Faouldade de Medicina da Bahia TJELESE APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Em 4 de Outubro de 1904 PARA SER DEFENDIDA PCI! qA ão cfrancísco (doares oJSrandão 3STat\iisl d« Perna mbueo AFIM DE OBTER O GRAO DE • DOUTOR EM MEDICINH DISSERTAÇÃO CADEIRA DE CLiNICATSYCHIATfílCA E DE MOLÉSTIAS NERVOSAS AS PARALYSIAS DO SÉTIMO PAU • PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de seiencias medicas e cirúrgicas BAHIA \mim MODEBHâ ‘DE PRUDENCiO OE CARVALHO Ruá S. Francisco n. 29 1904- Faculdade de Medicina da Bahia Director-Di*. ALFREDO BRITTO Vice-Director—Dr. ALEXANDRE E. DE CASTRO CERQUEIRA Lentes cathedraticos 1. SECÇÃO OS DRS. MATÉRIAS QUE LECCIONAM J. Carneiro de Campos Anatomia descriptiva. Carlos Freitas Anatomia medico-cirurgica. 2. Secção Antonio Pacifico Pereira. . . . Histologia Augusto C. Vianna Bacteriologia Guilherme Pereira Rebello. . . . Anatomia e Physiologia pathologicas 3. « Secção Manuel José de Araújo Physiologia. José Edujrdo F.de Carvalho Filho. . Thérapeutica. 4. a Secção Raymundo Nina Rodrigues. . . . Medicina legal e Toxicologia. l.uiz Anselmo da Fonseca Hygiene. õ.a Secção Rraz Herinenegildo do Amaral . . Pathoiogia cirúrgica. Fortunato Augusto da Silva Júnior . Operações e apparelhos Antonio Pacheco Mendes ... Clinica cirúrgica, 1." cadeira lgnacio Monteiro de Almeida Gouveia . Clinica cirúrgica, 2.» cadeira 6a Secção Aurélio R. Vianna Pathoiogia medica. Alfredo Brítto Clinica propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho. . . Clinica medica P» cadeira. Francisco Braulio Pereira Clinica medica 2.a cadeira 7. a Secção José Rodrigues da Costa Dorea . . Historia natural medica. A. Victoriode Araújo Falcão . . . Matéria medica, Pliarmacoiogia e Arte de formular. José Olympio de Azevedo .... Chímica medica. 8. Secção Deocleciano Ramos Obstetrícia Climerio Cardoso de Oliveira . . . Ciinica obstétrica e gynecologica. 9. a Secção Frederico de Castro Rebello . . . . Clinica pediátrica 10. Secção Francisco dos Santos Pereira. . . Clinica ophtalmologiea. 11. Secção Alexandre E. de Castro Cerqueira . Clinica dermatológica e sypliiligraptm a 12. Secção J. Tíllemont Fontes Clinica psychiatrica e de moléstias nervosas. João E. de Castro Cerqueira ... Sebastião Cardoso Em disponibilidade Lentes substitutos OS DOUTORES José Aftbuso de Carvalho Viuterino. . . I.' secção Gonçalo Moniz Sodré de Aragão . . ■ 2 a » Pedro Luiz Celestino . , Ã . . . 3.a » Josino Correia Cotias 'La * Antonino Baptista dos Anjos (interino1) . 5.a João Américo Garcez Fróes 6.a Pedro da Luz Carrascosa e José Julio de Galasans. 7.a .1. Adeodato de Sou a S.a » Alfredo Ferreira de Magalhães . . . ‘J.a » Clodoaldo de Andrace 10. “ Carlos Ferreira Santos 11. * Luiz Pinto de Carvalho (interino1) ... 12. > Secretario—DR. MENANDRO DOS REIS MEIRELLES Sub-secretario—DR. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA A Faculdade não approva nem reprova ns opiniões exarada» nas theses, p.lo sen» autorrs. ftnatomía do timo faeial O nervo facial nasce da fossetta lateral do bulbo por duas raizes completamente clistinctas, uma in- terna e outra externa. A mais importante delias é a interna que con- stitue o facial propriamente dito. Ella sahe do bulbo para traz e para fóra do oculo-motor externo, entre a borda inferior da protuberância e a extre- midade superior da oliva. A raiz menor e a menos importante, que é a externa, acha-se collocada entre o nervo auditivo e a raiz interna. Esta situação valeu-lhe o nome de nervo inter- mediário, dado por Wrisberg. Da fossetta supra-olivar, onde nasce o facial pro- priamente dito, este nervo dirige-se obliquamente para cima, para diante e para fóra em busca do conducto auditivo interno, no qual se interna em companhia do auditivo e do nervo de Wrisberg. Chegando dentro do conducto .auditivo interno, 2 o facial, curva-se para deante, penetra no aque- ducto de Fallopio, que lhe é especialmente desti- nado, e o percorre em toda sua extensão, seguindo regularmente todas as suas curvas. O nervo facial no aqueducto de Fallopio, tem como o proprio canal osseo, .dous cotovellos e tres porções determinadas por estes cotovellos, as quaes são: a) uma primeira porção, horisontaleantero-pos- terior medindo 3 a 5 millimetros, quevae do fundo do conducto auditivo ao primeiro cotovello; b) uma segunda porção transversal, ligeiramente obliqua de dentro para fora e de cima para baixo, indo de um cotovello a outro, medindo de comprimento 10 a 12 millimetros; c) uma terceira porção diri- gida, finalmente, no sentido vertical para baixo, e indo do segundo cotovello ao buraco estylo- mastoideo; tem de comprimento 10 a 12 milli- metros. Partindo do buraco estylo-mastoideo, o facial dirige-se para baixo e para diante, e depois de um trajecto de 10 a 15 millimetros, divide-se em plena parotida em dous ramos: o temporo-facial e o cervico-facial, os quaes cobrem de ramificações a metade correspondente da face e do pescoço. 3 Falemos um pouco do nervo de Wrisberg, do ganglio geniculado. O nervo intermediário segue o facial até o con- ducto auditivo interno. Penetrando no aqueducto de Fallopio, termina-se em um ganglio, denomi- nado ganglio geniculado. Tem a forma de uma pyramide triangular, o ganglio geniculado, cuja base dirigida, como sa- bemos para traz, cobre o primeiro cotovello do fa- cial e cujo vertice dirigido para diante olha o hiatus de Fallopio. Perto do seu angulo interno o ganglio genicu- lado recebe o nervo intermediaiio de Wrisberg. Segundo os exames histologicos feitos por Len- hossek em 1894, o ganglio geniculado é consti- tuído essencialmente por cellulas unipolares, eguaes ás dos ganglios espinhaes. O intermediário de Wrisberg, chamado por Sa- polini o decimo terceiro nervo craneano, com seu ganglio geniculado, tem a significação de uma raiz sensitiva, que está annexa ao facial propriamente dito, como a raiz posterior de um nervo rachidiano está annexa á raiz anterior correspondente. Pelo exposto, o facial primitivamente e exclu- sivamente motor, torna-se, para baixo do ganglio 4 geniculado, um verdadeiro nervo mixto, possuindo ao mesmo tempo, as fibras motoras que lhe são próprias e fibras sensitivas que vêm do nervo de Wrisberg. Sob o ponto de vista, de suas relações, o nervo facial deve ser examinado separadamente no ce- rebro, no conducto auditivo interno, no aqueducto de Fallopio e depois de sua sahida no buraco estylo- mastoideo. No cerebro, o facial corresponde por sua face superior á protuberância, ao pedunculo cerebel- loso medio e ao cerebello. Por sua face inferior, elle repousa na parte externa da gotteira basilar, sobre o seio petreo inferior, e sobre a face posterior do rochedo. No conducto auditivo interno, o facial acom- panha o nervo auditivo que está situado abaixo delle, formando uma gotteira para o receber. O nervo de Wrisberg caminha entre os dous. São os tres envoltos por uma bainha commum, fornecida pela arachnoide. A artéria estylo-mastoidéa segue o nervo facial, no aqueducto da Fallopio. Depois de sua sahida pelo buraco estylo-mastoideo, o facial ganha a es- pessura da glandula parotida, deixando-a perto da 5 borda posterior do masseter, onde dá diversos ramos terminaes. E’ impossível extirpar-se a glandula parotida, como diz o prof. Tillaux, sem lesar o facial, por- tanto sem paralysia da face correspondente. No conducto auditivo interno, o nervo facial e o auditivo estão ligados por duas anastomoses, uma interna e outra externa. A anastomose interna é representada por fibras nervosas que nascem do intermediário de Wrisberg, indo umas para o auditivo e outras para o facial. E’ ainda desconhecida a significação destas fibras, isto é, o modo de terminação e origem. A anastomose externa é constituída por dous ou tres filetes que se destacam do facial ao nivel de seu primitivo cotovello, isto é, noaqueducto deFallopio, e que d’ahi se dirigem ao ganglio de Scarpa, o qual se acha situado no trajecto do ramo vestibular do auditivo. Tem o nervo facial, alem do conducto auditivo interno, anastomoses com o glosso-pharyngeo, o trigemeo, o pneumogastrio e com o plexus cer- vical superficial. Alem dos dous ramos terminaes, que são o cer- vico-facial e temporo-facial, o nervo facial dá 10 6 ramos collateraes; os cinco primeiros nascem da porção do nervo que está contida no aqueducto de Fallopio: são os ramos intra-petreos; os cinco últimos nascem fora do rochedo, um pouco abaixo do buraco estylo-mastoideo: são chamados ramos extra-petreos. Vejamos successivamente cada um delles, e também os dous ramos terminaes. Os ramos collateraes intra-petreos são, de cima para baixo, o grande nervo petreo-superficiab o pequeno nervo petreo-superficial, o nervo do* musculo do estribo, a corda do tympano e o ramo anastomotico do pneumogastrio. O grande nervo petreo-superficial destaca-se do vertice do ganglio geniculado, em frente ao hiatus de Fallopio. Por este hiatus é que elle sahe do rochedo, caminhando na face anterior do osso, em uma gotteira especial, que o leva ao buraco rasgado anterior. Recebe do glosso-pharyngeo um pequeno filete sensitivo, o grande nervo petreo profundo, na face anterior do rochedo. Chegando ao buraco rasgado anterior, o grande nervo petreo superficial reune-se a um ramo do plexus carotidiano, e desta união 7 resulta o nervo vidiano. Termina-se, na parte pos- terior do ganglio espheno-patalino. O grande nervo petreo-superfkial, é physio- logicamente muito complexo. Admitte-se geralmente que este nervo tenha alem das fibras do glosso-pharyngeo e do sym- pathico, tres ordens de fibras, que são: fibras motoras, fibras gustativas e fibras sensitivas. As fibras motoras que vêm do facial e que, por intermédio do ganglio espheno-palatino e do nervo palatino posterior, innervam os dous musculos, peristaphyllino interno e palato-estaphyllino. As fibras gustativas provêm do intermediário de Wrisberg ou mais ainda, do seu ganglio, e se dis- tribuem na mucosa palatina. Finalmente temos as fibras sensitivas que ca- minham em sentido inverso das fibras precedentes, indo do ganglio espheno palatino ao nervc> facial. Nós sabemos já que o nervo facial, abaixo do buraco estylo-mastoideo, não é somente motor, é também sensitivo. Esta sensibilidade, do nervo facial parece vir em parte destas ultimas fibras e por consequência, do maxillar superior, segundo ramo do trigemeo. O pequeno nervo petreo-superficial separa-se 8 do facial ao nivel do angulo externo do ganglio geniculado; não parece ter relação alguma com este ganglio. Elle interna-se em uma gotteira parallela á do grande petreo, sahindo do craneo por uma pequena abertura, situada entre o buraco oval e o buraco pequeno redondo, e vem se ter- minar no ganglio otico, do qual elle constitue a raiz motora. Como o grande petreo superficial, o pequeno nervo petreo superficial, passando sobre a face anterior do rochedo, recebe o pequeno nervo petreo profundo, anastomose sensitiva, que lhe envia o glosso-pharyngeo. O nervo do musculo do estribo, separa-se do facial em sua porção descendente. Sahe do aque- ducto, e não do rochedo, por um pequeno canal que o leva até o canal da pyramide; ahi, encon- trando o musculo do estribe, termina-se n’elle. E’ um ramo volumoso a corda do tympano, que nasce do facial acima do nervo do musculo do estribo, a tres ou quatro millimetros acima do buraco estylo-mastoideo. Seguindo logo depois um trajecto recurrente, a corda do tympano dirige-se para cima e para deante, entrando em um canal osseo particular, 9 chamado o canal posterior da corda, e chega assim á parte posterior e superior da caixa do tympano. Atravessa a caixa do tympano de detraz para deante descrevendo uma curva de concavidade dirigida para baixo. Proseguindo em seu trajecto ella intromette-se em um novo canal osseo de 8 a 10 millimetros de comprimento; é o canal anterior da corda,o qual é situado um pouco acima da fenda de Glasser. Sahindo deste canal por um orifício proximo da espinha do esphenoide, chega desta maneira á base do craneo. Dirige-se então para o nervo lingual com o qual se funde. Em sua passagem atravez da caixa, a corda do tympano apresenta relações importantes. Ella ap- plica-se, á maneira de um arco, contra a parte su- perior da membrana do tympano. O arco descripto pela porção livre da corda passa exactamente entre o cabo do martello, que está para fóra, e o ramo vertical da bigorna, que está para dentro e um pouco para traz. Unida ao lingual, a corda do tympano segue o trajecto e a distribuição desse nervo. Termina- 10 se como elle, nas duas glandulas submaxillar e sublingual, ás quaes envia fibras vaso-dilatadoras e fibras secretoras. Distribuè-se na mucosa da metade anterior da lingua, á qual fornece fibras vaso dilatadoras para os vasos, secretoras para as glandulas e gustativas para os corpúsculos gustativos. O ramo anastomotico do pneumogastrio, cha- mado também ramo auricular do pneumogastrio (Arnold), ramo da fossa jugular (Cruveilhier) destaca-se do facial a 4 ou 5 millimetros, abaixo do • buraco estylo - mastoideo. Nasce, portanto, na mesma altura da corda do tympano, sendo que esta dirige-se para diante e aquelle para traz. Segue um pequeno canal osseo que o leva á fossa jugular. Ladeando então a parede anterior da fossa ju- gular, contorna em meio-circulo a veia jugular in- terna e chega assim ao ganglio superior do pneu- mogastrio onde se termina. Admitte-se geralmente que o ramo da fossa ju- gular é realmente constituído por dous ramos unidos, de valor muito differente e caminhando em sentido inverso, isto é, um motor e outro sen- sitivo; este caminhando do ganglio jugular para o facial, e aquelle do facial ao ganglio jugular do 11 pneumogastrio; isto é, o sensitivo da peripheria para o centro e o motor do centro para a peri- pheria. O ramo sensitivo, chegando no aqueducto de Fallopio, cruza o facial no seu lado posterior e fornece-lhe um pequeno filete descendente. Depois, seguindo seu caminho, sahe do aqueducto e entra em um pequeno canal osseo, chamado canaliculus mastoideus, que o conduz á base do craneo, entre o condncto auditivo externo e a apophyse mas- toide. O ramo se divide então em dous filetes, dos quaes um se anastomosa com o nervo auricular posterior, ao passo que o outro vem se distri- buir na face interna do pavilhão e na parede pos- tero-inferior do conducto auditivo. Discrevamos agora os ramos collateraes extra- petreos. Os ramos collateraes extra-petreos, como vimos, são em numero de cinco: ramo anastomotico do glosso-pharyngeo, ramo auricular posterior, ramo do digastrico, ramo do estylo-hyoideo e finalmente ramo lingual. O ramo anostomotico do glosso-pharyngeo como o seu nome indica, une este nervo ao facial. 12 Não é constante. Quando existe destaca-se do facial immediatamente abaixo do buraco estylo- mastoidéo, dirigindo-se de fora para dentro, con- tornando em aza o lado anterior da veia jugular interna, constituindo a ansa de Haller, e vem se terminar no tronco do glosso-pharyngeo, um pouco abaixo do ganglio de Andersch. O nervo auricular posterior separa-se egual- mente do facial na sua sáhida do buraco estylo- mastoideo. Dirige-se transversalmente para fora, em busca da borda anterior da apophyse mastoide, contorna esta borda, curvando-se para cima e chega assim na região mastoidea, sobre as inserções superiores do esterno-cleido-mastoideo. Recebe ahi uma anastomose do ramo auricular do plexus cervical superficial e divide-se em dous filetes um ascendente e outro horizontal. O ascendente ou superior dirige-se para cima entre a apophyse mastoide e o pavilhão da orelha e vem se terminar nos dous musculos auriculares ♦ posterior e superior. O outro filete, que é o ho- risontal, chamado também posterior, dirige-se para traz, ladeando a linha curva occipital supe- rior, soffrendo uma pequena incurvação, e vem 13 se terminar por dous ou tres ramos divergentes no musculo occipital. O ramo do digastrico nasce abaixo do buraco estylo-mastoideo e vae lançar-se no ventre pos- terior do musculo digastrico. O ramo do estylo hyoideo nasce na altura do digastrico e ás vezes por um tronco unico. Diri- gindo-se obliquamente para baixo, para diante e para dentro vem se terminar do musculo estylo hyondeo. O ramo lingual, notável por seu longo trajecto, vae do buraco estylo mastoideo á base da lingua. Situado na parte externa e anterior do musculo estylo-pharyngeo, elle attinge logo a face lateral da pharynge, onde encontra alguns filetes do glosso pharyngeo, prosegue entre o pilar anterior do véo do paladar e a amygdala, e deste modo chega á base da lingua, onde termina-se por duas ordens de filetes: filetes mucosos que seguem as ramificações terminaes do glosso-pharyngeo na mucosa da lingua. e filetes musculares que vão para os dous musculos glosso-estaphyllino e estylo- glosso. Falta-nos agora a ramificação terminal do facial. 14 Como sabemos, os ramos terminaes sãodous: o cervico-facial e temporo-facial. O ramo temporo-facial, que jaz a principio na espessura da parotida, dirige-se, para cima e para deante, em busca do collo do condylo do maxillar inferior, recebendo ahi, do nervo auriculo temporal, um ou vários ramos anastomoticos, dividindo-se depois em tres ou quatro ramos, os quaes se divi- dindo e subdividindo-se por sua vez, se terminam finalmente em uma multidão de filetes divergentes. Estes • filetes frequentemente anastomosados entre si, e com os ramos terminaes do trigemeo, que lhes cedem uma sensibilidade chamada recur- rente, enchem o espaço angular comprehendido entre uma linha vertical que desce da região tem- poral para o collo do condylo, e uma linha que do mesmo condylo dirige-se para a commissura labial. Costumam os anatomistas dividir os filetes ter- minaes do ramo temporo-facial em um certo numero de grupos, para melhor comprehensão: 1? Filetes temporaes que vão para a região temporal e distribuem-se ao musculo auricular anterior. 2? Filetes frontaes que se dirigem obliquamente 15 para cima e para deante em busca do musculo frontal no qual elles se terminam. 3? Filetes palpebraes situados abaixo dos pre- cedentes, que se distribuem ao superciliar e ao orbicular das palpebras. 4? Filetes nasaes ou sub-orbitarios, que la- deiando primeiramente o canal dé Stenon, vêm se perder, por numerosos ramos, nos musculos grande zygomatico, pequeno zygomatico, canino, elevador proprio do Iabio superior, elevador proprio da aza do nariz e do labio superior, pyramidal, triangular do nariz, dilatador das narinas, e myrtiforme. 5? Filetes buccaes superiores, destinados ao buccinador e á metade superior do orbicular dos lábios. Filetes nasaes e filetes buccaes dão constante- mente um certo numero de ramúsculos que se perdem nas paredes da artéria facial; são filetes vasculares. Vejamos agora o cervico facial. O ramo cervico-facial acha-se situado como o precedente na espessura da glandula parotida. Seguindo a direcção do tronco do qual elle emana, dirige-se obliquamente para baixo e para deante, recebe ordinariamente um ou dous filetes 16 anastomoticos do ramo auricular do plexus cervical superficial e chegando ao angulo do maxillar infe- rior divide-se em tres ou quatro ramos divergentes, que ainda se dividem e subdividem dando logar a numerosos filetes terminaes. Dividimol-o em tres grupos: 1?, filetes buccaes inferiores que vão para o risorius de Santorini, para o musculo buccinador e para a metade in- ferior do orbicular dos lábios; 2?, filetes que se dirigem para o mento, e vão se terminar nos mús- culos quadrado do mento, triangular dos lábios, se anastomosando para formar o plexus mentonniano, com as ramificações do nervo dentário inferior; 3?, filetes cervicaes que descem pela região hyoidéa para se distribuírem no musculo cutâneo. Entremos agora na origem real do nervo facial. O nervo facial, como resam as anatomias, sahe do bulbo ao nivel da fossetta supra-olivar. O núcleo de origem do facial acha-se profunda- mente situado na parte antero-externa da calotte protuberancial, um pouco para traz do oliva su- perior, tendo ao seu lado interno os feixes radi- culares do oculo-motor externo, e ao seu lado externo a raiz bulbar do trigemeo. Elle é formado por uma pequena columna de 17 substancia cinzenta, longitudinalmente situada e medindo 3mm, 5 de altura, na media. Em cortes dados transversalmente, elle tem uma forma irregularmente circular, tendo de diâmetro antero-posterior 2mni, 5, e de diâmetro transversal, lmm,5 a 2 millimetros. O núcleo do facial occupa a parte inferior da protuberância. O núcleo ambiguo acha-se situado cima delle, e o mastigador para baixo. Os núcleos ambiguo, mastigador e facial são representantes do cabeça dos cornos anteriores da medulla espinhal. Examinando-se hístologicamente o núcleo de origem do facial se vê que elle cónsta essen- cialmente de grandes cellulas multipolares, tendo de diâmetro 50 a 60 u. Sua constituição não é i homogenea, sendo por Huguenin, dividida em duas partes; uma mais importante, é a anterior ou ventral, onde estão collocadas as grandes cel- lulas multipolares; outra, a posterior ou dorsal, menos volumosa e encerrando cellulas menores o que a distingue das anteriores. O trajecto intra-bulbar do facial, é mais facil de ser examinado quando o animal de experiencia 18 tem a protuberância mais pobre em fibras trans- versas; por exemplo, no gato que tem a pro- tuberância menos rica em fibras transversas que o homem. No seu trajecto intra-bulbar o facial, muda quatro vezes de direcção, apresentando-nos portanto cinco porções separadas por cotovellos mais ou menos bruscos. A primeira porção dirigida de traz para deante vae da fossetta supra-olivar ao lado antero-externo da eminentia teres; a segunda porção transver- salmente dirigida e muito curta, está compre- hendida entre a eminentia teres e a linha me- diana; a terceira porção, que é longitudinal, é o fasciculus teres, ladeia a linha mediana; a quarta porção de direcção transversal afasta-se para fora da linha mediana, e finalmente a quinta porção, que dirige-se obliquamente para deante e para fora, indo da quarta porção ao núcleo de origem do nervo. O nervo facial do homem, em seu trajecto intra- bulbar, tem a forma de uma curva, cuja parte media subjacente aó pavimento do quarto ventrí- culo, inclina-se para a linha mediana. A inclinação da parte media sobre a linha me- 19 diana é a única differença que existe entre o fa- cial do homem e o facial do gato. A porção media ou ventricular do facial contorna os tres lados, anterior, interno e posterior do núcleo do oculo-motor externo. Mathias Duval e outros tiraram conclusões dessa disposição anatómica, dando ao núcleo facial su- perior situação analoga ao do motor ocular externo. Para este autor o núcleo do oculo-motor externo é commum ao facial superior. Mas para Testut, cuja competência nós conhe- cemos, o facial não apresenta com o núcleo oculo- motor externo senão relações de contiguidade. Um ponto ainda controvertido para a maioria dos auctores, é saber si as fibras constitutivas do facial nascem do núcleo de origem correspondente, ou si um certo numero delias provêm, atravez do raphe mediano, do núcleo do lado opposto, ou si não existe para as fibras do facial uma decussação parcial. Van Gehuchten viu, no embryão da gallinha, um certo numero de fibras do facial dirigirem-se para dentro e atravessarem a linha mediana; sem resultado, infelizmente, por causa da solução chromo-argentica que se reduziu incompletamente, 20 impossibilitando o illustre investigador de seguir estas fibras até as suas cellulas de origem. Nissl e Marinesco, verificaram, o primeiro no coelho e o segundo no cão, que quando secciona-se o facial de um lado, observa-se phenomenos de chromatolyse, não somente no núcleo do lado correspondente, como também no núcleo do lado opposto, prova evidente de que o tronco nervoso seccionado recebe suas fibras ao mesmo tempo de um e outro núcleos. E’ provável que esta disposição se encontre também no homem. O facial, como já dissemos acima, innerva todos os musculos cutâneos da face. A clinica nos ensina que na paralysia facial de origem bulbar, por exemplo: na paralysia glosso labio-laryngea, onde o núcleo do facial é inteira- mente destruído; um certo numero de musculos da região superior da face não é attingido. Os musculos respeitados são: o orbicular das palpebras, o supraciliar e o frontal, musculos que são innervados como veremos adeante pelo facial superior, isto é, para os que acceitam esta divisão do facial em superior e inferior. O núcleo bulbar do facial innerva somente os musculos inferiores da face. Testut admitte que o 21 facial superior tem nucleo proprio, assim como o facial inferior. O nucleo do facial superior, o que innerva os tres musculos precitados que são o orbicular das palpebras superciliar e frontal foi considerado como sendo commum com o nucleo do motor ocular externo. Testut é contrario a este modo de pensar. As experiencias minuciosas do eminente Mendel, feitas em coelhos e cobayas, extirpando as duas pal- pebras, entrando nesta extirpação os musculos superciliar e frontal, e verifica, vários mezes depois, quando existe a degeneração esperada, que o nucleo do facial e do oculo motor externo são intactos, posto que o nucleo do oculo-motor commum soffre uma pequena atrophia em sua parte posterior. Alem disto o arrancamento do oculo-motor commum, produzindo a degeneração da maior parte do nucleo do oculo-motor commum, deixa intacto sua extremidade posterior (Obersteiner). Parece pois racional, diz o professor Testut, que o nucleo do facial superior é formado pela porção a mais posterior do nucleo do oculo-motor commum. * Para Mendel passariam essas fibras na faixa 22 longitudinal posterior, deceriam com ellas até ao joelho do facial e se lançariam então no ramo de sahida deste nervo para ganhar definitivamente, pelo ramo temporo-facial, o grupo muscular ao qual pertence. A opinião de Mendel sustentada por uns e re- pellida por outros, não está assentada sobre bases solidas, e recentemente Marinesco(1898), depoisde numerosas secções do facial superior tendo deter- minado chromatolyse na parte inferior, do núcleo clássico do facial, não hesita em collocar neste núcleo, a origem das fibras que innervam os mús- culos superiores da face. Este núcleo para Marinesco é commum aos dous faciaes. Etiologia e classificação Foi certamente Bell, quem primeiro estudou as paralysias do sétimo par, cabendo-lhe como pré- mio a immortalidade, pois hoje paralysia facial tem como expressão synonyma — paralysia de Belb nome pelo qual Graves, o eminente sabio inglez, denominava as paralysias do sétimo par. E’ corrente na sciencia dividirem-se as paraly- sias faciaes em — paralysias periphericas e para- lysias centraes. O prof. Dieulafoy, com o tino clinico que lhe é peculiar, divide-as, segundo a sede da lesão, em quatro grupos. No primeiro grupo colloca o eminente clinico as paralysias periphericas, no segundo trata exclu- sivamente das paralysias intra-temporaes, no ter- ceiro vêm as paralysias bulbo-protuberanciaes, e finalmente no quarto grupo temos as paralysias cerebraes, isto é, de origem cerebral, subdividindo estas ainda em centraes e corticaes. 24 Diz-se que a paralysia é funicular quando o nervo facial é attingido pela lesão depois de sua sahida do buraco estylo-mastoideo; quando, o nervo, por exemplo, é comprimido ou alcançado por qualquer processo morbido na região paroti- diana. O prof. Dejerine divide as paralysias faciaes, em centraes e periphericas. As paralysias periphericas, para o eminente professor, dividem-se em nucleares e infra-nu- cleares, e as centraes em supra-nucleares. A paralysia de causa peripherica pode ser a consequência da alteração do núcleo de origem do facial, ou bem ser produzida por uma lesão no proprio nervo facial, desde seus filetes radiculares até seus ramos periphericos. Quem diz é Dejerine. Quanto á paralysia facil de origem central (pa- ralysia supra-nuclear) pode ser produzida por uma lesão, localisando-se em um ponto qualquer do trajecto dos neuronas do nervo facial, desde o operculo solandico, centro dos neuronas, até suas arborisações em volta do núcleo de origem deste nervo, na região bulbo-protuberancial. 25 Diz-s: geralmente que paralysia funicular é sy- nonyma de paralysia peripherica. Realmente todas as paralysias funiculares são periphericas, mas a reciproca não é verdadeira. Achamos melhor a divisão das paralysias em periphericas ecentraes ; dividindo ainda as centraes, em bulbo-protuberanciaes e em cerebraes, e as pe- riphericas em intra-temporaes e funiculares. São periphericas as paralysias a frigore. Porventura as paralysias intra-temporaes não podem ter como factor etiologico o frio? Respon- demos pela affirmativa. Pelo que fica exposto as paralysias periphe- ricas são as únicas em que o frio pode entrar como factor etiologico. Lembremos, porem, que a ninguém é permit- tido tirar d’ahi a conclusão de que as paralysias periphericas têm como factor unico o frio. Não. Tudo o que lesar o nervo em seu trajecto intra- temporal até as suas ramificações, entra, de certo, como factor nas referidas paralysias. O prof. Berard explica o mecanismo da pro- ducção da paralysia a frigore da maneira seguinte: 26 o frio, actuando sobre o nervo, c mgestiona-o; dessa congestão vem o intumescimento, e sabendo nós que elle tem como caminho o aqueducto de Fallopio, caminho osseo, situado em pleno rochedo, e como tal inextensivel, desse intumescimento, resulta o estrangulamento do nervo no referido canal osseo, e como consequência immediata a paralysia do nervo. Portanto a paralysia a frigore é uma paralysia por compressão. Vimos um caso interessante de paralysia facial peripherica, em um collega nosso, paralysia cujo factor unico fora o frio; o que garantimos, porque o tratamento e a historia pregressa do doente nos levaram a tal conclusão. De perto assistimos o valor do aphorismo: Na- turam morborum curationes ostendunt. A causa, a mais commum dessas paralysias é, incontestavelmente, o frio ; o indivíduo recebendo inopinadamente uma corrente de ar frio, como sóe acontecer, quando passamos bruscamente de um meio cuja temperatura é elevada, para um outro de mais baixa condição thermica, póde, por isso mesmo, contrahir uma paralysia do sétimo par de denominação a frigore. 27 As emoções podem também intervir na pro- ducção das paralysias; tal o caso de que nos fala Trousseau, mostrando-nos um indivíduo que, depois de ter tomado um grande susto, manifestou uma hemiplegia facial. Temos ainda como factores etiologicos das pa- ralysias faciaes diversas outras causas. i O traumatismo entra, embora raramente, quer seja açcidental, quer seja cirúrgico. Um indivíduo recebendo um ferimento na região mastoidéa, e esse ferimento attingindó o facial, é logico que haja paralysia. O traumatismo cirurgfico observa-se todas as o vezes que é preciso intervir lá para as bandas da região parotidiana. Um tumor situado na glandula parotida, exi- gindo a intervenção cirúrgica, sempre traz como resultado a paralysia do lado da face que foi operada. O prof. Tillaux affirma (e isto para elle tem o caracter da evidencia), que todo o cirurgião que diz ter extirpado a glandula parotida, sem lesar o nervo facial, que, como sabemos, se acha situado em pleno tecido glandular, enganou-se redonda- mente. 28 Portanto, para o eminente mestre supracitado, a ntervenção cirúrgica na glandula parotida traz c< mo consequência inevitável a paralysia do lado da face correspondente. Realmente, pensando-se bem, se vê que é diffi- cillimo separar-se o nervo facial numa parotida sã, ou mesmo quasi impossível sem lesar o referido nervo; e muito mais na glandula em que se as- sesta um neoplasma, e na qual o tecido circumvi- zinho inflammado torna ainda mais problemática a integridade do facial. Concordamos com o prof. de Clinica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Paris. A mão, por mais educada que seja, não poupa os filetes nervosos; embora continuem alguns ci- rurgiões a louvar-se de tel-o feito. As fracturas do craneo também podem produzir a paralysia do referido nervo, logo que compro- mettam a integridade funccional do facial. As lesões de vizinhança, actuam, ou por com- pressão, ou por propagação de um processo patho- logico ao tronco do nervo. Citemos em nosso apoio os- abcessos, os tu- mores, as cicatrizes na loja parotidiana, os aneu- rysmas da base do craneo, as exostoses, as 29 affecções do rochedo e das cavidades auriculares, as alterações das meninges. A carie do rochedo, a otite media e mesmo, segundo Craig, a abundancia de cerumem dentro do ouvido, podem provocar a paralysia do facial. Muita vez chega-nos um doente portador de uma paralysia do facial, e depois de um exame minucioso, verificamos que a causa da paralysia é uma otite media desconhecida do doente, tendo-nos passado pela mente, a principio, a supposição de que estavamos deante de uma paralysia cuja causa fora o frio. As vezes mesmo, o doente para ser agradavel, responde pela affirmativa ás perguntàs que lhe são feitas pelo medico. E deante disso, como reconhecer a causa? Sempre temos censurado o modo de interrogar o doente, fazendo ao mesmo tempo perguntas que por qualquer maneira tragam em si concordância do interrogado. Devemos pedir ao doente que nos conte a his- toria de sua moléstia. s Muita vez interrogamos ao nosso doente sobre a existência de tal symptoma, e elle nos responde que sim, que soffre, e minutos depois, relata-nos 30 outro que seria impossível co-existir com o pri- meiro, tendo o medico de presenciar tamanha in- coherencia. Certas moléstias infectuosas, produzindo ne- vrites do facial, são também causa de paralysias. Conhecemos as nevrites infectuosas, na diph- teria, na erysipela, na dothienenteria, no estado puerperal, na escarlatina, e até mesmo no tétanos. Vem ás vezes a paralysia associada ao herpes- zoster. À polynevrite diz Hallion, respeita habitual- mente o sétimo par; porem vemos excepções a essa lei, que não é absoluta. Strumpell e Savage relatam factos de para- lysia facial dupla no curso da nevrite múltipla. Todas as intoxicações, principalmente o satur- nismo, podem trazer como resultado a paralysia do sétimo par. Vimos que as moléstias infectuosas podem produzir paralysias, e isto vem explicar as epi- demias de paralysias faciaes. As paralysias obstétricas estão collocadas ao lado das paralysias traumaticas, quer seja o trau- matismo produzido pelos ramos do fórceps, quer 31 seja produzido mesmo pela compressão do nervo pelas próprias paredes da bacia. Não falamos das paralysias congénitas, que de ordinário, trazem o compromettimento dos orgãos da vizão, e que nos parece devidas á affecção bulbar, também congénita, como pensa Schultze. A herança nevropathica e o arthritismo con- correm incontestavelmente para a producção da paralysia facial. Charcot e Feré consideram a paralysia de Bell, uma verdadeira nevrose, obedecendo ás leis da herança nervosa similar ou de transformação, e podendo juntar-se a outras affecções nevropathicas, com o bocio exóphtalmico, por exemplo. O prof. André, da Faculdade de Medicina de Toulouse, fala-nos de uma senhora attingida de palpitações cardíacas com tachycardia, e cujo estado mental era tal, que trazia os seus paes as- sustados. Diversos médicos que foram chamados para vel-a, pensaram estar deante de uma hypertrophia cardíaca; outros, dentre os quaes o proprio prof. André, suppunham, uma hyperkinesia de origem nervosa, em um estado adiantado de hypocondria. 32 Passaram-se os tempos, e um dia, o referido prof. foi chamado novamente para vel-a. Tinna a antiga doente uma paralysía facial es- querda, contrahida depois de um resfriamento. Curou-se dessa paralysia, não dolorosa, depois do emprego de algumas electrisações faradicas. Algum tempo depois, appareceu a referida se- nhora com uma tumefacção, bastante notável da região thyroidéa. O prof. André diagnosticou então um caso de moléstia de Basedow, que durante vários annos se tinha apresentado com forma frustra, caracté- risada somente pelas palpitações e tachycardia. Alguns mezes depois nova paralysia facial, que cedeu em poucos dias ao tratamento electro-the- rapico. Era ainda muito duvidosa a questão sobre a herança nervosa, no tempo em que André tratou do assumpto. Hoje, examinando-se bem o caso citado, não é difficil de comprehender a significação d’aqueile estado mental que era então para todos e para sua familia um verdadeiro enigma. Na moléstia de Basedow, não são somente os nervos oculares que são paralysados; o ramo motor 33 do trigemeo, o facial, o grande hypoglosso, têm sido encontrados paralysados. O Dr. Espargnat relata o caso de uma moça de 24 annos, attingida ha alguns dias, de uma pa- ralysia facial esquerda classica, complicada de dores nevrálgicas extremamente vivas. As dores eram espontâneas. Era muito nervosa, porem não tinha estigmas de hysteria. f Lastimava-se, além das dores, de uma consti- pação muito rebelde. Curou-se com o tratamento pelas correntes continuas. Essas causas são mais communs no homem que na mulher, na idade adulta que na velhice e na infancia. Logo o sexo e a idade também sofifrem as con- sequências da paralysia do sétimo par. Falemos um pouco da syphilis, como factor da affecção paralytica do facial. As manifestações paralyticas da syphilis, con- forme o tempo decorrido entre a infecção e o apparecimento da paralysia, dividem-se em pre- coces e tardias. E’ precoce quando apparece pouco tempo de- 34 pois da infecção syphilitica; por exempio, num in- divíduo qualquer apparece um cancro syphilitico, dous mezes depois manifesta-se uma paralysia sy- philitica da face. Eis ahi uma paralysia syphilitica facial, precoce. Chama-se tardia, quando apparecem as mani- festações paralyticas depois de muito tempo; dez, vinte annos, isto é, com as manifestações terciárias da syphilis. Das paralysias syphiliticas secundarias, a mais commum é a hemiplegia facial (Fournier). Depois de innumeras observações, o prof. Dieu- lafoy concluiu também que ella é a mais precoce. Eis o resultado de suas observações. A paralysia facial appareceu uma vez no sétimo mez da infecção syphilitica, uma vez no sexto, outra no quarto, quatro vezes no terceiro, sete vezes no segundo, uma vez no primeiro. Portanto, continúa o prof. Dieulafoy, a denomi- nação de precoce é bem applicada á paralysia, porque sua epocha mais commum de apparição é o segundo mez e o terceiro, da infecção sy- philitica. Da paralysia facial syphilitica tardia, existem duas variedades, uma interessando o nervo em 35 seu conjuncto, facial superior e facial inferior, os membros nada soffrendo com isso: é a paralysia facial propriamente dita; outra é a paralysia do facial inferior, conjunctamente com uma paralysia mais ou menos completa dos membros : é a hemi- plegia total. A paralysia facial é raramente generalisada a todo o nervo, na forma tardia, ao passo que na precoce não succede assim. A paralysia facial syphilitica tardia é em termos technicos, um segmento de hemiplegia dissociada (Fournier). E’ ferido pela hemiplegia somente o facial in- ferior, ficando intacto o superior; portanto o doente cerra bem os olhos e não existe epiphora, mas ao mesmo tempo que existe paralysia da face, vemos hemiplegia dos membros : ha portanto lesão cerebral. * * ■' ■ Symptomatologia Tendo diversos ramos collateraes e recebendo anastomoses diversas, o nervo facial não tem uma constituição idêntica em todos os pontos de seu trajecto. Portanto, segundo a sede da lesão do nervo, temos uma symptomatologia muito differente. Uma lesão do nervo facial ao nivel do ganglio geniculado, segundo as noções anatómicas que temos, é capaz de, por si só, produzir uma paraly- sia de todas as funcções do nervo facial. Os musculos da face do lado lesado, perdem, alem de sua motilidade voluntária, sua tonicidade normal; ha ruptura do equilíbrio muscular, á custa do qual, a symetria do rosto se mantém. No estado de repouso, os traços são desviados para o lado são, a comissura labial do lado para- lysacfB é mais baixa que a do lado são, mais approximada da linha mediana, a bocca é obliqua- 38 mente dirigida, os dous lados da face não são symetricos. O nervo facial, sendo o nervo da mi mica, sua paralysia compromette consideravelmente a phy- sionomia do doente. A paralysia do sétimo par imprime ao doente uma fácies própria. O symptoma que chama logo a attenção de quem está deante de um paralytico facial, é a falta de symetria do rosto, tornando-se mais accentuada, quando o doente ri ou chora, ou ainda executa certos actos, em que intervêm os musculos ou grupos musculares innervados pelo facial. Deante desses e de outros signaes, a paralysia total do facial, em consequência de lesão peri- pherica, é de todas as paralysias do referido nervo a de mais facil diagnostico. A pronunciação de certas lettras, principalmente das labiaes,/, b, é imperfeita; a paralysia do buc- cinador acarreta a flaccidçz das bochechas, diffi- cultando a mastigação, permittindo, por exemplo, que os alimentos se accumulem no sulco gengivo- labial. Quando pedimos ao doente que nos mostre a lingua, vemol-a desviada para o lado doente. 39 Para a explicação de tal phenomeno convergem as palavras dos authores diversos. Para Grasset, resume-se o facto na acção, não compensada do musculogenio-glosso; para Hallion na paralysia do estylo-glosso, maneira de ver, a que se allia Joanny Roux. No entender de Hitzig e de Erb é a commissura do labio paralysado que determina o desvio em questão; a commissura approximando-se com effeito da linha media, vem fazer pressão sobre a borda da língua, quando esta está fora da bocca e a impelle assim para o lado são. Dejerine pensando do mesmo modo que Hitzig / e Erb, recorda que, collocada a bocca em sua posição normal, com auxilio dos dedos, a lingua deixa de apresentar o desvio para o lado são; esse desvio, porém, existe em numero limitado de casos, segundo sua própria observação. O lado paralysado parece mais saliente do que o são, com cuja animação contrasta visivelmente, ou no dizer do prof. Dieulafoy, os musculos não se contrahem mais; o frontal não exprime mais a attenção, o pyramidal não annuncia mais a aggressão, o supra-ciliar não exprime mais o soffrimento, o zygomatico não dá mais o signal de 40 alegria, os elevadores da aza do nariz, do labio t superior e o pequeno zygomatico não podem mais traduzir a tristeza, nem o chorar. A pelle da fronte é lisa. Segundo a pittoresca expressão de Romberg, a paralysia peripherica do facial, é o melhor cosmé- tico para dissolver as rugas da senilidade; verdade é, porem, que as do lado opposto se ostentam mais profundas. No segundo tempo respiratório a bochecha do lado paralysado é passivamente levantada pelo ar expellido dos pulmões, o que faz dizer que o doente fuma cachimbo; intervem para isso a pa- ralysia do buccinador de que já fizemos menção. Os movimentos da aza do nariz, que no acto in- spiratorio é levantada activamente, adquirem agora a significação de movimentos passivos, fi- cando deprimidos na inspiração. A ponta de nariz é ligeiramente desviada para o lado são; a abertura nasal é retrahida. Correm taes symptomas sob a dependencia da paralysia dos musculos—transversal, myrtiforme e pyramidal. A paralysia desses musculos que no homem não traz sérios embaraços á funcção respiratória, em 41 consequência de uma certa rigidez das narinas, essa paralysia, dissemos, pode produzir a morte naquelles animaes, como o cavallo, em que a re- tracção das narinas torna a inspiração impossível, produzindo a asphixia. O olho largamente aberto, não se pode fechar porque o orbicular das palpebras é innervado pelo facial; achando-se este paralysado, o levantador da palpebra superior, musculo que recebe sua in- nervação do terceiro par craneano, não tem mais sua acção contrabalançada pela do orbicular. Da acção exclusiva não compensada do ele- vador da palpebra superior, depende, pois, a lago- phtalmia. No estado normal, a direcção do globo ocular-, para cima e para fora, é um phenomeno que acom- panha os movimentos da occlusão palpebral; e isso, que sem exame especial não é percebido no mesmo estado normal, torna-se claramente visivel no caso de paralysia facial. Devemos, entretanto, fazer aqui a restricção pre- cisa de que taes signaes occorrem nos casos de lesão peripherica. A paralysia do orbicular deixando durante o 42 somno, ou melhor, de modo permanente, o globo ocular sujeito á acção irritante dos agentes exte- riores, pode determinar graves lesões da con- junctiva e da cornea, cuja ulceração se torna assim possível; e, segundo affirmação de Spencer Watson, sendo essas complicações de origem mecanica, basta a occlusão artificial das palpebras para fa- zel-as desapparecer. A palpebra superior pode se abaixar ligeira- mente sob o império da vontade, devido talvez a um relaxamento da tonicidade do musculo ele- vador da palpebra superior, uma diminuição vo- luntária de sua tonicidade. A palpebra inferior é ligeiramente revirada e experimenta um começo de ectropion. A abertura palpebral é deformada, o grande augulo do olho toma uma forma mais aguda, as lagrimas não são mais distribuídas uniformemente e nem vão ao seu reservatório normal, em conse- quência da paralysia do musculo de Horner; d’ahi o lacrimejar permanente, isto é, a epiphora. Os musculos externos do ouvido são innervados pelo facial, porem, sendo pouco desenvolvidos no homem, nada traz de apreciável o seu não funccio- namento, 43 No cavallo e nos animaes, emfim, que possuem o pavilhão da orelha bastante desenvolvido, para melhor apanharem as ondas sonoras, os musculos auriculares são bastante desenvolvidos. Os dous pequenos musculos do ouvido medio, que são, o musculo do estribo e o musculo interno do martello, sendo paralysados, trazem signaes importantes para o diagnostico da séde da lesão que produziu a paralysia do nervo. O musculo interno do martello se contrahindo, augmenta a tensão da membrana do tympano, portanto, diminue a amplitude das vibrações e como consequência a intensidade das ondas so- noras. Sendo paralysado o nervo, dá-se o inverso, donde uma exaltação do ouvido do lado doente. Este symptoma é claro nos primeiros dias da moléstia. O musculo do martello paralysado, os ruidos são dolorosamente percebidos. boi bem estudada por Landouzy, essa pertur- bação. O termo, audição dolorosa, é muito proprio. As funcções do musculo do estribo ainda são muito obscuras, apezar de alguns autores, o con- 44 siderarem como antagónico do musculo interno do martello; esse modo de ver/não é admittido sem reservas. O véo do paladar do lado paralysado é mais baixo do que o do lado são, e a anatomia nos ex- plica a razão de ser desse phenomeno. O peristaphylino interno, o palato-estaphylino e o peristaphylino externo são músculos cuja acção normal é de distender o véo do paladar do lado correspondente, são innervados pelo facial; portanto, estando este paralysado, elles ficam sem acção. A uvula pelo mesmo motivo acha-se desviada. Esta é a opinião corrente. Diversas objecções, porem, soffre essa theoria. A physiologia nos demonstra que os musculos do veo do paladar, são innervados pelo pneumo- gastrio e pelo espinhal, e os que pensam assim têm em seu apoio a raridade da paralysia do vêo do paladar, nos casos de paralysia do facial. Gowers e Jackson, em suas observações, nunca no;aram embaraços nos movimentos, e viram so- mente um ligeiro abaixamento do véo do paladar. O véo do paladar não é symetrico em todos os 45 indivíduos, portanto, este signal quando existe, não tem grande valor clinico. Pode-se observar no curso das paralysias do sé- timo par, para o lado da lingua, perturbações sen- sitivas, que consistem, na ausência da sensibilidade gustativa, nos seus dous terços anteriores, do lado paralysado. O doente não queixa-se geralmente desse symptoma, portanto, o medico deve ir em busca de sua existência. Esse symptoma é importante, porque com elle podemos fazer um diagnostico da séde da lesão do nervo. Havendo esse symptoma, a lesão, não nos resta a menor duvida, é situada no trajecto intra-tem- poral do nervo, e a corda do tympano é compro- mettida. Os ramúsculos da corda do tympano que vêm da lingua, encontram o nervo facial na sua entrada no canal de Fallopio, misturando-se com suas fibras, até o ganglio geniculado, deixando ahi o facial, e indo em busca do cerebro por um trajecto ainda pouco conhecido. A sensibilidade gustativa no terço posterior da lingua fica intacta, porque sabemos que esse ter- 46 ritorio é do domínio do glosso-pharyngeo, isto é, do nono par craneano. À sensibilidade geral persiste também, porque é papel do nervo trigemeo. Mas, como actuaria a paralysia da corda do tympano? Segundo Brown-Sequard, modificando a circu- lação da mucosa lingual; segundo o eminente Cláudio Bernard, por sua acção sobre o elemento contractil das papillas, que transformariam suas relações com as substancias sapidas. A diminuição também da secreção salivar que se observa algumas vezes, é devida á paralysia da corda do tympano, que preside á secreção da glandula parotida e á paralysia do nervo pequeno petreo superficial que tem como papel a secreção da glandula sub-maxillar. Pode-se notar também em vez da abolição, uma perversão do gosto. Longet admitte uma hypothese para explicar a fraqueza da acuidade gustativa. Para esse sábio physiologista a seccura da lingua é que produz a diminuição da acuidade gustativa. Perguntamos, quem produziria a secura? Rouget emitte uma outra opinião negando ao 47 facial seu poder sobre a transmissão das impressões gustativas. o Existem ainda theorias diversas que Grasset classifica em tres grupos ou categorias. Em primeiro logar está a theoria de Cláudio Bernard já mencionada acima. A segunda theoria é a seguinte : fibras centrí- petas gustativas pertencendo á corda do tympano, lançam-se no facial, deixando-o logo em seguida, indo se terminar no trone do quinto par ; seriam fibras erraticas do trigemeo. Seria seu trajecto: a) lingual, corda do lym- pano facial até ao ganglio geniculado, grande nervo petreo superficial até ao ganglio espheno-palatino, trigemeo (Schiff); b) lingual, corda do tympano, trajecto centrífugo para as extremidades do facial, depois retrogradação no trigemeo por anastomoses periphericas (Stich). A ultima theoria pertence a Lussana, que con- sidera o trajecto até ao ganglio geniculado egual ao da hypothese de Schiff. D’ahi as fibras gustativas ganham o bulbo pelo nervo intermediário de Wrisberg. Para Mathias Duval, que concorda com essa maneira de ver, o nervo intermediário iria ao 48 centro bulbar d :> glosso-pharyngeo, do qual elle representaria finalmente uma raiz erratica. Os factos clinicos ainda não provaram a veraci- dade dessas theorias, não obstante parecer-nos que os embaraços da gustação pertencem aos casos em que a lesão reside entre o ganglio geniculado e a corda do tympano. Nas paralysias faciaes têm sido observados phe- nomenos dolorosos que podem preceder as mani- festações paralyticas. Excepcionalmente ellas adquirem uma violência considerável; é a paralysia facial dolorosa bem descripta por Testaz em sua these. Seria frequente achar-se associada na paralysia facial rheumatica, uma hyperesthesia cutanea pas- sageira, na metade da face paralysada. Quem diz é Franckl-Hockvart. Este auctor encontrou em 20 casos de observação, cinco dolorosos. Pode também, em vez da paralysia dolorosa, existir uma anesthesia em todo o território para- lysado. Esses phenomenos sensitivos, acham explicação na participação do trigemeo, pois os filetes termi- naes deste nervo, se anastomosam, com effeito, com 49 os do facial, facto este demonstrado pela physio- logia experimental. Existe também, ao lado dessas perturbações, compromettimento dos vasos motores, traduzindo-se por um ligeiro rubor da face, por uma elevação thermica. Broadbent encontrou, para o lado das palpebras, verdadeiras turgescências. A experiencia de Straus, comparando o retar- damento da sudação, pela pilocarpina nos dous lados da face, em caso de paralysia facial peri- pherica, chegou á conclusão, de que o retarda- mento é maior do lado paralysado. Este phenomeno gravissimo, pertence ás formas graves, em que a reacção de degeneração é ma- nifesta. Windocheid fala-nos de dous casos de hy- perhydrose facial unilateral, coincidindo com uma paralysia facial peripherica do mesmo lado. A experiencia de Straus, é um bom meio de diagnostico das paralysias faciaes. Toda a paralysia facial, em que houver um retardamento, de um a tres minutos, da sudorese, provocada por uma injecção de pilocarpina. do lado paralysado, é, podemos garantir, uma para- 50 lysia facial peripherica; porque nas paralysias centraes, esta experiencia sempre é negativa. Quando a lesão, é cie origem cerebral, a reacção sudoral é egual nos dous lados. Falamos acima em reacção de degeneração, como meio de diagnostico e. prognostico das pa- ralysias do sétimo par. Consiste a reacção de degeneração, nome este creado por Erb, n’um conjuncto de modificações quantitativas e qualitativas da excitabilidade dos nervos e dos musculos, verificadas, á principio nas nas nevrites periphericas, e constatadas depois, também em outras condições, principalmente, nas affecções que attingem os cornos anteriores da medulla. O ponto de partida das numerosas pesquisas, que terminaram pelo estabelecimento da reacção de degeneração, pode ser reputado ás observações, nas quaes Baierlacher, assignalava o contraste formado pela abolição da excitabilidade faradica, e a conservação, augmento mesmo, da excitabi- lidade galvanica dos musculos, em casos de pa- ralysia facial. O typo da reacção de degeneração é fornecido 51 pelas nevrites degenerativas produzidas por trau- matismos graves dos nervos. Encontramol-o também nas nevrites periphericas, de uma origem difíerenteparticularmente, na pa- ralysia facial e algumas vezes em affecções dos cornos anteriores da medulla. A reacção de degeneração completa, em seu periodo de estado, acha-se caracterisada por modi- ficações quantitativas e qualitativas da excitabili- dade electrica dos nervos e dos musculos, man- tendo-se differentemente em relação a essas duas ordens de orgãos. A excitabilidade faradica e gal- vanica dos nervos é abolida; a excitabilidade fara- dica dos musculos é egualmente abolida; porem a excitabilidade galvanica é conservada e mesmo geralmente augmentada durante algum tempo, embora mais tarde diminua. Ainda mais, é ella alterada qualitativamente, no sentido de que as contracções produzidas, já não são rapidas, tornam-se lentas, preguiçosas e que a formula normal da excitação galvanica acha-se modificada, NFC tornando-se egual ou inferior aPFC. • Nos nervos, nos primeiros momentos que seguem á lesão, a excitabilidade faradica e a excitabilidade 52 galvanica sao geralmente augmentadas; porém este augmento é transitório. Tempos depois, vem a diminuição da excitabi- lidade, que progride, do logar da lesão para a pe- ripheria, de maneira que a excitabilidade faradica e galvanica do nervo se acham abolidas, conforme os casos, do quarto ao decimo segundo dia. Durante o periodo de estado, a abolição da ex- citabilidade persiste. No periodo de declínio, a diminuição da exci- tabilidade conserva-se constante, se a degeneração do nervo é definitiva; se, ao contrario, a regene- ração se faz, vê-se a excitabilidade faradica e gal- vanica restabelecer-se pouco a. pouco. Portanto, é isso bommeio para o diagnostico e prognostico das paralysias. A restauração da excitabilidade electrica do nervo, é habitualmente precedida do reappareci- mento da motilidade voluntária (Duchène, de Boulogne), particularmente attribuida por Erb á reparação do cylinder-axil, que precede a regene- ração da myelina. Nos casos de reacção de degeneração, a excita- bilidade galvanica dos musculos, se produz, tanto mais facilmente, quanto uma quantidade maior de 53 fibras musculares se acha submettida á acção da corrente. A reacção de degeneração se observa também nas nevrites de origem interna: nevrites toxicas (alcoólicas, arsenicaes, saturninas, mercuriaes, etc.), nevrites infectuosas (nevrites consecutivas á febre typhoide, ao typhus, á diphteria, á escarlatina, á variola, ao beriberi, nevrites* observadas no curso das tuberculoses, polynevrites diversas), nevrites dyscrasicas (nevrites do diabetes), etc. Nessas diversas formas de nevrites, a forma e o gráo da reacção de degeneração se mostram ge- ralmente em relação com a gravidade das alte- rações. Observa-se também a reacção de degeneração nas diversas formas da poliomyelite anterior, naes- clerose lateral amyotrophica, na syringomyelia, na hematomyelia, quando o foco hemorrhagico comprime os cornos anteriores da medulla. Vemos, portanto, que a reacção de degeneração se encontra nos casos em que o neurona motor peripherico está alterado, ou ao nivel das cellulas, ou em um ponto qualquer de seu prolongamento, desde os filetes radiculares dos nervos, até sua ex- tremidade peripherica. 54 Sob o ponto de vista do prognostico, a reacção de degeneração fornece tainbem importantes indi- cações, subordinadas, entretanto; á natureza da moléstia. De uma maneira geral, a exístencia da reacção de degeneração completa indica alterações graves, talvez incuráveis, ou que custam muito a se re- pararem. A reacção parcial indica alterações menos pro- fundas, cujo prognostico, portanto, é muito mais favoravel. A ausência da reacção de degeneração traz como resultado pouca gravidade na paralysia. Se na paralysia facial, a excitabilidade electrica é normal, o prognostico é muito favoravel; a cura durará duas ou tres semanas. Se a reacção de degeneração parcial existe isoladamente, tratar-se- ha de uma forma media, cuja duração não pas- sará de um a dous mezes. Se encontrarmos uma reacção de degeneração completa, teremos uma forma grave, que poderá durar um anno e até mais. A constatação da reacção de degeneração com- pleta não traz como consequência a incurabilidade, como, á primeira vista, nos parece. Diagnostico A paralysia facial peripherica não deve ser con- fundida com as paralysias faciaes de origem central. Em geral, nas paralysias de origem central, o facial superior parece ser respeitado; o orbicular das palpebras é, pois, intacto, e o doente pode fechar o olho do lado paralysado, tão bem quanto do lado são. Quando o facial é attingido em sua parte peri- pherica, ha, ao mesmo tempo, paralysia do facial inferior (abaixamento da commissura labial, riso asymetrico) e paralysia do facial superior (dimi- nuição das dobras voluntárias da fronte, impossi- bilidade de fechar voluntariamente o olho, lago- phtalmia). Quando a lesão tem por séde as vias centraes do facial,"‘existem os signaes da paralysia do facial inferior, porem o facial superior se nos apresenta intacto e o doente fecha bem os olhos, 56 Para Recamier, a integridade do facial superior é um bom signal da origem central da paralysia. Essa integridade do facial, diz Grasset, não é completa. Se o doente pode fechar bem os olhos, simultaneamente, elle não pode ma s voluntaria- mente fechar o olho do lado paralysado (Potain). E’ o signal de Revilliod. Mesmo se o doente fecha os dous olhos simul- tânea e energicamente, o medico, para ve- rificar o compromettimento do orbicular do lado da face paralysada, colloca o dedo pollegar na palpebra superior e eleva-a com mais facilidade no lado paralysado (Legendre). Pelo exposto, vemos que na hemiplegia cerebral, o facial superior não é tão intacto, como um exame superficial deixa suppôr. A paralysia latente e ligeira do facial superior é um bom signal para o diagnostico de uma paralysia de origem cerebral. Como explicar esta acção dissociada d uma lesão hemispherica sobre o facial superior e sobre o facial inferior? Diversos autores pretendem explical-a. 57 Todas as fibras do facial não sc entrecruzam, e as fibras do orbicular são directas. Seria preciso, então, que na hemiplegia ce- rebral existisse uma paralysia directa do orbicular (Vulpian). O facial não seria a unica fonte de innervação do orbicular; o grande sympathico interviria também (Cl. Bernard), e por sua acção persistente, explicaria a integridade relativa deste musculo. Porem, então, esta mesma integridade relativa observa-se-ia na paralysia peripherica do tronco do facial (Larcher). A integridade do orbicular entra na integridade de todos os musculos que actuam habitualmente dos dous lados, ao mesmo tempo. Ha, para assegurar esta synergia bilateral, commissuras physiologicas que proporcionam um certo movimento, quando a lesão é unilateral. Mas os movimentos do facial inferior são bila- teralmente symetricos e, por conseguinte, não se comprehende porque os dous faciaes, o superior e o inferior, não se portam do mesmo modo, quando a lesão é hemispherica (Broadbent, Charcot, Mi- rallié). 58 Para Landouzy e Grasset, existe um centro cortical distincto para o facial superior e outro para o facial inferior, sendo um na região parietal retro-rolandica, na dobra curva, e o outro para baixo da região rolandica. Segundo esta theoria, bem se comprehende que o facial superior possa ser poupado em uma lesão hemispherica attingindo os nervos dos membros e o facial inferior. Mirallié cita factos em que o facial superior fora attingido, sendo a região rolandica a séde da lesão. Joanny Roux explica muito bem tudo isso, admittindo que o facial superior tem um duplo centro de innervação: um centro posterior com os outros nervos do olho (o facial superior sendo um nervo protector do olho) e um centro ro- landico, com os outros nervos do corpo (o facial superior sendo também um nervo motor da face em geral), centro sensorio-motor e centro sensi- tivo-motor, o facial inferior, não tendo senão um centro sensitivo-motor. Assim, podemos comprehender que o facial in- ferior e parcialmente o facial superior, possam ser attingidos por uma lesão nos hemispherios. Depois de tantas theorias, ficamos indecisos, não 59 obstante parecer-nos a mais justa e mais lógica, a theoria do eminente Joanny Roux. Com esta theoria explicaremos bem esses phe- nomenos tão complicados, em que tantos neuro- pathologistas de folego e physiologistas de nome têm ficado em completa divergência. Tudo isso não é mais do que o resultado da difficuldade extrema, que encontra, quem ca- minha por um terreno tão litigioso, qual o das localisações cerebraes. A physiologia cerebral não chegou ainda ao aperfeiçoamento desejado. Desejamos a esse ramo tão importante das sciencias medicas, um futuro brilhante, e que elle deixe de ser uma cousa hypothetica e entre nos domínios dos factos provados. Falemos agora um pouco, sobre o diagnostico da sede da lesão. A lesão localiza-se ao nivel da emergencia da corda do tympano ou acima (parte inferior do aqueducto). A paralysia da face juntam-se as perturbações do gosto e da secreção salivar. Sabemos que a corda do tympano destaca-se do facial, um pouco acima do buraco estylo-mas- toideo, atravessa a parte superior da caixa do 60 tympano, sahe do rochedo, depois anastomosa-se como o nervo lingual, e, por seu intermédio, vae dar a sensibilidade gustativa ao terço anterior da mucosa lingual. A lesão do facial, acima *de sua emergencia, trará como consequência a perda do gosto no ter- ritório correspondente. O doente não tem mais noção dos sabores. A lesão localiza-se ao nivel ou acima da emergencia do nervo do musculo do estribo. Ahi apparecem as perturbações do ouvido. O ouvido torna-se de uma sensibilidade anormal, os sons, um pouco fortes, provocam uma sensação desagradavel. Esplicam-se da maneira seguinte esses phe- nomenos. O apparelho dos ossos do ouvido, é mantido em equilíbrio, pelo antagonismo dos dous musculos seguintes: 1?, o musculo do estribo, innervado pelo facial, cuja inserção «se faz de maneira tal, que sua contracção tende a libertar a platina do es- tribo, internada na janella oval, e a diminuir, por- tanto, um pouco a pressão labyrinthica; 2?, o musculo do martello é innervado pelo trigemeo, e por sua contracção, lança para o promontorio, o 61 pequeno osso, no qual elle se insere e produz, por consequência, a tensão do tympano e o augmento da pressão intralabyrinthica, introduzindo a platina do estribo na janella oval. Que o primeiro destes musculos venha a ser physiologicamente supprimido pela paralysia fa- cial, a acção do musculo do martello innervado pelo trigemeo estando intacta, tornar-se-á então preponderante; toda a cadeia dos pequenos ossos será arrastada para a parede interna da caixa, e o estribo se introduzirá na janella oval, augmentando assim a pressão labyrinthica. Nessas condições, cada som, cada ruido, que põe em jogo a accom- modação auricular, provoca a contracção do mus- culo do martello, e, como esta contracção não é compensada pela do musculo antagonista, resultam vibrações de uma amplitude anormal, que tornam a audição dolorosa. A tensão exagerada da cadeia dos pequenos ossos, acompanha-se de ordinário de uma dimi- nuição da acuidade auditiva; mas, em um ligeiro gráo, ella pode contrariamente augmental-a, e é deste modo que explicamos a hyperacousia de que fala Landouzy. Quando se quer contrahir os musculos da face, 62 em caso de paralysia, sobrevem um ruido sub- jectivo de tonalidade baixa. Quem nos diz é Hitzig. Elle attribue este ruido á contractura do mus- culo do estribo. Benhardt, o explica pela contractura deste mus- culo, ao qual se irradia o influxo nervoso, que não pode chegar até os musculos da face, em sua metade paralysada. Este phenomeno não tem muito valor para o diagnostico, porque podemol-o encontrar em indi- víduos sãos. Podemos verificar também na paralysia faciàl, uma diminuição considerável da audição, por outro mecanismo; é quando a lesão se assesta no con- ducto auditivo interno (tumor aneurysma, fractura do rochedo etc.). O sétimo e oitavo pares, que não estão ainda separados, são simultaneamente com- primidos, no estreito canal osseo, onde caminham, lado a lado. A lesão se localisa ao nivel ou acima do ganglio geniculado. O nervo grande petreo superficial é então attingido. Ha compromettimento da metade correspon- 63 dente do véo do paladar, que se traduz por um abaixamento. O véo do paladar não se eleva durante a phonação. O pilar anterior do lado correspondente, fica immovel. A uvula é desviada. A trompa de Eustaquio, não se abre mais du- rante a deglutição e sua occlusão, contribue para augmentar as perturbações do ouvido, já men- cionadas. Rethi e Lermoyez negam o compromettimento do véo do paladar na paralysia facial. A lesão localisa-se no conducto auditivo interno. A paralysia complica-se de uma surdez, muito pronunciada, do lado paralysado, por compressão do nervo auditivo. Se a lesão localisa-se perto do núcleo de origem do nervo, em seu trajecto radicular, em meio a protuberância, a paralysia faciab acompanha-se de uma hemiplegia alterna. Nestes casos a lesão interessa, frequentemente, o feixe pyramidal, e é por isso que os musculos do lado opposto são paralysados. Alem da hemiplegia alterna, encontramos ás 64 vezes uma verdadeira hemianesthesia também al- terna. A hemiplegia alterna, ou syndroma de Millard- Gluber, é caracterisada, pela paralysia dos membros de um lado do corpo, e a paralysia da face do lado opposto. A paralysia facial, sendo do typo das periphericas, apresenta modificações da contractilidade electrica. O syndroma de Millard-Gubler é caracteristico da hemiplegia bulbo-protuberancial. A paralysia facial, será do lado da lesão, e a dos membros do lado opposto. O syndroma de Millard-Gubler, pode, em alguns casos, complicar-se de paralysia do sexto par, e ainda de anarthria, por paralysia do decimo se- gundo par. A physionomia do syndroma de Millard-Gubler, é modificada, em certos casos pela adjuncção de symptomas dependentes de alterações da região protuberancial superior. Baylac cita a observação de um homem de 28 annos, que apresentava diminuição da acuidade auditiva, dysarthria e principalmente perturbações da motilidade voluntária (asynergia cerebellosa, latero-pulsão, vertigens) ao mesmo tempo que 65 uma paralysia do oculo-motor externo e facial di- reitos, uma hemiplegia do lado opposto. A hypothese de uma lesão, em foco, situada na espessura da protuberância e agindo por com- pressão, parece explicar todos os symptomas constatados no doente citado. Quanto a natureza da lesão, parece-nos ser de origem syphilitica, porque o medicamento espe- cifico, deu bom resultado, isto é, curou-o. Se existe compromettimento da fita de Reil, a hemiplegia alterna por lesão protuberancial, pode acompanhar-se de hemianesthesia também alterna. Alem disso, no syndroma de Millard-Gubler, se pode abservar uma anesthesia da metade corres- pondente da face, quando os filetes radiculares da grossa raiz do trigemeo, ou o núcleo desta raiz participam da lesão. A paralysia facial peripherica infra-nuclear, seja qual fôr a causa, é commummente unilateral. (Dejerine). Sendo a forma bilateral raramente observada. A paralysia nuclear é muitas vezes bilateral, poliencephalite superior e inferior, e é associada 66 frequentemente ás paralisia de outros nervos cra- neanos. Como sabemos, para Dejerine as paralysias in- franucleares e nucleares, são classificadas dentre as paralysias periphericas, cousa que, a primeira vista, nos parece absurda; porem, raciocinando bem, vemos que o moderno mestre, não está com- pletamente sem razão. Para o mestre citado, o centro está no córtex, portanto, só são centraes as paralysias cujas lesões se assestem acima do núcleo; e é baseado nisto que elle as chama centraes, isto é, supra-nucleares. Nas paralysias faciaes de origem central ou supra-nucleares, a lesão cerebral se localiza no dominio do facial inferior; o orbicular das pál- pebras e os musculos da fronte parecem intactos. Esta integridade não é absoluta, como vimos acima. Realmente, são levemente paralysados, mas com um exame attencioso, pode-se notar per- turbações manifestas do tonus destes musculos no repouso, assim como a força e amplitude de seus movimentos. O olho do lado paralysado, no começo é mais aberto, que o do lado são; o supercilio tende a 67 posição horizontal, e, portanto, sua curvadura normal acha-se quasi desfeita. Na parte relativa á symptomatologia já apon- tamos as theorias, que explicam a integridade re- lativa dos musculos innervados pelo facial su- perior. Se pedirmos ao doente que eleve os supercilios, vemos que elle levantará mais rapidamente o do lado são. Um phenomeno constante na paralysia facial peripherica é o seguinte: quando o olhar do doente se dirige para baixo, a palpebra superior se dirige para baixo também, ao mesmo tempo que o globo ocular, ficando, entretanto, mais elevada que a do lado são. Desde então, se pedirmos ao doente para fechar fortemente os olhos, vemos a palpebra do lado paralysado elevar-se. Este phenomeno, em apparencia paradoxal, é mais nitido, quando a paralysia do orbicular é mais completa. Um phenomeno analogo, porem, menos pro- nunciado, observamos na palpebra inferior, que se eleva durante a occlusão, e desce, no olhar para baixo. 68 Este phenomeno se explica facilmente, pelos laços anatómicos, que unem as palpebras, aos musculos rectos, superior e inferior e os tornam, em um certo limite, solidários com seus movimentos. A contractura, pode ser o termo final das pa- ralysias de origem cerebral. Em regra geral, segundo os clássicos, o facial inferior seria unicamente compromettido na he- miplegia, o facial superior, o sendo excepcional- • mente. Pugliere e Mills, Mirallié e Dejerine, são con- trários a esse modo de pensar, e dizem que na hemiplegia é regra a paralysia do facial superior. Não nos resta a menor duvida, que ella seja muito menos accentuada no facial superior. O olho é mais aberto, do lado paralysado, a principio; porem, mais tarde, é menos que o do lado são, o que seria para Mirallié, devido a uma fra- queza de tonicidade do elevador da palpebra. A tonicidade do superciliar é diminuída, não nos resta a menor duvida. Não negamos que a paralysia do facial superior, seja menos impressionavel para o observador; ella é muito menos accentuada que na paralysia facial peripherica, e, neste ponto de vista, a integridade 69 do facial superior, ainda continua a conservar o seu valor para o diagnostico das paralysias de origem cerebral. A contractura apresenta-se geralmente nos musculos innervados pelo facial inferior. E’ excepcional no dominio do facial superior Na paralysia, cuja causa é uma lesão cortical, sub-cortical, capsular ou peduncular, portanto de origem central, os reflexos, principalmente os da cornea, são conservados, ao passo que na variedade peripherica (Dejerine), istoé, nucleares e infra-nu- cleares, são abolidos. Na paralysia facial central, os movimentos reflexos da mimica, como o rir e o chorar, são con- servados, posto que isto não se dá na peripherica. A contractilidade electrica é normal na paralysia facial de origem cerebral. Na hemiplegia hysterica, a paralysia facial não é rara, e se localiza quasi sempre no facial inferior. O diagnostico differencial entre uma paralysia facial hysterica e uma paralysia facial organica, não é dos mais fáceis, á primeira vista. A exploração electrica dos musculos paralysados tem muito valor em taes casos. Verificaremos sempre a conservação da contrac- 70 tilidade faradica de todos os musculos attingidos, seja qual fôr o gráo da impotência motriz. Alem deste signal, encontraremos outros de grande valor. Temos um signal importante tirado da perda da sensibilidade electro-muscular. O musculo paralysado se contrahe, e sua con- tracção não é dolorosa; qualquer que seja a inten- sidade da corrente, ella não é sentida. A reunião desses dous caracteres basta, segundo Duchenne, para estabelecer o diagnostico da pa- ralysia hysterica e a distinguir das outras varie- dades de paralysias. A conservação da contractilidade faradica, não nos resta a menor duvida, é de um grande valor para um diagnostico differencial; porem, o eminente Duchenne, permitta que discordemos um pouco do mestre, porque sua constância não é tal, que seja signal pathognostico. Briquet, Bénédikt, Helot, citam exemplos de paralysias verdadeiramente hystericas, que eram acompanhadas de diminuição notável, ou mesmo de perda absoluta da contractilidade electrica. Citam-se exemplos, em que a sensibilidade tem conservado toda sua integridade na região para- 71 lysada; mas, no maior numero dos casos, as pertur- bações do movimento se accompanham de uma lesão mais ou menos profunda da sensibilidade. A hyperesthesia é um facto raro. A variação da intensidade é um dos caracteres mais seguros da paralysia hysterica, em opposição com o qne se passa nas paralysias organicas. De um dia a outro, ou mesmo, em um espaço de tempo mais curto, não é raro vêr-se o estado das forças de uma região paralysada se modificar. As paralysias devidas a uma lesão organica do cerebro, podem se approximar das paralysias hys- tericas, pela persistência da contractilidade ele- ctrica; porem, ellas distinguem-se pelo gráo da pa- ralysia que é sempre intenso, pela raridade da anesthesia cutanea. Nas paralysias organicas por lesão cerebral, temos que ver, se ellas são devidas a uma lesão do córtex, ou a uma lesão das partes centraes dos hemis- pherios. As paralysias corticaes são as que ofTerecem as maiores analogias com as paralysias hystericas: com effeito, estas paralysias são limitadas, incom- pletas, transitórias e variaveis. Estas paralysias são observadas nos amollecí- 72 mantos cerebraes superficiaes, na meningite, na paralysia geral. O diagnostico com as paralysias faciaes peri- phericas, pode ser feito por meio da reacção de degeneração. Quando a paralysia facial vem acompanhada de uma hemiplegia alterna, podemos, pela abolição dos movimentos reflexos e pela topographia espe- cial da anesthesia, em relação com a distribuição do nervo affectado, fazer o diagnostico. Os auctores que têm buscado penetrar na causa da paralysia hysterica, tem-na collocada nos pontos os mais variados do systema neuro-mus- cular. Para Brodie, Romberg, Hasse,Winslow, Franque, a paralysia é o resultado de uma perturbação da innervação cerebral e de uma falta de impulsão motriz. Esta theoria se apoia: primeiro, sobre a debili- dade bem conhecida das faculdades intellectuaes, principalmente da attenção e da volição nos hys- tericos; segundo, sobre a cura súbita, sob a in- fluencia de uma excitação psychica viva. Para Valerius, a condição pathogenica locali- sar-se-ia no systema muscular somente, e esta con- 73 dição consistiria no enfraquecimento da polaridade electrica dos tnusculos paralysados. Esta interpretação, apoiando-se sobre a exis- tência das correntes musculares demonstradas por Dubois-Raymond, não passa de uma simples hypothese. Landouzy rejeita egualmente a origem central e crê em uma causa localisada no apparelho nervoso e muscular das partes affectadas. Macario, Valentiner, pensam egualmente em uma lesão exclusivamente peripherica; lesão pu- ramente dynamica, para Macario, lesão por falta de nutrição, para Valentiner. Piorry, Macario, Gendrin, Leroy d’Etiolles, attribuem a paralysia ao desapparecimento do influxo nervoso, depois do ataque. A medulla seria o centro nervoso esgotado, e esta opinião repousaria sobre a experiencia phy- siologica que consiste em excitar pela galvanisação a porção lombar de uma rã convenientemente pre- parada. No fim de um certo numero de excitações, os estremecimentos dos membros inferiores tornam-se cada vez mais fortes e cessam mesmo completa- 74 mente, para reapparecerem no fim de alguns instantes de repouso. Esta theoria é, pelo menos, insufficiente, pois que ella não trata senão das paralysias que seguem os ataques. Para Brown-Sequard, a paralysia hysterica não seria senão uma paralysia reflexa, devida ás alte- rações do utero e de seus annexos. Esta theoria é insustentável. Finalmente uma ultima theoria mixta, liga a paralysia ao mesmo tempo ao centro e á periphe- ria do systema nervoso. E’ a opinião de Henrot, Benedict e Lebreton. Voltemos ao assumpto. Existe um outro syndroma da paralysia alterna motriz, caracterisado por uma hemiplegia vulgar (face comprehendida) de um lado, e paralysia de um ou vários ramos oculo-motores do outro. E’ o syndroma de Weber. E’ a hemiplegia alterna superior ou pedunculo- protuberancial. A denominação de syndroma de Weber foi dada por Charcot em 1881, porem Astros mostrou em 1894 que Gubler tinha descripto este syndroma quatro annos antes de Weber. 75 Chamemol-o, portanto, syndroma de Gubler- Weber. A paralysia do oculo-motor commum pode ser completa e comprometter toda a musculatura in- terna e externado olho; ou incompleta e, portanto, interessar a musculatura interna, ou a musculatura externa, separadamente. São quasi sempre estas paralysias devidas a um amollecimento ou hemorrhagia peduncular. A lesão feriu o feixe motor, não entrecruzado ainda, donde a hemiplegia total do lado opposto; e na sua sahida do nevraxo, o nervo oculo-motor que se distribue ao olho do mesmo lado que a lesão. Quando os membros são paralysados de um lado, o facial e o hemi-oculo-motor do outro, temos o typo Foville do syndroma Millard-Gubler. Neste typo, a lesão tem como séde a parte in- ferior da protuberância. Quando os membros e o facial são paralysados de um lado e o hemi-oculo-motor do outro, temos o typo Foville do syndroma de Weber, ou melhor, do syndroma de Weber-Gubler, e então a lesão está situada na parte superior da protuberância. Como sabemos, o hemi-oculo-motor se entre- cruza, a principio, na parte superior da protube- 76 rancia, o facial em baixo da protuberância, e o feixe dos membros, mais abaixo ainda, isto é, no bulbo. Donde os tres syndromas conhecidos : primeiro, syndroma peduncular — paralysia cruzada do hemi-oculo-motor, do facial e dos membros; se- gundo, syndroma protuberancial superior,—éo syn- droma conhecido geralmente pelo nome deWeber, que consiste na paralysia directa do hemi-oculo- motor, e cruzada do facial e dos membros; terceiro, syndroma protuberancial inferior, — é o syndroma clinico de Millard-Gubler, que consiste em para- lysia directa do facial, cruzada dos membros. Ainda existem outros syndromas, como sejam o de Benedict e o de Combe. Esses dous syndromas differem dos dous últimos citados acima, pela presença do tremor nas partes affectadas. Actualmente é acceita a opinião emittida por Kahler e Pick em 1879, que os movimentos post- hemiplegicos são dependentes da irritação do feixe pyramidal em um ponto qualquer de seu trajecto das cellulas pyramidaes ás cellulas medullares. Se o feixe pyramidal é completamente des- truído, produz-se uma hemiplegia completa com 77 hemicontractura posthemiplegica permanente e incurável. Se o feixe pyramidal é unicamente irritado por uma lesão de vizinhança, então apparecerá a hemiparesia com hemicontractura ligeira e hemichoréa posthemiplegica. Quando existe a coincidência da hemiplegia com hemianesthesia, podemos concluir que a lesão se acha localisada na capsula interna. Sabemos que o feixe pyramidal tem um trajecto medullar, mesocephalico e cerebral. As lesões do feixe pyramidal medullar não nos pertencem, porque a face conserva-se intacta. Quando no feixe pyramidal cerebral, se vem localisar a lesão, temos as convulsões em uma hemiplegia direita, a aphasia e as perturbações intellectuaes. O feixe pyramidal mesocephalico divide-se em trajecto bulbar, protuberancial e pe- duncular. Quando a lesão se localisa no bulbo, ao nivel da oliva, observa-se a hemiplegia alterna inferior, ou syndroma de Revilliod-Goukowski. Quando é o feixe pyramidal protuberancial que é lesado, temos o syndroma Millard-Gubler. Quando o feixe pyramidal peduncular é lesado, 78 caracterisa-se a lesão pelo syndroma de Weber quasi sempre. Sabemos qne ao nivel do pedúnculo cerebral o feixe motor collocado ao pé, é perfeitamente se- parado da fita de Reil. A hemiplegia peduncular é quasi sempre motriz e caracterisa-se, como dissemos acima, pelo syn- droma de Weber: de um lado hemiplegia, do outro o oculo-motor commum é paralysado. Esta paralysia pode ser completa e interessar toda a musculatura do olho, ,ou incompleta e não ferir senão a musculatura interna, ophtalmoplegia in- terna, ou a musculatura externa, ophtalmoplegia externa completa; ou mesmo somente alguns mús- culos externos, ophtalmoplegia externa incompleta. O syndroma de Benedict, como seu nome in- dica, foi estudado pela primeira vez em 1889 pelo professor Benedict, de Víenna. Este autor assi- gnalou uma hemiparesia com paralysia cruzada do motor ocular commum com tremor das partes paralysadas. Segundo Benedict, a lesão localisar-se-ia no pe- dúnculo cerebral ao nivel do núcleo do oculo- motor commum, ou em seu ponto de emergencia. Os factos enunciados por Benedict ficaram pouco 79 conhecidos até 1893, epocha em que Charcot fez na Saipetrière uma lõcção, na qual, lembrando as observações do prof. de Vienna, descrevia sob o nome de — syndroma de Benedict — a paralysia do 3? par, acompanhada de hemiplegia cruzada, com tremores, e apresentava a seus discípulos um homem attingido deste syndroma. Approximando esta manifestação do syndroma de Weber, elle mostrava que o syndroma de Weber era a lesão destruidora, o syndroma de Be- nedict a lesão irritativa do feixe pyramidal pedun- cular. Emfim, em 1900 Gilles de la Tourette e Jean Charcot publicaram ainda dous casos novos, e mostraram que este syndroma não é senão o de Weber com tremores. No caso de Charcot, este autor suppunha uma hemorrhagia meningéa peduncular. Nos dois casos de Gilles de la Tourette, um é interpretado como uma homorrhagia intra-pedun- cular, ooutro éuma poliomesocephalite peduncular febril de Wernicke, provavelmente de natureza infectuosa. O syndroma de Benedict não é pois uma enti- dade mórbida, é essencialmente uma localisação 80 anatómica, nascida sob a influencia de diversas causas, tuberculose, amollecimento, hemorrhagia, poliomesocephalite que por sua séde exactamente li- mitada ao nivel da emergencia ou das origens do motor ocular commum, produz uma paralysia do terceiro par, com uma hemiplegia cruzada, acom- panhada de tremores. O syndroma de Benedict tem uma modalidade própria e pessoal, e isto basta para o distinguir do syndroma de Weber. Ambos acompanham-se de hemiplegia espastica cruzada com ophtalmoplegia; ambos têm como séde uma lesão no pedunculo. A unica differença é o tremor posthemiplegico que caracterisa o syndroma de Benedict. A hemichoréa posthemiplegica, como sabemos, indica uma alteração do feixe pyramidal, alteração que pode se achar em um ponto qualquer de seu longo trajecto, indo da cellula pyramidal do córtex até a cellula medullar. A hemichoréa posthemiplegica indica uma lesão de contiguidade e não de continuidade; ella in- dica uma simples excitação e não uma alteração grave. Não é uma destruição do feixe pyramidal. A differença é, pois, considerável, e isto tem suas 81 razões plausíveis, porque implica um prognostico muito differente. O syndroma de Weber indica uma destruição, o de Benedict uma irritação do feixe pyramidal peduncular. O syndroma de Combe é o syndroma deMillard- Gubler (6? e 7? pares), com hemichoréa; é cau- sado por uma lesão protuberancial como lesão principal, a lesão peduncular en pluie, dissemi- nada, sendo accessoria. E’ um syndroma novo, que o prof. Combe chama — syndroma de Benedict inferior ou syn- droma protuberancial, em opposição ao syndroma de Benedict superior ou syndroma peduncular. Na observação do prof. Combe, a lesão que produzira este syndroma, fora devida a uma polio- mesocephalite hemorrhagica de wernicke, de na- tureza infectuosa. 82 Quadro syftoptico das perturbações fun- ccionaes da paralysia facial í mimica. ! museu los da face v palavra. ' mastigação. musculo de Honner. musculo do estribo. f gustação. 2.o Perturbações seusoriaes indirectamente.) I visão. 3.° Perturbações vaso-motoras. ( secreção sub-maxillar. 4.° Perturbações secretoras < secreção sudoral. (secreção lacrimal (indirectamente) 5.° Perturbações trophicas. 6.° Perturbações da contractilidade electrica. Tratamento Seria estendermo-nos de mais, descrevendo de per sí cada tratamento, e seria um nunca acabar, porque sabemos quão vasta é a etiologia das pa- ralysias faciaes. Conforme a causa, temos o tratamento adequado. Cabe, de certo, á electricidade, um dos papeis mais salientes na therapeutica das paralysias. Serve também como meio de diagnostico e prognostico. Utilisaremos da electro-therapia todas as vezes que nos for possível, isto é, que delia tirarmos re- sultado. Temos encontrado casos de paralysia facial de origem syphilitica, em que os preparados mercu- riaes têm produzido effeitos maravilhosos, verda- deiras resurreições. Vamos descrever detalhadamente o tratamento mais moderno—-o tratamento cirúrgico. 84 Empregaremos o tratamento cirúrgico, todas as vezes em que o tratamento medico for impro- fícuo. O tratamento cirúrgico consiste em anastomo- sar-se a extremidade peripherica do facial, com a extremidade central de um nervo vizinho. Os nervos mais empregados são: o espinhal, o glosso-pharyngeo e o grande hypo-glosso. E’ mais usada a anastomose do facial com o es- \ pinhal, isto é, a anastomose espino-facial. Neste processo une-se a extremidade paraly- sada do nervo facial, com um dos ramos do espi- nhal, em regra geral, nos servimos do seu ramo externo, isto é, o ramo destinado ao musculo tra- pézio. Scháffer, de Edimbourg, praticou a anastomose com o glosso-pharyngeo. Segundo os dados clínicos da histo-physiologia actual do systema nervoso, admitte-se que após a secção de um nervo motor, sua extremidade peripherica achando-se, portanto, separada do seu centro trophico, perca toda a excitabilidade e apo- dere-se delia, uma degeneração chamada walle- riana. Essas modificações se estendem, sobre todo o 85 comprimento do segmento distai, desde o ponto em que foi lesado o nervo, até as suas mais tenues ramificações terminaes. A extremidade central, contrariamente a pre- cedente, conserva-se illesa. Se as duas extremidades do nervo seccionado forem reunidas, os cylindro-eixos, em via de ve- getação, insinuam-se por entre as antigas bainhas de Schwann da extremidade peripherica, chegando dest'arte ás suas ultimas ramificações. A regeneração nervosa seria feita á custa da extremidade sã, que é, como sabemos, a extremi- dade central. Depois disto, a anastomose da extremidade central de um nervo intacto com a extremidade paralysada do facial é admissível. Theoricamente não pode pairar no espirito o mais intransigente a menor duvida. No que diz a pratica, já não succede assim. Nas experiencias feitas, a anastomose tem sido estabelecida immediatamente depois da secção do nervo. Numa paralysia facial antiga não ê a regene- ração do nervo que nos occupa, e sim o estado do musculo, que é preciso se examinar afim de 86 ver se a substancia contractil está degenerada ou se ella é susceptivel de exercer suas funcções. Comprehende-se que estando a contractilidade muscular destruída, toda e qualquer intervenção terá necessariamente resultado nullo. Assim nos diz Munch. As pesquisas de Ballance e Stwart têm como corollario clinico, tirar completamente o prognos- tico da paralysia do estado do musculo e não do estado do nervo, servindo aquelle de criterium da questão. O espinhal escolhido por Faure para effectuar a anastomose com o facial, tem sido adoptado pela maioria dos auctores. Devemos seccionar o facial o mais perto pos- sível do buraco estylo-mastoideo, com o fim de darmos á extremidade peripherica, sobre a qual devemos operar um comprimento tão conside- rável quanto possível, para deste modo facilitarmos as manipulações cirúrgicas. Quanto ao espinhal devemos procurar o ramo que vae ao musculo do trapézio, para procedermos a anastomose. Este ramo preenche o fim desejado. Assim pensam M. Faure, Morestin e M. Villar. 87 No entender de Cushing, a conservação dos fi- letes destinados ao esterno-cleido-mastoideo é dispensável, e portanto elle anastomosa o tronco do facial seccionado com o do espinhal completa- mente seccionado também. Certos auctores, dentre os quaes Ch. Ballance e H. Ballance, preferem a greffe lateral na anasto- mose espino-facial. Elles fazem uma ligeira incisão na bainha con- junctiva do espinhal e entre os lábios dessa incisão inserem o tronco seccionado do facial. Este processo tem a vantagem de evitar a para- lysia do musculo esterno-cleido-mastoideo e tra- pézio. Hackenbruch destacou cerca de dous terços do tronco do espinhal e implantou sua extremidade livre, em uma incisão longitudinal praticada no tronco do facial. Não deixamos de reconhecer nestas operações, os seus defeitos, como sejam a paralysia e atrophia da espadua correspondente. PROPOSIÇÕES 1.* SECÇÃO ANATOMIA DESCRIPTIVA I A arcada crural ou femoral, chamada impro- priamente ligamento de Fallopio, ligamento de Poupart, é uma fita fibrosa, muito resistente, que vae da espinha iliaca anterior e superior, á espinha do pubis. II O annel crural é um largo orificio, que faz com- municar a cavidade abdominal com o triângulo de Scarpa. III O triângulo de Scarpa é o espaço comprehendido entre a arcada crural, o musculo costureiro, e o pri- meiro adductor. ANATOMIA MEDICO-CIRURGICA I A artéria radial é situada no trajecto de uma linha, indo da parte media do cotovello á apophyse esty- loide do radius. II A artéria radial está collocada na bainha do re- dondo pronador. 92 III Não se deve encontrar o nervo radial, quando se liga a artéria radial, porque esta, corno vimos está na bainha do redondo pronador, e aquelle na do longo supinador. 2.a SECÇÃO HISTOLOGIA I O neuronio é formado de um corpo cellular e de prolongamentos. II Os corpos cellulares constituem as antigas cellulas nervosas, e com a parte inicial dos prolongamentos, formam a substancia cinzenta dos centros nervosos. III Certos prolongamentos, são as antigas fibras ner- vosas e formam os nervos e a substancia branca dos centros. BACTERIOLOGIA I Parasita ubiquitario por excellencia, o bacillo de Koch, tem no escarro, a sua residência commum. II Retido nelle, esse bacillo logo se desaggrega’ quando o escarro, já secco, se pulveriza e dissemina na atmospherá. 93 III Nessas partículas pulverulentas o vírus conserva as resistências quasi indestructiveis da sua condição esporular. ANATOMIA E PHYSIOLOGIA PATHOLOGICAS I Os sarcomas são tumores malignos formados de tecidos de substancia conjunctiva. II Ao inverso dos cancros epitheliaes, esta especie de tumores attinge particularmente os indivíduos mocos. III As cellulas dos sarcomas estão em estado de pro- liferação activa e desordenada. 3.a SECÇÃO PHYSIOLOGIA I O nervo optico não transmitte ao cerebro senão sensações luminosas. II Toda excitação mecanica ou electrica do nervo optico é traduzida por um phenomeno luminoso. III E’ por intermédio da retina que a luz tem acçao sobre o nervo optico. 94 THERAPEUTICA I O mercúrio é um metal muito denso, liquido na temperatura normal, e emitte vapores em todas as temperaturas. II O mercúrio combinando-se com o chloro dá o ca- lomelanos e o sublimado corrosivo. III O mercúrio é o especifico da syphilis. 4.* SECÇÃO H YGIENE I Si a terra é, como queria Karl Ritter, o corpo da humanidade e o homem a sua alma, si a doctrina do meio physico, sustentada por Buckle e Taine, assenta em base scientifica, nada ha mais dependente da natureza physica do que o homem. II Buckle admitte que as civilizações são a obra do esforço do homem para domar a natureza e que, quando esta é mais potente, lhe anniquila o espirito de iniciativa. III Nas zonas temperadas a periodicidade das estações dá á natureza tons differentes, alegres na primavera, tristonhos no inverno, e, pelos contrastes, obriga o homem a exercer actividade para precaver-se dos 95 accidentes climatéricos; portanto, a raça deve ser energica, vigorosa, apta para os grandes labores phy- sicos e intellectuaes. MEDICINA LEGAL I Chama-se estupro o acto pelo qual o homem abusa com violência de uma mulher, seja virgem ou não. II Por violência entende-se não só o emprego da força physica, como o de meios que privarem \2 mulher de suas faculdades physicas, e assim da pos- sibilidade de resistir e defender-se, como sejam o hypnotismo, o chloroformio, o ether e em geral os anesthesicos e narcóticos. III O codigo pune quem praticar semelhante acto com a pena de prisão cellular de um a seis annos, salvo si a mulher estuprada for prostituta o que diminuirá a pena para seis mezes a dous annos. S.* SECÇÃO PATHOLOGIA CIRÚRGICA I A arthrite blennorrhagica é uma localisação arti- cular da infecção gonococcica. II Todas as articulações podem sêr attingídas; porem o joelho, principalmente o esquerdo, é o logar de eleição. 96 III Nas formas suppuradas, a arthrotomia precoce é indicada. OPERAÇÕES E APPARELHOS I A autoplastia é a mais bella conquista da cirurgia hodierna. II Na rhinoplastia, incontestavelmente, o melhor methodo é o indiano. III Nas autoplastias "em geral, cabe ao methodo francês a supremacia. CLINICA CIRÚRGICA (2.* Cadeira) I As luxações do maxillar inferior só podem dar-se para deante. II Nos casos de luxação do maxillar inferior, levan- do-se o dedo ao vestibulo da bocca do doente, em busca da borda anterior das apophyses coronoides, encontramos mais facilmente a apophyse do lado luxado. III Para reduzirmos esta luxação, é preciso levarmos a principio 0 condylo maxillar para baixo e depois para traz. CLINICA CIRÚRGICA (1/ Cadeira) I Quando a hérnia obliqua externa é um pouco vo- 97 lumosa e fica estacionada na depressão infundibuli- forme, que corresponde ao orifício inguinal profundo, constitue isto a ponta de hérnia, de Malgaigne. 11 Si o tumor enche todo o canal inguinal sem o transgredir, temos a hérnia intra-inguinal de Boyer, intersticial de Dance, intraparietal de Goyrand. III Quando a hérnia passa pelo orifício externo e faz saliência entre os pilares, temos a hérnia inguino- pubianna de Gosselin ou bubonocele; cabendo o nome de oscheocele ou hérnia inguino-escrotal, quando desce até o escrotum. (3.4 SECCÃO PATHOLOG1A MEDICA I O paludismo apresenta manifestações pyreticas e apyreticas. II A’s pyrexias prendem-se os typos intermittente, remittente e a typho-malaria de alguns auctores. III As manifestações apyreticas constituem as formas larvadas do paludismo. CLINICA MEDICA (2/ Cadeira) I O sopro systolico da ponta do coração é patho- gnomonico da insufficiencia mitral. 98 II Na insufficiencia mitral nota-se a diminuição da bulha diastolica da aorta e reforço do segundo tom pulmonar. III A insufficiencia mitral, é a mais curável dentre as lesões oro-valvulares, maxime em sua forma aguda. CLINICA MEDICA ( i.* Cadeira) I Nos casos de insufficiencia aortica, pela escuta, ouve-se um sopro substitutivo da segunda bulha, na base do coração, á direita do esterno. II A insufficiencia aortica pode ser de origem arterial ou cardíaca; constituindo a primeira, a moléstia de Hogdson, a moléstia de Corrigan a segunda. III E’ commum na insufficiencia aortica, a morte re- pentina, realisando assim, o anhelo supremo dos mortaes: morrer sem padecer. CLINICA PROPEDÊUTICA I Movimentos expiratorios convulsos precedidos e succedidos de violentas inspirações, eis a tosse, II Exprimindo na maioria das vezes, um acto reflexo, consagrado a defeza do organismo no seu esforço de expungir de corpos extranhos ou de productos mor- 99 bidos a superfície dos canaes aereos, a tosse é noutras ocjsiÕes um factor poderoso de espoliação nervosa, impossibilitando o repouso, a alimentação, o somno. III Com a tosse o mesmo succede, que com a dyspnéa, com’a febre, com a inflammação, coma descarga convulsiva do mal comicial, com os vomitos e a diarrhéa da uremia; todos esses processos, num determinado limite, significam uma necessidade, por bem dizer, physiologica, todos elles têm seu pé de positiva utilidade. 7." secçáo MATÉRIA MEDICA, PHARMAC0L0G1A E ARTE DE FORMULAR I Os xaropes são soluções medicamentosas de con- sistência pouco fluida contendo, em geral, dous terços de seu peso, de assucar. II Os xaropes são talvez as preparações pharmaceu- ticas mais empregadas. III Dividem-se os xaropes em simples e compostos, se- gundo elles contêm um ou vários medicamentos. 100 HISTORIA NATURAL AU.: DICA I O pneumococco lanceolado é o microphyto cau- sador da pneumonia lobar. II O micro-organismo pneumonico reveste quas* sempre a figura de diplococco; assim Weichselbaum com muita propriedade o nomeou por diplococcus pneumonia. III Resulta a alludida forma microphytica da juneção em numeros pares de coccos lanceolados ; em cada par os coccos se aífrontam pelas extremidades afi- ladas ; agrupando-se dois a dois, chegam a constituir cadeias, em geral rectilineas e curtas; d’ahi a desi- gnação de Gamaleia: streptococcus lanceolatus Pas- teuri. CHIMICA MEDICA I O hydrato de trimethylhydroxethylenammonio é extrahido da bilis do boi e do porco. II Sua synthese foi realisada por Wurtz, fazendo reagir a trimethyiamina sobre amonochlorhydrina do glycol. III A solução aquosa de chlorureto de trimethylhydro- 101 xethylenammonio, tratada pelo oxydo de prata dá a nevrina. 8.a secção OBSTETRÍCIA I A suppressao das regras é um signal de grande im- portância, quando ella se produz numa mulher moça, habitualmente bem regrada, de boa saude e na qual não se ache nenhuma outra causa da amenorrhéa. II A percepçao dos ruidos do coração, ou dos movi- mentos activos do feto, por meio da auscultação, é o signal de certeza por excellencia de prenhez. III Esta regra soffre excepção quando o feto morre no utero. CLINICA OBSTÉTRICA E GYNEGOLOGICA I À placenta previa traz comsigo um prognostico sombrio para a mãe e o feto. II Chama-se placenta previa a inserção da placenta no segmento inferior do utero. III As causas que produzem a inserção da placenta no segmento inferior são ainda pouco conhecidas. 102 9. a SECÇÃO CLINICA PEDIÁTRICA I A paralysia espinhal infantil sobrevem, ornais das vezes, na convalescença de uma moléstia infectuosa. II Ella pode apresentar-se sob a forma epidemica, haja vista a epidemia de Sainte-Foy, relatada por Cordier. III Esta affecção attinge o seu maximum de frequência na primeira infancia. 10. a SECÇÃO CLINICA OPHTALMOLOGICA I O glaucoma é uma perturbação de nutrição do globo do olho consistindo essencialmente no au- gmento da tensão intra-ocular. II Este augmento de tensão pode sobrevir primitiva- mente ou depois ae uma affecção anterior. III D’ahi ternos duas especies de glaucomas, glau- comas primitivos e glaucomas secundários. 11. a SECÇÃO CLINICA DERMATOLÓGICA E SYPHILIGRAPHICA I • A leucokeratose é uma alteração das mucosas der- 103 micas, caracterisada por um espessamento da mucosa, que toma os caracteres da epiderme, e sua tendencia em se transformar em epithelioma. II Esta affecção tem sido, principalmente estudada na mucosa buccal onde tem recebido vários nomes, como psoriasis lingual, leucoplasia buccal. III Quando a leucokeratose é espessa e cheia de fendas e que se teme o apparecimento imminente de um epithelioma, o melhor tratamento consiste na descor- ticaçao com o thermocauterio. 12.a SECÇÃO CLINICA PSYCHIATRICA E DE MOLÉSTIAS NERVOSAS I As condições de hyperhemia e de ischemia encephalica realizam manifestações diversas das vesanias. I O estado atheromatoso dos vasos cerebraes é causa determinante de certas psychopathias, as loucuras por atheromasia de A. Voisin. III A este estado anatomico dos vasos prendem-se também a melancolia perplexa de Lasègue e os loucos gemedores de Guislain, Visto. Secretaria da Faculdade de Medicina da Bahia, 4 de Outubro de 1904. 0 Secretario Dr. Menandro dos Reis Meirelles.