THESE DE Raul E de Castilho Brandão âpsíutala á FACDLDÁDB DE MEDICINA DA BAHIA EM 31 DE OUTUBRO DE 1010 PELO DOUTORANDO Gy/eess/e/e dffiieme/eee Interno effectivD da í.- cadeira de Clinica cirúrgica Natural do Estado do Rio Grande do Norte Filho legitimo do Pharrnaceutico José J. de Castilho Brandão e D. Rosa Mendes Brandão. AFIM DE OBTER O GRAU DE iit tatstisitm DISSERTAÇÃO (Cafleira fleMieina Legal) Breves consMerações solre a Educação Sexual PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medico- cirurgicas BAHIA IMPRENSA NOVA 57, Corpo Santo, 57 ,1910 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Director — Dr. Augusto Cezar Vianna Vice-Director—Dr. Manoel José de Araújo LENTES CATHEDIÍ ÁTICOS Os Drs. Matérias , que leccionam 1. Secção José Carneiro de Campos Annlomia descriptiva. Carlos de Freitas Anatomia medico-cirurgica. 2. a Secção Antonio Pacifico Pereira . . . . . Histologia. Augusto Cezai Vianna Bacteriologia. Guilherme Pereira Rebello .... A natomia e Physiologia. pathologicas , 3.a Secção Manoel José de Araújo Physiologia. José E Freire de Carvalho Filho . . Therapeutica. 4. Secção Josino Correia Cotias Medicina legal o tosicologia. Luiz Anselmo da Fonseca Ilygiene. 5. a Secção Antonino Baptista dos Anjos .... Pathologia cirúrgica. Fortunato Augusto da Silva Júnior .. Operações e Apparelhos. Antonio Pacheco Mendes Clinica cirúrgica l.a cadeira. Braz Hermenègildo do Amaral . . . Clinica cirúrgica 2.a cadeira, 6. a Secção Aurélio Rodrigues Vianna Pathologia medica Américo Garcez Froes Clinica propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho. . . . Clinica médica 1.a cadeira. Francisco Braúlio Pereira . .... Clinica medica 2.a cadeiia 7. a Secção José Olvmpio de Azevedo Clinica medica. José Rodrigues da Costa IJorea , . . Historia natural medica A, Victorio de Araújo Falcão .... Mátería medicai, Pharmacologia e arfo de formular. 8. a Secção Deocleciano Ramos Obstetrícia. Climerio Cardoso de Oliveira . . . . Clinica obstétrica e gynecologíca. 9. Secção Frederico de Castro Rebello .... Clinica pediátrica. 10. a Secção Francisco dos Santos Pereira. . . . Clinica ophtalmologica. 11. a Secção Alexandre E. de Castro Cerqueira . . Clinica dermatológica e svphitigra- phica. 12. a Secção Luiz Pinto de Carvalho. . . , • . Clinica psychiatricâ e de moléstias nervosas. João E. de Castro Cerqueira .... ( F di«nonibilidade Sebastião Cardoso ( disponibilidade SUBSTITUTOS Os Drs. Os Drs. José A. de Carvalho . • L Secção Pedro da Luz Carrascosa) ... -o, Gonçalo M.S, de Aragão) 9. ” José Julio de Calasans ) ' - Júlio S rgio Palma . .) . ® J. Adeodato de Souza. . 8- » Pedro Luiz Celestino. . 3' » Alfredo F. Magalhães . 9- » Oscar Freire de Carvalho 4- » Clodoaldo de Andrade . 10 » Caio Moura 5" » Albino A. da S. Leitão . 11 i> Ciem en ti no Fraga . . . 6- » Mario Leal' 12 » Secretario — Dr. Menandro dos Reis Meirelles , Sub-Secretarió — Dr. Matheus Vai de Oliveira A Faculdade não approva nem reprova as opiniões exaradas nas theses que lhes são apresentadas. *Duas palavras Não fosse a lei me dizer: escreva uma these, eu não sahiria da penumbra de minha humilde obscuridade para trilhar um caminho que só á mestres era dado fazer, E\ portoPnto, a lei a unica culpada desta invasão intem- pestiva. Por motivos que não vêm apello mencionar, fui obri- gado a muda r diversos pontos que successivamente escolhera até que em fim, em dias de Setembro, fixei este que agóra tento fazer uma pallida descripção. Dada a complexidade do thema que tomei para assumpto de dissertação, varias coisas eram necessárias para uma bôa explanação: tempo, vasto conhecimento do assumpto epratica do manejo da palavra. Faltando estes requisitos indispensáveis, está claro que não sahird uma obra insenta de erros, porém, resta-me um consolo—tem o critério individual — sem collaboração alheia. II Prefiro nada ser mas ser — eu proprio. Por conseguinte, não é de admirar que quem escreva pela primeira vez não seja passível de erros; lia-os, não só na forma como na concatenação das idéas. Nunca houve nem haverá quem escrevendo pela pri- meira vez, sem concurso exlrcinho, faça uma obra que seja completamente escorreita. Atacando o mysticismo, estou certo que sobre mim hão de chover baldões: que venham! 0 mysticismo jà se «enkystou» de uma maneira tal em certos cerebros que ainda não houve «fórceps» que o podesse extrahir. <íA hereditariedade psyclúca, em todas as especies, acompanha sempre a her editar idade dos caracteres phy- sicos. Um dos fundos communs da hereditariedade psy- chica entre os homens é a tendencia para um mysticismo vago, do qual só a custa de uma educação rigorosamente scientifica com todas as suas modalidades, consegue liber- tar-se a individualidade humana. Parallela á poderosas faciddades de analyse positiva, a tendencia ao mysticismo pôde persistir ás vezes com bastante intensidade, até mesmo em espíritos altamente cidtos; fórma-se então uma bizarra individualidade pen- sante em que, como no somnambulo á vida real succe- dendo a vida liypnotica inconsciente, às manifestações positivas da intelligencia succeaem os voos abstrusos do trancendentalismo, do que foi exemplo Pasteur e muitos outros. 0 mysticismo, poderoso na infanda do homem moderno, quanto na da humanidade, diminue, latentisa- III se até desapparecer quasi, na plena maturação inteU lectual, e reapparect com a velhice.» Disse’mui judiciosamente Montesquieu: — «/I natureza das leis humanas è de ficar snbmettida a todos os acci- dentes que succedem, e de variar á medida que a vontade dos homens varia. A natureza das leis religiosas è, pelo contrario, a de nunca variar.» Tinha-me traçado escrever mais dous capítulos, o que já tinha dado começo; um sobre o celibato e o outro sobre o divorcio; porém, por mais esforços que empregasse não me foi possível vencer o tempo que corria vertigino- samente. No divorcio, mostrava a sua acção prophylactica e curativa superiores á esta iniqua e immoral lei da sepa- ração de corpos com a manutenção cio laço conjugal que é uma vergonha para a nossa legislação a sua existência■ ainda. No celibato, principalmente, o religioso que tem como um dos preceitos guardar castidade absoluta, a mentira do seu não cumprimento; é attentar contra jorinci pi os assentados de physiologia e de psychologia admittir a possibilidade da castidade absoluta ser possível sem graves desequilíbrios para o metabolismo orgânico, como querem alguns espíritos envoltos no manto de bronze do mysti- cismo e que teriam melhor o nome cie sábios especialistas. A inda como uma medida de utilidade social eu apontava a investigação da paternidade, não só como sustentáculo do casamento prohibindo os casados fos homens) de terem dous lares um legitimo e outro illegitimo, o que é muito commum e não se extranha mais, como também, proteger IV a mulher contra os filhos que se lhe fazem e lançam-se ou, ambos, ao abandono e a miséria e ainda como um freio para os celibatários que ficariam, assim, inhibidos de terem filhos fóra do casamento e consequentemente a diminuição da filiação illegitima. Penso que tendo escolhido este ponto de hygiene social para termo final desta jornada que me tem sido uma cadeia de sacrifícios e amarguras, presto muito maior ser- viço a minha cara e adorada Patria do que se tivesse escripto dentro dos domínios da cadeira de que sou interno e onde pretendo continuar a me especialisar. Si consegui o objectivo que tive em mente é o caso de me felicitar, senão, valha o intento «—Se acreditardes firme- mente 'pocler fazer uma coisa, eessa coisa não parecer aos que vos rodeiam verdadeiramente superior ás vossas forças, querei-a fortemente. E’ a vontade—essa iniciação'cons- ciente para um fim — quem decide em ultimo caso do futuro de cada um e classifica os indivíduos.» Quanto a criticas acceito-as e desde jà aproveito o ensejo piara hypothecar o meu sincevj) reconhecimento, porém, que seja ella dentro da esphera da lógica e da razão, fóra d’alú, não; não costumo dar trelas à moinhos de ventos. Sei também que é muito mais fácil criticar uma coisa do que fazel-a igual.— (íAlea jacta esl». Bahia — 010. ppandão. CAPITULO I Da precocidade da ftmcção sexual—Dos exces- sos sexual — Conse- quências scciaes — Propl?ylaxia Sob a pressão da urgência ninguém produziu nuíica, nem produzirá ja- mais coisa que resista à prova do saber, do gosto, do tempo? Ruv Barboza. A verdade não pode ser nociva. ' Helvetius. Si eu tivesse sido mais sabio. teria tacteado menos, mais não teria a idéa. Dagueire. A medicina do futuro será a hygiene. O problema da educação sexual, isto é, da precocidade dessa funcçáo, é de uma importância capital. D’ahi é que surgirá todo o equilíbrio social. No emtanto, os paes, ou melhor as mães, porque aquelles nào estão sempre em casa, descuram tanto disso, entregam seus filhos á estas amas, sem moral nenhuma, que logo muito cèdo, vão aceordando uma funcção, que não devia ser accordada tão cèdo. Devia haver, por parte das mães, uma rigorosa attenção a este respeito, porque, assim cedo, poderiam evitar hábitos, 2 que fazem seus paes corarem e a creanea dá o primeiro passo á borda do abysmo, refiro-me a estas urethrites gonoccicas, na idade de 5 a 6 annos, que são as creadas as auctoras. E’ sabido que: «A funcção faz o orgão» e «O meio faz a funcção». Talvez, entre 100 rapazes 99 %, tenham tido como iniciadores precoces, na funcção sexual, as ditas amas. Como se sabe, a creanea é de um poder suggestivo e imitativo notáveis. As mães, deixam seus filhos entregues ao accaso, levados em lu- gares onde não deviam ir, qual será a consequência? A hereditariedade, è sabido, tem uma influencia notável sobre o indivíduo, assim é, que levou o grande Ribot a dizer que: a hereditariedade é para a espeeie, o que a memória è para o indivíduo. Mas, isso não quer dizer, que ella não seja, em parte, calcada ou modificada pelos costumes, lia, quem diga, ter as instituições e os costumes, mais preponderância sobre o dominio dos povos, do que a raça e o sangue. As duas leis não se podem isolar, porque ambas têm sua razão lógica, E os paes tomam injustamente, a culpa de terem transmittido pela herança máos costumes, que estão ligados, a falta de zelo em vigiar seus filhos e não á herança. Veem-se diariamente, ereanças de boa familia, na mais deplorável promiseuidade, com outras de inferior cathegoria, podendo assim adquirirem péssimos e nocivos hábitos. De maneira que, as mães consi- deram estas coisas como banaes. E’ mais facil, salvo honro- sisimas excepções, tratarem, pela manhã, de zelar seus ani- maes domésticos, do que de seus filhos. Seria melhor que pela manhã, os obrigasse a fazer exercícios physicos do que tratar de coisas, que deviam estar sobre a gerencia de outra» pessoas. Conheci uma distincta senhora, que tinha isto como uma das principaes obrigações matinaes. As ereanças que são 3 educadas sobre a acção de exercícios physicos, são fortes, ro- bustas. Os inglezes, americanos do norte, onde estas coisas não são olvidadas, passam, como tendo uma grande força de vontade attribuivel ao cultivo do exercicio physico. O exer- cício physico, tem, além disso, a vantagem de anesthèéiar o Sentido sexual. Esta puberdade precoce que vejo todos dias em meu Paiz, ê um signal de decadência futura. Objectar- . me-bão e o clima? Sei que éste entra com seu contingente, porem, não o deviam auxiliar, como se faz. Falando sobre puberdade precoce, assim se expressa o Dr. P. Garnier, em seu livro o Matrimonio — Puberdade precoce, mocidade curta e tempestuosa, virilidade valetudinaria, ve- lhice prematura, morte antecipada, gerações fracas e rach - ticas, dominio universal e constante da mais escandalosa prostituição e de uma sensualidade desenfreada, taes são as consequências desta obra de perdição, capazes de abasiardar e degenerar compíetamente a especie humana, se Deus não tivesse posto limites providenciaes ao nosso livre arbítrio.» A educação espiritual, isto é, a formação do espirito da cre- ança, deve ser excíusivamente missão dos paes e não jogar-se uma creança, ainda muito jovem, em um collegio como in- terno, para se injeclar esta instrucção precoce que só terã inconvenientes. Falando de educação intellectual diz o Dr Gama Rosa;—Começa a asphyxia intellectual pelo a bc automa- ticamente decorado, e pela taboada dos noves fóra, e acaba pelas leituras obsoletas e extravagantes de qualquer carun- choso Bernardes ou Lucena, escriptores, sem duvida muito notáveis na sua época, masque actualmente, não podem ser entendidos e apreciados, muito menos por uma creança. » 4 Os systemas hoje adoptados pelas nações cultas, para en- sinar as creanças não é este que acabo de traçar e sim, pura- mente pratico, ensinando-lhes praticamente, sem fatigar o cerebro. Mas, no Brazil, o que é mais admiravel, principal- mente, para os paes, que ficam muito ufanos com isso. é saber que seu íilho é bom papagaio, isto é, decorador, acham que isto é intelligencia, de maneira que, quando as creanças cres- cem são incapazes de raciocinar e têm perdido toda a memória. Não se deve forçar o raciocinio nas creanças e sim deixal-as raciocinar, conforme, vão observando; os paes devem ir acom- panhando a sua intelligencia, lhes mostrando as cousas, expli- cando-as verdadeiramente e não mentindo como é muito habi- tual. O que fazem os paes? Procuram illudir as creanças não lhes dizendo as couzas, porque, acham que isto não é moral. Quando a creança chega a idade de 10 á 12 annos, quando a consciência, quasi que não existe, fazem coisa muito peior, mandam-nas aos pés de um santo confessor, principalmente, as do sexo feminino, e alii vão ellas muito jovens, aprendendo a hypocrisia, a mentira e a perversidade. Desde este dia, na linguagem delles, começa a pobre cre- ancinha a peccar ! ! Eu direi, começa a nascer na creança o erotismo que como se sabe, está inteiramente ligado ao mysti- cismo. Não entrarei aqui, no papel dissolvente do confissio- nario sobre todos os pontos de vista socíaes, porque, me aguar- darei para fazel-o, no capitulo seguinte, em que trato do celibato. Pois, será possível, que um indivíduo divorciado da sociedade, que terfi por bússola a hypocrisia e a perversidade, esteja em melhores condições do que seus paes, para ensinar moral a seus filhos. Acham bonito dizer :—Pedro ou Maria ja fez a primeira 5 communhão ! ! Haverá espirito cjue tenha uma pequena par- cella de senso commum, que não veja nesta confissão uma coisa simplesmente immorál?! Como disse acima, não se deve forçar o raciocínio nas ereanças, equivale à dizer: não ante- cipar os seus conhecimentos, pois, justamente, é o que fazem os padres nas suas confissões. E’ preciso que se note, que só os paes são que tem este dom de formar o espirito das cre- anças, a mãe fórma o coração e o pae o cerebro. O caracter, os bons costumes, emfim, a educaçao moral, só se aprende, é no lar. Não me posso furtar ao desejo de dar a palavra ao Dr. Garnier:—A influencia materna não é menor nem menos considerável e ás vezes toda poderosa. E’ a depositaria dos germenS humanos e a origem fecunda da vida. Não deve unicamente conceber, parir e crear, como também educar os filhos, ser a mãe de sua intelligencia e do seu co- ração, vigiar o desenvolvimento das faculdades intellectuaes e affectivas: porque destes cuidados depende o futuro dos homens e das nações. Como mulher e como mãe, ella exerce a mais nobre missão de paz, de regeneração physica e moral, de con- córdia e de felicidade. Estacreação moral é tão obrigatória nas mães como a educação physica é necessária nas ereanças. Esta educação domestica é preferível á educação publica prematura, que apaga nas ereanças o cunho caracteris- tico da sua natureza; a boa mãe é a unica capaz de abafar o genio e a semente do mal. «A mãe é o genio da primeira infancia» disse Frsebel. Descuidar a educação d’uma creançn, depois de lhe ter dado a vida, é commetter na realidade delicto de abandono. Dá-se deste modo a exístencia a um desgraçado. O verdadeiro orpiião, diz um provérbio turco, é aquelle que não teve educação. Não crear, não educar pessoalmente seus 6 filhos, faltar a si proprio; porque não se actúa somente nellesq mas recehe-se ao mesmo tempo, como por acçâo reflexa, uma influencia proveitosa; educar-se assim de novo a si proprio. A obra recáe no operário e recompensa-o. E’ a essa falta que os celibatários devem a sua inferioridade moral, a aridez e o aspecto desolado da sua vida, sobretudo nos últimos annos de sua existência.» Tudo isso é muito verdadeiro. Não posso concordar com um habito, que se tem de se levar creanças á theatros, á egrejas etc., quando ellas nada com pre- bendem, seria melhor que ficassem em casa dormindo, quan- tas vezes, vêm-se creanças voltarem de festas dormindo, quando nào começam a dormir lá, tornando-se assim cêdo caprichosas, hysterieas, etc. Voltando aos collegios, isto é, aos internatos, acho que os internatos são meios de corrupção. Penso, que o pae que souber ou tiver frequentado um inter- nato, não porá seus filhos, por nenhuma liypothese. Como meio pedagógico, nào conheço coisa mais irracional e inqui- sitorial, pois, como se obrigar creanças a estudar sem se consultar as indisposições; demais, a capacidade mental nào é igual para todos, a alimentação pauta por não prestar, os generos alimentícios são preferíveis os de qualidade inferior para combinar com o baixo preço, não ha inspecção medica, que possa affastar estes obstáculos e outros que dizem res- peito a moléstias. Entre pessoas no termo de sua evolução, não se força o cerebro quando está cariçado, trabalho inteliectual não é tra- balho physieo, porque um cerebro cançado nada produzirá, quanto mais em um creança em que elle é mais fraco. Esta educação da creança, lura do lar, não mecançarei de o repetir, absolutamente não satisfaz o ideal que se tem em mira a ver- 7 dãdeira educação moral. Disse acima, que considerava oá internatos, como meios de corrupção, vou proval-o, nos colle- gios existe gente de toda sorte, adulterinos, incestuosos, cre- tinos, liomosexuaes, naturaes, emfim de toda qualidade da moralidade: tarados para todos os vicios, Pois bem, por mais moralisada que seja a creança, tende, forçosamente a se corromper, é o caso que me referi acima da herança ser subjugada pelos costumes. Póde uma creança não possuir nenhuma tara degenerativa e sahir de um meio destes um verdadeiro cretino. Quem jà tenha feito a menor observação, ha de forçosa- mente convir, no que digo. E se condemno, com todas as forças os collegios para meninos, não tenho expressões, também* para condemnal-os para meninas. Quantos homens illustres não têm o diploma de homosexuaes dado por estes collegios? coisa que elles não têm a menor culpa e sim seus paes! Acho que só se devia recorrer a estes collegios, como ultimo refugio, para as pessoas que habitam fora das capitaes, enão têm senão este meio a lançar mão. O que ainda revolta mais o espirito é vèr-se paes que habitam aqui na capital, têm outros meios e recursos pecuniários, jogar deshumanamente seus filhos como internos em collegios; pergunto eu, para que se diplomam tantas professoras distinctas, annualmente? pois, não seria melhor, que a instrucção fosse ministrada sobre fiscalisação dos paes em sua casa? E’ muito pouco amor por seus filhos! O que se dà com os meninos, dà-se com as meninas. Quantas jovens não sahem desses collegios hysteric.is e pervertidas!! quantas tribades, lésbicas de là não têm sabido! Quantas màs esposas, mães, não têm sido producto dessa educação reclusa! Fallei dos collegios de seculares, o que devo acrescentar a estes 8 collegios jesuítas, onde se ser hypocrita é uma coisa tão simples e onde as leis humanas e sociaes estão banidas. Si fizermos uma escavação nestes conventos e collegios para freiras, quanta miséria não havíamos de encontrar sub-solum! As creanças ingénuas, encontram nestes «açougues da inno- cencia» perversores de profissão. São os collegios, portanto, fontes do homosexualismo e muitos outros prejuisos sociaes. Assim fala, o illustrado professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Dr. Egas Moniz, em seu livro Vida Sexual:—A diffusão que a inversão sexual tem tomado depende principal mente da educação moderna e da separação dos sexos nas escolas. Na epoelia aetual quer me parecer que é nos paizes em que o rigor da separação dos sexos é maior, taes como a Allemanha, a Áustria, etc,, que as perversões homosexuaes têm adquirido maior desenvolvimento». «Schenck — Notzing diz que a consciência do dever moral é a melhor resistência que se pode oppòr contra os desejos per- vertidos da homosexualidade». As prisões, os conventos, os seminários, os quartéis, os collegios e os marinheiros são aquelles que pagam maior tri- buto ao homosexualismo e a muitas outras perversões sexuaes. Está porque, disse eu, no começo destas linhas — que só o lar podia formar o espirito da creança e incultír-lhe a verdadeira educação moral. Outros paes ha que tem recursos, e enviam os seus filhos, muito jovens ainda para a Europa, là passam elles quatro, seis annos e mais, para se educar, poderão voltar sabichões, porém, a verdadeira educação moral serà falha, se outras coi- sas não se tiverem a lamentar!! Toda a razão tinha, distincto- cavalheiro, quando respondia da seguinte maneira, as censuras- 9 ique lhe Faziam, por não botar seus filhos no collegio, em- quanto eram jovens e era tempo de se aproveitar a intelli- gencià, respondia-lhe elle:—é justamente, por serem jovens que não os boto nò collegio agora, quero que elles primeiro aprendam a discernir o bem do mal; quanto a aproveitar a intelligencia, emquanto jovens, digo-lhe que prefiro burros a homosexuaes. Ah ! se todos os paeS encarassem este problema por este prisma! . . . Alguns paeS não evitam que seus filhos brinquem Com outras creanças cujo comportamento não merece con- fiança, nós que temos discernimento, não evitamos o convívio de pessoas duvidosas, com as quaes nada lucraríamos, por- que, não evitam de um modo absoluto, jogar seus filhos em collegios, onde existe de tudo, corno já disse acima? Então estes conventos para educação de meninas são mais deplorá- veis ainda, saliem as meninas de là, sem nenhum conheci- mento util para a vida, com todo o seu pSychismo impregnado de beatisrho, feitícismó, etc.; o systenm nervoso que é o Sys- tem a nobre da economia, portanto, Seu regulador, completa- ir ente deteriorado, temos, então, as frituras hystericas, pre- dispostas para toda sorte de psychoses, atè mesmo a loucura * E’ preciso que se saiba que os homens que têm de governar a nação amanhã, os modelos de esposas, de mães, estão nestas Creanças de hoje. Quem tivèr occasião de conversar com uma senhorita destas educadas nestes conventos, notara que os seus conhecimentos, cifram-se, quasi que exclusivamente sobre carolismo, Qual a vantagem disso? Cazam-se, amanhã, não têm nenhuma noção dos seus deverés conjugáes, deixam suas obrigações:—-filhos e marido, acordam até pela madru- gada para irem á missa cumprir seu bealismo que a educação 10 lhe inoculou. Alii está, porque tenho ais minhéts sympathi&s pela religião protestante, porque esta não tem o celibato, nem este antro immundo que se chama confissionario, não diz as senhoras que abandonem seus filhos, para irem à igreja, pelo contrario, diz que só se deve ir à igreja quando se não tem deveres a cumprir, porque Deus saberá desculpar perfeita- mente. Ainda mais, quando se sae das igrejas protestantes* após os rictuaes do culto, não se sae aterrorisado com estes sermões mentirosos e ferteis em ensinamentos nocivos. Tam- bém, não possiie esta -piasinha, onde germina tudo qUaríto é rnicrobio, cheio com um liquido intmundo que tem o nome de agua benta e onde põe sua mão, o leproso, o tuberculoso, o erysipelatoso, o syphilitico e 0 sarnento e serve para as beatas passarem esta agua, assim polluida, na testa, nos olhos, em qualquer ferida, emfim em qualquer lugar onde se asseste uma dôr, uma moléstia, nem também, tem este santinho para se oscular pagando-se uma pequena quota nos dias de festa, de graça nos outros dias, onde os lábios se juntam, desde o da casta e pura donzella até o da mais vil e sórdida prostituta! . . Qual seria a virgem, que na posse de suas faculdades mentaes iria unir sèus lábios santos e imma- culados aos lábios de uma rafeira indecente que infesta os bor- deis, isto é o lado moral e as moléstias que podem contrahir com semelhante pratica? Juro que nenhuma. Entretanto, na santa religião catholica, ellas virgens e prostitutas, beijam-se mutuamente, quer no santinho de que jà falei, quer na mão- sinha e no anelsinho immundosinho, do snr. Santo bispoj como lhe chamam estes pobres de espirito. E’ simplesmente horrível! ! Em relação aos còllegios, temos, ainda, as moléstias conta- 11 giosás, que se podem adquirir' quantas pessôas não são vietimas de moléstias contrahidas nelles... Todas as aglomerações ou melhor multidões tem uma moralidade bem baixa ou melhor nociva, basta um guia pervertido para corromper tudo. E’ coisa interassante, as multidões formadas por homens têm uma moralidade melhor do que as formadas exclusiva- mente por mulheres; a litteratura medica, regista um caso muito curioso a este respeito, deu-se o caso de uma senhora, que, quando estudava medicina era interna de um hospital de moléstias mentaes e tomava conta do serviço de mulheres, compativel com seu sexo, pois bem, depois que se formou, pe- diu ao director que queria ser transferida para o serviço de bomens, porque sua honra de mulher nunca tinha sido tão melindrada, como nesta enfermaria de mulheres. Notara ella, que entre os homens a immoralidade era menor. Eu, com a pouca observação que tenho, ainda não vi entre alienados uma coprolalia tão desbragada como tenho visto entre mulheres, um simples passeio que se dê a um hospício de alienados é bastante para ter a prova disso. E’ logico que entre mulheres sãs, dê-se mais ou menos isso, eis ahi uma prova do que se poderá dar nos collegios de meninas. Qual será o futuro de Uma creança que se joga, como é commum, com a idade de 10 a 12 annos em um eoliegio como interna, e ahi passa 6 annos e as vezes mais, dadas as circumstancias que já considerei acima? Sahirá forçosamente um ente frágil, não só physica como moral mente. Além de tudo isso, está provado que a mulher por si só, não pode educar creanças, é preciso que essa educação seja secundada pelo homem. Tratando desse assumpto, assim se expressa: o mallogrado scientista, Dr. Tito Livio de Castro, tão cêclo roubado á patria e á sciencia:--— O en- 12 sino da infaneia nas mãos da mulher equivale áo ensino pof mestres de dez annos, e em taes mãos ficara o futuro da hu- manidade graças ao poder das primeiras impressões.» Outro habito não menos condèmnavel, é o de se espancar as sém nenhuma necessidade, advindo disso, grandes inconveni- entes; a cfeança que se habitua a obedecer desde pequena, não precisa ser açoitada, obedecerá toda a vida e não ficam irri- tadas e geniosas. São interessantes as palavras do Dr. Tito Livio de Castro a este respeito:—Adoptam a tradicção irracional deqúe a bor* doada fortifica a intelligencia e dá gosto pelo estudo; tradicção tão antiga e tão seguida que é admiravel como ainda não se converteram em notabilidades, em talentos geniaes os quadrú- pedes que andam entres os varaes das carroças.» O meio das reacções naturaes, castigando-se a creança por outros meios que não a bordoada, privando-as de gozos, dá muito melhores resultados. Ainda mais nocivo do que qualquer outro castigo: é aquelié que as mães costumam applicar, principalmente, por meio de chinellos, sapdlos, sendo na região sacra, obra quasi como uma flagelação, excitando o sentido genesico, por meio dos nervos desta região; transformará a Creança em futuro, num verdadeiro masochísta, além, de fazer a creanpa adquirir esta psychose, que tem o nome de feiticismo pelos calçados de senhora, que reputo como uma das principaes origens. E’ pre- ciso notar, que este habito condemnavel, não só é nocivo para o que está sendo castigado como também para aquelles que presenciam. Voltando ainda aos eollegios, perguntarei, qual a educação sexual que as creanças recebem ao chegar a puber- dade? nenhuma. Entretanto, do instineto sexual é que deriva 13 a moral. No System a de ensino que se adopta, principalmenté, o das sciencias naturaes, é exeluida a reprodúcção sexual nos animaes, apenas ligeira noção sobre fecundação vegetal, diz-se que o pollen caliindo sobre os pistillos, dar-se-ha a fecuna- dação, etc . . . Porque, é preciso se notar que muitas creanças entram para os collegios, muito jovens ainda, de lá sabem, muitas vezes, casadoiras, pergunto eu, que noções terá essa moça para ser uma boa mãe de farnilia e que dissabores não vae passar esta pobre inexperiente no começo de sua vida sexual? . . A falsa comprehensào que se tem de pensar que fazem grande beneficio ás creanças em lhes occultar estas coisas que deviam ser explicadas, è errada. E’ verdade que, quanto á parte da verdadeira educação sexual é falha no lar sobre falsos preconceitos de ser immoral. «Si todos os orgãos fornecem um contingente para a personalidade, os orgãos sexuaes fornecem também um con- tingente e de grande importância.» (i) Tem-se também o habito de se chamar os orgãos sexuaes, as partes baixas do organismo, no emtanto não devia ser assim, pois se são delles que nós viemos, porque são baixas? Esta falsa innocencia que os paes procuram conservar não surte bons effeitos. As creanças são instinctivamente curiosas, perquirem certas coisas desejosas de saber; os paes lhes explicam o contrario, ellas acceitam mais ou menos depois encontra uma creada que lhes dá a verdadeira explicação da coisa debaixo-de um segredo e assim se vae formando essa amisade clandestina, por todos os modos perigosa; fica a c.reança suppondo seus paes mentirosos e vendo nTima simples coisa natural, uma immo- (1) Dr. Tito Livio 14 validade. A creada fica sendo sua verdadeira amiga, sua mãe sua inimiga e assim a creança procura sempre a creada para ter confidencia e vae assim aprendendo sua educação sexual. Quem jà não observou os laços de amisade que ligam sempre as jovens às creadas. Seria de grande utilidade que as mães tivessem noções de physiologia e com o devido critério fossem instruindo suas filhas conforme o seu grão de desenvolvimento. Narrarei, para exemplificar, um caso curioso que observei, perguntava uma creancinlia a sua rnaman como era que se tinha filhos, respondia-lhe ella: é Deus quem nos manda do céo. Ora, de facto a creança nesta epoca não podia compre- hender uma explicação que se lhe desse, porém estava a mãe na obrigação de mais tarde, quando se lhe oíferecesse outra occasiâo desta, dar-lhe a verdadeira explicação; mas, nàoserà assim, ella terà de saber de tudo: é pela creada. Chegada a idade da puberdade, os paes deverão ter o máximo cuidado para com seus filhos. Conheço um facto que se deu com um casal recentemente casado que ia tendo lamentáveis conse- quências, devido a esta ignorância (pie julgam ser bòa sobre os mysterios da sexualidade; havendo uma questiúncula entre os dous, aconteceu a mulher chamar o marido corno, qual não foi o desespero deste; perguntou-lhe se sabia o significado desta palavra e veio a se convencer de que ella não sabia, tinha chamado innocentemente sem saber o significado verdadeiro. Que tal? Quanto a moléstia dos orgãos genitaes, muitas vezes, as filhas estão soffrendo e,nada dizem as suas mães porque o respeito que existe entre ellas sobre este assumpto, não lhes permitte conversar com suas mães. Vem aqui a propó- sito, as palavras do eminente sabio Italiano, Paulo Monte* gazzn, a pouco roubado da arena da vida e a quem neste 15 momento rendo o meu humilde tributo de respeito e vene- ração pelo seu subido talento;—«A. nossa sociedade corrom- pida mais hypocrita, libertina de facto mas puritana em pala- vras, impõe a uma donzella a mais completa ignorância; e o mais completo idèal para uma joveu que vae cazar e que, desde trez ou quatro annos antes, .é talvez casadoira, consiste em ignorar como se procriam e nascem os homens* Deve portanto, ignorar o que quer dizer a palavra libertino, e a este respeito, lembro-me de que, numa conversação, falan- do-se de um individuo, a quem um dos interlocutores chamou libertino, a menina da casa interrompeu, a queima roupa: —Mas que é libertino? A mãe, assaltada de improviso, enguliu em sec- co, com aquella tossezinha artificial, que é meio muito commum a homens e mulheres para tomar tempo e achar uma resposta difficil. E depois abruptamente«Homem libertino è um homem muito liberal.» «Em meio da nossa educação rnys- tica, hypocrita, tola pautada pelas tradições theologicas do homem, temos sempre confundido a ignorância com a inno- eencia. E todavia, são coisas distintíssimas: ha muitíssimas mulheres ignorantes, que não são innocentes; como também as ha innocentes, que não são ignorantes. Da bocca da mãe é que a filha deve começar a conhecer os terríveis mysteríos do sexo, como seus perigos e os seus encantos. Deve dizer- lhe tudo com simplicidade, naturalmente, sem lhe esconder coisa ne- nhuma, absolntamente nenhuma, como se se tratasse da coisa mais natural deste inundo. No mundo do amor, é a mãe que deve ser o sacerdote da nova religião.» Para se ter uma idéa, do quanto é prejudicial, esta barreira moral que habitual mente separa as mães das filhas, vou narrar um facto, que tem toda a applicação, 16 Estava eu no quarto anno medico gozando as ferias em uma pequena cidade; uma senhora fez-me uma consulta so- bre uma sua filha que soífria á algum tempo de uma leucorrhéa; já a tinha receitado a mais de um medico; os vinhos e reconsti- tuintes que elles tinham-lhe indicado não a tinham curado, eu fiz-lhe ver que era de toda necessidade ao tratamento geral acompanhar um outro local, quero me referir as lavagens, lhe expliquei como se faziam sem nenhum prejuízo para sua inte- gridade moral, fiz-lhe também ver que este tratamento era o único capaz de cural-a respondeu-me ella que este tratamento, absolutamente, não fazia, porque suas outras filhas poderiam saber, e isto não era bonito, então eu em termos incisivos fiz-lhe ver que isto não era razão plauzivel e importava num crime e numa perversidade de sua parte para com uma pobre innocente; mostrei-lhe as graves consequências futuras que poderiam provir desta sua conducta que era ella a unica res- ponsável por isso. Ora, isto não é simplesmente deplorável, respondam-me'os sábios da escriptura?.. E’ a isto que chamam moral, pudor e quanta coisa ha por ahi afora. «E quando em- fim o instincto.erotico desperta, apressadamente por qualquer signal, annuncianuo os primeiros lampejos da puberdabe, são necessárias outras precauções. O pne ou a mãe devem ser os confidentes dos filhos. E’ preferivel que sejam por elles ins- truídos do que pelos seus camaradas ou pelos creados, ou por algum livro obsceno. A reserva systematica que se adopta por costume a este respeito é, em geral mais prejudicial do que utiE A curiosidade natural do rapaz ou da rapar-iga não se contentará, emquanto a razão do que se passa não lhe fòr dada* Faça-se como se quizer, é preciso satisfazel-a e sobre todos 17 os pontos, è preferível que os paes ou os que os substituem se .encarreguem disso. Esta iniciação delicada deve ser me- thodica e graduada. Sentindo que ella não faça parte do ensino secundário, com algumas noções de anatomia e de physiologia, o doutor Raan julga que se pode primeiro ex- plicar ao rapaz a reproducção vegetal ou systema sexual das plantas, chegando assim gradualmente, á medida que avança 11a idade, a reproducção 110 reino animal, começando pelas especies mais inferiores e limitando-se ao mais essencial. E insistindo 11a dignidade e na importância dessas funcções, mysteriosas. 11a degradação e profanação, pelo seu exercício prematuro e illicito, que se dà á creança uma apreciação sã e justa.» (1) Estão também á calhar, as palavras do Dr. T011- loule em seu livro: «Como se deve educar 0 espirito», em relação a instrucção que se ministra aos jovens sobre a vida sexual dizelle:—Abri um tratado de historia natural. Todas as funcções animaes são descriptas com 0 luxo de imagens que caracterisa os actuaes livros escolares. Uma só é banida como vergonhosa ou antes como não existindo: a funcção da reproducção. O auctor descreverá nos seus pormenores a nu- trição, mas nãodiràuma palavra dos plienomenos pelos quaes a vida nos foi transmittida. Dirà 0 que é 0 rim, que segrega a urina, mas passara sem dizer nadado ovário, que contem os ovulos onde 0 genero humano està em germens, e do orgào masculino correspondente. E não se pode admittir que se queira, escondendo a funcção da vida—verdadeiramente ele- vada deixar na sombra os aspectos inferiores da nossa exis- tência, pois que se não dissimulam as nossas excressões, que (1) Dr. Gainier. 18 não podem certamente ter nada de bello sob o ponta de vista do sentimento. Nestes livros, as figuras anatómicas são incom- pletas e por isso falsas. Só no esqueleto, onde todas as carnes desappareceram, se pode' admittir isso, porque os ossos não tem sexo — pelo menos para o observador vulgar, — eé por isso que a paleonthologia, que exliuma os restos da vida pas- sada, é citado frequentemente, ao passo que a embryologia, que explica o desenvolvimento dos seres e serve de chave à sciencia natural, se proscreve. Como o dizia com espirito Nòel Bernard, professor de conferencias na Universidade de Caen que criticava estes erros singulares:—«Os fosseis têm privi- légios pedagógicos; ha muito tempo que não pensam em reproduzir-se, e reduzidos aos seus ossos apresentam-se com uma decencia excessiva.» «O que não deixa de ser singular é que a botanica é ensinada sem reticências e até na reproducção das flores. E’ verdade que o pollen e o pistillo têm nomes delicados e fôrmas que não despertam no audictorio superficial, pensa- mentos inconvenientes. Além disso têm o encanto das evoca- ções poéticas, o que não succede com os seus liomologos Zoologicos. A estes orgãos reprovados, tudo està interdicto, mesmo figurar nas estatuas. E por momentos de paroxysmos de castidade ameaçam de mutilações os lieróes de mármore dos nossos museus ou dos nossos parques,— emquanto que os animaes não são incommodados por patentear na rua a todos os olhos o que se procura esconder noutros pontos. Na apparencia tudo se passa pois, ou deve passar-se, convenientemente. As conversações são expurgadas; admit- te-se que as-raparigas cheguem ao casamento num estado de candura absoluta. Ora durante este tempo o capitulo 19 secreto ensina-se clandestinamente, porque a prohibição não é senào um impedimento anodino. E como se faz o ensino pco- hibido? As próprias creanças que fazem mutuamente umas as ou- tras o papel de professor. Ora imagine-se facilmente o que os cerebros ingénuos e sobrecitados por imaginação precoce po- dem fazer para completar, de formar, caricaturar os gestos mais naturaes. Como outr’ora com os mysterios theologicos, esta funcção pbysiologica da geração é nos nossos dias o obje- cto dum ensino bilatreral, —racional nos iniciados e cbeio de inépcias grosseiras nos profanos, que são as creanças e muitas mulheres. Este systema, sabe-se bem, não consegue de ordinário senão suscitar as mais grosseiras superstições, (o itálico é meu). O perigo disto é em primeiro lugar a adul- teração geral do espirito provocada pelo erro. Só sob este ponto de vista já deve isso ser condemnado, porque se não devem nunca ensinar noções falsas. Leva também além disso aos pe- rigos do casamento dos rapazes e sobre tudo das raparigas que são incapazes de se defenderem do mal—a syphilis, e ignoram os processos do prazer procurado com mais avidez do que com- petência. A prohibição provoca uma attitude dissimulada, sendo a malieia um dos seus aspectos.Na canção libertina, ba o desejo de offuscar um sentimento de reserva imposto a todos. Não se é simplesmente malicioso, é-se malicioso contra o pudor dos outros. E é esse um dos elementos desse prazer especial, da mesma maneira que se é atheu contra uma religião, O sen- tido que se pretende abafar desenvolve-se irregularmente e viciosamente. Muitas vezes as inversões amorosas têm por origem o constrangimento que soffreram no caminho natural. Oh! eu sei bem que se receia outro perigo: despertar por 20 vim ensino demasiadamente precoce ou desenvolver inbabil- mente um sentido cujos excessos são perigosos. Mais ainda neste caso é preciso ver a realidade que é muito differente da apparencia, As creanças e as raparigas não devem saber; mas saber». Não se deve pois averiguar se é mellior conserval-as 11a ignorância ou ensinal-as, mas antes se é preferível dei- xal-as catecbisar pelos pequenos camaradas obscenos e por livros pornograpbicos em vez de as instruir directamente. Eu não nego que a curiosidade dos rapazes seja inconveni- entemente attrabida por esse assumpto e que a menor allusão a esta primeira funcção da vida provoque uma quantidade de cbocarrices tolas—0 que importa em summa pouco—e de pensamentos licenciosos, 0 que comporta um certo perigo. Recordo-me ainda que um dos nossos professores na quarta classe explicando a Cyropedia de Xenophonte, queria cara- cterisar 0 ar galante de não sei que amorosa da roda de Cyro—é de notar que os auctores antigos, escriptos em grego ou em Latim, são geralmente mais livres que os francezes— e desejando tratar-nos já um pouco como bomens se arriscou a dizer: — «Ella requebrava-se como uma mundana.» A esta palavra, nós que já ouvíamos muitas outras nos pateos e nas salas de estudo, fungámos num riso abafado como a uma expressão canalba. E 0 nosso professor descon- certado proferio, 0 epitbelo que nos era proprio, atirando-nos um:—«Sucia de idiotas». E’ portanto assim. A a creanaa mostra-se malignamente curiosa como 0 adulto se manifesta malicioso. E não serviria lie iluda dissimular este sentimento que subsiste, com 0 qual se deve contar e que permanece um obstáculo. Mas porque é assim? 21 Não é exactamente porque a educação nos formou assim, revestindo, pela prohibição, a funcção reproductora duma ver- gonha e dum mysterio excitante? Eu estou firmemente disso convencido. Assim, nas minhas recordações escolares, os discípulos não se impressionavam com essa expressão que era uma pala- vra quasi de igreja, comparada com as nossas conversas inti- mas. Mas o que as agitava era ser pronunciada num lugar em que era prohibida. Se nesse lugar falassem correctamente dessas coisas, nenhuma palavra que as recordasse teria provo- cado essa admiração maliciosa. Em Rurnma, eu creio que a educação pode transformar e atenuar a curiosidade juvenil das outras funcções. Teria um cerebro desgraçado o que sentisse despertar o desejo de comer ao ouvir um curso de chimica alimentar. A sciencÀa anestesia aquillo que toca. Quando estuda as leis de propagação do som, eu não creio que o indivíduo nor- mal sinta obsessões musicaes. Conhecer prosaicamente os phenomenos, é esse o melhor remedio contra interpretações aberrantes. Não se corre o risco de perder dessa fôrma a moderação que o progresso moral nos impõe; porque uma tendencia ma- nifesta das evoluções nos hnpelle cada vez mais a dissimular gestos :1a nossa existência individual». Das vantagens advin- das dessa instrucção, que julgo tão util, não haverá quem te- nha mais duvidas a respeito. Si este problema da educação sexual, traz vantagens socir.es geraes, é preciso notar cpie é justamente a mulher aquem elle vem mais de perto interessar. 0 homem tem o direito de se estragar, contrahir tudo 22 quanto é moléstia, depois escolher a mulher que lhe agrade, debaixo das maiores exigências. E’ do conhecimento dos mysterios da vida sexual, que a pobre mulher conseguirá elevar-se e dizer:—eu também sei e quero escolher, dessa fôrma, evitará que muito miserável que conspurca hoje a santidade do lar procurasse seu verdadeiro lugar que é o prostíbulo. Eis ahi, porque é necessária a exis- tência da prostituição publica para servir de pasto a estes que não são dignos de figurar ao lado dos homens puros; demais, a prostituição publica serve de meio prophylactico contra a prostituição clandestina. Chegada a idade da puberdade, as mães deveriam ser ainda mais vigilantes, porque nessa idade, as explosões que se podem dar para o lado do psychismo são muitas. Nas jovens não ha- vendo uma hygiene hem feita tanto physica como moral, são grandes os dissabores que lhes aguarda o futuro. Figure-se uma joven atacada de qualquer destas syndromas:—leucor- rhéa, herpetismo, vaginismo, vulvo-vaginite, vaginite, metrite, etc., a mãe désta joven nada sabe; mesmo o respeito que ha entre ambas não lhe dá direito a conversar sobre estes assumptos que julgam immoraes', casa-se esta joven accom- mettida de qualquer destas manifestações que figurei eé muito commum acontecer; na noite do casamento ou mesmo depois, terão o céo da alcova enublado por nuvens escuras, que lhes vão roubar o clarão que ahi devia existir. Quem tem culpa disto senão a nossa falsa moral. Vou narrar muito a proposito, um caso destes, que tive a occasião de presenciar; era eu ainda estudante de prepara- tórios, portanto, profano nas coisas da medicina, mas, tendo 23 a lembrança fiel do que se passou à meus ouvidos, tentarei dar-lhe a interpretação clinica e social que o caso merece. Tinha eu o hahito de frequentar diariamente a pliarmacia de um amigo a quem muito prezo; um bei lo dia apparece-lhe um cavalheiro todo espantado, triste, e narrou-lhe o seguinte: —que se casara a pouco tempo, como o pharmaceutico sabia e que sua joven esposa estava atacada de uma blenorrhagia, elle, então, possesso, via nisto, uma suspeita para a honra de uma pobre innocente sobre cuja moralidade não pairava a menor duvida é preciso notar que elle não era gente des- classificada; o pharmaceutico fez-lhe vêr que elle não devia fazer semelhante juizo temerário; que aquillo era moléstia de donZellas que elle talvez já ouvisse falar com o nome de flores brancas; então lembra-me como se fòra hoje, indi- cou-lhe o remedio: Saúde da Mulher. Ora, podia esta joven estar atacada de uma leucorrhéa, porém também po- dia ser nma blenorrhagia, talvez, quem sabe? se, não, ino- culada pelo santinho de seu marido delia! E’ sabido por todos, isto é, que não são profanos à medicina, o que é que se chama gotta militar, nada mais e nada menos, do que uma blenorrhagia em estado latente. Ha um habito entre os indivíduos attacados de blenorrhagia de se tratarem por si proprios logo que sentem uma ligeira melhora, urinam; mais facilmente, julgam-se curados, é um grande erro, assim é que muitas vezes interrogando-se-os sobre o numero de blenorrhagias dizem ja ter tido seis, oito, etc . . . quando é sabido ser mais frequentemente a mesma. Seria muito possivel o marido possuir a sua gottasinha militar e com a irritação produzida talvez por um exercício mais forçado ter accordadoa blenorrhagia que estava aguar- 24 dando a occasiào para se apresentar e, assim, infeecionar a pobre e indefesa mulher. Não é fóra de proposito, nem irraci- onal, aventurar semelhante explicação. Vem agora, á talho de foice, a phrase de illustre professor desta Faculdade: — O gonococcos é o presente de núpcias que a prostituta de- põe na corbélha de noce das recem-casadas, Não podia haver uma phrase que em tão poucas palavras dissesse o que daria talvez um tratado; como esta. Quem não conhece o perigo, não o evita. O conhecimento por parte das jovens casadoiras destes se- gredos da vida sexual tem duplo eífeito moral; um delles é o proprio bem estar da joven e da prole futura, o outro é saber assim escolher um homem digno para lhe encher os dias e segregar os crapulosos que devem procurar um repasto para suas misérias nos leitos das vendidas. Quantos accidentes deploráveis a sciencia não regista que se têm dado com cer- tas jovens ao apparecer-lhe o fluxo menstrual pela primeira vez, pelo facto de ignorarem esta funcção natural! . . . Está porque, não me cançarei em repetir:—que a Verdadeira edu- cação, só se recebe no lar. «Eis aqui a segunda missão da mulher, a de educar a creatura que durante nove mezes. trouxe no seio, que alimenta com o seu leite durante um anno, cre- atura que a chama maman; que é, em sumrna, fonte da vida e placenta da humanidade. Depois da gravidez, depois da amamentação a mãe dà a seu filho um terceiro sacramento, a educação. Todos devemos a nossas mães trez vidas: a do sangue nas suas vísceras, a do primeiro alimento nos seus seios, e a da primeira sciencia no seu coração. Trez vidas, trez partes, trez sacramentos que ligam a mulher as futuras gerações. A primeira missão da 25 ftnilher é dar á luz. Dão a luz as rainhas e as escravas, as Ge- orgts Sand e as hotentotes. Muitas renunciam á segunda missão, por egoismo ou por incapacidade physica. As mulheres selvagens renunciam a terceira, porque não têm nada que ensinar a seus filhos: como renunciam algumas mulheres das raças superiores por negligencia ou por ignorância. Pelo contrario, a mulher per- feita é trez vezes mãe:—mãe pelo utero, mãe pelos seios e mãe pela intelligencia de amor. Comparai os homens educa- dos por governantes e mestres de collegio, (é meu o itá- lico) com os que aprendem com uma mãe a orar, a lêr e e a distinguir o bem do mal, e vereis a enorme diífereriça entre aquellas duas cathegorias O homem é tanto melhor, é tanto mais perfeito, (é meu o itálico) quanto maior é a porção di) leite moral que recebeu do seio materno. O pro- fessor pôde ser sábio, muito sabio até, ( é meu o itálico ) mas nunca infundirei a doçura do seu coração no cerebro dos discípulos. Os seus discipulos são oleographias, photographias; quasi nunca obras de arte. Mas a mãe, que é mestra em cada verdade que ensina, depõe uma gottado nectcir que só o coração destilla; (é meu o grypho) ensinando, educa; e a sua femenilidade, sem o querer sem o sentir, embota todos os espinhos do egoismo masculino; e com a sciencia instilla a bondade e a ternura. A mãe não pode ensinar sem amar, e para ella o saber é lettra morta, se não acompanhado pelo sentimento. Todas as femeas dos mamíferos dão á luz e amamentam ; a mulher dà a luz, amamenta e educa» (1) Jã é tempo de (1) P. MontgazZe. 26 se exigir mais alguma moralidade por parte dos rapazes, e o unico meio que poderá dar resultado pratico será a cor- relactiva educação sexual das jovens. Ora, se uma joven sympathisasse um rapaz e soubesse que elle era um libertino, um homosexual, enfim, um bandido qualquer, está claro, que com a significação verdadeira, ella não olharia mais para esse pobre infeliz!... Mas. o que se vê geral mente salvo raras excepeões é o seguinte: os paes saberem que o rapaz tem qualquer destes defeitos acima apontadas, ruas, é rico, seu pae é uma grande personalidade em destaque, o resto é secundário. E’ a pobre joven inexperiente quem vai soflrer as con- sequências dessa união que forçosamente lia de ser funesta; não são seus paes que soffrerão. A proposito, narrarei um facto que se deu entre mim e duas gentis senhoritas; está- vamos em uma reunião familiar eu não sei porque a nossa palestra se desviou para dous rapazes que conversavam dentre os rapazes se destacava um, pelo seu smariismo', de íacto era physicamente um animal bonito uma das senhoritas, pergunta-me qual dos dois achava eu mais bonito é de notar que o outro rapaz em relação à este era feio; era o nosso smart, coitado ! um homosexual eu me vi num becco sem sabida para responder-lhe porque o que é facto, é que o nosso feio era homem ás direitas. Ora ! se eu dissesse que o mais bonito era este pare- ceria ou despeito ou falta de senso estbectico; calei-me, sem saber como me sahir desta enrascada insiste ella na pergunta porque sympathisara com o smart e queria ver seu amor proprio ou senso esthetico (não sei se disse bem) exaltado linalmente, occorreu-me uma idéa, alias feliz, disse- 27 lhe: que não sabia distinguir entre homens qual era mais bonito mais feio sim entre mulheres, se ellas não se zangas- sem, eu diria, qual era mais bonita. Prevejo, perfeitamente, que escrevendo sobre este assumpto que o considero de tanta importância como qualquer outro que vise o interesse col- lectivo tomarei a pecha como jà tenho visto acontecer de immoral, iconoclausta etc., nem só de profanos, e ao mesmo tempo dc pseudo-religiosos, como até, de pessoas, que se presumen tão superiores que talvez habitem lá n’um dos sete céos de Mcihomet. . . Nem estou me alterando com isso; apenas, os deploro sinceramente. Direi, mais adeante qual a razão destes infundados preconceitos, e onde residem. Quando estava eu mais ou menos no proposito de escrever sobre este assumpto, encontrei-me com um collega (doutorando) e per- guntou-me elle qual era meu ponto de disertaçâo, eu disse-lhe que era este e tentei mostrar-lhe a importância, disse-me elle: — como è que você vai escrever sobre um ponto immoral deste! Eu fiquei calado olhando-o penalisado; poderia ter lhe dado uma lição mostrando-lhe o que era immoralidade mas vi que não estava eu na altura de leccionar sábios. Seria o caso de responder-lhe na concisão desta phrase latina—Felix qui potuit rerum cognocere causa. Actualmente é o homem que tem contribuído e continua a contribuir para o afrouxamento e a dissolução da família. Rapazes ha e até noivos que andam dando os mais tristes espectaculos pelas ruas publicas com meretrizes relés pelo braço convencidos que isto é uma grande conquista; porque eu não sei comprehender como se tem erigido um systema em principio de que: —um homem tudo pode fazer, porque 28 nada lhe mancha, só a mulher é que não deve fazer . . . E’ justamente por haver este beneplácito por parte das mu- lheres que os homens praticam acções tão abjectas. Até ho- mens diplomados que occupam cargos públicos, e por conse- guinte, deviam zelar melhor sua honra, vêm-se quasi que diariamente, acompanharem-se de prostitutas atè repugnan- tes de braço dado como se fosse sua esposa num exibici- onismo quixotesco. Parece que estes pobres homens, deixem passar o euphemino, estão soífrendo de uma especie de ankylostomose psychica. Urge se acabar tíom estes amores pathologieos e se transformar tudo num amor puro e santo. Se as jovens sahissem quanto a educação sexual deste faíso pudor que os nossos costumes lhes inveterou, seria este o melhor meio de saneamento moral e de segurança para a familia. Acabar-se-hiam com estes amores morbidos de parte á parte, os rapazes devido a libertinagem não sabem escolher a verdadeira mulher para esposa; o seu morbido psychismo é justa mente attrahido para as aberrações da natureza. Disse o grande philosopho inglez Spencer em seu livro a Educação: «Aprender o sentido das coisas.a todos os respeitos vale mais do que aprender o sentido das palavrás. Como educação intellectual, moral e religiosa o estudo dos phenomenos que nos rodeiam é immenzamente superior ao estudo das grammaticas e dos diccionarios.» A saúde por parte dos rapazes para o casamento é uma coisa que se não cogita, no emtanto, que producto poderá sabir de uma união pa- thologica. Os rapazes de hoje quasi que se deve dizer são uns velhos de 25 annos. Um outro habito que està muito em voga e nada terh de vantajoso são os noivados precoces e demorados, durando 29 trez, quatro annos. Como não fica o systemã nervoso destas duas creaturas, ou melhor o psychismo ! . . Quasi creanças não é raro vêr-se noivas . . . Ainda mais reprovável, é vêr-se o modo pelo qual estas creançolas portam-se nas ruas e nos bonds. Nas ruas, quando passeiam, ás vezes digo de mim para mim, estarão doidas; tal é o agarramento, a juncção etc. Nos bonds, passando o braço por cima dos hombros delias, na união mais reprovável possivel. O que querem, estes desajuisados demonstrar com estas espectaculosidades ? Será que são homens fortes e vigorosos? Só lograrão isto aos olhos dos leigos; porém, aos olhos dos homens sensatos é o contrario disto que se evidenciará. Ainda mais dão pro- vas de possuir uma cerebração muito rudimentar. Porque se desprezar o aperfeiçoamento da especie humana? Procura-se cruzar a raça cavatlar, bovina etc., procu- rando-se esterelisar as de raça inferior, porque não se faz o mesmo com a raça humana, porque este menosprezo? Por- que se vêm todos os dias estas paixões violentas, de jovens por moços doentes, libertinos, emfim typos perdido? Salas popidi suprema lex. Estas paixões mórbidas, repetirei, estão ligadas à ignorância dás jovens, dos segredos da vida sexual. Interessante é que os paes entendem y|ue por meio da violên- cia e da mentira, podem acabar com estas paixões, que o instincto sexual alicerçou. Estão muitíssimo enganados, não é por este meio, que ha de conseguir nada. Deixam as jovens inexperientes namorar um typo que de mafteira nenhuma devia se casar não lhes abrem os olhos, a principio, com a verdade este amor vai pouco a pouco se enraizando, comprehende-se, a natureza hu- mana é um contraste, quanto mais se lhe oppôe empecilho 30 mais ella insiste no seu proposito, depois, lá vem o capricho mal entendido, e muitas outras coisas, de maneira que o naufragio será fatal. Fosse outra a educação, e não esta cheia de mentira, a coisa seria outra. Pintassem o quadro com as eôres verdadeiras, e tudo estaria sanado. Se umajoven casadoira, soubesse, o que era um epiléptico, que esta syndroma esta á um passo da loucura; que a prole que elle desse origem podia ser composta de loucos; que a sua vida delia podia correr perigo numa qualquer de suas impulsões, estou certíssimo, não haveria esta jovem, a mesmo que não fosse mentecapta, que quizesse, .semelhante homem para seu companheiro. Um tuberculoso por exemplo, se ella soubesse, verdadeiramente, o risco que corria sua própria vida, da sua futura prole, da mesma maneira não queria uma união destas. Se soubesse também que perigo medonho corria suá união com um leproso; que esta moléstia é eminentemente contagiosa; que também é incurável, da mesma maneira não queria. E assim procederia para com um álcool ata, um pa- ranoico, um idiota, um rachitico, um libertino, emfim um qualquer prostituido moral. Muitos adultérios são ori- ginados pelos proprios homens, que não sabem respeitar-se; por exemplo, que quer dizer um moço se casar, passados os primeiros dias, as vezes até oito, como tenho visto, e não é diíficil ver-se, do casamento e se entregar a mesma vida de libertino que tinha antes! Disse Balsac: — ser mais facíl, go- vernar uma nação, do que uma mulher. Ora, considere-se que a joven desposada, em casa de seus -pnes, não estava jo- gada entre quatro paredes de uma casa tendo por companhia somente seus creados, e sim seus paes, irmãos parentas, etc., para se alegrarem mutuamente, a vêr-se segregada vendo 31 outras esposas felizes, seus maridos sabendo cumprir com seus deveres, e accrescente-se mais: este indivíduo atacado de um ciume doentio a ponto de saliir e deixar a pobre creatura trancada e conduzir comsigo as chaves como se fòra ella um leão que se trancasse em uma jaula, como já tenho observado e somente os cégos não terão visto. Disse illiistre poeta:—«que o ciume ê o monstro negro que envenena o lar», Com este systema que acabo de narrar não ha mulher por mais santa que seja, que não tenha o direito alliàs iusto, de se revoltar e dahi muitas das consequências, que se têm a lastimar. Ora, um homem que escolhe uma esposa e tem consciência da sua força não anda com estas baixesás . . , Quanto aos rapazes, os paes deverão ter muito cuidado ao chegar a puberdade e mesmo antes, que ainda é mais perigoso, lhes mostrando ' os riscos que podem résaltar dos prazeres de Vénus, De um lado està o mal solitário, os excessos venereos, que são as Causas das maiores desgraças. E* dos excessos venereos que tira a sua etiologia—aquelle ciume movbido de que falei acima e que é o flagello de um lar. Não se diz a um rapaz que evite ir numa casa onde se suspeita haver variola; que não beba agua em qualquer casa ònde se desconfia haver tuberculosos que não dê a mão a um leproso ou morphetico, como é mais vulgarmente conhecida, —porqile razão, também não se diz que fuja destas mu- lheres. syphiliiicas, pois, acaso a syphiiis, serà a mais inno- cente e innoffénsiva destas moléstias! Todo mundo não sabe que a causa da decadência humana, que o coveiro cosmopolita da humanidade, é representado por esta trindade é jesuitâ: — a syphiiis,a tuberculose e o alcoolismo^! Se a castidade fosse possível tudo estava sanado. Como seria bom se o ho- 32 mem, a primeira mulher que conhecesse, fosse aquella que elle tivesse, de se ligar para todo o sempre; assim, as desgra- ças a se lastimar eram em menor numero ! Mas, a falta de noção que os rapazes têm da funcção sexual é justamente a causa do descalabro moral que se contempla diariamente. Os rapazes procurando distracçãò n’uma funcção, muito delicada que o seu abuso só poderá trazer-lhes graves conse- quências, conforme, venho ponderando. São urethrites gonococcicas, perturbações cardíacas, enfra- quecimento pulmonar, trazendo muitas das tuberculoses precoces, pertubações gastro-intestinaes chegando até á estas rebeldes constipações que nos jovens não tem outra origem, —que os excessos venerios. Os eífeitos causadas pela constipação frequente sobre o psychisnto são notáveis os indivíduos constipados; são irrita- veis, impulsivos, estúpidos etc., e cujo diagnotico, pela fáceis, não é, ás vezes, muito difficil por causa da côr caracteristica, que têm estes indivíduos. Os uremicos não são as vezes acommettidos de perturbações mentaes tendo como causa uma intoxicação, a explicação das pertubações mentaes nos constipados é a mesma; dando-se a retenção prolongada das matérias fecáes no intestino os prin- cípios toxicos contidos nas fezes e que deviam ser expedidos para o exterior são retidos, absorvidos e consequentemente produzindo as ditas perturbações, ainda maisdà-se para o lado do tubo gastro-intestinal um excesso de trabalho,—conse- guintemente, uma hyperemia, soffrendo os mais outros orgãos da economia uma irrigação sanguínea deíFeituosa, —o celebro serà anemiado — logo sua ideação será pathologiea. E até existe uma especie de aphorismo vulgar que diz, 33 que quem nào tem bom tubo gastro-intestinal, isto é, fun- ccionando bem, não terà boafuncção cerebral; estou inteira- mente de accordo. Todo o indivíduo que se entrega demasi- adarnente aos excessos venenosos, afora muitas outras per- turbações, é constipado; é observação que tenho feito, já conheci um que levava oito e dez dias sem fazer dejecções. Basta se saber que não existe funeção da economia em que o System a nervoso soffra mais do que a funeção Sexual. O.systema nervoso é o—noleme tangere, da economia. Eu de minha parte podendo evitar negocios com constipados evitarei. São os estreitamentos urethraes consequência das frequentes blenorrhagias as degenerações espermaticas; trazendo a es- terilidade que muitas vezes é uma grande desgraça para um casal. « Dá-me filhos senão morro !» dizia Rachel a Jacob, vendo a fecundidade da sua irmã Lea. » (i) E o egoismo do homem é de tal ordem, que, quando consultam a um clinico sobre se a esterilidade é sua ou de sua esposa e que os clinicos exigem o esperma para fazer o exame microseopico, disse-me um clinico;—atè hoje nenhum ainda me trouxe o respectivo liquido da vida. Ainda o Dr. Garnier:—«As lesões, as doenças das versiculas seminaes e dos canaes eja- culadores determinam a esterilidade, sobretudo diminuindo a quantidade do esperma e alterando a qualidade. Os excessos do coito ou da masturbação provocando a irritação, até a inflammação destes reservatórios empobrecem e diminuem a sua consistência. Dahi a espermatorrhéa, perda passiva e involuntária do esperma, que torna o homem duplamente (i) Dr. Garnier. 34 esteril e impotente; porque fazendo-se acompanhar ordinaria- mente pela fraqueza e atonia, quando não pela paralisação dos musculos ejaculadores retira-lhe ao mesmo tempo a pro- priedade fecundante do esperma e a faculdade de ejacular.» «A columna vertebral do homem, sobretudo na estação perpendicular, diz Verey, é como uma pilha electrica de ossos sobrepostos e separadas pelas cartilagens que têm no centro da medula espinhal. Dois polos antagonistas estão collocados nas extremidades desta pilha: o cerebro e os orgãos genitaes animados pelas extremidades nervosas cocygianas.» Disse Spencer:—«que a melhor condição de se existir, é de se ser um bom animal.» Existem noivos que vivem ma- ritalmente com prostitutas, e os paes das noivas sabem disto muitas vezes, e -nada dizem ás pobres innocentes, tudo ellas ignoram, qual é o resultado disto casam-se e depois continuam na mesma ligação immoral quando não acontece serem as prostitutas protagonistas de scenas horríveis, como tem se dado. Conheço este caso que não é menos repugnante: um ban- dido, que outro nome não merece, era noivo de distineta joven, andava com a sua photographia delia, em á cadeia de seu relogio delle, está claro que como amuleto, tinha elle uma amante, como se diz, esta enciumada por saber que elle era noivo, cobria o innocente retrato com os mais baixos re- moques, a ponto do miserável escondel-o todas as vezes que ia lá, e o que é mais lastimável ainda era elle conservar-se na mais completa passividade, sabedora disto a distineta moça teve o heroísmo bastante para repellir esta pustula; soube ella de tudo por intermédio de uma ama que já tinha estado em sua casa delia. Ah! se todas as jovens tivesse esta elevação de idéas! . . . 35 Pergunto eu; um miserável destes deve se casar? Absolutamente não. Eis ahi, quem sabe? senão um verda- deiro tvpo de masochista ou invertido sexual ?... Os libertinos são typos que não tem nehuma segurança moral; têm em si toda a espeoie de vicios; são mentirosos, perversos, até mesmo criminosos. Seria de toda vantagem haver uma continência relativa, porque, absoluta, a sciencia protesta contra. Sendo os testí- culos glandulas quasi de secreção interna a permanência do esperma nestes reservatórios tem um papel tonico sobre a economia, como é sabido. «A. secreção e a emissão forçadas do fluido seminal são por- tanto essencialmente prejudiciaes á economia. Calculou-se que a perda de 30 grammas equivale à 1200 gramfnas de sangue. A sua formação é, por esse modo, inversa á da gordura, como todos sabem. D’ahi, a deterioção organica considerável e rapida que resulta da prodigalidade espermatica, sem fallardo espasmo que abala tão profunda mente o systema nervoso.» (1) O homem quando aprecia a equitação e tem seu bucefalo, quando este sente necessidade de exercer a funcção sexual, recommenda aos seus estribeiros que escolham éguas que não soffram moléstias transmissíveis. Porque não fazem o mesmo com seus filhos ?.. Agora, vou tentar me deffender do collega que me disse ser este assumpto immoral, e de qualquer outra pessoa que pretenda dizer o mesmo. Ao medico é preciso se ficar sabendo uma vez por todas,— nada que diga respeito ao bem estar da humanidade poderá ser irnmoralidade — à sua vista e aos seus (1) Di\ Garnier. 36 — ouvidos, pois que, elle jurou ter olhos pará nada vôr e ouvidos para nada ouvir..,.. Tanto é digno para um Medico tratar um pneumonico, como de um homosexual: ai! deste pobres infelizes se não tivessem o Medico para lhes amparar e deplorar as suas misérias; quando toda a sociedade tem para com elles palavras de indignação e de odio, o Medico não vê nelles senão indivíduos infelizes que só lhe inspiram com- paixão! Pois se esta é a funeção do Medico o que elle tem a fazer senão isto? E quando soe acontecer perturbações funccio- naes nos orgãos genitaes motivadas por com moções, obsta- culos meehanicos, quem deverá affastal-as; o Modico, o Cirurgião, ou o barbeiro e o alfaiate ? Não são raras estas perturbações e tém muitas vezes como a litteratura medica regista, desfechos fataes e têm também levado muitos indivíduos até ao suicidio. Parece-me a mim que o Medico não devia ignorar estas coisas que estão tão dentro da esphèra da medicina como o que mais os tiver. Sei do caso de um estudante, aqui, que sendo vlctima de uma perturbação nos orgãos genitaes con- sultou a um clinico este não sabendo remediar ou melhor affastal-a disse-lhe: isto não vai nada; o que é verdade é que o rapaz quasi commette desatinos se não encontra um collega que tendo lido sobre estes assumptos alguma coisa nestes livros de vulgarisação, mui facilmente, o salvou uesta conjunctura.Quando eu cursava o primeiro anno Medico, 1905, morava com um distincto rapaz que então cursava o terceiro e hoje é Medico e um dos amigos e contemporâneos que mais admiro; um dia por volta de 10 horas da noite estava eu no meu quarto estudando quando entra o rapaz em casa e bate-me na porta n’um estado de agitação, nervoso, corno se 37 uma grande desgraça llie tivesse acontecido; tinha sido, ape- nas, uma destas surprezas que podem succeder a qualquer vivente. Eir que já tinha lido alguma coisa a respeito inos- trei-lhe que isso não tinha absolutamente a importância que elle lhe emprestava; no dia seguinte, a despeito de tudo quanto lhe dissera eu, continuava elle com a mesma apre- hensào; á noite tenta elle ir novamente, contra a minha opinião que lhe dizia dever deixar que passasse a commoção; aconteceu-lhe o mesmp que eu jà tinha previsto. Mencionei este caso para mostrar que este ligeiro incidente que parece não ter nenhuma importância poderá levar um rapaz a dis- sabores si não tiver em tempo quem o soeeorra. Ora, se nos velhos em quem esta funceâo já vai se extinguindo e é natu- ral que elle se console com o que já gozou quando seus órgãos genitaes sáo acommettidos de qualquer affecção que indique uma castração ou uma amputação luta-se com grande uIífi- culdades para se o conseguir, como tenho observado varias vezes, e occasiòes ba em que se lhe diz que ou se sujeita à operação ou então a morte serà fatal, Tenho visto optar por esta ultima, veja se até onde vai ó egoismo humano; agora, avalie-se em um joven o que poderá succeder, aliiás, com toda a razão,.. Conheci, aqui, um estudante que cursava esta Faculdade e transferiu-se depois para a do Rio e hoje deve ser Medico e que soffrendo de uma affecção nos orgaos genitaes e se lhe tendo dado o diagnostico de epithelioma do penisj dizendo-lhe que era preciso amputar este orgão, elle respondeu que não precisava amputar pois elle preferia logo um tiro no ouvido; felizmente, o diagnostico não se positivou e elle hoje està vivo. isto não tem tanta importância como qualquer coisa que diga respeito a saúde, é a isto que se chama im- 38 moral ? Qual a causa de se dizer que é immoral tratar-se de um assumpto destes? E’ a falta de compreliensào das obri- gações e deveres civis e da funeção sociogenica do homem. E’ a falta do estudo da philosopbia com seus ramos:—lógica moral, e psychologia, etc., como preparatório. Foi a coisa mais illógica que se fez supprimindo-se a cadeira de pliilosophia do estudo de preparatórios. Os moços entram para as escholas superiores sem a facul- dade da observação e da investigarão, com raras excepções; d’alii esta falta de coliesâo, de afinidade que se vê hoje entre elles e que não se via em nossos ascendentes. A tendencia para o vicio, a falta de gosto, a abolia, que reina hoje, ligo também à ignorância de conhecimentos philo- sophicos. Em nossos ascendentes que estudavam a pliilosophia, nelles, o bom senso, o critério eram mais frequentes, ao passo que hoje, em a nossa mocidade, salve as honrosas e raras excepções quase que não existe critério e senso commum, Não tinham os nossos ascendentes, como hoje se tem, tantos conhecimentos e innovações, mas, com a sua powca sciencia, faziam muita coisa porque não direi mais... A pliilosophia é o pliarol que illumina os meandros da vida. Disse, alguém que os nossos philosophos estão se acabando; é preciso que venham outros. E’ digno de registo: ha dons annos morava eu com alguns collegas e, como é sabido, nas Republicas, na falta de outros tonicos nervosos temos o gracejo como um delles; uma noite tendo um collega (l.° an- nista) feito uma descoberta de que elle proprio se ufanou, um outro collega chama-o de psychologo, é indescripti vel o cavaco que este deu pensando que era uma palavra offensiva, foi ao diccionario procurar o significado mas o caiporismo 39 foi tal que elle nào encontrou a palavra; perdemos toda á noite em risadas não foi mais possível estudar nesta noite /... Não são raros estes casos e até sem ser Io annistas que alliásj não tinham o direito de ignorar! Eu já vi um sem ser primeiro annista chamar um outro maluco porque fallava muito em psychoíogia. Hoje, são raros os rapazes que têm algumas nocções de philosophia; faço aqui uma restricçào aos estudantes de direito que estudam esta matéria, mas, quando entram para a Eschola, a íalta de rudimentos de philosophia geral muito os embaraça no estudo da philosophia do Direito: o resto é uma las ti ma. Encontram-se rapazes quasi doutores, em cuja conver- sação o que predomina é: uma banalidade extrema. Se, mui- tas vezes não abraçam uma idéa justa e elevada é porque não comprehendem seu alcance social. Ahi esta porque vêm immoralidade e rn um assumpto destes!!! Não é só entre rapazes que se encontra esta banalidade extrema, que faliei, encontra-se também em — muita gentinha bôa. OutEora, os rapazes sabiam discutir com seus professores e isso era motivo de satisfação mutuas e ainda mais para seus collegas que os estimulavam; hoje quando um rapaz tenta impugnar uma theoria de seu mestre serve isso de zombaria para seus collegas. Hoje nào precisa o professor procurar sug- gestionar seus dissipulos elles se suggettionam por si pro- prio, com honrosas excepções. Um indivíduo pode ser plethorico de sciencia; faltando-lhe o critério e o bem senso a sua sciencia vai toda de agua abaixo. Diz um dos provérbio arabes : —que um sabio sem critério 40 ó um burro carregado de livros. 0 medico deve ser o mais arguto dos psychologios, Os mais profundos diagnósticos e que mais admiram e mais tem elevado seus autores: são justamente aquelles em que tem entrado, a perspicácia e a argúcia. E’ inteiramente im- possível, muitas vezes, preestabelecer conducta para um Me- dico; ella deve ser suggerida no momento, veja como parece isto ter importância. O psychologo, por deducções, tem o poder de advinhar. E o vulgo quando diz: aquelle indivíduo parece que advinha não erra. Ha rapazes em cuja presença se desdobram verdadeiras filas cinemalographicas elles nada vêm e se admiram de outros que estando junto com elles o tenham visto; naturalíssimo ! : —è que uns tem duas especies de olhos, ao passo que outros mal têm uma. Disse o illustrado cathedratico dé clinica propedêutica, do Rio de Janeiro, o Dr. Miguel Couto : — « precisa o clinico descortinar ao longe, enxergar nas trevas, ter raios X nos dedos, nos ou- vidos, nos olbos, no cerebro, para distinguir a moléstia atra- vez da opacidade frequente dos symptomas. Notae que não digo ver rápido, mas ver longe porque não seria capaz de vos aconselhar os juizos de relance, os diagnos- tidos de palpite. Poucas são as moléstias que se retratam na face do corpo, nem todas se entremostram; a maioria precisa ser procurada. O clinico repentista que se habitua a advinhar em vez de examirçar se maravilha os leigos e consegue epater tes bourgeios, muito deve e ha de cahir em erro. Não despre- zeis as primeiras impressões, a emoção clinica; mas que ella não passe disto, e só sirvam para assentar-vos, pois são tão íalliveis quão falazes.» Diz illustre professor desta Faculdade: .—«A medicina é a profissão na qual mais preciso é que ã 41 sublimidade da seienciá e a prestança da arte, se associe um pronunciado desenvolvimento do senso moral.» Ha muita gente que pensa que o simples gráo de doutor é o sufficiente para impor e ter prestigio. Enganam-se redondamente. Diz o Dr. Toulouse em seu livro: Como se deve educar o espirito pa- gina 14: —«O bom senso popular não se engana com os falsos aspectos da intelligencia. Um homem poderá ser muito ins- truído, distincto em todas as faculdades e laureado em con- cursos superiores, ter mesmo uma cadeira de professor e exercer funcções eminentes, e com tudo isto não passar de um cerebro medíocre. O seu creado ou seu lacaio não se embasbacará com seus titulos; pensará apesar de tudo que o seu patrão não é intelligente e não se enganará nada. Assim se pode explicar o insuccesso de certos sabichões muito pres- tigiosos alumnos e que na vida pratica dão homens medíocres. Na verdade a caracteristica da superioridade seja no que fòr é crear. O commerciante que monta uma casa mais ada- ptada às necessidades da clientella realisa uma obra de creação como o que aperfeiçoa um methodo de ensino e descobre um elemento de educação numa installação industrial ou um facto novo no estudo scientifico dos phenomenos. Ha necessaria- mente lima hierarchia nestes actos; e neste sentido não são todos do mesmo valor, mas são da mesma ordem. Ora, na vida trata-se sobretudo de crear e não de conhecer o que é sinão um meio. Na vida pratica, cada um de nós tem de arcar com as difficuldades que nascem das relações com a familia, com os estranhos, com chefes ou com subordinados. A so- lução destes conflictos exige a participação das mesmas facul- dades superiores; e o que sabe sahir airosamente dum assum- pto delicado deve encontrar em si os mesmos recursos de 42 inventiva para resolver um problema de technologia. Esfor- cemo-nos pois, em ser mais intelligentes do que sábios.» Em torno do casamento, gira um outro problema que se me afigura—de uma importância transcendental:—é o da esterilidade artificial e da fecundação artificial. O fim do casamento, como ninguém ignora, é a procreação ou melhor a perpetuidade da especie. E* sabido o quanto afflige a um ca- sal o desejo de ter filhos e não o consegue. Mas, se a scieneia nos póde fornecer meios que possam fecundar um casal que naturalmente não póde ser fecundado, devemos lançai’ mão destes meios para affastar esta tristeza tão natural. Apenas direi que sendo a fecundação possivel, o Medico prestará um incomparável serviço. Dando-se porém, o caso que á esterili- dade esteja ligada a causas insanáveis, tendo os esposos em- pregado todos os meios possíveis, que a scieneia sempre al- Iruistiea, possa lhes fornecer, sem resultados, não ha outro remedio. sinão se consolarem com os caprichos da natureza; a consciência do dever comprimida, jà é por si só, um meio de resignação. Tratando deste assumpto assim falia Paulo Mantegazze: «Se o homem consegue com o auxilio da scieneia tornar fe- cunda uma mulher esteril, parece-me que faz mesmo sob o ponto de vista religioso, um acto meritorio. Se auxiliar o utero por meios artificiaes a produzir filhos é um peccado, peccado deveria ser egualmente obrigar um estomago a digerir introduzindo-lhe pepsina, e obrigar uma perna paralytica a movimentar-se por meio de uma corrente electrica. Confesso que a casuística dos médicos que se recusam a fazer a fecunda- ção artificial sobre razões de sentimentos religiosos, não chegai 43 â minha initelligencia, parece-me coisa de cabala liebraica e nada mais. Algum marido, ou alguma mulher houve que mais espe- ciosos nos seus raciocínios me opposeram às minhas propostas, a repugnância a um acto anti-natural. «O lilho que nascer não me parecerá meu !—Será filho de uma seringa e não filho de meu sangue.—Esta operação que me aconselhaes é contra a natureza.» «Mas, senhores meus, onde é a natureza, onde começa e onde acaba? Tudo quanto o homem faz e pensa tudo quanto inventa e descobre esta na natureza, porque Seu cerebro e todo elle mesmo pertencem à natureza. E se é util e bom e bella fazer coser as carnes crúas, e se é util accender o fogo, e se é bom encanar os ossos das pernas par- tidas e recolher no seu logar o intestino sahido, serà igual- mente bello e bom corrigir à natureza, fecundando pela arte as mulheres que seriam estereis d’outro modo.» «Quando o ma- rido e a mulher desejam ter um filho que pode ser a alegria e a bênção de uma famiiia, quando a obra do medico pode dar-lhes essa satisfação; não é occasião de discutir se o methodo Marion Seins é mais decente que o do doutor Raubaud; mas convém seguir o processo, em que os paes consentirem mais facilmente e que possa dar mais garantias de bom resultado e depois com confiança saber corrigir a natureza consciente de fazer uma obra bòa e conforme com a dignidade humana. A malícia é sempre grande easuista e a natureza núa é sempre mais casta que a JlypocHsia tkeologica ou puritana.')') (1) Não descrevo processos como os do Dr. Jules Gautier, Dr. Gerard, Roubàud, Pajot, Courty, Marion Seins, Gigon, Dehaut, Gi- (1) E’ meu o grypb.6 44 rault etc., porque este capitulo jà vai longo e o tempo urge. Os benefícios que a esterilidade artificial trazem para a hu- manidade e quando a sua applicação é indicada são de grande importância. Qual seria o meio mais exequível para se evitar os cazamen- tos de indivíduos portadores de moléstias que a medicina con- demna ? Exigindo a lei attestados médicos de capacidade para o casamento ? Não acredito que a exigencia de attestados médicos dê resultados, porque se antepõe ahi uma muralha que se não póde galgar—que é o segredo medico. E’ a coisa mais difficil que ha em toda a medicina; não se de dar regras abso- lutas para resolver estas questões; uns são absolutistas extre- mados, outros são partidários do segredo relativo e assim se deglauiam de um modo que não sei se para o futuro haverá solução que resolva semelhante dualidade. Demais é um assumpto em que sempre entra o sentimentalismo, dahi sua grande difficuldade; considerando tudo isto, me esquivo de ditar regras. O unico meio que presumo dar resultados, será a par da educação sexual das jovens que já acima falei; uma cam- panha tenaz por parte dos médicos das famílias a se unirem contra estas ditas ligações pathologicas. No caso destas duas coisas fracassarem, e o amor morbido vencer, apresenta-se como unica medida salvadora e que para empregal-a o me- dico não deve vascillar, a esterilidade artificial. Quando dizia eu não acreditar que a exigencia da lei pelo attestado medico fruisse bons effeitos, é que eu previa que si a lei não consen- tisse na união legal destes indivíduos, forçosamente e ainda mais excitado pelo capricho tão inherente á especie humana, iar-se-hia a união illegal duplamente nociva, porque não só 45 Ifazia a filiação illegitíma como daria ao mesmo tempo, origem a indivíduos inteiramente imprestáveis como factor sociogeníco. Está prohibição tinha quasi (digo da exigencia do attestado) que um effeito de incitamento para o amor livre que será a dissoluçãoda familia. Porque um epiléptico,um tu- berculoso, um hysterico, um demente pretíoce, um alcoolata etc . . . cujo instincto sexual, não obedece a leis, nem a von- tade de quem quer que seja, nem cogita se a lei lhe prohibe e se ella tem este direito de prival-o de uma das condicções da vida. Alias, com toda a razão, porque não admitto que nin- guém se julgue com este direito de dizer a um qualquer dos doentes de que falei acima:—você não exerça a funcção sexual . . . Eis ahi, porque acho que a chave do problema é a esteri- lidade artificial. E’ melhor não ter filhos a tel-os imprestáveis e servirem unicamente, para encher os hospitads de doentes, os hospícios de alienados e aúgmentar mais ainda, as misérias da humanidade, que já são muitas, cá por baixo da abobada azulada. Muitas destas creanças ou pessoas que arrenegam a vida, prefereriam mil vezes, qiie seus pdes não lhes tivessem dado—a vida, Julgo que não se deixando nascer indivíduos que nada adiantam á sociedade pratica-se um acto de beneme- rencia e demais quantos paes nào se envergonham de ter dado a vida a indivíduos, que são verdadeiros neoplasmas sociaes. Para que servirá no mundo, que alguma utilidade terá a prole produzida por paes que sejam portadores do seguinte ferrete: —epilepsia, hysteria, paranoia, idiotia, demencia precoce, psychoses maníacas depressivas, loucos movaes, hébephre- nia, alcoolismo, tuberculose, rachitismo. syphilis no co- meço da infecçãó, entre consanguíneos onde existe um diathese ou alguma tara degenerativa ?! . ; t 46 Absolutamente não se deve deixar que nasçam indivíduos’/ que lião de maldizer seus paes e a sociedade porque não llies embargaram a vida. Um epiléptico poderá gerar um louco. O alèoólata da mesma maneira, pois tem uma grande influencia na etiologia' das allienações mentães, quero dizer o alcoolismo São expres- sivas e verdadeiras estas palavras: — Rapaz, dizia Diogenes a um idiota, teu pae estava bêbado quando tua mãe te concebeu.» (1). (E’ meu o italicò) O tuberculoso irà cada vez mnis enraizando a arvore da tuberculose no seio da humanidade. Enfim todas as outras moléstias que flagelam a sociedade. Umá outra causa que é indicadora da esterilidade artificial são òs vícios de conformação/ da bacia. Quando falo da esterilidade artificial, está claro que não seria capaz de qíierer a ovariotõmia, porque conheço o efifeito nocivo que produz sobre a saúde da mulher, e assim iriamos tornar uma pessoa talvez sã, em eterna doente. Era d caso do:—sublatá causa totiitúr èffectus, como medida mais positiva e castrar-se o homem quando fosse causador de males para a sociedade, pela disseminação de uma prole inútil, o que também não aconselharia. Isto seria comparável, a execraveí lei da pena de morte, que existe em algumas nações e que não comprebendo como se possa seja com que direito se pretenda invocar, tirar a vida de quem quer que seja. Tem ainda as uniões pathologicas, como causa prejudicial para a mulher, a grande frequência de abortos e quando não a grande mortali- dade infantil, que tem ahi a sua etiologia. Quero também, a esterilidade artificial, para limitar a prole entre estes pobres' (1) Dr. Garnier,: 47 infelizes, que não tem recursos bastantes para lhe dar o sus- tento. Ter filhos de accordo com suas posses, seria rriais hu- mano, do que illimitados enchendo uma casa da maior miséria e infelicidade, sendo o prejuizo duplamente lastimável, porque hssim, soíTrem paes e filhos. Os processos de esterilidade artificial, que menciono, em nada prejudicam a saude e os prazeres do amor. Os processos que tem dado os melhores resultados, para se obter a esteri- lidade artificial, é de notar sem prejuizo para á saude da mulher: são os de Mensinga, Kamp, lavagem, substancias espermatecidas e diversos outros processos de que não entrarei em minúcias por causa do tempo que não consente. Seria uru crime imperdoável eu não dizer que foi 0 grande philosopho inglez Maltlius quem primeiro vulgarisou e sus- tentou, a idèa da limitação da prole, attendendo que isto era hm problema de equilíbrio social e de grande alcance d’alii o nome de malthusianismo que se dá a este systema de este- rilidade. Presta-se isto a um protesto infundado e sem bases lógicas por parte dos economistas e dos sociologista, que querem estribar as suas idéas fora da medicina quando é dentro da medicina principalmente que se deve encarar este momentoso problema. «Não temos o direito de negar a feli- cidade aos que sobrem sob o peso do infurtunio, nem tão pouco consentir que todos os ahnos se venha sobrecarregando a humanidade com inúteis é doentes». (1) «Òs pessarios de Mensinga e de Kamp, que considero como meios seguros para obter a esterilidade artificial na mulher, farão com que b prazer sexual não seja a origem da desgraça de novos ti) Dr; Egas Moniz, «Vida Sexual»: 48 seres. 0 medico aconselhando-os em certos casos, cumprè' o seu dever porque defende o bem da especie, da familia e do doente. E não deve ter receio das criticas severas dos que’ julgam vêr nestas praticas um ultrage aos bons costumes/ E’ este o unico processo de pôr um dique á decadência da raça. Deve guiar-nos sempre como divisa a phrase de Montes- quieu:—não fundamentar os princípios em prejuízos, mas na natureza das coisas». Ha, modernamente, uma cavillação, com o nome de femenismo, patrocinada pelos poetas,litteratos piegas e peles sentimentalistas etc., com a Sua rethorica ha- bituaes querendo dictar leis íóra do campo da sciencia. Seria muito applicavel aqui o:—Ne sutov ultra crepidam. Com o nome de femenismo querem elles dizer, que é a mulher tornar-se apta para exercer todas as funcções que o homem exerce na sociedade creio eu que só com uma excepção a de se fecundarem umas ás outras, isto porque ainda que elles quei- ram falta o elemento principal. Dizem elles que da ingerência da mulher em tudo,tirará ella a sua emancipação. Invocam elles asneiras dizendo:—o marido morrendo e nada deixando para sua esposa e ella não tendo aptidões morrera á fome,não morrerá, não; cumpre aos homens só se cazarem quando tiverem meios de subsistência e depois de fazel-o prevenir o futuro, por meio dos seguros de vida sociedades cooperativas etc., a aptidão da mulher deve ser a maternidade; e não fazer como os poetas que pretendem ao se casar em sustentar suas esposas dom poesias em vez de pirão; talvez seja por isto que elles queiram as mulheres aptas para lhes sustentar. O que eu no meu fraco cerebro com prebende como nome d e femenismo, applicavel á mulher, é o papel 49 Verdadeiramente da mulher—a procreação e seu domínio no lar. Agora, a mulher fazer tudo quanto o homem faz eu cha- marei a isto machismo. Que a capacidade da mulher excluo aqui somente a maternidade e este infinito de coisas delicadas que só ella tem este dom de executar, é inferior a do homem desde os princípios do mundo, esta provada, não só anthro- pologica mente, como praticamente, por meio da historia e dá observação dos factos. O que foi que a mulher inventou?,.. Estou ouvindo a resposta—nada. Dizem os' mnchogenos da mulher que sé ellas no começo do mundo não se égualaram aos homens nas , descobertas e nos inventos foi por causa da pressão que os homens começaram - a exercer sobre ellas, não lhes permit- íindo que seu espirito delias se expandisse. Vou mostrar-lhes como este argumento cahe pela base, não resiste à um sopró de creança, E os grandes homens o que não soffreram quando tinham de apresentar suas desco- bertas e suas idéas novas;, não só da multidão ignorante qué os apupava, como também de uma outra multidão maís per- versa e mais nociva ainda— que éra composta dos obreiros do Santo Officio tendo como príncipaes personagens estes dous typos— Thomai Torgucmado, e Xemines cujas memó- rias serão eternamente estigmatizadas e amaldiçoadas pelos séculos passadosè pelos séculos vihdoiros; pois bem, aquelles semeadores das idéas scíentiticas soffreram o que hoje não se pode descrever porque á penha se quebra ou paralysa ante tanta infamia; mas, tudo venceram porque o homem quando Se apega a uma idéa ó invencível. E’ que também a sciencia não se ueixa vencer, por maís trevas que se lhe anteponha no seu caminhar incessante, ella 50 espanca para bem longe, a custa de luz e de muita luz — D’aqui se infere, logicamente, que os ápices que o homem primevo procurou antepor á mulher seriam nullos se ellas tivessem a capacidade que tinha o homem, e assim cahe o supposto argumento do jugo da mulher. Quero que me mostrem uma mulher, uma só, què se possa hombrear com esta pleiade de gigantes do pensamento, qué foram os primeiros a impulsionar o mundo com òs seus inven- tos e com as suas idéas. No campo da medicina, quaes suo as que poderão ter esta camaradagem tão illustre como os Hypo- crates, os Paràcelsos, os Galenos, os J, Hunters, os A. Pa- rés os Pasteurs, os Dupuytrens, os Cláudes Bernards, os Charcots, os Bichats, os Cuviers, os Vclpeaux, os Jacksons, o§ Flourens, os Lieblgs, os Soubeirans, os Listers, os Guerins, os Davaines. os Desrhamps, os Celsos, os Paidos de Egina, os Petits, osLouis, os Virchows os Darvoinz etc.,? Finalmente, nos outros diíferentes ramos do saber humano, quaes são as que se possam comparar aos Newtohs, Galileus, Laplaces, Franklins, Fultons, Boberts Mayer, Orstedes■ Aragos, Ampères, Faradays, Roehtgens, Edisons, Lavoi- siers, Keplers, Pithagoras, Copernicos, Aristoteles, Demo- critos, Descartes, Socrates, Voltaires, Goethés. Dantes, Schakespeares, Raphaes etc.?. Entre mulheres illustres temos, litteratas as Sands, aS Staels, as Sevignées, mas não propriamente geniaes. Porém, como verdadeiras creadoras, inventoras, não temos; a mulher não crêa, não inventa nada; é simplesmente imitadora. E sempre pernóstica, quando chega a possuir uma certa cul- tura, que a distinga das outras E’ natural de todo o indivíduo medíocre; e isto que se vê na mulher, vê-se também nd 51 I.ornem: quanto mais medíocre é um homem, mais enfatuado e pernóstico se torna. E’ preciso notar, que com o que acabo de expôr, não quero negar que a mulher não possa evoluir poderá se quizer com algumas gerações, falar grosso como os homens, deixar nascer barbas e ahgmentar a capacidade men- tal; pode-se, como é sabido, gerar-se montros á nossa vontade. Está claro, que não quero a mulher ignorante e escrava do homem; não, absolutamente; pelo contrario, a emancipação que eu quero, é a verdadeira emancipação da mulher dentro dos limites do sexo, e não a emancipação, como entendem tornando a mulher macho. A mulher deve ter conhecimentos geraes de tudo quanto diga respeito ao mundo e ainda o mais que lhe possa assegurar maior dóse de felicidades. Uma mulher ignorante, não sei a que se possa comparar. Mas, disto vai uma grande distancia a se querer a mulher envolvida em tudo quanto o homem se envolve, na política, no tribuna]\ etc. Ila uma immensidade de serviços, que não podem ser feitos senão pela mulher. O que não será da mulher, vivendo no attrito continuo de cada dia, onde as paixões fermentam e o egoismo se gera, junta com o homem em todos os departa- mentos da lucta pela vida?! Eu quero a mulher, é como sobe- rana do lar, cercada de maior respeito, principalmente, por parte destes poetas littcratos e sentimentalistas snobs, que se batem pelo machismo... A mulher, ao lado do homem ao lado do homem na lucta pela vida, descerá do seu throno de rainha do mundo e tornar-se-ha uma coisa banalíssima. O homem perderá toda a aspiração e toda coragem para en- frentar os combates da vida, porque, é preciso se notar, que todo o homem que se bate por uma idéa ou por urna 52 cousa, é para a depositar, como úm laurel de triumpho; nas mãos da mulher que adora. Não ha quem desconheça isto; muitas vezes, o homem não tem ainda a companheira fixa dos seus futuros dias, e já trabalha com este fito de ser a depositaria de suas con- quistas; até nos velhos se vê isto; quando alçam qualquer victoria vão pressurosos depòl-a nas mãos de suas velhinhas. São do notável escriptor portuguèz Rfimalho Ortigão, as se- guintes linhas—«A grande, eleVada e importante funcçâo da mulher nas sociedades humanas, não é ser bonita, jor- nalista ou doutora, é ser mãe e ser esposa. Ser mãe e es- posa é uma sciencia, cuja posse, como a de todas as scien- cias, depende de um longo e apurado estudo. Se é difíici! saber ser inãe é mais difficil saber ser esposa. Organisar e dirigir o interior de uma casa digna, riso- nha, aprasivél, é tarefa que demanda uma intelligencia al- tamente esclarecida, o gosto mais sábiamente cultivado, os hábitos de ordem mais methodicamente estudados e mais trabalhosamente contrahidos. Para que, por exemplo, Bis- marck diga de sua mulher: <ulevo-lhe tudo o que sou» (ê meu o itálicoJ é preciso qUe tenha desenvolvido na organi- sação e no arranjo da casa conjugal um poder de virtude não certamente inferior ao poder de espirito despendido por seu marido para revirar a face da política da Europa. E’ preciso que ella tenha sido na longa extensão da pala- vra uma completa mulher de casa; que tenha a serenidade e a paciência postas até a ultima prova; que tenha a suprema bondade e que reuna a cultura do espirito preciso para ser a confidente de um homem de genio; que saiba todos os se- gredos da hygiene e da chimica eulinaria; (é meu o grypho) 53 que tenha a comprehensão e o gosto das artes decorativas; que seja em fim superiormente instruída, que não seja me- dica philosopha, nem litterata, e que empregue todo o seu espirito e todo o seu coração em ser unicamente uma esposa e uma mãe.» Esta supposta emancipação das mulheres como a querem fará o homem morrer enfesado e arrenegar a vida. Que poesia hão me dirão, encontrará o homem casado com uma medicct, advogada, jornalista, agitadora das mas- sas para adquirir votações para ser eleita ? O homem quando regressa à casa de volta do seu trabalho exhausto, muitas vezes desanimado da vida, onde é que elle vai beber novo alento, senão com sua casta e pura esposa, que não terá para elle senão palavras despidas de tudo quanto é duro, pala- vras doces e meigas que o hão de encorajar, Ahi temos o verso da medalha; agóra figUre-se, o homem chegando em casa, nas mesmas condições de desanimo e casado com qual- quer das especies de mulher-homem, que figurei acima; ellas chegarão em casa, nas mesmas condições de desanimo* porque verão uma sua ambição frustada; o que não será de dons desanimados* queixando-se um ao outro; é a medica que volta contrariada, contra uma ingratidão de seu cliente; é a advogada indignada, contra um tribunal que lhe deu um parecer contra suas ambições; é a jornalista, que volta de- sesperada, contra um outro jornal, que lhe passou formidá- vel descompostura; emfim, com qualquer outra das especies* que palavras poderão ter éstas, para os seus maridos, senão palavras de bronze eis ahi o reverso da medalha. Pergunto eu, é, ou não é, um inferno, um lar assim constituído?.., Que carinho poderá a creança receber num lar onde entram tlous homens, nas condições figuradas acima? Quando, o ho- 54 mera chega em sua casa como uma féra bravia, a mulher tem o condão de o abrandar por meio de caricias que só ellas sabem fazer sem que elle o sinta. Disse Michelet:—que a mulher tem o poder de refazer o coração do liomem. Figu- re-se mais esta bypotbese marido e mulher ambos são médicos* acontece à mulher perder seu doente, após ter empregado noites e mais noites de vigilia e ouvir na siui cara se dizer que foi a sua ignorância a causa da morte; supponhamos que se dê o mesmo com o marido o que não serà destas creaturas quando se encontrarem em casa?!.. Supponha-se que a mulher nos misteres de qualquer profissão precise se ausentar do logar por algum tempo; quem deve ficar com o, homem em casa? Quem educará seus filhos? ascreadas? São do profundo anthopologista e psychologo, Mantegazza as seguintes consi- derações:—«Muitas mulheres que nos seus sonhos de creança desejam ser doutoras ou irmans de caridade, acham ao des- posar um medico, o meio indirecto de realisar o seu desi- deratum. Effectívamente podem ufanar-se e comprazer-se em acom- panhar seu marido em espirito e até com a sua cooperação, naquella missão de sacrifícios contínuos naquelle trabalho quotidiano que é um apostolado e muitas vezos um martyrio. E são realmente felizes em o poder confortar quando, desalen- tado pela ingratidão dos homens ou pela ineffieacia dásciencia volta para a casa ! Quantas vezes tua boa mãe me commu- nicou a coragem que me faltava para eu proseguir no meu caminho; quantas vezes me mostrou ella a gloriosa e longínqua meta e conseguiu fazer que eu bem dissesse a profissão que livremente e.colhi e que nos primeiros annos me parecia uni 55 OalVario, pois não tinha então outra companhia além das atribulações e espinhos e não via ao termo, senão uma cruz. Não somente ella se occupava de mim, mas também pen- sava nos meus doentes e muitas vezes acompanhava as minhas visitas aos pobres nas choupanas do campo ou nas pocilgas axphixiantes da cidade onde mais ainda que os soccorros da arte, era mister levar os confortos do carinho ou os socorros da caridade. Em casa era o meu anjo consolador, e fóra de casa, a minha ulliadaem obras piedosas; e eu era abençoado pelos benefícios delia, e abençoava a minha profissão, tão difficil tão traba- lhada por todas as misérias moraes e por todas as dòres physicas do pobre bipede humano, * Conseguiu alimentar em mim o amor ás difflculdades* amor que eu recebera da natureza; e a cada dífflculdadé que se me deparava no meu caminho, a cada pontapé bestial que eu recebia dos meus col legas, ou a cada insolência brutal dos meus clientes achava eu nella novas palavras de conforto, novas caricias novos impulsos de um coração generoso, Aconteceu-me por íim que o contraveneno, que ella me prodigalisava, me parecia tão dòce, que chegava a desejar novo veneno para ter depois em o meu ninho domestico mais dôces caricias mais dilecto conforto», Ê quando a mulher tivesse de dar uma sentença como juiz ? Ella que é dominada pelas paixões e pelo sentimentalismo, que não admitte reticências na sua vontade,que é muito mais vingativa do que o homem ? Vindicta nemo magis gaudet quarn femitia-. Isto não é uma verdade? Eu, para mim, não quero esta especie nova de mulher, quero uma mulher mesmo mulher. Eu, para mim, considero uma esposa, como uma segunda mãe, que nós devemos ter e 56 a quem devemos respeitar e amparar; ornais é coisa mesmij de poeta. Porque è que a mulher é menos criminosa que 0 homem? E’, justamente, por viver separada do attrito social de cada dia. Vou dar a palavra a uma mulher para talar, porque, nin- guém poderá falar tão bem comoella, com experiencia própria; é a filha do grande criminalista Italiano Lombroso. Diz ella— <£ O homem que trabalha, que deve estar todo o dia com a mente n’um estado de tensão, fechado n’um laboratorio no meio de frascos, bocáes, matrazes e peças anatómicas, ou por detraz de gradesinhas, na atmosphera pesada do escriptorio, d’um banco, encontra uma agraaavel e deliciosa sensação dá contraste ao entrar numa casa, como a sua, onde se póde des- embaraçar de todo o pensamento ineommodativo, onde en- contra um jantar preparado para si, um bom sofá, uma lam- padaque não faz fumo e um alegre chilrear de creancinhas, Qfie coisa encantadora ! . . . Que agradavel sentimento de ex- pansibilidade ! » « E’ preciso, primeiro que tudo, não esquecer que a si- tuação em que a mulher se acha melhor e que corresponde mais precisamente á sua natureza eás suas faculdades, é em casa e com a familia, e que tudo quanto a póde vincular mais estreitamente ao marido e aos filhos é um elemento de feli- cidade para ella.» « Mas a cultura injectada numa pessôd medíocre torna-se facilmente em pedantismo; (é meu o grypho) e então a mulher com a preoecupação continua da sua pequena bagagem de idéas e de phrasés para applicar é para se fazer valer, perde aquelle frescor attrahente, que lhé dá a simplicidade e a espontaneidade, e abdica aquella fiança instinctiva que a familia tem nella, e que è uma das 57 èóndições mais aetivas de felicidade, para ella e para os seus. » (<■ Mas a cultura ou aquillo pelo menos que se entende por cul- tura, não tem nada que vér com este espirito de independencia e sobretudo com os meios capazes de realizar a independencia, porque esta cultura ou estudo limita-se a noções abstractas, isoladas e crystallisadas, que fazem da mulher urina doutora pretenciosa (o grypho é meu) e que não servem para nenhuma applicação pratica, emquanto que para se ganhar a Vida é preciso um espirito pratico e flexível. » ( l ) Diz Mantegazza : — « Entretanto a mulher não é superior nem inferior ao homem ; está a par delle. Homem e mulher são duas linhas parallelas que estarão sempre próximas, sem nunca se tocarem. Cada uma delles cumpre missão diversa na fecundação e na sociedade humana; e nenhum delles póde , Substituir ao outro sem resvalar numa monstruosidade. » Mais : (( A mulher na maternidade gasta tanta energia physica, quanta bastaria para fazer athletas; e consagra tantos thesouros de afíeição, quantos bastaria para crear um genio. » Porque se deVe, e é tão util, deixar as meninas brincar com bonecas ? E’, justamente, para lhes acentuar a maternidade, lhes imprimir, mais profundamente, a delicadeza e a paciência, ensinar-llies, praticamente, qual deve ser o papel da mulher na sociedade, afastar-lhe, por completo, alguma tendencia va- ronil, que possa existir no seu psychismo. Ah! ninguém melhor do que Hugo, fez a psychologia daboneca, em relação a creança, que ha de ser a futura mãe de amanhã. « Psychologicamente, a boneca é a guarda-avançada da (.1) Paula Lombroso, 58 creança que ha de vir; e os affectos e cuidados, que a menina lhes dispensa com tanta ternura, são os primeiros crepúsculos da maternidade. Tenho conhecido mulheres, que conservam a sua boneca até que tiveram um berço em que depozeram a primeira creança gerada em suas entranhas; e tenho-me eommovido, ao vêr uma menina que brinca com a ultima bo- neca de sua mãe. y> (1) « Até agora, as tentativas precipitadas e mal dirigidas não . conseguiram modificar para melhor. a opinião publica, e vemos geralmente dedicarem-se aos altos estudos as raparigas muito feias, muito hystericas, muito pobres, anómalas em todo o caso. Todos nós abrimos muito os olhos diante de uma medica, de uma litterata, como em frente de um phenomeno que sur- preliendee que transmudao nosso primeiro ah! de espanto em um ah! de admiração; nem tal mulher ficara sendo sempre, para nós, um phenomeno. E é phenomeno realmente, é um idolo para se collocar nos altares entre os incenssos fia nossa admiração, uma mulher que pensa como um homem, que sabé como um professor, que escreve livros que se têm, que pinta quadros que se contemplam, ou faz estatuas que são premiadas, ídolo admiravel, se a estas qualidades junto a belleza e á graça; uma semi-deusa ou deusa, se o engenho não a arrasta ao orgulho, se o talento é circumdado de uma feminilidade florente e perfumada. Mais quem acha este phenomeno, e quem achando-o o quererá desposar ? Se a mulher letrada é desajeitada e feia, se no corpo á na voz briga com o seu nome debaptismoy parecendo mais (1) Mantegazza. 59 fornem do que mulher, oh! 'então todos estamos de accordo em a não querer para esposa. E’ uma especie nova é uma hermaphrodita psycophysica, fcujos livros, quadros e estatuas admiramos, mas a quem não desejaríamos ã nosso lado no quarto conjugal», (1) «O amor é uma affinidade chimica; os seus compostos são tanto mais estáveis quanto mais diversos são os elementos que nelle se combinam. O idéal do perfeito casamento é a combinação dé um homem muito homem, homissimo, e de uma mulher muito mulher, mulherissima. Todas as vezes que o homem possue caracter femeninoe a mulher caracter viril, a alTinidade chimica diminue de intensidade e a combinação altera-se ó destróe-se, ao menor choque ou ao primeiro contacto de um terceiro corpo que intervenha e que possua maiores affinidades que a de um ou de outros dos elementos». (2) «Olhai à roda de vós sem sahir da Italia e dizei-me quantas mulheres sàns e perfeitas ha entre as nossas litteratas». «O amor de uni. homem a uma mulher iilustre mas feia é pbsnomeno mais faro do que as moscas brancas». Eis ahi era ligeiros traços o que deve ser a mulher, e não me queiram mal por isto, pois, sou modéstia à parte, um pou- cochinho mais humano, do que estes cuja opinião vêr-se-ha abaixo. Vou agora, tranerever o que tem dito da mulher, os santos desta religião, que chamão, do amor e do perdão, e a qual a mulher dá tão injustamente, uma parte do.seu coração, Faz- se mister esta transcripeão, para a defesa da ídéas minhas, que (1 Mantr'gizz'ã t,2) Mántegazza, 60 se devem seguir no decurso destas desataviadas linhas, ejaindá mais para mostrar, a estes que vêm, porem fingem que não vêm quaes são os sentimentos, que adornam a alma dos adaptos desta religião do amor da bôndade e do perdão.■ Eis ahi! — Santo Antonino: — «Origem dos crimes, arma do diabo! Quando vedes uma mulher, acreditai, que não tendes diante de vós um ser humano, nem ainda um animal íêroz, mas o diabo em pessoa. A sua voz é o silvo da serpente». São Boaventura: — A mulher é semelhante ao escorpião, sempre prompta para morder.» São João Chrysostomo: — A mulher é a peste das pestes! Dardo do demonio! Por inter- venção delia, venceu o demonio a Adão e lhe fez perder o paraí- so.» São João das Damas: —A mulher é uma burra má, uma liorrivel tema. que tem a sua séde no coração do homem; filhada mentira, sentinella avançada do inferno, que expulsou Adão do paraiso; indomável Bellonâ, inimiga jurada da paz.» São João Chrysologo:—;Ella é a causa do mal, a auctora do peccado, a pedra do tumulo, a porta do inferno, a fatalidade das nossas misérias.» São Jeronymo:—A mulher, entregue a si própria, não tarda a cahir na impureza. Uma mulher sem macula é mais rara do que a Phenix. E’ a porta do demonio,- o caminho da iniquidade, o dardo do escorpião em summa uma perigosa especie». Que miseráveis ! !! j^roposíçÕQS ANATOMIA DESCRIPTIVA í — O utero é um musculo òco de paredes espessas, situ- ado na parte media da escavação pelviana e dividido em duas partes: corpo e colo: II — O colo é abraçado pela vagina na cavidade da qual elle avança uns dois à tres centímetros. III—O corpo està situado entre a bexiga e o recto. HISTORIA NATURAL MEDICA I— Os seres vivos animaes e plantas, sé reproduzem de maneiras diversas: ora a reproducção se realisa por meio de um elemento cytodico, provindo de simples processos nor- maes de divisão Celular ( mytose ou caryocínese ), que se des-, taca e vai viver independente; ora pela fusão de dous ele- mentos celulares incompletos (gametos) que provêm da mesma parte (glandula hermàphrodita) do corpo de um mesmo indivíduo; de partes diversas dé um mesmo indivíduo ( hermaphrodita ), de indivíduos differentes, normalmente, ia mesma especie, esta reproducção tem o nome de sexuada. ÍI—Quando os elementos cellulares se fundem, não apre- sentam diíferença apparente em seus caracteres morpholo- gicos, a reproducção é isogamica, e elles têm o nome de isogametos; quando ao contrario, ha differenças notáveis, a reproducção é heterogamica, e elles têm, entre os animaes, o honre de espermatozóides e ovulos; estes soffrern antes de se- hem postos em liberdade pelas glandulas genitaes, uma serie de transformações que constitue a sua maturação delles, 64 III—A malu ção ovu]ar e espermatozoica, indicando á sua capacidade : rra serem fecundados e para íecundarem, só normalmente começa a ser realisada pela especie humana* dos doze aos quinze annos na mulher, e dos dezeseis aos de- soito no homem, se acompanhando do desenvolvimento das mammas e do apparecimento do fluxo menstrual na mulher* do engrossamento da voz e do apparecimento de pelos, bigode etc., no homem. Durante esta epoca ha em ambos os sexos uma serie de profundas transformações physio-psychicas que só a uma educação sexual raciocinada e scientifica cum- pre dirigir, afim de evitar múltiplos e perigosos desvios, como não é raro observar, CHIMICA MEDICA I — O esperma é um producto de secreção dos testiculos e de outros annexos: glandulas do canal deferente, vesículas seminaes, glandulas prostaticas e glandulas da urethra. II— Contem 10% de substancias fixas, sendo seis partes de substancias organicas e quatro partes de substancias mi- neraes. III— Entre estas encontram-se, principal mente o oxalatd de cálcio, phosphnto de cálcio e chloruretos alcalinos; entre as organicas encontram-se as nuCleinas e lecithinas: substancias phosphoradaS, HISTOLOGIA I—Foi o estudante Louis Hamm, quem em 1667, tendo a curiosidade de examinar o esperma ao microscopio, desco- briu o espermatozóide. 65 a* II— 0 espermatozóide provém de uma célula testiculap chamada eSpermatoblasta. III— O esperma contem uma leucomaina chamada esper• mina que também é encontrada nas culturas de bacilo da tuberculose e nas leucemias. Portanto não é illogico suppôr-se que esta lencomaitia, com a continência absoluta, possa ser absorvida pela economia produzindo embaraços sérios. PHYSIOLOGIA I— A partir da puberdade os phenomenos de actividade espermatogenica são muito sensíveis. II— Todos os orgãos existentes no organismo humano são prepostos á uma funcção; d’ahi se conclue ser a funcção Sexual indispensável para o verdadeiro equilíbrio orgânico. III— A permanenoiá do liquido seminal em seus reserva- tórios por muito tempo, traz embaraços para o organismo; dar-se-ha a formação de syííipôxões que são concreções crys- taliinasque irão formar cálculos esperrnaticos obturando os carmes ejaculadores e as vesículas seminaes; também como consequência disto, a próstata será augmentada de volume e cfdcificada trazendo dores fortes e obstáculos à urinação; conclue-se.por conseguinte/que a continência absoluta é um attentado ás leis physiologicas., BACTERIOLOGIA I— O agente pathogenico da cholera morbus é o bacillo virgula descoberto pelo mallogrado sabio Roberto Koch em 1884. II— Para o diagnostico bacteriológico deste morbo, é nas 66 fezes dos doentes atacados delle que Se encontra o vibriãò cholerico. UI-.— Pelo metliodo do sero diagnostico a sua pesquisa é mais rapida; sabe-se que o sangue do cholerico no começo da infecção na proporção de 1 /10 e 1/15 agglutinaria em menos de uma hora uma emulsão de cultura sobre gelose, do vibrião cholerico. MATÉRIA MEDICA, PHARMACOLOGIA E ARTE DE FORMULAR !—Os medicamentos se dividem em magistraés éofficinaes; II—Os officinaes são aquelles que já se acham manipulados! nas pharmacias; os magistraés são aquelles que o medico prescreve para serem manipulados na occasião. I[I—Não é indifíerente o emprego de um ou de outro. ANATOMIA E PHYSIOLOGIA PATHOLOGICAS I- Atrophia é um processo mórbido passivo caracterisado pela diminuição de volume dos elementos que constituem os orgãos e os tecidos. II- atrophia chama-se sympathica quando se dá em um orgão em seguida a atrophia de outro, ao qual elle està ligado por estreitas relações de sympathia. III- exemplo, temos a atrophia do testículo deter- minando a dalarynge, e a do ovário acarretando a da mamma. PATHOLOGÍA MEDICA I—A variola é uma moléstia infecto-contagiosa qiie tem a syndroma seguinte: febre alta, cephalalgia intensa dores pelas pernas, vomitos, olhos injectados etc.... 67 ■ ÍI—Somente o apparecimento de maculas, principalmente jiela face, é que vem firmar o diagnostico, III—Seu tratamento, a par da medicação symptomatica, é u balneotherapia que dá os melhores resultados, PATHOLOGIA CIRÚRGICA I— Nos ferimentos por arma de fogo, está banida hoje, por completo, da cirurgia scientifica a sondagem destas fe- ridas, , II— Como também as intefvénções immediatas para ex- tração das balas, a não ser em casos particulares, como compressão de um nervo, balas alojadas numa cavidade ar- ticular etc; a cirurgia armada cedeu o logar á cirurgia es- pectante, III— Está provado hoje que em certos casos póde se dar o encliystaménto de uma bala, sendo aseptica, sem nenhum inconveniente; torna-se, assim, a bala, um hospede inoffen- sivo: como provam os exemplos que abundam na lítteratura cirúrgica, OPERAÇÕES E APPARELHOS I— os estreitamentos ínfranquiaveis da urethra, po- de-se empregar qualquer dos dous processos òpáratorios, a tirethotomia externa ou o catheterismo retrogrado, II— Sempre que se torne necessário fazer uso destes pro- cessos é preferível a urethrotomia externa por ser uma ope- peraçao mais innocente e maís rapida. III—O catheterismo retrogrado só se deve empregar guando a urethotomia externa não der rasultádo. 68 ANATOMIA MEDICO-CIRURG1CA I—A urethra é um canal que vae do col© da bexiga ao meato urinário; se divide em duas porções: urethra anterior e urethra posterior. II— A urethra anterior vae do meato urinário o sympliisé pubiana. III— A urethra posterior se estende do pubís ao colo da bexiga, THERAPEUTICA I— São varias as vias de introducção dos medicamentos na economia. II— Dentre ellas a mais prompta por seus effeitos dire- ctos: é a via intra-dermica que deve ser preferida sempré que seu emprego seja indicado. III— A vantagem das injecções é fazer com que o medica- mento utilisado, và directamente à massa do sangue, agir, sem soffrer transformações e até novas combinações, como sóe acontecer com a via gastro-intestinah OBSTETRÍCIA I— Nos vicios de conformação da bacia da mulher podendo trazer com o parto a sua morte delia, deve ser feita a esteri- lidade artificial. II— Existem vários processos e de resultados provados para se fazer a esterilidade artificial na mulher. III— Não se deve usar a ovariotomia, como meio de esteri- lisar a mulher, por causa dos desarranjos que traz à sua saúde. 69 HYGIENE I— A hygiene, é sem contestação, a parte da medicina que assume maior alcance social. II— O hygienista tem, perante á sociedade, uma respon- sabilidade gravíssima. III— Na clinica, os erros que se possam dar vão ferir apenas uma célula social, em quanto que os erros dados pela hygienè Vão ferir todo o organismo social. MEDICINA LEGAL E TOXICOLOGIA I— Não é sem importância para o medico legista o conhe- cimento da forma do espermatozóide. II— Nos casos de attentados ao pudor, as manchas que possam apparecer na camisa e nos lençóes etc. das suppostas victimas, serão ditas pelo microscopio se são ou não esperma- ticas. III— Os elementos espermaticos resistem muito à desse- cação, o que os torna reconhecíveis èm manchas antigas, CLINICA PROPEDÊUTICA I— Afóra os diversos meios de que lança mão a propedêu- tica para o esclarecimento diagnostico das moléstias, o radio diagnostico occupa logar de destaque. II— A parte que imais se presta ao exame radiologico é, sem duvida, a região thoraxica. III— Na localisação dos corpos extranhos, como balas etc. e também proveitosa a applicação dos raios X. 70 CLINICA DERMATOLÓGICA E SYPHILIGRAPHICA I— A lepra, oú morphéa, como se chama vulgarmente, è uma moléstia infecciosa e contagiosa, produzida pelo bacilo do Hansen, atacando quasi todos os tecidos, especialmente: a pelle e o tecido nervoso, II— Não ha moléstia onde se encontre um tão grande nu- mero de bacilos juntos como esta; encontram se estes bacilos em todas as mucosas, tazendo excepção as uterina, vaginal è vesical. III— E’ de uma contagiosidade assombrosa; em um dos últimos congressos médicos realizados, fez-se a seguinte ex- periencia: collocando-se laminas em logares apropriados e fazendo leprosos falarem, o exame microscopico revelou a pre- sença do bacilo de Hansen. Não só se transmitte pelos perde- gottas, como pelos mosquitos. A prophylaxia individual é social desta moléstia impõe se, CLINICA CIRÚRGICA (Cadeira ) I— Em cirurgia, é de capital importância attender-se aos estados geraes dos indivíduos passíveis de uma intervenção. II— Não é só de grande necessidade um exame completo do operando, como também vêr se a conservação de muitaá moléstias não é raro uma valvula de segurança para o equi- líbrio orgânico. III— O lemma do cirurgião deve ser este:--primo non no~ cevei 71 CLINICA OPHTALMOLOGICA í—A frequência das ophtalmias blenorrhagicas dos rece- hascidos é devida a falta de asseio das partes genitaes da parturiente e de cuidados para com os olhos das creanças recem-natas. II— Cumpre trazer âs partes genitaes da mulher ao apro- ximasse o parto bastante limpas por meio de irrigações anti- sépticas. III— A prophylaxia contra as ophtalmias dos reeem-natos será das partes genitaes da parturiente e da limpesa ímme- diata dos olhos da creança nascida fazendo-se em seguida applicação de collvrios tendo como base qualquer' dos saes; collargol, protargol ou nitrato de prata, CLINICA CIRÚRGICA (1* Cadeira) í—As principaes causas que influem para freqtiencia do câncer são a raça e o clima; na raça branca é mais frequente o câncer do que na negra que parece gosar de uma certa im- munidade; os climas quentes não são propícios ao desenvolvi- mento do câncer, II— Aqui no nosso querido Rrazil, o câncer é maís fre- quente nos estados do Sul do que no extremo Norte, onde é raro; ainda aqui no Brazil, a sède predilecta do câncer é o iitero, sendo raro se encontrar no estomago, III— -Nos indivíduos portadores de phimosís é muito mais frequente se encontrar o câncer do pénis do que nos que o hão são. 72 CLINICA MEDICA ( 2* Cadeipa ) I— -A peste bubonica é 'uma moléstia aguda, esfecciosa, epidemica, e contagiosa, produzida pelo bacilo de Yersin; o seu modo de transmissão mais commum é pelas pulgas dos ratos infectados. II— Os symptomas principaes que caracterisam a peste são: calefrio violento, rachialgia, vomitos, cephaléa, febre elevada, de 40°, olhos injectados etc.; sendo o signal patho- gnomonico a presença de um bubâo fortemente doloroso. III— O seu tratamento é a sorótherapia que pode ser in- tra-venosa, intra-preritoneal e intra-dermica; quanto mais cedo fôr empregado o sòro tanto menor serà a mortalidade CLINICA PEDIÁTRICA I— A amamentação materna para as creanças é superior a qualquer outro modo de alimentação; o leite materno da às cpeancas um poder de resistência contra as moléstias, é uma verdadeira vacinação. II— As perturbações gastro-intestinaes das creanças são originadas da alimentação artificial; assim como a grande mortalidade infantil não tem outra origem; na impossibi- lidade das mães amamentarem seus filhos, devem recorrer ás amas de leite sendo este ultimo meio muito superior à ali- mentação artificial. III—Ha também uma grande vantagem para a mãe em amamentar seu filho;—é retardar uma nova concepção; em- quanto dura a lactação é difficil dar-se a fecundação há mulher. 73 CLÍNICA MEDICA (Ia, Cadeira) I— A cholera é uma moléstia epidemica e contagiosa, ca-* racterisada por evacuações estomacàes e intestinaes com ca- racteres particulares; caimbras, cyanose e uma algidez què se suppoe ser devida ao bacilo. II— -Além das dejecçoes alvinas abundantes, ha anuria, um circulo violáceo e pardacento que circula as orbitas, íalta de sangue nas artérias, logo, perturbações para o lado do pulso, adynamia geral, emfim a morte que pode ser súbita, fulminante, III— -Não existe thernpia certa para esta gravíssima mo- léstia, age-se symptomaticamente, CLINICA OBSTETftíCA E GYNECOLOGICA I— Um dos accidentes mais temíveis que se pódem dar após o parto: éa febre puerperal. II— A febre puerperal {iode se complicar de peritonitej pyohemía e até mesmo de septcemia generalisada. III— -Deve pois haver uma Rsepcia rigorosa para evitar um tão grande mal, CLINICA PSYCHIATRICA E DE MOLÉSTIAS NERVOSAS I —E’ o alcoolismo que tem maior porcentagem na genesis da alienação mental, da esterilidade, da criminalidade e do suieidio. II—-O álcool produz uma alteração nas células nervosas 74 celebraes paralysando-as pouco a pouco, a ponto de haver umà verdadeira paralysia psychica de um dos departamentos do cerebro. ÍIÍ—Urge uma medida repressiva contfa a vendagem tão desbragada do álcool. Visto.—Secretaria da Faculdade de Medicina da Bahia, 31 de Outubro de igio. 0 Secretario, Pr- pionanduo dos ffieis ffleipelles.