FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA IPIM APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Em 30 de Outubro de 1906 PARA SER DEFENDIDA POR O cl irando Cende& %effo&o NATURAL DO. ESTADO DA BAHIA Afim de obter o gráo de doutor em medicina DISSERTAÇÃO CADEIRA DE CLINICA PROPEDÊUTICA Cytoscopia dos derramens e do liquido cephalo-rachidiano em algumas moléstias tropicaes. PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do cufso de sciencias medicas e cirúrgicas. BAHIA Typographia S. José Rua do Corpo Santo, 66-2. Andar 1906 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Director-Dr. ALFREDO BRITTO Vice-Director-Dr. MANOEL JOSE' DE ARAÚJO LENTES CATHEDRATICOS OS DRS. MATÉRIAS QUE LECCIONAM l.a SECÇÃO Carneiro de CamposAnatomia descriptiva. Carlos Freitas' . . Anatomia medico-cirurgica. 2. a / Antonio Pacifico PereiraHistologia- Augusto C. ViannaBactereologia. Guilherme Pereira Rebello .... Anatomia e Physiologia pathologicas. 3. a Manoel José de AraújoPhysiologia. José Eduardo F. de Carvalho Filho Therapeutica. 4. a Luiz. Anselmo da Fonseca .... Hygiene. Josino Correia Cotias. Medicina legal e Toxicologia. Braz Hermenegildo do Amaral . . . Pathologia cirúrgica Fortunato Augusto da Silva Júnior . Operações e apparelhos. Antonio Pacheco MendesClinica cirúrgica l.« cadeira. Iguacio Monteiro de Almeida Gouveia Clinica cirúrgica 2." cadeira. 6.a Aurélio R. ViannaPathologia medica. Alfredo BrittoClinica Propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho . . . Clinica Medica 1.» cadeira Francisco Braulio Pereira .... Clinica Medica 2.» cadeira 7a A. Victorio de Araújo Falcão . . . Matéria medica, Pharmacologia e Arte de Formular José Rodrigues da Costa Dorea . . Historia natural medica. José Olympio de Azevedo .... Chimiea Medica. 8. a Deocleciano RamosObstetrícia. Climerio Cardoso de Oliveira . . . Clinica obstétrica e gynecologica. 9. a Frederico de Castro Rebello . . . Clinica pediátrica. 10. a Francisco dos Santos Pereira . . . Clinica ophtalmologica. 11. a Alexandre E. de Castro Cerqueira . . Clinica dermathologica e svphiligraphica. 12. J. Tillemon FontesClinica psychiatrica e de moléstias ner- vosas. João E. de Castro Cerqueira . . „ .. .. ... . , Sebastião Cardoso . . . . . . . E,n disponibilidade. LENTES- SUBSTITUTOS OS DOUTORES José Afibnso de Carvalho (int.) 1.» Pedro da Luz Carrascosa e . . Gonçalo Moniz Sodré de Aragão . 2.» J. J. de Calasans . . • . . 7.« Pedro Luiz Celestino .... 3.» J. Adeodato de Souza .... 8." Alfredo Antonio de Andrade (int.) 4.» Alfredo Ferreira de Magalhães . 9.» Antonio B. dos Anj.>s (int.) . . . 5.» Clodoaldo de Andrade .... 10. João Américo Garcez Froes . 6.e Albino Leitão (int.)11. Dr. Luiz Pinto de Carvalho (interino), 12.» secção Soeretari r- Dr. MENANDRO DOS REIS ME1RELLES Sub-Secretario Dr. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA • A Faculdade não approva nem reprova as opiniões exaradas nas tlieses pelos seus auctores. DISSERTAÇÃO CADEIRA DE CLINICA PROPEDÊUTICA Cytoscopia dos derramens e do liquido cephalo-rachidiano em algumas moléstias tropicaes ANTES DO ASSUMPTO Eis-me emfim quasi a chegar ao fim da minha jornada, eis-me a terminar o meu curso escolar, nos quaes consumi 7 annos, sendo 4 na frequência medica e 3 na de pharmacia. Sou contrario aos prologos, mas o meu trabalho o exige; por isso tive que ceder, para dar ligeiros esclarecimentos sobre o que escrevi. Abrindo a 1" pagina da minha dissertação, vereis .que eu principio como historico do cyto-diagnostico, quando o meu ponto é a cytoscopia, mas é simples- mente porque eu penso com Mareei Labbé, que inclue a cytoscopia no cyto-diagnostico e, portanto, tendo eu tratado do historico deste, ipso facto, tenho feito o historico daquella. Procurei definir a cytoscopia, do que até então auctor nenhum tinha se occupado, e então achareis duas definições; uma delias foi elaborada pelo scintillante talento do Mestre amigo Dr. João Garcez Froes, e a segunda foi trabalho nosso. Adaptei a technologia especial dos elementos do sangue, quando falo dos grandes auginentos, quer de leucocytos, quer de hemacias ou diminuição de uns ou de outras e assim dizemos II haleucopenia, oligocytemia, hyperleucocytose, hyper- globulia e polycytemia quando em um derramamento nós encontrávamos abundancia ou pequeno numero destes elementos. Não sabemos se bem fizemos, porem para encurtar phrases e períodos extensos, resolvemos assim lazer. Sobre a prova do vesicatório, deixamos patente o nosso juizo em desacordo com Roger; porem só temos 6 observações e por isso não formamos idéa fi nal. Agora nos appareceu um caso de dermatite de Duhring trazido pelo Mestre Dr. Alexandre Cerqueira ; não achamos eosinophilia porem grande quantidade de pseudo-eosinophilos, não na proporção dos auctores que dão de 35 a 95 °/0. Porém, também foi um só caso, por isso nada podemos aílirmar. Sentimos não poder apresentar um maior numero de obser- vações sobre cada assumpto, mas o tempo e o nosso meio são os únicos culpados, porque da minha parte não poupei esforços. Sentimos a 2a parte do nosso trabalho, não adiantar quasi nada para os novos horisontes que se descortinam em volta das moléstias tropicaes. Ao Dr. João Martins, somos captivos pela deli- cadeza que sempre nos dispensou e foi quem fez a Ia puncção lombar com exito para vermos. .Terminando aqui só temos phrases de agrade- cimento, louvando a magnanimidade dos Mestres III para com o humilde discípulo, ao qual foram franqueados todos os gabinetes da clinica hospitalar. Ao Distinctissimo Mestre Dr Froes, que sempre nos acompanhou nestes estudos- e que a qualquer tropeço nosso sempre nos dava a sua bondosa e sabia dextra, só temos a dizer que o nosso reconhe- cimento será eterno. Emfim a grande e robusta intellectualidade que a a minha fraca pena, não pode descrever, porem que os meus lábios pronunciam com emphase Dr. Alfredo Britto, eu não tenho expressões para aqui dizer-vos tudo que sinto, diante da maneira carinhosa e cavalleirosa que sempre nos acolheu, quer franqueando-nos a sua bibliotheca, quer na correção de nosso trabalho e na sua orientação. PARTE GERAL Cyloscopia dos derramens HISTORICO Os trabalhos sobre o cytodiagnostico, não datam de muito tempo. Ha apenas dois lustros que scien- tistas de- nomeada iniciaram os seus estudos, porem quatro annos mais tarde foi que o mundo scientifico os sagrou. Assim, em 1882 Lanceraux, Ehrlich, Quincke e Frãnkel, estudando o liquido das pleurisias cancerosas, encontraram cellulas neoplasicas e cha- maram a attenção para a descoberta e o valor diagnostico da natureza da pleurisia. Em outros derramamentos pleuraes examinados histologicamente, também notaram a presença de elementos cellulares; globulos vermelhos, brancos e cellulas endotheliaes, em proporções variaveis. Auché e Garriére, "em 1896, chegaram a estudar, debaixo do ponto de vista cytologico, o liquido de alguns derramamentos hemorrhagicos da pleura. Korczyriski e Wernike, em 1891 e Winiarski, em 1896, insistiram também sobre a importância do exame histologico em um derramamento soro-fi- brinoso; e prevendo a sua evolução, chegaram ás conclusões seguintes: todo derramamento soroso da pleura ou do peritoneu, a ter de ficar puramente 2 soroso e não tender á purulencia, contem quasi que exclusivamente lymphocytos. A verificação da polynucleose neutrophila em um derramamento soroso, indica simplesmente que, este derramamento vae entrar em suppuração, ou que elle é de natureza cancerosa. Trabalhos posteriores teem demonstrado que estas conclusões são erróneas. Devido a estas asserções Lewkowicz, em 1901, reclamou a prioridade da descoberta do cytodiagnostico para os médicos polacos acima citados. Porem, hoje, a scieneia conhece como os creadores dos exames histologicos dos derramamentos Widal e Ravaut. Foi em 1900 que elles apresentaram ao congresso internacional de medicina de Paris os seus primeiros criteriosos trabalhos, fazendo jús à descoberta, e, em 1901 os seus resultados obtiveram o exito almejado e recebéram confirmação plena de Dopter e Tanton. Em 1902, Barjon e Cade apresentavam á Sociedade Medica dos Hospitaes de Lyon as conclusões refe- rentes a 150 pesquizas e alIirmaVam o cytodiagnostico, como methodo de real valor. Assim cabe a Widal e Ravaut a gloria da descoberta. DEFINIÇÃO Gytoscopia é um methodo de exploração clinica baseado no estudo minucioso dos elementos cellu- lares encontrados nos líquidos orgânicos, em suas intimas relações de cellula a cellula. 3 Cytoscopia é um methodo de exploração, pelo qual, fazendo-se o exame leucoytario nos líquidos orgânicos podemos approximadamente diagnosticar certas moléstias. Antes de dividirmos os derramamentos, achamos conveniente dar ideas geraes sobre o nosso ponto e depois então entrarmos em matéria. Assim di- remos que, no seio dos derramamentos soro-fi- brinosos os mais límpidos, ha em suspensão globulos brancos e, as vezes, cellulas endotheliaes e globulos vermelhos em maior ou menor numero. Auctores teem procurado demonstrar que a proporção relativa destes diversos elementos varia com as causas que occasionam a irritação da sorosa. As cellulas não atravessam espontaneamente as paredes de uma pleura ou de uma meninge. Sua presença demonstra sempre lesões destas membranas e todos sabem que, desde que haja a menor irri- tação de uma parte, dá-se a diapedese e se esta irritação é devida á invasão microbiana temos como consequência a phagocytose. Elias são testimunhas da lucta sustentada pela sorosa irritada e nos provam cabalmente, como as reacções histológicas oppostas pelos tecidos lesados differem com a natureza dos agentes provocadores. A formula cellular dos derramamentos soro-fibrinosos não tem somente um interesse sob o ponto de vista da pathologia geral; em razão mesmo de suas variações, 4 seu estudo tem para a pratica uma importância extraordinária. Ninguém ignora que com effeito ha casos onde a observação clinica é incapaz de pre- cisar a origem de um derramamento fibrinoso, e assim a analyse chimica do liquido e a analyse bacteriológica. E nestes casos que o exame cytologico, tornado tão fácil, pelos 'preciosos methodos de coloração d'Ehrlich, pode fornecer ao diagnostico dados deci- sivos. Passaremos em revista e estudaremos, tanto como nos for possivel, pois o nosso empenho é apresentarmos um trabalho modesto, porém com algumas observações, provando assim o nosso es- forço e vontade de escrevermos sobre alguns der- ramens observados por nos. Temos a dizer que difficil é ás vezes a obtenção de formulas cellulares em alguns derramamentos. Assim a formula leucocytaria dos derramamentos peritoneaes de uma interpetração delicada, até hoje, só tem apresentado resultados não satisfactorios. Do liquido pericardico, muito raro e diflicil de obter-se, daremos unicamente noções ligeiras para que não fique incompleta a nossa deficiente expo- sição á qual devemos dar o nome de these de dou- toramento. Desvencilhamo-nos assim da parte theo rica, pois desejamos ter em mira sempre, tanto quanto nos for possivel um trabalho pratico repre- sentando as horas perdidas nos gabinetes, quer ao microscopio, quer no preparo dos derramamentos. 5 Dividimos estes em purulentos, chyliformes, so- rosos, soro-íibrinosos e soro-hemorrhagicos. Nos derramamentos purulentos o exame é fácil. Toma-se uma gotta de pús, espalha-se na lamina, pelos methodos que descreveremos quando en- trarmos na technica das preparações, secca-se, íixa-se e cora-se por um dos processos de coloração com a hemateina-eosina ou methyleno-eosina. Levando-se ao microscopio, veremos leucocytos alterados, em degenerescencia granulo-gordurosa, tumefeitos e transformados em globulos de pús, ou sejam pyocytos. Quando a suppuração é recente, se reconhece a especie de leucocytos que tem tomado parte na formação do derramen, e, quando antiga, é impossível conhecel-os e, portanto impossível o cytodiagnostico. No primeiro caso, isto é, na suppuração recente, na pleurisia purulenta tuberculosa, predominam os polynucleares. Nos derramamentos chyliformes, os exames histologicos são muito variaveis; ora encon- tram-se granulações disseminadas, misturadas de alguns globulos gordurosos e de cristaes, ora não se encontram senão lymphocytos, como num caso citado por Widal e Merklen, e, ás vezes, o liquido, pelo repouso, se divide em trez camadas. Então a primeira camada, a superior, contem granulações íinas, irregulares de 1 a 3, p especie de poeira, e algumas espherulas de gordura; estas granulações não se coram pelo azul de methyleno. A segunda, 6 ou media contem ainda granulações, mas ao lado delias, se distinguem os leucocytos em via de destruição e mal corados, porque já elles não se coram bem. A 3a camada, a inferior, contem raras granulações, lymphocytos e grandes cellulas endo- theliaes isoladas ou reunidas e, em geral, bem coradas. Jossuet attribue á producção das granulações a causa da opalescencia e da lactescencia na dege- nerecencia granulo-gordurosa das cellulas do ex- sudato. A formula cytologica no hemo-thorax trau- mático é a principio egual á do sangue; depois ella se modifica, os polynucleares diminuem. Se o derramamento tende á suppuração, os polynu- cleares augmentam; pensam em contrario a esta theoria Tuffier, Millian, Achard e Loeper. Nos derramamentos soro-fibrinoso e soro-hemorrhagico Wial e Ravaut reclamam uma technica especial, que elles expuzeram em trabalhos oíliciaes que vamos descrever. TECHNICA Quando, logo após a puncção, pode-se centrifugar o liquido, dispensamos sempre a deslibrinação, pois o liquido conservando por algum tempo o calor, com o qual sabe da cavidade, não se coagula e assim sempre fizemos toda vez que se nos aprsentava a opportunidade de examinar qualquer liquido. Se se deixa passar mais tempo, principalmente tratando-se 7 de um liquido fibrino'so, de um derramamento pleural, elle se coagula, não deixando tomar a sua densidade e o coagulo retem em suas malhas os elementos cellulares, tornando assim debalde a centrifugação, pois esta não deixa deposito e portanto é preciso desfibrinar o liquido, empregando-se nesta operação dois processos; a desfibrinação immediata e a r etardada.jAntes de fallarmos da desfibrinação, vamos vêr como se recebe um liquido, a sua quantidade e a sua qualidade. Jà que tratamos do liquido soró-íibrinoso: Io devemos fazer a antisepsia do ponto, lavagem com sabão, depois com álcool e emfiin com ether, man- tendo-se um algodão ou aseptico ou embebido em solução, exprimido e posto sobre o logar. Da parte do cirurgião, antisepsia rigorosa da mão e da seringa que deve estar esterilisada. Se é uma puncção exploradora no caso de uma pleurisia, o medico tem que ver a altura do liquido e introduzir a canula da< seringa, no espaço intercostal, em plena massa liquida, adaptar a seringa e retirar o liquido. Se se trata da thoracentése, é preconisado o apparelho de Potain. Quantidade', para nós, a quantidade pode variar de 2 a 15 c. c., se podendo fazer rigorosamente com 2; porém nós sempre fizemos de 10 a 15. Desfibrinação: Como acima dissemos pode-se dis- pensar a desfibrinação, se logo após a puncção se 8 centrífuga; porém, como nem Sempre se tem tudo á mão, os especialistas na matéria, vendo que o liquido se coagulava, crearam a desfibrinação, para que as preparações sejam mais fáceis a examinar por causa do maior numero de elementos cellulares que ellas conteem. E ha auctores que opinam pela desfibrinação do liquido soro-fibrinoso, logo depois de sua sahida. Para a desfibrinação impiediata, re- cebe-se o liquido em um balão ou em um frasco maior ou menor, conforme a porção do liquido, cujas paredes sejam resistentes e se collocam pérolas de vidro do tamanho de uma semente de ervilha e esterilisadas, para que a fibfrina não as envolva, des- truindo assim o seu valor, como acontece com pé- rolas de vidros de coroas mortuárias. Agita-se o liquido, até á coagulação da fibrina; a agitação com um bastão activa este phenomeno e nos líquidos muito fibrinosos, se obtem em alguns minutos; for- ma-se então um pequeno coagulo que augmenta progressivamente, dando um verdadeiro coalho. As vezes, em logar de uma massa homogenia, obtem-se pequenas porções fibrinosas que, íluctuam no liquido. O tempo que dura uma desfibrinação varia muito, desde um quarto de hora até uma hora e mais. A desfibrinação retardada faz-se (piando o medico não póde levar para casa do cliente tudo quanto é necessário para a cytologia clinica, ou não tendo tempo para fazer estes estudos, envia o liquido para 9 laboratorios, onde vá ser examinado. Nestes casos, durante o trajecto quer para casa do medico, quer para o laboratorio, o coagido íibrinoso se forma e engloba a maior parte dos elementos cellulares. Passadas vinte quatro ou quarenta e oito horas, para fazer o exame cytologico, é preciso pôr em liberdade os elementos contidos no coagulo e, então derrama-se o liquido transsudado e o coagulo fibrinoso em um frasco contendo pérolas de vidro, agita-se o frasco durante uns dez minutos, depois deste tempo o coagulo se dissocia e abandona a maior parte dos elementos que elle encerrava de valor para o exame. E' conveniente não se demorar muito em fazer os exames dos líquidos, principalmente se estes não são recolhidos asepticamente, porque o resul- tado será a alteração dos elementos; ás vezes, cos- tuma-se collocar um cristal de thymol, evitando assim o desenvolvimento de germens microbianos. Widal e Ravaut fizeram experiencias com o oxalato de potassa em solução a 1 e 5 °/0 para evitar a coagulação dos líquidos mais ou menos fibrinosos, porém teve que renuncial-o, por achar diflicil pre- cisar a dose sufíiciente para impedir a coagulação, e o resultado era a formação de precipitados que turvavam o liquido, além do inconveniente das so- luções a 5 0/°, alterarem certos elementos. Não ha receio algum em empregar-se a desfibrinação. Feita como a technica manda, obtemos a fibrina comple- 10 tamente separada dos elementos cellulares. Casos ha em que não se póde desfibrinar, mais isto dá-se muito excepcionalmente e o methodo a usar é o de se receber o liquido e immediatamente centri- fugal-o. Widal e Ravaut, fazendo experiencias para vêr se a desíibrinação alterava os líquidos ou modificava a formula 'cytologica examinaram antes e depois desta operação e não notaram modificação im- portante. Sabrazés e Muratet, que fizeram também investigações, concluíram que a formula era pouco modificada, porque quando dá-se a formação do coagulo fibrinoso, este prende, em suas malhas, algumas cellulas, sobre tudo polynucleares, de sorte que nos exsudatos caracterisados por uma mistura de lymphocytos e polynucleares, a desíibrinação diminue o numero relativo dos polynucleares, e as celllulas endotheliaes não são presas pelo coagulo. Centrifugação: O liquido, livre de íibrina, é centrifugado. Para esta operação, todos os cen- trifugadores são bons, porém o mais adoptado é o apparelho de Krauss e a demora maior ou menor da centrifugação varia com o numero de voltas do centrifugador e com a maior ou menor quantidade de cellulas em suspensão. Assim para o liquido pleuritico são bastantes 15 minutos, para o liquido de uma hematocele ou chylocele também; já não acontecendo assim com os líquidos das ascites e 11 das hydroceles nos quaes leva-se até uma hora para obter o deposito. Com todos os auctores nós dizemos que um liquido está centrifugado, isto é, não contem em suspensão elemento cellular nenhum, quando uma gotta collocada entre duas laminas e levada ao microscopio não contem mais elementos. Olhan- do-se então para o fundo do tubo, vé-se um deposito maior ou menor. Quando vamos centrifugar o liquido turvo pela desfibrinação, decanta-se docemente de maneira a separar a fibrina, feito isto, centrifuga-se e o menor tempo será de 5 minutos. Centrifugado o liquido procede-se á decantação, deixando no tubo, uma pequena quantidade para dissolver o deposito, este fica muito adherente ao fundo do tubo porem coni a quantidade de liquido que deixamos e uma agulha de nós o fazemos despegar das paredes e o diluímos no proprio liquido, por forma a adquirir quasi a fluidez do sangue. Feito isto, agita-se a mistura, depois aspira-se em uma pipeta algumas vezes e, quando torna-se bem homogenea a mistura, espa- lha-se sobre laminas. O processo é o seguinte; depõe-se sobre uma serie de laminas bem límpidas e asepticas, uma gotta pequena da diluição e se espalha, não como se faz com o sangue, mas com uma agulha de pla- tina, ou com a extremidade de uma pipeta fechada que se faz deslisar sobre a lamina, fazendo uma serie de círculos maiores ou menores. 12 O incoveniente de sé espalhar o deposito, como se espalha o sangue, é no deslisar da lamina sobre a outra, esta arrastar os elementos para o fim da preparação, arriscados assim a passarem desa- percebidos. Fixação. Os agentes fixadores podem ser phy- sicos'ou chimicos. Existe uma infinidade de fixadores chimicos, entre elles, os principaes para os nossos trabalhos e dos quaes sempre lançamos mãos foram: a mistura de álcool e ether em partes iguaes ou liquido de Nikiforoíf, vapores de sublimado iodado, acido chromico, álcool absoluto, acido forjnico e, emfim1 o chloroformio, como o peior delles. Fixador physico por excellencia é o calor, que se adapta a qualquer reactivo, sendo para alguns o fixador electivo. A temperatura exigida para uma bôa fixação pelo calor é a de 150° podendo-se, porém, variar de 120° até 180° ea estufa preferida é a de Poupinel. Passamos agora a dizer como se fixam as prepa- rações. 11a dois methodos: o Io que consiste em fazer preparações secca.s que se fixam como as pre- parações de sangue, é o methodo mais empregado ; esta technica foi creada por Widal e Ravaut. . O 2o consiste em examinar o liquido húmido entre lamina e laminula; e, quando tratarmos da coloração do processo, diremos alguma cousa mais. Espalhada, como vimos, com um fio de platina ou a extremidade fechada de uma pipeta, uma pequena 13 gotta do deposito, o liquido é secco, por agitação ao ar, e a preparação é fixada por qualquer rea- ctivo, tendo-se em mira os corantes ou o corante a empregar. Mas como estamos tratando só de fixação, vamos ver como se empregão os fixadores; embeber a lamina secca ao ar durante alguns segundos no liquido de Nikiforoff, ou no chloroformio, deixando em seguida evaporar o fixador, ou senão mais simplesmente collocar sobre a lamina uma porção suíliciente de um destes líquidos até á sua completa evaporação, tendo-se cuidado para o chloroformio em não se deixar menos de meia hora. 2o processo: embeber durante alguns segundos numa solução aquosa de acido chromico a 1 °/0 e lavar em seguida em agua. 3o processo: expor, durante 15 segundos, aos vapores de uma mistura feita nas proporções seguintes: Solução saturada de sublimado no álcool absoluto 20 c. c. Tinctura de iodo nova. . . ; 3 c. c. 4o processo: expòr durante alguns minutos a uma temperatura de 110 a 115° por meio da platina d Ehrlich aquecida pelos vapores da toluena. Fixada a preparação por qualquer dos processos acima citados, devemos seccal-a, porque sempre a preparação fica húmida e então usamos do seccador de vidro bi-tubulado, contendo em um frasco chio 14 rureto de cálcio e munido de uma pera de cautchú com a ({uai se insufla ar secco sobre a preparação atá vel-a secca. Coloração. Diversos são os corantes preconisados para se obter a coloração dos derramens. Cada auctor tem o seu methodo especial que a pratica de todos os dias vae fazendo passar por varias modificações, e assim deixando os methodos geraes, só trataremos dos corantes que nos deram resultado e que são em- pregados no uso geral. Como sabemos, Ehrlich divi- diu as substancias corantes em tres grupos: acidas, basicas e neutras, conforme o seu principio é acido, básico ou a mistura das duas. Temos a notar que dahi as denominações não se relacionam com os signifi- cados chimicos que a sciencia consagrou e que estão em contradicção com elles ; é uma cousa toda conven- cional. A eosina, conhecida como um sal (eosinato de sodio) é chamada uma côr acida, porque o corante é o acido lembrado pelo genero do sal. O azul de mc- thyleno (chlorureto de tetramethylthionina) figura como côrbasica, porque o corante é a methylthionina, representando a base do sal. A triacida de Ehrlich, é côr neutra. O neutraroth ou vermelho neutro, corando as granulações neutrophilas, é neutro por ser um sal acido de uma côr basica. Deante do exposto po- demos dizer quasi que em absoluto, as côres deno- minadas acidas agem sobre o plasma e algumas 15 granulações, as basicas sobre os núcleos, as neutras leem suas predilecções. Entre os corantes mais usuaes ácidos, a eosina se prepara em solução aquosa ou alcoolica desde 1 0/° até 1 por 1.000. Dos corantes básicos, o Io é o azul de methyleno cujas soluções antigas não servem, ao seu fraco poder corante, portanto é de regra sempre renovar as soluções e é usado em formas aquosas ou alcoólicas desde 1 a 2 0/°. A thionina é um corante básico, bom de mistura com o phenico, formando a thionina de Nicolle. A formula é esta. Agua destillada 100 c. c. Thionina 1 gram. Acido phenico 2» Álcool absoluto 10 c. c. A hemateina é também outro corante básico muito preconisado; a formula é a seguinte: Alúmen 50 grammas Agua 1.000» Ferver e ajuntar. Hemateina 1 gramma Álcool a 90° 50 c. c. * Por ultimo, nós temos o reactivo de Leishman ou azul methyleno, blau, que é a mistura de eosina 16 e do methyleno, dispensando fixador pois na sua composição entra o álcool methylico. Agora vamos entrar na technica das colorações. Io processo: fixa-se com álcool e ether a preparação e cora-se pela solução de hemateina, durante 1 a 5 minutos conforme o valor tinctorial da solução; depois lava-se cuida- dosamente em agua e enxuga-se com papel de filtro, colloca-se na e'osina a 1 °/0 um minuto e depois lava-se novamente em agua, secca-se a preparação e monta-se no microscopio uma gotta de oleo de cedro sobre a lamina, se se vae trabalhar com a objectiva de immersão, e então vè se os globulos brancos, se estes são polynucleares, com o proto- plasma corado em roseo pela eosina e os núcleos corados em roxo claro pela hemateina e assim os lymphocytos e mononucleares. Pelo azul de methy- leno-eosina, fixador, o liquido de Nikiforoff; é a mesma technica que para a hemateina-eosina, so- mente se substitue aquella pelo azul de methyleno em solução aquosa ou hydro-alcoolica à 1 °/0. Neste processo os núcleos são corados em azul. Pelo me- thyleno blau a coloração é a mesma. A thionina- eo- sina cora as granulações bosophilas, muito raras; deixa-se actuar a thionina 5 minutos, lavando-se de- pois com álcool que leva os precipitados que por acaso se formam dando muita nitidez á preparação; os núcleos dos leucocytos se coram em azul-violeta. 3o processo: triacida dEhrlich; fixador, o calor a 17 150 0 ou nrais, é o agente fixador por excellencia des- te corante ; qualquer dos outros processos de fixa- ção, quer os vapores de sublimado iodado, quer o chloroformio, não satisfaz O tempo necessário para este corante agir, varia de 5 minutos a uma hora, as granulações neu- trophilas são coradas em violeta, os núcleos em azul esverdiado e as eosinophilas em vermelho brilhante. 4o temos a thionina ou azid polychromo, fixador, o acido chromico a 1 °/0, corar durante õ minutos e lavar em agua. Existe ainda uma infi- nidade de processos, mas estes são os principaes e que na pratica tem dado resultados satisfactorios. Vamos entrar agora no 2o methodo das preparações coradas. Como dissemos, é o methodo das prepa- rações húmidas. Consiste este methodo em exa- minar o liquido húmido e coral-o entre lamina e laminula; este modo de preparação permitte como nas primeiras, fazer uma differe nciação dos elementos cellulares; seus resultados são mesmo mais exactos, quando o derramento é antigo e as cellulas que se acham em suspensão estão já alteradas, resistindo mal a se espalharem na lamina. Foi devido a este methodo que Léon Bernard poude colher os me- lhores resultados no exame cytologico das urinas, onde as cellulas estão muito destruídas. O processo é o seguinte: se deposita sobre uma lamina duas gottas do deposito diluido da centrifugação, deixa-se 18 cahir unia laminula em cima e se examina pri- meiro directamente sem coloração e depois corada. A coloração ou o corante se faz agir da seguinte maneira; collocão-se quatro gottas em logares di- íferentes, porem parallela uma a outra, ou melhor, que estas gottas venham corresponder aos quatro ângulos da laminula, seja esta substancia o azul de nielhyleno a I °/0 ou o azul de Urina diluido e melhor ainda o corante denominado azul de me- thyleno blau. 0 corante sendo este, penetra por capillaridade sob a lamina e cora pouco a poiico os elementos cellulares; com espaço de 5 minutos, a preparação está bôa de se examinar. As hematias coram-se em roseo, os núcleos lixam bem o aztd e as granulações protoplasmicas se coram pela eosina ou pelo azul conforme sejam eosinophilas ou basophilas. Nestas preparações é muito facil diíferenciar um lymphocyto de um mononuclear e reconhecer um polynuclear; não se hesita como em muitas preparações seccas, quando os núcleos dos mononucleares em via de destruição trazem a confusão com polynucleares, ou quando os lobos do núcleo dos polynucleares estão entumecidos e, assim, representam uma só massa e fazem crer que são núcleos de mononucleares. Reconhece-se também muito facilmente as cellulas endotheliaes e neoplasieas. Estas preparações teem o incon- veniente de não se poder conserval-as por muito 19 tempq, mas corando-se com o melhyleno blau que alem de corante é fixador, ou fechando-se com para- fina pode passar alguns dias. Para estas prepa- rações, usamos sempre a objectiva de immersão, porque as outras nem dào augmento necessário, nem transparência. Nestes diversos methodos, ob- teem-se preparações que podem ser examinadas e interpetradas como se fossem preparações de sangue; os elementos que ahi se encontram são os mesmos que existem naquellas preparações, apre- sentando somente algumas diíferenças em sua al- teração, por causa do liquido onde ellas estão em maior ou menor tempo, observando-se demais al- gumas cellulas diíferentes. Muitos delles mesmo representam a lucta phago- cytaria, quer como cadaveres quer cheios de ger- mens. Outros transformam-se, (piando o derramen é purulento em pyocytos e, emfim, nos elementos sãos que íluctuam no liquido, onde se vê cada espe- cimen bem claramente, o scientista ou o micros- copista, faz o exame leucocytario, donde deduz a moléstia, e quantas ve<es horizontes novos vae des- cobrir. E' a contagem globular o ultimo marco resul- tante das preparações que nós acabamos de descrever E' para se fazer a formula leucocytaria, que a sciencia eínprega tantos methodos, tantos processos profícuos, porque quantas vezes o incognoscivel, que os dados clínicos não nos esclarecem, vae se nos 20 desvendar, deante de uma curva hemo-leucocytaria ? Quanto diagnostico sombrio, quanto prognostico terrível, se abranda deante de uma formula leu- cocytaria ? Prompta assim a preparação, isto é, fixada e corada, levamos ao microscopio, se este não tem i platina movei convém adaptar-se, pois ó inteira- mente impossível proceder um exame leucocytario, sem platina movei. Adaptada esta, colloca-se a la- mina no microscopio, usa-se a objectiva de im- mersão 1/i2 (Nachet ou Leitz) combinada com a ocular ' 2 ou 3 (Nachet ou Leitz); querendo ainda pode-se usar a objectiva C (Zeiss) combinada a ocular III (Zeiss). A platina movei permitte todos os movimentos, antero-posterior e lateral, de forma que assim será corrida em todas as direcções a lamina e, portanto, contados todos os globulos brancos, vermelhos e mais elementos cellulares que ahi forem encontrados. Ila auctores qua dizem ser bastante contar cem globulos, outros tresentos para se fazer uma for- mula leucocytaria, mas nós, com a maioria dos auctores e mesmo no intuito de nos afastarmos de causas de erro, sempre contamos quinhentos ele- mentos cellulares no minimo e, sobre este numero, fazemos a porcentagem. Tivemos também o cuidado de fazer pelo menos tres preparações e estas coradas por diversos processos, para que não nos passasse desapercebida alguma forma cellular, comparavamos 21 depois os resultados das tres laminas e, sempre que não achavamos concludentes os nossos tra- balhos, abandonavamos, para fazer novamente. Contados os quinhentos elementos cellulares, vê-se o numero de cada especie de globulos e estes serão divididos por cinco, o numero achado é a porcen- tagem de globulos por cento, em m. m. cubico do derramamento e assim estabelecemos a formula leucocytaria. PRIMEIRA PARTE CAPITULO 1 Elementos cellulares das sorosas normaes e pathologicas; derramamentos pleuraes não tuberculosos e tuberculosos Será o nosso assumpto neste capitulo o estudo das cellulas contidas nas sorosas pathologicas, mas antes de entrarmos nesta parte, achamos razoavel que deveremos dizer alguma cousa sobre as sorosas normaes, para que o leitor não diga que não sabe ou desconhece o que se passa nas sorosas physi- ologicas, para saber se, de facto, a sorosa está pathologica. «Tentando o mais que for possível, preencher lacunas no nosso delliciente e modesto trabalho, eis o nosso traçado» Assim diremos que, investigações feitas por Sabrazés e Muratet no boi demonstraram que o liquido das sorosidades con- teem uma mistura de globulos brancos e erytKro- cytos, demonstrando que o sacco soroso nao é simplesmente um sacco lymphatico como se aflirmava. Na verdade encontram-se ahi maior numero de leucocytos, do que no sangue normal e, são repre- sentados por diversas especies; pelo polvnucleares, 24 mononucleares e eosinophilos, encontram-se também cellulas endotheliaes isoladas ou soldadas e phago- cytos cheios de destroços cellulares ou bacterianos. Outras experiencias feitas, por Nobecourt e Bigart nas sorosas do cobayo no estado physiologico, deram na sorosidade peritoneal os resultados seguintes; leucocytos mononucleares, lymphocytos, polynu- cleares eosinophilos (1 a 60 °/0 e grandes cellulas endotheliaes. Nas sorosidades pleural e pericardica acham-se as mesmas formas ; na sorosidade articular o numero de cellulas é diminuído ou mesmo contem poucas cellulas. O numero cellular e a proporção das diversas especies variam muito de um caso a outro. Dito assim em traços ligeiros o que são as sorosas normaes, vamos descrever as sorosas patho- logicas e seja o nosso primeiro assumpto os derra- mamentos pleuraes. ' Derramamentos pleuraes. E' sobretudo no estudo das sorosidades pleuriticas que a cytoscopia tem sido applicada e onde a clinica tem colhido maior numero de dados para os seus diagnósticos, e por- tanto devemos começar pelo exame dos derramens da pleura. E' de maxima importância a exploração do conteúdo pleural, todas as-vezes que ha accumu- lação de liquido em sua cavidade. Ainda mais quando, nós não sabemos se este liquido é soroso, puru- lento, hemorrhagico, chyliforme ou qualquer liquido de outra natureza. E não se pode responder de uma 25 maneira decisiva, senão quando, fazendo-se a puncção exploradora e retirando um pouco do liquido. Pará fazermos a puncção exploradora os methodos de anti- sepsia, quer da parte do medico, quer da parte do paciente, já eu deixei exarado na parte preliminar, deixando somenté de falar da capacidade da seringa, de que agora me occuparei. Não se deve fazer uma puncção exploradora com uma seringa de Pravaz; primeiro porque corre grande risco da agulha que- brar-se .dentro, devido a qualquer movimento do doente; segundo, o diâmetro da agulha, sendo muito pequeno e mesmo o comprimento, o resultado é ser obstruída pelo menor coagulo ou não attingir o desi- deratum; 3.° é as vezes o indivíduo ser gordo, ou haver grande edema da parede thoracica e, a agulha não penetrar na pleura. Por isso preconisamos as seringas de 10 a 15 centímetros cúbicos ou a siringa de Tuflier porque sempre as empregamos, cujascanulas medem 6 cen- tímetros, são bastante compridas e o diâmetro re- gular. Introduzida a canula ou a agulha no espaço intercostal escolhido, na parte posterior do thorax, adapta-se a seringa, tendo o máximo cuidado de evitar a entrada do ar; faz-se a aspiração e o liquido précipita-se dentro da seringa. Ahi veremos a côr e poderemos dizer da especie de certos líquidos. Retirada a quantidade que desejamos, seja 15 ou 20 centímetros cúbicos, retira-se rapidamente a 26 agulha e colloca-se no logar da solução de conti- nuidade feita por esta, uni algodão aseptico, em- bebido de collodio ou taífetá gomrnado e sobre este uma cruz de sparadrapo, e assim fechamos a poria de entrada feita por nós. Antes de entrarmos na descri peão de cada especie de derramen primeiro trataremos de sua divisão. Ha auctores que dividem os derramamentos pleuraes, pelo exame dos leucocytos e dizem; derra- mamentos mecânicos ou hydrothorax e derrama- mentos inílammatorios ou pleurisias. Outros dividem ou classificam os derramamentos baseando-se em sua natureza. E dividem estes; pleurisias tuber- culosas, pleurisias não tuberculosas e eosinophilia pleural. Outros ainda dividem do seguinte modo; primeiro pleurisias tuberculosas, entre o quaes contam-se; a pleuro tuberulose primaria, aspleurisias secundarias entre os tuberculosos e os hydropneu- motharax tuberculosos. Segundo, pleurisias não tu- berculosas; umas sépticas; pleurisias de pneu- mococcus, á estreptoeoccus e de bacillo de Eberth; outras asepticas, derramamentos mecânicos dos car- díacos, dos brighticos, derramamentos leucemicos e cancerosos. Os derramamentos de origem me- cânica dos cardíacos e dos brighticos, conteem pequeno numero de leucocytos, raros são os lym- phocytos. Encontram-se pelo contrario cellulas alteradas, 27 agrupamentos endotheliaes de quatro a oito cellulas. Nos casos de infarctus sob-pleuraes podenrapparecer os polynucleares como teem demonstrado, Barjon, Cade, Achard e Laubry. Continuando a dizer alguma cousa sobre os deframamentos asepticos; elles estão na divisão das pleurisias não tuberculosas e em uma subdivisão, na qual, estão os derramamentos ditos em apparencia asepticos, estando a causa da sua pathogenia, ora nas pertubações circulatórias ou mecanicas e alterações toxicas e assim dizemos, pleurisia dos cardíacos, dos brighticos e derra- mamentos consecutivos a lesões de visinhança, par- ticularmente as lesões do ligado ou hepaticas. As cellulas como já nos referimos nas pleurisias brighticas e cardíacas, se apresentam além do agrupamento, sob o aspecto de uma massa de fornia polycyclica, na qual cada elemento se reconhece pelo seu núcleo, sendo os limites impossíveis de reconhecer, pelos processos de coloração em uso. Quando ellas não formão agrupamentos, soldam-se duas a duas, apresentando uma especie de estran- gulamento no ponto de união; outras vezes parece que a segunda é germinação ou geminação da pri- meira. A coloração com a hemateina-eosina é a escolhida porque cora melhor estas cellulas; o protoplasma cora-se uniformemente em roseo e o núcleo em violeta. Quando o derramamento é recente, ha tão 28 grande abundancia dos agrupamentos que elles enchem quasi todo o campo, do microscopio; á pro- porção que o derramamento envelhece, os agru- pamentos diminuem de numero e são substituídos pelos lymphocytos que allluem no derramamento. A proporção que as cellulas diminuem, ficam hydro- picas, fanadas e separana-se, então ao lado das •cellulas normaes acham-se nos derramamentos an- tigos, elementos volumosos e amorphos corando-se egualmente; facil é de diagnosticar que são cadá- veres de cellulas endotheliaes. Não se dá o altera- mento cellular com facilidade e para demonstrar, basta citar um facto no qual Widal e Ravaut foram os observadores e dizem ter acompanhado, durante tres mezes o derramamento de um brightico, seguindo as modificações cellulares soffridas pelo liquido, sempre encontrando cellulas endotheliaes soldadas. Convém dizer que quando se leva uma preparação desta ao microscopio, não é necessário grande aug- mento, basta trabalhar com uma objectiva fraca, principalmente em certos casos. A presença de grandes agrupamentos em um derramen, sendo este mesmo muito rico em lym- phoeytos ou em polynucleares, sobrevindo em um cardíaco, ou em um brightico não se deve pensar na origem tuberculosa. As pleurisias sobre tudo entre os cardíacos não tèm sempre uma evolução regular e uniforme; inci- 29 dentes diversos determinam no pulmão congestões, infarctus pulmonares e embolias que, repercutindo sobre a pleura, determinam modificações da formula cytologica como acima já me referi. Quando a con- gestão é intensa, junto aos elementos que já conhe- cemos, apparecem hematias, e os polynucleares aug- mentam; quando ella diminue, os polynucleares também diminuem e as pleurisias determinadas pelos infarctus pulmonares são as mais ricas destes elementos. Elias podem conter até 95 °/0 de polynu- cleares, ao mesmo tempo que nestes líquidos, as cellulas endotheliaes se alteram muito depressa e, se isolam, achando-se sempre um certo numero de elementos soldados. Assim a formula leucocytaria pode modiíicar-se rapidamente de uni dia para outro e isto teem apreciado Ravaut, Barjon e Gade. O que causa admiração nestes derramens é a enorme quantidade de polynucleares e o liquido não tomar o aspecto purulento, pelo contrario fica soro-fibrinoso e os doentes curam-se ás vezes rapi- damente. A presença da polynucleose traduz um estado congestivo da pleura dévido á inflammação do pulmão sobjacente, ella é devida a uma corrente de diapedese atravez dos vasos. O exame cytologico do liquido vem nos dizer do estado anatomico da pleura e do pulmão. As embolias pulmonares, como já dissemos, também provocam provavelmente in- farctus superfieiaes, determinando derramamentos, 30 apresentando uma formula semelhante á que nós acabamos de escrever. Em um doente acomettido de phlebite, Widal e Ravaut, teem achado eellulas endotheliaes, alguns lymphocytos e grande numero de polynucleares, depois de embolias pulmonares seguindo uma pleurisia assás abundante; alguns dias depois a polynucleose diminue, continuando em equilíbrio o numero de eellulas endotheliaes soldadas. Passaremos agora a tratar da segunda especie das pleurisias em apparencia asepticas e vem em primeiro lugar as pleurisias consecutivas a tumores malignos dos pulmões. Estas pleurisias são muito raras entre nós e mesmo Widal e Ravaut dizem ter visto somente tres casos soro-fibrinosos, tendo em todos feito o exame anatomico. No primeiro caso, dizem os grandes mestres, tratava-se de uma pleu- risia dupla; o liquido continha erythrocytos, nume- rosos agrupamentos endotheliaes, lymphocytos e alguns polynucleares. No segundo, o liquido con- tinha numerosos agrupamentos endotheliaes, e al- guns lymphocytos e hematias; mas, sobretudo, nume- rosas eellulas de um tamanho mais considerável do que o das eellulas endotheliaes, chmando atteneão pelo volume e numero. No teroeiro caso, o liquido era francamente hemorrhagieo e hemoglobinico, con- 31 tinha hematias, alguns polynucleares e lymphocytos muito alterados; não se achando nem cellulas, can- cerosas, nem endotheliaes. Estudando, portanto, os tres casos, vemos que a formula leucocytaria pouca alteração soífreu de um para outro, porem não é constante. Do exposto vemos qne esta formula pode variar nos derramamentos pleuraes tratando-se de cancros p leu ro-p ulmo n ares. observamos que em um certo numero de ca- sos, tem se achado cellulas neoplasicas destacadas ou sahidas dos lymphaticos, que estão entumecidos. Frankel encontrou em um liquido de pleurisia sar- comatosa, cellulas notáveis pelas suas enormes dimensões, e aflirma elle serem maior de que um lymphocyto quatro a dezoito vezes; ellas apre- sentam-se redondas isoladas ou agrupadas e conteem vacuolos maiores ou menores. Shwable attribue a presença destes elementos um valor diagnostico de maxinia importância. Widal e Ravautobservaram um caso no qual o derramamento continha também numerosos agrupamentos endo- theliaes, alguns lymphocytos, erythrocytos e sobre- tudo abundantes cellulas 'sarcomatosas mais volu- mosas que as cellulas endotheliaes ordinárias. Examinadas no estado fresco entre uma lamina e laminula os elementos appareceram cheios de gra- nulações refringentes é aqui e ali vacuolos, lembrando 32 os que se encontram no protoplasma das cellulas endotheliaes em caminho de destruição. Pelos methodos geraes de coloração o protoplasma destas cellulas é comparável a uma escumadeira. e o núcleo apresenta-se sobre um grande numero destes elementos parecendo estar passando pelas diversas phases da karyockinese, ou formando cadeias filamentosas e algumas das cellulas contendo granidos de glycogenio, não são estes mais abundantes do que nas cellulas endotheliaes ordinárias. A probabilidade de encontrarmos cellulas cance- rosas cabidas no liquido pleural, como acima já nos referimos, é devido ao entumecimento e depois a rutura de um lymphatico, ficando ellas monstruosas e hydropicas. Em um caso de pleurisia hemorrha- gica, como consequência de um sarcoma da pleura, secundário a um sarcoma do ovário, Labbé, Armand, Delille e Aguinet têm achado uma formula cyto- logica analoga ás feitas em outras especies de tumores malignos da pleura. Feita uma preparação deste liquido, collocando-se uma gotta sobre uma lamina e deixando cahir uma laminula em cima e examinando-se ao microscopio assim, sem ser corada, vêm-se grandes cellulas sarcoma tosas apparecerem como grandes placas arredondadas ou ovaes, muito gra- nulosas, nomeio das quaes destacam-se um ou dois núcleos mais claros e não granulosos, com um ou dois grandes nucleolos; encontram-se alguns corpos 33 em virgula menores que o núcleo em numero de uni a dois, incluídos no protoplasma e estas cellulas são destituídas da mobilidade, Corando-se, depois pela hemateina-eosina as grandes cellulas se apresentam com formas e di- mensões muito variaveis, porém umas, guardando a mesma conformação acima descripta, outras, irre- gulares e munidas de prolongamentos. Quanto ás dimensões, umas são do tamanho dos mononucleares e muito difficil de se distinguir destes, outras, muito maiores, chegam a ter tres ou quatro vezes o diâmetro de um grande mononuclear. As vezes ellas estão isoladas no liquido, outras vezes reunidas, formando agrupamentos de tres, quatro e até vinte, occupando assim todo o campo do mi- croscópio. O protoplasma cora-se bem pelos corantes neutros, e este não contem granulações coradas pela triacida, apresentando em um grande numero de cellulas inclusões irregulares, representando globulos vermelhos, brancos, destroços cellulares e alg-uns pelo aspecto estranho, são tomados como parasitas, como se tem descripto nos cancros. Em outros proto- plasmas, ha numerosos vacuolos pequenos e múl- tiplos, ou volumosos e únicos. No proprio núcleo pode haver vacuolos. Os núcleos são em geral grandes, ovaes ou reni- formes obedecendo assim á disposição das cellulas; possuem um, dois ou tres nucleolos também grandes 34 e muito apparentes; sendo os núcleos únicos nas pequenas cellulas; são geralmente múltiplos (dois, quatro e mais) nas grandes cellulas e alguns destes elementos eslão em via de degenerescencia. Exa- minadas depois da acção dos vapores de iodo na levulose, algumas das volumosas cellulas se mostram infiltradas e de uma maneira diífusa, ou sob forma de granulações glycogenicas. Em outros casos a formula do derramamento nada tem de especifica, acham-se agrupamentos endotheliaes, lyrnphocytos, polvnucleares e uma proporção variavel de hematias. VVidal e Ravaut, observando uma pleurisia con- secutiva á um sarcoma do pulmão, exprimiram-se como acima relatei. Continuando a estudar as pleurisias ditas asep- ticas, vamos tratar dos derramamentos dos leuce- micos. Ehrlich distingue duas theorias: primeira, derra- mamentos cuja causa está na penetração accidental das bactérias pyogenas; estes conteem em seu seio leucocytos polynucleares e lyrnphocytos. Segunda, derramamentos, espontâneos e mecânicos. Strauss, Milchner e Ehrlich encontraram no liquido pleural os elementos caracteristico do sangue. Milchnef achou no liquido de uma ascite leucemica mastzellen em um numero superior, proporcionalmente as destas cellulas no sangue. Sicard e Monod, em um caso de pleurisia desenvolvida no decorrer de uma leu,- 35 cernia, acharam que a formula leucocytaria é quafei egual á do sangue, encontrando comtudo formas anormaes, mononucleares neutrophilos e eosino- philos. Estes mesmos auctores, em um caso de leu- cemia myelogena, tèm encontrado no derramamento pleural uma variedade cellular notável. Assim expri- mem-se elles; elementos cellulares do sangue, poly- nucleares neutrophilos e eosinophilos myelocytos eosinophilos, neutrophilos e basophilos, hematias nucleadas, formas de transição e todos estes ele- mentos em proporção sensivelmente a mesma, como na corrente circulatória. Lymphocytos em pequeno numero e grandes cellulas endotheliaes, isoladas ou soldadas. Nestes casos, pensam elles que o derra- mamento tem uma pathogenia mecanica. Mareei Labbé em um caso de leucemia lymphatica examinou o liquido de um derramamento pleural e concluiu, dizendo que, o liquido era hemorrhagico e continha maior numero de globulos vermelhos, uma grande proporção de lymphocytos, (sendo um para vinte de hematias); não havendo leucocytos polynucleares, nem agrupamentos endotheliaes; as que se achavam na massa liquida eram eguaes ás do sangue. Entre- tanto, foi impossível se diagnosticar se o derra- mamento foi mecânico; porque a formula leuco- cytaria fallava em favor da pleura tuberculose e terminam elles, dizendo que, em falta da autopsia é da inoculação do liquido pleural, é impossível 36 afiirmar que não se trata de uni derramamento tuberculoso. Nas pleurisias consecutivas a um abscesso do íigado, Widal e Ravaut demonstraram como um derramamento soro-fibrinoso pode se desenvolver consecutivamente á um abscesso do ficado, e o resultado do exame microscopico do liquido foi o seguinte; agrupamentos endotheliaes, lymphocytos e polynucleares em maior ou menor numero. Em uma outra pleurisia soro-íibrinosa aseptica Ravaut, achou uma formula analoga a precedente. Nas pleurisias syphiliticas Widal e Ravaut dizem, num caso de pleurisia sobrevindo no decorrer do periodo secundário da syphilis, ter encontrado grandes cellulas endotheliaes isoladas e soldadas, alguns polynucleares e grandes mononucleares eosi- nophilos; um segundo exame feito dois dias após o primeiro, elles verificaram ainda cellulas endotheliaes (35%), lymphoçytos (22 %), grandes mononucleares eosinophilos ( 37 % ) e grandes mononucleares neutrophilos (6%). A singularidade desta formula é um argumento em favòr da especificidade das pleu- risias ao estado roseolico. Nas pleurisias rheuma- tismaes Castaigne e Rathery, em seis casos desta especie, sobrevindo no decorrer de rheumatismo articular agudo, tiveram resultados contrários. Nas experiencias de Castaigne foram somente encon- trados polynucleares; havendo leucopenia lynipho- 37 cytica e de monucleares, sendo muito raros os agru- pamentos endotheliaes ; nas experiencias de Rathery, as cellulas endotheliaes predominavam e ao lado delias se viam polynucleares, mononucleares e havia polycytemia. Dopter também cita um caso que classi- ficamos no ultimo grupo de experiencias. Jarvis pensa que estas duas formulas distinctas corres- pondem talvez a pathogenias differentes, sendo certos derramamentos devidos a uma congestão sob pleural e os outros á uma verdadeira inflammação pleural. Nas pleurisias diphtericas J. Courmont e F. Arloing estudaram as cellulas das pleurisias produ- zidas experimentalmente no cobayo por inoculação de culturas ou de toxinas diphtericas, e encontraram notável quantidade de hematias, algumas cellulas endotheliaes e mononucleose. Widal eRavaut, fazendo os mesmos estudos chegaram ao mesmo resultado. Finalizamos aqui o estudo das pleurisias asepticas e, para seguirmos uma certa ordem, passaremos a estudar os derramamentos sépticos Achamos que não se devia rigorosamente attribuir aosderramamantos soro-fibrinosos não tuberculosos o termo - séptico - senão quando, investigado o li- quido pelos exmes microscopicos ou pelas culturas dessemos com a presença de bactérias pathogenas. 38 Também sabemos, é verdade, que os microbios, ao contacto bactericida dos líquidos soro-fibrinosos, perdem rapidamente sua virulência e terminam mesmo desapparecendo do derramamento. A pre- sença do microbio infectuoso é quasi sempre impos- sível de se descobrir; dependendo tudo do estado quando se der o derramamento. Passaremos á tratar das pleurisias pneumonicas; nestas o liquido é caracterisado pela polynucleose neutrophila, cujo numero absoluto e a propocão relativa estão em relação com a riqueza microbiana do exsudato e sua formula histológica varia com a evolução sympto- malica. Qbserva-se desde o inicio destes derramamentos, algumas cellulas endotheliaes ainda soldadas em agrupamentos, polynucleares ém maior ou menor numero e erylhrocytos. Quando o derramamento augmenta e fica clinicamente apreciável, ha poly- nucleose e cellulas endotheliaes; estas alteram-se rapidamente nos líquidos sépticos e se separam umas das outras, tanto mais quanto o exsudato é mais séptico. Elias se intumescem rapidamente tomando um aspecto tal que não se as pode distinguir dos grandes mononucleares, com os quaes ellas compar- tilham das funcções phagocytarias. Foram estas transformações que levaram Cornil a admittir a identidade dos dois elementos eellulares, isto é cellula endolhelial e grandes leucocvtos mono- 39 nucleares. Portanto um certo numero destas grandes cellulas vão ser magrophagas e encontra-se, cons- tantemente, nas pleurisias pneumococcicas, um grande numero de cellulas isoladas, cujo proto- plasma contem e dige.re polynucleares alterados. Alguns destes polynucleares se coram ainda bem, outros se coram ligeiramente e mal, apre- sentando vestígios de seus núcleos; em outros constata-se, ás vezes, uma phagocytose microphagica pequena, exercida pelos polynucleares sobre os agentes microbianos. Sabrazés e Muratet teem feito investigações nos líquidos pathologieos e demonstraram que, mesmo nas sorosas normaes, as grandes cellulas endotheliaes separadas e isoladas podem gozar da faculdade da leucocytolyse e podiam contribuir desta forma para a defeza phagocytaria do organismo são. Widal, Ravaut e Dopter têm insistido sobre a evolução e o papel phagocytario da cellula endothelial nos derramamentos pathologieos das sorosas. Para resistir á defeza contra a infecção, esta cellula se separa, se isola, fica espherica e toma o aspecto dos grandes mononucleares, (piando ellas teem que exercer a funeção macrophagica. A pleurisia pneu- mococcica pode evoluir de duas maneiras; pode ella curar-se com desapparecimento dos microbios e no- ta-se a diminuição dos polynucleares e apparecimento de algunslymphocytos, ou ainda pode ella se terminar 40 por purulencia, e nestes casos, o desenvolvimento dos microbios continua, e ha polynucleose. Notam-se nestes derramamentos alterações muito frequentes dos polynucleares que apresentam todas as modi- ficações descriptas sob o nome de kariolyse. Encontram-se muitas vezes no campo da preparação massas protoplasmicas, apresentando no centro uma, duas ou tres espheras, algumas vezes mais, tanto menores quanto mais são ellas numerosas. Estas espheras representam os fragmentos do núcleo, e quando a esphera é unica ; é central e o protoplasma retrahindo-se pode-se muito bem confundir o poly- nuclear alterado com um lymphocyto; mas felizmente ha um meio de evitarmos o engano, se fazem-se pre- parações ou se coram-se pela triacida dEhrlich, notam-se granulações neutrophilas, em torno deste núcleo. E' preciso não haver descuido da parte do mi- croscopista, porque não se sabendo destas alterações, é facil tomar-se certos polynucleares alterados por- lymphocytos ou myelocytos mononucleados neutro- philos, acarretando assim com a perda do cytodiag- nostico, hoje de maxima importância e dando interpetrações outras que podem ser até funestas ao doente, senão de prognostico mortal. Enifim outros leucocytos polynuclares solfrem uma destruição di- ílerente da que nós nos referimos mais acima, sob o nome de pyenose, e o núcleo das cellulas endolheliaes soifre uma alteração rapida. Nas pleurisias strepto- 41 coccicas o exsudato pode ser egualmente soro- fibrinoso; e são mais raras que as precedentes. Os derramamentos desta natureza são coetanosda bron- cho-pneumonia e todos dão cultura puras de stre- ptococcus. Ila auctores que dizem que o exsudato destas pleurisias contêm cellulas endotheliaes, outros dizem que existem algumas e estas a maior parte isoladas, numerosos polynucleares e estes aug- mentam de numero muito rapidamente e ficam quasi os únicos elementos cellulares do derramamento, quando este de soro-fibrinoso, fica purulento. Nas pleurisias eberthianas (pleurolyphus), também cha- madas pleurisias typhoidicas, é muito frequente, no decorrer da febre typhica ; o appareeimento de derra- mamentos pleuraes, sobre tudo se se tem o cuidado de os procurar systematicamente; elles se complicam, muitas vezes, de grandes congestões pulmonares, evolvem muitas vezes socegadamente, isto é sem dores, sem que o doente accuse cousa alguma, e só são reconhecidas graças, á puncção exploradora. Estas pleurisias, que se apresentam no declínio ou na convalescença da dothieneteria, são soro-íibri- nosas, hemorrhagicas ou purulentas. Sobre onze casos examinados por Widal e Ravaut, somente em tres. elles encontraram o bacillo de Eberth. Quando a pleurisia é soro-fibrinosa, contem sempre um grande numero de erythrocytos; encontram-se alguns polynucleares, ás vezes lymphocytose e constante- 42 mente grandes cellulas endotheliaes soldadas; quando é hemorrhagica se encontra de 50 a 60 °/0 de polynu. cleares neutrophilos em media e os outros elementos são representados por lymphocytos e algumas ce- llulas endotheliaes soldadas; estando muitas dentre ellas isoladas e encontra-se um numero bem consi- derável de hematias. Nesta especie de pleurisia os elementos são tão bem conservados que se. se põde- ssemos eliminar as cellulas endotheliaes se julgaria, olhando uma preparação aflirmar ser de sangue. Ha auctores que levam a porcentagem dos polynucleares até oitenta por cento. Quando a pleurisia é sorosa, a formula histológica é egual á soro-íiibrinosa e, por isso, não nos demoramos em expôr. A formula das pleurisias desenvolvidas durante a febre typhica nada apresentam de bem caracteristica ellas se parecem com as pleurisias que acompanham as congestões pul- monares, mas em todo caso o ponto mais importante é que ellas dilferem completamente da formula das pleurisias tuberculosas. Ha auctores mesmo que ainda não as estudaram debaixo do ponto de vista cytoscopico. Auctores ha que absolutamente não trataram da eosinophilia pleural, mas (piando nós demos'a di- visão dos derramens no começo deste capitulo, citamos nas divisões esta.especie de pleurisia e agora achamos 43 obrigado a nosoccupar delia e porissso passaremos a descrevel-a. Dentre os auctores que não se occupam da eosinophilia pleural, podemos citar o zÀchard, Bezançon e Labbé e Leias; incluindo mesmo, o penúltimo destes auctores, a pleurisia syphilitica nas pleurisias asepticas, a qual nós acceitamos, quando também, ella faz parte das eosinophilias pleuraes segundo a divisão de Widal e Ravaut. A eosinophilia pleural foi observada por estes auctores em quatro casos e devido ao seu aspecto e as condições de determinar sua natureza, elles acharam impossível de a collocar nas divisões precedentes. Então elles se resolveram a fazer uma classe aparte e assim a sua primeira observação foi sobre uma eosinophilia, em um derramamento pleural do periodo secundário da syphilis. Cabe a gloria da descoberta a Chantemesse porque foi o primeiro á fazer estes estudos e em seguida a Widal e Ravaut os quaes aflirmam serem especiaes debaixo do ponto de vista clinico; ellas seguem a marcha da roseola, são pouco abundantes, de ambos os lados, de pequena duração e são dominadas pelo tratamento antisyphilitico. 0 unico caso que elles poderam estudar, debaixo do ponto de vista da cytoscopia, foi em um doente já terminando a sua erupção; era o derramamento pouco abundante, desappareceu muito depressa e não poude ser ino- culado. Feito o exame microscopico deste, elles encon- 44 traram cellulas endotheliaes soldadas e isoladas, alguns polynucleares, lymphocytos e grandes mono- nucleares eosinophilos. Em um segundo exame feito dois dias depois deu o resultado seguinte: Cellulas endotheliaes .... 35 °/0 Lymphocytos. r 22 » Grandes mononucleares eosino- philos 37 » Grandes mononucleares neutro- ' philos 6 » Feito o exame do sangue nào foi visto nada de anor- mal. A presença destes mononucleares neutrophilos e eosinophilos é inteiramente notável, porque foi o único derramamento no qual elles acharam estas espe- cies de leucocytos. Na eosinophilia pleural, durante o ('.urso da febre typhoide, em um doente ha vinte e dois dias accommettido desta enfermidade, appareceu um derramamento soro-íibrinoso considerável, nada auctorisava clinicamente a suspeitar que fosse de origem tuberculosa e seis culturas feitas em meios apropriados e dilferentes deram resultado negativo. Por fim inocularam em tres cobayas, doses variadas e em uma que inocularam doze c. c., também nada teve, foi sacrificada trinta dias depois, não apresentando nenhuma lesão tuberculosa. O exame cytologico do liquido deu o resultada seguinte, vinte e tres °/0 de polynucleares eosinophilos e um nu- 45 mero variavel de lymphocytos, mononucleares e celllulas endotheliaes. A pleurisia foi curada em dezesete dias e o exame do sangue foi feito, encon- trando-se dois a quatro °/0 de eosinophilos. Na eosi- nophilia pleural em um doente accomettido de tuber- culose pulmonar, sem antecedentes syphiliticos, sentiu depois de quatorze dias um ponto doloroso do lado e, feita a exploração thoracica, encontrou-se signaes de um derramamento grande. Fez-se a puncção, sahiu um liquido hemorrliagico, cuja formula histo- lógica foi a seguinte: Polynucleares eo-sinophilos . . 54°/0 « « neutrophilos . . 6 » Lymphocytos 40 » Inocularam o liquido em cinco cobayas todas morreram muito rapidamente embora as doses ino- culadas tivessem sido fraquíssimas. O sangue do doente continha dois e cinco °/0 de eosinophilos. Na eosinophilia pleural em um doente no qual nãose aílir- mou diagnostico clinico, tratava-se de uma pleurisia fechada que tinha acommettido um velho medico da marinha, apresenlava'um íigado grande e ganglios axillares e inguinaes hypertrophiados, chegou a se fazer juizo de um abscesso do fígado, mas as puncções foram todas negativas; pensou-se também em um neoplasma hepático ou em uma leucemia, mas o exame do sangue demonstrou que havia uma ligeira 46 leucocytose com modificação do equililjrio leuco- cytario e o liquido pleural continha: Polynucleraes eosinophilos . . 14 °/0 Lymphocytos 86 » Uma cobaya inoculada morreu em vinte e quatro horas e as culturas feitas com o liquido foram todas negativas. Em nenhum destes casos não se ponde fazer a experimentação para determinar a natureza destes derramamentos, devido a toxidez extrema que os liquidos apresentavam. Inocularam nove animaes, todos morreram muito rapidamente exceptuando um que foi inoculado em fraca dose. Raramente também encontram-se nas pleuro-tu- berculoses primitivas no principio de sua evolução a polynucleose eosinophilica tão intensa, quanto nos casos precedentes. No momento actual da sciencia é impossvel se precisar da significação deste syniptoma e deixaremos que o estudo acurado de novas inves- tigações, venham sem duvida nos esclarecer. () que é facto e interessante é uma eosinophilia pleural não estar em relação com uma eosinophilia sanguínea e que nos* appareça somente com uma localisação especial em todos estes casos. Passaremos agora a tra tar das pleurisias tuberculosas. 47 Pleurisias tuberculosas Segundo á divisão de uns, pleurisias tuberculosas, segundo a de outros derramamentos inflammatorios, se subdividem, em pleurotuberculose primaria, pleu- risias secundarias nos tuberculosos e hydropneumo- thorax tuberculosos. As pleurisias soro-fibrinosas de natureza tuber- culosa se apresentam em clinica de formas diffe- rentes; ora como uma affecção vindo bruscamente em pessoas de forte apparencia, constituições magni- ficas e portanto parecendo livres da tara tuberculosa e a cura sendo a terminação habitual. Outras vezes trata-se de pleurisias sobrevindas em indivíduos portadores de lesões pulmonares adiantadas. Estas duas variedades de pleurisias, si bem que muito diíferentes em seus aspectos clínicos, teem como causa etiologica ou etio-pathogenica o mesmo factor: o tubérculo. A grande culminância que se chama Landouzv foi quem primeiro demonstrou que as pleurisias de apparencia primitiva, eram de natureza tuberculosa, assim como as pleurisias secundarias desenvolvidas nos tisicos. Com muito prazer adoptamos os termos de pleurotuberculose primitiva e pleurotuberculose secundaria, porque foi esta cerebração genial quem assim designou, estas duas variedades de pleurisias e, ellas teem formulas leucocytarias diíferentes, 48 como nós teremos occasião de ver, com o desenrolar dos assumptos, sobre uma, e depois sobre outra. Pleurotuberculose primitiva ou pleurotlbercu- lose primaria, é a pleurisia idiopathica ou á figore dos antigos andores. Ella pode ser observada em todas as idades, porém é mais particularmente uma moléstia da idade adulta, se mostrando com seu máximo de frequência entre vinte e quarenta annos. Rara entre os meninos abaixo de dez annos, ella, entretantanto, foi observada nos meninos de mama. Os velhos são menos sujeitos e, entre elles, a maior parte dos derramamentos são devidos a infarctus pulmonares. Vamos tratar de algumas causas occasi- onaes ou predisponentesdaspleurisiassoro-fibrinosas. Em primeiro lugar falaremos do resfriamento. O resfriamento, que antigamente era invocado como causa quasi unica, não tem senão uma importância minima; elle deve ser tido somente como causa occasional como acima disse, capaz de diminuir a resistência local e geral em um organismo que traz em si o germen da tuberculose. Ha mesmo quem sustente que esta aflecção se vê mais frequentemente na primavera e, sobretudo, nos mezes mais frios. Em segundo logar, citaremos como causas eflicientes, os traumatismos sobre os quaes falaremos com algum detalhe. E' commun se vêr uma pleurisia apparecer após as fracturas de costellas e mesmo simples contusões do thorax. 49 E' assim que algumas vezes vemos sobrevir nos conductores de carros contundidos no peito pela própria carruagem a pleurisia. Antigamente, para se explicar, invocava-se a ruptura de um vaso san- guíneo dando logar a um ligeiro derramamento hematico e a uma irritação aseptica ou séptica da pleura, e, dentre notáveis competentes, posso citar Nelaton, Trousseau e Leblanc, que pensam desta maneira, depois de diversas experiencias. Já, em outros casos, Netter pensa que a congestão pulmonar e a pneumonia traumatica, são intermediárias entre o traumatismo.e a pleurisia. Depois das experiencias de Chauffard, sabe-se hoje que os quatro quintos das pleurisias traumaticas são tuberculosas e que o traumatismo age, seja diminuindo a resistência do terreno, como pensam Verneuil e Jaccoud para a tuberculose pulmonar, ou seja provocando a ruptura de um tubérculo pulmonar superficial e a disse- minação dos bacillos na cavidade pleural. Esta expe- riencia classica foi realisada accidentalmente no homem por Max Schuler. Não quer dizer que nôs apregoemos daqui, como um dogma, que todas as pleurisias traumaticas são forçosamente tuberculosas; não, o traumatismo pode também fovorecer a infecção da pleura para entrada de outros microorganismos. A pleurotuberculose primitiva tão bem indivi- dualisada debaixo do ponto de vista cytologico como debaixo do ponto de vista clinico e anatomico, é 50 caracterisada durante toda sua evolução pela presença quasi excjusiva de cellulas uninucleadas muito confluentes, e de um numero maior ou menor de hematias, como muitas vezes tivemos occasião de ver, quando, feita as preparações, iamos proceder á formula leucocytaria. E' uma lymphocytose extremamente considerável que prende atlenção desde a primeira vista, a ponto de só em um logar contarmos até vinte e dois lymphocytos, permitindo assim firmarmos um dia- gnostico etiologico. Examinando mais acuradamente a preparação em alguns casos, percebe-se disse- minados entre os lymphocytos maior ou menor numero de erythrocytos, conforme a pleurisia, o periodo e ainda o numero de puncções, sendo que, nesta que estamos descrevendo, predominam de tal forma os lymphocytos que parecem ser os únicos elementos cellulares da preparação; outras vezes depara-se com uma cellula uninucleada, isolada, se corando mal e reduzida a uma massa amorpha, não se sabendo dizer se é um grande mononuclear ou uma cellula endothelial isolada. Estes grandes elementos alteram-se depressa e com o tempo dimi- nuem de numero, terminando muitas vezes por desapparecer. A cytologia da pleurotuberculose primaria é comparável á das ineningo-tuberculoses e parece que o bacillo de Koch provoca em toda sorosa uma reacção idêntica, quasi especifica, cujos 51 caracteres são tão particulares, que muito dificil- mente nós temos podido differenciar. Se se tem occasião de observar a pleurisia nos primeiros dias de sua formação; o exame histologico do liquido recolhido por puncção da pleura confirma a natureza soro-fibrinosa, hemorrhagica ou purulenta, da pleu- risia. Sabe-se mesmo que Dieulafoy propoz que se contassem as hematias nas pleurisias soro-fibrinosas e, é de opinião que, se achando mais de quatro mil erythrocytos por centímetro cubico, deve-se con- siderar histologicainente hemorrhagica, e diz que por este facto, á uma tendencia a suppuração. Observado o derramen nos seus primeiros dias, acham-se algumas vezes com os lymphocytos uma leucopenia de polynucleares. Em alguns derrama- mentos estudados do sexto ao decimo dia, nós não temos visto senão os polynucleares passarem a dez °/0 e um certo numero dentre elles, eosinophilos. Em um caso punccionado ao terceiro dia e outro ao sexto, nós lemos sempre achado além dos lym- phocytos, polynucleares, grandes elementos uninu- cleados e alguns* pares de cellulas endotheliaes sol- dadas. Da mesma forma pensam Barjon, Cade, Wolf e Sacquépeé. Antes de tirarmos do exame cytologico provas concludentes para o diagnostico, nós, como Barjon e Cade sempre interrogávamos o doente para chegarmos aproximadamente a data da pleurisia, por quanto no principio do derramamento, se pode achar, 52 como nós achamos, alguns polynucleares e algumas cellulas endotheliaes, para com o tempo a formula ficar muito rapidamente lymphocytica. Assim o estudo da formula leucocytaria, permitte em certos casos de pleuro-tuberculose primitiva examinadas desde o seu inicio, distinguir no doente dois periodos na evolução do derramamento; um anterior a consti- tuição definitiva da neo-membrana, o outro conse- cutivo á sua constituição e á seu enkystamento, caracterisado pela presença quasi (pie exclusiva de lymphocytos. Sempre que tivemos de fazer a puncção ou a thoracenthese, foi sempre neste periodo ultimo ou o segundo que acabamos de descrever; o pre- coniso e com a auctoridade de scientista emerito, preconisam Widal e Ravaut. Feita a puncção explo- radora ou a thoracenthese, retiramos, quinze a vinte c. c., desfibrina-se ou não, centrifuga-se dez a quinze minutos, depois escoa-se o liquido, espalha-se o deposito em laminas, deixa-se seccar, fixa-se e cora-se pelos processos expostos, quando tratei da technica das preparações. Coradas pelo azul de inehlyleno- eosina vamos vêr ao microscopio com a -objectiva 1/12 ou e ocular Ires os lymphocytos com os núcleos corados pela côr basica e o seu protoplasma pela côr acida; esta ultima cora também as hematias, os polynucleares coram-se da mesma forma que os lymphocytos, salvo os eosinophilos cujas granu- lações também são coradas pela côr acida; os baso- 53 philos, os núcleos e as granulações, coram-se pela côr basica e os neutrophilos são corados por um methodo especial que ficou dito na technica: é o calor a cento e trinta ou cento e cinquenta gráus e o corante a triacida, ficando os núcleos e as granulações coradas por este reactivo e os mononucleares co- ram-se da mesma forma que os lymphocytos. Em alguns casos os lymphocytos se apresentam sob o aspecto de cellulas redondas um pouco maiores que uma hematia, possuindo um núcleo arredondado ou ligeiramente reniforme, fortemente corado e um pro- toplasma disposto em camada muito delgada em torno do núcleo, e apresentando sob a influencia dos reactivos corantes uma côr neutra e mesmo basica. Tal é, pode-se dizer, a formula classica da pleuro- tuberculose primitiva pela qual se chega a formar, com probabilidade, o diagnostico de tuberculosa. Mas já não se dá assim quando se examina o derra- mamento pleural desde o seu principio; Barjon e Cade dizem que, se observa, muitas vezes, nestas preparações, assim como naquellas que proveem de outros derramamentos pleuraes cellulas cujo proto- plasma fortemente acidophilo e o núcleo arredondado fortemente basophilo, representam exactamente o aspecto de hematias nucleadas. Até hoje estas cellulas teem sido consideradas como lymphocytos que, ficam assim devido a maceração no liquido soroso e devido a reacções tinctoriaes particulares, não permittindo 54 aílirmar se se trata realmentedeerythrocyto nucleados. Emfim, concluindo: na pleuro-tuberculose primitiva dizemos que, no inicio, encontram-se quasi que exclusivamente lymphocytos muito confluentes e um numero mais ou menos considerável de hematias. Por fim os leucocytoseosinophilos persistem ás vezes, durante a evolução, sem que se possa attribuir alguma significação especial e não se podendo negara origem tuberculosa, porquanto, Widal e Ravaut obtiveram a inoculação da tuberculose em cinco casos, tendo feito em sete. Segundo Lefas as puncções só teem valor quando renovadas depois de um mez; em menos disso ellas produzem um augmento de polv- nucleares, chegando até 68 9/0 e as cellulas endo- theliaes podendo attingir excepcionalmente até 60 °/0. Passaremos agora a tratar da pleurisia tuberculosa secundaria para uns, pleuro-tuberculose secundaria de outros. Está demonstrado que o liquido das pleurisias íibrinosas encontrado, nos tuberculosos verificados, assim como o liquido dos hydropneumothorax tuber- < ulosos, teem uma formula histológica completamente di Aferente, das pleuro-tuberculoses primitivas. Iara chegarmos a estas conclusões nada mais lo- gico do que tomarmos uma porção do deposito obtido 55 pela centrifugação do liquido destas pleurisias, exami- nal-o entre unia lamina e unia laminula montada a pre- paração no microscopio, nota-se logo a primeira vista um pequeno numero de elementos, obser- vando-se que a maior parte dentre elles parecem muito alterados. Estes elementos apresentam-se com formas irregulares, de contornos sarjados, cheios de vacuolos e de granulações refringentes, enne- grecidas se se tratam pelo acido osmico. Se se cora o deposito pelos methodos geraes de coloração e, se se leva ao microscopio assim, distingue-se algumas especies de cellulas, entre estas hematias em pe- queno numero ou quasi nenhumas ou seja a oligo- cythemia, grandes massas amorphas, se corando uniformemente pelos reactivos em uso, porém pouco numerosas. Estas massas não são mais nem menos do que os despojos de leucocytos alterados, repre- sentados pelos lymphocytos ou mononucleares que fraquearam na lucth e sobretudo velhos e deformados polynucleares destroçados pelo combale microbiano na turba multa da invasão. Estes últimos elementos cellulares se reconhecem, tendo-se o cuidado de corar as preparações por mais de um corante, porque assim elementos que em uma não são vistos em outras, como nesta, tratando-se pela triacida d'Ehrlich, são divulgados; como as granulaçõs neutrophilas são assim reconhecidas e assim o polynuclear neutrophilo. Em alguns casos pode-se 56 vêr raros elementos uninucleados, desmaiados sem núcleo bem visível, mas nunca se viu íio deposito destes líquidos cellulas endotheliaes, quer soldadas duas a duas, quer formando agrupamento. Temos a registrar também a alteração que soífre o núcleo dos polynucleares, alteração descripta sobre o nome de degenerescencia e esta de pycnose, a qual consiste na fragmentação do núcleo em forma espherica isoladas umas das outras completamente e se corando uniformemente, coadjuvando assim para a descoberta do polynuclear. Eis assim descripta a formula leucocytaria das pleurisias de evolução torpida, que, como vimos, contem somente cadaveres dos elementos cellulares, muitos destes bastante alterados, e o liquido muito pobre em fibrina não se reabsorve senão excepcional- mente. Está visto que não estamos tratando das pleuro- tuberculoses secundarias que evoluem rapidamente e curam-se. Infelizmente, Widal e Ravaut só notifica- ram um caso desta especie: um doente attingido, em um dos vertices do pulmão,de lesões de amolleci- mento, foi atacado sem causa apparente de perturba- ções para o apparelho respiratório e ficou dyspneico. Tendo sido examinado, elles encontraram signaes de derramamento, praticaram uma puncção exploradora e retiraram um liquido claro, pouco fibrinoso; fa- zendo culturas, estas ficaram estereis, porem inocu- 57 lando, em duas cobayas, doses de vinte e trinta c. c., determinaram uma tuberculose experimental typica. Feito o exame cytologico foi encontrado um grande numero de polynucleares bem conservados, portanto diíferentes dos que já tratamos, alguns lymphocytos e um numero regular de grandes elementps nucleados isolados. Uma nova puncção e um novo exame feito onze dias depois, o liquido só continha quasi que unica- mente lymphocytos, e portanto de todo compáravel ao liquido das pleuro-tuberculoses primitivas. Gomoácima tínhamos dito, a pleurisia evoluio para a cura e o derramamento terminou por desapparacer rapidamente. E' provável que todas as pleuro-tuber- culoses secundarias apresentem no começo de sua evolução o aspecto cytologico de que nos occupamos, quando tratamos do exame nestes casos. E' seguindo a evolução da pleurisia e prova- velmente, segundo a reacção que o organismo oppõe á infecção microbiana, que o aspecto histologico se modifica. Se a reacção organica é sufficiente, os meios de defeza postos em acção são os mesmos que na pleurotuberculose primitiva, ficando assás poderosos para suífocar ou supplantar a evolução da moléstia e conseguir a formação de uma neo-membrana, e não deve causar espanto nem admiração, se encon- trarmos nos dois casos a mesma formula. Se, ao 58 contrario, a reacção organica é insufliciente, os elementos se alteram muito depressa, depois dimi- nuem pouco a pouco de numero e é quasi sempre a evolução seguida pelas pleuro-tuberculoses secun- darias. Em resumo, o exame cytologico nos demonstra que estas pleurisias secundarias reconhecidas, que, são dadas pelas inoculações, podem evoluir de duas maneiras differentes; excepcionalinente para cura e, neste caso o liquido fica idêntico ao das pleurisias primarias, porem muitas vezes tendem para ser chronicas e então são caracterisados nestes casos, pela presença de elementos variados, pouco abun- dantes, muito alterados e esparsos em um liquido muito pobre em fibrina e que dahi aos empyemas tuberculosos e aos derramamentos chyliformes não vão grandes distancias. As formulas destes derra- mamentos, como temos dito, são muito constantes; entretanto, tem-se observado algumas excepções, como em um facto onde a eosinophilia dominava. 0 caso dá-se em uma mulher tuberculosa do pulmão, cuja pleurisia teve por terminação a cura, Widal e Ravaut acharam no derramemento cinquenta e qua- tro °/0 de polvnucleares eosinophilos, seis°/0 de neutro- philos e quarenta °/0 de lymphocytos. Está ahi um facto muito interessante que confirma as opiniões do Pr. Landouzy sobre a pathogenia destas duas especies de pleurisias. Como sabemos, são ellas muito differentes; a primeira é devida a invasão de 59 uma pleura ainda indemne, ainda illesa pelo bacillo de Koch, que ahi desperta reacções fibrino-leuco- cytarias intensas, tendo por fim a defeza do orga- nismo e se terminando muitas vezes pela cura da lesão local e o desapparecimento no logar do pro- cesso tuberculoso; é esta a pleurisia dita á frigore ou rheumatismal dos antigos auctores. As segundas são produzidas pela abertura na pleura, de um foco tuberculoso do pulmão que espalha, ou derrama na sorosa bacillos de Koch e microbios de infecção secundaria. O processo de defeza organica é aqui menos intenso a cura é muito mais diíficil, como vimos que, só em um caso foi observada. Concluímos aqui o estudo de todas as especies de pleurisias, lamentando que durante o tempo que frequentamos o hospital, só tivéssemos casos de pleuro-tuberculose primaria, exceptuandò unica- mente tres casos de transformação em purulenta um, da clinica do provecto e abalisado Mestre Dr. Alfredo Britto, que depois foi operado pelo lente da primeira cadeira de ei rugia, tendo este feito a thoracectomia no anno de 1904; os outros foram o 1,° uma doente do não menos Illustrado, espe- rançoso e joven Mestre Dr. João Garcez Froes no anno de 1903, tendo este feito a thoracenthese, mas passado alguns dias esta doente falleceu, tendo feito o talentoso Mestre eonyiosco a autopsia, o 2.° este anno. Sobre estes casos fizemos algumas obser- 60 vaçOes, que irão ho fim do nosso trabalho, podendo garantir que não poupamos esforços para apresentai* esta parte completa. Para concluir este capitulo daremos em ligeiros traços o valor theorico e pratico da cytoscopia nos derramamentos das sorosas. Como acabamos de demonstrar neste capitulo que agora vamos finalizar, vimos que a cytoscopia applicada ao estudo dos derramamentos pleuriticos deu excellentes resultados, quer para o diagnostico, quer para o prognostico. Como descrevemos, vê-se que ella constitue um methodo simples, fácil e rápido que merece ser vulgarisada na clinica. Os resultados se não são tão rigorosos como os que se obtem com certos methodos bacterioscopicos que demonstram directamente a presença do agente infeccioso, pelo menos são bastante precisos e muito fáceis de interpretar. Como provamos, a formula cytologica tão especial nos derramamentos da 'pleuro-tuberculose primaria impedem a confusão desta affecção com outras pleu- risias, cujo diagnostico é muitas vezes difficil, se só se lança mão dos dados clínicos. Não se dá assim hoje, o medico fazendo o exame cytologico, dis- tinguirá por sua formula, pleurisias por exemplo, sobrevindas no declínio da febre typhica, das acom- panhadas de uma affecção pulmonar quer devidas ao pneumococcus ou ao#estreptococcus e ainda dos derramamentos que apparecem nos brighticos e nos 61 cardíacos; permittindo ainda a polynucleose em excesso (deixando passar a expressão) reconhecer as pleurisias ligadas à infecções de microorga- nismos saprophytas e o crescimento do numero dos polynucleares com sua degenerescencia deixando suppor que se trata de um derramamento purulento. Sabemos também, pois já ficou dito, que os derra- mamentos mecânicos ligados ás congestões pulmo- nares dos brighticos e dos cardiacos são caracte- risados pelas grandes cellulas endotheliaes cuja presença indica esta forma e ainda mais servindo para distinguir estes derramamentos dos derramamentos inílammalorios; por fim os derramamentos leucemicos ou cancerosos se diagnosticando pelas cellulas de natureza tão especial que nelles se encontram fazendo reconhecer estas aíleccões. Portanto pode-se esta- belecer quasi como uma lei que as reaceões das sorosas ao bacillo de Koch pode se traduzir por uma lymphocytose. a reacção as infecções pyogeneas por uma polynucleose e a reacção as irritações mecâ- nicas por uma descamarão endothelial. Quero estudo cytologico do derramamento pleural, quer o estudo histologico da sorosa pleural, o exame feito, dá re- sultados eguaes, fornecendo exactainènte os mesmos elementos, pois um na compar.ação feliz de Labbé, não é mais do que a versão do outro. Assim como descrevemos quando tratamos desse assumpto, que nos derramamentos dos cardiacos e/los brighticos, 62 a pleura não é espessada, não fica inflammada, con- cebe-se que, o exsudato, que foi feito mecanicamente na cavidade sorosa, acarreta as cellulas endolheliaes da pleura. Pelo contrario, nos derramamentos inflam- matorios a pleura estando coberta de uma falsa membrana mais ou menos espessa, as cellulas endo- theliaes não podem ser levadas pelo exsudato e não se encontram no liquido, são ellas que representam a reacção de defeza do organismo, no seio da mem- brana e por isso cahem no liquido. Feito o estudo comparativo das formulas, sanguínea e das soro- sidades durante as mesmas pathogenias, tem-se veri- ficado que a reacção geral é da mesma ordem que a reacção local; não delferindo senão pelos detalhes e por um grau diminuto. Em summa temos demonstrado e o mundo sabio tem provado que são muito interessantes os estudos cytoscopicos feitos nos derramens das pleurisias. CAPITULO II Aventemos um outro ponto e este constituirá o segundo capitulo da nossa dissertação. São os derramamentos peritoneaes pericardicos, articulares, da túnica vaginal e, por fim receções sorosas da pelle. Somos os primeiros á dizer que o assumpto que agora abordamos, o qual vae constituir esta parte, o cytodiagnostico, não tem o seu veridictum, como nas pleurisias nós deixamos frizante e patente. Não, entre as maiores culminâncias ha discordâncias e estas de magna importância, como demonstraremos no decorrer do ponto; principalmente sobre as peritonites tuberculosas e ascites mecanicas. E' bem •verdade que no peritoneu não se .encontram lesões tão distinctas, tão írisantes como as (pie se observam na pleura patliologica; lambem é verdade que, ahi, temos que notar a visinhança ou proximidade do intestino podendo perturbar a formula cytologica do derramamento sob influencias diversas, sobretudo durante o periodo da digestão. Em primeiro lugar, trataremos das ascites meca- nicas. Tão relativo é o cytodiagnostico dos líquidos mecânicos, que Barjon e Cade propoem a substituição do termo cyto-diagnostico por cyto-exame; portanto 64 pouca cousa se pode esperar do exame cytologico destes líquidos. Nestes derramamentos como já antecipamos, a divergência dos- auctores é extraordinária. Assim, segundo Achard e Loeper, fazendo-se preparações do liquido retirado quer por paracentese abdo- minal, quer por puncção exploradora, as ascites mecanicas conteem algumas cellulas endotheliaes hydropicas e pequeno numero de leucocytos ou seja hypoleucocytose. Já Widal e Ravaut viram sobre tudo polynucleares, alguns lymphocytos e muito raras cellulas endotheliaes. Dopte.r e Tanton acharam uma hyperleucocytose de polynucleares, com algumas cellulas endotheliaes. Nós em alguns líquidos encontramos polycytemia, lymphocytose e leucopenia, quer dos polynucleares, quer dos mononucleares e também observamos cellulas endotheliaes. Não é propriamente uma divisão que vamos apresentar, pois não temos pretenção disto fazer, mas para preencher algumas lacunas de auctores que quando tratam desta especie de der- ramens não entram em explicações, nós com o esforço que fizemos, trabalhando até adiantadas horas nos gabinetes tiramos algumas conclusões, as quaes, á proporção que formos escrevendo, irão sahindo á tóna. Assim não ha um só auctor dos que possuímos que se occupe de dizer, a não ser Widal e Ravaut, se o liquido ascitico precisa ou não de deslibrinação. 65 Pois, sim, somente elles fizeram uma classe (jue denominaram líquidos não desfibrinados. E' exacto e, a observação tem demonstrado e nós mesmos temos deixado líquidos asciticos, da chylocele, hy- drocele, etc; mas de vinte e quatro horas e elles não se coagulam, exceptuando os da chylocele e hematocele que depositam no fundo do vaso um pequeno coagulo, os demais nem isto deixam, dis- pensando assim a desfibrinação. Durante o nosso percurso no convívio hospitalar, tivemos occasião de vèr diversos líquidos asciticos, sendo a sua còr variavel, conforme a procedência pathogenica; assim observamos desde a côr fraca- mente leitosa, amarella carregada, amarella citrina até a hemorrhagica. Assim a côr do liquido da ascite cirrhotica, é amarella citrina, das ascites brighticas nós comparamos a agua com algumas gottas de creolina e por isso dizemos, fracamente leitosa ou segundo o distincto Mestre Dr. Froes, opaca, branca, aspecto de leite ou ainda segundo Lanceraux, côr do chylo ou de uma emulsão de amêndoas, e as ascites provenientes de carcinomas quer hepático, quer do estomago teem a còr amarella com alguns reflexos verdes ou chylosa. Somente em um caso Merklen observou em um indivíduo portador de uma cirrhose atrophica de marcha rapida, um derramamento chyliforme. A quantidade de liquido retirada por uma para- 66 centese abdominal muito mais simples e não neces- sitando de apparelhos complicados é variavel; assim, para os nossos estudos bastam 15 a 20 cc,. mas com o fito de desafogar certos orgãos, tem se visto puncções fornecerem 10, 15 e 22 litros, nós nunca vimos mais de dez, porem o joven Mestre Dr Froes em seu precioso e didactico trabalho intitulado Notas de Clinica Medica, cita casos de 12 litros retirados por elle. O instrumental cirúrgico é ornais simples possível; compõe-se de diversos trocates de maior ou menor diâmetro conforme trata-se de operar creanças ou homens; feita a esterilisação deste ou destes e a antisepsia da parte do paciente, pelos methodos que já conhecemos da parte geral, temos que precisar os pontos e estes são dois tirados de dois methodos. O Io é o methodo francez e o ponto encolhido é a parte media de uma linha que vae da espinha iliaca antero-superior ao umbigo, e é chamada linha umbilico-iliaca, é o methodo e o ponto preconisado pela maioria dos auctores e por nós. O 2o methodo é o inglez e o ponto de prefe- rencia está no meio de uma linha que vae do umbigo a symphyse do pubis, e é denominada linha umbilico-pubiana, mas neste pontQ o trocate corre risco de lesar a bexiga do paciente e por isso se tem o cuidado de mandar o doente esvasial-a. Esco- lhido o Io se introduz o trocate tendo-se o cuidado 67 de passar antes um pouco de vaselina, mas é pre- ciso um pouco de força para que o trocate não demore em vencer a resistência offerecida pelos tecidos, não martyrisando assim o enfermo; este dentro retira-se-o, deixando a bainha, e então o liquido jorrará conforme se queira, porque esta tem uma torneira para este fim. Pode não sahir liquido . e o operador não tem mais do que afastar ou mover para um ou para outro lado a bainha, porquanto a causa da não sahida do liquido é as vezes uma anca de intestino que vem obturar a abertura ou um coagulo mesmo. Devido a este inconveniente Dr. Silva Lima inventou uma bainha, na qual a extremidade penetrante tem orifícios dos lados, evi- tando assim as obstrucções. Não se dá ahi como na paracentese thoracica que além de um apparelho especial, necessita o máximo cuidado para não entrar o ar; ahi, não ha risco nenhum de que o ar penetre e até pelo con- trario está quasi que acceito em sciencia a laparo- tomia em casos de peritonite tuberbulosa com ascite, como meio therapeutico, porqnianto uma quarta parte das operadas tem se podido considerar radi- calmente curadas. Não se deve retirar toda quantidade de liquido e convém durante a operação e depois collocar uma faxa bastante larga e ir apertando-a a proporção que o liquido fôr escoando e depois mantel-a evitando assim a hemorrhagia ex vaco-, 68 tendo tido antes o cuidado de fechar o orifício com algodão embebido de collodio, e sobre este uma cruz de sparadrapo. Podiamos ainda com Sébileau destinguir duas classes de ascites, tra- tando-se da qualidade do liquido, ascites simples ou vulgares e ascites compostas ou especiaes mas não nos compete tratar aqui, e por isso ficamos somente nisto. A densidade do liquido ascitico varia de 1005 a 1048, sua reacção é alcalina ou neutra, contem pequena quantidade de materiaes solidos repre- sentados pela cifra de 17,60 a 51 grammas por litro, sendo metade de materiaes albuminoides como sejam a serina e a globulina. Outros elementos em pe- quena quantidade; uréa, assucar, urobilina, choles- terina, para albumina, metalbumina e saes inor- gânicos. Tendo-se a notar que, quando o liquido é formado por complicações inflammatorias, a matéria albuminoide duplica, e chega a 60 grammas por litro e, em lugar de pequenos elementos figurados encontram-se cellulas em abundancia e uma quan- tidade notável de variados germens. As densidades achadas por nós variaram de 1007 a 1010, e a çeacção sempre alcalina. Quanto a centrifugação que dissemos, gastaria muito tempo para se obter o deposito, temos a dizer que, varia com a especie de ascite; se o liquido é hemorrhagico ou amarello citrino, podendo afliançar que, no ultimo dos líquidos só em uma 69 hora tínhamos deposito sufiiciente para fazer as preparações. O processo a seguir é o mesmo que deixamos atraz descripto, por tanto não nos occuparemos delle aqui. As observações referentes a esta especie de derramen que tínhamos de fazer já fizemos; era quanto á desfihrinação e á centrifugação. Quanto aos elementos cellulares encontrados nestes líquidos, tenho a dizer que variam conforme também as proveniências. Preparações de liquido amarello citrino e hemor- rhagico de ascites de origem hepatica feitas por nós, quando fizemos as contagens globulares foi a seguinte. Nos amarellos citrinos encontramos hyperleucocytose lymphocytica, leucopenia dos poly- nucleares e grande numero de cellulas endotheliaes. Nos hemorrhagicos observamos hyperglobuliajy m- phocytose e ainda com leucopenia dos polynucleares. Nas peritonites agudas ha polynucleose; nas tu- berculosas, dissemos quando principiamos este capi- tulo que havia contestações, porque, Doptere Tanton acharam hematias e lymphocytose, sem outros ele- mentos; ja Achard e Loeper encontraram lymphocytos eaflirmaram que nas ascites tuberculosas é frequente esta especie de leucocyto. Widal e Ravaut, em com- pleta divergência com estes auctores dizem ter encon- trado nesta affecção, maior numero de vezes, a hyper- leucocytose dos polynucleares. 70 Passaremos a tratar agora dos neoplasmas abdo- minaes. Segundo Achard e Loeper os agrupamentos endotheliaes se acham sobretudo nas ascites devidas a esta especie de neoplasma. Geralmente não se encontra aqui, como nos derramamentos pleuraes, cellulas neoplasicas. Em uma ascite symptomatica de um cancro gelatiniforme do peritoneu, que foi estudada por Labbé, as cellulas eram quasi exclu- sivamente representadas por agrupamentos endo- theliaes. Nos kystos do ovário, Tuílier e Milian demons- traram as vantagens que podiam tirar o cytodia- gnostico para a distinceão entre o kysto do ovário e a peritonite tuberculosa. Dizem elles: emquanto que na peritonite tuberculosa, a formula é sobretudo Ivmphocvtica, no kysto do ovário observam-se cellulas de formas muito variadas; primeiro são cellulas volu- mosas, cinco vezes maiores que um leucocyto, arredondadas e vacuolisadas; segundo cellulas cylin- dricas guarnecidas de cilios vibrateis em uma das extremidades; terceiro elementos pequenos, também arredondados de dez y mais ou menos, sem núcleo apparente, com granulações refringentes dispostas em circulo; quarto hematias, quinto cristaes trian- gulares e chatos. 71 Derramamentos pericardicos. Raríssimos entre nós, nunca tive a felicidade de vér, somos forçados a confessar. Na pericardite tuberculosa, Rendu notou a lymphocytose em um caso e, na pericardite bri- ghtica, Dopter e Tanton observaram também, lym- phocytose, com cellulas endotheliaes degeneradas em grande quantidade e polynucleares em proporção media. Nos derramamentos articulares, Dopter e Tanton em um caso de hydarthrose tuberculosa, observaram uma mistura de lymphocytos e de polynucleares com predominância dos primeiros. Widal e Ravaut, em uma arthrite tuberculosa, dizem ser o liquido geralmente escuro e ordinariamente rico em poly- nucleres. No rheumatismo articular agudo, as cellulas são muito abundantes, constituídas quasi que exclu- sivamente por polynucleares; assim também nas arthriles blennorragicas observam-se polynucleares neutrophilos em grande abundancia. Nas hydarthroses consecutivas á uma fractura da perna ou á uma phlebite, nas arthropatias tabeticas, observam-se lymphocytos em pequeno numero mis- turados á alguns grandes elementos uninucleados nestas variedades de arthrites, os elementos cellu- lares são muito raros e em- todos os casos em menor 72 numero que nas arthrites agudas; é esta a opinião de Widal e Ravaut, porem Labbé diz também achar hematias e na arthropathia tabetica, diz H. Dufour encontrar hyperglobulia, Lymphoeytos 84 °/o Polynucleares ...... 6 » Gellulas endotheliaes .... 10 » e a reabsorpção progressiva do derramamento é acompanhada do desapparecimento dos polynu- cleares. Achard e Loeper teem opinião contraria sobre esta formula. Nas synovites das bainhas tendinosas, o estudo cytologico é suceptivel de dar resultados mais precisos. Em uma synovite tuberculosa a tubérculos riziformes, tem-se achado exclusivamente lympho- cytos, emquanto que nas synovites blenorragicas ou rheumatismaes encontram-se polynucleares. Derramamentos da túnica vaginal Nós observamos, assim como Tuffier e Milian, que o estudo do liquido derramado na túnica vaginal, pode ter em clinica um valôr semeiologico impor- tante. Assim, na hydrocele tuberculosa, Widal, Ravaut, Milian, Tuílier, Dopter e Tanton acharam polycytemia e lymphocytose; não vendo cellulas endotheliaes. 73 Em uma vaginalite, tendo por causa uma tuber- culose do testículo, também Widal e Ravaut encon- traram só hyperleucocytose lymphocytica, em con- dições que não havia abscesso deste nem do epididymo aberto na túnica vaginal. Nas vaginalites que acompanham as orchites infecciosas, só se encontram polynucleares, como sejam nas orchites blenorragica e typhoide, segundo as observações de Widal e Ravaut, mas em um caso observado por Dopter e Tanton, havia polynucleose, coexistindo lymphocytos e raros mononucleares; como Lceper também na orchite typhoidica achou grande numero de polynucleares em proporção de setenta e dois °/0 e alguns mononucleares na proporção de vinte e oito °/0. Emfim, nas hydroceles symptomaticas, acha-se seja uma polynucleose com lymphocytos e grandes mononucleares, com ou sem eosinophilos ou cellulas endotheliaes, seja uma formula lyinpho- cytaria, com raros polynucleares e mononucleares; ou cellulas endotheliaes e lymphocytos, sendo que a lymphocytose predomina sobretudo na syphilis e na tuberculose. Em certos casos de sarcoma ou de orchite chronica, observam-se raros elementos cellu- lares e ás vezes alguns erythrocytos. Hydroceles traumaticas. O liquido da hydrocele traumatica é amarello citrino se approximando do liquido ascitico mais ou menos; liquido que não precisa de desfibrinação e de diflicil obtenção de 74 deposito, chegando a se levar meia e as vezes uma hora. Tivemos occasiào de examinar líquidos de hydrocele em mais de um doente do hospital e por isso falíamos de observação. Neste liquido a formula leucocytaria é a seguinte, lymphocytose, oligocy- themia, leucopenia dos mononucleares e cellulas endotheliaes. Ghimicamente podemos dizer que o liquido da hydrocele pura, se aproxima da composição do soro sanguíneo e se dilTerencia dos líquidos das hvdropisias por dois caracteres: primeiro se coagula pelo calor e pela acção do acido nitrico,' testemu- nhando a sua riqueza em albumina; segundo, contem substancia íibrinogena que como sabemos não existe nas ascites. Na HYDROCELE POR VAGINALITE CHRONICA, Dopter e Tanton em um caso, verificaram a existência da lymphocytose, de alguns mononucleares e de cellulas endotheliaes. Na hydrocele dita essencial, a sua caracterisação está na metade dòs casos, pela presença de esper- matozóides cujo numero varia de oitenta e dois °/0 dos elementos contidos no liquido. A maior parte dos espermatozóides que se encontram, são visi- velmente alterados e estas alterações veem demonstrar como elles existem ha muito tempo no liquido, apresentando-se deformados, com a cabeça oval, e bordos irregulares, diílerindo da forma triangular, a qual sabemos ser a sua cabeça normal; fixando 75 em um grau menor as matérias corantes basicas; a cauda é muitas vezes diminuída, mutilada ou total- mente amputada; emíim, grande numero destes ele- mentos, em lugar de fluctuarem livremente no liquido, são envolvidos e phagocytados pelas cellulas endo- theliaes. Num certo numero de hydrocele essenciaes, sobre tudo as punccionadas anteriormente, não se b encontram espermatozóides. Também estes últimos» ainda não foram vistos nas hydroceles symptomaticas. Na hydrocele essen- cial, se observa de dez a cem °/0 de cellulas endo- theliaes, são constantes só, ou com os esperma- tozóides, podendo ser estes, os únicos organismos do liquido, ou se achar também lymphocytos na proporção de um á sessenta, as vezes leucopenia de mononucleares, polynucleares, na proporção de um até sessenta e quatro e eosinophilos inconstantes, também variam conforme os casos, existindo de um até vinte e cinco; emíim vè-se percorrendo a pre- paração aqui e ali alguns núcleos deformados e livres. Widal, Ravaut, Tuflier, Milian, Dopter, Tanton eJulliard nesta especie de hydrocele, teem encon- trado agrupamentos endotheliaes unidos algumas vezes a lymphocytos e a erythrocytos. Chamamos attenção para os casos de hydrocele essencial que Jousset tem publicado; nesta especie de hydrocele graças á technica deste auctor, tem elle achado na 76 sorosidade bacillos de Koch, porem seja dito também que Widal e Ravaut inocularam sem resultado o liquido de dez destas hydroceles: Gourmont também fez sete inoculações negativas; Barjon e Cade fizeram quinze sem resultado. Nos KYSTOS DO CORDÃO ESPERMATICO Widal, Ravaut, Tuílier e Milian teem visto no liquido espermatozóides sem outros elementos cellulares; já Barjon e Cade observatam noventa e cinco a noventa e oito % de espermatozóides e muito raros é verdade, elementos cellulares. Nas HEMATOCELES DA TÚNICA VAGINAL fallaniOS COU1 apreciação nossa, pois também trabalhamos em dois casos. Feita a puncção, o liquido que jorra é hydro-he- matico, podendo variar tanto na densidade quanto na côr, segundo a quntidade de sangue derramado e ainda seu grau de alteração. Estes que observamos eram líquidos ennegrecidos, xaroposos, comparável a ferrugem diluida, e as vezes podendo se apresentar condensado, em uma massa de côr lamacenta, com coalhos ordinariamente molles e ennegrecidos, e outras vezes descorados, brancos, fibrinosos e transformados em uma substancia filamentosa de fibrina. Em um a côrdo liquido ainda nos enganou, pois julgamos que se tratasse de uma hydrocele traumatica, porem o liquido centrifugado deu um deposito hematico tão grande que tivemos de dispensar a contagem das hematias para fazermos 77 a formula leucocytaria. Liquido como temos dito muitas vezes tratando das outras especies, que não se desíibrinam, a centrifugação empregada basta quinze minutos para se obter deposito e este abundante, pois ahi os elementos são em grande numero. Fazendo-se preparaçõs deste deposito por qualquer dos corantes citados, e levada, uma das preparações ao microscopio, e desprezando-se as hematias como já dissemos, encontramos lympho- cytos grandes e pequenos, polynucleares, cellulas endotheliaes formas de transição, sendo raros os mononucleares. Em certas pachyvaginalites antigas de paredes muito densas, o liquido que sahe é muito alterado por modificações regressivas podendo ser, de côr amarella escura, amarella esverdiada, analoga a bilis, chamada ainda choloeceles, muitas vezes de côr bistre, devido aos cristaes de hematoidina e ás granulações pigmentares, ás vezes com um aspecto brilhante especial, produzida pelas palhetas de cholesterina que se reúnem á superfície do liquido; alguns mesmo são descorados, como o das hy- droceles, somente mais carregado na coloração. Vamos agora tratar das chylocej.es. Gomo se sabe é a filaria sanguinis hominis, helmintho nema- toide, do genero filaria que, é a responsável por sua pathogenia. O mecanismo pelo qual se dá o derramamento ou vae ella ter a vaginal éo seguinte, 78 estando ella no sangue humano, por infecção e obstrucção das vias lymphaticas, se a acha, no apparelho genital que como sabemos é um lugar de elecção e ahi pode ella determinar ou sobre o escróto, ou sobre a vaginal, ou ainda sobre o testí- culo e o cordão moléstias, das quaes nos occupa- remos de uma só. Deixando á margem o que ella produz sobre o escróto, sobre o testículo e sobre o cordão, pois, não nos compete aqui estudarmos, passaremos a vèr o que se dá na túnica vaginal. Ella sobre a vaginal produz a orchite filariana', sendo esta a hydrocele leitosa ou chylocele, que consiste no augmento do escróto, as vezes chegando a tamanhos quaduplicados do normal, conforme a porção do liquido. Feita a puncção que se faz com um pequeno trocate, deixa-se a bainha, e o liquido assim escôa, leitoso, sem haver risco da entrada do ar. Depois rapidamente retira-se a canula ou bainha e injecta-se adrenalina ou tinctura de iodo e fecha-se a solução de continuidade, ou com sparadrapo ou com algodão molhado no collodio, tendo o cuidado de botal-o em leves camadas. Liquido que não se coagula, portanto dispensando a desfibrinação e pela centrifugação, dá deposito dentro do espaço de quinze minutos. Feitas as preparações por qualquer methodo, em primeiro lugar vemos as vezes grandes enno- velamentos de filarias, procedendo-se a contagem globular encontramos lymphocytose, polycytemia e 79 leucopenia dos mononucleares e intermediário. No fim de cada observação então, expressaremos em algarismos, a porcentagem de cada formula leuco- cytaria. Terminamos aqui o estudo destes derramamentos, esforçando-nos por dar esta parte por completa. Para concluirmos este capitulo da nossa disser- tação, nós vamos tratar das reacções sorosas da pelle, enfeixando-a nesta parte, pois assim temos a consciência de que não nos faltou bòa vontade para attingirmos ao fim. O estudo cytologico do exsudato soroso provocado pela applicação de um vesicatório, fornece ao dia- gnostico e ao prognostico dados interessantes e de algum valor. E tanto é assim que em 1901 Roger e Josué apresentavam á Sociedade medica dos hospi- taes, os resultados obtidos pelo exame histologico do liquido contido nas phlyctenas determinadas pela applicação do vesicatório, e diziam que, segundo as moléstias, observava-se proporções diversas dos ele- mentos cellulares. Tivemos conhecimento deste assumpto, primeiro por Josué e Roger e depois por Humbert. Os primeiros publicaram um artigo e o segundo, logo após esta publicação ventilou a questão na clinica 80 de Bard e influenciado pelos novos estudos fez 20 experiencias, de onde colheu resultados, e em Abril de 1902 a gazeta hebdomadaria de medi- cina e cirurgia recebia e inseria em suas columnas o seu artigo resultante das suas pesquizas. Por isso julgamos util indicar aqui, os resultados obtidos por este rnethodo, e apresentamos trabalhos ori- ginaes onde em seis casos de indivíduos tuberculosos estamos em desacordo com Roger e Humbert por quanto elles afirmam que nos tuberculosos o numero de eosinophilos vae diminuindo, chegando no 3o periodo a 2 e 3 °/o; e nós temos a dizer que em seis casos, sendo tres de tuberculose no Io pe- riodo, fizemos a formula leucocytaria não achamos eosinophilos e sempre contamos pelo menos 500 leucocytos. Para estudo cçmparativo collocamos por iniciativa do abalisado Mestre Dr. Froes o vesica- tório em um ankylostomiasico e neste havia philia e no tuberculoso nenhum. Está ahi mais um meio de diagnostico da verminose se bem que mar- tyrisante e fomos nós os primeirosque fizemos. As investigações de Roger e Humbert teem o mérito bem comprovado, para demonstrar que a prova do vesicatório pode trazer os maiores ser- viços, principalmente no diagnostico precoce da tuberculose e nós só podemos affirmar, com a poly- nucleose neutrophila, porque só ella encontramos. 81 TECHNICA E' muito simples ; se colloca um vesicatório de 4 á 5 centímetros de extensão e no fim de 8 a 12 horas no máximo, se recolhe o liquido da bolha, centrifuga-se logo porque senão é preciso empre- garmos a desfibrinação, decanta-se o liquido e o deposito espalha-se em laminas, cora-se depois de ter fixado ou empregando-se o methyleno blau, dispen- sando o fixador como temos visto. Segundo Roger e Josué a formula cellulár no indivíduo normal é a seguinte: Polynucleares neutrophilos . . 65 á 77,8% » » eosinophilos . . 19,2 » 25,6 » Grandes mononucleares ... 0 » 1 » Pequenos » » . . . . 3 » 8 » Cellulas do vesicatório . . . 0 » 0,5 » E portanto concluímos* que a formula no indi- víduo normal é quasi idêntica a do sangue, no- tando-se proporções differentes. Temos a dizer que os eosinophilos sendo tão abundantes no estado normal, diminuem nos estados pathologicos e visivelmente nas infecções, onde podem mesmo faltar, isto é não existir um só, reapparecendo se o organismo reage e canta victoria; então ficam 82 abundantes e muito, na convalescença. Temos a notar que no rheumatismo articular agúdo, seu numero pode se elevar até vinte e sete °/0, attingindo assim um numero maior do que na pessoa nor- mal, e este facto é Humbert quem cita. Para a differença dos resultados obtidos no homem são e no doente, deve concorrer muito a acção exercida pelos venenos morbidos e notavelmente pelas toxinas microbianas, sobre os orgãos hematopoeticos, essen- cialmente sobre a medulla ossea. Sob a influencia destes venenos, a medulla ossea, dá nascimento a polynucleares neutrophilos; portanto se achando na impossibilidade de fornecer eosinophilos. Ehrlich tem bem posto em evidencia esta especie de anta- gonismo entre os processos infectuosos e a eosi- nophilia. A applicação de um vesicatório incita a producção de eosinophilos e o exame do liquido que a phlyctena contem, mostra a proporção que o tecido osteo-medular é capaz de fornecer de elementos. A prova do vesicatoriô permitte precisar a inten- sidade da accão das toxinas sobre os orgãos da hematopoese e determinar o poder reacional destes. Com os mono e polynucleares se encontram, sobre- tudo no estado pathologico, alguns my.elocytos e elementos particulares que nós já denominamos cellulas do vesicatório, Seu numero nos estados pathologicos, pode se elevar até dois e tres °/0; 83 em um caso de ozona ophtalmica ellas attingem- 4, 8. São cellulas providas de uma delgada camada de protoplasma corada em amarello escuro pela triacida e em roseo pela eosina; de núcleo circular ou ovalar, corando-se em verde pela triacida e em violeta pallida pela hemateina, sendo os seus bordos muito mal limitados e diffusos. E' no diagnostico da tuberculose como já nos referimos que a expe- riencia do vesicatório parece prestar os maiores serviços. O numero dos eosinophilos diminuem nas proporções que variam com a gravidade da infecção, e o estado geral do indivíduo. Nas formas torpidas, nos casos onde as lesões são pouco importantes se acham ainda de sete á quinze °/0 de eosinophilos. Nas pleurisias tuber- culosas diz Roger, a proporção oscilla entre onze e dezesete °/0; esta cifra ainda elevada não nos supre- hende. A pleurisia representa a manifestação de uma tuberculose local, evoluindo para a cura; ao contrario quando a moléstia chega ao terceiro gráu, quando o pulmão está vasado de cavernas e, quando se produz a febre héctica, os eosinophilos diminuem a dois e cinco °/0, terminando por desapparecer. Já deixamos mais acima o nosso juizo e por isso, chamamos a attenção para que fique bem claro o resul- tado que chegamos e dos auctores que descrevemos. Era um estudo que valia a pena se fazer, e não nos compromettemos a fazel-o devido a escacez do tempo. 84 Uma modificação importante, bem posta em evi- dencia por Humbert consiste no augmento dos pequenos mononucleares. E'justamente quando as lesões tuberculosas são pouco frizantes, isto é, quando o diagnostico ainda não se impõe, é que se produz a lymphocytose; conta-se então de dez a quatorze °/0 destes elementos A proporção é analoga nos casos de pleurisia tuber- culosa, emquanto que nas pleurisias sépticas, só se encontram polynucleares. Neste ponto estamos de verdadeiro accordo pois assim nos revelou a formula leucocytaria em um caso. A um período mais adiantado da tuberculose, e sobretudo nos casos onde o pulmão está vasado de cavernas cheias de pús e invadidas pelos pyogenos vulgares, os polynucleares neutrophilos augmentam, emquanto que os lymphocytos diminuem a dois e tres % « terminam mesmo desapparecendo. Conclui- mos que, quando se submette um indivíduo á prova de vesicatório para Roger se se acha uma diminuiç ão dos eosinophilos com augmento dos lymphocytos, teremos uma formula que nos conduzirá a admittir a existência de uma tuberculose, para nós se se acha uma polynucleose neutrophila sem eosinophilos, alguns lymphocytos e cellulas do vesicatório, trata-se de uma tuberculose. Nos parece que as cellulas também tomam nos tuberculosos um aspecto espe- cial, ficam entumecidas, como hydropicas muito mais 85 volumosas que nos indivíduos normaes. Este estado das cellulas não é absolutamente exclusivo da tuber- culose, mas é abundante nesta infecção, muito mais que nas outras. Quando este estado é manifesto, podemos dizer que estamos deante de uma tuber- culose latente; foi o que aconteceu em um caso, diz Roger, no qual, tendo applicado um vesicatório num homem, que elle considerava normal, foi surpre- hendido, achando no liquido somente 7, 8 de eosi- nophilos, um grande numero de cellulas hydropicas e 13 °/0 de lymphocytos, o que confirmava a hypothese de uma tuberculose. Feito o exame minucioso do apparelho respi- ratório, encontraram lesões ligeiras, porem evidentes como, submatidez no vertice direito, algumas crepi- tações seccas e atritos pleuraes. A prova do vesi- catório tem ainda grande , valor quando se hesita entre uma tuberculose milliar agúda e uma affecção de" symptomas analogos, como a febre typhica, e as septicemias cryptogeneticas, podendo diagnosticar a tuberculose pela lymphocytose. Investigações feitas por Roger e Josué, e as publicadas por Humbert, estabelecem que a formula leucocytaria se modifica em todas as infecções, como sejam, na erysipela de zero, a quatro polynucleres eosinophilos, havendo augmento no fim'da affecção; na amygdalite aguda não ha eosinophilos; na broncho-pneumonia também faltam os eosinophilos, no erythema polymorpho, 86 existe em media 3, 5 eosinophilos; na febre typhoide cinco á seis nos septenarios de estado. Na influenza seis a trez e, sendo mais numerosos no fim; na leucemia myelogena, ha muito pouco ou nenhum; nas parotidites faltam também; portanto vimos que se observa em geral uma diminuição ou desappa- recimento dos eosinophilos que reapparecem pro- gressivamente na convalescença, sendo que nesta occasião os polynucleares neutrophilos diminuem emquanto que os mononucleares augrnentam. Ha es- tados pathologicos, como a pleurisia, que accidentes gastro-intestinaes intercurrentes, modificam com- pletamente a formula cytologica do vesicatório. De- baixo do ponto de vista exclusivamente theorico é curioso demonstrar como uma infecção mesmo benigna, bem localisada, modifica todas as reacções organicas; e então uma mesma causa irritativa produz effeitos outros em um indivíduo normal. Estes resultados esclarecem bem, factos da pathologia geral e explicam a evolução tão particular de certas infecções secundarias. Preciosa é a prova do vesicatório na determinação da formula nas moléstias chronicas ; Humbert estudou neste ponto as cardiopathias e observou que as lesões estando em evolução, a fortnula é a dos estados infectuosos; mas se se trata ao contrario de uma lesão valvular constituída, o equilíbrio leucocytario é normal. E' pena que os factos até hoje publicados 87 sejam ainda pouco numerosos, mas Roger diz que a experiencia do vesicatório como meio de diag- nostico pode prestar grandes serviços, principalmente tratando-se da tubejjpulose, que ainda não é espe- cifica ou de uma tuberculose aguda. Sim, são as variações eosinophilas os dados que nos conduzem ao prognostico, nos guiando assim, sobre a inten- sidade da impregnação infecciosa. Uma infecção intensa pode ser benigna, como por exemplo uma angina aguda, que faz rapidamente desapparecer todos os eosinophilos; uma infecção ligeira pode ser mais grave, mesmo se o organismo resiste, como nas tuberculoses torpidas, diz Roger onde se pode achar ainda quinze e desesseis °/0 de eosinophilos. Nestes casos, a prova do vesicatório não nos dá indicações sobre o prognostico absoluto da infecção, mas sobre o gráu da intoxicação do organismo. Concluímos aqui o estudo da prova do vesicatório e damos abaixo as experiencias feitas por Humbert em vinte casos e as nossas irão no logar das observações. Vesica- Polynuckares Polynuclearcs Pequenos mo- Grandes mo- nonucleares Formas de transição Mastzellen torio eosiaophilos neutrophilos nonucleares 1 Tuberculose abortiva. Bom estado geral. . » 22,1 70,1 4,6 3,2 0 o 7o 2 Tuberculose pulmonar fibrosa, lesõespouco adean- tadas, apyrexia ... . . , » 16,0 69,5 10,4 4,1 0 0 » 3 Tuberculose pulmonar fibrosa, lesões apreciáveis, apyrexia , » 18,2 66,1 13,2 1,5 0 0 » 4 Tuberculose pulmonar fibro-caseosa no principio, ligeira febre vesperal » 14,1 75,6 14,6 5,7 0 0 » 5 Tuberculose pulmonar fibro-caseosa a principio, apyrexia » 18,8 70,3 10,3 8,6 0 0 » 6 Tuberculose pulmonar fibro-caseosa adiantada, signaes cavernosos, febre alta, « 2,8 89,4 3,8 4,0 0 0 » 7 Tuberculose pulmonar fibro-caseosa adiantada, signaes cavernosos, febre e cachexia » 4,6 88,3 4,9 3,2 0 0 » 8 Granulia, tuberculose generalisada, febre elevada » 2,5 80.1 12,7 4,7 0 0 » 9 Pleurisia tuberculosa, lesão tuberculosa antiga do vertice direito do pulmão » 16,9 63,2 12,0 7,9 0 0 » 10 Pleurisia tuberculosa, tuberculose fibro-caseosa no vertice do pulmão direito » 11,5 68,3 13,1 7,1 0 0 » 11 Pleurisia tuberculosa, sem lesão apreciável dos vertices » 11,3 81,8 4,2 2,7 0 0 » 12 Rheumatismo articular agudo, insufliciencia mitral » 9,2 87,1 2,6 1,1 0 0 » 13 Rheumatismo articular agudo, em via de cura . » 25,9 65,4 5,5 3,2 0 0 » 14 Endo-pericardite séptica em via de evolução . » 8,9 84,5 .4,3 2,3 0 0 » 15 Endocardite antiga, signaes deinsuflicienciamitral » 20,1 69,4 6,3 4,2 0 0 » 16 Endocardite antiga, insufliciencia mitral e estrei- tamento aortico. ........... » 18,3 70,1 7,2 4,4 0 0 » 17 Pneumonia no estado de hepatisação cinzenta . »- » 94,1 3,6 2,3 0 0» 18 Pneumonia franca ao 6o dia . » 11,3 * 82,9 4,6 ° 3,4 0 0 » 19 Febre typhica sem complicações, 3o septenario » 11,9 81,2 - 2,3 4,6 0 0 » 20 Febre typhica á evolução lenta, 5o septenario . » » 89,8 6,8 3,4 0 0 » 91 Damos mesmo este quadro para vêr se com o estudo que iniciamos, em desacordo com Roger outro continuará tirando assim a limpo esta questão. Passaremos a tratar das vesículas e pustulas. As reacções vesiculares desenvolvidas durante o periodo das diversas moléstias, possuem uma formula cytologica também diíferente conforme a especie da pathogenia. Atechnica é a mesma que seguimos para todos os derramens. Assim feitas as preparações por exemplo, na dermatite de Duhring, ha alguma divergência dos auctores, querendo uns que se observe uma eosinophilia as vezes consi- derável, como segundo a opinião de Leredde, o liquido das bolhas conteem trinta e cinco a noventa e cinco °/0 de eosinophilos; outros encontraram a formula seguinte: Eosinophilos de12 á 54 °/0 Polynucleares ordinários . . 45 á 49 » Mononucleares30 á 35 » Já não pensa assim Milian, negando a eosinophilia. Na DERMATITE PUSTULOSA DE HALLOPEAU, enCOD- tram-se os mesmos elementos e as mesmas consi- derações acima citadas. O liquido das vesículas de zona segundo Lceper, (•ontem leucopenia dos mononucleares e 92 Polynucleares 79 °/0 Lymphocytos 19 » e no período de regressão da moléstia apparecem alguns eosinophilos. nas herpes das moléstias agudas, enconf ram-se polynucleares e ha eosinophilia. nas pustulas da varíola, também observarn-se os polynucleares e myelocytos analogos aos do sangue, é esta a opinião de E. Weil, Gourmont e Mon- tagard. nas phlyctekas das queimaduras, encontram-se polynucleares; assim pensa Loeper. Terminamos aqui a nossa primeira parte, tentando preencher lacunas quer de auctores. não completando o assumpto, quer da pratica, introduzindo assim os meios mais fáceis de obter as preparações sem perda de tempo, nos fugindo assim ao verso de Ovidio, verba et voces, proetreaque nihil. SEGUNDA PARTE CAPITULO III Do liquido cephalo-rachidiano em algumas moléstias tropicaes H1STORIGO Antes de embrenharmo-nos em um ponto, princi- palmente este que ainda não foi escripto, com relação ás moléstias tropicaes, achamos bem orientado tratar de sua historia em geral, de sua etiologia, para depois tratarmos de sua technica, e da conveniência ou não conveniência clinica da puncção lombar nestas affecções. O liquido cephalo-rachidiano, também denominado pericerebroespinhal, foi descoberto por Cotugno em 1764 em um cada ver, mas nesta épocha elle não ponde se pronunciar sobre a existência do mesmo liquido durante a vida. Foi elle quem pri- meiro examinando as porções posteriores do corpo dêsde a região lombar até o encephalo viu um liquido que banhava a superfície externa da pia-mater craneana e espinhal, notando maior quantidade de liquido ao nivel da base do craneo e do canal rachi- diano, observando também a communicação do liquido extra-cerebral com o dos ventriculos. 94 Cotugno, a principio, pensou que o espaço com- prehendido entre as membranas e os centros ner- vosos fosse cheio por agua ou esta agua em estado de vapôr; porém raciocinando, dizia elle ser impossível este vapôr condensado dar, após a morte, a quantidade de liquido encontrada por elle, chegando emfim á conclusão de que o espaço em vida também era occupado pela agua. Depois de Cotugno, appareceu Haller que reco- nheceu a existência de liquido entre a medulla e a dura-mater, e comparou-o aos líquidos encon- trados no pericárdio e no peritoneu. Stochclinus comparou ao soro do sangue, assim como Coiter, Bidloo, e Bochmer; emfim o liquido era descripto com o nome dtaqua límpida nas Ephémérides daquelles tempos. Depois de Haller e Cotugno, cahiu no olvido o liquido cephalo-rachidiano até 1825, anno em que surgiu Magendie, retirando do obscurantismo em que tinha cahido um meio de pesquizas, hoje incorporado aos demais, e tamanho incremento deu ao liquido, tornando a descrevel-o minuciosamente que a sciencia não se furtou a dar-lhe o nome de liquido de Magendie ou de Cotugno. Elle continuou as experiencias de Cotugno, depois de as ter verificado. Foi assim que fez experiencias em cadaveres humanos e em cães; e julgou destas experiencias poder localisar o liquido na arachnoide, quando mais tarde verificou o seu 95 erro encontrando liquido nos ventrículos, donde concluio com Cotugno que. havia communicação do liquido sub-arachiiondiano com o liquido ventri- cular pelo buraco que tomou o seu nome. Antes de Magendie, as theorias mais erróneas floresceram; assim Galien, Willis, Vieussens, Litre, e Schneider acreditavam na existência da agua nos ventrículos; Coiter, Ililden, Bohn, Verdue-, Lieutaud, Haller e o proprio Cotugno, como já nos referimos, acreditavão em um vapôr soroso capaz de se condensar debaixo da influencia de causas pathologicas. Tinham ainda esta concepção Meckel e Bichat. Foi preciso um genio como o de Magendie para estabelecer por experiencias absolutamente demonstrativas a presença do liquido intra-ven- tricular. Assim em um cão no qual elle descobriu o interior dos ventrículos para demonstrar como não era vapôr condensado, via-se o liquido cephalo- rachidiano subir e descer, por fluxo e refluxo iso- chrono com a respiração e os esforços do animal. A historia do liquido cephalo-rachidiano, a pro- porção que foram estudando, devidio-se em períodos . assim o primeiro, é o período anatomico que prin- cipiou no secido decimo oitavo até á primeira metade do século dezenove e consiste na sua des- coberta e sua séde. O segundo, é o período physiologico que cemeçou em 1840 com Magendie e continua até hoje com 96 Bourguignon, Longet, ClaudeBernard, Paulet, Mosso Salathé, Francois Franck, Falkenhein, Naunyn e Richet, estudaram o seu papel 'na economia, a cons- tituição, chimica, a communicação do liquido nas cavidades ventriculares e sub-arachnoidianas, a sua pressão, relações deste com a circulação encephalo- medullar, emfim as oscillações ryllimicas do liquido e de suas íluctuações cerebro-medullares, O terceiro periodo, é o período clinico partence a Quincke a gloria da inauguração, e foi iniciado com a puncção lombar em 1890, descortinando um novo campo de investigações no qual a sciencia dia a dia vae desvendando novos estudos. Cruveilhier acreditava que o liquido cephalo- rachidiano fosse secreção da arachnoide, julgando que as sorosas transsudassem tanto por sua face externa, como por sua face interna. Haller e Ma- gendie já pensavam de outra forma, dizendo que o liquido era secretado pela pia-mater, e aflirmavam que o liquido ventricular vinha do ependymo. As investigações, os estudos criteriosos e modernos da histologia normal, da histo-physiologia e da anatomia comparada permittem attribuir hoje ao liquido çe- phalo-rachidiano, não uma origem transsudativa, mas uma origem glandular. Não é a pia-mater, como queriam Haller e Magendie, nem a arachnoide como cria Cruveilhier, que filtram este producto; mas a sua origem está nos plexus choroides e no epen- 97 dymo, que, com as suas cellulas epitheliaes secre- toras, retiram do sangue dos vasos subjacentes os elementos necessários á sua formação. Exprimem-se assim Faivre, Cavazzani, Pettit e Girard. Porem Gharpy diz que não se conhece exacta- mente a origem do liquido cephalo rachidiano; nós temos indicado como origem provável do liquido intra-ventricular os vasos dos plexus choroides e sem duvida os vasos sub-ependymarios. O liquido sub-arachnoidiano, provem dos vasos da pia-mater e da porção cortical dos centros nervosos. E chama elle attencção para os vasos que lá vão ter, princi- palmente os arteriaes que são envolvidos por uma bainha lympbatica que está interposta entre o vaso sanguíneo o os tecidos, e que talvez nestas duas origens retire os elementos para a formação do liquido cephalo-rachidiano, e as bainhas por sua vez vão se abrir nó espaço sub-arachnoidiano. Mas Milian, em sua bem capitulada obra, aílirma, de fornia a não existir duvida, a origem glandular do liquido cephalo- rachidiano, sendo estas glandulas respresentadas pelos plexus choroides e como elemento em seu favor elle cita Faivre que, em 1853 e em 1857, aílirmou em duas memórias importantes que as villosidades choroidianas presidiam a secreção do liquido ce- phalo-rachidiano. Hubert e Luschka em 1855, pro- varam egualmente que o liquido cerebro-espinhal não podia ser considerado como uma transsudação 98 e sim como um producto de secreção. Claisse e Leuy, em 1897, apresentavam á Sociedade anatómica o estudo histologico num caso de hydrocephalia interna onde os plexus choroides estavam hyper- trophiados consideravelmente. Emíim Kingsbury observou em certos animaes a presença de cellulas tendo os caracteres de cellulas secretoras, destinadas á secreção do liquido cephalo- rachidiano. Finalmente, Findlay, Galeotti, Studnicka e Obersteiner teem egualmente estudado e admittido os phenomenos secretorios dos plexus choroides e do ependymo; dahi o liquido percorre como de- monstrou Magendie, os espaços sub-arachnoidianos e os ventrículos. Schwalbe, Key e Retzius diziam existir algumas vias de escoamento para o liquido; porém Charpy diz que as experiencias só mostram vias de communicação entre os espaços sub-arachnoi- dianos do exterior. Charpy dá, como vias de escoa- mento, as bainhas dos nervos arachnoidianos e as granulações de Pacchioni. Foi Cathelin o primeiro que, recentemente, se baseando em numerosas provas, emittiu a ideia da probabilidade de uma circulação do liquido cephalo-rachidiano, começando nos plexus choroides secretores, indo até os espaços sub-arach- noidianos, passando dahi para a circulação lymphatica e depois sanguínea, por intermédio das bainhas lymphaticas perivasculares. A puncção lombar foi, praticada pela primeira 99 vez em 1885, por Léonard Corning, de New-York que fez, pela primeira vez, unia injecção de cocaina no canal rachidiano com o fito de obter anesthesia da metade inferior do corpo. Todavia, deve-se a Quincke o prestigio scientifico que hoje tem a puncção lombar e por isso esta puncção tem o seu nome. Em França, (piem primeiro praticou-a foi Marfan em 1893. Puncção tombar de Quincke ou rachicentese de Marfan, eis os seus nomes. Os seus trabalhos datam de 1890. quando medico de Kiel; demonstrou como se podia facilmente attingir no homem o espaço sub-arachnoidiano lombar, reti- rando o liquido cephalo rachidiano por meio de um trocate. Logo no seu inicio, ella era praticada por Quincke e seiis discípulos exclusivamente como meio therapeutico, tendo por fim a subtraçção do liquido; em todos os casos onde predominavam os pheno- menos nervosos nos quaes elle suspeitava haver ex- cesso do liquido, cousegilíntemente augmento de sua tensão. Estudada debaixo deste ponto de vista, por diversas notabilidades, foi julgada como simples- mente palliativa e de um emprego limitado, se os scientistas, não a encarassem debaixo de outro ponto de vista; assim novos methodos foram creados e definitivamente ella conquistou o seu lugar em clinica. Netter na França, Furbringer, Stadellmann, Lenhartz, Kronig, Weichselbaum, e Bonouie em outros paizes, fizeram o exame bacteriológico do 100 liquido, retirado em casos de meningites agudas; Wentworth, em 1896, estudando o liquido cephalo- rachidiano na meningite tuberculosa, encontrou lymphocytos e alguns polynucleares. Bernhein e Moser, em 1897, observavam também nesta ultima affecção que descrevemos, mononu- cleares e alguns polynucleares ; assim como na me- ningite cerebro-espinhal aguda. Sicard e depois Bier, Tuflier e Reclus abriram para a therapeutica uma via ainda inexplorada para injec- ções, denominadas sub-arachnoidianas, a qual a cirurgia aproveitou para os processos da rachicocai- nisação hoje decahida, porem substituída pela rachi- stovainisação. Devemos agradecer o uso em medicina e as múl- tiplas applicações do exame cytologico do liquido extrahido pela puncção lombar a Widal, Sicard e Ravaut, que a tornaram um meio de investigação corrente. Foi devido á procura .dos elementos cellu- lares no liquido cephalo-rachidiano, que se creou o cytodiagnostico, determinando a formula quanti- tativa e qualitativa, que applicada aos estudos das meningites agudas e chronicas, tem dado á numerosos clínicos, quer em França, quer em outros paizes, os resultados diagnósticos os mais favoráveis. Por lim, o methodo do chromo-diagnostico creado por Sicard, basea-se no estudo da coloração. Taes são os diversos trabalhos que tem assignalado a historia 101 da puncção lombar, hoje gradualmente praticada entre todos os povos Cultos ; mas dentre todos é preciso um logarde honra ao exame cytoscopico. Este tem permittido a puncção lombar entrar em uma phase toda nova e fecunda em resultados práticos. TECHN1CA A technica operatória da puncção lombar é sim- ples e muito facil. Gomo o nome está indicando, são em pontos da columna vertebral que se faz a puncção, e a disposição anatómica desta região serve de guia ao operador, indicando assim os lugares de eleição. Sabemos que das membranas que envolvem o eixo cerebro-espinhal no estado normal, a mais interna, a pia-mater, se termina com a medulla na segunda vertebra lombar, emquanto que a arachnoide e a dura-mater vem se confinar na segunda vertebra sacra. Portanto, raciocinando, vemos que entre a membrana pia-mater, situada muito acima e forrando o cone terminal da medulla, e o cul de sac inferior formado pelas membranas justapostas arachnoide e durai, existe um largo espaço confluente no interior do canal rachidiano. Este espaço tem vinte a vinte e cinco centímetros de altura e dois de largura. E'neste espaço que somente pode-se punccionar, porque como vimos a medulla não vae até ahi; 102 portanto não havendo receio de a lesar; a sua termi- nação, que se donomina cauda de cavallo, atravessa este espaço, tamhem, mas não temos perigo de a triscar porquanto ella está íluctuando em um meio liquido e se a agulha ou o trocate se encontrar com algum de seus filetes os levará para diante. Certo de que não lesará a medulla, o operador tem, á sua escolha, tres pontos; o terceiro, o quarto ou o quinto espaços vertebraes ; sendo que o quinto, ainda se 'chama lombo-sacro, devido a situação entre a ultima vertebra lombar e a primeira sacra. Quincke e Marfan preconisam o terceiro ou o quarto espaço; Chipault prefere o quinto e nós fizemos tanto no quarto como no quinto todas as vezes que se apresentava a opportunidade de punccio- narmos. Widal e Sicard descrevem como lugar de eleição o quarto espaço, porque, dizem elles, neste ponto nos parece que a membrana dura-mater está melhor fixada na entrelinha lombo-sacra, se dei- xando perfurar pela agulha mais facilmente. Além destes espaços existe ainda um preconisado por alguns auctores, é o coccyx-sacro. Para deter- minar este ponto não é muito facil, varia conforme o indivíduo e o seu estado pathologico; assim temos visto médicos práticos em fazer esta puncção, tentarem tres vezes em cada ponto e sem resultado. Outras vezes, mesmo em indivíduos de corpo regular, e da mesma forma. Nos sujeitos gordos ou 103 em estado de anasarca, muito diflicil é a puncção; ao contrario das pessoas emmagrecidas; porquanto percorrendo o dedo na coluinna vertebral sente-se as apophyses espinhosas e abaixo destas, o espaço intervertebral, diíferindo dos gordos ou edemaciados em quem estas apophyses não são sentidas, quanto mais o espaço intervertebral. Para se delimitar o quarto espaço intervertebral ha o processo de Juvra, o qual nunca seguimos, e apenas o expomos aqui; é o seguinte: deprime-se os tecidos abaixo da quarta vertcbra lombar; por meio de uma lamina romba como a da taca de meza de tal sorte que o instru- mento calcado fique entre as duas saliências espi- nhosas e então toca-se, para vêr se si sente o espaço; depois procura-se a depressão, calca-se o dedo e este ponto é o indicado. Um outro, o qual sempre seguimos e não ha um auctor que não faça as maiores referencias, porque da optimo resultado, é este: investiga-se as duas cristãs iliacas antero-superiores e delias tiram-se duas linhas, linha ainda denominada biiliaca vindo terminar na colunina vertebral, o ponto de reunião das linhas, coincide approxi- madamente com o tubérculo da apophyse espinhosa da quarta vertebra lombar; e assim temos para cima, o terceiro espaço e para baixo o quarto; para o ponto lombo-sacro, tiram-se duas linhas da mesma forma que as primeiras, diíferindo somente de onde são tiradas, mas teem a mesma direcção, 104 pois partem das duas espinhas iliacas postero-supe- riores e o ponto de reunião na coluinna vertebral corresponde a apophyse espinhosa da quinta vertebra lombar; está ahi o espaço lombo-sacro, facil em reco- nhecer, por sua maior depressão interapophysaria e assim o operador com segurança determina os dois pontos, sendo para Chipault e para nós o preferido. Também existem casos de que nós iamos nos esquecendo de fallar, e são nos velhos cujas cartilagens tendem a ossificação, sendo preciso punccionar o espaço o mais depressivel ao dedo. A altitude a dar ao doente não é indilferente. Widal e Sicard punccionam sempre o doente estando deitado em decubitus lateral; outros preferem a posição assentada. Acompanham Widal e Sicard, Quincke e Chipault. Da posição assentada são adeptos, Tufiner, Duílos, Babinski, Dechy e nós. Widal e Sicard criticando esta posição, mostra grandes des- vantagens, mas com a pequena pratica que temos podemos dizer que desde quando o doente ainda não esteja em estados pathologicos gravíssimos, tendo-se logo o cuidado depois da puncção, recom- mendar ao enfermo que pelo menos fique deitado uma hora, em decubitus dorsal e com a cabeça baixa não succederà nada, desde quando nós em 14 casos sémpre fizemos a puncção na posição assentada e só tivemos a registrar em um ankylostomiasico um ligeiro estado lypothymico, ou mesmo uma Ivpo- 105 thymia. As contra indicações são as seguintes: provocar a sahida rapida do liquido e fatigar os doentes já enfraquecidos, concorrendo para a appa- rição de accidentes cerebraes. Mas temos a observar que nunca vimos o liquido nos doentes que operamos sahir bruscamente e sim gotta a gotta a não ser em um paludico, que cessado o frio, porem ainda em estado febril (39°) fizemos a rachicentese e se não obtu- rássemos a parte terminal da agulha com o nosso dedo o liquido se escoaria com uma velocidade egual a agua que jorra de uma torneira. Nesta posição acima descripta, o doente assenta-se ou na borda de seu leito ou melhor, como sempre fizemos, numa cadeira, as pernas pendentes ou os pés tocando o solo, o tronco completamente curvado, os cotovelos descansando sobre as pernas; fazendo aíiinal o agros dos», obtem-se o afastamento máximo das vertebras lombares e os pontos de reparo são laceis de determinar. Na posição deitada, o doente ora pode ficar no decúbito lateral direito ou esquerdo, segundo a illuminação da salla e o maior geito do operador, tendo a cabeça ligeiramente levantada por um tra- vesseiro, as coxas bem flexionadas sobre a bacia, na posição dita «en chien de fusil», se lhe manda curvar bem a columna, fazer o agros dos». E' esta altitude a que maior distensão dá as vertebras chegando as separar um e meio centímetro, e o 106 doente deve se approximar o máximo para aborda do leito, mas como os leitos do nosso hospital teem lastro de arame, transportávamos sempre o doente para unia meza e aqui não temos pejo de confessar que nesta po'sição erramos seis vezes. E Milian adepto da primeira posição que descrevemos diz em sua obra só ter feito a puncção o enfermo na segunda posição quando o doente absolutamente não se possa manter assentado e aflirma mesmo que a posição dei- tada é menos favoravel que a precedente. Desta maneira está tudo disposto a se fazer a rachicentese. Antigamente como disssemos anteri- ormente a puncção era feita quer por Quincke, quer por seus discípulos, com um trocate, hoje não é assim, todos os auctores são accordes, dizem que a rachicentese seja feita com uma agulha e não com um trocate, e esta, de platina iridiada' deve ser fina, solida e bastante comprida. Seu comprimento deve ser de nove a dez centímetros de extensão e oito por dez a um millimetro de diâmetro; sendo uma de suas extremidades cortada em bisel, ponteaguda e curta, a outra devendo se adaptar á seringa gra- duada em centímetros cúbicos. A razão de ser do comprimento da agulha, está, nos planos que ella tem de attravessar desde a pelle até o espaço sub-arachnoidiano ; solida e malleavel para não se curvar ou mesmo quebrar-se, se por- ventura ella vae de encontro ao corpo da vertebra; 107 em bisel muito curto para que possa perfurar todas as camadas e chegar até a porção liquida e não tocar a porção vertebral posterior, causando mau estar ao doente e mesmo podendo lesar algum vaso. A agulha apropriada para esta operação é a de Tuflier, que diíFere desta que descrevemos só em comprimento, porquanto tem seis centímetros São condemnadas as de aço porque não teem a mallebialidade das de platina e muitos são os casos delias terem-se partido dentro do paciente quando se fazendo a puncção. Dizem os auctores ser necessário adaptar um tubo de caoutchouc á agulha, destinado, a se fazer uma compressão, ou uma torneira no tubo, obtendo-se a diminuição do escoamento do liquido. Nos doentes robustos, de musculatura bem des- envolvida, promptos a reagir ; nos dementes, nos pa- ralyticos geraes, é preferível servir-se de agulhas fortes, afim de evitara torsão do instrumento; nos meninos, basta que a agulha seja de quatro a cinco centímetros de extensão e alguns décimos de inilli- metro de diâmetro. Todas as precauções asepticas são tomadas, a agulha deve ser esterilisada no autoclave e, em falta deste, deixando-a ferver trinta minutos* em uma capsula de porcelana; a desinfecção da região lombar é a mesma que já descrevemos quando tratamos das puncções exploradoras, aecrescentando somente que 108 ha operadores tão exigentes que aconselham a desin- fecção até as cristãs iliacas superiores. E se tem.de fazer exame bacteriológico é conveniente no ponto onde a agulha vae penetrar, queimar a epiderme ou melhor passar a ponta incandescente do thermo-cau- terio ; é a melhor forma de obter a esterilisação dos tegumentos. Feita a antisepsia da pelle, manda-se o doente fazer o agros dos» e o operador tira as linhas do ponto de reparo já citado, calca pela ultima vez o seu dedo aseptico, e marca o ponto onde a agulha vae penetrar; este lugar é reparado com o index esquerdo o qual elle não deve mais mover e como a puncção. se faz um pouco para fora do tubérculo da quarta vertebra, ponto que já falíamos, o operador para não perdel-o se serve com a mão direita mantendo a esquerda na posição primitiva até a introducção da agulha. A anesthesia ahi pode ser feita ou com uma injecção sob-cutanea de cocai na, ou uns jactos de chlorureto de ethyla, ouaindâ, como sempre fizemos, unicamente a applicação de algodão embebido em ether sulfurico, é o bastante para diminuir a dôr da picada. Ainda os próceres da sciencia aconselham, não uns jactos de chlorureto de ethyla como acima dissemos, e sim a anesthesia feita da forma seguinte; asperge-se o chlorureto de ethyla, depois suspende-se até que a pelle volte a côr normal e então reproduz 109 a mesma operação e qyando pela segunda vez ella volta ao estado normal a anesthesia está feita. Critica Milian se se utilisa do chlorureto de ethyla e se se dá a anesthesia por feita quando a pelle está fria e esbranquiçada, poque diz elle que neste estado ella é passagera e os tegumentos endu- recidos, oíferecem maior resistência a passagem da agulha. A anesthesia é hòa, devido a indivíduos pusi- lamines ou nervosos que na picada da agulha podem dar diversos geitos ao corpo trazendo como conse- quência ou o desvio da agulha ou mesmo com a contracção das massas musculares o entortamento ou mesmo o quebramento. Por isso obviam-se estes inconvenientes com a insensibilisação. Então, pega-sa na agulha que é conveniente levar um fio de platina evitando as obstruções, e retirando-se o dedo do ponto escolhido, ponto que como vimos está um pouco acima do tubérculo da quarta ou quinta vertebra lombar, se introduz na depressão ou na marca feita por este, com úma mpneira segura, más. não brutal, e pouco a pouco se vae dirigindo-a para cima e para dentro da cristã apophysaria, quasi perpendicularmente á columna vertebral, atravessando successivamente as massas sacro-lombares, o ligamento amarello interlaminar, o canal vertebral, a dura mater e, emíim, o sacco arachnoidiano, devendo-se parar logo que se encontre 110 resistência, não sendo preciso as mais das vezes, pois antes disto, vê-se o liquido gottejar. Se se marca a porção da canula que penetrou, medindo-se depois da punceão, nota-se que no adulto pode attingir de dois a seis centímetros e nas creanças de um a quatro, entre a idade de dois a doze annos. A extremidade da agulha pode tocar sem grande inconveniente sobre a face posterior do corpó ver- tebral; no ligamento vertebral commum posterior, mas não é preciso e desde que se possa evitar pelas razões que já alludimos acima, deve-se fazer, principalmente porque muito antes da agulha attin- gil-o o liquido escòa. A pratica tem demonstrado e o cirugião conhece quando a agulha penetra em pleno confluente sub-arachnoidiano, porque o pa- ciente faz um ligeiro movimento de retracção; podendo dizer, o liquido vae escoar. Retirada a porção que varia de cinco a dez centímetros cúbicos, exceptuando os casos, em que a maior quantidade de liquido melhora o doente como nas hvdro-cephalias e outras aifecções nervosas; retira-se rapidamente a agulha e segue-se a mesma technica que quando tratamos das punceões exploradoras deixamos esclarecida. Milian é o unico que recommenda não se usar o collodio, porque este reseccando produz soluções de continuidade na epiderme, constituindo assim muitas portas de entrada para a invasão microbiana. 111 E então aconselha fazer fricções para se dar a reunião dos lábios do orifício impedindo assim as hemorragias e depois applicar-se uma compressa secca e aseplica. Ha auctores que recommendam para acertar-se -a mão. fazer em cadaveres, diversas puncções mas nós podemos aífiirmar não ser pre- ciso, porque fizemos soguidainente oito sem errarmos uma só. Já que chegamos ao liquido, vamos vèr onde está e como se mantém elle ahi : entre a ara- chnoide e a dura-mater, em um espaço completamente fechado por fino tecido conjuctivo, está a camada liquida que mantém em seu seio todo o systema nervoso central, medulla e encephalo; este mesmo liquido penetra nos ventrículos cerebraes pelos buracos de Magendie e de Luschka, chegando até ao canal ependymario. Elle é para o systema nervoso um estojo protector tanto para o exterior como para o interior; suas relações com a substancia nervosa, são tornadas mais intimas pela sua penetração no interior do nevraxe, invadindo mesmo as bainhas lymphaticas dos vasos. Da relação intima entre o nevraxe, resulta que toda a alteração do liquqlo reper- cute sobre o nevraxe e vice-versa. E' devido ainda a este liquido que a pressão atmopherica não achata os craneos dos recemnascidos, cujas suturas não estão reunidas e contra os esforços exteriores. Experiências teem demonstrado que uma perda 112 maior <lo liquido, os anirnaes ficam com as funcções nervosas pertubadas, cessam de se locomover, outros são presos de uma anciedade e de uma agitação extrema; se pelo contrario injecta-se agua a 31° no tecido cellular sub-arachnoidiano, se produz inime- diatamente accidentes de compressão cerebral e o animal cahe em estado de coma. Sobre os movi- mentos do liquido cerebro-espinhal, basta collocar- mos a mão na fontanella anterior de uma creança para sentirmos os batimentos' systolicos synchronos com os do pulso. Estes batimentos não são inais do que a transmissão das pulsações arteriaes ao liquido incompressivel. Fem se observado também o fluxo e re- fluxo do liquido e aquelle se produzindo no momento da systole cardíaca portanto na diástole arterial. Existe ainda quanto ao liquido uma circulação e ha provas anatómicas, experimentaes e clinicas. Como prova experimental Sicard dá as injecções de substancias, ou líquidos estranhos no sacco sub-arachnoidiano se acompanhando da diapedèse leucocytaria. Como prova clinica Cathelin reune as provas experimentaes a provas pathologicas. Quanto a prova anatómica elles se baseam nas bainhas lymphaticas perivas- culares se abrindo directamente nos espaços sub-ara- chnoid ianos. O aspecto macroscopio do liquido normal é limpido como agua de rocha, podendo ainda ser turvo, purulento, vermelho e amarellado. As vezes 113 o liquido é em apparencia limpido e transparente, entretanto occulta um estado pathologico serio. Assim na meningite tuberculosa, que sendo centri- fugado se encontra no deposito grande numero de lymphocytos. Outras vezes em geral devido a alterações das meninges o liquido se modifica desde a simples opalescencia até a purulencia a mais accentuada. Quanto ao liquido hemorrhagico cabe a Furbringer a gloria de ter primeiro visto em dois casos de hemorrhagia cerebral. Incidentes da puncção lombar O primeiro incidente que se pode dar, é a puncção em branco, que, como sabemos, da-se algu- mas vezes precisando somente o operador não perder a calma e considerar como cousa muito natural, procurando retirar novamente a agulha examinal-a, percorrer com um fio de platina esterilisada, para vèr se houve alguma obstrucção, ainda que mesmo antes de introduzil-a já elle, deve ter este cuidado; mas pode ser que um Voagulo de sangue venha obstruir e é preciso examinal-a novamente. Feito isto, introduzir com toda a calma como se nada tivesse succedido, ter cuidado para que a ponta da agulha não vá chocar contra as laminas vertebraes, nem de encontro á base da apophyse espinhosa, porque 114 são casos de puncção em branco, e então o operador não tem mais do que dirigir a agulha ligeiramente para baixo e um pouco para fóéa, penetrando assim com facilidade no confluente sub-arachnoidiano E' bem verdade que quasi sempre a maior causa de erros nos principiantes, é a direcção da agulha muito para cima e para dentro. Outras causas, como muitas vezes vimos, são as obstrucções feitas pelas terminações da cauda de eavallo, pois por outro mecanismo não se pode explicar, desde que, além do signal que já demos da penetração no liquido, a agulha tem seguramente cinco centímetros dentro; o o ás vezes, para sanar este obstáculo basta uma ligeira rotação, de alTastamento ou de approximação, para para que o liquido gotteje. Emfim, pode existir uma anomalia anatómica e Widal ou Sicard assignalaram um facto da terminação do «cul-de sac» na quarta vertebra lombar, emquanto que, como vimos, no estado normal, o cone durai desce até a segunda vertebra sacra. Pode ainda escoar sangue pela agulha, o que se dá quando esta lesa algum capillar mesmo já estando ella em plena massa liquida; pode s£r ainda devido, a venulas ou arteriolas da intra ou extra-dura-mater, mas nestes casos o operador deve despresar esta primeira porção de liquido sanguinolento, porqanto vae elle pouco a pouco clareando até ficar completamente limpido, e se isto não se dá, convém que o operador 115 retire immediatamente a agulha e a introduza em outro ponto, como fizemos uma vez que punccio- namos um ankylostomiasiço e isto se deu. E ainda ha causas que nunca tornam o liquido claro pois este está verdadeiramente hematico; assim se observa nas hemorrhagias intra-arachnoidianas, em caso de hemorrhagia cerebral e, Netter e Clerc em 1900 notificaram um caso de uma hemorrhaeia O meningea, estando o liquido cephalo-rachidiano hemorrhagico. Um outro incidente que pode sobrevir, é no momento da penetração da agulha no sacco sub-arachnoidiano, haver a producção de um espasmo doloroso nos musculos de uma ou das duas coxas ; esta sensação passa immediatamente, não convindo o operador retirar a agulha; explica-se este espasmo* pela compressão de alguns filetes nervosos da cauda de cavallo produzida pela passagem da agulha, não persistindo a dôr, logo que ella é retirada. Depois da puncção, se a quantidade foi superior a dez centímetros cúbicos, pode-se observar cephalea, estados lypothymicòs, rachialgia, convulsões, hypo- termia algumas nauseas e até vomito. Estes symptomas podem durar algumas horas, em media dez a doze. Em geral não apresentam gravidade nenhuma e mesmo não apparecem se tem-se o cuidado de deixar o liquido gottejar, avisando-se ao doente que, pelo menos, leve duas horas deitado ou mesmo vinte e quatro. Temos 116 sempre o cuidado de recommendar ao nosso paciente que depois da operação fique na posição horizontal com a cabeça no mesmo plano que o do corpo, dispensando travesseiro e ha auctores que collocam travesseiros nas costas, para que assim a cabeça fique em plano inferior ao do corpo. Esta posição foi Tredenlenburg (piem a inventou e aflirma elle, pois delia nunca tivemos precisão, que basta ficar assim alguns momentos para que passem todos ossymptomas nauseososou vertiginosos que se tivessem esboçado. A producção destes pheno- menos, cephalea ou nausea, não se pode imputar nem a lesão das meninges, nem á retirada de uma quantidade pequena em relação á porção existente do liquido cephalo-rachidiano. Segundo Widal eSicard, é devida unicamente à abertura feita pela agulha na dura-mater de modo que depois de retirada, o liquido continua a derramar-se ao nivel do espaço épi-dural; a obturação qu o fechamento delia não' é tão immediato, se deduzindo que a posição assentada contribue mais do que a deitada, em virtude da pressão do liquido, e, portanto, a sahida pela abertura na primeira posição , seja abundante como já dissemos dando causa ao vasio cerebral e produzindo estes abalos ou tumores da nuca, de que se queixam os doentes algumas vezes. Pelo que aconselham Widal e Sicard a posição horizontal, agindo mecanicanfente, e se oppondo ao menos em parte para a sahida 117 (lo liquido para fóra da arachnoide supprimindo assim todo symptoma morbido. Felizmente temos a dizer que nas diversas puncções que fizemos, (é bem verdade que não se tratava de doentes já em adiantado estados pathologicos) nunca tivemos de registrar um só caso embora todas as puncções fos- sem feitas em doentes assentados e, como dissemos, só um apresentou uma lypothymia. E' bem verdade que Korning e Gumprecht já observaram a morte súbita, mas dizemos com a auctoridade de Labbé, que esta só se dá, quando os indivíduos teem tumores cerebraes e que se retira sessenta e cem centímetros cúbicos de liquido. Alguns auctores dividem os accidentes da puncção lombar, em immediatos e consecutivos. Os accidentes immediatos também denominados operatorios e consecutivos, nós já des- crevemos só deixando de nos occupar do ictus apo- plectico e sobre este diz Milian ter sido o accidente mais grave que elle viu. Finalisamos aqui este capitulo e o que nelle não se encontrar quanto á technica, é somente porque não queremos estar descrevendo assumptos que tratamos quando estudamos os derramens, tornando assim longa e fastidiosa a leitura da nossa disser- tação, repetindo e martellando a mesma matéria. CAPITULO IV • Pressão do liquido, densidade, cryoscopia, chromo-diagnostico, permeabilidade meningéa, exame chimico, toxidez, bacterioscopia e a cytoscopia Constituirá este càpitulo um estudo ligeiro porem preciso quanto nos for possível dos caracteres phy- sicos, chimicos, bacteriológicos e cytoscopicos do liquido cephalo-rachidiano em algumas moléstias tropicaes. PRESSÃO 1)0 LIQUIDO Desde suas primeiras investigações que Quincke fez logo o estudo da pressão do liquido cephalo- rachidiano no homem, em estado physiologico e em certos estados pathologicos. Já desde aquella épocha que o grande mestre de Kiel adaptava á canula um peq ueno manometro, e ainda hoje é este o methodo empregado para se observar a pressão, salvo pequenas modificações, como o apparelho de Hallion, que se baséa também num manometro simples, tendo um tubo de vidro capillar fixado verticalmente sobre um dispositivo de madeira e ligado á agulha por um tubo de caoutchouc. Para fuuccionar este appa- relho, não temos mais do que, enchel-o de agua 120 esterHisada; depois, deixar escoar pela agulha uma pequena quantidade, e que o disco superior da columna capillar corresponda ao nivel de um traço por ficção determinado, e este deve se achar em um plano sensivelmente parai leio ao plano o campo operatorio. O apparelho fica preparado sobre um dispositivo de madeira junto ao paciente, e, (piando se faz a puncção, o liquido escoando se adapta, o mais depressa possível á agulha ao tubo de caoutchouc, e não se tem mais do que, observar os graus de ascenção da columna de agua no interior do tubo capillar; comprehende-se facilmente que o liquido se escoando sempre com uma pressão constante, nada se tem a temer, observando-se o parallelismo dos planos, e a aspiração da agua no apparelho ao nivel do sacco sub-arachnoidiano. Nada mais facil, portanto, do que se fazer o calculo, desde (piando se leia a cifra achada depois da puncção feita, facilmente se determinará a pressão. Sicard e Widal citam diversos resultados tidos com este apparelho, dos quaes não nos occupamos porque não tratam do nosso ponto e assim seria invadir a seara alheia. Infelizmente, lamentamos nenhuma clinica ter, nem um manomelro destinado a esse fim, quanto mais o apparelho de Hallion para tomarmos as diversas pressões nos nossos punccio- nados. Mas para nossa felicidade, como muitas vezes já temos referido, o liquido sempre gottejava, 121 o que quer dizer que a sua pressão era normal. Quando o liquido tem uma grande pressão se escôa rapidamente; quando sua pressão é pequena, gotteja ou escôa lentamente. Portanto, do modo que o liquido sahe, podemos já dizer da sua pressão e esta seguramente será medida, adaptando-se um manometro' á agulha. Temos, também, a observar que o escoamento do liquido varia conforme a posição do indivíduo, assentado ou deitado, portanto já diminuindo assim o valor da pressão do liquido; e Marfan, lhe attribuiu pouca importância para o diagnostico. Normalmente, a pressão no decubitus lateral varia entre 40 e 60 millimetros, podendo se elevar até 800 millimetros de agua. Milian dá como pressão media, de 40 a 60 e como maxima 150 millimetros. Assim em estados pathologicos Naunym achou uma pressão de 700 centímetros cúbicos em um caso e em outro 500. A pressão também pode augmentar se o indivíduo tosse falia ou faz algum esforço, e que a circulação se accelere, o liquido sahirá com maior força, e assim com rapidez o liquido poderá ser impellido até á distancias de 50 ou 60 centímetros. Para Rieken uma elevação moderada da pressão com symptomas de compressão grave, indica uma alfecção cerebral aguda; uma elevação considerável 122 com symptomas de compressão moderados, indica uma alfecção chronica. Não tratei do aspecto do liquido nos aguardando para qunado estudarmos o chromo-diagnostico. QUANTIDADE A quantidade do liquido está em razão inversa do tamanho do eixo cerebro-espinhal; ha augmento nos casos de atrophia e diminuição nos de hyper- trophia do eixo. Exames em cadaveres teein demons- trado que existe maior quantidade de liquido nos velhos, do que nas crianças; varia também conforme a estatura do indivíduo, assim como o tempo de- corrido entre a morte e a autopsia, segundo ainda a alteração agonica óu cadavérica nas meninges, porque uma parte do liquido passa sempre, por imbibição para os tecidos circdmvizinhos. Em um indivíduo de estatura mediana a quantidade normal segundo Magendie é de 62 grammas, segundo Cotugno é de 125 á 155 grammas, tendo elle. feito a media tirada de 20 cadaveres. Segundo a opinião de Milian, Cotugno está mais com a verdade, porquanto tem se podido retirar até 120 grammas de liquido cephalo- rachidiano em uma só puncção. Verneuil, Billroth e Tillaux citam casos de fractura do craneo e de extirpação de polypos nasaes, de indivíduos nas 24 horas perderem mais de um litro de liquido. 123 Mathieu mesmo falia em casos de traumatismos vertebraes nos quaes elle tem observado até a perda de 2 e 4 litros de liquido cephalo-rachidiano. DENSIDADE A densidade do liquido cephalo-rachidiano, em individuo no estado normal é de 1003 á 1004, segundo Achard e Loeper; e no estado pathologico, segundo estes mesmos auctores, varia de 1002 a 1009. Segundo Richet a densidade do liquido está em relação com a quantidade de materiaes solidos exis- tentes nelle. Robin, Toison, Lenoble, Lassaigne, Marcete Lheritier tomando as diversas densidades no (•avalio acharam de 1002 a 1008. No homem estes mesmos auctores encontraram a mesma densidade, isto é, de 1002. á 1008. Widal e Sicard examinando 23 líquidos de diversos estados pathologicos, acharam de 1004 á 1012. Nós nos casos de moléstias tropicaes que examina- mos, lamentamos não haver um pycnometro na nossa escola, porquanto com os densímetros que existem não podemos lazer exame desde quando sabemos que a quantidade possível de ser retirada de 1 i(|uido, não dá para tomar a densidade com este appa- relho, mas áinda assim não nos descuremos, recor- rendo a outros meios, e assim o talentoso collega Saraiva, nos fez o obséquio de tomar a densidade, e se incumbiu do exame chimico do liquido; a cifrada 124 densidade achada por elle foi de 1.004,3. E da nossa parte, cóucluimos que o liquido nas moléstias tropi- caes que estudamos parece ter a densidade do liquido no indivíduo normal. CRYOSÇOPIA A tensão osmotica do liquido cephalo rachidiano sô foi estudada depois das investigações de Sicard, Widal e Ravaut. Antes delles somente Zanier, empre- gou o methodo dos erythrocytos d llmburger, obser- vando que o liquido cephalo-rachidiano do boi, reco- lhido logo depois de morto é hypertonico posto em relação com o soro sanguineo. O ponto de con- gelação do liquido normal oscilla entre - 0, 72 e-0, 78 segundo Widal Sicard e Ravaut. Ha processos patho- logicos chronicos nos quaes o ponto cryoscopico se aífasta um pouco do normal, achando-se-0, 50 á -0, 56. ) Achard, Loeper e Laubry operando indivíduos indemnes de toda lesão do systema nervoso central, teem constantemente achado cifras muito inferi- ores a dos auctores precedentes e são estas cifras que citamos acima deste periodo, parecendo que o liquido cephalo-rachidiano é isotonico ou hypo- tonico em relação com o soro sanguineo cujo ponto cryoscopico é - 0, 56. Em media nós achamos - 0, 70 nos casos estudados por nós, portanto dois gráus 125 abaixo do normal. Bard propoz um outro meio de se avaliar a tensão osmotica do liquido; consistindo em fazer cahir uma gotta de sangue do doente em uma pequena quantidade do liquido a examinar, agita-se a mistura, centrifuga-se e depois de algum tempo, se observa se o liquido ainda está de cor amarella. Normalmente o liquido cephalo-rachidiano puro não dissolve a hemoglobina, e supporta a addicção egual de agua distillada antes de ficar avermelhado ou da côr de laca como o sangue. No estado pathologico, sua tensão diminue como já dissemos, e o coramento é egual ao do sangue e se dá mais facilmente. Estas investigações sobre a tensão osmotica do liquido merecem ser descriptas como titulo de documento scientiíico, mas Labbé diz que ellas não concorrem com investigações utilisaveis na pratica. CHHOMO-DIAGNOSTICO O aspecto do liquido cephalo-rachidiano em algumas moléstias tropicaes, como no beriberi, no impaludismo, na ankylostomiase, na lepra e no abcesso hepático, é claro como agua de rocha, se podendo comparar debaixo deste ponto de vista, ao liquido do kysto hydatico, provando o seu estado normal. Os caracteres únicos que podem fazer differir da agua, são os seguintes; mobilidade e 126 cohesão, assim se se agita um tubo de ensaio, elle cahe rapidamente e quasi não molha as paredes do tubo. Em outros estados pathologicos, elle pode ser desde turvo, floconoso, purulento, opalescente, até á côr hemorrhagica, amarellada ou ama relia esverdeada. • Foi Sicard, por assim dizer, quem primeiro procurou dar o nome geral de chromo-diagnostico o conjuncto destes caracteres tirados do aspecto e da coloração do liquido, estudando debaixo do ponto de vista do diagnostico. As vezes e como se deu comnosco em um ankylostomiasico, o liquido princi- piou a gottejar sanguinolento, e nós immediatamente retiramos a agulha e a introduzimos em um outro ponto, dando, neste, a cór normal. Labbé e todas as auctoridades no assumpto teem creado diversos methodos de diílerenciação, para saber se quando o liquido sahe sanguinolento, é devido a lesão de uma venula ou arteriola da parede, ou de uma veia meningéa feita pela agulha, ou se, na verdade, elle é hematico, devido ás hemorrhagias meningéas, da dura-mater, craneanas, rachidianas, ou à hemato- inyelia, a hemorrhagia cerebral, a contusão cerebral, as fracturas do craneo ou do rachis e ainda si devido a meningites cerebro-espinhaes agudas ou mesmo a meningites chronicas, tendo sido observado por Sicard. Nas outras a que me referi, falam com a auctoridade que lhes é peculiar; Furbringuer, 127 Konig, Tuflier, Bard, Milian, Rendu, Géraudel, Tesson, Poirier, Regnier, Guinard, Widal e Netter. Trago a lume estes diversos estados pathologicos simplesmente porque pode, concumitantemente com algum delles, apparecer uma das moléstias tropicaes estudadas por nós, e assim tiramos a limpo, e diremos, não, este liquido hemorrhagico não està ligado a esta páthogenia tropical, e sim a um outro estado pathologico. Para isto na sciencia existe hoje o methodo de Labbé, dividido em processos os quaes são: Io to- mam-se 3 tubos e vae se recebendo uma porção em cada um, e depois compara-se; se é devido a lesão de uma venula da parede dorsal, no Io tubo elle está corado, no 2o diminue a coloração e no 3o está comple- tamente claro; se não é devido a lesão, todos os 33 tubos conleem liquido da mesma cór. Deduzindo o Io elle formou o 2o o 3o e o 4o; o 2o o qual è, o que se segue; o sangue misturado ao liquido no momento do escoamento se coagula, ernquanto o liquido corado em amarello não se coagula geral- mente; 3.° centrifugando-se o liquido elle íica claro, e no fundo do tubo depositam-se as hematias, se o sangue vem de alguma lesão produzida pela agulha, fica amarello nos casos de alguma hemorrhagia do ne* vraxe; 4o o liquido corado pela lesão de uma veia, apresenta-se com uma cór francamente vermelha, em outros casos é amarello escuro ou amarello esver- 128 deado. Por fim, a formula leucocytaria pode servir com efTiiciencia para o diagnostico. Existe ainda a xantochromia, que é a coloração amarela do liquido cephalo-rachidiano e que também nós não observamos nas moléstias tropicaes que estudamos. PERMEABILIDADE MENINGÉA Normalmente, a membrana arachnoide-pia-mater é impermeável de fóra para dentro; quer por substancias ingeridas, quer por substancias injectadas sob a pelle, ou na circulação; não attingem estas substancias o liquido cephalo-rachidiano. De dentro para fóra ella é permeável; provam as substancais que sendo injectadas no liquido, são absorvidas e eliminadas pelas urinas; tendendo-se a notar que, a passagem se faz de um modo lento, como as substancias injectadas na pleura. Este estudo da permeabilidade e impermeabilidade em geral interessa tanto ao medico como ao physi ologista. Já Sicapd em sua these ' procurou demonstrar as vantagens que a clinica podia tirar da investigação da permeabilidade da membrana arachnoide-pia- mater. Também como sabemos Rainond, Castaigne, Renon, Widal e Ravaut, estudaram depois de Sicard outras membranas e fizeram investigações notáveis 129 na pleura, nos casos de pleurisia soro-fibrinosa ou purulenta, tuberculosa ou não tuberculosa. Já a impermeabilidade da membrana arachnoide- pia-mater tem os seus limites, e estes, como disse- mos, somente emquanto o organismo está physi- ologico. Em diversos estados pathologicos VVidal, Sicard, Monod, Brissaud, Brecy. Gilbert e Gastaigne teem demonstrado a sua permeabilidade, quer dando altas doses de iodureto de potássio ao paciente, quer o azul de methyleno. Outros já pensam ao contrario destes, e affirmam que não existe perme- abilidade de fora para dentro e também avultado é o seu numero e notáveis são os seus nomes. Desta forma pensam Guinon, Froin, Griffon, Achard e Loeper, e o primeiro destes chega a dizer que a permeabilidade meningéa não pode si não raramente contribuir para o diagnostico. Já, para a permea- bilidade de dentro para fóra não ha quem conteste, porquanto as experiencias em cães e mesmo no homem teem sido do maior exito. Nós, quasi todos os dias, lemos ou vemos que se faz a rachicocainisação: como actua a cocaina ? não é preciso que ella atravesse a pia-mater, e portanto de dentro para fóra vá actuar sobre a substancia nervosa ou as raizes subjacentes? Experiencias em cães feitas ou com o iodureto de potássio, ou com o azul de methyleno introduzidos 130 no espaço sub-arachnoidiano, vão se encontrar, depois de uni certo tempo, na urina. Na perme- abilidade de dentro para fóra existe um faetor importante, senão o de maior saliência, é a diapedese produzida infallivelmente pela chegada de corpos estranhos. Tentamos por duas vezes fazer a perme- abilidade de dentro para fóra em dois casos de impaludismo, com o azul de methyleno, porem foram baldados os nossos esforços, porque todas as duas vezes o empregado se esqueceu de collocar os cálices para receber a urina. Tivemos depois a idéa de aproveitando a acção therapeutica da quinina injectarmos este medi- camento, receiamos isto fazer, diante da péssima estatística das injecções dos saes da quinina no espaço sub-arachnoidiano. Audebert e Lafon injectaram soluções de chlo- rydrato de quinina ao centesimo, na dose de 1 centri- grarnma e de 5 milligrammas em coelhos e estas provocaram uma paralysia persistente dos membros posteriores, que em um caso foi seguido de morte no fim de um mez. Outros coelhos entretando receberam 3 e 4 inilligrammas de quinina e só se apresentaram com uma paralysia sensitiva e motora passagera. Nos animaes que succumbirâm, elles praticaram côrtes medullares, e encontraram uma sclerose medullar diífusa, attingindo sobre tudo os cordões 131 posteriores, a substancia cinzenta e' atrophia das grandes cellulas motoras dos cornos anteriores. As injecções sub-arachnoidianas de quinina foram propostas por Jaboulay e a solução que elle aconselhava era bem concentrada de 0,30 a 0,50 cen- tigrammas para um centímetro cubico de dissolvente ou vehiculo. Devido a uma destas injecções, Gagnol cita um caso em sua these de um individuo que teve paralysia dos esphincteres e esta durou 3 semanas. Em um outro individuo que só foi injectado 25 cen- tigrammas diz o mesmo auctor, persistia a paralysia esphincteriana até a publicação de sua these, deformas que ficamos sem saber o tempo que levou. Por hm conclue Audebert e Lafon o seu artigo da se- guinte forma, as injecções intra-rachidianas de quinina apresentam um certo perigo e não devem por consequência ser tentadas no homem senão com o máximo de reserva. Eis ahi a causa de não ter feito as injecções de quinina, e quanto ao azul de methyleno, so temos a dizer que a culpa não foi nossa e até hoje não tivemos um outro doente para verificarmos a permeabilidade de dentro para fóra, que além de sé eliminar em natureza, ainda se eli- mina debaixo da forma de chromogeno, se reconhe- cendo pelo acido acético. CARACTERES CHIMICOS Os caracteres ehimicos são tirados das dosagens 132 analyticas, comprehendendo o estudo da «ccízo bactericida e a toxidez do liquido cephalo-rachidiano. DOSAGENS ANALYTICAS São muito trabalhosas e diíliceis de se fazer as dosagens analyticas no estado physiologico no homem, porque as quantidades de liquido cephalo- rachidiano, que o chimico pode obter, são mínimas para estes estudos. Sabemos que a reacção no estado physiologico é alcalina e assim é ella nas moléstias tropicaes que verificamos, ficando acida depois da morte. Segundo Robin a composição chimica do liquido normal é a seguinte : Agua 9,87 Albumina ■ 1.10 Gorduras 0,09 Extractos alcoolico e aquosos. / ? 2,75 Lactato de soda ) Gholesterina 0,21 Ghloruretos de K. e Na . . . 6,14 Phosphatos terrosos .... 0,10 * Sulfatos de K. e Na ,20 133 Segundo Lessaigne Agua 98,564 Na Cl eK Cl 0,801 Albumina 0,088 Ox. Ozona 0,474 Matéria mineral e phosphato de cal livre 0,036 Carbonato de soda e phosphato de cal 0,017 Devido a pequena quantidade de liquido cephalo- rachidiano não podemos apresentar uma dosagem analytica completa, porem secundado pelos esforços de meu distincto collega Saraiva eis o que elle achou Chloro (em Na Cl 7,9933 Phosphoro (P2 O5 0,237 Extracto secco .'.... 8,1092 Albumina Traços Pode-se ainda encontrar uma pequena quantidade de glycose ou substancias que reduzem o licor de Fehling, e também encontram-se traços de uréa. No estado pathologico, Q£ chloruretos variam sem regra precisa, a glycose tem sido achada em indi- víduos attingidos de diabetes assucarada, a dose 1,10 grammas por mil, segundo Widal e Sicard e segundo Achard e Lceper 5,20 grammas. 134 Tem se observado lambem o augmento da albu- mina, fibrina, peptonas,uréa, chloruretosephosphatos em casos de inflammação meningéa. Já para Arthus o liquido cephalo-rachidiano no estado normal não contem substancia fibrinogena, porque, do contrario diz elle, coagulava a 56,° e não dá fibrina nem espontaneamente, nem pela do serum san- guíneo; não contem soro-albumina, porque todas as substancias albuminoides dissolvidas são prece- pitadas pelo sulfato de magnesia dissolvido até a saturação. Com Arthus pensa Sieard. Richet, num artigo sobre o cerebro no diccionario de physiologia, diz ter encontrado um fermento diastasico no liquido cephalo-rachidiano dos peixes, muito activo, capaz de sacchariíicar o amidon. Achard e Clerc não encontraram este fermento no homem, nem outros como a lipase, a amylase. Enriquez e Sieard da mesma forma não encontraram a oxydase. Em resumo, o (pie caracterisa o estado chimico do liquido, principalmente no estado normal, é a grande quantidade de agua e de chlorureto de sodio e a ausência da serum-albumina. Para alguns auctores, sendo a que existe, serum-globulina; e um liquido limpido depositando um coagulo fibrinoso deve ser considerado como um liquido pathologico. Quanto ao liquido cephalo-rachidiano nas mo- léstias tropicaes que examinamos, não observamos substancia nenhuma que reduzisse o licor de Fehling, 135 como observou Glaude Berna rd no liquido normal e foi comprovado por Toison, Lenoble, Deningès, Sabrazés, chegando mesmo até Dircksen determinar a quantidade em 0, 72 °/0. Quanto a albumina veri- ficamos a presença de maior ou menor quantidade, lastimando não podermos apresentar a dosagem exacta desta, porque com a quantidade de liquido que dispúnhamos, é impossível se fazer. Toxidez. O liquido cephalo-rachidiano normal não é toxico, seja em injecções sub-cutanea, intra venosa, ou intra cerebral. Assim Souques e Gastaigne chegaram a injectar seis centímetros cúbicos de liquido physiologico em uma cobaya e esta não soffreu altera- ção em sua saúde. No estado pathologico, somente em certos casos excepcionaes, se tem observado a toxidez do liquido e ainda conforme a pathogenia. Acção bactericida. Goncetti foi quem primeiro demonstrou esta acção do liquido cephalo-rachidiano, mostrando como este contem substancias bhcte- ricidas; semeou em liquidos pathologicos de diversas procedências bacillos, chegando a obter má evolução destes; e em animaes, elle observou a diminuição da virulência, de modo que transportados nova- mente para culturas, elle concluiu que havia atte- nuação da vitalidade. Para os microbios não patho- genos, como o bacillus subtilis, elle collocou-os em tubos contendo liquido cephalo-rachidiano e deixou o tubo destampado sobre a mesa do laboratorio 136 e, no fim de alguns dias, as culturas estavam bem desenvolvidas. Contra estas experiencias feitas in vitro e in vivo surge a opinião abalisada de Widal e Scard, dizendo que experiencias realisadas em animaes demonstraram ao contrario, e facilmente infectaram cães, com pneumoccus injectados sobre a arachnoide e, dizem elles, todos nós sabemos como este animal é refractario a infecção pneu- mococcica. Caracteres bacteriológicos. As pesquizas prati- cadas para a descoberta de microbios no liquido cephalo raehidiano, baseam-se em tres methodos: coloração, cultura e inoculação. Coloração. Quando o liquido é purulento, contem em geral grande quantidade de germens e para examinar basta tomar uma gottinha, espalhar sobre uma lamina, fazer um frottis, corar por qualquer processo usual e levar ao microscopio para reconhecer a forma do germen. Se o liquido é claro, é preciso submetter á centrifugação, (foi sempre o que fizemos, pois como temos dito, em todas as puncções o liquido colhido por nós era muito claro) e fazer o exame do deposito. Temos a revelar que em todos os depositos de liquido cephalo-rachidiano de algumas moléstias tropicaes que coramos, pelos processos já citados tanto nós quanto o distincto Mestre Dr. João Garcez Froes encontramos coccus, embora o cuidado que tínhamos, quer (piando recebíamos o 137 liquido, quer quando o centrifugavamos, se bem que não pare ern nosso espirito duvida de que estes coccus não eram'do liquido, e sim, este contaminado depois de posto em communicação com o ar. Em um caso de liquido de um leproso não encon- tramos o bacillo de Ilansen, como também no liquido de diversos paludicos, não vimos nein hematozoarios, o que seria difllcil pois sabemos que este vive na hematia, nem também nos leucocytos que encon- tramos, não achamos pigmento. Culturas. Quanto a culturas, lamentamos o nosso meio estar ainda tão atrazado que um gabinete de clinica não disponha de recursos para esta pesquiza tão necessária. Assim podíamos ter feito culturas apropriadas do bacillo de Hansen e não fizemos. Já não trato aqui das outras pathogenias como o beriberi em que não está descoberto o responsável, e do impa- ludismo porque até hoje a sciencia ainda não descobriu um meio de cultura apropriado. Em outras, como a ankvlostomiase, não tínhamos de fazer culturas. Inoculação. Quanto a este methodo, se fossemos escrever, diríamos as mesmas phrases que empre- gamos, quando nos occupamos das culturas. No emtanto quer o processo de culturas quer o de inoculação, dão sempre bons resultados. O de culturas, com ou sem centrifugação, tem dado 138 excellentes provas; o de inoculações em animaes reactivos ou sensíveis, nas mesmas condições em que as sorosidades pleuraes, constituem o methodo o mais simples e o mais rigoroso para cectos estados pathogenicos. Cytoscopia. As preparações do liquido cephalo- rachidiano se fazem da mesma forma, como nós fizemos as das sorosidades pathologicas e isto já dissemos quando descrevemos a technica; com a unica differença que não é . preciso desfibrinar o liquido e a centrifugação deve se fazer com o maior cuidado, devido á menor quantidade de elementos cellulares. A centrifugação é feita no mesmo appa- relho, só variando o tempo; sempre gastamos uma hora, para obter um pequeno deposito. A pequenhez do deposito deu lugar aWidal e Ravaut indicar um processo que é o seguinte; deixa-se escoar todo o liquido centrifugado contido no tubo; man- tem-se assim no sentido vertical e colloca-se uma pipeta que se enche de deposito por capillaridade, Não se tem mais do que espalhal-o em laminas seccal-as, fixal-as e coral-as ou pela hemateina-eosina ou pelo azul de Unna, ou pela triacida, ou ainda pelo Leishrnan, que como sabemos é o methyleno blau. A formula leucocytaria, quer no beriberi, tanto na fornia edematosa, como na paralytica, quer em seis casos de paludicos, quer em quatro de ankylos- 139 tomiasé, quer em um leproso, e ainda em um de abscesso do fígado, não podemos obter, só obser- vando alguns lymphocytos, donde concluimos com o emerito Dr. João Garcez Froes, que nos fez o obséquio de acompanhar nestes estudos, que o liquido cephalo-rachidiano nestas moléstias tropicaes nos parece normal, e seja dito logo aqui que, até hoje ninguém cogitou de estudar o liquido destas pathogenias, a menos que desconheçamos alguém ou alguma obra que delias tenha tratado. Ha auctores que opinam para o exame micros- copio directo sem coloração, e dizem ser indis- pensável porque aílirmam elles, permitte vêr imme- diatarnente se o liquido contem elementos anormaes; não existindo, elles são accordes que não se deve proseguir nas investigações, mas neste ponto não concordamos, desde quando os elementos nas preparações do liquido sem coloração, além de' serem pequenos são transparentes e a coloração accentuando mais os seus caracteres, com mais facilidade podemos conhecel-os. Como elemento em seu favôr, elles dizem que, quando se cora e depois lava-se a preparação para tirar o excesso de corante, os elementos cellulares são arrastados pela agua, mais isto não é exacto desde quando a fixação seja bem feita, pode-se lavar a vontade que não ha despegamento das cellulas. 140 Laignel Lavastine- foi quem particularmente insistiu para que se contasse os elementos figurados do liquido cephalo-rachidiano e preconisou um methodo de numeração que seria excellente, se fosse fácil diluir o coalho ou o deposito obtido pela centrifugação. O methodo é o seguinte, aspira-se docemente com uma pipeta as camadas superficiaes do liquido e seja V - D esta quantidade, D representando a quantidade de liquido restante no tubo; D é agitado de modo a formar uma emulsão homogenia. Retira-se uma gotta desta emulsão e se faz a numeração dos elementos figurados. Seja N o numero de elementos contidos em D por millimetro cubico então temos X = N X D, I) e V sendo expressos em millimetros cúbicos. Poderíamos ainda nos demorar no estudo do valor theorico e pratico da cytoscopia, mas era aífas- tarmo-nos de nossa rota, pois deixamos aqui bem claro que a cytoscopia nestas moléstias nenhum valor tem, desde (piando o liquido cephalo-rachidiano nellas, diante dos dados observados por nós, parece conservar-se normal. Poderíamos ainda fallar do valor therapeutico da puncção lombar, empregada em dois fins intei- ramente differentes; 1° para desembaraçar os centros nervosos de productos infecciosos etoxicos; segundo 141 com o fim de diminuir a hypertensão do liquido, evitando a compressão cerebral, que como sabemos é a causa de symptomas peniveis ou graves, taes como a cephaléa ou as convulsões; mas nestes poucos casos que observamos nada podemos dizer, desde quando, além de ser o numero muito limitado de investigações e o liquido nellas nos parecer nor- mal, como tratarmos aqui deste valor therapeutico ? Mesmo no beriberi onde tiramos 15 c. c. cúbicos, o liquido gottejava, portanto não podemos dizer que havia maior tensão e que pela maior sahida do liquido, este desafogando os centros nervosos o doente pas- sasse melhor; a moléstia seguio a sua marcha, termi- nando pela morte dos pacientes em todos dois casos. Em outras pathogenias, sim, é que a retirada, as vezes até de 189 grammas de liquido no espaço de 4 mezes e em 6 puncções lombares, feitas por Von Leyden em 1897, trouxeram para um menino de 3 annos melhoras inesperadas. Oppenhein e Lenhartz também, em 1897, citam um caso de cura definitiva, depois da retirada de li- quido cephalo-rachidiano, variando de 20 a 50. centí- metros cúbicos de cada vez. Abbadie, em 1901, cita um facto de um indivíduo que, entrou para o serviço de Pitres com uma cephaléa apparecida sem razão evidente e se manifestando com accessos consecutivos. Todos os analgésicos, todos os hypnoticos foram empregados sem resultado as 142 dores continuaram intoleráveis, elle fez a puncção lombar e retirou 30 centímetros cúbicos de liquido; dias depois a cephalea diminuiu e terminou desappa- recendo por completo. E assim muitos casos de outras enfermidades po- deriam ser tratados aqui, porém incorrendo na falta de sahirmos do nosso traçado. e Nem ao menos um estudo comparativo podemos fazer, pois em tão pouco tempo que temos para es- crever um trabalho, ha de estar sempre eivado de faltas; porem o que podemos aífiançar aos distinctos mestres é que, procuramos diminuir o seu numero quanto possível, pois sempre tivemos em mira o provérbio latino : verba volant, scripta manent. OBSERVAÇÕES I F. clinica externa punccionado pela vigésima segunda vez e esta ultima examinamos o liquido; pleurisia francamente purulenta, còr do liquido ama- rella escura. Densidade 1018 Quantidade 1138 Temperatura não tomamos porque o liquido já ha muito tempo estava no gabinete. A formula leucocytaria foi a seguinte e contamos 500 elementos cellulares. Polynucleares 86 °/o Lymphocytos pequenos . . 11" grandes . . 0,4" Hematias 2,6" 100,0 II I. N. P. preto, solteiro, 32 annos, enfermaria de S. Vicente, diagnostico pleurisia, soro-fibrinosa, se fez a thoracentese e retirou-se um liquido de còr amarella citrina:- 144 Quantidade 940 Densidade 1012 Temperatura 32° A formula leucocytaria foi a seguinte e con- tou-se 500 elementos cellulares. Pequenos lymphocvtos ... 42,8 °/0 Grandes 1,6 " Mononucleares 0,1 " Ilematias ' 55,5 " 100,0 III M. F. B. M. preta, solteira, idade 44 annos enfermaria Sla Anua, diagnostico pleurisia soro- fibrinosa; feita a thoracentese retirou-se de liquido. Quantidade 1900 grs. Densidade 1014 Temperatura 32 0 Côr, amarella citrina, formula leucocytaria foi a seguinte e contou-se 600 elementos cellulares. Pequenos lymphocvtos . . . 18,30 °/0 Grandes lymphocvtos ... 1, Mononucleares 0,50 " Polynucleares 1,60 " Hematias 78,60 " • 100,00 145 IV , M. idade 10 annos, pardo, enfermaria S. Vicente, diagnostico pleurisia, se fez a puncção exploradora e a formula leucocytaria demonstrou a sua natureza purulenta. Quantidade lOc.c. não se tomou a densidade devido a quantidade, còr amarella com reflexos verdes e a formula leuco- cytaria foi a seguinte e contou-se 500 elementos. Lymphocytos pequenos . . 31 Polynucleares 18 Hemacias . . .... 51 100 V F. clinica externa, diagnostico de pleurisia fez-se a puncção e retirou-se cerca de 200 grammas de liquido soro-hemorrhagico, não podemos tomar a densidade devido a quantidade que nos enviaram; a formula leucocytaria foi a seguinte e contamos 500 elementos cellulares com hemacias. Hemacias 93,2 °/0 Lymphocytos pequenos . . 6,4 Lymphocytos grandes . . . 0.4 100,0 146 sem as hemacias Lymphocytos pequenos . . 90,4 °/0 grandes . . . 4,2 " Polynucleares 2,8 Cellulas endotheliaes ... 2 Intermediários 0,6 100,0 VI M. C. S. preto solteiro, 54 annos, enfermaria S. Vicente, diagnostico ascite de origem hepatica, fizemos a paracentese abdominal e retiramos Quantidade ....... 2810 grs. Densidade 1015 Temperatura 33° Reacção alcalina, se fez a contagem cellular de 800 elementos e a formula foi a seguinte : Cellulas endotheliaes . . . 2,25 °/0 Lymphocytos pequenos . . 60,8 " grandes ... 2 Polynucleares 0,5 " Mononucleares 0,25 " Hemacias ........ 34,2 100,00 147 VII A. M. preta, 50 annos enfermaria Sant Anna. diagnostico carcinoma do fígado com ascite, se fez a paracentese abdominal e retirou-se, Quantidade 8200 grs. Densidade 1010 Temperatura 30° Reacção alcalina. O liquido tinha uma cor amarella esverdeada accentuada, se procedeu a contagem cellular de 600 elementos e a formula foi a seguinte Pequenos lymphocytos . . . 54,68 °/0 Cellulas endotheliaes . . . 22,5 " Grandes lymphocytos . . . 15,85 Mononucleares ...... 0,37 " Polynucleares 6,6 " 100,00 VIII T. B. S. 22 annos, branco, solteiro, diagnostico ascite de origem brightica, enfermaria S. Vicente, fizemos a paracentese abdominal e retirou-se. Quantidade 6620 grs. Densidade 1007 Temperatura 32° Reacção alcalina. 148 O liquido tinha uma cor fracamente leitosa, pro- cedeu-se a contagem cellular de 500 elementos e a formula foi a seguinte Cellulas endotheliaes . . . 62,6 °/0 Lymphocytos pequenos. . . 31, grandes . . . 0,8 Poly nucleares 1,8 Mononucleares 2,6 Hemacias. .... 1,2 100,0 IX A. J. B. branco, solteiro, 38 annos, enfermaria S. Vicente, diagnostico cirrhose atrophica com ascite se fez a paracentese abdominal e retirou-se Quantidade 4100 Densidade 1012 Temperatura 32° Reacçào alcalina. O liquido tinha uma côr amarella citrina, se pro- cedeu a contagem cellular de 500 elementos e a formula foi a seguinte: Lymphocytos pequenos . . 47 °/0 grandes ... 1 Mononucleares 0,2 " Polynucleares 0,4 " 149 Eosinophilos0,2 Hemacias 43,2 Cellulas endotheliaes ... 8, 100,0 T. V. M. preto, solteiro, 36 anos, enfermaria S. Vicente, diagnostico cirrhose atrophica com ascite, fizemos a paracentese abdominal e retirou-se Quantidade 6400 grs. Densidade '1014 Temperatura 32° Reacção alcalina, côr amarella citrina, proce- deu-se a contagem cellular de 500 elementos e a for- mula foi a seguinte: Cellulas endotheliaes ... 8 °/0 Lymphocytos pequenos . . . 56 grandes . . . 4,4" Polynucleares 0,2 " Mononucleares 0,3" Hemacias 31,1 100,0 XI F. diagnosticado hematocele, fez-se a puncção 3 retirou-se 300 grammas de liquido, feitas prepa- 150 rações do deposito o resultado foi o seguinte des- prezando as hemacias. Grandes lymphocytos ... 40 °/o Pequenos " ... 31 " Polynucleares ..... 9 " Mononueleares 1 " Intermediários 3 " Cellulas endotheliaes ... 16 " 100 contando as hemacias o resultado é o seguinte: Polynucleares 0,25 °/o Lymphocytos pequenos . . 1 grandes . . 2,25 " Hemacias 96,5 . 100,00 XII M. .1. M. preto, solteiro, 52 annos de idade, enfermaria S. Vicente, diagnostico hematocele se fez a puncção e retirou-se 50 grammas de liquido, feitas preparações do deposito o resultado foi o seguinte desprezando as hemacias: Grandes Lymphocytos ... 26 °/0 Pequenos " ... 54 " Polynucleares 12 " Mononueleares 2 " Cellulas endotheliaes ... 6 " 1ÕÕ~ 151 XIII M. J. M. preto, solteiro, 52 annos de idade pedreiro, enfermaria S. Vicente, diagnostico hydro- cele, se fez a puncção e retirou-se 450 grammas de liquido, feitas preparações do deposito o resultado foi o seguinte, tendo se contado 500 elementos cellulares: Grandes lymphocytos ... 18 °/0 Pequenos " ... 60 " Hemacias 14 " Cellulas endotheliaes ... 8 " 100 XIV M. L. G. 50 annos, pardo, solteiro, enfermaria S. José, diagnostico hydfocele, retirou-se 100 gram- mas de liquido, feitas preparações do deposito, tendo se contado 500 elementos o resultado foi ò seguinte: Grandes lymphocytos ... 12 °/0 Pequenos " ... 46 " Hemacias 20 " Cellulas endotheliaes ... 22 " • 100 152 XV J. P. 27 annos, branco, clinica externa, diagnostico chvlocele, se fez a puncção e retirou-se 150 grammas de liquido, feitas preparações do deposito, tendo se contado 800 elementos o resultado foi o seguinte: Pequenos lymphocytos . . 91,75 °/0 grandes .... 2,125 Hemacias 5, Intermediários 0,75 Mononucleares 0,375 100,000 XVI . M. 10 annos pardo, enfermaria S. Vicente diag- nostico pleurisia tuberculosa, transformação em puru- lenta, pulmão também affectado, fizemos a prova do vesicatório e o residtado do deposito do liquido foi o seguinte: Polynucleares 68 °/0 Lymphocytos pequenos . . 11 Cellulas do vesicatório . . 21 " 100 XVII J. S. S. 44 annos, pardo solteiro, enfermaria S. Vicente, diagnostico, tuberculose no primeiro 153 periodo, fizemos a prova de vesicatório e o resultado do deposito do liquido tendo se contado 500 elementos cellulares foi o seguinte: Polynucleares 87,6 °/0 Lymphocytos pequenos . . 9 grandes . . 1,4 Gellulas do vesicatório . . 2 100,0 XVIII J. S. J. preto, solteiro, 35 annos, enfermaria S. Vicente, diagnostico tuberculose em Io periodo, fizemos a prova de vesicatório *e o resultado do deposito do liquido tendo se contado 500 elementos cellulares foi o seguinte: Polynucleares 72 °/0 Lymphocytos pequenos . . 12 grandes ... 2 " Cellulas do vesicatório . . 14 100 XIX II. R. A. 26 annos, branco, solteiro, portuguez, enfermaria S. Vicente, diagnostico tuberculose em Io periodo, fizemos a prova de vesicatório e o resultado do deposito do liquido tendo se contado 500 ele- mentos foi o seguinte: 154 Polynucleares 87,8 °/0 Lymphocytos pequenos . . 7,6 " Cellulas do vesicatório . . 4,6 " lõõ/T A. L. 21 annos, branco, solteiro, portuguez, enfermaria S. Vicente, diagnostico tuberculose em 3o periodo, fizemos a prova de vesicatório e o resultado do deposito do liquido tendo se contado 500 ele- mentos foi o seguinte: Polynucleares 61,8 °/0 Lymphocytos pequenos . . 33 " •grandes ... 3 " Mononucleares 0,6 " Cellulas do vesicatório ... 16" 100,0 XXI M. T. S. 17 annos, solteiro, enfermaria S. Vicente, tuberculose em 3o periodo, fizemos a prova de vesicatório e o resultado do deposito do liquido tendo se contado 600 elementos cellulares foi o seguinte: Polynucleares 89,1 °/0 Cellulas endotheliaes . . . 8,5 " Lymphocytos pequenos . . 2, " Hemacias 0 4" 100,0 155 XXII F. clinica externa, diagnostico dermatite de Duhring, fizemos a formula leucocytaria que foi a seguinte e contamos 600 leucocytos. Polynucleares 47,5 % Pseudo eosinophilos. . . . 19,1 " Eosinophilos 1,9 " Lymphocytos pequenos. . . 2 " Mononucleares 0,3 " Hemacias 29,2 " 100,0 XXIII k J. R. S. preto, idade 35 annos, enfermaria S. Vicente, diagnostico de impaludismo, verificado ojiematozoario ao microscopio, fiz a puncção lombar, retirando 10 c. c. de liquido cephalo-rachidiano. Cen- trifugado uma hora quasi não deu deposito, feitas preparações encontramos apenas alguns lymphocytos donde concluímos que o liquido estava normal. XXIV P. S. 18 annos de idade, pardo enfermaria S. Vi- cente, diagnostico de hypoemia, verificado os ovos de ankylostoma nas fezes, pelo exame microscopico; fiz a puncção lombar, retirando 10 c. c. do liquido. Centrifugado o liquido pouco deposito deu, nas 156 preparações só verificamos apenas alguns lympho- cytos, donde concluímos que o liquido era normal. XXV P. B. branco, francez, 48 annos de idade, enfer- maria S. Vicente, diagnostico de hypoemia, veri- ficado os ovos do ankylostoma nas fezes, pelo exame microscopico ; fiz a puncção lombar, retirando 10 c. c. do liquido; centrifugado pouco deposito deu, nas preparações só verificamos apenas alguns lympho- cytos, donde concluímos que o liquido era normal. XXVI J. P. S. pardo,20 annos de idade, clinica externa diagnostico lepra, doente á oito mezes, fiz a puncção lombar, retirando 5 c. c. de liquido,; centrifugado pouco deposito deu, nas preparações só verificamos apenas alguns lymphocytos, donde concluímos que o liquido era normal. XXVII J. C. branco, inglez, 32 annos de idade, mari- nheiro, enfermaria de S. Luiz, diagnostico beriberi, fiz a puncção lombar, retirando 15 c. c. de liquido, centrifugado pequeno deposito deu, nas preparações só verificamos apenas alguns lymphocytos, donde concluímos que o liquido era normal. 157 XXVIII M. J. S. pardo, 19 annos de idade, enfermaria S. Vicente, diagnostico impaludismo sendo veri- ficado o hematozoario ao microscopio, fiz a puncção lombar e retirei 10 c. c. o liquido tinha uma tensão extraordinária, centrifugado, deu uma porção pe- quena de deposito e feitas preparações encontramos apenas alguns lymphocytos, donde concluímos que o liquido era normal. XXIX M. B. branco, 48 annos de idade, enfermaria S. Vicente, diagnostico impaludismo, sendo verifi- cado o hematozoario de Laveran ao microscopio, fiz a puncção lombare retirei 10 c. c. de liquido, centrifugado, deu um diminuto deposito e feitas preparações encontramos apenas alguns lymphocytos donde concluímos que o liquido era normal. M. T. S. parda, solteira, 30 annos, enfermaria Sant'Anna, diagnostico beriberi forma paralytica, fiz a puncção lombar, retirando 6 c.c. devido ao estado da doente. Centrifugado deu pequeno deposito, feitas as preparações encontramos apenas alguns lymphocytos, donde concluímos que o liquido estava normal. 158 XXXI P. R. L. pardo, 18 annos, roceiro, enfermaria S. Vicente, diagnostico ankylostomiase, verificado ao microscopio os ovos, fiz a puncção lombar, retirando 10 c.c. Centrifugado o liquido uma hora, pouco deposito deu, feitas as preparações encontra- mos apenas alguns lymphocytos. XXXII C. J. F. branco, 15 annos, enfermaria S. Vicente, diagnostico de impaludismo, verificado o hemato- zoario ao microscopio, fiz a puncção lombar, reti- rando 5 c.c. de liquido cephalo-rachidiano. Centri- fugado uma hora quasi não deu deposito, feitas preparações encontramos apenas alguns lymphocytos, donde concluímos que o liquido estava normal. XXXIII A. P. J. 14 annos, parda, solteira, enfermaria, Sant Anna, diagnostico impaludismo, verificado o hematozoario ao microscopio, fiz a puncção lombar, retirando 5 c.c. de liquido cephalo-rachidiano. Centri- fugado uma hora quasi não deu deposito, feitas preparações encontramos apenas alguns lymphocytos, donde concluímos que o liquido estava normal. XXXI V II. R. A. 26 annos, branco, solteiro, portuguez, enfermaria S. José, diagnostico abscesso do íigado, 159 fiz a puncção lombar, retirando 10 c.c. Centrifugado o liquido uma hora quasi não deu deposito, iei as preparações encontramos apenas alguns lymphocytos, donde concluímos que o litquido estava normal. XXXV M. N. 19 annos de idade, solteira, enfermaria Sant'Anna, diagnostico de hypoeemia verificado os ovos de ankylostoma e mais os de trichocephalo, oxyures, bilharza e ainda anguillas que se moviam no campo da preparação das fezes, quando fizemos exame microscopico; fiz a puncção lombar, retirando 10 c.c. do liquido. Centrifugado o liquido pouco deposito deu, nas preparações só verificamos apenas alguns lymphocytos, donde concluímos que o liquido era normal. XXXVI D. P. S. 20 annos de idade, solteiro, enfermaria S. Vicente, diagnostico impaludismo, verificado o hematozoario ao microscopio, fiz a puncção lombar, retirando 10 c.c. de liquido cephalo-rachidiano. Centrifugado uma hora quasi não deu deposito, feitas preparações encontramos apenas alguns lym- phocytos, donde concluímos que o liquido estava normal. PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas HISTORIA NATURAL MEDICA I Os nematoides são vermes redondos ou circulares de corpo allongado e de extremidades afiladas. A filaria dp~ Mp » <w< g^nÕmi! pertence á classe destes vermes e constitue um genero. III O seu embryão que é vis(to no sangue ou em differentes liquidos mede 0,35 ,nm de extensão e 7 ou 8 /j, de largura. CHIMICA MEDICA I A composição chimica do liquido cephalo-rachi- diano normal foi estabelecida do modo seguinte pelas analyses de Robin. II Agua, albumina, gorduras, lactato de sodio, cholesterina, chlorureto de potássio e sodio, phos- phatos terrosos, sulfatos de potássio e sodio. 164 III Nos diabéticos, tem-se encontrado neste liquido glycose na proporção 1,10 grammas até 5,20 grammas por mil centímetros cúbicos. MATÉRIA MEDICA PHARMACOLOGIA E ARTE DE FORMULAR I Os medicamentos injectados no liquido cephalo- rachidiano são absorvidos. II Assim o iodureto de potássio e o azul de methy- leno, injectados no espaço sub-arachnoidiano; embora demoradamente, são absorvidos e eliminados pelas urinas. III Jaboulay propoz o tratamento das nervralgias petvianas, por injecções sub-arachnoidianas de chlorydrato de quinina. ANATOMIA DESCRIPTIVA 1 O liquido cephalo-rachidiano está contido em um espaço fechado. 165 II Todo systema nervoso central, medulla e ence- phalo, está protegido por este liquido que o envolve III Este 1 iquido ainda vae aos ventrículos cerebraes pelos buracos de Magendie e Luschka. ANATOMIA MEDIGO-CIRURGICA I O liquido cephalo-rachidiano penetra mesmo no interior do nevraxe. II Da união intima do liquido com o nevraxe resultam as alterações daquelle. III Estas alterações repercutem sobre o nevraxe e vice-versa. OPERAÇÕES E APPARELHOS I A retirada de uma porção maior de liquido cephalo-rachidiano pode trazer accidentes graves. II A quantidade de 10 a 15 c.c. é bastante para se proceder a estudos. 166 III Koning e Gumprecht observaram a morte súbita em um indivíduo no qual retiraram 60 c.c. HISTOLOGIA I No hydrotorax, os elementos encontrados são as cellulas endotheliaes. II Em um hydrotorax puro, em um derramamento recente, os agrupamentos endotheliaes são tão abundantes que cobrem quasi todo o campo do microscopio. III Quando o derramamento envelhece, então o§ lymphocytos apparecem, enquanto que os agrupa- mentos endotheliaes diminuem. PHYSIOLOGIA I O liquido cephalo-rachidiano normal é claro e transparente II Centrifugado quasi não dá deposito, pois poucos são os seus elementos cellulares. 167 111 Inoculado em animaes ellc não determina acci- dente nenhum provando assim que não é toxico. ANATOMIA E PHYSIOLOGIA PATHOLOGIGAS 1 Nos derramamentos cancerosos tem se encon- trado cellulas neoplasicas. II Frankel observou, no liquido das pleurisias sarcomatosas, cellulas de dimensões anormaes. III Estas cellulas sarcomatosas são 4 ou 18 vezes maiores do que um leucocyto. BACTERIOLOGIA 1 O bacillo de Koch tem sido visto no liquido soro-fibrinoso das pleurisias tuberculosas. 11 O melhor methodo de pesquiza é a coloração pelo reactivo de Ziehl. . III A agglutinação também é um dos methodos 168 para o reconhecimento do bacillo da tuberculose no liquido das pléurisias, e se chama a este processo o soro-diagnostico local. / OBSTETRÍCIA I A prenhez concorre para diversos estados patho- logieos na mulher. II Assim o augmento dos grandes lábios, princi- palmente se houve demora do feto no estreito inferior da bacia. III Se retirarmos um pouco de liquido de um dos grandes lábios edemaciados,, vamos encontrar di- versas cellulas. PATH0L0G1A CIRÚRGICA I Os agentes productores das queimaduras podem ser physicos ou chimicos. II Quer uns, quer outros, determinam sobre a pelle seis graus de queimadura. 169 III Se examinarmos a sorosidade de uma phlyctena, produzida por uma queimadura do segundo gráu vamos encontrar polynucleares. PATHOLOGIA MEDICA 1 Nos derramamentos dos leucemicos se distinguem duas categorias. II Na primeira, o derramamento é provocado pela invasão accidental das bactérias pyogenas. III Na segunda, o derramamento è espontâneo, (mecânico) THERAPEUTICA 1 A puncção lombar, conforme a pathogenia, é empregada como meio therapeutico. II Assim na hydrocephalia congénita ha maior tensão do liquido e a retirada de uma certa porção deste traz a descompressão dos centros nervosos. 170 111 Milian, Widal, Mani e Guillain leem egualmente colhido vantagens do emprego da puncção lombar contra as cephaleas do periodo secundário da syphilis. HYGIENE I E' sugando o sangue da pessoa impaludada que o anopheles se contamina. II No corpo delle o hematozoario de Laveran con- tinua a sua evolução. III E' picando os indivíduos sãos que o anopheles transmitte a malaria. MEDICINA LEGAL 1 Os meios pelos quaes extravasa o sangue estão comprehendidos na classificação de Dupuytren. 11 Se a contusão é pequena e no tecido cellular frouxo, o sangue penetra nelle e o embebe, como a sorosidade do edema; é a echymose. 171 111 Se houve uma lesão maior do tecido cellular, o sangue se collecta nesta cavidade e devido a sua pressão vae augmentando excentricamente; é o hematoma. CLINICA PROPEDÊUTICA 1 O cyto-diagnostico é um dos methodos hoje empregados, para sorosidade pathologicas, e para as normaes. II E' centrifugando, fixando e corando os líquidos, que se fazem as preparações. III E' a formula leucocytaria a ultima operação cytos- copica que se faz para formar o diagnostico de um liquido. CLINICA CIRÚRGICA (l.a Cadeira) 1 Thoracotomia é a incisão dá parede thoracica, tendo por fim a evacuação dos derramamentos pleuraes. 11 I Thoracectomia é a resecção da parede thoracica. 172 111 r A thoracectomia ó definitiva ou temporária. CLINICA CIRÚRGICA (2.a Cadeira) 1 A thoracectomia pode ser, segundo as circuns- tancias, uma operação completa ou preliminar. 11 Em um certo numero de casos ella constitue quer por seu manual operatorioi quer pelo seu fim, uma verdadeira thoracoplastia. 111 A thorocoplastia está dividida em 5 processos, thorocoplastia lateral, inferior, posterior, anterior e secções anterior e posterior ao mesmo tempo. CLINICA MEDICA (l.a Cadeira) 1 A Chylocele pertence á classe das orchiles íila- rianas. 11 0 aspecto do liquido é o do chylo e dahi o seu nome. 173 111 l)eixando-se depositar o liquido vinte e quatro horas, ou centrifugando-se, encontra-se nas prepa- rações grande numero de embryões de filaria vivos. CLINICA MEDICA (2.a Cadeira) 1 O liquido cephalo-rachidiano no impaludismo, beriberi, lepra, ankylostomiase, é normal. 11 Nos lymphocytos encontrados no liquido não se observa a pigmentação melanica, se o liquido é retirado de um paludico. 111 Se se trata o liquido pelo licor de Fehling este não é reduzido. CLINICA OBSTÉTRICA E GYMNEC0L0G1CA • 1 O cyto diagnostico pode distinguir o kysto do ovário da peritonite tuberculosa. 11 Emquanto que na peritonite tuberculosa a formula ê lymphocytica; no kysto ovariano encontram-se cellulas de formas muito variadas. 174 111 Estas cellulas são volumosas, arredondadas, vacuo- lisadas; cellulas cylindricas guarnecidas de cilios vibrateis em uma das extremidades, elementos pequenos arredondados, hemacias e cristaes trian- gulares e chatos. CLINICA PED1ATR1CA 1 A pleuro tuberculose primaria se bem que rara nas creanças, já se tem observado. 11 A quantidade do liquido derramado varia, podendo ir de alguns centimetros até 1 litro. 111 A cór do liquido é amarello citrino, podendo ser roseo, ou até hematico. CLINICA 0PHTALM0L0G1CA 1 O dacryops por retenção se manifesta por uma tumefacção. II Phenomenos agudos segundo o caso, da metade 175 externa da palpebra superior, fazendo também uma saliência do lado do cul-de-sac conjunctival 111 Os tumores da glandula lacfimal motivam sempre grandes pertubações pathologicas. CLINICA DERMATOLÓGICA E SYPH1L1GRAPH1CA 1 Pelo exame cytoscopico do liquido cephalo- rachidiano na syphilis nervosa tem sempre se encon- trado lymphocytose. 11 Assim na hemiplegia dos syphiliticos, Widal, Babinski e Nageotte acharam lymphocytos no exame do liquido. 111 Na miningite syphilitica Sicard e Monod lambem verificaram no liquido a mesma lymphocytose. CLINICA PSYCH1ATR1GA E DE MOLÉSTIAS NERVOSAS 1 Widal e Sicard tendo feito o exame do liquido 176 cephalo-rachidiano de um tabetico encontraram lymphocytos em maioria, alguns mononucleares e alguns grandes elementos. li Em alguns casos de accessos agudos, coincidindo com delirio, elles poderam vêr alguns polynucleares. 111 A lymphocytose também foi verificada nas formas frustas e na forma classica desta atlecção. Visto - Secretaria da Faculdade de Medicina da Bahia, em 30 de Outubro de 1906. O Secretario, dos 'JWleirelles