DISSERTAÇÃO a cadeira de clinica ophthalmologica PROPOSIÇÕES Três sobre cada uma das cadeiras da Faculdade. APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO em 30 de Setembro de 1887 E PERANTE ELLA SUSTENTADA A 29 DE DEZEMBRO DO MESMO ANNO PELO Ir, Uníorno fítees àe fflesquiía Júnior NATURAL DO RÍO DÊ JANEIRO Filho de Antônio Alves de Mesquita e de D. Firmina Maria de Mesquita. RIO DE JANEIRO Typ graphia, Lithographia e Encadernação a vapor LAEMMERT óc C. 71, Rua d >s Inválidos, 71 1887 DIKECTOIK.— Conselheiro Dr. Barão de Saboia. VICE-DIRECrOK.-Conselheiro Dr. Barão de S. Salvador de Campos SECRETARIO.-Da. Carlos Ferreira de Souza Fernandes iENTES CATUEWB4TICOS Os Illms. Srs. Drs. João Martins Teixeira. . Augusto Ferreira dos Santns João Joaquim Puarro . José Pereira Guimarães . Antônio Caetano de Almeida Domingos José Freire . João Baptista Koss th Vinelli José Bentcio de Abreu (Examinador). Cypriano de Souza Freitas . João Damasceno Peçanha da Silva . Pedro Affonso de Carvalho Franco (Examinador) Conselheiro Barão de S. Salvador de Campos . Luiz da Cunha Feijó Júnior (Presidente). . . Visconde de Moita Maia........ Physica Medica. Chimica mineral medica e minealogia, lioi; nica e ziologia médicas Anaomia descriptiva. Histologia theorio e pratica Chimica organiea e biológica. Pathologia geral. Physiol<>gia lheorica e experimental. Anatomia e physiologia pnlhologic s. Pathologia medica Pathologia cirurgica. Matéria medica e lherapeutica especialmente lirazileira. Obstetriia. Anatomia cirúrgica, medicina operatona e apparelhos. Conselheiro Nuno Ferreira de Andrade. . . Hygiene e historia da medicina. José Maria Teixeira.........Pharmacolog.a e arte de formular. Agostinho José de Souza Lima......Medicina legal e loxicologia. Cons lheiro Barão de Torres Homem . . . lcl;I|ica ra(>c|ica jc adultos Domingos de Almeida Martins Costa . \ Conselheiro Barão d Sabnia . . . . . . Ir!inica cirureica de adultos João da Costa Lima e Castro (Exa.nn.dor) • . f , , , • Hilário Soares de Gouvéa.......> Clinica ophialmologica. Erico Marinho da Gama Coelho (Examinador) . Clinica obstetric. e gyne.olo->ica. Cândido Barata Ribeiro........Clinica medica e cirúrgica de crianças. João Pizarro Gabizo.........Clinica de molesUas . uianeas e syphilitiea. João Carlos Teixeira Brandão......Clinica pycmalnca. L»ENTE Ü1BKTITITO SEKVIT*»© de ilMÜNTO Oscar Adolpho de Bulhões Ribeiro .... Anatomia descnpiiva. ADJUNTOS ........Physica medica. .......Chimica mineral medid e mimralogia. Francisco Ribeiro de Mendonça.....Botânica e zoologia medicar. Genuíno Marques Mancebo......Histologia lheorica e pratica. Arthur Fernandes Campos da Paz.....Chimica orgânica ehiologica. João Paulo de Carvalho.......Physiologia lheorica e experimeni .I. Luiz Uibeiro de Souza Fontes.....Anatomia e piysiologia paihologicis. ........Anatomia cirurrica, medicina operai'.™ apparelhos. Matéria medica e theiapeutica especialmente brazileira. Pharmacologia e arte de formular. Medicina legal e toxicologia. Hygiene e historiada medicina. Clinica medica de adultos. Clinica cirúrgica de adult.s Henrique Ladislau de Souza Lopes. Benjamim Anlonio da Rocha Faria . Francisco de Castro....... • Eduardo Augusto de Menezes..... Bernardo Alves Pereira....... Carlos Rodrigues de Vasconcellos. Ernesto de Freitas Crissiuma..... Francisco de Paula Valladares ... Pedro Severiano de Magalhães ... Domingos de Góes e Vasconcellos. ) Augusto Brandão..........Clinica obstetrica e gynecologica. ............ . . Clinica medica e cirúrgica de crianças. Luiz da Costa Chaves Faria.......Clinica de moléstias cutâneas e syphiliticas Joaquim Xavier Pereira da Cunha .... Clinica ophthalmologica. Domingos Jacy Monteiro Júnior.....Clinica psychiatrica. N.B.-AFaculdadenãoapprovanem reprova as opiniões emittidas nas theses que lhe são apresentadas' Typographia Universal. Lakmmert & C. r. dos Inválidos, 71. 74 ^ «, &*•*? C7 A MEUS QUERIDOS PAIS |tttotti$ ^fo<$ 44 ^pt» t 1$ Ml»! Eis concluída a vossa missão. Agora que tenho de tomar parte nas lutas da vida; agradeço-vos o quanto por mim tendes feito, e afianço- vos que jamais me esquecerei que tudo vos devo. Acceitai, pois, este trabalho que vos pertence, porque representa os vossos esforços e os sacrifícios que por mim tendes feito. 94 ^ . *v> A MEU TIO e MUITO PARTICULAR AMIGO >TMB ItiB Jll£$QU£Yl, Gratidão e Amisade. AOS MEUS MESTRES E ESPECIALMENTE ao Ir. fir. Jptlart© Soares de deuflea E A SUA EXMA. FAMÍLIA. AO MEU MESTRE E PARTICULAR AMIGO AOS MEUS AMIGOS ÊJÍ. éjrfenUam íme do (çaimo (gfetl-o Êh. (gémaio (manoel de mloiaeà Wl. ^élv-aienaa (gun/ta Uadie Joós élffeicmauo da (ooda 'iffivJv- ffiaulo Jo&e ifieweaa (ífoiieá> E A SUAS EXMAS. FAMÍLIAS. ao Exm. Sr. Conselheiro, Dr. iARlG XHB LAVRâO! E Á SUA EXMA. SENHORA. A SEU FILHO I#$É 98&8S&À 88 não achando sahida para o exterior, em virtude da cicatrízação da ferida da conjunctiva, ahi fôrma uma vesicula. Desde que se verifica a formação da cicatriz cystoide, deve-se continuar o uso do apparelho, afim de obter-se a cica- trízação completa, e, se esta não se dá, deve-se proceder á ablação da vesicula. MODO DE ACTUAR E OPERAÇÕES SUBSTITUTIVAS DA IRIDECTOMIA Varias são as explicações que têm sido apresentadas relativamente ao modo pelo qual age a iridectomia no trata- mento do glaucoma, e até hoje nenhuma das explicações apre- sentadas é bastante convincente, de modo que ainda se pro- cura saber qual o verdadeiro modo de acção da iridectomia. — 45 — O professor Grsefe explica o modo de acção da iridecto- mia pela diminuição da superfície secretora da iris, pela re- ducção da tensão do músculo de Brucke, e, finalmente, pela modificação que se dá na circulação sanguinea das mem- branas internas do globo ocular. Donders e Hoffmann acreditão que a iridectomia actúa pela diminuição do tecido da iris, que achando-se em estado da tensão irrita os nervos secretores; por conseguinte, desde que se excise uma certa porção da iris, não só diminue-se a tensão desta membrana, como também tira-se uma certa porção das extremidades nervosas. Bowman acredita que a excisão da iris dá em resultado uma communicaçâo mais directa entre a câmara anterior e a posterior; d'ahi maior facilidade na passagem dos liquidos vindos da câmara posterior, liquidos estes que se eliminão mais facilmente através da cornea e de seu bordo. Quaglino e Wecker acreditão na formação de uma ci- catriz filtrante, por onde passa o humor aquoso. São estas as opiniões que têm sido apresentadas para explicar o modo de acção da iridectomia no tratamento do glaucoma. Ainda hoje reinão duvidas sobre o verdadeiro modo de acção da iridectomia; porém, o que é verdade é que esta ope- ração, na grande maioria dos casos, cura o glaucoma e é ella que melhores resultados tem dado na cura desta affecção. Com o fim de substituir a iridectomia no tratamento do glaucoma, Hancock apresentou uma operação que tem por fim seccionar o músculo ciliar ; mas hoje esta operação acha-se abandonada, visto ter-se reconhecido que ella não podia sub- stituir a iridectomia. Stellway de Carion, acreditando que os resultados da iridectomia erão devidos antes á secção da esclerotica do que da iris, praticou pela primeira vez, em 1868, em um caso de — 46 — glaucoma chronico inflammatorio, uma esclerotomia simples, segundo diz elle, com bom resultado. Wecker, em 1869, no Congresso de Heidelberg, apre- sentou as idéas de Stellwag, e em 1871, Guaglino publicou os bons resultados de cinco esclerotomias praticadas por elle. Vejamos agora qual o processo operatorio indicado por Wecker para se praticar a esclerotomia. Antes de se praticar a operação deve-se instillar ese- rina no olho que se vai operar, até se obter uma myosis bem pronunciada ; caso ella não possa ser obtida, isto consti- tue por si só uma contra-indicação da operação. Eis o processo empregado por Wecker : depois de ter-se collocado o afastador das palpebras e fixado o globo ocular por meio de uma pinça, que se prende em uma dobra da con- junctiva, penetra-se com uma estreita faca de Grsefe na es- clerotica, a um millimetro do bordo da cornea, e, como se se quizesse fazer um retalho de dous millimetros de altura, di- rige-se a faca com muita lentidão parallelamente á iris e faz- se a contra-puncção exactamente no ponto opposto á puncção. As duas secções lateraes devem ter igual extensão e podem ser feitas ou pela simples propulsão da faca, ou então, quando o olho não se acha muito tenso, por ligeiros movimentos de serra, que serão executados com extrema lentidão, de modo a não deslocar a iris, sobre a qual gyra a parte chata do ins- trumento . Desde que se faz a contra-puncção, tira-se a pinça de fixação afim de evitar toda pressão sobre o globo ocular. Quando começa a sahir o humor aquoso, sustenta-se com a lamina da faca a iris, afim de evitar que ella faça hérnia na incisão, e retira-se lentamente a faca, tendo o cuidado de abaixar o cabo do instrumento á proporção que a porção cortante sahe da câmara anterior, de modo a incisar ainda com a ponta da faca as arcadas do canal de Fontana. — 47 — Retira-se o afastador,instilla-se uma nova gotta de eserina e ap- plica-se o apparelho contentivo. Vejamos agora qual o modo de actuar da esclerotomia, quaes as suas indicações, e se com effeito ella tem vantagem sobre a iridectomia. Segundo Wecker, a esclerotomia actúa pela natureza particular da cicatriz que se fôrma neste caso, cicatriz esta que, segundo elle, contém poros por onde se dá a filtração dos liquidos intra-oculares. A esclerotomia tem sido empregada em todas as fôrmas de glaucoma; mas é principalmente no glaucoma chronico simples, no glaucoma congênito e no glaucoma hemorrhagico que Wecker e os partidários desta operação a indicão como capaz de substituir a iridectomia. Eis como se exprime Wecker : « A esclerotomia substituirá á iridectomia nos casos francos de glaucoma chronico simples, com pouca exageração de tensão, larga câmara anterior, de modo a permittir que os myoticos produzão seu effeito. Ella será tanto mais pre- ferível á iridectomia quando se tratar de casos antigos, nos quaes o campo visual se ache já notavelmente reduzido e se avizinhe do ponto de fixação. « A esclerotomia substituirá á iridectomia nas fôrmas de glaucoma reconhecido hemorrhagico. Ella será executada como operação preparatória todas as vezes que se tiver de ope- rar um caso sobre o qual haja a menor duvida relativamente á possibilidade de uma complicação com um glaucoma maligno, ou que a dureza do globo ocular, a ausência de acção dos myoticos, nos facão temer que a execução da iridectomia possa provocar accidentes capazes de tornar o glaucoma maligno. i A esclerotomia substituirá á iridectomia no glaucoma congênito, porque nesta espécie de glaucoma a excisão da — 48 — iris é de difficil execução cm virtude de poder dar logar a perdas do corpo vitreo e a hemorrhagias consecutivas. * Como operação substitutiva da iridectomia, a escleroto- mia é, pois, indicada por Wecker nos casos de glaucoma chronico simples, congênito e hemorrhagico ; nos outros caso s porém, Wecker indica a esclerotomia como operação prepara- tória da iridectomia. Vejamos agora se realmente a esclerotomia tem vanta. gens sobre a iridectomia nos casos em que Wecker a indica, e, por conseguinte, se ella pôde substituir a esta operação. Consultando os auctores que têm empregado ambas as operações, nós achamos opiniões completamente oppostas; as- sim é que uns, como Abadie, Mautlmer e outros, dizem que os resultados obtidos com a esclerotomia são superiores aos da iridectomia; outros, porém, como por exemplo Mayer, dizem ter observado muitas vezes os insuccessos desta operação? mesmo depois de applicaçoes repetidas, e este mesmo auctor diz ter observado a perda completa da visão depois de escle- rotomias executadas em casos em que a visão era ainda bôa. A' vista desta opposição completa nas opiniões dos auctores comprehende-se perfeitamente a nossa perplexidade em tirar uma conclusão sobre o valor da esclerotomia como ope- ração substitutiva da iridectomia ; todavia, baseando-nos nas próprias palavras de Wecker* (que é o primeiro a reconhe- cer que em certos casos, apesar do medico intervir a tempo, a esclerotomia, do mesmo modo que a iridectomia, é sem resultado algum, principalmente no glaucoma chronico simples), nos * Guérit-on, raôme lorsqu'on est appelé à temps, toutes les formes de glaucome en recourant à l'iiidectomie et a Ia sclérotomie, ou enfln à Ia combinaison des deux raoyens, ainsi que des myotiques ? Malheureusement il faut dire que non, et ce sont surtout des glaucomes chroniques simples qui ne sont parfois enrayés par aucun procede opératoire; aussi est-il permis de rechercher de nouveaux moyens curatifs pour combler cette lacune. Wecker et Landolt: Traité complet d'ophthalmo logie pag. 712. — 49 — bons resultados que em certos casos dá a iridectomia, e no grande inconveniente que tem a esclerotomia de muitas vezes a iris vir interpôr-se nos lábios da ferida e determinar syne- chias anteriores que aggravão muito o estado do doente, nós julgamos que a esclerotomia não apresenta vantagens sobre a iridectomia e, por conseguinte, não pôde substituil-a. A drenagem do globo ocular, também apresentada por Wecker como meio curativo do glaucoma, não tem dado os resultados esperados por seu auctor ; por isso esta operação está hoje completamente abandonada. No glaucoma rebelde a todo o tratamento, e em que ha nevralgias ciliares intensas que muito incommodão o doente, deve-se procurar debellar as dores pelos meios médicos apro- priados. Com o fim de debellar as dores, Badal e Abadie dizem ter obtido bons resultados com a distensão do nervo nasal ex- terno ; Brailey, com a dos nervos supra-orbitarios. GLAUCOMA CONSECUTIVO O glaucoma toma a denominação de consecutivo quando manifesta-se no curso de uma outra moléstia ocular e é pro- duzido por ella. Só estudaremos as moléstias que mais commummente se complicão de glaucoma, e neste estudo procuraremos dar, tanto quanto nos fôr possivel, o mecanismo pelo qual elle se produz. As ulcerações e abscessos da cornea podem produzir glau- coma de dous modos : ou por propagação da inflammação ás camadas profundas da cornea e dahi aos canaes de filtração, 7 87—F — 50 — determinando deste modo um embaraço á filtração dos liquidos intra-oculares e o accumulo destes liquidos no interior do globo ocular, ou então, em virtude da pressão ocular, de qualquer es- forço exercido pelo doente, a ulceração se perfura, o humor aquoso sahe, a iris é impellida para diante e vem se pôr em contacto com a parte ulcerada, a ella adhere e produz-se uma synechia anterior que dá em resultado o augmento de pressão, não só pela irritação dos nervos ciliares devida ás tracções que elles soffrem por parte da iris, como também pela ob- strucção das vias de filtração na parte correspondente á sy- nechia. As keratites pasmosa e em faxa muitas vezes são segui- das de glaucoma, cujo apparecimento póde-se explicar ou por propagação da inflammação ás camadas profundas da cornea e desenvolvimento de leucomas adherentes, ou pela apparição de uma irite serosa, ou então, no período de cicatrízação da keratite, pelo embaraço á filtração, produzido pela compressão do tecido trabecular peri-corneano, sob a influencia da trac- ção cicatricial. As irites são muitas vezes seguidas de accidentes glau- comatosos que se explicão ou pela hypersecreção da iris, ou por obstrucção dos canaes de filtração por productos cellula- res, ou por adherencias totaes da iris ao crystallino, determi- nando deste modo falta de communicação entre as duas câ- maras oculares (anterior e posterior) e accumulo de liquidos na parte posterior do globo ocular. A choroidite serosa determina glaucoma por propagação da inflammação áiris, e desenvolvimento de uma irido-choroi- dite serosa, que dá em resultado o augmento da pressão intra- ocular, por obstrucção dos canaes de filtração ou por formação de synechias posteriores. Os tumores da choroide (sarcomas melanicos) dão logar ao apparecimento de glaucoma, não só por sua presença na — 51 — cavidade ocular, de modo que isto dá em resultado a reducção de volume desta cavidade, como também, nos casos em que elles se desenvolvem perto da região ciliar, por compressão dos órgãos desta região, compressão que produz obliteração das vias de filtração . As inflammações da esclerotica são seguidas de accidentes glaucomatosos, devidos também á propagação da inflammação ás outras partes do globo ocular. As luxações do crystallino são seguidas de accidentes glaucomatosos, nos casos em que este órgão representa o papel de corpo estranho, porque elle irrita as partes com que está em contacto e determina o desenvolvimento de inflammações destas partes. As rupturas da cápsula do crystallino e a descisão deste órgão dão muitas vezes em resultado o apparecimento de phenomenos glaucomatosos produzidos não só pelo augmento de volume do crystallino, em virtude deste órgão se achar embebido de humor aquoso, o que é confirmado perfeitamente pelos resultados que dá a extracção das massas crystallinianas, depois do que desapparecem completamente os accidentes glau- comatosos, como também pela diminuição ou obliteração do espaço comprehendido entre o crystallino e os processos ciliares, espaço este por onde têm de passar os liquidos para chegar ao angulo de filtração. As hemorrhagias da retina se complicão de accidentes glaucomatosos pela extravasação sanguinea que se dá no interior do globo ocular, dando em resultado augmento da pressão intra-ocular e compressão das partes que constituem o apparelho ocular. Taes são as principaes moléstias oculares que mais com- mummente são seguidas de accidentes glaucomatosos,e tal é o mecanismo pelo qual o glaucoma se produz ; mas, cumpre-nos — 52 — dizer que a elasticidade da esclerotica representa um grande papel na producção do glaucoma. Agora que temos terminado o nosso modesto trabalho, cumpre-nos pedir aos nossos mestres que vejão em nossa dis- sertação não a pretenção de ter trazido alguma idéa nova sobre o assumpto, mas simplesmente o desejo de conhecer mais pro- fundamente as questões que se ligão a assumpto tão impor- tante, como é o glaucoma. Foi, pois, este motivo que nos levou a escolher tal ponto ; e, terminando, julgamos ter cabimento a phrase : Se não fizemos o que devíamos, resta-nos o consolo de ter- mos feito o que podíamos. — 53 — OBSERVAÇÕES Observação i .a—Francisco de Paula Justiniano Gomes, branco, brazileiro, de 70 annos de idade, morador em Leopol- dina, entrou para o hospital no dia 13 de Maio de 1885, onde foi occupar o leito n. 12 da enfermaria de Clinica Oph- thalmologica a cargo do Dr. Hilário de Gouvêa. Refere que está doente ha mais de um anno e attri- bue a moléstia, que começou no O.D., á penetração de carvão nos olhos. Em relação á visão diz que ora via menos, ora mais. Do O.E. não soffreu alteração alguma. Exame do doente.—Nada de notável nas palpebras e conjunctivas de ambos os olhos, cuja tensão acha-se augmen- tada, principalmente no O.D. Arco senil em A. O. ; câmara anterior de A. O. um pouco diminuída; a pupilla do O. D. um pouco maior do que a do O. E. e um pouco oval, movimentos muito lentos e quasi insensiveis no O. D.; crystallino de A. O. nada apresenta de extraordinário. Visão: A. O. V=f com + -L V=-§-i O.D. movimentos da mão a 1 metro. O. E. V=i-com+^V=^-. Percepção chromatica bôa para A.O, ; O. D. cegueira para o rubro, enfraquecimento de percepção do azul, perce- pção do verde bôa. Exame ophthalmoscopico . — Excavação glaucomatosa profunda de ambas as papillas, um pouco mais notável no O. D.; os meios inteiramente transparentes ; annel peri-papillar bas- tante extenso. — 54 — Diagnostico.—Glaucoma chronico simples de ambos os olhos. Marcha.—Dia 14 : Prescreveu-se limonada purgativa de citrato de magnesia. Dia 15: A limonada produziu abundante evacuação. Instillação de uma gotta de eserina pela manhã e á tarde de 15 e na manhã do dia 16. Dia 16 : Foi operado pelo Dr. Hilário de Gouvêa de iri- dectomia superior do O. D., fazendo-se a anesthesía local pela cocaína. A incisão esclerotical foi feita com a faca de Grsefe e a iris apresentou-se na ferida. O Dr. Hilário fez o doente olhar para baixo e applicou, sobre o olho, algodão embebido em cocaina, para obter a anestesia da iris, que foi excisada no fim de quatro minutos ; tendo elle obtido o desejado effeito anesthesico, applicou uma gotta de eserina, reduziu a iris dos ângulos da ferida e applicou o apparelho (binóculo) de algodão phenicado e mantido por tiras de gaze também phenicada. A operação foi precedida de lavagem antiseptica do terreno operatorio, bem como durante a bifurcação. Dieta láctea. Dia 18: Levantou-se o apparelho. Tudo vai bem. Ap- plicou-se um monoculo. Dia 20: Foi praticada pelo Dr. Hilário de Gouvêa a ope- ração da iridectomia superior do olho esquerdo, anesthesía corneana e iridica feita pela cocaina, como na antecedente. Reducção do pequeno prolapso interno, instillação de eserina, applicaçâo de iodoformio e do apparelho. Cuidados antisepticos habituaes. Dieta láctea. Dia 30 : O.D. Dedos 0m,30 O.E. V=-g- vidros concavos e convexos, não melhorava. Pediu alta e foi concedida. — 55 — Observação 2.a—Ângelo Pereira da Silva, preto, afri- cano, pedreiro, de 85 annos de idade, morador á rua de S. Luiz Gonzaga 51, entrou para o hospital no dia 22 de Março de de 1886 e foi para a enfermaria de Clinica Ophthalmologíca a cargo do Dr. Hilário de Gouvêa. Refere que ha pouco mais ou menos um anno notou que a vista diminuía em A.O.; ha dous mezes isto foi se accen- tuando de modo que hoje nada vê. Diz ter lacrymejamento e sentir picadas nos olhos; de manhã quando acorda nota que as palpebras achão-se pegadas. Tem photophobia, nunca teve dores, nem anteriormente teve moléstia alguma de olhos. Recorda-se de que ha muito tempo levou uma pancada no O. E. Abusa de bebidas alcoó- licas e do tabaco e não tem antecedentes syphiliticos. Exame do doente.— Injecção conjunctival não muito intensa em ambos olhos; secreção mucosa mais accentuada no olho esquerdo; a tensão do globo ocular acha-se augmen- tada em ambos os olhos; pupillas de dimensões ordinárias, não reagindo á luz. Visão: A. O. movimento da mão a Om,50. O. D. » » » Ora,50. O. E. Nada, nem mesmo percepção quantitativa. Exame ophthalmoscopico : O. D. Excavação glaucoma- tosa da papilla, artérias muito reduzidas, papilla branca, lamina crivada muito apparente. O. E. Não se vê absolutamente nada do fundo do olho. Diagnostico: Glaucoma chronico simples O. D.; des- collamento total da retina no O. E. — 56 — Marcha e tratamento : Dia Io de Abril. Instillações de eserina três vezes ao dia em A. O. Dia 6. Prescreveu-se : Limonada purgativa de citrato de magnesia—a fórmula. Dia 7. O Dr. Hilário de Gouvêa praticou a operação da iridectomia e fez a anesthesía local com a cocaina ; a operação correu bem e applicou-se um apparelho embebido em uma solução de sublimado corrosivo (1:5000). Dia 8: O operado diz ter passado bem ; deixa-se o appa- relho. Dia 9 : Continua a passar bem. Dia 10 : Levanta-se o apparelho, tudo bem, apenas ha ligeira injecção peri-keratica; applica-se um novo apparelho. Dia 12. O operado continua a passar bem ; levanta-se o apparelho e nota-se ligeira injecção peri-keratica, cicatrízação perfeita da ferida. Dia 28 : Visão O. D. Movimento da mão a Om, 60. O. E. Nada. Dia 30: Visão O. D. Movimentos da mão a O,m60. Pediu alta. Observação 3*.—M. A. N. de 75 annos, viuvo, refere que ha longos annos já sente grande diminuição da vista á es- querda, perdendo-a de todo, e que ha 6 mezes notou pertur- bação visual á direita. Não tem, nem teve phenomenos inflam- matorios ou dolorosos. Visão : O. D. V=±. O. E. Nada ; nem percepção quantitativa de luz. Estado actual : Pupillas dilatadas ; tensão augmentada em ambos os olhos; excavação glaucomatosa de ambas as papillas,com phenomenos pronunciados de atrophia á esquerda; vasa vorticosa*muito patentes. — 57 — Diagnostico : Glaucoma chronico simples do olho direito, glaucoma absoluto do olho esquerdo. Therapeutica : Instillações de sulphato neutro de ese- rina 3 vezes ao dia. Foi proposta a esclerotomia, que foi aceita. Marcha e tratamento . — Depois de regularmente con- trahidas as pupillas, fez-se a esclerotomia em ambos os olhos pelo processo de Wecker, com a faca de Grsefe e com as indispensáveis cautelas anti-septicas. Dous dias depois muda-se o apparelho e ao 4o dia retira-se- o, continuando o uso de collyrío de eserina em solução borica. 18 dias depois tem alta sendo a Visão: O.T>.=~ O. E. Nada. O campo visual que attingía nos pontos cardiaes a 15 superiormente, 10 inferiormente, 8 internamente e 70 externa- mente, chega actualmente a 20 sup.,15 inf., 12 ínt. e 80 ext. Observação 4.a— D. E.P., idade de 42 annos, solteira, natural do Rio de Janeiro. Refere que ha quatro mezes, tendo-se resfriado, ao que suppõe, apparecerão-lhe dores muito intensas na região supra- orbitária esquerda, dores que se estendíão até a região parietal do mesmo lado, variando de intensiade com alguma regulari- dade intermittente. Ao mesmo tempo observou que a vista diminuiu muito consideravelmente no olho esquerdo. Foi tratada por um medico que classificou a moléstia de ne vralgía. As dores cessarão dentro de algum tempo, ficando-lhe a vista turva. No dia 9 de Junho apresentarão-se dores com o mesmo caracter, acompanhadas dos mesmos symptomas antes observados e mais de náuseas, photophobia exagerada, chro- mopsias e photopsias. Tratada pelo mesmo medico, em nada melhorou, pelo que recorreu a um outro medico ; mas também 8 1887—F — 58 — sem resultado algum, até que foi consultar o Dr. Hilário de Gouvêa. Estado actual. — A. O. Nevralgías supra-ciliares intensas, photophobia muito considerável, pupilla quasi ao máximo de dilatação e de uma côr verde suja, bulbos duros, alguma injecção das veias conjunctivaes. V.— Somente per- cebe movimento da mão na parte externa do campo visual e muito próximo dos olhos. Exame ophthalmoscopico do O. D.— Nada adianta em conseqüência do turvor diffuso da cornea que não deixa distin- guir a papilla e os vasos da retina. O. E. Opacidade da cornea ; porém não tão considerável como no O. D. Excavação total da papilla. Diagnostico . — Glaucoma agudo em ambos os olhos. Tratamento.— Foi proposta a operação de iridectomia que foi praticada pelo Dr. Hilário de Gouvêa; no olho direito, no dia 31 de Agosto, e no olho esquerdo, no dia 3 de Setembro. Em ambas as operações fez-se a iridectomia superior, correndo as operações perfeitamente bem, sem que houvesse accidente algum digno de nota. Dia 11 de Setembro : O. E: Joeger 19 a 12" O. D: Conta dedos a uma pequena distancia. Dia 13 de Setembro: O. D: Conta dedos a 20' Dia 4 de Outubro: O.E:Com-JrS=gj O. D: Conta dedos a 12' na parte externa do campo visual combinando com -jg-Cyl -^ S = J^j Eixo 30°. Dia 27 de Outubro: — 59 — Combinado com Cyl ~ S —-^ reconhece al- gumas letras de Jseger com— C^-combinado com +— No dia Io de Janeiro sentiu dores na metade direita da cabeça, dores que desapparecêrão no dia 2 depois do emprego de pomada mercurial e ópio. Dia 5: O exame mostra que a vista diminuiu um pouco de ambos os lados. Visão : O. E : Não pôde mais distinguir E com---j^- aliás melhor com— ~ combinado com Cyl -^S = ^ Dia 7 de Março: Com ~S = J^ não muito bem, com •—- e — não melhora. i\ Io Com -gg- lê Jceger 14 e soletra n. 13 a 8'1 Observação 5.a—O Dr. Hilário de Gouvêa foi convi- dado pelo Sr. barão de S. Salvador de Campos, para vêr a Sra. D. M. E. E. da C, brazileira, branca, de 46 annos de idade, casada, que lhe referiu que em 12 de Maio de 1882 teve um ataque inflammatorio do olho esquerdo, com grandes dores e perturbação da visão por algumas horas, tendo, porém, as dores durado mais de 48 horas. Este ataque foi diagnosti- cado de glaucoma agudo, e como tratamento foi proposta a iridectomia. Depois deste ataque a doente teve mais dous da mesma natureza : um a 12 de Junho, com três dias de dores; outro em Julho, que durou do dia seis ao dia nove, dia em que ella foi operada de iridectomia superior pelo Dr. Hilário de Gouvêa. A operação correu perfeitamente bem, sem que houvesse acci- dente algum digno de nota. Fez-se a applicaçâo de um appa- relho, que foi retirado 3 dias depois da operação. Dia 12 de Agosto A. O. V.= g O E. V. = 2- KJ' XJ' * ' 200 — 60 — Nota-se a existência de um coloboma superior da iris, alguma pigmentação da cicatriz esclerotical. O exame ophthalmoscopico revela a existência de uma mancha hemorrhagica de fôrma oval, perfeitamente limitada, na região da mancha amarella, na qual vai se terminar um dos vasos que se dirigem directamente da retina a essa região. A côr rubra da mancha é perfeitamente uniforme. Prescreveu-se internamente iodureto de potássio, ergo- tina de Yvon em injecções hypodermicas. Dia 31 de Agosto : O. E. V. = ~ A doente refere que antes via o globo do gaz todo ver- melho (oval vermelho), mas hoje só vê metade vermelho, quanto á outra metade, vê de côr natural. Pelo exame ophthalmoscopico vê-se que o ponto hemor- rhagico apresenta-se claro no centro e rubro na peripheria; ao lado da papilla nota-se um raio hemorrhagico. Continuou no uso da mesma medicação. Dia 19 de Setembro O. E. V. =gj- Apenas percebem-se ligeiros traços de hemorrhagia. Dia 26: O. E. V. = g . Ainda ha traços de sangue na região da macula. Dia 6 de Novembro: O. E. V. = g-A. P. O. de 20. Corn. +-Í a ^ I.Wecker a 10" Observação 6.a — D. J. M. da S. L. de 42 annos, casada, natural do Rio de Janeiro. Refere que ha 8 annos que soffre da vista do olho di- reito, ultimamente porém (cinco annos) começou a sentir dimi- nuição da vista do olho esquerdo. Tem de vez em quando inflammações deste olho com muitas dores. Estado actual. — Habito glaucomatoso de ambos os olhos, sobretudo notável no olho esquerdo ; excavação pa- pillar. — 61 — Visão.—O. E. Y. = % O. D. Nada vê. Diagnostico.—Glaucoma inflammatorio chronico do olho esquerdo, glaucoma absoluto do olho direito. Therapeutica.—Foi proposta a operação da iridectomia, que foi praticada com a faca de Grsefe. Grande hemorrhagia na câmara anterior logo após á secção da iris. Dous dias depois da operação, a cicatrízação era perfeita e todo o sangue tinha sido absorvido. Dia 9 de Março: Visão: O. E. V. = -^ ' /O Pelo exame ophthalmoscopico nota-se algum tumor peri- papillar. Dia 17 : Visão O. E. Com ^ V= ~ não distingue bem Be D. Observação 7a. — Manoel José Ferreira, branco, tra- balhador, portuguez, de 56 annos de idade, morador em Cantagallo, entrou para o Hospital, no dia 9 de Outubro de 1886, e foi occupar o leito n. 17 da enfermaria de Cli- nica Ophtalmologica a cargo do Dr. Hilário de Gouvêa. Refere que ha cinco mezes que soffre dos olhos, come- çando a moléstia depois de um ataque inflammatorio, que durou cerca de quarenta dias, cessando depois gradualmente, para voltar haverá um mez. Antes de ter o ataque inflamma- torio já não via bem do O E. Nunca teve moléstias venereas nem syphiliticas. Exame do doente. — O. E. Cornea fortemente vasculari- sada, sobretudo na parte inferior; globo ocular muito duro ; in- jecção sub-conjunctival; sensibilidade do corpo ciliar ; a câ- mara anterior acha-se diminuída; a iris acha-se adherente á — 62 — cornea por seu bordo pupillar; o crystallino apresenta-se opaci ficado. O. D: Normal. Visão:0. D: V=-| ;+ i-v=lmal. O.E:V=0 Diagnostico. — Glaucoma consecutivo e keratite pannosa do O. E. Marcha e tratamento. — Dia 9. Prescreveu-se : Óleo de ricino, 60 grammas. Para tomar de uma só vez. Dia 13. — O Dr. Hilário de Gouvêa fez a enucleação do olho esquerdo pelo processo de Bonnet de Lyon. O doente não foi chloroformisado, fez-se a anesthesía local por meio da cocaina ; a operação foi feita quasi sem sangue e correu per- feitamente bem. Como antiseptico empregou-se uma solução de sublimado corrosivo na proporção de 1 : 5000. Applicou-se um monoculo. Dia 14. O doente tem passado bem. Dia 16. Levanta-se o apparelho, tudo vai bem, retira-se o fio, sendo perfeita a cicatrízação. Applica-se um novo apparelho. Dia 17. Retira-se definitivamente o apparelho, tudo vai bem. Dia 22. O. D. : V== i-; + Jl. V= 1 mal. Cicatrízação perfeita ; tudo vai bem e o doente pediu e obteve alta. Observação 8.a — Euphrasio, trabalhador, pardo, de 40 annos de idade, brazileiro, morador ao Largo de Santa Rita n. 18, entrou para o Hospital no dia 3 de Novembro de 1886. Refere que ha cerca de três mezes levou uma pancada — 63 — no O. D., resultando d'ahi considerável inflammação acompa- nhada de dôr, photophobia e lacrymejamento, a visão foi di- minuindo de modo que actualmente nada vê. Estado actual. — Palpebras e conjunctivas : O. D, Li- geira injecção sub-conjunctival na parte superior ; pequeno pterygion interno. Globo ocular : O. D. Tensão augmentada. Cornea O. D. Cornea proeminente, conica e apresenta um leucoma central. Não existe câmara anterior neste olho. A iris acha-se em contacto com a cornea a que adhere no centro. Visão : A. O : V = 1 O. D. Nada. O. E. V = 1 Diagnostico : Leucoma adherente, glaucoma consecutivo do O. D. Teve alta, por incurável, no dia 5 de Novembro de 1886. Estatística fla ilaacontosos saíra oito il tetas fla clinica civil li Dr. Hilário ia Gouvêa. Glaucoma chronico simples. » absoluto......... » agudo........... » inflam, chronico. » consecutivo...... O glaucoma chronico simples manifestou-se na proporção de 12,25 por 1000 doentes. » absoluto na de 6,375 por 1000. » agudo na de 3,875 por 1000. » inflam, chronico na de 3,125 por 1000. » consecutivo na de 1,625 por 1000. 0Ü9 cadeira de physica medica Da electrolyse medico-cirúrgica I Foi Ciniselli, de Cremona, quem primeiro applicou a ele- ctricidade na cauterização dos tecidos. II O methodo de Ciniselli consiste em estabelecer uma corrente de inducção entre duas agulhas collocadas a uma certa distancia uma da outra. III Conforme as agulhas communicão com o polo positivo ou negativo, determinão escharas com caracteres particulares: no primeiro caso a eschara é molle e diffuza ; no segundo, é secca e circumscripta. CADEIRA DE CHIMICA MINERAL E MINERALOGIA Do iodo e seus compostos I O iodo é um dos metalloides mais espalhados na natureza ; elle se acha combinado a metaes constituindo iòduretos. II O iodo é solido, griseo, metallico, quasi opaco, amargo, muito solúvel n'agua, crystalliza por sublimação em palhetas micaceas ou em lâminas rhomboidaes. III Dos compostos de iodo os mais empregados em medicina são: o iodureto de potássio, o iodureto de sódio, o iodureto de mercúrio, o iodureto de ammonio e o iodureto de ferro. — 68 — CADEIRA DE CHIMICA ORGÂNICA E BIOLÓGICA Pereirina e seus saes I A pereirina é extrahida das cascas do pau pereira (Geissos permum Vellosii—Freire Allemão) da famílias das Apoci- naceas. II Vários ácidos combinão-se com a pereirina dando saes desta base. III Dos saes de pereirina o mais empregado em medicina é o chlorhydrato de pereirina. CADEIRA DE BOTÂNICA E ZOOLOGIA MEDICA Da influencia das correntes aéreas sobre a polinisação e disse- minação das sementes I E' incontestável que muitas vezes a polinisação e a disseminação das sementes se fazem por meio das correntes aéreas. II Em relação á polinisação o facto se patenteia de um modo bem claro nasconiferas, em qne o pollen abundantíssimo, sendo levado pelo vento a grandes distancias, produz a vulgar- mente denominada chuva de enxofre. III Em relação ás sementes basta vêr o que se passa com as sementes aladas e pilosas de certas bignoniaceas, apocina- ceas, etc, que também são levadas pelas correntes aéreas a logares longínquos. — 69 — CADEIRA DE ANATOMIA DESCRIPTIVA Medulla espinhal I A medulla espinhal é a porção dos centros nervosos contida no canal rachidiano. II A medulla é limitada em cima pelo colleto do bulbo e em baixo pela primeira vertebra lombar. III O peso da medulla, segundo Sappey, é de 27 grammas. CADEIRA DE HISTOLOGIA THEORICA E PRATICA Da cellulogenesis I São duas as theorias apresentadas para explicar a origem da cellula: a gênese espontânea e a theoria cellular. II A theoria da gênese espontânea acha-se hoje completa- mente abandonada por falta de factos em que se baseie. III A theoria cellular foi fundada por Virchow e resume-se nas seguintes palavras : Omnis cellula ex cellula. — 70 — CADEIRA DE PHYSIOLOGIA THEORICA E PRATICA Da innervação cardiaca I Os nervos que regularisão as funcções do coração são o pneumogastrico e o grande sympathico. II O pneumogastrico tem por funcção moderar os bati- mentos do coração; o sympathico accelera os movimentos deste órgão. III Da acção opposta destes nervos resulta o rythmo car- díaco. CADEIRA DE ANATOMIA E PHYSIOLOGIA PATHOLOGICAS Paludismo I Paludismo é a intoxicação do organismo pelo agente in- feccioso dos pântanos. II As congestões hepatica e splenica são as lesões mais fre- qüentes do paludismo. III A melanemia e a melanose se encontrão muito commum- mente no paludismo. CADEIRA DE PATHOLOGIA GERAL Epidemias I Epidemia é uma influencia morbifica passageira que fa- vorece o apparecimento de uma moléstia bem caracterisada, sobre um grande numero de individuos ao mesmo tempo. (Bouchut). II As epidemias nascem em uma localidade e d'ahi se es- tendem para vários pontos, ou persistem e morrem no logar onde nascerão. III As epidemias são tanto mais mortíferas quanto mais desconhecidas ellas são em uma localidade. CADEIRA DE PATHOLOGIA MEDICA Insufficiencia aortica I Como causa da insufficiencia aortica, cita-se a gotta, a endocardite, o alcoolismo, a velhice, etc. II Pela escuta distingue-se uma bulha de sopro diastolico no segundo espaço intercostal direito ao lado do externo e propagandc-se para o appendice xyphoide. III A insufficiencia aortica de ordinário é acompanhada de estreitamento aortico. — 72 — CADEIRA DE PATHOLOGIA CIRÚRGICA Ferimentos por arma de fogo I Dá-se o nome de ferimentos por armas de fogo aos produzidos por projectis postos em movimento pela deflagração da pólvora. II Estes projectis dão logar, de ordinário, a contusões e feridas contusas. III Tratando-se de grossos projectis, em que grande extensão de tecidos é affectada, é com m um sobre vir o estupor. CADEIRA DE MATÉRIA MEDICA E THERAPEUTICA Medicação láctea I O leite é um producto complexo, resultante da secreção das glândulas mammarias das fêmeas dos mammiferos, geral- mente no fim da gestação e depois do parto. II O leite encerra em sua composição princípios azotados, hydrocarbonados e inorgânicos. III O leite é principalmente indicado como alimento de fácil digestão, como modificador da nutrição, como diueretico, etc. — 73 — CADEIRA DE ANATOMIA CIRÚRGICA. MEDICINA OPERATORIA E APPARELHOS Estudo critico da amputação de Pirogoff i I A amputação de Pirogoff é uma operação osteo-plastica em que se procede á desarticulação dos ossos do pé e á secção de uma parte do calcaneo. II Os resultados desta operação, como antigamente se fazia, erão desastrosos, pela difficuldade que trazião á marcha, em virtude da compressão do tendão de Achilles. III Hoje esta operação tem sido modificada por Sedillot, Gunther e principalmente por Le Fort, cujo processo de secção transversal do calcaneo dá ao membro uma base melhor de sustentação. CADEIRA DE OBSTETRÍCIA Mecanismo de parto nas apresentações de face I O mecanismo de parto nas apresentações de face dá-se nos casos da extensão da cabeça. II Ha seis tempos neste mecanismo, segundo Cazeaux, que são pela ordem : extensão, descida, rotação interna, flexão, rotação externa e desprendimento do tronco. III Nem sempre, porém, estes tempos dão-se na ordem in- dicada. ________ 10 87-F — 74 — CADEIRA DE PHARMACOLOGIA E ARTE DE FORMULAR Estudo chimico-pharniacologico das cucurbitaceas medicinaes I As plantas desta familia mais commummente empregadas em pharmacologia são: citrullus colocynthis1 ecballum elacle- rium, bryonia dioica, cucmnis saíivus, cucurbita pepo, bryonia pinnatifida, cayaponia cabocla e momordica bucha. II O corpo chimico mais empregado é a cayaponina, ex- trahida da cayaponia cabocla, vulgarmente conhecida por purga do gentio. III As fôrmas pharmaceuticas, debaixo das quaes são empre- gadas, são : pós, pilulas, extractos simples e compostos, vinhos, tinturas e pomadas. CADEIRA DE HYG1ENE E HISTORIA DA MEDICINA Estudo histórico da febre amarella no Rio de Janeiro I Os primeiros casos de febre amarella no Rio de Janeiro derao-se no dia 27 de Dezembro de 1849. II Diz-se que os moradores da rua da Misericórdia, e parti- cularmente os freqüentadores da taberna Frank, fôrão as pri- meiras victimas da moléstia. III Em 1851 manifestou-se outra epidemia de febre amarella e dahi em diante novas epidemias têm-se manifestado com maior ou menor gravidade. — 75 — CADEIRA DE MEDICINA LEGAL E TOXICOLOGlA Do envenenamento pelo cobre I O cobre metallico não é venenoso. II O cobre só é venenoso quando elle se acha em uma com- binação solúvel ou quando se pôde dissolver no estômago. III O melhor antidoto que se tem empregado até hoje, nos casos de envenenamento pelo cobre, é a albumina ; ella fôrma com os saes de cobre um albuminato insoluvel. PRIMEIRA CADEIRA DE CLINICA MEDICA Das condições pathogenicas, diagnostico e tratamento da paralysia agitante I As principaes causas da paralysia agitante são : o frio humido e as emoções moraes deprimentes. II O symptoma predominante da paralysia agitante é um tremor continuo que invade as partes do corpo, excepto a ca- beça ; este tremor, comtudo, falta ás vezes, segundo as obser- vações de Charcot. III Nada ha de positivo sobre o tratamento ; tem-se empre- gado, ás vezes com vantagens, o carbonato de ferro, os banhos sulfurosos, a strychnina, applicações sob a fôrma de correntes galvanicas, etc. — /6 — PRIMEIRA CADEIRA DE CLINICA CIRÚRGICA Da occlusão intestinal I Dá-se a occlusão intestinal sempre que, em virtude de uma causa qualquer, haja um obstáculo nos intestinos, que inter- rompa a passagem das matérias fecaes. II As occlusões intestinaes se dão: por vicios de posição, por compressão, por obturação e por estreitamento do intestino. III No tratamento da occlusão intestinal deve-se lançar mão, em primeiro logar, dos meios médicos; quando estes meios não derem resultado, praticar-se-ha então a operação da laparo- tomia. CADEIRA DE CLINICA OPHTHALMOLOGÍCA Glaucoma Dá-se o nome de glaucoma a uma affecção essencialmente caracterisada pelo augmento lento ou rápido da pressão intra- ocular, trazendo alterações anatômicas diversas e em parti- cular a excavação do nervo óptico (Abadie). II Foi Graefe, ophthalmologista allemão, quem descobriu o augmento de pressão que caracterisa esta affecção. III O mesmo autor foi quem primeiro empregou a iridecto- mia no tratamento do glaucoma, tratamento este que até hoje é o que melhores resultados tem dado na cura da mesma affecção. — 77 — HIPPOCRATIS APHORISMI 1 Vita brevis, ars longa, occasio praeceps, experientia fallax' judicium difficile. (Secç. I, Aph. 1) II Ophthalmia labor an ti, ab ai vi profluvio corripe bonum. (Secç. VI, Aph. 17) III Oculorum dolores meri potus, aut balneum, aut fomen tum, aut vense sectio, aut purgatio solvet. (Secç. VI, Aph. 31) IV Somnus, vigília, utraque si modum excesserint, morbus. (Secç. VII, Aph. 73) V A d extremos morbos, extrema remedia exquisite optima. (Secç. I, Aph. 6) VI Qiiae medicamenta non sanant, ea ferrum sanat. Quae ferrum non sanat, ea ignis sanat. Quae vero ignis non sanat, ea insanabilia existimare oportet. (Secç. VIII, Aph. 6) ^S^SP^k^t^^f^T^- Esta these está conforme os estatutos. Faculdade de Medicina, 7 de Outubro de 1887. Dr. José Maria Teixeira. Dr. Bernardo Alves Pereira; Dr. Domingos de Góes e Vasconcellos. 3C