FACULDADE DE MEDICIIA DA BAHIA THESE APRESENTADA Á Faculdade de Medicina da Bahia EM 31 DE OUTUBRO DE 1905 Para ser defendida por NATURaL DE S. LUIZ (Estado do Maranhão) AFIM DE OBTER O GRAO DE DOUTOR EM MEDICIMA DISSERTAÇÃO CADEIRA DE PATHDLOGIA INTERNA TRYPANOSOMiASE HUMANA (Moléstia do somnoj PROPOSÇÕES Tres sobre cada uma das Cadeiras do Curso de Sciencias Medico-Cirurgicas BAHIA LUhQ- fypogTHphia Pãm@S ,59 —Baixa do Taboão—59 1905 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA DIRECTOR—Dr. Alfredo Britto VICE-DIRECTOR—Dr. Manoel José de Araújo Lentes Cathedraticos OS D RS. MATÉRIAS QUE FECCIONAM PRIMEIRA SECÇÃO J. Carneiro de Campos . . Anatomia descriptiva. Carlos Freitas .... » medico-cirurgica. SEGUNDA SECÇÃO Antonio Pacifico Pereira . . Histologia. Augusto C. Vianna . . . Bacteriologia. Guilherme Pereira Rebello. . . Anatomia e Phisiologia pathologica. TERCEIRA SECÇÃO Manuel Jos de Araújo . . . Phisiologia Josè Eduardo Freire de C. Filho . Therapeutica. QUARTA SECÇÃO Raymundo Nina Rodrigues . . Medicina Fegal e Toxicologia. Fuiz Anselmo da Fonseca . . Hygiene. QUINTA SECÇÃO Braz Hermenegildo do Amaral . Pathologia cirúrgica. Fortunato Augusto da Silva Júnior Operações e apparelhos. Antonio Pacheco Mendes . . Clinica cirúrgica, Ia cadeira. Ignacio Monteiro de A. Gouveia . » cirúrgica, 2a cadeira, SEXTA SECÇÃO Aurélio R. Vianna . . . Pathologia medica. Alfredo Britto .... Clinica propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho . » medica Ia cadeira. Francisco Brauíio Pereira . . » medica 2a cadeira. SEPTIMA SECÇÃO Josè Rodrigues da Costa Dorea . Historia natural medica. A. Victorio Araújo Falcão . . Matéria medica, Pharmacologia e Arte de formular. Josè Olympio de Azevedo . . Clinica medica. OITAVA SECÇÃO Deocleciano Ramos . . . Obstetrícia. Climerio Cardoso de Oliveira . Clinica obstétrica e gynecologica. NONA SECÇÃO Frederico de Castro Rebello . Clinica pediátrica. DECIMA SECÇÃO Francisco dos Santos Pereira . Clinica ophtalmologica. DECIMA PRIMEIRA SECÇÃO Alexandre E- de Castro Cerqueira Clinica derraathologica e syphiligraph. DECIMA SEGUNDA SECÇÃO J. Tillemont Fontes . . . Clinica psychiatrica e de moléstias nervosas. João E. de Castro Cerqueira . ) Sebastião Cardoso . . . ) disponibilidade. Lentes Substitutos OS D RS. Jose Affonso de Carvalho interino . Ia secção Gonçalo Moniz Sodrè de Aragão . 2a » Pedro Fuiz Celestino .... 3a » Josino Correia Cotias , 4a » Antonino Baptista dos Anjos (interino) 5a » João Américo Garcez Fróes . 6a » Pedro da Fuz Carrascosa e José ’julio de Calasans 7a » J. Adeodato de Sousa .... 8a » Alfredo Ferreira de Magalhães . . 9a » Clodoaldo de Andrade ... 10 » Carlos Ferreira Santos , , , , 11 » Fuiz Pinto de Carvalho ( interino) . 12 » SECRETARIO—Dr, Menandro dos Reis Mcirelles SUB-SECRETARIO—Dr, Mcitheus Vaz de Oliveira A Faculdade não approva nem reprova as opiniões exaradas nas theses pelos seus auctores. Duas Sumprindo um dever, que nos impõe a lei, apresentamos á digna congregação da Faculdade de Medecina da Bahia, a nossa these. Sem medir as nossas forças, escolhemos, para objecto dos nossos estudos, um ponto ainda não discutido entre nós. Queriamos dar um desenvolvimento maior ao nosso modesto trabalho, estudando a Try- panosomiase em geral e, para tal fim, ensaia- mos uma serie de observações, examinando o sangue de cobaios, ratos, morcêgos, cobras, sendo nesses nossos estudos guiados pelo sabio mestre Dr. João Américo Garcêz Froes. As nossas tentativas, porém, foram improfí- cuas, pois não encontramos os Trypanosomas em nenhum dos animaes examinados. II Em face de tamanha difficuldade, resolve- mos então voltaras nossas vistas para a Try° panosomiase Humana e, para tal fim, procura- mos resumir o que melhor houvesse sobre o assumpto. Confessamos que o nosso trabalho nada tem de original e, por isso, pedimos benevo- lência aos que nos lêrem. Esperamos, pois, que com melhores dados os que nos succederem nesse estudo pos- sam preencher a grande lacuna, da qual este trabalho se resente. Cumpre testemunhar aqui os nossos agra- descimentos aos distinctos mestres Drs. João Américo Garcêz Froes e Luiz Carrascosa pelo auxilio prestado ao nosso trabalho pe° dindo-lhes desculpa se não correspondermos ás suas esperanças. CADEIRA DE PATHOLOGIA INTERNA TRYPANOSOMIASE HUMANA (Moléstia do somno) I CAPITULO HISTORICO primeiro passo dado na sciencia, em re« a Trypanosomiase é attribuido a um medico inglez, Winterbotton, pois foi elle quem primeiro observou, nos negros da costa Occidental da África, uma moléstia singular, caracterisada pela tendência ao somno. Depois dos seus estudos seguiram-se os importantes trabalhos de Clark, Griffon, Bellay, Guérin, Le Dantec e muitos outros que seria fastidioso citar. Muitas foram as bactérias, ás quaes se attribuia o papel pathogeno na moléstia do somno, entre muitas citamos, bacillus, pneu- moccocos, streptoccocos. E' bem verdade que estes germens têm sido encontrados em indivíduos atacados da moléstia do somno, hoje porém, está provado, que elles são devidos a infecçoes secundarias. 6 FRANCO DE SÁ’ Muitos observadores têm attribuido a causa da moléstia a uma má alimentação. H. Ziemann defende esta opinião; para el- le, a moléstia é devida não a uma infecção, mas a uma intoxicação alimentar comparável a pellagra produzida pela ingestão da raiz crua da mandioca, como sóe acontecer entre os indígenas. Infelizmente a opinião de Ziemann está em desaccordo com a maioria dos factos obser- vados. Em Casamance, onde se ingere a man- dioca em pequena escala, a moléstia do som- no é muito frequente, entretanto em Daho- mey, onde a raiz da mandioca faz parte obri- gatória da alimentação, a moléstia do somno é rara, o que prova que atheoriade Ziemann nada tem de verdadeira. O celebre pathologista inglez P. Manson, attribuiu a moléstia á infecção produzida pela filaria perstans. E bem verdade que se encon- tra no sangue dos negros attingidos pela mo- léstia do somno, mas este hematozoario é en- contrado nas regiões, onde não reina moléstia. Um outro observador, encontrou a filaria perstans na Guyana ingleza, onde nunca foi observado um caso de lethargia. A 10 de Maio de 1901, o Dr. Forde rece- THESE INAUGURAL 7 beu em seu serviço no hospital de Bathurst, um européu, contando aproximadamente qua- renta e dois annos. Este homem era mestre de um vapor, que navegava nos rios da Gam- bia e que já estava aclimado naquella região, pois contava seis annos de serviço e tinha sido acommettido varias vezes de febre, sendo con- siderado um paludico. Feito o exame do sangue, encontraram, alem do hematozoario de Laveren, uns vermi- culos, sobre os quaes Forde não deu expli- cações. Cinco meses depois o Dr. Duton exami- nando um doente, cujo estado era grave reco- nheceu que os vermiculos vistos anterior- mente pelo Dr. Forde, nada mais eram do que Trypanosomas, aos quaes deu o nome de Trypanosoma Gambiense. Depois das observações de Dutton e Forde, outro observador, P. Manson verificou em dois européus a existência do Trypanosoma, os quaes contrahiram a moléstia no Congo. Brumpt também cita uma observação, na qual affirma ter encontrado o Trypanosoma Gambiense, em um commissario de um navio, que navegava no rio Boumba. Diz Brumpt que este homem ha muito tempo que soffria 8 FRANCO DE SÁ' de febres, as quaes nunca cederam com a applicação da quinina. Apezar das observações feitas até então, as relações existentes entre a moléstia do somno e a Trypanosomiase, erão ainda muito duvi- dosas e foi Castellani que veio harmonizar este estado de coisas Desde novembro de 1902 Castellani obser- vára a presença frequente de um Trypanosoma no liquido cephalo-rachidiano e depois no san- gue de indivíduos atacados da moléstia do somno; desde logo elle começou a conjecturar na relação entre o parasita e a moléstia do somno. Estes germens, foram considerados como representantes de uma outra especie e então denominados Trypanosomas ugandense por Castellani e Trypanosomas Castellani por Krause. Estavam as cousas neste pé, quando a mis- são ingleza. composta dos médicos, Bruce, Nabarro e Greig, chegou a Uganda a 16 de Março de 1903 e ahi se encontrou com Castel- lani, cujas verificações muito interessaram aos recemchegados. Os médicos da missão trabalharam em commum com o infatigável pesquizador até 6 de Abril, data da retirada de Castellani oara a Inglaterra, continuando a A O J TÍIESE INAUGURAL. 9 missão a fazer seus estudos com auxilio de muitos coloniaes e dos missionários. O resultado das pesquizas tem apparecido em diversos fascículos publicados durante o o anno de igo3. Pela leitura desse volumoso trabalho, che- ga-se á seguinte conclusão « A moléstia do somno é devida a presença no sangue e no liquido cephalo-rachidiano, de uma variedade de Trypanosoma, inoculado no homem por meio da picada de uma mosca Tsé-Tsé». De facto, sabe-se que as moscas Tsé-Tsé. ou glossinas, (das quaes falarei minuciosamen- te, quando tratar da parte relativa a trans- missão da Trypanosomiase) constituem um terrível flagello na África equatorial. Uma delias, a Glossina morsitans, tem por hospede um Trypanosoma (T. de Brucei), que inoculado nos cavallos e no gado, produz o na gana, a mais espalhada e mortífera das epi- zootias Africanas. Esta moléstia é analoga não só ao surra das índias devida ao T. Evanci, como também ao mal de caderas da America do Sul e que, infelizmente, no interior do Maranhão assola de uma maneira assustadora. Laveran e Mesnil demonstraram que, apezar de suas grandes analogias, estas moles- 10 FRANGO DE SA tias constituem entidades mórbidas distin- ctas. De outro lado, Dutton descreveu uma febre de typo ondulante, observada por elle nos indigenas da África Occidental e que é de- vida a um Trypanosoma, o Trypanosoma Gambiense, visto pela primeira vez pelo Dr. Forde. Que relações existeriam entre a moléstia do somno e a Trypanosomiase de Dutton? Não se poderia considerar a moléstia do somno, argumentando por analogia, uma moléstia ino- culada pela mosca Tsé Tsé? Esta hypothese foi emittida por Sambon, mas estava reserva- do á commissão ingleza apoial-a em íactos e elucidar a pathogenia do mal. O relatorio alludido começa lembrando que Castellani encontrára o Trypanosoma no liquido-cephalo rachidiano de 20 doentes, so- bre 34 affectados da moléstia do somno. Bru- ce e Nabarro fizeram este mesmo exame em 40 doentes com resultado positivo em todos elles. Em casos de moléstia outras que não a do somno, nunca, foi visto o Trypanosoma. Restava saber si fóra da zona, onde assola o mal, o sangue dos indigenas contem parasi- tas. THESEINAUGURAL 11 Examinou-se primeiramente o sangue de 8o indígenas, na região contaminada e encon- trou-se o Trypanosoma 23 vezes; em seguida nos paizes indemnes, foram examinados 117 indígenas, sem qne se conseguisse vêr o para- sita em qualquer daquelles indivíduos. As experiencias da com missão não lhe per- mittiram affirmar a identidade entre a mo- léstia de Dutton e a do somno, ella porém declara estar muito propensa a concluir pela affi rm ativa. Aliás, não existe morphologicamente dit- ferença entre os Trypanosomas das duas moléstias; verificando-se apenas que no liqui- do- cephalo rachidiano os parasitas têm di- mensões menores do que no sangue. A observação concludente, que faltava, foi recentemente fornecida por Manson, que refe- riu o caso de uma européa, mulher de um mil- lionario do alto Congo, a qual apresentava os symptomas da Tryponosomiase febril e onde se desenvolveu o quadro clinico, hoje clássico da moléstia do somno. O exame cadavérico mostrou que havia no cerebro a infiltração leucocytaria caracteristica desta affecção. Si, como parecia provável, fosse mesmo o Trypanosoma, a causa da moléstia do somno, 12 FRANCO DE SA’ a inoculação do liquido, contendo o parasita, em animaes, deveria produzir n’elles sympto- mas analogos aos que se observam no homem. ínjectou-se em quatro macacos um pouco do liquido nas condições desejadas: todos apresentaram mais tarde Trypanosomas no sangue e um delles appareceu, no fim de quatro mezes. com os symptomas incontestáveis da moléstia do somno. A com missão levou mais longe as suas experiencias. Em cinco macacos injectou, ora na cavidade craneana, ora no canal medullar, um pouco de sangue proveniente do indivíduo, que apre- sentava, não os symptomas da moléstia do somno, mais os da Trypanosomiase febril. Os cinco macacos não tardaram a mostrar o parasita no sangue e mesmo (facto de extre- ma importância) um delles teve os sympto- mas da moléstia do somno, que a autopsia confirmou. Está, portanto, bem estabelecido que a moléstia do somno é devida a um Trypano- soma. Mas, de onde vem este parasita? A própria distribuição geographica deve- ria facilitar a solução do problema: de facto THESE INAUGURAL 13 esta affecçao reina endemicamente nas ilhas da parte septentrional do lago Victoria, Ny- anza e também nas margens do mesmo lago, até uma distancia de 20 a 3o kilometros para o interior. Ora, pesquizas numerosas mostraram que a área de distribuição da moléstia do somno coincide exactamente com a área da mosca Tsé-Tsé a Glossina palpalis. Finalmente, a experiencia veio confirmar a observação. Capturaram-se muitas moscas no districto contaminado, as quaes foram introduzidas em uma gaiola, onde havia macacos. Tres destes não se demoraram em apresentar Trypano- somas no sangue. Os factos observados pela commissão in- gleza vieram juntar-se os resultados obtidos pelo Dr. Brumpt, não mais na parte oriental e sim no oeste Africano onde elle punccionou 28 doentes sobre 87 casos observados. Em 78% aquelle pesquizador viu o Trypa- nosoma no liquido cephalo-rachidiano. Inoculado duas vezes no canal rachidiano de um macaco o residuo proveniente da cen- trifugação de 10cc de liquido cephalo-rachi- diano rico em parasitas, o animal morreu ao 14 FRANCO DE SA cabo de cinco dias, com os symptomos da moléstia do somno. Emfim, Brumpt poude demonstrar tam- bém a hypothese, precedentemente emittida por elle, do papel da Glossina palpalis na transmissão da endemia. Aqui ainda se notou a coincidência entre a distribuição geographica da moléstia do somno e o habitat da mosca, em uma zona que se estende de Dakar, ao sul da Angola. Necessitamos saber se o Trypanosoma Garnbiense e o Trypanosoma Ugandense, pertencem a especies differentes ou se o para- sita encontrado nos indivíduos atacados da mo- léstia do somno, não é outro senão o Trypa- nosoma Garnbiense. Brude e Nabarro tem demonstrado que Cas- tellani não teve razão, quando disse que o Trypanosoma, observado no liquido cephalo- rachidiano dos indivíduos attingidos da mo- léstia do somno, era differente do Trypano- soma Garnbiense colhido no sangue dos le- thargicos. Por isso ficou assente que o Trypanosoma Garnbiense, ou o Trypanosoma Ugandense, são uma mesma coisa, pois ambos produzem a moléstia do somno. Denominação, porém, que hoje prevalece é 15 THESE INAUGUR AL a primeira, que foi dada pelo Dr. Dutton, de Trypanosoma Gambiense. A Trypanosomiase não é commum nas re- giões equatoriaes da África; observa-se mais commumente nas Antilhas unicamente porém nos negros, que vêm do oeste da África. A prova disso está que Guérin, poude es- tudar a moléstia do somno na Martinica. Os focos mais perigosos da Trypanoso- miase se encontram nas regiões do oeste da África que estende-se do Senegal a São Paulo de Loanda. Na Senegambia a moléstia é commum, em Casamance em Sine e Saloum, muitos casos têm sido observados no rio Senegal, nos arre- dores de Bakel, de Kayes e de Bafoulebé. Na Gambia encontra-se também e, como fiz notar no começo deste capitulo, foi na Gam- bia que encontrou-se pela primeira vez no sangue do homem, o Trypanosoma. Entre os principaes focos da moléstia do somno citamos, o Alto Guiné, Yhinterland da Serra Leoa, da Libéria e da costa ddvoire, o Lobi ou paiz dos Bobos e o Yatanga. Esta entidade mórbida muitas vezes tem to- mado o caracter epidemico em Roba; em i85o ella fez nesta localidade mais de 180 victimas. em 1886, 1889 em quatro aldêas do mesmo 16 FRANCO DE SA" districto mais de 3oo indígenas morreram de Trypanosomiase. As ilhas do Príncipe, São Thomaz e Fernando Pó, são outros pontos de infecção. No Congo Português, a moléstia reina, principalmente na região da Quissama e sobre o rio Cuanza. A moléstia do somno é endemica no Congo Francês e no Estado independente do Cango. Observam-se também casos esporádicos em Ouellé, Basako, Bengala, Boma, reinan- do endemicamente nas regiões dos Cataractes, Banza, Mantéka. Em Berghe, Santa Maria, os casos de le- thargia são muitos. A mortalidade que era em 1896 de i3 por cento e em 1897 de 19 por cento, foi elevada nestes últimos annos a 22 e a 39 por cento, no primeiro trimestre de 1900 elevou-se a 73 por cento!! A Trypanosomiase^tem lavrado nestes úl- timos annos em uma grande extensão no Ou- ganda. Foi Koch que, em primeiro-logar, demons- trou a existência da lethargia nesta região. Podemos resumir o que dissemos em rela- ção a geographia medica desta enfermidade, disendo que ella acha-se disseminada nas ba- THESE INAUGURAL 17 cias do Senegal, do Niger, do Congo, do Nilo superior e em bacias de curso d’agua interme- diários de pouca importância II —Causas que predispõem a contrahir a Trypanosomiase—Influencia da idade, do sexo, da profissão e da raça. Não nos parece que a Trypanosomiase, tenha predilecção pelas idades, pois ella victi- ma não só crianças como adultos; apezar de Laveren dizer em sua obra, que Christy, veri- ficou symptomas da moléstia do som no em crianças de 18 mezes a 2 annos, isto nada quer dizer, pois em uma estatística, que temos em mão, feita pelo Dr. Dutton em 1902, dos doentes examinados na Gambia, verifica-se que, a moléstia não tem predilecção por esta ou por aquella idade. Para melhor provar o que disse vou tran- screvel-a. Diz o Dr. Dutton que os casos observados em indigenas na Gambia se repartem segun- do a idade do seguinte modo: uma mulher de trinta annos, uma menina de deseseis, um me- nino de doçe, um homem de trinta e cinco e um outro de vinte e dois annos. Quanto ao sexo, ambos são attingidos, na 18 FRANCO DE SÁ’ África porém a moléstia do somno é mais com mum na mulher do que no homem. Já Guérin diz e mesmo affirma que nas Antilhas, a Trypanosomiase é mais frequente no homem do que na mulher. A proporção observada por este medico foi de 7 casos no homem contra 3 em mulheres. Quanto á profissão e á posição social, pa- rece que exercem um poderoso factor na im- munidade contra esta entidade mórbida. Os lavradores e mesmo os chefes de try- bus indígenas, que vivem em um meio mais confortável, são atacados muito menos do que os indivíduos de classe inferior e que se en- tregam, o dia todo, a trabalhos no campo. Foi quasi corrente, que a lethargia Afri- cana, era commum a raça negra, porém hoje com os estudos mais modernos e mesmo, com um recente trabalho do Dr. Dutton, medico no Estado Independente do Congo, sabe-se que a moléstia também pode atacar a raça branca, citando 3 novos casos de Trypano- somiase em Europeus, que residiam no Congo. A presença do Trypanosoma no liquido cephalo-rachidiano, foi verificada em um dos doentes e sobre os outros dois casos, os sym- ptomas clínicos pouca duvida deixavam sobre a existência da Trypanosomiase. THESE INAUGURAL 19 As estações não favorecem de nenhum modo a marcha da endemia, porém devido o longo periodo de incubação, ou antes de la- tencia, que precede a apparição dos sympto- mas nervosos esta influencia é difficil de sêr verificada. Já demonstramos que a influencia da ali- mentação da mandioca crua nada tem de verdadeira. A alimentação de peixes tem sido incrimi- nada como uma causa efficiente na producção da Trypanosomiase, porém esta theoria tam- bém não assenta em solido alicerce, pois nas regiões, onde a alimentação exclusiva é o peixe, não se nota casos de Trypanosomiase. As guerras e a fome muito têm concorri- do para a propagação da moléstia do somno na África. Os focos principaes da moléstia se encon- tram ao longo dos rios, nos onde ave- geração é exhuberante, o que acha facil expli- cação. Pois como havemos de vêr a moléstia do somno é propagada por uma mosca Tsé-Tsé (Glossina palpalis) este insecto vive ao longo do curso dos rios, em logares, onde a vegeta- ção é abundante. Quando os lethargicos chegam em locali- 20 FRANCO DE SA dades, onde existe em grande numero a Tsé- Tsé a moléstia se espalha. Dá-se com a Trypanosomiase o mesmo que com o Paludismo, Febre Amarella, emfim todas as moléstias, capazes de serem disse- minadas por certos insectos. III—Factor etiologico A Trypanosomiase é uma moléstia hoje bem caracterisada, graças aos progressos que tem feito a microbiologia/ desvendando micro- organismos productores de estados patholo- gicos, que até então não tinham sido bem ex- plicados. O responsável pela Trypanosomiase é um Trypanosoma, que tem sido indistinctamente chamado Gambiense, Ugandense. Os Trypanosomas pertencem ao genero Trypanosoma dos tribu dos oligo- mastigida, sub-ordem dos monadida, sub- classe dos flagellata, classe dos infusorios ramo dos proto\oa. O Trypanosoma Gambiense (vid fig. I) me- de 17 a 28 micra de comprimento, sobre 1,40 a 2 micra de largura, outros, porém, como Le Dantec, são da opinião que o parasita tenha 16 a 26 micra de comprimento, sobre 2 a 2,5 Fig\ I 1 Trypanosoma gambiense bem lixado no sangue. 2 Tryp. em uma serosidade sanguinolenta. 3 Tryp. cuja extremidade posterior é arredondada, tendo no protoplasma muitas granulações chromaticas. 4 Tryp. em via de divisão. ( Laveran e Mesnil ) TIIESE INAUGURAL 21 micra de largura, chegando em casos excep- cionaes a attingir 35 a 40 micra de compri- mento. Este hematozoario tem a forma em flagello, possuindo membrana ondulante lateral, corpo fusiforme, com duas massas chromaticas dissemilhantes, Muitas vezes a parte livre do flagello, repre- senta o terço ou o quarto do comprimento total do parasita, acontecendo que o proto- plasma se alonga até a extremidade do flagello. Estas formas sem flagello livre, já foram observadas em um macaco, que morreu de Trypanosomiase. O flagello tem a sua origem no centro- soma, no bordo externo da membrana ondu- lante, chegando á extremidade anterior, onde torna-se livre. A membrana ondulante é muito estreita. O vacuolo tem a forma oval e está situado, mais ou menos, na parte media do corpo do parasita. Castellani ligava uma grande importância ao logar, onde estava situado o vacuolo e, para este observador, constituía essa mudan- ça de logar um caracter de distincção entre o Trypanosoma Gambiense e o Ugandense. Dizia elle que no Gambiense o centro-soma 22 FRANCO DE SA perto da extremidade posterior, o vacuolo estava situado para fóra desta extremidade, emquanto no Ugandense o centro-soma mais afastado da extremidade, o vacuolo se encon- trava no interior. Porém hoje está provado que a concepção de Castellani era errónea, Quando os Trypanosomas são bem lixados, nas preparações de sangue, não se distingue vae cuolo algum, vendo-se, porém, nas preparações mal fixadas, feitas com o liquido cephalo-ra- chidiano ou com o sangue de individuos muito anemiados. Este facto vem de algum modo corroborar a nossa opinião sobre a unidade do Trypano- soma humano. O centro-soma não apresenta estructura determinada, tornando-se bem visivel pela coloração ordinaria, tomando uma cor ver- melha mais pronunciada que a do núcleo. A extremidade posterior do parasita pode apresentar formas, múltiplas e variadas, sendo algumas vezes afilada e em outras arre- dondada. Sendo que, com a extremidade arredon- dada, o parasita torna-se mais curto, porém a forma mais commumente observada é a primeira. THESE INAUGURAL 23 Quando a extremidade ou parte posterior é afilada, o centro-soma fica mais afastado da parte terminal, o que não succede quando ella é arredondada. A distancia, que separa o centro-soma da extremidade posterior, é pois muito variavel, não podendo servir, como também muitos observadores queriam, de caracter distinctivo entre o Trypanosoma Gambiense e o supposto Ugandense. E1 hoje considerada esta variedade de for- ma, nada mais do que movimentos executa- dos pelos Trypanosomas. Como bem diz o Dr. Carrascosa no seu bom traçado estudo sobre os Trypanosomas (Gazeta Medica) «O movimento é a manifestação ener- getica mais geral dos Trypanosomas no cam- po do microscopio. A membrana ondulante executa movimentos peristalticos mais ou me- nos extensos conforme suas dimensões; nos flagellos ha movimentos de lateralidade, de torsão e de contracção; na locomoção rapida os movimentos de lateralidade são pouco apre- ciáveis, entretanto casos ha em que os fla- gellos chicoteam as hematias que encontram, chegando mesmo a fragmental-as. Os movi- mentos de contracção que se observam no cor- po destes parasitas, são lentos e parecem de- 24 FRANCO DE SA vidos a differenciaçoes do cytoplasma com formação de myonéas». O protoplasma córa-se ligeiramente, con* tendo muitas vezes, granulações chromaticas que são notáveis', não só pelo seu volume, como pelo seu numero. ' A multiplicação se faz por bipartições, como acontece com quasi todos os Trypanosomas, havendo divisão do centro-soma e do núcleo, desdobrando-se o flagello, dividindo-se em- íim o protoplasma. E’ muito commum vêr-se dois Trypanoso- mas reunidos intimamente, havendo crusa- mento das extremidades posteriores, algumas vezes essa união é tão intima que os dois núcleos se acham ligados um ao outro, fazendo crer na existência de um elemento em via de divisão. Porém a presença dos flagellos nas duas extremidades permitte evitar a confusão, so- bretudo se estiverem bem coradas as prepa- rações. Um observador quiz vêr, no comprimen- to do flagello e no tamanho do vacuolo, uma differença entre o Trvpanosoma Gambiense e o Ugandense. Estas ligeiras modificações são muito dif- ficeis de se apreciar, levando em conta os THESE INAUGURAL. 25 meios de cultura do parasita, sangue de um lado e o liquido cephalo-rachidiano de outro. Porém qualquer que ellas sejam desappa- recem, quando se cultiva o Trypanosoma no sangue dos macacos. Uma outra prova, a qual talvez seja a mais importante em relação a opinião uni- cista do Trypanosoma commum ao homem, é a inoculação experimental. Os dois Trypanosomas em questão, quan- do inoculados em macacos, dão uma molés- tia fatal, com os symptomas caracteristicos da lethargia Africana. O cobayo, coelho, rato e mesmo a cobra e o carneiro, são ligeiramente sensiveis a um ou a outro destes parasitas, sendo re- conhecido em todos elles depois da inocula- ção, os symptomas incontestes da moléstia do somno. Ainda mais, Laveran demonstrou que um animal, que adquire immunidade pa- ra o Trypanosoma Gambiense, também atem para o Ugandense. Com estas provas que acabamos de citar, além das muitas que já ficaram ditas em outros capítulos, só temos em mira provar que a theoria unitaria do parasita humano é uma verdade, que encontra apoio na maio- ria dos factos observados até hoje. 26 FRANCO DE Sa’ Consideramos, pois, que a denominação Ugandense, seja synonyma de Gambiense e vice-versa. Porém a denominação, que devia preva- lecer, era a de Trypanosoma de Dutton, pois foi este illustre medico Inglez, quem bem estm dou este hematozorio e que este anno foi victi- mado pela Trypanosomise, quando no Congo aprofundava os seus estudos, á bem da hu- manidade soffredora. A nutrição dos Trypanosomas é semelhan- te á dos sporoTyOarios, da classe dos hemato- zoarios. Além da infecção no homem pelo Trypano- soma Gambiense, podemos ainda notar em grande numero mammiferos, que são sensi- veis á sua inoculação, fazendo exclusão dos cynocéphalos que são refractarios ao seu po- der morbigeno. Quando se quer fazer o exame do sangue nos lethargicos, procura-se uma região bem vascularisada e que no homem é representa- da pela polpa digital. Laveran e Mesnil aconselham que o liqui- do cephalo-rachidiano, colhido pela puncção lombar, deve sêr centrifugado eo sedimento, que fica depositado na parte inferior do tubo THESE INAUGURAL 27 centrifugador, é o que deve sêr escolhido para o exame microscopico. Para estudar-se com segurança o Trypano» soma Gambiense, diz Laveran, deve-se reco- lher dez centímetros cúbicos de sangue de uma veia em um tubo contendo uma solução de oxalato ou citrato de potássio, para que não se dê a coagulação ; centrifugal-o durante dez minutos, decantar em seguida o plasma e submettel-o a repetidas centrifugações, para depois examinar-se o sedimento. As preparações para o estudo do Trypa- nosoma, seguem a mesma technica que para os hematozoarios. Os processos de coloração, que até hoje tem dado bons resultados são : o de Roma- nowshy (eosina methyleno) e o de (eosina-me- th vlenode Borrei), que é o processo de Laveran. Por este excellente meio de coloração o cytoplasma toma a cor azul clara ; o núcleo e o flagello em violêta lilaz, o centro-soma em violêta carregada, ficando descorada a mem- brana ondulante, e quando 'isso não se dê, córa-se muito ligeiramente em azul claro. 28 FRANCO DE SA IV—Transmissão da Trypanosomiase A MOSCA TSÉ-TSÉ (Vide fig. II) Todos os povos da África Occidental, con- sideraram sempre a Trypanosomiase, uma moléstia contagiosa e muito perigosa. A sua marcha invasora no Congo Portu- guês e em Uganda veio comprovar que muita razão tinham elles, assim pensando. Os indígenas da Guiné Francesa, attribui- ram o poder propagador da Tripanoso- miase, às moscas e esta opinião calou no espirito dos investigadores, pois já a theoria parasitaria da Trypanosomiase estava escla- recida. Já também sabia-se que o Surra e o Nci- gana eram propagados pelas moscas. Foi Sambon quem primeiro suppoz que a Trypanosomiase fosse devida á infecção pro- duzida pela mosca Tsé-Tsé infeccionada pelos Trypanosomas, pois sabia-se que eram essas moscas as responsáveis pela propagação do Nagana, e mais, a Trypanosomiase só era observada nos logares, onde existiam a Tsé- Tsé ou glossina palpalis. Este facto foi obser- vado pela commissão ingleza e communicado ao mundo scientifico. As experiencias feitas no sentido de saber- Figr. II Mosca Tsé-Tsé (glossina palpalis) a responsável pela transmissão da Trypanosomiase. ( Laveran e Mesnil) TI-IESE INAUGURAL 29 se qual o facto propagador da lethargia Afri- cana, vieram provar do modo mais categórico, que era realmente verdade, que a Tsé-Tsé (palpalis) era a responsável pela a progaga- ção da moléstia. Bruce e Nabarro, capturaram varias Tsé- Tsé (palpalis) nos logares, onde reinava endemi- camente a Trypanosomiase e as encerrou em uma gaiola, onde também collocaram maca- cos, capases de serem infeccionados. Mais tar- de, fazendo a pesquiza no sangue destes ma- cacos, foram encontrados Trypanosomas bem caracterisados. Muitos observadores são de opinião que as outras Tsé-Tsé, podem também propagar a moléstia do somno, nós, porém, acceitamos a primeira theoria, que é a que attribue á Tsé- Tsé (palpalis) o poder propagador. Resta-nos agora elucidar uma questão im- portante: é saber si a mosca Tsé-Tsé (palpalis) é um vehiculo germen especifico do Trypano- soma, productor da moléstia do somno, ou si pela infecção de sua tromba exerce simples- mente o papel de vehiculo germen mechanico. Segundo todas as probabilidades a Tsé-Tsé é um vehiculo germen especifico, porque se ella não fosse difficilmente se poderia explicar co- mo outros insectos picantes podessem innocu- lar a Trypanosomiase. 30 FRANCO DE SA Pode-se acompanhar a evolução dos Trypa- nosomas no corpo da Tsé-Tsé e talvez mes- mo no corpo do embryão, pois esta mosca é larvipara. Os estudos de Schaudinn, e a lei geral da limitação obrigatória das gerações assexua- das, corroboram esta hypothese (Le Dantec). Caracteres geraes da mosca Tsé-Tsé O termo Tsé-Tsé, tinha sido empregado para designar a glossina mortisans, que é a verdadeira Tsé-Tsé, porém em breve a mes- ma denominação foi applicada as outras glos- sinas de sorte que o termo Tsé-Tsé tornou-se especifico do genero e por conseguinte syno- nymo de glos sina. O genero glossina, ou Tsé-Tsé, contem pe- queno numero de especies, das quaes 8 já es- tão bem estudadas, a saber: Glossina palpalis, Glossina morsitans, Glossina pallipedes, Glossina pallicera, Glos- sina longipalpís, Glossina longipenms, Glos- sina fusca, Glossina Decorsei. As moscas Tsé-Tsé são de uma cor casta- nho escuro, medindo 7 millimetros e meio a 12 de comprimento. Distinguem-se da mosca commum, não só pelas azas, como também pela tromba. As suas THESE INAUGURAL 31 azas, quando fechadas ultrapassam o abdómen para traz, quer isso dizer que são longas. Quando o insecto está em repouso, as suas azas se cruzam, como os ramos de uma tesou- ra, o contrario do que succede com as outras moscas cujas azas ficam divergentes. A tromba das glossinas, que emerge do vertice da cabeça é longa e chega a ter a di- mensão do thorax sem o scutellum. A tromba é entrelaçada pelos palpos, que a torna espessa e forte. O que não succede com a tromba dos sto- moxys, que não é entrelaçada pelos palpos, o que a torna mais delgada e muito mais fraca do que a das Tsé-Tsé. O sexo facilmemte se reconhece, uma vez que se possa examinar a Tsé-Tsé de perto. O macho tem o apparelho genital externo com a forma de uma protuberância, na parte infe- rior e terminal do abdómen, esta protuberân- cia tem o nome de hypopy gium, falta nas fémeas. Das oito especies de glossinas, que já men- cionei, só me occuparei da glossina palpalis, que é a que nos interessa conhecer. Esfci mosca tem 8 a 9 millimetros de com- primento e suas azas tem igualmente 8 a 9 millimetros de comprimento. 32 FRANCO DE SÁ’ Cabeça: face amarellada, guarnecida por baixo de pennugem parda, a parte posterior da cabeça é inteiramentç cinzenta, faixa fron- tal mediana, variando do amareílo ocre ao marrcn escuro, rebordo frontal externo, par- do; o ocello triangular cinzento, com mancha central escura. O ocello se reune para traz a uma faixa escura carregada. A antenna apresenta as seguintes particu- laridades: o segundo articulo é mais ou me- nos amarrello em sua extremidade anterior, o terceiro é amareílo em sua extremidade base. A porção cabelluda da antenna é ama- rellada e para parte inferior é escura. Os palpos são acinzentados, porém, na parte superior são negros. O bulbo da base da tromba é trigueiro. Thorax. O Thorax apresenta manchas es- curas, sobre um fundo pardo acinzentado. Es- tas manchas são symetricas collocadas em duas regiões differentes, ao longo da linha mediana e sobre as partes lateraes. Ao longo da linga mediana, e um pouco para fóra, vê-se uma longa faixa escura interrompida em dois pontos, urn sl& nivel da sutura transversal do thorax e o outro ao nivel da união do thorax com o scutellum. THESE INAUGURAL 33 Abdómen. Coloração geral escura. O primeiro segmento e o espaço triangu- lar tem coloração acinzentada. O espaço tri- angular se continúa para traz com uma raia mediana mais ou menos limitada, estendendo- se até o 5o segmento. O rebordo marginal de cada segmento, desde o 2° até o 6o é geralmente descorado ou acinzentado. O 7° segmento e o resto do hypopygium no macho são totalmente acinzentados. As patas são, na maioria das vezes, de uma cor amarello claro, excepção feita da parte anterior e dos dois últimos artículos da pata posterior e da pata media que são escuras. Azas totalmente escuras. II CAPITULO A Trypanosomiase, que também é conhe- cida pelos nomes de Hypinose Somnose, Slee- ping, Sickness of West África, die Schlafsucht der Niger, Malattia del somno, Doença do somno, Somnolenza, Netavane, Nona, Lango- la. Mbaza, Dane, Malanemia, Moléstia do somno, Lethargia Africana, nadamaisé do que a infecção produzida no homem pela presen- ça, no sangue, ou no liquido cephalo-rachi- diano, do Trypanosoma Gambiense, sendo responsável por esta infeccão uma mosca Tsé- Tsé (a glossina palpalis). Não nos foi possível verificar aqui na Ba- hia um só caso de Trypanosomiase. Apenas tivemos noticia de um caso que foi observa- do no antigo hospital pelo illustre mestre o Dr. Silva Lima, do qual não fez observação, mas nos informou que o doente entrara para o hospital em profunda somnolencia eque em poucos dias falleceu. O doente do qual acabamos de tratar, era negro e tinha vindo da África. A braços com tamanha difficuldade para obtermos dados, para a nossa these, procura- 36 FRANGO DE SA' mos fazer aqui neste capitulo, um resumo do que colhemos nas obras por nós consultadas. I—Incubação O periodo de incubação varia muito, po- dendo sêr de mezes e até de annos. Esta particularidade permitte que os indi- víduos atacados de Trypanosomiase (no pe- riodo silencioso da moléstia) emigrem para outros togares, constituindo novos focos de infecção. Guérin que estudou esta moléstia nas Anti- lhas, teve occasião de observar 148 casos de lethargia em negros vindos da costa da África. O periodo de incubação se confunde com o primeiro periodo da moléstia, porque os negros não prestam attenção aos accesso$ febris, que os atormentam, e mesmo se julgam atacados de Paludismo. Com os estudos feitos a lethargia Afri- cana, nos brancos, se tem podido estabelecer que o primeiro periodo, ou periodo febril, pode durar mezes e mesmo annos. O segundo não é tão longo, porém a sua duração pode oscillar entre dez e dezoito mezes. E o terceiro então é muito rápido, não durando mais de um septenario. 37 TIIESE INAUGURAL II—Symptomatologia A Trypanosomiase tem um principio lento e insidioso. Os Trypanosomas podem existir durante um tempo mais ou menos longo no sangue, an- tes de pullular no liquido cephalo-rachidiano, provocando, deste modo, os verdadeiros sym- ptomas da moléstia do somno propriamente dita. Uma vez que dá-se isso no organismo, nós podemos distinguir dois períodos bem distin- ctos na evolução da Trypanosomiase. No primeiro periodo, como vimos, o Try- panosoma existe em pequena quantidade no sangue, nao causando a menor reacção mór- bida nos negros, nem em indivíduos de ou- tras raças atacados da Trypanosomiase, porém este periodo é denunciado por uma febre ir- regular. No segundo periodo já os symptomas são mais accusados, notando-se a rachialgia, os tremores, a somnolencia, finalmente a febre to- ma o caracter de hectica. A somnolencia vai se accentuando cada vez mais e se transforma em verdadeiros accessos de lethargia, cahindo por fim o doente em es- tado comatoso. 38 FRANGO DE SÁ’ E’ neste periodo que se encontra o Tryjpa- nosoma no liquido cephalo-rachidianò. Vejamos adescripção minuciosa do sdois pe- riodos da Trypanosomiase. No primeiro, o exame do sangue feito em indivíduos atacados de lethargia, permitte unicamente verificar que existe ainfecção, mais convém notar, que neste periodo os Trypano- somas são raros no sangue, o que torna de alguma sorte o seu estudo difficíl. Esfe periodo pode ser chamado, periodo la- tente da Trypanosomiase e tem uma duração muito variavel, osciflando entre muitos mezes. Citam-se casos de incubação de 7 a 8 annos. Neste periodo, nos doentes accommettidos de febre remittente irregular, os accessos du- ram 2 a 4 dias, depois a temperatura cahe a normSf ou algumas veses abaixo, durante al- guns dias, porém nunca excedendo a 5 dias, outras vezes a febre toma o caracter de febre héctica, sendo pela manhã normal a tempe- ratura, para elevar-se á tarde, attingindo 38°,5 e algumas vezes 40, mas este gráo de tempe- ratura é raro. Os accessos de febre não são precedidos de calefrios e a transpiração, que apparece de- pois, é pouco abundante, justamente o con- trario que s'e dá no paludismo. 39 THESE INAUGURAL Independente dos accessos febris,, nota- se que o pulso e a respiração ficam accelera- dos, o numero de inspirações chega ás vezes a attingir a 3o por minuto e o numero das pul- sações desce raramente abaixo de 90 por mi- nuto. A excitação cardíaca é um symptoma constante e o numero de pulsações’ chega ás ve- zes a 140 por minuto. Commumerrte observa-se edemas parci- aes, erythemas, intumescirnento da face, ede- ma palpebral, perimalleolar, placas congesti- vas da face, do tronco e dos membros. No inicio da Trypanosomiase, a anemia é pouco accentuada, porém vai pouco apouco augmentando chegando ao enfraquecimento geral. Vários médicos consideram que a cephalab gia é um symptoma constante. O baço é muitas vezes augmentado de volume, mas a splenomegalia nao é constante, sobre tudo no inicio, segundo a opinião aba- lisada de Baker, ella falta duas vezes em tres casos. Broden pensa que no primeiro periodo, o baço não é attingido, parecendo que só o é, em periodo adiantado, quando ha concomitân- cia com o paludismo. 40 FRANCO DE SA Em alguns doentes, tem se notado au- gmento da matidez hepatica. A Trypanosomiase, muitas vezes se ter- mina sem os symptomas caracteristicos da 'mo- léstia do somno, a qual pode atacar a toda e qualquer raça O segundo periodo é o que caracterisa a moléstia do somno propriamente dita 0#symptomas, dominantes neste periodo são: afebre e as perturbações nervosas. A febre, que no primeiro periodo, vem por accessos com intervallos, algumas vezes longos de apyrexia, torna-se, no segundo pe- riodo, febre verdadeiramente hectica, verifi- cando-se ás vezes grandes oscillaçoes, a tem- peratura sobe muitas vezes a 40o á tarde, para cahir a 37o pela manhã. o Este caracter da febre na Trapanosomiase é de grande valor, para o diagnostico differen- cial, em relação ao paludismo, pois neste as elevações de temperatura são observadas, pe- la manhã, muito differente do que se dà com a Trypanosomiase, cujo máximo é attingido á tarde. Ainda mais, uma outra prova para o dia- gnostico é que, naTrypanosomiase, a elevação thermicanão é precedida de calefrios, nem, ha depois do accesso febril, sudorese. THESE INAUGURAL. 41 Convém porém notar que, em alguns ca- sos, nota-se a sudorese, mas em pequena esca- la e muito menos do que nos accessos palu- dicos. A frequência do pulso observada, em um mesmo dia, accusa grandes variações, as quaes oscillam entre 90 e 13o por minuto. Muitas vezes as complicações, que so- brevêm a Trypanosorniase e, na maioria dos casos a sua concomitância com o paludismo, trazem irregularidades na marcha da febre, convém que o clinico tenha tudo isso em mente, para a sua energica intervenção, que não se deve fazer esperar, nestes casos. Um máo prenuncio para a vida do lethar- gico é a hyperthemia, pois muitas vezes o ther- mometro attinge a muitos gráos além da normal e quasi sempre isso indica que o des- fecho é fatal. O começo do segundo periodo da moléstia é annunciado pela cephalalgiae.alterações, que commumente sao observadas para o moral do doente. A localisação da cephalalgia varia segundo oscasos; alguns doentes sentem dores intensas na região sub-orbitaria, outros, porém, accu- sam dores na região frontal. E ’ também commum observar-se, ao lado 42 FRANCO DE SA da cephalalgia, dores na parte superior do tho- rax e no rachis. Neste periodo o doente torna-se indifferen- te a tudo que se passa, sendo-lhe feitas algu- mas perguntas, responde demoradamente, de- notando que sente-se fatigado. E1 cornmum observar-se tremor das mãos e dos braços, os quaes se exaggeram, quandç) o infeliz doente procura executar algum mo- vimento, sendo ás vezes impossível levar o alimento até a cavidade buccal. Na maioria das vezes estes tremores se ge- neralisam, ás vezes é tão intenso, que a pró- pria cama onde repousa o doente, oscilla, sen- do necessário sustel-a para não cahir. Neste periodo já em phase ultima, nota-se rigeza muscular, localisada sobretudo na re- gião da nuca e flexão dos membros inferiores, muitas vezes acompanhada de convulsões epi- leptiformes. Nota-se também neste periodo a inconti- nência, não só das urinas, como também das fezes. Os reflexos são alterados, o rotuliano é muitas vezes abolido, sendo diminuídos, o cremastoriano, bicipital e o pupillar. As pupillas ficam, as mais das vezes, dila- tadas, não havendo paralysia ocular,nem le- sões do fundo do olho. THP;SE INAUGURAL 43 A somnolenciaaugmenta progressivameft- te* tomando o doente certas posições, incli- nando a cabeça sobre o peito, conservando sempre as palpebras fechadas. No começo deste periodo, o doente pode sêr dispertado da somnolencia em que se acha, porém com a continuação isto torna-se impos- sível, pois ás vezes o somno toma o caracter de accessos, atacando o doente em qualquer logar, notando-se sobretudo depois das refei- ções. Estes accessos 'vão apparecendo de mais a mais, tornando-se frequentes e profundos tornando-se verdadeiros estados comatosos. E’ neste estado que se nota a temperatu- ra abaixo da normal, vindo em seguida a morte do lethargico. Os lethargicos apresentam sempre uma anemia profunda, sendo o numero de globulos vermelhos na media de 3.5oo.ooo por millime- tro cubico. A curva leucocytaria, tem sido observada, dando um augmento de mononucleares, sendo que nas creanças também observa-se eosino*- philia. Os edemas duros e bem limitados na parte superior cia tibia, são commumente obser- vados. 44 FRANCO DE SA Nos brancos, como já fizemos notar, no- tam-se exanthemas, convindo notar que igual- mente se observam nos negros, no segundo periodo. * A rêde lymphatica apresenta modificações, observando-se que os ganglios da axilla, pes- coço, são hypertrophiados. E isto fezcom queGreig e Cray, indicassem a puncção ganglionar, como um dos meios se- guros de diagnostico, pois em seis casos observados, encontraram, fazendo a puncção maior numero de Trypanosomas do que no liquido cephalo-rachidiano. Dizem elles que mesmo no inicio da mo- léstia, são encontrados Trypanosomas nos gan- glios lymphaticos. O baço é quasi sempre hypertrophiado, parece-nos porém que este processo corre por contado Paludismo, provando-se isso, em exa- mes cadavéricos feitos em lethargicos, nos quaes foram encontradas lesões próprias no Paludismo. 0 apparelho pulmonar também soffre, ci- tando-se factos de congestões e edemas pulmo- nares. 0.apparelho circulatório é o que menos soffre, pois até hoje, não foi verificado um só caso, onde se notassem palpitações, endocar- THESE INAUGURAL 45 dites, unicamente o que se tem observado são sopros anorganicos. 0 apparelho digestivo, também soflre pouco, não se notando vomitos, nem mesmo a perda do appetite, e em alguns casos se tem observado o seu exaggero no periodo ultimo da endemia. Observa-se frequentemente, que os lethar- gicos apresentam constipação, sendo as suas fezes duras e seccas. O fígado algumas vezes apresenta-se au- gmentado de volume, porém muito menos que o baço. A albumina não apparece, sinão quando ha augmento ou elevação da temperatura exagge- rada. A urina é normal, não variando a sua quan- tidade. 0 apparelho genital só é attingido quando todo o organismo o é, pelas perdas constantes que soffre. Nas mulheres nota-se que o fluxo caterme- nial só desapparece em periodo ultimo da Trypanosomiase. III—-Anatomia Pathologica Os auctores estão de accordo que, nos in. dividuos attingidos pela Trypanosomiase, no- 46 FRANCO DE SA tam-se lesões para o lado das meninges è au- gmento do liquido cephalo-rachidiano. Clark em 1840, fazendo autopsia em 5 in- divíduos mortos pela Trypanosomiase, notou lesões de meningite cerebro espinhal. Gaigneron verificou com o Dr. Lheminier em um indivíduo morto pela mesma causa, lesões inflammatorias das meninges, com au- gmento do liquido cephalo-rachidiano. Guerin também notou quando estudava es- ta entidade mórbida em Martinica, congestão das meninges e augmento do liquido cephalo- rachidiano. Os estudos recentes e outros meios de in- vestigação mais seguros, demonstram que as lesões das meninges são dominantes e, mesmo que estas lesões não sejam visíveis, o exame histologico revelará alterações inflammatorias das meninges. A congestão e ainflammação das meninges varia muito de intensidade, ora a meningite é bem caracterisada; as meninges apresentam- se pouco congestas, espessas, adherentes ao cerebro, que se rompe quando se retiram os seus envolucros, havendo exsudatos perivasculares; ora tudo se limita a uma hyperemia pouco ca- racterisada. ,0 liquido sub-arachynoidiano é, deordina- THESE INAUGURAL 47 rio, em quantidade exaggerada em torno do encephalo, assim como em torno da meduila espinhal. j Este liquido é pallido, algumas vezes puri* forme, especialmente ao nivel dos sulcos cere- braes e ao longo dos vasos. No liquido cerebro' espinhal centrifugado, encontram-se mononucleares e grahdefiiumero de Trypanosomas. Pelo corte praticado na massa cerebral, nota-se excesso de fluidez e dilatação dos ventrí- culos lateraes. Mott fazendo exame das lesões meningo encephalitee meningo myelite, notou que estas lesões se traduzem por uma infiltração 'de mo- nonucleares, em toda a superfície convexa do cerebro, nos sulcos e ao longos dos vasos, que penetram na substancia cerebral, na protube- rância, no bulbo e na meduila. Além das lesões cerebro espinhaes, deve mos notar que também existem outras para os diversos orgãos ; assim nota-se a hypertro- phia do baço e do fígado, como também dos ganglios lymphaticos. E’difficil porém saber, se a Trypanosomi- ase por si só é capaz de produzir a hyper- trophia do baço, uma vez que vem sempre acompanhada pelo Paludismo. 48 FRANCO DE SÁ’ Parece-nos, porem, que uma vez existindo a concomitância das duas entidades mórbidas, a hypertrophia do baço é a regra, infelizmen- te isto não pode-se affirmar categoricamente, mas é o que nos parece mais racional. Os ganglios retro-peritoneaes são em ge- ral hypertrophiados. A morte sobrevem com as complicações pulmonares e não é raro notar-se nas auto- psias, lesões congestivas do pulmão. O coração é, de ordinário flácido e pallido. Os únicos orgãos, que não soffrem são os rins, pois estes têm sido encontrados em perfeito estado de integridade. Os intestinos na maior parte dos casos estudados, apresentam-se congestos. IV—Diagnostico e Prognostico No inicio da Trypanosomiase o diagnos- tico é diflicil. Não só porque os accessos febris communs á lethargia muito'se assemelham aos do Palu- dismo e aos da Filariose, como porque estas duas entidades mórbidas são commumente observadas nas regiões, onde é endemica a Trypanosomiase. Graças, porém, aos trabalhos microscópi- cos, esta duvida pode ser logo posta de mar- THESE INAUGURAL 49 gem, pois fazendo o exame do sangue de um paludico encontraremos o hematozoario de Laveran. O mesmo succede com a Filariose em que encontraremos, no sangue, os em- bryoes da Filaria. Uma vez posta de parte a confusão existente, faltando unicamente a ca- racterisação da Trypanosomiase, lançaremos mão do processo aconselhado por Bruce, que é o seguinte: «colhe=se dez centímetros cu- bicos de sangue de uma veia, em um tubo contendo uma solução de oxolato, ou citrato de potássio, afim de impedir a coagulação pela decalcificação; centrifúga=se durante dez minutos, em seguida decanta-se o plasma e submette-se a novas centrifugações, para de- pois examinar-se ao microscopio o sedimento da ultima centrifugação.» Greig e Gray acconselham que se houver ganglios hypertrophiados, deve-se fazer a puncção e procurar no liquido extrahido os Trypanosomas. Mas de todos os processos até hoje empre- gados, para a confirmação do diagnostico, e que melhores resultados têm dado é a puncção lombar. A puncção é feita com o fim de recolher- se uma certa porção do liquido cephalo-rachidi* ano, o qual é submettido a centrifugação, sen- 50 FRANCO DE SA do examinado ao microscopio o sedimento, depois de repetidas centrifugações, pois a te- chnica é a mesma que para o processo de Bruce. O logar escolhido para a puncção, é o cul de sac dorsal, ao nivelda sua parte mais lar- ga, quer isto dizer que o ponto de reparo en- contra-se entre a 4a e 5a vertebra lombar. A medulla nunca chega a este ponto, termina sempre na 2a vertebra lombar, no adulto, e nas crianças na 3a, não havendo, pois, receio de lesal-a. Alguns médicos fazem a puncção, no espa- ço lombo-sacro, achando-se o pontò de reparo entre a ultima vertebra lombar e a base do sacrum, a technica é a mesma, tanto para um como para outro processo, variando unicamen- te o ponto de reparo. A puncção lombar é feita com uma agulha de aço, ou de platina iridiada, tendo 8 a 10 centímetros de comprimento e 1 millimetro de diâmetro, com a ponta talhada em bisel. A agulha deve ser resistente, para não ha- ver o inconveniente de entortar-se no curso da operação. E’ desnecessário dizer que a puncção deve sêr feita com todas as regras da asepsia, não THESE NAUGURAL 51 só para a agulha como para as mãos do ope- rador. A posição para praticar-se a puncção pode variar, podendo ficar o doente em decúbito la- teral, ou porém a melhor é a segun- da posição. O doente assenta-se na borda do leito, com as pernas suspensas, tronco fortemente incli- nado para diante e os cotovellos repousados so- bre os joelhos, para que se possa obter o afasta- mento máximo das vertebraslombares, tornan* do-se mais salientes os pontos de reparo. Na primeira posição é preferivel como já fiz notar, porque facilita mais o escoamento do liquido cephalo-rachidiano. Emfim, qualquer que seja a posição o pon- to de reparo é uma linha imaginaria tangen- te ás duas cristãs illiacas. Esta linha passa pela apophyse espinhosa da 4a vertebra lombar. Colloca-se o index da mão esquerda sobre esta apophyse, tendo a agulha na mão direita dirigida um pouco obliquamente para cima e para dentro e introduz-se a agulha um centi- metro para fóra da linha mediana, na linha bis-illiaca. A agulha atravessa successivamente as partes molles e o ligamento amarello, que offerece 52 FRANCO DE SA7 alguma resistência, depois atravessa a dura mater para emfim entrar no espaço sub-arach- noidiano. No adulto, para chegar-se a este espaço basta introduzir 4 a 6 centimentros do compri- mento da agulha e nas crianças a agulha attin- ge o espaço introduzindo-se 2 3 4 centímetros. Assim que a agulhapenetra no espaço sub- arachnoidiano, o liquido se escoa. Convém ter muito cuidado com a agulha, pois um pequeno movimento pode fazer com que ella vá ferir o corpo vertebral, ritirando- se em seguida para dar escoamento ao liqui- do. Para praticar-se a puncção lombo-sacra procura-se o ponto de reparo, que é uma li- nha imaginaria, passando pelas duas espinhas illiacas postero-superiores. O espaço arachnoidiano pode ser percebi- do pela palpação, e corresponde a depressão apophysaria a mais acentuada. A introducção da agulha se faz da mesma maneira, que para a puncção lombar. Nunca se deve retirar mais de 10 centíme- tros cúbicos no adulto e mais de 5 nas crianças. Depois de terminado o escoamento do liquido retira-se a agulha de uma só vez eo ori- THESE NAUGURAL 53 ficio deixado é obturado com uma gotta de collodio. Além desses meios de verificação de dia- gnostico, existem outros, a febre do Paludismo cede a applicação da quinina, o que não suc- cede com a Trypanosomiase. No segundo periodo, quando notam-se tre- mores (tremores fibrilares da lingua e das mãos), cephalalgia, tendencia ao somno, o diagnostico torna-se mais facil, porém, ape- zar disso o medico deve procurar saber de que região veio seu doente, porque assim bem orientado, chegará mais depressa a firmar o seu diagnostico. No segundo periodo, a Trypanosomiase ainda pode se confundir com a paralysia ge- ral com certas affecções cerebraes (syphilis etc.), com o Tabes dorsuales, Beri-beri, uremia. Na Paralysia geral e no Tabes dorsuales não se nota a febre hectica, como succede com a Trypanosomiase, na paralysia geral, as per- turbações cerebraes são mais acentuadas, no Tabes o symptoma dominante é a incoorde- nacão dos movimentos. > O Beri-beri é caracterisado pelas nevrites periphericas, o que não se observa naTrypa- nosomiase, ainda mais, a febre e a somno- lencia não são observadas no Beri-beri. 54 FRANCO DE SÁ’ Prognostico De uma moléstia tão grave, como é a Trypanosomiase, até hoje sem uma medica- ção especifica, podemos ajuizar qual seja o seu prognostico. Todos os médicos, que têm acompanhado a marcha desta endemia são de opinião que ella sempre se termina pela morte, o que es- tá provado pelas estatísticas que não registam um só caso de cura. Em alguns casos, pode-se, dizem elles, prolongar a vida por algum tempo, mais evi- tar a morte é impossível. Dizem que o prognostico é tanto mais gra- ve, quando são encontrados Trypanosomas no liquido cephalo-rachidiano. V—Prophylaxia Já sabemos que a Trypanosomiase é uma moléstia, que se transmitte ao homem pela picada da mosca Tsé-Tsé. Convém que saibamos os seus costumes e os seus hábitos, para podermos evital-as. Encontram-se geralmente as Tsé-Tsé, nos logares, onde existem caças, o que lhes per- . mitte fazer facilmente a sua refeição de san- gue. THESE INAUGURAL 55 Porém o factor animal é secundário. Em regra geral? pode-se dizer que as Tsé- Tsé, têm predilecção pelos logares húmidos, baixos, quentes, pelas margens dos rios e loga- res visinhos, onde exista agua. Gostam também dos logares sombrios, taes como florestas, onde porém nunca se encontram estas terríveis moscas é nos logares descampados. As vezes são encontradas formando verda- deiros enxames, vivendo todas agglomeradas em um logar, o que deu logar a que na Áfri- ca se desse a essa agglomeração o nome de Fly-belt, (ou campo de moscas). Os Fly-belt, formam verdadeiras ilhas tão perigosas que os navegadores conhecem bem e que procuram evitar, corno igualmente fa- zem com os arrecifes. Durante a noite, pode-se atravessar, sem o menor perigo, porque durante as noites es- curas ellas(procuram agasalhar-se directamente na terra. Porém se a noite é clariada pela lua e se o tempo é quente, ellas sahem das suas habi- tações e picam, não só o homem como os outros animaes. Todas estas particularidades são hoje bem 56 FRANCO DE SA conhecidas dos indígenas, que sempre procu- ram tomar as suas precauções. Estas moscas têm, não só a vista muito apurada, como oolfacto? pois ellas precipitam- se de longe sobre a sua victima. O seu voo produz um certo rumor, do qual lhe veio o nome de Tsé-Tsé. Procuram sempre picar os animaes em partes desabrigadas, ou nas quaes elles não se possam defender, no homem procuram a região interscapular. Quando ella pousa para picar qualquer animal, toma a posição dos anopheles, isto é, colloca-se em posição vertical, a cabeça para baixo e o abdómen para cima. Quando começam a sugar, as suas azas ficam em movimento, produzindo o zumbido das abelhas, porém deixam de o fazer, quan- do o seu abdómen está distendido pelo sangue. Neste momento são incapazes de voar, procuram um logar para digerir. As moscas communs, que também têm o olfacto apurado, atiram-se aos lagares de on- de vêm as emanações, as Tsé-Tsé, nem a todas estas emanações accodem e chegam a fugir de algumas. Isso dá logar a que, em casos extremos 57 THESE INAUGURAL se lance mão dos excrementos para evitar as picadas terriveis das Tsé-Tsé. Durante o dia, é muito difficil apanhal- as, porém, pela manhã ou mesmo ao anoite- cer, com facilidade, ellas podem sêr apa- nhadas. A differença entre as moscas Tsé=Tsé e os mosquitos, é que aquellas, tanto um sexo como o outro são hemophagos. A picada produzida pela Tsé-Tsé é igual a do mosquito e a irritação local é quasi nulla. Sendo a Tsé-Tsé o vehiculo germen conhe- cido da Trypanosomiase humana, convém sa- ber em que fonte ella vai buscar o germen, se na humana ou na animal. Se é na primeira, convém que isolemos os doentes de Trypanosomiase, impedindo que as moscas venham se infectar e, por con- seguinte, propagar a moléstia. Para esse fim, podemos lançar mão dos mosquiteiros,* tellas de arame, onde collocare- mos o doente durante o dia. Se é na fonte animal o problema torna* se mais complexo e então temos dois cami- nhos a seguir, ou destruir todos os animaes, que possam infectar as moscas, ou então declararmos guerra viva a estas ultimas. 58 FRANCO DE SA Diz Le Dantec que o meio mais seguro, para previnir a moléstia do somno, é a ino- culação de um serum com propriedades im- munisantes o que já se tem ensaiado no ho- mem sem o menor proveito. Emfim, em uma localidade, onde reine a Trypanosomiase, as medidas hygienicas seve- ras não se devem fazer esperar. VI—Tratamento O tratamento da moléstia do somno é ainda muito complexo. Muitos médicos aconselham o emprego da medicação tónica, o ferro, a quinina e o acido arsenioso combinados, que na opinião de Castellani dá optimos resulta- dos, nos casos complicados de paludismo. Das experiencias feitas em animaes, con- clue-se que dando-se arsénico em fortes doses e espaçadas, obtem-se grandes vantagens na cura da Trypanosomiase humana. A medicação deve ser prompta, uma vez que o diagnostico esteja firmado. Broden tem empregado, com vantagem, injecçoes de licor de Fowler, no primeiro pe- ríodo da infecção e diz elle que os Trypano- THESE NAUGURAL 59 somas, com esta medicação, desapparecem do sangue. Ehrlich e Shiga têm empregado, dizem elles, com vantagem, no tratamento do mal de caderas, um producto corante da serie benzopurpurina, ao qual deram o nome de Trypanroth. Nos animaes infectados, nos quaes se faz uma injecçao do Trypanroth, são necessárias quarenta e oito horas, para que os Trypano- somas desappareçam da grande circulação. Laveran, este grande investigador, a quem muito se deve em seus estudos feitos sobre a Trypanosomiase, espera colher optimos resul- tados para o tratamento desta moléstia, as- sociando o Trypanroth ao acido arsenioso, sendo este empregado em doses fortes. Segundo um jornal, que temos em mão, vemos que o sabio Koch diz ter descoberto o remedio para acura da Trypanosomiase, po- rém, não podemos dar aqui alguns esclareci- mentos sobre este novo tratamento, porque só o conhecemos de noticia. Queira Deus que os seus estudos sejam coroados do melhor exito, sendo este grande sabio, mais uma vez merecedor da gratidão da humanidade. PROPOSIÇÕES Ó Bibliographia Maladie du sommeil et Trypanosomes Dr. Blanchard Sur la transmission de la maladie du som- meil par les mouches Tsê-Tsé-. . Action de Vacide arsenieux sur le Tnjpa- nosomes de la maladie do sommeil ■ Laveran Sur Vagente pathogeno de la Trypanoso- miase humaine Sur um cas de Trypanosomiase chez un blanc Trypanosomes et Trypanosomiases Laveran et Mesnil Dados etioloyicos da moléstia do somno... Dr. Brault The Journal of Tropical Medicine Estudos sobre a etiologia da moléstia do somno Castellani Acide arsenieux contre la maladie du sommeil Brumpt e Wurtz Tropical Diseases Patrick Manson Sur les maladies à Trypanosomes Kocli Moléstia do somno Wurtz PROPOSIÇÕES CHIMICA MEDIOA I O arsenio é um metalloide que poucas vezes se encontra em liberdade. II Segundo a opinião geral o arsenio em es- tado elementar não é venenoso, embora Or- fila tenha pensado de modo contrario. III Os seus compostos, porém, são muito tó- xicos e são frequentemente empregados na lethargia Africana. HISTORA NATURAL MEDICA I Os Trypanosomas pertencem ao genero Trypanosoma dos acrospidina, tribu dos oli- gomastigida, sub-ordem dos monadida, or- dem dos enflagellada, sub-classe dos flagel- lata, classe dos infusorios, ramo dos protozoa. II São flagelliferos de membrana ondulante lateral, corpo geralmente fusiforme com duas massas chromaticas distinctas e desiguaes. 66 FRANCO DE SA III Os Trypanosomas são muitos, não só com- muns ao homem como a outros animaes. MATÉRIA MEDICA, PHARMACOLOGIA E ARTE DE FORMULAR I Foi o Dr. Kaposi quem introduzio na ma- téria medica o naphtol. II Sua solução ao millesimo previne e impe- de as fermentações. III E1 incompativel com a antipyrina. ANATOMIA DESCRIPTIYA I O baço tem a forma de uma pyramide mais ou menos quadrangular, acha-se situado profundamente no hypochondrio esquerdo* II O fígado apresenta a forma de um segmen- to ovoide, está situado no hypochondrio di- reito, occupando também parte da região epigastria. III Os lethargicos ás vezes apresentam alte- rações nestes dois orgãos. THESE INAUGURAL 67 HISTOLOGIA I O numero de hematias por milímetro cu- bico de sangue é mais ou menos de 5,5oo.ooo. II O diâmetro medio das hematias é de 7 a 7,5 millesimos de millimetro. III Na Trypanosomiase o numero de hema- tias por millimetro cubico, é na media de 3.5oo.ooo. PHYSIOLOGIA I A funcção respiratória se exerce com in- tensidade no pulmão direito, graças ao seu maior volume e ás suas relações anatómicas. II Normalmente a expiração equivale a um terço do acto inspiratorio; em certos estados morbidos, os dois actos podem se executar no mesmo espaço de tempo. III Na Trypanosomiase os movimentos respi- ratórios chegam a attingir a cifra de 3o por minuto. 68 FRANCO DE SA BACTERIOLOGIA 1 A technica para o estudo dos Trypanoso- mas é a mesma que para o hematozoario de Laveran. II Fazendo-se a centrifugação, do sangue ou do liquido cephalo-rachidiano repetidas vezes. III Os processos de coloração mais emprega- dos são o de Romanowsky (eosina-methyleno) e de Laveran (eosina-methyleno Borrei.) PATHOLOGIA MEDICA 1 A Trypanosomiase é funcção do Trypa- nosoma Gambiense. II Inoculados no homem pela mosca Tsé-Tsé (palpalis.) III Caracterisando-se sobretudo pela tendem cia ao somno. PATHOLOGIA CIRÚRGICA I Fractura é a solução de continuidade de um osso produzida bruscamente. THESE INAUGURAL 69 II Callo é a cicatriz resultante no osso após uma fractura. III Tem se observado que a formação do cal- lo nos indivíduos atacados de Trypanosomiase é muitas vezes retardada. ANATOMIA E PHYS10L0GIA PATHOLOGICAS T A As lesões anatomo-pathologica na Trypa- nosomiase são importantes. II Os seios da dura-mater apresentam-se mais ou menos congestos e os vasos arachnoi- dianos augmentados de volume. III O cerebro nas mais das vezes apresenta- se com infiltração serosa. OPERAÇÕES E APPARELHOS I Chama-se rectotomia a incisão do recto praticada de fóra para dentro ou de dentro para fóra. II A incisão feita de dentro para fóra deno- mina-se rectotomia interna. 70 FRANCO DE SA III A de modo contrario chama-se rectotomia externa. THERAPEUTICA I Muitos são os medicamentos estabelecidos para a cura da Trypanosomiase II Os principaes são: mercúrio, ioduretos, quinina, azul de methyleno, arsénico etc. III Porém a que parece talhada para dar bons resultados é a associação do arsénico a uma substancia corante da serie ben\opurpurina, a qual se tem dado o nome de Trypanzoth. CLINICA PROPEDÊUTICA I O exame do sangue nos lethargicos presta relevantes serviços. II Notando-se uma diminuição considerável dos globulos vermelhos, que asmais das vezes chega a J.5oo.ooo por millimetro cubica. III A curva leucocytariá observada na Trypa- nosomiase, dá um augmento de mononucle- THESEINAUGURAL 71 ares, sendo porém, que nas crianças observa- se também a eosinophylia. CLINICA CIRÚRGICA [ 2 a Cadeira) I O mais frequente dos tumores da língua é incontestavelmente o epithelioma. II Situado neste orgão elle constitue uma das mais graves affecçÕes. III Notando-se as mais das vezes nos fumentes e é por esse motivo que é mais frequente no homem do que na mulher. CLINICA CIRÚRGICA (I.a Cadeira) I O diagnostico dos aneurismas é difficil em certos casos. II A pulsação é um symptoma primordial de um aneurisma arterial. III O tratamento mais efficaz desta affecção é a ligadura. CLINICA MEDICA (£.a Cadeira) I O quadro clinico da Trypanosomiase é vasto. 72 FRANGO DE SA II Algumas veses confunde-se com o Palu- dismo ou com a Filariose. III Porém em casos de tal ordem, urge que se procure oTrypanosoma no sangue ou no liqui- do cephalo-rachidiano. CLINICA MEDICA (l.a Cadeira) 1 Um dos principaes symptomas no i° peri- odo da Trypanosomiase é a febre, que tem o caracter das febres hecticas. II A este symptoma reune-se os tremores, que augmentam com o progredir da endemia. III Finalmente, a somnolencia, no segundo periodo predomina sobre todos os outros sym- 9 ptomas. CLINICA DERMATOLÓGICA E SYPHILIGRAPHICA I As dermatoses sao observadas na Trypa- nosomiase. II Nos indivíduos de raça branca, atacados de THESEINAUGURAL 73 Trypanosomiase, observam-se erupções papu- losos ou vesiculosas. III A raça negra parece refractaria a estas eru- pções. CLINICA OPHTALMOLOGlCA I O apparelho ocular pouco soffre na Try- panosomiase. II As vezes nota-se dilatação das pupillas. III Porém não se observam paralysias oculares nem lesões do fundo do olho. % CLINICA PEDIÁTRICA I As crianças pagam o seu tributo a Trypa- nosomiase. II Antigamente acreditava-se queella atacas- se de preferencia as de idade mais nova, porém hoje está provado que ellas são accommettidas em qualquer idade. III E1 o seu prognostico quasi sempre funesto. 74 FRANCO DE SA CLINICA OBSTÉTRICA E GYNECOLOGICA I Distinguimos durante o trabalho do parto 3 rupturas: as completas do pereneo e da maior parte da divisão rectovaginal, as centraes dorecto em que o feto pode passar atravez da divisão recto-vaginal e sahir pejo anus, as in- completas limitadas a divisão recto-vaginal. II Estas rupturas apresentam accidentes e in- convenientes, uns proxirnos e outros tardios, que muita vez eompromettem a vida da partu- riente. III Devemos, afim de evitar taes desordens, proteger o perineo e quando apezar dos esfor- ços empregados pelo médicos ellas se derem, fazer hemostasia da ferida e depois a repara- ção immediata pela sutura. OBSTETRÍCIA 1 Devemos antes do parto desembaraçar o recto de suas matérias fecaes com um clyster contendo colheradas de glycerina, pois ellas accumulando-se ahi, formam um tumor que, embaraçando consideravelmente a ampliação THESE INAUGURAL 75 genital e endurecendo-se, pode difficultar o trabalho do parto. II .Além das conveniências acima apontadas, ha outra de grande importância, é que livramos a parturiente do dissabor de vêr-se em estado repugnante pela sahida involuntária das maté- rias fecaes. III Outrosim, devido a esta ultima causa que ella suspenda os puxos tornando desta forma mais demorado o parto. ANATOMIA. MEDlCO-CIBAiRGTCA I E’ indispensável ao operador o conhecimen- to anatomico de uma região. II * A artéria femoral atravessa longitudinal- mente a região interna da coxa, em direcção obliqua de cima para baixo, de fora para den- tro e de diante para traz. III Esta artéria tem por limite o orifício infe- rior do 3o abductor, tomando d’ahi em diante o nome de poplitéa. 76 FRANCO DE SA MEDICINA LEGAL E TOXICOLOGIA T JL Segredo profissional é aquelle de que o medico se torna depositário no exercicio de sua profissão. II Elle é um dever sagrado, que não deve ser violado. III Em certos casos, muito raros, o medico vê-se legalmente obrigado a revelal-o. CLINICA JPSYCHIA TRICA E DE MOLÉSTIAS NERVOSAS 1 As perturbações nervosas são communs na Trypanosomiase. II O reflexo rotuliano é na maioria dos ca- sos abolido. III Nota-se também, ligeira diminuição dos reflexos cremastoriano, bicipital e pupillar, HYGIENE I A Trypanosomiase é uma moléstia commum aos paizes quentes. THESEINAUGURAL 77 II Era crença geral que a Trypanosomiase só atacava os negros. III Hoje porém, está provado, que toda e qual- quer raça pode ser atacada, citando-se in- numeros casos de brancos victimados pelo terrível mal. Visto. ( Bahia e Secretaria da Faculdade de Me- dicina da Bahia, 3i de Outubro de igob. 0 Secretario, S)r% Ddlenandro dos Jjjis Ddíeireííes