THESE FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA APRESENTADA A' Faculdade de Medicina da Bahia EM 31 DE OUTUBEO DE 1907 PARA SER DEFENDIDA POR ^rancisco ^avier ÇoFps NATURAL DA BAHIA lU Afim de obter o gráo de Doutor em Medicina dissertação CADEIRA DE HYGIENE Porphylaxia da Tuberculose, da Syphilis e do Alcoolismo PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso 1907 Litho-typ. Encad. Reis & C. Rua Dr. Manoel Victorino 23 e 25 BAHIA FAU1DADE DE MEDICINA DA BAHIA Director-Dr. Alfredo Britto Vice-Director-Dr> Manoel José de Araljo LENTES Os Drs.: Matérias que leceionam.: l.a Secção José Carneiro de Campos Anatomia descriptiva. Carlos Freitas Anatomia medico-cirurgica. 2.a Secção Antonio Pacifico Pereira Histologia. Aueusto Cezar Vianna Bacteriologia. Guilherme Pereira Rebello Anatomia e Physiologia pathologicas. 3.a Secção Manoel José de Araújo Physiologia. Jose E. Freire de Carvalho Filho Therapeutica. 4-a Secção Josino Correia Cotias Medicina legal e toxicologica. Luiz Anselmo da Fonseca Hygiene. 5.a Secção Braz Hermenegildo do Amaral Pathologia cirúrgica. Fortunato Augusto da Silva Júnior... Operações e Apparelhos. Antonio Pacheco Mendes Clinica cirúrgica, 1.» cadeira. Ignacio Monteiro deAlmeida Gouveia..., Clinica cirúrgica, 2.a cadeira. 6.a Secção Aurélio Rodrigues Vianna Pathologia medica. Alfredo Britto Clinica propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho Clinica medica, 1.» cadeira. Francisco Braulio Pereira Clinica medica, 2.a cadeira. 7.a Secção José Rodrigues da Costa Dorea Historia natural medica. Antonio Victorio de Araújo Falcão Matéria medica, Pbarmacologia e arte de formular. José Olympio de Azevedo Chimica medica. 8-a Secção Deocleciano Ramos Obstetrícia. Climerio Cardoso de Oliveira Clinica obstétrica e gynecologiea. 9.a Secção Frederico de Castro Rebello .. Clinica pediátrica. lO.a Secção Francisco dos Santos Pereira Clinica ophtalmologica. ll.a Secção Alexandre E. de Castro Cerqueira... Clinieadermatológica e sypbiligraphica 12.a Secção Luiz Pinto de Carvalho Clinica psychiatrica e de mol. nervosas João E. de Castro Cerqueira Sebastião Cardoso Em disponibilidade. Os Drs.: José A. de Carvalho...1- Secção. Gonçalo M. S. de Aragão |Q. Julió Sérgio Palma I ~ * Pedro Luiz Celestino.... 3- > Oscar Freire de Carvalho > Antonino B. Anjos 5- > João A. Garcêz Fróes,... 6' » SUBSTITU TOS Os Drs.: Pedro da Luz Carrascosa. 1 José Julio de Calasans...) & - °' José Adeodato /Je Souza 8- > Alfredo F. de Magalhães. 9* » Clodoaldo de Andrade... 10- > Albino Leitão 11' » 12' Secretario -Dr. Menandro dos Reis Meirelles. Sub-Secretario - Dr. Matheus Vaz de Oliveira. A Faculdade não approva nem reprova as opiniões emittidas nas theses Me lhe são api escutadas. PROLOG© A hygiene, affirmamos sem a minima duvida, será a medicina do futuro. Prevenir a moléstia, conservar a saude ao ho- mem, até o termino natural da vida - a velhice pode ser uma utopia, mas, é esse o ideal da hy- giene a que autor isam os progressos da sciencia moderna. Séculos atrás, quando a medicina ensaiava os primeiros passos, as moléstias epidemicas dizima- ram milhões de victimas ; entretanto, com o conhe- cimento da etio-pathogenia e o emprego dos meios prophylácticos, desapparaceram, actualmente, dos paires em que a hygiene é uma verdade. A Alle- manha não conhece a varíola; a peste e o cólera não visitam mais a Europa; Cuba, S. Luiz e o Rio de Janeiro deixaram de ser fócos da febre ama- re lia. No entanto, hoje, uma verdadeira « triada das pestes contemporâneas» - a tuberculose, a syphilis^ II e o alcoolismo, occupam o logar das epidemias e fazem quasi tantas victimas quantas aquelles fla- gellos. Os psychiatras consideram-nas os tres grandes factores das psychoses, e as affecções dos centros nervosos, apparelho circulatório e renal têm, na maioria dos casos, em sua etiolgia a syphilis e o alcoolismo. Portanto, a lucta social contra a triada sinis- tra, deve ser grande e abranger todos os meios possí- veis para a victoria. Procurar extinguir a tuberculose, fazendo ex- clusivamente desinfecções, é ir de encontro aos ensinamentos da hygiene moderna. Se a miséria alimenta a tuberculose, é contra ella que deve ser acceso o combate. Taxar, somente, o álcool com impostos eleva- díssimos, é deixar incompleta a lucta contra o alcoolismo, pois, o indivíduo avesado privar-se-á até do alimento para satisfazer o vicio. Deixar á prostituição campo livre é aniquilar todos os esforços para a extineção da syphilis. III Do exposto resalta a importância capital do medico na sociedade moderna. Não é possível, no momento actual, o medico conservar-se exclusiva- mente clinico; ao lado do clinico está hygienista, o guarda zeloso pela conservação da saude de seus clientes, fazendo ver todas as causas que podem trazer ao organismo a moléstia, ou predispol-o. A vulgarisação dos princípios elementares da hygiene, por todas as classes é uma medida que urge ser posta em pratica pelo ensino nas escolas, nos lyceus, pelas conferencias publicas e pela imprensa. Chegando ao fim do tirocínio académico, a lei exige que o alumno apresente um trabalho impresso, e é em obdiencia a ella que nos tornamos auctor. Enthufiasta da hygiene, esperançoso nos seus resultados, nenhum assumpto se nos afigurou de mais importância para o trabalho final da. nossa aprendizagem medica. P Parte Prophylaxia da Tuberculose CAPITULO I Synthese histórica, etio-pathogenia e mortalidade fftW maior ^agfe^° das sociedades modernas, verdadeiro pesadelo dos médicos, hygienis- yjSpcV tas e de todos os que se interessam pela T saude publica, é a tuberculose a moléstia que mais vidas ceifa em todo o mundo civilisado. Moléstia social e infecto-contagiosa, tem como causa biologica o bacillo de Kock, e porfa ctor social, a miséria e os mais agentes depauperantes do orga- nismo; não ha medicamento que possa cural-a, restan- do á sociedade ameaçada uma unica esperança - a prophylaxia, a mais complexa de quantas a hygiene estuda, tão múltiplas são as causas que dão logar ás devastações do terrivel bacillo. E', portanto, para a hygiene que a sociedade volta as vistas, implorando um auxilio contra esse mal, ao qual, parece, foi reservado o encargo de impedir o accrescimo da população a ponto de dizimar famílias 4 inteiras, sem que um só descendente escap e â terrível messe. Conhecida desde a mais alta antiguidade, vemol-a descripta por Ilypocrates, sob a denominação de phtkysis, com os seus symptomas bem caracterisados ; mas, considerada, ora um producto de affecções diversas, ora uma simples suppuração do pulmão, da especificidade nenhum conhecimento tinham o pri- meiro mestre da medicina e os que lhe seguiram. Aristoteles, Isocrates e Galeno conheciam a trans- iu issibilidade dessa affecção, a qual, negada mesmo em épocas contemporâneas,Frascator, Van-Swienten e outros, nos séculos 16 e 17, possuíam nitida moção. A maioria dos médicos, no entanto, durante a idade média e moderna, considerou a tuberculose uma moléstia diathesica, e só em meiados do século pas- sado após ter Laennec sustentado a unidade anatomo- pathologica, conseguiu Villemin demonstrar a trans- missibilidade, e logo após o professor Kock descobre o germen, provando esses factos que a moléstia é especifica e transmissível. A prophylaxia nessas épocas era rudimentar, e nem poderia ser ao contrario, dado o nenhum conhe- cimento da causa productora da moléstia; consistia na queima da roupa e do mobiliário; no isolamento dos tuberculosos em alguns paizes; nas aspersões de agua acidulada com acido sulfurico e outros processos de mínima importância. 5 Actualmente, porém, com a orientação moderna da hygiene, a prophylaxia da tuberculose pode prestar grandes serviços á humanidade, evitando o contagio de milhares de indivíduos. Todas as especies de animaes superiores estão sujeitas á tuberculose, e até especies inferiores, reptis e peixes, como demonstram os trabalhos de Dubar, Ravaud e Ramon. O homem em todas as idades está predisposto; o sexo nenhuma influencia exerce, com tanto que o terreno apresente condições favoráveis. O bacillo da tuberculose ou antes o bacillo de Kock, em homenagem ao descobridor, é um germen de 2 a 5,4 mm. de comprimento e 0,3 a 0,5 mm. de largura. Apresentam-se isolados ou agrupados paral- lelamente tendo um aspecto uniforme nas lesões e nos escarros, segundo Courmont. Encontra-se o bacillo de Kock: no organismo, em todas as lesões tuberculosas, raramente no sangue, na cavidade nasal de enfermeiros e de outras pessoas que convivem com tuberculosos; no solo e na agua, Ovados pelos escarros, pus, urinas e cadaveres de animaes tuberculosos; no ar, em departamentos em que existam doentes, não que o ar expirado contenha germens, pois as experiencias provam-n'o puro, mas o contaminam os escarros e outros productos dessec- cados. A vitalidade do bacillo de Kock não é a mesma nos differentes meios em que tem seu habitat; dimi- 6 nuta nas culturas, conserva-se por alguns mezes no estado de desseccação e na agua, apresentando no solo a duração de 2 annos. Quando nas lesões e nos escarros, a resistência desse germen aos antisepticos é considerável. Todas as vias, naturaes ou artificiaes, dão caminho á penetração do germen ; mas, duas merecem especial attenção - a respiratória e a gastro-intestinal. Apesar da opinião geral e parecer mesmo logico, ser a via respiratória a mais frequente, visto que é o pulmão o orgão predilecto, filiamo-nos aos auctores que collocam a via gastrica em primeiro plano. Dirão que nesse caso seria a tuberculose mesenterica a forma mais frequente, mas essa existe affirmam os pathologistas como infecção secundaria pela ingestão dos escarros. Quem poderá, porém, contestar a possi- bilidade dessa tuberculose mesenterica ter precedido a pulmonar? Se é difficil diagnosticar uma lesão inci- piente no pulmão, difficilimo sel-o-á no caso em questão; demais, o germen pode não achar no tubo gastro-intestinal meio propicio para seu desenvolvi- mento e ser levado ao pulmão onde mudam as condições. Não quer isso dizer que a via respiratória perca sua importância e que delia se descuide o hygienista, convindo, porém, dizer que é mais facil evitar a respi- ração de um ar contendo bacillos do que fugir a ingeril-os com os alimentos. 7 Além dessas vias são também portas de entrada todas as cavidades naturaes, os trajectos fistulosos, as soluções de continuidade qualquer que seja a extensão O ar e os alimentos são pois os dois principaes meios de contagio. Outros ainda existem importantes entre os quaes tem primeiro logar o beijo, habito peri- gosissimo, nas creanças principalmente; soubessem os paes que um beijo pode ser o inicio da tuberculose no ente querido, certamente não permittiriam essa pratica anti-hygienica. Os utensílios de mesa, talheres, guardanapos, copos tudo é susceptivel de transmittir a tuberculose; as navalhas e thesouras manejadas por mão de official affectado ou contaminadas por outro mecanismo podem também, na mais leve solução de continuidade, levar a perigosa bactéria; os instrumentos de sopro, o instrumental cirúrgico, e o proprio dedo estão no mesmo caso, quando ha esquecimento da asepsia e antisepsia. Esses agentes ficam no entanto em plano inferior ao papel activo dos insectos. A mosca pousa no escarro, no pus, numa ferida de origem phymica e após, vae deixar os germens nos alimentos ou em uma solução de continuidade, em qualquer parte do corpo. Ainda outros insectos, especialmente as pulgas e os persevejos, podem inocular em um indivíduo, em es- tado hygido, os germens retirados, de um sangue que os contenha. 8 A mortalidade da tuberculose é considerável em todos paizes. Na França, só em Paris, a tuberculose fez em 1891 10.295 victimas; na semanna de 7 a 14 de Janeiro do anno findo, em 897 obitos, a tuberculose foi responsável por 225, na mesma cidade. No congresso de Assistência Publica foi apresen- tada a seguinte estatística da mortalidade em diver- sos paizes: França. . 4,22 p. 1.000 Italia.. . . 2,39 » » Áustria. .3,5 » » Suissa. . . 2,56 p. 1.000 Rússia.. . 8,6 2 » » E. Unidos 2,49 » » Na Allemanha a mortalidade, estudada durante 5 ar.nos deu o seguinte rebitado : Idade de 15 a 20 annos. . . . 406 obitos » » 20 « 24 » .... 444 » » » 30 « 40 » .... 391 » » » 50 » 66 » .... 239 » A mortalidade geral é de 7.000 paracada grupo. Aqui na capital do estado não é menor a morta- lidade devida a essa moléstia; temos em mão os an- nuarios demographicos de 1899 a 1905 e são esses os dados fornecidos: Mortalidade pela tnbercul ose Obituário geral Porcentagem i897.. . 636 . 6.935.... 9,08 1898.. . 631 . 4-558.... 19,84 1899.. . 688 . 5.516.... 12,14 9 Nesses 3 annos, augmentou a mortalidade por grassarem as epidemias da variola e da febre ama- rella, sendo que a primeira fez em 1897, 1.676 victimas. Mortalidade pela tuberculose Obtuario geral Porcentagem 1900... 638 4-238. . . . 14,88 1901... 629 4.317. .. . U,59 1902... 594 4.740. • • • T 2,10 1903... 554 4.384. . . . 11,99 1904... 625 4.699. • • • 13.99 1905... 585 3.852. . . . 15,18 A eloquência dos algarismos dispensa os com- mentarios, ante essas estatísticas, nada animadoras para o futuro da Bahia, se providencias serias não forem tomadas, para que não se tenha de registrar, em annuarios, vindouros porcentagens maiores. CAPITULO II A hereditariedade tuberculose e os casamentos herança muito interessa á prophylaxia % da tuberculose, por isso que se trata de 1 premunir a descendencia, tão atacada 1 pelo terrivel morbus. Os hygienistas não estão de accordo nesse inte- ressante assumpto: uns não julgam a tuberculose moléstia hereditária e sustentam a heredo-predis- posição; outros pensam que a tuberculose é uma moléstia hereditária e se filiam á theoria do heredo- contagio. Não ha duvida que o filho de individuos, atacados de uma moléstia consumptiva, como a tuberculose, ha de ser um predisposto a essa morbideza; mas não se póde affirmar que, desde a vida intra-uterina, traga comsigo o germen que mais tarde ha de destruir os tecidos, Grancher affirma; a tuberculose hereditária 12 é excepcíonalmente rara, contanto que se affíutem os descendentes do contagio. Como poderia dar-se a infecção na vida intra- uterina ? Excluido o facto de infecções, nos orgãos genitaes da mulher, só poderia dar-se o contagio com a pre- sença de bacillos no sangue, os quaes atravessassem a placenta; mas, a presença de bacillos no sangue é rara, a não ser nos casos de lesões dos vasos, nas formas agudas e nos periodos últimos da moléstia. Ora, nas formas agudas e na cachexia é impossivel a concepção. Não ha a negar, a herança parasitaria é rara, e Kuss affirma somente conhecer 40 casos de tuber- culose congénita. Quanto ás experiencias praticadas em animaes prenhes, são muito controvertidas as con- clusões tiradas pelos sectários das duas theorias. O maior argumento em que se baseiam os parti- dários do heredo-contagio, é a tuberculose infantil, e afíirmam que a criança nasce com o germen em estado de latencia; no entanto é incontestável a possi- bilidade do contagio, fóra da vida fetal, dadas as condições de meio, podendo mesmo, nas primeiras inspirações, receber a criança as poeiras bacilliferas, que não hão de faltar num compartimento em que ha um tuberculoso, mormente se não existem os necessá- rios cuidados hygienicos. 13 A herança que o tuberculoso lega ao filho é a predisposição do terreno, preparado para receber a infecção; o indivíduo apresenta deformações anato- micas ; affecções nervosas, desde a neurasthenia até a degenerascencia mental; a debilidade geral se mani- festa ; a tuberculose virá infallivelmente, havendo con- tagio. Retirem, porém, desse indivíduo, em verdadeira imminencia mórbida, as condições que influem para a receptividade; façam desapparecer o debilitamento; ponham-n'o a coberto do contagio e será muito pro- vável dar-se a regeneração desse organismo, condem- nado a uma perda fatal. Mas, quer a tuberculose se manifeste pelo heredo- contagio, ou pela heredo-predisposição, existe um perigo para a sociedade que será obviado com a prohibição dos casamentos entre tuberculosos, porque, se a primeira manifestação hereditária da moléstia é rara, a outra é frequente, produzindo um futuro tuber- culoso, um tarado para qualquer affecção mórbida. O matrimonio de indivíduos tuberculosos é um perigo social: apressa a evolução da moléstia; infec- ciona o outro cônjuge; produz uma descendencia condemnada a taras diversas. O medico tem o dever moral de impedir, sempre que fôr possível, essa união prejudicial e funesta. O segrêdo medico pode, perfeitamente, ser desvendado em face dos altos interesses da sociedade. 14 Supponhamos um pae que procura um clinico para inquerir-lhe se póde dar em casamento a filha, a um seu cliente; o clinico não deve silenciar, sabendo-o tuberculoso, embóra não declare a moléstia pode, pelo menos, deixar entrever o perigo dessa união. Nem se argumente com as consequências que esse facto pode trazer para o individuo, porque acima da funcção individual está a funcção social e o medico não tem o direito de, para salvaguardar os interesses individuaes, prejudicar os da collectividade. A sociedade tem a obrigação de prestar assistência e protecção aos ven- cidos pela invasão traçoeira das moléstias; mas, não póde levar esse sacrificio á perda de sua estabilidade permittindo que esses doentes augmentem o campo do contagio. Verdade é que, raramente entre nós, os clínicos são consultados nesses assumptos, e os casamentos se realisam sem a menor noção de que esse acto social, altamente necessário para a moralidade dos povos, não deve nunca se affastar dos preceitos da hygiene. Não ha que appellar, nesse paiz basta estar no gozo das faculdades mentaes para realisar o casa- mento; os tuberculosos, cancerosos, leprosos, epilé- pticos podem, se quizerem, realisal-o, sem que a hygiene tenha um meio para impedil-o. E' necessário, portanto, vedar o matrimonio de tuberculosos. Trata-se do casamento de um individuo suspeito de lesão incipiente, o clinico aconselhará 15 o adiamento, obrigando-o a ir para uma zona previ- legiada, até que se verifique a cura ou desappareçam as suspeitas. Um tuberculoso se diz curado. Se a cura se man- tém ha 3 ou 4 annos, verificado pelo exame clinico, que nenhum signal revela a moléstia, poderá o medico permittir o casamento, ao contrario será prematuro e perigoso, pois, mesmo com a cura, permanecendo durante 4 annos, se tem visto o casamento provocar a recrudescência da moléstia. A conclusão a tirar é que, os suppostos curados de tuberculose, não devem arriscar a saude com o matrimonio. CAPITULO III Alimentação. Falsificações e fiscalisação dos generos alimentieios. Prophylaxia nos matadouros, estábulos, talhos e mercados K tuberculose, já o dissemos, necessita, para evolver, condições propicias para a vida $ do seu germen que nem sempre se apre- • sentam, porque o organismo não está indefeso. Ha elementos especialmente destinados ao papel defensivo, são os leucocytes, que, aonde quer que se dê a invasão, para lá affluem e empenham lucta com o invasor; por outro lado os tecidos reagem, já pelas secreções, tornando o meio improprio para a vida do germen, já pela proliferação cellular, oppondo uma barreira a sua passagem. Se entretanto faltam ou enfraquecem esses elementos de lucta, a infecção se dá inevitavelmente. Entre as causas motivadoras do decrescimento 18 das forças organicas, a alimentação é, sem duvida, das mais importantes; ora insufficiente, inanindo pouco a pouco o individuo; ora carregada de princípios toxicos. O homem serve-se para sua alimentação dos tres reinos da natureza; o reino animal fornece-lhe o maior contingente, e os animaes mais utilisados são o boi, o porco, o carneiro, a cabra e em alguns paizes o cão e o cavallo, os animaes sylvestres, chamados de caça, - o veado, o coelho, etc. As aves e os peixes são também muito utilisados, assim como diversas classes inferiores, denominadas pelo povo, mariscos - cama- rões, ostras. Estudemos a alimentação, fornecida por esses animaes, sob os tres pontos de vista: possibilidade de ser portadora do bacillo de Kock, toxidez e insuffi- ciencia de princípios nutritivos. Os bovideos, que occupam o primeiro logar na alimentação, são animaes muito atacados pela tuber- culose; o porco, ao contrario do que geralmente se suppõe, reune aos já numerosos perigos que sua carne offerece mais o da transmissão da tuberculose, e final- mente, o unico animal que se tem julgado refractario á moléstia, na classe dos mammiferos domésticos, é a cabra. As aves domesticas são também sujeitas ás inva- sões da mencionada moléstia, e se os animaes sylves- tres não o são, é porque estão longe do contagio. 19 No caso de animal tuberculoso a carne é suspeita; os ganglios que vão adherentes ao musculo estão invadidos, podendo o proprio musculo denunciar a presença dos germens ; o uso das vísceras deve ser banido, porque essas estão contaminadas, E que perigo poderá haver soffrendo a carne uma cocção demorada? Morrem os germens, é verdade, mas as toxinas, adhe- rentes a elles, não se destroem e levarão graves alte- rações ao organismo ; demais, uma carne que soffre longa cocção, tem parte do seu poder nutritivo des- truído e se o indivíduo evita o contagio faz uso de uma alimentação insufficiente, se foge a essa circum- stancia, sujeitar-se-á áquelle. O leite mais usado é o da vacca, animal, como dissemos, muito atacado pela tuberculose; além disso é muito commum nesse animal se localísarem as lesões phymicas na glandula mammaria; nesse caso o leite contém sempre os germens; naquelle, póde não trazer os bacillos, mas é sempre suspeito e incapaz de ser utilisado para a alimentação. A carne e o leite, como todos os mais alimentos, podem ser originários de animaes indemnes, e, no entanto, contaminar-se pelo contacto dos insectos, poeiras, etc. Os peixes no mar, com certeza, estarão livres da tuberculose, e só em viveiros poderá dar-se o contagio se lhes dando escarros para nutrição. As carnes que se dividem em vermelhas, brancas 20 e negras, são utilisadas frescas ou salgadas; as carnes frescas estão sujeitas á putrefacção, e não precisamos insistir nos graves inconvenientes que acarreta para sua saude, o individuo que utilisa um alimento nestas condições; ahi se formam productos cadavéricos que, reunidos aos principios segregados pelos germens, hão de exercer uma acção toxica considerável. As carnes salgadas são conservadas por processos diversos e apresentam tres inconvenientes: difficil digestão, uma certa quantidade de ptomainas, produzidas apesar da conservação e a possibilidade da juncção de subs- tancias mineraes toxicas, como acido salicylico e outros. A carne dos animaes de caça, a chamada negra, é permittida, quando apanhado o animal de surpreza; mas, é eminentemente toxica, quando, perseguido, e esta é a rasão do facto dessas carnes exasperarem as dermatoses. A carne fresca dos peixes não traz prejuizos para a saude; mas, a putrefacção nesses animaes começa muito cêdo e, em taes condições, deve ser irremedia velmente banida. O peixe conservado é indigesto, e se, entre nós a conservação é feita com o chlorêto de sodio, não sabemos qual substancia usada nos que vêm em lata do estrangeiro. O uso dos mariscos em perfeito estado é tolerado; mas esses animaes, bem como os peixes, não apresen- tam riqueza em principios nutritivos. 21 Os ovos constituem um excellente alimento; mas é necessário que sejam frescos, porque do contrario é prejudicialissimo o seu uso. Das gorduras animaes a mais tolerada é a man- teiga, sujeita a toda sorte de falsificações desde o corante até a própria substancia. Substituem a man- teiga pela margarina que, não sendo substancia toxica, póde ter origem de animaes doentes. As carnes podem ser insufficientes para a alimen- tação e nesse caso estão as carnes salgadas, as prove- nientes de animaes magros e inanidos. O homem utilisa também em larga escala das substancias vegetaes: cereaes, farinhas, legumes e fructos. As farinhas podem soffrer alterações, devidas á protiferação de cogumellos, bactérias e larvas de inse- ctos. A farinha de trigo é a mais rica em productos nutritivos; está sugeita á falsificação pela addição de farinhas provenientes de outrós cereaes, alguns até venenosos; a farinha de centeio apresenta sérios perigos pelos phenomenos de ergotismo ; a farinha do milho alterado traz também grandes inconvenientes, até tem sido responsabilisada pela pellagra; a de man- dioca é uma alimentação pobre, quando se retira o amidon para outros misteres e está também sujeita a alterações que a tornam, além de insufficiente, peri- gosa para a nutrição. Da farinha de trigo é fabricado o pão, largamente 22 usado ; se a farinha é de péssima qualidade sel-o-á o pão, sujeito ainda á má fabricação, ao emprego de substancias, que contenham toxicos e a proliferação de uma especie de cogumello. O oleo de olivas é a gordura vegetal de mais facil digestão; mas, raramente vem ao mercado, sub- stituido como é por outros, com grande damnos para o apparelho digestivo. As conservas vegetaes estão sujeitas ás mesmas considerações feitas, quando tratamos das carnes conservadas; os condimentos merecem especial atten- ção pois que o seu abuso é assás prejudicial ao orga- nismo; alguns delles soffrem falsificações, como o vinagre cujo acido é substituído pelos sulfurico e chlorhydrico. A agua, além do seu papel physiologico, é um alimento pelos saes que contém. Não temos o proposito de fazer no presente tra- balho um estudo das aguas, magno problema da hygiene nos paizes cultos. Escrevendo a prophylaxia da tuberculose, não podíamos passar em silencio esse liquido essencial á vida, factor, no emtanto, do enfra- quecimento orgânico, quando não apresenta as con- dições de pureza necessária. A agua potável apresenta certas condições, sem as quaes não pode ser utilisada, sem graves prejuízos para a saude publica. Os compostos mineraes toxicos, como os saes de chumbo, cobre e zinco, grande 23 quantidade de matéria organica e organisada, germens pathogenos e ovos de vermes, tornam-n'a perigossima. O bacillo da febre thyphica, o colicommunis, os vibriões do cólera morbus, têm seu habitat normal nagua; o proprio bacillo da tuberculose pode existir nagua arrastado principalmente através dum sólo per- meável, onde existam cadaveres de tuberculosos, para um manancial; as larvas dochmius ankylostoma são também encontradas nagua e dahi passam para o tubo intestinal. Quando a agua impura não traga uma moléstia especifica, como a febre thyphica, o ankylostomiase ou o bocio, trará, perturbações disgestivas, diarrhéas que enfraquecerão o individuo, predispondo-o á tuber- culose. A hygiene tem meios para remediar os sérios perigos para a saude publica apontados nesse capitulo. O animal tuberculoso deve ser banido do con- sumo, e para o diagnostico dessa moléstia ha uma substancia, verdadeiro reactivo - a tuberculina. Injectando-se 10 centimetros de tuberculina o animal atacado reage, apresentando augmento de temperatura, ao passo que os animaes indemnes não têm a minima reacção. No emtanto convém estar de sobreaviso contra a fraude, visto como os interessados se servem do 24 artificio de acostumar o animal á dose determinada de tuberculina, afim de que, certo tempo depois, não mais apresente reacção. Para combatel-a é necessário praticar mais de uma prova com dóses progressivas. Não visará exclusivamente a tuberculose o exame do gado e sim também todas as demais moléstias; as pesquizas devem ir até as vísceras, sendo verificadas uma a uma minuciosamente. Qualquer moléstia ou lesão encontrada acarreta a rejeição da rez. O gado cançado após longas caminhadas, só com um repouso sufficiente poderá ir para o matadouro; os animaes velhos e enfraquecidos, pela inanição ou por outra causa, estão em péssimas condições para a alimentação, e como tal devem ser condemnados. E' pensar geral que a carne não está em condi- ções de ser retalhada para o consumo, logo após a morte do animal; mas, se inconvenientes ha, não são de maxima importância. Os grandes inconvenientes existem quando a carne começa a soffrer putrefacção, tornando-se desagradavel e toxica. A putrefacção começa, geralmente, nos nossos climas, 24 horas após a morte; algumas causas podem apressal-a, o calor, as poeiras, o mau arejamento, os insectos, etc. Claro está que, quando nos referimos ao calor, é em grau insufficiente para impedir a prolife- ração dos germens. A vendagem ambulante da carne não se justifica em face da hygiene; as vasilhas são ás vezes de 25 madeira; as carnes ficam expostas ao sol, ás poeiras, passando por milhares de mãos os insectos affluem aos enxames, concorrendo tudo isso para apressar a putrefacção. E, já que nos referimos á vendagem ambulante da carne e das vísceras, frizemos também os riscos de quem compra doces, em caixas sem o menor asseio e cuidados hygienicos. O proprio bacillo de Kock pode ahi estar, quando não, estarão os factores que concorem para a sua germinação. Os mercados devem estar sob uma vigilância rigo- rosa ; visto que ahi são vendidos, aves, fructos, legu- mes, carnes conservadas; o asseio e a desinfecção serão praticados diariamente. Aos talhos e matadouros, a hygiene exige condições especiaes, o asseio e as desinfecções deverão ser rigorosas; a carne não poderá ser collocada no sólo em contacto com o pó, e é obri- gatorio o arejamento. Todos os estabelecimentos que fazem commercio com generos alimentícios, estão obrigados á visita semanal do medico preposto para o serviço, o qual fará desapparecer da vendagem as substancias alte- radas, e combate sem tréguas ás falsificações por meio de analyses e pesadas multas, impostas aos con- traventores. O estudo serio e rigoroso das aguas, não se per- mittindo o uso de aguas impuras, mesmo para traba- lhos domésticos, a sua benificiação, como praticam a 26 Inglaterra e Alie manha e sobretudo a acção dos par- ticulares, purificando-as pela fervura ou por outros processos, são os meios pelos quaes se poderá impe- dir a acção prejudicial que as más aguas exercem no organismo. Com tal proceder, os casos de tuberculose dimi- nuirão sensivelmente, e nem se póde negar o papel importante da alimentação, bastando, ás vezes, super- alimentar o doente para retardar ou impedir a mar- cha da moléstia. CAPITULO IV Habitações li habitação influe consideravelmente no es- tado de saude do homem; o sólo sobre 6p o qual se assenta o edifício, os terrenos íCV 1 de visinhança, a altitude, tudo isso exerce um papel importante que, ao hygienista, não pode passar despercebido tão magno assumpto. Grande parte dos prédios, aqui na capital, não offerecem condições hygienicas que possam garantir o povo das intoxicações. Edifícios ha que, logo pelo aspecto, impressionam desagradavelmente; no limiar da entrada, para logo se denuncia um cheiro pútrido exhalado dos canos; sente-se alguma difficuldade em respirar ; mal arejados,' sem asseio, escuros ; alguns, não tendo no fundo a menor abertura para ventilação e para a passagem da luz; outros, carentes de canos de esgotos, sendo o expurgo feito nas boccas de lobo das ruas ; lojas húmidas e escuras, cortiços cuja altura não dista 4 metros do sólo, e nesses prédios infectos 28 accumulo de indivíduos, respirando um ar con- finado, um só compartimento para todos os usos, cosinha, dormitorio, sala de refeições; comprehende- se, então, porque a tuberculose faz annualmente tão crescido numero de victimas. O sólo é uma das condições para a salubridade de um prédio; o edifício assentado na visinhança de um pantano ou num sólo permeável nenhuma sa- lubridade possue; o habitante dos pantanos é hos- pede do paludisno, o qual além de ser uma moléstia grave, predispõe á tuberculose; os gazes que se desprendem de um sólo permeável intoxicam os mora- dores e a humidade que sobe rouba calor ás extre- midades inferiores, acarretando o facto perturbações circulatórias e concorrendo, assim, para facilitar a evolução da infecção phymica. E' necessário, portanto, extinguir os pantanos e tornar o terreno impermeável. A extincção do pantano, sendo um meio de prophy- laxia do paludismo, traz também protecção contra as demais imfecções que poderiam aproveitar-se do ter- reno preparado. O cimento deve ser banido do sólo das habitações, como optimo conductor de calor; a madeira é o material preferido, podendo ser utilisado o tijollo poroso e o atêrro. Habitação, cujo ar não se renova é uma moradia insalubre e condemnada; a falta de renovação implica na diminuição do oxigénio e riqueza do gaz carbonio; 29 o organismo vae perecendo gradativamente, por essa asphyxia lenta, sendo quasi sempre a tuberculose o epilogo que espera os individuos que vivem em taes antros. Não basta que exista oxigénio num aposento, é necessário que exista em abundancia, para satisfazer as necessidades dos tecidos, tanto mais quando não é o individúo o unico a gastar esse precioso elemento; a illuminação artificial, o fogão absorvem-n'o em grande quantidade. Um individúo absorve por hora 20 a 25 litros de oxigénio e exhala 15 a 20 litros de anhydrido carbó- nico e, em algumas horas, uma atmosphera de 30 metros terá 200 litros desse gaz. Dez grammas de acido esteario que uma vela consome ou 10 grammas de oleo, gasto numa lampada, segundo os cálculos de Gauthier, derramam na atmosphera 1 5 litros de gaz carbonico; ainda, segundo os cálculos desse eminente chimico, um bico de gaz de encanamento, queima 130 a 150 litros de gaz por hora, roubando á atmos- phera 190 a 220 litros de oxigénio. Os apparelhos de kerozene- subtraem, também, grande quantidade de oxigénio, e, entre esses, ha os feitos de folha de Flandres, tendo uma mecha de algo- dão groseiramente preparada, que mergulha no kero- sene. Esses apparelhos, por serem baratos, são muito usados nas classes pobres; são altamente prejudiciaes; além do gaz carbonico, derramam no ambiente, gran- de quantidade de oxido de carbono, e é bom que o 30 povo saiba que esse apparelho barato é uni grande agente para sua intoxicação. Os productos de combustão da madeira e do carvão que se desprendem dos fogões e dos brazeiros, concorrem muito para a impurificação do ar, au- gmentando consideravelmente a proporção do anhy- drido carbonico.O meio de sanar esses inconvenientes, attentatorios á saude dos moradores, é a ventilação pelos processos naturaes: ventilação permanente espontânea e permanente provocada -- portas, janel- las; pelos processos artificiaes - propulsão e aspira- ção do ar. A natureza desse trabalho não permitte a descri- pção, embora succinta, e a critica desses processos; o que porém não padece duvida é que, seja como for a habitação necessita ser bem ventilada. A luz é também essencial á vida. A phototherapia tem feito muitos progressos na cura de certas molés- tias nos últimos annos, e se sabe que a luz tem uma pronunciada influencia sobre as bactérias, impedindo o desenvolvimento de algumas culturas. E' necessário, portanto, que os prédios tenham luz em profusão, mesmo porque a obscuridade excerce maléfica influ- encia no caracter do homem, e não se pode negar a influencia que o moral exerce sobre o physico. O serviço de aguas e de esgotos não podem ser despresados; numa cidade a agua deve existir em abundancia para o asseio dos prédios, dos canos e 31 dos indivíduos, assim como para outros usos domés- ticos. Os apparellios de evacuação das aguas usadas não devem ser os mesmos para evacuação das maté- rias de fecaes, corno se dá em grande numeros de prédios nessa capital; sua construcção, será feita de forma a não permittir a estagnação e consequente desprendimentos de gazes toxicos. As matérias fecaes precisam ser logo e logo evacuadas; os gazes que nos canos se formam, como o hydrogenio sulfurado, são eminentemente toxicos, e portanto, é necessário haver agua em abundancia, desinfecções constantes, prin- cipalmente com o sulfato de ferro que tem a proprie- dade de decompor o gaz sulphydrico. Ha apparelhos modernos que satisfazem todos os requisitos da hygiene. Nas cidades em que não existem esgotos, se deve a proporção que se for depositando as matérias fecaes nos fossos cavados no solo, collocar terra misturada com cal. O material de construcção também importa á hygiene, mas não nos cabe aqui o seu estudo; as paredes de um edifício não devem ser forradas a papel, nada mais anti-hygíenico, principalmente sob o ponto de vista da tuberculose; as cortinas, os pannos dos moveis, os tapetes, ha muito que a hygiene condemna; o mobiliário, deve ser simples de forma a se prestar a uma lavagem com um liquido anti- septico; as varreduras seccas são um attentado á saude 32 e bem podem ser substituídas pela passagem de um panno molhado numa solução antiseptica. O escarrador é um objecto de primeira necessi- dade, contendo uma substancia, bactericida em dis- solução. Nos centros das cidades se accumula a maior parte da população; os edificios são unidos uns aos outros, ruas estreitas e mal ventiladas; muitos indi- víduos habitam o mesmo prédio, dormem no mesmo compartimento, é necessário, portanto, conhecer a ca- pacidade do ar em metros cúbicos de cada aposento. O individuo precisa de 50 metros cúbicos de ar. Ora, num espaço tão restricto habitar dois indivíduos é sujeitar-se a uma pobreza de oxigénio que irá, pouco a pouco, anemiando-os e enfraquecendo-lhes as defesas organicas. Além disso é na promiscuidade de indi" viduos numa moradia que se dá facilmente o con- tagio da tuberculose. Ao poder publico cabe o maior esforço no em- penho do melhoramento dos prédios, principalmente daquelles em que habita a população operaria, cujos parcos recursos não podem dar logar a escolha de moradias confortáveis. Muito pode também a ini- ciativa particular desde quando se compenetrem que só por esse proceder escaparão á tuberculose. Se habitar num prédio anti-hygienico é cavar um 33 tumulo evitem, portanto, quanto possível, essas mora- das infectas. Nas cidades cultas, a edilidade se esforça para a construcção de casas hygienicas, destinadas aos operários, e na'capital do paiz, a administração Passos disso cogitou. Aqui na Bahia ha a Villa Operaria, creada pelo benemerito Luiz Tarquinio; os prédios ahi são bem arejados e claros, com jardins, possuindo todas as condições de salubridade. Não é só, porém, com a construcção de prédios modelos para os operários que as municipalidades, podem prestar serviços á hygiene. A população pobre se accumula nos centros; pois bem, o poder municipal facilitará a conducção barata nos vehiculos para os arrabaldes, destinadas aos operários; estimulará a construcção de edifícios salubres e modicos no preço, de forma que a população pobre possa, também, gozar do ar puro desses pontos que só ao homem abastado é licito usufruir. CAPITULO V As profissões, horas de trabalho. Socie- dades cooperativas e mutuarias. Pro- phylaxia nas fabricas e officinas w s profissões pelas quaes exerce o indivi- duo a actividade têm grande influencia no seu physico e moral; imprime no 1 organismo estigmas que basta, ás vezes, a simples inspecção para revelal-as ; profissões ha que bem merecem a alcunha de assassinas. Por ahi se deduz quanto deve interessar a profissão ao hygienista, principalmente, sob o ponto de vista da prophylaxia da tuberculose. Não é só a profissão que pode trazer sérios dam- nos para o organismo, é também a maneira de exer- cel-a, o excesso a que se entregam os individuos, as horas de trabalho, a ergasthenia emfim. Não é impu- nemente que o individuo se atira a essa sobrecarga; o organismo cança; as trocas organicas não se fazem bem; ha uma desproporção entre a assimilação e a 36 desassimilação ; os tecidos se vão estiolando; as forças decaem, e a tuberculose toma posse do pulmão ou de outro orgão. O Não temos dados para julgar quaes as profissões mais atacadas pela tuberculose. O annuario de 1894 dá a relação do obituário, segundo as profissões, e foram estas as que maior cifra apresentaram na mortalidade pela tubercu- lose: Negociantes 17 Caixeiros 18 Pedreiros 13 Marceneiros 10 Alfaiates 10 Operários 12 Artistas 44 Roceiros 39 Ganhadores 21 Padeiros. 5 Militares 20 Marítimos 11 Pintores 5 Sapateiros. 5 Domesticas 221 Costureiras 9 Engommadeiras. . . 5 Cosinheiras 9 Lavadeiras 4 As denominações operários e artistas comportam diversas profissões, assim como o titulo de serviço domestico que pode encerrar os mistéres de criada, copeira, cosinheira ; no entanto, cremos que esse titulo se refere, na maioria, ás meretrizes, nome com que se substitue, principalmente no hospital, o vergo- nhoso officio. Das profissões exercidas por mulheres, 4 existem que fornecem considerável contingente á tuberculose, 37 são: as de costureira, lavadeira, engommadeira e cosinheira. A costura é um trabalho, sedentário e fati- gante, que offerece todas as condições para o enfra- quecimento do organismo, quando não ha conpensa- ção reparadora com alimentos sadios e nutrientes; mal remunerado, o aposento ou officina não tem, ás vezes, oxigénio sufficiente para as necessidas organicas e ahi fica uma pobre mulher a mover um dia inteiro uma machina. O ensfommado é também um trabalho estafante; a mulher fica exposta agora ao calor do brazeiro, daqui a pouco á temperatura mais baixa do ambiente; emprega grande energia muscular; respira oxido de carbono e as consequências não se fazem esperar. As lavadeiras estão expostas ao contagio directo, pois, não é raro haver um guarda- napo, um lenço ou outra peça contaminada ; devem portanto ferver em primeiro logar a roupa. Além do contagio, o proprio trabalho é por demais depaupe- rante, o corpo exposto á canicula, vem um aguaceiro, é preciso guardar a roupa enxuta; apparece um resfriamepto, uma pleurisia, percursores da tuber- culose. Ha profissões em que o homem respira grande quantidade de poeiras, as quaes se depositam no vertice do pulmão, produzindo o que se chama pneu- moconioses; os carvoeiros, serralheiros, mineiros, col- choeiros a ellas estão sujeitos. A irritação constante do pulmão acarreta bronchites, e tornam-n'o meio- 38 pragico de forma a ser facil a invasão da tuber- culose. Segundo Sommerfeld, em operários que absorvem poeiras, a tuberculose tem a seguinte proporção em 100 doentes : Fabricantes de agulhas 69,6 « « limas.. 62,9 Relojoeiros 36,5 Serralheiros 11,5 Cigarreiros 36,9 Capeleiros 15,5 Cavouqueiros 36,4 Pedreiros 12,9 Tecelões 25, Fabricantes de escova. 49,1 « « cabei leiras 32,1 Tapeceiros 49,1 A estatística de Hirt fornece a seguinte proporção Marceneiros 14,6 Carpinteiros 14,4 Fabricante de escovas. 49,1 F. de cabelleiras 32,1 Selleiros 12,8 Pelliqueiros 23,2 Por ahi se vê o perigo a que se expõem os indi- víduos que absorvem essas poeiras, duplamente peri- gosas. já pelo facto de serem ponto de partida para a predisposição do organismo á infecção phymica, como por serem vehiculo do proprio germen. Mas, dizer a um operário que abandone sua officina de marceneiro, ou a um pedreiro que não use da profissão, seria pro- hibir-lhe o ganho do pão, cortar-lhe a carreira para a qual o habilitou a vocação ou as necessidades da lucta pela vida, o que seria absurdo. Ha, porém, meios prophylacticos capazes de im- pedir a penetração das poeiras ou, pelo menos, dimi- nuir a quantidade; é a protecção das narinas com apparelhos diversos, sendo o melhor as mascaras de 39 gaze, embebidas em glycerina. Outro meio consiste em trazer húmida a atmosphera da officina, e quando tratar-se de pedra ou de objectos em iguaes con- dições, melhor será molhal-os. Se os operários conhecessem os perigos a que se expõem, voluntariamente fariam uso da mascara; mas, já que não têm essa comprehensão do perigo e nin- guém lh'a fornece, é preciso obrigal-os a se presta- rem a essa medida hygienica e premunidora da inte- gridade dos seus pulmões. As profissões que se destinam ao preparo de substancias que desprendem vapores irritantes, taes como o amoniaco são verdadeiros homicidas; actuam directamente sobre os bronchios, produzindo bron- chites que do estado agudo passam ao estado chronico e dahi para a tuberculose; assassinas são também as profissões que se dedicam ao preparo dos saes de chumbo e a dos pintores que delle se utilisam o que hoje está banido. Outras profissões agem de modo diverso. Os ganhadores, guardas nocturnas, carteiros, soldados, cocheiros, carroceiros, roceiros, trabalhando ao ar livre, sujeitos ás chuvas, passando noites em claro, apanham facilmente resfriamentos continuados que enfraquecem o organismo e neutralisam os meios de resistência. O trabalho é uma condição necessária para o bom 40 funccionamento do organismo, é a base para o desen- volvimento economico do individuo e dos povos. Sob a influencia do trabalho, as trocas or^anicas augmentam; a nutrição se faz com maior energia; os tecidos se desenvolvem e o organisjno adquire forças ; ao contrario, o ocio'traz a diminuição da actividade nutritiva das cellulas; ha um retardamento na assi- milação e a atrophia quasi sempre é a consequência final, apoderando-se com presteza a tuberculose de um organismo nessas condições. Mas, se o trabalho é elemento primordial para a actividade organica, em excesso, é factor para o deperecimento dos tecidos; virá a sobrecarga, a sur- menage e após a penetração e o desenvolvimento da bactéria de Kock. Um individuo trabalha das 6 da manhã ás 6 da tarde, descansando i hora somente, trabalha ás vezes, mais 5 horas durante a noite; terá, como consequên- cia do excesso, o cansaço; as toxinas elaboradas pelo proprio organismo augmentam e, não eliminadas, uma anto-intoxicação ir-se-á accentuando e a miséria organica será o resultado, tanto mais quando adju- vantes poderosos, já mencionados, concorrem para apressar a marcha. O repouso deve estar na razão directa do traba- lho; um individuo não pode'trabalhar mais de 8 41 horas sem que a saude soffra; é necessário, portanto, a regulamentação do trabalho. O operário por força de seus parcos recursos, já o provamos, não pode ter habitação e alimentação selectas ; ás vezes, vê-se coagido a suportar o trabalho quando um estado morbido já se apodera do organismo. Baixar ao hospital será não ganhar o sustento para a familia, tratar-se fóra não o permitte o salario e em resultado a moléstia continúa a marcha sem que um tratamento efficaz lhe ponha estorvo. No entanto, se o operário concorrer com minima parte do salario para uma associação que o ampare nessas emergencias, certamente terá recursos para impedir a evolução da moléstia. As sociedades cooperativas, as mutuarias e as sociedades beneficentes prosperam na Inglaterra, França e Allemanha; nesse ultimo paiz todo operário é obrigado a concorrer para a mutuaria da sua fabri- ca, de forma que, em casos de moléstia, velhice ou invalidez, o auxilio não se faz esperar. Entre nós existem mutuarias e sociedades benefi- centes, algumas prosperas; as cooperativas não têm tido vida longa, as causas ignoramos, queremos crêr que isso é devido á falta de instrucção nesses assumptos de hygiene e assistência publica, o que não é motivo para desanimar. 42 A sociedade cooperativa se encarrega de fornecer generos alimentícios aos associados, por preço com- modo; tem um laboratorio de analyses e médicos para os exames dos generos. Comprehende-se os magníficos resultados que traz uma sociedade dessas; ahi ha certeza de ser provido de generos de primeira qualidade e livres de toda a falsificação. Não será muito ministrar-se, também, aos associados instrucções de hygiene alimentar. A mutuaria ampara ainda a prole ; o operário tem a certeza que não a deixa a braços com a miséria e seus dois satellites predilectos - a tuberculose e a prostituição. A caixa economica é também instituição salvadora, superior ao cofre de família, á mão todo instante e prompto ao esvasiamento amais comesinha neces- sidade. Essas medidas de grande alcance não dão por certo resultado mais amplo, por não ser a econo- mia a virtude de que a maioria dos homens possa fazer alarde, e a Allemanha assim comprehendeu, legislando a obrigatoriedade das mutuarias para os operários; os elogios que no ultimo congresso de tuberculose mereceu a lei bem mostram os resultados práticos que tem auferido esse grande e culto povo. A nossa aspiração é ver instituída, entre nós, a mesma lei, porque fazer prophylaxia não é somente destruir germens. 43 As fabricas devem possuir todos os meios de defender os seus operários dos damnos que causam as profissões; é assim que para impedir a produc- ção de poeiras, além das mascaras, já mencionadas, devem possuir caixas apropriadas, com paredes de vidro e aberturas afim de que o operário possa intro- duzir a mão para a execução do trabalho, cujo movi- mento acompanha perfeitamente, ficando dessa forma livre de inspirar poeiras. Ha também os apparelhos para aspiração das poeiras. As fabricas e officinas que manejam ou manipu- lam corpos que desprendem gazes irritantes e toxicos, constituem um perigo para o operário e também para a visinhança; taes estabelecimentos devem ser obri- gados a destruir esses vapores pelos processos fumivoros nos diversos fornos. Existem os fornos Siemens e Johnson e Doulton. Para destruir os vapores são necessárias, segundo Proust, 5 condições, sendo que os fornos nem sempre a apresentam. O edifício das fabricas deve ter, como os particu- lares, todas as condições hygienicas, garantia da saude do proletariado; a aereação deve ser a mais franca possivel; desinfecção e lavagens diarias; espe- cial cuidado no serviço de esgoto; prohibição de escarrar no assoalho e mais outras medidas- que em diversos capítulos já foram ou serão mencionadas. Declarado tuberculoso, um operário não deve 44 continuar na fabrica; primeiro, porque contra isso protestam os sentimentos de humanidade, segundo, que sua presença é uma ameaça á vida dos compa- nheiros. Não haja preoccupação pela sorte do infeliz porque o sanatorio, o dispensário ou a mutuaria delle tomarão conta. CAPITULO VI Protecção e assistência á infancia. Pro- philaxia nas escolas e internatos elar pela infancia, o futuro da patria, é dever do hygienista, talvez com mais carinho, cXd porque é justamente nessa phase que, os tecidos em uma proliferação constante e mal apparelhados para a luta, a infecção tem toda a pro- balidade de levar de vencida os elementos de defeza. A protecção da infancia contra a tuberculose, se tem de obedecer aos mesmos cuidados, por nós estu- dados, por outro lado tem de ir mais longe e inquerir se a creança traz a tara hereditária. E' originaria de tuberculosos, o primeiro cuidado do hygienista é affastal-a do contagio, e após levantar a pouco e pouco as forças do organismo, cuja vitalidade não resiste ao menor insulto do meio ou das infecções. Não originaria de tuberculosos, no entanto, os progenitores são alcoólatras, syphilitico^ ou padecem de uma outra moléstia que tenha influencia na prole, 46 da mesma forma o pequenino ser estará prompto a receber a infecção tuberculosa. Não são, entretanto, as crianças originarias de paes enfranquecidos pelas moléstias ou pela miséria as únicas predispostas á tuberculose. A criança nasce forte e sadia pois fortes e sadios são os seus paes, e mais tarde sobrevêm diarrheas constantes, vomitos, e após declara-se a moléstia phymica. O que deu origem a isso ? Foi a alimentação, intempestiva e em resultado a dyspepsia gastro-intestinal toxi-infectuosa, cujo quadro symptomatologico esboçamos e se a criança escapa a moléstia eil-a perfeitamente predisposta á tuberculose. O maior cuidado portanto com a alimentação, ella é a causa da grande mortalidade infantil entre nós; a criança antes dos 6 mezes não deve alimentar-se senão com o leite, quando possivel o materno; temos visto, porém, com 15 dias se dar até substancias indigestas, farinha de mandioca, etc. A ama de leite não pode estar sem a menor fis- calisação como entre nós; uma ama de leite tuberculosa transmittirá fatalmente a tuberculose á criança ; não traga embora o leite os bacillos, os productos toxicos é bem possivel que os contenha; o contagio é facil; basta um accesso de tosse para que os perdigotos cheios de germens vão ter á criancinha. E' necessário a regulamentação das amas de leite 47 e como em outra parte desse trabalho voltaremos ao assumpto, não entramos em maiores minudencias. Falíamos já na alimentação da primeira phase da vida que deve ser exclusivamente o leite; mas, passada esta phase nem por isso se deve abandonar o cui- dado da hygiene alimentar na infancia; não póde haver bom estomago numa criança que a toda hora se lhe fornece gulozeimas; o orgão cança, a dyspepsia apparece e os embaraços gástricos são frequentes. Necessita também a criança de ar puro e luz; não deve estar sujeita a acção das variantes detempera- tura e principalmente á acção do frio. Um grande mal reside em privar-se uma creança dos exercios physicos, tão necessários ao seu desen- volvimento, sob pretexto de traquinagem. As grandes emoções psychicas devem ser evitadas, especialmente o terror. Nada é mais pernicioso que incutir o medo no espirito da criança, causa que, se geralmente in- flue na mentalidade do homem futuro, de algum modo concorre para o desequilíbrio orgânico, factor primor- dial para a proliferação do bacillo de Kock, como mais de uma vez temos demonstrado. Até a epoca da 2? dentição a criança não pode ter (pelo menos para o hygienista) preoccupação outra que os divertimentos proprios a sua idade, e só após esta phase poderá entrar para escola, visto como, 48 mandar para a escola uma criança de 4 annos, como castigo de sua vivacidade, é deshumano. As crianças heredo-predispostas, já o dissemos o primeiro cuidado é affastal-as do contagio; leval-a a logar de clima conveniente, fazel-a respirar um ar puro, fornecer-lhe uma alimentação de primeira qua- lidade e facil digestão. Um outro cuidado essencial é desenvolver por meio de exerciciosphysicos moderados os seusorgãos; a gymnastica respiratória é muito aconselhada pelos auctores allemães. A' infancia desvalida compete ao estado por si, ou por estabelecimentos subvencionados, proteger. Aqui na capital temos um Instituto de Protecção e Assis- 4'' • 1 tencia que relevantes serviços presta. Na escola a primeira medida prophylactica é affas- tar a criança e o mestre tuberculosos; a escola não deve estar situada no 2.0 ou 3° andar de um edifício, em ruas estreitas e infectas, como succede geralmente aqui na capital e sim num pavilhão assoalhado e bem arejado. O mobiliário de um estabelecimento escolar merece toda attenção do hygienista. E' cousa pela qual, salvo excepções, os nossos estabelecimentos escolares nã primam; não se tem preocupação de adquirir carteirao hygienicas para que a criança não necessite encurvar o thorax para escrever, e se sabe que dessa forma são 49 os movimentos respiratórios, havendo deficiência na quantidade do ar inspirado. As horas de escola vão, entre nós, das 8 horas ás 2 horas da tarde com um ligeiro recreio ás 12 horas; achamos demasiado o tempo que se obriga uma criança a estar sentada e cremos que seria hygienico um recreio de 15 minutos de hora em hora. Os nossos programmas escolares, quer se trate dos estabelecimentos primários ou dos secundários, são verdadeiros attentados á hygiene e, cumpridos á risca, só podem trazer a surmenage intellectual com todas as suas consequências; cançam a memória da criança; obrigam-n'a a um grande numero de lições theoricas, tudo isso com grande prejuizo para a pró- pria instrucção, ao passo que o ensino pratico, a gymnastica e as noções de hygiene, tornariam os alumnos physica e intellectualmente desenvolvidos. A criança deve levar o seu copo para agua, não sendo permittido que outro delle se sirva; o assoalho e o mobiliário serão passados diariamente por um panno embebido numa solução antiseptica; escar- radores modernos, também com a solução antiseptica, e far-se-á ver os incovenientes de cuspir no chão. A agua será filtrada ou fervida. Quanto aos internatos, as mesmas prescripções, e mais, escolha de alimentos livres de toda suspeita. Cada alumno terá os seus utensílios de mesa. Dor- mitorios arejados e asseiados; horas de recreio por- 50 porcionaes ás horas de estudo; não se fazer uso do castigo de pirvar os alumnos de suas horas de folga desde quando os prémios e recompensas substituem facilmente os castigos; passeios matutinos semanal- mente e nos dormitorios collocados sómente tantos leitos quantos permittir a cubagem de ar. CAPITULO VII Propbylaxia nos quartéis, nos estabeleci- mentos públicos e nas prisões pode ser um fóco de tubercu- l°se' e em FranÇa considerada a pro- 7^^^^ fissão militar uma das mais atacadas; entre ' nós não o affirmamos tanto, mas vê-se que o soldado paga também pesado tributo, visto que a tuberculose figura em primeiro logar nas estatísticas. Apezar da inspecção de saude não permittir o alistamento dos infeccionados ou predispostos, o serviço pesado, as fadigas por longas marchas, as guardas em noite frias e chuvosas, o accumulo de muitas praças, a alimentação, concorrem para o pre- paro do terreno e facilmente se tuberculisa o soldado. Infeccionado um, transmitte a moléstia aos com- panheiros que não têm a menor noção de hygiene, e mesmo que a tenha a convivência impede de evitar o contagio. Um quartel deve apresentar tsdos os requisitos 52 exigidos num edifício moderno, tanto mais, sendo a hygiene exigente na ventilação dos prédios particu- lares, não poderá descurar-se, tratando-se de edifícios destinados a comportar centenas de pessoas. O quartel deve ser composto de pavilhões com compartimentos espaçosos e arejados para os dor- mitorios, especial cuidado no asseio interno; deve estar situado em local salubre, longe dos pantanos, em sólo impermeável, possuir optimo serviço de esgoto e de agua. A alimentação necessita ser variada, e deve estar sujeita ás mesmas prescripções mencionadas em outro capitulo, tendo logar aqui, também, o estabelecimento das cooperativas e mutuarias. Os exercícios militares não devem ir até aos excessos. Verificado um caso de tuberculose o soldado não poderá continuar no serviço militar; não deve ser expulso das fileiras, elle que se tuberculisou no serviço da patria, mas receber os meios com que possa comba- ter a moléstia e prolongar a vida. Numa cidade como a nossa, cujas ladeiras bastam para cançar um indivíduo, é anti-hygienico collocar-se uma repartição publica, especialrnente as movimentadas, num dos últimos andares de um edifício para aonde os que têm necessidade de frequental-a hão de subir 3 ou 4 escadas, observação que também fazemos 53 extensa aos estabelecimentos commerciaes, a menos que não se estabeleça ascensores. As repartições publicas devem ter o mais rigoroso asseio e cuidados hygienicos. As alfandegas principal- mente merecem especial attenção ; os seus armazéns são fócos de intoxicação, pelas substancias voláteis que se desprendem de certas mercadorias, pelos gazes formados na decomposição de outras, não convindo esquecer as poeiras que ahi se accumulam. Precisam, portanto, esses armazéns ser bastante arejados. Não nos parece ter essa qualidade os arma- zéns da nossa alfandega, cremos até que é defficiente o arejamento e comprehende-se o perigo a que se expõem os trabalhadores e empregados que lá passam grande parte do dia. Os empregados tuberculosos não podem per- manecer na repartição, e o governo tem por dever aposental-os. Ha na sociedade uma classe do individuos que pelo facto de se terem revoltado contra suas leis e instituições, não devem ser esquecidos. Referimo- nos aos criminosos que jazem nas prisões. A prisão cellular, substituida hoje, na maioria do s casos pela prisão com trabalhos, é a condemnação de morte para o criminoso; quando não vêm as cardio- pathias, a tuberculose ahi existe. A prova que a prisão cellular é um grande mal, está na grande mor- 54 talidade dos reclusos que, na casa de detenção, esperam o preparo dos seus processos ou ahi vão ter pela lou- cura. E' bem verdade que existem também as con- dições anti-hygienicas, mas a principal causa é a reclusão. A penitenciaria deve ser transformada em co- lonia; a casa de detenção em colonias correccionaes. A prisão com trabalho permitte que o organismo não soffra com a inactividade; distrae o individuo, desperta o appetite e traz para a saude todos as van- tagens produzidas pelo trabalho, o qual tem aindtt a vantagem de regenerar a maioria dos criminosos. No que se refere ao trabalho temos um estabele- cimento modelo ; tivemos occasião de apreciar o fun- cionamento das officinas com toda ordem ; mas, o local e o edifício estão nas peiores condições para o fim proposto. Precisa, portanto, ser transformada a nossa peni- tenciaria em uma colonia situada em zona cujo clima e posição apresentem condições apropriadas, com enfermaria modelo, isolamento para as molés- tias infectuosas e sanatórios para os tuberculosos, afim de que não se possa dar a contaminação dos demais condemnados. - CAPITULO VIII Sanatórios, dispensarias e desinfecções f9 creação dos sanatórios de maneira algu- À EÍ O ma resolveu o problema da prophylaxia uc da tuberculose, como parecia pelo en- 1 thusiasmo com que foi recebida a idéa. Por certo não podemos condemnal-os como esta- belecimentos realisando todos os requisitos para a cura da moléstia; mas, é preferivel prevenir a tu- berculose que cural-a e os sanatórios não o podem fazer. E' bem verdade que internados os doentes estão inhibidos de espalhar o contagio; supponhamos no entanto um operário que sahe curado, vê-se obrigado a entrar novamente na lucta para a subsistência, e eil-o sujeito a uma reinfecção, pois a tuberculose não traz immunidade. Os abastados, sim, podem, curados ou suppos- tos, continuar com as mesmas cautelas e cuidados higyenicos dos sanatórios; os pobres não, têm ne- 56 cessidade de continuar o exercício de suas profissões e a tuberculose voltará ao período activo. E' esse o nosso pensar quanto ao papel prophy- lactico do sanatorio, o que não traz formal condem- nação ; achamos, pelo contrario, sensivel lacuna a não existência de um entre nós para os que não dispõem de recursos, afim de se transportarem até as zonas privilegiadas. Ha ainda uma questão a resolver quanto ao sanatorio. Sabe-se que a tuberculose incipiente é perfeita- mente curável, a difficuldade está no diagnostico. Ora, deve o medico mandar para um sanatorio um indi- víduo em que exista simples suspeita? A questão resolve-se na creação de sanatórios especiaes para esses indivíduos. Hoje parece-nos que está descoberto um meio facil de diagnosticar a tuberculose incipiente é a ophtalmo-reacção de Calmette, a instillação na con- junctiva ocular de uma gotta de tuberculina que trará a ínflammação do globo ocular no caso de tuber- culose, sendo assim poderá recorrer o clinico a esse processo nos casos de duvida. Esperemos, porem, a consagração da sciencia. Se os sanatórios poucos serviços prestam á prophylaxia da tuberculose, resultados superiores se deve esperar dos dispensários. O dispensário presta assistência ao doente; forne- 57 ce-lhe remedios; dá-lhe conselhos hygienicos; os seus médicos vão arrancar os operários doentes das fabricas e das officinas, onde rapidamente se definham, e mais ainda, o dispensário se torna um centro de instrucção prophylactica, procurando diminuir o contagio. Sob o ponto de vista humanitário, é elevada a obra do dispensário, cercando o doente de todos os meios possíveis, quando não para a cura, pelo menos, para o allivio; só temos, portanto, louvores e applausos para a inauguração das obras do futuro dispensário aqui na Capital. A notificação dos casos de tuberculose, julgamos, devia ser obrigatória, afim de que se pudesse estabe- lecer a vigilância necessária. Toda vez que de uma casa se retirar um tuberculoso, ou que tenha havido um obito da moléstia referida, não deve o edificio ser occupado sem que se proceda uma desin- fecção rigorosa, caiação e pintura. Asjroupas utilisadas pelo tuberculoso devem ir para a estufa; os moveis soffrerão também desinfecções; os colchões, traves- seiros e outros objectos de disinfecção difficil ou impossível serão destruidos. O asseio das ruas de uma cidade; a irrigação diaria para que não se levantem poeiras ; a desinfecção dos mictorios, sentinas publicas e outras medidas de hygiene urbana são adjuvantes poderosos na lucta social contra a tuberculose. 2/ Parte Prophylaxia da Syphilis CAPITULO I Resumo historico, pathogenia e etiologia soc^a^ gravíssimo e universalmente espalhado, a syphilis, especifica e contagiosa como a tuberculose, encontra na miséria o T grande factor para sua disseminação. Não atacasse a syphilis a descendencia, sendo causa de grande numero de abortamentos, partos prematuros, não produzisse heredo-syphiliticos e degenerados, bastaria a sua predilecção pelos centros nervosos para justificar o grande receio que ella incute ao hygienista. E, realmente, a syphilis é factor etiologico de innumeras moléstias mentaes, entre estas a demencia paralytica; de moléstias medullares das quaes se destaca a tabes dorsales ou ataxia locomotora; além das lesões especificas que não raro se assestam nos diversos centros nervosos. Da antiguidade nenhuma noticia nos vém de tão 62 terrível morbus, talvez por estar confundida com outras affccções. Foi após a descoberta da America, na época das invasões dos francezes na Italia, que a syphilis começou a ser conhecida nesse paiz, onde denominaram-n'a galHoo, por supporem-na trazida pelos invasores; de então para cá mais e mais se torna conhecida e temida por todos os povos. Os médicos logo descobriram o meio de trans- missão e immensos foram os processos empregados para o tratamento. Quanto a prophylaxia muito resumido é o seu histérico. Ranchin, em i 560, nos falia num meio acon- selhado para prevenir a infecção do qual, diz elle, se mostrava Fallope enthusiasta: era a applicação de uma pomada de guaiaco, sandalo, rhuibarbo, etc. Sem crêr na efficacia desse methodo, lembra o professor de Montpellier o emplastro de Vigo, cuja base é o calo- melanos. Desde o advento da bacteriologia foi preoccupaçao constante a descoberta do germen responsável pela syphilis, e a esse desideratum chegou Schaudinn, bacteriologista allemão descobrindo o spirochoeta 'pallidum, hoje acceito por todos, como agente patho- genico da moléstia. O spirochoeta, spironema ou treponema pallidum se apresenta filiforme de 6 a 14 mm. de comprimento e 1/4 mm.de largura, contornado em espiral. Schaudinn 63 notou em cada extremidade um cílio; Hexheimer e Hubner, examinando-o vivo, verificaram ser esse agente pathogenico dotado de grande mobilidade. Encontra-se o treponema na lesão primitiva da •syphilis, nos ganglios satellites, nas placas mucosas, na roseola e nas diversas syphilides; tem sido encon- trado também no sangue, algumas vezes no baço; rara- mente tem sido visto nas lesões terciárias; na syphilis hereditária commumente é achado, assim como na syphilis experimental. A syphilis reconhece como causa principal a prostituição, e é ella sua grande fonte inexgotavel. Manifesta-se a syphilis com maior intensidade nos grandes centros populosos e movimentados, nos portos de mar principalmente; em alguns paizes é mais rara nas villas e nas aldeias, como succede na França; na Rússia, porém, é na população camponeza que a syphilis está mais espalhada. Entre nós nada podemos affirmar por falta de dados. Entretanto, em algumas localidades, por nós conhecidas, notamos que os casos de syphilis são relativamente raros; numa localidade em que a população é pequena, o movimento é diminuto, as probalidades de importação da syphilis decrescem; demais o habitante de nossos campos tem o habito de constituir familia cedo. A syphilis não respeita idade, mas é no periodo 64 dos 20 a 40 annos que o indivíduo está mais sujeito ás avarias da moléstia, o que é facil de explicar por ser justamente nessa época que mais se expõem ao contagio. Falíamos na frequência da syphilis nos portos de mar, e isso é devido principalmente aos marinheiros que contaminados em um porto, vão espalhando o germen nos pontos em que chegam. O soldado e o immigrante são também factores importantes para a disseminação da syphilis. Nenhuma duvida ha a respeito da contagiosidade da moléstia em questão e, se outras provas não houvessem, os trabalhos experimentaes proval-o-iam cabal mente. Martineau foi quem primeiro inoculou o virus syphilitico num chimpanzé; depois deste experimen- talista, Ravaut e Thiebierge continuaram os trabalhos com os mesmos proveitos, até que Metchinikoff os tem realisado com magníficos resultados, de modo a não deixar duvida a respeito da lesão transmittida, pois as lesões anatomo-pathologicas e a incubação longa a caracterisam bem. A syphilis póde ser adquirida e hereditária. Desta nos occuparemos em outros capítulos. A adquirida se transmitte geralmente pelas relações sexuaes; mas succede, ás vezes, que nãoé esse o meio de propagação e os indivíduos podem ser innocentemente conta- minados pelos mecanismos que vamos relatar. 65 Como a tuberculose, a syphilis póde penetrar no organismo por qualquer via, natural ou artificial. Um beijo proveniente de um individuo portador de uma placa syphilitica inocula facilmente o germen productor dessa affecção. No accumulo de pessoas em um compartimento o syphilitico, no estado contagioso, póde ser ponto de partida para uma epidemia entre os circumstantes. E porque não ? as vasilhas de banhos são, ás vezes, em commum, são os mesmos copos, pratos, talheres que ora se utilisa o doente, ora os sãos, pois quasi sempre ha ignorância completa do perigo a que se expõem. Nos quartéis o mesmo perigo se nota e o Dr. Duhot cita o facto de dois soldados que adquiriram a syphilis comendo o restante de um fructo deixado por um companheiro infeccionado. Não é raro médicos e parteiras serem victimas da syphilis, praticando toques vaginaes. Os insectos podem ser vectores dos germens, voando de uma placa syphilitica e pousando numa solução de continuidade. As amas de leite são factores de grande impor- tância na transmissão do treponema; ora são victimas de uma criança heredo-syphilitica, ora infeccionam as crianças entregues a seus seios mercenários. Succede mesmo que, sendo victimas, contaminam o proprio filho. 66 A vaccinação, outr'ora, podia ser incriminada como agente propagador, quando se fazia uso da lym- pha humana, o que está banido. Ainda hoje pode a .vaccinação ser causa da syphilis, se a lancêta não fôr passada na chamma do álcool após a vaccinação de um syphilitico, principalmente, e ahi a responsabi- lidade é toda do medico. A syphilis pode também ser inoculada, tendo como vectores os instrumentos de pequena intervenção cirúrgica, bisturis, seringas hypodermicas, instrumen- tal da arte dentaria, quando ha esquecimento da asepsia. Entre nós não existe a menor fiscalisação nas casas de cabelleireiros, facil é, portanto, a transmissão do treponema pelas navalhas e thesouras, que nem mesmo uma simples lavagem soffrem ao passarem de um individuo para outro. Os instrumentos de sopro estão também no caso de transmittir a syphilis, desde quando, utilisados por quem tenha placas mucosas outro não tenha escrupulo em leval-os aos lábios. São esses os processos de transmissão da syphilis fóra das relações sociaes, não tão frequentes,é verdade, merecendo porém que sejam conhecidos, afim dos que prudentemente fogem ás uniões suspeitas, saibam ser necessário levar mais longe a precaução. E' a prostituição o grande manancial da syphilis, 67 necessário se torna, portanto, conhecer qual a ida de em que a meretriz está mais apta a transmittil-a. E' cousa sabida que, apezar dos codigos e da pro- tecção das leis, é na menoridade que frequentemente a mulher é atirada aos prostíbulos e não se pode escurecer infelizmente a veracidade da phrase de Fournier: - « deflorada aos 16, prostituída aos 18, syphilitíca aos 20 ». E' pois nesta época que os casos de syphilis são mais frequentes e Sperch apresenta a seguinte indica- ção: numa prostituída, as probalidades de transmittir a syphilis nas idades de 15 a 20 annos são de 50 °/o 20 a 25 » » » 18 °/o 25 a 30 » » » 16 % 30 a 33 » » » 6 % 35 a 40 probabilidades fracas. 40 em diante probabilidades nullas. Fournier acha que o máximo de frequência da syphilis para o homem está nos 23 annos e para a mulher nos 20 annos. CAPITULO II A herança e os casamentos f5 hereditariedade é muito commum na sy- Lg philis; e se na tuberculose a herança para- ép sitaria é rara, aqui -o grande numero de » abortamentos e de heredo-syphiliticos provam a frequência, não sendo também, raras as taras e degenerescencias. v A herança syphilitica pode ser paterna, materna e mixta. A herança paterna é muito combatida, mais casos ha em que, simplesmente submettido o marido a um tratamento especifico, succede a mulher ter um parto de termo, quando os anteriores eram prematuros ou abortos, o que muito prova em favor dos que acre- ditam na herança paterna. Para a herança mixta entram como factores os dois elementos paterno e materno. A probabilidade da herança syphilitica diminue com o tratamento e a antiguidade da moléstia e augmenta com a intensidade das lesões. 70 Fournier em 500 famílias de syphiliticos viu a he- rança se manifestar em 277. Em 1.127 casos de prenhez houve 527 abortamentos. Para os 3 casos de herança nos dá o illustre syphiligrapho a seguinte proporção: Herança paterna (exclusiva) .... 37 % » materna 84 °/0 » mixta 92 % Alem das lesões especificas, a herança pode se ma- nifestar pela degenerescencia physica-deformações e pela degenerescencia mental-idiotia, imbecilidade, loucura moral e outras manifestações. No congresso de Lisbôa, Gastou procurou esta- belecer differença entre os dois termos hereditariedade syphiliticaesyphilishereditária. «A syphilishereditária indica a transmissão directa em natureza da syphilis paterna (dos paes) e se manifesta por lesões especi- ficas; a hereditariedade syphilitica indica somente a perturbação que leva a syphilis na evolução normal do producto da concepção e se caracteri^ por taras e degenerescencias ». E, conclue o auctor, « a concepção actual da hereditariedade syphilitica tem como consequência a prohibição do casamento para o syphilitico e a des- truição moral e physica da familia, implicando ainda esta noção, a inutilidade do tratamento energico; ao contrario a concepção da syphilis hereditária tal como 71 estabelece Fournier confirma a influencia feliz do tra- tamento sobre a descendencia. » Não nos parece necessária essa divisão. A questão é conhecer se o tratamento é ou não efficaz, porque se o for, nem as lesões especificas resultantes da acção do germen, nem as taras e degenerescencias prove- nientes da acção das toxinas poderão apparecer. O professor Landonzy diz que não ha casamento possível para um syphilitico e o professor Fournier interpellado se daria sua filha em casamento a um indivíduo que apresentasse as 4 condições, estabeleci- das por elle para a permissão do matrimonio de um syphilitico, respondeu categoricamente que não. Por ahi se deduz quão seria é a questão do casa- mento do syphilitico. Um syphilitico não deve contrahir matrimonio a menos que não se possa julgar curado. Tem de novo cabimento a questão do segrêdo medico e o dever mora que tem o clinico de zelar pela saude da collectividade. Mas, não é necessário o exaggero de Landonzy. O syphilitico pode casar-se; é mister, porém submetter- se a um tratamento longo e intenso pelo methodo de injecções mercuriaes durante 3 annos no minimo. Fournier estabelece as seguintes regras, já acima mencionadas: i° para admittir que um syphilitico não é mais contagioso, é mister que não apresente accidente especifico; 72 2o, que a moléstia seja sufficientementeantigii eque tenha sido tratada ha 4 annos; 3.0, que nenhuma manifestação especifica se tenha apresentado ha dois annos sem haver intervenção therapeutica; 4." as regras precedentes se combinam com um tratamento especifico e appropriado para a syphilis de média intensidade; a syphilis maligna deve ser posta de parte. Pinard pensa que um casal syphilitico, seguindo estas prescripções pode procrear uma descendencia sã submettendo-se o pae ao tratamento 6 mezes antes da fecundação e a mãe durante todo o periodo da gravidez. E', portanto, necessário para a permissão do casamento de um syphilitico, o emprego do tratamento mercurial, longo e intenso. Negar a efficacia do mercúrio é cousa impoSsivel, porque todos os dias se tem a prova dos effeitos desse especifico; nós mesmo temos uma observação de uma senhora que após 5 abortamentos consegiu com o tratamento durante todo curso da gravidez ter um parto de termo. CAPITULO III Prophylaxia individual preciso fazer recuar a syphilis, seja qual fôr o meio, assim exige a segurança social, que também é abalada por esse • flagello que depaupera o organismo, atira o indivíduo para os asylos e vae degenerando a descendencia até extinguil-a. Os governos devem vêr nessa moléstia um dos obstáculos para o accrescimo da população e elemento para o regresso das nações. Aos grandes sábios Metchinikoíf e Roux, se deve um processo facil de preservação desse terrível mal. Esses dois sábios, verificando a inefficacia de suas tentativas para a descoberta de um sôro, pois se é verdade que as toxinas se attenuam, após a passagem pelos organismos de uma serie de macacos inferiores, nada prova que o sôro respectivo possa 74 tolher a marcha da infecção, procuraram um meio de impedir a penetração do virus. Inocularam nas duas arcadas superciliarcs de um chimpanzé o virus syphilitico, retirado da lesão inicial da moléstia; 50 minutos depois praticaram com unguento mercurial duplo, uma fricção nas regiões inoculadas. Nenhum accidente syphilitico se manifestou. Um outro chimpanzé serviu de testemunha, sendo inoculado com o mesmo virus e 28 dias após se declararam os accidentes primitivos. O primeiro chimpanzé soffreu nova prova 49 dias depois, sem a fricção com a pomada mercurial; decorridos 30 dias, desenvolveu-se na arcada es- querda um cancro duro dos mais caracteristicos, seguido de hypertrophia ganglionar, e, um mez mais tarde, surgiu uma placa mucosa. O virus, na primeira inoculação, foi destruido pelo mercúrio, sem trazer immunidade para as ten- tativas subsequentes. Outras experiencias' foram feitas em macacos com os mesmos resultados; mas, a pomada mercurial apresenta o inconveniente de ser irritante; escolheram os experimentadores o calomelanos. Um chimpanzé e diversos macacos tratados pela pomada de calomelanos não apresentaram lesão es- pecifica. Conscios da efficacia do processo, não trepidaram 75 Metchinikoff e Roux levar suas experiencias ao homem, e par;i isso prestou-se um estudante de medi- cina. No lado esquerdo do sulco balano-prepucial, foi inoculado o virus de um cancro de mez e no lado direito inocula-se, também, um virus retirado de um cancro de 9 dias. Quatro macacos e um chimpanzé foram infec- tados lados com os mesmos virus. Uma hora depois os pontos de inoculação do estudante foram friccionados com a seguinte pomada calomelanos 10,0, lanolina 40,0; um dos macacos soffreu também a fricção uma hora depois ; um outro 24 horas após a operação. A região balano-prepucial do estudante no fim de dois dias nenhum traço de inflammação apresentou, e durante dous mezes não houve accidente de origem especifica; o macaco friccionado no decurso de uma hora, também não revelou lesão e o tratado 24 horas após teve os accidentes primários, assim como os dois últimos, sendo que em um delles a moléstia se desenvolveu com muita intensidade. Neisser fez as mesmas experiencias em macacos, obtendo 50 °/tí de resultados favoráveis. As escarificações desse experimentalista eram mais profundas, que as de Metchinikoff, mais largas e profundas, por sua vez, que as habitualmente pro- duzidas pela infecçao. 76 O professor Gaucher pensa que uma só expe- riencia não basta para concluir da infallibilidade de um processo, que isso traz o risco de diminuir o receio da syphilis e augmentar o numero devictimas. Não cremos que se deva esperar pela infallibilidade de um methodo para pol-o em pratica, pois a própria vaccina anti-variolica tem sido infiel em alguns casos. O temor da syphilis não impede que, dia a dia, vão augmentando os casos dessa moléstia, e porque, então recusar um meio que pode trazer proveito? Não queremos affirmar que a pomada de calome- lanos seja efficaz em todos os casos, mas as experi- ências são bem significativas e, portanto, nos parece infundado o receio de Gaucher que possa ella aug- mentar o numero de victimas. Á favor da prophylaxia da syphilis pela applicação pos mercuriaes podemos citar as observações do Dr. T^ndler, medico da marinha allemã, commissionado em Pekim. Este medico estabeleceu a prophylaxia obrigatória em todas as praças confiadas a sua guarda. Antes dessas medidas, em 200 praças, 10 % contraiam a sy- philis ; depois, com a lavagem da glande e do prepucio, com uma solução de sublimado a 1/ 1000, praticada 170 vezes, em 150 praças, somente 3 homens tiveram a moléstia. 77 t Terminando esse capitulo, lembramos o pensar de Metchnikoff que diz: em matéria de prophylaxia não deve haver circumspecções; é necessário, o mais cedo possível fazer conhecidos os meios preservativos de uma moléstia. CAPITULO IV Propliylaxia moral afan da lucta pela vida, revelando-se em todas as modalidades do progresso, faz a sociedade esquecer dos vencidos ou antes T deixal-os esmagar no carro triumphal dos vencedores, levando-os á mais baixa degradação moral. Cerra os ouvidos aos gritos das victimas immoladas aos instinctos dos poderosos e felizes e, ás mais das vezes, podendo evitar a queda de um infeliz assiste indifferente a este espectaculo, senão apressa o rolar da victima, negando o trabalho honesto que podia ser a taboa de salvação. A preoccupação constante do desenvolvimento physico faz esquecer a instrucção moral dos jovens, acarretando esse proceder graves inconvenientes, porque nem mesmo a força physica se accumula, gasta nos lupanares. Graças a este estado de cousas, a syphilis acha terreno ubérrimo para o incremento e disseminação. 80 Desenvolver a consciência moral, educar e disci- plinar o instincto sexual, moralisar estas relações, ensinando os prejuízos e responsabilidades que com- portam, é dar combate certeiro na syphilis. A educação tudo pode e especialmente a educação moral. Alem dos grandes males que causa á juventude, a precocidade das relaxões sexuaes, é um grande factor para a syphilis. A ignorância completa do que sejam as moléstias venereas e os seus inconvenientes, augmenta a probabilidade da infecção. A esse respeito, no espaço de 2 annos, temos 5 observações de jovens de 13 a 15 annos que contrahiram a terrível moléstia social. O temor dos paes e tutores fal-os esconder a mo- léstia e, portanto, não se pode empregar opportuna- mente o tratamento. A syphilis ou uma outra moléstia venerea, ha de apresentar por força gravidade numa phase tão delicada como é a puberdade. Possuímos uma observação de um caso que evoluiu rapidamente nos centros nervosos; com o emprego da medicação especifica appareceram algumas melhoras; mas, logo que aquella foi suspensa, os phenomenos cerebraes se apresentaram com tamanha intensidade que não houve lugar para nova intervenção. A causa está na defficiencia da educação moral da juventude que permitte até crianças de 8 annos - como conhecemos factos, procurem os sacrifícios da deusa de Chypre. 81 Os paes e educadores devem pôr termo a esse estado de cousas, em nome da hygiene; devem affastar as creanças do convívio dos pervertidos, principal- mente, de certas amas que, além de enfraquecerem o caracter das creanças, levam-n'as á perversão. Nos collegios, a vigilância deve ser grande, não sendo permittido a promiscuidade das creanças menores com os rapazes, já instruídos no mysterio sexual. Esse proceder não só evita a contaminação da syphilis, como também os vicios solitários. Todos os hygienistas, syphiligraphos e sociologos estão de accordo que é preciso esclarecer a mocidade, nos perigos que incorre com o contagio. E' papel dos paes, tutores, educadores, sacerdotes e, mui principal- mente, do medico da familia, pois que é a pessôa de ma is auctoridade e competência no assumpto. A esse respeito bem pondera o Dr. Friedel: « Reunidos todos os jovens, acima de 16 annos, em lições curtas e sufficientes, serão iniciados nas realidades da vida sexual, nos perigos dos hábitos viciosos e das contaminações. « E' evidente que se deve insistir na possibilidade physiologica e na necessidade de ficar puro até o casamento. Far-se-á vêr aos jovens o que é a blen- norrhagia, a syphilis e, como se pode cural-as, que não occultem essas moléstias e procurem logo o medico ». E conclue o seu judicioso artigo: « Ensinai tudo isso aos jovens bacharéis, antes de lhes entregar 82 o diploma; ensinai também aos alumnos das escolas primarias superiores aos soldados, aos aprendizes e tereis merecido do futuro da saude publica e da força dos povos». A moral ensina aos individuos casados que não devem procurar o contagio, o que traz sérios inconvenientes para si, para a esposa e para a descen- dência, e até a dissolução dos laços matrimoniaes. A moral ensina que um individuo contaminado não deve contagiar outrem, o que levará a dissemina- ção da syphilis a milhares de pessoas e que, assim procedendo, elle é um mau cidadão, augmentando o numero de loucos, tabeticos, etc. A moral doutrina, ainda, que o individuo não deve casar-se sem ter a certeza que, com um tratamento energico, não está em estado de transmittir a syphilis ao cônjuge e á prole. CAPITULO V Propliilaxia social entre todos os vicios e misérias da socie- dade, é a prostituição, por certo, a maior àt ver^on^ia' ° ma^or cancro que se implan- * tou no seu seio. Tão antiga talvez quanto a humanidade, a pros- tituição existiu sempre, e parece que nunca ha de se apagar tão negra mancha, apesar dos esforços deses- perados de alguns paizes europeus, especialmente a Dinamarca. Mas, se não é possivel fazel-a desappa- recer, - é facil restringir-lhe o campo de acção, e o remedio está na protecção á mulher desvalida, operaria, nevropatha, qualquer emhm que esteja no caso de cahir e augmentar o numero dessas infelizes que povoam as ruas e praças publicas. Quaes as causas da prostituição? A miséria, a má educação, certos estados patho- logiqos,-como a hysteria, a epilepsia,.a de^enerescencia mental, o alcoolómo, a herança e o analphabetismo. 84 Quasi todas as meretrizes são degeneradas, affir- mam Lombroso e a Dra. Tarnowski; apresentam di- versos estigmas, craneo deformado, orelhas com os lóbos não destacados, abobada palatina ogival, sys- tema piloso abundante. Se bem que haja muito fundo de verdade nessa asserção, é incontestável que o maior numero de prostituídas para ahi foi levado pela miséria. Sitiada pela fome, não encontrando trabalho honesto ou, quando o encontre, mal remunerado que não lhe chega para as necessidades essenciaes da vida, a mulher se deixa arrastar ao triste e vergonhoso commercio. A educação e, principalmente, o meio em que habita a mulher, muito concorrem para a prostituição. A herança aqui também tem seu papel prepon- derante. Suppomos, no entanto, que não é factor iso- lado; ha a influencia do meio e o exemplo diário, e a prova é que filhas de prostituidas, longe do con- vivio materno, podem ser senhoras honestissimas, algumas havendo que, mesmo no convivio, não se deixam seduzir. A seducção de menores pobres dá largo contin- gente de infelizes á prostituição. Em todos os paizes civilisados, inclusive o nosso, os codigos punem o defloramento em menores de 21 annos; mas, infelizmente, peio menos entre nós, essas medidas não têm dado 0 resultado que se devia espe- 85 ràr, porque, as mais das vezes, os auctores fogem á acção da lei, outros casam-se e para logo abandonam a victima, bem poucos as indemnizam e os que soffrem a acção da justiça têm a benevolencia do jury. A regra, no entanto, nesses delictos, é a impuni- dade; conheço um indivíduo aqui na capital, que conta como padrão de gloria 21 defloramentos; um outro 1 2 e um terceiro 6, este ultimo, ainda moço, parece- nos, está no inicio da carreira. E' necessário alem da protecção da lei, aprotecção da sociedade. Em primeiro logar urge a creação de sociedades protectoras das menores pobres, organizadas por senho- ras que sejam um amparo para essas desvalidas, collocando-as em condições de ganhar honestamente o pão. Convém também instruil-as de modo a ter horror á prostituição, fazendo ver o nenhum valor moral que tem a prostituída, e como a syphilis se apodera dessas infelizes e quaes as consequências. Proteja-se também o trabalho da mulher, não se permitta que o homem faça concurrencia a suas peque- nas industrias, e sobre tudo se acabe com habito de depreciar-lhe o trabalho, desejo esse que pode ser realisado com uma regulamentação criteriosa. Um outro meio de prophylaxia social da syphilis é facilitar os casamentos, maximé entre jovens. Se porventura entre nós existisse uma sociedade de prophylaxia da syphilis, era facil a empreza; tratar- 86 se-ia de fornecer os meios possíveis para realisar o matrimonio áquelles que não o podessem fazer. Em conferencias publicas, provar-se-ia á mocidade as vantagens de uma união pelos laços do hymeneu, em vez de ligações passageiras e prejudiciaes, vanta- gens de ordem politica, moral, social e hygienica, e que bradem os inimigos systematicos do casamento. CAPITULO VI Prophylaxia sanitaria e legal M V@OASMA a Pouca importância que se da a gj syphilis em nosso meio. Não é raro ouvir um indivíduo dizer-se portador dessa mor- T bideza, com a mesma indifferença com que diria soffrer de um simples coryza; é simplesmente a ignorância do que seja essa traiçoeira infecção. Se a syphilis evolue benigna, nenhuma medicação ou um elixir de nogueira; se as lesões são mais graves, xarope de Gibert emquanto existem e ahi pára o tratamento. Quando a syphilis evolue nos centros nervosos, a cousa muda de figura é - o feitiço! E nem se julgue que a crença lavra somente nas classes ignorantes. Não, são pessoas que deviam estar a coberto de seme- lhantes abusões. Uma senhora tem abortamentos, partos prematuros não se procura saber se a causa disso está ligada á infecção syphilitica. Não se tem consciência do perigo social do grande morbus; o indivíduo crê possuir uma moléstia 88 banal que, quando muito, possa trazer um rheumatismo na velhice. Os médicos, salvo excepções, não procuram esclarecer os doentes; por sua vez, esses julgam que o clinico quer fazer roça, quando falia no tratamento demorado. Ha por ahi milhares de medicamentos annunciados como capazes de curar essa moléstia e os doentes descançam usando desses preparados que diariamen- te se vêm nas jornaes, cada qual mais miraculoso. Não queremos dizer que alguns delles não façam desap- parecer as lesões actuaes; mas, curar radicalmente a syphilis ? seria preciso persistir muitos annos com os que têm por base os saes mercuriaes, únicos especí- ficos, na opinião de todos os syphiligraphos. E' preciso fazer ver o inconveniente de confiar nos taes específicos', mostrar o perigo real da moléstia para o indivíduo, para a descendencia e para a socie- dade, sendo portanto necessário seguir um tratamento energico. E' assim que se pratica em Paris, na Socie- dade de Prophilaxia da Syphilis, creada por iniciativa de Fournier. Nessas conferencias, longe de incutir o terror nos pobres syphiliticos, persuadindo-lhes que são indiví- duos inevitavelmente perdidos, é dever affirmar que se curarão,seguindo o tratamento mercurial pelo methodo de injecções (o preferivel a todos os mais), longo e intenso, frisando, sim, que fóra desse tratamento não ha cura possível, no estado actual da sciencia e que 89 assim continuarão syphliticos e verdadeiras ameaças á sociedade e á familia. E' necessário, porem, a creação de postos .médicos, onde os doentes tenham um tratamento gratuito, porque nem todos poderão custeal-o longo e demo- rado como deve ser. E assim como a vaccinação é um serviço de assis- tência publica, também deve ser o tratamento da syphilis, competindo ao poder publico fazer as despezas. O individuo que se sabe factor de um mal con- tagioso e, conscenciosamente, o transmitte a outrem é um criminoso e a lei deveria punil-o. E' o que se dá com a syphilis. Assim comprehendeu a Dinamarca cujo codigo pune taes delictos: Art. 181-toda a pessoa que, tendo certeza ou suspeita de estar attingido de uma moléstia venerea, tiver relações sexuaes com outra será punido com pena de prisão. Um syphilitico infecciona conscienciosamente uma mulher, essa 8, 10, 15 individuos, esses infeccionarão outras tantas; constituirão familia; a esposa contami- nar-se-á e, alem dos abortamentos, virá uma descen- dência degenerada e aqui temos a que consequências pode levar um acto criminoso dessa ordem, verdadeiro attentado á sociedade e á patria. E' necessário, portanto, estabelecer a responsa- bilidade dos individuos que assim procedem com 90 plena consciência do mal que praticam, impondo uma pena que os inhiba de continuar a prejudicar a collectividade. Cumpre também legalisar, entre nós, o serviço de ama de leite, de modo que essa classe não prejudique, nem venha a ser prejudicada. Uma vez que, dolosamente, seja contratada uma ama sã para cuidar de um heredo-syphilitico, a familia tem o dever de indemnisal-a pelos damnos causados; da mesma forma uma ama que tem certeza da moléstia e vae aleitar uma criança épassivel de pena; e quando o medico fôr cúmplice, sobre elle deve recahir também a penalidade. A lei deve ser mais rigorosa na punição dos atten- tados contra a honra das menores, de forma a impedir que os auctores se furtem á acção de justiça, como algures o demonstramos. A pederastia e outros vicios que concorrem também para alastrara syphilis, merecem, igualmente, severa punição. CAPITULO VII I*rophylaxia administrativa c3 1^7//° que Se re^ere regulamentaÇão da pros- tituição, uns pensam que essa vergonha p q) social deve estar sob a vigilância da policia e das leis sanitarias; outros julgam queella deve ser livre e ficar exempta de toda a fiscalisação, embora os seus asseclas possam infeccionar, como queiram os incautos, que se abastecem no vergonhoso mercado, e assim é permittido á blennorrhagia alastrar com suas complicações graves, cystites, nephrites, arthrites, endocardites, etc.; a syphilis pode campear livremente com seu cortejo de consequências mais de uma vez apontadas. Os que não admittem a regulamentação se baseam, principalmente, em dous argumentos: i.° seria legali- sal-a, 2.° seria ir de encontro á liberdade individual. Ora, no caso vertente, a regulamentação é simples- mente para evitar o contagio das moléstias venereas- 92 reconhecel-a-iam uma profissão licita, se acaso o estado a inscrevesse para cobrança de impostos, etc. Internar uma prostituída em estado de transmittir a syphilis é um attentado á liberdade individual, e não será o isolamento de um pestoso, de um variolico? E porque se pratica esse attentado? Simplesmente para evitar o contagio que poria em perigo a vida de um povo; mas, a syphilis também é uma moléstia contagiosa que traz o anniquilamento do individuo e a degenerescencia da prole. A differença é que, nas moléstias epidemicas, o perigo é imminente e um povo inteiro póde ser des- truído em poucos mezes; na syphilis o processo é lento, mas o resultado será o mesmo. « Uma mulher, diz Fournier, affectada de placas mucosas é internada em S. Lazaro ». «Que fará ella esta noite? Dormirá inoffensiva ». « Que faria se estivesse livre ? transmittiria a syphi- lis a um ou mais homens». E é o que se dá entre nós, onde não raro vemol-as passeiar livremente, com o rosto coberto de roseolas, prompta a transmittir o spirochoeta ao primeiro que appareça. Não deve ser assim, a saude do povo é a lei suprema; o estado tem o dever de velar pela sua con- servação, e, portanto, ver na prostituição um attentado contra ella. Em alguns paizes existe a regulamentação da prostituição e, nesse assumpto, nenhum se avantaja á 93 Dinamarca que, em uma lei publicada em Outubro do anno passado, a ataca de frente. Senão vejamos: Art. i.° A policia fica auctorisada a perseguir de accordo com as leis sobre vagabundagem, todo aquelle que faz da prostituição um officio. / Art. 3.0 Será condemnado a prisão ou a trabalhos forçados aquelle que, com fim de lucro, recebe em seu domicilio, pessoas de sexo differente para a pratica do acto sexual. Art. 5.0 Aspessôas attingidasde moléstias venereas são obrigadas a submetterem-se ao tratamento. A lei estipula que o tratamento será gratuito. Não se pode fazer uma lei mais draconiana do que essa, e, se fôr cumprida á risca, com certeza a Dinamarca verá muito breve diminuidos os casos de syphilis em seu território. Na Allemanha a regulamentação existe com todo o rigor. Na França toda mulher que se entrega a prostituição é registrada como tal. Na Italia a regu- lamentação, abolida pela lei Crispi, foi estabelecida novamente pelo ministério Nicotera. Na Rússia, Bulgá- ria, em 12 cantões da Suissa e em algumas cidades dos Estados-Unidos, os regulamentos a esse respeito são severos. Se a maioria desses paizes não tem colhido resultados práticos, não se deve julgar, por isso, da 94 inutilidade dos regulamentos e sim, attribuir a nenhu- O 7 ma observância por parte das municipalidades a quem o serviço está entregue. Uma execução rigoroSa da lei ha de trazer forçosamente resultados beneficos; porque a policia sanitaria terá, sob vigilância, a maioria dos casos de syphilis e assim evitará o contagio de milhares de pessôas. A prostituição. clandestina é também um grande perigo, tanto mais quando escapa a toda observância; as leis devem visal-a, ainda assim, já se vê que nos limites do possível. Como deverá agir a policia sanitaria? Toda a mulher publica terá o nome inscripto na repartição sanitaria, com os signaes de identidade e ficarão sujeitas a visitas domiciliares, semanalmente feitas pelo medico; verificado um caso de syphilis ou de outra moléstia venerea, será a paciente internada em tratamento até que não esteja mais em estado de con- tagio. Se houver recrudescência do mal, nenhum perigo ha, porque verificar-se-á pelas visitas posterio- res do medico. Argumentarão que não se pode precisar o tempo em que a syphilis não é mais contagiosa, e diz Four- nier que a syphilis pelo facto de ser antiga não perde direito ao contagio; mas, quando o tratamento é inicia- do cêdo, o facto não se dá. Além disso, uma vez com alta, pode a syphilitica 95 continuar fóra o tratamento e achamos mesmo que a isso deve ser obrigada. Em favor das vantagens do tratamento logo no inicio da moléstia temos as observações do Dr. Duhot de Bruxellas que demonstra a possibilidade de uma medicação abortiva pela mercurialisação rapida e energica, impedindo assim a generalisação do spirochoeta no organismo. O auctor empregou as injeções da calomelanos, (sem haver accidente) em 134 doentes e só teve 6 casos duvidosos. O que se conclue dahi é que, além de ser uma medida salvadora para a sociedade o internamento das meretrizes infeccionadas é um beneficio para a própria doente. Entre nós, no entanto, ninguém espere ver realisa- das medidas taes, que só poderiam trazer grandes benefícios, levando até as prostituidas a serem mais escrupulosas em suas relações. Ninguém, por certo, esqueceu a revolta que na capital do paiz teve por pretexto a vaccinação obriga- tória. Mais de uma vez temos fallado na regulamentação das amas de leite, e aqui insistiremos, ainda, na neces- sidade de submettel-as á lei sanitaria. E' necessário ter tambern presente o principio que uma criança syphilitica só deve ser amamentada por 96 sua própria mãe, e portanto, proteger as amas contra a infecção. Esse principio deve estar na mente das mães que, frequentemente, costumam dar o primeiro leite a filhos alheios; pois, quando se trata de uma criança infeccionada é grande o perigo para si e para os seus proprios filhinhos. 3.A Parte Prophylaxia do Alcoolismo CAPITULO I O alcoolismo e suas causas /^^WÇstudamos nessa parte do nosso trabalho, a Iwí prophylaxia de um vicio social, factor e^°^o»^co uma serie de moléstias; vicio t que, como a tuberculose e a syphilis, traz á descendencia estigmas vários de degeneração; vicio degradante, que leva o homem até ao crime; vicio, sorvedouro das economias do operário, que esquece na taverna, a família no albergue, a braços com a miséria; vicio que envenena, esclerosando os tecidos mais nobres e essenciaes do organismo, até supprimir por inteiro a funcçao. Antiquíssima a inclinação dos homens para o álcool; já a Biblia falia em Noé, o primeiro cultivador da vinha que, ignorante dos seus effeitos, foi o primeiro ebrio atirado ás irrisões do proprio filho. A maioria dos povos antigos se entregavam ao vicio; é conhecida a ebriedade ridícula de Philippe e a embriaguez sanguinaria de Alexandre, e quando a 100 decadência feria os povos illustres, nos conta a historia, a que auge chegava o alcoolismo; eram as bacchanaes da Grécia, os festins e orgias da Roma imperial. Mas, o alcoolismo nunca attingiu as proporções assustadoras da actualidade, pelo menós os povos antigos não sabiam fabricar bebidas alcoólicas dos fructos, dos cereaes e de todas as substancias que, pela fermentação, possam dar um corpo de serie, qual- quer que seja o seu poder toxico ; elles, certamente, não conheciam o old-tom, o whisky, o absintho e o verrqouth com suas 14 essencias. Por toda a parte se abrem casas de bebidas, a imaginação dos fabricantes crêa e entrega ao consumo especies novas, com que apraz envenenar o publico e enriquecer a bolsa; a falsificação alastra impune- mente, augmentando o poder toxico desses pre- parados e, indifferente, o poder publico cruza os braços, deixando que o alccool envenene o povo im- punemente. Se perscrutarmos as causas do alcoolismo na so- ciedade contemporânea, encontraremos como princi- paes factores, a facilidade da fabricação dos alcoolicos a herança, a falsa supposição que o alccol é um excitante e um meio preventivo contra as moléstias, a tara nervosa de certos indivíduos que se tornam alcoolmanos e o contagio. Bem se vê que o termo contagio não tem aqui a expressão restricta que lhe dá a pathologia usamol-a 101 com significação mais lata, a isso autorisados pela psychiatria que também emprega o termo com a mesma amplitude. Sendo possível obter bebidas alcoólicas pela fer- mentação de fructas, cereaes, etc., resulta que são muito espalhadas e ao alcance de todas as bolsas; ha para todo o preço, a aguardente para o pobre, o cognac, os aromáticos, cada qual mais toxico, para os ricos. Fabrica-se o álcool no proprio domicilio, os vinhos de cajú, de abacaxi, os licores de pitanga, degenipapo, e de çêranio. A herança é incontestável, os descendentes dos alcoólatras, na maioria dos casos, seguem o mesmo caminho. E' habito fazer-se uso da aguardente para evitar os resfriamentos; antes das refeições para despertar o appetite; antes do trabalho para augmentar as forças. Puro engano,, o álcool não possué essas vir- tudes, como adiante demonstraremos. Os degenerados, os hvstericos e todos os indi- viduos cuja mentalidade se affasta da normal, sitiados pelas grandes dôres, pelos abalos moraes, costumam geral mente pedir á embriaguez, o esquecimento dos males e como, passada essa, voltam os soffrimentos, de novo recorrem ao álcool e assim se tornam álcool" manos como seriam morphinomanos. etheromanos, 102 se porventura fosse a morphina ou o ether a sub- stancia preferida. O contagio social tem grande preponderância na disseminação do alcoolismo. Ninguém desconhece a influencia do meio, do o 7 exemplo e da educação. Convive um indivíduo com alcoólatras, poderá perfeitamente ser levado ao vicio por essa convi- vência ; um outro é conduzido a um café ou taverna pelos companheiros e ahi é obrigado a tocar numa bebida, (que muito é saborear, uma só vez, um cálice de um alcoolico?) no dia seguinte vae attrahido pela prosa ou pela distracção e afinal a taverna se torna uma necessidade. Dá-se, também, com o álcool o que se dá'com o cigarro. Porque fuma o indivíduo pela primeira vez?Sim- plesmente porque os demais fumam; é a imitação, fertilíssima no homem, a qual se lhe traz na maioria dos casos grandes proveitos, em relação aos vicios traz desastrosos inconvenientes. Poder-se-á allegar que, em relação ao fumista, influe a herança; sem negar no entanto esse poderoso factor, podemos affirmar que ha fumantes inveterados cujos ascendentes nunca fizeram uso do tabaco. Dá-se o mesmo com o álcool, pessoas ha que são levadas ao alcoolismo exclusivamente pela imitação, 103 acham ser do bom tom frequentar uma casa de bebidas, sem reparar nos grandes males que acar- retam para o seu organismo. A principio o álcool, como o fumo, occasiona-lhes perturbações incommodas e nem por isso essa cir- cumstancia os afugenta do vicio. Eis, em rápidos traços, o que seja o contagio alcoolico nas suas principaes manifestações. CAPITULO II Acçâo toxica do álcool w serie alcoolica apresenta differentes gru- pos, tendo a toxidade accrescida na ordem (^7^ascendente. Bem se vê que, sendo o álcool i ethylico o 2o na escala, é menos toxico que o propylico e o amylico, facilmente encontrados em certas bebidas. • A razâio do augmento do poder toxico nos alcooes superiores, explica-se pela complexidade das moléculas. Influem para augmentar o poder toxico de uma bebida: a qualidade do álcool, a riqueza alcoolica, as impurezas e os princípios aromáticos que entram em sua composição. As bebidas alcoólicas podem provir de substancias naturalmente fermentadas, taes como a uva, acanna de assucar ou dos chamados alcooes de industria, retirados da beterraba, milho, centeio, batata, etc. Os alcoolicos do 2o grupo são mais toxicos. As principaes impurezas das bebidas alcoólicas são 106 o furfurol, a aldehyde salicylica, as acetonas e o acido salicylico. Para só fallar em uma delias: é sabido com que cuidado no filtro renal, o clinico administra essa ul- tima substancia, com um fim therapeutico, cessando logo que tenha desapparecido a moléstia que indicou a intervenção; dahi é facil de prever o inconveniente dessa impureza, adjuvante poderosa do álcool, ingeri- da quotidianamente e por longos annos. O furfurol mata um coelho na dose de meia gramma, e i gramma de aldehyde salicylica basta para extinguir a vida de um cão. As bebidas aromatiças, muito toxicas e isso devido, a esses princípios aromáticos, são os licores e os appe- ritivos, como por exemplo o absintho. A essencia desse preparado é epileptisante, outras havendo tetanisantes. Alimenta o álcool? Affirmam alguns que o álcool é um alimento, destinado exclusivamente a produzir calorias. Ora, produzindo o álcool exclusivamente calorias e não sendo um bom alimento aquelle que só tem esse fito, segue-se que elle não pode assim ser consi- derado, no sentido restricto da palavra; demais os hydratos de carbono satisfazem perfeitamente esse fim, sem terem um papel toxico. 107 O vinho de meza puro e pouco alcoolisado pode ser utilisado não como um alimento, simplesmente como um apperitivo, e desta forma não deve haver abuso. Por dois modos se manifesta a acção do álcool: pelo alcoolismo agudo e pelo chronico, dos quaes não cabe aqui a descripção. O álcool em pequena quantidade penetra no sangue no estado de acetato alcalino, esse depois se transforma em carbonato; em alta dóse, minima parte se transforma no tubo intestinal e no sangue, a outra circula em natureza. A acção do álcool nos centros nervosos é mani- festa, principalmente sobre o cerebro, traduzindo-se pela excitação, pelo delirio e pelo collapsus; sobre o cerebello, revelando-se pela incoordenação dos mo- vimentos, que se nota nos ébrios. O apparelho circula- tório, principalmente as artérias, se sentem da acção nociva desse preparado; no apparelho digestivo, o estomago e.o figado, são os primeiros orgãos da econo- mia a soffrer a acção deleteria desse poderoso veneno. A arterio-esclerose, moléstia que, sendo o apanagio da velhice, é frequentissima em outras phases da vida, vindo prematuramente por causas multliplas, tem o álcool como um dos factores mais frequentes. As cirrhoses do figado vêm nelle o maior agente responsável, e alem dessa, as gastrites, as polynevrites, as myocardites, os aneurysmas, as nephrites, não raro contam, no seu quadro etiologico, o mesmo factor. 108 O álcool diminue a nutrição; prepara o terreno para as moléstias infectuosas, e se sabe quanto é som- brio o prognostico da pneumonia num alcoólatra. Os factos clínicos e os trabalhos experimentaes, ultimamente feitos, provam cabalmente que o álcool é um grande factor predisponente para a tuber- culose. Diminuindo a nutrição, o álcool não pode activar o trabalho; a observação e a experiencia provaram cabalmente: Gilbaut fez uma auto-experiencia e veri- ficou que o seu trabalho era muito menor, quando se utilisava dos alcoolicos; um industrial americano dividiu seus operários em duas turmas, a uma delias se fornecia aguardente, a outra agua; nos 4 primeiros dias na turma que fazia uso da aguardante o tra- balho foi superior a que usava somente agua; no 5.0 dia egualaram-se as forças das duas turmas, e do 6.° dia em diante o trabalho da turma que bebia exclusivamente a agua, tornou-se* superior ao da outra. E' assim que procede o álcool, a principio produz uma excitação que é logo seguida de depressão. Cita Romme o exemplo dos mulsumanos que trabalham no Bhosphoro, resistindo 14 horas no trabalho de des- carga do carvão, ao passo que os búlgaros e slavos mal podem trabalhar 4 a 5 horas, debaixo do sol abrasador, o que é attribuido á abstinência do álcool, obrigatorio, pela crença religiosa nos primeiros, em- 109 quanto os últimos se utilisam em larga escala da aguardente. Que o álcool enfraquece sabem os athletas, os sportistas que, geralmente, não se servem delle; os que assim não procedem vêm a energia muscular ir fugindo gradativamente. CAPITULO III Perigo social do alcoolismo Suem procurar a causa do augmento dos casos de moléstias mentaes, a razão do accrescimo da criminalidade, encontrará no alcoolismo o factor, talvez mais impor- tante de quantos se possa responsabilisar. Vimos a desorganisação que produz o álcool nos tecidos; não se limita, porem, a isso o papel desse veneno; a descendencia também é ferida, e basta citar a historia de uma familia originaria de uma alcoolica, historia relatada pelo medico allemão Dr. Pellman. Trata-se da progenie de uma alcoolica, fal- lecida em princípios do século passado de cuja pos- teridade, em numero de 843, se poude observar 709 individuos, dos quaes 106 são filhos naturaes; 142, mendigos; 64, pensionistas dos asylos de mendici- dade ; 81, prostitutas; 76, criminosos, sendo 7 as- sassinos. 112 E' a tara alcoolica, levando os descendentes á miséria, aos prostibulos, á loucura e ao crime. Legrain estudou a descendencia de alcoólatras até a 3? geração, e em 215 hcredo-alcoolicos veri- ficou a degenerescencia intellectual e physica 168 vezes. Na 1? geração observou todos os gráos de degeneração mental, desde o simples desequilibrio até a imbecilidade, a idiotia, e a loucura moral, com seu cortejo - mentira, deboche, prostituição, embri- aguez, roubo e vagabundagem ; nas degenerescencias physicas, notou surdez, surdo-mudez, cegueira con- génita, deformações do craneo e da columna ver- tebral. Na 2? geração verificou Legrairn, em 299 indi- viduos, que a imbecillidade e a idiotia eram frequentes, libertinagem e prostituição precoces, roubo e as- sassínio ; alguns estão nos asylos de alienados, outros nas casas de correcção e nas penitenciarias; a dege- nerescencia physica ainda mais se accentua. Os heredo-alcoolicos da 3? geração são apenas em numero de 17, em 7 familias, imbecis e idiotas; um de 4 annos, tem impulsão para o álcool e já é vicioso e ratoneiro; outro de 11 annos é onanista, malvado e vagabundo; 2 são hystericos, 2 epilé- pticos, 4 tiveram meningites e 3 são escrofulosos e profundamente debilitados. E' assim o fim da descendencia dos alcoólatras. A degenerescencia mental e physica se vai pronun- 113 ciando, até que a familia se extingue pela incapa- cidade da procreação, parecendo que, dessa forma, a natureza procura destruir os individuos inúteis e prejudiciaes. Vimos que o álcool diminue a nutrição, deprime o individuo; em taes condições o descendente não poderá ser um ente forte e normal; além disso os estudos de Nicloux provam que o álcool, ingerido pela mulher gravida, passa em natureza para o féto e vae embeber o cerebro e outros orgãos. O álcool passa também em natureza para o leite, e por $hi se vê o inconveniente da ama de leite alcoólatra. Magnan achou o alcoolismo 30,11 7o nos ante- cedentes dos alienados e 9,05 nas alienadas. E' o alcoolismo o principal responsável pela maioria de casos de suicidio que cada vez mais avultam nos tempos actuaes. O crime e o alcoolismo vivem nas mais estreitas relações, e raro é o criminoso que não abusa do álcool. Arboux verificou nas prisões do Sena nos assas- sinos, 53,37, alcoólatras; 57 °/0, nos incendiarios; 70 70, nos ladrões. Em 32.857 detidos nas prisões da Allemanha, Baer contou 13.706 alcoólatras. A prostituição é também seriamente influenciada pelo alcoolismo. CAPITULO IV Lucta contra o alcoolismo P lucta contra o álcool requer a acção do estado, o poder das associações e a ini- ciativa particular. • A acção do estado não resolve por si só a questão. O álcool é um producto de rendas e os governos têm necessidade de equilibrar os orçamen- tos. Melhor razão para a carga no imposto do álcool; mas, essa medida isoladamente não trará effeito, pois nem um litro diminuirá do consumo, e a fabricação domiciliar escapará, como escapa ao tributo. Monopolisar o fabrico do álcool é transformar o estado em interessado na vendagem e consumo dos preparados, sem trazer nenhum resultado para de- crescimento do alcoolismo. Além disso o estado não poderia impedir a fabricação clandestina. Prohibir terminantemente o dispêndio do álcool, foi o fim da lei do Maine, adoptada por 19 estados da União Norte* Americana, que só permittiaa venda » 116 para fins industriaes e therapeuticos; os resultados esperados não corresponderam á expectativa. Pensamos que não, se deve usar os meios violen- tos; o estado agirá com energia ; mas, em vez de, com um só decreto, tentar a extineção da vendagem do álcool, prudentemente irá lançando mão de todos os recursos para supprimil-a. Na Inglaterra, Hollanda, Noruega e Suécia, não é facil abrir uma casa de bebidas, sendo o seu numero fixado. No primeiro desses paizes a licença é concedida por um anno, podendo ser retirada á menor infraeção; o preço do prasme é assás elevado. Na Hollanda, a permissão é dada pela camara municipal, que poderá negar, sendo as casas de bebidas proporcionaes ao numero da população. * • H t ' ' ' Nos dois últimos paizes, são prohibidas as peque- nas distillarias, ficando as grandes sob a vigilância do estado; para a vendagem a lei exige uma licença, cujo numero é fixo; ha concurrencia, a qual só podem participar pessoas notoriamente honradas. Na França é grande actualmente a lucta contra o álcool, e o poder publjco cogita em prohibir a fabri- cação e vendagem do abisintho. Ainda na Inglaterra existem asylos apropriados para o internamento dos ébrios recalcitrantes. A idéa da associação contra o alcoolismo partiu 117 da Inglaterra, e em Bristol foi creada em 1873 a primeira casa do temperança. , Hoje as sociedades de temperança estão espalha- das, não só na Inglaterra, onde só Liverpool conta 64 casas, como em quasi toda Europa e nos Estados- Unidos. Nesses estabelecimentos ha tudo : leituras, musica, sala para refeições e até seguros de vida; só falta o álcool. Crearam-se também na Inglaterra casas para os pobres, para os marinheiros em que a venda do álcool é interdicta. O systema Gothemburgo adoptado na Suécia e na Noruega é engenhoso e de magnificos resultados. Uma associação se apodera das licenças, neces- sárias para a abertura de casas de bebidas, não com o fim de lucro, mas para restringir o consumo do álcool. Em cada estabelecimento o gerente, além do orde- nado, tem interesse nos lucros sobre a venda dos alimentos e das bebidas não alcoólicas; nenhum inte- resse tem no producto da venda dos alcoolicos. Ora, o resultado é que ao gerente importa a ven- dagem dos productos não alcoolicos e será elle o mais interessado na propaganda contra o álcool, o que não se dá geralmente. Nesses estabelecimentos não se vende a credito; abrem-se ás 9 da manhã e fecham-se ás 8 da noite e 118 nos dias de domingo ás 5 horas. As paredes estão cheias de inscripções contra o alcoolismo. A iniciativa particular se refere aos médicos, pa- trões, mestres, sacerdotes, paes e tutores que devem fazer grande propaganda contra o alcoolismo, demons- trando as' graves consequências desse funesto vicio. Pelo exposto se vê que não devem agir isolados os que luctam contra o alcoolismo: o estado, dimi- nuindo 0 numero das^tavernas e outras casas de bebi- das, augmentando annualmente o imposto dos prepa- rados alcoolicos, prohibindo a vendagem de alguns delles altamente venenosos como o absintho, facilitando o uso das bebidas hygienicas, subvencionando as casas de temperança; as associações, multiplicando-se e fazendo todas os esforços para diminuir o consumo desse temivel toxico e tornal-o antipathico ás classes laboriosas, organisando conferencias publicas, emfim uma propaganda sem tréguas contra o alcoolismo. plBtiSIfit-S PROPOSIÇÕES HISTORIA NATURAL MEDICA I Os trypanosomas são protozoários espiralados, variando de forma, apresentando, para fóra do núcleo, uma massa de chromatina, donde sae um flagello. II Os trypanosomas que se dividem em varias espe- cies, são todos parasitas do sangue e dos liquidos orgânicos dos animaes. III O trypanosoma gambiense de Dutton é o productor da moléstia do somno, e é principalmente inoculado no sangue pela mosca tsé-tsé. CHIMICA MEDICA I (OT)C-Az. CH5^ A antipyrina >=Az (C6HU) HC-CO é obtida tratando-se o ether acetylacetico pela methyl- phenyhyldrazinx 17 122 II E' uma base acida, solúvel nagua, na benzina, no chloroformio e no ether; cora-se em vermelho pelo chlorêto ferrico e em azul pelo acido azotoso. III Empregada como anti-thermico e analgésico, ab- sorve-se rapidamente e é eliminada em natureza pela urina, onde sua presença se revela pelos reactivos proprios. ANATOMIA DESCRIPTIVA I A articulação do joelho é a mais vasta e a mais complicada do corpo humano. II Pertence á classe das diarthroses e ao genero trochlea. III As superfícies articulares são formadas por 3 ossos - o femur, o tibia e a rotula; os meies de união são os ligamentos - anterior, posterior, lateraes e cruzados. AN ATOM IA TOPOGRAPHICA I A loja parotidiana é forrada no seu interior pela aponevrose que, partindo do bordo do esterno eleido 123 mastoidêo, se dirige de traz para adiante, parafo inasseter. II Da face profunda da aponevrose parotidiana se destacam dois folhêtos que forram os bordos da loja os quaes, dirigindo-se para o fundo, se unem e vão tomar inserção na apophyse estyloide. III Contida na loja, a glandula parotida emitte ainda prolongamentos para fóra; no interior da glandula passam vasos e nervos importantes, adherentes a ella pelas ramificações fibrosas partidas de aponevrose. HISTOLOGIA I Os globulos vermelhos do sangue cujo numero pode attingir a 5 milhões por centímetro cubico, têm a forma de um disco biconcavo, sem núcleo e são formados sob o ponto de vista chimico pela globulina e pela hemoglobina. II Os globulos brancos são dotados de movimentos amiboides, têm forma espherica e se compõem de um protoplasma, de um núcleo e são encontrados em numero de 6 a 8 mil por centímetro cubico, 124 III Os globulos brancos se devidem nas seguintes variedades lymphocytos, mononucleares polynuclea- res e eosinophilos, cuja proporção éa seguinte: 30 a 40 para as 2 primeiras variedades, 60 para a terceira e 1 a 3 para a quarta. PHYSIOLOGIA 1 Além das funcçSes glycogenica e biliar estão pre- postas ao figado a funcção antitoxica e a uropoietica. II O figado armazena certas substancias mineraes, reduz os alcaloides e os toxicos fabricados nos intes- tinos, que a elle vão ter pela circulação porta. III A observação e a experiencia provam a proprie- dade que tem o figado de formar a uréa e o acido urico, provavelmente a custa dos desdobramentos das matérias albuminoides, entre os quaes figuram os saes ammoniacaes. 125 BACTERIOLOGIA ' ; I O bacillo de Koch produz toxinas intra e extra protoplasmicas, sendo as primeiras mais importantes. II A tuberculina bruta, preparada por Koch, é um extracto glycerinado composto de todas as toxinas do bacillo da tuberculose. « líl Koch extraiu ainda as tuberculinas A. O. e R.; prepara-se a primeira tratando-se as culturas pela soda caustica, filtrando-se e neutralisando-se após. PHARMACOLOGIA MATÉRIA MEDICA E ARTE DE FORMULAR I Todas as partes da digitalis têm acção medicamen- tosa, mas são as folhas as únicas empregadas. 11 As folhas devem ser colhidas em arbustos de 2 annos e em época das flores, dando-se preferencia aos que vegetam em terrenos elevados. 126 III As propriedades therapeuticas das folhas de digi- talis se alteram facilmente, por isso convém conser- val-as em frascos bem fechados. ANATOMIA E PHYSIOLOGIA PATHOLOGICAS 1 As lesões tuberculosas no pulmão se apresentam sob dois aspectos - a granulação cinzenta e o tubér- culo caseoso. II Qualquer que seja a forma, a caracteristica ana- tomo-pathologica é o folliculo tuberculoso. Hl O tubérculo pode soffrer a degeneração caseosa, a mais frequente, a esclerosa e a calcarea. PATHOLOGIA CIRÚRGICA I A tuberculose ou mal de Pott se revela no pe- riodo inicial pelas dores expontâneas e provocadas e pelas contracturas das massas musculares das got- teiras. 127 II Com a evolução da moléstia, apparecem a gibbo- sidade, os abcessos confluentes e as perturbações motoras. III O mal de Pott pode confundir-se com as fracturas das vertebras e principalmente com o rachitismo, sendo que as lesões dessa moléstia não se localisam somente na columna vertebral. PATHOLOGIA MEDICA 1 A tuberculose pulmonar aguda se apresenta sob a forma generalisada - a granulia, e sob a forma loca- lisada - a pneumonia e a bronchpneumonia caseosas. II A pneumonia caseosa pode ser confundida com a pneumonia vulgar ; mas a curva thermometrica, a differenciação dos escarros, o seu exame micros- cópico, a marcha e a duração estabelecem o dia- gnostico differencial. O III Quando a forma granulica se reveste com o typo da febre typhica, o clinico pode ser levado ao dia- 128 gnostico dessa affecção se não praticar a sero-reacção e não fizer o exame bacteriológico do sangue. THÇRAPEUTICA I O vesicatório é uma medicação de resultados problemáticos e apresenta sérios inconvenientes. II- Produz cystites, pode dar origem a nephrites, calma uma dôr provocando outra de longa duração, e as feridas causadas por elle podem ser ponto de partida para infecção. III Nas pleurizias devem ser inteiramente banidos, porque além de não trazer beneficio algum, havendo necessidade de intervenção, é impossivel ter a certeza de levar um trocate aseptico para a pleura. OPERAÇÕES E APPARELHOS * I A resecção da cabeça do humerus se pratica pelo processo de Ollier, tomando como ponto de reparo o vertice da apophyse coracoide. II Faz-se a incisão, partindo desse ponto e na direc- 129 ção do bordo anterior do deltoide, corta-se todas as camadas até descobrir a cabeça do humerus com a capsula. 111 Reconhecido o tendão da longa porção do biceps, separa-se com a rugina a capsula articular e pratica- se a resecção ossea. HYGIENE 1 Os mosquitos têm papel saliente na etiologia de algumas moléstias infectuosas; é assim que o genero culex transmitte a febre amarella e o genero anophe- les o paludismo. II A filaria sanguinis hominis é também inoculada no homem pelos mosquitos, não estando de accordo os auctores, qual seja o genero e a especie responsáveis. III Os mosquitos collocam os ovos nos depositos de aguas estagnadas, e para destruil-os é necessário evitar a producção dessas aguas, extinguir os pantanos ou derramar kerozene e alcatrão na superfície para matar as larvas. 130 MEDICINA LEGAL E TOXICOLOGIA I O alcoolismo agudo, provocando um acesso de loucura aguda pode levar o individuo ao crime. II O alcoolismo chronico pode influir também na mentalidade do individuo e leval-o ao crime. III No primeiro caso, o individuo é inteiramente irres- ponsável, no segundo é um semi-responsavel. OBSTETRÍCIA I As lacerações marginaes do perineo apresentam 3 gráos, sendo que no terceiro gráo o anus e mesmo o recto podem ser interessados. II A laceração central pode ser completa ou in- completa; no primeiro caso, succede ás vezes apre- sentar-se o féto pelo orificio da ruptura. III Os meios preventivos contra as rupturas do perineo, são: a protecção pelo methodo francez ou inglez e a 131 episiotomia; no caso de laceração, o parteiro deve immediatamente praticar a sutura. CLINICA PROPEDÊUTICA 1 Quando pelo exame microscopico de um liquido pléuritico serofibrinoso, for encontrada a lymphocytose manifesta, a pleurizia é de origem tuberculosa. II Quando o exame revelar polynucleose, trata-se^de uma pleurizia de origem pneumococcica, streptococ- cica ou typhica. III Revelando o exame mononucleose, cellulas en- dotheliaes, a pleurizia é provavelmente de origem cancerosa. CLINICA MEDICA (i.a Cadeira) I Como signaes precoces da arterio-sclerose, se revelam as perturbações visuaes e auditivas, vertigens, paresias passageiras. II A hypertensao arterial domina todo o quadro cli- nico ; a esclerose revela-se nos vasos periphericos pela 132 inspecção e palpação; nos períodos últimos vêm a insufficiencia renal e a asystolia. III O iodurêto de potássio é o medicamento indicado para essa moléstia, agindo como vaso-dilatador; a trinitrina, também poderoso agente vaso-dilatador, é da mesma forma empregada. CLINICA MEDICA (2/ cadeira) 1 * A symptomatologia da ankylostomiase não differe das demais anemias: se encontram os sopros cardio- pulmonares, as perturbações digestivas, o cansaço, etc- II Ha de caracteristico no opilado a coloração da pelle; mas, para a certeza do diagnostico é necessário o exame microscopico das fezes onde se encontram os ovos do ankylostoma. III O thymol é de um effeito prompto na ankylos- tomiase pela morte dos vermes, devendo ser dado em dóse relativamente alta para impedir a absorpção, e convém proscrever o álcool e os oleos que o dis- solvem. 133 CLINICA CIRÚRGICA (i.a cadeira) I Os adenomas, fibromas e outros tumores benignos que se assestam na glandula mamaria, geralmente são múltiplos, moveis, sem reacção ganglionar. II Os neoplasmas malignos são adherentes ao tecido, duros e a reacção ganglionar para logo se apresenta. III No caso de um tumor maligno é necessário a estirpação completa da glandula, com a pleiade gan- glionar atacada; no caso de tumores benignos pra- tica-se a estirpação parcial. CLINICA CIRÚRGICA (2/ cadeira) I Nos casos de traumatismos dos membros, sempre que for possível', o cirurgião deve empregar todos os meios para evitar a amputação. II Após a lavagem demorada com solução antisepti- cas, dc forma a não deixar corpo estranho na parte trau- matisada, o cirurgião applicará a pomada de Reclus e ficará prompto para intervir, havendo indicação. 134 III Se houve larga destruição da pelle e dos musculos, espedaçamento completo dos ossos, é impossível con- servar o membro, e amputação é indicada. CLINICA OBSTÉTRICA E GYNECOLOGICA I Quando a cabeça está no estreito superior é pre- ferível, sendo possível, a versão podalica ás applícações do fórceps. II Para que se possa executar a versão é necessário que não haja encravamento de cabeça no estreito e retracção uterina. III No caso de impossibilidade da versão e da appli- cação do fórceps, estando morto o féto é indicada a embryotomia; vivo féto, a operação cesarea, hoje innocua com os cuidados da asepsia. CLINICA SYPHYLIGRAPHICA E DER- MATOLÓGICA I As lesões syphiliticas no pulmão podem simular a tuberculose e neste caso é de grande importância o diagnostico differencial. 135 II A symptomatologia nada adianta e só os vestígios da syphilis, a historia pregressa do doente e, as mais das vezes, o exame do escarro podem elucidar a questão. III Se bem que sejam graves as lesões pulmonares da syphilis, a cura é possível com o tratamento anti- syphilitico energico. CLINICA OPHTALMOLOGICA I A syphilis, a tuberculose, o mal de Bright e o diabetes são os principaes factores etiologicos da irite. II A irite syphilitica é a mais frequente e se apre- senta seis ou oito mezes após a infecção primitiva, evoluindo, ás vezes, com os accidentes secundários. III A irite tuberculosa toma 3 formas: a miliar, a con- fluente e a inflammatoria na qual, além das lesões especificas, existe uma proliferação embryonaria cuja exhuberancia occulta as lesões especificas. 136 CLINICA PEDIATRIA 1 As perturbações gastro-intestinas, muito frequentes na infancia, estão ligadas á alimentação. II Das affecções gastro-intestinaes infantis, uma das mais graves é a dyspepsia toxica que apresenta 3 varie- dades-a colérica, a typhica e a dysenterica. III A dieta hydrica exclusiva ou mitigada com leite (preferido o de cabra ou jumenta) tem indicação imme- diata, variando a medicação com os typos e com- plicações da moléstia. CLINICA PSYCHIATRICA E DE MOLÉS- TIAS NERVOSAS I As meningites são affecções gravíssimas, fataes quasi sempre, e quando terminam pela cura, o que é raro, deixam lesões profundas no individuo. II As psendo-mennigites ou meningismos são devidas a intoxicações ou a perturbações funccionaes passa- 137 geiras dos centros nervosos, têm geral mente o pro- gnostico menos sombrio e desapparecem sem deixar lesões. III Das meningites a mais grave é a tuberculosa, cujo diagnostico é facil pelo exame do liquido cephalo- rachidiano (retirado pela puncção lombar) encontran- do-se a lymphocytose. T7ST0 decretaria da Faculdade de Medicina da Bahia, 91 de Outubro de 1907. f O Secretario. S&enaiidro do^ taleis S&eirellei>.