{ THESE INAUGURAL DE Gastão Clovis. 5. Guimarães Faculdade de Medicina da Bahia THESE APRESENTADA A’ FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Em 31 do Outubro d© 1913 PARA SEr DEFENDIDA PUBLICAMENTE POR C?iovis de Soa 2 a Guimarães wk NATURAL DO ESTADO DA BAHIA Filho legitimo do Pharmaceutico Bernardo Carleoni de Oliveira Guimarães e D, Arminda Candida de Souza Guimarães AFIM DE OBTER 0 GRÁO DE DOUTOR EM MEDICINA DISSERTAÇÃO CADEIRA DE MEDICINA LEGAL E TOXICOLOGIA Da esterilidade provocada ( Ligeirissimas considerações ) PR0P03IÇÕE8 Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas BAHIA TYPOGRAPHIA DO ” SALVADOR”—CATHEDRAL 1912 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Director-Dr. AUGUSTO C. VIANNA Secretario-Dr. MBNANDRO DOS REIS ME1RELLES Sub* Secrotario Dr. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA ■ PROFESSORES ORDINÁRIOS Os Drs.: Cadeiras: Manoel Augusto Pirajá da Silva . Historia natural medica o parasithologia Pedro da Lu/. Carrascosa . . . r Physica medica Francisco da Luz Carrascosa . . Chimica medica Julio Sérgio Palma Anatomia microscópica José Carneiro de Campos .... Anatomia descriptiva Pedro Luiz Celestino Physiologia Augusto Cesar Vianna Microbiologia Antonio Victorio de Araújo Falcão . Pharmacologia Áuilherine Pereira Rebello .... Anatomia e histologia pathologieas Fortunato Augusto da Silva Júnior Anatomia-medico-cirurgica com opera- ções e apparelhos Gonçalo Moniz Sodré de Aragão . . Pathologia geral José Eduardo F, de Carvalho Filho . Therapeutica Luiz Anselmo da Fonseca .... Hvgieue Josino Correia Cotias Medicina legal Anísio Circundes do Carvalho . . . Clinica Medica Francisco Rraulio Pereira .... Clinica Medica João Américo Garcez Frões . . . Clinica Medica Antonio Pacheco Mendes ..... Clinica cirúrgica Rraz Hermenegildo do Amaral. . . Clinica cirúrgica Carlos Freitas • . . Clinica cirúrgica Clodoaldo de Andrade . . . . • Clinica ophtalmologica Eduardo Rodrigues de Moraos . . Clinica oto-rhino-laryngologica Alexandre E. de Castro Cerqueira. . Clinica S-crmatliologica é syphihgraphloa Frtiderico de Castro Rebello . . . Clinica pediátrica medica e hygiene m- fantil Alfredo Ferreira de Magalhães . . Clinica pediátrica cirúrgica e orthopedia Climerio Cardoso de Oliveira . . . Clinica obstétrica '‘José Adeodato de Sousa .... Clinica gvnecologica Luiz Pinto de Carvalho Clinica psychiatnca e de moléstias nervosas Aurélio R. Vianna Pathologia medica Antonino Baptista dos Anjos . . . Pathologia cirúrgica • y PROFESSORES EXTRAORDINÁRIOS Os Drs.: Cadeiras: Egas Mnniz Burreto de Aragão . Historia natural medica e parasithologia João Martins da Silva .... Physica medica Clomentino Rocha Fraga Júnior . . Clinica medica Adriano dos Reis Gordilbo . . Anatomia microscópica José Alfonso de Carvalho .... Anatomia desci íptiva Joaquim Climerio Dantas Bião . Physiologia Augusto de Couto Maia . . . •• Microbiologia . . Pharmacologia Eduardo Diniz Gonçalves . . . . Anatomia Medico-eirurgica com ope- rações e apparelhos Antonio do Prado Valladares . . . Pathologia geral Frederico de Çastro Rebello Koch Therapeutica José Aguiar Costa Pinto .... Ilygieue Oscar Freire de Carvalho . . . Medicina legíu^ Caio Octaviano Ferreira de Moura . Clinrea cirúrgica ....... Clinica ophtalmologica Albino Ãrthur da Silva Leitão . . Cliniçadermatol.ogicaesyphihgraphica Menandro dos Reis Meirelles Filho Clinica obstétrica . .. Mario Carvalho da Silva Leal . . Clinica psychiatnca e moléstias ner- vosas . . ... , Antonio doAmaral Ferrão Muniz Chimica analyúca e industria Chimica Mediea. , , . ’ ’ . . Anatomia e Histologia Pathologieas. PROFESSORES EM DISPONIBILIDADE I)r. Sebastião Cardoso Dr. José E. de Castros Cerqueira Dr. Deocleciano Ramo Dr. José Rodrigues da Costa Dona A Faculdade não apprdVa nem reprova as opiuiões exaradas nas tliescs pelos seus aictoru DISSERTAÇÃO CADEIRA- DE MEDICINA LEGAL E TOXICOLOGICA Das esterilidade provocada {Ligeirissimas considerações) t mulher, estudada isoladamente, pode ser conside- rada como um ser completo, capaz de desempenhar todas as suas funcçõos, sem o concurso do homem ? E o homem poderá só e isoladamente, sem a coadju- vação da mulher, exercer satisfactoriamente todas as funcçõos que lhe são peculiares ? Nâo. Nós pensamos, como Bazard e Enfantim, que o homem e a mulher, tomados isoladamente, são seres incompletos. Elles precisam, reciprocamente, um do outro para que se forme, pela jnncção de ambos, uma só entidade indes- tructivel. Não vamos, aqui, discutir ou estudar o logar que, de preferencia, a mulher deve occupar na sociedade ; s i ella deve ser collocada em um plano superior, egual ou inferior ao do homem. Deixemos que os feministas e anti-feministas se degla- diem ; luctem desesperadamente, convictos de que vão- prestar um grande serviço á sociedade, apontando o ca minho certo por onde a mulher actual deve seguir para 6 se tornar senhora dos seus actos, conhecedora dos seus direitos e deveres. Esqueçamos, por um momento, que Saint Simon e Fou- rier advogaram, de um modo demasiadamente fervoroso, a causa das mulheres e que Augusto Conte c Prondhom, sem temerem a coléra feminina, luctaram contra a idéa, aliás sympathica, do feminismo. Não vamos fazer estudos profundos de sociologia, que- remos, apenas, de um modo simples e dispretencioso, estudar o homem e a mulher sob o ponto do vista das suas íuncções reproducloras, combatendo,principalmente, o uso criminoso e iminorai de meios para obstar a fecun- dação. Que as mulheres possam viver independentes, sem outro auxilio, alem do de suas próprias forças; que as mulheres possam occupar todos os postos que os homens, por sua intelligenca e espirito de iniciativa, conseguiram alcançar nas sociedades de que são componentes, é cousa que se discute, mas, não é um impossível. Não podemos, porém, acreditar que a mulher e o homem, convencidos como estão de que a especie deve se propagar, deixem de reconhecer o valor capital de cada um dos dois elementos—macho e femea—e a necessidade intuitiva do viver harmonico de ambos. Ora, se isto é uma verdade que parece indiscutível, una-se o elemento macho como elemento femea, approxi- 7 me-se o homem da mulher e, do melhor modo possvel, procurernm iuorar os malescommuns concorrendo, dest’- arte e efficazmente, para o bom exilo de urna das mais nobres funcções do gencro animal—a procreação. Extinga-se a rivalidade amoíinadora destes dois ele- mentos que só podem existir, lógica e naturalmente, am- parados pela harmonia de vistas, pela communhão de idéas, e teremos, então, o meio decisivo para completa debellação de males que se nos afiguram como destrui- dores da ordem social, como anniquilladores da união collectiva. Eduquemos a mulher, como ella deve ser educada, ensinando lhe, desde os seus primeiros annos e gradual- mente, o papel que ella tem de representar na sociedade, papel díficilimo e que raríssimas vezes é bem interpre- tado, principalmente no nosso paiz, onde a educação feminina, para não falarmos na dos homens, é faihada e defficientissiina. Preparemos o espirito da. adolescente, de modo que ella ache natural a sua passagem deste estado para o de mulher, na sua verdadeira accepção. * * * Existe uma epocha em que a creança passa a ser mulher; e é nesta occasião que ella se torna mais sentimental do que era, anteriormente. 8 Entre nós, geralmente, ella principia a preoccupar-se com um mysterio que, absolutamente, (na maioria das vezes) não pôde desvendar, por mais que reílicta c con- sidere. E’ o momenlo da puberdade, é o instante cm que lhe apparecem as primeiras regras, lembrando que o seu todo sensitivo passa por uma transformação, quasi radical. Não fosse um certo numero de circunstancias e, a par- tir deste momento, a mulher entregar-se-ia ao primeiro homem que lhe passasse ao alcance, arrastada por um sentimentalismo caracteristico, por uma vontade irresistí- vel de saborear sensações e prazeres ainda mal esbo- çados. Apezar da puberdade trazer como corolário, certo e irrefutável, esta immensa vontade que a mulher sente, de desvendar os mysterios do amor, numa ancia febril de procurar sensações novas, de adivinhar prazeres desco* nhecidos, de antegosar deliciosamente, ainda que em sonhos, as caricias dos homens, o tempo nos ensinou e a observação nos fornece os meios mais rasoaveis para evitarmos todos os males que possam advir desta mu- dança brusca e raramente esperada. Em primeiro plano, está a educação bem administrada pelos ascendentes, que devem incutir no animo da mu- lher, desde os seus primeiros annos, o valor immensa. mente grande de uma boa moral que póde ser por ella 9 avaliada, na paz domestica, no recesso intimo da familia, pelos bons exemplos, estoriotypados na pratica restricta das mais santas virtudes, no zelo ininterrupto da hones- tidade e da honra. A innocencia, a castidade, o pudôr, dons inhcrentes á mulher; os princípios religiosos, a inorigeração de cos- tumes, são outros tantos meios seguros para evitar que ella palmilhe o caminho da perdição e da deshonra. Estes meios, porém, podem ser considerados como simples palliativos; são freios que, apezar de fortes,podem ser despedaçados, de um momento para outro, porque a natureza, na maioria dos casos, impõe as suas leis severas, mostrando-se, geralmente, dum despotismo in- clemente, ao reclamar o tributo que se lhe deve e que ha de ser pago, mais dias, menos dias. E’ um poder mysterioso que lembra, á mulher, a ne- nessidade delia unir-se ao homem, commungar com elle e concorrer para a propagação da espccie; poder que ensina e mostra o quanto ella póde ser fecunda, capaz do produzir outros muitos séres que serão, em futuro não muito remoto, os aeariciadores de sua velhice, quando se der, como inexoravelmente acontece, o «naufragio das suas formas», o desabar das suas illusões. E’ alguma cousa que lhe chega aos ouvidos, vóz mys- teriosa e cheia de variantes, ás vezes de uma doçura sim- ples o embaladora, outras vezes de uma rudeza mordente; 10 vóz da natureza a lembrar que, além de mulher, elia deve ser Mãe. * * * Está, portanto, assentado que a mulher, chegado um certo 16011)0, tem necessidade imperiosa de ligar-se inti— mamente ao homem, necessidade que íoi discutida e depois acceita e regulamentada pela sociedade. A «REGULAMENTAÇÃO SOCIAL DO INSTINCTO de reproducção, trabalhada de um modo lento, atravéz de muitas e diversas vicissitu- des, até a accentuação de sua forma, vigente entre os povos cultos» íoi chamada—casa- mento, que pode ser ainda considerado como «a um contracto fiiateral e solemne, pelo qual um homem e uma mulher se unem indisso- luvelmente, LEGALISANDO POR ELLE SUAS RE- LAÇÕES sexuaes, estabelecendo a mais estreita com nunhão de vida e de interesses e com promettendo- se a crear e educar a prole que de ambos nascer,» Se procurássemos catar opiniões sobre o casamento, seus beneíicios e eífeitos diversos, encontraríamos diver- gências e até contradicçoes, mas, veríamos também que os tratadistas, em notável maioria, além de reconhecerem outros muitos benefícios que tal contracto prodigalisa, 11 procuram demonstrar a necessidade que a mulher tem de unir-se do homem, chegado um certo tempo regula- risando as suas relações sexuaes despertadas, repentina- mente, na epocha da puberdade, para crearem e educarem a próle que dexámos nascer. Analysemos, no casamento, o que diz respeito á próle, unico assumpto que se prende, directamente, ao nosso trabalho. Reconhecemos os benificios inestimáveis que nos trouxe o casamento, e estamos crentes na proficuidade desta nobre instituição, que só tem produzido bem, quer sob o ponto de vista individual, quer sob o ponto de vista collectivo. Este contracto deixa antever a necessidade da procrea- ção, porque, se não o interpretássemos assim, seria inútil dizer-se que o casamento dieta, além de outros de- veres, o dever dos cônjuges crearem e educarem os filhos que hão de nascer de tal união. Por mais ingénuos que sejamos, não podemos desco- nhecer que o fim principal do casamento é a obtenção da progenie. As idéas que acabamos de expor são confirmadas pelas nossas leis, são commentadas pelos nossos juristas, como Laffayete, Glovis Bevilacqua, Durval de Britto e muitos outros. Se percorremos as leis dos paizes civilisados da Europa 12 e mesmo dos paizes da America, encontraremos confir- mações ao nosso modo de pensar, á nossa maneira de deduzir. Estào comnosco muitos escriptores de differentes na- cionâlidades que trataram do assumpto, como sejam, citando somente aquelles nossos conhecidos que são cla- ros na matéria:—II. de Balzac, d’Àlibert, Trombctta, Mantegazza, Livio de Castro c Sylvanus Stall. As sociedades que adoptaram e adoptam o casamento pensam ou não na possibitidade ou, dizendo melhor, na necessidade lógica da prole ? Olham ou não para o casamento como o regulador o legalisador das relações sexuaes, meio certo de móralisar a união dos dois sexos para que a sua próle seja legitima e digna delias ? Pensam assim. E ninguém seria capaz de pensar de modo contrario, pois ó lei natural a da propagação da especie; necessidade que tem os casaes de produzirem sères seus semelhantes que, passandos alguns annos sob os seus cuidados directos, unir-se-ão, mais tarde, com outros tantos seres de sexos differentes, para continuarem numa producção sempre progressiva e indefinida. O casamento sem filhos seria uma simples união que, no fim de um certo tempo, tornar-se-ia monotona. Não seria uma liga, e sim uma mistura de seres que, cm qualquer tempo, podiam ser facilmente separados. 13 0 casamento seria desvalorisado, a todo o instante, e, tal- vez, abandonado de um modo completo, absoluto. Com filhos, não acontecerá o mesmo, porque os paes verão nelles «o sangue do seu sangue c a carne da sua carne» e comprehenderão que existe este traço de união, traço bem vivo que os ligará eternamente; c, ambos uni- dos e de accordo, trabalharão pelo bem estar da familia, mostrando-se, cada um delles, reais zeloso pelos seus de- veres, pelas suas obrigações com a sociedade. Não queremos dizer, absolutamente, que dois indiví- duos, unindo-se pelos laços matrimoniaes, tenham, so- mente, cm mira, produzir um ou muitos filhos. Não. Seria desvirtuar demasiadamente o casamento; seria desconhecer todo o bem que elle nos proporciona quotidianamente; seria, emfim, desmentir tudo quanto já se tem dito sobre elle. Se trouxéssemos, em nosso trabalho, um argumento deste quilato, tornar-nos-iamos incapazes de defendel-o, porque, deste modo, confessaríamos a nossa ignorância sobre o casamento, contracto instituído para a moralisa- ção de certas relações que, sem elle, tomam, na maioria dos casos, um cunho reprovável de immoralidade e de cynismo. Daríamos margem a que os nossos accusadores viessem lembrar que o casamento, assim interpretado, seria uma simples figura do rhetorica aldean e que, som elle, po- 14 deriam vir ao mundo outros tantos milhões de novas creaturas. O que nós pensamos, tendo ao nosso lado vários cs- criptores, é que, no casamento, a idéa de prole 6 uma idéa que se destaca natural e logicamente, parecendo que se impõe sem arrodeios, sem rebuços. Ora, nós que attestamos a existência de uina força que impelle o homem para a mulher e vice-versa, força natural, physiologica, própria, inherente ao genero ani- mal; nós que olhamos para esta sympathia com a natu- ralidade de quem aprecia um facto já muitas vezes obser- vado e que vemos, nesta força, o meio com que a Natu- reza nos dotou para esta appróximação reciproca, não podemos, de maneira nenhuma, desconhecer o valor e a necessidade da legalisação das relações scxuaes; mas, não podemos, também, negar que a obtenção da progé- nie, (san e legititima) resultado desta sympathia e desta approximação, seja o fim principal do casamento Se no casamento, portanto, existe, quasi claramente, a obrigatoriedade de reproducção da especie, nós só po- demos affirmar que, moralmente, esta idéa de filhos deve ser considerada como uma lei, lei que deve ser cumprida por todos aquelles que, estando em condições de collaborar na obrada procreação, se unem matrimo- nialmente. De modo algum, julgamos que este nosso ultimo pe- 15 riodo soja a apresentação duma theoria propriamente nossa, não. Ja diversos, no correr dos tempos, têm dito o que acabamos de expôr; e é assim que dentre elles, H. de Balzac, na sua obra que levou o nome de «Physiologia do Matrimonio», num capitulo sobre amôr e casamento, foi muito claro, neste ponto, e disse, depois de fazer lon- gas considerações sobre o assumpto: «0 casamento póde ser considerado como uma lei, como um contracto e como uma ins- íitniçã); lei e’ a reproducção da especie; contracto é a transmissão das propriedades; instituição é uma garantia cujas obrigações interessam a todos os homens: elles tem um pae e uma mãe hão de ter filhos. O casamento deve pois ser objecto de respeito gorai. Ora, si o casamento, considerado como lei, é a repro- duçcão da especie, todo o individuo que, estando em con- dições de reproduzir-se, procura meios para evitar o cumprimento de tal lei, deve ser considerado como um rebelde e ser tratado como tal, sujeitando-se as penas que lhe serão marcadas por um poder competente. Vê-se,depois d’este breve estudo,a necessidade urgente de crearem-se leis que prohibam o uso de meios incon- fessáveis para obstar a fecundação, uso que, no nosso 16 paiz, tão vasto e tão deshabitado, deve ser considerado como um crime de leso-patriotismo. Os nossos accusadores que» reparando na nossa edade e na nossa diminuta experiencia, certamente serão de uma benevolencia illimitada, perguntarão si nós poderemos ga- rantir a existência d’este uso no Brazil. Nós résponderemos que, no momento actual, ó muito limitado este uso, entre nós; mas, si copiamos, quasi fiel- mente, todos os costumes e usos dos paizes superiores, ao nosso, em cultura e em civilisação, chegando ao ponto de, por motivo de taes imitações e de taes arremedos, trazermos a alcunha de simios, é natural que pensemos, quanto antes,em guerrear este uso de obstara fecundação, por meios, geral mente, reprováveis e que só podem acarretar males aos indivíduos que o praticam. Esta pratica é muito seguida nos principies paizes do mundo,principalmente na França que tem, moralmente, uma influencia, poderosa e innegavel, sobre os nossos costumes, por mais simples que elles sejam. Não somos nós,somente, os que asseveram este uso na França e nos principaes paizes europêos; não somos nós, somente, os quo procuram demonstrar os males que podem advir d’esta condemnavel pratica, d’este uso innatural. São os interessados que clamam contra elle, gastando toda a sua energia, todo o seu saber, todo o seu modo 17 intelligoiitc e claro dc convencer e que trazem, ã tona, factos desconhecidos, até então, (actos que confirmam o quanto este uso pode, d’uma hora para outra, concorrer para a falta de relação entre a mortalidade e o numero de nascimentos. Sm os scientistas que vêm, de ha muito, provando o mal enorme que praticam aquclles que, casando-se, ou mesmo celibatários, procuram meios impróprios e anti- naturaes para não gerarem novos seres, que seriam os substitutos d’aquelles que tombassem, porque (è preciso que nós nos convençamos) o povo de um paiz é um grande exercito em acção, onde os claros abertos devem ser immediatamente preenchidos, sob pena de haver um desequilíbrio na sua bôa marcha e nos seus principaes meios do defesa. São as estatísticas, com os seus inexoráveis algaris- mos, que vèem nos provar a diminuição assustadora dos nascimentos, naFrançae em outros paizes, demonstrando, dcst’arte, que o uso do maltíiusianismo tem se propagar, e tende a se alastrar, de um modo assustador. Só podemos acreditar.no malthusianismó, como expli- cação de tal facto, porque, absolutamente, não é crivei que o povo írancez seja um povo esteril, incapaz de pro- duzir. João Chagas, escriptor portuguez muito em voga, tra- tando da despopulação de Portugal, chegou ao ponto em 18 que era necessário referir-se ao francez que, com lapis e papel, «verifica as suas despezas e receitas, sem lhe escapar um só dos seus aperitivos» e escreve: «Depois com o mesmo lapis faz a relação dos encargos do filho que ainda não nasceu e só nascerá se tiver verba no orçamento. Se ha verba para esse segundo filho, o filho vem. Se não ha verba, não vem. Fica na natureza, á espera de vaga, ou á espera do verba.» Vê-se que, se o distincto escriptor, conhecedor do assumpto, escreveu de boa fé estas linhas, onde elle mostra que os portuguozes já iam seguindo o mesmo caminho, puf onde trilham os francezcs e outros povos, evidente se torna tudo quanto dissemos a respeito do assumpto. Numa ironia que resalta em cada linha do seu estudo, este escriptor dá parabéns a Portugal porque elle... civi- lisa-se; porque o povo portuguez, adoptando as leis de Malthus, torna-se digno de hombrear-se com os seus irmãos civilisados. O ardoroso intellectual, porém, diz no final do seu tra- balho: —«Certo não me felicito por semelhante facto. Ao contrario, deploro-o, porque elle é profundamente cruel. Este mallhusianismo, rpau grado nosso, essa philosophia que não ê 19 um principio mas uma necessidade, mostra nos o homem privando-se voluntariamente da felicidade de viver a vida fecunda e receando os dons da natureza, como novos e mais perigosos os males.» E João Chagas não é o único que lembra, repro- vando, o uso dos francezes evitarem filhos, praticarem actos que devem ser reprovados e não acceitos como tem sido, até hoje, de*um modo que demonstra a escassez de sentimento, de parceria com a falta de leis. E’ M. Trombeta que escreveu, na Italia, indignado com a pratica do malthusianismo, e crente de que ella já é adoptada por seus compatriotas: «A este facto se deve o notável decresci- mento da população que a França actual- mente soffre, onde o enervante abuso de ver- gonhosas modas de depravação é como a con- sequência do malthusianismo infrene que alli reina.» Elle reclama, no seu escripto, contra as mulheres que, esquecendo as labutas dq lar e outros tantos deve- res que devem ser acceitos e cumpridos, procuram gosar, quotidianamente, convergindo para os grandes centros de reuniões, correndo às avenidas, âs touradas, aos caíés, aos bailes e aos theatros. Entrenós, o malthusianismo vae sendo conhecido e 20 adoptado. Ninguém ignora que (além de outros factos que poderíamos trazer cm nosso trabalho) o Sr. Abel Pa- rente esterilisou mulheres que, por ura motivo mais ou menos justo, não queriam supportar o peso e os encargos de um ou de alguns filhos. Talvez que o malthusianismo seja um bem para muita gente e [para muitos paizes; para nós, porém, elle será sempre máo, pernicioso, anti - patriótico. Combatamos, portanto, este uso, porque elle deve desapparecer, deve ser completamenle esquecido, aban- donado. * * * De modo algum, poderíamos enumerar os meios usa- dos para^obstar-se a fecundação. Seria impossível tra- zermos, em nosso trabalho, toda esta variedade de pro. cessos, todos os meios seguidos para provar a esterilidade relativa, esterelidade que, na maioria das vezes, torna-se duradoira. De todos estes processos, procuraremos, apenas, men- cionar aquelles que, pela sua viabilidade ou mesmo pela sua simpleza, são adoptados por um grande numero (quasi a totalidade) de malthusianistas. Trazemos, aqui, os processos mais usados o que serão, por nós, combatidos e analysados. 21 Áhi Yão : Primeiro.—O uso de substancias chimicas que, ou sejam absorvidas pelo organismo, ou actuein directamente, atacam os elementos fecundadores, matando-os. Gomo dissemos, as substancias chimicas, empregadas com este intuito, podem agir directa ou indirectamente. Si estas substancias são administradas por via diges- tiva, os seus eífeitos devem ser noscivos a este ou áquelle organismo,porque podem atacar as mucosas do estomago, embaraçando a digestão, e produzindo outros encommo- dos para o lado do systema nervoso. Muitas vezes, estas substancias são administradas a mulheres que estão em principio de gravidez, ainda igno- rada, produzindo, não só abortos, como também muitas moléstias serias o arriscadas. Assim acontece, quando as substancias chimicas agem indirectamente; quando,porém, ellas actuain indirectamente, os prejuízos são, quasi todos, de ordem moral. E não é immoral entregar-se, á mulher, uma substancia chimica ou um preparado pharmaceutico que, chegada uma certa occasião e collocados eiri um certo logar, ella evitará os filhos, provocará a esterilidade?... Julgamos que é immoral e ridículo. A mulher, entro nós, honesta e simples, deverá rece- ber, com horror, os conselhos de um marido que atlenta contra o seu pudor e contra a sua moralidade. 22 Ella nãe poderá, sendo verdadeiramente honesta, es- quecer este momento em que a sua dignidade esteve em perigo eminente. E talvez que este momento marque o principio de desavenças, que serão duradouras !... Por outro lado, si a mulher é de caracter inconstante, receberá este conselho ou esta ordem com um certo prazer e obedecerá, promptamente,porque, sendo o filho inespe- rado, muitas vezes, a prova incontestável da prevarica- ção, ella que não sabia evital-o e que, ate aquello mo- mento, era physicamente honesta, conhecedora de tal pro- cesso, tornar-se-á prevaricadora, aíundar-se á no adultério. O emprego deste meio, portanto, attcnta contra a mo- ralidade dos casaes e protege o adultério. Segundo.—O uso das irrigações da vagina, logo depois do coito, com agua iria ou morna, pura ou addiccionada de um acido qualquer. Este 6 um dos meios mais usados e dos menos peri- gosos. Muitas vezes, porém, concorrem para certas inflam- mações da mucosa vaginal e do collo do utero. Sob o ponto de vista moral, os seus effeitos são idênti- cos aos do processo anterior. Terceiro.—O uso da esponja absorvente. A esponja, collocada nas partes genitaes damulher, tem o grande inconveniente de produzir um attricto no collo 23 do utero, provocando, deste modo, irritações que podem degenerar em enfermidades, mais ou menos serias. Este meio, além da quebra da moralidade, acarreta grandes prejuízos cá mulher, provocando a alteração de algumas das suas funeções, depois de depauperar o seu organismo, naturalmente, nervoso e fraco. E’ processo que, como os outros, não está livre de insuccessos. Quarto.—0 uso da camisa protectora. Sobre este processo Mantegazza diz: « O uso da camisa protectora nenhuma consequência perigosa tem para o homem, afora a diminuição da volúpia; nas mulhe- res, porém, arrasta elle os inconvenientes com- muns a todos os methodos que impeçam o collo do uteyo de ser banhado pelo liquido fecundador. » Ora, si o coito para ser perfeito e natural, é preciso que o collo do utero seja banhado pelo liquido fecunda- dor; liquido que, além de outras propriedades, serve de calmante á hyperexeitabilidade do utero, por occasião da copula, todo o meio, empregado para impedir a sua pas- sagem, deve sor considerado como um meio noscivo e reprovável. E sendo este processo reprovável e noscivo, pelos motivos já mencionados, pode ser, por uma vez, esquecido e abandonado. 24 Quinto.—a) «Abstenção da copula desde o segundo ou terceirô dia anterior ao poriodo menstrual até o oitavo depois delle.» ( Ra- ciborski). b) «O freio moral, a introducção, nos codi- gos, de novas restricções ao casamento, a prolongada amamentação maternal, a escolha para as relações conjugaes, na cpocha intra- menstrual » (Mayer). Este processo, o menos immoral de todos elles, tem seu lado fraco, e torna-se, até certo ponto, de um ridí- culo sem nome. Imaginemos um indivíduo malthusianista, com o seu livro de assentamentos, verdadeiro vade-mecum, onde encontram-se lançados os dias de conjuncções lunares de mistura com o balanço dos seus haveres e das suas dividas e onde elle vae, sempre calculando, acrescentar ou diminuir numeros, riscar á tinta vermelha, com re- ceio de perder a occasião propricia, os dias em que não poderá entreter relações mais intimas, com a sua esposa; indiviíluo que esfrega as mãos, na demonstração de um contentamento illimitado, por ver passado mais um dia deste jejum forçado. Imaginemos todos estes pormenores, e, só deste modo, se evidenciará o quanto de ridículo existe no conselho de Mayer ou no processo de Raciborski. 25 Podem dizer ijue o indivíduo malthusiamsta assim procede, por espirito de economia, mas, o que, absolu- tamente, não podem deixar de acrescentar é que elle torna-se, visivelmente, ridículo e que não tem, por mais economico que seja, a coragem de dizer, em publico, que segue este ou aquelle processo, Elle não coníessa que usa de tal meio, porque tem plena certeza de que será censurado e ridicularisado, caso venham a descobrir os seus processos. Reconhece, então, que tal meio está íóra das raias do natural, e, só, hypo- critamenteo, pderá seguiil-o, poderá adoptal-o. Por outro lado, si a mulher, perdendo um pouco de sua preguiça intellectuãl, racionar, chegando depois a descobrir que o seu esposo só a procura em certos e de- teminados dias, esta sua descoberta póde ser o prologo de um adultério, ou, pelo menos, de uma desharmonia, de uma separação forçada. Este processo, portanto, è condemnavel sob qualquer ponto de vista que o encaremps. E, sendo reproxavel,' porque não o combatem, porque não o abandonam? Sexto.—Onanismo conjugal. E’ abominável esta pratica que consiste em completar o coito in ore vulvce. Indiscutivelmente immoral, ella é causa certa dos can- cros, fibromas (Bergeret e de Artois) e de uma esterili- dade antecipada e incurável (V. Gãsan). 26 Mantegazza diz que esta pratica \ «exige do homem aturada attenção, uma energica derivação nervosa de seus centros na- turaes, com a qual o cerebru e a medulla es- 9 pinhal recebem um abalo noscivo, porque, nesses supremos instantes, pensamento, vonta- de e attenção deveriam acliar-se mergulhados em profundo somno. Sobretudo nos indivíduos excitáveis, ou como dizem, de temperamento nervoso, a retirada pôde, com o tempo, pro- duzir a hypocondria, as mais extranhas ne- croses ou mesmo as mais graves affecções or- + • ganicas da medulla espinhal. E’ este artificio malthusiano o que produz maiores males, não só ao homem, como também á mulher, que póde ser victima de metrites e ulcerações diversas; per- turbações da ovulação, grandes hemonhagias, etc., além de muitos outros soíTrimentos moraos que provocam a completa ruina da moralidade dos casaes. Pelo que escrevemos e pelo que aííirmou o grande mestre italiano, de accordo com outros tantos espíritos affeitos á sciencia, ficou provado o mal que esta pratica póde produzir, pratica que nós classificamos de immoral e de deshumana. Outros processos. A cirurgia póde pfovocar a esterilidade absoluta das 27 mulheres; púde concorrer para o augmento do numero de malthusianistas. Si nós sabemos que o utero póde faltar (observações de P. de Egine, de Viero, Zacuto, Colombus, Theden, Ban- delocque, Richerand, Lamettre, e cento e cincoenta observações de Gourty) e que, ainda, podem faltar as trompas, os ovários, ausências estas que provocam a este- rilidade da mulher, a cirurgia póde etem obstado a fecun- dação; tem protegido, desfarte, o malthusianismo. «• A occlusão posterior da vagina ou a sua abertura pos- terior, no recto ou na bexiga, (casos raros) são causas da esterilidade. Esta occlusão e esta abertura podem ser provocadas, com fins malthusianos. As trompas, por sua vez, podem ser obliteradas, c nestes casos, as mulheres tornam-se estereis. Não temos receios que os nossos malthusianistas sigam estes processos; provoquem a esterilidade, usando de taes meios; procurem obstar a fecundação, sujeitando-sc a operações cirúrgicas, não. Elles que procuram evitar os filhos, de um modo hy- pocrita e sorrateiro, não se a.sujeitarão a operações que, na maioria dos casos, são dolorosas e perigosissimas. Os hypocritas são, quasi sempre, covardes, e não sabem soffrer com resignação e com desapego á vida. Dizem que os raios do Roentgen, incidindo sobre as 28 partes genitaes do homem, provocam a esterilidade. Não podemos afíirmar si este proeesso dá bons resultados e si os nossos malthusianistas usam de tafmeio, nas suas irreverentes e maliciosas praticas. Cortamcnte, os malthusianistas, só em ultimo caso, lançarão mão destes processos, porque elles preferem á esterilidade absoluta, uma esterilidade, mais branda, rela- tiva. Escriptas estas linhas sobre os processos seguidos, com o fim de obct.ar a fecundação, e sobre os males aue delles provem, passemos a estudar os motivos porque elles são acceitos e postos em execução. * * * Não podemos combater, in toium,a theoria de Malthus, porque reconhecemos que ella visa, pelo menos na in- tenção, o interesse e o bem estar da collectividade. Malthus disse que não era contrario ao crescimento da população c desejava mesmo que o seu augmento fosse progressivo; mas, trabalhando pela regularisação dos filhos, só tinha, em mira, diminuir a miséria e as dores moraes dos cônjuges que não tivessem meios de subsis- tência, suíficientes para sustentar a creação e a educação de proles numerosas. Sobre este ponto de vista, não existem duvidas. Não podemos, absolutamente, desconhecer que deve existir 29 uma certa relação, ou mesmo um certo equilíbrio entre o augmento da população e os meios de subsistência» porque, si assim não fosse, teríamos, eníão, a miséria batendo em quasi todos as portas .. pobres, a dôr victi- mando almas... já doloridas. Por varias vezes e, ainda em defesa de sua thooria, Maí- thus procurou demonstrar que, muito ínais ligeiro se dá o augmento da população, quando esta não é prejudicada peias grandes guerras, j> >r epidemias duradoiras, ou, ainda, desfalcadas por emigrações constantes, do que o acréscimo dos meios de subsistência. Vivarr.ente atacado,mas suas idéas, ellc repete e ex- clama que não é inimigo da população e que deseja, apenas, o bem estar e a felicidade dos homens que po- dem ser, depois de felizes, numerosos. Trata, apenas, da questão de limitação da prole, como meio de economia e como meio certo de evitar torturas que,íuturamente,poderiam afíligire anniquilar os homens. E para esclarecer os espíritos daquellcs que olham a sua tluoria, como um linitivo para as suas dôres e misé- rias, eile faz o seguinte comparativo: «Nous pouvous lenir pour certain que, lorsqne que la population n'est arre té par au- cum obstacle, eile vá duublant tous les vinijt cinq aus et cr At de per kule en per iode, selun une progressioa geomeirique. Nous sommes 30 en etat de prononcer, en partant de Vetai actuel de la lerre habitée, que les moyeus de subsistance, dans les circonstctnces favorables á Vindustrie, ne peuveul jamais augmenter plus rapidement que selon une progression arithmetique... La race humaine croitrait comme les nombres i, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 236, tandis que les subsistances croi- traient comme ceux-ci: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8,9. Au bout de deux siécles lapopúlation serail aux moyens de subsistance comme 236 esl á 9.» (Citação de Lacassagne—«Precis d'Hy- giene>)- Não podemos, portanto, odiar ou mesmo zombar de Malthus, que procurou mostrar a sua theoria, sob um aspecto todo scientiíico, demonstrada a necessidade de remediar o mal que provem do excesso da fecundidade, a falta de paridade entre o acréscimo da próle e o dos meios de subsistência. Os preceitos de Malthus são cumpridos, religiosamente, em muitos paizes do mundo. Entre nós, felizmente, ainda ó resumido o numero dos seus admiradores. Ha uma certa relação, existem pontos de contacto entre Malthus, simples mortal, e Christo, descendente do Deus Omnipotente; ambos batalharam, perigrinaratn e soffre- ram pela humanidade. 31 E, si existem pontos de contacto entre os dois socia- listas, ha, também, um certo gráo de relação .entre a religião implantada por um e a theoria aconselhada pelo outro. A religião de Christo, com o correr dos annos, trans-, formou se em religião da Egreja, que é a verdadeira an- tithese da original, humilde e cheia de perdões. O mesmo está acontecendo com a semi-religião de Mal- thus, cujos preceitos são, continuamente, deturpados e mal interpretados. Ello era contrario, somente, ás proles numerosas, e, actualmente, os adeptos da sua theoria não querem ser paes de um só filho, siquer;a sua theoria visava os pobres, os que não podiam sustentar grande numero de descen- dentes, e, hoje, o maior numero de malthusianistas se encontra entre as pessoas remediadas e ricas, cujos meios de subsistência Scão sufficientes para a sustentação de alguns filhos. Malthus não prcconisava meios immoraes e indignos, como os de hôje, com o fim de obstar a fecundação; ello que luctou pelo bem estar da humanidade, não deseja- ria, jamais, a ruina de um paiz, o desmantelamento palpavcl de um povo; do nosso povo. No nosso paiz e no nosso Estado, principalmente no reconcavo e nas localidades qua ficam ao sul, nós vemos pobres casaes que, supportando o peso, arrostam com a 32 responsabilidade de uma prole numerosa, na maioria das vezes, com uma resiginaçao evangelicamente sublime. Elles sentem um orgulho natural e illimitado, quando reparam e reflexionam sobre aquella fecundidade que classificam de bemdita e de consoladora. Trabalham, du- plicam as forças, curvam-se sob o peso de um trabalho rude e fatigante; envelhecem rapidamente, mas, bomdi- zem, sempre, aquella filharada alegre e sadia que será o seu eterno thezouro, a sua eterna alegria. Da simplicidade e da naturalidade de suas praticas amorosas, nascem filhes robustos e sadios, portadores