"isn* NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE Bethesda, Maryland L**""* JfROSPEüTÒ DE ■*; HUM SYSTEM A SIMPLICTSSIMO DE MEDICINA; O V ILLUSTRAÇÃO E CONFIRMAÇÃO NOVA DOUTRINA MÉDICA DE B R O W JS ; PELO Í)r. BELCHIOR A DÃO \ V/l-IK A H D , Lonsil-itiro ite L&tado de $. i\l. o Imperador da tínssia , <$c. TRADUZIDO DO ALÍ.MAÍ) LM ITALIANO 1' K L O Dn. J O S E' F RANR. Terceira itupiessüo com os accrescentamoníos da segunda impressão Alemão, e com as novas amiotaçóes d o Dr. LUIZ 1< R A N K. Tirado cin linguagem desta nova impressão, e an [;Haio con< cutras annotações p o u MANOEL JCACtlM HENRIQUES D E L i. 1 V A. '1VM. 11. * ^ ^/20 6^, BAHIA. Na Tyr. de RIanoll A.vio^íio da Silva^SeM^ A.\so de IfclC. Com u: Ikai^us necessária, .* V-.&/7* DE H fcM SVSTEMA SIMPLICISSIMQ D B MEDICINA. 4>x>oos os casos ; a diíferença existe uni- camente nas palavras, e nao na na- tureza da cousa. Cumpre attender ao maior ou menor gráo da estiienia, ti mais ou menos compleeía asthcnia , sem cuidar demasiado das divisões e doa nomes. O leitor se recordará ainda que tanto as causas como os remédios das enfermidades se tem derivado das men- cionadas forças ineitativas , a saber, fio calor , dos alimentos , do sangue , dos humores delle separados, do ar, (e acaso também dos contágios e ve- nenos), da contraceno muscular, das sensações, da energia do cérebro no pensar , e das paixões da alma. A aeçao saudável ou nociva destas forças de- pende unicamente do seu gráo de ener- gia mais ou menos notável. O calor, •spor exemplo estimula e robóra, mas o »seu excesso ou ftlía enfraquece. Os ali- «1 ca tos nutritivos, 'que- estimulam 1796, todos temem então hum frio tar- dio e hum anno estéril. Como «u nun- ca notei as observações meteorológi- cas , nada posso deduzir de huma lar- ga experiência, que seja contrario; mas sendo todavia accostumado a não acreditar cegamente cousa alguma, e muito menos tudo o que se parece com huma preocupação universal , assegurei aos meus amigos inquietos por esta aetaçao benigna, que me pareciam não ser ( 13 ) ter bem fundado o temor de" hum frio tardio e da esterilidade. Sendo o in- verno de 17dj fortíssimo e desabrido, tivemos maior núnero de enfermida- des do que no presente • e todavia o gelo fez perecer assaz tarde as vinhas, e diversas outras cousas. No anno an- tecedente o inverno era benigno, e não houve frio tardio , que prejudicas- se as vinbas , e o vinha foi abundante e bom. Lembro-me que em Petersbur- go na declinaç^o do inverno havia fre- qüentemente bellos dias, e que os na^ cionacs conservavam, não obstante as suas peI5iç*s , que lhes prestavam com ef- feito optimamente contra o frio forte, que tomava improvisamente ; pois que com o derretimento do laço de Lado- gmer, e das neves na? partes do norte ° yeíltl\ ^.emprenhon novamente de partes fnjndissimas e damnosas á saú- de. Pensei por tanto quo onde o in- verno fosse em geral brando, como acontcceo este a.mo na Rússia, e na Itália, deve oaver no norte huma quan- tidade mínima de gdo, e que por conseguinte . na primavera do nina ~o me- (13) menos ventos, os quaes no fardo derre- timento das neves do norte produzirão hum frio tardio. Desta maneira discor- ria quando appareceo nas gazetas hu- ma relação dos annos férteis da Succia; Achou-se que o anno de 14*1.0 cm que houve a maior fertilidade, o inverno foi o mais brando, e que assim se se- guiram oito annos férteis depois de outros tantos imernos brandos. Rcsul* ta daqui que o frio no inverno não hc absolutamente necessário á futura ferti- lidade, como erradamente se Julgou até* goia. O tempo vindouro mostrará se eu discorro bem. Desgraçadamente depois de ter ja escripto ibto sobreveio com c princi- pio do mez de maio hum rigoroso frio com iruitihsimu neve*, o que t.as- arranjou teda a r.dnha profecia. Nat- uralmente este rigoroso frio se terá tstendido também até ao noite , e ahi angmentado o gelo. Podem pois no progresso da primivw.ra bol.revir frios, vento* fortes , produziiU;: peio derretimento do gelo, e causar da- pnioíj a quanto niaís a incitabilidade for acciimulada. lie por este motivo que o calor exer- #e muitas vezes sobre as crianças hu- ma acção excessiva, e que quando gcz&m de boa saúde; passam muito (li) tnelhor numa atmosfera mais fresca , t podendo nella conservar-se espertos É e exercitar-se com o movimento. Igual- mente convém mais ás Crianças hum alimento moderado e não estimulante, «alvo o caso em que se pretenda sa- ueallas de alguma enfermidade asthe- nica. O Calor augmenta a força daí fibras musculares « a actividade dos tasos, o que facilita a transpiração. Porem se elle obra com excessiva for* ça então cresce o incitamento, e a densidade das fibras musculares: di- miiiuindo-se por isso os diâmetros dos *a«os , de que resulta reprezar-se es- pecialmente na pelle a matéria da transpiração. Este fenômeno observa- se muitas vezes nos bexigo os e nos sa* ramposos, sendo o incitamento nestas enfermidade» já por si maior sobre a •uperfície do corpo. O ealor nesta circunstancia pode produzir o mesmo, ou também hum dam no maior do que os medicamentos estimulantes, tão no- civos em similhant.es casos. He pela mesma razão que, durante os grau- (■ 16 ) cies calore-, que reinam no verão nos f»aizes meridionaes, nos he tão agra- dável tudo o que tempera a excessiva acçao do calor, c que diminue mo- deradamente o incitamento assaz au- srmentado, Achamo-nos bem usando das trutas, dos vegetaes alguma cousa a- zedas , dos gelados , das limonadas i cousas todas , que na estação fria po- deriam muitas vezes ser nocivas. • Nas enfermidades astlienicas pois rm quanto se 'applicarn os outros re- médios tônicos e incitativos, não se deve omitir a applicação de lium moderado gráo de calor , (mormente nos casos cm que pretendemos produ- zir maior incitamento pobre a superfí- cie externa do corpo. Também huma1 sensação, que se avisinha ao deleite, que nos cauip. li um conveniente gráo de calor , deve-se reputar hum re- médio restaurante e tônico. Por iíS3( o banho quente cm que se está so-' n.ente até que o estimulo de hum agradável calor se difíunda igualmen- te pelo corpo , pode servir como tô- nico. Conheço hum homem letrado , do- ( 17 ) botado de grande sagacidade, cuja compleição he fraquissima , o qual sen- do sujeito a suores fedorentos e debi- litantcs, os reprimia constantemente por n^eio do banho quente. Thiery salvou hum en baixador Francez residente em Ma- drid de huma eólica gotosa , acompa- nhada de adstricção de ventre e de s^mptomas horrendíssimos mergulhan- do-o muitas vezes em água quente. ' Nas enfermidades esthenicas, que se achegam ao seu termo , ou naquel- las, que desde o principio foram sua- ves, como por exemplo , no rheuma- tismo leve, numa palavra em todas aquellas moléstias fiogisticas, que não attacam nenhuma pai te essencial á vi- da , em todas , digo, o calor modera- do judiciosamente applicado pode vir a ser utilissimo , se o enfermo está incli- nado ao suor ; deste methodo se fatia- rá logo. Nestes casos hum suor igual diminue o excesso dos humores, evacua as partículas supérfluas e nocivas, en- fraquece o incitamento de todo o cor- po, e pode eoniplectar a cura n.ui de- pressa em varias enfermidades, esten- lum. II. B den- C 18) dendo-se igualmente a sua acção sobre todo o corpo. As infusões de cha produzem tam- bém com muita promptidão hum au- gniento de incitamento ; excitam a trans- piração e a expectoraçao ; effeitos que se devem attribuír quasi todos ao calor da água quente. Para que esta bebida podesse fazer as vezes de hum medi- camento tônico, não lhe faltaria senão a massa capaz de dilatar ou estender o estômago , e de obrar como estimulo indirectp. O uso do cha da China he quasi supérfluo ( 64 ). A preocupação a favor das bebi- das frias e.contra as quentes, he tão geral, que não ha hum medico, o qual não diga e persuada ás suas se- nhoras enfermas que o cha afrouxa e he nocivo : mas ellas continuam toda- via a beber o seu cha. He verisimil que o cha goza de alguma proprieda- de singular capaz de estimular os ner- vos , quando se pretende que o mes- mo fresco e não secco seja realmente nocivo. Daqui vem que o cha quente nos alegra, reforça o pulso, aquie- ta ( 1») is em que o sangue, o leite e a semente, são em pouca quantidade, o melhar remédio he o alimento animal substancioso. Será tam- bém necessário de evitar todas as eva- cuações , que não são esseaciaes. A sangria e o^ coito repetido são então nocivas. Na* constituição esthe- nica, ao contrario, ou nas enfermi- dades de excessivo vigor, e nas quaes ha abundância de humores, se demi- nuirá claramente e com bom successo o calor e a força vital excessivas , por meio da sangria , do coito , da eva- cuação do leite, dos sudoriferos e das purgas. He por esta razão que o coi- to he summamente útil nos catarrhos osthenicos e na disposição para as en- ter- (28) fermidades esthsnicas , e que he noci- vo v.s pessoas convalescentes das en- fermidades asthenicas violentas. 4.° Da contraccao muscular. Á força de contracção , que as fibras musculares possuem , depende do incitamento , e he absolutamente proporcionada á graadeza deste. He pois o incitamento , que , em varias doenças , produz hum excesso de for- ça nos músculos , sobre tudo sendo augmentado pelo estimulo do vinho, da cholera e do calor, &c. Nós ago- nizantes pois observa-se huma total relaxação , e a extrema debilidade das fibras. As fibras musculares , considera- das meramente como partes sólidas se- paradas , adquirem maior densidade quando o incitamento cresce , e em conseqüência he também maior a con- tracção. Diminue-se por tanto o diâ- metro dos vasos , o que succedendo dentro de certos limites , promove a eirculação dos humores encerrados nel- (19) fcelles. A fraqueza, ou a falta de ia- citamento auginenta o diâmetro dos vasos, retarda a circulação dos flui- dos , e produz huma desordenada se- creção e excreção. Tal he a fonte e origem dos suores , das hemonhagias ou fluxos de sangue, dos derrama- mentos sorosos asthenicos. O excesso de contracção pôde deminuir as bocas dos vasos, e reprez.r as excreções , como já disse fallando da transpiração. Resulta do que tenho dit,o , que a contracção muscular obra como es- timulo sobre os vasos e os humores, e que se deve considerar como força iucitativa tudo aquillo, que he capaz de incitar e favorecer esta contracção. Neste principio he que estriba a utili- dade do exercício e das differentes es- pécies de movimento, a saber, como o andar a pé , a cavallo , em coche , &c. , as esfregações feitas com esco- va , &c. He pelo mesmo motivo que o humor da transpiração sendo excessi- vo ou reprezado de baixo da pelle nos obriga ao movimento , que nos vem a ser então necessário , para nos po- (30) podermos livrar do' pezo que costuma produzir. Os habitadores dos paizei quentes , nos quaes a transpiração he constantemente livre e fácil , não são por isso mesmo estimulados ao movi- mento. Qualquer pôde comprehender fa- cilmente que os movimentos convulsi- vos , os espasmos e os tremores não devem contar-se entre as contracçõei saudáveis dos músculos. Estes acciden- tes, longe de depender do excesso de força, são produzidos pela fraqueza, de que he clara prova a utilidade , que em similhantes casos produz o me- thodo estimulante. He util de agitar suavemente , de levar em coche as crianças acommettidas de marasmo e atrofia, e de fazer esfregações sobre as partes em que sentem pruido ; o andar freqüentemente em coche he também eflicaz remédio na rachitis. Na paralysia especialmente convém incitar a desfalecida energia muscular , em quanto o permittirem as forças do en- fermo, com as esfregações, o exeici- cio era coche eu earro, &c. Tam- bém ( 31 ) bèm são quasi indispensáveis as esfrega- ções na anasarca. Aconselha-se aos hypochondriacos o exercício de caval- lo , ou guiar elles mesmos os cavallos andando em carruagem , para que se possam recrear e distrahir muito mais. Nas febres he summamente util tode o movimento com tanto que não pro- duza suores nem fadiga. He igualmen- te util no rheumatismo asthenico e na diabetes. Deve-se evitar o excessivo tra- balho nas enfermidades acompanhadas de grande niagreza do corpo ; mas as estregações , o exercício em Liteira , e ás vezes os remédios rubificante* são utilissimos. Tendo fallado diífusamente tan- to nos meus opusculos, como noutras muitas dissertações, da utilidade que resulta do movimento muscular, e dos vários modos de o conseguir , seria por tanto supérfluo occupar-me agora so- bre este objecto. Não será porém fo- ra de propósito advertir que seria inú- til pretender corroborar hum corpo fraco com o exercício , sem ao mesmo iempe lhe dar comidas substanciosas. Pó- (52) Póde-se incitar o movimento do nosso corpo ou mediante os seus pró- prios órgãos , ou por meio de forças extrinsecas. No primeiro caso exerci- ta-se o corpo, correndo, bailando, sal- tando , &c., e no segundo , n oven- do-o, esfregando-o, de. A primtua es- pécie de movimento explica-se eom a palavra exercido ( exercitatio ) , e a se- gunda com a voz gestação (gestatio). Os remédios incitativos , c ue se dão internamente podem despertar a acção do coração , e facilitar assim a circulação de sangue e dos outros hu- n ores ; mas o movimento muscular ser- ve especialmente para impellir para o coração os humores, que circulam nas veias da superfície externa do corpo. A força interna , que impelle os humo- res do centro para a circumferencia, he insufficíente para favorecer a sua volta para o coração, porque os va- sos estão vasios, inertes, e os humo- res t>ao p< uccs. O movimento porém suppre utilmente este defeito de ferça; n as para que o exercício seja util, cumpre que o enfermo use de alimen- tos (33) tos substanciosos. He unicamente por este meio que a contracção muscular produz hum incitamento igual cm to- das as partes, e huma distribuição re- guiar dos humores no corpo. Complecta-se pois o tratamento , restabelecendo com os remédios incita- tivos a actividade das fibras musculares e dos vasos internos, reforçando com o movimento os vasos externos, e re- parando a falta dos humores com a co- mida appropriada ; em huma palavra cura-se huma enfermidade asthenica combinando a acção saudável das diffe- rentes potências incitativas. 5.° Das sensações ( 71 ). As sensações agradáveis, qualquer que seja a sua origem, devem também ser collocadas entre as forças incitati- vas, despertando ellas mesmas, reani- mando e mantendo as funcções animaes Assim que a musica agradável, as co- médias, as conversações amenas, asbel- lezas da natureza e da arte , os diver- timentos , os ditos graciosos, ^s novas Tom. II. C ale- (34) plr-grfs , &c. produzem sensações agra- dáveis / que podem contribuir muitissiT no paia Restabelecer as torças e a acti» vidade das fibras musculares, .efaaoré» cer a circulação dos humores ; por esta razão se devem recommendar assaz aos hypoehondriacos e ás pessoas atormem tãdas de inquietação ou melancholia e de langor. Quando as sensações agradá- veis sobem a hum gráo sublime, podem produzir em nos o estado de esthcnica. Achando-nos em companhia, alegre, bailando e saltando , os nossos olhos scintillam, reforça-se o pulso , e nos sentimos vigorosíssimos. A mínima of- fensa oue alguém nos faça em simi- lhantes* circunstancias , produz imme- diatamente hum certo pruido nas pon- tas dos dedos.; o braço se levanta in- voluntariamente para dar bofetões, e es a tos propensos a commetter qual- quer excesso. Se a acçao pois das mencionada! sensações he violentíssima ou mui lar- *rr> tempo continuada, deve necessa- riamente apparecer no fina a debilidade indírccta. Depois de hum excessivo j.u- (35 ) júbilo, ou por largo tempo continuado, depois de hum grande prazer , ou em conseqüência de hum divertimento de longa duração , nos abandonamos en- fraquecidos. Depois que pouco e pouco o sen- timento se entorpece mais, ou he ator- mentado de objectos ingratos , o cor- po cahe numa espécie delangor, dan- do occasião á debilidade directa. O medico prudente , pois , sabe- rá nos seus enfermos aproveitar-se das diversas tensações, fazendo-as mais ou menos enérgicas, mais ou menos fra- cas , segundo as circunstancias occur- rentes. O practico deve moderallas sem- pre que a sua acção for demasiada, e augmentallas pouco e pouco no ca- no de que os enfermos devam reforçar- se e reanimar-se. Elle nãe se esquece- rá em taes circunstancias do uso de outros estímulos, como do vinho, do calor , do ópio , &c., administrando-os de maneira que longe de produzir in- gratas sensações, as produzam agra- dáveis. <: Que diremos nós daquelles mi- seráveis methodos curativos, com os C % cuaes ( 36 ) quaes os médicos atormentam por bas- tantes mezes os seus enfermos as- theuicos com a chamada cura enjoa- tiva ? A sensibilidade he a base da na- tureza humana , ou o prineipio da vi- da ; e a necessidade, que temos das repetidas c variadas sensações, nos re- corda a nossa existência, nos conven- ce intimamente da sua realidade, e faz com que nos seja agradável. A vida tranquilla e uniforme he sempre do mesmo teor ou desenxabida, e por is- so trabalhamos por conseguir outros es- tímulos, tanto internos como externos. Tal he a fonte ou origem do costume de tomar tabaco, de beber caffé e cha, de vivar embriagado e entre os praze- res das companhias , do desejo da no- vidade e da inconstância ; feliz a hu- manidade se o Príncipe com os vas- sallos t e o medico com os enfermos sabem aproveitar-se destas necessidades. Podemos dividir as inclinações ou sensa- ções dos homens em moraes e fysicas , em naturaes e artificiaes. A differente or- ganização , o vario gráo da sensibili- (37) dade moral ou fysica he certamente a causa pela qual os mesmos objectos não produzem sempre as mesmas sensações em diversos indivíduos ; viver he sentir; e aquelle, que mais sente vive com maior vigor. A falta de sensações , che- gando áquelle termo , que nos interes- sa , produz o enfado. Huma vida mui enérgica accelera a morte. 6.° Da força do cérebro. O pensamento affeiçoa immediata- mente o cérebro , como os alimentos e a massa do sangue aífeiçoam o estô- mago e o systema dos vasos. Do pen- samento deve pois , nascer maior inci- tamento no cérebro, que em virtude da unidade da incitabilidade , se díífun- de por todo o corpo , ou por todo o systema nervoso , produzindo nelle hum augmento de incitamento. Huma intensa applicação da alma, ou também huma mediana , mas muitas vezes repe- tida estimulará notavelmente. Pro- duzira calor , virá a ser nociva, e se au- ( 38 ) augmentará também a freqüência e ple- nitude do pulso. Se a appiicação da alma conti- nua e excessiva gastara incitabilidade, o cérebro cairá na debilidade indirecta, eme se manifestará em todo o corpo. Quando as faculdades intellectuaes não são suficientemente exercitadas, elLas não bastam para manter o devido gráo de força no cérebro, de que resulta conseguintemente a debilidade directa. O que vive izento de cuidados e de pensamentos , tem propensão para es- ta espécie de debilidade. Pretende-se que a inacção da alma enfraquece mui- to maior número de pessoas do que a falta do exercício do corpo. As pri- meiras não são capazes daquella appii- cação e attençao, que se requer para a perfeição da alma , que conduz aos conhecimentos e sabedoria; e as se- gundas privam a sociedade do trabalho com que deveriam contribuir, e que ei3a tem direito de pretender ; e humas e outras dispõem o seu corpo para as enfermidades, que procedem da debi- lidade directa. as ( & ) As paixões da alma, quer pela sua vchemcncia , quer pela sua duração, produz m os mesmos eífeitos do cue a enérgica meditação da alma. De- ve-se contar entre as paixões inciía- tivas a ira que os filósofos chama a a mania do orppnlho ojjfcndido, a aivão de huma dor violenta e aqueHa de hum excessivo prazer. Todas est.-s aíreições estimulam, aquecem, reformam, c au- gmentam a plenitude e dureza do pul- so , e podem tanto pela sua vi. Kncia, como peia sua duração , gastar a in- citabilidade e produzir a fraqueza in- directa. Do que podemos facilmente persuadir-nos examinando os c.Teiíos das paixões da alma a que somos su- jeitos. Exactamentc quando (idas ex- cedem , podem nasrcr , cpilepeias , apo- plexias e até a mesma morte ( 72 ). A faUa das paixões da alma pode, assim como a do-calor produzir afra- queza directa. O frio não he outra cousa senão a ausência do calor, co- mo a tristeza, a angustia, apusillanimi- dadc , o abatimento , o temor , o es- panto e a desespera cão , niio sao mais do ( 40) do que a diminuição ou a privação to- tal das paixões incitativas da alma, taes como a alegria, a confiança e a esperança ; pelo que bem longe de ser af- feições oppostas ás mesmas , não são mais que outros tantos gráos menores e defectivos. He assim que o frio con- siste na falta do calor , a pobreza na falta da riqueza e o pensar pouco na estupidez , ou falta de idéas. Da acção diminuída , ou cessação total dos aíiectos da alma pode nascer a perda do appetite , a aversão aos ali- mentos , os enjôos , os vômitos, as dores do estornado , a diarrhéa com ou sem dores , nem puxos, a indigestão , a eólica, a gota , as febres e outros symptomas penosos ( 73 ). Tem-se pos- to huma duvida pouco razoável, a sa- ber, que se as paixões débilitantes são simplesmente huma diminuição ou pri- vação das paixões mais enérgicas , não pódvm produzir eífeitos positivos ou renes. Tire-se o ar que nos circun- da , hum grande temor a que está- vamos acostumados , os vestidos do costume, e se verão efleites posi- ( 44 ) ti vos ou reaes. A falta de nutrição faz também que hum dente fraco se en- negreça e pereça : o membro sem san- gue ou nutrição morre , gangrena, tkc. : o frio não he mais do que a falta do calor ; e todavia os seus erfeito3 são posi- tivos , e muitos médicos o tem até- gora pretendido applicar por mera preo- cupação como principal remédio robo- rante. 7.° Dos Alimentos, das bebidas e dos medicamentos. Tudo quanto se engole, tanto em forma liquida como solida, deve obrar com preferencia sobre o estômago as- saz sensitivo. He neíle que 6s alimen- tos , que hão de servir para a nutri- ção, fazem a sua primeira impressão, donde resulta que a incitabilidade, que he mais accumulada a e*ta entranha do que nas outras partes, deve muito mais e com maior força estar sujeita a acção das substancias incitativas. O estimulo dos aumentos introduzidos no nosso corpo não pôde obrar sobre al- ga- guma, parte com tanta energia , como sobre o estômago. O mesmo estimulo , por exemplo, não pôde obrar com igual força sobre os intestinos e os vasos lácteos, pois cpie os alimentos e os me- dicamentos não chegam aos primeiros senão quando estão já digeridos no es- tômago , e não se achegam aos segun- dos para ser absorvidos e levados para a massa do sangue senão depois de ex- tremamente delidos, dissolvidos e dige- ridos. Em fim quando estas substancias chegam ao coração ás artérias e aos vasos mínimo;, tem padecido já mui- tas alterações mediante a digestão c a circulação , para poder obrar sobre es- tes órgãos com a mesma energia com que obraram no estômago. A sua im- pressão será inda mais fraca sobre a» glândulas, os vasos secreíorios e os ivni- faticos, e sobre tudo na substancia me- dullar do cérebro e nas fibras muscu- lares. De mais, posto que os alimen- tes e os mcdicarneníos obrem primeiro sobre o estornado , a impressão que alli produzem se communicará logo a to- do o corpo , em conseqüência das leis da (43) da incitabilidade, e por tanto o resto do corpo se reforçará ou atracará em ra- zão da propriedade incitativa ou debi- litante dos alimentos , das bebidas e dos medicamentos. Tudo o que os alimentos encer- ram de roboraníe, de volátil e de ir- ritante , obra immediaíarnente sobra o «ystema nervoso , c o incita dire- ctamente ; isto he o que Brown cha- ma estimulo direcio. A massa e o vo- lume destes alimentos , obram sobre as fibras musculares , as estendem e pro- duzem assim aquella espécie de esti- mulo a que Broivn chama estimulo indirecto. Não se deve pois reputar senão por hum estimulo indirecto hu- ma grande quaiVlidado de alimentos vegetaes ensoços , c privados de toda a propriedade volátil e penetrante ; mo- tivo porque são tanto mais fáceis de cu- rar as enfermidades e-slheni^as, quanto he menor o volume dos rveridos ali- mentos subminisLados. O homem ator- mentado e enfraquecido da fo.-nc re- cobrará alento ( ou estimulo ) até di mais infima espécie de alimento, úni- ca- (44) camcnte pela repleção do estômago. Os caídos nutritivos , e os ovos , in- daque substancias nutritivas e estimu- lantes , não bastariam todavia para manter o homem sadio e robusto. Re- quer-se de mais huma sufficieote mas- sa para complectar o estimulo neces- sário ao estômago. A este respeito se fez já huma triste experiência na Rússia nas visinhanças da Crimea. Hum Hanoveriano projcctou certas bo- las muito nutritivas para manter os cavallos da tropa fortes e alegres, sem ferio c cevada ou aveia. Para fazer estas bolas se lhe deu dinheiro adian- tado ; mas os cavallos mantidos com hum methodo tão estudado morreram. Para a conservação da vida e das for- ças , he necessário, além da qualidade nutritiva dos alimentos , o estimulo de certa massa capaz de estender. O chylo preparado de alimentos de boa qualidade, e o sangue" abun- dante formado deste estimularão os vasos , e determinarão em todo o sys- tema huma vigorosa contracção. Nos casos em que existe já huma disposi- ção ( 45 ) ção para a enfermidade esthenica , o uso abundante da comida animal não tardará em produzir a plenitude e a dureza do pulso , pois que em geral todo o estimulo poderoso , quer seja fysico quer moral , augmenta a ferça e a freqüência do mesmo pulso. Quando se pretende reforçar os enfermos deve-se preferir as comidas animaes, cuja virtude tônica ou ro- borante se augmenta ajuntando-lhes su- bstancias aromaticas. Nas minhas obras médicas e na minha práctica me tenho constituído já advogado em muitas oc- casiões da comida animal, e de cujo uso tenho visto eífeitos prodigiosos (74 ) , nas enfermidades procedidas da debilidade. Não se pôde absoluta- mente comprehender como médicos doutos possam inda hoje ser tão irra- cionaes sobre este objecto. A freqüên- cia do pulso , que elles contam sem- pre como hum signal de força, ou de diathese flogistica ou esthenica , e como o symptoma característico do que chamavam febre , os engana muitas vezes, especialmente mas enfermidades chro- ( 46 ) chronicas. i Mas que contradicção não he aquella de prescrever a quina , es- sências e e\tr£( tos , e não conceder simultaneamente huma xícara de caldo , como freqüentes vezes tem acontecido na cura das enfermidades chronicas ? A comida animal he necessária* em todas as enfermidades acompanha- da, de relaxação ou atonia, de debi- lidade dq estômago , de magreza ( 75 ), e em todos os casos em que o sangue circula por debilidade com grande va- gar , ou com muita celeridade , e noi que ha abatimento de espirito e de animo. Em. similhantes circunstancias devemos certamente dar hum alimento proporcionado ás faculdades digestivas do enfermo , e subministrallo em for- ma liquida nos casos de extrema fra- queza (76 )...é á cidade scrn fa- tigar-se summamente, antes que fos- sem roborados, durante algum tem- po , com melhor comida. O povo do Cabo da boa esperança, como me narrou huma dama digna de fé, vive quasi inteiramente de carnes , e he for- tíssimo. EdòJard pelo contrario diz que as crioulaã são mui parcas; que a sua bebida he água simples , ou huma es- pécie de limonada ; que o seu jantar eonsta de legumes com huma pouca de pimenta ; em conseqüência do (pie são frouxas, e de cor mui pallida. Geralmente nas ditas enfermidade» os alimentos nutritivos, as esfregações, o movimento muitas vezes repetido, mas não violentíssimo, c o uso mode- rado do vinho constituem a maior par- te da cura. Comendo-se demasiado, lie suminaniente necessário provocar a transpiração. As pessoas accometidas de hysterismo passam commummente mui- to bem, se oo intervallo dos paroxis- mos ( 51 ) rnos ou attaques se alimentam lenta- mente. Muitas porém dominadas por meras preocupações fazem o contra- rio. As substancias arornaticas augmen- tam a virtude tônica ou roboránte dat comidas anímaes ; mas como o seu es- timulo he forte basta subministrallas eia pequenas quantidades. A propriedade estimulante e quente das substancias arornaticas reside em hum material re- sinoeo e num óleo volátil. As substan- cias arornaticas mais picantes são a pimenta , o cravo da índia , a nói mos- chada &c. Contamos também entre as substancias arornaticas a canella, o cardamomo , os cominhos, a mostar- da , o calamo, o aniso ou herva do- ce , o cravo de Maranhão, o gengi- bre, e as hervas arornaticas cujo uso se conhece nas cozinhas, como por exemplo, o tomilho , a mangerena, o wanjericão, o ouregão, a ortelãe &e. Os habitadores dos paizes quentes fa- zem grande uso das substancias aro- rnaticas e acres. Como comem pouco , lupprem talvez deste modo o estimu- la o 10 ( 52) Io, que ordinariamente resulta da mas- sa ou volume dos alimentos. Com ef- feito quando esta massa he pequena , os intestinos não são : uoicieiitemente estimulados, de que resulta o dcsfale- cimento do movimento parislaltico e a adstricção do ventre. As substancias arornaticas podem talvez supprir esta falta de estimulo nos intestinos , e op- por-se á debilidade indirecta origina- da da enérgica acção do calor. Nos paizes quentes nos sentimos ás vezes melhor usando da dieta vege- tal do que comendo carnes. Os vege- taes destes climas , além de serem mais substanciosos , impedem o estimulo ex- cessivo resultante do calor e da appli- cação dos outros estímulos. Demais, he necessário , quando nos achamos no estado de equilíbrio, que constituo a saúde, usar de alimentos e viver de modo que nem inclinem para a diathese esthenica nem para a asthenica; pelo que he appropriadissima huma dieta mista de vegetaes e de car- nes. Augmenta-se ou diminue-se a quan- tidade dej primeiros e das segundas, ( 33) á medida que no* sentimos na dispo- sição para huma cníerr.udadc estheni- ca ou asíhcnica. Quando o sangue se- ja realmente abundantissimo , eu quan- do a diathese flogistica ou esthenica domine, será necessário abster-se total- mente por algum tempo da comida ahimal; e no caso contrario, isto he , durante a diathese asthcnica , se deverá' desistir do uso dos vegetaes. Do vinho , c do seu espirito ou alenhol Sjc. O vinho merece a palma ca pri- mazia sobre todos os remédios incita- tivos , por ser dotado de muita virtu- de e gratíssimo ao padar I^ía ver- dade foi já perfeitamente rcccnhccida pelos médicos Gregos e Árabes. Ncs- tor , que sobreviveo a trez gerações de homens, foi amigo do vinho/co- mo nos testifica Homero. Corsiaro na ?na velhice se restaurada, secundo ci- íe mesmo confessa, quad unicamente com o vinho: mas o unho, para com os ( 5* ) os médicos encontrou quasi a mesma sorte que o alimento animal; foi pro- hibido indistinctamente ás pessoas doen- tias, e muitas vezes sem outro motivo do que a mania de poder prohibir algama coust. O vinho excita a coragem e ale- gria ; aquece, reforça, e augmenta a agudeza do ingenho; accende o enthu- siasmo poético. Homero e Ennio com- poseram os seus poemas com a bote* lha na mão. He ao hso do vinho , que se deve attribuír em parte a maior sa- gacidade dos Gregos do que a das ou- tras nações , e a sua proscripção a presente estupidez dos Turcos , que até arrancaram as videiras. Frederico Hojfman pretende que mudara e de alguma sorte renovara os temperamen- tos , e augmentara a energia de todas as funções, sem recorrer a outros meios §e não ao vinho dò Rhim largo tem- po continuado, e suspendendo ao mes- mo tempo o uso de todas as outras bebidas. Whitacker fazendo beber vi- nho ás pessoas magras , as engordava, quando outras em sirailhantes circus- tan- C ™ ) íancias bebendo água , ou cerveja má, se reduziam a hum* magre::a extrema , ou servindo-me das suas expre?soes , ad- quiriam o aspecto mais do macacos do que de homens. Os médicos fariam muito melhor em dar aos seii3 enfer- mos huma certa quantidade de vinho generoso , remédio ao mesmo tempo tônico e muito agradável , do que to- dos estes pôa desgostosos, estes extra- ctos e estas tineturas, que elles re- ceitam e:u infindas enfermidades ( 79 ). A opinião de Camper, que os vinhos Alemães e Francezes não são suficientemente maduros , padece , a ■ieu ver, muitas exceições. Todavia, quando pretendermos usar úo vinho como tônico , será sempre necessário escolh«r , entre os vinhos Alemães ou Francezes, aquclles que foram recolhi dos nos melhores annos, e de vinhos cultivadas em terrenos bem situados. Estes vinhos, misturados com água são mais próprios para mitigar a sede e refrescar do que par:: reforçar. P5e mais podem até prodirzir azias e mui- tas outras inconunididades nas pessoas f.« ( 56 ) fracas, e ser pouco proveitosos nas enfermidades asthenicas. A aguardente misturada com «água pôde supprir o vinho. Nos hospitaes daquclles paizes, onde não se pôde ter vinho, esta bebida seria de sumina utilidade. Eüa he geralmente huma be- bida muito mais saudável do que o vinho naquelles estômagos fracos , em que se accumülam ácidos e flatulen- cias ( 80 ). Ò> vinhos , que contém maior quantidade de alcohol, são os mais fortes. Desta natureza são, a meu en- tender , os vinhos tinetos de Portugal, entre os ordinários. Na Rússia não se bebia senão vinhos estrangeiros, e al- gum vinho tincto de Hespanha, antes oue as Potências da Europa declaras- sem por contrabando todas as merca- dorias de França. Do vinho Portu- guez , que não se achava tão espiri- ta os > e agradável como os vinhos Fran- cezes, se tirava , pela distíllação , buma grande quantidade de alcohol, que ser- via para fazer licores, em lugar da aguardente de França : o que prova que ( 57 ) que o vinho de Portugal contém mais alcohol do que os outros vinhos (81 ). Porém os vinhos de Franca , co- mo aquellc de Bordéos e de Boravnha, igualmente como o seleeto do Rhim , podem servir também de optimo remé- dio nas enfermidades astlieiiicas. Os Ingíczes tem sensivelmente abandonado o ss.i ponrhe , e dellc só usa a classe inferior. Dos vinhos ordi- nários prefere-se o do Porto. Já refe- ri noutro lugar que eu possuía huma das melhores qualidades deste vinho , e que causava tanto a mi n como a a-guns outros , que participavam deile sonhos gratos e alegrei. Observa-se que os vinhos menos fortes obram especialmente nas vias urinarias. Os vinhos mais generosos c de melhor qualidade te\n a proprieda- de de provocar a transpiração ; o que he hum signal de que a sua acção se estende por todo o corpo. No dia de- pois do uso destes vinhos a cabeça não está turvada. O vinho longe de pro- duzir adormecimento e langor nos membros, deve-nos fazer mais activos e ( 58 ) e alegres. Os vinhot de Huegria es- colhidos provocam especialmente a transpiração, inspiram alegria, e faci- litam o movimento de todos os órgãos. Geralmente falhando' deve-se contar nes- ta classe os vinhos doces e fortes, por exemplo, os vinhos de Itália, da Gré- cia e da Hespanha. No caso em que o medico pretender excitar o estorne-! go e o systema nervoso enfraquecido, deve preferir o vinho de Chypre, das Canárias e da Madeira. Tudo quanto se disse dos outros remédios estimulantes lie applicavel ao vinho; o qual será pouco util aos su- jeitos moços e robustos , produzindo nelles a diathese esthenica , e alfim a debilidade indirecta. O vinho he hum remédio para as pessoas de idade avan- çada , para as fracas, e para aquellas em fim já avezadas ao seu estimulo. Os vinhos generosos estimulam em razão da maior ou menor quantidade de alcohol que contém; a sua acção he mais prompta c enérgica que a dos alimentos temperados com os fortíssi- mos aromaticoi. He certamente huma ne- \ *** J negligencia imperdoável dos magistra" Ài scüla. Tomada cila em substan- cia ero pouca quantidade , estimula es- ;>;:c:::l!iicnte as glândulas moneosas do peito e as vias urinarias, e por isso tem sido util com preferencia nas en- fermidades asthenicas e catharrhosas do (72)_ do peito e na hydropesia. Algumas ve" zcs provoca também huma copiosa transpirarão. Dada em maior dose, irrita o estômago c os intestinos e pro- duz vômitos ou cursos : assimque, sendo a intenção provocar a urina e o caíharro ou a matéria que o faz , cumpre dalla em pequena quantidade co- meçando por hum grão, passando a grão e meio , e subindo depois a maiores quantidades ; porém tanto que produz cursos, convém diminuir a dose, vis- to que neste caso a sua acção na via urinaria he menor , e pode causar de- bilidade. Eu costumo misíuralla com o gengibre, o açafrão e algumas ve- zes com o ópio. O modo de a dar mis- turada com os saes neutros me tem pa- recido huma incoherencia e preocupa- ção (98). A scilla ^m substancia he prefe- rhel ao extracto. Muitos annos ha que eu bani da minha pratica todos os ex- tractos. Sirvo-me delles unicamente pa- ra formar pirolas para o que bastariam os xaropes. Os extractos preparados pelo methodo ordinário valem pouco , e (73 ) & o medico nunca e^á seguro se o •boticário os preparou sepaindo o me- thodo de Ia Gawi ou em banho de maria. Eu prefiro portanto os medica- mentos em substancia. Nas furmacopeas acha-se o mo- do de preparar o vinho , o mel e o vinagre scillitico , ( e também a tin- ctura ). Como a sciHa provoca quasi todas as evacuações , muitas vezes me veio ao pensamento se ella poderia ser nas enfermidades venereas de hu- na utilidade igual á que esperamos do mercúrio, visto que este pôde pro- duzir os seus grandes eífeitos unica- mente como remédio estimulante, ex- citando as secreções e as evacuações. Nas escboias tem-se espalhado huma preocupação contra a scilla ; trabalha-se em persuadir aos estudan- tes que o seu uso produz a dissolu- ção dos humores , e alíim a podri- dão. Hum medico douto saberá ata- lhar este inconveniente real ou ima- ginário. A scilla he hum remédio in- citativo , e como tal, e não no acn- tido estricto ou rigoroso , he hum re- so- ( 74 ) solutivo. O seu i^o largo tempo con- tinuado pôde finalmente produzir a debilidade indirecta ; como o abuso do vinho causa o tremor e a frouxi- úYlo ou atoui i , iiula que ;i virtude do mesmo vinho mio consista ern cau- sar as ditas ineomo-edidado-s. O uso in.moderado da scilla gasta a incitabi- lidade , e neste c;:;o a acçiio das «rraudes doses será fraca ou nulla. Se a doença complicada com huma nova debilidade continua o seu curso, so- breveio a dissolução c o derramamen- to dos humores : attribue-se então ao uso da scilla aqucllcs oflvdtos, que se deveriam attribuír á continuada acçiio de hum excessivo estimulo. Aquelle que applica estes remédios, esínb.ido em princípios fysologieos , diminuindo a quantidade, ou suspendendo tardam o seu uso, subsiituindo-lhe outros, e depois recorrendo novamenie aos pri- meiros, não se queixará por certo dos seus máos eífeitos fctá As gommas-rcsinas, como a gom- ma ammoniaca, a galbano e a myr- rha ( e também a assaf elida , a sa^a- ( ro> peno ■) contém partículas voláteis o ob-osas , que faci:mente se conhecem pelo sen cheiro. Et, virtude das mesA mas, e do principio resinoso, que pos- suem , esjtas gommas resinas obram es- timulando com muita actividade , e mediante a dita virtude estimulante e calorosa vem a ser remédios reso- lutivos , antispasmodic.os , sudoriferos , diureticos , e emenaço^os. Recommcn- da-se o uso externo da gomma ammo- niaea para excitar a suppuração dos tumores ou para os resolver. Reeom- menda-se também para os tumores cha- mados fungo das articulações , e para os callos. Servindo-nos internamente da gomma ammoniaca, as outras gom- mas-resiaas são supérfluas. Inútil he advertir qne etes remédios se devem unicamente dar nas enfermidades es- thenicas , e que até neste caso se po- deria passar sem ellas ( 99 ). O mercúrio ou azeugue cura o gallico , como a quina sara as reines intermitíentes. Ha symptouias galli^os, que resistem a toda a espécie de pre- parações mercuriaes, assim como ha fe- ( 76 ) febres intermittentes , que resistem á Cíiiina. Eu mesmo tenho visto estas relíquias de enfermidades gallicas que não cediam coisa alguma ás prepara- ções mercuriacs. Hunitr vio chagas líalíirr.s saradas com o uso de comi- da abundante e .substanciosa , com o exercício e o ar ( ICO ). Outros mé- dicos restabeleceram a saúde , median- te o ópio e outros incitafivos, de gal- 1 içados , que primeiro tinham usado inutilmente do mercúrio ( 101 ). O cpio , a comida mais abundante e nutritiva, o ar puro, e outros reme- ài.os roborantes tem curado febres in- termittentes rebeldes á quina Assimque o mercúrio está tão lon^e de ser es- pecifico do gallico , como a quina de o ser das febres intermittentes ; as c>uaea requerem a união de muitos ro- borantes, quando huma vez invetera- das se devem remover , e cumpre ar- redar diligentemente tudo aquillo, que como remédio debilita cite seja capaz de inutilizar o uso dos roborantes. • Os homens eme trabalham nas minas de azoouue de Ainiadeu em lies- pa- ( 77 ) panlia , são aecorneífidos freqüentemen- te de lombrigas e de enfermidade? gal- licas , não obstante estes, e especial- mente os fundidores engolirem tama- nha quantidade de mercúrio qne a!gu- mfts vezes se acham os seus glóbulos misturados com os excrementos. Am- brosio JMorales assevera que vio sair o mercúrio dos ossos que se quebra- vam na abertura das sepulturas. He provável que debaixo das circunstan- cias indicadas, não somente se absor- va o mercúrio no estado metallico, não tendo então nenhuma acção , ma? também no estado algum tanto oxy- dado ou calcinado. Jussieu e hum sa- cerdote visitando aqneílas minas de mercúrio foram accomnieítidos de cha- gas na boca ( aflas ), e de saliva- ção ; e o director das mesmas lhes certificou que acontecia o mesmo as1 pessoas que se demoravam largo tem- po nos almazens do mercúrio'. Estou igualmente persuadido que o uso in- terno ou externo do mercúrio não nos preserva do gallico ; o que deveria fazer, se o mercúrio fosse o seu an- tídoto. O ( 78) O mercúrio vivo, o oue não he oxydado, não possue faculdade algu- ma irritante sobre o nosso corpo, afo- ra aquella que procede do seu pezo e continuo movimento. Para que elle obre estimulando , he necessário que seja applicado ein forma de oxydo ou cai ou de sal. Se nas minas a absorvi- çãodo mercúrio produz as chagas ( qf- tas ) , asaüvação, ou huma ílogose e as chagas na boca, isto pôde proceder de haver-se o mercúrio por meio da roçadura, ou da continua agitação co- berto de huma poeira denegrida, que finalmente não he mais que hum oxy- do mercurial, o qual bemque imperfei- to, pôde facilmente produzir os referi- dos symptomas logo que chega a ins- pirar-se. Acaso também nas mesmas minas nasce mediante a acçao do fo- go e doar hum oxydo mercurial, mais perfeito de cor vermelha ?iva , cuja acção he ainda mais enérgica. Acaso o mesmo mercúrio não oxvdado pôde fazer-se corrosivo e produzir os cos- tumados fenômenos , quando he absor- vido por sujeitos caqueticos , aos quaes ( 70 ) quaes vem á boca humores ácidos. E:n outros trabalhadores das mi- nas o mercúrio produz unicamente tremores , o que prove;o talvez da compressão occatonada' pidos glóbulos mercuriars e continuamente em movi- mento sobre partes mui sensitivas. He por esta razão que os tremores se des- vanecem logo, arredando-se os sujeitos por alguns dias das minas e do; for- nos; no qual caso os ditos glóbulos do metal se evacuam com os excre- mentos e ouíras excreções. Os traba- Ih uíorcj das minas de Itália evacuam com o suor o mercúrio que inspira- ram e sorveram , passando a trabalhar em sotterraneos mui quentes. Introduzindo-se no corpo o mer- cúrio mui dividido, ou no estado sa- lino , obra como potente estimulante ou incitativo diífusivo. O pulso adqui- re maior vigor e se augmentam tanto as excreções como as secreções. O mer- cúrio em razão da sua actividade e do mo do como foi preparado , pode produzir maior estimulo em certos vasos e ór- gãos , muito mais promptamente do que nou- ( $0) noutros ; em f eral irrita mais depres*»' sa os órgãos destinados á salivarão, e provoca a sua sccreção. Este effeito nasce especialmente quando o mercú- rio se introduz ou applica ao corpo em forma de oxydo imperfeito e re- duzido em finíssimo pó , como acon- tece usando-se do mercúrio solúvel, do cinzento , do alcalisado, do assuca- rado, do ethiope mineral, do unguen- to mercurial, e de algum modo tam- her.\ o mercúrio doce ou calomelanos. Quando está perfeitamente oxydado, affecta mais promptamente o estôma- go e os intestinos provocando o vomi- to e a diarrhea , eomo se observa pres- crevendo o ■mert-nrio precipitado, o íurbith mineral. Rs Ou2ido á forma sa- lina obra especialmente sobre os vasos destinados á sccreção da urina' desper- tando esta funeção. Os saes que re- sultam da sua uiúáo com. os ácidos vegetaes não produ/em eífeitos violen- tos ; mas quando se combina com áci- dos mineraes , adquire então summa actividade , por tal que dado em do.-) ses grandes, obra como veneno local, ou ( 81 ) ou ao menos em virtude do seu vio- lento estimulo exercido immediata- mente sobre o estômago, excita vo- mito e diarrhea. Desta natureza he o mercúrio sublimado corrosivo, e o nitrato de mercúrio. Estas preparações mercuriaes obram sem duvida sobre todo systema , affe- ctando todavia mais huma parte que outra em razão da sua diversidade. Podemos impedir esta espécie de affi- nidade dirigindo sua acção para outras partes ou principalmente sobre todo corpo. O alcanfor e o ópio oppõem- se á salivação, determinando a acção do mercúrio para os vasos da trans- piração. O me*mo effeito se con- segue mediante o calor e as bebidas sudoriferas. Talvez o mercúrio ligeira- mente e não de todo oxydado he mais util nos moços, nos climas quentest e quando a enfermidade he recente ; aquelle perfeitamente oxydado e de maior força he mais saudável nos ve- lhos e nos climas frios. Não convém dar o mercúrio em electuario ou era pô , porque se apega ás 'gengivas, Tem. II F e ( 82 ) é sendo absorvido prejudica os den- tes. Segundo as observações de Tor- res de Moncada o mercúrio excitava mais difíicilmente a salivnção , á me- dida que se applícava a huma super- fície mais ampla. He por tanto neces- sário estender, o mais que for possível a untura mercurial. Ora o mercúrio cwra o gallico melhor que tantos outros remédios, porque a sua acção se estende com preferencia sobre todo corpo , e espe- cialmente sobre os vasos excretorios e secretorios. Pelo que para suster-se mui- to mais a acção do mercúrio , Hunter aconselhava o uso do vinho e da co- mida abundante. Moscati igualmente assegura que a eu ração da enfermida- de venerea se consegue muito melhor, fazendo diariamente huma pequena un- tura mercurial, e concedendo ao mes- mo tempo a comida substanciosa. A es- te respeito se assenta que o gallico se- ja enfermidade asthenica. O uso de mercúrio achou-se util na asma, no fluxo branco ( leucor- rhea ( 83 ) rhea ) , nas febres intermittentes c nou- tras enfermidades dependentes da debi- lidade, por ser ella mesmo hum remé- dio estimulante. Obra contra as lombri- gas quasi como o ferro e o seu vitriolo ( sulfato de ferro ), os quaes, como os outrOs roborantes são quasi todos an- thelminticos. Quando os enfermos por arfecções verminosas fazendo uso do mercúrio se nutrem ou alimentam mal, este vem a ser inútil como se obser- vou nos galés de Almaden; o mesmo acontece com muitos medicamentos, os quaes se prescrevem sem nenhuma utilidade quando as outras forças in- citativas não concorrem a suster e auxiliar a acção. Aquelles médicos que unicamente attendem á desigualdade dos eífeitos dos remédios mais acreditados , multiplicam infinitamente as causas das enfermidades. Estes dizem por exemplo , na enfermidade ex causa A, aproveitou o tal remédio; naquella ex causa B, apro- veitou o tal outro , e assim proseguem as suas demonstrações até Z, mas a in- certeza dos remédios e da theoria per- manece semprç a mesma, e se curam F % mal (84) mal os enfermos tanto depois como antes. A infecção vcnerea he huma en- fermidade astiienica, contra a qual se requer hum remédio universalmente estimulante. A blenorrhéa ou gonor- rhéa talvez pode ser de natureza m- fíaminatoria no seu principio, princi- palmente se accommette hum sujeito , que se ache na predisposição esthenica ; ao menos assim parece, visto que o veneno blenorrhoico desde o principio produz inílammações locaes. Porém en- tre a blenorrhéa e o gallico se encon- tra grandíssima differença. O estimu- lo \ue resulta do uso pode ser exces- sivo , C produzir então rio corpo o es- tado flogistico, e occasionar por tan- to verdadeiras inflammações. Demais a sua acção excessiva, ou muito conti- nuada, pode produzir debilidade indi- recta, mormente nos vasos secreto- rios , aífeiçoados com especialidade do seu estimulo ; em cujo caso podem originar-se encalhes, corrupções, eva- cuações continuas, fraqueza e inflam- mações locaes asthenicas; numa pala- vra (SOJ vra aquclles eíPdtos que commummeti- te se contam entre as más conseqüên- cias do mercúrio. Em taes circunstan- cias o enfermo padece muito, e não se dá passo algum para a cura da en- fermidade venerea de que se acha ac- commettido. A mesma salivação, quan- ' do hc continuada , he talvez já hum effeito da debilidade indirecta domi- nante na-; glândulas e nos vasos sali- vaes. Pelo que a salivação he quasi sempre precedida de symptomas de ir- ritação e de diathese mflammatoria na boca. Fazendo-se a huma mulher as unturas mercuriaes conforme a ar- te , o seu cãozinho que estava sempre com cila na sua câmara padeceo por fim inchação de gengivas e iodos os indícios da salivação. Nas mencionadas circunstancias he talvez proveitoso variar as prepara- ções mercuriaes , ou recorrer a oc res medicamentos : isto he , applicar então desde o principio hum estimulo me- nos acíivo que aquelle , que oceasio- nou a debilidade indirecta. e passar depois ao uso de ouiros remédios iu- cj- (86) citativos e tônicos, &c. No caso de não achar-se ainda o corpo na debi- lidade indirecta, mas só na inclinação e curso para ella, aproveitam muito as pureas, ou qualquer outro remédio debilitante ; em huma palavra he util o regime antiflogistico. Havendo-se di- minuído com estes meios o incitamen- to excessivo , se chega a prevenir en- tão a debilidade indirecta. Igualmente nasce ás vezes do estimulo do mercú- rio huma comichosa expulsão , ora Io* cal na parte em que se faz a untura com o unguento mercurial , ora em todo o corpo. Achou Bell que o ópio interna- mente usado , e a farinha ou o .amy- do externamente eram os melhores re- médios para moderar esta expulsão. O ópio porem como estimulante pro- duzindo por si mesmo ás vezes expul- sões , não era conveniente a todos. Do que se disse atéqui qualquer pode determinar por si mesmo os c sem que convém sangrar, purgar antes do uso dos mercuriaes. Os meios curativos, indicados podem ter lugar so- mente no principio da enfermidade, quan- ( »■* ) quando acontece a infecção no mo- mento em que o corpo se acha com a disposição flogistica; em cujo caso o estimulo do mercúrio poderia facil- mente produzir huma enfermidade es- thenica , e até a debilidade indirecta. Huma aíiecção venerea profundamente arraigada cm todo o corpo , apresen- tará clarameate a diathese asthenica. Tenho visto muitas vezes gallicados, os quaes jamais podiam recobrar a saúde porque viviam em hum ar ijn^ puro , e se alimentavam mal ; e em fim porque não usavam daquelles meios capazes de combater a constituição asthenica. Azevre. Nos meus opusculos mé- dicos já fiz a apologia deste sueco amargo e irritante ; o qual estimula especialmente o canal intestinal e os vasos : dado estimula brandamente os intestinos grossos e os livra das ma- térias que ellas contem , por meio dos cursos. Se por acaso o seu uso produz dores no ventre, ou ardor de urina, então convém su*petidel!o. As prepa- rações tem produzido ás vezes de no- vo (88) vo as evacuações do ventre , e reme- diado a adstriceão originada da inércia ou fraqueza do canal intestinal. O azevre pôde também applicar-se exter- namente como remédio estimulante. O marechal de Turenna refere nas suas memórias que restabelecera o seu corpo enfraquecido por meio de azevre. Depois de ter consultado inutilmente muitos médicos, e de ter tomado em vão differentcs águas mineraes , come- çou a usar de lium licor de azevre , chamado commumente elexir de Ga- rus. Este elixir he de sabor agradá- vel , possue huma virtude roboránte e provoca câmaras. Eu o fiz tomar em Petersbvsrgo a muitos Russos em vez do licor de Dantzic antes do jan- tar ; porém era preciso ajuntar-lhe hu- ma quantidade maior de espirito de vinho que aquella prescripta nas farmaco- peas , porque todos os licores espiri- tuosos de França e de Itália pare- cem mui fracos aos habitadores de Petersburgo , que costumam beber an- tes do jau!ar hum copo de licor mais forte. * Pode acontecer que no elixir de (89 ) cte Garus , que he destillado , os eífeitos do azevre sejam de pouca monta. He porém huma prova certa quanto mais eflicaz seja hum tal remédio estimu- lante com preferencia a qualquer água mineral para hum enfermo enfraque- cido. Sendo o azevre hum remédio mui- to estimulante e ardente, pode pres- crever-se unicamente naquellas enfer- midades , cuja Inse he a debilidade. Aproveitará especialmente no caso de inércia ou torpor do canal intestinal e de adstricção ou constipação do ven- tre ; provocará a Mia evacuarão sen enfraquecer, como fazem os outros purgaíivos. Se pois Frederico Hojffmamt nos assegura que drra o azevre nos escarros de sangue , na? almorreimas , isto he huma prova de que es(as in- commodidades procediam da debilida- de. Eu mesmo me tenho servido delle em muitos casos de asthenia ; igual- mente nos hínnoptisicos e nos tísicos quando padeciam adstricção de ven- tre, isto he , não desistiam de cor- po. Ha ( W) Ha mrdíos remédios qrce se con- tam entre os estimulantes, c que se pretende que possuam huma virtude que incita especialmente os nervos e o estornado. Os mais usados são a ze- doaria, a cerpentaria virginiana, a valc- riana , a galanga , o coztus , a angélica, a imperatoria, o calam o aromai ico , a enula campana , a quassia amarga, a ca- nella, a nós v.iosclmda, as sementes car- minativas 8$c. O que desejar variar de remédios ou muUipiicallos , pode escolher c^trc cTles mesmos aquelles em que pozer maor confiança ( 102)., O açayrão he hum brando estimu- lante que merece recommendar-se par- ticularmente. Pode-se tomar em fôrma de cha ou em pó. Elle lie hum acal- rnente, estimula suavemente tem pro- duzir adstricção de ventre, e contém hum óleo ctherco ( 103 ). O seu extra- cto como todos os outros he hu- ma dag muitas porcarias farmacêuti- cas. O almiscar, o castoreo , o âmbar contém hum cleo eíhereo ainda mais penetrante. Eitcs remédios são mui vo- (91 ) Voláteis promptamente incitativos e gratos aos nervos. Muitas hystericas nao podem supportar o cheiro, espe- cialmente o do almiscar ( 104 ). O alcanfor, a ortelãe vulgar e a ortelüe apimentada produzem, como he sabido , huma sensação de frio ao prin- cipio , mas depois provocam a trans- piração. Cria-se que o aleanfor mistu- rado com o nitro fosse hum remedie refrigerante. Esta idéa origina-se pro- vavelmente da opinião que se tinha antigamente acerca da inflammação , cuja origem se attribuia á obstrucção dos vasos ! A virtude antíseptica que se tem supposto no alcanfor, o fez adaptar geralmente na practica. Elle he porém de difficil digestão , produe ar- rotos por muito tempo, e nunca foi hum dos meus remédios predilectos quer para o uso interno, quer para o externo. Demais sendo muito volátil, pode produzir no corpo hum estimu- lo prompto e passageiro. Alguns me- dico», e principalmente Cullen referem delle eífeitos ambigous ■( 105). O uidUi volátil ou carbonato de am- (92) ammonia, o espirito de corno de ceado são remédios promptamente incitativos; reanimam efhcazmente a torça vital e podem produzir eífeitos mui saudáveis nas apoplexias , nos espasmos, no le- thargo , na pàralysia e no tyfo grave-. Em virtude do estimulo diifusivo de que são dotados , se acharam também úteis nas enfermidades venereas. Eu posso ao menos certificar que os te- nho empregado com bom successo nes- tes casos ( 106 ). O ether he hum estimulante agra- dável c eflicacissimo , que prefiro admi- nistrallo misturado com o assucar. Co- mo todas as substancias que se* exilar- iam rapidamente, produzem Aio, e como entre todas as substancias o ether he a mais volátil, assim tem-se aconselhado este como hum refrige- rante local orvalhando com eíie &s par- tes preternaturalmente inílammadas e urentes. Caprichosa theoria ! Os óleos ethereos são conhecidos como remédios voláteis penetrantes, mui incitativos de calor , e podem obrar com muita rapidez nas enfer- mi- (93) midadcs asthenicas. Os principaes são o óleo essencial de canella, de losna , de aniso , de cedro e de cajeput. ( 107). Em alguns casos de dysfagia espasma- dica ( dificuldade de engolir ) me tenho servido deste ultimo com utilidade evi- dente. O ópio he aquelle potente remé- dio , mediante o qual Brown se tem particularmente distinguido , e sobre cuja acção haverá ainda muitas con- trovérsias. Sabe-se que este medico lon- ge de considerar o ópio como hum se- dativo ou acalmante, o reputa pelo mais poderoso incitativo ou estimulante. Também Gren e primeiro que elle Tral- les, declararam o ópio por hum estimu- lante e calorozo ; de sorte que as des- arrasoadas duvidas de diversos diaris- tas alemães contra a opinião de Brown sobre o ópio, chegaram a aborrecersum- mamente e forneceram provas dos si- nistros conhecimentos sobre as virtu- des dos remédios. O collegico medico de Edimburgo erigio naquella univer- sidade huma estatua com a efhgie de Brovcu, servindo-se de huma epigrafe a ( 94 ) a elle mesmo familiar, isto he, Opiunt- me herde non sedat. Esta inscripção foi censurada por muitos médicos ale- mães, e alguns diaristas também ale- mães a reputaram por hum indicio da summa ignorância do dito collegio medico ( 108 ). Hum dos argumentos mais, fortes allegados pelo engenhoso Escossez pa- ra provar a virtude incitativa do ópio, he que os Turcos se tornam alegres e corajosos servindo-se delle; effeito que costuma produzir o uso do vinho puro ou de qualquer outro licor espi- <^ rituoso. Mostra também a observação que o ópio nas pessoas sans e nas dis- posições esthenicas acceléra o pulso e he damnoso. Quando pelo contrario diminuc a sua velocidade nas enfermi- dades malignas. Do mesmo modo aug- menta a sede, particularmente nos ro- bustos , entretanto que cem vezes ex- tinguio a sede mais terrivel com pres- teza no paroxismo das febres inter- mittentes , como observou José Frank. Eu passo agora a referir algumas observações que tive oceasião de fa- zei ( 95 > zcr sobre o uso do ópio. Ha quasi do- ze ani03 que eu o fiz tomar a dous homens no mesmo tempo por dous mezes. An;bos se sentiam de bom hu- i.ior tomando este remédio ; mas hum delles foi accommettido de comichão na pelle e de huma erupção miúda ; o outro porém não experimentou taes eífeitos e me dizia muitas vezes que se sentia com corajem e vigor ex- traordinário. Muitos tísicos e outros enfermos fracos não podiam assaz agradecer-me no dia seguinte a boa noite que eu lhes tinha procurado por meio do ópio. Lhes parecia , diziam ellcs, ter gozado das delicias do piraizo ( 109 ). Alguns se queixavam depois do uso do ópio de huma inquetação e molesta sosnno- lencia. Elle inspirava alegria a muitos, e lhes fazia perder ás vezes inteira- mente o somno. Alguns padeciam do- res de cabeça e sede, e não poucos se queixavam de adstricção de ven- tre e de suores nocturnos. Outros per- diam o appetite, c em vários casos - depois do uso do ópio vi resultar huro no- ( 96 ) notável afrouxamento. Também vemos resultar a debilidade indirecta depois do abuso de Outros incitativos fortes. Tive occasião de observar em certo enfermo que o laudano liquido de hu- ma botica produzia afrouxamento, e o de outra excitava alegria e vigilias agradáveis. O effeito observado no pri- meiro caso dependia talvez da falsifi- cação do ópio. Com o uso do ópio huns tísicos escarravam menos, e outros de mais. Hum letrado que estava tisico , e padecia hypochondria me asseverava que sem ópio não podia applicar-se. Reineggs que vivera sete annos em Ásia era sempre alegre e espertíssimo , depois de haver despido o seu habito, cortado a sua barba e deixado a gra- vidade asiática, tomava todos dias ópio. Eu prescrevi com optimo successo o laudano liquido misturado com o licor anodyno de Hoffmarm a hum man- cebò , que padecia palpitações do cow ração e fluxo de sangue do nariz ; que se tinha pretendido curar por sangrias repetidas, Eu curei também com o ópio ópio huma mulher parida accommeíti- da de hum tétano produzido pelo frio ; sempre produzia adstricção de ventre ; em fim dei igualmente com utilidade o laudano liquido nos insultos de his- terismo. Tenho curado muitas vezes cm pouco tempo com o ópio febres in- termittentes rebeldes aos remédios e receitas ordinárias dos compêndios de medicina. Prescrevia em taes casos o vinho, a comida de carne, o ar puro, fazendo tomar ao enfermo se era pos- sivel, antes do paroxismo vinte gottas de laudano liquido, e lhe ordenava que se deitasse na cama. O paroxis- mo era constantemente mais breve, e terminava por suores copiosos. A' che- gada do segundo paroxismo, mandava repetir a mesma dose de laudano li- quido ; e rarissimas vezes fui obrigado de usar delle mais de duas vezes. Com este methodo tenho curado febres in- termittentes recentes Hum príncipe da Geórgia moço e dado a devas- sidão , parecia ser huma exceição. Elle era attacado de huma febre vio- Tom. II. G len- ( 98 ) lentirsima, e jazia na cama sem for-- ças. O ópio, longe de o animar, o abatia mais. Os paroxismos porém se, diminuíram, mas não cessaram inteira- mente senão depois do uso de outros remédios a que recorri. Conheci hum Inglez muito ator- mentado de espasmos, de gota e de paralysia, o qual , quando queria al- hviar-se destas incommodidades , to- mava de huma vez duzentas ou trezen- tas gottas de laudano liquido (110); e não lhe causava atordoamento, ném somnolencia. Huma mulher muito esper- ta incommodada de dor forte de dentes principiou a usar do laudano liquido e tomava meia colher huma ou duas vezes no dia sem sentir incommodida- des , ou ser accommettida do somno. Tenho percebido tarde que o ópio Sado ein pequenas doses na debilidade directa obra violentamente, mas que na indirecta se pode tomar grandes do- ses. ( 111 ) f Prescrevi com muita utilidade ás pessoas ameaçadas de hydropesia, ou da tisica do bofe, de espasmos, ou de ai- ( 99 ) alguma outra enfermidade asthenica, oito até dez gottas de laudano liquido, de quarto em quarto de hora. Nos ca- sos , em que esta dose parecia ter obra- do com muita violência, mormente sobre a cabeça, eu remediava estes accidentes com o caífé , e ás vezes também com o vinho ; e até com os ácidos sempre que parecia que tinha obrado com demasiada força ( 112 ). He mau, como Reineggs já adver- tio que o ópio esteja falsificado quan- do se traz para Europa ( 118 ) : igual- mente era mau não se poder jamais coitar com o que tinha advertido ou escripto o claríssimo Reineggs. Já neutro lugar expuz quaes e quantas utilidades tinha conseguido, em diversos casos, das minhas pirolas „ compostas de quinze grãos de ker- „ mes mineral, de dez de calomelanos „ preparados, de outros dez de ópio, „ e de quanto baste de balsamo pe- „ ruviano para formar massa , e desta „ pirolas de hum grão, das quaes se „ toma huma ou duas de manhãe e ou- ;. trás tantas á noite. 3> G 3 Nun- ( 100) Nunca vi resultar salivação, nem adstricção de ventre do uso destas pi- rolas ; somente em hum caso, istohe, em hnma mulher que padecia debili- dade directa , o cpio produzio pertur- bação sensível de cabeça. Huma donzella , magrissima , pe- quena , doentia, e já alguma cousa ve- lha , nascida em Itália de huma mãi de quasi igual compleição , com a diminuta dose de cinco gottas de lau- dano liquido ficou sobre maneira so- porosa , pelo que tive prazer em não ter dado maior dose ! Em muitas pes- soas o ópio tem adquirido celebrida- de por ter obrado como afrodisiaco ou venereo. Prescrevendo nas enfer- midades asthínicas purgativos mistura- dos com huma pequena dose de ópio se obteai os melhores eífeitos ( 114 ). Conhece-sc geralmente o modo de preparar os pós de Dover e a sua virtude. Este remédio convém, sem- pre que a teução do medico he de provocar ou ajudar o suor. Mas apro- veita especialmente no caso em que o suor excitado já por bebidas quentes, es- t 'Oi ; ettá a ponto de parar. Eu estou per- suadido que tenho suífocado á nascen- ça muitos synochos e tyfos mediante estes pós. Muites médicos tem de tra- tar enfermidades graves , porque elles mesmos as fazem graves não as curan- do bem no principio ( 115). Brorvn crê que , por huma má iu- telligencia se attribuíra ao ópio a vir- tude sedativa; e rejeita em sentido rigoroso todos os remédios positiva- mente sedativos. Todos os remédios estimulam , também os remédios debi- litantes obram como forças estimulan- tes , produzindo somente menor esti- mulo do que he necer -zvlo para o es- tado de boa saúde. Pede á proporção da saúde eu da incitabilidade «er pa- ra hum remédio debilitante aquelle , que noutro produz eficazmente os eífeitos de 1 uma força estimulante. Para provar qne também os re- médios debilitantes são potências inci- tai ivas, BroTvn serve-se do sangiip pa- ra cxomrd". Muito sangue estimula evidentemente e aug-nienta o incita- mento ; o qual se debilita diminuindo- se ( 102 ) se somente o estimulo quando se tira abundantemente o sangue ; por peque- na que possa ser ainda a quantidade ao sangue , essa obra sempre estimu- lando sobre os vasos, e só em pro- porção menor do que exigiria o esta- do de saúde. Demais Brown pre- tende que o ópio não possue virtude alguma especifica, e que não obra de diverso modo que os outros estimu- lantes obram, mas somente em hum gráo maior. Huma grande quantidade de ópio pôde por tanto produzir a debilidade indirecta, perturbar a ca- beça , afrouxar, como o excesso do vinho ou da aguardente; e como ja adverti fallando dos Asiáticos. Eu re- ferirei os argumentos de Brown e dei- xarei, aos outros o cuidado de os examinar, confirmar, e alfim de os confrontar com as suas próprias ob- servações. A prova principal, de que o ópio se reputou por sedativo, foi tirada da circunstancia de produzir em diversos animaes algum allivio das dores , e somno. Não já o mesmo remédio esíi- mu- ( 1Qs ) mulante, diz Rasori, obra ora como remé- dio sedativo, havendo primeiro produzi- do incitamento; elle he ora a im- possibilidade em que se acha de poder obrar ; ora a falta de reacção que o faz inútil : pelo que se deminue o inci- tamento ou cessa de todo, e então o ente vivenfe passa do estado da força ou vigor aquelle da debilidade, do somno e da morte. Além disto deve tantas e tantas vezes seguir a quieta- cão da dor e o somno, em quanto o ópio obra como remédio estimulante, do mesmo modo que a bebida mui quente ou hum bom copo de aguar- dente mitiga as dores das juntas ou a eólica. Cumpre pois ainda examinar ou analysar o modo de obrar. Quando o incitamento cessa ou por excessiva accumulação da incitabi- lidade , ou pelo total esgotamento des- ta , então acontece a morte, ou extin- ção de todas as funeções vitaes. Porém ic , pelo excesso da incitabilidade isto he pela debilidade directa, e pelo seu con- sumo isto iie , pela debilidade indirec- ta , o incitamento cessa só por algum tem- ( 104) tempo, de sorte que a incitabilidade excessiva ou accumulada, como no pri- meiro caso, ou mui fraca e esgotada, como no segundo , possa reconduzir-se ao seu estado natural no fim de certo tempo, então acontece o somno; c qual termina as nossas occupações diárias. Cumpre advertir que em tal caso ou a excessiva ou a diminuidain- citabilidade deve ter chegado só aquel- le ponto que se requer para o somno. Explico-me; hum certo gráo de debi- lidade directa ou indirecta, ou mixta, isto he, que participa de huma e de ou- tra , prodoz em nós o que se chama somno. Hum gráo maior de debilidade ou também de força produz falta de somno ou vigiliatotal He preciso pois pa- ra conciliar o somno hum certo gráo de estimulo e de incitamento médio en- tre a força e a debilidade excessiva, porque estes dous extremos causam a vigília. Hum calor moderado cujaaeçao será tanto mais enérgica quanto for pre- cedida do frio; a comida, a bebida, a fa- diga , o pensar ou discorrer, produzem o somno quando o seu estimulo não he ( 105 ) he tão violento que cause a debilida- de indirecta, e por conseguinte a vigí- lia , como se observa na bebedice de- pois dos trabalhos excessivos do corpo e da alma, e da acção muito enérgica das paixões da mesma alma. O excessivo cançasso produz debilidade directa e vi- gília. As causas, que , por não ter obra- do eom a devida força e por haver oc- casionado aquelle gráo de debilidade indirecta, cm que o somno consiste , produzem vigília, são o frio, (nao no gráo que mata), a fome, ou as co- midas pouco nutritivas e pouco capa- zes de «stender as fibras do estômago, operação que chamamos estimulo indi- recto , as bebidas tênues , como o chá , o caífé , as bebidas aquozas nos sujei- tos avezados ao uso do vinho , a suspen- são dos costumados exercícios da alma c do corpo, a leitura de livros fastidio- sos , a vtigonha, o temor ea angustia de animo. A diathese esthenica acompanhada de dor em alguma parte do corpo jcoduz vigiiias, as quaes não cedem se ( 106.) senão com a diminuição desta diathe- se ; o que pôde acontecer ou porque a excessiva dor produzio no corpo a debilidade indirecta , ou pelo uso do methodo conveniente, isto he , do an- tiflogistico. Para mitigar huma dor inflammatoria ou a vigília que proce- de delia, cumpre de evitar todo e qual- quer estimulo, o que se faz eom a sangria, o ar fresco, a dieta tênue, as bebidas aquosas , a tranquillidade , o silencio e \ escuridão. Em geral mitiga-se ou dissipa-se a dor esthe- nica quando se põe huma grande par- te do systema vivente em maior acti- vidade , movimento , ou sensibilidade. As crianças procuram alliviar-se com o choro : outros apertam oà dentes : a dor se mitigou tanto que se mani- f«staram convulsões ou mania : boas novas , aífectos de alma improvisos to- lhem a dor. Assim como o ópio e o vinho reforçam quasi geralmente o augmen- to de incitamento, também servem in- teiramente de acalmante, do mesmo modo que externamente o banho quen- te ou hum vesicatorio diminúe e to- lhe a sensação da dor. Nas •( iot ,; Nas enfermidades asthenicas a de- bilidade commummente he maior do que aquella que se requeria para conciliar o somno : per isso nas ditas enfermi- dades a vigília procede quasi sempre da debilidade directa. Assimc*ue qual- quer meio capaz de reforçar o hecita- mento ao ponto em que consiste o somno produz o mesmo somno, não por virtude particular sommfera , mas si n estimulante. Ora, sendo a debili- dade pequena e pouco longe do pon- to , que constituo o somno, hum es- timulo igualmente pequeno bastará pa- ra fazer dormir. Hu o prato exquisi- to composto de substancia animal, hu- ma proporcionada quantidade de vi- nho , huma nova agradável nara os aííüctos , o calor quando se sente frio , hum moderado exercício do corpo e do espirito em sujeitos anteriormen- te ociosos , e as meditações mode- radas ; todas estas cousas são estímulos sumxientes para conciliar hum suave somno. Quando a debilidade he maior, requerem-se também estímulos maiores. Em tal caso se hão de dar os incitativos mais (1W) mais enérgicos, dos quaes o ópio hc o principal. Deste modo o mesmo po- de facilmente obrar como narcótico, ou somnifero. O ópio pôde fazer succeder o mais agradável somno á mais atormen- tadora vigilia nos casos de summa de- bilidade , como nas febres intermittentes, nos atíaques de gota , ou noutras en- fermidades asthenicas em que as inquie- tações internas periódicas afugentam continuamente o somno. Nas circunstancias porém em que a debilidade directa domina, Ecndo huma notável accumulação de incita- bilidade pouco apta para supportar hum estimulo alg-um tanto forte con- vem principiar com doses mínimas de epío. Porque como ja fiz observar, huma dose maior attacaria a incitabi- lidade com muita força. Continua-se a dar sempre pequenas doses de ópio até que se chegue a reduzir a debi- lidade aquelle ponto em que pôde ter lugar o somno. Quando a vigilia nas enormida- des asthenicas hc eífeito da delilidade in- ( 109 ) indirecta, tanto para conciliar o som- no , como para restabelecer a saúde requerem-se estímulos penetrantes e fortes, entre os quaes o ópio leva de novo a palma. Somente nos referidos casos e sob as mencionadas circunstancias, o ópio produz somno. Dado noutros casos, quer no estado de saúde quer de en- fermidade , elle reanima as funcções do corpo o da alma, desterra o somno, c nos faz alegres e espertos. Quando alguém , sem haver dado occasião , se sente com huma não natural incli- nação para o somno, toma ópio , im- mediatamente se sente esperto e ale- gre. O ópio desterra a melanchoíia, imprime confiança, faz valente ao co- varde , falludor o taciturno , e vigoro- so o frasco. O que por aborrecido da vida quer matar-se , tome o ópio , e mudará de pensamento. Em huma pa- lavra , elle he hum dos mais efíicazes remédios em todas as enfermidades de directa ou indirecta debilidade. Por esta razão deve necessariamente ser nocivo nas enfermidades esthenicas , por- ( UO) porque accrescenta a sua energia áquel- la das outras potências nocivas produ- zidas pela pyrexia , e porque muda fi- nalmente o estado flogistico em debili- dade indirecta, e até na mesma morte. Os Bugaros da Sibéria são laborio- sos fracos, porque vivem quasi inteira- mente de vegetaes , e de pouquíssima carne. Por este motivo são dados as- saz á bebedice , a cujo fim servem-se do ópio , e do tabaco. Obtém o seu ópio dando golpes nas cabeças madu- ras das dormideiras pelos quaes sàe o seu sueco que se secca mediante o ar. Elles preparam huma água opiada com as mesmas cabeças , e f.zem co- zimentos que embebedam com o taba- co e com as flores de cananio fêmea. Ha casos em que se observa hu- ma inclinação doentia ao somno ; a qual depende sempre da debilidade ( 116). Assim como as vigílias doen- tias annunciam huma debilidade maior que aquella, que se requer para pro- duzir o somne, assim também a in- clinação doentia para o somno ou a mesma lefchargia parece indicar clara- men- ( nu mente huma debilidade muito menor que aquella que'produz a vigilia. Se- rá pois muito mais fácil de curar com estímulos diífusivos huma affecção le- thargica do que a falta de somno procedida da asthenia. Por tanto não se deve abandonar o lethargo largo tem- po a 3i mesmo , por quanto produz a debilidade directa; effeito constante do somno demasiadamente prolongado. O vinho , o ópio restituirão prompta- mente as forças necessárias para impe- dir o somno. Oalmiscar, o castoreo, o alcali volátil podem freqüentemente produzir o mesmo effeito. Em huma gravíssima lethargía com esfriamento das partes externas e com todos os symptomas máos dependente de cocu- melos venenosos, o ópio dado em grande quantidade foi util. Pott foi o primeiro que descobri o, e depois del- le muitos outros observaram que o ópio curava a gangrena secca dos de- dos dos pés nos velhos e fracos, e que em geral era saudável em toda espécie de gangrena. Não se quererá certamente derivar esta de huma for- ça debilitante ou sedativa. O (112) O medico seguirá o mesmo mej thodo nas enfermidades asthenicas, nas quaes os enfermos tem grande inclinação ao somno, sem que este chegue a restaurallos. Este incommo- do origina-se da debilidade directa e indirecta : o ópio e o vinho são os melhores meios curativos ; os quaes e os outros estímulos diífusivos au- gmentarão nesta circunstancia o inci- tamento até aquelle ponto em que o somno consiste. Ora se acontece que o incitamento permanece fixo neste ponto, e produz hum somno conti- nuado, requer-se novamente outro es- timulo, que reforce muito mais o in- citamento e o leve acima do ponto marcado do somno ; cm cujo caso di- minuindo-se maiormente a debilidade, o corpo do estado de somnolencia passa ao de vigilia. Outra causa que favorecia a opi- nião errada de ser o ópio hum seda- tivo , era , segundo Brown observar-se que tste remédio curava as enfermi- dades espasmodíeas , as convulsões, a eólica , a diarrhéa, os attaques hys- te- tericos &c. cria-se falsamente que es* tas enfermidades se originavam da for- ça vital augmentada , da maior in- fluencia do fluido nervoso do incita- mento mais enérgico, &c. > quando procedem. antes , como se demonstrou já, da desordem das funcções, da debilidade e falta do devido incita- mento , segundo comprova a effi.cacia dos estimulantes tão úteis em similhan- tes circunstancias. Se pois , o ópio aproveita nas en- fermidades espasmodíeas e convulsivas, isto não se deve deduzir da virtude sedativa, mas sim de ser elle mesmo hum dos melhores estimulantes. Em taes casos o ópio he util pela mesma razão, porque são úteis o vinho, a aguardente , o espirito de Corno de veado , e outros incitativos , que em diversas oceasiões alliviaram extrema- mente os eífeitos dás ditas enfermida- des. He por itso que Brown excla- mou : opium me herde non sedat. \ Hum desgraçado diarista diz. ique is- to suecedera na embriaguez da aguar- dente , e , não obstante , pretende pas- Tom. II. H sar ( 114) sar por hum nobre e delicado au- cior. O vinho socega a angustia do coração : chamar-se-ha por isso hum se- dativo ? «j Quantas vezes não cahe hum enfermo em profundo somno, quando àlíivia de qualquer dor, que dantes o atormentava ? Hum homem molesta- do de hum panericio acompanhado de dores insupportavcis começou prom- ptamente a dormir com á applicação do unguento mercurial que lhe tirou as dores. Hum mancebo junto com al- guns marinheiros no inverno cahio no Newa por haver-se virado a embarca- ção em que estava. Todos se afoga- ra™ menos o mancebo que teve a fe- licidade de salvar-se. Elle porém ficou traspassado com o frio ; levou-se pa- ra huma casa visinha e se deitou nu- ma cama quente. Deu-se-íhe a beber vinho, e deixou-se em socego. Princi- piou então a dormir, è dormio sem interrupção por espaço de vinte quatro horas , acordando depois são e alegre como dantes. ; Diremos pois que o un- guento mercurial e o vinho quente (115) sae remédios soporiferos ? Pede por- tanto Broun que sejamos igualmen- te justes e imparciaes a respeito do ópio. Nos paroxismos das enfermidades hystericas dê-se muitas vezes e em bre- ves intervallos huma pequena dose 'de ópio até que elles cessem. Não con- vém dallo aós feridos no principio do mal, mas somente quando o enfer- mo , pela força da dor cahio na debili- dade indirecta; o que facilmente acon- tece passados alguns dias. Nas he- morrhagias ou fluxos de sangue o ópio diminue o diâmetro dos vasos. No tyfo, na-peste, nas graves enfermida- des asthenicas: nas bexigas confluen- tes devemos dar grandes doses , e di- minuillas depois pouco e pouco, Nas enfermidades de debilidade directa pe- lo contrario convém1 principiar com pequenas doses e augnientallas logo. No tétano dê-se grande quantidade delle , misturado porém com outros incitativos. Nos casos de extrema debilidade e na paralysia he utilis- simo o ópio, Devemos também usai- H 2 Io ( 116) Io na gangrena secca (117). Tira Q> fedor das chagas com caria e as alim- pâ. Nas dores de gota mandei untar as mãos com laudano liquido ( 118 ). Não se limita porém aqui as suas vir- tudes : interna e externamente he sau^ da.vel na diarrhéa e na dysentcria. Bell o louva e recommenda externamente nas chagas gallicas corrosivas. Thyeri depois cíe ter usado do ópio , foi ac^ commcttido de dores eólicas e do es- tômago ; effeito que também observou em huma velha a quem o fez tomar; Tanto esta como elle tinham as veas grossas; e por isso suppoz Thyeri que as veas visinhas do estômago estives- sem igualmente grossas ou varicosas , e que o ópio rarefazendo o sangue lhe c; usa-se as ditas dores. O ópio ou não seria porventura genuíno e puro mi dominaria também huma consti- tuição esthenica. O ópio he nocivo em todas en- fermidades esthenicas ,( 119 ), e nas feridas recentes augmenta a vigilia e a sensação dolorosa cm vez de dinii- nuillas. CA- ( HT) CAPITULO XII Dos Medicamentos debilitantes e do seu modo de obrar. J_^j As enfermidades {logísticas ou es* thenicas acha-se o incitamento cons- tantemente augmentado cm todo cor- po. Este augniento manifesír-se na disposição mediante huma singular ener- gia das funeções tanto intellectuacs como corporeas , e na enfermidade actual pelo augniento de actividade de algumas funeções anímaes , e pelo desconcerto ou diminuição de outras; eífeitos, que se devem indisíiuctanien- te attribuír á acção de huma ou mais forças nocivas inciíativas. Tudo aquillo pois , que possúe a propriedade de diminuir o excessivo in- citamento , será util nas enfermidades esthenicas , e será causa das enfermi- dades asthenicas, sempre que se ponha em prácíiea no estado de saúde diini- nuíndo-sc desta maneira o incitamento-. Já ("8) Já advertimos que tanto os re- médios incitativos, como os debilitan- tes-se tomam da mesmissima fonte; e que só dffierem em mais ou menos da &ua virtude incitativa ou debilitante. s Adverti também, que nas enfer- midades universaes em conseqüência da unidade e indivisibilidade da inci- tabilidade , não podem existir duas af- fecções , doentias oppostas no mesmo corpo e ao mesmo tempo. Se o inci- tamento he maior em huma parte, também -he mais enérgico no resto do corpo, e diminuindo-se em hum ór- gão , diminue-se também universalmen- te. Noutro tempo para explicar cer- tos fenômenos dependentes desta cau- sa , era necessário recorrer a theorias singulares , já derivando-os da syn- pathia, que entre si tem os diversos órgãos , já do antagonismo , e já de outras estranhas fontes. O que por exemplo se expõe á alternativa do frio e do calor, pôde soífrer certo estremecimento convulsivo na pelle denendente do afrouxamen- to. , que rapidamemte succedeo no in- t\- ( H90 citamento, ou para melhor dizer na contracção derivada delle. Òbserva-se que símilhantes revoluções acontecidas na superfície externa do corpo facil- mente se conimunicam ao canal in- testinal. Em conseqüência desta obser- vação se díscorreo , não sem notá- vel confusão de idéas, acerca do con- sentimento , que existe entre a pelle e ò ventre inferior, rlum grande medico pois pretendeo que estas partes eram an- tagonistas, e que os vasos da pelle se alargavam , quando os dos intestinos se con#tringiam , e vice versa. Esta sympâthia escora em hum principio bem simples, a saber, na unidade da incitabilidade ( 120 ). To- davia he certo que existe grande ana- logia entre a fabrica cjas entranhas e a da pelle. Abrindo, os anímaes re- centemente degolados , ^ê-se sobir dos intestinos hum vapor similhante aquel- le que a pelle exhala. No canal intes- tinal o monco serve de epiderme. Tanto o primeiro como a segunda de- fendem as extremidades sensiblissircas dos nervos, e se conservam huniidas e ( 120 ) e macias com o dito vapor. Ambas estas partes padecem as mesmas desor- dens. Vio-se desprender-se pedaços grandes da epiderme da pelle, como as vezes se observou desprender-se notá- veis pedaços da túnica moncosa dos intestinos. ' Tanto buma como outra podem reproduzir-sc em pouco tempo Muitas vezes se vê que sdipprimida a evacuação dos intestinos se compensa com a*da pelle , e vice versa. Agora farei menção de alguns fenômenos triviaes , que poderão re- purar-se por prova de que a incitabi- lidade pôde ser affeiçoada de modos entre si opposto^. Quando se esfriam os pés, sente- se grande pezo. na cabeça , obscuri- dade da vist», e se manifesta inclina- ção ao espasmo em varias partes do corpo. Em tal caso o frio obra enfra- quecendo especialmente os pés, e cau- sàndo-lhes huma impressão mais sen- sivel. Esta aífecção asthenica se com- munica as outras partes do corpo , mormente aquellas, que eram já an- tes mais- fracas ou dotadas de maior in- ( 121 ) incitabilidade, nas quaes se manifesta portanto hum eífeito mais sensível. A sensação ingrata, que percebemos , tendo os pés frios, poderia concorrer para nos afracar, e por isso os refe- ridos symptomas espasmodicos não são mais que symptomas de asthenia , ori- ginados da harmonia e «ympathia , que reina' entre as partes, que compõem o corpo animal. A pelle , que reveste a superfície externa do corpo pôde estar árida , c o canal intestinal hu.mido. Este pelo contrario pôde estar árido, constipa- do , e privado de matéria transpiravel, quando a pelle está regada da matéria transpiravel, que livremente exhala. Para explicar este fenômeno não he necessário recorrer a causas entre si contrarias. As bexigas por exemplo, e o calor externo, podem cm. virtude do seu estimulo activo sobre os vasos exhahmtes, ie- challos e produzir a aridez da pelle ; entre tanto communicando-se a. mes- ma diathese esthenica ao canal intes-, tinal, pôde ahi excitar menos energi- camente huma maior n<:-ivid-»de nos v» ( 122 ) vasos cxhalantes, como acontece tam- bém na Pe!le > quanao lie aífectada de hum estimulo moderado. Pelo contra- rio pôde acontecer que, pela relaxa- ção e aíonía dos vasos do canal in- testinal, não haja rriais nelle alguma franspiração , havendo-a nesse tempo na ptfffe' sempre que os seus vasos não estejam também fracos como os primeiros, c conservem ( acaso em vir- tude da acção do calor) huma certa actividade. Neste caso a causa debili- tante pode ter obrado com preferencia no canal intestinal. Nas eólicas os enfermos sentem-se alliviados, logo que se manifesta o suor na pelle. Sendo a aífecção do ca- nal alimento&ò de natureza esthenica, o apparecimciifo do suor he hum si- srnal da diminuição da diathese flogis- tica, que já inclina a passar para hu- ma enfermidade asthenica. Este he o caso das evacuações criticas. Nas en- fermidades asthenicas dos intestinos o íipparccimeato do suor pôde ser hum effeito dos incitativos administrados, ou ào incitamento augmsntado por ou- tras ( 123 ) trás razoes, que tem posto os vasos em estado de livrar-se , mediante hum movimento mais enérgico dos humo- res , que os dilatavam. Afnrma-se , que certos symptomas rheuniaticos se fixam nos i itestinos, quando a enfermidade nas partes ex- ternas se tratou mal com os incitati- vos , e se reforçou por tanto a diathe- se até ao gráo de huma cníe. audade flogistica forte. O mesmo pode suece- der se huma causa asthenica acompa- nhada por ventura de huma matéria estendente, produz a gota podagra c artética chronica nas partes ex- ternas , obrando esta com preferen- cia ou por acaso , ou por mau me- thodo curativo sobre o canal intesti- nal. Já noutra parte disse que tanto a falta, como a sobra de sanjrue nos intestinos , podem também excitar vi - vas dores. Em conseqüência do que p.caT,o de dizer, vê-se que o frio, assim co- mo todas as mais causas debilitantes , produzem cm cada parte do corso ■hum elicito timilinnte , com a difr- rea- ( 124 ) rença só , que o calor e o frio obram. com maior presteza e actividade sobre a superfície externa do corpo do que nas outras partes : as quaej , em vir- tude da unidade e indivisioilidade da ineitabüidade, não tardam em partici- par também da impressão tônica , ou atônica feita sobre a pelle. Exporai a^-ora successivamente os principaes meios debilitantes de que podemos servir-nos com summa utili- dade nas enfermidades esthenicas , de- terminando a sua acção, e cstabale- cendo hum paraílelo entre ellas e aquel- las das potências iucitativa». 1 Do frio. Já atraz fali ei do calor como hu- ma força iucitativa. Hum gráo pois de calor menor do que aquelle que se requer para consenar a saúde , isto he, o frio, será considerado como huai debilitante. O frio diminuo o incitamento , ou'por outras palavras debilita. Pôde ser iudiíícr-níe para nós. -aber se isto • acon- ( nb) acontece porque o corpo he privado de huma notável quantidade de par- tículas de calórico , cuja perda pro- duz diminuição de actividade nas fi- bras ; ou como me parece mais prová- vel , porque o homem e todas as fi- bras que o compõem se hão de consi- derar no estado de perfeita atonía, quando as forças incitativas não obram dependendo unicamente dellas a acti- vidade de todo systema. Por esta ra- zão se entende como todos os meios debilitantes podem ser remédios refri- gerantes , diminuindo o incitamento dos vasos e das fibras , e avisinhando- os sobre tudo ao seu estado natural de atonía. Nas hérnias encarceradas -, acompanhadas de tezura , inchação , e iníiammação , a água fria he hum optimo remédio. Se hum correio por ter excessivamente corrido a cavallo se acha incapaz de mover os seus membros , niergulhando-sc na água fria , perderá ao mesmo tempo esta ryeza, e o fortíssimo calor , que o atormentava. Assim como o calor se põe espe- cial- ( 126 ) cialmente em contacto com a pelle , que reveste a superfície externa , e au- «^menta nella com prefereneia o inci- tamento ; assim também he eviuente que a sua falta deve causar hum maior gráo de atonía nella , isto he, de debilidade directa. O frio, pois, tem a virtude de debilitar e relaxai' ; não como se tem crido atégora , a de obrar sobre o corpo como remédio tônico. Por tanto , sempre que a trans- piração se retém nos vasos d* pelle em virtude da sua constituição esthe- nica , que constringe fortissimamente os mesmos vasos e^suas bocas , ou os tapa inteiramente, o frio sendo hum remédio contra a diaíheee esthenica c nrodozindo hum estado de reiaxação e de atonía, provocará a transpiração. Temos huma prova disto.nas bexigas; cuia erupção ou saída se promove com o 'frio. Quando o coração e as arté- rias gozam ainda da devida energia, o frio obrando sobre a superfície ex- terna do corpo , e debilitando seus va.o> , diminuirá, he verdade, e Iara mais languido o ofllcio da transpirarão, n.as (^ 127 ) mas não chegará nunca a supprimillo totalmente. Sentiremos então huma sensação de pezo pela sobra de maté- ria transpiravel , e tendo dentro de nós hum vigor sufíiciente , nos sentiremos neste caso inclinados ao movimento. Esta he a razão porque na entrada da estação fria nos sentimos tão ale- gres e robustos. Corremos com agi- lidade pelas ruas , e buscamos toda occasião de exercitar o nosso corpo. Porém se o frio continua a obrar so- bre nós , e se a sua força debilitante se estende até ás partes internas , en- tão esta energia, esta agilidade e for- ta se diminuem bem de pressa. Se á diminuição de energia que acontece no coração e nas artérias em virtude do frio , ou de outra qualquer causa debilitante, se associa o frio applicado á superfície externa do corpo, pelo qual os vasos se debilitam de novo, então o officio da transpiração padece huma total desordem , e huma inteira suppressão. O sumrno gráo de frio produz summa debilidade. Ò mesmo, igual- nien- ( 12S ) mente que e excesso do calor pode produzir corrupção nos humores do corpo animal, a gangrena e a mesma morte. A debilidade directa, a diathe- se esthenica , e a debilidade indirecta levadas ao respectivo excesso podem também produzir emfim os mesmos eífeitos. Igualmente a sensação ingra- ta que pereebemos quando nos expomos ao frio pôde contribuir para debili- tamos. Já demonstrei no primeiro volu- me desta obra até onde podemos ser- vir-nos do frio como remédio no cur- so para a debilidade indirecta: Em taes circunstancias os banhos frios podem ser utiUssimos. O primeiro me- dico Musa curou o imperador Augus- to com os banhos frios, e foi por isso summamente louvado. Elle porem matou também . com elles Murcdloi porõue não conhecia ainda os princí- pios' Brownianos sobre o modo como p frio obra. Tenho conhecido homens, que bebiam todas as manhães água fria para precaver-se dos catarros e da« affeeçõcs pituitosas ; envelhecendo po- ( 129 ) porém, a água fria não produzia mais os desejados eífeitos. Estes homens primeiramente se achavam no curso para a debilidade indirecta , o á qual passaram depois na velhice ; tempo em que a água fria só podia ser nociva. 2 Do ar impuro. Assim como he mais estimulante* e ftónico quanto mais puro he , assim também está clare que deve ser tan- to mais debilitante o ar que se apar- tar mais da sua pureza. O fluido que inspiramos da ?m- mensa atmosfera , que nos cerca, po- de merecer bem a nossa attenção , como a merecem as comidas e bebi- das , que no estômago introduzimos. O maior ou menor pezo da atmosfe- ra produz jâ em nós huma grande sen- sação. No segundo caso amamos a quietação e conimodidades , e nos sen- timos pouco dispostos ao movimento ; no primeiro pois , isto he , quando a atmosfera peza excessivamente sobre nós , experimentamos hum obstáculo Tom. II. I maior ( 130) maior , pelo qual sentimos também em nós maior elasiicidade , e maior vigor, querendo quasi oppor-nos ao mesmo obstáculo. Estes fenômenos não dilfe- rem daquellcs, que noutras circuns- tanciai se observam, quando o vigor e a elasticidade vão sempre crescendo a medida . que cresce, u .resistência ou seja compressiva , ou a estendente. Des- ta lei nos servimos já fallando do esti- mulo proveniente da massa dos ali- mentos e de outras funeções animaes. He assim que o nadador achando no meio do rio maior resistência sen- te-se in-ds vigoroso e mais desejoso de vencer a corrente, da água. Podendo certas partículas hetero- gêneas e impuras viciar a virtude tô- nica e incitativa do ar a ponto de ser homicida, como observamos fre- qüentemente nos hospitaes , nos cár- ceres , nas lugares pantanosos &c. , secaie-se q a o não se deve recorrer a taes meios perniciosos , quando tratan- do das enfermidades esthenicas nos lu- gares de ar saudável o medico deseja diminuir-lhe a virtude irritante. Nós cor- se- { J31 ) r,p«ajÍ!uos facilmente similhante eífeifo emprcnhando a atmosfera de humores aquc os ; o que no ar livre se obtém plantando arvores, e regando o terre- no , e nas câmaras pondo raro cs ou arvoresinhas verdes, e aspergindo água pelo pavimento &c. Alguns pretendem ter observado cm certos paizes que o ar por hu;::« propriedade sua obra especialmente so- bre a pelle , pouquíssimo na cabeça , e menos ainda no peiío, no ventre inferior e nos pés. 3. Da escaceza de sangue e de humores. A abundância e o movimento rá- pido do sangue he huma das princi- paes causas da diathese flogistica. A grande cópia de semen ou de leite es- timula , causa inquietações , e dispõe para a esthenica. Nenhuma couza pois pode diminuir mais facilmenteoexces ivo incitamento do que o diminuirá quanti- dade do sangue edos humores, sr-p.irados delle. Aeseaceza, do sangue produz huma 1 & irrau- ( 132 ) grande debilidade por faltar então nos vasos a acção e a reacção. A escaee- za de sangue he acompanhada de hum movimento mui accelerado , do qual se origina a freqüência e debilidade do pulso. Quando os humores esca- ceam , as fibras musculares e os va- sos não são devidamente estendidos , e o incitamento se diminue, o que se conhece por meio de hum pulso fre- qüente e pequeno. Nas enfermidades esthenicas acom- panhadas de grande orgasmo , tudo o que diminue a cópia dos humores, que estendem os vasos diminuirá tam- bém o incitamento , e o grande orgas- mo. Esta he a razão porque em taes circunstancias , a sangria , os vomito- rios e as purgas são tão úteis. Os úl- timos aproveitam evacuando o estôma- go e os intestinos , e impedindo as- sim hnm estimulo ao corpo ; aprovei- tam além disso diminuindo com a ir- rigação , que produzem sobre os infi- nitos vasos da superfície interna dos mesmos intestinos huma quantidade de humores contidos nelles. Desta mesma fon- ( 13* ) fonte corre auti^dade qve se tira pro- vocando a transpirarão e o ?uor; viito que também deste modo se livra o cor- po do estimulo e da compressão cau- sada pelos humores supérfluos. Assim como em virtude da uni- dade da incitabilidade o incitamento augmentado numa parte se communica ao resto do corpo ; assim evacuando suflicientemente os vasos tanto gran- des como pequeaos, e diminuindo des- ta sorte o sea incitamento , esta sua diminuição , ou esta debilidade virá a ser commum a todo corpo. Das se- crcções mais abundantes do que a con- servação da saúde exige ; da escaceza dos humores nasce nos vasos langor, o circulo dos humores estagna-se, e por conseguinte estes se corrompem. A de- bilidade communica-se a todo corpo , e concorrendo outras potências debili- tantes resnltam os fundamentos de hu- ma enferndí! ide asíhenica. Posto isto, poderemos formar hu- ma clara idéa das péssimas conseqüên- cias das síti.ttíis i ao indicadas, ào coito inimoderado, dos suores excessi- vos , ( Í3í ) vos , e do suiammento excessivo. Não seria diilicil determinar as circunstan- cias , o regime e modo de viver e a disposição que se requerem para que possam ser saudáveis ou nocivas taes evacuações. Já noutro lugar adverti que as enfermidades asthenicas nos enganam algumas vezes sendo acompanhadas de hum apparente vigor. Igualmente apro- veitam talvez ás sangrias e outras in- competentes evacuações*, produzindo hum apparente ailivio, cuja conseqüên- cia depois he hum notável au^-nento do n:uh 4. Da inércia e falta de con- tracção das fibras musculares. Nos tem no s rn qu*1 as leis atlie- nienses de D^icao puniam com mor- te a ocio.sid.uie como hum furto feito ?': sociedade , e em que os Gregos pre- zavam sumrrmmente os exercícios gy- i enasicos^ havia por certo pouca razão de ckcí -tr-se dos males , que da inae- <ãV re.ud.ani á saúde do scenero hu- ma- r 135) rtano . e para buscar a causa. Pelo contrario cm nossos tempos, nos quaes parece que >« pessoas opulentas tem honrado a ociacifíad» , era bem digno tste objccte de t:?npenl,ar tantos au- ctores èm rep recatar os d.iomos pro- \enientes de. iiu-iCÍa , oppoudo as uti- lidades da vida activa. A contracção das fibras mesr>da- res augmenta sua densidade, adqui- rindo por isso maior \igor. Os vasos coíitrahcm-sc então com mais força, e he mais cmt..ace o impulso dos fluidos que cSLs encerram. Quando a causa deste fenômeno excede ps dc\í-' dos limites, pôde acontecer, cue, me- diante esta rontraràio , se argmeiúe. tanto a densidade das fibras , e se di- minuam os diâmetros e as Locas dos vasos a ponto que as, excreçõs- ordi- nárias se supprhnam ink uarcenfe , co- mo acontece nos vasos da pede cujas bocas se estreitam com o excesso tie incitamento ; do ctue se origina a >-::pprcsfão da transpiração. A-sim q^e a ociosidade e a inér- cia do corpo devem ampliar e r--a- xar ( 13$ ) xar os vasos; daqui nascem varias al- terações dos humores , dependentes somente do mesmo relaxamento dos vasos. Em geral o pouco exercício e a pcuca actividade são origem de mui- tas enormidades asíhenic.is e da maior languido da vida. Para que se possa perceber a sensação grata, que pro- cede da quietação , cumpre que esta seja precedida do trabalho ou eier- cicio. Quando as fibras musculares estão já mui densas e os diâmetros dos va- sos diminuídos em virtude do incita- mento augmentado , a quietação do corpo não poderá deixar de ser hum remédio saudável. Ora deixo a cada hum que determine por si a que enfer- mos convenha a quietação , e a quaes se devam aconselhar as esfregações e o exercício. 3e ( 137) b. De sensações ingratas t dé- beis. Estas são 'meios, que debilitam o corpo, opprimem o animo, e abatem o valor e a coragem. O languor acom- panhado de desgosto communica-se ao corpo e ao animo , e facilita a estra- da para a debilidade directa a qual, concorrendo outras potências debili- tantes, não tardará em manifestar-se. Igualmente podemos servir-nos com utilidade destes meios na curação das enfermidades esthenicas; nisto esfriba o costume de ter os frenéticos em lu- gares escuros, de ameaçallos, intimi- dallos, e enfraquecellos , obstando ás suas acções e atormentando-os com' varias sensações ingratas. Em geral a qualquer enfermo que padeça enfermi- dade inflammatoria convém recommen- dar o descanço, o silencio e a priva- ção daí conversações e das compa- nhias alegres. Obtem-sc summa utili- dade podendo-se conciliar somno ao en- fermo , visto que o somno merece de ser ( 138 ) ser contado entre os remédios mais re- laxanses e debilitantes, Em muitos casos aproveitaria as- saz, que a medicina podessc indicar- nos os meios e a arte de moderar o animo e o espirito de sorte que se reduzissem a huma perfeita tranquilli- dade e indifíerença. Algumas vezes a necessidade nos tem oLrsrido de ten- tar fazer tímidos , cobardes e assustar dos certos enfermos excessivamente enérgicos , para deste modo diminuir a demasiada actividade do seu, cére- bro e enervallos com a quietação. 6. Dos alimentos, bchidas , e me- dicamentos. Desde tempo irnmemorial se tem / reputado a abstinência da comida ani- mal e dos alimentos exquisitos por huma mortificação ou por meio pró- prio de enfraquecer a energia do cor- po e a violência das paixões. Os pa=- gãos tinham certos dias fixos , nos qu*;es se abstinbarn de .muitos alimen- tos para se faz. rei n mais agradáveis ás ( 130 ) as' suas divindade. Os sacerdotes de fvbele jejuavíini clguns dias para po- der devorar dspoi* com rriíior von- tade e prazer as suas galljuhcs e nu- tras ave* raras. Os Romanas tinham toaiado et s livros da? Sibyllas o cos- tumo de seus supersticiosos jejuns, e em virtude dos quaes se lisongeavam de pod t ?cíi£;\zy a ira celeste. Tam- bém se jejuava em honra de Ceres , disti. guindo-se especialmente nesta oc- casião as mulheres , porque esta dco- sa profundamente aftlicta e angustia- da pelo rapto de sua filha, se tinha -austido de toda casta de alimentos. O?, Pvíhagoricos privavam-se de teda sorte de comida animal para poderem filosofar desapaixouadamente e com frieza. Estes usos supersticiosos po- diam , segundo as circunstancias, ter huma influencia util ou nociva sobre a saúde. As pessoas vigorosas , que se acham dl^-oi-tas e moinadas para ba- nia enfermidade esthenica, podem co- lher grande ufilidado de ah^ter-re por certo tcac.po das contidas anímaes. Os sa- ( 110 ) gacerfodes de Cybele ou outros filhos de Adão , os quaes com huma vida devassa se precipitam na debilidade indirecta, podem livrar-se delia mu- dando o seu modo de viver. O D.r Mo- neta, medico polaco, prescrevia , na primavera , huma cura rigorosíssima áquelles cavalheiros cuja saúde lhe era Confiada, e que se tinham dado antes a esplendidos banquetes. Eséa cura consistia especialmente na abstinência das bebidas e comidas exquisitas, e em beber huma água mineral e o soro de leite. Para que cada hum daquel- les cavalheiros se sujeitasse escrupulo- samen^e e com maior confiança ao dito regime, prescrevia ao mesmo tem- po as suas pirolas secretas. A maior parte destes cavalheiros se refrescava, e salvava assim a sua saúde exposta a correr risco. Moneta confessou de- pois a hum seu amigo , que as suas pirolas consistiam unicamente numas bolinhas de miolo de pão cubeftas de huma folhinha de prata. A abstinên- cia pois e a vida sóbria foi o uuíco meio com que os mesmos cavalheiros, dn- ( 141 ) durante a cura que faziam na prima-s vera das suas cazas de campo muda- vam a diathese esthenica de que esta- vam accommettidos , ou atalhavam a debilidade indirecta, que os ameaça- ta. Desta maneira se podia conservar • restabelecer a sua saúde. O homem no estado natural tira summa utilidade , alimentando-se de huma comida misturada de vegetaes e de carnes. Aquelle que por ventura se acha eom a disposição para huma enfermidade esthenica deve abster-se em parte ou totalmente das comidas animaes. Em taes casos unicamente deve conceder-se hum alimento mode- rado vegetal. Quanto maior he a fle- gmasia, tanto mais tênue e fluida de- ve ser a massa dos alimentos , que queremos dar ao doente. Quando o incitamento he grande , devemos des- pertar com a quantidade e qualidade da comida hum incitamento menor que o que se requer no estsdo são , ou por outra expressão devemos dar hum alimento debilitante. Entre os alimentos vegetaes as fru- ( 142 ) fructas são os mais debilitan< es ; se- guem-se os legumes , as folhas , as raizes . e depois destas as substancias farinhozas. Quanto he pois maior a diathese esthenica , tanto menor cópia de alimento convém conceder, o qual também deve ser o mais debilitante. Pelo contrario das enfermidades asthe- nicas aquella qualidade de alimento , que he mais conveniente ás enfermir dades flogisticas será aqui a mais per- niciosa. C:w. sinceramente se lamentava de não po- der curar nenhum dos seus enfermos de peripneumonia , que não tirasse mais tanto sangue , mas que lhe des- se depois da primeira sangria huma purga salina. Além disto , desterrei sempre as bebidas que comniummente se davam em taes casos recommendan- do o regimen refrigerante (122 ) CAPITULO XIII. Divisão das enfermidades esthe- ?iicas. J^ Quellas mesmas potências inci- tativas nocivas , que durante a dispo- sição para huma affeeção flogistica , fazem mais enérgicas as funeções do cérebro e do corpo continuam au- giaentando-as atéque as desconcertam ou diminuem em parte, então he que a disposição se converte em acfual en- fermidade esthenica. As enfermidades ílogislicas seguem todas na sua formação o mesmo pro- gresso , mas cm vários pontos difioreu! en- ( 152 ) entre si pelo gráo da respectiva força ; pois que algumas são acompa- nhadas de pyrexia sem inflainmação , e outras nem de inflammação nem de pyrexia. As enfermidades esthenicas uni- yersaes, acompanhadas de pyrexia e de infíaniaiaçâd comprehendem asJlegma+ tias e as enfermidades exanthematicas Jiogisiicas: sua curação he a mesma; eu mure somente dirigilla segundo o maior ou menor augmenío da for- ça vital. Tanto as flegmasias, como as en- fermidades exanthematicas esthenicas concordam entre si cm que depois de ter precedido a predisposição esthenica c passar esta á enfermidade actual , manifestam-se no principio com tre- mores , sensação de fido , apparente langor e abatimento , aridez da pel- le , suppressão de alguma excreção, urina vermelha , calor forte e muitas vezes sede. O pulso se acceléra al- guma coisa, em quanto a enfermidade cftá no seu começo e não he gravis- siraa ; depois apparece duro e cheio. Ca- ( K3 ) Cada huma das differentes espé- cies das flegmasias , como também das enfermidades exanthematicas, tem seus caracteres singulares. As primeiras cos- tumam maniíestar-se com inflamma- çãe em alguma parte externa, ou ao menos com hum estado , que não he mui dissimilhante desta. O estado in- flammatorio de huma parte he sempre precedido, e nunca seguido de huma affecção da mesma natureza dominan- te em todo corpo. Ao ponto para distinguir esta aíieccão universal da febre , que he huma enfermidade as- thenica , lhe dou o nome de pyre- xia , isto he, constituição esthenica mais violenta, pouco distante do actual estado inílaminatorio. As enfermidades exantliematicas esthenicas distinguem- se pelas erupções da pelle que se ma- nifestam em forma de manchas ou pústulas , e que são mais ou menos copiosas segundo o maior ou menor gráo da diathese inflammatoria. Os ecanthemaK são effeito. de huma maté- ria contagiosa introduzida no corpo , e que, retida debaixo da epiderme; k-.„w se ( 154 ) se corrompe ou faz acre pela demo- ra , e determina em fim a desenvol- tura de huma singular erupção. He erro crer que o pulso está duro quando as membranas de algu- ma entranha são inflammadus , e que he mais molle quando sendo infiam- mada a própria substancia desta en- tranha ou o seu parenchyma. O en- chimento e a dureza do pulso depen- dem sempre da abundância do san- gue , o qual estendendo as fibras dos vasos , os força a contrahír-se de sor- te que ganham maior densidade. A freqüência do pulro neste caso não pode ser mui considerável ; por quan- to randa que o estimulo do sangue accelere alguma coisa a circulação, a sua abundância impede que seja invaí ilido pelos vasos com tanta cele- ridade , como costuma acontecer quan- do he em menor quantidade. A for- ça do pulso depende do gráo de in- citamento de qne gozam as fibras mo- tnres dos vasos , he também deste ga'*o d- incitamento que a sua den- siuíKie e o seu tom rendiam. A dure- za ( 155 ) 7a do pulso por tanto não he senão huma forte contracção continuada por algum tempo, quô ábranje huma gran- de quantidade de sangue, e que repre- senta a vibração de huma corda íeza. Jm causas incitativa? e capazes de augmentar a massa do sangue , que continuaram a exercer sua acção também durante a predisposição, pro- vam claramente que a referida con- tracção he o verdadeiro estado era que as artérias se acham nas enfer- midades esthenicas. Na predisposição appetece-se , e ordinariamente se come maior quantidade das comidas do cos- tume* estimulantes e nutritivas ; as funeções intellcctuars adquirem huma actividade e energia extraordinárias ; muitas vezes se vigoram mais as for- ças digestivas com as substancias aro- rnaticas e com as bebidas esperiíuo- 5as; de que se segue o crescimento de força vital em todo corpo. A uti- lidade dos debilitantes e de tudo o que pôde diminuir a quantidade do san- gue , he huma prova de que as arté- rias se acham no estado de contrac- ção de que falíamos. A ( 155 ) A sensação de tremor e frio pro- cede da aridez da pelle. O langor e o abatimento mostram que no cérebro e nas fibras musculares existe hum incitamento maior do que a incitabilida- de restricta a certos limites pôde «uppor- tar. He pois á acção excessiva do estimu- lo , e não á das potências débilitantes , que se deve attribuír a diminuição que neste caso experimentam as funeções. A aridez da pelle depende do in- citamento e da excessiva densidade das fibras, que circundam os vasos , cujo diâmetro está de tal modo diminuí- do , que apenas podem receber o va- por da insensível transpiração; fapar, que ainda sendo recebido não pôde passar livremente. A constricçao que neste caso ha, não depende áo es- pasmo ou do frio , mas unicamente ria diathese esthenica, que he maior na pelle do que noutra qualquer par- te por haver alli huma acção tão esr timulante do calor, especialmente sen- do este precedido do fri«> , mais sen- sivel na superfície externa do cor- po que na interna, sem embargo de que ( 157 ) njue a sua acção se estenda por to- do corpo. As outras excreções se acham pou- co mais ou menos no mesmo estado que a da pelle ; mas o calor influe menos poderosamente sobre elles. Em geral , estando mais relaxados e enfra- quecidos os vasos internos do que cs da superfície do corpo, não carecem de hum estimulo tão forte para se ronstringir c cerrar ; hum incitamento pouco enérgico basta para produzir este eífeito. Já na Capitulo V. desta obra, que trata da explicação dos sympto- mas das enfermidades esthenicas, e da sua origem , falíamos destes e de ou- tros symptomas , que annunciam o in- gresso das enfermidades esthenicas e da pyrexia !\o mesmo capitulo expli- cámos também a causa da vermelhidão das urina?. A diathese esthenica predo- minante em todo corpo , oppõe-se á tecreção da urina. As fibras dos va- sos se estendem , estimulam e con- trahern até que a força de cohesã© das partes sólidas , ceda e dê pas sa- ('158) sagem aos glóbulos do sangue qu« communieam á urina a cor vermelha. No mesmo lugar se explicou co- mo a transpiração reprezada produz o calor , a sede, e outros symptomas , que acompanham a aridez da pelle. Do que fica dito segue-se que a inflammação ou hum estado visinho a ella como o catarrho , &c. , procede da diathese esthenica universal, pre- dominante mais na parte accomettida do que noutra qualquer parte. Nos persuadimos da verdade desta asseve- ração , ponderando que estas enfermi- dades são produzidas pela acção das potências nocivas, que obram sobre todo corpo; que são acompanhadas de symptomas próprios das enfermida- des umversaes, e que os remédios que obram sobre o corpo todo, e capazes de diminuir o estado esthenico, são também os meios mais seguros para curar a affecção parcial ou local. Em similhante caso a affecção parcial he sempre precedida da cons- tituição esthenica universal, ou ao menos ellas ambas se manifestam no roes- ( 159 ) fcoesmo tsrapa. Esta diathese univer- sal jamais he conseqüência de vicio local ; por quanto o incitamento au- gmenfado que o produz , precedeo já á enfermidade , e os fundamentos da affecção local existiam já na predispo- sição. O incitamento maior que o con- umiente não forma o vicio local , mas determina só a sua violência , as- sim co.no a da enfermidade. A affec- ção local ho ssmpre proporcionada aos differentes gráos da diathese , afora sendo esta tão leve , e de tão pouca monta que he incapaz de occasionar aquella . se na peripneumonia, pois, ou uo rheuniatismo grave agudo a dia- these e a pyraxia são fortes, a inflam- inação do bofe e das articulações se- rá também. O perigo que corre o sa- rampo depende inteiramente da violên- cia da constituição esthenica , e o mesmo se pôde dizer do perigo que a. o.npanha a infiammação , que talvez pecupa o bofe. A synocha nunca he acompanhada de delírio senão quando a vehcniencia da diathese produz ia- flammacão do cérebro, ou hum esta- do ( 16») do a ella próximo. A mesma erysipe* Ia , inda que accommetta a cara, não he perigosa sendo branda a pyrexia que a acompanha. A synocha simples he huma fle- gmasia , que consiste na diathese es- thenica , ou numa pyrexia brandissi- ma, e incapaz de excitar inílamma- ção em parte alguma : Ella he effei- to das mesmas causas de que as ou- tras flegmasias se originam , e exige os mesmos remédios. Foi hum erro separar a synocha das flegmasias , e unilla com as fe- bres , que são enfermidades procedi- das da debilidade. A inftammação de qualquer parte não fôrma a essência da flegmasia, posto que nunca falte quando a diathese he bastantemente forte para excitalla. Assim que a in- flammação não he a causa da fle- gmasia como erradamente se suppunha. O catarrho díffcre pouco da inflam- mação , e se nao he acompanhado delia, procede unicamente de ser a diathese esthenica ordinariamente mui trsrnda. Hum mau curativo, ou a ac- ( 161 ) acçãò continuada rdas potências noci- vas incitativas pôde occasionar huma inflammação violenta da trache-arteria e talvez também do bofe, e por con- seguinte huma espécie de peripneu- rnonia. Acaso pretenderá alguém para pro- var que as flegmasias procedem de in- flammação , allegar o exemplo de buma espinha cravada debaixo da unha, que produz huma inflammação de todo bra- ço , a qual se estende até á espadoa, e excita hum estado dè pyrexia em todo cerpo. Este exemplo todavia seria mal trazido. No referido caso não se manifestariam por certo os symptomas próprios da flegmasia , semque preexis- tisse já a diathese esthenica, e que esta passasse á enfermidade actual da mesma natureza. Sem a- preexistência da diathese esthenica o vi/jio local não produz enfermidade inflanimatoria uni- versal. Quando o dedo se gangrenas- se , poderia causar hum tyfo sympto- matico ou a chamada , febre gangre- nosa, a qual seria capaz de matar. Quantas vezes vemos huma in- Tom. II L fiam- ( 162) flammação local , semque sobrevenha flegmasia, especialmente quando ocou- pa hum órgão externo ou pouco sen- sitivo ? Nas flegmasias pois o vicio local he effeito da affecção universal, e esta não depende daquelle. Toda es- pécie de inflammação, e de erysipe- la, que não he acompanhada da dia- these universal, que fôrma o caracter distinctivo de todas as flegmasias , de- ve reputar-se por vicio local ou symp- toma de alguma outra enfermidade _, ou emfim por apparencia local de fle- gmasia. As inflammações tanto inter- nas , como externas, que não são pro- duzidas por causas que affeiçoam to- do corpo, e que não se curam se não com remédios , que obram igual- mente sobre todo corpo , não se deve contar entre as „flegmasias. A sua cu- ra consiste unicamente em destruir a causa irritante ou offensiva, ou aquel- le veneno, aquella espinha, aquelle fo- go , ou qualquer estimulo , que pun- gindo ou comprimindo produz a in- flam m ação, He com razão que se chama py* re- ( 163 ) rexia aquella affecção universal, que reina nas enfermidades exanthematicas e nas flegmasias. Ella differc essen- cialmente da febre, a qual he huma enfermidade asthenica, e das inflam- mações locaes que induzem no corpo todo huma espécie de irritação, que se pôde chamar pyrexia symptomatica. As enfermidades esthenicas legitimas acompanhadas de pyrexia e de inflam- mação externa são a peripneumonia, o frcnezim , as bexigas , o sarampo , a erysipéla grave, o rheumatismo agu- do c a inflammação da garganta ( cy- nanche tonsillaris ). As enfermidades esthenicas com pyrexia, sem inflammação , compre- hendem o catarrho, a synocha simples, a escarlatina , as bexigas e o sarampo benignos, em que a erupção he menos notável e simplesmente local. O catarrho e a synocha simples são enfermidades inteiramente distinctas da inflammação. Na escarlatina, nas bexigas e no sarampo benignos a constituição esthenica he leve em todo corpo, e a en- fermidade se reduz quasi unicamente L2 a ( 164) a huma insignificante e local inflam- mação da pelle ou da superfície ex- terna do corpo. Eaifim , ha enfermidades ainda mais benignas que aquellas , as quaes não são acompanhadas nem de inflam- mação , nem de pyrexia. Elias depen- dem de huma diathese esthenica, in- capaz de excitar nos vasos o movi- mento necessário para produzir a py- rexia ou huma inflammação. Nesta classe se comprehende a mania, a vigilia e a gordura ou obe- sidade: estas são enfermidades estheni- cas sem pyrexia. Cumpre porém advertir que nas enfermidades universaes, a affecção local depende da geral, e que he da mes- ma espécie : nasce das mesmas potên- cias nocivas , e cura-se com os mes- mos remédios!, Huma tal affeeção local inflammatoria , ou outra similhante dominante, por exemplo no cérebro ou nos vasos , sempre he da mesma natureza do vicio universal, e requer os mesmos remédios. Não he pois necessário de classificalla diversamente das ( iea ; das outras enfermidades inflammatorias como se tem feito com grave damno da medicina. Tanto a inflammação da garganta como do cérebro , da pelle, ou de alguma outra parte, ce- dem aos mesmos remédios antiflo- gisticos. Para praticar a medicina com utilidade basta saber reduzir as enfer- midades a duas fôrmas. Não ha ne- cessidade de as dividir como os bo- tânicos em classes , ordens , gêneros, espécies e variedades : nem se deve aftender ao nome da enfermidade , mas sim ao seu gráo de força. Deve- mos applicar-nos a conhecer bem as causas geraes das enfermidades, e não nos guiarmos pelos siinptomas enga- nadores , nem atemos á inrt.il in- dicação das causas occultas. Aconsellio por tanto que se abandone todas as nosologias: são os nosologistas, que tem feito a medicina tão rica de palavras , como estéril de cousas , tão confusa e diflicil na practica.. Desde o estado de perfeita saúde até ao da enfermidade esthenica o mais vio- ( 166 ) violento, ha certamente hum augmen«- to progressivo e proporcionado de for- ças. Parece que a gordura ou obesi- dade fôrma o primeiro e mais intimo ponto das enfermidades esthenicas , e que a peripneumOnia e o frenezim oc- cupam o mais alto ponto do vigor esthenico.de que he capaz a econo- mia animal. Deve-se pòr immcdiatamente de- pois da peripneumonia e do frenezim, o sarampo e as bexigas , e dahi a erysipéla grave , que accommette a cabeça. A esta segue-se o rlieumatis- mo , o qual , inda que menos perigo- so , que a erysipéla, todavia consis- te numa diathese igualmente violenta. Em fim , se porá cm ultimo lugar a ervsipéla benigna , a inflammação da garganta as quaes se assemelham no gráo. Tal he a divisão e os gráos das enfermidades acompanhadas de py- rexia e inflammação. O catarrho parece oecupar o pri- meiro gráo entre as enfermidades acom- panhadas de pyrexia sem inflammação. Talvez seria melhor collocallo entre as ( 16? ) as enfermidades acompanhadas de leve inflammação depois da erysipéla beni- gna e da inflammação da garganta. A synocha simples e a escarlaíina sen- do de natureza esthenica , pertencem ás pyrexias. As bexigas e o sarampo benignos constituem o derradeiro gráo. A todas estas enfermidades segue- se as affecções esthenicas chamadas mania , vigilia, gordura ou obesidade. Com esta confina huma saúde per- feita ( 123 ). CAPITULO XIV. Divisão das enfermidades asthenicas. jf^ Acil he , ponderando-se bem © que temos até qui exposto , distinguir as enfermidades asthenicas das oppos- ta3 , isto he , das esthenicas. A as- thenia he o estado do corpo viven- te , em que todas as funeções aní- maes estão mais ou menos enfraqueci- das , ou desconcertadas : este estado he quasi sempre acompanhado de of- fen- ( 168) fensa de alguma das funeções anímaes, Verdade he que aqui a experiência e o critério são importatissimos. Nas en- fermidades brandas, e também nas fe- bris , muitas vezes se duvida se he conveniente combater com a esthenia ou verdadeiramente com asthenia , par- ticularmente quando se encontram as formas da enfermidade , como também a s'de , o calor, o pulso accelerado &c. Importa surnmamente de attender á constituição presente e ao modo de vida do enfermo. Quando falíamos das enfermida- des esthenicas, começamos pelas mais violentas , e descemos pouco e pouco até as mais brandas. Na exposição porém das enfermidades asthenicas se- guiremos huma ordem contraria, isto he, fallaremos primeiro das que re- sultam do minimo gráo da debilida- de , e subiremos pouco e pouco por todos os gráos médios até áquelles, que dimanam do máximo langor. Nas enfermidades asthenicas ma- nifesta-se grande variedade de sympto- mas , que tem sido objecto das inves- ti- ( 169 ) tigaçÕes dos médicos mais celebres; mas todos seus esforços unicamente serviram de espalhar sobre a pratica da medicina maior incerteza e confu- são. Na medicina Browniana o exame dos symptomas he insignificante, e não pôde de nenhum modo servir para a classificação e distineção das enfer- midades. Apontarei agora as principaes enfermidades asthenicas segundo a or dem indicada ; e se concordará comi- go que he sempre maior o gráo de certeza naquella classificação de en- fermidades da qual se desterra todo o apparato de erudição , e na qual a simplicidade triunfa. Eu devo em quan- to á maneira de manifestar, e curar as enfermidades universaes , remetter para o meu manual de medicina pratica. Brown colloca entre as enfermi- dades asthenicas , a magreira, inquie- tação , ou ansiedade, demência, sar- na , escarlatina asthenica, diabetes mais leve , rachiles, hemorrhagias como do utero , do naris , e das ahnoreimas , a cessação, a retensão e a suppressão do fluxo menstrual , inda que estas trez ( HO) trez derradeiras enfermidades sejam na apparencia oppostas aquellas. São igualmente enfermidades asthenicas , a sede, o vomito , a ir.digestao, a diar- rhéa, a colicanodyna; as doenças das crianças, como as lombrigas, a eii- guidade ou atrofia, a dyzenteria, a eholera benigna, a esquinencia asthe- nica , o escorbuto , o hysterismo mais brando , a rheumatalgia , a tosse es- merara , a cystirrhea ou catarrho da bexiga , a gota das pessoas robustas, a asthma, o espasmo , a anasarca , a dispepsodynia, o hysterismo mais gra- ve , a gota das pessoas fracas, a 7y/- pochondria , a hydropesia , a fosse convulsiva , a epilepsia , a paralysia , o trismo , a apoplexia, o íeiarco , as /efrra intermittentes, como a çwar- f«t', a íercfíe, a quotidiana &c. a dysenteria e a eholera graves, o syno- cho, o /í//ü simples , a cynanche gan- grenosa , as bexigas confínentes , o ty- ,/b pestilente, a pesíe. Todas estas en- fermidades abandonadas a si mesmas tendem á morte ( 124 ). Tocante a esta classificação das en- (171) enfermidades asthenicas cumpre adver- tir que aquellas , que se collocaram primeiro em razão da sua menor vio- lência , se apresentam ás vezes com symptomas tão perigosos , que são se- guidas de summo perigo. Ao contra- rio aquellas que ordinariamente são violentíssimas , como a gota , o tyfo pestillente e a mesma peste, são as vezes da maior benignidade. As affecções locaes , que muitas vezes acompanham estas enfermidades, taes como as chagas , os tumores , as excreções augmentadas, as hemorrha- gias c a inflammação , indicam também debilidade. Com tudo o mesmo gráo de debilidade pode existir sem as refe- ridas affecções. Ponderando toda a serie das en- fermidades asthenicas devemos tomar por base e fundamento desta distribui- ção o gráo da debilidade dominante. Porquanto podem existir enfermidades acompanhadas dos symptomas ha pou- co assignalados, e outras cm que nun- ca se manifestam . como por evaiplo o hysterismo e o espasmo. Porém po- de ( 172 ) de ajuntar-se ao espasmo e ás convul- sões huma hydropesia debaixo do mes- mo gráo de debilidade; em cujo caso cumpre desprezar todos estes sympto- mas, e attender somente ao gráo de debilidade. As febres annin;riam-sc de ordinário por meio de abatimento de espirito e de dor de cabeça, porém entre estas pode haver algumas com que esteja associada huma grave cho- lera, bemque o gráo de fraqueza que constituo as febres não padeça nenhu- ma alteração. Em taes casos a força real da enfermidade não consiste na affecção de alguma parte especial, mas sim na de todo corpo. Asfimque para conse- guir a cura deve-se empregar os meios de mudar a condição de todo o orga- nismo , e não unicamente o estado de huma parte separada. CA- ( 173 ) CAPITULO XV. Thcrapeutica geral das enfermida- des esthenicas. /% Morte he a inteira privação do incitamento e da incitabilidade. As enfermidades, que a precedem são as que atormentam dolorosamente o en- fermo , e lhes causam o terror e o me- do sobre os últimos instantes da vi- da. Alguns médicos possuem a arte de atormentar mais os enfermos por meio de methodos inhumanos e irracionaes ( 125 ). Aquella doutrina medica, pois que, em lugar de ensinar atormentar os enfermos com medicamentos ingra- tos , com violentas e incommodas sen- sações ■, modera o padecimento e trata com suavidade e doçura os enfermos incuráveis até terminar tranquillamen- te a sua vida ; essa doutrina . digo , será por este só motivo preferível a outra qualquer. O methodo simples de curar as enfermidades esthenicas que vou ex- por, ( "* ) por, especialmente o plano de cura pronto , restaurante e tônico, que con- vém ás asthenicas de que fallarei de- pois , provarão evidentemente ser o no- vo methodo o mais prompto , o mais grato e o mais suave para a humani- dade desfalecida, quer seja ou não ca- paz de curação. Des que exercito a medicina sem- pre tive a peito receitar aos meus en- fermos medicamentos, que lhes não fossem desagradáveis, sem perder de ponto o que podia convir á sua sensi- bilidade, quietação e cwmmodidade. As- simque nunca me servi de remédios desagradáveis , nem de certos bárbaros meios curativos, como o de provocar enjôos, ou de qualquer outro que ator- mente os enfermos , os quaes longe de serem úteis, são ordinariamente noci- vos. O medico que podesse descobrir hum methodo de suavisar os tormentos e as dores dos desgraçados accommet- tidos de enfermidades incuráveis, e de os manter alliviados até á sua derra- deira hora por certo faria hum gran- de serviço ao gênero humano. Por ven- tu- ( 175 ) fura a seu tempo se poderão propor alguns outros pensamentos relativos a este objecto. Entre tanto se deveria procurar, quanto possível fosse, que os últimos períodos desta vida sejam menos penosos. Em gênero de leitura não se conhecia até agora nenhuma couza tão ridícula como hum manual de medi- cina pratica, o qual em qualquer en- fermo recommenda a cura seguinte. „ Quando ha plethora ou sobra de san- gue , he necessário sangrar ; se a cho- lera ou bilis he a causa da enfermida- de , he necessário provocar o vomito; se nas primeiras vias existem impuri- dades, deve-se purgar ; se falta a trans- piração he necessário provocar o suor „. Assevera-se que este methodo curati- vo se conforma exactamente com a pa- thologia , e se adoptam como remé- dios tantas coazas, que realmente são potências nocivas, j Com quanta maior simplicidade procederá o medico quan- do assentar que as fontes e origem das enfermidades universaes são duas ; que todas as enferaiidades procedem ( 176) inteiramente do augmentado ou dimi- nuído estimulo ! Náo se poderá al- gum dia comprehender como existisse tanto tempo aquella vertigem sophis- tica. Na curação das enfermidades es- thenicas Cumpre diminuir o incitamen- to augmentado, e reduzillo aquelle estado médio em que consiste a saú- de. Se conseguirá este fim por meio dos remédios debilitanles, que são aquel- les, que obram com estimulo menor cjue o que se requer para o estado de saúde. Quanto maior he a violência e a força da enfermidade esthenica, tan- to mais devemos enfraquecer o enfer- mo. Nas enfermidades esthenicas vio- lentíssimas , e nas quaes o incitamento he summo , como na peripneumonia * no frenezim , no sarampo grave, na erysipéla, cumpre recorrer immediata- mente a huma sangria copiosa, me- diante a qual se diminue e se tira promptamente o estimulo do sangue sobre todo corpo, porém que obrava especialmente sobre os vasos sangüíneos. Po- ( 17? ) Porém não se deve sangrar com demasia suppondo que a enfermidade devesse ceder unicamente á sangria, nem também com nimia parcimônia. Na simples predisposição de huma en- fermidade esthenica a sangria não he ainda necessária. Nem se deve san- grar nas ligeiras enfermidades esthe- nicas , por ventura seria melhor naò sangrar, e usar antes de outros meios débil itantes. A sangria deve ser proporciona- da á idade , ao sexo , á compleição , e á energia das causas , que produzi- ram a enfermidade. As bexigas e o sa- rampo são as únicas enfermidades es- thenicas particulares ás crianças cm que a sangria he indicada. Tanto a estás como aos velhos convém sangrar mais parcamente. Nos primeiros a abundân- cia ou accumulação de incitabilidade, e nos segundos a mingua ou o estado demasiadamente exhausto, não produ- zem senão hum incitamento modera- do ; por isso para reforçar o incita- mento requer-se hum estimulo forte. O signal mais certo de não cort- Tom. II. M ti- ( 178 ) tínuar-se a sangria , he a diminuição dos symptomas mais graves , ou o seu total desapparecimenfo por algum tem- po. Assimque, se depois da sangria, se diminuem o calor excessivo e a dureza do pulso ; se a dor de cabe- ça, do peito, ou a seceura da pelle se moderam, e finalmente se a diathe- se se diminuio universalmente , então convém suspender a sangria. O mesmo se hade fazer, quando a dureza e a freqüência do pulso se diminuírem, quando a superfície do corpo estiver humida e menos ardente, quando mi- tigada a dor de qualquer parte a respiração se executa eom maior faci- lidade e o delírio se dissipa. Huma sangria de dez até doze onças he ordinariamente suíficiente pa- ra as pessoas adultas e vigorosas ( 126 ). Nas crianças e nos velhos deve ser menor a quantidade de sangue que se tirar. Advirto porém que sobre este ponto não convém estabelecer huma regra geral, porque o prático em si- milhantes easos deve dirigir-se con- forme a diminuição dos «symptomas co- ( 179 ) como guia segura. Assim como nas enfermidades universaes o estado da affecção local depende do estado de todo corpo , assim também reputo por inutii expor regras particulares rela- tivas á sua curação. Tanto que por meio da sangria se conseguio diminuir a vehemencia da enfermidade, he bom prescrever huma purga salina. Em taes casos as purgas activas e irritantes seriam pre- judiciaes , por isso convém preferir as purgas brandas salinas, especialmente o sal de Glanber (sulfato de soda), o sal cathartico ( sulfato de magnesia). Estas purgas enfraquecem muito, e tirando dos vasos huma quantidade de humores lhes causam a debilidade. Sydenham no século passado usava na curação das enfermidades esthenicas de sangrias e purgas alternativamente, isto he , em hum dia sangrava e no se- guinte purgava. Pode-se pois dar tam- bém a purga no mesmo dia em que a enfermidade se manifesta. Huma purga salina dada depois de huma sangria moderada, diminue M 2 mais ( ISO ) mais poderosamente a diathese esthe- nica do que huma sangria muito maior sem a purga. Quando a dia- these esthenica he mais leve, huma purga pôde ás vezes fazer supérflua a sangria. Os remédios tanto incita- tivos , como debilitantes obram sempre com maior força no lugar a que iui- inediatamente se applicam. Assique se applicamos contemporaneamente mais meios debilitantes a varias partes do corpo , também se manifestarão em mais lugares os eífeitos originados des- ta immediata applicação , em que a enfermidade será combatida e curada par vários caminhos. Assim a sangria enfraquece especialmente os vasos san- güíneos grandes , e as purgas copio- sas os vasos pequenos ; o \omitono livra o estômago do estimulo que o opprimia , e por conseguinte vem a ser tão util nas enfermidades esthenicas como nocivo nas asthenicas. Com os referidos remédios se attaca por mais partes a incitabilidade, e diminue-se poderosamente o incitamento, espe- cialmente ujuntando-se á acção da san- ( 131 ) sangria e d.ts purgas a de hu^i regi- nvn refrigerante, dando eopiosas be- bidas de água fria e con.id»s refres- cantes e pouco nutritivas. Deste mo- do diminue-se ou afraca-se cm prom- ptidão o incitamento de todo corpo. Corre claramente daqui a utilidade que se tira da acção jurta ou simultânea de diversos meios debilitantes. Menos se deve confiar unicamente na sangria sem embargo de ser o remédio princi- pal e o mais necessário na peripneu- monia. Com a prescrição das purgas e dos vomi^orios podemos mui*as vezes evitar as funestas sangrias. Poré o coan- do se in^nti curar enfermidades flo- gisticas ou esthenicas gravíssimas, con- vém sana rias eopiosas , e até seria en- tco melhor a total abstinência do uso das purgas. Por ouan+o rigorosamen- te fatiando , sendo estimulante qual- quer purga , poderia acontecer, guan- do a diiíiajso fos^e extremamente forte , e o incitamento augmentado sobre man a 1 , qu? o estimulo da purga junto com o das potências incitativas , que ( 182 > que occasiotíaram a enfermidade subisse a ponto de extinguir e consumir a in- citabilidade , e produzir assim a morte. Tocante á quantidade de sangue, que se hade tirar devemos ter presen- te a regra seguinte, isto he , seguir hum caminho médio entre os médicos que sangram com mão larga e aquel- les que sangram com muita timidez e parcimônia. Assim como não confia- mos a cura das enfermidades estheni- cas unicamente á sangria , assim tam- bém temos menos necessidade que ou- tros de evacuar este precioso humor. Deve-se, pois, attender , tanto á ida- de do enfermo , como á sua vida cos- tumada , convém examinar se he gor- do alimentado de comidas animaes bem adubadas , e finalmente deve-se cotejar a compleição do corpo com a violência dos symptomas e com o êxito do methodo curativo empregado. Geralmente fallando podemos usar sem- pre de hum remédio debilitante tan- to menos energicamente, quanto maior for o numero e a força dos outros meios análogos. De ( i^ ; De mais sempre se deveria sangrar huma veia grande , porque a sangria de huma veia pequena não produz igual allivio. A sangria de qualquer artéria corre vários inconvenientes e risco. Na idade media duas libras de sangue tiradas no espaço de trez ou quatro dias bastarão ordinariamente para curar huma enfermidade estheni- ca , não omittindo ao mesmo tempo os outros dcbilitaut.es ( 127 ). Finalmente em quanto a diathese esthenica se apresentar com vigor , se dará huma purga depois de cada sangria , e não se omittirá o uso dos outros meios antiflogisticos. As evacuações de ventre , que por hu- ma theoria errada , se recommen- dam nas enfermidades asthenicas, são tao nocivas coioo saudáveis nas esthe- nicas. As purgas reproduzem em conti- nente os atraques de gota , e são tão perniciosas nas lebres intermittentes , que as fazem repetir depois de curadas já : assim as evacuações artificiaes de ventre são sobremaneira perniciosas na asma , na dyspepsia : cm summa em to-I ( 184) todas enfermidades procedidas da de- bilidade tanto directa como indirecta. Por esta razão as ditas evacuações são de extrema utilidade nas enfermidades esthenicas , fazendo muitas vezes su- pérflua a sangria. Somente nas enfer- midades flogísticas ou esthenicas da primeira ordem , em que o incitamen- to está extraordinariamente augmenta- do, e nas quaes cumpre sangrar co- piosamrnte , se p'de talvez omittir as purgas por temor de que estas esti- mulem. Outro artigo importantíssimo na cura das enfermidades esthenicas he a abstinência da comida JSão se deve cone der senão comida Iaa0 e liqui- de. Este lie hum objeto digno de sumia t atteução, e sobre o qual os práticos nao icOecíeni quanto basta. ò caí imolo éjue procede da massa só das comidas, he já mui activo , e mais activo ainda aquslle que provém das comidas animace , o qual por isso deve ser mais damnoso nas enfermidades esthenicas. Seria inútil diminuir a mas- sa do sangue, e dos humores median- te ( 185 ) te a sangria e as purgas , permittindo- se ao enfermo de encher de novo seu estômago. Prohiba-se, pois, o mo da carne e de outra qualquer comida so- lida. Podemos conceder unicamente comidas vegetaes cm fôrma liquida , pois que huma tal substancia aguacen- ta, bem longe de ser retida nos va- sos grandes, facilita o caminho dos pequenos , de cujas extremidades saho dnpois espontaneamente. Pela mesma ra/ão deve p;ohibir-sc ao enfermo o uso de (aiahíuer bebida , afora a^ua fria fa/endo-a mais grata com aíauai ácido. Oá ácidos refrescam , debilitam, extinLvueni a sede, e são por isso úteis ás pessoas a quem nao excitam tosse ; fenômeno que acontece muitas vezes nas entVrmidades do peito. Além da prescripçáo dos prinei- paes debiüiaiites , como a sangria, as purgas , as bebidas r«. frigerantes e a comida vegefa! pouco nutritiva, he sunmiamente impor-!ante aftender tam- bém ao gráo de temperatura em que o enfermo se acha. Demonstrei já aci- ma diíiusameníe que o frio por si mes- mo ( 186 ) mo em qualquer occasião debilita di- rectamente , e que elle só cura as bexigas , diminuindo a vchemencia. Disse também que o frio he hum re- médio cflicacissimo no catarrho : disto se poderá facilmente concluir que es- ta sua virtude saudável deve tambcm estender-se ás outras enfermidades flo- gisticas. Cumpre ter sempre preseute o que tantas vezes tenho inculcado , a saber, que o frio alternado com o calor pôde estimular ; que este calor obra então com maior energia, e que também he mais forte a acção de qual- quer estimulo precedida do frio. Do que fica dito podemos tirar diversas regras e cautelas nece-arrias á appu- ^acão do frio : em primeiro lugar núo devemos jamais expor o enfermo a hum summo gráo de frio, porque nem poderá resistir-lhe , nem esta sem- pre em nossa mão o conservar este mesmo çráo de frio ; por quanto qual- quer calor suecesrivo , indaque bran- do, obraria sempre com maior torça produzindo hum augniento de mnia- mento. Em segundo lugar, empregan- ( 187 ) do o frio, será assaz necessário* pre- venir que não lhe sobrevenha o ca- lor, ou ainda tambcm outros estimu- lantes , visto que este accidente tem produzido grande prejuízo nas bexi- gas , o qual se tem attribuído errada- mente a acção do frio. O regimen moderadamente refrigerante, mas con^- tinuadó , obrará iguaimente bem e com segurança , como o frio forte applica- do por pouco tempo. Quando fallci da curação conve- niente das bexigas , disse que o írio hc eíücacissimo , abrindo os vasos des- tinados á transpiração , tapados em conseqüência da diathese esthenica , e facilitando deste modo a livre sabida da matéria bexigosa reprezada. <; Por- que, pois, não devemos esperar do frio hum effeito simiihante na cura do sarampo ? Tratou-se mal o catarrho com o calor, e o mesmo aconteceo com o curativo do sarampo. ( J. Frank guiado pela experiência assegura que e regimen refrigerante he tão util no sa- rampo c n;i escarlatina como nas bexigas , sendo aquellas enfermidades esthenicas ). Nas ( 188 ) Nas enfermidades será por tanto necessário tirar immediatamente a rou- pa da cama ou os vestidos mui pe- zaclos. Será igualmente necessário refrescar a câmara , mecher e bater a cama ou a cadeira em que estiver as- sentado e deitado, e ter os doentes longe do calor. Em huma palavra de- vemos procurar de compensar com a applicação continuada do frio brando a acção mais prompta do frio forte, mas de pouca duração. A preocupa- ção que fazia crer que o calor so- mente e os outros estímulos podes- sem promover a erupção nas enfermi- dades exanthematicas, e que o frio mediante a sua quimerica força adstrin- gente a reprimisse, esta preocupação, dizia eu, origiuava-se da doutrina dos alexiph ar maços ( remédios que se julga- va capazes de exp-llir do corpo os di- versos princípios doentios ). Acositece ás vezes que depois da primeira sangria , da primeira purga , e depois do uso do frio e da pouca comida , a enormidade parece diminuí- da,, quando pelo consrario dahi a pou- co ( 189 ) co tempo torna a manifestar-se cora a primeira violência. Em tal caso con- vém recorrer novamente ao plano já apontado de cura, persistindo neíle até que se mitiguem e dcsappareçam os symptomas .mais urgentes , e se tire parte da força da enfermidade. Pra- tique-se também o mesmo quando se exaspera por terceira ou quarta vez, isto he, sangre-se de novo , alimpe-se o canal das trip?s com huma purga salina, refresque-se o corpo , e afraT que-se por meio da pouca comida (12S). Porém se a diathese esthenica es- tá quasi e.\*incia, se a dor de cabeça ■, o attaque do peito , ou qualquer outro symptoma , parecem estar já modera- dos ou extinetos, mas de modo que se deva temer que a enfermidade se renove, então convém dar os brandos debilitantes. Neste caso a sangria e as purgas serão menos efficazes , e se deverá cuidar em promover a trans- piração, para que o corpo está disr posío par haver-se diminuído sen- sivelmente a diathese , e aclmr-se o corpo susceptível do estimulo áo ca- lor , ( 190 ) íor , necessário para provocar-se o suor. He incrível quanto confusos se- jam atégora os juízos formados acerca dos remédios sudorificos. Ora se acham prescriptos nos casos em que são no- civos , ora rejeitados noutros, em que poderiam ser summamente proveitosos. Os médicos convém em que os pós de Dover ou outros medicamen- tos diaforeticos podem curar o catar- rho. Todos sabem que a esquinencia das fauces ( cynanche faucium ) , a erysipéla, e a synocha simples se cu- raram muitas vezes provocando-se o suor. Logo, pois , que as enfermida- des esthenicas graves, mediante a san- gria , as purgas e os outros debilitan- tes, se diminuem e reduzem ao gráo em que consistem as sobreditas enfer- midades esthenicas brandas, em que aproveita o methodo diaforetieo , por- que não deveremos então pòr a nossa confiança na provocação do suor ? Talvez se porá a objecção que o calor necessário á provocação do suor será todavia mais ou menos no- ci,- ( 191 ) eivo tratando-se de huma enfermidade esthenica. Este receio seria bem fun- dado se a diathese continuasse com a mesma primeira força , e a debilidade indirecta ameaçasse ; mas sendo ella mediana , como nas enfermidades es- thenicas brandas já desde o principio, e nas graves depois do uso dos de- bilitantes fortes , sustento então que o dito receio seria intempestivo. O pe- queno damno proveniente do diminuto gráo de calor, que se requer para promover a transpiração , será com- pensado assaz com a utilidade do suor, que em toda superfície do corpo se manifesta ; pelo qual os vasos e todo corpo ficarão livres de hum estimulo, que anteriormente augmentava o inci- tamento. A mesma diminuição da diathese flogistica, a qual acontece mediante as evacuações produzidas pe- los vomitorios e purgas nos muitos vasos que existem no canal alimento- so , acontece também livrando os va- sos da pelle da matéria da transpira- ção. Reflicta-se além disso que hum pequeno gráo de calor em vários ca- sos ( 19» ) sos he suficiente para provocar co- pioso suor. He , pois , necessário , mormente no fim das enfermidades es- thenicas, que receai eco?ulo alguma cou- sa flogistica , ] era restabelecer perfei- tamente a saúde se auxilie a funeçao da transpiração. Tanto que se manifestam signaes annunciadores de suor imminente, con- vém cubrir o enfermo de roupa mais quente , tirando-lhe a de linho e sub- stituindo-lhe a de lãe, convém tam- bém dar bebidas mornas, e evitar to- da corrente de ar desorte que possa suar dez ou doze horas. Se desta ma- neira o suor apparecc espontaneamen- te, escusado he recorrer a medicamen- tos. Porém se durante huma transpi- ração copiosa , a enfermidade se alli- viou muito , e o suor esteja a ponto de cessar, he necessário sostello e consen alio por meio dos pós de Do- ver até conseguir se o desejado effeito.. Muitas vezes tem-se observado que a água fria bebida em quanto o corpo estava bem cuhrrío , provocava abun- dante suor. Noutras casos a cerveja ou ( 193 ) ou o leite quente obravam eomo opíi- mos diaforeticos. O suor he com preferencia util nos casos em que parte da enfermida- de vencida já com outros debilitaníes, está vizinha ao seu termo. Por isso também no sarampo , antes que se te- nha manifestado e diminuído a eru- pção , não se deverá recorrer mui promptamente aos meios capazes de provocar o suor. Observando em hum ou outro caso que o calor he noci- vo , e que o suor em lugar de alli- viar , prejudica, então devemos fugir de o provocar ; por quanto na cura das enfermidades esthenicas , tudo de- ve concorrer a diminuir universal e igualmente o incitamento , evitando lambem qualquer remédio que não se- ja capaz de produzir este effeito , ^ou capaz também de produzir o contra- rio. Para este intento recorra-se aos debilitantes somente , os quaes devem dar-se de modo que hum sustenha ou— faça as vezes de outro. A' medida da força com que qualquer enfermidade esthenica se manifesta, e Tom. H. N á ( 194 ) á medida das circunstancias mais ou menos urgentes que a acompanham, devem também ser os remédios debili- tantes mais ou menos activos , ado- ptando-os segundo a vehemencia da enfermidade , a saber, em maior ou menor quantidade , e continuando seu uso por hum espaço de tempo con- veniente. Na curação das enfermidades es- thenicas se introduziram também al- guns remédios dotados de huma insi- gnificante virtude debilitante, aos quaes- pertencem o nitro e os ácidos (129). Usou-se igualmente das ventosas e dos vesicatorios ( 130). Entre os debilitan- tes inferiores os ácidos merecem a pre- ferencia , refrescando de algum modo e fazendo as bebidas mais agradáveis, especialmente nos casos , em que sen- do affeiçoado o peito não excitam tos- se. A virtude refrigerante do nitro he menor que aquella, que atégora se lhe attribuio. As sanguisugas e ventosas podem melhor reputar-se por medica- mentos locaes. Os vesicatorios, pon- derada sua primeira acção, estimu- la m , ( 195 ) Iam , e só debilitam progressivamen- te , por meio da evacuação do soro da bexiga. Eu já fallei do seu uso, quando fiz menção dos remédios tópi- cos e derivatorios , dos quaes se abu- sa tanto em varias enfermidades ator- mentando excessivamente os enfermos. Nos meus opusculos médicos declamei também contra este methodo similhan- te á tortura, o qual ensina a conser- var aberta a bexiga ou chaga por bas- tantes mezes applicando cousas irri- tantes. Nas flegmasias , ou enfermidades esthenicas brandas, como nas bexigas, c0 sarampo e na escarlatina benignos, basta debilitar brandamente. Nestas não se requer aquelles poderosos an- tiflogisíicos , que dissemos ser neces- sários na curação das enfermidades es- thenicas da primeira ordem. O rheuma ou catarrho he talvez, entre as enfermidades esthenicas da se- gunda ordem, aquella em que domi- na com maior força a diathese estlv nica ; e todavia nella he paneo neces- sária a sangria ; a qual he mais no- N 9. ri- ( 196) riva , exceptuando precisamente o ca- tarrho , nas outras enfermidades col- locadas na referida segunda ordem. He contrario as regras da verdadeira pratica applicar os mais poderosos de- bilitantcs , como se applicaria nas en- fermidades esthenicas vehementes , nos: casos em que não he já grandíssimo o incitamento , e não excede aquelle gráo que constitue a simples predispo- sição para huma violenta enfermida- de esthenica ou flogistica. O objecto da sangria he impedir que o incita- mento excessivo não se diminua ou gaste totalmente e cause assim a morte. Nas enfermidades benignas de que faltamos, não devemos temer es- te sinistro accidente ; porém cumpre que nos regulemos pela vehemencia da enfermidade, omittindo a sangria, ou querendo-a executar, ser mui par- caaiente. He pois necessário que haja cau- tela a respeito da sangria, não só nas enfermidades asthenicas nas quaei mui freqüentemente se derrama o pre- cioso humor vital com grave damno dos ( 197 ) dos enfermos, mas também nas esthe- nicas , sempre que não sejam da pri- meira ordem. Espero poder dar a razão que não deve sangrar-se muito no catarrho , bem que seja acompanhado de huma diathese moderadamente forte. He sa- bido, que qualquer diathese accommct- te sempre huma parte mais que outra. No catarrho a estiienia predomina so- bre a superfície do corpo , sendo esta a parte mais exposta á alternativa do frio e do calor successivo, o qual pontualmente obra com maior força sobre a sunerficie externa do corpo. A sangria diminue notavelmente a dia- these nos vasos grandes , mas pouco nos pequenos e naquelles que seguem os músculos. Também o estimulo do calor pode facilmente oppor-se á freu- xidão não mui notável ; causada pela sangria na superfície externa , produ- zindo tanta força , quanta foi a de- bilidade, que resultou da sangria. Corre daqui , que as dores rheumaficas tal- vez se enfurecem , depois de huma co- piosa sangria e que os médicos mui- ta» ( 198) tas vezes se queixam da ineííica- cia do seu favorito remédio, a mi- lagrosa sangria no rheuma , diflu- xo &c. Estas razões mostram que o suor se reputa com fundamento pelo remédio mais conveniente no rheumatismo. Po- rém sendo a diathese forte, a enfermi- dade acompanhada de calor, do dores que crescem com a noite , o pulso forte e duro , antes de tudo he mis- ter tirar doze onças de sangue; pon- do além disso em execução os preceitos declarados já a respeito da comida e rcgie:en refrigerante. Unicamente quan- do se está a ponto de provocar o suor he que devemos permittir o toque do calor. Para que o suor se provoque mais segura e copiosamente, convém ajudallo e promovello com os pós de Dover. Nos easos de rheuma &c. pode deixar-se o doente suar por espaço de doze horas , e obrigallo a ficar na ca- ma por algumas horas até que por ef- feito do ambiente humido da mesma se observe diminuição dos symptomas doentios: mas ganhando estes nova for- ( 199 ) força, deve-se recorrer outra vez ao methodo diaforetico. O resto da cura- ção deve fazer-se segundo as regras já estabelecidas a respeito das enfermida- des esthenicas. A dieta tênue, a atmos- fera temperada constituem o artigo principal. Noutras enfermidades, taes corno a sinocha simples , a escarlatina, a esqui - nencia ou cynanchc tonsillar , o catar- rho , a erysipéla , as bexigas e o saram- po benignos , sendo a diathese estheni- ca mais forte que a ordinária, pôde também a proveitar huma sangria mode- rada, e depois delia alguma purga. Fei- to isto pôde provocar-se mais fácil e pro- pt&mente hum suor, que dure de oiío até dez horas. Durante todo curso da enfermidade convirá o uso de comidas tênues e bebidas refrigerantes, a qui- tação e tranquilíidade do espirito e do animo, o regimen refrigerante , afora quando o enfermo sua ; porque nesse caso cumpre permittir o toque de hum calor brando para poder extinguir in- teira e pacificamente a enfermidade. A enfermidade he ás vezes tão bran- ( 200 ) brandas que não se carece de usa rdos debilitantes atégora referidos. Os signaes da diathese branda são a presença dos tremores de frio no principio da en- fermidade, a displicência, fastio e calor moderado, sendo isto huma prova cla- ra de não ser a diathese muito vehe- meníe sobre a superfície externa do corpo. Também se poderá concluir o leve gráo da enfermidade quando o en- fermo não se queixa de sentimento de frouxidão ou langor , o que indica ser a diathese insignificante nos órgãos destinados aos movimentos voluntários : se o estômago permanece em bom es- tado he huma prova que alli o incita- mento não he excessivo ; se as funeções animaes procedem e se executam na- turalmente , sendo unicamente descon- certadas na parte que está com prefe- rencia attacada do mal. Em taes he mui- tas vezes suficiente o uso repetido de hum só debilitante. Similhantas enfer- midades curam-se com huma dose de sal de Qlanber ( sulfato de soda ), ou com o frio , ou mediante a absti- nência da comida e do movimento, Deste mo- ( 201 ) modo sarou-se infinitas vezes a dor d* garganta , o catarrho, a synocha sim- ples , também a erysipéla quando ôc: cupava a cabeça. A escarlatina sendo" benigna cura-se com o uso deste ou de outro medicamento dos debilitaníes men- cionados. Na curação das enfermidades es- thenicas (e também das asthenicas) , não devemos attender ao seu nome por- que he cousa inteiramente indifíerente, mas unicamente ao augmento e gráo de incitamento. Em prova disto advir- to cue. a svnocha simples pode ser ora mui branda , e a synocha frenética já gravíssima. Pode estar-sc accommetti- do tanto de huma erysipéla benigna co- mo de huma grave. O catarrho simples pode subir a ja nto que se converta em peripneumonia , em tanto que as peripneumonias podem ser benignas. Convirá , pois , ajuizar , com pru- dência dos princípios até aqui expos- tos , ponderando a força do pulso e a temperatura da pelle. Já disse que nas enfermidades csthenieas o pulso não hc mui freqüente , mas sim cheio e duro. ( 202 ) Immediatamente , pois , que a freqüên- cia do pulso se augmenta demasiado , convirá suppor ou que a enfermidade esthenica se convertera em asthenica , tendo-se diminuído o incitamento, ou que a eGíhenica desde seu começo foi de natureza asthenica. Para descubrir sob taes circunstancias a verdade he necessário anaiysar a natureza das cau- sas produzidoras da enfermidade , e igualmente a compleição e a idade do enfermo. Também se deverá perguntai- se prccedeo a acção do contagio.* O calor da pelle he indicio equivoco. Es- te origina-se da matéria da transpira- ção farta do calórico, e reprezada de- baixo da epiderme ou sobrepelle ; cir- cunstancia , que pôde depender de duas causas. A aridez da pelle também he commum ás duas diatheses. Portan- to para poder s tabelecer se o incita- mento está augmentado ou diminuí- do , íenha-se presente o complexo dos symptomas e a natureza das causas , que oceasionaram a enfermidade. Tem- se argnido o systema Browniano de que os signaes paru. distinguir a esthenia da asthenia não são claros, nem in- dicados com bastante certeza. Frank filho pergunta com razão, se outro al- gum medico lançara a barra mais adian- te ? Se de Hyppocrates para cá, diz elle, nenhum medico pode fallar sobre isto com sufficiente exacção , porque motivo se poderá exigir que o deva fazer Brown ? As enfermidades esthenicas da primeira ordem se offerecem freqüen- temente aos sentidos para se con- fundirem com as asthenicas , como facilmente acontece com as brandas esthenias (.131 ). Sempre que se duvide *e huma tal enfermidade pertence ás esthenicas ou ás asthenicas, convém guardar-se de recorrer ao mais poten- te debilitante, isto he á sangria; a qual nas esthenias benignas he muitas vezes inútil c aí:'; nociva ; e nas en- fermidades asthenicas he absolutamen- te homicida. A sangria converte mui- tíssimas vezes huma esthenia benigna em asthenia. Ora se a enfermidade re- putada por esthenica , era já naquclle ponto asthenica, necessariamente a san- gria ( 204 ) gria deve aggravalla. Este desgraçado methodo sacrifica diariamente muitas victimas , ou ao menos arruina sua saúde. A abstinência da comida, o frio, as purgas são sufficientes para preve- nir o má o êxito das bexigas. Porém tendo-se alguma vez omitíido o con- veniente methodo curativo , e resultas- se dahi huma erupção abundante , de- ve-se então recorrer a todos os debili- tantes, menos os diaforeticos : se a ve- hemencia da enfermidade exige san- gria , deve fazer-se. Cuide-se em não provocar suor, visto que para isso se requer a acção do calor, cujo estimu- lo pode facilmente augmentar a cons- tituição esthenica da pelle, e reprezar debaixo da epiderme a matéria bexigo- sa juntamente com a da transpiração, de que resulta huma pyrexia sympto- matica dependente da inflammação co- nhecida com o nome de segunda febre lexigosa. De mais os mesmos remédios úteis na curação das outras enfermi- dades esthenicas, são igualmente pro- veitosos nas bexigas benignas. Esta en- ( 205 ) enfermidade nada differe das outras moléstias esthenicas acompanhadas de pyrexia, á exceição da erupção do exanthema particular cujo curso he determinado , e por isso não he sus- ceptível de cura mais prompta. Depois de huma diathese esthe- nica fortíssima , manifestam-se" signaes de langor , os quaes por derradeiro ameaçam a morte attendida a debili- dade indirecta. Não ha necessidade de esperar que taes signaes ganhem força afim de poder curar depois a suecessiva debilidade indirecta. Porém antes com o auxilio de todos os meios referidos , deve procurar-se de impe- dir o transito á debilidade indirecta. E não havendo já tempo de o fazer, deve reputar-se a moléstia por asthe- nica, c collocalla na classe das enfer- midades de langor. Quando a diathese universal es- thenica se associa com o estado appa- rentemente similhante ao de huma py- rexia mas produzida por huma lesão local de alguma parte interna, como por hum estimulo acre, ou pela com- pres- ( 208 ) pressão de substancias duras e offen- sivas engulidas ou de outro modo ap- plicadas ao corpo, então o vicio local aggravara a affecção universal, sempre que não se appliquem os debilitantes acima referidos. Disto temos huma prova clara na gastritis ( inflammação do estômago ), na entritis ( inflam- mação de intestinos ) , na neplrriüs ( inflammação dos rins ), na cistitis ( inflammação da bexiga, na hysteri- tis ( inflammação da raadre ), hepalitis ( inflammação do fígado ); enfermidades, que devera considerar-se como vicios locaes das partes internas. Porém quando estas enfermidades locaes são produzidas em hum corpo , que não está predisposto nem ás enfer- midades esthenicas, nem ás asthenicas, então não se dirigem os remédios sobre todo corpo, mas cura-se unicamente o vicio local tirando se possível he a cau- sa irritante. Neste caso introduzem sua- vemente líquidos mucilanosos, para de- fender o órgão mui sensivelmente afiei - çoado pelo contacto áspero desta causa, ou se procura no principio diluir a ma- ( 207 ) matéria nociva com bebidas attenuan- tes , aliás aquosas ou diluentes. Geral" mente fallando convém dar tempo á inílammacuo para que ella possa ter- minar seu curso. Mas se em taes cir- cunstancias se manifestasse ( como ás. veses costuma acontecer ) a diath' se asthenica , então deve recorrer-se aos remédios incitativos e tônicos , para prevenir que á primeira enfermidade 11 ão se ajunte outra mais grave. Po- rém assim como com este methodo curativo, dirigido a corregir o estado viciado universal do corpo, não se tira a causa da enfermidade, mas sim hum dos seus eífeitos ; assim se coni- prehende que taes enfermidades devem collocar-se entre as locaes , em que pontualmente convém buscar as regras segundo as quaes se hade dirigir a sua cura. Em qualquer modificação de hu- ma enfermidade esthenica he mister aconselhar a tranquillidade da alma, e do animo. Nos casos em que a dia- these esthenica he vehemente, a tran- qüilidade he essencial, mormente se a (208 ) a perturbação da alma e do animo concorreram para a producção da en- fermidade. He , por tanto , essencial manter a tranquilíidadc da alma na mania e na vigilia doentia ( mania et pervigi- tum ). O que deseja disporrse para o somao deve evitar escrupulosameníe qualquer applicação mental , e tudo quanto pôde produzir commoções da alma. Em taes circunstancias faça-se ler os enfermos algum livro bem in- sulso. Consegui summa utilidade da leitura de hum conto rústico em hum homem de muito talento , que pade- cia vigílias continuadas ; o qual no dia seguinte não tinha expressões bas- tantes para louvar este cxccllénte som- nifero ou narcótico. He igualmente necessário desviar da alma dos enfer- mos qualquer desejo de vingança , qualquer pezar ou angustia produzida por desgraça acontecida, não menos que a reminiscencia das cousas pas- madas. De mais cumpre applicar todos rquelles estímulos, que diminuindo a incitabilidade, produzem a debilidade in- ( 209 ) indirecta e conciliam assim e s-^no. A estes estímulos pertencem o mode- rado exercício do corpo, as costuma- das bebidas espirituosas , a cca par- ca , e finalmente o calor. Quando a mania e a vigilia che- gam a adquirir maior gráo de vehe- inencia , convém tratallas do mesmo modo que as outras enfermidades es- thenicas graves segundo as regras até aqui expostas. Em taes cases a quie- tação do animo e do espirito seria in- sufíicieníe ; e se por outra parte não pôde procurar-se, então deve abater- le o excessivo vigor do animo e do espirito pelos meios oppostos. O in- tenso pensamento e as excessnas pai- xões da alma constituem as principies potências nocivas em circunstancias similhantes. Intimida-se o enfermo, ator- menta-se o maníaco até desesperar, obrigam-se a trabalhos superiores ás mas forças afim de dinnnuir assim o incitamento dos órgãos destinados aos movimentos voluntários , meios com que se domam tantos cavallos feros. Da-se- Ihes alimento teiwe , e água por be- Tom. II. O bi- ( 210 ) bida, precipita-se ás vezes o enfermo em água frigidissima, e conserva-se mergulhado nella por algum tempo. Do modo que no frenezim predo- mina a diathese esthenica no cérebro, na peripneumonia no bofe, e no rheu- matismo nas articulações; assim a ma- nia e a vigilia doentia procedem mais da affecção do cérebro, que daquella de outras partes, sendo próprio do pensar e das paixões da alma, cau- sas principaes destas enfermidades , obrar com preferencia sobre o cére- bro. Além disto nestas enfermidades os remédios debilitantes, e que obram principalmente sobre outras partes, co- mo no estômago, na pelle, podem também ser sobremaneira uteis, o que serve de provar huma cousa de que se fallou já ; isto he , que a incita- bilidade he huma propriedade indivisí- vel ; que nas enfermidades universaes não basta pôr a mira na parte especial- mente affeiçoada e finalmente que a diathese oecupa todo corpo, accom- mettendo unicamente a parte affeiçoa- da de huma maneira mais sensível. As- (211 ) Assim como na mania e na vi- gilia doentia o cérebro soífre com pre- ferencia das outras partes, ou assim como as funeções do mesmo cérebro formam as principaes potências capa- zes de despertar as referidas enfermi- dades , assim também a comida animal e o repouso devem reputar-se pelas principaes causas da obesidade ou ex- traordinária gordura. Entendemos pelo repouso a falta do estimulo resultan- te do corpo , estimulo mui capaz de cansar o corpo e de produzir a debi- lidade indirecta. Ora assim como obser- vamos que , durante o uso da mesma qualidade e quantidade de comida al- gumas pessoas se faíem obesas, em quanto outras permanecem magras ; assim também para poder explicar este effeito , he necessário recorrer a outras potências nocivas , calculando ao mes- mo tempo as forças digestivas. Entre as potências nocivas favoráveis á obe- sidade podemos contar o brando esti- mulo procedido de certa leveza de juizo e contentamento de animo. A energia do entendimento na medita- O 2 cão , ( 212 ) ção, a violenta e repetida acção de certas paixões como a ira, a inquie-» t^o e pertubação da alma oppõe-se á obesidade ; como o exercício do cor- po se oppõe , diminuindo a quantida- de dos humores, e produzindo , se he excessivo , a frooxidão , ou a debili- dade. O abuso das bebidas cspirituo- sas impede também o engordar-se, por- que , attendido seu estimulo vchernente diminuem e gastam a incitabilidade. Pelo contrario a obesidade he auxilia- da com tudo quanto obra brandamen- te , e com huma tal e qual força in- capaz de produeir a debilidade indire- cta. Favorece também a obesidade tudo aquillo que causa sensações gra- tas e voluptuosas, especialmente tudo quanto promove huma igual transpi- ração , que enche os vasos sem au- gmentar mais o incitamento ; o que se consegue evitando o movimento excessivo : em summa contribue para este fim qualquer cousa capaz de ex- citar hum movimento tão suave , qne em vez de permittir que os vasos ex- pulsem os humores contidos neíies ., oa ( 213 ) •briga a recolher-se nas cellulas da membrana adi posa ou da gordura. Já acima se disse que a abun- dância do sangue pôde vir a ser hum estimulo mui grande ; considere-se , porém , que cila , não concorrendo outros estímulos, mormente o que pro- vém do movimento muscular, pôde existir largo tempo sem produzir hu- ma verdadeira enfermidade esthenica. A abundância do sangue deverá ser constantemente considerada por hum estado de predisposição a huma eniW- naidade esthenica. Assim como o methodo que se hade secruir qv. aualmier enfermidade, deve ser proporcionado ás suas can- sas , assim também resulta que se da- va praticar o mesmo a respeito da obesidade. O ea-eessivo incitamento deve conduzir-se ao ponto ta - a dyspepsia ou debilidade, do esíoaiago, oue são conseqüências tar- das da embriagues , a asma , a epile- psía &c. O alimento vegetal se hade con- ( *«5 ) considerar util unicamente naquelles casos , em que o corpo , per ser dotado de huma força excessiva , se acha na predisposição ou opportunidade para as enfermidades esthenicas ; as quaes costumam manifestar-se na flor da ida- de ; porém tambcm na referida cons- tituição não devemos limitar-nos ao uso dos vegetaes só. Estes debilitam a ponto que, sem embars o de serem azados ( mormente exercitando-se iro mesmo tempo o corpo ) para destruir a obesidade , todavia , são mui capa- zes de produzir a diathese asthenica , juníameníe com todas as enfemídades dependentes desta. Tocante allim á curaçr'o geral das en- fermidades csthcaicas tenha-se presente que os remédios nos casos graves de- vem applicar-se juntamente , para se obter deste modo hum effeito sensível em todo corpo. De mais , assim como algumas potências nocivas , ioda que aiíerem todo corpo, accommctem sem- pre c.cis sensivelmente i.uuna parta do que outra ; as: im também devemos 2im- plicar diversos remédios, cuja acção se- ( «n ) eeja mais eíncaz numa par4? do quo r outra. Qualquer, applicado separa- damente em huma enfermidade grave, produziri somente hum efcrito incom- pleto. A sanaria evacuando os vasos grandes , dimin ia o s«u incitamento , íoas está mui longe de fazer o mes- mo nos mínimos. Além disss será inútil diminuir a sobra do sangue e ilts humores, concedendo ao mesmo temno alimentos anímaes. Com vomi- to rios e purgas livra-se o estômago e as tripas1 di' matéria abi contida, e o; inSnitos vasos destes órgãos df* seus respectivos huaiores: iíto porém u-io impede , que o incitamento possa todavia per:ffinecer grande nos vasos tíCríin^dos á transpiração ; inconve- niente que iq evita logo provocando- se o síior. Quando não se atalhe o touue do es-.iuuilo do calor, que obra sobre a püe, e caasa nella augmenta cio inciíamcní» , o uso junto dos re- ferido^ debilita üící não bastará par* cdn.iaair completamente a cxcesmva fcova vital. Isto demonstra a r.eccsã- d^do f;aa ha át recorrer também á ( 217 ) V*rf:de saudável e an coherente e unisono ou igual *.e.e proceder hum medico prático ! CAPITULO. XVI. TLcrapculica f.cral das eufrmi- dddcs iiiíhenicds. XJg^S forças incitaiivas tanto internas c mio exte-rnas , que conservam n vida, dos anima.es e dos vegetaes, applica- íias com energia maior do que se re- tàorr para a conservação da saúde, constituem os remédios contra as en- fermidades asthenicas. Para evitar qual- quer obscuridade, c má inteligência, »2 chamaráõ rcruceihs incitativos. Quando huma ^nãaa-id.ice asth.°- rnca tem a sua crivem na íaka de hum só estimulo, essa. pr ferencia os eximidos diffusfvos serã» em similhantes casos summameuíe pro- veitosos. Analysaremos agora aquelle* esti- mules capazes de reprezar as referida» evacucões. Principiaremos ponderando as perd.-.s nvmos notáveis tomago, a gota, a dysenteria , a eólica , a etiguidade , os espasmos,, a paralysia, a gangrena e a morte. Podemos convencer-nos da virtude incitativa de que gozam os estímulos, diífusivos observando os pro- Tom. II. P di- ( 226 ) áígíos , que elles ás vezes obram era taes casos, assim como nas febres e noutras enfermidades asthenicas, e até no ponto da morte quando a sua ori- gem seja a debilidade. A eíhcacia dos estímulos diffusi- vos manifesta-se* com evidencia espe- cialmente naquelles casos, nos quaes cessou ou não obrou mais o estimulo das forças que obram mais lentamen- te ; porém de hum modo mais perma- nente, como o que provém das comi- das. O espirito de corno de veado, o álcool, sobre tudo o ópio, distinguem- sse então de sorte que admira. A ver- dade desta asseveração foi comprevada em muitos casos, especialmente nos es- pasmos dos órgãos externos, nas con- vulsões , nas hemorrhagias, nos delí- rios graves asthenieos , nas febres, nas inflammações asthenieas, &c. Usamos dos estimulantes diffusi- vos tanto nos casos menos graves, como nos mais perigosos, em que se observam evacuações extraordinárias, como suores, diarrhea, vômitos ; conse- guindo-se ehèitos maravilhosos não só no3 ( 227 ) nos primeiros, mas também nos últi- mos. Quando os outros estímulos cos- tumados, è,ue conservam a vida, ces- sam de obrar, ou, para melhor dizer, obram pouco, os referidos estimulou diífusivos podem talvez prevenir a mor- te imminente. Eu já disse que aos estímulos diífusivos menos activos, ou da se- gunda ordem, pertencem os vinhos communs brancos ou tinctos , e o es- pirito de vinho misturado com muita água. São mais fortes os vinhos da Madeira, de Canárias , do Porto , o rhum puro ou aguardente de canna. Muito mais aetivo he o espirito de vinho rectificadissimo, e privado por meio de repetidas destillações das par- tículas aquosas. O ópio s o alcali volá- til , oi ethers, o almiscar, o alcanfor são os mais aetivos entre todos os in- citativos. Estes medicamentos ou con- servados com negligencia, ou mui ve- lhos se alteram, e perdem parte da sua eflicaz virtude. Quando se usa destes remédios he importantíssimo de attender á quali- P % da (528 ) dade do alimento do enfermo. Sehdó summa a debilidade , apenas se pôdfc conc^âer'0 uso da cafue ou de qual- quer outro alimento " sólido ( 134-;*}. Devemos então usar de alimentos sub- stanciosos do reino animal, 'mas- em fôrma, liquida. Em razão da debilida- de existente se fazem tomar as ditas substancias em intervallos maiores ou menores , e em quantidades maioreV' ou menores, prescrevendo de quando em quando oá estimulos diíTusivòs. Tam- bém pode ser util o Uso das geléàs. Se as forças , pois, mediante o U90 dos incitativos se realçaram algum tan- to , então dão-se desde ó principio, mi breves intervallos, quantidades igual- mente pequenas de carne, conceden- do-a seguidamente com maior libera1 lidade., e também em intervallos me- nos freqüentes, segundo o restabeleci- mento do" enfermo. A' medida que se augmenta a comida, diminue-se a quarta tidade dos estimulos diífusivos. Quando se suspende inteiramente ouso destes estimulos diífusivos, con- fiando já o estado da saúde aos agen- tes ( 239.) ifis costumados somente, e .j fazendo com que torne a viver do modo mais ácçommodado á condição dos convales- centcs, çouyem sempre ter maiores, con- siderações do que se teria se não pre- cedesse enfermidade alguma, Deve;se a^ttender que havemos de lidar com huma .saúde vacillante , e não penei-, ta, ou com hum corpo. dotado da 4evida força. O movimento desde o principio moderado , que obre sobre a. nossa superfície externa ( como o o!e carruagem , de cavallo , e cadei- ra •), e repetido muitas vezes eem que fatigue , e provoque o suor, he de summa utilidade nestas circunstancias. 0 somno não deve ser largq, porque em tal caso enfraquece direitamente , nem íautbem mui breve que dê ocea- sjão á debilidade indirecta. Entre tas c.omidas escolhe-se as mais nutritivas m\u sobrecarregar o estômago, o que. he extremamente prejudicial nos catyis. de debilidade directa, nos qnaes a in- citabilidade abundante dos^orgaos di- };'-s>.ivos he pouco, capaz cie. so^poríar o. estimulo* dos alimentos., Daudo em ( 230 ) taes circunstancias huma comida sub- stanciosa em pequenas quantidades , diminuímos pouco e pouco a exces- siva incitabilidade , e a conduzimos até aquelle ponto, no qual, applica- dos os convenientes estímulos, resurge a saúde. Deve permittir-se ao corpo o toque do calor moderado , o qual excitando huma sensação agradável obre como estimulante : deve evitar-se o calor excessivo, ou o frio, porque do primeiro resultaria a debilidade indi- recta , e do segundo a directa. O con- valescente deve escolher a sua viven- da em ar puro, pois tanto debilita o impuro, quanto aquelle excita e robc- ra. Sua alma deve estar alegre, di- vertida , e oecupada ou exercitada: cenvem refrear as paixões , e fazer os devidos esforços para que aos seus sen- tidos não se apresentem senão obje- ctos agradáveis. Se lhe apresentarão esplendidos banquetes , e se lhe procu- rarão sociedades alegres e brilhantes. Se lhe aconselhará , podendo ser , jor- nadas e viagens por lugares amenos ; p coito se permittirá unicamente áquel- les v *31 ) les convalescentes cuja saúde já está suficientemente restabelecida. Nas enfermidades graves, como he natural, se praticará o methodo íneitativo com maior exacção e ener- gia do que nas benignas. Daqui resul- ta que devemos attender somente ao gráo de debilidade existente para lhe oppor os devidos e proporcianados re- médios incitativos. Não se faz distinc- ção alguma relativamente á cura das enfermidades asthenicas, afora a que se funda na distineção da debilidade directa c indirecta. As potências nocivas, causas da debilidade indirecta , são o estimula forte local , produzido pela erupção das bexigas confluentes , a bebedice, o calor excessivo, as repetidas come- zanas ; ao que se pôde ajuntar a ve- hemencia e permanente acçíío de qual- quer estímulo. Acontece raramente que as enfer- midades graves possam originar-se de huma só das duas espécies de debili- dade, estando ellas quasi sempre uni- das huma com outra. As ( 232 ) As potências nocivas, que produ- zem a debilidade directa , são o frio , a mingua ~do alimento, a penúria do sangue e dos humores separados del- le, a inacção e ócio do corpo, uo espirito e do animo , como também q ar impuro. Nas enfermidades benignas causa- das pela debilidade directa > como nas febres da primavera dos paizes frios, no synocho ou tyfo simples , e até nos casos de- peste branda, nao se requer nenhum estimulante, senão o vinho generoso. No resto da cura pro- cedé-se como nas enfermidades asthe- nicas benignas. Nas febres graves, coaio são as remetentes dos paizes meridionaes , e também no tyfo grave e pestillencaaí ; nas dyschlerias e choleras violentas , "que se observao» naquelies paizes onde tudo favorece a debilidade directa, co- íoo também naquelas enfermidades , que no a a prim ipio foram benignas, mas qoe depois empeioraram pelo des- cuido dos remédios opportunos , ou pela administração dos contrários; nu» ma* (233 ), ma palavra em'todos os casos de en- fermidade asthenica grave, convém re- correr logo aos mais poderosos estirrm- los diffusivos, principiando por peque? nas quantidades. Brown concede aqui o primeiro lugar ao seu:fayorito opjoj lacommendando immediatamcnte de- pois o alcali volátil, o -aluiiscar , e o ether : Eu ^sou de parecer, que,se possa sempre experimentar em similhan? tes casos o ópio , omiiindo-o, po- rém sempre que elle obre de modo que afrouxe. Ora, se, r.icaíunie os, di- tos estímulos diífusivos, o--corpo , mor- mente o estômago, adquirio algiun- vi- ■gor perceptível , então cumpre acon- selhar os alimentos já recommcnd.t- dos , o exercício , o ar puro , a tran- quillidade da alma , e alfim se faz xiue o convii.lescei-.te viva, como antes da enfermidade vivia. Nas enfermidades, que mais ou menos procedem da di.bir.dade dire- ita, entre as quaes se conta as febres intermittentes , ou continuas remii- tentes produzidas pelo a Laís o do vinho, e as bexigas; coiiíiuentes, convém ver- 0334) dadeiramente recorrer aos referidos es- timulantes , mas em razão inversa. Prin- cipia-se, pois, com doses grandes des- cendo pouco e pouco as menores, até que se chegue aquelle gráo me-i dio de estimulo, que pôde conservar naturalmente a saúde e as forças. Já adverti noutros lugares, que nos ca- sos da debilidade indirecta a força do remédio deve achegar-se, porém ser menor qtie a Torça que produzio a en- fermidade. Deste modo se diminue pou- co e pouco a energia. Com tudo será necessário indicar e estabelecer huma certa dose ada- ptada a ambos os casos. Na debilida- de directa em que a incitabilidade excessiva não he proporcionada a sup- portar hum estimulo forte, aconselha Brown que se dê áquelles enfermos, que de largo tempo padecem vigílias, oito , dez ou doze gottas de laudano liquido cada quarto de hora até que o somno se manifeste. Depois que este e os outros remédios tem restabe- lecido algum tanto as forças , e que a incitabilidade se tem diminuído já, en- *ntao se dobra a dose, subindo at& q se as mesmas forças sejam restabele»- ei das de sorte que os menores e na- turaes estimulos possam conservar a saúde. Na debilidade indirecta cumpro oomeçar a curação com maior dose do incitativos. Em similhantes casos apro- veita muito ao medico o conhecimen- to do seu enfermo no estado de saú- de , sabendo também se elle he ou não susceptível de grandes doses de incitativos. Brown principia logo com cem e cento e cincoenta gottas do laudano liquido ; práctica que eu não aconselharia sem prévios experimentos ( 135 ). Basta-nos saber que com-qual- quer, remédio convém principiar com doses grandes, e dar depois sempre menores até que se possa conservar a saúde com os costumados agentes na- turaes. Advirta-se , porém , para justi- ficação de Brown que elle, alem de limitar a referida dose de ópio ás pes- £©as adultas , aconselha a mesma es- pecial menti aquellas que se cevam na glotonaria, e que se desmandam em (236;) em beber bebidas espirituosas-, ou com- mettem outros excessos. Para a ida- de juvenil, e para a velhice prescre- ve huma dose tninima. Além de tudo isto Brown quer que se ponha a mira na compleição, no modo de vida , no clima, e na Índole do enfermo. O uso dos estimulantes diífusivos he necessário somente no caso em que as forças, que no estado natural conservam a vida , não bastam já para produzir este eífeito ; então he essen- cial o prompto restabelecimento da justa quantidade do sangue, assim co- mo dos outros estimulos. Por este mo- tivo se deve procurar resarcir a de- vida massa do sangue por meio da; comida animal ; porém assim como os, alimentos, em fôrma solida, quando a debilidade he grande, não sao ap- pctecidos , nem podem digcrir-*e ; «'■ sim he mister dar aos enfermos os caldos , e muitas vezes também os incitativos diífusivos : se com este me- thodo curativo as forças se restauram, concede-se a carne em substancia , mas cm peq"lei^a quantiuade, augmen- ta n- (nt) tando-a pouco e pouco, e prescrevem- do por intervallos alguns incitativos , até que a saúde se tenha firmado de modo que venha a ser supérflua qual- quer prescripção medicinal. Se a enfermidade consta da debi- lidade directa e indirecta* também no rnethòdó curativo se segue hum cami- nho médio unindo proporcionadamente os preceitos concernentes á cura .destas duas espécies de debilidade. - • 'O contagio oií não faz se hão accrèscéinfar nova for£a ás costuma- das potências nocivas, ou com cilas obra. da messma maneira, e poriss» rão -muda de modo algum o metho- do curativo. Unicamente deve qar-se tempo para que o contagio sáhia do corpo junto com a matéria da- trans- piração , para cujo fim he util pro- vocar eSía. Emquanto ao mais não deve empregar-se o tempo em querer corregir e regenerar os humores exis- tentes nos vasos externos , e em preten- der evacuailos immediatamente. Não ; a nossa aítenção deve íixar-se em cousas, que poesam obrar sobre a incitabili- / da- ( «38 ) dade dos sólidos, que sejam capazes de augmentar o incitamento de todo corpo , especialmente dos vasos da pel- le aggravados pela causa doentia. Des- te modo se previne qualquer corru- pção dos humores. He cou^a certa que a matéria con- tagiosa deve demorar-se algum tempo debaixo da tés ou epiderme , até que se manifeste a erupção análoga á na- tureza desta matéria, como observa- mos que acontece nas bexigas e sa- rampo. Isto servirá de regra para dar o tempo necessário para a matéria contagiosa poder amadurecer e mani- festar-se com a erupção. Creio, po- rém , que se podesse conhecer o pri- (meiro instante em que a infecçao acontece, ou aquelle ponto era que o eontagio não estando ainda unido com os humores não produz sua corrupção ou estanque , nem obra com excessiva força sobre os vasos da transpiração, creio, torno a dizer, que podendo-se conhecer este momento , seria tambcm possivel de prevenir a enfermidade., provocando eflicaz mente a transpiração. Coin (2259) Com razão se poderia temer , que o calor e os remédios capazes de exci- tar o suor, indicados nos caso* em que a diathese esthenica ou flogistica está em pleno vigor podessem produzir a debilidade indirecta; mas este temor se desterraria bem de pressa, ponde- Fando que isto ou jámafs acontece, ou raras vezes no principio da in- fecção. Eu posso fallar com summa cer- teza deste artifício , especialmente na ínfecção venerea. Esta no seu princi- pio e progresso procede da mesma ma- neira que as outras infecções procedem, das quaes já se fez menção. O conta- gio venereo introduzido no eorpo, une-se com os humores, e altera mais ou menos a funeção da transpiração. Retido este debaixo da pelle com a matéria da transpiração, alli se esta- gna, corrompe e estimula, até que des- te modo, ou num ou outro lugar se manifesta a erupção, Não de outro modo se manifestam cm varias parleis do corpo, quatro ou seis semanas de- pois da infecção venerea, chagas , bu- (.240 ) bubões , condylomas no ânus, man- chas sobre o peito e a testa , e estag^ nando-se muito mais tempo, mormen- te corrompendo-se o contagio , appa- íccem os symptomas ordinários do gal- lico confirmado. Confesso que os primeiros signaes da infecçuô são equívocos. Porém te- nho observado que antes de manifes- tar-se o gallico ou as chagas, prece- de ja por hum ou dous mezes prostra- ção de forças, huma espécie de dor nas juntas , e a falta total de estimu- los vencreos, isto he, de incitativos do amor. O apparecimento e progresso da blenorrhéa, ou para melhor• dizer, da blenorrhâgia he mais rápido , manifes- tando-se esta no terceiro ou quarto dia depois do coito impuro. He tam- bém precedida dos seus symptomas precursores, como dor de cabeça au- gmentando desejo ou appetite dos pra- zeres venèreos, &c. He sabido , que no gallico con- firmado deve também atícnder-se que ajranspiração proceda regularmente^ •não excluindo> todavia, ésíu indicação o ( **1 ) o uso dos remédios estimulantes, con- temporaneamente com as comidas sub1- stanciosas pois que de outro modo se afracaria o corpo com o suor, coma que deve evitar-se numa enfermidade asthenica qual he o gallico. Eis a ra- zão porque a dita enfermidade, secu- ra tão facilmente , quanto o clima he mais quente, ( não sendo excessivo o calor ). Pela mesma razão parece que o ópio he igualmente util; assimque sou de opinião que o mercúrio aproveita especialmente, promovendo a ponto a transpiração. Nos meus opusculos médicos re- feri o caso de hum homem , que se livrou do gallico tornando internamen- te enxofre, expondo-se aos seus vapo- res , c suando por meio de bebidas op- portunas. Na mesma occasião adverti que Frederico Hojfmann reputava o al- canfor por optinio antivenereo. Todas estas cousas provam evidentemente quanto importa no gallico provocar a transpiração. Creio também que o co- zimento de guaico ou pau sancto e ou- tros similhantes sejam especialmente Tom. li. Q ef- ( 242 ) efficazes, quando o enfermo os bebe è se deita em cama quente, mormente fazendo uso ao mesmo tempo do sal de corno de veado ou do alcali volátil auimoniaco. Ora se desde o primeiro momen- to da infecção se excitasse a transpira- ção com os meios possíveis , poderia atalhar-se que o contagio se unisse com os nossos humores , que se demorasse debaixo da pelle, que alli se corrom- pesse e alterasse a funeção da transpi- ração : numa palavra poderia preve- nir-se o gallico. Nos referidos meus opusculos médicos propuz ja os banhos quentes como preservativos. Diria que se eu estivesse verdadeiramente certo da presença da infecção, recorreria a outros remédios capazes de provocar a transpiração, como por exímplo a banhos de vapores segundo o modo Russo e Asiático , ás esfregações sec- cas, feitas também com escova, ou panno de lãe , ás esfregações com água quente e sabão, assim como aos ru- bificantes ou que causam vermelhidão na pelle ; igualmente faria banhar o en- ( 243 ) enfermo muitas vezes no dia em água quente , dando-lhe depois esfregações. Internamente prescreveria os pós de Dover, o enxofre , o espirito de sal amoníaco e outros remédios capazes de ajudar a transpiração e o suor. Com taes meios me lisonjearia de po- der prevemr a complecta formação e erupção do gallico. De quanto disse acerca do me- thodo curativo Conveniente nas en- fermidades esthenicas c asthenicas cor- re, que as enfermidades em geral de- pendem do diverso gráo de incita- mento , que na sua consideração con- vém attender ao seu gráo, examinan- do primeiro aquellas, que dependem do maior incitamento ; descendo assim até aquellas produzidas pelo minimo do seu gráo compatível com a vida eomo acontece na peste. Colhe-se do que expuz atéqui como possa chegar- se á morte por dous caminhos oppos- tos, a saber, por debilidade directa e indirecta ; corre finalmente de tudo isto quanto simples e bem fundada venha a ser a medicina, conhecendo- Q 2 st- ( §44 ) »e bem a força e a maneira enérgica ou fraca das potências incitativas. CAPITULO XVII. Das enfermidades locaes. JJj^ Ntehde-se por enfermidade local a que não affeiçoa todo corpo , mas so- mente huma das suas parteâ ( 136 ). Estas enfermidades não são precedidas do estado de predisposição ou oppor- tunidade , como são as uiiiversaesi A's vezes as enfermidades locaes no seu curso se convertem em universaes , mor- mente quando accommettem huma par- te muito sensitiva. Conforme a ordem da natureza as enfermidades locaes dividem-se em cinco classes; a saber; a primeira que comprehende os vicios locaes dos ór- gãos pouco incitavois e sensitivos ( en- fermidades instrumentaes). Nestas per- siste o vicio limitado á parte affeiçoa- da , sem que o resto do corpo entre em ( 245 ) em consenso ou consentimento, Esta classe de enfermidades pode originar- se de tudo o cue divide a integrida- de e continuidade das partes , por exemplo , as feridas , corrosões , vene- nos ; ou também de tudo o que alte- ra e desconcerta algum órgão, como acontece por contusão ou pizadura, compressão e extensão dos nervos. Pa- ra curar similhantes vicios basta qua- si sempre impedir a chegada ou toque do ar , do frio , do excessivo calor , ou de qualquer estimulo irritante, a eujo intento se costuma applicar hum ceroto tênue e oleoso. Nos casos de pizadura, compressão , e extensão de nervos, convém as fomentações mor- nas e a quietação. Todas as partes só- lidas gozam da propriedade de unir- se e conglutinar-se reciprocamente quando estão separadas. Por tanto a cura das enfermidades locaes, de que estou failando, acontecerá espontanea- mente ou a» menos com poucos au- xílios. A segunda classe das enfermidades locaes dos órgãos ( das enfermidades i)is- ( 246 ) fnstrumentaes ) tem lugar tanto externa como internamente sempre que as par- tes mui incitaveis são accommettidas : neste caso o vicio se propaga por to- do corpo. Em similhantes enfermidades locaes manifestam-se muitos symptomas communs ás universaes. Desta nature- za são a inflammação do estômago ( gastritis ) , a dos intestinos ( enteri- tis ) , igualmente a de outras partes, quando se originam de compressão lo- cal j ou de qualquer outro vicio. Aquellas inflammações das partes in- ternas , que não procedem de corpo estranho engulido , ou de outro modo applicado, nem de substancia acre, ou de lesão ; mas que são progressos c resultas de outras enfermidades an- teriores , não pertencem a esta espécie. Portence , porém , aqui a inflamma- ção da bexiga urinaria ( cystitir, ) pro- duzida por pedra , a da madre ( me- tritis) causada por tumor scirrhoso, ou por qualquer outra lesão aconte- cida no parto. As inílanimações do estômago e dos intestinos podem resultar de qual- quer ( 247 ) quer corpo que corroa, pique, cor- te , &c. , como espinha de peixe , pe- daços de vidro , pimentão , malague- tas , &c. Qualquer lesão e corrosão do estômago, produz inflammação, a qual, occupando hum órgão muito sensitivo altera e desconcerta promptamente o corpo todo. Toda inflammação he acom- panhada de dor e ardor, mas a do estômago está especialmente unida com ansiedade extraordinária; fenômeno que não nos sorprendera, sabendo-se que o c-stomago he o assento commum da ansiedade ; o pulso vai sendo mais e mais débil, freqüente, e algum tan- to duro, pois que alfim todo estimulo permanente debilita, e tanto irais de- bilita, quanto maior he a incitabilida- de da parte affeiçoada. As iníl ani- mações das, partes externas dotadas de menor incitabilidade não alteram tao facilmente o pulso, e não soffre tão facilmente por consentimento ou associação todo o corpo. Por^m sendo estas partes mui in- citaveis , produzem os mesmos fenô- menos , que costumam nianiítaíar-se nas ( 248 ) nas partes internas, quando estão in- flammadas, como observamos cravan- do-se huma espinha debaixo da unha. Quanto, pois, mais incitavel he, tan- to menos capaz he de supportar o estimulo. A esta segunda classe de enfermi- dades locaes dos órgãos sensitivos per- tencem o aborto, o parto difncultoso, e a inflammação procedida de hemor- rhagias e de feridas profundas, a qual altera o corpo todo. Assim nas feridas graves produzidas por balas de espin- garda , todo corpo se irrita, e incen- dia com dor e inquietação ; o pulso ganha dureza , e maior freqüência que no estado natural. E;n similhantes ca- sos não ha diathese esthenica ou as- thenica , nem se requer nenhum me- thodo dos indicados nestas diatheses, pois que todos os fenômenos depen- dem da commoção ou abalo violento , e do estimulo causado pela lesão lo- cal. Por tanto não aconselharei os remédios incitativos e ardentes antes de sarada a ferida ou de existir já a debilidade produzida pela longa dura- ção 1 f 249 ) çao da enfermidade, pois de outro modo o sangne sairia de novo pelos vasos dilacerados. Igualmente reprovo o uso comrnummcnte adoptado de san- grar em casos similhantes , ou o de abraçar outros meios debilitantes, in- daque o enfermo perca espontaneamen- te sangue, uso introduzido em con- seqüência da errada supposição de po- der assim prevenir a febre , que cos- tuma acompanhar as feridas profun- das. Nos primeiros dias da enfermi- dade pode mui bem vedar-se as co- midas sólidas , a fim de não augnien- tar o impulso dos humores , ou , pa- ra melhor dizer , de não fornecer maior quantidade de alimentos do que convém a hum corpo obrigado a ja- zer na cama. O enfermo deve guardar silencio , estar socegado , e em situa- ção commoda; urinar deitado em hum urinol eurvo , feito para este fim ; be- ber caldos e não comer carne ; tra- tando-se diariamente da ferida, cn- brindo-a levemente. Passados alguns dias, achando-se o enfermo languido pela continuação da dor, convém re- cor- ( 250 ) correr ao vinho e á comida animal solida , proporcionada á falta de for- ças. A bala que ferio , deve extrahir- se no principio, ou também pôde dei- xar-se , mormente quando ella não oc- cüpa parte essencial á vida , ou a sua extracção corre algum risco. Sendo os órgãos externos muito sensitivos , e sendo affeiçoados de hum modo diverso daquelle, que tenho ex- posto , como por exemplo, cravando- se-lhe huma espinha debaixo da unha, e se em virtude desta ofíensa a inílam- mação se propaga, e pela excessiva incitabilidade da parte oífendida entra em consenso ou associação todo cor- po, então cumpre fazer tomentaçoes á mesma parte com água quente, e curalla com hum unguento emolliente e com fios. Não se deverá recorrer a outros meios quando ainda todo cor- po se resentisse. Já noutra occasião recommendei ás mulheres que se pi- cam algum dedo com agulha que o metiam logo em água quente A terceira classe das enfermidades locaes nasce, quando hum symptoma, que ( 251 ) que primeiramente dependia do inci* tamento excessivo ou diminuto numa enfermidade universal, se exacerba a ponto que não admitte mais o inci- tamento , nem a acção daquellas for- ças , que obram, produzindo este in- citamento. He este especialmente o ca- so quando as enfermidades universaes se convertem em locaes , como acon- tece com as suppurações, com as pús- tulas , com os carbúnculos ou anthra- zes, com os bubões, com a gangre- na, com o esfacélo, com os tumores nas chagas alporquenta*, e com as durezas ?cirrhosas. Os signaes , que annunciam a suppuração imminente são conhecidos. Quando esta se manifesta em alguma parte interna, convém a quietação e os incitativos , porém quando he ex- terna , applicam-se fomeníaçÕes á par- te enferma. As pústulas nas bexigas dependem da matéria contagiosa, e se augmentam á medida que a diathese esthenica cresce, ou cm razão da omissão do devido methodo curativo. De mais o medico deve dirigir-se con- for- ( 252 ) , forme a constituição presente, debili- tando quando a enfermidade he esthe- nica , e incitando quando he astheni- ca. No ultimo caso convém o calor , e no primeiro o frio. Pôde borrifar- se as pústulas com algum espirito ou com o laudano liquido , ou com outra qualquer solução de ■ ópio , depois abrii- las e fomentallas. O anthraz ou car-< bunculo , o bubão procedem ordinaria- mente do contagio , e acompanham quasi sempre o tyfo , constantemente porém a peste. Se estes não cedem á cura geral he mister recorrer ao uso externo de algum espirito activo , ao ópio e até á abertura. Na gangrena deve-se applicar os estimulos mais diífusivos ( 137 ). No esfacelo requer-se remédios ainda mais fortes , sem embargo de haver menos esperanças e convém sarjar ou cortar a parte esfacelada. Quando a gangre- na oecupar o canal intestinal, se da- rá bebidas espirituosas e laudano co- mo se dá na gangrena de outras par- tes. As partes gangrenosas externas devem borrifar-se com o espirito de vi- ( 253 ) Vinho e com o laudano. A carne já morta deve cort^r-se, e sobre as bor- das dotadas ainda de vitalidade cum- pre applicar cousas irritantes, para despertar ou produzir nova inflam- mação. A gangrena he effeito da inflamma- ção maligna, que não suppura, mas que começa a fazer-se livida, iudolen- te, ea cubrir-se de pústulas sorosas, terminando emfim com a morte. ■ Se el- la não termina assim > então separa-se a parte morta, a qual depois se re- genera mediante a inflammação que se excita nas bordas da mesma parte já gangrenada. Nas chagas alporquentas pouco ha que fazer. Antes de tudo pode usar-se dos remédios recommendados contra as alporcas, e se estes não aproveitam, só resta para fazer o conservar limpa a parte affeiçoada , lavalla muitas ve- zes com cousas frescas, e defendella do ar. Noutra oceasião disse ja que fora util contra as alporcas o cal amo aromatico tomado internamente. O tumor scirrhoso que oecupa hu- ma ( 254 ) ma parte externa deve cortar-se ou extirpar-se , roborando juntamente o enfermo com os remédios roborantes ou tônicos conhecidos. Quando, porém o dito tumor occupa huma parte in- terna e procede de vicio universal do corpo, eatão pouco pode aproveitar a medicina. O único meio que resta consiste em impedir, reforçando o cor- po , os progressos do tumor, e em con- servar a saúde de modo que o enfer- mo passe os seus dias o menos mal possível. Noutro tempo se procedia com summa cautela, temendo que o tumor se inflammasse e convertesse em cancro. Seguia-se e praticava-se o me- thodo debilitante, o qual abbreviava a vida dos enfermos. Entre tanto o scir- rho crescia, convertia-se em cancro, e se ajuntavam outras enfermidades as- thenicas , como por exemplo, a hy- dropesia. A quarta classe das enfermidades locaes comprehende aquellas enfermi- dades , que se originam de huma ma- téria contagiosa, e se diffundem depois por todo corpo : Assim arcontece com as ( 255 ) as bexigas e o gallico. Vi huma cha- guinha gallica na lingua produzida por hum beijo, de que resultou o gal- lico universal. A' quinta classe pertencem aquel- las enfermidades occasionadas por hum veneno introduzido nos vasos , e que circula com os humores de sorte que desde o principio a enfermidade toma o aspecto ou de huma enfermidade es- thenica ou asthenica, em quanto real- mente depende unicamente do veneno que levado de huma para outra parte, altera assim a textura ou fabrica dos órgãos, e alfim desordena todo o or- ganismo. Advirta-se e observe-se como o veneno introduzido no corpo me- diante a mordedura de eão damnado., detido alli se manifesta ja em huma, ja em outra parte do modo o mais horrendo. Compare-se com este fenô- meno os mu^tojs.^ eífeitos provenientes da acçao de fevarios venenos anímaes, mineraes c vegetaes. Brown não tra- tou destas duas ultimas espécies de enfermidades por serem de natureza astaz complicada e recôndita. NO- ( 256 ) NOTAS. ( 59 )- JL Ois que Brozcn admitte ió- mente duas classes de enfermidades , a saber , esthenicas e asthenicas supposeram alguns que a matéria medica fundada sobre o seu systema consistiria somente em dous remédios. Girtancr teve a coragem e a ousadia de esperançar-nos que , para o futuro , poderemos curar as en- fermidades todas com huma garrafinha de ópio e de espirito de vinho ( Jornal de Rozier ) , idéas tão extravagantes não merecem nenhu- ma refutação ! Verdade he que huma matéria medica, estribada nos princípios de Brozon íião demanda muitos volumes , mas não de- ve ser tão resumida como se pretende. He util de conhecer e possuir vários medicamentos do- tados da mesma virtude para subtituir-se hum com outro. O auctor das excellentes illustra- ções da farmacopéa Austríaca militar adverte a prosito que, se os medíéM- fossem obriga- dos de usar dos mesmos iriíiüicamuitos sem os poder variar, resultaria subirem infinitamente 110 seu preço ; e >endo vegetaes correríamos o risco de os ver em breve tempo extinctos. A experiência nob tem mostrado isto varias vezes , especialmente a respeito de algumas raí- zes. ( 257 ) jes. Demais estes remédios seriam logo fulsi* ficados. A estas razoes acccescem outras para consei var-se certo número de medicamentos , bem que de virtude mais ou menos similhau- te. Km certos casos , por exemplo , não bas- taria hum remédio incitativo , porque a enfer- midade demanda hum estimulo, ora mais, ora menos enérgico : estimulo que em algumas circunstancias deve ser prompto e passageiro , noutras tardo, mas permanente. Tratei de huma joveu accomm^ttida de horrendos soluços chronicós, cuja observação referi na minha, obra ( Ratío insttíuii clinici, Cap. X. ). O ópio , o almiscar , os ethers dados em grandes doses, foram absolutamente inúteis. Prescrevi alguns grãos de flores de zinco ( oxydo de zinco por sublimação ) , com tal effeito que o mal come- çou a desvanecer-se e a joven em breve tem- po sahio da minha clinica perfeitamente res- tabelecida. Ora não conhecendo eu outros re- médios iucitativos se não os nomeados, nem tendo recorrido ás llores de zinco ^ consegui- ria por ventura huma cura tão maravilhosa ? O medico que pretende ser bem succedido na maior parte das enfermidades chronicas, deve variar os seus remédios sempre que satisfaçam a mesma indicação. Em cartos casos de hydro- pesia tenho observado que a dedaleiia pur- puiea ( digiiulis purpurca Linné) continuada por alguns dias , não produzia já o effeito que no principio conseguira , sem embargo de aug- menta r notavelmente a dose. Substituindo en- Tom. II. R tá» ( 258 ) tão a mesma cov\ outro qualquer remédio in- citativo , e voltande a usar delia, passados alguns dias , obrava com maior força, lia o»- tro motivo que nos obriga a mio diminuir muito o número dos medicamentos , c he o de certos remédios obrarem mais numa do que noutra parte, indaque sua acção se diÜunda igualmente por todo organismo. Por tanto , quiudo numa enfermidade universal , além da affecção geral, alguma pavte ou orgáo está especialmente accommeltida, cumpre preferir os remédios , 'que exercem huma acção espe- cial na parte mais violentamente accommet- tiâa. Na hy.dropesia asthenica se preferirá a scilla ou cebola alvarráe, e nos casos de im- potência por fraqueza , as cautharidas- &c. ( J. Frank ). (60) O Dr. fFcikard queria banir da practica quasi inteiramente o uso dos- chama- dos venenos, dos quaes na verdade se abusa muito , deveudo-se por isso advertir aos mé- dicos principiantes que não os receitem seivno com muita cautéli. He todavia inegável que podem ser realmente uteis em alguns casos , mormente nas enfermai.u!es asthenicas. O ef- feito destes remédios nos últimos casos apon- tados , confirma evidentemente a opinião da maior parte dos Brownianos , que assenta que os venenos matam pelo seu excessivo estimulo. Usa-se co;n felicidade do louro-ecreijeira nas febres intermittentes o nas enfermi lades hy- ■pochoadriaoas. O Dr Fndar u»a também com , ; PT0" proveito do arsênico nas febres intermittentes (Medicai raports of lhe effccts of arsenic in. im ture of agites &c. Londun 1780 ) ; algum pretendem que este veneno terrível he capaz de sarar as enfermidades gallicas. A effkacia da belludonna e do cobre ammouiacal ( ammo- nicreto de cobre ) nas epilf psias , que nao pro- cedem de vicio orgânico he conhecida por to- dí>s. O sublimado corrosivo ( oxymuviato de mercúrio ) proscripto já pela ignorância , sa- neou muitas vezes enfermidades venereas i que haviam resistido a outras preparações mercu- riaes. Eu posso decantar este remédio por experiência própria , e o cobre amrnoniacal pela do illustre Scarpa e àv meu pai. Dos outros reuenos não tenho experiência própria , e estou longe por «ra de os applicar, mas a minha repugnância não h« só a estes reme.Iios , sim a todos os novos. Quando reflicto na mi- seranda figura ephemera da maior parte dos remédios novos do nosso século , corno os sabões ácidos , &c ; quando pondero quò mi- lhares de medicamentos de«cubertos desde lar- go tempo , não diminuíram a justa confiança , que pomos na quina , no ópio , no almiscar e noutros; que a maior parte das observações destinadas a cemprovar a efficacia dos novos remédios, he forjada no gabinete, ja para grangear nome, ja para fazer'a corte á algum Robespicrre de medicina ; quando finalmente pondero todas as circunstancias , que podem enganar o medico, o qual com a mira hones- R 2 tis- ( 260 ) tissima experimenta a eflficacia dos novos me- dicamentos , creio ter appoiado ent bdtis ar- gumentos hum dito, que trago constantemeri- te impresso na alma, a saber, nunca pres- crever medicamento sem que o confirme a pra- cíica de dts annos de médicos mui abalizados ( J. Frank ). ,$ ( A esta nota de Frank acerescesto „ qua os venenos terão sempre venenos em quan- ,, to sua horreuda acção venefica não se cor- ., regir ou destruir , por meio de certas com- j, binações químicas , ou dando-se em doses ,, mínimas, que possam obrar como medica- 5, mentos , visto que estes differem dos vene- 3, nos em razão da dose , e não da natureza. ,, A actividade ou força venefica do arsênico „ modera-se quando se combina quimicamente 5, com o subcarbonato de potassa ou alcali fi- ., xo vegetal para formar o arsenicato de po- ,, tassa , o qual dissolvido em certa quantida- ., de de agoa , a que se ajunta a tinetura de ,, alfazema composta, constitue a portentosa ,, solução do Doutor Fozeler , efncacissima nas ,, febres iatermittentes rebeldes , na elephan- „ cia ou morféa, e noutras enfermidades chro- ,, nicas da pelle , cuja virtude eu annunciei ,, primeiro do que o Doutor Fozoler no Jor- ,, nal encyclopedico de Lisboa. A força cor- ,, rosiva do ácido nitrico destroe-se com a de ,, outro corrosivo , que he o subcarbonato de „ potassa, de cuja combinação resulta o nitro ,, ou nitrato de potassa } remadio innocente , „ que (261 ) » que se reputa por refrigerante. Demais, não ,,? acho fundamento em acreditar Weikard a „ virtude do ópio, que também he veneno , „ e em não acreditar as virtudes da cicutu, „ da belladonna, do meimendro , da dedcleU „ ra , do tabaco , e de muitos outros venenos, „ cujas virtudes estão appoiadas em boas „ observações , as quaes seriam mais numero- f, sas, se ppr ventura o seu uso fosse tão „ amplo como o do ópio ( Paiva ). „ „ ( 61 ) JMinguem duvida ser a baryla 5, ou terra pezuda venenosissima, mas perde „ grande parte desta força venenosa quando „ se combine com o ácido muriatico , e lor- „ ma o muriato de baryta, que Crazcford te- „ commendou nas alporcas , contra as quaes „ e outras enfermidades muitos respecíaveis „ médicos, a applicaram com bom successo. „ Eu tive occasiao de dir este remédio a dois „ alporquentos no estado desesperado , o pos- „ toque não colheram fructo algum, tam- „ bem não experimentaram damno , e por isso , „ sem embargo dp que diz Weikard e quando ,, não «proveitar 3. dedaleira a que frequent.e- 5, mente recorro , não deixarei de tentar o dito j, muriato de baryta com aquellas cautelas, que „ os remédios deste toque requerem ( Paiva ). ,, ( 62 ) Rinando em Rovelusco no anuo 1780, huma epide»ia horrenda de febres cha- madas podres , que aílligio os i.ifelizes habita- dores por espaço de dois annos ; o seu furor $9 diminuía constantemente com o verão , e cies- ( 262 ) cfescia com ' o inverno. Volney nos conta que «o Egypto a peste reina «o inverno, edesay- parece no verão (voyage en Syrie et en c\n/. pie, Paris 1787 ^. Não deve nttribuir-?e , a meu ver , este eíeito somente á força debili- tante do frio , mas taml rn á dura necessida- de . que obriga os pobres de viverem no inverno amontoados em casa térrea, e:-.i que o ar se torna mui de pressa nocivo e ás vezes mortal ( J. Frank ). ( 63 ) Este procedimento poderá ser utilis- simo quando tender para a debilidade indirecta, mas nunca nas enfermidades dependentes da debilidade directa. Com razão adverte Brown ( Elem. med. §. 46 ) que r-.ao se diminuam os e-timulos na debilidade directa- com o intento de conseguir maior effeito de outros suecessi- vos, que em tal caso obram sobre a incitabili- dade mais abundante e perceptível ( J. Frank ). ( 64 ) ., Tenuo-so pi-.sado optimamente na , Europa',' e no Brazil sem o decantado chá " da China até o anno de 1666, epocha em " que pela primciia vez se trouve para Eu- " i-opa, e não se havendo tirado utilidade " delle , a qual não pos.a tirar-se de outras " muitas plantas indígenas tanro' da Europa " como do Brazil, com soboja razão assevera ]' Wtikard que o us«» do .-há da China he " quafi supérfluo, som todavia nos entranhar- '.] rnos em dei-idir se elle he mais nocivo do que util á saúde ( Vaira ). ., ( 65 ) „ A:; qualidades odorifera , huta „ pou- ( 263 ) I, pouco estiptica e amarga do chá da China , ,£ os seus princípios resinoso e extiactivo, sáo ,, claras provas da sua virtude incitativa : os „ effeito6, que , no corpo humano , produz o „ seu uso moderado, e os que resultam ^do „ abuso do mesmo , comprovam as referidas j, virtudes ; sem embargo de muitos respeita- „ veis médicos , como o Dr. Culkn , lhe at- „ tribuirem huma- virtude narcótica, e seda- ,, tiva ou debilitante , similhante á do ópio, ,, a qual na fraze Broroniana quer dizer in- ,, citativa. Por felicidade as opiniões dos dous ;, partidos , ambos concordam na applicação „ destes medicamentos , usando todos do chá , ,, ou do ópio para despertar o incitamento ,, enfraquecido dos vasos , provocar certas se- ,, creções , e confessando que só he nocivo o „ abuso que se faz delle ( Paiva ) ,,. ( 66 ) Hum medico Alemão experimen- tando cmpyricamente a eílicacia do ar vital inspirado em varias enfermidades, foz também experiência na peripueumonia inilainmatoria : porém attesta-nos as más conseqüências , que ninguém estranhará (./. Frank). Porquanto sen- do o dito ar ou gnz oxygeneo hum poderoso in- citativo, necessariamente devia augnientar a in- flammação O Di. Beddoes rflfere hum caso em que a inspiração do mesmo gaz produzio rs eflVitos violentos, que o ópio produz. As cir- Cunsí U'(i»s do enf-nno lhe mostraram que ha- via bebid.» pouquíssimo vinho, ou tomado ou- tros estimulantes ( Paiva ). Ce ( 264 ) ( 6"j ) Oi enfermos dotados de oofe fra* co e pouco incitavel , não podem soffrer o ép puríssimo. Nós temos hum exemplo no*, tísi- cos , que preferem o ar menos activo da hom- bardia ao vivo de Gênova. He imprudentissi- mo fazer respirar os «smaticos, os tisicos <&e., o gaz oxygeneo puro , os quaes náo podem supportar estfrnulo de tanta actividade ; assim como o faminto, ou o entorpecido de frio , não pôde supportar o estímulo das comidas substanciosas , e do maior calor. Em taes ca- sos deveriam os enfermos respirar primeiramen- te o ar pouco mais puro qne o da atmosfera, angmentando por gráos a quantidade do gaz oxygeneo atéque possam soffrer o mais puro. Não me inclino muito a que os enfermos res- pirem o paz, parecendo-me que respirando es- te no espaço de huma hora dus vint» quatro do dia e noite, vem a ser o mesmo que pro- íiibir-lhes o vinho vinte trez horas , e conce- dello huma hora. Estabelecer casas com varias espécies de gaz , he luxo medico. Huma tal empteza, segundo me consta effeituou-se em Inglaterra pelo Dr. Beddoes que para isso procurou huma numerosa subscripção. Emquan- to houverem enfermos miserandos, sem ne- nkom auxilio, eu não solicitarei jamais a ge- nerosidade das almas bem fazejas para gastos enormes em objectos , que não são de imme- riiata necessidade, j Quanto melhor seria em- pregar aquellas sommas em caldos e vinho para distribuir por aquelles, que padetem fe- bres ( 265 ) feres padres , os quaes especialmente entre es generosos Inglezes jazem desamparados nus suas choupanas ! Porém com este conselho não ga- nharia certamente a celebridade e renome , único fim de tantos médicos , ou de tantes outros homens de letras ( J. Frank ). ( 68 ) A experiência de Fmtrcroy res- ponde afirmativamente a esta pergunta , como .pode ver-se consultando a sua memória enxe- rida no quarto tomo dos annaes de química, m numa nota que fiz á obra de Jones, ( to- mo Io not. 13 ) ( J. Frank ). ( 69 ) Muitas são as observações fysica*, que provam ser o ar mais oxygenado nas al- tas montanhas até certa altura. Pelo contra- rio , a atmosfera não he sufficientemente oxy- genada sobre os Alpes, ou sobre altíssimas montanhas. Aquelle pezo, que , no peito se sent*», e a incommoda' difliouldade de respirar, sobinde os Alpes, parece que dependem não só da diminuída pressão do ar , mas também i- tidos depende do movimento dos órgãos res- pectivos. Elle prova com expii imentos de ci- sivos , e racio/inios incontrastaveis que a re- tina pos?ue fibra- musculares , e que a vis- ta náo precede da impressão meca.iiea dos raios da luz nesta membrana , n»m da com- binação química da luz ; mas unicamente de huma força auimal da mesma retina. Nós po- ( 267 y ternos , por assim dizer , ver 3em luz , Incitan- do na retina certo movimento ; tal he aquelle que resulta da compressão do olho , feita, com o dedo em hum lugar escuro. Veja-se a este res- peito a zoonomía de Durzoin ( J. Frunk ). ( 72 ) Náo he necessário ser versadissimo na historia para saber muito luminosos exem- plos deste assu^pto. Morre-se de prazer , as- sim como de tristezi. As epilepsias são mui fre- qpei;temente a resulta do terror , que he huma paixão assaz incitativa. Quantas pessoas não tevn morrido por effeito da huma grande e inspcrada alegria ! Tissot. Malad, des ncrfs. tom. 2. part. 1. ajuntou huma notável collecção ou seiie de feitos tocante ás tristes conseqüên- cias das paixões incitativas , sobídas a exces- so ( F. Frank ). ( 73 ) E;tes symptomas da falta de ap- p^tite e de aversão á comida , de sede , de enjôos , de vômitos de dor aguda no estôma- go , de outros symptomas referidas desde o §. 195— até 1P8 dos elem. de medicina de Brorcn, formam huma enfiada de symptomas, procedidos da maior debilidade , eulaçados de t;il sorte , que parecem efteito de huma uni- forme operação da natureza , e constituem huma mesma espécie de enfermidade ; ps quaes se curam pela mesma espécie de medicamen- tos , a saber , pelos incitativos , diversos uni- camente em gráo de força , do mesmo modo ude a excessiva ac>io do calórico ou a sua ' cen- ( )ilü ) continuação gasta e consome a incitabilidade. Sem embargo de que por estes motivos de- vam ser freqüentes as obslrucções . ou os encalhes dos humores nas entranhas do bai- xo ventre, náo se manifestam tão freqüen- temente como se preteede, e com os dedos muitos descobrem , inda que as funeções das mesmas entranhas se executam perfeitamente. Obstrucções que intentam desfazer com os decantados aperientes , desobstruentes , des- oppilativos resolutivos , attenuantes , discu- cieutes, incisivos e outros quimericos remé- dios , dirigidos só aos humoies ( Paiva ). ( 79 ) Em todos os tempos foi geral a credulidade, a farragem dos medicamentos. Es- ta disse Seneca epist XCV „ reduzia-se nou- ?, tro tempo a huma sciencia de poucas plan- ?, tas , próprias para moderar ou entorpecer 3, o inovimeeto assaz rápido do sangue , ou ?, para cicatrizar as feridas pouco e pouco; ?, com o andar do tempo adquirio esta im- „ mensa variedade que o «eu resultado ma. j, nifesta. . . Noutro tempo era supérfluo este ,, appàrato da medicina, estes vasos e uten- „ sisios : as enfermidades eram tão simples ,, como as suas causas ,, Plinio , o naturalista lie o que abertamente declama mais contra as preocupações desta espécie , d:/.eudo no seu livro XXIV, Cap. 1. que = „ a natureza sa- „ tisfazia-se com aquelles remédios com que „ vivemos ou nos alimentamos , fáceis de ?; ach*r ; e preparar sem jasto;, Mas o dolo S 2 „ dos ( 2"fi ) ,", dos homens , e a aprehensão dos engenhos descubrira» estas officinas , nas quaes se promttte a cada homem a sua vida venal : exaggeram-se logo as composições e misturas inexplicáveis. Estima-se em geral a Arábia „ e a índia; a cura de huma pequena chaga ., attnibue-se á medicina vinda <\o Mar roi- ,, xo ; sendo certo que os verdadeiros remé- dios servem de cêa diária até ao mais po- bre. ,, i Que diria hoje este sábio natura- lista á vista de tantos irochiscos , rótulas , pastilhas, pós magistérios, bolos, confeicoes, clecluarios r extractos , elixires , essências , lin- cturas , oteos , Ôulsamos , e outras cousas mais fastidiosas, a saber : corações, bofes , fígados , unhas , ossos , pedras , dentes, cor- nos y estéreos de animaes ? „ Com maior ra- zão exclamaria : „ Estes medicamentos ( Li- vro XXII, Cap. 24 ) gozam de fofças dis- tinetas. O Divino Artífice não fez os cero- tos , emplastros , cataplasmas , coílirios , antídotos &c. : estas cousas são fingimentos ,. e falsidades das boticas , ou da avareza: a " reunião e mistura das virtudes não he obra ?' da conjectura humana mRS do descaramen- "to , " Jamais , disse Bartolino ( Utst. " anal. rar. cent. VI ) a natureza foi tão 1111- "' qua, que negasse a qualquer região os re- , médios com que seus habítadores possam cu- rar as enfermidades. Adorriam-se com maior !! artificio os estrangeiros, e reputam-se por inferiores os bons e conhecidos da pátria .„ < ( 277 ) Que diremos hoje , ou como poderemos com- binar a solida , simples doutrina de Brown com a tediosa nonmiclatura e divisões dos medicamentos em dilaentes , demukentes, em- bota nt es , refrigerantes , temperantes , untise- piices , depurutivos , antescorbusticos , diufo* rcticos, sudoriftcos , alcxiterios , uptrientes , incisivos , unultptieos 9 adstringentes , esfypticos , vulnerarios , vermifugos , frbrifug os , antispas- modieos , Qtilihystericos , anadynos , cephnlicns , htpaticos e outros ? Vivemos em hum século üluiniuado para não acreditarmos estas nuga- c',vt. Está claro que taes e tio incompeten- tes e figuradas divi^õ^s ou distiuceões não re- conhecem outro fundam°nto do que as con- cebidas nos medicarnautos com anticipação , e julgadas contrai ias á multidfo de causas in- ternas , que os diversos systema? violentamen- te applicados á medicina falsamente introduzi- ram. ,, Veja o leitor com claridade , diz ,, Bruian ( Elem. de med, §, I4.B ) a que sim- ,, plicidade rerluzi eu a meuicina até ao pre- „ sente conjectural , incoherente , errônea , „ mysteriosa e enigmática. Demonstrei que „ existem só duas fôrmas de enfermidades ; ,, quo naquelle desvio do estado de saúde no ,, qual consiste o da enfermidade, não he a „ rcpleçáo , nem a penúria , nem a degenera- „ ção tios liquidos em ácidos ou alcalinos , „ nem a introducçáo de matérias estranhas 5J no corpo, nem a mudança de figura das molé- „ ceias orgânicas, nem a distribuição dtspro- „ por. ( 278 ) "" porcionada do sangue , nem o excesso , nem a falta da força do coração e dos vaso5; , que effeitúa a circulação , nem a influen- ,, cia do archèo ou principio racional , que „ rege as acções do corpo , nem a alteração „ e conversão das moléculas noutras ou n>ui ,, volumosas , ou mui diminutas , nem a mu- „ dança dos poros em mais amplos ou mais „ estreitos, nem a constricçao dos vasos ca- „ pillares da superfície pelo frio , nem o es- „ pasmo dos mesmos , do qual resulte , como ,, se disse, a reacçáo do coração, e dos va- „ so» internos, nem finalmente coasa alguma „ das atégora acreditadas sobre a causa e na- 5, tureza da enfermidade. ,, ( 80 ) A aguardente misturada com água em differentes proporções , e adoçada ás vezes com assucar, não somente suppre optimamen- te os diversos vinhos , mas os excede, na vir- tude , sem que possua os inconvenientes des- tes. Separe-se por destillação a aguardente dos vinhos, e se achará ser o que fica huma zurrapa destituída de virtude. Os vinhos , pois, deviam b.nir-se dos hospítaes do Brazil e supprirem-se com o rhom ou aguardente de cannamel , reputada justamente por efficacis- sima ( Paiva ). ( 81 ) Prova-se igualmente pelas expe- riências de Guilherme Thomaz Brande, refe- ridas nas Transncçíes fitosoficus de Londres do anno de 1811, o qual tirou maior quantida- de de alcohol dos vinhos do Porto , dos da Ma- .(279 ) Madeira , e de alguns de Portugal ajuo do9 vinhos de Alemanha , França , &c. ( Paiva ). ( 82 ) Se não he superior ao menos he igual , por quanto extrahindo Brande de cem partes de aguardente 53. 39 , extrah!o da ca- xaxa 53. 68 , e da genebra 51. Cü. (Paiva). ( 83 ) Os vinhos e seu espirito , quaes quer aguasardentes ou licores espirituosos 9 são na verdade incitativos potentes mais ou menos diffusnos , que reforçam o vigor dos músculos , e a circulação , excitam alegria e conciliam somno , sendo por coeseguinte uti- lissimos nas enfermidades asthenicas , quer agudas , quer chronicas , mas ai mesmas sub- stancias espirituosas usadas imnioderada ou aturadamente produzem varias enfermidades como a dyspepsia , a hypochondria , obstruc- ções de entranhas , torpor c inflammação chro- nica do ligado, gota, hydropesia , &x; cnfer- n idades mui freqüentes 110 Brazil , e nos cli- mas quenbes onde o uso das ditas substancias Espirituosas , corno também das pimentas he demasiado e continuo ( Paiva ). ( 84 ) Das trinta e mais espécies de qui- na conh-cidas , que o novo mundo nos ofte- rece , distingue-se três, que merecem a pre- ferencia , a saber , a commum , pallida o a acannellada, a vermelha , e a jlava ou amarei- la ou regia. Náo está ainda decidido se a cinchcna lancifilia de Mutis fornece a quina ordinária on commum ; a cinchona cblongifo- lia a quina verm«lha, ea cinchona cord>folia a ( 280 ) a quina fiava ou amarella. Duncan , filhe pretende que a quina commum se tira da cin- chona cordifoliu de Mutis, que inclue a hir- suta, ovata, purpurea e micrantha da Flora Peruviana de Ruiz e Pavon , a vfficinalis de Linnée e a pubescens de Vahl; que a quina vermelha he fornecida pela cinchona magnifo- lia de Ruiz e Pavon , ou oblongifolia de Mu- tis ; que a quina amarella, introduzida na pra- ctica medica em 1790 , he tirada da cinchona laucifolia, a qual inclue a nilida, glabra , ou lanceolata , fusca ou rosea , angustifttia , ou tunita , a ojicinalis de Condamine g Vahl , de Linnée da segunda edição de species planta- rum, e a Condaminca de Humbtld e Bon- pland. Destas e de todas as espécies atégora conhecidas trato particularmente nos meus Fle.nentos de Botânica e na Muteria farma- cêutica -da Farmacopéa Brasiliense. Ora sendo «lias confundidas e misturadas humas eem ou- tras e até com espécies de outros gêneros , que no commercio se costuma adulterar, de sorte que be impossível decidir-se a qual dei- las se deve attribuír as observações , que lemos nas obras dos médicos practicos, se estes por ven- tura a não declaram , Vauquellin examinaude quimicamente dezoito espécies , as reduzia a trez divisões, Io) as que precipitam o tannia, sem precipitar a gelatina ; 2o ) as que preci- pitam a gelatina e o tannia ; 3o ) as que pre- cipitam ao mesmo tempo o tannia, a gelatina e o tartaro eraetico ou tartrato de aniimonio; e ( 281 ) e affirma que qualquer dos indivíduos incluídos nas referidas trez divisões he capaz de curar as febres intermittentes e remetentes , e que ÉÓ estes reputa por quinas ou espécies de cinchona: Finalmente a casca cor de choco- late ou Cortex.-Brasiliisnsis de que falia o auctor , vulgarmente chamada quina do Piau- hi he tirada da Portlandia hexi ;dra de Lin- née ou coutarea de Jussieu ( Paiva ). ( 85 ) A quina regia que he a fiava o« amarella , espécie de cinchona , não he por eerto a Angustura, pois que esta he hurn gê- nero novo a que Humboldt deu d nome de Bonplandia trifoliata em honra de seu compa- nheiro , e o collegio de Londres o de Cuspü- ria febrifuga , derivado do nome trivial cus- pa , o qual deve ser abandonado. ( Paiva ). ( 86 ) Se com effeito ha esta falsificação de melter-se a quina , depois de se lhe ex- t ralar os seus materiaes , on outras cascas , na solução aqaosa de azevre , falsificação que jamais encontrei , fácil he de conhecer pelo cheiro e sabor particular desta gomma-resiu* ( Paiva ). ( 87 ) Muitas vezes os falsificadores , diz J. Frank, fervera a quina em ajjua para lhe tirar o extracto , enxugam-na depois e a vendem. Outras vezes ( e isto acontece fre- qüentemente ) a reduzem a pó que misturam com o das amêndoas amargas, psra í-npe'ir que voe muito , e para auvi:ent.ir o ,-ezo. Ambas estas falsificações , moiuieute a stgun- (■ 282 ) da tenho encontrado t na quina em pó- de Inglaterra ( Paiva ). ( 88 ) Quem desejar huma analyse exacta da quina amarella , roborada com muitas re- flexões practiea9 e importantes, lèa o excel- lente tratado sobre ella ultimamente/ escrípto pelo mui illustre Mirabellí , já benemérito por varias outras interessantes analyses ( J. Frank ). ( 89 ) Cumpre perguntar a tantas pes- soas accommetidas de febres intermittentes , que tomam inutilmente libras de quina sem effeite , se ella he hum especifico ( J. Frank ). (90) O Snr. Strack danas peripueumo- aias a quina. Sendo nervosas ou asthenicas ap- provo a sua practica ; mas sendo inílamma- torias ou esthenicas , compadeço-me da sorte dos enfermos ( J. Frank ). ( 91 ) Duas palavras direi sobre o uso das preparações mais triviaes da quina. Quan- do a debilidade he grande , jamais deve dar-se a quina em substancia, porque o estô- mago languido não a pôde supportar , c lhe causa pezo, ansiedade e irritação em todo o corpo. O cezimento de quina mais ou menos farto dos seus roateriaes solúveis he em si- milhaute circunstancia o mais apropriado , ( t também a água de Inglaterra, ou o vinho simples de quina, a infusão fria , Sçc. ). 0 extracto de quina he , a meu entender, hum remédio de luxo. Noutro tempo nsava dalle ; agora , porém, o abandonei inteiramente. Se as ( 283 ) as forças estão mui desfalecidas,' o estracto produz incommodidades pouco mais ou menos que as da quina em pó: havendo-se o estôma- go reforçado suílicientemeute de modo qua possa digerir o extracto , dè-se a quina em pó, porque não produzirá incommndo , e se- rá mais efficaz e de menos custo ( ./. Frank )■. ( 92 ) Ksta foi sempre a minha opi- nião por ser também a de todos os médi- cos antigos, que estribados em observações preferiam os oxydos de ferro ao mesmo fer- ro. Ku já no \. CXXX1X dos meus Ele- mentos de quimica e farmácia , impressos em Lisboa no anno de 1783 , recommendei com preferencia o ethiope marcial ou açafrão de ferro de Lcmcry , que be o protoxydo ou oxy- do negro de ferro', que o autor recommenda. No %. CJX, 26 , 3 dei o processo ou mo- do de o fazer , e também na primeira edição da minha farmueopea Lisbonense pagina r~. Com o nome de ethiope marcial. Tenho igual- mente usado com feliz successo do peroxydo vermelho de ferro , do carbonato ou ferru- gem , a que na Farmacopéa geral da Reino , dei o nome de ferro preparado, e do car» bonato de ferro precipitado : preparações que prefiro ás limaduras de ferro indaque subti- lissimas ( Paiva ).■ ( 93 ) Unindo o ferio com a magnesia calcinada previne-se o incommodo dos arro- tos. E*ta terra absorve promptamente 03 áci- dos exiatentes no caual alimeutoso, pelo qne não ( 284 ) não podendo elles effeituar a sua acção no ferro , não produzem o ordinário desenvolvi- isento do gaz. Muitas vezes cs médicos tem observado notáveis incomroodos prescrevendo o ferro ; perque o davam em doses mui gran- des. Eu principio sempre pela dose de seis grãos, e nunca passo de quinze ( J. Frank). ( 94 ) He o prepaiado ou oxydo negra de ferro de que fallei na nota ( ?■! ) , cujo pro- cesso dei nos citado9 Elementos de Química, e na Farmacopéa Lisbonense , sendo o desta mais fácil e prompto que o daquelles ou o de Lemery , bem que este não he complicado ( Paiva ). ( 95 ) Referirei hum exemplo singular , que prova evidentemente que o ferro passa para o sangue sem que seja totalmente alte- rado. Huma mulher em P... . tomou, por conselho de hum medico hábil , a limadura de ferro para livrar-se das incommodidades , que padecia. Tendo tomado huma pequena dose, vio-se logo obrigada a mudar diariamente de meias., as quais dentro dos sapatos se suja- vam e «mnegreciam. Quanto mais a enferma continuava o uso do ferro , tanto mais o re- ferido fenômeno se manifestava, de sorte que era obrigada a mudar sempre de tempo em tempo as meias. Havendo communicado ao medico este acontecimento , elle com o auxili* dos meios conhecidos chegou a descubrir que era o mesmo ferro, que sujava e tingia de Ht?áro as meias ( J. Frank ). ( 285 ) ( 96 ) Estas pirolas , de que uso rom freqüência e bom successo, sao humas reoom-. men.ladas pelo Dr Willis , que constam de huma oitava de sulphato de zinco ou vitrio- lo de zinco purificado , e de duas oitavas de extracto de flor de macella , de qee se toma dous, ou quatro grãos cada trez ou quatro horas, segundo a sensibilidade da enferma on enfermo ( Paira ). ( 97 ) Cumpre que o medieo , quando receita a scilla ou cebola alvarrãe em pó , es- teja certo de que foi secca a brandissimo ca- lor , e que este lhe não destruio aquella ef- ficacia de que ella goza, e em que confia em urgência grandit-sima. A «cilla fresca he sem- pre preferível á secca* A mesma advertência deve haver a respeito da dedaieira ou digita- lis fmrpurea, a que em similhante urgência, recorrem os médicos , huns com maior con- fiança , e outros menor. As minhas repetidas observações me obrigam a preferir esta aquel- la ( Paiva ). ( 98 ) Não acho incoherencia nem pree- eupação em Oisturar a scilla em pó com os saes neutros , como o tartaro vitriolado ( sul- phuto de potassa ) , o nitro ( nitrato de p»- tassa ) , e até com o cremor de tarUiro ( su- per-tartrato de potassa ) ; por quanto sendo todos elles mais ou menes incitativos , e não se decompondo com a scilla, servem de divi- dir esta em partículas mínimas ( Paiva ). ( 99 ) Tenho prescripto muitas vetes cora sum- ( 286 ) summa utilidade a myrrha na chlorose ou cppilaçuo quando as enfermas não eram mui incitaveis e a podiam supportar. Este remé- dio he hum iucitativo permanente e ao mesmo tempo diflusivo , e por isso nao deve esque- cer-se ( J. Frank ). ( ICO ) Ajunte-se ás observações de Hvnier as do profrs.or Nesti, o qual, me- diante a applicação só do ópio curou infini- tas chngas gallicas ( J. Frank ). ( 101 ) Michaelis nos assegura ( Medica? tommunicutions vol. 1. ) haver-se curado per- feifamente varias enfermidades gallicas com o ópio. Eu mesmo curei o anuo passado na cli- nica huma n.ulher galliçada com os incitati- vos , especialmente com o ópio. Ella estava realmente gallicada , como tembem seu mari- do estava. Precederam chagas nas partes da geração. A enferma no tempo da sua vida não tinha tomado mercúrio : motivo porque francamente podemos dizer que sarou com os incitativos. Esta historia acha-se referida por extenso em Raíio instüuli clinici cap. XI ( J. Frank ). ( 192 ) Sendo grande o numero dos re- médios estimulantes, todos elles om geral go- zam da mesma virtude, e só dilfercn no gi^o de força mais ou menos dillusiva, e por isso o medico pode escolher entre elles aquelle , .quer indi^eno , quer exótico em que tiver maiur confiança , já em conseqüência das observações des outros mediccs? ja das guas proprjaSj adver- ( 281 ) tindo, porém, que deve sempre escolher aquelle) que espontaneamente nsscer no paiz em que exercitar a medicina ( Paiva ). ( 103 ) Ainda que o açafrão , pelas suas qualidades fysicas e químicas , assaz manifes- tas aos nossos sentidos pareça ser hum remé- dio activo e enerpifo ; e que muitos auctores Ilie atdibuam grandes viitudes, mormente aquel- k de provocar os menstros ; 'todavia os experi- , r.er.tos dos Doutores Alexander , de Cullen v de outros não confirmaram as ditas decan- tadas virtudes, antes demonstraram ser exag- geradas. Niío duvido , porém , ser hum sua- ve e agradável estimulante , que faz o arroz da gallinha tao grato ao paladar , como a água de ílor o arroz de leite. Mas onde se acha açafrão , que não seja falcificado ? He tão raro como o bom almiscar ( Paiva ). ( 101 ) Entre o* incitativos mais usuaes, o almiscar, a meu ver, leva a palma a todos. Este excellente e divino remédio , dado nu- ma dose conveniente tem sarado algumas vezes febres nervosas em que eu tinha applicade inutilmente os outros iin itativos. O Dr. Qua- rin recommeuda especialmente o almiscar quan- do o pulso cita pequeno e contrahido , eu porém tenho observado que aproveitou tam- bém em circunstancias e;n que estava cheio , mas molle. Por desgraça nos vemos obrigado* muitas vezes a usar do sln.iscar adulterado , de péssima qualidr-de. Grua cotejando o pre- , cas , e eu mesmo lhe vi beber de hr.ma vez ?, hum copinho d.- duas onças, ser.d:> e.te o „ único remédio que lhe dá algum allivio na „ dor , e ansiedade , qne padece. „ Se algum remédio merecesse o nome de especifico nas febres intermittentes, sete seria certamente o ópio; o qual, como assevera J. Fiunk , h* o principal remédio de todas as enfermidades asthenicas , e por conseguinte das febres inter- mittentes. Sendo , porem , a sua acção mui diffusiva , cumpre sustella com os incitativos permanentes , ou do acção mais durável , co* mo a quina , os amargos , o ferro , e as co- midas substanciosas. Assevera o mesmo Frank que vira infinitas vezes atalhar-se instantanea- mente o paroxysmo das terçans e das quar- tans com o ópio , o que mandava tomar em pequenas doses , unicamente no dia do paro- xysmo ou sezão , e para isso misturava trinta ou quarenta gottas de laudano liquido em seis onças de água de canella ou de vinho , e desta mistura tomava o enfermo huma co- lher ou meia onça de quarto em quarto de hora. Ao mesmo tempo permittU o uso do café , de vinho , e de alimento substancioso , mas de fácil digestão. Seguindo este curativo não se manifesta ordinariamente o paroxysmo , e quando se manifesta he sempre muito mais brando. Repetindo, porém, o paro:-.) ,mo cou- T 2 ti- ( 292 ) tínúi diz Fjnnk, o dito remédio, e depois de acabado o referido paroxysmo , usa da quina com vc..;'ri; ;,a, ou outros incitativos. Com esto methodo curativo , confessa , que tivera sempre a consolação de curar no espa- ço de vinte quatro até trinta e seis horas as terçans , e em dois dias ou quatro as quar- ta ns mais rebeldes. Methodo de que outros muitos médicos se servem cem igual felicida- de. O Dr. Bertelli, que exerce a medicina em Mantua onde são mui communs e rebeldes as febres intermittentes , escrevendo a J- Frank lhe 'diz. „ Tenho curado também com o me- thodo Brozcnia.io sele febres quartans , \\ suspendendo num momento o paroxysmo , sem que sobreviesse recaliida. Alguns fica- ram admirados disto, e outros absolutamen- te não o frem , porque se porfia em que a quartae seja o opprobrio dos médicos , e que não ha meio algum de curalla , se esponlaueamenle não se cura quando a pri- , mavera se achega. „ Estou , pois , certo , diz J. Frank , que tanto este meu amigo , como todos os mais médicos Brov/niauos não duvidarão de sustentar comigo a verdadeira the.se : opinm in febrium intermittentium cura- tione prinaps est remedium ; isto he , o ópio he o principal remédio na curarão das febres zn- termittentes. O u*o ào ópio não he novo nas febres h.i ■rr.míenles , diz o mesmo Frank , conflrmainlo esta doutrina practica com algu- ns observações de Morton, Dalberg , Mar- ray, ( 21)5 ) *ray , João Pedro Frank , Lind , Odier , Wir- tenson Sfc. , e adverte alfim a respeito destas auctoridades , que nenhum dos citados aucto- res prescreveo o opio com o intento de inci- tar, e que por tanto o merecimento da novida- de não se ha de tirar inteiramente a Brozcn. ,, Porém quer se usasse do opio com o intento de incitar, quer de acalmar ou debilitar, o certo he , que o seu uso nas febres intermit- tentes data desde a mais remota antigüidade. Galeno louva na quartas a theriaí;a que con- tém opio , e diz que curou muitos desta en- fermidade. Em Tralliano encontra-se vários re- médios para a quarííe , nos quaes entra o opio , a cícuta e o nieimendro. Aecio louva na febre intermittente as pirolas de Aschyi.i- das , que constam de pimenta longa , myrrhu , opio e castóreo. Os médicos Árabes , prin- cipalmente Atsicena , prescreviam r.e^te caso a theriaga. Paracelso e seus sequazes davam hu- ma pirola opiada huma hora autos do paro- xysmo. Ilarstio destinou o laudano principal- mente para as febres interniittentos. >-"m hu- ma palavra , Wcdcliu , Etmullcro , Plancar- do , Freind , Ber-ijaf , Aquino , Ni;risali, ll.-l- vich, Riveria , Wdlis . Ilcurnio , Bofriiauva e outros reconheceram o opio por hum remédio Util na caraçáo das intarmittentos ( Paivt ). ( 111 ) 1'lsta. he huma observação tá.» jus- ta como inport.ar.tc-. Nos casos d > debili.í.i-f' directa, eni *j.-1e a iucitabüi lud.i a';• n«'aiitc não pode supportar a acção de hu;u esiiuuio for- te, ( 294 ) te, o opio produz ás vezes graves incommo* dos , e talvez he também summamente nocivo, Jls por esta razão que eu não confio a este remédio a cura das febres nervosas originadas de deficiência de estimulo , pois tenho visto infinitas vezes que o opio dado nestas em pequenas doses, aug-ientava tolos os sympto- mas e produzia rnodorra. Os etliers , o alcan- for, o almiscr, o vinho são muito mais ap- porpriados em similhanfees circuiWancias. Quan- do com estes remédios a incitabilidade enér- gica está ja al^um tanto diminuída, e pode por conspguinte supportar os estimulos ainda sn.tis ar.tivos , et?tão o opio vem a ser utilis- simo. Com effeito todos os médicos louvam o opio ms febres nervosas, quando o enfer- mo se aoha ja com algum vigor e atormen- tado (íe vigilia. Polo contrario , nas enfermi- dades procedidas da debilidade indirecta pode ordenar-se , com cau+éia sim , porém mais li- beralmente o opio. Nas febres nervosas que sobrevèm r.o abuso do viüho , ,ou a qualquer o;:tro estimulo , os enfermos supportam opti- mamenté o opio , e jamais vi eífeitos espan- ti so-. Xas enfermidades convuUivas , que ás vezfs se originam de algum estimulo que obra- ra com grande violência e produzira por isso a debilidade indirecta, o opio pode dar-se om doses grandíssimas. Em huma moléstia hxstprica cruelissima causada por ira violenta, pre-rrevi o opio em doses grandissimas antes que podesse ver o desejado effeito. Naquella es- ( 295 ) **pecie de tétano , que resulta das feridas nos paizes quentes, e em que » enfermo he com- mum e indirectamente debilitado por vigiiias , dores , &c. , pôde dar-se grandissimas doses de opio sem que o enfermo seja notavelmen- te afieiçoado. lím viitude da acção de algum veneno , mediante a qual o corpo checou á debilidade indirecta , o opio tem sido remé- dio sobereno , e os enfermos podem supportar doses extraordinárias. Na derradeira nota , que fiz ao primeiro tomo de Junes , refe- ri hum feito memorável desta natureza. Do que tenho dito corre que , na cura da debi- lidade directa deverá proceder-se com grande cautela e tento na prescripção do opio , li- mitando-se a receitar ao menos no principio doses mínimas , e até omittir de todo seu uso ; quando pelo contrario nos casos de debilidade indirecta será acertado dar a palma entie os incitativos ao mesmo opio receituudo-o em do- ses maiores ( J. Frank ) ( 112 ) Bem que eu prescreva a tantos en., fermos o epio , rarameute vejo produzir a mo- doria. Unicamente acontece isto dando-se por huma vez grandissima dose. Muitas vezes tenho observado que certos enfermos podiam suppor- tar, seis ^rãos de opio no espaço de huma noite , dando-se em pequenas does , quando hum gváo dado por huma vez produzia vertigens e modor- rn. Porém estes inconvenientes so desvanecem bem depressa , recorrendo a algum outro estimu- lo , mormente ao ether sulfurico ( J. Frank ). 5 De- ( 296 ) : ( 113 ) Depois que a doutrina se divul-' gou pela nossa Itália tem succedido huma re- volução bem notável no exercício ou practica da medicina. Mudaram de methodo náo só os practicos que a abraçaram abertamente , mas também aquelles que na apparencia se mostra- ram adversários. O numero deste* últimos mais políticos que honrados , he maior do que o público crê. As rec/itas , que. ie acham nas boticas , especialmente nas dos hospítaes testeficam isto. Em hum grande hospital em que apenas ha hum medico declaradamente Brownianno, não se gastavam ha seis annos mais de duas ou trez oitavas de laudano li- quido cada dia, agora gastam-se onças.... Entenda-se o mesmo dos ether» , do alcan- for , &c. Os saes neutros , mormente o ce- lebre creraor de tartaro , cahiram eai sumwo descrédito , fazendo assim huma irreparável banca rota. Esta mudança de practica tem augmentado sobre maneira o preço de alguns remédios , entre outros o do opio , que de poucos annos para cá he caris imo. Portanto he de temer que os droguistas movidos da cobiça o falsifiquem mais do que atégora. Tal falsificação será fácil de conhecer-se. A bos- ta de bo-i , a gfemma Arábia com que costu- mam falsiíicailo , distingue-se facilmente d» v\ io ( J. Frank ). (114) Náo posso comprovar com a minha ex- periência este methodo, porque nas enfermidades asthenicas jamais receito purgativos ( J. Frank ). Es- ( 115 ) Esta reflexão he justiísima. Te- nho ouvido louvar muitos médicos por have- rem curado graves enfermidades. Informando- me das circunstancias, conheci que elles ti- nham causado ou ao menos augmentado as enfermidades com o seu methodo. Estando cer- ta mulher com buma indigestão , hum medico ignorante lhe receitou huma purga : chamou- se outro doutíssimo , e lhe receitou outra. Continuou-se pouco e pouco purgando até que a enferma chegou ás portas da morte. Eutao 6o lhe receitaram os incitativos, os quaes po- deram ainda restabelecer a enferma" depoi> de huma larga e trabalhosa enfermidade. Esta cu- ra foi decantada como obra de mão prima. Sendo outra mulher accommettida igualmente de indigestão e diarrhéa , foi aconselhada de outro medico de pouca fama que tomasse lo^o cszimento de quina , e que bebesse vinho ge- neroso. As referidas moléstias desappareceram pouco tempo depois , e a enferma recobrou a saúde. Não houve , pois , ninguém que lou- vasse este medico pracfieo. O methodo de cor- tar no principio algumas enfermidades graves , niío ho certamente favorável á bolsa dos mé- dicos , cuja riqueza está na raz o indirecta do estado da saúde do gener© humano ( J. Frank ). ( 116" ) Não derivaria qualquer espécie de modorra de debilidade em quanto estou persuadido que este syraptoma depe-nde algu- ma vez da diathese estheuica. Os meninos es- tão ( *§8 ) tão ás vezes com modorra nas bexigas bení^, gnas , e unicamente despertam depois da sangria , ou de qualquer outro debilitante. Vi hum jo- ven accommettido de huma synocha ou febre inflammatoria , o qual tinha summa tendência ao somno ; depois de hun a sangria e da ap- plicação da água fria á cabeça , cessou a py- rexia juntamente com a modorra , e o enfer- mo ficeu bom ( J. Frank ). ( 117 ) Nenhum medico ou cirurgião igno- rará que devemos este conselho a Putt. A gangrena secca, que antes era rebelde a to- dos os remédios , cura-se hoje muitas Tezes com o opie. Tenho presente hum caso de gangrena secca em que receitado por meu pai o opio na dose de quatorze grãos por dia. , não aproveitou. Havendo receitado depois o almiscar misturado com dois grãos de opio , a enferma ficou curada bem de pressa. Carlos White tem applicado nesta gangrena com sum- ma utilidade © sal de corno de veado mystu- rado com almiscar, subindo desde dez grãos de cada hum destes remédios até cento e vin- te. ( Übservntions t>n gangrenes, and mortiji- catinns , accompamvd zcith , or occasionioned èy convulsive spasmus, or arising from local in jure 1790 ). Nao devemos admir;.r-nos des- tas observações. O opio, o ii!mi>car , o sal de corno de v.ulo são incitativos, e por isso pedem ser uteis na gangrena secca, a qual he effeito da debilidade. A cuina náo he nociva nest* moléstia , como alguns tem julgado , po- ( 299 ) *em ht jnsufficiente quando se necessita dt hum estimulo prompto e dilfusivo , qualidade que por certo não reside em eminente gráo na quina ( J. Frank ). (118) Meu pai curou cora a applicação ex- terna de laudano liquido hum cruel rheumatisno asthenico , que oecupava o joelho ( J. Frank ). O teitemunho do auetor e do traduetor corro- boram assaz quanto o Dr Chiarugi me referio em huma carta , que se acha no jornal da móis recente literatura numero 6. anno de 1796 impresso em Milão. Kella me assevora que conseguira os effeitos do opio com o laudano liquido diluído no espirito de vinho , e Cambem com a pomada opiada sem auxilio do sueco gástrico , nem da saliva , nem da cholera , i.em de outra substancia animaliza- da que algans requerem ( L. Frank ). ( 110 ) Verdade incoutrastavel e prova- da por grandes n.cdicos , e aíé pelos mes- mos , que reputam o opio por sedativo e de- bilita cte ! Pois eeLes jamais o applicam na? enfermidades esthenicas ou de força augmen- tada , mas sim ncqueilas que são asthenicas ou de debilidade, Por felicidade a sua pra- ctica he contraria á theorhi. como se pode amplamente ver na matéria medica de Cullen, e na therapeutica de Gregory, obras magis- íraes ( Paiva ). ( 120 ) Huma parte dos fysiofegistas , que se persuadem que a sua sei eu cia somente se origina e adquire luz da anatomia , nos ex- ( 300 ) explicam ás vezes com indizivel satisfação e prazer a origem da sympathia, que existe entre humas e outras partes, attribuindo-a á anaa- tomosis ou corrmunicação de huns com outros vasos, e ao curso dos nervos. Dizem , por exemplo , que entre a vista e a audição ha grande sympathia , porque ambos seus órgãos recebem nervos do quinto par. Deste modo estando o par vago unido com tantos outros nervos , vem a fazer huma grande figura. Similhantes me parecem bem alhêas e dis- tantes da verdade , e não servem senão pa- ra fazer ostentação de anatomia fina : As leis da sympathia reconhecem fontes inteira- mente distinctas , cemo o provou entre ou- tros Reil professor celebre em Halle , e de quem a fysiologia recebeo já em peucos annos muitas luzes. Este summo fysiologistz aponta varias causas da sympathia, entre as quaes me parece digna de particular attençâo a simi- Ihança de orgunizamento nos diversos cr^ãos. Com esta explicamos com práncipios simples maitos fenômenos tanto fysiologièos como pa- thologicos. As pupillas se encolhem ao mesmo ♦empo , indaque a luz obre sómeníc sobre numa dellas. Se por exemplo o olho esquerdo está inllammado , para que o estimulo da luz não lhe cause damno , convém náo só cubrir o mesmo , mas também o direito , como nos en-ina Richter. Omittind© e>>ta advertência , a irritação produzi.Ia no ollio são pela luz , propaga-se promptamente ao inllammado. A es- ( 301 ). *p*ructura do cérebro p a do fígado são rsv' si- milhantes , e os fysiolojifctas reputaram estas duas entranhas por glândulas grande:'. Em vir- tude devi* similhança pôde explicar-se porque as moléstias de cabeça svupathizam tanto com o fígado , e ;is deste com aquella. Outra cir- cunstancia , que pode servir muito para ex- plicar os fenômenos da sympathia , he o cos- tume que algumas parles tem de obrar asso- ciadas. Os órgãos que obram associados, bem de pressa ganham huma visivel e reciproca dependeucia, de sorte que sendo hum del- les alfeiçoado , ou obrigado a mover-se por hum estimulo , desperta-se immediatamente a actividade do outro , obrigando-o igualmente a mover-se. Esta lei da natureza orgânica, desen- volvida egregiamente por üarzsin he chamada por elle lei de associação. Desta fonte manam as l.is do costume , cujo poder he conhecido de todos. Mastigando qualquer casta de alimento dotado de cheiro próprio , entram em activi- dade , e associação os movimentos dos mús- culos destinados á mastigação e engulidura , a secreçáo tia saliva , o olfacto e certas idéas. Sempre , p^is , que percebemos o cheiro de hum alimento que appetecemos , pela lei de associação nasce huma copiosa secreçáo de saliva. Acontece o mesmo (j-.iaudo se nes des- perta a idéa de alguma comida agradável , tendo fome. Os piolhos na cabeça nos obri- gam ás vezes a cocai-nos : á idéa de hum piolho está também associai á da comicLao , ( 302 ) e ao movimento do braço direito para nos co« çar-mos, Com effeito vendo hnm destes inse- ctos sobre outra pessoa , sentimos logo grande comichao , e somos obrigados a coçar-nos. Conheço huma pessoa qup por haver-se ave- zado a urinar antes de principiar a jantar e a cear, be agora obrigada a fazer o mesmo sempre que vè por-se a meza. O que he aman- te do baile ouvindo tanger a musica a que costumava bailar , começa inadvertidamente a saltar. Vi hum cavallo velho , que tinha ser- vido na vas , co- mo ( 304 ) mo alguns de seus adversários não se enver* gonharam de dizer , em quanto o Dr. Gelmet- ti servindo-se da nomenclatura medica antiga explica optimamente as novas idéas Brozcnia- nas ( .7. Frank ). ( 123 ) j Esta he , pois , a classificação das enfermidades esthenicas exposta segundo o systema de Brozon ? Todo practico experimen- tado poderá concluir comigo que ella requer algumas mudanças, e especialmente varias ad- dicÕes : observo algumas enfermidades esthe- nicas , que deveriam ser comprehajididas «a referida classificação e que não são. Os ad- versários da nova doutrina culpam com razão o seu fundador desta omissão , a qual me parece fácil de remediar. As enfermidades que Brozcn deveria reputar por esthenic;^, além das expostas , são a ophthamitis ( inflam- mação dos olhos ) , a otitis ( inflammação do ouvido ) , a glossitis ( inflammação das fauces ), a gastritis ( inflammação do estômago , a cn- tiritis ( inílamniaçáo dos intestinos ) , a hepali- tis ( inflammação do fígado ) , a splenitis ( in- flammação do baço ) , a metritis ( inflammuçáe do utero ) , a cislitis ( inílammação da bexiga )^ a nephritis ( inliammaçao dos rins ) , enfermi- dades que- o mesmo Brozcn suppõe sempre lo- caes. Concedo que o sejam as mais das ve- zes ; mas que o sejam constantemente , isto me parece hum erro , de que na practica po- deria resultar graves damnos. Por quanto os fegos sequazes de Broivn suppondo ser tcdp.s as ( 305 ) ts referidas inflammações locaes, poderiam receitar somente medicamentos locaes , e omit- tir deste modo a sangria, ás vezes tão ne- cesaria nas enfermidades de qne fallo. Que as mesmas sejam ás vezes universaes estheni- cas o mostram a predisposição , que as precede algumas vezes, as causas que as produzem , as quaes obram não só no órgão offendido , rcas também no organismo todo, os remédios alfim , os quaes dirigidos a todo corpo tolhem «om freqüência o vicio do órgão especialmente affecto. Estou longe de querer negar que a ophthalmitk ( inflammação dos olhos ) seja or- dinariamente huma inflammação meramente lo- cal , e deva por tanto curar-se com remédios tópicos ou lecaes ; porém estou convencido pela practica que muitas vezes se assemelha totalmente á peripneumonia ou inflammação do bofe , sendo produzida por causa cuja acção se estende por todo o organismo , e go tira também com remédios universaes. j Quantas vezes não se curou a inflammação dos olhos com huma sangria de braço sem applicar remédios ao olho doente ! Quantas vezes não se curou com hum vomitivo ou purga , observação de que se originou o es- tfranho raciocínio que suppez que a mesma inflammação procedia de saburra amontuada nas primeiras vias ! O vomitivo ou a purga em taes casos obrou debilitando , e deste me $o dissipou o vicio flogistico ou cstlienico juhereate rio corpo , mas predominante nos Tom. II V «lhos. ( 306 } olhos. O mesmo pôde dizer-se da otilit o«í inflammação dos ouvido, a qual , inda que commumraente seja enfermidade local , algumas vezes se appresenta como universal. Em quan- to á inflammação das entranhas do baixo ven- tre , não vejo razão de duvidar que possam inílammar-se em conseqüência de hum vicio universal esthenico. Manifesta-se huma peri- pneumonia sempre que o incitamento forte de todo corpo predomina no bofe ; i e por- que não deverá manifestar-se huma hepatitis quando predominar no ligado P Demais , náo concede o mesmo Brwan que estas entranhas podem ser acommettidas da inflammação ner- vosa ou asthenica ? E porque motivo deverão ser izentas da verdadeira inflammação ou es- thenica ? Além das apontadas inflammações que Brown sem razão reputa sempre por lo- caes , merecera collocar-se entre as enfermida- des esthenicas algumas dyssenterias e hydro- pesias , e igualmente a hemorragia ou flux» de sangue. A dyssenteria he de ordinário as- thenica , mas também apparece com freqüên- cia sendo esthenica. ; Guai do medico que a cura então com os medicamentos incitativos l O admittir huma dyssenteria esthenica não trastorna nenhum dogma da nova doutrina. Esta admitte o catarrho flogistico ou esthe- nico , contra o qual recommenda o methodo debilitante. E justamente , nós estenderemos este catarrho não somente á membrana das Tentas , e fauces , mas até aos intestinos , e te- ( 307 ) leremos assim a verdadeira imagem de huma dyssenteria flogistica ou esthenica. A hydro- pesia , afora o caso em que depende de vicio local , origina-se commumemnte da debilidade. Mas ha também hydropesia procedida da in- citamento forte > na qual a sangria , o cre- mor de tartaro , o nitro , a água são os me- lhores diureticos. Tocante as hemorrhagias estou convencido que manifestando-se muitas vezes em hum mesmo sujeito , sejam quasi 3ei?ipre de natureza asthenica. Por tanto se- rão esthenicas unicamente aquellas , que pela primeira ou segunda vez se manifestam em sujeitos robustos , plethoricòs, bem nutridos, &c. sem recerrer , pois , á sangria , bastará abandonallas á natureza , porque ellas mesmas são o remédio. Brozon foi criticado pelo Dr. Strambi» por haver reputado a obesidade cons- tantemente por huma enfermidade esthenica quando existem obesas pessoas fracas e ener- vadas. Este equivoco nasce de a ter con- fundido com a leucoílegmacia ou os derrama- mentos sorosos. Que o Dr. Brozon repute sempre por esthenica a mania , sorprendera também a algum ; sendo esta enfermidade fre- qüentemente asthenica. Mas desapparecerá tam- bém a serpreza reflectindo-se que Broum dá á loucura procedida da deficiência de incita- mento o neme de demcr.ia. Eu approvo e>la distineção quando estas enfermidades , brm que similhantes na apparencia , differem entre si de modo que o que he veneno em tu ira , V 2 vem ( 308 ) vem a ser remédio de outra ( J. Frank ).N ( 124 ) Acho diminuto o referido catalo- go das enfermidades asthenicas, e quizera que se tivera feito menção nelle de algumas ou- tras , tanto pela sua importância , como pela freqüência com que occorrem. Fallo da pe- ripneumonia nervosa, da enccphalitis dimana- da da debilidade , das outras inflammações as- thenicas das entranhas e da febre puerperal. Não posso conceber como Brown se esque- cesse de fazer menção, destas tremendas en- fermidades , cuja natureza não faz na verdade senão confirmar os cânones da sua doutrina. Tivera eu também desejado que se fizesse men- ção de, alguns vicios orgânicos da pelle de- pendentes de affecção universal , especialmen- te dos herpes , enfermidade , que eu deriva- ria quasi sempre da' debilidade indirecta. Me- rece também contar-se entre as enfermidades asthenicas a pellagra , cuja origem se explica optimamente pela doutrina de Brown. Na ver- dade me tenho admirado de que o já louva- do -Slrambio aífirmasse o contrarie , quando poderia provar a verdade da minha opinião com as mesmas excellantes producções escri- ptas por elle ácerea da pellagra. Esta enfer- midade he huma verdadeira asthenia, produ- zida náo pela acção de huma só causa espe- cifica , mas por huma enfiada de potências dcbilitantes ás quaes se expõem as pessoas su- jeitas a esta enfermidade. Os únicos remédios uteis na pellagra sã© os incitativos , como o co- ( 3uy } cozimento de quina , o alcanfer , os ethers , os banhos quentes , a comida abundante , e o vinho ; ' remédios , que , entre os outros , recommenda e receita também aos seus enfer- mos o Dr. Strambio , de que tenho sido tes- temunha de vista. De certo este methodo cu- rativo produz o desejado effeito quando a en- fermidade he recente. As recahidas nascem só quando as pessoas se expõem de novo ás pri- meiras causas , que produzem a pellagra , e do que ninguém se admirará. Eu ouso por tanto dizer francamente , que a natureza <:a pellagra está conhecida , e depende da debi- lidade ; e que os médicos sabem curalla. Es- tes fizeram da sua parte o que poderam , e o público lhe deve ser grato. Porém que pô- de a medicina contra huma enfermidade ori- ginada de causas, que não pôde remover? . . . Se a comida nutiitiva he suflâciente para cu- rar a pellagra , porque não deveria ser suffi- ciente para prevenilla ? Por comida nutritivi não entende o uso dos caldos de farinha fei- tos em água simples , privados do mais na- tural condimento isto he, do sal commum. Eis a solução da questão ! ( J. Frank ). ( 12ê ) O auctor falia provavelmente do cubrir de vesicatorios os miserandos enfermos , de mandar botar ventosas sarjadas, e de ap- plicar em cima hum vesieatorio , e também de outros meios cruéis com que tantos médi- cos sem experiência atormentam a humanida- de ( J. Frank ). O (310) ( 156 ) O Dr. Gelmetti ja citado crè qu« seria melhor fazer pequenas e repetidas sau- grias nas enfermidades esthenicas. Nos casos em que tenho seguido seu conselho , fazia ti- rar de duas em duas horas , trez ouçh;, de sangue, até chegar á quarta sangria ou a hu-f ma libra de sangue. Em pouquíssimos cases experimentei este methodo para poder asseve- rar alguma cousa de certo sobre a sua eíli- cacia ; porém não tenho razão de queixar-ma delle. Huma sangria copiosa enfraquece certa- mente mais do que tirando-se a mesma quan- tidade de sangue por varias vezes. Mas aqui trata-se de saber so será ou não conveniente afracar os enfermos mediaate a diminuição repentina de hum só estimulo , ou se desta meio resultará huma falta de equilíbrio per- niciosa entre o incitamento dos vasos sangüí- neos e o das outias partes do corpo. Espe- ramos que a estas duvidas responda a vene- randa voz da experiência. O illu-.tre Moscati em huTia obra sua superior aos meus elogios, recommenda que se adepte nos cavallos a san- gria segundo orefeiido modo (compêndio da cignizfrni re'orinurie ,. S;c. Milano p. 59 ) ( J. Frank ). ( 127 ) Não serão aqui fora de propó- sito duas palavras sobre o abuso da sanaria. Jfos enfermidades esthenicas alguns médicos crem que podem sangrar livremente aié que a enfermidade termine com a saúde ou com a morte. Practica homicida! Se huma enfen mi- ( 3ii ; laridade qualquer he realmente esthenica , he cousa certíssima que , depois de tirar-se mui- tas libras de sangue deverá ao menos dimi- nuir-se. Porém depois de quatro ou cinco saa- grias eopiosas , augmentando-se mais a enfer- midade , e o pulso fazendo-so constantemente mais duro ; não he isto huma prova clara que nem a enfermidade , nem a dureza do pulso são eífeitos do excessivo vigor ? Estou persua- dido sobremaneira que nem se pode, nem se eleve estabelecer limite a respeito da sangria , até que a razão e o progresso da enfermi- dade não o estabeleça espontaneamente. Ti- rar , pois , em huma enfermidade flogistica ou esthenica seis libras de sangue, he quanto se pode dizer, Com tudo , tenho visto iuíinitos casos em que, no espaço de poucos dias, se tiravam doze , dezoito e mais libras do pre». cioso humor de que fallo; e devo confessar que alguns enfermes se curaram por este modo , ou , para melhor dizer , nao foram assassinados. O número , porém , destes afor- tunados he tão pequeno comparado com o de tantos, que morreram, ou ficaram aMna- ticos , tísicos e hydropicos , que não posso deixar de olhar coar horror aquelle methodo. O que com infinitas sangrias recobra cedo ça tarde a saúde , deve dar muitas graças á sua optima compleição , e jamais ao methodo (•:- rativo praoticado. Considere-^c só a longuissi- ma e tediosa convalescença, a que estão su- jeitos taes enfermos, para persuadir-se. Final- ( 312 ) mente j qual he o symptoma, qae guia os pra* tticos quando prescrevem tantas sangrias ? Com- niummente a dureza do pulso. Todos os médi- cos , posto que reputem o pulso por hum si- gna! infiel , todavia á cabeceira do enfermo lhe obedecem servilmente. Se o pulso está du- ro , os outros symptomas pedem indicar debi- lidade , e não obstantes querem que não se arrisque a dar os incitativos. A dureza do pulso cresce ás vezes , como ja disse , com as sangrias, i Náo he isto hum signal claro de que naquelles casos a dureza do pulso não se origina da abundância do sangue ? Alguma vez depois de huma sangria o pulso se mani- festará mais duro e largo , porque então o Sangue poderá circular mais livremente ; mas deverá também manifestar-se sii*iilh;uite fenô- meno quando o enfermo estiver meio sangra- do ? Certamente r;ão. Em similhantes circuns- tancias derivaria eu a dureza do pulio da contracção espasmodica da artéria. Na verdade nais* de cem vezes tenho observado que os pulsos com a sangria e os outros antiílogisti- cos app?reciam muito mais cheios e duros , recobiahdo seu estado natural e até se enfra- queciam , quando prescrevi os incitativos. Por ir.» to sou acauteladissimo com a sangria , uão excedendo jamais a quantidade de sangue, que mando tirar. Náo me lembro de ter nunca mandado tirar mais de cinco libras ( e he excessiva nos paizes quentes ) ; porém sei que a conyalescença dos meus enfermos estlienicos, he ( 313 ) |ie brevíssima. Estou também persuadido que >aquelles médicos , que além da sangria , n.ío applicam outros remédios debilitantes, masque prescrevem medicamentos irritantes , como ve- sicatorios , serão forçados a sangrar mais do d© seu critério, gênio % (319) e attenção. Do exacto e perfeito conhecimen- to da enfermidade depende a honra do me- dico e a saúde do enfermo. Ora de quanta importância será o distinguirmos o caracter primário ? ( J. Frank ). ( 137 ) Com effeito , a observação mos- tra ser eflicacissimo o uso interno e externo do opio , do alcanfor , do alcali ammoniaco volátil , do balsamo pruviano , e de outros diífusivos deste toque nos casos de gangrena. A este respeito , diz o Dr Luiz Frank , que applicara , com summa utilidade , nas chagas chronicas e escorbutiças, o espirito de vinho alcanforado , misturado com laudano liquido, o qual supprimia a corrupção, fazia cessar a dor , e estabalecia a vegetação das chagas. As- severa igualmente que espalhando repetidas vezes sobre a gangrena humida huns pós com- postos de partes iguaes de alcanfor e de assu- car , separava-se immediatamente a parte mor- ta da viva sem que carecesse das sarjas ou de outros meios bárbaros , e que se estabelecia logo huma boa suppuraçáo , que. corria com brevidade á cicatrisação ( Paiva ). F I M. ( S20 ) TABOADA DAS MATÉRIAS CONTIDAS NESTE TOMO. Capit. XI. J_JOs medicamentos in- citativos e d» seu modo de obrar......pag. 3. Capit. XII. Dos medicamentos debtd- tantes e do seu modo de obrar - - - - - -p. 117. Capit. XIIÍ. Divisão das enfermidades esthenicas - - - _ - p. 151, Capit. XIV. Divisão tias enfermidades asthenicas - p. 167. Capit. XV. Tlierapeutica geral das enfermidades esthenicas - p. 173; Capit. XVI. Tlierapeutica geral das enfermidades aslhenias - p. 217. Capit. XVII. Das enfermidades locaesp. 244. koTAS....... - . - mp. 258. First A last signa-tures de- aoidified vlth magnesium bi- oarbonate. New all-rag end paper signaturea, unbleaohèd linan hlnges, hand sewed headbanda. Rebound In quarter Russell*» oásis moroooo, hand narbled paper sides, velluai oorners. Leather treated vlth potasaium laotate A neafs foot oil A lanolin. Carolyn Horton A Assoo. r tu \-j>s 1+30 West 22 Street WZ. Nev Tork, N.T. 10011 ^a Septeaber 1*75 k)Ule? tgtc ROMOM BiWUcKlf V' 1 c » I