramificações pôde ser affectado e produzir dôr. Em conseqüência co- nhecem-se vários pontos dolorosos, e são os seguintes : lombar, sacro-iliaco, iliaco, gluteo, trochanteriano, fe- moral superior, médio e inferior, popliteo, rotuliano, peroneo-tibial, peroneo, malleolar, dorsal do pé, e plan- tar externo. Assim, pois, dôr mais ou menos violenta, contusiva, lancinante, com sensação, umas vezes de frio, outras de queimadura, a qual pela sua acuidade em- baraça e impede andar e mesmo conservar-se o doente firmado sobre o membro em pé. Como todas as nevral- oias especiaes as exacerbações fazem-se intermittentes e por crises, au°rmentando-se pela pressão, sem rubor da pelle, mas com atrophia muscular ou emmagrecimento do membro, quando a moléstia é chronica. Os pontos acima enumerados são reconhecidos pela classificação se- guinte- lombar, ou acima do sacruin; sacro-iliaco ao nivel da articulação sacro-iliaca; gluteo, no vértice da chanfradura rciatica; trochanteriano, no bordo superior do grande trochanter; femoral suporior-médio e inferior, ao 96 NEVRALGIAS longo da coxa ; popliteo, na cavidade poplitea ; rotuliano, sobre o bordo externo da rotula; pcroneo-tibial, etc. Não ha symptomas geraes. Tratamento. Os melhores medicamentos são: Acon., ars., bry., cham., ign., coff., coloe, n.-vom, puls., rhus. e thui. V. facial ou trifacial. — Prasopolgia. — Symptomas. Esta nevralgia, como a precedente, tem pontos de elei- ção conhecidos, que são aquelles onde se distribuem os ramos super-orbitario, o sub-orbitario e o maxillar in- ferior, os quaes podem ser affectados de parceria ou isoladamente ; assim, pois, ha os pontos dolorosos supra e sub-orbitarios, palpebral, nasal, mallar, alveolar, labial, temporal, mentoniano e parietal. O doente accusa dôr parcial ou geral, precedida ou não de calor, prurido e picadas nos trajectos dos ramos nervosos supracitados; photophobia , lagrimejamento , rubor do olho, calor da narina, com secreção mucosa, abundante, zumbido de ouvidos, contorsões, tumefacçâo, dôr e tremor na face; dores dentares, alveolares e nas gengivas; sem febre. Tratamento. — § 1.° Os melhores medicamentos são em geral: Acon., agar., bell, caus., coloe, con., hep., kalm., lyc, merc, mez., n.-vom., phos., plat., spig., staph., ou : Bry., cale, caps., chin., lyc, puls., rhus., stann., sulf., thui., veratr., ou ainda vAct., arn., ars. aur., baryt., cham , coff., kal, kal.-ch., magn. e magn.-m. § 2.° As prosopalgias inflammatorias exigem: Acon., arn., bry., phos., staph., sulf, ou: Bar.-c., bell, lach., merc, plat., tJiui e veratr. As rheumatismaes: Acon., caus., cJiin., merc, mez., phos., puls., spig., sulf, thui., ou: Arn., bry., hep., lach., magn., n.-vom. e veratr. As arthriticas: Caus., coloe, merc, n.-vom., rhus. e spig. Para as nervosas : Bell, caps., lyc, plat., spig., mags.- wre, ou: Hyos., lach, magn. o n.-vom. NEVRITE 97 As prosopalgias por abuso do mercúrio : Aur., carb.-v.1 chin., hep. e sulf. As que se desenvolvem nas pessoas moças (maxime nas raparigas), plethoricas, sobretudo: Acon.. bell, cale, chin., lach., phos. e plat. Nas pessoas nervosas : Bell, lach., lyc, plat. e spig. NEVRITE. NEVRILÉMITE. Inflammação do nevrilema ou da polpa dos nervos. Symptomas. Pôr constante, espontânea, formigamento, picadas, calor e entorpecimento da parte inflammada, irradiando-se para as partes sãs, nos membros principal- mente, augmentando-se gradualmente até produzir para- lysia, convulsões e tetanos. Tratamento. Yide Inflammação e Nevralgias. Vevrite óptica ou nevrite do nervo óptico. — Symptomas. Pupilla dilatada e immovel, com enfraque- cimento da vista; amblyopia, dôr de cabeça gravativa, ora na fronte, ora occipital; hemiopia, enfraquecimento da memória, paralysia e perturbação da intelligencia. Nos casos de simples congestões, pelo ophtalmoscopio en- contrão-se as veias retinianas augmentadas de grossura; a artéria diminuida; a pupilla mais saliente, larga e cheia de exsudatos. No estado chronico os contornos da papilla são ir- regulares, franjados e atrophiados, differentemente do que acontece nos casos de atrophia do nervo óptico, em que esses contornos são bem visiveis, em vez de atrophiados; havendo, porém, atrophia e excavação da papilla, côr d. h. ii 7 98 NEVR08E branca, nacarada, os vasos capillares diminuem, mas as artérias e as veias conservão o volume normal; a di- minuição da vista faz progressos; o doente tem o olhar vago e para cima; pupilla normal ou contrahida. Tratamento. Banhos d'agua fria de rio e de bica; se- denho na nuca. Os melhores medicamentos são : Acon., ars., bell., cale, lach., hep., phos., puls., rhus., sulf., valer, e zine NEVROSE. MOLÉSTIAS NERVOSAS. Perturbação e alteração do sentimento e movimento, sem febre e alteração local manifesta, affectando o sys- tema nervoso inteiro ou uma de suas partes, e dando em resultado alterações diversas da percepção, da sensibi- lidade e da intelligencia. Havendo exaltação das funcções nervosas, caracteri- sadas por excesso de sensibilidade, chama-se este estado — hyperesthesia; havendo ao contrario diminuição — é anesthesia. Se ha aberração da sensibilidade ou allucinações, chama-se heteresthesia: o augmento clonico ou tônico da contractibilidade muscular, como sejão, por exemplo, as convulsões, as palpitações, tosse, epilepsias, que são clo- nicas ; o tétano, as caimbras, as contracções, a catalepsia; os espasmos que são tônicos, têm o nome de hypermyo- tilias ; a paralysia geral ou parcial do systema muscular, chama-se amyotilia; os movimentos desordenados e ir- regulares oppostos ao estado normal constituem as hete- romyotilias; nesta classe estão: o delir ium tremens, o vo- mito nervoso, etc. NODOAS 99 Symptomas. Pela classificação acima vê-se que os symp- tomas são peculiares a cada uma das affecções enu- meradas , devendo recorrer-se aos artigos que tratão dellas particularmente; ha, porém, alguns que são com- muns a todas, assim, por exemplo: Todas as moléstias nervosas têm por característico a intermittencia , mas nem todas as nevroses são inter- mittentes ; ha algumas contínuas e outras remittentes — as nevroses podem ser agudas ou chronicas, sendo este ultimo estado o mais freqüente; a dôr nervosa diffe- re da inflammatoria, desenvolve-se pouco a pouco, de ordinário precedida de phenomenos fugaces, ligeiros; inquietação, tristeza, pusillanimidade, desanimo, desespero da cura; pensamentos incessantes de suicidio; seccura da pelle, com abaixamento do calor, e suor raro; ourinas abundantes, limpidas; desenvolvimento de gazes intes- tinaes, flatuosidades, borborygmos e erecções. Ordinariamente o individuo atacado de nevrose geral conserva o calor normal, e seu estado não denuncia ex- ternamente sofírimento algum, porque pôde conservar-se gordo e como se nada soffresse. Tratamento. Distracções, passeios, mudança de ares, viagens, occupação da intelligencia em certos casos; banhos frios. Para os medicament s, Y. Nevralgias. NODOAS. MANCHAS DE NASCENÇA, NCEVUS MATERNUS. Alterações circumscriptas da côr da pelle (ruiva, negra, rosea, vinhosa), com ou sem tumefacção desta parte do te- gumento, e desenvolvimento dos pôllos, ou hypertrophia dos bolbos pilosos. 100 NOSTALGIA Tratamento. Compressão, ablação, excisâo, ligadura. Os medicamentos principaes são: — 1) Carb.-v., sulf; — 2) Cale,graph., sulf.-ac; — 3) Fluor-ac NOLI ME TANGERE. CANCRO CUTÂNEO. Botão vermelho, duro, lancinante, de base larga e vér- tice alto, com prurido contínuo e ardente (botão canceroso), seguido de ulceração, com destruição mais ou menos rá- pida dos tecidos, dando em resultado uma ulcera de bordos scirrosos, fungosos e sanguinolentos. Tratamento.—Cirúrgico. Os únicos meios possiveisde evitar a irritação do botão que deve ser respeitado, são: a incisão e a cauterisação com ferro em braza. Tanto um como outro meio operatorio deve ser levado ao ponto de destruir completamente todo o tecido alte- rado, curando depois a ferida restante, como um chaga simples. NOSTALGIA. SAUDADES DA PÁTRIA. Alteração e modificação mórbida, desconhecida, do cé- rebro, caracterisada por melancolia profunda e especial, que pôde ir até á monomania e produzir symptomas NTOTALOPIA 101 de inflammação cerebral, gastro-intestinal, etc, devida ao desejo ardente e irresistível de voltar para o paiz natal, e para os hábitos que se tinha. Tratamento.—§ 1.° Consolação de amizade; distracções e occupações corporaes. § 2.° Os melhores medicamentos', são em geral: Caps. merc,phos.-ac, ou: Aur. e carb.-an. Capsicum, havendo: rubor das faces, prantos freqüentes e insomnia. Mercurius, havendo: grande anciedade com tremor e agitação, maxime á noite, com insomnia; humor quere- loso, o qual faz com que se queixe de todos; vontade de fugir. Phosphori-ac, havendo: humor taciturno, lacônico; es- pirito obtuso e estúpido, febre hectica, com vontade con- tínua de dormir, e suores abundantes pela manhã. NYCTALOPIA. VISTA NOCTURNA, CEGUEIRA DIURNA. Dificuldade ou impossibilidade de vêr os objectos du- rante o dia ou com uma luz forte. Esta affecção é commummente symptomatica de excesso de irritabilidade da retina* Tratamento. Os melhores medicamentos contra a ceguei- ra súbita que apparece durante o dia, são: Acon., merc, sil, sulf., ou: Con., nitr., n.-vom., phos. e stram. 102 NYMPSOMANIA NYMPHOMANIA. FUROR UTERINO, EROTOMANIA, METROMANIA, HYSTERO MANIA, ESPASMO DO CLITORIS. Exaltação mórbida da invaginação com superexcitação do systema vulvo-uterino, dando em resultado reacção para o cérebro até á alienação mental. Tratamento. —Hygienico. Occupação laboriosa, trabalhos corporaes, levados até á fadiga; viagens; regimen sem excitantes; dormir em leito duro, sem colchão. Medico. Os medicamentos aconselhados são: Plat., veratr., ou: Bell, canth., chin., cin., gral, hyos., lach., n.-vom. e zinc. Moral. Afastar toda a causa de excitação dos sentidos; distracção; leitura de livros sérios; exhortaçõos especiaes; freqüentar boa sociedade; casamento. o ODONTALGIA. ODONTITE, DORES DE DENTES, FLUXAO DENTARIA. Dôr mais ou menos forte no nervo ou na membrana alveolar, devida á fluxão, inflammação ou a nevralgias, sem alteração do dente. As dores nos dentes cariados são devidas especialmente â carie dentaria, a qual, destruindo o esmalte do dente, habilita os objectos exteriores a pôrem-se emcontacto com a parte desnudada e actuar por sua acção physica ou chimica sobre elle. Tratamento.—§ l.°Os melhores medicamentos contra as diversas espécies de odontalgias são: —1) Bell, cham., merc, n.-vom., puls., sulf; — 2) Bry., cale, chin., hyos., ign., mez., rhus., spig., mags.-aus.-c.;— 3) Acon., ant, arn., carb.-v., coff., hep., sep., sil, veratr.; - 4) Baryt, caus., cycl, dule, euphm\, magn.-e, nitr.-ae, phos.-ac, plat, sabin., benz.-ac e millef. & 2 ° As dores nos dentes cariados exigem na maioria dos casos : — 1) Ant; - 2) Mags.-arc, merc, sep., staph; — 3) Acon., bell, borax., chin., natr., n.-vom., puls.; — 4) Baryt, bry., cale, cham., coff., hyos., kreos., lach., lyc magn.-c, phos., phos.-ac, plat, plumb., rhus., sabin., sil e sulf. 104 ODONTALGIA § 3.° Para as dores que oecupão muitos dentes ao mes- mo tempo ou toda ou uma parte da maxilla, os melhores medicamentos são: Cham., merc, rhus. e staph. Se as dores não oecupão senão um lado somente:—1) Cham., merc, puls., rhus.;—2) Cale, chin., ign., mez., phos.-ac, plat, spig. e sulf. As dores que oecupão ao mesmo tempo os ossos da face exigem de preferencia: Ciem., magn.-c, merc, n.-vom., rhus., spig. e sulf. As que se estendem até os olhos: Cale, cham,, puls. e spig. As que se estendem aos ouvidos: Ars., bell., cJiam., ciem., kreos., merc, puls., sep. e sulf. As que atacão ao mesmo tempo a cabeça: Ant., ars., bell, cham., hyos., merc, n.-vom., puls., rhus. e sulf. As odontalgias com fluxão na face, exigem de pre- ferencia:— 1) Arn., cham., lyc, mags.-arc, merc, n.-vom., puls., sep., staph.; —2) Ars., aur., bell, bry., carb.-v., caus. e sulf. As que produzem inchação das gengivas: Acon., bell, cham., chin., hep., hyos., merc, n.-vom., phos.-ac, rhus., sep., staph. e sulf. Havendo enfarte das glândulas sub-maxillares: Carb.-v., cham., merc, n.-vom., sep. e staph. § 4.° As odontalgias congestivas reclamâo: — 1) Acon., bell, cale, cham., chin., hyos., mez., puls., sep.;— 2) Aur., phos.. plat. e sulf. As rheumatisníaes e ãrthriticas: — 1) Acon., bell, caus., cham., chin., merc, n.-vom., puls., staph., sulf.; — 2) Am., bry., cycl, hep., lyc, magn., phos., rhus., sabin., veratr. e mags.-arc. As odontalgias nervosas : — 1) Acon., bell, cham., coff., hyos., ign., n.-vom., plat, spig., mags.-arc; — 2) Ars., magn., mez., sulf. e veratr. § 5.° As que são produzidas pelo abuso do café: Cham., ign., n.-vom., ou: Bell, carb.-v., merc, coce, coff., puls. e rhus. ODOITTALGIA 105 As que forem causadas por abuso do tabaco: Bry., chin., spig., ou: Cham., merc-c, sass. As causadas pelo abuso do mercúrio: Carb.-v., nitri.-ac, ou : Bell, chin., hep., puls., staph. e sulf. As que tiverem por causa resfriamento : — 1) Acon., bell, cham., coff., dule, ign., merc, n.-vom., puls., ou:— 2) Baryt, cale, chin., hyos, n.-mos., phos., rhus., sulf. e mags.-arc. Para as que forem causadas por ar frio e humido: iV.-mos., puls., ou mesmo : Bell, cale, hyos, merc, sil, staph. e sulf. Sendo produzidas mesmo pela água que se bebe :—1) Bry., carb.-v., merc, staph., sulf. ; — 2) Cale, cham., mosch., n.-vom., puls. e sil § 6.° A odontalgia nas pessoas sensiveis e nervosas: Acon., bell, coff., hyos., ign., n.-vom., plat. e spig. As das mulheres pedem na maior parte dos casos: Acon., bell, cham., chin., coff., hyos., ign., n.-vom., plat e spig. Nas moças plethoricas : Acon., bell e cale Na época das regras : Amm., baryt, cale, carb.-v., cham., graph., lach., magn.-e, natr.-m., nitri.-ac, phos. e sep. Durante a prenhez :— 1) Bell., cale, magn.-m., n.-mos., n.-vom., puls., sep., staph.;—2) Alum., hyos. e rhus. Durante o aleitamento: Chin. Nas mulheres hystericas: Ign. e sep. As odontalgias nas crianças : Acon., bell, cale, cham., coff., ign., merc. e sulf. § 7.° Belladona, havendo : dores nas gengivas e dentes, tractivas, despedaçadoras, incisivas e lancinantes, esten- dendo-se á face e ouvidos, aggravadas á tarde, depois de se ter deitado, e sobretudo á noite; sensação nos dentes cariados, como de congestão com corrimento de sangue; inchação dolorosa das gengivas, com calor e ardor; inchação da face; salivação ou boca e garganta sêccas, com muita sede; aggravação ao ar e pelo contado dos alimentos; face quente e vermelha, pulsação na cabeça. (De- pois de Bell., mer.,hep., ou: Cham. e puls.) Chamomilla, havendo: dores violentas, pulsativas ou 106 ODONTALGIA lancnantes; dores que se tornão insupportaveis sobretudo á noite, pelo calor do leito, com exasperação, inchação quente e rubor da face; dores com vacillação do dente affectado ou cariado; dores semi-lateraes, lancinantes ou pulsativas em todo o lado affectado da cabeça, no ouvido e na face; aggravação ou renovação das dores depois de ter comido ou bebido alguma cousa quente ou fria, principalmente depois de ter bebido café; dores com calor e rubor, principal- mente de um dos lados da face ; suor quente, mesmo nos cabellos; fraqueza a ponto de desmaiar. Mercurius, contra: dores despedaçadoras, lancinantes, nos dentes cariados, ou nas raizes dos dentes, occupando todo o lado affectado da cabeça e face ; com inchação dolo- rosa da face e das glândulas sub-maxillares e salivação; aggravação das dores á noite pelo calor da cama; renovação das dores depois de ter comido ou bebido alguma cousa quente ou fria; gengivas inchadas, esbranquiçadas, vacil- lantes, ulceradas, com sangramento fácil, dôr de escoriação ao contacto, suores nocturnos (Convém antes ou depois de Bell, dule, hep. e carb.-v.) Nux-vomica: nas pessoas de temperamento vivo, colérico, com tez fortemente córada, nas que abusão do café e das bebidas espirituosas ou de vida sedentária; dores de esco- riação ou estremecimentos com picadas nos dentes e ma- xillas, ou somente dores nos dentes cariados ; gengivas in- chadas e dolorosas com pulsação como em um abscesso ; manchas vermelhas pelo rosto e pescoço; aggravação ou dor depois do jantar, durante um passeio ao ar livre. Pulsatilla: principalmente nas pessoas de caracter bran- do e tímido; contra dores de dentes com otalgia e cepha- lalgia semi-lateraes; dores pulsativas e roentes com picadas nas gengivas; dores que se propagão á face, á cabeça, ao olho e ouvido do lado affectado, com pallidez da face e calor na cabeça; calefrios e dyspnéa; aggravação ou appare - cimento das dores á tarde ou á noite, depois da meia noite, assim como pelo calor da cama, mesmo bebendo ou comendo cousas quentes, estando assentado e pelo con- tacto do palito : allivio com água fria (que entretanto ás vezes também aggrava) e pelo ar fresco. (ESOPHAGISMO 107 CEDEMA DOLOROSO DAS MULHERES PARIDAS. Yide Phlegmasia alba dolens. CEDEM* DA GLOTTE. Yide Laryngite chronica. (EDEMA DOS RECÉM-NASCIDOS. Yide Sclerema. (ESOPHAGISMO. Espasmo do oesophago com constricçfto do tubo pha- ryngo-cesophagiano, com dificuldade mais ou menos completa da deglutição. Symptomas. Espasmo violento da garganta e symptomas asphyxicos, acompanhado de regorgitação e expulsão dos alimentos, com ou sem dôr immediatamente depois de ingeridos, se o espasmo tem por sede a parte superior do oesophago, e um pouco mais demorado pela carência da acção anti-peristaltica, se é a parte inferior do tubo a affectada. , . . . , Nos intervallos da deglutição, ausência completa ou 108 G3S0PHAGITE dores, ou eonstricçâo, embaraço como de um corpo estra- nho semelhante á bola hysterica; a esses incommodos se juntão: soluço, voz alterada, respiração soffreada, ameaço de suffocaçâo. Ás vezes horror dos liquidos. Como symptomas conco- mitantes nota-se que, em certos, casos, as bebidas frias são supportadas com exclusão das quentes; em outros, ao contrario, são quentes com exclusão das frias. Os liquidos ingeridos são supportados e a regorgitação faz-se somente dos sólidos, outras vezes são apenas os sólidos os con- servados e os liquidos os expellidos. Todos estes pheno- menos apparecem precipitadamente em escala progres- siva. Tratamento. — Cirúrgico . Catheterismo do oesophago com a sonda cesophagiana, bezuntada de extracto de bel- ladona, deixando-a ficar algum tempo no tubo. A via pela qual deve ser introduzida a sonda é a fossa nasal; se porém ha necessidade de extrahir-se algum corpo estra- nho, de injectar alimentos e medicamentos, extrahir li- quidos e dilatar qualquer estreitamento, a via de intro- ducção ó a boca. Applicação de choques electro-magneticos na garganta. Medico. Gelo na boca durante o tratamento. YidetEso- phagite. (ESOPHAGITE. Inflammação do oesophago com dysphagia e coarctação deste conducto. Symptomas. Dôr intensa na parte inferior do pharyn- ge, no larynge e no oesophago com correspondência entre as espádoas, e no appendice xifoide, quando se com- prime, e no cardia. Embaraço da deglutição, semelhando um nó na garganta, com dôr na occasião da passagem dos alimentos e bebidas; espasmo do oesophago, com expulsão ontxis 109 difficil de mucosidades viscosas e abundantes; calor e sec- cura ao longo do oesophago; tosse guttural; febre com sede impossivel de ser satisfeita pelos incommodos que produz a passagem dos liquidos; agitação. Tratamento. Os melhores medicamentos são: Am., ars., bell, coce, merc, mez., rhus., ou: Asa., carb.-v., euphorb., laur., sabad. e sec. ONANISMO. Yide Spermacrasia. OIVYXIS. UNHA ENCRAVADA, ONGLADA. Inflammação da madre da unha, espontânea ou traumá- tica, aguda ou chronica. Onyxis agudo ou traumático. — Symptomas. Dôr mais intensa, lenta Ou subitamente desenvolvida nas vizinhanças da raiz da unha; formação de pús entre a madre e a unha; abalo e queda da unha. O. clironico ou onglada. Symptomas.—Inchação ligeira, augmentando-se gradualmente com um circulo violaceo ao nivel da raiz da unha, e pequena ulceração da pelle; côr embaciada, descollamento e queda da unha, por effeito da formação de suppuração na madre da unha, com transsudação ou sahida de pús amarellado, escuro e fé- tido. Dores intensas, inflammação consecutiva dos vasos e gânglios lymphaticos da virilha, sendo no artelho; e na axilla, sendo nos dedos da mão. 110 OPHTALMIA Tratamento.— Cirúrgico. Ablação das carnes fungosas: cauterisação com alumen ou nitrato de prata; raspar a unha no centro da base para a ponta, até deixar uma la- mina muito fina; arranca-la em totalidade ou em parte; curativo simples : evacuar o pús. Medico. Os melhores medicamentos são: Alum., ant, graph., hep., merc, rhus., sil. e sulf. OPHTALMIA. Nome genérico da inflammação de uma ou de muitas das partes constituentes do olho. A ophtalmia toma o nome não só da parte do olho affectado (externa ou interna), por exemplo, conjuncti- vite, blepharite, etc, como o da causa que a produzio, arthritica, variolica, escarlatinosa, erysipelatosa, etc. Symptomas. Yide os das differentes inflammações do olho. Tratamento.— § 1.° Os melhores medicamentos contra as ophtalmias em geral são: — 1) Acon., ars., bell, cale, cham., euphr., hep., ign., merc, n.-vom., puls., sulf; — 2) Ant, arn., bry., caus., chin., coloe, dig., dule, ferr., graph., lach., nitr.-ae, petr., rhus., sep., spig., sulf-ac, veratr.; — 3) Aur., baryt, bor., cann., ciem., con., hyos., led., lyc, natr.-m., phos., sil, staph., thui.; ap., cep. e nitr.-igl. § 2.° Para as ophtalmias agudas: Acon , bell., cham., dule, euphr., ign., merc, n.-vom., puls., ou: Ant, arn.,bor., canth., lach., nitr.-ae, spig. e veratr. Para as ophtalmias chronicas: — 1) Ars., cale, euphr., hep., sulf.;—2) Alum., caus., chin., coloe, dig., ferr., graph., lach., nitr.-ae, petr., sep. e sulf-ac. OPHTALMITE 111 § 3.° A ophtalmia arthritica exige: Acon., bell., coloe, spig., ou: Ars., cham., dig., Jiep., merc, n.-vom., rhus., ou: Berb., led. e lyc Para a catarrhal: Ars., bell, cep., cham., euphr., hep., ign., n.-vom., pids., ou: Dig., euphr., merc, sulf. Para a rheumatismal: Acon., bell, bry., cham., euphr., ign., merc, n.-vom., puls., rhus., sulf., ou: Berb., led., lyc. e spig. Para a ophtalmia escrophulosa : Ars., bell, colch., dule, hep., ign., merc, n.-vom., puls., rhus., sulf., ou: Caus., cJiin., ferr., graph., petr., sep., ou ainda: Aur., baryt, cann., cham., con., dig., euphr., iod., lyc, e magn. Para a syphilitica : Merc, nitri.-ac, ou: Aur. Tendo apparecido em conseqüência de blenorrhagia supprimida : Pids. § 4.° A ophtalmia produzida pelo resfriamento exi- ge de preferencia: Acon., ars., bell, cale, cham., dide, hep., n.-vom., puls. e sulf. A por causa traumática ou por introducção de um corpo estranho, depois delle extrahido: Acon., cale, hep., sulf., ou : Arn., euphr., puls. e rut. A resultante de fadiga dos olhos: Bell., carb.-v., rut. e spig. A produzida pelo abuso do mercúrio : Hep., nitri.-ac, puls., sulf. ou : Bell, dule, chin., lach., lyc, stapJi. ethui.; A ophtalmia dos recém-nascidos: Acon., bell, cham., dide, merc, ou: Cale , euphr., rhus., puls., ou: Bor., bry. e n.-vom. OPHTALMITE. PHLEGMÃO OCULAR, PANOPHTALMITIS. Inflammação do globo do olho em sua totalidade. Symptomas.—Objectivos. Palpebras, maxime a superior, vermelhas e inchadas ; inchação inflammatoria do tecido 112 OPHTALMODYNIA cellular da orbita que circumda o globo; chemosis so- rosa; immobilidade e proeminencia do olho; iris desco- rada, pupilla immovel e contrahida. Subjectivo. Diminuição da vista ; photophobia. Dôr intensa e distensiva, pulsativa como se fosse estalar o globo do olho; dôr ardente nas palpebras e em toda a região ocular, estendendo-se ás têmporas, nuca e todo o lado da cabeça e face. Pelo movimento e contacto mais leve, photophobia intensa, e lagrimejamento. Quando a moléstia faz progressos, fórma-se pús que enche o olho progressivamente, annunciando-se em prin- cipio por poso e sensação de frio no olho, com calefrios geraes; distensão considerável do globo do olho, que proemina fora das palpebras e orbitas; a cornea infil- tra-se de pús e proemina por sua vez na excavaçâo for- mada pela chemosis da conjunctiva. Geraes. Febre inflammatoria com delírio. Tratamento. Em começo da moléstia; tratamento ri- goroso dos meios médicos aconselhados para a ophtal- mia em geral, e conjunctivite em particular, e mais — immediatamente—locções de cozimentos de folhas de bel- ladona repetidamente. Cirúrgico. Incisões repetidas da chemosis com tesouras rombas ou bisturi; puncção e evacuação do humor aquoso. Havendo suppuração formada, applicação de cataplas- mas de miolo de pão e leite, até que o tumor proemine sobre algum ponto, no qual se deve punccionar para esvasiar o tumor, com uma lanceta fina. OPHTALMODYNIA. Yide Prosopalgia, Nevralgia. orchite 113 OPPRESSÃO. Yide Dyspnéa. ORCHITE. DIDYMITE, EPIDIDYMITE. Inflammação do testiculo. Divide-se em uretral agudo ou orchite blenorrhagica, em chronica, e em orchite não blenorrhagica. Orchite uretral aguda ou orchite blenor- rhagica.— Symptomas.—Locaes. No curso da blenor- rhagia sobre vem inflammação do testiculo ou do epi- didymo, com dôr no testiculo, augmentando-se pelo andar e pela compressão, com inchação e tensão do es- croto, aspecto luzente e adherencia aos tecidos subjacentes; peso nas virilhas, no perineo e na região lombar, com desejos freqüentes de ourinar; derramamento de sorosi- dade na túnica vaginal; canal deferente mais volumoso e duro; formação de um tumor dividido em duas partes, formado pela inchação do epididymo (epididymite) e do testiculo (orchite parenchymatosa). Sensação obscura de fluctuação, devida ao derramamento do liquido na vagina. Geraes. Polluções nocturnas dolorosas, precedidas ou não de calefrios, prostração e febre ligeira. O. chronica. — Alteração da secreção espermatica (esperma vermelho, roseo, análogo á geléa de grose- ihas); augmento de volume do testiculo doente. Pela D. H. II 8 114 OSTÉITE apalpação nota-se partes duras e molles, caroços no epi- didymo e no corpo do testiculo, e um rego na túnica va- ginal; dôr pela pressão. O. não blenorrhagica.— Esta moléstia é rara, E consecutiva a affecções da uretra, da próstata, do collo da bexiga , dos manejos da lithotricia ou mesmo do catheterismo, da presença de cálculos na bexiga, de abuso do coito, de contusões, de febres graves, etc. Symptomas. Yarião como as causas que a podem pro- duzir; os mais geraes, porém, são : dôr, inchação des- igual, bocelada ; pequenos caroços ao longo do epididymo, com febre em relação da intensidade da inflammação. Tratamento. Os melhores medicamentos são em geral: —1) Arn., aur., ciem,, nitri.-ac, puls. ; — 2) Ars., con., lyc, merc, natr.,n.-vom., spong., staph., zine;—3) Ox.-ac. e millef. Para a orchite por effeito de uma contusão são especial- mente : Am., puls., ou: Con. e zine Para a produzida por uma Menorrhagia supprimida: Puls., ou: Aur., ciem., merc. e nitr.-ae Em conseqüência da parotidite : Merc, puls. ou n.-vom. Para a inflammação erysipelatosa, como se encontra freqüentemente nos limpadores de chaminés: Ars. ou merc. Para a orchite chronica ou o endurecimento dos testí- culos : Agn., arg., aur., bar.-m., ciem., con., graph., lyc., rhod. e sulf. OSCHEITE. Inflammação do escroto. Yide Orchite. OSTÉETE. Yide Carie, Tumores brancos. 0STÉOMALACIA 115 OSTEOSARCOMA. Degenerescencia cancerosa dos ossos, ou exostoses la- minadas, cellulosas e fnngosas. Symptomas. O osteosarcoma tem desenvolvimento rá- pido e obscuro, com auginento de volume; o tumor é duro, indolente, confundido com o osso e produzindo dores surdas; pelle normal, lisa, luzente, adelgaçada, com desenvolvimento de veias, que se tornão nervosas; sensação de falsa fluctuação ; batimentos arteriaes. Ulceração con- secutiva. Tratamento . — Cirúrgico. Ablação. Medico. Yide Cancros. OSTÉOM ALACIA. OSTÉOMALAXIA. Amollecimento anormal dos ossos devido á fraqueza das forças assimiladoras. Symptomas. Sendo esta moléstia resultado das alterações produzidas no tecido ósseo pelo escorbuto, syphilis, cancro, rheumatismo, rachitismo, etc, os seus symptomas são os que constituem a moléstia que produzio a degeneração. Tratamento. Yide essas moléstias. 116 otite e otorrhéa OTALGIA. Dôr nevrálgica do ouvido. Yide Nevralgia do ouvido. OTITE E OTORRHÉA. CATARRHO AURICULAR, DOR DE OUVIDOS. Inflammação da membrana mucosa que forra o con- ducto auditivo e a orelha inteira. Divide-se em aguda, chronica, extensa e intensa. Otite externa aguda. — Symptomas. Esta occupa a membrana mucosa que forra somente o conducto auditivo até a membrana do tympano. Dôr local, zumbido, rubor erythematoso, eczematoso com calor e dureza da audição; seccura do conducto, erupção de botões; depois transsudação sorosa ou sanguino- lenta, tornando-se afinal amarellada e purulenta; otorrhéa e obstrucção do conducto. Tratamento. Os melhores medicamentos são :— 1) Puls.; — 2) Bell, bor., cale, magn., merc, sulf.; — 3) Aps.; nitri.-gl, sep., millef. e ais. O. externa chronica ou otorrhéa.—Symptomas. Os mesmos que da aguda, porém menos intensos, e mais : sahida pelo ouvido de um pús amarello-sujo, amarellado, fétido, com zumbido dos ouvidos, e surdez mais ou menos completa. Inchação avermelhada violacea da pelle do pavilhão e otite e otorrhéa 117 do conducto auditivo, com formação de crostas esbranqui- çadas, amarelladas, escuras, fendidas; corrimento icho- roso amarellado, fétido e muito abundante. Tratamento. —Local. Irrigações abundantes, duas vezes por dia, de água tepida, feitas com o irrigador de Prat. Geral.—§ 1.° Os medicamentos melhor indicados são: — 1) Merc, puls., sulf; —2) Cale, carb.-v., caus., con., lach., lyc, nitri.-ac, petr., sil; — 3) Alum., anac, asa., aur., bell., carb.-an., cep., cham., cist, colch., gran., kal, men., natr.-m. e phos. § 2.° Contra o corrimento de cerumen são: Con., merc, kal., lyc, natr.-m., nitri.-ac, puls.; amm.-m., anac. e phos. Contra a otorrhéa catarrhal ou mucosa: — 1) Merc, puls., sulf.;—2) Bell., cale, carb.-v., hep., lyc, natr.-m., phos. e sil Contra a otorrhéa purulenta : — 1) Bell, hep., merc, puls., sil; — 2) Asa., cale, caus., lach., nitri.-ac, petr.; — 3) Amm., aur., bor., carb.-v., cist., kal, lyc e natr.-m. Contra a escrophulosa, com ulceração do pavilhão : Hep., lyc, merc, puls. e sulf. Contra a sanguinolenta ou a hemorrhagia auricular: — 1) Merc, puls.; — 2) Bell, cale, cist, con., graph., lach., lyc, nitri.-ac, rhus., sep., sil. e sulf. § 3.° A otorrhéa que persiste depois da otite aguda: Merc, puls. e sulf. A que vem por effeito de um exanthema como a escarla- tina, o sarampão, a bexiga etc: Bell, colch., hep., lyc, merc, mez. ou carb.-v. A proveniente do abuso do mercúrio : Aur., asa., hep., nitri.-ac, sil. e sulf. Havendo carie dos ossiculos: Aur., natr.-m. e sil Pelo abuso do enxofre : Puls. ou merc & 4.° Para as conseqüências da suppressão de uma otor- rhéa, deve-se usar de preferencia : Bell, merc, puls., ou: Bry., dule e n.-vom. 118 0VAR1TE Havendo inchação das glândulas do pescoço ou das pa- rotidas, devem ser preferidos: Bell, merc ou puls. Havendo febre e cephalalgia: Bell. ou bry. Sendo a suppressão efleito de um resfriamento: Dule ou merc. Se houver orchite: Merc, puls. ou n.-vom. O. interna.—Esta inflammação affecta a caixa do tympano e vai até a trompa de Eustachio. Symptomas. Dôr profunda, contínua, exacerbante; sur- dez, agitação, delirio, insomnia; pharyngite e amygdalite; algumas vezes perfuração da membrana do tympano e excreção de um liquido muco-purulento. Tratamento. O medicamento principal é puls., que na maioria dos casos será quasi especifico. Nos casos em que a inflammação se propague ao cérebro, com angustia, vômitos, frieza dos membros, delirios, etc, o medicamento preferível é bell. Se depois do uso d: um ou de outro destes dous medicamentos restarem symptomas que exijão medicação apropriada: Merc, n.-vom., sulf, ou: Bor., bry., cale, cham. e magn. completaráõ a cura. OVARITE. OPHORITE. Inflammação do o vario. É aguda ou chronica. Symptomas.— Locaes. Dôr viva, espontânea, augmen- tando-se pela pressão e irradiando-se para os lombos e coxas: tumor do tamanho de um ovo de gallinha, fixo ou immovel, em uma das fossas iliacas ou em ambas, quando ambos os ovarios estão affectados, com sensação OVARITB 119 de peso, e produzindo dôr e picadas que se augmentão nas épocas menstruaes. Pelo toque rectal, ovario inchado e doloroso. Geraes. Febre com molleza do corpo, quebramento, cephalalgia, perturbações digestivas e menstruaes; dys- menorrhéa, constipaçao obstinada, embaraço dos appa- relhos respiratório e circulatório, acompanhado de acci- dentes nervosos. Chronica.—Dôr surda, inchação indolente, termi- nando com o apparecimento de degenerescencias mais ou menos profundas, como sejão : kystos, corpos fibrosos, cancros, etc. Tratamento. Os medicamentos melhor indicados são: —1) Aps., bry.;—2) Bell, lach., merc, ou: 3) Acon., ars., ambr., ant, canth., chin. e staph. Contra a hydrops ovarii: Aps., dule e sabin. Em um caso de endurecimento e ulceração do ovario referido por Hering, lach. foi de uma influencia das mais importantes, mudando o grupo dos symptomas de maneira tão favorável, que plat administrado depois (tendo lach. sido antes improficuo) completou a cura. Em outro caso muito grave de endurecimento chro- nico do ovario esquerdo com inflammação recente, no qual os três médicos que antes tinhão tratado a doente, segundo a antiga escola, não lhe tinhão dado mais que 21 horas de vida, nós obtivemos em 24 horas um ef- feito mais que inesperado, com uma só colher de uma solução aquosa de con. (30° 3 glob.), a ponto que depois da terceira repetição desta dose, de dous em dous dias, a doente estava em estado de deixar a cama e de fazer, no fim de quinze dias, mais de uma légua para ir ao mercado. O endurecimento do ovario, porém, ficou como era dantes, em relação ao seu volume, e a doente conserva-se ainda hoje, depois de muitos annos, com elle no mesmo estado e passando perfeitamente bem de sua saúde a todos os outros respeitos. (Jahr.) 120 OZENA OZENA. PUNESIA. Inflammação chronica com ulceração da membrana pituitaria, devida de ordinário ás diatheses escrophulosa, syphilitica, etc, com exhalação de um cheiro fétido pelas fossas nasaes. Tratamento.—§ 1.° Os melhores medicamentos são em geral: Alum., amm., asa., aur., bry., cale, carb.-v., caus., con., graph., kal, lach., lyc, magn., magn.-m., merc, mez., natr., nitri.-ac, puls., sil, sulf. e thui. § 2.° Para a obturação chronica do nariz, sobretudo : Bry., cale, caus., con., lach., lyc, natr., nitri.-ac, puls., sil., sulf., ou: Aur., carb.-v., graph., kal, magn., magn.-m., n.-vom., phos. e thui. Para a ulceração, as fendas e as crostas nas narinas: Alum., aur., bor., cale, cie, graph., lach., lyc, merc, nitri.-ac, puls. e sulf. Para o corrimento de pús ou ozena, propriamente dita, são principalmente : Aur., merc, ou: Asa., cale, cie, con., lach., puls. e sulf. Para a ozena syphilitica é merc. quem merece a pre- ferencia, se o doente não tiver já abusado delle, porque, neste caso, deve-se recorrer ■•: Aur., asa., hep., lach., nitri.- ac, sulf ou thui. p PAIXÃO ILIACA. Yide Ileus. PALATITE. Yide Angina, stomatite. PALPITAÇÔES DE CORAÇÃO. Yide Cardiopalmia. PANARICIO. TOURNIOLE. Inflammação aguda, erysipelatosa ou phlegmonosa dos dedos, limitada á epiderme e á pelle, ou estendendo-se ao tecido cellular, á bainha dos tendões, ao periosteo e á própria phalange. 122 PANARICIO O panaricio é superficial ou erysipelatoso (tourniole), sub- cvtaneo ou anthracoide, phlegmonoso e profundo. P. superficial.—Symptomas. Dôr mais ou menos intensa, com prurido, rubor e inchação rosea e luzente ao nivel da polpa do dedo, seguida da formação de umaphlyc- tena cheia de liquido sero-purulento ou sanguinolento: ruptura espontânea ou artificial, apresentando no fundo da phlyctena uma exsudaçâo albuminosa ou uma ulcera com destruição do tecido cellular subjacente, e queda da unha. P. sub-cutaneo (Mal d'Aventure).— Dôr profunda com rubor, inchação, calor e picadas insupportaveis, seme- lhando as produzidas pela queimadura; angustia atroz; depois fluctuação; sahida natural do pús por pequenos ori- fícios; abscesso; a inflammação estende-se ás bainhas ten- dinosas. Febre. P. anthracoide.— Symptomas. Dôr acompanhada de rubor e calor; inchação circumscripta com pontos sa- lientes violaceos; exulceração. P. gangrenoso. — Aqui a dôr é muito violenta; o rubor violaceo e livido; calor moderado, pelle denegrida com formação de phlyctenas e escaras. Symptomas geraes graves. P. profundo. — Symptomas. Dores fortes, com rubor menos pronunciado e tumefacção uniforme do dedo; diffi- culdade ou impossibilidade dos movimentos; insomnia e symptomas geraes graves; suppuração, cario ou necrose da phalange. Tratamento.— Cirúrgico. Abrir as phlyctenas, tirando a epiderme, antes da formação do pús; extrahir o carnicão com pinças o mais depressa e o mais completa- mente possível; incisar profundamente, nos panaricios pro- fundos, muito cedo para prevenir a estrangulação; havendo expoliação dos tendões e mortificação das phalanges deve- se cohibir de operações no dedo pollegar e praticar a des- articulação em todos os demais. PANCREATITE 123 Medico. Os principaes medicamentos são em geral :— 1) Sil, sulf.; — 2) Hep., lach.;—3) Alum., cale, kal, merc, nitri-ac., petr., puls., sang., sep.;—4) Cep. Para os panaricios por effeito de uma pancada, por agulhas ou por espinhos, os medicamentos melhor indi- cados são:—1) Nitri-ac, sil.; — 2) Hep., lach., petr. e sulf. Para os pp.naricios, cuja inflammação é superficial, ery- sipelatosa (panaricio debaixo da unha, onychia) : — 1) Hep., lach.;—2) Sil. e sulf. Para os sub-cutaneos, com inflammação phlegmonosa entre a pelle e as aponevroses, o principal medicamento é sulf, seguido de hep. Para os panaricios dos tendões, tendo o foco nos tabi- ques aponevroticos e nas membranas synoviaes, o melhor medicamento é sulf., seguido de sil Para os panaricios, quo atacão o periosteo ou os pro- fundos, o medicamento é sil. seguido ou alternado com cale ou sulf. PANCREATITE. Inflammação do pancreas. Divide-se em aguda e chronica. Aguda. —Symptomas. Dôr fixa e profunda na região epigastrica e no hypocondrio direito, com calor, e inappe- tencia, vômitos e ligeira amarellidão da pelle; diarrhéa semelhante á saliva; tensão e inchação do ventre. Chronica.—Symptomas. Salivação contínua, evacua- ção de liquido viscoso e amarellado; constipaçao ou diar- rhéa; as dejecções tem semelhança com os liquidos expellidos pela boca; anorexia; sede; caimbras de estô- mago; pyrosis; matérias gordurosas nas dejecções ou fezes. Tratamento.Os melhores medicamentos são:—1) Acon., ant., aps., cham., coce, ign., ipee, magn., n.-vom., puls., 124 PAPEIRAS sep., sulf, veratr.;—2) Ars., bell, bry., chin, coloe, hep., lach., lyc, merc, magn.-m., n.-mos., phos.-ac, phos., rut., sil. e zine PANNOS. Yide Ephelides. PANNUS. Yide Conjunctivite, Pterygion. PAPEIRAS. PAROTIDE. Inflammação da parotida ou do tecido cellular paro- tidiano, atacando nas estações frias e humidas as crianças e os adultos. Symptomas. Empastamento da região parotidiana e sub- maxillar; diffiiculdade dos movimentos da maxilla, dôr fraca, com pouca ou sem mudança de côr na pelle, com ou sem ptyalismo, existindo, de ordinário, de um só lado; inchação cedematosa augmentando progressivamente; de- formação da face; nesta ultima circumstancia dôr viva irradiando-se para os olhos e ouvidos, deglutição difficil, ás vezes impossivel; febre fraca. Tratamento. O melhor medicamento para a parotide aguda é merc, o qual, na maioria dos casos, é quasi espe- cifico. Depois delle é aur. PAPO 125 Quando ella toma um caracter mais brando, que a in- flammação se torna erysipelatosa, ou se estende ao cére- bro, e que o tumor desapparece e ha torpor e delirio, os medicamentos são: Bell. ou hyos., se o primeiro não bastar. Quando o doente tiver abusado do mercúrio, ou quando este nada fizer e o tumor começar a endurecer, e havendo febre lenta, o medicamento é carb.-v. Este medicamento convém sempre que o doente tiver a voz muito rouca, ou que tenha havido metastase para o estômago. Para a febre lenta, se carb.-v. não bastar, deve-se em- pregar coce Havendo metastase para os testículos, os medicamentos são : Pids. e n.-vom. Nos casos obstinados deve-se empregar: Amm., cale, cham., con., kal. e rhus. PAPO. PHYROCÉLE. Hypertrophia simples, parcial ou total do corpo thy- roide, indolente, molle e sem mudança de côr da pelle do pescoço. O papo divide-se em simples e exophtalmico. Symptomas. No simples tumor indolente, elástico ao toque, indoloro, não fluctuante nem transparente; sem mudança de côr na pelle, situado na parte anterior do pescoço, com desenvolvimento gradual, porém capaz de augmentar-se consideravelmente no exophtalmico; além destes symptomas os seguintes: ruido no coração, de sopro, e hypertrophia. Propulsão do olho ou dos olhos, 126 PAPO mais ou menos pronunciada, os quaes são agitados de mo- vimentos rápidos, á excepção dos para baixo, porque se tornão mesmo difficeis, e com uma espécie de insufi- ciência para os de abaixamento e elevação da palpebra superior. (Graves.) Difficuldade de fechar as palpebras, de modo que durante o somno o globo fica a descoberto. < A vista torna-se dupla por effeito de um estrabismo divergente, conseqüência do desvio do globo ocular para fora. Por effeito da falta de abrigo que a dilatação das pal- pebras trás aos globos oculares, as conjunctivas e a cor- nea se inflammão. Esta ultima (cornea) ainda que con- serve sua transparência apresenta grande numero de vezea uma mancha de necrose, mais ou menos larga no meio ou em um ponto de sua peripheria, a qual trás como resul- tado a destruição completa ou a atrophia do olho. Ha três phenomenos característicos, que para Demours, Graves, Basedow, Trousseau e Galezowsky merecem as honras de pathognomonicos; são: o papo, a exophtalmia e as palpilações do coração. Estas podem vir com ou sem hypertrophia; em todo o caso, porém, são tão violentas que toda a parede do peito é abalada e os batimentos podem ser vistos de longe. Estes batimentos, segundo Stokes e Trousseau, são de- vidos a uma nevrose cardiaca; para o Sr. Aran, porém, o que os produz é sempre a hypertrophia do coração. Além dos phenomenos citados, o papo nas mulheres acompanha-se sempre de amenorrhéa e ás vezes de leu- corrhéa. Nota-se mais: constipaçao, diarrhéa, anemia, chlorose, bulimia, dysmenorrhéa e mudança de gênio, o qual de brando e calmo que era, torna-se irascivel e imperti- nente. Esta affecção divide-se ainda em aguda ou rápida e em lenta ou chronica; uma e outra têm períodos de paroxis- mos, que ameaça o matar o doente por suffocaçâo, pela dyspnéa e grande oppressão que produzem. Nestes doentes o calor sobe de ordinário um a dous gráos centígrados do algarismo normal, o qual acompanhando-se da freqüência já descripta do pulso, faz simular uma febre typhoide. PARALYSIA 127 Tratamento. Hydrotherapia acompanhada dos medica- mentos seguintes: — 1) Brom., dig., iod., spong.; — 2) Ambr., amm., cale, caus., hep., lyc, natr., natr.-m., stapli.; — 3) Ais., carb.-an., con., kal, magn.-e, merc, petr., phos., plat, sil. e sulf. Havendo chlorose ou dysmenorrJiéa, usar dos medica- mentos aconselhados para estas affecções. No caso de perigo imminente de suffocaçâo na época dos paroxismos deve-se conjurar o perigo com o emprego de bexigas cheias de golo sobre o tumor thyroidiano e sobre o coração, e em ultimo cano applicar-se nas extre- midades inferiores as ventosas de Junod, e praticar mesmo a Tracheotomia. PARACOLSIA. Hypercousia, zumbido, ou zunido de ouvidos, tinido dos ouvidos. Lesão acústica devida a obstáculo ás ondulações so- noras, ou a exageraçáo da faculdade de perceber os sons; ou ainda a erro de percepção, pelo qual o doente ouve ou acredita ter ouvido ruidos que não existem ou não forão produzidos. Tratamento. Sendo variadas as causas que produzem esta moléstia, o seu tratamento varia também nessa re- lação, sendo immediatamente dependente da moléstia productora. PARALYSIA. Abolição ou diminuição notável da contractibilidade muscular e da sensibilidade por alteração directa ou indirecta da innervação. [Anesthesia, hemiplegia, para- plegia.) 128 PARALYSIA A paralysia é geral quando affecta grande numero de nervos e músculos ou todos os órgãos ao mesmo tempo. E local quando ao contrario um só ou mais músculos de uma região é affectado; ou quando ella fere um só nervo ou se estende sobre uma superficie maior ou menor da pelle com abolição ou somente diminuição do tacto; ou mesmo quando affecta um só dos órgãos dos sentidos. Toma o nome de hemiplegia, quando occupa um lado todo do corpo; e paraplegia, quando é a metade inferior a atacada. Paralysia geral.—Symptomas. Palavra arrastada e difficil, maxime quando o doente tem medo; lingua agitada, tremula, porém sem desvio; tremor e movi- mentos convulsivos dos lábios; entorpecimento, formiga- mento e tremor das mãos, dos braços e pernas, com andar vacillante, sacudido; depois impossibilidade de andar; enfraquecimento gradual e lento da intelligencia, com fraqueza da memória e mudança de gênio; perversão das faculdades moraes; abatimento moral; delirio, umas vezes ambicioso, outras hypocondriaco, com tendência á loucura; abatimento dos traços, com pupilla desigual; ranger de dentes, movimentos de deglutição; perturbação e enfraquecimento das funcções genitaes. Yariedades. Paralytica, melancólica e expansiva. Tratamento. Os medicamentos mais efficazes são:—1) Caus., coce, n.-vom., rJius;—2) Ars., barc-c, bell, bry., dule, ferr., lach., led., lyc, mang., oleand., rut., spong., sang., silie, stram., sulf, zine ;— 3) Ox.-ac, cep., hipp. e millef. Para as paralysias por effeito de uma apoplexia, são principalmente: Am., n.-vom., bell, stann., zine, ou: Anac, baryt., con., lach., laur. e stram. As produzidas por convulsões ou espasmos :—1) Cupr., sec. ;—2) Bell, caus., coce, laur., n.-vom.;—3) Rhus., sil., stann., stram. ;—4) Ang., arg..n., arn., cie, hyos., lach., lyc, plumb., sulf. o zine PARALYSIA 129 As por effeito de fraqueza, por perda de humores, etc.: —1) Chin., ferr., sulf. ;—2) Coce, rhus. e n.-vom. As paralysias por causa rheumatismal, sobretudo:—1) Am., ferr., rut. ;—2) Bry., caus., lyc, sulf.;—3) Baryt., chin., coce, bell, sass., staph. e plumb. As por effeito de repercussão de uma erupção ou de uma secreção mórbida:—1) Caus., sulf. ;—2) Bell.,bry., dule, lyc., rhus. e sil Para as hemiplegias :—1) Caus., coce, graph.;—2) Alum , anac, arg.-n., bell, kal, lach., phos.-ac, plumb., sulf.-ac;—3) Am., chin., hyos., rhus., stann., sulf. e staph. Par. do terceiro par ou oculo-niutor com- iiíuiu —Symptomas. Queda da palpebra superior; estra- bismo divergente (para fora); dilatação e immobilidade da pupilla por effeito da paralysia de todos os músculos que recebem filetes deste nervo, como sejão : os músculos rectos superior, interno e inferior, pequeno obliquo, levantador da palpebra superior, e da iris. Tratamento. Sendo varias as causas (congestiva, rheu- matismal, syphilitica) que produzem a paralysia, atten- der a ellas e fazer a applicação, escolhendo, de entre os medicamentos indicados para a paralysia em geral, aquelles que tem acção reconhecidamente provada contra essas causas. Par. do sétimo par ou do nervo facial.— Symptomas. Commissura labial do lado doente mais baixa; boca obliqua, mais visivel quando o doente ri ou sopra; ausência de contracções e de rugas do lado affectado; a oeclusão das palpebras é impossivel apezar dos esforços tentados, com rubor da conjunetiva, corrimento de la- grimas ; narina immovel. Esta paralysia é ordinariamente parcial, hemiple- gica ou completa: em ambos os casos ainda se nota perda do movimento do pavilhão da orelha (symptoma principal), e do músculo orbicular das palpebras, com conservação, porém, da sensibilidade; sobrancelha pen- dente; a palpebra inferior revira-se para fora; rotação D. H. H 9 130 PARALYSIA quasi contínua do globo ocular; corrimento de saliva e dos alimentos para fora da boca. Falta de symetria pela retracção de metade da face. Tratamento. O da paralysia geral; mas principalmente os medicamentos seguintes: Caus.,graph.o op. Havendo a maxilla inferior pendente: Ars., dule, lach., lyc e op. Par. dos músculos da espádoa. — Symptomas. Por effeito de uma queda, de uma contusão ou de vio- lências sobre a espádoa, apparece entorpecimento seguido de perda dos movimentos e da sensibilidade, com abo- lição dos movimentos de elevação e abducção, e sen- sação de frio nas partes doentes: os músculos da espádoa, o deltoide principalmente, e os do braço e ante-braço são feridos de impotência, todavia gozão possibilidade de movimentos, sendo, porém, os communicados dolorosos. Quando a moléstia persiste ha atrophia dos músculos paralysados, atrophia que é o pharol do conhecimento da regeneração ou não da nutrição dos tecidos doentes, porque, quando a paralysia vai ceder ou já está em via de desapparecimento, os músculos vão adquirindo sna espessura normal; no caso contrario a atrophia augmenta e reduz os músculos a verdadeiras membranas. Tratamento. Segundo Duchenne a electricidade é um meio precioso que deve ser sempre tentado, com a mira de produzir contracções musculares; se ella ficar sem effeito, se o músculo se não contrahir, a cura é impos- sivel. Além delia convém a cauterisação transcurrente e faradisação. Como tratamento geral os aconselhados para a paralysia geral. Par. do recto.— Symptomas. Esta paralysia é con- secutiva a uma lesão da medulla, á idade ou a uma atonia geral. Os phenomenos são os seguintes: preguiça do órgão, com accumulação de matérias fecaes, as quaes endurecem progressivamente, dando como resultado — compressão do collo da bexiga, e como conseqüência — retenção das PARALYSIA 131 ourinas. Depois as fezes se liqüefazem e são expellidas pela menor contracção do diaphragma e dos músculos abdominaes. Tratamento. Tratar as moléstias que a produzirão. Nos capítulos respectivos são encontradas as indicações; quando, porém, a causa é obscura os melhores medicamentos são: — 1) Phosph.; — 2) Acon., bell., coloe, hyos. o laur. Par. da bexiga e reteaç&t» de ourinas.— Symptomas. A paralysia da bexiga desenvolve-se lenta e gradualmente: começa por preguiça para ourinar, ou de- sejos menos freqüentes e jorro menos forte das ourinas do que o normal: a contracção vai sendo cada vez menos enér- gica nos músculos da bexiga, sendo necessário, para que ella se esvasie, que os músculos abdominaes concorrão para a expulsão; mais tarde as contracções vão-se difficul- tando, a retenção é completa,produzindo a accumulação das ourinas, a qual é reconhecida pelo apparecimento de um tumor no hypogastrio, sentido igualmente pelo doente, o qual, pela distensão da bexiga faz obstáculo á sahida da ourina em jorros, impossibilitando-a ao ponto de só poder ser expellida gotta a gotta; dores mais ou menos intensas e mais ou menos repetidas. Tratamento.— Local. Applicação de compressas frias nas coxas e sobre o hypogastrio. Não reter a ourina quando houver qualquer necessidade. Cirúrgico. Electricidade; catheterismo. Medico. Cs melhores medicamentos b^o: Acon., ars., bell, cie, dule, lach., laur. e mags.-aus. Não terminaremos este capitulo sem o ensino da ma- neira de fazer-se o catheterismo tanto no homem como na mulher. Catheterismo. — No homem. O doente pôde estar deitado ou em pé; deitado —o operador colloca-se á di- reita ou á esquerda, como lhe parecer melhor; em pé — deve collocar-se em frente do doente. Prende o penis com os dedos annullar e médio da mão esquerda de um lado, 132 PARALYSIA e o index e o pollegar do outro, pela base da glande, tendo a cautela de não prendô-lo de diante para trás, mas sim dos lados. Levanta o penis com a mão esquerda e in- troduz brandamente a sonda (com a mão direita segura entre o pollegar e o index) no meato ourinario até á cur- vatura sub-pubiana, conservando o pavilhão parallelo á linha branca do abdômen. Quando a sonda tem penetrado até este ponto, afasta-se brandamente o pavilhão da linha branca, inclinando-o por um movimento de arco de cir- culo para entre as coxas do doente, e imprime-se ao mesmo tempo á sonda um ligeiro impulso, que a faça penetrar na bexiga, seguindo exactamente a parede da uretra. Ha casos em que é necessário introduzir-se o dedo indicador da mão esquerda no recto para guiar o bico da sonda. Esta operação deve ser feita com todo o cuidado e lentamente, sem empregar força, para evitar fazer-se na uretra cami- nhos falsos. Esto processo é para as sondas de prata; sendo, porém, a operação praticada com sondas elásticas, o tra- balho é mais fácil, carecendo somente ter a cautela de bezunta-las com gordura. Ha oceasiões em que ha necessi- dade de deixar-se ficar a sonda elástica na uretra, para que a ourina se não accumule na l exiga; estas sondas, que ficão demoradas por tempo indeterminado, e que o soffrimento reclama, chamão-se sondas de demora. A ma- neira de as fixar e conservar na bexiga é a seguinte: fixa- se a sonda amarrando-a com fio longo a uma tira de diachylão que envolve o penis, com o duplo fim de evitar não só a sahida da sonda, mas sua penetração além das conveniências. É necessário que outros fios, além dos que estiverem envolvidos na tira de diachylão, fiquem bem presos aos pellos e ao púbis, para que a contenção seja perfeita. Na mulher. Nesta o manual operatorio é mais fácil: com a sonda previamente bezuntada de gordura e presa como no caso precedente, pratica-se da fôrma seguinte: entreabre-se a vulva e afastão-se os pequenos lábios com o pollegar e o médio da mão esquerda; com a polpa do in- dicador da mesma mão procu;a-se o tuberculo que serve de ponto de reparo e está collocado logo ou immediata- mente abaixo do meato t então introduz-se no meato a sonda PARAPHIMOSIS 133 de mulher, com a concavidade voltada para cima, dá-se- lhe direcção horizontal e impelle-se brandamente. Par. do cesophago.— Symptomas. Na paralysia do oesophago o bolo alimentar soffre uma parada, sendo im- potentes todos os esforços do paciente para o fazer descer para o estômago; agitação e convulsões. Os sólidos não poucas vezes penetrão com exclusão dos liquidos e vice- versa. Esta paralysia pôde ser espontânea ou conseqüente ao croup, a febres graves, etc Tratamento. Os melhores medicamentos são: Caus., con., lach., sil, ou ainda: Ars., bell, ipec, kal, n.-vom., plumb. e puls. PARAPHIMOSIS. Estrangulação e constricção circular da base da glande pela estreiteza do prepucio, retrahido para trás da coroa da glande. Symptomas. Em conseqüência da masturbação no indi- viduo affoctado de phi nosis, ou pelas primeiras relações sexuaes, ou ainda como complicação de cancros situados na mucosa prepucial, a glande fica descoberta, inchada e vermelha; o prepucio fôrma na base da glande uma ro- dilha circular, saliente e dolorosa; desenvolve-se sympto- mas inflammatorios locaes, mais ou menos intensos; ha formação de phlyctenas, roturas, retenção das ourinas e gangrena; tumores luzentes, transparentes, cedematosos sobre o freio. Tratamento. — Cirúrgico. Espreme-se a glande com os dedos da mão direita, até que tenha desapparecido todo o sangue, tendo-se igualmente presa a pelle situada atrás da rodilha com o pollegar e o indicador da mão esquerda; impelle-se com o pollegar e o indicador da mão direita a glande para trás, emquanto se puxa para diante a rodilha. 134 PARAPHIMOSIS Para mais facilidade bezunta-se a glande com cerôto ou óleo de amêndoas doces (Fig. 87). Fig. 87. Se a estrangulação é muito considerável e difficil de re- duzir, applica-se compressas de água fria para desinchar. Nos casos rebeldes pratica-se o desbridamento do annel com um bisturi recto introduzido a chato, da face mucosa para a cutânea, tendo a cautela de fazer sahir a ponta do bisturi atrás da rodilha, de modo que ella seja compre- hendida no desbridamento; volta-se o cortante para cima e corta-se o annel de um só golpe em toda a sua espessura. Medico. Sendo a moléstia devida ao virus syphilitico, o medicamento principal é: Merc, ou: Nitri.-ac. ou thui. Nos outros casos deve-se consultar: Arnica, se a inflammação é produzida pelo attrito ou outra qualquer causa mecânica. Sendo neste caso a in- flammação violenta, deve-se fazer preceder a arn. por uma dose de acon. Se a arn., apezar disto, não produzir todo o beneficio esperado, é rhus. que deve ser empregado. Sendo por falta de asseio, que a moléstia se desenvol- veu, os melhores medicamentos são : Acon. ou merc PÉ TORTO 135 Tendo sido por contacto de plantas venenosas, èujo sueco tivesse sido communicado pela mão: Acon., bell. ou bry. Havendo suppuração: Merc, caps. ou hep. Se ficar endurecimento: Lach. No caso de gangrena, ou mesmo quando se receia que ella se desenvolva: Ars. ou lach. Nas crianças: Acon., merc. cale, se nenhum dos dous primeiros obteve a cura. PAROTIDE OU PAROTIDITE. Yide Papeiras. PARTOS. Yide o Appendice d'esta obra. PARULIA. Abscessos das gengivas, etc. Aphtas, Stomatite. PÉ TORTO. PIED-BOT, KYLLOPEDIA, TORSÀO DOS PÉS. Yicio de conformação dos pés, com contracção dos tendões d'Achilles. Chama-se varus quando ha desvio da face plantar para dentro; valgus quando o desvio ó para 136 PELLAGRA fora; pé eqüino quando o desvio é para trás, e que a estação e progressão se faz sobre os artelhos; pé-talús quando os artelhos ficão levantados, o que o pé aponta no ohão somente pelo calcanhar, devido i.o encuríamento dos extensores dos artelhos, do tibial anterior e dos pe- roneos. Pé-chato, quando ha achatamcnto geral da superficie plantar. Tratamento. — Cirúrgico. Tenotomia e meios orthope- dicos, como agentes contentivos: meias e botinas apro- priadas. PEDIONALGIA. Dôr nevrálgica da extremidade inferior da perna, das faces dorsal e plantar do pó, vindo por accessos e in- tervallos indeterminados, sem rubor nem inchação. Tbatamento. Yide Rheumatismo. PELLAGRA. DERMATAGRA. Dermatose chronica, escamosa ou eczematosa, limitada ás partes mais expostas aos raios solares, precedida, acom- panhada ou seguida de irritação gastrc-intestinal ou ce- rebro-espinal. PELLAGRA 137 Symptomas.—Locaes. Côr negra ou de chocolate das partes do corpo mais expostas aos raios solares, com seccura, descamação e queda da epiderme, mas sem rubor nem prurido. Desenvolvimento deste erythema nos mezes de Março, Abril e Maio com desapparecimento em Junho, Julho, Agosto e Setembro. Outras vezes por effeito da acçâo solar, erysipela, com formação de phlyctenas cheias de serosidade amarellada e com forte coceira. Queda da epiderme com adelgaçamento da pelle, aspecto luzente e cicatriz, tendo havido esfoliação profunda, a qual pôde ir até produzir cicatriz espessa, callosa e com fendas: serido a esfoliação superficial, a pelle subjacente conserva a côr normal. Geraes. Como moléstia diathesica que é, produz symp- tomas nervosos mais ou menos pronunciados, podendo crescer ao ponto de igualar-se aos da paralysia progres- siva, da loucura aguda, da demência senil, da moléstia de Adipen, e de grande numero de dermatoses chronicas. Estes phenomenos nervosos podem produzir a loucura pellagrosa, cujos symptomas são os seguintes: Symptomas nervosos ou loucura pellagrosa. Tristeza, abatimento, idéas delirantes com pusillanimidade. Ten- dência ao suicidio e á estrangulação (Strambo). Quando os symptomas nervosos não têm intensidade suficiente para produzir loucura, os phenomenos são: vertigens, zumbido de ouvidos, cephalalgia, dores rachidianas, fra- queza das extremidades inferiores com propulsão invo- luntária para diante. Tratamento. Os melhores medicamentos são : Acon., bell, bry., berb., cale, cham., ciem., coce, cie, dule, ipec, hep., lach., lyc, merc, merc.-sol, n.-vom., puls., phos., rhus, sep. e sulf. 138 PEMPHIGUS PEMPHIGUS. PEMPHIX, FEBRE BULBOSA. Dermatose caracterisada por vesiculas ou bolhas dp volume variável, cheias de serosidade citrina ou soro- purulenta sobre manchas erythematosas, produzindo es- camas finas e manchas depois de sua queda, devida á alteração particular dos humores. Divide-se em agudo e chronico. O agudo é ainda chamado pemphix. Pemphigus agudo.— Symptomas.—Locaes. Bolhas sorosas, cujo volume varia entre o de uma hervilha e o de uma noz, ou de uma amêndoa, desenvolvidas sobre super ficies rubras e inflammadas, reunidas em grupos, tendo entre si a pelle sã. Três a quatro dias depois da forma- ção das bolhas rompem-se, evacna-se o liquido con- tido, ficando em seu lugar crostas espessas, formadas de suas paredes; formação em outros casos de crostas finas, fracamente adherentes, moveis, deixando em seu lugar excoriações superficiaes; estes symptomas se reno- vão, deixando, depois da cessação, vestígios oi marcas ver- melho-escuras persistentes. Geraes. Sede, molleza do corpo, inappetencia e cale- frios. P. chronico.—Symptomas. Grandes bolhas contendo sorosidade citrina ou sanguinolenta, rompendo-se no fim de 10 ou 12 horas, e deixando em seu lugar exco- riações seguidas de formação de crostas. Estes phe- nomenos se renovão successivamente, de modo que a producção de novas bolhas se faz logo depois da queda da crosta da antecedente. No pr-inphigus/ofóacews, o corpo PERICARD1TE 139 fica todo coberto de crostas finas, denegridas e pouco adherentes. No pemphigus pruriginoso, algumas papulas de prurigo se reúnem ás bolhas do pemphigus; no so- litário manifesta-se por uma só bolha. - Tratamento.— Local. Furar as bolhas, e curar com um panno crivado e enduzido de cerôto de espermacete; banhos simples, amiudados, mas prescriptos com reserva para evitar macerar a pelle: polvilhar com amidon. Geral. Os melhores medicamentos tanto para o agudo, como para o chronico são:—1) Phos.;—2) Graph., hep., lach.;—3) Ars., bell, dule, canth., ran. e sep. PERDAS BRANCAS. Yide Catarrho utero-vaginal, Leucorrhéa. PERDAS UTERINAS. Yide Metrorrhagia. PERICARDITE. Inflammação do pericardio. Para descrípção e tratamento vide Cardite. 140 PER'OSTlTE PERIOSTITE. PERIOSTOSE, EXOSTOSE, HYPEROSTOSE, GOMMA, TUMOR GOMMOSO. I.8 Inflammação do periosteo, com inchação ligeira das partes molles periosseas (Periostose). 2.° Tumor mais volumoso, molle, elástico, semi-carti- laginoso, com secreção de matéria plástica (Gomma). 3." Tumor duro, immovel, com inchação, hypertrophia circumscripta do tecido ósseo (Exostose). 4.° Tumor diffuso mais profundo (Hyperostose). Todos elles são devidos á sub-inflammação por causa externa, traumática ou interna e constitucional. Esta ultima causa provém da syphilis, da escrophula e do escor- buto. Symptomas.—Locaes. Dôr aguda, contínua ou inter- mittente, fixa na superficie ou profundidade dos ossos, com inflammação da parte, irradiando-se e exasperando-se pela pressão ; inchação das partes molles correspondentes. Formação de abscessos circumvizinhos, ossifluentes. Geraes. Febre, insomnia, delírio, sobresalto dos ten- dões, etc. Tratamento. Os melhores medicamentos são :—1) Ang., asa., aur., bell, cale, dule, lyc, merc, mez., phos., rut., sep., sil, sulf.;—2) Aur.-m., chin.,hep., nitr.-ae,phos.-ac, staph., rhus.;—3) Ais. e millef. Exostose Divide-se em interna e externa: a Ia desenvolve-se sobre um annexo do osso, e chama-se épiphyoaria ou estrophyte; a 2a é parenchymatosa, des- envolve-se no parenchyma dos ossos. PERIT0N1TE 141 Symptomas. Dores e phenomenos differentes, segundo a sede da exostose. Tumor arredondado, pediculado, de volume variável, somente doloroso quando é syphilitico, sendo a dôr augmentada á noite. A exostose pôde ter por sede tanto os ossos longos como os curtos, como sejão: a clavicula, as tíbias, os radius e cubitus, o femur, as cos- tellas, o maxillar inferior, como primeira categoria; as vertebras, os ossos do carpo, os dentes, como segunda. Este tumor, crescendo, comprime, distende e adelgaça a pelle, os músculos, os tendões, as veias, as artérias e os nervos, por sua immediata conseqüência vem sympto- mas concomitantes, como sejão: nevralgias, paraly- sias, etc. Tratamento.—Cirúrgico. A operação só é indicada quando o tumor produz grave incommodo. Sendo o tumor pediculado, procede-se á sua excisão, fazendo-se duas in- cisões ellipticas ou cruciaes, de modo que circule perfeita- mente o tumor, descobre-se o periosteo e com uma serra de cadêa, ou uma recta, de lamina estreita ou circular, excisa-se o pediculo de um só golpe. Póde-se, para a operação, servir-se de uma tesoura, da pinça de Liston, de tenazes ou de uma goiva. Muitas vezes é necessária a amputação do membro, a qual deve ser feita pelo processo melhor indirado para a occasião. Medico. Os melhores medicamentos são: Asa., aur., bell, cale, dule, lyc, merc, mez., phos , ruta., sep., sil. e sulf. PERITOATTE. INFLAMMAÇÃO DO PERITONEO. Pôde ser aguda, super-aguda, ou chronica, parcial ou geral; pôde ser chronica, tuberculosa. Peritonite aguda.—Symptomas.—Locaes. Dôr ab- dominal a principio ligeira, depois mais viva e muito 142 PERIT0N1TE intensa, com calor brando; tumefacção do ventre, quer por gazes, quer por accumulação de liquido; sonoridade geral, com som massiço nas partes declives, e renitencia no 2o caso; no Io, desenvolvimento de gazes?, som claro, tm alguns casos ruido de attrito de couro novo. Geraes. Calefrios; febre; náuseas freqüentes ; vômitos biliosos esverdeados; inappetencia, alteração; face en- rugada; constipaçao, lingua sôcca, escura, fendida; res- friamento das extremidades; dysuria; pulso largo, cheio em começo; calor; face hippocratica; respiração accele- rada, costal; delirio. No estado puerperal, os symptomas são idênticos; porém a dôr abdominal ó menos intensa, o ventre tumefacto, porém mais flaccido ; utero volumoso com calor no collo e na vagina; diminuição dos lochios e decubitus dorsal. De entre os symptomas geraes a differença é no pulso, que é nesta mais pequeno e fre- qüente. Tratamento. Os melhores medicamentos são: Acon., bell., bry., cham., ou ainda: Coff., coloe, hyos., n.-vom. e rhus. Para a peritonite puerperal ou febre puerperal os me- lhores medicamentos são:- 1) Acon., bell, bry., cham., coff., coloe, n.-vom., rhus.;—2) Am., ars., Jiyos., ipec, laur., merc, plat., puls., sec, stram. e veratr. De entre estes medicamentos se escolherá o melhor indicado, segundo a similitude dos symptomas que apre- sentar a paciente, confrontados com os dos seguintes medicamentos: Aconitum, sendo a febre violenta, com calor sêcco e ardente, sede insaciável de bebidas frias, face rubra e quente, respiração curta e oppressa, ventre inchado, com grande sensibilidade ao toque, e dores periódicas por todo o ventre, lochios raros, sanguinolentos e fétidos. (Depois de acon. convém bell. ou bry. grande numero de vezes.) Belladona, havendo : inchação meteoristica do ventre, com dores lancinantes ou eólicas violentas, espasmodicas, como se parte dos intestinos tivesse sido agarrada por unhas ou pressão penosa nas parles genitaes, como se todo o intestino PERITONITE 143 quizesse sahir; grande sensibilidade do ventre; pressão; calor ardente, sobretudo na cabeça ou no roslo, com face e olhos vermelhos; cephalalgia na fronte, com pulsação das carótidas; boca sêcca, com lingua vermelha e sede; dysphagia com espasmos da garganta: insomnia ou somno- lencia comatosa, delirios furibundos e outros symptomas cerébraes ; lochios pouco abundantes, ou metrorrhagia com sahida de sangue coagulado e fétido; mamas inflamma- das e inchadas., ou flaccidas e sem leite; constipaçao ou diarrhéa mucosa. (Sc bell. não bastar, é muitas vezes hyos. o indicado.) Bryonia, sendo o ventre excessivamente sensível ao toque, e ao menor movimento do corpo ou dos músculos abdomi- naes, com constipaçao; febre com calor ardente por todo o corpo e sede insaciável; caracter irascivel com apprehen- são, receio do futuro e grande inquietação a respeito do sexi estado. Chamomilla, estando as mamas flaccidas e vazias com metastase do leite sobre os órgãos abdominaes e diarrhéa esbranquiçada; lochios muito abundantes; ventre tume- facto e muito sensível; calor geral, com face rubra, sede forte; exacerbação nociurna e suor depois; grande agitação, impaciência e superexcitação nervosa, maxime se a febre proveio de cólera ou de resfriamento. Colocynthis, caso a cham. não tenha sido sufficiente, principalmente se houver: delirio alternando com somno soporoso, cabeça quente, face vermelha, olhos brilhantes, pulso duro, cheio e accelerado. Nux-vomica, quando os lochios desapparecerem subi- tamente, com sensação de peso e ardor nas partes geni- taes e no ventre; ou quando elles são muito abundantes, dores de cadeiras violentas, dysuria e ardor ourinando; constipaçao, náuseas, vontade de vomitar ou mesmo vômitos; face rubra; dores rheumatismaes nas coxas e pernas, com entorpecimento; cephalalgia pressiva ou pulsativa, com vertigens, obscurecimento da vista, tinido de ouvidos e ac- cessos de desfallecimento. Rhus é indispensável quando o systema nervoso ó affec- tado logo em começo; quando a menor contrariedade 144 PESADELO aggrava os symptomas, e quando os lochios brancos tov- não-se sanguinolentcs, com sahida de coalhos. P. chronica.— Nesta a dôr é menos intensa do que na aguda, sendo parcial ou geral, e augmentando pela pressão e percussão. Todos os symptomas são lentos, mas contínuos. Conhecem-se duas espécies que são: chronica tuber- culosa e chronica cancerosa. P. chron. tuberculosa.— Symptomas. Esta es- pécie de peritonite tem por causa a suffusão tuberculosa nos órgãos do recinto abdominal, maxime no mesenterio, e o vicio escrophuloso; ó mais freqüente nas crian- ças ou nos moços. Aos symptomas da peritonite chro- nica, em geral, se juntão diarrhéa e fluctuação no ventre, devida ao derramamento ascitico: ou constipaçao alter- nando com a diarrhéa; suores colligitivos e emmagre- cimento. Movimentos do corpo difliceis; ourina não ai buminosa: algumas vezes adquire agudeza ao ponto de merecer a qualificação de — peritonite galopante. Tratamento. Yide Tisica abdominal. P. chron. cancerosa. — Symptomas. Quasi os mesmos que os da tuberculosa, com a differença somente de não haver nem diarrhéa, nem suores, e ser a febre menos forte. Tratamento. Os medicamentos devem ser escolhidos na classe dos da aguda, visto a inflammação, embora lenta e menos intensa, existir. Todavia, d'entre elles escolhemos os seguintes: Acon., bell, cie, graph., merc, natr.-m., petr., rhus., sil. e sulf. PESADELO. Sentimento penivel de oppressão e suffocaçâo, com anciedade, espanto, estando dormindo; despertar em sobresalto; affecção nervosa por embaraço, irritação ou PETYRIASIS 145 modificação accidental da sensibilidade do estômago, dos pulmões, do coração e cérebro. Tratamento. Deve ser modificado segundo a natureza das causas. Hygienico. Ar fresco, distracções, exercicio moderado, regimen brando, alimentação pouco copiosa, banhos te- pidos, frios, affusões frias, com golo. Medico. Aconitum, nas crianças ou nas mulheres, havendo ao mesmo tempo: calor febril, sede, batimentos de coração, fervura de sangue, oppressão de peito, anciedade e inquietação. Nux-vomica, se os accessos forão occasionados por be- bidas alcoólicas, cerveja, refeições copiosas, vida seden- tária, etc Opium, quando houver : accessos graves com suspensão da respiração, olhos meio-abertos, boca aberta, roncos, estertor, traços exprimindo angustia, face coberta de suor frio, abalos e movimentos convulsivos dos membros. Se estes medicamentos não bastarem, póde-se ainda consultar:—1) Sulf., silie, ou : — 2) Amm., bry., con., hep., phos., puls., rut, valer.; — 3) Alum., cinn., guai., natr. e natr.-m. PESTE. Yide Typhus. PETYRIASIS. DARTRO FARINOSO, DARTRO FURFURACEO. Inflammação chronica e superficial da pelle, com ex- foliação incessante de pequenas escamas furfuraceas, occupando particularmente o couro cabelludo e os pontos 146 PHIMOSIS do corpo, onde se agglomerão os pêllos,além dos membros e peito. Symptomas. Conhecem-se as seguintes espécies: Pety- riasis rubra; versicolor, nigra, alba e capitis. Petj riasis rubra.—Exfoliação incessante da pelle, queda de escamas da epiderme farinosas, com coceira ou sem ella, deixando em seu lugar a superficie da pelle de côr rubra. P. versicolor.— Os symptomas são idênticos, a pelle porém tem a côr amarella. P. nigra.—Nesta a coceira ó constante e intensa, deixando a pelle de côr negra. P. alba.— A poeira que se desprende é alva e a pelle normal. P. capitis.— Esta é especial não só ao couro cabelludo, mas ao mento e ás partes cobertas de cabello, como sejão a barba e o rosto, dando em resultado a queda dos pêllos. Tratamento. Evitar irritar os cabellos com pentes ou navalhas, glycerina. Os medicamentos que devem ser usados de preferencia são: Alum., ars., bry., lyc, phos. e sep. Para os que oecupão a cabeça (capitis) ou o bordo do couro cabelludo:—1) Ars.,almn.;—2) Cale,graph., oleand. e staph. Hygiene. Asseio, cortar os cabellos, e limpar a cabe- ça com a escova. PHIMOSIS. Pequenez congenital ou accidental da abertura do p pucio com impossibilidade de descobrir a glande. Symptomas. Por effeito de inflammações devidas PHIMOSIS 147 cancros venereos, blennorrhagias, ou a degenerescen- cias fibrosas; ou mesmo por excesso de estreiteza con- gênita! a glande não pôde ser posta a descoberto; e al- gumas vezes nos velhos, ou quando por qualquer destas causas a abertura do prepucio é minima, a emissão das ourinas não se pôde fazer nas proporções devidas, e se amontoão entre a glande e o prepucio. Tratamento.—Cirúrgico. Ha três methodos a seguir no curativo da phimosis,-quando folha o de Nelaton, que são: circumcisão, excisão parcial e incisão simples. Processo de Nelaton. — Depois de explorada com um estyle e a cavidade do prepucio, introduz-se pela aber- tura existente uma pinça especial, semelhante a uma te- soura, a qual tem no meio dos ramos uma charneira den- tada, com uma porca, que serve para limitar o gráo de abertura das válvulas, que estão collocadas na extremi- dade anterior, e faz-se penetrar até a coroa da glande; então approximão-se os anneis da pinça, o que faz abrir os três ramos de que se compõe a válvula. (Esta válvula é acotovellada na sua metade anterior.) Yencida a resis- tência retira-se a pinça e puxa-se o prepucio para trás da coroa da glande; feito o que, bezunta-se todo elle de ce- rôto simples, e torna-se a pô-lo na posição normal. Des- cobre-se por este meio a glande cinco a seis vezes por dia, e trata-se com banhos o cede.:.a que se tiver formado (Fig. 88). Fig. 88.—Pinça de três válvulas para a dilatação forçada do prepucio. Se este methodo não conseguio desembaraçar a glande 148 PHIMOSIS ao ponto de dispensar as operações sangrentas, deve-se recorrer a ellas, praticando-se da fôrma seguinte: Circumcisao (Fig. 89). — Puxa-se, com uma pinça pjg_ 89.—Circumcisao: applicação dos serra finas (garras). ordinária, o prepucio para diante, e applica-se outra trans- versal e immediatamente adiante do meato ourinario, tendo a cautela de verificar se a glande está livre; com um bisturi ou uma tesoura forte tira-se de um golpe todo o prepucio que está para fora da pinça transversal; depois fende-se longitudinalmente a mucosa sobre o dorso do penis, e volta-se para cada lado da parte. O curativo é feito por primeira intenção, para o quo affroutão-se, per- feitamente, a mucosa e a pelle, por suas superfícies san- grentas, e colloca-se o numero de serras finas necessário para que toda a ferida fique completamente fechada, ou applica-se oito a dez pontos de sutura de pont;;8 separados. É indispensável que na occasião de affrontarem-se as su- perfícies da pelle e da mucosa não fique interposta porção alguma do tecido cellular. Também convém que a su- tura, ou pelos pontos ou com as serras finas, seja começada pelo lado do freio. Termina-se o curativo applicando-se compressas de água fria em fôrma de cruz de Malta. No fim de 12 horas devem ser retiradas algumas serras finas, e as ultimas no fim, quando muito, de 36 horas. PTlLEBITE 149 ^-^cisao parcial. — Lisfranc instituio um processo que, pela facilidade de execução, deve ser preferido, e é o seguinte: prende-se o bordo dorsal do prepucio, afastan- do-se da glande; depois com tesouras curvas sobre o chato c bem amoladas excisa—se um retalho semi-lunar, cuja maior altura corresponda á região mediada face dorsal do prepucio. Pratica-se a sutura e cura-se pelo prece- dente processo. Incisão simples.—Fende-se o prepucio ou na parte dorsal ou em um dos lados. O doente pôde indifferente- mente estar em pé, sentado ou deitado; o operador em frente. Este, com a mão esquerda, prende o prepucio, puxa-o para si e introduz o bisturi a chato até encon- trar a coroa da glande, tendo a cautela de apoiar o dorso do bisturi debaixo do prepucio e um pouco levantado para não feri-lo. Então abandona o prepucio, pega o penis com a mão esquerda e corta-o em um só tempo, detrás para diante, fazendo sahir em primeiro lugar a ponta do instrumento. O curativo é idêntico ao do antecedente. Medico. Yide Paraphimosis. PHLEBECTASIA. Yide Varice. PHEEBITE-. Inflammação das veias, estendendo-se ora a toda a es- pessura de uma ou de muitas das paredes, ora á túnica interna somente. Distingue-se em yhlebite superficial, profunda, externa ou interna, simples ou adhesiva, e em suppurativa. Ella 150 PHLEBITE é superficial quando affecta as veias superficiaes ; ! profunda quando ataca as mais profundamente situadas; externa quando é a túnica externa a affectada; e in- terna quando é a interna invadida pela inflammação. , Phlebite simples ou arihesiva.— Symptomas.— Locaes. Dôr surda sobre o trajecto do vaso affectado, augmentando-se pela pressão, com inchação pouco re- sistente a principio, depois dura, das partes circum- vizinhas. Na superficial notão-se elevações e nodosidades na veia, com um cordão vermelho na pelle. Tendo a phlebite sido produzida por uma chaga, cuja inflammação lhe fosse communicada, os bordos da chaga da veia são rosados, abertos e transsudão pús mais ou menos es- pesso ou soroso. Geraes. Febre, com agitação, insomnia e perturbações digestivas, cuja intensidade varia, segundo o gráo da inflammação, a causa productora, e a idyosincrasia in- dividual. P. suppurativa. — Symptomas. — Locaes. A dôr é muito mais intensa do que na precedente; a inchação mais dolorosa, principalmente em redor da chaga; os movimentos do membro mais difficeis. Aos lados da veia inflammada pequenos abscessos se desenvolvem muito perto, se não no próprio lugar onde se fez a picada, se a phlebite suppurativa proveio de uma sangria; outras vezes, porém, a cavidade da própria veia fica constituindo o foco do abscesso. Quando a phlebite é profunda não ha tanta facilidade para o diagnostico, porque os symptomas locaes são mais ou menos obscuros, sendo revelada a existência da sup- puração pelos accidentes produzidos pela infecção puru- lenta. Geraes. Todos os symptomas são mais pronunciados do que os da inflammação precedente. Tratamento. Os melhores medicamentos são —1) Acon., bell, berb., bry., cie, chin., hep., lach., merc, puls., rhus. ; PULEGMASIA 151 —2j Ars., arn., aps., cJún., chinin-s., cham., coce., dule, mez., phos., phos.-ac, sep., sil, sulf., veratr. e zine Infecção purulenta ou rcabsorpçcío. — Sympto- mas. Os symptomas desta moléstia são promptos e dos mais aterradores. O que a'n-c a scena é um calefrio vio- lento prolongado, coincidindo com aspecto máo da chaga e diminuição notável da suppuração, a qual torna-se saniosa. Na mulher parida ha suppressão dos lochios e da secreção leitosa. Calor intenso, succedendo ou se- guindo o frio, mas som suores; rubor e seceura da lingua, seguida de fuliginosidades nos dentes, lingua negra e rosto de côr térrea; vômitos e diarrhéas fétidas, abun- dantes e involuntárias; meteorismo e tumefacção do ventre; delirio, queda das forças; coma, ourinas e hálito fétidos; pulso cencentrado e pequeno. Tratamento. — Hygienico. Dieta absoluta; repouso; pouca gente no quarto; ar fresco e renovado em redor do doente. Medico. Os medicamentos que podem ser empregados com vantagem são:— 1) Acon., ars., bell, chin., chinin.-s., sulf., merc, merc.-sol., phos.-ac, sec, sulf .-ae, zine;—2) Arn., bry., cham., coce, cie, dide, dig., lach., hep., n.-vom., rhus., sulf.; — 3) Amm.-m., aps., mez., rhod. e veratr. Cirúrgico. Abrir os abscessos logo depois de formados; compressão da veia; secção da veia inflammada ; cauteri- sação com ferro em braza. PHLEGÜIASIA. Yide Inflammação. 152 PHLEGMASIA ALBA D0LBNS PHLEGItlASIA ALBA BOLENS. (EDEMA DOLOROSO, (EDEMA DAS MULHERES PARIDAS, ENTUMESCENCTA PUERPERAL DOS MEMBROS ABDO- MINAES, HYDROPHLEGOSIA, FIBROCHONDRITE , Inflammação cedematosa do tecido cellular subcutaneo intermuscular e extrapelviano das symphisis sacro-ilia- cas, podendo complicar-se de phlebite, e de leuco-angeite. Symptomas. — Locaes. Inchação cedematosa de um ou dos dous membros inferiores, nas mulheres paridas, appa- recendo do quinto ao duodecimo dia depois do parto, com entorpecimento, dôr na bacia, precedida de calefrios. Dôr na direcção dos vasos da coxa, exasperada pela pressão e pelos movimentos, os quaes se tornão impossíveis. Incha- ção do membro inferior começando em cima e estenden- do-se para baixo. Quando a dôr é limitada tem sua sóde na prega da virilha, no espaço popliteo, ou na barriga da perna. A inchação pôde também ser limitada a uma parte do membro, e dahi estender-se ou ficar estacionaria. Apezar da inchação a pelle conserva-se de um branco sujo, misturado em algum caso de faxas avermelhadas ao longo dos vasos, lisa, tensa ao ponto de, comprimida com o dedo, [não deixar impressão. Outras vezes ha forma- ção de vesiculas denegridas, phlyctenas, erysipelas, esca- ras com gangrena. Em outras circumstancias as faxas se acompanhão de cordões duros que não são outra cousa mais que veias ou artérias inflammadas, cheias de sangue coagulado. Geraes. Febre, flaccidez das mamas, se ellas estavão inchadas ou cheias, eXuppressão de lochios. PllLEOMÃO 153 Tratamento. — Cirúrgico ou local. Compressão me- thodica, quando não existe dôr, mas simples obstrucção da veia; excorificações >e a inflammação não fôr muito inten- sa, moxas; compressas embebidas em vinho quente; abrir os abscessos. Medico. O da phlebite. Dietetico. Dieta severa emquanto houver agudeza e febre; alimentação fraca; havendo suppuração, alimentos reparadores. Evitar o frio e a hnmidade; roupas de flanella; envolver o membro em algodão ou lã; repouso; posição horizontal. PHLEGMÀO. Inflammação do tecido cellular livre, subcutaneo ou sub-ap on e vrotico. Symptomas. — Locaes. Tumor ou phlegmão, com rubor; calor, dôr no ponto affectado, estendendo-se para as partes circumvizinhas. Estes symptomas diminuem e desappa- recem quando o phlegmão se resolve; em caso contrario ha formação de pús com amollecimento do tumor, fluctua- ção e augmento de volume, apresentando em seu ápice um ponto amarei]ado ou esbranquiçado. Geraes. Calefrios, febre, com alteração dos traços e ano- rexia; perturbação da funcção que tem relação com o tumor, e segundo é elle profundo ou superficial. Tratamento.— Medico. Os medicamentos melhor indi- cados são em geral:—1) Ars., bell, bry.,cham., hep., merc, phos., puls., rhus., sulf.;—2)Ant, arn., carb.-v., caus., chin., dule, kal, lach., led., lyc, natr., nitri-ac, n.-vom., rhod., sabin., samb., sep., e sil. Para prevenir a suppuração dos tumores inflammatorios ou phlegmão, são principalmente: Ars., bell, bry., cham., hep., merc, puls., phos. e sulf. 154 PHLEGMÃO Estes mesmos medicamentos têm a propriedade de acce- lerar sua resolução. Arsenicum, convém principalmente havendo dores ar- dentes no tumor. Bryonia, se o tumor estiver quente e tenso, pallido ou muito vermelho. Belladona, se o rubor do tumor se estender sobre as partes circumvizinhas. Hepar ou Rhus, se o tumor fôr doloroso ao toque. Pulsatilla, se tiver uma areola vermelha. Para os tumores endurecidos são especialmente: Baryt, carb.-an , carb.-v., con., iod., ou mesmo: Bry., cham. e sulf., que trarão a resolução sem suppuração. Quando asuppuraçãojátiver começado e que seja impos- sível a resolução, os medicamentos mais preciosos serão lach. e Jiep., os quaes acceleraráõ a abertura do abscesso. Quando elles já estiverem abertos, que suppurem por muito tempo, serão: Cale, hep., merc, phos. e sil. que farão diminuir e cessar a suppuração. Quando esta se prolonga indefinidamente, produzindo consumpçâo, os medica- mentos mais poderosos são: Phos. esilic. Cirúrgico. Sentindo-se fluctuação no tumor pratica-se a incisão com lanceta nos pequen >s abscessos ; com bisturi nos profundos e volumosos. A incisão deve ser paralle- lamente feita ao eixo do corpo e do membro, e na direcção das pregas normaes da pelle e das fibras musculares. Sendo profundo convém preferir a incisão camada por camada, e servir-se, em caso de necessidade, da sonda canulada, a fazer punção, porque evita-se ferir os vasos; e, quando tenhão sido feridos, podem ser facilmente ligados. O curativo deve ser feito com mechas de fios, enduzidas de cerôto simples; nos profundos convém, para dar sahida constante ao pús, fazer passar um tubo de drainage. Terrnina-se o curativo cobrindo o tumor com um panno crivado, bezuntado de cerôto simples, e uma prancheta de fios; havendo necessidade pratica-se uma contra-abertura, e lava-se o foco por meio de injecções de água simples ou cozimento de chamomilla. PHLEGMÃO 155 Phlegmão «liffuso, erysipela phlegmonosa. — Symptomas.—Locaes. Inchação, com pelle tensa, luzente e colorada, por placas ou linhas, de vermelho ou violaceas; e com apparecimento de vesiculas e phlyctenas cheias de sorosidade que a principio é esbranquiçada ou límpida, depois torna-se sanguinolenta, abrindo-se espontaneamente ao 6o ou S" dia; dôr e inchação pastosa e cedematosa da parte, conservando a impressão do dedo que comprimo; inchação dolorosa dos gânglios vizinhos da parte affec- tada; dureza e renitencia. Do 4o ao 8o dia diminuição ou estádio dos symptomas locaes, cedema de volta; adelgaça- mento da pelle; fluctuação e descollamento da pelle, a qual se mortifica por placas ; escaras. Este phlegmão tem três períodos: Io, inflammatorio; 2o, mortificação; 3U, eliminação das partes mortificadas. Geraes. Reacção febril intensa, com calefrios, calor e acceleração do pulso no Io período; no 2°, remissão notá- vel destes symptomas; no 3o, reapparecimento dos symp- tomas geraes, adynamia, diarrhéa e suores colliquativos ; prostração. Tratamento.— Medico. Os melhores medicamentos são Bell., graph., hep., lach., puls. e rhus. Cirúrgico ou local. Banhos parciaes; catapLismas de miolo de pão e leite; compressão methodica; longas e profundas incisões. P. das mamas.—Dividem-se em três ordens: 1», pJilegmões superficiaes; 2a, profundos; 3», glandulosos ou par enchy matosos. P. superficiaes — Symptomas. Tumor com dôr, tensão e rubo;-, tornando a pelle lisa, luzente, livida ou azulada; fluctuação. Tratamento. A mulher pôde continuar a aleitar o filho, a menos que o tumor occupe o mamelão ou esteja tão próximo que a impossibilite: nada tendo produzido a ap- plicação de cataplasmas emollientes de miolo de pão e leite, incisão logo que seja verificada a fluctuação; em caso 156 PHLEGMÃO de necessidade, pratica-se contra-aberturas e sustenta-se o seio com uma atadura de corpo. P. profundo.— Symptomas. Estado febril mais intenso, com insomnia; dôr profunda, pungitiva, mama saliente e projectada para diante; sensação de um corpo duro e resistente na mão exploradora. A dôr não aug- menta pela pressão; a côr da pelle é normal, somente a* veias ficão mais salientes. Tratamento.— Cirúrgico ou local. Se a suppuração não tiver invadido a glaudula mamaria, deve deixar-se a criança mamar; em caso contrario ha necessidade de esva- siar-se o seio, com o tira-leite. xlbre-se largamente os pe- quenos abscessos; incisa-se 2 a 3 centímetros no contorno da glândula, porém na parte mais declive; comprime- se moderadamente com as mãos, põe-se algodão e uma atadura de corpo. P. glanduloso ou parenchyntatoso. —Symp- tomas. Este affecta a glândula mau.ária, produzindo obstrucção leitosa, a qual resiste a todos os meios ordi- nários. As mamas ficão duras e dolorosas com pontos sa- lientes, porque a inflammação ataca os lobulos separada- mente; a côr da pelle é normal, á excepção dos pontos salientes; a reacção febril é pouco notável, e a marcha da moléstia mais lenta do que no phlegmão superficial. Tratamento.—Local. Deve-se tirar o leite com o tira- leite ou fazendo um cão pequeno mamar. O abscesso só deve ser aberto quando o pús estiver amontoado. A aber- tura deve ser feita por punções repetidas de dous ou dé três em três dias; em caso de necessidade deve fazer-se uma ou mais contra-aberturas; compressão meth dica com algodão e uma atadura de corpo. Medico ou geral. Os medicamentos que melhores re- sultados têm trazido são: Bell, bry., carb.-v., hep.-merc. phos., sil, e sulf Belladona, é sobretudo indicada quando os seios, estando duros e inchados, ha também dores lannnantes ou PHLEGMÃO 157 despedaçadoras, cem rubor erysipelatoso,que emana de um ponto central para diffundir-se em fôrma de raios. (Este medicamento torna-se mais activo alternado com bry.) Bryonia, quando os seios ficão duros, rijos e engurgi- tados de leite, com dores tensivas ou lancinantes no tumor, ou calor ardente no exterior; excitação do systema vas- cular. (Se bry. não effeituar a cura, deve-se recorrer a bell.) Hepar, se apezar do emprego de bell, bry. e merc, a suppuração começar a formar-se. Mercurius, quando nem bry., nem bell puderão remo- ver a inflammação erysipelatosa, o que ha partes duras e dolorosas no seio. Phosphorus, se hep. não pôde prevenir a suppuração, guando já existir ulceração completa das mamas, e mesmo ulceras fistulosas, com bordos duros e callosos; ou mesmo quando a estes symptomas se juntão suores ou diarrhéas colliquativas, com tosse suspeita, calor febril á tarde, rubor circumscripto dos pomos, e outros symptomas de febre hectica. Silicia, se phos. nada fizer contra a suppuração das mamas, com ulceras fistulosas e symptomas de febre hectica. P. profundo da n&ao.— Divide-se em sub-epider- mico, sub-cutaneo e sub-aponevrótico. P. sub-epidermico.— Symptomas. Ordinariamente este phlegmão é produzido por um callo inflammado; a inflammação propaga-se ao tecido cellular subeutaneo, produzindo dores vivas e formação de phlyctenas ; a isto se juntão symptomas febris. A pelle da parte apresenta orifícios mais ou menos numerosos. Tratamento. O primeiro cuidado deve ser preservar a mão de attritos e trazê-la elevada; abrir as phlyctenas; curativo simples e banhos na mão. P. sub cutâneo.— Symptomas. Inchação da mão com rubor e dôr forte, estendendo-se á face dorsal, 158 PHLEGMÃO aos dedos e ao ante-braço; reacção febril, com formação de pús que se accumula em foco ou penetra debaixo da epi- derme, a qual descolla-se; ou debaixo da aponevrose. Tratamento. Cataplasmas; abrir o tumor sem esperar fluctuação, fazendo penetrar um bisturi recto no ponto doloroso; injecções com cozimento de chamomilla. P. sub-aponevrotico.—Symptomas. Inchação local irradiando-se para as partes circumvizinhas, com dôr intensissima e immobilidade dos dedos; reacção febril mais intensa; suppuração, com exfoliação dos tendões e mortificação dos tecidos suprajacentes. A aponevrose oppõc-se por sua tensão que a inchação corresponda á intensidade da inflammação. Tratamento. Irrigações contínuas; compressão metho- dica de cada dedo separadamente e da face palmar com rolos de algodão. Abrir largamento o tumor, logo que se sinta pús formado, com as cautelas necessárias para não cortar as artérias da face palmar; abrir camada por camada; contra-abertura; injecções. Medico. O aconselhado para os phlegmões. P. da vulva ou vuivite phlegmonosa. — Symptomas. Inchação de um ou dos dous grandes lábios, com um tumor duro no centro, produzindo calor, rubor e dores lancinantes que se estendem para as partes circum- vizinhas até a virilha, onde se desenvolve uma adenite symptomatica: amollecimento do tumor seis a oito dias ou mais, depois fluctuação: impossibilidade de andar ou conservar-se em pé. Reacção febril mais ou menos in- tensa. Tratamento. Banhos e semicupios: segundo Churchill deve-se abrir largamente o abscesso immediatamente depois do pús formado e reunido em foco, para evitar a formação de fistulas. Se, apezar da abertura, ficar uma fistula, dilata-la. PHYSOBLEPHARON 159 PHLVSACIA, PHLYSACIE OU PHIA SACIOU. Yide Ecthyrna. PHTH1RIASE. MOLÉSTIA PEDICULAR, POUX. Desenvolvimento ou existência de grande numero de piolhos (muquiranas?) ou pediculi corporis, no couro cabelludo, na superficie do corpo, principalmente nos pontos onde os pêllos se agglomerão, como púbis e axillas, devidos á falta de asseio. Quando o soffrimento é chro- nico e que os animalculos tèm deposto seus ovos e se têm reproduzido, notão-se umas pequenas elevações papulosas, conicas ou avermelhadas, e manchas tuberculosas. Tratamento.—Local. Lavagens com cozimento de fumo de corda e de cozimento concentrado de staphysagria. Medico. Os medicamentos são os aconselhados para o tratamento da sarna, seguindo-se eai tudo a maneira de proceder na applicação. PHYSOBLEPHARON. INCHAÇÃO CEDEMATOSA E EMPHYSEMATOSA DAS PALPEBRAS. Tratamento.— Cirúrgico. Escaríficações. Medico. Os me'hores medicamentos são : — l) Puls.; __2) Acon., bell, graph., lach , merc, natr., n.-vom. e sulf. 160 P1AN PIAN. EPUN, MAL DE CAYENNA, YANO, FRAMBCESIA, MYCOCIS, SYCOSIS, RADEZYGE, SIBBENS. Dermatose chronica contagiosa, caracterisada por uma erupção seguida de tuberculos fungosos, de superficie granulosa, ruboide, ou como framboesas. Symptomas. Pequenas manchas vermelhas, escuras, grupadas, cobertas de uma erupção de pequenas eminên- cias ou vegetações isoladas em seu vértice, mas reunidas na base, tendo o tecido subjacente duro e calloso, em fôrma de tuberculos, os quaes por sua vez são cobertos de escamas finas, sêccas e adherentes. Ás vezes o vértice destes tuberculos se ulcerão, com corrimento ou estagnação de um liquido ichoroso muito corrosivo; outras vezes transformação dos maiores tuber- culos em uma ulceração de natureza roedora^môte do pian, ou maman pian da África e das índias occidentaes.) Depois da cura ficão cicatrizes deprimidas. Tratamento. Os medicamentos mais efücazes são: Thui.. e nitri.-ac, ou ainda: Cinnab., euphr., lyc, sabin., phos.-ac. e staph. Muitas vezes obtem-se cura prompta dos con- dylomas ou excrescencias sycosicas alternando, de três em ires dias, merc. e sulf da 3a. Dietetico. Exercido moderado ; cuidados de asseio; ar puro e sêcco; roupas quentes; regimen brando, leve e analeptico; abstinência de licores alcoólicos e excitantes. PLETHORA Oü HYPEREMIA POLYEMIA 161 PICA. MALACIA, APPETITE DEPRAVADO. Depravação do appetite e do gosto, devida á aberração da sensibilidade do estômago, por causa nervosa (neuro- se); nas mulheres na época da prenhez ou quando atacadas de cJdorose. Tratamento. Os melhores medicamentos são: Magn.-m., mosch., natr.-m., n.-vom., petr., sep. e veratr. PICADAS. Yide Chagas. PITIJITA. Yide Gastrorrhéa. PLETHORA, OU HYPEREMIA POLYEÜHA. Superabundancia de sangue nos vasos por excesso de hematose, com augmento da plasticidade e das propriedades excitantes deste liquido. Este estado predispõe ou ó o d. h. u 11 102 PLEUftISIA elemento inicial das moléstias agudas febiis e da,s conges- tões sangüíneas. Symptomas. Divide-se em geral e local Esta varia se- gundo o órgão onde faz sua sede; a geral apresenta rubor da pelle, intumescencia dos vasos sangüíneos mais superficiaes, com dureza do pulso, augmento incommodo do calor animal; tendência ás hemorrhagias, e dores vagas. Tratamento. Os melhores medicamentos são: — 1) Acon., bêll, phos., sulf; — 2) Ferr., hyos., merc, nux.- vom., puls.; — 3) Am., cale, seneg.;—4) Am., chin., croc, dig., lyc, natr.-m., nitri., nitri.-ac, rhus., sep., stram. e thui. PLEURISIA. PLEURITE. Inflammação da pleui a. Divide-se em aguda e chro- nica. Pleurisia aguda. — Symptomas. Frio inicial, pros- tração, dôr de pontada do lado ou ponto pleuritico, inap- petencia. A dôr tem sua sede debaixo de um ou outro seio; pôde ser intensa e pungitiva, crescer ou dimi- nuir, apparecer ou aggravar-se pelo menor movimento do coipo, no acto da respiração, ou pela tosse. Tosse sêcca, convulsiva, com pouca ou nenhuma expectoração ; respi- ração embaraçada; dolorosa; voz alterada; dilataçâo do peito. Escarros mucosos como os do catarrho pulmonar, raramente sanguinolentos. Decubitus lateral. Pela per- cussão: som masisiço na parte posterior e inferior do peito, com ausência de elasticidade debaixo do dedo que PLEURISIA 163 percute, sem vibrações da caixa thoracica, som muito claro, hydro-aéreo na parte supro-anterior. Pela auscultação : ausência ou diminuição do ruido res- piratório; respiração bronchica, amphorica, com timbre argentino, áspero, afastado do ouvido; egophonia um pouco abaixo do bordo interno do omoplata; voz de po- lichinello, ausência completa de vibrações ao nivel de derramamento. Anciedade, pelle quente, pulso freqüente; cephalalgia. Se a pleurisia é sêcca, sem derramamento, ha ruido de attrito dos dous folhos da pleura. Sendo diaphragmatica: dôr, embaraço da respiração, soluços, vômitos, febre e pontos dolorosos na base do peito. Sendo dupla: maior dyspnéa, e todos os symptomas mais graves. Quando ha melhora, diminuição gradual dos sympto- mas, com apparição do ruido do attrito pleurial; estertor humido e crepitante. No caso contrario, aggravação dos symptomas, cedema das mãos, dyspnéa, maxime se o pleuriz é do lado esquer 'o, ou passagem ao estado chro- nico. Tratamento. O medicamento principal é acon., o qual na maioria dos casos é sufficiente para curar completa- mente, maxime se fôr administrado na dose de alguns glóbulos da 18a, 24a, ou 36a dynamisação, dissolvidos, em oito onças d'agua e tomados ás colhéres de 3 em 3 horas, até que haja diminuição evidente dos symptomas febris, sobretudo da sede e do calor, e que a tosse se torne mais humida. Se depois da diminuição dos symptomas febris, restar ainda dores bastante vivas do lado, e que a cura não queira progredir, administrar-se-ha com o melhor re- sultado bry. na dose de três glóbulos (12», ou 30a) em uma colher pequena d'agua, deixando obrar esta dose sem repeti-la, a menos que novo aggravação, no fim de 36, ou 72 horas, não exija nova dose (Jahr). Tendo-se a dôr dissipado inteiramente sob a influencia da bry., mas havendo ainda susceptibilidade do lado 164 PLEURISIA doente, a impressão de ar e dos movimentos, será sulf. que, na maior parte dos casos, conseguirá fazer desappa- recer esta susceptibilidade, completando a cura. Ha, porém, casos em que o acon., a bry. e o sulf. não conseguem cura-las inteiramente; os medicamentos serão: Chin., cZhlor., kal, lach., n.-vom., squill, ou ainda: Aps., arn. e gram. P. chronica. — Symptomas. — Locaes. Dôr obscura e fugaz, raramente pungitiva; respiração embaraçada; dys- pnéa e oppressão em relação com a quantidade de liquido derramado; tosse sôcca, mais ou menos forte, e mais con- stante do que no estado agudo; dilatação do lado affectado; abaixamento do omoplata; immobilidade das costellas; ausência de vibração thoracica; som massiço extenso, sem ruido respiratório na base; egophonia. G-ebaes. Magreza; descóramento das faces; seccura e côr térrea da pelle; febre lenta com exacerbações; oedema geral; outras vezes limitado ao membro superior do lado affectado. Tratamento. — Medico. Os melhores medicamentos são: — 1) Amm., aps., ars., bry., carb.-v., dig., bell, kal, lach., merc, spig.; — 2) Aur., cale, dule, lyc, sen., squill, stann.; — 3) Brom. e lactuca. Cirúrgico. Operação de thoracentese. Indicações. Esta operação deve ser praticada quando o derramamento fôr de tal fôrma considerável que ameace suffocar o indivíduo, e quando haja syncopes. Contra-indicações. Não deve ser praticada quando hou- ver tuberculos pulmonares ou cancro ; não se deve operar no período agudo. Operação: Segundo Blachy, o trocate para a operação deve ser quasi capillar. Entre a 3a e 4a falsas costellas esquerdas, ou entre a 4a e 5a, ou mesmo entre a 6a e 7 a, do mesmo lado, contando de cima para baixo ou na parte mais declive do thorax, a 4 ou 5 centímetros para fora do bordo externo do grande peitoral, estende-se fortemente a pelle com a mão esquerda, faz-se com a lanceta uma pleurodynia 165 pequena puncção na pelle, colloca-sft a pouta do trocate na chaga e faz-se penetrar nella com um golpe sôcco; a canella tendo sido antecedentemente coberta de perga- minho fino ou de bexiga, retira-se o trocate abaixando a pelle ; comprime-se brandamente o thorax para a sahida do liquido, deixando-se sahir somente a metade do que estiver accumulado; cura-se a chaga com tiras de dia- chylão, e uma atadura de corpo. Se feita a puncção não saJiir liquido, deve-se fazer o doente respirar largamente, e introduzir um estylete na canula para romper as bridas ou obstáculos. Se absolu- tamente não se puder por este meio obter a sahida, pratica-se nova puncção. Se na occasião em que a canula estiver dentro houver quintos de tosse, inclina-se a ca- nula para que ella não so ponha em contacto com a pleura pulmonar. Contra os derramamentos purulentos deve-se fazer in- jecções, a principio com água tépida, tendo a cautela de que a seringa tenha a mesma temperatura que ella ou o liquido da injecção ; depois vinhosas ou de cozimento de chamomilla. PLEUROIDYNIA. Affecção rheumatica das partes musculares ou fibrosas day paredes do peito. Symptomas. Dôr mais ou menos intensa nos lados do peito, augmentando pelas inspirações, pela tosse e pelos espirros; anciedade. Não ha febre nem symptomas geraes. Tratamento. O medicamento principal é arn., do qual muitas vezes basta applicar uma dose para obter cura completa. Se todavia houver casos em que arn. não seja sufff- ciente, serão : Acon., bry., n.-vom., puls. e sabad. 166 PLICA POLACA PLICA POEACA TRICHOMA. Irritação com alteração dos cystos pilosos ou dermatose endêmica do couro cabelludo ou dos diversos pontos do corpo humano dotados de pôllos, caracterisada por exsu- daçáo mais ou menos abundante, viscosa e fétida, suscep- tível de, seccando, formar crostas, com coceira viva. Symptomas. — Locaes. Inflammação dos bulbas pille- feros com sensibilidade e crescimento rápido dos cabellos e dos pêllos; disposição particular mais ou menos extra- vagante dos pêllos, principalmente dos cabellos, com agglutinação de uns com os outros ou destes últimos entre si. O crescimento umas vezes é feito em fôrma de madeixas, longas e flexuosas, o que as fez designar pelos autores de caput medux; outras vezes ellas tem a fôrma de cor- reia ou de massos como caudas. Geraes. Indisposição geral, com movimentos febris, precedidos ou não de entupimento do nariz e cephalalgia. A plica sêcca é a espécie em que não ha exsudação. Tratamento. Ainda que a plica polaca seja considerada como um exsudato favorável á economia, os incommodos que ella produz em muitas occasiões são de tnl ordem que reclamão urgentemente medicação activa. Os medicamentos principalmente melhor indicados são : —1) Vine ; — 2) Borax. e lyc. PNEUMONIA 167 PNEUMATOSIS. MOLÉSTIAS VENTOSAS, ARROTOS, ERUCTAÇOES, COLICA VENTOSA, TYMPANITE, METEORISMO. Desenvolvimento ou cumulo de gazes no interior dos órgãos, produzindo distensão (tympanite, meteorismo), bor- borygmos e repuxamentos dolorosos (eólicas ventosas). Esta affecção não passa de um symptoma de varias moléstias, como seja, por exemplo, uma ferida penetrante, um derramamento purulento, etc. Seu tratamento é o applicado á lesão principal. Os meios hygienicos devem, porém, ser observados com rigor. PNEUMONIA. INFLAMMAÇÃO DO PARENCHYMA PULMONAR. Seudo superficial, chama-se Peripneumonia. Pôde ser primitiva ou consecutiva; aguda ou chronica. Primitiva, aguda e franca.— Symptomas locaes e funccionaes. Quasi se pôde afiançar que não ha um ata me de pneumonia sem prodromos, cujos symptomas são: indisposição geral, com diminuição das forças e do appetite ; dores lombares ; vermelhidão dos pomos; sen- sibilidade exagerada ao ar livre; calefrios e ligeiro mo- vimento febril. Depois delles: dôr de lado lancinante e 168 PNEUMONIA pungitiva, profunda e contusiva, augmentando durante a inspiração, a tosse ou a pressão; respiração embara- çada, accelerada, penosa, com sentimento de oppressão e aperto de peito. Tosse constante, raramente quintosa, com escarros viscosos, adherentes ao vaso (nos três pri- meiros dias), meio-transparentes, finamente aéreos, de côr de tijolo pilado, ou de ferrugem, alaranjados, côr de limão amarello, açafroados, segundo a quantidade de sangue que contiverem e a época da moléstia; depois esverdinhados, côr de sueco de alcaçuz ou de. ameixas passadas. Pela percussão, som massiço e sensação de resistência no dedo que percute. Pela auscultação, estertor crepitantefino, sêcco, de bolhas iguaes, percebido no fim da inspiração ; depois respiração bronchica, retinido da voz, bronchophonia, sopro tu- barío. Em alguns casos encontra-se nos limites da parte in- flammada estertor crepitante ou sub-crepitante. Em outros, porém, excepcionalmente, ausência do ruido respiratório e de bronchophonia. Nas crianças menores de 5 ou 6 annos, ha ausência de escarros côr de tijolo ou côr de ferrugem, que são quasi sempre substituídos por uma espuma sanguinolenta particular. Além disto apre- sentão, pela auscultação, crepitação menos sêcca, menos fina e menos igual. Estes phenomenos da respiração também são privativos da pneumonia nos velhos. G-eraes. Febre mais ou menos violenta, sem delírio, pulso amplo, elevado, freqüente e duro; nos velhos palpi- tações de coração, limpas, sêccas e vibrantes; pelle quente e humida; face animada, fortemente córada nos pomos, maxime do lado affectado, ou pallido, depois livida e ama- rellada, térrea quando a moléstia deve ser fatal; inappe- tencia; lingua branca, pastosa, algumas vezes sôcca e escura ; náuseas, insomnia, agitação, atordoamento; em cer- tos casos delirio, coma; perda das forças. Decubitus dorsal, maxime se a moléstia produz grandes dores e faz rápi- dos e graves progressos. Quando a moléstia tem de terminar favoravelmente ha PNEUMONIA 169 diminuição dos symptomas febris; abatimento de pulo e do calor; volta do somno, pelle humida; expectoração fácil; os escarros tornão-se claros, mais aéreos, não sangui- nolentos ; a dôr diminue, bem como a bronchophonia; a respiração torna-se normal, e ha estertor crepitante de volta. Se o doente tem de succumbir, ha persistência e ag- gravão-se os symptomas, menos a dôr, que pôde dimi- nuir: expectoração mais difficil; respiração mais embara- çada ; estertor mucoso de grossas bolhas; face livida e térrea; suor viscoso, resfriamento das extremidades, es- carros pequenos cinzento-sujo, algumas vezes esfriados, muitas vezes mesmo purulentos; pulso cada vez mais pe- queno e irregular; decomposição dos traços; estertor tracheal. Nos recém-nascidos os symptomas da pneumonia são : tosse, acceleração da respiração; respiração expiratriz, anhelante, acompanhada de pallidez notável da face, e movimento das narinas; dyspnéa. Pela auscultação, ester- tor sub-crepitante e mucoso ao mesmo tempo ; respiração bronchica, sopro-tubario ; vibração das paredes do peito, e retinido do grito. Pulso muito freqüente, pelle quente; exageração da côr dos pomos (maçãs do rosto). Para maior clareza da descrípção deixamos á margem a classificação da pneumonia em períodos, porque, do Io ao 2o, muitas vezes não vem differença senão de horas ; e então para seguirmos a ordem prescripta por Jahr na sua medicação iríamos dificultar o diagnostico. A pneumonia primitiva tem fôrmas diversas dependen- tes de circumstancias peculiares ao individuo, á consti- tuição medica reinante, a complicações sobrevindas em seu curso, ou por effeito de vicio existente na economia. 1°, fôrma biliosa: caracterisada pela côr amarellada da face, peso na cabeça, sôde intensa, enducto ama- rello ou esverdinhado da lingua, amargo da boca e eva- cuações biliosas; 2o, forma typJwide: ataxica ou adynamica quando ha fraqueza extrema, tonteiras, agitação, delirio; 3o, catarrhal: se foi em conseqüência de catarrho pulmo- nar, ou se reinão grippes ou bronchites, etc. 170 PNEUMONIA Tratamento. —Dietetico. Dieta severa; silencio absoluto. Na convalescença: regimen brando, analeptico; alimenta- ção sem excitantes, composta de feculas, leite e carnes brancas; proscrever o vinho, café, carnes negras. Medico. Os melhores medicamentos são em geral:—1 ) Acon., bry., cann., chin., phos., rhus., squill, sulf;— 2 ) Bell, lach., merc, puls., senn.; —3) Aps., ars., benz.-ac, canth., nitri., n.-vom., op., phos.-ac, sabad., sep., tart c veratr. Na pneumonia primitiva em começo o medicamento principal é acon., o qual deve ser administrado da fôrma aconselhada no artigo Pleurisia, até que os symptomas febris, sobretudo a sede e o calor, tenhão diminuido de fôrma notável. Tendo diminuido a febre pela acçâo do acon., o melhor medicamento depois delle é bry., diluido em 6 onças d'agua e tomado ás colhéres, até que a respiração se torne mais livre e que os escarros adquirão melhor aspecto. Se depois de restabelecido o doente, pela acçâo da bry., restar ainda som massiço nos pulmões, com oppressão e tosse, os medicamentos são: Phos. e sulf., ou: Chin., lach., lyc e sil. Quando o doente, por quaesquer circumstancias não tiver sido tratado logo em começo, e que a moléstia tenha já seguido seu curso, e produzido symptomas que facão sup- pôr que exista hypatisação rubra, o que é facilmente reco- nhecível pela intensidade dos symptomas acima enumera- dos, acon. e bry. ainda devem ser empregados, com quasi certeza de optimo resultado; o medicamento, porém, prin- cipal é sulf, administrado ás colhéres, de 3 em 3 horas, feita uma solução de 3 a 6 glóbulos (ou uma gotta de tintura) para oito onças d'agua. Muitas vezes nestas circumstancias achar-se-ha também de utilidade incontestável: Lach., lyc e phosph. Ha occasiões em que é mesmo conveniente, depois da acção do sulf. applicar um ou outro desses medicamentos na dose de 3 ou 4 glóbulos, de uma só vez, deixando-se esgotar a acção sem repeti-la. Para a pneumonia adynamica (Pneumonia Notha), como se encontra muitas vezes nas pessoas idosas, com tendência PNEUMONIA 171 a degenerar em paralysia do pulmão, o medicamento que se deve empregar em primeiro lugar é acon., o qual deve ser substituído por merc, se depois da sua applicação o estado do doente se aggravar. Tendo merc. feito beneficio, mas não tendo conseguido terminar a cura, bell será o medicamento mais conve- niente, principalmente se aos symptomas conhecidos se acerescentarem constricção espasmodica do peito, com tossiculação sôcca; ou cham. se a respiração fôr sibilante. Depois de cham convém ordinariamente n.-vom. Quando merc. não produzir mudança alguma, o medica- mento mais conveniente é ipee, maxime se a respiração fôr anciosa e rápida; ou veratr., se as extremidades estiverem frias, com aperto do peito e grande angustia; ou ainda ars., se o doente se tornar cada vez mais fraco, com accessos de suffocaçâo; talvez que ainda aproveite benz.-ac. Para a pneumonia typhoide o medicamento que deve ser empregado em primeiro lugar é op.; depois delle convém ás vezes arn. Se, depois do uso destes dous medicamentos, não houver nos soffrimentos melhora conhecida, veratr. (duas ou três doses) será de grande utilidade, ou ars., maxime se a fraqueza e o estertor augmentarem. Grande numero de vezes bry. e rJvus., ou benz.-ac, ipec. e ars., ou veratr. e ars., administrados alternativa- mente, produzem effeitos surprendentes. Quando a melhora se pronuncia, mas não é durável, sulf. será um optimo meio intercurrente, depois do qual se poderá voltar com vantagem para os medicamentos antecedentes que se mostrarão mais efficazes. Havendo decubitus ou excoriações por ter estado muito tempo deitado, e que estas se tornem chagas gangrenosas, chi >. ou ars. são os melhores medicamentos a empregar. Se se manifestar obscurecimento da vista, deve-se em- pregar bell.; e se as forças diminuírem cada vez mais, natr.-m. prestará grandes serviços. Emfim, quanto ás conseqüências das pneumonias, se se declararem symptomas de tísica incipiente, ou se a 172 PODHYDROSE pneumonia ameaçar passar ao estado chronico, sobretudo se houver symptomas que facão suspeitar a existência de tuberculos, os melhores medicamentos são :—1) Sulf; —2) Amm., lach., lyc, phos.;—3) Ars., aur., cale, hep., kal, nitr., nitr.-ae, ol-jec, stann., sulf-ac. PAEUMORRHAGIA. Yide Hemoptysia. PODARTHROCACE. Carie, tumor branco dos ossos do pé, maxime do tarso. Vide para descrípção e tratamento Arthrocace, PODHYDROSE. Suor excessivo dos pós. Tratamento. Deve ser respeitado quando é antigo, em- pregando-se somente cuidados de asseio. Em caso contrario, convém modera-lo pelo emprego externo de banhos adstringentes. Medico. Os medicamentos que devem ser empregados são: Carb.-v., cham , cJún., merc, op., phos.-ac, rhus., samb., selen. e sulf. PODRIDÃO DOS HOSPITAES 173 PODISCHYDROSE. Yide Ischydrose. PODRIDÍO DOS HOSPITAES. TYPHUS TRAUMÁTICO. Lritação gangrenosa ulcerativa ou pseudo-membra- nosa das soluções de continuidade, com desorganisação, fétido característico e dôr local, por viciação do ar, conseqüente de agglomeração de individuos feridos ou affectados de moléstias diversas. Esta affecção provém do contacto ou absorpção de miasmas sep ticos, espa- lhados na atmosphera das salas dos hospitaes; é epidê- mica e contagiosa. Seus phenomenos são precedidos, acompanhados ou seguidos de symptomas geraes de in- toxicação (typho-adynamico), de irritação das vísceras, e de abalo profundo da innervação. Para facilidade de sua descrípção, a cirurgia dividio-a em duas fôrmas : Ia fôrma, ulcerosa; 2a fôrma, camosa ou lardacea. 1." Forma ulcerosa. — Symptomas locaes. Dôr a principio ligeira e surda na chaga, depois aguda: mu- dança de aspecto na chaga, a qual adquire rubor insó- lito, bordos elevados, talhados a pique, com excavações circulares no centro; fundo da chaga escuro e transsu- dando ichor também escuro; as ulcerações augmentão 174 PODRIDÃO DOS HOSPITAES tanto no sentido de sua extensão, como em profun- didade, sendo orladas por um circulo oedematoso, e infil- tração dos tecidos circumvizinhos. 2.° Forma carnosa ou lardaeea.—Symptomas. Locaes. Dôr e mudança total ou parcial da chaga, onde te desenvolvem botões carnudos, violaceos, cobertos de uma pellicula meio transparente, esbranquiçada, forte- mente adherente aos bolões, ou uma camada carnuda esbranquiçada que se transforma em matéria pútrida, e que tem como resultado fazer crescer a chaga em pro- fundidade : côr livida da superficie da chaga com infil- tração dos tecidos circumvizinhos. Muitas vezes os bo- tões carnudos sangrâo ao menor contacto. Geraes de ambas as fôrmas.— Destruição completa da pelle, do tecido cellular inter-muscular, dos músculos, dos tendões, dos vasos e nervos. Anorexia; lingua suja e fria ; constipaçao; dores intensas no epigastrio, aug- mentadas pela pressão; febre, acompanhada de cephalal- gia e prostração; diarrhéa colliquativa; escaras no sacro e morte. Tratamento. —Prophylactico. A primeira e principal indicação é subtrahir os doentes á acção dosmiasmas, o que se obtém usando nas chagas do emplastro de Lis- ter, feito com ácido phenico, c conservando nas salas atmosphera sempre pura: o isolamento e a mudança do-; feridos para lugares arejados e desinfectados pelo uso do chlorureto de cal e ácido sulfürico concen- trado, unido ao nitrato de potassa purificado é uma condição indispensável, até para corrigir o effeito das exhalaçõcs miasmaticas nas salas de onde não puderão ser retirados os doentes. Elles devem ser conservados em boas condições de asseio, e fazer uso de café, vinho, e regimen analeptico. As camas, as roupas, os appa- relhos, e mesmo os insti um entes de cirurgia, devem ser desinfectados. Quando não se fez uso do emplastro de Lister, os curativos devem ser raros e rápidos e reu- nir-se immediatamente as chagas. polydipsia 175 Local. Convém destruir o agente deletério, o que se obtém nas chagas de fôrma lardacea, além dos meios tópicos antisepticos e pelo ferro em braza, applican- do-se depois fios embebidos em uma solução de ácido phenico, ou de glycerina phenicada. As lavagens devem ser feitas com água phenicada, com álcool camphorado, com cozimento de corticeira, applicando-se sobre a chaga carvão commum, ou devem ser feitas (o que é de vanta- gem inconcussa) com a ca^ca do corticeiro. Geral. Os indicados para os casos da gangrena. POIXUÇÒES. Yide Spermacrasia. POEYDIPSIA. Desejo excessivo, necessidade insaciável de bebidas ou de liquidos ácidos, devido a um estado phlegmasico ou á aberração da innei vação; á nevrose do pharynge e do estômago, com seccura da garganta, ourinas freqüentes e aquosas. Tratamento. Quando é devido a estado phlegmasico deve satisfazer a sede, bebidas frias, e com gelo; dieta láctea; banhos tepidos e frios; cataplasmas emollien- tes no pescoço. Medico. Os medicamentos são: Acon., aps., ars., bell., bry., carb.-v., cham., cJún., cin., camph.. dule, ipee, lach., lyc, merc, n.-vom., puls. e sulf. 176 POLYPO.S Sendo nervosa: os medicamentos são: Bell, bry., cale, chin., ign., lach., lyc, magn., magn.-m., mosch., n.- mosch., n.-vom., puls., rhus., sabin., sec, sep., sil, sulf-ac, veratr., valer., zine, ou: Mags., mags.-arc, mags.-aus. POEYGALACIA. Hyperemia da glândula mamaria, produzindo super- abundancia da secreção leitosa. Para o tratamento. Yide Agalacia. POEYPOS. Producções ou excrescencias mórbidas carnudas, fun- gosas, susceptiveis de se desenvolverem sobre as mem- branas mucosas em geral, e em particular nas fossas nasaes, na vagina e no utero; de consistência mucosa, vesicular, fibro-sarcomatosa e carcinomatosa; de fôrma pedicular ou não, tamanho variável, e nascendo quando o tecido mucoso está hypertrophiado. Os polypos são de três gêneros : polypos cellulo-mem- branosos, comprehendendo as espécies mucosa, lardacea, fungosa e granulosa. Polypos mais ou menos duros, car- tilaginosos, ósseos ou petrosos, fíbrosos, e sarcomatosos; polypos mixtos ou compostos. Symptomas. — Locaes. Tumores mais ou menos volu- mosos, com ou sem prolongamentos em profundidade e largura; com ou sem dôr á pressão; susceptiveis de, pelo seu desenvolvimento, encherem as cavidades onde POLYPOS 177 nascerem, e distcndô-las empurrando-as; e produzirem compressões, irritações, d'onde provenháo inflammações e ulcerações dos órgãos circumvizinhos; produzirem hemor- rhagias, e embaraçarem o livre exercício dos órgãos inva- didos. Geraes. Accidentes febris, nervosos e digestivos, sem- pre graves. Tratamento. — Medico. Os medicamentos principaes contra as diversas espécies de polypos são: — 1) Cale, phos., puls., staph; — 2) Con., merc, sil, thui.; — 3) Ambr., ant., ars., aur., graph., Jiep., lyc, merc., petr., pJws.-ac, sep., sulf.-ae e teucr. Os polypos mucosos exigem de preferencia: —1) Calo merc, puls ; — 2) Hep., mez., sulf. e teucr. Os polypos fibrosos: — 1) Cale, staph; — 2) Ars., petr., phosph., sep., sil, sulf. e thui. Cirúrgico. Os meios cirúrgicos são os seguintes: exsic- cação, cauterisação, excisão, sedenlio, arrancamento, despe- daçamento, ou laceração, ligadura, esmagamento linear, gal- vano-caustico e compressão. Nos artigos especiaes faremos a applicnção de entre estes diversos meios, daquellei que nos parecerem melhor apropriados. Poívpos do ou^ ido. — Symptomas. A excepção da surdez, e de um ligeiro corrimento do ouvido, quasi ne- nhum symptoma mais se nota, excepção feita da sensação aceusada pelo doente de um corpo estranho no ouvido. O exame feito com o especulo e o espelho revela a exis- tência do polypo. Para maior certeza do diagnostico deve procurar-se com o estylete contornar sua base. Tratamento. — Cirúrgico. Sendo estreito o pediculo e não adherente ao tympano, deve-se praticar o arranca- mento com a pinça de Bonnafont, deixar sangrar a fe- rida e depois cauterisar o pediculo com nitrato do prata em lápis, de 2 ou de 3 em 3 dias ; quando estiver adherente ao tympano deve-se preferir a ligadura, ou aexcisão com oa 178 POLYPOS bisturis do mesmo autor, depois de ter pegado o polypo com a errina de que clle se serve: feita a excisão deve-se insufflar pós cáusticos no ponto deixado pelo polypo. Medico. Antes de emprehender o tratamento cirúrgico indicado acima, convém fazer uso continuado por algum tempo de cale e stapJi., os quaes podem produzir a queda do polypo. P. das fossas nasaes.— Dividem-se em mucosos ou vesiculares, e emfibrosos. Mucosos. — Symptomas. Em principio eutupimento semelhante ao do coryza incipiente: depois tumor mais ou menos saliente, distineto, produzindo embaraço na res- piração, obrigando o doente a assoar-se freqüentemente e dormir com a boca aberta. Quando o tumor ó mobil, fluctuante e que produz um ruido particular semelhante ao que produz um estandarte (circumstancia que fez Du- puytron dar-lhe a denominação de—ruido de estandarte), o polypo ó fluctuante. Quando, porém, a obliteração das fossas ó completa, e que em conseqüência ha perda de odorato e voz fa- nhosa, o polypo é obliterante. Ha uma terceira espécie, é dos invasores, que per- tencem tanto á classe dos mucosos como á dos fibrosos, porque tôm a propriedade de estender-se consideravel- mente, oecupando toda a fossa nasal, e também de inva- dir as cavidades orbitarias, produzindo inflammação e corrimentos puriformes , com deformação do nariz e face. Fibrosos.—Symptomas. As differenças entre estes e os mucosos dizem respeito quasi somente á sua textura. Quanto ao mais os symptomas são os mesmos, menos a necessidade de assoar quando o ar estiver humido, que é menor. Ha como nos invasores deformação do nariz e face. Tratamento. —Medico. Os medicamentos~que merecem preferencia são : Cale., phosph., staph., teucr., ou : Sep e sil. Cirúrgico. Os meios aconselhados são: exsiccação por meio de qualquer pó adstringente; compressão; despedaça- POLYPOS 179 mento, e sedenho (meios quasi abandonados), catderisação que se faz com nitrato de prata, ligadura, excisão e arran- camento. Estes três últimos meios são hoje os mais usados, sendo o ultimo o preferível. Excisão.—O processo a seguir é o mesmo que o dos polypos do ouvido. A ligadura faz-se com o serra-nó de Graefe (Fig. 90 e 91), com uma ^-^ sonda de Belloc ou mesmo com uma sonda do mulher, da qual se tira a extremidade arre- dondada p ra per- mittir a passagem dos fios. O serra-nó de Graefe tem uma peça de parafuso, na qual se prende a extremidade do fio; a laçada intermé- dia passa na base do polypo; por dentro da porca ha um parafuso terminado infe- riormente em um botão; faz-se cami- nhar esse parafuso até que o fio prenda completa e inteira- Fi8 mente a base do polypo. Os fios podem ser de metal, de seda ou de outra qualquer matéria, eomtanto, porém, que sejão fortes e estejâo encerados. Arrancanicnto. — O arrancamento é feito com pinças,ditas de polypos. Prende-se o polypo entre as suas extremidades e pratíca-se a operação, torcundo-o. Havendo 90.— Serre-nceud de Roderic. Fig. 91.—Serre-nceud de Graefe. 180 POLYPOS hemorrhagia, água fria com vinagre, perchlorurcto do ferro, ou phcnol sodico. Para os polypos fibrosos, de pediculo estreito, c pouco enraizados, os processos são idênticos ; mas, em caso con- trario, isto é, quando são de base larga, a operação ó mais séria, e carece que a via pela qual se tem de seguir para praticar a extirpação do polypo seja augmentada a ponto de permittir: 1 , facilidade do manual operatorio; 2", ablação completa e perfeita do tumor e das partes que, com elle tendo feito corpo, ficarão alteradas. Ha quatro methodos ài augmento das vias prepara- tórias da operação: nasal, bocal, facial e o do Syme. MetJiodo nasal.—Consiste em penetrar a fossa na-ai di- rectamente de diante para trás, dividindo o nariz na parte mé.lia ou lateral, quer na porção molle somente, quer na molle e na ossea, fazendo-so ou não a reseccação do tabique, dos cartuchos, dos ossos próprios ou da apo- physe montante do maxill.tr superior. Este methodo é o seguido pelo Dr. Rampolla quando quer extrahir os po- lypos de pediculo volumoso, situados na base do craneo, e sem ramificações ósseas. MetJwdo bocal.—A incisão staphylina de Dioffenbach, e a reseccação dx abobada palatina de Michaux do Louvain, aperfeiçoada por Nelaton, fazem parte deste methodo, do qual ainda se approxima o processo mixto de Botret. Methodo facial—Yerneuil abre via para o poypo atra- vés do maxillar superior ; o osso é perfurado, ficando in- tacto o pavimento da orbita ou a apophy e palatina ; Plaubcrt, filho, porém, sacrifica todo o osso. O methodo de Syme consiste na incisão do lábio supe- rior. Os inconvenientes deste methodo, que são prin~ cipalmente a pequenez do alargamento do espaço ne~ cessario para que o polypo fique todo a descoberto, © mesmo para que o manual operatorio adquira a facili- dade necessária, fô-lo ser abandonado na maioria dos casos, sendo-lhe preferida a incisão da narina (venta) sobre a face dorsal ou sobre a aza do nariz. Os polypos dos seios frontaes e maxillares não tôm POLYPOS 181 particularidade que demande modificações notáveis destes processos opcratorios. Polypos do larynge.—Symptomas. Quer sejão fi- brosos ou mucosos ha perturbações na phonação, as quaes seguem a marcha correspondente ao desenvolvimento do polypo, começando por pequenas perturbações, fazendo depois rouquidão, e, finalmente, aphonia, que ó mais ou menos considerável e dependente do ponto oceu- pado pelo polypo ; tosse croupal, mais ou menos intensa; dyspnéa constante, umas vezes periodicamente, outras de repente, com accessos de suffocaçâo e esforços para expellir o corpo estranho, sobretudo durante os esforços de expectoração e deglutição dos alimentos sólidos. Os movimentos impressos ao polypo, quer durante a passa- gem dos alimentos, quer pelos esforços referidos, fazem umas vezes diminuir e outras augmentar os symptomas. Quando o polypo é molle o contacto dos alimentos sólidos, ajudado pelos esforços da expectoração, faz serem expcllidas pequenas porções do tumor, e então ha restituição momentânea da voz e da respiração, bem de- pressa seguidas de ruido de sibilo e de válvula. O meio seguro do diagnostico é feito á custa do lai yngoscopio. Tratamento. — Cirúrgico. Os meios operatorios são: txcisão, cauterisação com ferro em braza, esmagamento, torsão e ablação pelo polypotamo. A ablação com o polypotamo é feita como se pratica na ablação das amygdalas: abatida a lingua prende-se o polypo com as lanças do instrumento, e calcando sobre a mola que tem perto do cabo, a guilhotina desce e separa o polypo de seu ponto de implantação. A torsão pratíca-se com a pinça própria de torcer os polypos do larynge. O manual operatorio é o mesmo dos polypos nasaes, differençando-se somente pelo instru- mento. O arrancamento e o esmagamento são feitos também, o primeiro com a pinça de Fauvel, o segundo com pinças próprias. 182 POLYPOS Para se proceder á incisão e á cauterisação dos polypos carece fazer-se previamente a operação da tracheotomia. A tracheotomia deve ser praticada em dous tempos: 1°, incisa-se dous anneis da trachéa e a cartilagem cricoide para que o doente possa respirar; 2o, augmentase a in- cisão até a cartilagem thyroide, feito o que, extiahc-se o tumor, ou cauterisa-se simplesmente com ferro em braza. E necessário deixar a canula na incisão da trachéa por alguns dias para o doente poder respirar livremente. P. do utero.—Symptomas. Ha duas espécies : polypos molles (vesiculares, cellulo-vasculares, vasculares brancos e duros). 1.° P. molles.— Pelo toque do utero encontra-se um tumor saliente, molle, meio fluctuante, elástico quando o polypo é no collo; quando, porém, elles estão dentro da cavidade do utero e são pouco volumosos, o toque nada revela: leucorrhéa, irregularidades da menstruação; ás vezes, menorrhagia e prostração. 2.° P. duros (fibrosos, cartilaginosos, sarcomatosos).— A menstruação apparece umas vezes muito freqüente- mente, e outras com longos intervallos; hemorrhagia depois da época critica (menopause); dores uterinas; leucorrhéa, intumescencia do utero como na prenhez. Quando a moléstia é antiga hemorrhagias freqüentes, abundantes e continuas; anemia. Symptomas de com- pressão sobre os órgãos da bacia pelo utero distendido. Pelo toque vaginal, sendo o polypo intra-uterino, não ha signal evidente; sendo, porém, situado no collo ou em suas proximidades, pediculado, não só é percebido pelo dedo, mas visível mesmo com o soccorro do especulo. Tratamento. — Medico. Contra os polypos do utero tem-se recommendado especialmente staph., e, em alguns casos, cale Cirurocco.—1.° Polypos molles. Quando a expulsão não é espontânea, devida a contracções resultantes da irrita- ção communicada aos nervos do utero pela presença do POLYPOS 183 oorpo estranho, deve-se praticar, pelos meios geraes, o esmagamento, a torsão, a cauterisação ou o arranca- mento simples, que é sempre o preferível. 2.° Polypos duros. Os meios são: torsão, ligadura e excisão. Torsão.—Um ajudante sustenta o utero emquanto o operador funeciona e durante todo o tempo que dura a operação. Se o pediculo do polypo fôr largo, antes de fazer-se a torsão é necessário circumscrever com duas incisões, ou mais, toda a base do tumor; em caso contrario, ou sendo estreito, a torsão pôde ser feita com uma pinça de chapa dentada um pouco larga, de modo que não destrua, por sua estreiteza, o polypo, impossibilitando sua extracção integral. Ligadura.—Ha vários processos que se disputão a preferencia na execução e facilidade da collocação dos fios e nos meios de os apertar; os principaes são: Io, de Desault. Consiste em fazer passar um fio em derredor do pediculo do polypo (que para todos os processos deve suppôr-se poder ser isolado) com o soccorro de duas canulas; uma ordinária, por onde atravessa o fio que tem do servir para dar a laçada no pediculo do polypo, a outra contendo um estylete bifurcado por entre cujos ramos passa o fio depois de feita a laçada; enrola-se o fio na canula, depois de se ter puxado a haste do estylete que atravessa a canula, e torce-se. 2<>, de Mayor (Fig. 92). Com duas ou três hastes de aço ou de barbatana de balôa, terminadas por um pequeno gancho, tendo pas- sado o fio em cada gancho, envol- Fig> 92._processo de M^yor, oaa hastes de vendo com elle a aço ou de baleia terminadas em patas de caran- raiz do polypo; gueijo, 6 canula. depois do que, enfião-se as duas extremidades do bo por uma sonda ôCa, retirão-se as hastes, torec-se os fios, fazendo gyrar sobre si a sonda ôca. 184 POLYPOS cp 3o, de Favrot (Fig. 93). Toma-se duas sondas do gomma elástica cortadas na altura dos olhos; introduz-se as duas extremidades do fio, fa- zem-se passar na raiz do polypo e torcem-se, fazendo-as gyrar uma por outra. Todas estas laçadas devem ser apertadas de 24 em 24 horas, até a queda do polypo, que, de ordinário, se effectua do 6o ao 20° dia. E neces- sari ■, porém, durante esse tempo fazer repetidas ii jecções com água pura ou com cozimento de cha- momilla, tendo tido a indispen- sável cautela de deixar os fios pen- dentes. A matéria de que se deve cempôr os fios é: soda ou linha, porém bem encerada; prata ou metal fáceis de torcer, ou tripa. líxcisão. — Quando o polypo não ó muito volumoso, prende-se por sua parte inferior com as pinças de Museux, puxa-se para a vulva por ligeiras tracções, e corta-se o pediculo com bisturis ou tesouras curvas e fortes. Sendo, porém, muito volumoso, é necessário pra- ticar o desbridamento do collo do Ne^L^ímPH?ad«2 Dtf °' Prender> acto continuo, o dos polypos, modificado polypo com ganchos e fazer trac- por Gooch. çQes fortes, occasião em que se praticão incisões semi-ellipticas na base, se ella fôr larga, e emprepa-se o esmagador de Chassaignac. O processo pôde servir para as tracções. Trata-se a hemorrhagia; sustenta-se as forças da doente e faz-se injecções frias ou tepidas. Repouso até a cura. cb- P0RRIG0 185 PORRIGO. PORRIGNIA, TINHA PORRIGINOSA. Inflammação do couro cnbelludo, de natureza contagio- sa, cara cterisada ora por uma erupção vcsiculo-pustulosa, de côr amarella, e ora pelo desenvolvimento de simples rugosidades ou feridas da epiderme, fornecendo um hu- mor fétido, cuja concreção dá em resultado a formação de crostas escuras, granuladas, furfuraceas, e amiantaceas. É uma variedade do eczema, e do impetigo. Symptomas. Pústulas pequenas, não salientes, amarella- das, deprimidas como embutidas na espessura do couro cabelludo, atravessadas por um cabello, isoladas ou con- fluentes, contendo liquido de cheiro característico de ourina de pato, o qual, á proporção que é secretado, vai promptamente solidificando-se, e produzindo cros- tas de aspecto particular, mas pathognomonico; de- primidas também em seu centro, onde são atravessadas por um cabello; e acompanhadas de rubor da pelle, e de prurido, com queda dos cabellos. A alopecia é incurável e permanente ; engorgitamento dos gânglios lymphaticos do pescoço. Conhecem-se as espécies seguintes: porrigo lupinoso (de Willan), porrigo favoso (de Cazenave, Schedel e ou- tros), tinha lupinosa (de Guy de Chauliac), tinha favosa (de Mahon e Bazin), tinha verdadeira e verdadeiro favus (Rayer), favus vulgaris (de Alibert), que apenas são modificações da precedente, mas abrangidas pela de- finição. Tratamento. Os medicamentos que lhe devem ser ap- plicados depois de se haver arrancado os cabellos com uma pinça, eão : — 1) Ars., alum., cale, merc, mez.,phos; — 2) Baryt, brom., bry., cie, graph., hep., oleand., rhus., sulf, staph. e zine. 186 PRIAPISMO POSTITE. Yide Balanopostite. PRESBYTIA. PRESBYOPIA, VISTA SENIL, VISTA LONGA. Yicio funccional dos olhos no qual os affectados vêem melhor os objectos de longe do que de perto, ou quando os vidros convexos corrigem este defeito da vista. Tratamento. O tratamento é palliativo, apezar de Warton-Jones citar factos de cura desta affecção. O meio mais seguro ó o uso de óculos ou lunetas de vidros convexos, adaptados á visão, tendo a cautela de não mudar de gráo senão quando os actuaes já não prestem absolu- tamente. PRIAPISMO. Erecção permanente e dolorosa do penis, sem desejo do coito, devida á nevrose do plexus spermatico e dos ramos genito-cruraes com orgasmo do tecido erectil da parte. PR00T0PT0SE 187 Tratamento. Os melhores medicamentos são: Canth., coloe, graph., natr., natr.-m., n.-vom., phos., plat., puls., rhus., sil, ou ainda: Cann., ign., kal, nitri.-ac, op., phos.-ac, stapJi. e thui. Dietetico. Dieta láctea vegetal; banhos frios, locções frias. Quando o priapismo fôr symptomatico de dartros sobre os órgãos genitacs, de bemorrhoidas, de onanismo, do uso de cantharidas, e cálculos vesicaes, o tratamento deve ser o apropriado a cada uma das affecções que o fez appa- recer. PROCTAEGIA. Dôr nevrálgica no recto e ânus. Tratamento. Os melhores medicamentos são: — 1) Ars., merc, puls., sulf.; — 2) Asar., cale, caus., mere-e, natr.-m., rut.; —3) Coloe, ign., n.-vom.; — 4) Con., gran., grat, lach., mang., mere-ac, natr., sil. e sulf.-ae PROCTOPTOSE. PROCTOCELE. Queda, prolapsus, ou reviramento da membrana in- terna do recto. Esta affecção ó devida á falta de energia do sphincter anal, a qual permitte a procidencia do intestino recto 188 PROSOPALQLA com todas as suas partes ou somente a mucosa revirada, através do ânus. É muito freqüente nas crianças. Os adultos e os velhos também são mais on menos sujeitos a ella. Tratamento. —Cirúrgico. Reducção, a qual se obtém praticando o taxis, como se disse para as hérnias. De- pois comprime-se com fios, e mantem-se o apparelho com uma atadura em T. Quando a queda do recto tende a reproduzir-se freqüentemente, e que o relaxamento do sphincter é tal que faça perder as esperanças de poder ser tonificado ao ponto de impedir a sahida do recto, deve-se praticar a excisão do tumor, tirando as pregas raionadas que terminão o recto. Medico. Os melhores medicamentos são: Ign., n.-vom., merc e sulf Para destruir a disposição a esta enfermidade: Ars., cale, lyc, rut. e sep. A queda do recto nas crianças exige principalmente: Ign. ou n.-vom. PROCTORRHAGIA. Yide Hemorrhoidas. PROSGPALGIA. TICO DOLOROSO DA FACE. Dôr nevrálgica na face, com particularidade em um só lado. O tico doloroso ó a variedade da prosopalgia ou da nevralgia facial, ou do quinto par de nervos, que se PROSOPALGIA 189 caracterisa por dôr mais ou menos intensa, partindo dos buracos superciliarios, para dahi se espalhar para a fron- te, a palpebra superior, a sobrancelha, a caruncula la- grimal, o angulo interno ou nasal das palpebras, e para a palpebra inferior. Estas dores podem provir tanto da impressão do ar frio ou de chuva, estando suado, como da presença de um dente cariado. Elias são, de ordinário, intermittentes, e raramente produzem rubor, calor e inchação. Estes phenomenos observáo-se, ao contrario, se os filetes do grande sympathi- co, que acompanhão o trifacial, são também affectados da lesão que atacou o quinto par propriamente dito. Tratamento.—§ 1.° O melhor tratamento é o emprego dos medicamentos seguintes: — 1) Acon., agar., bell, caus., coloe, con., Jiep., kalm., lyc, merc, mez., n.-vom., phos., plat., spig., staph., ou:—2) Bry., cale, caps., cliin ,puls., rhus., stann., sulf, thui., veratr.;—3) Act., arn., aur., ars., baryt., cham., coff., kal, kal.-cJi., magn. e magn.-m. § 2.° Para as prosopalgias inflammatorias são:—1) Acon., arn., bry., phos., staph., sulf.;—2) Bar.-e, bell, lach., merc, plat, thui. e veratr. Para as rheumatismaes, os medicamentos são: — 1) Acon., caus., chin., merc, mez., phos., pids., spig., sulf.; —2) Arn., bry., Jiep., lach., magn., n.-vom. o veratr. Para as prosopalgias arthriticas: Caus., coloe, merc, n.-vom., rhus. e spig. Para as nervosas, o tico doloroso propriamente dito, ou nevralgia facial, são de preferencia: — 1) Bell, caps., lyc, plat., spig., mags.-ars.;—2) Hyos., lach., mag. e n.-vom. Para as prosopalgias por abuso do mercúrio: Aur., carb.-v., chin., hep. e sidf. Para as que apparecem nos moços, e principalmente nas n.oças plethoricas, são: Acon., bell, ou: Cale, chin., lach., pJws. e plat Nas pessoas nervosas: Bell, lach., lyc, plat espig. 190 PROSOPALGIA § 3.° É conveniente procurar para a applicação do caso presente aquelle que tiver similitude de symptomas com os medicamentos seguintes: Aconitum, se a face estiver vermelha e quente, com dores de ulceração, que não oecupão senão um lado; inchação da face; calor febril e sede; exasperação e agitação. Belladona, se as dores seguirem o trajecto do nervo super-orbitario, as quaes podem ser facilmente provocadas pelo attrito da parte doente; ou se houver dores lanci- nantes nes ossos, nas maxillas ou nos pomos; rijeza de nuca; espasmos das palpebras ; repuxamcntos convulsivos dos músculos da face, e distorsão da boca; face quente e vermelha. Causticum, havendo dores tensivas ou pulsativas na face, sobretudo nos pomos, com uma espécie de paralysia dos músculos faciaes; ou dores nas maxillas, que impedem abrir a boca; dores nos membros e zumbido nos ouvidos. Golocynthis, contra dores lancinantes que oecupão um só lado da face e se propagão á cabeça, nariz, ouvidos e dentes, com face inchada, aggravando-se pelo menor contado. Conium, se as dores apparecerem á noite. Hepar, sendo as dores nos ossos da face (pomos), aggravando-se á pressão. Lycopodium, contra dores que começão por uma sensa- ção de frio, e oecupão principalmente o lado direito da face, aggravando-se á tarde ou á noite. Mercurius, quando as dores forem lancinantes e des- pedaçadoras e que affectem um lado todo da cabeça, desde as têmporas até aos dentes, aggravando-se principalmente á noite pelo calor da cama, com salivação, lagrimejamento, suor na face ou na cabeça; insomnia. Mezereum, contra dores crampoides e torpentes, oceu- pando o pomo esquerdo e propagando-se até o olho, a têmpora, o ouvido, os dentes, pescoço e espádoa, aggra- vando-se ou renovando-se depois de ter comido cousas quentes. PR0STAT1TE 191 Nux-vomica, contra dôrcs despedaçadoras até o ouvido, com inchação da face; rubor da face ou de um dos lados somente, maxime em derredor do nariz e da boca; formiga- mento na face, com palpitação dos músculos; aggravação das dores pelo trabalho, pelo vinho e pelo café. Platina, sendo as dores formigantes, com sensação de frio e torpor do lado affectado ; aggravando-se as dores á noite e no repouso. Spigelia, havendo dores, ardor e pressão nos pomos; dores violentas aggravadas pelo menor contacto ou movi- mento, com inchação luzente do lado affectado, ou com augusta de coração, e agitação. Staphysagria, contra dores ardentes, lancinantes com sensação de inchação no lado affectado; mãos frias e suor frio na face. PROSTRAÇÃO DAS FORÇAS. Yide Asthenia. PROSTATITE. Inflammação da próstata. Divide se em aguda e chronica. Prostalite aguda. — Symptomas. — Locaes. Em começo da inflammação o doente sente apenas peso no perifaêo e sensibilidade exagerada na occasião de defecar, sensibilidade que se pronuncia cada vez mais quando se introduz um dedo no ânus para reconhecer o volume da 192 PRURIDO próstata; desejos freqüentes de ourinar, com emissão dolorosa; e augmento reconhecível da glândula (próstata). Dias depois apresenta-se dôr gravativa, que se estendo ao recto e penis, com desejos freqüentes de ir á banca, os quaes, sendo satisfeitos, as dejecções são extremamente dolorosas; dysuria e corrimento muco-purulento pela uretra, com tenesmo vesical. Geraes. Yarião segundo o gráo da inflammação, tanto mais intensos quanto, se, em vez de ser somente a mucosa affectada, é todo o parenchyma da glândula. B*. clironica. —Symptomas.—Locaes. São os mesmos que os da aguda,, porém com menos intensidade; poso no ânus; desejos freqüentes de ourinar, e dysuria; esta fôrma é a mais freqüente; o toque rectal, porém, produz menos dores, e a próstata é encontrada menos augmentada de volume (hypcrtrophiada): prostatorrhéa. Geraes. Estes são quasi nullos; ha, porém, dyspepsia, constipaçao alternando com diarrhéa, emmagrecimento e anemia. Tratamento. —Cirúrgico. Havendo formação de abscesso na próstata, vêr se pôde romper-se pela uretra, empre- gando para isso uma sonda metallica, a qual serve ainda para dar sahida ao pús. Se, porém, o abscesso fizer saliên- cia para o lado do recto, abri-lo por esse lado com um bisturi ou um trocate. Msdico. Os melhores medicamentos são: Puls., alum. ou benz.-ac. PRURIDO. O prurido é uma sensação insólita de coceira, com ou sem dermitoscs, produzindo excoriações na parte affe tada, e insomnia, com dôr ora espontânea, ora PRURIGO 193 augmentada pelo toque, e pela satisfação dos desejos de se cocar. O prurido pôde ser essencial, quando devido a ex- cesso de excitação nervosa (Nevralgia), ou symptoma- tico de lesões da pelle, da presença de ascarides no ânus, e mesmo de hemorrhoidas, etc. Ha duas espécies que chamão particularmente a at- tencão do pratico : são, prurido anal, e vulvar. 1.° Prurido do ânus ou nevralgia anal. — Symptomas. Coceira no ânus, mais intensa de noite, na cama, do que de dia, de tal fôrma insupportavel que obriga o paciente a coçar-se independentemente de sua vontade, com ou sem mudança de côr na parte; no primeiro caso pelle vermelha ou azulada, dores violentas, apparecendo com intervallos variáveis, augmentadas pela satisfação da coceira, lancinantes, ardentes, produzindo tenesmo anal e vesical pela localisação (em certos casos) no collo da bexiga. Quando existem hemorrhoidas externas o prurido localisa-se nellas ; insomnia. Tratamento. Yide Prurigo anal. 2.° Prurido da vulva ou nevralgia vulvar.— Coceiras ás vezes atrozes, produzindo excoriações, desejos venereos e hábitos viciosos, com insomnia, dôr ora es- pontânea e ora provocada pelo coito e pelos toques viciosos. Tratamento. Yide» Prurigo vulvar. PRURIGO. Erupção de papulas isoladas da côr da pelle, com ooncreção sanguinea no vértice, não contagiosa, mas produzindo coceira muito viva, e ás vezes insupportavel; mais largas e mais extensas que as papulas do lichen. d. h. ii *3 194 P^EUDARTHROSE Symptomas. Couhecem-se varias e.-pecies, que são : Prurigo mitis, quando a coceira é ligeiia; Prurigo for- micans, quando as papulas são largas, salientes, e que produzem coceira insupportavel; Prurigo pedicular , quando tendo os symptomas do precedente é acompa- nhado de desenvolvimento considerável de piolhos nas partes dotadas de pello ; Prurigo pudendi, quando ua papulas se desenvolvem nas partes genitaes do homem e em derredor da vulva ; e Prurigo podicis, quando affecta a maigem do ânus. Tratamento. Os melhores medicamentos são em geral : — 1) Cale, hep., merc, nitri.-ac, sep., sulf;—2) Carb.- v., con., natr.-m., sil.;— 3) Alum., ambr., amm., baryt , caus., coce, graph., lyc, phos., rhus. e thui. Para o prurigo pudendi quando affecta o escroto, ou prurigo scroialis, principalmente : — 1) Duk., nitri.-ac.. rhod., petr., sidf.; — 2) Ambr., carb.-v., caus., graph., lyc. e thui. Para o do ânus: — 1 ) Merc, nitri.-ac, sep., sulf. e tívui.; — 2) Alum., amm., baryt, cale, carb.-v., caus., kal, lyc e zine; — 3 ) Phos. e sil Para o prurigo da vulva ou prurigo vulvar : — 1 ) Cale, carb.-v., con., natr. m., sep. e sulf. ; — 2 ) Ali.m., ambr., amm., merc, nitri.-ac e rhus. Local. Cuidados de asseio ; lavagens re, etidas com água e sabão; unturas com glycerina; banhoó frios. PSEUDARTKROSE. FALSA ARTICULAÇÃO, ARTICULAÇÃO ANORMAL. A pseudo rtfhrose é a articulação formada acci- dcntalmente por effeito da falta de reunião das super- fícies irregulares de um esso fracturado. Gerdy dividio-a em tres espécies, que são: PSEUDARTHROSE TJô T espécie. — Pseudarthrose endurecida ou synovio-car- íilaginosa, quando os fragmentos se encrustão de uma cartilagem accidental que impele que elles se soli- difiquem, embora impeça também sua destruição, r^u- nindo-se ; e sendo cobertas as duas extremidades dos fragmentos de uma cápsula synovial fibrosa, cuja se- creção tem por funeção lubrifica-las; ou quando estas extremidades se cobrem de uma lamina óssea em fôrma de concha que as separa, e lhes permitte augmentar de volume por vegetações ósseas que se desenvolvem; phe- nomeno que nem sempre sj observa, porque ás vezes também diminuem, adelgaçando-se. 2a espécie.— Pseudarthrose fibrosa, que é quando os fragmentos, sem se reunirem, ficão, todavia, presos por um tecido fibroso mais ou menos resistente, approxi- mados, ou gozando de movimentos extensos, semelhantes aos das articulações melhor dotadas. 3a espécie—Pseudarthrose molle, quando entre as ex- tremidades fracturadas se interpõem carnes, tornando in- dependente um fragmento do outro, e sendo a cicatrisa- ção produzida nelles de modo a fazer as extremidades arredondadas. Ainda se chama pseudarthrose á modalidade de união entre as extremidades articularcs luxadas, mas não re- duzidas. Tratamento.—Cirúrgico. Quando a pseudarthrose é ef- feito de uma luxação antiga, ha dous alvitres: Io, res- peitar a enfermidade, reconhecendo-se a impossibilidade absoluta da reducção ; 2 , reduzir a luxação pelos meios propostos, aconselhados no artigo respectivo. Quando é uma fractura a causa: pôr os fragmentos em relações favoráveis á reunião, ainda que para isso se ca- reça de meios enérgicos, e provocar um trabalho inflam- matorio na paive, por meio de attritos e sedenhos, de- pois do que — compressão methodica. Em ultimo caso resecção, affrontando-se perfeitamente as superfícies pro- duzidas. Medico. O aconselhado para as fracturas em geral. 196 PSORIABIS PSOITE. PSOITIS. Inflammação do músculo psoas e sua bainha cellulosa, por causa rheumitismal, traumática, ou por contiguidade dos órgãos vizinhos, com ou sem suppuração. Yide para descrípção e tratamento: Abscessos da fossa iliaca. PSORA. Yide Sarna. PSORIASIA CRUSTÁCEA. Yide Eczema PSORIASIS. HERPES FURFURACEO, DARTRO FURFURACEO. O psoriasis é uma affecção da pelle caracterisada por placas irregulares, salientes, não deprimidas no centro, cobertas de escamas finas e sêccas, de côr branca, scin- tillante, com descamacão successiva, devida á inflammação PSORIASIS 197 chronica da pelle, não contagiosa, e produzindo espessa- mento deste órgão. Symptomas.—Locaes. Escamas epidérmicas, sêccas, es- pessas, laminosas, com ou sem coceira, embricadas, de fôrma e extensão variáveis, branco-embaciadas ou argen- tinas, adherentes á pelle, cobrindo uma superficie espessa e saliente, de côr vermelho-escura. Segundo a fôrma e o ponto onde se desenvolve o pso- riasis recebe denominação especial, e fica constituindo uma variedade. Assim chama-se : Psoriasis guttata.— Quando a erupção se faz em pontos isolados mais consideráveis, offerecendo na parte central uma escama sêcca, ligeira e branca, simulando gottas d'agtia, occupando superfícies consideráveis do tronco e da face externa dos membros, cujos caracteres physicos ficão alterados. P. punctata.—Quando elle se desenvolve em fôrma de saliências ponctuadas. P. gyrata.— Quando se desenvolve em fôrma de fitas, tendo descamacão fina, cinzenta, ou destacando lentamente. P. circinata ou lepra vulgar.—Quando se des- envolve em discos mais ou menos regulares, tendo o centro são. P. invetera ta. — Quando as escamas são abun- dantes, mas substituídas rapidamente por uma poeira farinosa, mostrando a pelle subjacente fendida em todos os sentidos, com as fendas muito unidas e confundidas entre si. A pelle torna-se espessa e escamosa, desigual, rugosa e saliente. Os movimentos são difficeis e quando effectuados produzem ruptura dos tecidos e corrimento de sangue. Ha como conseqüência rigorosa, deformação das partes affectadas;—sendo as mãos—queda das unhas. P. labialis. — Prceputialis, scrotalis, vulvaris, pal- maria , dorsalis e unguium, conforme a parte affec- tada. Tratamento.— § 1.° Os medicamentos que devem ser 198 PSYDROCIA oppostos a esta erupção, são em geral :—1) Ars., cale, cie, ciem., dule, led., lyc, m«.rc, sep., sulf.;— 2) Bry., caus., graph., mur.-ae , nitri.-ac., oleand., petr., phos., rJius., thui.; — 3) Aur., cupr., magn.-c, sass. e zine § 2.° Para o psoriasis infantil : Cale, cie, lyc, merc e sulf. Para o psoriasis inveterado: — 1) Ciem., sulf. ;— 2) Cale, merc, petr., rhus., sep. ;—3) Ars. Para o psoriasis syphilitico : — 1) Merc.;— 2 ) Ciem., sass., sulf.;—3) Lyc, n.-jugl, nitri.-ac e thui. § 3.° Para o psoriasis palmaris:—1) Ciem., mur.-ae, sulf.-ac, zine;—2) Aur., cale, graph., Jiep., merc, petr., sass., sil. e sulf. Para o psoriasis labialis : tendo os lábios gretados e ulcerados: —1) Merc, natr.-m. ; — 2) Bell, cale, graph., mez., niiri.-ac, pJios., sep. e sil. Para o facialis:—1) Cale, sulf.; —2) Graph. , lyc e sep.; —3) Bry., cie, led., merc e oleand. PSYDROCIA. A psydrocia é uma erupção, não contagiosa, em fôrma de sarna, mas sem ser dotada de acarus, de ordinário symptomatica de diversas affecções chronicas. Tratamento.—Dietetico. Regimen refrigerante : asseio, banhos frios, de rio e de mar. Medico. Os melhores medicamentos são:—1) Merc, sulf. ;—2) Ars., bry., bell, caus., carb.-v., cale, dule, lyc, natr., nitri.-ac, sass , sill. e zine PTÉRYGION 109 PTERYGIOSÍ. Chama-se ptérygion uma prega da conjunetiva vascu- larisada e com espessamento, em fôrma de triângulo, cujo vértice corresponde ou está fixado sobre o annel conjunctival ou sobre a cornea, e cuja base corresponde á oircumferencia do globo do olho ou ^-^^ A ''ul-de-sac-eonjunctival (Fig. 94). **^?fr-Y Ha duas espécies de ptérygion: Io, tênue """^sX'' ou membranoso; 2o, espesso, musculoso ou sarcomatoso. O primeiro é fino e semi-trans- parente; o segundo espesso e carnudo. ^sS^ Ambos, porém, não adquirem adherencias £.„ á sclerotica superiores ás que existem entre a conjunetiva e aquella membrana. O ptérygion pôde invadir a conjunetiva corneal em tal extensão que impossibilite a visão. Ás vezes ambos os lados (temporal e nasal) do irnsmo olho podem ser affec- p. Q4 _ Ptér[. tados de ptérygion. gyon. Tratamento.—Cirúrgico. O. mais seguro é a operação, que é feita da seguinte fôrma: prende-se pelo centro o ptérygion com uma pinça fina de garras ou dentes de rato; levantado, atravessa-se com um bisturi de duplo corte ou com uma faca de catarata, com o cortante voltado para a cornea; disseca-se até ao ponto da cornea, onde elle está preso; suspende-se o retalho e continua-se a dissecação até á base, tendo a cautela de não cortar muito perto da prega semi-lunar, se elle fôr no angulo interno. Depois da operação applicão-se compressas de água fria. 200 PURPURA PTYAEISMO. SALIVA ÇAO, STOMATITE MERCURIAL. O ptyalismo é a irritação inflammatoria especifica das glândulas salivares e dos folliculos da membrana mucosa da boca, por effeito do uso exagerado ou intempestivo do mercúrio e suas preparações. Outras vezes ó o effeito ou symptoma de affecções nervosas. Em ambos os casos ha excesso de secreção de saliva. Tratamento. Os principaes medicamentos são: — 1) Bell, cale, canth., colch., dule, euphr., hep., iod., lach., merc, nitr.-ae, Op., sulf;—2) Alum., ambr., ant, arg., baryt, bry., caus., cham., cJdn., dros., graph., hell, hyos., ign., ipec, lyc, natr.-m., puls., seneg., sep., staph., stram., sulf.-ac e veratr. Existindo a moléstia, especialmente pelo abuso do mer- cúrio ou de suas preparações, são : Bell, dule, hep., iod., lach., nitri.-ac, op. e sulf. PUNEZIA. Yide Ozena. PURPURA. Yide Hemacelinose. PYROSIS 201 PUSTUEA MALIGNA Yide Anthrax. PYET1TE. CÁLCULOS NOS RINS. Yide Nephrite, Cálculos. PYROSIS. SODA, FERRO QUENTE. Nevrose do estômago, caracterisada por eructação de um fluido limpido e ácido, produzindo sensação de calor ardente no estômago, oesophago e garganta. A pyrosis também é symptomatica da gastrite chronica. Symptomas. Sensação de um corpo quente e irritante no estômago, prolongando-se por todo o cesophago e garganta; excreção de saliva abundante e limpida, 202 PYROSIS ordinariamente quente e ácida, ao ponto de produzir ardor insupportavel na garganta ; náuseas, flatuosidades, sôde, fome excessiva, cephalalgia e constipaçao. Tratamento.—Dietetico. Remover a causa que a tiver produzido ; proscrever a alimentação de substancias gor- das, de fritadas, de queijos ardidos e comidas de salmoura. Prescrever dieta láctea e vegetal ; alimentação pouco abundante e ligeiramente tônica. Medico. Os medicamentos contra esta nevrose são: —1) Alum,, cale, chin., con., croc, lyc, natr.-m., n.-vom., ox.-ac, puls., sulf.;—2) Bell, caps., carb.-an., caus., citam., dule, graph., hep., ign., iod., kal, merc, nitri.-ac, phos., sabad., sep., sil., staph. e veratr. Q QUEIMADURAS. A queimadura é a lesão produzida pela acção mais ou menos prolongada e intensa do calorico sobre uma parte qualquer do corpo humano. Symptomas. Dividem-se em geraes e locaes. Locaes. Dôr e colorisação variáveis segundo o agente que a produzio, a sede e o gráo. Divide-se em seis gráos, que grande numero de vezes se confundem. Io gráo. Erythema ou inflammação superficial da pelle sem phlyctenas. 2.° Inflammação da pelle com vesiculas ou bolhas. 3.° Fôrma gangrenosa, não interessando mais que o oorpo mucoso. 4.° Forma gangrenosa, interessando toda a pelle até o tecido cellular. 5.° Fôrma gangrenosa, interessando todos os tecidos até os ossos. 6.° Carbonisação completa. Geraes. Yariaveis segundo a extensão e o gráo da queimadura; a dôr c os symptomas geraes são mais notá- veis nas duas primeiras fôrmas, algumas vezes delírio, 204 QUEIMADURAS febre intensa; no correr da moléstia, reacção inflamma- toria produzida pela queda das escaras; depois melhora ou esgotamento pela abundância da suppuração. Tratamento. Os meios aconselhados para a cura das queimaduras são de duas ordens. locaes e geraes. Os locaes varião segundo o gráo da queimadura e sua sede. Estes meios ainda demandão cuidados assíduos na época da cicatrisação, com o fim de evitar deformação de membros e outras partes do corpo por viciação da cicatriz. Locaes. No Io gráo ou fôrma, immersão prolongada da parte queimada na água fria, ou applicação freqüente de compressas embebidas de água fria ou de uma bexiga cheia de gelo ; colodion elástico, claras de ovos, etc. No 2o, poupar a epiderme;não tira-la;não romper senão tarde as phlyctenas com uma agulha, conservando a epi- derme; os mesmos tópicos que no 1° gráo, se a epiderme estiver conservada, senão; glycerina, azeite doce ou óleo de linhaça; claras de ovos batidas; algodão cardado, etc. Nos outros gráos: esperar e vigiar a suppuração e a il- uminação das escaras; tirar com cuidado as partes mor- tificadas; lavagens freqüentes com água alcoolisada e com água phenicada, no caso de cheiro gangrenoso. Yigiar a queda das escaras e as hemorrhagias consecutivas. Geral: — 1) Ars., caus.;— 2) Acon., carb.-v., lach. e stram. Para as convulsões e tetanos que seguem ás vezes as queimaduras, se arn. não bastar, ang. ou coce A febre traumática cede ordinariamente á arn. ou a acon., e não será senão muito excepcionalmente que ha- verá necessidade de recorrer a rhus. ou á bry. Para terminar ó de absoluta necessidade collocar as partes queimadas de fôrma a prevenir a cicatrisação vi- ciosa e as adherencias ou a obliteração das partes, o que se obtém applicando compressas enduzidas de cerôto, de fio?, etc, etc. QUEIMADURAS 205 As queimaduras nas mãos ainda reclamão os seguintes meios especiaes locaes: Para a face palmar: prevenir a rctracçâo da aponevrose» empregando con actividade os meios acima enumerados; para os dedos'.conserva-los bem separados uns dos outros para prevenir sua adherencia, estendendo-os sobre uma prancha de madeira que tenha a fôrma da mão e ficando tão afastados quanto possível. R RACHIAEG3A. Yide Colica de chumbo. RACHITIS. RACHITISMO, NOUURE, GIBOSIDADE. Perturbação geral da nutrição do organismo, principal- mente da osteose, caracterisada pelo amollecimento e de- formação dos ossos nas crianças, e predominância do sys- tema lymphatico. Symptomas. A raXitis tem três periodos, que são: 1% período de incubação; 2o, de deformação; 3o, de termi- nação. Io período.— Incubação. Mudança notável de caracter* o qual de alegre e vivo que era, torna-se triste, inquieto, grave e indolente. Os movimento.s e os brincos próprios da idade fatigão a criança e produzem-llie dores nos os^os. RA CHI TIS 207 e nos membros; as caricias dos pais a aborrecem; ella em- magrece, empallidecc e conserva uma humidade habitual no corpo; suores nocturnos abundantes, maxime na ca- beça ; estado febril. Appetite exagerado; diarrhéa e ourinas com deposito seclimentoso, carregadas de carbo- nato do cal; ventre e cabeça augmentados de volume, fra- queza; respiração freqüente; inchação dos pés e mãos. A dentição pára ou desenvolve-se irregularmente. 2" período.— Deformação. Dores espontânea?, intensas ; embaraço da respiração; respiração diaphragmatica; de- formação; gibosidade: perturbações digestivas; andar dif- ficil, característico; diarrhéa obstinada; febre; insomnia; enimagrecimento incessante e rápido. 3°'período.—Terminação. Deformidade completa nos casos fataes, e quando os recursos não forão empregados a tempo; melhora; irregularidade das funcções physiolo- gicas e dcsapparecimento dos depósitos das ourinas, quando tratado convenientemente. Tratamento.— Dietetico e prophylacth o. Aleitamento estimulante e são; alimentação tônica e reparadora; car- nes assadas; manteiga, ovos, vinho generoso; água vi- nhosa para bebida ordinária; exercício ao ar livre, ao sol; gymnastica; morada no campo; leito duro para dormi Ia, sem colchão ou com um de folhas quentes e ásperas; ves- timentas de flanella sobre a pelle e largas; fricções na es- pinha sêccas e de álcool; não sahir de casa senão depois do sol alto; muito asseio. Medico. Os melhores medicamentos são, em geral:—1) Asa,, bell, cale, lyc, merc, puls., sil, staph. e sulf.;— 2) Mez., nitri-ac, n.-jugl, petr., pJios., plios.-ac e rJius. Para o desvio da columna vertebral, além dos appare- lhos orthopedicos apropriados : Bell., cale, puls. e sulf. Para a curvadura dos ossos cylindricos, e para inchação das articulações: Asa., ca7c, sil. e sulf. Contra o augmento considerável de volume da cabeça nas crianças, na primeira idade, com fontanellas que tar- dão a fechar-se: Cale, puls. e silic. Yeja também Escrophulas e Osteite. 208 ranula RAIVA. Yide Hydrophobia. RANUEA. KYSTO SUBLINGUAL. A ranula é um tumor oblongo, transparente, molle, outras vezes duro, indolente, fluctuante, collocado no trajecto do canal de Warton ou no pavimento da boca, produzido pela retenção da saliva, effeito do espessamento desse canal, com ou sem ulceração, tendo a propriedade de impossibilitar ou difficultar os movimentos da lingua, a aphonação, a deglutição e a palavra. Tratamento.—Medico. Os medicamentos que até hoje tem sido empregados com melhor resultado são: Cale, merc, thui., ou: Amb. e staph. Cirúrgico. Quando o tratamento medico não tem pro- duzido effeito deve-se usar do seguinte: puncção; incisão ; cauterisação com um ferro em braza; pequeno tubo de drainage; incisão, com tesoura, de uma parte importante do tumor; puncção e injecção de tintura de iodo (uma parte para oito d'agua), tendo a cautela de preservar da acção do iodo, tanto quanto possivel, a cavidade bocal. RETINITE 209 RECTO-EEYTROCÉEE. RECTOCÉLE- VAGINAL. Saliência maior ou menor da patede posterior da va- gina, formando tumor, resultado do alargamento, relaxa- ção ou depressão da parede anterior do recto, tendo mudado de relações. Tratamento. Sustentar os tecidos relaxados por meio de pessarios ou tampamentos da vagina. Cauterisação superficial com nitrato de prata; ablação parcial e exci- são das mucosas do recto e da vagina. Injecções frias de água pura ou alcoolisada. RETENÇÃO DE OURINAS. Demora forçada por obstáculo mecânico ou espasmo- dico, com accumulação das ourinas na bexiga. Para mais pormenores e tratamento vide Ischuria. RETINITE. Inflammação da retina. Como inflammação primitiva é raro encontrar-se na pratica a retinite, porque ella se complica, acompanha, ou é complicação da inflammação 210 RETINITE das outras membranas internas do olho. Todavia os meios ophtalmologicos modernos tem demonstrado que se pôde algumas vezes encontrar, e ser segregada da inflam- mação das outras membranas, autorisando assim as clas- sificações intentadas. Segundo sua sede, a retinite divide-se em sorosa ou aguda, e parenchymatosa. Esta subdivide-se em retinite interslicial ou diffusa, em perivascidar e neuro-retinite ou circumscripta. Segundo as causas que a podem produzir, divide-se em apopletica, syphilitica e nephretica. Ha ainda a pigmentar, apezar da difficuldade de a is; lar da inflam- mação da choroide, que ella acompanha. Retinite sorosa ou aguda. — Symptomas. Dôr viva, intensa, na cabeça e no fundo d.i orbita; sensibi- lidade exagerada do olho affectado com photophobia e lagrimejame. to excessivo; fantasmas luminosos; dôrten- siva e despedaçadora em todo o globo do olho ; sclerotica injectada; pupilla contrahida ; febre e anciedade; extincçáo da vista por effeito dos depósitos plásticos na retina, ou por suppuração. Por inútil não se deve proceder a exame com o ophtalmoscopio : Io, pela impossibilidade do doente supportar a menor acção da luz; 2", porque a anesthesia da retina não pôde ser percebida pelo instru- mento, ainda mesmo que o doente a pudesse tolerar. Quando a inflammação não tem logo em começo toda a intensidade que pôde adquirir — o doente accusa em principio uma nuvem cinzento-esbranquiçada que lhe offusca a vista, a qual por effeito da continuação dos raios luminosos acaba por alterar ou fazer desapparecer as imagens que lhe são apresentadas. A gradação da perda da vista vai-se fazendo pouco e pouco em relação com a cópia de exsudatos derramados no campo da retina. O aspecto exterior do olho, porém, conserva sua nor- malidade. Esta retinite, depois de algum tempo, por contiguidade, passa á fôrma mais commum, que é a parenchymatosa. R. parenchymatosa. — E a fôrma mais grave da inflammação, porque tem a propriedade de destruir por RETINITE 211 degenerescencia gordurosa, a retina, deixando em seu lugar apenas uma trama muito fina do tecido cellular, percorrida por alguns vasos. T espécie.—Retinite intersticial ou diffusa. Esta inflam- mação ataca toda a retina, affectando ora as camadas internas — o que a faz communicar-se ao corpo vitreo — ora as camadas externas, estendendo a inflammação á choroide. Os demais symptomas são os da aguda. 2a espécie.—Retinite perivascular. Nesta espécie são os vasos da retina que soffrem toda a alteração, sem mu- dança dos symptomas da retinite em geral. O ophtal- ínoscopio só apresenta como alteração uma opacidado geral da retina no ponto de entrada do nervo óptico, cujo contorno desapparece completamente; as artérias dimi- nuídas de volume, e as veias augmentadas e tortuosas. 3* espécie.—Neuro retinite ou retinitis circumscripta. Esta localisa-se na entrada do nervo óptico e nos contornos da papilla; o ophtalmoscopio denuncia, em começo da moléstia, uma simples turvação da retina na vizinhança e nos contornos da papilla. As veias retinianas augmentão de volume e tornão-se muito flexuosas perto de sua emer- gência; notão-se também ecchymoses esfriadas ao longo desses vasos. Depois a turvação da retina augmenta, tornando-se saliente a colorisação violacea da papilla, a qual é em toda a sua extensão atravessada de estrias; os vasos desapparecem por effeito da opacidade da retina. A papilla, porém, proemina muito para diante, apresen- tando no centro placas branco-amarelladas, que se pro- longão para os bordos por emanações filiformes. Emfim, todas estas alterações augmentão de intensidade com o progresso da moléstia, ao ponto de fazer desap- parecer a papilla e atrophiar o nervo óptico. Tratamento. O que se segue é applicavel tanto á re- tinite aguda ou sorosa como á parenchymatosa. Hygienico. O doente deve conservar em repouso abso- luto a vista, ainda mesmo na obscuridade. Deve usar de óculos azues e ficar, por todo o tempo do tratamento, em 212 RETINITE um quarto escuro, de preferencia ao uso dos pannos pretos sobre os olhos; porque estes tem a propriedade de pro- duzir ligeiras congestões para a parte. Cirúrgico. Sangrias locaes com a ventosa de Heurtc- loup, se o estado geral do individuo (anêmico) não as contraindicar, porque neste caso são preferíveis então duas a três ventosas sêccas por semana applicadas na nuca: pediluvios e transpirações prolongadas. Medico— Os melhores medicamentos são:— 1) Acon., bell, merc,phos., puls., sulf.;—2) Ars., cale, caus., cham., euphr., hep., ign., lach., nitri.-gl, n.-vom., rhus., sep., spig., valer, e thui. R. apopletica.— Aos symptomas da retinite so- rosa resta acerescentar o seguinte para completar a symptomatologia da de que tratamos agora. O ophtal- moscopio mostra os contornos da papilla diffusos, ainda sensíveis em alguns pontos : os vasos, principalmente as veias, muito Üexuosas, contendo uma porção de focos apopleticos ao longo de suas paredes; estes focos tem a fôrma estriada. Muitas vezes quando o sangue derra- mado éem grande abundância, infiltra-se por entre a re- tina e a cboroide e vai formar em algum ponto da super- ficie destas membranas um foco maior e de paredes mais espessas, onde se pôde alterar diversamente. Estas alterações vasculares produzem mudanças na funeção do órgão, caracterizadas por turvação da vista. mais ou menos considerável, segundo o gráo de alteração maior ou menor soffrida pela mancha amarella e seu contorno. Se, porém, os derramamentos sangüíneos se fazem nesse ponto, a vista diminue rapidamente, para reapparecer lentamente com a volta ao estado normal. O doente accusa por occasião da moléstia um corpo opaco que se interpõe entre a vista e todos os objectos que lhe são presentes. A retinite apopletica é moléstia curavel, se o estado geral do individuo não estiver de tal fôrma deteriorado que necessite longa demora de tratamento, porque neste caso a cura ó quasi impossível. RETINITE 213 Tratamento. Os mãos médicos são:—1) Acon., arn., bell, cham., cale, chin., ferr., nux.-vom., puls., sep., sil. e sulf. R. syphilitica.—A retinite syphilitica é produ- zida e entretida pela syphilis constitucional. Ella co- meça com lentidão e localisa-se principalmente na papilla e na mancha amarella. O fundo do olho apresenta um reflexo azulado particular, comparável ao dos pretos no estado normal, devido á distribuição irregular de pig- manto na camada das cellulas da choroide, e a uma hyper- genese das cellulas epitheliaes. A opacidade da retina neste caso vai diminuindo da macula para a peripheria. Alem disto notão-se manchas ou pontos brancos, isolados ou grupados. A visão enfraquece-se cada vez mais até ser completa- mente perdida; ha photopsias e chropsias ; a cura, toda- via, é possível quando tratada em começo pelos meios apropriados. Tratamento. Deve ser dirigido contra a causa que pro- duzio a moléstia. O tratamento anti-syphilitico é que deve ser posto em acção, e que vai aconselhado no artigo Sy- philis. Nos casos agudos é bom começar pelo emprego do merc, ajudado externamente de fricções com pomada mercurial. R. nephretica. — Esta espécie de retinite, devida ao estado de degenerescencia dos rins, manifesta-se sem- pre depois que a albuminuria ou a moléstia de Bright tem alterado insidiosamente a constituição. Alguns autores pretendem que é ella o symptoma que abre a scena desta affecção— quando se pôde dizer com Wecker que < na época em que a excreção ourinaria se difficulta cada vez mais, consecutivamente á atrophia do te- cido renal, as perturbações da circulação geral augmentão, a tensão vascular do systema arterial cresce, e a estes phe- nomenos, assim como ás alterações mórbidas concomitantes dos vasos, é que nós attribuimos a coincidência da retinite nephretica. » A retinite nephretica começa por uma congestão ve- nosa da retina; as veias tornão-se tortuosas, mudão de 214 RHAGADAS posição e ficão apparentes e vermelhas perto da mem- brana limitante, emquanto que as curvaduras próximas da choroide desapparecem. Em redor da papilla óptica faz-se uma transsudação so- rosa. O signal objectivo mais notável, porém, que pôde ser considerado quasi como pathognomonico, ó a dispo- sição especial que tornão os focos apopleticos produ- zidos, e os pontos brilhantes da mancha amarella. A pequena distancia da papilla fórmão-se placas es- branquiçadas, as quaes se reúnem para constituir em redor delia uma zona, provida de prolongamentos angu- losos intercalados de focos apopleticos, que contituem por esta disposição placas esfriadas ou irregular ento arredondadas. Ao mesmo tempo em redor da mancha amarella, por effeito de degenerescencia gordurosa, desen- volve-se um numero illimitado de pontos de um branco brilhante, que, grupando-se, fórmão uma espécie de es- trella, tendo aquella por centro. Esta affecção desenvolve-se lentamente, havendo de extraordinário que os desarranjos e perda da vista não guardão proporção com o gráo de alteração da mem- brana atacada. Tratamento. E o aconselhado para a nephrite albu- minosa; as ventosas de Heurteloup tem sido emprega- das com optimo resultado. RETRO VER SÃO. Yide Partos, Dystocia. RHAGADAS. Feridas ou rachaduras ligeiras que sobrevôm na pelle de diversos pontos do corpo, ou nas membranas mucosas visíveis. RHAGADAS 215 As rhagadas têm por lugar de eleição os lábios, os mamellões, as coxas, o abdômen, o ânus, o nariz, o pes- coço e o inte; vallo dos dedos. Symptomas. Pequenas soluções de continuidade verme- lhas, sangrentas, longitudinaes, dolorosas sobre a areola ou base dos mamellões, produzindo abscessos do seio {fendas ou rhagadas dos mamellões), devidos de ordinário á primeira amamentação. O seu começo annuncia-se por pontos negros e rubor inflammatorio no mameilão, para depois se produzirem as fendas. No intervallo dos dedos e nos dos lábios é a acção do frio ordinariamente quem os produzio. Tratamento.—§ 1.° Os principaes medicamentos contra esta moléstia são :—1) Alum., cale, hep., lyc, merc, petr., rhus., sep., sidf.;—2) Arn., aur., cham., cycl, lach., mang., natr.-m., nitri.-ac, sass., sil. e zine § 2.° As rhagadas dos obreiros que trabalhão com as mãos n'agua exigem de preferencia:—1) Cale, hep., sil, sulf.;—2) Alum., ant, cham., merc, rhus. e sass. As rhagadas que se manifestão no inverno cedem a petr. ou sulf. As fendas hemorrhoidaes no ânus exigem ordinaria- mente:—1) Agn., arn., cham., graph.;—2) Hep., rhus., sass. e sulf As fendas nos lábios: Arn., ars., caps., cham., ign., merc, natr.-m., puls. e sulf. As dos cantos do nariz: Merc. e sil. As do prepucio: Arn., merc, sep., sil. e thui. § 3.° Contra as rhagadas profundas e sangrentas: Merc, petr., sass., sil. e sulf. Contra as rhagadas syphiliticas: — 1) Merc.;— 2) Aur., ^arb.-v., lach., nitri.-ac, sass., sep. e sulf Hygienico. Além disso deve-se empregar como adju- vante do tratamento o seguinte: cuidados de asseio, 216 RHEUMATISMO banhos; cerôto simples; manteiga fresca, nata de leite; pó de lycopodio; farinha de batatas; evitar o frio e calor extremos. Para as fendas dos mamellões—mamellões artificiaes—aguardente com clara de ovos. Para as do ânus: dieta, regimen temperante, conser- var o ventre livre, grande asseio. Fricções com pomada de pepinos. Dilatação forçada, mechas enduzidas de cerôto simples, ou de cacáo; incisão do sphincter (tenonomia), outras vezes excisão da mucosa rachada. RHEUM AT AEGIA. Vide Arthrodynia. RHEUMATISMO. ARTHRITE RHEUMATISMAL. O rheumatismo ó uma affecção especifica dos tecidos fibro-sorosos, articular e visceral, e do muscular, con- seqüente a uma causa diathesica herdada ou adquirida, ou á perturbação, com suppressão ou não da respiração cutânea, produzindo umas vezes somente fluxão aguda ou chronica para a pelle e esses tecidos, outras inflammação com a propriedade de fixar-se ou ser errática. O rheumatismo divide-se em articular, visceral e mus- cular. Rheumatismo articular. —Este ainda se sub- divide em agudo e gottoso. RHEUMATISMO 217 Agudo. — Symptomas. Este rheumatismo é mais fre- qüente nas estações frias e humidas, e de ordinário affecta mais de uma articulação, produzindo fluxão do tecido fibro-soroso, com excesso de secreção de synovia e incha- ção, rubor fraco da pelle, e dores mais ou menos vivas, que se augmentão pela pressão e pelos movimentos; estes phenomenos que, conforme o rheumatismo ó fixo ou errático, podem occupar uma articulação—monoarticular —muitas articulações —polyarticular—ou saltar de uma a outra, e andar errando das dos pés para as dos braços e mãos indistinctamente— ambidante—, são precedidas ou acompanhadas de calefrios, inappetencia, sede, prostração, febre, pulso largo e forte, calor que oscilla de 38 a 40°; pelle humida, suores abundantes; lingua branca; constipa- çao, ourinas vermelhas e espessas; perturbações das func- ções digestivas; insomnia; delirio; sudamina, com a pro- priedade de recrudescer de intensidade, sem se terminar por suppuração. Esta terminação, porém, póde-se verificar se o rheuma- tismo, diathesico como ó, em vez de fixar-se na articulação, emigra para o pericardio, pleura, arachnoide, onde se fórmão falsas membranas, que em resultado dão a suppura- ção, emquanto que se é o endocardio ou as válvulas do coração, o espessamento e encrustação de lympha plástica é o phenomeno observado. Desta propriedade se infere a facilidade de que goza o rheumatismo articular agudo, de complicar-se depericardites, de endocardites, de menin- gites, e de pleurizes. Chronico. — Symptomas. Os phenomenos precedentes tôm menos intensidade ; não ha quasi symptomas ; incha- ção ; dôr ligeira, que só se augmenta pelo movimento, pelo frio, e pelas influencias atmosphericas, atacando uma ou muitas articulações, mais aguda á noite do que de dia ; perturbações digestivas. A chronicidade do rheumatismo produz alteração das articulações, deformação, ankylose, tumor branco e atrophia do membro Gottoso. Este ó o rheumatismo chronico, com deposito ou formação de concreçõcs tophaceas sobre as superfícies 218 RHEUMATISMO articulares affectadas, ou é o rheumatismo chronico, com- plicado da própria gotta. R. muscular. — Agudo. — Symptomas. Dores nos músculos submettidos á influencia do frio, a principio surdas, depois cada vez mais intensas, móveis, augmen- tando-se pela pressão, pelos movimentos e pelas contrac- ções; acompanhando-se, na maioria dos casos, de symp- tomas de reacção, horripilação, febre e cephalalgia. Chronico. As dores oecupão um ou todos os músculos da região primitivamente affectada, ou errão de um para outro músculo estendendo-se em superficie e profundi- dade, sem todavia affectar os ossos, e dando á pelle sensa- ção de frio; exacerbações freqüentes. R. visceral.—Este é constituído pela emigração do rheumatismo articular agudo para as pleuras, endocardio, meninges, etc, produzindo ou uma dessas complicações, ou mesmo desapparecendo do todo para dar lugar ás endocardite, perioardite, pleuriz, etc. Symptomas. Quando em um doente affectado de rheuma- tismo articular se declarão delírio e perda dos sentidos, o rheumatismo é cerebral: havendo pontada do lado do peito, com enfraquecimento dos ruidos do coração e de sopro cardíaco, e som massiço precordial, ha endoperi- cardite rheumatismal. O pleuriz conhece-se pela pontada do lado, com som massiço na parte posterior da caixa do peito, e enfraquecimento do. ruido respiratório. Tratamento.—>§ 1.° Os medicamentos de efficacia pro- vada são em geral: —1) Acon., arn., bell, benz.-ac, bry., cham., merc, n.-vom., ox.-ac, phos., puls., rhus.;—2) Ant., aps., ars., carb.-v., caus., chin., colch., ferr , hep., ign., lach., lyc, millef., n.-mosch., rhod., rut, sass., sep., sulf., thui., veratr.;—3) Camph., cann., canth., coloe, cupr., euphr., kreos., magn.-e, mez., nitri.-ac, n.-jugl, ran., sang.,spig., squill, stann., tart e valer. § 2.° Para os rheumatismos agudos : Acon., arn., ars., bell, bry., cJxam., chin., colch., dule, ign., merc, n.-vom., pids. e rhus. RHEUMATISMO 219 Para os chronicos, principalmente: Caus., ciem., hep., lach., lyc, pJios., sulf, veratr., se bry., dule, ign., merc, n.-vom., puls., rhus. ou thui. não tiverem obtido a cura. Para os rheumatismos articulares com inchação: Acon , arn., ars., bell., bry., chin., ciem., hep., rhus. e sulf. Para os que produzem rijeza e curvatura do membro : —1) Ant, bry., caus., guai., lach., sulf;—2) Amm.-m., coloe, graph., lyc, natr.-m., n.-vom., rhus. e sep. Para os que produzem paralysia, principalmente: —1) Arn., chin., ferr., rut;—2) Cinn., coce, plum., sass. e staph. Para o rheumatismo errático ou ambulante:—1) Bry., n.-mosch., n.-vom., puls.;—2) Am., ars., asa., bell, daph., mang., plumb., rhod., sabin., sap., sep., sulf. e valer. § 3.° Os rheumatismos que vêm depois da suppressão de uma gonorrhéa, exigem de preferencia.—1) Ciem., sass., thui.;—2) Daph., lyc e sulf. Os que provêm do abuso do mercúrio devem ser com- batidos principalmente por: —1) Carb.-v., chin, guai., lyc, sass., sulf;—2) Arg., arn., bell, cale, cham., hep., mez., phos.-ac. e puls. Os que se desenvolvem pelo menor resfriamento exigem: Acon., arn., bry., cale, dule, merc, phos.-ac. e sulf. Os provocados pelo máo tempo: — 1) Cale, dule, n.-mos., rhud., rhus., veratr.—2) Amm., ant, carb.-an., carb.-v., lach., lycop., mang., merc, nitri.-ac, puls., sep., spig., strant. e sulf. Os que se desenvolvem por qualquer mudança de tempo : Bry., cale, carb.-v., dule, graph., lach., mang., merc, n.-mos., phos., rhod., rhus., sil, sulf. e veratr. Os produzidos pur um resfriamento de pés, de água fria, ou do frio humido, principalmente: — 1 ) Cale, n.- mos., puls, rhus., sass., sep.;— 2 ) Bell, borax., bry., carb.-v., caus., colch., dule, hep., lyc e sulf. Os que provém de uma congelação: — 1) Ars., bry., n.- vom.;— 2) Carb.-v., colch., nitri.-ac, phos., pids. e sulf:-ae 220 RHEUMATISMO § 4.° Aconitum, quando houver : dores lancinantes es- tando assentado, porém insupportaveis á noite; inchação vermelha e luzente da parte affectada; aggravação e renovação dos soffrimentos pelo vinho, ou por outras cau- sas excitantes, assim como pelas commoções moraes ; febre intensa, com calor sêcco, sede, rubor das faces. Arnica, havendo: dores de luxação ou de mortificação, sensação paralytica e formigamento nas partes affecta- das ; forte inquietação das partes affectadas com sensação, como se todas as partes sobre que ellas repousão estejão duras. (Convém principalmente depois ou antes de : Chin, ars., ferr. ou rhus. ) Belladona, havendo : dores lancinantes, ardentes, ag- gravadas á noite e pelos movimentos; inchação vermelha e luzente da parte affectada, febro, com pulsação das ca- rótidas, congestão na cabeça, rubor das faces e dos olhos. (Deve ser empregado depois de: Acon., cham., merc. ou puls.) Bryonia : dores tensivas, com picadas, movendo a parte doente, ou dores que mudão de sede e oecupão de pre- ferencia os músculos; inchação vermelha e luzente, ou rijeza da parte affectada; aggravação das dores á noite, com suor geral, ou frio e calefrios, soffrimentos biliosos ou gástricos. ( Muitas vezes depois de acon. ou rhus. ) Chamomilla: dores despedaçadoras, com sensação de torpor ou de paralysia na parte affectada, aggravação noc- turna das dores, febre com calor ardente, parcial, pre- cedido de horripilações. (Sobretudo depois ou antes de Bell., puls. ou ign.) Mercurius : dores lancinantes ou ardentes aggravadas d noite; pela madrugada, assim como pelo calor da cama; inchação osdematosa das partes doentes; sede principal das dores nas articulações ou nos ossos; suor abundante, mas que não allivia. (Convém antes ou depois de: Bell, bry., chin., dide ou lach.) Nux-vomica: dores tensivas, oecupando o dorso, os rins, o peito, ou as articulações, sensação de torpor, ou ROUQUIDÃO 221 de paralysias nas parles affectadas, com caimbras e palpítação nos músculos, constipaçao. (Convcm raramente no começo da moles tia, porém depois de: Acon., cham., ign. ou arn.) Rhus : dôr de luxação, com sensação de fraqueza pa- ralytica e formigamento nas partes affectadas; rijeza ou inchação vermelha e luzente nas articulações, com picadas ao toque; aggravação das dores no repouso e pelo máo tempo. (Convém principalmente depois da: Arn. ou bry.) ROSEOEA. A roseola é um exanthema agudo, súbito, fugaz, fe- bril e contagioso, sem ter, porém, conseqüências graves, carecendo para sua evolução completa de cinco a seis dias, constituído por manchas vermelhas, discretas, mais ou menos confluentes, sem bronchites nem symptomas geraes graves. Symptomas. Movimento febril seguido no fim de dous ou três dias de manchas roseas sobre o peito, ventre e m embros, sem saliências, mas com coceira. No fim de cinco a seis dias descamacão. Não ha nem conjuneti- vite, nem coryza ou tosse. Tratamento. Os principaes medicamentos são: Acon., nux.-vom. e puls. ROUQUIDÃO. Alteração da voz por effeito de irritação, hyperemia ou inflammação das cordas vocaes, dos músculos ou da mem- brana mucosa do larynge, caracterisada por differença em seu timbre, o qual se torna mais baixo e grave. 222 RUPIA § l.o Os medicamentos mais efficazes contra a rouquidão e aphonia são:—1) Carb.-v., cep., dros., mang., phos., spong.;—2) Bell, bry., caps., caus., cham., dule., hep., merc, natr.-n., ran., petr., puls., rhus., samb., sil, sulf.;—o) Ambr., cale, chin., graph., natr.-m., seneg., stram. e veratr. § 2.° Para a rouquidão catarrhal ordinária, com ou sem tosse, são principalmente: Cep, cham., carb.-v., dule, merc, n.-vom., puls., rhus., samb., ou ainda: Bell, cale, caps., dros., hep., mang., natr , phos. e tart. A rouquidão chronica pede de preferencia: Carb.-v., caus., hep., mang., petr., phos., sil, sulf, ou ainda: Dros., dule e rhus. Para a aphonia completa será de grande utilidade:—1) Ant, baryt, bell, carb.-v., caus., merc, phos., sulf.;—2) Dros., hep., lach., natr.-m., plat, puls., spong. e veratr. § 3." Além disso, a rouquidão conseqüente ás morbillis ou sarampão, será muitas vezes curada com: Bell, bry., carb.-v., cham., dros., dule e sulf. A que se manifesta depois do croup, com: Hep., phos., ou: Bell, carb.-v. e dros. Em conseqüência de bronchite e de catarrho nasal, com : Carb.-v., caus., dros., mang., pJws., rhus., sil. e sulf. As por effeito de resfriamentos: Bell., carb.-v., dule e sulf, e aggravando-se cada vez que o tempo fica frio e humido: Carb.-v. ou sulf. RUPIA. A rupia ó uma erupção na pelle de bolhas pequenas e isoladas, cheias de um liquido soroso que depois se torna puriforme ou sanguinolento, circumdadas de uma aureola inflammatoria, e cobertas de crostas denegridas e desiguaes, RUPIA 223 por sobre uma ulceração atônica do d erma, devida á alte- ração profunda do organismo (cacochymia), tendo como lugar de eleição os membros. Symptomas.— Locaes. A rupia divide-se em simples, prominens, escharotica e syphilitica. Rupia simples.— Bolhas pequenas, isoladas, acha- tadas, contendo um liquido a principio soroso, depois pu- rulento, apparecendo nos membros inferiores: pela con- creção do liquido das bolhas, abatem-se ellas e quebrão- se, formando crostas escuras, rugosas, ás vezes muito espessas, sendo no centro o ponto onde a espessura da crosta é mais considerável, adherentes á epiderme; ulce- rações subjacentes ás crostas mais profundas do que as do pemphigos, deixando em seu lugar marcas de côr ver- melho-livido. Estas ulcerações são de prompta cicatri- sação. R. promiuens. — As bolhas são maiores, ha le- vantamento da epiderme; as crostas mais espessas, as ulcerações mais profundas; abaixo da epiderme nota-se collecção de sorosidade citrina ou denegrida e espessa; ha inflammação circumscripta da pelle e uma aureola ervthematosa circumdando as bolhas, as quaes se suc- cedem umas ás outras no mesmo lugar, dando formação a crostas por tal fôrma espessas, que imitão as conchas univalvulas ou escamas de ostras; abaixo destas crostas formão-se ulceras profundas, arredondadas, com bordos tumefactos, vermelho-lividos e fundo descorado. R. escharolica.— Bolhas isoladas e distinctas, as- sente sobre manchas lividas nas crianças cacheticas, ap- parecendo no pescoço, peito, abdômen, escroto, palmas das mãos e planta dos pés; estas bolhas contém um liquido soroso ou sanguinolento; empôlas resultantes do excesso de fluido contido nas bolhas; são circumdadas de uma aureola violacea, contendo um liquido denegrido; ruptura rápida das empôlas e das bolhas. As ulcerações resul- tantes das empôlas são profundas, de aspecto gangrenoso e dando pús fétido; febre. R. syphilitica.— A côr da aureola que circumda 224 RUPIA as bolhas tem o aspecto inherente*ás colorações syphili- ticas geraes; erupções muitas vezes renovadas e entretidas pelo virus syphilitico, o que S3 deve procurar saber do individuo affectado. As ulceras têm também o aspecto das ulcerações syphiliticas. Tratamento.— § 1.° Os melhores medicamentos contra a rupia ou dartro bulloso, são: — 1) Caus.,cham., graph., sep., sil. e sulf;— 2) Ars., bor., cale, ciem., hep., kal, natr., nitri.-ac, petr., squill. e staph. ;— 3) Alum., sass. e thui. Para a rupia simples (bolha roedora de Hahnemann): — 1) Ars., cham., graph., petr. e sil.;—2) Bor., cale, caus., ciem., hep., kal., natr., nitri.-ac, rhus., sep., squill, staph. e sulf. Para a rupia prominens ou syphilitica:—1) Merc;— 2) Alum., ciem., nitri-ac, sulf. e thui. Para a rupia escharotica vide Gangrena. s SAEIVAÇÃO. Yide Ptyàlismo. SARAMPÀO. O sarampão é um exanthema agudo, febril e conta- gioso, que só ataca uma vez na vida, caracterisado por manchas vermelhas na pelle, precedido ou não de irrita- ção das membranas mucosas, e seguido de descamacão furfuracea. O sarampão divide-se em regular, irregular, maligno e complicado. Conhecem-se quatro períodos : Io, incubação; 2", invasão; 3o, erupção; 4o, descamacão. §ar. regular. — Symptomas.—1.° Incubação. Cepha- lalgia, precedida de displicência e mal estar. Este período dura um, dous dias, e mesmo mais. 2.° Invasão. O mal estar e as dores de cabeça augmen- tão de intensidade, e são acompanhados de calefrios, ca- lor, inappetencia, febre, e suores parciaes ou geraes, com cheiro insipido e particular; inflammação das mucosas na- saes, acompanhada de espirro freqüente e corrimento de D. H. ÍI r 15 226 SARAMPÃO muco acre; rubor e inchação, seguido de coryza in- tenso; da conjunctival, com olhos vermelhos, lagrime- jantes, muito sensiveis á luz; picadas insólitas nos bron- chios, produzindo tosse forte, rude, e umas vezes ligeira, outras contínua, ou quintosas; bronchites com estertor si- bilante, sonoro; oppressão ligeira, respiração accelerada e difficil; dapharyngeana, produzindo dores de garganta ligeiras ; seccura do pharynge e constricção ; outras ve- zes engurgítamcnto dos ganglions sub-maxillares, se a inflammação do pharynge foi intensa. Prostração, delirio, convulsões; sede, náuseas, vômitos e diarrhéa, maxime se o sarampão se declarar no curso da primeira dentição; pelle acre, quente, humida. Este período dura ordinaria- mente de dous a quatro dias. 3.° JErupção. Desenvolve-se sobre a pelle do mento em principio, invadindo logo depois a fronte, as faces, o pes- coço, o peito, as costas e as extremidades, uma erupção constante de pequenas manchas vermelhas, irregulares, salientes, semelhantes a dentadas de pulgas, mas que desapparecem á pressão do*dedo, distinctas e arredonda- das, depois reunindo-se em grupos para formar placas, semi-circulares ou com fôrma de pequenos crescentes, acompanhada de coceira, de inchação das faces e das pal- pebras, de augmento dos symptomas oculares, nasaes, gutturaes e bronchicos; a pelle fica sêcca e quente; pulso elevado; lingua suja, sede, seccura da garganta, rubor do pharynge e véo do paladar. Este período dura de três a quatro dias. 4.° Descamacão. Três ou quatro dias depois de termi- nada a erupção, as manchas empallidecem, e abaixâo- se; a côr torna-se violacea, depois amarellada, e não desapparece á pressão ; os symptomas geraes diminuem ; a tosse torna-se mais humida; a febre desapparece, uma poeira epidérmica branca e sêcca destaca-se e cabe. §ar. irregular, maligno, complicado.—Symf- tomas. Umas vezes ausência de febre, coryza, e bronchite no período de invasão; outras vezes excesso de intensi- dade de todos os phenomenos. O sarampão é chamado anômalo, quando o único SARAMPÃO 227 signal do exanthema é a erupção, ou quando ainda que appareção os demais phenomenos a erupção é o primeiro a desenvolver-se, limitando-se ás vezes á face, ao tronco, ou a outro qualquer ponto isoladamente. E dito fugaz quando passa quasi desapercebido. Hemorrhagico, quando a erupção se faz com manchas que simulão perfeitas ecchymoses. * A descamacão pôde ser substituida pela delitescencia das manchas. À malignidade e complicações do sarampão (antiga morbilli) faz-se por epistaxis, gangrena da boca e das fossas nasaes, do pulmão, larynge, ânus e vulva, assim como por phenomenos ataxicos e adynamicos, anginas, pneumonias, etc. Tratamento.— § 1.° Osprincipaes medicamentos são em geral : — 1 ) Acon., puls.; —2) Bell, bry., cep., chin., phos. e sulf. § 2.° Com o fim de abreviar o primeiro período ou da incubação, e principalmente facilitar o 2o ou a erupção, tem-se empregado com vantagem acon., puls. ou mesmo coff., quando os doentes estão muito agitados, com insom- nia e exasperação. Quando os doentes accusão photophobia, deve-se empre- gar bell, se acon. ou puls. não forem bastantes para a cura, ou mesmo: Phos. e sxdf. Para a tosse ainda pôde empregar-se uma dose de coff. ou de hep. depois do uso do acon.; havendo, porém, bron- chite ou pneumonia, deve-se recorrer á bry. § 3.° Havendo repercussão da erupção, os principaes medicamentos são: Bry., puls., phos., ou: Aps., ars., bell., caus., hell. e sulf. os preferíveis. Contra as affecções cerebraes, deve consultar-se de pre- ferencia : Bell, stram., ou ainda: Ars., hell. e puls. Contra as affecções pulmonares, são preferíveis: Bry., phos. e sulf. Para as affecções pútridas:—1) PJios., puls., sidf.;—2) Ars., carb.-v., mur.-ae, pJios.-ae e sulf.-ac 228 SARAMPÃO § 4." Para as affecções que se desenvolvem depois da cessação da moléstia, são: Aps., bry., carb.-v., cep., cJiam., chin., dros., dule, hyos., ign., n.-vom., rhus., sep., stram. e sulf. As affecções catarrhaes, como sejão: tosse, rouquidão, dores de garganta, exigem: Bry., carb.-v., cham., cin., dros., dule, hyo», ign., n.-vom., sep. e sulf 'Quando a tosse fôr sêcca e ouça, são principalmente: Cham., ign., n.-vom. Sendo espasmodica:—1) Bell, cin., hyos., carb.-v., dros.;—2) Canth., cupr., dig. eipec Para as diarrhéas mucosas : Chin., merc, puls. e sulf. Para a otite e otorrhéa, de preferencia: Puls., carb.-v., ou ainda: Colch., lyc, men., merc, nitri.-ac e sulf. Para a parotite, arn. ou rhus. A miliar branca exige ás vezes n.-vom. § 5.° Aconitum, quando houver : vertigens, olhos ver- melhos e dolorosos, com photophobia; tosse curta, sêcca e ouça ; pontadas na cabeça e no peito ; insomnia; calor sêcco, geral, com face vermelha e quente; sangramento pelo nariz. Belladona, havendo : inchação volumosa das parotidas; dôr de garganta com deglutição embaraçada e picadas peniveis engolindo; calor sêcco com- dores de cabeça vio- lentas na fronte, delírio, e sobresaltos convulsivos dos membros; sede violenta. Bryonia, havendo : dores rheumatismaes nos membros, com tosse sêcca, e picadas no peito respirando ou tossindo : ou depois de acon. nos sarampões inflammatorios, com ophtalmia, constipaçao, pneumonia e pleurizia: ou para fazer reapparecer o exanthema quando tiver sido reper- cutido. China, se houver: eólicas violentas, com sede inex- tinguivel; ou dejecções freqüentes, fraqueza extrema. Phosphorus, havendo : symptomas lyphicos, com perda dos sentidos; diarrhéa aquosa; lingua carregada de um endueto espesso; lábios negros; fraqueza; ou mesmo havendo tosse sêcca com vontade de vomitar. SARCOCELE 229 Pulsatilla, em quasi todos os períodos do sarampão, na maioria dos casos, mesmo os mais graves, com ou sem symptomas typhicos e pútridos: principalmente se houver inflammação da orelha interna ou externa, com ou sem otorrhéa; boca sêcca, sem sede; tosse curta e sêcca, com pontadas no peito ; para todos os casos onde predo- minar a affecção catarrhai das mucosas da boca e das vias aéreas, este medicamento goza da propriedade de facilitar o desenvolvimento e maturidade da erupção. Sulfur, maxime se houver: inflammação forte dos olhos, com pouco desenvolvimento da erupção, ou otalgia vio- lenta, com otorrhéa purulenta, com fortes dores, pul- sação na cabeça, e dores nos membros. § 6.° Além dos acima, ainda se pôde consultar: Arsenicum, quando houver : suppressão do exanthema; côr térrea da face; crostas em derredor da boca; face vultuosa, pallida, alternando com rubor; dores ardentes, pulsativas nos olhos, e photophobia: symptomas typhicos, vomito; diarrhéa. Ipecacuanha, de utilidade reconhecida nos casos de complicações gástricas, com febre intensa; tosse curta e sêcca; lingua carregada de mucosidades; náuseas; vômitos e agitação. SARCOCEEE. SARCODIDYMO, ENGURGITAMENTO TESTICULAR, HYPER- TROPHIA DO TESTÍCULO. O sarcocele é um engurgitamento hypertrophico da glândula seminal, inflammada chronicamente sob a influencia de causas diversas locaes ou diathesicas, como 230 SARCOCELE sejão inflammações chronicas simples, cancros, escrophulas e syphilis, com formação de tecidos anormaes de natureza diversa, da espécie dos schirros, encephaloides, tuberculos escrophulosos, fungos, hydatides, etc. A descrípção do sarcocele para ser perfeita carece ser dividida em suas diversas fôrmas, e feita á parte sobre cada uma das espécies; assim pois, temos: Io, sarcocele propriamente dito, o mais freqüente de todos, ou cancro encephaloide do testículo; 2°, fungos testicular; 3U, testiculo syphilitico; 4o, tuberculo do testiculo, ou sarcocele tubercu- loso; 5o, kysto do testiculo. 1.° Sarcocele, cancro encephaloitle.—Symp- tomas.—Locaes. Engurgítamcnto parcial e depois geral do testiculo com augmento de volume gradual, e peso; em principio endurecido, depois vai o tumor pouco e pouco amolleeendo-se; picadas no tumor; adherencia da pelle do escroto ao testiculo, a qual se adelgaça, torna- se rubra e ulcera-se, deixando vêr desenvolvimento anormal de vasos arteriaes e venosos, sendo estes em maior numero; o cordão é por sua vez affectado, e apre- senta dureza, além do desenvolvimento dos ganglions vizinhos da parte; pela ferida sahe uma vegetação ulce- rosa; outras vezes o testiculo atrophia-se. O tumor é ovoide, ou espherico, regular ou bosselado. Geraes. (Edema dos membros inferiores, precedido e acompanhado de inappetencia, e côr amarello-palha. 2.° Fungos do testiculo. —Symptomas. Augmento de volume do testiculo, com sensação de um tumor que lhe adhere, e adelgaçamento, terminando por ulceração dos tegumentos, dando sahida ao fungos, de fôrma de um tumor hemispherico, cavalgando o escroto, indolente á pressão, de côr vermelho-pallida. Em começo do desen- volvimento do fungos dores vagas no escroto. 3.° Testiculo syphilitico.—Symptomas. Por effeito de accidentes syphiiiticos o escroto augmenta de volume, produzindo dôr, que em começo passa quasi desapercebida pelo paciente e dopois vai augmentando de intensidade SARCOCELE 231 na razão do crescimento adquirido pelo tumor. O tumor compõe-se de duas partes distinctas — a primeira de li- quido, que, enchendo a vaginal, constitue um hydrocele secundário; a outra é constituida pelo epididymo e pelo testiculo, que fica duro, deformado, compacto, dividido em vários segmentos, indolente e iriçado de granu- laeões e asperidades do volume de uma hervilha ou pe- quena amêndoa. 4.° Sarcocele tuberculoso. — Symptomas. O epi- didymo é o primeiro invadido; elevações regularmente arredondadas, salientes, perfeitamente separadas do testí- culo, e pouco resistentes, produzindo dôr local ligeira, desenvolvem-se fazendo o órgão mudar de volume e con- formação ; depois ó o testiculo affectado, e fica menos flaccido, menos esponjoso, e crivado de concreções disse- minadas, de volume variável. Ás vezes augmento de vo- lume, e de dureza do canal deferente e das vesiculas seminaes. Pouco depois declarão-se symptomas de orchi- te sub-aguda; a pelle do escroto adhere ás elevações, que por sua vez amollecem; os tegumentos ulcerão-se, decla- rão-se fistulas, deixando transsudar um pús granuloso, per- sistindo até completa evacuação da matéria tuberculosa, findi a qual a cicatrisação se estabelece. 5.» Kystos do testiculo.— Symptomas. Por effeito, ordinariamente de contusões, fórma-se um tumor oval, elástico e indolente, liso, com ou sem fluctuação, sem trans- parência, e sem engurgitamento dos gânglios inguinaes. Tratamento. — Medico. Os medicamentos melhor indi- cados para o sarcocele, quando está em via de desenvol- vimento, são: Agn., aur., ciem., graph., lyc, rhod. e sulf. Cirúrgico. — Local. Em todos os casos convém tentar a resolução, empregando no caso de insuccesso dos meios médicos, no de cancro encephaloide, a castração. Havendo fungos: excisão, ligadura, cauterisação, e em alguns casos a castração. Havendo kystos com hydatides: esvasiar o kysto; puncção, incisão, ablação, compressão graduada. Castração.—Esta operação não tem possibilidade de 232 SARCOCELE ser praticada senão por quem se dedique seriamente á ci- rurgia; como pôde acontecer que este nosso livro'seja en- contrado em algum ponto dos sertões das provincias do Império, onde esteja algum medico novo, que careça de descrípção prompta e breve desta operação, para soccorro de algum infeliz que não possa procurar os grandes centros de população, vamos descrevê-la, prevenindo logo, como prevenimos o pratico, de sua gravidade. A castração faz-se em três tempos : Io, incisão da pelle; 2o, dissecção do tumor; 3o, secção do cordão. l.° Incisão dapelle. Prende-se o tumor com a mão esquer- da por sua face posterior, o operador colloca-se do lado direito do doente, e faz uma incisão longitudinal na parte anterior do tumor, que começa acima do annel inguinal, até abaixo do tumor, e liga immediatamente todos os pe- quenos vasos que forem cortados. Se a pelle estiver alte- rada, e o tumor fôr muito volumoso, deve-se fazer duas incisões, que inutilisem a parte alterada, ou preferir o processo de Jobert de Lamballe, o qual consiste em fazer a ablação do testiculo por excisão de uma fax a de pelle adiante do tumor (Fig. 95). 2.° Dissecção do tumor. Este tempo faz-se por enucleaçâo, ou por isola- mento rápido do tumor, afastando a pelle á custa de grandes golpes de bis- turi, entre ella e o tumor; é indispensável evitar a raiz do penis e o tabique do dartos. 3.° Secção do cordão. Ha Fl8- 95- dous methodos a seguir para a secção do cordão; no primeiro caso, estando elle isolado, opera-se a ligadura em massa, e corta-se com um golpe de bisturi abaixo da ligadura, sustentando o testiculo com a mão e ligão-se as arteriolas. SARNA 233 E no segundo liga-se os vasos separadamente, á medida que vão sendo divididos. O curativo faz-se da fôrma seguinte: lava-se a chaga, reunem-se as superfícies sangrentas da pelle por serras- finas ou fios metallicos, deixando aberta a extremidade inferior para sahida do pús. SARNA. PSORA, PSORIDE VESICULOSA. Affecção cutânea contagiosa, caracterisada por vesiculas acuminadas, discretas ou confluentes, de base dura, con- tendo sorosidade umas vezes límpida, outras purulenta, devida a um insecto particular chamado acarus, appare- cendo nos intervallos digitaes e nas curvas das pernas, para dahi se disseminar á toda a superficie do corpo, onde produz coceira. Tratamento.— Local. Matar o insecto e seus ovos, abrindo os rêgos onde elle se aloja. Banhos geraes. Geral.— § 1.° Os principaes medicamentos não só con- tra a sarna, mas contra todas as erupções scabeiformes em geral, são:—1) Sulf.;—2) Carb.-v., caus., ciem., hep., merc, rhus., selen., sep.;—3) Ant, ars., lach., lyc,natr.,natr.-m., phos.-ac, squill, veratr.;—4) Chlor., coloe, cupr.,dule, kreos., mang., tart, zine;— 5) Kalm., millef. e iat § 2.° Para a sarna sêcca ou miliar são principalmente: —1) Carb.-v., hep., merc, sep., sulf., veratr.;—2) Cale, cupr., dule, led. e sil. Se esta erupção sangra facilmente: —1) Merc;—2) Cale, dide e sulf. Em geral póde-se começar por administrar alternada- mente merc. e sidfi, fazendo tomar todos os 4, 6 ou 8 dias uma dose de um ou outro destes medicamentos, até que 234 SARNA sobrevenha mudança nos symptomas. Em caso de me- lhora, esperar-se-ha sem nada fazer, emquanto ella durar; mas, parando ou se os symptomas mudarem de natureza, é tempo de empregar-se carb.-v. ou hep., se a sarna tiver conservado a fôrma miliar; ou caus., se apparecerem al- gumas pústulas. As que não tiverem cedido ao emprego de carb.-v. ou hep., cedem a sep. ou veratr. § 3.° Para a sarna humida ou pustulosa os principaes medicamentos são :— 1) Carb.-v., caus., graph., kreos., lyc, merc, sep., sulf.;—2) Ant, ciem., squill. e staph. Na maior parte dos casos póde-se começar por dar alter- nativamente e da mesma fôrma que acima sulf. e lyc Se depois houver melhora, sobretudo se a sarna se tornar sêcca, carb.-v. ou merc serão os melhores indicados. Mas, se nem sulf. nem lyc produzirem melhora ou mudança al- guma no fim de 15 a 20 dias, ou se desenvolverem grandes pústulas, dever-se-ha recorrer a caus., do qual se dará 2, 3, 4 doses, segundo as circumstancias, administrando a segunda 12 horas depois da primeira, a terceira 24 depois da segunda, a quarta 48 depois da terceira, e assim por diante. Se ao contrario, no fim de três dias, depois da quarta dose não houver ainda mudança, dar-se-ha algumas doses de merc, tomando cada uma com o intervallo de 48 horas. Se nesta espécie de sarna houver pequenas ulceras, será sobretudo ciem. e rhus. que mereceráõ a preferencia. Se as pústulas degenerarem em grandes vesiculas de côr amarella ou azulada, será lach. o preferível. § 4.° A sarna desnaturada pelo abuso do enxofre, exige ornais das vezes: Merc, caus., ou ainda: Cale, dule, nitri-ac e pids. A erupção da fôrma de sarnas, dita sarna dos dro- guistas, exige ordinariamente: Sulf, lyc, ou ainda: Cale, dule, rhus. e graph. Para a sarna supprimida, com o fim de a fazer reap- parecer: Ars., ambr., caus., sulf. e millef. SCIATICA 235 SATYRIASIS. APHRODISIA. Exaltação mórbida das funcções genitaes, devida á ne- vrose do cerebello, com orgasmo não doloroso do tecido erectil do penis, desejo immoderado do coito, ejaculação freqüente, sem fadiga do individuo, e delirio erótico. Tratamento.—Hygienico. Yida activa, exercicios pe- nosos; dormir em leito duro; proscrever as leituras eró- ticas; distracções. Medico. Os medicamentos que parecem melhor convir são: Canth., natr.-m., n.-vom., sulf., ou mesmo: Alum., chin., grapJu, lyc, merc, phos., plat, puls., sil, staph., veratr. e mags.-ae SCHIRRO. Yide Cancro. SCIATICA. NEVRALGIA FEMURO-POPLITÉA. Irritação do nervo femuro-poplitéo e suas ramificações, maxime os sciaticos poplitéo-interno e o externo por causa rheumatismal. 236 SCLEREMA Para a descrípção symptomatica vide Nevralgias e Gota. Tratamento. Os melhores medicamentos são: Acon., ars., bry., cJiam., ign., coff., coloe, n.-vom., puls., rhus. e stapJi. SCEEREMA. SCLEREMIA, (EDEMA DOS RECÉM-NASCIDOS, ENDURE- CIMENTO DO TECIDO CELLULAR. O sclerema ó o endurecimento ou infiltração oedeina- tosa do tecido cellular do recém-nascido, por effeito de obstáculos á circulação, os quaes trazem diminuição de coloricidade e da energia vital, seguida de sub-inflam- mação. Tratamento. A principal indicação é remover o obstáculo á circulação, o que se obtém activando-a, e produzir a transpiração cutânea, Hygienico. Ar moderadamente quente, aleitamento na- tural, uso de flanellas, lã, algodão sobre a pelle; fricções sêccas e alcoólicas; banhos quentes. Amollecer as partes endurecidas e activar a absorpção do liquido infiltrado. Medico. Fricções alcoólicas; água salgada quente, para banhos. O tratamento interno apropriado aos cedemas em geral. soluços 237 SCEEROTITE. A sclerotite é a inflammação da sclerotica, devida a varias causas, d'entre outras a rheumatismal, escrophu- losa, etc. Symptomas. Como a conjunctivite a sclerotite produz rubor no olho, o qual toma a fôrma de uma zona rosea ou da côr da gomma laça, que circumda a cornea, devendo, porém, notar-se que o que differencia esta inflammação da conjunctivite, é a disposição da injecção dos vasos. Os vasos da sclerotica são finos e dispostos em linhas rectas, a côr é mais carregada nas proximidades dos bordos da cornea, diminuindo de intensidade até des- apparecer completamente, á medida que se afasta, para se approximar da orbita; o opposto vê-se na inflam- mação da conjunetiva. Tratamento. Yeja o indicado para as Ophtalmias. SOLUÇOS. Contracção convuLiva do diaphragma, do estômago ou do oesophago, devida a espasmos, á irritação, á lesão di- recta ou indirecta da enervação dessas partes. Tratameinto. Sendo nervosa: susto, surpreza, espanto; água fria tomada aos goles ; aspersões de água fria sobre 0 rosto; banhos frios por surpreza, gelo no epigastrio; 238 SPLENITE suspender a respiração; mastigar com força e sem cessar uma côdea de pão ou um torrão de assucar. Os principaes medicamentos são:—1) Acon., amm.-m., bell, bry., cupr., hyos., ign., magn.-m., n.-mos., n.-vom., puls., stram., sulf.;—2) Agar., ars., baryt, borax., cale, carb.-v., coce, coff., dig., lach., graph., led., lyc, merc, mur.-ae, natr.-m., nitri-ac, rut, sep., sil, spong., staph. e veratr. SPEENALGIA. A splenalgia é uma affecção nervosa caracterisada por dores na região do baço, sem inflammação nem aug- mento de volume do órgão. Para o tratamento vide Splenite. SPEENITE. Inflammação do baço. Divide-se em aguda e chronica. Splenite aguda.— Symptomas. — Locaes. Tensão, embaraço, e dores no hypocondrio esquerdo e no epigas- trio, com irradiação destes phenomenos para o ventre; ha percussão, som massiço, sensação de resistência, e sensibilidade exagerada da parte. Ás vezes a inflammação termina-se por inchação e formação de abscesso, com empastamento, rubor da pelle e fluctuação. Geraes. Movimento febril de intensidade relativa, com typo algumas vezes intermittente, precedido ou seguido SPLENITE 239 de perturbações digestivas, como sejão vômitos, inappe- tencia, constipaçao e diarrhéa; abatimento ; tez cachetica. Tratamento. — Cirúrgico. Nos casos de formação de abscessos, abri-los logo que se reconheça formado o pús. Medico. Os melhores medicamentos são em geral:—1) Agn., arn., bry., caps., chin., ign., n.-vom., sulf;—2) Acon., berb., iod., mez.;—3) Aps. e ferr. Para a splenite aguda em particular, o medicamento é chin., seguido de : Acon., aps., arn., ars., bry. e n.-vom. Aconitum, só ó indicado para abater, desde o começo, a febre, se a violência da moléstia o exigir, seguido depois do emprego da chin. Arnica, se chin. não fôr sufficiente, principalmente se houver: dores lancinantes que embaracem a respiração; ou se provierem symptomas typhicos, com apathia, es- tupor, e que o doente desconheça a gravidade de seu mal. Arsenicum, se apparecem diarrhóas com dejecções san- guinolentas e ardentes, com fraqueza extrema, ou mesmo se a inflammação tomar o caracter intermittente, e que chin. não tenha podido curar. Bryonia, se depois do emprego da cJún., de arn. ou de n.-vom. a constipaçao persistir, com dores lancinantes na região splenica, por qualquer movimento. China, na maior parte dos casos, immediatamente depois de acon. ou no começo do tratamento, havendo: dores lan- cinantes; ou se a moléstia tiver caracter intermittente. Nux-vomica, depois de chin. ou arn., quando algum destes medicamentos tem trazido melhoras, com persis- tência, porém, da gastralgia e da constipaçao, e que o estado geral não mude. Splenite chronica, hypertrophia do baço.— Symptomas.—Locaes Os do estado agudo com menos inten- sidade; depois tumor no flanco esquerdo, excedendo as fal- sas costellas esquerdas, dirigindo-se muitas vezes para o umbigo e pequena bacia, com dôr quasi nulla; tensão 240 SUOR MALIGNO ligeira no hypocondrio esquerdo, augmentada pelos mo- virfientos durante o andar; som massiço pela percussão: algumas vezes deformação do ventre; ascite. Geraes. Em geral nullos; ás vezes, porém, accessos febris que tornão afinal o caracter de febre hectica; ictericia splenica; tez cachetica; chloro-anemia. Tratamento. Os melhores medicamentos são: Agn., ais., ars., caps., cep., chin., ign., sulf, ou : Iod. e mez. SUFFOCAÇÂO. Yide Asphyxia. SUOR MALIGNO. HYDROA, SUDAMINA, FEBRE MILIAR EPIDÊMICA. Eebre eruptiva, ordinariamente epidêmica, caracteri- sada por suores contínuos e abundantes, precedendo e acompanhando todos os seus períodos com superexcitação da membrana mucosa das vias digestivas, e desenvolvi- mento de vesiculas miliares arredondadas, duras e ver- melhas, ou pequenos botões brancos no vértice, e como pérolas, seguidas de descamacão. SUPPRESSÃO DAS REGRAS 241 Symptomas. Dividem-se em precursores e confirmados. 1.° Precursores. Calefrios, precedidos ou não de abati- mento, molleza do corpo; cephalalgia; náuseas e vômitos; suor de tal fôrma abundante que banha as roupas e os colchões, de cheiro particular e característico; calor de 39° a 40° na pelle. 2.<> Confirmados. No 3o, 4o, 5o, ou mesmo no 7o dia de- pois dos suores, picadas na pelle e erupção miliar ver- melha, vesiculosa ou branca, começando na parte ante- rior do peito e estendendo-se ao abdômen e membros, umas vezes discreta, outras confluente; prurido e cepha- lalgia, agitação ; abatimento ; insomnia; estado saburral; constricção epigastrica, ourinas sedimentosas; oppressão e dyspnéa; fluxo dysenterico. Pulso forte, accelerado; outras vezes pequeno e concentrado. Calor da pelle de 39° a 40°. O suor maligno pôde ser benigno, intermittente ou fulminante. Tratamento.—Hygienico. Câmara bem arejada; os doen- tes devem ser moderadamente cobertos, mudando-se con- stantemente os lençóes da cama, logo que se molhem de suor. Medico. Os melhores medicamentos são: Acon., bry. e samb. Aconitum, convém sempre no começo do tratamento, pois tem grande numero de vezes a propriedade de curar; completamente a moléstia. Bryonia, se depois de feita a erupção se supprimír o suor com angustia, soffrimentos asthmaticos e estado typhoide. Sambucus, se acon. e bry. não parecerem indicados. SUPPRESSÃO PAS REGHAS. Yide Amenorrhéa. d. b. n Jí) 242 SURDEZ SURIMEZ. C OPHOSE, DUREZA DO OUVIDO, HYPOCOPHOSE , DYSECIA. Abolição mais ou menos completa da audição, devida á lesão mecânica das partes constituintes do ouvido, ou á lesão da funcção da audição por paralysia ou hyperes- thesia do nervo acústico, ou em conseqüência de molés- tias que mais ou menos ataquem partes do encephalo. Tratamento.—§ 1.° Os melhores medicamento^ são:— 1) Cale, caus., graph., Jvyos., lach., led., lyc, mang., merc, nitri.-ac, op.,petr., phos.,pids., sil, sulf.;—2) Amm.,anac, asa., aur., coff., con., hep., kal, magn., magn.-m.,mur.-ae, natr., natr.-m., n.-vom., phos.-ac, sec, stapJi., veratr.;—3) Âmbar., ant., ars., bell, carb.-v., cie, coce, dros., iod., laur., oleand., plumb., rhus., rut, stram. ;—4) latr., cep. e ais. § 2.° Para a dysecia congestiva, deve usar-se de pre- ferencia : Aur., bell, graph., merc, phos., sil, ou : Coff., hyos., petr. e sulf. Para a dysecia catarrhal ou rheumatismo por effeito de resfriamentos, quer da cabeça, quer de todo o corpo, são principalmente : Ars., bell, led., mere,pids., ou : Cale, caus., cham., coff., hep., lacJi., nitri.-ac e sulf. Para a dysecia nervosa : Caus., petr., phos., pJws.-ac, ou talvez: Anac, mur.-ae, nitri. e veratr. § 3.° A dureza da audição em conseqüência de anti- gos dartros ou outras erupções repercutidas, exige de pre- ferencia : Sulf. ou ant., ou ainda: Caus., graph. e lacJi. SYNCOPE 243 As que provierem de exanthemas, como o sarampão a escarlatina, etc: Bell, merc, puls., sulf. ou carb.-v. Sendo sarampão, são principalmente: Pide. e carb.-v. Sendo escarlatina: Bell ou op., e sendo, finalmente varíola: Merc ou sulf. ' Para a que é effeito de febres intermittentes suppri- rnidas pelo abuso do sulfato de quinina, os medica- mentos são: Cale, puls, ou: Carb.-v., hep., n.-vom. e sulf. Para a dysecia proveniente do abuso do mercúrio: Asa. nitri.-ac, staph., ou : Aur., petr. e sulf. Em conseqüência de freqüentes anginas tonsillares e inchação, ou hypertrophia das amygdalas, sobretudo: Aur. merc, nitri.-ac e staph. Por effeito de febres ou quaesquer moléstias nervosas: Arn., phos., pJws.-ae e veratr. Por effeito da suppressão de um corrimento pelos ou- \ idos ou pelo nariz : Hep., lach., led., ou : Bell, merc. e puls. SYCOSIS. Yide Pian. SYNCOPE. LIPOTHYMIA, LIPOPSYCHIA, DESFALLECIMENTO, DORES DE CORAÇÃO. Suspensão súbita, momentânea dos batimentos do co- ração, dos movimentos respiratórios, do sentimento, do movimento e da circulação, ordinariamente symptoma- tica de moléstias diversas. 244 SYNOVITE Tratamento.—§ 1." Os medicamentos principaes são:—1) Acon., camph., carb.-v., cham., hep., ign., lach., mosch., n.- vom., phos.-ac, veratr.;—2) Amm., chin., coff., dig., ipec, n.-mos., op., sep., stram.;—3) Ant, arn., ars., bell, bry., cale, coce, con., ferr., hyos., oleand., petr., puls., sil, spig.;—4) Cep. e millef. § 2.<> Se a syncope proveio de um susto ou outra emoção moral, são principalmente: Acon., cham., coff., ign., lach., op., veratr., ou: Amm. e camph. Se foi por violência de dores: Acon., cham., coff. e veratr. Se apparecer pela menor dôr : Hep. e n.-mos. Nas pessoas hystericas : Cham., coce, ign., mos., n.-mos., n.-vom., e talvez : Ars. e natr.-m. Se proveio de perdas debilitantes, ou depois de mo- léstias graves: Carb., chin., n.-vom., n.-mos. e veratr. Nas pessoas que têm abusado do mercúrio, principal- mente: Carb.-v., hep., lach. e op. SYNECHIA. ADHERENCIA DA IRIS Á CORNEA. Yide Irites. SYNOV1TE. SYNOVIALITE., Inflammação da membrana synovial das articulações. Para os pormenores da aguda vide Artrite. Para a chronica vide Hydartrose. SYPH [LIDES 245. SWHIEIDES. RHAGADE, CRYSTALLINA. As syphilides são erupções cutâneas representantes da syphilis secundaria, caracterisadas sob as fôrmas exanthe- matosa, vesiculosa, papulosa, escamosa, maciãosa, tubercu- losa, e em fôrma de bolhas, com tendência a destruir os tecidos sobre que se desenvolvem. 1.° A syphilide exanthematosa. —Divide-se em roseola e erythemata syphilitico; a primeira tem por sede o tronco e caracterisa-se por manchas roseas, que depois se tornão cinzentas e escuras, tendo duração va- riável, mas sem inflammação, susceptível de reincidir. O erythema caracterisa-se por erupção lenta e progres- siva, começando no tronco e estendendo-se ao ventre e flancos, de manchas roseas, pouco visiveis em começo, augmentando de côr até tornar-se violacea, simulando jaspeaduras vasculares, porém sem febre, tornando-se algumas vezes azuladas por effeito do frio. Tratamento. Os medicamentos que mais aproveitão a estas duas espécies são: — 1) Merc, nitri.-ac; — 2) Acon., ars., bell, cale, lyc, lach., n.-vom., puls., sulf. e sulf-ac. 2.° Syph. vesiculosa. — Esta tem três espécies: eezema, Jierpes e varicella syphilitica. A primeira mani- festa-se por vesiculas maiores que as do eezema ordinário, tendo côr vermelha pouco viva, com as aureolas côr de cobre; as crostas que se fôrmão depois da ruptura das vesiculas são negras. Na segunda ou herpes sypJúlitico, as vesiculas têm a 246 SYPHILIDES fôrma de discos côr de cobre e depois cinzenta. Estas duas espécies não trazem febre. Na terceira ou varicélla syphilitica, a febre precede a erupção, a qual passa rapidamente ao estado chronico. Tratamento. Yide eezema, herpes e varicélla. 3.° Syph. em fôrma de bolhas: Rupia syphilitica.— Crosta mais dura e mais negra do que na rupia ordinária, succedendo á bolha. Aureola côr de cobre, como em todas as syphilides; formação de ulcera profunda, succedendo a queda da crosta, cinzenta, de bordos duros e talhados a pique. Tratamento. Os medicamentos são : — 1) Merc; — 2) Alum., ciem., nitri.-ac, sulf. e tJiui. 4.o Syph. pustulosa. — Divide-se em acnea syphi- litica ou syphilide lenticidar, impetigo e ecthyma syphi- litico. A primeira é uma erupção de pústulas mais ou menos numerosas, mais confluentes do que na ordinária, tendo por sede o couro cabelludo, o rosto e os membros inferiores. Pelle sêcca e enrugada, com pequenas cicatrizes arredondadas e deprimidas. A segunda ou o impetigo, compõe-se de erupção con- fluente ou discreta, com crostas esverdeadas e aureola côr de cobre, no confluente, ou syphilide pseudo-crustacea. Na variedade não confluente as pústulas ficão intactas e são isoladas. A terceira ou ecthyma syphilitico, compõe-se de pústulas phlycteniadas no rosto e no tronco, produzindo ulcera- ções profundas, as quaes deixão cicatrizes redondas e de- primidas. Tratamento .Como todas as moléstias entretidas pelo virus syphilitico, os melhores medioamentos são : — 1) Merc, nitri.-ac, thui.;— 2) Ars., aur., bell, cale, dule, lach., hep., lyc, phos., puls., sep., sil. e sulf;— 3) Alum., ais., cep. e millef. 5.° Syph. tuberculosa.—Divide-se em tuberculosa em grupos, disseminada, perfurante e serpiginosa. SYPHILIDES 247 A primeira compõe-se de tuberculos do tamanho de uma hervilha ou da cabeça de um alfinete, de vértice cin- zento e cobertos de uma escama sêcca e cinzenta. Tem por lugar de eleição o pescoço e fronte. A disseminada compõe-se de tuberculos côr de cobre, grandes, salientes, arredondados, ou ovalares, com base dura; tem por lugar de eleição a face e os membros. A perfurante consta de tuberculos volumosos, que se ulcerão facilmente e destroem os tecidos. A serpiginosa caracterisa-se por tuberculos que des- troem os tecidos, serpijando em sua espessura, ulcerando-se rapidamente, e formando crostas negras, espessas e co- nicas, transsudando um ichor sanioso, puriforme e fétido. Sua sede de predilecção é a parte anterior do tronco e a face, da qual destroe as azas do nariz, os lábios e as palpebras ; deixa cicatrizes irregulares e extensas. Tratamento. Deve ser enérgico e constar do da syphi- lide pustulosa. 6.° Syph. papulosa ou lichen syphilitico.— Desenvolvimento de papulas maiores ou menores, na face e pescoço, com tez de cobre notável. Esta erupção é con- fluente ou discreta, e produz algumas vezes movimento febril. Tratamento. Yide o da pustulosa. 7.° Syph. escaniosa.— Divide-se em escamosa, cor- nea e psoriasis syphilitica. A primeira caracterisa-se por desenvolvimento de escamas duras, espessas, salientes, pardas, na planta dos pés e palma das mãos, assentadas sobre placas isoladas ou confluentes. A aureola tem côr de cobre. A psoriasis syphilitica compõe-se de escamas ligeiramente adherentes a placas côr de cobre, cujos bordos são mais altos que o.centro; deixa cicatrizes ligeiras. Tratamento. Anti-syphilitico geral. (Syph. pustulosa.) 8.° Syph. snaculosa ou manchas syphiliti- cas.— São manchas escuras, isoladas, do tamanho de 248 SYPHILIS uma moeda de 20 mil réis em ouro, não pruriginosa, não desapparecendo á pressão do dedo e occupando a parte anterior do pescoço e os membros inferiores. Tratamento. Os medicamentos que lhe devem ser op- postos são: Merc. e nitri.-ac SYPHILIS. MOLÉSTIA VENEREA. A syphilis é uma moléstia venerea, adquirida por contagio de coito impuro, ou por via de herança, devida á irritação especial do virus syphilitico, e caracterisada por manifestações primitivas e consecutivas; as primeiras dos tecidos mucosos, lymphaticos e cutâneo, as consecu- tivas dos tecidos mucoso e ósseo, com a propriedade de tornar as manifestações primitivas sempre inflammato- rias. As manifestações ou accidentes syphiiiticos dividem-se em primitivos, successivos ou intermediários, secundários e terciarios. Os primitivos são: o cancro e algumas vezes o bubão (d'Emblé). Os successivos ou intermediários são: a lymphagite ou angioleucite e o bubão. Os secundários, constitucionaes ou syphilis constitu- cional, são: placas mucosas, syphilides, rhagades, iritis, alopecia, etc. Os terciarios, são: o sarcocele syphilitico ou testiculo ve- nereo, os tumores gommosos, as affecções dos tecidos fibrosos e ósseo, do systema muscular, da sensibilidade, como dores musculares e osteocopas, etc. SYPHILIS 249 Tratamento.—§ 1.° O medicamento principal é : merc vivus ou solubilis, porém das mais baixas dynamisações, como sejão, por exemplo, a 3a e 5a. As ultimas só tem por fim aggravar os soffrimentos e permittir que o cancro marche para o estado chronico. § 2.° O methodo mais seguro de curar o cancro re- cente no estado agudo, é administrar todos os dias ou pelo menos de 2 em 2 dias, uma dose (i/4 de grão) da 3a tritu- ração de mercúrio, até que sobrevenha uma melhora sen- sível, e sem se desviar pelo aspecto das ulceras nos pri- meiros dias. Nenhum cancro recente se cura sem se ag- gravar em principio. Continuando o merc. ver-se-ha no fim de 8 a 10 dias sobrevir no fundo lardaceo das ulceras pontos de boa granulaçâo, que de dia em dia fará mais progressos, ao mesmo tempo que as ulceras começarão ás vezes a san- grar e os bordos a abaixarem-se. (Jahr.) Quando o cancro sob a administração de merc demora a cicatrisação ou demonstra disposição a cobrir-se de vege- tações, deve-se administrar uma gotta de nitri.-ac. da 3a dynamisação pela manhã e á noite, ou mesmo 6 glóbulos dissolvidos em duas onças d'agua, uma colher pela manhã e outra á noite. E de notar que este medica- mento só deve ser empregado depois que a perda de substancia tem sido embaraçada pela acção do merc: nitri.-ac. ainda convém contra as ulceras syphiliticas tra- tadas pelas altas doses de mercúrio, aconselhadas pela medicina ordinária. § 3.° Quando o cancro tiver passado ao estado chronico, deve administrar-se 3 doses consecutivas de merc. da 3a trituração, com o intervallo de 48 horas de uma á outra, deixando, depois da terceira, pronunciar-se a acção do medicamento sem repeti-lo, por duas ou três semanas, findas as quaes, em caso de necessidade, será repetida, sendo esta repetição da mesma trituração ou de dynami- sação mais alta. Depois do cancro primitivo, no estado chronico, pro- vém as máculas ou manchas veneréas, as quaes coincidem 250 SYPHILIS com a mudança de aspecto da ulcera syphilitica, assim os botões na fronte, no mento* e em redor da boca. Estes symptomas secundários desapparecem com o emprego de merc, acompanhando na regressão a ulcera syphilitica. Se acontecer, porém, que depois da cura da ulcera restem ainda vestígios dos symptomas secundários, rebeldes á acção do merc, duas ou trcs doses de lach. acabarão a cura. § 4.° De ordinário, por effeito da applicação de doses exageradas de merc, segundo a antiga escola, directa- mente sobre o cancro chronico, declarão-se cancros se- cundários na garganta, os quaes cedem ao emprego de duas a três doses de merc da 3a trituração-, ou em caso de resistência, a algumas doses de thui. ou de l-y. se o doente tiver abusado de merc. Para os oubões que se declarão durante o curso do cancro primitivo e que são, de ordinário, o effeito das cau- terísações do cancro, não é preciso tratamento particular, porque cedem, na maioria dos casos, como o cancro á acção do merc. Quando, porém, tiverem apparecido depois de cicatrisado o cancro, e que o doento já tenha abusado de merc, é nitri-ac. o medicamento que se lhe deve oppôr em primeiro lugar, seguindo-se, em caso de necessidade, aur. ou carb.-v. §5.° Para a syphilis constitucional o medicamento prin- cipal é merc, se o doente não tiver já abusado delle, por- que então deve-se preferir: LacJi., thui., nitri.-ac, aur., sulf, ou: Alum., bell, carb.-v., ciem., dide, flúor.-ac. guai., hep., iod.. lyc, n.-jugl., phos.-ac, sass. e staph. Para as dores osteocopas os preferidos são : Merc, lacli- e aur. Para as ophtalmias : Merc ou nitri.-ac T TEE ANGIECT A SIA. TUMOR ERECTIL, FUNGOS HEMATODE, HEMATOMIA, TUMOR FUNGOSO NÃO SANGUINEO. Tumor mais ou menos volumoso, provido da proprie- dade de Éugmentar e diminuir, podendo desenvolver-se em todos os tecidos do organismo, susceptível de erecção e formado por tecido molle, esponjoso, vasculnr e com hypertrophia dos capillares sanguineos. Tratamento.— Ciüurgico. Compressão; ligadura dos vasos que o alimentâo e do tumor: acupunetura permanente; puneções superficiaes e próximas; sedenho; esmagamento; cauterisação ligeira, limitada e repetida freqüentemente. Destruir e tirar o tecido cellulo-vascular; cauterisação profunda; cauterio actual; excisão e ablação; extirpação; amputação da parte affectada. Medico. Os principaes medicamentos são, em geral:—1) Ars., carb.-an., carb.-v., phos., sep., sil, sulf.;—2) Ant, bell, cale, ciem., con., kreos., lach., lyc, merc, nitri.-ac., staph. ;—3) Nux.-vom., petr., rhus., sabin., tart. e thui. O fungos hematode exige de preferencia:—1) Ars., carb.-an., phos., sil.;—2) Carb.-v., lach., lyc, merc, 252 XEN1A nitri.-ac, sulf.;—3) Cale, ciem., kreos., n.-vom., rhus., sabin., sep., staph., tart. e thui. O fungos medullar:—1} Bell, carb.-an., phos., thui.;— 2) Sil. e sulf. O fungos articular ou das articulações:—1) Ant, kreos., lach., sil;—2) Ars., iod., lyc, phos., staph.;—3) Ciem., petr., rhus., sabin. e staph. TEMESMO. Contracção involuntária dos músculos da região anal, seguida de desejos freqüentes e dolorosos de ir á banca, com expulsão de mucosidades puro-sanguinolentas. Este soffrimento é sempre symptoma de varias moléstias das regiões do recinto abdominal e das hemorrhoidas. Tratamento. Para os tenesmos antes das de*cções, os medicamentos são : Merc. e rhab. Durante a dejecção:—1) Ars., merc, mere-c, n.-vom.) rhus., sulf.;—2) Acon., colch., laur.;—3) Bell, brom., cale.} cor., cupr., euphorb., grat, hell, ipec, lach., natr., nilr.> nitri.-ac, op., sei, sep., sponj. e latrac. Depois da dejecção:—1) Merc;—2) Ipee, plat., rhab. —3) Caps., phos., phos.-ac, sulf. e tábac TENIA. Yide Helrainthiases0 TETANOS 253 TERÇOE. FURUNCULO DAS PALPEBRAS. Inflammação furuncuXa das glândulas de Meibomius. Tratamento. Os melhores medicamentos são : — 1 ) Puls., staph., aps., cep., ;—2) Amm., bry., cale, con., ferr., graph.. lyc, pJios., phos.-ac, rhus., sep. e stann. TETANOS. O tétano é uma moléstia caracterisada por tensão con- vulsiva de maior ou menor numero de músculos, ou de todos submettidos á vontade, devida á irritação inflam- matoria primitiva ou secundaria do cordão rachidiano ou de parte do systema nervoso, com producção de es- pasmos permanentes e contracções convulsivas desses músculos. O tétano toma o nome de trismus quando é limitado aos músculos da maxilla inferior. Chama-se emprostJiotonos quando ataca os músculos da parte anterior do tronco, curvando o corpo para diante. É pleurosthotonos quando por contracção dos músculos da parto lateral curva o corpo para esse lado. Quando 254 THYROCÉLE E THYRONCIA ataca os músculos da parte posterior do tronco e curv . o corpo para trás, chama-se opistlwlonos. Quando todos os músculos se contrahem igualmente, chama-se tétano tônico. Ha ainda o tétano geral c que mantém o corpo em estado permanente de rijidez, sem o dobrar para parte alguma, o qual toma o nome de tétano direito ou vertical. Symptomas. Calefrios; lassidão; abatimento; ás vezes insomnia e vertigens; rijeza do pescoço e dos músculos das maxillas; constricção na garganta e no epigastrio; contracção convulsi.a de todos os músculos do corpo; tensão u o longo da columna vertebral; contracção do pharynge; rijidez geral; dentes apertados; deglutição difficil, ás vezes impossível; embaraço da respiração, com ameaça de asphyxia; constipaçao; caimbras dolorosas e dores nos músculos contrahidos; pulso normal; sôde in- tensa; cumulaçâo de saliva na boca; retenção ou incon- tínencia de ourinas; intelligencia conservada e perfeita. Tratamento. Yide Espasmos. Além disso convém crear na câmara onde deve estar o individuo affectado uma atmosphera alcoólica. Eaz-se esta, pondo ao pé da cama do doente unia bacia com água fervendo, dentro da qual se deve lançar, para uma quantidade como vinte garrafas de água, uma garrafa de 2 litros de álcool a 36°. Convém sujeitar o paciente a banhos quentes, con- tendo a mesma proporção de álcool, os quaes serão repe- tidos conforme o gráo de intensidade dos symptomas, e tão demorados quanto fôr possível. THYROCÉLE E THYRONCIA. Yide Papo. TINIDO DE OUVIDOS 255 TICO DOLOROSO. Yide Nevralgia. TINHA. DERMATOSE OU AFFECÇÕES TINHOSAS. A tinha é o representante do grupo de inflammações chronicas do couro cabelludo, do corpo mucoso e do derma, tendo por sede o bulbo dos cabellos e por ma- nifestações o desenvolvimento de pústulas e vesiculas, se- guidas de escamas e crostas mais ou menos espessas, ulcerações e furfuras fétidas e numerosas. Yide para o resto dos pormenores Favus e Porrigo. TBNIHO RE OUYIDOS. Yide Paracusia. 256 TÍSICA TÍSICA. CONSUMPÇÃO , TÍSICA PULMONAR , TÍSICA TUBERCULOSA. Affecção orgânica dos pulmões, caracterisada pela for- mação, inflammação e fundição de tuberculos. Conhecem-se na tísica três períodos, o primeiro dos quaes é o período dos prodromos, e os dous últimos constituem a tísica confirmada. PerSodo prodrontico ou de iniminencia.— Symptomas. Os symptomas são lentos e desenvolvem-se insidiosamente. No meio da saúde mais florescente appa- rece tosse curta, fatigante, perseverante, sêcca, mais freqüente de dia do que de noite. De ordinário são attri- buidos estes phenomenos a simples defluxo, em conse- qüência de uma suppressão da transpiração (constipaçao na phraso comrnum do povo) desprezada. Depois da tosse, languidez, suores nocturnos parciaes no peito, pescoço e cabeça, e emmagrecimento; outras vezes, porém, estes phenomenos faltão ou são substituídos por escarros de sangue mais ou menos freqüentes. Tratamento. E este o período em que se pôde contar com quasi certeza de obter livrar o enfermo de uma morte cheia de torturas. Logo que um indivíduo, cujo thorax não perfeitamente bem conformado, é estreito e fácil de se irritar e inflammar, sujeito a freqüentes defluxos de peito, e a casos de hemmorrhagia pela boca, ainda mesmo que só sejão em escarros mais ou menos abundantes, o pratico tísica 257 tem rigorosa obrigação de indagar se elle teve parentes, ainda mesmo remotos, em linha recta, tísicos ou escro- phulosos; no caso affirmativo convcm aconselhar im- mediatamente um tratamento enérgico, não só curativo, desses alcunhados catarrhos e defluxos, mas mesmo pre- ventivo da tísica. O meio mais poderoso, como preventivo v, sem contradicção, a mudança de ares ou clima. Para isso se escolherão lugares que estejão longe do mar e que possuão temperatura quente e igual. Ha um velho rifão que diz: O mar sempre foi inimigo do peito. Conhecemos todavia pontos privilegiados para onde emigrão muitos tuberculosos, que fazem excepção a esta regra; a ilha da Madeira, por exemplo, e o Papagaio na cidade da Bahia. Na primeira até certo ponto é preenchida a prescripção, porque quando se diz—longe do mar—não se quer senão proscrever sua zona immediata. Hoje, porém, que todos os pathologistas estão accordes em admittir como alta- mente conveniente para a cura, até do primeiro período de tísica confirmada, o emprego do sal commum ou chlo- rureto de sodium, parece não ter grande razão de ser o conselho dado para o afastamento da zona próxima ao mar. O Papagaio ainda tem a seu favor as exhalações iodicas de mangues que bordão suas praias, as quaes tém sido também em todos os tempos aconselhadas para este soffrimento; além das emanações sulfurosas de que é tão altamente dotada essa localidade, as quaes têm a proprie- dade, talvez, de tornar os tuberculos cretáceos quando já estejão desenvolvidos, ou impedir sua propagação no parenchyma pulmonar, ou mesmo embaraçar que elles se desenvoivão. Assim, pois, aconselhamos, além da alimenta- ção apropriada, da qual em breve fallaremos, ao pratico ensaiar nos seus doentes as mudanças para lugares pró- ximos de suas localidades, visto como nem todos estão em circumstancias de einprehender viagens de longo curso, que são commummente cm extremo dispendiosas. Ainda ha uma consideração que convém attender quanto possível em relação á escolha da localidade: é que o ponto escolhido tenha em sua proximidade mattos intercalados ou circumdados de campinas ou prados de vegetação rasteira, mas rica de gramineas. d. h. n *7 258 T.KICjí Assim, na provincia da Bahia ha a escolher os seguin- tes lugares: Papagaio, Brotas, Muritiba, Maracás, Rio de Contas, Monte-alto, Serra de Itiúba, Morro do Chapéo, etc. No Rio, Morro de Santa Tfiereza, Tijuca, Paquetá, Nova-Friburgo, Petropolis, etc. Em S. Paulo, o norte da província e vizinhanças de Taubaté e outros pontos. O doente deve ter em vista o seguinte axioma, que tanto interessa á cura dos symptomas prodromicos, que no lugar onde uma vez se obteve imminencia de tísica, se a cura não foi perfeita e completa, e não se deitou escoar espaço de tempo sufficiente para distrahir a torrente pathologica do curso adquirido, a reincidência é quasi certa.—Isto a respeito dos prodromos; com maior cópia de razão a respeito da tísica confirmada, onde a acção patho- logica já começou os seus perniciosos effeitos. Não basta, porém, a mudança do ar, é necessário o uso de alimentação reparadora e que encerre princípios, além de fortificantes, que ajudem a neutralisar a acção do agente morbifico, nullificando a propriedade de que elle goza de alterar os sólidos e os liquidos da economia. O leite deve constituir a base da alimentação, porque se elle para A. Latour e G. Guyot goza da propriedade de curar o primeiro período da tisica confirmada, quando o animal que o fornece é alimentado com substancias, ás quaes se addi- ciona o chlorureto de sodium (sal de cozinha), com maior cópia de razão na tisica incipiente, na imminencia a cila ou nos seus prodromos, deve ter acção muito mais profícua e dobraX jente vigorosa. Assim é: os catar- rhos, as hemo;hysias e todos os symptomas do período prodromico são sustados radicalmente com o uso do leite, tomado Lumediatamente depois de extrahido da vacca. E se o doente tiver a cautela de trazer sobre a pelle roupas de flanella, usar de alimentação rica de princípios repara- dores ; privando-se de excessos de toda a espécie, inclusive as longas conversações em voz alta, o c ;nto, a declama- ção, e em geral todas as commoções vivas da alma, e os excessos dos trabalhos intellectuaes, addicionado dos TISICA 259 medicamentos homoeopathicos, indicados no fim do arti- go, a cura se effectuará noventa e nove vezes sobre cem. Tisica confirmada. — EPrinaeiro periodo. — Syjuptomas. Como nos prodromos tosse sòcca, acompanhada depois de algum tempo (algumas vezes depois de mezes) de escarros espumosos, claros, semelhantes á saliva. Dores em um ou nos dous lados do peito, entre as espádoas ou na caixa do peito, acompanhadas de dyspnéa mais ou menos intensa, provocada pela tosse, que se torna quintosa, maxime á noite, dando escarros espessos e opacos, alter- nados com claros e espumosos; oppressão, hemoptyses pouco abundantes, ou simplesmente escarros rajados de sangue. Pela percussão, som massiço no vértice do peito, abai- xo de uma ou de ambas as claviculas, com falta de elas- ticidade, ou em uma ou outra fossa supra-espinhosa ou em ambas. Pela auscultação nota-se uma ligeira alteração do ruido respiratório, como seja: respiração dura, sêcca, de raspa, bronchica, com a expiração mais alongada do que a inspi- ração ; a rudeza da respiração mereceu dos pathologistas o epitheto de ruido rasposo ou attrito pulmonar. Ás vezes observa-se enfraquecimento do ruido respiratório ; res- piração mais intensa e pueril; bronchophonia; estertor crepitante, ligeiro ; estertor sonoro unido a começo, de immobilidade das costellas sub-claviculares, e vibração thoracica percebida pela mão applicada no peito quando o doente falia. í- i;x;;.)mas geraes. Perturbações digestivas, diarrhéas, emmagrecimento progressivo, suores nocturnos, pallidez; fraqueza e máo estar geral. Tratamento. —Hygienico e dietetico. Como no período an- tecedente, neste, além dos meios médicos que aconselhare- mos no fie; ai, a alimentação deve ser velada e apropria- da a oppó,'-£c ás alterações dos sólidos e liquidos produzi- das pelo agente moibiíico. O leite de esbra ou vacca, alimentadas com substancias, á quaes se junta sal de co- zinha na proporção de 12 a 15 grammas, misturado 260 TISICA com milho e farinha, ou bolacha pisada, ou côdeas de pão piladas, nos primeiros dias, augmentando-se de cinco em cinco dias 5 grammas de sal até chegar a 30, além de cuj a proporção não se deve ir, constitue a base do tratamento (Latour) ; com as carnes de carneiro ou vaeca, assadas ; as refeições davem ser ligeiras e muitas vezes repetidas durante o dia. O doente pôde fazer uso de vinho de Bor- déos e de geléas animaes. Os exercicios do corpo e do espirito são convenientes aos tísicos e um poderoso auxiliar da cura, quando appli- cados com prudência e nos devidos termos. Em todas as épocas da moléstia, tanto quanto permittirem as forças do doente, farão um passeio ao meio dia ao ar livre, e sem se resguardarem muito do sol, a pé, a cavallo ou em carro, suspendendo-o logo que appareca qualquer escarro de sangue. O casamento deve serprohibido aos doentes de ambos os sexos. Segundo período. — Symptomas. [Amollecimento.) Tos.se mais freqüente, quintosa, difficil, dando lugar a vômitos, com expectoração mais abundante e produzindo insomnia. Os escarros são a principio brancos, mucosos, depois ho- mogêneos, esverdinhados, opacos, esfriados de amarello, ar- redondados, sem ar, pesados e fluctuando em liquido claro, viscoso, depois pardo, rajados de sangue ; hemo- ptyse mais rara do que no período precedente; dysp- néa, oppressão e dores de peito, porém mais augmen- tadas. Pela percussão : som obscuro, massiço, notável, com ruido de pote rachado. Pela auscultação: estertor sub-crepitante ou cavernoso (Hirtz eFournet), alguns attritos; estertor sonoro; bron- chophonia, gargarejos; pectoríloquia, ruido respiratório rude, tracheal; respiração cavernosa, amphorica; tinido metallico; depressão sub-clavicular; immobilidade das costellas; febre intensa; nariz atilado, pomos salientes e córados ou rubros, conjunctivas luzentes e azuladas ; faces córadas, e os lábios retrahidos, accessos de febre intermittente, com inappetencia, vômitos e sôde : diarrhéa TÍSICA 261 colliquativa; oedema dos membros inferiores; algumas vezes delírio e surdez; unhas recurvadas. Tratamento dietetico. O aconselhado para o Io período, sujeito ás modificações que o estado do doente exigir, mas tendo-se sempre em vista fortificar o organismo. Medico.—§ l.°Os melhores medicamentos são, em geral: — 1) Cale, hep., kal, lyc, phos., puls., stann., spong.; —2) Ars., chin., dros., ferr., iod., lach.,millef, nitr., nitri.-ac, sep., sil, sidfi; — 3) Bry., carb.-v., con., dule, hep., kreos., laur., led., merc, natr.-m.,phos.-ac, samb.; —4) Amm., amm.-m., arn., bell, dig., guai., hyos., n.-mosch., seneg. e zine § 2." Para a tisica aguda, que se desenvolve por ef- feito de uma pneumonia violenta e mal curada, ou quando provém de hemorrhagias pulmonares, os medicamentos mais convenientes são :—1) Lyc.;— 2) Ferr., hep., lach., merc, sulf.; — 3) CJiin., dros., dule, laur., led. e puls. As tísicas purulentas, que se desenvolvem pelo abuso do mercúrio, exigem de preferencia: — 1) Carb.-v., guai., hep., lach.,nitri-ac, sidfi ;—2) Cale, chin., dule, lyc. e sil Nos esculptores :—1) Cale,hep., lyc, sil;—2) Lach. e sidfi § 3.° Para a tisica tuberculosa ou tisica propriamente dita, os melhores medicamentos são, em geral:—1) Hep., alternando com spong.;—2) Cale, kal, lyc, phos., puls., stann.;—3) Ars., brom., carb.-v., iod., lach., merc, nitri.-ac, samb., sil, sulf. ;—A) Amm., arn., bell, bry., dule, hyos., natr., natr.-m., nitr. e n.-vom. Contra os symptomas do primeiro período, quando os tuberculos estão em estado crú, ou quando começão a inflammar-se, são :— 1) Amm., cale, carb.-v., lyc, phos., nitri.-ac, sulf;—2) Acon., arn., ars., bell, dule, ferr., hep., lach., hyos., kal, merc,nitr., spong., stann. e sulf-ac. No segundo período, no qual se verifica a expecto- ração purulenta, são: — 1) Hep., spong.; — 2) Cale, kal, lach., lyc, phos., puls., sep., sil, sulf.;—3) Brom., 2(52 TISICA carb.-v., chin., con , dros., ferr., iod., merc, natr.-m., nitri., nitri.-ac, phos.-ac, rhus., stann.;—4) D de, gai., laur., samb. e zine Para a tisica dita mucosa ou pituitosa, ou blenorrhéa do pulmão, são : Dule, hep., lach., merc, sen., sep., stann., sulf., ou ainda: Ars., cale, carb.-v., cltin., crot., dig., lyc., phos., puls. e sil zine Aconitum, no começo das tísicas incipientes, maxime havendo congestão freqüente para o peito, com tosse curta, escarros de sangue e disposição ás inflammações pulmo- nares. Ammonium, sendo os escarros mucosos o sanguinolentos, havendo forte oppressão de peito com fôlego curto. Belladona, principalmente nas crianças escrophulosas, com tosse nocturna, fôlego curto e estertor mucoso; ou nas moças, na idade da puberdade. (Depois de bell convém : Hep., Jach.,pJios. ou sil 1) Calcarea, um dos principaes medicamentos no período da expectoração purulenta, sobretudo depois da acçao do sulf. ou de nitri.-ac, ou no primeiro período, principal- mente nas moças pletJioricas, sujeitas a congestões sangüí- neas, a sangramcntos pelo nariz, assim como nas moças que são ordinariamente muito freqüente e abundantemente re- gradas. (Depois de cale convém lyc, sil. ou nitri.-ac.) Carb.-v., sobretudo sendo a tosse violenta, espasmo- dica, ora sêcca e dolorosa, ora com expectoração de mu- cosidades puriíbrmes, misturadas ou não de matéria tu- berculosa. China, maxime quando o doente tem freqüentes hemor- rhagias pulmonares, ou que esteja enfranquecido por eva- cuações sangüíneas. (Depois de chin. convém ferr.) Bulcamara, havendo grande disposição aos resfriamentos, ou que freqüentes resfriamentos tenhão contribuído para desenvolver a moléstia de maneira muito rápida. Ferrum, se a tisica se declarou em conseqüência de uma pneumonia ou catarrho desprezado, e sobretudo se, além TISICA 263 dos symptomas tísicos, ha dyspnéa com vômitos dos ali- mentos, ou lienteria. (Neste ultimo caso chin. será também de grande utilidade.) Hepar, sobretudo nas crianças e nos jovens escrophu- losos, no primeiro período da tisica, depois de bell. ou alter- nando com merc, sil. e spong. Kali-carbonica, medicamento não menos importante que cale, tanto contra os prodromos da tisica, como contra a confirmada, sobretudo depois da acção de nitri.-ac. e de sil. Lachesis, sobretudo depois de bell, Jiep., sil ou alter- nando com elles. Lycopodium, um dos medicamentos mais poderosos, se em conseqüência de uma pneumonia violenta ou despre- zada, se declarar uma febre hectica, com expectoração pu- rulenta ; ou mesmo contra os symptomas de imminencia de uma tisica tuberculosa, com escarros de sangue. (Convém depois de cal, sil, phos., ou alternando com elles.) Nitri-acidum, principalmente no começo da moléstia, antes da administração de kal. e principalmente nas pes- soas morenas que tenhão a tez um pouco amarellada e o ventre freqüentemente relaxado. Phosphorus, não menos importante que cale, kal e sil, tanto contra o período dos prodromos, como contra a ti- sica confirmada, maxime nas pessoas magras, morenas e fortemente dispostas ao coito, assim como nas crianças, nas moças de constituição delicada, com tosse sêcca, curta, fôlego curto, magreza pronunciada, disposição á diarrhéa ou a suores. (Convém principalmente depois de bell. ou al- ternando com sil e lyc.) Sambucus, principalmente havendo suores muito abun- dantes e colliquativos. Silicea, quasi nas mesmas condições que phos. e na maior parte dos casos de tisica principiante ou confirmada, sobretudo depois de lyc, phos., hep. ou cale Spongea, em quasi todos os casos, alternando com hep., principalmente se houver: face muito pallida, com olhos 264 T0RC1C0LL0 encovados e circulo livido; rouquidão , tosse profunda, com dôr de excoriação no peito; forte dificuldade de res- piração ; fadiga do peito depois do menor esforço; fer- vura de sangue no peito e palpitações de coração. Stannum, não convém senão quando os escarros forem evidentemente purulentos; mas se no primeiro período da tisica se manifestão escarros mucosos abundantes, ou catarrhos desprezados ameacem transformar-se em tisica, este medicamento convém em primeiro lugar. Sulfur, não sô nos prodromos da tisica, como na confir- mada, quer ella seja conseqüência de pneumonias despre- zadas, quer seja a tisica tuberculosa propriamente dita, tanto na época da expectoração purulenta, como contra os symptomas da imminencia ou período dos prodromos, eom- tanto, porém, que neste ultimo caso não se administre senão em uma só dose e por algumas semanas. « Nota. O meio mais seguro de se pôr ao abrigo dos accidentes que podem sobrevir por effeito de uma dose muito forte, é não administrar nunca o medicamento senão em uma só dose por muitos dias ou mesmo por muitas semanas. Porque a mesma dose de um glóbulo, que tomada de uma vez, quer a sêcco, quer em uma colher pequena d'agua, não teria senão uma força ordinária, ad- quire, pelo facto da repetição, uma acção infinitamente mais pronunciada, quando diluída em uma certa quanti- dade d'agua,e tomada por colhéres todos os dias. » (Jaiik.) TORCICOEEO. PESCOÇO TORCIDO. Inclinação involuntária, lateral ou antero-posterior da cabeça, devida a rheumatismo, nevralgia, espasmo, con- tracção ou paralysia de um dos músculos do pescoço, com TORCICOLLO 265 dôr nos músculos da parte, augmentada a pressão e acom- panhada de inchação. Tratamento. Nos casos de simples rheumatismo muscular, os medicamentos aconselhados para essa affecção, ajuda- dos das fricções alcoólicas, cobrir a parte com algodão cardado ou flanella e passar sobre o músculo um ferro moderadamente quente. Quando ha paralysia de um dos músculos stprno-mas- toideos, deve-se combater a affecção cerebral com os medi- camentos aconselhados no artigo Paralysia, e sustentar a cabeça com um apparelho mecânico, ou praticar a teno- tomia do músculo são correspondente. Quando fôr por contracção espasmodica de um stemo~ inastoideo, tenotomia do músculo contrahido. Sendo, fi~ nalmente, por contracção espasmodica do palmar, o tra- tamento é o mesmo que para os casos devidos a rheuma- tismo muscular. A tenotomia applicada aos músculos sterno-mastoideos pratica-se de duas maneiras : de dentro para fora, ou da face cutânea para a profunda. Este ultimo processo é o pre- ferível. A oreração pratica-se fazendo uma prega parallela a um dos músculos, correspondendo ao seu bordo interno e a 15 ou 20 millimetros acima do externo. Faz-se com a lanceta uma pequena puncção na base da prega, por onde, retirando a lanceta, se introduz a chato, escorregando com precaução sobre a face subeu- tanea do músculo, o tenotomo de Yidal de Cassis. Para cortar o músculo é necessário dirigir o cortante do instrumento perpendicularmente sobre elle, tendo tido a c intcla de servir-se do dedo médio da mão esquerda como conductor do instrumento. Para fazer trabalhar o teno- tomo deve-se, depois de volta-lo, como se disse, perpendi- cularmente para o músculo, de modo que o dorso do in- strumento corresponda e levante um pouco a pelle, fazê-lo cortar serrando, para o que solta-se a pelle da prega, e apoia-se a mão esquerda no dorso do tenotomo, para por este meio ajudar a secção. Ella deve ser considerada 266 TRISMÜS acabada quando deixar sentir-se um ligeiro rangido, e o operador tiver a sensação de um vasio na parte. Facilita-se a acção operatoria inclinando a cabeça do paciente para o lado opposto do músculo que tem de ser seccionado. O tratamento ou curativo posterior consta apenas de um apparelho rontentivo, o qual deve ser con- servado por alguns dias. Twucmiksas, Yide Distichíasis. TR9CÜOMA.. Yide Plica. TRUSSHIE*. Yide Tétano. TUMOR ERECTIL 267 TROMBOS. Pequeno tumor violaceo devido á extravasação de san- gue nas vizinhanças de uma veia aberta. Tratamento. Provocar a reabsorpção do sangue derra- mado, por meio de" compressas resolutivas, embebidas em água fria, em solução de tintura de arnica e de rhus. TUMOR BRANCO. Yide Arthrocace. TUMOR KRKCTTM.. Yide Telangiectasia. 268 TYPHOIDE TUMOR VARICOSO. Yide Varice. TYUOSIS K TVLOSK. Yide Callos. ■"VMPANITI-:. Yide Pneumatose. TVPHOWK. Yide Febre typhoide. TYPHDS 269 'l'VPHUS. PESTE. TVPHO OKtEN 1 AL. 1'EBRE .P ESTILE N'CJ AL, lRE OU TYPHO DOS CAMPOS. DAS PRISÕES. DOS HOSPI- TAES . FEBRE NOSOCOMTAL . PETECHTAL E PUR- PUREA. O iypho é uma pyrexia de typo continuo, contagiosa, devida á intoxicação do sangue por miasmas irritantes e septicos, na qual se observâo perturbações por acção es- pecial sobre a pelle, ;is membranas mucosas e os centros nervosos, produzindo nestes pontos inflammações mais ou menos intensas, seguidas ordinariamente de gangrena. Para descriprão dos symptomas e tratamento vide Febre typhoide. u ULCERA. A ulcera é uma solução de continuidade das partes molles, mais larga que profunda, quasi sempre chronica, acompanhada de corrimento de pús, e entretida por vicio local ou por causa interna. Segundo Bicherand, a ulcera differencia-se da chaga: Io, porque esta é sempre o resultado da acção de um corpo estranho, emquanto que a ulcera depende da acção de causa inherente a economia ; 2°, a chaga é sempre jdiopathica, emquanto que a ulcera é symptomatica; 3o, a chaga tem tendência á cicatrisação, emquanto que a ulcera tende a augmentar-se e estender-se em superficie, porque a perda de substancia reconhece por causa um vicio interno ; 4o, finalmente, o tratamento da chaga ó do domínio da cirurgia, emquanto que o da ulcera é privativo da medicina. O vicio interno pôde ser dependente das condições physicas da mesma moléstia ou de sua etiologia; grande numero de vezes, porém, da constituição individual ou do estado diathesico do paciente. Nesta ultima classe estão as ulceras cancerosas, herpeticas, sypJãlitLas, escorbuticas e escropJiulosas. Na primeira estão as ulceras simples, vari- cosas e callosas, aquellas do domínio particular da medi- cina, e estas desta e da cirurgia. As ulceras ainda são inflammatorias, fungosas e atô- nicas. ULCERA 271 Ulceras simples.—r Ellas têm sua sede ordinária nas pernas, principalmente na esquerda; seus caracteres são os seguintes: solução de continuidade na pelle, dos membros, ás vezes das mucosas, de superficie mais ou menos extensa, de fôrma oblonga ou circular, estabele- cendo-se geralmente sob a influencia de trabalho parti- cular, ou succedendo a uma chaga; indolente, apresen- tando cavidade de fundo pardo ou violaceo, com emi- nências que sangrão ao menor contacto, ou pelos movi- mentos da parte, de aspecto violaceo quando o doente está em pé, ou vermelho estando deitado; os bordos são finos. revirados para fora e destacados da ulcera; esta deixa ti inssudar uma substancia viscosa, composta de pús, san- gue e matérias orgânicas. * Tratamento.—Local. Repouso, situação horizontal do membro ; compressão com tiras de esparadrapo, com folhas de chumbo, com placas de couro fervido, de caoutchouc, de gutta-percha. Estas placas, para serem usadas, devem antes ser amollecidas em água quente e applicadas neste estado para tomarem a fôrma das partes doentes ; caute- risação com nitrato de prata, sobre os bordos da ulcera e sobre as vegetações, quando ellas existirem. Ulc. inflansaiiaiorias.— Aos sympto nas preceden- tes ajuntão-se : fundo da ulcera desprovido de botões car- nudos, semeado de cavidades cheias de substancia espon- josa, viscosa e adherente, transsudando pús soroso e san- guinolento ; ulcera muito dolorosa; a suppuração altera-se facilmente; o fundo e os bordos tumefazem-se; toma um aspecto vermelho escuro; a pelle circum vizinha fica vermelha e erysipelatosa. Tratamento.—Local. Curativo simples, tiras agglutina- tivas. Ulc. cafilosas.—Estas são ulceras antigas, consecu- tivas a uma inflammação mais ou menos aguda, de bordas e tecido cellular subjacente duras e espessas, de fôrma irregular, oval, arredondada; as bordas são proeminentes, unidas, esbranquiçadas, de aspecto e consistência schirrosa, 272 ITLCEIIA tendo o fundo vermelho, duro, liso, humedecido de uma secreção sorosa, de cheiro infecto; pelle circumvizinha pallida; endurecimento do tecido cellular; engurgita- mento do membro affectado. Tratamento.—Local. Cauterisação com nitrato de prata ; compressão methodica; banho local; excisão. UIc. varicosas.—As ulceras varicosas têm sua sôde nas pernas, freqüentemente acima do malleolo interno ; começão por perfuração ou ruptura da veia ou da pelle e vão augmentando mais em largura do que em pro- fundidade ; têm fundo escavado e livido, de bordas duras, com engurgitamento pastoso; suppuração abundante de pús sanioso e fétido, as partes vizinhas são violaceas e tensas; vegetações fungosase sangrentas ; oedema do mem- bro e dilatação das veias. Tratamento.—Local. Elevação do membro; compressão > irrigação dragua fria; banhos locaes de rio corrente. UIc. fungosas.—Na ulcera simples, formação de bo- tões carnudos, chatos, largos, molles, pallidos, sangrando ao menor contacto, confundidos por sua base, ou em fôrma de cogumellos, cedematosos, outras vezes escuros. vermelhos, cobertos de um liquido ser o-purulento. Tratamunto. — Local. Compressão : cauterisação com nitrato de prata. Ulc. atômicas. — Têm superficie livida, pallida, trans- sudando pús soroso sem consistência, bordas descol- ladas; a pelle circumvizinha é sêcca, flaccida e enrugada. Tratamento.—Local. Cauterisação com ferro em brasa. Ulc. escrophnlosas.— Podem indifferenteinente apparocer em todos os pontos do corpo onde existão tumores escrophulosos, principalmente no pescoço, em derredor das articulações, etc. Têm fundo vermelho violaceo, bordas molles, descolladas, mais ou menos vio- laceas, irregulares; no fundo da ulcera botões carnudos, ULCERA 273 achatados, secretando sorosidade saniosa, misturada com detritus floconosos. Tratamento.—Local. Excisão e cauterisação. Ulc. syphiliticas, cancerosas e herpeticas. —Yide os artigos Syphilis, Cancro e Herpes. Tratamento.—Geral. As ulceras carcinomatosas exigem principalmente: —1) Ars., asa., hep., lach., lyc, merc, puls., sil, sulf ;—2) Aur., bell, cale, chlor., ciem.,nitri.-ac, sep., staph. e squill. Para as ulceras fistulosas:—1) Ant, cale, lyc, pJws., sil, sulf.;—2) Asa., bell, carb.-v., caus., con., nitri.-ac, puls. e rut As ulceras gangrenosas, de preferencia:—1) Ars., bell, chin., lach., sil ;—2) Con., rhus., sec. e squill. As ulceras mercuriaes, principalmente: Aur., bell, carb.-v., fluor.-ac, hep., lach., nitri.-ac., n.-jugl, sass., sep., -sil, sulf. e thui. Para as ulceras escrophulosas :—1) Ars., bell, cale, carb.-v., lyc, mur.-ae, sil., sulf.;—2) Aur., cist., graph.. hep., lacJi., n.-jugl. e phos. Para as ulceras syphiliticas de preferencia:—1) Merc; —2 Aur., carb.-v., lach., nitri.-ac, n.-jugl—3) Iod. o mez. Para as ulceras atônicas:—1) Ars., lach., sil, sulf;—2) Cale, carb.-v.,graph., ipec, lyc, mur.-ae, natr., phos.-ae. puls., rut;—3) Amm.-m. Contra as ulceras arthriticas :—1) Bry., chin., lyc, sulf.; —2) Cale, graph., rhus. e stapJi. Contra as ulceras herpeticas :—1) Cale, ciem., graph., lyc, merc, rhus., sep., sil, sulf. e zine Contra as ulceras callosas :—1) Ars., asa., cale, carb.-v., lach., lyc, merc, n.-jugl, petr., sang., sep., sil. e sulf. Contra as ulceras cariosas :—1) Asa., lyc, merc, sil., —2) Aur., cale, hep., phos.-ac, rut., sabin., sulf.;—3j Ang., ars.,fiuor.-ae, mez., nitri.-ac, rhus., spong. e staph. Contra as ulceras fungosas : —1) Ars., carb.-an., lach., d. h. n 18 2/4 URTICAEIA merc, petr., sep., sil, sulf.;—2) Carb.-v., cham., ciem., phos., sang., staph. e sulf. Contra as ulceras varicosas: — 1) Carb.-v., puls., sulf; —2) Ars., caus., graph., lach. e lyc Contra as ulceras verminosas :—1) Merc, sil. ;—2) Ars., cale e sabad. Contra as ulceras verrucosas:—1) Ars.;—2) Petr. e sil. URETHRITE. Yide Blenorrhagia. URTICARIA. CNIDOSIS, ECTHYMOSE, FEBRE URTICAR. A urticaria é um exanthema, algumas vezes febril, caracterisado por manchas brancas, ou vermelhas, sa- lientes, fugazes, com coceira viva e hyperemia local da pelle, proveniente de um estado de plethora gemi. Divide-se em três espécies, que são: urticaria febril, ephe- mera e tuberosa. Urticaria febril.—Symptomas.—Locaes. Prurido ás vezes insupportavel, maxime na cama ou perto de lugar onde haja fogo ; augmento coçando-se; placas va- riáveis em numero, côr e fôrma; inchação dos tecidos. Geraes. Febre mais ou menos intensa; displicência; inappetencia, perturbações digestivas; agitação. UVDLOPTOSE 275 Urt. epheniera. —Symptomas.—Locaes. Placas irre- gulares, alongadas, simulando os vestígios de flagellação recente, de pouca duração, mas susceptível de reprodu- zir-se muitas vezes no mesmo dia. Geraes. Os da febril. Urt. tuberosa.— Symftomas.—Locaes. Placas pro- fundas, ã semelhança de nozes, na espessura do derma, com tensão considerável. Geraeí. Accessos febris intensos; abatimento geral; agitação ; suffocaçâo e difficuldade de movimentos. Tratamento. Os principaes medicamentos são:—1) Aps. ;—2) Cale, caus., dide, hep., lyc rhus. ;—3) Acon., ant, ars., bell., bry., carb.-v., ciem., con., cep., ign., mez., natr.-m., n.-vom., petr., pids., sang., sep., sulf, urt. e veratr. Para a urticaria febril são, principalmente: Acon., bry., dule, rhus. e urt. Para a urticaria chronica e ephemera: Cale, lyc, ou: Ars., rhus. e urt. UYUUOPTOSE. STAPHYLONCIA. Hypertrophia ou atonia da campainha com procedên- cia e queda deste appcndice. Tratamento. Cauterisação ; excisão; resecção ; uvulo- tomia. V VAGINITE. ELYTRITE, KYSTITE, COLPOSE. Inflammação da membrana mucosa dá vagina. Divide-se em aguda, granulosa, chronica e diphterica. Vagânite aguda.—Symptomas.—Locaes. Em come- ço insensibilidade da vagina, com calor e corrimento de matéria vaginal, clara, depois espessa e amarellada; em seguida tensão e sensibilidade da vagina, com estreitamento do orificio externo, devida á tumefacção dos grandes lá- bios; coloração rosea ou avermelhada da mucosa; in- chação dos ganglions inguinaes. Vag. granulosa e chronica.—Symptomas—Lo- caes. As dores são substituídas por coceira e prurido; o corrimento é mais ou menos abundante e espesso, de côr amarello-esverdinhado. Pelo toque encontra-se na vagina pequenas granulações, muito numerosas, averme- lhadas e que nunca se ulcerão. Vag. diphterica.—Symptomas.—Locaes. Côr escar- late ou vermelho vivo da vagina; exsudação membra- iiosa amarella ou avermelhada, adherente á superficie da VARICE 277 vagina, sangrando pela ablação das falsas membranas, com calor local, dôr, constricções espasmodicas, pertur- bações na menstruação e leucorrhéa; a diphteria es- tende-se de ordinário á vulva e á bexiga. Tratamento.— Geral. Os melhores medicamentos são : —1) Con., merc, sulf.;—2) Bell, ferr., kal, lyc, natr., n.-vom.;—3) Ars., chin., canth., nitr.-ac, phos., puls., rhus., staph., thui. ;—4) Alum., caps., carb.-v., cham., graph., hyos., kreos., mur.-ae, plat., sabin., sep., sil. e stann. Local. Da aguda: injecções de água tépida freqüentes; banhos; chumaços de fios embebidos em glycerina e dei- xados na vagina. Da granulosa: injecções de água tépida para limpar a vagina, depois injecções com uma seringa de vidro, con- tendo uma solução de nitrato de prata, na proporção de um grão para uma onça de água distillada. Estas injecções devem ser feitas duas vezes ao dia ; banhos de assento, e rolhas de fios embebidas em glycerina. Da dípJderica: injecções tópidas. Depois do período de agudeza injecções com nitrato de prata óu phenicadas no caso de secreção fétida. VARICE. PHLEBECTASIA, TUMOR VARICOSO. A varice é um tumor desigual, cheio de nós, molle, in- dolente, devido á dilatação permanente das veias, sem pulsação, compressivel, de côr azulada, com oedemacia, e ás vezes ulceração dos tegumentos Quando ataca uma 278 VARICELLAS só veia, chama-se varice, quando muitas e que ellas ficão hypertrophiadas, adelgaçadas ou chronicamente inflam- madas, chama-se tumor varicoso. As veias que mais fre- qüentemente costumâo produzir varices são as dos mem- bros inferiores, a sapliena interna e seus ramos, as hemor- rhoidaes, as espermaticas, as da vulva e da vagina. As varices têm por causa um affluxo anormal de sangue no interior das veias. Tratamento geral. Os melhores medicamentos são : — 1 ) Arn., carb.-v., puls., sulf; — 2) Ars., cale,flúor.-ac, caus., lyc, n.-vom.;— 3) Ambr., ant., coloe, ferr., graph., kreos., lach., magn.-aus., natr.-m., sil, spig., sulf.-ae e zine Havendo ulceração: —1 ) Ars., puls., sil, sulf.;—2) Acon., cham., lyc, spig. ; — 3) Kal, kreos., lach., n.-vom., tart, thui. e zine Local. Divide-se em palliativo e curativo. O primeiro consta de compressão circular, contentiva, permanente, mas não compressiva, com ataduras applicadas methodi- camente ou por meio de meias elásticas de borracha. O curativo tem por fim favorecer o curso do sangue nas veias e sua obliteração. Repouso; situação horizontal; tópicos fixos; ligadura dos vasos; acupunetura; kirso- tomia ou incisão da veia ou do tumor; secção [transversa ou longitudinal; excisão ; extirpaçáo. VARICEIXAS. E uma espécie de varíola, porém modificada como a varioloide, não tendo quasi nenhum prodromo, mas erup- ção muito variada. Conhecem-se três espécies, que são: 1*, varicélla de vesi- culas pequenas (chiken-pox, dos inglezes^, onde as vesiculas são pequenas, aceuminadas ou achatadas, contendo um varíola 219 liquido que em principio é transparente, tornando-se de- pois de dous ou três dias lactescente, e produzindo coceira. A dissecação faz-se do sétimo ao décimo dia, por ligeiras escamas escuras; 2a, varicélla de vesicula globulosafwine- pox), a qual não differe da precedente, senão porque as vesiculas são semi-esphericas, e enchem-se rapidamente de fluido, em grande quantidade; 3a, varicéllaverrucosa ou papulosa {varicélla solidescens), a qual tem menos impor- tância que as duas espécies precedentes. Tratamento. Os melhores medicamentos são: Acon., bell, ou: Ant., puls, sil, tart e thui. Para o tenesmo ou a estranguria, que algumas vezes a acompanha : Canth., con. e merc. Para uma erupção que ás vezes apparece polo abuso do toucinho : — Pids., ou :—1) Acon., ant., bell, rhus., tart.;—2) Ars., canth., carb.-v., con., ipec, merc, sep., sil. ; —3) Asa., caus., cycl.,led., natr., natr.-m., sec e sidf. VARICOCEUE. Yide Cirsocele. VARIOU A. VULGO BEXIGAS. Exanthema febril, agudo, contagioso, epidêmico ou es- porádico, caracterisado por pústulas discretas ou confluen- tes na pelle, atacando só uma vez na vida, ordinariamente 280 varíola gozando da propriedade de multiplicar-se sobre uma massa considerável de indivíduos de todas as idades e sexo, indistinctamente. A varíola divide-se: Io, em discreta ou confluente; 2o, em maligna ou ataxica, com exaggeração dos symptomas ner- vosos; 3o, em adynamica; 4°, em hemorrhagica; 5o, em crystallina; 6o, em emphysematosa; 7o, em verrucosa e tu- berculosa. Ella tem cinco periodos,assim divididos : Io, incubação; 2o, invasão; 3°, eruptivo; 4o, suppurativo ; 5o, dissecação. Io período. Incubação. Este dura 9 a 15 dias, sem symp- tomas notáveis e sem manifestações exteriores. 2.° Invasão. Calefrios repetidos, calor mais ou menos in- tenso , seccura da pelle ; pulso freqüente; algumas vezes vômitos, constipaçao, raramente diarrhéa; abatimento geral; cephalalgia pronunciada; agitação, insomnia, ás vezes delírio ou somnolencia ; raramente convulsões locaes ou geraes; dôr lombar, ás vezes dôr viva no ventre; dores na caixa do peito vagas; raramente se observâo sympto- mas de coryza, com lagrimejamento, oppressão e dyspnéa. Estes durão dous a três dias. 3.° Erupção. Depois dos dous ou três dias do pe- ríodo de invasão, desenvolve-se uma erupção papulosa vermelha, mais ou menos abundante, em principio, na face, onde ó mais pronunciada, estendendo-se depois ao pescoço, tronco e membros; ás vezes, porém, a erupção começa pelos lombos, nádegas, e em derredor de ulcera- ções existentes na pelle. Um ou dous dias depois da erup- ção, cada mancha torna-se vesiculosa no centro, onde ap- rece um liquido soroso, depois fórmão-se verdadeiras pústulas mais salientes, contendo liquido turvo e branco- amarellado. Estas pústulas deprimem-se e umbilicão-se no centro, desenvolvendo-se durante três ou quatro dias e circumdando-se de um circulo avermelhado. 4." Suppuração. Do quarto ao sétimo dia da erupção ellas tornão-sehemisphericas, ficando mais visivel a aureola que as circumda e o pús mais consistente; o tecido cel- lular subcutaneo tumefaz-se, começando pela face, pal- pebras olabios, para estender-se ás mãos e ás partes genitaes varíola 281 no oitavo dia, época em que a erupção está em sua maior intensidade. A erupção desde o começo desenvolve-se no isthmo da garganta e abobada palatina, produzindo dysphagia do- lorosa; ás vezes ataca o larynge, a conjunetiva, o prepucio eayulya. Do oitavo ao décimo dia a febre, que tinha diminuído com o desenvolvimento da erupção, reapparece e dura alguns dias, o que lhe valeu a qualificação de febre de suppuração. Havendo complicações, as pústulas aba- tem-se, ha prostração, calefrios, delírio, diarrhéa fétida, íntecção purulenta; pôde declarar-se hemorrhagia, pneu- monias e laryngite ulcerosa. o.° Dissecação. A dissecação das pústulas começa do nono ou décimo dia, em seguida á invasão, logo depois da diminuição da inchação, fazendo-se na ordem do appa- recimento das pústulas, as quaes se rompem, formando o liquido crostas amarelladas, negras ou esverdeadas; ás vezes ulcerações da pelle, formação de chagas sangrentas e abscessos mais ou menos numerosos. A dissecação começa na face e segue a ordem do desenvolvimento da erupção: nas mucosas as pústulas desapparecem por effeito de resolução. Tratamento.— §1." Os principaes medicamentos são:—1) Ars., merc, rJius.;—2) Acon., bell, bry., chin., cham., sulf e tart. §. 2." No período de invasão, são: Acon., ou: Coff., bry. e rhus. que devem ser empregados com o fim de diminuir a febre e apressar o desenvol\ imento da erupção. Se houver metastase para o cérebro o medicamento ó bell, emquanto que se houver soffrimentos gástricos, com vômitos, deve-se empregar: A rs. e ipee Tendo-se declarado a erupção, serão:—1) Sulf; —2) Merc. ou thui., que na maior parte dos casos accelerão este período, ao ponto de trazer mais depressa o da dissecação; quando, porém, a erupção fôr forte em excesso, convém modifica-la, dando-se uma dose de bell. Sendo muito violenta a febre durante o período de suppuração, é ne- cessário administrar-se acon., bell. ou cham., se houver 282 VARIOLOLDE tosse durante este período. Se o pús se tornar sanioso e que haja receio de esphacelo, são: Ars. e carb.-v. que me- recem a preferencia. Contra asalivação, que apparece muitas vezes: Merc. Contra o catarrho com tosse e rouquidão são: Ars. ou merc. Contra a diarrhéa: Chin. § 3.° Em geral deve-se empregar no período febril ou de invasão :—1) Acon., bell;—2) Ars. e op. Periodo eruplivo :—1) Merc, sulf.;—2) Ant, bell, stram., thui. e vacc. Periodo de suppuração ou de maturidade: — 1) Sulf.;—2) Merc, thui.;—3) Vacc. Periodo da dissecação : —1) Acon., bell., cJiam., puls. ;—2) Bry. e n.-vom. Quando houver pústulas negras: — 1 ) Ars., carb.-v., chin.;—2) Bell, Jiyos., lacJi.,rhus. sec. e sil. VARIOUOIDE. VARÍOLA DOUDA, BASTARDA, ADULTERINA, VACCINICÀ. É uma espécie de varíola cujos symptomas são notá- veis por sua benignidade e rapidez de marcha, e cuja duração não passa de seis a doze dias. Costuma atacar de preferencia os vaccinados; a erupção é pouco abundante e faz-se quasi sem os symptomas que caracterisão o pe- ríodo de invasão. As pústulas são discretas, pequenas, molles, flaccidas, não purulentas e sem febre de suppuração. VEGETAÇÕIíS 283 Tratamento. Os principaes medicamontos são : Bell, merc, ou: Ars. e rhus. Antes da erupção, quando ha febre com dores de ca- beça, são : Acon. ou bell que merecem a preferencia. Havendo dores de cadeiras : Bry. No periodo eruptivo, é sulf. que accelerarâ a dissecação. Para o catarrho pulmonar, em conseqüência desta mo- léstia, são principalmente : Merc ou bell. Havendo soffrimentos asthmaticos, com estertor mu- coso, são: Seneg. e tart. Para as affecções dos ossos : Sil. ou phos.-ac Para as das articulações: Bell, bry. e merc VARUS. Yide Acnea. VEGETAÇÕES. CONDYLOMAS, SYCOSE. As vegetações são excrescencias mórbidas, de fôrma e natureza differentes, que sobrevem na superficie das mem- branas mucosas ou de certas chagas, por effeito de hy- pertrophia vascular ou de engurgitamento dos folliculos. As vegetações são syphiliticas e não syphiliticas. As syphiliticas coincidem sempre com os symptomas 2S4 ViRRUGAS da syphilis secundaria: quando pollulão do craneo, denuncião sua natureza. As não syphiliticas podem ser produzidas por diver- sas causas, entre outras, na mulher: a prenhez e a sim- ples leucorrhéa. Tratamento. Os principaes medicamentos são:— 1) Thui., nitri.-ac;—2) Cin., euphr., lyc, phos.-ac, sabin. e stapli. Muitas vezes pôde obter-se cura rápida mediante o emprego alternado, de 3 em 3 dias, de merc ou sulf. (3 dyn.) Cirúrgico. Excisão; ligadura, cauterisação. VERRUGAS. Excrescencias sessis ou pediculadas, dermo-epidérmicas, desenvolvidas na superficie da pelle. Tratamento. Os principaes medicamentos são: — 1); Cale, caus., dule, natr., nitri.-ac, rhus., sen., sulf, thui. —2) Ars., baryt., bell, hep., lyc, natr.-m.. phos.-ac, sil. e stapli. Para as verrugas na face: Caus., dide, kal, nitri.-ac, sep. e sulf Nas sombrancelhas: Caus. Nas palpebras: Nitri-ac Abaixo dos olhos: Sulf. No nariz: Caus. Para as verrugas nos braços : Cale, caus., nitri.-ac, sep. e sulf. Para as verrugas nas mãos: Cale, dule, lach., lyc, nitri.-ac, rhus e sep. VERTIGENS 285 VERTEBRITE. MAL VERTEBRAL DE POTT, OSTEITE VERTEBRAL, CARIE VERTEBRAL. A vertebrite é uma inflammação das vertebras com tendência a terminar-se por amollecimento e carie do corpo do osso, devido ao vicio escrophuloso, com for- mação de tuberculos e gibosidade conseqüente. Symptomas. Dôr em começo, fixa em um ponto da co- lumna vertebral, fraca e passageira, estendendo-se depois pelo trajecto dos nervos intercostaes ou lombares e não se augmentando pela pressão; outras vezes, porém, ausência completa de dores; dyspnéa; incurvação gradual da co- lumna vertebral para diante, com saliência atrás, por effeito do amollecimento e carie do corpo da vertebra; dificuldade do doente se sentar ou abaixar; para- lysia dos membros inferiores e retenção de ourinas. Tosse, hemoptyse, emaciação ; desenvolvimento de tuber- culos nos pulmões; formação de abscessos nas coxas, nas nádegas e nos lados do peito. Tratamento. Yide Osteite. VERTIGENS. A vertigem é uma sensação momentânea de atordoa- mento e gyro dos objectos circumvizinhos, com obscure- cimento da vista, zumbido de ouvidos e perda, em certos casos, dos sentidos. 286 VISCERALGIA A vertigem ó quasi sempre o symptoma de varias mo- léstias, com especialidade aquellas em que o cérebro se acha compromettido. Tratamento.— § 1.° Os melhores medicamentos contra as vertigens, em gera], são:—1) Acon., arn., bell, cale, cJiin., con., hep., lach., lyc, merc, n.-vom., op., phes., puls., rhus., sil, sulf.;—2) Ant, baryt., bry., carb.-an., cham., cie, cin., coce, ign., kal, natr.-m., nitri.-ac, petr., sec, sep., stram., veratr. e zine § 2.° Para as vertigens provenientes das affecções do estômago: Acon., ant, arn., bell, cJiam., merc, n.-vom., puls. e rhus. Para as que são devidas a congestões de sangue: Acon., arn., bell, chin., con., lach., merc, n.-vom., op., puls., rhus., sil. e sulf. Para as que se desenvolvem por effeito de antigas ul- ceras repercutidas : Cale ou sulf. Éà*X*^ Para as que são provocadas pelos movimentos de carros : Hep., sil., ou: Coce e petr. VESANIA. Yide Alienação mental. VISCERAJLGIA. Yide Gota. vista longa senil 257 VISTA CURTA. Yide Myopia. VISTA DIURNA. Yide Hemeralopia. VISTA OUPLA. Yide Diplopia. VISTA FRACA. Yide Deslumbramento. VISTA TONGA SENIU. Yide Presbytia. 288 volvuí.us VISTA NOCTIJRNA. Yide Nyctalopia. VISTA VESGA, Yide Estrabismo. vouvuuus O volvulus é a occlusão intestinal, effeito da invagi- nação de uma porção do intestino, por augmento ou per- versão do movimento peristaltico, com estrangulação interna, seguida de inflammação do intestino. Para o resto dos pormenores vide Ileus, bem como para o tratamento. VÔMITOS 289 VÔMITOS. VOMITO NERVOSO, VOMITURAÇAO. O vomito e a expulsão pela boca das matérias sólidas ou líquidas contidas ni estômago ou no oesophago, por effeito de contracções e movimentos anti-peristalticos dessas partes. O vomito pôde ser symptomatico ou sympathico e idiopa- thico ou nervoso ; este ultimo é ligado a alguma nevrose ou espasmo do estômago. Tratamento. Os melhores medicamentos contra os vô- mitos e náuseas s3o, em geral:—1) Ipee, n.-vom., puls.; —2 Ars., bry., cep., cham., cupr., ferr., millef., sil, sulf, veratr.;—3) Ant., arn., bell, cale, chin., cie. con., dig., dros., dule, hyos., ign., lach., merc, phos., plumb., sec, sep.. tart;—4) Ambr., carb.-v., caus., cin.. coloe, guai., lyc, natr.-m., op., petr., rhus., sabad. o stann. § 2." Para os vômitos dos alimentos depois da comida, por fraqueza de estômago, são sobretudo :—1) Ars., ferr., hyos., n.-vom., puls., sulf. ;—2) Bell, bry., cale, coce, •rraph., kal, lach., rhus. e veratr. Para os vômitos de sangue ou hematemese:—1) Acon., arn., hyos., ipee, n.-vom.;—2) Amm., bell, bry., carb.-v., caus., lach., lyc, mez., millef., sulf. e veratr. Para os vômitos negros (Melcena) : —1) Ars., chin., veratr.;—2) Ipec, n.-vom., sulf., etc. Para os vômitos de matérias fecaes (paixão iliaca, ileus, d. h. n !■' 290 VÔMITOS chordapse, eólica demiserere, etc. :—1) Bell, n.-vom., op. — 2) Acon., bry., plumb., raph., sulf. e thui. (Comp. Ileus.] Para os vômitos de saburras, de matérias biliosas, mu- cosas ou azedas, vide Gastroses, Embaraço mucoso e bilioso. § 3.° Para os vômitos das mulheres pejadas, de pre- ferencia:—1) Ipec, n.-vom.;—2) Acon., ais., ars., con., ferr., iatr., kreos., lach., magn., natr.-m., n.-mos., ox.-ac, petr., phos., puls., sep. e veratr. Para os vômitos dos bêbados:—1) Ars., lach., n.-vom., op.;—2) Caie. e sulf. Para os vômitos provocados por movimentos passivos, como de carros, navios, redes :—1) Ars., coce, colch., ferr., petr. ;—2) Bell, croc, n.-mos., sec, sil. e sulf. Para < s devidos á presença de vermes :—1) Acon., cin., ipec, merc, n.-vom., puls., sulf.;—2) Bell, carb.-v., chin. e lacli. Emfim para os causados por uma indigestão:—) Ipec., puls.;—2) Ant, bry., n.-vom., sulf;—3) Ars., bell, ferr. e rhus. § 4.° Convém consultar para complemento de todas as causas productoras dos vômitos os artigos : Gastroses, Cholera, Dyspepsia, Gastralgia, Gastrite, Diarrhéa, Colicas, Helmintiasis. X XEROPHTALMIA. OPHTALMIA SÊCCA. A xeroplitafiiiia é a inflammação da conjunetiva ocular c palpebral, partículas isada pela seccura exces- siva e retracção desta membrana, augmento de espessura de todo o epithelio, inclusive o que reveste a cornea; obliteração de todos cs vasos excretores das lagrimas, assim como dos seios palpebraes, e embaraço completo do corrimento das lagrimas- Symptomaç.— Subjectivos. A vista diminue na razão dir cta da seccura ; a superfície da conjunetiva fica quasi insensível; os movimentos dos olhos e das palpebras muito difficeis. Esta inflammação é resultado de outras e produz a queda do epithelio em fôrma de escamas. Tratamento. O tratament. é palliativo. Banhos repe- tidos de água tépida, juntando-se á águapotassa, na pro- porção de 3 a 4 gottas para duas onças d'agua. Courserant obteve uma n elhora notável em um caso de xerophtalmia pela occlusão permanente e longo tempo prolongada das pai; ebras. (Wharton Jones.) Banhos de rio e de mar, e lavagens com leite tej ido, de preferencia á água. z ZONA HKKPES-ZOSTEtt, ZONA, ERYSIPELA PUSTULOSA, ERYSIPELA PHLYCTENOIDE. A zona é uma inflammação da pelle com a fôrma de meia-cinta, desde a espinha dorsal at S a linha branca, de natureza eczemo-herpetoide, caracterisada por gru- pos de vesiculas muito próxima* umas da* outras, dis- postas em zona oblíqua, ordinariamente na base do peitu, mais á direita do que á esquerda, cheias de uma serosidade amarello-avermelhada, circumdadas de uma aureola ver- melha e inflammatoria e produzindo calor, dores viva-, em cada grupo, sendo seguidas de dessicação. A pelle fica depois com manchas vermelhas. Tratamionto. O- medicamentos contra esta espécie de herpessão, de preferencia:—1) Graph., rJius.;—2) Ars.. merc, puls.:—3) Bry.. cJiam.,natr., selen., sil. e sulf. DESCEIPÇÃO Tratamentos médicos e cirúrgicos para servir na occasião das moléstias, durante a prenhez e no trahalho dos PARTOS Para a exposição completa, porém resumida, do que convém conhecer da arte de partos, em um trabalho que tem por fim a promptidão dos soccorros ás parturientes, temos de considerar em capítulos especiaes: 1.° O parto natural; 2.° O parto contra a natureza; 3.° A terminação do parto, ou sahida da placenta. PHYSIOLOGIA DA PRENHEZ I." PARTO NATURAL. O parto natural é o que se realisa no fim de nove mezes de prenhez, sem que a arte careça intervir, fa- zendo-se pelos simples esforços da natureza. 294 PARTOS 8ignaes cia prenhez aaterina.—Os signaes são : Io, racionaes; 2°, certos. 1.° Sioxes racionaes. Suppressão das regras, desar- ranjos da digestão, picadas, tumefacção c coloração es- cura dos seios; nevralgias, perturbações da circulação; colostrum, e produetos azotados nas ourinas—kvesteina; — augmento de volume do utero, modificações do collo; perturbações mecânicas da respiração e da locomoção. 2.° Skjnaes certos Movimentos activos do feto, per- cebidos pelo parteiro; agitação do feto produzida pelo parteiro ; ruidos de sopro c batimentos do coração fétal, sem isochronism% com o pulso da mãi. Nos casos de prenhez dupla sente-se dous ruidos cie coração dos fetos, com rhytmo differente, geralmente um acima e outro abaixo do umbigo. A ausência dos ruidos do coração não autorisa todavia a negativa da existência da prenhez, nem mesmo se a criança está viva ou morta em absoluto. Modificações do collo. — O collo apresenta modi- ficações em sua consistência e fôrma, não só segundo a época, como no estado primiparo ou multiparo. Estas modificações começão a ter interesse para o par- teiro do fim do quarto mez em diante : assim, pois, nota-se o seguinte : Fim do 4o mez. O collo eleva-se e dirige-se para trás e para o lado esquerdo; amollecimento: na pri mi para ha uma simples fenda; na multipara elle se alarga. (Fig. 9Ge97j. Fig. 98.—Collo uterino no fim Fig. 97.—Collo uterino no fim do 4° mez na primipara. do 4o mez na multipara. Fim do 5o mez. Na primipara o terço inferior do collo PARTOS 295 está fechado, porém amollecido; na multipara não só está amollecido como aberto, ao ponto de permittir a introduc- ção de toda a phalangeta do dedo indicador (Fig. 98 e 99). Fig. 'JS.—Collo uterino no fim do 5o mez na primipara. Fig. 99.—Collo uterino no fim do 5» mez na multipara. Fim do 6o mez. Na primipara o collo ainda se conserva, na maioria dos casos, fechado, mas está amollecido em sua ametade inferior; na multipara o collo não só está amollecido, porém aberto (Fig. 100 e 101). Fitf. 100-—Collo uterino no fim do 6° mez na primipara. Fig. 101.—Collo uterino no fim de 6,J mez na multipara. Fim do 7° mez. Na primipara o collo está amollecido aios dous terços inferiores, permittindo a introducção da phalangeta, porém mais elevado; na multipara elle pôde receber toda a phalangeta (Fig. 102 e 103). Fig. 102.—Collo uterino no fim do 7o mez na primipara. Fig. 103.—Collo uterino no fim do 7° mez na multipara. Fim do 8* mez. Na primipara o collo está amollecido ao 29») PARTOS ponto de permittir a introducção de toda a phalangeta até o orificio interno, que ainda se conserva fechado; n;i multipara este orificio está entrcaberto, permittindo hcx o feto tocado pelo dedo indicador (Fig. 1(í4 e 105). Fi». 104.—Collo uterino no fim Fig. 105.—Collo uterino no fim do 8o mez na primipara. do 8o mez na multipara. Fim do 9o mez. O collo apaga-se de debaixo para cima, e está amollecido parcial e consideravelmente na pri- mipara; emquanto que na multipara este phenomeno ó geral. TRATAMENTO OAS MOLÉSTIAS »A PRENHEZ. Perturbações digestivas.—Contra a anorexia : Os melhores medicamentos são: Magn.-m., natr.-m., n.- vom., petr. e sep. Contra o pica: Vide artigo correspondente no corpo da obra. Contra a gastralgia: Os melhores medicameütos são Cham., coce, n.-vom. epuls. (Comp. gastralgia.) PARTOS 297 Contra os vômitos viscosos, as náuseas, a dyspepsia e os vômitos incoerciveis, são:—1) Con., ipee, n.-vom., puls.; —2) Acon., ars., ferr., iatr., kreos., lach., magn.-m., natr.-m., n.-mosch., ox.-ac, phos., sep. everatr. Deve-se além disso dar em pequenas porções, e como bebida ordi- nária, ás doentes, vinho de Champanhe diluido em igual p arte d'a g u a fria. Não se deve provocar o aborto ou jarto prematuro senão nas seguintes circumstancias: 1°, quando houver vômitos incessantes de todos os alimenos e bebidas; 2o, quando o enfraquecimento e emmagrecimentoforeintaes que tornem todo e qualquer movimento impossível, sem dar lugar immediatamente a syncopes; 3o, cpiando houver alteração profunda dos traços; 4", quando o pulso subir além de 120 pancadas; 5o, quando o calor da boca e acidez do hálito forem notáveis; G°, quando houver insuccesso de toda a medicação. (P. Dubois.) Contra a constipaçao : Bry., n.-uom., ou ainda : Alum., lyc, op. e sep. Contra a diarrhéa: Ant., phos., sep., sulf, ou: Dule, Jiyos., lyc. e petr. Contra a dysuria e estranguria: Ccr-e, phos., ae, puls. ou: Con., n.-vom. e sulf. Contra as varices : Lyc. Contra as convulsões e espasmos: Bell, cham., cie» hyos., ign., ou ain/la: Coce, ipee, mosih., plat., stram. e veratr. Contra as affecções moraes: Bell,puls., ou : Acon., cupr., lach., merc, plat, stram. o veratr. Contra a cephalalgia :—1) Bell, bry., coce, millef, n.- vom., puls., plat.;—2) Acon., cede, magn., sep. e sulf. Contra t.s manchas amarellas ou escuras da face : Sep. Contra as dores de dentes:—1) Magn., n.-mosch- n.- vom., puls.;—2) Alum., bell, cede, hyos., rhus. e staph. Para as dores no ventre :—1) Ars., bry., cham., n.-vom., puls., sep.;- 2) Bell, hyos., lach. e veratr. Pertiarbaçôcs da respiração. — Contra a 298 PARTOS dyspnéa, quando fôr devida á chloro-anemia ou áplethora : Vide os artigos correspondentes. Perturbações circsalatorias. — Contra a ple- thora: Vide PÍethora. Contra as hemorrhoidas : Vide Hemorrhoidas. Contra o cedema : Fricções alcoólicas, além do trata- mento geral que reclamarem os demais symptomas. Pert. secreíOB'ias.—Contra o ptyalismo : Os prin- cipaes medicamentos são:—1) Bell, cale, colch., eupJtorb., lach., merc, nitri.-ac, op., sulf.;—2) Alum., amb., ant., baryt, bry., cliam., cJiin., hell, ign., ipee, lyc, puls., sep., sulf.-ae e veratr. Contra a albuminuria: Vide Albuminuria. Contra a leucorrhéa: Vide Leucorrhéa. Contra a hydrorrhéa : Repouso horizontal, e clystcr de água tépida. Pert. da iaaaaei-vaçao. —Contra o prurido da vulva: Banhos tepidos, cauterisações ligeiras com nitrato de prata (P. Dubois):—1) Cale, carb.-v., con., natr.-m., sep., sulf.;—2) Ang., kal, sil; — 3) Ambr., amm., coff., kreos., lacli., lyc, merc, nitri.-ac, petr. e thui. Contra a eclampsia : Vide Espasmos. Além desses medicamentos: durante os accessos deve es- vasiar-se abexiga, prevenir as dentadas da lingua por meio de uma rolha de cortiça posta entre os dentes, sustentar a doente para não se molestar. Segando Stoltz e Chailly convém provocar o parto prematuro, porém nunca o aborto. Pert. orgânicas.—Contra o relaxamento das sym- physis pubianas : Repouso horizontal, e apparelho con- tentivo. Contra os descollocamentos do utero: Reducção, repouso horizontal e meios contentivos. PARTOS 299 HEMORRHAGIA UTERINA niT«AWTE A PRENHEZ. Aborto.— § 1.° Procurar a todo o transe prevenir o aborto por meio dos medicamentos abaixo indicados, ajudados de : repouso horizontal e o uso de pessarios de Gariel, quando elle provier de descollocamentos do utero: ou por passeios moderados, quando fôr por vida sedentá- ria; compressas frias sobre as virilhas; clysteres peque- nos, frios, rolhas de fios sêccos, ou embebidos em solução de perchlorureto de ferro, introduzidas por meio do especulo e mantidas com uma atadura em T, deixando-se fi,'àr na parte de 2 a 10 horas. Havendo dilatação do collo, extrahir o feto, praticando a versão. § 2.° Os melhores medicamentos não só contra a dispo- sição adquirida para este accidente, como para seus pro- dromos c conseqüências, são em geral:—lj Bell, cal:, carb.-v., cham., croc, ferr., ipec^lyc, n.-vom., sabin., sec, sep., sil, sulf., zine; —2) Asar., bry., cann., canth., cJún., cye, hyos., n.-mos., plumb., puls. e rut. § 3.° Para a disposição ao aborto, em particular, os medicamentos são: —1) Cale, ca b.-v., ferr., lyc, sabin., sep., sidfi, zine ;—2) Asar., cann., coce, kreos., n.-mos., plumb., pids., rut. e sil Para os prodromos do aborto, os medicamentos melhor indicados como meio de preservar a mulher deste acci- dente, são:—1; Am., bell, bry., cliam., hyos., ipee, millef, n.-vom., sabin., sec.;—2) Cann., chin., coce, n.-mos., plat, puls., rhus. e rut § 4.o Quando houver dilatação do collo e que seja 300 PARTOS impossível prevenir o aborto, deve-se favorecer a expulsão do foto, e extrahi-lo com a pinça de Charriêre (Fig. 106;. Fig. 106.—Pinça de falso germen de Charriêre. depois do que deve-se esperar uma a duas horas que a placenta seja expellida; o que não tendo sido effcctuado, procurar extrahi-la com os dedos ou com uma pinça longa, pr ;ticando-se, no caso de não ter sido completa- mente tLada, injecções com água tépida pura, ou com algumas go'.tas de ácido } henico. DAS APRESENTAÇÕES E DAS POSIÇÕES. Chama-se apresentação a parte do feto que se apresenta no estreito superior da bacia. Ha quatro: as do vértice, da face, do assento e do tronco. Esta ultima diz respeito aos planos lateraes direito e esquerdo do feto. Chama-se posição a relação que existe entre a parte do feto que se apresenta e os*diametros da bacia da mãi. O perfeito conhecimento tanto dos diâmetros da bacia e da cabeça do feto, como de sua posição, são indispensá- veis quando a arte tem de tomar parte no trabalho do sua expulsão. Muitos parteiros admittem para cada uma das três primeiras apresentações seis posições, emquanto que ou- tros somente aceitão duas, em uma das quaes a parte que se apresenta está em relação com a metade lateral esquer- da da bacia; na outra, com a metade lateral direita; todas as mais apresentações, isto é, quando a parte que se apre- senta é voltada para diante, para o meio ou para trás, elles não considerão senão como simples variedades de uma das duas posições. partos 301 As apresentações dos planos lateraes não tem senão duas posições em relação com a metade lateral da bacia oecupada pela cabeça. Designa-se também as posições por sua ordem de fre- qüência — 1«, 2a e 3" posição do vórtice, do assento, etc. CLASSIFICAÇÃO DAS APRESENTAÇÕES E DAS POS1ÇÒKS VOU ORDKM DE FREQÜÊNCIA. Vértice. Face. Mento - iliaca-direita-poste- rior. Mento - iliaca-esquerda-ante- rior. Mento-iliaca-esquerda-poste- rior. l.a Occipito- iliaca-esquerda- anterior. 2.* Occipito - iliaca - direita- posterior. 3.a Occipito -iliaca - direita- anterior. l.a Occipito- ilinea-xquerda- posterior. 5.» Occipito-iliaca-esquerda- trans versa. 6." Occipito-iliaca - direita- transvorsa. Mento-iliaea-direita-anterior Mento - iliaca -direita-trans- versa. Mi m to-il i aca-esquerda-tran s- versa. Assento. 1." Sacro-iliaca-esquerda-anterior. 2.° Sacro-iliaca-direita-posterior. 3.° Sacro-iliaca direita-anterior. l.° Sacro-iliaca-esquerda-posterior. 5.° Sacro-iliaca-esquerda-transversa. 6.° Sacro-iliaca-direita-trans versa. j i Cephalo-iliaco-esquerdo,dor- 1 . . ' so para trás. XDirêtto.. s Cephalo-iliaco direito, dorso ( para diante. PLANOS LATERAES/ po tronco. Sl (Cephalo-iliaco -esquerdo, dor- , 1 so para diante. Lsquerdo.' Ccphalo_iiiaco_clireito, dorso ( para trás. 302 PARTOS Diagnostico das posições. APRESENTAÇÃO DO VÉRTICE. A suttura sagital e as fontanellas constituem para o parteiro os indispensáveis pontos de convenção ou bali-as para o diagnostico diffe- rencial das diversas apre- sentações e posições (Fig. 107 , vista pelo vér- tice.) 1.o Occipito - iliaca - es- querda-anterior. O occiput corresponde á cavidade coíyloide esquerda, a fronte á symphyse sacro- iliaca-direita ; a suttura sagital está obliquamente dirigida da esquerda para a direita, e de diante para trás: a fontanella poste- rior está para diante e para a esqm rda, a anterior Fig. 107. — A cabeça do feto pelo para trás e para a direita • V6rtlC6 i 3 o dorso está voltado para diante e para a esquerda. O ruido do coração do feto tem seu máximo de intensidade na fossa iliaca esquerda, abaixo do umbigo (Fig. 108). 2.° Occipito-iliaca-direita-posterior. O occiput correspon- dente á symphyse sacro-iliaca-direita, a fronte á cavidado cotyloide esquerda, o dorso olha para trás e para a direita, o ventre para a direita e para a esquerda. Os ruidos do coração ouvem-se na fossa iliaca direita, abaixo do umbigo e menos intensos que nas posições antecedentes (Fig. IOD). 3.° Occipito-iliaca-d'reita-anterior. O occiput corres- ponde á cavidade cotyloide direita, a fronte á symphyse PARTOS 303 sacro-iliaca esquerda; o dorso está voltado para diante Fig. 108.—Primeira posição pelo Fig. 109. — Com a fontanella pe- vertice. qtiena para o .lado direito e para trás. e para a esquerda. Os ruidos do coração são muito ex- tensos na fossa iliaca esqueida (Fig 110). é.° Occipito-iliaca-esquerda-posterior. O occiput corres- Fig. 110.— Com a fontanella pe- Fig. 111.—Com a fontanella pequena quena para o lado direito e para dirigida para trás e á esquerda. diante. ponde á symphyse sacrc-iliaca esquerda, a fronte á ca- vidade cotyloide direita. (Fig. 111). :jn* PARTOS 5o e 6.» Nas duas occipito-iliacas-transversas. O occiput occupa pouco mais ou menos a metade do rebordo rombo da semi-circumferencia da bacia, á direita ou á esquerda; a suttura sagital está collocada transversalmente. APRESENTAÇÃO DA FACE. ^iâo é outra cousa mais do que a do vértice desviada. A primeira do vértice corresponde á mento-iliaca direita posterior, e por isso mesmo é a mais freqüente das da lace. Conhecidas, em conseqüência, as do vértice, basta des- crever duas posições das da face, que são as mento-iliaca direita-posterior c mento-iliaca-esquerda-anterior, para que o diagnostico seja completo; porque o mento é só quem substituo o occiput, vindo-se desprender debaixo da sym- physe do púbis em lugar do occiput. Em todas as pasições da face, mesmo nas posteriores, o parto espontânea só é pos ivel nestas condições. 1 .a Menlo-iliaca-direita-pos- terior. O mento põe-se em contacto com a symphyse sa- cro-iliaca direita, a fronte vol- tada para diante e para a esquerda, o occiput mais ou menos approximado da nuca; o dorso voltado para diante, ifjfe para a esquerda; as pan- **"* cadas do coração são ouvidas no lado esquerdo do abdômen, a parte fé tal está muito em cima e o sacco das águas vo- lumoso (Fig. 112). pela Muitos autores considerão as posições transversas da face como as mais freqüentes; a primeira do vertic o, sendo Fig. 112—Primeira po-\ç face. PARTOS 305 a mais freqüente do todas, admittindo-se que as da face não sejão outra cou*a mais que posições do vértice desviadas, a primeira referida se transforma, por deflexão para produzi-las, em mento-iliaca direiti posterior. As transversas, porém, quando são encontradas, demonstrão que o mento já havia soffri Io um movimento de rotação. 2.° Mento iliaca-esquerda-anterior. Nesta o monto põe- se em relação com a eminência ileo-pectinea esquerda, a fronte volta-se para trás e para a direita, e a face para a exeavaçáo pelviana O dorso está voltado para a direita, as pancadas do coração são ouvidas fracamente na fossa iliaca direita. APRESENTAÇÃO DA EXTREMIDADE PELVIANA OU DO ASSENTO. O pelvis podo apresentar-se por quatro pontos : 1.° Pelo pelvis com todas as partes de que elle so compõe (coxas dobradas sobro o abdômen, e as pernas sobre as coxas). 2.° Pelos pésoupebs joelhos, os quaes chegão até á vulva, e pelos m mbros inferiores, ar- rastados pela onda amniotica e desdobrados (Fig. 1i-j). 3.° Pelo assento só, tendo os membros inferiores esten- didos e levantailos sobre o plano anterior do feto. 4° Finalmente, um só pó OU um Só joidho do fétO pó Io Fig. 113.— Apresentação pelos apresentar-se na vulva, tendo Pes- o outro membro inferior estendido sobre o abdômen. 306 TARTOS Estas variedades não passão de modificações da mesma apresentação, a qual é menos freqüente do que as do vértice, porém mais que as da face. O sacro, nestes casos, substitueo occiput e serve de guia para a descrípção das posições do assento. A ordem de freqüência é a mesma que para as do vértice. 1.° Sacro-iliaca-esquerda-anterior. O dorso do feto está voltado para diante e para a esquerda, o ventre para trás e para a direita, o lado esquerdo para diante e para a direita, e o direito para trás c para a esquerda; os ruidos do coração do feto são ouvidos á esquerda, acima do umbigo. Nesta posição o collo custa a dilatar-se e a parte fétal fica por muito tempo em cima; o sacco das águas é vo- lumoso e rompe-se muito cedo. Praticando-so o toque, sente-se a ponta do coceix di- rigida para trás e para a direita em seguimento do rego d'entre as nádegas, e no sulco encontra-se o ânus, cujo sphincter é difficil de vencer se o menino estiver vivo. Encontrão-se algumas vezes os órgãos genitaes, cujo engano de differença de sexos é muito freqüente, e que obriga o parteiro a não annun- cia-lo antes de perfeito co- nhecimento. A presença do meconium não indica soffri- mento da criança (Fig. 114). 2.° Sacro-iliaca-direita-pos- \terior. O dorso da criança está voltado para trás e para a direita, o ventre para diante o para a esquerda, o lado direito para diante e para a direita, o esquerdo para trás e para a esquerda; o máximo da in- tensidade dos ruidos do coração e a direita e acima do umbigo; a ponta do coceix está voltada para diante e para a esquerda. Fig. 114.—Primeira posição. PARTOS 307 APRESENTAÇÕES DO TRONCO. A. — PLANO LATEEAL DIREITO. l.o Cephalo-iliaco-esquerdo, dorso para diante (Fig. 115). A parte fótal fica em cima por muito tempo, o sacco das águas ó volumoso, o utero tem antes a fôrma oblíqua do que transversa; quando o toque é possível en- contra-se a dobra do cotovello ou o coto da espádoa. A cavidadej axillar dará a posição da cabeça, seu vértice será dirigido para a fossa iliaca esquerda, o omoplata estará vol- tado para diante e fará descobrir o dorso; as pancadas do co- ração são muito per- ceptíveis abaixo do umbigo, á esquerda, e propagão-se seguindo uma linha quasi transversa. O braço estando pendente na vagina, em vez de ser mo- tivo de susto, serve para facilitar o diagnostico. Na apresentação que nos occupa, a palma da mão deve estar voltada para cima, teudo o pollegar voltado para a coxa Fig. 115.—Apresentação pela espádoa. 303 PARTOS direita da mulher, quando a apresentação é do plano lateral direito. 2,° Cephalo-iliaco-direito, dorso para trás. Os signaes são os mesmos, com a differença de que a cavidade axil- lar será voltada para o lado direito, o omoplata vol- tado para trás, e as pancadas do coração serão muito obscuras ou quasi inintelligiveis. B.-r—PLANO LATERAL ESQUERDO. l.° CepJialo-iliaco-esquerdo, dorso para trás. E ainda a cavidade axillar e o omoplata quem guia o diagnostico. É necessário prestar attencão para não confundir a prega do cotovello com a cavidade axillar, o que traria, como conseqnencia rigorosa, a 1a!sidadc do diagnostico. Nos casos do duvida desprende-se o braço para examinar melhor. 2.o Cephalo-iliaco-direito, dorso para diante. Aos signaes supracitados acerescentão-se as pancadas do coração, que são facilmente percebidas. Nestas apresentações o parto natural é muito difficil, e o parteiro é obrigado a praticar a versão; todavia con- tão-so factos do parto natural, os quaes são effectuados, fazendo-se naturalmente a versão ou a evolução espon- tânea. A evolução espontânea abrange os cinco tempos do mecanismo geral dos partos, onde a vida do feto e quasi sempre coinproinettida. MECANISMO KO TRABALHO. Qualquer que seja a apresentação, o mecanismo do trabalho do parto abrange cinco tempos: 1.* Flexão ou diminuição das partes. PARTOS 309 2.° Introducção, tanto quanto possível. 3.° Rotação da parte fé tal para se accommodar aos eixos mais favoráveis. 4.° Desembaraço da primeira parte fétal. ò.° Rotação da segunda parte fétal, precedendo seu desembaraço. Estes cinco tempos variao segundo a apresentação é do vértice, da faço, etc, mas concorram todos para o mesmo fim, mesmo nas apresentações da espádoa, quando a evo- lução espontânea se effeitua. Quando elles faltao para supprir os esforços naturaes, é indispensável produzi-los artificialmente com a intervenção da arte. Os abortos não são sujeitos a este mecanismo, porque não ha necessidade de pôr em relação os diâmetros mais convenientes do feto com os da bacia, necessidade indeclinável no feto de termo, quer esteja vivo ou morto. PARTO ESPONTÂNEO PEEO YERTICE. 1.° tempo. O primeiro tn( li nadas do feto, e estnitamento da bacia, cujos meios de tratamento e correcção vão em seguida. 1.° Bi/idez do collo. A rijidez do collo pôde ser simples ou espaMnodica. No primeiro caso encontrão-se os bordos PARTOS 313 do orifício espessos, molles, mas o trabalho do parto não se adianta, e é, ao contrario, acompanhado de fortes dores de cadeiras: o tratamento que se lhe deve oppôr é - banhos, e se a mulher é plethorici: cham., n.-vom., op., pids., sec, ou acon. e bell. (se s primeiros nada fizerem). No segundo caso, os bordos do orificio são finos, muito tensos, resistentes e sensíveis. Para isto, além dos mes- mos medicamentos acima, coff., n -mos. ou cale: pequenas inci-ões múltiplas na circumferencia do orific.o. 2 o Fraqueza das contracções. Estas podem apparecer; debilidade geral, ou por distensão extrema do utero. No primeiro caso sec, seguido da applicação do for- ceps, se o collo estiver sufficientemente dilatado; no se- gundo, ruptura das membranas, se a dilatação estiver adiantada. 3.° Irregularidades das contracções. Os melhores medi- camentos contra este estado são:—1) Coff, n.-vom.;—2) hed., cham , n.-mos. o puls. Coffea, convcm principalmente se as dores forem muito violentas, que levem a paciente até o desespero. So coff. não fôr sufficiente, acon. prestará grandes serviços. Nux-vomica, se as dores se manifestarem sem que ao mesmo tempo se effeitue o ve dadeiro trabalho do parto, principalmente se estas dores forem acompanhadas de freqüente ou contínua necessidade de ir á banca ou de ourinar Se neste caso n.-vom. não bastar, deve-se experimentar de preferencia: Cham., bed., ou mesmo: N.-mos. ou puls. 4." Suspensão das contrações. As contracções podem cessar ou suspenderem-se por diversas caudas: 1", por uma commoçao moral; 2», por vômitos obstinados;3a, por obstáculo trazido ao trabalho em conseqüência de resis- tência do perinêo ; 4a, por esgotamento, mesmo estando o collo flaccido e dilatado. Os meios indicados para corrigir este accidente, são Médicos. Op., puls. e sec. 314 PARTOS Opium, convém quando, nas mulheres plethoricas e vigorosas, as dores parão subitamente por um susto, ou por outra qualquer influencia perniciosa, apparecendo con- gestão cerebral, face vermelha e tumefeita, e mesmo es- tado soporoso. Pulsatilla, se nas mulheres de boa constituição as dôrcs tardarem a desenvolver-se, sobretudo se houver dores espasmodicas, ou mesmo se a ausência das dores depen- der antes de inactividade do utero do que de fraqueza geral. Secale, é indispensável quando a ausência das dores apparece nas mulheres de constituição fraca e cachetica, ou nas mulheres esgotadas por fortes perdas de sangue, haja ou não dores espasmodicas, ou de outra qualquer espécie. Por melhor indicado, porém, que seja este medicamento no caso designado, seu emprego é muito equivoco, e quando não é perfeitamente apropriado pôde trazer con- seqüências funestas. Cirúrgicos. Nos casos de resistência do perinêo o de es- gotamento, estando dilatado o collo, deve empregar-se o forceps, assim como afastar-se desde logo, nos casos de impressões moraes, toda a causa de excitação nervosa, de perturbações de qualquer natureza. 5.° Hemorrliagia. No sexto mez da gravidez a hemor- rhagia pôde trazer como conseqüência o aborto. Nestas circumstancias convém, além dos medicamentos que serão indicados no fim do artigo, conservar a paciente em re- pouso horizontal, com o assento um pouco mais alto; applicar compressas d'agua fria sobre o ventre e dar os medicamentos aconselhados abaixo. Quando ella se realisar do sexto mez ao fim do nono, principalmente se a Jiemorrhagia se repetir muitas vezes consecutivamente, é indicativa da inserção da placenta, no segmento inferior do utero, e cm conseqüência a re- petição é inevitável durante o trabalho do parto. Neste caso deve-se usar de decubitus dorsal com o assento mais alto. Se o orificio do collo estiver suficientemente dilatado PARTOS 315 deve-se romper as membranas e esperar, administrando os medicamentos apropriados para accelerar a expul- são do feto ; nos casos graves, porém, deve-se arrolhar o utero ou proceder ao parto forçado. Para este fim faz- se a versão se a cabeça estiver acima do orificio ; estando, porém, na excavação da bacia, emprega-se o forceps. Se a dilatação não estiver feita e que a hemorrhagia ameace a vida da mulher, em primeiro lugar applicâo- se os medicamentos apropriados, depois faz-se o arrolha- mento ou o parto forçado. Hemorrhagia por inércia do utero. Para este caso, de- pois do parto, introduz-se a mão e faz-se a extracção da placenta, assim como fricções sobre o ventre, appli- cando ao mesmo tempo compressas de água fria e deitan- do-se a doente com a cabeça mais baixa do que o assento. Neste caso não se deve fazer o arrolhamento ; deve-se ao contrario comprimir a aorta e dar-se os medicamentos indicados. Os melhores medicamentos contra as hemorrhagias, qualquer que seja a sua causa, são : Croc, plat , millef., ou ainda : Bell, cham., ferr. e sabin. 6.° JEclampsia. Ella pôde declarar-se durante a pre- nhez, e durante o trabalho. No primeiro caso banhos, e os medicamentos abaixo. Sendo os accessos freqüentes e comatosos, que facão receiar pela vida da paciente, parto prematuro artificial. No segundo caso, ter cuidado com a paciente, e repellir para dentro a lingua, para que não seja dilacerada. Muitas vezes o parto faz-se por ef- feito da moléstia, em outras o parteiro vê-se na contin- gência de apressa-lo. Os melhores medicamentos para a eclampsia, ou mesmo quaesquer espasmos e convulsões, durante o trabalho do parto, são : — 1) Hyos., ign.;—2) Bell, cham. e cie Durante a prenhez vide artigo correspondente. 7.° Procidencias. As procidencias dos membros devem ser reduzidas nos casos possíveis. Quando forem dous, è indispensável reduzir um (Fig. 118). A procidencia do cordão deve ser reduzida com a mão ou com uma sonda; não sendo possivel, applica-se o for- ceps ou faz-se a versão, segundo a indicação. 316 PARTOS 8.° Posições inclinadas do feto. Não se corrigindo ellas pelos simples esforços da natureza, applica-se o forceps ou faz-se a versão. 9.° Estreitamentos da bacia. Os estreitamentos da bacia podem ser re- conhecidos independen- temente do emprego de instrumentos apropria- dos, que ordinariamente faltão nas horas da ne- cessidade. Assim, pois,. o meio mais segu o é Fig. 118.—Apresentação pelas espádoas introduzir O dedo indi- com piocidenciado br.iço. cador da mão direita, dando-lhe direcção tal que elle vá tocar o angulo sacro- vertcbral, que é o ponto de união da face inferior da ultima vertebra lombar com a face superior do sacro. Os meios de corrigir-se ou precaver-se contra este ac- cidente, e obter salvar a mulher, são : Vértice. Se a cabeça estiver no es- treita superior, deve-se es- perar 5 a 6 horas depois da dilatação. Estando no estreito inferior, applica-se o forceps. Quando a bacia tem mais de 9 centímetros e meio no diâmetro antero-posterior. Face. O parteiro deve fazer dobrar a cabeça do fé o, e esperar de 2 a 3 horas de- pois da dilatação. PARTOS 317 Quando a bacia tem mais- de D ccntimetros e meio m> < diâmetro antero-postcrior. Assento. Deve-se esperar pratican- do depois tr cções, tirando a cabeça á mão ou c>in o forceps, depois de desem- baraçado o resto do feto. Tronco. 1 Pratica-se a versão ce- phalica ou pelviana. Se a criança estiver viva. Deve-se esperar algumas horas, findas as quaes, se o parto não se effectuar, ap- plica-se o forceps, sendo as applicações interrompidas e e-paçadas convenientemen- te ; em cas > de in-uecesso, e quan o o estreitamento é de tal ordem que o menor diâ- metro da cabeça do feto lhe é muito superior, prati a-se a craneotjmia e a cephalo- trepsia. Estando morta. A cei halotrepsia deve ser feita immediatamente. Se o feto tiver de 7 mezes e meio a 8. 1 Deve-se praticar o parto prematuro-artiticial. 318 PARTOS Esperar; porém não tanto / que faça correr risco do [ vida á mulher; depois cra- I neotomia o cephalotrepsia; 1 mas se se tem examinado Quando a bacia tiver de.-' antecedentemente a doente 8 centímetros a 6 e meio. X de modo a conhecer-se aes- i treiteza da bacia, deve-se ■j praticar o parto prematuro- | artificial, antes do trabalho se estabelecer. Nesta hypothese ainda se [ pôde empregar o cephalo- Quando a bacia tiver dia- ^ tribo, mas se a bacia tiver metros inferiores a 6 cen- i diâmetro abaixo de 4 cen- tímetros e meio. \ timeíros deve-se recorrer I ao forcfps-serra de Van f Huevel, modificado por No- nat. PARTOS CONTRA A NATUREZA. VERSÃO, FORCEPS, CEPHALOTRIBO, ETC. O parto contra a natureza ó o que exige o emprego dos instrumentos rombos e cortantes, e da mão do parteiro (Fig. 138, 139, 140, 141). As causas que se oppõe a que elle se faça sem esses soccorros, são: da parte da mulher — os vícios de con- formação da bacia (Fig. 123, 124, 12.5, 126, 127), as hemorrhagias, as convulsões, certas moléstias das partes PARTOS 319 molles, taes que possão trazer obstáculo á livre expulsão do feto, a ruptura do utero, e varias outras circumstancias; Fig. 119.—Bacia normal da mulher sem as partes molles. extremidades do foto. internas. Em conseqüência a versão divide-se em cephalica (da cabeça), e pelviana (do assento). Versão cephalica.—Pôde ser feita antes ou depois da ruptura das membranas. Antes, segundo vários par- teiros, a versão faz-se praticando manobras externas sobre'o ventre, até trazer o vértice da cabeça do feto 320 PARTOS para o estreito superior. Depois, introduz-se a mão de modo que a face palmar corresponda ao plano anterior Fig. 121.—Museu1 os do perinêo. — a. Músculo sphincter externo do ânus.—b. Musculo transverso do periiiêo.—c Músculo isc;liio cnvernoso. d Musc do leviintad >r do ânus —». Músculo con>trictor das panes pu- deudas.—f. Parte interior do muscuio grande gluteo. do fét:> para com ella abraçar o vértice, o que faz que esta versão não passe de uma leducção cephalic.i. As indicações para a versio ccphalica são: 1." As apresentações inclinadas do vértice quando ellas se não corrigem naturalmente. 2.» As apresentações da face, tendo em mira convertô- las cm apresentações do vértice. 3.» As apresentações do tronco. Nestas deve-se preferir a versão pelviana na maioria dos casos, porque o resul- tado é duvidosj. Versão pel-yiana. — A versão pel vi ma tem por fim trazer a extremidade pelviana do feto para o es- treito superi>r da bacia da mulher. Três circumstancias são indispensáveis p ira que se possa effectuar. l.a Que o collo do utero esteja dilatado; PARTOS 321 2.a Que a parto que se apresenta não esteja muito introduzida e não tenha ainda franqueado o collo; Fig. 122. —Bacia excessivamente grande na sua totalidade, tendo o diâmetro antero-posterior 5 pollegadas e 3 linhas. 3." Que a bacia não seja muito estreita* A versão compõe-se de três tempos. Primeiro tempo.—Introducção da mão, e procura da parte fétal A mão, depois de bezuntada de óleo de amêndoas doces por sua face dorsal até o ante-braço, e disposta em cone, é introduzida, de modo que sua face palmar corresponda ao plano anterior do foto, no intervallo das contracções, imprimindo-se-lhe movimentos de ro ação sobre seu eixo (Fig. 128). Chegada á parte que se apresenta, ella empurra, com a munheca, essa parte, levando-a para uma das fossas iliacas, com o fim de poder ir apanhar os pés directamente. Deve-se ter a cautela de na occasião da introducção da mão, ir com tal brandura que não rompa as membranas. Se houver exigência de rompê-las para poder penetrar no ovo, essa ruptura deve ser feita o mais alto possível e quanto baste para poder-se, sem vacillar, abraçar immediatamente os pés. D. h. n 21 322 PARTOS Ás vezes, porém, convcm (raramente) romper as mem- branas directamente. Fig. 123.—o. Bacia de mulher com fôrma da do homem.—b. Parede anterior da mesma bacia. Complicações e difficuldades do primeiro tempo.—1." Se a posição fôr desconhecida, deve-se cm todo o caso intro- duzir a mão direita, retirando-a se a posição fôr tal que sua face palmar não corresponda ao plano anterior do feto, para introduzir a esquerda. 2.° Se a vulva fôr muito estreita, que não permitia a introducção da mão inteira, desde logo faz-se penetrar a correspondente, dedo por dedo, até que seja esta difficul- dade removida. 3.° Quando nas posições da espádoa o braço estiver na vagina, não deve amputa- o, a menos que não haja indi- cação para a embryotomia, cucumstancia cm que ainda PARTOS 323 O braço serve para a3 tracções. Sendo a versão possível, Fig. 121.—Bacia obliquamente diminuída. põe-se um laço no punho do feto com o fim de impe- Fig. 125. dir que o braço se encolha e se ponha aos lados da cabeça. O braço servo igulmente ainda para perfeito diagnostico da posição, conhecida como deve ficar a 324 PARTOS espádoa que se apresenta. No caso de impossibilidade de praticar-se a versão, faz-se a embryotomia. Fig. 126.—Bacia rachitica. Quando a parte fétal embaraça a introducção da mão Fig. 127.—Bacia rachitica com a fôrma osteomalacica* para cima do orificio, deve ser lentamente repellida na direcção para onde tender effectuar-se o movimento de evolução. PAHT0S 325 Quando os pés não forem encontrados deve-se seguir o plano lateral e posterior da criança até acha-los: no caso Fig. 128.—Passagem da mão sobre a ilharga em uma posição transversal do feto. de impossibilidade deste resultado, introduz-se com pru- dência, porém com resolução, a mão até o fundo do vttero, afim de prendê-los. Segundo tempo. Evolução do feto, mutação. Depois de haver prendido solidamente os pés, ou um só, se os dous não puderem ser apanhados ao mesmo tempo (Fig. 129), puxa-se por elles de modo a ennovellar o feto sobre seu plano anterior durante o intervallo das dores, ajudando-se externamente com a outra mão appli- cada sobre o ventre da mulher, a qual (mão) faz mano- bras com fim de fazer subir a cabeça do feto para o fundo do utero (Fig. 130). Difficuldades do segundo tempo. Se a cabeça procura introduzir-se com um pé ou com ambos, deve-se applicar um laço sobre os pés, empurrar brandamente a cabeça com uma das mãos, puxando pouco e pouco pelo laço, para fazê-los sahir (Fig. 131). Terceiro tempo. Tempo de extracção ou de desembaraço. Este tempo não deve ser executado senão no intervallo 326 PARTOS das contracções, salvo perigo imminente, como seja, por Fig. 129 — Apprehensão dos pés. exemplo, havendo hemorrhagia, ou mesmo nos casos de inércia do utero. Fig. 130.—Extensão dos pés. Para se proceder á extracção envolvem-se os membros do feto com um panno aquecido, e prendem-se com PARTOS 327 arnbaXis mãos, de modo que as unhas fiquem voltadas para baixo, o os pollegares estendidos; eutão fazem-se Fig. 131.—O laço applicado no pé, elevando com a mão a cabeça. tracções parallelas ao eixo do estreito superior (Fig. 132). A medida que os membros forem descendo as mãos vão sendo mudadas para cima, tendo a cautela de conservar sempre os pollegares perto da vulva; quando o assento estiver na pequena bacia, levantão-se os membros, para facilitar a sahida do quadril, que está atrás (Fig. 133). Depois da sahida do assento é necessário prestar toda a attencão ao cordão umbilical, para attrahi-lo para fora se elle estiver tenso (Fig. 134). O tronco deve deixar-se desembaraçar naturalmente, se não houver indicação para apressar seu desprendimento. Quando as axillas tiverem descido, é necessário des- embaraçar os braços para que a cabeça ache passagem livre: para isso, começa-se pelo que tiver por trás; ás vezes, porém, elles desembaração-se sem o soccorro do parteiro, 328 PARTOS o qual, somente para facilitar este movimento, deve levantar o tronco do feto. Se os braços não se desem- Fig. 132.— Desembaraçamento do feto pelas extremidades inferiores. baraçarem naturalmente, o parteiro sustenta o tronco do feto com o ante-braço, e os dedos indicador e médio da mão homonyma á espádoa que estiver atrás de uma parte, e com o pollegar da mesma mão de outra, dobra o braço do feto sobre o tronco e o ante-braço sobre o braço, e desta forma tra-lo do lado de seu plano sternal. O outro braço exige a mesma manobra (Fig. 135). Resta extrahira cabeça, cujo occiput, para mais clareza, deve suppôr-se debaixo de symphyse do púbis, e a face na concavidade do sacrum (Fig. 136). Para desembaraça-la basta, na maioria dos casos, le- vantar o tronco do feto, insistindo com a mulher para que faça esforços de expulsão; acontecendo, porém, que a cabeça esteja estendida, neste caso é necessário collocar o tronco do feto sobre o ante-braço esquerdo do parteiro, escorregar dous dedos da mão esquerda na boca do feto,. PARTOS 325) tomando ponto de apoio no maxillar inferior, e com o in- dicador e médio da mão direita empurrar o occiput para a Fig. 133.—Extracção dos quadris. concavidade sacra, dobrando a cabeça do feto para imitar o parto natural. Pôde acontecer que a face esteja voltada para diante, e o occiput para trás; se a cabeça estiver dobrada, inclina-se o tronco para o perinêo, abaixando-se a face com os dedos collocados aos lados do nariz: se, ao contrario, a cabeça estiver estendida, levanta-se o tronco para diante do púbis, deixando o occiput desembaraçar-se primeiro (Fig. 137). EMPREGO DOS INSTRUMENTOS ROMBOS. A alavanca está hoje quasi abandonada na pratica dos partos. Os ganchos rombos têm alguma vez a sua vantagem, quando nas apresentações do assento o dedo é insufficiente 330 PARTOS para a cxtracç-ao do feto, caso cm que deve se- applic na prega da virilha. Quando as espádoas ficão presas passagem, e que os dedos não bastão para fizer sahira axilla posterior, o gancho pôde ser empregado na axilla. Em todo o caso, porém, a mão é sempre preferível, sendo substituída somente quando houver impossibilidade absoluta de obter que a parte seja desembaraçada por ella. APPEICAÇÂO DO FORCEPS. (Fig. 138, 139, 140, 141.) O forceps pôde ser applicado nos dous estreitos da bacia. Elle não se applica senão sobre a cabeça, salvo estando o feto morto, porque então pôde applicar-se também ao pelvis. TARTOS 331: Elle deve prender a cabeça, senão sempre, ao menos na maioria dos casos, por seu diâmetro biparietal. . "> Fig. 136.—Desembaraçamento da cabeça. É indispensável que seja applicado de fôrma que o eixo fique voltado para cima. APPEICAÇÔES DIRECTAS. O ramo que tem o eixo, quando se quer fazer a appli- cação, deve ser levado pela mão esquerda, applicado pri- meiro no lado esquerdo; o ramo de encaixe applica-se no 332 PARTOS lado direito com a mão direita e sempre por baixo eixo (Fig. 142). Fig. 137. — Desembaraçamento da cabeça com elevação do tronco. Antes de introduzir-se o forceps, convém esvasiar a be- xiga e o recto da mulher, e aquecer o instrumento, até o Fig. 138.—Forceps de João Palfyn. calor da vagina, em água tépida; depois bezunta-lo de óleo de amêndoas pela superficie externa. Deita-se a mulher de costas, e com o assento que ex- ceda alguma cousa o bordo do leito ; reconhece-se a po- sição e a apresentação; quatro ajudantes sustentão as pernas abertas, e o perinêo e fazem os demais misteres da operação. PARTOS 333 A mão livre, bezuntada de óleo de amêndoas pela face dorsal, é introduzida entre a cabeça do feto e o collo do Fig. 139.—Forceps de Smellie. utero para servir de guia e protecção ao ramo do forceps Fig. 140 —Forceps de Levret. que tem de ser applicado, excepção feita dos casos em que Fig. 141.—Forceps mais simples e mais usado. a cabeça já tenha franqueado o collo, devendo somente dous dedos da mão livre ser de preferencia introdu- zidos entre a cabeça e as paredes da vagina (Fig. 143). Depois de armado o instrumento, e havendo-se reco- nhecido que elle está posto de modo que a cabeça não possa escapar, e que é somente ella quem está presa, praticão-se tracções na direcção do eixo da bacia, sendo possível, durante as contracções uterinas (Fig. 144). Tendo a cabeça franqueado o estreito inferior, quando não ha mais que partes molles a vencer, deve-se cessar com as tracções ; pôde, porém, imprimir-se ao forceps 334 TARTOS movimentos do lateralidade, abaixando depois o instru- mento para permittir a sahida do occiput, e levantando-o depois para desembaraçar a face. 4\ Fig. 142.—Applicação da haste macha ou esquerda. É durante estes movimentos que o perinêo carece ser sustentado por um ajudante, para impedir que se rompa, Fig. 113.—Encaixe das hastes. por effeito da distensão exagerada a que o obriga a sahida do feto. PARTOS 335 Nas posições occipito-poíteriorcs, isto é, nas em que o occiput fica para trás, as tracções são feitas ligeiramente Fig. 141. —Modo de pegar no forceps com as duas mãos. para cima, com o fim de desembaraçar o occiput na com- missura anterior do perinôo, e depois para baixo, com o intuito de desembaraçar a face. São estas as regras das applicações directas que se es- tendem a todas as posições do estreito superior. APPOCAÇÒES OBUQUAS. As applicaçõcs oblíquas diversificão quer entre as suas posições do vértice, quer entre as da face. Regra geral. O forceps deve ser applicado de fôrma que a sua curvadura superior fique sempre voltada para a parte do feto que deve ser trazida para debaixo da sym- physe do púbis. E.xemplos: Posição «ccipito-rliaca esquerda anterior. —Nesta o lado direito da cabeça do léto está voltado para diante e para a direita, o lado esquerdo para trás e para a esquerda. O ramo posterior ou esquerdo será applicado primeiro ã esquerda c atrás, o anterior ou direito, á di- reita e adiante, tendo dcst'arte os ramos do forceps intro- duzidos adiante do ligamcnto sacro-sciatico ; o ramo que 0 336 PARTOS deve ficar atrás é levado directamente para diante da articulação sacro-iliaca; mas o que deve ser levado para diante é trazido por um movimento de espiral para esta posição, abaixando-se fortemente o cabo do instrumento sobre a face interna da coxa esquerda. Depois de articu- lado procede-se ás tracções, imprimindo desde logo á cabeça movimentos de rotação em ordem a trazer o occiput para trás do púbis. P. occipito-iliaca direita posterior. — A ap- plicação é idêntica, com a differença que o movimento de rotação deve trazer a fronte, ao envés do occiput, para detraz do púbis. P. occipito-iliaca direita anterior.—A ma- nobra é a mesma que a do primeiro exemplo, a diffe- rença única está e:n que o ramo direito é applicado atrás, e o esquerdo adiante. O movimento de rotação é feito da direita para a esquerda, com o fim de trazer o occiput para debaixo do púbis. P. oecipito-iliaca-csquerda-posterioa'. — Os ramos do forceps são introduzidos no mesmo sentido. O movimento de rotação tem por fim trazer a fronte directa- mente para diante. P. occipito-transverso.—Em ambas as posições transversas a applicação é a mesma, que a das posições anteriores correspondentes; a cabeça, porém, quasi nunca poderá ser apanhada regularmente. APPLICAÇÃO DO FORCEPS SOBRE A CABEÇA, ESTANDO O TRONCO JÁ FORA. As regras são as mesmas que para as apresentações do vértice. O instrumento para ser introduzido é necessário suspender-se o tronco do feto, quando as posições forem partos 337 as occipito-pubianas, e abaixa-lo quando forem mento- gubianas, insinuando-o então pelo plano sternal do Fig. 145.— Applicação do forceps na cabiça do feto depois da sahida do tronco. foto, tendo-se a cautela de dirigir a curvadura superior do forceps sempre para a parte que tem de vir collo- car-se debaixo da arcada do púbis. A cabeça da criança deve ser desprendida por um movimento de flexão, que tenha por centro a nuca, a qual está collocada, ora abaixo do púbis, ora adiante do perinêo (Fig. 145). APPLICAÇÃO D» FORCEPS NAS APRESENTA- ÇÕES DA FACE. As posições são como as do vértice com a differença de ser o mento quem, ao envés do occiput, deve vir collocar-se debaixo da symphyse do púbis nas posições anteriores e transversas. D. H. II 22 338 PARTOS Nas duas posições mento-posteriores o parto é impos- sivel quando o mento está voltado para trás, porque o Fig. 146.—Applicacão do forceps na apresentação pela face. pescoço do feto não pôde alcançar toda a curvadura do< sacro e do perinêo. Convém, para corrigir esta difficui- dado, fazer duas applicações successivas e com alguns minutos de intervallo, do forceps, com o fim de trazer o mento para diante, manobra que é difficil e perigosa para o feto (Fig. 146). Não havendo vicio de conformação da bacia, retracção do corpo do utero, ou mesmo não estando a face muito descida, convém de preferencia praticar a versão. Se houver impossibilidade ou dificuldade mesmo de collocar o segundo ramo do forceps nas posições oblíquas do vértice e da face, retira-se o primeiro ramo seguindo os eixos, e procura-se de novo reapplica-los, começando pelo que offerecer maior dificuldade. Ás vezes é neces- sário descruzar os ramos. EMPREGO DOS INSTRUMENTOS CORTANTES. Estes instrumentos só devem ser usados quando houver grande desproporção entre a bacia da mulher e o volume do feto. PARTOS 339 No primeiro caso antigamente praticava-se, sem Joutro recurso, a operação cesariana (Fig. 147, 148), e ãjym- physeotomia; hoje, porém, ha o recurso do forceps-serra de Van-Huevel, modificado por Nonat No segundo pratica-se a cephalotrepsia e embryotomia. As operações de cephalotrepsia, e o uso da forceps-serra têm por fim diminuir o volume da criança, emquanto que a operação cesariana presta sahida ao feto, prati- cando-se uma abertura artificial. O cephalotribo (Fig. 149) não é instrumento cortante, mas concorre para o mesmo fim. 340 PARTOS Applica-se como o forceps, sempre directamente sobre a cabeça. Antes da introducção do cephalotribo perfura-se o craneo com a tesoura de Smellie (Fig. 150), ou com o instrumento de Blot, o que feito applica-se o cephalotribo e esmaga-se a cabeça, imprimindo-se depois um movi- mento de rotação em ordem a vir callocar a parte esma- gada por sua parte mais estreita no sentido mais favorável da bacia, e fazem-se tracções; ou mesmo repete-se muitas PARTOS 341 vezes esta manobra com intervallo de algumas horas, sem fazer tracções. (Pajot.) O forceps-serra não tem perigo algum para a mãi; o seu único inconveniente é alongar a operação. Nas apresentações do tronco, a em- bryotomia pratica-se com as tesouras de Dubois. A operação cesariana só deve prati- car-se na falta do forceps-serra, e tendo a bacia diâmetros inferiores a 6 centí- metros, porque a cephalotrepsia ainda pôde ser praticada até 4 centímetros. 3.° TERMINAÇÃO DO PARTO OU SAHIDA DA PLACENTA. A expulsão da placenta pôde ser na- tural ou artificial. A artificial é a que exige a intervenção da arte, a qual se realisa nas seguintes circumstancias (Fig. 151). Inércia do utero.— A inércia do utero pôde ser simples ou complicada de hemorrhagia. Simples.—Praticão-se ligeiras fric- ções sobre a parede do ventre, e titilla- !*r~~"*B de teimo, e estar aliás atacada de alguma affecção que com isto se pareça. Na occasião em que tratan os do diagnostico da prenhez deixamos assignalados os meios pelos quaes se poderia com segurança firmar um juizo a este respeito; assim, p; is, nada mais acerescentaremos sobre este assumpto, remettendo o pratico para essa parte do nosso trabalho. Quando, porém, o diagnostico estiver assente em base segura, e a prenhez verificada, cumpre ao parteiro firmar o seu juizo sobre— se é chegada a época de ser expellido do utero o feto nelle contido. 2.° As dores são um indicativo para chegar-se ao co- nhecimento — se é tempo de ser expellida a criança. Dividem-se ellas em dores verdadeiras e dores falsas; as primeiras são provocadas pelas contracções uterinas; as ultimas dependentes de perturbações do intestino ou dos órgãos abdominaes e outros. As dores causadas pelas con- tracções uterinas, as quaes determinão o começo do trabalho, são intermittentes, comoção de ordinário na altura do umbigo e nas cadeiras, e estendem-se, conver- gindo, até ao perinêo, ânus e partes genitaes: as falsas são de ordinário fixas na parte que occupa o órgão que está soffrcndo dores, contínuas, e couservão quasi sempre a mesma intensidade. Occasiões ha em que estas dores, tendo sua sede no utero e manifestando-se com regulari- dade e ás vezes com uma certa intermittencia mal definida. simulão o verdadeiro trabalho do parto; para fazê-las desapparecer, o parteiro deve recommendar repouso, dieta, e administrar os seguintes medicamentos:—1) Coff., nux.-v.;—2) Bell, cham., n.-mos. e puls. 348 PARTOS Coffea, quando as dores forem violentas ao ponto do levarem a mulher ao desespero. (Se este medicamento não fôr suficiente para fazer desapparecer o estado de exal- tação produzido pe^a dôr, acon. será empregado com vantagem.) Nux-vomica, quando as dores spparecerem sem que o verdadeiro trabalho do parto se effeitue, e principal- mente se estas dores forem acompanhadas de desejos contínuos de ir á banca ou de ourinar. Se nux-v. não fôr suficiente, deve ser empregado de preferencia cham. ou bell, ou mesmo nux-mos. ou puls. Este tratamento tem como conseqüência rigorosa o desapparecimento das dores, o que, junto á falta de outros phenomenos do trabalho, indica que o parto não se esta- beleceu ainda. 3.* Ha todavia signaes qv e e\ idencião o começo do trabalho, fornecidos pelo toque vaginal; são elles os seguintes: o corpo do utero durante a contracção ou dôr verdadeira, adquire dureza; o contorno do collo fica rijo; as membranas tornão-se tensas e introduzem-se no collo: á proporção que a dôr diminue, todas estas partes se rebaxão e perdem a rijeza e tensão que tinhão adquirido: o contrario se verifica a respeito das falsas; isto é, nenhuma tensão ou dureza se nota nem no corpo, nem no collo do utero, e bem assim as membranas se con- servão indifferentes sem assumir comparticipação do soffrimento decorrente. « A marcha das verdadeiras contracções faz-se come- « çando ellas pelo collo, para ganharem as fibras do « fundo do utero, o qual se contrahe logo depois. Toda « a contracção que começar pelo fundo do órgão ó « anômala e resultado de perturbação sobrevinda na « acção uterina, ou é produzida por uma inflammação « ou emba: aço nas funcções de um órgão vizinho. Quando « a dôr verdadeira se manifesta, a cabeça do feto, que « repousava sobre o collo, eleva-se algumas vezes mesmo e além do alcance do dedo e as membranas introduzem-se « mais ou menos no orificio; mas no fim de alguns se- « gundos a contracção estende-se a todo o utero o « particularmente ás fibras do fundo,e a cabeça da criança, PARTOS 349 extremidade placentaria do cordão. Esta ligadura, inútil na maioria dos casos, previne uma hemorrhagia fulminante para o segundo feto, inter- rompendo a communicaçao entre as ramificações vas- culares das placentas dos differentes fetos. Grande numero de casos de morte do feto, que fica demorado no utero de- pois da sahida do primeiro, tem como causa o desprezo de tão fácil precaução; desprezo que nada justifica, porque um só exemplo que fosse, d'entre mil casos de partos bem suc- cedidos, bastaria para sobrecarregar de responsabilidade o Parteiro, que, esquecido dos seus deveres, sacrificasse uma vida á sua incúria. Feita a ligadura do cordão deve limpar-se a superfície do corpo da criança do inducto sebaceo, de que elle sahe coberto, bem como do sangue e das demais matérias prove- nientes do trabalho do parto. Como o inducto sebaceo não pôde ser tirado com água, limpa-se rapidamente com um panno, depois do que, com um dedo bezuntado de óleo de amêndoas ou de cerôto simples, fricciona-se forte e rapida- mente todo o corpo da criança, e depois de alguns minutos limpa-se com um panno sêcco, raspando-se com o dorso de uma faca o restante da matéria sebacea, se por espessa ficar adherente ao corpo e que o panno só por si não tenha força de despegar. Torna-se de novo a passar outra camada de cerôto, que depois é limpa como a primeira, lavando-se e;.tão a criança em água morna com uma esponja ou um panno molhado. Só depois deste trabalho preparatório, feito com ra- pidez, é que deve ser dado um banho geral á criança, e demorado por alguns minutos, com água tépida, em uma bacia, e enxuta convenientemente. Raro é o Parteiro que se habitua a vestir uma criança 376 PARTOS recém-nascida. Commummente, além da enfermeira e da parteira, ha uma amiga da parturiente, que considera este trabalho como prova de consideração e estima pela criança. Convém, porém, que o Parteiro conheça os pormenores de um trabalho de que alguma vez ha de ser obrigado a encarregar-se, para garantir o recém-nascido de mo- léstias de que seria atacado, se alguma particularidade na maneira de vestir fosse esquecida, como, por exemplo, catarrhos, pneumonias, etc, provenientes da impressão do ar sobre um corpo sahido recentemente de uma atmosphe- ra differente daquella em que entra pela primeira vez. A parte o provincialismo, consideramos a maneira de vestir uma criança recém-nascida na Bahia preferível á de outra qualquer parte, porque lá a vestimenta do pe- queno ente tem mais elegância e condições de garantia de conservação da vida do que me parece offerecerem as das demais províncias onde tenho exercido a medicina. O desenvolvimento dos órgãos do pequeno enre faz-se sem embaraços quando o envolvedouro é methodicamente executado ; conseguintemente o Parteiro não pôde dis- pensar o conhecimento de um acto, que é o complemento do seu oficio ao lado da parturiente. A parteira, e mais commummente a amiga intima da parturiente, toma a criança com segurança e delicadeza e a depõe voltada de bruços sobre as coxas, constituídas em leito especial (collo) e começa a vesti-la. A cabeça é coberta por uma camada de algodão car- dado e estendido á maneira de uma coifa; depois veste- lhe uma camisa aberta na frente, de man-as compridas, as quaes são ligadas na extremidade livre, deixando presos os braços e as mãos, arregaçadas em duas dobras; á parte inferior é accommodada uma tira de fazenda igual á da camisa, de seis dedos pouco mais ou menos, de comprimento que chegue para dar duas voltas ao corpo, a qual tem de servir de atadura contentiva do umbigo; em seguida junta-se um guardanapo de quatro pontas, denominado fraldas, dobrado, porém, de modo que fique de três pontas, uma das quaes deve corresponder ae es- paço de entre as coxas, e as duas outras uma para cada PARTOS 377 lado, destinado a resguardar as demais peças do vestuário das ourinas e matérias fecaes que forem expellidas. Este guardan ipo deve ter comprimento para o fim a que ó destinado, mas não tanto que produza enchimentos inú- teis ; sobre a camisa e as peças já enumeradas applica-se um cueiro de debaixo, o qual vai das espádoas até dous pal- mos além do comprimento total da criança, e largo bas- tante para dar volta e meia ao corpo; este cueiro é co- berto por urn outro de cachemira, que se chama cueiro de fora, um pouco maior e mais largo que o precedente, sobre o qual, como meio de prender todo este apparelho, é posta uma faxa branca de palmo de largura a três de comprimento, na altura do tronco; sobre esta ainda se põe uma fita de quatro dedos a seis de largura com cinco a seis palmos de comprimento: a faxa é denominada brevedor; \olta-se a criança assim vestida pela parte an- terior, deitando-a de costas sobre o collo; põe-se por sobre a camada de algodão que resguarda a cabeça uma coifa de linho que retenha a pasta do algodão e sobre ella uma touca, e depois de cuidar do cordão umbilical completa-se a vestimenta, accornniodando a roupa de modo que fique sem pregas sobre a superficie do corpo, prenden- do-a sem aperta-la muito, em ordem a que fique a criança enfaxada perfeitamente. O cordão umbilical deve ser contido por uma com- pressa pequena e quadrada, que alguns parteiros diver- sificão na maneira de collocação. Uns mandão fazer um furo no centro da compressa por onde deve passar o cordão umbilical, outros fendem a compressa em dous terços de sua extensão e pela fenda é posto o cordão e envolvido até que sua separação se realise. A maneira de manter o cordão até sua expulsão é a seguinte : depois de ter fenclido uma das extremidades da compressa, no centro da qual se faz uma abertura de tamanho suficiente para permittir passagem fácil e fran- ca ao cordão umbilical, colloca-se a raiz deste na chanfradura da extremidade da compressa : a porção in- tacta da compressa fica em baixo e as duas metades que resultão da porção dividida são cruzadas e reviradas por diante. 378 PARTOS O cordão umbilical assim envolvido é posto na parto superior esquerda do abdômen contígua á raiz do cor- dão. Uma segunda compressa também quadrada, mas de panno bem molle, cobre a primeira, e ambas são manti- das pela atadura posta em primeiro lugar quando se tra- tou de vestir a criança. Nos primeiros dias depois do nascimento, de ordinário trcs a quatro, a criança expelle o meconium naturalmente sem o emprego de outra medicação mais que banhos te- pidos e de água assucarada, que lhe é ministrada logo de- pois do nascimento O parteiro nas visitas quotidianas feitas á parturiente indaga so as ourinas são expellidas com facilidade e a miúdo e se a sahida do meconium se fez com regulari- dade ; em caso contrario e havendo constipaçao, deve pre- screver a applicação de algum dos seguintes medicamen- tos: Bry., nux.-v. e op. Se com elles se não effectuar a sahida do meconium e não tiver desapparecido a constipaçao (prisão de ventre), deve-se, segundo as circumstancias e os symptomas que apresentar a mulher eseolhida para a amamentação, em- pregar: Alum., lyc, sulf. e veratr. Quando os recém-nascidos chorão constantemente, sem causa apreciável, deve ser-lhes- administrada bell ou mes- mo cham. Se pelos movimentos que elle fizer ficar evidente ou ao menos houver suspeita bem fundada de que o sof- frimento é —dores de cabeça ou de ouvido— Cham. deve ser empregado em primeiro lugar, o qual ficando sem effeito será substituído por Bell. Se gritando ou chorando a criança se encolhe, dobra o corpo sobre as coxas ou estas sobre o ventre, signal in- dicati o de colicas, o melhor medicamento é cham. se a face ficar vermelha com os movimentos, ou bell. se ape- zar delles a face se conservar pallida. Havendo em vez da constipaçao dejecções dyarrheicas, de cheiro ácido e com tenesmos (puxos) o medicamento é rhab. PARTOS 379 Se nenhum destes três medicamentos fizer cessar o sof- frimento, deve-se mudar para bor., jalap., ipec. e senn. Se já tiver sido administrado á criança cham. ou se a ama tiver tomado chá de flores de macella, os medica- mentos que devem ser preferidos são: Bor.,ign. e puls. Quando a criança estiver muito agitada, com insomnia e calor febril, cof. ou acon. devem ser preferidos. Muito freqüentemente os recém-nascidos são affecta- dos de ictericia, a qual, na maioria dos casos, cede sem medicação alguma; todavia é prudente e de bom conse- lho mandar, que não sejão desprezados symptomas que, fáceis de remover com o emprego de adequada medicação applicada a tempo, quando descurados adq irem, como effeito de sua própria intensidade, gravidade suficiente para darem a morte. Dous são os medicamentos que ministrados a tempo fazem desapparecer os symptomas presentes e impedem que outros de maior gravidade se desenvolvão. São : Merc, do qual algumas doses, em glóbulos, bastão para curar perfeitamente esta ictericia. Quando este medicamento não tiver poder para completar a cura ou fôr suspeito incapaz de por si só diminuir o soffrimento, Chim. deve ser empregado de preferencia e da mesma fôrma. O melhor meio de administrar qualquer dos dous é depor alguns glóbulos da 5a dynamisação na lingua ou mesmo na cavidade bocal, fazendo que immediatamente seja apresentado á criança o peito da mulher ou ama que a aleita. O intervallo de uma ou outra administração do mes- mo medicamento deve ser de 12 horas. § 2.- Se em vez do estado de vigor, saúde e frescura que costumão ter as crianças logo depois do nascimento, ellas se apresentão ao contrario com symptomas doentios, fra- cas ou em estado de morte apparente, o Parteiro deve applicar immediatamente uma medicação enérgica e apro- priada, com o fim de evitar que este estado não geja se- guido, por falta de cuidados, da morte real. 380 PARTOS A morte apparente era descripta por antigos Parteiros Allemães e Francezes com a denominação de apoplexia ou asphyxia dos recém-nascidos; Ncegele lhe deu nova qualifi- cação, substituida ainda pelo Dr. Joulin pela de morte imminente. Cazeaux define a morte apparente « estado em que, « apezar da abolição dos actos da vida animal, restão « algumas das funcções da vida orgânica e necessaria- « mente os batimentos do coração. » E accresccnta : « Examinando com cuidado os sympto- « mas da morte apparente dos recém-nascidos, vê-se que « ella é acomp nhada, umas vezes de rubor vivo da face « da parte superior do corpo, com saliência e injecção « dos globos oculares, e inchação do rosto, cuja pelle « offerece cá e lá manchas azuladas; outras é o descô- a ramento da pelle e a flaccidez das carnes que apresentão a os pacientes, « No primeiro caso a cabeça fica inchada, extremamente « quente e os lábios inchados e lividos; os olhos sahem « das orbitas, a lingua fica apegada á abobada palatina « (céo da boca) ; freqüentemente a cabeça torna-se alon- « gada e dura, e o rosto um pouco inchado; os batimentos « do coração ainda que fortes algumas vezes e distinctos, « outras tornão-se muito obscuros e extremamente fra- « cos; o cordão umbilical é algumas vezes engurgitado de « sangue. « No segundo caso a criança fica de pallidez mortal: « os membros pendentes e flaccidos, com a pelle descó- « rada e ás vezes suja de mecon um; os lábios pallidos e « a maxilla inferior pendente ; o cordão umbilical pal- « pita com fraqueza ou aspalpitações cessão completamen- « te; os batimentos do coração tornão-se muito enfra- i « quecidos. Muitas vezes uma criança neste estado mo- « ve-se no momento do nascimento e chora; mas recahe « logo depois no estado de morte apparente. » Apezar da divergência de opiniões entre os parteiros modernos e os antigos, e mesmo dos modernos entre si, todos estão de accôrdo em admittir como facto capital, que « as causas que determinâo o estado de soffrimento da « criança podem actuar sobre os apparelhos da circulação, PARTOS 381 respiração e inervação », produzindo os phenomenos objectivos e subjectivos que autorisárâo a classificação, reconhecida hoje pelas lesões achadas post mor tem, vi- ciosa. Estas lesões differentes em seus caracteres physicos podem ser devidas também a diversas causas; o mais provável, porém, é que ellas não sejão senão as manifes- tações do mesmo soffrimento em gráo muito mais adian- tado. Onde estas diversas graduações do mesmo estado pa- thologico adquirem importância especial é durante o tra- tamento e na escolha da medicação apropriada, fazendo preferir para a indicação dos meios indispensáveis á sal- vação do individuo, antes uma do que outra manifestação pathologica. Convém, pois, para perfeito conhecimento das lesões dos diversos apparelhos de que fizemos menção, que es- pecifiquemos essas lesões, par e passo, em ordem a todas ellas ficarem conhecidas e serem removidas á proporção que se forem manifestando. Apparelho da circulação.— As lesões deste apparelho são de duas naturezas, umas asphyxicas e outras he- morrhagicas. Lesões asphyxicas.—Estas lesões reconhecem por causa immediata um embaraço á circulação fétal po r compres- são do cordão, depois da ruptura das membranas; por apresentação viciosa; por demora do trabalho do parto ou por circulares do cordão em partes do feto, como o pescoço e o tronco, ou ainda por laçadas sobre si mesmo em seu trajecto. O descollamento prematuro da placenta, interrompendo toda a communicaçao entre o feto e a mulher, é igualmen- te uma causa de asphyxia, assim como o é a retracção súbita e prolongada do utero nas apresentações do as- sento tendo já sido expellido o tronco, como demons- tramos quando descrevemos os cuidados que devião ser dispensados ao feto durante o trabalho do parto nesta posição. 382 PAUTOS A causa immediata da ashpyxia, qualquer que s-eja o obstáculo trazido á livre circulação fé to-placentaria pelo cordão, é sempre o excesso de ácido carbônico que se accumula no sangue venoso. Restaria provar, por theorias elaboradas no gabinete, como o embaraço á circulação, nas condições supra-men- cionadas, poderia trazer em resultado a asphyxia em vez da apoplexia ou da anemia do feto por falta de hematose restituidora do sangue, que como vivificadçr, lhe seria levado pelas artérias umbilicaes; isto, porém, são theorias especiosas, que nos afastarião do nosso programma, tendo de mais o inconveniente de inocular confusão no espirito dos que não tivessem estudos anatômicos sufficientes para a rápida apreciação do transcendente enunciado que lhes apresentássemos. Que nos basto a explicação dos symptomas que se cos- tumão desenvolver, e uma idóa perfunctoria da razão como e porque elles se produzem ordinariamente. Para o demais romettemos o leitor, que quizer melhor orientar-se nas theorias, para as obras especiaes de Ca- zeaux, de Joulin, M.me Lachapelle, Velpeau e outros. Em uma obra pratica o que importa é vêr desenhados os symptomas, e aprender-se a maneira de os tratar com clareza e segurança. Por effeito das causas enumeradas se produzem, como dissemos, duas ordens de phenomenos, que vamos me- morar : 1." A face da criança tumefaz-se, fica injectada e azu- lada; os olhos salientes, como sahidos das orbitas; os lá- bios violaceos e inchados, a lingua collada na abobada palatina (céo da boca). A pelle violacea, e a da parte superior do corpo semeada de manchas lividas; os mem- bros immoveis, e o cordão parecendo engurgitado de sangue. 2.° A face torna se pallida, e os tegumentos parecem privados de sangue; a maxilla inferior fica pendente, a boca entre-aberta, os membros flaccidos e pendentes e o corpo abatido. « Em ambos os casos os batimentos do coração são PARTOS 383 fracos e irregulares, e as lesões anatômicas as mesmas. » (Joulin.) O Dr. Jacquemier explica, como segue as differenças no aspecto da criança: « Quando a causa da asphyxia tem actualo de maneira precipitada a pelle fica descora- da; se ao contrario a asphyxia se tem effectuado lenta- mente, como nos casos em que ella é devida a um traba- lho longo tempo prolongado, depois da ruptura das membranas, os tegumentos tomão colorisação azulada. » Esta maneira de vêr, que encontra entretanto numerosas excepções, diz o Dr. Joulin, tem sido confirmada pelos trabalhos de Devergie, que observou differenças análogas. Nos adultos, quando a morte sobre vem repentinamen^ a face fica pallida, esta é, ao contrario, azulada n::s asphyxias pelo gaz ácido carbônico, quaudo o gaz deletério se tem desprendido progressivamente e em pequena quantidade. A aspliyxia dos rece n-nascidos tem graduações que importa conhecer. Os symptomas dos diversos gráos do soffrimento não são idênticos, vão se produzindo á me- dida que a lesão v i adquirindo intensidade, e que a causa, subsistindo, continua sua acção, adquirindo a ksão das funcções essenciaes á vida intensidade na razão di- recta do tempo ou demora da causa productora. Nem to- dos os recém-nascidos são sujeitos, em proporção igual, á intensidade da acção das causas productoras da asphy- xia, e conseguinteinente asmanifestaçèes desta lesão diver- sificão, guard.ndo relação com o temperamento e o es- tado de força ou fraqueza indi idual. Por exemplo, a mesma causa actuando sobro dous fe- tos de temperamento e constituição differentes, em um dará uma ordem de phenomenos mais graves, em outro, phe nomenos diversos e de intensidade comparativamente menor. No primeiro gráo da asphyxia a cireulação parece normal e os batimentos do coração ainda perceptíveis pela apalpação e quasi regulares; a respiração é nulla, apezar da criança executar alguns movimentos para effec- tua-la. Depois de alguns minutos de impossibilidade da funcção, espontaneamente pela força de que ella é dotada, ou ajudada pelos cuidados que lhe forão ministrados, a 384 PARTOS criança faz uma inspiração enérgica de repente, logo de- pois seguida de choro, e a funcção pulmonar enlra em jogo e ;:dquire regularidade. Ha outra ordem de factos que são dotados de muito mais gravidade do que o antecedente, e que não sendo reparados a tempo causão a morte do rccem nascido. No momento da expulsão do feto as perturbações da circulação são de ordem que chamão a attencão detida da parte do Parteiro; os batimentos do coração são fortes, freqüentes ao nascer, mas a respiração é nulla. « Pouco e pouco a circulação enfraquece-se e demora-se; « os movimentos do coração pouco intensos cabem ra- « pidamente 30 e mesmo 20 pancadas por minuto. As « pulsações do cordão umbilical do lado da extremidade « placentaria, não são sentidas mais, momentos de- « pois, senão nesta região. A criança rosfria-se e cessaria « de viver se não fosse soecorrida a tempo. » (Joulin.) Quando a asphyxia está mais adiantada e que os soccorros não tem sido administrados a tempo, ou a causa começou a actuar fora do alcance dos recursos da arte os músculos cahem em resolução, os movi- mentos e a respiração cessão, restando somente alguns movimentos dos lábios, das azas do nariz ou da parede do peito : ou mesmo inspirações imcompletas, curtas, soffreadas, semelhando soluço e intermittentes, inspira- ções por meio das quaes pouca ou nenhuma quantidade de ar penetra no pulmão, tem lugar para poder sustentar a vida da criança. Ha um ultimo gráo de soffrimento em que a reso- lução dos membros é completa, mas em que o coração ainda bate, sendo percebidos estes batimentos pela aus- cultação. Se o coração não bater mais, o feto está morto e todo o trabalho para restituir-lhe a vida será em pura perda. Lesões hemorrhagicas.—Estas lesões são raras, e quando existem, são devidas á ruptura de um dos vasos do cor- dão, ou a despedaçam ento da placenta: em ambos os casos, os soffrimentos são tanto mais graves quanto maior foi a perda de sangue. O estado de anemia, ou descó- PARTOS 385 ramento dos tecidos, e o de fraqueza^denuncião o soffri- mento, o qual não tendo sido effeito de perda extraor- dinária com os meios analepticos, na maioria dos casos se consegue sem reperda, restituindo-sc as forças á criança. Apparelho da respiração. — As lesões da respiração do feto verificáo-se somente depois do nascimento. A mais commum, senão a única, é o obstáculo opposto á hematose pelas mucosidades que enchem a boca, as fossas nasaes, e como sua conseqüência,; a parte supe- rior das vias aérias, parte por onde unicamente pode- ria effectuar-se a penetração do ar nas ultimas ramifi- cações broncbicas e nas vesiculas pulmonares. Esta causa,porém, é facilmente removida, extrahindo-se, com os ramos de uma penna de ganço ou mesmo de gal- linha, as mucosidades existentes. Esta remoção, permit- tindo a passagem á columna do ar, fal-o penctiar a ar- vore aéria, c dilatando pouco e pouco as vesiculas pul- monares, estabelece a primeira respiração, que não ó ainda perfeita, por não serem todas as vesiculas dila- tadas, e fazer-se com dificuldade a entrada da columna atmosphei ica. A penetração do ar n~s vesiculas pulmonares produz ruido especial, que é seguido por estertor mucoso, que dura alguns minutos. A criança chora com tanto mais força quanto a respiração vai sendo mais perfeita. Quando o obstáculo não foi removido a hematose não se faz, e o ácido carbônico, cada vez mais augmentado, actuando sobre o systema nervoso, embaraça a sua funcção, e o acto pulmonar não se pôde estabelecer. Portanto, emquanto as perturbações asphyxicas não tiverem desappareeido pela remoção do obstáculo que as produzia, a funcção pulmonar não pôde effectuar-se, tra- zendo para a vida da criança imminencia de extineção. Marshall Hall diz que a causa da inspiração é a irri- tação produzida pelo contacto do ar exterior sobre os nervos cutâneos, e que esta sensação ó transmittida á medula alongada, a qnal por sua vez reage sobre os nervos inspiradores e produz a respiração. D. h. n 25 386 PARTOS Apparelho da ixervação. — As lesões deste apparelho só tem acção reconhecível depois do nascimento: como sua conseqüência a lesão pôde affectar a respiração, está sob sua dependência mais immediata, conforme a opi- nião citada de Marshall Hall, sendo o effeito, p,rtanto, desta continuidade de acção a asphyxia. As funcções de nutrição e circulação intra-uterina, as quaes determinão o desenvolvimento do cérebro, ao ponto de no termo da gestação ter elle chegado a um gráo de porfectibilidade como se o organismo estivesse completo e normal, são presididas pelo systema ganglio- nar; mas se o systema ner.oso tem vicios de confor- mação, apezar da direcção para a normalidade, que lhe é dada pelas funcções referidas, embora os demais órgãos se mostr- m perfeitos, ainda que apparentemente, e con- stituindo um todo regular e harmônico, o feto succumbe no mo r.enta de ser effectuada a sua expulsão. Estas lesões estão acima dos recursos da arte; ha ou- tra, porém, que são produzidas durante os esforços da ex- tracção do feto. De entre estas, umasaffectâo a medula alongada, e são effeitos dos esforços da extracção, quando a cabeça está ainda retida na cavidade da bacia, o que <'á a morto instantânea: as outras affectão o cérebro e são devidas á compressão das pare les da cabeça sobre as pare- des dos estreitos, quando ha vicio de conformação da ba- cia ou desproporção entre os diâmetros da cabeça do feto e os com quem elles devem pôr-se em contacto na bacia da mulher, ou finalmente pela applicação dos instrumentos destinados á extracção. Esta ultima causa nem sempre produz a morte; ao contrario os accidentes que se verificão pela compressão do encephalo ou sua penetração por esquirolas ósseas, são ás vezes de muito pouco valor, comparativamente. O recém-nascido, como symptomas principaes, apresenta estupor ligeiro, dilatação das pupillas, alguma resolu- ção muscular, paralysia, e anesthesia, se houve derra- mamento. A primeira vista estas lesões farião suppôr que a respiração se dificultasse, porém assim não é, porque ella se estabelece facilmente, e a criança grita como se estas lesões nenhum valor tivessem para em- PARTOS 387 baraçar permanentemente esta funcção. Só dias depois é que os phenomenos cerebraes se estabelecem, como effeito da iuflammação consecutiva á lesão. De ordinário a paralysia não é geral; limita-se ao nervo facial comprimido pelo forceps n i occasião da ex- tracção. Tratamento. A asphyxia dos recém-nascidos, embora extremamente grave, nem sempre tem, como rigorosa conseqüência, a transição de morte apparente ou im- minente, como lhe chama o Dr. Joulin, em morte real ou effectiva. A gravidade da doença e o numero cres- cido de factos taes de salvaçãe dos recém-nascidos, de- vem animar o pratico a lançar mão dos meios, reco- nhecidamente eficazes, para ... consecussão deste resul- tado. O diagnostico, base única do juízo para a escolha d s meios a aconselhar nesta occasião, na qual as discus- sões acadêmicas não podem ter entrada, deve ter por fiui differenciar as lesões aspliyxicas das hemorrhagicas. Estas produzidas pela ruptura do cordão umbilical ou por despedaçamento da placenta: aquellas, effeito de diversas causas, mas de resultado idêntico, quand >, em presença do tratamento as manifestações não são de evidente classificação, e se identificão para a indicação occasional. Na maioria dos casos a asphyxia é a lesão que produz no recém-nascido o estado de morte apparente; mesmo que o não seja, e que a apoplexia tenha sido a pro- duetora deste estado, o tratamento geral em nada vem embaraçar os meios que de preferencia devem ser em- pregados para esta, quando sua presença é definitiva- mente reconhecida. É sempre uma fôrma asphyxica que se tem de combater, e os meios applicados a esta, se a hemorrhagia não os vem contra-indicar, pouco ou quasi nada diversificão da indicação cardeal, apropriada ao gênero commum — asphyxia. Com o Dr. Bouchut, admittimos duas fôrmas ou es- pécies de asphyxias: a primeira, asphyxia dita ordi- nária; a segunda, asphyxia apopletica; ambas produzi- das quasi pela mesma causa, isto é, por obstáculos da 388 PARTOS circulação. A acção do ácido carbônico em excesso nas veias umbilicaes é conseqüência do obstáculo trazido á circulação. Como dissemos, quando tratámos da symptomatologia da lesão, as causas que a produzem são sempre obstá- culos ou á penetração do ar nas vesiculas, ou a com- pressões cujo effeito é: embaraços á circulação féto- placentaria devidos á compressão dos vasos umbilicaes uirccta c unicamente, e compressão produzindo excesso de ácido carbônico no systema venoso féto-placenta- rio, com suas conseqüentes manifestações, ausência da respiração, e resolução muscular. As complicações hemorrhagicas não podem ser co- nhecidas senão a datar da definitiva expulsão da pla- centa. As lesões nervosas, conforme já foi demonstrado, são superiores aos recursos da arte quando congenitaes: as que são devidas ás demais causas que enumeramos affectão de preferencia o cérebro ; ordinariamente, porém, não é embaraçada por ellas a respiração, que augmenta, ao contrario, gradualmente, á proporção que os esforços de gritar, postos em acção pela criança, vão sendo exercitados com mais freqüência, perturbando-sc apenas, quando por effeito da inflammação consecutiva, os symp- tomas cerebraes se tem desenvolvido. O primeiro cuidado do parteiro, nos casos de morte apparente, é extrahir das fossas nasaes e da boca as mucosidades que obstruião estas partes, por meio dos dedos introduzidos na boca até ao pharynge,. ou com as ramas de uma penna, titilando ao mesmo tempo a uvula, a garganta e as fossas nasaes, com o fim de fazer o feto espirrar e vomitar. Este processo deve ser empregado, embora não tenha sido feito o diagnostico differencial entre as duas espécies de asphyxias em que a lesão foi dividida. Nos casos de asphyxia ordinária, removida a eom- pressão pelos meios aconselhados em outro lugar, não se deve cortar o cordão; deve-se, ao contrario, deixar ao tempo o cuidado de continuar a circulação estabeleci- da pela natureza entre a mãi e o filho. Este meio, da expectativa, é altamente conveniente havendo inércia PARTOS 389 do utero, ou quando, pelo pouco sangue derramado, ha razão para crer que a placenta conserva as adherencias ao ponto do utero, onde esteve inplantada durante a gestação, para as necessidades do desenvolvimento da criança. Nos casos de asphyxia apopletica, isto é, quando a criança apresenta a face congestionada ou com tez vio- lacea, o meio de que se deve lançar mão é cortar im- mediatamente o cordão umbilical com o fim de o fazer sangrar; todavia não ó prudente deixar correr mais de vinte cinco a trinta grammas de sangue. Não se deve esperar o empallidecimento ^ da face para fazer cessar ^ o corrimento do sangue. E indispensável transportar logo a criança para uma mesa apropriada, onde os mo vimentos, não só lhe serão mais fáceis, como os cuida- dos podem ser-lhe ministrados mais desafogadamente. Quando o cordão não fornece sangue, expelle-se o que estiver accumulado em seu trajecto. O systema por excellencia para o curativo da asphyxia de ambas as espécies, é a insufílação, á qual se deve recorrer immediatamente se os meios propostos não trou- xerem prompto aproveitamento. An es, porém, de se lançar mão de uin meio que não deixa de carecer de habito e de todas as possíveis cautelas, deve-se procurar por todos os modos possíveis provocar a necessidade dos movimentos respiratórios. Para isso empregâo-se fricções, banhos ou duclias tépidas e frias, com vinagre ou com os alcoólicos. Mette-se a criança n'um banho tépido, ou em pannos quentes ou diante de fogo em labaredas; frieciona-se-lhe o corpo com um pedaço de flanella sêcca ou ensopada em vinagre e aguardente, ou fazem-se as fricções com os dedos simplesmente; empregão-se flagellações e dá-se palmadas nas nádegas da criança. Ao mesmo tempo chega-se-lhe ao nariz pannos ensopados em vinagre ou aguardente. O ammoniaco é sempre pernicioso e pôde tornar-se mortal. Se estes meios forem impotentes, deve-se dar duchas com vinagre ou aguardente tomados na boca e soprados com força sobre o peito da criança; ao mesmo tempo procura-se, por pressões methodicas feitas nas partes 390 PARTOS lateraes do peito, imitar os movimentos de dilatação e aperto representantes dos dous tempos da respiraçlo. Estes meios devem ser usados de concomitância com a insuíflação. A insufflação faz-se de boca a boca ou por meio de tubos especiaes: no primeiro caso, um individuo de perfeita saúde colla a boca á da criança e começa a in- sufllar-lhe ar moderadamente e sem emprego de excessiva força, soprando com energia e com os intervallos da res- piração normal: quan :o este estiver cansado, deve um outro individuo tomar o lugar do primeiro e continuar o trabalho da respiração artificial: no segundo caso, em- prega-se um instrumento apropriado, aconselhado por Dugès, M.™ Lachapelle, e por Depaul modernamente, de propósito feito e que tem por titulo — tubo laryngeo de Chaussier. Convém habituar-se a manejar o instrumento para não vêr-se embaraçado na occasião em que tiver necessidade de fazer uso delle. Consta de um tubo curvo em sua extremidade livre, com uma pequena abertura lateral, praticada quasi na extremidade terminal e um pouco acha a do na ponta, semelhando uma sonda de cathete- rismo, com uma esponja circular na altura da curvatura, para o fim de limitar sua penetração. Serve-se delle da seguinte fôrma: o index da mão esquerda serve-lhe de guia para o fazer penetrar na épiglotte, que ó afastada para diante. Ha dous meios de verificar so o tubo penetrou ou não no larynge: o Io é fazer movimentos de lateralidade depois de introduzido; se o larynge acompanha estes movi- mentos ou fôr por elles arrastado, toda a duvida des- apparece ; em caso contrario, quasi se pôde afiançar que o instrumento penetrou de preferencia no oesophago: o 2a serve para tirar a prova real da penetração do instru- mento. Estando o tubo no oesophago quando se insuffla ar por elle, o estômago incha e demonstra que está dis- tendido por gaz. Quando está tirada a duvida e que se tem certeza de que o tubo está collocado no larynge, comprime-se um pouco esta parte com o instrumento, afim de deprimir o oesophago; tapão-se as narinas e fecha-se a boca da PARTOS 391 criança com os dedos e começa-se a operação, fazendo-se de dez a doze insufflações por minuto. Póde-se prolongar as insufflações por tanto tempo quanto forem ouvidos, bem que raros, pela auscultação, os batimentos do coração. Estes esforços para a restituição da vida que está a ponto de extinguir-se no recém-nascido, deve ser continuado com perseverança e sem desanimar por uma ou mais horas. Para evitar que dui ante a operação a criança seja suffocada pelo ajudante que lhe tapa a boca e as fossas nasaes, o Dr. Joulin aconselha « collocar-lhe uma com- pressa fina sobre a face, disposta de fôrma que a boca e o nariz sejão por cila cobertos »; e que de quando em quando, visto como a operação tem de prolongar-se por mais de uma hora, os dedos sejão retirados e postos de novo, segundo a necessidade do manual operatorio. O thermometro que guia o medico nestas circumstan- cias é os batimentos do coração, percebidos pela aus- cultação. Só devem ser abandonadas as tentativas quando o coração cessar de bater; desde então todos os esforços serão inúteis, porque a criança terá cessado de viver. Em falta de tubo laryngeo de Chaussier, uma son 'a de gomma elástica, da qual se apara a extremidade, ou um catheter de homem, podem ser empregados com o mesmo resultado. A insufflação de boca a boca tem o inconveniente de fazer penetrar ar no estômago da criança. Durante a operação deve-se collocar debaixo do tra- vesseiro botelhas de água quente e cobrir-se o corpo da criança com cobertores de lã aquecidos em brazas. Quando se sente no tubo um ruido de gargarejo, re- tira-se o instrumento para desobstrui-lo das mucosidades bronchicas de que elle deve estar sobrecarregado. Embora depois de algumas insufflações veja produzir-se uma inspiração espontânea, deve-se continuar a operação até que o recém-nascido respire regularmente por oito a doze minutos, para evitar que elle recaia no primitivo estado de asphyxia. Se, tendo-se feito espontaneamente a respiração por 392 PARTOS algum tempo e tendo os batimentos do coração attingido 120 pulsações por minuto, a circulação se vai demorando e a funcção pulmonar se enfraquece e pára, é inútil con- tinuar os esforços para a respiração artificial; a morte é infallivel o promovida pela intoxicação de ácido carbô- nico, effeito do excesso deste gaz na circulação venosa, com especialidade dirigida contra o systema nervoso. Legal lois e W. Edwards demonstrarão que a necessi- dade da respiração cresce com a idade, e que ella é ainda tão fraca na época do nascimento que a funcção pulmoirr, depois de um começo de acção, pôde ficar suspensa durante uma hora ou duas sem que resulte impossibilidade abso- luta de reanimar a criança. Weese publicou em 1845 a observação de um recém-nascido enterrado cm areia e que f i chamado á vida. Mascka, em duas memórias, chamou a attencão sobre esta questão e mencionou dous factos muito curiosos. No primeiro o recém-nascido, cuja mãi o queria fazer desapparecer, esteve enterrado cm uma camada de terra de 30 centímetros de espessura durante. quatro horas: conseguio-se, entretanto, chama-lo á vida. No segundo facto verificou-se os batimentos do coração 23 horas depois d>> nascimento, sem outro signal de vitali- dade. Os cuidados que lhe forão ministrados ficarão sem resultado. A Gazeta dos Tribunaes de 20 de Fevereiro de 1850 dá noticia de uma tentativa de infanticidio, na qual o recém- nascido, enterrado por sua própria mãi, foi exhumado no fim de três quartos de hora e restituido á vida, Mcerklin publicou um trabalho sobre factos análogos. (Joulin.) Portanto toda a insistência no emprego dos meios para restituição da respiração ao feto, com o fim de reanima-lo é pouca, o eleve encorajar o pratico a usar delles até a ultima extremidade. Ha um meio aconselhado pelo Dr. Plettinck, com o qual diz elle ter obtido salvar uma criança em estado completo de asphyxia, depois de tentativas inúteis dos meio- até hoje conhecidos. É o seguinte : De uma penna de ganso ou mesmo de gallinha, mas que seja grande e tenha as ramas perfeitas, raspa-se a PARTOS 393 parte média de um e outro lado, ficando duas porções das ramas intactas, porém separadas, uma na extremidade livre da penna, e outra no começo, perto de sua inserção no corpo do animal. Assim preparada, é introduzida por sua extremidade livre, a que tem rama, pelas fossas nasaes, com o fim de produzir-se um esforço de expiração (espirro), continuando a introducção até a parte des- provida de rama, produz-se tendência ao vomito (esforço de expiração), leva-se a penna mais profundamente, pro- duz-se simplesmente um esforço de deglutição ; introduz- se toda a penna, isto é, a parte inferior onde se conserva ramas, produz-se de novo tendência a espirrar, isto é, expiração profunda; « de sorte, diz o autor, que produ- zindo ò effeito de uma bomba aspirante o de compressão, provoca a inspiração e expiração á vontade, e estabelece assim a respiração. » Modernamente tem-se usado com vantagem em grande numero de casos da electro-punctura no diaphragma e nos músculos intercostaes. Ao mesmo tempo que se faz uso de todos os meios mecânicos acima indicados, devo-se empregar tart, Ia trit., um grão dissolvido em 8 cnças de água, em clyster, e introduzir-se todos os quartos de hora algumas gottas desta água na boca da criança. Se no fim de meia hora os symptomas não commeça- rem a desapparecer, deve-se recorrer a op., quando a face estiver azulada e a chin., quando estiver empallidecida. Quando a criança começa a respirar e que a vida quer restabelecer-se, deve-se administrar acon., se antes cila teve a face rubra ou azulada, ou cJiin., se esteve pallida. Ha uma espécie de asphyxia, conhecida na obstetrícia com o nome de asphyxia secundaria, a qual se effeitua quando a criança, restituida á vida pelos meios aconse- lhados acima, tendo apresentado os phenomenos do morte apparente, e estes são removidos pelo esforço do parteiro, novo ataque so declara. Esta asphyxia costuma affectar a criança horas e mesmo dias depois do nascimento ou do ataque primitivo. As suas caus s são: corpos estranhos na boca ou nas 394 PARTOS fossas nasaes, mucosidades no fundo da boca, e enfra- quecimento da influencia nervosa. Quando a asphyxia secundaria é effeito de embaraço á respiração por corpos estranhos, mucosidades na boca, nas fossas nasaes e nos bronchios, o tratamento ó: ex- trahir os corpos estranhos e desobstruir a boca, as fos- sas nasaes e os bronchios das mucosidades existentes, com o dedo introduzido até ao pharynge ou com as ra- mas de uma penna, até produzir o vomito. Além destes meios mecânicos, deve-se administrar, como para a asphy- xia primitiva, o tartaro, conforme ficou indicado. Estando a face violacea ou rubra, de modo que faça suppôr que a espécie presente de asphyxia ó a apopletica, além dos meios mecânicos aconselhados, deve ser dada immediatamente á criança, uma dose de ópio, repetida de quarto em quarto de hora. Se este medicamento ficar sem acção é necessário sub- sfituil-o por acon., depois do qual, e ficando elle inac- tivo, se pôde administrar algumas doses de bell Se ao contrario a asphyxia não produzir os pheno- menos indicativos da fôrma apopletica, e se a face ficar pallida, é chin. que deve ser administrado de preferencia aos dous primeiros medicamentos. O estado ge ai de fraqueza da criança, quo pôde ter por causas as que produzirão a asphyxia, tem como ellas o mesmo tratamento. Se a fraqueza provier do nascimento ter sido antes de termo, ou de mulher doentia e esgotada de forças por moléstias anteriores, os meios de curativo são os se- guintes : mantem-se a criança em uma temperatura ar- tificial elevada muito acima do ar exterior, cobrindo-a de pastas de algodão cardado, roupas de flanella aquecidas, e cercando-a de botijas ou garrafas de água quente. Immediatamente deve-se fazer cessar a amamentação materna, e entregar a criança a uma ama, que tenha abundância de leite, ao ponto de poder espremer-lh'o na boca ou dar-lh'o com uma colher, para poupar os esforços da sucção, que, na maioria dos casos, o estado de fraqueza impossibilita de effectuar. Além disto devem ser administradas, com intervallos de 24 PAIiTOS 395 a 48 horas, doses de cJiin., fazendo ao mesmo tempo que a ama se conserve em dieta regular até que o re- cém-nascido tenha adquirido forças sufficientes para ser considerado livre de perigo. Cuidados que devem ser dispensados á. criança depois dos primeiros dias do nascimento. Não somente durante as primeiras horas que seguem a expulsão do feto do seio materno, mas durante dias e semanas que percorre a nova vida do recém-nascido, reclama elle cuidados e tratamento que carecem ser conhe- cidos e estudados pelo parteiro, em ordem a prompta- mente remediar os desvios e obstáculos que á marcha do seu desenvolvimento e nutrição forem oppostos, por influencia de cau-as climatericas, de diatheses mater- naes, e do próprio trabalho do parto, quando laborioso. CAPITULO I. Queda do cordão umbilical. A queda do cordão umbilical tem por fim romper as relações que o recém-nascido conservava com a vida an- terior ou fétal. Effectua se ella com tanta mais rapidez quanto me- nos volumoso é o cordão, menos carregado de gordura e mais duro. Os de constituição opposta, isto é, os mais grossos, molles e gordos, realisa-se a sua queda por effeito da sup- puração que se lhe estabelece na base, isto é, em seu ponto de união com a parede do ventre, emquanto que os finos, magros e pequenos secção mais depressa, e cahem sem suppuração. 396 PARTOS § 1-" Dessicação do cordão umbilical. Do primeiro ao terceiro dia o cordão umbilical mur- cha, e no fim do quinto está sêcco. A dessicação, porém, só affecta a parte gelatinosa, cessando na altura (ia orla cutânea. O cordão cabe então com ou sem suppuração,, con- foime sua constituição intima, deixando após sua queda uma cicatriz, conhecida com o nome de cicatriz umbilical. A dessicação não se verifica se a criança morre por effeito de alguma das causas que enumeramos, e que oppõe desde intra-orgãos obstáculos á sua violabilidade; neste caso, em vez de dessicação o phenomeno observado é an- tes a decomposição, a qual se effeitua em poucos dias, conservando, sem se cbliterarem os vasos que entrão em sua composição. Varias são as opiniões a respeito da maneira por que se faz a separação do cordão umbilical. Haller e Monroe a considerão effeito de gangrena que invade as suas partes constituintes; Gardien attribue-a a. constricção da epider- ma; Chaussicr a trabalho inflammatorio,eBillard a repuxa- mento dos músculos abdominaes que separão o collo um- bilical da porção resequida do cordão. O Dr. Bouchut admitte um complexo de phenomenos da ordem dos aceitos pelos autores referidos « em tudo semelhantes (diz elle) aos que resultão da torsão das artérias » ; e accrcscenta « uma certa parte do vaso murcha, morre e separa-se das partes vivas por meio de um trabalho in- flammatorio mais ou menos evidente, para cahir sob a in- fluencia da menor tracçao exterior. » A eliminação do cordão faz-se ordinariamente sem embaraços, notando-se apenas uma ligeira suppuração nos cordões pequenos e pouco gelatinosos; outras vezes, porém, quando o cordão é molle, grosso e gorduroso, a eliminação é effeito de suppuração mais abundanle; final- mente esta operação da natureza vem muitas vezes com- plicada de hemorrhagias c accidentes inflammatorios graves. PARTOS 397 § 2.o Hemorrhagia umbilical ou oinphaloriliagia. A hemorrhagia faz-se pelo tuberculo umbilical, tra- zendo como consequeucia a morte da criança. Muitos parteiros de nota a tem observado, como sejão Under- wood, Villeneuvc, Burns, M. P. Dubois, Gould, Gran- didier (de Cassei), Thore e Mansley. O Dr. Allaire vio cm um caso de morte a hemorrhagia realisar-se, não pelo tuberculo umbilical, mas por uma abertura situada abaixo e que communicava directa- mente com a artéria. A hemorrhagia só se verific i do sétimo ao décimo terceiro dia depois do nascimento, tendo sido effectuada a queda do cordão. O cjuie ha de particular é que a hemorrhagia não se faz em jorros ou soffreada, como é commum nas hemorrhagias das artérias; effectua-se, porém lavando a parto que lhe fica inferior e intermittente- mente. As causas que a produzem são principalmente as tracções sobre o cordão, seu arrancamento, a diatheso hemorrha- gica e a discrasia, effeito do escorbuto ou hemorrhaphilia. O Dr. Grandidier, que melhores observações colheu a este respeito (202), descreve, como segue, os phenomenos que se passão por occasião das hemorrhagias: « Que a hemorrhagia começa ordinariamente á noite sem symptomas precursores. Que em algumas circum- stancias existem vômitos, colicas, somnolencia e princi- palmente ictericia com constipaçao ou sahida de matérias fecaes, descoradas e argilosas. Que ha algumas vezes petechias, ecchymoses e hemorrhagias pelas mucosas, an- nunciando um estado de dissolução do sangue, e que neste caso, 32 vezes sobre 35 a moléstia foi mortal. « Que sobre 135 casos a hemorrhagia se produziu 38 vezes antes da queda do cordão, 26 ao mesmo tempo e 31 vezes em época mais remota; e no 56" dia a cicatrisação do cordão estava completa. « Que a hemorrhagia se verificou do 5" ao 9o dia. 398 PARTOS « Que a hemorrhagia appareceu lavando as partes inferiores, raramente por um orificio distincto, e que é sangue arterial antes que venoso, e não é coagulavel. « Que a hemorrhagia é mortal nos 5/6 dos casos, c não > essa sem a intervenção da arte, o que não é exacto. « Que sua duração ó variável; que a morte pôde pro- duzir-se no fim de uma hora, ou no fim de três semanas e então se faz por anemia ou esgotamento. « Que a autópsia demonstra vicios de conformação do figado ou das vias biliares, a permeabilidade dos vasos umbilicaes, do buraco de Botai, factos communs a todos os recem-nascidos; a ictericia, a inflammação dos vasos umbilicaes, a obliteração da veia porta e da veia cava, etc. « Que esta hemorrhagia ó consecutiva muitas vezes, que é mais freqüente nos rapazes do que nas meninas, na proporção de 86 para 40; que é hereditária, tendo-se visto raramente sobre todos os do gênero masculino de uma mesma família. « Que esta hemorrhagia se tem mostrado nas mulheres que tinhão grande polydipsia durante a prenhez, e que abusavão dos alcalinos. Que ella é rara nas familias affectadas de hemorrhagia, porque não foi notada senão 14 vezes em 9 familias, sobre 452 he nophilas em 152 familias. Nestes casos, se as crianças suecumbem ó antes a chagas accidentaes do que á omphalorrhagia. « Que na hemorrhaphilia o sangue é coagulavel, e na emphalorrhagia não o ó ; ella é hereditária 433 sobre 452, e na o phalorrhagia 19 sobre 202; emfim, 33 crianças que se curarão da hemorrhagia umbilical nenhuma teve mais tarde signaes de diathese hemorrhagica, de onde se conclue que a o nphalorrhagia é cousa distincta da hemorrhaphilia. » Apezar da opinião do autor, cujos trabalhos acabamos de citar, nem todas as hemorrhagias umbilicaes produzem morte. A hemorrhagia que não adquire grandes proporções não tem gravidade, suspende-se sem tratamento algum; quando, porém, é abundante, o perigo é tanto maior, quanto maior perda se tem feito. PARTOS 399 Tratamento. O único meio conhecido e que pôde salvar a criança é a ligadura em massa do cordão umbilical; todos os mais quer internos, quer externos, não têm valor algum. Cauterisações de toda a espécie, hemostaticos, por mais poderosos que pareção, só têm por effeito cada yez mais comprometterem a vida da criança, fazendo perder tempo precioso para o único recurso que resta ao tratamento. A ligadura faz-se da seguinte fôrma: atravessa-se um alfinete na base do tuberculo umbilical, que está san- grando, e com um fio, passado por debaixo do alfinete, aperta-se toda a parte comprehendida, tão fortemente quanto chegue para embaraçar completamente a sahida do sangue que se extravasa. A ligadura cabe ás vezes antes do 6o dia; quando se demora deve ser retirada ao 1°, embora a parte não tenha cahido de todo, se se verificar que a obliteração do vaso está completa. §3.° Phlegmão dos vasos umbilicaes. O phlegmão dos vasos umbilicaes é uma fôrma da febre puerperal dos recém-nascidos. A inflammação suppurativa da veia umbilical transportando o pús para o figado produz ictericias, peritonites, e erysipelas das paredes do ventre, as quaes rnatão a criança com rapidez surprehendente. Sua causa é a queda do cordão, queda que ainda produz phlegmão das paredes abdominaes e inflammação das arté- rias hypogastricas. § 4.° Suppuração e cicatrisação do umbigo. A queda do cordão deixa uma depressão ihfundibi- liforme, limitada por uma orla avermelhada e inflam- mada, feita a expensas da pelle do abdômen (ventre). 400 PARTOS A cicatriz só está perfeita depois de 10 a 12 dias; até então apresenta uma pequena cópia de pús, pouco con- sistente, e que mancha os pannos .que lhe são postos em contacto. A retracção dos vasos umbilicaes, á pro- porçáov que se vai fazendo, augmenta gradativamente a depressão do umbigo. A fraqueza do annel formado dá lugar, quando a criança chora, á formação de hérnias, por sahida de porções do intestino. O meio de prevenir esta lesão é manter a cicatriz por meio de uma atadura contentiva, que tenha por fim impedir que os tecidos cicatriciaes ou os destinados á formação do annel, cedão á pressão interior, isto é, de dentro para fora. CAPITULO II. Arrancamento do cordão umbilical. O arrancamento do cordão umbilical ó conseqüente a tracções mal dirigidas durante o trabalho do parto, quando o feto, estando na cavidade da bacia, são em- pregados esforços desproporcionados para completar sua extracção ; ou quando, sendo expellido rapidamen- te ficou suspenso pelo cordão, estando a placenta ainda adherente ou presa pela retracção excessiva das fibras do collo do utero. O arrancamento faz-se por des- pcdaçamento do cordão, no ponto onde elle se prende á parede do abdômen, donde provém uma hemorrhagia mortal, se a tempo não se praticou a operação para a obliteração do vaso dilacerado. O Dr. Scháffer (de Saargemüncl) admitte uma ou- tra causa de arrancamento, quando o cordão é ex- cessivamente curto ou não existe. Cita elle a favor do caso da não existência o facto de uma sua partu- riente, em quem, apezar das optimas condições de con- formação da bacia, e mais da posição tomada pelo feto (quarta do vértice) o parto reclamou o emprego do forceps. PARTOS 401 O arrancamento do cordão, em seu ponto de inser- ção na parede do ventre, foi a conseqüência das tracções, seguidas da morte do feto immediatamente depois de sua extracção, por inanição. Quando extrahida a placen- ta, o exame fez ver « ausência completa do cordão, sendo encontrado, em vez delle, um buraco circular de dous centimelros de diâmetro, sem vestígio algum de membrana. Approximada desta abertura á extremidade do cordão da criança, pude restabelecer da maneira a mais evi- dente as relações que tinhão existido entre estas par- tes. O cordão tinha 10 millimetros de extensão. » (Sçhaffer.) Ás vezes é imprudentemente arrancado o cordão do seu ponto de inserção : a hemorrhagia é a conseqüência. Tratamento. O meio por excellencia para a cura desta lesão é, a ligadura feita com dous alfinetes cru- zados na base do cordão, por debaixo dos quaes se passa uma laçada forte de linha, antecedentemente en- cerada, e apertando tanto quanto seja necessário para obliterar completamente os vasos destruidos. Todos os demais meios hemostaticos são sem valor para fazer cessar a hemorrhagia, que é sempre fatal, quando a cópia de sangue extravasado é de natureza tal, que impossibilita a reconstituiçâo do recém-nascido. Phlegmão do umbigo e phlebite umbilical. Como já uma vez dissemos, a queda do cordão um- bilical traz comsigo phenomenos inflammatorios, mais ou menos graves, da ordem das erysipelas, arterites e phle- bites umbilicaes. Por effeito de agudez dos phenomenos fórmaí-se um tumor circumscripto do umbigo ou phlegmão umbilical, o qual é acompanhado da inflammação do peritoneo e dos vasos do cordão. Desde Hippocrates estes phenomenos têm sido des- criptos com mais ou menos minuciosidade. Ambrosio d. h. ii 26 402 PARTOS Pare, Underwood, Gardieu, Ncegele e outros publicarão observações de factos passados á sua vista, em recem- nascidos sujeitos a seus cuidados. Meynet descreve estes phenomenos sob o nome de Epidemia de erysipélas, e de ulceração do umbigo nos recém-nascidos. Até certo ponto a denominação proposta é verda- deira, porque têm sido observadas epidemias de phlegmões do umbigo em certas épocas do anno climaterico, des- envolvidas entre os recém-nascidos; o mais commum, porém, é a formação pura e simples do phlegmão nas paredes do abdômen, circumscripto, na quasi totalidade dos factos, ao contorno do umbigo. Elle pôde realizar-se sob a fôrma epidêmica ou]esporádica: quando se desenvolve sjb a fôrma epidêmica suas causas immediatamente efficientes conservão-se, como para as erysipélas em geral, um mysterio para a sciencia; sobre o que, porém, não resta duvida é, que seu desenvolvimento é effeito immediato do estado puerperal, da agglomeração de vários recém-nascidos em lugar pouco arejado e de proporções menores do que as convenientes, e do aleita- mento artificial. Estas causas ficão ainda sujeitas á in- fluencia, que sobre o recém-nascido exerce, incontroversa- mente, a ligadura do cordão umbilical, a falta de cuidados de asseio, curativos feitos com pomadas irritantes e final- mente o máo regimen a que são submettidas as crianças. Sobretudo a puerperalidade tem, sem contradicção, influencia immediata sobre a producção do phlegmão do umbigo, e sobre as peritonites que de concomitância as acompanhão. Três ou quatro dias depois do nascimento, algumas vezes mais e outras menos tempo, o phlegmão começa sua desenvolução. Como primeiro symptoma da affecção o recém-nascido recusa o peito ou o bico da mamadeira, e chora continua- mente; logo depois o pulso cahe e torna-se pequeno; ao mesmo tempo ganha grande freqüência; a lingua fica sêcca, vermelha na ponta e coberta de um enducto mucoso; o ventre incha e a criança emmagrece rápida e extrema- PARTOS 403 mente; ha diarrhéa e alguma vez constipaçao. A estes symptomas seguem-se os phenomenos locaes. O Dr. Meynet divide os phenomenos locaes em duas fôrmas distinctas, e assim os descreve. «Ia fôrma.—Uma inflammação ligeira do umbigo acompanhava a queda do cordão umbilical. Esta inflam- mação, conjunctamente com ulceração na base do cordão e de suppuração mais ou menos abundante, retardava a queda deste appendice, e principalmente a cicatrisação do umbigo; mas logo depois o estado se aggravou: a esta inflammação ligeira succederão symptomas de phlegmasia intensa; vio-se sobrevir na região umbilical um rubor cada vez mais carregado, o qual desapparecia pela pressão do dedo, e formava um circulo em deredor do umbigo; ao mesmo tempo uma tumefacção enorme e circumscripta. A orla cutânea que circumda a base do cordão ulce- rava-se consecutivamente, seus bordos se reviravão para fora; a ulceração gfnh iva em profundidade e extensão; sua superficie se cobria de uma falsa membrana de um branco cinzento, pultaceo, o mais das veze ^ ella secretava uma sanie purulenta, espessa e fétida. A medida que a ulcera estendia seus estragos, o cir- culo vermelho se augmentava, tomava uma côr de borra de vinho; a tumefacção cada vez mais volumosa era dura e renitente; em grande numero de casos, a aureola verme- lha era bordada de um circulo de pequenas pústulas, mais ou menos confluentes, branco-sujo, de fôrma arredondada, não umbilicadas e contendo uma serosidade turva e pu- rulenta ; abaixo o dérma apresentava uma pequena ul- ceração re !onda e deprimida em seu centro. As vezes o circulo vermelho erysipelatoso era cavalgado por uma enorme phyctena cheia de uma serosidade sanguinolenta; as phyctenas, rompendo-se deixavão a nú o dérma, que logo depois era invadido pela ulceração. 2» fôrma.— Nesta 2a fôrma a moléstia tinha uma marcha inteiramente differente, quer estivesse o cordão ainda fresco e molle, quer estivesse já sêcco ou inteiramente des- pegado ; era pela ulceração que a queda começava. Esta ulceração, limitada em principio á base do cordão, 404 PARTOS invadia, do centro para a circumferencia, a pelle da orla umbilical; ella occupava todo o fundo da cavidade mfun- dibiliforme, comprehendido entre o duplo annel cutâneo assignalado por M. Denis; depois propagava-se irregular- mente em diversos sentidos; ora, destruindo as adherencias da pelle com os envoltórios do cordão, ella prolongava-se a grande altura ao longo dos vasos umbilicaes, transfor- mando toda a sua superficie exterior em um vasto foco de suppuração, coberta como um estojo pela membrana de envoltório resequida; ora, ao contrario, franqueando o annel cutâneo exterior, invadia a parede abdominal em grande extensão. Sua fôrma era sempre amphractuosa e irregular, seus bordos algum as vezes largamente des- collados; ordinariamente, porém, sua superficie era des- corada, de um cinzento violaceo, exhalando cheiro de gan- grena, análogo ao da podridão do Hospital, ou ainda co- berta de uma falsa membrana espessa e molle, muito adherente; nestes casos o circulo rubro era menos circum- scripto, sua côr livida, a tumefacção menos pronunciada, faltando, porém, muitas vezes a erupção pustulosa.» (Meynet.) O phlegmão umbilical epidêmico tem duração variável entre 36 horas o 3 dias; se elle persiste por 4 dias, sua terminação é quasi sempre favorável; na metade dos casos, porém, a morte põe termo ao soffrimento. O phlegmão umbilical, segundo a descrípção precedente, é moléstia extremamente grave, sendo a fôrma ulcerosa muito mais do que qualquer outra. Tratamento. O tratamento divide-se em prophylatico e curativo; este subdivide-se em local e geral. Local. Este tratamento consta de banhos repetidos de água morna, de cataplasmas feitas de farinha e man- dioca em água, ou miolo de pão em leite. Ao mesmo tempo pôde ser usado o tratamento empregado por M. Vallete, cirurgião da casa de Misericórdia de Lyon, descripto da seguinte fôrma pelo já citado Dr. Meynet. Estende-se uma pasta cáustica de chlorureto de zinco sobre a ulcera: depois da queda da escara cura-se duas , PARTOS 405 vezes por dia a chaga com algodão embebido de uma so- lução de perchlorureto de ferro, composta de uma parte de perchlorureto e duas de água. Geral Os medicamentos que podem ser empregados com vantagem são : Ars., bell, bryo., hep., merc, puls., phosp. e sulf. Havendo constipaçao (prisão de ventre) complicando o estado local do tumor, deve-se preferir bryo. Se ao con- trario em vez da constipaçao fôr a diarrhéa que ameace esgotar o recém-nascido, os medicamentos preferidos de- vem ser: Ars., depois pliosp. e sulf. Prophylatico. — Pelas experiências tentadas com o fim de precaver o recém-nascido contra os ataques desta mo- léstia, o Dr. Vallette aconselha enduzir, em pasta ou po- mada de chlorureto de zinco, o fio com o qual se tem de fazer a ligadura do cordão umbilical, tendo a cautela de executar escarificações superficiaes no cordão por baixo e em deredor da ligadura, para que a pasta actúe de pre- ferencia sobre os vasos que entrão em sua composição. CAPITULO IV. Espasmo da gíotte ou phreno-glottismo. Para o Dr. Bouchut o espasmo da glotte ou phreno-glot- tismo é « uma affecção convulsiva e intermittente da glotte e do diaphragma, caracterisada por accessos curtos de suffocaçâo, reproduzindo-se com intervallos variáveis.» A difficuldade da precisão do diagnostico desta moléstia tem dado causa a ser considerada affecção extremamente rara. Contra isto, porém, protesta a variedade de denomi- nações que lhe hão sido dadas pelos autores que se tem occupado com especialidade das moléstias das crianças re- cém-nascidas. Estas denominações, vagas como o juízo formado a respeito da doença, têm cada vez mais difficul- 406 PARTOS tado a manifestação symptomatica especial á affecção, para que ella possa ser differenciada daquellas com quem se confunde commummente. A própria denominação de espasmo da glotte dada pelo Dr. Hérard, é considerada imprópria pelo Dr. Bouchut, pela analyse feita, dos phenomenos dcscriptos, na memó- ria apresentada pelo Dr. Hérard. Como estas, podem ser postas em duvida as seguintes denominações: Papeira dos recém-nascidos, astlima tJiymica, asthma de Hopp, asthma laryngea, asthma infantil, croup cérebro1, etc. O espasmo da glotte, considerado como um symptoma isolado dos demais phenomenos que caracterisão especial- mente o phreno-glottismo, exclue a possibilidade de par si só constituir uma entidade mórbida, porque commum- mente elle não é outra cousa, senão o effeito de uma causa que determina uma lesão, a qual produz este pheno- meno, como uma das inherencias da affecção principal. E assim, por exemplo, que este estado ou phenomeno, quando se manifesta, faz presuppor, logo á primeira vista, uma affecção de que elle não é senão um symptoma, que tanto mais valor te , quanto mais se avizinha da aber- tura laringei. Temos como exemplificação da opinião que emittimos, moléstias, como sejão a coqueluche, a laryn- gite estridulósa ou falso croup, de quem este phenomeno fica constituindo a principal manifestação, mas que nem por isso dá o direito de ser considerado por si só a mo- dalidade morbidx A affecção é de tal ordem na pratica, que mereceu do Dr. Bouchut uma detida descrípção, acompanhada de ob- servações que illustrão o juizo por elle formado. Pessoalmente nenhum facto temos de phreno-glottismo que nos habilite a descrevê-lo com a consciência que cos- tuma dar a própria observação. Pelo que lançamos mão do meio que nos parece mais consentaneo com a fidelidade da descrípção. E a transcripção da moléstia em sua inte- gra, da obra do Dr. Bouchut, seguindo como elle a or- dem dos phenomenos, de modo a torna-la perfeitamente conhecida dos leitores. « Causas. O phreno-glottismo é moléstia da pri- meira infância e dos recém-nascidos. É mais freqüente PARTOS 407 nos meninos do que nas meninas, ataca de preferencia os nervosos, fracos e rachiticos, poupando até certo ponto os fortes e os vigorosos. Observa-se também muitas vezes nos meninos nascidos de mais delicadas, excitaveis ou nervosas; e o que prova bem, diz o Dr. Bouchut, a disposição original da moléstia, é sua presença successiva em todas as crianças de uma mesma família, como foi observado por muitas vezes pelos Drs. Rullmam, Kopp, Marshall Hall, Toogood, e outros. O Dr. Hérard, porém, diz que não ha nada de extraordinário neste phenomeno para aquellcs que sabem que a moléstia é de natureza convulsiva, e que, portanto, não é raro vôr todas as crian- ças de uma mesma família perecerem de convulsões. « O espasmo da glotte ou phreno-glottismo é uma mo- léstia dos paízes do norte, e do inverno particularmente. Seus accessos são excitados e provocados pela deglutição, sobre tudo pela dos liquidos, pelo despertar, pelas commo- ções, as c ntrariedades, o medo, pela constipaçao, pelo trabalho da evolução dentaria (trabalho da dentição), pela estomatite, pela angina, pelas affecções pulmonares, etc. « Symptomas. Esta moléstia apparece ordinariamente sem phenomeno precursor, e, segundo o Dr. Hérard, co- meça sempre da mesma fôrma. De repente a respiração pára, o diaphragma cessa de mover-se, e parece que a glotte acaba de ser fechada repentinamente; durante al- guns segundos ha ameaças de suffocaçâo, e a physiono- mia demonstra uma viva angustia; a boca fica aberta largamente, como para aspirar o ar que lhe falta; a cabeça cahe para trás, os olhos ficão fixos em suas orbi- tas, e o rosto torna-se azul; ha, em uma palavra, as- phyxia incipiente. « O pulso accelera-se e torna-se pequeno ou insensível; os batimentos do coração são tumultuosos e irregulares; o peito fica immovel e tenso; seus músculos estão como tetanisados, e o murmúrio vesicular deixa de se produzir. « A pelle torna-se fria e viscosa; evacuações involuntá- rias se verificão; a intelligencia fica livre,mas os movimen- tos freqüentemente se pervertem. As extremidades dos membros, principalmente os dedos, contractmMo-se. Oa 408 PARTOS pollegares dobrão se tonicamente nas mãos; o grosso artelho sobre a planta do pé. O Dr. Hérard ainda obser- vou que esta contractura invadia os joelhos e os.cotovel- los. Desenvolve-se ella também nos músculos do pescoço e nos dos olhos, e algumas vezes a contractura é substi- tuída por convulsões clonicas epileptiformes; mas neste caso o phreno-glottismo não é senão um começo de ataque de eclampsia. « No fim de alguns instantes, o espasmo do diaphrag- ma e da glotte diminue; a respiração volta, "mas é um pouco softreada e as primeiras inspirações são sibilantes e acompanhadas de um pequeno ruido sonoro, compa- rável a um soluço de timbre agudo. « Kopp indica, como característico desta moléstia, a propulsão da lingua para fora das arcadas dentárias no momento do accesso; mas este phenomeno não deve ser constante, porque os Drs. Hirsch, Hachman, Hérard, não o notarão em suas observações. » Os accessos de phieno-glottismo durão desde alguns segundos a um ou dous minutos ao mais. Os casos em que a convulsão durava mais, forão mal observados, ou então os accessos forão fracos, entrecortados de repouso, porque é impossivel admittir que uma criança tenha ficado sem respirar durante quinze minutos e mais, como se vê em uma observação de Hauff, e em uma outra de Caspari. Estes accessos vêm em épocas variáveis, todos os mezes, todas as semanas, de noite, de dia e mesmo a todas as horas. O Dr. Hérard contou 25 em uma noite e Hach- man 50 no espaço de 12 horas. « No intervallo dos accessos, a voz não se muda, as crianças não tossem, e o exame da garganta permitte vêr um rubor devido a angina tonsillar ou a estomatite causada pelo trabalho da dentiçâo. « As crianças conservão-se alegres e em apparencia bem dispostas. A respiração é fácil e o pulso bom; não ha febre, e as funcções digestivas fazem-se regular- mente. « Entretanto sendo os accessos freqüentes e a con- vulsão phreno-glottica intensa, complicada ou não de contractura dos dedos, as crianças ficão abatidas, fatigaclas, PARTOS 409 pesadas, e soffrem evidentemente da asphyxia passa- geira, á qual estiveião sujeitas. « Segundo o Dr. Hérard, estas crianças enfraque- cem-se insensivelmente, e são atacadas de febre; o ap- petite diminue, e apparece diarrhéa; as palpebras e os lábios cobrem-se de crostas; o menino, em uma palavra, é affectado de febre éthica, que o leva lenta- mente ao túmulo, se antes não falleceu por um dos ataques convulsivos. « Nos recém-nascidos, quando o mal começa pouco depois do nascimento, 24 ou 48 horas em seguida a este momento, a respiração não se estabelece regularmente e a pelle parece congestionada no decubito dorsal. O rosto e as mãos parecem um pouco cedemaciados e mais ver- melhos que o resto do corpo; depois vêm de tem- pos a tempos inspirações peniveis, um pouco sibilantes, dificuldade de mamar e pegar no seio, o que traz muitas vezes verdadeiras crises de suffocaçâo ou afo- gamento, e emfim uma apparencia de asphyxia, seguida de convulsões parciaes ou geraes, quando se deixa as crianças na posição horizontal. « A asthma-thymica, ou espasmo da glotte, que eu designo pelo nome de phreno-glottismo, se apresenta sob duas fôrmas differentes, observadas por Caspari, Hirsch, Hachman. Na primeira o phreno-glottismo existe iso- lado, é a fôrma espasmodica; na segunda a convulsão desenvolve-se nas crianças que já estão roucas e que tossem, é a fôrma catarrhal. Não ha meio de manter esta driisão, que não está suficientemente justificada. O Dr. Hérard, de seu lado, estabeleceu também algumas divisões, segundo ha espasmo isolado do larynge, ou espasmo isolado do diaphragma, caso em que não seria mais um espasmo da glotte, ou emfim. quando houver simultaneiuade do larynge e do diaphragma. Estas distincções não são mais adnnXiveis, porque lendo as próprias observações de Hérard vê-se, que o duplo espasmo ou dupla convulsão existio ao mesmo tempo em todos os seus doentes. « O phreno-glottismo, i-to é, a disposição a convul- sões phreno-glotticas, dura de algumas horas a alguns 410 PARTOS dias e mesmo mezes. Crianças ha que têm muitos ata- ques e curão-se; outras, os ataques renovão-se mais ou menos freqüentemente, durante longo tempo, sob a in- fluencia das causas que já forão enumeradas, e acabão também por desapparecer. Então o intervallo dos ata- ques é mais longo e os accessos successivamente menos violentos. As moléstias agudas intercorrentes os fazem eessar com a mesma rapidez com que elles desapare- cem na coqueluche. '< Um certo numero de meninos morrem destas con- vulsões phreno-glotticas, e eu creio, com Hérard, que se deve attribuir a morte a uma das três causas seguin- tes : Ia, á asphyxia que re.-ulta da occlusão muito pro- longada da glotte; X ás lesões cerebraes, como sejíío a congestão do cérebro e a hemorrhagia das meninges, ou á commoção do tecido nervoso; 3*, emfim, ao es- gotamento das forças. Neste ultimo caso a morte ó lenta e resulta de profundas perturbações acontecidas na he- matose e consecutivamente nas outras funcções. « O mais ordinariamente, porém, a morte tem lugar por asphyxia súbita e rápida. » Diagnostico. O diagnostico do phreno-glottismo é, como dissemos, em começo da descrípção, extremamente difficil, attendendo-se á confusão dos escriptos que sobre a moléstia nos hão deixado os autores que atem observado; razão pela qual preferimos, em vez de compilar o es- cripto do Dr. Bouchut a respeito, transcrevê-lo inte- gralmente, facilitando assim os meios mais seguros para o estabelecimento de um diagnostico preciso. « Mesmo com estes dados não é fácil distinguir na pratica um caso de phreno-glottismo das convulsões isoladas do larynge ou dos bronchios especiaes á laryngite estridulosa, e assim de outras moléstias. » (Bouchut.) Para maior facilidade do diagnostico differencial damos em seguida um quadro, que, logo á primeira vista, fará conhecido o phreno-glottismo. PARTOS 411 Quadro diferencial entre o phreno-glottismo, a laryngite estriilulosa. a coqueluche e o cedema da glote. PHBENO-GLOTTISMO. Ausência momen-tânea da respiração seguida de inspiração ruidosa semelhante a um soluço de timbre agudo; ameaça de asphyxia, sem tosse. No fim do accesso contracção nos dedos das mãos. LARYNGITE ESTBIDULOSA. Tosse rouca, so-nora, sibilante e sêcca, aparecendo por quintos; ameaças de suffocaçâo. ls;ão ha contracções nos dedos das mãos. COQUELUCHE. Tosse convulsiva e quintos de tosse sepa-rados por inspirações longas, sotiorns e si-bilantes, com voltas periódicas ; tanto a tosse como as suas remissões em nada scassemclhãoá suffo-caçâo e o soluço do phrenoglotismo. (EDEMA DA GLOTE. Accessos de suffoca-çâo, mais ou men^s appioximados , cora rouquidão, inspira-ções sibila tos e ex-piração fácil nos in-tervalas. Infiltração sorosa ou sero -purulenta das paredes que cir-cum=crevem a aber-tura do laringe. Rouquidão, apho-nia, dyspnéa, acces-sos de suffocaçâo, com inspiração s bi-ante, seguida de ex-piração fácil, aboli-ção do murmúrio ve-sicular dos pulmões, e cyanose. Prognostico. O phreno-glottismo é por todos reconhe- cido como moléstia extremamente grave. Um terço das crianças suecumbe asphyxiado no momento do accesso; outro fallece por moléstias intercorrentes ou consecu- tivas. Dos affectados 50 c/o morrem das duas fôrmas acima enumeradas; a moléstia é, porém, tanto mais grave, quanto mais novas e elelicadas são as crianças, e quanto mais prolongados e freqüentes são os accessos; as complica- cações augmentão a gravidade. A morte é precedida de convulsões geraes. Tratamento. O tratamento divide-se em três p artes durante o accesso, no intervallo dos accessos, e curativo da moléstia. Durante o accesso. No momento do accesso: expõe- se o corpo da criança ao ar exterior, lança-se-lhe água fria sobre o rosto, e mette-se-lhe os pés em água quente com sabão; ao mesmo tempo, frieciona-se as pernas com álcool. Se acontecer declarar-se a morte apparente, o que 412 PARTOS deve ser verificado pela auscultação do coração, pratica- se immediatamente a respiração artificial, até que se con- siga reanimar a criança. No intervallo dos accessos.— Dietetico. Manter a crian- ça na maior calma possível sem excitação, prevenin- do qualquer contrariedade. Não havendo complicações febris pôde permittir-se-lhe ligeira alimentação. Nos casos de dentição difficil e dolorosa, examinar com cuidado o estado das gengivas, incisando-as no ponto em que houver algum dente que por qualquer obstáculo não tenha podido romper. Banhos tepidos todos os dias e continuados por longo tempo. Medico. Os medicamentos que mais tem aproveitado nesta época são: Acon., hep., ipec, sen., spong. etart. Havendo tosse, os medicamentos principaes são: Bell, con., hep., merc e verat. Curativo. — Hygiexico. O meio por excellencia cura- tivo do phreno-glottismo como adjuvante dos meios mé- dicos, é a mudança de ar para o campo. Medico. Os medicamentos que maior numero de cu- ras tem produzido, são : Acon., bell, con., hep., ipee, merc, sen., spong., tart. e verat, ou ainda: Amm., lach., phosph., zine, ou mesmo: Ambr., asa., aur., berb., cupr., ign. e fer., dos quaes se deve lançar mão nos casos especiali- sados na occasião em que tratamos das differentes espé- cies de asthmas. Ha, porém, um medicamento que convém ensaiar antes de qualquer outro; é o mosch. Este medicamento muito preconisado pelo Dr. Salathé, reúne em seu favor grande numero de curas na pratica deste observador. « Graças ao mosch., diz este medico, a cura é a regra, a morte uma excepção, pois que, sobre 24 doentes não houve a lamentar senão dous casos de morte. Destas 24 crian- ças, houve 17 nas quaes a moléstia foi reprimida e curada depois de alguns dias de tratamento; nos outros 7, o emprego deste medicamento, ainda que seguido de uma diminuição notável, não impedio a volta de novas crises. » partos 413 O Dr. Bouchut termina a histeria desta moléstia com a transcripção dos quatro seguintes Aphorismos. Accessos curtos de suffocaçâo e asphyxia, precipitados e apyrétícos, terminados por um pequeno soluço muito agudo, annuncião as convulsões pJireno-glotticas do espasmo da glotte; O pJireno-glottismo cessa o mais das vezes sob a influencia de uma moléstia aguda intercorre nte ; O plireno-glottismo cura-se pela mudança e transferen- cia dos meninos para o campo; O phreno-glottismo seguido de convulsões geraes é uma moléstia mortal. CAPITULO Y. Teta nos dos recém-nascidos (vulgo mal de sete dias), e da seguiida infância. § 1-° Tétano dos recém-nascidos. O tétano dos recém-nas- cidos, também chamado trismus, mal de sete dias, éclamp- sia tetaniforme, é moléstia dos paizes quentes, inter- tropicaes, especialmente da America, e dos paizes extre- mamente frios. É uma nevrose caracterisada por con- vulsão tônica permanente dos músculos do thorax, dos das gotteiras vertebraes e dos membros, por effeito de fe- rimento de um nervo, de indigestão, de vermes intes- tinaes e, especialmente, da queda do cordão umbilical, acompanhada do aperto das maxillas. Causas. O tétano dos recém-nascidos desenvolve-se por effeito da retenção do meconium, por constipaçao, pela compressão do corpo, por um cueiro muito apertado, e principalmente pela queda do cordão umbilical. 414 PARTOS Quando elle se d sen volve epidemicamcnte, como foi observado cm Londres e em Stockolmo pelos Drs. Un- derwood e Cederchsjoeld e entre nós por vários par- teiros, sem exceptuar o próprio autor deste trabalho, suas causas ficão, por em quanto, um mysterio para a eciencia. Seu agente é uma producçâo occasional, muito provavelmente effeito do estado hygromctrico da atmos- phera; todavia nada de positivo é prudente aventurar- se em objecto tão momentoso. 4 Symptomas. Do sexto ao nono dia depois do nasci- mento, ás vezes desde o primeiro, a moléstia declára-se. Os meninos dispertão a cada passo em sobresalto, cho- rão dando um pequeno grito agudo e único; ficão inquie- tos; querem mamar e não podem; tôm náuseas, vômi- tos freqüentes e ás vezes um pouco de diarrhéa. No fim de 24 ou 36 horas, declara-se o trismus, a prin- cipio intermittente e depois c ntínuo. (O trismus é a rijeza que se n ota nas maxillas e que impede a criança de abrir a boca e mamar: os queixos, em phrase vulgar, ficão duros.) Logo depois a rijeza das m xillas invade a lingua, os músculos do pescoço, das costas e dos mem- bros. Os dedos das mãos e os artelhos ( dedos dos pés) curvão-se e contrahem-^e, os primeiros sobre as palmas das mãos, os últimos sobre as plantas dos pés. D'onde um opis- thotonos mais ou menos completo, que permitte, segundo o Dr. Bouchut, levantar a criança como uma barra, sus- pendendo-a por uma de suas extremidades. As vezes o opisthotonos se declara sem sacudidelas te- tanicas, produzindo apenas pallidez e abatimento da criança, ou obrigando-a a ficar immovel e soltar apenas alguns gritos isolados; outras porém, elle é interrompido por sacudidelas clonicas, que se reproduzem com in- tervallos mais ou menos approximados. A cada abalo a criança estira-se na cama e grita; a face fica rubra e inchada, os olhos injectão-se; morde a lingua e apparece na boca uma escuma branca. Qualquer pequeno contacto, o menor ruido, a acção rápida da luz, a presença d s li- quidos provoca novas sacudidelas. O tétano dos recém-nascidos é acompanhado, quasi PARTOS 415 sempre, de ictericia; e quando não termina pela morte nosprimeiros dias, observa-se, no fim do sexto, uma erupção cutânea de roseola que desapparece depois de 24 horas. Marcha, duração e terminações. O te.mo médio d: duração é de três a quatro dias. No fim de 12 a 24 horas as convulsões cessão, mas a criança cahe em prostração ; o c rpo emmagrece, a face fica alterada, as mãos e os pés resfrião e ficão, azulados. A respiração é difficil, e o pulso vai gradualmente se enfraquecendo até desapparecer de todo; os batimentos do coração tornão-se impercep- tíveis ; fraqueza extrema. Em alguns doentes, nos últimos momentos, a cabeça fica quente e ardente. Underwood cita um caso em que o tétano durou seis semanas; apezar disso o menino succumbio depois desse tempo. Tratamento. — Diétetico. À criança deve ser alimen- tada com leite extraindo dos seios da própria mãi, ou cm o de vacca, ás colhéres, durante todo o tempo da mo- léstia ; devem-lhe ser dados banhos quentes prolongados e conservar-se no quarto, perto do leita do recém-nascido uma bacia d'agua bem* quente, fortemente alcoolisada. Medico. Os medicamentos com os quaes se tem con- seguido obter algumas curas são: Bell, cham., cin., coff., cupr., ign., lach., merc, nux. v., op., stann., e sulf. Ha um medicamento, que embora não entre no numero dos que acima indicamos, já nos produzio uma cura na mais desesperadora das condições; é a tintura de cannabis indica. Esta foi por nós preparada conforme a indi- cação do Dr. Bouchut; isto é, quatro grammas de canna- bina para trinta de álcool. Da tintura mater foi que nos servimos. Applicámos duas gottas em cada colhersiuha d'agua, de duas em duas horas. A moléstia cedeu no quarto dia, sem se haver produzido o narcotismo. 416 PARTOS §2.» Tetanos da segunda infância. Este tétano em nada diversifica do do 3 adultos, des- cripto no corpo da obra, em artigo especial; assim pois, para lá remettemos o parteiro, onde achará tratada a moléstia com a sua apropriada medicação. CAPITULO VI. Convulsões ou eclampsia das crianças. Convulsões ou eclampsia das crianças são movimentos involuntários, intermittentes e desordenados dos músculos da vida de relação, devidos á susceptibilidade do en- cephalo nesta phase da vida, tanto mais freqüentes, quanto menor é a idade do individuo. Dividem-se em essenciaes sympathicas ou eclampsia, e em symptomaticas. As primeiras, effeito de excitação das fibras nervosas do encephalo, sem lesão apreciável deste órgão; as ultimas, resultantes da mesma excitação nervosa, mas produzida por qualquer lesão material que affecte, mais ou menos intensamente, o cérebro. §1.0 Convulsões essenciaes ou eclampsia. Esta espécie de convulsões, além de outras, tem por causa a sympathia de relações nervosas entre um órgão que soffre actualmente alguma lesão e o encephalo da PARTOS 417 criança. É para o Dr. Bouchut, o representante do phe- nomeno delírio nas demais idades da vida, que não se po- dendo produzir por falta de perfectibilidade das funcções cerebraes, manifesta-se pela que pôde n'esta idade ser produzida, taes são as perturbações das funcções muscu- lares. Causas. Varias são as causas que concorrem para o apparecimento das convulsões na primeira idade. Al- gumas são inherentes á constituição individual da crian- ça; outras são occasionadas por influencias estranhas adquiridas. A condição essencial á maior proficuidade para o desenvolvimento das convulsões, é a predominância do temperamento nervoso, e o menor espaço de tempo per- corrido entre o nascimento e o completo desenvolvi- mento de todos os órgãos da criança, isto é, a menor idade e a maior actividade do systema nervoso. As crianças cuja intelligencia ó precoce; a quem a menor excitação exterior impressiona, além do com- mum ; que têm o somno desassocegado, interrompido por sobresaltos e ligeiros movimentos musculares, e que despertão ao menor ruido, são mais que outras quaes- quer sujeitas a serem prosa das convulsões essenciaes oueclampsia. A herança é incontroversamente uma causa muito notável para o estabelecimento da moléstia. Pai ou mãi que tenhão durante os primeiros annos sido affectados de convulsões de qualquer espécie, transmittem a seus filhos o germen do padecimento. O mesmo se entende a respeito das commoções moraes fortes que experimenta a mulher durante o tempo da gravide?, as quaes vão in- fluir directamente sobre o producto da concepção, d'onde provém o germen de futuras convulsões. O estado de força ou fraqueza não tem influencia para minorar a aptidão para os ataques. Tão sujeita está uma criança fraca e anêmica, como uma forte e plethorica. « O estado convulsivo declara-se no recém-nascido que se acha em estado plethorico, e no qual se tem ligado muito cedo o cordão umbilical, como naquelle d. h. n 27 418 PARTOS a quem uma hemorrhagia abundante tornou anêmico. » (Barrier.) A luz forte, o susto, as sensações fortes, a contrariedade, a cólera, as cócegas, a picada de um alfinete e a roupa muito apertada são causas de eclampsia. Ha duas causas, que, produzindo indifferentementc convulsões em crianças de temperamentos diversos, pro- duzem-nàs, quasi sem discrepância, em membros de uma mesma família, são: a dentição, e o estado febril, por leve que seja. Temos observado, mais de uma vez, que o estado febril, sem querer lançar á linha de conta as febres graves, produz sempre movimentos convulsivos de maior ou menor intensidade. O mesmo effeito se produz na época da dentição. A imitação é uma causa de eclampsia. Tem sido sempre nosso procedimento na pratica fazer retirar as crianças, mesmo as que gozão de perfeita saúde, da presença da atacada de convulsões. Para nós é facto indiscutível, que as affecções nervosas se podem repro- duzir no individuo são, mas de temperamento nervoso, por imitação. Desde 1861 que o Dr. Bouchut advoga a causa do contagio nervoso assim effectuado. « Tenho visto a eclampsia, diz elle, produzir-se por imitação em grandes reuniões de crianças, no dia da primeira communhão, sob a influencia da preoccupação do mo- mento, e do espectaculo dado pelo vizinho ferido de perda do conhecimento, com movimentos convulsivos: 40 ou 50 meninos podem ter, ao mesmo tempo e no mesmo lugar, um ataque de eclampsia. » Um violento accesso de cólera na mulher que ama- menta uma criança, pôde alterar o leite, e raramente deixará de produzir-lhe convulsões. « Boerhave referio o facto de uma ama, que, depois de um accesso de cólera, dando o seio á criança, occasionou-lhe um ata- que de eclampsia que se reproduzio sob a fôrma epi- léptica durante toda a sua existência. O Dr. Constans refere um facto idêntico. » (Bouchut.) O leite modificado pelo accesso da cólera toma-se PARTOS 419 pobre e soroso, igual á alteração soffrida quando certas mulheres que amamentão cohabitão com seus maridos. E corrente entre todas as familias, que quando uma criança, amamentada por mulher mercenária começa a definhar, esta se tem transviado. Ainda mesmo que a ama seja casada, cohabitando com o próprio ma- rido, o menino, a quem aleita, soffre as conseqüên- cias, porque, além das alterações já enumeradas, o leite perde a sua qualidade cremosa. Dizer-se que o leite de mulher estranha, isto é, o que é dado por mulher que não está amamentando a criança, é capaz de produzir- lhe soffrimentos, e a eclampsia com especialidade, é um erro que a pratica quotidiana tem destruido. As perturbações e embaraços do tubo digestivo são causa efficiente de convulsões; assim como a retenção do me- conium, das ourinas e os vermes intestinaes; as comi- das de difficil digestão, a prisão de ventre e algumas vezes a diarrhéa ou dejecções copiosas, produzidas pela administração intempestiva do purgante, podem dar lugar á producção das convulsões. As moléstias inflammatorias e as febres eruptivas, como, por exemplo, o sarampão, escarlatina e bexigas, podem determinar o apparecimento da eclampsia. O Dr. Barrier conta que as observou três vezes por occasião da invasão da pneumonia, e sem que houvesse lesão no eixo cerebro-espinhal : eu vi-as freqüentemente nestas circumstancias. Manifestão-se também no começo da invasão da varíola, da escarlatina e do sarampão, de modo que quando se as vê apparecer subitamente com um accesso de febre, póde-se predizer o desenvol- vimento de uma ou outra destas moléstias. Todos os músculos da face e dos membros são agitados por fortes contracções irresistíveis, e estes accidentes são então de feliz augurio, e podem, segundo Sydenham, fazer presagiar terminação favorável dos accidentes. Apparecem, emfim, no curso das moléstias do appa- relho respiratório, durante a coqueluche, a pneumo- nia, etc. « Vi um menino que as tinha conservado, durante dezoito dias, na phase do periodo de estádio da coqueluche. As que sobrevêm na terminação das 420 PARTOS moléstias agudas são sempre de péssimo augurio e indi- cão quasi constantemente morte próxima. » (Bouchut.), O calor e a agglomeração de pessoas são, finalmente, caus.s que podem produzir a eclampsia. « Temos visto freqüentemente crianças affectadas de convulsões por terem estado em um aposento muito quente, em um theatro, ou em uma igreja, onde se achava reunido grande numero de pessoas. » (Gruersant e Blache.) Symptomas. As convulsões das crianças têm por característicos movimentos desordenados, intermittentes, mais ou menos violentos dos músculos da vida de re- lação, precedidos ou não de symptomas, como sejão frou- xidão, cansaço, agitação e insomnia. Logo depois ap- parece o ataque confirmado , e a intelligencia é abolida. O; olhar torna-se fixo e como desvairado, olhos espan- tados, a principio dirigidos para cima, depois para todos os lados; estrabismo; dilatação das pupillas, outras vezes contracção; o corpo fica inteiriçado, os membros es- ticão e ficão rijos, a cabeça cahida para trás; q rosto incha e cobre-se de rubor súbito; ranger dos dentes, as maxillas ficão duras, outras vezes a maxilla inferior fica agitada; os membros fortemente tensos, são abalados fracamente por esforços alternativos de flexão e exten- são; contracção do larynge e respiração ruidosa; dimi- nuição ou abolição da sensibilidade. Depois parece pro- duzir-se um esforço interior, o qual tem como resultado tornar as veias superficiaes do pescoço salientes e per- feitamente desenhadas debaixo da pelle; o olhar está completamente perturbado, os olhos adquirem mobilidade exagerada, cada um delles toma direcção diversa da do outro ; outras vezes, um volta-se e o outro fica immovel, depois ambos vão esconder-se debaixo da palpebra su- perior, de modo que só é visivel a parte branca, dando aspecto estranho ao rosto da criança, cujas feições se deformão de modo a torna-lo horrível, pelas contracções dos músculos da face. Os lábios adquirem mobilidade exagerada, cujas contracções communicâo ao rosto al- ternativas de satisfação e cólera. As mãos voltão-se para dentro na contracção; os braços se convulsionando PARTOS 421 dobrão-se sobre si, de modo que trazem a mão e a retirão alternativamente para o peito. Os artelhos (dedos dos pés) abrem-se, fechão-se e dobrão-se sobre a planta dos pés. A respiração é irregular, intermittente e estertorosa, seguida de profunda inspiração: ha um momento de repouso que dura alguns segundos, depois do qual renovão-se os movi- mentos respiratórios, seguidos da repetição dos mesmos phenomenos ; o pulso, durante a convulsão, é pequeno e quasi imperceptível, tornando-se accelerado no intervallo das convulsões e batendo de 110 a 120 pulsações por minuto; emissão involuntária das dejecções e das ourinas; diminuição da intelligencia; resfriamento das extremi- dades. O doente fica como estranho a tudo quanto se passa em deredor de si. A duração do ataque convulsivo varia como sua in- tensidade. Os mais fracos são os que durão mais tempo, os mais violentos, ao contrario, desapparecem mais rapi- damente. Uns cessão em alguns minutos, outros durão horas ou mesmo dias. Nestas circumstancias, os ataques repetem-se com intervallos mais ou menos longos, mas nunca contínuos. Quando o accesso convulsivo está para passar ha um movimento geral de descanso: a face empallidece, as palpebras fechão-se e os traços denuncião abatimento profundo ; a rijeza dos músculos dissipa-se ; a respiração toma seu timbre commum e o somno vem pôr termo a todos estes soffrimentos; ás vezes, porém, o accesso termina por uma syncope; outras vezes, finalmente, em vez das terminações de que acabamos de fallar, os ataques convulsivos finalisão pela morte. « Esta provém de duas maneiras. Começa pelo encephalo: este órgão, vi- vamente superexcitado, deixa de actuar sobre os outros órgãos; a respiração pára, a hematose não se faz e a morte é certa. Ou pelos pulmões: a respiração, embara- çada pelas contracções irregulares dos músculos respira- dores não se executa, senão imperfeitamente; os pulmões engurgitão-se, e o sangue não os atravessa senão em parte; bem depressa depois a suffocaçâo se torna imminente e se realisa, se movimentos mais regulares não vierem restabelecer a respiração e a circulação. » (Brachet.) 422 PARTOS Quando, porém, se tiver dado o caso de morte, effeito das convulsões, convém verificar se ella é real ou ap- parente. A auscultação é o mais poderoso auxiliar para a verificação desta verdade. Quando tratámos dos casos de morte apparente dos recém-nascidos, indicámos os meios, não só de verifica-la como d'aquelles, por meio dos quaes se pôde reanimar uma criança cahida neste estado. Nem sempre a convulsão é geral; ás vezes não occupa senão uma parte do corpo, de um membro ou mesmo de um músculo de cada parte. Commummente o ataque que não produz a morte, de- pois de haver cessado, deix i após si vestígios da sua pas- sagem. Alguns ha que tendo terminado, o paciente apre- senta-se como se nada tivesse soffrido; outros, porém, produzem ora um movimento febril ligeiro, que cede á mais simples medicação; ora a criança accusa dores nos membros convulsionados, onde existem ecchymosis, e albuminuria passageira, produzida no momento do ata- que, e que desapparece no fim de quatro ou cinco dias. E commum a eclampsia deixar como sua conseqüência immediata paralysia de certos músculos convulsionados, ou contracções permanentes destes músculos, as quaes produzem deformidades, mais ou menos difficeis de des- truir; assim, por exemplo, a retracção dos membros e o desvio da cabeça para um dos lados, o estrabismo, a queda da palpebra superior e o desvio da boca. A eclampsia é moléstia que reincide muito freqüente- mente. Um primeiro ataque predispõe para segundo; predisposição que a criança conserva durante o curso da sua infância, até que a constituição geral seja redu- zida a um estado normal que opponha obstáculo á in- fluencia das causas productoras da eclampsia. Diagnostico. As convulsões essenciaes da eclampsia distinguem-se das produzidas pelas affecções cerebraes, da medulla espinhal e das meninges, pela falta dos phe- nomenos febris que acompanhão constantemente as en- gendradas por estas diversas affecções. Divergem das convulsões da epilepsia, porque nesta os ataques são PARTOS 423 menos prolongados eproduzem-se com maiores intervallos, além de que conservão-se, não só durante toda a infância, mas prolongão-se por toda a existência do individuo. Prognostico. Em presença do prognostico, a eclampsia divide-se em convulsões eclampticas primitivas e secun- darias. As primitivas, sendo causadas pela dentição, pelos vermes intestinaes, por calor e por outras causas fáceis de remover, são as menos graves; mas quando resultão da má qualidade do leite da ama e de embaraços nas funcções digestivas, são sempre graves, e podem até produzir a morte; mas declarando-se como prenuncio de febres eruptivas, o Dr. Sydenham, não só as consi- dera de bom augurio, mas diz: « Que presagiâo uma erupção de boa natureza, pouco confluente, cuja marcha será natural e a terminação sempre favorável. » As convulsões secundarias ou terminaes, que se desen- volvem na coqueluche, na pneumonia e em outras mo- léstias, quasi sempre são fataes. Tratamento. Quando é o calor que tem determinado o apparecimento das convulsões, o primeiro cuidado do medico deve ser: fazer a mudança do doente do apo- sento em que está para outro mais arejado e fresco. Então despe-se a criança e expõe-se núa ao ar exterior. Se as convulsões se prolongarem deita-se ella assim núa em uma mesa que tenha tampo de mármore, e lança-se- lhe porções d'agua fria. Medico. Os medicamentos que devem ser immedia- tamente administrados á criança, são:—1) Bell, cham., ign., ipec, op.; — 2) Acon., ars., cie, cin., coff., cupr., hyos., stram., zine;—3) Arn., caus., nux-v., rhus., sic. e stann. Durante a dentição, e como sua conseqüência: — 1) Bell, cham.; —2) Cale, ign., ipec, op., plat;—3) Cie, hyos., stann. e stram. Por effeito de affecções verminosas : Cie, cin., hyos., merc. e sulf. 424 PARTOS Sendo effeito de causas traumáticas: Arn. ou ang., ou ainda: Bhus., puls. e sulf. Por effeito de medo ou susto ou qualquer outra com- moção súbita, são principalmente: Cham., cupr., hyos., ign., nux-v., op., plat ou art As que provêm de abalos do systema nervoso, exigem: Sulf., cale, lach., nux-v., sil, e talvez: Arn., chin. e phos.-ac. As provenientes de uma erupção repercutida são or- dinariamente debelladas por: Cale, caus., ipee, lach., nux-v., stram. e sulf. Para a indicação particular consulte-se no artigo es- pecial, exarado no corpo da obra, a pathogenesia es- pecial a cada caso em particular. Aphorismos. « Na primeira infância, as allucinaçòes e a eclampsia substituem o delírio. « Nas crianças de peito a allucinação é caracterisada por movimentos de espanto e por gestos que parecem afastar ou attrahir o objecto da preoçcupação. « As convulsões eclampticas produzem-se sem lesão ma- terial apreciável do systema nervoso. « A eclampsia é ordinariamente hereditária. «. Um primeiro ataque de eclampsia predispõe para segundo. « Uma convulsão súbita e rápida, não sendo seguida de febre, não tem perigo algum. « A eclampsia que se desenvolve na primeira infância, e que se produz no fim da segunda, tem-se transformado em epilepsia. « A eclampsia dá nascimento a paralysias parciaes, e estas produzem por sua vez deformidades. « Convulsões súbitas, violentas, seguidas de entorpecimento prolongado, porém sem febre, devem fazer receiar o esta- belecimento da epilepsia. PARTOS 425 « Uma convulsão súbita, seguida de febre, é sempre o symptoma do começo de febre eruptiva ou de pneumonia, e annuncia grande perigo. « As convulsões iniciaes da varíola são de bom augurio para a terminação definitiva da moléstia. « As convulsões que terminão uma affecção visceral aguda ou chronica são quasi sempre symptomaticas de lesão con- secidiva do cérebro e das meninges. « A eclampsia produz muitas vezes a albuminuria. «As convulsões que complicão uma moléstia aguda são muito graves. « As convulsões que vêm complicar a pneumonia são mortaes. « O ar livre, a frescura e a aspersão do rosto com água fria, bastão no momento de um ataque de celampsia, mas não se pôde faze-la parar logo que tiver começado. « Aquelles que, por meio de medicamentos, pretendem fa- zer cessar um ataque de eclampsia, assemelhão-se aos que sacodem uma ampulheta para apressar a marcha invariável e regulada do pó, que ella encerra. « E preciso principalmente tratar de conhecer a causa da eclampsia para poder prevenir a sua volta. » (Bouchut.) CAPITULO VII. Convulsões symptomaticas. As convulsões symptomaticas não passão, como a ex- pressão o está dizendo, de um symptoma de uma ou de quasi todas as moléstias que affectão os órgãos contidc s na cavidade craneana, como sejão: cérebro, meninges, e todas as suas dependências. A denominação de eclampsia não lhe deve mais ser applicada, porque esta só pôde qualificar uma moléstia essencial que depende de causas sui generis, desconhe- cidas, mas capazes de a fazer desenvolver-se, e sem de- pendência de causa, por assim dizer, tão material. 426 PARTOS A dcscripção, portanto, deste symptoma ou manifestação de varias affecções, por melhor elaborada que pudesse ser, conteria lacunas impreenchiveis, se a moléstia de que depende não fosse descripta conjunctamente. O valor, portanto, que poderia adquirir na pratica seu conhecimento, isoladamente, é negativo e limita-se ao que costuma ter um symptoma de gravidade, embora indicativo de lesão profunda, cuja causa efficiente é in- dispensável remover. É nas moléstias de que as convulsões symptomaticas dependem, que seu estudo deve ser feito. CAPITULO VHI. Coryza. O coryza dos recém-nascidos, é a inflammação que se desenvolve nas fossas nasaes das crianças por causas di- versas e especiaes. Divide-se em coryza inflammatorio agudo, em inflam- matorio pseudo-membranoso, em coryza chronico, acom- panhado de escrophula e coryza syphilitico. Causas. O coryza, qualquer que seja a sua espécie, tem por causas principaes a acção do frio, a humidade do ar, e resfriamentos produzidos pela conservação das roupas molhadas pela ourina, quando não são mudadas á proporção que se forem humedecendo. A exposição ao calor do fogo, ou á acção do sol; as rápidas mudanças de temperatura, expõem as crianças a serem affectadas da moléstia. A diathese syphilitica ou escrophulosa, transmittida pelos pais, torna as crianças aptas para os ataques do coryza. Symptomas. Os symptomas são objectivos e subjectivos. PARTOS 427 Objectivos. No coryza inflammatorio, a membrana que reveste as fossas nasaes, apresenta rubor, inchação e di- minuição de consistência do seu tecido. Por effeito da en- tumecencia da mucosa a cavidade do nariz, conforme o gráo da entumecencia, fica diminuida ou completamente obstruída. No coryza membranoso, as fossas nasaes ficão cheias de concreções membranosas de diverso tamanho, eo mais das vezes separadas umas das outras, e adherentes á mucosa. Sendo destacadas deixão, no ponto que occupárão, a mucosa tumefacta, rubra ou sangrenta, ou somente in- chada e vermelha. Em certos doentes, em vez das con- creções se formarem na cavidade do nariz, oecupão an- tes as suas aberturas. No coryza chronico escrophuloso, a mucosa fica pallida, espessa, coberta de pús e de crostas mais ou menos grossas e sêccas, principalmente nas aberturas externas do nariz, onde, por effeito de contínuo arrancamento, praticado pela criança, adquirem côr vermelha e são formadas á custa de sangue concretado. Em tolos os casos, porém, todo o órgão, isto é, o nariz, fica vermelho e entumecido. Subjectivos. O menino espirra freqüentemente e lança pelo nariz mucosidades, ao principio claras e pegajosas, depois amarellas, esverdinhadas e purulentas. A respira- ção é ruidosa, difficil, e para que se effeitue, é necessário que o menino tenha, quando dorme, a boca sempre aber- ta. Quando as fossas nasaes estão completamente tapa- das, não só a criança sente a impossibilidade de mamar, como a lingua e os lábios, por excesso do esforço, são arrastados para trás pela columna de ar que penetra nos bronchios pela boca. Quando, na occasião de mamar, a criança sente a im- possibilidade de effectuar este acto, deixa desesperada o bico do peito, dando gritos violentos, e « exprimindo por gestos e por movimentos da physionomia a contrariedade, o embaraço e a dôr que está experimentando.» A falta de alimentação pela existência do embaraço torna a criança magra e descorada. Agita-se constantemente, e se não 428 PARTOS se consegue alimenta-la com leite dado ás colhéres, vai progressivamente resfriando e morre de fadiga, dôr e inanição. Em quatro ou cinco dias um recém-nas- cido pôde morrer de coryza pelo embaraço trazido á res- piração e á deglutição. Uma das complicações mais sérias do coryza nos recém-nascidos, é o reviramento da lingua para trás, a qual curvando-se, applica sua face inferior sobre o véo do paladar, e ajudada pelo lábio inferior, obstrue completamente a cavidade bocal, dando em resultado a impossibilidade de se fazer a hematose e a sucção do leite contido no seio da mulher. O coryza perde de gravi- dade quando precede certas febres eruptivas, como o sa- rampão, por exemplo, ou quando affecta os de tempera- mento lymphatico ; é, ao contrario, muito grave, quando adquire a fôrma pseudo-membranosa, e é chronico-escrophu- loso ou syphilitico. Tratamento. O tratamento é local e geral. Local. Convém a todo o transe desembaraçar as fossas nasaes das mucosidades, falsas membranas e crostas que tapão suas aberturas. Para isso convém fazer injecções com água pura, tépida, ou, melhor, com leite da própria mãi ou da ama que o amamenta. Depois deve-se tocar le- vemente toda a circumferencia da abertura nasal, ou os pontos oecupados pelas crostas, com um lápis de nitrato de prata, fazendo logo em seguida injecções com água morna. Geral ou medico. O medicamento por excellencia é nux-v. ou samb., se o primeiro não tiver conseguido a cura. As vezes, porém, cham. é preferível, quando a obtura- ção do nariz é acompanhada de um corrimento deaguadi- lhas; carb.-v. se ella se ag gravar de noite, ou dule, se a aggravação se effeituar ao ar livre. Para o caso de ulceração dos bordos da abertura exte- rior das fossas nasaes, sendo por causas escrophulosas, os medicamentos são: Ars., aur., bell, cale, hep., mur.-ae, sil. e sulf. partos 429 Por causa syphilitica são: — 1) Merc;—2) Aur., iod., lach. e nitri.-ac. Havendo formação de falsas membranas os medica- mentos que melhores resultados têm produzido, res- peitada sempre a diathese que entretem e lhe deu nas- cimento, é hepar., depois do qual devem ser administra- dos : Aur., merc, sil. c sulf. Convém, porém, nos casos especiaes, consultar os medicamentos seguintes, não só nos recém-nascidos e nas crianças de peito, como nas de maior idade: Acon., ars., aur., bell, bryo., cale, cham., dule, euphr., ign., ipee, lach., lycop., merc, nux-v., puls., samb., sil. e sidf. Aconitum : Coryza com febre, caracterisado principal- mente por calefrios, suor, calor, abatimento geral, agi- tação, insomnia, cephalalgia, coceira na garganta, tosse, rouquidão, e uma sensação de seccura no nariz, sem nenhum corrimento nasal. Arsenicum: Coryza com grande agitação, anciedade e insomnia ; diminuição do calor e da mutilidade, cor- rimento pelas narinas de um muco acre, produzindo escoriações com queimadura nas narinas, sede, sensação de aspereza na garganta. Convém também para as con- seqüências do coryza, cephalalgia e asthma. Aurum: Especialmente para o coryza syphilitico e para o escrophuloso com ulceração das narinas, corrimento de pús, carie dos ossos do nariz, e quando se tem abu- sado de preparações mercuriaes. (Depois deste medica- mento convém: Iodum e bromum.) Belladona : Coryza com congestão para a cabeça, in- chação do nariz e fendas, dôr e calor nas narinas com sensação de queimadura ; picadas e seccura da pituitaria (membrana mucosa que reveste as fossas nasaes); sensi- bilidade ou diminuição do olfato. Bryonia: Coryza febril com dores de cabeça, prin- cipalmente em cima dos olhos, angina catarrhal, asthma, affecção da pleura, durante o coryza ou tendo sido elle supprimido rapidamente. Calcarea : Medicamento essencialissimo para o coryza 430 PARTOS escrophuloso e para destruir a predisposição para esta mo- léstia. Chamomilla : Nas crianças, quando o coryza é effeito de suppressão do suor, havendo inflammação e ulceração das narinas, fendas nos lábios, desejo irresistivel de dormir, peso na cabeça, calefrios com sede e agitação, corrimento de um muco acre e corrosivo, rubor de um dos lados da face e pallidez do outro. É indispensável du- rante a dentição. Dulcamara: Se uma corrente de ar frio supprime facilmente o fluxo nasal, com aggravação em repouso e allivio pelo movimento; se houver epistaxis, angina ca- tarrhal e ausência de sede. (Pôde ser comparado com natr. para o coryza chronico, quando a melhora só vem depois dos suores.) Euphrasia: Coryza com lacrimejamento, corrimento catarrhal de muco branco, abatimento geral. Ignatia: Deve ser dado ás crianças nervosas, nas quaes o coryza se acompanha de cephalalgia, de enxaqueca e de espasmos convulsivos. Ipecacuanha : Nos coryzas com embaraço gástrico, asthma, dores de cabeça, calefrios, apparecendo depois de um coryza supprimido. Lachesis : Se o corrimento fôr aquoso, mucoso, muito abundante, causando inchação do nariz e do lábio, crostas nas fossas nasaes, lacrimejamento : ou quando houver obstrucção do nariz com dores de cabeça. Lycopodium: Nos escrophulosos quando houver coryza com obstrucção do nariz e cephalalgia frontal. Mercurius : Coryza com febre, muitos espirros, cor- rimento de muco aquoso, inchação e escoriação do nariz, máo cheiro das mucosidades, calefrios, suor d noite prin- cipalmente, sem nenhum allivio. Nem o frio, nem o calor trazem allivio. É especial no coryza syphilitico. (No co- ryza chronico principalmente, quando este medicamento não cura ou quando o doente abusou das preparações mercuriaes : Hep. e sulf. substituem-no perfeitamente.) PARTOS 431 Pulsatilla: Coryza com embaraço gástrico, mucosi- dades nasaes espessas, amarellas ou verdes, de máo cheiro. Este medicamento deve ser empregado de preferencia no coryza agudo, mas deve também ser aconselhado quando houver ulcerações nas narinas com sangra- mento do nariz, photophobia, aggravação á noite, ao calor, melhora ao ar livre, calefrios. Sambucus : No coryza dos recém-nascidos, com obstruc- ção das narinas por muco espesso e pegajoso, com ameaças de suffocaçâo. Silicea : Tem muita analogia com aur., cale, lyc, hep., sulf. e merc. Convém principalmente quando existem ulcerações com inchação molle da membrana mucosa, cor- rimento de massas mucosas duras, alongadas, em fôrma de tubos e sanguinolentas. Convém também ao coryza chronico que sobrevem por influencia das escrophulas ou da gota. Sulfur: Coryza chronico, entupimento do nariz, cor- rimento de mucosidades espessas, amarellas, purulentas, muito abundantes, côr de sangue, escoriações e idcerações da pituitaria. Este medicamento pôde ser empregado nos mesmos casos em que se emprega lyc, merc, nux-v. epuls. Além destes medicamentos, alum., carb.-v., caust., graph., nitr.-ae e sep. podem ser indicados em circum- stancias especiaes ou por complicações. Ordinariamente, porém, os primeiros bastão para a cura. Ha um medicamento que foi empregado na Allema- nha com grande proveito em um caso de coryza com espirros violentos, dôr de cabeça nervosa e dores nos ouvidos, moléstia que datava de muitos annos, e foi curada rapidamente: é Cyclam-europ. Como adjuvante do tratamento, e tendo a obstrucção nasal resistido á medicação, ao ponto de ameaçar a vida do recém-nascido, o medico deve introduzir em cada abertura nasal um tubo de prata, do dous a três millime- tros de diâmetro, com cinco de longo, e ligeiramente curvo de diante para trás em sua extremidade guttural, fixando-o um ao outro na parte anterior do nariz, por onde, penetrando o ar, a respiração se poderá effectuar. 432 PARTOS Aphorismos. « O sibilo nasal é o signal do coryza agudo e chronico grave. « O coryza dos recém-nascidos que produz a obstrucção das fossas nasaes éfreqüentemente mortal, em razão do ob- stáculo que traz ao aleitamento. « Pela extensão de suas lesões, o coryza syphilitico é a mais temível das inflammações da mucosa nasal; em com- pensação, cura-se mais facilmente do que os outros. » ^Bouchut.) CAPITULO X. Coryza syphilitico. O coryza syphilitico é a inflammação da membrana mucosa que reveste as fossas nasaes, desenvolvidas nos recém-nascidos ou na criança que atravessa a primeira idade da vida, por effeito da acção do vírus syphilitico, herdado de pais infectados, acompanhado ou prece- dido de alguma manifestação especifica local. Como o coryza inflammatorio agudo ou chronico este pôde causar a morte do affectado, por embaraço á respi- ração e á deglutição. Symptomas. Os symptomas são objectivos e subjectivos. Objectivos. A abertura exterior das fossas nasaes apresenta-se vermelha, entumecida, fendida em vários pontos de sua circumferencia e coberta de crostas, que obstruem completamente a cavidade do nariz, desde os orifícios anteriores até aos posteriores. Quasi sem interrupção se escoão matérias sanguino- lentas, saniosas ou purulentas, sendo substituídas de espaço a espaço por sangue puro ou menos combinado ás matérias referidas. PARTOS 433 Examinada a mucosa nasal é encontrada inchada, amollecida, vermelha ou livida, e semeada de ulcerações superficiaes, das quaes o sangue se desprende pelo con- tacto mais ligeiro. Ao mesmo tempo, em algum ponto da superficie externa do corpo, ou na da cavidade bocal, ó quasi infallivcl a existência de alguma manifestação local de caracter francamente syphilitico^ Assim, em de- redor do ânus, no véo do paladar, na prega das viri- lhas e das axillas, e em vários outros pontos, ulcerações de caracter especifico, ou outra qualquer manifestação especial, despertão a attencão do observador e o pre- vinem da natureza da affecção. Subjectívos. A respiração é sibilante, a sucção do seio materno quasi impossivei e a criança pôde fallecer de inanição, se este estado se prolongar. Tratamento. E local e geral. Local Os meios tópicos aconselhados para a cura do coryza inflammatorio são os mesmos que para a cura do actual. Geral ou medico. Os medicamentos são : Alum., asa., aur., cac-e, caus., hep., lach., mag.-m., merc, nitr.-ae, puls., pJxosph., rlius., sep., sulf., thuia e zine, O medicamento principal e pelo qual se deve começar a medicação é Merc, se o doente não tiver feito uso prolongado das preparações mercuriaes da antiga escola, porque neste caso, antes do se recorrer a elle, deve-se começar o tratamento, administrando duas ou três doses de Nitr.-ae, seguido logo depois de Sulf Só depois do emprego destes dois medicamentos é que o Merc pôde ser indicado com vantagem. No caso de nilta de aproveitamento da indicação dos medicamentos acconselhados acima, podem ser adminis- trados os que se seguem, tendo-se em consideração os casos especiaes em que podem elles ser empregados. Alumina : quando existe nas fossas nasaes uma ulcera com tendência a invadir toda a cavidade do nariz, san- grando facilmente, de bordos callosos, com corrimento des d. n. u 28 434 PARTOS mucosidade de cheiro desagradável; entupimento, san- gramento do nariz e perda do olfacto: ou quando, com estes symptomas, existe ao mesmo tempo alguma manifestação local na pelle. (Este medicamento pôde ser empregado ao mesmo tempo como tópico, em pó.) Aurum : quando houver inchação erysipelatosa da pelle do rosto seguida de descamacão; crostas espessas nas narinas; carie dos ossos; escorrimento de muco sanguino- lento e de máo cheiro, ou espesso, de côr amarello-esver- dinhada. Calcarea-carb: deve ser de preferencia administrado nas crianças escrofulosas, quando houver inchação da pi- tuitaria; narinas ulceradas e com crostas espessas ou seccura penosa no nariz. Gausticum: quando houver uma ulcera phagedenica, roedôra, sórdida, de bordos dentados. Hepar-sulfuris: havendo obstrucção do nariz, escaras e crostas sêccas; ou escorrimento fétido; principalmente contra o abuso do Merc. Lachesis : quando a criança tem abusado das prepa- rações mercuriaes, principalmente se houver: inchação, rubor e escoriação dos bordos do nariz, com crostas nas na- rinas. Coryza fluente, com corrimento abundante de mu- cosidades sorosas. Magnesia-mur: crostas nas narinas; corrimento acre com obstrucção do nariz, dôr pela menor pressão. Mercurius: inchação inflammatoria e rubor luzente do nariz, sangramento do nariz freqüente e abundante, mesmo durante o somno. Coryza fluente com escorrimento abun- dante de serosidades corrosivas; cheiro pútrido pelo nariz. Pulsatilla: ulceração das narinas e das azas do nariz; corrimento de pus, fétido, esverdeado ou amarellado; cor- rimento de mucosidades espessas e fétidas: ulceras e crostas no interior do nariz. Máo cheiro continuo diante do nariz. Phosphorus: nariz inchado, vermelho, brilhante e doloroso PARTOS 435 ao toque; crostas sêccas e duras no nariz, produzindo obstrucção; escorrimento continuo de mucosidades ama- relladas, ou esverdeadas; obturação do nariz, principal- mente pela manhã. Rhus: nos escrophulosos; escorrimento de máo chei- ro, amarello, ou composto de mucosidades sanguinolen- tas. (Principalmente se existir ao mesmo tempo erupção do couro cabelludo.) Sepia: inchação e inflammação do nariz, com crostas nas narinas eidceras; perda do olfacto, epistaxis. Suífur : incitação inflammatoria do nariz com ulcera- ção e crostas nas narinas; sangramento do nariz, princi- palmente pela manhã; escorrimento de muco espesso, amarellado e puriforme; sahida de sangue ou de muco- sidades sanguinolentas. Perda do olfacto. Thuia : crostas dolorosas no nariz com obstrucção e inflammação ; epistaxis ; escorrimento esverdeado e fétido. Zincum: inchação interna e externa do nariz, ás vezes de um só lado com perda do olfacto, dôr de excoriação no interior do nariz. Póde-se ainda aconselhar, quando existir alguma erup- ção concomitante: Antim., borax., carb.-veg., grapJi., kali.-bichr., kali.-hyd., lyc, natr.-m., petr. e sil. CAPITULO XI. Retenção do meconio e constipaçao. §1.° retenção do meconio. O meconio é a matéria contenta no intestino da crian- ça, e que representa no recém-nascido as fezes ou maté- ria excrementicia contida no intestino do adulto ou da 436 PARTOS criança depois da época do nascimento. Difforentemente das matérias fecaes ordinárias, é uma substancia de côr negra, viscosa, pegajenta, formada no intestino do me- nino durante a vida intro-uterina, e que semelhantemen- te ás matérias fecaes, carece ser expellida logo depois do nascimento, isto é, nos dous a trcs primeiros dias da existência. Como em todos os indivíduos de maior idade,a reten- ção do meconium nos recém-nascidos produz accidentes e soffrimentos tanto mais graves, quanto mais demorada é a sua expulsão e as causas que a produzem. Causas. Duas são as causas que se oppõem á expul- são do meconio. A primeira é a falta de actividade das fibras musculares ou preguiça do intestino; a segunda, um obstáculo material que impede a livre passagem desta matéria para o exterior. l.a A especial consistência do meconio, junta á falta de força expulsiva da túnica musculosa do intestino fazem que, grande numero de vezes, o meconio fique retido e apegado ás paredes do intestino. Sua evacuação, ou não faz-se absolutamente, ou vai-se effectuando por pequenas parcellas, a ponto de ser d morada por tempo indeter- minado, produzindo como rigorosa conseqüência desta demora, irritações que se traduzem por soffrimentos se- melhantes aos observados nos produzidos pela constipa- çao, em indivíduos de idade mais avançada, como sejão: flatulen< ias, eólicas, indigestões e vômitos, além de phe- nomenos nervosos extremamente graves. « As crianças recém-nascidas na índia têm, por effeito da retenção do meconio, freqüentemente uma espécie de tétano chama- do — queixo cerrado (lockéd jaw) ou queixo CAiimo [fallen jaw), e que produz grandes estragos. Vi apparecerem convulsões em uma criança, que no oitavo dia do nasci- mento não tinha ainda expellido o meconio, e entendi de- ver estabelecer uma relação entre estes dous phenomenos, que ordinariamente não estão ligados um ao outro, mas que nesta circumstancia pareceu-me estarem. » (Bouchut.) Tratamento. É costume estatuído entre as pessoas do PARTOS 437 povo, de nossas cidades e sertões, o uso de um meio sim- plicissimo para provocar a expulsão do meconio. É o se- guinte : descasca-se um talo de couve, bezunta-se de azeite doce ou óleo de amêndoas, e introduz-se no ânus da crian- ça, com o fim de produzir a excitação dos movimentos pe- ristalticos, e por este effeito provocar-se a expulsão das matérias retidas no intestino. O maior numero de vezes o resultado é immediato e todos os incommodos desappare- cem. Quando, porém, este meio simples não basta, póde-se administrar clysteres de água morna, addicionada de uma a duas colhéres pequenas de óleo de amêndoas o a de azei- te doce, fazendo-os, porém, preceder do tratamento geral que vai em seguida. Os medicamentos que sempre têm obtido a cura deste soffrimento são : Bry., nux.-v. e opium. Bryonia: havendo constipaçao obstinada que os meios precedentes não conseguirão remover. Nux.-v.: havendo constipaçao obstinada, como por pre- guiça ou inactividade, ou por aperto do intestino, com desejos freqüentes, mas inúteis, de expellir as matérias contentas. Opium: nos mesmos casos que os acima, e com somno- lencia por effeito dos soffrimentos; ou quando a retenção tem resistido ao emprego dos medicamentos supracitados. 2.a Retenção do meconio por imperfuracão do ânus. A extremidade inferior do tubo intestinal pôde offere- cer uma obliteração completa, que resulta da imper- furacão da pelle ao nivel do ânus, e então o rectum ter- mina em dedo de luva em sua parte inferior, ou uma porção ou a totalidade deste intestino falta. No primei- ro caso, contrahc adherencias com o sacro; no segun- do, é a extremidade inferior do colon que fôrma um dedo de luva e adhere ao sacro, perto do angulo sacro- vertebral. Não se deve acreditar, entretanto, que a im- perfuracão do ânus acompanhe sempre a imperfuracão ou a ausência do rectum. Este orificio existe ás vezes nas crianças cujo recto está obliterado : e é esta uma cir- cumstancia á qual se deve prestar a maior attencão, quando se notão signaes de retenção de matérias fecaes. 438 PARTOS Nos casos em que o recto existe, mas onde o ânus está imperfurado, basta, para dar sahida ao meconio, fazer uma puncção, com um bisturi recto, no ponto om que o ânus deve existir, eno vértice do tumor que se fôrma por cada um dos esforços da criança; depois é necessário im- pedir a cicatrisação da chaga exterior, por meio de mechas de fios. Mas quando o recto estiver obliterado em grande parte de sua extensão, a operação que deve ser praticada é muito difficil, perigosa e raramente coroada de resultado. O Dr. Dieulafoy, cirurgião em chefe do Hospital da misericórdia de Tolosa, conseguio entretanto salvar uma criança em um caso deste gênero, a 8 de Maio de 1848; a operação foi feita com a assistência dos Drs. C. Vigurie e Lafargue. A 25 de Outubro o menino passava perfeitamente bem. Não se tem a escolher senão o estabelecimento de um ânus artificial na parte anterior do abdômen ou de um ânus artificial lombar, ou no próprio lugar onde deve- ria existir o ânus natural. A primeira operação é mais fácil, mas a enfermidade nojenta que deixa após si, deve fazer dar a preferencia ao outro processo que per- tence ao Dr. Amusat. (Chailly—Honore.) « Este cirurgião, nesta circumstancia, pratica uma dessas atrevidas operações que só podem ser tentadas em casos semelhantes. Procura estabelecer artificial- mente um ânus no lugar onde este orificio natural deveria estar collocado. Para isto, depois de ter dissecado as partes até ao intestino, elle o attrahe para fora, abre-o, e fixa-o no contorno do orificio anal, por meio de alguns pontos de sutura. » (Bouchut.) Constipaçao. A constipaçao é a falta de dejecções normaes, conhecida vulgarmente com o nome de prisão de ventre. Posto que mais rara nas crianças de peito do que nos velhos, não deixa de ser observada com mais freqüência do que se deveria ou poderia esperar. PARTOS 439 Causas. A constipaçao pôde ser devida a varias causas, como sejão: a eólica de chumbo, uma inflammação ery- thematosa dos intestinos e outras. Nem sempre a constipaçao produz accidentes que au- torisem o emprego de medicação alguma. Pôde mesmo ser de natureza tal, quando não depende de causa in- flammatoria, que* exista isolada sem phenomenos de malignidade: outras vezes, porém, adquire gravidade ao ponto de reclamar o emprego de medicação enérgica; e, se C descuidada, pôde produzir symptomas eminen- temente graves. Symptomas Os phenomenos que attrahem immediata- mente a attencão das pessoas que cuidão da criança e do medico que a assiste, são: flatulencias e colicas. Estas são reconhecidas pelos signaes seguintes: a face ordina- riamente calma contrahe-se subitamente; a criança grita e dobra as coxas sobre o ventre; torce-se, mas logo depois o rosto adquire o estado normal. Estes pheno- menos observão-se com intervallos mais ou menos con- sideráveis, denunciando o momento do accesso da eólica, e o repouso que o segue, ou a intermittencia especial ao soffrimento. A estes phenomenos suecede diarrhéa. Nas crianças sujeitas a accessos de convulsões, a con- stipaçao provoca-as quasi infallivelmente. Estas convul- sões, porém, não têm gravidade e são symptomaticas do estado do intestino, e como taes desapparecem, logo que a causa que as produz, a constipaçao, tem sido removida. Quando, apezar do emprego de tratamento apropriado, a constipaçao persiste e não se pôde obter que se effectue nem uma só evacuação, desenvolvem-se então phenomenos de gravidade, mas não t nta quanto é costume este soffri- mento produzir na velhice; são elles: colicas violentas, febre, lingua saburrosa, vômitos, abobadamento do ventre com tympanismo. Underwood diz: « A constipaçao algumas vezes é uma causa predísponente das febres remittentes. Eu adquiri a prova disto em uma criança que gozava da melhor saúde. Durante dous ou três annos ella foi affectada, 440 PARTOS por intervallos, de uma febre que não tinha outra causa apparente senão a inércia do ventre, a qual era muito difficil de vencer com o regimen, e mesmo com o soccorro dos medicamentos. » Tratamento. Convém, ao mesmo tempo que se admi- nistra a medicação interna, applicar sobre o ventre da criança compressas aquecidas em brazas, ou mesmo cata- plasmas feitas com farinha de mandioca em água pura, ou em cozimento de camomilla, ou folhas de belladona, quando a criança usar internamente de algumas destas substancias. Os medicamentos que podem ser immediatamente admi- nistrados, são: Bry., nux.-v.o op., conforme ficou indicado no artigo precedente. Quando, porém, pelos signaes referidos, se conhecer que a criança tem colicas; isto é, quando gritando, se torce, e se curva sobre si, com retracção das coxas, o melhor medicamento é chxm., se a face estiver vermelha, ou bell, se estiver pallida. Se ao mesmo tempo houver dejecções diarrheicas de cheiro ácido, com tenesmos, rJiab. será o medicamento preferível. Se nenhum destes três medicamentos tiver produzido a cura, póde-se lançar mão de algum dos seguintes: Bor., jalap., ipec e senn. Quando o menino ou sua ama tiverem arusado da cham., os medicamentos de que se deve fazer uso, são : Bor.. ign. e puls. Quando elle estiver muito agitado, com insomnia e calor febril, os medicamentos que devem ser empregados, slo : Coff. ou acon. Mas, se o menino somente chorar continuamente sem causa apreciável, os medicamentos serão: Bell. ou cham. Para a escolha particular do medicamento, tendo em mira o grupo de phenomenos presentes, póde-se con- sultar os seguintes: Mercurius, para a constipaçao que suecede á diarrhéa nos casos agudos, depois de um resfriamento, e quando houver symptomas gástricos ou inflammatorios. Nux-vomica,, nos casos agudos ou chronicos, quando PARTOS 441 houver: máo estado do estômago: ou quando o ANusp rece fechado e o doente faz violentos esforços, mas inúteis, para defecar. Opium, nos casos rebeldes, quando ha: paralysia do intestino ; ou nas crianças, nos casos de eólicas de chumbo; ou havendo contracção espasmodica do intestino, prin- cipalmente se a constipaçao não se acompanJiar de esforço algum para expellir as fezes. CAPITULO XHI. Vicios de conformação do ânus e do recto. Os vicios de conformação do ânus e do recto divi- dem-se em curaveis e incuráveis. Os curawis são: 1.° Os estreitamentos congenitaes. 2." As imperfurações simples. 3.° As imperfurações com um canal accidental, aber- to para o exterior, ou com embocaduras anormaes. 4.° Ausência total ou parcial do recto. Os incuráveis são vicios de conformação que se as- socião a anomalias de natureza e ordem taes, que a arte cirúrgica é impotente para corrigi-los; assim, pois, pouco ou nada diremos a seu respeito, fazendo apenas conhecidos aquelles contra os quaes os recursos da arte têm effectividade. Causas productoras dos vicios de conformação do ânus e do recti». Os vicios de conformação do ânus e do recto di- videm-se em congenitaes por contracção ou obliteração, e em anomalias por existência de tabique membranos o, acom- panhadas ou não de communicações anormaes. No primeiro caso a obliteração é conseqüente á contrac- ção das fibras musculares do intestino, a qual pôde ser limitada ao ânus somente, ou a algum ponto mais ou menos alto do intestino recto. 442 PARTOS Conforme a causa que determina a contracção, ella pôde ser limitada a um só ponto, ou affectar o intestino em grande parte de sua extensão. A inflammação do tubo intestinal, durante a vida in- tra-uterina, provocando adherencias das paredes deste tubo, uma á outra, a retracção conseqüente a essas adhe- rencias vai-se gradualmente effectuando até produzir a transformação completa do tubo, a qual constitue o vicio de conformação. E assim que explicão Cruveilhier, Lassus e Bouchut, a maneira de fazer-se as conformações viciosas. Esta causa parece-nos a única capaz de produzir o re- sultado observado; e neste caso, em vez do tubo intestinal terminar, como no estado normal, em cylindro ôco e na abertura anal, sua extremidade inferior transforma-se em um cordão maciço e sem abertura alguma para o exterior. No segundo caso, isto é, quando existe tabique, a causa do vicio de conformação é a preguiça ou a imperfeita des- envol nçáo das porções intestinaes, que, normalmente na vida intra-uterina, deve-se effectuar igual ao desenvolvi- mento de todos os demais órgãos de que se compõe o corpo humano completo e perfeito. O ânus na vida embryonaria tem nascimento ou procede da folha blastodermica so- rosa, como o recto é feito á custa da folha blastodermica mucosa; assim isolados, carecem, par i constituir o in- testino perfeito, como é normalmente na vida extra- uterina, que ambos caminhem, com igualdade de desenvol- vimento, um para o outro, á proporção que a desenvo- lução geral se fôr effectuando. É, portanto, da juncção de ambos, em tempo irremediavelmente estipulado, que re- sulta o estabelecimento integral da extremidade inferior do tubo intestinal ou digestivo, com sua abertura para fora ou anal. Para que não exista, portanto, o tabique, ou o recto não seja imperfurado, carece, por forçosa contingência, que, á proporção que este amplexo se fôr operando, a absorpção do tabique, que os separa na primitiva, vá sendo ao mes- mo tempo effectuada; não havendo absorpção o tubo fi- cará interrompido e sem a sahida para o exterior, quo deverá ter. PARTOS 443 É precisamente o que acontece nos ca?os observados na pratica, quando ha a imperfuracão. Esta é a única ex- plicação verdadeira da maneira de se fazer o tabique e de sua existência, do porque elle se formou, e do como o ânus fica fechado. A passagem do conteúdo do intestino ó embaraçada ; esse conteúdo não pôde ser expellido, em- quanto não fôr removido por alguma operação cirúrgica o embaraço material existente no incestino. «Emquanto existir o tabique, o recto é imperfurado. » O desenvolvimento mais rápido de uma destas duas porções do órgão pôde permittir que o tabique ou mem- brana que obstrue a continuidade do tubo intestinal, na sua parte inferior ou rectal, não tendo a absorpção con- sumido a parte da folha blastodermica mucosa que im- pedia sua communicaçao para o exterior, pelo ânus, exis- ta mais para cima ou mais para baixo do intestino recto. Não ó tudo. Qualquer das duas porções que, na épo- ca do completo desenvolvimento do feto, tiver soffrido embaraços á sua perfeita e livre evolução, está entendido que fica no estado embryonario ; isto é, não tendo desen- volução não pôde adquirir a fôrma que costuma ter na vida extra-uterina, e, consequentemente, deixa de existir tal porção do intestino ; porque, se não se fizer a evolu- ção ou desenvolvimento, ipso facto não pôde existir o órgão. É o que se observa, e acontece na maioria dos casos em que o recto pôde ter-se desenvolvido sem o ânus ou este sem o recto, caso foi a folha mucosa ou a sorosa que soffreu o embaraço na sua desenvolução regular, normal e effectiva; e, conseguintemente, ha de ser encontrado um ou outro e reciprocamente. A imperfeita desenvolução do órgão não é somente causa das imperfurações simples: não se limitão a isto os males que ella traz á perfectibilidade dos órgãos contidos na bacia; um dos seus effeitos é o estabelecimento de im- perfurações que constituem as communicações anormaes. Na vida embryonaria o recto e a bexiga communi- cão-se; as vias ourinarias e genitaes terminâo em um pon- to commum, que toma o nome de cloaca. A separação destas partes para constituir as vias ourinarias que tôm de servir para a passagem das matérias fecaes e para a 444 PARTOS formação de uma AÍa genital, conforme o sexo, deve ser completa, o que presuppõe perfeita distribuição da acção da força dynamica que preside ao desenvolvimento da economia inteira; quando, porém, é incompleta a nutri- ção desta parte do grande todo, ou qualquer obstá- culo á livre e perfeita evolução do órgão impedio que ficasse completo em uma ou mais partes, os vicios de con- formação apresentão-se acompanhados, como dissemos, de communicações anormaes, que difficultão ou impossibi- litâo o jogo normal das funcções dos órgãos enumerados e compromettidos no vicio da conformação. É a parada do desenvolvimento a causa dos vicios congenitaes acima descriptos. ARTIGO I. Appendice candal estreitando o ânus. Não são muito freqüentes na pratica factos deste vicio de conformação; pelo que, para dar delle uma noticia mais completa transcrevemos a observação seguinte, que, em respeito á precisão, nada deixa a desejar. Observação.— Appendice caudal, excisão. « Um recém- nascido foi apresentado ao professor Laforgue, tendo na extremidade da região coccygiana, um appendice em fôr- ma de cauda, de 6 centímetros de comprimento, livre, in- dolor e fluctuante entre as nádegas. Da grossura do dedo minimo em sua origem, este appendice arredondado alar- gava-se para sua extremidade livre, e terminava por uma superficie espessa e mais grossa, tendo quasi a fôrma e a dimensão de um pollegar de adulto. Era um tumor carnu- do, com a côr e a consistência da região das nádegas, que se inseria directamente por um collo, um pediculo, á pelle que cobre o coccyx no espaço comprehendido entre este osso e o ânus, de sorte que parecia ser a continuação das partes carnudas ás quaes adheria. O orificio anal es- tava detü fôrma estreitado, que, desde o nascimento, que datava de cinco dias, a evacuação do meconio não se tinha effectuado, apezar do emprego de um purgativo PARTOS 445 oleoso. O ventre estava meteorisado e doloroso; o me- nino vomitava o leite. « O Dr. Laforgue procedeu á evacuação do meconio por meio de sondas elásticas progressivamente mais volumo- sas, e aconselhou a extirpação desta excrescencia, depois do restabelecimento da saúde do menino. Ella foi prati- cada alguns dias depois com um instrumento cortante, que determinou uma hemorrhagia, facto que não se realisaria se a operação fosse feita com o esmagador. Quanto ao mais o suecesso foi completo. » (Bouchut.) ARTIGO II. Estreitamento do ânus e do recto. Como a palavra está dizendo, ha estreitamento do ânus e do recto quando estas partes tôm dimensões menores do que no estado normal, isto é, quan io o ânus e o recto existem mais diminuidos, ao ponto de impos- sibilitarem ou dificultarem o officio destinado a estas partes. « O ânus e o recto podem offerecer todos os gráos de estreitamento, desde o orificio, onde com difi- culdade apenas se pôde introduzir a ponta de um alfi- nete, como no exemplo referido por Scultet, até ao orificio pelo qual o meconio pôde sahir, mas por onde as matérias fecaes não sahem senão com a maior diffi- culdade, como no doente de Boyer. » (Bouchut.) Os factos de estreitamento mais communs na pratica limitão-se ao ânus, no qual a lesão é constituída por diminuição relativa de seu diâmetro com o do estado normal; só por excepção a cavidade do recto participa do vicio da conformação. Neste ultimo caso, isto é, quando a cavidade do recto é abrangida pela lesão, a diminuição é constituída por exageração no desenvolvi- mento e arranjo das pregas da mucosa intestinal, a qual, por este effeito, torna a cavidade diminuida na razão directa do excesso de desenvolvimento de que foi dotada a referida membrana mucosa. Os signaes que revelão a existência do meconio retido, tòo: objectivos e subjectivos. 446 PARTOS Subjectivos, são: a falta de expulsão do meconio,acompa- nhada dos phenomenos de que fizemos menção no artigo —Constipaçao, como sejão principalmente: o augmento progressivo de volume do ventre, vômitos e colicas. Objectivos, são: os que vêm tirar todas as duvidas a respeito dos phenomenos observados. Pelo exame, a que se deve desde logo proceder, se conhece o gráo do estrei- tamento da parte, e,so introduzindo uma sonda ella entra, e com dificuldade caminha no recto, deve-se concluir que o estreitamento não se limita á abertura anal e sim que existe diminuição da própria cavidade do recto. Tratamento. O procedimento do operador deve ser modelada pelo gráo do estreitamento. Quando em um recém-nascido o estreitamento não impossibilitar a sahida do meconio, a dilatação gradual simples é suficiente para a cura. A dilatação faz-se por meio de sondas introduzidas no recto, graduando seu cali- bre á proporção das necessidades do estreitamento, ou introduzindo pedaços de esponja preparada, os quaes são mudados quando se conhece esgotada sua força de dila- tação, ou dilatadora. Quando, porém, o estreitamento é mais considerável, e ha carência de romover promptamente o obstáculo que se oppõe á livre sahida do meconio ou mesmo das fezes, sem a qual o recém-nascido corre risco de suecumbir, o operador deve immediatamente destruir o estreitamento para dar sahida franca e prompta ás matérias que estão retidas. A operação, ainda que simples, carece ser feita com attencão. Introduz-se no ânus uma sonda esfriada, no rogo da qual se faz caminhar um bisturi recto, e faz-se aos lados do ânus uma incisão proporcionada á abertura que convém ter, ou que costuma ter o ânus natural. Sendo o estreitamento muito considerável, é preferível fazer duas incisões, uma de cada lado; quando, porém, o orificio se presta melhor ou não é tão pequeno como o precedente, é suficiente fazer-se apenas uma incisão em um dos seus lados. A sahida prompta do meconio indica que o estreitamento foi destruído. PARTOS 447 Para evitar que a cicatrisação restabeleça o estreita- mento, deve-se separar os bordos sangrentos das incÍ3ões, com mechas de fios, bezuntadas de cerôto simples e engrossadas progressivamente até que desappareça o perigo da renovação do estreitamento. Esta mécha deve ser mudada, todas as vezes que a criança expellir fezes, por outra, nas condições supra recommendadas. ARTIGO III. Imperfurações simples do ânus e do recto. Como dissemos, quando descrevemos a maneira por que se operava a desenvolução do ânus e do recto, a imperfu- racão simples destas partes quer dizer— a occlusão en- contrada ao nivel da abertura inferior ou terminal do recto. Esta imperfuracão costuma ter mais ou menos espes- sura, na razão da estruetura de suas partes constituentes. E fina e facilmente dilatavel pelas matérias retidas, impellidas pelos esforços da criança, quando é consti- tuída, ou seu tabique é formado unicamente pela mucosa assim disposta acima do sphincter. E resistente e espessa, mas ainda dilatavel, quando esse tabique é feito á custa da pelle, continuada sem interrupção, de modo que o rapJie prolonga-se e tapa completamente o orificio anal; augmenta pela extre- midade inferior do recto, terminando em dedo de luva, e vindo adherir ao contorno interno do sphincter do ânus. É muito resistente e espessa, quando é feita pela reunião do sphincter, contraindo completamente na extre- midade inferior do recto, em cujo centro vem adherir esta parte do tubo intestinal, dilatada em fôrma de redoma. O Dr. Voillemier, na Gazeta dos Hospitaes de 1816, falia de uma outra espécie de imperfuracão do ânus, observada por elle, na qual a criança tinha: « O fim do tubo intestinal dividido por diaphragmas em quatro 448 PARTOS porções distinctas; a primeira contendo somente meconio e gazes, as outras, muco espessado. » A imperfuracão, ainda mesmo a mais fina c menos resistente, tem por effeito impedir absolutamente a ex- pulsão das^ matérias contidas no intestino do recém- nascido. Á proporção que a criança vai tendo mais dias de existência, maior quantidade destas matérias fecaes vai sendo accumulada no intestino. A distensão, effeito da accumulação destas matérias e de gazes, produz a ordem de phenomenos por nós já descriptos, quando falíamos dos incommodos conseqüentes á constipaçao; nesta os meios que prescrevemos podião fazer desappa- recer o soffrimento; aqui, porém, o embaraço é material, e se não fôr com promptidão e perícia removido, o recém- nascido está perdido irremissivelmente. Symptomas. Os symptomas da imperfuracão do ânus são objectivos e subjectivos : Os subjectivos são: a exageração dos de que fizemos menção quando descrevemos, em artigo especial, os symp- tomas da constipaçao, assim concebidos: « Sensibilidade do ventre augmentada pela pressão e reconhecível pelos esforços e gritos da criança; náuseas seguidas de re- gorgitações e vômitos amarellos e esverdeados; soluços. » Objectivos : quando o cirurgião procura examinar o recém-nascido, encontra: semblante vermelho, tanto mais carregado em côr, quanto mais ingentes são os esforços por elle feitos para a expulsão das fezes reti- das; olhos salientes; veias jugulares augmentadas de vo- lume, movimentos convulsivos, e ausência completa do meconio nas roupas em que se acha envolvida a criança. Procedendo attentamente ao exame do ânus, acha-o completamente tapado por uma membrana, mais ou menos saliente, azulada, e dando pela pressão uma sensação de fluctuação. Estes symptomas caracterisão a imperfuracão simples do ânus; a do recto, porém, pôde estar mais alta no intestino, como dissemos, e carecer, para ser reconhecivel, do emprego de uma sonda, PARTOS 449 a qual encontrando o tabique, que faz a occlusão, de- nuncia com evidencia, não só a imperfuracão, como o ponto de inserção da membrana obturadora. Tratamento. A importância da operação para o tra tamento deste vicio de conformação, varia como o es pessamento do tabique que deve ser destruido. Para um tabique feito somente á custa da mucosa, uma simples incisão de diante para trás, feita com uma lanceta, basta para dar sahida ás matérias retidas no intestino. Quando o tabique é feito pela adherencia da mucosa á pelle que lhe está próxima, o operador, depois de bem reconhecer a altura da occlusão, pratica ainda uma in- cisão simples, mas de modo que interesse toda a espes- sura do tabique, no ponto onde o ânus normal devera existir. Esta incisão deve ser feita com um bisturi recto. Immediatamente depois da incisão effectua-se a sahida do meconio, cuja expulsão vai sendo feita con- forme os esforços intentados pela criança. Depois da operação, applica-se um clyster de água morna sim- ples ao rceem-nascido, e cura-se a chaga produzida com uma mécha bezuntada de cerôto simples. Este cu- rativo deve ser repetido todos os dias até a completa cura. Sendo o tabique formado pelo sphincter contraindo, como assignalámos, o que constitue uma membrana sui-generis, musculo-cellular, a operação é igual ás precedentes. Quanto ao ponto da incisão e á direcção que deve ter, convém que seja mais profunda, para poder ser abrangida em toda a espessura a camada obturadora. Os curativos da occasião e os subsequentes, em nada diver- sificão da prescripção supra-mencionada. O Dr. Bouisson, de Montpellier, quer a operação mais complicada; isto é, em vez de uma incisão linear sim- ples e feita de diante para trás, aconselha uma incisão -crucial nos casos de tabique mais espesso. O processo do Dr. Malgaigne, para impedir a reno- vação de estreitamentos consecutivos á operação, na destruição das imperfurações do recto mais profunda- mente situadas, é o seguinte : D. h. n 29 450 PARTOS « Introduz-se o dedo mínimo no ânus, reconhece-se o tabique, depois augmcnta-se o ânus para diante dando um golpe com o bistouri; então, pelos esforços da própria criança, vê-se apparecer, a cada esforço, o tabique rectal até ao nivel da pelle. Prende-se este com pinças de dente de rato, fende-se em cruz e excisa-se os dous ângulos posteriores; depois do que esvazia-se o recto do meconio que contém. Os ângulos anteriores, depois de despoja- dos de sua mucosa do lado do ânus, são attrahidos até ao nivel da incisão cutânea, á qual são reunidos por uma sutura de pontos separados. » E de totla a conveniência que a incisão, nos casos de occlusão pela pelle e o sphincter, não seja feita em um só tempo, deve ser praticada camada por camada no trajecto do rapJie, ponto presumível e quasi infallivel da collocação do recto distendido. O mais como no processo de Malgaigne. O Dr. J. L. Petit aconselha preferir-se para a ope- ração um trocate, ero vez de um bistouri, opinião aceita por Guersant, que para mais segurança do resultado da operação, modificou o trocate commum, estriando tanto a haste, como a canula. Esta deve ficar na parte fazendo o oficio de sonda esfriada, por sobre a qual se fazem os desbridamentos da occclusão. Este trocate deve ser de calibre inferior aos do hydrocele, com as saliências de um parafuso na extremidade livre, onde so fixa uma haste larga, terminada como uma sonda. Este instrumento deve ser deixado na parte, preso a uma atadura de corpo, para servir de conductor de uma sonda, que tem por fim impedir que se formem adhe- rencias entre as paredes do novo trajecto effectnado. « Um pouco mais tarde o Dr. Guersant o substitue por uma canula de marfim flexível, cujo diâmetro varia se- gundo a disposição das partes onde se deve fixar. » (Bouchut). Praticada a tempo raramente a operação da imper- furacão simples do ânus e do recto deixará de produzir- a cura completa desta enfermidade; ó prudente, porém, estar precavido contra' accidentes que podem embaraçar o resultado da operação. Estes costumão ser uma PARTOS 451 hemorrhagia em thrombus das paredes rectaes, um abs- cesso meconial, e um estreitamento ao nivel das partes incisadas, effeito de cicatrisação por tecido inodular, quando os curativos não são acompanhados dos cuidados indispensáveis, já por nós descriptos mais acima. As observações seguintes, que julgamos indispensável transcrever em sua integra, dão a descrípção completa de factos verificados de imperfurações do ânus e do recto, com o tratamento que lhes convém. 1» observação. « Uma criança de côr preta nasceu a 17 de Setembro de 1851; 48 horas depois o pai decidio-se a chamar o Dr. Ashenheim. A criança parecia robusta e bem constituída, mas chorava constantemente e recusava o seio. Tinha febre forte e o ventre estava muito tenso; não tinha ainda evacuado desde o nascimento. 0 Dr. Ashenheim examinou o ânus, que lhe pareceu normal, onde introduzio facilmente o dedo minimo. Uma sonda de gomma elástica penetrou até uma profundidade de perto de três pollegadas, e esbarrou de encontro ao dedo de luva feito pelo tabique. O Dr. Ashenheim decidio-se então a praticar uma operação. Começou por desbridar o ânus, e pôde assim introduzir o index da mão es- querda até ao nivel do obstáculo. Fazendo então pressões sobre o abdômen, sentio na extremidade desse dedo o choque das matérias contidas no intestino, acima do obstáculo. Immediatamente conduzio sobre a polpa do index, de modo a proteger a bexiga, um longo bisturi pontudo, que introduzio no intestino, através da membrana obturadora. « Sahio uma onda de meconio. O index foi então introduzido com força através da abertura afim de aug- mentada. O Dr. Ashenheim quiz a principio conservar uma tenta de panno nesta abertura; conseguio intro- duzi-la, mas não pôde conserva-la no lugar. Obteve o mesmo fim, porém, dilatando-a cem o dedo minimo, por espaço de muitos dias consecutivos. A criança curou-se perfeitamente bem. » 2a observação. « A 7 de Novembro de 1851 foi pro- curado o Dr. Ashenheim para uma menina, também de 452 PARTOS côr, que, nascida havia 24 horas, não tinha ainda evacuado. Não apparecia nenhum outro accidente; o ventre não estava nem entumecido nem doloroso. O ânus era bem con- formado. O dedo minimo, introduzido nesta abertura, penetrou até a profundidade de meia pollegada, e encontrou abi um obstáculo flexível, como fluctuante, e parecendo constituído por um tabique membranoso. Um estylete, introduzido no fundo do espaço assim formado, foi im- pellido com certa força, penetrou através do obstáculo e sahio coberto de meconio. Então o cirurgião introduzi > o index no ânus, e, comprimindo com força sobre a mem- brana obturadora, conseguio rompê-la. Immediatamente se escoou uma certa quantidade de meconio muito con- sistente. Uma mécha foi deixada na abertura. Poucos dias depois a criança estava perfeitamente curada. » Nos casos precedentes, o ânus estava imperfurado, mas existia. Com o dedo minimo introduzido no dedo de luva for- mado, podia-se apreciar se a empola rectal estava ou não encostada em seu fundo. Nas variedades, cujo estudo pro- curamos attingir, não ha vestígio da abertura ana'. Aqui o problema therapeutico começa a complicar-se; nada guia o cirurgião sobre a distancia a que deveráõ ir suas ten- tativas; entretanto, o que se disse a respeito do desenvol- vimento isolado e distincto do recto e do ânus, mostra que elle deve intervir, porque a empola rectal pôde existir acima do pavimento perineal. Uma incisão deve sêr pra- ticada no ponto occupado normalmente pelo orificio anal, a três centímetros para diante do coccyx, e dirigida para tr s, na direcção do raphe, até a ponta deste osso. O bisturi divide successivamente a pelle e o tecido cellular, até que se attinja o intestino. De espaço a espaço interrompe-se a operação para introduzir o dedo indicador, e assegurar-se se não existe sensação de fluctuação que indique a presença da empola rectal. O bisturi deve sempre ser dirigido para o meio da face anterior do sacro. Antes deter attingido este nivel o bom resultado pôde vir coroar a tentativa do cirurgião, como o prova o facto seguinte: 3a Observação. O Dr. Roux (do Brignolles) foi PARTOS 453 chamado em Maio de 1833 para vêr uma criança com idade de dous dias, que não apresentava vestígio algum de ânus. Quando este menino chorava, não se via na região anal movimento algum, nenhuma saliência que pudesse fazer presumir que o recto não estava longe. Apezar desta circumstancia, em apparencia tão desfavo- rável, este cirurgião resolveu immediatamente, a titulo de operação exploradora, incisar o perinêo em sua região média, afim de restabelecer a continuidade do tubo diges- tivo, se o recto existisse. Procedeu da maneira seguinte : « Collocado o doente sobre os joelhos de um ajudante, como para a operação da talha, incisei a pelle, diz o Dr. Roux, na extensão de dez linhas, e seguindo exacta- mente a direcção do raphe, que não existia no perinêo. Tendo sido afastados os bordos da chaga, descobri as fibras dos músculos do sphincter, cujos bordos internos se tocavão ; tinhão uma fôrma directa, e contrahião-se circularmente com muita força, emquanto o menino cho- rava. « Continuei a incisão, dirigindo o cortante do instru- mento para trás, para o coccyx. Feito isto, achei na pro- fundidade de uma pollegada uma massa de tecido cellular. Deixei o escalpello orelinario, o que me dificultava a dis- secção, e usei de um bisturi recto, que introduzi no interior da bacia com a ponta Aoltada obliquamente para cima e para trás, para não offender a bexiga. Senti então que me achava em uma cavidade, que suspeitei ser o recto; e levantando o cabo do instrumento, retirei a lamina para augmentar a incisão interior. Uma onda de meconio sábio lentamente e annunciou o bom resultado de minha ten- tativa. « Fiz então injecções abundantes com água de malvas afim de desembaraçar o intestino o mais depressa possível, e dar-lhe allivio prompto e completo; o que se realisou em pouco tempo e me permittio fazer um prognostico um pouco mais favorável. A primeira phalange do dedo indicador pôde entrar em toda a profundidade da chaga, que curei com uma mécha grossa de fios, bezuntada de cerôto. « Os curativos forão feitos da mesma maneira durante 454 PARTOS quinze dias, depois dos quaes, tendo sido suspensos, elevarão-se nos bordos da chaga botões carnudos, que difi- cultarão a passagem das matérias fecaes, occasionando eólicas freqüentes, e produzindo um phenomeno muito notável, que passo a descrever. » O pequeno doente tinha sido alliviado immediatamen- te depois da operação, seu choro tinha cessado, havia re- pousado, mamou o leite da ama e digerio-o, o que até então não se tinha effeituado; a pelle perdera a tez amarellada de que fallei; o semblante expandira-se; a ourina clara e límpida era lançada a grande distancia ; os excrementos tinhão a consistência conveniente. Desde que a abertura, que eu tinha praticado no recto, começou a obstruir-se, as dejecções tornárão-se difficeis e mais raras; as ourinas, depois de terem passado perfeitamente bem, forão seguidas de uma pequena quantidade de matéria excrementicia. Tendo augmentado a incisão, do lado do coccyx, as dejecções tornárão-se de novo fáceis e durante alguns dias as ourinas passarão naturalmente pela uretra. Os botões carnudos tendo-se elevado de novo, as matérias fecaes passarão uma segunda vez pelo canal, e sempre depois da sahida das ourinas, cuja côr e consistência jamais forão alteradas. « Fiz então collocar no ânus artificial velas grossas e curtas, circumdadas de panno bezuntado de cerôto; fiz cauterisar os botões com nitrato de prata; e, conservada assim a abertura, com uma dimensão sufficiente, não reap- parecêrão mais excrementos pela uretra. A cicatrisação operou-se, conservando uma abertura regular; o contorno deste ânus artificial dobrou-se como um orificio natural; as funcções da defecação effectuárão-se, permittindo á criança engordar, o que faz esperar ao operador êxito durável, e á família um robusto suecessor. » « O doente do Dr. Roux apresentava além disto um hypospadias, com imperfuracão do canal da uretra. « A obliteração, collocada na base da glande, era pro- duzida por uma membrana muito fina; a ponta embo- tada de um pequeno estylete bastou para rompê-la e a menino ourinou immediatamente. » (Bouchut.) PARTOS 455 ARTIGO IV. Imperfurações do ânus e d'» recto, com coimnunieações anor- maes deste intestino. Estas imperfurações dividem-se em três espécies: 1." Imperfurações do ânus com abertura do recto na superficie da pelle. 2." Imperfurações com abertura do recto na bexiga e na uretra, tanto no homem como na mulher. 3.a Imperfurações do recto no utero e na vagina. §l.o Imperfurações com abertura do re^to na pelle. Nesta anomalia a extremidade inferior do tubo diges- tivo, em vez de terminar no ponto destinado para o esta- belecimento do ânus natural, por viciação de evolução do órgão, vem abrir-se em um ponto indeterminado da parede do baixo ventre, como seja: o umbigo, a virilha, a região lombar e acima do pente, por onde as funcções de expulsão das fezes e de gazes se effectua como pela aber- tura natural. A causa desta anomalia, produzindo ordinariamente o desvio do S iliaco do colon, encaminha a extremidade in- ferior do tubo digestivo para ponto diverso do destinado normalmente. A porção iliaca, ou o S iliaco do colon, muda de direcção e é encontrada em posição vertical ou transversa; e segundo o Dr. Bourcart, mais geralmente di- rigida para o lado esquerdo do que para o direito. Da these de concurso do Dr. Bouisson, defendida em 1851, consta a cura de uma anomalia desta espécie em um recém-nascido de 7 a 8 dias, em o qual o medico consultado obteve, por meio da operação, cura completa e radical. O caso é o seguinte: Observação. <í Ao Dr. Delmas, é apresentada uma 456 PARTOS criança de 7 a 8 dias de nascida, com uma imperfuracão do ânus, e com uma pequena abertura enrugada, ver- melha e excoriada, que existia a dous centímetros da linha mediana do lado da nádega direita. Por esta aber- tura transsudavão constantemente as matérias fecaes, cuja liquidez permittia fácil sahida. « Tratava-se de uma verdadeira fistula no ânus, con- genital, que Delmas operou e ao mesmo tempo reme- diou, por uma incisão a imperfuracão. « A membrana obturadora era cutânea, mucosa, com conservação do sphincter. O Dr. Delmas a incisou e introduzindo o dedo no recto, reconheceu a pequena al- tura o bico de uma sonda esfriada introduzida na aber- tura occidental vizinha. A operação foi praticada como no adulto, e seguida da cura rápida do recém-nascido. Não é o único facto conhecido na sciencia. Não poucos clinicos contão em sua pratica, casos isolados de ano- malias desta espécie, os quaes, sendo tratados conveni- entemente dão os resultados obtidos pelo Dr. Delmas na observação que acabamos de citar. O professor Denonvilliers, em 1850, referia um caso de cura em um recém-nascido, cujo vicio de conforma- ção era a perfuração do ânus com trajecto anormal. § 2." Impesfurações com abertura do recto na bexiga ou na uretaa. 1." No homem. É um vicio de conformação que, quan- do desprezado, ou quando por um exame superficial da criança, passa desapercebido, pôde causar irremediavel- mente a morte do recém-nascido. A anomalia faz-se, vindo a extremidade inferior do recto abrir-se no baixo- fundo da bexiga, entre os ureteres, no eólio da bexiga ou na porção membranosa da uretra. Sua abertura é apenas um orificio, termino do canal estreito que cons- titue a anomalia. Algumas vezes este canal é cavado no meio dos teci- PARTOS 457 d( s, e os órgãos que atravessa ajudão a formação de suas paredes, sem incluir a inferior; outras, esta parede inferior é constituída apenas por uma membrana fina, a qual, á força de distender-se pela chegada do meconio quando impellido pelas contracções do intestino, aju- dadas dos músculos abdominaes e pela acção da pre- sença das matérias abi contidas, rompe se para dar sahida a pequenas cópias do meconio retido, cuja sahida não allivia o soffrimento pela exiguidade da expulsão. Abaixo desse orificio anormal o recto prolonga-se fre- qüentemente cm forma de sinus (seno), ma s ou menos extenso, effeito da distensão de suas paredes, pela accu- mulação das matérias retidas em seu interior: outras vezes é encontrado, logo em seguida á abertura, comple- tamente obliterado. Os signaes característicos desta anomalia são, além dos communs á retenção das fezes e do meconio, o corri- mento deste producto e a expulsão de gazes pela via das ourinas. Convém levar o mais longe possível a investigação da causa dos soffrimentos, quando em presença de um recém- nascido, que apresenta os symptomas próprios da consti- paçao, porque é possivel o desconhecimento da anomalia, se a imperfuracão do ânus está no c iso daquellas de que já fizemos menção, quando descrevemos a maneira de proce- der da natureza, na factura da evolução desta parte, e do recto, na viciação do desenvolvimento; isto é, quando a imperfuracão do ânus está em um ponto mais alto do in- testino, e a anomalia existe sem abertura exterior. O orificio dentro da bexiga pôde dar nascimento, pela irritação conseqüente, ápresença das fezes edo meconio, a uma cystite super-aguda rapidamente mortal. Um exa- me attento feito pelo ânus com o dedo minimo ou com um estylete abotoado, ou com uma sonda, dará pleno conheci- mento do diagnostico differencial dos phenomenos que se têm desenvolvido. Tratamento. O procedimento do parteiro deve ser mo- delado pela qualidade do canal que constitue a anomalia. O fim exclusivo do operador deve ser, restituir o 458 PARTOS trajecto do tubo intestinal á sua primitiva directriz ou * normalidade que devera ter. Conseguintemente, todos os seus esforços, qualquer que seja o processo operatorio a adoptar, devem ter por fim praticar uma abertura no ponto onde devera estar a natural constituída pelo ânus. Este fim difficilmente é obtido, ou é quasi impossivel obter, quando o canal é interno, isto é, atravessa os te- cidos profundamente situados, de modo que ó desconhe- cida a direcção que assumio. Toda a operação nestas circumstancias, não somente é inútil, mas quasi sempre é fatal; nos casos, porém, em que o canal é perinôo-eacro- tal, isto é, quando a anomalia percorre o perinêo sem fazer a abertura natural, e a vai effectuar em algum ponto da superficie do escroto ; e tendo sido feita superficialmente, de modo que a parede inferior deste trajecto fique fina e constituída unicamente por mem- brana simples, tendo mais ou menos espessura, mas tendo vindo fazer sua abertura na pelle do escroto, o operador deve augmentar o orificio que constitue a abertura da sa- bida do meconio, ao ponto de permittir a passagem de um estylete de grossura regular, o qual, servindo de guia, depois de seguir o trajecto do canal constituinte da ano- malia, deve vir até a abertura anal imperfurada, mar- cando ahi o ponto sobre o qual deve ser feita a incisão para a restituição da continuidade do recto com o ânus. A incisão, conforme a espessura da membrana obtura- dora, pôde ser simples ou crucial, o que feito, deve ser seguido o mesmo tratamento ulterior que ficou indicado no artigo Imperfurações simples; isto é, depois do clyster, como meio coadjuvante da expulsão das matérias retidas, deve ser introduzida uma mécha de fios, bezuntada de cerôto simples, e gradualmente augmentada de grossura, á medida das necessidades da dilatação, até obter-se que a circumferencia da abertura tenha chegado ao ponto de ser julgada sufficiente para facilidade da expulsão regu- lar das fezes e meconio contidos no intestino. Nenhuma descrípção, por melhor que seja, facilita o conhecimento da lesão que se quer combater, e da me- dicação de que convém lançar mão, como a transcripçâc* de observações de casos semelhantes na pratica. PARTOS 459 A propósito dos casos de imperfurações com aberturas anormaes do recto, o Dr. Danyau refere a observação seguinte: Observação. Criança recém-nascida na qual existião as disposições seguintes: uirião desta conformação accidental, e quão prompta seria a morte da criança. O Dr. Littré, que quiz tornar sua observação útil, imaginou e propoz uma operação cirúrgica muito delicada, para os casos em que se reconhecesse uma semelhante confor- mação. Deve fazer-se uma incisão no ventre e coser jun- tas as duas partes do intestino, depois de as ter aberto, ou pelo menos fazer vir a parte superior do intestino á chaga do ventre, que jamais se tornaria a fechar, e que deve fazer a funcção do ânus.» Esta observação demonstra a possibilidade de cura PARTOS 471 deste vicio de conformação por meio da operação pelo methodo de Littré. A observação seguinte, referida pelo D r. Duret, é disso prova inconcussa. Observação. «Sexta-feira 1S de Outubro de 1793, Maria Poulaouen, parteira em Brêles, communa de PI ouram, tendo partejado a esposa de Miguel Ledreves, lavrador, percebeu que a criança que acabava de receber não tinha ânus, e que as partes sexuaes erão mal con- formadas. Julgando que, neste estado de cousas, o recém- nascido não podia viver por muito tempo, aconselhou aos pais leva-lo para Brest, afim de receber ahi os soc- corros da cirurgia. Sabbado, ás 10 horas da manhã, o pai veio a minha casa. Eu examinei a criança : as partes genitaes erão dispostas de maneira que* o escroto estava dentro, no lugar do raphe, e representava duas partes iguaes, cada uma das quaes continha um testiculo ; á primeira vista, julgar-se-ia vêr uma menina: no pe- rinêo estava a glande com um meato ourinario, por onde a ourina sabia livremente; o lugar do ânus não offerecia nenhum indicio da existência do recto; a pelle tinha a sua côr natural e consistência; pelos esforços que a criança fazia para evacuar não havia formação de tumor algum. Depois deste exame, entendi que esta criança merecia ser vista por outros médicos. Em con- seqüência convoquei uma conferência de médicos e ci- rurgiões empregados nos differentes hospitaes da cidade. < Verificou-se ella no Hospital da Marinha. Os consul- tantes forão de parecer que se devia abrir a pelle no ponto em que o recto devia estar, para procurar este intestino. A operação não produzio o resultado desejado; reconheci, com uma sonda introduzida na bacia, que a ultima parte do grosso intestino faltava absolutamente; então (erão 4 horas da tarde) a criança pareceu votada irremissivelmente á morte; os vômitos, o augmento ex- traordinário do ventre e o resfriamento das extremidades inferiores erão signaes certos de morte próxima. Entre- tanto, contra a minha expectativa, no domingo pela manhã o menino vivia ainda, o que me decidio a fazer segunda 472 PARTOS conferência, na qual propuz como ultimo recurso, para prolongar a vida deste ente, a gastrotomia e o estabeleci- mento de um ânus artificial. Para dar mais confiança a este meio extraordinário, executei-o sobre o cadáver de uma criança, de idade de 15 dias pouco mais ou menos, fallecida na Casa de Misericórdia desta cidade. Prati- quei uma incisão entre a ultima falsa costella do lado esquerdo e a crista do osso iliaco: a chaga podia ter duas pollegadas de extensão; descobria ella a gibosidade dos rins e uma pequena região da parte esquerda do colon. Esta ultima foi aberta; depois injectou-se água pelo ânus : uma parte do fluido sahio pela abertura do colon, e uma outra derramou-se no ventre. Reconheceu-se pela abertura do abdômen que no féfco as partes lateraes do colon não estão por fora do peritonêo como no adulto, que ellas-têm um mesocolon que as torna livres e fluc- tuantes. Esta circumstancia fez rejeitar a operação neste lugar, com o receio de que não houvesse um derrama- mento de meconio para dentro do ventre. « A conferência, depois deste ensaio, tendo prolongado a discussão quanto o poderião exigir o interesse da hu- manidade e a honra da cirurgia, decidio: Io, que sem este meio extraordinário a perda da criança era inevitá- vel; 2o, que o axioma de Celso: émellior empregar um re- médio duvidoso do que abandonar o doente a uma morte certa, achava neste caso sua applicação; 3o, que as re- flexões de Hevin sobre a gastrotomia ião erão contrarias a esta operação, todas as vezes que a causa e a sede do mal estavão reconhecidas. Abri o ventre da criança acima da região iliaca, no lugar em que o S do colon formava um tumor, em verdade pouco apparente, e onde o meconio parecia dar á pelle uma côr mais carregada ; dei a esta abertura pouco mais ou menos pollegada e meia de extensão: ella servio para introduzir o dedo index no abdômen, com o qual retirei para fora o S do colon; e receiando que elle não tornasse a entrar de- pois para o ventre, passei no mesocolon dous fios ence- rados; depois incisei o intestino no sentido de seu com- primento : o ar e o meconio sahirão em abundância por esta abertura. PARTOS 473 Quando se tinha escoado uma certa quantidade ap- pliquei o apparelho, que foi simples: uma compressa crivada, fios e uma atadura de corpo o compuzerão. Na noite do domingo para a segunda-feira a criança dormio perfeitamente bem; os vômitos cessarão, o calor voltou e ella mamou muitas vezes com avidez. No dia seguinte ao, da operação os médicos, que assistirão na véspera, ficarão satisfeitos da vantajosa mudança que se operou; os pannos que envolvião a criança estavão cheios de meconio, e a voz, que até então não se tinha podido distinguir, pôde desde logo fazer-se ouvir. « Ao terceiro dia, as cousas ião cada vez a melhor, e aconselhamos ao pai da criança a trazê-lo duas vezes por dia ao Hospital de Marinha. O cidadão Massat, adminis- trador deste hospital, e o cidadão Coulon, medico com- missario, fornecerão os objectos necessários para o curativo de Ledreves. <í Ao quarto dia, os excrementos sahirão amarellados, mas em pequena quantidade: receitei um clyster com água simpl s, e duas oitavas de xarope de chicorea com- posto de rhuibarbo, que produzio optimo effeito, fazendo o doente ir muitas vezes á banca. « Ao quinto, os fios que sustentavão o intestino pa- recerão inúteis: forão retirados porque sua presença entretinha a falta de asseio, e o rubor nas vizinhanças do ânus artificial. « Ao sexto dia, o intestino, largo de uma pollegada pouco mais ou menos, parecia dar passagem ás túnicas internas, o que dava á chaga o aspecto de um ovo de gallinha ; procurou-se introduzir uma canula de chumbo na fistula, com o fim não só de impedir uma hérnia consecutiva, como para entreter uma sahida franca aos excrementos; mas os gritos da criança fizerão abandonar o emprego deste meio. « O instrumento tinha sido aperfeiçoado pelos hábeis cutileiros desta cidade os cidadãos Moriers filhos. « Ao sétimo dia, a criança ia tão bem que julgamos dispensáveis outros cuidados além dos de asseio e de vi- gilância da parte dos assistentes. » (Duret.) Nunca é em demasia n'um trabalho desta ordem 474 PARTOS a repetição de factos de tratamento da moléstia que se discute, tanto mais se as indicações são feitas mediante observações da applicação em casos especiaes. Além' do autor citado, o Dr. Goyrand (de Aix) com o fim de tornar mais perfeito o processo operatorio, mo- dificou o meio de reducção e de conter o intestino na chaga produzida na pelle,* sem lhe alterar o mecanismo e a idéa capital, e cita a observação seguinte: « A criança estava no estado o mais grave. Nascida, havia 48 horas, recusava o seio, e vomitava com esforço todos os liquidos que se lhe davão com a colher; estava fria, livida e sem voz. « Nenhuns vestígios de ânus; o perinêo era magro e deprimido ; o espaço que separa as tuberosidades sciaticas e o coccyx erão muito menores do que no estado nor- mal ; estas ultimas circumstancias fizerão o Dr. Goyrand pensar que o recto faltava, ao menos, em grande parte de sua extensão. Desde então julgou elle dever renun- ciar abrir o intestino na região anal, e decidio-se a fazer um ânus artificial. « A parede abdominal foi incisada obliquamente, de- baixo para cima c de dentro para fora, na extensão de 3 centímetros e meio. A incisão, começada no bordo externo, no músculo recto abdominal, terminava a 6 ou 8 millimetros acima da espinha iliaca antero-superior. O S do colon, distendido e com a côr verde escura, introdu- zio-se na incisão; um duplo fio passado no mesenterio ser- vio para fixa-lo. O intestino foi aberto parallelamente á incisão da parede do ventre. O meconio escapou-se em grande quantidade. O colon iliaco esvasiado, porções do intestino delgado precipitarão-se para fora, passando por eima do intestino aberto. Forão reduzidas, e oppôz-se á reproducção do prolapso, reunindo, por sutura, os bordos da incisão do intestino aos da incisão da pelle. Sete pontos de sutura forão sufficientes para fazer a reunião o mais exacta possível. « Depois de operada esta reunião, a parede posterior do colon, impellida para fora pelas visceras fluetuantes no abdômen, apresentou-se sob a fôrma de um tumor semi- ovoide, de côr purpurea, cuja saliência augmentava e as PARTOS 475 pregos desapparecião, sempre que a criança fazia qual- quer esforço, nas extremidades do qual se distinguião dous orifícios que penetravão no ventre; erão as duas extremidades do intestino. « O Dr. Goyrand julgou dever oppôr obstáculo ao im- pulso das visceras abdominaes. Para este fim, exerceu uma compressão moderada sobre a saliência mucosa, por meio de uma compressão graduada e fixa por uma atadura em spíca sobre o tumor, antecedentemente coberto por uma compressa fina bezuntada de óleo. «. O pequeno apparelho foi renovado freqüentemente. O meconio continuou a escoar-se por deb lixo das ataduras. « A criança voltou á vida, e tomando em principio leite as colhéres, não o vomitou mais; no dia seguinte ao da operação mamou com avidez. « Ao quinto dia, os fios das suturas forão retirados. « Ao sétimo dia, a criança passaA"a perfeitamente bem e foi entregue á sua família. « Quando a reunião dos bordos da abertura do intestino com a incisão da pelle ficou bem organisada, não houve receio de comprimir um pouco mais sobre o tumor for- mado pela extroversão do intestino, e este tumor foi reduzido sem dificuldade, e contido, em principio, com uma atadura em spíca, que, mais tarde, foi substituída por uma pequena atadura de panno de linho, contendo uma almofadazinha de panno, fixa ao ânus artificial por um cinto, ao qual ella estava presa por uma atadura que passava por debaixo da coxa. Dous mezes depois da operação, a extroversão, que se produzia inevitavelmente quando a criança estava sem atadura, reduzia-se por uma ligeira pressão, sem que a criança parecesse aperceber-se disto, e o pequeno apparelho já descripto continha-a. « São estes os cuidados e o apparelho que convém durante os primeiros mezes da vida; mais tarde a atadura de panno de linho deve ser substituída por uma funda de molas, com uma almofada de caoutcJwue » Fine e Dupuytren, conscios das vantagens deste methodo, propõem que, quando houver necessidade de se esta- belecer um ânus artificial, deve ser feito pelo methodo de Littré, na parte anterior da região lombar. 476 PARTOS Fine ensaiou este methodo no colon transverso de uma mulher, a favor de quem careceu lançar mão deste meio do salvação. Deve-se notar que quando ha receio de que o S do colon não esteja em perfeito estado de saúde, o intestino do lado esquerdo deve ser o escolhido para o estabelecimento do ânus artificial. O methodo de Littré pôde ser feito em uni só tempo- ou em MUITOS TEMPOS. Processo em um só tempo. O individuo deve estar dei- tado sobre o dorso, com as coxas estendidas, e contido por um ou dous ajudantes. O operador pratica, um pouco acima do ligamento de Fallopio, entre a espinha iliaca antero-su- perior e o púbis, uma incisão de duas pollegadas, pouco mais ou menos, divide a pelle camada por camada, assim como o fiascia superficialis, a aponevrose do oblíquo externo, e as fibras inferiores do músculo pequeno oblíquo, do qual elle augmenta depois a abertura, dando ao bisturi por conductor uma sonda esfriada. Vê-se então o intestino distendido, livido ou esverdeado, que é reco- nhecido também pelo aspecto de seu envoltório externo e pela disposição de suas fibras. O indicador curvado vai busca-lo e trá-lo para fora, obrando á maneira de um gan,- cho, ou ajuda-se do pollegar para o poder prender. Passa- se logo através do mesenterio uma laçada de fio para o impedir de tornar a entrar. Incisa-se na direcção da chaga do ventre; as matérias ei capão-se e elle esvasia-se. Colloca-se uma mecha ou uma tenta na divisão, se ha receio de retracção prompta. Não tardão a estabelecer-se adherencias entre a superficie do colon e os bordos da chaga do ventre. Retira-se o fio mesenterico do 3o ao 5o dia, e o novo ânus, então definitivamente formado, não reclama outros cuidados além dos de um ânus qualquer accidental. * Processo em muitos tempos. O Dr. Costallat indica a maneira de praticar este processo da fôrma seguinte: Uma incisão ou uma perda de substancia deve ser feita na parede abdominal até ao peritonêo, que se respeita. PARTOS 477 Deve-se fazer cicatrisar separadamente as partes dividi- das, collocando entre os lábios da incisão um corpo estra- nho; espera-se depois que se forme, através da parede abdominal, assim enfraquecida, uma hérnia do intestino colon. Póde-se provocar as adherencias entre o intestino e o peritonêo por meio de alguns pontos de sutura, pas- sados com uma agulha pequena. O mesmo resultado po- deria ser obtido fazendo-se as picadas com uma agulha aquecida até ficar vermelha. Isto feito, póde-se atacar o tabique peritoneo-intestinal com o cáustico ou o ferro em braza; mas é melhor picar este tabique com um en- terotomo. Se o colon não vier para fora é preciso terminar a operação pela incisão e a sutura. Processo de Vidal (de Cassis). Faz-se uma incisão na altura da porção do intestino que se quer abrir, e divide-se em toda a sua espessura a parede abdominal. Reconhece-se o intestino e attrahe-se para fora entre os lábios da chaga, onde deve Ser mantido por um fio muito fino; espera-se que as adherencias estejão forma- das, e quando se tem adquirido a certeza de sua exis- tência, incisa-se o intestino em uma extensão conve- niente. Se eu tivesse certeza, diz este autor, que as pa- redes abdominaes, na região iliaca direita, não estivessem em relação senão com o cascum ou com o fim do intes- tino delgado, não duvidaria applicar um cáustico para preparar a via e as adherencias, antes de abrir o intes- tino. Esta operação em dous tempos, está perfeitamente nos principios que professo, e que começão a ser aceites geralmente. Os Drs. Bégin e Marchai, nos Annaes de Cirurgia, propõem este modo operatorio, mas pela inci- são, em vez do cáustico, como eu quereria que se fizesse. Methodo de Callisex. Chama-se methodo de Calli- sen a operação pela qual se abre o colon descendente no ponto onde não ha mesenterio, e com o qual se pôde penetrar até ao intestino sem ferir o peritonêo. Este methodo, que pelas difficuldades de sua execução tinha sido abandonado por quasi todos os operadores, foi de novo rehabilitado por Amussat, que o considera 478 PARTOS superior a todos os de que se costuma fazer uso, pelo numero de resultados favoráveis de que tem sido coroado. Para sua execução, pdrém, ha carência do conheci- mento de algumas indicações anatômicas sobre a posi- ção do colon descendente, assim como do intervallo, onde não existe peritonêo, ponto de eleição onde se deve in- cisar o intestino. Callisen diz em sua obra publicada em 1813: « A in- cisão do caacum e do colon descendente, que tem sido proposta para a cura da imperfuracão do recto nos re- cém-nascidos, por uma secção praticada na região lombar esquerda, na altura do bordo do músculo quadrado dos lombos, com o fim de estabelecer um ânus artificial, apre- senta uma possibilidade de resultado incerto, e a vida do pequeno doente poderá ser salva com difficuldade; todavia, o intestino pôde ser attingido neste lugar, acima da região iliaca. « Pratica-se dous dedos acima do osso iliaco ou melhor no meio do espaço comprehendido entre a ultima falsa costella e a crista do osso iliaco, uma incisão transver- sal, que começa no bordo externo e posterior dos mús- culos sacro-lombar e longo dorsal, e se estende até á parte média do bordo superior do osso iliaco, ou até á linha lateral do corpo, com um comprimento de quatro ou cinco dedos de largura. « As apophyses espinhosas lombares, a ultima falsa-cos- tella e a crista do osso iliaco são pontos ósseos que convém tomar como guia para a pratica da operação. Entre- tanto a crista do osso iliaco é o guia mais seguro, de- vendo a incisão transversa corresponder ao terço médio do bordo superior deste osso. Depois de ter dividido a pelle e todos os tecidos superficiaes corta-se em cruz as camadas profundas para descobrir melhor o intestino. A incisão transversa dá espaço bastante, de diante para trás, e permitte levantar com facilidade o quadrado lombar, e, sendo necessário, incisar seu bordo externo; emfim, vê-se que se está muito melhor, com esta incisão para procurar o espaço celluloso do intestino, o qual afastado permitte a procura do próprio intestino. Se a criança tiver muita gordura esta incisão deve interessar a própria pelle. PARTOS t 47& « O tempo mais delicado da operação é o em que, depois de o ter posto a nú, o operador tem de abrir o intestino. Este é encontrado ao longo do bordo externo ou anterior do músculo quadrado lombar, e mesmo um pouco mais para trás. Convém antes de fazer a abertura do colon afastar e tirar com precaução o tecido cellular gorduroso peri-intestinal que o envolve; nas crianças muito novas deve evitar-sc ferir o rim, que está collocado muito em baixo. « Os melhores meios de exploração, para conhecer-se da presença do intestino, são: a pressão com o dedo e a percussão, além da falta de resistência por fora do colon. Algumas vezes, porém, esta parte é reconhecida por sua côr esverdinhada. Feito o que, prende-se o colon com pinças ou com um fio que o atravessa de lado a lado, o qual foi deixado por uma agulha, e então se faz a puncção com uma lanceta ou um trocate; augmen- ta-se a abertura no sentido vertical. Os lábios da chaga são puxados para fora e fixos por pontos de sutura, o mais perto possível do angulo anterior da chaga das paredes abdominaes. O resto da chaga da pelle é reunido também por sutura. É este o processo de Callisen modificado por Amusat. » Estado de fraqueza congenitaí dos recém-nascidos. Além das lesões de que temos dado a descrípção o tratamentos, as quaes podem affectar as crianças robus- tas e bem constituídas, assim como as das constituições oppostas, mas cujo apparecimento não é effeito de obstá- culo ao desenvolvimento do feto por embaraços á nutri- ção geral, e sim occasionadas por accidentes provenientes de condições especiaes ao trabalho laborioso ou prolon- gado do parto, ha uma ordem do lesões que pôde, como as primeiras, produzir com freqüência a morte do recém- nascido: é o seu estado de fraqueza congenitaí. Chama-se fraqueza congenitaí o estado de prostração .e abatimento cm que se acha o recém-nascido, pela qual té incapaz de exercer alguma das novas funcções inheren- tes á existência em que acaba de entrar. 480 PARTOS Este estado, effeito do desenvolvimento incompleto de algum dos apparelhos, sem cuja perfectibilidade a vida é impossivel, é traduzido pelo nascimento prema- turo da criança, ou antes delle pela alteração dos annexos do feto, que por esta causa se tornarão impróprios para o seu crescimento normal. Symptomas. O recém-nascido apresenta volume me- nor que o normal, magreza extraordinária, com face en- rugada, assim como a pelle dos membros e de todo o corpo, demonstrando decrepitude precoce; vômitos e diar- rhéa que não parão, ou são provocados pela menor in- gestão de qualquer porção de leite que lhe seja dado ás colhéres; impossibilidade de mamar por falta de força; raspiração incompleta. A observação seguinte dá uma idéa exacta do estado do recém-nascido com fraqueza congenitaí, ao qual o Dr. Joulin conseguio restituir as forças, e como conse- qüência da reconstituição, a vida que esteve a ponto de extinguir-se. « Fui chamado a 4 de Maio de 1859 a Passy para ver uma criança, com quatro dias de nascida, e que se achava soffrendo de fraqueza congenitaí. A mãi tinha sido assistida por Mme. Roulleau, parteira de Pariz, cuja in- telligencia e saber, são infelizmente muito raros em sua profissão. O parto verificou-se no termo, mas a placenta apresentava uma degenerescencia fibrosa que occupava q aasi os dous terços do órgão; isto explicava o estado de desenvolvimento incompleto da criança, que não ex- cedia por seu volume um feto bem conformado de sete mezes, mas que lhe era inferior por seu peso —1,250 grammas —. Ella tinha o rosto enrugado, magreza ex- trema e a apparencia vetusta já notável. A voz era fraca porém clara, e a respiração completa; a fome não era es- tranha ao choro freqüente; mamava bem, mas desde o momento do nascimento o leite era vomitado quasi immediatamente depois de ser ingerido, e o pouco que não era expellido pelo vomito, era-o em fôrma de diar- rhéa, atravessando o intestino rapidamente, quasi sem outra modificação que sua. mistura com a bilis. PARTOS 481 « Institui um tratamento já empregado por mim em outro caso, tendo a cautela de prevenir a familia da gra- vidade do prognostico, e da pouca esperança que eu nu- tria sobre a medicação, a qual foi continuada sem resul- tado até o dia 8. A magreza fazia progressos, havia somnolencia, a voz era mais fraca, os gritos menos fre- qüentes; contava a cada visita encontrar a criança morta, quando tive a idéa de recorrer á pepsina. A acção deste agente sobre os alimentos albuminoides é hoje bem conhe- cida ; é verdadeiramente uma substancia heróica quando se administra nos casos que reclamão seu emprego. Fiz preparar uma gramma de pó de pepsina, dividida em dez papeis; eu prefiro o pó ás pastilhas, como possuindo maior actividade e ser mais fácil sua administração. Dei á criança um papel de dez centigrammas em algumas de água com assucar, e a mãi espremeu-lhe leite na boca, porque a criança não tinha mais força para pegar no peito. Até ao dia 11 o estado não se modificou de ma- neira sensível, pelo que receiei que a pepsina tivesse sido administrada muito tarde. Entretanto não perdi a esperança; a criança estava ainda viva, o que indicava ao menos um estado estacionario, porque ella tinha che- gado a um destes extremos limites que se não pôde ex- ceder sem morrer. « A 11, a diarrhéa diminuio de maneira notável, a voz era mais forte, a sucção mais vigorosa. A 20, a digestão era perfeita, os vômitos e a diarrhéa tinhão desapparecido inteiramente; mas a pepsina foi continuada até 30 de Junho. Nesta época a criança podo dispen- sa-la. Mais tarde os dentes sahirão com facilidade. Hoje tem ella 6 annos de idade; é um lindo menino, cheio de vigor e de saúde.» (Joulin.) Esta observação tem pelo menos o merecimento de animar os práticos no emprego de todos os meios a seu alcance para reparar a falta da natureza. Htgienico. Convém, antes de qualquer applicação the- rapeutica, e durante todo o tempo que dure o trata- mento, manter a criança em calor artificial, envolvendo-a em algodão cardado, e cercando-a de garrafas ou botijas D. H. II 31 482 PARTOS de água quente. Deve-se, outrosim, escolher uma ama que tenha abundância tal de leite, que este saia sem esfor- ços da criança. A seguinte medicação interna deve ser administrada á criança em glóbulos postos na lingua ou em qualquer ponto da cavidade bocal, dando a ama im- mediatamente o seio para a criança mamar, ou se ella não tiver força para a sucção, espremer-lh'o na boca. O medicamento escolhido, de accordo com a indicação, deve ser ao mesmo tempo dado á mulher que amamenta, na mesma occasião que se der á criança. Medico. Os melhores medicamentos, são: Sulf. e cale, assim como: Ars., baryt., bell, chin.,cin., nux-v.,phosph.-ac- e rJius., ou mesmo: Am., cham., hep., iod., magn., petr., pJiosph., puls. e aloes. Arsenicum. Quando houver: pelle sêcca como perga- minho, olhos encovados, anorexia ou vomito dos alimen- tos, sêdefirequente, mas bebendo pouco de cada vez; agitação, principalmente á noite, somno curfco e interrompido por sobresaltos e repuxamcntos convulsivos ; dejecções diarrhei- cas, esverdinhadus ou escuras, com evacuação de matérias não digeridas; mãos e pés frios. Baryta. Quando houver: engurgitamento das glândulas da nuca e do pescoço, grande fraqueza physica, desejo contínuo de dormir. Belladona. Havendo: colicas freqüentes com dejecções involuntárias, tosse nocturna com estertor mucoso, somno inquieto ou insomnia, olhos azues e cabellos louros. Calcaria. Havendo: emmagrecimento extraordinário com appetite pronunciado, face enrugada e excavada, en- gurgitamento e endurecimento das glândulas do mesenlerio, diarrhéas freqüentes ou evacuação semelhante a barro, pelle sêcca e flaccida, calefrios. China. Quando houver: emmagrecimento considerável, maxime das mãos e dos pés, inchação cedematosa do ven- tre, voracidade, diarrhéa, principalme te de noite, com evacuação de matérias não digeridas, ou dejecções freqüentes esbranquiçadas, de consistência branda, suores freqüentes, PARTOS 483 maxime de noite, face encovada, pallida ou térrea, grande fraqueza e caducidade. Cina. Se houver: complicação de soffrimentos vermino- sos, pallidez do rosto e grande voracidade. Nux-vomica. Quando houver: tez amarellada, térrea; face inchada, constipaçao obstinada, ou constipaçao alter- nando com diarrhéa; crescimento do ventre com bor- borygmos ; fome e appetite pronunciados, com vomito freqüente dos alimentos. Phosphorus. Havendo: tosse cachetica, diarrhéas e suo- res freqüentes colliquativos, fraqueza extrema. Rhus. Quando houver: diarrhéa mucosa ou sanguino- lenta, fraqueza extrema, ventre duro e inchado. Staphysagria. Havendo: ventre inchado e appetite voraz, dejecções tardias; engurgitamento das glândulas sub-maxil- lares, pelle ulcerando-se facilmente. Sulfur. Em quasi todos os casos, no começo do trata- mento, principalmente havendo: fome pronunciada, tians- piração fácil, engurgitamento das glândulas inguinaes ou axillares, ou das do pescoço, estertor mucoso nas vias aéreas, diarrhéas mucosas efreqüentes, ou constipaçao obsti- nada, tez pallida, olhos encovados. Hygiene das crianças desde o nascimento até a época de serem desmamadas. Ainda que a criança tenha, sahindo do seio materno, quebrado as relações de continuidade e dependência que conservava, por intermédio da placenta, com a mulher que lhe deu o ser, esta continuidade e dependência sub- sistem, por modo mais delicado, até a época de desma- mar-se, se é a própria mãi a encarregada de aleitá-la. A substituição effectuada entre os materiaes d'onde o feto tirava sua subsistência, por intermédio da placenta, pelo que depois de nascido o filho suga, com o leite, do organismo materno, em nada altera o resultado visado pela natureza; isto é, o desenvolvimento e perfecti- bilidade dos órgãos, para que sejão postas em acção as 484 PARTOS forças necessárias ao cumprimento das funcções peculiares a cada apparelho, na vida extra-uterina. Não ó indifferente o conhecimento do movimento fluxionario que se opera, ao mesmo tempo que têm evo- lução os phenomenos da prenhez para os seios da mu- lher. A actividade maior, adquirida pelas glândulas mamares, em correspondência immediatamente sympa- thica com os órgãos da geração existentes na bacia, acompanha, desde o primeiro mez, o desenvolvimento que estes órgãos vão adquirindo na desenvolução ope- rada no feto pela acção physiologica destas partes; o que dá em resultado a secreção de um liquido sero- lactescente, viscoso e amarei!ado, conhecido pelo nome de colostrum, tanto mais abundante quanto mais se appro- xima do termo da gestação. Este liquido, além dos reagentes chimicos, que, em- pregados, dão conhecimento de sua composição intima, submettido ao microscópio apresenta glóbulos menores que os ordinários do leite, unidos, porém, por uma ma- téria especial viscosa. Entre elles o microscópio encontra glóbulos de leite, mas tão irregulares, que pouco se pa- recem com os especiaes a esse liquido. Além destes, são vistos corpusculos granulosos de 0,01 a 0,05 de mi- límetro, globulosos e amarellados. Este liquido fornece ao pratico um juizo seguro, como futura deducção, sobre a qualidade que terá o leite de- pois do parto e se será em pequena cópia ou em abun- dância. O regulador desta deducção é a quantidade de colostrum formada até a época da expulsão do feto. O Dr. Donné a este propósito divide as mulheres em três categorias: « Ia, se a secreção do colostrum é em tão pequena cópia, que a pressão melhor feita possa apenas obter uma gotta desse liquido; se ella não con- tiver senão poucos glóbulos leitosos, pequenos, mal con- formados, e os corpos granulosos em pequeno numero, o leite será seguramente em pequena quantidade, pobre e insuficiente para a nutrição da criança; 2°, se as mulheres segregarem colostrum em abundância, fluido aqucso, facilmente escoavel, semelhante a água ligeira- mente gommosa, não apresentando estrias de matéria PARTOS 485 amarella espessa e viscosa, pobre em glóbulos leitosos e em corpos granulosos, as mulheres poderão ter maior quantidade de leite, mas elle ha de ser pobre, aquoso, e muito pouco substancial; 3o, emfim, quando o colos- trum se obtém facilmente e com abundância, quando elle contiver uma matéria amarella mais eu menos car- regada, mais ou menos espessa, assemelhando-se por sua consistência e côr com o resto do liquido; quando o microscópio demonstrar que elle é rico de glóbulos lei- tosos, bem conformados, de bom tamanho, e contendo maior ou menor quantidade de corpos granulosos. tem-se quasi certeza que a mulher terá um leite rico e abundante. « Este exame é principalmente útil, quando é feito no oitavo mez da gestação. É bom saber que algumas causas accidentaes como é o frio ou qualquer impressão moral, podem contrariar momentaneamente o resultado da ex- periência. » (Donné.) Nas proximidades do termo da gestação a quantidade da secreção mamaria augmenta, e a producção do co- lostrum é tanto maior quanto em melhores condições de saúde se acha então a mulher. Este augmento con- tinua habitualmente até depois do parto, e mesmo até depois de passada a febre de leite. E só nesta época que os glóbulos leitosos, que, como dissemos, erão irregu- lares antes de ser expellido o producto da concepção, começão a arrendondar-se e a adquirir a fôrma que têm no leite propriamente dito. So o colostrum subsiste, apezar da febre de leite; se sua existência é demonstrada uma semana ou quinze dias depois de passada a febre de leite, ou do nascimento da criança, póde-se afiançar que este liquido será pouco abundante e pobre de matéria nutriente. Se, ao contra- rio, o colostrum desapparece logo depois da declaração da febre de leite, e que este liquido se fôrma com rapidez, apresentando seus glóbulos e côr bem definidos, estando a mulher em condições de saúde satisfactorias, elle será rico de matéria nutriente e abundante, guar- dadas, porém, para esta ultima circumstancia, as condições de fôrma e volume das mesmas. Regra geral: após a febre de leite, a secreção mamaria 486 PARTOS augmenta-so e vai adquirindo caX vez mais os ca- racteres e propriedades do leite verdadeiro; isto é, tor- na-se branca, opaca, agradável, doce e assucarada. Este liquido, semelhantemente ao que se observa no sangue, tendo sido extraindo e deixado em repouso, divide-se em duas partes:uma solida, formada por glóbulos gordurosos em abundância ; outra liquida, tendo em dis- solução uma matéria animal especial azotada, coagula- vel (que é o caseum), assucar de leite, saes e uma pequena porção de matéria amarellada. O microscópio revela no leite grande cópia de gra- nulações arredondadas, transparentes, brilhantes como pérolas, que nadão em um liquido limpido. Estas gra- nulações do volume, pouco mais ou menos, de um cen- tésimo de millimetro do diâmetro, são formadas de matérias gordas e butyrosas ou de manteiga. « Em um leite puro e sem mistura não se percebe nenhuma outra matéria além destes glóbulos; esta pureza do leite ó um indicio certo de sua boa qualidade.» (Caseaux.) A pobreza ou riqueza do leite é reconhecível pela maior ou menor cópia dos glóbulos; isto é, o leite é tanto mais rico e alimenticio, quanto maior numero de glóbulos contém, porque as demais substancias gordu- rosas em suspensão ou dissolução no liquido, como sejão o caseum e o assucar, guardâo proporção invariável e fatalmente relativa com a quantidade dos glóbulos lei- tosos existentes, e vice-versa, tanto menor é sua quanti- dade, quanto menor é a proporção das demais matérias, e como conseqüência rigorosa sua riqueza, e mais im- própria para a nutrição. A riqueza do leite varia, não somente de mulher a mulher, como na mesma mulher, conforme condições de saúde ou de moléstia, de riqueza ou insuficiência da ali- mentação, certos desvios de regimen hygienico, e até conforme a hora em que é feita a extracção do leite. Pareceria, á primeira vista, que nenhuma outra cir- cumstancia, além do movimento operado por occasião da gestação, fosse competente para activar a secreção leitosa. Os exemplos multiplicão-se nas mulheres em quem a PARTOS 487 secreção láctea tem sido effectuada mediante excitações prolongadas e reiteradas das glândulas mamares. « Bellcc conta que uma crcada, obrigada a dormir no mesmo quarto de uma criança recent mente desmamada, e impacientada pelo choro da criança, lembrou-se de apresentar-lhe o seio. No fim de pouco tempo, ella teve leite sufficiente para satisfazê-la. Mistriss B...., diz Gcorges Simple, mãi de nove filhos, dos quaes o menor tinha treze annos, tinha perdido, havia um anno, sua nora moita quatro dias depois do parto. Depois da morte da nora, ella se encarregou do recém-nascido, que eslava magro e cachetico. « Era a criança tão insupportavel que, depois de mui- tas noites passadas em claro, Mistriss B.... vio-se obrigada a dar-lhe o peito. No fim de trinta e seis horas, es'a senhora sentío, com espanto, o seio tornar-se doloroso, augmentar de volume, e logo depois a secreção leitosa estabelecer-se com a mesma abundância, como depois dos seus partos ordinários. Um anno mais tarde o menino mamava ainda neste mesmo seio que, mais de vinte annos antes, alcitára a seu próprio pai. Baude- locque, conta o facto de uma menina de oito annos, em quem se deu a mesma particularidade. » (Caseaux.) Nós mesmo temos factos idênticos ao da avó amamen- tando seu neto, depois de muitos annos de ausência dos partos. Nesta, porém, o estado de pobreza foi o motor. O processo de que se servio a mulher foi: o uso continuado de compressas de água quente salgada, en- volvendo os peitos, e nos intervallos a sucção produ- zida pela criança faminta, e fricções ásperas com os bicos de um pente, repetidas e prolongadas por tempo indeter- minado, e na direcção de cima para baixo. O resultado foi obtido, e o neto foi aleitado por cerca de dezoito mezes. Hoje é um rapaz forte e robusto. Na Gazeta Medica de 1841, Audebert cita um facto curioso de uma avó de sessenta e dous annos de idade, que havia vinte e sete não tinha tido mais parto algum, e que amamentou dous netos. O primeiro era uma menina, a quem, para destrahi-la, começou por graça a dar-lhe o peito para brincar; á força de sugar, produzio-se a 488 PARTOS excitação das glândulas mamares e a secreção leitosa, rica de princípios nutrientes, verificou-se. Em conse- qüência amamentou-a por espaço de um anno; e como, apezar de haver desmamado a menina havia dous mezes, a lactação continuasse, aleitou o segundo filho de sua filha, cujo leite tinha seccado. Assim, pois, não se pôde precisar mathematicamente o tempo de duração da secreção leitosa. Este tempo varia conforme condições especiaes de constituição individual. Em umas mulheres dura um ou mais mezes; em outras pôde conservar-se por um, dous e mais annos. O termo médio, porém, é de doze a vinte e quatro mezes. A quantidade do leite está também nas mesmas con- dições de variabilidade. Aparte a circumstancia de in- fluencias hygienicas e moraes, cuja acção sobre a regula- ridade da secreção ninguém pôde contestar, porque é evidente, a constituição individual influe poderosamente paia a maior producção da secreção das glândulas. Não se pense, outrosim, que o desenvolvimento maior do órgão, a gordura e a força da constituição são o apanágio da maior secreção do leite. Temos conhecido mulheres, em apparencia impróprias para o aleitamento do seu mesmo filho, em quem a secreção leitosa era tão abun- dante, que o leite se escoava a cada passo pela menor ex- citação. Esta incerteza no conhecimento da idyosincrasia leitosa (que se me deixe passar esta phrase) faz muitas vezes vacillar na escolha da ama a quem se deve con- fiar um recém-nascido para aleitar. Apezar disto, além de outras condições que adiante mais especificadamente faremos conhecer, as essenciaes para á primeira vista decidir nesta emergência são: o volume e fôrma das mamas e a idade da escolhida. As muito moças, menores de 18 annos, e as maiores de 40 têm em geral menos leite do que as da idade inter- média. A secreção vai sendo augmentada na razão di- recta do numero de partos já havidos; assim, uma mulher que tem tido três ou quatro partos, no segundo tem mais leite do que no primeiro, e nesta progressão até ao ulti- mo, guardada, porém, a regra a respeito da idade nas maiores de 40 annos. PARTOS 489 O temperamento infiue da mesma sorte na secreção da glândula mamaria. As lympLaticas têm menos leite do que as de temperamento sanguineo. A alimentação, sem contestação, dispõe para maior quantidade e para a riqueza do leite. Certas substancias, maxime quando são tomadas em abundância conveniente, produzem augmento da secreção e riqueza de princípios nutrientes. Entre nós os preparados do milho, e o feijão são de reconhecida utilidade para a actividade da secre- ção e sua riqueza. Como ha circumstancias e condições que influem para o augmento ou a diminuição da secreção ledosa, ha tam- bém condições e circumstancias que modificão o producto desta secreção, e lhe alterão, não somente as qualidades intimas,mas até sua própria cemposição. São as seguintes: A.— « A saúde da mulher que amamenta é da mais iJta importância, diz o Dr. Caseaux. » A experiência todos os dias nos eus na que as moléstias produzem modificações na composição intima do leite, além da influencia exer- cida na quantidade de sua producção. Por effeito das moléstias a proporção dos sólidos augmenta, emquanto a da água diminue. Os Drs. Becquerel e Vernois acerescentão, que é mais notável este augmento em todas as moléstias chronicas, ainda mesmo que as agudas sejão febris. « Este augmento na proporção dos elementos sólidos do leite constitue uma terrível alteração, porque, por effeito delia, as crianças soffrem freqüentes indigestões e enterites conse- cutivas. » (Bouchut.) Independentemente destas affecções, por effeito da in- gestão do leite alterado por modificações impressas pelas moléstias chronicas que não produzem a destruição da constituição da própria mãi, outras affecções ha que, des- naturando a constituição da mulher, a alteração produzida na composição do leite, além de íransmittir ao recém-nas- cido o germen produetor de todas estas desordens do organismo materno, o tornão impróprio para a nutri- ção, e consequentemente a organisação fraca, como ainda é, do recém-nascido deteriora-se, produz-lhe magreza ex- cessiva, e o faz definhar, acabando afinal por suecumbir. 490 PARTOS No caso da transmissibilidadc estão, por exemplo, a tisica, a syphilis constitucional, todas as moléstias dia- thesicas, virulentas, etc. Qualquer moléstia aguda que ataque a mulher, recen- temente parida, tem como effeito immediato oppôr-se ao crescimento dos seios e á' secreção das glândulas ma- njares; effeito que, na maioria dos casos, dura, não so- mente emquanto subsiste a moléstia, mas até depois de haver cessado; de modo que, ainda mesmo havendo pro- ducção láctea, ella é tão minima e de tão pouca duração que torna a mulher imprópria para o aleitamento. « Uma inflammação, uma irritação viva em um órgão impor- tante, um fluxo considerável, diminuem a secreção ou a fazem desapparerer. As moléstias do seio, ou engurgi- tamentos inflammatorios, os phlegmões e os abscessos glandulares devem principalmente fixar a attencão, não só porque diminuem consideravelmente a secre- ção do órgão doente, mas principalmente porque com- municão ao leite propriedades das mais nocivas. Basta, com effeito, um simples engurgitamento para que os corpos glandulosos fiquem alterados, e o leite se torne viscoso; e se um abscesso vem formar-se, quer no te- cido glandular, quer nos vasos galactophoros, antes mesmo que a exploração do seio tenha feito reconhecer o pús reunido em foco, o microscópio demonstra a sua presença, offerecendo ao exame os glóbulos característicos deste liquido, com seu aspecto pontinhado, sua opaci- dade, e a propriedade de se dissolverem completamente nos alcalis, e resistirem á acção do ether. » (Caseaux.) B.— As affecções moraes, como o susto, a coléra, a sau- dade e os pezares fortes têm influencia immediata como destruidores do equilíbrio normal na composição dos sólidos e liquidos de que é formado o leite; bem como em respeito á sua quantidade. A insomnia das crianças, as colicas e a diarrhéa, ás vezes mesmo as convulsões são conseqüentes a uma cólera violenta da mãi, ou de quem as amamenta. Uma ama, que entrou no hospital Cochin, era muito irascivel e teve violentas discussões com sua vizinha de PARTOS 491 leito. Tendo-se excedido um dia, mais do que o com- mum, o filho no elia seguinte apresentou violentas convul- sões. Ella sahio do hospital, e mezes depois tornou a entrar. Scenas iguaes se renovarão e foião seguidas na criança dos mesmos accidentes. Esta mulher já tinha perdido seus dous primeiros filhos de convulsões. C.—Ikfluekcia das funcções genitaes.— 1.° Menstruação. Ordinariamente durante o aleitamento as mulheres não são menstruadas; algumas, porém, fazem excepção a esta regra. A menstruação nestas só apparece depois do quinto mez, e em algumas somente depois do oitavo ou do décimo. Este estado nem sempre produz alterações que obriguem a mulher a suspender o aleitamento; ou- tras vezes, porém, a criança resente-se das modificações suecedidas na qualidade e quantidade do leite, e se é forçado, durante o tempo que durão as regras, a ajudar com leite de vacca o aleitamento ou mesmo a suspen- dê-lo inteiramente. Os incommodos soffridos pela criança euando o leite é alterado pela menstruação, são: tristeza, enfraqueci- mento, colicas e um certo estado de desanimo indicativo de que ella soffre algum incommodo que se não pôde bem capitular. Se a menstruação se prolongar por mais de três a quatro dias, estes incommodos continuâo, a criança emmagrece e torna-se rachitica ou marasmatica. Em certas mulheres, em quem a menstruação se repete periodicamente como se não estivessem aleitando, a perda menstrual unida á produzida pela lactação, as vai pouco e pouco enfraquecendo ao ponto que, se não suspendem a lactação, apparecem soffrimentos, que por fim acabão por torna-las marasmaticas. Noutras, emquanto dura a menstruação, a lactação cessa ou diminue consideravel- mente, reapparecendo quando as regrai tèm cessado. Em algumas, ao contrario, em quem a lactação tinha desap- parecido, a menstruação tem a propriedade de fazer re- novar-se a secreção da glândula mamaria, de modo que esta funcção apresenta periodicidade igual e especial á menstruação, porque a lactação estabelece-se cm cada 492 PARTOS época menstrual para desapparecer quando as regras tCm cessado. A alteração mais sensível operada no leite é o empo- brecimento deste liquido, por falta de materiaes sólidos em dissolução nelle contidos. Vê-se que este liquido du- rante a menstruação se tona mais soroso. « Certas sub- stancias cuja superabundancia no sangue é necessária á nutrição da criança, ophospbato de cal,por exemplo, são eliminadas em grande parte pelos menstruos e não é talvez desarrazoado estabelecer alguma relação de cau- salidade entre o rachitismo das crianças e a existência regular dos menstruos durante a maior parte do aleita- mento. » (Caseaux.) 2." Prenhe:. Em uma mulher que está criando, o apparecimento de uma nova prenhez inhabilita-a para continuar o aleitamento. A razão da contra-indicação não ó alteração no leite de ordem a torna-lo nocivo á nutri- ção da criança por modificações cstrauhas. Becquerel e Vernois provarão que uma nova gestação, durante a lactação, tem como resultado, maxime nos seus últimos mezes, augmentar a quantidade dos elementos sólidos e diminuir a da água. «Em alguns casos, dizem elles, vêem-se reapparecer os corpos granulosos do colostrum; freqüentemente a abundância da secreção é notavelmente diminuida- As vezes mesmo a fonte sécca. Se alguns exem- plos bem observados provão que a criança não tem soffri- do pelo desenvolvimento de uma nova prenhez, na maioria dos casos não acontece assim: a criança emma- grece, é atacada de colicas e de diarrhéa verde, que exi- gem mudança da ama que a afeita. » Conseguintemente, logo que a criança que está sendo amamentada se apresentar com diarrhéa verde e come- çar a definhar sem causa apparente, deve-se procurar indagar, se a mulher que a amamenta tem signaes de nova s gestação, o que, verificado, a criança lhe deve ser imme- diatamente retirada, encarregando-se outra, em condi- ções de poder fazê-lo, da terminação do aleitamento. E preferível, quando a nova prenhez se tiver decla- rado depois do oitavo mez do aleitamento, e que a criança recusa o seio de outra qualquer mulher, desmama-la, PARTOS 493 ou aleita-la por meio da mamadeira. «Eu observei um exemplo curioso em uma menina de dezoito mezes de idade, muito intelligente e que era aleitada por uma cabra. No dia em que esta foi coberta pelo bode, a me- nina demonstrou tal repugnância pela sua ama, que nã ' mais quiz pegar na teta do animal.» (Joulin.) 3.° « As relações sexuaes parecem-me, por si sós, pouco perigosas, a menos que não sejão renovadas muito freqüentemente ou com muito ardor, porque ellas poderião obrar como toda e qualquer affecção moral um pouco viva. Podem além disto ser a origem de uma prenhez que se deve sobretudo evitar, e é por isso que são prohibidas ás amas mercenárias. Esta prohibi- ção é muito mais difficil em relação ás mais que aleitão seus próprios filhos; porque, se ha constituições que podem soffrer uma privação completa, ha certas exigên- cias conjugaes que é impossível deixar de satisfazer. Em conseqüência, o que ha a fazer, é impor uma grande reserva e prudência. » (Caseaux.) D,--LíFíaJENCIA DE CERTAS SUBSTANCIAS ALIMENTARES OU ME- DICAMENTOSAS.— É corrente que muitas substancias medi- camentosas, e mesmo grande parte das alimentares se misturão ao leite e lhe communicão suas propriedades especiaes. É por este conhecimento que todos os profis- sionaes, quando têm de fazer qualquer applicação medi- camentosa, e que é inconveniente ser a administração feita á própria criança, a fazem ingerir de preferencia pela mulher encarregada de a aleitar. « A therapeutica desde longo tempo se tem aproveitado da particulari- dade que têm certas substancias de communicar ao leite uma parte de suas propriedades. Assim, Haller curava certas colicas das crianças, fazendo á ama tomar os fruetos do anisum pimpinella. Certos purgativos, como o rhuibarbo e a graciola, administrados á mãi, purgão também o filho. O iodureto de potassium, o proto-iodu- reto de mercúrio, tomados pela mãi, curão-naao mesmo tempo que ao filho da syphilis congenitaí ou adquirida. » (Caseaux.) O cheiro, o sabor e mesmo a côr de certas substancias 494 PARTOS passão para o leite, de modo que, quando a mulher faz uso do ab-intho, o leite conserva o amargo especial.a esta substancia. O cheiro do alho é encontrado no leite, assim como depois da ingestão do aça frito, elle adquire a côr pró- pria deste producto. « Um recém-nascido, diz o Dr. Godoy, recusou-se durante três dias a pegar no peito. Emfim, de- cidio-se a mamar, e immediatamente depois vomitou a maior parte do leite ingerido. O mesmo facto se renovou consecutivainente por muitos dias. Durante a noite elle tomava o seio de outra ama, parida havia um mez, e não vomitava. O leite da mãi era muito abundante, porém muito soroso; pelo microscópio notavão-se cor- pusculos granulosos em muita abundância e glóbulos leitosos muito pequenos. O ácido azotico determinou depois de alguns minutos uma coloração rosea lilaz, que conservavão debaixo do microscópio as massas de caseum coagulado. Esta mulher tinha sido submettida durante o parto a inhalações de éther: não é possível que este liquido tão penetrante tenha influenciado a secreção mamaria de modo a produzir a repugnância e as regorgitações observadas na criança ? » (Caseaux.) CAPITULO II. Do aleitamento das crianças. Conforme o que escrevemos a respeito da lactação, nem todas as mulheres têm aptidão para o encargo de aleitar um recém-nascido. Umas, pela pobreza e pouca abundância de seu leite; outras, por fraqueza da consti- tuição; muitas, por moléstias supervenientes, e algumas, para evitar incomniodos e perd i de belleza da fôrma de seus seios, deixão de cumprir esse precioso attributo da maternidade, em observância dos deveres contrahidos com a natureza. Divide-se o aleitamento em cinco espécies ou modos, segundo a origem e a maneira de fornecer leite ao recém- nascido. Ia espécie. Aleitamento materno, quando é a própria PARTOS 495 mãi, cuja secreção leitosa é abundante e rica de prin- cípios nutrientes, a encarregada de amamentar o recém- nascido. 2a espécie. Aleitamento mixto, quando a mãi, não po- dendo por si só prover ás necessidades da alimentação, soccorre-se por meios alimentícios, leite ou outro qual- quer, para ajudar o aleitamento. 3a espécie. Aleitamento pelas amas, quando a falta de secreção ou de robustez sufficientes, moléstias ou a vai- dade impedem a mãi de amamentar o ente a quem deu o sêr e o confia a mãos mercenárias. 4a espécie. Aleitamento por meio de vaccas, cabras ou ovelhas, quando actuando alguma das circumstancias supra- mencionadas, ou sobrevindo alguma especial, o aleita- mento ó feito por algum dos animaes acima referidos. 5a espécie. Aleitamento artificial, quando por qualquer circumstancia particular, o aleitamento é feito com leite administrado em mamadeíras, ou por outro qualquer meio apropriado. ARTIGO 1.° Aleitamento materno. Quando nenhuma moléstia inflammatoria, febri1, dia- thesica ou virulenta tem atacado a mulher enfraquecen- do-lhe a constituição; q aando nenhuma doença heredi- tária, cujo germen possa ser transmittido por herança ao recém-nascido, é reconhecida nella; quando os cônjuges não têm parentesco próximo, como infelizmente é ainda costume inveterado em certas familias, em satisfação de mal entendidas conveniências, o quo desnatura as raças, trazendo ao producto desses consórcios vicios congenitae-, como sejão defeitos physicos e intellectuaes, o leste da própria mãi é o mais conveniente para o aleitamento do recém-nascido. As condições indispensáveis requeridas como habili- tações em uma mulher estranha para encarrega-la de 496 PARTOS amamentar um recém-nascido, como sejão: a fôrma dos seios e seu maior desenvolvimento, a robustez e a qua- lidade mais especial do leite, deixão de ser imprescin- díveis para a própria mãi, quando é ella a encarregada de aleita-lo. As excepções desta regra são as de que demos noticia em começo deste artigo, maxime nos casos de moléstias hereditárias, como a tisica, por exemplo, e nos casos de próximo parentesco. Como uma vez dissemos em uma these do concurso na Academia de Medicina da Bahia: « é anti-social e humani- tário o casamento entre consanguineos, ainda mesmo de remoto parentesco. » O meio único de reparar, ou pelo menos modificar os funestos effeitos destas allianças in- convenientes e anti-sociaes, é o aleitamento do recém- nascido por mulher estranha ou mercenária, devendo a mãi abster-se arsolutamejíte, ainda mesmo em caso de carência de meios, de aleitar o producto deste desvio na hygiene da procreação. Nos casos em que a mulher tem condições que a tornem apta para satisfazer este voto da natureza, nada a dispensa de cumprir a sagrada incumbência que lhe foi distribuída na propagação da espécie, apezar da possibilidade do apparecimento de fendas dos bicos dos peitos, dos engurgitamentos e dos abscessos do seio. Só se pôde tolerar na mãi o não cumprimento deste dever sagrado, quando a execução delle puder accarretar perigo de transmissão de moléstias incuráveis, e des- barato das qualidades physicas e intellectuaes do recém- nascido, por effeito da viciação da espécie, como con- seqüência quasi sempre inevitável do casamento emre consanguineos. Quando a mulher para satisfazer o compromisso que contrahio com a natureza, pretende, por si proprii, < aleitar o filho a quem deu a existência, os phenomenos por nós descriptos no artigo Lactação servem para resolver as consultas que por essa occasião são ende- reçadas ao medico assistente. Acontece, porém, que, contra as bom fundadas pre- PARTOS 497 visões fornecidas pelo estado do seio, na época do nas- cimento da criança, nas primeiras semanas o leite falta; ou, sendo abundante, é pobre de princípios nutrientes; ou, finalmente, superabunda, e é rico de qualidades ali- mentícias, mas a mulher não deve da-lo a seu filho. Nos casos de abundância, mas quando lhe faltão os princípios nutrientes, a opinião do facultativo desagrada, e é desprezada. Se elle, po rém, se houve no exame a que procedeu com critério e sem prevenções, o estado do emmagrecimento da criança e a diminuição da secreção vêm dar razão a seu juízo e robustecer cada vez mais o conceito em que deve ser tido. De ordinário estes phenomenos pronuncião-se com vehemencia depois do segundo mez do aleitamento. Se, apezar da prohibição do facultativo, a mulher que não tem condições de robustez sufficiente para o aleitamento, embora o leite seja rico e abundante, insiste em amamentar, sua saúde começa a alterar-se, e esta alteração communica-se em breve espaço ao recém-nas- cido, obrigando-a a suspender o aleitamento; o que feito muito tarde, pôde oceasionar conseqüências bem fu- nestas. Ha uma classe de mulheres, em quem a vida des- regrada inhibe encarregar-se do aleitamento do seu pró- prio filho. São as mulheres publicas. A vida a que se destinâo lhes accarreta tantas vicissitudes, que seria uma aberração pretender que a seu respeito destinou a natureza o attributo mais sagrado da maternidade. Ou hão de prescindir da vida que abraçarão, e então, sa- grando-as, o sacrifício as torna dignas desse ineflavel dom da natureza, ou, continuando-a, o lucro sórdido do com- mercio immundo a que se entregão as impossibilita da incumbência; bem como as moléstias que, contrahindo, podem communicar ao innocente frueto do seu desre- gramento, e as contrariedades que experimentão, podendo produzir desastrosos effeitos na criança, devem-as fazer abraçar o duro alvitre de confiar o recém-nascido a mãos estranhas, mais dignas, desde então, do encargo de as substituir. d. h. ir. 32 498 PARTOS § L° Precauções que a mniher deve tomar quando quer aleit.tr. A conformação do bico do peito obriga a mulher a trabalhos preparatori s com o fim de o tornar apto para o aleitamento. Em umas esta parte é lisa e sem saliência alguma; outras ainda o têm em peiores con- dições, porque em vez da saliência que devia formar o bico do peito naturalmente ha uma excavação, ou elle se afunda como na cicatriz umbilical; muitas, fi- nalmente, tendo o bico do peito nas condições de poder prestar-se ao aleitamento, mesmo antes da gestação, ou durante ella, os seios são extraordinariamente sensíveis, rachão e ficão affectados de fendas dolorosissimas nas épocas de frio. Tratamento. Vários tèm sido os meios propostos com o fim de corrigir as insuficiências dos bicos dos peitos, e torná-los aptos para o aleitamento; os melhores são: a titu- lação repetida nos dous primeiros mezes da concepção, e a applicação de apparelhos especiaes, como sejão: chapas de madeira, ou de marfim com a fôrma da extremidade do seio, com uma abertura de tamanho conveniente no centro por onde elle deve proeminar, ajudando, em caso de necessidade, a sahida do bico do peito por meio de uma bomba aspirante, se a chapa simples não preencher a indicação. Todos elles, porém, além de raramente satisfazerem o fim que se tem em mira, produzem escoriações da pelle da extremidade do seio, quando não inflammações mais ou menos graves. O meio único eficaz e sem con- seqüências desastrosas é a sucção repetida e continuada. sem interrupção, por tempo sufficiente ou quanto chegue para que o resultado procurado seja obtido, praticada pelo marido, ou por algum cão recém-nascido, cujas patas devem ser envolvidas em pannos para que com as unhas não produza arranhaduras na pelle das cir- cumvizinhanças do bico do peito. PARTOS 499 Para a sensibilidade exagerada deve-se empregar, por mezes, antes do nascimento da criança, banhos repeti- dos de água alcoolisada, ou de solução fraca de tintura de arnica, ou de cozimento de flores de camomilla, quando a doente estiver fazendo uso de algum destes medicamentos internamente. Havendo fendas ou rachaduras, os medicamentos se- guintes devem ser administrados, antes, como depois do nascimento da criança. Nesta época, isto é, depois do nascimento, o seio onde ellas existem não deve ser apresentado á criança para mamar, porque, além da dôr pela sucção adquirir excessiva intensidade, se houver suppuração mais ou menos abundante, o pús se misturará ao leite ingerido pelo recém-nascido, produzindo incom- modos que podem tomar um caracter pernicioso. O uso de um pouco de cerôto simples deve ser constantemente renovado logo depois de cada banho. Este cerôto será, de preferencia, preparado com espermacete, e recentemente, para evitar irritações, causadas pelo começo de alteração que se pôde estabelecer no pre- parado. Os medicamentos devem ser aconselhados, ainda mesmo quando em vez das fendas, existão simples exco- riações dos bicos dos peitos. Os melhores são: Am., cale, cham., graph., ign., millef., puls. e sulf. Chamomilla, se os bicos dos peitos estiverem inflam- mados ou mesmo ulcerados; se a doente não tiver abu- sado deste medicamento, circumstancia em que os que devem ser preferidos, são : Ign. ou puls., ou mesmo: Merc e sil, ou graph. e sulf. Arnica, pôde ser empregada interna e externamente em banhos, em vez da água alcoolisada, sendo nesta occasião preparado o cerôto de espermacete com tin- tura mater desta substancia para uso constante, e cura- tivo das fendas, em lugar do cerôto de espermacete simples. Este medicamento deve ser empregado antes de outro qualquer, se os esforços de titillação, o o emprego dos apparelhos que em começo reprovamos, tiverem pro- 500 PARTOS duzido as lesões, e que por ellas se tenha desenvolvido alguma inflammação. Tendo-se já effectuado o parto, e que estes incom- modos apparcção depois delle se ter realisado, acom- panhados da inflammação dos seios, os medicamentos preferíveis devem ser os seguintes, guardadas as indica- ções especiaes a cada um, e administrados com insis- tência por tanto tempo quanto baste para sua acção se pronunciar. Medico. Quando a arn., nas condições mencionadas, não tiver produzido o effeito desejado, póde-se recorrer a sulf ou a cale Além destes medicamentos, podem ainda ser empre- gados os seguintes: Caust., lyc, merc, nux-v., sep. o sil Nos casos, porém, em que, por effeito da lactação, houver inflammação dos seios, os medicamentos são: Bell, bryo., carb.-an., hep., merc, phosph., sil. e sulf. Belladona, principalmente se os seios estiverem in- chados e duros, com dores lancinantes ou despedaçadoras, e rubor erysipelatoso, o qual parte de um ponto cen- tral e se espalha com a fôrma de raios. (Ordinaria- mente convém que este medicamento seja alternado com bryo.) Bryonia, quando os seios estiverem duros, rijos e engurgitados de leite, com dores tensivas ou lancinan- tes no tumor e calor ardente exteriormente, principal- mente se estes incommodos vierem acompanhados de movimento febril, com calor, e superexcitação do sys- tema vascular. ( Se bryo. não fôr sufficiente é bell a que se deve recorrer.) Hepar, se apezar da administração de bell, bryo. e merc, começa a estabelecer-se suppuração. Mercurius, quando nem bryo. nem bell. forão suf- ficientes contra a inflammação erysipelatosa, e quando depois da administração de qualquer delles ficão sempre partes duras e dolorosas no seio. Phosphorus, quando hep. não pôde prevenir a sup- PARTOS 501 puração, ou quando já existe ulceração completa dos seios, e mesmo ulceras fistulosas com bordos duros e callo- sos, resultado da ulceração, ou se a estes incommodos se juntarem suores ou dia; rhéas coUiquativas, com tosse suspeita, calor febril á noite, rubor circumscripto dos pomos e outros symptomas indicativos do estabeleci- mento de uma febre hectica. Silicia, se phosph. não produzir effeito contra a sup- puração dos seios, maxime se houver ulceras fistulo- sas, e os symptomas indicativos da febre hectica. §1-° Preceitos que deve seguir a mulher durante o aleitamento. Suppondo que a mulher tem condições de aptidão para aleitar seu filho, ha regras especiaes, das quaes ella não pôde prescindir, para evitar embaraços e desordens tanto em sua saúde como na do recém-nascido. Como o Dr. Caseaux, dividimos o aleitamento em três períodos: 1°, desde a época do parto até passar a febre do leite; 2o, desde este termo até que a criança tenha seis mezes de idade; 3", dahi até ser desmamada. Io período. Este periodo que começa na época do nascimento e termina depois de acabada a febre do leite, é o periodo preparatório do aleitamento. A mãi e o filho vão-se habilitando gradualmente para o com- plemento da funcção. A mãi, em quem o liquido segregado pelas glândulas mamares não tem ainda as condições alimentícias que adquire com a febre do leite, necessita, logo depois de alliviada do ' cansaço, effeito do trabalho do parto, dar o seio á criança, afim de extrahindo parte do liquido que nelle está contento, predispô-lo para o menor engurgitamento e para que a febre do leite tenha menos intensidade; o que não tendo sido feito, o liquido se- gregado vai-se amontoando, promovendo engurgita- mentos e tumores, e como sua rigorosa conseqüência 502 PARTOS excesso de intensidade na febre, que se desenvolve para a perfectibilidade da secreção. Passadas 3 a 8 horas, depois do parto, a mulher deve lavar com água morna os bicos dos peitos, para tirar algumas concrecções de matéria sebacea que cos- tuma amontoar-so no fundo dos sulcos onde se abrem os conductos lactiferos, e deitada de lado apresentar o seio ao recém-nascido. É conveniente, além das razões de interesse próprio da mulher, que a criança seja desde logo alimentada com o colostrum, de preferencia ao leite perfeitamente preparado: Io, porque os órgãos digestivos não tôm ainda força sufficiente para a digestão do leite com seus princípios constituentes; 2o, porque o colostrum, con- tendo elementos purgativos, dispensa providencialmente o uso dos purgantes para a expulsão do meconio, os quaes têm de ordinário como effeito irritar o tubo in- testinal do recém-nascido, pela excessiva susceptibilidade de que é dotado. Este procedimento tem ainda a conveniência de ir pouco a pouco accommodando a fôrma do bico do peito á indispensável para as necessidades do aleitamento, e bem assim activar cada ve/, mais a secreção leitosa conveniente; além de ir, como dissemos em principio, activando a retirada das proporções do liquido segregado, impedindo a sua accumulação, e oppôr obstáculos á excessiva intensidade da febre do leite subsequente. É indispensável da parte da mulher toda a cautela possível na occasião de ministrar o seio ao recém- nascido, para evitar que seja por elle suffocado. A falta de attencão desta circumstancia pôde trazer como conseqüência a asphyxia da criança; porque, estando a boca completamente occupada pelo bico do peito, se o nariz ficar coberto pela parte do seio, que então se põe com elle em relação immediata, a respiração não se pôde effectuar e a morte por asphyxia é a con- seqüência inevitável. Á proporção que a extracção do liquido segregado neste periodo se vai effectuando, os glóbulos leitosos vão-se desenvolvendo e adquirindo sua fôrma especial; o colostrum cede o seu lugar ao PARTOS 503 verdadeiro leite, rico de princípios nutrientes, para sub- stituir a incompleta alimentação que até então tinha sido fornecida ao recém-nascido. Quando o trabalho do parto se tem alongado dema- siadamente, não convém que a mulher apresente o peito,, logo em seguida, ao recém-nascido. Só depois de 12 ou 24 horas, ou não tendo havido complicações, depois de 3 a 6, é que pôde dar começo ao aleitamento. Nos casos de simples alongamento do trabalho, mas quando a mulher carece de repouso, o cumprimento desta missão pôde e deve ser demorado por mais algumas horas. Nos primeiros dias do aleitamento a mulher deve procurar dirigir o encaminhar os esforços da criança, e introduzir-lhe na boca o bico do peito, com o fim de facilitar a apprehensão que, instinctivamente ás cegas, ella procura effectuar. Se a mãi conhecer que em vez do bico do peito estar, como deve ser, na concavidade formada pela fa e superior da lingua, está, pelo contrario, sobre o pavimento inferior da cavidade bocal, por debaixo da ponta desse órgão, deve retira-lo e procurar repô-lo convenientemente. Sa a quantidade do leite fôr tal que as simples sucções effectuadas pela criança não tenhão força suffi- ciente para evacua-lo, e se por esta causa o engur- gitamento vier a produzir incommodos e dores exces- sivas, ó indispensável extrahir com uma bomba-ventosa alguma porção do leite amontoado. Esta extracção não só faz desapparecer os incommodos que se ião desen- volvendo, como restitue ao bico do peito, deformado pelo engurgitamento, a fôrma que convém para accom- modar-se á funcção do aleitamento. O filho, cuja nutrição era providenciada por intermédio da placenta, com materiaes perfeitamente preparados, durante a vida intra-uterina, pelo facto do nascimento é privado deste meio de subsist r. O aleitamento vem supprir a falta que a rotura de relações è dependências com a mulher tinha effectuado pela separação do cordão umbilical. Logo que a respiração se estabelece, a criança tem necessidade de alimentação apropriada ás condições de 504 PARTOS seu órgão digestivo. Além disto necessita acostumar-se á nova funcção que lhe é reclamada para sua nuti ição. A alimentação deve ser ministrada immediatamente depois do nascimento, ou pôde ser demorada por algumas horasf Alguns observadores entendem que, immediatamente depois do nascimento, a criança tem carência de ali- mentação apropriada ás suas forças, e mesmo da ingestão de liquidos innocentes, para halituar o tubo digestivo a alimentação mais nutriente, quando as necessidades da nutrição o reclamarem. Independentemente do uso do colostrum, como meio nutritivo apropriado ás forças da criança, durante o repouso indispensável para a repa- ração das forças da mulher, convcm o uso de colhéres pequenas de água morna com assucar, não só como pre- paratório de alimentação mais nutriente, como meio de lavagem da boca e da garganta para desembaraça-las das mucosidades que as obstruem. Sc a fadiga, pelo alongamento do trabalho do parto, impossibilitar a mulher de, logo depois de accommodada no leito em que tem de permanecer, ministrar o colostrum á criança, o que esta demora seja superior a 8 horas, póde-se, de 2 em 2, ou de 3 em 3 horas alimentar o recém-nascido com colhéres de água morna com assu- car, á qual se deve addieionar a quarta parte de leite extrahido da vacca. Outros pensão que não deve o alimento ter começo senão passadas as 24 ou 48 primeiras horas depois do parto, ou mesmo só depois da febre do leite. Este arbítrio teria o inconveniente de obrigar o órgão digestivo da criança a um trabalho funccional, para o qual não está ainda preparado; e á applicação de purgativos pharma- ceuticos que, por menos enérgicos que pareção ser, têm forçosamente de produzir excitações intempestivas, que trarão para o futuro desbaratos nas funcções regulares do apparelho digestivo. Circumstancias ha, porém, que podem difficultar ou emba;açar completamente o aleitamento, e são: a pe- quenez do freio da lingua, tumores sub-linguaes, a hemi- plegia facial (paralysia de um lado do rosto), e o beiço PARTOS 505 de lebre, principalmente se fôr duplo (beiço rachado), e se estender á abobada palatina e ao véo do paladar. l.« A pequenez do freio da lingua difficulta o aleita- mento da criança, impedindo-a de produzir o concavo da parte supermr do órgão, indispensável para ser nelle accommodado o bico do peito, na proporção conveniente. Esta accommodação é uma condição da qual a criança não pôde prescindir, para que as sucções sejão perfeitas e o escoamento do leite so faça com facilidade. Os mo- vimentos da lingua, e a projecção para diante com o fim de apanhar o bico do peito, são igualmente difi- cultados sendo o freio muito curto. Não ha quem ignore que a pequenez do freio da lin- gua traz inconvenientes á perfectibilidade de expressão, quando a criança quer fallar. Estes embaraços são re- movidos facilmente, cortando-se a porção do freio, causa de todas estas dificuldades. « O freio da lingua é algumas vezes, mas não tanto quanto parecem pensar alguns parteiros que o cortão sempre na maioria dos recém-nascidos, muito longo de diante para trás, ao mesmo tempo que é muito curto de baixo para cima. A ponta da lingua, presa contra a parede inferior da boca, fica, nos diversos movimentos, atrás do rebordo alveolar, e com dificuldade se estende por entre os lábios. Quando a criança chora com força vê-se que a lingua está presa em baixo e adiante por um tabique transparente, que a impede de subir e de di- rigir-se para diante. « A operação que se deve então praticar, é das mais simples. Mantem-se a cabeça da criança ligeiramente virada para trás; um ajudante aperta-lhe o nariz para a forçar a abrir a boca. Serve-se da sonda esfriada. Introduz-se o filete no rego da placa desta sonda, e depois, levantando com força a lingua, o cirurgião, cem uma tesoura rombuda na mão direita, corta o freio de um só golpe, tendo o cuidado de dirigir a ponta do instru- mento para baixo, e o mais longe possível da lingua. « Os accidentes que podem sobrevir são: Io, o revira- mento da lingua para o pharynge, observado três vezes por J. L. Petit, e que suffocaria a criança, se não se 506 PARTOS tivesse immediatamente com o dedo trazido o órgão á sua posição normal; 2o, a hemorrhagia, quando têm sido offendidas as veias raninas. Convém reconhecer a hemor- rhagia o reprimi-la, porque os inconvenientes de sucção ou de deglutição contínuos entretêm o escoamento do sangue. Faz-se cessar a hemorrhagia, ou introduzindo um cáustico liquido no fundo da chaga, ou tocando o vaso lesado com um estylete aquecido a branco, ou, final- mente, com a atadura de J. L. Petit. Esta atadura ó uma forquilha de páo, do comprimento de 3 centímetros, guar- necida de panno, a qual toma seu ponto de apoio contra a face interna da symphyse maxillar, e abraça do outro lado o vértice da chaga. Ella é mantida por uma pe- quena atadura passada através da boca, e depois cru- zada por debaixo da maxilla, indo por cima das orelhas prender-se á touca da criança. » (Caseaux.) 2.» Os tumores sub-linguaes devem ser extrahidos ou incisados o mais breve possivel, para evitar que, ao desenvolver-se, não embaracem completamente a nutrição da criança. 3.° A hemiplegia facial, é na universalidade dos casos effeito da compressão que o forceps exerce nos partos que reclamão o emprego deste instrumento. Ella, portanto, cessa pouco tempo depois do nasci- mento. .Não ha carência do emprego de meios enérgicos para o seu curativo; apenas, quando se prolonga, o seu tratamento deve constar do uso de fricções sêccas, com escovas ou com as próprias mãos, e do repouso da criança. 4.° O beiço de lebre impossibilita completamente o aleitamento. O bico do peito tem tendência irresistivel para escapar-se a cada passo pelas fendas da abobada pa- latina. Os meios para remediar este vicio de confor- mação são os aconselhados no corpo da obra, no artigo em que tratamos delle especialmente. Quando a criança, por fraqueza congenitaí ou por preguiça não quer mamar, a mãi deve introduzir-lhe o bico do peito na boca e com elle friccionar a face superior da lingua, da ponta até a garganta, com o PARTOS 507 fim de provocar a acção do órgão ;e espremer algumas gottas de leite na boca, até produzir a excitação. Nas primiparas, em quem a falta de habito, as dores produzidas por esta operação e a falta de conformação do bico não se podem prestar facilmente á execução deste processo, deve-se, de espaço a espaço, espremer um pouco de algodão ensopado em água morna, na base do bico do peito, para que a água escorra por entre os lábios da criança. Quando o recém-nascido, apezar de todas estas ten- tativas não mama, nem chora, mas adormece, e o somno prolonga-se por algumas horas; quando despertando a criança não pôde mais mamar, pelo estado de pros- tração em que se acha, deve-se-lhe tirar immedia- tamente toda a roupa, friecionar-lhe fortemente todo o corpo com flanella sêcca e aquecida em brazas ou ein- bebida em álcool, ao qual convém addicionar algumas gottas de espirito de camphora, approxima-la do calor do fogo em labaredas, e dar-lhe ás colhéres leite de al- guma ama nas condições de poder fornece-lo em abundância c rico de qualidades nutrientes, a qual deve por alguns dias continuar o aleitamento, até que, quando mais forte, possa ser entregue á própria mãi. E indis- pensável fazer o recém-nascido mamar de 2 em 2 horas; e ainda mesmo depois de salvo, se o somno se prolongar, a mãi deve acorda-lo, para que a falta de alimentação não vá além de 3 horas. Se a criança depois de livre de perigo, se fatiga quando mama, e adormece, deve-se desperta-la fustigando leve- mente as faces as nádegas e os pés: outrosim, convém • examinar se realmente ella engole o leite; em caso contrario a mãi deve intr duzir-lhe o dedo na boca e fazer-lhe fricções na lingua para que a deglutição se effectue. Desde os primeiros dias do aleitamento é conveniente, em beneficio da mãi e do filho, que a amamentação seja feita em horas regulares. O espaço de uma a outra ministração do peito deve ser de 2 em 2 horas; os longos espaços produzem o enfraquecimento da criança por falta de alimentação sufficiente, enfraquecimento 508 PARTOS que igualmente se realisa quando a cadapa-so a mãi offerece o peito para ella mamar. Além dos vicios que com este procedimento os recém-nascidos adquirem, o leite ingerido em excesso fatiga o estômago, produz azías, indigestões e todas as demais conseqüências, effeito do embaraço gástrico. As crianças muito fracas ou nascidas antes de termo devem mamar mais freqüentemente. Quando a quantidade do leite ingerido pela criança é sufficiente para sua alimentação, e novas quantidades são ingeridas sem que a digestão do primeiro leite se tenha effectuado, ella as vomita. O meio de corrigir a disposição ás indigestões é suspender immediatamente a administração de novas cópias de leite, renovando-a em tempo competente. 2o periodo. Este periodo começa depois de passada a febre do leite e dura até 6 mezes além do nascimento. E neste tempo que se faz o verdadeiro leite; é elle que serve para as necessidades da nutrição e consequen- temente para o regular desenvolvimento dos órgãos da criança. O leite nesta época, por effeito da febre que se des- envolveu, adquire todas as qualidades que o caracterisão. O colostrum desapparece para dar lugar ao leite perfei- tamente preparado: os órgãos digestivos da criança pouco a pouco habituados á nova funcção que lhes cumpre executar, supportão e aproprião-se dos materiaes que entrão na composição do liquido leitoso: os seios da mulher, que se havião engurgitado pela presença da matéria segregada em cópia superabundante, vão, por ' força do habito, e principalmente pela maior facili- dade de escoamento do liquido, produzido pela retirada da matéria sebacea obstruente das aberturas dos conductos galactophoros, gradualmente accommodando-se á funcção que lhes é distribuída. Ha regras indispensáveis para o aleitamento, preven- tivas de vicios na educação infantil e de desharmonia no jogo regular dos apparelbos da mulher. Ha crianças que, por circumstancias desconhecidas e sem causa apreciável chorão constantemente, e nada as satisfaz. « A criança chora como nós falíamos » , diz o Dr. Caseaux. Nem PARTOS 509 sempre ó a fome que provoca o choro; quando este é indicativo da necessidade de alimento ou effeito da»fome, é acompanhado de movimentos insólitos dos braços; a criança volta a cabeça para um e outro lado, com a boca aberta, procurando o seio por toda a parte, e fazendo sucções nos dedos que lhe são apresentados, ou an qual- quer corpo arredondado. Nas primeiras semanas o bico do peito, antes de ser introduzido na boca da criança, deve ser humedecido com saliva ou com um pouco de leite extrahido do próprio seio. A mãi deve p;;ra este effeito prender o peito entre os dedos, na altura da areola do bico, e espremê-lo até que a criança obtenha, pelas sucções e por este meio, estabelecer um jorro fácil e contínuo de leite. È necessário acostuma-la a mamar com regularidade e methodo, tirando-lhe e repondo o bico do peito se mamar com soff; eguidão; este procedimento tem por fim não só evitar que a criança adquira o vicio da gulodice, como precavê-la contra a asphyxia que pôde ser determinada, quando o leite corre em muita abun- dância, sem interrupção e sem o tempo indispensável para transpor o isthmo da garganta. Carece não dar de mamar a cada passo e sem ordem, para evitar sobrecargas do estômago, que terião como resultado desarranjos da digestão, o definhamento da criança, diarrhéas e a morte. O recém-nascido, nos casos or- dinários, deve mamar com intervallos de duas ou de três horas durante o dia, sendo estes á noite de quatro a seis horas, de modo que nas primeiras semanas só mame três a quatro vezes por noite. Do fim do primeiro mez em diante a criança só deve mamar á noite duas vezes. Quando a criança, mamando, adormecer, e a mãi reconhecer que a quantidade do leite ingerido foi insuf- ficiente, deve desperta-la e procurar obrigada a fazer as sucções: se o somno, porém, como ó commum,. fôr produzido por satisfação da fome, a mulher devo pô-la na cama para acostuma-la a dormir no leito, o quo evita adquirir o vicio de só dormir ao collo, privando a mãi de se dedicar a outras occupações. Não se pôde determinar com precisão mathematica 510 PARTOS a quantidade de leite que de cada vez deve mamar a criança, e nem o tempo que,deve conservar o peito na boca; isto depende: Io, do estado constitucional da criança; 2o, da quantidade de leite que se escoa, e da facilidade de sua extracção dos seios da mulher, assim como do estado de satisfação da criança. Esta ultima circumstancia é o melhor regulador para a re- solução deste problema, porque, de ordinário, tendo sido satisfeita a fome, o recém-nascido sem admoestações de qualquer espécie, larga o bico do peito e adormece. Para não fatigar a mulher, depois de passados os dous primeiros mezes do aleitamento, póde-se supprir alguma das vezes de mamar, com leite de vacca mis- turado com água. E conveniente acostumar a criança a mamar com igualdade em ambos os peitos; isto evita o maior des- envolvimento de um, conservando o outro as propor- ções anteriores, e o que é mais, que a secreção só se faça para o que recebe a excitação. Quando a criança se quizer habituar a só mamar em um peito, e recusar o que lhe fôr offerecido, é indispensável apresentar-lhe o recusado em primeiro lugar, todas as vezes que ella procurar o seio, e força-la mesmo a mamar, dando-lhe o da predilecção em segundo lugar. 3» periodo. Este periodo começa ao sexto mez de- pois do nascimento, na época em que convém ir pre- parando a criança para poder ser desmamada em tempo competente. Além do aleitamento, do sexto mez em diante a ali- mentação da criança deve constar de papas e sopas. A maioria das mulheres no Brasil começão este periodo no terceiro ou quarto mez, algumas mesmo ao oitavo dia depois do nascimento, sob pretexto de fraqueza de alimentação pelo leite somente, quando a criança é na phrase popular chorona. Conhecemos uma ama, aliás ex- cellente e demasiado carinhosa, que entendia que o choro da criança, era sempre indicativo de fome por fraqueza de leite, qualquer que fosse a riqueza que elle possuísse. Dizia ella: « Todos os meninos não têm natureza igual; uns contentão-se com o leite só, outros PARTOS 511 carecem de comer ao vigésimo dia, quando muito »; e lhes ministrava aos quinze dias papas feitas com bolacha reduzida a pó, ou com miolo de pão molhado em leite. Temos 'visto dar a crianças no segundo e terceiro mez, pirão feito com farinha de mandioca no caldo da carne, addicionado de cópia de quiabos cozidos. Na província de S. Paulo, ao primeiro mez, as crianças tornão caldo de feijão, muitas vezes engrossado com farinha de milho!! Os filhos das pretas Africanas, na Bahia, além da al.- mentação pelo pirão com quiabos, do terceiro mez em diante e algumas vezes mesmo antes, passado o sexto mez, são alimentados com carurú de quiabos, do mesmo de que se alimenta a própria mãi (fica subentendido, bem apimentado); apezar desta alimentação estulta, é incontestável que os pequenos entes são sadios, nedios, fortes e lisos como setim. Será effeito do habito, ou da constituição? Seja qual fôr a razão, a prudência e a boa hygiene da infância aconselhão que, aparte a exageração nas precauções, a alimentação deve ir sendo modelada pelo desenvolvi- mento e força dos órgãos digestivos. Alimentos de difficil digestão para órgãos ainda não dotados da força assimi- ladora sufficiente, produzem, em vez da perfeita assimi- lação, inflammações chronicas no tubo digestivo, carac- terisadas por enterites e diarrhéas, que determinão o emmagrecimento e a morte por marasmo. Esta regra tem excepções, conforme o estado de força ou de fraqueza congenitaí da criança, a riqueza e abun- dância, ou pobreza do leite; o qual, quando rico e abun- dante, é sufficiente para os gastos da alimentação de uma criança, maxime se ella fôr fraca e delicada; a forte e robusta carece, porém, de alimentação mais variada. As pap s de leite, depois de um a dous mezes de uso, podem ser substituídas sem perigo pelas feitas no caldo da carne. É prudente, mesmo depois de desmamada a criança, não a deixar comer claras de ovo cozidas; as gemmas podem ser sem risco administradas. 512 PARTOS ARTIGO 2.° Em que épOca a criança deve ser desmamada. Parece á primeira vista indifferente a época de des- mamar a criança. Os incommodos provenientes da den- tição obrigão a demorar, em grande numero de casos, esta época até a completa ev lução dentaria. A sahida dos dentes não é sempre um simples acto physiologico; em grande numero de crianças, affecções pathologicas se desenvolvem, adquirem gravidado e obrigão a mi- nistrar-se-lhes uma alimentação de fácil digestão e que dispense a mastigação. A nutrição composta de alimentos sólidos para ter effectividade, e fazer-se naturalmente a digestão, carece que as cópias de matéria nutritiva ingerida, vão bem misturadas com saliva, e perfeitamente mastigadas, o que evita esforços excessivos e ás vezes sem resultado, da parte do órgão digestivo, para que a pasta chymosa fique completa, e sendo assimilada, possa sobrepujar os gastos e perdas da economia e sobrar para o desenvol- vimento dos apparelho3 e conseqüente crescimento da criança. Quando esta é desmamada antes da sahida, pelo menos, de oito dentes, 03 alimentos não chegando ao estômago dilacerados e bem envolvidos em saliva, a di- gestão torna-se difficil e produzem-se embaraços gástricos, enterites e diarrhéas, acompanhadas de epiphenomenos da natureza das convulsões, e outros. Occasiões ha, porém, em que convém não adiar a época de desmamar a criança, em proveito da mãi e do filho. Da mãi, porque o aleitamento muito long mente con- tinuado tem o inconveniente de enfraquecê-la, produzir- lhe lesões da nutrição e tornada apta para a recepção de influencias morbigenas diversas; do filho, porque muitas vezes com a demora, o leite já alterado em suas qualidades especiaes tem perdido a riqueza que o tornava PARTOS 513 competente para a nutrição do rccem-nascido. É facto ob- servado que muitas crianças, cujo aleitamento vai além de 16 mezes, tornão-se pallidas, com cedema das faces, fraqueza geral, carnes m lies e flaccidas, o semblante doen- tio, no entretanto logo que cessa o aleitamento, e que sua alimentação consta de substancias mais succulentas, re- tomâo o estado de saúde que havião perdido pelo excesso do aleitamento. E conveniente na idade de 6 a 7 mezes ir habituando a criança a um regimen variado, para o fim de facilitar a alimentação da época de ser desmamada. Termo médio, a criança de constituição forte, e de saúde florescente pôde ser desmamada dos 12 a 16 mezes. A conservação do aleitamento até esta data tem a vantagem incontes- tável de facilitar a alimentação da criança na época da dentição, maxime se a sahida dos dentes trouxer incom- modos que difficultem a alimentação mais solida, não só pelas dores que produz a mastigação, como porque o leite é o único alimento que a criança aceita com facilidade. Nos casos, porém, de dentição tardia, a prudência e bom conselho mandão demorar, mesmo por mais algum tempo, a época de desmamar, administrando-se á criança somente o seio duas a três vezes nas 24 horas. « Fixar absolutamente a época de desmamar a criança, diz o Dr. Trousseau, é absurdo, e eis porque: Esta época deve sempre ser subordinada á dentição. Com ef- feito, a idade da primeira dentição, desde que apparecem os primeiros incisivos até a sahida dos últimos molarea (queixaes), é um tempo perigoso para a criança. EU i é su- jeita a uma serie de accidentes da parte do peito, da ca- beça, e principalmente do ventre. « Como as perturbações da digestão se manifestão mais ordinariamente, importa ter uma alimentação que nutra a criança, mas que não possa aggravar o seu estado, nem oceasionar outra moléstia. A dentição dura, porém, trcs annos; será preciso continuar o aleitamento até então, e obrigar uma mulher débil a aleitar por tanto tempo? Não, absolutamente. E eis aqui as regras que nos vão guiar, e que são fáceis de observar. « A dentição faz-se por grupos. De que maneira sahem D. H. II. 33 514 PARTOS os dentes? A sahida faz-se por series: na primeira ap- parecem os dous incisivos inferiores medianos ; na segun- da os quatro incisivos superiores; na terceira os quatro primeiros molares, e os dous incisivos inferiores lateraes ordinariamente depois: na quarta os quatro caninos [as- prêsas); e emfim, na quinta, os quatro últimos molares. São os dentes que têm de cahir ou ser mudados. « Do que modo os grupos sahem ? « 1.° grupo. Os primeiros incisivos sahem com intervallo de um a quinze dias, ordinariamente porém no mesmo dia; e quando estes dous primeiros não sahem em dous ou três dias, a dentição é irregular. Depois deste tra- balho a criança descansa de três a seis mezes; e é oc- casião azada para as applicações therapeuticas. Os dous primeiros dentes sahem ordinariamente do septimo ao oitavo mez; a criança tem depois seis semanas de des- canso. « 2.° Os quatro incisivos gastão um mez a sahir. A prin- cipio sahem os medianos, depois do décimo ao duodecimo mez os lateraes. « 3.° Do duodecimo ao décimo quinto mez sahem os da terceira serie; a criança repousa quatro ou cinco mezes e durante todo este espaço de tempo não ha evoluções dentárias. « 4.° Do décimo oitavo ao vigésimo segundo mez sahem os quatro caninos (as presas), cuja evolução dura três- mezes; ha um longo espaço de repouso. « 5.° Emfim, sahem os últimos quatro molares. » Os dentes, como ficou descripto, sahem por grupos ou series. Emquanto dura qualquer das evoluções dentárias, a criança experimenta incommodos especiaes ao trabalho da dentição, os quaes podem ser tanto mais intensos quanto maior é a difficuldade da sahida dos dentes. D'entre estes incommodos os mais freqüentes são : diar- rhéa, febre e tosse, os quaes desapparecem rapidamente logo depois da irrupção dentaria. Pergunta-se, tendo em mira os soffrimentos, quando se deve desmamar a crian- ça ? A boa razão ensina que a época mais propicia para a cessação completa do aleitamento ó o intervallo de uma a outra sahida das diversas series ou grupos de dentes,. PARTOS 515 tendo-se tido a cautela de ir, pari passu, habituando a criança á nova alimentação, que tem de receber. Depois de qual grupo de dentes é mais conveniente desmamar a criança ? Sendo os caninos os que produzem incommodos mais graves na sua evolução, é depois de sua sahida completa que a criança deve ser desmamada. Os caninos trazem em sua evolução accidentes mais graves porque, para que o arranjo de sua implantação na arcada dentaria seja perfeito, é mister que elles vão afastando os vizinhos até que o espaço que oecupão tenha a capacidade sufficiente. Os demais não têm ca- rência de esforço próprio para sua collocação. Quando se tem de desmamar uma criança, deve-se ir pouco a pouco retirando o seio, ou fazê-lo de repente ? Quando a criança tem tido alimentação preparatória ; isto é, quando se lhe tem, desde o quinto ou sexto mez, com o leite, administrado alimentação composta de papas ou outros alimentos mais suceulentos, deve-se desmamar a criança de repente, isto é, logo de uma vez; no proce- dimento contrario, ou quando se tira a mama de dia e se continua a dar á noite, o leite altera-se e pôde tornar- se altamente nocivo. O cuidado ou condição requerida como indispensável é, que a criança seja desmamada no verão, em vez de o ser no inverno. Outra condição do bom resultado é, que a criança seja entregue a outra pessoa que cuide delia para evitar que chorando ponha em prova o amor materno, e obrigue a mãi a renovar o aleitamento. Quando a mulher não tiver a quem confiar seu filho para desmamar, deve bezuntar o bico do peito com alguma substancia de sabor e cheiro desagradáveis, com o fim de fazê-la re- jeitar-lhe os seios. Tratamento. Além dos meios aconselhados na época de desmamar, com relação á mãi e ao filho, acontece que, desmamada a criança, a secreção leitosa continua, e, amon- toando-se, produz engurgitamentos inflammatorios mais ou menos consideráveis, ou escoando-se naturalmente pôde dar lugar a resfriamentos da mulher, trazendo-lhe affec- ções que compromettao mais ou menos sua saúde e vida. 516 PARTOS O medicamento que deve ser empregado nestas cir- cumstancias para fazer cessar a secreção do leite, ou para evitar os soffrimentos que ordinariamente são conseqüentes á continuação da secreção é puls., o qual cm caso de necessidade, quando não produza o effeito desejado, podo ser seguido de bell, bryo. e cale Quando ha escorrimento do leite depois de terminado o aleitamento, o melhor medicamento é cale, principalmente se os seios se conservarem constantemente engurgitados. São convenientes também depois delle, no caso de in- successo: Bell., bor., bryo. ou rJius. |ARTIGO 3.' , ^X Do regimen das mais que]a3eitão. Sabe-se que uma alimentação succulenta e rica de princípios nutrientes é a condição indispensável para a abundância e riqueza do leite. A alimentação das mu- lheres que aleitão deve constar não só de carnes brancas e negras assadas ou cozidas, como de vegetaes, leite, chocolate e tudo quanto puder dar-lhe força e augmentar a secreção leitosa, tendo-se, porém, a cautela de evitar o uso dos salgados, o excesso de pimentas, de vinagro, de todos os condimentos fortes (temperos), e de alimentos indigestos. A bebida habitual deve ser água, ou vinho misturado com duas partes d'agua, privando-se do vinho puro, dos licores alcoólicos e do café. A mãi que aleita deve ter tranquillidade de espirito, livrar-se de excessos de toda sorte, habitar lugar saudável e não perder o somno. Quando, por qualquer circumstancia, tiver accessos de raiva ou de furor, durante elles, e passadas uma ou duas horas, não deve dar os seios á criança, para evitar causar-lhe a morte por convulsões ou produzir-lhe moléstias nervosas incuráveis. Em começo do aleitamento, principalmente, deve ga- rantir os seios do contacto do ar, e não dar de mamar em lugar desabrigado, frio ou humido. Quando o panno ou camisa que cobre os seios estiver humido deve ser .substituído por outro que esteja sêcco. PARTOS 517 Os seios grandes e muito cheios de leite devem ser sustentados, para evitar ecgurgitamentos. ARTIGO 4.° lios obstáculos do aleitamento mu terno e dos accidentes que p« dem embaraça-lo. § l-° DOS OBSTÁCULOS DO ALEITAMENTO. Além dos vicios de conformação do bico do peito que, como dissemos, podem ser corrigidos mediante os pre- paros feitos anteriormente ao nascimento do feto, ha a imperfuracão e a ausência completa da extremidade do seio, que impossibilitão o aleitamento. A pequenez excessiva do bico do peito é obstáculo ao aleitamento, quando não te tendo procurado cor- rigir esta insufficiencia durante o tempo da gestação somente é conhecida na época em que tem de ser admi- nistrado o peito á criança. O meio de torna-lo apto para a funcção é empregar os recursos recommendados em outra parte desta obra, preferindo uma criança de dous a três mezes ou um pequeno cão ás bombas-ventosas e outros quaesquer apparelhos para o augmento da sa- liência do bico do peito. §2." DAS EROSÕES E EXCORIAÇÕES, DAS PENDAS, GRETAS E RACHAS DO BICO DO PEITO. A gradação de intensidade e extensão dos soffrimentos produzidos por estas diversas affecções reclamão trata- mento correspondente ao effeito decorrente. A não entrai em linha de conta o amor materno, os incommodos e dores, effeito da lesão, tornarião a mulher inhabilitada para o aleitamento. Tal é a intensidade dos soffrimentos. 518 PARTOS Nas primiparas e nas mulheres de pelle demasiada- mente delicada e fina, estas diversas affecções se estabe- lecem com muito mais freqüência do que nas de condições oppostas. A dôr cm todas é mais intensa quando a lesão se desenvolve mais perto da base do bico do peito. A erosão é o primeiro gráo do soffrimento, vem depois a excoriação, e d'ahi a ulceração. As fendas, gretas e rachas do bico do peito são o effeito da continuação e intensidade da causa determinante destas lesões. A excoriação é uma pequena chaga superficial da pelle, com perda unicamente da epiderme, sem sede especial, podendo affectar o bico do peito na totalidade de sua extensão ou em um ou vários pontos. A superficie da excoriação é vermelha, granulosa, inchada, humida ou coberta de crostas finas. Na maior parte dos casos, quando a criança mama, ha exsudaçâo sangüínea. A ulceração é também uma chaga, porém mais pro- funda do que a excoriação. Nella não só a epiderme é com- promettida na lesão, mas o derma fiea também destruido em parte de suas camadas. A ulceração tem sempre mais •xtensão e profundidade do que a excoriação. Afienda produz-se quando, tendo-se formado escamas sêccas no bico do peito á custa do levantamento da epi- derme, estas escamas não forão completamente despega- das, ou fendèrão-se sem cahir completamente. As gretas têm por lugar de eleição o fundo do sulco que separa a base do bico do peito do resto da pelle: são mais profundas do que as excoriações,. e consequente- mente, segundo nossa definição, é uma ulceração que toma a fôrma e a direcção do sulco onde se desenvolveu. A radia é a exageraçâo da precedente, a qual representa o mesmo que a erosão para a excoriação. Além deste augmento de intensidade, na racha a pelle circumvizinha fica fendida, inchada e excessivamente sensível. A causa primordial de todas estas desordens dos bicos dos peitos é a inflammação da pelle que os envolve. Se- gundo o Dr. Dcluze, a maneira de formarem-se estas affecções é a seguinte : A criança prende o bico do peito, que colloca em uma gotteira formada pela lingua e pelo paladar, de sorte PARTOS 519 que, quando pratica a sucção, todos os seus esforços vão ter á extremidade do bico, para a qual os liqui- dos affluem; o bico do peito, não tendo ponto de apoio racha: depois da sucção vê-se uma pequena estria sangüínea neste lugar. Em alguns casos, a sucção deter- mina somente um levantamento da epiderme, uma empola, um cJiupão, abaixo do qual vê-se uma pequena ecchymose: quer sob a influencia de uma sucção nova, quer espontaneamente, a epiderme levantada sécca ou cahe, e a excoriação está feita. Quando a excoriação se estende, insinua-se nos sulcos do bico do peito e ahi produz fendas. A simples excoriação é muito mais freqüente que a fenda, que se estabelece sem precedentes ou sem ruptura. Assim, sobre dezesete casos observados em sua clinica, o Dr. Deluze não encontrou senão quatro de fendas sem precedências. cc A exposição do bico do peito ao frio, ainda humido e quente, tendo o menino acabado de o largar, parece-me, diz o Dr. Cazeaux, a causa mais ordinária das rachas; e, emfim, as fendas e rachaduras podem sem duvida ser devi- das primitivamente a uma inflammação ou á impressão do frio, porque ellas succedem, as mais das vezes, ás ulcera- ções e ás fendas; porém podem também ser o resultado mecânico das tracções violentas que durante a sucção a criança exerce sobre o bico do peito. k Algumas vezes basta que a criança mame duas ou três vezes para que ellas appareção. A sucção produz em prin- cipio uma dôr viva, seguida de coceira intensa. Exami- nando superficialmente o seio, não se encontra cousa alguma; mas puxando-se brandamente o bico do peito afim de alargar os sulcos que o atravessão, percebe-se no fundo de um ou mais um ligeiro rubor, de onde transsuda um liquido soroso. A fenda não está ainda formada, mas ha de apparecer dentro em pouco: por effeito de uma das sucções seguintes, estabelece-se, e desde então cada sucção augmenta-a, e em conseqüência produz-se uma verdadeira rachadura, que se cobre, logo depois, de uma crosta, abaixo da qual encontra-se muito freqüentemente ^uma pequena cópia de sangue extravasado. 520 PARTOS « Qualquer que seja a genealogia, estes accidentes appa- recem em geral nos primeiros dias da lactação. Nesta época a sensibilidade normal de que goza o bico do peito não está ainda embotad a, e a pelle que o cobre não tem ainda tido tempo de se habituar ás pressões e ás tracções que deve supportar. Entretanto, ainda que seja raro observar estas ulceras ou rachaduras depois do décimo dia, tenho-as visto apparecer em época mais adiantada do aleitamento; ellas me parecerão ser devidas então a uma dentada da criança e algumas vezes á inflammação aphtosa, a um muguet, de que estava affectada. » As mulheres supportão com resignação os incommodos produzidos pelas excoriações e ulcerações superficiaes do bico do peito; não acontece assim quando elles estão affecta- dos das gretas e rachas,porque a sucçâo,separando os bordos da ulceração, produz dores a tal ponto excessivas, que só o sentimento sacrosanto da maternidade é capaz de vencer o receio de sua renovação, cada vez que são obrigadas a dar os seios á criança. A maior dôr ó provocada na primeira sucção, as subsequentes vão produzindo soffrimento cada vez menos intenso, renovando-se quando a criança, tendo descansado, faz novas sucções, sendo insupportaveis quando ella toma o peito com avidez. As dores neste caso são de tal intensidade que produzem accessos convulsivos- As rachaduras, mesmo as superficiaes, dão, por effeito das sucções, uma quantidade de sangue que varia segundo a profundidade da ulceração, o qual é ordinariamente en- golido pela criança misturado com o leite, e expellido de envolta com as matérias vomitadas. As rachaduras são causa muito freqüente de abscessos glandulares, phlegmonosos ou areolares. A irritação que produzem propaga-se á pelle do bico do peito, á areola, ao tecido cellular subjacente, ao tecido inter- lobular e á própria glândula mamaria, Commummente estes abscessos têm por causa immediata a accumulação do leite no seio. A mulher, para evitar as dores que provocão as sucções, deixa de dar o seio á criança; o leite vai-se amontoando cada vez mais até provocar o engurgitamento dos seios, e o abscesso é a sua con- seqüência. Outro effeito da accumulação é a alteração PARTOS 521 que experimenta o leite em sua composição intima; pelo facto da demora adquire qualidades altamente nocivas. e bem assim os caracteres do colostrum. Tratamento. O tratamento divide-se em prophylactko e curativo. Prophylactico. « Não se insistirá do mais no empr» go dos meios prophylacticos, porque infelizmente os meios curativos propostos até hoje deixão muito a desejar. » (Cazeaux.) Ainda mesmo que os meios curativos propostos fossem sempre de vantagem incontroversa, é nossa opinião que, sempre que é possível prevenir uma moléstia, todos os esforços são em pequena cópia, e devem convergir para obter-se este desideratum. Parece-nos que, além de outros, o meio aconselhado pelo Dr. Trousseau obterá na maioria dos casos pre- caver a mulher do estabelecimento das diversas affecções que costumão apparecer nos seios por occasião do aleita- mento. O melhor meio prophylactico, diz o Dr. Trousseau, é fazer lavar o b co do peito com uma esponja fina, logo qi; e a criança deixa o seio. A saliva do recém-nascido ó ácida, e ainda que pouco caseum fique, é sufficiente para produzir excoriações. Estas lavagens são feitas com vanta- gem com água ligeiramente adstringente. E necessário, porém, fazê-las com rapidez, afim de deixar o seio exposto ao ar o menos tempo possível; e cobrir immediatamente o bico do peito cem um pequeno capucho de chumbo com um orificio em sua extremidade, para protegê-lo contra o contacto do ar frio, e o attrito das roupas. O uso de pomadas de toda a sorte, como meio pre- ventivo das fendas d » seio, na maioria dos casos, de pouco proveito poderá ser, quando não traga inconve- nientes; porque, não sendo retirada toda a quantidade interposta nos sulcos do bico do peito, ellas alterão-se e podem ficar fazendo o oficio de corpo estranho, ou obrando chimicamente por acção de contacto. As lavagens com água pura, ale oiisada ou misturada com tintura 522 PARTOS de amica, ou mesmo com substancias adstringentes, como chá, por exemplo, têm effeito mais seguro. Quando a má conformação ou pequenez do bico do peto faz receiar que serão causa eficiente do appareci- mento de futuras fendas, os meios indicados para remover esses vicios de conformação são sufficientes como preventivos da affecção. O remédio, porém, heróico por excellencia, é a ces- sação prompta do aleitamento até que a cura se effjctue; ou completamente se cada tentativa produz aggravação ou renovação da doença. Curativo. Divide-se em local e geral Local. O tratamento local consta de banhos e do uso de meios tópicos. Os bicos dos peitos devem ser lavados com água pura ou com chá. Depois de bem enxutos, deve-se bezuntar nata de leite, manteiga fresca (de vacca), ou bem lavada, cerôto de espermacete, ou glycerina pura, ou finalmente, quando a doente estiver usando interna- mente algumas doses de mercúrio, a applicação de uma po- mada composta de precipitado branco de mercúrio na seguinte proporção : 20 centigrammas de precipitado para 30 grammas de banha preparada. Geral. Os medicamentos de mais seguro effeito são : Arn. esulf., ou cale, cham.,ign., millef. o puls. Chamomilla : Convém principalmente quando os bicos dos peitos estiverem inflamma.los ou mesmo ulcerados, se todavia a doente não tiver a'msado deste medicamento. Neste ultimo caso são: Ign, ou puls., que devem ser preferidos, ou ainda merc ou sil. Nos casos de simples excoriação arn. deve ser empre- gado em primeiro lugar, recorrcndo-se depois a sulf. e cale, quando este não produzir todo o effeito desejado. Além destes medicamentos ainda póde-se consultar: Caust., graph., lyc, merc, nux-v., sep. e sil PARTOS 523 §3.° DOS ACCIDENTES QSE PERTURBÃO O ALEITAMENTO. A secreção leitosa pôde ser embaraçada, e obrigar a mulher a lançar mão de algum meio supplementar do aleitamento materno; ou força-la a privar-se de por si curar da alimentação do seu próprio filho : Io, quando o trabalho do parto por 1 >ngo e laborioso lhe esgota as forças e retarda a restituição da normalidade das func- ções dos diversos apparelhos da economia; 2o, quando, pouco tempo depois do parto, se desenvolvem affecções febris ou de natureza a produzir desarranjos na secreção mamaria ; 3o, finalmente, quando, apezar de apparente- mente bem constituídos, os seios não se enchem de leite, ficão flaccidos por cinco a seis dias, e mais. O colostrum nestas condições de deficiência deve ser substituído por água com assucar, á qual se pôde e deve addicionar a quarta parte de leite entregando-se a criança a uma ama, se os incommodos da mãi se prolongarem além do terceiro ou quarto dia. Além dos accidentes supramencionados, os quaes vêm pôr obstáculos ao aleitamento materno, e que se des- envolvem immediatamente ou pouco depois do nasci- mento da criança, ha outros que têm começo e estabe- lecem-se tempos depois, e quando a regularidade do aleita- mento fazia presuppôr que nenhuma alteração viria embaraçar a mulher na satisfação deste compromisso; são accidentes devidos a causas oceasionaes ou especiaes, que, actuando, alterão a secreção do leite em sua quali- dade e quantidade. As alterações na quantidade podem ser o excesso da eecreção (galactorrhéa) ou a insufficiencia ou falta abso- luta desta funcção (agalactia). Para a descrípção e tratamento de ambas estas moléstias remettemos o pratico para os artigos correspondentes no corpo da obra; apenas contentar-nos-hemos em assigna- lar os symptomas seguintes, como meio de ajudar o 524 PARTOS diagnostico e de prevenir os resultados funestos para ambos os entes interessados no aleitamento— mãi e filho. Quando a ama ou pessoa encarregada do aleitamento — a própria mãi—, por circumstancias especiaes e que a penna recusa consignar, têm intereí-se em dissimular o seu estado, nas agalactias incompletas, isto ó, nas que a secreção é apenas insufficiente para as necessidades da. alimentação da criança, o signal seguro para seu conheci- mento é o emmngrecimenlo progressivo da criança ou a suspensão do seu natural desenvolvimento. Os seios da mulher, sendo examinados, são encontrados molles, flac- cidos, mesmo tendo-se deixado escoar grande espaço de tempo depois da ultima vez que a criança mamou; esta fica esfomeada ao ponto que lhe sendo offerecida uma mamadeira ou outro qualquer apparelho que contenha leite ou mesmo somente água com assucar, precipita-se sobre elle com avidez e engole o que a mamadeira con- tiver. Quanto ao tratamento, além dos meios propostos no corpo da obra, quando se quer combater esta affecção, quer seja primitiva ou secundaria, isto é, quer seja devida á falta absoluta de trabalho fluxionario, logo depois do parto, ou quando estabelecida não chega para os gastos da nutrição da criança; quer quando por qualquer causa o leite tinha em principio as condições de abundância, suffi- cientes para as necessidades do aleitamento, mas quo depois diminue ou cessa completamente, a alimentação da mulher deve aj udar a acção dos medicamentos acon- selhados. Desormeaux aconselha o uso das lentilhas e outras plantas,como de proveito para augn.entar a secreção. Entre nóstêm cabida os preparados do milho e do feijão; a alimen- tação pela carne addicionada, como adubo, de porções de quiabos cozidos, repetida com intervallos que facilitem a digestão, dão mais ou meno3 resultados incontroversos, excepção feita de certos casos em que a causa productora da agalactia é de natureza a impossibilitar completamente o estabelecimento da secreção. Na galactorrhéa a secreção pôde ser somente em excesso, conservando o leite suas qualidades normaes e nutrientes, PARTOS 525 ou ser elle segregado claro, soroso, alterado, e escoar-se em jorro contínuo e como indifferente á acção do órgão que o fabrica. No primeiro caso, é indispensável toda a cautela possível para evitar que a criança seja suffocada pela onda que se escoa a cada sucção, retira-la para que tenha tempo de engulir a porção que recebeu, e tirar do outro seio com uma bomba-ventosa porções do liquido que sahe em jorros, para evitar humedecer toda a roupa da mulher; no segundo caso, é indispensável retirar completamente o recém-nascido e entrega-lo a uma ama em boas condições, porque o leite assim em- pobrecido, é não só nocivo á criança, mas á própria mãi, na qual a perda contínua tem por effeito enfra- quecer e produzir incommodos cada vez mais graves, e por fim originar a tisica, denominada por Moston tisica das mulheres que aleitão. Immediatamente depois de desmamada a criança é indispensável sujeitar a mulher a tratamento reconsti- tuinte, composto não só de alimentação rica de princí- pios reparadores das perdas soffridas, como do emprego dos medicamentos aconselhados no artigo — Asthenia. . A criança deve ser desmamada immediatamente, ainda mesmo que os soffrimentos da mulher não sejão caracte- risados pela galactorrhéa. Muitas vezes o leite conserva as qualidades próprias para a nutrição, porém a mãi vai insensivelmente perdendo as forças, e tornar-se-ha tisica em pouco tempo se a criança lhe não fôr retirada. As alterações na qualidade do leite dizem respeito não somente aos elementos de que elle se compõe, como da mistura de corpos estranhos que sejão achados pelos meios hoje conhecidos na sciencia. Respeito aos seus elementos, o leite pôde ser abun- dante e pobre; ou nas proporções normaes, contendo, porém, excesso de princípios nutrientes, de modo que o torne rico além das necessidades da nutrição. O leite abundante e pobre fatiga os órgãos digestivos da criança pelo excesso do liquido ingerido, sem sufi- ciência de nutrição para o desenvolvimento de seus órgãos. Esta alteração do leite é tanto mais de temer, quanto os seios, contendo-o em abundância, a causa do 526 PARTOS emmagrecimento e a falta, do desenvolvimento tornão-se obscuras e quasi impossíveis de ser explicadas sem o soccorro do medico, para, com o microscópio, descobri-las. O leite com excesso de riqueza é nocivo pelos incom- modos que produz: vômitos repetidos cada vez que a criança mama, diarrhéas, e o desenvolvimento de crostas leitosas, são o seu effeito quasi constante. Felizmente para a criança póde-se, até certo ponto, diminuir ou fazer cessar cs soffrimentos. O meio é es- paçar as vezes de dar de mamar : é necessário, porém, que estes espaços sejão longos para que o leite tenha tempo de fluidificar-se, se me permittem esta expressão, no interior das mamas. Pelas analyses do Dr. í eligot é hoje evidente, que o leite muito demorado nos seios perde de seus materiaes sólidos na razão directa da de- mora, pois que, mesmo sendo tirado nas épocas communs, o primeiro que se extrahe ó mais pobre do que a se- gunda porção, e assim por diante até á ultima; deste modo, sem emprego de medicação alguma pelos agentes therapeuticos, os incommodos, effeito do excesso de ri- queza do leite, são debellados, demorando as vezes de dar de mamar, e apresentando o seio á criança com longos intervallos de tempo. A alteração do leite produz-se pela mistura de contrahimos para garantia da saúde presente e futura da descendência, ensinão que devem presidir certas cautelas indispensáveis na escolha da mulher a quem vai ser entre- gue o aleitamento da criança. 530 PARTOS § 1-° Da escolha da ama. É inútil dizer que um exame completo, como conviria que fosse feito, é impossível. Se o medico pôde apreciar o estado presente, o interesse c.lloca a mulher que se quer alugar na contingência de occultar muitos antecedentes, que virião trazer luz ao exame da occasião. Assim, pois, o exame só pôde effeituar-se no que é visivel. ou appa- rente. As moléstias anteriores de que foi atacada a mulher ficão ignoradas quando são de natureza das que, minando a constituição, não deixão vestígios que as torno reconhe- cíveis. As manifestações primitivas podem ter desappare- cido sem que, todavia, o germen tenha sido completamente destruído. Nesta contingência o medico, único competente para taes exames, satisfaz seu compromisso quando minuciosamente procura, pelo habito extremo e p Io exame do leite em sua qualidade e quantidade, conhecer as boas ou más condições de apti.lão da ama a quem tem de ser confiado o aleita- mento da criança. O medico, pois, deve examinar com attencão o peito, o systema muscular, para formar juizo seguro a respeito do estado de vigor da constituição; se exí-tem cicatrizes de escrophulas, se ha engurgitamento dos gânglios cer- vicaes e inguinaes (pescoço e virilhas); depois do que deve dirigir todo o seu cuidado para a qualidade e quantidade do leite, e para a boa conformação e desenvolvimento dos órgãos secretores deste liquido, isto é, para o volume e fôrma dos seios. O gênio da ama é uma condição indis- pensável para o bom resultado do aleitamento. Uma ama richosa, de máo gênio, sujeita a freqüentes accessos de furor, ainda mesmo que reuna todas as qualidades pro- picias ao aleitamento, deve ser in-limine recusada: a aceitação de uma ama de caracter irascivel traz a pos- sibilidade, não só da transmissão do seu caracter á criança, como faz correr o risco de ataques convulsivos, mui- tas vezes sem recurso, e de terminação quasi sempre fatal. PARTOS 531 Convém minuciosamente verificar se a mulher não está de novo com outro producto de concepção; se tem a idade preferível para a boa lactação, a qual é dos vinte aos trinta e cinco annos ; se é primi- para ou se já tem tido maior numero de partos, porque ás multiparas têm mais habito de tratar das crian- ças, e dispensão menos cuidados da parte das próprias mais. Ha occasiões em que so procura contratar a ama antes do seu parto. Muitos levão a prevenção ao ponto de recolher uma mulher destinada ao aleitamento da criança, não só antes do nascimento desta, como mesmo do parto da escolhida para amamenia-la. Como circum- stancias especiaes, o conhecimento das boas qualida- des da mulher escolhida, podem determinar tal proce- dimento, convém saber, se, por effeito do abalo trazílo pelo trabalho do parto, a ama foi affectada de moléstias conseguintes a elle. A mulher que vai aleitar deve ser escolhida de modo que tenha tido o parto dous mezes antes do nascimento da criança que tem de receber a alimentação. As considerações que fizemos a respeito da quanti- dade e qualidade do colostrum no artigo correspondente, servem de guia ao medico para a escolha da ama nas condições de ser aceita. Ha um signal que autorisa a quasi certeza de que a mulher é dotada da propriedade de secreção láctea abundante. Embora os seios não sejão muito desenvol- vidos, o que, seja dito, nem sempre constitue prova a favor da maior abundância de leite, porque o grande volume pôde ser excesso de gordura, quando as veias do seio ficarem muito crescidas e inchadas, é evidente que a mulher ha de ter leite em abundância. Sendo possível, ou havendo boa fé da parte da mulher que se propõe amamentar, em caso de duvida, o medico, com discernimento, deve verificar um comme- morativo de importância, assigralado pelo Dr. Trousseau na seguinte passagem : « Quando a mulher sante cm cada época menstrual influxo vigoroso para os seios, quando elles endurecem, se tornão dolorosos e que os lobulos da 532 PARTOS glândula apparecem mais pronunciados e fôrmão bossas, deve ser uma boa ama.... » Depois do exame que acabamos de aconselhar, con- vém saber a idade do leite, para evitar que passada a época normal de duração da secreção, a lactação não cesse antes do tempo indispensável para desmamar a criança. A qualidade, depois da quantidade do leite, ó indis- pensável conhecer-se para ser resolvida a aceitação ou repulsão da mulher que se propõe ao aleitamento. E condição que não deve ser esquecida a variabi- lidadc de riqueza do leite, segundo o tempo de demora que elle tem soffrido dentro dos seios. A opinião de Pcligot por nós assignalada, deve ser escrupulosamente respeitada, quando se tem de extrahi-lo para examinar. Em conseqüência, estando os seios da ama muito disten- didos pelo leite, ó necessário fazer o próprio filho ma- mar, ou extrahir por qualquer meio as primeiras por- ções, sujeitando somente as ultimas á experiência. Destas ultimas porções, vistas a olho nú, ou com o soc- corro do microscópio, lançando algumas gottas em uma colher de prata, devem mostrar que o leite é opaco, bem homogêneo, bem ligado, de consistência medíocre, som cheiro nem sabor particulares. O microscópio, não só fará conhecer se existe ainda colostrum de mistura com o leite, como o numero, a regularidade, o tamanho dos glóbulos, assim também a quantidade de creme ou parte gordurosa feita por estes glóbulos. Em falta do micros- cópio, infelizmente muito freqüente em taes oceasiões, o meio de substituição deste instrumento é medir a espessura da camada de creme, servindo-se para este exame dos pequenos tubos de experiência graduados, ou lactoscopio, do Dr. Donné. Além disto, o exame do fiiho da ama que se propõe aleitar, completa os dados para a certeza da qualidade e quantidade do leite de que ella pôde dispor. A ausência de ongurgitamentos glandulares tira todas as duvidas a respeito da alteração do leite pelo púa; em caso de duvida é forçoso submetter a verificação ao microscópio. PARTOS 533 §2." Das regras do aleitamento pelas amas. As regras que forão por nós indicadas para o alei- tamento materno, são applicaveis ao aleitamento pelas amas. Além dellas ha algumas outras que não podem nem devem ser esquecidas e que são peculiares ás mu- lheres mercenárias. Em que época deve começar o aleitamento pelas amas? Conforme nos pronunciamos quando escrevemos o artigo sobre o aleitamento materno, salvo circumstancias muito especiaes, o colostrum é o primeiro alimento que deve receber o recém-nascido; não só, como então dissemos, pela necessidade da expulsão prompta do meconio sem o emprego de purgativos obtidos dr.s pharmacias, con- tendo, como contém o colostrum propriedades laxativas apropriadas á susceptibilidade de seus órgãos digestivos, como porque estes órgãos, não dispondo de força suffi- ciente para completa elaboração do matérias de difficil assimilação, tendo de executar funcções inteiramente no- vas, carece ir pouco a pouco accommodando-se aos miste- res da digestão. Em conseqüência, só depois da expulsão do meconio e de haver o estômago recebido porções de colostrum e de água com assucar por três ou quatro dias, é que deve começar a ama a dar de mamar á criança. As primeiras vezes que o. recém-nascido tiver de mamar, a ama só deve dar-lhe, com longos intervallos, unicamente as primeiras porções do leite conteúdo nos seus seios. Até ao décimo dia, convém ir intercalando-se as vezes de dar de mamar com colhéres de água com assucar. As excepções desta regra são as de que já tratamos no artigo antecedente. O desprezo deste preceito ó causa de futuros desarranjos da nutrição, e d»- affecções diffi- ceis de ser capituladas convenientemente. A criança não deve absolutamente dormir na mesma cama que a ama. Para não renovarmos dores que devem estar abafadas, dei- xamos de citar o nome por extenso de uma extremosa mãi 534 PARTOS que encontrou pela manhã seu innocente filho cadáver esmagado pela ama com quem dormia. Aconteceu este facto na Bahia, em casa de V..... Como este, centenas delles se têm dado e continuarão a dar, quando certas prescripções que parecem exageradas forem desprezadas. §3-° Do regimen das amas. A alimentação da ama deve ser accommodada ás ne- cessidades da lactação. Conforme dissemos, quando tra- tamos da alimentação que convinha ás mais que aleitão, ás amas é applicavel a riqueza dos materiaes da nutrição. Sendo habituadas ao trabalho activo, o emprego ex- clusivo de amamentar pôde fazê-las adquirir vicios e moléstias por effeito da ociosidade, Os passeios, com a criança, em hora apropriada, são de indispensável con- veniência como garantia contra moléstias que a privação súbita do trabalho pôde acarretar-lhes. A ama deve ser encarregada, nas horas de repouso da criança, de algum trabalho que a oecupe e lhe sirva de distracção e esti- mulo ás diversas funcções do apparelho da economia. A mudança repentina de uma ama para outra, quando por qualquer circumstancia a encarregada do aleitamento so retira ou é despedida, não tem inconve- nientes para a criança, se a nova reúne as condições indispensáveis para o encargo que lhe é confiado. Con- vém, outrosim, despedir a que pelo seu péssimo caracter ou pela pobreza do seu leite pôde trazer embaraços ao regular e harmônico desenvolvimento da criança. So- mente ó necessário não preveni-la com antecedência da resolução cm que se está, despedindo-a sem que ella se aperceba deste passo. Se a criança recusa aceitar a que lhe é de novo apresentada, deve-se distanciar a época de dar de mamar, e fazê-lo á noite, para que a criança não veja a pessoa cujo seio vai tomar pela primeira vez. partos 535 ARTIGO 7.° Do aleitamento (elas cabras, ovelhas, vaccas ou jumentas. As cabras são de todos estes animaes os que melhor se prestão ao aleitamento da criança. Ordinariamente só entre a classe desfavorecida da fortuna, eu quando por qualquer circumstancia, entre as classes abastadas, se é obrigado a suspender o aleitamento até então adminis- trado ; como seja o ter-se desmamado a criança, e havendo necessidade de administrar-lhe com o leite qualquer sub- stancia medicamentosa, cujo uso pela mu'her poderia causar a esta incommodos difficeis de serem reparados com a presteza conveniente, como no tratamento da sy- philis da criança pelos mercuriaes e outros, é que se usa acostumar o animal a encarregar-se do aleitamento do recém-nascido. Temos visto, mais de uma vez, até em nossa própria casa, prestarem-se cabras, com solici- tude, ao aleitamento de crianças; c, o que é mais de notar, a tal ponto se affeiçoarcm a estas que, ao mais pequeno choro, correm a saciar-lhes o appetite, e o fa- zem com um cuidado tal que por modo algum molestáo o objecto de seus affectos. Era começo ha necessidade de sujeitar o animal; depois cabra e criança se habituão de fôrma que, sem receio, se podem deixar em liberdade. O aleitamento pelas cabras e ovelhas é um recurso precioso para supprir as necessidades da alimentação nas crianças, maxime nas classes menos abastadas da sociedade, e um seguro meio de dar vigor e robustez á constituição do uma criança fraca, de temperamento lymphatico o ás cacheticas. ARTIGO 8.' Do aleitamento ariiflcial. E o peior dos modos de aleitar uma criança, não tanto pelos embaraços da digestão que a riqueza dos leites escolhidos possa encerrar, o que seria facilmente 536 PARTOS remediado, misturando-os com quantidades d'agua pro- porcionadas ás forças dos órgãos digestivos, mas pela dificuldade de obter nos centros populosos e nas gran- des cidades leite puro, sem as falsificações habituaes, o que con tenhão princípios nutrientes capazes da repara- ção das perdas quotidianas, e de prestar contingente real ao desenvolvimento da criança. Ou as vaccas são doentias, e então o leite ó alta- mente nocivo, ou a alimentação é pobre de principios nutrientes, e as cópias ingeridas pela criança, em vez de prestai cm-lho matéria assimilável, fatiga-lhe o estô- mago, sem beneficio para a nutrição. Todavia, quando se pôde obter leite conhecido, nas condições de apro- veitamento, é um recurso que não pôde e nem deve ser desprezado. Obtido o leite com as qualidades requeridas, é indis- pensável, em começo do aleitamento artificial, mistura-lo com trcs partes d'agua tépida e assucar em qvantidade necessária para adoça-lo; a quantidade d'agua deve ir sendo diminuida, semana por semana, á proporção que os órgãos digestivos da criança forem adquirindo o gráo de força correspondente ás necessidades do aleitamento. O leite em occasião alguma deve ser fervido; o pro- cedimento contrario, isto ó, a fervura, tem a proprie- dade de roular-lhe o aroma, e o ar indispensável á digestão. O calor deve ser igual ao que costuma ter o leite sahido da vacca. O leite emquanto fôr misturado com água, é esta que deve ser aquecida, tendo gráo do calor sufficiente para que toda a mistura fique tépida, ou, como dissemos, com calor igual ao que tem recente- mente extrahido da vacca. Quando tiver de ser dado puro, deve ser aquecido em banho-maria, isto é, introduzir-se a vazilha que o contiver em outra maior, contendo igua bastante quente, para aquecê-lo na medida conveniente. Os apparclhos de aleitamento artificial, ou as mama- deíras são hoje aperfeiçoadas ao ponto, que em qual- quer parte se encontrão as melhores com profusão. PARTOS 537 CAPITULO IH. Cow-pox e taccina. A vaccina é a operação por meio da qual so inocula na criança, no adulto, e cm todos os seres humanos, em todas as idades da vida, o humor contento em pús- tulas que se desenvolvem sobre as tetas de vaccas ata- cadas de uma febre eruptiva especial, conhecida pelo nome de Coiv-pox ou bexigas das vaccas. Esta inoculação tem por effeito o desenvolvimento de pústulas umbilicadas, inteiramente semelhantes ás pústulas das bexigas (varíola), no ponto onde se fez a inoculação, as quaes preservão, quasi sem excepção, por tempo indeterminado das bexigas, ou pelo menos dimi- nuem o effeito do seu contagio. Jenner foi o descobridor das propriedades da lympha contenta nas pustuias do cow-pox, em 1798, e do seu effeito preservativo da variola. Segundo a exposição das observações deste imminente pratico, o cow-pox não é moléstia que ataque primitivamente as tetas das vaccas; esta affecção tem sua primeira evolução nos molles di;s pés dos cavallos, d'onde é transportada, por contagio, para as tetas das vaccas pe!os ferradores. « Desde que o cavallo é reduzido ao estado de domes- ticidade, diz Jenner, é sujeito freqüentemente a uma moléstia que os ferradores chamão thegrease (gordura). E uma inflammação no calcanhar, d'onde se escoa uma matéria que possue propriedades de um gênero parti- cular, e que parece capaz, depois de ter soffrido modi- ficações, de procrear no corpo humano uma moléstia inteiramente semelhante com a variola (bexigas), que, em minha opinião, é extremamente provável que seja a fonte desta ultima moléstia. » « O condado de Berkeley é muito abundante de vaccas, e o cuidado de as ordenhar é indistinctamente confiado a homens e mulheres. Um destes 1 omens foi encarrega- do de tratar de um cavallo atacado do grease, e, sem tomar a precaução de se lavar, foi mugir vaccas, tendo ainda nos dedos algumas partículas da matéria virulenta. 538 PARTOS Ordinariamente acontece que neste caso a moléstia se communica ás vaccas, e das vaccas ás leiteiras, ao ponto que o rebanho e os creados sentem todos conseqüências mais ou monos desagradáveis. Esta moléstia recebeu o nome de cow-pox (variola da vacca). Ella se desenvolve nas tetas das vaccas s, b a fôrma de pústulas irregulares, que em começo tem uma côr azul pallida, ou aní cs livi- da, e circumdadas de inflammação. Estas pústulas, não se lhe applicando remédio prompto, degenerão freqüente- mente em ulceras phagedenicas, extremamente incom- modas. Os animaes ficão doentes, e a secreção do leite diminuo muito. Começa então a formar-se nas mãos, e algumas vezes nos punhos das pessoas encarregadas de tirar o leite, manchas inflammadas, que se assemelhão ás pequenas empôlas que produzem as queimaduras. Deste estado cilas passão promptamente ao de suppuração... « Assim, segundo penso, a moléstia começa no cavallo, communica-se á vacca, e da vacca ao homem. « Quando a matéria morbigena, de qual ;ucr natureza que seja, ó absorvida, pôde produzir cffeitos de alguma sorte semelhantes, mas o que torna o virus cio cow-pox extremamente singular, é que a pessoa que foi delle affec- tada está para sempre preservada da infecção da variola, quer se exponha ao contagio, quer se lhe introduza por inoculação na pelle a matéria variolosa. « Em apoio de um facto tão extraordinário, posso apre- sentar ao leitor um grande numero de exemplos; mas em primeiro lugar é necessário fazer observar que apparecem muitas vezes espontaneamente nas tetas das vaccas ulce- ras pustulosas (pustulous sores), e ha exemplos, ainda que raros, das mãos dos creados empregados em ordenhar o leite terem sido affectadas de ulceras (sores), e soffrerem mesmo estes criados indisposições p r effeito da absorpção. Estas pústulas são de natureza mais branda do que as que provêm dó contagio, que constitue o verdadeiro cow-pox. São sempre isentas da côr azulada ou livida tão evidente nas pústulas desta moléstia. A erysipela não as acompa- nha, e não mostrão, como no outro caso, disposições pha- gedenicas, mas aocontrario terminão-se, promptamente, produzindo uma crosta, sem que haja nas vaccas des- PARTOS 539 ordens apparentes. Esta moléstia apparece em diversas estações do anno, commummente na primavera, quando as vaccas abandonão a nutrição do inverno para alimen- tarom-se das hervas novas e frescas. As vaccas são igual- mente sujeitas a serem affectadas do cow-pox na occasião em que aleitão seus bezerros. Mas c.-ta moléstia não é considerada como semelhante, por qualquer lado que se encare, á do que trato agora, porque ella ó por si só in- capaz de produzir effeito especifico sobre a constituição humana. Entretanto, era muito importante fazô-lo conhecer aqui, por causa da falta de distincções que dessem idéias fataes de segurança contra a infecção da doença variolosa.» As experiências rep tidas de Jenner deixão ev:dento a asserção da preservação da variola pela inoculaçlo da lympha obtida das pústulas do cow-pox. Somos de opi- nião que a verdadeira vaccina, oriunda do cavallo, ela- borada e modificada no peito da vacca, preserva perfeita e completamente da variola. A questão de revaccinação, para nós, só tem razão de ser pela viciação da lympha moculavel É questão que tem levantado discussões de transcendência, c que tem dividido em dous campos as intelligencias mais robustas; nós, porém, nutrimos con- vicção profunda de que a revaccinação deve ser aconse- lhada pela falta de confiança que se pôde outorgar á lympha, da qual se faz uso na actualidade. A prova da verdade da nossa convicção está em toda a plenitude no resultado incontroverso obtido por Jenner na totalidade de suas experiências. A primei; a não deixa duvidas a respeito da segurança da preservação: todas as que se seguirão continuarão sem- pre a repetição de idêntico resultado. Conseguintemente, ou a vaccinação não é actualmente feita com a matéria extrahida das pústulas do verdadeiro cow-pox, porque a sê-lo a preservação seria infallivcl, ou a revaccinação é o effeito de um falso presupposto, para obedecer á corrente de opiniões, que só têm de razoável serem captivas da moda na sciencia Ouçamos o próprio Jenner : « A primeira pessoa de quem foi feita a inoculação, foi Sarah Nelmes, creada de um rendeiro, c que teve o cow-pox, ou variola da vacca, cm 1796. A 14 de Maio 540 PARTOS desse anno foi aberta uma das pústulas de cowpox que tinha a mesma Sarah, e com a matéria conteúda se ino- culou no braço de uma criança de oito annos, por meio de duas incisões superficiaes do comprimento de meia pollegada. Depois de passado algum tempo se inoculou nes- ta mesma criança matéria variolosa sem resultado algum. « Sarah, Portlock, John Philips e outros, que tinhão antecedentemente soffrido em épocas differentes do cow- pox, forão inutilmente inoculados com a matéria variolosa. « É iacto conhecido entre os nossos rendeiros que, os que soffrêráo de variola escapão do cowpox; de modo que quando a moléstia se declara no rebanho, elles pro- curão os alugados para os trabalhos da herdade, entre os indivíduos que já tenhão sido affectados da variola. Está provado que, sendo a absorpção da matéria que sahe dos calcanhares do cavallo um preservativo contra a infecção variolosa, não se deve fiar inteiramen- te nella senão quando esta matéria morbifica tiver sido com- municada do cavallo ás tetas da vacca, e deste médio ao corpo humano. » Jenner continuando as experiências demonstrou á evi- dencia que « o virus do cavallo não tem a propriedade de se communicar e reproduzir senão emquanto se acha no estado fluido, transparente, e que trans&uda no começo do prease, através das fundas do casco do cavallo. » Conhecidas que sejão a vaccina, o cow-pox e os seus benéficos effeitos como meio de preservação de uma das mais temr.eis epidemias que desolão a humani- dade, vamos procurar as seguintes indicações : 1», em que época convém vaccinar as crianças; 2a, a maneira de fazer a inoculação; 3a, os resultados da operação; 4a, os accidentes de que ella pôde ser origem, como a syphilis e outras erupções, as quaes costumão assumira denomi- nação de erupções vaccinicas secundarias. Em que época se deve vaccinar as crianças. A vaccinação é uma operação de pequena cirurgia, com a íacufdade de produzir incommodos que podem ser fataes PARTOS 541 ao recém-nascido, por falta de resistência da organisação do pequeno ente. Não é indispensável para a preservação completa do contagio, a absorpção de grande cópia da lympha do cow-pox, e consequentemente uma única inci- são em cada braço bastaria pata as necessidades da pre- servação, apezar de haver o costume de dar-se três e mais picadas em cada braço, como meio de garantia para a perfeita inoculação. Estas picadas produzem, em certas organisações, erysipélas, phlegmons nos braços, e adenites axillares, que podem dar lugar a accidentes rapidamente mortacs, as convulsões, por exemplo; on provocar a absorpção purulenta, maxime em época em que estiver reinando uma epidemia de febres puerperaes. A falta de resistência da organisação infantil se deve accrescentar alguma syphilis hereditária e latente na criança; principalmente a quasi immunidade de que ellas gozão nos primeiros dous mezes de existência contra o contagio da variola, aconselhão que a criança só deve ser vaccinada depois do terceiro mez do nascimento. Quando urgir a conveniência de prompta vaccinação, e que o medico assistente julgue indispensável fazê-la im- mediatamente depois do nascimento, a criança pôde ser vaccinada ao segundo ou terceiro dia; mas, neste caso, so- mente se lhe deve fazer uma única picada em cada braço para evitar os accidentes referidos, provocados pelo seu numero mais crescido. § 2.° Como se deve fazer a vaccinação. São quatro os modos de fazer-se a vaccinação: fricções, vesicatorios, incisões ou picadas. As fricções forão aconselhadas, além de outros, pelo Dr. Morlanne, professor de partos em Metz. O processo é como segue: põe-se vaccina no braço da criança e friecio- na-se o lugar com uma espátula de marfim; ou, segundo outros, fri ciona se a pelle do braço com um corpo duro e áspero, em pequena extensão da superficie, e depois da pelle demudada da epiderme applica-se uma compressa em- bebida de vaccina, ligando-se em seguida com uma atadura. 542 PARTOS Por este meio produz-se a absorpção, independente de outra via artificial, aberta por instrumentos de qualquer espécie. Os vesicatorios, que são muitas vezes aproveitados quan- do se deseja rápida e immediata absorpção de substancias medicamentosas, dando igualmente accesso á absorpção da vaccina, têm servido de meio de inoculação em cir- cumstancias excepcionaes. Alguém tem aconselhado o seu emprego, em ponto determinado, como processo especial de vaccinação, O meio ou processo pelas picadas é o mais geralmente aconselhado, e de uso, em todos os tempos, nos institutos da vaccina, porque, menos doloroso, ó de mais certos re- sultados, além de reunir mais probabilidades de segurança de perfeita inoculação. Pratica-se com uma lanceta especial, de invenção de João Chailly, ou mesmo com uma agulha esfriada, que leve na ponta uma gotta do fluido vaccinico. A vaccina- ção é possível em todos os pontos da superficie do corpo. Nas meninas deve-se evitar fazer a inocula- ção nas espaduas ou pontos da parte an- terior do peito, cujas cicatrizes, indeléveis como são, trar-lhes-ião desgostos quando mo- ças. As coxas e bra- ços, são geralmente os lugares de eleição. (Fig. 153.) Prende-se com a máo esquerda pelapar- te posterior o braço que tem de vaccinar- Fig. 153.—Vaccinação so, e distendendo for- temente a pelle na altura da inserção do músculo deltoide, isto é, no ponto onde se tem de fazer a vaccinação, na parte superio? einterna do braço;com a lanceta carregadade uma gotta de vaccina faz-se duas a três picadas ou innocula- ções em cada braço. PARTOS 543 Nos rccem-nascidos só se deve, como aconselhamos, fazer uma, para evitar os accidentes que podem ser occa- sionados pela operação. A lanceta ou a agulha devem pene- trar horizontalmente e com delicadeza para não romper senão as camadas superficiaes da pelle, introduzida, porém, até que transsude sangue na ferida. O operador, na occasião de retirar o instrumento, applica-;he o dedo pollegar da mão esquerda, que segura o braço sobre a picada, de modo que impeça a sahida da vaccina para fora, obrigando-a por este meio a demorar-se no interior. Quando a operação tiver de ser feita nas pernas ou nas coxas, o lugar de eleição ó sempre a parte interna e supe- rior. O intervallo de uma a outra picada, nos braços ou nas pernas, é de um centímetro pouco mais ou menos A melhor vaccina é a praticada de braço a braço, de uma criança sadia e robusta, de pais reconhecidamente incó- lumes de moléstias virulentas e diathesicas, e que apre- sente as pústulas vaccinaes bem desenvolvidas ao quinto ou sétimo dia da operação. A vaccina perfeitamente bem conservada ao abrigo do ar e da luz, em chapas ou tubos de vidro capillares, serve igualmente para a preservação, sendo porém extrahida a lympha das pústulas da vaccina do quinto 1:0 sétimo dia da inoculação. (Fig. 154.) Fjo- 134 — a. Picada de vaccina até ao terceiro dia; b, botão de vaccina »o sétimo dia, deprimido no centro, circumdado de uma orla pequena esbranquiçada opaca ; c. botão de vaccina ao oitavo dia: u orla augineutada se circumda de uma pequena aureola inflammatoria; d. botão ao nono dia, em seu máximo desenvolvimento, o centro se cobre de uma pequena crosta denegrida; e. botão ao undecimo dia, é duro, achatado, desprovido de liquido ; f, botão ao duodecimo dia, coberto de uma crosta que ganha a epiderme; g.h. chapas de vidro para conservar a vaccina; x.j. tubos capillares t em bola para conservar a vaccina ao abrigo do contacto do ar. 544 PARTOS Não ha o menor inconveniente ou perigo para a criança em tirar-se das pústulas vaccinicas a matéria da inocula- ção. A abertura não produz dôr e nem augmenta a in- flammação do braço persistente. Os receios que a este res- peito affectão os pais são infundados. Pôde se impunemente abrir as pústulas sem o menor compro mettimento do braço da criança. § 3.» Do desenvolvimento da vaccina. Tres ou quatro dias depois da inoculação da \accina apparccem nos lugares das picadas uns pequenos pontos salientes, que se percebem, passando o dedo por cima, os quaes crescem rapidamente no quinto dia. Cada uma dessas elevações, toma a fôrma circular, e deprime-se no centro, mnbilica-se ao sexto-dia, as elevações achatâo-se, embran- quecem e tornão a fôrma de um disco de 4 a 5 millime- tros de diâmetro, deprimido no centro, e circumdado de uma aureola avermelhada. No sétimo dia as pústulas augmentão de volume, achatâo-se, e tornão o aspecto argentino, cercadas de uma aureola pequena. No oitavo dia, mudão de côr, inchão, sem deixarem de ser acha- tadas, e esta é mais carregada, assim como a aureola inflammatoria augmenta de extensão progressivamente du- rante os tres dias subsequentes; no décimo dia as pústulas estão maiores, medem 7a 8 millimetros de diâmetro; são muito inchadas, deprimidas no centro, pallidas e cercadas de aureola inflammatoria mais extensa; sua superficie parece granulosa; com a lente descobre-se uma serie de pequenas vesiculas cheias de fluido transparente. « O virus vaccinico está contento na pústula em uma pseudo-mem- brana cellulosa, quasi da mesma maneira que o humor vitreo do globo do olho é encerrado na membrana cellu- losa que o contém. » (Bouchut.) A dessecação começa no duodecimo dia. O humor con- tento turva-se e torna-se opalino; a pústula abate-se, a depressão central toma a apparencia de uma crosta, e a PARTOS 545 aureola inflammatoria começa a dissipar-se. Este trabalho prosegue nos dias subsequentes. A pústula, até então cellulosa, não tem mais no fim do que uma cavidade; sécca e fôrma uma crosta dura, ama- rello-denegrida, que se conserva de 15 a 20 dias. O rubor inflammatorio da pelle desapparece, ficando no ponto oecupado pela pústula uma cicatriz indelével e pro- funda. Durante o desenvolvimento da pústula, isto é, quando a evolução está no auge de actividade, as crianças são affectadas de displicência, febre e agitação. Ha dôr aguda no braço, os gânglios axillares se engurgitão. Todos estes symptomas são despidos de gravidade e desapparecem, quando a inflammação vai diminuindo. Nem sempre a inoculação produz o resultado desejado; não só não ha incommodo de espécie alguma, como a evolução vaccinica deixa de effeituar-se: outras vezes realisão-se os symptomas de reacção que enumeramos, mas a erupção não se verifica. A esta anomalia costuma-se dar a denominação de vaccina sine vaccinis. A revaccinação ó o meio único de reparação. § 4.' Accidentes da vaccina. A vaccina não é moléstia; os incommodos que pro- duz não têm quasi gravidade. Todavia durante a erupção -deve-se preservar as crianças do calor, diminuir a quantidade dos alimentos e ministrar-lhes alguns ba- nhos. Somente quando a inflammação dos braços é intensa, se deve, por applicações de banhos mornos e cataplasmas de farinha de mandioca, procurar acalmar a dôr e o excesso da inflammação. Ha, porém, oceasiões em que as erysipélas, as adenites axillares e os phlegmons adquirem gravidade, produ- zem convulsões, absorpção purulenta e accidentes mais ou menos rapidamente mortaes, maxime por occasião «Ias epidemias de febres puerperaes. d. h. u 35 546 PARTOS Com a vaccinação pôde ser inoculado o virus sy- philitico, transmittido da criança d'onde foi extrahida a matéria ou lympha que servio para a inoculação; razão pela qual convém ser muito escrupuloso na es- colha da criança de quem se tem de tirar a vaccina para as inoculações. Vantagens da vaccina. Que a vaccina preserva da variola, a experiência de todos os tempos, desde sua descoberta por Jenner, o torna incontroverso. Actualmente, porém, todos os clí- nicos, encarregados da cura dos variolosos nos hos- pitaes e nas casas particulares, se têm visto a braços com bexiguentos que já tinhão antes sido vaccinados, e em quem as cicatrizes fazião presuppôr que a erupção tinha tido sua marcha regular, e a matéria inoculavel teria sido de optima qualidade. Em conseqüência se objecta que, ou a vaccina não preserva perfeita e completamente, para todo o sempre, da variola, e então é indispensável nova vaccinação no fim de um certo e determinado numero de annos, escoado depois da primeira inoculação; ou a vaccina inoculada não era a verdadeira, obtida das pústulas do cow-pox, vinda do grease do cavallo, e ó indispensável, como meio de segura preservação contra o contagio da variola, empregar esforços incessantes para acquisiçâo da vaccina do cow-pox; ou por circumstancias clima- tericas especiaes a importação altera hoje a matéria ino- culavel, e tira-lhe as qualidades preservadoras que conserva na zona de sua evolução; ou, finalmente, o virus do cow-pox soffreu a lei invariavelmente depri- mente da acção especifica dos virus, pelo facto do tran- sito por diversas organisações. A segunda hypothese é a que me parece a verdadeira causa da diminuição da qualidade prophylactica. Çpnsequentemente, como ainda apezar da alteração., PARTOS 547 gozão de alguma immunidade as populações com a actual vaccinação, convém continua-la, e revaccinar, de 15 em 15 annos, os indivíduos, emquanto se não puder obter a verdadeira vaccina do cow-pox. Embora menos efficaz hoje, do que nos primeiros tempos de sua propagação, a vaccina presta ainda ser- viços tão notáveis que a sua suspensão deveria ser con- siderada pelos práticos um crime de lesa-humanidade. § 6.» Da vaccinação animal. Não somente o enfraquecimento da acção preservativa do contagio da variola pela vaccina actual, como prin- cipalmente a facilidade de transmissão do virus syphi- litico, e outros que podem ir na inoculação, fez nascer a idéa da vaccinação animal. Galviati, em Nápoles, no anno de 1810, começou a fazer conhecido o seu processo. Consiste elle em inocular o cow-pox em vitelas, ino- culando depois a lympha das pústulas desenvolvidas nas tetas do animal, em crianças entregues a seus cuidados. Depois delle Palacciano e Negri entretêm vitelas vacci- niferas para os usos da vaccinação. Afinal este methodo foi-se espalhando pela Europa. Em França foi introduzido em 1860 por James, e re- petido em 1865 por Lanoix; em Bruxellas por War- lomont. O meio de execução deste processo é o seguinte: ras- pa-se todo o pêllo da região hypogastrica de uma vitela de quatro a oito mezes, e inocula-se-lhe, por 50 ou 60 picadas, a lympha das pústulas de um bom cow-pox. Ao terceiro dia as pústulas declarão-se alongadas como as excarifações praticadas. Servem as lymphas que ellas contêm para inocular nas crianças ou em outra vitela até o décimo dia. Passado este tempo é inútil servir-se dessa lympha, porque não produz mais pústula alguma e menos serve como preservativo. A differença entre a vaccina animal e a de braço a 548 PARTOS braço, ou a que é commummente empregada, é que a animal gasta mais tempo a percorrer os seus períodos do que a humana; que as papulas gastâo mais tempo a apparecer e as pústulas a desenvolver-se. Ellas tôm mais quatro dias de atrazo do que a vaccina ordinária, e a dessicação só se realisa aos dezeseis ou dezoito dias. Quanto ao mais é tão efíicaz como a humana e não produz accidente algum particular. §7.» Das erupções vaccinicas secundarias. Não é raro encontrar-se na pratica casos de appare- cimento de pústulas vaccinicas em pontos onde não se havia, feito inoculação directa. Estes factos produzem-se quando a criança ou pessoa vaccinada, tendo pelo corpo excoriações ou erupções de qualquer natureza, depois de haver cocado a pústula vaccinica, que- brando-a, leva os dedos ás erupções ou excoriações. Nos casos de ausência de qualquer erupção, ha algumas vezes um desenvolvimento secundário, effeito de causas desconhecidas e que, semelhantemente ao acontecido com a variola, determina uma erupção de pústulas vaccinicas, depois da cessação da primeira erupção. As erupções vaccinicas secundarias têm de parti- cular não guardarem harmonia nas relações de natu- reza com as pústulas vaccinicas primitivas; assu- mem a qualidade erythematosa, o que determina nos braços vaccinados erysipélas, commummente graves, que, por força da natureza erythematosa da affecção, po- dem e adquirem ordinariamente o caracter de ambu- lantes, e fazem perecer a criança, ou o adulto paciente. Demais a roseola costuma complicar o estado inflam- matorio da vaccina, sem todavia augmentar a gra- vidade. Ao contrario, á proporção que a aureola inflam- matoria começa a dissipar-se, a roseola vai diminuindo, para cessar completamente quando a aureola se extin- guir. PARTOS 549 O tratamento das erysipélas é igual ao aconselhado no artigo correspondente do corpo da obra. Quanto ao da roseola, que também mereceu um artigo espe- cial, não demanda outros cuidados além delle, e de regimen apropriado; isto é, conservar o affectado em lugar bem quente e garanti-lo contra a influencia do frio e da humidade. § 8.» Da revaccinação. Conforme nos pronunciamos a respeito do estado actual da vaccinação, é conveniente revaccinar-se de 10 ou de 15 em 15 annos; não que a verdadeira vaccina obtida do cow-pox, oriunda do cavallo, e delle trans- plantada para a vacca e desta para o homem, não seja capaz de preservar por toda a vida contra o con- tagio da variola, mas porque o virus da vaccina sof- freu a lei que regula todos os virus. Á força de se reproduzir de geração em geração, perdeu suas qua- lidades mais activas, por effeito de alterações que lhe forão imprimindo o dynamismo vital, individual ás diversas idyosincrasias e temperamentos das gerações que teve de atravessar. Se a vaccina do cow-pox verdadeiro, como na pri- mitiva era usada, pudesse ser obtida, a revaccinação não passaria de um falso presupposto; infelizmente, porém, é difficuldade contra a qual as reclamações dos pro- fissionaes, jamais ouvidas, têm de esboroar-se. A revac- cinação, pois, é o recurso da actualidade contra o germen productor das freqüentes epidemias de variola que desolão a humanidade. § 9-° A syphilis pôde ser transmittida pela vaccinação ? Da Gazeta dos Hospitaes, paginas 138, de 1862, consta a possibilidade posta em evidencia pelos Drs. 550 PARTOS Depaul e Ricord, da transmissão da syphilis pela vaccinação. Moseley foi o primeiro que no começo deste século fez reparo e descreveu casos de desenvolvimento de uma moléstia contagiosa em crianças novamente vac- cinadas, moléstia que era denominada cow-pox itcJi (sarna vaccinica), e se manifestava por erupções especiaes sobre toda a pelle, precedidas de uma ulcera de longa duração, e que só achava seus agentes curativos nas preparações mercuriaes e no enxofre. Desde então cada clinico tem procurado attentamente estudar as differenças nas erupções secundarias e pri- mitivas da vaccinação; e têm sido quasi unanimes em descobrir o virus syphilitico de parceria com as mani- festações pustulosas dos recentemente vaccinados. De envolta com as observações de transmissão da syphilis pela vaccinação, ha bom numero de factos em que, ao contrario do que era de presuppôr, a vaccina de crianças manifestamente syphiliticas tem deixado de inocular o germen syphilitico nos recém-nascidos. Estes e outros factos autorisárâo o Dr. Bidard a con- cluir « que o virus vaccinico puro não produz senão vaccina, ainda mesmo que seja tirada de um sujeito syphilitico. » Em apoio desta opinião o Dr. Yiénnois publicou a seguinte observação: « No mez de Março de 1831, Bidard, medico francez do Pas-de-Calais, vaccinou um menino de sete mezes de idade, filho de pais syphiiiticos. A vacaina desen- volveu-se regularmente, e a lympha servio para vaccinar quatro crianças cujas idades vari tvâo entre cinco e seis mezes. A vaccinação tinha sido effectuada havia já algum tempo, quando o primeiro da quem foi extrahida a lympha apresentou symptomas geraes de syphilis, moléstia que foi por elle transmittida á ama. Entretanto as outras crianças vacinadas tiverâo uma vaccina regular, e, apresentadas ao Dr. Bidard, de tempos a te iipos,por espaço de seis mezes, não apresentarão em época alguma symp- tomas syphiiiticos. PARTOS 551 « Encorajado por este exemplo, oDr. Bidard vaccinou a 2 de Julho de 1831 uma criança de quatro annos, que tinha syphilis hereditária o melhor caracterisada. A vac- cina foi regular, e transmittida ao sétimo dia a duas crianças sãs, uma de quatro mezes de idade e outra de sete. Na primeira a vaccina desenvolveu-se da maneira mais satisfactoria; o periodo de incubação durou oito dias na segunda, seui influir de fôrma alguma sobre a regularidade do desenvolvimento das pústulas. Até cinco mezes depois estas duas crianças não tinhão apresentado nenhum symptoma mórbido. » Além da observação acima o Dr. Montani, antigo cirurgião do hospital de caridade de Lyon, a 17 de Julho de 1848, declara na Sociedade de Medicina ter visto trinta crianças vaccinadas com liquido vaccinico de um syphilitico, e nenhuma dellas apresentar ulte- xiormente symptomas syphiiiticos. Como estes, grande numero de factos conta a sciencia, os quaes provão que, dadas certas circumstancias e condições, a vaccina, mesmo extrahida do syphilitico, deixa de contaminar de syphilis o paciente da operação. Estas condições e circumstancias parecem ser as que Viénnoís, de accôrdo com Monteggia e Bollet suppuzerâo e derâo como únicas na seguinte passagem da citada publicação: « que a vaccina quando é pura não produz a syphilis, mas quando vai misturada com sangue, a syphilis pôde ser a conseqüência da vaccinação. É a inoculação do sangue com a vaccina que gera a syphilis, e jamais a vaccina no estado de pureza, ainda mesmo extrahida de um syphilitico, pôde produzir esta diathese. » Infelizmente abundão na sciencia factos de transmissão de diathese syphilitica communicadi pela vaccinação. Temos pessoalmente não pequeno numero de casos. Timos em um delles um cortejo de phenomenos espe- ciaes á syphilis secundaria, que resistio por largo tempo á medicação que aconselhámos. Não nos foi dado observar, se com a lympha da vac- cina tinha sido de envolta inoculado sangue do syphi- litico. Monteggia, na memória lida, a 17 de Fevereiro de 552 rARTOS 1814, no Instituto das Sciencias de Milão, demonstrou que, « vaccinando-se um syphilitico, se fôrma immedia- tamente uma pústula que contém os dous virus, e que ambos são communicados empregando-se o pús ^ac- cinico para vaccinar outros indivíduos »; opinião que está de accordo com os escriptos de Cerioli (de Cremona), refutados por Annibal Omodit, em 1823, o qual com Yién- nois, Monteggia, Rollet e outros sustenta que, nos casos em que a syphilis se transmittia pela operação da vac- cinação, era o sangue o agente do contagio. O Dr. Cerioli (de Cremona) para justificar a trans- missibilidade da syphilis por intermédio da vaccinação apresenta factos de duas epidemias, curados pelas pre- parações mercuriaes, e cujos symptomas e contagio tornarão evidente a possibilidade de communicaçao da syphilis por intermédio da vaccina. « Uma menina de tres mezes, M...., servio para vac- cinar 46 crianças em uma só sessão. M— parecia sadia; sua vaccina foi regularissima. Entretanto, de entre os 46 vaccinados, em 6 somente a vaccina foi regular. Em quasi todos os outros, no ponto das picadas desenvol- verão-se ulceras, cobertas de crostas permanentes, ou ulceras endurecidas. Estes accidentes apparecião quando as crostas vaccinicas tinhão cahido. Mais tarde, ulceras da boca e das partes sexuaes; erupções de crostas sobre o couro cabelludo; manchas côr de cobre; ophtalmias. O sys- tema glandular e o ósseo não forão poupados do contagio. « Estes accidentes communicarão-se ás amas e ás mais destas crianças; consistião em ulceras produzidas pelo aleitamento. A moléstia foi em principio desconhecida; mas os accidentes tornarão-se tão intensos, que uma com- missão, da qual o autor foi secretario, foi nomeada para estudar a epidemia. Reconheceu-se por syphilitica e foi tratada pelo bichlorureto de mercúrio interiormente, e fricções mercuriaes no exterior. Dezenove crianças já havião fallecido. « Entretanto a administração do especifico suspendeu a mortalidade e restifuio a saúde ás crianças e ás amas. » A segunda epidemia desenvolveu-se em 1841, e é assim descripta: PARTOS 55a « Em 1841 o Dr. Bellani, medico vaccinador de Orumello, província de Cremona, servio-se do liquido vaccinico de um menino, P. C...., para vaccinar 64 crianças, pertencentes a quatro communas. O pai de P. C... tinha contrahido a syphilis em 1840, estando separado do leito conjugai. Em algumas crianças a vaccina foi regular; em outras sobrevierão nos pontos vaccinados, na época da queda das crostas vaccinicas, ulceras endurecidas. Mais tarde, não foi somente ás anomalias das pústulas vaccinicas que a moléstia se limitou, apparecêrão na maior parte dos vaccinados, em diversos pontos do corpo, outras fôrmas mórbidas, e prin- cipalmente nas virilhas, nas partes genitaes; no contorno do ânus, na boca, ulceras com fundo irregular, e manchas côr de cobre. As mais e as amas não forão poupadas; os symptomas forão intensos, tanto mais porque seu ca- racter foi em começo desconhecido, e a moléstia pôde desenvolver-se á vontade, em ausência do tratamento especifico. « E como mais tarde as crianças e as mulheres que as tinhão aleitado forão tratadas convenientemente pelo mercúrio, graduando-se as doses pela idade do indivi- duo, todos se curarão; mas já oito crianças tinhão falle- cido, assim como duas amas. » A mesma gazeta d'onde são extrahidas as observações que registramos, consigna um facto da transmissibili- dade do vhms syphilitico, immediatamente, a indivíduos de differentes idades revaccinados. A transcripção de todos estes documentos comprabatorios tem por fim pôr de sobreaviso aos consultores desta obra, contra a falta de attencão na diffusão da vaccina. « A 14 e J5 de Fevereiro de 1849 um veterinário, a quem os jornaes allemães quizerão guardar o anonymo, e que designarão sob o nome de—veterinário B...., revaccinou 10 familias com a vaccina de um menino, E...., que a 14 de Fevereiro de 1849 não tinha vestígio algum de erupção cutânea, e que a 21 tinha a roseola syphi- litica mais evidente. Quasi todos os revaccinados, cuja idade variava de 10 a 40 annos, soffrerão. « No fim de tres ou quatro semanas apparecêrão 554 PARTOS simultaneamente, sobre o lugar das picadas, ulceras que tinhão o caracter syphilitico manifesto, e mais tarde manifestações secundarias de syphilis; angina, erupções e cephalalgia. Fortes doses de mercúrio forão necessárias para acalmar os symptomas constitucionaes. « O menino que servio para a vaccinação tinha sido vaccinado a 4 de Fevereiro. » A marcha dos accidentes syphiiiticos em conseqüência da vaccinação é idêntica á da syphilis ordinária. Yiénnois descreve a successão dos symptomas na referida Gazeta dos Hospitaes, d'onde se evidencia a ino- culação, a qual se effeitua clara e perfeitamente quando de envolta com a matéria vaccinica extrahida das pús- tulas vai de mistura sangue do syphilitico. Desde então as observações vâo-se multiplicando, e em França, Dévergie, Depaul, Hérard, Millarde, Chas- saignac e outros fizerão conhecidos factos incontroversos de syphilis communicada pela vaccina. O Dr. Bouchut cita o facto de « um vaccinifero syphilitico que foi a origem de 11 infecções syphiliticas: 7 em crianças, uma em 1 adulto da cidade e 3 em soldados. Perto de Santa Anna d'Auray, na Yendea, 60 crianças forão syphi- lisadas pela vaccina. » Como typo da marcha dos pheno- menos transcreve a seguinte narração de Chassaignac: « M.... (Emilia), de dous annos de idade, rua Er- nestina n. 8, amamentada pela própria mãi, foi desma- mada ha um anno. Segundo as confirmaçõe* fornecidas pela mãi não poderia haver infecção syphilitica here- ditária. (( Esta criança foi vaccinada sabbado 27 de Junho. No fim de dous ou tres dias a primeira erupção vacci- nica se apresentou; as pústulas suppurárão ao nono dia, seccárâo e as crostas cahirão quasi 15 dias depois da vaccinação. As cicatrizes demonstrarão ser as normaes e definitivas. « Alguns dias depois, entretanto, pouco mais ou menos 15 dias, a mãi encontrou tres ulcerações no lu- gar das cicatrizes: uma á esquerda, duas á direita. Estas ulcerações suppurárão e estendêrão-se, especialmente de- pois do terceiro ou quarto dia; têm hoje a extensão de PARTOS 555 uma moeda de 50 centimos. As da direita estão cobertas de uma crosta espessa na peripheria, fina e de formação recente no centro. São indolentes e repousão sobre base endurecida. « A ulceração esquerda apresenta quasi os mesmos caracteres, mas está mais inflammada; seu centro é desprovido de crosta. « A direita vê-se duas cicatrizes normaes; á es- querda ha duas outras, uma tem o caracter normal, a outra apresenta uma elevação papulosa recente. (A mãi pretende que esta elevação se formou desde hontem.) cc Os gânglios da axilla estão engurgitadosdos dous lados. Os gânglios cervicaes estão também ligeiramente desen- volvidos. Encontra-se os sub-maxillares á esquerda; não ha crostas na cabeça, cousa alguma no ânus, nem dores de garganta. Abaixo da orelha esquerda percebe-se uma papula côr de cobre, coberta de pequenas escamas cinzen- tas: aspecto característico. Sobre o peito, o abdômen e no dorso apparece uma erupção que apresenta um ligeiro re- levo, levemente colorido de um vermelho côr de cobre em certos pontos, principalmente na parte superior do peito. Quanto ao mais, a coloração normal da pelle está quasi conservada. » (Esta erupção é recente.) Resumindo quanto dissemos a respeito dos accidentes da vaccinação, acerescentamos ser indispensável que o vaccinifero esteja de perfeita saúde, de pelle inteiramente limpa de erupções de qualquer espécie ou natureza, e que descenda de pais não syphiiiticos. E indispensável que na occasião da extracção do liquido da pústula vaccinica não saia sangue do braço do vaccinifero. Convém que a vaccina seja verdadeira, que não esteja viciada, e que feita a desenvolução das pústulas, ellas apresentem as qualidades especiaes á vaccina preservadora do contagio das bexigas, as quaes ficarão descriptas no artigo correspondente, differentes das que produz a vac- cina quando é falsa, em que o botão formado no ponto da picada, tendo ainda mesmo completado sua evolução no tempo de duração que deve ter ordinariamente, não apre- senta ao exame exterior nem depressão central, nem dureza 556 PA RTOS da base e, ao contrario, quando aberto no vértice, deixa es- coar prompta e completamente todo o liquido contento na vesicula, diminuindo em seguida na sua altura. Na vacci- nelle dos francezes, os caracteres da pústula e sua evolução, apezar de normaes, a queda das crostas não deixa cica- trizes. A respeito da qualidade ou procedência da vaccina de vitela, obtida pelo processo já descripto, não sabemos se com razão ou não, o Dr. Derlon commenta o resultado de • observações suas, as quaes fazem prevenir o espirito a res- peito da efficacia que lhe é attribuida, como recurso contra os accidentes que a vaccina humana pôde accarretar. E diz elle: « A vaccina de vitela não se conserva, quaesquer que sejão as precauções tomadas; sua acção perde a efficacia sendo as vaccinações praticadas a distan- cia do lugar onde houver sido obtida. « Colhida com todas as possíveis cautelas, a vaccina de vitela, por mais recente que seja, tem energia muito in- ferior á da vaccina humana. « A vaccina artificial de vitela falha ordinariamente na revaccinação, ou, quando tem efficacia, dá sempre a vaccina falsa. Em quadra epidêmica, é extremamente im- prudente julgar-se alguém garantido com a vaccinação animal. « A duração da immunidade que a vaccina de vitela confere, não é por ora conhecida na sciencia; e seria útil adquirir noções a tal respeito, antes do emprego de tal vaccina. « A pústula da vaccina da vitela não produz senão uma espécie de serosidade ou plasma inteiramente desprovido de acção. « Inoculando a vaccina da vitela no braço humano, e continuando-se, sem interrupção, em 25 ou 30 pes- soas, não se deve receiar a transmissão de moléstias.» Não partilhamos inteiramente a opinião que transcre- vemos. Julgamos preferível a vaccina humana sobre a animal, quando colhida do cow-pox, oriundo do cavallo, mas não rejeitamos inteiramente a da vitela. As maiores cautelas devem presidir á vaccinação ; em PARTOS 557 falta de confiança na acção preservadora da vaccina ino- culada a primeira vez, como garantia contra o contagio em phases epidêmicas, a revaccinação é de conveniência indispensável, e deve ser praticada indistinctamente. CAPITULO Y. Das hemorrhagias puerperaes. Um facto de hemorrhagia puerperal em seguida á expulsão de dous fetos, o segundo dos quaes extrahido pela versão podalica, e que á minha chegada, ás duas e meia horas da madrugada, já se tinha effectuado, pela rapidez com que esgotou as forças e roubou a vida da mulher, apezar do emprego de todos os meios conheci- dos na obstetrícia, forção-me a terminar o segundo volume desta obra com um capitulo expressamente destinado ás hemorrhagias puerperaes. Chama-se hemorrhagia puerperal toda e qualquer affec- ção hemorrhagica que ataca não só durante o tempo que dura a concepção, e durante o trabalho, como depois delle effectuado, até que as partes da geração tenhão reassumido a normalidade que o facto da concepção e da expulsão do feto tinhão destruído. Seria alongar além do conveniente o trabalho que em- prehendemos se tivéssemos de percorrer todos os casos do hemorrhagia que se podem dar nos primeiros mezes da gestação. Algumas realisão-se, por exemplo, por occa- sião do aborto. Dispensamo-nos de descrever o trata- mento destas, porque no artigo correspondente irão os leitores encontra-lo. De outras que não dependem desta causa nos escusamos de tratar, pela razão de que o meio de debella-las está in- cluso nos geraes, applicaveis a todas as hemorrhagias uterinas; nosso encargo é apenas descrever detidamente as que succedem nos últimos tre3 mezes da gestação, du- rante o trabalho do parto e depois delle effeituado, tendo por fonte de escoamento os vasos uterinos. 558 PARTOS ARTIGO l.o As causas das hemorrhagias puerperaes dividem-se em predisponentes, determinantes e especiaes. § 1." Causas predisponentes. Tudo quanto normal ou anormalmente puder deter- minar affluxo de sangue para os órgãos uterinos é causa predísponente das hemorrhagias puerperaes. O abuso dos prazeres do amor, a fadiga, os bailes, a agglomeraçâo de indivíduos, a respiração de ar impuro, as vigílias prolon- gadas, o estado de plethora geral, a alimentação exci- tante, e o uso dos alcoólicos, os irritantes locaes, o uso dos purgativos drásticos, os banhos de assento demora- dos, a applicação de sanguesugas nas partes genitaes; uma inflammação do utero ou de algum órgão que com elle tenha relações immediatas, tendo por effeito entre- ter excitações que determinem no utero um estado con- gestivo habitual, são causas predisponentes das hemor- rhagias puerperaes. « A causa única bem demonstrada das hemorrhagias maternas provenientes do utero, e que se manifestão du- rante estes dous períodos (depois do quinto mez da con- cepção e durante o trabalho do parto) da puerperalida- de, é o descollamento da placenta, diz o Dr. Joulin », opi- nião que nos não parece em todos os pontos iníallivel como axioma na sciencia. Porque « a concepção produz, nos órgãos genitaes e em particular no utero, diz o Dr. Cazeaux, um estado de orgasmo que determina um affluxo considerável de liquidos para todas estas partes. Em algumas mulheres, excessivamente sangüíneas, este estado de irritação não se limita á hypertrophia da mucosa; ordinariamente o desenvolvimento do seu apparelho vascular complica-se ou é seguido de exhalação sangüínea, e sobrevem, nos PARTOS 5591 dias subsequentes, uma hemorrhagia uterina que seme- lha uma volta menstrual, mas que na realidade occasiona a interrupção de uma prenhez incipiente. Em certos ca- sos a fluxão sangüínea não se limita aos vasos uterinos; quando é considerável produz uma inchação aneuris- matica ou varicosa nas partes circumvizinhas, como sejão os vasos dos ligamentos largos que vão ter á trompa e aos ovarios. Estes vasos rompem-se e determinão uma perda de sangue mortal, como diz o Dr. Le-roy ter observado em duas mulheres que morrerão poucos dias depois do casamento. » Isto a respeito da excitação effectuada nos primeiros mezes da gestação. O desenvolvimento da concepção de- termina o affluxo dos liquidos. Yasos que até então erão apenas sinuosos e de calibre quasi minimo, adquirem proporções consideráveis; seus troncos principaes rami- ficão-se, e estas ramificações multiplicão-se ou não exis- tião, ou apenas capillares antes da concepção, para as funcções da geração nascem, crescem e adquirem diâ- metro além do que era possível presuppôr. Esta extraor- dinária desenvolução dos vasos uterinos não diz respeito somente aos seus quatro troncos arteriaes; o facto da con- cepção determina, mais que nas artérias, incommensuravel desenvolvimento das veias utero-placentarias. Segundo Jacquemier a fraqueza das paredes das veias, compostas unicamente de uma túnica, têm de supportar a pressão exercida pela passagem do sangue dos grossos troncos uterinos e ovarianos para os ramos venosos menos cali- brosos, o que pôde determinar, em obediência á lei de hy- draulica, uma ou mais rupturas, e em cousequencia a he- morrhagia, effeito da falta de resistência das paredes que tem de supportar a onda em desproporção que lhe chega dos senos venosos formados pelo entrelaçamento anastomotico dos grossos ramos: a onda tem de soffrer demoras em seu trajecto, produzindo augmento progres- sivo da pressão. Além disto, as veias não tem válvulas cuja disposição poderia de algum modo embaraçar a excessiva distensão. Em opposição ao Dr. Joulin e outros ha observado- res que gustentão, que as hemorrhagias são o simples S60 PARTOS resultado de uma exhalação sangüínea que se opera sobre pontos da face interna do utero, onde não se effeitua a inserção placentaria. Nos primeiros mezes da prenhez, quando o utero não está completamente cheio pelo ovo, por effeito da exci- tação, póde-se fazer uma exhalação sangüínea fornecida pelos vasos da face interna do órgão, cuja membrana mu- cosa se acha hypertrophiada nos últimos mezes; porém, estando, como está, a cavidade completamente oecupada, mesmo depois de formada a placenta, existem além da massa placentaria, vasos, principalmente veias, que se podem prestar a hemorrhagias, nos quaes os que fôrmão a rede utero-placentaria propriamente tal não fornecem nem uma gotta do sangue que contêm. D'onde se conclue que, durante a prenhez, a hemor- rhagia puerperal pôde ter também por causa : « 1°, a ex- halação sangüínea, maxime nos primeiros mezes, forne- cida por capillares destruídos; 2", a ruptura das veias, e muitas vezes das artérias utero-placentarias propria- mente ditas; 3o, a ruptura das veias e arteriolas que se desenvolvem na espessura da membrana caduca, fora da placenta. » Gendrim ainda admitte mais uma causa predísponente das hemorrhagias: o espasmo das camadas musculares das paredes do utero por excitações externas ou internas, oc- casionadas por impressões moraes ou physicas, por movi- mentos tempestuosos da criança, ou quando ella tem ces- sado de viver. Quando a hemorrhagia tem por causa as contracções exageradas ou espasmodicas das fibras musculares ute- rinas, além dos movimentos insólitos percebidos pela pró- pria mulher, o medico encontra, pela apalpação das. pa- redes do abdômen, tumores bosselados de fôrma irregular, c que com intermittencia se produzem e desapparecem, renovando-se a cada contracção. A mão reconhece as contracções reaes das paredes uterinas pelas bossas do utero, e a mulher pelos movi- mentos peristalticos que o órgão effectua. Estes movi- mentos ora precedem, ora acompanhão a hemorrhagia PARTOS 561 nos últimos mezes da prenhez. As contracções das ca- madas musculares raramente são geraes ; mais freqüen- temente limitâo-se a um ou mais pontos das paredes ute- rinas, o que tem por fim produzir o descollamento das adherencias placentarias. O estado da exaltação nervosa pelo facto da prenhez eompromettendo immediatamente o utero ; a actividade exagerada da nutrição e circulação dão lugar a conside- rar, com todos os pathologistas: « 1<>, Uma constituição plethorica, uma menstruação abundante normalmente, e o temperamento lymphatico que se acompanha tão fre- qüentemente de grande irritabilidade nervosa, como cau- sas predisponentes das hemorrhagias puerperaes; 2°, as mulheres plethoricas que são freqüentemente affectadas de perdas nas épocas menstruaes, nesta época entretêm no utero maior actividade e uma congestão mais in- tensa; 3o, o excesso dos prazeres do amor tem sido mui- tas vezes seguido de hemorrhagias abundantes, entre- tendo em todos os órgãos genitaes uma viva excitação e largo tempo continuada; 4o, emfim, todas as circumstan- cias próprias a determinar ou entreter grande actividade na circulação geral, e principalmente affiuxos mais con- sideráveis de liquidos para o órgão gestador; condições estas que predispõem as mulheres para as hemorrhagias. » § 2.° Causas determinantes. Como para todas as moléstias, as causas predispo- nentes, subsistindo por longo espaço de tempo, podem tornar-se causas determinantes das hemorrhagias puer- peraes. Ha, porém, grande numero de outras que, acci- dentalmente estabelecidas, dão lugar ao apparecimento da hemorrhagia. Estas causas são: commoções moraes vivas ou physicas, um pezar, um accesso de cólera, uma discussão forte, um susto, o exercício a cavallo ou em carro, cujas molas sejão duras, uma queda sobre os pés ou sobre d. h. n 36 562 PARTOS o assento, pancadas na região abdominal; a tosse, os vômitos, etc. Estas causas obrão diversamente: as moraes, pro- duzindo affluxo de sangue para o utero, além do ordinário, ou engurgitamentos dos vasos utero-pla- centarios, seguidos de exhalação sangüínea na face uterina do órgão, e afinal ruptura desses vasos; as physicas, actuando directamente sobre o utero, perturbão as relações existentes entre elle e o producto da con- cepção, e determinão o descollamento da placenta, o qual se effeitua pela accumulação de sangue entre ella e o utero, effeito da ruptura prévia dos vasos uterinos. Nem sempre qualquer das causas enumeradas tem poder de per si produzir hemorrhagias. E indispen- sável que a acção de alguma causa predísponente a enha accrescentar-se á causa determinante. Temos pessoalmente factos de quedas não determi- narem hemorrhagias nas senhoras nos últimos mezes da gestação. Em 1859 fomos chamados com urgência para prestar soccorros á senhora do negociante N...., que, es- tando no oitavo mez da gestação, levou uma queda sobre o ventre, tão desastrosa, que produzio uma larga mancha avermelhada. O susto de que se possuio a senhora depois da queda, obrigou-nos a ministrar-lhe immediatamente, alguma> colhéres, com pequenos intervallos, de uma solução de 6 gottas de tintura de aconito, da 5a dyna- misação, em 4 onças d'agua. O accidente não teve conseqüências, e o parto effeituou-se na época pre- sumida. § 3.° Causas especiaes. Estas causas sendo particulares á posição e estructura do feto reduzem-se ás seguintes: inserção anormal da placenta, ruptura do > ordão umbilical e algumas outras mais particulares, cuja acção se exerce, especialmente nos últimos tempos da gestação. PARTOS 563 1.°—INSERÇÃO DA PLACENTA NO SEGMENTO INFERIOR DO UTERO. Mais freqüentemente nas multiparas do que nas pri- miparas a placenta em vez de inserir-se, como é normal, no fundo do utero, vem fixar se no segmento inferior, isto é, no collo. Portal menciona em sua obra, publi- cada em 1685, seis observações, nas quaes « a placenta se apresentava e tocava o orificio do utero completamente, com adherencia em todos os pontos. » A placenta pôde anormalmente inserir-se em ponto indeterminado do segmento inferior do utero, adquirindo a inserção as denominações relativas aos pontos da im- plantação. É marginal, quando a placenta se insere nas proximidades da circumferencia do orificio do collo; é incompleta ou parcial, quando não cobre senão em parte o segmento inferior; é completa ou central, quando o cobre na totalidade. Mme. Lachapelle ainda admitte uma ultima variedade de inserção, que as observações posteriores não têm consignado; é a intra-cervical, a , qual existe quando o próprio ovo descendo, se introduz na cavidade do collo, e ahi se fixa. A hemorrhagia é sempre o resultado do descollamento de parte ou da totalidade da placenta; da falta de retracção immediata das paredes do senos vascular, o qual deixa expostas as aberturas dos vasos, até que o utero, re- trahindo-se, venha mecanicamente comprimi-las. O desen- volvimento da placenta, quando inserta no fundo do utero, acompanha a desenvolução do órgão, e, portanto, não ha repuxamentos; o rápido desenvolvimento do terço inferior do utero nos últimos mezes <>a prenhez, não coincide com o crescimento gradual ordinário da placenta, os repu- xamentos devem produzir descoUamentos de parte e da totalidade de sua superficie de installação. Como uma das paredes do senos, que tem contacto com as vellosidades, fica adherente, os vasos abertos deixão escoar todo o sangue que contêm, o qual por elles passa, em totalidade, ou somente em parte, emquanto uma com- pressão (a produzida pela retracção das paredes uterinas), 564 PARTOS não tem effectividade. Durante o trabalho do parto, o facto ainda da hemorrhagia é a dilatação rápida e exeexdva do collo do utero, maxime se a inserção da p.acenta é feita em toda a sua circumferencia, de modo que em- barace completamente a dilatação. Mas então, objectar-se-ha, sempre que a placenta estiver inserida no collo do utero a hemorrhagia é iníallivel? Nem sempre. A condição, sine qua non, em geral, da cessação de uma hemorrhagia é, que um coalho possa ser formado no interior do vaso aberto, e que este coalho tenha espes- sura sufficiente para obliterar completamente o mesmo vaso. Como se fôrmão no interior dos vasos os coalhos obturadores? O meio por excellencia é a compressão. No caso em discussão o coalho obturador fórma-se por effeito da retracção das fibras musculares das paredes uterinas, comprimindo os vasos, compressão exercida no . momento da passagem da cabeça da criança. Segundo Moreau, porém, a causa essencial, e talvez única, da não existência da hemorrhagia, é a morte do feto. A morte da criança no interior do utero, fazendo dispensável a circulação para fornecer-lhe os materiaes do crescimento, a circulação no órgão volta ao seu des- tino; o sangue que se tinha a esse fim encaminhado para os vasos especiaes destinados á nutrição da criança pára e coagula-se; os vasos que o contiuhão obliterâo-se; o utero mesmo não carece mais do excesso de vita- lidade para preenchimento da funcção, embora o feto, fazendo então de corpo estranho, produza alguma exci- tação, esta em nada se parece com o estimulo provi- dencial que congregava todas as potências vivificadoras; em conseqüência o sangue refugia-se por detrás dos anteparos edificados pêlos coalhos obturadores e pelos vasos completamente obliterados. A dilatação do orificio effeitua-se, embora dilacerando os vasos, sem hemor- rhagia, porque não ha sangue que a dilaceração possa fazer evacuar. Durante o trabalho do parto pôde deixar de haver hemorrhagia se « a ruptura das membranas se operar no PARTOS 565 começo do trabalho. » Á proporção que o liquido con- tido nas membranas se vai evacuando a retracção do utero acompanha a evacuação, de modo que a cabeça do feto, descendo, comprime os vasos despedaçados, e os oblitera formando coalho, embora a criança esteja viva. É este o mecanismo. 2.°—RUPTURA DO CORDÃO OU DE SEUS VASOS. Quando descrevemos, tratando da criança, as partes que a constituião, dissemos o que convinha a respeito da possibilidade das hemorrhagias; assim, pois, agora, ape- nas apontaremos as causas nascidas do cordão, producto- ras das hemorrhagias puerperaes. Segundo Yelpeau, os vasos umbilicaes produzem he- morrhagias, quando affectados de moléstia. A distribuição anormal dos vasos umbilicaes, e a pequenez do cordão, dão lugar a hemorrhagias. 3.° --RETRACÇÃO RÁPIDA DO UTERO. A retracção precipitada do utero produz hemorrha- gia, destruindo prematuramente as adherencias cellulo- vasculares da placenta com as paredes uterinas. Esta retracção, diz o Dr. Cazeaux, effeitua-se quando, em um caso de hydropisia do amnios, se escoa de repente uma grande quantidade de liquido amniotico, e nos casos de prenhez gemellar, depois da expulsão do primeiro feto; porque o utero, em estado de ampliação exagerada, passa de repente para um volume muito mais circumscripto do que o exigem as dimensões do feto sobre o qual elle se applica; podendo a retracção que segue á expulsão, descollando a placenta do outro gêmeo (no caso figu- rado), causar hemorrhagia funesta para a mãi e para o filho, mediando longo intervallo entre os dous partos. 566 PARTOS ARTIGO 2.° Symptomas da hemorrhagia puerperal. Os symptomas destas hemorrhagias são geraes e locaes. 1.° Symptomas geraes. Nos casos ordinários, dias antes, ou mesmo horas, a mulher experimenta peso, dôr obtusa nas cadeiras, que augmenta progressivamente pela posição em pé e pelos esforços de ourinar e defecar, esten- dendo-se ás virilhas e á parte superior das coxas, en- torpecimento da bacia, sentimento de mal-estar geral, vontade freqüente de ourinar, dores de cabeça, vertigens, rosto córado e vultuoso, e plenitude de pulso. Quando estes incommodos se prolongão, alguns dias antes do estabelecimento da hemorrhagia, os movimentos activos do feto diminuem, tornão-se raros, fracos, e por fim cessão de ser percebidos pela mulher. Effectuada a perda, a pelle fica descorada, ha fraqueza do pulso e das extre- midades, tanto mais pronunciada quanto mais rápida e abundante é a hemorrhagia. Outras vezes a hemorrhagia estabelece-se sem pre- cedência de symptomas. Por effeito de uma causa ex- terna, uma queda sobre o ventre, a violência da acção determina a hemorrhagia instantaneamente. O corri- mento do sangue, em começo medíocre, augmenta de re- pente, occasionando todos os phenomenos conseqüentes ás grandes perdas. Locaes. A hemorrhagia pôde ser interna ou externa; esta, quando o sangue se derrama para fora das partes genitaes; interna, ao contrario, quando o sangue, não achando livre passagem para o exterior, se derrama no interior dos órgãos, e, accumulando-se, produz sympto- mas de tal fôrma especiaes e assustadores, que roubão a vida da mulher, sem que o meio effectivo de inter- rupção do escoamento e formação de coalhos obtura- dores possa ser aproveitado. A. — Perda externa. A sahida do sangue é o symptoma por excellencia característico da hemorrhagia, durante a concepção, e mesmo durante o próprio trabalho do parto. PARTOS 567 B. — Perda interna. Nos primeiros mezes da prenhez alguma das causas enumeradas produz hemorrhagia, a qual passa desapercebida quando ó minima. Se, porém, o sangue derramado é em cópia mais considerável, os seus coalhos, fazendo de corpo estranho, determinão colicas, sentimento de peso para as partes genitaes, e dores de cadeiras que não cessão emquanto os coalhos permanecem no interior. Baudelocque é de opinião que as hemorrhagias in- ternas são, na maioria dos casos, precedidas, acom- panhadas ou seguidas de escoamento mais ou menos considerável de sangue para fora. Sao precedidas, quando o descollamento da placenta se effeitua cm pontos da circumferencia de sua superficie de implantação nas paredes do órgão, com dilatação ainda que mediocre, do collo do utero, e o sangue se derrama, até que, coagulando-se, o coalho obstrua a sahida para o exterior. É somente depois de embaraçada esta sahida que o sangue se amontoa dentro da cavidade do órgão. São seguidas, quando tendo-se feito o descollamento da placenta, ou mesmo ruptura do cordão umbilical, o sangue se derrama interiormente, até que, amontoando-se por sua quantidade, continue o descollamento, e dilate mais ou menos o collo do utero, permittindo a sahida para o exterior. São acompanhadas, finalmente, quando a inserção da placenta é destruída em pontos em que, tendo o collo dilatação sufficiente, a hemorrhagia se pôde effectuar ao mesmo tempo interna e externamente. Em época mais adiantada da prenhez, aos symptomas precursores, diz Baudelocque, deve-se acerescentar, quando a hemorrhagia é abundante, desenvolvimento rápido e considerável do abdomem, resistência, tensão e dureza maiores do utero. A presença do sangue dá a este fôrma especial; fica dividido em duas partes, uma occupada pelo sangue e outra pelo ovo. Examinado pelas paredes do ventre, além de bosselado, denuncia fluctuação evi- dente, e os movimentos activos do feto tornão-se obscuros ou não são mais percebidos. 568 PARTOS Durante o trabalho, no intervallo das contracções em que a cabeça da criança não obstrue o orificio do collo, o sangue e os coalhos evacuão-se. ARTIGO 3.° Diagnostico. A. — Perda externa. Nos primeiros mezes da prenhez a hemorrhagia externa pôde ser, e ordinariamente é, indicativa de aborto, causado pelo descollamento da pla- centa, em parte ou totalidade de sua superficie de in- serção. Esta hemorrhagia, estabelecido o diagnostico da prenhez, por exclusão dos phenomenos da amenorrhéa, acompanha-se de symptomas que deixão vêr com evi- dencia, que em vez da cessação da amenorrhéa ou res- tituição da funcção catamenial ao seu estado normal é um aborto que tem de effeituar-se ou se está effeituando. Quaes são os meios de conhecer se a hemorrhagia ô puerperal, ou da classe das produzidas ppr excesso de vigor ou plethora, nas épocas menstruaes, effeito da res- tituição da funcção catamenial, suspensas por qualquer causa ? Para M.me Lachapelle o aborto é evidente, quando o orificio uterino está aberto, a hemorrhagia precede as dores, e estas persistem, apezar da abundância do escor- rimento: emquanto que, na menstruação difficil, o ori- ficio está fechado, as dores realisão-se antes da hemor- rhagia, diminuem muito e mesmo cessão completamente quando o escorrimento está em actividade. O Dr. Cazeaux, e nós com elle, apresenta suas du- vidas a respeito da facilidade do diagnostico differencial pela indicação de M.me Lachapelle; não são idênticas as circumstancias que acompanhâo a suppressão das regras e o aborto. Sem duvida os symptomas enumerados, como constituindo elementos de valor para o diagnos- tico differencial, prestão contingente incontroverso para a descoberta da verdade; ha outros, porém, sem os quaes a dificuldade augmenta de ponto, e faz perder a taes signaes o valor que se lhes attribue. PARTOS 569 Hall, por sua vez, sustenta que o diagnostico só pôde ser firmado pelo toque vaginal; e « se o dedo introduzido n > crificio, diz elle, sente, durante a contracção, amassa tornar-se tensa, augmentar de volume e fazer saliência para a vulva, é um ovo que se está introduzindo no collo: se fôr um simples coalho, será reconhecido por sua estruc- tura fibrinosa; durante a dôr, sua superficie exterior não ficará mais tensa, mais lisa e nem elle será impellido para baixo, parecendo antes comprimido. O ovo assemelha-se a uma bexiga rnolle com a extremidade inferior arredon- dada em vez de pontuda, emquanto que a massa coagu- lada é mais resistente, mais solida, menos compressivel, com a fôrma em geral de um cone, cuja parte mais larga está voltada para cima, e o vértice para baixo. Emfim, que, fazendo ponto de apoio sobre esta massa, procura-se mover o utero em totalidade, obtem-se com facilidade quando é um coalho, emquanto que, sendo um ovo, suas paredes cedem e não transmittem o movimento ao órgão que o contém. » Yerificada a prenhez, pela cessação da menstruação, e mais signaes racionaes, enumerados a pag. 294, do 2o vo- lume desta obra, a hemorrhagia nos primeiros mezes da prenhez presuppõe que um aborto se realisou. Os signaes indicados por Hall, unidos aos de M.me La- chapelle, se não derem certeza ao diagnostico, tornáo-o pelo menos, tão provável, que devem decidir o medico a pôr em pratica o tratamento apropriado. O aborto é inevitável sempre que a hemorrhagia e os demais phenomenos existem? Não, em absoluto. Quando o feto tem cessado de viver, ou que o descollamento, por considerável, interrompe a continuidade de união entre o utero e a placenta, de modo que a respiração fetal seja incompleta ou mesmo extincta, ou quando finalmente a hemorrhagia é rápida e abundante, o aborto é infalível É provável, quando as dores são intensas e se dirigem sem mudança, do umbigo para o coccyx, e precedem a hemorrhagia; a totalidade do collo ou somente o orificio interno está dilatado, e as contracções determinão sa- liência das membranas do ovo. Se, porém, os incommodos c a hemorrhagia não são 570 PARTOS consideráveis, mesmo que durem por semanas, mas que diminuão pela medicação aconselhada, o aborto não se effeituará, principalmente se pelo toque vaginal, mas sem penetrar no utero, o collo conservar sua linha divisória entre elle e o corpo do utero. A todos os phenomenos que enumeramos como meio de * diagnostico da hemorrhagia puerperal nos casos sup- postos de aborto, a morte do feto pôde suspeitar-se, se depois dos accidentes, tendo elles cessado por efficacia da medicação, a mulher deixa de repente de vomitar, ou salivar, ou sentir os signaes especiaes aos primeiros mezes da gestação. Se estes incommodos subsistem, póde-se afiançar que a hemorrhagia não teve por effeito a morte da criança. Nos últimos mezes da gestação a intensidade maior de todos os phenomenos, bem como os signaes mais evi- dentes da morte do feto, tornão o diagnostico mais fácil. O tratamento para os casos de hemorrhagias causadas ou promotoras do aborto, está indicado no artigo cor- respondente do Io volume, pag. 3, e seguintes. Qual a causa da hemorrhagia nos últimos tres mezes da prenhez ou durante o trabalho do parto ? A mais pro- vável é o descollamento simples da placenta, ou a ruptura dos vasos utero-placentarios. No primeiro caso o descollamento, como fizemos ver, verifica-se quando a placenta se insere anormalmente no collo do utero, ou em pontos do corpo que lhe estejão muito próximos. nEMORRHAGLA POR INSERÇÃO VICIOSA DA PLACENTA. Os signaes pelos quaes é reconhecida a inserção vi- ciosa da placenta dividem-se em signaes racionaes e sen- síveis: os primeiros fornecidos pelo modo de desenvo- lução dos phenomenos que acompanhão a anomalia; os segundos postos em evidencia pelo toque vaginal. Como signaes racionaes, maxime na primipara, nos primeiros mezes ou mesmo em época mais ad.antada da prenhez, em que, porém, a dilatação do collo não PARTOS 571 permitta a introducção do dedo, apparecendo hemor- rhagia, o Dr. Cazeaux indica os seguintes: «1.° A hemorrhagia causada pela inserção da pla- centa no collo do utero não se verifica quasi nunca senão antes do fim do sexto mez; ordinariamente ella não apparece senão nas quatro ou seis ultimas sema- nas da prenhez. « E quasi certo que a época em que a hemorrhagia sobrevem seja subordinada á extensão maior ou menor da placenta, a qual corresponde ao collo; nos casos de inserção central, ella se manifesta muito mais cedo que nos em que a placenta corresponde ao orificio somente por algum dos seus bordos. « Todavia ha numerosas excepções a esta regra que Ncegele considera quasi geral, porque em grande nu- mero de casos de inserção central, a hemorrhagia não se apresentou senão no começo do trabalho. « 2.° Ella começa espontaneamente, sem causa apre- ciável e sem phenomenos precursores. E ordinaria- mente á noite que a mulher é despertada de repente pelo sangue que se escoa das partes genitaes. k 3.° A primeira voe que a hemorrhagia se apresen- ta é, em geral, pouco abundante e de curta duração;depois de ter cessado inteiramente, volta algumas vezes pas- sados dias, outras somente no fim de horas; a cada reincidência, a perda dura mais tempo e torna-se mais abundante. « 4.° O collo uterino, nas proximidades da época da prenhez, é em geral mais espesso, mais molle e mais es- ponjoso, porque a placenta, fixando-se ne.-se ponto, de- termina um affluxo do liquidos considerável. «. 5.° Tendo o trabalho do parto começado, se as membranas estiverem ainda intactas, a perda do sangue augmenta constantemente durante as contracções, e di- minue no intervallo das dores. O contrario realisa-se quando a perda do sangue é motivada por descolla- mento da placenta inserta sobre outro qualquer ponto: então, o utero, contrabindo-se, oblitera os vasos pelo aperto do seu próprio tecido, ou pela compressão que 572 PARTOS exercem sobre elles as partes contentas em sua cavi- dade; mas no caso que nos occupa, as contracções, operando a dilatação do collo, destroem cada vez mais as adherencias vasculares que unem a placenta, e multi- plicão as fontes da hemorrhagia. Este signal é de valor inestimável, antes da ruptura das membranas; porque, depois do escorrimento das águas, a cabeça do feto comprime o orificio durante a contracção, e impede o sangue de se escoar. « 6.° Nos casos de inserção completa ou central, o sacco das águas não se fôrma como no trabalho ordi- nário, porque a inserção da placenta sobre o collo tapa o orificio e impede o segmento inferior do ovo de introduzir-se e tornar-se accessivel ao dedo explo- rador. Quando, porém, a placenta não cobre senão em parte o orificio, o dedo encontra as membranas em extensão mais ou menos considerável; um só ponto do orificio é oecupado pelo bordo da placenta. cc 7.° Emfim, segundo Dewes, no começo da hemor- rhagia, o sangue tem côr mais avermelhada do que quando provem do utero, e jamais se escapão coalhos senão quando a perda do sangue dura algum tempo ou está a ponto de cessar. » (Cazeaux.) Como signaes racionaes não ha que acerescentar aos fornecidos pelo autor citado. Sensíveis. Nas multiparas ou em época próxima do fim da gestação o dedo explorador encontra a placenta no ori- ficio do collo. Levret porém, sustenta que muitas vezes é difficil, senão impossível, achar o collo, encontrando-se aliás grande quantidade de coalho na vagina, adherente em seu fundo, em forma de tumor carnudo, molle e como pol- peso, o qual se ; ssemelha á cabeça de uma couve-flor, com as anfractuosidades próprias da face uterina da placenta. Procurando-se a circumferencia do tumor encontra-se o orificio do utero em cima como um annel. Continuando-se as tentativas para isolar o tumor do orificio, não se pôde conseguir sem esforço violento. Se, porém, houver um ponto onde a adherencia esteja destruída, o dedo explora- dor penetra sem esforço. PARTOS 573 Quando pelo toque, em vez da placenta é um coalho sanguineo que se encontra, o meio de distincção é o se- guinte : o coalho ó muito menos resistente, mais friavel e mais mobil do que a massa placentaria, que goza das propriedades oppostas, isto é, não pôde ser movida sem ruptura total das adherencias ao utero, e não deixa facil- mente extrahir do seu tecido, porções de tamanho e fôrma indeterminada, excepção feita quando o sangue extravasado, coagulando-se, adhere á superficie externa da placenta; a duvida, porém, é destruída, destacando- se os coalhos, e reconhecendo immediatamente os inter- vallos intercotyledoneos do tecido especial que aconstitue. A marcha da hemorrhagia e a natureza dos phe- nomenos conseqüentes á inserção da placenta no con- torno do collo uterino, exclue a possibilidade de con- fusão com o diagnostico dos tumores fungosos ou can- crosos, polypos e outros. Quando, porém, a placenta se insere, não nas vizi- nhanças do orificio do collo, mas em ponto mais alto, durante o trabalho do parto o parteiro procede a exa- me com o index, contornando toda a porção do utero, próxima do orificio , sem penetrar este. Commum- mente se sentirá, diz o Dr. Cazeaux, o bordo da pla- centa, ou, pelo menos, achar-se-hâo as membranas mais espessas do que é costume, em um dos lados do ori- ficio uterino onde ella estiver inserta, além de um epichorion mais molle e de espessura tripla ou quádrupla. HEMORRHAGIA PELA RUPTURA DE VASOS UMEILtCAES. Os symptomas desta hemorrhagia são inteiramente semelhantes aos que se observão nos casos de hemorrhagia por inserção da placenta no collo do utero: só o toque vaginal, durante o trabalho, é que tira todas as duvidas, porque não encontra a placenta. O Dr. Benckiser, em uma observação de que dá no- ticia, diz ter encontrado antes da ruptura das membra- nas uma espécie de corda, sem batimentos arteriaes, atravessada em angulo agudo na abertura do collo, que elle considera, com toda a razão, ser o cordão umbilical. 574 PARTOS B.— Perda interna. Além do augmento rápido do ven- tre, o qual tem a fôrma irregular, bilobada, a perda interna revela-se pelos signaes precursores das hemor- rhagias internas, que são: pallidez súbita, lipothymias e accessos de fraqueza. Segundo Baudelocque a perda interna effectua-se entre a face materna da placenta e o utero, entre as folhas da amnios; e segundo os Drs. Delamotte, Levret, e Níegele para dentro da amnios. Hcnning e o Dr. Cazeaux ainda admittem a hemor- rhagia intra-vaginal, quando, havendo a perda, em vez do coalho se realizar dentro da própria cavidade do utero, o sangue se coagula na vagina em cópia tal que representa a cabeça de um feto de termo. Quando o utero se desenvolve de repente, acompa- nhado ou precedido dos symptomas geraes que enume- ramos, o diagnostico não tem difficuldades, porque, em- bora a hydropisia da amnios e a tympanite possão ter o mesmo effeito no augmento do abdômen, o diagnos- tico differencial destróe a confusão; na hydropisia da amnios a moléstia produz-se com lentidão; na hemor- rhagia interna, rapidamente ; na tympanite a sonoridade exagerada em nada se parece com o som obscuro produzido pela accumulação de liquido em um utero oecupado pelo producto da concepção. Durante o tra- balho do parto a hemorrhagia interna produz inconti- nente enfraquecimento das contracções, e ás vezes mes- mo suspensão. Levret declara que o ventre se torna doloroso á pressão, e Leroux que se sente fluctuação surda. O Dr. Henning observa que, em certas condições, o crescimento do ventre pôde faltar e haver syncope. A doente é atacada com dores violentas uterinas, com in- tervallos, em seguida a cada uma das quaes se escoa uma pequena quantidade de sangue pela vulva. Quando menos se espera declarão-se os symptomas de uma syn- cope das mais assustadoras, entretanto que o utero con- serva as proporções anteriores, e as roupas apresentão-se apenas ligeiramente manchadas de sangue. Examinan- do-se attentamente, vê-se que a causa da falta de es- coamento é a coagulaçâo do sangue na vagina, onde exis- te um coalho do volume da cabeça de um menino. «. Eu PARTOS 575 creio necessário insistir, accrescenta elle, nestes casos de hemorrhagia intra-vaginal sobre a existência das dores; porque ellas são consideradas em geral, como indicando que não se tem nada a temer da hemorrhagia, emquanto que muitas vezes, ao* contrario, são um caracter distinctivo da hemorrhagia de que se trata, » ARTIGO 4.° PROGNOSTICO. Prognostico das hemorrhagias externas e internas. O prognostico de uma hemorrhagia é sempre grave, excepção feita dos casos de plethora, se não fôr abun- dante. Tres são as condições de maior ou menor gra- vidade da hemorrhagia : a sua época, a sua abundância, e a rapidez com que o sangue se evacua. Em relação á época: 1°, a hemorrhagia é mais grave para a criança nos primeiros mezes de concepção do que nos últimos; para a mulher, porém, quanto mais adian- tada, sem todavia attingir ao ultimo mez da gestação, isto é, no sétimo e no oitavo mez, mais que no fim do nono, pela maior facilidade adquirida na dilatação do collo. 2.° Durante o parto, se a hemorrhagia se declarar no começo do trabalho, a vida da mãi e da criança estão em maior perigo, pela difnculdade da prompta expulsão do feto, e por não se p derem fazer as applicações convenien- tes ; em quanto que, embora na época do trabalho, se o collo do utero já se tiver dilatado na medida conveniente, o perigo para ambos diminue na razão inversa do tempo necessário para a terminação do parto. A hemorrhagia interna tem mais gravidade do que a externa, por passar desapercebida no começo da prenhez o que determina a morte do feto, e mais tarde a da mu- lher, impedindo o emprego da medicação em tempo com- petente. Como vimos no artigo antecedente o descollamento da placenta vai-se effectuando, depois de começado em um 576 PARTOS ponto da sua superficie de inserção ; quando de todo descol- lada, a hemorrh gia adquire intensidade, que impossi- bilita o aproveitamento da medicação estatuída. A coagu- lação do sangue no interior do utero produz irritações. que podem dar lugar a contracções prematuras, e fluxões intempestivas, as quaes têm por effeito a renovação da hemorrhagia Se, porém, a perda se verifica em quanto estão intactas as membranas, durante o trabalho do parto o perigo diminue, pela difficuldade da distensão que oppõe o utero já distendido pelo liquido amniatico, e principalmente porque, rompendo-se as membranas, a retracção do órgão effectua a compressão dos vasos des- truídos. Em relação á abundância : se a perda fôr considerável, a mulher, depois do parto, é sujeita a syncopcs repetidas, a vômitos, e muitas vezes succumbe á inanição. Nos casos mais felizes, os soff/imentos prolongão-se, a digestão dif- ficulta-se, apparecem dores vagas nos membros e enfraque- cimento; ha surdez e turvação de vista. Depois do parto a mulher que soffreu abundante hemorrhagia, é mais que outra qualquer sujeita a inflammaçõe? agudas, principal- mente peritonites, adquirindo estas inflammações tanto mais intensidade, quanto mais abalada ficar a constituição. Os demais soffrimentos accessorios, cephalalgia, por exemplo, não desapparecem emquanto os estragos da cons- tituição não forem reparados. Pôde haver hemorrhagia, o feto continuar a viver, e a prenhez seguir seu curso; a condição é que a perda não seja rápida nem abundante. A hemorrhagia é tanto mais grave para a mulher e a criança qu mto maior foi a quanti iade do sangue que se escoou. % O descollamento da placenta tem por effeito immediato a ruptura dos vasos utero-placentarios. A hemorrhagia, cuja quantidade depende da importância e numero dos vasos destruídos, sendo feita antes e durante o trabalho do parto, rouba as forças da mulher, e alonga o parto por falta de energia na acção das forças impulsoras. Os soffrimentos conseqüentes á hemorrhagia durão tanto mais, quanto maior esta fôr. PARTOS 577 O foto morre se o descollamento da placenta foi con- siderável, ou fica definhado quando a superficie descoUada não interrompeu completamente a circulação utero-pla- centaria. Um coalho formado entre o utero e a placenta, quando a hemorrhagia foi pequena, oppõe obstáculo á sahida ulterior de proporções ainda maiores. Yelpeau na explicação que dá a respeito da cessação das hemorrhagias durante o curso da gestação, diz o seguinte: k Um ponto mais ou menos extenso da massa em- bebe-se no sangue que procura escoar-se para o collo; fór- ma-se o primeiro coalho ; depois o segundo e o terceiro, e as ultimas camadas tornão-se bem depressa espessas e numerosas, se a energia da fluxão hemorrhagica se mo- dera, para exercer uma pressão que concorre para reter o sangue nos próprios vasos. Todos os tubos vasculares, cor- respondendo ao ponto onde o coalho se formou, os tornão inertes á circulação placentaria, que evidentemente não pôde mais operar-se senão pelos que não forão despe- daçados. » Esta judiciosa opinião é confirmada pela experiência nos casos de cessação da hemorrhagia, sem os funestos re- sultados para a mãi, que as conseqüências da hemor- rhagia faziâo presumíveis. Nos casos de plethora a hemorrhagia pouco abundante tem benéficos resultados, maxime se este estado deter- mina, como é commum, congestões distensas para o utero; Então a suspensão da hemorrhagia é determinada pela compressão dos vasos destruídos, os quaes escoando o sangue que em maior cópia recebião, se deixão facilmente deprimir, pela dupla pressão, como diz o Dr. Cazeaux, do ovo e das paredes uterinas. « Os autores do Diccionario de Medicina, no artigo destinado a hemorrhagia uterina, parecem crer, de accôrdo com uma observação citada por Noortwyk, que a porção da placenta descoUada pôde contrahir novas adherencias com a parede do utero. Segundo o que dissemos a res- peito da tormação do coalho, cuja presença põe fim aos accidentes, é impossível admittir que este recollamento possa realisar-se sem a intervenção de um coalho fibri- noso, que torne evidentemente impossível o restabele- 578 PARTOS cimento das relações circulatórias. É facil convencer-se disto no momento do parto, porque, examinando então a superficie uterina da placenta, póde-se notar uma ou muitas placas fibrinosas de tamanho variável e também de igual degenerescencia, segundo a época em que se fez o descollamento; muitas vezes encontra-se também a porção da placenta que tinha sido destacada, atrophiada e privada de suecos; em uma palavra, em estado de murchidão completa de toda a espessura dos cotyledons placentarios correspondentes. » (Cazeaux.) Em relação á rapidez, a hemorrhagia é tanto maior quanto mais rapidamente o sangue se evacua. Quando a perda, embora demorada, se vai fazendo lentamente, os meios apropriados raramente deixão de a fazer sustar. Em muitos casos é mesmo vantajosa a hemorrhagia, quando pouco abundante, e a sahida do sangue se effeitua com lentidão. Nos casos de plethora local ou geral, a hemorrhagia allivia a mulher dos accidentes que aquella lhe produzia. A rapidez da eva- cuação difliculta ou impossibilita a applicação dos meios adequados, e torna a hemorrhagia de tanto mais fu- nestas conseqüências, quanto a mulher menor resistência pôde oppôr a seu effeito, por impotência da constituição. Na hemorrhagia interna, a perda rápida denuncia que a placenta foi descoUada em quasi toda a sua superficie de inserção, ou que o vaso destruído é de calibre exa- gerado. O sangue, não soffrcndo demora no escorri- mento, descolla o resto da placenta, e augmenta a quan- tidade da perda. Durante o trabalho a rapidez da he- morrhagia, depois de rotas as membranas, é de funesto augurio; quando, porém, pelos meios apropriados, a hemor- rhagia se suspende, as dores enfraquecem, ha inércia do utero, e a doente, com as forças esgotadas, soffre syncopes freqüentes, e pôde suecumbir dias depois, ou mesmo ho- ras, como no caso de que falíamos no começo do capitulo. Prognostico da hrntorrhagia produzida pela inserção viciosa da placenta. A inserção viciosa da placenta é um dos accidentes mais funestos da prenhez. A hemorrhagia é a conse- PARTOS 579 quencia inevitável; a qual, se renova tanto mais fre- qüentemente nos últimos mezes da gestação, quanto mais próxima do collo tiver sido a implantação viciosa. E grave para a mulher: Io, porque a hemorrhagia, á proporção que a desenvolução do órgão se effectua, re- produz-se amiudadamente, crescendo em abundância, até a época do trabalho; 2°, porque esgotada pelas perdas successivas durante a gestação, na época do trabalho faltão as forças á mulher, as dores são curtas e incom- pletas, ha inércia do utero e o periodo de expulsão não se termina sem que a arte intervenha; 3o, depois da expulsão, porque a difficuldade de prompta retracção dos planos musculares internos permitte que a he- morrhagia continue; e a mulher succumbe inanimada pelas perdas já soffridas. É grave para o feto, porque a interrupção de parte da circulação utero-placentaria, durante os primeiros me- zes da gestação, lhe diminue a nutrição. O descoUamento total da placenta, effeito da repetição das hemorrhagias, impedindo o sangue dos vasos um- bilicaes de pôr-se em contacto com o sangue dos vasos uterinos, obsta a que a respiração se effectue; e o feto succumbe de asphyxia. « A inserção da placenta sobre o collo se attribue a morte da criança á asphyxia, porque a ruptura das conne- xões utero-placentarias isolão as duas circulações. Até certo ponto pôde ser verdadeira a asserção, bem que seja raro que a extensão do descollamento justifique a explicação. « Eu assignalarei uma outra causa de morte, que julgo muito mais freqüente, e que tem escapado aos autores até hoje: é a hemorrhagia. » (Joulin.) Á opinião do Dr. Joulin, formulada, no trecho co- piado, a respeito da causa da morte da criança nos ca- sos de heinorrhagia por inserção viciosa da placenta, oppõe o Dr. Cazeaux a interpretação judiciosa das ex- periências anatomo-pathologicas a propósito dos mesmos casos. Parece-nos mais aceita a opinião deste ultimo professor, a qual está de accôrdo com a disposição dos vasos utero-placentarios, antes e depois do descoUamento da placenta. 580 PARTOS das vezes o utero expelle a rolha, o sangue e o feto. Além destes inconvenientes, a rolha ó, apezar de tudo, um meio que não haveria razão de banir da pratica. O extracto da memória que Gerdin publicou no 9o volume do jornal de Leroux, Boyer e Corvisart, precisa mil casos em que pôde ser útil. « A rolha pôde ser applicada: Io, para suspender uma hemorrhagia que dependa da ruptura de uma varice no collo do utero ou no interior da vagina; 2", nos casos de ruptura operada n > orificio do utero durante o trabalho, deve-se introduzi-la até o lugar despedaçado; 3o, nos casos de inserção centro por centro da placenta sobre o collo o sangue retido pela rolha fôrma um coa- lho, que fica apertado entre esta e a placenta. A parte serosa é expellida, e fórma-se uma concreção que con- trahe adherencias e suspende e corrimento até que a ruptura de alguns outros vasos renove a hemorrhagia, não é de temer, neste caso, a hemorrhagia interna, porque, ainda que tenhamos citado alguns exemplos, elles são tão raros, que não podem contrabalançar to- das as vantagens da rolha. O seu emprego, além de tudo, não dispensa velar-se pela doente attentamente; 4o, a rolha convém ainda nas perdas que acompanhão os abortos so- brevindos nos tres primeiros mezes, quer antes, quer de- pois do desembaraço impossível, ou ao menos muito difficil; em seguida, não se teria de receiar a hemorrhagia interna, já dissemos o porque; 5», pôde convir nos casos em que a dilatação do collo é inexecutavel ou nulla, e em conse- qüência impossível de ir romper as membranas ; 6o, em- fim, nos casos em que, depois de ter penetrado as mem- branas, a perda continua, e é impossível praticar o parto forçado, como Lamotte e Smellie citão exemplos. Todavia o seu emprego deve ser acompanhado da maior attencão, porque o utero, no qual por effeito do corrimento das águas, se fez um vazio, é susceptível de se deixar distender, e uma hemorrhagia interna pôde sobrevir, caso em que é indispensável praticar o parto forçado. Em conclusão, a rolha é feita de panno fino e PARTOS 591 molle, de fios ou de estopa. A almofadinha de ar de Gariet tem a vantagem de não contundir as partes, e de obstruir perfeitamente o orificio do collo; uma atadura em T a contém com perfeição. A rolha deve ser usada sem ser embebida em liquidos adstringen- tes. Deve ser retirada quando a mulher tiver neces- sidade urgente de ourinar, e reposta logo depois. A rolha, segundo o systema de Desormeaux, é manifes- tamente de vantagem e deve ser ensaiada. Ruptura das membranas. A hemorrhagia apparecendo nos últimos mezes da prenhez e sendo abundante, gra- ve, e compromettendo immediatamente a vida da mulher e da criança, havendo começo do trabalho, em vez da rolha o meio de suspensão preferível é a ruptura das membranas. Este alvitre deve ser abraçado inconti- nente se a dilatação estiver adiantada, e se a hemor- rhagia continua, porque a cabeça do feto encontrando a placenta, comprime os vasos destruídos, e suspende a hemorrhagia. Quando também a perda continua, e a morte da criança e da mulher são imminentes, es- tando o coUo pouco dilatado, a melhor indicação é a düatação gradual pelo processo de Puzos, que consiste em ir, pouco a pouco, com os dedos, afastando as paredes do collo proporcionalmente até que effectuada a dilatação conveniente as membranas se introduzâo na parte su- perior do collo: « a intenção deve ser abri-las o mais depressa possível para fazer-se o corrimento das águas. É indispensável ter cuidado, quando é a cabeça que se apresenta, de suspender esta parte com os dedos por alguns instantes, afim de permittir ao liquido escoar-se.» Este procedimento tem por fim, principalmente, soli- citar as contracções uterinas, as quaes, além da ex- pulsão do feto, impedirião a continuação da hemorrha- gia, determinando o abatimento das paredes dos vasos divididos situados na espessura das paredes do órgão, conseqüente á retracção. Estas contracções são a con- dição indispensável da completa dUataçâo do collo. « Im- porta não esquecer, diz P. Dubois, quando uma perda considerável se effeitua, que as contracções uterinas são fracas na maioria dos casos, e que o trabalho pôde 592 PARTOS ser declarado sem que as dores tenhão assignalado o seu começo: de outro lado, a sahida de quantidade abundante de sangue e de coalhos volumosos reiaxão e dilatão o orificio do utero; e estas circumstancias, juntas sem duvida a algumas contracções uterinas que não são dolorosas, podem dilatar o collo sem que a doente tenha disso consciência, e sem mesmo que se possa suspeitar. Este phenomeno não é raro nos casos de hemorrhagia em mulheres que têm tido outros filhos. » Para o conhecimento do estado do orificio, é necessário a exploração com o dedo ; havendo dilatação sufficiente, e as membranas apresentando-se tensas e formando bolsa, por intervallos mais ou menos regu- lares, a ruptura immediata é a indicação da maior van- tagem. Antes da ruptura das membranas o dedo intro- duzido no collo deve irrita-lo: depois da ruptura convém solicitar as contracções praticando fricções pelas paredes do abdômen. Se a hemorrhagia é produzida pela inserção da pla- centa no collo do utero, a opinião geral, á que dá o Dr. Cazeaux a preferencia, é que, em começo, deve ser feito o arrolhamento. Quando, porém, a dilatação está adiantada, e que a hemorrhagia continua, deve-se rom- per as membranas. P. Dubois precisa mais a indica- ção. Sendo a inserção da placenta effectuada em toda a circumferencia do orificio, de modo que impossibilite o alcance das membranas, e que o descollamento da parte da circumferencia não possa effectuar-se, é a rolha (tampon) o meio preferivel, até que a dilatação se pro- nuncie como resultado da irritação que ella tem por effeito; quando, porém, ao contrario, a inserção da placenta se faz de modo que um dos pontos de sua circumferencia corresponda ao orificio do collo, ou so- mente tenha sido feita a inserção nas circumvizinhan- ças desta parte, a ruptura artificial das membranas é o meio preferivel, e a hemorrhagia su-pende-se, em conseqüência da compressão exercida pela cabeça da criança. O Dr. Joulin indica, como recurso para a rup- tura das membranas, nos casos de inserção da placenta em toda a circumferencia do orificio, o processo de PARTOS 593 Gendrin, que consiste em atravessar a placenta com uma sonda, e ir romper as membranas através delia. Este meio é qualificado pelo autor como preparatório ou operação preliminar, que seria imprudenre confiar á natureza. » Peito o que, procede-se á extracção do feto. E como segue o processo citado de Gendrin : c< Os autores, diz elle, têm aconselhado provocar então o trabalho do parto por manobras directas, que consis- tem ein forçar a dilatação, e entrar no utero através mesmo da placenta, ou lançando para um dos lados do collo este órgão. Estas manobras são muito difficeis e muito longas, e se o sangue continua a escoar-se, a mulher, já enfraquecida, pôde perder as ultimas for- ças. Nós aconselhamos o processo seguinte, que tem a grande vantagem de manter, tanto quanto possível, as relações da placenta com o utero. Elle consiste em evacuar as águas por uma puncção praticada através da placenta, applicada sobre o collo, e por meio de uma sonJa de mulher, que é dirigida sobre o dedo no collo e através da placenta até ás membranas. Nos dous casos em que foi empregado este processo, a he- morrhagia cessou immediatamente. É, pois, um meio do qual se devo utilisar quando a abundância da he- morrhagi t reclama o methodo de Puzos, e que a pre- sença da placenta inserta por seu centro so re o collo é o único obstáculo ao emprego deste methodo. Toda- via, nós pensamos que se a dilatação estiver adiantada, é melhor empregar a rolha. » (Cazeaux.) Nos casos de abundante hemorrhagia, todos os par- teiros estão concordes na necessidade de immediata ter- minação do trabalho do parto. O mecanismo pelo qual o descollamento da placenta se effectua, torna-o conhecido o desenvolvimento progressivo e regular do órgão. E o seguinte: A região de implantação da placenta aug- menta normalmente, e a placenta é forçadi a disten- der-se para o augmento successivo da superficie da in- serção. A estructura da placenta não se presta sem ruptura ao afastamento indispensável, e os vasos que animão as villosidades e que se interpõem nos cotyledons. 594 PARTOS despedaçâo-se. O sangue das hemorrhagias ó fornecido pelos senos maternos; logo, a mulher se esgotará se a perda continuar: a criança, cuja vida depende da perfectibilidade da circulação utero-placente, definha e morre, se o descollamento continuar prematuramente. Em conseqüência, o meio de embaraçar que a hemor- rhagia determine tão funestos resultados, é a extracção proin, ta do feto, para que a retracção das pare les ute- rinas comprima os vasos e impeça a evacuação do sangue que a auibos vivifica. Em presença do obstáculo anteposto pela inserção viciosa da placenta, centro por centro, na circumferen- cia do orificio do collo, alguns parteiros mais ousados têm proposto, não somente ir em busca das membranas e rompê-las com uma sonda atravessando a placenta no seu centro, como mesmo atravessar a massa pla- centaria com ella, e penetrar o utero, em vez de des- collar a placenta em algum ponto de sua circum- ferencia de inserção. Com est i pratica, reconhecidamen- te irracional, attendendo-so á matéria especial do tecido componente, a morte do feto é infallivel pela ruptura das mais volumosas divisões vasculares da placenta. A via de passagem fornecida á cabeça da criança, nestes casos, tem falta da regularidade indispensável, e o movimento de deflexão do periodo de expulsão ó dif- ficil, senão impossível, verificar-se. A indicação a se- guir-se é, portanto, descollar a placenta no ponto da circumferencia onde se reconheça começado o descolla- mento ou onde haja prob bilidade de permissão da passagem da parte fétal apresentada. Tendo a mão entrado no utero, rompe-se as membranas e pratica-se a versão logo em seguida. O forceps tem o inconveniente de poder prender, em vez do feto, parte da placenta. Carece, em conseqüên- cia, para sua applicação, que o collo do utero esteja completamente dilatado. Simpson, attendendo a que a hemorrhagia é excessiva- men e grave quando é somente uma pequena parte da placenta descoUada, emquanto que diminue e cessa com- pletamente quando, ao contrario, o descollamento ou PARTOS 595 arrancamento é completo, estabeleceu um processo de intervenção, que consiste « em arrancara placenta imme- diatamente depois de poder attingi-la, mesmo muitas horas antes do nascimento da criança. » Antes delle, Portal, Yiardel, Chapman praticai âo com successo o methodo de Simpson. Knider Wood, nas observações publicadas pelo Dr. Radfort, as preconisa para os casos em que a mulher, completamente esgotada, demanda prompta e rápida intervenção. Das 141 observações de Simpson se eviden- cia que, em quasi todas, este processo ou faz cessar completamente a hemorrhagia, ou a diminue conside- ravelmente logo que a massa placentaria era extra- hida, independente do nascimento da criança. « O perigo immediato reside na hemorrhagia, diz o Dr. Joulin, a extracção da placenta a suspende. O que nos resta examinar é, em que Umites a operação é praticavei. » Simpson responde á objecção proposta indicando as circumstancias e época em que a operação é indicada: « Io, quando o collo do utero é rijido e não dilatavel; 2o, nas primiparas; 3o, no parto prematuro, principal- mente antes do sétimo mez; 4o, quando o utero está muito contrahido para permittir aversão; 5•, nas an- gustias pelvianas; 6o, quando a mulher estiver esgotada pela hemorrhagia; 7°, quando o feto estiver morto. » Este methodo pelas difficuldades ou perigos que acar- reta em determinados casos, fica reservado pira as occa- siões de perigo imminenre e inconteste; porquo, como bem diz o Dr. Joulin, que o analy?a nas primiparas, a rijidez do collo pôde torna-lo impraticável, excepção feita dos casos de introducção forçada da mão. Sabe-se dos perigos e funestos resultados conseqüentes a este modo de intervenção. Além disto, o arrancamento da placenta é impossível emquanto o orificio uterino não está completamente düatado, porque as manobras não se podem verificar sem que a mão toda inteira pe- netre na cavidade uterina. O meio, portanto, de que dispõe o parteiro para penetrar o utero, em vez de ser a dilatação forçada do orificio, é, ao contrario, o augmento progressivo e gradual da dilatação feita pelos dedos; o que obtido, separa-se ou descoUa-se igual- 596 PARTOS mente por este meio a placenta, para afind, quando a mão tem peneirado a cavidade do utero, prender-se a placenta com toda a mão, e traze-la para fora. Em conclusão, no começo do trab ilho, deve ap- plicar-se a rolha, com o fim do, irritando o órgão, de- terminar a dilataçXo do orificio, o que obtido em gráo sufficiente, a extracção do feto será feita ornais imuie- diatamente possível depois do arrancamento da pia. enta. Ao mesmo tempo que este trabalho opcr.itori > se pratica, a medicação interna não deve ser descurada. Quando a hemorrhagia se effeitua nos últimos mezes da prenhez nas mulheres plethoricas, os medicamentos preferidos são : Acon., bell, bry., cale, cham., ferr., n.-vom., plat, sabin. e sulf., ou conforme as circumstancias: Arn., croc, hyos., ign., ipec, plios., sil. e veratr. Nas mulheres fracas, ou esgotadas e cacheticas: Chin., croc, puls., sec, sep. e sulf; em casos particulares: carb.-v., n.-vom., ipec, phos., ruta e veratr. Nas hemorrhagias que se declarão durante o trabalho do parto, os medicamentos são: Croc, plat. e millef'., ou: Bell, cham., ferr. sabin., os quaes serão empregados de concomitância com os meio3 operatorios aconselhados e sem descont;nuar-se em sua applicação. Os inter- A^allos de uma a outra dose do mesmo modicamento, serão moderados pela gravi lade da hemorrhagia. É indispensável conhecer de antemão a indiciçâo precisa dos medicamentos, e sua conveniência indis- putável em um caso dido, para não vacillar na ap- plicação, nem estar a cida passo a mudar do medi- camentos. A exaeti apreciação importa segurança na escolha, o que terá por effúto a salviçXo de duas vidas, que irremessivelmeute perder-se-hXo se o edi- camento administrado não preench vr o fim da sua es- colha. No começo do tratamento deixam js proposi al- mente enumeradas as circumstancias em que cada medicamento deve ser aconselhado; por agora não repetiremos as indicações. Hemorrhagia interna. Quando a perdi interna ó gra- ve, ao ponto de comprometter seriamente) a vida da PARTOS 5C7 mulher, o meio que ti m o parteiro a seu alcance é esvasiar o utero, terminando o parto. Este alvitre nem sempre, é facil de executar. Ora o collo está completamente fechado, os bordos duros e espessos e ha ausência de contracções; ora os bordos estí o amollecidos, o collo ddatavel, ou mais ou menos dilatado e existem contracções. Neste ca^ o parteiro deve sempre romper as membranas e empregar todos os m» ies para despertar e amiudar as contracções, como sejao friciõcs, titulações do collo eo emprego dos medi- camentes s-. guintes, com aspreesas indicações: — 1) Pids. e sec;—2) Cham., coff., n.-mos., n.-vom.; — 3) Acon., bell, cale e op. Fulsatilla, quando as dores verdadeiras custão a estai ele cer-se, ou havendo dores espasmodicas, ou ausência completa dellas, estando o collo do utero amollecido. Secale, se a ausência das dores se realisa nas mu- lheres de consttuição fraca e cachetica, ou enfraquecidas pela perda interna, ainda mesmo que haja dores espasmo- dicas. Obtida a dilatação, a ponto de permittir a intro- ducção da mão, deve-se terminar o parto pela versão, ou extiahir o feto pelo forceps. Quando a hemorrhagia interna se verifica antes do termo da prenhe.", maxime nas primiparas, estando o collo completamente fichado, nos casos graves é necessário praticar a peifuracão das membianas, e pro- ceder á intioducção forçada da mão, se os meios acon- selhados para iazer cessar a hemorrhagia íorem em- pregados inutilmente, e as fricções sobre o collo e corpo do "utero não puderem determinar as contracções. Na maioria dos casos não ha necessidade da intro- ducção forçada da mão, porque a dilatação effectua-se mediante esforços moderados, os quaes despertão con- tracções, que, ajudadas da acção da própria hemorrha- gia diminuem a resistência do collo, e o dilatão gra- dualmente. Se, porém, apezar dos meios apropriados, a rije/a do collo continua, e a dilatação é impossível, convém praticar incisões múltiplas sobre o collo, como 598 PARTOS meio de vencer a resistência. Quando o utero começa a dis- tender-se pela accumulação do sangue derramado cm sua cavidade, ha um meio do coadjuvaçâo do trata- mento, que consiste em fazer com uma atadura a com- pressão do abdômen. C.—HEMORRHAGIA LIGEIRA DURANTE O TRAEALHO. Para as hemorrhagias que se realisão durante o tra- balho do parto, as applicações guardão relação c un a intensidade da hemorrhagia e o gráo de dilatação do collo. Nos casos em que a quantidade da perda ó dimi- nuta, e que não ha symptomas que denuncião hemor- rhagia interna, os meios internos e externos por nós aconselhados para hemorrhagias semelhantes nos últi- mos mezes da prenhez, são idênticos, maxime se a dilatação do collo estiver pouco adiantada. Estando o collo amollecido ou completamento dila- tado, se as membranas estiverem intactas,o parteiro deve rompe-las c administrar sec, nas mulheres de constituição fraca, esgotadas por perdas anteriores e continuas, determi- nando o enfraquecimento progressivo das contracções, e demorando-as a ponto de tornar duvidosa a sua volta. Pulsatilla, se a mulher fôr de constituição forte, sem dores decliradas, ou quando estas sejão espasmodicas; finalmente, nos casos de inactividade do utero. Os meios geraes aconselhados nestes casos devem ser postos em acção, se, apezar do emprego da medicação administrada, o parto se demorar e a hemorrhagia adquirir gravidade. HEMORRHAGIA GRAVE DURANTE O TRABALHO. Embora a hemorrhagia seja interna ou externa, o parteiro deve intervir sem delongas, sujeitando o tratamento ao momento de sua melhor applicação. Assim, estando o collo insufficientemente dilatado, ou offerecendo rc silen- cia á dilatação, os meios de curativo aconselhados PARTOS 599 para as hemorrhagias graves nos últimos mezes da prenhez, devem ser immediatamente postos em acção sem hesitar. Os medicamentos internos, escolhidos segundo os dados fornecidos para a sua applicação, as compre-sas dágua fria empregadas com as cautelas necessárias, a rolha ( tampon ), a rupíura das membranas e todos os meios, finalmente, per nós especificados para as hemorrha- gias graves, inclusive a compressão abdominal e o parto forçado, são de indicação instantemente reclamada. « Se, apezar do emprego dos meios precitados, a perda con- tinuar a ameaçar gravemente os dias da mulher ; e se ao mesmo tempo o collo não dilatado e não dilatavel tor- nar impossível a introducção da mão, deve-se, segundo a pratica de alguns autores, recorrer ao parto forçado e introduzir a mão, custe o que custar », diz o Dr. Cazeaux. Quando se commenta factes semelhantes, que têm sido publicados, fica-se vivamente impressionado pelos resul- tados que tem dado o parto forçado. Quasi todas as mulhe- res têm suecumbido ; e todos os autores estão de accôrdo em considerar esta operação como uma das mais graves. Nós julgamos prudente não expô-las ás lesões do collo, que são tão freqüentemente a conseqüência da introducção forçada da mão; se depois de alguns esforços mode- rados, a rijidez não pôde ser vencida, preferimos, em um caso urgente de hemorrhagia por implantação viciosa da placenta, empregar o processo do Dr. Simpson ; descolla-la e depois extrahi-la. Este methodo muito generalisado por seu autor, parece-nos neste caso, poder ser applicado com vantagem, ainda que a applicação da rolha seja, segundo nossa opinião, preferivel. O Dr. Simpson, diz o Dr. Cazeaux, acredita poder propor o descollamento da placenta nos casos em que a inserção vicio*a sobre o collo produzir hemorrhagia que possa comprometter seriamente a vida da mulher. «O Dr. Simpson a final restringio a applicação de seu systema ás seguintes circumstancias: Ia, quando a perda tem resistido aos meios principaes e em particular á evacuação da água da amnios; 2', quando a pouca dila- tação ou o desenvolvimento do collo, a estreiteza da bacia tornão a versão ou outra qualquer manobra artificial peri- 600 PARTOS gosa ou impossível; 3a, quando a morte ou inviabilidade do feto não impõem outro dever ao parteiro senflo a salva- ção da mulher. » E pois, diz o Dr. Cazeaux, principalmente nas primiparas nos casos de trabalho prematuro, de rigidez do collo, de contracção convulsiva deste órgão, de estreita- mento orgânico da bacia ou dos órgãos da geração, de morte ou não viabilidade do feto, e emfim de esgotamento externo da mulher, que o descollamento artificial pôde ser pratica- do. Bem entendido, ajunta o Dr. Simpson, que nos casos de descollamento a exti acção do feto deve ser prateada immediatamente, a menos que a hemorrhagia não se suspenda, o que felizmente não tem lugar na immensa maioria dos casos. O Dr. Cazeaux é de opinião, porém, que, mesmo com as re.-tricções do Dr. Simpson, é preferível a applicação da rolha ajudada da compressão abdominal, para impedir a hemorrhagia interna, nos casos em que a não dilatabili- dade do collo não permitte a introducção da mão, se a perda continua, mesmo depois da evacuação do liquido amniotico. O emprego da rolha, como meio dilatador do orificio, para permittir a intervenção da arte, ainda é de vantagem incontroversa, quando a terminação do traba- lho é embaraçada por obstáculos dependentes do collo do utero, da bacia e das partes molles; porque, diz elle,- não vejo em que, nestas condições, a extracção da placen- ta torne mais facil a extracção do feto, que o Dr. Simpson rccommcnda se deve praticar immediatamente depois. È somente, acerescenta elle, nos casos de morte ou não viabi- lidade do feto, que se poderia, para poupar á mãi as dores do arrolhamento, proceder ao descollamento e á extracçã , da placenta, se a hemorrhagia fôr ürave. Quando a dilatação do collo fôr sufficiente, deve-se imme- diatamente terminar o parto pela versão ou com o forceps. §3.» Tratamento da hemorrli gia por ins< rsâo viciosa da placenta em outro qualquer ponto. O tratamento aconselhado par» as hemorrhagias li- geiras produzidas pela inserção viciosa da placenta no PARTOS 601 «ollo do utero são perfeitamente apphcaveis ao c^so que nos occupa; todavia convém especificar detidamente al- gumas circumstancias peculiares ao tratamento especial. Como nos casos de hemorrhagias por inserção da pla- centa no collo do utero, as provenientes das inserções em outros pontos, começão em pequena cópia durante os primeiros mezes da gestação, adquirindo progressiva intensidade e abundância á proporção que se approxima o termo da prenhez, tendo, como todas, gravidade que dificultará inevitavelmente o trabalho do parto. Antes do estabelecimento do trabalho, e mesmo durante o pre- curso da gestação, o parteiro deve lançar mão dos meios adequados, e que possâo embaraçar a continuação das hemorrhagias, usando em ultima instância da rolha, se a isso o obrigar a abundância da hemorrhagia, embora possa ella determinar, como ordinariamente determina, o começo do trabalho. A rolha deve ser sempre empregada em principio; se a perda fôr ab ndante e rápida, compromette immediata- mente a vida da mulher, e então o pratico velará com attencão os progressos do trabalho, que pó ie em pouco manifestar-;-e. Deve ser, como já foi aconselhado, retirada quando a mulher sentir necessidade urgente de ourinar e reposta em seu lugar, até que o effeito desejado tenha sido obtido; isto é, que a dilatação seja em cópia suffi- ciente para permittir terminar immediatamente o parto pela versão. A rolha pôde ser ainda retirada, para só ser reposta na occasião de repetição da hemorrhagia, quando os incommodos que eUa produz se tornem insupporta- veis á mulher. A ruptura das membranas é outro n eio de vantajosa applicação nos casos de que agora nos oecupamos; a con- dição, porém, da facilidade da ruptura das membranas, é que a placenta não esteja inserta no centro, porque neste caso a operação pôde determinar uma hemorrhagia para o interior do ôvo. Esta ruptura das membranas é de incontestável aproveitamento, estando a placenta in- serta nas vizinhanças do collo: « mas, diz o Dr. Cazeaux, ainda que a situação seja pouco grave, nós damos a pre- ferencia á rolha. » 602 PARTOS Para este eminente parteiro, com o qual estamos de perfeito accôrdo, o meio por excellencia curativo das hemorrhagias por inserção viciosa da placenta — é a ro- lha e dep>is delia a ruptura das membranas. Os demais meios externos só têm valor comparativo, e como coad- juvantes dos especiaes a que concedem todos os par- teiros a proeminencia. A inserção viciosa da plac nta não é a causa única de hemorrhagias durante o tempo da prenhez e do trabalho do parto; as perdas eff ituão se, dadas certas condições: algumas escapão por emquanto a um juizo satisfactoriamente explicativo, havendo in- serçio normal da placenta. As hemorrhagias podem adquirir intensidade igual ás produzidas pela inserção vicio-a e reclamar os mesmos meios geraes e os espe- ciaes, modificados, porém, segundo as condições da causa produetora. ARTIGO 6.° Hemorrhagia por descollamento da placenta com inser- ção normal. Causas. As causas que determinão estas hemorrha- gias nos últimos mezes da prenhez são: commoções phy- sicas ou moraes violentas, esforços corporaes e contracções uterinas, provocadas por causas desconhecidas, as quaes muitas vezes deixão de ser percebidas pela própria mulher. Para Jacquemier a hydropisia da amnios é a causa mais freqüente, depois das enumeradas, da hemorrhagia; porque, diz elle, os elementos da placenta podem ser afastados precipitadamente pela rápida e intempestiva dis- tensão do órgão, o a hemorrhagia produz-se pelo mesmo mecanismo que as engendradas pela inserção viciosa sobre o collo. Durante o trabalho a hemorrhagia tem por causa o descollamento prematuro da placenta, oceasionado pelas contracções, as quaes, determinando a desc da do ôvo, ainda intacto, para a excavação e conseqüente depleção PARTOS 603 parcial do utero, as membranas effectuão tracções irre- gulares sobre a circumferencia da placenta, descollâo-a, e dão lugar á hemorrhagia. Além das causas mencionadas ha ainda a predisposição individual especial, e lesões do coração e das vias respira- tórias que concorrem para o apparecimento da hemor- rhagia. Symptomas. Os symptomas destas hemorrhagias são quasi idênticos aos dos produzidos por inserções viciosas da placenta; ha, porém, um caracter especial que as differencia, e é o que dá a medida do accidente: em vez da hemorrhagia ser manifestada quasi sempre por perdas externas mais ou menos abundantes, estas podem, ao con- tr. rio, tornar-se internas. A perda começa em certos casos sem manifestações estranhas precursoras, e o escorrimento do sangue é o primeiro phenomeno que desperta a attencão da paciente. Na perda externa. Como s contracções, ou u esmo durante a apresentação se não é do vértice; neste caso porque as paredes uterinas retrahindo-senão se accommodão perfeita e completamente á circumferencia exterior do corpo do feto. Nas apresenta- ções da espádoa e do assento, por exemplo, os interstícios e depressões dos elementos do feto fôrmão espécies de regos por onde o sangue pôde livremente transitar, e a hemorrhagia continua quer durante as contracções, quer nos intervallos de inércia uterina que as separão entre si. Se, porém, as membranas durante o trabalho, e na persistência da hemorrhagia, ainda estiverem intactas, a perda só se verifica, como nas apresentações do vértice no intervallo das contracções. PARTOS 605 Na perda interna, embora a hemorrhagia seja abun- dante, o sangue derramado pôde ficar retido no interior da cavidade uterina, e dificulta •, senão impossibilitar o diagnostico. Nas de pequenas proporções o diagnos- tico é impossível, e passa mesmo desapercebido. Quer n'um quer noutro caso, é raro que, d) sangue que se escoa dos va^os destruídos, algumas gottas não atra- vessem o orificio, e venhão esclarecer a causa dos phe- nomenos geraes que atacão a mulher. A elles ha cos- tume de juntarem-se dores surdas, profundas e coninuas, o ventre augmonta rápida e consideravelmeme de vo- lume, e adquire dureza e tensão. A apreciação rigorosa do augmento do volume, assim como da dureza do globo uterino, nem sempre é possí- vel como significação exacta da perda interna, Em pri- meiro lugar o medico só é chamado na hora do perigo, e a comparação entre o actual volume e o normal é impossível; em segundo lugar o excesso de gordura difi- culta o exame, não só do volume como da dureza, pelo que o diagnostico destes signaes não tem valor absoluto que possa encaminhar á descoberta da verdade. A fôrma do utero é, na maioria dos casos, um signal que adquire importância nas mulheres magras, se a porda interna não descollou inteiramente a placenta, porque, quando o descollamento é completo, ou a perda se faz de modo que o sangue se insinua entre o ôvo e as paredes utu-inas, não ha possibilidade de que o sangue, afastando o ôvo, forme o tumor bilobado que dizem muitos autores ser um dos bons signaes para o diagnos- tico da hemorrhagia. Yclpeau não só não admitte a possibilidade da for- mação do tumor bilobado do utero, sando uma parte occupada pelo feto e a outra pelo sangue derramado em fôrma de sacco, como afiançâo ter visto alguns casos os Dis. Laforteiie, Saumarez, e Thomaz (de Baltimore), mas até considera inadmissível a existência da hemorrhagia in- terna estando o ôvo intacto. Para elle é mais natural o sangue ter força sufficiente para descoUar as membranas e abrir passagem para o exterior, maxime nos últimos mezes da prenhez; e principalmente momentos antes do 606 PARTOS trabalho, ou emquanto elle se effeitua, tendo em mira o es- tado do collo e a tendência que existe para as contracções. Seja qual fôr a causa conhecida ou oceulta, seja simplesmeme interna ou mixta, a hemorrhagia é pre- cedida ou acompanhada dos symptomas geraes com- muns ás grandes perdas, o que tira a obscuridade de que pudera revestir-se o diagnostico. Diagnostico. Não ha tratamento possivel sem o conhecimento exacto da causa e fôrma da hemorrhagia. A hemorrhagia externa, como nos casos de inserção viciosa, é facilmente conhecida pela sahida de sangue em maior cópia pelas partes da geração do que é com- mum. Resta apenas procurar qual a causa que a deter- minou. Estando o utero impermeável, de modo qné embarace a exploração, o meio único differencial é a fôrma da he- morrhagia. A repetição com intervallos, mais ou menos longxs, que se realisa quando a hemorrhagia provém da inserção viciosa da placenta no collo do utero, falta absolutamente nas inserções normaes do corpo do órgão. Além disto, conhecidos os symptomas, pelo que já ficou descrip o no artig > correspondente, que caracterisão e fazem conhecida a inserção viciosa da placenta no collo do utero, os quaes faltão nas ins rções normaes, nenhu- ma dificuldade apresenta o diagnostico. Resta saber ío o feto está morto ou vivo, e se esta morte pôde determinar o estabelecimento do trabalho. As contracções uterinas e a auscultação são os meios de resolver este problema com segurança. Durante o trabalho, a perda é o resultado do descol- lamento produzido pelas tracções das membranas na cir- cumferencia da placenta; depois da dilatação completa do collo o ôvo introduz-so intacto na excavação, isto é, sem ruptura prévia das membranas. Nos casos de pequenez do cordão umbilical a hemorrhagia pôde effei- tuar-se depois da ruptura das membranas. O diagnostico soffre mod.ficações conforme a peque- nez do cordão é devida a laçadas no pescoço ou tronco do feto, ou á insuficiência normal no desenvolvimento PARTOS 607 desta parte. No primeiro caso a presença das circulares nas [artes que dera causa á sua diminuição, coincidindo com a parada de progressão do feto, depois de expellida a cabeça para fora da vulva, tornão o diagnostico evi- dente ; no segundo, as opiniões de Baudelocque, Joulin, Maygrier o Moreau, com os quaes estamos de perfeito accôrdo, são: que o diagnostico só pôde ser fei;o com segurança como no primeiro caso, depois da sahida de um i parte da criança. É a falta de progressão na des- cida do feto, depois de expellida a cabeça, que denun- cia a causa da hemorrhagia. Depois de introduzida a cabeça na excavação, não tendo o cordão as proporções necessárias, quando a dôr cessa, ou se suspende a contracção, a cabeça sobe de novo. O diagnostico da perda interna é quasi impossível se ella não se acompanhar de algum escorrimento, ainda que minimo, de sangue para o exterior, e não apresentar os symptomas geraes próprios das grandes perdas, que no lugar correspondente já enumeramos. Em relação ao volume exagerado do ventre na perda interna o Dr. Joulin diz o seguinte : « Se o augmento ou a diminuição do volume do utero fosse facilmente apreciável quando as membranas se rompem e que o liquido amniotico se escoa na ausência do parteiro, bastaria reconhecer esta ruptura, exami- nando o volume do ventre da doente; mas este signal é de tal sorte Ulusorio que os autores referidos nem delle fallâo, emquanto que se estendem longamente so- bre o meio de reconhece-lo pelo toque e existência das membranas. Ora, a quantidade do liquido amniotico es- coado, é tão considerável como a do sangue derramado em uma hemorrhagia interna grave. A verdade é que, em um ou outro caso, o augmento ou a diminuição do volume do ventre é um caracter que, ordinariamente, escapa á attencão, e cuja apreciação é excessivamente difficil. » Tratamento. A primeira indicação é repouso absoluto, e collocar a mulher deitada horizontalmente. A tempe- 608 PARTOS ratura do quarto deve ser antes baixa do que alta e quente. Quando a mulher tiver neces-idade de ourinar, extrahir a ourina com a sonela, e evacuar o recto por meio de clysteres mornos, mesmo depois do desappa- recimento da hemorrhagia, para prevenir a renovação. A mulher deve conservar-se na cama por alguns dias. A medicação especial a cada hemorrhagia, isto é, ás hemorrhagias internas, e ás externas, varia segundo a natureza e intensidade da perda. Hemorrhagia externa ligeira. Ao mesmo tempo que se tornão as medidas de prevenção enumeradas no começo do tratamento, ha conveniência do emprego dos medi- camentos internos, dos aconselhados para os casos de hemorrhagia externa promovida pela inserção viciosa da placenta no collo do utero, e que são: crocus, platin. e sabin , sendo a escolha sujeita ás indicações espe.iaes, estipuladas para sua administração. Sua applicação deve ser modelada pelo gráo do soffrimento. Quandc estes primeiros medicamentos não produzirem todo o effeito desejado arn, cham., cinnam., hyose e ferr. devem ser administrados. Convém addicionar ao traiamento interno algumas injecções de tintura de ar- nica, em solução de água fria, feitas brandamente, para evitar a dissolução dos coalhos que houvereui sido for- mados. Hemorrhagia externa, grave, antes do trabalho. Os meios aconselhados acima devem ser administrados com ener- gia, e sen se deixar impressionar pela abundância da hemorrhagia. Em caso de insuccesso, deve-se lançar mão da rolha (tampon). Antes de introduzi-la, é indispensável retirar os coalhos que estiverem obstruindo a vagina. « A rolha tem o inconveniente, diz o Dr. Joulin, de converter a hemorrhagia externa em interna, e apezar de toda a possível attencão, eu disse quanto era difficil explicar o desenvolvimento do utero, que se tem considerado como um dos symptomas mais importantes deste acci- dente » Além da rolha deve-se praticar a compressão com PARTOS 609 uma atadura larga, e applicar compressas graduadas nas regiões iliacas, como adjuvantes do arrolhamento. « Yclpeau considera a compressão como um recurso precioso, e cita vários autores que obtiverão optimos resultados por este processo. É, pois, um meio que se deve, tanto menos desprezar, quanto não embaraça o emprego de outros agentes. » (Joulin.) Se estes meios falharem deve romper-se as membranas. Puzós, regularisando o methodo para a ruptura das membranas, aconselha que em vez do emprego de meios precipitados e intempestivos, se dilate gradualmente o collo, introduzindo dedo por dedo, sem forçar o utero pela introducção repentina da mão. O escorrimento do liquido amniotico determina a re- tracção do órgão e conseqüente obliteração dos vasos abertos. As membranas devem ser rotas antes da formação do sacco das águas: Io, sem forçar a dilatação do collo, usando-se do processo de Puzós; 2o, pela introducção precipitada da mão. Quando as contracções uterinas en- fraquecem, durante a ruptura das membranas, devem ser despertadas pelo emprego de: Opium, quando a mulher é vigorosa e plethorica, e que as dores se têm supprimido de repente, quer por effeito de um susto, quer por alguma outra causa desastrosa : ou quando se quer estabelecer, ou já está estabelecida uma congestão cerebral, com face vermelha e vultuosa, e mesmo com estado soporoso. Pulsatilla, nas mulheres de constituição regular, se as dores forem demoradas, maxime se as que existirem forem espasmodicas: ou mesmo quando a falta de dores é effeito cie inactividade do utero, antes que de fraqueza geral. Secale, quando a mulher é de constituição fraca e cache- tica, ou estiver esgotada por perdas consideráveis de san- gue, ainda mesmo que haja na occasião dores espas- modicas, substituindo as verdadeiras. Quando, apezar do emprego de todos estes meios, a perda continua sem D. H. II. 3° 610 PARTOS interrupção, a extracção do feto, com a mão ou com o forceps, deve ser praticada, applicando-se este instru- mento com toda a possivel delicadeza, logo que o collo se apresente sufficientemente dilatado. « Apezar da opposição de Hamilton, Duncan Stewart e de outros autores deve-se considerar a perfuração das membranas como um meio efficacissimo. Rigby, Merri- man, P. Dubois e a maior parte dos modernos têm nelle a mais justa confiança; entretanto, não deve ser empregado senão em caso de verdadeira necessidade. É evidentemente um progresso considerável sobre o me- thodo imaginado por Luiza Bourgeois, e desenvolvido por Guillemeau, de penetrar á viva força no utero e praticar o parto forçado. » (Joulin.) Hemorrhagia interna. Os meios a empregar são os mesmos acima aconselhados no curativo da hemorrha- gia interna; a indicação immediata e essencial é esva- siar o utero o mais promptamente possivel; ou parcial- mente pela ruptura das membranas, ou inteiramente pela extracção do feto. Hemorrhagia durante o trabalho. Tendo a hemorrha- gia por causa o descollamento da placenta, effectuado pelo repuxamento de sua circumferencia, quando o ôvo se introduz intacto na excavação, a indicação imme- diata é romper as membranas. Nas hemorrhagias graves, durante o trabalho do parto, têm applicação e devem ser empregados com persistência todos os meios aconselhados para as perdas graves du- rante os últimos mezes da gestação, além da depleção immediata do utero nos casos de demora no bom re- sultado das applicações. Os medicamentos aconselhados nos casos de hemorrha- gia externa grave antes do trabalho têm aqui sua especial indicação, para o fim cTe despertar e activar as con- tracções uterinas, principalmente se a apresentação fôr favorável, e o collo exterior dilatado. PARTOS 611 ARTIGO 7." Hemorrhagia na época da expulsão da placenta. As" hemorrhagias de que vamos agora occupar-nos são as que se effeituão depois da expulsão da placenta. Normalmente o descollamento da placenta coincide com a retracção do utero para se justapor ao corpo da criança depois do escorrimento das águas, effectuado pela ruptura das membranas. Ordinariamente a quantidade de sangue que se escoa na occasião é minima, porque, fazendo-se gradualmente o descollamento, a retracção embaraça a sahida do sangue, obliterando cs vasos que se abrirão. Na maioria dos casos, porém, as contracções, antes da completa depleção do utero, isto é, antes de ser expel- lido o feto, não tem força sufficiente para o completo descollamento da placenta. E só depois que as paredes uterinas se retrahem que este effeito é produzido, por- que as contracções, sendo extensas, como são, rompem as adherencias utero-placentarias, e com a criança ape- nas se escoa algum resto de águas que ella mesmo em- baraçou de sahir. Com as primeiras porções contidas nas membranas não sahe quasi nenhum sangue. Muitos autores considerão este signal indicativo da opportu- nidade para o completo desembaraço da mulher. Quando a marcha do trabalho é contrariada por qualquer causa conhecida ou encoberta, o equilíbrio na relação destes phenomenos destroe-se, e a placenta, descollando-se, produz hemorrhagias mais ou menos graves. Causas. A inércia do utero é a causa principal da hemorrhagia, depois do descollamento da placenta. Esta affecção não tem resultados immediatamente funestos, quando a placenta não teve tempo de ser descoUada, mesmo em pequena extensão de superficie. A inércia pôde ser primitiva ou secundaria. A primitiva é a que ataca o órgão immediatamente depois da expulsão do 612 PARTOS feto; a secundaria só se produz horas depois, isto é, se o órgão depois da expulsão do feto e da placenta se retrahio e ficou formando um tumor forte e resistente no baixo-ventre; horas depois torna-se molle, o ventre fica flaccido e relaxa-se. A hemorrhagia effectua-se porque os vasos que estavão comprimidos pela retracção das fibras do plano médio das paredes uterinas, não tendo sido ainda obliterados, por falta de tempo para consolidação do coalho, se abrem de novo e deixão es- coar o sangue, dando lugar á formação de hemorrhagias internas e externas, as quaes adquirem intensidade crescente, na razão inversa do tempo em que a inércia invadi o o órgão. A inércia ainda é promovida ou augmen- tada pelas seguintes causas secundarias: Ia, a distensão extrema do utero, por hydropisia da amnios ou por uma prenhez gemellar; nestas condições, o órgão torna-se im- próprio para uma retracção enérgica, e a inércia sobrevem depois de sua depleção; 2a, a demora no trabalho, o qual esgota a doente, ou fatiga o órgão por effeito de contrac- ções violentas e repetidas afim de effectuar o trabalho do parto; 3*, a existência de perdas nos partos anteriores. É difficil explicar esta má disposição, mas deve dar- se-lhe importância na pratica. Yelpeau explica por outra fôrma as hemorrhagias que se realisão depois da sahida da placenta ; attribue este accidente aos raptus sangüíneos dos vasos hypogastricos para o utero na occasião em que cessa a compressão. A verdade, ao que suppomos, ó que a compressão é assim feita, como muito bem diz o Dr. Joulin, em todos os partos; o que seria, admittida a explicação de Yelpeau, uma causa perenne de hemorrhagias. A inércia é incontestavelmente a causa essencial das hemorrha- gias. A perda interna nos casos de inércia é o ocasionada pela dífficuldade de escoamento do sangue para o ex- terior em conseqüência da retracção da extremidade inferior do órgão, quando a superior está affectada de inércia; ou por effeito de obliteração, conseqüente á formação de coalhos obturadores. As contracções irre- gulares do utero têm como resultado o enkystamento PARTOS 613 da placenta, phenomeno facil de. explicar quando se preste attencão, que a exagerada retractilidade, carac- terística do accidente, tem acção mais pronunciada em um ponto da inserção da placenta. Uma commoção moral forte pôde produzir a inércia do utero. A hemorrhagia ainda pôde ser produzida quando a placenta é descoUada prematuramente por tracções in- tempestivas feitas no cordão umbilical, durante o tra- balho. Symptomas e diagnostico. O parteiro não deve dei- xar a recem-parida logo depois de effectuado o parto. Deve procurar, mais de uma vez, examinar o estado do utero, sua fôrma e consistência, e, deixando uma enfermeira em seu lugar, só se retirar quando pelo estado presente e pelos antecedentes da mulher tiver confiança que nenhuma hemorrhagia lhe poderá sobre- vir. Os meios que tem a seu alcance para formular juízo mais ou menos evidente a este respeito, são: que o utero depois da expulsão da criança, retrahindo-se, fôrma um tumor globuloso, duro e resistente; se, ao contrario, ficar molle, flaccido, depressivel, e não es- tiver perfeitamente isolado na região hypogastrica, como no primeiro caso, a hemorrhagia está imminente, e ha toda a probabilidade de que fará irrupção. Se a estes signaes se juntarem calefrios e horripilações, a perda já começou e é indispensável empregar com ener- gia, desde logo, os meios adequados para a fazer cessar, no numero dos quaes estão, em primeira linha, todos os que puderem despertar a contractilidade das paredes. Na maioria dos casos a perda é mixta; o sangue, á proporção que se evacua para fora da vagina, vai-se accumulando dentro do utero, e distendendo-o na razão directa da quantidade da accumulação. As cópias que se extravasão são mínimas em relação com as retentas. Durante a prenhez é difficil de apreciar o augmento de volume do utero effectuado pela perda interna, dif- ferentemente da que se verifica depois do parto. A razão é, que neste ultimo estado, o utero, tendo-se 614 PARTOS retrahido, adquirio as proporções quasi iguaes ás que tinha no estado de vacuidade, emquanto que o accres- cimo produzido pelo derramamento interno, augmen- tando de novo o seu volume, facilita a apreciação da causa da nova distensão. As perdas fulminantes quasi nunca se realisão por occa- sião da simples expulsão do feto. Depois do nascimento da criança o utero retrahe-se com força sufficiente para destacar a placenta; estando o órgão atacado de inércia o sangue sahe.em ondas e mata a mulher, se a medicação não é administrada com vigor e rapidez. Nem sempre, porém, a hemorrhagia tem abundância e rapidez capazes de produzir instantaneamente resul- tado tão funesto. A perda vai-se fazendo moderada, mas continuamente. Sendo externa, a mulher pelo sentimento estranho que experimenta, e admirada ou assustada pela onda que cada contracção faz escoar, a denuncia ao assis- tente. O sangue liquido e em coalho é expellido com ruido. Na perda interna o perigo é mais grave. Se o parteiro não der valor aos symptomas geraes da paciente, como sejão os calefrios, a sensação de resfriamento, os incom- modos do estômago e o estado de crescimento progressivo do utero, uma syncope é o indicativo da gravidade da situação, a qual é seguida de outras, e de convulsões pre- cursoras de morte da mulher, a qual succumbe exangue immediatamente ou horas depois. Durante a syncope a perda suspende-se dando lugar ao emprego da medicação apropriada á occasião. O meio que deve ser immediatamente posto em pra- tica para firmar o diagnostico da perda interna, quando o utero começa a adquirir proporções consideráveis, é examinar com os dedos o estado de retractilidade do col- lo uterino, e o estado de distensão da vagina pela accu- mulação de coalhos, os quaes serão sentidos. O pulso e os symptomas geraes completarão o conhecimento dos mate- riaes do diagnostico. Acontece ás vezes que, passados alguns dias depois do parto, a mulher sente dores e expelle coalhos de cheiro infecto. Estes representão a coagulação de porções de PARTOS 615 sangue, effeito de hemorrhagia interna ligeira, que passou desapercebida. As hemorrhagias, depois da expulsão cia placenta podem também drovir da ruptura de algum thrombus. (*) Por exclusão dos symptomas que enumeramos para as produ- zidas por outras causas, chega-se ao diagnostico facil- mente dos que provem destas rupturas. Deve haver toda a cautela, quando se procurar cons- tatar o augmento do volume do uterô para o diagnostico da hemorrhagia interna, de não tomar a bexiga distendida por ourina pelo tumor que fôrma o utero. Marcha e terminação. As hemorrhagias depois da ex- pulsão da placenta/ pela facilidade do escoamento do sangue e pela ausência de retracção uterina, são sempre graves. A retracção espontânea ou provocada pelas appli- cações methodicamente feitas, podem fazer, e fazem sus- pender a hemorrhagia, mesmo fulminante. A sahida elo sangue só é continua quando o órgão é atacado de inércia absoluta; em caso contrario, a perda é intermittente ou remittente conforme a contracção e o periodo da inércia se faz com mais ou menos intervallos. Quando, em vez da sahida da placenta em totalidade, ficão fragmentos adhe- rentes ás paredes do utero a hemorrhagia continua por al- guns dias, produzindo dores e colicas peniveis, sem, porém, se revestir da gravidade de outros casos. Prognostico. O prognostico depende da cópia de san- gue perdido pela mulher. Na maioria dos casos póde-se dizer fatal, mesmo que a hemorrhagia tenha cessado. A morte, neste caso, é produzida pelo estado de enfraqueci- mento conseqüente á perda. Tratamento. O tratamento divide-se em prophylactico e curativo. Prophylactico. Depois do prognostico por todos os parteiros aceito como exacto, em vista da rapidez e <*) São tumores constituídos por sangue infiltrado ou derramado no tecido laminoso dos grandes ou dos pequenos lábios da vulva. (So tiatu dos que nos dizem respeito.) 616 PARTOS abundância da hemorrhagia, o mais seguro meio na pratica deve ser o que tenha por fim impedir que a hemorrhagia se effectue. Sendo a inércia do utero a causa essencial e quasi sempre occasional da perda, o tratamento preven- tivo deve ter por fim activar as contracções em ordem a produzirem a instantânea retracção do utero, logo depois de expellido o conteúdo. A medicação interna é a única que pôde sem perigo para a mulher e para o feto preen- cher a indicação. Os meios externos aconselhados pelo Dr. Roberto Lee, como preventivos da hemorrhagia, que consistem na rup- tura dos membranas no começo do trabalho, antes mesmo da completa dilatação do collo, podem comprometter sem vantagens apreciáveis a vida da criança. Os meios médicos aconselhados são a applicação, logo depois da sahida da criança, dos medicamentos seguintes: Puls., e sec, os quaes devem ser administrados, conforme a indicação, até que as contracções se multipliquem. Se puls., não produzir effeito, por haver forte congestão para a cabeça, com face vermelha e vultuosa, olhos brilhantes, grande seccura da peUe ou da vagina, angustia e inquie-* tação, o medicamento que deve ser preferido é bell. Se nesta occasião apparecerem convulsões ou espas- mos, os preferíveis devem ser: Hyos. e ign., ou mesmo: Bell, cham. e cie. Os Inglezes aconselhão applicar ao seio da mulher a criança, logo depois do parto, por causa da sympathia que existe entre o utero e os seios. Apezar da pouca efficacia de semelhante meio, elle em nada contra-indica as demais applicações; e quando a criança é dotada de força, pôde ajudar de algum modo a acção dos medica- mentos. Curativo. Quando a perda é moderada, emquanto se espera a acção de algum dos medicamentos aconse- lhados acima, basta praticar fricções sobre o utero pelas paredes do abdômen, até produzir dores e determinar as contracções. Na hemorrhagia grave estas manobras devem ser PARTOS 617 acompanhadas da introducção da mão na cavidade ute- rina. O fim é excitar o utero, e esvasia-lo dos coalhos conteúdos. Logo que as contracções se estabelecem, cxtrahe-se a placenta. A extracção não deve ser feita emquanto dura a inércia do órgão. O emprego da água fria tem inconvenientes sérios. Apenas se deve applicar compressas embebidas n'agua fria, e depois de torcer o espremer o liquido, lança-las de repente e de alto sobre o ventre, retirando-as pas- sados momentos. Quando a perda é fulminante, e que não dá occasião ás manobras precedentes, é indispensável a compressão da aorta abdominal. Esta compressão torna-se facU, depois de evacuado o utero, e tomando por ponto de apoio uma vertebra lom- bar, da seguinte fôrma: « A parede abdominal é posta em relaxamento, as pe rnas da doente dobradas e as espádoas um pouco ele- vadas sobre um travesseiro; os tres dedos medianos, diri- gidos parallelamente á direcção do vaso, procurão as pulsações e comprimem no ponto onde ellas se mani- festão, apoiando um pouco á esquerda, para evitar in- terromper a circulação na veia cava. Esta manobra deve ser prolongada até que as contracções se tornem sufi- cientemente enérgicas. L. Baudelocque, em um caso, a praticou durante quatro horas. Bem que não haja neces- sidade de dispender grande força, em caso de fadiga muda-se de mão ou substitue-se por uni ajudante. O único obstáculo serio á compressão da aorta é a espessura considerável da parede abdominal. » (Joulin.) A menor conveniência que tem a compressão da aorta é dar tempo á acção dos medicamentos administrados se pronunciar, e produzir o effeito procurado. Contra a opi- nião de Jacquemier, Baudelocque e Trelan, que djsputão entre si a prioridade da descoberta, por efficacissima, a compressão da aorta é um meio geralmente conhecido, e de vantagens incontroversas no tratamento das hemorrha- gias conseqüentes á expulsão da placenta. A inércia é affecção que tem costume de reincidir. 618 PARTOS Embora ella tenha cedido ao emprego dos meios admi- nistrados, convém continuar a applicação dos medica- mentos internos por algumas horas depois da cessação completa da hemorrhagia, para que a retracção do utero se não enfraqueça, emquanto a obliteração dos vasos ute- rinos se não effêctua definitivamente. As dores que a mulher sente, por dias ou somente horas depois do parto, as quaes costumão cessar ou dimi- nuir com a expulsão de alguns coalhos, são occasionadas por pequenas hemorrhagias internas, que passaráõ des- apercebidas, apezar de freqüentes, promovidas pela ex- pulsão da placenta. Os mesmos medicamentos já aconselhados para pro- vocar as contracções, com as indicações estipuladas, devem ser administrados com o fim de procurar-se a expulsão dos coalhos, os quaes, ficando por muito tempo retidos, se alterão e adquirem cheiro infecto, além de poderem determinar, por absorpção, e por acção de contacto phle- bites suppurativas e infecções de mais ou menos gra- vidade. Em conseqüência é indispensável examinar a mulher a cada passo, despertá-la mesmo do somno, quando ha razão de suspeitar-se que alguma perda interna se está fazendo. O emprego da rolha nestas hemorrhagias, apezar da opinião do Dr. Leroux, deve ser rejeitado, porque, além da nenhuma efficacia que teria em iguaes circumstan- cias, é altamente nocivo por determinar o estabeleci- mento da perda interna. Hygienico. Immediatamente depois de ter cessado a hemorrhagia é necessário sustentar as forças da mulher, para o que se lhe deve dar, em começo, caldos de gal- íinha, e vinho com água. Quando a perda tem enfraquecido a mulher ao ponto que os mais poderosos reconstituintes ficarão sem effeito pelo estado de esgotamento a que a perda deu lugar, a sciencia hodierna ensaia e aconselha, com insistência, o uso da transfusão de sangue por meio de apparelhos es- peciaes, e modificados pelas idéas modernas. PARTOS 619 Brow-Sequard e outros mandão desfibrinar o sangue antes de servir para a transfusão. ARTIGO 8.° Hemorrhagias depois do parto. Estas são as que se estabelecem durante ou depois da febre do leite, e que se fazem de envolta com os lochios, No estado de pequena hemorrhagia, de ordinário passa desapercebida ou é attribuida á força e vigor do tempe- ramento da mulher. Quando é considerável ou faz irrupção durante o es- corrimento normal dos lochios, ou mesmo depois que elle cessa de todo, acompanha-se de dores lombares, inappetencia, fraqueza e prostração extrema depois de qualquer exercício. Felizmente, porém, ainda mesmo grave, a vida da mulher não corre risco immediata- mente, embora ella se prolongue por muitos dias. A causa destas hemorrhagias é a falta de cautelas indispensáveis, o levantar-se da cama antes do tempo prefixo, e as tentativas de entregar-se, desde logo, a occupações impróprias do seu estado, e que a fatigão. A causa intima destas hemorrhagias é a mesma que dá nascimento á menstruação, excitações que congestio- não o utero e os ovarios. O melhor meio de precaver a mulher das reincidên- cias tão freqüentes destas hemorrhagias, e da cura da que se estiver fazendo, é obriga-la a recolher-se de novo á cama, ficar em repouso absoluto por muitos dias, deitada horizontalmente, mesmo depois da cessa- ção da hemorrhagia, e applicar os mesmos medicamentos aconselhados para os casos de hemorrhagias: Am., cham., cinnam., croc, ferr., ipee, plat. e sec. conforme a indicação e nas circumstancias especialisadas na patho- genia por nós aconselhada. Yamos terminar este trabalho apresentando aos nossos leitores um quadro das indicações, rapidamente esboçado, semelhante ao da obra do Dr. Cazeaux. 620 PARTOS A época presumível da terminação da prenhez é mo- tivo de embaraços sérios em muitas phases da vida. A contagem dos mezes de concepção habUita a mulher a precaver-se de accidentes mais ou menos desagradáveis na época do parto. Entre mulher e marido ha sempre duvidas a respeito do termo da gestação; cada qual am- biciona a primazia para a exactidão dos seus cálculos. Como meio de evitar incertezas e embaraços na veri- ficação da época presumível da concepção e termino da gestação, damos em seguida uma tabeUa de datas, que, se não encerra infalHbiUdade, habilita os desposados a affirmar com quasi certeza as épocas de concepção e estabelecimento do trabalho do parto. Esta tabeliã tem por fim prevenir o medico e mulher pejada contra as duvidas que se suscitâo a respeito dos incommodos que se declnrão nos últimos mezes da ges- tação, e ajudar o diagnostico das dores falsas que, con- stantemente, precedem em certas organisações o estabele- cimento das verdadeiras. CM CO u eü eü > O IÍ5 < 'O NtfOiOOiOOÍlifíffí^CftjPH^l ICO i-l iH CM CM CO rH rH CM i li I > O 53 I I I I Q e ^5 .a fe S I I I I I l| iioomoioccHiooaooHiooiooio coHiC50iooioa)HirjoinO'n»HiQO«noinco iHrHCMCMCM HHfq?) tHtHCMCM CM- iHiHCMIMCM rH iH , a applicação da rolha exige muito critério. Quando a vagina estiver tapada o sangue poderá, se não houver cuidado sem que uma gotta seja oicpellida para o exterior. O perigo será tanto maior quanto o utero se tiver desenvolvido mais antes da ruptura das da rolha não deve, pois, ser preferida ao parto forçado senão quando as contracções uterinas tiverem energia sufficiente, e quando no momenljo uma muito pequena quantidade de água. A applicação da rolha deve ainda ser seguida de vigilância muito attenta e da applicação de m possa resistir á ampliação do utero. Ao contrario, quando as contracções forem fracas, quando se tiver escoado grande quantidade de água tencia do orificio e praticar a versão. Se o collo estiver fino, cortante e resistente deve-se fazer era cada um dos lados do orificio incisões prév as , accumular-se na cavidade uterina, produzindo a morte da mulher nlembranas e quanto mais fracas forem as contracções. A applicação da ruptura das membranas não se tiver escoado do utero senão , atadura larga de ventre apertada, de modo que sem perigo por occasião da ruptura das membranas, é melhor forçar a resis- ORIFICIO DILATADO...... (Romper as membranas. Se esta ruptura (Aqui ainda o preceito é rodiper as membranas e esperar que a retracção do utero tenha ou não feito parar a hemorrhagia antes de tomar outrt MEMBRANAS INTACTAS.. .< não bastar fazer a versão ou applicar< como para o filho, que o nascimento deste seja o resultado das contracções uterinas espontâneas, em vez das manobras costumadas, ordinariamen " \ 0 forceps. ' l as vezes que fôr possivel. Bem entendido esta expectação não 6 admissível se não nos casos em que as contracções não são nem fracas MEMBRANAS ROTAS. {Versão se a cabeça estiver acima do ori-íTóde-se sem duvida recorrer á applicação do forceps ficio. Forceps se a cabeça já tiver che-J para que a versão nos pareça preferivel. gado á excavação. Extracção simples sei a extremidade pelviana se apresentar.!. o emprego deste instrumento quando a cabeça estiver acima do orificio, porém não díscida na excavação, offerece ordinariamente grandes difficuldades qualquer resolução. Parece-nos tão importante, tanto para a mãi e difficeis, que ó de desejar que o parto espontâneo se efFectue todas lem muito demoradas. HEMORRHAGIA GRAVE — COM í ORIFÍCIO NÃO DILATADO. [O mesmo tratamento que em B. PLACENTA NO ORIFÍCIO OU { j NAS \IZINHANÇAS. (ORIFÍCIO DILATADO.....[Versão, descollando a placenta, ou methodo de Simpson ( £rf.X I /v%)jn x £W,^ I XV^ TIONAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE NATIONAL LIBRARY OF MEDICI NLM000860143