FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA T H E S E APRESENTADA A’ Faculdade de Medicina da Bahia EM 30 DE OUTUBRO DE 1906 PARA SER DEPENDIDA POR Luiz Soares de Oliveira NATURAL DESTE ESTADO AFIM DE OBTER O GRAU de CDOUTOJi Em ZMEDICINtA ERYSIPELA 5 CADEIRA DE PATHOLOGIA CIRÚRGICA PlBFlSlfllS Tres sobre cada uma das Cadeiras do Corpo de Sciencias Medicas e Cirúrgicas BAHIA Litho-Typographia e Encadernação Chaves 19—Becco do Garapa—19 1906 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Dirbctor Dr. ALFREDO BRITTO Vjck-Direcxor Dr. MANOEL JOSÉ DE ARAÚJO LENTES 1. secção Os Drs. Matérias que leccionam José Carneiro de Campos . . Anatomia descriptiva. Carlos Freitas Anatomia medico-crrurgica. 2. Secção Antonio Pacifico Pereira Histologia Augusto Cezar Vianna Bacteriologia Guilherme Pereira Rebello .... . . Anatomia e physiologia pathologicas 3. Secção Manoel José de Araújo . . Physiologia José Eduardo Freire de Carvalho Filho. . Therapentica. 4. Secção Medicina legal e toxicologia. Luiz Anselmo da Fonseca Hygiene. 5. Secção Braz Hermenegildo do Amaral Fathologia cirúrgica. Fortunato A. da Silva Júnior Operações e apparelhos Antonio Pacheco Mendes Clinica cirúrgica — 1. ca ieira. Ignacio Monteiro de A. Gouveia » > —2. » 6. Secção Aurélio R. Vianna Pathologia medica. Alfredo Britto Clinica propedêutica. Anísio Circundes de Carvalho. .*.... » medica —1. cadeira. Francisco Braulio Pereira » » —2. > 7. Secção Antonio Victorio do Aranjo Falcão . ... Mat. med., pharm. e arte de formular. José Rodrigues da Costa Dorea ...... Historia natural medica José Olympio de Azevedo . . Chimica medica. 8. Secção Deocleciano Ramos Obstetrícia. Climerio Cardoso de Oliveira Clinica obstétrica e gynecologica 9. Secção Frederico de Castro Rebello » pediátrica. 10. Secção Francisco dos Santos Pereira ....... » ophtalmologica. 11. Secção Alexandre E. de Castro Cerqueira » dermatológica e syphiligrapiiiea 12. Secção João Tillemont Fontes 3 psycliiatrica e de mol. nervosas João E. de Castro Cerqueira ) „ .... , Sebastião Cardoso . Em disponibilidade SUBSTITUTOS Os Drs. José Affonso de Carvalho (int.) 1. Secção, Gonçalo Muniz S. de Aragão 2. > Pedro Luiz Celestino ... 3. » Josino Correi a Cotias ... 4. » A. B. dos Anjos (interino) . 5. > João A. Garcez Fróes ... 6. » Os Drs. Pedro da Luz Carrascosa . . 7. Secção. e José J. de Calas ans . José Adeodato de Souza. . . 8~ * Alfredo de Magalhães ... 9. » Clodoaldo de Andrade ... 10. > Albino A. da S. Leitão (int.) 11. * L. Pinto de Carvalho (int.) . 12. » Sbcrbtario — Dr. MENANDRO DOS REIS MEIRELLES Sub-Secrbtario — Dr. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA A Faculdado não approva nem reprova as opiniões omittidas nas theses que lho sãa apresentadas. DDAS PALAVRAS ANTES Amo a gloria da minha profiasão a unica quo posso e devo aspirar. E’ uma gloria obscura e desconhecida, bem o sei. Nossos triumphos não obtemos na praça ou nos theatros diante da multidão que applaude; mas lá no recondito de uma casa, no aposento silenciozo onde geme a creatura. Só Deus os contempla ; só Elle os recom- pensa. O regulamento da Faculdade exige a apresenta- ção de uma these, para conferir o gráo de Doutor em Medicina; satisfaço esse artigo de Lei antes pela obrigação que pela vontade. Eryaipcla eis o ponto escolhido para a ultima prova académica. Preferindo esse ponto não tive em mira des- vendar mysterios nem trazer novidades ao mun- do scientifico: não, de tão fraca intelligencia a par de uma illustração tão acanhada não se deve esperar tanto, é simplesmente cumprimento de um dever, do qual não me pude escusar, quero dizer, cumpri a Lei apresentando um trabalho que é o VIII mirrado fructo do seis annos de vigi lias e sacri- fícios, nada existindo de original na pallida des- cripção da moléstia, de que me occupo, e que tantas victimas tem feito em nosso paiz. Procurei ser o mais claro e inteiligivel com referencia ao assumpto, se assim mio acontecer, não foi por não querer, mas por fraqueza intelle- ctual. Ditas estas palavras que servirão de prologo ao meo humilde trabalho, espero que o leitor gene- roso e benevolo o acceite desculpando todas as suas faltas. ERYSI PELA Cadeira de Pathologia Cirúrgica Erysipela Histórico Entre as moléstias exanthematicas, a erysipela era conhecida entre os antigos que delia nos fallão, confundindo-a, porém, com outras affecções mórbi- das em que a vermelhidão, o tumor, o calor e a dor entravam no numero de seus symptomas; o primeiro auctor que a menciona de modo mais desenvolvido, é Rhazés, no século IX. Recebeu a erysipela grande numero de denomi- nações, entre estas as de\fogo sagrado, febre erysipe- latoza, roza, fogo de S. Antonio, mal dos ardentes ete. Appareceu ella entre os gregos e romanôs e Celso refere que, entre estes últimos, era a erysipe- la muito commum nas pernas; designavão-na por termos communs, com os quaes indicavam não só a entidade mórbida, hoje conhecida com o nome de erysipela, mas também o phlegmão, o erythema e as inflammações em geral. 2 Eis o que nos dizem os antigos sobre a erysi- pela. Hippocrates a considera como dependencia de uma constituição pestilencial e especifica, apezar delle a confundir com o phlegmão diffuso. Galeno, porém, estabelece uma diíferença entre o phlegmão diffuso, a inflammação e a erysipela, não só com re- lação a coloração da pelle: Rubicunda inflammatio, pallidum etjlavum erysipelas-, como também com rela- ção a séde : Exquisitum erysipelas soluis cútis affectus est. Foi Galeno o primeiro que inventou uma theoria pathogenica, especial á erysipela; considerava-a como umá moléstia produzida por affiuxo de sangue e de bile: erysipelas tumor est procter naturam in cute et bile Jlava vel ex sanguine fervidiore consistens. Sua theoria reinou soberana durante muitos sé- culos, encontrando de tempos a tempos alguns ad- versários. Oribazio, Paulo d’Egina, Octius Actuarius, forão seus partidários. Avicceno (980) diz que a erysipela sobrevem porqfie o sangue non est digestus digesUone convenienti naturae. Guy de Chauliac admitte duas variedades de 3 erysipela, a verdadeira e a bastarda; sendo a pri- meira proveniente da bile natural e a segunda da bi- le não natural. Diz Ambroise Paré(lõTõ) que a erysipela é uma inflammação produzida pelo cólera, ou pelo sangue transformado em cólera. Fabricio d’Aquapendente (1592) dizia que a ery- sipela era produzida pela atrabile que se formava no estomago, quando ahi havia máus alimentos, ou pela bile proveniente do figado. A erysipela phleg- monoza, dizia elle, era o resultado da união da bile de má natureza com o sangue, e a edematoza de sua união com a pituita. Segundo Paracelso a erysipela era devida a um principio acre, incommodava ou embaraçava o espi- rito vital. Widekind attribue a erysipela á presença no estomago de matéria graxe corrompida, separada do sangue pela respiração, e engulida depois com a saliva. Mercati (1608) diz que erysipela provém: 1.* da mistura da bile com o sangue, 2. • .de abundancia de sangue no figado; 3. * da alteração do figado, que produz então bile de má natureza. E’ a theoria de Galeno ligeiramente modificada. 4 Silvius de Boe (1667) do mesmo modo que Rip- pocrates considera a erysipela como inflammação, devida a estagnação do sangue; na erysipela essa estagnação, diz elle, é devida á bile corrompida, ou antes ao sueco pancreatico. Sydenham [1676] que descreveu a urticaria como variedade da erysipela, acceita a theoria de Galeno. Wedel (1682J attribue a erysipela a um principio acre, oleozo e sulphuroso dos humores. Para Torri [1687] a erysipela é devida á falta de acção do sueco pancreatico, eao excesso de fer- mentação do sangue. Haffmann considerava a erysipela como uma febre continua, produzida pelo sangue viciado por um sal biliozo. Colloca-a ao lado da febre pestilen- cial, com a qual a compara ao mesmo tempo que a classifica com as febres inflammatorias. Plater, [1734] Morton [1737] Heister (1739] e Gorten [1742] admittem a theoria de Galeno. Gorter considera as duas formas de sacer ignis como idênticas a erysipela. Richter (1744) acredita que os vasos sanguíneos produzem o phlegmão, os vasos serosos a erysipela, e os vasos lymphaticos o edema. Platner (1745) explica a formação da erysipela 5 pela obstrucção dos poros da pelle. Lorry (1777) diz que a erysipela é devida a uma serosidade acre e irritante, e a considera como moléstia contagiosa. Underwood (1780J affirma que a erysipela é pro- duzida por miasmas. Stoll [1785] admitte as theorias antigas; segundo elle, a causa da erysipela reside na vesicula biliar. Segundo Pinei (1813) todas as plilegmasias cu- taneas que se asséstão na camada superficial do der- ma, são erysipela, e a febre primitiva, que as com- plica, pode tomar os caracteres de febre inflamma- toria, bilioza, gastrica, adynamica e ataxica. Em começo do século passado desappareceram as theorias metaphysicas sendo substituidas pela observação, nesta epóca dão-se grandes movimentos scientificos, e a theoria da especificidade da erysi- pela torna-se cada vez mais manifesta. Aventou-se, então, a theoria do contagio da erysipela. Na Inglaterra as ideas sobre o contagio desse morbo pertencem a dous periodos bem distinctos: no começo do século passado estavam em voga as theorias contagiozas de Welles, Wilian etc, essas idéas cahiram em esquecimento, não fallava-se maÍ3 no contagio e occupavam-se somente dos diversos meios de tratamento. 6 O auctor inglez que melhor tratou do contagio de erysipela, foi Charles Wells, cujos trabalhos >p- parecerão em 1798, vem depois Willan, qus escre- veo em 1821, uma obra sobre erysipela, que se en- contra nas suas: Miscellaneus Works. Este auctor collocava a erysipela entre os exan- themas, e dizia que a erysipela phlegmonoza não parece ser transmisivel por contagio; e ao passo que as formas edematoza e gangrenoza, quando se com- plicão com uma febre maligna, (entendia prova- velmente assim o que hoje se chama erysipela de forma typhoide, a mais contagiosa de todas; Lar- cher, Ch. Martin) então se transmittem por conta- gio. Cita o facto de uma criança que transmittio a erysipella a sua mãe, que a aleitava. Georges Hume considerava a erysipella como moléstia sui generis, exanthema contagioso que tem por causa ordínaria uma disposição particular. G H. Weathread mostra a differença que existe entre a erysipela e o phlegmão, e acredita que mui- tas vezes estas duas affecções podem se confundir, quando a inhammação da pelle, estendendo-se ao tecido cellular sub-cutaneo, faz a erysipela parti- cipar dos caracteres do phlegmão; em seo livro Weatheread trata da erysipela em geral, e dá como caracter distinctivo o ser contagiozo. 7 Em 1819 o Dr. Diclison publicou duas obser- vações de erysipela da face, transmittidas pelos doentes ás pessoas que delles cuidavam. Bittear, Baillie, Parr Dickon e Wrigth refe- rem casos de contagio. Em 1826 Blackett pronunciava-se a favor do contagio e diz que vio um doente de erysipela da face transmittir a moléstia a todas as pessoas da familia. Graves considera a erysipela sob o ponto de vista medica: mostra-se partidário do contagio, que acceita, como facto demonstrado sem, porém, entrar em discussão. Mariande (1811) considerava a erysipela como simples inflaramação. Boyer (1814) diz somente que de ordinário ella é de causa interna. Em (1832] Constellat sustenta o contagio e cita dous factos em que houve transmissão da moléstia. Dupuytren nada diz sobre o contagio, bem como Boche, SansonLenvir ("1841) Lapelletier de la Sarthe (1836j diz que a causa principal da erysi- pela está envolvida em obscuridade, e a considera como manifestação local de uma moléstia geral, pen- sa que não é contagioza, sendo do mesmo parecer Monneret e Fleury.. [1839]. 8 Na importante obra de clinica do professor Velpeau [1841] le-se o seguinte: ((On a dit qui le- rypele etait contagieuse. Cette opinion est diffici- le a soutenir et il n'ya jamais eu de preuves posi- tives en sa faveur. )) Renautem seo artigo sobre a erysipela medica, diz que' esta afiecção não é uma phlegmasia sim- ples da pelle ou de um dos elementos anatómicos que entram na sua constituição. Sem duvida na in- flammapão erysipelatoza os tres elementos, pelle, va- sos lympliatieos e tecido cellular, são interessados, mas não podem por si sós constituir o cunho da moléstia, que tem uma causa e uma marcha espe- cial que não são detidas, nem pelos antiphilogis- ticos, nem pelos abortivos. Ella é epidemica e tal- vez contagioza. Billroth considera a erysipela como inflam mação cutanea symptomatica, mas como uma lymphatite capill&r do derma, constantemente de- vida á infecção. O mesmo auctor acredita que a erysipela occupa um lugar especial entre os exan- themas agudos de um, lado, porque ella apresen- ta-se muitas vezes nas feridas, posto que possa também ter lugar espontaneamente de outro lado, porque ella não se propaga a outros individuos por meio de um contagio tão intenso como o do sarampão, da escarlatina, da variola etc. 9 Pelas suas esperiencias, Billrotli acredita que a erysipela 6 de origem, toxica, que é devida a um veneno sceptico, cuja natureza pode ser, ou o producto da secreção da ferida, de mistura ao san- gue e em via de decomposição, ou é provavelmen- te uma substancia secca pulverulenta, que, posta em contacto com as feridas, determina esta afíec- ção; esta substancia acha-se principalmente nas esponjas, nos fios de curativos etc. A idéa de infecção, mais ou menos accentu- adas neste ou naquelle auctor da primeira metade do século passado, torna-se uma realidade pela des- coberta do agente sceptico em 1870 por Nepeveu na França e Hueter na Allemanha. São estas as conclusões de Nepveu na memória apresentada socie' dade Biologia em 1870 sobre a presença $os bacterios no sangue dos erysipelatosos. ((Existem bacterios no sangue extrahido de uma picada feita em uma placa de erysipela; estes bacterios são muito numerosos ; existem também no sangue recolhido em qualquer outro ponto. Em to- dos os casos observados a variedade de bactéria encontrada foi sempre o bacterium punctum d’Ehred berg.)) Restava porém determinar se seria este real- 10 mente o verdadeiro scepitico da erysipela : para proval-o era preciso, como manda Pasteur, encon- tral-o em todos os casos de erysipela com os mes- mos caracteres morphologicos, era preciso cultival-o, obtel-o isoladamente em estado de cultura pura, era preciso emfim reproduzir com a sua inoculação a moléstia, primitiva em todos os seus caracteres. Coube a Felileisen a honra desta demonstracpão; o germen cuja especificidade elle conseguio provar, revestindo quasi sempre a forma os grãos dispos- tos em pequenas cadeias, recebeo delle o nome de stre- ptococus erysipelatus, que hoje pode ser indentificado, como especie, como o microcoeus pyogenes, ou strepto- ptococus pyogenes. São conhecidas as numerosas dis- cussões havidas sobre a unidade ou pluralidade de origem dos differentes streptococus, entre os quaes o da erysipela : certos auctores chegaram mesmo a considerar a larga variabilidade de caractes que apre- senta esta especie bacteriana como base para esta- belecer typos específicos distinctos. Graças, porém as pesquizas de Chantemesse e Widal, a questão está presentemente resolvida em favor da unidade de um typo especifico embora, neste typo unico se differenciem modalidades que podem trazer a distincção de numerosas raças. 11 Se é verdade pois, que lodos os auctores que acabo de citar neste kistorico não se achão de accor- do sobre a natureza da erysipela, não é menos ver- dade também que a maioria tende mais em favor da sua natureza infeccioza, hoje cabalmente com- provada. Resumindo, a historia da erysipela pode ser divi- dido em quatro periodos ; o primeiro chamado pe- ríodo hypocratico, reinou cerca de cinco séculos; o segundo, mais largo, começa com Galeno e aca. baOno século XVIII. Acreditava-se, então, na existência de princípi- os acres, amargos na economia, provenientes do fí- gado ou do estomago; esses princípios não podendo sahir do organismo por uma superfície sã, irritavão a pelle e produziam a moléstia; é o período humo- ral. O terceiro periodo comprehende o século XVIII, é chamado periodo inflammatorio; o quarto e ultimo periodo, o do parasitismo ou da especifici- dade, começa no século XIX e cada vez accentuão- se mais os seus progressos. Etio-Pathogenia Conhece-se com o nome de erysipela uma mo- léstia caracterisada por um rubor diffuso da pelle, tumefacção ligeira, sensibilidade a pressão, calor, dor e febre. E’ uma dermite edematoza, E’ moléstia contagiosa e infecciosa. O agente responsável pela- erysipela é o streptococcus (Fekleisen) que é acro- bio e anacrobio. Como já disse é o streptococcus o germen res- ponsável pela erysipela que penetrando no derma, produz por si ou por suas toxinas os phenomenos seguintes: dilatação dos pequenos vasos, dia pede- se dos globulos brancos, phagocytose, proliferação das cellulas fixas do tecido conjunctivo, infiltração do derma por uma serosidade, ligeiramente fibrino- za, alteração do epiderma. Occupão os streptococcus os espaços lymphaticos da base das papillas, as fendas lymphaticas do derma, assim como os espa- ços conjunctivos das bainhas das folliculas pilozas. 14 Fehleisen falia de trez zonas na placa da ery- sipela. A zona exterior ao seu rebordo, ou zona pe- ripherica tem quasi as apparencias da pelle san, mas os streptoc occus ahi são numerosos; preparão o terreno, porém, não tem ainda determinado nem phenomenos de phagocytose nem accumulo de cel- lulas que emigrem, nem dermite, nem edema. No rebordo da placa vê-se a lesão em plena actividade : ahi se formam quantidade considerável de cellulas migradoras e edema; é a dissociação dos feixes con- junctivos pelo edema e pelos leucocytos, que dá origem ao rebordo da placa erysipelatoza. A zona central apresenta o processo em via de regressão. O estreptococcus não existe mais no derma a menos que não seja em numero insignifi- cante. O epiderme mostra lezões múltiplas; as cellulas que formam suas diversas camadas, dissociadas, alteradas e degeneradas, cedem sob a pressão do edema e fonna-se uma phlyctena. Os antigos dividiam a erysipela em medica e cirúrgica; não ha razão para tal, pelo progresso que tem a sciencia feito, pelos dados que nos fornecem não só a Bactereologia como também a Ana.tomia Patliologica. Si é preciso solução de continuidade, porta de entrada para o streptococcus, si não se con- 15 cebe erysipela sem infecção, como admithir a erysi- pela medica? Como na pelle intacta ter entrada o germen responsável pela moléstia? Está fora de du- vida que a erysipela é uma e unica, tendo somente como causa o streptococcus devendo pois desappa- recer a antiga divisão de medica e cirúrgica. Trousseau assevera, que em todos os casos observados de erysipela na cabeça, e na face achou sempre uma lesão mais ou menos apparente; e Ko- mig refere que em 33 casos da pretendida erysi- peia expontânea ou medica, que elle observou, 19 apresentavam uma solução de continuidade, e quan- to aos restantes não lhe foi possivel examinal-os minuciosamente pela grande tumefacção das partes molles. Wolhmann, depois de luminosa e larga dis- cussão sobre causas etiologicas da erysipela con- clue dizendo.- Nos poucos casos em que não pode achar-se por ponto de partida uma solução de continuidade, ou ferida, ou um fóco, ainda que insignificante, de in- flammação, uma acurada e persistente investigação sempre será proveitoza, e diminuirá de muito os ca- sos de erysipela expontânea. Diz ainda; Os casos de erysipela medica, como quizeram baptisal-a os francezes, são dividos a observação imprópria ou incompleta. 16 Piorry negando a espontaneidade da erysipela, diz que esta affecãço depende sempre de causa ex- terna, eque procurando-se bem, chega-se sempre a descobrir uma pequena lesão cutanea, muitas vezes occulta em uma dobra da pelle. Diz elle: algumas vezes mesmo, o emprego de uma lente e um exame minucioso, revelão a existência de uma leve escori- ação dos lados das palpebras ou dos ouvidos, outras vezes da mucosa nazal. Després, não admittindo para esta affecção se- não uma causa externa, diz que a acção de uma cor- rente de ar frio sobre o rosto constítue um verda- deiro traumatismo. No estudo das causas da erysipela, lia que at- tender as predisponentes e occasionaes. Causas predisponentes. Todas as idades, os dous sexos, são igualmente predispostos a contrahir a erysipela. Quanto ao se- xo dizem uns que as mulheres são mais sugeitas a contrahir a infecção, sobre tudo na epoca da meno- pausa e na suppressão da menstruação tornando-se neste caso epidemica. Nos annos de 1822, 23 e 24 no Hospitel de la Charité em Paris forão recebidas 20 pessoas ataca- das d’este mal, sendo porém, 13 mulheres. 17 Em 43 doentes de erysipela da face, observa- dos por Louis nos hospitaes de la Charité e de la Pitié, 25 eram mulheres. Durante os annos de 1830 e 1831 entraram para os hospitaes de Paris 633 pessoas atacadas desta moléstia,, sendo 326 mulheres. Segundo, porém, as estatísticas de Despré, Fe- nestre, Ch. Martin e Grosselin a erysipela é mais frequente nos homens. A erysipela costuma atacar as pessoas dos 20 aos 50 annos, sendo os velhos raramente affectados e quando o são, ella se localisa nos membros inferi- ores. O recem-nascido também é susceptivel desta moléstia sendo a séde no umbigo, e muitas vezes ella se origina posteriormente dos botões da vacci- na. Antigamente acreditava-se na influencia das es- tações, hoje, porém, está provado ser de nenhuma importância esta condicção para contrahir-se a mo- léstia. A temperatura e as vicissitudes atmosphericas representam um papel importante como causas pre- disponentes. Todo vicio na composição do ar atmos- pherico favorece consideravelmente o desenvolvi- 18 mento da erysipela; mas o papel dessa viciação nem sempre se pode determinar por causa do caracter proprio da erysipela, que é ser infecto-contagioza. O apparecimento de um unico caso de erysipela facilita o desenvolvimento de outros em um logar d ado; d'ahi a facilidade com que ella se desenvolvo nas salas dos hospitaes, nas cidades por contami- nação do ar, facilitada pelo accumulo de indivi- duos. A herança como causa predisponente, tem sido negada por muitos auctores; Nauman, Lapelletier, Semert e Hoffman acreditão, entretanto, na influ- encia da herança sobre a erysipela. Ha pessoas muito predispostas a esta moléstia. Lapelletier cita o caso de uma mulher, na qual desde amais tenra idade, qualquer irritação da pelle, por mais simples que fosse, era sufficiente para produzir a erysipela. Raimann nos falia de uma mulher que tinha erysipela em um braço todas as vezes que dava a luz. Pensa Aubrée que certos estados physiologicos podem ser considerados como causas predisponen- tes da erysipela, como por exemplo, a epoca mens- trual, quer não haja modificação alguma no corri- 19 mento cataminial, quer este se ache diminuído ou mesmo tenha desapparecido. Cita elle o caso dè uma moça de dezoito annos, effectada de erysipela que apparecia periodicamente em cada epoca mens- trual. Causas occasionaes. A erysipela reconhece quasi sempre por causa determinante um ferimento qualquer, irritação ou contusão, feridas ulcerosas de todas as naturezas, scorbuticas, syphiliticas etc. Todas as soluções de continuidade recentes ou antigas, erupções, picadas, queimaduras, vesicató- rios que provoquem irritações, cautérios, ulcerações da mucosa bocal, pharingeana e nasal, podem ser o ponto de partida de uma erysipela. E’ commum observar-se a presença desta affe- cção nas feridas tratadas por primeira intensão a applicação de pomadas rançosas sobre feridas, a falta de asseio delias, os curativos mal feitos. Segundo o professor Vernenil, ha uma varie- dade particular de erysipela, cujo caracter é co- meçar com extrema rapidez e seguir muito de perto o traumatismo; a esta variedade elle chama erysi- pela por auto-infecção. Esta forma de erysipela é para este professer occasionada por uma operação 20 praticada sobre uma parte em plena suppuração; assim a exploração de uma fistula ossea, a extrac- ção de uma esquirola em uma ferida em via de cica- trisação. Affirma Després que, a erysipela traumatica é mais frequente depois das feridas accidentaes do que d’aquellas que são praticadas pelo bisturi. Gosselin diz que em uma estatistica de setecen- tos operados em sete annos teve apenas setenta e trez casos de erysipela, e em oitocentos e quarenta não operados teve cento e oitenta e sete erysipe- las. Bastian apresenta uma observação em sua these sobre erysipela (1875) em que conta vinte casos de erysipela sobre mil novecentos e vinte e uma feri- das accidentaes, ao passo que sobre mil setecentos e setenta operações não teve uma só erysipela. Anatomia Patoiogica As lezões anatomo-pathologicas da erysipela foram somente estudadas a datar do meiado do sé- culo passado por Yulpian Wolkman e Steudner. Verdade é que antes disto Després tinha indicado a formação de coalhos molles nas auriculas e ven- trículos e Bonsiére a fluidez do sangue: mas a natu- reza destas alterações foi determinada por Noton e Whitney, Moxon e Goodhart, que assignalaram o augmento da proporção dos globulos brancos de 1:15 e mesmo 1:30, parecendo corresponder a eleva- ção da temperatura; entretanto esta asserção foi combatida por Andral, Gavonet, e Hayem. Verneuil insistio sobre a steatose rapida das viceras, e congestão dos rins, pulmão e baço. As alterações locaes devidas a erysipela, aliás as mais importantes, somente a pouco tempo sahi- ram do dominio das hypotheses. Já Ilibes e Cru- 22 veilkier admittiam uma inílammação da rede venoza tegumentar, e Blandin affirmava que as lezões attingiam o trama da pelle e os lymphaticos que d’alii partem, havendo conseguintemente cutite e lvmphangite, o que tem sido confirmado nas pes- quizas contemporâneas de J. Renaut, Nepveu, Hu- eter Fehleisen, Cormil, Achalme Widal. A pelle erysipelatoza apresenta-se espessada, infiltrada de liquido, infiltração essa devida a dia- bedese dos leucocytos, muito abundante sobretudo em torno dos vasos sanguineos dilatados, o que constituem um manguito tão regular que levou Ca diat a suppol-os contidos em ama bainha perivas- cular: elles progridem, deslisando nos interstícios das laminas cellulares onde formam verdadeiras ilhotas esbranquiçadas, percorridas por capillares, onde avultam as ematias. Esta diapedese é o phenomeno capital, mas não ó o único responsável pela formação do exudato existente nas malhas do derma erysipelatozo: J. Renaut demonstrou que também as cellulas fixas que revestem Os feixes do tecido conjunctivo mos- tram-se túrgidas seo núcleo se veliculisa, seo pro- toplasma torna-se granulozo, a segmentação acti- va-se sobre tudo nas trabéculas que limitam as 23 illiotas de leucocytos e no contorno, dos bolbos pi- losos, trazendo assim seo contingente de elemen- tos embryonarios. As próprias cellulas adipozas revigoram-se e concorrem também para o genese dos elementos que fazem avultar o accumulo de globulos brancos. Esta lesão existe não só em superfície, sendo so- bretudo accentuada no centro da placa erysipela- toza, visivel ainda ao nivel do rebordo, muito atte- nuada na peripheria, onde a diapedese é quasi nulla, mais também em profundidade, attacando menos os planos inferiores do derma, mas entre- tanto existindo nas laminas do tecido conjunctivo sub-cutâneo, que se mostram mais espessas, e não raro invadidas de cellulas embryonarias. O mesmo auctor estudou os lymphaticcs no fóco erysipelatoso e encontrou cheios de leucocytos, quer as lacunas intersticiaes, ponto de origem delles, quer as rêdes superficiaes, quer sobretudo os troncos que percorrem a profundidade da camada dermica. Esta absorprão das cellulas contaminadas pelos microbios reage sobre o endotelio dos lympháti- cos, as cellulas tumefazem-se, dilatam-se os vasa- vasorum, forma-se uma angio-leucite, e não é raro 24 observar, no contorno da placa erysipelatoza um traço vermelho que se traduz ao tacto por cordoesi- nhos que se dirigem para os glanglios dolorosos. . Quanto a epiderme, o professor Ranvier es- tudou bem as modificações que nella se apresen- tam: podem apparecer phlyctenas, que se de- senvolvem entre as papillas e o corpo mucozo de Malpighi; as cellulas alteram-se, perdem a elei- dina, se os núcleos passam por uma transformação vesiculoza com dilatação dos nucleolos; a evolução normal das cellulas pertuba-se, não se produz mais a keratina e começa a descamação: mos- tram-se lacunas acima das papillas, enchem-se de serosidade, e estão constituidas as phlyctenas, muito abundantes especialmente ao nivel do re- bordo, contendo o liquido em suspensão leucocy- tos, algumas ematias e as vezes inicrococcus; em certos casos, em lugar de phlyctenas apparecem pustulas ou grossas vesiculas, que se dessecam deixando na superfície do epiderme escamas e crostas. Si a erysipela na sua evolmão tende para a cura, por delitescencia como diziam outr ora, dá-se um processo que pode ser considerado como o opposto da diabedese: no centro do fóco diminuem 25 os leucocytos, que approximam-se dos vasos lym- phaticos em torno dos quaes constituem um man- guito semelhante ao que formaram a principio em torno dos vasos sanguineos, e penetram em seu interior, que por este afíluxo incessante se mos- tram repletos de leucocytos: portanto os glóbu- los brancos vindos da torrente circulatória pelas veias, a ella voltam pelos lymphaticos. Os outros elementos, devidos a segmentação das cellulas fixas, desorganisam-se, fundem-se e acabam sendo absorvidos pelos lymphaticos. Mas nem sempre é esta a terminação da ery- sipela, que pode deixar um edema persistente, que predispõe o organismo a novos accessos, cuja successão modifica profundamente os tecidos. Continua a migração dos leucocytos atra vez das paredes dos vasos bem como a proliferação das cellulas fixas; os feixes conjunctivos dissociados reabsorvem-se, a gordura desapparece, e em se- guida a pelle e tecido conjunctivo sub-cutaneo, modificado em sua structura, unem-se em um plano unico de tecido infiltrado, lardaceo, de con- siderável espessura, rico em suecos e elementos embryonarios irrigados por vasos de paredes, frá- geis. E’ a dermite liypertrophica, a elephantiasis, 26 frequente sobretudo nos escrotos e nos membros inferiores, tão commum nos' paizes quentes. A anatomia pathologica, quando o processo erysipelatozo tende a terminar pela suppuração, o que não é muito commum ou pela grangrena, o que também é raro, em nada differe da já conhe- cida nesses processos morbidos. Bacteriologia O estreptoccoco da erysipela de Fehleisen pode ser identificado como estreptococco pyogeno, forman- do com elle uma só especie, sob o ponto da unidade de origem. Assim se exprime Widal a tal respeito: (*) “O estreptococco, saprophita vul- gar da nossa superfície cutanea e sobretudo de nossas cavidades naturaes, pode como o estaphi- lococco, o pneumococco, o colibacillo, restaurar incessantemente sua virulência, e em estado isolado ou de associação penetrar mais ou menos pro- fundamente na economia para determinar ahi as mais variadas desordens locaes ou geraes as mais variadas. De todos os saprophitos capazes de ad- quirir assim qualidades pathogenas, o mais inte- ressante em razão de sua ubiquidade e de varie- (*) Widal. Streptococci eterysipele de la face : In traité de medicine de Brouardel et Gilbert. 28 dade de lezões que elle ó com certeza o estreptococco, que Peter em uma discussão aca- démica chamava, com o seu humor costumado, o microbio que íaz tudo. Sabemos hoje que o estre- ptococco é capaz de occasionar a placa erysipe- latoza, a estrialymphangitica, o pus do abcesso, o coalho da phlegmatia, as falsas membranas em .... \ certas anginas. A diversidade das pertubações mórbidas occa- sionadas por um unico e mesmo estreptococco não depende somente da variabilidade de viru- lência, mas sobretudo das qualidades, do terreno que lhe oppomos. Cada um de nós reage contra o estreptococco de accordo com suas aptidões constitucionaes, seu estado actual de opportunidade mórbida, e o tecido que foi invadido.” A bactéria Fehleíser é um micrococco que raras vezes se apresenta isolado, ou como diplo- coccus, e habitualmente disposto em cadeias com 5 e 10 elementos em termo medio: cada um dos coccus tem como forma perfeitamente redon- da e um diâmetro de cerca de trez decimillesi- mos de millimetro, podendo nas culturas augmen- 29 tar as grandezas das cadeias, e mesmo apresentar nellas formas um pouco diíferentes. Em geral este germen mostra uma certa im- mobilidade, porém, existem cadeias que mostram contracções tão evidentes que não se lhes pode con- testar uma certa mobilidade. Fhleisen encontrou o microbio em grande quan- tidade sobre tudo na zona além do rebordo erysi- pelatozo, justamente no ponto em. que a pelle parece macroscopicamente intacta: ao nivel do rebordo vio elle uma inflammação caracterisada por grande quantidade de elementos cellulares migradores, en- globando o germen no restante da placa muito in- fiammada existiam microbios em menor numero. O germen da erysipela pode também encontrar-se no sangue do doente, assim como no liquido das phly- ctenas, embora de mistura muitas vezes com outras especies microbianas. Este microbio é um anaerobio facultativo, pare- cendo, aliás, conservar por mais tempo suas propri- edades, especialmente sua virulência quando ao abri- go do exigenêo. Desenvolve-se mal nos meios ácidos, preferindo os meios addicionados de serum ou sangue. Cultiva-se o germen em meios transparentes, 30 como a gelatina, ou o agar-agar; o caldo neutro ou ligeiramente alcalino é também um excellente meio de cultura para o estreptócocco. No fim de 2 dias, e as vezes em menor espaço de tempo, no ponto da sementeira, já se vê pequenas colonias arredondadas, punctiformes, simulando pequenas gottas hyalinas ou ligeiramente esbranquiçadas, que se estendem muito na superfície, aprofun- dando-se no interior do meio de cultura. A descoberta do estreptococco da erysipela resolveu as questões relativas a pathogenia do morbo, restavam porém, duas questões a decidir. A primeira era saber se a erysipela de repetição dependia do mesmo microbio da erysipela franca commum, mesmo porque os caracteres clinicos das duas afrecções nem sempre são de uma seme- lhança exacta, tanto que, podem ser tomados por simples placa de erythema ou de lymphangite erysipela de repitição attenuadas. Widal resolveo o poblema semeando sangue retirado de uma placa nestas condicções, em que obteve culturas puras de um estreptococco tão virulento, que por inoculação em um coelho trou- xe uma erysipela rapidamente mortal. A segunda questão diz respeito ao habitat do 31 germen nas erysipelas de repetição, a determina- ção do escondrijo do microbio nos periodos inter- calares da mencionada affecção. Infelizmente este poblema, apezar de estuda- do por Yerneuil, Achalme e outros apresenta somente por solução hypothezes, entre os quaes figura a que explica a repetição da erysipela mais frequente na mulher pela coincideneia, por vezes manifesta, entre o apparecimento da affecção concomitantemente como das regras, donde até a denominação de erysipela catamenial dada a esta variedade. SymptomatoSogia A erysipela, moléstia cyclica, apresenta du- rante toda sua evolução diversas phases, que alguns classificam em tres períodos, o de invasão, de erupção e de descamação. Alguns accressen- tam a este um quarto período a que chamam de incubação, e que é apenas apreciável, porque o germen ainda em pequena quantidade no orga- nismo em nada affecta a saúde do indivíduo que é perfeita apparentemente; quanto a duração deste periodo nada se sabe de positivo, pare- cendo, porem, ser curta. Logo que as bactérias se multiplicam e pro- liferam de modo a reagir sobre toda a economia, fica constituído o periodo e invasão. São perturbações geraes de natureza e inten- sidade variaveis, que abrem a scena mórbida; 34 intonso calefrio, febre alta, cepbalalgia, sede, fastio, vomitos, muitas vezes delírio, inapetência, bocca amarga e língua saburroza, taes são os primeiros phenomenos que experimenta o doente, até que o rubor, a dor, a tumefacção e o calor em uma parte qualquer do corpo vem advertil o da moléstia que o acommetteu. O doente accusa dores nos glanglios proximos a séde da erysi- pela, tornão-se estes extremamente dolorozos a menor pressão e a qualquer movimento do corpo. Galeno já conhecia este signal, que foi con- siderado por Ghomel como um dos prodromos da erysipela. O estado febril persiste durante a evo- lução dos phenomenos locaes; a temperatura que se eleva desde o calefrio inicial attinge a 40. * Este período pode durar algumas horas ou 2 ou. 3 dias sendo immediatamente substituído pelo periodo da erupção. E’ caraeterisado pela apparição de placa ery- sipelatoza, mancha rosea, luzidia de bordos si- nuozos, de superhcie desigual, elevando-se um pouco acima das partes visinhas, que aliás se acham em estado normal. Esta mancha, a prin- cipio bem circumscripta, adquire em poucas horas 35 maior extensão, sua coloração varia desde a rósea até o vermelho escuro. A pelle que é a séde do rubor erysipelatoso torna-se tumefeita e destendida, aspera, dura, re- sistente e rugoza. Ao nivel da parte affectada o doente accusa uma sensação de calor dos mais intensos, o que é claramente apreciado pela mão do medico. As perturbações gastricas acompanham os accidentes febris notando-se principalmente a falta de apetite; é muito commum a presença de phenomenos nervosos, que muitas vezes appare- cem desde o inicio da moléstia: consistem em in- tensa cephalalgia, de que já faliei, agitação e insomnia, sendo, porém, outras vezes notada grande somnolencia. O periodo da descamação. A. mancha tendo durado quatro ou cinco dias, murcha, perde a cor, é seguida de uma esfoliação epidérmica, os symptomas geraes desapparecem quero dizer, a febre cessou, a pelle torna-se pallida, diminuio a tu- mefação, bem como o calor, entretanto os tecidos conservão-se infiltrados por uns dez ou quinze dias mais ou menos para ir desapparecendo a infiltração grad uai mente. 36 A proporção que os phenomenos locaes vão se aplacando, e a parte affectada recuperando sua co- loração normal, as pertubações geraes, por sua vez também desapparecem; vae-seo fastio, o somno é caimo;e o doente embora abatido de forças, tende a completo restabelecimento. Antes de entrar no estudo da marcha e duração da erysipela, devo dizer alguma cousa sobre os pontos preferidos por esta moléstia que são: face, courocabelludo, perna e escrotos; ha ainda a ery- sipela dos recem-nascidos e a puerperal. As erysipelas da face e do couro cabelludo, apresentam os mesmos symptomas, notando-se porém, o engurgitamento nos ganglios sub-maxilares que annuncia a moléstia. Na face os pontos preferidos para a invasão são: o orifício do nariz, o pavilhão da orelha e os ângulos dos olhos; si porém a pelle do rosto ou • do couro cabelludo apresenta qualquer escoriação é ordinariamente ao nivel da parte escoriada que começa a erysipela. A erysipela da face pode ser limitada a uma parte ou percorrer todo o rosto. As palpebras tornão-se vermelhas e edemaciadas, ameaçando cuhrir os olhos, as narinas inchadas e 37 quasi tapadas, as orelhas vermelhas, luzentas e bastante inchadas. No couro cabelludo não se pode bem apreciar o roseo da placa erysipelatoza, entretanto a dor ahi é intensissima; inevitável a quéda dos ca- bellos, bem como a das sobrancelhas. Deve também dizer que a erysipela da face pode attingir o pharynge, o larynge, os bron- chios, o pulmão e provocar a laryngite erysipe- latoza, o bronchite e a pneumonia erysipelatoza, accidentes perigosos que podem confirmar o que dizia Cornil: “a erysipela que começa é mais perigoza do que a que sahe”. Na erysipela da cabeça, quando a febre é in- tensa, violento o delirio, convulsões e coma, é muito commum sobrevir a meningite. A erysipe- la nas pernas bem como nos escrotos por si só não são perigosas, a menos que não se compli- quem com outras moléstias ou haja formação de abcesso. Quando a placa erysipelatoza apresenta phly- ctenas, cheias de serosidade citrina, fornecida pelo derma inflammado, toma a erysipela o nome do phlyctenoide. No fim de algum tempo abrem-se essas phlyctenas, e a epiderme se destaca, podem 38 ser numerosas, e rompendo-se poem a descoberta grande porção da superfície do derma, que for- nece um liquido sero-purulento ou sero-sangui- neo que seccando, forma uma crosta; só depois da quéda desta crosta é que a epiderme serepro- duz definitivamente. Esta forma nada influe sobre o caracter da moléstia nem sobre o prognostico. A erysipela puerperal apresenta-se com os mesmos symptomas que as outras, e como bem diz Hervieux: a erysipela puerperal pode como a erysipela vulgar revestir formas variadas: phly- ctenoide, phlegmonoza, grangrenoza etc. Pode affectar todas as partes do corpo, po- rém, ordinariamente a séde é na face ou nos membros, ora sporadica, ora epidemica. Na erysipela puerperal é muito grave e or- dinariamente funesto o apparecimento de uma pe- ritonite ou plebite uterina com infecção puru- lenta. Ordinariamente é fatal a erysipela dos re- cem-nascidos, que apparece desde o nascimento até a formação completa da cicatriz unabelical. Paul Dubois, Moreau e Trousseau dizem não ter observado um só caso de cura nos primeiros 39 mezes de existência. Crisolle, porém, diz ter visto uma criança de cinco a seis mezes curar-se de uma erysipela que depois de ter invadido as coxas e partes genitaes, terminou por sphacelo de toda pelle da bolsa. As sédes principaes da erysipela dos receni- nascidos são na pelle e no cordão umbelical. Na pelle a vermelidão e o calor são nmni- festos, prostacção e febre intensa. No umbigo pode ser produzida pela ligadura applicada in- tempestivamente, como dizia Hoffmam; Chomel e Blache citão factos em que teve inicio nos bo- tões da vaccina a erysipela dos recem-nascidos. Marcha duraçáo e terminação A erysipela é uma moléstia essencialmente aguda, não é grave por si mesmo, mas pode ter consequências fataes pelas complicações que po- dem apparecer. Quanto á marcha da moléstia os auctores admittem algumas variedades de erysi- pela. Quando a moléstia se limita ás regiões, que ella tinha invadido durante as primeiras horas de sua evolução, toma o nome de erysi- pela fixa; esta variedade é muito commum na ery- sipela da face; em outros casos, mais frequentes, a erysipela toma o nome de ambulante, quero dizer, a parte primitivamente affectada torna-se flascida, o rubor menos intenso e a pelle se enru- ga, em quanto os pontos mais approximados tornão-se vermelhos, tumefactos e doloros; nota-se 42 assim que muitas vezes a erysipela se transporta de um ponto a outro e deste para um mais afas- tado, não abandonando, entretanto, sua séde inicial. Nos casos benignos e sem accidentes, a moléstia pode durar* 6 ou 8 dias, no fim dos quaes entra o doente em franca convalescença; haven- do, porem, complicações, pode este guardar o leito por 4 ou 6 mezes, tempo suficiente ou para se dar a cura, ou para a morte por termo á scena. São raras as complicações logaes. Na erysi- pela da face os glanglios lympliaticos do pescoço são ordinariamente tumefeitos, porém, esta in- chação não attinge a grandes dimensões. A bron- cliite e as pneumonias lobulares podem complicar casos de erysipela porém, nada tendo de cara- cterisco. Tem se observado algumas vezes a pleurisia, a endocardite e a pericardite, entre- tanto são raras estas complicações. No curso da erysipela observa-se muitas vezes a presença de albumina na urina, e a nephrite aguda, hemorrá- gica, não constituindo, entretanto, gravidade para a moléstia, por ser susceptivel de curar-se. A meningite purulenta é facil apresentar-se na erysipela da cabeça,, bem como phenomenos cerebraes os mais intensos. 43 As empigens e a urticaria se manifestam na erysipela da face, entretanto são de maior gra- vidade as inflammações plilegmonosas e grangre- nosas do tecido cellular. Devo também dizer que no decurso da ejysi- pela ambulante são muito communs os abcessos cutâneos que impedem muitas vezes a convalescen- ça definitiva. Não 6 possivcl determinar-se de uma maneira segura a terminação da moléstia de que me oc- cupo. A erysipela não ó uma moléstia grave por si mesma, mas pelas complicações que podem ter lugar durante o seu curso. Ordinariamente a terminação se faz peio abaixamento da tem- peratura e desapparecimento gradual dos phe- nomenos locaes - e geraes. Ha casos, entretanto, em que a pelle conser- va-se ainda perturbada em sua innervação, para ruais tarde voltar ao seu estado normal. A terminação pela morte pode dar-se, devido as complicações de que a pouco tratei. A erysipela pode ainda apresentar na sua de- clinação, erupções cutaneas diversas, como provão observações clinicas. Em um caso a erysipela ter- minou no fim de dez dias, por um herpes simples; 44 em outro, em que se tratava de uma erysipela ambulante, a terminação teve lugar por uma rose- ola. Emfim, acontece muitas vezes que, depois de repetidas erysipelas, a pelle da região, que foi séde da moléstia, conserva uma inchação hyper- trophica; é este estado que alguns dão o nome de terminação por endurecimento. THAGNOSTIC0 O primeiro cuidado do clinico é conhecer de todas as manifestações e alterações geraes e lo- # caes que apresenta a pessôa que accusa moléstia. A propedêutica nos impõe não só o interro- gatório mas ainda o exame do doente, e com um interrogatório minucioso a par de um exame bem * * feito, pode o medico formar o diagnostico sem grande difficuldade. Toda vez que um individuo apresentar febre intensa, cephalalgia, calefrios, ina- petência, nauseas, vomitos e engurgitamento dolo- rozo dos glanglios lymphaticos, deve-se logo prever o apparecimento de uma erysipela que terá lugar na região próxima aos ganglios aifectados. Si for na face ou no couro cabelludo, o en- gorgitamento será ncs glanglios cervicaes, si, porém o engorgitamento for na verilha, deve-se procurar o mal nos membros inferiores ou nos es- crotos. 45 A erysipela, uma vez declarada, facilmente será reconhecida e não é difíicil distinguil-a de qual- quer outra affecção. O erythema, por exemplo po- derá ser destinguido da erysipela, porque chegado ao seo periodo de estado, é constituido por man- chas róseas ou vermelhas, largas collocadas ao ni- vel da pelle, e pouco dolorozos e que terminão-se por uma ligeira descamação; alem disso é esta uma afíecção que raras vezes é precedida de calefrios e outros accidentes febris, O erythema nodozo differe-se da erysipela, em que o rubor é disposto por placas mais ou menos arredondadas e reunidas em grupos, principalmen- te na visinhança da articulação. No eczema, em que o diagnostico poderá ser um pouco duvidoso, porque os prodromos são os mesmos, a duvida desapparecerá desde que atten- dermos a menor intensidade da febre, a ausência dos engorgitamentos dos glanglios, a presença de um pontilhado que lhe é proprio e finalmente a falta de resolução de continuidade. A lymphatite, a piebite e o phleugmão apre- sentam semelhança com a erysipela, porém é sem- pre possivel distinguil-os dessa moléstia. Assim, a erysipela apparece successivamente em pontos 46 differentes sem relação com o trajecto dos vasos lymphaticos, apresentando um rubor diffuso, mas que é . limitado por um rebordo ondulado e de cor mais carregada do que no resto da parte affe- ctada, ao passo que na lymphatite e na plebite o rubor vai se estendendo insensivelmente até perder-se pouco a pouco nas partes não affecta- das. A esysipela durante sua marcha pode apresentar um grande numero de phlyctenas chei- as de serosidade, o que não acontece na lym- phatite e na plebite. Prognostico Foi em tempo-a erysipela uma das complica- ções mais formidáveis das feridas, hoje porém é considerada uma affecção benigna, depois do em- prego dos methodos antisepticos. É, curiosa a comparação entre as estatisticas realisadas por Gosselin no hospital de la Petié nos tres annos de 1862, 1863 e 1864, e as do professor Verneuil, successor de Gosselin no mesmo serviço nos annos de 1877, 1878 e 1880: ao passo que Gos- selin verificava 133 casos de erysipela, dos quaes 31 fataes, Verneuil com o regimem de uma antisepcia, embora ainda primitiva verificava apenas em peri- odo igual 30 casos, dos quaes somente sete fataes. Este eminente professor bem como Trelat e Cornil tem demonstrado que a antisepcia não só tornou mais rara a erysipela, como mesmo alta- mente influio no seo prognostico: ainda se co- 48 nhece a erysipela que mata, mas o seu desenvol- vimento é excepcional; deixou de ser a infecção hybrida, em que representava papel importante a lymphangite, phlegmão diffuso, a infecção puru- lenta, talvez em ultima analyse, os maiores res- ponsáveis pela mortalidade, de que increminada a erysipela. A erysipela torna-se grave quando irrompe em individuos enfraquecidos ou discrasicos, e nestas condicções elles morrem, não de sua ery- sipela, mas de seo estado constitucional anterior. Ultimamente se tem procurado até conferir a erysipela qualidades beneficas, instituindo uma supposta erysipela curadora, tendo sua applicação no tratamento das moléstias mentaes, na no reumatismo, nas escrofuloses, no lupus, de- matoses sypbyliticas, fistulas, feridas fungozas, tumores malignos, sarcoma, epiteliomo, lymplia- denoma e carcinoma: mas o resultado mão tem correspondido a espectativa, e se um lymplia- denoma ou um câncer tem diminuido de metade no curso de uma erysipela; tem se notado que o mal reappareceu depois da cura do exanthema TRATAMENTO E’ a erysipela um dos morbus èm que mais tem sobresahido a relevância do tratamento pro- 49 pliylatico: são de tão indiscutível efficacia as medidas prophylaticas, hoje empregadas, que é impossível eliminar a erysipela chamada opera- tória. Quando muito a erysipela ainda se pode apresentar, embora raras vezes, nas ulceras an- tigas, focos cancerozos e mal desinfectados. A erysipela moléstia cyclica, tende a cura por si mesma quando não existe tara visseral que ponha o organismo a mercê do primeiro ac- cidente. A missão do clinico limitar-se-ha a prescripão de um purgativo brando, algumas applicações tópicas de vaselina boricada e cocai- nisada para acalmar o comichão, bem como de tintura de iodo, nitrato de prata, iodoformio, ichtyol, que é muito recommendado e o collodio. Como tratamento interno muitos preconisam os álcoois, um regimen tonico, a poção de Todd, e o extracto molle de quina, podendo dar-se o sulphato de quinino se a febre for intensa. Aliás, para obter o abaixamento rápido da temperatu- ra. Abercon encarece o bensoato de sodio na dose de 15 a 20 gr. por dia. Ainda como tratamento local são muito acon- selhadas as pulverisações sobre a pelle inflam- mada do amidon canphorado e do subnitrato de 50 bismuto. Verneuil faz uma mensão especial das pulverisações prolongadas de acido phenico, que em 14 casos dominaram a erysipela até em dis- crasicos: é portanto incontestável a acção do spray, provavelmente devida a absorpção do acido phenico, o que parece confirmado pelo me- thodo Kraske, que emprega o acido phenico em rigirações feitas na parte após escarificações de um a dous centimetros, superficiaes. Entretanto este metliodo das escarificações não é acceito por todos, porque necessita o emprego do chlorofor- mio, as escarificações deixam vestígios, é pouco applicavel as erysipelas ambulantes que cobrem largas superfícies, devendo empregar-se apenas nos casos brandos, que aliás curam por si mesmo. A escarifição tem sido também empregada na pelle erysipelatosa com uma lavagem conse- cutiva de agua sublimada. Estas escarificações parecem aliás preferiveis as injecções hypoder- micas aconselhadas por Hueter a alguma distancia do rebordo da placa com uma solução de 2 .p de acido phenico. Quanto a alimentação do doente deve ser branda, constituida por caldos e leite. 51 E’ evidente que, ainda como medida prophy- latica deve ser mantido rigorosamente o' isola- mento do doente, para impedir a propagação do mal. Actualmente a serotherapia da erysipela constitue o tratamento preconisado deste mal. A 30 de Março de 1895 Mannorek communicava a sociedade de Biologia o resultado de suas pri- ípeiras injecções de serum antistreptococcico em 14 casos, todos graves, cujos doentes todos sara- ram, e a estatística de Chantemesse mostra uma proporção de curas superior a de qualquer dos outros methodos. Roger nas puerperas, Mannorek e Chante- messe verificaram uma descida rapida da tempe- ratura, melhora prompta do estado geral, desap- parecimento da albuminúria e localmente uma descamação das placas erysipelatozas e desap- parecimento dos phenomenos inflammatorios. Não pode ser mais animador o resultado do emprego do novo methodo curativo, e é caso para concluir reproduzindo as palavras crite- riosas que neste particular, proferem Charrin e Roger: si os factos verificados são ainda pouco numerosos para justificar uma conclusão defini- tiva, sobre a acção curativa do serum, elles per- 52 mittem affirmar a sua inocuidade: ha razão por- tanto para continuar o seo emprego nas diver- sas affecções dependentes do streptococcus, ins- tituindo o tratamento especiíico desde o inicio dos accidentes. if I1VlJ©IuU H%H Tres sobre cada uma das cadeiras do corpo de sciencias medicas ecirúrgicas. PROPOSIÇÕES l.a Secção ANATOMIA DESCRIPTIV A I O craneo representa o conjuncto de ossos pa- res e impares destinados a encerrar e proteger a massa encephalica. II Oito ossos o constituem: frontal, occipital, temporaes, parietaes, esphenoide e ethmoide. III Da reunião d’estes ossos resultam suturas e fontanellas que são de grande interesse para a obstetricia. 54 ANATOMIA MEDICO -CIRÚRGICA I As mammas são orgãos glandulares que se acham situados nas partes antero-lateraes do thorax entre a 3. • e 7’ costellas. II Variam de consistência nas virgens, nas nul- liparas nas multiparas e nas differentes phases da vida. III São sensiveis as suas modificações durante a gravidez. 2. a Secção HISTOLOGIA I Os elementos figurados do sangue são os leucocytos, as hematias, e os hematoblastos. 55 II E’ de grande alcance clinico o conhecimento numérico de cada um d’elles. III Os apparelhos hematimetricos mais empre- gados são o de Iíayem e Nachet a camara hú- mida graduada de Malassez e o hemato mometro de Thoma. BACTERIOLOGIA I O bacillo de Hoch tem a forma de um bas- tonete de bordos arredondados, é aerobio e existe no interior das cavernas pulmonares. II A sua disseminação no ar se dá pelá desec- capão dos escarros do3 tuberculosos. 56 III Para garantia da saúde das creanças e ado- lescentes contra tão horrível inimigo é mister que se faça principalmente nas escolas o prévio exame bacterioscopico dos escarros das pessoas que com ellas convivem. ANATOMIA PATHOLOGICA I A hypertrophia muscular pode ser simples e devida a um augmento de volume dos feixes mus- culares . II Pode ainda ser hyperplasica e em relação com uma formação de novas fibras musculares. III E’ difíicil fazer-se a differenciação d’estas duas formas particulares. 57 B a Secção PHY SIOLOGIA I A nutrição é a vida. II Dous são os actos essenciaes da nutrição: assimilação e desassimilação. III Pelo primeiro, o organismo apprehende o que lhe é util e necessário; pelo segundo, elimina o que lhe é nocivo e prejudicial. THER APEUTIC A ‘ I O Jaborandi é uma planta pertencente a flóra brasileira, ao genero Pilocarpus Pinnatus e a familia das Rutaceas. 58 II O seu principal alcaloide é a pilocarpina. III E’ incontestável sua acção diaphoretica. 4. a Sessão HYGIENE I Os habitantes das altas montanhas são, em geral, attingidos por uma anemia particular. II Essa anemia ou anoxhemia é caracterisada por um enfraquecimento do organismo e pela pallidez dos tecidos resultantes de uma falta de oxygenação dos globulos vermelhos. III Os habitantes das altas montanhas são, ra- ramente attengidos por tuberculose pulmonar. 59 MEDICINA LEGAL I A morte súbita pode ter lugar pelo cerebro, pelo coração ou pelo pulmão. II A ausência permanente da respiração e dos battementos cardiacos são signaes certos de morte. III Recentemente o Dr. Ott de Lillebonne des- cobrio um signal pratico para diagnostico da morte, que denominou phlyctena secca ou ga- zoza. 5.a Secção FATHOLOGIA CIRÚRGICA - I Nos exercicios physicos os esforços violentos 60 e immoderados podem ser causas determinantes das hérnias. II Nestes casos ellas tomam o nome de hérnia de força. III A hérnia de fraqueza é devida principalmente a fraqueza das paredes do canal herniario. OPERAÇÕES E APPARELHOS I A amputação de um membro gangrenado deve ser regularmente feita, muito acima da parte gangrenada. II Deve-se dar preferencia ao methodo de dous retalhos iguaes. 61 III . Quanto ao momento de fazer a amputação, uns dizem que ella deve ser immediata, outros afirmam que ella só deve ter logar quando a gangrena está limitada. CLINICA CIRÚRGICA (2. • Cadeira) I A retenpão da urina depende de múltiplos factores. II Os seus symptomas variam segundo ella com- pleta ou incompleta. III O meio mais empregado para esvasiar a bexiga é pelo catbeterismo. 62 CLINICA CIRÚRGICA (1.' Cadeira ) I O tratamento das feridas abdominaes varia com o caso clinico. II A expectarão armada é muito vantajosa quando ha duvida si a ferida é penetrante. III Havendo perfuração visceraes a laparatomia é indicada. 6.a Secção PATHOLOGIA MEDICA I A hypoemia intertropical é uma anemia de natureza especial. 63 II As más condições hygienicas, a alimentação insufficiente e de má qualidade, os trabalhos ex- cessivos constituem os elementos mais impor- tantes na etiologia da moléstia. III Esta moléstia é hoje considerada uma affe- cção verminosa. CLINICA MEDICA (2. • Cadeira ) I O beriberi é uma moléstia dos paizes inter- tropicaes, caracterisada principalmente por dis- pnéa, paralysia e edema, e que se tem tornado endemica em algumas provindas do norte do Brazil. II O beriberi entre nós tem revestido tres for- 64 mas clinicas differentes: ora paralytico, ora ede- matozo, ora mixto. III A etiologia e pathogenia do beriberi até hoje não poderam ser demonstradas. CLINICA MEDICA • (1.* Cadeira) I O paludismo é unia infecção que ataca fre- quentemente as creanças—a firmeza de seo dia- gnostico está no exame hematologico sendo o seo prognostico grave conforme a sua evolução e seo typo. II Elle é commum nas proximidades dos pân- tanos onde existem os anopheles. III Dahi decorre a necessidade das escolas não 65 funccionarem perto de lugares pantanosos e dos exercícios não se realisarem nas proximidades d’estes. CLINICA PROPEDÊUTICA I O exame urologico permitte reconhecer as condições filtrantes do parenchyma renal. II Segundo as circumstancias pode ser qualita- tivo, quantitativo ou microscopico. III Não raras vezes é suíficiente para um diag- nostico. 7.a Secção MATÉRIA MEDICA, PHARMACQLOGIA E ARTE DE FORMULAR , I Chamão-se quinas as cascas de um certo nu- 66 mero de plantas, que pertencem ao genero cin- chona da família das rnbiaceas. II No commercio encontra-se tres especies de quina: vermelha, amarella e cinzenta, classifica- ção que não tem razão de ser, porque podem todas pertencer a mesma arvore. III Uma mesma arvore pode produzir estas tres especies de quinas, conforme são extrahidas do caule, dos ramos ou dos ramúsculos. HISTORIA NATURAL MEDICA I A respiração é uma íuncção inlierente a todo ser vivo. II Os peixes respiram por meio das branchias o oxigénio que se acha dissolvido nas agoas. 67 III Os insectos respiram por meio das trachéas, cujas aberturas são chamadas stigmatas. CHIMICA MEDICA I Entre os productos da dessimilação organica está a nevrina, cuja formula é C 5 H 14 A z 2. II E’ um producto orgânico de toxidez ex- trema. III Na variedade dos alcaloides produzidos pelas \ bactérias, ha muitos já isolados, ha alguns vo- láteis. 8.a Secção OBSTETRÍCIA I O delivramento consiste na expulsão dos an- nexos do feto: é o complemento do parto. 68 II Na maioria dos casos se faz naturalmente. III E’ fértil em accidentes. CLINICA GYNECOLOGICA E OBSTÉTRICA I A menstruação é a phase critica da puber- dade, principalmente nas jovens chloroticas. II A menstruação pode muitas vezes ser sus- pensa. III A diminuição ou suppressão dos menstruos na mulher chlorotica pode originar accidentes es- peciaes, estado phletorico metrite, febre continua simples e outros mais, as vezes de consequências gravíssimas. 69 9. a Secção CLINICA PE DIATRICA I O apparelho gastro intestinal das creanças é, séde habitual de graves perturbações. ' II As causas mais communs são a alimentação viciada e a falta de exercicio. III * A educação physica que comprehende a hy- giene e gymnastica, impede, portanto, a fre- quência destas perturbações. 10. a Secção CLINICA OPHTALMOLOGICA I São diversas as causas de keratite parenchy- matoza. 70 II Geralmente é de natureza heredo-syphilitica. III Seu tratamento deve ser pathogenico. I 11. a Secção CLINICA DERMATOLÓGICA E SYPHILI- GRAPHICA I Ordinariamente é diííicil o reconhecimento dos tumores gommosos do seio. II No primeiro periodo passam despercebidos ou são considerados tumores benignos de outra natureza. III Quando se produz a ulceração impõem-se o diagnostico. 71 12. Secção ■ CLINICA PSYCHI ATRICA E DE MOLÉSTIAS NERVOSAS I A paralysia geral pode ser diagnosticada pelo exame ophtalmoscopico. II Entretanto ha casos em que não se encon- tram lesões no fundo do olho. III Entre estas, as mais frequentes são a papil- lite e a nevroretinite. 1 isto Bahia e Secretaria da Faculdade de Medicina, 80 de Outubro de 1906. O Secretario, jDt. f) iIcnaruko doá JR.uá (j^lleoMcá