PíieULDHOE OE MEDICINA DH BAHIA T H E S E APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA EM 15 DE OUTUBRO DE 1910 PARA SER DEFENDIDA PELO PAIÍRMACEUTICO cMauriíio Stinío òa Silva . 1 • jlATURAL DO pSTADO DA pAHIA ( ALAGOINHAS ) A FIM DE OBTE3R O G-MÁIJ DE DOUTOR EM MEDICINA DISSERTAÇÃO CADEIRA DE CLINICA MEDICA Breves considerações sobre as dyspepsias íntestinaes e seu tractamento, especialménte pela massagem. PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas BAHIA Escola Typ. Salesiana 1910 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Director— Dr. AUGUSTO C, VIANNA Vice-Director—Dr. MANOEL JOSÉ DE ARAÚJO Si<eaitc» fatheiiraticos OS B RS. MATÉRIAS QUE LECCIONAM 1. a Secção J . Carneiro de de Campos . . . Anatomia descriptiva. Carlos Freitas ..... Anatomia medico-cirurgica. 2. a Secção Antonio Pacifico Pereira . . . Histologia. Augusto C. Vianna .... Bacteriologia. Guilherme Pereira Rebello . . Anatomia ePhysiologia pathologica» 3. a Secção Manoel José de Araújo . . . Physiologia. José Eduardo F. do Carvalho Filho Therapeuticak 4 a Secção Josino Correia Cotias ... Medicina legal e Toxicologia. Luiz Anselmo da Fonseca . . Hygione. 5 a Secção Autoiiino Baptista dos Anjos . . Pafchologia cirúrgica. Fortauato Augusto da S.,Júnior . Operações e apparelhos. Antonio Pacheco Mendes . . . Clinica cirúrgica 1.» cadeira. Brass Ilermenegildò do Amaral . Clinica, cirúrgica 2.® cadeira. 6.a Secção Aurélio R. Vianna .... Pafchologia medica. João Américo Gares;-. .Fróes . . Clinica propedêutica. Anísio Circundes cio Carvalho . . Clinica medica 1.® cadeira. Francisco Branlio Pereira . . CHuxoa medica 2.® cadeira. , 7 a Secção José Rodrigues da Cosia Dorea . Historia natural medica. A. Victorio de 'Araaja Falcão . - . Matéria medica Pharnmcología a Arte de formular. José Olympio de Azevedo . . . Chimica medica. 8. a Secção Deocleciano Ramos .... Obstetrieia. Climerio Cardoso de Oliveira . . Clinica obstétrica e gynecologica. 9. a Secção Frederico de Castro Rebello . . Clinica pediátrica. io.a Secção Francisco dos Santos Pereira . . Clinica ophtalmologica. n.a Secção Alexandre E. de Castro Cerqueira . Clin. dermatológica e syhiligraphica 12 a Secção Luiz Pinto de Carvalho . . Clin. psychiatricâ e de moléstias nervosas' as?i»odcSS"8iC“?UÍ,Í“ : : { Bo. (iisponibiluífide. Sitbsíâísatos OS DOUTORES José AffonsO de Carvalho . . \ . . P*Secção Gonçalo Muniz Sodré do AragSo ... / ■ „a Julio Sérgio Palma !_ Pedro Luiz Celestino .3.* « Oscar Freire d6 Carvalho 4.» « Caio O. F. Moura 5.® * Ciemeniino Fraga 6.a « Pedro da Luz Carrascosa e José Ju^io de Calasans 7 a' « J. Adeodato de Souza . 8.a « Alfredo Ferreira de Magalhães . . . 9.a « Olodoaldo de Andrade lO.a « Albino A. de Silva Leitão 11.a « Mário de Leal • 32.a « Secretario—Dr. MENANDRO DOS REIS MEIRELLES Sub-Secretario—Dr. MATHELJS VAZ DE OLIVEIRA A Faculdade não aprova nem reprova as opiniões exaradas nas thesa* pelos seus auetores. musa Amo a gloria de minha profissão, a unica a que devo e posso, hoje aspirar. E' uma gloria obscura e desconhecida bem sei. Os nossos triumphos não os obtemos na praça publica ou íheatro, deante da multidão que applaude; inas lá, no recondiío de uma casa, no aposento siiencioso onde geme a creatura. Só Deus os contempla, só Elie os recom- pensa. O mundo, e aquelíes a quem salvamos, nos pagãç, mas não nos agradecem algumas vezes: « Foi a na- tureza ', dizem eiles, mas os revezes pesão sobre nós José df. Alencar O medico é mais do que um func- cionario, é mais do que um apostolo: é o sacerdote de uma religião. E quan- do a humanidade entra nos seus tem- plos, o seu primeiro dever é desco- brir-se, porque está na presença de quem a cura! Napoleão, correndo de batalha em batalha em nome de uma ideia, podia representar o genio da humanidade; o medico representava alguma cousa mais do que isso: era o sacerdote de uma religião santa, representava Deus! Vieira de Rastro Jtk modo ds ptrqpml© Je c?esire que mes juges vcieut en moi, non Miomme qui ecrit, mais ce- luiqui est force d’écrire. Monte 3QUH3U Vencendo, como o perigrino que extasia a posse da terra sonhada, o derradeiro cyclo da vida académica—delitbro espe- cioso que me conduz ao céo immenso da vida real—não sei a quem, que não os Mestres venerandos de cujos lábios desceram-me á alma os ensinamentos a que me arrimo para esta difficil prova, deva o melhor da minha gratidão. Foram meus guias nos passos dúbios e vacillantes, luzeiros a cujo reverbéro dissiparam-se, como por encantamento, tre- vas de todo matiz: sejam a mira que meu coração objectiva na dedicação d’este trabalho— Dyspepsias intòstinaes, lucubração perseguida por meu es- pirito, sei não vale um estudo perfeito do assumpto que a proficiência poderia desenvolver ao feitio das grandes produc- ções; é, todavia, a resultante de um esforço, a que se casam experiencias pessoaes, e que só offereço á publicidade por obediençia a uma imposição da lei, sem pretenção scientifica, sem atavio de forma. Acha-se dividido este pequeno trabalhoj em dciscapitulos; no primeiro me occupo da etiologia, symptb- mas, diagnostico e das varias perturbações de origem dyspepticay em diversos orgãos, no segundo, faço um resumo do tracta- mento, especialmente pela massagem, como agente physico de grande importância. P dissertação Breves considerações sobre as dyspepsias iaíestinses e seu tractamanío, especialmente pela massagem CAPITULO I Debaixo do ponto de vista clinico, todo vicio do processo chimico da digestão intes- tinal que tem sua origem em uma pertur- bação funccional do intestino, ou de suas glandulas annexas, merece o nome de dyspepsia intestinal. A dyspepsia, preconisada por uns entidade mórbida na pathologia, proclamada por outros um sympthoma, e uma moléstia mui frequente e tenaz, que não raras vezes resiste á formi- dável bateria da therapeufica assentada por todos os clinicos. Moléstia social, cosmopolita, habitando vários climas, audaz, não respei- tando as commodidades dos Cresos nem as condições dos desvalidos da fortuna, atacando 2 sem distinção de edade ou sexo, a tem provocado a attenção de todos os médi- cos do mundo. Uns consideram-na umanevrose, outros um catharrho chronico. Segundo a opinião do sabio Trouseciu, a dyspepsia é um. phenomeno commum a muitas moléstias agudas ou chronicas, antes que uma especíe patholo- gica. , Um illustre clinico do Hospital Laennéc, diz: « as moléstias do tubo digestivo são assumpto de muito importante estudo sob o ponto de vista historico, theorico e clinico, e ao mesmo tempo mui difficil por sua complexidade.» «O appareiho da digestão é encarregado de fuucçôes múltiplas; não é somen e destina- do a dividir os alimentos que, submettidos á acção dos suecos diversos da digestão, tornam- se solúveis e assimiláveis nas cavidades do intestino; o seu papel é ainda inais complicado: elle comporta uma íuneção hematcpoietica; isto é, contribue á renovação do sangue, porque toma parte tanto na constituição ch mica como na constituição globular.» O termo dyspepsia intestinal comprehende: a dyspepsia pancreatico-hiliar, segundo Mathieu, ou dyspepsia duódenal segundo Gaultier.— A funeção do intestino duodeno, se approxi- ma da do estomago; a mucosa intestinal tem 3 o poder de peptonisar os alimentos azotados; mas, como a quantidade do sueco intestinal for- necido pelas glandulas de Biunent Ljberkuhn, que são pouco numerosas, é pouco considerável, resulta que não se pode contar com esse sueco para completar a digestão da carne ou. dos albuminoides. O sueco pancreatico e a bilis são que têm um papel preponderante na digestão intestinal. O sueco pancreatico, estudado pela primei- ra vez por Claiiâe Berna rd, tem acção sobre as substancias alimentares azotadas, sobre as gorduras e os hydratos de carbono, e por isso, admitte-se que eíle encerra 3 fer- mentos: um fermento amyolitico que faz com que o sueco pancreatico transforme o amidon em maltose; um fermento proteolytico ou a try- Psincij ao qual o pancreas deve sua acção pepto- nisante sobre os albuminoides, um terceiro fermento, ao qual se suppõe o desdobramen- to das gorduras, mas que se tem toda a duvida sobre a sua existência. Desde que* a funeção do pancreas esteja perturbada, que o seu sueco seja insufficiente para a digestão intestinal, podem-se avaliar os phenomenos que resultam da digestão difficil das féculas, das gorduras e pela não transformação dos albuminoides. Pa- rece, portanto, que as dyspepsias do pancreas 4 são graves, porque influem muito sobre a nutrição e, na opinão de sábios clínicos, deter- minam certos diabetes. A bilis, segregada pelo fígado, que não pro- duz menos de 1.000 a 1.200 grammas por dia, é recolhida e conservada na vesícula bi- liar, donde é impedida para o intestino, depois de cada refeição, pois que as digestões intes- tinaes e, em particular, a absorpção das gor- duras, não podem realisar-se senão com o seó auxilio. Ella emulsiona as gorduras, auxilia o sueco pancreatico a desdobral-as e transfor- ma em sabões alcalinos os ácidos gordurosos resultantes deste desdobramento. E’ ainda a bilis que assegura a antisepsia do intestino, impede as putrefacçôes e as fer- mentações, assegura a renovação da mucosa e permitte a marcha normal das matérias, ex- citando os movimentos peristalticos dos intes- tinos. Se a bilis vem a faltar, ou mesmo a diminuir, não pode deixar de produzir-se a livs- pepsia biliar, as digestões fazem-se mal, as gorduras e uma parte dos albuminoides deixam de ser absorvidos; as fermentações consecutivas produzem a inflammação da mucosa intestinal; estabelece-se a prisão de ventre, pertinaz, com o seu cortejo de matérias viscosas e de pelles membranosas. Todo o organismo se intoxica, 5 a nutrição faz-se mal, o estado geral fica affecta- do e o eminagrecimento sobre vem. D’ahi é que provêm as ínflammaçôes do ín~ as colites-muco-membranosas, as ty- phlites. Pode-se dizer portanto, que os phenomenos digestivos que se passam no intestino, são im- portantes; se completam os phenomenas da digestão estomacal. Qualquer que seja a sua origem, a dyspep- sia apparece no curso de um grande numero de moléstias infectuosas; se a encontra na marcha da tuberculose pulmonar, nas cardio- pathias; ella é mais ou menos constante no período préascitico das cirrhoses; muitas affec- ções nervosas organicas ou inorgânicas são susceptiveis de fazel-a surgir, taes como: o tabes, a paralysia geral, a hemiplegia, o bocio- exophtalmico etc. Na mulher a dyspepsía é muito habitual no curso de certas affecções uterinas, taes como; metrítes, salpingites, kystos, fibromas. A dyspep- sia acompanha um grande numero de helmin- thíases. Estes diversos estados, representam dyspepsias mtestinaes de origem infectuosa, circulatória, nervosa, verminosa etc... e que muitas vezes passam despercebidos ao clinico ou não são ligados á sua verdadeira causa. 7 —Certas dyspepsias succedem a. moléstias do intestino; corno: enterites agudas, febre ty- phoide, appendicite etc. Outras apparecem expontaneamcnte, sem que se ache, nos antecedentes dos doentes, nenhuma causa precisa. Frequentemente, se tracta de indivíduos co- medores, que de longa data são suhmettídos ã. uma alimentação defeituosa e a cue o abuso dos alimentos condimentados, carnes gordurosas etc, causam indigestões, conduzindo-os á dys- pepsia; ou ainda, de individuos fatigados, cansa- dos physica e moralmente que têm insomnias etc.„ Certos doentes são gottosos, arthriticos, diabé- ticos, eczematosos. A maior parte são de ori- gem nervosa, e nestes doentes as perturbações intestinaes não são senão a consequência de uma perturbação da innervaçro das glandulas annexas ao intestino e do proprio intestino. Os fluxos 'pancreaíico e biliar, podem ser suppressos, por certos dias, de modo absoluto, sob a influencia do menor choque nervoso, da menor emoção e reapparecer nos dias seguintes o seu curso normal. A coexistência da nevropathia ou da neu- rasthenia, tornam mui difíiceis o estudo eapa- thogenia dos symptomas nervosos observados no curso das dyspepsias intestinaes. 8 Pode-se assignalar ainda na mulher, a píose visceral, consecutiva ou não á gravidez, que goza um papel incontestável na etiologia d’es- tes estados. Como se vê, é vastíssima a etiologia das dyspepsias intestinaes em seus differentes pon- tos. SYMPT OM ATOLOGIA A dyspepsia intestinal pode evoluir durante rnezes e annos no estado latente; mas, uma fadiga, uma emoção, uma moléstia intercurren- te leve, são susceptiveis de fazei a apparecer. Os symptomas das dyspepsias intestinaes, podem ser divididos em symptomas digesti- vos, phys.ícos e funccionaes e em symptomas extra intestinaes ou geraes, i° Svmplomás digestivos, são; a dôr, o mete- orismo, a constipação; os vomitos, a diarrhéa etc. A dôr nem sempre é observada, ella pode (al- tar nas dyspepsias intestinaes, mas, quando ella existe, traduz um spasmo intestinal. Ella se loealísa na região umbelical, ao ní- vel das partes ascendente, descendente e trans- versa do colon. 9 O tnekorismo gastro-intestinal, é devido á distensão do tubo digestivo por gazes. Se esses gazes não são expulsos, a tympani- te se accentua de irais á mais, e os doentes se lastimam de oppressão, que elles experimen- tam durante a digestão, em razão da elevação e do recalcamento do diaphragma para cima, diminuindo a superficie respiratória. O ventre fica inchado, a respiração do do- ente é rapida, difficil, e muitas vezes se produz um verdadeiro estado dyspneico. A resistência do ventre, muitas vezes è notá- vel; a percussão- denota uma sonoridade ac- centuada. O abdómen toma a forma abahulada. O meteorismo é o indice de fermentações anormaes que podem se tornar nocivas. Seus productos podem ser a causa de irri- tações locaes sobre a mucosa intestinal, ou a distancia, determinando phenomenos toxicos. A constipação. é frequente, nos doentes de âyspepsia intestinal. E’ um phenomeno impor- tante na historia das dyspepsias; ella contribue singularmente, para agravar as manifestações e sobretudo, augmentar a tympanite, que per- turba de um modo notável o funcionamento dos orgãos digestivos. A constipação verdadei- ra é uma perturbação funccional, devida á ac- cumulação das matérias no grosso intestino, 10 isto é: a difficuldade de progressão da massa estercoral. Ora, éo facto da paresia ou da atonia intes- tinal, ora, é ao contrario, a consequência do spasmo, o que parece ser mais frequente. A constipação pode se prolongar por muito tempo, e em certos dyspepticos, ella é relativa, porque elies fazem com grande difficuldade, pequena dejecção, cuja matéria fecal é dura como pedra; em outros casos, é qualitativa, isto é; se traduz pela evacuação de matérias alongadas. Por sua vez, a constipação pode dar logar á uma serie de aecidentes e complicações que podem apresentar gravidade. As consequências toxicas da constipação, po- dem attingír de preferencia aos indivíduos ve- lhos do que aos moços, por causa da diminu- ição da vitalidade dos tecidos e das lesões dos emunctorios naturaes. Os aecidentes devidos á constipação, podem ser observados no fim de 2 ou 3 dias; tem-se notado a lingua saburral, a dyspnéa, cephaléa, insomnia, atordoamento, vertigem, somnolen- cia, fadiga etc. Não ha duvida que, todas estas manifesta- ções podem de momento ceder, depois de uma 11 série de purgativos que ainda exercem a anti- sepsia intestinal. A retenção das matérias fecaes e a auto- íntoxicação que d’ella resulta, podem agravar certos estados morbidos cerebraes, a paralysia geral e a maior parte das ps3mhoses etc. Á mucosa intestinal, ao contacto das matérias endurecidas, tende à se irritar, e como conse- quência: uma colite-muco membianosa, uma iyphiIte e sterc o ra 1. A retenção das matérias fecaes, sob a influ- encia da constipação de origem dyspeptica, pode determinarum tumôrestercoralque assume, ãs vezes, gravidade, conforme a sua localisação. Outras manifestações, taes como: hcmorrlioi- das, irritações tectaes, occlusão intestinal etc po- dem surgir, em consequência da constipação. A diarrhêa pode existir sò, ou alternar com a constipação. Ella é sobretudo frequente,, quando a dyspepsia è pancreatica, podendo trazer augmento ou diminuição da secrecção biliar. Resultando da diminuição da secreção biliar, as fezes são descoradas e fétidas, o cue prova o papel antiseptico cia bilis. Vomilos. Raramente se observa vonrítos nas dyspepsias intestinaes, salvo nas cólicas hepá- ticas quando surge uma dôr intensa. As nauseas são mais communs. 12 Muitas vezes surgem, após as refeições, regurgitações de líquidos viscosos. Modificações do appetite. O appetíte pode ser conservado nas phases as ma is adiantadas das affccções inorganicasdo intestino. Gaahiertande a fazer uma differença n'este ponto de vista, entre as dyspepsias biliares e as pancreaticas. Nas primeiras, domina a anorexia, nas segundas, domina a bulemia. SYMPTOMAS GERAES. O eniniagrecimento pode ser considerável nas dyspepsias intestinaes, quando o doente tem inapetência. A fraqueza excessiva e muitas vezes um estado de excitabilidade ou de atonia do syste- ma nervoso, produzem uma agravação dos pbenomenos dyspepticos. Para certos auctores, a anemia pode resultar da reabsorpção de productos toxicos intestinaes, e deteriorar a crase sanguínea. A alimentação insufíiciente gosa um papel importante na producção da anemia e da ca- chexia secundaria às gastro-enteropathias. A ideia de que se pode produzir no tubo 13 digestivo substancias nocivas para o organís- mo? não é uma novidade. Bòiichard, Broussais, Beau e outros, attribu- iram á áuto-intoxicação de origem gastro-íntestí- nal, uma serie de manifestações, de perturbações em diversos apparelhos que representam uni grande papel na historia d’essas affecções. E’ assim que se produzem acddenies circula- tórios, respiratórios, nervosos, cutâneos, hepáti- cos, renaes, visuaes e as vezes perturbações tetanicas das extremidades. As repercussões cardíacas das dyspepsias intestinaes, podem se apresentar sob diversos aspectos clínicos; taes como: palpitações, ary- thmias variadas interessando a frequência, o rythrno e a intensidade dos batlimentos car- díacos, os accessos de dyspnéa, as crises syn- copaes e as de falsa angina. O coração direito se deixa muitas vezes distender e sua entrada em scena se traduz por um ruído de galope, por uma accentuação do' segundo ruído Dulmonar. As palpitações sobrevêm por accessos, seja no' começo, seja no fim das refeições. Elias se acompanham de màpestar, agonia, dôr precor- dial etc. O doente se lastima de somnolencia, ás vezes fica pallido e outras vezes corado. 14 As intermittencias verdadeiras são as mais frequentes das arythymias de origem dyspeptica. A tachycardia é uma perturbação commum, que pode trazer a dyspnéa, sob a apparencia de crises ás mais das vezes á noite, com sen- sação de calôr agitação etc. Frequentemente, os doentes que têm dila- tação do coração direito, de origem reflexa, sentem-se dyspneicos, com oppressão e depois das refeições são obrigados a ficar sentados porque o decúbitos horisontal torna-se impos- sível. Potain estudou muito bem os rui dos que se passam nos corações d’esses doentes. Perturbações respiratórias. Sob a influencia das perturbações gastrointestinaes, diversas perturbações para o lado do apparelho respi- ratório podem ser observadas. A tosse nervosa que muitos dyspepticos apresentam depois das refeições, tem a forma de uma tosse sêcca, monotona. A sua verdadeira causa determinante parece ser a irritação dos filetes nervosos pulmonares e particularmente, dos musculos de Reisessen. Certos auctores descrevem a asthma dyspepti- ca, constituída por accessos de dyspnéa com cyanose, tachycardia, resfriamento das extremi- dades. 15 Muitos doentes que apresentam estes sympto mas, podem ser anteriormente attíngidos de alguma lesão cardíaca ou pulmonar, e a díffí- culdade nas digestões dá logar a paroxismos que se podem ainda observar sob a influencia de outras causas. Perturbações net vosas. Os phenomenos nervosos observados nos dyspepticos são numerosos e variados. A coexistência da dyspepsia e de um estado nevropathico, são extremamente frequentes- Alguns auctores têm subordinado os accidentes nevropathicos á dyspepsia; outros a dyspepsia á nevropathia. E mui diffícil differenciar clinicamente a neu- rasthenia de origem gastro intestinal, das neurasthenias verdadeiras e primitivas, que se acompanham de perturbações gastro-intes* tinaes nas quaes o estomago e o intestino par- ticipam simplesmente da asíhenia geral de to- dos os orgãos, e de todas as funcções. E’ a influencia do tractamento que consiitue o elemento mais essencial do diagnostico. Bouchard considera os accidentes nervosos, como a consequência da auto-intoxicação de origem gastro-intestinal. Ao contrario, Charcot} Debove, e a maior parte dos auctores allemães, encaram a dvs- 16 pepsia como a consequência e a expressão symptomaticas do nervosismo. Alguns, para ex- plicar a subordinação das manifestações ner- vosas, querem dar a perturbação da nutrição geral ou os accidentes reflexos como ponto de partida gastro-intestinal. Mathieu, o grande especialista em moléstias da nutrição, pensa que os phenomenos dys- pepticos podem reagir sobre o systema ner- voso; mas o mecanismo d’esta repercussão não é sempre o mesmo; isto é, a auto-intoxicação, a acção reflexa, a perturbação geral da nutrição podem concorrer, seja isoladamente, seja simul- taneamente. Alem dhsto, diz ainda Mathieu se o vicio da digestão pode repercutir sobre o funciona- mento da vitalidade do nervoso, este pode vice-versa repercutir sobre o appareiho digestivo, e a nevropathia gozar um papel considerável na pathogenia da dyspepsia. Parece fóra de duvida que, em um grande numero de casos, as desordens psychasthenicas, hypochondriacas, vêm frequentemente com- plicar as dyspepsias intestinaes. Os exemplos, temos nos doentes deprimidos, inaptos ao tra- balho, irascíveis e emotivos que se manifestam com um caracter de tenacidade inquietante. A afíecção cdesses doentes pode ser chamada fsychasienia intestinal. 17 Tem-se observado perturbações cerebraes habituaes, como as insomnias, o somno agita- do, e, como consequência, a fadiga, a fraqueza da memória, tristeza etc. A somnolencia e a ver- tigem são dois signaes muito communs nos' dys- pepticos nervosos. A hypochondria, não deve ser confundida com a neurasthenia, e foi muito bem defendida por « Littrè\» uma especie de moléstia nervosa que, perturbando a inteliigencia dos doentes, lhes faz acreditar no soffrimento de varias mo- léstias, de sorte que passam por doentes imaginários, soffrendo de tudo muito, eficam mergulhados n’uma tristeza habitual. As relações da hypochondria com as dyspe- psias foram observadas ha muito tempo. A insomnia dyspeptica, figura no numero das perturbações nervosas as mais frequentes dos dyspepticos. Elía produz em certos indivicluos, «m estado de superexcitação ou de depressão physica e moral, incompatível com uma vida normal. O coma dyspcptico, descripto por vários auc- tores ailemães, é mais cu menos idêntico ao toma diabético. Seusprincipaes symptomas, são: a dyspnéa, a somnolencia e o abattimento. É a consequência de uma auto-intoxicação, devida ús toxinas alimentares produzidas no intestino. 18 Perturbações renaes. Não é raro no curso das dyspepsias intestinaes, as urinas soffrerein mo- dificações importantes. A quantidade das uri- nas eliminadas em 24 horas, depende da quan- tidade d’agua ingerida, da proporção d"esta agua absorvida no intestino, e da quantidade evaporada pela superficie cutanea e a via pul- monar. Cada vez, com effeito, que os alimentos in- geridos não são absorvidos, e elles ficam retidos no estomago que não absorve a agua, e são eliminados pelo vomito 011 pela diarrhéa, a quantidade das urinas baixa muito. A reac- *ção da urina sofíre diversas variações, conforme a alimentação, o regímen, as perturbações do cloente. E' portanto, um phenomeno que de- pende de condições complexas. A albuminúria, pode sobrevir no curso das dyspepsias gastrc-intestinaes. Ella é intérmittente, passageira, e pode desap- parecer bruscamente com as crises e reapparecer com ellas. Os auctores estão divididos, quando se tracta de explicar esta albuminúria. Uns a consideram como devida á urna lesão discrecta e passageira da glanduia renal, con- secutiva ás fermentações e ás reabsorpções to- xicas que se fazemsobre toda a superfície ín- 19 íesiinaL Nos casos, em que ha cylindruria esta hypothese é mui acceitavel. Outros auctores, attribuiram a albuminúria á uma perturbação reflexa da vaso-dilatação Outros pensam ainda que, não se tracta de lesão renal, mas, de modificações de albuminas sanguíneas. A albuminúria digestiva, assim comprehen- é mui complexa, e parece que se deve, fazer entrar em linha de conta em sua producção, uma irritação hepatica que se traduziria pela passagem da globuíina. Algumas vezes, se tem verificado que, a al- buminúria, dura tanto quanto a retenção das matérias fecaes no intestino. O facto indubitá- vel, é que n’estes casos de albuminúrias pas- sageiras e curáveis, não se deve ignorar a sua origem, para não confundir com o brighlismo, PERTURBAÇÕES CUTANEAS Sabe -se a frequência das lesões cutaneas no curso das iwolestias do intestino. A pelie sêcca é muito habitual, o prurido é frequente e as erupções de todas as especies foram assignaladas. De todas, as niais frequen- tes, são' a miicaria, os crythemas e o eczema. Ha casos de urticaria, que se agravam á cada 20 crise de constipação ou diarrhéa, e ha crythe- mas scarlatiniformes, que apparecem sob a in- fluencia da menor perturbação digestiva. Tem-se atribuído essas perturbações, á eli- minação cutnnea dos ácidos graxos. E' facto, que os medicamentos alcalinos, aguas mineraes alcalinas, são efficazmente in- dicadas para produzir uma melhora. Bouchard é de opinião que todas essas per- turbações cutaneas, sobrevêm sob a influencia da auto-intoxicação intestinal; e os dermatolo- gistas modernos, como Berlioz, Besnier, Four- nier e outros são da mesma opinião. São egualmente observados, no curso das dyspepsias intestinaes, os edemas. Elíes são fugazes e se repetem sempre com as crises; são a consequência de reabsorpção toxica; talvez resultem de uma ínhibição vaso motora reflexa. Gomo todo edema, sua pathogenia é com- plexa e não pode ser exactamente determinada. PERTURBAÇÕES HEPATICAS O figado é um orgão de defeza que proteje, em uma certa medida, o organismo contra os productos infectusos e toxicos vindos do es- tômago e do intestino. Eile destroena passagem, 21 uma notável parte das toxinas vindas pela veia porta. N’estas condições, não nos deve causar admi- ração que elle soffra a repercussão dos vícios da digestão, podendo ser attingido anatomi- camente ou funcionalmente. Os microorganismcspathogenosccntídos no estomagoe sobretudo lios intestinos, penetram no figado peias vias biliares ou pela veia porta, determinando intoxicações e outras desordens para o orgão, que se podem classificar do se- guinte modo: a hypetthrophia funcional do fí- gado>, a congestão liepatica, as cirrhoses dyspet>ticas9 a icterícia simples e a glycosuria. Como dizem muito bem, Charrin, Le Ploy, Roger Hanof Boix e outros, o figado é o primeiro orgão á soffrer as perturbações que têm por séde o tubo digestivo. Numerosos doentes têm uma perturbação mui- to commum, cuja tinta sub-icterica que apresen- tam, traduz o soffrimento do figado, mas, são logo melhorados por um regímen em que a desin- fecção intestinal e a administração de alimentos puros constituam as principaes indicações. Ora, se tracta de simples dyspepticos intesti- naes, de constipados; ora, de entero-colitícos, cuja mucosa intestinal, mais susceptivel e mais vulnerável, não executa sua obra de neutralí- 22 sação das toxinas e da defeza da circulação entero hepatica. A persistência das irritações do figado, traz como consequência a tumefação permanente do orgão, capaz de provocar uma cirrhose que Hanot em uma memória posthuma, propoz denominar «chrhose de Budd,» nome do auctor inglez que primeiro estudou o assumpto. N*esta chrhose de origem dyspeptica, a hy- períhrophia do figado é em geral moderada. Os symptomas funccionaes são pouco accentuados e não consistem, senão, em uma certa lassidão, sensação depêso no lyypochondrio direito. Al- gumas vezes porem, conforme o regímen do indivíduo doente, sobrevem-lhe accidentes de embaraço- gástrico, ameaços de congestões do fígado que o tornam doloroso. Não ha ascite nem iterícia, mas ha o augmen- todo baço. Pertiiibações visuaes. As funeções visuaes podem ser influenciadas pelas dyspepsias; os dyspepticos podem sentir uma certa diíficuldade para lêr ou escrever, fixar os objectos a curta distancia e podem ter conjuntivites. A contractura das extremidades ou tetania, é uma complicação mui rara que attinge aos dyspepticos. EJla é mui dolorosa e traz rigidez aos musculos. As crises são em geral precedidas 23 por um formigamento nas partes que vão ser atacadas, Taes são os differcntes syndromos intestinaes, que se acham em maior ou menor numero no curso das dyspepsias intestinaes. Ha casos em que domina a atonia digestiva, outros em que o meteorismo domina; acons tipação, o spasmo, a diarrhéa, occupam muitas vezes, o primeiro plano em alguns. Doentes ha, que apresentam manifestações cardio-vascuía- res, psychicas; outros emmagrecem e se cache- tisam rapidamente. Não se pode, portanto, considerar essas diffe- rentes modali ades, como formas e descrever separadamente as dyspepsias motoras, as dys- pepsias de fermentações, as dyspepsias secre- torias e as sensitivas. DIAGNOSTICO Nem s#empre é facil o diagnostico das dyspe- psias intestinaes. Certos symptomas, como a constipação e o meteorismo, existem muitas vezes, no período préascitico das cirrhoses. As mulheres estão mui sujeitas á constipa- ção por lesões uterinas. A diarrhéa, muitas vezes é symptomatica de uma tuberculose, de uma 1' ~ç> meduilar. 24 O emraagrecimento, a cachexia fazem parte dos symptomas dos tumores malignos gástri- cos e intestinaes. Nas formas larvadas, isto é, em que a dyspe- psia intestinal se manifesta por accidentes secun- dários, taes como: palpitações, perturbações, bepaticas, perturbações psychicas, albuminúria, dyspnea etc, não será preciso ou não se deve concluir pela existência de lesões cardíacas, renaes, cerebraes, bepaticas etc. O diagnostico pode ficar duvidoso por muito tempo, até que o exame das fezes, muitas ve- zes, vem esclarecêl-o. A reacção das fezes é alcalina, e só isto não se observa quando ha uma lesão do pancreas. Gaultier, pelo exame das fezes, distinguia as dyspepsias pancreatico- biliares, das dyspepsias intestinaes. Como elementos para o diagnostico temos os symptomas digestivos e as perturbações dys- peptícas apresentados pelo doente, alem dos dados etíologicos ao nosso alcance. CAPITULO II TRACTAMENTO O tractamento das dyspepsias int estinaes, è um assumpto de muita importância clinica. As principaes indicações de que vou me occupar ligeiramente, são: o regimen alimentar que deve ser adoptado, a íherapeutica medicamentosa mais applicada e, finalmente, a massagem, como agente physico poderoso, de uma utilidade real sobre a motricidade intestinal. O regimen pode ser considerado como a ba- se da therapeutica intestinal. A abstenção de todos os alimentos fermentesciveis, taes como: albuminas animaes, ovos, carnes, abstenção de gorduras animaes, alimentos conservados e fermentados. A alimentação lacto-vegetariana, constitu da por leite, queijos, legumes, farinhas, polpas e manteiga fresca; taes são as principaes indica- ções geraes. 26 O regímen, certamente, variará com a na- tureza da dyspepsia. INTeste ponto de vista, ha dyspepticos por influencia das gorduras, dyspepticos por in- fluencia das albuminas, dos amylaceos etc. Aos primeiros, se aconselhará a abstenção dos alimentos gordurosos, aos segundos dos alimentos albuminoides e aos últimos dos amy- laceos. A’ respeito da indicação do leite, devo dizer, que nem sempre elle é supportado pelos dyspepticos; alguns sentem-se mal com a sua digestão; por isso, não devem continuar com o seu uso pelo desenvolvimento de gazes que elle produz. Nos casos de graves, em que ha falta de assimilação, se recorrerá ás peptonas que têm grande valor digestivo. Apepsina,a pancreatina, a diastase ou mal* tina e a papaina, são excedentes eupépticos muito empregados nas fermentações. A desinfecção do intestino, é um ponto es- sencial do tractamento das dyspepsias intestí- naes. Nas fermentações gazozas e no meteo- rismo, muitos empregam o benzonaphtol, o salol, o betol etc; estas substancias são inúteis e muitas vezes nocivas. O carvão de Belloc puro, ou associado á cré preparada e a ma- gnesía calcinada, como alcalinos inertes que o são, dão bons resultados. 27 Os purgativos salinos constituem um bom meio de realisar a antisepsia intestinal. O sul- facto de sodio, as aguas sulfatadas, carbonata- das sodicas, tendo como typo a agua de Rubinat ou de Carlsbad, parecem ter uma acção tberapeutica, realmente util na antise- psia intestinal. Um excellente meio evacuante e mecânico, é sem duvida a lavagem intestinal ou enteio- clyse, que foi inventado por Cantani no trac- tamento das moléstias intestinaes. A lavagem intestinal desperta as contrações peristaiticas do intestino e produz rapidamente as dejecções. E' portanto, um meio hygienico, seguro e de facil manejo que temos para combatter a atonia intestinal. Contra a diarrhea, po- demos empregar o opio ou a morphina, nos casos exagerados, como excellentes ane- xosmoticos. Havendo symptomas dolorosos, as applicações de cataplasmas quentes laudani- sadas e banhos quentes, dão bons resultados. O subnitrato de bismutho, a agua de cal e as infusões adstringentes fazem parte da thera- peutica contra a diarrhea. Para combatter a flatulência gastro—intes- tinal ha vários meios. Se supprimirá o uso dos alimentos cuja de- 28 composição dá mui facilmente, nascimento á uma grande quantidade de gazes; são sobre tudo alimentos vegetaes, que podem ser cha- mados gazogénoSy taes como: as hervas, os le- gumes, feijões, batatas, cenouras, couves, os alimentos feculentos etc etc... Não ha nada de absoluto n’esta enumeração; é preciso ter em conta as predisposições individuaes que, é impossível, de prever-se. Pode-se dizer de um modo geral, que a flatulência è sobretudo favorecida por uma alimentação vegetal mal dividida, rica em matérias rebeldes á digestão, por grãos fa- rinhosos grosseiramente divididos, mal destituí- dos de seo envolucro; taes corno: as ervilhas, os feijões, as lentilhas, o arroz etc. A stase è, com effeito, a causa a mais impor- tante da flatulência. O leite dá logar á uma produção considerável de gazes em certos doen- tes que têm stase gastrica. Um meio de fazer desapparecer os gazes, é introduzir no estomago e no intestino substancias susceptiveis de absorvel-os. Essa absorpção, pode-se fazer por uma combinação chimica; é assim que a magnesia calcinada e a agua de cal, absor- vem o acido carbonico das fermentações; o carvão também tem propriedades absorventes vantajosas. Ha uma serie de substancias, desí- 29 gnadas sob o nome comiiium de carminativos, que tem propriedades de expellir os gazes, taes são: o aniz, o funcho, hortelã pimenta, canella, melissa, camomilla etc. Estas substancias excitam a motricidade intestinal e têm ainda uma acção calmante; são empregadas em. infusões— Ha um certo numero de medicamentos que exercem uma acção excitante considerável, sobre as funcções biliar, pancreatica e intes- tinal; são os amargos, que têm a propriedade de activar as secreções e estimular o appetite. Os mais usados, são: os de base de stry- chnina, como a noz vomica, as gottas amar- gas de Beaumé etc. Ainda empregamos outros amargos tonicos digestivos, taes como: a quassia, a genciana, a calumba, o rhuibarbo, a casca de laranja amarga etc. Applicam-se sob a forma de infusões, macerações, pós, tinturas e extractos. Alem de todos estes meios indicados, te- mos uma medicação supplementar; a opothera- pia, que foi introduzida recentemente no tratamento das dycspepsias gastro— intestinaes com resultados maravilhosos. O sueco gástrico animal, ou a gasterina, proposta por M. Frémont como de grande efficacia nas inveteradas. 30 Esse producto, facilita a digestão e excita o funccionamento do intestino duodeno—Elle convém em todos os casos de secreção insuf- ficiente. Esse preparado é o typo da opotherapia estomacal e intestinal. Se applica a gasterina, na dose de 50 grammas até 500 grammas por dia, incorporada ao leite, caldo, vinho, seja durante ou depois das refeições. Os agences physicos são de grande effeito no tractamento das dyspepsias intestinaes. O exercido sem fadiga, a electricidade sob a forma de correntes galvanicas, são indicados para combater o constipação—A hydrotherapia presta relevantes serviços no tractamento da atonia intestinal com o fim de restabelecer o perístaltismo. E’ mister recorrer-se ás applicações tónicas, sendo uma das mais importantes a fricção geral fria, seguida de um banho de assento frio. A fricção geral consiste em envolver o doen- te em um lençol molhado e torcido e friccional-o energicamente, debaixo para cima e vice versa, até que se tenha obtido uma reação. TRACTAMENTO PELA MASSAGEM Dos agentes physicos, é a massagem abdomi- nal que gosa de mais reputação no tractamento 31 das dyspepsias intestinaes. Convém salientar aqui, a importância d’este meio therapeutico, actualmente muito empregado em vários paizes e entre nós, como de grande efficacia para a cura das perturbações digestivas intestinaes. A massagem abdominal, tendo uma acção local sobre a circulação intestinal, melhorando os phenomenos de osmose e de secreção, alem d’isso, uma acção geral, produzindo a diurese e a eliminação das toxinas vaso-constrictoras, facilita a digestão intestinal. Segundo a historia mais remota da medicina, a massagem foi conhecida pelos mais antigos povos. Hypocrates, este genio admiravel, empregava a masssagem em um grande numero de mo- léstias, e foi elíe o primeiro que criou uma base scientiíica para a sua applicação. Na Índia no Egypto e em outros paizes Afri- canos, a massagem era urna especie de remedio universal. Principalmente nas moléstias chronicas o seu emprego não se fazia esperar. Em Roma os estabelecimentos de banhos, possuíam camaras apropriadas ás manipulações da massagem. Todos os médicos romanos do século XV applicavam a massagem no tractamento das moléstias. 32 Asclepiades da Bithania, que honrou a me- dicina e elevou-a como sciencia, era um apo- logista da massagem. Na China, eram adoptados estudos de massagem e faziam parte do pro- gramma de ensino. Democrito, Beline e outros, curavam o rheumatismo e as moléstias de pelle com o emprego da massagem. Os poetas e escriptores da antiguidade, faziam indicações extensas em suas obras do tractamento das moléstias pela massagem. Celso, aconselhava o seu emprego para alliviar a dôr ou fazer desapparecer os residu os existentes nos tecidos. Na Medicina actual, não haverá, talvez, quem ignore os effeitos beneficos e salutares que a massagem produz sobre o organismo humano. Ella exerce a sua influencia sobre todos os orgãos e systemas. Pode se praticar a massagem gera! ou local. Aprimeira é feita em todas as regiões do corpo e se dirige desde a pelle, as massas muscula- res e as articulações. Ella age sobre a circu- lação geral e sobre a nutrição, activando a e augmentando a assimilação das substancias azotadas. Segundo as experiencia de Ponlou- binsky, a massagem abdominal eleva a cifra 33 da uréa, d’onde resulta uma acção diurética manifesta. E’ este um resultado que muito aproveita no tractamento das cardiopathias. Em todo caso, estes effeitos circulatórios, nutritivos diuréticos, fazem parte da medicação adjuvante das dyspepsias funccionaes. A massagem local, age sobretudo, sobre a circulação, a contraoctilidade dos orgãos e sobre os liquidos pathologicos—Duas ordens de ef- feitos podem ser observados pelas massagens: effeitos directos puramente mecânicos, e effei- tos indircctos por acção rellexa. Os effeitos directos, se exercem sobre o sangue venoso, a lympha e os liquidos extravasados. Os ef- feitos indirectos, resultam do reflexo que produz a excitação dos nervos sensitivos. O effeito da massagem na região estomacal é tão proveitoso que, ella praticada durante io minutos, diminuiria de 45 a 50 minutos a duração da demora dos alimentos no es- tômago. A fcmassagem do abdómen e do figado, cura a congestão do figado de origem diges- tiva, por duplo mecanismo: estimulando a circulação venosa e activando acellula hepá- tica. E' principalmente para as dyspepsias intes- 34 tinaes, e para outras perturbações do apparelho intestinal, que a massagem tem um valor abso- luto. E* uma indicação eíficaz, que deve ser recommendada, porque ella excita o appetite, previne a stase estomacal, fazendo a evacuação alimentar mais rapida, impedindo assim, as fermentações gastricas. Seus effeitos se estendem até o panc.reas, augmentando-lhe a secreção. A massagem do abdómen, pode ser praticada de vários modos, sobre uma das regiões cor- respondentes às vísceras ahi contidas; conforme os resultados que se deseja obter. E’ preciso primeiramente, collocar o doente sobre um leito duro e accessivel dos dois lados, tendo o assento um pouco elevado, as côxas em meia flexão sobre a bacia; afim de dar o relaxamento aos musculos abdominaes. A bocca, deve ficar meia-aberta; a respi- ração livre, por pequenas aspirações para evitar a tensão abdominal resultante do re- calmento brusco do estomago e do intestino. Feito isto, se procede á massagem, que pode ser superficial ou profunda. A massagem su- perficial, pode ser calmante ou excitante. A massagem calmante, comprehende: a. roçadura ou o deslisamento e as vibrações superficiaes. 35 A roçadura ou o deslisamento, é praticado com a face palmar das duas mãos, que agem simultaneamente, de tal modo, que uma mão recomeça o seu movimento antes que a outra não o tenha terminado. Esta manobra se emprega nos casos em que ha sensibilidade do abdómen, dôr e crises in- testinaes; e deve sempre preceder a uma mas- sagem profunda. Em.casos de dôr viva na excavação epi- gastrica, dôr como se sabe frequente nos dyspepticos, esta manobra deve ser feita ra- pidamente, de modo que a região dolorosa, esteja sempre em contacto com a palma da mão ou a pôlpa dos dêdos. A anesthesia se produzirá logo, fazendo cessar, muitas vezes, crises gastro-intestinaes de uma extrema violência. Muitas vezes, o medico se approximando de um doente, com cólicas i.ntestinaes, gastralgia, o encontra se friccionando com as mãos a re- gião dolorosa. As vibrações superficiaes, exercem uma influ- encia sedativa real, e se praticam imprimin- do á mão estendida sobre a região dolorosa uma especie de tremor, excessivamente fino e penetrante, executado com todo o braço. Es- 36 se movimento « fibrillar » deve ser sentido pe- lo paciente, profundamente. Tem-se obtido por esta manobra, a sedação de uma nevralgia, o desapparecimento de vo- mitos tenazes, soluços e mesmo de um spas- ino do grosso intestino. A massagem superficial excitante, consiste em uma serie de percussões digitaes, nas dif- ferentes regiões do abdómen, com o fim de estimular ou excitar a acção glandulo-muscu- lar adormecida dos orgãos do ventre. Admit- te-se que os suecos intestinaes, biliar e pan- creatico, participam d’esta superactividade de secreção, porque a massagem excitante não pode agir sobre uma região do abdómen sem agir sobre a outra pela solidariedade da cir- culação e da innervação. A massagem profunda, comprehende as pres- sões, as vibrações profundas, os riscos e o a- mássamento. As pressões, são movimentos que se fazem apoiando as mãos estendidas sobre o abdómen, deprimindo-se a paredeabdominal docemente, para não provocar dôr; faz-se a parede voltar sobre si mesma e se recomeça muitas vezes. Pode-se juntar á essas pressões, o movimento de rotação da mão, da direita para esquerda ou da esquerda para direita, com o fim de de- 37 primir a massa intestinal, augmentando ascon- tracções peristalticas do intestino e agindo so- bre a circulação abdominal. As vibrações profundas differem das vibra- ções surperficiaes, pela pressão mais forte da região abdominal em contacto com a mão. Têm- se preconisado para esta especie de massa- gem, engenhosos instrumentos chamados vibra- dores. Elles são commodos, uteis mesmo em certos casos, mas, não podem substituir as vi- brações manuaes, mais suaves, mais dôces e mais inteliigentemente applicadas. proposito, disse muito bem Dagrcn; to- do medico transporta para toda parte com si- go, um instrumento maravilhoso, «sua mão», da qual, elle não tem senão, que tirar notáveis resultados therapeuttcos, quando sabe fazer uso. A acção physiologica das vibrações profun- das, é calmante, sedativa. Ella abaixa a pres- são arterial e dirninue o numero das pulsações nos taclvycardicos. A duração de uma massagem abdominal totab não deve excederdes á io minutos nos indivíduos fracos, e de 15 á 20 nos fortes.-A massagem profunda, é particularmente recom- mendada na constipação dos indivíduos ner- vosos e neurasthenicos; devendo ser pratica- da pela manhã em jejum, durante 15 minutos. 38 Muitos médicos mandam friccionar o ventre das creanças com preparados oleosos; pois bem, é o effeito da massagem que predomina mais do que o effeito therapeutico das substancias oleosas. Nos casos de dyarrhéa chronica, ligada á uma dyspepsia intensa, os resultados obtidos por algumas sessões de massagens profundas, são os melhores possiveis—. A influencia da massagem do abdómen sobre o figado, é importante; porque augmenta a secreção biliar, e nos casos de cálculos bi- liares nos canaes, ella tem dado resultados admiráveis. Nota-se constantemente, que muitos doentes, depois de uma massagem/ accusam sensação de calôr ao nível do estomago e dos intestinos, o que lhes é agradavel, e parece tornar-lhes a digestão mais fácil. A diurese se manifesta logo, desde a pri- meira massagem, o que prova a poderosa influencia dreste agente na circulação ab- dominal. Nos casos de albnminaria dyspeptica, a maçadura do abdómen faz augmentar a secre- ção urinaria, de um modo progressivo e gra- dual, que muitas vezes o doente não percebe. Não ha a menor duvida sobre o effeito da 39 massagem na dyspepsia dos nervosós. N’esses doentes se deve resumir o mais pos- sível, o numero demedicamentos que se tiver de appiicar, porque o uso excessivo e conti- nuado de muitas substancias produz n’elles, quasi sempre, uma gastrite medicamentosa. A kydrotherapia, presta bons resultados nos dyspepticos nervosos, comtanto que ella seja applicada de acccrdo com o temperamento do doente—. Nos casos de enteroptose, nos diz Bouverei que, a massagem pode produzir uma certa retracção dos ligamentos suspensores enfra- quecidos. Alguns auctores referem-se á constipação rebelde, dependente do relaxamento das pa.~ redes abdominaes, que tem sido applicada a massagem com bons resultados. Finalmente, devo dizer que o tractamento das dyspepsias intestinaes pela massagem, é de grande importância; se a cura for muito demorada, por isso não se deve abandonar o tractamento; pois que a melhora irá se accentuando pouco á pouco, até a cura que não falha. E dizendo isto, não faço mais do que con- firmar os bons resultados obtidos pelo lllustre Dr. João Gonçalves Martins, distinto clinico 40 n’esta Capital que tem applicado este metho- do de tractamento em vários doentes de dys- pepsias intestinaes. As observações que se seguem foram co- lhidas em seu consultorio. OBSERVAÇÕES Ia Observação recolhida na Clinica do D.r João Gonsalves Martins, em seo Gabinete Or- thopedico á Rua Chile n. 32. M. U. com 35 annos de idade, branca ca- sada; com 2 filhos, residente a Victoria, sof- fria ha 3 annos de digestões difficeis, flatulên- cia, dores abdominaes generalisadas, cephaléa, constipação pertinaz, crises nervosas frequen- tes. Usou de vários medicamentos, como pur- gativos, elixir eupeptico, lavagens intestinaes, 'muitas aguas mineraes etc, mas tudo sem pro- veito. Procurou o D.r João Gonsalves Martins, em Agosto de 1908, para se submetter ao tra- ctamento pela massagem que constou de 32 sessões. O resultado foi o melhor possível; no 40 dia a doente começava a melhorar das dôres de cabeça; no 8o dia teve uma dejecção regular um pouco receccada; d’ahi por diante tinha dejecções normaes diarias e expellia muitos 41 gazes por occasião das massagens. No fimde- 40 dias sentia-se mais forte, o appetite se recuperava, as digestões, se faziam sem pertur- bações, as dôres abdominaes desappareceram e o ventre era mais flácido. Foi indicado á esta doente, um regimen alimentar apropriado e exercícios diários, com o que ella tem-se dado admiravelmente, porque continua a passar sem alteração. 2* Observação recolhida na Clinica do Dr. João Gonsalves Martins. M. D. solteira, parda com 35 annos de idade, sofírendo de perturbações nervosas, fla- tulência, constipação pertinaz, enxaquecas, gas- trectasia é difficuldade nas digestões, apresen- tou-se ao D.r João Gonsalves Martins para tra- ctar-se—O exame revelou acumulo de maté- rias fecaes endurecidas e dôres abdominaes á pressão. Tudo indicava uma atonia intes- tinal Durante 4 mezes foi a doente submettida em dias alternados, a uma massagem abdominal» verificando-se que com 30 sessões, tinham de- sapparecido as enxaquecas, a constipação e a difficuldade nas digestões. 42 w Continuou-se o tractamento até 60 sessões de massagens quando a doente não sentia mais- nada, achando-se disposta, com apetite e for- ças para o trabalho. Foi-lhe indicado o regímen de leite, hervas, sopas, arroz, carne picadinha, angú de batatas e prohibida a alimentação pesada e gordurosa. 3a Observação recolhida na Clinica do Dr João Gonsalves Martins. R. M. 34 annos, parda casada, residente ao Largo dos Afflictos, soffria ha 2 annos de di- gestões difficeis, enxaquecas, palpitações nervo- sas, insomnia, prisão de ventre. Apresentou-se ao Gabinete, para tractamento, efoi reconhecido um enorme tumor estercoral, proveniente da constipação de origem dyspeptica, que ja sof- fria ha 2 annos. Na vespera de se apresentar ao Consultorio, teve vomitos fecaloides, muita dôr de cabeça. O seu ventre era abahulado e doloroso á leve pressão. Foi pela expressão dissolvido com o dêdo, o bôlo fecal, e com muito trabalho por estai quasi petrificado. Iniciou -se depois, o tractamento pelas mas- sagens diarias; no fim de 5 massagens começou a doente tendo dejecções um pouco resecadas, 43 e d'ahi por diante, foi melhorando leniamente, até que regularisou-se o ventre. Com 30 sessões de massagens, não sentia mais a dor de cabeça, nem insomnia e as di- gestões se faziam lentamente, achando-se muito melhorada e mais forte. 4a Observação recolhida na Clinica do Dr João1 Gonsalves Martins. J. C. com 44 annos, branca, solteira, resi- dente ao Maciel de Baixo, apresentou-se á Consulta, queixou-se de fortes dores na fossa iliacá esquerda, cephaléa, tontices e ás vezes vomitos. Interrogada, disse soffrer ha 1 anno de muita azia, ventre inchado, peso no esto- mago, frequentes dores de cabeça, falta de apetite, e prisão de ventre. O exame revelou um tumor fecal na parte correspondente ao S. iliaco. Pela expressão e massagem profunda, foi dissolvido o bolo. A doente submetteu-se ao regimen alimentar leve, e à continuação das massagens diarias. Pouco á pouco sentia-se melhor, as digestões eram mais fáceis, o ventre não inchou mais, as dejecções se faziam um tanto resecadas e as dores de cabeça espaçavam mais. N'estas condições deixou o tractamento, mui- to melhorada. Foram feitas 25 massagens. Proposições PROPOSIÇÕES ANATOMIA DESCRIPTIVA i— O intestino é a porção do tubo digesti- vo que se estende do pyloro ao anus e tem uma extensão de 8 metros mais uo menos no homem. ii— O segmento superior ou intestino delga- do, comprehende duas porções: o duodeno, notá- vel por sua fixidez e ô jejuno-ileon que enche a mór parte do abdómen e cujas ansas gozam de uma extrema mobilidade. ui—O diâmetro do duodeno é de 3 a 4 cen- tímetros na visinhança do pyloro e sua exten- são é de 25 centimetros. ANATOMIA MEDICO CIRÚRGICA. i— O appendice cecal é um pequeno tubo, mais ou menos flexuoso,de paredes achatadas no estado normal, implantado sobre o cetum em sua face posterior e interna. ii— Elle apresenta variedades numerosas de forma, de extensão e de direcção, em razão sobretudo das adherencias que elle pode can- trahir. m—O orifício appendicular apresenta, sobre sua metade superior somente, uma dobra se- mi lunar, á que muitos anatomistas deram o papel de valvula. HISTOLOGIA i— A celiula é um organismo rudimentar, do- tado de propriedades vitaes. ii— O protoplasma e o núcleo são as par- tes essenciaes de toda celiula viva. m—Todo tecido vivo é formado par celiulas, e toda celiula origina-se de outro préexisten- te: omnis celiula excellula. BACTERIOLOGIA i— O bacillo da peste bubonica de Yersin, é um bastonète grosso e curto que tem as extremidades arrendondadas. ii— Elle cora-se por todos os methodos or- dinários, mas não toma o Gram. m —O melhor e mais rápido meio para a sua cultura é a gelose, ANATOMIA E PHYSIOLOGIA PATHOLO- GICAS i—As lesões que correspondem á dilatação 49 do estomago, são váriaveis e dependem da cau- sa pathogenica que a produzio. 11— Pode-se n’este ponto de vista, dividir as dilatações do estomago de causas funccro- naes e de causas organicas. ui—As de causa organica se attribue á existência de um obstáculo mecânico, ao es- treitamento do pyloro. As de causas funccionaes são devidas ás perturbações gastro-intestinaes diversas. PHYSiOLOGlA i— Os alimentos não chegam ao estôma- go, senão depois de terem sido mastigados e in- salivados na cavidade buccal. ii— Graças á saliva, a digestão dos hydra tos de carbono começa na bocca. m—A acção da saliva é devida á ptyalina que foi descoberta por Mialhe em 1845. THERAPEUTICA i—As friccões mercuriaes destinadas á fazer penetrar o mercúrio peia pclle, devem ser pra- ticadas sobre largas superfícies; não é neces- sário que ellas sejam feitas na visinhança da lesão. 50 ii—Escolhe-se de preferencia as partes late- raes do tronco, a dobra do cotovêlo, a face intei- na dascôxas, as axillas para se fazer as fricções. ui—Segundo Eournier, sua duração deve ser de io minutos; a região será coberta com uma camada de flanella. A dose empregada é de 4 grammaspor dia, de unguento napolitano. HYGIENE i— A vaccina é um meio de prophylaxia of- fensiva e defensiva. ii— A distineção se faz pelo critério da oo casião. ui-—Ella deve ser obrigatória em todos os tempos, por todos os governos, em todos os paizes. MEDICINA LEGAL E TOXICOLOGIA i— O abortamento criminoso pode ser pro- vocado por diversos meios: por substancias abortivas ou por manobras mecanicas. ii— De um modo geral, pode-se dizer que as substancias abortivas, determinam pertur- bações geraes, muitas vezes mortaes. 51 ui—O abortamento prooveado pelas ma- nobras mecanicas, é um processo grosseiro que consiste em choques, golpes e traumatismos violentos sobre a região do utero. PATHOLOGIA CIRÚRGICA i— As hemorrhoidas são varizes das veias ano-rectaes, cujo volume varia da grossura de um grão de trigo ao de uma ervilha. ii— São frequentes á partir de 30 ou 40 annos e se observam particularmente, nos ar- thriticos, nos sedentários, nos constipados, nos dyspepticos etc. ui—'Se distinguem 2 classes de hemorrhoi- das: i° as externas qne se desenvolvem fóra do anus, e as internas que têm por sede a zona sub-mucosa acima do sphincter. OPERAÇÕES E APPARELPíOS i— Quando o derrame pleuritico é grande, não se deve tirar todo liquido de uma só vez. ii— Se a retirada do liquido fôr feita de uma só vez, poder-se-ha produzir uma congestão p u 1 m on ar -cx-vacao. ui—E" de bôa praxe, produzn-se, após a 52 thoracentése, uma revulsão no thorax para evi- tar a repetição. CLINICA CIRÚRGICA—(ia cadeira; i—A opeitfição da laparotomia, comprehon- de 3 tempos distinctos: ic a incisão da parede; 2° as manobras vis- ceraes; 30 a sutura da parede. 11—Segundo a sede e a direcção da incisão, se destinguem 3 variedades principaes de lapa- rotomias: medianas, lateraes e combinadas. ui—De todas a mais simples e mais em- pregada, é a laparotomia mediana que pode ser: super ou sub-umbelical. CLINICA CIRÚRGICA—(2a cadeira) i— O kysto sebaceo tem a forma de um pequeno tumôr espberico, regular, movei e de facil diagnostico. ii— Elle é produzido pela retenção de pro* duetos de secreção das glandulas sebaceas em virtude da obliteração do seu canal excretôr. m—A ablação é o unico remedio radical contra o kysto: 53 PATHOLOGIA MEDICA i— No cancro do estomago, mais ainda que nos outros carcinomas abdominaes, se verifi- cam adenopathias, não só no triângulo super- clavicular, como na axilla e na jjobra da vi- rilha. Os ganglios são duros, indolentes emoveis. ii— O cancro do estomago, começa habi- tualmente, por simples perturbações dyspepti- cas, leves e intermittentes, dôres persistentes na região epigastrica e descoramento dos te- gumentos. íií—A gastrorrhagia é um symptoma tar- dio do cancro estomacal; ella é devida ao tra- balho de ulceração e de amollecimento que invade os vasos da massa cancerosa. CLINICA PROPEDÊUTICA i—Entre a cirrhose hyperthrophica typica e a cirrhose atrophica typica, a differença é tal que um erro de diagnostico não é possível. ii Em uma o ligado é volumoso, o baço é muito grande, a icterícia é constante; não ha nem ascite nem circulação complementar ab- dominal. ui—Na outra, o ligado é pequeno, não ha 54 icterícia; a ascite e a circulação complemen- tar, são habituaes. CLINICA MEDICA—(Ia cadeira) i —A aguda que se termina frequen- temente por suppuração e que dá nascimento aos grandes abcessos do figado, é uma mo- léstia tropical frequente. ii— Estes abcessos tem por origem todas as causas de iníecção purulenta, traumatismos, variola, operações cirúrgicas, etc. iii— A pyémia hepatica se annuncia por calefrios, forte elevação de temperatura e su- ores abundantes. O figado torna-se grande e doloroso, ~os tegumentos tomam a cór amarel- la terrosa e a urina contem bílis. CLINÍCA MEDICA—(2a cadeira) i— A presença de um sôpro ou de um des- dobramento, verificado na auscultação do co- ração, não basta para affirmar uma lesão mi- tral. ii— Ha desdobramentos que nada têm que vêr com uma lesão de orifícios; taes são os desdobramentos normaes, resultantes de uma mudança transitória que os movimentos respi- 55 ratorios imprimem á pressão do sangue con- tido no coração. m—Ha sopros que nada têm que vêr como uma lesão de orifício; taes são os de origem chloro-anemica, de origem febril, bem estuda- dos por Potain. • MATÉRIA MEDICA E ARTE DE FORMULAR i— A digitalis é uma planta herbacea, da família das Scrofitlariaceas, existindo muitas variedades, sendo a mais usada. « a Digitalis purpure a. » ii— O seu principio activo é a digitalina que tem vasto emprego em Medicina. m—A digitalis é um excellente medica- mento cardio-tonico e empregado em medici- na sob múltiplas formas. HISTORIA NATURAL MEDICA i— Os peixes respiram na profundidade, o ar dissolvido Magua; na superfície respiram o ar da atbmosphera. ii— Os vegetaes submarinos respiram como <os 'peixes na profundidade. 56 m—Os vegetaes da superfície da terra, como os peixes na superfície das aguas. CH1MICA MEDICA i— O Chlgroformio C H Cl3 é um liquido incoiôr, muito denso, movei, de cheiro ethereo pouco saluvel n'agua e solúvel no álcool. ii— Obtem-se o Chloroformio puro, tractan- do-se o hydrato de chloral péla lixiviade soda a 36.0 m—O seu principal emprego em Medici- na, é como anesthesico geral; podendo-se em- pregal-o internamente, a agua chloroformada pa- ra combatter as cólicas, os vomitos, gastragi- as etc. OBSTETRÍCIA i— A hemorrhagia puerperal, é todo o ac- cidente hemorrhagico que, durante a prenhez pode accommetter a mulher, no parto ou de- pois d’elle. ii— As hemorrhagias uterinas, podem ser predisponentes, determinantes e especiaes. ui—A gravidade do prognostico, varia se- gundo a causa productora da hemorrhagia e a epocha da prenhez em que ella se manifesta. 57 CLINICA OBSTÉTRICA E GYNECOLOG1CA i— A auscultação representa um dos bons meios propedêuticos para o diagnostico da gravidez. ii— Ella pode ser mediata ou immediata. iii— A auscultação mediata deve sempre ser preferida. CLINICA PEDIÁTRICA i— 'A gastro-enterite infantil, é uma enfermi- dade que muito contribue para a mortandade. ii— Os vicios da alimentação determinando intoxicações, os alimentos de má qualidade, e a falta de hygiene, produzem a inflammação da mucosa gastro-intestinal, dónde se originam muitas outras moléstias. 111—O leite deve constituir a unica alimenta- ção dascreanças durante alguns mezes, podendo ser administrado sob varias formas. CLINICA OPHTALMOLOGÍCA i— A irite é a inflammação da iris; pode ser aguda ou chronica. ii— Contra as dôres da irite aguda, empre- 58 gam-se compresas quentes boricadas e interna- mente a aspirina, o pyramidon e o valerianato de quinino. m — Contra a irite syphiliticao tratamento melhor consiste nas injecções mercuriaes. CLÍNICA DERMATOLÓGICA E SYPHILI- GRAPHICA i—A sarna é uma affecção dapelle, essenci- almente polymorpha, pruriginosa, produzida pelo parasita «Acarus Scabiei». n—A sua marcha é progressiva e sua inten- sidade augmenta com o tempo, sempre se agra- vando. iii—A sarna não cura espontaneamente— O melhor tractamento conhecido até hoje, e que é especifico, é o enxofre sob suas múl- tiplas formas, e a pomada de Helmerick tem uma efficacia notável para fricções. CLINICA PSYCHIATRICA E DE MOLÉSTI- AS NERVOSAS i—Em matéria de epilepsia, é tão difficil de affirmar-se a cura, quanto se deve ser re- servado sobre o valor curativo do bromureto de potássio. 59 ii—E’ um ponto sobre o qual todos os clí- nicos estão de accôrdo; este medicamento tem por eífeito tornar os accessos mais raros. íii—O Bromureto de potássio tem uma influencia muitoieliz sobre o estado intellectual dos epilépticos. A sua applicação para taes casos, deverá ser feita durante muito tempo. Secretaria da Faculdade de Medicina da Bahia, em 15 de Outubro de 1910. O Secretario, D. JHenandro dos Jfeís Jldeirelles.