WGUMWB DB MEBIGM M BHH1H WBSS2 APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA EM 30 DE NOVEMBRO DE 1911 Z PARA SER DEFENDIDA POR Pacifico IPepeira dé S®wza NATURAL DO ESTADO DA B/HIA 'M AFIM DE OBTER O GRAU DE DOUTOR EM MEDICINA DISSERTAÇÃO Ligeiras Considerações soOre o Corpo Calloso (cadeira de physiologia) PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das 'cadeiras do curso de Sciencias Medico-Cirurgicas BAHIA PAPELARIA E TYPOGRAPH1A BAPTISTA COSTA 15-LARGO DAS PRINCEZAS-15 191 1 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA DIREGTOR-Dr. Augusto Gesar Vianna VIGE-DIRECTOR - SECRETARIO- Dr. Menandro dos Reis Meirelles StTB - SECRETARIO-Dr. Matheus Vaz de Oliveira PROFESSORES ORDINÁRIOS Dr. Mrtnoel Augusto Pira.já da Silva-Historia natural medica. Dr. Pedro da Luz Carrascosa-Physica medica. Dr. José Olynipio de Azevedo-Chimica medica. Dr. Antonio Pacifico Pereira-Anatomia microscópica. Di'. José Carneiro de Campos-Anatomia descriptiva. Dr. Manoel José de Araújo-Physiologia Dr. Augusto C. Vianna-Microbiologia. Dr. Guilherme Pereira Rebello-Anatomia e Physiologia pathologicas. Dr. Fortunato Augusto da Silva Júnior-Anatomia medico-cirurgica com ope- rações e apparelhos. Dr. Anísio Circundes de Carvalho-Clinica medica. Dr. Francisco Braulio Pereira-Clinica medica. Dr. João Américo Garcez Fróes-Clinica medica. Dr. Antonio Pacheco Mendes.-Clinica cirúrgica. Dr. Braz Hermenegiido do Amarai-Clinica cirúrgica. Dr. Carlos Freitas-Clinica cirúrgica. Dr. Francisco dos Santos Pereira-Clinica ophtalmologica. Dr. Eduardo Rodrigues de Moraes-Clinica oto rhino-iaringologica. Dr. Alexandre E. de Castro Cerqueira-Clinica dermatológica e syphiligraphica. Dr. Gonçalo Moniz Sodré de A ragão-Pathoíogia geral. Dr. José Eduardo F. de Carvalho Filho-Therapeutica Di'. Frederico de Castro Rabello-Clinica pediátrica medica e hygieno infantil. Dr. Alfredo Ferreira de Magalhães-Clinica pedialrica cirúrgica o orthopedia. Dr. Luiz Anselmo da Fonseca-Hygiene. Dr. Josino Correia Cotias-Medicina legal. 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Dr. Caio Oclavio Ferreira de Moura-Clinica cirúrgica' Dr. Clodoaldo de Andrade-Clinica ophtalmologica. Dr. Albino Arthur da Silva Leitão-Clinica dermatológica e syphiligraphica. Dr. Antonio do Prado Vaitadares-Pathoíogia geral. Dr. Frederico de Castro Rebello Koch Therapeutica. Dr. José Aguiar de Costa Pinto-Hygiene. Dr. Oscar Freire de GarvaJho-Medicina legal. Dr. Menandro dos Heis Meirelles Filho-Clinica obstétrica. Dr. Mario Carvalho da Silva Leal-Clinica psychialrica e das inoieslias nervosas. Dr. Antonio do Amara) Ferrão Muniz-Chimica analylica e industrial. PROFESSORES EM DISPONIBILIDADE Dr. Sebes!ião Cardoso. Dr. J. > E. de Castro Cerqueira. Dr. Deocleciano Ramos Dr. José Rodrigues da Costa Dorea. A Faculdade não approva nem reprova as opiniões emittidas nas theses que Rn- são apresentadas DISSERTAÇÃO LIGEIRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O CORPO CALLOSO CADEIRA DE PHYS1OLOGIA CAPITULO I (fracos geraes de anatomia descriptiVa do corpo calloso O corpo calloso e uma ponte de substancia branca que representa o primeiro plano superior de connexão intima entre os dois hemispherios ccrebraes, no que se chama o limen dos • mesmos. Situado no fundo da grande seisura inter- hcmispherica orientado na linha mediana e na maior dimensão de sua parte livre no plano sagittal, é, no corte que representa este plano, um crescente de forma cllvptica e de abertura inferior. Dista trez centímetros do polo frontal, cinco do polo occipital, trez ainda, da parte mais ele- vada do bordo superior do cerebro. 8 Tem oito centímetros de comprimento um de espessura na parte media, espessura que augmenta e se modifica para diante e para traz, como veremos-; já se presume que estes nu- meros são approximados. Seus bordos lateraes externos, se perdem na substancia branca do centro oval. Dos dois extremos do crescente, o anterior, depois de mais espesso ter formado, em mais pronunciada curvatura, o joelho do corpo calloso abraçando a extremidade anterior do corpo striado, e fechando a parte anterior dos ventrículos late- raes, ainda mais.se adelgaça íormando o uico ou rostrum do corpo calloso, cujo vertice-lamina do joelho de Burdach-já na base do cercbro, se continua com a lamina supcroptica, ao nivel da comissura branca anterior. O posterior que um tanto se avoluma e arredonda, enrolando-se sobre si mesmo, c o splenium ou orla de Rcil; splenium verdadeiro, c a porção que para baixo se reflete continuando a extremidade posterior do tronco do corpo calloso e que se vae terminar cm um bico posterior que se prende as fibras trans- versaes do psalterium mas que as vezes delias se desune abrindo um diverticulo para os ventrí- culos lateraes, conhecido com o nome de 9 ventrículo de Verga; este extremo posterior do corpo calloso é parte media do labio superior da fenda cerebral de Bichat, e sobreposto á glandula pineal e aos tubérculos quadrigémeos. Entre os dois extremos do crescente, medeia o tronco do corpo calloso, cuia concavidade olha para baixo; duas taces apresenta. A tace superior, mais larga posteriormente, striada no sentido transversal, tem por linha terminal externa, de cada lado, a que representa o vertice do angulo diedro formado pela circumvolução do corpo calloso, cahindo sobre esta mesma face, o que constitue o sinus ou ventrículo do corpo calloso. Ahi se escondem, longitudinalmente dispos- tas-uma de cada lado-delgadas fitas de cor parda-taeniae tectce- as vezes ausentes na parle anterior, podendo estender-se até no joelho, mas, que da posterior nascem, continuando o feixe dentado, e contornando a orla do corpo calloso. Na linha media um sulco longitudinal orlado por dois cordões de côr branca tractus longitu- dinaes medianas ou nervos de Lancisi, mais ou menos contíguos mal seguros por tecido cellular frouxo, que sào ainda continuação do feixe dentado. 10 Tractus latcraes-taeniae tectae;-tractus me- dianos-nervos de Lancisi-, como que repre- sentam os dois bordos de um veu cinzento- indusum griseum-que continua a tasciola ci- nerca ao nivelda orla, que reveste a face superior* do tronco, contorna o joelho do corpo calloso, resolve-se nos pedúnculos do mesmo que obli- quando para fora cruzam o espaço perfurado anterior com o nome de fitas diagonaes de Broca, e se perdem ao nivel da extremidade anterior da circumvokição do hypocampo, representando nesse trajecto e assim modificado, grande parte de uma circumvokição rudimentar que abraça o corpo calloso em uma curva cujos extremos quasi se tocam, levando os vestígios do limite do córtex na face interna dos hemispherios:- é a circumvokição intralimbica ou gyrus dentatus. Esta face superior corresponde na linha media, por intermédio da pia mater e da arach- noide, ao bordo concavo da fouce do cerebro que apesar disso, nem posteriormente, até cila chega; está ainda em relação com as artérias callosas ou cerebraes anteriores, com a primeira circumvokição limbica lateralmente. A face inferior, convexa transversalmente, é ainda striada; as connexões que a limitam lateral- 11 mente, fazem-na mais larga que a superior; dá inserção:-na linha media-para diante ao septum lucidum, para traz ao trigono com adherencia das fibras do psalterium, que ligam os pilares posteriores; as partes lateraes, revestidas pelo ependymo formam a abobada dos ventrículos lateraes. Testut descreve no corpo calloso quatro ângulos que correspondem aos cornos anteriores e aos cornos posteriores dos ventrículos lateraes, e que tomam a mesma designação para a formação que estudamos; consideravam ainda como depen- dencia delia a parte que se reflete para baixo na sua porção mais extrema concorrendo á formar a parede ventricular nos prolongamentos esphe- noidal c occipital dos ventrículos lateraes, c que é o tapetum. Succede, em verdade, que as fibras desta região, são independentes das do systema calloso; em apoio disso vem os tactos observados de dege- neração nervosa, a persistência delias nos casos de agenesia do corpo calloso-ficou então o tapetum considerado como dependencia do feixe de associação occipito frontal de Ford e Onu- trowicz; Testut perfilha esta opinião, com res- tricção no entanto, quando diz que em parte 12 sinão em totalidade, pertence o tapetum ao feixe de associação occipto-frontal, parecendo que para isso se inclina; apesar de tudo o assumpto é controvertido e sobre elle voltaremos. A estriação transversal das faces do corpo calloso é o vcstigio macroscopico de sua consti- tuição histológica:-é elle formado por feixes de fibras transvcrsaes de cerca de um milímetro de espessura; nestes feixes ha uma quantidade enor- me de fibras nervosas e para ajuizar do sen numero basta lembrar como dado comparativo o que nos fornecem as experiencias de Salzer, quando calcula em 458.000. o numero de fibras que se seccionam no corte transversal do nervo optico, em unia superfície de cerca de nove milli- metros quadrados. O corte sagittal do corpo cal- loso te ainda estriado por estes feixes e esta striação se perpendicularis.i aos planos liorisontaes verticaes ou oblíquos que se appôem a sua curvatura; deixando de parte a hypothese que fazia do corpo calloso o resultado do entrecrusa- mento das duas capsulas internas, e que a observação não confirmou, sabemos hoje que as suas fibras se estendem liorisontalmente na substancia branca dos hemispherios, chegam ao anmilo externo do ventrículo lateral, radiando 13 então em todas as direcções e cruzando-se com as do grande sol de Rei!:-são as radiações do corpo calloso; ellas se estendem bilateralmente a quasi todo o córtex; á certas regiões no entanto não chegam ellas; assim succedc para os cornos de Ammom que recebem as libras da lyra, para as porções antero inferiores dos lobos temporaes, ligados pela commissura branca. Admittia-se (Reil, Arnold, Myncrt) que estas fibras, curvas que attingem pontos dos dois he- mispherios e cuja parle media passa pelo corpo calloso, eram verdadeiramente commissuraes; es- tabeleciam conexão entre pontos homologos do córtex, ligando-os e associando-os em seu funccionamento. Hoje, desappareceu esta noção de hpmo- logia das fibras-callosas; a applícação do me- thodo de Golgi, dos methodos de Weigert e de Pal, o valor da observação e da affirmativa de Cajal e de outros anatomistas, tiraram todo o valor destes pontos homologos;-assim c que, ora são representados em um hemispherio por pequena cellula pyramidal do córtex, ou mesmo por uma de cellulas polymorphas, e no opposto pelas ramificações cm uma extensão variavel, já não sendo ponto, nem homologo e ainda mais 14 augmentada pela emissão de collateraes, de um axona que da dita cellula partiu c que é passando na linha media uma das fibras transversas que constituem a trama do corpo calloso. Muita vez ainda, nascem um pouco abaixo do córtex, das fibras de associação ou de proje- cção, representando verdadeiras collateraes destas mesmas fibras; ainda mais:-ellas se desviam do plano frontal, que cm virtude dessa disposição transversa geral, parece deveriam seguir; assim é que as fibras mais anteriores de um hemispherio, obliquando para traz, podem ser distribuídas na parte posterior do hemispherio opposto-fazendo do corpo calloso, vasto feixe de associação interhemispherica, conjugando regiões asyme- tricas*dos dois hemispherios. Vejamos como se conduzem as libras das diversas regiões do corpo calloso-as do joelho, crusando-se com as de associação do lobo frontal e as da coroa radiante, dirigem-se mais ou menos horisontal ou obliquamente, para as terceira, segunda e primeira circumvoluções frontaes, depois de ainda condensadas terem passado por deante dos cornos frontaes do ventrículo. Os antigos anatomistas descrevem um for- 15 ceps anterior no corpo calloso, constituído pelas radiações curvilineas destas fibras que côncavas para dentro quando attingem a face interna do lobo frontal semelham os dois ramos de um fórceps, articulados no joelho - fórceps menor- por considerarem uma disposição semelhante na parte posterior, cm maiores proporções, consti- tuindo o fórceps major. Esta semelhança que o concurso das libras da coroa radiante torna plausível, «não se en- contra nos cortes microscopicos- corados pelo carmim e tratados peio methodo de Weigert» como diz Djcrinc. As fibras do vostrum, passam por sob a cabeça do núcleo caudado, c dirigem-se para às faces orbitaria e interna da primeira circumvolu- ção frontal e ainda da terceira frontal em sua face orbitaria. As fibras desta região não se relacionam com as da coroa radiante; as do tronco chegando ao nível do angulo externo do ventrículo lateral, curvam-se para cima, para fora, para baixo; c se distribuem na parte posterior de lobo frontal inclusive a face interna c superior da primeira circumvolução frontal, em todo o lobo parietal, lobulo paraccntral, prccuneus, primeira circum- 16 volução limbica, parte posterior do lobo temporal c talvez a insula por intermédio da capsula externa. As radiações do splenium propriamente dito, se distribuem cm todo o lobo occipital, formando o fórceps do corpo calloso de Reil e de Burdach; ao nivel do esporão de Morand elle se bifurca;- o feixe maior, superior, dá logar a producção da saliência conhecida com o nome de bulbo do corno posterior, e suas fibras vão se distribuir nas porções superior e externa do lobo occipital- cuncus e circumvoluções occipitaes. O feixe menor ou inferior vae se distribuir nas porções interna e inferior do lobo occipital - lobulo lingual c íusiforme. Vejamos as relações que affectam as fibras do corpo calloso em suas differentes porções, com os teixes de associação que se distribuem nas diversas regiões dos hemispherios. As fibras da porção terminal anterior, cru- zam-se com as do feixe unciforme, que liga o polo temporal, a face orbitaria do lobo frontal, contornando o fundo da scisura de Sylvius. Um outro feixe de associação que entra em relação com as radiações callosas é o feixe occi- pito-frontal, de direcção sagittal, cujas fibras 17 provêm de todo córtex frontal, cruzando as do corpo calloso e as da coroa radiante; e que se condensam sob o corpo calloso, para dentro da coroa radiante; estas fibras dissociam-se um tanto ao nivel da cauda do núcleo caudado, começam a abrir-se em leque ao nivel do trigono do ventrículo lateral, formando o tapetum e distribuindo-se para traz, no lobo occipito-temporal, entremeiadas talvez com as do fórceps major. Outro feixe de associação relacionado com o corpo calloso é o cingulum, fornix periphericus de Arnokl, que, segundo este, prendia-se ao fornix interno ou trigono cerebral por intermédio do corpo calloso, c que occupa a parte branca da circumvolução limbica e cujas fibras são disso- ciadas pelas fibras callosas superiores que entre ellas passam; ellas se entremeiam ainda com fibras do fórceps major, na parte posterior. Segundo alguns auctores (Schwalbe, Mey- nert), os nervos de haucisi e as toenia tecta per- tenceriam ao cingulum, mas as fibras destas duas formações, são fibras tangenciaes, que constituem um svstcma de associação intracorlical. Schnopfhagen considerava o feixe arqueado de Burdacb como ligando o lobo occipito-tem- poral de um hemispherio ao lobo frontal do 18 hemispherio opposto, cruzando as fibras pelo joelho do corpo calloso; a agenesia deste, parece, não confirma esta opinião; Djerine o considera como formado por fibras curtas-degenerando em foco restricto-difficilmente portanto vencendo os limites para estabelecer esta ligação em fibras continuas. Na escala phylogenetica o corpo calloso se apresenta nos stagios superiores delia, para os mammiferos;-os vertebrados inferiores, os 1110- notremes os marsupiaes, não o possuem; ellc adquire o valor de um orgão de aperfeiçoamento; o seu desenvolvimento acompanha em rasão directa o das regiões dos dois mantos hemisphe- ricos cuja evolução se prende a delle, que formam o neopallium de Smith, e para os quaes ellc representa a porção commissural que os torna solidários. CAPÍTULO II physiologia do corpo calloso Antigamente, quando ainda se procurava descobrir a sédc exacta onde se localisava e de onde agia a alma, deram este privilegio ao corpo calloso, prerogativa de que já tinham gosado a glandula pineal e o corpo striado. Experiências até tinham, tido naquelle tempo o valor de uma interpretação curiosa quando se encara hoje, e probaíiva porque, attingindo o corpo calloso em uma acção traumatisante directa, o indivíduo cahia em torpor, como que tinha a abolição completa dò sentimento e do movimento o que raciocinando com uma idéa preconcebida, presa nas raias de um circulo estreito, queria claramente dizer que a alma tinha abandonado o 20 pouso certo, deixando o corpo inerte, depois de um abalo convulsivo. As experiências de Lorry, Flourmeus, Magen- die, afhrmaram que nada havia nisso de verídico; que a excitação do corpo calloso não provocava convulsões, que a sua secção não linha influencia de valor sobre a producção dos movimentos voluntários que o animal conservava, mesmo quando a hemorrhagia que se manifestava durante o acto de descobrir os hemispherios, para realisar a experimentação os enfraquecia. Ainda mais, havia persistência da sensibi- lidade. Treviranus já dava ao corpo calloso o papel de um factor de associação que trazia a unidade íunccional dos dois hemispherios, na esphera da intellectualidade, mas como se representasse um centro onde se operassem phenomenos de com- paração mental como se cada um dos hemis- pherios, autonoma e isoladamente funccionasse; ora nós sabemos, c a histologia do corpo calloso diz bem que elle não pode ter o valor de um centro. Como que esta opinião ressuscita quando Sabattier falia hoje em dois cerebros, sede de duas personalidades-cuja coordenação diz elle- 21 se faz talvez no corpo calloso, sem no entanto chegar a assumir a responsabilidade de uma affirmativa cathegorica. Longet se abstém de tirar do corpo calloso o papel de orgam que intervem «para completar a unidade psychologica em suas condições materiaes.» A agenesia do corpo calloso, lacto de obser- vação que poderia trazer algum esclarecimento a respeito de suas funeções, coincide com rasões outras que deixariam no mesmo pé a questão-o que se poderia ajuntar é que ella não age anihi- lando a receptividade sensitiva ou a motilidade voluntária, isto de um modo geral. Pelo methodo das excitações o corpo calloso tem dado a observar á diversos-experimentadores phenomenos produzidos na esphera da motilidade; Mott obteve a movimentação bilateral da perna, do tronco, da espadua, dedos, cabeça e olhos, á excepção da façe. A excitação da parte do corpo calloso descoberta depois da ablação de um hemispherio cerebral, produz movimentos uni- la te raes. Muratof obteve pela secção, os symptomas paralyticos indicativos de uma destruição da zona motora; outros observadores negaram este resul- 22 tado; é no entanto raciona] pensar que a secção do corpo calloso não traga uma paralysia com- pleta, porque, se elie representa em grande parte, collateraes das cellulas motoras, estas tem no entanto seu axona intacto, se bem que o. neuronio também tenha sido attingido em sua integridade. Por um processo semelhante relati- vamente a conducção e excitação do corpo calloso, transmittida por estas mesmas collateraes de que já falíamos, as cellulas das quaes ellas dimanam vem explicar os phenomenos motores que se produzenf. Esta influencia dos conductores que passam pelo corpo calloso o que transmittindo uma excitação vão actuar sobre as cellulas motoras, e um facto em apoio do qual podemos apresentar as considerações que faz Bechterew sobre a producção de certos movimentos de substitui- ção e de comparação em certos estados patho- logicos. Dizellc, por exemplo, que os doentes he- miparcticos, depois de ictus cerebraes, acham-se na impossibilidade de executar certos movimentos que se lhes ordena, do lado paresiado; reconhecem no entanto a possibilidade que ha para serem elles executados c esforçam-se mesmo por isso. Mas 23 o que succcde?-Executam o movimento dc lado opposto. Normalmente a excitação dos centros mo- tores de um hemispherio, augmenta a excitabili- dade dos centros correspondentes no lado oppos- to;- ora, as fibras que descem do córtex, enviam collateraes que transitam pelo corpo calloso;- os conductores do lado doente estão alterados;- a excitação não pode descer livremente por elles -seguem o desvio das collateraes c vão agir sobre os neuronas motores correspondentes do lado opposto, produzindo o movimento do lado são. Este facto que a pathologia nos fornece vem em apoio de modo a tornar mais affirmativos os phenomenos observados pelo methodo physio- logico experimental das excitações- admitte-se que o corpo calloso representa um papel asso- ciativo para os dois hcmispherios cm funeção de acções bilateraes; as excitações colhidas em um hemispherio por uma cellula pyramidal por exem- plo, são enviadas pelas fibras descendentes que delia se originam, mas também se transmittem em parte ao hemispherio opposto pelas collate- raes que de perto da cellula se originam e não são mais que as fibras que pelo corpo calloso transitam; estabelece-se assim uma synergia entre 24 os elementos motores bilateraes, cm virtude desta transmissão de excitações que é mutua estabelece-se um reforço de laços que prendem os dois hemispherios cm seu funccionamento: o dominio da pathologia, os dados anatomo-clini- cos vem confirmar atè certo ponto a importância funccional do corpo calloso, já entrevista nos campos da physiologia aos quaes empresta o ca- minho indirecto para expandir-lhe os horisontes. Parece que as lesões do corpo calloso rom- pem esta synergia phvsiologica dos centros cor- ticaes pela destruição das fibras que por elle transitam c cujo papel faz o objecto do nosso ligeiro estudo. E' necessário muito discernimento para obter do estudo anatomo-clinico os dados precisos para estabelecer em sua pureza um syndroma caracte- ristico das lesões do corpo calloso. Seria preciso a multiplicidade de observações, o estudo acurado de todos os symptomas mesmo numa dissimulação inicial, a investigação histo- lógica firmando os limites precisos da lesão, a possibilidade de tazel-as, a eliminação cuida- dosa auxiliada com certos dados de todos os symptomas geraes e dos symptomas cm foco que os mesmos dados adquiridos permitiam filiar 25 á certas regiões, a felicidade dos casos puros, a orientação,' emfím, que activamente procure des- vendar-lhe o verdadeiro, segredo, quando se alarga vagarosa a tarefa para o critério do pliysio- pathologista. Aggregou-sc ao corpo calloso uma serie de symptomas mas a própria nullidade do diagnos- tico cuja verificação desmentia a presumpção feita não podia deixal-a de pé. Zingerlé descreve uma ataxia callosa; recen- temente as pesquizas de Liepmann e de outros observadores, deram logar a descripção precisa de. um syndroma interessante, condicionado prova- velmente pelas lesões do corpo calloso-é a apraxia-que existe quando da ausência de per- turbação mental, agnosia, anesthesia, paralysia, paresia, tremor, torna-se impossível a realisação de certos movimentos, de certos actos que se manda o doente executar. Ha uma apraxia ideomotora de Liepmann, uma apraxia ideatoria a primeira impedindo a movimentação determinada para a execução de um acto, a segunda, approximando-se das per- turbações intellectuaes, impedindo a sequencia natural c regular das diversas pliases que possam constituir actos complexos-e a cuja precocidade 26 c pureza, Raymond dá o valor de syndroma pathognomonico de uma lesão callosa. Ajuntemos ainda, ligeiramente-que o mo- vimento solicitado pode ser traduzido, na apraxia motora por um movimento simples, um movi- mento amorpbo, insfgnificativo, ou mesmo pela impossibilidade absoluta da sua realisação impli- cando a aknesia um doente de Rose substituía por flexão e extensão dos dedos um movimento indicativo; que a apraxia ideatoria pode attingir a todos os actos, sob o ponto de vista psycho- motor, sem perturbar os actos automáticos, como pode succeder com a primeira; que esta pode ser unilateral o que não succede com a apraxia ideatoria, que o movimento absurdo do agnosico é para elle perfeito, que a impossibilidade dos movimentos delicados, que se nota no ataxico, não existe commummente na apraxia-accres- cendo ainda por differenciação os caracteres básicos de que já falíamos. Pode se admittir que as lesões do corpo calloso, condicionam a apraxia nos domínios pathologicos, c cm reciproca que a cupraxia c funeção do corpo calloso nos domínios da pby- siologia? Parece que a resposta, a qud poderia ser dada entre duas affirmativas, guarda um 27 silencio tácito sobre modos de ser que ellas escondem na grande maioria dos casos obser- vados a apraxia coincide com lesões do corpo calloso. A lesão primitiva e isolada desta comis- sura produzira a apraxia? Pode se responder affirmativamente, se bem que o facto seja de observação rara. Uma lesão que, não seja desta natureza, terá ainda a mesma consequência? Provavelmente pode tel-a, porque se a comissura lesada interrompe conexões, e dá o syndroma, será erro pensar que lesões de territórios decerto valor que ella con- jugue produzirão o mesmo resultado? Haverá um centro praxico frontal esquerdo predominante, cuja acção se taça sentir atravez do corpo calloso, ou esta acção se estabelece mais ou menos em equilíbrio para os dois hemispherios? Em qualquer das hypotheses ou aliás das affirmativas, que tem seus defensores, o papel do corpo calloso se accentua, cm funeção da praxia. PROPOSIÇÕES (fres sobre cada uma das cadeiras do curso de Sciencias PROPOSIÇÕES Anatomia descriptiva I A circumvolução do corpo callosoAcingula, gyrus cinguli, situada na face interna dos hemis- pherios cerebraes, segue o contorno exterior do mesmo. II O gyrus cinguli começa ao nível do rostrum, continuando a area parolfactoria de Broca e vae até á orla de Reil, unindo-se á circumvolução do hypocampo pelo isthmo do lobulo limbico. III O gyrus cinguli, constituc uma extensa porção da grande circumvolução limbica. 32 Anatomia medieo-eirurgica I A extremidade inferior da linha rolandica é o extremo superior de uma vertical de sete centí- metros que passa por diante do tragus, medida do bordo superior do zygoma. II A extremidade superior fica á cinco centí- metros para traz do bregma que fica no meio do plano biauricular. 111 O centro motor do membro superior occupa o terço medio da linha rolandica. Histologia normal I A camada mais superficial do córtex cerebral recebe o nome de camada mollecular. II E' constituída por tres variedades de cellulas nervosas:-polygonaes, fusiformes e triangulares com seus prolongamentos cylindraxis e dendri- ticos. III As cellulas bipolares e as triangulares, que se julgara de prolongamentos cylindraxis múlti- plos não são mais assim consideradas. 33 Bacteriologia A analyse d agua sob o ponto de vista bacte- riológico pode ser quantitativa ou qualitativa. II A agua pode ser pobre em bactérias e não poder ser dada á consumo. III A agua pode ter muitas bactérias e serem todas ellas saprophvtas. Anatomia e Physiología pathologíeas I Quando um tumor cerebral comprime as artérias que se distribuem numa região, traz a anemia, a necrobiose e o amolecimento do ter- ritório irrigado por ellas. II Quando a compressão e venosa, a stase san- guínea consequente, traz o edema, a congestão e na maioria das vezes a hemorrhagia. III Os tubérculos c os syphylomas trazem alem disso lesões vasculares especificas produzindo alterações mais extensas. 34 Physiologia I A região que comprehende a frontal c parie- tal ascendente, o lobulo paracentral é a sede dos centros cortico-motores. II A excitação desta região se traduz pela mo- vimentação dos apparelhos musculares que ella dirige. III A sua destruição dá logar á paralysia dos mesmos. Therapeutica I A digitalis é um tonico cardio-vascular de grande valor. II A grande indicação da digitalis, é o abaixa- mento da tensão sanguínea. III A digitalis age nimbem como diurético nos cardíacos. 35 Hygiene 1 Os exercitos em campanha são um meio favorabilíssimo ao desenvolvimento das epide- mias. II São innumeraveis as causas que para isso concorrem. III Prevenil-as, impedindo-as, seria grande vi- ctoria. Medicina legal e Toxieologia I As substancia abortivas empregadas para fim criminoso tem effeito incerto. Em geral, o aborto e obtido depois de alte- ração mais ou menos profunda da economia. III O aborto provocado por manobras directas pode deixar lesões, procedentes das mesmas. 36 Pathologia cirúrgica I O furunculo é uma inflam mação circumscripta da pelle, originaria da infecção do apparelho pilo-sebaceo. II A erupção de furunculos pode ser mais ou menos generatisada, dando logar á furunculose. III A furunculose pode ser ligada á um estado dyscrasico; o furunculo grangrenoso depende muita vez do diabetis. Operações e Apparelhos I A trepanação tem por fim a abertura da craneana. II A determinação da linha rolandica é de grande valor na trepanação. III Sob ella se agrupam centros motores im- portantíssimos. 37 Clinica eirurgiea l.« cadeira 1 O hygroma chronico e'a inflam mação chro- nica das bolsas serosas. II O tratamento geral pode lazer desapparecer certos hygromas ligados á diathesis, auxiliado por meios locaes como a puncção e a compressão. III Pode se tratal-os por incisão e curetagem, extirpação, etc. Clinica cirúrgica 2.a cadeira Nas fracturas expostas ha communicação do foco com o exterior. 11 Podem resultar dos ferimentos pelas armas de fogo. Hl Nestas, sobretudo, podem persistir trajectos fistulosos c suppuração demorada. 38 Pathologia Medica I Os tumores cerebraes, abrangem por assim dizer, toda a symptomatologia nervosa. II *O prognostico dos tumores cerebraes é sempre grave. III O tratamento medico é na maioria das vezes palliativo para os tumores cerebraes. fílinica propedêutica I As malformações do craneo são muita vez associadas, á outros stygmas de degenercscencia. II O craneo pode ser deformado por saliên- cias ligadas á tumores do couro cabelludo, dos ossos, da dura mater. III Os tumores que communicam com o in- terior do craneo se reconhcem pelos choques systolicos e pela reductibilidade parcial que apre- sentam. 39 Clinica medica l.a cadeira I Os accidentes para o lado do apparelho broncho-pulmonar, podem ser complicação da febre typhoide. II Estas complicações são sobretudo serias nas creanças. III Elias podem ir da bronchite ligeira, a gan- grena pulmonar. Clinica medica 2.» cadeira O cholera é uma moléstia infecciosa, con- tagiosa, epidemica. II Caracterisa-se por symptomas digestivos dyarrbéa, vomitos, algidez. III A pcsquiza dos bacillus virgula nas fezes assegura o diagnostico. 40 Matéria medica, pharmaeologia e arte de formular 1 Designa-se com o nome de dose a quan- tidade de medicamento que deve ser adminis- trada para produzir um effeito therapeutico. II A acção de um medicamento varia com a dose administrada. III O modo de administração c condições Outras relativas ao doente e ao meio, fazem variar a acção medicamentosa. Historia natural medica I A Tenia Solium é um verme da família dos cestoides. II Este verme em estado de larva recebe o nome de Cvsticercus cellulosoe. III A cvsticercose se manifesta no encephalo. 41 Chimiea medica 1 A morphina tem a formula seguinte: C17 H19 Az O 3. II O chlorhydrato e o sulfato de morphina tem emprego corrente na pratica medica. III Estes sacs se preparam pela acção dirccta do acido neutralisando a base. Obstetrícia I Ha regras geraes para applicação do fórceps. II A possibilidade de utilisação de todas ellas sem restricção, dá logar á prehensão ideal. III A prehensão da cabeça que deve satisfazer a esta prehensão ideal, não é exclusiva. 42 CHiníca obstétrica e gyneeologica I O symptoma dôr é mais ou menos intenso nas metrites. II As inllammações do tecido cellular e do peritoneo que envolvem o utero, recebem o nome de param et ri te. III A metrite pode dar logar a uma verdadeira dyspepsia dependente delia. Clinica pediátrica ' 1 O rachitismo e uma affecção do systema osseo que se manifesta nas creanças. II Provoca um amollecimento, seguido de de- formações transitórias ou permanentes. III A etiologia do rachitismo, capitula causas predisponentes e causas efficientes. 43 Clinica ophtalmologica I O ehalazion é um pequeno tumor inflam- matorio das palpebras, sem connexão com a pelle. II E' devido a obliteração de uma glandula de meibomius. III E' geralmente indolor c de crescimento lento. Clinica dermatológica e syphiligra ph ica I As lesões cerebraes graves podem provocar lesões da pelle, cuja importância pode ser grande. II No decubitus acutus, depois de uma hemor- rhagia cerebral, por exemplo, a lesão cutanea, quasi sempre na região glútea, chega até á necrose ossea. III As lesões cutaneas desta cathegoria, tem sido filiadas á perturbações vaso-motoras, a alte- ração de elementos nervosos trophicos, mas se 44 explicam bem pela diminuição da resistência dos tecidos sujeitos a acções traumatisantes e micro- bianas. Clinica psychiatriea e das moléstias nervosas 1 Os meios therapeuticos empregados no tra- tamento do ataque epiléptico, não tem valor. II O tratamento geral é dç grande influencia na epilepsia. III Evitar todos os excessos, todas as causas de intoxicação, diminuir a irritabilidade cerebral, pelo emprego methodico dos bromuretos são meios valiosos de tratamento. cvy \ íólo §íctet<xt<ít ?a tí\vciil<)a?c <)<x cBaXta, 3o í)c OGopeutlni' 0 SecU'taiW CDt. e lUulí eó