T Faculdade de Medicina da Bahia T1IESH APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA JE111 <1© Outubro cl© 1008 PARA SER DEFENDIDA POR -Sé/A d? t / ry , »«* Ex-interno eífectivo do Hospital de Santa Izabel, Interno de Clinica Ophtalmologica, Ex-interno do Hospital Militar da Bahia, F.x-auxiliar do serviço especial de Clinica Ophtalmologica do Dr, Guedes de Mello no Hospital da Real Sociedade de Beneficencia Portugueza da cidade do Rio de íaneiro, socio e fundador da Sociedade de Medicina eCirurgia da Bahia, Socio de manutenção e fundador da Bahia Medica NATURAL DO ESTADO DA BAHIA AFIM DE OBTER 0 GRÁO DE DOUTOR EM MEDICINA iiiiiifâfৠValor ria Semeiologia Ocular da Moléstia do Duchenne o sua importância diagnostica no estádio pre-ataxíco CADEIRA DE CLINICA OPHTALMOLOGICA PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curso de sciencias medicas e cirúrgicas BAHIA Typ. do Salvador - Catliedrul 4908 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Director-Dr. AUGUSTO C. VIANNA Vice-Director—Dr. MANOEL JOSE’ DE ARAÚJO LESTES CATHEDRATICOS OS DRS. MATÉRIAS QUE LECCIONAM l.a SECÇÃO Carneiro de Campos Anatomia descriptiva. Carlos Freitas ' • • Anatomia medico-cirurgica. 2. a Antonio Pacifico Pereira Histologia- Augusto C. Vianna Bactercologia. Guilherme Pereira Rebello .... Anatomia e Physiologia pathologicas. 3. a Manoel José de Araújo Physiologia. José Eduardo F. de Carvalho Filho . Therapeutiea. 4. a Luiz Anselmo da Fonseca .... Hygiene. Josino Correia Cotias Medicina legal e Toxicologia. 5. a Braz Hermenegildo do Amaral . . . Pathologia cirúrgica Fortunato Augusto da Silva Júnior . Operações e apparelhos. Antonio Pacheco Mendes Clinica cirúrgica 1.» cadeira. Io-nacio Monteiro de Almeida Gouveia Clinica cirúrgica 2.a cadeira. 6. a Aurélio R Vianna . Pathologia medica. Alfredo Britto Clinica Propedêutica. Anisio Circundes de Carvalho . . . Clinica Medica 1.* cadeira Francisco Braulio Pereira .... Clinica Medica 2.a cadeira 7. a A. Victorio de Araújo Falcão . . . Matéria medica, Pharmacologia Arte de Formular José Rodrigues da Costa Dorfea . . Historia natural medica. José Olympio de Azevedo .... Chimica Medica. 8. a Deocleeiano Ramos Obstetrícia. Climerio Cardoso de Oliveira . . . Clinica obstétrica e gynecologica. 9. a Frederico de Castro Rebello . . . Clinica pediátrica. 10. a Francisco dosSantos Pereira . . . Clinica ophtalmologiea. 11a Alexandre E. de Castro Cerqueira . . Clinica dermatológica e syphiligraphica. 12.a Luiz Pinto de Carvalho Clinica psychiatrica e de moléstias ner- vosas. João E. de Castro Cerqueira . . . „ ,. ..iiíj.j» Sebastião Cardoso . Em disponibilidade. LENTES SUBSTITUTOS OS DOUTORES José Affonso de Carvalho . . 1.» Pedro da Luz Carrascosa e . . Gonçalo Moniz Sodré de Aragão . ( 2.a J. J. de Calasans . . . 7.a Julio Sérgio Palma ( J. Adeodato de Souza . . . .8.“ Pedro Luiz Celestino .... 3.a Alfredo Ferreira de Magalhães . 9.* Oscar Freire de Carvalho . . 4.a Clodoaldo de Andrade . . . .10. Antonino B. dos Anjos . . . . 5.» Albino Leitão 11. João Américo Garcez Froes . . 6.“ Mario Leal 12. Secretario-Dr. MENANDRO DOS REIS MEIRELLES Sub-Secretario Dr. MATHEUS VAZ DE OLIVEIRA A Faculdade Dão approva nem reprova as opiniões exaradas nas theses pelos seus auctores ANTES DE COMEÇAR Razões que apresento justificando o móvel que me levou a ESTUDAR A SEMEIOLOGIA OCULAR DA MOLÉSTIA DE DUCHENNE, E FAZER D’ESTE ESTUDO O ELEMENTO CAPITAL D’ESTA MINHA THESE Alimentando, no estudo que sobre a Moléstia de Duchenne fazia mais minudentemente, a idéa de proceder da forma a mais util e pratica, como em geral sóe ser quando se fazem estudos d’esta natureza, foi que pensei em conceder uma feição toda clinica a semelhante estudo. D’est’arte procurei emaranhar-me n’esta arena de trabalhos toda cheia de difficuldades, e para o bom e perfeito desempenho d’esta minha tarefa imaginei como desobrigar-me. Foi assim que prevendo a importância que teriam natu- ralmente em clinica, as manifestações mórbidas oculares da Moléstia de Duchenne, resolvi enclinar-me a estudal-as convenientemente n’esta minha these inaugural de douto- ramento. E tanto se enraizava em meu espirito esta vontade, quanto mais se transformava em urgente necessidade, pois que além do mais, vinha pôr em evidencia, do quadro clinico d’aquella enfermidade, alguns traços n’elle desenhados, e que pertencem á infelizmente rica Patho- logia Ocular, terreno este no qual pretendo muito mais em particular deter-me em estudos, procurando conhecel-o. E de facto, sendo de real importância no vasto depar- tamento da clinica, quando se estuda a Moléstia de Duchenne a Semeiologia Ocular d’esta moléstia, conforme terei occasiào de mostrar á medida que proseguir nos meus estudos, jamais poderia esquecer-me d’este assumpto que além de seu valor clinico, se prende muito de perto á especialidade medica que com pallidez me dedico. Antes porem de entrar verdadeiramente, no estudo especial da Semeiologia Ocular da Moléstia de Duchenne, parte essencial d’esta minha these, convém que faça uma digressão d’este assumpto, e mostre aos meus deli- cados leitores alguns pontos da affecção Duchenniana geralmente, com o fim exclusivo de lhes trazer idéas mais novas e claras sobre o assumpto que apresento ante o vasto campo da clinica no elaboramento d’este meu trabalho. E se assim procedo, é alimentando ainda no meu espirito a bôa intensão de ser comprehendido precisamente, e se não conseguir este meu desideratum, toda a culpa não me cabe, pois acreditem que tive toda a bôa vontade em tornar-me bem claro, o mais que me fosse possivel, mas infelizmente cancel!ando-me a bôa vontade tive contra mim a pródiga mãe, A natureza, não me concedendo o favor que a muitos tem, â alliança da vontade ás condições próprias de suas organisações intellectuaes. Seja como fôr, chegarei como da melhor maneira ao fim das minhas conclusões, isto é que desde já vos asse- guro, mas se chegarei bem é que não posso tão previa- mente futurar, todavia farei o quanto possivel, esperando tão somente, que, os meus delicados leitores reúnam a disposição de me tolerarem á grandeza de suas almas benevolas, perdoando-me, quando eu peccar, ou dispondo com complacência as pennas quando os peccados forem realmente imperdoáveis. E será assim d’esta forma disposto que, tenciono entrar um pouco mais para adiante no assumpto propriamente dicto d’este meu trabalho de escriptura medica, o qual constitue como resultado, dar á Semeiolobia Ocular na Moléstia de Duchenne, valor considerável para o seu diagnostico preataxico. (§) ®ucíor. D1S S E RTAÇÃO Valor da Semeiologia Ocular da Moléstia de Duehenne c sua imporiaiicia diagnostica no estádio prc-ataxico Cadeira de Clinica Ophlalmologica PRIMEIRA PARTE CAPITULO I Considerações rapidas sobre o historico da Moléstia de Duchenne Das denominações diversas que tem essa enfermidade RECEBIDO, E COMO ELLA TEM SIDO CONSIDERADA POR VÁRIOS PATHOLOGISTAS ATRAVÉS DASEPOCHAS ATÉ A NOSSA EPOCÍIA, ONDE JÁ LHE ESTÁ CONFERIDO LUGAR PROPRIO EM PATHOLOG1A Das denominações emittidas coin relação á Moléstia de Duchenne, na obra sublime da pathologia interna do professor Dieulafoy, da edição de 1901 no seu volume III, vê-se que os escriptores allemães a denominavam de Tabes fdorsualis ou dorsalesj Atrophia da Medulla, e Paralysia Espinhal. Naquella obra vêm-se ainda citados os Archivos geraes de Medicina do anno de 1858 e 1859, nos quaes Duchenne chamou a esse estado morbido de Ataxia locomoiora progressiva. Com relação a esta forma de denominação dada pelo notável Duchenne, encontrei ainda na obra sublime de Dieulafoy, conceitos os mais favoráveis, e para que se avalie de taes apreciações, basta que se observe como este proficiente homem de sciencia se exprime: 4 «Àpezar da escola Allemã ter á frente os vultos emi- « nentes de Romberg, Wunderlich, Rokitansky, todavia os « trabalhosíle Duchenne n este particular são realmente do subido valor e real destaque, e ainda mais esta «importância se accentúa, quando esse notável luminar da « medicina de seu tempo procura denominar este morbus, e assim fazendo, é mesmo que nos apresentar a moléstia ¥ ante a grande luz da evidencia clinica, graças a apro- « priação da denominação por elleemittida á sua manifes- « tação no terreno da pratica. » Ora, parabém fundamentar essa sua apreciação, sobre o valor de facto extraordinário dos trabalhos de Duchenne, elle relata a memória desse luminoso espirito, que foi publicada nos Archivos Geraesde Medicina, sobre os quaes já tive occasião de referir-me um pouco mais atráz d’estas linhas, e pela exposição de tal memória bem se poderá ver como eram justificadas as rasões que a tornavam bastante acatada. Eis a memória: « A abolição progressiva da coordenação dos movimentos « e a paralysia apparente contrastando com a integridade da «força muscular, constituem os caracteresfundamentaes da « moléstia que me proponho a descrever. Ainda diz: estes « symptomas reunidos ás perturbações que se notam para a « marcha fazem com que a denomine de Ataxia Locomotora c( Progressiva. » Extendendo-se ainda Dieulafoy nos seus conceitos sobre o eminente Duchenne, continua por esta maneira a exter- nar-se: «pela leitura da memória que apresentei, bem 5 * se vê como este extraordinário e luminoso espirito dá v a moléstia a qual me refiro uma denominação que bem « satisfaz a sua unica necessidade, e, é pois graças a isto « e mais ainda a outros estudos que sobre ella fez, que bem « se poderá avaliar da sua altacomprehensãoa tal respeito. « Em veneração pois ao seu nome como pesquisador de « mérito, assim como também em tributo de uma home- « nagem tão sincera quanto justa, a Ataxia locomotora « progressiva, poderá receber merecidamente o nome do « seu real e perfeito interpretador clinico, e d’est’arte è que « proponho que seja ella denominada Moleslia de Duchenne.» Em observância á minha promessa de levar ao espirito dos meus delicados leitores idéas geraes sobre a entidade mórbida que n’este trabalho de these me occupo, antes de tratar da sua Semeiologia Ocular sobre a qual, pretendo muito mais particularmente deter-me, è por isso que passo a mostrar como foi tal enfermidade considerada atravéz das epochas pelos diversos pathologistas, até a epocha em a qual existio Duchenne que como mostrarei a Atoxia loco- motora progeessiva, mereceu a honra de pertencer ao rol das moléstias perfeitamente classificadas e definidas. E me parece que desdobrando e mostrando a luz consci- ente e clara de que a este respeito nos mostram os mestres, e considerando como coisa já pelo menos para mim assentada, à perfeição da denominação por Dieulafoy proposta para o conhecimento nosologico da aífecção que ora estudo, terei satisfeito o espirito avido dos que me concedem a honra de lerem este meu modesto 6 / • trabalho, assim como dada por comprida a taréía que me propuz n’este capitulo de historiar a Moléstia de Dachenne. Procurando vêr como era através das epochas consi- / derada a entidade mórbida sobre a qual agora me refiro, afim de saber e poder dizer aos meus amavgis leitores as epochas pelo menos approximadamente das primeiras luzes sobre o conhecimento d’esta enfermidade como uma moléstia perfeitamente distincta, foi por isso que me reportei a epochas bastante remotas da pathologia. Fui no desempenho deste trabalho tendo em mira chegar áquelle resultado manusear os escriptores médicos de 1808, e tive ocasião de ter entre as mãos o celebre patho- logista Ântoine Portal, em sua obra «Memórias de Varias Moléstias.» Em sua extraordinária obra feita digo de passagem a golpes de talento, pois foi um luminar da sua epócha, quando se refere as affecções que têm seu ponto de locali- sação na medulla espinhal assim por esta forma se exprime: « Os escriptores antigos notaram que se movimentavam « as fontanéllasdos recem-nascidos, e os diversos cirurgiões «também tiveram occasião de observarem o herniamento « das massas cerebraes com movimentos bem pronunciados « todas as vèzes que praticavam uma operação de trepa- « nação, sendo que em geral eram esses casos de desfeche « quasi sempre fatal.» « Mas, não sabiam como podessem explicar taes pheno- « menos, que levaram durante largo tempo — completa- 7 « mente ignorados, uns davam como causa explicativa da « sua existência movimentos arteriaes que naturalmente se «produziriam pela passagem da torrente sanguínea, outros « explicavam-nos como se fossem contrações das membra- « nas meningeanas, sem no entrentanto recordarem-se que « uma d’ellas achava-se presa â superfície interna do osso «craneano, impossibilitando portanto a produção de taes « phenomenos ». « Diemerbroek, Charletqn e tantos outros de sua epocha, « isto foi em 1794 mais ou menos,, disseram que a substan- « cia cerebral n’essas movimentações era a demonstração «palpavel do enchimento de sangue nas suas partes «cavitarias, opinião esta que estes notáveis scientistas «tiraram simplesmente pelo raciocínio, sem que no en- «tretanto procurassem provar pela unica forma capaz que «seria naturalmente a experimentação, assim sendo pois « quasi que nenhum valor tem semelhante opinião expli- «cativa dos phenomenos observados de movimentação « das massas cerebraes com herniamento quando se pra- «ticavam operações trepanatorias, e os movimentos das «íontanéllas de recemnascidos». Continua ainda Antoine Portal, foi o eminente Schliti-ng quem primeiro estabeleceu muito brilhantemente a igual- dade e relatividade dos movimentos já descriptos aos movimentos observados e já bem estudados e deíenidos do orgão mais importante do apparelho respiratório o pulmão, e então aquelle eminente homem de scieneia procurou por estas palavras manifestar n’esse particular 8 o seu juíso; « o cerebro se enche quando o pulmão se « retrahe pelo acto da expiração, e o contrario se passa « quando o phenomeno se produz no sentido inverso », ora sendo assim vê-se que existem entre as massas eere- braes e o orgão pulmonar, além de uma certa igualdade na producçao de taes phenomenos de movimentação, uma certa relação quando elles se produzem, isto é, que um é a consequência do outro. Maso facto curioso, diz ainda Portal em explanações brilhantes nas paginas de sua grande obra, que, « restava a determinar para perfeitamente elucidar a questão era «provar donde partiam estas influencias sympathicas «entre orgãos tão afastados corno o cérebro e o « pulmão », foi então que, para elucidar este quid surgiu no campo d’esta batalha scientifica elucidatoria como bem nos mostra ainda Antoine Portal, o espíritos também cultos de Sanense e Haller, e foram os que fizeram a luz n’esse ponto da questão. Disseram « que os phenomenos de movimentação no- «tados no cerebro e no pulmão que além de sua igual- ei dade mantinham tão estrictas relações, eram explica- « dos pela existência da torrente sanguínea». E, um facto curioso que, se bem até agora ainda me não tenha referido com a exposição rapida que faço da sublime obra que se intitulou no anno de 1808 « Memórias sobre varias molés- tias », mas que todavia era perfeitamente conhecido pelo esclarecido espirito do seu auctor quando a sua extraor- dinária obra traçou, tenho a necessidade de n’este instante 9 sobre ello referir-me graças ao grandioso auxilio que traz ás conclusões já explanadas por Sanense e Haller, e este facto ao qual me refiro é aquelle de também se observarem para a medulla espinhal uma serie de movi- mentos da mesma natureza e também gozando da mesma relação com os pulmonaes e cerebraes. Ora, como bem se vê pela exposição palíida que faço da obra de Antoine Portal, assim como também com as conclusões que sobre ella vou apropriadamente fazendo, posso determinar afim de finalizar o meu juizo sobre esse ponto d’essa questão n’aquelle tempo levantada, que as opiniões explicativas emprestadas a ella pelos illustres Scrliting Sanense e Haller foram effectivamente as mais consienciosas que encontrei para explicarem o que necessito dos phenomenos encontrados pelos antigos escriptores e a mim noticiados com a leitura que fiz de sublime obra de Antoine Portal, e sobre osquaes já tive opportunidade de referir-me quando expuz n’este meu trabalho o que li e aprendi com esse extraordinário pathologista do anno 1808, em Paris, com o manuseamente das suas Memórias sobre varias moléstias. E se acho e digo, serem essas opiniões ás mais acer- tadas e bastantes para explicarem o assumpto em debate é porque ellas recebem a sua base na luz sufficiente da experimentação, todavia como já mostrei auxiliado pela exposição de Antoine Portal, a opinião dos não menos illustres Diemerbrock e Charletom afim de explicarem este mesmo assumpto não deixa de ter o mesmo intuito, isto 10 é explicarem-no tornando com ponto de partida principal a torrente circulatória, no entretanto absolutamente não foi acceita em virtude da falta da sua unica e verdadeira base, a experiencia. Outro ponto porem que ainda não tive opportunidade de referir-me mas que por se prender consideravelmente ao assumpto que ora descoro com o anxiliu de Axtoine Portal agora faço, é que esses pbenomenos observados pelos escriptores antigos e por este notável pathologista sitados, muito mais ampliam extendendo-se não tão somente ao pulmão, ao cerebro e a medulla mais ainda a todos os orgãos da economia humana, principalmente porque a sua verdadeira causa persiste em perturbações do sangue, con- conforme demonstraram M. M. Lamure e Haller. Agora pergunto a mim mesmo, tratando como trato da evolução histórica da Moléstia de Dttchenne, que neces- sidade, existe em trazer para constituir cabedal a este meu trabalho essa parte da sublime obra de Axtoixe Portal, seguida ainda mais de todos esses conceitos que tenho feito a medida que marcho na sua apresentação? res- pondo, que tão somente por uma rasão,-firmada em dois princípios, primeiro era a unica modalidade de manifes- tação situada por um pathologista de valor em 1808, na modulla-espinhal; parte principal de localisação preferida para a Moléstia de Duchenne, segundo, sendo que a medulla assim affectada estava olia própriasugeita movimentações, quem não dirá e n'este ponto são pouco claras as noticias, que também se tivessem observado perturbações para os * 11 movimentos principal mente os locomotores que estão debaixo da esphera de acção do orgão medullar pertur- bado, e que portanto seria esta forma de modalidade mórbida uma ataxia locomotora progressiva mascarada. Ainda continuando a manter na minha imaginação, a idéa de ver como essa enfermidade era considerada nos tempos idos da pathologia, afim de obter dar noti- cias bem precisas sobre sua evolução histórica, segui e sigo ivesta. exposição rapida que ora faço desse meu tra- balho a mausear e a expôr obras de pathologia de 1869. Fòi portanto ainda para poder obter noções bem evidentes e precisas sobre a evolução histórica da ataxia locomotora progressiva, que continuei a ler os diversos clássicos em matéria de Pathologia do anuo de 1869. Assim sendo, tive a ventura para mim imensanqente desejada de ler a obra de Pathologia interna do Dr. A. ViKissolle, Ulustre mestre da Faculdade de Medicina de Paris no tempo em o qual o seu espirito adamantino brilhou, enchendo de orgulho as lettras medicas do seu paiz, porquanto n’essa incomparável obra, consegui tradu- zindo o pensamento do seu auctor, satisfazer a minha curiosidade no ponto sobre o qual ella precisava dos raios de sua grande luz, assim como trazer n’este modesto tra- balho que i-ra faço o principal contingente, o unico talvez bastante para estabelecer-se a verdade histórica que aspiro sobre a evolução da Moléstia de Duchenne através das .diversas epochas. Ém sua monumental obra, o esclarecido espirito de 12 Grissolle me mostrou com a leitura que fiz, quanto eram para os seus contemporâneos bastante claras as noções exactas da real existência ataxia locomotora pro- gressiva com verdadeira entidade mórbida. E isso me mostrou, com a exposição que n’este ins- tante faço apresentando os seguintes trexos de sua grande obra.... «A' ataxia locomotora progressiva caracterisa-se em « clinica por uma incoordenaçao bem nitida no mecanismo «da marcha, sem que no entretanto possamos isso ligar « «a algum processo morbido que nos proprios muscuios « se passem, explicando portanto assim esta irregularidade « de locomoção, e sim muito até pelo contrario notamos « que a fibra muscular nada soffre em sua integridade « própria, apenas notamos uma paralysia apparente con- «trastando com toda aquella integridade real, e então « acredictamos, tomando como base a physiologia do « mecanismo da marcha, que a verdadeira causa existe « de localisação sobre a qual estão de accôrdo vários cias- « sicos antigos. » Ora, pela apresentação deste trexo que vim de trans- crever para este meu modesto trabalho da sublime obra do notável e antigo Professor da Faculdado de Paris o i>r. A. Grissolle, bem e perfeitamente se percebe a idéa scientiíica alem de consciente que, já n’aqulle tempo em o qual o seu luminoso espirito floresceu, refiro-me ao anno de 1869, existia dominando a imaginação dos escriptores médicos quando sobre a Moléstia de Duchenne 13 se referiam, basta dizer-se que era jà bem conhecida e distincta como um factor proprio em Pathologia. Todavia, %m nada concorre este sublime trexo da monu- mental obra do Dr. A. Grissolle, para firmar a parte ca- pital do que desejo, porquanto simplesmente apenas por elle se pode estabelecer tomando ás suas conclusões por base que em 1869 já era perfeitamente conhecida e defi- nida a entidade mórbida sobre a qual me propuz fazer aqui a sua evolução histórica, e o ponto que tenho em mira não é este, e sim ô o.de estabelecer claramente o anno ou a epôcha precisa dos seus primeiros estudos. Apezar do pouco, auxilio que me prestou na parte real- mente do meu desejo as conclusões do texto da obra de Grissolle, que já expuz, no entretanto em alguma coisa encaminham o meu trabalho, pois pelo menos pude ter a certeza necessária para afirmar, que, os estudos sobre a entidade mórbida que' procuro historiar, dactam de epócha muito anterior a publicação dos seus trabalhos. Mas não ficaram ahi as noticias trazidas á luz das scien- cias medicas do seu tempo sobre a Moléstia de Duchenne, pelo mais culminante talento medico do anno de 1869, o Dr. Â. Grissolle. Não, absolutamente, assim foi que em textos outros de sua obra extraordinária muito e muito concorreram as suas conclusões para que eu podesse satisfazendo a minha curiosidade, satisfazer ao espirito avido d’aquelles queime honram acompanhando-me come leitura que fazem deste meu trabalho, e que consiste em determinar como tive 14 occasião de dizer, a epocha ou o anno perfeitamente pre- cisos dos primeiros estudos sobre a moléstia que me propuz historiar evolutivamente, e acressento mesmo agora por fazer também parte da sua historia evolutiva assignalar algumas passagens das suas principaes pesquizas trazendo também os nomes dos seus auctores. Assim foi que no seguinte texto que agora apresento, bem se vê como o Dr. Grissolle me forneceu na ela- boração d’oste trabalho ajudando-me a chegar ao fim das minhas conclusões. Eis o texto: «Não obstante as diversos autores, prin- « cipalmente em França terem-se preoccupado sobre a «Moléstia de Dachenne, sobretudo os Professores Cru- « vellier e Bonilland, o primeiro na sua obra intitulada «Anatomia e Phgsiologia Pathologica e o segundo em « seu tratado de Nosographia, não obstante Landry ter «assignalado alguns dos seus symptomas mais essen- «ciaes, todavia nenhum mais rasoadamente poderá tomar « a palma que compete ao Hlustre Dr. Duchenne nesta « campanha scientifica, pois foi o primeiro em França que «interpretou e descreveu com rara precisão a physio- «nomia clinica da ataxia locomotora progressiva, e sepa- «rou das affecções mórbidas que com ella se pareciam «como sejam as paralysias legitimas e tantas outras « mais. « Apezar de tudo isso, n’essa mesma epocha em a qual « os .seus trabalhos faziam em França enorme sensação, «em Berlim o não menos illustre Professor Rombbrg 15 «tinha desde 1851 perfeitamente descripto sobre dono « minação de Tabes Dorsualis esta mesma affecção, e até «foi além na sua descripçâo pois apresentou publicações «onde viam-se o resultado de necropsias por e 11 e pratica- «das em pacientes que pereceram da sua Tabes, e o « resultado d’esses exames post-morum vieram trazer «alguma luz sobre o ponto dejocalisação preferido pelo « processo morbido tabetico, que não é outro de que o «da ataxia loco motor a progressiva, pois a Tabes de « Romberg não é outra moléstia sinão a Ataxia locomotora « de Duchexne». Pela exposição d’esse texto que venho de fazer da obra de Piithologia Interna do Dr. Grissolle, não pode origi- nar-se nenhuma confusão quanto ao pensamento real do seu auctor, porquanto se bem que elle site o nome do Dr. Romberg, ligando o a historia evolutiva da Atoxia lo- comotora progressiva, e chegue até a apresentar ligeiras noticias sobre os trabalhos feitos por este eminente scien- tista em pacientes mortos por essa moléstia afim de es- tudar as suas lesões e determinar o ponto de localisação de preferencia do seu processo, no entretanto bem clara- mente concede a Dugíiexne a honra dos seus verdadeiros, principaes e primeiros estudos. E de facto terei opportunidade de linhas mais para adi- ante mostrar, com á apresentação de outros trabalhos, assim como também ajuizando os trabalhos que venho até aqui de apresentar, e mais ainda com conclusões emi- ttidas neste texto que tive occasião de sitar da obra de 16 Grissolle, refiro-me a este ultimo, que tive bastante razão de ser quanto a honra que concedeu ao illustre Dr. Du- chenne n’este estudo evolutivo da Tabes Dorsales dos Allemães. E é realmente para provar o que acabo de afirmar com relação aos trabalhos de Grissolle que como disse exprimem n’esse particular a verdade dos factos, que apresento aos meus dedicados leitores a opinião do Pro- fessor Strúmpell da Universidade Àllemã, emittida em sua obra sobre Pathologia interna e.çlictada em 1889, e que por esta forma é expressa. « Os estudos mais reaes com relação a caracterisação « clinica e realmente medica da Tabes viviam em com- « pleta obscuridade até a epocha em a qual oDr. Duehenne ((forneceu a sciencia as suas primeiras luzes, e isto foi «em 1848 e 1850.» Ora pelo que tenho dicto e mostrado aos meus deli- cados leitores com apresentação dos trabalhos de vultos eminentes da Medicina do passado, assim como por estar só agora depois das noticias a mim trazidas pelo Dr. A. Grissolle com a idéa consorciada com a verdade nos limites da arena do meu desejo, é que me sinto com ele- mentos capazes para fundamentar a realidade que passo a afirmar. E essa consiste em dizer que toda a gloria de ter ini- ciado os estudos que sobre a Átaxia locomotora progressiva se fizeram em 1848 e 1850, cabe a Dughenne, assim como também só nesses annos foram que esses estudos sobre 17 essa entidade pathologica mereceram a honra de inter- pretarem precisamente a verdade dos factos. Sendo porem que com justiça devo dizer já que também almejo citar alguma coisa com relação a sua evolução his- tórica, que, desde 1848 e 1850 annos em os quaes os tra- balhos de Duchenne conseguiram defenir a Atàxia locorno- lora perânte a Medicina até a nossa epocha, ella tem sido tratado com todo o critério e profissiencia por diversos Oathologistas, principalmente os nossos contemporâneos, CAPITULO II Etiologia Breves noticias sobre a etio-pathogenia DA MOLÉSTIA DE DUCflENNE, EXPOSIÇÕES DAS DOUTRINAS SYPIIILITIGAS E ANTI-SYPHILITICAS É muito obscuro e bastante omisso hoje o pensamento que domina o espirito dos mais eminentes mestres no departamento da medicina que estabelece a verdadeira doutrina etio-pathogenica da Moléstia de Duchenne. Graças a toda essa omissão e toda essa obscuridade quanto a um resultado certo e positivo sobre esse ponto tão importante d’essa entidade mórbida, e muito princi- palmente por existirem oecupando a directriz d’esta lucta scientiíica nomes tão respeitáveis quanto competentes, eu 11’este particular como em sempre serei um inclinado ao ecleçtismo. Justificarei essa maneira de comportar-me, expondo se bem que rapidamente as opiniões magistraes que se debatem, e as duas escolas que se chocam, com o fim único de chegarem ao perfeito e certo resultado. Expondo-as verão os meus amaveis leitores que são as opiniões e escolas de duas cathegorias differentes, ou 20 as que consideram a syphilis como única causa etiologia, ou ao contrario as que pensam inversamente. Ora como bem se vê, jamais poderia deixar de com- portar-me como comportei-me e comporto-me, jamais poderia deixar de proceder como procedi e procedo, estando a buscar a luz em ambas as doutrinas que se chocam e se debatem, e nos ensinamentos proveitosos dos mestres os mais eminentes, e emquanto não forem bem nitidos os raios d’essa luz que procuro, estarei sempre lançado nos braços da duvida, e como tal serei dubio. Começarei a exposição das doutrinas das duas escolas, dizendo que matendo-as nas suas situações doutrinarias apparecem os vultos mais eminentes da Medicina Franceza. Assim1 é que a frente dessa phalange de méritos ergue se o vulto sempre sympathico, cuja palavra autorisada e sabia está cançada de enriquecer as lettras medicas da França, « O (iminente Professor do Hotel Dieu,e erguendo-se apparece nas paginas brilhantes de sua extraordinária obra sobre Patholugia interna edictadaem 1904, d’esta maneira. Tratando sobre a etiologia da Moléstia de Dnchenne> elle se bem que se incline para confirmar a origem syphi- litica ddessa entidade mórbida, todavia nada de positivo conclue quanto aos princípios que servem de base ou fun- damento para concederem a syphilis a autoria desse grande mal, cifra-se apenas sem mais preâmbulos a tomar para base dessa sua confirmação as observações da clinica, sem no entretanto apresentar estudos mais criteriosos. 21 Pelo que venho de mostrar pois, o que nos diz o Pro- fessor Dieulafoy em nada fortalece uma opinião contraria a que eu já expuz, áquella do ecletismo, e á qual adopto. Ápparecem ainda n’essa phalange do méritos expen- dendo também as suas opiniões os luminares espirites de Langeranaux, Fournier, N. Paulesco, Ehb e tantos outros mais. Assim foi que Lancereáux muito anterior a Forxier deu os primeiros esclarecimentos da origem sgpldlilica do Tabes Dorsualis ou da Moléstia de Uuchenne, em uma sua obra edictada e publicada em ingiez muito antes dos tra- balhos de Fournier a este respeito. Depois mais tarde, isto em 190(5 na grande capital do mundo scientiíico Paris, esse grande medico francez e professor notarei de collaboração com N. Paulesco com- petente cathedratico da Faculdade de Medicina de Bucaresl, fizeram uma obra intitulada «Tratado de Medicina». e nas suas bem traçadas lettras quando se ler a etiologia da affecção Duehcmmana por esta forma se pintam: « Sobre a doutrina syphilitica da ataxia íoeomolora pro- « gressiva, por um de nós (refere-se a Lancereaux) já « estudada em uma obra intitulada Tratado de Syphilis e « edictada em ingiez, e desenvolvida mais tarde por outros « e muito principalmente por Fournier e Erb, sendo que o « primeiro desses chegou a dizer que essa enfermidade «attestava o termo ultimo da evolução desse terrível « morbus a syphilis, abrindo atè para a sua collocaçào « entre as manifestações um grupo especial o das inani- 22 «festações para-syphiiiticas, estando portanto a Moléstia « de Dnchenne ao. lado das Paralysias geraes, nós somos «obrigados depois das ma is conscienciosas objecções a « refutar por completo aquella nossa opinião, que concedia « a syphilis o previlegio de sim o factor etiologico d’aquella « enfermidade, » Para constituírem elementos de base d’essa exclusão cathegorica da syphilis na etiologia da Ataxia Iocomotora progressiva, feita como acabei de mostrar na exposição desse trexo do Traíado de Medicina de Lancereaux e !>aulesco,-esses eminentes mestres auctores desse monu- mental Tratado assim se exprimem para à affirmação das suas idéas: «0 que earacterisa rio vasto campo da Anatomia Patho- « lógica uma mesma moléstia éa fixação sempre constante «de suas lesões quer na sua forma quer no seu ponto de «locaiisUçgo ». « Ora, na syphilis. como o proprio Lancereaux dernon- « strou no anno de 1808, se localisam as suas lesões de « uma face especial no tecido eonjonctivo vascular, e nas « bainhas dietas lymphaticas das pequenas artérias do «centro nervoso cerebro espinhal, o mesmo que se « passa na syphilis não se observa quando com certo «critério e cuidado se procura estudar a localisaçao de « preferencia do processo morbulo chMolestia de Dnchenne, « pois ahi vò-se que o processo morbido se localisa de « prefere*noia no proprio tecido nervoso». Assim conto continua na sua bei la exposição Lance- 23 reaux e Paulesco, « não é tão somente quanto as locali- « saçòes differentes dos processos que se passam no centro « nervoso oriundos da sypldlis e da Tabes que constituem « os caracteres principaes de separação dessas duas emíer- «midades, não, é ainda mais quanto a própria forma cc das lesões que são bastante desiguaes». Já se vê portanto que os caracteres que deviam ser semelhantes afim de poderem reunir-se duas rnanifes ■ tações clinicas diversas, em uma só entidade pathologica, aqui ivesse caso conforme venho de provar com as expo- sições feitas por Lancereaux e Paulesco são completa- mente dissemelhantes. Não ficaram ahi as provas que apresentaram esses extraordinários espíritos para excluírem a syphilis como causa da Moleatici de Dtichenne, não vão muito mais longe as suas provas, é assim que continuando-se a ler a sua momumental obra o Tratado de Medicina, encon- tram-se ainda conceitos outros como estes, que passo a transcrever: • « Quanto a evolução do processo morbido syphilitico «nervoso que pensam ser a lesão Tabetica* explicando « assim a sua etio-pathogenia semelhantes,é muito diversa. « N’esse particular se passam muito differentemente as « coisas, assim é que na Tabes o processo morbido marcha «comojá vimos noproprio tecido nervoso mas continua- « mente; emquanto que na syphilis o processo jamais se «localisa no proprio tecido nervoso, e se nós o encon- « tramos no systema vascular como já tivemos opportu- 24 « n idade (lc dizer, e a sua marcha evolutiva faz-se de uma cc forma hem differente d’aquella da Tabes, e assim é que a nós o vemos propagar-se contiguamenle, formando di- « versos e separados processos gomososaqui, ali e acolá. » Ainda em apoio de suas opiniões, Lancereaux e Paelesco continuam a apresentar outras mais objecções. E’ assim que elles nos dizem e eu transcrevo n'este meu trabalho,que as estatísticas de Fournier as quaes constituem a principal base da doutrina syphilitica da Moléstia de Duchenne, de nada valem, porquanto também as estatís- ticas contrarias ás do patriarcha da syphiligraphia uni- versal provam effectivamente o inverso. De facto se as estatísticas de Fournier são de valor, ás que também se organisaram sob a direcção de outros e que são contrarias a essas, encerram também um certo valor, desde quando naturalmente foram organisados com todo o critério e apresentaram-se protegidas por verda- deiras illustraçôes medicas. Portanto se as estatísticas anti-svphiliticas da Molesliccde Duchenne e que apresentaram-se em campo conquistando as glorias das syphilitieas de Fournier, não conseguiram arrancar por completo taes glorias, todavia conseguiram obscurecendo-as, turval-as. Proseguindo esses eminentes professores em apresen- tarem novas provas para destruírem por completo a sy- philis como factor unico e principal da Moléstia de Duchenne contam-nos nasua extraordinária obra casos de observações clinicas de indivíduos que estando em plena ensenação 25 Tabetica eram portadores de uma manifestação syphilitica inicial e syphiloma ou o cancro. Ora, essa é uma prova esmagadora da doutrina syphi- litica causal da Tabes, pois sabe-se perfeitamente e creio que já está assentado em syphiligraphia que á reinfecção desse terrível morbus não è possível, e como é que sendo assim um indivíduo era conjunctamente portador da Tabes e do cancro, tem ao meu ver Lancereaux e Paulesco n’essas observações clinicas as principaes parcellas d’esta grande adição de provas que apoiam sua opinião a qual já expandi transcrevendo um trexo da sua proveitosa obra o Tratado de Medicina. E concluindo esses eminentes mestres da escola franceza o seu combate á doutrina syphilitica da Moléstia de Du- ch.enne, doutrina essa que em tempos mais atraz a esses dos seus novos trabalhos um d’elles á defendia, não o fazendo sem deixar registrado as suas idóas quanto a uma certa ligação que possa existir entre a verdadeira ou repu- tada como tal á causa e a consequência da infecção do Treponema paUidum de Schcedim, na produção da Tabes Dorsualis. E’ firmando essas suas idèas que nas paginas do seu Tratado de Medicina, escrevem d’esta maneira. «•Nós pensamos que duas são as causas da Moléstia de « Duchenne, uma predisponente e outra efficiente, e é ao « lado da primeira que está filiada a Syphilis, acontecendo « o mesmo que com o arthritismo ou qualquer cutro estado « de predisposição organica própria ou hereditária, e ao 26 « lado da segunda nós então è que consideraremos as ver- « dadeiras causas d’essa moléstia, não porque sejam ver- « dadeiramente etiologíeas, mas porque com dados de nossa « observação clinica podemos eonsideral-as como causas « pelos menos ocasionaes, e sendo que essas existindo em « um organismo predisposto é crivei que a Tabes Dorsua- « lis se declarará inevitavelmente. » Para o desenvolvimento eompleto e perfeito da explica- ção causal da Tabes, feita como acabamos de ver com a transcripção que faço desse trecho da sublime obra de Laucearaux e Paulesco, é myster que noctifique certos pontos, ora, é assim que conta-nos aquelles eminentes mestres que a Syphilis é uma das causas de predisposições para o Moléstia de Duchenne, o que acho bem possível,e de mais esta possibilidade se accentua quando tenho bem nitida em minha memória,que sendo essa hecatombe humana um grande mal discrasico deve ser forçosamente um principal elemento morbido de predisposições, mas, aquelles emi- nentes professores não se contentam em collocarem a Syphilis como causa predisponente, vão muito mais alem, .apresentando as verdadeiras causas passíveis de culpabi- lidade na produção óa Tabes, e essas serão naturalmente aquellasque actuem em organismos syphiliticamente pre- dispostos. No grupo de causas d’essa ordem, collocam por exem- plo os excessos venerios, para os quaes chamam bem attenção aos masculinos, que dizem serem as expres- sões physiologicas do acto veneriano muito mais fatigantes 27 para o homem, e assim sendo são quando si phyli ticos e sujeitos as condições taesem geral attingidas pelas Tabes. Em seguida ainda dão as excitações em geraes perifé - ricas dos nervos sensitivos um valor extraordinário, assim é que nos apresentam e eu mostro aos meus ama- veis leitores com intuito que tenho de desenvolver por completo a explicação da causada Moléstia de Duchenne dada por elles no trecho da sua obra já por mim linhas atraz transcripta, exemplos desta natureza, infelizes syphi- lisados que por condições de vida se entregam aos traba- lhos de costurar são em geral affectados da Tabes, e isso devido a hyperexitatibilidade visual, graças a condição especial desse trabalho no apuro considerável da visão. Terminada portanto essa exposição que venho de fazer, exposição essa toda de combate a doutrina que concede á Syphilis o previlegio de ser a causa etiologica da affecção que ora estudo, e que também não se singiu em comba- ter aquella doutrina, e sim foi muito mais alem procurando resolver o problema com a apresentação de opiniões e idéas de outra ordem, me parece que com taes ideações expostas e como tive occasião de notar algumas vezes de subido valor e alto critério scientifico, teria consumado brilhantemente a minha missão, se porventura não fosse outra minha maneira de ajuisar n’este particular. E essa maneira justifica como no começo deste capitulo dedicado exclusivamente a etiologia da Tabes, já tive oppor- tunidade de dizer, com a apresentação de opiniões outras de mestres eminentes que offuscam e maream de certa 28 forma o brilho da exposição que venho de fazer, e essas são as dos principaes defensores da doutrina syphilitica. Já se vê portanto que em condições dessa natureza espíritos como o meu sem ter ainda idéas certas jamais poderiam comportar-se de outro modo. Foi portanto para desobrigar-me da promessa feita e mesmo para que os meus leitores pudessem estabelecendo um comfrónto com a já por mim noticiada doutrina anti- syphilitica, que resolvi se bem que de uma forma ligeira trazer a seu conhecimento alguns pontos tomados como base para fundamentarem a doutrina syphilitica da Tabes, pelos seus defensores e adeptos. Desse meu novo trabalho só lucros poderei tirar, por- quanto ficarão os meusamaveis leitores julgando-me pelo meu ecletismo n’este particular, e satisfeitos em ver que como pude cheguei ao fim completo e perfeito dessa minha conclusão. Dentre os pontos por mim referidos uns merecem ser bem considerados como sejam es instituídos pelos extra- ordinários espíritos de Fournier Pae e Fournier Filho, graças não tão somente á responsabilidade dos seus nomes como ainda pela sua própria natureza, outros porem são de menor valor e sobre esses refirir-mo-hei ligeiramente. Os instituídos por m. m. Fournier tomam como rasão, as observações da clinica, bem expendidos nas suas estatís- ticas, os outros como por exemplo os do Dr. Combe.male, e apresentam também as suas rasões na pratica clinica, sendo que são mais importantes os de m. m. Fournier porque 29 elles registram casos de Tabes curados pela medicação especifica, e os outros apenas pelos dados do exame cli- nico dos pacientes. E um facto que resalta as vistas merecendo ser aqui bem registrado é aquelle da opinião do eminente Dr. Grasset a este respeito, assim registrada: em todos os casos de Tabes desconfiados de origem syphilitica não deveis con- cluir uma idéa exclusivista d’essa causa, quando o paciente submettido ao tratamento mercurial tiver simplesmente melhorado dos seus padecimentos e não curado, por um duplo motivo, primeiro porque a curada syphilis podemos dizer que não existe o que existe é a cura clinica cara- cterisada pela melhora dos seus symptomas, segundo por- que as lezões tabeticas são de natureza sclerosicas e uma lesão mesmo certamente reconhecida syphilitica sendo da natureza daquelle tecido quando submettido a acção therapeutica da medicação especifica, poucas melhoras se observam. Eis tudo que posso dizer a respeito e aos meus amaveis leitores peço que medictem e julguem-me. SEGUNDA PARTE CAPITULO 1 Apresentação da « Moléstia de Duchenne » ante a Pathologia, estudo especial do seu quadro clinico no qual destaco os phenomenos mór- bidos oculares afim de estudal-os convenien- temente Feito como venho de fazer até aqui na elaboração d’este trabalho um estudo embora que synthetico de tudo que se tem dicto e escripto sobre a Moléstia de Duchenne, isto é, tendo até aqui procurado trazer ao espirito intelligente dos meus ainaveis leitores as noções mais necessárias do quanto se tornava preciso para a bóa comprehensâo d’essa Moléstia relativamente a parte capital do meu desejo, é justo que agora ainda mais para methodizar o que sobre ella pretendo dizer, á apresente ante a Pathologia, fazendo um estudo embora que rápido do seu quadro clinico. N’essa apresentação, terão os meus leitores as noções bem nitidas do cortejo symptomatologico d’essa enfermi dade, e poderão firmarem as suas razões para acceitarem ou rejeitarem o meu conceito de valorisação da sua sym- ptomatologia ocular para a pratica de seu diagnostico. Sendo assim portanto, terei não tão somente satisfeito a minha vontade quanto em procurar to.rnar-me bastante 32 claro, como ainda, evidenciado por esse meio a verdadeira importância d’esses symptomas dentre todos os outros que na sua reunião constituem o quadro clinico de semelhante enfermidade. Para desobrigar-me d’esta incumbência tornou-se preciso que fosse buscar as suas verdadeiras luzes nos tratados mais dlustrados da Pathologia, e foi n’essa busca que tive ainda uma vez a opportunidade dever que coube ao emi- nente espirito de Dieulafoy a honra de merecer estar collocado á vanguarda das illustrações no terreno da Pathologia e da clinica, graças a ter encontrado ainda nas paginas brilhantes do seu tratado de Pathologia Interna, os verdadeiros raios da luz que então procurava. Passo depois d’esse trabalho que tive a mostrar como esse eminente pathologista francez illustra os conheci- mentos scientificos do quadro clinico da Tabes nas paginas extraordinárias de sua grande obra, e assim procedendo terei, parece-me, patrocinado esses conhecimentos com quem de direito seria capaz. E’ assim que, quando elle se refere ao cortejo dos phe- nomenos morbidos que caracterisam a descriptiva patho- logica da Moléstia de Duchenne se exprime sufficientemente d'csta maneira : « Eu reconheço em pathologia a Moléstia de Duchenne ou « a Tabes Dorsuales sobre um duplo aspecto, ou reve- «lando-se frustamente ou ao contrario com todo o seu « cortejo de phenomenos caracteristicos, e portanto bem « nitida na sua revelação pathologica, isto é classicamente. 33 *9» «Quer em um ou em outro aspecto, è reconhecida e t< estudada nos diversos compêndios da Pathologia interna « dos diversos auctores e eu também isso faço. « Os pontos que servem para differenciar em os aspectos « das revelações mórbidas classica da frusta, consistem em «tomar como base as manifestações completa e perfeita de «todos os phenomenos que servem para distinguil-a no ter- « reno da pathologia e da clinica, assim é que no aspecto «frusto todos esses phenomenos estão marcados pelas « cireumstaneias que regem o caso, emquanto que no clas- «sico esses mesmos se manifestam em toda a sua evidencia « mórbida. » Continuando essa sua bella discripção, diz ainda Dieula foy, dentre os aspectos de revelações clinica dessa moléstia estudadas pela pathologia é sem duvida nenhuma o clássico o mais commum, todavia não quer isso dizer que o frusto se não revele, absolutamente muito pelo contrario elle também se manifesta, e eu mesmo já tive opportunidade de ver um doente assim. Mas como é o aspecto clássico o principal e mesmo o mais ordinário nas revelações clinica da Tabes e sobre isso estão de accordo todos os pathologistase todos os clinicos, não seria de justiça que nos referissimos n’esse aspecto em segundo logar, e assim é que o notável professor do Hotel de fíieu se detem em estudar a sua expressão pattho- logica em primeiro logar na descriptiva que faz sobre semelhante moléstia, e d’essa maneira fazendo assim se exprime: 34 «A’ Duchenne so manifesta pathologica- « inente sob dois aspectos distinctos, ou a vemos manifes- «tar-se com todo o seu cortejo de phenomenos morbidos « e n’este caso é que temos em mira o aspecto clássico, ou « então ao contrario ma.nifesta-se tendo encoberto ou mas- « carado todos os seus symptomas e ireste descobrimos. « o aspecto de revelação frusta. «Quer em um ou noutro aspecto, teremos sempre a « mesma moléstia, encontrando-se como origem a mesma « causa e encerando como consequência os mesmos resul- «tados. « Todavia o que se não pode estabelecer por completo « é a mesma igualdade de expressão clinica, porquanto «como bem poderemos concluir o aspecto de sua mani- *« festação classica, differe consideravelmente do seu frusto « ante a própria descripção da pathologia, em um è o que «tivemos já occasião de vêr tendo os signaes morbidos « que o distinguem perfeitamente evidentes e as claras, e «o outro é que também já tivemos opportunidade de vêr «expresso pathologica e clinicamente de forma muito « diversa quanto a clareza e ordem de todos os seus phe- « nomenos morhidos.» Ora, como acabo de mostrar aos meus leitores o incom- parável Dieulafoy na descripção que faz sobre a entidade mórbida que procuro apresentar ante a Pathologia com o íim principal de estudar o seu quadro clinico para d’elle destacar uma de suas partes, representadas pelas que são prehenchidaspelos symptomas oculares, muito me avantaja 35 para o bom desempenho d’esse meu encargo, porquanto que todo estudo por si feito relativamente a pathologia da Tabes foi não tão someute importaute quanto bastante para que sobre isso houvessem idéas assentadas e perfeitas. E’ pois com o seu auxilio que me abalanço a desobrigar-me daquelle meu compromisso, e isso faço tendo a plena confiança nos seus trabalhos. Se estende Dieulafoy nas paginas da sua grande obra sobre Pathologia Interna, quando se preccupa a descrever o aspecto de manifestação classica d’esta moléstia não deixando porem ao esquecimento o seu aspecto frusto, se bem que sobre esse pouco se estenda, e quando sobre aquelle se refere o faz de certa maneira, e para isso convém que eu reuna a esta minha discripção pathologica o trexo da sua monumental obra sobre a qual me refiro : « O aspecto clássico que o é o typico na manifestação « clinica da Moléstia de Duchenne e se desdobra em trez pe- a riodos. Sendo que o primeiro é aquelle onde o cortejo dos « phenomenos dolorosos estabelece paradeiro e assim é cc que vemos um pobre paciente e infeliz enfermo quando « se acha n’esse periodo d’essa moléstia acusar dôres ful- « garantes nos membros inferiores, dôres essas que se «espalham pelo tronco, membros superiores e mesmo « para a face. «Não se limitando tão somente nessas partes as mani- «festações dolorosas, vemos ainda continuarem a sua «propagação pelo organismo do padecente, e vamos então « ver ainda o infeliz enfermo queixar-se de dôres para todos 36 «os orgãos, teremos pode-se dizer verdadeiras vice- « ralgias. « Ainda n’esse período encontramos phenomenos mor- « bidos de outra ordem como sejam por exemplo a abolirão «dos reflexos rotulianos ou patellares (Westphal) e «mesmo também aindaos reflexos Achilianos ,ee sta abolição « dos reflexos tendinosos acreditam certos pathologistas que « são precoces no curso da evolução da Tabes. « N’este primeiro periodo do aspecto clássico ainda encon- « tram-se ás perturbações oculares, e perturbações outras « de importância menor para a discripção pathologica d’esse « periodo. « O segundo periodo, esse é representado por um estádio « mais adiantado d’essa moléstia, n’elle noctamos- cara- « cterisando-o a Ataxia, que não é outra cousa mais sinão « que a incoordenação dos movimentos, é verdadeiramente « esta perturbação synergica muscular, a principal mani- «festação symptomatologica da moléstia que ora descre- « vemos. «Perturbações cerebraes e sensitivas ainda completam o « grupo dos phenomenos morbidos d’esse segundo periodo. « E por fim para completar a disçripção do aspecto clas- « sico e mesmo typico de manifestação clinica e pathologica «da Moléstia de Duchenne, nós temos que nos referir ao « terceiro periodo, esse que é revelado pelo apparecimento « do symptoma Tebetico, constituindo o final do seu quadro « morbido. » Feita como vem de ser em discripção tão clara embora 37 4* que um pouco synthetica e isso devido a mim, pelo Pro- fessor Dieulafov a moléstia que proponho apresentar ante aPathologia, quer no seu duplo aspecto de revelação clinica sobre um ponto de vista geral, quer mesmo um pouco mais particularmente o seu aspecto principal, resta- me agora ainda aproveitando as luzes vindas do grande espirito d’áquelle notável Pathologista, trazer algumas noticias sobre o outro aspecto de revelação d’essa moléstia o occupa o segundo plano de importância pathologica, refiro-me como não é dificil de desconfiar-se ao frusto. Esse, é o menos importante porque como nos mostra ainda muito bem Dieulafoy não se pode encadearem todos os seus phenomenos morbidos methodicamentecomo.no clássico, a lies aparecem sem obedecerem a ordem de especie alguma, são verdadeiras manifestações frustas que só pela existência da ataria é que permitte taes agrupamentos de expressões symptomatologicas se filiarem como perten- centes a Alaria locomotora progrsssiva. Não foi portanto pequeno o auxilio que me prestou Dieu- i.afoy para desobrigar-me do compromisso imposto por mim mesmo para com os meus leitores no desenvolvi- mento d’este capitulo, e agora para concluir toda essa minha obrigação resta-me afastar de todo o quadro clinico da enfermidade que estudo os seus signaes oculares e conceder-lhes a honra que proponho de valorísação para o seu diagnostico pre-ataxico. Ora, pela discripção feita por Dieulafoy e por mim n’este trabalho noticiada bem se percebe que só quando 38 %í fôr typico o aspecto da revelação clinica da Moléstia de Dachenne é que se poderá evidenciar tal valorisação de semelhantes signaes, e só em casos raros é que elles por si só poderão desempenhar um certo valor em casos de aspectos frustos. Mais para adiante portanto me ocuparei sobre tudo isso muito mais detidamente. CAPITULO II Provas da valorisação diagnostica dada a Semeiologia Ocular da « Moléstia de Duchenne » e sua exposição clinica Só posso chegar ao fim do meu desideratitm, isto é, só conseguirei valorisar criteriosamente os symptomas ocu- lares da Moléstia de Duchenne, para o seu diagnostico pre-ataxico, apresentando algumas provas materiaes ou não, magistraes ou não, pessoaes ou não, contanto que levem a bem patentear o ponto capital do meu desejo, Para isso ser comprido, quero dizer paraprovar aquella grande verdade clinica não é preciso o emprego de esíorços além dos que já tenho empregado, porquanto com os dados colhidos pelas diversas observações dos mestres no terreno da clinica e que constituíram elementos para a for- mação dosmananciaes de luzes, de cujas fontes fui buscar os principaes elementos que fortaleceram o meu espirito na formação de semelhantes idéas são quanto certamente devo considerar sufficientes, para a constituição completa e perfeita das provas que careço. E’ ainda assim que tendo já feito saltar às vistas dos meus amaveis leitores em linhas mais atraz deste meu tra- 40 balho, as rasões que me levaram a estudar a Semeiologia Ocular da Moléstia de Duchenne, e já tendo com a apre- sentação dxssa Moléstia ante a Pathologia e a exposição do seu quadro clinico patenteado a importância capital dos seus signaes oculares para a pratica do seu diagnostico, graças a diversidade de manifestações symptomatologicas, é justo que tudo isso procure mostrar e provar. E é o que vou fazer no desdobrar d’este capitulo que sendo aliás o mais importante é o derradeiro d’esta minha theze. Quando se lê o Tratado de Medicina' de Lanceraux e Paulesco nocta-se que nada traz especialmente sobre o valor da symptomatologia ocular tabetica ao conhecimento, apenas ligeiramente deixa entrever muito pallidamente o real valor d’esses symptomas na stygmatisação clinica d’essa moléstia. O mesmo se dá quando se tem opportunidade de ler o tratado de Medicina e Cirurgia organisado sobre a direcção de Brissamd, Pinard e Reclms, tão somente, em um bem lançado artigo de collaboração de P. Sonde é que sobre taes symptomas noctam-se algumas considerações, é então no meio d’ellas que descobrimos a mesma orientação dada por Dieulafoy a esses symptomas quanto a sua collocação entre aquelles que caracterisam no curso morbido de semelhante enfermidade o estádio pre-ataxico, mas quanto ao seu grande valor clinico para pratica do seu diagnos- tico, absolutamente sobre nada nos diz. Todavia n’esse mesmo tratado como é o resultado de 41 vários artigos de collaborações tem-se occasião de vèr um bom artigo de M. Peghim que não é tão nullo quanto a importância que procuro dar aos symptomas oculares na pratica do diagnostico da Moléstia de Dachenne. E’ asim que naqueila obra M. Pechim escreve por esta íonna: «Tem na pratica da clinica grande importância quando « se procura diagnosticar a TabesDorsualis os phenomenos «que se encontram para o lado do apparelho visual, e é «de tal ordem essa importância, que se chega até com o «seu auxilio a se firmar com certo critério um certo periodo « d’essa moléstia. » Ora, como se vê, M. Pechim não deixou ao olvidio os symptomas oculares da Tabes, como acabo de mostrar com transcripção que faço para aqui do seu artigo de colla- boraçãoda obra de sobre a Medicina e Cirurgia organisada por Brissud, Pinàrd e Recmls. Sendo assim já alguém que representa uma certa auto- ridade no mundo scientifico tem que me encorajou e me encoraja para proseguir no comprimento da missão que me propuz no elaboramento d’este meu trabalho. E mais esta minha coragem cresce com o augmento progressivo de provas que daqui em diante com o auxilio dos mestres irei dando e que servem para consolidarem o assumpto capital d’esta theze e que já pelos meus ama- veis leitores é demais conhecido. Desperta realmente necessidade de proseguir n’estas apresentações de provas ás minhas conclusões sobre os 42 phenomenos oculares tabeticos graças ao seu não pequeno numero e mesmo em virtude da positividade das suas afir- mativas bem harmoniosas com os meus pensamentos. Ora é assim que posso perfeitamente estabelecer com todo o fundamento esse ponto capital do meu desejo na produção d’este modesto trabalho de theze, porquanto são tão somente estes os meios capazes de basear as minhas idéas. A frente d’essas provas que passo apresentar eu declino a opinião bastante sensata e criteriosa de Pierre Mame, por esta forma expressada. «Não ha clinicamente dois «tabeticos que se pareçam graças a. diversidade de exis- «tencia sempre constante dos mesmos signaes que servem « para distinguil-os perante a clinica. » Tem ao meu ver essa opinião d’esse luminoso espirito medico da Salpetriérre real e capita! valor para a colle* ccão das provas que procuro dar afim de firmar a impor- tância da semeiologia ocular tabelica na pratica do seu dia- gnostico, porquanto por eilase deve concluir da dificuldade considerável de tal diagnostico, pela variabilidade do quadro clinico de semelhante moléstia, e portanto faz nascer a idéa da urgente necessidade que se tem de esta- belecer-se de alguma sorte as coisas da symptomatologia da Moléstia de Duchenne com ;o fim de clinicamente se poder diagnostical-a, e não é outro o meu intento com a valori- saçào que pretendo dar a sua semeiologia ocular. Desta maneira pois como se vê M. Pierre Marie pres- tou extraordinário auxilio a este meu trabalho com a 43 manifestação de sua grande idéa gerada no seio fértil de sua imaginação, e agora mesmo bem revelada com essa sua opinião aqui mesmo transcripta. Não param ahi os elementos de provas magistraes que disponho para a afirmação de que pretendo sobre a semeio- logia ocular da tabes, porquanto outras eu tenho que a isso me conduzem como sejam por exemplo ás fornecidas com ás opiniões de Maurice Fleury, M. M. Massia cDela- chanal, Fournier e mesmo do eminente espirito gloriíi- cador da Salpetrièrre o Professor Ciiarcot, conforme passo ás apresentar. Foi assim que Maurice Fleury quando diz por essa forma muito e muito me auxilia, «se bem que na cli- « nica muito seja as vezes bastante omisso os symptomas «que nos serviria para affirmar da existência de uma «tabes, salvo sempre o phenomeno ataxico, todavia «convém com cuidado examinar-se o paciente enfermo «que se desconfia estar tabetico. porque naturalmente « se encontrarão alguns signaes morbidos, que na pratica «da clinica desempenham relevantes serviços para a « pratica do diagnostico, tudo isso graças á sua constância, « precocidade e caracteres de certa ordem especiaes dos « mesmos signaes. E dando a intelligencia devida a essa maneira de expressar-se em sua opinião Maurice Fleury, acho que se elaborava no seu pensamento a seguinte idéa quando tal opinião se fez áluz, e assim a traduzi, foi que para sanar as taes difficuldades da clinica elle achava conve- 44 niente dar a um certo grupo de phenomenos morbidos daquella moléstia, salvo sempre a aloxia um valor incon- testável para o seu diagnostico. Então dentre todos esses por elle talvez pensados de subido valor para o diagnostico, julgo sempre como é o meu intento dar aos oculares o valor para tal fim que de facto elles merecem. Alem dessa minha forma de interpretar aquella sua idéa qnando semelhante opinião produziu, vem ainda em meu apoio as seguintes expressões suas externadas um pouco rnais adiante na obra que encontrei as suas idéas meste particular expendidas. «Mostramos ao lado dos phenomenos morbidos tabe- «ticos de grande"ifriportancia para o diagnostico dessa « enfermidade, aquelles das paralysias oculares transi- «torias, que, em alguns dias tornam-se duplas, ou a « queda de uma palpebra subitamente rebelde á acedo dos museu los sustenta dores ». Ora graças a tudo isso me parece que não menti quando em linhas mais atráz eu disse que tinha bons elementos de provas para a affirmação das minhas idéas deste tra- balho de theze, nas opiniões de Maurice Fleury. Continuando a dispor para aqui em comprimento da minha promessa e mesmo graças a minha necessidade os elementos outros ainda de provas magistraes que disponho para basear o que proponho estabelecer no diagnostico da Moléstia de Duchenne, é que trago e transcrevo topico de um artigo publicado na Gazette 45 dos Hospiteaux porM, M Massia e Delachanal, Internos dos Hospilaes de Lyon. Com a leitura que os meus amaveis leitores natural- mente terão occasiào de fazer da transcripção desse topico do artigo da Gazette des Hospiteaux, neste meu modesto trabalho, verão como essas explanações brilhantes elles consideram o assumpto, em harmonia perfeita e completa como o meu desejo, e dessa maneira consideraram esse topico do artigo de revista uma prova bem precisa disso que desejo provar. Eis o topico: «As perturbações oculares da Tabes que foram des- « criptas ao mesmo tempo que se descrivia a ataxia «locorvotora progressiva, isso em 1858, por Duchenne « é assignalada pela reunião de perturbações pupillares, «paralysias dos nervos motores do olho e a amblyopia, «pertu rbações essas con íi rmadas por Romberg e Troussea ux , «essas perturbações são constantes nos tabeticos, reve- « lando-se muitas vezes antes da ataxia ». Ora, não só por esse topico do artigo de M. M. Massia e Delachanal muito se pode aproveitar para valorizar os phenomenos oculares revelados no curso da Tabes Dor- sualis para a pratica do seu diagnostico e já mesmo no estádio preataxico como é o meu intento demonstrar no elaboramento deste meu trabalho, como ainda mais muito se presta para estabelecer-se até a epocha do seu primeiro reconhecimento clinico e, portanto, dados da sua historia semeiologica. Outras provas teria que apontar se porventura desejasse mais me estender nessa satisfação que presto aos meus leitores com ás suas apresentações para basearem e fortificarem a idéa sobre a qual pretendo estabelecer em clinica com este meu esforço, mas limitar-me-hei em contentar-me com as que já tenho apresentado, espe- rando que sejam como devem ser bem acolhidas e respeitadas, todavia para ainda mais ás fortalecerem lem- brarei aos que me concedem a honra da sua leitura, que os luminosos espíritos de Fournier e de Charcot, o pri- meiro d’esses em suas extraordinárias lições de clinica syphiligraphica no Hospital de S. Louiz, e o segundo nas de clinica psychiatrica e neurológica da Salpelriérre, deixavam transparecer no espirito dos seus discípulos a necessidade de diagnosticar-se a Moléstia de Duchenne pela sua semeilogia ocular quando se desejava reconhe- cel-a antes da alaxia declarada. Deixada d’ess’arte entrever a necessidade do conheci- mento bem nítido e perfeito dos signaes oculares da Moléstia de Duchenne para a sua applicação ao manejo do diagnostico, conforme a minha opinião que não é mais de que a resultante das opiniões dos mestres que a isso me conduziram, passo a expor descriptivamente esses signaes, assignalando a medida que os for descrevendo os seus valores parcellados para o fim que todos em sua reunião se destinam. E’ conveniente, um estudo expositivo dos symptomas oculares da Tahes para a medida que se os for apresen- 46 47 tando ir deter.ninando methodioamente o seu valor cli- nico conforme se tem em mira determinar, e é por isso que assim procedo neste instante. Uma exposição que se fizesse engiobadamente nào teria um certo valor porquanto não se podia estabelecer com clareza a importância de cada symptoma parcellado na pratica do seu diagnostico, emquanto que uma feita com o destaque e especialisação de cada um delles deve encer- rar bons elementos de methodo para conseguir-se distin- guir com certo critério os seus valores. E é dessa maneira que procedo apresentando-os n'esta exposição que ora faço. Dessa ordem de exposição partindo se tem opportuni- dade de ver que os phenomenos oculares revelados antes da Ataxia no curso da Moléstia de Duchenne se manifestam clinicainente constituindo vários grupos independentes, e podem ser estudados com certo critério os seiis respe- ctivos valores. O primeiro grupo que se destaca é o da sensibilidade visual, isto é corresponde áquella que se preoccupa das modificações sensitivas do orgão visual, e quando se as estuda se tem occasião de observar que taes modificações ou se revelam expontaneamente nas partes superficiaes d'aquelle orgão, ou ao contrario profundamente e para serem notificados é preciso o auxilio da pressão me- chanica digital sobre o mesmo orgão, seja de que forma forem as suas revelações o que é facto é que taes 48 modificações existem constituindo o grupo dos pheuo- menos de sensibilidade geral. Além desse, se tem ainda em tal periodo preataxieo da Moléstia de Duchenne um outro que corresponde ao da sensibilidade especial, isto é, um que se caracterisa pelo estudo das perturbações da própria funcção visual. Assim portanto comprehendese perfeitamente que pela exposição que faço ás sensibilidades geral e especial do orgão da visão soffrem modificações mórbidas nVsta moléstia a ponto de merecerem a distincção de constituí- rem um grupo especial das perturbações oculares que ora procura estudar. Ainda existe um segando grupo de phenomenos oculares na Ataxia locomotora progressiva que merece ser por mim n’esta exposição que faço referido, e outro não é sinão áquelle que corresponde ás perturbações motoras, estudando-o observa-se então que não étão somente per- turbada na Tabes a Musculatura intrinsica do globo em cujo lado se filiam as perturbações indianas e as da acomo- dação, mas ainda a musculatura extrínseca do mesmo orgão e em cujo lado também se podem íiliar as pertur- bações paralíticas do globo na cavidade da orbita graças ao não funccionamento dos musculos que constituem tal musculatura extrínseca que como bem se sabe são o recto superior, recto inferior, recto interno, recto externo, grande e pequeno oblicuo. Para se terminar essa exposição dos diversos grupos de phenomenos morbidos oculares da Tabes Dorsualis, 49 torna-se preciso a referencia ainda a um certo grupo que é bastante curioso em clinica e que merece ser bem estudado n’essas occasiões, refiro-me ao que se detem emoccupar-se dos phenomenos trophicos, secre- torios e vaso-motores do orgão visual. Tenho portanto dessa maneira de apresentar n’este meu trabalho os phenomenos oculares dessa moléstia em agrupamentos differentes, satisfeito de um' certo modo ao espirito curioso dos meus leitores, assim como tenho dessa mesma maneira procedendo, prehenchido perfeita- mente as condições de inethodo necessárias para um estudo desta natureza, agora resta após a descriptiva dos grupos detaes phenomenos como já tive opportunidadede fazer, estudar cada um delles separadamente com os seus valores respectivos com relação a clinica. E é o que vou d’aqui em deante fazer. Em primeiro logar estudo o grupo dos phenomenos da sensibilidade, n’este nocto que os signaes da sensibi- lidade ocular tabetica são de duas ordens, ou são como já tive ensejo de linhasmais atraz mostrar signaes que corres- pondem a sensibilidade geral, ou da sensibilidade especial, aestes últimos que dizem respeito a funcção visual propria- mente dieta, convém que os estude quando me occupar das alterações papilares também d’essa moléstia, emquanto que os primeiros d’esses é conveniente que por elles comece este meu estudo do grupo dos phenomenos de sensibilidade. E’ dessa forma, partindo esse estudo da sensibilidade 50 ocular tabetica que em primeiro lugar devo occupar-me simplesmente dos phenomenos de sensibilidade geral do globo ocular, e elle versará não tão somente com relação a sua discripção clinica mas também com relação ao seu valor na pratica do diagnostico de semelhante moléstia. Ora, sendo assim limitado o campo do meu trabalho, procurarei ver sobre que forma se me apresentam os signaes ou phenomenos da sensibilidade geral do globo ocular no curso da Moléstia de Duchenne, e vejo-os então ligados a sensibilidade profunda do globo, podendo só serem percebidos subjectivamente quando se íaz uma pressão sobre esse orgão, ou ligados a sensibilidade super ficial, só podendo serem notificados quando taes manifes- tações sensíveis são exploradas convenientemente. Estudando-se propedêutica e clinicamente a sensibili- dade profunda do globo nocta-se que a sensação doloroza experimentada normalmente, no curso da Ataxia locomo- tora progressiva jamais se poderá perceber, e então esta alteração ó a que constitue o signal da analgesia ocular a pressão, e tendo sido esse signal muito bem elucidado por M. M. Rocher e Merle, principalmente por esse ultimo em sua theze inaugural em Bourdeaux no anno de 4900. Todavia dizem os clássicos e eu mesmo tenho obser- vado que esse signal de analgesia ocular não é em re- gra geral commum em todos os casos de Tabes, podendo simplesmente se notar em seu lugar uma certa diminuição das sensações dolorosas, e n’esse caso tem-se uma simples hypoalgesia ocular tabetica e não um verdadeiro signal de 51 analgésica, c em outros casos mesmo pode a sensação dolorosa ser augmentada e então se ter a • hyperalgesia ocular tabetica, ou então perturbação nenhuma existir com relação a sensibilidade profunda do globo no curso dessa moléstia. Por semelhante exposição se vê cpie esse signal de analgesia ocular a pressão é de fraca importância para o diagnostico da Moléstia de Duchenne, em virtude da sua pouca constância, no entretanto quando elle exista reu- nido a outros, serve para um bom encaminhar de dia- gnostico. Terminado n este meu trabalho o estudo de uma parte do grupo dos phenomenos ou signaes sensitivos sobre o ponto de vista do meu desejo, convém que continue a estudar um ou outro grupo de signaes oculares também encontrados na Moléstia de Duchenne e dar ao seu estudo a feicção pratica que aspiro conceder a todos os oculares dessa moléstia, já que este trabalho ó a elles conferido. E’ esse grupo o da motricidade ocular, refiro-me aos signaes da perturbações musculares encontradas na Ataxia locomotora progressiva e ao seus valores na clinica com relação ao diagnostico pre-ataxico dessa moléstia. Para o estudo d'esse grupo é preciso que explane dois campos de trabalho o descriptivo e o clinico, sendo que o primeiro será áquelle no qual me deterei em estudar as perturbações extrínsecas, quer dizer as perturbações que dizem respeito as paralysias oculares, e as perturbações intrínsecas que se relacionam as paralysias pupiliares, 52 sendo que estas são as rnais importantes, tudo isto sobre o ponto de vista simplesmente da descripção pathologica, emquanto que o segundo campo do meu trabalho se limi- tará exclusivamente na valorisação someiologica de seme- lhantes perturbações de ordem motora. Para o bom desempenho dessa minha nova incum- bência é .conveniente que comece desobrigar-me d’elia pelo estudo das perturbações motrizes do aparelho visual que mantenhem estreitas relações de intimidade com a musculatura extrinseca, e então sobre essa forma apreci- ando, tenho que vêr e considerar que taes perturbações motrizes dizem respeito as paralysias que se manifestam tanto com relação ao movimento do globo ocular no inte- rior da orbita como nos movimentos da palpebral superior. E’ realmente, de facto, de grande valor no curso da evolução da Tabes ás paralysias da musculatura extrin- seca, globo ocular a pontos de se poder encontrar em 80 p. 100 de casos dessa moléstia já franca e clinicamente caracterisados com taes alterações motoras e ainda mais em pacientes em que a Moléstia de Duchenne não foi abso- lutamente declarada se encontrarem taes phenomenos de paralysias, refiro-me aos factos clinicamente regis- trados por vários mestres, da ex-istencia dessas alterações para a musculatura extrinseca do globo de se as encontrar em verdadeiro estado pre-ataxico, ( ponto este de grande relevância n’este meu estudo, pois é graças a tudo isso que lhes confiro, refiro-me aos symptomas oculares, 53 grande importância para a pratica do seu diagnostico) na evolução dessa moléstia. Assim é que registra Lauceraux e Paulesco em sua monumental obra o «Tratado de Medicina» exemplos d’esta natureza. «Os músculos inervados pelo sexto e terceiro par se achando paralysados isto é os musculos elevador da pál- pebra superior o recto externo, o recto interno somente em casos em que Tabes não foi ainda clinicamente decla- rada, emquanto em um caso dessa moléstia em o qual o diagnostico já tenha sido feito e confirmado portanto já se tendo revelado no seu quadro clinico os pheno- menos de ataxia os musculos então poupados no caso da moléstia ainda encoberta, são então agora attingidos pelas perturbações paralyticas, e esses são os inervados pelo motor ocular comrnum que são o recto inferior o grande e o pequeno obliquo», como se observa pois por este exemplo dado por Lanceraux e Paulesco, tor- nam-se bem caracteristicos os pontos de differenciação entre as alterações paralyticas do orgão visual no curso desta moléstia, consentindo até se procurar a complexi- dade ou não de taes alterações com outros dados forne- cidos pela clinica para se fazer um preciso diagnostico de Tabes Dorsualis em periodo de pre-ataxia. Alem disso não tão somente pelo que nos dizem esses mestres, como ainda pelo que tenho procurado observar, taes alterações paralyticas da musculatura extrínseca do globo desempenham preponderante papel no diagnostico 54 dessa entidade pathologica pela sua constaneía sernpre manifesta no cortejo dos seus symptomas caracteristicos. Outro ponto bem curioso e que me obriga quando tenho que fazer como agora este estudo dessas alterações paralyticas oculares do curso da Tabes tratar é quanto a discripção das suas revelações. Assim éque taes alterações nos casos dessa moléstia já clinicamente diagnosticados e confirmados começam a revelarem-se pouco a pouco e permanecem durante largo tempo, emquanto que nos casos ainda mão diagnosticados nem reconhecidos clinicamente ellas revelam-se brusca- mente tendo deminuto tempo de duração, e esta é uma rasão pela qual convém se ter muito cuidado de procurar observal-as ou pedir ao paciente posto debaixo de uma pesquiza clinica para se reconhecer se tal moléstia existe no seio do seu organismo, dados históricos que possam conduzir ao conhecimento quem sabe d’essas alterações que já existiram, emquanto que no momento que se as procura não mais existem, Apezar de uma certa importância que pode-ser confe- rido a taes phenomenos da musculatura extrínseca do olho revelados na Tabes com relação ao ponto capital do meu desejo, todavia, os signaes ou phenomenos revelados na mesma moléstia para o lado da musculatura intrínseca mirando o fim ao qual os destino representam melhor papel. Passo poisa estudar d’aqui em diante esse phenomenos ou signaes assignalando-lhes a medida que os for determi- 55 nando os pontos que n’esse particular merecem a minha at tenção. Deixando como deixei para estudar em segundo lugar taes alterações musculares não foi por consideral-as de pouca importância para o dignostico precoce da Tabes, mas sim foi para sobre ellas mais me estender pois âs refuto conforme já tive occasião áe linhas mais atraz dizer de subida importância. Dentre em pouco quando detidamente as estudar vere- mos então o seu real alcance de préstimo na pratica da clinica, e é tal o seu valor que já houve quem dissesse serem essas alterações as mais importantes dentre todos os. oculares. Por sua natureza posso dizer que quasi que se resu- mem as alterações da musculatura intrínseca nas perlar- barões pupillares e é por isso que as apresento n’este estudo que faço dessas alterações em primeiro lugar. São de Pechim as seguintes expressões; «São de maxima importância para o diagnostico da Tabes. os symptomas pupillares d’esta moléstia. » Ora se são de facto de tão grande valor taes symptomas convém que sobre elles me detenha em descorrer n este trabalho, pois poderei por em relevo essa sua maxima importância já que é este o meu intuito na elaboração desta these com todos os signaes oculares d’esta entidade mórbida. E é o que vou fazer d’aqui em diante. São os plieno- menos pupillares de varias especies, são assim tão varia- 56 das as suas formas de revelação pathologica que nocto todos as vezes que os estudo. Sito o primeiro dentre elles que é o da (desigualdade do orifício pupillar (anisoria) depois outros como sejam a falta do reflexo pupillar luminozo, (ou a aphotometria) ou signaI de Argyll fíobertson, a falta de contração pupillar depois de um esforço de oclusão das palpebras, ( reflexo de West- phal-Piltz) falta do reflexo a dor quando porventura se excita um nervo capaz de produzil-a um sensitivo, as defor- mações pupillares, a rigidez pupillar, ("isto é abstinência de todos os movimentos da pupilla) irregularidades da pupilla, o hypus pupillar (que nada mais é do que alter- nativas de contração ou myosis e dilatação ou mydriasis, e para concluir esta serie de especies ou variedades de alteração da forma ou das funcções da pupilla que se manifestam na Ataxia locomotora ainda apresento aos meus amaveis leitores uma alteração bem curiosa também com relação a pupilla n essa moléstia encontrada retiro-me a lentidão do resultado íoncional da pupilla com referencia ao emprego dos medriaticos e anti- medriaticos. Alteração essa que me leva a concluir ampliando tal manifestação extranha em resultados quando se empregam semelhantes toxicos para o lado da pupilla que taes resul- tados sempre se conservarão todas as vezes que se empre- garem um qualquer agente toxico. De todas essas alterações pupillares, e portanto das perturbações da musculatura intrínseca do globo ocular 57 da Tabes, posso destacar para occupar um dos primeiros lugares no valor que pretendo lhes prestar com è de Justiça na pratica do seu diagnostico precoce principal- mente, e sobre isso estão de pleno accordo vários mestres, as alterações de irregularidade do orifício pupillar, (ou anisocoria), e então sobre semelhante alteração discoro primeiramente. EíTectivamente são bem importantes semelhantes alte- rações com relação de tal diagnostico e sendo que d’entre ellas que são em numero de duas a demais valor ê a de con- tração ou de myosis pupillar devido a sua maior frequência symptomatologia: E’ assim, que em um infeliz tabotico se encontram sempre seus orifícios pupillares puntiformes, graças ao estado myotico do mesmos. Um facto curioso que resalta às vistas de quem estuda ou observa esses phenomenos de irregularidades das am* pliaçõesou estreitamentos dos orifícios pupillares é que nem sempre se os encontram em ambos os olhos, quero di- zer que nem sempre é a myosis (a contração pupillar) a mais importante e frequente das irregularidades é completa no apparelho visual, ou dupla para assim melhor se ex- primir, ella pode existir em um só olho, emquanto que o outro pode estar normal ou mesmo estar em estado de mydriase (dilatação pupilar). Mas todavia dizendo-se que a myosis é um phenomeno de irregularidade frequente e portanto importante para o diagnostico da moléstia que é capaz de produzil-o, como 58 bem seja a moléstia que estudo a Tabes Dorsualis, e que* até mesmo com relação a essa moléstia o Professor Dieulafoy o coircede grande valor e o proprio Lance- raux e Paulesco que na sua obra o Tratado de Me- dicina lhe concede até valor quanto a precocidade dia- gnostica, no entretanto não se quer dizer que não existam individuos que sejam portadores do semelhante moléstia e que não contem no seu quadro semeiologico semelhante phenomeno ocular. Pois é assim que áquelle outro phenomeno de irre- gularidade opposto a esse que venho de refirir-me, isto é o mydriatico já por mim assignalado como existindo mesmo ao lado do myotico em um Tabetico nos casos das contrações pupilares únicas ou uni-globulares nos quaes se deparam com um olho myotico e outro mydriatico, tam- bém se o pode encontrarem ambos os olhos, constituindo por esta forma um outro estado de phenomenosde irre' gularidade. Mas, apezar de tudo isso, em regra geral o phenomeno de contração pupillar ou a myosis se encontra mais fre- quentemente na Ataxia locomotora progressiva, e n’este caso elle se revela em ambos os olhos. Pode-se também notar muitas vezes quando se os pro- cura tanto o myotico como o mydriatico se os não en- contrar o que é bastante raro, dessa maneira portanto vê-se como esses phenomenos de irregularidade do orifício pupillar têm extraordinário valor perante a clinica com relação principalmente ao ponto do meu desejo, o qualcon- 59 siste em mostrar a serventia de taes signaespara o diagnos- tico precoce da Moléstia de Duchenne, pois como acabei de sobre elles referir-me são bem frequentes nessa molés- tia e dos dois o myotico é o inais commum. Deve-se ainda fazer notar neste trabalho um facto trazido ao nosso conhecimento por Pechim relativamente ao estado mydriatico da pupilla, e esse é que em alguns casos não muito raros quando a pupilla se acha dilatada, assim não permanece e sim se mtantem sobre a forma spasmodica, podendo sei' semelhante dilatação ou mydriase limitada exclusivamente a um só globo e nesse caso será uni-globular ou uni-la- teral, contrastando mesmo com o outro globo que pode ter concumitantemente a sua pupilla contrahida isto éem estado de myosis, ou então como é mais commum tal es- tado mydriaticos spasmodico que se chamará mydriases alternante existir em ambos os olhos no curso dessa mo- léstia a Tabes Dorsualis. A única parcella de auxilio que pude aproveitar para chegar ao fim de que me proponho com essa observação de Pechim sobre essa irregularidade do orifício pupillar, a mydriase, foi tão somente a seguinte: Tomando como ponto de partida para a observação das irregularidades das pupillas no curso da Tabes e principalmente para o seu reconhecimento clinico por meio da arte do diagnostico a irregularidade myotica graças a sua frequência no rói da sua semeilogia ocular, é que o aparecimento de uma irre- gularidade inversa em effeito perturba o seu perfeito e 60 nitido reconliecimento clinico, tal é o caso de ao lado da myosis em um olho, se encontrar na pupilla do seu par, uma mydriasis alternante. Já não me refiro aos casos da sua existência solitaria em ambos os olhos que também offerecem certa atrapa- lhação ao manejo do reconhecimento das irregularidades pois é preciso certa cautela em procural-a, mas apezar de tudo isso, a cautela e o cuidado do medico que procura diagnosticar uma Tabes precoce portaes irregularidades do orifício pupillar, fará desaparecer essas dificuldades surgidas do aparecimento da mydriasis alternante. Depois de terreferido-me a um dos pbenomenos de ordem pupillar de certo e determinado valor no diagnostico precoce da Tabes Dorsualis, os de irregularidade pupillar, refirir- me-hei d’aqui em deante um outro phenomeno de ordem pupillar também encontrado nessa entidade mórbida e qnedo mesmo modo que outro tem importância não pequena para o mesmo diagnostico. Dizendo que esse outro phenomeno pupillar que não é sinão o denominado pelos pathologistasde Signalde Arçjyll- liobertsom (falta de reflexo a luz) tem importância não menor para o fim a que ambos proponho destinar, isto é este e ao da anisocorai, não importa dizer que os tenham dife- rente valor, absolutamente, apenas o que quero pôr em des- taque é que esse como o outro desempenham também saliente papel no manejo seineiologico de taí diagnostico, todavia deixo ao critério profissiencia e mesmo mérito do medico na especialidade para o seu reconhecimento com 61 relação a superioridade de um ou do outro sobre seme- lharite resultado na pratica da clinica. Uieulafoy o grande clinico e proíessór em França, não concedia ao signal de Argyll Robertsom grande valor para o diagnostico desta moléstia isto é não o conside- rava como faziam muitos pathologistas com caracter de pathognomonidade, no entretanto afirmava a sua cons- tância no seu cpiadro clinico e o collocava até no grupo dos symptomas pre-ataxicos. Tomava como basedessasua argumentação a sua exis- tência em afTecções de outra ordem como bem fossem as hemiplegias as paraplegias e mesmo certas entidades extranhas a neuro-pathologia, e assim pensava muito bem de accordo com as opiniões então reinantes sobre esse assumpto de Ciiarpentier e tantos outros mais, eram portanto essas as idéas sobre tal signal expendidas por esse eminente professor nas paginas de sua grande e monu- mental obra. Apesar dessa maneira de interpretação dada a esses signaes com relação ao diagnostico da Tabes, já mesmo faltando ao seu diagonstico precoce isto é pre-ataxico, por semelhante espirito todavia o bom senso clinico e mesmo ainda as opiniões dos mestres também não menos illustres contrariam por completo,sinão mesmo aproveitam as pró- prias expressões de Dieulafoy para contradizerem as suas idéas n’este particular. E' assim que, diz-nos o bom senso na clinica, se não é de facto pathognomonio tal signal ocular na Moléstia 62 de Duchenne o é no entretanto constante o que muito importa para conceder-lhe grande valor no rol dos seus sym- ptomas, ora por ahi já se vê que o proprio Dieulafoy negando o seu valor clinico por um lado concede-lhe pelo, outro tal são as suas idéas expendidas na sua própria obra e que já às apresentei neste trabalho resumidamente. Além disso, Lancerauxc Paulesco, os autores deste já por mim fallada nesta these tantas vezes o Tratado de Medicina, quando se referem ao signal de Argyll-Robertson d’esta moléstia se exprimem desta maneira: «são real- mente da maxima importância para o diagnoslco da ataxia locomolora progressiva os reflexos pupilares e dentre esses reflexos um dos mais importantes é o de Argyll-Robertson, e isso devido a sua constante existência.» Ora pelo exposto como bem se vê não pode ser mais po- sitivaessa opinião com relação as que consistem enávalorisar clinicamente esse signal, principalmente em conceder-lhe certo e relativo valor para o seu diagnostico pre-ataxico, embora tivesse contra mim o Professor Dieulafoy, no en- tretanto mesmo com o seu auxilio não obstante exprimir se diversamente pude como linhas atraz já tive occasião de mostrar valorisar semelhente signal coin asua própria opi- nião, quanto ao seu caracter de constância e até mesmo chego agora aproveitando-me das suas próprias lições dadas sobre semelhante moléstia a dizer que o signal de Argyll-Robertson tem na Moléstia de Duchenne não tão so- mente valor pela sua sempre constante presença para o seu diagnostico, como ainda chega a estabelecer-se per- 63 feitamente o seu estádio de pre-ataxia, porquanto como bem elle e todos os pathologistas dizem este signal é constante e se o encontra sempre antes da Átaxia decla- rada. Tenho ainda mais para me auxiliar a chegai’ ao fim que pretendo, neste instante o juizo bem fundado de Pe- chim ainda sobre isso relativamente, nesta sua phrase re- ferindo-se a esse signal, este signal é sempre constante na Tabes e no seu período de começo. Jà se vê portanto que procurei como era natural che- gar ao resultado d5esta grande verdade clinica e que tive occasião de verificar e vi praticamente em um doente de minha observação pessoal, o signal de Argyll Rober- tson existe quasi sempre na Tabes Dorsuales, e por exis- tir quasi sempre antes da ataxia declarada em um tabe- tico se prestas auxiliado pela existência de outrosdessa moléstia a muito bem se estabelecer um diagnostico da Moléstia de Duchenne em estado de pre-ataxia. Continuando a exposição que me propuz fazer aqui neste meu trabalho, agora simplesmente dedicado aos pheno- menos encontrados para o lado da pupilla no curso da evolução da Moléstia de Duchenne e a medida que os fosse expondo ir determinando os seus valores com rela ção ao diagnostico precoce dessa affecção, é que passo a trazer a luz nesse momento de outros que se bem tenham importância menor ao fim que os destinos todavia não deixam de muito auxiliar ao clinico em occasiões pre- cisas. 64 Colloca-se a frente desses phenomenos pupillares de ordem secundaria relativamente ao diagnostico da Tabes, o Siynal XVesphal-Piltyz (abolição do reflexo de contração pupillar em seguida a oclusão das palpebras.) Se bem que esse signal receba de Lanceraux a significação do seu valor na pratica de tal diagnostico pelo motivo unico de pertencer ao grupo dos phenomenos reflexos aos quaes elle concede subida importância, recebe ainda na opinião bem autorisada de Erb real distincção clinica pela suffi- ciente rasão de se o encontrar constantemente em todos os tabeticos quando pesquisado e sempre antes do apa- recimento da ataxia. Um outro phenomeno pupillar também-dessa Moléstia e que merece ser também aqui nesta exposição de valo- risação clinica notificado, é o da abolição do reflexo myo- tico quando se excita um nervo sensitivo, portanto falta do reflexo pupillar á dor, tem tanto ao meu vêr como ainda graças a opinião de Lanceraux por pertencer ao grupo dos phenomenos reflexos grande valor no diagnostico de se- melhante moléstia, como ainda gosa de perfeito valor dia- gnostico segundo a proficiente opinião de Erb que diz tel-o encontrado quasi sempre quando se o pesquiza no curso da Ataxia locomotora progressiva antes da Ataxia revelada, E posto pelo que venho de mostrar, tem esse phenome- no reflexo importância bem nitida no diagnostico precoce dessa entidade mórbida, a única diíficuldade está, em se poder querer pesquizal-o. Passo agora mostrar um outro phenomeno pupillar 65 revelado no curso dessa mesma affecção, refiro-me ao Hijppus pupillar ( contração e dilatação do orifício da pupilla concumitantemente), esse phenomeno me abre campo a fazer sobre si algumas considerações / afim de valorizal-o dinicamente conforme me propuz á todos os pupillares nessa affecção encontrados. E’ assim que faço notar ser esse symptoma ocular de pouco valor na clinica por um duplo motivo, primeiro pela sua pouca constância, segundo pela difficuldade de se poder observal-o graças a condições próprias que pode estar sujeito o mesmo orifício pupillar ifesta Moléstia de Duchenne, haja a vista o estado de rigidez pupillar. Mas apezar de tudo isso, todavia quando é possível ser elle observado por se poder produzir, quando portanto existir e que eu tiver reunido a outros, ou de ordem ocular ou mesmo extranhos ao apparelho da visão, mas que pertençam ao quadro clinico da Tabes Dorsualis prestará algum auxilio ao seu diagnostico, naturalmente também pre-ataxico porquanto todos os signaes da esphera ocular se manifestam sempre neste estádio morbido. Tenho ainda que me referir as modificações que soffrem na Tabes a pupilla quanto aos effeitos do emprego dos collyrios medriaticos e anti-medriaticos differentemente dos que se passam no estado normal. Observa-se que, quando se usa um desses collyrios muita lentidão na producção dos seus respectivos effeitos r rv 66 em um doente tabetico, e isso mesmo se nota em um qualquer intoxicado. Ora como se vê no caso de se poder perfeitamente observar tal modificação com o emprego da atropina e da ezerina n’essa moléstia se podia firmar um bom diagnostico da mesma por ser de facto tão nitido o phenomeno, no entretanto isso não é possivel, primeiro porque nem sempre ha facilidade de se poder observal-o por condições próprias da pupilla tabetica, segundo pela sua divisão de importância semeilogica, porquanto nos casos morbidos resultantes de intoxicações organicas taes e idênticas modificações se encontrão quando as suas pupillas estiverem sujeitas a acção desses mesmos collyrios. Mas apezarde tudo isso, querendo-se deduzir de taes modificações algumas condições de valor para o diagnostico da moléstia que se as encontram, é só tentar as suas pro- ducçõesse as condições pupillares permittirem, e se os symptomas que excluem as hypotheses de intoxiçações esti- verem postos por terra, e então sómente assim ellas repre- sentarão o ideal desejado, o que não será difficil obter, e então prestarão somente assim essas modificações em , clinica algum valor. Em resumo, concluo afftrmando que depois de ter estudado como pude á [luz da moderna pathologia os symptomas pupillares da Moléstia de Duchenne, acho que elles na sua essencia embora que uns mais de que outros, conforme tive ensejo de particularmente ir mos- 67 trando, a medida que seguia na exposição que venho de fazer, desempenham subido distincto e importante valor no diagnostico pre-ataxico dessa entidade noso- logica. Depois de ter estudado e exposto n’este trabalho as perturbações musculares e da sensibilidade ocular reve- ladas no curso da evolução daTabese tendo já assignalado convenientemenle a sua importância sob o ponto de vista do seu diagnostico pre-ataxico, resta-me agora com- pletando o assumpto que procuro occupar-me trazer para aqui um terceiro grupo de perturbações ocu- lares d’essa mesma moléstia, o constituido pelas alterações vaso-motores ou secretorios e as tropbicas, e assignalando-lhe também o seu valor clinico. A’s vaso-motoras comprehendem ao estudo da épiphora e dadacryorrhéa, encontradas nos doentes d’essa moléstia, são essas perturbações de ordem secretorias e não se limitam a glandula lacrimal exclusiva mente vão mais além fazendo interferir nas suas produções alterações depen- dentes das demais glandulas do olho. Essas perturbações não desempenham papel capital ou especial relativamente ao diagnostico precoce isto é ao pre-ataxico da Moléstia de Duchenne, porquanto ellas se bem que sejam constantes c conhecidão até com outras mais também dependentes de alterações vaso-motores como por exemplo sejam a syalorrhéa a gasteorrhéa e a en- terorrhéa encontradas n’essa mesma moléstia, não são mani- 68 festadas no desdobrar do seu quadro morbido antes do seu phenomeno principal e caracleristico a Ataxia. No entretanto desempenhariam relevante papel se por acaso existissem antes desse phenomeno, e eis o motivo de segundo a opinião de Ferè assignalal-as para o seu bom e perfeito conhecimento quando se fazem estudos desta natureza, como este meu agora, porque, se bem que ainda mão estejam semelhantes perturbações confirmadas como existindo antes da Ataxia no curso daTabes, todavia não será difficil ás encontrar. E portanto nesse caso não será nenhuma surpreza para o observador clinico, e des- empenharão naturalmente com essas revelações relevan- tissimo papel diagnostico, pois a questão é só de brevidade no seu apparecimento pois que já são pelo menos cons- tantes. Convém ainda mais para esclarecer ao espirito dos meus amaveis leitores com relação a essas perturbações dizer que são ellas as que dão origem ao muito conhecido do lacrimejamento dos ataxicos, e outrosim essas alterações se apresentam clinicamente sob a forma de acessos o que muito concorre para ainda mais firmarem o seu valor diagnostico. A’s trophicas, estas estão intimamente ligadas as pertur- bações da sensibilidade, desde quando essas resultam de alterações dos nervos sensitivos que são mesmo tempo trophicos, como por exemplo o nervo trigemeo. Originam taes alterações lesões diferentes para a cornea 69 sclerotica, emfim por diversas partes das membranas do globo ocular. Mas, não desempenham importância diagnostica por- quanto são lesões em geral destruitivas e não bem syste- matisadas que podem ser confundidas como oriundas de varias causas, alem de serem bastante tardias nas suas revelações mórbidas, apenas auxiliam ao diagnostico. Apezar d’ísso existe uma alteração trophica no curso dessa moléstia que não determina lesões como estas que venho de estudar destruitivas e ás vezes mesmo phleu- gmazicas como por exemplo as Keratites trophicas, mas sim lesões chronicas de atrophia, como seja por exemplo a especial atteração da papilla atrophica que desempenha ao contrario das demais grande valor clinico. E o apparecimento dessa alteração no curso da Moléstia de Duchenne é o ponto principal de contacto das pertur- bações da sensibilidade também já por mim estudadas n’essa mesma moléstia com essas perturbações trophicas, porquanto o estudo da atrophia papilar é mesmo que o se estudasse a sensibilidade especial ou a funeção visual propriamente dieta. E é o que passo agora a fazer em seguimento d'esse estudo que fiz das alterações troph icas extranhas a atrophia da papilla. A’atrophia da papilla è uma alteração ocular da Moléstia de Duchenne que podemos consideral-a de grande importância tanto para o diagnostico como mesmo pelo seu proprio valor semeiologico, pois ella 70 engendra graças a atrophia do nervo opticodaqual resulta uma íalta da funcção própria da faculdade de vêr. A importância que lhe confiro sob o ponto de vista do diagnostico é porque essa alteração atrophica se encontra constantemente n’essa moléstia, assim pode-se mesmo relativamente ao diagnostico se ir muito mais além aífir- mando-se que tal alteração encontra-se quasi sempre antes da ataxia se ter revelado, e portanto de subido valor para o seu reconhecimento clinico em estado de pre-ataxia. Assim a reconhece Lery — e tantos outros escriptores médicos, como bem sejam M. Mendel que sobre isso muito bem se exprimiu em um bem lançado artigo publi- cado na Semaine Medicai de Fevereiro de 1901 e muitos outros. Procurando se dizer algumas palavras para explicar-se a luz da modernaphysio-pathologia ou mesmo da anatomo- paí/m/or/icíiqavida,aformaeo ponto da papilla de preferencia attingido por esse processo atrophico vê-se que as idéas se confundem e se baralham eminentemente. Assim é que uns como Charcot-Virciiow e tantos outros querem ou quizeram que semelhante processo atrophico tivesse o seu começo no proprio nervo optico e que fosse uma nevrite interticial conforme dizia o primeiro d’esses, e parenchimatoza conforme opinara o segundo. Emquanto que outros queriam ou quizerem firmar para essa alteração explicarem a doutrina retiniam, taes foram os illustres membros do Congresso de Moscow e M. 71 Vom Michel, em diversas communicações íeitas à aquelle congresso e em estudos seus particulares. Dessa maneira explicavam a sua doutrina dizendo que as lesões da atrophia-papillar começavam pelas cellulas retinianas glandulares e depois é que invadiam a trama do proprio nervo optico. FinaUuente parece que depois dos últimos estudos de Le uy feitos na Salpetriêre dos quaes resultou a publi- cação do extraordinário e importante trabalho intitulado « A RETINA E O NERVO OPTICO NA AMAUROSE TABETIGA » publicado em 1904, pode-se concluir a esse respeito que semelhante Atropina Tabetica resulta de uma alteração circulatória sendo portanto a doutrina vascular a predo- minante para explical-3. Todavia portanto ao meu ver e de alguns mestres que a isso mesmo contrariam, tal processo atrophico ainda não se acha perfeitamente elucidado neste particular. Agora para terminar-se o estudo de semelhante alte- ração ocular da Moléstia, de Duchenne convém que diga alguma coisa quanto a sua apresentação na clinica, isto é, quanto a sua revelação semeiologica. Se Jfcm esse estado a encarar ‘vêjo que atrophia papillar acareta comsigo o mais grave dos phenomenos morbidos oculares que é a cegueira absoluta e completa com a progressão maxima do seu processo, no entretanto, enquanto não chegar a produzil-a a atrophia determina graves perturbações para a agudêsa visual, e para o campo também visual. 72 No campo do ophtalmoscopio quando se procuram a expressão objectiva dessa alteração atrophica da papilla, vè-se então quando é possível no seu começo alterações hypermicas da mesma, mas como maís coinmum para ser percebido e que serve mesmo para caracterisal-a é a apre- sentação da papilla descorada e um pouco esbranquiçada alem de brilhante sobre um fundo vermelho intenso que é retina, e nesse segundo caso notam-se que os seus vasos apresentam um calibre normal. Tenho dessa maneira dicto e escripto o quanto mais ou menos se tornava preciso para o esclarecimento da atrophia da papilla na Moléstia de Duchenne afim de bem caracterisar oseu reconhecimento clinico tanto como sym- ptoma ocular dessa entidade mórbida, tanto mais ainda como syiuptoma importante para o seu diagnostico antes da ataxia. Disse em linhas mais atraz neste meu trabalho quando me referia ao progresso da atrophia papillar, que a cegueira era o opilogo dessa atrophia termi- nando d’ess’arte as perturbações para a acuidade visual epara o campo oriundas da mesma causa. Pois bem, dessa maneira eu fechava o estudo dos phenomenos oculares da moléstia de Duchenne, assi- gnalando o mais grave dos phenomenos morbidos que se pode verificar para a esphera do apparelho visual. Tinha portando assim mostrado a importância ma- xima desses phenomenos, desde quando apresentava entre ellcs, além de muitos de subido valor morbido pela 73 sua gravidade, esse, que na escala dos symptomas ocu- lares encerra um mundo de consequências graves, desde quando rouba ao pobre e infeliz enfermo que lhe serve de portador o uso da mais sublime das funcções humanas, a faculdade de ver, e lhe lega o mais medonho e horripilante dos espectaculos, o espectaculo da tréva. Sendo assim portanto .não será demais que anne- xando a este estudo diga algumas palavras em torno desse symptoma ocular gravíssimo,com o fim de lhe con- ferir elevado valor semeiologico, não tanto sob o ponto de vista do diagnostico por que se sabe muito bem que elle é bastante demorado no seu apparecimento, mas sim para exprimir o seu valor symptomaticamente intren- seco. E assim pois, é que sobre a Ceg-ueira Tabetica me detenho agora. E’ ella o termo ultimo das affecções oculares da Tabes, é o final da atrophia optica, resulta nessa enfermidade do progresso lento e e comedido da perturbação da agudeza e do retrahimento do mesmo campo, perturbações essas resultantes da progressão também lenta e gradual da hypoplasia dos elementos propriamente opticos. Forma essa de sua producção lenta e gradual que lhe permitte reunido ao caracter de bi-globulidade differen- cial-a da sua congenere a cegueira toxica cie Fournier que se produz nos intoxiados de uma maneira brusca e attingin- do a um só . olho, offerecendo portanto o caracter de uni- globulidade. r -t rv 74 Alem deste ponto que venho de referir-me da historia clinica da cegueira tabetica, um outro de não menos valor convém ser reconhecido para muito bem a caracte- risa e valorisal-a e esse é o seguinte: Se bem que esse phenomeno se produza em um pe- ríodo já bastante adiantado dessa moléstia, a Tabes Dorsualis, visto como resulta da finalisação das alte- rações atrophicas do nervo trophico que conforme já mostrei se fazem até chegarem a produzil-o de uma forma bastante lenta, todavia isso não impede de se poder percebel-o em um periodo bem começante dessa moléstia, conforme registra em observações pes- soaes os professores Fournier, Martin, Gover e Píer ré Marie, sendo que dessa forma revelados des- empenham preponderante papel para o seu diagnos- tico precoce, pois elles o registram sempre antes da ataxia. Pergunta-se agora como é que sendo a cegueira n'essa enfermidade, o resultado da atropina do nervo optico, e esse processo não sendo tão prévio no seu apparecimento conforme já mesmo fiz notar quando sobre elle me referia, ella se revela em dados casos tão previamente a producção naturalmente completa de sua causa ge- radora ? Esse é um problema que de facto não está muito bem resolvido ainda nem em neuro-pathologia, nem mesmo em ophtalmologia, mas não será difficil de resolvel-o, mas eu é que sobre isso não me proponho, apenas o 75 que posso dizer é que a cegueira tabetica também se pode revelar antes da ataxia, tomando como íé as observações daquellcs professores eminentes, mas o que é mister elucidar aqui é o seguinte: que tal cegueira existe mas sob a forma de accessos, tão somente. Eis que dessa maneira tenho dito tudo que sei sobre os symptomas oculares da Moléstia de Duchenne, e tenho cumprido a minha promessa de valorisal-os na pratica do seu diognostico; dessa maneira procedendo não fiz mais de que cumprir o meu dever para o perfeito desencargo da minha consciência medica, embora, que, para isso fosse preciso reunir em algumas occasiões dados do conhecimento alhéio, mas fitando um fim tão util, e tendo em vista a necessidade que para isso tinha não é para notar que assim tivesse procedido. O que é facto, é que este meu trabalho representa o resultado da grande som ma de valores desses symptomas oculares na pratica do diagnostico pre-ataxico da Moléstia de Duchenne. PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras do curse de sciencias medicas e cirúrgicas PROPOSIÇÕES ANATOMIA DESCRIPTIVA 1 A parotida é a mais volumosa das glandulas salivares. ii Ella está situada na excavação ou loja parotidiana. III Por sua fez esta loja é situada no pescoço e limitada, para diante pelo ramo montante do maxillar inferior, para tráz pela apophyse mastoide, para o alto pelo conducto auditivo externo. ANATOMIA JMEDICO-CIRURGICA I E’ a Anatomia medico-cirurgica a base da anatomia clinica. 80 II Quer se comprehenda a clinica medica, quer se refira á clinica cirúrgica. III Ante a clinica medica ella concede o favor do conheci- mento nitido e perfeito dos orgãos submettidos ao exame, e perante a clinica cirúrgica ella ensina o caminho por onde deve seguir o instrumento do cirurgião em uma intervenção operatória. HISTOLOGIA I A ceilula animal elemento primeiro de um tecido só a esse constitue quando se acha reunida ás suas seme- lhantes. II A reunião portanto dessas cellulas é que formam os tecidos animaes e a reunião dos tecidos é que constituem os orgãos e esses por sua vez os apparelhos, os quaes harmonicamente reunidos os organismos animaes. m São quatro as variedades de tecidos animaes, a saber: o epithelial, o muscular, o conjunctivo e o nervoso. 81 BACTERIOLOGIA 1 k blennorragia é uma moléstia microbiana caracterisada principalmente pelo curimento purulento do canal da uretra. II O microbio responsável é o gonococus de Neisser que foi descripto em 1879. ilí Esse germen é um diplococus, tendo a forma de um grão de café ou riniforme, sendo que é reconhecido ao microscopio pela sua fornia caracteristica e pelo seus meios proprios de coloração que são os corantes da anilina e não tomar o Gram. ANATOMIA E PHYSIOLOGIA PATHOLOGICA I Na cystite tuberculosa encontram-se lesões caracte- risticas desta entidade pathologica. II Caracterisam essas lesões as granulações tubercu- losas que graças ao seu amolecimento e sua destruição formam ulceras circulares de um fundo amarello. III Taes ulcerações se localisam de preferencia ávesinhança do cólo e perto dos orifícios dos ureterios. 82 PHYS10L0GIA I O estomago age na digestão: í.° pelos sensmovimentos, 2.° pelos suecos que elle de uma maneira reflexa secreta de suas glandulas. II Esses movimentos têm por fim fazerem os alimentos penetrarem no estomago e d elle sahirem, e esses suecos transformarem a substancia alimentar em matéria nu- tritiva. III Quando nem esses movimentos existem ou estão alte- rados, ou mesmo quando taes suecos não são secretados graves perturbações podem resultar para a digestão es- tomacal. THERAPEUTICA I Acho que a melhor definição deTherapeutica seria toda áquella que abrangesse por completo todas as nocções do remedio, porque tudo mais lhe é extranho. II P Parece a primeira vista que, tal definição é muito limi- tada, mas eu a acho por demais complexa porquanto se formos reunir todas as nocções praticas ou theoricas de um remedio, reuniremos não só toda Medicina como as ■ outras demais sciencias. 83 III A Therapeutica Homoeopatha a menos que o futuro alguma coisa me diga para mim continua a ser uma lettra morta na sciencia da arte de curar. HYGIENE T 1 Quanto mais manifesto fôr o crusamenlo da especie liumana, tanto mais será possível o seu aclimatamento em uma dada região. II Isso que acabo de dizer na primeira proposição é a expressão clara da verdade scientifica, pois assim pensam quasi todos os modernos hygienistas. III Com esses dados portanto pode-se aífirmar a igualdade das raças humanas perante a natureza pelo menos, por- quanto, sendo a saude a base physica da vida liumana, todos os organismos com ella serão naturalmente iguaes pois são iguaes os orgãos que os constituem produzindo-a com a mesma semelhança. MEDICINA LEGAL I O caracter principal da morte è a putrefa^ão. II Essa evolue diferentemente constituindo quatro pe- ríodos. 84 III Sendo que taes períodos variam em sua revelações materiaes conforme os meios onde ella putrefação se produzir. PATHOLOGIA CIRÚRGICA 1 O cancro dos ossos pode ser primitivo o que é raro, ou secimdario o que é mais commum. II Os cancros secundários têm como ponto de predileção para se localisarem no organismo humano as vertebras dorsaes e lombares e são muito frequentes nos seios da mulher. III Todas as variedades desses neopíasmas têm sido obser- vados, sendo que nos ossos principalmente o encephaloide é o menos raro. OPERAÇÕESE APPARELHOS I As intervenções operatórias facultativas exigem para a sua pratica muito senso clinico e competência profissional. II Porque se assim não se considerar muitos serão os desastres para o operador epara o operado. 85 111 E como a medicina não pode encerrar em si nada que a macule oudisvirtue, tanto sobre o ponto de vista de sua magestoza grandeza como oíficio, como pela sua acção sublime de humanidade, a pratica de semelhantes inter- venções devem ser cuidados com bastante zèlo e amor, porque se assim não fôr o doente será uma victima ou um infeliz especulado da ignorância do charlatanismo medico. CLINICA CIRÚRGICA (l.a Cadeira) I E’ a ablação o racional dos nevromas. $ II Esta ablação é feita com a secção do nervo onde se localisa o tumor. III Deve ser bem dolorosa tal intervenção. 86 CLINICA CIRÚRGICA (2.a Cadeira) I Quando os traumatismos determinarem lesões de vasos importantes deve-se praticar a ligadura. II Essa se pratica de duas maneiras. ui Ou nas duas extremidades do vaso lezado caso o feri- mento seja na sua continuidade, ou em uma só extremi- dade, que se percebera qual seja, graças a hemorrhagia. PATHOLOGIA MEDICA I À Moléstia de Duchenne é umaaffecção essencialmente nervosa, e portanto pertencente aos domínios da neuro- pathologia. II A sua verdadeira causa ainda não está perfeitamente elucidada em sciencia conforme já tive occasião de dizer quando no desdobrar da minha these sobre isso me detive. I Seus symptomas principaes são para mim os oculares e o da ataxia, sendo que o segundo d’esses serve princi- palmente para caracterizar e deíinil-a em pathologia, 87 emquanto que os primeiros se prestam brilhantemente para o seu reconhecimento na clinica e até mesmo pre- cocimente a sua revelação mórbida capital. CLINICA PROPEDÊUTICA I Esta clinica, sendo a previa, isto é o que estuda o diagnostico na sua essencia, será sempre a diretriz do medico u Ella condensa em si todos os conhecimentos médicos com os quaes ella maneja no desenpenho do sua pratica. Iil O seu grande valor scientifico em Medicina se assentua com o auxilio que ella no seu desempenho presta graças aos seos segredos a cabeceira do doente no reconheci- mento da moléstia. CLINICA MEDICA (l.a cadeira) I E’ incontestavelmente o Paludismo o principal mal da população bahiana. II Quasi todos os leitos das enfermarias de clinica medica ou são occupados por impaludados ou por moléstias outras que foram encontrar a porta dos organismos onde ellas medram, abertas por esta hecatombe bahiana que 88 ampliando-se mesmo a phrase póde-se cliamar hecatombo do Norte do Brazil. III Muita culpa devemos aos nossos governos pela sua desidia nisso, pois nenhuma moléstia mais conhece a pathologia e a clinica mais curável e evitave) do que essa que tanto mal nos produz. CLINICA MEDICA (2.a cadeira) I Ainda ao lado do Paludismo na Bahia colloco para explicar quasi todas as demais enfermidades dos hahianos aquelles dois factores etiologicos que aqui como em toda parte produzem os seus malefícios, refiro-me á Syphiles ao Álcool e a Tuberculose. II Os trez bem evitáveis, sendo que mais pela educação moral dada pela escola ou pela família, do que mesmo pela Medicina. m Porque a Medicina não póde impedir que cada bahiano use ou abuse d’aquelle terrivel toxico, porque ella não póde impedir a contaminação d’aquelle horrível morbus; apenas o que essa sciencia pôde fazer é pelos seus orgãos dizer ao povo essas verdades e aconselhal-o, e quando o mal está feito proceder como ella procede minorando os padecimentos do infeliz ou curando se íôr possível ainda. 89 MATÉRIA MEDICA, PHARMACOLOGR E ARTE DE FORMULAR I Existem trez incompatibilidades medicamentosas que merecem ser bem conhecidas tanto pelos médicos como pelos pharmaceuticos. II São essas incompatibilidades ás seguintes, ou as de ordem chimica ou as de ordem pharinaceuticaou finalmente as de ordem physiologica. III Convém estudar e conhecer períeitamente cada uma delias nas suas partes essenciaes afim de evitar certos erros na pratica da clinica de subido valor. HISTORIA NATURAL MEDICA I Na familia das solanacéas existe uma especie de planta que desempenha grande papel em medicina, é a atropa belladona. II Esse seu grande papel vem pela existência de um alca- loide que ella encerra. ui Chama-se atropina esse alcaloide e tem largo emprego ophtalmologia. 90 CHIMICA MEDICA I 0 Cbloro é um metalloide representado pela formula chimica Cl e o seu peso atomico é—35,5. II E’ um gaz amarello esverdinhado, de cheiro irritante, solúvel n’agua em 3/4 do seu volume. IH Muito empregado em medicina como desinfectante, graças a sua acção sobre certos productos da putrefação. OBSTETRÍCIA I Podemos dividir as modificações do organismo mulher gravidica em trez periodos mensaes. II Sendo que cada um d’elles pode denominar-se de l.ff, 2.° e 3.° trimestre. ui No l.° dominam como signaes symptomatologicos phe- nomenos reflexos, no 2.° os phenomenos não são aparentes a pontoda mulher considerar-se sem nenhum encomodo, no 3.° observam-se então phenomenos de compressão. 91 CLINICA OBSTÉTRICA E GYNECOLOGICA I O parto é considerado um phenomeno physiologico da vida da mulher, no entretanto quando não é natural póde ser tido como um phenomeno pathologico. II Seja como íôr, natural ou não, eu o considero um phenomeno physiologico em regra geral. III Visto como, 'sendo o complemento da eminente funcção própria da mulher a gestação é claro que se considerando physiologico tal phenomeno procede-se muito acertadamente, porquanto está visto que d elle se eliminam as alterações pathologicas. CLINICA PEDIÁTRICA I As gastro-enterites são affecções muito communs em creanças. II Principalmente em creanças ainda no aleitamento. III Uma complicação bem grave d’esta enfermidade é a meningite tendo produzido previam ente muitas vezes a parotidite. isfo. Secretaria da Faculdade de Medicina da Bahia, em 28 de Outubro de Í908. 0 Secretario, Dr. Menandro dos Reis Meirelles.