FACULDADE DE MEDICINA E DE PHARMCIA DO RIO DE JANEIRO THESE DO ~£imz (fXpef RIO DE JANEIRO 1897 THE SE Contribuições á origem da íibrina sobre as serosas em difFerentes condições patliologicas DISSEETAÇÃO CADEIRA DE ANATOMIA PATHOLOGICA r Contribuições á origem da fibrina sobre as serosas em differentes condições pathologicas PROPOSIÇÕES ò TRES SOBRE CADA UMA DAS CADEIRAS DA FACULDADE THESE APRESENTADA A’ Faculdade de Medicina e de Pharmacia do Rio de Janeiro Em 30 de Março de 1897 PARA SER SUSTENTADA PELO &/: Sfyrel MEDICO FORMADO PELA UNIVERSIDADE DE (ÍOTTINOA afim de poder exercer a sua profissão na Republica dos Estados Unidos do Brasil RIO DE JANEIRO Casa MonfAlverne, rua do Ouvidor n. 82, *«07 Faculdade de Medicina c dc Fkrinaeia do Rio do Janeiro DIRECTOR Dr. Albino Rodrigues de Alvarenga VICE-DIRECTOR Dr. F ran cisco de Castro. SECRETARIO Dr. Antonio de Mello Muniz Maia LENTES CATHEDRATICOS Dus.: João Martins Teixeira Pliysica medica. Augusto Ferroira dos Santos Chimica inorgânica medica. João Joaquim Pizarro Botanici e zoologica medicas. Ernesto de Freitas Crissiuma Anatomia descriptiva. Eduardo Cliapot Prevost Histologia theorica e pratica. Artlrur Fernandos Campos «ia Paz.... Chimica organica e biologica. Jo.'o Paulo de Carvalho Physiologia theorica e experimental. Antonio Maria Teixeira Matéria medica, phirmacologia e arte de formular. Pedro Severiano de Magalhães Patliologia cirúrgica. Henrique Ladisláo de Souza Lopes Chimica analytica e toxicologica. Augusto Brant Paes Leme Anatomia medico cirúrgica. Marcos Bezerra Cavalcanti Operações e apparelhos. Antonio Augusto de Azevedo Sodré... Patliologia medica. Cypriano de Souza Freitas. ... Anatomia e physiologia pathologicas. Albino Rodrigues dc Alvarenga Therapeutica. Luiz da Cunha Feijó Júnior... .... Obstetrícia. Agostinho José de Souza Lima Medicina legal. Benjamin Antonio da Rocha Faria.... Ilygiene e mesologia. Antonio Rodrigues Lima Patliologia geral. João da Costa Lima e Castro Clinica cirúrgica—2l cadeira. João Pizarro Gabizo Clinica dermatológica e syphiligraphica. Francisco de Castro Clinica propedêutica. Oscar Adolpho de Bulhões Ribeiro.... Clinica cirúrgica—Ia cadeira. Erico Marinho da Gama Coelho Clinica obstétrica e gynecologica. Hilário Soares de Gouvêa Clinica ophthalmologica. José Benicio de Abreu Clinica medica—2a cadeira. João Carlos Teixeira Brandão Clinica psychiatrica c de moléstias ner- vosas. Cândido Barata Ribeiro Clinica pediátrica. Nuno dc Andrade Clinica medica—Ia cadeira. LENTES SUBSTITUTOS D RS. 1. a secção Tiburcio Valeriano Pecegueiro do Ama- ral. 2. a » • Oscar Frederico de Souza. 3. a » Germino Marques Mancebo c Luiz An- tonio da Silva Santos. 4. a » Philogonio Lopes Utinguassu'c Luiz Ri- beiro de Souza rontes. 5. a » Ernesto do Nascimento Silva. 6. a » Domingos de Góes e Vasconcellos e Francisco de Paula Valladares. 7. a » Bernardo Alves Pereira. 8. a » Augusto de Souza Brandão. 9. a » Francisco Simões Corrêa. 10. a » Joaquim Xavier Pereira da Cunha. 11. a » Luiz da Costa Chaves Faria. 12. a » ... Mareio Filaphiano Nery. N. B.—A Faculdade não approva nem reprova as opiniões emittidas nas theses que lhe são apresentadas. A origem das massas fibrinosas nas inflammações das mem- branas serosas já tem sido muitas vezes objecto de discussão, mas, como Neumann repetiu, ha ió annos, o que Bnhl disse outros 16 annos antes, quer dizer que clareza e unanimidade não existem sobre este ponto importante da inflammação, e que, por emquanto é deixado a cada um o adherir, conforme as inclinações pes- soaes, a uma ou outra opinião que serão explicadas mais detalha- damente abaixo; hoje voga ainda este juizo pela mesma razão. Outr’ora pensou-se em geral e também ainda agora pensa uma grande parte dos autores, que a fibrina exsudativa em inflam- mações das serosas é perfeitamente idêntica á fibrina do sangue, isto é, que a fibrina do sangue é contida dissolvida no sangue como substancias fibrinogena e fibibrinoplastica e fermento fibrinogenof deixa os tecidos c a camada epithelial, e que estes tres, por A. Schmidt denominados “geradores” ajuntam-se á fibrina sobre a superfície livre das serosas. D’este modo falia Cohnheim (i), que examinou a inflam- mação das serosas, de uma producção e separação de fibrina sobre a face d’estas Os elementos do tecido conjunctivo cahem no processo, particular a estes, da proliferação, que primeiro causa um espessamento da serosa mesma, depois uma producção de ccl- lulas redondas, no começo mono e em seguida polynucleares. Para o epithelio indica elle duas possibilidades; ou cada cellula cresce, arredonda-se, soffre metamorphose gordurosa e destruição, ou excepcionalmente o epithelio ó desligado e afifastado do tecido conjunctivo fortemente proliferante, para naturalmente mais tarde morrer, sendo privado de todo o alimento. O seguinte autor, que era partidário d’esta antiga opinião e se occupou com a questão sobre a origem da fibrina, especial- mente na Pleuritis fibrinosa, foi Wagner (2)Elle pódc verificar os epi- (1) Virchows Archiv. XXII, 1861. (2) Archiv fur Heilkunde, XI 1870. 6 thelios (endothclios) debaixo do exsudato, tanto nos casos recen- tes como antigos, de inflammação fibrinosa da pleura. Frequentemente estes lhe pareciam entumescidos principal- mente em esxudatos fibrinosos mais espessos; em outros casos eram tão abundantes, que julgou dever acreditar n’uma neoforma- çào dos mesmos. Segundo Wagner a fibrina forma quasi sempre uma rede com feixes de varias grossuras e com malhas arredonda- das de differentes tamanhos. Elle não poude constatar corpúsculos exsudativos nos recentes processos infiammatorias, nem na superfície, nem no interior do exsudato; mas muitas vezes uma continuidade dos feixes, acima mencionados, com os vasos lymphaticos superfi- ciaes da pleura; elle affirma ainda que a mesma substancia fibri- nosa, de que consistem estes feixes, é idêntica á de dentro dos vasos lymphaticos, até onde se póde proval-o por meio do microsco- pio e da chimica. Uma imagem, parcialmente semelhante, achou- se em muitos casos mais antigos çom exsudato fibrinoso de maior espessura: uma rede visivel, tanto macro-como microscopicamente, cujos grossos feixes offerecem um forte brilho e consistem em formações fibrosas finissimas, situadas uma perto das outras e cor- rendo cm direitura. Aqui também os feixes formam malhas de vários tamanhos e de forma quasi sempre oval, que contem uma substancia com abundantes cellulas, semelhante ao exsudato liquido na cavidade pleural; estas cellulas têm em parte o tamanho de globulos brancos, em parte são ellas do dobro e ainda maiores, en- tão em maior numero esphericas com um conteúdo mais granuloso e um núcleo relativamente grande. Wagner as considera como corpúsculos exsudativos entumescidos. Em ,outros casos mais antigos, porem, era a imagem, que a fibriqa offereceu, differente; 11’estes a fibrina formou uma felpa, por egual fofe, de finas fibrillas, cujas malhas continham, pela maior aparte, um liquido e ás vezes poucas cellulas. Também o tecido çonjunctivo pleural e o sub-pleural soffreram modificações, pouco visíveis nos casos recentes, sendo que as fibras appareciam como desfibradas, provavelmente em consequência d’uma embebiçào edematosa e continham poucos corpúsculos lymphaticos, emquanto que em casos mais antigos se pôde observar uma destribuição igual de nucleôs livres e de globulos brancos. * 7 Rindfleisch (1) considera as pequeninas proeminências pun- ctiformes “minimos botõesinhos” (Kleinste Knõpfchen) que, com o pequeno augmento microscopico, se apresentam como originados dos vasos capillares, como a fonte da fibrina em inflammações das serosas, que, sob a fórma de massas arredondadas, parece ter sahido dos vasos capillares, como “a resina 110 pinheiro” Justamente esta figura Rindfleisch tem por muito caracte- ristica e importante ; porque deixa ver immediatamente a fonte da fibrina exsudativa que, na verdade, é fibrina do sangue “um coa- gulo.” Também conforme Weigert (2) trata-se d’um processo de coagulação, considerando elle os leucocytos como os portadores das substancias fibrinoplastica e fermentativa, e a lympha exsuda- tiva como a substancia fibrinogena, as quaes substancias se reúnem na superficie livre, ora em glebas sem núcleos, ora em fibrina fila- mentosa ou granulosa. Segundo elle, nas coagulações filamentosas apresentam-se nas inflammações de algum tempo e quando as massas fibrinosas são percorridas por um recente tecido conjunctivo, todas as possíveis passagens em feixes e fios muito brilhantes. Mas, afim de que possa ter logar a coagulação da fibritia, julga Weigert (3) que a camada endothelial deve perecer n’uma extensão mais ou menos grande, «justamente em consequência d’este perecer do endothelio, começa nos pontos, com perda do endothelio, também uma morte dos leucocytos e coagulação mesma no interior do corpo, tal como nos vasos sanguíneos a perda do endothelio produz um pegamento, extincção e fibrinoformação dos globulos brancos. » Mas, em consequência da destruição do endo- thelio, é cortado o limite do crescimento para o tecido conjunctivo que d’aqui em diante pode proliferar nas massas fibrinosas. O novo tecido proliferante remove a fibrina do antigo tecido, porém, na superficie sempre pode ainda nascer nova fibrina. D’este modo se formam varias camadas, que, successivamente, passam umas nas outras, como já foi mencionado acima. (1) Lclirbuch der patli. Gewebelohre, 1873. (?) Virchows Arcliiv. Vol. 73, 1880. (3) Keal-Encyclopedie, Yol. IV, p. 068. 8 Orth (i) também admitte uma coagulação do sangue; nos casos das inflammações das serosas, examinadas por elle, principal- mente nos d’uma pericardite fibrinosa, elle viu a fibrina composta de finos retículos fibrosos, como também se encontram no tecido conjunctivo pleural. As redes mesmas são substituídas em vários logares por massas mais solidas e homogéneas. Segundo elle, as cellulas do endothelio desapparecem logo no principio da inflam- maçâo, entumescendo e granulando o protoplasma e augmentando-se os núcleos. A camada fibrinosa está immediatamente sobre o tecido pleural que, muitas vezes, é hyperaemico e mostra uma infiltração cellular. Conforme Hauser (2), a formação da fibrina na superfície d’uma pleura inflammada tem lugar sempre na circumvisinhança de endothelios mortificados; forma-se uma rede de fibrina; nas suas malhas ficam numerosos leucocytos, emigrantes da pleura que mais tarde esmorecem. Mas elles não se tornam aqui « centros de coagulação» como Hauser viu na circumvisinhança de cellulas alteradas, por exemplo dos endothelios de vasos, porque aqui falta o logar para uma tal secreção fibrinosa. O fermento fibrinoso, sepa- rando-se d’elles como uma coagulação do plasma envolvente, augmenta a camada fibrinosa, já existente, pela apposição de nova fibrina e assim contribue á producção d’uma membrana fibrinosa coherente. Graser (3), no congresso da cirurgia de 1895, fez um discurso sobre a primeira conglutinação das serosas, na qual observa os seguintes estados: primeiro nascem massas íibrinosas, muito tenras por cima de cellulas endotlieliaes mortificadas, então augmen. tam-se as apposições, e as cellulas faltam em parte, desapparecendo no fim completamente. A parte essencial da fibrina, muitas vezes abundante, provém certamente do plasma inflammatorio; as cellulas mortificadas ajudam só alguma cousa, o que se podia designar como fermento fibrinogeno. O primeiro, que se oppôz a esta antiga opinião, foi ROKI (1) Spec. pátiiol. Ámitonué. (2) Archiv. fur klin. Medicin, 1893 (3) Chirurgenkongress, 1895. 9 TANSKI (1). Na sua opinião a solida porção pseudo-membranosa resulta d’uma vegetação do tecido normal da serosa, que «perdeu a textura fibrosa dentro d'essa vegetação em espessura correspon- dente e tomou um estado hyalino e gelatinoso >-. Estas vegetações que da serosa «brotam em fórma d’um começo, delicadamente villoso, de granulações papilliformes, de preguinhas ramificadas que anastomosam», tomam a fórma d’uma lamella simples ou perfu- rada (areolada) ou d’um retículo, do qual crescem villosidades, papillas e alças. O material para esta vegetação provém principal- mente, sem duvida, do systema de vasos crescendo ao mesmo tempo da serosa; todavia uma parte pode ser contida no exsudato, isto é, no liquido que se acha no sacco seroso dentro do neo- plasma, brotando na sua superfície interior. ViRCHOW (2) contesta decididamente que uma exsudação fibrinosa do sangue tenha logar nas inflammações das serosas e pretende que as massas fibrinosas não sejam em parte mais do que tecido transformado, entumescido. já 2 annos antes ViKCÔOWfo) na sua obra Ges Abhnndl. deu a seguinte descripção da inflam- maç'o fibrinosa das serosas: «a camada fibrinosa secca, aspera e mate, forma uma coherencia muito compacta com e tecido, e, ás vezes é tão difficil ver aqui um limite entre o exsudato e o tecido, como nos exsudatos diphthericos das mucosas; um passa no outro, e, frequentemente pode-se ver uma tal continuação do exsudato com o tecido conjunctivo, que faz a impressão, como se o exsu- dato não seja, senão substancia intercellular transformado do tecido conjunctivo. Este torna-se ordinariamente tão homogeneo, perde tanto seu estroma fibrillar, que pode ser comparado com a cornea, ou com qualquer parte fibro-cartilaginosa; também o exsudato não apparece igualmente, porém, muitas vezes, como Rokitansky o descreveu tão acertadamente, em toda sorte ’e figuras areolares, reticuliformes e malhadas». Muito semelhante é a opinião de Buhl (4), que se occupou (1) Lehrb ct. patíi. Anatomio, 1855, Ilt Aufl. Vol. í. (2) Virchows Archiv. XV, 1833 /.ar neuoren Gcsdúchto dor Fiterlelire (3) Ges. Abhandlungen, 1856. (4) Ueber das Fascrstoffexsudat, Sitzungsber. d. Bâyer Acad. d. Wis- sensch, 1863, Vol. II. 10 especialmente com o exsudato fibrinoso. Elle não nega de antemão que a fibrina não possa também ter origem do sangue, entre- tanto, chega a suppor que existe ainda uma outra fonte para as massas compactas do exsudato sobre as serosas inflammadas, e essa fonte, segundo elle, é também o tecido conjunctivo pleural, que entra em proliferação fibrinoide. Buhl, então, toma este pro- cesso por um productivo-inflammatorio e denomina as massas provenientes d’esta fibrinoide proliferação do tecido conjunctivo como «fibrina desmoides». N’estas massas distingue Buhl duas camadas, uma pegada á serosa, e uma outra mais afastada, para a superfície livre, que são unidas por uma zona indifferente, muito estreita, e que se faz sensivelmente pallida nos preparados, tintos com carmina. A parte, pegada á serosa, assim diz Buhl, é completamente organizada; contém muitas cellulas, núcleos e vasos e se acha em relação indistinguível e continua com os feixes do tecido conjun- ctivo da serosa entumescida, emquanto que a camada superior pa- rece sem vasos e amorpha; porém, examinando de perto, pode se reconhecer na massa areolada, como esponjosa, nas redes grossas e gelatinosas e nas elevações sob a forma de villosidades e ver- rugas, núcleos embebidos de vermelho (em tintura de carmina) que são separados uns dos outros por uma substancia intercellu- lar. Esta camada sem vasos não é conforme Buhl, um coagulo fibrinoso só, porém é a parte proliferante das camadas inferiores, que forma malhas e villosidades frouxas e muitas vezes é revestida por cellulas do indothelio. Neumann (i) n’uma dissertação “die Pikrokarminfãrbung und ihre Anwendung anf die Entzundungslehre'’ tomou por fim de seus exames o proceder da substancia fundamental do tecido conjunctivo em inflammações das serosas, sobretudo em inflam- mações especificas (tuberculose pulmonar) e chega ao resultado, que se trata d’uma degeneração fibrinoide das fibrillas conjuncti- vas. Porquanto que Neumann é quasi inteiramente da opinião de Buhl, quer elle rejeitar a denominação “proliferação fibrinoide do tecido conjunctivo” (faserstoffãhnliche Bindegewebswucherung) (1) Archiv fur mikroskop Analomie, Vol 18, 1880. 11 proposta pelo ultimo, visto que Neumann toma o processo por um simples passivo e degenerativo. Em preparados por elle exa- minados, e tintos, conforme o methodo, por elle indicado, da pleura pulmonar inflammada, Neumann pôde provar, sobre um fõco caseoso que se estendia até quasi ao tecido pleural, uma transição successiva entre o tecido da pleura e da camada, apparentemente heterogenea, e fazendo a impressão dum apposto, porque a mix- tura das duas cores differentes (pikrina e carmina) deixou reconhe- cer uma composição de partes conjunctivas e fibrinoides; estas ul- timas formam na superfície uma camada continua, á que se accres- cem, morrendo para o fundo, massas amarellas (imposições) no te- cido conjunctivo avermelhado. Como prova, que as fitas amarel- las, que cobrem a superfície, e, parcialmente, são impostas no tecido conjunctivo, ainda não mudado, e se distinguem por sua apparen- cia homogenea e vidrosa, são feixes fibrosos degenerados, Neu- mann aponta o curso serpeante d’estas fitas, as estrias fibillares, n’ellas ás vezes ainda sensivelmente visíveis, e a sua relação deter- minada com os elementos cellulares do tecido conjunctivo, que lhe correspondem, do mesmo modo como os feixes fibrillares ordinários. Raramente poude Neumann constatar cellulas endotheliaes na super- cie livre das massas, fibrinoidamente degeneradas, e mesmo sómente cm alguns pontos. Também na pleuritis fibrinosa que acompa- nha a pneumonia crouposa, assim como nas agudas peritonites pu- rulentas puerperaes, teve Neumann a impressão, que as camadas inferiores das pseudomenbranas são formadas pelas camadas supe- riores da serosa, fibrinoidamente mudadas; mas elle deixa em duvida, se isto vale para todas as infíammações agudas das serosas, que tèm sua marcha sem qualquer producção fibrosa na superfície, ou se não se trata antes, de exsudato fibrinoso apposto. Langhans (i) viu em preparados que provinham d’uma periorchitis sero-fibrinosa, figuras, essencialmente iguaes como Buhl; ou o exsudato formava proeminências fungiformes, ou membranas, postas em camadas parallellas. Em preparados, que mostravam sómente uma camada fibrinosa muito fina, em fórma duma bainha estreita, se tingindo muito amarella com pikrocarmi- (1) Deutsche Chiruagie, Lit. 50 b, 1887. 12 na, Langhans poude constatar uma fusão de ambos os tecidos, onde as proeminências passam para a superfície da serosa, de ma- neira que os feixes fibrinosos serpeantes, sem mudar o seu per- curso, passam para a massa fibrinosa, emquanto que em outros pontos, feixes fibrillares correm do fundo para a superfície afim de se afundarem na bainha amarella. Como prova, que esta deve ser considerada como a camada superior transformada da serosa, são, segundo Langhans, as listras pararellas á superfície, que em parte ainda tem o percurso ondado das fibrillas conjunctivas. N’esta bainha amarella viu Langhans poucos núcleos alongados, forte- mente tintos, que elle considera como núcleos de corpúsculos puru- lentos, postos em fendas estreitas, fusiformes, parallelas com a superfície. Uma figura pouco differente viu Langhans em preparados com exsudatos mais espessos; também n’estes julga poder de- monstrar que, pelo menos as camadas inferiores do exsudato, são tecido conjunctivo transformado. O endothelio, segundo Langhans, se apresenta dum modo differente; nos exsudados mais finos elle o viu desligado, em parte enrugado na paraffina, mas sempre sobre a bainha amarella. O protoplasma cellular extinguiu-se porque não acceita fora do acido picrico qualquer outra tinta, achando-se talvez na trans- formação fibrinoide. De outra forma em exsudatos mais espessos: Lestes se acha o endothelio em parte debaixo da camada fibrino- sa; a razão disto é, segundo Langhans, uma semelhante á que Weigert descreveu para as membranas crouposas, isto é, que a camada superior transformada da serosa excresceu sobre cila e se põe em forma de fungo ou de vidro de relogio sobre a serosa, re- vestida do endothelio. SCHUCHARDT (i) nos seus exames dos hygromas subcutâneos e das serosas, chega ao resultado que, em certas inf lammações fibrino - sas, o exsudato fibrinoso nasce mesmo dentro do tecido inflamma* do, nas cellulas transformadas pela inflammação. Também elle toma o processo por um degenerativo c diz : Com o auxilio do processo de tinturaria de Weigert, pode se seguir distinctamente, (I) Virchows Arch. Vol. 121. 1890. 13 como, conjunctamente com a degeneração do tecido conjunctivo, succede a formação de fibrina dentro do tecido affectado. Nos últimos tempos foram publicados trabalhos do instituto pathologico de Greifswald sobre a origem de massas fibrinosas em inflammações das serosas por Prof. Grawitz (i) e SCHLEIFFARTH (2). Estes autores, em seus exames, chegam á opinião, que a fibrina exsudativa não provém do sangue, mas é um producto transformado das cobertas fibrillares conjunctivas de serosas. O processo é a seu ver, um differente do dos autores acima mencionados, que julgam que as fibrillas do tecido conjunctivo degeneram directamente na formação da fibrina. Segundo Grawitz e Schleiffarth, porém, so- brevém, antes da degeneração definitiva, por assim dizer, uma estação intermediária, na qual se vê nascer núcleos e cellulas do tecido conjunctivo e de suas fendas succosas. Na sua opinião se trata d’um acordar e apparecer de «cellulas e núcleos dormentes«, assim denominados por Grawitz, no tecido conjunctivo; processo, no qual não é preciso, que as cellulas appareçam sempre como taes, porque a sua substancia póde passar directamente da forma do tecido conjunctivo na da fibrina; ou se ellas estão formadas, ficam conservadas nos seus núcleos, mas se tornam fibrina fibrosa nos seus protoplasmas. Como prova, que não se trata d’uma separação sobre a superfície, demonstram Grawitz e .Schleiffarth a ordem distincta- mente parallela de cellulas e núcleos, e que muitas vezes ainda se pode ver conservada a coberta exterior cellular ou fibra da pleura e observar em vários pontos do tecido conjunctivo debaixo delia um entumescer e romper pelas primeiras camadas, emquanto que se reconhece em outros pontos uma continuação completa da fibrina, apparecendo como uma apposição, com a pleura, um pouco menos mudada. Agora chego aos preparados examinados por mim: Estes são em maior numero da pleura, endurecidos, em parte, em liquido de Muller, em parte, directamente em álcool absoluto. Todos os preparados foram tintos em Pikrolithioncarmina e em Eosin- (1) Gravitz, Atlas d. path. Gewcbelehre, 1893. (2) Schleiffarth, Yirchows Aroh. Yol. 129, 1892. 14 Methylenblau; um grande numero com Saffranin-Pikrinsáure (acido picrico), ás vezes com Bismarkbraun e conforme o methodo de tinturaria da fibrina de Weigert. As melhores figuras obtive geralmente dos preparados, tintos em pikrolithioncarmina, e, eis, porque as tomo por base das minhas descripções e só hei de recorrer ás figuras, tintas por outros meios, quando assim as tiver obtido melhores. Até onde estão a minha disposição os protocollos da ne- cropsia, pertencentes a este assumpto, assim como outras notas necessárias, mencional-as-hei, em todo caso, antes dos resultados microscopicos. Prepapado I) proveniente d’uma pneumonia com pleuriz. Resultado microscopico, augmento pequeno; Os alvéolos pulmonares, cheios de massas amorphas, esmi- galhadas e núcleos grandes e pequenos; por cima segue o tecido conjunctivo pleural com numerosos pequenos vasos de sangue; depois a camada fibrinosa. Existe uma sensivel differença nas tintas entre ambos. A primeira se tingiu muito vermelha em preparados, tintos tanto com pikrocarmina como com methylenblau e mostra um percurso ondeante, emquanto que a fibrina apparece em parte sem estructura alguma, em parte reticuliforme-ondeada e deixa reconhecer ora uma tinta distinctamente amarellada, ora um pouco avermelhada, ou não se tingiu de modo algum em maior parte, já n’este augmento cahe em vista, entre o tecido conjunctivo e a fibrina uma ordem, continuada e se prolongando por todo o pre- parado, de cellulas que se distinguem pelo seu tamanho das da sua circumvisinhança. Augm. forte: Estas grandes cellulas se representam como as cellulas enthotheliaes, em parte entumescidas. D’um ponto livre de fibrina, onde ellas formam a coberta exterior do tecido con- junctivo, e, collocadas n’uma só camada sobre o tecido conjunctivo, pode-se vêl-as percorrer o preparado como cadeia ininterrompida, e sobre ellas a fibrina. No ponto, em que começa a apposição da fibrina, vê-se sobre os endothelios, massas esmigalhadas, amorphas e maiores e menores cellulas, em parte polynucleares, que se desmancham e se ligam umas ás outras por uma rede delicada. Lá, onde a camada 15 fibrinosa é mais espessa, apparecem as cellulas endotheliaes ma- iores, e, em alguns logares, como augmentadas. N’um ponto des- ligou-se o endothelio do tecido conjunctivo e se acha, em parte, livre n’esta fenda, em parte, collocada debaixo da camada fibrinosa» mas de maneira que, uma cellula fica sempre em connexo com a próxima. Comtudo a forma e posição das cellulas endotheliaes são muito polymorphas; nos pontos, sem fibrina, mais chatas c paral- lclas á superfície, emquanto que, nos pontos cobertos de fibrina, a maior parte das cellulas estão postas, em forma de cylindro e com eixo mais comprido, verticaes á superfície, em parte angulares, As cellulas endotheliaes mostram grandes núcleos, tintos de um azul intenso com methylenblau, emquanto que o protoplasma ap- parece só pouco azulado. A fibrina apparece em parte esmigalhada, amorpha e ligada por uma rède de fibras maiores e menores, em parte ondada, parallela á superfície, formando numerosas malhas e falhas. Contem numerosos núcleos livres e grandes e pequenas cellulas, frequentemente arredondadas, que apresentam todas as possiveis mudanças de destruição. O tecido conjunctivo pleural, debaixo do endothelio, corre serpeante, apparece em muitos pontos fòfo e contem muitos núcleos ovaes e fusiformes; em outros pontos se observa, bem debaixo do endothelio, uma agglomeração de cellulas polymorphas, que se acham também na fibrina e no parenchyma pulmonar e, principalmente, no conteúdo dos al- véolos. Os seguintes 3 preparados, II, III, IV provêm de partes differentes do mesmo pulmão. O protocollo da necropsia diz sobre isto: Na cavidade pleural esquerda acha-se um liquido vermelho- amarellado, turvo e misturado com floccos grossos n’uma quanti- dade de 50-80 ccm. A pleura d’este pulmão mostra, principalmente nas suas partes posteriores, numerosas manchas vermelhas de dif- ferentes tamanhos, em parte bem limitadas, em parte se confun- dindo, que se elevam um pouco acima do nivel geral. A pleura mesma, depois de passar o bisturi sobre estes pontos, se mostra brilhante e lisa; o mesmo acontece com toda a face anterior; só embaixo, para traz, onde o lobo superior e inferior se unem, está a pleura em ambos os lobos, n’uma extensão de meia palma, 16 depois de passar o bisturi, d’uma apparencia turva e se reconhece sobre cila uma delicada membrana turva. Preparado II: Os alvéolos pulmonares, em parte cheios de corpúsculos vermelhos e brancos de sangue, em parte com massas esmigalhadas. Sobre elles se observa o tecido conjunctivo muito fofo, formando numerosas malhas com muitos vasos cheios de sangue. Diagnose: Pneumonia do ftulmão esquerdo com fileuriz agudo Na livre superfície uma fina camada amarella-esverdeada, estendendo-se ondeante sobre o tecido pleural. Debaixo d’ella, sobretudo nas elevações ondeadas, uma camada de grandes cel- lulas. Estas ultimas se reconhece, com augmento forte, por cel- lulas endotheliaes que cobrem o tecido conjunctivo em muitos pontos em camada simples, e dupla cm outros. Em alguns logares desligou-se o endothelio do tecido conjunctivo, fortemente ser- peante, e está situado directamente debaixo da camada fibrinosa sem perder, porém, a connexâo com as outras cellulas endothe- liaes. A fibrina mostra, em alguns pontos, umas estrias fibrillares, em outros parece sem estructura alguma e reunida em glebas maiores ou menores. Preparado III: Os alvéolos pulmonares cheios de cor- púsculos de sangue e seus restos. N’este corte se vê uma fenda que percorre quasi todo o preparado. Em direcçâo do pulmão apparecem as fibras conjunctivas um pouco avermelhadas; são fofas e contém, nas suas malhas, massas amarelladas, esmigalhadas e dispostas em fórma de reticulos. Ainda se acham no tecido pleural numerosos corpúsculos de sangue e cellulas polynucleares, tintas intensivamente. A camada superior é formada por um feixe de fibras elasticas, depois segue o endothelio, apparecendo entu- mcscido. As suas cellulas não se tingiram fortemente e estão col- locadas, em maior parte, sobre o tecido conjunctivo, uma outra parte na fenda e uma outra bem debaixo da camada fibrinosa, mas sempre em connexâo. O protoplasma é granuloso, o seu núcleo grande e vesiculoso. A fibrina, sobre o endothelio, mostra na fenda um retículo irregular de minimas fibras, em parte ó grumosa com elementos cellulares fechados, vermelhos, tintos mais intensivamente do que os núcleos endotheliaes, dos quaes se distinguem, além 17 d’ isto, por seu tamanho menor. Em direcção á superfície, a fibrina se torna parallela-fibrosa. Em alguns pontos está a fibrina ligada ao tecido conjunctivo, sendo só separada pela camada endothelial; as suas cellulas apparecem separadas, e se póde vêl-as se dirigirem, por entre ellas, para o tecido pleural, fibrillas fibrinosas. Preparado IV: Nos alvéolos pulmonares uma abundante rede de fibras, em parte amarelladas, contendo corpúsculos verme- lhos e brancos de sangue. Por cima o tecido conjunctivo averme- lhado, muito fofo e hyperemico com muitas fibras elasticas e nume- rosos núcleos ovaes e fusiformes. Só n’um ponto se observa uma apposiçâo mui delicada de fibrina que se fez intensivamente ama- rella, formando um reticulo esmigalhado de fibras sobrepostas umas ás outras. Debaixo d’este ponto e sua visinhança, mais próxima estão conservadas as cellulas endotheliaes, emquanto que faltam nos pontos sem fibrina. Preparado V: O protocollo da necropsia relata: «Nas cavidades pleuraes um liquido claro, seroso, dourado; o pulmão direito apresenta um numero de coherencias difficeis a desligar. Nos lobos medio e inferior, espessas massas turvas, pardas, rasgadas». Diagnose: Pneumonia com pletiritis fibrinosa. Resulíado microscopico-. O parenchyma pulmonar muito hyperemico. Os alvéolos cheios de corpúsculos brancos e verme- lhos, impostos em um bonito reticulo de fibrillas. O tecido pleural, muito desfibrado, contem muitos corpúsculos de sangue e numerosas cellulas polynucleares. Seguem, sobre elle, as cellulas endotheliaes entumescidas, pouco tintas, em contrario aos elementos cellulares do tecido conjunctivo, já mencionados, como também ás da camada fibrinosa, sita sobre ellas; esta ultima é tinta amarella e deixa reconhecer, em direcção ao pulmão, umas estrias, distinctamente fibrillares em fitas mais largas. Em direcção á superfície livre, fórma massas villosas, em maior parte sem estructura alguma. A fibrina envia, em muitos pontos, por entre as cellulas endotheliaes, finas fibras para o tecido pleural. N’um ponto se observa as cel- lulas endotheliaes separadas e, tanto entre ellas, como na fibrina e no tecido pleural, livres corpúsculos vermelhos de sangue. Preparado VI: Diagnose: Pneumonia com pleuritis fibrinosa. 18 Por cima se observa massas fibrinosas, granulosas; segue depois uma camada de fibras fibrinosas, correndo parallelas á superfície; esta camada diminue em direcção ao pulmão, sepa- rando-se alguns ramos, que estão ligados com a camada, acima mencionada, por delicados fios; bem no fundo cessam as listras parallelas completamente e se vê um reticulo muito ramificado, contendo muitos núcleos vermelhos e se achando em relação com a rêde fibrinosa nas malhas do tecido pleural entumescido, por delicados fios que correm por entre as cellulas endotheliaes. Estas se pode seguir distinctamente, como grandes cellulas claras, pouco tintas, com o protoplasma granuloso e grandes núcleos vesicu- losos, por todo o preparado, no limite entre a fibrina e o tecido conjunctivo. Elias formam um contraste visivel com os leucocytos, que se apresentam menores e polynucleares, como se vê, tanto na fibrina, como no tecido pleural e intersticial. Os dois seguintes preparados provêm de differentes pedaços do mesmo pulmão, com apposições fibrinosas mais ou menos grandes. O protocollo da necropsia diz: « O pulmão esquerdo se mostra todo coherente com o pleura costal, o direito só nas partes anteriores. Depois das coherencias separadas, se vê o pulmão direito, na sua superfície, coberto de apposições fibrinosas, em maior porção nos limites dos lobos, e lá, onde ha apposições, a pleura pulmonar turva, secca, sem brilho. O pulmão é voluminoso, rouxo, consistente. No espaço pleural livre se acha um liquido, de cor amarella, de mais de ioo ccm. misturado com fíoccos fibrinosos ». Preparado VII: O parenchyma, assim como o tecido pleural é muito hyperemico. Os alvéolos, cheios de massas es- migalhadas amorphas, corpúsculos sanguíneos, vermelhos e bran- cos, impostos n’um delicado reticulo fibroso. No tecido fofo, só pouco tinto, numerosas fibras elasticas muito ondeantes, núcleos fusiformes e ovaes, mais ou menos grandes, abundantes cellulas polynucleares. Sobre elle os grandes endothelios, pouco tintos com núcleos vesiculosos; estas cellulas cobrem sem interrupção a superfície do tecido conjunctivo; mas em pouca distancia se vê por delicadas fibras, correndo por entre os endothelios e ligados ao te- cido pleural, as fitas, tintas de amarello em varias camadas, cohe- 19 rentes, ou por pequenas fitas, ou por retículos, formando malhas mais ou menos grandes, nas quaes se acham massas esmigalha- das amorphas e contem numerosos núcleos, tintos de vermelho em parte. As fitas maiores deixam reconhecer no fundo umas listras clistinctas, emquanto que a fibrina se torna sem estructura alguma em direcção á superfície. Preparado VIII : Por cima fibras fibrinosas parallelas á superfície e dispostos em retículo, debaixo uma fenda; depois a ordem de cellulas endotheliaes sobre o tecido conjunctivo muito fofo e hyperemico. O protoplasma dos endothelios entumescidos apparece muito granuloso, e seu núcleo vesiculoso com vários nucleolos. Por entre os endothelios correm finas fitas da camada fibrinosa ao tecido pleural. N’um preparado, tinto de Bismarkbraun pode se seguir uns perto dos outros, os endothelios bem tintos com os seus nú- cleos, tintos mais intensivamente de pardo. N’um ponto a figura varia, as cellulas endotheliaes desappareceram; mas pode-se distin- guir claramente a camada fibrinosa do tecido conjunctivo, do qual se observa entrar poucas fibras conjunctivas na fibrina. Aqui já tem lugar uma organisaçâo; se vê também no novo tecido conjun- ctivo alguns corpúsculos vermelhos de sangue e ftbroplastos. N’um ponto, em consequência do maior crescimento do tecido conjunctivo, a camada fibrinosa debruçou-se fungiforme sobre uma parte, coberta de endothelio, e tomou assim uma parte dos endothelios pegados, de maneira que duas ordens endotheliaes estão em frente uma da outra, uma sobre o tecido pleural e a outra sobre camada fibrinosa. Preparado IX: Protocollo da necropsia “Se sente o pulmão esquerdo, no pegar, molle na parte superior, excepto uns engrossamentos superficiaes cartilaginosos; mas o lobo inferior mui- to infiltrado; a pleura do lobo inferior e das partes inferiores do lobo superior, mostra apposições grossas, cinzento-amarelladas, que não são muito pegadas ao orgão, e é, depois d’estas massas afastadas, turva não brilhante; os focos superficiaes, cartilaginosos acima mencionados, demonstram-se como engrossamentos da pleura. No corte o pulmão é muito sanguinoso.” 20 Diagnose: Pneumonia dupla do lobo inferior com pleuri- tis acuta do lado esquerdo. Resultado microscopico: Os alvéolos pulmonares contém delicadas redes fibrinosas, massas esmigalhadas e corpúsculos ver- melhos e brancos. No tecido intersticial muito pigmento de car- vão. O tecido pleural é pouco fofo, mas como augmentado; sobre elle estão collocados os endothelios, apparentemente muito au- gmentados. Segue-se, depois, em alguns pontos uma fenda cheia de um delicado retículo fibrinoso; esta fórma aconnexão do tecido conjunctivo com a espessa camada fibrinosa que cobre a superfície em fórma de fitas esmigalhadas fibrosas e não contém,senão poucos elementos cellulares. Preparado X. Diagnose : Pneumonia eom pleuritis fibrinosa. Nos alvéolos pulmonares um rico retículo fibrinoso com corpúsculos fechados de sangue. No tecido pleural visinho, mui- tos depositos de pigmento de carvão. O tecido conjunctivo é muito fofo, póde-se observar no mesmo cortes transversaes e ver- ticaes de vasos sanguíneos e abundantes, livres corpúsculos san- guíneos. O tecido conjunctivo, tinto um pouco avermelhado, com fibras elasticas serpeantes e muitos núcleos fusiformes e ovaes distingue-se claramente da camada fibrinosa, tinta vermelho-ama- rellado, que em muitos pontos, se acha directamente sobre elle. No limite entre ambos se vê núcleos vermelhos, ora chatos ora ovaes, que se manifestam com augmento forte, como cellulas endotheliaes, que percorrem o preparado quasi sempre em camada simples, em fileira serrada. A camada fibrinosa, mais próxima ao endothelio, deixa reconhecer umas estrias, parallelas á super- fície ; em alguns pontos, fórma a fibrina villosidades altas, appa- recendo sem estructura alguma. Preparado XI : D’um outro lugar do mesmo pulmão com menor opposição fibrinosa- Pode-se distinguir também aqui a fina, estreita bainha da fibrina amarella do tecfdo conjunctivo que se acha em baixo e se tingiu pouco. No limite de ambos se observão, principalmente em lugares onde a fibrina não está directamente sobre o tecido con- junctivo, grandes cellulas; o que se reconhece com augmento forte 21 como cellulasendotheliaes; o seu protoplasma se tingiu pouco- apparece granuloso e entumescido, o seu grande núcleo, vesiculoso é tinto, tirante a vermelho, em contrario ás cellulas polymorphas em parte polynucleares directamente em baixo das primeiras no tecido conjunctivo, que mostram uma tinta d’um vermelho intensivo. O tecido pleural está também aqui muito fofo e contém muitas fibras elasticas, das quaes muito finas e delicadas fibras passam por entre os endothelios, á camada fibrinosa; esta apresenta umas estrias fibrillares e contém muitos núcleos mais ou menos grandes, d’um vermelho vivo. Nos pontos onde a camada fibrinosa é um pouco mais espessa, se vê aindã uma segunda fita com estrias fibrillares, que está ligada com a inferior por delicadas fitas fibrosas, formando assim malhas, grandes e pequenas, cheias de massas esmigalhadas. Na fita fibrinosa superior não se póde reconhecer mais núcleos. O parenchy ma pulmonar é analogo ao dos preparados acima descriptos. Preparado XII : O protocollo da necropsia relata : « Nas cavidades pleuraes nenhum liquido anormal. O pulmão direito, mais pesado do que o esquerdo, se sente, no pegar, em todas as partes, duro e rijo. A pleura apresenta pleuriz antigo, cm cima também recente ». Resultado MICROSC.: Clara diíferença entre o tecido con • junctivo serpeante, tirante ao vermelho, e a fibrina amarellada que apresenta uma espessa massa amorpha, esmigalhada. No tecido pleural tiveram logar fortes hemorrhagias; se vê innumeros corpús- culos de sangue; que, em alguns pontos, desligaram a ordem endo- thelial do tecido conjunctivo. Em preparados tintos com methy- lemblau — eosina, pode-se reconhecer muito bem os núcleos intensivamente azues dos endothelios, que percorrem todo o pre- parado no limite entre a fibrina, que não se tingiu, e o tecido conjunctfvo avermelhado ou os vasos sanguíneos. Na fibrina mesma poucos núcleos. Preparado XIII: Diagnose: Pleuropneumonia.—Resultado mi- croscópico : Numa fenda se observa distinctamen;e grandes cellulas com grandes núcleos vesiculosos, cujo protoplasma parece granu- loso e tomou uma cor amarellada. As cellulas se deixam seguir, por todo o preparado, uma perto da outra, ou cylindricas ou chatas; 22 só em alguns pontos são um pouco separadas por finas fitas, que unem a fibrina, tinta de um amarello intensivo com o tecido pleural de um vermelho vivo. Este é muito fofo, contém numerosas fibras ondeantes, elasticas, parallelas á superfície, abundantes corpúsculos vermelhos de sangue, que se acham livres no tecido, contém mais núcleos lobosos e cellulas fusiformes. A fibrina é na superfície em varias camadas como fitas, que deixam reconhecer, em maior parte, umas estrias fibrillares, formando gr, ndes e pequenas malhas, cheias d’um fino retículo com núcleos fechados, avermelhados ; estes úl- timos igualam em sua fórma, os leucocytos no tecido conjunctivo e intersticial-pulmonar; este mesmo muito hyperemico. Nos alvéolos se vê globulos de sangue e seus restos e coágulos fibrinosos fila- mentosos. Preparado XIV. Protocollo da necropsia: «Pulmões muito dallidos, em uns pontos rouxos. A pleura tem abundantes appo- sições e não brilha.» Diagnose: Pleuritis em consequência d’um a bronchopneumonia. Resultado microscopico: Debaixo de uma fenda, em direcção do parenchyma pulmonar, se observa os grandes endothelios. Em sua visinhança immediata, no tecido pleural numerosas cellulas polymorphas e polynucleares e muitos globulos vermelhos de sangue. O tecido conjunctivo serpeante, d’um vermelho intensivo, se mostra fofo, contém muitas malhas, nas quaes são visiveis deli- cados fios fibrinosos, tirantes ao amarello. O tecido pulmonar apre- senta transformações semelhantes aos outros casos. A fibrina, em maior parte, é separada pela fenda dos endothelios, por entre as quaes correm de novo finos fios da fibrina ao tecido conjunctivo. A ca- mada fibrinosa, próxima ao cndothelio, se compõe de uma massa, ou redeforme, ou amorpha-esmigalhada com abundantes cellulas vermelhas, que se assemelham completamente ás no tecido con- junctivo. Em direcção á superfície livre, uma estreita fita amarella com distinctas listras fibrillares e só poucos núcleos, fôrma a appo- sição exterior. Preparado XV. Protocollo da necropsia: Cortando a arca tlioracica, corre da cavidade direita pleural um liquido amarello; o pulmão direito levemente coherente por massas fibrinosas verde- amarelladas que o cobrem. A sua pleura é coberta por espessas massas fibrinosas verde-amarelladas sobre os lobos inferior, médio e a parte posterior do lobo superior Dignose: Pleuropneumonia — Resultado microscopico. Reco- nhece-se distinçtamente o limite entre o tecido pleural averme- lhado e a fibrina amarella; entre ambos se acham pequenos nú- cleos, g-eralmente ovaes que se encadeiam por todo o preparado, fazendo a impressão, como se as cellulas endotheliaes aqui fossem destruídas no seu pretoplasma, conservando apenas o seu núcleo. Em muitos pontos parece ter havido logar uma augmentação dos núcleos. Os núcleos do tecido conjunctivo, que fórma abun- dantes grandes malhas, cheias de retículos fibrinosos, são raros. A espessa camada fibrinosa representa, em geral uma massa amorpha, na qual são visíveis umas estrias, como fitas, com camadas fibril- lares, assim como redes, mais ou menos grandes. Nos casos, examinados até agora, se (rata de processos in- flammatorios, recentes ou antigos, do tecido pleural, que se desen- volveram em consequência de uma pneumonia. Nos casos, que vamos descrever agora, se trata de processos inflammatorios nas serosas, geralmente em consequência de uma inflammação espe- cifica, e em primeiro logar, de uma tuberculose pulmonar. Preparado XVI: O protocollo du necropsia diz: « Os pul- mões estão retrahidos, ambos coherentes por finas adhesões com a parede thoracica; nos saccos pleuraes, sobretudo do lado di- reito, um pouco de liquido claro, no qual nadam alguns floccos fibrinosos. No pulmão esquerdo se observa na superfície, ora partes rouxas, ora cinzento-vermelhas; entre estas, principalmente nas partes anteriores do lobo superior, onde a pleura está coberta com uma fibrina, focos caseosos, sitos no parenchyma pulmonar.» Resultado microscopico: N’este parenchyma se observa um foco caseoso que se tingio de um amarello vivo, rodeado de tecido conjunctivo com numerosos núcleos; por cima uns alvéolos, nos quaes se acham um delicado retículo fibrinoso, grandes cellulas arredondadas e massas esmigalhadas. Segue então o tecido pleural com muitos vasos de sangue, em parte cheios, e numerosos núcleos vermelhos. Em direcção ao parenchyma pulmonar, o tecido, for- temente serpeante, mostra uma tinta, tirante ao vermelho; mas 24 também se vê já umas fibras amarelladas nesta camada. Mais longe, em direcçâo á superfície, o colorido, tanto das fibras con- junctivas como dos núcleos, se torna mais claro e se confunde emfim, na tinta amarella da fibrina. N’esta se acham grandes cellulas com o protoplasma granuloso, que diminuem, em numero, para a superfície livre. A fibrina mesma corre no fundo serpeante com fibras e feixes parallelas que, entre si, estão ligadas por fios reticuliformes, contendo massas esmigalhadas. Na superfície livre a fibrina fórma numerosas excrescencias, geralmente sem estructura. Uma ordem endothelial não se vê em parte alguma, tão pouco sobre a fibrina. Em alguns pontos póde-se distinguir um limite entre a fibrina e o tecido conjunctivo; mas também aqui não se vê endothelios. N’um preparado, tinto segundo o methodo de Weigert, se observa, sobre o tecido conjunctivo, a espessa camada fibrinosa d’um azul intensivo. Mas também no tecido conjunctivo ainda se vê, além das fibras elasticas, muito azues, outras estreitas fitas azues, que estão em , immediata connexão com a camada fi- brinosa. Nas malhas da fibrina se observa as grandes cellulas, já mencionadas, com um, dous ou mais grandes núcleos vesiculosos, tintos intensivamente. Estas grandes cellulas são os endothelios que se acham desligados das malhas da fibrina, e em parte em decadência. Também nos alvéolos pulmonares se vê rêdes fibri- nosas, muito bem tintas. Preparado XVII: Este preparado provem do mesmo pulmão, d’um ponto, onde ainda não se pode provar alterações tuberculosas e onde a inflammação ainda é relativamente recente. Se vê correr uma estreita bainha com differentes elevações vil- losas, tinta d’um amarello vivo, sobre o tecido conjunctivo muito hyperemico, tirante ao vermelho; emquanto que, em muitos pontos, ha uma distincta differença entre as duas camadas, onde teve logar uma abundante agglomeração cellular, se observa em outros pontos como a fibrina se confunde pouco a pouco com o tecido conjunctivo. Mas também, mais em direcçâo ao pulmão se vê fibras amarellas no tecido conjunctivo avermelhado. Preparado XVIII: Diagnose: Tuberculose pulmonar. Resultado microscopico: No parenchyma pulmonar massas caseosas, esmigalhadas; uns alvéolos com retículos fibrinosos 25 depois massas esmigalhadas com alguns núcleos, ainda conser- vados, em cima o tecido conjunctivo muito fofo, vermelho pigmen- toso, serpeante, que mostra, em direcção para a superfície livre, uma mistura de amarello e vermelho, e por fim acceita inteira- mente o colorido amarello. Na camada da transição, assim como na, ha pouco mencionada, o percurso ondeante é distinctamente visivel, mas se vê ainda sobre ella uma massa amorpha, esmiga- lhada. Em pontos, onde a fibrina não é fofa, se vê fitas amarellas no tecido conjunctivo tinto muito vermelho, que deixam conhecer perfeitamente a construcção fibrillar. Os dois seguintes preparados provêm d’um pulmão tuber- culoso, sendo: Preparado XIX: d’um ponto onde não se pode constatar a tuberculose. Nos alvéolos pulmonares muitos corpúsculos de sangue e delicados reticulos fibrinosos, sobre elles o tecido pleural tumefeito e hyperemico. No fundo apresentam as fibras con- junctivas um colorido avermelhado, que diminue em direcção para a superfície. Em muitos pontos reconhece-se distinctamente grandes cellulas endotheliaes, pouco tintas, e sobre ellas a fibrina que apre- senta uma estriação fibrillar, emquanto que em outros pontos o tecido conjunctivo passa directamente para a fibrina. Preparado XX: No parenchyma pulmonar numerosos focos caseosos que attingem em alguns pontos directamente a pleura. Esta apresenta-se muito entumescida, contém muitos vasos sanguineos e núcleos ovaes e fusiformes. Na superfície se observa um rico retículo fibrinoso, em alguns pontos em indistinguível connexão com as fibras conjunctivas. Prepapado XXI: Pleuritis cm consequcncia Puma tubér- culos e pulmonar. Se observa uma estreita camada fibrinosa amarella com estriação, distinctamente fibrillar, com algumas escrescencias vil- losas, sem estructura e debaixo d’ella o tecido conjunctivo aver- melhado. Em numerosos pontos se constata finas e estreitas fitas, impostas no tecido conjunctivo, em outros pode«-se seguir uma transição successiva das fibras avermelhadas para as amarellas. Os dois seguintes preparados provêm de differentes pontos do mesmo pulmão tuberculoso. 26 PREPARADO XXII: No parenchyma pulmonar numerosas massas caseosas; em alguns pontos, sobre ellas os alvéolos cheios de grandes cellulas e corpúsculos de sangue; em outros pontos attingem directamente o tecido pleural. Este é augmentado e hyperemico, no fundo intensivamente vermelho, com muitas fitas c listras amarellas, que crescem em numero, em direcção á super- fície e apresentam uma estructura distinctamente fibrillar. Por cima se acha ainda uma camada de massas amorphas esmigalhadas. Preparado XXIII: Também aqui se observa as massas esmigalhadas caseosas, attingindo directamente o tecido pleural, que parece augmentado e contem muitos núcleos ovaes e fusi- formes, diminuindo em numero em direcção á fibrina. Por cima se acha a camada fibrinosa com as estrias em parte fibrillares e em vários pontos em continuação indistinguível com as fibras conjunctivas. Os dois preparados que seguem provêm d’um pulmão com sarcoma metastatico, um d’um ponto gasoso, o outro d’uma parte sarcomatosa. PrepARADO XXIV: Resultado microsçopico: Sobre o parenchyma pulmonar se observa em primeiro logar o antigo tecido pleural com numerosos vasos sanguíneos, muitos núcleos ovaes e fusiformes. As suas fibras apresentam na parte, pegada ao parenchyma pulmonar um percurso parallelo á superfície e ainda se acham pegadas umas ás outras. Em direcção á superfície livre apparecem as fibrillas fofas, mas sempre parallelas ás outras. D’estas fibras conjunctivas superiores vê-se passar para a fibrina delicados fios conjunctivos, mostrando uma direcção mais ou menos vertical para o tecido conjunctivo antigo. ISPeste tecido delicado se observa numerosas cellulas grandes, em parte fusiformes e com grandes núcleos e alguns vasos de sangue muito finos. Esta figura cor- responde completamente á que Orth desenhou no seu tratado da pericardite. Aqui também se acha por cima a fibrina, que, no fundo, é penetrada de recente tecido conjunctivo com vasos de tal modo que grumos fibrinosos, mais ou menos grandes, estão desligados completamente da massa principal e rodeadas do tecido de granulações. Pode-se considerar estas grandes cellulas fusi- formes como fibroplastos e, rfeste caso, se trata d’uma organisação da fibrina, conseguintemente d’uma pleuritis productiva. Devo rejeitar, já aqui a objecção, que é uma degeneração fibrinosa das fibras conjunctivas superficiaes. Esta figura, como a vimos no preparado XXIV, corresponde ao, descripto por Neumann, porque existem por cima grandes massas fibrinosas, diminuindo para o fundo em numero e tamanho, mas existe uma differença especial que aqui no fundo sobre o parenchyma pulmonar, é o antigo tecido conjunctivo parallelo-fibroso, e sobre este, sahindo d’elle, o recente, delicado, com minimos vasos sanguíneos. Trata-se por conseguinte, não d’uma degeneração, mas sim, d’uma organisação. N’este caso é o contrario ao da pelle, onde se acha no fundo o recente tecido e o antigo corneo por cima. Aqui existem, antes, estados como se acham na organisação d’um thrombo. Como ahi, se vê, depois de alguns dias, em primeiro logar crescer cellulas fusiformes e ramificadas, em forma de retículo, da parede do vaso thrombotico para o coagulo fibrinoso, ao que segue, depois de mais alguns dias, formação de vasos novos, vê-se também aqui primeiro uns fibroplastos, com raríssimos capillares, correrem do antigo tecido conjunctivo para a fibrina. Por esta crescencia do recente tecido conjunctivo na fibrina, se desligam massas mais ou menos grandes da massa principal, e, finalmente desapparecem, emquanto que na superfície se sobrepõe constante- mente nova fibrina exsudata até a inflammação cessada. Uma figura, toda differente, apresenta o preparado sobre as alterações sarcomatosas. Prep. XXV: Por cima se vê uma espessa camada fibrinosa amarella, no principio sem estructura alguma, mais para o fundo formando fitas, mais ou menos estreitas que estão em connexão umas com as outras, formando assim grandes e pequenas malhas nas quaes se observa poucos núcleos vermelhos. Mais para o pulmão se tornam as fitas fibrinosas mais fofas, e já se póde ve- rificar, entre as fitas amarellas, tecido conjunctivo, tirante ao ver- melho. Em muitos pontos se observa uma passagem clara do te- cido conjunctivo para a fibrina. Debaixo d’essa se vê ainda o te- cido pleural tumefeito; mas, em parte, também já em transformação 28 fibrinosa, como se póde reconhecer nas longas, estreitas cellulas fusiformes, cujo protaplasma se tingiu, em muitos pontos, d’um amarello intensivo e apresenta uma decadência granulosa. Prep. XXVI: Este provem d’um pleuriz chronico, adhesivo em consequência d’uma pneumonia chronica. Result. microsc.: Todo o tecido conjuctivo é muito aug- mentado, contém numerosos grandes vasos sanguíneos e muitas cellulas, ou fusiformes, ou ovaes, ou redondas com vários núcleos. Nas camadas inferiores se apresenta fofo, mais para cima forma uma espessa massa na qual se acham numerosas partes d’um amarello vivo. Estas apresentam uma estructura completamente differente muitas vezes em fórma de fitas com estriação, distinctamente fi- brillar, que se acham em connexão continua com as fibrillas do tecido conjuctivo. Em outros 'p°ntos fórma a fibrina grandes gru- mos e glebas amorphas, percorridas em parte, pelo tecido con- junctivo. Os dois seguintes preparados provêm da serosa do peritoneo isto é, um da parede parietal e outro da serosa intestinal. Elles apresentam um interesse particular; e, por isso, darei algumas observações do relatorio medicinal. Trata-se d’uma mulher de 39 annos, na qual se fez a lapa- ratomia, por causa d’um tumor no ventre. No jornal se diz: Depois do ventre aberto, corre delle, em grande porção, um claro liquido amarellado, que coagula depressa e quasi completamente. A maior parte do liquido é retirado, fi- cando um resto, em parte coagulado sobre e entre as circumvo- luções visceraes; 20 dias depois da operação, exito letal. O prot. da necr.relata: «Os intestinos coherentes por massas fibrinosas, em maior parte fortemente ligadas. A fibrina mais gelatinosa, não purulenta. Além d’isto, na cavidade abdominal, uns ioo centimetros d’um liquido seroso, um pouco sanguíneo. Todo o peritoneo co- berto por nósinhos chatos, brancos, quasi sempre do tamanho d’uma lentilha.* Diag.: Carcinoma do pyloro e do peritoneo com perito?iite. Prep. XXVII: Result. microsc. da serosa visceral. Em 29 baixo se vê os musculos lisos e estriados, amarello-vermelhados sobre elles a camada muito espessa do tecido conjunctivo vermelho com muitos núcleos fusiformes e ovaes e numerosíssimos vasos sanguíneos, mais ou menos grandes, quasi todos abundantemente cheios; o tecido conjunctivo parece fortemente augmentado. No fundo correm as fibrillas conjunctivas serpeantes, verticaes á super- fície, emquanto que, mais para cima tomam uma direcção mais parallela a esta. No fundo são as fibrillas apertadas, mas, para cima se tornam mais fofas, contendo numerosos mínimos vasos san- guíneos e se observa, entre ellas, ilhas e fitas amarello-averme- lhadas com estrias, parcialmente fibrillares, que tomam, mais para cima, um colorido sempre mais amarello e apresentam no fim, em muitos pontos, uma apparencia vidrosa, homogenea, amarella como a cidra; em outros pontos fórma a fibrina retículos, mais ou menos grandes, incluindo espaços malhados, nos quaes estão con- tidos grandes e pequenos núcleos, fusiformes, semelhantes aos do tecido conjunctivo. Não se constata endothelios em parte alguma. Prep. XXVIII da serosa parietal: O tecido conjunctivo vermelho em baixo parcialmente correndo sem ordem, toma, em direcção á fibrina, um sentido parallelo á superfície. Contém muitos núcleos fusiformes e ovaes e forma numerosas grandes malhas. Mais para a superfície se vê no fofo tecido conjunctivo, no começo fitas avermelhado-amarellas com listras granuloso-fiosas, augmen- tando para cima, e mostrando, para cima um colorido, sempre mais amarello. Entre as fitas inferiores, coherentes entre si, só com as massas fibrinosas superiores, estão em parte grandes cellulas, que parecem endothelios entumescidos, mortificados, em parte pe- quenas, fusiformes, cujo protoplasma deixa reconher uma passagem para as fibras conjunctivas que passam para o tecido conjunctivo visinho. Depois cTestes exames, chega-se ao resultado, que se deve distinguir, em inflamações das serosas, processos agudos e chro- nicos, como já o indicou Neumann, deixando este em duvida se em inflammações agudas das serosas, a fibrina é tecido conjunctivo transformado, ou antes, não é exudato flbrinoso apposto, em- quanto que elle constata para as chronicas uma degeneração fi- 30 brinosa do tecido conjunctivo. Reunindo os 15 primeiros prepa- rados, nos quaes se trata d’uma inflammação fibrinosa da pleura, em consequência d’uma pneumonia, vê-se que quasi todos apre- sentam as mesmas, ou pelo menos, muito semelhantes modificações. Tanto nos preparados, tintos com azul de methylena — eosina, em que o tecido pleural apresenta uma tinta avermelhada, emquanto que a fibrina não tomou colorido algum, como nos talhos, tintos com saffranin — pikrinsaure, sobretudo nos com pikrocarmina pode-se constatar em toda parte uma differença distincta entre a fibrina e o tecido conjunctivo. O tecido pleural, em todos os pre- parados, é mais ou menos fofo, o que deve-se considerar como consequência da embebição serosa; forma muitas vezes espaços malhados, mais ou menos grandes, nos quaes se vê delicados re- tículos fibrinosos que, com pikrocarmina mostram um colorido amarellado. O tecido conjunctivo é quasi sempre muito hypcre- mico, contendo tanto numerosos vasos sanguíneos em maior parte abundantemente cheios, como também livres corpúsculos san- guíneos. O que, porém, é commum a todos os preparados, é a ordem endothelial. que se deixa seguir, quasi sempre pelo pre- parado inteiro em connexão immediata. Em quasi todos os pre- parados parecem os endothelios tumefeitos, se distinguem quasi sempre, pelo seu tamanho e sua menor capacidade de colorir-se dos corpúsculos brancos de sangue e de cellulas conjunctivas. O seu protoplasma é frequentemente granu oso e tinto de amarello. O seu núcleo, ás vezes vesiculoso, tomou conforme os differentes materiaes de tinturaria, um colorido, mais ou menos intensivo, sobretudo em preparados de azul de methylena, uma tinta de um azul vivo. Em alguns casos parece ter havido logar uma augmenta- ção dos endothelios. A fibrina, em muitos preparados ainda sepa* rada por uma fenda estreita, se acha sempre sobre a camada endo- thelial, e n’ella, que se tingiu com pikrocarmina muitas vezes d’um amarei Io intensivo, se vê frequentemente núcleos vermelhos. A estructura da fibrina é extremamente diíferente ; ora fórma fitas e feixes, mais ou menos estreitas que deixam reconhecer uma estria- ção distinctamente fibrillar ; ora fórma grandes e pequenas redes» sem estructura alguma, ora está em glebas, de fórma e tamanho 31 differentes n’um retículo ; a superfície livre é quasi sempre esmi- galhada e sem núcleos. N’um grande numero de preparados se vê delicadas fibrinlias de ligação esmigalhado-filamentosas fibrinosas correrem, por entre os endothelios para o tecido pleural ; que estas, como julga Wagner, estão em relação com os vasos lymphaticos pleuraes superficiaes, não posso affirmar com certeza. Mas, princi- palmente n’estas, como nos delicados retículos fibrinosos no tecido pleural, deve-se julgar possível, mesmo provável, que se trate de processos d’uma coag-ulação postmortal. Depois de tudo isto deve-se crer que, n’estes casos, se trata d’uma exsudação do sangue; isto é, que a fibrina em estado liquido traspassou do tecido conjunctivo hyperemico, e por entre as cellulas endotheliaes, e se assentou na superfície livre como corpo solido ; notável é, entretanto, a estructura differente e a ordem da fibrina. Se, porém, a fibrina provém do sangue, o que não póde mais ficar em duvida, conforme estes preparados, os elementos cellulares só pódem ser considerados como leucocytos emigrados. Em nenhum dos preparados, até agora descriptos, achamos um signal que póde haver logar uma formação de fibrina só depois da necrose de endo- thelios, como julga Weigert ; pois, ainda que as cellulas mostras- sem modificações, eram estas, em parte, de natureza mais progres- siva (augmento em tamanho e numero das cellulas), e onde a qualidade do protoplasma cellular (tinta amarellada) fez suppor uma degeneração, mostrava a capacidade de colorido, ainda existente, dos núcleos, que ainda não podia ser questão d’uma necrose de coagulação Que em muitos preparados as cellulas endotheliaes se acham desligadas de sua base em maior ou menor extensão, e, em parte livres n’uma fenda, em parte directamente debaixo da fibrina, isto deve ser considerado como um effeito da corrente exsudativa. D’um interesse particular, n’este sentido, é o preparado n. VIII, onde teve logar, não só uma desligação, mas também uma dobra- dura do endothelio, de maneira que o tecido pleural póde tocar immediatamente na fibrina. O que póde resultar mais tarde da fibrina, mostra o preparado XXIV que provém, é verdade, d’um pulmão especificamente affectado, mas apresenta só o aspecto ordi- nário da inflammação fibrinoso-productiva das serosas. E’ o contrario nos preparados do segundo grupo, XVI-XX VIII 32 onde se trata de processos inflammatorios específicos, principal- mente tuberculosos, sarcomatos s e chronicos. N’estès preparados póde-se constatar, aqui e acolá, uma differença visivel na cor entre a fibrina e o tecido conjunctivo ; n’um caso também ainda cellulas endotheliaes no limite, emquanto que não existem mais ou se acham conservadas ás vezes n’um espaço malhoso, formado pelos feixes e retículos fibrinosos. Muitas vezes, porém, se vê uma passagem suc- cessiva do tecido conjunctivo á fibrina, podendo-se constatar nos cortes, tintos com picrocarmina todas as nuances do vermelho ao amarello ; em outros pontos se vê fitas amarelladas, impostas no tecido conjunctivo vermelho, em parte fofo, que se augmentam para a superfície em cor e numero, até que, afinal, passam com- pletamente na camada fibrinosa amarella. N’estes casos se trata d’uma degeneração fibrinoide das fibrillas do tecido conjunctivo. Em outros casos existe ao lado d’esta degeneração ainda uma exsudação, isto é, nos preparados, onde se póde observar, no fundo a passagem do tecido conjunctivo á fibrina, e onde a fibrina fórma em cima espaços malhados, nos quaes se vê cellulas endotheliaes, em parte entumescidas e mortificadas. Deve-se suppôr que se trata de ambos os processos da de- generação e exsudação ; isto prova n’um caso (Prep. XIX) o endo- thelio ainda em parte conservado, ainda que um pouco mudado f emquanto que se observa sobre elle a camada fibrinosa e embaixo o tecido conjunctivo, em parte fibrinoidamente degenerado, prova também a circumstancia, que se acham ainda cellulas endothe- liaes nas malhas, formadas pelas massas fibrinosas. Como, per- guntará todo mundo, penetram as cellulas endotheliaes n’estes espaços ? Se se tratasse d’uma degeneração simples do tecido con- junctivo, podiam as cellulas endotheliaes, n’este processo, ter des- apparecido, talvez ser impellidas, ou podiam ser conservadas, ainda que mudadas, mas então sómente sobre as massas fibrinoi- damente degeneradas, e não no meio das partes fibrinosas ; não se póde explicar isto de outra maneira de que tem logar no fundo uma degeneração do tecido conjunctivo, emquanto que, de fóra ao mesmo tempo, é apposta fibrina. Ha por conseguinte, uma exsu- dação junto com a degeneração. Esta combinação não tem nada de notável; porque existe. sem duvida, nas profundas inflammações pseudo-membranosas (diphthericas) das mucosas. Também aperda visivelmente rapida do endothelio está em accordo com o mesmo proceder de epithelio da mucosa. Em outros preparados procede com a degeneração uma organisação, e lá onde se vê passar do tecido pleural finas fibras com fibroplastos e vasos sanguíneos, em parte neoformadas para a camada fibrinosa. D’um processo d’esta especie se trata nos dois últimos pre- parados XXVII e XXVIII. De antemão deve-se suppôr que se trata, nestes casos, só d’uma organisação da fibrina coagulada entre e sobre as circumvoluções intestinaes ; mas, como foi des- cripto acima, se acham figuras visíveis d’uma degeneração fibri- nosa do tecido conjunctivo, porque se póde seguir, do fundo para cima, uma passagem successiva das fibrillas conjunctivas averme- lhadas para amarelladas e amarellas. Se nos lançamos ainda uma vez a vista sobre este trabalho, tomando em consideração as obras, até agora publicadas sobre este assumpto, devemos dizer que, tanto os autores do primeiro grupo, Cohnheim, Wagner, Rindfleisch, Weigert, Orth, Hauser e Graser, que consideram a fibrina, em inflammações das membranas se- rosas, como provindo do sangue, como também os autores do segundo grupo, Rokitansky, Virchow, Buhl, Neumann, Langhans, Schuchardt. Grawitz e Schleiffarth, que constataram uma degene- ração fibrinoide do tecido conjunctivo, tiveram em parte razão de estabelecer uma ou outra opinião : mas como se verifica do trabalho presente, deve-se distinguir inflammações agudas, chronicas e espe- cificas, como já o indicou Neumann que occupa uma posição intermediária entre os dois grupos. O que então Neumann declarou e deixou indeciso, se a fibrina em inflammações das serosas não devia ser considerada como exsudato, isto deve-se estabelecer como facto agora depois dos preparados, acima descriptos e assim é que os autores do primeiro grupo têm razão. Comquanto que as opiniões divergem em diversos pontos, como p. ex. Weigert, que para effectuar-se a coagulação, faz por condição a extincção das cellulas endotheliaes, todos concordam 34 com que a fibrina em inflammações agudas das membranas serosas é fibrina exsudativa. Differente é com os autores do seguindo grupo. Depois dos preparados descriptos, devemos concordar com elles, que tem logar uma degeneração fibrinoide do tecido seroso, porém só com aquel- les autores que constataram esta para as inflammações chronicas e especificas, como Neumann n’um caso de pleuritis tuberculosa. Mas que a íibrina seja só tecido transformado, como afflrma Virchow não podemos admittir, mas seguimos a opinião dos autores, Roki- tansky, Buhl, etc., que constatam ao mesmo tempo uma opposição de fóra. Aos autores, porém, que também para os casos recentes e agudos, constatam uma degeneração fibrinoide do tecido conjunc- tivo, Langhans, Schuchardt, Gravitz e SchleiíFarth, devemos re- plicar, depois dos preparados examinados, que nunca encontramos o menor indicio d’uma degeneração fibrinoide do tecido conjunc- tivo seroso ; aos dois últimos, especialmente, que não poudemos descobrir, em parte alguma, figuras, que fizessem suppor um acor- dar de cellulas ou núcleos. PROPOSIÇÕES Physica medica. i O microscopio é um instrumento mui empregado para am- pliar a imagem dos objectos, que, pelas suas pequeninas dimensões não podem ser vistos a olhos nús. II Dividem-se os microscopios em simples e compostos. III Depois de sua descoberta, avultaram os progressos para a medicina e cirurgia porquanto é um poderoso auxiliar para o diagnostico de alterações pathologicas. Chimica inorgânica i O Bichromato de Potassa forma chrystaes de cor alaranjada escura; tem um sabor amargo e metallico; 6 solúvel n’agua fria, mais em agua quente, insolúvel no álcool. II Elle é a substancia principal do liquido de Mueller, no qual, além d’ isso, é contido sulfato de soda. III Em Medicina emprega-se o liquido de Muller para con- servar e endurecer preparados anatómicos e pathologicos. Botanica e Zoologia medica i Os protozoários entrando no corpo humano podem produzir doençns. II Os mais importantes protozoários são osplasmodios claMalaria. III Outros produzem affeeçòes dos intestinos (amoeba coli Lõsch). Anatomia descriptiva i Chamam-se membranas serosas as que revestem a superfície das cavidades do corpo humano. II Em qualquer serosa deve-se distinguir uma folheta exterior ou parietal, e uma interior ou visceral, formando um sacco, com pouco liquido seroso, que serve para lubrificar as duas folhetas. III São a pleura, o peritoneo, o pericárdio e a túnica vaginalis própria. Histologia i A serosa consiste n’uma camada do tecido conjunctivo com fibras elasticas como fundamento, sobre a qual se acha um epi- thelio (endothelio) pavimentoso simples. II Não contém glandulas e é muito pobre em vasos sanguineos III Os vasos lymphaticos são muito desenvolvidos. Chimica organica e biologica i O exame analytico do sueco gástrico deve provar a presença de acido clorhydrico e de pepsina. II O exame feito só com papel de tournesol não verifica o acido clorhydrico por motivo da presença de ácidos orgânicos no sueco gástrico (ácidos láctico, acético, butyrico). III Um dos melhores reagentes para o exame do acido chlor- hydrico é o reactivo de Gunzburg (uma composição de phloro- glucina e vanillina dissolvida em álcool). 37 Physiologia i A fibrinoformação do sangue succede, segundo A. Schmidt, pela reunião dos, por elle chamados, fibrinogeradores. II São tres, que se acham dissolvidos no sangue circulatório: as substancias fibrinogena e fibrinoplastica e o fermento fibrinogeno. III Os tres geradores formam-se pela destruição dos leucocytos. Matéria medica, pharmacologia e arte de formular i O opio é um sueco espesso obtido das capsulas da dormideira — papaver somniferum — planta da familia das papaveraceas. II O opio, além da resina, gomma, oleo, albumina, etc. contém diversos alcaloides aos quaes elle deve as suas propriedades. III Os principaes alcaloides que contém o opio são: a morphina, a codeina, a narcotina, a thebaina e a narcina. Pathologia cirúrgica i As moléstias exsudativas da pleura pertencem sò á cirurgia, porque muitas vezes dão indicações para intervenções cirúrgicas. II Estas indicações são a quantitade, respectivamente a qualidade do exsudato. III Conforme a qualidade do exsudato é empregada a puncção ou a incisão. Chimica analytica e toxicologia i As ptomainas são substancias de proveniência animal. 38 II Formam-se pela acção de microbios sobre as substancias albuminoideas. III Compõem-se de diaminas do tri-e-pentamethylena. Anatomia medico-cirurgica. i A artéria lingual é um ramo de artéria carotida externa e está situada sob o musculo hyoglosso. II Ha dois metliodos para fazer a ligadura d’esta artéria. Po- de-se fazer no triângulo formado pela ansa do nervo liypoglosso, o musculo mylohyoides e o tendão do digastrico. III O outro lugar de eleição é o angulo formado pelo tendão do digastrico e o corno grande do osso hyoideo. Operações e apparelho. i O geral processo empregado para a operação do exsudato sero-fibrinoso é a puncção, para a do empyema a incisão. II Algumas vezes uma saliência respectivamente um phlegmão no exterior indica o lugar onde se deve operar. III Quando isso não se dá, cabe ao cirurgião escolher o lugar de eleição, tendo em vista o seguinte: Collocar a abertura em um ponto com sufficiente declive, evitar o diaphragma e artéria intercostal. 39 Pathologia medica. i. A elephantiasis dos arabes é uma doença parasitaria. II A presença de filaria do sangue é a causa da affecção. III Os embryões destes vermes acham-se numerosos na lympha dos doentes. Anatomia e physiologia pathologicas i Os estados morbidos constitucionaes exercem uma grande influencia sobre o traumatismo geral. II A mellituria, a scrophulose, o alcoolismo, etc., ahi estão para attestal-a. III O medico deve consideral-as attentamente, quer no prognos- tico, quer no tratamento. Therapeutica i O sub-nitrato de bismuto é um precioso medicamento, sobre- tudo na therapeutica das crianças, pela ausência de sabor e facil administração. II Associado á vaselina ou sob a fórma simples dá excellentes resultados nas queimaduras. III Internamente é um precioso meio de combater a inflammação da mucosa intestinal e a diarrhéa serosa ou catarrhal. 40 Obstetricia I Placenta previa chama-se a inserção da placenta mais ou menos sobre o orifício interno do utero. II O perigo desta anomalia consiste numa hemorrhagia ás vezes muito abundante e fatal. III Em caso de placenta previa lateral e hemorrhagia grave, deve fazer-se a viração combinada, logo que o canal cervical deixa passar dous dedos. Medicina legal i Chama-se em medicina legal aborto criminoso a interrupção voluntária da gravidez até a 28—30 semana, sem haver para isso indicações therapeuticas. II O corpo de delicto em casos de aborto deve comprehender o exame da mulher, que abortou e do producto da concepção. III Os meios empregados para a provocação do aborto podem ser mechanicos e internos. Hygiene i Denominam-se medidas quarentenarias o conjuncto de meios expostos em pratica para evitar-se a importação das moléstias exóticas ou pestilenciaes. II Tres são as especies de quarentenas: maritima, terrestre e fluvial c III Está rèconhecido que o alcance sanitario não é igual para essas quarentenas. A maritima supplanta todas ellas. 41 Pathologia geral i A hereditariedade desempenha papel importante em grande numero de moléstias. II Ella é a consequência da geração que nos animaes superiores é sexuada. III O exemplo mais claro da hereditariedade é a hemophilia, como approvou Grandidier num grande numero de familias. 1/ Cadeira de clinica cirúrgica (A) i Luxação é o deslocamento de duas ou muitas peças ósseas cujas superfícies articulares perderam em todo ou em parte suas relações naturaes, quer em consequência de um insulto exterior, quer em consequência de uma alteração de uma das partes da articulação. II A luxação é completa quando as extremidades articulares per- deram inteiramente suas relações; incompleta quando ainda as con- serva em parte. III O tratamento das luxações accidentaes consiste em reduzir os ossos deslocados e inimobilisa a articulação, afim de não torna- rem a deslocar-se. A reducção deve ser feita com a possivel brevidade. Clinica dermothologica e syphiligraphica i As atrophias pigmentosas da pelle são ou congénitas ou ac- quisitas — Leukopathia congénita ou acquisita. II A Leukopathia congénita ou Albinismo póde ser total ou uni- versal e parcial. III A Leukopathia acquisita succede em consequência de varias affecções da pelle-vitiligo. 42 Clinica propedêutica i A percussão é um bom meio propedêutico para o exame do baço. II A melhor posição para se percutir esta viscera é a diagona direita. III O exame é mais completo quando a percussão é associado á palpação. 2a cadeira de clinica cirúrgica (B) i Dá-se o nome de hematocele ao derramamento de sangue nas bolsas escrotaes, no testículo ou no epididyma; a mais importante do todas as variedades pela sua frequência é aquella em que o sangue se collecciona na túnica vaginal. II Na maioria dos casos o hematocele reconhece-se por causa o traumatismo. Algumas vezes o tumor hematico succede ao hydro- cele, e então é chamado espontâneo. III O tratamento, conforme a quantidade do sangue ou as com- plicações é ou expectativo e symptomatico ou operativo. Clinica obstétrica e gynecologica i A endometrite membranacea é uma inflammação chronica dege- nerativa da mucosa da cavidade uterina com caracter hypertrophico. II E mais ou menos sempre acompanhado de dysmenorrhéa. III O melhor tratamento 6 a raspagem (curettement) do utero, seguido por injecções ligeiramente adstringentes. 43 Clinica ophthalmologica i Chama-se o glaucoma a moléstia dos olhos cujos tres signaes principaes são: augmento de pressão intraocular (hypertonia), es- cavação na papilla do nervo optico, devida á compressão feita pelo humor augmentado, e cegueira inevitável sem therapía. II O glaucoma póde ser primário ou secundário. III O tratamento melhor consiste em fazer cessar o excesso da pressão intraocular pela excisão de uma parte da iris (iridictomia). I a Cadeira de clinica medica (A) i Sarampo e escarlatina differem no estádio de erupção prin- cipalmente pela localisação do exanthema. II Em casos de escarlatina é de maxima importância exa- minar diariamente a ourina. III Qualquer caso de escarlatina deve ser considerado como moléstia insidiosa e grave. Clinica psychiatrica e de moléstias nervosas i Nevralgia é o nome generico de algumas moléstias cujo principal symptoma é uma dor viva, continua ou intermittente, que segue o trajecto de um ramo nervoso e de suas ramificações, sem que haja vermelhidão, calor, tensão nem inchação. II Todos os orgãos podem ser séde de nevralgias. 44 III A nevrotomia e nevrectomia occupam papel notável na cura da nevralgia. Clinica pediátrica i A eclampsia é muito mais frequente nas creanças do que nos adultos. II A helminthiasis produz ás vezes convulsões eclampsicas por acçãó reflexa. III A cura d’esta aífecção varia conforme os casos. 2a Cadeira de clinica medica (B) i Para o diagnostico das pyrexias palustres, muito concorre a anamnese. e a congestão de outros orgãos como o baço e figado são de grande valor. II No tratamento da febre palustre simples a mudança de lo- calidade as vezes é sufficiente para debellar a moléstia. III Qualquer que seja a pyrexia palustre, ha sempre indicação para os saes de quinina. Hippocratis Aphorismi I Ubi somnus delirium sedat, bonum. (Sect. II, APH. XXVII). II In acutis morbis extremarum partium frigus, malum. (Sect. vii, aph. i.) III In febribus per somnos pavores, aut convulsiones, malum. (Sect. vii, aph. xlvii). IV Si quis sanguinem aut pus ejiciat, renum aut vesicse, exul- cerationem significai. (Sect. iv, aph. lxvy) V Quae medicamenta non sanant, ea ferrum sanat, quse ferrum non sanat, ea ignis sanat ; quse ignis non sanat, ea insanabilia reputare oportet. (Sect. viii, aph yi) VI Ad extremos morbos extrema remedia exquisite óptima. (Sect. i. aph. vi) Visto— Secretaria da Faculdade de Medicina e de Phar macia do Rio de Janeiro, 30 de Março de 1897. Dr. Antonio de Mello Muniz Maia.