FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA APRESENTADA Á Faculdade de Medicina da Bahia EM 31 DE OUTUBRO DE 1911 PARA SER DEFENDIDA POR Luiz de Paula Lima PHARMiCEDTICO PELA MESMA FACULDADE Filho legitimo de Raymundo de Paula Lima e D. Francisca Pessoa Lima NATURAL DO ESTADO DO CEARA’ AFIM DE OBTER O GRÁO DE DOIÍTOH Btí MED í<§í Má CADEIRA DE CLINICA MEDICA Dissertação Relação da insufficiencia ovariana com as glandulas endocrinicas em pathologia eardio-arterial Proposições Tres sobro cada uma das cadeiras do curso de scienciaa medico cirúrgicas BAHIA TYPOGRAPHIA COMMERCIAL Taboão, 63 1911 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Director— Dr. AUGUSTO C. VIANNA Vice Director Secretario—Dr. MENANDRO DOS REIS MEIRELLES Sub-Secretario—Dr. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA PROFESSORES ORDINÁRIOS OS D RS. MATÉRIAS QUE LECCIONAM Manoel Augusto Pirajá da Silva . Historia natural medica. Pedro da Luz Carrascosa . . . Physica medica. José Olympio de Azevedo. . . Chimica medica. Antonio Pacifico Pereira . . . Anatomia microscópica José Carneiro de Campos . . Anatomia descriptiva. Manoel José de Araújo . . . Physiologia. Augusto Cesar Vianna . . . Microbiologia. A. Victorio de Araújo Falcão . . Pharmacologia Guilherme Pereira Rebello . • Anatomia e Histologia pathologicas Furtunato Augusto da Silva . . Anatomia medioo-cirurgica, Anisio Circundes de Carvalho . . Clinica medica Francisco Braulio Pereira . . « « João Américo Garcez Fróes . « « Antonio Pacheco Mendes . . « cirúrgica, firaz Hermenegildo do Amaral . * « Carlos de Freitas . . « « Francisco dos Santos Pereira . . « ophtalmologica. Eduardo Rodrigues de Moraes . « oto-rhina-laryngolosrica Alexandre E. de Castro Cerqueira . « dermatológica e syphiligra- phica Gonçaio Moniz Sodrè do Aragão . Pathologia geral José Eduardo F. de Carvalho Filho . Therapeutica. Frederico de Castro Rebello . . Clinica pediátrica medica e lrygiene intantil Alfredo Ferreira de Magalhães . Clinica pediátrica cirúrgica e ortho- pedia Luiz Anselmo da Fonseca . . Hygiene Josino Correia Cotias . . Medecina legal e Toxicologia. Climerio Cardoso de Oliveira . . Clinica obstétrica José Adeodato de Souza ... « ginecológica Luiz Pinto de Carvalho ... « psychiatrica e de moléstias nervosas Aurélio Rodrigues Vianna . . Pathologia medica Antonino Baptista dos Anjos . . « Cirúrgica PROFESSORES EXTRAORDINÁRIOS D.1'8 F.gas Mnniz Barreto de Aragãb . Historia natural medica João Martins da Silva . . . Physica medica Pedro Luiz Celostino . . . Chimica « Adriano dos Reis Gordilho . . Anatomia microscópica José Affonso de Carvalho . . « descriptiva Joaquim Dantas BiSo . . . Physiologia Augusto (ío Couto Maia . . . Mierobiolagia Francisco da Luz Carrascosa . . Pharmacologia Jnlio Sérgio Palma .... Anatomia e Histologia pathologicas Eduardo Diniz Gonçalves . . Anatomia medico—cirúrgica e Ope- rações e Apparelhos Clementino Rocha Erega Júnior . Clinica medica Clodoaido de Andrade ... « ophtalmologica Albino Arthur de Silva Leitão . « opermatolgoica e syphiligra- phica Antonio do Prado Valladares . « Pathologia geral Frederico de Castro Rebello Koch. Therapeutica José de Aguiar Castro Pinto . Hygiene Oscar Freire de Carvalho . . Medicina legal e Toxicologia Meuandro dos Reis Meirelles Filho Clinica obsratrica Mário Carvalho da Silva Leal . « psychiatrica e de moléstias nervosas Antonio do Amaral F. Muniz . Chimica analytiea © industrial PROFESSORES EM DISPONIBILIDADE D.r8 Sebastião Cardoso João Evangelista de Castro Cirqueira Deocleciano Ramos José Rodrigues da Costa Dorea Á Faculdade não aprova nem reprova a9 opiniões emibtidws nas theses que lhes são apresentadas. Breves considerações sobre a puberdade — A ovulação e a menstruação — O ovário como glandula de secreção interna — A menopausa. ' (ÉH;> puberdade, diz B.ullier, é a epoclia da vida particularmente "l)~ caracterisada pelo desenvolvimento rápido, o complemento d’organisação e a aptidão ao exercício de suas funcções adquiridas pelos orgãos reproductores da especie. Este phenomeno, o mais importante dos quantos se operam na vida da mulher, é mais ou menos longo. E’ um marco differencial que. separa dois estádios bem distinctos na estrada da vida feminina. O primeiro estádio dessa existência foi percorrido por um ser delicado e franzino, incapaz de concorrer para a perpetuidade da (^specie:—é a existência de menina. O segundo tirocínio será perlustrado por um ser vigoroso e forte, a quem a natureza incumbiu da metade do trabalho sublime 2 de garantir a reproducção e vida da especie humana:—é a exis- tência de mulher. E’ durante esta intima transição que se transmudam em cur- vas cheias e graciosámente arredondadas, as formas rectilineas e angulosas da idade pueril. Em plena posse de seu explendor, a mulher torna-se altiva e orgulhosa da perfeição de seus contornes» chegados ao seu desenvolvimento definitivo pela acção fecunda da natureza. A transformação intellectual, por sua vez se faz sentir. Sensa- ções, até então desconhecidas, surprehendem-n’a e despertam a reserva e o pudor. A imaginação torna-se mais viva, a memória se illumina, a attençâo e o gosto se formam. E’ a epocha da paixão ardente, da sensualidade offegante. Succede-lhe nem sempre poder resistir ao ardor de um anceio, a impulsão de um capricho. Nella tudo indica a sensibilidade acariciada exaltada:—é a flôr volu- ptuosa dos desejos a arfar os seios palpitantes e ávidos de cari- cias. E’ que a ovulação é o bafejo mysterioso com que a natureza transforma a menina em mulher;—verdadeiro calor solar que só(> fazer uma flôr de um botão !... Em nosso paiz, a epocha em que se inicia a ovulação oscilla entre 12 e 14 annos. Não raro se tem notado casos de extrema precocidade. Variando nas differentes raças a ovulação é mais demorada nas brancas que nas mulatas e mais nestas que nas negras. Influenciada pela hereditariedade, o clima, também, actua de forma insophismavel nessa admiravel transmutação. Assin é que, nos climas quentes o seu feminino chega mais rápido ao ser com- pleto desenvolvimento que nos frios. 3 Sujeita ainda.a todáS as causas de excitações como o abuso dfc comidas e bebidas excitantes, não menos sujeita se acha ao tem- peramento e constituição individual. Divergem neste ponto os auctores. Para ítaciborski as mulheres rohustas e fortes são mais precocemente regradas; para Stoltz quer a robusta de temperamento sanguineo, quer a franzina de constituição delicada, lymphatica ou de temperamento nervoso, o são ao mesmo tempo. (* ) As influencias psyclxicas, tão bem estudadas por Casalis são de acção incontestável, não só quanto ao apparecimento da pri- meira ovulação e quiçá da primeira menstruação como também durante a phase de catamenio que a pode antecipar. “Ha para a maturação e queda dos ovulos epochãs naturaes, espontâneas, como ha tamhem outras que se poderiam chamar artificiaes, porque é possível provocar por meios de agentes exteriores. Tudo leva a crer que, na mulher que tem o privilegio de uma aptidão perma- nente ao coito, as approximações sexuaes podem ter o mesmo resultado” (Award). A vida sedentária como a em extremo laboriosa retarda o appa- recimento da primeira ovulação. O regimen alimentar de alguma forma coopera para manter as funcções ovarinas - em sua plenitude. As filhas de Cyhpre são graciosas, alegres e amaveis; trabalham asperamente e só se nutrem de fructas e legumes. Na historia dos Incas conta-se que as mulheres aborígenes do Chile e do Perú conservam o frescor da mocidade até 60 annos, epocha em que poderiam ainda ser mães. (•) Uma jovem robusta de temperamento antes sanguíneo que lymphatico, nem por isso é regrada mais cedo do que outra de constituição delicada e an- tes lympliatica e nervosa que saguinnea. (Stoltz). 0 ovário, centro de todos os plrenoxnenos da puberdade, apre- senta-se com uma dupla funcção: a primeira—a da geração não faz parte do quadro que traçámos; a segunda — a do ovário como glandula endocrinica — é que merece o nosso estudo. E’ elle constituído de duas partes: — o corpo àmaréllo e a (jlandula interticial, cuja funcção não se acha bem definida. Levando em rol de conta o seu rápido desenvolvimento e atten- dendo esta coincidir com o apparecimento de manifestações pu- beraes, não podemos deixar de admittil-a como factor de impor- tância e orgão endocrinico. E’ o corpo amarello da mais alta importância. E’ elle que se acha incumbido das secreções internas; é elle que actua sobre o desenvolyimento do systema osseo, que dá ao uterus uma impulsão nutritiva, impedindo-o de voltar ao estado infantil e prepara a mucosa para receber o ovo fecundado. Ha muito.se admittia que a ovulação e a menstruação eram actos quasi simultâneos. Eroenkel e Ancel têm combatido esta opinião e as observações de Villemin parecem ter resolvido o assumpto. Em 39 mulheres laparotomisadas, quer no momento das re- gras, quer nos diversos períodos intermenstruaes, o ovário estu- dado com detalhe o induziu aos resultados seguintes: a menstru- ação é uma hemorrhagia uterina provocada pelo corpo amarello no auge de seu desenvolvimento e que se produz 14 dias após a ovulação. São accordes os physiologístas em admittir que o corpo ama- rello abaixa de um modo notável a pressão sanguínea; que activa as combustões intracellulares, augmentando o coeficiente de oxy- dação; que gosa de uma acção destruidora sobre a auto-intoxica- ção; que actua sobre o systema nervoso bulbo-medullar, excitando desfarte os núcleos dos apparelhos moderadores do coração (Yinay) 4 5 e que finalmente, favorece a multiplicação dos globulos vermelhos (S. Marbé, Spillmann e Etienne). A irregularidade da funcção ovariana constitue a sua insuffi- ciencia e esta repercute sobre o organismo inteiro produzindo perturbações, das quaes umas são ligadas mais ou menos ás mo- dificações do apparelho utero-ovariano, emquanto que as outras revelam predisposições anteriores, hereditárias ou adqueridas, ou circumstancias puramente accidentaes. O parallelo abaixo muito bem estabelecido por Robin et Dal_ ché, evidencia as manifestações ligadas a hyperovaria e a hypo- ovaria. Hyperovaria Hypoovaria Hábitos de sexualidade pre- coce. Precocidade intellectual frequente. Precocidade puberal. Menorrh agias. Muitas vezes metrorrhagias. Amenhorrhéa só apparece sob a acção de uma causa local. Nada de enxaqueca; bôa saú- de; harmonia das foi’mas. Pallidez anémica. Thyoide pequeno, mas nada, de regular nem fixo. Pecundidade algumas vezes notável. Constipação menos frequente Nervozismo. Hyperazoturia e hyperphos- phaturia. Hábitos retardatarios, gene- ralizado ou localizado. Infanti- lismo. Puberdade tardia. Stig- mas de degeueresceucia. Amenhorrhéa — lia quasi sempre uma diminuição das regras emquanto o uterus fica são; as metrorhagias são muitas vezes indicios de uma alteração utero-ovariana. Pallidez; pseudo-myxedema. Adiposidade. Muitas vezes gotta exolphi- talmica. Mulheres infecundas ou pou- co fecundas. Constipação muito frequente. Nervozismo. Hypoazoturia e hypophos- ph atuída. 6 Jayle assignala os typos seguintes de insufficiencia ova- riana:—de ordem congenital, de formação (puberdade), da meno- pausa, com typo nervoso e com typo nutritivo (adiposo). Attendendo ao syndromo pluriglandular que nos pode levar a um erro mostrando-nos o effeito onde procuramos a causa, toma- mos como typo de insufficiencia ovariana a da menopausa, isto é: “o tempo de passagem entre a perfeita regularidade das regras e o momento em que sua supressão se torna definitiva.” A edade crepuscular que se estabelece entre 45 e 50 annos, sujeita ás infleuncias da puberdade, pode antecipar-se, si mais tarde se tiver dado o apparecimento da primeira ovolução. Não obstante têm citado casos precoces e tardios na ausência de todas as manifestações mórbidas. A supressão secretora do ovário é seguida de perturbações congestivas, trophicas e nervosas. Entre estas ultimas destacam-se as perturbações de origem psychicas e estas têm logar principalmente em individuos pre- dispostos pela hereditariedade. Nos symptomas vesanicos devemos distinguir os benignos, taes como a mudança de caracter e a irritabilidade observada em todas as mulheres que como considera Bali é provavelmente uma das causas da má reputação de que gosam as sogras, e os graves como o mysticismo, a melancolia, as idéas de perseguição e o de lirioerotico. Este ultimo pode se apresentar sob a formade um amor pia tonico ou pela excitação dos desejos venereos que as conduzem a verdadeiras loucuras. Neste caso vemol-a cuidar esmeradamente de seu corpo, enco- brindo, por meio de artifícios, os defeitos que se lhe apresentam empenhando-se na obra de sedução com segurança de exito. 7 Quando, porém, dissipada esta phase de doces mas loucas ilusões, a mulher já sem a vaidade da belleza, contemplando o passado, relembrando com amaríssima saudade a mocidade feliz que já não volta, sente confranger-se-lhe a alma na dor cruel de um desengano e substitue os atavios passados pela jovialidade dos sentimentos, pela pureza das vntudes. A tristeza de seu semblante faz lembrar um crepúsculo e a neve de seus cabellos emoldurando-lhe a fronte nos induz ao mais profundo respeito. Suprarenaes — Rins II ne faut pas subordonncr la patholo- gie à la physiologie. C’est 1’inverse qu’il faut faire. II faut poser d’abord le pro- blème medicai tel qu’il est donné par 1’observation de la maladie, puis clierclier à\ fournir 1’explication physiologique. Agir autrement; ce serait s’exposer à perdre de vue et à déflgurer la maladie. Claude Bernard. 0 estudo das glandulas de secreção interna, concepção assáz fecunda, introduzida na sciencia por Claude Bernard em 1855, e mais bem estudada por Brown-Séquard em 1889 á 1891, tem nes- tes últimos annos chamado a attençâo dos physio-pathologistas para tão grande assumpto. , Vai-ios auctores se têm occupado de casos de insufficiencia ou hyper-funccionamento uni-glandular; citamos entres estes Bris, saud e Bauer, casos de insufficiencia thyroide;Gaillard et Rumpel insufficiencia testicular; Dalché, Achard et Demanche e muitos outros, que longo fora enumerar. 2—L. L. 10 A ideia do syndromo pluriglandular levou a H. Claude et H. Gougerot a descrever a insufficiencia pluri-glandular endocrinica, podendo as glandulas serem atacadas simultaneamente ou succes- sivamente por uma mesma causa ou causas diversas, n’um mesmo indivíduo, resultando da associação destas diversas insuf- íiciencias um syndromo complexo de insufficiencia pluri-glandular, onde se acham misturados, os signaes individualisados das di- versas glandulas. Assim é que, no caso por elles observado, a doente experimen- tava uma singular mistura de myxoedema e de basedowismo, de menopausa antecipada, de hypertensão arterial devida, talvez, a hyperepinephria e de asthenia que talvez revéle a hypoepinephria. Attendendo aos laços íntimos que unem as diversas glandulas, o Dr. Gustave Eoussy, em sua mui recente memória faz a se- guinte observação: Em caso de lesões destruidoras de uma glandula, existe mui- tas vezes hyperplasia mais ou menos notada de outras glandulas; mas não é preciso se apressar em falar de suplencia, porque a destruição funccional de uma glandula arrasta, com effeito, uma profunda modificação dos liumores, que pode agir secundaria- mente sobre as outras. Em todo caso não se trata ahi de suplen- cia verdadeira: com effeito, as funcções especiaes para a glandula destruída, não reapparecem nunca, quando a destruição é total. Ex. no myxoedema por agenesia thyroidiana, na autopsia se po- derão achar, as parathyroides normaes, hypophyse mui hyper- plasiada e suprarenaes em hyperplasia cortical e medullar. Máo grado esta hyperplasia não ha suplencia da glandula thyroide pela suprarenal ou pela hypophyse. Os signaes de myxoedema são específicos, persistem idênticos a si proprio, qualquer que seja a duração da vida. Na suplencia 11 Verdadeira, ao contrario, vão se attenuando a proporção que se desenvolve a hyperplasia compensadora. Aberto, portanto, se acha na Patliologia um assumpto de ma- xima importância—a do syndromo pluriglandular. Do menor ou maior gráo de destruição das glandulas, do menor ou maior nu- mero de glandulas atacadas, resultará uma serie de manifestações, cujos caracteres clínicos serão evidenciados pela symptomatologia apresentada pelo doente. A importância desses conhecimentos não menos importante é para a organo-therapia. Em um trabalho rápido como o nosso, impossível se torna desci'ever as manifestações cardio-arteriaes apresentadas pelas diversas glandulas, estudando apenas —Suprarenaes Rins Thy- 1 oide Figado e Hypophyse. * <: % Vimos 11a parte anterior do nosso trabalho a acção da hypo- ovaria sobre os gangiios auto-motores do coração e sobre o sys- tema nervoso bulbo-medular. As palpitações cardíacas não se fazem esperar, e mui raras são as mulheres que chegando a epocha da menopausa,, não se acham delias possuída. Sfcokes, citado por Huchard, havia descripto uma forma de hysteria cardíaca succedendo á cessação das regras. Clement publica 11a Revista de Medicina de Paris no anno 1885 a obs. de doentes que nada apresentavam de antecedentes hereditários ou pessoaes; fortes e bem constituídas e dando-se ao trabalho sem se fatigar. Diz: “as perturbações da inervação car- díaca da menopausa são provavelmente ligadas a uma excitação do grande sympatliico. A mulher chegada a esta edade, é um terreno admiravelmente preparado á explosão dessas desordens 12 nervosas e se acham nellas reunidas varias condições qne fazeín de ordinário nascer as palpitações”. Huchard e Fiessinger na Clinica Therapeutica do Pratico, relatam o caso de uma senhora de 66 annos, cujo coração era arytlimico e pulsava tumultuosamente desde o dia em que o fluxo catamenial tornou-se irregular; o pulso era tenso, vibrante» as cavidades cardíacas se dilatavam, o figado tornou-se enorme, as jugulares demonstravam o pulso venoso, as urinas diminuiam e tornavam-se albuminosas. Edema considerável dos membros inferiores. Kisch enuncia casos onde uma das manifestações mais cons- tantes era a hypertensão arterial. Huchard chama a attenção para essa hypertensão": “nós casos onde a menopausa se estabe- lece de uma maneira anormal e mui rapida, achando-se desfarte» privadas physiologicamente do ovário, orgão liypotensor, podem apresentar durante mezes e annos uma tensão arterial mais ou menos superelevada. Kesulta uma causa de palpitações, depois alterações arteriaes* terminando pela aortite e arteriosclerose da menopausa. O pri- meiro período é funccional, na ausência de toda lesão cardio-ar- terial”. “No começo as palpitações de menopausa são de origem vaso- constrictivas. São devidas quasi sempre a hypertensão arterial, de sorte que, só a medicação hypotensiva, é indicada”. Attendendo que esses estados morbidos não são observados em todas as mulheres na epocha da menopausa, Huchard e Fi- essinger para explicar essas diversas manifestações, evocam uma fraqueza natural do systema vaso-motor e da musculatura car- díaca. Não queremos discordar do illustre cardiopathologista, mas 13 parece-nos a nós ser o effeito da ruptura dos laços biotropicos das glandulas endocrinicas. Experiências de M. Théodossier, feitas no Instituto Patholo- gico de Kazam, em cadellas ovariotomisadas e sacrificadas cerca de 10 mezes após a operação, deram o resultado seguinte: as ca- psulas suprarenaes foram achadas nos animaes em experiencia consideravelmente hypertrophiadas, este processo hyperplasico sendo as vezes sobre o stroma e sobre o parenchyma. Entre os elementos parenchymatosos, são cellulas da substancia cortical e notadamente as da zona globular e da zona fascicular que parti- cipam a hyperplasia, emquanto que a substancia medullar e a zona reticulada da substancia cortical soffrem logo uma reducção de volume. A hypertrophia começa pela zona globular, para se extender progressivamente a zona cortical. M. Marchand fez conhecer em 1891, um caso de hermaphro- dismo feminino, no qual a autopsia revelou, ao lado de uma atro- pina dos ovários, hypertrophia das capsulas suprarenaes, acom- panhada de glandulas supernumerarias nos ligamentos largos. G-eorgiweski obteve os mesmos resultados nas experiencias por elle praticados em cobayas. G-uérin et Haushalter observam em experiencias por elles praticadas em gatas, hyperplasia da capsulas suprarenaes, con- cordando com os dados emittidos por M. Théodossier. Da acção hypertensiva das capsulas suprarenaes, nenhuma duvida existe entre os physiologistas. A hypofuncção das mesmas determina a hypotensão; esta volta ao estado primitivo quando se fizer uso da medicação organotherapica. Principalmente da parte medullar da glandula, se tem extra- hido uma matéria azotada, clirystallisavel, mui solúvel n’agua 14 quente e que combinada com os ácidos, forma saes, — a adrena•* Una. Esta substancia, quando, injectada, manifesta propriedades notáveis sobre o coração e sobre os vasos; as contracções tor- nam-se mais amplas e a pressão eleva-se enormemente. O extracto aquoso das suprarenaes, injectado por Oliver e Schãfer, deter- minou uma considerável elevação de pressão arterial, I)a substancia cortical se tem extrahido uma lecitina que goza de propriedades •anti-toxicas; essas cellulas lecithinogenicas são para Perrin liypotensivas, Josué e Luis Bloch, injectando extractos de adenomos, unicamente constituido pela substancia cortical, ob- servaram augmento da pressão; de egual opinião partilham Dor, Abelons, Souliér et Tonjan, citados por Chauífard. “As reacções chimicas da adrenalina, negativas com a cortical, pai’ecem sup.por que n’esta substancia existem productos liyper- tensores, porém cliimicamente differentes da adrenalina (J Parisot). Do que acima fica dito, resulta a acção sempre liypertensiva do extracto suprarenal. Evidenciado o concurso da hyperépinépliria na hypoovariai digamos que, attento ao syndroma pluriglandular, não deixamos de reconhecer que a mesma causa pode successivameute tocar outras glandulas hypertensivas, como a hypopliyse, ou ainda, o ataque successivo de uma glandula hypotensiva e desta sobre uma hypertensiva. A maneira de agir a adrenalina ou a pyrocatéchina, substan- cia que faz parte da composição chimica da adrenalina e tendo a mesma acção physiologica, (Bembert et Lerat) é principalmente a vaso-constricção peripherica e acção sobre o coi'ação augmen- tando a energia do musculo cardiaco. Bastam estas duas propriedades para producçâo da liyper- 15 tensão arterial. A vaso-constricção, por si só é mui sufficiente para produzil-a “ pois essas resistências peripliericas actuam sobre o motor central, do qual reforçam a potência systolica, e também sobre a massa sanguínea, cujo volume augmenta na parte situada acima do obstáculo,,. (Huchard). Para determinar a capacidade funccional do coração, isto é, o grão de potência cardíaca, Merklen estabeleceu duas cathegorias: — Força sufficiente e insiifficiente. A primeira, quando em vir- tude da força de reserva acumulada no musculo cardíaco, presta-se elle ao accrescimo de trabalho, sem a menor perturbação fun- ccional. A segunda, quando as referidas perturbações se apresentam produzindo fadiga das paredes do coração, evacuação incompleta das cavidades,/augmento da matidez cardíaca, em summa, a in- sufficiencia cardíaca physiologica. Esàa força, variavel segundo a edade e constituição particular do indivíduo, foi mui bem estudada nestes últimos dias—Março 1911, por A. Martinet que analysando o equilíbrio cardio-vascular por meio dos sphygmomanometros e tomando como typo o os- cillometro Pachon estabeleceu as seguintes leis: l.a — Nos indivíduos em estado de eusystolia, d’equilibrio cir- culatório, existe uma relação normal, quasi constante entre a tensão maxima mx (resistência peripherica maxima) e a diffe- rença P D, entre as tensões maximas e minimas (mx-mn) que representa em uma certa medida a potência cardíaca. Esta lei tem sido para elle, verdadeira, attento ao numero de casos observados. Quando considera individuos portadores de lesões, com outros sãos, o coefficiente é differente nos dois casos, donde a segunda: existe uma relação normal individual d’eusystolia entre a tensão 16 maxima e a differença de tensão, P D, e é o estudo continuo das variações desta relação individual, neste individuo dado, que conduz a definir a asystolia de uma maneira precisa. No estado de eusystolia perfeita para um individuo dado, para uma tensão maxima dada é rigorosamente constante. Quando, pela causa de circumstancias pliysiologicas ou pa- thologicas diversas — a tensão maxima oscilla entre mui grandes limites, se adaptando a uma resistência progressiva, resultará a 3.a lei: — Em um individuo em estado de equilíbrio cardio-vas- cular, mas cuja pressão maxima se eleva ou se abaixa, a differença P D varia no mesmo sentido e de uma quantidade mui visinlia, a tensão minima ficando relativamente fixa. Si existe desequilíbrio cardio-vascular (hyposystolia ou asys- tolia) as variações respectivas mx. e P D não são mais paralle- las; á potência P D descendo muito mais rapidamente ou cres- cendo muito mais lentamente que a resistência vascular mx resultará a 4.a lei. Deste estudo, de grande valor propedêutico, facil será a de- dução prognostica do caso em questão. E, se em virtude do excesso de trabalho ou da pouca energia que se acha possuído o musculo cardíaco, o coração não pode mais fornecer aos diversos orgãos a quantidade de sangue ne- cessária ao seu funccionamento, resulta a insuficiência cardíaca — revelada por perturbações funccionaes, taes como: dyspnéa, palpitações, oppressão, constricção da região pre-cordial, suores frios, hypothimias e algumas vezes syncopes. Ao exame semiotico as cavidades cardíacas se acham dilatadas. Vimos ser uma das manifestações mais evidentes da meno- pausa a hypertensâo arterial. Vimos que ella era devida muitas vezes a vaso-constricção produzida pela adrenalina. 17 Ella é de grande valor clinico, pois pol1 sua acçao constante, irritando o endotlielio vascular, vae produzir o atheroma, as aor- tites, a arterio-sclerose visceral. Ella marca um estádio o da — presclerose e, nesta occasião um tratamento magistral, hypoten- sivo, vae debellar todos os symptomas; não o havendo, a cardio- patliia evolue, pela propagação ús válvulas da alteração de origem arterial, em vista do endocardio vascular participar das susceptibilidades mórbidas de uma serosa e das reacções do endar- terio. São denominadas por Huchard de cardiopathias arteriaes succedendo ao atheroma, aortites agudas e subagudas. Partindo da ideia theorica que atheroma é uma lesão chronica do endarterio, desenvolvendo-se de um lado sob a influencia de intoxicações lentas, e de outro, considerando que a sua frequência é notoria nos indivíduos hypertensos, Josué injectou a adrena- lina, em uma serie de animaes, obtendo os melhores resultados. “O veneno supra renal tornou-se o agente typico do atheroma experimental „. O mesmo effeito fora obtido pela pyrocatéchina por Stiili, Loõb e Eeeicher, G-ouget, conseguindo elles as lesões mais nitidas. As lesões atheromatósas obtidas nos animaes em experiencia são, no dizer de Bali e Klotz, notavelmente differentes das obser- vadas expontaneamente, baseados em que a lesão experimental se desenvolve quasi exclusivamente na túnica media, emquanto que no homem as lesões predominam sobre tudo no endarterio. E’ bem verdade que o endarterio se acha espessado, mas os phenomenos inflammatoiãos são quasi nullos, não havendo lesões vasa-vaso- rum e os focos gordurosos, denominados por Eischer de arterio- necrose, ou calcareos se produzem sempre em plena túnica media e nunca na face profunda da túnica interna que só tardiamente é attingida. 3—L. L. 18 Devemos dizer que as opiniões de Bali e Klotz não são acceí- tas por Glilbert e Lion, que para elles nada as differenciam. Josué faz observar que apenas as degenerescencias granulo-gordurosas, faltam nos vasos dos animaes em experiencia» A este assumpto diz Huchard : “se querem que as diversas sub- stancias hypertensivas produzam lesões vasculares ou aorticas, nada melhor. Se julgam que vão reproduzir experimentalmente a moléstia arterio-sclerose nada mais erroneo. No atlieroma só ha uma lesão arterial e podem provocal-a; na arterio-sclerose, além da lesão arterial, ha ainda alterações conjunctivas em muitos orgãos, gosando a intoxicação um papel preponderante; para produzil-a se faz pi’eciso usar não só de substancias hyperten- sivas como ainda de princípios toxicos.” Aortites “Na mulher, na epoca da menopausa não é mui raro appare- cerem alguns symptomas de aortite, quer a menopausa, como julga Huchard seja por si própria uma causa de phases de aortite aguda ou subaguda, quer se trate de uma influencia gottosa ou rheumatismal superposta. „ (G-allavardin). A observação que linhas abaixo encontrará o leitor, pertence a Huchard e se acha publicada na sua obra — Tratado das mo- • lestias do coração e da aórta. Na edade de quarenta e quatro annos uma mulher na epocha da menopausa tendo soffrido de dôres reumathismaes nos múscu- los e articulações, sente uma impressão de frio adiante do sterno. Logo após é acommettido de uma dôr retro-sternal ligeira, com um pouco de agonia; durante tres mezes esta dôr varias vezes se reproduz. Observa então que se trata de verdadeiro accesso anginoso, não sobre a acção do frio como ella julgava, 19 mas sob a influencia de uma marcha precipitada, de um esforço, de um simples movimento. Diagnostico — Aortite subaguda com fraca ectasia do vaso, sopro ligeiro no primeiro e segundo tempo do orificio aortico. Dia a dia, a situação se aggrava. A dyspnéa augmenta, egual" mente de intensidade e frequência os accessos anginosos; tor- nam-se quasi sub-intrantes e depois de tres mezes apparecem edemas dos membros inferiores com todos os signaes de uma hypo-systolia incipiente. Succede-lhe derramen pleural esquerdo, depois direito; á noite uma crise de pseudo-asthma com bronchorbéa abundante e pro- ducção de mui finos stertores. Veem-se varias vezes verdadeiros accessos de ataxia cardíaca, caracterisados por tres ou quatro pulsações precipitadas e irre- gulares. Pulso radial forte e vibrante. Vasos do pescoço batem com violência e notam-se pulsações exageradas nas pequenas artérias, nos dedos e artelhos. Dir-se-ia que todo corpo é animado de vibrações pulsáteis. Neste caso em que se resumem múltiplas manifestações car- dio-arteriaes no decorrer da hypovoaria temos a discutir como factor primordial a aortite cuja pathogenia vimos de estudar. Ella pode se apresentar sob duas modalidades diversas: grave e benigna; esta ultima pode passar despercebida ao clinico e ao proprio doente. Esta variabilidade é francamente explicável, attento as va- riedades das lesões aorticas que não bastam para comprehensão da gravidade dos symptomas. A forma inflammatoria das mes- mas e sua repercursâo mais ou menos rapida sobre o plexo aortico 20 e sobre as coronarías nos importara mais que a profundeza de extensão das mesmas. Como perturbações funccionaes que podem as mais das yezes anteceder aos signaes pliysicos, citamos: A dyspnéa que manifestada pela sua precocidade ao menor esforço tomando em seguida a forma de accessos paroxistycos acompanhados de sensações angustiosas e dores retro-sternaes, toma a forma de uma pseudo-asthma sendo as mais das vezes devida ao edema agudo do pulmão; existindo outras vezes ster- tores como na observação acima citada “onde os elementos ner- vos ou toxicos gosam o principal papel” (Hucliard). Para P. Pranck esta dyspnéa é oriunda de uma irritação da parede aortica tendo por causa um reflexo productor do espasmo dos bronchios, das modificações vaso-motoras no dominio dos vasos pulmonares das differentes variedades de dyspnéas com acceleração ou demora da respiração em inspiração ou expiração. Pelo enfraquecimento do myocardio esta dyspnéa pode tornar-se continua. Do angor pectoris observado no curso das aortites falaremos linbas adiante na parte dedicada a este assumpto. Pacies pallido:—a esta coloração coincide as vibrações pulsá- teis dos vasos arteriaes do pescoço o que é muitas vezes o neces- sário para chamar a attenção do clinico. Vários phenomenos cephalicos, taes como yertigins, lipothy- mias, tendencia a syncope; perturbações vaso-motoras;—rubor súbito ou pallidez, algidez dos membros inferiores, suores pro- fusos. Ao lado dessas perturbações funccionaes digamos algo a res- peito dos signaes physicos. A escuta do coração pode nos revelar sopros no orifício aortico 21 no primeiro e segu tempo, isto quando a aortite tiver attin- gido as valvulas sigmoides produzindo estreitamento ou insuffí- ciencia. A asperesa das valvulas não é bastante para producção dos mesmos. Potain descreveu um desdobramento ou dissociação do pri- meiro ruido do coração devido a pouca elasticidade da parede arterial, retardando um pouco sobre a systole. Em virtude da extensão das lesões no orifício aortico, o ruido de surdo que era anteriormente torna-se duro, áspero, clangoroso, propagando-se para os vasos do pescoço epelo apparecimento das perturbações funccionaes da insufficiencia aortica com ou sem estreitamento. Devemos assignalar a dilatação da aorta, a qual se traduz á percursão por augmento da matidez e pela palpação acima da furcula sternal, onde se sente o choque arterial nas extremidades digitaes do index e do medio atravéz dos tegumentos deprimidos e ainda pela super-elevação da subclavia direita, resultante do alongamento da aorta e do exaggero da sua curva á direita. Do lado do coração perturbações se fazem notar: pulsações accelei’adas, hypertrophia do ventrículo direito com desvio da ponta para fora do mammilo; o myocardío é attingido de sclerose e em breve cahii’á em asystolia, se um regimen apropriado não vem minorar a sua debilidade. Pulso hypertenso, brusco, de um dicrostismo exagerado. As carotidas são elevadas, em excesso, a cada systole. Póde-se observar desigualdade dos dois pulsos radiaes devido a uma volumosa placa de aortite ao nivel de origem do tronco brachio-cephalico ou da subclavia esquerda. Vimos as duas variedades benigna e grave; esta ultima se 22 effectua por phases successivas separadas por períodos de re- missão. Podemos na variedade grave distinguir duas modalidades; a primeira meramente aortica, caracterisada por dores anginosas e pelo ataque do orifício aortico; a seunda, phase myocardica, caracterisada pela dilatação cardíaca com as perturbações que lhe são habituaes. A terminação se poderá dar por stenocardia, syncope, edema agudo do pulmão ou lentamente pela cachexia, asystolia ou sclerose cardio-renal com o seu cortejo uremico. Os antecedentes pessoaes, os symptomas accusados pela pa- ciente e quando a aortite tem evoluído dando logar a uma in~ sufficiencia aortica, facil se torna o diagnostico; quando, porém í isto não se dá, devemos ter em consideração a dyspnéa, pois vimos ser a manifestação mais precoce, ao lado da hypertensão arterial com crises de pseudo-asthma nocturna e dõres retro-ster- naes, super-elevação das subclávias e caracteres anormaes do segundo ruido. A nephrite chronica, cuja symptomatologia é idêntica ao que acabamos de vêr, será diagnosticada pelo ruido de galope, signal pathognomico desta affecção. No que diz respeito a myocardite chronica no seu inicio, quando ainda não ha cançaço, albumina nas urinas, arythmia, sopros ao nível do coração, ficaremos duvidosos até que, um dia se produza dôres anginosas ou que um ligeiro sopro dyastolico ao longo do bordo esquerdo do sterno se faça percebido. Dissemos que uma das manifestações da aortite eram as aneu- rismas ; nestes casos diagnosticaremos pelos symptomas dolorosos ou signaes physicos habituaes. Uma menção particular devemos fazer entre as aneurismas abdominaes e as pulsações nevropa- 23 ticas da aorta que tão frequente se apresentam nas mulheres difíerencial-as-hemos baseados na sensibilidade á pressão, as dores irradiadas nas illiacas e sobretudo pela dilatação do vaso - Prognostico variavel segundo a intensidade dos symp tomas. Tratamento das cardiopathias arteriaes. Angor peetoris Provocado pelo esforço e quando a elle se vêm juntar factores que provoquem o vaso-constricção periplierica, augmentando assim o trabalho do myocardio; quando num indivíduo portador do insufficiencia cardiaca ou não, o coração deixa-se dilatar brus- camente, causando a irritação das extremidades nervosas do plexo cardíaco; quando já attingido de aortites ou coronarites de maneira a diminuir o calibre das coronárias, obliterando-as e pro- duzindo a ischemia do myocardio, impedindo desfarte que a elle chegue a quantidade de sangue necessária á sua nutrição, resul- tará o syndromo doloroso denominado de stenocardia. Para explicar estas manifestações mórbidas, tantas vezes ob- servadas no curso da menopausa devemos encarar as múltipla, tlieorias relativas ao assumpto, em dois grandes grupos: ao primeiro filiam-se os auctores que consideram a aeção directa de uma alteração organica ao segundo, os que adinittem uma simples perturbação funccional, uma manifestação nervosa ou diathesica. Essas duas grandes divisões encontram-se no syndromo plu- rigandular, motivado pela insufficiencia ovariana. Como partidários do primeiro grupo, citaremos Janner, Po- tain, Germain Sée, Huchard, que evocam o atlieroma ou retrahi- mento das artérias coronárias; Stokes, a ossificação ou degeneres- cencia gordurosa do coração; Virchow e Conheim, a embolia das coronárias; Lanceraux, Peter, a nevrite do plexo cardio-aortico. A’ frente do segundo grupo notaremos: Heberdcn e Hamilton, 24 qlie dão como cansa o espasmo do coração; Leennec, Parròt, uma nevralgia do sympathico. Actualmente duas theorias se acham em jogo: a arterial e a nervosa. A arterial consiste na stenose das coronárias, podendo ser primitiva (corommte) ou secundaria (aortite). A esse grupo Huchard cliama de—angina do peito verdadeira. E’ unicamente produzida pelo esforço apparecendo rapidamente a dor e imme- diata ao esforço empregado. Para elle, quatro são as causas ne- cessárias á producção do “mal anginoso”: l.a, na ausência de coronarite, o facto de uma aortite cujas placas obliterem em parte ou totalidade de sua embocadura aortica; 2.a, a trombose ou embolia das coronárias; 3.a, inflammação concomitante da aorta e das coronárias, podendo estas ultimas estar obliteradas somente em parte de seu trajecto; 4.a, inflammação de vários ramos das coronárias, verdadeira coronarite ou sclerose coroná- ria. O coração insufficientemente nutrido ischemia-se, donde resulta o angor pectoris. A theoria nervosa considera como causa do angor pectoris, uma lesão ou perturbação funccional dos nervos cardiacos. Peter, partidário dessa classe, desenvolveu brilhantemente esta theoria da nevrite cardíaca. Lanceraux em 1864 e Peter, dez annos mais tarde, demonstraram ao nivel do plexo cardíaco a existência de lesões, consistindo em uma accumulação de cellulas inflamatórias ao redor das bainhas, com alteração dos tubos nervosos. Para elles, a angina do peito é unicamente devida a uma nevrite do plexo cardíaco, que, ella própria resultaria, segundo o caso, da propagação da lesão da aortite, da determinação secundaria ou primitiva de moléstias infecciosas ou ainda dyscrasicas e de in- toxicações diversas. 25 Gilbert e Garnier julgam a angina do peito, uma nevrite de origem uremica. Potain, G-, Sée, Hucliard, não contestam a existência da ne- vrite do plexo cardíaco, mas dizem que a verdadeira angina do peito, aquella pela qual se morre, não é do facto desta nevrite mas sim do estreitamento das coronárias. “Um elemento commum reúne a angina verdadeira ás pseudo- anginas, é a nervalgia ou o soffrimento dos nervos cardíacos; um elemento importante, capital, separa a. primeira dos segundos é a iscliemia do myocardio”. (Hucliard) Não deixamos, porém, de opinar por Merklen quando julga o angor pectoris produzido pela brusca distenção das cavidades cardíacas, como partidário da idéa de Lauder Brunton, compa- rando o coração á bexiga, ambos musculos cavitarios, não sen- síveis no estado habitual, mas cuja distenção excessiva e brusca se acompanha de dores intensas. Esta dor é tanto mais aguda, quanto mais energicamente o musculo se contrae sobre uma massa liquida que tende sempre a augmentar. Merklen viu verdadeiros accessos anginosos apparecerem após 20 minutos de um trabalho excessivo. Esta consideração é bastante para demonstrar que no caso em questão, o angor pectoris era devido a um coração forçado, por quanto em tão curto espaço não se desenvolve uma coronarite que ja existindo, não o permittiria trabalhar tão intensamente. E mesmo a Anatomia Pathologica que em certos casos en- contra lesões nas coronárias, em casos outros de autopsias de verdadeiros anginosos, evidencia a ausência das mesmas. Isto é bastante para falsear as leis de Iluchard, este eminen- tíssimo cardiopathologista por quem confessamamos a maior e a mais sincera admiração. 4—L. L. 26 Poderemos a esta consideração juntar a seguinte: sendo á dor manifesta quando lia obliteração das coronárias ou do seu trajecto, ischemia cardíaca consecutiva, não produziria dores in- termittentes, pois que havendo obliteração permanente, ella não se deveria dar por accessos, porém constante. Não lia anginas verdadeiras nem pseudo-anginas como quer Iluchardj todas ellas são anginas e quaesquer poderão matar. Na angina coronaria a morte póde se dar não só durante as crises cardialgicas, como no intervallo das mesmas. A dor não produz a morte se bem que seja ella itnendravel, mas sim, a ís- chemia do myocardio por lesão scíerosa, ou ainda pela gráo de distensão cardíaca de que é accommettida a paciente. A dor somente pode ser imputada ao plexo cardíaco pelos seus importantes ramos pneumogastrico e sympathico. Estes têm sob sua dependencia, os symptomas de angustia, asphyxia, dor precordial, syncope, etc. A irradiação dolorosa para o membro superior esquerdo, indica acção sobre o brachiai. A constricção thoraxica, as dores nas inserções diaphragma- ticas indicam a participação do phrenico. Os phenomenos vaso-motores, taes como, pallidez, suor, pros- tração, extremidades resfriadas, se acham sob a dependencia do sympathico. O signal mais caracterisco, é uma dor brusca, pungente, loca- lisada no terço superior do sterno, irradiando-se para a espadua esquerda, braço, ante-braço, bordo cubital da mão e dedo minimo, mais raramente para o braço direito. Algumas vezes ha hyperes- thesia da região precordial. Essa dor apparece quasi sempre pelo esforço, mesmo insigni- ficante. 27 Sob a suaacção, o doente tem idéa dos seus últimos momentos, como se lli’o ditasse o coração enfermo. Fácies caracteristico: rosto pallido, “ offerece a imagem do so:frimento que não se pode imaginar nem descrever. ” (Stokes)- Não tarda, porém, que a crise se dissipe; o accesso passa tão brusco quão brusco é o seu apparecimento. E novamente o ind viduo vê voltar-lhe a vida que lhe pareceu prestes a extinguir-se- acreditando que não mais poderia sobreviver um momento, se mais um momento se prolongasse a crise que o prostou. Cessada ella, elle tem desejos de urinar, nauseas e symptomas outros de pouco valor. Entretanto, as cousas nem sempre se passam assim; doentes ha que têm as suas crises attenuadas, o que serve para considerar como uma falsa angina do peito. A’ escuta — coração normal. Pulso também normal, ás vezes enfraquecido e accelerado, mais raramente demorado e irregular A hypertensão arterial tem sido observada por Huchard nos casos de angina coronaria. Esta hypertensão existe ainda após os accessos, o que pode levar a producção de novas crises anginosas Trousseau, Jaccoud affirmam que no periodo parosystico do accesso, a escuta nada revela. Gallavardin, partidário da escola de Huchard, chama a attenção para a dyspnéa que, ausente no caso verdadeiro, torna-se cons- tante no falso. Entretanto, Merklen considera a stenocardia e a dyspnéa, produzidas pela mesma causa. Para Huchard esta dyspnéa é de origem renal: “ o doente é anginoso pelas suas co ronarias, dyspneico pelos seus rins ”. O facto de observar-se mais frequentemente nas mulheres as crises anginosas falsas emquanto que o contrario se passa no homem, Paul Salvy julga ser devido ao sur-menage cardíaco sendo a dilatação brusca mais intensa no homem que na mulher 28 Facil se torna reconhecer o angor pectoris quando encontrar- mos a doente em plena crise; tudo lhe é caracteristico. Comtudo, ás vezes, attento a variabilidade dos symptomas e as suas formas frustas, torna-se difficiL Não devemos confundir a angina do peito com outras affecções dolorosas, taes como a pleurodynia, as nevralgias tliorocobra- chiaes ou phrenicas, pois a séde da dor, o facto de existir entre os accessos differenciará; não a devemos confundir também com a pericardite aguda, pois o sthetoscopio evidenciará os signaes O diagnostico torna-se ás vezes mais difficil com certas mani- festações que apparecem nos aorticos. Yimos nas paginas ante- riores do nosso trabalho, o modo de evoluir das cardiopatliias ar- teriaes, as quaes, quasi que exclusivamente, affectam a variedade dos doentes que estudamos. Estes doentes sentem na região retro- sternal uma sensação de embaraço ou de constricção, mas as irradiações dolorosas faltam e se existem é apenas em estado de esboço; em todo caso devemos receiar que este accesso de aortite anginosa frusta que é, torne-se francamente stenocardico. Deve- mos procurar isolar de outras variedades de angina, aquella pro- vocada por coronarite e para tal fim deveremos nos basear nas seguintes regras de Huchard : 1. a, Toda angina do peito produsida por um esforço qualquer, pela marcha rapida, é uma angina coronaria. 2. a, Toda angina do peito produzindo-se expontaneamente sem intervenção de um acto necessitando um esforço, é uma an- gina não coronaria. 3. a, Quando um doente tendo crises provocadas, pelo esforço, as tem expontaneamente durante a noite, a lei subexiste, trata-se de angina coronaria. 4. a, As dores provocadas pela pressão não são anginosas. 29 Prognostico variavel conforme a affecção de que é poidadora a doente. Em presença de doentes desta natureza, Ttoentes que têm o systema nervoso alterado, irritáveis in-extremis, sendo esta irri- tabilidade causada pela retenção de princípios toxicos que se deveriam eliminar com o fluxo catamenial, embaraçará em parte o clinico julgando grave a situação. A medicação hypotensiva é indicada e ainda os sedativos do systema nervoso; contra a dyspnéa regímen lácteo. Devemos ter sempre em mente que as crises dolorosas es- tando sob a dupla influencia da insufficiencia com facil dilatabi- lidade e da exaggeração da sensibilidade do plexo cardíaco, compete ao clinico visar estes dois factores impondo ao primeiro- repouso; ao segundo analgésicos. Arterio-sclerose Uma das manifestações mais constantes da menopausa é sem duvida a arterio-sclerose. Nesta phase da existência que se acha em jogo continuo de intoxicação endogenica, causas outras de não pequeno valor se lhe vêm juntar. A calcificação arterial, factor primordial, evidencia-se pela retenção dos saes de cálcio que a hypoovaria determina. Pela castração, Lortat-Jacob, Saberéanu, Laubry, observaram este factor devendo porém o seu esclarecimento a Paarrhon e Golstein quando demonstraram o espessamento da callote cra- neana na insufficiencia ovariana, quando pela castração determi- nam a cura da osteomalacia e quando pela acção da opotherapia thyroidéa, em certos casos de effeito antagónico, obtêm a calcifi- cação mais rapida das fracturas. 30 Uma outra tansa de real valor se apresenta:—a liypertensão arterial cuja producção já patenteámos em paginas anteriores. Esta hypertensão produz a irritação do endotelio vascular, pre- dominando esta irritação nas pequenas artérias, próximas aos ângulos, das curvas e dos desvios onde mais energico se torna o attrito da massa sanguínea fortemente impulsionada. J. Tessier em uma serie de pesquizas demonstrou que a hy- pertensão 11a arterio-sclerose não se effectua regularmente em todos os departamentos vasculares. Procurando 0 seguimento su- perior (temporal), medio (radial), inferior (pediosa) achou diver- sidade de tensão. Só as lesões atacando os rins e as capsulas su- prarenaes podem ser acompanhadas de hypertensão arterial gene- ralisada. O que caracterisa a arterio-sclerose é a proliferação do tecido conjunctivo nas diversas visceras que, com o decorrer dos dias, vae transformar-se em tecido fibroso. Muitas vezes a arterio-sclerose começa por lesões visceraes ou arteriaes loealisadas, e esta localisação primitiva do processo anatomico tem sua repercursão sobre o organismo inteiro e prin- cipalmente sobre o apparelho circulatório. Para explicação das relações entre as artérias e as visceras quatro são as principaes theorias que se apresentam no campo scientifico:— — a Ia., de Huchard e Weber caracterisada por um processo de peri-arterite que iria da artéria attingida para as visceras; —a 2.a, tendo por patrono Martin, viza uma perturbação nu- tritiva devid a falta de circulação, de modo que as partes mais delicadas degeneram e são substituídas por tecido fibroso; —a 3.a,que deve a paternidade a Ziegler, considera a oblite- 31 ração dos pequenos vasos; a sclerose nesta hypothese seria a cica- triz de uraa necrose trombosica; —a 4.a, de Brault e Nicolle quer que as scleroses dos vasos visceraes sejam produzidas pela mesma causa; sendo então sim- plesmente contemporâneas. A evolução da arterio-sclerose se opera por pliases successivas. Após a intoxicação, constante na liypoovaria, resulta a hyper- tensão arterial, quer esta liypertensão seja devida a suppressâo, de um orgão liypotensivo, como é o ovário, quer se produza a hy perépinéphria que pela adrenalina vá produzir a vaso constrição periplierica, quer ella seja producto da auto intoxicação, quer ainda que seja de origem puramente reflexa e se trate de uma perturbação funccional ou de uma irritação visceral. A esta phase de hypertensão arterial succedem as perturbações arteriaes de sclerose generalisada, dando logar a symptomatologia desta pliase. As perturbações funccionaes da arterio-sclerose são mais ou menos idênticas as da aortite que estudámos precedentemente. A doente é de ordinário pallida, podendo, embora, passar ao aspecto vultuoso. O signal da temporal é evidente; lastima-se de cephaléa pulsátil, zumbidos de ouvido, perturbações visuaes e au- ditivas, vertigens e somnolencia; queixa-se ainda de caimbras, resfriamento das extremidades, sensação de dedo morto e de pa- resias diversas. As suas digestões são lentas e penosas; ha palpi- tações cardíacas, que apparecendo á noite perturbam-lhe o somno. A dyspnéa apparece ao menor esforço ou bruscamente durante o repouso. Como esta egualmente apparecem crises anginosas. E’ sujeita a hemorrhagias, principalmente epistaxis. Os signaes de eretrismo cardíaco são mui communs; notam-se 32 muitas vezes palpitações, accessos de tacliycardia ou de artytlii- mia, intermittencias verdadeii’as ou falsas. Na arterio-sclerose visceral que ataca principalmente os rins, notam-se, além das perturbações circulatórias acima citadas, phases de congestão edematosa ou edema agudo do pulmão; a insufficiencia renal se traduz por accessos de dyspnéa parosysti- tica ou de pseudo-astlima nocturna. Emíim mui rapidamente apparece a hjqxosystolia e a asyotolia com repetição. Pulso hypertenso. A escuta do coração nos revela ao nivel do segundo espaço intercostal perto do bordo direito do sterno a repercussão diasto- lica da aorta; percebem-se também ao nivel do orifício aortico sopros que indicam a insufficiencia do orifício arterial. Um signal importante é a arytlimia. Ella pode se manifestar sobre todas as suas formas, intermittencias verdadeiras ou falsas, rytlrmo cortado, pulso alternante, arythmia irregular e se mostra mui facilmente a tachycardia. Ella não é nem constante nem ca- racteristica, pode faltar totalmente durante um periodo mais ou menos longo e pode-se manifestar sem outras influencias, que não as da arterio-sclerose. Durante a phase asystolica observaremos a dilatação cardíaca O coração se hypertrophia; a ponta choca ao nivel do sexto ou sétimo espaço intercostal e se faz sobre uma lax-ga superfície. Na arterio-sclex-ose quatro typos clínicos podemos observar: l.°, o typo cardíaco exn que o coração, invadido pela exifraquece progressivamente, caliindo eixx asystolia, não pela in- tensidade dos symptomas, mas pela sua persistência; 2.° o typo arterial — dilatações vasculares e sobretudo aneurismas; 3.°, o typo cerebral — lypotliimias, syncopes, terminando pelo amoleci- 33 mento e por obliteração dos vasos doentes, hemorrhagias men- nyngéas, cerebraes ou pela ruptura de um aneurisma miliar; 4.°, o typo renal que será estudado com a glandula deste nome. Segundo a predominância dos diversos symptomas, podere- mos considerar: l.°) a forma stenocardica caracterisada por dores anginosas; 2.°) a forma arytlimica e tacliycardica, notável por uma arytlimia constante, resistindo á digitalis e uma tachy- cardia continua ou sob a forma de accessos; 3.°) a forma myo- valvular na qual a cardio-sclerose se complica de lesões visce- raes de origem arterial (Huchard). Diagnostico: Em presença da doente apresentando r rythmia ou tachycardia, devemos banir as que se produzem por uma ligeira indisposição de origem gastrica ou intestinal que mui frequen- temente se observa nessa idade. O regímen nos guiará e, sendo este improfícuo, devemos pensar em myocardite latente. Em presença de um cansaço ou dyspnéa, datando de vários mezes, provocado pelo esforço, apresentando o coração a matidez normal, choque da ponta no quinto espaço intercostal, ausência de sopro que denuncie lesões valvulares, notando-se stertores, devido ao edema das bases pulmonares o diagnostico deve ser feito com a sclerose-cardio-renal e na ausência de albumina na urina, de ruido de galope, existindo arythmia devemos pensar na myocardite chronica. Em plena crise asystolica devemos ter em vista as affecções cardíacas, as hypertrophias cardíacas ou dilatações cardíacas se- cundarias, a sclerose renal ou affecções pulmonares. Nestes casos, a evolução da moléstia, os antecedentes pessoaes nos induzirão ao diagnostico. Tratamento.—A. arterio sclerose generalisada não é accessivel ao tratamento. 34 Combater a intoxicação por intermédio do regimen lácteo, agir sobre a hypertensâo por intermédio da organo-therapii ovariana ou ainda por intennedio dos agentes hypothensivos tae s como: a trinitina, o tetranitrato de erytrhol, pelas inhalações de nitrito de amyla principalmente nas syncopes e nas crises angi- nosas, eis o caminho a seguir; quando a moléstia tende a locali- sações visceraes, devemos ter em consideração principal o filtro renal agindo por meio da agua de Evian associada a lactose pela theobromina e santeose cafeinada. O iodureto de potássio, medicamento cardio-respiratorio de Gr. Sée, medicamento de que tanto têm abusado no tratamento das manifestações cardíacas, tem nesta phase como na que nos precedeu o seu real valor; devemos usal-o em doses fraccionadas de 50 centigrammas diários e no espaço de dez dias. Quando a doente cae em asystolia “quando a cardiopathia arterial tende a mytralisação”, a digitalis virá em auxilio da pa- ciente, quer agindo como diurético que é, quer com a sua principal cção therapeutica, regularisando o trabalho do myocardio, dimi- nuindo as capacidades ventriculares, em summa, dando vida á doente, que, qual luz bruxoleante tendia a extenguir-se. Tachyeardia e bradycardia Fallámos das palpitações; cabe-nos agora dizer algo a respeito da tachyeardia. Vimos que aquellas eram devidas as mais das vezes a uma excitação dos glanglios auto-motores e dos nervos acceleradores do coração. Podemos interpretar esta da mesma forma, tornando-se deste facto por nós considerada essencial, differindo das sympto maticas que são ligadas a outras glandulas, como a thyroide, portanto sobre o dominio exclusivo do syndromo pilurglandular. 35 Kisch e principalmente Bailleau têm chamado a attenção para ella que é mui frequentemente observada durante a menopausa. Antes de entrarmos na discripção syntethica, que delia pre- tendemos fazer, compete-nos dizer que a distincção entre ella e as palpitações é importante. Seu principal factor consiste na não percepção encommoda ou dolorosa pela doente, que sempre a sente por occasião das palpitações: palpitações estas que acompa- nhadas de tachycardia manifestam-se por sensações penosas, polypnéa e agonia mais ou menos notada. O signal primordial, as vezes unico, é a accelleração das pul- sações cardiacas. Esta acceleração attinge 120, 140, até 200 por minutos ( de 7B a 80 normal) tornando-se impossível contar. Ella pode ser permanente e continua ou então apparecer de um modo passa- geiro. O choque da ponta é as vezes mais fraco, outros mais brusco; á escuta os ruidos podem ser normaes, mas as mais das vezes affectam o rythmo foetal e a arythmia é mui frequente com a tachycardia. O pulso pequeno, não ha as mais vezes relação entre elles e as pulsações cardiacas. Não encontrámos na pathologia da menopausa uma observa- ção si quer que nos levasse a algumas considerações sobre o syn- dromo de Stokes-Adams. Os estudos de Gaskell-His, confirmados pelos de Tawara fa- zem depender este syndromo de uma lesão do feixe de His que, nascendo proximo a embocadura das veias coronárias, passa para o septo inter-auricular e dahi para o inter-ventricular dividindo-se então em dois ramos, que caminhando sob o endocardio vão se 36 sub-dividindo em ramúsculos até se fundirem com as fibras musculares cardíacas. E’ o feixe de His dotado de grande importância physiologica — a conductibilidade. E’ elle que conduz as contrações auriculares aos ventrículos, e facilmente se comprehende que toda lesão exercida sobre elle produz o seu máo funccionamento. Ora, uma placa de sclerose pode atacal-o e produzir o bloqueio cardíaco, e sendo a arterio-sclerose commum nesta phase feminina facil se deprehende a possibilidade da manifestação mórbida. A allorythmia rythmica é algumas vezes symptoma desta affecção, sendo, porém, o caracter primordial e básico —o pulso lento permanente, com que é ainda designado, descendo a 40, 30 e 25 pulsações. RINS A secreção interna dos rins, comquanto não se aclie bem evi- denciada, temos todavia que a admittir, e isso attento aos meios opo-tlierapicos empregados por Dieulafoy que, com as injeções de nephrina tem colhido optimos resultados; também Gonin empregou a mesma e obteve diurese abundante cessando esta quando também cessada a medicação; Teissier, que confirma estas opiniões e baseia suas experiencias quando diz “que a nephrina actúa exclusivamente neutralisando os venenos accumulados no organismo”; Witzon, Teissier, Bra empregando o serum san- guíneo extrahido das veias renaes das cabras; Dubois e Renault, administrando pela via gastrica infusões de rins na agua pliysio- logica; Turbur que obteve bons resultados na uremia, com in- jecção do sangue venoso renal. 37 Experiências de M. M. G-uerrin e Cliipault vêm demonstrar as connexões intimas, que prendem os rins aos ovários. Depot.:' de uma serie de pesquizas têm cliegado ao resultado seguinte:—Em alguns dos casos nenhuma modificação macro ou microscópica havia, na maior parte, porém; os rins atrophiados, diminuídos e facilmente decapsulados. Duro ao corte e rangindo ao escalpello; atronhia enorme da. zona cortical, as columnas de Bertin, egual- mente atrophiadas e as arteriolas renaes, com as paredes espessas e rijas. O grão de sclerose variavel:—em alguns verdadeiras camadas de tecido fibroso, em outros, focos embryonarios de tecido con- junctivo, sobre o strorna renal. Os giomerulos variaveis, ora hy- pertrophiados, ora atrophiados e as mais das vezes contornados de uma periglomerulite fibrosa. Neste ultimo caso o epithelio perdia a sua integridade, tornan- do-se glanulo gorduroso e carregando-se de gotticulas de gordura. As pyramides, attingidas de sclerose deixando a observar, obliterações das vias escretoras por cylindros ou epithelio desca- meado; nas artérias, algumas vezes, lesões de endo-periarterite e paredes arteriaes enormemente espessas attingidas de sclerose; as arteriolas intra-lobulares demonstrando a transformação fi- brosa ou hyalina e um certo gráo de stenose. Emfnn o ataque dessas glandulas por sua vez dedunciam aos observadores a hyperplasia das capsulas supra-renaes. Esta citação é favoravel a Parisot, quando considera a hypotensão arterial nos indivíduos atacados de neplirite aguda, não havendo ainda ata- ques da supra-renaes, ao passo que, no nephrite chronica, a liyper- tensão é certa, sendo uma das causas concurrentes, a hyperé- pinéphria. 38 Foi Le Gendre quem primeiro chamou a attenção pai‘a as perturbações renaes da, menopausa. A congestão do orgão, a diminuição da quantidade de urina excretada, a sensação de dedo morto, a cryestesia, os abalos ele- ctricos, indícios estes da privação de um emunctorio, assáz, im- portante, gerando, desfarteuma auto-intoxicação, são symptomas ♦ de uma nephrite que se inicia. Esta nephrite que evolúe para o typo atrophico apresenta como principaes manifestações: a hypertensão arterial; a hyper- tropbia do coração e o ruido de galope. São estas tres manifestações que conduzem o clinico ao dia- gnostico. Os edemas que tão frequentes se mostram nos casos de ne- phrites agudas ou sub-agudas, tornam-se no caso actual bastante raros. Entretanto devemos mencionar a citação de Vinay; “o orgão torna-se turgescente, doloroso, sua mobilidade é menor e no- tam-se as vezes, como consequência, o edema generalisado, bem como anagarca; as urinas são diminuídas consideravelmente, pois descem a 800, a 250 grs. nas 24 horas”. Pelas observações de O. Claud, Devret, Eroenkel, nos casos em que a hypoovaria se estabelece de um modo mais ou menos brusco, a doente tenderia para a nephrite clironica com ligeiro edema palpebral, pois nesta cathegoria de indivíduos haveria lesões atlieromatosas e um certo grao de sclerose das arteriolas renaes. “Ha uma certa cathegoria de nephrites que são chronicas de relance; são as determinadas por um processo geral—a arterio- 39 sçlerose. O tecido conju.nctivo é mais interessado que os elementos nobres, destruídos pouco a pouco pelo processo de sçlerose (pe- quenos rins vermelhos ). E’ a nephrite intersticial”. (Crespin). Summariamente passemos em revista a observação abaixo publi- cada por Lucas Cliampionnière: “M. de 52 annos de edade, ne- nhum antecedente morbido que denunciasse toxicose exogenica é acommettida de verdadeiros accessos uremicos, diminuição con- siderável de urinas não sendo a perturbação da funcção urinaria causada por um cotovello uretral nem por enteroptose. Apresen- tava ainda hypertensão arterial, hypertrophia do coração e ruido de galope. As urinas eram albuminosas. Conclue tratar.se de um caso de sclorose renal, com excitação da glandula supra-renal. Essas tres manifestações cardio-arteriaes, diz Chauffard,—con- stituem talvez o stygma mas apparente da lesão renal. Seu valor semiologico é considerável, e sua única demonstra- ção, legitima quasi um diagnostico de sçlerose renal. Vejamos de um modo syntetico, as tres manifestações cardio- vasculares: hypertensão arterial, hypertrophiacardiaca e ruido de galope. Briglit notou no curso da nephrite atrophica, a hypertrophia progressiya do ventrículo esquerdo, as mais das vezes sem lesões valvulares e que para elle era devida á dyscrasia sanguínea que agia tanto sobre a fibra cardíaca como sobre as paredes dos vasos pheriphericos. O systema arterial dos rins era sclerosado e difficil- mente injectado. Para Johnson, Broadbent, a mesma causa excita simultanea- mente a fibra muscular cardíaca e arterial. Daqui a hypertrophia dos dois segmentos circulatórios, Traube considera primitiyamente o embaraço da circulação 40 renal e consecutiva a esta, a hypertrophia cardíaca, sendo ella, portanto, compensadora. G-ull e Sulton attribuem a uma degenerescencia fibro-hyalina das arteriolas periphericas e visceraes que é uma endo-periarte- rite mais ou menos generalisada. Falámos na parte artei io-sclerose sobre a opinião de Petter e Martin que consideram subordinadas umas e outras ao processo de endoperiarterite. As theorias hodiernas consideram as lesões renaes e arteriaes como effeitos associados e parallelos a uma mesma causa. “A hypertrophia cardíaca te liga directamente á lesão renal sem o intermédio de lesões arteriaes.” (Chauffard). A hypertrophia cardíaca iuteressa sobretudo o ventrículo es- querdo; o coração se alonga e toma a forma ovalar e as cavidades direitas parecem simplesmente accommodadas sobre o ventrículo esquerdo enormemente hypertrophiado. Esta hypertrophia é con- cêntrica. Em outros casos quando ha neplirite intesticial chronica, a hypertrophia, embora predominando no ventrículo esquerdo, es- tende-se ás outras cavidades e geralmente o coração se hyper- trophia e se dilata muito. Reconhecemos esta hypertrophia pela. matidez cardíaca, au- gmentada e pelo choque da ponta no sexto ou sétimo espaço in- tercostal ligeiramente, desviado para fora da linha mamilar. Este choque traz a idéa, de uma contracção energica e poderosa. A’ escuta, encontraremos o ruido de galope. Este ruido de ga- lope é ordinariamente pre-systolico e precede immediatamente ao primeiro ruido. E; um ruido triplo, constituído pela jnncção de um ruido, aos dois rui dos normaes do coração, “é surdo, muito mais que o ruido normal; é um choque, um elevamento sensi- 41 t>e7, é apenas um ruido. Quando se tem o ouvido applicado sobre o peito, elle affecta a sensibilidade táctil, mais que a auditiva, talvez porem, se si experimenta ouvil-o com um stetlioscopio flexível, quasi sempre desapparece inteiramente. Melliormento percebe-se um pouco acima da ponta do coração e um pouco para a direita; mas é ouvido algumas vezes em toda extensão da região precordial. Com este ruido coincide habitualmente um elevamento sensível á mão e que indicam mui nitidamente os instrumentos registradores. Este elevamento se faz sentir sobretudo no meio da região precordial e um pouco para baixo; mas é vago, dilatado e não se assemelha ao impulso nitido e bem destacado da ponta que acom- panha ordinariamente o primeiro ruido. ” (Potain). As sensações auditivas e tactis no ruido de galope se congre- gam mutuamente. Pode ser inscripto pelo cardiographo por uma elevação pre- systolica e pode ser observado ao nivel das jugulares por uma ligeira elevação. A intensidade é variavel segundo os indivíduos e segundo as occasiões; attenúa-se e mesmo desapparece pelo repouso quando o ventrículo esquerdo readquire a sua tonicidade e reapparece pela fadiga e esforços. A asthenia cardíaca provoca o seu des- apparecimento e egualmente quando as pulsações se tornam pre- cipitadas e arythmicas. (Tripier e Devic). Não devemos confundir com o desdobramento do primeiro, ruido dos indivíduos atheromatosos cujos ruidos são semelhantes. Dentre as tlieorias que reinam na physio-pathologia das ne- phrites e que procuram explicar a liypertensâo arterial, citamos as seguintes: l.a, Mechanica — embaraço da circulação renal; barreira collocada sobre o trajecto da circulação arterial. Neste 42 caso, onde a impermeabilidade dos vasos diminue,na hypertensão é manifesta. Merklen admitte ser esta a causa exclusiva. 2.a, Hy dremica — a retenção d’agua augmentando a massa sanguínea produziria a hypertensão e o facto da polyuria é um producto reacional por ella causado. Nesta hypothese ella seria meramente physiologica (A. Martinet). 3.a, Retenções toxicas — haveria vaso constricção generalisada e ao mesmo tempo uma acção excito- cardíaca. 4.a, Retenção chloruretada — a retenção do chlorureto de sodio tem sido considerada de grande valor. Ambard eviden- cia que a absorpção de uma certa quantidade de chlorureto de sodio produz a hypertensão, agindo elle pela impermeabilidade i’enal. Este factor pode ser considerado como verdadeiro, attento ao tratamento dos edemas, que, pelo regimen lácteo desappare- cem, bem como uma impermeabilidade renal manifesta aos chlo- ruretos. (Widal e Javal). Ainda, a favor delles vemos que no indivíduo sujeito a medicação opo-therapica-renal, medicação esta hypotensiva, as perturbações cardio-vasculares desapparecem, mas mais demoradamente do que pelo regimen deschloruretado. 5>a, Supra renaes — A neplirite aguda é sempre hypotensiva, a chro- nica hypertensiva certamente pelo ataque das supra renaes. (J. Parisot). Vimos nas paginas anteriores as ponderações feitas por Josué na producçâo do atheroma pelas injecções de adrenalina ou de extractos supra-renaes, dando como resultado a vaso-constrição peripherica e hypertensão arterial. Ha aqui logar para assignalar as opiniões de Aubertin, Menetrier, Lemaire, Froin et Rivet que admittem a hyperépinéphria na nephrite chronica. “ E’ pois bem certo que mui habitualmente sinão sempre, ha lesões das supra renaes nas nephrites clironicas hypertensas ”. (Cliauffard). 43 E’ o syndromo cardio-vascular com forma hypertensiva e com forma cardíaca que domina a scena mórbida desses doentes. A albuminúria é inconstante; não ha nem edemas, nem azo- themias. Nem sempre fica, porém, por muito tempo no estado de pureza a manifestação hypertensiva; accidentes outros que delia depen- dem, apparecem taes como: edema agudo do pulmão, rupturas vasculares, (epistaxis, liemorrhagias retinianas, meningéas ou cerebraes). Em uma phase mais adiantada a doente torna-se cardio-renal com tendencia para os phenomenos asystolicos. Tratamento—Medicação hypotensiva diurética e regímen anti- toxico (lácteo). Na phase ultima, quando o coração baqueia — theobromina e digitalis. Thyroide As relações biotropicas que prendem o ovário ao corpo thy- roide foram evidenciadas por A. Gauthier e Le Roy e Delafosse. O primeiro, ao examinar o sangue menstrual, encontrou arsénico e iodo, princípios estes que não existem no sangue e que são re- servas thyroidéas. Os dois últimos demonstraram a congestão do corpo thyroide no momento da puberdade, quer as regras ficassem retidas no organismo, quer ella se estabelecesse pela primeira vez Essa congestão, passageira nesse ultimo caso, observa-se todos os mezes, em cada epoclia correspondente a do catamenio. Sobre este assumpto duas opiniões se têm debatido na area scientifica: Uma antagónica e outra synergica. Múltiplos são os factos sobre que se baseiam estas duas opiniões: factos estes que envolvem o nome de diversos auctores. Ao lado do primeiro : Wilis Brand e Hertoghe — tanto mais as funcções thyroidéas são diminuídas quanto mais ao do ovário são augmentadas; Blondel e Upshur — parada das metrorliagias e mesmo da menstruação pelo tratamento thyroide e das glandulas genitaes sobre o crescimento e sobre o disthyixfidismo; W. S. Blander o ovário congestiona os orgãos genitaes emquanto que o corpo thyroide anemia; Parrhon e Golstein — pelo tratamento thyroide torna-se mais rapida a consolidação das fracturas em- 46 quanto que o ovário tem uma acção inhibitiva sobre o crescimento, cessando este desde que apparece a menstruação. Para o mesmo no que diz respeito ao tecido adiposo, o corpo thyroide tem uma acção notável, sendo caso de hypo-thyroidismo o apparecimento delle ao passo que o ovário favorece. A estes se prendem muitos que longo fôra enumerai’. Ao lado da segunda: Cyon, Gley, Oliver e Schcefer — acção hypotensiva; Horsley — acção liematopoetica; D’Albertoni e Ti- zonni — as funcções da tlryroide e do ovário facilitam a fixação do oxygenio á hemoglobina, concorrendo desfarte para a oxyda- ção, com augmento das trocas nutritivas; Parrhon e Papiani, Hauslialten e Guerin — na liypofunção de ambas ha retardamento das trocas nutritivas, (acido phosphorico, azoto, chloretos) cuja eliminação se encontra diminuida nas urinas. Para Martini, H. Claud e Gouger estas acções são variaveis conforme as relações' funccionaes entre as diversas glandulas en- docrinicas, relações estas que podem ter effeitos antagónicos, sy- nergicos e de suplencia. No estudo sobre a menopausa Vinay assim se expressa: “Em virtude da relação existente entre a glandula thyroide e o appa- relho genital, a influencia da menopausa sobre certos accidentes dystrophicos me parecem certos; o estado dos orgãos genitaes têm uma influencia notada sobre o apparecimento, o desenvolvi- mento, o prognostico da gotta exolphtalmica e a insufficiencia ovariana gosa de um papel importante no syndromo de Basedow.” Em individuos portadores do syndromo de Basidow tem-se observado por occasião da menopausa a exacerbação, em pequeno numero, porém, ha diminuição. , A these de Bailleau cita a observação de uma mulher de 47 annos, que tendo a hypertrophia do corpo thyroide desde a edade 47 de 27 annos, não dera até então logar a nenhum symptoma. Na epocha da menopausa a suppressão se effectuara de um modo ra pido e apresentou-se o quadro typico do syndromo de Basedow emmagrecimento, suores abundantes, agonias precordiaes, tachy- cardia, pulso entre 114 e 126, pulsatilidade das carotidas e tremor generalisado. A opo-therapia ovariana fizera desapparecessem os symptomas e o pulso descesse a 90, persistindo somente a hyper- trophia do corpo thyroide* A tliese do Dr. Lissac Frère encerra 22 observações de hyper- thyroidia na hypoovaria. Begis observa que em Ariège muitas mulheres por occasião da menopausa apresentam um desenvolvimento do corpo tliyroide e tornam-se basedowianas. Terminado esse período é excepcional encontrar a lesão pela primeira vez. As experiencias praticadas em animaes não dão um valor de- cidido. Parrhon e Golstein em , animaes mortos dois annos após a castração dupla verificaram que o corpo thyroide era pallido, pequeno e ao exame microscopico os folliculos eram reduzidos, havendo em certos logares dilatações dos capillares. Yêm-nos em auxilio a clinica que além dos casos acima citados temos mais as enunciações de Warhasse de casos de hyper tliyroidismo por occa- sião da ablaçãodo uterus e annexos e da menopausa natural; Loevi e Eothschild, Chass, C. Savidge participam da mesma opinião e da utilida de da ovario-therapia. Do corpo thyroide se tem procurado isolar os seus princípios, e por meio de experiencias, procurado explicar o seu modo de acção. Baumann extrahiu a substancia por elle denominada de thyro-iodina ou ainda ioditrina de Bayer. Este principio se distingue das matérias albuminoides, não só pelos caracteres physicos mas principal mente pela presença de 48 iodo. A ioditrina não existe isolada na glandula thyroide e sim encontramol-a unida a duas substancias albuminoides, albumina e globulina, formando proteides iodadas. Além da ioditrina se tem extraindo do corpo thyroide substan- cias outras. Citamos dentre ellas a thyro-globulina que contem iodo e uma outra que tem as propriedades das nucleo-proteides; não contem iodo e sim pliosphoro. (Oswaldo de Zurioli). 'Frankel considera ser o principio activo da thyroide uma sub- stancia que gosa de propriedades anti-toxicas: a tliyro-anti-toxina que não contem iodo, nem phosphoro e nem enxofre. A. Gautier evidenciando a presença do arsénico attribue a elle o papel principal de regulador da nutrição. O arsénico se acha combinado com as matérias proteicas — as nucleinas formando uma substancia arsenical. A presença do bromo tem sido assignalada e como elle princí- pios outros, cujo estudo não se acha ainda perfeito. Devemos dizer que a diversidade de effeitos obtidos com os diversos princípios isolados tem dado logar a duAÚdas, sendo o re- sultado mais satisfactorio, obtido com a applicação de toda sub- stancia tliyroidéa. Uma particular mensão se faz para a thyro-globulina de A. Oswald que augmenta at_ excitabilidade dos nervos vagos e dos nervos depressores e diminue a dos acceleradores cardíacos. Múltiplas são as tlieorias a explicar a etio-pathogenia do syn- dromo de Basedow. Destacamos dentre ellas as que são accordes aos factos observados no curso da menopausa, embora conside- remol-o como dependente do syndromo pluriglandular. Citamos: a nervosa, manifestando-se algumas vezes como he- reditária; a bulbo protuberancial da qual G. tíallert foi um defensor ardente, (que é uma nevrose bulhar) confirmada pela 49 autopsia de Cliealde liavendo congestão intensa iocalisada na vi- sinhança do bulbo; a de Vigouroux tendo em consideração a in- sufficiencia hepatica occasionada pelo arthritismo; a emotiva caracterisada pelo vaso-constricção peripherica; o arthritismo, ora sob a forma de gotta, ora sob a de rheumatismo. Hoje a maior parte dos neuropathologistas collocam a lesão primordial na glandula thyroide. A secreção thyroidéa se acha em jogo ora accusada de insufficiente, ora de exaggerada ou perver- tida. Em favor desta hypothese se acha a anatomia patliologica, porquanto o epithelio glandular é muitas vezes hypertrophiado, desdobrando-se sua camada varias vezes na luz dos yasos que ficam obstruídos, de modo que a lesão equivale a uma multiplica- ção de sivperficies epitlieliaes secundarias. Ha nas lesões glandulares uma alteração dos humores e estes vão agir sobre outras glandulas ainda não affectadas, E’ a theoria hu moral estudada por Mcebius e desenvolvida por J. Henaut, Ballet, Enriquez e Joffroy, que ao inverso da theoria nervosa faz derivar os symptomas, do exaggero da secreção interna. Esta theoria nada mais é que a tlreoria dos antepassados — a humoral. Outr’ora dizia-se de um modo vago que as diversas manifestações mórbidas eram o resultado dos humores alterados que o orga- nismo produzia. Esta theoria que não encontrava esteios, archi- tectada sem bases cahira para surgir actualmente com caracter completamente novo e de cunho scientifico. Partamos, portanto, da moderna theoria humoral e pesquize- mos o sangue com o fim de colher dados que asseverem a nossa opinião: residir a causa no syndromo pluriglandular. Os trabalhos de Kocher, Howald, Langlians, Mac Calhem, Ch. Lenormant consideram a leucopenia e a lymphocytose os dois 50 elementos primordiaes da formula hematológica no syndromo de Basedow. E’ sobre os globulos brancos que as modificações são exclusi- vas. Essa leuscopenia actua quasi que exclusivamente sobre os polynucleares cujo indice diminue até 35 por 100 da reunião dos leucocytos (75 por 100, proporção normal). Ao mesmo tempo que a cifra dos polynucleares dimiue a dos lymphocitos augmenta de uma maneira relativa (57 por 100 em logar de 25 por 100). Kocher achou em um caso 5.800 em logar de 2.000 cifra normal. Mui frequentemente observa-se também um augmento dos eosinopbilos. Quanto aos globulos vermelhos a quantidade é normal e algu- mas vezes um pouco augmentada. Esses estudos são confirmados por Ciuffini, que achou leucope- nia e lymphocitose; Roth observou essas modificações sanguíneas não só em doentes já adeantados, como também nas formas frustas da moléstia, podendo nesse caso facilitar o diagnostico. A recente memória, dc Kostlvy faz intervir um novo factor e é de grande interesse: a presença no sangue dos pyperthyroidia- nos de uma substancia, que exerce uma acção hypotonica sobreo systema sympathico — a adrenalina. Essa substancia foi também por elle notada nos casos clínicos e experimentalmente nos animaes. “ Quando se hyperthyroidisa um cão por injecções intraperito- neaes vêm-se apparecer modificações sanguíneas idênticas ás obser- vadas clinicamente por Kocher: depois de uma polynuc-leose inicial, que desapparece no fim de 48 horas, evidencia-se uma lymphocitose absoluta e relativa que attinge o máximo no ter- ceiro ou quarto dia após a injecção e persiste algum tempo; 51 porém nota-se principalmente o apparecimento da adrenalina no serum sanguíneo. Essas duas reacções — lymhocitose e padrenalinèmia — não evoluem purallelamente: a adrenalina só apparece no sangue depois da lympliocitose e dura mais do que ella. Por outro lado si se fazem injecções repetidas de sueco thyrodéo, em intervallos approximados, vêm-se a lympliocitose augmentar até estacionar em um certo ponto, depois diminuir máo grado novas injecções; ao contrario, a adrenalinemia continua augmentar por uma espe- cie de accumulação até a morte do animal Pelativamente ao estudo das modificações hemathologicas post- operatórias Kostlvy se expressa da forma seguinte: “A adrenalinemia está em relação intima com o exito feliz ou infeliz da intervenção. Nos casos de cura vê-se a adrenalina desappa- recer do serum sanguineo; ao contrario, quando a operação é sem valor vê-se a adrenalinemia augmentar bruscamente ao mesmo tempo que a curva leucocytaria volta a normal”. Julgamos necessário dizer que alem das modificações liema- tologicas, os auctores acima citados, encontraram focos lym- phoides e uma infiltração lympliocitaria localisada ao redor dos vasos na glandula hypertrophiada, ao lado da hyperplasia pa- rencliymatosa diffusa que parece constituir a lesão essencial. To- dos os glanglios cervicaes visinlios foram achados no mesmo es- tado de hyperplasia. Perrin cita as modificações hematológicas estabelecidas por Loeper e Cruzon succedendo as injecções ou ingestões de adre- nalina: A hyperglicemia é precoce podendo attingir de 2 gr., 80 a 3 gr., 10, após uma injecção intravenosa de YI gottas. O nu- mero de glóbulos vermelhos diminue sempre e se augmenta durante as primeiras horas é devido a vaso-constricção. O índice 52 de hemoglobina se abaixa muitas vezes, mas não sempi’e parai - lelamente. O numero de bematoblastas se eleva e pode attingir 1:000.000 no quarto dia que se segue a injecção. A leucocytose apparece no fim de 24 e 38 horas e continua a se elevar, para descer ao quarto dia. E’ uma leucocytose, polynuclear porém au- gmenta mui rapidamente á proporção de macrophagos e de ele- mentos lymphoides com ligeira eosinophilia, A mononucleose é mais precoce e mais notada; a diminuição dos globulos vermelhos se exaggera, persiste ou reapparece accentuadamente a cada nova injecção. Por estes factos determinam Lmper e Cruzou a acção excito-leucocytaria constante da adrenalina e do extracto suprarenal. A acção leucocytaria se exerce sobre os orgãos da serie lym- phoide ficando o baço muitas vezes hypertrophiado. O estudo experimental dos orgãos hematopeticos feito por Loeper nos animaes demonstra o apparecimento de um grande numero de myelocitos granulosos: myelocistos granulosos estes que são indícios de uma reacção myeloide que se estende não só medulla ossea como também ao baço e ao thymus. Em uma segunda phase o numero de mononucleares lym“ phoides plasmazen augmenta emquanto que diminue o das he- matias nucleadas e dos myelocitos. O baço se hypertrophia e a polpa esplenica se engorgita de elementos onde dominam os macrophagos encarregados de destruir os detrictos dos polynucleares e sobre tudo de liematias. A quantidade de pigmentos ferruginosos é considerável. E’ pois sobre o tecido lymphoide e os macrophagos, que levam de maneira precoce e pi'edominante, a excitação dos orgãos he- imatopoeticos consecutiva a injecção intra-venosa, sub-cutanea, ou intraperitoneal de adrenalina. 53 Por outro lado focos lymplioides têm sido vistos poi' Loeper em pontos onde faltam normalmente ( figado, suprarenal). Essas modificações do sangue são independentes da hypertensão ar- terial. Para Jean Camus e Ph. Pagnieu a queda da pressão se acom- panha ordinariameute de leucopenia, sem modificação apreciável dos globulos vermelhos e a hypertensão não modifica o numero dos leucooytos e das hematias. No que diz respeito a coagulabilidade as manifestações são idênticas em ambos os casos. Se já não bastassem as provas irrefuctaveis acima citadas de pertencer o syndromo de Basedow ao syndromo pluriglandular, e como este, variavel na intensidade dos symptomas, conforme o grao e numero de glandulas atacadas, poderíamos emittir a opinião de Lorand que encerra a sua monographia—Origine du diabete. Depois de uma serie de considerações diz: “E’ notorio o concurso da hyperépinéphria na hyperthyroidia. Acham, frequen- temente no mal de Addison (degenerescencia das suprarenaes) a glandula thyroide excessiva mente pequena; acham, é verdade’ em casos outros, porém, mais raramente, augmento da glandula porém, como a substancia contida na glandula não foi indicada, podia a. hypertropljia neste ultimo caso ser de natureza fibrosa e não augmento provocado por actividade da glandula thyroide e portanto sobre os folliculos da glandula e da substancia colloide Em certos casos de myxcedema observam-se liypertrophia e nin- guém teria a idéa de pesquizar neste augmento uma hyperthy- roidia, quando a razão se acha na proliferação do tecido con- junctivo”. Conhecidos são os factos clínicos de hyperthyroidia na hypo- ovariat e as considerações que acabámos de fazer, claramente 54 estabelecem a hypèrépinephria na hyperthyroiãia. Fizemos notar* a frequência desta na hypoovaria, e portanto temos nós demon~ strado que no syndromo de Basedow na epoclia crepuscular entram em jogo, pelo menos, a insufíiciencia ovariana, a hyperthyroidia e a liyperépinépliria e, talvez a hypohypophysia e hypohepatia O que não podemos, porém, esclarecer é si as suprarenaes e a tliy- roide são atacadas simultânea ou successivamente. São sempre constantes as perturbações cardio-arteriaes na liy- pertbyroidia. A tachycardia é pela sua precocidade um dos prin- cipaes symptomas; quasi sempre permanente, podendo, porém, ser entrecortada de phases de tachycardia parosystica. Esta pela sua precocidade é de maxima importância; nas formas frustas quando lia attenuação notada do syndromo de Basedow, ella apparece e somente ella persiste na ausência de todos os outres symptomas pertencentes a elle. Ao lado da tachycardia, citamos as palpitações; estas que muitas vezes se confundem com aquella, augmentam gradualmente de intensidade. A principio são passageiras, sobrevindo ao menor esforfo muscular e ao menor abalo moral. Em seguida a este não nos deve surprehender. a assystolia emotiva, citada por Lissac Frère em doentes que estiveram sobre as suas vistas. Após uma contrariedade familiar uma das doentes ficou em es- tado deorthopnéa. Nos dias consecutivos—edema dos membros in- feriores e das bases pulmonares; urinas diminuídas, pigmentadas e ligeiramente albuminosas; matidez cardíaca, denotando dilatação do coração; figado hypertrophiado; tensão arterial a 16 cm.; pulso frequente, pequenino. A’ escuta tachyarhymia; fraco sopro systo- lico mitral, Para o auctor, esta emoção, diminuindo por spasmo o calibre dos vasos, o myocardio debilitado se deixa dilatar bruscameute 55 pelo accrescimo brusco da tensão arterial e, enfraquecendo, a asystolia se acha realisada. Mencionamos as arythmias que no hyperthyroidismo revelam quer uma toxicose, quer uma influencia nervosica ou psychica. Attendendo-se a hyperépinéphria e as diversas intoxicações facil se deprehende a producção do atheroma. A coexistência da aortite tem sido notada com a gotta exophtalmica. Um dos principaes caracteres do syndromo de Basedow reside na liyperpulsatilidade arterial. A tensão arterial, normal para Courtois-Suffit, Maurice de Fleury, é augmentada para Livon. Sobre este assumpto, diz Hu- chard, tem-se notado uma variabilidade excessiva, sendo ox*a hy-*i pertensiva, ora liypotensiva. Examinando elle uma mulher na epocha da menopausa, observou de forma assáz manifesta uma liypertensão permanente. Por outra parte diz o mesmo cardio- patliologista — “o papel das emoções é considerável para deter- minar grandes variações na tensão arterial, e, como os doentes vivem em um estado emocional quasi continuo, comprehende-se então que haja ora hypertensão, ora hypotensão, ora tensão normal ”. Um' signal mui importante é a instabilidade do pulso, variavel conforme a posição veidical (120 pulsações) e horisontal (90). Muitas são atacadas de cardialgias, podendo haver em alguns casos crises stenocardicas. Sobre a semiótica cardiaca nada ha de positivo; quando as per- turbações funccionaes não se apresentam o coração é normal. (*) Em casos contrários poder-se-lia observar o quadro clinico da in- [ • ] Mauricé de Fleury o considera hypertrophiado e steatosado. 56 sufficiencia cardíaca, cahindo o coração em asystolia, com edemas genei’alisados, cyanose de face, diminuição das urinas etc. Pulso regular, mas extremamente rápido. Sopixxs são percebidos na visinhança da ponta e do fóco pul- monar ; na maioria dos casos são anorganicos. Nem sempre, porém, observamos a hyperthyroidia. Casos raro’ é verdade, são observados de diminuição de funcção. Jeandelize nota uma observação onde a suppressão da funcção ovariana acarretara phenomenos caracteristicos de hypothyroidia Wylis Blander a considera egualmente e isto se traduz quando diz: “ nos casos em que a menopausa se acompanha de excitação ha hyperthyroidia, emquanto que na melancolia ha hypothy- i'oi«íia O syndromo de Dercum é para alguns auctores a consequên- cia da hypoovaria com hypothyroidia. As pei'turbações cardíacas que a hypothyroidia dá logar são; ligeira diminuição da tensão ai’teiial e da fi’equencia do pulso coração as mais das vezes normal, poucas vezes hypertropliiado ligeiramente, poi’ém sempre attingido de adipose. Uma menção especial devemos fazer para certas crises ui’emi- cas, apparecendo rapidamente e para as quaes Jeandelize, Claisse têm chamado a attenção e que a medicação thyroidéa tem sido de optimo pi'oveito. Em um caso por elles citado, a tensão arterial era forte, marcando o sphygmomanometro 23 em logar de 16 e 17- Coração esquerdo augmentado de volume em summa os caracte- res da neplirite chronica. Einalizando o estudo da glandula thyroide compete-nos dizer que ao hypofunccionamento do coi-po thyroide succedem, não ra- 57 ramente, manifestações cie liyperthyroidia, constituindo a insta- bilidade thyroidéa. Esta instabilidade pode ainda ser observada no mesmo indivíduo. Consideramos estas perturbações variaveis em seu gráo de funccionamento, como dependentes do syndromo pluriglandular, baseando a nossa opinião na memória de H. Claude e Glougerot citada anteriormente. Figado— Kypophyse Ceux qui veulent aujour d’hui tout expliquer en médecine par la physiologie, prouvent qu’ils ne conaissent pas la physiologie et qu’ils la eroient plus avancée qu’elle n’est. Ceux qui pliy- repoussent systématiquement les explications siologiques en médecine, prouvent qu’ils ne com- prennent pasale developpement de la médecine scientifique est qu’ils se trompent sur leur avenir. Claude Bernard. E’ tendo sempre em mente as sabias phrases do immortal bio- iogista Cl. Bernard que encetamos e orientamos a via a seguir do nosso simples trabalho. E’ alliando a pathologia á physiologia, que procuramos pelo concurso mutuo por ellas prestado moldar a nossa these, ultimo labor e adeus da vida académica que pla- cida e boa nos correu, deixando-nos immersos em amaríssimas saudades. Grande é o papel dó íigado na economia. Dotado de múltiplas funcções este tão importante orgão sente o choque que lhe vibra a insufficiencia ovariana. Já de mui longe é conhecida a insufli- cieneia liepatica durante a menopausa. E’ affectado diversamente e dentre as manifestações que se podem apresentar citamos: 60 A obesidade que tão frequente é nesta epoca da vida feminina não é o indicio de uma saude florescente. Dil-o mesmo Iiucliard “ não lia gordura normal; o estado gordo é o resultado de uma auto-intoxicação latente”. A obesidade, que revela a ausência da endocrinia ovariana e como quer Vinay a polysarcia torna-se a consequência da cessação do fluxo menstrual, pois, vimos que os corpos amarellos activam as combustões intracellulares e as trocas respiratórias, provadas por Lcevy e Kickter em cadellas ovariotomisadas, não podemos, porém, deixar de admittil-a como manifestações de hypohepatia, attento as experiencias de Parrlion e Gfolstein, de Gfeorgeweski. Ainda revelando o facto delia, temos a não destruição dos princípios toxicos que o deveriam ser pelos corpos amarellos e temos a obesidade produzida pela liypertensão portal. Funcção uricopoetica — O íigado é um grande destruidor do acido urico, quer elle provenha dos tecidos, quer da alimentação. Funcção ureopoetica — A analyse da urina demonstra que nos indivíduos chegados a epoca da menopausa ha diminuição da uréa excretada. Esta diminuição se acha em relação com o poder autolytico da cellula hepatica e é caracteristica de sua insuffici- encia; não occasiona a transformação completa das matérias albu- minoides introduzidas na circulação geral. E’ um symptoma constante nos casos de insufficiencias, pois nos casos de lesões mí- nimas que destroem as cellulas hepaticas embora se trate de dege- propriamente dita a producção de uréa baixa, qualquer que seja o regímen alimentar seguido pela doente. Como resultado temos a eliminação de matérias outras azota- das e particular do ammoniaco. Podemos apresentar casos de diabetes no decorrer da rneno- 61 pausa mas a exiguidade do tempo e o quadro que traçámos de ser o mais synthetico, nos leva a supprimil-as.* Procuramos somente explicar o facto: elle pode ser devido ao figado haver perdido a propriedade de reter e fixar o assucar sob a forma de glycogenio e neste caso diminuição da actividade he- pática, ou a uma producção exaggerada de glycose e, portanto augmento excessivo dessa actividade. No primeiro caso a glycosuria seria passageira; no segundo ella é persistente e muitas vezes funesta. Essas duas hypotlieses são francamente applicaveis. No caso de liyperfuncção julgamol-a dependente do syndromo pluriglandular e Rickter se ha esforçado por elle entrando prin- cipalmente em jogo as suprarenaes. ( *) Em favor delles temos as experiencias de E. Blum que injectando a adrenalina produziu a glycozuria ao mesmo tempo que o augmento considerável de albumina; nos casos de animaes acapsulados a picada do quarto, ventrículo não produziu glycose, nem hyperglycemia. Essa glyco- zuria acompanhada de hyperglycernia o é também de uma notá- vel diminuição ou mesmo desapparecimento de glycose do figado. E’ pois de origem hepatica. (Gley). Sendo a glandula hepatica affectada nestas funcções que acabámos de ver, não menos o é na antitoxica. Esta funcção em que o figado representa o grandioso papel de destruidor da toxicose endo ou exogenica, provado pela classica experiencia de Eck, é na menopausa grandemente inte- ressada. Poderíamos dizei' como Hallopeau que excluído o diabetes [ ’ ] E’ a concepção de Lorand,fazendo derivar o diabetes pancreatico da degenerescencia dos Ilots de Langerhans,a qual era devido a hyperthyroidia e esta oriunda de hyperépinéphria. Borchart notou uma glycozuria em um coelho, após a injecção de cxtracto pituitário e F. Dunan, tem chegado ao mesmo resultadô. 62 azoturico e o diabetes glycozurico, nos quaes a cellula hepatica pode ser atacada independente das outras funcções, observa-se no caso de destruição da mesma cellula um syndromo onde as per- turbações entram cada uma por sua vez. E’ o que deparamos na observação de Widal e Ravault que linlias abaixo publicamos. Antes, porem, de fazel-o e a discutirmos, faz-se mister citar algumas experiencias praticadas por Parrhon e Gfolstein, e Gfeorgiweski. I — Dupla castração em uma gata adulta algumas semanas depois do parto. No ligado deste animal, operado 24-6-1907 e sacrificado a 4 de Janeiro de 1908 foi achada uma grande quanti- dade de principio intra-cellular. Um mui grande numero de cellulas continham gordura ou uma substancia desta natureza em vista da dissolução nos diffe- rentes rectivos, deixando nas cellulas pequenos vacuolos. II — Data com dupla castração na idade de tres mezes e que viveu mais de dous annos após á operação. No ligado foi obser- vado uma mui grande ectasia dos capil lares. Alguns continham gottas de gordura que por sua dissolução nos rectivos provocaram vacuolos claros no interior das cellulas. Gfeorgiweski estudando o ligado de diversas cobayas que ha- viam soffrido a castração dupla, e sacrificadas tres mezes após a operação, chegou a conclusão de que grupara em 4 ordens: 1. a, ligado diminuído e sclerosado ; as cellulas hepaticas attin- gidas de hypoplasia. Essa ordem fora subdividida em duas cathe- gorias: animaes que apresentavam retenção biliar, fallecendo alguns, antes de serem sacrificados e outros que não a tinham. 2. a, o exame do ligado revelou as cellulas em estado de adipose havendo egualmente algumas que já passavam ao estado de steatose. 63 3. a, o figado apresentava-se congesto; vasos dilatados e aqui e além proliferação de tecido conjunctivo. 4. a, nenhuma modificação apresentavam. Destas diversas experiencias chegamos as conclusões que a suppressão dos corpos amarellos vão repercutir sohre o figado produzindo a degenerescencia gordurosa ou ainda de diminuição da actividade funccional da cellula. Devemos ter sempre em mente que a glandula liepatica se acha sujeita ao syndromo pluriglan- dular e que ella pode neste caso deixar se influenciar pelos humo- res alterados por uma outra glandula vascular sanguínea. Havendo degenerescencia da cellula hepatica como acabámos de provar, facil se torna comprehender a insufíiciencia hepatica, não só augmentando a quantidade de glycose no saiigue, impe- dindo a transformação das matérias albuminoides em uréa, prin- cipios estes, mais ou menos toxicos, como também, estorvando a destruição completa dos venenos endo ou exogenicos; accumulan- do-os no organismo, occasioha perturbações importantes para o apparelho cardio-vascular. Devemos ter em consideração que os rins, orgãos eiiminado- rés, por excellencia, se ainda não se acham atacados por um pro- cesso de sclerose, poderão diminuir o gráo da hypohepatia; mas “ esta eliminação dos productos liypertoxicos não é sempre inócua para o filtro renal. Prolongando-se, elle acaba por se alterar. Aos effeitos da acção primitiva do figado, juntam-se logo alterações secundarias dos rins (Gouget). Citadas essas experiencias e feitas as considerações necessárias, vejamos a observação a que tendemos. M. de 48 annos de edade, não tendo antcriormente manifesta- ções mórbidas para o apparelho cardio-vascular, é durante a época da menopausa acommettida de congestão hepatica, congestão 64 esta, denunciada pela sensação de peso no liypocondrio direito e pela dôr á pressão. Esta congestão podia ser imputada a suppressão do fluxo menstrual. Anteriormente, porém, a congestão fora pre" cedida de pliases rebeldes de constipação a qual pela sua vez era devida a insufficiência ovariana. Ha retenção biliar que em seu inicio nada revelara á tensão arterial; nos dias subsequentes a tensão baixa e as urinas demons- traram a presença de saes biliares. Medicada em tempo, seu estado se modifica persistindo apenas tacliycardia e ligeira dyspnéa. Depois de tres mezes em seguida a um embaraço gástrico so- brevém verdadeira crise de asystolia. Ao lado dessa observação assás grave poderíamos citar obser- vações outras de benignidade relativa onde encontraríamos ma- nifestações de hypoliepatia, traduzindo-se pela mudança de cará- cter, somnolencia, cephalalgia, vomitos, pruridos, etc. Entremos perfunctoriamente na analyse da observação acima citada. Duas causas primordiaes podem ser imputadas á congestão hepatica. Primeira, a suppressão da menstruação; segunda, a constipação. Ambas concorreriam ao mesmo fim.—A primeira pelo affluxo de sangue ao orgão que devia ser eliminado; a segunda pela toxicose endogenica, pois a glandula hepatica se aclia dirni- nuida em sua funcção antitoxica. A icterícia, apresentando-se no curso dessas complicações, lembra certos casos de icterícia menstrual de Senator, porém outras vezes é francamente de origem infecciosa, como nos casos hyperemicos ou ainda succedem aos accessos de cólica hepatica (Dalché). 65 Resulta a hypertensão portal cujo valor incontestável tem sido demonstrado por Huchard nas cardiopatliias. Esta hypertensão portal é facto habitual nas congestões hapa- ticas activas, quer sejam ellas oriundas de uma perturbação intestinal, quer sejam devidas a suppressão da menstruação. A hypertensão portal, diz Huchard, observa-se mui frequente- mente na epoca da menopausa. Dahi arterio-sclerose hypoten- siva e certos accidentes cardíacos taes como a tachycardia cuja pathogenia e indicações therapeuticas tem sido mal comprehen- didas. A tachycardia e a dyspnéa podem ser imputadas ao máo funccionamento do figado. Este não mais destruindo as substan- cias toxicas que as veias mesaraicas e a veia porta carregam lentamente, o sangue yae irritar o coração direito e os pul- mões. A hypertensão portal acarreta como factor indubitável a hy- potensão arterial; mas a sua persistência e baixa nos dias sub- sequentes, podem somente ser imputadas a icterícia. A queda da pressão é para Parisot devida aos ácidos biliares pois as suas pesquizas o levam ao resultado seguinte: “quando ha ácidos bi- liares a tensão baixa. Ho começo e quando os saes biliax-es são em abundancia, a tensão se mantém entre 16 e 17 c. m. subi- tamente ella cae a 14 c. m., 5 ao mesmo tempo que os saes bilia- res são encontrados na urina”. Devemos, porem, banir a acção dos saes e dos pigmentos pois a,s experiencias de Bruin demonstram que estes actuam mais energicamenie emquanto que para Eeltz e Ritter são os saes e destes principalmente o thaurocolato. Como quer que seja na observação que estamos a discutir a enunciação de Parisot persiste. 66 A aSystolia hepatica fora produzida pela brusca distensão das cavidades cardíacas. Nas perturbações hepaticas grande é o papel diatlresico. So- bre elle pondera Gouget, demonstrando nos indivíduos d