Faculdade de Medicina da Bahia THE SE APRESENTADA A5 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Em 31 de Outubro de 1908 PARA SER DEFENDIDA POR Boaveníura de Almeida Dias NATURAL DA BAHIA AFIM DE OBTER O GRAU DE DOUTOR EM MEDICINA DISSERTAÇÃO ♦Cadeira de Clinica Cirúrgica Breves considerações sobre a occlusão intestinal PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do Curso de Sciencias Medicas e Cirúrgicas OFFICINAS DA EMPREZA «A BAHIA». BAHIA 27—Praça Castro Alves—27 1908 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Director—Dr. AUGUSTO C. VIANNA Vice-Director—Dr. MANOEL JOSE’ DE ARAÚJO LENTES CATHEDRATICOS OS DRS. MATÉRIAS QUE LECCIONAM l.a SECÇÃO Carneiro de Campos Anatomia descriptiva. Carlos Freitas • Anatomia medico-cirurgica. 2.» Antonio Pacifico Pereira Histologia- Augusto C. Vianna Bactereologia. GuSherme Pereira Rebello .... Anatomia e Physiologia pathologieas. 3. a Manoel José de Araújo Physiologia. José Eduardo F. de Carvalho Filho . Therapeutica. 4. a Luiz Anselmo da Fonseca .... Hygiene. Josino Correia Cotias Medicina legal e Toxicologia. 5. a Braz Hermenegildo do Amaral . . . Pathologia cirúrgica Fortunato Augusto da Silvã Júnior . Operações e apparelhos. Antonio Pacheco Mendes Clinica cirúrgica l.« cadeira. Ignacio Monteiro de Almeida Gouveia Clinica cirúrgica 2.” cadeira. 6. a Aurélio R Vianna Pathologia medica. Alfredo Britto Clinica Propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho . . . Clinica Medica 1.» cadeira Francisco Braulio Pereira .... Clinica Medica 2.a cadeira 7. a A. Victorio de Araújo Falcão . . . Matéria medica, Pharmacologto Arte de Formular José Rodrigues da Costa Dorea . . Historia natural medica. José Olympio de Azevedo .... Chimica Medica. 8, a Deocleciano Ramos Obstetrícia. Climerio Cardoso de Oliveira . . . Clinica obstétrica e gynecologica. 9. a Frederico de Castro Rebello . . . Clinica pediátrica. 10. a Francisco dosSantos Pereira . . . Clinica ophtalmologica. 11.a Alexandre E. de Castro Cerqueira . . Clinica dermatológica e syphiligraphica. 12.a Luiz Pinto de Carvalho Clinica psychiatrica e de moléstias ner- vosas. João E. de Castro Cerqueira Sebastião Cardoso . Em disponibilidade. LENTES SUBSTITUTOS OS DOUTORES José Affonso de Carvalho . . 1.» Pedro da Luz Carrascosa e . . Gonçalo Moniz Sodré de Aragão . ( 2.a J. J. de Calasans . . . 7.» Julio Sérgio Palma • ( J. Ádeodato de Souza .... 8." Pedro Luiz Celestino .... 3.» Alfredo Ferreira de Magalhães . 9.“ Oscar Freire de Carvalho . . 4.» Clodoaldo de Andrade .... 10. Antonino B. dos Anjos . . . . 5.a Albino Leitão 11. João Américo Garcez Froes . . 6.a Mario Leal 12. Secretario-Dr. MENANDRO DOS REIS MEIRELLES Sub-Secretario Dr. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA A Faculdade não approva nem reprova as opiniões exaradas nas theses pelos seus auctorcs OCCLUSÃO niTESmAL Definição—Etiologia I )3á-se o nome de occlusào intestinal ao resultado de uma disposição material de um obstáculo mechanico qualquer, que se oppoe ao livre curso das matérias intes- tinaes. As causas productoras da occlusào intestinal são numerosas e variadas. Para apreciar o seu papel e importância faz-se mistér, classifical-a em uma ordem clara e methodica. Debaixo do ponto de vista etiologico as occlusões intestinaes fôram divididas por Maisonneuve, em: 1. occlusões por compressão ou por causas extrín- secas; 2. occlusões por obturação ou por causas cavitarias; 3. occlusões por estreitamento ou por causas pa- rietaes. Peyrot divide-as em 4 grupos: 1. occlusões por vicios de posição do intestino: 2. por compressão do intestino; 3. por obturação do intestino; 2 4.° por estreitamento do intestino. Cahier, estabeleceu tres grupos: occlusões mecha- nicas, dynamicas e mechano-dynamicas. Das tres classificações abraçamos esta ultima. Cahier considera occlusão mechanica aquella em que existe um obstáculo material; são as occlusões verdadeiras, contra as quaes se torna quasi sempre impotente, a medi- cação interna. As occlusões dynamicas, paraelle são as falsas occlu soes, sem lesão material, e devidas a uma perturbação da innervação do intestino; e são estas que os médicos podem curar. Nas occlusões mechano-dynamicas ha grande obstá- culo material, que, embora só para obliterar o intestino, provoca, entretanto, por sua presença, phenomenos dyna- micos determinando aparada completa. Emquanto os dois primeiros grupos são absoluta- mente racionaes, o terceiro è, ao contrario, facticio e inútil para conservar. E’ justo, com effeito, conservar duas grandes classes de occlusões: as occlusões verdadeiras ou mechanicas na origem das quaes existe uma causa material, apreciável, reconhecivel na abertura do ventre no vivo ou no morto; e as occlusões falsas ou dynamicas, nas quaes, com ou sem parada do conteúdo intestinal, se manifestam os symptomas de uma affecção sine matéria. Ficam então divididas em dois grandes grupos fun- 3 damentaes: occlusões verdadeiras ou mechanicas e occlu- sões falsas ou dynamicas. Cada um desses dois grupos comprehende numerosas variedades, que vamos passar em revista, e expôr tão nitidamente quanto possivel o processo pathogenico, para tirarmos alguns dados therapeuticos. Occlusões verdadeiras ou mechanicas A causa material que caracterisa as occlusões verda- deiras pode localisar-se: l.° para fóra das paredes intes- tinaes; 2.° nas próprias paredes; 3.° no interior do intestino. A causa extra-intestinal pode serconstituida: l.°por um orifício normal ou accidental, no qual uma alça se intromette e se estrangula como nas hérnias; 2.° por uma brida mais ou menos estendida envolvendo o intestino; 3. por adherencias determinando flexões ou curvaduras; 4. por uma viscera ou um tumor visinho agindo por compressão. A ocolusão dependendo do proprio intestino é pro- duzida: 1. por sua torsão (volvulo); 2. por sua invaginação; 3. pelo estreitamento do seu calibre. No interior do intestino,'ra occlusão verdadeira é produzida por corpos estranhos. Comtudo, muitas vezes podemos encontrar no mesmo 4 individuo varias causas de occlusão sendo dependentes ou independentes umas das outras, difficultando desfarte a sua classificação. Foi assim que Philippe (de Liege) observou uma alça adherente ao appendice ileo coecal transformada em volvulo; passando por este annel assim constitui do uma outra estrangulada. Noutra parte è um tumor pediculado produzindo a invaginação, a compressão por um fibroma determinando adherencias, um volvulo complicado de brida diverticular com estreitamento de annel constrictor. Hérnias internas Este genero de occlusão reproduz exactamente o mechanismo do estrangulamento herniario commum. Os orifícios intra-abdominaes, nos quaes se pode reproduzir o estrangulamento, são normaes ou anormaes, naturaes ou pathologicos. Independentemente dos anneis onde se dão as hérnias retroparietaes ou intersticiaes, existem em vários pontos da cavidade abdominal, depressões, fossettas e hiato nos quaes se tem visto o intestino se estrangular. O hiato de Winslow, as fossettas periçecaes, duo- denaes, sigmoides, mais bem conhecidas depois das investigações de Jonnesco, deram logar a esses accidentes em casos aliás muito raros. A sciencia nos prova com centenas de observações authenticas dessas hérnias ditas retroperitoneaes, desco- 5 bertas as mais das vezes ou na operação ou na autopsia, a grande difficuldade, senão impossibilidade para um diagnostico clinico. Os orifícios anormaes ou pathologicos podem se produzir em todas as partes do ventre, sobre as paredes ou nas vísceras que elle contem. São congénitos ou accidentaes. O melhor exemplo das occlusões parietaes de natu- reza congénita, são as hérnias diaphragmatiças. Os estrangulamentos parietaes accidentaes produ- zem-se em saccos herniarios deshabitados ou reduzidos em massa, em anneis profundos persistentes após a kelot-omia ou resultado de curas radicaes incompletas. O epiploon e o mesenterio podem apresentar per- furações em que se intromette o intestino. Nocursodeumalaparatomiaem um rapaz de 13annos, Jeannel encontrou uma alça delgada comprimida por um annel dependente das inserções mesentericas. O distincto cirurgião Bauby, cita o caso de uma mulher, em que a ruptura do utero durante o parto deu passagem ao intestino, perecendo a doente emtres dias. Em todos esses casos de estrangulamentos em anneis internos, o mechanismo da occlusào é exactamente o do estrangulamento herniario commum. O processo em suas manifestações é agudo e rapida- mente grave em suas consequências. Muito frequente é o estrangulamento por bridas. 6 Estas são adherencias resultantes de um processo peritonitico, e se estendem na cavidade abdominal de uma alça a outra ou da parede a um ponto qualquer da serosa. Ha bridas cheias e bridas vasias. As primeiras são tractus conjunctivos, restos de peritonites, appendices eppiploicos progressivamente allongados, e franjas do eppiploon retidas em um annel herniario. As bridas vasias, são constituidas por alguns restos de conductos embryonnarios ou por orgãos normaes allongados ou descollados. Os destroços de vasos omphalomesentericos e os diverticulos de Meckel representam o primeiro genero; a trompa de Fallope e o appendice coecaHo segundo. Os diverticulos de Meckel, constituidos por uma especie de reunião do intestino, juntam-se geralmente ao ileon. Partindo d’este ponto tomam disposições variadas: ora vão fixar-se ao umbigo onde abrem ás vezes um trajecto fistuloso, ora se vão lançar sobre uma alça visi- nha, outras vezes, é na parede que elles se fixam ao eppiploon, a um orgão qualquer; emfim, se pode achal-os livres no ventre. As peritonites agudas ou chronicas, generalisadas ou localisadas, determinam quasi sempre adherencias que ligam as alças entre si ou as fixam mais ou menos larga- mente nas paredes e orgãos de visinhança. 7 E’ sobretudo a peritonite tuberculosa que nos offerece notáveis exemplos; numerosos casos d’esta natureza, acompanhados ou não de phenomenos de obstrucção, foram publicados peio cirurgião Lejars. Todas as causas de irritação local são capazes de produzir as mesmas consequências e observam-se após todas as inflammações abdominaes: enterites, appendi- cites, contusões do abdómen, abcessos perinephriticos e suppurações ganglionarias. Compressões por tumor ou vísceras abdominaes Qualquer tumor abdominal, qualquer orgão ectopiado ou simplesmente augmentado de volume, pode exercer sobre um ponto do intestino, compressão bastante para producção da occlusão. Assim é que podem occasional-a: os fibromas ute- rinos, os kistos do ovário, a prenhez, a retro versão e a retro flexão do utero, abcesso da parede do ventre etc., etc... Em sua these de aggregação de 1886, Magrier mostrou que as prenheses uterinas originaram grandes occlusões intestinaes. O volvulo ou estrangulamento rotatorio de Rochi- tanskyé atorsão de umajalça intestinal em volta de um eixo fixo, formado pelo mesenterio ou pelo mesocolon, podendo o intestino descrever uma ou mais voltas em espiral. 8 0 pediculo mesenterico do S illiaco pode ser muito longoe muito estreito, o que favorece extraordinariamente a producção do volvulo, cuja séde mais frequente é justa- mente o S illiaco. As pessoas que ordinariamente se nutrem de vege- taes são muito sujeitas aos volvidos. Os indi viduos constipados habitualmente são expostos a uma dilatação excessiva do S illiaco e do mesocolon 'correspondente, circumstancia que predispõe ao volvulo. O volvulo nós encontramos em maior numero nos homens do que nas mulheres. Invaginação Segundo a classificação de Cruveilhier, a invagi- nação, chamada ainda intuscepção, consiste na pene- tração de uma parte do tubo digestivo em uma outra parte que se lhe segue, de tal sorte que a primeira porção se invagina na segunda, á maneira de um dedo de luva. A invaginação pode se formar em toda a extensão do intestino, desde o jejuno até a extremidade inferior. A invaginação é mais commum nas c.reanças do que nos velhos. As estatísticas demonstram que a séde mais fre- quente éa região ileo-ccccal, isto porque o cocoum, cuja cavidade normalmente é tão espaçosa, anormalmente dilatada ás vezes, que não pode oppôr a necessária resis- tência á impulsão de uma parte do intestino mais estreita, 9 donde resulta que a valvula de Bauliin céde e dà passa- gem ao ileon. Estreitamento Os estreitamentos do intestino são muitas vezes cicatriciaes, isto é, succedem a alterações da mucosa, sobrevindas durante certas affecções: lebre typhoide, enterites, dysenteria, etc., etc. O estreitamento cicatricial pode resultar das alte- rações consecutivas ao estrangulamento herniario, por esphacelo da invaginação, das lesões traumaticas do intestino. Os estreitamentos orgânicos são produzidos pelos diversos neoplasmas do intestino e em particular pelo epithelioma de cellulas cylindricas, que se pode encontrar em toda a extensão do tubo digestivo e principalmente no grosso intestino. O estreitamento do intestino é mais frequente na mulher do que no homem. Occlusões por corpos extranhos Corpos solidos de diversas naturezas podem parar no intestino e nós os dividiremos em dois grupos: os que vêm do exterior e os que se formam no organismo. A primeira classificação comprehende os corpos extranhos que penetram pela bocca e os que se intro- dusem pelo anus. 10 As substancias refractarias a acção dos sucos di- gestivos são ingeridas por descuido, por falta de masti- gação ou ainda por aberração e essas são em regra geral pevides de fructos e ossos. Na Silesia, a morte por accumulo de caroço de I cereja era frequentemente observada. No somno natural ou chloroformico, peças de pro- these-dentaria podem se desprender e ser engulidas; porém, é muito raro esses objectos irem além do esto- mago, etc. Os corpos extranhos introduzidos pelo anus, muito variaveis de natureza e de volume, podem subir até o S illiaco e resistir a todos os meios de expulsão. Os corpos extranhos formados no organismo são os feixes de vermes intestinaes, os cálculos biliaresj e pedras fecaes. As ascarides lumbricoides, reunidas em forma de um bôlo, têm algumas vezes determinado occlusão aguda a ponto de se pensar em um estrangulamento interno ou em uma invaginação, porque è sobretudo nas crean- ças que isto se observa. Occlusões falsas ou dynamicas Na pathogenia das falsas occlusões, o elemento prin- cipal é representado por uma perturbação da inervação. Nós distinguiremos as por coprostase e as por per- turbações reflexas. 11 A coprostase ou retenção estercoral éa constipação levada a um grau extremo. Observa-se a coprostasia de preferencia nas mulhe- res sedentárias, nos velhos enfraquecidos, nas creanças glutonas, nos indivíduos atacados de hemorroidas, em uma palavra, nos constipados. Occlusões por perturbações reflexas Designamos sob este titulo factos em que apparecem todos os signaes exteriores do estrangulamento interno, sem existir nas vias intestinaes nem obstáculo mecha- nico nem accumulação de matéria. Sympíomatologia II Á occlusão intestinal apresenta-se-nos sob duas variedades clinicas differentes: occlusão aguda e occlusão chronica. Occlusão aguda A occlusão aguda é caracterisada por signaes e sym ptomas sempre os mesmos, taes como': a dôr, a consti- pação, o meteorismo, o vomito, a depressão vital, di- minuição na quantidade de urina e um symptoma de grande valor a apyrexia. A dôr A dor é que dá quasi sempre osignal,e que desde o começo, caracterisa esta cruel affecção, chamado por esta razão cólica de miserere. A dôr é a principio circumscripta ao umbigo, aos flancos ou as fossas illiacas, espalhando-se depois a todo o ventre; não é continua: exacerba-se periodicamente, resultando a exacerbação dos movimentos peristalticos do intestino, que lucta contra o obstáculo. Quando esta dôr desapparece, e os outros symptomas persistem, éo annuncio de gangrena ou perfuração. 14 Examinando com a maxima delicadeza, a regiào abdominal, chega-se â determinar um ponto máximo de dôr, que corresponde muitas á verdadeira séde de lesão. Esta descoberta permitte eliminar todas as affecções espasmódicas independentes do intestino: as cólicas he- páticas, nephriticas, testiculares e uterinas. Constipação A constipação é um signal também de grande valor. A supressão de emissão de matérias e gazes é com- pleta e dura tanto tempo, quanto a occlusão. Esta pode a principio parecer incompleta, dando logar a causa de erros, porquanto o segmento do intestino inferior ao obstáculo encerra feses, que são evacuadas de uma ou mais vezes e acompanhadas de emissão de gases. Ha casos em que a occlusão intestinal é acompa- nhada de diarrhéa, proveniente da transudação sero- mucosa, devida a irritação do segmento inferior do intestino. Meteorismo O meteorismo só se manifesta na occlusão intestinal sempre depois de 24 a 48 horas. O ventre desenvolve-se pouco e pouco, torna-se tympanico, e a parede abdominal ó destendida pelo in- testino cheio de grases. Logo que o meteorismo se manifesta, torna-se a causa de dois outros symptomas: a dyspnéa e os soluços. 15 Vomitos 0 vomito é o symptoma inicial, quando a occlusão % intestinal é produzida pouco tempo depois das refeições, durante a digestão estomacal. Os doentes vomitam tudo o que ingeriram como se tivessem uma indigestão, seguindo-se um período de allivio de algumas horas. Os vomitos a principio são alimentares, depois mucosos, biliosos e, finalmente, íecaloides. Estes têm uma coloração pardacenta, cheiro caracte- ristico, estercoral, e são tanto mais frequentes quanto mais proximo ao estomago estiver o obstáculo. Quando os vomitos são abundantes, o estado geral do doente torna-se cada vez peior; a respiração sempre frequente e fraca, a voz quasi desapparecendo; a sêdc é insaciável e quando quer satisfazel-a sobrevêm novos vomitos e o soluço é quasi continuo. A temperatura desce a 36’, 5, a “35/5 e ás vezes abaixo. O paciente fica com a pelle fria, com suores viscosos; os olhos escavados apresentam-se orlados por um circulo livido; e os lábios e as extremidades ficam cyanosados. O pulso do*paciente é fraco e filifogne. Diminuição na quantidade de urina A quantidade de urina excretada diminue em todos os casos de occlusão intestinal aguda; e os drs. Barlow 16 e Golding Bird affirmaram juntamente com Hilton, que esta diminuição é tanto maior, quanto a occlusão é mais próxima do pyloro. A evolução da occlusao aguda varia: ora os acciden- tes aggravam-se até a morte; ou até que se obtenha uma descarga deflnitivamente. A duração da moléstia é de tres a quatro semanas, mas quasi sempre prolonga-se um, seis ou dez dias; excepcionalmente o doente morre em 24 ou 48 horas. A terminação pela cura ainda se pode dar mesmo depois da manifestação dos vomitos fecaloides. A perfuração e a peritonite aguda durante a evolu- ção da occlusão intestinal, são accidentes rapidamente mortaes. Nas occlusões agudas todos os auctores são de opi- nião que os pacientes conservam as faculdades intelle- ctuaes e os orgãos dos sentidos intactos até o fim; a intelligencia mantém-se e ellcs ficam scientes do seu estado; e quando visitados pelo terror da morte, com effeito o prognostico é dos mais sombrios. Occlusao chronica E’ caracterisada por um inicio geralmente traiçoeiro, lentidão de marcha, ausência de pouca intensidade dos phenomenos geraes. A dôr na occlusão chronica não è constante como na aguda, ella offerece o caracter de cólica, e, quando o 17 intestino delgado é a sua séde, vem muitas vezes um certo tempo depois das refeições. Os vomitos na occlusão chronica são menos vio- lentos do que na forma aguda e têm menos tendencia a tornar-se estercoraes, salvo antes da terminação fatal, quando a occlusão está completa. A constipação é provavelmente o signal o mais im- portante da occlusão chronica, deixando, porém, de ser constante, vezes outras alternando com a diarrhéa, que pode mesmo substituil-a por completo. Na invaginação chronica, segundo as estatisticas de Rafinesque, a diarrhéa é a regra e a constipação a excepção. O tympanismo não é um symptoma precoce na occlusão chronica, porém, pode tornar-se conside- rável no fim da affecção. A occlusão chronica é quasi sempre determinada pelo accumulo de matérias fecaes, por obstrucção, emfim por largas compressões exercidas por tumores, orgãos abdominaes ectopiados* e hypertrophiados. Diagnostico III 0 diagnostico da occlusão intestinal é uma questão das que maiores difficuldades podem apresentar ao clinico. Para encontrarmos os dados necessários para um bom diagnostico devemos fixar-nos nos 6 pontos seguintes: 1. diagnostico da existência da occlusão intestinal; 2. diagnostico de sua natureza; 3. diagnostico de sua variedade; 4. diagnostico de sua séde; 5. diagnostico das lesões locaes; 6. diagnostico do estado geral do paciente. Vamos encarar rapidamente cada um desses ele- mentos. Diagnostico da existência Diversas affecções apresentando os mesmos cara- cteres da occlusão intestinal podem ser confundidos com ella. As hérnias externas devem ser procuradas com cuidado por ser, as mais das vezes, difficil o seu reconhe- cimento, estrangulando rapidamente no seu primeiro apparecimento; é preciso então o medico se informar das perturbações anteriores. 20 A dôr, sobretudo no começo, é localisada em um ponto peripherico e limitado, emquanto que o abdomem em seu conjuncto fica desde muito tempo indolor e muito flexível. Ilernia e occlusão podem existir, dependentes ou independentes uma da outra. Os esforços de vomitos produzidos pelo ileus expõem um herniario a sahida do intestino e ao estrangulamento externo. A dysenteria tem sido confundida com a invaginação; com effeito, nos dois casos, ha diarrhéa sanguinolenta tenesmos e vomitos, porém os antecedentes e a evolução differem; o exame faz reconhecer em um caso o annel in vagi nado, noutro as ulcerações da mucosa. Os envenenamentos também se têm confundido com as occlusoes intestinaes, e nestas condições, basta ás vezes o exame anamnestico para evitar taes enganos. As cólicas saturninas, nephriticas, hepaticas,uterinas» ovarianas e testiculares, quando não arrastam uma per- turbação tão profunda da inervação intestinal, se acom- panham as mais das vezes de symptomas geraes tão graves que se têm acreditado em um estrangulamento interno. Os antecedentes, uma analyse minuciosa dos pheno- menos morbidos, e o tratamento, permittem-nos estabe- lecer a realidade das coisas. ♦ A ausência do augmento de volume do ventre e de 21 vomitos fecaloides, a localisaçào e as irradiações da dôr constituem signaes preciosos deste diagnostico. Nas peritonites generalisadas, os auctores insistiam muito sobre este ponto especial do diagnostico differencial, em que as consequências eram mais graves qual ellas não são actualmente. A peritonite, sempre secundaria succede a um trau- matismo do abdómen com feridas ou lesões internas, á uma operação, a um parto ou a uma affecção visceral infecciosa. A dôr é mais rapidamente generalisada na peritonite que na occlusão intestinal; e mais superficial, impedindo o menor contacto, porém, tanto mais facilmente acalmada pelo opio. A parada das matérias e dos gases é muito relativa, cede geralmente aos meios em uso. O meteorismo é, como a dôr, sem localisaçào precisa, sobe rapidamente e occasiona logo a dyspinéa mechanica. A temperatura é considerada como um signal de primeira ordem. Na occlusão intestinal existe hyppothermia na peri- tonite hyperthernia. Todas as formas de appendicite aguda podem simular a occlusão intestinal. As crises appendiculares das creanças fazem pensar em uma invaginação. A appendicite perfurante com peritonites super-aguda 22 é sobretudo considerada por Jalaguier como difficil de distinguir da occlusào intestinal. Diagnostico da natureza A occlusào intestinal é de natureza mechanica ou dynamica. A constipação chronica, a passagem dos gases o reconhecimento facil da massa fecal, não permittem engano, bastando collocar o dedo. A falsa occlusão reflexa, ao contrario, é as mais das vezes difficillima de distinguir da verdadeira. Ileus espasmódicos e mesmo paralytico simulam as mais das vezes até o engano o estrangulamento interno. A literatura medica fornece muitos exemplos de erros notorios e caso de morte em que a autopsia não revelou nenhuma causa mechanica; Verneail, Berger, Reclus e muitos outros têm citado. Diagnostico da variedade Uma distincção deve ser feita entre o ileus por- estrangulamento e os outros generos. Este grupo dos estrangulamentos internos compre- hende todos os factos, nos quaes a parede intestinal sendo submettida a uma constricção violenta, é por conseguinte exposta ao esphacelo rápido. As hérnias internas, as bridas, o volvulo entram nesta categoria. O estrangulamento interno caracterisa-se pela 23 intensidade especial e a gravidade precoce do quadro clinico; é o typa fatal da occlusão intestinal. Cólicas atrozes, vomitos incoercíveis e fecaloides, parada absoluta das matérias, abatimento, agonia, terror da morte manifestam-se em toda a sua agudeza e sua precipitação terríveis. O ponto máximo da dôr é muito claro no começo para o doente que accusa as vezes a sensação especial de estrictura; porém se não acha nenhum tumor pela pal- pação. O derramamento intra-peritonéal é um elemento importante deste diagnostico. Quando a porção do intestino, isolada pelo estran- gulamento, é muito considerável, ella se dilata em taes proporções que se reconhece sob as paredes com a vista e ao palpar ; é o signal de Wahl quasi pathognomonico do volvulo. A invaginação é a variedade que deixa menos logar para duvida; ella tem symptomas muito authenticos e certos mesmo pathognomonicos. Assim, por exemplo, na creança é o mechanismo habitual da occlusão aguda, a presença de um tumor molle, cylindrico e movei, com um annel doloroso á pressão, e ao nivel do qual se sentem movimentos vermi- culares; encontra-se algumas vezes pelo toque rectal; e a expulsão pelo anus de humores viscosos sanguinolentos. Emfim, o augmento do ventre menos pronunciado, 24 mais tardio; os vomitos ora biliosos e raramente feca- loides. Tudo isso deve logo fazer pensar na intussuscepção. Os estreitamentos do intestino, quando cicatriciaes e organicas, não occasionam occlusão intestinal grave senão em seguida de uma serie de perturbações anteriores. Os cálculos biliares podem ser reconhecidos conforme as crises anteriores de cólicas hepaticas e os symptomas de cholicystite que têm destinado a passagem directa do calculo da vesícula no intestino delgado em uma epoca mais ou menos approximada da do ileús. Taes antecedentes em uma mulher, velha, têm um valor significativo. Mesmo quando são volumosos os cálculos biliares, não fazem occlusão intestinal completa desde sua chegada no intestino; caminhando, provocam accessos dolorosos intermittentes e crises preparatórias; emfim, o quadro clinico é menos grave que o do estrangulamento. Diagnostico da séde A intervenção cirúrgica seria mais restricta, mais rapida e menos dolorosa se podessemos ir directamente á séde do obstáculo. Para que este diagnostico fôsse completo, deveria precisar a principio o lado do ventre em que se acha a causa material da occlusão; em seguida o ponto suspeito na longitude do intestino. 25 E’ o gue se designa sob os termos de: séde topogra- phica e séde anatómica. Na.occlusão intestinal aguda, a parte affectada é ordi- nariamente o intestino delgado, e na occlusão intestinal chronica, o grosso intestino. Quando sobrevêm desde o começo vomitos fecaloides, a occlusão tem como séde a parte inferior do intestino delgado; pois que, este symptoma não se observa quando a occlusão tem como séde a parte superior do intestino delgado, e de outra parte na occlusão do colon, ella se mostra em uma epoca relativamante tardia. O diagnostico da séde topographica, mais importante talvez que o outro, é tanto mais possivel, quanto mais cedo examinados os doentes. Faz-se sobretudo pelo exame local superficial sobre o ponto máximo das dôres, das contracções e do meteo- rismo, sobre o signal de Wahl, sobre a presença de um tumor na massa intestinal. Lembramos entretanto que as impressões dolorosas subjectivas devem ser verificadas com cuidado, porque, muitas vezes o paciente localisa soffrimentos que vêm da fossa illiaca. O diagnostico da séde anatómica tira-se do exame directo do paciente, e, da interpretação dos symptomas funccionaes. Diagnostico das lesões locaes Em geral a extensão e a profundeza das lesões estão em relação com a agudeza da doença e sua duração. 26 O diagnostico da variedade da occlusão intestinal importa até certo ponto no da marcha do processo; assim é preciso se attender a achar o esphacelo produzido muito mais cêdo sobre uma alça estrangulada ou invaginada que sobre um intestino apertado ou simplesmente com- primido. Diagnostico do estado geral Antes de fazermos uma abertura do ventre em um doente que tenha uma occlusão intestinal, convém veri- ficar se o paciente é capaz ou não de resistir ao trauma- tismo cirúrgico. Quaes são os signaes pelos quaes se pode reconhecer que o estado geral é ainda supportavel ou que é mau; que o doente é operavel ou não? Esta questão não é sempre facil de resolver; exem- plos numerosos mostram que indivíduos operados in extremis, curam-se contra toda esperança, emquanto outros, sob bôas apparencias, morrem ao menor choque. Em todo caso, um doente que se vê, desde o segundo dia, bem consciente de seu estado, com um pulso conve- niente e uma temperatura pouco mais ou menos normal, respirando sem muito martyrio, capaz de qualquer esforço, tendo urinas muito abundantes e sem albumina, um tal doente ó evidentemente operavel. Um outro, ao contrario, que tem estertores em seu leito quasi frio, com um coração sem energia e um pulso miserável, este está perdido. 27 Nesses dois indivíduos nós podemos fazer a apre- ciação do estado geral que é tanto mais delicado quanto os phenomenos reflexos e infecciosos podem alterar a significação dos symptomas proprios de cada grande apparelho. Prognostico IV 0 prognostico da occlusão intestinal é quasi sempre o mais sombrio e fatal na grande maioria dos casos clínicos que se nos deparam. Uma das causas que concorrem para um mau pro- gnostico é justamente a aggravação dos symptomas. A occlusão por matérias estercoraes é a variedade unica em que o prognostico é benigno, porque cede mui facilmente aos meios empregados; as outras varie- dades, a invaginação, o volvulo e sobretudo o estran- gulamento devem ser innegavelmente consideradas como muito graves e excepcionalmente deixam de ser fataes. Tratamento V 0 tratamento da occlusão intestinal, é justamente o ponto mais importante para um bom prognostico, por- quanto a morte de grande numero de doentes, delia affectados é devida ao prolongamento inefficaz do trata- mento medico e consequentemente ao retardamento da intervenção cirúrgica. Antes dos progressos da sciencia e das investigações criteriosas dos médicos, a occlusão intestinal era do dominio medico; porém em 1885, no Congresso de Cirurgia da Sociedade Allemã, um orador declarou com a voz vibrante de sabio que a occlusão intestinal é uma doença cirúrgica e deve ser soccorrida pelos serviços da Cirurgia, pois que o retardamento medico é a causa dos desastres tão frequentes. Em 1892 no Congresso de Cirurgia, Boiffin disse que todos os médicos devem acceitar esta ideia. Uma vez diagnosticada a occlusão intestinal é dever do clinico consciente dos seus deveres, empregar imme- diatamente os meios que a sciencia aconselha para con- jural-a, lembrando-se sempre no intimo de soa alma de que cada minuto perdido representa mais «m passo dado para o desapparecimento da vida. x 32 O tratamento medico deverá ser tentado nas primeiras manifestações de uma occlusão intestinal, principalmente na chronica, onde se contam os mais bellos successos e até no momento em que o obstáculo para inteira e defini- tivamente as matérias. Convém não tornar long'0 o tratamento medico para não cahir em serias consequências. O tratamento medico consiste no emprego dos purga- tivos repetidos, com o fim de produsir uma evacuação extraordinária; nas applicações de gêlo com o fim de parar os phenomenos inflammatorios; nos opiáceos com o fim de acalmar as dôres e repousar o intestino. Dos differentes processos de tratamento medico empregados para combater a occlusão intestinal, so- mente dois devem ser tentados antes do tratamento cirúrgico e desde que o diagnostico esteja feito: a enteroclyse em primeiro logar e os clysteres electricos, logo após, se a primeira falhar. Se o medico deante de um paciente que seja portador de uma occlusão intestinal applicar a enteroclyse ou os clysteres electricos e não obtiver resultados satisfactorios, deve immediatamente recorrer á Cirurgia. Não devemos tentar o tratamento medico nas occlu- sões completas porque somente o cirúrgico dará bons resultados. 33 Enteroclyse A enteroclyse consiste em injectar pelo recto, o mais alto possível, sob uma pressão não muito forte, uma quantidade de liquido aseptico e quente, cuja quantidade varia, porém que é em geral superior a 3 litros. Nunca se deve fazer uma injecção com muita força e precipitação porque quem assim proceder arriscar-se-á a romper o intestino do doente, além de ir produzir uma grande irritação das paredes dessa viscera, o que deve ser a todo transe evitado. A enteroclyse deve sei' feita lenta e progressivamente para não ser offensiva. Para que se obtenha bom resultado é necessário que o liquido injectado o seja em grande quantidade e que penetre bem alto no tubo intestinal; estas duas condições só se poderão obter mediante a injecção lenta e progressiva. Para realisarmos a enteroclyse, devemos collocar o doente na posição de talha, porém com o corpo um pouco inclinado para o lado direito. Além de um irrigador é indispensável uma sonda esophagiana para o caso da occlusão em adulto; sendo uma creança o paciente, é bastante uma sonda urethral n. *25. A natureza do liquido a injectar é indifíerente; condi- ção essencial, porém, é que não seja irritante; a agua fer- vida na temperatura de 37° a 38°, é o melhor, principal- mente se lhefôr addicionada uma certa quantidade deoleo. 34 A sonda deve ser levada ornais alto possível, a prin- cipio com o auxilio do indicador esquerdo introduzido no recto, como guia, e depois, lentamente, como se procede na urethra,' sem forçar. Introduzida a sonda, adapta-se a sua extremidade externa ao pipò do irrigador e levanta-se este a 30 ou 40 centímetros do plano horisontal do doente augmentando a pressão pouco a pouco até a altura maxima de 80 centí- metros, se o doente supportar bem a injecção. A quantidade injectada varia: pode exceder a dois litros na creança, a seis litros no adulto, mas não pode ser precisada de antemão. Terminada a injecção, retira-se rapidamente a sonda e o doente fica deitado e immovel. A expulsão do liquido é mais ou menos rapida e acompanhada de cólicas. Se a lavagem der resultado, á expulsão dos líquidos, junta-se emissão de gases e matérias fecaes endurecidas; a descarga não é immediata, só se faz no fim de algumas horas. Nos casos negativos o liquido sae claro, ou quando muito, turvado pela lavagem da porção inferior do intestino. E’, sobretudo, nos casos de obstrucção por matérias fecaes que a enteroclyse pode dar resultado, e também nas phases recentes da invaginação, sobretudo na creança. O emprego daelectricidade no tratamento da occlusão intestinal, se bem que seja moderno, é pouco empregado no nosso meio scientifico. 35 A sua applicação não é tão facil quanto a da enteró- clyse, depende, além disso, de um instrumental apropriado, segundo a descripção do cirurgião Lejars. As correntes galvanicas são preferidas por Boudet, ás faradicas, porque estas não têm influencia sobre as fibras lisas, ao passo que as outras, por excitação prolongada, as impressiona, e portanto pode actuar sobre o intestino. Diz o distincto cirurgião Lejars:—«Se não tiverdes uma bôa machina de correntes continuas, não percae tempo com as pequenas machinas faradicas, porque nada obtereis, salvo nos casos de obstrucção estercoral benigna, e como complemento a enteroclyse. O que compromette as mais das vezes o tratamento electrico, o que pode fazer desconhecer o real valor e efficacia, é justamente o mão emprego que delle se faz, generalisando-o de mais e prolongando muito as suas applicações. Este methodo electrico é excedente, nas obstrucçoes e nas pseudos-occlusões, sobretudo quando a technica é perfeita. Os cirurgiões Boudet e Lorat têm obtido optimos resultados nas suas clinicas, com o emprego do tratamento electrico. E’ indispensável uma bôa machina para se fazer applicação da electricidade, com uma bateria de correntes continuas de typo variavel, porém capaz de dar 50 mil li am- peres e que esteja funccionando bem. 36 Ligam-se os dois fios conductores, um á uma larga placa metallica, coberta de camurça e embebida em agua salgada, e o outro ao exoitador rectal, que se compòe de uma somla de comina perfurada nas extremidades, e de um mandarim metallico central também perfurado; este é apparelhado com o íio e constitue o electrodo; a sonda é posta em communicação, por uma tubuladura lateral, com um tubo de cnutchace um injectador. Collocado o doente em posição de talha, introduz-se no recto o excitador procurando fazer penetrar tão alto quanto possível fôr. Feito isto liga-se o excitador ao pólo positivo da pilha. Molha-se bastante a placa metallica, liga-se ao pólo negativo e applica-se sobre o ventre, ao nivel do flanco esquerdo, por exemplo, tendo o cuidado de mudal-a de logardeS em 5 minutos, fazendo-a passar successivamente sobre as fossas illiacas, flanco direito e região umbillical. O circuito está fechado, porém a corrente é muito fraca porque o graduador está ainda a zero. Antes de fazel-o funccionar, abre-se a torneira do irrigador, que deve conter agua salgada quente. Devemos fazer a injecção da agua, lentamente. Injecta-se meio litro e, emquanto o intestino tolerar, deixa-se aberta a torneira. Esta agua salgada protege a mucosa intestinal, isolando-a do contacto directo do electrodo, ao mesmo tempo diffunde a acção electrica e torna uma especie de largo electrodo liquido. 37 Vae-se então augmentando progressivamente a inten- sidade da corrente, que varia de 10 a 50 milliamperes. Nos casos de occlusão intestinal incompleta é bastante uma duração de dez minutos para que se obtenha o resultado desejado. Nos casos graves é necessário que se inverta a corrente de 5 em 5 minutos. A proporção que nós prolongarmos a applicação electrica, a vontade de defecar augmenta consideravel- mente. Notamos muitas vezes nos indivíduos emmagrecidos as contracções dos intestinos atravez ás paredes abdo- minaes. Quando o doente não supportar mais o desejo de defecar, retiraremos a sonda, e nesta occasião ou ha uma grande descarga, ou ha pequena emissão de gazes e fezes, ou ainda a agua introduzida no recto sahe acompanhada ou não de gazes. Não deveis esperar pela descarga immediata, diz Lejars; fazei uma applicação durante um quarto de hora; se o doente não se fatigar, se houver emissão de gazes e de algumas matérias, parae, a causa está ganha: o resultado se completará por si só, ou com o auxilio de alguns meios communs. Terminamos em rápidos traços o tratamento electrico e não podemos entretanto deixar de patentear o nosso reconhecimento pela superioridade do processo, que 38 devemos pôr em pratica, todas as vezes em que o estado geral permittir esperar algum tempo. Entretanto, em caso contrario, quando reconhecermos que o doente exige uma intervenção de urgência daremos preferencia ao tratamento cirúrgico cuja technica passa- remos a descrever. Das intervenções cirúrgicas nos casos de occlusão intestinal, occupar-nos-hemos de preferencia, em primeiro logar, da enterostomia e em seguida da laparatomia. Enterostomia A enterostomia é essencialmente destinada a crear uma derivação temporária á circulação das fezes. A enterostomia para ser uma verdadeira operação de urgência e para realização de seu fim, deve ser facili- tada e simplificada o máximo possivel. Bauby divide a entorostomia em temporária e defini- tiva. Na enterostomia temporária a operação faz-se em 4 tempos: Primeiro tempo—Incisão das paredes abdominaes, a tres centímetros acima da arcada crural e a partir de seu centro, a incisão eutanea rectilinea se dirige paralle- lamente a arcada, subindo pela espinha iliaca antero superior, sobre uma longitude de 8 centimetros. Depois de ter dividido a pelle e o tecido cellular de uma extremidade a outra, incisa-se a aponevrose do grande obliquo, pequeno obliquo, transverso e o faseia 39 diminuindo de extensão, de maneira que o fundo não tenha mais que 4 a 5 centímetros; ahre-se então o peri- toneo com muito cuidado e fixando-se seus bordos com pinças. Segundo tempo—Attracção do intestino. Quasi sempre uma alça dilatada se apresenta na abertura; Tillaux, como Nelaton, não quer que se procure uma outra, portanto, se é segura a sua asepsia, pode-se bem introduzir o index e explorar rapidamente em todas as direcções para se dar indícios da séde ou da natureza do obstáculo, ou sobre o estado das alças visinhas. Quando se opera do lado esquerdo, é necessário pro- curar o colon, se elle não se apresenta primeiro, e quando é a direita que se tem de abrir o intestino delgado em um ponto qualquer, é conveniente saber se o coecum está dilatado, pois que éa elle que se indusiria. Em todos os casos, se fixa docemente a alça ao abrir com os dedos ou com pinças que não cortem, porém, sem tiral-a muito para fora. Terceiro tempo—Fixação do intestino nos lábios da ferida. Sutura-se dos dois lados a parede visceral do peri- toneo parietal por meio de uma agulha curva muito fina, com sêda ou catgut, e a sutura em surget ou em pontos approximados. Quarto fempo—Abertura do intestino. Sepodesse ser retardada seria preferível, porém, na 40 occlusão intestinal aguda não convém esperar porque o perigo é muito urgente. Incisa-se então, immediatamente, a parede entre as duas ordens de sutura, seja com thermocauterio, seja com thesouras. Quenu, Lejars, Feliset, aconselham fazer uma pe- quena abertura, uma especie de fistula comportando apenas o dédo mini mo. Quando é aberto em bom logar, o anus iliaco fun- cciona as mais das vezes, logo em seguida; ondas de liquido, gases abundantes escapam-se para fóra, dahi resultando um allivio rápido. Nem sempre isto acontece; é necessário então saber esperar algumas horas, e se o descoalho súbito não chega pode-se provocal-o pela introducção de longas sondas molles nas duas direcções. Eis aqui ligeiramente descripta a enterostomia tem- porária, operação facil e sem perigo e que pode ser feita em 20 minutos. Enierostomia definitiva Esta operação differe da precedente somente porque ella procura crear uma via de derivação completa e para impedir a passagem das matérias pela extremidade inferior. Para isto em logar de deixar o intestino no ventre, é preciso trazel-o para fóra, dobral-o em forma de cano de 41 espingarda, de maneira a formar um angulo ou espora de separação. Seguindo a technica de Maydl e aperfeiçoada pelo professor Reclus, basta trazer docemente a alça esco- lhida até que seu proprio mesenterio, conduzido para o exterior possa ser preso entre dois dedos; através deste mesenterio se passa urna haste rigida que cruza os lábios da ferida e se sustenta nas partes visinhas; desde logo o intestino fica suspenso na haste. A principio, seria preciso esperar a união natural das serosas e abrir o intestino somente no quarto dia, porém, nem sempre se pode retardar assim é preciso então collo.car as suturas e abrir o anus no mesmo dia ou no dia seguinte. Audry imaginou substituir a haste rigida por um ponto da pelle desenhada 11a primeira incisão e que atravessando 0 mesenterio fosse suturado do lado opposto. Laparotomia Neste capitulo não nos cabe a discripção minuciosa dessa operação, porquanto apenas desejamos citar ligei- ramente 0 seu valor e resultados 11a occlusão intestinal. O dever máximo que temos é indicar qual a nossa conducta a seguir, uma vez que tivermos praticada a aber- tura do ventre e determinarmos 0 ponto em que essa abertura se deve fazer. Todas as vezes que tivermos necessidade de intervir 42 era um doente accommettido de occlusão intestinal somos de opinião que devemos fazer a laparotomia para me- diana, seja qual for a séde provável do obstáculo. A lavagem do estomago é uma precaução excellente, e indispensável, quando os vomitos são abundantes e já fecaloides, porque pode acontecer que o nosso doente succumba pela penetração do producto do vomito nas vias respiratórias. Uma vez aberto o peritoneo, cumpre ao cirurgião procurar em primeiro logar o obstáculo e restabelecer depois a permeabilidade do canal intestinal. Muitas vezes pode acontecer, que quando se abra o peritoneo o obstáculo appareça immediatamente no campo operatorio, o que se torna melhor para o cirurgião. No caso contrario, procederemos com a maxima attenção a exploração methodica de toda massa intes- tinal, começando por procurar o coecum, que o cirurgião deve ver e não sentir apenas. Se notarmos o coecum vasio, achatado é signal de que o obstáculo está acima delle, no intestino delgado; se estiver cheio, distendido, dever-se-á examinar o Silliaco e a parte intermediária do grosso intestino. Todas estas explorações nós somente poderemos executal-as com bom resultado, nos casos em que haja pouca distensão do intestino, é a razão pela qual deve- mos sempre recorrer ao esvasiamento progressivo do ventre e exame do intestino á proporção que vae sendo 43 retirado, ou então recorrermos a evisceração total para depois de retirada toda a massa intestinal, procurar então examinal-a. Uma vez que tivermos descoberto a séde da occlusão é de nosso dever tornar a collocar dentro da cavidade peritoneal todo o intestino, menos a parte em que se acha assestada a lesão. Esta manobra é muitas vezes a maior diíficuldade, justamente pelo augmento da massa abdominal, a ponto de tornar-se pecessario fazer uma incisão no intestino, fazer uma enterostomia de descarga que só devemos pra- ticar quando o intestino estiver muito distendido, impe- dindo assim a pesquisa do obstáculo. Todas as occasiões em que tivermos a felicidade de encontrar a causa que está determinando a occlusão, é intuitivo que procedamos a sua eliminação, para nestas condições podermos restabelecer a permeabilidade do intestino. Variadas são as causas da occlusão e assim claro está que diversa será a conducta do operador, conforme a natureza delias. 4 A occlusão intestinal quando fôr determinada por uma invaginação já adherente e que resista a todas as tentativas, deve-se procurar recurso na resecção da extre- midade invaginada e 110 affrontamento das extremidades intestinaes por suturas de Lembert. A occlusão intestinal quando fôr determinada por 44 uma brida, é dever do cirurgião seccional-a e devendo muitas vezes por cautela excisal-a. Ha occasiões em que encontramos muitas bridas, e por isso é mister examinar toda a massa intestinal com multa attenção. Nos casos de hérnias intestinas o papel do cirur- gião será o mesmo que se estiver deante de hérnias externas. Quando nos parecer que estamos deante de um vol- vulo devemos examinar com bastante precisão para que não confundamos com as torsões do grosso intestino. Nas torsões a sua reducção tem fornecido bom nu- mero de successos; o volvulo, ao contrario, offerece grandes difficuldades e as vezes invencíveis; é a varie- dade de occlusão intestinal que tem dado resultados operatorios os mais lastimáveis. Um volvulo do intestino delgado é muito raro que elle se desenrole simplesmente; quasi sempre sua com- plexidade necessita intervenções directas mais ou menos perigosas. No volvulo nós devemos é dar-lhe uma incisão, de- terminando o evacuamento e depois disto feito suturarmos e é isto o que constitue as vezes uma precaução prelimi- nar indispensável. No estreitamento do intestino, quando é possível, faz-se a extirpação da alça estreitada; quando, porém, se encontra a parte cancerada, faz-se a enterostomia. 45 Boiffin diz que ás vezes se pode dilatar o estreita- mento com o dedo, seja atravez da parede sem abrir o intestino, seja, como Loreta fez no pyloro, directamente por uma pequena boutonniére. Os estreitamentos cicatriciaes ou congénitos pode- riam ser tratados por autoplastia; Heinecke e Mickulisiz fizeram a pyloroplastia, em 1885; Pean, em 1890, empre- gou o mesmo methodo na região ileo-coecal; Chaput des- creve este processo no seu livro de technica, porém, diz que só é applicavel aos estreitamentos não cancerosos de pequena extensão. Quando encontramos occlusão intestinal por obstru- cção, procura-se a séde do obstáculo, retira-se do ventre a parte do intestino em que ella se localisa e busca se fazer com que o obstáculo sigam curso natural das féses. Caso não seja possível isto praticar, abre-se então ô intestino na parte onde estiver o obstáculo, que é então retirado e logo depois faz-se a suturado intestino de con- formidade com o seu estado. t Em um caso de neoplasma do intestino, faz-se a ablação delle, e a entero anastomose, ou o anus anormal. Muitas vezes o cirurgião abre o ventre de um doente, examina o intestino e nada encontra; são estes os casos de pseudo occlusoes. Na grande maioria dos casos o cirurgião não sabe o que vai encontrar, e nestas condições deve estar com o espirito preparado para todas as eventualidades da vida. PEOFOSIÇÕES 49 H isto ria Natural Meei i ca V I A raiz absorve incessantemente e por todos os seus pontos oxigénio no sólo. II Um vegetal cuja raiz estiver mergulhada no azoto ou no hydrogenio, mesmo quando sua haste e suas folhas estiverem em presença do ar, perece em alguns dias. III A raiz é incapaz de absorver no sólo acido carbonico que ahi se acha, seja no estado gasoso, seja no estado de dissolução. Chimica Medica I O acido sulphydrico existe livre nos gases intestinaes. II E’ um corpo normalmente gasoso, sem côr e dotado de cheiro fétido. III Reage fracamente sobre a tinctura de turnesol, que se torna apenas de um vermelho côr de vinho. Histologia I O revestimento epithelial do intestino delgado é formado por um epithelio simples que apresenta tres variedades de cellulas: cylindricas, caliciformes e emi- gradoras. 50 11 As cellulas cylindricas têm a fórma de pyramide cuja base corresponde a cavidade do intestino e o vertice i ao derma da mucosa intestinal. III As cellulas caliciformes do intestino differem pouco das cellulas do revestimento da mucosa gastrica; e as cellulas emigradoras occupam os espaços intercellulares entre os pés das cellulas cylindricas e das caliciformes. Physiologia I A funcção da digestão tem por fim dissolver os alimentos e transformal-os em substancias absorvíveis e assimiláveis. II E7 no intestino delgado que se passam os phenomenos os mais importantes da digestão. * III Os alimentos albuminoides, os hydratos de carbono e as gorduras são completamente digeridos no intestino delgado, sob a influencia do sueco pancreatico, da bilis e do sueco enterico. Bacteriologia I O colibacillo se acha normalmente no tubo digestivo do homem e de muitos animaes, desde a bocca até o anus. 51 Ií No organismo que estiver em estado norma], este bacillo gosa o papel de saprophyta. III Desde porém que o intestino soffra, elle elabora uma toxina que não sendo mais destruída pela actividade do epithelio intestinal, é reabsorvida e produz accidentes graves. Anatomia Descrfptiva * I O intestino delgado se estende do pyloro até a valvula ileocoecal. II Apresenta um desenvolvimento tanto mais consi- derável, quanto a alimentação é mais vegetal. III No homem sua longitude éde6a 8 metros; seu diâme- tro, indo de cima para baixo é de 20 a 30 míllimetros. Anatomia Pathologica I Os fibromas são tumores exclusivamente compostos de tecido fibroso, e representam a neoplasia conjunctiva no seu estado de desenvolvimento o mais completo. II Assignalam-se no intéstino fibromas desenvolvidos na superfície da mucosa, revestindo os caracteres de papillomas na porção das ulcerações do anus e do recto. 52 III As formações neoplasicas do intestino na sua parte inferior sào: hemorroidas, adenomas polyposas do recto e o cancro. Anatomia Medico-Cirurgica I O peritoneo é uma vasta membrana serosa, a mais extensa e também a mais importante do corpo humano. II Apresenta um folhêto parietal em relação com a parede abdominal, e, um folhêto visceral que cobre as visceras. III Entre os dois folhetos, se acha a cavida peritonial. Pathologia Medica I Em Pathologia Medica, estuda-se com muito cuidado as affecções que se assestam para o lado do apparelho gastro intestinal, de preferencia os intestinos. II Destas lesões a maior parte occupa o intestino del- gado: enterorragia, enterite aguda ou chronica, gangrena, perfuração ou ruptura enteralgica, cólica nervosa, cancro, dyspepsia intestinal e muitas outras. III Por ahi se deve antever as serias difficuldades que 53 muitas (Testas doenças offerecem ao diagnostico, espe- cialmente se ellas vêm acompanhadas de complicações. Pathologia Externa I Uma das lesões intestinaes que maior gravidade trazem para o doente e pela tendencia a progredir quasi sempre, é sem duvida alguma a appendicite. II As lesões que se encontram na appendicite são variaveis e sombrias: infiltração, inflainmatoria, suppu- ração, gangrena, podendo dar ainda logar a peritonite e morte. III O unico tratamento racional para esta moléstia é segundo Dieulafoy o tratamento cirúrgico. Operações e Apparelhos I A coecectomia é a extirpação parcial ou total do coecum. II A sua indicação é muito commum nos casos de cancro, porém o cancro limitado. III Algumas vezes também tem se aconselhado nos casos de invaginação ileo-coecal e nos casos de tuberculose intestinal. 54 Therapeutica I 0 mercúrio é bem tolerado, e pode-se tomar durante muito tempo em fraca dóse. . II Algumas vezes, produz diarrhéa, e neste caso asso- cia-se-lhe o opio. III O mercúrio já foi muito empregado nos casos de volvulo. Matéria Medica, Pharmacologia e Arte de Formular I Para bem formular, tem o medico necessidade de conhecer as incompatibilidades dos medicamentos. II As incompatibilidades podem ser chimicas, pharma- cologicas e physiologicas. III As mais perigosas para o doente são, em geral, as incompatibilidades chimicas. Propedêutica I A palpação consiste na applicação da mão combi- nada em movimentos de pressão superficial e profunda exercidos lenta e gradualmente. 55 II 0 toque é uma variedade da palpação. III 0 toque rectal tem uma importância considerável no diagnostico dos estreitamentos e dos tumores do grosso intestino. Clinica Medica (l.acadeira) I Os indivíduos que têm occlusão intestinal soffrem sempre alterações renaes. II A diminuição da quantidade de urina é frequente- mente observada desde o começo da moléstia. III Muitas vezes tem se observado até a anuria completa. Clinica Medica (2.a cadeira) I A coprostase é a constipação levada a um grau extremo. II A obstrucção por coprostase nem sempre é benigna. III Pode mesmo excepcionalmente produzir a morte. Clinica Cirúrgica (l.a cadeira) I Na maioria dos casos de occlusão intestinal em que 56 o doente operado morre, é sempre attribuido ou ao choque, ou então á peritonite. II O choque é tanto maior quanto mais deprimido estiver o doente, e as manobras cirúrgicas forem mais longas. III Quanto a peritonite, ella resulta da extensão das lesões intestinaes e das complicações operatórias que ellas arrastam. Clinica Cirúrgica (2.a cadeira) I A laparotomia é a abertura da cavidade abdominal. II Antigamente era considerada como uma operação perigosissima; hoje, porém, com os progressos da scien- cia está provado o contrario. III A laparotomia é um dos tempos da intervenção na occlusão intestinal. Obstetrícia T No trabalho do parto, podem dar-se embaraços de grande monta, que perturbam consideravelmente a sua marcha normal. II Entre estes embaraços encontram-se uns, que tra- 57 zem serias consequências para a parturiente, se cuidados energicos e efficazes não lhe forem ministrados. III São principalmente as hérnias vaginal e perineal, constituídas pela penetração no fundo de sacco vesico e recto-vaginaes, do intestino e do epiploon, hérnias que se podem inflammar e até se estrangular. Clinica Oi)stétrica e Gynecologica I Como se sabe em geral, as mulheres gravidas sof- frem de constipação, que algumas vezes resistem aos meios empregados para combatel-a. II Esta constipação determina nestas senhoras pheno- menos ligeiros como anorexia, perturbações digestivas, lombares e abdominaes, dando em resultado ás vezes * phenomenos mais graves. III Além dos esforços que ella exige por parte da mu- lher, pode, entretendo do lado da bacia, determinar contracçoes uterinas, fluxoes congestivas e tornar-se uma causa de aborto. Clinica Dermaíologica e Syphiligraphica I A syphilis é uma moléstia infecciosa, podendo ser transmittida por contagio ou por hereditariedade. 58 II A primeira manifestação da syphilis por contagio é o cancro duro. III Após a sua manifestação o paciente deve submet- ter-se ao tratamento mercurial. Clinica Ophtalmologica I ♦ A inflammação da iris recebe o nome de irite. Ií Das irites de causa geral a mais commum é a irite syphilitica. III Beer considera como signaes caracteristicos da irite syphilitica a deformação pupillar e a existência de gra- nulações neoplasicas (condylomas). Clinica Pedriatica I No recemnascido, a occlusão intestinal é sempre devida a uma mal formação. II Os recemnascidos accommettidos da occlusão intes- tinal quasi sempre morrem poucos dias após o nascimento. III Das variedades de occlusão intestinal, o typo mais commum nas creanças é a invaginação. 59 Clinica Psychiatrica c de Moléstias Nervosas ' I Na occlusão intestinal, mesmo nos casos mais gra- ves, os individuos conservam intactos as faculdades intellectuaes e os orgãos do sentido. II A excitação e o delirio são inteiramente excepcionaes. III Somente se observa a excitação e o delirio nos indi viduos que são alcoolatas. Hygiene I A agua de chuva é o resultado da condensação dos vapores atmosphericos; ella dissolve em sua passagem no ar ambiente certos gazes, especialmente o acido carbonico. II A agua de chuva contém ammoniaco, as mais das vezes sob a forma de carbonato, acido azotico e traços de acido azotoso. III As proporções de matéria organica nas aguas de chuvas são muito elevadas. Medicina Legal e Toxicologica I Os ferimentos, quer produzidos por arma de fogo 60 ou por arma branca, têm grande importância para o estudo medico legal. II Num caso de ferimento por arma de fogo, é quasi sempre do dominio do perito encontrar a lesão produzida pela arma. III Está-se logo vendo quanto devem ser perigosos estes ferimentos, que tr azem na maioria dos casos a morte, e quanto deve ser agravada a responsabilidade do cri- minoso. Visto. Secretaria da bacuidade de Medicina da Bahia 31 de Outubro de 1908. 0 SECRETARIO CjOr- dbMenandro dos \7\eis <VÃÍeirelles,