THESE INAUGURAL DE AntonioFerpeiradafosta 1910 Faculdade de Medicina da Bahia THESE APRESENTADA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Em 31 cio Outubro de 1910 PARA SER DEFENDIDA « POR Mn forno MeUeúa </a Pharmaceutico por esta Faculdade e interno de Clinica Cirúrgica NATURAL DO ESTADO DA BAHIA Filho legitimo de Livino Ferreira da Costa e D. Idalina de Almeida Costa AFIM DE OBTER 0 GRÁO DE DOUTOR EM MEDICINA DISSERTAÇÃO CADEIRA DE CLINICA CIRÚRGICA Tratamento cia Hérnia Ig-ainal PEOPOSIÇOE8 • Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas BAHIA Typ, cio Salvador—Cathodral 1910 FACDLDADE DE MEDICINA DA BAHIA Director—Dr. AUGUSTO C. VIANNA Vice-Director—Dr. MANOEL JOSE’ DE ARAÚJO LENTES CATIIEDRATIGOS OS D RS. MATÉRIAS QUE LECCIONAM l.a SECÇÃO Carneiro de Campos Anatomia descriptiva. Carlos Freitas ' Anatomia medico-cirurgica. 2. Antonio Pacifico Pereira ..... Histologia normal. Augusto C. Vianna Bacteriologia. Guilherme Pereira Rebello .... Anatomia e Physiologia pathologicas. 3. a Manoel José de Araújo Physiologia. José Eduardo F. de Carvalho Filho . Therapeutica. 4. » Luiz Anselmo da Fonseca .... Hygiene. Josino Correia Cotias Medicina legal e Toxicologia. 5. a Antonino Baptista dos Anjos . . . Pathologia cirúrgica Fortunato Augusto da Silva Júnior . Operações e apparelhos. Antonio Pacheco Mendes Clinica cirúrgica 1.» cadeira. Braz Hermenegildo do Amaral . . . Clinica cirúrgica 2.» cadeira. i 6.a Aurélio R. Vianna Pathologia medica. João Américo Garcez Froes . . . Clinica Propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho . . . Clinica Medica 1.» cadeira Francisco Braulio Pereira .... Clinica Medica 2.“ cadeira • 7.a A. Victorio de Araújo Falcão . . . Matéria medica, Pharmacologia e arte de Formular José Rodrigues da Costa Dorea . . Historia natural medica. José Olympio de Azevedo .... Chimica Medica. 8. a Deocleciano Ramos Obstetrícia. Climerio Cardoso de Oliveira . . . Clinica obstétrica e gynecologica. 9. a Frederico de Castro Rebello . . . Clinica pediátrica 10. a Francisco dos Santos Pereira . . . Clinica ophtalmologica. 11.a Alexandre E. de Castro Cerqueira . . Clinica dermatológica e syphiligraphica. Luiz Pinto de Carvalho ..... Clinica psychiatrica e de moléstias nor- vosas João E. de Castro Ceraueira . . . T-, , Sebastião Cardoso . Em dispombdidade. LENTES SUBSTITUTOS OS DOUTORES José Affonso de Carvalho . . l.a Gonçalo Moniz Sodró de Aragão . ( 2.a Julio Sérgio Palma ( « Pedro Luiz Celestino .... 3.» Oscar Freire de Carvalho . . 4.a Caio O. F. de Moura .... 5.» Clementino da Rocha Fraga . . 6.» Pedro da Luz Carrascosa e J. J. de Calasaus . . • . . 7.* J. Adeodato de Souza . . . .8.» Alfredo Ferreira de Magalhães . 9.» Clodoaldo de Andrade . . . .10. Albino Leitão 11. Mario Leal 12. Secretario—Dr. MENANDRO DOS REIS MEIRELLES Sub-Secretario Dr. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA A Faculdade não approva nem reprova as opiniões exaradas nas tlieses pelos seus auctores DISSERTAÇÃO Tratamento da hérnia inguinal CADEIRA DE CLINICA CIRÚRGICA CAPITULO I Historie o tratamento das hérnias, muito principalmente da hérnia inguinal, tem desde epochas muito remotas, attra- hido a attençâo dos cirurgiões que, por seus esforços e perseverança, muito têm contribuído para tornal-o o mais completo e seguro que é possível. Já Moysésno Deuterimonio cap. XXÍI dizia: O quebrado de quebradura e o castrado, não entrarão na congregação de Jehovah. Encontra-se também no Levitico cap, XXI: não poderão entrar no sanctuario: os corcovados, os que tiverem em- pigens, e os que trouxerem quebraduras. Narra Tito Livio que Mareio Servilio mostrando um dia ao povo feridas recebidas pela frente a serviço da patria, deixou ver por descuido uma hérnia; somente por isso foi acolhido com risos zombeteiros. Razão pela qual, os antigos não vacillavam em suppri- mir uma hérnia, por isso que não somente consi- deravam como uma deformidade, como também os tornava escarnecidos e repudiados pelos seus semelhantes. 4 Cabe a Celso a gloria de ser o inventor de um processo operatorio curativo das hérnias. Adepto da intervenção cirúrgica, comtudo era de opinião que somente deviam ser operados os individuos moços e robustos, e exclusivamente os portadores de hérnias inguinaes ou umbelicaes pequenas, não dolorosas, e não estranguladas. Oribiase reseccava o sacco depois de havel-o dissecado e torcido, tendo porem a precaução de conservar o tes- tículo. Aetius, no V século, pensava do mesmo modo. Paul d’Egine, procedia a castracção, considerando esta operação como meio de cura radical: meio que, segundo diz Bousiez, constitue uma das mais graves censuras que se pode fazer aos antigos methodosde cura radical. Os Árabes no X século, seguiam as pegadas de Paul d’Egine. Os Arabistas no século XII, e as escolas de Salerno e de Paris, no século VIII, praticavam também a castracção. Guy de Chauliac, emerito cirurgião daquella epocha, considerava defficientes e improfícuos todos os processos que não tinham em mira a castracção. E’ por este tempo que começa a ser empregado o paint dorê, o qual tinha por fim obliterar o sacco, respeitando o cordão. No XV século, não obstante as operações de cura radical estarem em voga, os cirurgiões faziam uso das fundas, 5 não somente para obter a cura radical, como também para contenção das hérnias reduzidas. Verdade é que já Avincenne no X século, tinha ima- ginado a pelote plate, accrescentando Gonstantino um século mais tarde, um ecusson metálico. No século XV renunciam a cura operatória Arcolanus, Marcos Goténarios e outros. Não obstante, a castracção era praticada em larga escala pelos charlatães, os quaes fundaram a celebre Dynastia Norzino, chefiada por Pedro DE NORSIO. Alguns auctores narram, que um destes charlatães, fazia dos testículos dos seus operados o manjar predi- lecto de seus cães. No século XVI, ainda estava muito em moda a cas- tracçâo, não obstante muitos cirurgiões terem-n’a renun- ciado. Relata Fabricio d’Aquapendente, ter existido um Norsine chamado Horacio de Norsio, que somente em um anno praticou 200, castracções. O mesmo Fabricio d’Aaquapendente dizia : A operação de hérnia é tão horrível e perigosa que muitos não sobrevivem a ella; e quando sobrevivem, morrem de suas consequências. Quando o cirurgião tenta esta operação, diz ainda elle, deve considerar o operado como morto. Com a Renascença já a cirurgia de então era cheia de con- quistas e de glorias, se fazendo sentir a sua influencia 6 beneíica sobre 'todos os ramos dos conhecimentos humanos, contribuindo para isto o prestigio de grandes estadistas, taes como: Richelieu Colbet e outros, des- pertando em todos o enthusiasmo pelas grandes causas. Por este tempo Parè e Franco não operaram todos as hérnias, pois desapparecera o antigo preconceito da indecência das hérnias: e tendo inventado Franco desbridar a hérnia estrangulada livrou da morte quasi que inevitável a que estavam rotados, os individuos que eram victima deste accidente. Procuravam Paré e Franco, fazer uma alteração no point doré, de modo a comprehender na ligadura so- mente o sacco; mas, como nem sempre isto se podia fazer, Paré inventa a sutura real, tão acceita naquclle tempo. Faz-se esta sutura do seguinte modo; reduzidas as vísceras herniadas, o cirurgião procede uma sutura dupla em serzidura, parallela ao eixo do sacco, sem tocar no cordão Dionisio fazia opposição a qualquer tentativa ope- ratória, mui principalmente á castracção. Apezar disto, continuaram no XVIII século as ope- rações radicaes, não obstante Boursier dizer que a importância das fundas augmentava assim como o trata- mento pelos remedios secretos, dos quaes o mais impor- tante era o remedio do Rei, comprado ao prior de Ca- briéres por Luiz XV. 7 Por esta mesma occasião, Littre John inventa, em tudo censurável, um processo, consistindo em fazer escariíicações com o acido sulfurico no annel herniario e no collo do sacco. No XYÍII século, em que os cirurgiões dão grande impulso ao estudo das hérnias, a cura operatória foi substituida pela funda, até que, em 1763 Lequin, com o invento das fundas elasticas, deitou por terra a cura operatória, não obstante os protestos energicos de Thevenin e Laviard, cirurgiões notáveis também d’a- quella opocha. Reclus, assim se exprime de referencia a cura opera- tória : os revezes eram tão frequentes, as catastrophes tão lamentáveis, contam-se tão poucos successos, a custa de tão grandes mutilações, que o emprego da funda e o seu aperfeiçoamento, deram um golpe tremendo nas tentativas de cura radical. Dionisio, que tanto se occupara com o processo de sutura real, vem apoiando o invento de Lequin, reco- mendando o emprego de suas fundas, addicionando a estas emplastros adestringerites. Em 1774, Gauthier empregou como meio de cura radical a cauterisação directa do annel herniario, processo este que cahiu logo em desuso. Desault, no começo do século, passado, empregava a ligadura, somente porem para a hérnia umbelical. 8 Por esta occasião, a operação foi completamente aban- donada. Diz Scarpa em suas memórias anatómicas e cirúrgicas sobre as hérnias, de referencia as fundas; quando nos lembramos que os antigos operavam as hérnias não estranguladas, e que com o fim inútil de prevenir qual- quer recediva faziam a extirpação do testículo transfor- mando assim uma simples enfermidade n’uma moléstia das mais perigosas: quando comparamos estas operações cruéis, com o tratamento suave e racional dos modernos, que reservando a operação para as hérnias estrangu- ladas, curam ou tornam supportaveis as que não se podem curar pelos meios mecânicos fáceis, deve-se convir que a invenção ou o aperfeiçoamento das fundas, é um dos maiores benefícios da cirurgia moderna. Gerdy, em 1735, de novo intenta a cura radical com um processo de invaginação do scroto. O processo de Gerdy soffreu grandes censuras: surgiram estudos sobre o assumpto, dominando esta questão por algum tempo os espíritos. Velpeau, em 1837, começou a fazer injecções irri- tantes no sacco, tratamento este que foi logo abando- nado, sendo substituído pelas injecções periherniarias, inventadas por Taton e acceitas com algumas modifi- cações pelos allemães Wood em 1808, tentou uma nova 9 modificação no processo de Gerdy, conseguindo operar 300 indivíduos. Depois da morte de Gerdy, seu processo foi abando- nado, e com elle todos aquelles que o delle servira de typo, persistindo apenas o de Wood. Por algum tempo, a cura radical cahiu no esqueci- mento, empregando somente os cirurgiões os processos de Wood e as injecções periherniarias. Com a descoberta de Pasteur, novos horizontes se rasgam. A asepsia e a anti-sepsia veem prestar grande auxilio á cirurgia, muito contribuindo para isto também a pratica do curativo de Lister. Por este tempo os cirurgiões, a exemplo de Celso e de Petit atacando directamente o sacco por meio de processos sangrentos, recorrem de novo a pratica das operações sangrentas, acceitas a principio na Allemanha, depois na Suissa e na França. Stule foi o primeiro que, em 1837, abriu a cavidade do sacco: porem deve-se aos trabalhos de Ruscel, Sheede, Nussbaum, Czerida, na Allemanha; Socine Reverdin na Suissa; Lucas Championnière, na França; a entrada definitiva desta operação no dominio da pratica. A Lucas Chamfionnière cabe o mérito de ter sido o jnventor de um processo de cura radical, o qual tem dado bellos resultados na pratica. 10 Segond, em sua these de concurso, em 1883, diz que só encontrou na França cinco operados; sendo que quatro operados de Lucas Championnière, seguidos todos de cura. Em 1886 Lucas Championnière publicou um trabalho sobre a cura radical das hérnias estranguladas, havendo grande acceitação a operação moderna, depois de grandes discussões travadas na Sociedade e no Congresso de Cirurgia, em 1887 e em 1888, achando-se por esta epocha dignamente representado o Brasil pelo sabio professor Visconde de Saboya. Muito se empenharam também para o bom exito da cura radical na Inglaterra, os illustros cirurgiões Baker, Banks e outros. Em 1889, o notável cirurgião Bassini põe em pra- tica o seu methodo de cura radical, o qual tem dado magníficos resultados. Ultimamente teem apparecido trabalhos sobre a cura radical das hérnias, os quaes em sua maioria, giram em torno dos magníficos processos de Bassini e Lucas Cham- pionnière. Fournel, adepto de Bassini, publicou cm 1900, um trabalho sobre este assumpto, o mesmo fazendo em 1904 o notável cirurgião Bochard, O visconde de Saboya, em sua obra publicada em 1897, reclama para si a primazia da pratica da cura ra- 11 dical das hérnias entre nós, visto como íoi elle quem em 18G1 praticou no Hospital de Mizericordia do Rio de Janeiro, a primeira operação da cura radical pelo pro- cesso de Wood, o qual estava em voga, não obstante não ter conseguido o fim desejado, pois o doente falleceu pouco depois da intervenção. Em agosto de 1889, praticou elle de novo a operação de cura radical pelo processo de Lucas Campionnière com brilhante êxito, efiectuando até 1890 doze operações pelo mesmo processo com os melhores resultados. Como elle praticam a operação de cura radical no Rio de Janeiro notáveis cirurgiões taes como: Domingos de Góes, Marcos Calvacanti, Paes Leme, Álvaro Ramos, José Bulcão, Daniel de Almeida, Bulhões, Augusto Hygino, Fernando Vaz, os quaes obtiveram bellissimos resul- tados. Entre nós, vae sendo empregada com bons resultados a cura radical da hérnia por estes processos, com bons resultados, muito contribuindo para isto os illustres cirurgiões Pacheco Mendes, Braz do Amaral, Gonçalves Martins, Freitas Borje, Cerqueira Lima, etc. CAPITULO II Tratamento palliativo tratamento palliativo das hérnias tem por fim manter a hérnia de maneira a impedir que se desenvolva, pondo deste modo o doente ao abrigo de complicações. Este tratamento é feito por meio de apparelhos espe- ciaes chamados fundas, isto é, apparelhos destinados á contenção das hérnias previamente reduzidas. Na maioria dos casos, as fundas fazem apenas o papel de elemento protector, impedindo certas complicações, não querendo isto dizer que o seu emprego não traga, em casos cspeciaes, beneficios ao doente. Já Galeno se servia para manter as hérnias, de pelotas mantidas por ura cinto de panno ou de couro. Gordon, Arculames, Fabrice Hilden e os cirurgiões dos séculos XYI e XVII, renunciaram ás operações sangrentas recorrendo ao emprego das fundas metallícas, as quaes pouco a pouco cairam em desuso. Leqoin foi quem definitivaiuente introduziu na arte operatória em 1663, as fundas elasticas, das quaes existem dois typos: a funda franceza e a funda ingleza. 14 À funda íranceza compõe-se do seguinte. Em primeiro lugar de uma almofada de forma e de dimensões variaveis. Em segundo lugar, de uma fita ou antes, de uma mola de aço uuindo-se â almofada por uma de suas extre- midades, medindo um a dois millimetros de espessura, tendo um centímetro e meio de largura e cumprimento sufficiente para abraçar os tres quartos da bacia. Em terceiro lugar de um envoltorio feito de camurça, forrando a mola de aço a que nos referimos, indo além de sua extremidade livre, contendo então uma serie de orifícios destinados a se fixarem em um botão collocado na face externa da almofada. A funda íranceza tem sofírido varias modificações: assim a almofada em vez de se adaptar directamente a mola de aço, é unida por uma articulação movei; uma correia passada por baixo do perineo na base das coxas, faz com que o apparelho não se desloque para cima A funda ingleza, inventada por Sanson, é formada por uma mola de aço, não mais disposta em espiral, mas tendo a forma de semi-ellipse. E’ terminada por duas almofadas, uma que se applica sobre a eminencia herniaria, e outra que se fixa sobre o sacro. A almofada que se applica sobre a hérnia, articula-se ♦ com a parte de aço por um mecanismo todo especial, 15 imaginado por Wickam; além disto, a parte de aço, apenas descreve uma semi-ellipse, de modo que em uma hérnia do lado direito a haste cerca em cima da coxa esquerda, psssando por cima do pubis, e sua almolfada vai final- mente applicar-se sobre a virilha direila. Existe ainda uma grande quantidade de fundas. Assim é que temos a de Duprè que presta relevantes serviços nos casos de hérnias de difficil contenção. Antigamente esteve muito em voga a funda denomi- nada das prisões, na qual a almofada era fixada por meio de correias. Burgeaud imaginou uma funda de pressão molle que, em vez de trazer a almofada, tem dois reservatórios em forma de peões feitos de borracha, os quaes o doente enche, injectando ar por meio de um terceiro que se esvasia quando o doente está sentado. A maneira de applicar uma funda tem sua importância. Quando a hérnia não se reduz facilmente, isto é, quando o doente não pode fazer a reducção, emprega-se um certo numero de manobras que constituem o taxis, do qual falaremos em occasião propicia. Feita a reducção da hérnia, introduz-se o dedo no annel afim do manter o intestino: toma-se a almofada com a outra mão applicando-se sobre o trajecto da hérnia, retira- se o dedo, comprime-se a almofada, e, com a outra mão, desenrola-se a fita ou haste metallica;- colloca-se em redor 16 do corpo e abotôa-se no botão que deve existir sobre a almofada. Convém notar que, de ordinário, a fita metallica não deve fazer uma pressão de mais de trezentas grammas, pois podem se produzir escaras, sendo o doente obrigado a supprimir a funda por alguns dias, o que pode lhe trazer graves prejuízos. Para sabermos se uma funda foi bem applicada, deve- mos mandar levantar o doente, fazel-o tossir, empregar esforços e se verificarmos que, durante estes actos, a almofada não se desloca, e que a hérnia não escorrega por baixo delia, temos certeza que está bem adaptada. Deveremos proceder do mesmo modo, o doente estando accocorado, (sic) podendo mesmo fazel-o levantar um peso com as pernas afastadas: verdade seja que não é preciso tanto rigor para sabermos se a funda foi bem applicada. Nas condições ordinárias o herniado deve applicar sua funda pela manhã, retirando-a á noite, por occasião de dormir. . Ha casos porem, em que a funda deve ser trazida per- manentemente ; quando queremos obter a cura radical, ou quando uma circumstancia toda particular, como por exemplo uma aíTecção das vias respiratórias ou das vias urinarias, expõe o doente, mesmo durante a noite, a fazer esforços, podendo por este modo a hérnia estrangular-se. Convém também rocommendar ao doente que, nos pri— 17 meiros dias da applicação da funda deve trazel-a constante- mente, algumasvezes mesmo ficarno leito poralgum tempo sobretudo, quando apezar da funda, a hérnia tende a sahir. Observa-se que, uma hérnia contida deste modo diminue constantemente de volume, tende a sahir menos, e torna- se mais facil um tratamento ulterior. Alem disto o doente deve ser asseiado, mantendo a integridade da pelle. Se o cinto ou a pelota comprimirem e pelle produzindo uma escara, deve-se interpor um pouco de algodão afim de que isto seja evitado. Recormnendaremos ao doente que usa uma funda, que não faça esforços violentos e exercicios penosos, pois dahi podem resultar graves riscos á sua vida. A funda, apezar de prestrar algum serviço ao her- miado, traz graves inconvenientes a este. Senão vejamos, em primeiro lugar, o embaraço dos movimentos e as dôres, variaveis, segundo as disposições individuaes; não é somente isto: pode apparecer o erythema, o eczema, as escoriações as ulcerações etc. Observa-se, que todo hcrmiado apresenta uma colo- ração especial da pelle, especie de erythema chronico no ponto de applicação da pelota. As ulcerações, como dissemos, podem se desenvolver também em consequência da applicação de uma funda. Citam-se casos em que esta complicação foi seguida de uma peritonite mortal. Gosselim cita um facto em 18 que houve infecção tetanica, seguida de morte. À con- tusão e a inílammação da hérnia ou dos orgãos cone- xos, pode ser complicação dá applicação da íunda. Poot cita um facto em que o attrito produzido por uma funda, determinara uma epiploite, seguida de gangrena. Scarpa nas mesmas circumstancias, encontrou uma ansa intestinal ecchymosada, e mais de tres libras de serosidade no sacco herniario. A pressão da funda pode produzir também uma hema- tocele do sacco. Porem não é somente isto: os orgãos visinhos da hérnia também são expostos aos choques produzidos pela funda em um movimento violento: o testículo, o cordão spermatico, os ganglios da virilha, são por vezes a séde de inílammações, que estão ligadas a esta causa. Podemos também mencionar os abcessos, quentes ou frios, as varices, etc., causadas pelo uso de fundas. Não è raro também que uma hérnia bem contida, dê lugar ao desenvolvimento de outra hérnia em um mesmo indivíduo; este facto se observa commumente no recem- nascido, algumas vezes também nos adultos, ou nos velhos, que são attingidos de hérnia de fraqueza. Emfim, uma complicação mais grave a qual a funda melhor applicada não pode evitar, é a sabida e o estran- gulamento da hérnia, tanto mais perigoso, quanto a hérnia é melhor contida de ordinário, CAPITULO III Tratamento da hérnia inquinai estrangulada *f*M presença de uma hérnia inquinai estrangulada, temos que tratal-a immediatamente e o meio de trata- mento geralmente empregado é a reducção. i Esta reducção è íeita por dois modos: o taxis e a kelotomia. E’ na Cyrurgia de Guillaume de Solicet que se encontra pela primeira vez descriptas as manobras do taxis. Os antigos nada tentavam fazer em presença de uma hérnia complicada; quanto a operação de kelotomia com des- bridamento, foi proposta por Franco, cuja descripção se acha bem feita por Ambroise Paré. Até estes últimos tempos esta inspirava um tal receio, que Arnaud considerava como o ultimo meio a recorrer quando todos os outros tivessem dado maus resultados ; e a respeito da qual, Flaubert em 1839, assim se exprimia: ha muitas vezes menos perigos em retardar a operação de hérnia estrangulada, do que fazel-a immedia- tamente. 20 Debaixo da influencia deste terror, os médicos da antiguidade perdiam um tempo precioso em experimentar agentes medicamentosos, taes como os topicos, dos quaes salienta-se a famosa pomada, na composição da qual entrava a libra de ouro de ducado da África, dissol- vida na agua regia, ò álcool bem rectificado, as pérolas horientaes porphyrisadas, o vinagre branco, o oleo de pistachas, as folhas de bardana e de herva-moura. Mais tarde, os meios empregados, não ohstante serem menos extraordinários, não eram menos prejudiciaes: eram os banhos, as lavagens de tabaco, os purgativos, etc, etc. Emfim, ainda preconisavam as injecções de morphina, as affusões de ether, a faradisação, as ponções aspira- doras. O receio da operação tinha comtudo levado os cirur- giões ás tentativas manuaes; assim 6 que, com o nome de taxis forçado, elles foram levados ao extremo pelos discípulos e imitadores dARMURSAT e Lisfranc. Er preciso chegar ao periodo actual, para encontrar nos trabalhos de Gosselin o preceito fundamental que dá indicação para o emprego do taxis, e a opportunidade da operação. « A reducção deve ser feita por taxis com anesthesia pelo chloroformio, quando se tem certeza que o intestino não solíreu ainda alteração grave, tendo a notar que se 21 esta manobra não dá o resultado desejado, deve-se recorrer immediatamente a operação ». Entretanto, Gosselin liga muita importância ainda ás manobras do taxis, posto que Manec chame a attenção para os resultados favoráveis dados pela operação, quando esta é praticada em occasião opportuna. a qual, nos tempos que precederam o methodo antiseptico, era rodeada de sérios perigos para não justificar alguns receios. Não acontece o mesmo hoje. Sabe-se que a gravidade da operação depende unica- mente das lesões do intestino, do estado geral do indi- víduo pelo facto do estrangulamento, e não se contando com o bom resultado do taxis, esta vai sendo praticada i em mais larga escala. O cirurgião para praticar o taxis, deve primeiro obser- var todos os cuidados de asepsia e antisepsia, pois que, se esta manobra não der o resultado esperado, deve proceder a operação. Deve-se evacuar o conteúdo da bexiga, depois do que colloca-se o doente sobre a mesa, submettendo-o ao chlo- roformio, até a anesthesia completa. Uma tentativa seria de taxis, diz o professor Duplay, não deve ser praticada senão depois de bem chlorofor- misado o doente. Aconselha-se também evacuar o estomago. Esta maneira de proceder, introduzida por Senator, 22 Kursmaul Faucher e outros, pode ser posta em pratica, não com o fim de curar a hérnia, porém com o fim de evitar o vomito durante a administração do chloroíormio. Certos autores, com o fim de auxiliar o taxis empregam a morphina, aconselhada por Eward, Duncan, ou a belladona que, segundo afirmam Kurt e Hagen, dão bons resultados. O cirurgião para praticar o taxis, deve ter em mente tres cousas. A posição do doente. A sua posição. <r A manobra que tem executar com o fim de obter a reducção. Posição do doente—Para reduzir uma hérnia devemos, em primeiro lugar, collocar o doente em posição conve- niente. O doente é posto em decubitus dorsal, com o ventre mais baixo que as nadegas e a cabeça, e o thorax mais elevado do que o ventre, afim de que se dê o relacha- mento da musculatura abdominal: se assim não proce- dermos, a capacidade do ventre não estando em relação com as partes a introduzir, obrigar-nos-ia a fazer um emprego de força maior para vencer esta resistência, a qual vindo provavelmente contribuir para a mortificação de certos tecidos, determinaria portanto accidentes por vezes difficies de debcllar. 23 Estando o doente em posição conveniente, faz-se, com que este dobre as coxas, de modo que a pelle da virilha fique relachado. Boyer, aconselha que o lugar em que está a hérnia deve ser o mais elevado possível, afim de que os vísceras contidas na cavidade abdominal sejam affastadas do tumor, oppondo deste modo resistência as que sairem. Convém recommendar ao doente que não faça nenhum esforço de respiração, ou tentativa de voltar a cabeça. Ribes, abalisado no assumpto, observou que um grande numero de hérnias, que eram apparentemente irreductiveis, se reduziam mui facilmente após se collocar o doente em situação tal, que a região do tumor ficasse mais elevada: deste modo as vísceras herniadas pendiam para a cavidade do ventre. Assim descreve elle a mareira de collocar o doente. «On prend un matelas que l’on plie en double, de ma- nière que le bord du plie supérieur depasse en peu le bord du plie inférieur, et que la surface du matelas de- crive bien un plan très obliqúe. «Onnet selon le besoin un ou deux traversins sous le talon du matelas pour augmenter 1’obliquité on recouvre le tout avec um drap. «Les choses ainsi disposées on place le malade, sur le lit, de maniére que les fesses soiente posses sur le milieu du matelas, que les cuisses soient allongées et sur la 24 même iigne que le ventre; enfin que le bassin; soit en haut et très élevé, et la region diaphragmatique de l’ba- domen soit située le plus bas possible. On met un pettit tra- versin sous la tête du malade pourle relever un peu, afin qu’il puisse garder cette position inclinée tout le temps necessaire pour la reduction de parties». Referindo-se a este seu modo de reducçao, diz ainda Ribes: « Je sais que l’on peut dire que vainemeht on com- ptera, pour opérer la reduction des hernies, sur 1’éffet mé- cànique que le poids et la traction du ventre doivent for- mersur les parties déplacées; on peut même croire au premier coup d’oeíl, que cette idée est erronée, parceque 1’abdomen est entiérement pleín et que les viscéres qu'il contient son maintenus dans leur position par des liga- ments et par la pression des muscles respiratoires ; que ces viscéres ne peuvent pas,par cela même passer d’une partie de Ia cavité dans une autre, mais qu’ils restent dans la meme place, soit que la tête, soit que les pieds forment le point le plus élevé du corps. «Mon opinion est entierement contraire, non parce que j’ai des observations des hernies inguinales formées par 1’estomac et même par le rate, mais parce que le expé- rience m’a convaincu que tous les viscéres de 1’abdomen sont plus ou moine portées vers la poitrís ou le bassin, 25 selon que la tête ou le pieds sont le point les plus elevê du corps. «L’expêrience est iciíaudessus du raisonnement.» Pensam com RibesRickter, Morand, Shorp, Haurmann. Reneaultme de Lagaranne aconselha a posição genu- pectoral. Karl Nocolas, em 1886. adoptava a seguinte posição : Collocava o doente em decubitus lateral opposto a hérnia e na elevação da bacia de modo que o peso das vísceras fizesse tracção sobre as que constituíssem a hérnia. Posição do cirurgião—O operador por occasião de pra- ticar o taxis deve collocar-se do lado do tumor herniario, afim de que a reducção se possa fazer com mais faci- lidade. Entretanto, ha casos em que vantagem usarmos outra posição. Manobras empregadas para obter-se a reducção—Es- tando o doente chloroíormisado, o operador toma a hérnia entre o polegar, o médio e o index da mão esquerda, por seu pediculo, tomando-a em cheio com a mão direita, e por meio de uma pressão methodica e moderada feita com vagar, procura obter a reducção do seu conteúdo para o interior do abdómen, fazendo entrar em primeiro lugar as ultimas partes sahidas e assim em ordem in- versa. 26 xMguns autores procedem do seguinte modo: depois de posto o doente em posição requerida, leva-se a mão di- reita, se a hérnia íôr do lado direito, por baixo da coxa, logo depois, tendo com a outra mão que se tem passado sobre o ventre cercado o annel inquinai, junta-se as duas mãos para se investir o tumor em toda sua extensão, caso seja possivel. Comprime-se então com brandura, e tendo-se encontrado o ponto de menor resistência, deve- se impellir para elle as vísceras. Todas estas manobras devem ser feitas com 'delicadeza; não devemos nunca empregar violência; todo aquelle que julgar ser mais ligeiro a reducção das partes deslo- cadas por meio de uma manobra violenta, illude-se completamente, por isso que se conduzindo por este modo, não somente estas partes se adaptam ás bordas do annel resistindo á reducção, mais sobretudo pela compressão soffrida, não tardam a se mortificar, dando origem a uma serie de phenomenos graves, que nem sempre podem ser remediados. Sabe-se que uma hérnia foi bem reduzida quando notamos a desapparição com- pleta do tumor, e quando ha possibilidade da introducção do dedo no trajecto. O tempo que devemos gastar quando o indivíduo está debaixo da acção do chloroformio, é em geral de quinze a vinte e cinco minutos, podendo ir até meia hora. Convém notar, que as manobras do taxis sendo empre- 27 gadas por mais de meia hora, podem trazer como con- sequência a maceração do intestino, a qual pode trazer graves consequências. O tumor pode persistir, ainda que todos ou outros signaes de reducção se tenham verificado. A respeito deste íacto o professor Duplay assim se exprime, expli- cando-o. Primeiro: o intestino foi bem reduzido, porém já existia perfuração: sobrevem uma peritonite super-aguda. Segundo: existem falsas reducções: as vezes conse- guiu-se apenas vencer um dos agentes do estrangula- mento, com persistência de um ou mais delles, sendo deste modo a reducção imperfeita; outras vezes, uma hérnia pouco volumosa com seu sacco muito adherente ás partes visinhas foi repellida em massa com o proprio sacco para o abdómen. De facto as vísceras herniadas voltaram ao abdómen, porem a causa do estrangulamento nem por isto deixou de persistir. Em terceiro lugar, existe reducção em um sacco inte- rior preexistente preperitoneal, ou antes, reducção no tecido cellular sub-peritoneal, atravez de uma ruptura do sacco herniario (Farabenf) Em quarto lugar; o agente do estrangulamento con- tinua a existir apezar da reducção, quer se trate de uma 28 brida epiploica, ou do annel do sacco destacado circular- mente (Laugier Richet). Em quinto lugar; a reducção pode ter sido completa, porem os signaes de estrangulação persistem pela torsão do intestino sobre si mesmo, uma alça pode ter apertado a outra, ou então, ter ficado paralysada. Em sexto lugar ; pode existir uma outra estrangulada ou um estrangulamento interno concamitantemente. Apezar dos inconvenientes apresentados pelo taxis, achamos que elle não deve de todo ser abandonado, contanto que seja feito com delicadeza e paciência, para d’ahi não advirem consequências funestas : quando porem este não der resultados satisfactorios, deve-se proceder a Kelotomia, que a nosso ver deve ser seguida de cura radical, quando para isso não houver inconvenientes. Kelotomia—A Kelotomia cessou de inspirar receios depois do apparecimento da asepsia. Suas indicações augmentaram, seu manual operatorio simplificou-se, desde que se supprimiu a pratica de pro- cessos, os quaes tinham por fim evitar a abertura da serosa peritoneal: não é somente isto ; ás suas vantagens ajuntam-se ás de cura radical pela qual ella se completa. Ella sõ é uma operação perigosa, diz o professor Du- play, quando lesões intestinaes graves veem modificar as condições de sua execusão. Descrevamos os seus diversos tempos. 29 Primeiro tempo: consiste na excisão das partes molles. Ò cirurgião dobra a pelle ao nivel do tumor, de ma- neira que a dobra cutanea assim feita seja perpendicular ao grande eixo da hérnia. Entregando-se uma das extremidades ao ajundante, e tendo a outra segura pela mão esquerda, faz-se uma in- cisão de cima para baixo em seu centro, podendo esta incisão ser augmentada caso haja necessidade : as partes subjacentes são abertas com o bisturi ou thesoura sobre a tentacanula. O segundo tempo consiste na abertura do sacco. Con- tinua-se a incisar com prudência todas as camadas, até encontrar-se um envoltorio de côr vermelha, apresen- tando flutuação. Sabe-se que o sacco foi aberto quando depois de se fazer uma pequena incisão em sua superfície, um liquido seroso ou serosanguinolento sae do seu in- terior. Incisa-se então largamente o sacco, e em seguida lava-se cuidadosamente a superfície interna do mesmo, procedendo-se depois a pesquiza do agente do estrangu- lamento. Convém observar, que em todas as intervenções desta natureza, podem existir saccos preherniarios que às vezes são causa de um engano, podendo acontecer também que o intestino esteja adherente ao sacco, e também que o 30 sacco não existindo em muitas hérnias, dô lugar que o cirurgião và directamente ao intestino. O terceiro tempo, tem por fim fazer com que a causa do estrangulamento desappareça. Procede-se do seguinte modo: faz-se o afastamento dos dois lábios da ferida por meio de afastadores ou na falta destes com pinças hemostaticas, que são confiadas a um ajudante. O operador faz a inspecção da alça intes- tinal, verificando se existe perfuração ou grangrena, se a côr é a de folha secca caracteristica, e com o dedo pro- cura verificar até que ponto chega o estrangulamento e o seu grão de coarctação. Se á coarctação não fôr muito grande, o cirurgião in- troduz os dois indicadores entre o agente do estrangula- mento e o intestino, afastando-os; se a constricção é de- masiada, deve-se recorrer ás tesouras, procedendo-se o desbridamento. Quarto tempo: neste tempo procede-se o exame do intestino em seguida a reducção. Feito o desbridamento, procura-se a alça do intestino, verifica-se si ha outro estrangulamento mais acima, ins. pecionando também com cuidado o pediculo da hérnia. Faz-se a lavagem rigoresa do mesmo, feito o que, procede- se a reducção. O que devemos fazer com o epiploon que acompanha o intestino? 31 E’ tendencia moderna fazer apenas a simples excisão, depois de uma previa ligadura; outros, pelo contrario, não procedem deste modo, senão quando o epiploon se mostra pouco volumoso e perfeitamente são. Terminada, assim, a operação, procede-se a lavagem da ferida, depois a drenagem e a sutura. Achamos que, sempre que fôr possível, permittindo as condições do doente, deve-se proceder a cura radical depois da kelotomia. Da nossa opinião è o professor Duplay o qual diz : «a cura radical deve ser o complemento indispensável de toda operação de hérnia estrangulada, contanto que o intestino esteja em bom estado». CAPITULO IV Cura radical da hérnia inguinal radical pelas fundas,—E’ facto verificado que 0 emprego da funda pode curar as hérnias. Vejamos como, e em que condições pode dar-se esta cura. Nas creanças, isto é muito commum, em vista da ten- dência que ha nesta epocha da vida, á retracção das aber- turas e canaes. Pensam alguns, que nesta idade, mesmo uma contenção incorrecta, possa dar bons resultados. Outra razão pela qual as hérnias nestas condições se curam com facilidade é que, quasi sempre, são congénitas, isto é, devidas a não ter o peritoneo se separado da vaginal, sendo muito natural que, logo que a hérnia seja contida, o canal que anormalmente existe, tenda a desapparecer. Porém, até que idade a cura de uma hérnia por uma contenção exacta pode dar-se? Os autores em geral são de opinião que ella sómente pode se effectuar até a idade de 15 annos, ainda que outros tenham observado algumas curas no adulto. 34 Garangeot pensa que o indivíduo de mais de 24 annos não deve esperar a cura pela funda. Heister é de opinião que isto pode dar-se, comtanto que a hérnia seja recente e pequena. Cuiene diz que não se deve applicar uma funda como meio palliativo, e sim com o fim de obter a cura. Quanto mais joven, porem, fôr o indivíduo, diz elle.mais probabilidades ha de cura, comtanto que a hérnia uma vez reduzida nunea mais se escape. Garmo apresenta a seguinte estatística: de 1203 casos de hérnia que elle tratou, dos quaes somente 116 eram de indivíduos jovens, 3o6 foram curados pela funda. Estes doentes não usaram funda durante seis mezes, não havendo nenhuma recidiva. E’ somente nas hérnias inguinaes que ha alguma proba- bilidade de cura, estas probabilidades dependendo da natureza da hérnia. Nas hérnias congénitas a cura é admissível porque existe, como diz L. Championnière, um orifício em uma parede bem constituída. Neste caso pode acontecer que a hérnia sendo bem mantida, e ao mesmo tempo a funda reunindo as paredes do canal anormal, a cura da hérnia se verifique. E’ somente na criança, portanto, que ha muita proba- bilidade de cura pela funda. Para obtermos uma bôa cura por meio da funda, neces- sário se torna que a compressão seja exercida cm toda 35 extensão do canal inguinal; convindo notar que a com- pressão feita somente sobre o annel, obture somente o collo do sacco expondo portanto a recidiva. Forgue e Reclus assim se exprimem a respeito das condições necessárias para a cura pela funda. Um indivíduo abastado, pouco exposto aos esforços e fadigas, de paredes abdominaes vigorosas, anneis medio- cremente dilatados, não tendo passado de 30 annos, gosando de uma bôa saude e munido de uma bôa fnnda bem adaptada, pode assim esperar que a cura se effeetue. Assim não acontecendo, a cura não se pode dar: indi- víduos pobres, sujeitos aos trabalhos e ás fadigas que augmentam a pressão abdominal, indivíduos portadores de ventres de triplice saliência, anneis muito dilatados; indivíduos que soíTrem de moléstias que obrigam a hérnia constantemente a sahir, emfim, indivíduos que não teem senão fundas insufíicientes ou insufficientemente collo- cadas, estes absolutamente não podem curar-se. capitulo v Cura radical operatória da hérnia inguinal 9 cura radical operatória de uma hérnia inguinal, é a que cogita em fazer cessar os accidentes graves que uma hérnia desta natureza pode produzir, evitando o seu re- apparecimento ou recidiva. E’ a nosso ver, um magnifico meio de tratamento, por que livra o indivíduo uma vez por todas de uma moléstia que não somente o deforma ás vezes, como também traz constantemente sua vida em perigo. Para chegarmos a este fim diversos methodos são em- pregados, uns directos outros indirectos. Fazendo parte dos methodos indirectos encontra-se o das injecções peri-herniarias imaginado por Luton, e o das injecções eschlerogenas de Lannelongue, dos quaes não trataremos, porque já não são empregados, convindo notar que são de difficil applicação, de resultados muito duvidosos, podendo ser causa de certos accidentes os quaes viriam complicar a situação. Os methodos indirectos são commumente praticados 38 na linha alva, assumindo as proporções de verdadeira laporotamia. Lawson Tait foi quem em primeiro lugar fez a in- cisão no meio do ventre, dando a este modo de intervir, o nome dê tratamento das hérnias por secção abdominal. Já Amandale, em 1878, tinha communicado haver en- contrado um caso de hérnia inguinal estrangulada, reduzida em massa, a qual foi tratada pela laporotomia mediana. Em 1883,o mesmo Tait pelas columnas de um jornal inglez, British and medicai Journal, declara que a cura radical de todas as hérnias pode ser obtida por meio da secção abdominal, e que este meio pode prestar-se, mesmo nos casos de hérnia estrangulada. Esta ultima proposição foi defendida por Keethey, que adoptou a incisão na linha alva com o fim de reduzir o intestino attrahido para o ventre, sendo também defen- dida por Fenwiek, o qual, em uma revista ingleza, o The Lancei, declara também ter empregado este pro- cesso, obtendo bom resultado. Actualmente, a cura radical por este processo so é em- pregada, quando se quer praticar qualquer intervenção que requeira uma laparotomia, porque por este modo, com uma incisão apenas, preenchemos dois fins de- sejados. Metiiodos directos de tratamento curativo das her- 39 nias inguinaes.—Descreveremos aqui somente tres pro- cessos por serem os mais commumente empregados entre nós. Estes tres processos são: o de Lucas Champronniére, e de Bassini eo de Felizet, este sendo muito empregado nas creanças. Assim procedendo, não queremos absolu- mente dizer que os outros processos existentes não sejam bons, porém porque estes processos são os que vimos serem empregados com muito bons resultados. Processo de Lucas Champonnière.—Preenchidas as formalidades que devem preceder á intervenções desta natureza, queremos nos referir aos cuidados de antisepsia e mais principalmente aos de asepsia, começa-se a operação. Faz-se uma incisão que indo atè o tecido cellular sub- cutâneo, trace uma linha obliqua decima para baixo no sentido do canal inguinal que deve ter a maior dimensão possível, afim de que possa bem facilitar a dissecção do do sacco. Procede-se depois a secção do canal inguinal com uma tesoura, em todo seu trajecto: esta secção deve ser pra- ticada entre duas pinças munidas de dentes, introduzidas conforme o eixo do trajecto, devendo abranger toda a espessura da parede diante do cordão espermatico. Chegados ao sacco herniario, devemos abril-o,prendendo com duas pinças em T os lábios da ferida. 40 Depois disto, reduziremos as vísceras e se estas vierem acompanhadosdeepiploon, deveremos fazer a sua ressecção para cujo fim é preciso que façamos a sua fixação, com uma pinça forte. Faz-se esta ressecçao da maneira seguinte: repellidas as vísceras deslocadas para o abdómen afim de que a massa herniaria fique somente constituída pelo epiploon, este é pediculisado com uma pinça de Ricord ou de L. Championniére, e neste pediculo, sobre a face exterior, faremos a ligadura em massa do epiploon, ligadura que poderá ser feita por dois pontos em cadeia ou em X, nos casos pouco consideráveis, podendo fazer-se maior numero de pontos quando isto fôr preciso. Faz-se então a ressecção do epiploon excedente junto a pinça, de maneira a não comprehender os pontos, depois do que retira-se a pinça, favorecendo-se a retracção do côto epiploico para a cavidade abdominal. As vantagens daexcisão do epiploon são: em primeiro lugar, livrar o abdómen de uma parte do seu conteúdo, oíTerecendo mais espaço ás vísceras reduzidas; depois, supprimir um orgão que até certo ponto pode contribuir para a producção de hérnias, visto como é facto hoje pro- vado que elle precede o intestino em sua descida, forçando um tanto a sua passagem, o que equivale a supprimir uma causa provável de reproducção. Outra vantagem da ressecção do epiploon é a seguinte : 41 a destruição das adherencias epiploicas no collo do sacco ou, acima delle, as quaes constituem causas quasi que inevitáveis do reapparecimento da hérnia. Depois de se ter feito a resecção do epiploon, procede-se o dissecção do sacco. Continuando a dissecção e fazendo um leve esforço de tracção, retira-se do ventre a maior porção de serosa pos- sivel, com o fim de fazer em situação elevada a liga- dura do pediculo do sacco, sendo isto necessário para fazer desapparecer o infudibulum peritoneal. Depois de feito isto, isola-se com precaução os elementos do cordão, retirando-se do abdómen a quantidade de serosa suíficiente, applicando-se no ponto mais elevado uma pinça de ramos largos. Isto feito, procede-se ã ligadera do pediculo segundo a dimensão que o sacco apresenta. Para eíTecfuar esta ligadura, atravessa-se com uma agulha de Reverdin o tubo seroso, de lado a lado, passando-se uma fio duplo de catgut: por este modo obtendo-se dois fios atravez do pediculo, os quaes, depois de afastados, são cruzados e amarrados. < Se o pediculo tiver grandes dimensões, confecciona-se uma cadeia de anneis múltiplos, raramente sendo preciso isto fazer-se. Deve-se por occasião de fazer a ligadura do pediculo, ter a cautella de não aprehender os elementos do cordão. 42 Faz-se depois disto a extirpação do sacco, ressecan- do-se o epiploon fóra dos ramos da pinça, introduzin- do-se, depois de retirada a pinça, o côto deixado, para o interior do abdómen. Procede-se cm seguida a restauração da parede ante- rior do trajecto inguinal: para effectuar isto, cruzam-se os dois lábios da aponevrose do grande obliquo, os quaes foram abertos no momento da secção do canal inguinal, fazendo-se em seguida a sutura por pontos separados ou pontos em U, sendo estes de mais vanta- gem porque unem os lábios da parede fibro-muscular um abaixo do outro, tornando a cicatriz mais solida. E’ costume reforçar-se a sutura de pontos em U, por uma serie de pontos entrecortados. Deve-se fazer estas suturas não muito apertadas, afim de que não cortem os tecidos, nem compromettam sua nutrição. Gompleta-se a operação com a sutura da pelle feita com crina, tendo o cuidado de fazer a drenagem da ferida. Faz-se o curativo antiseptico e compressivo, estando terminada a operação. Este processo muito empregado entre nós, tom dado bons resultados. Nós mesmo possuímos quatro observações colhidas da 2.a cadeira de Clinica Cirúrgica da qual somos interno, sahindo os operados completamente curados. 43 Estas observações se acham transcriptas no nosso trabalho. Processo de Bassini.—Colloeado o doente em de- cubitus dorsal e feita a previa asepsia do campo opera- torio, pratica-se o operação. 1. tempo : Faz-se uma incisão, que vindo a 3 centí- metros da espinha illiaca antero-superior passando paral- lelamente sobre a arçada de Poupart, vá ter a espinha do pubis. Põe-se a descoberto a aponevrose do grande obliquo, em toda extensão correspondente ao canal inguinal: descobrem-se assim as bordas desse canal. Esta incisão comprehende a pelle e o faseia transver- salis, lesando a artéria epigastrica superficial, compre- hendendo também a veia. 2. Tempo: Faz-se a dissecção da aponevrose do grande obliquo a partir do annel inguinal sub-cutaneo, indo até o annel inguinal abdominal. Procede-se a incisão da aponevrose do grande obliquo, a qual forma dois lábios, um inferior, outro superior, isola-se e levanta-se em massa o cordão espermatico e o sacco da hérnia com o index sobre os orgãos acima citados, faz-se o isolamento do sacco da hérnia, do cordão esper- matico até o orifício abdominal. Faz-se este isolamento com instrumentos rombos ou 44 por meio da unha, quer se trate de uma hérnia congénita ou adquirida. Convém notar que este isolamento deve ir até á fossa illiaca. Feito isto, isolam-se o corpo e o fundo do sacco, traz-se para o exterior, procede-se a abertura do fundo verificando se as vísceras contidas na hérnia contraíram adherencias, verificando-se também se o epiploon está espessado. Quando o epiploon contrae adherencias, faz-se a sua libertação, procedendo-se depois a libertação das vísceras forçando-se, o collo do sacco, feito o que, applica-se uma ligadura além da emboccadura, fazendo-se depos a incisão a meio centímetro abaixo daquella. Acontecendo que a hérnia seja de tamanho considerável e que a emboccadura e o sacco sejam muito largos, além da ligadura simples devemos applicar acima e abaixo desta uma outra em cadeia, que previne a occlusão e impede que o primeiro fio escorregue. O peritoneo ligado por este modo, é deixado na fossa illiaca interna. Com a extirpação do sacco e a ligadura do collo, completa-se o segundo tempo da operação. 3.° Tempo: Toma-se o cordão spermatico tendo o cuidado de conduzil-o ligeiramente para cima da parede abdominal, e sendo possível também o testículo o qual é retirado do scroto. 45 Feito isto, puxa-se para baixo o labio inferior da aponevrose do grande obliquo, levando para cima o labio superior; descobrindo-se assim a gotteira formada pelo ligamento de Poupart até o seu limite posterior e a cerca de um centímetro para fóra do ponto em que o cordão espermatico sahe da fossa illiaca interna; depois d’isto, faz-se a deslocação da borda externa do musculo grande recto do abdómen e a camada constituída pelo pequeno obliquo, transverso e a aponevrose deste mus- culo, também chamada tendão conjuncto; separam-se da aponevrose do grande obliquo e do tecido gorduroso subcutâneo. Junta-se então a tríplice camada, approximando-se esta da borda posterior isolada do ligamonto de Poupart, fazendo-se uma sutura com pontos separados, sutura que deve começar a ser feita pela cristã do pubis, indo até perto do cordão spermatico, o qual foi deslocado cerca de um centímetro para a espinha illiaca antero-supe- rior. Com a reconstituição do orifício interno do canal inguinal e da parede posterior do mesmo, está terminado o terceiro tempo da operação. 4.° Tempo: Transporta-se o cordão spermatico e o testículo para os seus logares primitivos, faz-se a sutura da aponevrose do grande obliquo até que as bordas da ferida fiquem a pequena distancia do cordão spermatico, 46 depois do que faz-se a sutura da pelle, applicando-se então o penso. Está, por este modo, reconstituído com o seu orifício abdominal e sua parede posterior o canal inguinal, ambos formados pelos dois retalhos da aponevrose do grande obliquo e o seu estreito orifício externo. Este processo é muito empregado entre nós, ou em si, ou com algumas modificações, dando bons resultados. • \ Processo de Felizet para cura radical nas creanças.— Este processo é commummente dividido em seis tempos. 1. Tempo: Consiste em fazer a incisão da pelle que deve ser feita no sentido transverso, ligeiramente obli- qua, parallela a grande dobra de flexão também chamada dobra de Venus, a qual não deve lesar nem a artéria podendo externa, nem a tugumentosa abdominal. 2. Tempo: Consiste no seguinte: afastados os dois lábios da incisão com os dois indicadores, vê-se no fundo d’esta uma massa firme de côr rosea, adherente ao orifício externo e que é a bainha fibrosa que contem os elementos do cordão e o sacco da hérnia. Desnuda-se esta bainha, como si se tratasse de um grosso vaso do qual quizessemos fazer a ligadura. Um ajudante toma a si a incumbência de apanhar o fundo do scroto com o testículo e de puxal-o para baixo, afim de que o cordão fique bem distendido até o fim da operação. 47 3. Tempo: Consiste em fazer a dissecção do cordão e a procura do sacco. 4. Tempo: Consiste em abrir sufficientemente o sacco para verificarmos se ha ou não ha adherencia do collo, que é isolado com a unha em torno do trajecto inguinal; so o destende para haixo o mais possivel, com o fim de passar em seu centro uma agulha munida de um fio des- tinado ao nó de moleiro. 5. Tempo: Consiste em fazer a sutura da oponevrose do grande obliquo. 6. Tempo: Consiste em fazer a sutura da pelle com crina de Florença, tendo o cuidado de drenar a ferida, depois do que, colloca-se o penso. Por este processo, em 618 operados (sendo que 477 de Broca, 105 de Felizet e 36 de Lafourcade) Berné Lasserre apenas aponta um insucesso. CAPITULO vi Indicações e contra indicações da cura radical ípÃo obstante a existência de uma hérnia não ser por si só uma indicação formal para acura radical, queremos dizer, não obstante não se empregar indiíferentemente a cura radical sem syndicar do estado de forças do doente, a sua edade etc., tendem as suas indicações, dia a dia, a augmentar. A formula de Trelat que dizia somente serem sucepti- veis de cura radical as hérnias que não fossem facil, completa e constantemente contidas pela funda, já não tem razão de ser. Actualmente opera-se um indivíduo com o fim de supprimir a funda que o prohibe de certos trabalhos, ao mesmo tempo que em certos casos é um verdadeiro supplicio para o doente. Todavia, existem indivíduos que se habituam por tal sorte com a sua funda, que sentem quando não a tra- zem, uma falta sensível. O professor L. Ghampionniére em sua obra, resume 50 deste modo as indicações para a cura radical de hérnia. Aconselha elle a cura radical nos seguintes casos : l.o hérnias irreductiveis. 2. hérnias incoercíveis. 3. hérnias congénitas com ectopia testicular. 4. hérnias dolorosas. 5. hérnias cujo volume tende a augmentar. 6. hérnias em indivíduos portadores de certas molés- tias, as quaes favorecem as complicações. 7. hérnias em que ha accidentes que não sào o estran- gulamento, e aos quaes se oppõe geralmente emollientes e palliativos. 8. conveniências sociaes. Façamos o estudo detalhado de cada uma destas indi- cações. Hérnias irreductiveis. i Estas hérnias são uma fonte constante de perigos e de complicações. Ainda que esteja demonstrado que muitos indivíduos portadores de uma hérnia irreductivel podem sobreviver, não é comtudo menos verdade que elles estejam cons- tantemente expostos aos accidentes. A hérnia irreductivel tende sempre a crescer, podendo chegar a proporções extraordinárias. 51 São alem disto expostas a complicações, taes como: a inflammação, o estrangulamento ete. Pode tambern haver deslocamento das vísceras, o qual pode determinar accidentes incommodos e graves. Além do incommodo produzido por uma hérnia volu- mosa, ás vezes esta produz perturbações digestivas cujas consequências podem vir a ser serias: ajuntando-se a tudo isto que com o progredir da idade, veem complicar ainda mais a situação as perturbações pulmonares e cardíacas, o diabetes etc., impedindo assim qualquer intervenção posterior. Hérnias incoercíveis. — Elias podem ser por dilíe- rentes motivos, determinando assim indicações diíTerentes. Em primeiro lugar, ella pode ser incoercível pelas dimensões enormes do annel, e por seu volume. Nestes casos a operação é difficil, porem não irreali- savel. Pode também ser incoercível pela presença de uma certa quantidade de liquido no sacco. Neste caso, mesmo com um annel estreito não ha íunda que a contenha. A descida de uma grande quantidade de epiploon para a visinhança do sacco, é também uma causa de incoerci- bilidade. Emfim as adherencias epiploicas na visinhança do 52 annel podem ser causa de incoercibilidade: em todos estes casos é indicada a operarão. Hérnias congénitas com ectopia testicular. Admitte-se depois dos trabalhos de Godart, que o testículo em ectopia não tem nenhum valor sexual; comtudo, embora inútil, deve em dadas circunstancias ser collocado no seu lugar ou então retirado, pois além de opor um obstáculo a contenção da hérnia, está sujeito aos choques exteriores. Quando existe ectopia, quasi nunca a funda mantém bem a hérnia; esta é quasi sempre incoercível ou irre- ductivel e como é opinião geral, esta hérnia está sujeita mais que as outras a accidentes. Quando existe hydrocele concumitante, deve-se fazer a cura radical, embora não haja ectopia. Hérnias dolorosas. — Existem doentes que de modo nenhum supportam a funda, pois que, para elles, a applicação das mesmas é um verdadeiro supplicio. As dôres são devidas a ectopia do testículo, nevralgias abdominaes, varicocele doloroso, ou a uma impressiona- bilidade, nervosa do doente. Pensa Championniére que as dôres que em geral se attribuem a impressionabilidade do indivíduo, são produ- zidas pela adherencia ao nivel do collo do sacco das vísceras herniadas, que o cirurgião julga ter reduzido, applicando por conseguinte a funda sobre ellas. 53 Hérnias cujo volume tende a augmentar. Nestas hérnias o cirurgião é obrigado a praticar a cura radical, pois se assim não o fizer deixando que a hérnia tome grandes proporções, diminuirá as probabilidades de exito. Certas moléstias nos indivíduos portadores de hérnia, impõem a cura radical. São mui principalmente as moléstias que põem em prova os pontos fracos da parede abdominal, salientando- se as que são acompanhadas de tosse. Os esforços da micção e da defecaçâo, quando são permanentes, são também muito perigosos, pois obrigam a hérnia, a sahir constantemente: nestes casos e em outros semelhantes, o cirurgião deve esperar um momento de calma e praticar a operação. Verdade é que nestes casos a operação deve ser feita com precaução, sendo um tanto perigosa se assim não proceder. Hérnias em que ha accidentes que não são o extran- gulamento, e aos quaes se oppõe geralmente emollientes e palliativos. Em presença de um indivíduo joven, portador de uma hérnia com accidentes de obstrucção ou epastamento, L. Champrionniere aconselha praticar a operação em vez de empregar o tratamento palliativo, que faz correr ao indivíduo o risco de uma espora que pode trazer graves 54 consequências, pois melhor será reduzir um intestino são, do que um intestino já inflammado. Conveniências sociaes.—Deve-se praticar a operação nos indivíduos pobres, indivíduos que precisam de tra- balhos penosos para se manter, pois sabemos que estes não podendo gastar quantias avultadas na compra de fundas, ficam condemnados a morrer de fome, ao passo que se submettendo a operação, podem se tornar homens validos, capazes para qualquer serviço. Porém íóra destas condições materiaes, existem razões de ordem moral que justificam perfeitamente a operação. A perspectiva de um casamento, por exemplo; é um indivíduo que desejando se casar, quer se apresentar sem funda, que de alguma sorte causa má impressão. Aos indivíduos que se entregando aos exercícios phy- sicos e não podendo mais fazel-o pelo facto de terem uma hérnia nestes indivíduos pode ser praticada a operação de cura radical, podendo elle depois disto se entregar aos mesmos exercícios dos quaes o afastara a sua hérnia. Nos indivíduos que desejam fazer o serviço militar os quaes tornam-se incompatíveis pelo facto de terem uma hérnia : nestes indivíduos também pode ser feita a cura radical. Emfim, deve-se considerar também como operáveis as hérnias das jovens. O professor Lucas Championniére assim se exprime: 55 Soa de opinião que não se deve de modo algum deixar persistir uma hérnia em uma jovem. A funda torna-se um supplicio para ella, porque não só a deforma, como também ás vezes a hérnia é dolorosa; convindo notar que a cura radical nestes casos tem dado resultados muito satisfactorios, não havendo portanto receio em ser praticada. Uma vez operada, diz o Professor Lucas Championniére, a mulher està menos sujeita do que o homem a recidiva, porque não está exposta aos esforços violentos e repetidos. Contra indicações—Descrevamos embora que succin- tamente, as contra indicações da operação de cura radical. E’ de regra não se praticar operação nos individuos de idade avançada. São contra indicadas as operações nos individuos alcoo- latas, nas affecções geraes do systema nervoso, no diabetes, albuminúria, tuberculose, emfim em todos os casos em que ha cachexia, portanto falta de vitalidade. As afíecções do apparelho respiratório particularmente o emphysema, as quaes não são contra indicações formaes, comtudo devem impor um certo receio, em vista de serem complicações frequentes a congestão pulmonar e a broncho-pneumonia. São também contra indicações, a fraqueza da parede abdominal, a grande dilatação dos anneis, o desenvolvi- mento rápido da hérnia e o apparecimento quasi simul- 56 taneo de outras hérnias, circumstancias que caracterisam as hérnias de fraqueza e que devem fazer temer que a operação não possa ser seguida de uma cura diíinitiva. ou mesmo de uma melhora durável. Ha casos entretanto em que se pode tentar a cura. Emfim achamos que não se pode estabelecer uma regra de conducta; cabe ao cirurgião resolver o que achar mais de accordo na occasião. Resultados da cura radical.—As estatísticas não podem dar senão uma ideia imperfeita e muitas vezes erró- nea do valor de uma operação; comtudo, as que dizem respeito a cura radical da hérnia, estabelecem de uma maneira positiva que a mortalidade devida a operação % diminue consideravelmente a proporção que vae sendo melhor conhecida e melhor praticada. Tilanus em 1879 publicou uma estatística de 79 casos, na qual a mortalidade era de 11 %. Leisrink em 1883, em 194 casos, dá 10,8 % de mortalidade; esta se reduzindo a 3,6 % em uma esta- tística de 56 casos de Socin, dada por Anderegg em 1886. Reunindo um total de 906 casos communicados a the Britih medicai Association aoGongrés de Cirurgie français e tiradas a diversos autores, o professor Duplay encontrou o mesmo numero em 1888. Kocher em 1889, sobre 42 57 operações accusa 4 mortes, o que equivale a 9,5 % de mortalidade. Estatísticas mais recentes publicam resultados ainda mais favoráveis. E. Hahn de Friedrchshain, praticaram 51 curas radi- caes com um insuccesso apenas. Max Schede no mesmo numero de operações, teve apenas dois insuccessos. Lucas Championniére em 1888 publicou a relação de 120 operações com um insuccesso apenas. Bassini, sobre 216 casos registra apenas um insuc- cesso. Barker em uma communicação feita a Royal medicai and chirurgical Society, registra 50 operações sem insuc- cesso algum. Richelot em 138 operados, conta dois insuccessos apenas. Nicoladoni teve um insuccesso em 100 operados. Buengnertere sobre 40 operados, mostra apenas 1 insuc- cesso. Rossander 1 sobre 239. A. Mõller 1 sobre 40. Holsted, 165 sem insuccesso algum. De todas as estatísticas, a mais importante é a de Lucas Championniére. Já em 1888 elle publicara, como já dis- semos, uma estatística de 120 casos com um insuccesso apenas. Em 1891 elle publicou outra estatística de 250 casos com dois insuccessos apenas. Em 1893 58 publicou novas estatísticas com resultados os mais bri- lhantes Julgamos assim ter provado, embora de um modo succinto, a vantagem da cura radical da hérnia inguinal, por meio da intervenção cirúrgica. OBSERVAÇÕES observação l.a G. B., com 52 annos, natural deste Estado, pardo, solteiro, bombeiro, deu entrada no Hospital em o dia 12 de Maio do corrente anno, indo occupar o leito n. 3 da Enfermaria de S. Luiz, onde funcciona a 2.a cadeira de Clinica Cirúrgica, de qual somos interno. Examinado o doente pelo illustrado assistente desta clinica o Dr. Freitas Borja, este verificou tratar-se de uma hérnia inguinal direita estrangulada. Resolvida a intervenção.immediatamente, procedeu-se a kelotomia a qual foi seguida de cura radical pelo processo de L. Championnière, observando-se todos os cuidados de asepsia e antisepsia, tendo corrido a operação satisfa- toriamente. Foi feita a sutura musculo-aponevrotica com o catgut, sendo realizada a sutura da pelle com crina de Florença. Depois da intervenção ficou o doente em repouso durante 18 dias, alimentando-se nos 10 primeiros dias, de leite unicamente. Deu-se a cicatrisação por primeira intenção em 5 dias. 60 O doente sahiu do Hospital no dia 11 de Junho com- pletamente curado. OBSERVAÇÃO 2.a J. A. S., com 60 annos, casado, natural deste estado, operário, deu entrada no hospital no dia 12 de Junho do corrente anno, indo occupar o leito n. 12 da enfer- maria de S. Luiz onde funcciona a 2.a cadeira de Clinica Cirúrgica sob a direcção do Dr. Braz do Amaral. Feito o exame do doente, verificou-se tratar-se de uma volumosa hérnia inguinal direita estrangulada. O Dr. Freitas Borja íez a reducção por kelotomia, seguindo-se a cura radical pelo processo, de L. Chain - pionniére. A operação correu perfeitainente. A cicatrização fez-se por primeira intenção em 6 dias. Foi-lhe prescripta a dieta lactea. Este doente sahiu completaiflente curado no dia 16 de Junho do corrente anno. OBSERVAÇÃO 3.* E. J. S. com 58 annos, [>ardo, solteiro, embarcadiço, natural do estado de Sergipe, entrou para o hospital em o dia 28 de Maio do corrente anno, sendo internado na enfermaria S. Luiz onde funcciona a 2.a cadeira de Clinica Cirúrgica, occupando o leito n. 5. Pelo exame feito no doente, ficou averiguado tratar-se de uma hérnia inguinal esquerda estrangulada. 61 Foi feita a intervenção pelos Drs. Braz do Amaral e Freitas Borja os quaes procederam a kelotomia seguindo- se a cura radical pelo processo de L. Championniére. O doente ficou em repouso durante 10 dias com dieta lactea. No dia 1 de Junho fizemos o curativo nada notando-se de anormal, a cicatrisação tendo-se feito por primeira intenção. O doente sahiu completamente curado no dia 25 de Junho. observação 4.a J. M. N. com 27 annos, preto, solteiro, natural deste Estado, embarcadiço, recolhen-se ao Hospital no dia 23 de Agosto do corrente anno, sendo internado em a enfermaria de S. Luiz, indo occupar o leito n. 38. Examinado o doente pelo Dr. Freitas Borja, este diag- nosticou hérnia inguinal esquerda estrangulada. Immediatamente resolvida a intervenção, foi o doente chloroformisado, depois do que começou a intervenção. Aberto que foi o sacco da hérnia, o Dr. Freitas Borja v « verificou achar-se gangrenada uma alça do intestino, pelo que deliberou fazer a ressecção, sendo depois desta feita a anestomose termino-terminal do intestino. Foi feita a cura radical pelo processo de L. Champion- 62 niére, sendo feita a sutura musculo-aponevrotica com o catgut, e a sutura da pelle com crina de Florença. Depois da intervenção, o doente ficou em repouso, sendo submettido a dieta hydrica durante oito dias. No dia seguinte ao da intervenção, o doente nada apre- sentava de anormal, o pulso regular, temperatura de 37°, temperatura esta que sempre se manteve durante o tempo que o observamos. No dia 25 fizemos o primeiro curativo, nada notando-se de anormal. A cicatrisação realisou-se por primeira intenção. O doente continuou a passar perfeitamente, até o dia 21 de Setembro, dia em que retirou-se do Hospital comple* lamente curado. OBSERVAÇÃO 5.a J. H. B. com 23 annos, pardo, solteiro, natural deste Estado, carroceiro, recolheu-se ao Hospital no dia 29 de Setembro do corrente anno, indo occupar o leito n. 23 da enfermaria de S. Luiz, da qual somos interno. Examinado este doente pelo digno assistente desta clinica o Dr. Freitas Borja, verificou elle se tratar de uma hérnia inguinal direita estrangulada. Foi immediatamente feita a reducção por kelotomia, seguindo a cura radical pelo processo de Lucas Cham- pionniére. 63 0 doente ficou em repouso, sendo submettido a dieta lactea. Fez-se a sutura musculo-aponevrotica com catgut, sendo feita a sutura da pelle com crina de Florença. No dia 1 fizemos o primeiro curativo, nada havendo a notar. A cicatrisação fez-se por primeira intenção, o doente sahindo completamente curado no dia 20 de Outubro do corrente anno. PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas PROPOSIÇÕES PRIMEIRA SECÇÃO ANATOMIA DESCRIPTIYA I 0 canal inguinal está situado entre a arcada crural iníeriormente, e uma linha fictícia dirigida da espinha illiaca antero-superior a linha alva abdominal, supe- riorménte. li E’ dirigido obliquamente de cima para baixo, de íóra para dentro e de detraz para diante. m E’ constituído por um trajecto e dois orifícios: orifício inferior ou cutâneo, orifício superior ou profundo. ANATOMIA MEDICO-CIRURGICA I Os ganglios inguinaes superfíciaes dividem-se em: in- ternos, médios e externos. II Os ganglios inguinaes internos recebem os vasos lym- phaticos superfíciaes da parte interna da nadega, os 68 lymphaticos superficiaes do perineo e do anus, e os lym- phaticos dos orgãos genitaes externos, nos dois sexos. m Os ganglios inguinaes médios recebem os lymphaticos superficiaes da metade sub-umbilical do abdómen ; alguns entretanto, indo ter aos ganglios externos; estes rece- bendo sobretudo os lymphaticos superficiaes da metade externa da nadega. SEGUNDA SECÇÃO HISTOLOGIA I Os ossos são revestidos por uma membrana fibro-mus- cular chamada periosteo. II Esia membrana tem uma côr esbranquiçada, por vezes amarellada, brilhante, e variando de espessura segundo as regiões, III Representa esta membrana papel importante na rege- neração dos ossos. BACTERIOLOGIA I O bacillus anthracis e o germen responsável pelo car- búnculo. 69 II E’ um germen anaerobio, offerecendo grande resistência aos meios bactericidas. m A sua resistência augmenta consideravelmente, quando em estado de esporulação. ANATOMIA E PHYSI0L0G1A PATHOLOGICAS I Denomina-se tumor, todo tecido de neoíormação com tendencia a persistir e a crescer indeílnidamente. II Todo tumor em cuja constituirão encontra-se cellulas adultas, é um tumor maligno. III O desenvolvimento rápido e a tendencia natural á gene- ralisação, são dois signaes capitaes desta especie de tumores. TERCEIRA SECÇÃO PHYSIOLOGIA I Duas ordens de phenomenos concorrem para a reali— sação da funcçâo digestiva. 70 II Phenomenos ou actos mecânicos, tendo por fim a mastigação dos alimentos, sua deglutição e sua passagem no tubo intestinal. III Phenomenos ou actos chimicos, tendo por fim dissolver ou transformar estes mesmos alimentos, de modo que possam ser absorvidos e utilisados pelo organismo. THERAPEUTICA I O opio é o sueco espesso extrahido das capsulas da Papaver somniferum album, pertencente a íamilia das papaveraceas. ii E’ geralmente empregado como sedativo do systema nervoso, analgésico, hypnotico, etc. iii E’ contra-indicado nos estados congestivos do systema nervoso central; nos estados adynamicos, nas afíeções renaes, etc. QUARTA SECÇÃO MEDICINA LEGAL E TOXICOLOGIA I A via estomacal é a commummente preferida nos enve- nenamentos. 71 II Seus effeitos não são seguros. m Na maioria dos casos, o veneno provoca vomitos elimi- nando-se em grande parte. HYGIENE II O abuso do álcool produz um estado conhecido em pathologia com o nome de alcoolismo, tendo como con- sequência um envenenamento, que pode ser agudo ou chronico. II De consequências assaz desastrosas é o abuso deste agente, pois que vae clandestinamente ceifando muitas vidas e degradando as raças. in A hygiene conhecedora desta verdade, determina regras que devem ser recommendadas, como se tem feito nos paizes cultos, afim de obstar a marcha deste mal. QUINTA SECÇÃO PATHOLOGIA CIRÚRGICA I Denomina-se hérnia a sahida de uma viscera, de uma membrana, de um tumor, para fóra da cavidade na qual estas diversas partes se acham normalmente contidas. 72 II A descripção de uma hérnia, comprehende: o estudo das partes que envolvem as vísceras, depois o exame destes proprios orgãos. m Os envolucros da hérnia são constituidos de fóra para dentro pela pelle, o tecido cellular sub-cutaneo, e diffe- rentes planos musculares ou aponevroticos; a reunião destas camadas íormam os envolucros externos da hérnia. OPERAÇÕES E APPARELHOS I A laparatomia é uma operação que consiste na abertura da cavidade da grande sorosa, podendo ser rnedia ou lateral. II A laparatomia quando é feita com todos os cuidados de asepsia, é uma operação sem gravidade. iii Ella é indicada nos casos de extracção dos tumores da cavidade abdominal, nas occlusões intestinaes, nas feridas penetrantes e como meio de exploração. CLINICA CIRÚRGICA (l.a cadeira) I ■ A hérnia inguinal constitue um tumor cuja forma e dimensão difTere segundo a variedade que se observa, 73 porem sempre se encontrando nella os caracteres prin- cipaes das hérnias. II E’ pois uma massa cujo volume augmenta sobre a influencia da tosse, de um esforço qualquer, em quanto que diminui no decúbitos dorsal e por manobras de reducção. m Quando a hérnia é muito desenvolvida a ponto do intes- tino descer em massa para as bolças, o escroto apre- senta um aspecto caracteristico, representando um tumor arredondado, na parte superior do qual descobre-se uma depressão que não é outra coisa senão a abertura do penis: a pelle deste orgão parecendo ter sido englo- bada pela hérnia. CLINICA CIRÚRGICA (Ia cadeira) I % A hérnia inguinal congénita, e de observação frequente. li Ella apresenta-se debaixo de múltiplas formas. III Tem-se observado hérnias inguinaes pro-peritoneaes, inguino-intersticiaes, funiculares, vaginaes, representando os grãos successivos da persistência do canal vagino- peritoneal. 74 SEXTA SECÇÃO PATHOLOGIA MEDICA I A filariose é uma moléstia muito írequente nos climas inter-tropicaes, podendo se manifestar por diversos modos. ii E’ attribuida á filaria nocturna de Wucherer, além de outras manifestações, a elephantiases dos arabes. m Representa a prophylaxia papel importante no trata- mento desta affecção, pois por este modo livramos a economia de hospedes que a perseguem constantemente. CLINICA PROPEDÊUTICA I Os principaes meios de diagnostico são: a irispecção a palpação e a auscultação. ii Em algumas moléstias a auscultação só, é bastante para firmar o diagnostico. m • A auscultação pode ser mediata ou immediata; a pri- meira sendo realisada por meio do stetoscopio. 75 CLINICA MEDICA (I a cadeira) I Denomina-se íebre rernittente biliosa, remittente ama- rella, hematurica biliosa, uma moléstia infectuosa, aguda, caracterisada por um processo hemolyptico intenso e súbito. li E’ caracterisada por paroxismos febris irregulares, seguidos de calefrios, vomitos biliosos, icterícia, e hemo- globinuria. m Sua frequência onde existe a malaria, seu predomínio nas pessoas que soffreram de impaludismo, a presença dos parasitas responsáveis por esta moléstia no sangue e nos orgãos dos indivíduos atacados, justificam a opinião que admitte sua origem malarica. CLINICA MEDICA (2.* cadeira ) I São tres as principaes formas clinicas do beriberi: a paralytica, a edematosa e a mixta. II A theoria que diz ser o miasma palustre a causa pro- ductora deste mal, é completamente insustentável. 76 III A mudança de localidade é a principal condição para o tratamento desta affecção. SÉTIMA SECÇÃO MÁTERIA MEDICA, PHARMACOLOGIA E ARTE DE FORMULAR I \ As incompatibilidades medicamentosas são causa de frequentes erros na pratica da arte de formular. II Existe, segundo Dujardin-Beaumetz, quatro especies de incompatibilidades : physica, pharmaceutica, physiologica e chimica. m A incompatibilidade chimica, é de todas as incompati- bilidades, a que dá lugar a maior numero de erros. HISTORIA N.\TURAL MEDICA I Os monerios são micro-organismos extremamente sim- ples, pertencentes ao reino dos protobios ou protistas. li Nutreimse por absorpção das partículas alimentares levadas pelos liquidos em que vivem, ao contacto de sua peripheria. 77 III A nutrição e a respiração nestes micro-organismos, são verdadeiros phenomenos de endosmose e exosmose. CHIMICA MEDICA I O nitrato de prata é um sal resultante da substituição do acido azotico pelo radical prata, sendo sua formula Ag. Az 03. II Prepara-se este sal, fazendo reagir prata metallica sobre o acido azotico. m 0 nitrato de prata é muito empregado cm ophtalmologia nas conjunctevites, mui principalmente na granulosa. OITAVA SECÇÃO OBSTETRÍCIA I Versão é operação por meio da qual o feto evolue na cavidade uterina, dando em resultado a mudança da apre- sentação. li Ella é feita por manobras externas, internas e mixtas. 78 III Denomina-se versão cephalica aquella em que a cabeça letal é levada para o estreito superior; podalica quando são as nadegas que tomam esta posição. CLINICA OBSTÉTRICA E GYNECOLOGICA I A prenhez extra-uterina é o desenvolvimento do ovulo fecundado fóra da cavidade uterina. II A prenhez ectopica é ainda de causa um tanto obscura. m Na prenhez ectopica o meio therapeutico que oíTerece mais vantagens, é a laparotomia seguida da ablação do feto e de seu sacco. NONA SECÇÃO CLINICA PEDIÁTRICA I Observa-se mui frequentemente a meningite tubercu- losa nas crianças de 2 a 7 annos. II E’ quasi sempre acompanhada de tuberculose pulmonar ou abdominal. 79 III E’ hereditária como são quasi sempre todas as mani- festações da tuberculose. DECIMA SECÇÃO CLINICA OPHTALMOLOGICA I A oplitalmia dos recemnascidos é uma inílammaçao de caracter especial da conjunctiva occular, que apparece logo após o nascimento. li Quasi sempre a ophtalmia é de natureza blenorrhagica, sendo devida ao gonoccoco de Neisser. m Sob qualquer forma que se apresente esta moléstia, devemos tratal-a seriamente desde o seu apparecimento, pois pode trazer graves consequências, quando tardia- mente cuidada. DECIMA PRIMEIRA SECÇÃO CLINICA DERMATOLÓGICA E SYPHILIGRAPHICA I Como causa frequente do contagio da syphilis salien- ta-se principalmente o commercio sexual. 80 II Em muitos casos ella pode se transmittir por um contagio accidental. m Gomo exemplo da syphilis accidental, salientando-se a do medico qne pode ser infeccionado quando no exercicio de sua profissão. DECIMA SEGUNDA SECÇÃO CLINICA PSYCHIATRICA E DE MOLÉSTIAS NERVOSAS I A hysteria é uma nevrose mais írequentemente obser- vada na mulher do que no homem. li Debaixo de differentes modalidades ella se apresenta, tendo duas formas principaes, uma convulsiva e outra não convulsiva. m Pode simular um grande numero de estados patho- logicos. Visto. Secretaria da Faculdade de Medicina da Bahia, 31 de Outubro de 1910. 0 Secretario Dr. Menandro dos Reis Meirelles.