Faculdade de Medicina da Bahia APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Em 31 de Outubro de 1907 PARA SER DEFENDIDA POR 'STAome tJítc/oto 'SCtaó r/a \\\ ( Natural de Pernambuco ) AFIM DE OBTER 0 GRÁO DE DOUTOR EM MEDICINA llillilâfâ® Cadeira de Hygiene H y g i e n e ilo Recife PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas TYPOGRAPIIIA DO SALVADOR —CATHEDRAL 1907 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Director—Dr. ALFREDO BRITTO Vice-Director—Dr. MANOEL JOSE’ DE ARAÚJO LENTES GUATEDRATICOS OS DRS. MATÉRIAS QUE LECCIONAM l.a SECÇÃO Carneiro de Campas Anatomia descriptiva. Carlos Freitas Anatomia medico-cirurgica. 2.3 Antonio Pacifico Pereira Histologia- Augusto C. Vianna Bactereologia. Guilherme Pereira Rebello . . . . Anatomia e Physiologia pafchologicas. 3. a Manoel José de Araújo Physiologia. José Eduardo F. de Carvalho Filho . Therapeutica. 4. a Luiz Anselmo da Fonseca .... Hygiene. Josino Correia Cotías Medicina legal e Toxicologia. 5. a Braz Hermenegildo do Amaral . . . Pathologia cirúrgica Fortunato Augusto da Silva Júnior . Operações e apparejhos. Antonio Pacheco Mendes Clinica cirúrgica 1.» cadeira. Ignacio Monteiro de Almeida Gouveia Clinica cirúrgica 2.* cadeira. 6. a Aurélio R Vianna Pathologia medica. Alfredo Britto Clinica Propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho . . . Clinica Medica 1.» cadeira Francisco Braulio Pereira .... Clinica Medica 2.» cadeira 7. a A. Victorio de Araújo Falcão . . . Matéria medica, Pharmacologia e Arte de Formular José Rodrigues da Costa Dorea . . Historia natural medica. José Olympio de Azevedo .... Chimica Medica. 8. a Deocleciano Ramos Obstetrícia. Climerio Cardoso de Oliveira . . . Clinica obstétrica e gynecologica. 9. a Frederico de Castro Rebello . . . Clinica pediátrica. 10. a Francisco dosSantos Pereira . . . Clinica ophtalmologica. 11.» Alexandre E. de Castro Cerqueira . . Clinica dermathologica e syphiligraphica. ■"■N*. 12.a Luiz Pinto de Carvalho Clinica psychiatrica e de moléstias ner- vosas. Ce^u®'ra •; ; ; Em disponibilidade. LENTES SUBSTITUTOS OS DOUTORES José Affonso de Carvalho , , 1.* Pedro da Luz Carrascosa e . Gonçalo Moniz Sodré de Aragão . ( 2.» J. J. de Calasans . . . 7.* Julio Sérgio Palma ( J. Adeodato de Souza . . . .8.» Pedro Luiz Celestino .... 3> Alfredo Ferreira de Magalhães . 9.» Oscar Freire de Carvalho . . 4.» Clodoaldo de Andrade . . . .10. Antonino B. dos Anjos . . . .5.» Albino Leitão (int.) H. João Américo GarcezjFroes . . 6.» Secretario—Dr. MENANDRO DOS REIS MEIRELLES Snb-Secretario Dr. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA A Faculdade não approva uem reprova as opiniões exaradas nas theses pelos seos ancttris DISSERTAÇÃO Cadeira de Hygiene HYGIENE DO RECIFE CONSÍDERÂÇÕES GERÂES E SOLO T3 -«■" kmna.mbucq, Fernambouc ou Recife, designações pelas quaes é conhecida a capitai da antiga capitania de Duarte Coelho. Construida sobre o Oceano Atlântico e situada a 37°, iif o 4" de long. X. e 8°, 3’ e 27“’ de Lat. S. e quasi ao nivcl do mar. As aguas do Caplbarlbe e do Beberibe, synadelphos tributários do ■ ihintico. do qual também recebem as offortas, obrigadas pelas leis da hydro-dinamica, ievàdas a execução ; , ' ad iamento das aguas das marés ao nivel da 'daurieòu; e.ulabiri.uani de; bem emmaranhada rede, urdi.!:. , ■ ; crmaes das snas multifarias divisões e sub- d i v i > , ’ planura em que a cidade soergue-se, assim P;vn v! > c íusnando pelo collear tranquillo o plácido, :■ muitas do suas ruas a belleza o também perfida- mente a insalubridade, polos mangues que dão nascimento, e no: jiíaos se. evolvem muitos germens quo tem como o ano; ! uma assaz grande percentagem na assombrosa lethaiidade local. 8» de latitude sul, posição que por si somente, a faz (dnssiHcar ;-o grupo dos paizes quentes, muito inaisíhe f o; j ; a esda classificação a quasi mesma altura que a das aguas do oceano. 1 2 Tão perto do equador, sem ter altitude bastante fiara minorar-lhe a temperatura, a pouca variabilidade dos elementos meteorologieos, balsamificam-n’a, tornando-a mais que habitavel para os naturaes, e até mesmo ao estrangeiro, ridente surge, de entre as aguas, seintilando de natural belleza e gracií ern seu conjuncto artístico natural, e ainda íorte por seu commercio e sua heroica historia, prenhe dealtruisticos feitos, parece dizer;—viajor amigo, transponde as encapelladas aguas que no velho continente renome dão ao Lamarão e vinde fruir em meu ardente seio, da vida ubérrima, que promana dos meus constantes ares, que vos garantirão uma perfeita acli- matação. Bastante, isto provado está, não só para Portugnezes, italianos, e Ilespanhoes que poderiam ser afastados, como susceptiveis de pan-aclimatação, como attestam AHemães e Inglezes em grande numero domiciliados nesta capital: e que, mesmo a espansionabilidade e accommodação a vários climas, tão conhecida dos filhos da velha Àlbiori. não afastam a decisão do argumento; pois se em toda a esphera, tem o arehipelago do Mar do Norte enviado os- seus filhos, caro algumas vezes lhes tem custado. Que tal, o aftirmam as Índias. Da pureza de nossa asserção, senão por completo, pois não temos um archivo medico perfeito que nos possa pôr ao alcance da nosologia dos forasteiros no Brazil, em ultima analyse, a necro-demographia, esse tamiz final, nos revela a mortalidade media dos estrangeiros domiciliados no Recife, inferior a dos nacionaes, como aprecia-se fios algarismos tomados do livro do J)r. Octavio de Freitas pi), (1) Clima e Mortalidade, pag. 78 3 que assim se exprime, tratando de Allemães, Hespanhoes, Inglezes o Italianos: «Tendo-se -verificado em media annual nestes últimos onze annos, entre os indivíduos destas quatro naciona- lidades, o seguinte numero de obitos: Allemães (1, Hes- panhoes 6, Inglezes 0, Italianos 10, foram respectivamente os coeficientes de mortalidade de 30 %<» para os Alle- mãõs; 24 %a para os Hespanhoes; l‘i %„ para os fn- glezes e 20 %„ para os Italianos ». Ao passo que estes tinham nesta, epocha tal percen- tagem. pagavam os brasileiros o oneroso tributo de 97,2 por 1000. Deste frisante contraste, mais accentuado ainda fazendo lembrar, que. o coeficiente de mortalidade destes estran- geiros, é menor, ahi do que na própria patria de alguns delles, como faz notar o illustrado demQgraphista, só uma razão poderá servir, elucidando todo o paradoxal enigma, esta chave é a hygiene de que se cercam esses filhos d’além mar, que a excepção dos Italianos, que ahi geral mente arrastam uma vida pouco ridente, mesmo assim sadia e exhnbarante, todos, os mais, quasi sempre estão cercados de bôas condicções hygienicas. Não é absolutamenle ao clima, que deve ser procurada e pedida a causa do assustador hyperpovoamento dos tumulos do S. Amaro. Embora pareça a primeira vista, que, a abundancia, das chuvas, a intensidade do calor, de media aliáz pouco elevada, como mostra a media maxima de 1887 a 1904 — de 31-70, tenha uma influencia muito grande no decesso tão prodigioso; o quadro seguinte do Dr. O. de Freitas, fazendo bem salientar a constância deste e dos outros agen- tes meteorologicos, torna sensível a amenidade do clima: 4 PHENOMENOS METEOROLOGICOS ANNO EORMAL cri JAN. FEV. MAR.; ABRIL; MAIO ; JUNHO JULHO AOOS. SET. OUT. NOY. DEZ. i medi.,... Temperai (gráos) J max, abs.. 27.85 28.01) 27.63 27 08 26.35; 26.38 24.62 24.77 25.80 26.25 27.32 27.45 26.50 37.30 35.80 36.80 39.60Í 33.40 33.40 34.20 35.20 38.50 35.40; 36.40 37.00 39.60 f niiii. abs.. 18.30 15.80 19.30 17.70; 17.60: 17.90 17.50 16.30 11.40 17.30; 18.20 17.00 11.40 (nédia.. 757.70 737.52 757.47 757.73 758.56 700.07 7 60.89-760.81 760.27 738.96 757.93 77.89 758.86 Pressão atm. (uiillim.) jmax. aos r min. abs 701.63 762.24 761.26 762-92 762.62 764.86 765.30 764.33 763.89 763.37 762.13 < 62 • 0 ( 765.30 752.48 751.48 701.66 753.08 753.72175(5.12 736.77 756.97 756:33 734.52 753.29 753.79 731.48 Tensão media do vapor (uiiilim). 20.26 20.57 20.99 20.87 20.46; 19.44 19.04 18.29 18.57 18.89 19.77 19.97 19.76 Humidade relativa (por %). 71.0 72.0 74.6 76.4; 78.2; 79.2 78.9 76.5 73.2 7 *?. .í 70.9 70.8 74.4 Evaporação msdja por hora (mil.). 0.13 0.12 0.12 0.10 0.10 0.09 0.09 0.11 0.12 0.15 0.15 0.43 j 0.12 Nebulosidade media (por °/°).. 46; 49 51 53 53; 57; 63 59 47 41 í 46; 48 50 Chuva (millim.) total 74.3 83.3 192.3 264.9 290.5 338.5 372.8 191.9 83.1 26.8; 22.9; 29.4; 1971.1 Oías chuvosos 9.8 9.9 14.8 17.5 22.1: 20.8 22.8 21.4 12.6 8.4: 7.3 8.6; 176 Ventos (rumo dominante).... RJ E-ESE SE E-ESE ! SE I SE 1 SSE SE-SSE ijsE-SSE S T S SE-SSE S SE SSE E-ESE SE P-ESE SE NE-E : ESE E r ESE ! SE • l)i\ 0. de Freitas mo NORMAL OU VALORES NORMAES DOS ELEMENTOS CLIMATOLOGICOS M RECIFE 5 Praça é a excursão thcrmometrica. Quasi nullas são as variações nictemeraes. Não são frequentes as tempestades. Brisas marítimas, quasi sempre constantes, mantém a athmosphera em mo- vimentado. Os ventos de grande deslocamento, e forças não existem. Se muitas são as chuvas que cahem em uma invernada, e não curto é o numero de dias que abrange ■esta estação, ampla, como se infere das observações meteorológicas tomadas á diversas epochas, das medias publicadas pelo iíiustrado Dr. Octavio de .Freitas, as observações (liarias publicadas quinzenaímentò nos jornaes locaes e as tomadas pelo Melhoramento do Porto e Great-Western, até acreditando na media prodigiosa do Sr. E. Beringer, media de áO dias chuvosos por mez, a sua influencia não pode ser apontada como maléfica senão relativamente; pois o grande prejuízo a incriminar a este elemento meteorologico, está na riqueza organica do solo que muito absorve, mantendo-se húmido; e não na própria chuva que lava a athmosphera, precipitando as poeiras inertes e animadas. Do que seja o solo na cidade do Recife, difficil se nos afigura fazer a descripção; mais facil fora dar alguns ■esclarecimentos a respeito do que era quando capital da colonia hollandeza; quando o progresso e a civilisação alíi desenvolviam-se sob o impulso emprehendedor dos batavos, e que a sua população resumida não contribuía tão potencialmente para heterogeneidade de sua superfície solar como actualmente soe succeder. Com o accrescimo desta, o Recife que comprehcndia a Ilha de Santo Antonio em uma pequena porção do lado 6 norte, o bairro do Recife e algumas casas da Boa-Vista, alargou as vistas ás regiões desoccupadas a sua visi- nhança; e os acostumados dominadores do mar nos Paizes-Baixos, não duvidaram vencer a tríplice hydrica aliança, do Beberibe, Capibaribe e o Atlântico que então subjugada pela intelligencia d’aqúelles europeos e a mio-dinamica dos nacionaes, foram forçadas suas aguas, pelas condicções que estabelecem as leis physicas de des- locamento dos liquidos a procurar uma superfície menos larga para desçambamenío de sua massa. EJles haviam depositado camadas de aterro nos logares que proje ctavam edificar, e que, anteriormente as aguas occupa- vam. Dado o primeiro exemplo pelos heroicos invasores, que assim ensinando a dominar, blindavam o caracter do povo, que, em bem pouco lhes mostrou que o Brasi- leiro, naquella epocha não media as forças do inimigo; a semente germinou: —Os ganhos de terra contra as aguas foram se acentuando: ediaa~dia, como evoluir da cidade de Nassau, a conquista se tornava mais completa e o attaque mais ardoroso. Vencia o povo. A cidade, alargava-se a todo o instante, e na faina ininterrupta, sem tréguas, a que se entregavam, ia desapparecendo a primitiva constituição geologica, da superfície — allumio-fluvia-maritima, que era argilla nos mais proximos limites dos rios e areias de grãos finos nos mais affastados, para ser substituída por areias grossas do mar, calhaús, e mais tarde todas as sub- stancias, capazes ou não capazes para tal fim, como se chegou até a utilisar o lixo, que, não ha muito annos, foi de vez abolido, chegando antes do tempo da Republica ao ponto de ser utilisado para tal fim, por ordem da auctoridade hygienista superior. 7 Até bem pouco tempo em pleno século XX, a luz do sol, dentro da cidade, em seus bairros mais populosos se amontou o lixo, producto da collecta urbana, conduzido ás carroças, atirado a fermentação ao Caes do Gapibaribe, ao Viveiro do Muniz, S. Amaro, etc. Não foram somente estes os locaes, que receberam esta tara pesada, legada pela falta de zelo pela saúde publica e ignorância de comezinhos preceitos hygienicos daquelles que assim brincavam com a vida de uma população. «Não é aqui, diz o Dr. Octavio de Freitas, uma figura de rethorica o dizer-se que na formação do actual solo do Recife, os nossos antepassados accumularam erros sobre erros, a menos que se queira dizer a verdade em termos mais rebarbativos.» (1) De facto, erros e mais erros eram assim accumulados, sem que prever podessem os que tão ingenuamente preparavam este solo, tão bom meio de cultura micro- biano, a futura derrocada, que por certo levariam, como já as estatísticas mostram, a tào futurosa cidade. A modificação foi e tem sido tão grande que se pode dizer, que, sobre a selvagem crosta «alluvio-selico- argillosa», oppozeram a nova e ferocíssima camada, assaz espessa, do detritos orgânicos, lixo domiciliário e das vias publicas, e até, como por abuso de abuso, faziam os parti- culares despejo de fezes de animaes em diversos pontos. Do que vimos dizendo e pelo que procuramos observar m cita, affirmamos que é o solo variavel segundo o logar em que se estuda, predominando em toda a sua extractifi- cação uma camada de argilla superficial ou mais ou menos profunda, sendo que a grande parte usurpada as aguas, e (i) 0. F. op. cit. 8 não em pequena extensão, é composta de cima para baixo,, de uma espessa camada de humus, de uma camada de argilla, quasi sempre ao nivel do mar e de uma camada espessa de areia silicosa de grãos médios. Em outros legares, mais affastados dos rios, a primeira- camada é ainda de humus e de um metro mais ou menos,, logo seguindo-se a areia silicosa rEuma espessura de 2 a 3, 5 metros, que atravessada pela perfuração, aflora neste limite a uma superfície liquida, que podemos denomin.d-a lençol sub-terraneo superficial; embora o nivel da agua esteja sujeito as variações das aguas da maré, como as cacimbas protegidas por paredões de alvenaria o demonstram; e suas aguas salinitrosas, salobres, como são denominadas aí testam,, ainda mais porque o sabor salino mais se revela quando a maré cheia. Em fim ainda observamos uma especie de solo formado em sua primeira parte, por uma espessa camada do argilla, em grande parto isenta de areias e cuja superfície mais ou monos ao nivel do mar, constituo terrenos pan- tanosos, denominados mangues; e que mesmo assim r Cobertos d’agua, estão assaz enlabirintados de casinhas, soergui !as em montão da própria rocha, accumulada em- um local e obtida por exeavação da visinhança. Tudo isto snmmariando, inferimos que, um. estrato argiiloso, • mais ou menos superficial, extende-se quasi por toda a cidade;- completamente a descoberto em os Jogares- confinantes aos rios, coberto d’agua aos mangues e pessimamente revestido em outros muitos legares. Re- vestimento sempre pouco espesso e que devido a. hete- rogeneidade de seus elementos, predominando em alguns substancias organicas, cream partes mais ou menos permeáveis e sempre bem porosas. 9 Variando, como é corrente em hygiene, as proprieda- des salutares em cada especie de solo, é manifesto, que, cada porção dessa crosta, gosando em vista destas múlti- plas variações a que está adstricta, e engendradas pela composição chimica, complexidade ou unitarismo e acom- rnodação de seus elementos; das propriedades physicas: porosidade, permeabilidade, eapillaridade, em maior ou menor aferição, torne-se cada uma, um núcleo eugene- t ico ou agenetico anthropobiano: pela garantia levada a integridade organica do homem, no primeiro caso; ou condições favoráveis ao estabelecimento de colonias micro- bianas paíhogenas, ou simplesmente condições vulne- rantes da estabilidade, enfraquecedoras das potências deffensivas, vitaes; por tanto noso-predisponentes no outro. infelizmente bem patente é, e se o obituário não nos leva a sempre aííirmarmos a telíus-etio-pathogenia, nos põe em guarda, que, a quasi totalidade do solo do Recife, não tem as condições necessárias para o estabelecimento de uma cidade: condições que infelizmente, como a maior parte dos hygienistas tem feito notar, não são as previsões constantes e primarias de que se deveriam certificar antes de uma construcção, aquelles que, delia se occupam, e que limita ao hygienista o papel de modi- ficador; pois as cidades, somente, no maior numero de vezes, aos seus cuidados são postas, depois de irreflectida- mente construídas, e isso muito razoavelmente, porque raras são as que obedeceram a um plano preesta- belecido : benefica resolução tomada hoje por diversos paizes. Vasta planura, quasi sem inclinação, algures de consti. tuicão humica, substancia rme, como nos afflrma Mazure, T 1 9 10 encerra ainda 10 por cento d’agua quando cessa de ceder vapor ao ar; e podendo se elevar, segundo Shubler a 490 por cento; algures, superficialmente e em nivel nferior ao terriço de uma camada argillosa; recebe a cidade do Recife, em media, mensalmente, chuvas durante quasi 20 dias, que ao pluviómetro, também em media mensal segundo o quadro organisado pelo Dr. 0. Freitas, que transcrevemos, é registada uma variação do minimo de 22,mm9 em Novembro ao máximo de 372,mm8 em Julho, decrescendo em seguida até attingir novamente o máximo em Julho. Aguas estas que, não sendo levadas a um prompto rolamento, em vista da bem aecentuada planura local, não sendo, senão submettidas muito fraca- mente a evaporação, devido ao estado hygrometico medio, muito grande de 19-76, permanecendo o terriço em estado de hypersaturação; assim formam um verda- deiro solo encharcado normalmente, e para a conservação do qual, não regatea por certo, os auxilios levados pela capillaridade tão aecentuada, em terrenos tão porosos, a toalha superficial, de 2 a 3 metros de profundidade repou- sada em estrato argilloso, e em relação de verdadeiros vasos communicantes com os rios e oceano. Ainda devido a presença da argilla em alguns pontos, não poucos; não a uma profundidade pequena, cobertos por terrenos pouco permeáveis, mantendo estes pantanos disfarçados, que constituem quasi a maior porção dos locaes, e de que acabamos de falar, mas, a descoberto, superficiaes e onde o beneficio do monturo, ainda não lhes peorou as condições sanitarias, existem grandes alagadiços, terrenos onde as aguas não subtrahidas senão pela temperatura ambiente, e onde os contigentes de reforço são levados pelas múltiplas chuvadas e pelas 11 oscillações das marés, permanecem eternamente consti- tuindo-se verdadeiros chocadouros de ovos de anopheles, de culex. e quem sabe?! de tantos outros bio-vehicu- ladores, até dos preprios microphitos nosologicos, que por certo não inquirem no momento do ataque, que para elles constitue a luta pela satisfação do mais primário instincto, o de nutrir-se, se, para viver levam a desolação a familia, ou a destruição de uma população ; já porque obedecem a inflexibilidade intangível de um reflexo inconsciente, após o começo da impressão açuladora, a fome, se é que assim designar podemos a necessidade de substancias assimdaveis ao seus organismos; em seres tão rudimentares, que, talvez não exaggerassemos, os dizendo compostos, em um todo orgânico, a cellula de partes eguaes e em homogeneidade perfeita, de systhema neuril, cardíaco e digestivo; já porque, ainda obedecem ao mais bem organisado e inflexível reflexo, cujo arco, legado por toda uma progenie pathogena, persistirá em quanto uma seriação de tempo, aos poucos, não lhes houver modificado, a maneira por tornal-os incompatíveis com a vida em parasita humano ; porque, toda vez que, em condições propicias forem postos em contacto com locus minoris resistmtioe ou de elecção, ou que o despreso da hygiene desvirtuar o valor das alexinas, a doença será corollario do determinismo biologico; mas, (jue mesmo assim, culpabilidade existe, de quem de pas- sagem pelos acmes do poder, por descuido ou negligen- cia, não afastando os factores de taes causas, do povo se esqueceu. As vastas extensões, existentes em S. Amaro das Salinas, S. José, Afogados, abaixo do nivel do mar, de estrato superficial argilloso, que como affirma Arnould, 12 Proust, Langlois, e a observação attesta, forma uma pasta impermeável, constituem pantanos verdadeiros e terrenos pantanosos, encharcados, alguns terriçosos, que devem ser considerados de alta malignidade, porquanto são responsáveis grandemente pela predisposição mórbida, e constantemente também, pela própria infecção. Engendram a predisposição, como factor principal, os gazes toxicos que se evolam necessariamente de fermenta- ções profundas; pois, devido a espessura da camada de substancias decomponiveis, não poder-se-ão effectuar em toda ella os phenomenos de oxydação, sendo entregue aos anaeróbios, por este motivo, ás mutações involutivas. E como no meio onde se evolvem taes germens, des- prendem-se toxinas voláteis, não obstante a constituição humica argillosa de grande parte do solo, predisposto desta maneira, em vista da tenuidez de seus elementos e ainda a sua constituição humica, hydrophyla, a compor- tar e reter grande parte das aguas hauridas na zona de capillaridade pela zona de tranzição ; evaporam-se, em os mezes calmosos e de sol vibrante, grande quantidade de ar tellurico, como podemos prever pela então possível formação de conglomeratos terriçosos, ou argillosos, ou por fissuração da argilla. Párece-nos, que não obstante a possível formação de conglomeratos pelos elementos da argilla, ou do hurnus, ao inverno a evaporação é por demais reduzida, podendo se dizer que é quasi nulla, pois n esta epocha de chegada a capacidade de saturação da athmosphera em vapor d’agua, o estadohygrometrico tem um máximo que attinge 79,2 % ; Circumstancia esta que lhe diminue a evaporação gazosa, não somente em razão da diminuição de temperatura da athmosphera, como também pela impermeabilidade levada 13 péla obturação dos poros, resultante da penetração das aguas. Como fizemos ver, nos tempos quentes e seccos, grande quantidade de gazes deve ser elevada a athmosphera, e como até ao extrato impermeável ha, geralmente, grande collecta de elementos orgânicos, de origem diversa, fermentesciveis, verdadeiras toxinas voláteis, como racio- nalmente apellidou Bouchard; muito grande é a causa, qne actuará nos organismos, os debilitando e predispondo a infecção, que não é sempre exógena, como soem snc- ceder com as typhieas, paratyphycas, coli-commurns, pneumo-coccicas, dysentericas, paludicas (?) da forma latente de Plehn, e muitas outras que vivem, em falsa altitude pacifica em nosso organismo, e sob o ingénuo titulo de saprophytasmoflensivos; promptos no emtanto, ao menor descuido a tomarem a praça de assalto, no grupo das quaes encontra-se até o celebre bacillo de Kock, como nos aiflrma Straus, e muitos experimentadores outros. No entanto no inverno este modo, de aos poucos com- balir a vitalidade, por viciação da athmosphera, existe em condições rnais periclitosas, porque, continuando premidos e impelidos nos logares expostos as precipitações aquosas, seguirão em marcha da torça resultante, ema- nando-se então onde um solo talvez estanque, mais per- meável e de temperatura superior, estabeleça uma verda- deira tiragem: o que succede ás habatições. DAS AGUAS E’ a agua o alimento*de toda a occasiao, e sem o qual elemento vivo algum poderá subsistir em estado normal de vitalidade, isto é, de exteriorisação de forças, ou que d'estas resulte a execução de movimentos com a sciencia de um discernimento superior, que no homem chamou-se intelligencia, e no biocyto, ainda mesmo que se manifeste selecção chamam instincto; porem sempre de accordo e conhecimento de todo o ser; ou que seja a realisação da vida vegetativa e que se patenteie cenes- tesicamente no homem e provável mente também na monera. E' o meio onde vivem em estado activo grande numero de seres macroscopicos e microscopicos, e é do meio que se servem todos os polycellulares macroscopicos para em ultima analyse renovar suas energias despen- didas no costeio vital; ou fazendo circular a oxyhemo- globina, combinação pouco estável, sempre fácil em ceder o oxygenio aos reclamos do cytoplasma, ou, directa- mente levando, após a collecta do canal thoracico, o chylo, as ulimas ramificações capillares que entre o liquido que contem em suas almas e o plasma que as envolve, se submettem as leis physicas de osmose, deixando que em troca das fezes da microscópica oxy- dação vital, que a corrente de retorno levará aos emonc- 16 íorios renaes, passe ao plasma cellular os nutríentos" que conservando o biocyto conservem o animal. Em toda a manifestação vital, representa a agua um agente de primeira necessidade; até na terra combusta. onde parece ter desaparecido a vida, subsiste a agua de constituição. De um elemento tão indispensável, seria grosseiro erro esquecerem as civilisações. Nunca tal se verificou; pois, desde os mais longínquos tempos, tem sido objecto da attenção dos sábios, e Hypocrates d’ella já se occu- pava, no seu Tratado dos ares, das aguas e dos logares: e, como faz ver Armand Gautier: Roma desdenhava as aguas preguiçosas e amarelladas de seu libre, (f) Da importância que se deve ligar á assumptos de tal ordem, nos dão ensinamentos as palavras de A. Jussieur « A boa qualidade das aguas, sendo uma das condições que contribuem maiormente á saúde dos cidadãos, os magistrados devem ter o maior interesse em lhes entreter a salubridade. » (2) Não foi sem fundamento que se oecuparam de taes assumptos « gregos e romanos. » As civilisações antigas, e as hodiernas ainda maisr hão reflexionado, que, sendo um dos mais essenciaes elementos para a manutenção das mais rudimentares manifestações vitaes, por isso mesmo, deveria ser objec- tiva a maiores e acurados estudos; e, com os progresos da chimica, da toxicologia e hordiernamente da bacte- riologia, a par do aperfeiçoamento dos sentidos, che- gando aos grãos mais elevados de refinamento, com as (1) Rochard—Encyclopedíe de H. tomo II 341 pag (2) Rochard. O cit—441 pg. tomo II 17 civilisaçoes modernas procuraram estabelecer, quaes as normas que deviam as qualidades de uma agua obedecer para poder ser considerada capaz de satisfazer as exigên- cias da sede e dos usos domésticos. Ainda mais que aos usos domésticos, a sêde, como se deve prever, exigindo um certo grupo de propriedades, implicando nas sciencias physico — chimica—biolcgicas, demarcou estancias especiaes, aos arraiaes hydrologicos, que, com o annuario das aguas de haris, tiveram uma bulia, que tem sido bem applaudida, geralmente seguida, e em com- pletivo da qual tem sido additado, pelos novos nos sempre proveitosos estudos das aguas, os mais racio- naes preceitos. A physica determinando as propriedades organolepti- cas e ainda curando um pouco das impressões senso- riaes, a chimica evidenciando os elementos mineraes e orgânicos, conhecidos capazes de levar estorvo as normaes reeacções dos solidos e líquidos do animal e a bacte- riologia, prescrevendo [tela pureza, ou proscrevendo em razão de excessiva contaminação de saprophytas ou de sim - pies e perigosa presença de um só microbio pathogeno, são as subsidiarias da hygiene no assumpto agua, que aferida a todo o padrão estipulado pelo conjuncto destas sciencias, é denominada potável, ou própria aos usos da vida. Mas, na impossibilidade de executar exames chimi- eos e bacteriológicos do liquido em litigio, a certeza de que não procede, nem atravessa terrenos contaminados por immundicies organicas de origem animal, e que as rochas atravessadas ou a que lhe serve de suporte, não contem substancias toxicas solúveis, que lhe possam trazer propriedades venenosas; são ensinamentos forne- cidos pela observação escrupulosa, e a Geologia, que a T Q 18 Demographia allia -as resolvem completamente o problema da potabilidade. Devemos nos insurgir contra as aguas muito ricas em substancias inmnacs e organicas, sé revelando phy- sicamente aos o m;u.s das vezes, por impressões desagradaveisa vista, o! facto e paladar. Se a riqueza em materbms ext ranhes a constituição chimica impende a desvruorisação de sua potabilidade, inferir não se deve, que a ebimicainentr pura, producto da combinação de porções duplas de 'sydrogonio a uma simples de oxygemo, preencha as condições óptimas, que sào somente atiingidas peia presença de um grupo de substancias, que conservando mais ou menos a mesma titulagem lhe dá um certo sabor agradavol, e torna pela existência d’aquelles que são fluidos, o contacto com as paredes estomacaes menos sensivel e por certos mais fácil a digestão. bO centímetros cúbicos de gazes, ao máximo, deve conter uma agua; a falta absoluta ou diminuição a menos de 20 cent. são condições que muito depreciam o seu valor, cumprindo affastaí-a como sus- peita de matéria organica, (quasi sempre), no primeiro caso, e no segundo corno pesadas e indigestas. Porem, não è somente como correctivo da sede que o tubo digestivo recebe directamente o seu contacto, e a nutrição o seu auxilio. Ella tem uma attribuição mais ampla ; preparando pela cocção, dissolução, humectação, vehiculação, alfim, condições favoráveis ã elaboração diges- tiva e absorpção das substancias alimentícias, e pelo grupo de saes de cálcio, como demonstrou experimentalmente Bossignaul e Chossat, um verdadeiro valor alimentício, não se devendo no entanto contemporisar com o nome de potável ás aguas que abriguem mais de 0 gr. 5 de saes por 19 'litro, mesmo que a sua grandp riqueza em anhydrido carbonieo tome tolerável a sua ingestão, porque pode ser causa de estados morbidos. A agua do Recife esl á em condições do que temos expla- nado até aqui; pois é. clara, agrada ao paladar e não se torna fatigante ao estornam,; aperre de que, annos passa- dos fosse íortemenle carrega ri. de sn.es (ri ferro, que, em maioria, sem valor toxico. ri n o ml:*nfo arção perturba- dora da hygidez estomacal, corno ledas as medicações marciaes. Actualmente este inal o<• ■■ ,:<l eneceu, como parece ter também succedi.io com um ori.ro, o - chumbo — grande carro! de abysmo, que, de hw. ms hiantes, íez rolar pelas agruras de terríveis ontcrcalgias. até ao pérfido agir de Atropos, a muitos, que dantes, sorridentes prelibavam perenne vigor. Gosto stipfico e levem ente adocicado, nessa epocha, era o natural na agua de quasi todas as casas, prmcipabmmte nas horas mais peides do dia. Era o ■chumbo, que. dissolvido a custa de múltiplos íaetores, lhe communicava este sabor. Do local de abastecimento, relativamente aífastado do centro populoso c cuidadosamentezelado, não nos pareceu, •demorassem causas intrínsecas ou extrinsieas, autóctones de insalubridades. As aguas, originarias das precipitações athmosphericas, repousadas em açudes, são crihidas em gaiierias subterrâneas, afastadas das collecções primitivas, o que lhes traz mercê de uma ligeira filtração A captação é feita por machinas elevatórias ; e a distribuição, ã alta pressão, começada á usina em tubos de ferro, e ainda era maioria das derivações para casa dos consumidores ; durante todo o percurso da habitação, em geral, é feita em duetos de chumbo, metal, justarnente incriminado 20 como etio-pathogenico das cólicas saturninas, alíudidas linhas atráz. O preço cobrado pela distribuída, ao domicilio, mão é grande; pena é que o numero de habitantes que aufere- vantagem de ter em suas casas agua encanada seja muito reduzido. O restante, compellido a dar 100 réis por alguns» litros, carregada em baldes, à cabeça, pessoas em grande parte desfavorecidas de fortuna, são, em vista de suas finanças, levadas â economia do genero: pagando mais do que outros, que pouco despendem e muito lucram. Isso que escrevemos não é hypothese : nos arrimam as palavras do Dr. Gerente da Empresa (1). «O costume util foi na media de 3.000.000 de litros diariamente. Destacando a parte que foi vendida em chafa- rizes, vè-se que o consumo nas casas foi de cerca de' 80 litros por habitante, por dia. » A companhia, por contracto, é obrigada a fornecer 10.000.000 de litros diariamente ; no emtanto, atravez de todo o citado relatorio, encontra-se repetidamente, do seu auetor, declaração de que os mananciaes estão muito abaixo desta estiagem estipulada; e continuamente deixa transparecer o seu temor pela persistência das causas que os depauperam. Nada se efíectua de melhoramento, e não se solve uma solução final, que acabe com esta falta de segurança para o povo. Apezar de o gerente não opinar, theoricamente, pelas providencias do acaso, tem a companhia esperado que as chuvas lhe levem augmento d’agua. E o gerente exprime- se á pag. 20 do citado relatorio, patenteando a razão ( 1) 4891—Relatorio—C. Mamede. 21 que lhe fez nao attender a um maior numero de pedidos de assentamento de pennas d’agua. «Desde que estamos a braços com duas difficuldades, a escassez d’agua e o ataque dos encanamentos, seria a maior das imprudências estar a collocar em larga escala novas pennas d’agua, isto é, aggravar nossas difficuldades. » E* muito louvável o procedimento do digno Snr. na parte referente ao modo interessado como sóe tratar os negocios dos seus constituintes e associados; mas nunca se poderá dizer a mesma cousa, neste caso, com relação aos interesses do publico, do qual não devendo ser advo- gado, está no eintanto obrigado, como um dos mais importantes membros da companhia, a fazel-a cumprir o contracto que com o governo negoçiou. Abstendo das razões por que tem pouca agua a cidade, passemos a mostrar que em verdade ella é pouca. Tomemos o calculo ha pouco citado, de que cada penna gasta 80 litros por dia para cada indivíduo; e, ainda pelo calculo do mesmo auctor, façamos cada casa com 10 pes- soas ; o que perfaz 800 litros dagua como consumo de cada penna, portanto, de cada casa. Tendo sido o numero de pennas nesta epocha 3.180, enviava diariamente a empreza para estas 2.548.800 litros dagua. Como nestas 3.186 casas moravam 31.860 pessoas, fazendo a população total da cidade de 200.000 habi- tantes; ficavam 168.140 para se abastecer do restante dos 3.000.000 de litros, 451.200 ou 2,7 por indivíduo. Isto em 1891, quando publicado esse relatorio, que é do anno commercial terminado em 30 de Abril. Tomando os apontamentos colhidos ao relatorio da Secre- taria da Industria, relativo ao exercício de 1901 a 1902, apresentado ao Governo Estadual peio Dr. Saboia, vemos 22 que as condições são outras, mais auspiciosas. O numero de pennas ha crescido a 5.000 e a agua distribuída a toda a população teve a media diaria de 8.(590.000 litros. Fazendo calculo similar, considerando a distribuição individual diaria pelas pennas, a mesma ; temos que, pelos 50.000 habitantes servidos por estas, foram consumidos 4.000.000 de litros diariamente, e pelo restante, consu- midores da dos chafarizes, 4.699.000 ou 31,3 litros por indivíduo. Compulsando o relatorio apresentado a 10 de Agosto deste anno pelo Dr. Gerente á Assembléa dos Accio- nistas (1), vemos que: a media diaria de litros d’agua consumidos durante o anno commercial findo, fóra de 9.165.166; o numero de pennas, 5.676. Não havendo razão para que o consumo se fizesse em menor quantidade, ou o numero de pennas diminuísse, estabeleçamos o mesmo calculo que temos vindo fazendo: 800 litros, consumo de cada penna, x 5676 pennas = 4.540.800 litros, correspondentes á distribuída ás 5.676 casas ou por 56.760 pessoas. Para os 143.240 habitantes outros, que não têm em suas casas agua encanada, sobrando do total do abasteci- mento 4.624.366 litros, cabe a cada indivíduo 23,3 litros. Sem accrescentar que uma estação mais secca pôde reduzir a estiagem dos mananciaes a muito pouco, como já em 1890 baixou a 5.290.000, que, com o augmento crescente de pennas, reduziria a nada a já minguada ração dos que se provém desse liquido aos chafarizes, affir- mamos pequena, insignificante esta quota de 32 litros diários e por habitante. (1) Jornal do Recife, lo de Agosto de 1907. 23 Tendo-se em mente que., como c logico e ainda repetem 'todos os hygienistas, não somente como bebida é neces- sária a agua, pois o asseio proprio do corpo do indivíduo', a lavagem das roupas, a rega dos jardins, a limpeza do pavimento das habitações, o asseio dos utensílios da culi- nária, a que é necessária aos aniinaes domésticos, a que igasta quasi todas as industrias, são dispêndios inelu- ctaveis e a .satisfação dos quaes, implicando naMimiuuição da quota que pelos últimos algarismos vimos insigni- ficante, concluímos que: mais que pequena, ella é redu- ZIDISSIMA. O contrario querendo,provar, o gerente da empreza diz: « A quantidade d’agua distribuída pelas pennas regulou TO milhões de litros por dia.» (1) Em íranca, evidente e palpavel contradicção fica, por- tanto, este período com o inserido.no mesmo jornal, e assim expresso: «A quantidade d’agua distribuída durantes o anno foi de 3.336.293.000 litros, correspondendo a 9.165.466 litros, na media por dia.» E’ esta írisante contradicção, para qual chamamos a attenção, a base do periodo deli- rantemente logico, seguinte: « Ora, sendo de 5.676 o numero de pennas d’agua existentes, como propõe o proprio auctordo saneamento do Recife, é de 39.732 ou 40 mil o numero de habitantes que recebe agua o que corresponde a 250 litros por habitante na distribuição actualmente feita ». (1) Sublime! Como, se sõ a agua dos seus mananciaes, tivessem direito, os que a tem encanada em suas casas! 0 resto do povo que procure outras fontes! (\) Jornal do Recife, 15 de Agosto de 1907. 24 E" estas? onde encontral-as. Vejamos: Todas as agnáSy conquanto que originarias, quasi sempre das precipitações* atmosphericas, ditTerentemente se colleccionam,. conforme logo acham uma superfície impermeável, ou atravessam camadas permeáveis,o que dá como resultado superfícies liquidas a descoberto e superfícies occultadas em baixo do solo, hwiis ou menos profundamer&e, podendo acon- tecer que uma mesma extensão d agua seja a luz em um* parte e subterrânea em outra. Subterrânea ou a superfície podem ser submettidas a movimentação ou adstrictas a uma zona inais ou menos variavel. Como quer que se a encrontre pode a agua ser aprovei- tada pai'a todos os misteres e usanças da vida. Mas se todas as collecções d’agua naturaes ou artificiaes podem ser utilisaveis, não se deve concluir que tenham o mesmo valor hygienico, e que, como se as encontre sejam bebidas, Ilidi cu lo seria esta restricçSo ultima, se até as do mar quizessemos levai-a. Para estas, a própria natureza oppõe uma barreira, na preeepção gustativa. Com tudo,—necessitas cares de leges, —-a falia completa e absoluta de melhor, oceasiôes algures, tem levado ao homem a necessidade de bebef-a; isto porem, após vários ' processos physicos e chimicos executados. Muito dispen- diosos, não achamos viabilidade para no vertente caso servir de manancial. Para as aguas de chuva, muito empregadas em lodos- os logares onde a falta de fontes, de rios ede lagos poem os habitantes em críticos apuros para a oblensão de boas aguas, temos a lembrar, que não obstante a sua origem primaria ser a evaporação, da agua destillada se diflercnciam no entanto pela presença de poeiras mineraes» 25 organicas e biológicas, gases diversos originários de causas múltiplas, como sejam os fogões, as industrias, a decomposição de substancias organicas: conjuncto que lhe trará por certo nocuidez. A simples ebullição poderá pnar estas aguas, restando a extrema pobreza de saes de cálcio, remediável embora, mas por processos de beneficiação que o publico não podendo alcançar as vantagens, despresal-os-iam. As aguas que circulam no perímetro urbano, dos rios Beberibe e Capinharibe estão completamente e natural- mente affastados do uso alimentar, pela invasão de suas aguas pelas do Atlântico, como proscritas devem ser para outras necessidades em rasão não somente da popu- lação a sua visinhança, como da evacuação dos esgotos em seus alveos, a menos que se não as destille. E a agora que chegamos ás de poços artesianos e cacim- bas, por exclusão de todas outras; no dizer que são a mistura a mais heterogena de detritos orgânicos de um terreno gorduroso onde não tem faltado o lixo, e em logares algures, pela visinhança de fossas de resíduos da alimentação humana serem destes o producto da filtra- ção ; veja-se a condenação a mais absoluta destas aguas, tão largamente e de coração usadas, e que são o real completiva da minguada ração obtida aos chaíarises. Assim ligeiramente discreteados os prováveis suppletivos da reduzida porção d’agua potável de que em geral se contenta o povo, para esta voltemos com o fim de fazer publicas as nossas pesquizas e analyses, conscienciosas e reaes até quanto nos arrimar poderam os possiveis conhe- cimentos nossos, a criteriosa e sabia orientação do Illus- trado Preparador de Hygiene da Faculdade Medica da 26 Bahia, Dr. Guerreiro de Castro, a riqueza dos gabinetes e laboratorios da Academia. Por duas vezes, o distíncto e bom amigo Dr. Adroaldo Pires me fez o obséquio de trazer alguns litros d’agua dessa Capital, colhidos á torneira e em casas com o enca- namento de chumbo. Sobre estas provas e outra em nossa casa colhida (Recife), fizemos exames, que somente os últimos passamos a relatar, em razão da similaridade dos resultados em todos obtidos. Deixando o exame quantitativo á parte, por impossivel praticai-o com os recursos que actualmente possue o gabi- nete de bacteriologia, procuramos fazer o qualitativo, que de facto fizemos, embora não pelo mais seguro processa. Pelo Dr. Augusto Vianna foi feita a primeira experiencia, queconstou de inoculação intraperitoneal de 2 cents. cubs. da agua em um cobaio. Recolhido o animal ao bioterio da Faculdade, durante quinze dias o observamos, não se revelando a menor perturbação: sempre activo e comendo bem. Outras inoculações fizemos em outros cobaios, que não desmentiram o resultado negativo do primeiro obtido, apezar de termos augmentado a 6 cc. em uma inoculação e termos experimentado em dóse de 4 cc. em uma cobaia prenhe, o que lhe não estorvou a gestação, que, chegada a termo, dois animaesinhos vieram á luz. Exame ghimico—Acidez—nulla. Amoníaco—não. Chloro e chloruretos—traços. Phosphatos—não. Sulfatos—traços. Gráo hydrotimetrico a frio—7. Gráo hydrotimetrico depois de fervida—3 1/2. Differença entre a quantidade da solução de permanganato de potássio a gr. 0,5 °/oo, gasta para corar 1000° cent. c, d’agua, pelo processo de Pouchet 27 '« Bonjean—6 cents. cubs., em mistura acida e em mistura alcalina—ou grms. 0,958 de exygenio. Evaporada era uma capsula de porcellana até restar de 3 litros umas 70 grammas, sobre esta porção fizemos pesquizas relativas ao ferro, zinco e chumbo; tratando para o ferro pelos seguintes reactivos: ferro, ferri e sulfo- cyanuretos de potássio; para o zinco pelo ch rornato e -carbonato de potássio; para o chumbo pelo chromato de potássio, acido sulfurico e acido chlorhidrico, sendo os resultados negativos. Desta agua uma porção de uns 8 litros que sobrou dos examens, acha-se no gabinete de hygiene da Faculdade da Bahia para mais de 2 mezes, conservando-se com a oôr natural e sem desprender odôr. Resultados estes que nos fazem, actualmente, consi- deral-a potável. HABITAÇÕES PRIVADAS Desde o momento em que o homem, sentindo pulsar o coração percebeu que seu cerebro dando as primeiras ordens á musculatura, esta de prompto obedecia; que procurou sondar, inquirir e prescrutar o imcomprehensivel de quanto via, inferir o que era pelos outros animaes; que da sequencia dos arrazoados que sua mente infantina traquejava, dedusiu a sua apregoada e real superioridade sobre todos os outros viventes, e que experimentando usar dessa ascendência viu, triste e afflictamente, que apezarde real, contra ella, se revoltavam instinctivamente, talvez como que em represália por lhes não ter cabido tão perennal flux de intelligencia; que a pelle, inclemen- tissimamente lhe zurziam os raios candentes do sol como se a ustular quizessem, e lhes tranziam a carne as precipi- tações das aguas no cahir das alturas a lhes fustigar compassivamente ás gotticulas da garoaou catadupalesca- mente ás fortes tempestades os seus robustos membros; que a passagem da terra por elle habitada a uma outra posição, assim abandonando o astro que a mantivera todo o dia illuminado, o deixou na escuridão; pelo seu cerebro ainda pouco encetando os primórdios do raciocínio, lhe passou, sem duvida alguma, podemos garantir, celere como pensamento que era, inabalavel e permanente 30 qual obcessão, que tornou-se, o procurar um abrigo que d’ahi avante lhe garantisse o se refugiar de todas as incongruentas e malsinadas surpresas que lhe advir podessem. Ou se acredite na sacra cosmogenia ou em outra qual- quer anthorogenese, monogenista ou polygenista, mesmo se firmando o Darwnismo; muito recuado no computo chronologicico é, e deve ser a idéa do domicilio, pois os primatas anthropoides, homem transformáveis, tocas e furnas habituavam; seguros contra o inimigo e dos pheno- menos climatologicos abrigados, como Buffon nos instrue. Se assim recuado vimos aos nossos paradisíacos ancest.raes, a idéa de uma habitação, forçoso contudo nos é recordar que, actualmente não ha attingido o fastígio das boas condições victaes. Não é somente Pernambuco que de tal se resente, a Bahia, e o Rio de Janeiro que só agora se mostra encetando magnos certamens em prol do progresso,também de grandes reformas em suas habitações necessitam. E a velha Europa cheia de arrogancia, quiçá vesania — megalo — maniaca, e desta a própria França cheia de faceirice, ostentando os últimos aperfeiçoamentos nos rápidos movimentos do prazer e orgia que são o lento agonisar desse povo que pela esterilidade aos poucos se suicida, também não tem em todo o seu território attingido o marco ultimo da perfectibilidade (1) por ella própria explanada nos escriptos dos seus illustrados filhos. E, se assim quasi que primevo ensaia infantilmente os passos a hygiene em centros mais adeantados, contudo, (i) Isto deduzimos da Hygiene des Rues — A. Yver, L. A. et P. Barre—,La Malson Salubre, Arnould Hyg. pg. 212 e outras. 31 não vemos como Brazileiro algum verá, com irradiante satisfação de um contentado, as más condições de cons- trucção, em Pernambuco.— Condições péssimas por muitos motivos, de que talvez, com alguma bóa vontade possa- mos em futuro não muito a esperar, gosara immensa ventura de in totum vel-as eliminadas. Destas condições, a mais temivel ,por mais danosa,é a que promana por muitas razões de seu solo; como já o apreciamos. O tendo a mente em um simples trabalho de rememoração do que dissemos; por sua composição tão organica, sua constituição tão propicia a permanência da humidade, não só pelo residuo liquido em grande por- ção accumulado na quasi totalidade do subsolo, como pela visinhança muito aproximado do lençol dagua subteraneo superficial se comprehendel-o-á imediatamente, como o mais irreconciliável adversário da vitalidade dos que o habitam. Senão vejamos: terreno rico em matéria organicas em geral damaiscondemnavel, cheia de germens pathoge- nos, como sua origem a isso nos induz; germens produzindo toxinas, que, se voláteis seguem a menor presão:—interior da habitação; por outro lado, lençol dagua a um metro mais ou menos dos alicerces etodo o solo do edifício sobre terrenos de grande capilaridade e em visinhança mais ou menos próxima desta colleção dagua, — são verdades que engedram bem flagrante attestado das péssi- mas disposições geológicas. Muitos são os typos de edifi- cação no Recife existentes, desde os cognominados bons prédios e que realmente possuem grande somma de requi- sitos intrinsecos e extrínsecos inadiáveis para a obtensão da confortabilidade, até as cabanas e casinhas de typos vários e tão diversos materiaes lombadas. De rápido dire- mos que as do primeiro typo, na maioria só nos merece 32 o apresental-as como modelos que devem ser seguidos pelos que se interessam pelo bem da humanidade. Pois apezar do seu numero não ser a muito elevado, em arra- baldes dessa Capital e mesmo na Boa-Vista, casas existem que preenchem as aspirações hygienicas. Grande numero do modelo Cotage-Systhem, separadas do solo por um espaço de um metro mais ou menos, com respiradouros e não occupado para mister algum. Mas se ao lado de habitações, que, como estas mantém respeitosa distancia do molesto solo, a par de boas com- modidades, cubagem mais que bastante, íartamente recebendo luz, collocarmos o typo muito abundante, de que pontos diversos da Capital estão completamente edi- ficados, cujo algarismo se a municipalidade a conta real tivesse admiraria pela superioridade e que ainda com o typo cotagem-systhem em ligeira obgectivação assemelham porque realmente são cabanas, logo veremos que as condições são outras em completo antagonismo com os mais simples e elementares princípios da sciencia que cuida do bem estar do homem—a hygiene. Não ficam somente neste grupo anti-hygienico, as habi- tações de que os logares Pombal, Outeiro, Feitoza, Gamel- leira, Trez mucambos, Coqueiros e grande extensões de S. Amaro, S. José, Afogados e etc, estão cheias e que acabamos de decorar com o pomposo nome de cabanas e melhormente com o povo chamaríamos mucambos. Um grande numero de casas de alvenaria de todos os tamanhos, a maioria das contrucções antiga e moderna ainda se apresenta transgredindo os preceitos da hygiene e à espera d’um veredictum que lhes leve a se expurgar das condições morbigenas que a imprevidência gerada na ignorância lhes creou. São as casas habitadas por 33 operários; as da media burguezia e o maior numero das da elevada classe social. Nas primeiras mais se prolificam as causas, condições e íaetores nefastos, que proporcional- mente augmentam com a diminuição de preço e correlato apoucamento de grandesa e cubagem. Inimigos inconscientes do povo, levam estes grupos o ganho, se postos em confronto com o que concluímos obedecer aos dictames da hygiene; e deixam ver que somente em triste minoria existem habitações dignas do fim a que se hoje devem suas construcções. Hoje que não são mais o se precaver somente dos pujantes e perigozos representantes das faunas, desbaratados e foragidos dos grandes núcleos populosos e sim dos microzoarios, dos das floras, desconhecidos d’antes, sõ agora então temidos e das condições infensas a coníortabilidade da hygiene indi- vidual. . Apreciemos o que é um mueambo, ou melhor o que são; pois o numero de especimens é múltiplo: Terreno da marinha—-a beira d’agua. — um pouco elevado, natif ralmente, ou coberto d'agua e então elevado a custada própria vasa, que tirada da visinhança em o local plane- jado é accumulada, creando assim uma verdadeira ilha, circundada pelo lençol d’amia superficial--estagnada ; constitue o solo improvisado, quasi sempre, para o mueambo. Enfincam estacas, armam o esquelleto, cobrem-no de palha, telha ou zinco, fecham as paredes de massapé ou de zinco e latas velhas e têm esses despro- tegidos da fortuna, — seus futuros moradores, — assim prompto o tugurio, que consideramos como a anti-camara donde a uncinariose e as febres marematicas, em breve os farão seguir á busca do hospital se o álcool tão farta mente usado, em geral, em taes casebres, junto as T c 34 radiações caloríficas, contra suas cabeças despedidas, pelas coberturas metalicas, onde incidem os raios do sol, fião tenhào já despertado alguma tara nevropathica que os leve ao Azilo de Alienados, como sua alta frequen- ciâs nos dá pretestos a isto hypothetisar. Os despejos em taes habitações são feitos na visinhança im mediata. Agua? Apenas bebem, como parece resultar do calculo que em outro capitulo fizemos sobre a distribuída por toda a cidade. Entrando nos outros dous grupos de casas, as de alvenaria, que chamamos de media e elevada burguezia, só poucas encontraremos nesse ultimo grupo preenchendo a quasi totalidade das condições que deve exigir a hygiene no Recife e de que a principal se prende, como vezes temos repetido, ao solo e visinha superfície d'agua subter- rânea. E estas são em um numero tão redusido, que, repitimos, para ficar mais de memória, o numero delias posto em parallelo com o da maioria asphixiante, do que a grosso modo pintamos relativamente a mucambos e do que vamos descrever embora rapidamente, sobre os inter- mediários, terá uma relação tão pouco animadora ater já despertado a attenção de competentes, desde ha muito. Neste grupo de intermediários entre as moradas dos logares que algo citamos, e das que tem confortabilidade mais ou menos real, kaleidoscopiam-se em nossa retina cerebral uma toda collecção de edifícios, na quasi tota- lidade carentes de urgentíssimas e inadiáveis beneficiações hygienicas. Uns apenas se distinguem dos mucambos porque são de alvenaria e cobertos de telhas ; outros, muito se avan- 35 itajando aos mucambos, ficam no entanto muito aquem do que deveriam ser, apezar de terem bom aspecto. Quer d’um grupo, quer doutro, são geralmente de -solo pouco acima do nivel da rua, ladrilhadas a tijolo nacional, poroso, muito raramente a cimento, que absolu- tamente não seria a recommendar,e de cobertura de telhas nacionaes, cobertura excelente por deixar espaços francos a penetração do ar, que difficilmente seria renovado se um tecto de madeiras, sem interstícios, fosse o sempre encontrado nas casas de pequena cubagem existentes em muitas ruas, travessas e beccosda capital. Apezar de frequente, esta cobertura chamada de telha vã, não é a regra sem excepção ; um numero de casas, felizmente nequeno, porém não tão desprezível, assobra- dadas, convertem o andar terreo pelo indispensável enta- boamentb separativo em urn local improprio à morada, pois desapparecendo os respiradouros por onde deviam sahir os productos residuarios da respiração, respira- douros deixados pela accommodação das telhas, ha de se tornar viciada a athmosphera durante as horas em que fechadas todas as portas, procurarem seus habitantes, no quietar pelo repouso nocturno dos labores do dia, reconstituir suas energias. Se a isto se junta um quintal de 6 metros quadrados mais ou menos, cercado por altos muros, como se encontra no becco do Carioca, á rua Pedro Affonso, que al ém de outras desvantagens ainda tem a latrina junto a cosinha, não deve haver pasmo em se observar que a mortalidade por tuberculose seja tão elevada, como também são os coeficientes de outras mo- léstias zymoticas, cujos microbios pathogenicos encon- trando organismos anemiados, intoxicados pelo oxydo carbonico, exhalações deleíerias do mau apparelho de 36 despejos, confinamento em fim do ambiente, por certo leval-os-ão nos embates da collisão até ao ultimo res- pirar de seus entanguidos peitos—vencendo os pequenos, tornados fortes pela degradação e debelitação dos fortes, tornados physiologicamente miseráveis. Não é só o becco citado que possue taes asphixiantes lojas; em outros muitos logares do bairro de S. José, Recife e S. Antonio taes pocilgas existem, não primando pelo excesso de luz e de ar. Emfim as casas possuindo ar e luz em profusão, o que absoluta e felizmente não é a raridade, resentem-se do que de longe muitas- vezes temos clamado—o terreno—e muitas vezes do que agora vamos tratar:—destino dado as matérias fecaes. Gomo sabemos, a vida em seu evoluir, desorganisa constantemente o meio. que então só serviria de habitat eugenesico a especies outras, geralmente inferiores a que tendo ahi vivido o immundiciou se causas multifarias, muitas também vitaes, e outras physicas e chimicas não neuíralisassem constantemente os toxicos formados. As causas vivas tendem ern lucta cerrada e constante—a luc-ta pela vida—-manter em equilíbrio circulatório a matéria que organica ou organisada é submettida a acção do diastases hydratantos e deshydratant.es, oxvdantes e redu- ctoras, podendo segundo Duclaux, chegar a deslocação e destruição mais ou menos completa de edifícios mole- culares, e que mineral é submettida a acção dos seres, que delia se nutrindo vão transformando-os em mais com postos—acido nitroso, nitritos e nitratos—que to- rnados por outros viventes mais superiores, vegetaes, 37 reconstituem edifícios moleculares orgânicos, bastante complexos. Também os agentes physicos e chimicos para tal turbi- Ihonamento da matéria concorrem. Destes dons modos de construir e demolir deriva o modo de ser do que existe á íace do globo, ou que mão divina o houvesse originado, e, após o finalizar tamanha engrenagem, que é do cosmos o existir—desse o primeiro movimento ao moto-continuo da vida, da qual a morte é déficit em algum dos recortes salientes das serrilhas das roldanas—;ou que outra causa racional, e achada nas locu- brações do homem scientista, não saturado nunca em seu saber, atenha íormulado para também equilibrar os seus anceios de curioso, insatisfeito sempre. Gomo quer que seja, tudo que existe depende da nullificação do effeito de forças contrariamente agindo. Se o equilíbrio não é per- feito, se um grupo de modificadores hyperdesenvolve-se, sem que concomitantemente os modificadores outros, que depuram o immundiciamento resultante de sua vitalidade não o acompanhem, o meio permanecendo agenesico, a organisação physica d’aquelle grupo se resente traduzindo esse deslocamento mesologico pela involução até o desap- parecimento da especie, se em outro ponto não evoluisse então. O que succede aos infinitamente pequenos, com muito determinismo succede aos macroscopicos. E o humem, como tal, também é sugeito aos sobejos de sua vitalidade. Porém,como na concatenação do animado para o mineral, e d8ste para aquelle, não só os meios modificados por uma especie são os entraves ao desenvolvimento desta, especies outras lhe offerecem lucta, ou com o fim de apossamento do pasto, ou com o fim de os seus represen- 38 tantes tornar pasto, segue-se que, o homem não só deve temer a alterabilidade e não propiciabilidade do meio, como também a invasão deste meio por seres capazes de levarem ataque aos seus nutrientos, tornando os impró- prios, ou atacando a sua organisaçào, para tornal-o pabulo, assim destruindo a sua integridade. Gomo as matérias de exoneração todos estes perigos apresentam, primeiro viciando a pureza da athmosphera ; segundo, acarretando pelos germens múltiplos que contem, para desorganisação das substancias alimentares em caso de ataque a estas, provável em vista do numero exces- sivo de germens, segundo Gilbert et Dominicio, 80.000 por milligrammo; terceiro, pela volta destes hospedes ao organismo, tendo elles adquirido actividades menos paci- ficas, como alguém disse, pela passagem no solo, ou que a sua virulência seja em razão inversa da perda de resis- tência do organismo atacado, falência obtida verosimilmeníe pelas duas primeiras condições: muito cuidado se deve ter em uma cidade em afastal-as o mais possivel. No Recife não têm as fezes um mesmo destino. Ou são levados a grandes distancias das casas por intermédio de encanamentos que as projectará no mar, ou este despejo será feito á vizinhança mais ou menos immediata da casa. Neste grupo surgem os processos mais primitivos e anti- hygienicos, os quaes classificaremos em dous grupos geraes : ou as fezes são lançadas em um local eondemnado para tal fim, dotado ou não de reservatório e em proxi- midade da habitação ; ou quando a situação e proximidade do mar ou do rio, a isto favorecem, são evacuadas por transporte diário a taes massas liquidas, systhema este muito empregado outrora, quando não existia a Drainage : actualmente é quasi que esquecido. (Ulocal eondemnado 39 para despejos e de que acabamos de dizer, é geralmente dotado de reservatório para receber os escretas, e que Ja liais sendo exhauridos, constituem-se reaes fossas fixas, péssimas porque nenhuma é estanque, comovamos, ver. Dous typos existem destas fossas: o typo que chamare- mos fossa fixa descoberta, e o que chamaremos fechada, traduzindo estes termos a communicabilidade directa com o meio athmospherico, ou o fechamento por inter- médio de guarda (Tasua. O primeiro typo, muito pri- mitivo, é uma abertura cylindrica, feita no terreno do quintal com uma profundidade de um metro a dous aproximadamaute, protegida contra o desabamento das paredes por uma armação, geralmente barris. Outras vezes a cava não tem esta disposição cylindrica, são as formas angulosas resultantes de um revestimento de ta boas. Não tivemos occasião de apreciar esta segunda especie quando este anno fizemos nossas observações, no entanto de tal fomos informados. Quanto a primeira especie deste grupo de fossas fixas o seu numero ainda existe muito sensível, apezar da upposiçao que lhe inovè a Directoria de Hygiene. Em ambas as especies a cummunicação com a athmosphera é a mais franca. Felizmente, para quem as usa, vivem sem a hypocrisia deumatamoa, que seria nm perigo na occa- sião em que fossem uliíisadas. As isoladas da athmosphera por meio de guarda d’agua constituem um typo não só mais decente como ale mesmo seriam soffriveis, em falta de melhor, se fossem abando- nadas após certo tempo, tendo anteriormente sido sub- mettidas a acção de desinfectantes; mas, so a falta de 40 melhor. Porém o abandono é a excepção do que o contínuo? uso é a regra. Estas fossas são compostas de uma baeia e de uru reservatório enterrado no solo,, de paredes de alvenaria toscamente construidas, sendo o fundo formado pèlo proprio terreno sem addtçào alguma. Geralmente deno- minado deposito, cacimba ou fossa propriamente dita,, communica com a baeia, de grés envernizada, (tronco de cone de base ovalar )f por intermédio de um sipbão sem respiradouro. Uma caixa de madeira de 0,ra60 a 0,7o* de altura e aproximando-se por suas outras dimensões» da forma cubica, com abertura ovalar e superior cor- respondendo a abertura livre da baeia, a esta encerra. As fossas do primeiro grupo, devido ao rnais ou menos rápido do material, são substituídas por outras, cavadas nas immediações da primeira. As do» segundo, não se submettendo a este apodrecimento, têm uma duração constante, pois devido a porosidade e permeabilidade de suas paredes, o nivel do seu contendo se mantém sempre baixo, e, se devido a grande fermen- tação augmenta o volume das fezes, ameaçando tudo invadir, uma vesicuía biliar de boi commummente, em taes casos ahi lançada, immediatainente pelo seu poder anti-fermentescivel e saponificante, diminue o volume, parando a fermentação e favorecendo pelo poder emulsivo a penetração atravez dos interstícios elementares do solo aos terrenos visinhos. Dispensamos os commentarios sobre este modo de engordar e contaminar o solo, pela certeza de que é a condemnação de taes praticas, o pensamento que deve aflorar ao cerebro de qualquer, que mesmo pouco reflicta sobre o assumpto. 41 À retirada dos resíduos da actividade gastro-intestinal, feita por encanamento, está entregue a Companhia Dray- nage, que possue trcs uzinas : em S. José uma, outra no Recife e a terceira na Boa-Vista. Duas machinas de força de 40 cavallos cada uma e em cada uzina, movimentam duas bombas: uma destinada ao provimento dyagua de limpesa das bacias, luxo abolido ha já algum tempo, e outra para a remoção do conteúdo das bacias e encana- mentos. As matérias fecaes lançadas nas bacias dos apparelhos, Water-closeds (latrinas, cambrones), seguem por encana- mentos de grés de 10 centímetros de diâmetro, mais ou menos, para os canos mestres de ferro e de 7” de diâme- tro, os quaes partindo de um ponto que chamaremos P. P vêm em declive constante de 1/8 de polegada por metro até ao chegar ás cacimbas de recolhimento instailadas nas respectivas uzinas, onde como o nome destas cacimbas indica são as fezes reunidas, delias então partindo directa- mente para o mar pela ejecção das bombas. Chamando ao ponto de encontro dos canos mestres com a cacimba P’. T, temos que de P7 Ia P’ T ha uma dilíerença de 10 pés ou 120 polegadas. A velocidade das matérias fecaes durante o percurso de P í a P’ T, é calculada em duas a tres milhas por hora, no máximo, e o jacto de um a dous litros por minuto. A ejecção ao mar, feita atravez a luz de grandes colle- ctores, é executada em jactos não inferiores de 10 e até 15 litros por minuto, com a velocidade de 6 a 10 milhas por hora. Despejo este que é praticado por inter- médio de um tubo de 16” em cada um dos dous logares seguintes: a ). a visinhança da ilha do Pina, alem dos 42 arrecifes; b). no Brum, um pouco ao norte de uma linha do Picão a essa fortalesa dirigida, â beira mtar, Os reservatórios tem a capacidade de 12 pés de diâme- tro por 18 de profundidade, mais ou menos. O serviço de remoção do conteúdo destes começa as 6 horas da inanham, quando as cacimbas estão cheias, ou geralmente com uma media de 16 pés. Trabalhando com força de 12 libras cada machina, ao meio dia mais ou menos, estão essas exgottadas, sendo continuado o tra- balho de remoção até as 4 1/2 horas da tarde, quando encerram o serviço da uzina. Não ha mau odor a visinhança, nem mesmo na uzina se observa, devido a grande quantidade de substancias deso- dorisantes postas ao redor dos poços, e de cal e antisepti- cos lançados no interior destes. Semanalmente descem ãs cacimbas trabalhadores para retirar certos resíduos pouco pastosos, que, como nos informou o gerente, resultantes da leguminosa base da alimentação popular Brasileira, levam entre as válvu- las e obstam a completa evacuação daquellas. A canalisação em geral resente-se da depressão do solo, resultando desta causa aparelhos de differentes pontos não funcionarem; pois, havendo formado-se encurva- mentos e angulosidades nos tubos pelo acompanhamento destas depressões, a coprostase, resultado inevitável, tor- na-se ponto de partida de completa obturação. As latrinas ou apparelhos da Draynage, compoe-se de uma bacia como a que descrevemos ás fossas fixas; (forma de segmento de cone truncado irregular, de base ovalar dirigida para cima, formando o orifício superior); de um siphão de mergulhia de 8 a 10 centímetros, entre 43 esta e o tubo de derivação ; e uma caixa de dimensões e fórma que a outra que descrevemos. O numero de Water-closeds, por esta companhia man- tido é de 10000. O asseio das bacias é feito com agua de alimentação, ou simplesmente aguas servidas, pois, em geral o Water- closed constitue o ponto para onde convergem todas as aguas usadas nas casas que o tem. Assim visto quaes os meios usados para o afastamento das fezes, reflictamosque, a media individual das matérias fecaes secretada ao dia, segundo cálculos europeus, sendo de 90 grammas para as intestinaes e 12000 cent. cúbicos para as renaes ; e que transportando para Pernambuco e accrescentando o ser no Brazil a alimentação acompa- nhada de muita eellulose, (facto que nos dá direito de augmentar de 30 grammas o material solido expeliido pelo apparelho digestivo intestinal); e fazendo o pessoal habi- tante do Recife, em numero de 200.000, o que nos parece menos que a verdade ; podemos inferir ser diariamente, aproximadamente produzido pela grandu uzina—a popu- lação—24.000.000 de grammas de fezes ou 24 mil kilos e rnais o mesmo numero de litros de urina, que distribuídas em duas partes, assim fica : Em Water-closed, em numero de 10000, dispostos em 10 mil domicílios, á razão de 6 habitantes cada habitação ou 60.000 ao todo —7200 kilos de fezes e mais o mesmo algarismo de cent. cub. de urina; a outra parte restante, na muito grande expressão de—17.800 kilos de fezes e—17.800 litros de urina, são diariamente lançadas em fossas fixas, ou simplesmente ao quintal ou visinhança das habitações, como succede em muitas casas do Feitosa, Iputinga, em parte de S. 44 Amaro e de Afogados e em fim em todas as casas, pouco* favorecidas, tnais afastadas do coração da cidade. A isto accrescentem-se as aguas domiciliarias, que sendo a distribuição do 10,000,000 liiros, (embora em occa- siòes diversas haja descido a anui to menos), 7 milhões- de litros d’agua carregados de maíeriaes de polluição, não passão nos exgottos : são derramadas na superfície dos quintaes e das ruas. Sua composição, tão complexa em substancias organicas bastará para lembrar que valor têm como meio de cultura microbiano, assim propinando ao solo, já normalmente habitat natural de todos os germens, óptimas condições microbiogeneticas. As consequências desastrosas e inevitáveis, chamam-se; endemia dysenterica; ankílostomiases; paludismo; in- fecçõesoutras diversas; e quem sabe? a varíola, a cons- tante perseguidora da população. Mesmo que grande numero de germens não sejam conhe- cidos capazes de produzir doença, os gazes mcphiticos desenvolvidos do seu viver neste meio tão vital as colonias bacterianas, gazes desodorisados pela terra, mas sempre aiterantes da hygidez, põem o organismo em receptivi- dade mórbida, facilitando o desenvolvimento de germens vindos pela alimentação, pela respiração, ou que patho- genos, já hyvernassem de ha muito em suas cellulas, ou que commensáes conhecidos, considerados até ahi como simples saprophytas, vencendo agora as vaccinas que neutralizavam suas zymases, ponham em acção sua viru- lência que em latencia parecia não existir. Desta origem ultima, talvez sejam as doenças intesti- naes, que, ou produzidas por amebas, ou bàcillus dysin- 45 terícas, ou coliicommunis, ou typhica, ou paratyphica, no Recife são muito frequentes. As exhalaçôes toxicas, muito facilmente chegam âs habitações, pelo deslocamento entre a athmosphera am- biente, domiciliaria, e o ar telliureo, desequilíbrio prin- cipalmente resultante do augmento de temperatura, pro- cedente atè mesmo dos proprios phenomenos vitaes do homem. Não são estes somente os perigos levados a habitação pela contaminação do terreno ; para bem gravar o que se deve recear de tal, recordemos ser a porção d’agua distri- buída a população, reduzidissima, como vimos, e que, como ò obvio, não podendo o povo angariar da mesma qualidade porção 10 vezes maior para suas outras neces- sidades que a sède, recorra a que encontre ao seu alcance: as de cacimba, que a 3 ou 4 metros de profundidade, em communicaçâo com o lençol liquido superficial, são raris- simamente puras, maxime se a visinhançaea urn nivel um pouco mais elevado existe alguma fossa fixa, de paredes permeáveis ; então, se as usando para asseio do corpo, ou outros mesteres, banhar-se-iia o povo, lavará suas roupas e os pratos onde repousam os seus alimentos, em « aguas de mistura com urina e fezes. » CONCLUSÕES JEÍreve fomos e eis-nos prestes a repousar a penna que tudo não tracejou do que muito no Recife ha, por uns implicarem em elogios, que não é esse o nosso intento, por outros pouco valor terem no assumpto que escre- vemos e ainda alguns que de menor importância, relativa- mente aos tres assumptos capitaes que descrevemos, muito propositadamente só para agora deixamos. Estes, joeirados o mais que foi possivel para só aqui tratar dos indispensáveis, são em pequeno numero, e que sobrio de palavras, como temos procurado ser até aqui, veja-se na sua simples nomeação toda uma tremenda catilinaria. A escolha muito tardia d’esta dissertação nos inhibiu de fazer estudos detalhados sobre largura, ventilação e orien- tação das ruas no Recife; não obstante, applaudindo a bôa comprehensão d'esta necessidade, que tem revelado o actual governo municipal, lembramos a quem competir, que a exemplo do inicio actualmente dado, prosigam-se esses melhoramentos, havendo vistas piedosas para o bairro do Recife, onde mais imperativamente manda a bôa hygiene, aliada aos sentimentos de humanidade, que se alarguem as viellas esconsas e duvidosas, que são todas as suas ruas, no meio das quaes, sem ar, sem luz, immun- 48 diciadas pelos dejectos dos bovinos conductores de pesados vehiculos que lhes peiora o ruim calçamento; não serão somente os clitrophobieos, por certo, que entre o angus- tiado espaço limitado pelos elevadíssimos prédios sentirão pavor. Quanto a calçamentos, algumas ruas dos bairros de São José e Bôa Vista ainda não tiveram este necessário melhoramento, falta bem sensível, tanto ao inverno como ao verão; no primeiro se apresentando enlameadas e no ultimo pelos turbilhões de poeiras que constantemente erguidas, impoem-se a respiração dos passeiantes, que sorverão, levadas pelas mineraes, toda a especie biologica encontrada em taes circumstancias; servindo aquelias para essa, de jangadas,, segundo a expressão de Tyndal; e que mesmo muito aleatorio seja considerado para alguns germens o poder virulento e muito duvidosa a longevidade; o facto unico de serem as poeiras mineraes nimiamente irritadoras da arvore respiratória bastaria para fazel-as temer, mesmo sem lembrar a reducção do campo da hematose pelas pneumokonioses. As outras ruas, em geral, são calçadas de parallelepipedo de Gneis. Calçadas ou a calçar, unico é o systema de asseio; variavel a hora, mas sempre imprópria, e parcial a distri- buição. E’ a vassoura a levantar ondas de poeira, em horas de grande movimenfação ; raramente passando em algumas ruas e sempre era actividade nas ruas Barão da Victoria, Sygimundo Gonçalves, Rosa e Silva e 15 de Novembro, nas quaes munidos de apparelhos mais ou menos lnxuosos permanecem todo o dia, os encarregados d’esta especial e toda particular limpeza, emquanto em 49 outras ruas, jaz, se os ventos não removem-no, em accm mulação de dias, todo o lixo. O que succede com a limpeza das ruas, também acontece paraacoliectado lixo das habitações. Às ruas mais abastada do centro principal muito raramente são com assiduidade transitadas pelos pesados vehiculos collectores. O lixo recolhido, de toda a cidade, é transportado aos fornos de cremação, onde regularmente é conburido. Para isso exislem dous fornos de cremação. Quanto a esgotos para as aguas cahidas á rua, ha um systema de gallerias, em geral isoladas. Cada uma d’estas, collocada entre uous braços de rios, é dividida por um ponto central, mais elevado, em dous decliveis, que diri- gidos perpendicularmente para aquellas correntes dagua, irellas se despejam. Em outros logares sendo a mesma direcção, ( perpendi- cular a dous braços de rio) recebe o colleclor ramificações lateraes qiie lhe dão o aspecto do seguinte eschema: Toda esta galleria é de alvenaria e ao íundo de cada colloclor deve piedominar as angulosidades, como se hbere de « que em 1893 d’ella retirou-se, em uma limpeza 50 ordenada pelo Dr. Barbosa Lima, 5 mil metros cúbicos de vasa infecta. » (1) Dispensamos por infriictifera melhor descripção sobre tal assumpto, por sufflciente ser para sua condemnação o cyie citamos. No entanto é bom lembrar, que apezar de algumas medidas da hygiene, raro não é ás pessôas que transitam próximas as sargetas o sentir mau odor e também,se sobre ellas passam, o calor das grandes fermentações: provas irrefragaveis do accumulo de vasa infecta. Deve ser destruído todo este systema de esgotos exis- tente, estabelecer-se desvio para as aguas de chuva, cahidas ás ruas, em collectores com declive sufficicnte, da luz dos quaes se devem eliminar as menores angu- losidades—pontos de colleccionamento de matéria orgâ- nica. Tubos de grés devera ser usados para este fim. Não ha necessidade dos de grande diâmetro, por serem sempre proximos os pontos de despejo—-os rios — que impunemente podem continuar recebendo taes aguas. Somente nestes precisa ser dragada a lama ou mesmo a areia, por forma que se tornando mais profundos, es- tabeleçam verdadeira draínagem dosub-sólo da cidade. Encanal-os, depois de bem dragados, em toda a zona urbana entre caes profundos até a camada impermeável seria ideal para o saneamento do Recife. Quanto aos esgotos para a retirada das fezes e aguas servidas nas habitações, também dos assumptos de má- ximo interesse para obtensão da salubridade d’essa Capi- tal nos furtamos amais nos extender do que ligeiramente (1) Dr. 0. Freitas, op. cit. 51 c ja fizemos por havermos lido nas edições do «Jornal do Recife>;#ieste ultimo semestre um edital apresentando e chamando a concurrencia publica para um projecto da cons- trucção de uma rede de esgotos, para tal mester, e, em o qual não foi esquecido o depuramento biologico; o lança- mento no oceano, fora dos arrecifes; embasamento de •concreto para supporte dos tubos, onde a depressão do solo seja a temer; e outros. O projecto se nos afigura bom: necessário como se faz tal melhoramento, da sua execução que deve ser bem curada, auguramos optimos resultados práticos á popu- lação da cidade. Boa e completa rede de esgotos são dous quartos de caminho percorridos para o saneamento do Recife, de què os outros dous são hygienisação das habitações, drai- nagem do solo e aterro dos logares pantanosos e terrenos encharcados. A carne verde no Recife é fonte de muitos males para a sua população. A rasão é simples e banal. Tem um veterinário o município: acredito que o boi morto seja sadio e descançado ; morto nas melhores con- dições; mas, oppondo-se a estas boas condições do abati- mento, ergue-se forte e destruidora uma outra, má, que julgamos um constante perigo digno de attenção, proce- dente do tempo longo, muito grande espaço de tempo que fica depois de morto exposto o animal á venda. Começa a matança as 6 horas da manhan, ou melhor finda as 8 1/2; começam a afluir os compradores para 52 a carne destes animaes as 7 1/2 do outro dia, 23 horas' depois de mortos; e, nhima temperatura como á nossa, óptima para a evolução dos fermentos, as 2 oups k horas da tarde quando pelo preço reduzido suggestionam os magarefes aos compradores a lhes comprar barato carne de um cadaver de 30 ou 32 horas, que de toxinas não acarretam aquellas fibras que vão cedendo a «lei da morte » ?! Esta carne não presta. O boi deve ser morto mais tarde e só vendido até mais cedo. Não se deve esperar que o povo saiba escolher o quer é bom: levado por enganadora economia, eae presa de terrível botulismo, como no caso vertente. O povo se não pode dirigir. O povo precisa guias sábios e phyl antro picos. 0 povo se líao pode dirigir, dizíamos: não é só cm questões do alimentação que elle necessita a erudição e orientação dos governos: em tudo que sua ignoraneia lhe veda as más consequências, as leisphiiosophicas, scientiíi- camente estabelecidas lhe devem mostrar a luz pelos resul- tados práticos brilhantemente obtidos, ainda que pareçam oífensivas a liberdade individual, mal comprehendida, e que em verdade «é lata até ao ponto de não pertubar a d’outrem ou trazer alteração ao modo de viver normal de qualquer ou commum ». Muito lucro tiraria o povo se de mais perto os poderes competentes vigiassem as condições do salubridade nas construcções. Estabelecessem e exigissem typosde habitação Gspeciaes, hygiemcos. Prohibissem todas as construcções 53 sobre terrenos alagadiços, ao menps que fossem feitas com os saneamentos necessários. Tudo isto exigido, pareceria ao povo muito exigir, cerceamento de liberdade, no entanto, infantil e versátil como é o povo, logo e muitu logo acostumar-se-ia: e lucraria o progersso e lucraria a saúde. Muito debatido (izemos esta questão de construcçao, julgamos no entanto, não obstante, opportuno adduzir o seguinte': em geral, todas as casas do Recife devem ser construidas sobre terreno altercado com areias grossas e cascalho, de maneira a estabelecer uma verdadeira drai- nagcm. Se ainda não for suííiciente, deve-se recorrer a tubos de drainos. Às casas devem ter porão, de solo cimentado, com um metro mais ou menos de altura, bem arejado por meio de respiradouros. Ser interdicto, absolutamente a habitação nestes porões. Quando for permittido o assoalho logo immediato ao terreno, tornal-o impermeável e jamais consentir o cimento ou corpos bons conductores do calor servindo de ladrilho. Ter sempre em mente cubagem mais que bastante. Deve o governo estimular e incitar a construir habi- tações hygienicas : estabelecendo prémios a quem melhor ou maior numero edificar e remodelando os proprios im- próprios do Estado. E emfim fazer construir casas para operários, munidas de todas as commodidades; a bom preço. Agua — Gomo ja apreciamos bastante as aguas, diremos apenas que em razão dos tubos empregados, o seu 54 exame annualmente. feito é medida que se torna neces- sária, em vista de que, permanecendo constante o motivo principal da intoxicação havida—os canos de chumbo—de um momento ao outro as causas que os protegem actu- almente desapparecendo virá em scena toda a calamidade de 1893 que tão brilhante mente descreve Dr. R. Azedo com a eloquência de sua illustração e a clareza e limpidez da verdade que foi o facto. Isto quanto a sua potabilidade; relativamente a quan- tidade «é preciso haver muita agua para que haja bas- tante. » (Foucher). Reuna-se aos mananciaes existentes outros, e se dis~ tribua a toda a cidade pelo menos 20 milhões de litros d’agua por dia. Passando as escolas primarias, dizemos: que neces- sitam casas, hygienicas; e que necessitam moveis que os archaicos e uniformes bancos de 2,m 70 de comprimento, mais ou menos, e de altura não variando de acordo com a estatura do alumno, como são os ahi encontrados devem ser condemnados. O numero de escolas precisa ser augmentado ; até mesmo lembramos a necessidade inadiavel de uma cor- reccional para os meninos vendedores de bilhetes de loteria, os ociosos, os que passão o dia ás estações a espera que se lhe dêm a transportar algum embrulho, os jogadores de caipira, e etc,; porque se nos condoe o que soffre os travores da sorte injusta, se afflige-nos a falta de pão dos que esmolam a caridade — esses azilados da lucta pela vida, se conpunge-nos a afílicção dos que vagueam o pensamento do seu ambiente vazio de pão e 55 cheio de dôr, que os asphixia pela terrível pressão de muitas athmospheras de necessidade, para o meio cheio de pão e vazio de pezares que é a appeticida confortibili- dade — quasi sempre rarefeita athmosphera aos desejos dos que lhe são antípodas; se nos conpunge, um pouco mais de meditação e mais nos compungirá, abalando até os elementos osseos em seu resistente cimento, o ver vicejar na vagabundagem ; instruir-se na ociosidade—pro- genitora da infelicidade; illustrar-se na ignorância os bandos de meninos que se enfrentam ás musicas em marcha; alistam-se na vagabundagem ; iniciam-se nos conto■? de vigário; affazem-se as insolências e amanhã, emfim, enchem os trágicos noticiários dos jornaes. O que dizer do prédio da Academia de Direito?!... Passo ao longe dos corredores escuros e salas acacha- padas do velho pardieiro que è a decana de suas conge- neres brasileiras! O velho convento dos jesuítas parece destes velhos instrumentos de suplicio—terrores da inquisição—a querer ainda impor-se pelo Jugubre aspecto de tudo que n’elle cheira a velha sachristia, e a bafio de fermentações bolo- rentas; pela apparencia de cafúa das suas salas ; por tudo que a imaginação mórbida possa inventar menos pelo aspecto do templo augusto que é. Findemos que muito temos falado mal da Capital de Pernambuco, outrora tão enaltecida pelos poetas e pro- sadores. 56 Mas se tal fizemos só o desejo do seu engradecimento a isto nos levou. Foi somente o desejo de estimular os seus habitantes á mais racional collaboração do homem a natureza, que no Rcciíe, como para todo o Brazil, não íoi avara de suas bellezas e exceiencias. Que tenha esta a única utilidade de irritando os brios dos Pernambucanos leval-os a tornar essa cidade própria á vida, pela realisação dos ensinamentos da hygiene, palavra, que mais do que nunca, hoje deve traduzir uma reali- dade, cujos beneficies já ninguém discute. PROPOSIÇOES Tres sobre cada ama das cadeiras do curse de $ ciê ncias medicas e cirúrgicas PROPOSIÇÕES Cliimica medica I — As reacções chimicas são o apanagio principal do inicio, duração e termino da vida. II— Uma combinação do peonucleus masculino com o pronuclms feminino enceta o viver do homem; combi- nações constantes, dahi a partir, augmentando a massa, até attingir as proporções da dos ascendentes, lhe conser- vando seus caracteres, o mantém ate que reações chimicas outras levem-n’o gradativamente pela involução senil até a morte. III— Durante toda a vida combinações chimicasde acções bacterioliticas e chimiotaxicas negativas e positivas são formadas pelo organismo humano para sua defeza contra os ataques microbianos. Historia natural medioa I— À hereditariedade é phenomeno inherente a vida. II — A necessidade de adaptação ao meio modifica o acervo hereditário, creando ao ser modus diverso de reagir contra as incitações mesologicas, e abafando o que não tenha influencia na lucta pela vida e conservação individual. III — As novas transformações organicas ou funccionaes, a seu turno, passarão ás novas gerações; podendo no 60 entanto, também manifestarem-se os caracteres ancestraes, esporadicamente, largamento intervallados, constituindo o attavismo directo ou indirecto. Auatomia Descriptiva I — 0 cerebro, hierarchichamente o centro mais superior de todo o systhema nervoso, está collocado no interior da caixa craneana. II —Compõe-se o cerebro de dons hemispherios. III — Suas artérias, em geral são terminaes. Histologia I — Os prolongamentos cylindraxis das cellulas nervosas constituem as fibras nervosas. II — São de duas variedades: fibras nervosas de myelina e fibras nervosas sem myelina. líí — Os prolongamentos protoplasmicos ou dendri- ticos em suas ultimas ramificações, terminão sem se anastomosarem a elemento algum. Physiologia I — Os sonhos, resultados do íunccionamento do polygno dos centros pschichos inferiores,podem se executar automaticamente ou com a sciencia de 0, que intervindo ou não, poderá ser por elles modificado em sua elaboração. II —Os sonhos podem ser a expressão de factos reaes, reprodução de verdades, sem augmentoe sem phantasias; podem, elucidando factos obscuros e resolvendo problemas árduos, apparecer como inspirações sobre naturaes. III — A explicação desta verdade, tornando-a terrena e ao alcance de todas os mortaes, infere-se do funciona- 61 mento sub-polygonal do schema de Grasset—- no automa- tismo dos centros prchichos inferiores. JESí* ctcr i olo jgia, I — O organismo depauperado e em estado de decadência physiologica está predisposto a deixar evoluir a primeira especie microbiana que o atacar. II — O bacillo de Koch, quando em organismos em taes condições de inferioridade de resistência, á hecticidez logo os arrasta, se antes por granulia a morte lhes não levou. III — Os pezares as dores e traumatismos moraes, chocando fortemente o systhema nervoso e pertubandoo chimismo cellular pela falta ou excesso de excitação, accionam condições favoráveis a intecção. Pat?iolog-ia cirúrgica I — Os abcessos hepáticos são frequentemente de exteriorisação symptomatica muito obscura, precizando sempre que se os procure com muita attençâo. íí — À sua etiologia encontram-se causas predisponentes e causas determinantes, ainda não estando bem firmada a pathogonia, parecendo no entanto ser a amceba-coli o germen responsável [jor uma grande maioria de abcessos. III — A abertura natural nunca se faz para a pelle e sim nas cavidades abdominal e thoracica, sendo qne nessa ultima, commuminente, atravessa o pulmão fazendo tra- jécto por um grossso bronchio e tem havido casos de invasão do pericárdio. 62 PatHologia medica I — Os caracteres principaes das lesões valvulares são os que fornecem as modificações de timbre, tonalidade e numero dos ruidos. TI — 0 sopro não é symptoma indispensável a existência destas lesões. III — A morte nas lesões aorticas pode ser repentina. Anatomia e physiologia patholo^icas I — Degeneração atheromatosa, dilatação passiva, ru- ptura ou cicatrisação viciosa das valvas ou dos tecidos formadores dos orifícios, são as principaes modificações encontradas nas lesões valvulares. II — Emquanto o myocardo não é attingido pelo estafa- mento, a compensação mantém perfeita a distribuição; logo que esta, pelo claudicar da viscera central ergaste- nisada em vista de maior trabalho deixar de ser regular, está imminente a assystolia. III — Nas lesões valvulares os ruidos dependentes da valvula atacada soffrem modificações. Olinica dermatológica o syphiligraphica I — A syphilis, em havendo solução de continuidade, loealisa-se em todas as mucosas e em toda a superfície externa do corpo onde chegue o seu contacto. II — A infecção inicial é local, mas as manifestações posteriores, muito variaveis, podem invadir, e habitual- mente invadem, todos os tecidos. III — A epilepsia pode ser o resultado de uma lesão cicatricial syphilitica: ponto irritante da zona motora, tão rudimentar que nunca a necropsia revela. 63 Mutoria medic.!, jih irmuoolojyia e flrte do formulnr I — A cafeina accelera os movimentos cardíacos — é um dfuretico mecânico. Reunida ao salycilato de sodio ou ao benzoato de sodio dá uma mistura deliquescente. II — A digitalis é tonico poderosíssimo do coração. Seu emprego é especifico nas assystolias. Suas incompati- bilidades principaes são com a morphina, antipyrina quinina e tanino. III — Apesar da acção homologa destes dous medica- mentos, ambos diuréticos, quando administrados juntos em vez de synergicos em suas acç.ões, o effeito é nullo. Opernções e appvirelhos I — Tracheotomia é a abertura do conducto laryngo-tra- cheal. II — Desde o espaço inter-crico-thyroideano até a furcula estornai é praticada esta operação. III — No processo rápido em um tempo, é na depressão crico-thyroideana que se faz penetrar o bisturi, entrando 1 centímetro 1/4 de lamina, segundo o processo Saint- Germain. Aaatomlii Me lico*Cirurgica I — Para chegar ao cerebro têm-se de atravessar planos tegumentosos, planos ossoos e invólucros. II — A região occipito frontal, de fora para dentro é composta de pelle, camada cellula-adiposa, primeiro plano fibroso, camada de tecido conjunctivo frouxo,segundo plano fibroso, periosto, camada sub-periostica, piano osseo e meninges. 64 Hl — E’ muito rica em vasos esta região, o que explica serem grandes as hemorrhagias de sua lesões mesmo ás menores. Thcrapeutiea í — O hypnotismo não deve ser praticado impune- mente, pois facilita as desagregações super-polygonaes. II — Gomo agente therapeutico, devo-se estudar bem as contra indicações, que são muitas, antes de ulilisal-o. Por diletantismo deve ser prohibido. III — Nos vicios, maus hábitos da infancia e enfim nos casos de automatismo sub-polygonal, tão frequentes n’esta idade, a suggestão a hypnose é muito proveitosa, como meio pedagógico, curativo. Clinica ciriirgica (S.a Cadeira) I — Os traumatismos do cerebro alem das consequên- cias immediatas, ainda podem ser causa de abcessos de lenta formação. II — A intervenção nas collecções liquidas localisadas na massa cerebral so deve ser feita depois de pela sympto- matologia terem-se bem orientado de sua situação. III — Neste caso faz-se a trepanação, e senão for se- guida do resultado esperado, o foco sendo fora do ponto aberto, novas trepanações serão praticadas nas suas immediaçõés; sendo até por alguns indicado a hemicra- neotomia. Clinica oplitalniologica I — 0 epiléptico tem o campo visual diminuidò não somente nos periodos pre ou post o ataque como nos intervalares. 65 II'—Excepto ncs nevropalhas indenes de lesão ocular anatómica, o estreitamento do campo visual e a diminuição da acuidade são proporcionaes aos phenomenos inflama- tórios do nervo oplico. S!I —- A visão excêntrica se avalia com o auxilio do campi metro. Clinica propeUeuticn I — Da localisação, propagação e do tempo de producção dos sopros coucluêm-se qual a lesão valvular que os tem produzido. II — lia casos, no entretanto, em que o sopro tendo sede e propagação semelhantes ao das lesões oro-valvu- lares, d’estas não é o resultado. ííí —Os sopros se propagam com a corrente sanguínea que os produziu. Clinica cirúrgica ( 1.® CaUeira ) I— - iiernias abdomias são tumores resultantes da passa- gem do epiplon ou intestino atra vez da parede abdominal. II— O estrangulamento consiste na procidencia epiploica ou intestinal muito exagerada, tornando se, devido ao volume <la víscera bondada de diâmetro maior que o do oriíiciu atravessado, diííicil ou impossivel a reducção: irre- duclibilidade acompanhada de coproestase e perturbação da circulação, terminando pela mortificação do conteúdo do sacco herniario. Ilí — O táxis ou a reducção sangrenta, segundo as indi- cações do momento são os processos principaes de re- ducção * 66 I — A hysteria, epylepsia, imbecilidade e idiotia são muito encontradas ás creanças. II — Estes estados morbidos são, no maior numero de vezes, productos da hereditariedade. III — Muito é responsável no desenvolvimento da tara nevropatha ás creanças o descender de paes tuberculosos, cardíacos, diathesicos, estafados por excessos quaesquer, e intoxicados por causas exógenas como o tabagismo e o alcoolismo. Clinica, pediátrica Clinica medica (Q.a Cadeira ) I —O doente de insufficiencia aortica é pallido; se no emtanto seu coração é muito hypertrophiado, ligeiras ruborisações, logo desvanecidas, podem, syncronicamente a systole cardíaca, corar lhe a face. I —Este facto é o resultado da volta immediata da onda sanguínea ao ventrículo após a systole. III — Tem havido doente de insufficiencia aortica tendo logrado viver bastante e morrer de moléstia differente. Hygiene í — A Hygiene é a sciencia das relações sanitarias do homem com o mundo exterior e dos meios de fazer con- tribuir estas relações á viabilidade e ao aperfeiçoamento do indivíduo e daespecie. (Arnould). II —A falta de educação physica e moral, atrophiando a musculatura e enfraquecendo as funcções vit.aes aquella ; apagando e extinguindo as percepções do bom, bello e justo esta, acarretam evolução retrogada ao povo, que, em tal olvido obumbrando-se, chegará degradativamente ao maior aniquilamento orgânico e psychico. 67 III jornaes lidos, bem escriptos, constituem se verdadeiros meneurs das multidões: cumpre d’isto saber tirar proveito, esquecendo os ridículos artigos de política egoistica e sabendo usar a sugestão na moral orthopedia popular; que esta deve ser d’elles a missão. Mcdiciim legftl o toxicologin I — À responsabilidade criminosa é uma das questões mais difíicieis que se apresenta em jurisprudência ; porque mesmo havenda confissão de crime, as questões intensão criminosa, impulsão e discernimento moral são quasi sempre impervios escolhos, onde por muitas vezes choca-se a razão tornando impossível o laudo do perito. II—lia pessôas comprehendidas na idade considerada por lei da irresponsabilidade criminosa que estão aptas, no entanto, a distinguir o bein e o mal — ao passo que ha maiores atrazados, arrieres chamados em psychiatria íran- ceza, que só tardiamente pensarão, já não citando os que eternamente são meninos, por demais facil diagnostico ser. III — Os epilépticos nem sempre são irresponsáveis. Clinica, medica ( l.a Cadeira ) I — 0 tratamento de um doente de insufflciencia aortica compõe-se de duas especies de indicações: hygienica e medicamentosa. ÍI — À hygienica resume-se no proscrever todas as causas de augmento de trabalho para o orgão central da circulação. III — Quando pertubada a compensação a digitalis é a medicação de escolha. Obsitotri(*i:i I—Dystocia é o resultado de condições diversas que se opõem a marcha e termino regulares do parto. 68 II —Quando a dystocia é o resultado de uma ruint apresentação a versão è a operação indicada. IIí — Esta pode ser praticada por manobras externas * internas, ou pelas duas se completando, auxiliando-se» então denominada mixta. I — Existe relações entre as lesões dos orgãos pélvicos- na mulher e a loucura. II — As relações existentes entre as lesões dos orgãos pélvicos e o cerebro, na mulher, influindo as pertubaçoes mentaes são dependentes de phenomenos reflexos. III — A liysterectomia ou o tratamento local de aífecções uterinas em muitas alienadas tem trazido a cura da loucura. «Ulíísle;!. obstétrica <n yynecologfioa Cli: ica p«yehiíitricn *' de moléstias ihtvossis I —- A loucura é a accentuaçao do caracter do indivíduo, no maior numero das vozes. IP—As condições do meio sendo os principaes funda- dores da personalidade psychicá e organica, tendo influen- cia directa na formação do caracter individual, o individuo creado entre doudos desde o nascimento até a puberdade, não será considerado como noimal quando em outro meio difíerente do seu, se a sua educação não tem sido muito cuidada. III — Outras loucuras são reflexas, outras toxico-infee- tuosas, outras toxicas, outras resultados de mal forma- ções, ele. Viste. Secretaria da Faculdade de Medicina da Bahia, em 31 de Outubro de 1907. * 0 Secretario, Dr Menandro dos Ruis Meirelles.