Faculdade do Medicina da Bahia TITESE APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Eui IO tlc S<iteinbro do 1907 PARA SER DEFENDIDA POR ékefferson Mirmino Çpibeiro ( Piiarrnaceulieo diplomado pela mesma Faculdade) NATURAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO AFIM DE OBTER 0 GRÁO DE DOUTOR IP 7UY MEDICINK ©lilIlTâfll CADEIRA DE PHYSIOLOGIA Da puberdade m mulher PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de scicvcias medicas e cirúrgicas BAHIA Typ. tio Salviwlor - Cudiodral 1907 Faculdade de Medicina da Bahia Direçtor—Dr. ALFREDO BIUTTO Vice-Director —Dr. MANOEL JOSE’ DE ARAÚJO Lentes cathedraticos OS DRS. MATÉRIAS UUE LECCIONAM 4-,a SECÇÃO A. Carneiro de Campos Anatomia descriptiva. Carlos Freitas Anatomia medico-oirurgica. 2a Secção Artonio Pacifico Pereira. . . . Histologia Augusto C. Vianna Bacteriologia Guilherme Pereira Rebello. . . . Anatomia e Physiologia pathologiea* 3a Secção Manuel José de Arauj'o ..... Physiologia. José Eduardo F.de Carvalho Filho. . Tiierapeutica 4." Secção Josino Correia Cotias Medicina legal e Toxicologia. Luiz Anselmo da Fonseca Hygiene. 5a Secção Braz Hermenpgi.do do Amaral . . Pathologia cirúrgica. Fortunato Augu‘sto da Silva Júnior . Operaçoese apparelhos Antonio Pacheco Mendes . * . Clinica cirúrgica, I.» cadeira Ignacio Monteiro de Almeida Gouveia . Clinica cirúrgica, 2.a cadeira 6a Secção Aurélio B Vianna. Pathologia medica. Alfredo Britto Clinica propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho. . . Clinica medica 1‘» cadeira. Francisco Braulio Pereira Clinica medica 2.a cadeira 7. a Secção José Rodrigues da Costa Dorea . . Historianatural medica. Victorio de Arauj'o Falcão . . . Matéria medica, Pliarmacologia e Arte \ de formular. José Olympio de Azevedo .... Chímica medica. 8. a Secção' Deocleciano Ramos Obstetrícia Climerio Cardoso de Oliveira . . Ciinicaobstetrica e gynecclogiea. 9a Secção Frederico de Castro Rebello .... Clinica pediátrica 40. Secção Francisco dos Santos Pereira. . . Clinica ophtalmologica. 14. Secção Alexandre E. de Castro Cerqueira . Clinica dermatológica e syphiligraphica 42. Secção Luiz Pinto de Carvalho Clinica psychiatrica e de moléstias nervosas. JoãbE. de Castro Cerqueira ... , Sebastião Cardoso ) F.m disponibilidade Substitutos OS DOUTORES José AlTonso de Carvalho 1.' secção Gonçalo Moniz Sodré de Aragào . . . 2a > Pedro i.uiz Celestino . . . . 3. » Oscar Freire de Carvalho 4.a Antonino Baptista dos Anjos 5.a João Américo Garcez Froes 6.a » Pedro da Luz Carrascosa e José Julio de Calasans 7. a J. Aileodato de Sou ta ....... 8.a Alfredo Ferreira de Magall ães ... 9.a » Clodoaldo de Andrade 10. » Albino A. da Silva Leitão 11. » ; 12. » Secretario—DR. MENANDRO DOS REIS MEIRELLES Sub-secretario—DR. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA A Faculdade não approva nem reprova as opiniõe-j exaradas na* thT... pelos »eus âuctorea. DISSERTAÇÃO CADEIRA DE PIIYSÍOLOGIA Da puberdade na mulher CAPITULO I Modificações somaticas geraes Íào c tão simples e íacil, cqino parece a primeira * * vista, dar uma definição concisa e exacta da puberdade. Reportando-nos a etymologia, a palavra púbere quer dizer, cobrir-se de pellos. A puberdade seria, pois, a epocha cm que nos dois sexos o systema piloso desenvolver-se-ia ao nivel das cavidades axillares e da região pubiana. Devemos desde já assignalar, que este crescimento de pellos não se completa em uma semana, ou em um mez, e portanto, a phaso da puberdade deve durar mais que uma epocha menstrual, rasão pela qual não devemos absolutamente confundir a palavra puberdade com a expressão « erupção das primeiras regras». A erupção das primeiras regras-é um dos phenomenos, que caracterisam esta epocha de transição, em virtude da qual a menina se transforma em mulher, é a manifestação mais apparente desta transformação. Littré, diz, a a puberdade é o apparecimento da facul- dade procreadora, ou melhor, a serie dos phenomenos de crescimento que acompanham a primeira ovulação >>. 2 Seria acceitavel esta definição, si não conhecêssemos a observação de Bossi, onde este autor se refere a uma púbere na qual uma hysterectcmia denotou a ausência de trompas e ovários, e, portanto da faculdade pro- creadora. Entretanto, essa doente era púbere, e suas regras se manifestavam com a maxima regularidade. Biérení, define a puberdade dizendo « c’est un syndrome phisiologique, comprenant 1’ensemble des actes organiques qui s’accomplissent, chez 1’homme et chez la femme, en vue de la generation, et, survenant à un âge determine et variable pour chaque individu ». Como Barbaud, achamos que esta definição não dá a idéa exacta do que seja este syndroma. Este autor quer que a pubeídade seja «o appareci- mento do fluxo sanguineo, correspondendo a primeira ruptura de um folliculo de Graaf, chegado à maturidade sob a impulsão do íunccionamento do ovário ». Rullier diz a a puberdade é a epocha da vida, particular- m ente caracterisada pelo desenvolvimento rápido, e pela aptidão ao exercido de suas funeções, que adquirem os orgãos de reproducção da especie ». Com Lacassagne definiremos a puberdade « um periodo de duração media de cinco annos, caracterisado pela evolução completa dos orgãos genitaes, e pelo appareci- mento da menstruação ». 3 Não devemos também confundir puberdade com nubili- dade, que é a epocha em que a mulher está apta a procrear. Para Pajot a nubilidade indica a idèa do uma aptidão, ao passo que puberdade implica a de uma condição particular, que favorece e torna possível o exercício desta aptidão. .V chegada da epocha púbere varia enormemente na mulher; ella é modificada poderosamente pelo clima, pela raça, pelas condições especiacs do meio physico e moral, assim como, pelas condições de constituição individual. Em nosso meio a epocha da puberdade varia entre li e 14 annos, não sendo entretanto, uma media absoluta, p-ois há casos de raparigas regradas desde a idade de 10 annos, ao passo que outras não o são senão a 17 e 13, e algumas vezes ainda mais tarde. O calor tem uma influencia considerável sobre o desen- volvimento da puberdade. Nos climas quentes observamos o apparecimento pre- coce dos signaes da puberdade, ao passo que nos climas írios a puberdade é mais retardada. À temperatura elevada e secca que reina nos primeiros activando a circulação e excitando a sensibilidade, torna mais precoce a evolução das íuncções genitaes. Em 36 observações colhidas por nós aqui na Bahia, obtivemos para o estabelecimento da puberdade a media de doze annos e trez mezes. 4 A temperatura ambiente em que vivem os indivíduos, pode independentemente do clima ter um efíeito egual ao do calor natural, e Cabanis relata que nos paizes frios a erupção dos menstruos nas mulheres que estão constante- mente perto do calor, é prematura. A raça tem uma certa influencia sobre a puberdade, e esta influencia se faz ainda sentir durante varias gerações, quando a família tem abandonado o logar de origem para expatriar-se. As raparigas inglezas nascidas na índia, continuão a ser regradas como si tivessem nascido na Inglaterra, ao passo que a primeira erupção das regras nas rapa- rigas de Calculiá tem logar entre 12 e 13 annos. As condições hygienicas, assim como o ambiente moral em que vivem as raparigas, exercem egualmente uma influencia sensível sobre o desenvolvimento da puberdade. O meio das grandes cidades em geral torna mais pre- coce a puberdade do que o meio campestre, e a causa disto parece estar nos excitantes diversos, taes como, bailes, theatros, conversações, leituras romanescas, ima- gens suggestivas, etc., causas estas que têm como efíeito excitar o sentido genesico, e apressar a cpocha púbere. Em uma pequena estatística, que fizemos sobre o as- sumpto, encontramos sobre 50 mulheres nascidas na cidade 12 annos como idade media do apparecimento das pri- 5 moiras regras, ao passo que sobre o mesmo numero nascidas no campo 13 annos era a media approximada. Uma boa constituição, e condições favoráveis de habi- tação e alimentação, acceleram o desenvolvimento da puberdade. Em uma mesma cidade, nota-se que as raparigas per- tencentes a classe operaria, são formadas mais tardia- mente, que as da classe elevada. Parece-nos que a questão da alimentação deve dar em parte a explicação do caso. As jovens camponezas e operarias empregam as forças ò apparelho locomotor ás diversas necessidades rústicas ou industriaes, que lhes tirando a opportunidade de se entregarem aos devaneius da imaginação, aCalmão as paixões e fatigão o corpo. À nutrição geralmente insufficiente e grosseira não as sustenta senão relativamente, e não tarda a preci- pitar o apparoci inepto da miséria physiologica, que alem de retardar a evolução púbere, ainda as condemna a uma vida tão miserável, quanto ephemera. Nas classes elevadas, porem, uma nutrição mais copiosa, substancial e adubada, favorece ao mesmo tempo uma reparação mais completa, eum crescimento melhor ampa- rado, dando como resultado uma formação mais precoce. A habitação exerce alguma influencia sobre a puberdade. 6 À privação do sol c do ar puro, retarda a evolução normal da epocha púbere. O trabalho cm compartimentos mal ventilados e peior illuminados, estiola a operaria, que. ainda soffre os effeitos do ajuntamento de muitas pessoas cm um espaço relati- vamente pequeno. E’ também considerável a influencia do meio social, encontrando-se para as raparigas ricas um conjuncto de circumstancias pro[)icias ao augmento da susceptibilidade nervosa, taes como, inacção, espectaculos mais ou menos suggestivos, leituras de romances e poesias, contemplação de estatuas e quadros lascivos, etc. A constituição individual e o temperamento, também desempenham um papel importante na puberdade. Para Despines, os cabellospretos, olhos prelos, escuros, ou cinzentos são indicio de uma formação precoce; pelo contrario os cabellos castanhos com olhos verdes, ou azues corresponderão a uma menstruação tardia. Basset, diz, que um temperamento sanguíneo apressa esta funeção, ao passo que um temperamento lymphatico a retarda. Quanto ao temperamento nervoso a influencia seria, ora em um sentido, ora em outro, segundo a direcçâo dada as impressões das raparigas. As mulheres de constituição forte e robusta são mens- truadas mais cedo, que as fracas e delicadas. 7 Convém notar, entretanto, que o desenvolvimento do tecido adiposo não implica geralmentc uma boa consti- tuição, e que pelo contrario as mulheres gordas são regradas níais tarde, e são menos fecundas que as outras. Para Stolz a constituição e o temperamento teriam sobre a eclosão da puberdade uma influencia toda secundaria, e admittc que uma rapariga delicada, mas de impressiona- bilidade maior e intelligenc-ia mais viva, será formada mais precocemente, que uma outra em condições inversas. O que a natureza, continua Stolz, despende nestas ultimas para o desenvolvimento do corpo, emprega nas primeiras ao estabelecimento da puberdade. * * * O apparecimento da actividade genesica constituo uma epocha de grande importância pelas numerosas c impor- tantes modificações, que sobreveem no organismo. Esta epocha é caracterisada pela formação dos verda- deiros atíributos sexuaes distinctivos, e por importantes modificações dos caracteres physicos e raoraes da mulher. O fluxo sanguíneo, que acompanha a ovulação, é prece- dido geralmente, de uma ligeira secreção serosa do utero> dores lombares, dor de cabeça, dores no baixo ventre, na bacia, vermelhidão da face, endurecimento dos seios, sensação de calor, e prurido nas partes genitaes. Este fluxo de duração media de 3 a S dias repete-se 9. 8 cada revolução lunar, cmquanto dura a actividade repro- ductora. Ao mesmo tempo, os orgãos genitaes externos com- pletam o seu desenvolvimento, as nyinphas crescem e adquirem uma viva sensibilidade, a bacia, e o utero se alargam, a mucosa destes orgãos segrega mais abundante- mente, os ovos aptos a fecundação se destacam e pelo mechanismo da menstruação percorrem as trompas e o utero. Os seios arredondam-se e sua aureola pigmenta-se. Entre os phonomenos, que se produzem na epocha da puberdade no organismo feminino, ha um certo numero que reapparecem regularmente a cada menstruação. Assim é que a pigmentação cutanea observada no esta- belecimento da funcção menstrual, se reproduz cyclica- monte em cada periodo catamenial. No momento das regras, a cor torna-se plúmbea, ou amarellada, os olhos apresentam uma orla escura ou preta, parecendo que esta pigmentação, é devida a oxydação imperfeita do carbono. As glandulas sebaceas desenvolvem-se no momento da puberdade, e as glandulas sudoríparas augmentam a actividade da sua secreção. Os pellos apparecem no pubis e nas axillas, precedendo aquelles de alguns mezes a funcção menstrual. Na puberdade os membros parlem augmentar de m 9 comprimento, em detrimento das dimensões transver- saes. Os differentes íócos de ossificação tendem á se soldar, porem este trabalho não fica completo nesta epocha. DiíTercníes íactores podem influenciar o crescimento dos ossos, os principaes são, o papel da alimentação, e o das glandulas de secreção interna. Uma alimentação insufficiente durante o periodo de desenvolvimento orgânico, determina um retardamento na ossificação. Esta se faz lenta, incompletamente, e permitte a carti- lagem de conjugação continuar a sua obra de edificação além dos limites normaes. Os indivíduos ficam altos, magros, enfraquecidos pelo crescimento excessivo do systema osseo, que utilisa em seu proveito os materiaes de nutrição destinados a outros orgãos, e deixa assim os adolescentes expostos a todas as moléstias da puberdade. Em outra parto trataremos da acção das glandulas de secreção interna, sobre o desenvolvimento orgânico no momento da crise puberal, mencionando desde já, que a ablação dos ovários determina um exagero de crescimento no esqueleto, sobretudo dos membros inferiores, ao passo que a ausência do corpo thyroide determina uma parada do crescimento. 10 0 talhe alonga-se muito na mulher na epocha da puberdade. O crescimento rápido é acompanhado algumas vezes do dores epiphysarias, de perturbações dyspepticas e neuras- thenia. Modificações importantes para o lado da bacia sobrevcm na epocha púbere. Os dois ossos iliacos unidos para diante pela symphise pubiana, e para traz por intermédio do sacrum, circums- crevein a bacia. O sacrum compõe-se de duas partes, uma de 3 vertebras articulando-se com o osso ilíaco; a outra de 2 ou 3 vér- tebras livres por seu bordo externo, tendo uma gotteira rachidiana, e representando um sacrum supplementar ligado ao precedente. O coccyx comprehende 4 ou 5 íalsas vertebras. Na infancia estas vertebras sào isoladas; ellas se unem na idade de 8 a 10 annos, e se fundem definitivamente entre 15 a 18 annos. O sacrum começa a soldar suas vertebras na epocha da puberdade, torna-se mais largo, e sua curvatura ruais pronunciada. As tres peças do osso iliaco soldam-se na puberdade pela ossificação da cartilagem em Y. Nesta idade apparece na parte antero superior da cavi- dade cotyloide, ao nivel da linha de demarcação entre o pubis e o ilion, uma peça intercalar, descoberta por 11 Àlbinus, o osso cotyloidiano, (}ue se solda com o visinho aos 18 annos. As superfícies articulares do sacrum, e do osso ilíaco tornam-se irregulares e rugosas, o queaugmenta a solidez da symphise sacro iliaca. A bacia do recem-nascido é a mesma nos dois sexos; o diâmetro antero posterior predomina sobre o transverso. A largura das azas do sacrum é extremamente pequena, comparada a das vertebras, razão pela qual a bacia neste momento é quasi recta. A face anterior é mais côncava transversalmente, e sua inclinação menor. Segundo Turquet e Cliarpentier, a bacia das raparigas apresentaria desde a vida intra-uterina uma predominância do diâmetro transverso sobre o antero posterior. Esta predominância soíTre uma ligeira diminuição du- rante os primeiros mezes da vida, diminuição que vai se accentuando até 5 annos. Aos 8 ou 10 annos as dimensões transversaes accusam uma ligeira diminuição comparativa, para augmentarem rapidamente, de tal forma que na puberdade a bacia attinge a sua forma definitiva. Esta transformação é devida sobretudo ao desenvolvi- mento das azas do sacrum. Alem disso o peso do tronco impedindo o sacrum na bacia, faz com que este osso soffra sobre seu eixo um 12 movimento de rotação, que abaixa o prornontorio, e tende a projoctar a ponta para traz, afim de manter o equilíbrio do corpo. À ponta sacra sendo mantida por ligamentos o sacrum tende á curvar-se sobre a face anterior. Por outro lado, mais a parte superior do osso tende a se enterrar na bacia, mais a resistência exercida pelos liga- mentos sacro iliacos se torna considerável, donde resulta uma tracção ao nivel da symphise pubiana, e um alonga- mento do coccyx, e também afastamento das duas cavidades cotyloides e augmento dos diâmetros transversaes. Dahi resulta a contra presstão exercida sobre as paredes antero lateraes da bacia pela cabeça do femur, e a forma definitiva desta na puberdade. A inclinação da bacia é o angulo que forma com o liori- sorífe, o plano do estreito superior, ou a linha que vai do prornontorio á parte superior da symphise pubiana, estando o indivíduo na attitude vertical. Este angulo diminue lentamente do nascimento á puber- dade. No recemnascido a inclinação é de 70 á 80°, na mulher púbere o 55 á 60°. Os musculos augmentam de volume com a idade. No nascimento as fibras musculares tem 15 microns; na puberdade 200, e na idade adulta 250 á 300. No começo da vida o numero dos elementos figurados do 13 sangue diminuo, para augmontar na puberdade, e decrescer na velhice. A quantidade de hemoglobina diminue bruscamentc depois do nascimento, augmentade maneira apreciável na puberdade, e fica estacionaria aos 45 annos. Algumas modificações sobrevêm no sangue no momento do corrimento menstrual. A taxa de hemoglobina decresce primeiramente no 6.° ou 7.° dia antes das regras, depois no fim da menstruação, e volta ao normal quando cessa o fluxo sanguíneo. Sfameni notou uma diminuição de 4,5 para 100, durante o periodo catamenial. Tres ou quatro dias antes das regras produz-se uma hypoglobulia, que em algumas mulheres persiste durante os menstruos; em outras a regeneração globular começa desde o fim da pliase prémenstrual. O valor globular diminue ligeiramente durante 2 ou 3 dias, no começo do periodo prémenstrual, sóbe depois a normal, e ahi se mantém definitivamente. Há hyperleucocytose desde o começo da crise premens- traal. Os polynucleares, os pequenos lymphocitos são abundantes antes das regras, os grandes mononucleares, durante a hemorrhagia catasmenial, e os eosinophilos no fim do corrimento. Na puberdade o crescimento da larynge é muito rápido, resultando disto differeriças caracteristicas na voz. 14 A cartilagem thyroidc desenvolve suas laminas, augmen- tando os diâmetros antero posterior e vertical. A cricoide, as arythenoides, tornào-se niais espessas, mais fortes, e a epigíotte mais larga. São sobretudo as cordas vocaes inferiores, e as partes grupadas ein torno destes orgãos, que crescem considera- velmente. E' com efleito na puberdade, que se dá a mudança da voz, a qual ganha em extensão, e adquire um tom mais alto. Depois da crise púbere as diversas partes da larynge continuam a crescer, porem lentamente, e em proporção tom o resto do corpo. 0 typo respiratório soffre modificações na epocha púbere. No homem tende a se estabelecer a respiração abdo- mino diaphragmatica, ao passo que, na mulher, a respi- ração costo superior se accentua cada vez mais. A quantidade de oxygenio absorvida augmenta na puberdade. Durante a infancia, a quantidade de acido carbonico exhalada é quasi a mesma nos dois sexos. Na puberdade, ao passo que no homem, a quantidade daquelle gaz con- tinua a augmentar regularmente até 30 annos, na mulher, a exhalação do mesmo gaz, cresce até a puberdade, depois fica estacionaria a partir do momento em que as regras apparecem. 15 A temperatura, diz Landois, varia de 31,° 1 a 37,“0 desde o nascimento até a puberdade, para abaixar em seguida lentamente até 50 aimos. À menstruação parece ter uma certa influencia sobre a temperatura normal da mulher. Bordeu considera o apparecirnento das regras como um verdadeiro movimento febril, uma verdadeira febre hemorrhagica. Wunderlich observou durante o corrimento menstrual uma ascenç.ão considerável da temperatura. Herming diz, que a temperatura baixa nos dias que pre- cedem a menstruação, eleva-se no dia do apparecirnento das regras, para descer no momento em que estas cessam. Para Trousseau, no momento do fluxo sanguíneo há em certas mulheres verdadeiros accidentes febris. Nas nossas investigações, não nos foi possível obter indicações precisas a respeito, parecendo entretanto que a elevação da temperatura no periodo menstrual é bas- tante commum no nosso meio. Na maioria dos casos observados notamos um augmento de 6 a 8 décimos de grão nos dias da crise menstrual; em outros nenhuma modificação observamos, e em raros casos notamos um abaixamento thermico. Francillon, é de opinião que se deve acceitar com reserva, as observações que affirmain a existência de uma febre menstrual. 16 ú E’ preciso, diz ella, saber si certas affecções cbronícas latentes não são a causa verdadeira das elevações then- inicas, que se tem observado no momento das regras». O accrescimo de trabalho imposto ao coração na epocha púbere, determina alguma vezes perturbações cardíacas, palpitações, crises de dyspnéa, e a dilatação apparente do orgão central da circulação, denominada hypertrophia de crescimento. Potain acha que esta designação é imprópria, admittindo que esta hypertrophia é inteiramente physiologica, como a que se observa no momento da gravidez. Na epocha púbere observa-se uma diminuição do nu- mero dos batimentos cardíacos. O augmento do choque cardiaco, algumas vezes obser- % vado na puberdade, é, na opinião de Potain, devido a delic-adesa dos tecidos, que separam a mão do observador do orgão central da circulação. Kisch estabelece trez categorias de indivíduos entre os que teem reacções para o lado do coração: 4.° nos indivíduos bem constituídos, notão-se palpitações ner- vosas, ou tachycardia paroxystica, manifestando-se por accessos, e desapparecendo depois do estabelecimento da menstruação. 2.° Nas raparigas chloroticas amenorrheicas, ou tar- diamente regradas, observão-se perturbações cardíacas analogas as das simples chloroticas. 17 3.° Em casos raros há uma verdadeira hypertrophia do coração. Na creança o coração é pequeno c os vasos largos; na puberdade dá-se o inverso, o coração é volumoso, c os vasos estreitos. Á pressão nas artérias variando cm rasão inversa do calibre do vaso, resulta que: 1. A pressão arterial é mais considerável no indivíduo em via de desenvolvimento ou já desenvolvido, do que na creança. 2. A pressão sanguínea nos vasos pulmonares deve ser relativamente mais elevada durante a infancia, do que na puberdade, pois nesta epocha a aorta, e a artéria pulmonar teem um diâmetro sensivelmente egual. A menstruação tem uma influencia manifesta sobre a pressão arterial. Yerneuil, tendo observado em uma mulher atacada de polypos das fossas nasaes, e em operados, ao nivel da ferida operatória, hemorrhagias cutaneas e mucosas, du- rante o corrimento mensal, fez notar o augmento da tensão sanguínea no momento da crise. Estas moditicaçòes são naturalmente devidas a uma acção reflexa tendo um ponto de partida genital. Passemos agora a tratar do papel das secreções in- ternas. Segundo os trabalhos de Glaude Bernard, está plena- 18 mente demonstrado, que há ao lado das secreções ex- ternas, outras secreções derramadas no meio interior. O papel destas secreções sobre o desenvolvimento do organismo é -preponderante, a sua influencia sobre o crescimento é manifesta, e o seu effeito sobre a nutrição è directo. Na epocha púbere, em que as glandulas ovarianas principiam a sua funeção, em que augmenta a actividade do corpo thyroide, e em que a acção do thymus cessa, o papel das secreções internas reclama a nossa attenção. O systema osseo em seu desenvolvimento é influen- ciado pelos ovários, A ausência destes orgãos determina na mulher um ciracter de infantilismo. Loisel diz : « a mulher castrada na infancia, tem um esqueleto augmentado do lado dos membros inferiores; o busto, a face, e o craneo são pelo contrario dimi- nuídos.:» *. Richon et Jeandelise, demonstraram em animaes cas- trados pouco depois do nascimento, e mortos após com- pleto desenvolvimento, um certo grâo de dolichocephalia. A secreção ovariana exerce igualmente a- sua influencia sobre a qualidade do tecido osseo. Assim é que a osteomalacia, caraclerisada pela menor solidez dos ossos, está, pelo menos em parte, sob a dependencia de uma perturbação funccional do ovário. 19 «Parece, diz Francillon, que dos ovários parte uma excitação agindo por via reflexa sobre os nervos vaso dilatadores dos ossos, para determinar a hyperemia passiva, a accumulação de acido carbonico, e a reabsorpção de saes calcareos». Gosatulo e Tarulli, tendo apreciado na cadella, depois, da castração, a eliminação de acido phosphorico, admittem que este corpo se une em maior quantidade as bases terrosas, para se accumular nos ossos, sob a forma de phosphato de cálcio, e magnésio. A conclusão tirada por elles, é que o ovário .segrega um producto determinando a oxydação das substancias organicas phosphoradas; a extirpação das glandulas ovarianas determinaria a retenção do phosphoro, dando em resultado a accumulação de saes calcareos, e o restabelecimento da solidez normal do osso. Ainda mais, tem sido combatido com successo, pelas injeaçoes de extractos de ovário, as perturbações devidas a insufficiencia da secreção ovariana, observadas no momento da puberdade, e caracterisadas pela cephalalgia, rachialgia, asthenia, insomnia, etc. Morris fez apparecer a menstruação em uma rapariga de 20 annos, enxertando sobre a parede uterina, um fragmento de ovário proveniente de outra mulher, e conclue de suas observações, que ha entre o utero e o ovário, influencias reciprocas de natureza nutritiva. 20 Nao é menos importante, que a do ovário, a influencia que, na epocha da puberdade, exerce sobre as trocas nutritivas do organismo feminino, aglandulathyroide. Hofmeister observou em ovelhas thyroidectomisadas na idade de cinco a seis semanas, uma parada notável do desenvolvimento. A differença de peso entre os animaes operados e os animaes testemunhas, era tanto maior quanto a operação tinha sido praticada em idade mais tenra. Ilorsley assevera que o myxaedema das creanças, e o cretinismo congénito dependem da atrophia da glandula thyroide. «A funeção thyroidiana não age somente sobre o systema osseo, mas ainda sobre o desenvolvimento psychico, e repercute sobre a funeção menstrual, diz o referido autor. » Os factos clinicos confirmam as buscas experimentaes, e mostram as relações das glandulas ovarianas, e do corpo thyroide, com o desenvolvimento orgânico, e em particular com a crise puberal. No momento da puberdade o pescoço augmenta de volume, e Meckel dizia que «le corps thyroide est une repetition de 1’uterus au cou ». O bocio appareco nas raparigas principalmente no mo- mento em que se estabelece a menstruação, e ha quem 21 aí firmo quo ó tanto rnais frequente, quanto a monstruação é mais precoce. Entretanto, a nosso ver, a puberdade não c a causa primordial do bocio, mas esta epocha de desenvolvimento è particularmente favoraveí a proliferação dos germens congénitos. Para Freund, o desenvolvimento do corpo thyroide no momento da puberdade, seria devido a uma relação me- chanica da circulação, como se dá entre o ovário e a glandula mamaria. O augmento de volume do pescoço é analogo a hypcrtrophia dos mamillos, que se observa na epocha púbere. Das relações clinicas existentes entre as glandulas genitaes e thyroide, conclue-se, que em certas circums- tancias, como na puberdade, os phenomenos de origem genital determinam modificações geraes do organismo. Passando a tratar do thymus, diremos que este orgão augmenta de peso e volume durante a vida intra-uterina, e nos primeiros tempos do nascimento, para em seguida atrophiar-se. O seu desenvolvimento pàra entre o segundo e o quarto anno da vida, mas o orgão sò começa a regredir a partir da puberdade. À funcção desta glandula parece limitada a vida em~ bryonaria, e aos primeiros annos da vida extra-uterina. Suaacção sobre a nutrição geral, ainda não estádemons- 22 Irada, observando Francillon, que os animaes thymecto- misados apresentam anomalias do esqueleto, e diminuição da consistência das massas musculares. Para alguns o thymus tem uma funcção especifica, que consistirá na accumalação de materiaes nutritivos, ou na reguiarisação pela secreção interna das trocas nutritivas- Hypophise — Esta glandnla parece influenciar o systema osseo. P. Marie tem observado alterações deste orgão na acromegalia, aíTecção que se acompanha de perturbações genitaes tão particulares, que Freund a attribue a desor- dens provenientes do estabelecimento da puberdade, e mais tarde das funcções genitaes. À amenorrhéa precede algumas vezes a acromegalia, que é sempre seguida da supprcssão do fluxo menstrual, e raramente da hypertrophia do thymus.' Órgãos genitaes — Cruvcillicr, Sappey, consideram a vulva como sendo o conjuncto dos orgãos genitaes externos da mulher. Para outros, porem, e entre elles Luscka, a vulva desenharia as partes visíveis no exterior, e a fenda que estas partes limitam. Na creança a situação da symphise pubiana, collocada mais para diante e para cima do que no adulto, faz com que os orgãos genitaes externos sejam muito appa- rentes. 23 À vulva é a principio lisa, saliente, os grandes lábios cobrindo os pequenos lábios. Na puberdade ella tumefaz-se, o orifício estreita-se, toma a forma de uma saliência arredondada, triangular ou cuneiforme. Na base da saliência acha-se o penil, que inferior- mente parece se bifurcar, formando os grandes lábios, que interccptam a fenda vulvar. Na extremidade anterior da fenda vê-se a glande do clitóris, sob a forma de pequeno mamilJo, coberto por um prolongamento cutâneo, o prepucio. Afastando os grandes lábios encontramos as nynphas ou pequenos lábios, que constituem o freio do clitóris. Na infancia o monte de Venus é separado da região hypogastrica pelo sulco pubo hypogastrico. Na puberdade elle faz saliência para diante e para cima da ferida vulvar, e continua-se inferiormente com os grandes lábios. Estes, que a principio se afastam em sua parte anterior, deixando a vulva entreaberta, 11a puberdade, quando este afastamento desapparece, são firmes, espessos, resistentes, intumescidos pelo tecido cellulo adiposo, que encerram. Os pequenos lábios, que antes formavam um triângulo de verfice inferior, no momento da adolescência affectam uma direcção antero-posterior, e são achatados transver- salmente. 24 E’ na puberdade que os corpúsculos gcnitaes da mo- Iher, de Krause, os corpúsculos da volúpia, de Finger, tomão maior desenvolvimento, e apparece a sua sensibi- lidade especial, ponto de partida do reflexo erectil. O clítoris attinge então 3 á 4 centimetros na flacciácz, e 4 1/2 á 5 centimetros no estado de erecção. Da vagina, cujo comprimento varia segundo as idades, temos a dizer, que na epocha púbere, as dobras que ella apresenta desapparecem, e a sua mucosa torna-se lisa. A circulação que lhe é própria torna-se mais activa. À membrana hymem offerece na puberdade a espes- sura media de um millimetro. A espessura, do mesmo modo que a forma, varia muito de indivíduo a outro, sendo muito provável, se- gundo Yibert, que no mesmo indivíduo a forma do orifício varie segundo a idade. O typo predominante è o circular. Em relação ao útero, achamos indispensável, para melhor comprebensâo das modificações importantes deste orgão na puberdade, fazer um ligeiro estudo da sua forma e situação, durante os estados anteriores ao desen- volvimento orgânico. No féto o utero penetra quasi sempre na grande bacia. E’ raramente mediano, de ordinário inclina-se sobre o eixo vertical, de maneira que o seu bordo esquerdo se torna ligeiramente anterior. 25 A antecurvatura mantem-se durante toda a vida intra- uterina, raramente se transformando em anteflexão an- gular. Assim no recemnascido podemos observar, quer um utero ligeiramente encurvado para diante, quer um utero quasi rectilineo. Em todos os casos o orgão repousa completamente sobre a bexiga. A forma do utero fetal é arqueada e cylindrica. A abo- bada do fundo falta, sendo substituída por une encoche, que corresponde ao nascimento dos cordões de Muller. A origem das trompas excede de cada lado o fundo do utero, que de ordinário termina por uma aresta aguda. No sétimo mez da vida intra-uterina o collo começa a se desenvolver mais rapidamente do que o resto do orgão. A parede posterior cresce mais do que a anterior, de modo que o orgão toma as vezes a forma de palhêta. Pouco antes do fim da vida intra-uterina, desenvolve- se então a parede anterior e o fundo do utero. O crescimento do utero faz-se de uma maneira intermit- tente durante a-vida intra-uterina. No sétimo mez, e no fim da vida fétal, as dimensões do orgão augmentão brus- camente. No recem-nascido a fo*ma do utero lembra a maior parte das vezes a do orgão adulto. O corpo é quasi triangular, o íúndo bem desenvolvido 26 excede a origem das trompas, as paredes anterior e poste- rior são convexas, e contrariamente ao que se dá durante a vida fétal elle pode exceder a bexiga. A arvore da vida começa a apparecer sobre a face interna do utero desde a segunda metade da vida fétal. No quarto mez a luz do canal uterino parece contornada em S., de tal modo que o lado esquerdo forma uma con vexidade, e o direito uma concavidade anterior. No correr do quinto mez a arvore da vida toma uma extensão rapida, e durante o sexto mez o orgao adquire a forma conservada durante a vida do feto. Elle se estende do orifício externo a origem das trompas, e é acompanhado no collo de dobras mais profundas, em forma de cul de sac. Glandulas de largas ramificações se encontram neste momento no collo do utero, c já o epithelio do collo e do corpo apresenta as differenças que existirão mais tarde. Durante a infancia o apparelho genital está em certo estado de repouso rclativamente a actividade funccional. O corpo do utero começa a diminuir de volume desde os primeiros mezes da vida. O fundo achata-se, torna-se quasi rectilineo; o collo, que constituo a metade do orgao, é ora cylindrico, ora triangular; o focinho de tença muito pouco saliente. O epi- thelio vaginal ganha a face externa do collo, e algumas vezes o canal cervical. Durante a infancia o utero é delgado, as paredes parecem 27 membranosas; mais tarde ellas se espessam, graças ao desenvolvimento da musculatura do corpo. A cavidade uterina alonga-se na porção correspondente ao corpo; o collo não augmenta as suas dimensões, somente o focinho de tença torna-se mais conico, mais saliente. Da arvore da vida restam apenas vestígios, uma pequena columna mediana que persiste até a puberdade (Symington). À situaçãodo utero na infancia é a maior parte das vezes em anteversao mais ou menos pronunciada. A situaçãodo corpo relativamente ao collo percorre todos os grãos entre a rectidão perfeita o a anteílexão angular aguda, obser- vando-se algumas vezes inclinações lateraes, outras vezes um ligeiro grão de retroflexào. Existem, pois, durante a infancia, posições anormaes do utero, como se observa algumas vezes na idade adulta- nos casos de dysmenorrhéa, e de esterilidade. Segundo Bayer, estas anomalias de situação do utero, não são congénitas, porquanto não teem sido observadas no feto, ou no recem-nascido; seriam deformações infantis, determinadas pela pressão dos orgãos visinhos, sobre o utero flaccido, não resistente, atrophiado durante sua evo- lução post-fétal. Na puberdade o utero augmenta de volume, sobretudo na parte correspondente ao corpo, de tal forma que excede 28 o collo, e as relações que existiam anteriormente entre estas duas partes, acham-se invertidas. O fundo desenvolve-se, torna-se chato, ou ligeiramente arqueado (Tourneuxc Bayer). As paredes se espessam, convindo notar, que este desenvolvimento das massas musculares do útero, que desempenham um papel tão importante na hypertrophia do utero gravido, não começa precisamente senão no fim da infancia, no momento da puberdade. O collo dilata-se ligeiramente na parte media, em forma de «barillet retreci dans le haut, effilé surtout dans le bas » (Courty ). A extremidade inferior do collo, apparece na vagina, como um cône—O orifício é arredondado, ou triangular, roseo, liso, regular, tendo a consistência do lobulo do nariz. Este orificio entreabre-se ligeiramente no momento das primeiras regras, para fechar-se depois do periodo mens- ti uai. Neste momento o estreito de 5 cã C millimetros de altura que constitue o orificio interno do collo, encurta-se, e dilata-se, para permittir a passagem do sangue menstrual. À mucosa uterina soffre na epocha que nos prende a attenção algumas modificações. A arvore da vida só existe no collo, as glandulas desta região ramificam-se. 29 À formação das glandulas do corpo demora bastante, mas precede o desenvolvimento interno do orgão. Na mulher virgem o corpo do utero não excede a altura do collo. Na nullipara o utero tendo 00 millimetros, o collo terá 26 á 30 millimetros, e o corpo 30 á 34. Na multipara o corpo forma os 3/5 (Sappey) ou os 2/3 (Krause) do orgão. O peso do utero, que na puberdade é de 40 á 50 grammas, attinge na multipara 105 á 120 grammas. O desenvolvimento do ovário faz-se muito mais regu- larmente, que o do utero, mas é bastante variavel de um indivíduo á outro. Durante a infancia o ovário cresce de maneira regular, o direito sendo sempre um pouco mais volumoso que o 'esquerdo. Na puberdade o ovário augmenta rapidamente, e attinge as seguintes dimensões:',^ Direito : comprimento—36,5 millimetros, altura—18 millimetros—espessura 13,7 millimetros. Esquerdo—comprimento 35 millimetros, altura—16,7 millimetros—espessura 11,3 millimetros. NTo momento dos períodos menstruaes o ovário au- gmenta de volume, particularmente o que possue a vesícula que se rompe. São, sobretudo, os diâmetros vertical, e transverso, que crescem neste momento. 30 No recemnascido os ovários sào inclinados horisontal- mente em relação ao eixo longitudinal. Na puberdade, quando a bacia se desenvolve em largura, os ligamentos largos, e as formações que delles dependem, são attra- hidos para fóra. Os ovários são então arrastados para as paredes da bacia, separados um do outro, e do fundo do utero. Seu pólo uterino dirige-se para fóra, de modo que pouco á pouco, elles deixam a posição transversa e obliqua, para se tornarem parallelos a linha imnominada. No centro do ovário, depois do nascimento, formão-se os folliculos primordiaes, constituídos por um ovulo cercado do pequenas cellulas ovaes, inclusas em uma cavidade, formada pelo afastamento das trabéculas do stroma ovariano. Estes folliculos persistem assim até a puberdade ou vão alem. As cellulas folliculares multiplicam-se, apparecem em camadas, superpostas englobando o ovulo; depois uma fenda apparece, separando a massa das cellulas em duas camadas, uma peripherica, formando a parede externa do folliculo, outra central, constituindo um mamillo continuo pela base com a zona peripherica— é o cumulus proliger. O ovário do recemnascido possue alguns folliculos de Graaf, e se tem mesmo observado estes folliculos no feto. Entretanto é a partir de 4 annos que se faz a sua apparição regular. 31 Na puberdade 30 á 40 folliculos de Graaf, augmentam de volume, e entram em acção quando se estabelece a íuncção menstrual. No nascimento a trompa tem já a sua situação definitiva, desce verticalmente ou um pouco obliquamente para dentro. A sua extremidade externa está ainda na fossa ilíaca, e não contrae senão progressiva mente suas relações com a glandula genital. CAPÍTULO II Synopse dos phenomenos pathologicos da puberdade numerosos quanto complexos, são os phenomenos pathologicos da puberdade. Não cabe nos estreitos limites deste trabalho, uma descripção succinta da pathologia púbere, assim é, que passaremos em ligeira revista as diversas desordens, que mais commumcnte se manifestam nesta epocha, come- çando pelas doapparelho genital em si, eem seguida nos occuparemos de desordens outras múltiplas, attribuidas a sympathia existente entre oapparelho gerador e demais orgãos. O corrimento menstrual pode não se dar, ou ser em quantidade diminuta, ou abundante. Dahi trez ordens de perturbações da menstruação: amenorrhéa, dysmenorrhéa) e hemorrhagias uterinas, que, por sua vez, se subdividem em menorrhagias e metrorrhagias. Com o professor Basset admittiremos uma amenorrhéa constitucional, outra local, e ainda uma terceira sympa- thica ou reflexa. 34 As causas bastante numerosas, susceptiveis de deter- minarem a amenorrhéa constitucional, podem ser attri- buidas a anemia, e a plethora. Na anemia, diz Monneret', o sangue |>obre em fibrina parece incapaz de imprimir ao utero, assim como aos outros orgãos, o estimulo necessário ao livre exercício de suas funcções,; pelo contrario na plethora o sangue muito rico em íibrina íaz obstáculo a si proprio, e interrompe o tluxo menstrual. A amenorrhéa local é determinada por um vicio congé- nito, ou adquirido, dos orgãos genitaes. As regras podem faltar no caso de haver para o lado do utero ou de seus annexosuma parada de desenvolvimento, e também quando houver algum vicio de conformação destes mesmos orgãos. Tanto na primeira como na segunda hypothese a amenorrhéa será congénita. Outras vezes, entretanto, os orgãos genitaes são normal- mente constituídos, e a hemorrhagia catamenial não se produz. Neste caso será preciso ir buscar a explicação do plieno- mano, no proprio tecido uterino mais ou menos alterado. Entre os vicios de conformação, susceptiveis de produ- zirem a amenorrhéa, temos a ausência congénita ou pro- vocada dos ovários, obliteração do collo do utero ou da vagina, imperfuração da membrana hymen, adherencia dos 35 grandes ou pequenos lábios, e final mente abertura da vagina no rccto, na bexiga, ou acima do púbis. A amenorrhéa sympathica ou reflexa prende-se a lesões, que não são localisadas no útero, nem em seus V. annexos, e sim em um outro ponto da economia. O frio, a parada da transpiração, a presença de vermes intestinaes, a administração de um purgativo intempestivo, uma emoção moral viva, podem ser a causa desta variedade de amenorrhéa. A dysmenorrhéa tem logar todas as vezes que a epocha das regras é precedida ou acompanhada de dores. Como a amenorrhéa ella pode ser constitucional, local e reflexa ou mechanica. A anemia e plethora gosam na dysmenorrhéa consti- tucional o mesmo papel que na amenorrhéa. Na dysmenorrhéa local o utero e seus annexos são a séde de um estado inflammatorio mais ou menos pronunciado, c segundo a predominância, dosphenomenos congestivos, ou dos phenomenos nervosos, temos a dysmenorrhéa congestiva ou nervosa, também chamada, quando reveste o caracter de uma nevralgia « hysteralgia». Na dysmenorrhéa reflexa a excitação sendo menor, ou a reacção que se segue a excitação sendo mais fraca, nota-se apenas uma certa difficuldade no corrimento mensal. A dysmenorrhéa mechanica explica-se por certas mal- formações congénitas, imperfuração da hymen, da vagina, 36 cio collo do útero, pela existência de coágulos, de polypos ou tumores obliterando o collo do útero, pela presença de corpos estranhos, ou ainda pela inércia especial da madre, determinando a « hydrometria » A menorrhagia caracterisa-se pelo exagero do corri- mento em cada epocha menstrual, não só em quantidade como em duração, e pode ser devida a causas locaes ou geraes. Entre as locaes temos as excitações reflexas partidas dos orgãos genitaes, e as moléstias a que elles estão sujeitos; (metrites, tumores, kistos). A menorrhagia geral tem como causa essencial a anemia, e muito principalmente a chlorose, vindo em seguida o escorbuto, a albuminúria, moléstias do fígado, etc. Quanto a metrorrhagia ella se distingue da menorrhagia, em que nesta ultima o corrimento sanguíneo coincide com o periodo catamenial, ao passo que naquella o corrimento tem logar em outra epocha. Passemos agora a fazer ligeiras considerações sobre outros phenomenos pathologicos da puberdade, dos quaes uns apparecem na própria epocha púbere, outros são influenciados por ella. Conforme Francillon, as psychoses da puberdade podem ser classificadas em: psychoses puras, estados regressivos, degenerescencia mental, psychoses combi- nada e psychoses por intoxicação. 37 As psychoses puras comprehendem a melancholia, a mania, a confusão mental e o dolirio hallucinatorio agudo. Nos estados regressivos temos a considerar a demencia precoce, a hebephrenia e a paralysia geral progressiva. A hebephrenia é caracterisada pela ausência de atten- çào, ao passo que a memória é conservada. A moléstia mental pouco influe sobre a saude physica do demente precoce, que pode ir até avançada idade. A degenerescencia mental traduz-se por anomalias phy- sicas ou psychicas, que se encontram em indivíduos, que tem uma tara hereditária ou adquirida, muito pro- nunciada. Estas anomalias são ora do dominio intellectual (idéas fixas, monomania), ora do dominio da vontade (abulias ), ora do dominio da sensibilidade e da moral (loucura moral). As anomalias psychicas acompanham-se de delírios, e constituem o grupo das obsessões. As mais frequentes são: moléstia da duvida, delirio do toque, kleptomania, pyromania, dypsomania, impulsão ao homicídio, ou suicídio, erotomania, nymphomania, perversões sexuaes, delirio religioso, loucura moral, delírios polymorphos, paranoia, loucura periódica e lou- cura intermittente. Na classe das neuro psychoses temos a considerar a 38 neurasthonia, que, sendo a moléstia de «suçmenago », é jacil comprehender a sua frequência na puberdade, a hypocondria, a hysteria, a epilepsia, a choréa, o bocio, etc. Nas psychoses por intoxicação os phenomenos sympto- maticos revestem a apparencia do delirio e da confusão mental, com hallucinação dos sentidos mais ou menos pronunciada, segundo a quantidade do veneno ingerido e a sua natureza. E’ na puberdade que se desenvolve o alcoolismo nos indivíduos nevropathas, cujos ascendentes apresentavam as mesmas predisposições. A influencia da puberdade sobre as moléstias infec- ciosas agudas é pouco pronunciada. Na maior parte dos casos as moléstias agudas evoluem normalmente, apesar das modificações por que passa nesta epocha o organismo, luctando para restabelecer o equilíbrio de suas forças. O periodo de invasão de uma moléstia iníecciosaaguda tem algumas vezes acção sobre o primeiro appareci- mento das regras, ou sobre a periodicidade de regras já estabelecidas. Oberneier estudando a variola, conclue que o facto de uma epocha menstrual próxima, age encurtando o periodo de incubação da moléstia. A menstruação sobrevem de ordinário com o primeiro estado da moléstia, e continha até o periodo de erupção. 39 Na metade dos casos a menstruação coincide com â invasão da febre eruptiva, o que parece resultar de uma modificação provável do periodo de incubação. Kaciborski demonstrou os mesmos factos para outras moléstias infecciosas, taes como, escarlatina, sarampo, etc. As moléstias infecciosas chronicas, influenciadas pela puberdade, mais importantes são: a syphilis e a tuber- culose. CAPITULO III Synthese da psychologia da puberdade consideráveis são as modificações, que se operam na constituição physica do organismo, menor não o é, cerla- mente, a transformação intellectual e moral, que sobrevem na epocha da puberdade. O despertar da actividade genital determina, em todo o organismo, transformações muito pronunciadas, que a anatomia e a physiologia teern posto em evidencia, mos- trando as relações intensas e numerosas da genitalidade com os centros nervosos. No cerebro, na parte inferior da medulla espinhal, porção lombar correspondente a parte situada acima da quarta vertebra lombar, e nos ganglios do sympathico abdominal, existem centros, que communicain com os orgãos genitaes. Ainda mais, no utcro e no ovário, há uma pleiade de ganglios nervosos, com uma rica rede de nervos mixtos provenientes dos plexos hypogastrico, sacro lombar, coccygiano e femoraes. Pelas suas anastomoses e extensas ramificações, estes differentes plexos estão em relação com os outros plexos 42 c ganglios do trisplanchnico, donde se concluo, que uma poderosa acção reciproca se exerce entre estes orgãos e o encephalo. A excitação physiologica, continua Marro, proveniente dos orgãos da geração nos quaes desperta a actividade especial, que lheá é destinada, transmittida e diffundida por intermédio de conductores tão numerosos e tão va- riados, devé necessariamente provocar novas condições em todo o organismo. Na iníancia a rapariga não se preoccupa com o futuro ; há nella em geral a tendência as divagações, a serenidade da alma, e a disposição aos sentimentos expansivos. As emoções depressivas são, em geral, de pouca dura- ção, de intensidade limitada, e raramente tornam-se a causa de moléstias. Com o apparccimento da puberdade as novas emoções que inopinadamente surgem na alma, determinam uma perturbação tal, que pensamentos e sentimentos antigos encontram-se desconcertados. As cousas apparecem diíTerentes do que eram antes da epocha púbere, o mundo apresenta-se debaixo de um novo aspecto para a jovem, que começa a se mostrar mais reservada e vergonhosa. Suas maneiras tornam-se mais graciosas; em sua alma surgem perturbações desconhecidas, há mudança no ca- rácter, propensão a melaneholia e a solidão. 43 Os suspiros tornam-se frequentes, ha lagrimas não motivadas, e começam a nascer desejos, que a rapariga não comprehende. Os cuidados do vestuário, o desejo de agradar, e a pretenção a tornar-se bella. já tão naturaes na mulher, e que representão armas poderosíssimas naluctapelo amor, adquirem uma nova intensidade e preponderância sobre os outros instinetos. E\ justamente, nesta epocha da vida da mulher, que se manifestam as primeiras tendências á vida do claustro. A principio inconsciente da causa da nova perturbação que a invade, c da tendencia natural, que a impelle para o outro sexo, a jovem procura libertar-se da exliube- rancia dos sentimentos que a avassalam, entregando-se ao exagero das praticas religiosas; outras vezes, porem, ella dá livre curso a sua ternura e as manifestações da mais ardente amizade com as suas companheiras. Marro diz, que esta amizade chega as vezes a revestir, até certo ponto, os caracteres do verdadeiro amor, e transcreve, como prova disto, duas cartas dirigidas por uma rapariga á outra, nas quaes resalta a forma apaixo- nada, que teriam si fossem dirigidas à um amante. As jovens, que teem o habito de confiar ao papel as sua impressões, diz Icard, escrevem na epocha da puber- dade paginas muito curiosas e interessantes para o psy- chologista. Nestas paginas nota-se a maior melancholia, 44 algumas vezes a exaltação mais esthusiasta e alguma dose de affectação. Mais tarde a tristeza ieconsciente dos primeiros tempos, a apprehensão despertada pela primeiro fluxo menstrual desapparece, e com o estabelecimento regular desta funcção, volta a paz ao espirito. A rapariga começa então a melhor comprehender o seu papel na sociedade; os tributos de admiração que recebe, os desejos que desperta, pela frescura da sua mocidade e belleza das suas formas, lisonjeam o seu amor proprio. Comprehcndendo que não lhe resta mais que casar, para oecupar na sociedade o logar obtido pelas outras mulheres, e cumprir a missão à qual é preposta, con- densa todos os seus desejos e cuidados para este fim, ataviando-se de modo a pôr em destaque os seus attra- ctivos de seducção. Tudo, então, se anima na mulher; os olhos adquirem brilho e expressão; o desenvolvimento dos seios, alar- gamento dos quadris, arredondamento dos membros, fres- cura da mocidade, dão a sua formas e aos seus movi- mentos um encanto todo especial, que chama a attenção, desperta desejos e excita admiração. E’, ainda nesta idade, que se modifica a conducta das raparigas. Das estatísticas feitas por Marro, na « Institution Barolo 45 de Turin» se conclue que é sobretudo de 12 cá 14 annos, que a conducta das raparigas apresenta notáveis variações. Passada esta phase a reflexão adquire o poder que ainda não tinha, a conducta torna-se regular, e a jovem sente-se capaz de empregar para um fim determinado a sua actividade fecunda e durável. A rapariga sahe transformada desta crise: « a modesta chrysalida de hontem transformou-se na mimosa bor- boleta de hoje», como muito bem disse o poeta. CAPITULO IV Considerações sobre a hygiene da puberdade 9 hygiene da mulher durante o período do seu desen- volvimento visa um tríplice fim ; manter boas as condições geraes, que formam o substractumphysico da vida; afastar as causas de infecção que a ameaçam; e preparar o organismo para a lucta contra as potências nocivas, afim de não se tornar facilmente a presa destas potências. Na epocha da puberdade a influencia do regimen alimentar é preponderante. O desenvolvimento exagerado do esqueleto, das massas musculares, e das vísceras em geral, exige que nesta epocha a nutrição seja abundante. O acido phosphorieo, a cal, a albumina, as gorduras, as substancias amylaceas e glycogenicas, devem ser abun- dantemente fornecidas com os alimentos. E’ necessário, entretanto, que estes alimentos não levem ao systema nervoso um estimulante addicional ao que por via physiologica é fornecido pelo despertar da actividade genital. Ao mesmo tempo que da alimentação, devemos preoccu- par-nes das condições de habitação. 48 À jovem nesta epocha deverá viver em familia, com a condição, entretanto, de não encontrar ali ainda mais privações e íadigas. Deve occupar um commodo no qual o ar seja bom, e mantido puro por meio de uma renovação constante. Avaliando em dez horas a permanência da rapariga no quarto, vemos que ella tem necessidade de 210 litros de oxygenio e lança naatmosphera 180 litros de acido carbó- nico e 389 grammasde vapor dagua. Este dois productos de combustão viciam rapidamente o ar, tornando-o irrespirável. Nestas condições, e contando com uma ventilação con- veniente, o quarto deve cubar 50 metros ; sua capacidade não poderá descer a 30 metros cúbicos sem perigo. Fleury estabelece as dimensões seguintes: 4 metros de comprimento e de largura, 3 metros eõO centimetros de elevação. Que commodos há entre nós, que correspondam a este desideratum da hygiene? As directoras das casas de educação, que teem sob sua guarda meninas em transição da iníancia para a puber- dade, devem cercal-as de todos os cuidados, que reclama o seu novo estado. Absolutamente não se deve começar o internato das raparigas nesta epocha de transição, pois, por melhores que sejam as condições hygienicas das casas educadoras, 49 cilas não podem dar, on raramente dão á rapariga a liberdade ampla de gosar o sol eo ar livre que lhos 6 tão necessário neste periodo da existência. Alem disto a claustração relativa, o regímen alimentar mão e deficiente, como soe ser em taes casas, e a nos- talgia aggravam a tendencia já tão pronunciada cã Lan- guidez e á fadiga. Entre nós, ó doloroso dizermos, mas è uma verdade, a hygiene não se preoccupa com estes problemas de inte- resse geral, e as casas de educação são verdadeiros Mata- douros, oíideso vai estiolando pouco á pouco a saude das pobres internadas. À vestimenta tem sua importância durante a epoeba púbere. O perigo do frio para as mulheres, durante o periodo menstrual, é ainda maior quando a rapariga se acha no começo da vida genital, e todos sabem os accidentes attri- buidos a immersão das mãos e dos pés em agua de baixa temperatura. As vestes devem ser amplas, afim de não comprimirem os orgãos, e diíficultarem os movimentos. Ainda mais, devem ser de natureza á protegerem o corpo contra as variações do ar e do clima, e impedirem bruscas transições. Não podemos deixar de lamentar ser a epocha da 50 puberdade, aquella em que a mulher começa a usar e abusar do espartilho. Não condcmnamos in totuni o uso do espartilho, mas protestamos contra a sua constricçâo exagerada, e chama- mos a attenção para os inconvenientes que resullam do abuso de tal instrumento de elegancia. Não devemos esquecer que nesta epocha da vida femi- nina, os cuidados de toilette intima devem ser rigorosos. Nos conventos, nas casas de educação, e iníelizmente também em muitas casas de familia, as noções desla hygiene especial são muito rudimentares, quando não são nullas. Raras são entre nós as mães de familia, que dispensam as filhas os cuidados elementares indispensáveis ao pri- meiro periodo critico da vida da mulher. Urge que a jovem nada occulte a sua mãe, e esta deve prevenil-a do valor real da nova phase que desponta. Conselhos judiciosos e ternamente consoladores, tran- quiilisarão a rapariga frequentemente aterrorisada, e muitas vezes envergonhada da sua nova situação. Cremos que a observância rigorosa das medidas sanita- rias, as lavagens quotidianas, de preferencia com agua fria, das partes genitaes e adjacentes serão úteis, por isto que, as considerações de ordem hygienica, virão mais tarde juntar-se as provenientes do instincto, e corrigirão a violência das impulsões. 51 À inspecção periódica dos orgãos genitaes, ou melhor, de todo o corpo, feita pela mãe, ou pessoa preposta a educação das jovens, está ainda nos moldes do nosso modo de pensar. As praticas viciosas seriam descobertas-, donde um freio, e uma vantagem muito superiores a de um pudor mal entendido, que consiste em lançar um véo espesso sobre tudo o que concerne as íuncções genitaes da mulher, sem occupar-se da podridão, que este pudor occulta e mantém. Passemos agora a tratar dos exercícios physicos que devem ser prescriptos nesta epocha. Estes exercícios constituem um meio muito util de fortificar a rapariga, e facilitar a sua evolução no momento púbere. Entretanto, mal comprehendidos e prescriptos de maneira intempestiva, podem tornar-se nocivos, e causar grandes damnos. Si é exacto que se deve fugir da indolência, e da inércia, não é menos verdade que o periodo é critico, e que as fadigas esgotam, enervam os organismos delicados, e conduzem a resultados perigosissimos. Os exercícios devem ser moderados, e praticados de accordo com a organisação individual. Entre os exercícios physicos temos em primeiro logar a gymnastica. t <> 52 k. escolha c adaptação dos jogos de gymnastica ás diversas condições dos adolescentes, são da maior impor- tância, para que oíTereçam vantagens em logar de prejuízos. No primeiro periodo púbere, quando a provisão de força ó minima, e quando as vias de dispersão devem ser attentamente observadas, o jogo deve ser essencialmente recreativo, servir para o relaxamento das tensões nervo- sas, mas não chegar a fatigar a pessoa que o executa. O canto, a corrida moderada, a natação, os jogos de bolla, constituem os melhores exercícios. À emulação deve ser estimulada até o ponto de fazer tomar interesse pelo jogo, mas nunca deve fazel-o dege- nerar em fadiga. Mesmo mais tarde, quando o desenvolvimento é com- pleto, não cremos util excitar excessivamente a emulação aos exercícios sportivos. E’ preciso comprehender que o jogo éum complemento, talvez mesmo um correctivo do trabalho, porem nunca um substitutivo. Há um exercício que actualmente tem uma influencia extraordinariamente poderosa sobre o desenvolvimento do organismo, e, facto de uma importância e alcance immcnso,esse exercício acaba de entrar no numero dos exercícios femininos; referimo-nos ao cyclismo. A vantagem de procurar impressões ao ar livre, a 53 ■variedade de niusculos que são postos em movimento, a distraeção fornecida ao espirito pelas representações, phy- sicas do exercicio e das scenas variadas que se apresen- tam á vista, a fraternisação com os companheiros de •exercicio, fazem do cyclismo um meio dos mais poderosos «de saude physica e moral. O Dr. Prendcrgast considera o cyclismo feminino como «ma das maiores invenções do século 19. «O cyclismo, diz elle, estende seus benefícios às gera- ções futuras, que terão como consequência, saude melhor, desenvolvimento physico mais pronunciado, e systema nervoso mais estável». «A bycicleta é uma necessidade, uma providencia para as jovens que, escravas das convenções soeiaes e da moda, são transformadas em simples feixes de fibras nervosas, promptas a fazerem explosão a menor provocação, accrescenta o mesmo autor.» Todos os niusculos são exercitados alem dos das extre- midades inferiores: os pelvianos, os dorsaes, os abdonii- naes, e os niusculos dos braços guiando e mantendo o equilíbrio do corpo contra os obstáculos. A força da circulação augmenta, as inspirações são mais profundas, e, como consequência, temos que a pro- visão deoxygenio torna-se maior, assim como a elimi- nação de acido carbonico e dos venenos, que se aceumu- Jam no organismo pela, falta de exercicio. 54 Não deixamos, entretanto, de reconhecer que o cy- clismo tem os seus inconvenientes : elle exige disposições corporaes, uma adaptação das diversas partes do instru- mento, e certa regra no uso, afim de que os seus bene- fícios não sejam transformados em prejuízos. E’ preciso que o exercício seja moderado, e regulado de modo a não se transformar em fadiga. A dansa é ainda hoje um exercício muito praticado pelas raparigas. Achamol-o um bom exercício, mas o facto de fazer-se em meios viciados pelos productos resultantes da respi- ração de grande numero de pessoas, e da combustão das luzes, porquanto a dansa se realisa sempre a noite, a torna prejudicial, mormente na epocha da puberdade. Entretanto este exercício tem a vantagem de estar ao alcance de todos, ao passo que o cyclismo só pode servir á uma classe da população feminina. Outro exercício gymnastico muito util à mocidade, e que infelizmente entre nós não tem applicação, é a natação. Alem de outras vantagens, a natação tem a de ser praticada ao ar livre, permittindo respirar um ar sempre puro, e relativamente privado de poeiras, ao passo que a dansa, o cyclismo, e demais jogos sportivos, mesmo quando praticados ao ar livre, facilitam pelo proprio exercício o levantamento de poeiras, que misturadas ao ar inspirado não são inoíTensivas ao pulmão. 55 Adiamos desnecessário chamar a atíenção sobre outros exercícios, taes como, a corrida moderada, a equitação, o salto, os jogos de bola, barra fixa, trapesio, gymnas- tica de quarto por meio de sandow, etc, etc. Todos podem alternatívamente prestar bons serviços; cada um apresenta vantagens que podem mais facil- mente recommcndal-os a este ou aquelle indivíduo, se- gundo suas disposições eorporaes, aptidões especiaes, e também segundo a necessidade de promover o desenvol- vi mento de tal ou qual potência muscular menos exercida no trabalho habitual. Terminando o nosso trabalho diremos que uma van- tagem coinmum aos exercícios de gymnastica, é a de deixar a rapariga a liberdade natural, permittir desen- volver toda a elasticidade de suas forças, de suas tendên- cias e de seu caractcr, que q disciplina do trabalho limita necessariamente. Um outro beneficio não menos importante resulta do contacto dos indivíduos entre si, desenvolvendo os sen- timentos de sociabilidade. Em todas as condições da vida, e particularmente na epocha púbere, mesmo nos casos mais graves de dege- nerescencia mental, a companhia é util. A solidão e a melancholia, em geral, são nocivas á mocidade. 56 As anomalias de caracter, as tendências immoraes e anti-sociaes, não podem encontrar terreno mais propicio1 ao seu desenvolvimento. Ali se encontram as condições mais favoráveis a pro- ducção destes caracteres degenerados, tendo como conse- quência os loucos religiosos, e alienados de todas as especies. O destino da mulher quer que ella seja um ente essen- cialmente social, que o sentimento de sua personalidade exista ao mesmo tempo que o dos outros seres entre os quaes ella se acha, e esta tendencia eminentemente social deve desenvolver-se especialmente na epocha da puberdade, quando desponta uma nova vida aíTectiva, e se tornam mais evidentes os laços que ligam o indi- víduo à conservação da especie. Os jogos e exercícios gymnasticos prestam-se admira- velmente á esse fim. «O philosopho Anaxagoras, conta Marro, tendo-se retirado para Lampsakos, onde gosava de toda a consi- deração, foi visitado cm seu leito de morte, pelas princi- paes pessoas da cidade, que lhe pediram as suas ultimas vontades ». « Elle respondeu que só tinha um desejo, e este era que permittissem brincar as crianças todos os annos durante o mez no qual elle morria ». A sua vontade foi cumprida. PROPOSIÇÕES Ires sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas PROPOSIÇÕES ANATOMIA DESCRIPTIVA — O utero é um orgão que está situado na pequena bacia, entre o recto e a bexiga, com a qual está mais immediatainente em relação. —Ellc está collocado acima da vagina e abaixo das circumvoluçòes intestinaes, que o separam do recto. 3.;i — E’ o utero que fornece o sangue cia menstruação na epocha da puberdade. ANATOMIA MEDICO-CIRURGICA 1. a— A articulação sacro-coccygiana é uma symphíse, na qual os ossos estão unidos por um ligamento interosseo e ligamentos periphericos. 2. a — Em consequência de traumatismos o coccyx é susceptivel de luxar-se para diante. 3. a— A coccygodinia é umaaffecção singular, caracte- risada por uma dôr violenta ao nivel do coccyx, e obser- vada sobretudo na mulher. HISTOLOGIA 1. a—-E’ sobre o corpo do utero, que se exercem as modificações essenciaes caracteristicas da menstruação. 2. a — Nos dias que precedem a menstruação o utero 60 augmenta de volume, a sua mucosa irip!ica de espes- sura, os vasos se dilatam, o chorion é infiltrado de leucocytos. 3. a—• Os líquidos transudados dos vasos atravessam as paredes glandulares, e distendem as glândulas. BACTERIOLOGIA 4. a—À epocha da puberdade é particularmente favo- ravel ao desenvolvimento da bacillose. 2. a—O bacillo de Koch desenvolve-se com mais facili- dade, quando encontra um terreno particularmente pre- parado para recebei-o. 3. a — A marcha da tuberculose, fóra do periodo da puberdade, é quasi sempre lenta. ANATOMIA E PHYSIOLOGIA PATHOLOGICAS Ia— E’ somente na puberdade, que apparecem os accidentes resultantes de um estreitamento, ou de uma obliteração, em um segmento inferior do apparelho genital. á.a—O seu apparecimento é devido a retenção do sangue das regras. 3.a—11a hematocolpos si a retenção tem logar na vagina ; hematometria no utero; hematosalpingo nas trompas. PHYSIOLOGIA l.a— Na mulher a puberdade manifesta-se em nosso clima de 11 á 14 annos em media. 61 á.a —0 facto capital da puberdade é a maturação do ovo, a ovulação, que é periódica. 3.a— A maturação de um ou vários ovulos é acom- panhada de um corrimento sanguíneo a menstruação. THERÀPEUTICA l.a — A cocaina é um veneno systolico para o ventrículo cardíaco. á.a—-O contacto de uma solução de cocaina com um tronco nervoso determina a abolição da excitabilidade deste nervo. 3.a — A anesthesia das zonas genitaes da pituitária age efficazmente no tratamento da dysmenorrliéa. HYGIENE 1. a — A hygiene das funcções genesicas abrange a nu- trição, o repouso, os exercícios physícos, o vestuário, e a sociedade. 2. a — Na mulher os cuidados de hygiene devem multi- plicar na epocha da puberdade. 3. a —A hydrotherapia é um meio util para proteger a grande sensibilidade do systema nervoso e tonificar o corpo. MEDICINA LEGAL E TOXJCOLOGIA i.a — A questão de saber si a mulher é virgem ou não, é uma das mais difficeis que apresenta a sciencia. 62 2. a— À membrana hymen é ató certo ponto um signal cie virgindade. 3. a — Póde a mulher apresentar os signaes de virgin- dade, e não ser moralmente virgem. PATHOLOGLA CIRÚRGICA 1. a— Os desvios da columna vertebral são muito frequentes na puberdade. 2. a — lia tres varidades clinicas de scoliose, habitual, statica, e rachitica. 3. a — À scoliose habitual é observada geralmente na epocha da puberdade. OPERAÇÕES E APPARELHOS 1. a—Â thyroidectomia é um dos processos empregados no tratamento do bocio. 2. a— Ella póde ser parcial ou total, sendo aquella a mais empregada. 3. a — À thyroidectomia total é fatalmente seguida de accidentes. CLINICA CIRÚRGICA ( i.a cadkira ) 1. a —Nas mulheres púberes observa-se algumas vezes um accesso erysipelatoso no momento das regras. 2. a — isto se explica por um microbismo latente des- pertado pela congestão sanguínea do molimen catamenial. 3. a— O tratamento é o da erysipela em geral. 63 CLINICA CIRÚRGICA (2.“ cadeira) 1 .a—Ovaginismo consiste cm urna hyperesthesia anormal dos orgàos genitaes externos,, podendo ir até a contractura spasmodica do constrictor da vagina. 4.a—A affocção manifesta-se de prefer encia nas mulheres novas, nervosas, e hystericas. 3.a—• Ella póde ter por causa a inílammação da mem- brana hymen, proveniente da resistência exagerada desta membrana. PATIIOLOGIA MEDICA f.a — Os phenomenos pathologicos da puberdade sâo tào numerosos, quanto complexos. 2. a—O organismo feminino offerece na epocha púbere uma vulnerabilidade especial. 3. a—Ha moléstias que apparecem na puberdade, e outras que são influenciadas por esta phase da vida feminina. CLINICA PROPEDÊUTICA 1. a— O exame da urina tem algum valor na epocha púbere. 2. a — À quantidade de uréa diminuo nesta epocha. 3. a — À albuminúria menstrual é devida a íluxão renal que se manifesta, ao mesmo tempo que a íluxão dos orgãos genitaes, sob a influencia do molimen catamenial. 64 CLINICA MEDICA (i.a cadeira) 1. a — A chlorose é uma moléstia de evolução, a moléstia da crise puberal. 2. a— A tuberculose dos ascendentes é um factor pre- disponente da chlorose. 3. a—~A constricção da parte inferior do thorax, pelo espartilho, pode determinar o appareeiinento da chlorose. CLINICA MEDICA (2.a cadeira ) 1. a — A suppressão das regras, toma o nome de ame- norrhéa. 2. a — Há dysmenorrhéaquando as regras são precedidas ou acompanhadas de dores. 3. a—• Tanto uma como outra pode ser constitucional, local, e reflexa ou mechanica. MATÉRIA MEDICA, PHARMACOLOGIA, E ARTE DE FORMULAR 1. a — Os ferruginosos formam a base essencial no trata- mento da amenorrhéa. 2. a—-O açafrão, a artemísia e o apiolofferecem a van- tagem de ter acção energica, manejo facil e absoluta ino- cuidade. 3. a — A electrisação estatica dá algumas vezes bons re- sultados. HISTORIA NATURAL MEDICA l.a — O centeio espigado é o mycelium do Claviceps purpúrea. 65 2. a— Elle contem acido ergotico, spliacelico e um alcal- loide a ergotina. 3. a-—0 centeio é um medicamento poderoso no trata- mento das hemorrhagias uterinas. GMIMICA MEDICA 1. a— 0 phenomeno respiratório consiste na absorpçâo de oxygenio e exhalaçào de acido carbonico. 2. a— À quantidade de oxygenio absorvido augmenta na puberdade. 3. a — A exhalação de acido carbonico cresce até esta epoctia. OBSTETRÍCIA 1. a — A bacia viciada é aquella que apresenta modifi- cações nos seus diâmetros. 2. a— A viciação no diâmetro antero-posterior é amais commum. 3. a — As causas mais frequentes da viciação da bacia são o rachitismo e a osteo-malacia. CLINICA OBSTÉTRICA E GYNEÇOLOGICA i .a — A suppríssão da menstruação é um signal provável de gravidez. 2. a—■ A este signal junta-se o augmento de volume do ventre e o desenvolvimento dos seios. 3. a — As perturbações digestivas são frequentes no começo da gravidez. 66 CLINICA PEDIÁTRICA 4.a— A edade traz certas modificações ao sangue. 2 a— No nascimento os elementos figurados são mais numerusos, mas os globulos são menos volumosos. 3.a—No começo da vida o numero destes elementos diminue, para augmentar na puberdade, e decrescer -na velhice. CLINICA OPHTALMOLOGIÇA 1. a — Existe certa relação entre o apparelho genital e o da visão. 2. a — A menstruação e a puberdade dão logar a pertur- bações funccionaes, e a certas moléstias do apparelho visual. 3. a — No momento das regras se tem observado pbeno- menos nevrálgicos localisados no dominio do trigemio. CLINICA DERMATOLÓGICA E SYPHILIGRAPHICA 1. a — O eczema èuma moléstia frequente na puberdade. 2. a — Na epocha púbere produz-se uma modificação profunda do terreno cutâneo. 3. a — A menstruação pôde fazer despertar, em certos individuos diathesicos, a affecção constitucional latente. CLINICA PSYCHIATRICA E DE MOLÉSTIAS NERVOSAS 1.» — A crise puberal tem uma influencia notável sobre a evolução das moléstias mentaes. 67 2. a — Para Voisin a puberdade determina certas psychoses, mas não uma psychose determinada. 3. a — A hebephrenia é uma loucura especial que se manifesta na puberdade. C£?isfa. Secretaria da Faculdade de Medicina da Bahia, em 10 de Setembro de 1907. 0 Secretario,. Ur. Meuandro dos Reis Meirelles.