FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA \\\\\\\\\vsl APRESENTADA Á FACULDADE DE HEDIG1N4 DA BAHIA Em 31 de Outubro de 1908 PARA SER DEFENDIDA POR é)zne&to (Smvf/io da oFon&eca NATURAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Afim de obter o gráu de doutor em medicina CADEIRA DE CLINICA MEDICA DAS CÓLICAS HEFATXCAS PROPOSIÇÕES Tres sobre ccida uma das cadeiras do curso de sciencias medieo-cirurgicas BAHIA Typographia S. José Rua do Corpo Santo, 66- 2 Andar 1908 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Director—Dr. AUGUSTO C. VIANNA Viee-Director—Dr. MANOEL JOSE’ DE ARAÚJO LENTES CAT1IEDRATIC0S OS D RS. MATÉRIAS QUE LECCIONAM l.a SECÇÃO Carneiro de Campos Anatomia dcscriptiva. Carlos Freitas ' Anatomia medico-cirurgica. 2.a Antonio Pacifico Pereiro Histologia- Augusto C. Vianna Bactereologia. Guilherme Pereira Rebello .... A natomia e Physiologia pal-hologieas. 3. a Manoel José (le Araújo . . . . . Physiologia. José Eduardo F. d® Carvalho Filho . Therapeutica. 4. a Luiz Anselmo da Fonseca .... Hvgiene. Josino Correia Cotias Medicina legal e Toxicologia. 5. Braz Hennenegildo do Amaral. . . Pathologra-cirúrgica Fortunato Augusto da Silva Júnior . Operações e apparelhos. Antonio Pacheco Mendes Clinica cirúrgica 1.» cadeira. Ignacio Monteiro de Almeida Gouveia Clinica cirúrgica 2.“ cadeira. O.» Aurélio lt Vianna Pathologia medica. Alfredo Britto Clinica Propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho . . . Clinica Medica 1." cadeira Francisco Braulio Pereira .... Clinica Medica 2.11 cadeira 7. a A. Victorio de Araújo Falcão . . . Matéria medica, Pharmaco logia Arte de formular José Rodrigues da Costa Dorea . . Historia natural medica. José Olympio de Azevedo .... Chimica Medica. 8. a Deocleeiano Ramos Obstetrícia. Climerio Cardoso de Oliveira . . . Clinica obstétrica e gynecologica. 9, a Frederico de Castro Rebello . . . Clinica pecliatrica. 10. a Francisco dosSantos Pereira . . . Clinica ophtalmologica. 11.a Alexandre E. de Castro Cerqueira . . Clinica dermatológica e svphiligraphica. 12.a Luiz Pinto do Carvalho Clinica psychiatrica e de moléstias ner- vosas. João E. de Castro Cerqueira . . . „ .. . Sebastião Cardoso . Em disponibilidade. LENTES SUBSTITUTOS OS DOUTORES José Affonso de Carvalho . . 1.» Pedro da Luz Carrascosa e . . Gonçalo Moniz Sodré de Aragão . ( 2.» .1. J. do Calasans . . 7.» Julio Sorgio Palma ( .1. Adeodàto de Souza . . . . 8." Pedro Luiz Celestino .... 3.a Alfredo Ferreira de Magalhães . 9.“ Oscar Freire de Carvalho . . 4.a Clodoaldo de Andrade . . . .10. Antonino B. dos Anjos .... 5.» Albino Leitão . 11. João Américo GarcczfFroes . . 6.» Marío Leal 12. Secretario-Dr. MENANDRO DOS REIS MEIRELLES Sub-Secretario Dr. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA A Faculdade não approva nem reprova ar opiniões exaradas nas tlieses pelos seus auetores F5 r © a m b ia i © Dos numerosos deveres que pesam sobre o estu- dante de Medicina, é o de apresentar um trabalho scientifico, no termo de sua jornada académica, certamente o mais serio e o mais arduo. Não nos levantamos, todavia, de arma em riste, contra esta obrigação que nos impõe a Lei, porque esta é a alavanca poderosa que mantém o equilíbrio no mundo social. Nutríamos intimo desejo, para corresponder à essa exigencia regulamentar, de escrever sobre um assumpto novo e essencial mente pratico, mas diííi- culdades de to d. utureza surgiram, fazendo retro- cedermos do plano traçado e enveredarmos pelo terreno da clinica, tão cheio de meandros e duvidas. A nossa tliesc inaugural, além de muitas faltas, resente-se de uma gravíssima—não apresentar uma só observação do syndroma doloroso que estudamos. Uma razão muito simples, porem, determinou tão reparavel lacuna, è que alguns casos que podemos apreciar em nossa vida hospitalar, perderam-se inteiramente, pois, ao tempo que os observámos, ainda não se havia esboçado em nosso espirito a idéa do assumpto do nosso trabalho de doutoramento. Aqui pois, apresentamo-nos com o nosso contin- gente scientiíico insignificante, sem pretendermos glorias, nem louvores. Celui qui inet au jour ses pensées pour faire briller ses talents doit s’attendre á la severité de ses critiques; mais celui qui n’ecrit que pour satisfaire un devoir, dont il ne peut se dispenser, á une obli- gation que lui est imposee, a sans doute de grands droits á 1’indulgence de ses lecteurs et de ses juges. La Bruyére CADEIRA DE CLINICA MEDICA DAS CÓLICAS HEPATICAS CAPITULO I C0NS1DEHACÃES GERAES í» ETIO-PATHO0EHIA Guardam entre si tão estreitas relações a,lithiasis biliar e as eólicas hepatieas, que é mister o conheci- mento da primeira para o estudo completo da segunda. Não vamos entretanto ao exagero de considerar estas palavras: eholelithiasis e cólica hepatiea, como synonimas, porque pode existir esta affecção sem o referido syndroma e vice-versa. Acceitamos somente a affecção calcnlosa como a causa mais commum das cólicas e será este assumpto o objeetivo deste primeiro capitulo do nosso modesto trabalho. A cólica hepatiea, dizem, sem excepção, os com- pêndios que manuseamos, é a expressão sympto- matologica da passagem, pelas vias naturaes, dos cálculos biliares. A seu respeito Cullen assim se expressou: Icterus cum clolore in regione epigastrica acuto, 2 post partum aucto, et cum dejectionc concretionum bilioscirum. Não poderemos, entretanto, escjuecer, quando os numerosos factos assignalados por Davaine, Lieutaud. Guersant, Bonfils, Frerichs, Murchison, Gharcot são authentieos, que este syndroma doloroso pode ser também produzido por ascnrides lombri- coides, disto mas hepáticos e kystos hydaticos. De ha muito desappareceu a idéa de que a cólica hepá- tica resultava de uma nevralgia do plexo hepático, como queria Andral, ou de uma hepatalgia, na expressão de Beau. Este Reputava a sua origem calculosa, facto excepcional. Chomel secundava-o nesta opinião, assegurando que, sobre 30 ou 40 casos de cólica hepatica, apenas era possível existir um, que revelasse a existência de cálculos. E’ certa- mente um erro, oriundo talvez do pouco cuidado e falta de persistência nas observações, porque o facto da emigração das concreções biliares, deter- minando, pela irritação e contractura da vesícula e dos conductos, estas dores, é verdadeiro e irre- cusável. Após fazermos a explanação succinta dos factores eliologicos, entraremos no mechanismo pathogenico das cólicas, questão que tem suscitado muitas theorias, sem que possamos reconhecer a verdadeira, por isso que julgamos encontrar em cada uma delias, uma parcella de razão. 3 EUolugiã Sendo as cólicas um accidente muito commum da cholelithiasis, é logico e de uma clareza evi- dente, que todas as causas concorrendo para a formação dos cálculos, preparam o terreno para a ecclosão deste syndroma doloroso. Por isso discorre- remos agora sobre os factores predisponentes e determinantes da aflecção calculosa hepatica, para enumerar depois aquelles outros que occasionam as cólicas, isto é, que despertam o mal. CAUSAS PREDISPONENTES E DETERMINANTES Idade. Está perfeitamente demonstrado, pelas constantes observações, que a lithiasis biliar se manifesta principalmente na idade madura e na velhice, sendo rara na primeira idade. Apezar desta frequência nos velhos, nelles ao contrario as cólicas são raras, o que se explica facilmente. Eis aqui algumas estatísticas, recolhidas de escrupulosos observadores, para demonstrar, com toda a eloquência de seus algarismos, o que dissemos linhas acima. 4 E’ de Lancereaux a seguinte. Sobre 117 casos de litliiasis, elle observou: De 15 a 20 annos . k . 3 de 20 a 30 21 de 30 a 40 33 de 40 a 50 11 de 50 a 60 20 de 60 a 70 13 de 70 a 80 117 Esta estatística é composta quaisi exclusivamente de casos observados em mulheres (108.) Ilarley dá a que se segue: Acima de 40 annos 750 Entre 30 e 40 « 200 « 20 e 30 « 40 Abaixo de 20 « 10 1000 Ileim notou apenas sobre 395 observações, 15 abaixo de 25 annos e2 abaixo de 20. A existência de cálculos na infancia, reconhecida por meia duzia de auctores, não constitue mais que uma excepção. Bouisson encontrou 3 cálculos na vesícula de um recem-nascido; Portal, um outro numa creança de 25 dias. Lieutaud, Gruveilhier, Trousseau, Yal- leix referem também observações. Deduz-se, pois, 5 do que lica exposto, que a lilhiasis biliar é mais frequente dos 30 aos 00 a unos. Sexo E’ incontestavelmente a mulher a vietima mais commum desta afíecção. Fallein por nós os tratadistas. Durand-Fardel dá o seguinte quadro de 230 casos de cólicas biliares, nos dous sexos: IDADK MULHERES HOMENS Antes de 40 annos 66 17 de 40 a 60 « 60 49 de 60 a 70 » 12 18 de 70 a 80 « 4 4 142 " 88 Sénac encontrou em 391 pessoas com cólicas, 164 homens e 227 mulheres. A proporção dos casos, dizem uns, é de 4: 1, pensam outros, é de 3: 2. As causas que influem para esta differença, pagando maior tributo, como vimos, o sexo femi- nino, são varias: menstruação, casamento, prenlitz, parto, lactação, menopausa, vida sedentária, espar- tilho. Lancereaux, com o seu espirito curioso de observador attento e perspicaz, notou que as mu- lheres que tem tido maior numero de filhos são as que mais padecem deste mal. 6 Clima. A aífeccão calculotea é rara nos climas quentes e frequente nos paizes frios. Os cálculos se formam mais no inverno que no estio, opina Durand-Fardel. I Emquanto, porém, a cholelithiasis se observa pouco nos paizes quentes, é justamente nelles que as moléstias hepatieas mais atacam. Franck allirma que as concreções biliares são muito communs na Lithuania e raras na Italia, onde, entretanto, as enfermidades do fígado são frequentes, lluchard para explicar esta frequência, leva mais em conta a natureza da alimentação do que a acção deste chamado temperamento bilioso. Modo de vida As proiissões e os hábitos representam papel saliente na etiologia deste mal. A vida sedentária, a falta de exercidos, o abuso do álcool concorrem poderosamente para a mani- festação da lithiasis biliar. Foi por isso que Tissot cognominou-a — moléstia dos sábios e Soemmering —moléstia dos prisioneiros, em vista dos casos abundantes constatados nos presídios de Cassei e Mavenee. Cooper assignala esta entidade mórbida nos indivíduos que guardam por muito tempo o leito, victimas de differentes males, taes como: angina do peito, rheumatismo chronico, fracturas dos membros, mal de Pott, prenhez, convalescença 7 I de moléstias graves, etc. Huchard refere a obser- vação de um doente anginoso, que submettido ao repouso forçado, eedo se viu atacado de cólicas hepaticas. Para evidenciar a iníluencia que exercem as profissões, transcrevemos para aqui a relação valiosa de 117 casos, dada pelo eminente Professor Lan- cereaux: MULHERES Costureiras 42 Creadas 20 Sem profissão 17 Cosinheiras 12 Lavadeiras 7 Empregadas no commercio ... 5 Parteiras 3 Toucinheiras 2 TÕ§“ HOMENS Alfaiates 3 Conladores . 2 Pelleiro 1 Marceneiro ....... 1 Empregado no commercio ... 1 Carpinteiro 1 9" A constricção exercida pelo uso immoderado do espartilho nas mulheres e do cinturão nos soldados, 8 assim como, os traumatismos da região hepatica, são contadas como causas physicas, que influem incontestavelmente na producção dos cálculos^ Erros de regímen As refeições muito abundantes, a falta de regu- laridade, como a demora na hora da alimentação, o abuso de bebidas espirituosas e dos ácidos, os alimentos muito azotados e pouco digiriveis, taes são os factores incriminados aqui. A alimentação gordurosa em abundancia e consi- derada theoricamente como prejudicial, predispondo á lithiasis; entretanto, experiencias physiologicas já demonstraram o contrario. O regímen lácteo, con- demnado também por muitos, não merece esta sentença, a acreditar-se no que expõe o grande Huchard, que sobre um numero considerável de arterio-sclerosos, submettidos a um regimen lácteo mitigado ou exclusivo, jamais encontrou um só caso de cholelitliiasis, que devesse a sua origem a semelhante causa. Folgo sempre em registar as opiniões deste Professor incomparável do Hospital Necker, porque ollas se estribam num profundo saber e numa larga e bem orientada pratica. Hereditariedade A lithiasis hepatica tem sido até hoje consi- derada como pertencendo a esta grande familia pathologica, denominada arthritismo. Ella se encontra 9 frequentemente irmanada ou substituindo a gotta, a diabetes, o rheumatismo, a obesidade, a asthma, as hemorrhoidas, a lithiasis urinaria, em gerações suceessivas ou nos mesmos indivíduos, de modo a não se poder excluir o parentesco intimo que as reune. Não devemos ser todavia exagerados, nem tão pouco exclusivistas, maxime no dominio da clinica, porque amiudadamente experimentamos as prova- ções do erro. Isso vem a pello do facto de olharem uns, a diathese arthritica como a causa sine qua non da cholelithiasis e de negarem outros, qualquer influencia das moléstias precitadas, na producção desta. O resumo é este: A aflecção calculosa hepatica pode existir, inde- pendente de qualquer tara hereditária, como também se transmitte, quer directa e de modo similar, quer indirectamente. E' a um retardamento das- mutações nutritivas (jue se filia o mal. Este enfraquecimento das oxy- dações organicas, contestado em parte por Huchard, depende segundo Lancereaux de uma perturbação do systema nervoso. Esta opinião pode ser tanto verdadeira quanto falsa; falta-nos critério scientifico para elucidar e discutir tão fina questão. 10 INFECÇÃO Surgiu alfim em Franca a theoria microbiana para explicar tudo e embora apaniguada por espiritos cultos, ella não conseguiu destruir por completo a opinião dos que crêm numa predisposição orgâ- nica., numa influencia constitucional. A clinica e a experimentação demonstram à saciedade que a infecção não é tudo. Para que este mal tenha nascimento e progrida faz-se necessário o Concurso de outras condições, o que bem justifica uma opinião eclectica. A estase biliar, que pode ser solicitada por diílerentes causas, é elemento indispensável e assim esta theoria infeetuosa, tão exagerada na Allemanha Pelo espirito apaixonado de Naunyn, já não pussue todo aquelle valor que lhe quizeram emprestar. CAUSAS OCCASIOXAES / Embora não se possa, em todos os casos, precisar a causa immediata das cólicas, ellas são, entretanto, apreciáveis, ás mais das vezes. A digestão gosa de uma real influencia. Sendo o escoamento da bilis o facto que determina principalmente o deslocamento dos cálculos e repre- sentando este o principal papel na producção das cólicas, é evidente que os excessos de mesa são a causa mais habitual que desperta aquellas 11 dores, porque as refeições mais copiosas solicitam um trabalho digestivo maior e consequentemente uma abundante secreção de bilis. E’ o que explica a regularidade na hora da apparição das cólicas. Estas podem ainda romper provocadas por outras causas, como sejam: trauma- tismos directos, pressões sobre o hypocondrio direito, esforços, exercícios violentos, quedas, abalos de carros, emoções vivas, menstruação, partos, etc. Pathopnia O determinismo pathogenico das cólicas hepaticas, tem soílrido varias interpretações no decorrer dos annos. No campo da Sciencia debatem-se tres theo- rias, que procuram fazer a luz sobre este ponto, explicando cada uma, isoladamente, a razão do facto. Reconhecemos, como já alludimos, em qualquer delias, fundamento scientifico, porque a cólica hepatica é um syndroma clinico e como tal, depen- dente de causas múltiplas. l.°—THEORIA PERITOXEAL Tripier e Paviot, depois de varias observações em indivíduos lithiasicos, em que reconheceram um afastamento completo do quadro clássico da cólica, pensaram numa origem peritoneal, explicativa 12 deste estado morbido e concluíram que «o elemento doloroso da cólica hepatica é funcção de peritonite». Sim, admittimos isso como uma verdade, que bem se evidencia em vários casos, mas estamos muito distantes de acreditar que todas as crises dolorosas dos lithiasicos se originem desta «peri- tonite sub-hepatiea adhesiva». Si esta pathogenia se ap[)licasse a todos os casos, como então explicaríamos aquelles em que as dores apparecem e desapparecem repentinamente, em que a cólica hepatica se manifesta uma só vez na vida, em que a medicação, combatendo simplesmente o espasmo, produz optimo resultado? Respondam a interrogação, que é justa e criteriosa. 2.0 THEO R.I A I N F L A M MATO Hf A Guiados também por observações clinicas, teste- munhando a ausência de cholelithiasis, com accessos, entretanto, de cólica hepatica, Riedel, Kelir e Cliau- ífard, crearam a theoria inflammatoria. Segundo esta, a cólica hepatica pode ser a revelação clinica de uma cholecystite ou de uma angiocholite, de natureza infectuosa. Temos aqui ainda um facto verdadeiro, mas que não corresponde a todos os casos. Elles formularam esta lei: Les ciffectlons des viscères abdominaux ne donnent Li eu à des crises douloureuses que lorsque le peritoine que les entoure 13 est iriterressé par un processus inflammatoire aigu ou subaúgu et la douleur est d’autant plus vive que Vexsudat liquide est moins abondant. 3o. THE O RI A ESPASMÓDICA São as contraccões da musculatura da vesícula e dos canaes biliares, contribuindo para a emigração dos cálculos, que indubitavelmente e na maioria dos casos, provocam estas crises dolorosas. Os factos de todos os dias estão a nos fornecer as provas inconcussas, que firmam solidamente esta verdade. De todo este amontuado de opiniões, resalta emíim que a cólica hepatica pode ter origem calcu- losa ou não, isto é, resultar de um espasmo do apparelho biliar, como de um ataque de peritonite ou de um processo inflammatorio. CAPITULO II STIPTOMiTOIQSIA Prodromo A manifestação das cólicas hepaticas francas e bem caracterizadas, é, muitas vezes, precedida de phenomenos que constituem o chamado periodo prodromico. Este periodo revela-se aos olhos do clinico, por nauseas, anorexia, flatulências gastro- intestinaes, más digestões, dores surdas no hypo- condrio direito,\caimbras do estomago, urinas ama- relladas ou de um vermelho intenso e uma sensação de peso do lado do fígado. Este ultimo prodromo é o signal revelador de uma distensão da vesícula biliar, capaz de ser apreciada á palpação e á percussão, signal notado primeiramente, por Pujol e não por Wiilemin, como pensam alguns. Certos doentes, entretanto, em vez destes pheno- menos tão desagradaveis mostram uma expressão de calma, un sentiment de bien-être, de gaietc mêrne, nas phrases de Durand-Fardel e Fauconneau-Dufresne. Passados estes symptomas, que, no dizer de Huchard, representam os pequenos signaes da lithiasis biliar, sobrevêm as cólicas com toda a sua caracterização clinica. 15 Jà, entretanto, pode-se considerar cólicas de fornia frustra, alguns destes signaes. Dor O inicio das cólicas laz-se ordinariamente de um modo brusco e intempestivo. Elias se declaram geralmente 3 ou 4 horas após as refeições, no momento em que o ehymo cae no intestino e a glandula hepatica derrama neste orgão toda a bilis elaborada para o trabalho da digestão intestinal. AI gumas vezes, entretanto é no proprio momento da ingestão dos alimentos, que estas crises dolo- rosas irrompem, produzindo quasi sempre vomitos. Outras vezes a dor apresenta-se á noite. O ponto inicial da manifestação dolorosa é na parte superior do abdómen, nas regiões epigastrica e umbilical, vindo depois occupar o hypocondrio direito. Anda- ríamos certamente errados, se quizessemos limitar perfeitamente o ponto doloroso, como pretendeu Wepfer, chegando ao exagero de dizer que podia cobril-o com o pollegar, ao nivel do appendice xiphoide. A dor, além de suas múltiplas irradiações, acarreta a hypereâthesia de todo o hypocondrio direito e uma tensão penosa do mesmo hypocondrio, tornando-se deste modo diífusa, incapaz portanto de uma delimitação tão exacta e tão circumscripta. Ella 16 é de intensidade variavel, dependendo isto de diíFe- rentes circumstancias. Não são os grandes cálculos que determinam sempre as grandes dores; elles podem emigrar sem que os doentes accusem o menor sofFrimento. A sua forma, sob este ponto de vista, tem uma importância maior. Outra causa, que entra em linha de conta, reside na tolerância e na distensão dos conductos biliares, as quaes são, ás vezes, admiráveis, como geralmente se observa nos velhos, cujos conductos perderam grande parte de sua sensibilidade e de sua contrac- tibilidade. Isso explica porque nelles as cólicas constituem excepções. A dor é também continua, remittente e paro- xystica, sendo por todos admittido que a duração media do ataque é de 6 a 12 horas. Ao lado das crises, porém, que podem durar apenas meia hora, encontram-se numerosos exemplos, patenteando uma existência longa e demorada. Tal é o caso citado P°r frousseau, de crises que se prolongaram de G mezes a 1 anuo e mais aquelle outro de Fauconneau- Duíresne, de uma duração de 34 dias. A dor pode ser espontânea ou provocada, quer por um traumatismo, quer por uma impressão moral. Não tem razão de ser a opinião de Portal, negando o caracter de exaltabilidade da dor, á pressão, e considerando-o no seu falso modo de pensar, um 17 valioso elemento de difFereneiaoão para a cólica nephritica. Do mesmo modo que se apresenta repen- tinamente, a dor pode também desapparecer brusca- mente ou gradualmente. Estes dous modos de terminação têm significação bem clara. No primeiro caso revela ou a passagem do calculo para o intestino e os doentes têm a sensação do facto, dizendo que um corpo ccihiu dentro de sua barriga, ou o retorno do calculo para a vesícula; no segundo caso, denuncia um encravamento da concreção biliar no canal cystico ou eholedoco, cuja tolerância se estabelece pela dilatação dos mesmos. Esta dor é, às vezes, precedida, outras vezes, acompanhada de um calefrio mais ou menos violento e demorado, com uma reaeção thermica, que vae de 37°, 5 a 408, 5 e um pulso de 92 a 100 batimentos. Estes phenomenos serão mais adiante estudados, com algum detalhe, quando tratarmos das formas clinicas da cólica. Esta dor produz a sensação excessi- vamente penosa de ruptura, constricção, picada, queimadura, dilaceração, constituindo um supplicio terrível para o pobre calciiloso, que geme, grita e se agita, tomando as posições mais variadas e grotescas, com o fim de alliviar o seu soffrimento indescriptivel. Elle procura todas as attitudes que lhe possam acalmar um pouco e uma só encontra capaz de mitigar-lhe o tormento: a que relaxa os 18 musculos da parede abdominal, porque no momento do accesso toda a sua musculatura contrae-se refle- xamente. E1 por isso que estendido sobre o leito, o doente leva as coxas em flexão sobre a bacia e curva o tronco, collocando a cabeça entre os joelhos. De pé ou sentado, inclina-se para a frente, com o mesmo intuito de tornar a parede abdominal ílacida. Quem olhar para o semblante de um destes infe- lizes, verá desenhada nas linhas alteradas de sua face, de uma pallidez cadavérica, a angustia acabru- nhadora de um soífrimento de morte. A irradiação é um dos caracteres mais notáveis ( da dor dos lithiasicos. A principio, como já tivemos occasião de alludir, ella se mostra na região epi- gastrica, creando o ponto epigastrico, que tem sua séde sobre a linha mediana, um ou dons dedos transversos abaixo do appendice xiphoide. A dor localizada neste ponto é de uma frequência extraordinária e Iiuchard diz: la douleur épigas- trique est un symptòme presque constant. de Vaffection calculeuse du foie á son début. Alguns auctores admittem um ponto cystico, localizado na intersecção do bordo externo do musculo recto e da decima eostella. Temos ainda o ponto cervical situado no lado posterfior ou direito do pescoço; o ponto esca- pula/■, de certa frequência, tendo a sua sede ora no achromio, ora na espinha da omoplata, ora no 19 angulo inferior. A dor na espinha da omoplata *é acompanhada de formigamentos, que se estendem para o braço direito, para o pescoço e algumas vezes para a cabeça. O ponto dorsal occupa a 4.:* vertebra dorsal. Tem-se assignalado um ponto mam- mario; lombar (excepcional) splenico e até tesli- cular, sendo neste ultimo caso, a dor bi-lateral e pouco pronunciada, caracter que a distingue da cólica renal calculosa. Não é raro encontrar-se a dor do lado esquerdo, como observaram alguns auctores e modernamente Iluchard que conla 3 casos, provando assim a existência do ponto splenico alludido. Icterícia i Cest uji symptôme important de la colique hépa- tique, diz Iluchard; devemos entretanto notar que são numerosos os casos em que a sua ausência é manifesta. Para confirmação desta asserção pode- ríamos citar larga messe de exemplos fornecidos pelos mestres, mas nos contentamos com poucos. O Dr. Wolf d à a seguinte estatística: Sobre 45 casos de cólicas hepaticas, somente 20 accusaram ictericia. Murphy observou a sua ausência em 86 por 100 dos seus clientes, iluchard conheceu grande numero de doentes de cólica hepatica, que nunca 20 apresentaram ornais ligeiro signal de icterícia. Esta ausência està ligada a causas numerosas: pequenez dos cálculos, sua séde, forma, consistência, emfim uma anomalia das vias biliares, constituída por' um canal choledoco duplo, um canal supernumerario, um canal supplementar, communicando o cholecysto com o duodeno. E’ um erro firmar-se nella uma prova de certeza para o diagnostico de cólicas calcu- losas, quando somente o exame das fezes poderá nos fornecer este elemento de segurança de modo inconteste, como já fez sobresahir o grande Professor Trousseau, nesta phrase: Le seul élément vraiment positif que nous possédions est la presence de concrctions biliairesdans les matières desgarde-robes. Não decorre, porém, dahi, que em todos os casos de cólicas hepaticas se evidencie sempre a presença de concreções biliares nas "fezes, porque tem-se visto muitas vezes o fracasso dos exames mais cuida- dosos. Isso explica-se facilmente pela volta do calculo à vesícula ou por sua permanência no intestino. A icterícia sobrevem geralmente durante as 24 horas, que seguem a apparição das dores, podendo todavia manifestar-se simultaneamente, se as crises se prolongam. Pujol admitte que a icterícia precoce resulta de um espasmo dos canaes biliares, ao passo que a tardia, significa uma obstrucção calculosa completa destes. 21 Estas duas formas têm valores prognosticos bem distinctos e importantes. Ao lado dos casos em que a icterícia pode ser accentuada, intensa, existem aquelles em que apenas se nota uma ligeira cor amarellada, que pode mesmo passar despercebida. A icterícia é o facto da exis- tência de um calculo no canal choledoco, pondo obstáculo ao curso da bilis, favorecendo conse- quentemente a sua absorpção. Não se infere dahi, todavia, que este phenomeno se manifesta em todos os casos, em que as concreções biliares attingem aquelle ponto, porquanto a sua pequenez pode ser tal, que a sua passagem se faça de modo facil, sem produzir uma estagnação da bilis. Mas cumpre também não olvidar que os grandes cálculos não produzem sempre esta icterícia, dependendo isso de sua forma e de uma condição especial dos canaes. Fauconneau-Dufresne, contrario a opinião de muitos, pensa na possibilidade da icterícia por uma repercussão sympathica sobre as funcçoes hepaticas, na obstrucção do canal cystico. A icterícia è um symptoma que, como a dor, pode ter a duração de alguns dias, alguns mezes, reproduzindo-se a cada ataque de cólica e chegando a emprestar ao paciente uma cor ictérica quasi constante, se os seus intervallos são pouco espaçados. 22 Vomitas Temos aqui um outro symptoma que, si bem não se apresente em todos os casos, merece todavia certa consideração. Elles concedem geralmente um certo allivio aos doentes. O seu apparecimento faz-se, muitas vezes, desde que os accessos de cólicas se iniciam e de simples ali- mentares que são no começo, passam a ser mucosos e depois biliosos, si bem que raramente. Elles são, algumas vezes, substituídos por nauseas. Não constitue um facto ignorado em clinica a presença de cálculos nas matérias vomitadas. A obser- vação de Fréd HoíFmann, de um doente que deitou pela bocca 20 pequenos cálculos, após a ingestão de um purgativo, està no conhecimento de quantos lêm o assumpto. * Urinas * Este liquido sofFre modificações varias na sua cor, consistência e composição, dado o tempo e a natureza da crise. Assim é que no inicio do accesso ou mesmo antes de sua manifestação, as urinas tem uma coloração vermelha carregada, tornando-se depois claras e abundantes, assemelhando-se ás urinas nervosas e após a crise intensamente colo- radas e carregadas de pigmentos biliares, acido urico e uratos. 23 Fezes E’ o seu exame a prova mais segura para o diagnostico da cólica hepatica calculosa. Elias, entretanto, tomadas no seu aspecto geral, jà denun- ciam alguma cousa, que pode despertar o espirito do clinico arguto. A sua descoloração, o seu aspecto gorduroso, o seu odor íetido, estão a indicar que um obstáculo qualquer se assesta nas vias biliares, impossibilitando a passagem da bilis para o intestino, obstáculo que pode ser representado por um simples espasmo, um calculo, por ascarides lombricoides e kystos hydaticos. CAPITULO III F0RMS CLINICAS Não menos importante que o precedente e digno de algum desenvolvimento, é o capitulo que vamos agora descrever. Este olíerece contacto muito intimo com aquelle, porque se porpõe ao estudo das diffe- rentes modalidades clinicas pelas quaes se revelam as cólicas hepaticas. Estas não se traduzem sempre pelos symptomas—dor, ictericia, vomitos—que vimos de descrever. As cólicas refletem-se, muitas vezes, sobre os differentes orgãos da economia, produzindo perturbações outras, que constituem typos clínicos diversos. A sua íorma não deve ser somente encarada no ponto de vista da natureza da perturbação; devemos tomar em consideração também a inten- sidade, a duração dos phenomenos e assim as divi- diremos lógica e criteriosamente, como fizeram, os Professores Debove e Achard, da seguinte maneira: ligeiras, medias e intensas, attendendo á sua energia; curtas ou abortivas, medias, clironicas, prolongadas, tendo em consideração o tempo; francas, larvadas e frustras, encarando-se a sua phenomenologia sym- ptomatica. E’ deste ultimo grupo que iremos parti- cularmente tratar. 25 FORMA PSEUDO-GASTRALGICA Dada a sua frequência e por isso mesmo o conhe- cimento que delia se tem, iniciaremos o nosso estudo pela fornia pseudo-gastralgica, considerada pelos auctores como uma forma frustra. Sénac em 100 casos de cholelithiasis, poude observal-a em 65 doentes. E’ esta uma forma que, como as outras, pode illudir o clinico mal avisado, fazendo-lhe pensar que se trate de uma dyspepsia qualquer. Huchard relata-nos o caso de uma mulher, tratada de muitos annos, como soífrendo de uma affecção gastrica e que era simplesmente vietima de uma cólica hepá- tica pseudo-gastralgica. Nesta mulher as crises dolorosas da região epi- gastrica surgiam á noite, poucas horas após a refeição, acompanhadas de perturbações dyspepticas. Interrogada, a doente confessou que as suas dores se manifestavam por accessos, os quaes duravam 10 a 15 dias, desapparecendo depois por 1 mez e mais. O caracter particular desta dor, assim como a cor das urinas e a distensão da vesícula, ventilaram o diagnostico de cólica hepatica, que foi realmente confirmado mais tarde. O mesmo Huchard aflirma que um grande numero de dyspepticos, com pseudo- gastralgia, sensação de plenitude epigastrica, estado 26 doloroso continuo e peso cio fígado não passam de lithiasicos. . FORMA RESPIRATÓRIA A manifestação, à d-istaneia, de phenomenos ligados às cólicas hepaticas, é facto muito conhe- cido e fartamente estudado. E’ principalmente sobre os apparelhos respi- ratório e circulatório e s)rsthema nervoso, que reper- cutem estas manifestações. Os compêndios estão prenhes de exemplos, authentificando estas pertur- bações. Aqui ellas se evidenciam ora por uma oppressão, uma arythrnia respiratória (Debove e Achard); ora por uma dyspnéa intensa (Hucbard); ora por accessos violentos de astkma (Broadoent); ora por uma tosse quintosa, emíim por uma congestão da base do pulmão (Gueneau de Mussy). FORMA CARDÍACA Entraremos agora num dos pontos mais estu- dados e mais controvertidos do assumpto de nosso insignificante trabalho, este, da influencia das aífec- ções hepaticas sobre o coração. Limitar-nos-emos a encarar a questão, dentro dos limites do objectivo de nossa tliese. A dilatação transitória das cavidades direitas do coração, como consequência da lithiasis biliar, ó um facto compro- 27 vado em clinica e que não padece ma is contestação depois dos estudos de Potain e outros. O mechanismo de sua producção reside numa acção reflexa que se produz por intermédio do grande sympathico sobre as arteriolas e capillares dos pulmões, determinando a sua contracção, augmen- tando consequentemente a pressão sanguínea na artéria pulmonar e produzindo dalii a dilatação do coração direito. O caracter desta dilatação é ser temporário e de cura fácil, durando o tempo da aífecção que lhe dà origem; ella, porém, pode tornar-se permanente se • as cólicas perduram. As alterações funccionaes cardíacas, tendo como causa productora as cólicas hepaticas, traduzem-se geralmente por palpitações, intermitências, arythmias, desdobramento do l.° tom, reforço do 2.® tom pulmonar, sopros de insulíi- ciencias tricuspide e mitral, dyspnéa, «syncopes, phenomenos de asystolia, accidentes de angina pectoris, morte alguma vezes. Tem soífrido varias interpretações o mechanismo physio-pathogenico destas perturbações funccionaes e destas lesões anato- micas do orgão central da circulação. Gangolphe e Fabre foram os primeiros a admitttr uma intoxicação do sangue pelos productos biliares, determinando uma paralysia dos musculos papillares, dando em resultado, consequentemente, aquelle sopro mitral na icterícia. Elles não negam a dilatação do ventricido 28 esquerdo, mas a consideram, como um phenomeno secundário. Esta theoria, apezar de amparada pelas numerosas experiencias de Grollemund, Feltz, llitter e mais outros, cahiu, diante dos factos clínicos, que attestam a existência de perturbações cardíacas, sem haver o mais ligeiro traço de icterícia e por conseguinte de intoxicação biiiar. Ella só explica portanto os casos em que este accidente se apre- senta. A ‘intensidade das dores também não pode ser vista como agente pathogenico destas desordens, porque tem-se observado moléstias do íigado, sem .dor produzindo-as, assim como affecções onde o elemento doloroso é intenso, sem perturbar o funccionamento do coração. A causa mais plausível reside na esphera nervosa e jà a desenvolvemos ligeiramente. Picot, entretanto, diz: Je ne crois pas que L'on puisse aujourd’ hui spécifier les vois de Ircinsmission da retentissement sur le coeur dans les maladies du foie\ mais je suis persuadé quelles son multiples. Não é somente aos nervos grande sympathieo e pneumogastidco que se deve prender todo este papel de transmissibilidade. E o mesmo Picot pergunta si les extremités nerveuses comprises dans les lésions hépatiques ne pourraient pas devenir le point de départ d'une névrite ascendante produizant dia longue des troubles trophiqu.es de la fibre musculaire du cayur. 29 N5o se pode também desprezar, afíirma elle, as alterações da composição do sangue (hypoglobulia presença de pigmentps biliares e de detritos orgâ- nicos). FORMA NERVOSA As perturbações nervosas no curso das cólicas hepaticas não são pbenomeno raro nas pessoas de sensibilidade exagerada, que vibram, muitas vezes, á mais ligeira excitação. O systhema nervoso soffre também e, algumas vezes, em gràu tão elevado, capaz de occasionar uma morte rapida. As desordens que experimenta este systhema. nobre de nossa organização pertencem ás espheras motora, sensitiva e intellectual. Elias se traduzem ora por crises hystericas de que Potain e Huchard nos fornecem bellos exem- plos, ora por convulsões epileptiformes localizadas (Duparcque) ou generalizadas, ora por delírios, allu- cinações, emfim por vertigens, syncopes, coma, aphasia, hemiplegia (Cyr), paraplegia (Trousseau). A syncope, que é, algumas vezes, a terminação fatal das cólicas hepaticas e se declara frequentemente logo no inicio destas, deve merecer a consideração de nosso estudo. Não tem mais razão de ser a opinião daquelles que ligavam este accidente à intensidade das dores, porque elle se declara mesmo quando ellas são pouco accentuadas. 30 E’ mais racional, como pensa Gliarcot, a expli- caç3o phvsiologica dada pelas experiencias de Brown-Sequard, que consistem na irritação em gráus diíTerentes dos ganglios semi-lnnares, que contribuem para a innervação das vias biliares. Esta irritação produz, por via reflexa, uma exaltação da medulla, que repercute sobre os filetes cardíacos dos pneumogastricos, deterfhinando, se é intensa, uma parada do coração em diástole, isto é, em syncope, se é menos forte, um estado lipothymico. O pulso aqui não tem um caracter definido. Pode ser pequeno e rápido; pequeno e lento; fraco e normal; raramente accelerado. Charcot considerava o seu retardamento um signal de grande importância, o indicio rudimentar daquelles dous accidentes tão » sérios e graves. Huehard porém nega o seu valor, assegurando que, as mais das vezes, elle é devido sobretudo á amarellidão. Sendo a syncope, em alguns casos, o termo ultimo desta forma, devemos admittir a coexistência de uma aífecção cardíaca latente, que devida a uma compensação passou ignorada aos olhos do clinico e que as cólicas hepaticas vieram despertar, pondo íiin á vida do paciente. Seria entretanto absurdo, apezar do numeroso contingente de factos, postos á luz pelas observações de muitos auctores, acceitar-se a syncope, como causa unica productora de uma morte rapida, no 31 curso das,colicas hepaticas. A ulceração com perfu- ração da vesícula e das vias biliares infectadas, determinando uma peritonite (Murchison, Trousseau, Frerichs, Ogle e Magnin); uma hemorrhagia por ulceração da veia porta ou pela ruptura da artéria hepatica, assim como a introducção do calculo no canal cystico, podem ser invocadas como factores capazes de produzir uma morte subila. \ . r FORMA FEBRIL A emigração ealeulosa pelas vias naturaes, isto é, as cólicas hepaticas, são acompanhadas, algumas vezes, de uma elevação thermica, com augmento do pulso e calefrio. Estes symptomas foram princi- palmente estudados por Monneret, Pemberton, Budd e Frerichs. Fallando deste accidente, não nos refe- i rimos a essa febre, symptomatica de um processo infecluoso das vias biliares, como sejam a angio- cholite e cholecystite, febre que o Professor Charcot denominou de intermittente hepatica, biliar, mas a esta outra, chamada pelo mesmo, de hepatalgica, de duração ephemera, que foi comparada por Budd áquelles accessos de febre que se produzem em consequência da introducção de um catheter na urethra. Não duvidamos, comtudo, acceitar, com Charcot, a infecção como causa desta febre que este mestre dizia ser um accidente sceptico, attenuado 32 proveniente de transformações chimicas que se produ- ziam na bilis, no interior dos canaes biliares dila- \ tados e imflammados, razão porque ella representava, no seu pensar, uma modalidade da febre bilio-sceptica. Dieulafoy, que nos oíferece grande aeeervo de observações, hesita em admitlir esta filiação patho- genica, porque tem examinado muitos doentes lithiasicos, cujos aecessos febris, satellites da emi- gração caleulosa, jamais,se transformaram em febre bilio-sceptica, nem tão pouco determinaram lesões infectuosas do apparelhò biliar. Murehison exclue também a infecção para aceeitar como factor determinante uma irritação dos canaes produzida pelos cálculos. Esta febre, que pode oscillar de 37,° 5 a 40,° 5, apresenta, como a hepatica, o typo intermittente, embora menos preciso e asse- melha-se tanto a um accesso palustre, que será capaz de illudir clinicos de alto merecimento, prinei- palmente entre nós, onde o paludismo plantou a sua morada eterna e segue marcha desassombrada por entre as suas companheiras, revestindo-se de mil formas, qual novo Proteo. O Dr. Tiberio de Almeida disse que « a choleli- thiasis, simulando os estádios da febre palustre, é uma modalidade das cólicas hepaticas, de não pequena frequência ». O fracasso do emprego da quinina tem sido o toque de aviso em semelhantes casos, contra os quaes devemos andar bastante previ- 33 niclos. A passagem dos cálculos pode ainda occasionar cólicas sem calefrio, febre sem dor e mesmo somente o calefrio (Murchison). i FORMA LARVADA OU FRUSTRA Resta-nos fallar, para terminar este capitulo, desta forma das cólicas hepaticas. No inicio deste dissemos que as cólicas não se revelavam sempre por aquelles symptomas— dor, vomitos, icterícia e agora accrescentamos que, se elles apparecem, podem algumas vezes achar-se attenuados ou predominar um sobre outro, consti- tuindo assim esta forma larvada ou frustra. Eis o que nos referem os auctores. Potaiii cita o caso de uma senhora na qual as cólicas se traduziam unicamente por uma dor extre- mamente viva na têmpora direita e mais outro em que uma dor vaga na espadua com cephalalgia intensa eram os únicos signaes que indicavam a existência de cálculos. Sénac observou uma dor assestada no angulo da omoplata, que tomada como uma nevralgia de natureza syphilitica, era simplesmente a manifestação de uma cólica hepatica. Outros muitos observadores tem notado nauseas e vomitos rebeldes; dores no hypocondrio esquerdo; hemicrania, nevralgia dentaria; como únicas expressões deste syndroma morbido. CAPITULO IV DIAGNOSTICO Não é tão facil, como á primeira vista se poderia suppor, pela exposição minuciosa que fizemos do quadro symptomatologico, o diagnostico das cólicas hepaticas. Elias têm capeado o espirito de clínicos de alto valor. Por duas vezes o grande Cyr enganou-se em face de perturbações dyspepticas de origem alco- ólica, diagnosticando casos «videntes de cólica hepatica. Os dous symptomas capitaes: dor e icterícia, deste syndroma, não podem servir, por si sós, de alieerce firme, para assentar-se com segurança o diagnostico. Elles têm valor certamente, mas não constituem signaes absolutos, por isso que não são pathogno- monieos. Avulta o numero de estados morbidos em que elles se manifestam, embora que, muitas vezes, isoladamente e não raras são as observações de sua ausência completa, tratando-se entretanto de indivíduos cholelithiasicos. Trousseau tinha immensa razão, quando escreveu: La présence des calculs dans les garde-robes est 35 le seul élément positif du diagnostic. Durand-Fardel pensava também do mesmo modo, dizendo que «o único signal diagnostico absoluto da existência de cálculos biliares era o seu reconhecimento nas dejecçõesintestinaes». Encarando-se, porém, aquelles dous symptomas, é forçoso pensar com Paviot e Tripier, que a dor nas suas formas e irradiações immensamente múltiplas, não pode servir, por si só, de elemento seguro para o diagnostico das cólicas hepaticas. E’ muitas vezes a icterícia pela sua presença ou ausência, que decide o caso, espancando por com- pleto a duvida. Ao lado, porém, de um doente, que manifeste dores mais ou menos vivas, sobre- vindas em accessos, ás refeições, com séde no epigastro ou no hypocondrio direito, tendo irra- diações ascendentes e mostrando certa periodicidade, havendo embora a ausência da icterícia, é natural e justo desconfiar de um caso de lithiasis biliar. Este pensamento não deve ser logo desthronado, ainda mesmo que algum outro symptoma extranho ao cortejo symptomatologico da cólica, se patenteie simultaneamente. Devemos proseguir observando attentamente o caso, até a elucidação da verdade. E’ possivel, já o dissemos, a confusão do syndroma doloroso em questão, com diíferentes estados patho- logicos. Vejamos. l.° A gastralgici, que é ordinariamente um svm- 36 ptoma commiím a muitas affecções gastricas (dys- pepsia hyperchlorhydrica, dilatação do estomago etc.) confunde-se facilmente com uma cólica hepatica, mesnro porque esta, como jà vimos, apresenta geral- mente a forma denominada pseudo-gastrcilgica. Huchard descreve-nos, com minudencia, os carac- teres que distinguem perfeitamente a gastralgia verdadeira da falsa. Eil-os: a) O gastralgieo apresentadores, mais frequentes, mais repetidas, mais continuas; o pseudo-gastralgico, dores mais espaçadas, por series de accessos. b) O gastralgieo pode soífrer em jejum ou sob a influencia das refeições; o ,pseudo-gastralgi'co, geralmente duas ou tres horas após as refeições. c) Na cólica hepatica a dor manifesta-se subi- tamente; na gastralgia esta apparição é menos brusca. d) Na cólica hepatica a irradiação das dores é múltipla; na gastralgia esta irradiação eonstitue uma excepção. e) A pressão nas regiões epigastrica e vesicular, augmenta a dor nos lithiasicos; ella diminue, ao contrario, nas crises francamente gastralgicas. f) As urinas são pouco abundantes e vermelhas, carregadas de uratos e pigmento biliar, após a cólica hepatica; abundantes, claras, límpidas e pouco densas, com ausência de pigmento biliar, após a crise gastralgica. 37 g) O momento de soíFrimento no lithiasico e de allivio no gastralgico verdadeiro corresponde aquelle em que os alimentos passam para o intestino e a bilis chega a este orgão. 2. A ulcera simples do estomago, que provoca também a gastralgia, distingue-se de uma cólica hepatiea pelo appareeimento rápido das dores após as refeições, seguidas de hematemeses. 3. As crises dolorosas tabeticas dilTerenciam-se porque são bilaterais, fulgurantes,'’ lancinantes, constrictivas e seguem-se de outros symptomas proprios da evolução desta moléstia. 4. A nevralgia intercostal reconhece-se por sua séde anatómica, seus caracteres, seus pontos dolo- rosos (apophysario e perfurante anterior), sua marcha. 5. A hysteria pode se manifestar, como resul- tado de um traumatismo interno produzido por cálculos biliares, no curso de um ataque de cólica hepatiea, mascarando-a completamente. O diagnostico desta, nestas condições, é immensamente difficil. Esta associação mórbida pertence felizmente ao numero daquellas, raras nos annaes da clinica. C.° A appendicite simula, algumas vezes, uma cólica biliar. O diagnostico, porém, se esclarece facilmente, pesquisando-se com attenção os signaes semeiotieos desta moléstia. Na appendicite encon- tra-se o ponto doloroso de Mac Burney, que falta 38 completamente no nosso syndroma; aqui as dores irradiam-se principalmente para a espadua direita. Demais a ictericia que, ás vezes, apresentam os individuos atacados de appendicite, não se acompanha de descoloração das matérias fecaes, nem da presença de pigmento biliar nas urinas, o que se dá frequen- temente nas cólicas hepaticas. Diante de caracteres tão evidentes, a duvida desíáz-se inteiramente. 7. A cólica saturnina offerece symptomas bem claros: pallidez dos tegumentos, dureza e retracção do ventre, constipação absoluta, allivio das dores pela compressão forte do abdómen. Não ha, pois, diíliculdades, com todos estes signaes, em diagnos- ticar-se uma cólica desta natureza, principalmente quando se esta em frente de um profissional que maneja o chumbo. 8. A cólica nephritica é mais susceptivel de induzir o medico ao erro, tanto mais quanto as duas lithiasis podem existir concomitantemente, num mesmo indivíduo, manifestando-se jà uma cólica hepatica, jà uma cólica nephritica. Esta se reco- nhece por sua séde lombar, habitualmente à esquerda, por suas irradiações descendentes para a região inguinal, testículos, bolsas, recto, etc. e pela emissão de urinas, ora claras e abundantes, ora escuras, com cálculos ou simplesmente areia. A reunião destas duas lithiasis tem sido apreciada por numerosos observadores. 39 9.° Existe uma lithiasis, embora bastante rara, que por seus ataques dolorosos epigastricos pode simular uma eólica hepatica e que é a pancreatica. A presença de assucar na urina e as dejecções gordurosas são signaes de importância, para sua diagnosis, que é bastante diílicil. 10 Aí cólicas intestinaes de uma entero-typhlo- colite apparentam também cólicas hepatieas, que releva distinguir. A irradiação contraria das duas, o tympanismo da entero-colite e a analyse chimica da areia e dos cálculos expellidos pelas dejecções, são os meios mais firmes para chegar-se ao fim ambicionado. 11 Os envenenamentos revelam-se principalmente por suas dores localizadas no epigastro, seguidas de vomitos caracteristicos e outros accidentes ligados à natureza própria de cada substancia toxica. capitulo v TMTIIIKTQ O tratamento das cólicas hepaticas visa dous fins: l.° acalmar as crises dolorosas; 2.° preservar novos accessos; isto è, curar a lithiasis biliar. Tratar simplesmente do eífeito, sem debelar a causa, com- bater os symptomas e desprezar a moléstia, é fazer therapeutica irracional, illogica, improfícua. Guiados por este conceito, julgamos de bom aviso dizer algo sobre o tratamento da eholelithiasis. E’ incontestavelmente da morphinci, que em casos urgentes, se lança mão para sopitar as grandes dores. Ella encontra, pois, aqui, sua natural applicação. O primeiro cuidado do clinico, à cabeceira de um doente preso de violentas cólicas, é, pois, dar-lhe uma injecção sub-cutanea de 1 ceatigramma de chlorhydrato de morphina. (E’ de alto interesse, não empregarmos a mor- phina, sem conhecer a idiosyncrasia de cada indi- víduo, em relação a ella, porque pequenas doses desta substancia podem trazer à vida dos doentes graves perigos e até mesmo a morte.) Em seguida, 41 lazer applicações locaes quentes e calmantes, por meio de cataplasmas, de saccos de caoutchouc, com agua quente e administrar, por via estomacal ou rectal, antipyrina, chloroformio, hydrato de chloral, etc., como auxiliares da morphina. Um banho quente de 35.° ou 38.® e prolongado è de um eíTeito seda- tivo admiravel. Passada a crise o doente deve tomar um purgativo salino, com o fim, não somente, de combater a constipação e o embaraço gástrico, que acompanham as cólicas, mas ainda, de auxiliar a emigração e a sahida dos cálculos, parados no choledoco e no intestino, e alimentar-se com lacticinios, caldos desgordurados, aguas alcalinas (Evian-Cachat, Alet) addicionadas ao leite, etc. O repouso é condição essencial. O professor H. Sénac, que faz uso das injecções de morphina, aconselha também suppo- sitorios opiáceos e belladonados, assim formulados: * Extracto de belladona Extracto de opio ãa 2 centigs Manteiga de cacào . . 2 grammas Para um suppositorio. •Não é preciso empregar-se mais de 6, que jà contem uma dose bem elevada de belladona e opio. Os tres primeiros são administrados com meia hora de intervallo e os outros tres, com uma hora. Após o emprego do segundo suppositorio, as dores, as 42 mais das vezes, diminuem de intensidade, de modo que com applicação de quatro, obtem-se a sedação completa. A antipyrina, por via gastrica ou hypodermiea e melhor ainda em clysteres, produz, ás vezes, bom effeito. A trinitrina, assim como, o nitrito de amyla, em inhalações, têm sido empregados com resultados pouco satisfatórios. O ether e o chloroformio também em inhalações, passam como remedios de eíTeitos maravilhosos, e o grande mestre Trousseau, refere o caso de uma mulher de seu serviço clinico, que inspirando durante meio minuto, vapores de chloroformio, sentiu logo as dores alliviarem. Huchard dá-nos uma formula, para administrar-se o ether chloroformado: Ether sulfurico ... 12 grammas Chloroformio ... 8 « Álcool 4 « Derramam-se algumas gottas num lenço e manda-se o doente cheirar. O oleo de olivas (azeite doce) è incontestavelmente um remedio de efficacia, attestam as experiencias de muitos auctores. * Os médicos anglo-americanos apregoam arden- temente os seus bons resultados. Entre nós, mesmo as suas vantagens tem sido reconhecidas. Emj>rega-se na dose de 200 a 400 grammas, mas como esta 43 quantidade produz, em geral, repugnância, teve-se a idea feliz de administral-o por via rectal, pois, com meia hora, após o emprego de um clyster de um litro de oleo, o doente sente as suas dores calmarem-se. Pode-se, entretanto, prescrevel-o por ingestão, corrigindo-se o seu mau gosto. Eis uma boa formula: Oleo de oliveira . . . 100 grammas Geminas de ovos . . 2 Gognac 10 grammas Menthol 20 centigr.8 Em seguida, o doente lava a boçca com agua misturada com um pouco de vinagre e bebe uma chavena de caie quente e forte. O oleo acalma as cólicas hepaticas, està provado. Não se sabe porém, como elle age. Dizem uns que è pela absorpção, pois Garnier examinando o serum sanguíneo, após um clyster de oleo, encontrou-o lactescente e com a quantidade de lipase augmentada, pensam outros, que é por acção lopica, pois o oleo é um anti-spasrnodico e como as cólicas hepaticas resultam de um espasmo do choledoco, este oleo, agindo sobre o intestino, que soffre também do espasmo, aetua egualmente sobre o canal choledoco, cuja innervação é commum, produzindo assim os seus admiráveis eífeitos. Elle tem ainda uma acção sobre a evacuação dos cálculos, 44 acção esta que depende, segundo muitos, de um desdobramento deste oleo em ácidos gordurosos e glycerina. Aglycerina goza de muita bôa reputação, como medicamento preventivo e curativo da cólica hepatica, precisando-se apenas para obtenção destes dous eíFeitos variar a dose. E assim é que empregamos 20 a 30 grammas, se queremos combater a crise; 5 a 15 grammas, diariamente, se visamos a cura da lithiasis. A glycerina, neste ultimo caso, è administrada num pouco d’agua alcalina e este tratamento deve ser continuado por alguns mezes. Médicos ha, que condemnam a pratica medicamentosa da ingestão, durante os accessos, outros, ao contrario, procuram exercel-a, favorecendo deste modo os vomitos, que trazem aos doentes algum allivio. E’ commum passa- rem-se, ín loco dolente, linimentos calmantes, com- postos de salicylatos de methyla, chloroformio, balsamo de Fioravanti, camphora, belladona, etc., assim como fazerem-se applieações locaes quentes ou frias, por diíferentes meios. Empregamos, ás vezes, as cataplasmas quentes ou saccos de caoutchouc, cheios de agua quente, outras vezes, o gelo, o chlorureto de methyla. A balneotherapia é de surprehendentes vantagens, principalmente nas formas graves. Os banhos quentes 45 devem ter uma temperatura de 35.° ou 38.° e prolon- gar-se por algum tempo. Os banhos frios são usados à maneira dos que se empregam na lebre typhoide. Os purgativos ligeiros, como jà falíamos, têm aqui seu emprego bem justificável. Os purgativos salinos (sulfato de sodio, cremor de tartaro) são preferiveis aos drásticos. Os cholagogos (podophyllina, evonymina, calo- melanos) são egualmente empregados, sendo, entre- tanto, necessário conhecer bem a sua acção. O trata- tamento da cholelithiasis pelo memorável remedio de Durande (3 partes de ether e 2 de essencia de terehenthina), que gozou antigamente de enorme fama, pela sua propriedade de dissolver os cálculos, tem sido modificado por alguns médicos. Este remedio tem um duplo inconveniente: ser desagradavel ao pa- ladar e irritar as mucosas pharyngiana esophagiana. Para corrigir este defeito, Duparcque substitue a terehenthina pelo oleo de ricino, constituindo esta formula: / Ether 4 grammas (> Oleo de ricino Xarope de assuccar . ãa 30 grammas Uma eblher de meia em meia hora, depois de hora em hora. Este remedio tem uma acção tripla: amortece as dores, impede os vomitos e promove 46 a sahida dos cálculos. Trousseau, embora usando do etlier e da terebenthina, procede de modo diffe- rente de Durande. Elle prescreve aos doentes, sugeitos às cólicas, oito dias seguidos em cada mez, um ou dous copos de agua alcalina de Vichy ou de Pougues; manda repousar uma semana; na terceira faz tomar antes de cada refeição principal, ora pérolas de ether ou de essencia de terebenthina do Dr. Clertan, ora capsulas de Lehuby (2 gottas de ether e 6 de terebenthina),, duas, ou tres ou quatro, conforme a tolerância. Aconselha o descanço novamente por uma semana e recomeca o uso das aguas mineraes na seguinte e isso durante 4, 5 ou G mezes, O periodo de acalmia è o momento de escolha para o emprego dos purgativos. De todos os cholagogos é o ccdo- melanos que melhor applicação tem aqui, pela acção que exerce sobre a excreção biliar. O essencial é precisar a occasião de seu emprego, que deve ser no fim das cólicas. A podophyllina, que manifesta sua influencia sobre a secreção biliar, augmentando-a, pode ser de consequências desagra- dáveis, dada a eventualidade de uma obstrução do choledoco, pois a bilis accumulando-se cada vez mais, acabaria por provocar crises hepaticas. Fundados na clinica e na experimentação, alguns médicos tèm aconselhado os vomitivos, como um excellente meio de minorar os solfrimentos dos 47 lithiasicos. Outros muitos, porém, proscrevem este methodo therapeutico, não lhe enxergando razões praticas que o sanccionem. A alimentação, como já fizemos sobresahir, linhas passadas, é principalmente liquida: leite, caldos, chá, aguas mineraes, etc. Não devemos silenciar, ao terminar a primeira parte deste capitulo, as applicações electricas, assim como a massagem local. O tratamento da lithiasis biliar, propriamente dito, tem duas condições a preencher: dissolver e evacuar os cálculos e impedir a sua formação. Estes resultados obtêm-se com uma boa hygiene, um regimen alimentar apropriado, o emprego de aguas mineraes, a medicação pharmaceutica e as inter- venções cirúrgicas. EÍle se divide, pois, em hygienico, medico e cirúrgico. TRATAMENTO HYGIENICO A) As regras de hygiene geral aconselhadas são: a) Evitar trabalhos intellectuaes excessivos, exer- cicios physicos violentos, espartilhos e cinturões apertados. 48 b) Aetivar as íVincções da pelle, pelo uso de loções frias alcoolizadas, de duchas tépidas, de fricções seccas, de massagens. c) Fazer exercicios moderados, em pleno ar, de esgrima, equitação, gymnastica, bicycleta. B) Regímen alimentar. As refeições devem ser frequentes, pouco'copiosas, de modo a evitar uma accumulação de bilis. Os alimentos permittidos são: Carnes assadas ou cosidas, sem molho nem gordura, de preferencia as de boi; peixes cosidos (pescadas, solha); ovos d la coque; legumes verdes; feculentos ligeiros, batatas, nabos, - feijão, cenouras; fructos, salvos os ácidos e muito assucarados; lacticinios; pão. Bebidas permittidas. Agua pura, vinho branco misturado com um pouco d’agua mineral alcalina, convindo evitar as aguas calcareas. A cerveja pode ser aconselhada,-sob condição de mistural-a á egual porção d’agua ' Os alimentos prohibidos são: Feculentos pesados, alimentos gordurosos, adubados e salgados, molhos e condimentos ácidos, porco fresco ou salgado, confeitos e massas em excesso, carnes conservadas, caças tenras, salmão, truta, crustáceos, mariscos, tomates, amêndoas, vinagre, queijos, ovos, ervilhas, manteiga, sob a forma de molho ou fritada. As bebidas alcoólicas e muito gazozas, o cham- pagne, os licores, a cidra, as cervejas íortes, o 49 vinho puro são também condemnados. O café é pyermittido em peqtiena dose. Todos estes alimentos e bebidas são proscriptos, uns porque oíferecem ao organismo grande7 porção de carbono, corpo este que favorece a producção de cholesterina (gorduras); outros porque augmentam a proporção de gordura na economia animal (feculentos); outros porque elevam a quantidade de pigmentos na bilis, o que facilita a precipitação dos elementos deste liquido (carnes negras); outros ainda, porque fazem a bilis perder a sua reacção alcalina e consequentemente o seu equilíbrio chimieo (ácidos). TRATAMENTO MEDICO a) Medicação lithontriptica. Esta medicação repu- tada antigamente, como efficaz, não passa hoje de uma hypothese meramente fa^sa. O famoso remedio de Durandi, fundado no prin- cipio da dissolução dos cálculos, foi o unico agente desta therapeutica, que chegou até nós, encontrando ainda adeptos. E’ bem verdade que estas subs- tancias: ether, terebenthina, chloroformio, choleato de sodio, sulfureto de carbono, alcalinos, postos em contacto directo com cálculos, num vaso, pode dissolvel-os, mas admittir-se que o mesmo succede no corpo vivo, é falso e illusorio. Aquelles que defendem esta theoria chimica, dizem 50 que eífectivamente os alcalinos e a terebenthina não dissolvem a cholesterina, mas dissolvem a matéria corante e o rnucus, que representa o meio de união entre os elementos constitutivos do cholelitho, deter- minando deste modo a dissociação dos cálculos e impedindo a formação de novos. E’ bem engenhosa esta explicação. b) Medicação cholagoga. Está aqui uma medicação que presta reaes serviços. As substancias empregadas com este fim são numerosas: bilis, saes biliares, salicylato e benzoato de sodio, terebenthina, podophyllina, evonymina, bicarbonato e sulfato de sodio, salol, calomelanos, aloes, rhuibarbo, boldo, etc De todos estes agentes therapeuticos salientam-se tres: a bilis, o salol e o salicylato de sodio, de eífeitos magníficos por suas propriedades não somente chola- gogas, mas também anti-septicas e analgésicas dos dous últimos. O calomelanos tomado em doses espa- çadas é um bom laxativo, exercendo uma acção descongestionante sobre o fígado. O extracto fresco de fel de boi, administrado em pilulas de 20 centigrammas (4 a 6 por dia) é de grande efficacia. Huchard de suas numerpsas applicações concluiu: l.° Esta substancia prescripta durante as crises, pode abrevial-as ou diminuil-as de intensidade, quando auxiliada por um tratamento calmante. 51 2.8 Prescripta nos intervallos das dores, previne as recidivas, descongestiona o íigado e melhora as funcções digestivas. 3.° Administrada após a cura de Yichy, concorre para a eliminação dos cholelithos. c) Medicação revulsiva. As pontas de fogo, assim como os vesicatórios, sobre o epigastro e o hypo- condrio direito são utilizados, com vantagens, para resolver certos derramamentos de lesões inflamma- torias, provocadas pela cholelithiasis. d) Medicação hydro-mineral. As virtudes thera- peuticas das aguas mineraes alcalinas, no tratamento da lithiasis biliar, são maravilhosas. Ninguém poderá contestar os altos benefícios prestados á cura dos lithiasicos, pelas aguas de Yichy. São ellas incon- testavelmente que oíferecem as maiores vantagens aos doentes desta moléstia. Accasam-n’as todavia de debilitantes, anemiantes de chegarem mesmo a determinar a «caehexia alca- lina», mas isso é um erro. O seu emprego impru- dente, sem perfeito conhecimento de causa, porque grande é o numero das moléstias que as contra- indicain, motivando fracassos bem constantes, tem dado viso de verdade absoluta àquella falsa afíir- mação. E’ necessário, pois, ser prudente e não abusar de suas vantagens. As aguas mineraes empregadas na lithiasis biliar estão assim classificadas: 52 Io. grupo. Bicarbonatadas sodicas (Yichy, Yals, BouloneEms.) 2.° grupo. Sulfatadas sodicas (Carlsbad (principal), Marienbatl). 3.° grupo. Ghloruretadas sodicas (Chatel-Guyon, Leamington). As aguas dc Capvern, Yittel e Pougues são egualmente indi- cadas, mas Cyr condemna-as, em razão do ele- mento calcareo que pussueme que, como sabemos, exerce uma influencia má sobre a bilis. Gomo auxi- liares da cura hydro-mineral, o medico aproveita a balneotherapia, que bem dirigida levanta as forças do organismo debilitado e as aguas ferruginosas, que tonificam a economia, (piando o estado do esto- mago permitte o seu uso. TRATAMENTO CIRÚRGICO Múltiplas são as operações que se praticam no apparelho biliar, quando o medico se considera impotente para afastar as differentes lesões que atacam a vesícula e os conductos. O medico deve conhecer as condições em que ellas se fazem precisas. A cirurgia biliar comprehende estas operações: A cholecystotomia, a cholecystectomia, a chole- cystostomia, a cholecystenterostomia, a choledo- chotomia e a choledoclienterostomia. Podemos ainda acrescentar o catheterismo das vias biliares e a çholelithotripsia. As causas que reclamam intervenções cirúrgicas 53 são: crises dolorosas repetidas e prolongadas; obs- truções calculosas; lesões inflammatorias, provo- cando accidentes febris graves. A cholecystotomia é praticada com o fim de retirar grossos cálculos encravados na vesícula, achando-se esta em bom estado ainda de conservação. A cholecystectomia é indicada quando a vesícula é a sede de alterações gravíssimas, que ameaçam a vida do doente, ou se torna inútil em consequência da obstrucção definitiva do canal cystico. A cholecystenterostomia pratica-se nos casos em que ha fistulas biliares permanentes e obliteração absoluta do choledoco por um calculo, resistindo ao catheterismo e à choledocholithotripsia. O catheterismo das vias biliares é uma operação delicada, que exige grande cuidado e pericia. Pratica-se após a cholecystotomia. As contra- indicações referem-se aos estados geraes graves, á insufíiciencia hepaticaadiantada e à cachexia profunda. A asepsia rigorosa, o tempo opportuno de intervir e a habilidade do cirurgião são as tres condições essenciaes, que garantem o bom exito deste trata- mento. PROPOSIÇOES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medico cirúrgicas ANATOMIA DESCRIPTIVA I O fígado é uma glandula volumosa, situada no hypocondrio direito. II Exteriormente este orgão apresenta ao estudo, uma lace supero-anterior, outra infero-posterior, um bordo antero-inferior, outro postero-superior, uma extremidade direita e outra esquerda. III O apparelho biliar compõe-se da vesicula e dos eanaes cystico, hepático e eholedoco. HISTORIA NATURAL MEDICA I O Papaver somniferum album é uma planta da íamilia das Papaveraceas. II * O opio é o sueco espessado que se obtem pela incisão das capsulas desta planta. 58 III Entre os seus numerosos alcaloides encontra-se a morphina, que se emprega nas cólicas hepaticas. CHIMICA MEDICA Álcoois são compostos derivados dos hydrocar- buretos fundamentaes pela substituição de um ou mais átomos de hydrogenio por outras tantas oxydrilas. II A cholesterina é um álcool monoatomico. III * Ella entra, quasi exclusivamente, na composição dos cálculos biliares. HISTOLOGIA I A vesícula biliar é constituída por tres ordens de túnicas, que são indo de fóra para dentro: fibrosa, musculosa e mucosa. II A ultima apresenta nasua superíieie villosidad.es, em numero considerável e de direcções variadas. 59 III Os nervos da vesícula são formados de fibras de Remak. PU YSIOLOGIA I O ligado é um orgão que desempenha múltiplas funcções: fabrica glycogenio e bilis, desembaraça o organismo dos productos de desassimilação dos tecidos e destroe bs princípios toxieos. II A secreção da bilis augmenta no momento da digestão. III O principal papel da bilis parece ser de depu- ração da economia. BACTERIOLOGIA / I O Coli-bacillo foi, pela primeira vez, isolado por Escherich das fezes dos recem-nascidos. II Elle confunde-se, geralmente, com o bacillo de Eberth. 60 III Tanto um como outro, encontra-se, ás vezes, nos Cálculos biliares. MATÉRIA MEDICA, PHARMACOLOGIA E ARTE DE FORMULAR I Suppositorios são medicamentos de forma cónica e de consistência solida, destinados a ser intro- duzidos no anus. II Elles preparam-se com sabão, glycerina, manteiga de cacào, acldicionados da substancia medicamentosa a empregar. III Nas cólicas hepaticas o seu emprego oíferece vantagens. ANATOMIA E PHYSIOLOGIA PATHOLOGICAS I Inflammáção é um processo de reacção do orga- nismo contra as diíferentes causas que o atacam. II Os seus symptomas capitaes são: dor, tumor, calor e rubor. 61 III Alguns auctores attribuem à inflammação, a origem das cólicas hepaticas. PATHOLOGIA MEDICA I Dá-se o nome de peritonite, a uma inílammação aguda ou chronica do peritoneo. II A ruptura das vias biliares pode determinar uma inflammação desta natureza. III Ella é uma das causas de morte súbita, no curso das cólicas hepaticas. PATHOLOGIA CIRÚRGICA T Fistulas são trajectos congenitaes ou accidentaes, que dão passagem a líquidos physiologicos ou patho- logicos. II As fistulas biliares dividem-se em externas ou cutaneas, internas ou visceraes. 62 III Elias podem resultar de um esforço, de um traumatismo ou commummente de uma infecção OPERAÇÕES E APPARELHOS I Nas operações do apparetho biliar, são dous os caminhos a seguir: a via lombar, raramente usada, e a via abdominal. II Na cholecystectomia a incisão da parede abdo- minal pode ser lateral ou mediana. III Kehr aconselha a incisão em baioneta. ANATOMIA MEDICO-CIRURGICA 1 A vesicula biliar é a séde habitual de cálculos. II São de maxima gravidade as feridas que a attingem. 63 III Nas vias biliares praticam-se principalmente quatro operações: a cholecystotomia, a cholecys- tectomia, a cholecystenterostomia e a choledoctomia. THERAPEUTIGA I A medicação da cholelithiasis pode ser interna ou externa. II No primeiro grupo, temos as poções, as piiulas, os cacliets. III No segundo grupo, entram os clysteres, os vesi- catórios, os linimentos, os banhos. ,OBSTETRÍCIA I Abortamento é a expulsão do embryão ou do íeto, não viável. II \ Os seus symptomas variam com a epocha da gravidez. 64 III As complicações mais frequentes e importantes são: a hemorrhagia, e a septicemia. IIYGIENE I A alimentação representa na genesis da lithiasis biliar um grande papel. II A idade, o clima, o álcool, o repouso são outros tantos lactores importantes. III Ao lado pois, da pharmacia e da cirurgia entra a h)rgiene. MEDICINA LEGAL E TOXICOLOGIA I Nos casos de morte súbita, nem sempre o exame medieo-legal esclarece a causa. II A lithiasis biliar, por uma acção reflexa sobre o coração, pode determinal-a. 65 III O medico legista, nestas condições, encontra sérios embaraços em pronunciar-se, pois, não surpreliende uma lesão evidente que explique o facto. CLINICA PROPEDÊUTICA I O exame das fezes é indispensável nos casos de cliolelithiasis. II Só com elle poderemos affirmar, de modo absoluto, o nosso diagnostico. III O exame da urina tem grande valor também. CLINICA DERMATOLÓGICA ESYPH1L1GRAPH1CA I O ligado é um dos orgãos mais atacados pela syphilis. II As manifestações terciárias aqui, são de duas naturezas: e sclerosa e gommosa. 66 III A syphilis hepatica tem uma evolução muito demorada. CLINICA CIRÚRGICA (2.a Cadeira) I A falta de asseio, as irritações constantes, o contacto das poeiras são as causas locaes mais favo- ráveis à eclosão dos furúnculos. II E1 por isso que elles se manifestam especialmente nas partes nuas, dos indivíduos dados a trabalhos grosseiros. III Elle começa por uma pequena saliência vermelha, dolorosa, que augmenta rapidamente tomando uma forma cónica e formando-se mais tarde, no seu verlice, uma pequena pustula. CLINICA OPHTHALMOLOGICA I A irite tem como causa, muitas vezes, a syphilis. 67 II Elia manifesta-se, geralmente, G mezes após o cancro. \ III O tratamento deve ser não somente local, mas também geral. CLINICA CIRÚRGICA (l.a Cadeira) I A cholecystostomia é a operação de escolha nas cholecystites calculosas, assim como, nas iníecções biliares, não calculosas. II Ella pode ser praticada, mesmo quando existe adherencias e não lia perfeita permeabilidade do choledoco. III A cholecystectomia, entretanto, é contra-indicada nestes casos. CLINICA MEDICA (2.a Cadeira) I ,/ A cólica saturnina é a manifestação habitual da intoxicação aguda, produzida pelo chumbo. 68 II Cumpre não confundil-a com uma cólica hepatica. III A observação attenta dos symptomas distingue perfeitamente, uma da outra. CLINICA PEDIATR1CA I A lithiasis biliar ataca, raramente, as crianças. II Elias podem, entretanto, vir ao mundo já taradas para esta moléstia. III A idade pois, tem uma real influencia. CLINICA MEDICA (l.a Caoeira) I A lithiasis renal apresenta com a biliar um laço estreito de causalidade. II Ambas provocam accessos agudos de cólicas. III A eclosão de uma cólica nephritica pode dar-se no momento de uma cólica hepatica. antecedel-a ou suecedel-a. 69 CLINICA OBSTÉTRICA E GYNECOLOG1CA I O toque vaginal é um meio de exploração obsté- trico, de subido valor. II Combinado aos outros processos, elle garante-nos um diagnostico seguro e completo da gravidez. III Devemos, entretanto, pratical-o o menor numero de vezes possivel, e com todo rigor anti-septico. CLINICA PSYCH1ATR1CA E DE MOLÉSTIAS NERVOSAS I O traumatismo figura como um dos agentes provocadores de crises hystericas. II Os cálculos biliares podem produzir accidentes desta natureza. 111 Nada mais variavel que o estado mental destes doentes. Visto—Secretaria da Faculdade de Medicina da Bahia, em 31 de Outubro de 1908. O Secretario, Ç&t. OdZenandro dos s DFÍeireíles