THESE INAUGURAL DE Caniillo k Lis í la Costa 1910 ttttSt T Faculdade de Medicina da Bahia THESE APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Em 31 de Outubro do ií>10 PARA SER DEFENDIDA POR Z?amt/Z c/e QZomeó </a ZAoóta v\\ NATURAL DO ESTADO DA BAHIA Filho legitimo de Manuel Gomes da Gosta e D. Bernardina Maxima da Costa AFIM DE OBTER 0 GRÁO DE DOUTOR EM MEDICINA DISSERTAÇÃO Cadeira de Clinica Psychiatrica e de Moléstias Nervosas OBSESSÕES PEOPOSIÇOE8 Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de ciências medicas e cirúrgicas BAHIA Typ, do Salvador—CatluMlral 1910 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Director—Dr. AUGUSTO C. VIANNA Vice-Director—Dr. MANOEL JOSE’ DE ARAÚJO LENTES CATUE DUÁTICOS OS D RS. MATÉRIAS QUE LECCIONAM l.a SECÇÃO Carneiro de Campos Anatomia descriptiva. Carlos Freitas ' Anatomia medico-ciruro-iea. 2. a Antonio Pacifico Pereira Histologia normal. Augusto C. Viauna Bacteriologia. Guilherme Pereira Rebello .... Anatomia è Physiologia pathologicas. 3. a Manoel José de Araújo Physiologia. José Eduardo F. de Carvalho Filho . Therapeutica. 4. a Luiz Anselmo da Fonseca .... Hygieue. Josino Correia Cotias Medicina legal e Toxicologia. 5. a Antonino Baptista dos Anjos . . . Pathologia cirúrgica Fortunato Augusto da Silva Júnior . Operações e apparelhos. Antonio Pacheco Mendes Clinica cirúrgica 1.» cadeira. Braz Hermenegildo do Amaral . . . Clinica cirúrgica 2.* cadeira. 6. a Aurélio R. Vianna Pathologia medica. JoSo Américo Garcez Froes . . . Clinica Propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho . . . Clinica Medica 1.» cadeira Francisco Braulio Pereira .... Clinica Medica 2.» cadeira 7. a A. Victorio de Araújo Falcão . . . Matéria medica, Pharmacologia e arte de Formular José Rodrigues da Costa Dorea . . Historia natural medica. José Olympio de Azevedo .... Chimica Medica 8. a Deocleciano Ramos Obstetrícia. Climerio Cardoso de Oliveira . . . Clinica obstétrica e gynecologica. y.a Frederico de Castro Rebello . . . Clinica pediátrica 10.a Francisco dos Santos Pereira . . . Clinica ophtalmologica. 11.a Alexandre E. de Castro Cerqueira . . Clinica dermatológica e syphiligraphica. 12.a Luiz Pinto de Carvalho Clinica psychiatrica e de moléstias ner« , vosas João E. de Castro Cernueira . . . ,, .. .. ... . , Sebastião Cardoso . L,n disponibilidade. LENTES SlTBSTITLTTOS OS DOUTORES José AHonso de Carvalho . . 1.» Pedro da Luz Carrascosa e . . Gonçalo Moniz Sodré de Aragão . (2.“ J. J. de Calasans . . • . . 7.» Julio Sérgio Palma ( « J. Adeodato de Souza . .8.» Pedro Luiz Celestino .... 3.* Alfredo Ferreira de Magalhães . 9.a Oscar Freire de Carvalho . . 4.“ Clodoaldo de Andrade . . . .10. Caio O. F. de Moura .... 5.a Albino Leitão 11. Clomentino da Rocha Fraga . . 6.“ Mario Leal 12. Secretario-Dr. MENANDRO DOS REIS MELRELLES Sub-Secretario Dr. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA A Faculdade não approva nem reprova as opiniões exaradas nas theses pelos seus auetores DISSERTAÇÃO Cadeira de Clinica Psyciiiatricae de Moléstias Nervosas Obsessões CAPITULO I Historico Escondem-se no grande abysmo do perpassar dos séculos as primeiras manifestações obsessivas. Sim ! Nos jardins floridos atufados de verbenas, tresca- lantes de myrtos, nos sumptuosos palacios reluzentes de oiro, nos magnificos triclinios resplendentes de pedra- rias, na alvinitencia de molles coxins engastados de preciosas gemmas e aos sons desferidos das retezadas cordas dos alaúdes e das cytaras, ao clanger das trom- betas e sob as espiraes dos perfumes que se queimavam em primorosos vasos, com as primeiras dynastias que remaram na superfície da terra, deveriam ter nascido as obsessões, á medida que a civilisação ia desenvolvendo-se e a arte de gozar ferindo mais intensamente a imaginação dos primeiros povos. Compulsando-se as paginas da historia, lançando as nossas vistas atravéz das éras, veremos que a mania do Bello dominou em todas as regiões do globo. No Egypto, pedaço da Lybia ardente, onde os leões urram nas florestas seculares e o simoun, qual enorme serpente vascolejando a superfície arenosa dos desertos 2 perturba a limpidez doscéos, noEgypto, região íertilisada pelo Nilo, berço das sciencias edas artes, nós veremos monumentos seculares arrostando impavidamente a acção destruidora dos tempos e enchendo de estupeíacção a todos que têm a felicidade de contemplal-os. Pois bem, as pyramides do Egypto, mudas testimunhas do grande feito Napoleonico, são uma affirmação do sensualismo que dominava naquella epocha. Cheops, obsedado em construir um monumento que lhe perpetuasse o nome, não se detêve em mercadejar o corpo esculpturalmente bello de sua filha. Radopis, a escrava, liberta por Gharascxus, sofireu da mesma obsessão. Bella entre as mais bellas, arrecadou sommas enormes para uma obra colossal. À pyramide de Migerino a ella pertence. Volvendo agora os nossos olhares para esta fertilíssima região regada pelo Euphrates, veremos Salomão o rei sabio, o auctor do cântico, dos cânticos um erotico; que possuio o harem mais numeroso que a historia faz men- ção— 700 mulheres e 300 concubinas. Saul, tem a obsessão homicida. Na Grécia, Sapho a bella philosopha foi uma obsedada de amor. Nos estos de sua paixão por Atthis assim dizia: II vient de nouveau m’assaillir 1’amour qui brise les menbres le, monstre doux et amer, le monstre invencible. Atthis ton souvenir me pèse et tu voles vers Andro- mède. 3 Ahi está, Sapho, a etherea formosíssima, cujo amor era immenso, tão grande que não achou coração humano capaz de contel-o, atirou-se dos penhascos da Leucade, entregando seo niveo corpo ao gélido amplexo do mar. Aspasia, a sublime, e Socrates o philosopho, foram obsedados. Sobre o mundo romano E, passando mesmo com a celeridade do raio pela edade media, encontramos—Joanna de Nápoles, impul- siva retribuindo com o gélido sopro da morte, os felizes instantes gozados com seus comparsas. E as obsessões demoniacas, já descriptas por Martinho del Rio, Bayle, Joanna Bodin e outros! Com relação a esta forma obsessiva, citamos : a abba- dessa Magdalena de la Croix, Armelle Nicolau, da com- munidade de Vaniies, soror Angela de Foligno etc. Francisco I foi um erotico, Henrique II loucamente apaixonado por Diana de Poitiers, Luiz III melancholíco, taciturno phobico e sensual... Nos tempos modernos encontramos: Villarceaux obse- dado por Ninon de Lenclos, a Aspasia franceza; Carolina de Nápoles, o duque de Fronsac, o marquez de Sades etc. eroticos. Wellington e Meyerber, eram galephobos; Tycho-Brahé que sentia as pernas dobrarem-se ao avistar uma lebre ou uma rapousa; e Napoleão era galephobo e ainda tinha a mania de contar caixilhos etc. etc. 4 E assim chegamos ao periodo verdadeiramente scien- tifico das obsessões. Percorrendo a longa travessia dos séculos, vieram as obsessões mascaradas por outras manifestações psychicas, até que em 1866, Morei reconhecendo os principaes carac- téres dos estados obsedantes, os separou da loucura, descrevendo-os como uma doença da emotividade, como uma nevrose especial a que denominou—Delirio emotivo. Nesta mesma epocha, J. Falret, faz um estudo notável sobre a loucura da duvida, collocando-a na loucura con- sciente. Em 1870, Krafft-Ebing estuda a influencia que exer- cem sobre as volições certas perturbações da represen- tação, as quaes elle denominou Zivangsworstellung (idéas obsedantes). As idéas obsedantes foram estudadas por Westphall em 1877, sob a denominação de idéas que se impõem. Em 1878, Berger notando a frequência das emoções como factor etiologico da obsessão denominou-a Nevrose emocional. Em 1880, Buccola denominou-a Idéas fixas, e em 1883 Tambarini—Idéas incoerciveis. Nesta mesma data, Arndt e Morseli, consideram-n’a como uma Paranoia rudimentar. Em 1887, Friedenreisch e também Hans Kaan, aífirmam ser a angustia emotiva a origem e o principal symptoma da obsessão. 5 Haek-Tuke em 1894, denominou-as—Idéas imperativas. Em 1896, Regis e Pitres apresentaram ao Congresso de Medicina Mental de Nancy um excellente trabalho sobre a obsessão do vermelho (ereutophobia); e em 1903 os mesmos publicaram—As obsessões e as impulsões a obra mais moderna que conhecemos. CAPITULO II Definição ...et omnia rnotus. No universo tudo é movimento. A luz ferindo-nos a pupilla e nas suas cambiantes communicando-nos a alacridade das manhãs primaveris ; o lyrio como um raio cristallisado do luar branqueando o vergel, emquanto a pompeiante magnolia desabrocha sua corolla e esparze na atmosphera embalsamantes perfumes; a frialdade das noites invernosas em cujo negror dos céos jamais sorri um astro; as arvores novas ou seculares açoitadas do vendaval ou acariciadas das brisas; o som em suas modulações, ora harmoniosas e cadenciadas, enlevando-nos ás regiões dos sonhos, ora arrebatadas traduzindo a cólera, ou ameigadas e suspirosas traduzindo a supplica e a magoa; o oiro na sua refulgencia sedu- ctora, o ferro na sua rigidez, symbolo da força; o carbono em suas varias modalidades, expressão da energia no carvão de pedra, expressão da belleza nas scintillações do diamante, tudo é movimento! 8 E assim sendo, sob o ponto de vista physico, também o é sob o ponto de vista psychico. Os nossos sentimentos nada mais são do que a resul- tante de posições varias e vibratilidades diversas dos elementos psychicos, desde o prazer á dor, do amor ao odio, da compaixão ao desdém, tudo é movimento e nada mais do que movimento. Assim como os demais seres, é o homem um organismo excessivamente delicado, reagindo differentemente. con- forme as impressões recebidas. E nisto consiste a grande lei da adaptação; de modo que os nossos actos, são apenas simples reacções. Na producção de um phenomeno qualquer, tres íactores devem ser considerados: o meio productor (em ultima analyse, sempre o ether), o receptor (nervos periphericos), e o centro registador (córtex cerebral). Ora, sabemos nós, que nas condições normaes, existe um synchronismo entre o organismo e o meio; de modo a ser a reacção sempre igual a acção. Porém nem sempre as cousas assim se passam. As vezes em estado hygido ; porém quasi sempre em estado pathologico, este syn- chronismo vem a faltar. E assim sendo, a causa pode estar no meio receptor ou no centro registador. Quando no l.# caso, sempre ligado a uma anomalia de consti- tuição, nós temos uma falsa idéa, uma illusão; no 2.°, a causa está no meio receptor que, recebendo impres- sões verdadeiras, vibra arithmicamente, dando-nos uma percepção falsa, uma illusão pathologica; no 3.° caso, a 9 causa está no centro registador que estando sempre num dynamismo funccional differente, hyper ou hypo-tensão vibra asynorgicamente dando-nos uma hallucinação e mais uma vez uma falsa idéa. Interferencia cerebral Em todos os phenomenos moleculares, consequente- mente devidos á vibração ou deslocamento do ether, a interíerencia é o fiel regulador de todas as acções, as vezes multiplicando seus eíTeitos, outras vezes diminuindo ou ainda neutralisando. Assim sendo para o som, para o calor e para luz, o é também para a cerebração. De accordo com a interferencia, procuramos dar a explicação de certos estados psychicos.—Quando vibrações extragenas se localisam em certas zonas, num determi- nado numero e n’uma determinada fôrma (ondas conden- sadas ou dilatadas) e no opposto da fôrma o mesmo existe no centro registador, estas quantidades iguaes com signaes contrários destroem-se e nós temos os estados psychicos denominados fugas, amnésias etc. Quando porém, vibrações extragenas vão se localisar em certas zonas, em forma e numeros determinados e que as vibrações autogenas, são na mesma forma e numero, então os seus effeitos sommam-se e nôs temos os estados 40 psychicos denominados hallacinação, obsessão, idéa fixa, delirio etc. etc. Obsessão—Temor doentio—Phobia—Impulsão consciente —Mania sem delirio de Falret—Monomania de Esquirol. Marc-Georget—Loucura lúcida de Trélat—Loucura con- sciente de J. Falret e Ritti e de Baillarger—Pseudo-mania de Delassiauve—Paranoia rudimentar de Arndt e Morselli —Monomania abortiva de Spitzka etc. etc. Sob essas denominações varias se comprehende um estado psychico, que tem sido diversamente definido pelos auctores. Littré et Gilbert, assim dizem: perturbação intellectual, consciente mostrando-se sob a forma paroxystica e cara- cterisando-se por uma impulsão irresistível para com- metter um acto determinado. Falret, assim diz: é uma impulsão céga, irresistível, surgindo espontaneamente em uma intelligencia sã, im- pedindo invencivelmente a uma acção. Westphall, assim se exprime: obsessão é toda idéa que estando intacta a intelligencia o sem que exista um estado emotivo ou passional, apparece à consciência do doente, ahi se impõe contra sua vontade, não deixando-se expellir, impedindo o curso das demais idéas e sendo sempre reconhecida pelos doentes como anormal e ex- tranha e elles proprios. Magnan diz: obsessão é um modo dTactividade cerebral, em que uma palavra, uma idéa, uma imagem se impõe 11 ao espirito do doente fóra de sua vontade, com uma an- gustia dolorosa e que a torna irresistível. Arndt et Morselli, consideram as obsessões como uma paranoia rudimentar, derivada de uma pertubação intel- lectual primitiva. Pitres Regis, (1) dizem: obsessão é uma symdromi mórbida, caracterisada pelo appareeimento involuntário e ancioso na consciência, de sentimentos ou de idéas pa- rasitas, que tendem a se impor ao eu, evoluem ao lado dtelle, máo grado seus esforços para repellil-as e cream assim uma variedade de dissociação psychica, cujo ultimo termo é o desdobramento consciente da personalidade. Gilbert Ballet, (2) assim se exprime: obsessão é uma emoção systhematizada. «Obsessão, é um phenomeno complexo, que interessa ao mesmo tempo, por uma serie de acções, toda a vida mental e uma parte das funcções organicas. Sendo sua condição fundamental uma perturbação primitiva e genera- lisada affectando em suas associações dynamicas os ele- mentos communs á vontade e á intelligencia.» Divisão das obsessões Yarios são os matizes, sob os quaes se podem mostrar as obsessões. E a esta polychromia é o que se denomina estados obsedantes. D’entre as diversas divisões sobre obsessões, preferi- )1) Les obsessions et les impuisions, pgs. 16—1902. (2) Traité de pàthologie raeutale, pg. 680. 12 mos a dos Proffs. Regis et Pitres com um pequena modi- ficação. Os estados obsedantes se dividem em estados obsedantes phobicos ou phobias, e estados obsedantes ideativos ou obsessões propriamentas ditas. Phobias. — Assim denominamos os estados obsedantes, caracterisados por um temor irresistível. ancioso, temor dos objectos, dos seres vivos, das doenças etc., etc. As phobias se dividem em: panopkobia ou pantophobia e monophobia. A panophobia, ainda denominada pantophobia ou phobia diffusa se caracterisa porque a emotividade anciosa fica imprecisa, vaga, cahotica só fixando-se momentânea e casualmente sobre um objecto qualquer. E’ o temor de tudo, é a anciedade não motivada. Os indivíduos na phobia diffusa, são comparáveis a con- densadores com a sua maxima carga electrica ; elles vivem num estado permanente de tensão emotiva, que irrompe paroxysmicamente, sem causa determinante apreciável. Um Pensamento, uma sensação qualquer, determina a descarga emocional (emotional discharges de Weir Mitchell); quando porem, estas descargas se produzem du- rante o somno, ellas dão logar a sonhos terrorosós acom- panhados de angustia cardíaca e respiratória. E’ o des- pertar angustioso de Mac. Farlane. Seja qual íor a causa determinante da descarga emotiva, esta se manifesta sempre como uma verdadeira crise, ás vezes sem phenomenos precursores, outras vezes porem 13 precedidas de uma aura, que, originando-se do centro epigastrico, da profundeza das vísceras, irradia-se á todo systema cerebro-espinhal. Na monophobia ou phobia systhematisada, a descarga emotiva só produz-se por uma causa determinada, variavel para cada indivíduo; embora esta causa seja futil exemplo: uma palavra, uma idéa, a vista de um objecto. Numerosas como as estrellas que giram eternas, no fir- mamento, são também as phobias. Toda causa capaz de impressionar os nossos sentidos pode ser a genese de um temor doentio. Comprehende-se d’este modo, quão difficil se torna a classificação das mesmas phobias. Não cabe nos estreitos limites da nossa obra fazer um estudo circumstanciado das monophobias e nem temos tal pretenção. Na falta de melhor classificação acceitamos a do Professor Regis.—I grupo: Phobia dos objectos. II grupo: Phobia dos elementos, das doenças e da morte. III grupo: Phobia dos seres vivos. Passemos a enumerar algumas.—Phobia dos objectos: a metallophobia, (phobia dos metaes), bélénophobia (phobia dos alfinetes), mysnphobia (phobia das poeiras), hemato- phobia (phobia do sangue) rupophobia (phobia do desasseio) Aichmophobia (temor dos objectos ponteagudos), toxico- phobia (temor dos venenos), etc. Phobia dos logares, dos elementos, das doenças e da morte. As topophobias comprehendem: a acrophobia (phobia dos pontos elevados), a agoruphobia (phobia dos grandes espaços) a claustrophobia ou clitrophobia (temor dos es- 14 paços estreitos e fechados) a cremnophobia (temor dospri- cipicios, oicophobia (temor da própria casa) amaxophobia (temor dos theatros, das igrejas, dos cemitérios, das car- ruagens, siderodomophobia (temor do caminhos de ferro), etc., etc. Phobia dos elementos A aerophobia (temor do ar), a anemophobia (temor do vento) a pyrophobia (temor do fogo ), a potamophobia (temor dos rios), a lhalassophobia (temor do mar), a geophobia (temor da terra) a hydrophobia (temor da agua) a nyctophobia (temor da noite) a keranauphobia (temor da obscuridade), a chemophobia (temor das tempestades) a bronlhêmophobia (temor do trovão) etc., etc. Phobia das anomalias, de conformação do corpo e das doenças. Esta modalidade se compõe das formas seguintes: l.° As morphophobias ou anomalias do corpo e da face. Exem- plo tricho-phobia (phobia dos pellos). 2.° Physio-phobia Exemplo a êphidrophobia (temor do suor) a urinophobia ou phobiadas das funcções (temor da micção) a apopatho- phobia (phobia da defecação) a eretithophobia (temor do vermelho) a graphophobia (temor das escriptas) a algo- phobia (temor da dor) etc. 3.° As nosophobias ou patho- phobias são numerosas. Citamos apenas estas: a syphilo- phobia, a gonoccophobia, a pthisiophobia, a dermaiophobia, a spernmtorrheophobia, a hysterophobia, a psychopatho- phobia, a bacillophobia, a cardiúphobia, a odontophobia, a tanathophobia, etc. etc. 15 Zoophobias Segundo a denominação, outra cousa não è senão o temor dos animaes. Este grupo encerra as modalidades seguintes: a gale- pliobia (temor dos gatos) cynophobia (temor dos cães) anihropophobia (temor do homem) gynephobia (temor da mulher, inseclophobia (temor dos insectos) ochlophobia (temor das multidões) etc. etc.. * * * Todavia se bem que tenhamos feito uma longa enu- meração das diíTerentes formas obsessivas, não podemos deixar de fazer algumas considerações, attendendo a grande importância de algumas. Temor dos objectos J. Falret estudando o phobia dos objectos, considero-a como um dos symptomas da loucura da duvida; hypo- these acceita mais tarde em 1875 por Legrand de Saulle que a denominou temor dos contados; Delírio de tocar, foi a denminação dada pelo Professor Ritti, em 1877 e acceita pelos auctores hodiernos. Convém notar-se que a expressão temor dos contados e delírio de locar não são equivalentes, pois não se trata de uma perturbação da sentido do tacto. O phenomeno consiste em uma emotividade excessiva, um verdadeiro medo, qúe se prende a contingência do indivíduo tocar em certos objectos. 16 0 phenomeno emotivo no delirio do tocar, produz-se não pelo contacto do objecto, porem precede-o, ou pro- duz-se pela vista, ou ainda pela lembrança do objecto questionado. Gomo já devemos saber, o delirio de tocar toma deno- minações diversas, segundo as condições especiaes em que se manifesta. Loucura de duvida A loucura de duvida é um estado psychico, em que predominam as obsessões de forma interrogativa, exis- tindo uma anciedade de verificações, resolução de pro- blemas inextrinsaveis, tendo o doente a consciência deste estado. Os indivíduos obsedados de duvida vivem numa cons- tante timidez e hesitação intellectual. Segundo J. Falret, a loucura da duvida consiste essen- cialmente em uma disposição geral da intelligencia para examinar continuadamente as mesmas idéas ou os mes- mos actos, sentindo o indivíduo a necessidade imperiosa de repetir as mesmas palavras ou de praticar as mesmas acções, sem nunca satisfazer-se do acto commettido, ou convencer-se de sua evidencia. Esta modalidade obsessiva foi bem estudada por Es- quirol, em 1838, que lhe deu o nome de mania racio- cinante ou affectiva. Mais tarde Legrand du Saulle em uma forma feliz, chamou-lhe Rutninação psychologica. 17 N’esta forma obsessiva, a idéa varia muitíssimo, sempre de accordo com a educação do indivíduo. Ordinariamente os auctores dividem em 3 classes: duvida metaphysica—escruplo — duvida de interrogação dos objectos. Topophobia Sob a denominação de topophobia, Beard reunio os vários temores doentios que se manifestam relativamente aos logares. Conforme as varias condições cm que se manifesta a topophobia, ella vai tomando denominações diversas; assim: agoraphobia, acrophobia, claustrophobiaetc. etc. Ag-oraphobia Foi Morei, em 1866, quem primeiro tratou da agora- phobia, depois Westphall em 1872 e mais tarde Legrand du Saule em 1877, denominando-a temor dos espaços. Assim se manifesta a agoraphobia: em presença de um espaço vazio o doente experimenta bruscamente uma sensação angustiante, acompanhada de um tremor geral, fraqueza dos membros inferiores palpitações cardíacas etc. etc. O agoraphobico, ao deparar-se com espaço vazio que tenha a atravessar, torna-se confuso, parece-lhe que a distancia é enorme e que elle não vencerá; sente um estreitamento nas têmporas, uma sensação de vazio cepha- 18 lico, uma perturbação profunda das idèas e fica na impossibilidade de effectuar a marcha. Se este estado afflictivo se prolonga e o doente procura dominar a anciedade que o impede de andar, por um esforço de vontade, pode dar-se o caso d’elle vencer a crise, restando apenas um máo estar geral; outras vezes porém, uma paralysia pode sobrevir. No entretanto a crise obsessiva pode não dar-se, ou mesmo ser refreada, bastando para isto que o doente esteja acompanhadoouquese apoiea um objecto qualquer. Segundo Benedikt, a agoraphobia é resultante de uma perturbação da vista, consequentemente a um enfraque- cimento do poder convergente. Segundo Gordes, é uma perturbação psycho-motora; perturbação do sentido muscular determinando um senti- mento de temor, o qual, por sua vez produziria uma acção inhibidora sobre as funcções musculares. Fournet, estudando o temor dos espaços sob o ponto de vista psychologico, considera-o como uma paralysia moral, uma insufficiencia psychica, preparada e auxiliada algumas vezes por uma insufficiencia organica. Segundo Gilbert Ballet a agoraphobia é mais frequente no homem e desenvolve-se ãs mais das vezes de 25 a 50 annos. Glaustrophobia Foi estudada por muitos auctores d’entre os quaes Bali, Meschede, Magnan, Verga, Baggi etc. 19 E’, como bem indica sua denominação, o temor dos espaços fechados. Bali discorrendo sobre esta modalidade phobica assim se exprime: é uma angustia constrictiva, comparável á que se poderia experimentar, franqueando-se uma passa- gem cada vez mais estreita, até o ponto onde collado entre as paredes, não se poderia mais avançar nem retroceder. Erytrophobia Assim se denomina o estado obsessivo no qual o indivíduo não pode supportar a cor vermelha. Perturbação esta peculiar a certos animaes, exemplo : o boi. Pode também encontrar-se no homem. Ereutrophobia Esta modalidade phobica foi grande objccto de estudo de Regis et Pitres. Nós lhe chamaremos ruborphobia. Parece-nos que este termo não corresponde á toda symptomatologia da forma obsessiva em questão. O medo de enrubescer é a caracteristica desta forma obsessiva, mas não é tudo; como facto correlato existem as modificações vasculares determinantes do rubor, que muito bem poderiam existir. Ter-se medo de uma cousa não implica tornarmos-nos n’esta cousa ou adquirirmos algumas de suas proprie- dades. Em outras palavras ter-se medo de um ladrão ou de 20 um assassino, não implica adquirirmos algumas de suas propriedades. Assim pois, visto só termos conhecimento das idéas de outrem após as exteriorisações, é sem duvida alguma o rubor não motivado, o symptoma que desperta a atten- ção nesta fôrma obsedante. Na maioria dos casos o rubor é uma reacção psycho- physiologica. Assim é normal a vermelhidão das faces de uma creança após uma reprehensão ; é normal e norma- líssimo o purpureamento das faces de uma donzella como demonstração de sua pudicicia. A’ prima facie, parece haver barreiras infraqueaveis, entre o rubor physiologico e o pathologico ; mas sabemos nós que tudo é gradativo; natura non fecit saltos. Os Profess. Pitres et Regis, dividem em 3 classes os indivíduos susceptiveis de enrubescer: 1. a Classe: —Ereuthose simples: Indivíduos que têm a facilidade extrema congénita ou adquirida para enrubescer; porem com esta mesma facilidade voltam ao estado normal. Esta classe carecterisa-se pela ausência de preocupações com respeito ao rubor. 2. a Classe:—Ereuthose emotiva: Indivíduos que enru- bescem muito frequentemente ficando mais ou menos preoccupados. Em uns esta aptidão para emrubescer, é temporária, sendo ligada a uma causa accidental, climatérica ou pa- thologica. São os jovens no momento da puberdade, as 21 mulheres na idade critica, as choloro-anémicas com dys- menorrhéa ou amenorrhèa, etc., etc. Em outros, a aptidão para enrubescer é persistente e faz parte da idyosincrasia. Estes são os delicados, can- didatos á tuberculose, arthriticos, hystericos, neuras- thenicos, etc. Esta classe caracterisa-se não somente pela predispo- sição ao rubor, como também, pela oppressão que pos- suem os individuos para desembaraçar-se d’este estado doentio. 3.a Classe—Ereuthose obsedante: E’ constituída por individuos que vivem constantemente preoccupados com o rnbor. A vista de pessóas, a audição de certas palavras, mesmo o pensar, bastam para determinar o rubor. E d’este modo dá-se a crise de rubor: o indivíduo tem uma sensação viva de calor que. lhe invade o rosto, oppressão, lacrimejamento etc; alguns têm confusão das idéas, sensação de vazio cerebral, vertigem, perda da relação com o meio, etc., etc. Outros se enfurecem porcousas insignifigantes,ameaçam céos e terras; é o furor brevis dos antigos. Não é raro, que ao passar-se a crise o indivíduo tenha mesmo a sensação do sangue descer-lhe a garganta. As obsessões ideativas podem ser kyneticas e akineticas. As obsessões akyueticas, são as verdadeiras obsessões; as obsessões kineticas, são as impulsões obsessivas. 22 Obsessões akyneticas Impossível torna-se no estado actual da sciencia, devassar-se a cerebraçào humana, roubar-se-lhe o 'pensa- mento, traduzir-se as posições, ou apanhar-se as vibrações dos múltiplos elementos psychicos atravéz o estôjo craniano. Para saber-se o conteúdo de uma idéa, é mister fazer-se um estudo acurado do maneirismo do doente, de sua linguagem, etc. etc. Esta tarefa nem sempre é muito facil. Das linhas que vamos transcrever pode-se tirar uma deducçào: «E’ muito mais difficil do que se crê geral- mente, discrever com precisão as idéas que atormentam os obsedados. Estes doentes têm quasi todos uma atti- tude e uma maneira de se exprimir, que parece precisa- mente depender de seu estado mental, mas que impede singularmente as investigações psychologicas. Todavia elles são dóceis, amaveis, bastante intelligentes e não apresentam nem as cóleras, nem as obstinações nem as confusões que entravam o exame de outros indivíduos; porem, todos elles têm uma preguiça de dizer o que soffrem e só fazem a declaração de seus pensamentos de uma maneira perpetualmente incompleta obscura e emba- raçosa.» Gomprehende-se d’este modo, a difficuldade da classi- ficação das idéas obsedantes. Geralmente, as obsessões são grupadas em cinco classes; obsessões sacrílegas — obsessões de crime — obses- 23 sões de vergonha de se mesmo — obsessões de vergonha do corpo—obsessões de doença. Obsessões kyneticas — obsessões impulsivas — impulsões conscientes Sob estas denominações comprehendemos os vários estados obsessivos nos quaes a idéa é seguida de acção, de movimento. Para comprovarmos o nosso modo de ver sobre estas ultimas manifestações obsessivas, consequentemente a base d’esta nossa classificação, citamos as opiniões de vários auctores, sobres a impulsão. Denomina-se impulsão irresistível, a movimento instan- tâneos, os quaes, fóra de toda idéa delirante e muitas vezes não obstante a intervenção da vontade, impellem o indivíduo a commetter um acto reprehensivel de que elle tem a nitida comprehensão. Marcé Magnan define: impulsão é um modo de activi- dade cerebral que força o indivíduo a actos, cuja vontade é algumas vezes impotente para refreal-os, Parant define: impulsão é um phenomeno no qual o indivíduo é arrastado irresistivelmente, mao grado seu, a commetter um acto. Garnier diz : a impulsão consciente, é uma sollicita- ção de base emotiva, para um acto appetitivo não inspi- rando delirio algum e que a consciência regeita, mas que se impõe automaticamente á vontade, com uma irresistibi- lidade tal que determina a satisfação da necessidade, 24 seguindo-se uma acalmia immediata em que se íinda o accesso. Robin et Littré no seu Diccionaire de Médecine (1) dizem: as impulsões irresistíveis, são determinações acc-identaes para a execução de certos actos singulares ou reprehensiveis que o doente executa fóra de toda idéa delirante, tendo elle a nitida comprehensão, antes ou ao menos depois do acontecimento, sem que sua von- tade seja bastante poderosa para reíreal-as. Dallemagne diz : a impulsão mórbida não è senão o ultimo acto de uma especie de drama cerebral que co- meça pela obsessão e se continua pela idéa fixa Magnan et Legrain affirmam : a impulsão pathologica é uma symdromi rnorbida, caracterisada por uma serie de acções executadas por um indivíduo lúcido e con- sciente, e não obstante a intervenção da vontade, cuja importância se traduz por uma angustia e um soífrimento moral intenso. Pelo exposto julgamos que sò estas definição bastam para referendar o nosso acto, não precisando consequen- temente de estudarmos as caracteristicas das impulsões. São inúmeras as obsessões impulsivas ; toda obses- são exteriorisada em movimento é uma impulsão con- sciente. Geralmente costuma-se grupal-as do seguinte modo : l.° Impulsão de gestos, tics, palavras etc. (i) Pgs. 796. 25 2. Impulsão de actos ridículos. 3. Impulsão de actos. 4. Impulsão de actos grosseiros e repugnantes. 5. Impulsão de actos ambulatórios. 6. Impulsão de actos de apropriação (?) e de roubo. 7. Inpulsão de actos eroticos. 8. Impulsão de actos de destruição. 9.o Impulsão de actos de incêndio. 10. Impulsão deactos de violência contra si mesmo. 11. Impulsão de actos violentos contra os outros. 12. Impulsão para se intoxicar. D’entre estas íormas são importantes sob ponto de vista clinico e medico legal; a impulsão ao suicídio e as auto-vulnerações a impulsão ao homicídio kleptomania a pyromania, a drommania, a ipsomania, as impulsões se- xuaes, o exhibicionismo, o sadismo, o masockismo, o uranismo etc. etc. B’estas formas diremos alguma cousa mui aligeiradamente em nossas observações. Dentre as muitas obsessões impulsivas destacamos algumas pelo seu valor medico-legal. * * * Dispsomania de Hufeland-Furor bibendi de Salvatori — Oinomania de Stocher—Trunks- cuchtdos auctores allemães — Embriaguez de Esquirol etc. etc. Sob essas denominações varias entende-se um estado morbido caracterisado por uma impulsão irresistível ao beber; fazendo-se de um modo intermittente. 26 Ordinariamente esta impulsão dá-se para as bebidas alcoólicas, porém pòde também dar-se para qualquer outro liquido. Foi Salvatory, medico italiano em Moscou, em 1819 quem primeiro descreveu esta affocção denominando-a furor bibende; mais tarde em 1810 Bruhl Cramer, medico allemão, também em Moscou descreveu-a nova- mente denominando-a trunksucht. A dipsomania estudada em seguida por diversos au- ctores tem sido differentemente considerada. E’ assim que Esquirol, Marcé e outros a consideram como uina monomania; Ritte e Kraft Ebing como uma loucura periódica, Morei como uma manifestação da lou- cura hereditária. Digamos alguma cousa sobre a crise dipsomaniaca. Quasi sempre um periodo prodromico precede-a. O individuo torna-se triste, melancholico, irritadiço, indifferente, incapaz de trabalhar e presa de apprehen- sões vagas, não motivadas. Ao lado dessas modificações do caracter, apparecem a anorexia, a angustia precordial, secura e calor da gar- ganta, cephaléa, a gastralgiae algumas vezes vomitos. Uma vontade irresistivel de beber domina o doente oppri- mindo-o cada vez mais; sendo este estado só mitigado quando o doente começa a beber. Presos nas malhas do retículo obsessivo, os doentes procuram no álcool o lenitivo para os seus soffrimentos. Com relação ao modo pelo qual se conduzem, os dipso- 27 manos podem ser divididos em duas classes: os cynicos, do Bali, que se entregam aos prazeres alcoolicos em companhia de outros, e os mysteriosos, que se encerram em aposentos determinados, á salvo dos olhares indis- cretos. Laségue, que bem estudou indivíduos dessa natureza, assim se exprime: «Solitários íugindo dos companheiros com uma obstinação muda e invencível contra as solici- tações que os arrastam, os dipsomanos conduzem-se como certos alienados onanistas.» Gilbert Ballet, discorrendo sobre o mesmo assumpto assim se externa: E’ frequente ver-se o dipsomano deixar seu domicilio, logo ao inicio de seu accesso, errar ao acaso fóra de seu quarteirão ou mesmo íóra da cidade em que habita; e assim vagando de taberna em taberna vendendo tudo que possúe, mesmo peças de suas vestes, para mitigar sua sêde insaciável. As mulheres entregam-se ao primeiro que encontram por um simples cúpo de vinho ou de aguardente E na vertiginosa voragem, o doente vagabundeia pelas mansardas inais abjectas; rouba para beber, não recuando ante o crime.» Kleptomania A impulsão ao furto, tem sido contestada por alguns auctores; dentre os quacs Laségne e Morei. Laségue, sobre o assumpto assim diz: «não obstante 28 minha longa experiencia, ainda estou por ver um indi- víduo preso do dilirio de furtar.» Entretanto, Lavater, Gall, Linas, Legrand du Saulle, Trélat e outros muitos, têm provado a existência da kle- ptomania e minuciosamente estudado. Como as demais obsessões impulsivas, é a kleptomania paroxystica, iniciando-se por um mão estar tremor e uma anciedade que só se dissipa após a realisação do desejo ardente do furto. «Ao lado dos kleptomanos hereditários existem es cere- braes; estes são indivíduos que cedem a uma impulsão consciente, irresistível e vertiginosa, indivíduos de acces- sos epileptoides com íugas, agindo mais ou menos instin- ctiva e inconscientemente. Estes indivíduos approximam-se mais dos dementes, dos paralyticos e dos idiotas que furtam por automatismo, do que dos psychopatas lúcidos aosquaes tortura o desejo de furtar, e lutam com todas as suas forças contra esta impulsão, porque elles comprehendem o caracter immoral e delictuoso.» À kleptomania é mais frequente na mulher do que no homem, estando as mais das vezes as crises, em relação com o período menstrual, a prenhez, o alistamento etc. O estado gravidico, tem servido para desculpar muitos furtos, Pyromania Assim se denomina a idéa obsessiva do fogo, deter- minando ás mais das vezes uma impulsão ao incêndio. 29 Do mesmo modo que as demais monomanias, ella se íaz preceder de um mal estar geral, tristeza, cephaléa, oppressào, angustia precordial etc. etc; e uma completa acalmia faz sequencia á execução do acto. A existência da pyromania tem sido contestada por muitos auctores, d’entre os quaes Morei, Lasègue ete. Morei, relativamente á pyromania assim diz: Eu tenho visto actos incendiarios commettidos por imbecis, idiotas, hystericos, epilépticos, constituindo ora factos de vin- gança, ora factos de imitação ou ainda, manifestações doentias, que os indivíduos não tinham memória, como acontece com os epilépticos. Porém quanto ao que se diz da pyromania propriamente dita, eu affirmo jamais ter encontrado um 4só caso, nem mesmo fazer d’ella uma idéa. Não obstante as negativas de Morei, Lasègue e outros, a pyromania, existe, bem como a kleptomania, como pro- vam os estudos modernos de Legran de Saulle, Legrain, Marc Marandon de Montyel etc. etc. Obsessão homicida—Impulsão homicida—Monomania impulsiva dos antigos auctores. E’ como bem indica a denominação, a impulsão irre- sistível para matar. Apparece, como as demais impulsões, precedida de uma phase prodromica, sempre muito longa em que os phenomenos physicos e a luta entre o doente e a sua obsessão são maiores do que em qualquer outro estado. Se bem que exista esta modalidade impulsiva, não 30 devemos fazel-a vasadoiro de manifestações outras se- melhantes na forma, porem muito differentes no fundo psychologico. Por ser um assumpto demasiado escabroso e ainda mais por não sobrar-nos tempo, deixamos de fazer algumas considerações sobre as anomalias e perversões sexuaes. CAPITULO III Etio-pathogenesia Com a civilisaçao dos primeiros povos que cobriram a superfície da terra, nasceram também as obsessões, primeiro estádio da degeneração psychica, que evoluindo ao passo e á medida que a cerebração se lhes íoi inten- sificando, o fausto e o gozo lhes foi amollentando a enfi- bratura e as intoxicações se foram tornando mais e mais acentuadas. Não è que, a grande lei da adaptação, não seja uma verdade; mas, o equilíbrio entre esta e as causas depres- soras do organismo, tem sido desde ha muito rôto. E, pari passu ao escoar dos séculos, mais e mais fre- quentes se vão tornando as aííecções mentaes, comcumit- tantemente as obsessões, reflectores dos exageros de uma vida intellectual, em um organismo camballido pelas into- xicações e pelo vicio. Múltiplas são as causas geradoras das obsessões; e d’entre estas collocamosem primeiro logar a degeneração. Se bem que, nem todas os obsedados apresentem es- tigmas palpaveis de degeneração, tadavia esta deve existir, 32 pois não podemos admittir alterações mentaes em uma cerebração perfeita, bem equilibrada. Digamos alguma cousa sobre a degeneração embora mui perfunctoriamente. A degeneração tem sido diversamente definida pelos auctores. Assim é que Maudsley disse: ó uma desordem dos centros nervosos superiores, orgãos especiaes da mentalidade, desordens estas que produzem perturbações taes no pensamento, sentimento e acções, que tornam os indivíduos poucos aptos ás relações ordi- nárias da vida. Morei diz: é uma regressão a um typo inferior. Um outro diz: éo afTastamento do typo commum da raça por uma perda das qualidades hereditárias, que determinaram as adaptações da mesma raça. Sergi, considera a degeneração, como a resultante de in- divíduos ou seus descendentes, que não tendo perecido na luta pela existência, vivem em condições inferiores e acham-se pouco aptos para supportarem as lutas subse- quentes. Tonnini diz: degenerado é todo aquelle que victorioso ou vencido na luta pela existência, por defeitos hereditá- rios, ou por lesões adquiridas do caracter ou por funccio- nalismo atavico psychico, fica improductivo ou nocivo á sociedade. Não nos conformamos com algumas das definições su- pracitadas; attendendo ao facto que nem todos os dege- nerados são improductivos e nocivos á sociedade, nem tão pouco possuem uma inferioridade psychica; muito pelo 33 contrario são génios, determinam epochas e influem mui podorosainente nos destinos dos povos aos quaes se acham ligados. Degenerados, são seres que se aflastam da normal, quer sob o ponto de vista psychico, quer sob o ponto de vista orgânico. Assim, são degenerados o genio e a imbecilidade, o nanismo e o gigantismo. Se compulsarmos as paginas da historia, examinarmos á luz da psychiatria o que íoram os grandes homens, che- garemos ao seguinte resultado: entre os homens de arma Gesar, Pedro o grande, Napoleão epiléticos,Growmell hypo- condriaco, Condé irritadiço, etc; nos religiosos, Mahomet epiléptico, extático e visionário, Luthero e Savanarola hallucinados, etc, etc. Entre os homens de sciencias e lettras Socrates, hallucinado, Pascal obsedado, Newton melancholico no fim de sua vida, Linneu morreu de- mente, Haller maniaco, Tasso alienado, Byron escrofu- loso e com piecl bot etc. etc. Nos artistas Beethovem melancholico, Mozart nevro- patha, Donizetti paralytico, Schumann e Chopim morreram loucos. Já vai longa a lista e julgamos bastante para a comprovação do nosso modo de pensar. Herança Parallelamente á degeneração, corre o grande factor etiologico acima citado; muito bem estudado pelos srs. professores Gilbert Ballet, Morei, Falret, Kraft Ebing, Magnan etc. etc. 34 Na maioria dos casos, os obsedados têm nos seus ascendentes indivíduos obsedados; e cousa notável, algu- mas vezes as obsessões se apresentam com a mesma duração e forma que os seus ascendentes. E’ a herança homochrona. O problema da herança não è tão simples como parece á prima facie; pelo contrario, muito complicado. Não cabe nos estreitos limites do nosso modestíssimo trabalho, ser convenientemente discutido. Duas outras questões de não pequena importância, so prendem á herança—o estado dos pais no momento da concepção e as influencias perturbadoras da gestação; causas estas, que actuam poderosamente sobre o organis- mo em desenvolvimento marcando-lhe uma directriz. Estas causas foram bem estudadas dentre outras por Bouchereau, Cotard, Christian etc. Sexo Se bem que as obsessões sejam communs a ambos os sexos, todavia segundo as estatísticas que conhecemos, ellas são mais frequentes nas mulheres do que nos homens. Não podemos cathegoricamente affirmar qual a causa, também não registamos sob a rubrica de auto-intoxicação como fazem os auctores. Se repararmos, que em geral é pouco trabalhosa a vida que levam as mulheres, consequentemente menor a pro- uucção de toxinas; e se considerarmos ainda a um grande 35 emunctorio que ellas possuem o fluxo catamenial, cremos que outra deve ser a causa. A Bibliá nos affirmando, que a primeira mulher Eva, foi formada de uma costella de Adão o primeiro homem durante o somno; apenas nosquiz mostrar a menor resis- tência da mulher. E’ na verdade esta menor resistência é confirmada pelos dados seguintes: Estatura, musculatura, apparelho circulatório, desde a parte continente á parte contida. Quanto a parte contida temos os seguintes dados: Peso especifico 1,0 no homem—na mulher 1,535—Numero de hematias 4310.000 no homem segundo Malassez, 5500000 segundo Kayen. Na mulher 4200000 segundo Malassez, 4800000 segundo Ilayen. Substancia cerebral Conforme o professor Sappey, o peso normal do cere- bro no homem é: 1182 grammas; e na mulher, 1093 grarnmas. Segundo Broca, no homem 1157 e na mulher 995 grammas. Broca pesando, não só cerebros inteiros mas também os lobulos, achou os pesos seguintes: lobulo frontal do homem de 25 a 45 annos, 502 grammas, na mulher em idênticas condições 429 grammas. No homem de 70 a 90 annos 429 grammas, na mulher em indenticas condições 392 grammas. Lobulo occipial no homem de 25 a 55 annos, 111 grammas; na mulher em idênticas condições 100 grammas. 36 No homem de 70 a 90 annos 412, na mulher em idênti- cas condições 91 grammas. Lobulo temporo-parietal no homem de 25 a 40 annos 552 grammas; e na mulher 382 grammas; no homem de 70 a 90 annos, 458 grammas; na mulher nas mesmas con- dições 416 grammas. Nos parece que estes dados são sufficientes para provar a menor resistência da mulher, consoquentemente a causa da frequncia das obsessões * * * Idade—Os auctores, não estão accordes quanto á idade em que começam as obsessões. Os Profess, Regis et Pitres, colheram de suas observa- ções a seguinte deducção: as obsessões se iniciam entre a iníancia e adolescência, se terminando aos 40 annos; porem, não se infere d’ahi que as obsessões não possam perdurar até a morte do paciente. * * * Profissão—À maioria dos auctores nega a influencia da profissão na genese das obsessões; Regis et Pitres assim se exprimem: as profissões não parecem ter influencia alguma etiologica. Os obsedados pertencem á todas as classes sociaes. Encontramol-os entre os ricos como entre os pobres, entre os ociosos como entre os trabalhadores, entre os intellectuaes como entre os mercenários. Não compartilhamos da opinião dos illustres mestres; somos de opinião, que em igualdade de condições, as 37 obsessões devem ser mais frequentes nos intellectuaes, pois,além das demais causas perturbadoras vai se juntar a surmenage, pelo constante labor cerebral. Emoções As emoções constituem incontestavelmente um factor importantíssimo na genese das obsessões, e com relação á sua importância podíamos com ella formar uma triade composta da degeneração e da herança, em torno do qual viriam grupar-se as demais causas. Attendendo ao papel representado pelas emoções, não podemos deixar de fazermos algumas considerações á res- peito. Muitas são as definições d’este estado psychico. Litré et Gilbert, definem: estado activo da porção do encephalo, que preside aos instinctos ou sentimentos, determinados por uma impressão penivel e capaz ou não de perturbar a acção que esta parte dos centros nervosos exerce sobre os apparelhos da vida vegetativa, com os quaes está em relação. Heinroth diz: è a faculdade que torna o homem apto para experimentar o prazer e a dor. Littré et Robin definem: é a acceleração ou irregula- ridade da circulação determinada por uma impressão dolorosa ou agradavel. Letourneau diz: são violentos sobresaltos do cerebro reagindo energicamente sobre todas as funcções. Ribot:é o estado psychico que nos dá conhecimento das perturbações organicas. 38 Lange et James, definem : é a consciência das variações nouro-vasculares. P. Janet: é a consciência de certas modificações visce- raes, que acompanham algumas vezes aos phenomenos da consciência. William James, assim se exprime: as mudanças cor- poraes que fazem sequencia á uma percepção e nossa consciência d’estas mudanças emquanto ellas se produzem; é a emoção , M. Sollier, assim diz : a emoção consiste essencialmente em uma reacção diffusa, exagerada, incoordenada, não adequada a excitação produzida no cerebro, d’onde mani- festações múltiplas e disparatadas em todas as espheras da aotividade cerebral, motriz, ideativa, sensitiva, senso- rial, vaso-motriz, visceral, etc., etc. Citando estas definições, não queremos entrar na discussão d’ellas, outro é o nosso fito ; apenas diremos que as mais modernas giram em torno de dous eixos: a theoria vascular e a theoria cerebral. A emoção pode ser um estado psycho-physiologico ou psycho-pathologico. Não existe linhas divisórias entre estes dous estados, elles se confundem. O habito é um grande elemento nas emoções; o indi- víduo vai se acostumando a emoções quotidianas, de modo que seo organismo não reage mais a esta impressão, ou reage mui fracamente. E’ pelo habito, que o cirurgião conserva-se impassível 39 ante o sangue que jorra dos lábios de uma ferida; o marinheiro affeito aos perigos das ondas encapelladas, assiste tranquillo aos embates das ondas se quebrando com fragor contra a quilha do navio. E’ pelo habito que ao armador não desperta compaixão os prantos da mãi angustiosa pela perda do filho querido, nem a magua crusciante da noiva, que perdido o amante, transida de dôr assiste aos preparativos da grande roma- gem ; nem tam pouco ao coveiro no seu rude mistér, desperta attenção o leve esquife branco coberto de jasmins odoríferos, ou o pesado ataúde velado de crepe, onde só se divisa us suspiros e as saudades! Para o coveiro parece não existir o culto do bello, pouco se lhe dá, que este estojo encerre o corpo de uma mulher formosa ainda no frescor dos annos, ou a carcassa de um deformado. Ao lado d’aquelles que têm certos sentimentos embo- tados pelo habito, existe uma gamma de transição áquelles que por qualquer cousa estão emocionados; isto é os emotivos. O professor Dupré, estudando a emoção na genese dos accidentes nevropathicos, affirma existir uma constituição psychopatica especial hereditária, podendo ser exagerada por causas diversas. Esta constituição emotiva revela-se por alguns signaes subjectivos: exagero na amplitude, com attenuação da velocidade dos reflexos tendinosos, pupillares e cutâneos; hyperesthesia diffusa e variavel, desequilibrio das reacções motrizes e secretorias (alter- 40 nativas de rubor e palor, crises sudoraes, lacrimaes e diarrheicas), tendencia a espamodicidade, especialmente nos musculos lisos (oesophago, estomago, bexiga, etc.) tremores e finalmente intensidade e diffusão anormal dos effeitos physicos e psychicos. A constituição emotiva parece ser caracterisada não somente pelo erethismo diffuso da sensibilidade, como também ; pela insuficiência de inhibição motriz, reflexa e voluntária. Ella se associa ás mais das vezes aumaintelli- gencia normal e algumas vezes superior; só perturbando a lucidez da consciência, em suas manifestações violentas e seus paroxymos agudos. Consequontemente existe uma constituição emotiva es- pecial differente da constituição hysterica, neurasthenica, paranoica etc.» Regis et Pitres discorrendo sobre as emoções como factor etiologico das obsessões, assim se exprimem: «Dentre os estados emotivos que determinam o appa- recimento das obsessões, é preciso assignalar-se de um modo especial as preoccupações religiosas. Elias são sobremodo nocivas na tenra idade, no momento em que a sensibilidade moral é muito viva e insufficientemente refreada pela razão. E’ justamente nesta epocha da vida, que as creanças são submettidas a uma prova violenta—a primeira com- munhào; as predicas e as praticas de devoção que prece- dem a este acto, super-excitam violentamenle suas imagi- 41 nações e tornam muitas vezes o ponto de partida de obsessões mysticas e escrupulosas.» As emoções violentas, o temor produzido pela vista de epidemias, os assédios prolongados e os bom- bardeios actuando por um tríplice effeito: por uma acção depressora moral, pela visão que apprehende os estra- gos produzidos e pela audição do ribombar da grossa arti- lheria. Com relação a tão magno factor passamos a dizer alguma cousa sobre as theorias. Duas theorias existem para explicar o mecanismo da emoção: a theoria intellectual e a theoria physiologica ou peripherica. Na theoria intellectual, « uma percepção, uma idéa de certa natureza invade o espirito e determina um estado affectivo, sentimentos agradaveis ou peniveis e a emoção está constituída. Na theoria physiologica, a emoção é explicada pelas variações neuro-vasculares. Esta theoria é defendida por Lange, James, G. Sergi, Ribot, Dumas etc. E d’este modo parece-nos termos dito alguma cousa embora mui aligeiradamente sobre este grande factor etio- logico que se denomina emoção. Variadíssimos estados,dependentes uns de perturbações funccionaes, prendendo-se consequentemente ao dyna- mismo, como a hysteria a nevrose proteiforme na phrase de Gharcot, a psychastenia, aos humores como a epilepsia, o terremoto humano na phrase de Amadei, as 42 neurasthenias; ainda as inversões e ptosis visceraes ex. o paludismo.aankylostomase, a febre typhica, a tuberculose, pneumonia, as intoxicação ex. o phosphorismo, o hydrar- girismo, o arsenicismo, o chloralismo, alcoolismo, mor- phinismo, cocainismo, tabagismo, pluinbismo etc etc auto intoxicações, umas devidas ás glandulas de secreções internas ex. cretinismo, o basedowismo; outros vicios de nutrição, arthritismo, gotta diabetes, inanição etc etc ainda o rheumatismo, os traumatismo, ao dermatoses etc. Natureza das obsessões Quatro theorias existem para explicar ás obsessões: a theoria intellectnal—a theoria emocional — a theoria psychastenica—a theoria sexual. Theoria intellectual Peisse e Delaissiauve, foram os primeiros que aventaram a hypothese da precocidade da perturbação da idéa ao sentimento. Hypothese abraçada porGriesinger, Westphal, Meynert Buccola, Tamburine, Falret, etc. que affirmam ser as obsessões simples perturbações intellectuaes Em 1896 Micke affirmou que a idéa imperativa é o grande factor, as perturbações emotivas podem ser consi- deradas como secundarias; e são devidas ao conflicto entre a idéa e a vontade. Estes auctores, partidários da theoria intellectual, trazem em seu apoio o facto da existência de obsessão, sem angustia e sem perturbações emocionaes peniveis. 43 Theoria emocional ' Morei, íoi um dos primeiros que sustentou a base emotiva das obsessões 1866; depois Jastrowicz e Sander i que combateram a these intellectual apresentada por Westphal, á Sociedade Medico-physiologica de Berlim em 1877. Legrand du Saulle abraçando as idéas de Morei, assim se exprime: «o delirio emotivo, não é mais do que a resultante de todas as impressões possíveis, emquanto que o temor dos espaços se limita a uma angustia penivel terrificante em face do vazio, ou em condições absoluta- mante especiaes ». Hans Kaan, Schulle e outros, estudando a crise de angustia consideram-na como o phenomeno principal do estado de asthenia psychica, consequentemente a origem da obsesssão. Fèrè, Seglas, Dellemagne são partidários da theoria emocional; o primeiro assim se exprime: as idéas fixas têm a sua origem na emotividade mórbida, o segundo, a obsessão repousa sobre o fundo de emotividade patholo- gica, o ultimo, a emoção é sempre primitiva. Pitres et Regis, depois de varias considerações assim se .externam : «o que bem prova a prioridade e a pre- ponderância da emoção, é que ella fica o elemento cons- tante e indispensável. Tomai uma obsessão qualquer duvida ou homicídio, suprprimii pelo pensamento a angustia e a anciedade que 44 ahi se encontra e não tereis mais obsessões; supprimii agora a idéa fixa e tereis ainda a obsessão na sua essencia. Logo não ha obsessão sem emoção e sem pheno- menos vaso-motores ». Theoria sexual Em 1875, Freud emittiu a theoria da origem sexual das obsessões. Segundo o seu modo de ver a nevrose anciosa com seus symptomas essenciaes: phobias e obsessões, teriam por causas principaes senão exclusiva, o accumulo de tensão genesica. As obsessões se originariam quasi sempre por praticas irregulares do acto venereo: «o coito reservado dos cônju- ges desejosos de não augmentar a próle, as caricias írustas dos namorados, a impotência relativa dos maridos, cujas erecção insufficiente ou ejaculação muito rapida não permitte á mulher attingir ao espasmo voluptuoso. A abstinência provocada pela viuvez, a suppressão brusca de antigos hábitos de masturbação, etc.» Muitos auctores compartilham da opinião de Freud entre os Tschisch, Gattel Tournier, etc. Theoria psychastenica P. Janet estudando a frequência dos estygmas psy- chastenicos nos obsedados emittio a theoria psechastenica, que tem por base um enfraquecimento psychologico. Esta theoria entrevista por alguns auctores d’entre os quaes Hac-Tuke, que admittia haver sempre nas obsessões um enfraquecimento do poder da vontade. 45 0 proprio Féré admittindo duas formas de loucura de duvida, uma dependendo de um temor morbido e outra da abulia acceita a theoria psychastenica. Laycock, fallando sobre as obsessões julga tratar-se de um phenomeno de regressão das funcções cerebraes. Kraff-Ebing, julga haver não somente uma acentuação mórbida da emotividade, como também uma diminuição da energia do pensamento e da vontade. Uma das opiniões mais positivas sobre o assumpto é a de B. Angell, e assim elle exprime-se: ás idéas impera- tivas dependem de um estado de fraqueza mental, de uma ausência de cerebração, de uma instabilidade da synthese mental; e diz ainda o auctor: o affastamento do campo da consciência é talvez o caracter principal. O indivíduo julga que a vida actual não é real e o sonho desloca a realidade. Pensam do mesmo modo Rubnowitc e outros. CAPITULO IV Diagnostico s e lançarmos um olhar perscrutador por estevastissimo campo de observcãu e de estudo—a psychiatria, veremos que varias são as manifestações psychicas physiologicas ou não, cuja enscenação ou symptomatologia se confundem com as obsessões. Assim a idèa fixa. Esta póde ser normal ou pathologica. A idéa fica physiologica é como diz Ribt «a forma quasi tetanica da attenção.» «Em nada altera a harmonia, a uni- dade psychiea do indivíduo; não rouba ao espirito a minima parcella de sua liberdade, de sua adaptação na utilisação dos meios proprios para chegar a um fim determinado; ao contrario, concentrando a energia intellectual, a idéa fixa dá a intelligencia mais força, mais finura, mais penetração » Alem disto, a idéa fixa normal é querida, é agradavel, não tem o caracter de absurdez não impede a troca das idéas. Não é um obsedado, o compositor que leva dias e dias com o espirito concentrado em uma idéa para a composi- são de uma partitura; o escriptor extenuado na confecção 48 de uma obra; o mathematico absorto na resolução de seu problema, alheiando-se a tudo quanto cerca-o. Não estavam obsedados Newton, estudando as leis de gravitação; Colombo, provando a existência de nm novo mundo; e Archimédes alheíado á tomada de Syracusa. A idéa fixa pathologica, ou Paranoia abortiva de Wes- phall, muito distingue-se da idéa fixa normal e ainda mais das obsessões. Alguns auctores confundem obsessão com idéa fixa, não reparando que esta manifestação psychica, é unidos modos de terminação d’aquella. A idéa lixa pathologica, è inconsciente, falsa, doentia, tem alguma cousa de absurda, se inicia bruscamente, sendo sempre acompanhada de delirio. Dellemagne, (1) discorrendo sobre o assumpto assim diz; a idéa obsedantehypertrophiando-se torna-se idéa fixa. Buccola, assim diz: a obsessão dá logar a idéa fixa, porém esta idéa continuando a sua evolução, augmen- tando de intensidade, provoca uma explosão cortical. O influxo nervoso libertado escôa-se pelos territórios motôres determinando a impulsão. E mais ainda, a obsessão é consciente, a idéa fixa inconsciente. Na obsessão, a inhibição ou enfraquecimento dos diversos departamentos psychicos, é transitória, existindo paroxysmos, de modo que durante a acalmia, o doente (1) Dalleiuagne. Degeneres et déséquilibrés, pags, 540. 49 pode oppor uma maior ou menor resistência ao estado obsedante. Contrariamente na paranoia abortada «é uma idéa que domina o espirto do indivíduo, sem determinar emoção angustiosa, é um pensamento frio, inerte, que não determina sentimento algum reaccional. » * * * Mais uma vez affirmamos, não existe limites precisos entre as obsessões e vários estados psychicos physiolo- gicos ou seini-pathologicos; nas vividas côres que debu- cham estes quadros, tudo numa transição subtil passa da penumbra a sombra. Nem sempre será facil fazer-se um diagnostico entre a paixão e a obsessão; Ribot em uma formula feliz diz : paixão é o equivalente aíTectivo da idéa fixa. «Um indivíduo dominado a despeito de sua vontade por um amor intenso irresistível como Phédro, ou um ciume feroz como Olhello, o criminoso torturado pelos remorsos, é ou não um obsedado? À resposta não é facil. Parece-nos, que tudo o que se pode dizer é que uma paixão levada ao mais alto gráo, pode ser mórbida pelo facto de sua intensidade, de sua duração e de suas con- sequências ; porém legitimada por causas determinantes bastantes.» * * * No domínio verdadeiramente pathologico, muito são os estados mentaes que se confundem com as obses- 50 sões: — Melancholia em geral e especialmente as formas simples e ancoisa. Porém o melancholico tem um fácies especial e um maneirismo, que exprime ao mesmo tempo a dor moral, a angustia e a depressão attingida pelo doente. Sempre affastado numa attitude passiva de um resignado, hesitante e sorprêso quando trata-se com elle, o melan- cholico falia pouco e em voz baixa, respondendo difíicil- mente as perguntas que se lhe faz. A vista baixa, parece retida por alguma cousa que o aterrorisa, supercilios carregados, etc., etc. As vezes o melancholico é agitado, falia sem que se o provoque, gesticula e em seus monotonos discursos vem sempre as mesmas queixas, os mesmos lamentos. Na melancholia simples ou consciente, a forma mais rara da melancholia, existem todos aquelles temôres e aprehensões conscientes que caracterisam as obsessões. Poréin o melancholico distingue-se do obsedado, ao qual um conforto produz sempre uma melhora ao menos temporariamente. Na melancholia anciosa, existem paroxysmos inteira- mente comparáveis á nevrose de angustia. Os melancholicos anciosos longe de concentrarem os seus lamentos, expandem-n’os. Numa constante deambulação, fazem gestos e proferem palavras de desespero. Se bem que ella tenha de commum com a nevrose anciosa, a angustia a auto-mutilação e o suicídio é raro na 51 obsessão e tudo mais é caracteristico e maniíesto na malancholia aneiosa. A catotonia apenas nos tiques pode coníundir-se com as obsessões. Porém como elementos de diagnostico, recorremos a sugestibilidade, ao negativismo, a plasticidade, cerioe a etc. elementos estes que não existem nas obsessões. Além disto, juntamos mais; a sydrome catatonica se bem que exista enxertada em vários estados psychopa- ticos, é mais frequente na demencia precoce. Ainda que a syndrome catatonica possa associar-se a hysteria e ás obsessões, a sua symptomatologia se bem que modificada não determina grandes confusões. Em taes casos a syndrome fica reduzida a alguns de seus elementos e tem o valor de um epiphenomeno. Na demencia precoce, a fuga hebephrenica pode-se confundir com a dromomania. Deny et Roy que bem estudaram este assumpto assim se exprimem: «a fuga hebephrenica è uma impulsão não irresistível, subconsciente submnesica, feita sem me- thodo nem fim precisos e com tendencia á stereotypia ; é pois uma fuga demencial. » Na dromomania, é um desejo imperioso, irresistível que domina, se fazendo seguir quasi sempre do cortejo symptomatico das obsessões. O indivíduo só encontra a satisfação apôs a realisação do acto. Também com certos delírios systhematizados, e etc. : 52 o delirio de perseguição, o delirio de queixumes pre senil, o delirio religioso, etc, etc, podem se contundir com as obsesões. Porém, um exame mesmo superficial, mostra as ca- racteristicas seguintes : na obsessão, existem os sympto- mas de angustia, os paroxysmos, a consciência da na- tureza mórbida da idéa, seus caracteres automáticos e discordantes; factos estes em contraposição nos delírios. Diagnostico entre algumas formas obsessivas A agoraphobia não se contundirá com as demais ob- sessões uma vez conhecida as suas caracteristicas. Lcgrand du Saulle, estudou miuuciosamente esta mo- dalidade phobica e reparando-a das vertigens assim se exprime : basta lembrar qne o rodomoinho dos objectos e escurecimento da vista que caracterisam as vertigens simples não existem na agoraphobia; que a conservação da consciência e da memória é completa na agoraphobia, emquanto que, na vertigem epiléptica existe a perda de uma ou de outra parte. A vertigem gastrica e hypocondriaca se fazem acom- panhar de perturbações gastricas no primeiro caso, pre- ocupação da saude no segundo; factos estes inexistentes na agoraphobia. Em tudo isto porem a caracteristica é a producção da crise em presença de um espaço vazio a atravessar. A ereutophobiacaracterisa-se pelo medo de enrubescer, ao passo que erythophobia é o temor do vermelho. 53 Dipsomania—Nem sempre é íacil diagnosticar a dipso- mania ; especialmente quando se trata de um dipsomano mysterioso que se occulta cuidadosamente para beber. Só depois de um certo numero de accessos pode-se afílrmar, e as mais das vezes casualmente. Exemplo: um indivíduo tendo uma bôa norma de conducta, em certo dia é conduzido para sua residência em completa embriaguez. Isto dissipa-se, tudo volta ás suas condições primitivas e em plena normalidade, num tempo mais ou menos longo, nova crise, que se succede depois com uma certa periodicidade. Trèlat, fazendo considerações sobre a dipsomania, assim se exprime : «bebedores são se embriagam quando acham occasião de beber; emquanto dipsomanos são doentes que se embriagam todas as vezes que são presos do accesso dipsomaniaco. Uma outra alteração pode confundir-se com a dipso- mania: é a loucura de dupla forma, ou a forma periódica da psychose maniaco-depressiva. Muitas vezes excessos alcoolicos fazem parte do cortejo symptomatico desta afTecção. «Porém o estado mental é muito differente num e noutro caso. A psychose circular ou de dupla forma, caracterisa-se neste periodo por um excitação geral de todas as funcções psychicas e somaticas; emquanto que, a dipsomania dis- tingue-se pela tristeza, a dissimulação e o desejo da solidão. 54 Os antecedentes hereditários têm grande valor, pois irão esclarecer o caso. » Kleptomania—Se bem que não seja íacil tarefa distin- guir-se uma kleptomano de um ladrão, comtudo um certo numero de circumstancias, separam aquelle que furta ao seu contra-gosto, impulsivamente, daquelle que furta intencional e premeditadamente. Ainda que não tenha grande influencia a posição social, porém, a escolha dos objeçtos, futilidades para klepto- inano, de valor para o ladrão, algumas vezes a restituição ao seu dono no primeiro caso, a retenção no segundo, o elemento intenção, ausente no primeiro caso, existindo palpavel no segundo; já differenciam os dous casos. E quando não bastasse, accrescentariamos : a angustia que precede o acto pseudo-dilictuoso no kleptomano e que não existe no caso ; o bem estar que segue-se também no primeiro caso, porque o indivíduo acha-se livre de uma cousa que o affligia, e no segundo caso a satisfação pela pôsse do objecto desejado. Monomania homicida Chegamos a parte mais importante das obsessões— diagnostico das obsessões homicidas. Difficil e mui difficil ê as mais das vezes distinguir-se o monomaniaco homicida do assasssino ; e se muitos enga- nos têm havido, só os primeiros têm sido, prejudicados. Quantos doentes da mentalidade têm expiado seus 55 pseudo crimes no braço, na lamina aguçada da guilhotina, ou sob o ferro candente dos fuzis? Àpezar de ser a humanidade má, perguntamos, que prazer poderá despertar em um cerebro bem equilibrado as lagrimas da innocencia e a vida que foge célere co’o sangue que se escôa em borbotões dos lábios de uma ferida? Sem os exageros, achamos que muito bem andou Lombroso creando a classe dos criminosos natos. E seja emittido fechar com chave do oiro o nosso modestíssimo capitulo, dando a palavra ao professor Gilbert Ballet (1) «O perseguido sob a influencia de seu systhema delirante ou de uma hallucinaçáo mata áquclle que elle considera seu inimigo. O alcoólatra hallucinado fere as mais das yezes ou para defender-se de um perigo que o aterrorisa, ou para obedecer a uma hallucinaçáo imperativa. O melancholico as vezes mata os sêres mais queridos por causa de um raciocínio pathologico, para subtrahir-se á vergonha ao soífrimento; e mata ainda para fazer-se condemnar á morte porque não tem energia para sui- cidar-se. O epiléptico mata com um furor cégo, sem motivo ; não conservando (algnmas vezes) a lembrança do acto. O impulsivo, não obedece nem a uma idéa delirante lógica, nem ao mêdo, nem ao furor; elle conserva a (1) Traité de Pathogie mentale, pags. 750. « 56 consciência ao menos relativa e a recordação precisa de um acto, que elle julga abominável e indesculpável. Arrastado por uma obsessão impulsiva que elle reprova, contra a qual luta por todos os meios, e que muitas vezes subjuga-lhe a vontade forçando-o á acção. CAPITULO V Prognostico .Assim como as sementes urna vez disseminadas pelos campos exigem condições intrínseca e extrínsecas para que germinem; do mesmo modo as obsessões para que se desenvolvam e cheguem ás formas mais elevadas, de dois factores necessitam; o terreno (degeneração) e a forma. E’ excessivamente variavel o prognostico das obsessões. Nas formas agudas, quando a obsessão faz sequencia a um choque moral, a uma infecção ou intoxicação, ella é sempre difíusa; pois ainda não ha uma perturbação muito sensível do dynamismo psychico, nem tem de- corrido ainda o tempo preciso para sua systematisação. E assim sendo, é pequena a existência da obsessão; ella vae se attenuando á medida que ò estado toxico e infectuoso vai desapparecendo do organismo. Nas formas chronieas, as obsessões são como as arvores seculares que tendo raizes profundamente introduzidas no solo, resistem ao sopro destruidor do vendaval, que ar- rancando-lhes a folhagem, despedaçando-lhes os, ramos, nem sempre consegue desenraizal-as. 58 Encaradas as obsessões na sua forma, podemos dizer que ellas são tanto mais graves, quanto mais predomi- nante é o elemento intellectual. As obsessões mono-ideicas, as obsessões impulsivas, são mais graves do que as phobias, onde o phenomeno dominante é a angustia. Na forma chronica, a obsessão pode ser polymorpha e manifestar-se sob a forma intermittente, de crises mais ou menos agudas, tendo de permeio um periodo de calma relativa; ou ser uma obsessão systhematisada e tenaz que uma vez installada, persiste indefinidamente determinando no doente o desdobramento de sua perso- nalidade; ou ainda estados psychopaticos mais pro- fundos. Morei tratando d’este modo de terminação das obses- sões assim se exprime: uma vez que a doença tenha attingido a chronicidade, os doentes cahem numa especie de misanthropia. Não se vexam mais quer estejam diante de extranhos quer de pessoas da familia para se entre- garem a pratica de actos ridículos, que os fazem passar como excêntricos tiquistas etc. etc. Um facto ainda muito debatido é a transição das obscsões, negado por alguns auctores dentre os quaes Magnan Legrain etc. J. Falret discorrendo sobre o assumpto assim diz: «è um facto notável, jamais nestes casos se observa a menor modificação da syndroine. Ella não evolúe e não se trans- forma, jamais torna-se origem de um delirio própria- 59 mente dito como se tem escripto, confundindo a idéa obsedante com a obsessão pura, jamais ella se termina pela demeneia.» No entretanto esta opinião é não menos contradicfada por um grande numero de auctores, dentre os quaes Kraepelin, Meynert, Emminghaus, Mickle, Friedmann, Morsclli, Wernicke, Schafer, Tuzeck etc. etc. Seglas pensa d’este mesmo modo;e assim se manifesta: os obsedados tornam-se algumas vezes hypocondriacos delirantes, ou começam uin delirio systhematizado, muitas vezes de perseguição. Os professores Regis e Pitres em 400 casos de ob- sessão, notaram 9 casos de psychoses confirmada, 11 casos de transição. Pensamos do mesmo modo que estes últimos auctores como já tivemos ensejo de demonstrar no inicio do nosso modesto trabalho. Prognostico de algumas formas obsessivas Loucura de duvida—Nesta forma obsessiva o prognos- tico é sempre sombrio desde quando a assistência do psychiatra nao se faça sentir de um modo real e positivo afim de que não se dê a transição para outros estados psychopaticos. Dipsomania—Se bem que Salvatori tenha aífirmado a cura de muitos dipsomanos, todavia é sempre muito ne- voado o prognostico da dipsomania, especialmente quando se trata de casos de curta intermitência, não só pelo que 60 diz a vida do paciente, por que phenomenos de intoxi- cação alcoolica se vão produzindo como também o psy- chismo vai se tornando cada vez mais baixo. Existem todavia casos de cura de dipsomania como aífirmam Lavigne, Bali, Hutchison, etc. Gilbert Ballet, discorrendo sobre a raridade da cura da dipsomania diz: nada mais difficil do que modificar-se o estado mental de um dipsomano; certamente Salvatori coníundio dipsomanos com alcoólatras e casos de longa intermitência com verdadeiras curas. Impulsão homicida — Uma vez installada esta forma obsessiva, ella a deixa a sua victima. Se a intermittencia é longa, não é muito profunda a alteração psychica, se porém de curta duração, ella se termina pela loucura, constituindo os typos dos perse- guidores. CAPITULO VI Tratamento í] muito instável o tratamento das obsessões. Facil em suas manifestações mais simples (phobias, tiques etc.) dilficil a medida que as alterações psychicas vão se tornando cada vez mais positivas. Nas formas simples, bastam as mais das vezes os cuidados familiares despertando a vontade enfraquecida; quando não, as diversões, os sports etc. etc. Tratando-se de um deprimido as musicas ruidosas, marciaes, produzem bom resultado; quando porem tratar- se de um excitado, as musicas suaves, preferindo-se sempre os sons produzidos pelos violinos, violoncellos, harmoniuns etc. a phototherapia pelo emprego da luz azul, a massotherapia a electrotherapia etc. etc. Se porem trata-se de casos sérios, emprega-se apsy- chotherapia, sugerindo-se ao estado de vigiliauma medica- ção delicada e manejada prudentemente de modo «a dissociar e desagregar o systhema mental da obsessão; e reconstituir a synlhese mental principal, sempre en- fraquecida. 62 À hypno-psycho-therapia, tem sido preconisada por muitos auctores. Seria segundo Regis e Pitres o melhor methodo de tratamento das obsessões, se fôsse sempre possível. À mecano-psycho-thorapia também pode dar bons re- sultados. Nas obsessões impulsivas, exemplo a dipsomania, se tem que attender a dous casos: a therapeutica do accesso dipsomaniaco e a therapeutica do periodo de calma; e ainda se os intervallos são do longa ou curta duração. A therapeutica do accesso consiste em combater a excitação por meio do opiuin, da morphina, chloral etc.; emquanto que a therapeutica do periodo de calma con- siste em combater os eííeitos produzidos pelo álcool no organismo. Assim se cuidará do apparelho circulatório, administrando-se iodureto de potássio contra a sclerose das artérias, esparteina digitalis etc. para o coração. Contra os accidentes renaes os diuréticos cactus, theo- bromina etc. Contra os accidentes gastro-intestinaes, empregam-se os tonicos, os amargos a ipeca etc. etc. Se porem os accessos são frequentes então se em- pregao isolamento. Quando porem, se trata de estados violentos, obsessão homicida por exemplo então emprega-se a balneo-therapia a clinotherapiá a hyoscina o internamento de accordo com as idéas hodiernas—Open-door. 63 Se bem que esta não sêje a ordem natural de exposição, pois sérios motivos nos forçaram a assim proceder, aproveitamos a opportu- nidade para mostrar os moldes sobre os quaes vai vasado o nosso insignificante trabalho. Aceitamos a classificação de Krcepelin em falta de outra melhor. ClHSSilioação de Krrepelin i delírios febris delirios infectuosos (estado de enfraquecimento infectuoso Psychoses iníectuosas. Psychoses do esgotamento.. delirio de collapso iconfusão aguda (amencia) 'esgotamento nervoso chronico (Neu- rasthemia adquirida, hypocondria) agudas 'alcoolismo raorphinismo (cocainismo Intoxicações.. 'chronicas Psychoses thyreogenas psychose myxedematosa cretinismo Demencia precoce.. íhebephrenica (catatoníca demencia paranoide (paranoides.. delírios systhematisado phantastico Demencia paralvtica. Psychoses por lesões cerebraes. Psychoses de involução.. melancholia [delírio de queixume pre-senil demencia senil forma simples » periódica » circular Loucura maníaco depressiva Paranoia. Loucura epiléptica. estados maníacos depressivos mixtos Nevroses psychogenas. loucura hysterica [nevrose traumatica » de angustia nervosidade depressão constitucional loucura obsedante loucura impulsiva perversão sexual Estados morbidos originários criminoso-nato, louco moral i » de vocação *os intaveis íos mentirosos morbidos e os frau- ' dadores \os pseudos querelantes Personalidades psychopaticas Paradas de desenvolvimentos psychico.,.. inbecilidade idiotia PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas PROPOSIÇÕES ANATOMIA DESCRIPTIVA I A artéria cerebral anterior um dos ramos terminaes da carotida interna, contorna o joelho do corpo calloso, segue a face interna do hemispherio quasi margeando o sulco calloso-marginal e perde-se no lobulo quadrilátero dando um ramo anterior, um medio e um posterior. li A artéria cerebral media ou Sylviana, é também um dos ramos terminaes da carotida interna; chegando a insula de Reil, dá 5 ramos: o i.° para a circumvolução de Broca, o 2.° para a frontal ascendente e o pè da 2.a frontal, o 3.° para a parietal ascendente e o lobulo parietal superior, o 4.° para o lobulo parietal inferior; o 5.° para o temporo-sphenoidal. m A artéria cerebral posterior ramo terminal do tronco basilar, contorna o pedunculo cerebral até os tubérculos quadrigémeos, d’ahi se dirigindo para traz e para fóra sobre o lobulo occipital onde dá 3 ramos : o l.° anterior para parte anterior das circumvoluções-temporo-occipital; 68 o 2.°medio para a parte media das mesinas circumvoluções, o 3.° posterior para as circumvoluções do lobulo pa- rietal. ANATOMIA MEDICO-CIRURGICA • , I O grupo das aphasias comprehende as perturbações da faculdade propriamente dita da linguagem : faculdade de exprimir os nossos pensamentos por signaes, a idóa de um lado, a íuncção de articulação das palavras do outro, são sufíicientemente conservadas para que a linguagem seja possível. II As aphasias podem ser polygonaes super-polygonacs, sub-polygonaes e trans-polygonaes. III Aaphasia motriz, ou aphemia de Chareot, é uma varie- dade das aphasias polygonaes; é resultante da lesão do pê da 3.a circumvolução frontal. HISTOLOGIA I Os íiletes do nervo accelerador do coração se destacam da medulla a partir do 5.® a 6.° par e sobem se associando aos filetes do 4.°, 3.°, 2.°, e l.°, até ao ganglio thoracico superior, que elles atravessam; ganham o ganglio cervical inferior pelos dous ramos do anel de Vieussens e descem para o plexus cardíaco. 69 II Outros filetes se destacam da parte inferior da me- dulla cervical,indo-se juntar aos filetes dorsaes ascendentes ao nivel do ganglio estrellado; emquanto que, um outro grupo oriundo da medulla cervical superior pelos 3 pri- meiros pares, se anastomosam com o ganglio cervical superior e descem para o coração com o cordão cervical do sympatico. ui (Jni ultimo grupo se origina diroctamente do bulbo com as raizes do nervo vago, o que, sc pode demons- trar nos animaes atropinisados, uma vez tomadas as precauções para evitar a sensibilidade recurrente da extremidade peripherica deste nervo. BACTERIOLOGIA I Spirilum choleroe — Bacillo do cholera — Bacillus vir- gulae—Komma-bacillo—Vibriâo asiatico, etc., etc taes são as denominações dadas ao elemento responsável pela infecçào cholerica. II Os spirillos do cholera se encontram em grande quanti- dade nas fézes dos cholericos e também no intestino. iii E’ um gerinem polymorpho; se corando facilmente pela fuchsina de Ziel ou pela violeta de genciana. 70 ANATOMIA E PHYSIOLOGIA PATHOLOG1CAS I Os thrombos obliterantes tèm duas origens palhoge- nicas. n Uns se originam de thrombos parietaes transformados progressivamente em obliterantes por estratificações continuas de fibrina, plaquetas e outros elementos do sangue: o que succede após as suturas. m Outros originam-se pela coagulação brusca de uma columna sanguinea em um vaso : o que acontece após as ligaduras. PHYSIOLOGIA I Ha um grupo de glandulas de secreção interna, cuja acção particular é estimular á distancia um orgão determinado e provocar um acto physiologico, que é a sequencia e conse- quência lógica d’aquelle que lhe deu origem. li A secreção apparece como um processo humoral de descarga, cujo fim é coordenar actos sucessivos e harmó- nicos, assegurando assim a synergia funccional do diíTe- rentes orgãos. III A esta classe de corpos fabricados pelas glandulas e que provocam reflexos humoraes, dá-se o nome de hor- monas. 71 THERAPEUTICA 1 A opotherapia tem feito grande progresso nestes últi- mos annos. II Foi Marinesco quem primeiro empregou o liquido hypo- physario no tratamento da acromegalia. Ui Nas acromegalias sob a influencia do liquido hypophy- sario a cephaléa e as nevralgias diminuem. HYGIENE I As substancias assucaradas devem ser prescriptas na alimentação do diabético, todavia o uso da sacharina pode ser permittido no café ou no chá. li O leite é um bom alimento para o diabético. m Muitas vezes, apenas o leite cura os diabéticos que são ao mesmo tempo albuminuricos. MEDICINA LEGAL E TOXICOLOGIA I O segredo medico absoluto é um dogma inaceitável. II Não deve o medico conamar-se silencioso reconhecendo que o seu cliente é victima inconsciente de um veneno. 72 III À consciência deve prevalecer na resolução daquelles casos, para os quaes as prescripções da lei não podem satisíazer, motivado pelos progressos da medicina legal no momento questionado. PATHOLOGIA CIRÚRGICA I As fracturas da base do craneo são diagnosticadas por symptomas indirectos ou á distancia. II O signal de Laugier, caracterisa 3 casos: ruptura do tympano e da mucosa da caixa,fractura do rochedo e lesões vasculares em torno do rochedo. m As echymoses subconjuntivaes, pharyngiana, mastoi- diana e cervical podem servir de diagnostico das íracturas da base. OPERAÇÕES E APPARELHOS I Bronchotomia é a operação pela qual o canal aereo é aberto na região do collo. li Quatro são as modalidades da bronchotomia: a tra- cheotomia, a tracheo-laryngotomia, a laryngotomia thyroi- diana e crico-thyroidiana, a bronchotomia super-laryngéa ou hyoidiana. 73 III A tracheotomia se pratica sobre os primeiros aneis da trachéa. CLINICA CIRÚRGICA (i.a cadeira) I Nephrotomia é a operação que consiste em incisar o rin para dar sahida a cálculos renaes ou ao pús de um abcesso renal. li E’ na parêde abdominal posterior, no bordo externo do quadrado dos lombos, que se deve fazer a incisão; abor- dando-se assim o rin por sua face posterior extra-perito- neal. III Uma vez que não haja ablação de partes renaes, ella não expõe aos accidentes da insuficiência renal. ♦ CLINICA CIRÚRGICA (2.a cadeira) I A splenectomia é a operação que consiste na extirpação do baço. II Entre os vários casos de sua indicação estão : as hérnias traumaticas os abcessos, tumores, hypertrophia, moléstia de Banti, etc. 74 III Er sempre lima operação grave por causa das hemorrha- gias e adherencias mantidas com os orgãos circum- visinhos. PATHOLOGIA MEDICA I A erysipela da face se annuncia habitualmente por symptomas de invasão, frio, lassidão, cephaléa nausea, vomitos e febre alta. II Estes symptomas podem preceder desde algumas horas, a um ou dous dias o apparecimento da placa erysipelatosa. III Algumas vezes o engorgitamento dos ganglios precede a erysipela. ■ * CLINICA PROPEDÊUTICA I Dos dous pontos inferiores de escuta cardíaca, um corresponde ao lugar em que a ponta do orgão choca a parede thoracica, consequentemente ao 5.° espaço inter- costal esquerdo ou face posterior da 6.a costella, um pouco para dentro da linha mamillar; e corresponde ao ventrículo esquerdo. 75 II Outro, está situado no terço inferior do sterno ou melhor na base do appendice xyphoide e corresponde a face anterior do ventrículo direito. m O fóco superior esquerdo, estende-se da 3.a articulação chondro-sternal até o 2.° espaço intercostal esquerdo, junto ao bordo sternal; emquanto o direito occcupa 2.° espaço intercostal direito ao lado do bordo sternal res- pectivo; correspondendo a artéria pulmonar ume a aorta o outro. CLINICA MEDICA (l.a cadeira) I I Uma doença é larvada quando tem a symptomatologia de uma outra com a qual ella não tem analogia. II A infecção palustre é larvada quando reveste a forma de uma nevralgia, de um fluxo ou de uma nevrose. III Os nervos do 5.° par, são a séde mais habitual destas febres palustres larvadas. CLINICA MEDICA (2.« cadeira) I Em alguns casos a febre larvada é representada pelo elemento congestivo, fluxuonario, hemorrhagico, etc. 76 II Entre as nevroses que constituem formas de febres larvadas, estão: a tosse espamodica, a dyspnéa pseudo- asthmatica, a hemíerania, o soluço, etc. iii Todas as manifestações larvadas apresentam os se- guintes caracteres: são periódicas, se mostram em indi- viduos que habitaram um logar paludoso, ou já foram attingidos.de paludismo, os quaes trazein sempre uma splenomegalia. MATÉRIA MEDICA, PHARMACOLOGIA E ARTE DE FORMULAR I A glycerina foi descoberta por Schelle em 1799, que lhe deu o nome de principio dôce oleos. II E’ um liquido xaroposo, incolor, incristalisavel, inodoro e assucarado. iii Com a glycerina se obtem diversas formas pharmaceu- ticas d’entre as quaes os glycerolados e os glyceratos. HISTORIA NATURAL MEDICA I 0 Hyosciamus niger, Meimendro negro — Herva dos cavallos etc., etc. é uma planta annual ou bis-annual de raiz carnosa pouco ramificada, caule aereo e erecto; 79 pertencente â família das Solanaceas, tribu das daturéas— genero hyosciamus. II As folhas, são alternas, simples molles pubescentes, as radicaes pecioladas, as caulinaes sesseis e quasi amplexi- caules. III As flôres são solitárias e sesseis collocadas na axilla das fohas superiores, que são muito aproximadas consti- tuindo um cymo escorpioide. CHIMICA MEDICA I A matéria é uma e unica. II As diversas modalidades da matéria, nada mais são do que a resultante de posições e vibratilidades diversas dos respectivos átomos. m Provam os phenomenos de allotropia e isomeria. OBSTETRÍCIA I Depois do 6.° mez de prenhez não ha mais aborto, sim parto prematuro. 80 II 0 aborto pode ser expontâneo, pathologico e provo- cado. iii O aborto torna-se inevitável todas as vezes que hou- ver descolamento da placenta e morte do íéto. clinica obstétrica e gynecologica I São muito frequentas as perturbações mentaes no estado gravidico. II Não é raro encontrar-se a kleptomania. iii Muitos crimes têm sido mascarados pelo estado gra- vidico. CLINICA PEDIÁTRICA I O rachitismo ê uma doença da infancia caracterisada por uma nutrição e uma evolução viciosa dos tecidos que concorrem para a ossificação. II O rachitismo começa ordinariamente no íim do l.° anno ou no 6 primeiros mezes do 2.° anno de edade. 81 III Algumas vezes as deformações ósseas são precedidas de phenomenos precursôres; a creança torna-se triste timorata esquivando-se a todos os movimentos pela dor que d’elles resulta. CLINICA OPHTALMOLOGICA I Foram Lombroso e Ottolenghi os primeiros que estu- daram o campo visual sob o ponto de vista da degeneração- II E das suas observações chegaram ao seguinte resultado: o campo visual é notavelmente diminuido nos epilépticos entre os paroxismos e ainda mais estreitados nos delin- quentes natos. m No limite do campo visual observa-se uma distribuição particular devida a umahemiopia parcial inferior a esquer- da, especialmente em correspondência com os dous qua- drantes inferiores. CLINICA DERMATOLÓGICA E SYPHILIGRAPHICA I Entre os arthriticos é muito frequente à localisação eczematosa no scrotum, sendo ahi a affecção rebelde muito pruriginosa e determinando sempre a inlfitração da pelle. 82 II As erupções eczematiformes da vulva são ordinaria- mente ligadas aos catarrhos vagino-uterinos ou vesicaes. III Entre os arthriticos o anus é muitas vezes attingido de eczema. As lesões ahi são extremamente pruriginosa podem se propagar às partes visinhas. CLINICA PSYCHIATRICA EDE MOLÉSTIAS NERVOSAS I Degeneração é o afastamento do typo commum das raças quer sob o ponto de vista psychico quer physico. II Dentre os signaes de degeneração apontamos no tronco: o thorax em quilha, o thorax em funil, a gynecomastiaetc. m Nos membros a syndactilia e pied-bot, etc. BIBLIOGRAPHIA A. Pitres et Régis—Les obsessions et les impulsions. J. Dallemagne—Degeneres et déséquilibrés. P. Janet—Les Obsessions et les psychasthenies. Sergi—Les Etnotions. F. Raymond—Névroses et psycho-névroses. A. Gulerre—Les Frontières de la folie. E. Krcepelin—L’introdution á la psychiatrie. E. Régis—Precis de psychiatrie. A. Marie—Les Obsessions et les impulsions. Bali -Les inaladies mentales. Baraduc—Les vibrations de la vitalité humaine. Seglas—Maladies mentales. Charles Féré—La famille névropathique. Gilbert Ballet—Traité de pathologie inentale. Féré—L’ainour du métal. Féré—Les epilepsies et les epileptiques. Dugas—La Timidité. Denomines—Des impulsions rnorbides. Dias de Castro—Das emoções. E. Vidal da Cunha—Estado mental na epilepsia. Littré—Dictionaire de médicine. Larousse—Dictionaire encyclopedique. Hachette—Dictionaire encyclopedique. L’histoire de la prostituition. Grasset—Les Demi demi responsables. Grassot—Maladies mentales. Magnan—Maladies mentales. Fiessinger—Erreurs sociales et maladies morales. Viveiro de Castro—Attentados ao pudor. tyàto. Secretaria da Faculdade de Medicina da Bahia em 31 de Outubro de 1910. O Secretario, ])r. Menandro dos Beis Meirelles