Typ. de J. D. de Oliveira — Rua do Ouvidor n. 141. © © & 06421518 * DISSERTAÇÃO SECÇÃO DE SCIENCIAS MÉDICAS CADEIRA HE CLINICA MEDICA Do alcoolismo chronico e suas conseqüências. PROPOSIÇÕES SECÇÃO DE SCIENCIAS ACCESSORIAS AZOTO SECÇÃO DE SCIENCIAS CIRÚRGICAS Das contra-indicações da anesthesia cirúrgica SECÇÃO DE SCIENCIAS MÉDICAS Acção physiologica e therapeutica dos alcoólicos APRESENTADA A' FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO em 23 de Abril de i883 em n de Dezembro do mesmo anno Pliarmaceutico pela Faculdade da Bahia, interno por concurso da clinica medica a ca»'go do Professor Torres Homem, da ambulância de variolosos na Ilha de Santa Barbarão rx-chefe de clinica do Serviço do Dr. Martins Custa na Policlinica Geral do Rio de Janeiro. NATURAL DA BAHIA (cachoeira) Filho de D. Umbellina Valle Bolla E$0 ©I »2«»e Typ. (Se J. D. tic Oliveira = Mua tio Ouvidor, 141, i883 8756 I H5KfflBFfl^92í53526 t 4 memória de meu Pae 4 memória de minha Ato materna 4 memória de meu Padrinho Gustavo Constancio da Silva Pimentel 4 memória de meus Irmãos Manoel Silvino de Deus Bella E João de Deus Bella 4 memória do meu amigo Cypriano José Pinheiro 4 memória DO Dr, Antônio Salustiano Vianna A1 MINHA MÃE D. Umbellina do Valle Bella. A'S MINHAS IRMÃS D. Eustasia do Valle Bella. D. Leopoldina de Deus Bella. D. Luzia de Deus Bella. A' MINHA TIA D. Martiniana Maria do Valle. A' MEU PRIMO E ESPECIAL AMIGO Gustavo Constancio Pimentel. AOS MEUS JOVENS PRIMOS Philonila Pimentel. Carolina Pimentel. Eduardo Pimentel. AO MEU BOM MESTRE O Illm. e Exm. Sr. Conselheiro Dr. João Vicente Torres Homem. Admiração á erudição profunda, e reconhecimento de suas excellentes qualidades. AOS MEUS AMIGOS DE ARACAJU' A' Illma. e Exma. Sra. D. Leopoldina Brazilina Ribeiro. A' quem devo gratidão quasi filial, e a seus illustres íilhos, meus particulares amigos : Dr. Manoel Carlos de Azevedo Ribeiro. Pharmaceutico Francisco Nathaniel de Azevedo Ribeiro. Pedro Polyeneto de Azevedo Ribeiro. E aos Illms. Srs.: Thomaz Narciso Ferreira. Manoel Ângelo Ramos. Dr. Ascendino Ângelo dos Reis. Ananias de' Azevedo. Moura Mattos. Severiano Cardoso. Professor Antônio Diniz Barreto. Dr. Antônio Dias de Pinna Júnior. AOS MEUS AMIGOS DE CACHOEIRA iBAHI.V AO MEU BOM AMIGO O Illm. Sr. Tenente Antônio Salustiano Pimenta E Á SUA EXMA. FAMÍLIA. AO ILLM. SR. Dr. Norberto Francisco de Assis E Á SUA EXMA. FAMÍLIA, ESPECIALMENTE AO MEU JOVEN AMIGO Manoel Ubaldino do Nascimento Assis. AO MEU COLLEGA E AMIGO O pharmaceutico Presidio Elpidio de Assis E Â SUA EXMA. FAMÍLIA. AO ILLM. SR. José Luiz de Carvalho e Silva E A SUA EXMA. FAMÍLIA AO TALENTOSO PHARMACEUTICO Joaquim Manoel de Sant'Anna. AO ILLM. SR. Tiberio Lopes Regadas. A' SRA. D..Bernardina Lobo da Cunha. AOS MEUS PARTICULARES AMIGOS Dr. Hermilino Ferreira (estudante de medicina na faculdade da Bahia). Professor Carlos Celso de Moraes. Dr. Paulo da Fonseca. Pharmaceutico Júlio Mariath. Dr. Mello Bittencourt. Dr. Benevides Moreira do Prado. Dr. Luiz Alexandrino de Oliveira Bahia (do Pará). Dr. Salles Barbosa. Dr. Ciciliano Alves Nazareth E A SUA EXMA. FAMÍLIA. AO MEU VELHO AMIGO Belizario Lopes Regadas. AO MEU PRESTIMOSO AMIGO O Illm. Sr. Manoel Primitivo dos Santos (de S. Felix — Bahia). AO ILLM. SR. Dr. Daniel Oliveira Barros de Almeida, digno director do asylo de meninos desvalidos. Aos meus collegas do hospital de variolozos na ilha de Santa Barbara Dr. Eduardo Henrique de Barros Augusto Coelho Leite e o pharmaceutico Carlos Varella. AOS MEUS ESPECIAES E MUITO PRESTIMOSOS AMIGOS Os Illms. Srs.: Professor Manoel Lopes Pontes—muito illustre director do collegio Santo Antônio (Bahia). Dr. Josino de Paula Brito. Francisco Leão Alves Barboza. Illustrado Conego Dr. Emilio Lopes Freire Lobo. Dr. Augusto Alves Guimarães. José Theodulpho Cardoso. AOS PROFESSORES DA FACULDADtí DE MEDICINA DA BAHIA ESPECIALMENTE OS IlLMS. SRS. : Dr. Ramiro Affonso Monteiro. Conselheiro Dr. Antônio Cerqueira Pinto. Conselheiro Dr. Domingos Carlos da Silva. Dr. Demetrio Cyriaco Tourinho. AOS MEUS COLLEGAS DA BAHIA AOS MEUS AMIGOS Os Illms. Srs. : Dr. Manoel Cardozo Pereira Fontes. Dr. Antônio do Nascimento Vianna. Oscar Vianna. Pharmaceutico Arthur Pedreira (de Therezina). Dr. Porfirio Velloso. Dr. Antônio Neves da Rocha. Dr. Miguel José Rodrigues Pereira. Dr. Franklim de Lima. Dr. Almir Parga Nina. Dr. Joaquim Marianno Bayma do Lago. Dr. Perminio de Abreu Lima Figueiredo. Dr. Joviniano Ramos Romero. Lupercio Champlone. Dr. Hermenegildo Lopes de Campos. Dr. João Baptista de Fegueiredo. Capitão de Mar e Guerra Antônio Ximenes de Araújo Pitada. Adolpho Ferreira Barboza. AO ILLM. SR. Conselheiro Dr. Domingos Rodrigues Seixas. Ao Dr. Silva Araújo (por me ter arranjado um lugar de copista na Secretaria do Império). A' BENEFICÊNCIA ACADÊMICA DO RIO DE JANEIRO Dnas palavras 1b agradecimento A resistência passiva que se encontra na realização de um desideratum aniquila todos os Ímpetos da própria iniciativa e vae trazendo desanimo se o homem não tem nos amigos um lubrificante, e no amor da gloria um tônico. Ou a iniciativa salta, por um impulso de fortuna indomito, e não ha gloria ; ou des- lisa-se pela brandura do meio, e não se é um filho-de-si-mesmo. Entre as muitas difriculdades com que tenho até agora lutado, proemina a impressão d'esta these; e, não sei quando seria ven- cida, se não tivesse ainda achado um homem sinceramente ge- nerozo—o Illm. Sr. José Dias de Oliveira, proprietário da typo- graphia Livro Roxo, que voluntariamente se propoz a derrocar por mim este obstáculo. Agradecido. Rio de Janeiro, 23 de Agosto de i883. Maurício Bella. DISSERTAÇÃO ITSTTRODTJCCAO A partir do período da organisação da matéria, a vida é um movimento, que se acelera extremamente durante a evolução embryogenica, communicado pela hereditariedade e entretido pela adaptabilidade. Sendo este ultimo factor a condição in- dispensável para a manifestação do phenomeno, podemos toda- via afíirmar a sua existência n'um indivíduo só pelo facto e virtude da hereditariedade. Como um movimento sensivel, a vida é a resultante de duas concurrentes, herança e adaptação : cujos sentidos estudaremos para conhecer a trajectoria descripta pelo indivíduo. Enca- remos, porém, o assumpto somente debaixo do ponto de vista pathogenico. Todos sabem que no ambiente, os moveis encontram uma resistência mais ou menos superavel que modifica eíficazmente a fôrma e a extensão de suas curvas. Pois bem, o vivente encontra na circumfusa e na ingesta uma resistência que por menor que seja modifica sempre sua evolução. Assim podemos dizer que a resistência á vida, diminue se respiramos um ar puro e usamos de uma alimentação reconstituinte, e augmenta no caso contrario. Imaginemos um indivíduo de constituição perfeitamente sa- dia, vivendo successivãmente em differentes condições de cir- cumfusa e de iogesta. Para simplificar o raciocinio, representa- mos sua organisação chimica pelas letras A B C D, que repre- sentarão uma moíecula albuminica. Colloquemos este indivíduo nas melhores condições climate- N. 1 1 — 2 — ricas e de alimentação clássica, genuína ; isto é, uma alimenta- ção composta de substancias que só possão substituir se bem que abundantemente, ao grupo A B C D ; em summa uma ali- mentação isenta de substancias inúteis Facilmente comprebrn- de se que a conservação da saúde e continuação da vida desse individuo se farão pela substituição do velho grupo A' B C D, por um novo grupo A' B' C D', da mesma qualidade e da mesma or- dem podendo entretanto variar a quantidade no caso que possa o individuo crescer ou engordar. Se, porém, fixando-se a cir- cumfusa, alterarmos qualitativamente a ingesta pela introducção de uma substancia estranha á organisação, esta substancia ainda pôde ser, se bem que estranha, um succedaneo das partes mutá- veis da albumina, ou não.No primeiro caso, a substancia, repre- sentando de verdadeiro alterante, mudará somente a qualidade da molécula albuminica, a qual poderá se representar assim : A' P C D'. E é por este processo que comprehende-se a possibi- lidade de se modificar uma diathese No segundo caso. não sendo a substancia susceptivel de se transformar, pela elaboração alimentar, em outra mais facil- mente assimilável, não podendo consubstanciar-se com as albu- minas, será expellida pelos emunctorios do organismo de um modo diverso porque o são as substancias que tem servido ás trocas nutritivas. Eu me explico :' Se bem que um corpo gire com o sangue, não podemos garantir a sua consubstanciaçáo com os sólidos. Os phenomenos chimicos da digestão tornando as substancias assimiláveis não garantem comtudo a assimilação dellas. Sabe- mos que injecções venosas em perfeito estado de assimilação são muitas vezes expellidas em natureza sem terem feito parte dos sólidos do organismo. De sorte que uma substancia que nutriu tem feito um caminho parabólico muito mais longo, do que a que tem sido simplesmente absorvida ; visto que a primeira foi até dentro do corpo da molécula viva, ao passo que a segunda re- trocedeu dos espaços lymphaticos. Assim, pois, os órgãos excretores não só dispedem queima- dos e desdobrados os corpos que já fizerão parte dos nossos te- cidos, mas também como um trop-plein, dão sahida a substan- cias que tendo entrado e girando no sangue, reflectem-se sobre as moléculas vivas (plastidulos) e, sem atravessal-as, voltão sub- stancialmente na mesma qualidade em que entrarão. Os plastidulos achando-se freqüentes vezes em contacto com uma substar "ia adversa ás suas funcções, terminão por ceder, soffrendo ulm certa modificação. Esta feliz subjugação do or- ganismo ao meio externo (tolerância, immunidade, etc), não é mais do que a manifestação da adaptabilidade, que tem por fim facilitar a evolução c.<< ser vivo diminuindo a resistência que en- contra o impulso que ihe foi dado pela hereditariedade. Neste caso, a molécula albuminica ou o plastidulo tem soffrido uma modificação de ordem allotropica que será representada não mais por A B C D, porém por A C B D. Para restringirmos mais o assumpto, seja o n~">so paciente um empregado de adega, ou melhor, um amador de bebidas al- coólicas. Por hypothese tal individuo não tem herança alguma pathologica. As perturbações physiologicas que apresenta só podem ser attribuidas á substancia estranha que actualmente faz parte de sua ingesta ou circumfusa. Se enumerarmos agora os estados mórbidos encontrados nos indivíduos que têm soffrido a influencia chronica do álcool, te- mos : as dyspepsias, catarrho gastro-intestinal, ulceras simples do estômago, a gastrite intersticialchronica com hypertrophia do tecido muscular, sclerose hepatica, degenerescencia gordurosa chronica do fígado, alterações do baço e do pancreas, peritonites membranosa e granulosa, * pneumonia bastarda, laryngo-bron- chite chronica, hypertrophia do coração com acumulo de gor- dura pericardico, encrustações na crossa da aorta e nas sygmoi- déas, atheromasia, (especialmente dos vasos cerebraes), steatose generalisada, mal de Bright, insultos hystericos e epileptiformes e uma serie de moléstias mentaes que vai desde o mais ligeiro enfraquecimento intellectual á mais completa alienação. A razão desta numerosa variedade de phenomenos mórbidos precedidos pela mesma causa se acha na variação das condições individuaes. Consistindo a adaptação no conformar-se o organismo com o mundo externo desde o primeiro até o ultimo momento de soa existência, ella será tanto mais complexa quanto mais va- riadas forem a circumfusa e a ingesta. A propriedade que tem o organismo de sujeitar-se ás condições do meio, a adaptabili- dade, cresce no reinado da assimilação e decresce quando co- meça a predominar o movimento desassimilador ; mas nunca chega a ponto, como é intuitivo, de ser uma força capaz de vencer a resistência externa. A adaptabilidade tem por objecto obrigar o organismo a uma conciliação com o meio externo, abrandando assim a lucta pela existência. Da facilidade desta conciliação depende a con- servação da tranqüilidade hygida. Mas desde que haja uma re- luctancia ou um retardamento da mesma conciliação, pela difficuldade da adaptação, perturba-se o estado de saúde. As adaptações podem ser de três espécies : natural, forçada e impossível. A adaptação é natural quando a adaptabilidade conserva-se indifferente ás variações do meio ; forçada quando a adaptabi- lidade, manifestando-se por uma reacção orgânica que está em relação com a robustez do individuo, põe em jogo toda a virtude a seu alcance para realisar do melhor modo o seu fim ; e im- possível quando a violência do meio externo anniquila desde logo a adaptabilidade, vivendo o individuo apenas pelo facto da herança. A maior parte das moléstias são a conseqüência de uma adaptação forçada ; e todas exprimem ou uma adaptação for- çada ou impossível. Todo e qualquer incommodo de saúde de que tem sido cu- rado um individuo, é uma conquista de sua adaptabilidade sob o meio externo, ou uma adaptação realisada. Poder-se-hia dizer que as adaptações realizadas são tantas quantos os mo- mentos de vida passados pelo individuo. As adaptações realizadas, accumulando-se no organismo no decurso da vida, é mais um factor modificador dos processos biogenicos, e entra na fôrma geral do estado actual do orga- nismo . Em um momento dado, o estado actual de qualquer indi- víduo é igual a herança, mais as adaptações realisadas e mais a adaptação actual. Sob o ponto de vista pathogenico, os dous primeiros factores podem ser nullos; o ultimo nunca.Este pôde actuar só, ou acom- panhado. Quando acompanhado, o pôde ser de ambos ou de um delles. E assim temos que uma moléstia qualquer pôde ser devida: primeiro, só a adaptação actual, a qual pôde ser forçada ou im- possível ; segundo, a adaptação actual mais as adaptações reali- sadas ou accumuladas ; terceiro, a adaptação actual mais a he- rança ; quarto emfim, a adaptação actual mais as adaptações, realisadas mais a herança. No primeiro caso se achão as pro- topathias francamente agudas ; no segundo caso temos a reap- parição de uma moléstia chronica, isolada ou acompanhada de um estado agudo ; no terceiro temos a explosão de uma dia- these simples ou complicada de um estado sub-agudo; no quarto caso finalmente, temos as cachexias. Isto posto, todas as moléstias devidas ao envenenamento pelo álcool, devendo ser distribuídas pelos quatro casos mencionados, temos: para o 1.° caso, alcoolismo agudo ; para o 2.°, alcoo- lismo chronico adquirido simples ou complicado, para o 3.°, alcoolismo hereditário simples ou complicado ; para o 4.°, final- mente cachexia alcoólica. Nada temos que vêr com o 1o caso porque o nosso ponto de dissertação é alcoolismo chronico e suas conseqüências. O indi- víduo que imaginamos sob a influencia do álcool e cuja herança pathologica é nulla, está incluso no 2.° caso que passa a ser agora o principal objecto do nosso estudo, cuja divisão natural é a seguinte: I. Alcoolismo chronico simples. (Por adaptação). II. Alcoolismo chronico complicado. III. Alcoolismo hereditário simples. — 5 — IV. Alcoolismo hereditário complicado. V. Cachexia alcoólica. Dividimos as conseqüências em immediatas ou soffridas pelo próprio individuo ; e em mediatas ou soffridas pela prole. No 1.° e no 2° capitulo descrevemos as conseqüências imme- diatas, no terceiro as que recahem sobre a geração : e não desen- volveremos o 4 ° nem o 5.° capitulo, porque julgamos que a isso não somos obrigado. O ponto que escolhemos, se acha quasi todo comprehendido nos dois primeiros capítulos da divisão natural, estendendo se um pouco sobre o terceiro ; por cujo motivo, julgamos neces- sário apresentar como complemento terminativo da nossa these, o alcoolismo hereditário, por ser a conseqüência mediata mais próxima, se não continuação do alcoolismo chronico adquirido. — 7 _ CAPITULO I M.SDSMMD «HHOBSiD 3KU3 (Intoxicação por fracas doses) Para que o alcoolismo chronico simples se manifeste dis- tinctamente, é necessário que o organismo que se acha sob a acçâo prolongada e reiteirada dos alcoólicos, não tenha absolu- tamente alguma predisposição mórbida herdada ou adquirida ; que o licor alcoólico usado seja inferior a 30°; que a intoxicação seja lenta e gradual. Na pathogenia do alcoolismo, convém desde logo saber, se o álcool (C2H5 OH) é ou não um alimento. Esta questão tão debatida, se acha actualmente resolvida pela força dos factos devidamente apreciados pelo espirito cri- tico e desprevinido. O alimento tem por fim nutrir ; nutrir é reparar as perdas orgânicas ; e estas são de duas naturezas : de matéria ou sim- plesmente de forças. No commercio do organismo com o exte- rior, respeitão-se as leis das trocas. Para a manutenção da saúde, é de summa importância o perfeito conhecimento da composição chimica do organismo e da força de que este dispõe para transformar em nutrimento as substancias de que se ha de alimentar. Qualquer cousa não serve para alimentação, nem o que não pôde ser atacado pelos suecos digestivos. Representando um organismo uma phase da evolução as- cendente da matéria, não podemos encontrar nelle,como fazendo parte de sua essência ou constituição chimica, estados molecu- lares regressivos, e que se formão na decomposição da matéria orgânica. O álcool é uma estruetura molecular regressiva a que desceu o assucar ou a fecula para se abrigar da lucta pela existência com os fermentos. E não faz parte essencial da nossa organi- sação, não só porque a matéria nas condições normaes só toma a fôrma de álcool no seu movimento de decomposição ou re- gressivo, mas também porque sua presença faria suppôr sua preexistência natural no meio era que vivemos ou de que fomos formados, — 8 — Não havendo lugar na composição dos nossos tecidos para o álcool, e não podendo elle combinar-se com as moléculas vivas, é claro que na sua qualidade não pôde reparar as perdas mate- riaes ; porém se bem que não haja quem confira ao álcool o ti- tulo de alimento plástico, todavia ha muitos que, apoiados na importância de Liebig e outros, sustentão que elle repara as perdas dynamicas, transmittindo forças que se libertão por motivo de sua decomposição na trama orgânica. Os que pensão como Liebig, dizem que o álcool se desdobra em água e anhydro carbônico; e os partidários de Ducheck querem que o desdobramento seja em água e aldehyde. Negamos ao organismo poder e condições para fazer mudar ao álcool o seu estado molecular ; 1.° Por ser elle de uma es- tructura muito estável: e os alimentos estáveis de que preci- samos como os saes mineraes, sahem todos em natureza. 2.° Porque tomado em tal pequena quantidade que não produza incommodo por augmento de pressão, e nas melhores condições de absorpção, isto é, quando temos fome, é apezar d'isso elimi- nado em natureza. 3.° Pelos absurdos que resultão da acei- tação de taes opiniões ; pois que no caso da producção de anhydro carbônico, teríamos um augmento na exhalação deste gaz, e temos uma diminuição. E relativamente a aldehyde (G2H40), sendo esta de effeitos embriagantes oito vezes mais enérgicos do que seu álcool, devíamos ter occasião de observar mais vezes a intoxicação aguda consecutiva á ingestão de pe- quenas doses. Finalmente devendo elevar se a temperatura es- pecialmente durante o 2.° período da acção physiologica do álcool, observa-se pelo contrario um notável ab dxamento. A diminuição do appetite como phenomeno mediato da acção do álcool nos que usào e nos que abusão de bebidas, a anorexia e obesidade dos alcoohstas, são factos que, por inter- pretação errônea, se apresentào como prova cathegorica da nu- tribilidade do álcool. Os alimentos hydro-carbonados engordâo porque poupão da oxidação a gordura do tecido celiular subcutaneo e ahi accu- mulão suas sobresalencias. No regimen salgado, o chlorureto de sódio (Na Cl) augmentando o poder diosmotico das moléculas organisadas, renova rápida e grandemente todos os tecidos, prolonga a vida das hematias e augmenta directameute a massa da molécula albuminica consubstanciando-se com ella. O re- pouso pela ausência do trabalho physico e intellectual, traz a gordura com o augmento da massa total pela reducçao ao mí- nimo das despezas de forças e de matéria. O estado de gordura nestes casos é uma ostentação virtuosa de uma solida riqueza de matéria e de forças, obtida por meios legítimos e altamente econômicos para o organismo. Sendo isto realisado sem um mínimo estorvo da synergia orgânica, sem um mínimo esforço do organismo, o vigor que — 9 — adquire o systema nervoso faz com que este prolongue, além do período do crescimento, a reproducção das fibro-cellulas, até então feita por conta própria, donde o augmento real da massa das partes molles nos adultos. O álcool porém engorda viciosa- mente, enriquece o tecido adiposo a custa dos parenchymatosos, especialmente dos systemas nervoso e muscular. Ha um aug- mento de volume do corpo pela repleção do tecido cellular sub- cutaneo ; não ha augmento em massa, ha uma obesidade e não um estado de gordura no sentido vulgar desta expressão portu- gueza. A superactividade que se sente pouco depois de uma dose moderada de álcool, e que pôde ser utilisada com grande pro- veito na occasião das refeições como estimulante da digestão, é um prejuízo certo de todas as forças da economia, especialmente da torça nervosa quando por abuso não se bebe com o fim de augmentar os productos da digestão Porque, no 1 ° caso ar- risca-se uma pouca de forças para se íazer entrar na circu- lação uma quantidade de peptonas muito maior do que a que naturalmente entraria ; a qual se fôr toda utilisada na nutrição dos tecidos, com certeza ganharemos força superior a que em- pregamos. No 2.<> caso, a maior disposição que sentimos, e que é tida como um presente de forças que nos fez o álcool, não é mais do que um appello do organismo ás próprias forças la- tentes, que se perdem se não forem desde logo utilisadas. Se a actividade que sentimos nos fosse transmittida pelo álcool, isto só poderia dar-se de dous modos : ou por simples cessão ou transmissão de forças, o que não se faria sem uma mudança molecular (nem que fosse uma allotropia), ou por combinação com os elementos anatômicos. Ora, o álcool que demora-se no organismo não se encorpora ás albuminas como o chlorureto sodico, por exemplo. Mas occupa com o tecido conjunctivo os espaços intercellulares, isto é, não vai além dos espaços lymphaticos; e a combinação ou incorporação das substancias que girão no sangue com os elementos anatômicos, é o íacto essencial da nutrição plástica. Não comprehendemos pois^como possa o álcool dar forças, não se combinando com os tecidos e sahindo em substancia. A perniciosidade do álcool não está tanto no fazer perder ao organismo forças sob a fôrma de uma excitaçao geral, como na mais ou menos completa saciedade que vera após a exacerbação de appetite, fazendo acreditar em uma falsa nutrição. Ouvireis muitas vezes que indivíduos, que bebem muito antes da comida para excitar o appetite, sentão-se á mesa dizendo que o vinho lhes nutriu, lhes fez passar a fome. Pois bem, a má interpreta- ção deste facto não só augmenta e legitima o abuso do álcool como o meio de alimemação entre o povo, mas também tem tascmado os homens da sciencia tazendo-lhes acreditar por de- mais nas propriedades reconstituintes dos vinhos. ». í a — 10 Se os vinhos e as poções tônicas reconstituem, nao é pelo álcool que contém, mas pelos outros princípios que encerrac> ; acredito que uma poção alcoólica, «m que entra o leite, re- constitua : mas o que reconstitue é o leite. _ A utilidadede uma tal poção está em aproveitar a excitaçao das funcções da mucosa digestiva no momento mesmo em que se produz, apresentando-se com o excitante um alimento com- pleto sem o qual não ha reconstituição possível. E] legitima esta pratica; porque a excitacão alcoólica é passageira. Mas nestas condições o álcool não faz mais do que facilitar a pene- Slo do alimento na torrente circulatória. E como é possível a reconstituição de um organismo, em cuja composição chimica entrão mais de cinco elementos com uma substancia ternana como o álcool (C2H5OH) t i v ... Só achamos justo o emprego dos alcoólicos como meio tne- raDeutico-— 1" quando o movimento desassimilador por sua rapidez não dá tempo ao tratamento ; (Todavia como o retarda- mento da assimilação augmenta o fastio e traz mais depressa o envelhecimento dos elementos anatômicos, vê-se quanto é peri- goso o emprego dos alcoólicos isolados por mais de quatro dias em um doente de febre grave, por exemplo); 2o quando por longo abuso tem o álcool se tornado um estimulo indispensável ao or- ^Oquâsi nullo beneficio do emprego isolado dos alcoólicos, sendo comprado á custa de grandes excitaçoes nervosas e diges- tivas que se perdem, mas que podem ser aproveitadas, obrra- nos a empregal-os sempre de mistura com uma grande porção de uma substancia completamente nutritiva, como o leite. Sem negarmos a parte que toca na pathogenia do alcoolismo aos oleos essenciaes e outros alcooles que acompanhão o álcool ethylico nas bebidas vulgares, todavia nos referiremos somente a este ultimo, como o maior e principal factor na intoxicação. A localisacão e a accentuação dos effeitos do álcool no atra- vessar a economia da superfície interna para a externa, depen- dem da sua concentração, da predisposição orgânica individual e da sua maior affinidade ou força electiva para os tecidos. De 30° de concentração em diante, os effeitos do álcool se accentuão de preferencia no apparelho digestivo, e predominão os effeitos locaes com uma marcha mais ou menos aguda. Ha- vendo porém, uma predisposição qualquer, teremos uma ex- plosão nos órgãos e apparelhos affectados. Sendo diluído, cs effeitos do álcool predominão no tecido para o qual tem mais affinidade. As condições preestabelecidas para o alcoolismo chronico simples, excluem os dous primeiros casos. Absorvido pelas mesentericas, o álcool entra na grande cir- culação através do fígado, coração direito e pulmões, e, diflun- dindo-se igualmente em toda a massa sangüínea, se distribuiria - 11 - uniforme e proporcionalmente por todos os órgãos e tecidos, se não fossem as affinidades electivas e as differenças de circulação particulares a certos órgãos. De sorte que, estudando-se a diffusão do álcool no organismo, nota-se, de facto, que elle se accumula em certos pontos. Lallemand, Perrin e Duroy, acharam cinco grammas de ál- cool em setecentos grammas de sangue. 3,25srams. em 440 gram- mas de substancia cerebro-espinhal; 2 grammas nas urinas, e também extrahirão do fígado, músculos, tecido cellular, etc. Por analyses comparativas mostraram que o álcool se encon- tra em maior quantidade no figado e no encephalo, estabele- cendo as seguintes proporções : no sangue 100, no figado 148 e no encephalo 134. Como esses auctores nada dizem a respeito da desigual dis- tribuição do álcool, achamos conveniente lembrar certos factos que nos parecem explicar o phenomeno. As grandes e numerosas resistências que encontra o sangue nos capillares, a maior capacidade do systema venoso e sua di- latabilidade, fazem com que a pressão do sangue nas veias seja muito mais fraca do que nas artérias ; pelo que o sangue, para se mover convenientemente nas veias, é ajudado por certos mo- vimentos musculares. Estas causas auxiliares do movimento do sangue nas veias, taes como a contracçào dos músculos da loco- moção, a acção aspiradora dos movimentos inspiratorios, faltão inteiramente no systema da veia-porta, no qual,além de não te- rem válvulas os vasos, o sangue se move entre duas redes ca- pilfares: radiculas mesentericas e os capillares do parenchyma hepatico. Se os capillares geraes só por si bastão para diminuir a ten- são do sangue que passa das artérias para as veias, os capillares do figado são para a circulação porta, que já é naturalmente vagarosa, uma causa eíficaz da demora do sangue que gira nessa glândula. M. Erichsen introduzindo no tubo digestivo de ura animal, 24 minutos depois da comida, ferro cyanureto de potássio, (sub- stancia que como o álcool se elimina em natureza) foi encon- tral-o nas urinas no fim de 16 minutos; tendo administrado 60 minutos depois da refeição, foi encontral-o nas urinas 2 minutos antes do Iocaso, istoé, no fim de 14 minutos; dando 2 horas depois,bastaram apenas 12 minutos para se apresentar nas uri- nas. Ora, este facto prova que.além das causas já mencionadas, a digestão também retarda a circulação na veia-porta. ímj considerarmos as analogias da circulação do figado com a dos pulmões, notaremos que o systema da veia-porta (que funcciona a moda das artérias) está para o figado, como a artéria pulmonar para os pulmões; em outros termos: o figado como os pulmões tem dous systemas afferentes : a veia-^orta e a ar- téria hepatica para o primeiro, a artéria pulmonax e as bron- - 12 — chicas para os segundos. Pelo que, em um momento dado, esses dous órgãos recebem uma provisão dupla de qualquer substan- cia que se acha no sangue. Se um individuo tem tomado uma certa porção de álcool na comida ou nas proximidades da comida, comprehende-se que tendo sido absorvida uma parte do álcool, reste ainda a maior parte no tubo digestivo ; nestas condições o figado contém uma porção de álcool igual a que recebe da circulação arterial, mais o que lhe vêm do baço, mais a porção que vai sendo absorvida no tubo gastro-intestinal, cuja porção demora-se muito no figado; já pelo motivo da digestão, como pela difficuldade em atravessar os capillares Em taes circumstancias portanto, nenhnm orgào nem mesmo os pulmões, pôde competir com o fígado na receita alcoólica. Eis como explicamos a Predilecção do álcool para o figado ; vejamos a que lhe tem para o encephalo. Como os demais órgãos de um só systema afferente, o ence- phalo apenas recebe pelas artérias, e todavia accumula relativa- mente muito mais que o figado. Os principaes factores do accumulo do álcool no figado são, em ultima analyse,as varias fontes de receita e a demora da cir- culação. A nenhum destes factores se pôde attribuir o accumulo do álcool no encephalo. Io Porque achando se o álcool uniforme- mente diffundido no sangue arterial, elle recebe proporcional- mente sempre a mesma quantidade, como os demais órgãos de uma só circulação afferente 2o Porque a circulação do ence- phalo é naturalmente de todas a mais franca. Não sendo possível explicar o phenomeno por motivos da circulação, é claro pelo que anteriormente dissemos ; que só pelo poder electivo do álcool para alguma substancia que faça parte da estructura orgânica do encephalo, se poderá explicar o seu accumulo. Todos reconhecem acção directa do álcool sobre o systema nervoso e principalmente sobre o cérebro. Mas porque ha de uma substancia que gira no sangue preferir o systema nervoso a todos os outros systemas,para exercer sua influenciai Eis uma questão de ordem physico-chimica importante para resolver-se. Magnus Huss, Lallemand, Perrin, Duroy observaram e affir- maram que o sangue dos alcoolistas é semeado de gotticulas de gordura visíveis muitas vezes aos olhos desarmados: este estado gorduroso do sangne (piarrhemia) é observado também nos in- divíduos anesthesiados com o chloroformio, o ether e amylena. D'onde provém esta gordura ? Estas ultimas substancias também exercem sua influencia sobre o systema nervoso, e entre as propriedades que tem de comrnum com o álcool,coata-se o poder dissolvente das gorduras. Duas substancias que se dissolvem,se attrahem,e esta attração — 13 — pode' ser tão intima a se transformar em uma verdadeira afinidade. E' justamente pela attraçao que tem o álcool pela gordura que elle prefere o systema nervoso. Nenhuma ontra substancia ha no nosso organismo que tenha atlracção para o álcool. As albuminas todas se contrahem e morrem em presença d'este agente, e de todos os systemas é o nervoso o mais rico em gordura. Desagregando a gordura do systema nervoso (a qual vae naturalmente se depositar no tecido subcutaneo e nos in- terstícios parenchymatosos) e por conseguinte desorganisando o mesmo systema, eis como actua o álcool no nosso organismo, depois de ter entrado na torrente circulatória. Eé justamente poupando o systema nervoso d'acção desorganisadora do álcool, e não retardando sua assimilação como querem alguns que obrão as gorduras que ingerem os grandes bebedores quando querem violentar o vicio. Repellido de todos os tecidos como substancia estranha e não-alimentar por conseqüência, ainda pôde o álcool,por favor das forças chimicas, achar abrigo na es- trectura do systema nervoso, se é verdade que os resíduos teem uma valentia igual á atomicidade do corpo subtrahido. Como matéria excrementicia do cérebro é a cholesterina (C26H43OH) considerada um álcool mono-atomico, e n'estas cir- cumstancias pôde o álcool ethylico, monoatomico também, satis- fazer as condições chimicas de estructura dos nervos com detri- mento das physiologicas. Provado, como está, que o systema nervoso é o único que pôde por dous títulos attrahir á si o álcool, e se a attracção está na razão directa das massas, sendo o encephalo a maior massa nervosa do nosso organismo,é claro que elle fixará a. maior porção do álcool que existir na circulação. Este modo de vêr está de accordo com todos os factos clínicos e de experimentação. Em resumo,o álcool achando-se no sangue actua sobre o systema nervoso pela razão physico chimica de sua estructura orgânica; fixa-se em maior quantidade no encephalo por motivo da massa; accumula-se no figado por motivos inherentes á circulação espe- cial d'essa glândula, fixando-se também ahi pela gordura que encerrão as cellulas hepaticas. A ausência da membrana de Schwan nos tubos de myelina dos centros nervosos, é ainda mais um motivo histologico que torna os centros nervosos mais accessiveis ás influencias.extrin- sicas do que os nervos periphericos. Indubitavelmente as granulações gordurosas que fluctuão no sangue dos alcooli-ados são pela maior parte o resultado da fragmentação e da decomposição da myelina, que por dupla ra- zão é o elemento nervoso sobre o qual actua o álcool; por sua accessibilidade e por conter mais gordura. — 14 — Carnil & Ramier no primeiro volume de sua Hislologia pathologica de 1881, capitulo X, dizem : « Les capillaires des centres nerveux sont centenus dans une gaine périsvasculaire.-. De 1'existence constante d'espaces lymphatiques placés entre les capillaires et les éléments constituiu des tissus et des organes, il resulte que ces éléments ne sont pas en rapport direct ívec le plasma du sang mais qui ce plasma ; répandu d'abord dé.ns des espaces lymphatiques, y est pris par les éléments places dans ces espaces suivant les besoins physiologiques ou pathologiques de chacun d'eux. II ne faudrait cepandant pas conclure de ce que precede que les léquides exsudés soient sans influence sur les fanctions de ces éléments... En résumé, ce nest pas le sang que cet le milieu intéireur nourricier des éléments mais bien Ia lymphe venue du sang. » (Pag. 616), ainda os mesmos auctores' « La plus commam des lésions des capillaire consiste dans Ia transformation graisseuse de leur paroi. On Ia rencontre dans tous les organes vascullai- res, mais elle est freqüente surtout dans le rein et dans les centres ner- veux. Faltando da inflammação dos capillares, dizem : — « Cest dans les inflammations de longue durée siegeant dans les mem- branes, notamment dans les inflammations catarrhales des mu- queuses, que Ia dilatation des vaisseaux capillaires est surtout considerable. Dans ce cas, les capillaires dilates restent pleins de sang après Ia mort et donnent des taches ou des arborisa- tions rougõs*visibles à 1'oeil nu, tandis que les capillaires que ne sont pas malades se sont habituellement vides du sang qu'ils contenaient sous 1'influence du retrait qu'ils éprouvent après Ia mort. Ce seul fait sufíit à demonstrer que les vaisseaux modifiés par rinílammation ont perdu une de leurs proprietés les plus importantes. 1'eiasticité. La modification des parois vasculaires, jointe â une augmentation de Ia préssion sanguine, determine divers accídènts que Von observe surtout dans le cerveau. » No encephalo o álcool, no seu destino aos espaços lymphaticos ou plasma ticos, tem de atravessar a parede do capillar, a bainha perivascular e o tecido conjunctivo reticulado para óVahi se pôr em immediato contacto com a substancia nervosa. Porém, sendo o álcool uma substancia irritante, não pôde deixar de estimular e lesar profundamente esses tecidos por sua passagem continua; a acção do álcool é portanto verdadeira- mente tópica. Esta irritação continua traz afinal a atonia dos capillares que assim se deixão dilatar sem reagir. E' acompanhada esta atonia de uma alteração da parede dos capillares que, não tendo mais bastante resistência para uma maior impulsão car- díaca ou um leve augmento de pressão centrifuga, depois de repetidas congestões passivas, rasgào-se deixando extravasar o — 15 — sangue para os espaços perivasculares, produzindo-se micro- aneurysmas dessecantes; ou. se a bainha perivascular também alterada se deixar romper, teremos infarctus hemorrhagicos nas malhas do tecido conjunctivo. Estes accidentes são muito com- muns nos cérebros dos alcoolistas chronicos e nos dos velhos. Nos espaços lymphaticos. a acção do álcool sobre o tecido conjunctivo se traduz por uma vegetação de cellulas embryona- rias, que passão gradativamente para o tecido retractil (ultimo gráo de sua evolução,, e algumas vezes se degenerão em tecido osseiforme. (Ainda no anno passado encontrei no cérebro de um alcoolista autopsiado por mim, varias lâminas osseiformes entre as circumvoluções •, este facto foi testemunhado pelo meu collega e amigo o Sr. Miguel José Rodrigues Pereira). Do lado das meningeas o álcool produz um espessamento considerável, não só por hypertrophia e hyperplasia, mas tam- bém pela formação de falsas membranas que se estratificão subjacentemente (pachymeningite). Uma vez atravessada as paredes dos espaços plasmaticos, o álcool se acha em presença do tecido próprio dos órgãos. Po- rém, sendo elle uma substancia não alimentar, e por isso consi- derada como um corpo estranho ao organismo, todas as unida- des orgânicas o repellem como individualidades physiologicas. Em outros termos, o álcool nso pôde, (por isso que não é ali- mento) em presença d'uma cellula, despertar-lhe as funcções nutritivas. Suppôr que as cellulas, sem mais reluctancia, se nutrem de qualquer substancia que foca parte do plasma, é negar-lhes uma das propriedades características das individualidades phy- siologicas, — a actividade ; seria suppôr que o ferro magnético attrahe qualquer metal que se lhe apresente ; ou que os ele- mentos chimicos se combinão sem attender ás forças electivas Desde que o physiologico está subordinado ao physico, te- mos de distinguir nas cellulas dias ordens de attracções : sym- pathias physiologicas ou nutritivas, e sympathias physicas ou affinidades chimicas. Em presença das fibras nervosas cephalo-rachidianas ou mesmo em presença das cellulas da medulla dos ossos, a pene- tração do álcool só se dá porque a gordura que encerrão esses elementos é a única substancia do nosso organismo para quem o álcool tem maior attracçâo. E' portanto em virtude de uma attraccào physico-chimica, e não de um movimento nutritivo, que o álcool penetra no systema nervoso. Esta penetração é facilitada por uma circumstancia anatô- mica das fibras nervosas do centro cephalo-rachidiano, a falta da resistente membrana de Schwann. A bainha medullar destes tubos parece limitada no exterior por um invólucro proto-plas- mico, inolle, que se deixa romper facilmente. (Cornil e Ranvier) 0 álcool imbebendo este invólucro despedaça-o, e desaggre- - 16 - gando a myelina fal-a tomar a fôrma de finíssimos glóbulos que, facilmente absorvidos pelos lymphaticos, emulsionâo-se afinal no soro do sangue, elevando assim o coefficiente das gorduras na circulação. Tem, portanto, o sangue do alcoolista duas fontes de impor- tação de gorduras : uma que nasce nos espaços lymphaticos do tecido conjunctivo reticulado da massa nervosa cephalo-rachi- diana e na medulla dos ossos, outra nos vasos chyliferos. O excesso de gordura em circulação não se podendo quei- mar, porque as combustões vitaes no alcoolista se achão dimi- nuídas, deposita-se na valia commum das sobresallencias gordu- rosas, - o tecido cellular subcutaneo ; especialmente se a pelle funcciona pouco, como nos indivíduos de vida sedentária. De sorte que se pôde dizer que o alcoolista engorda a custa de seus próprios tecidos. A acção do álcool sobre a myelina não consiste como se de- prehende do que fica dito no simples facto physico da desaggre- gação, porém faz desprender a cholesterina de suas combinações com os ácidos gordurosos. Esta substituição da cholesterina (C26H43.OH) que faz parte da substancia nervosa (lecithina) pelo seu congênere também monoatomico (C2H5.OH). é tanto mais fácil de se dar, quanto sabemos que o álcool éthylico actua já por simples affinidade, já pela quantidade e também pela continuidade No sangue do alcoolisado circulào excessivamente myelina granulada, gordura e cholesterina (Harmond da Nova York concluiu de suas experiências que ha uma diminuição de choles- terina no sangue do alcoolisado ; todavia este autor reconhece o álcool como excitante do systema nervoso e poderoso estimu- lante da cerebração.) A cholesterina que tem de ser eliminada pelo apparelho bil- liar, dissolve-se na billi em virtude dos saes de sódio (glycolato de soda, etc.) os quaes não se segregando na mesma proporção, saturão-se com pouco,e deixão depositar a cholesterina em fófma de arêa. Todavia para que a cholelithiase se apresente nestes casos, é necessário outras circumstancias individuaes, taes como: o epicurismo da meza, os trabalhos intellectuaes, vida seden- tária. E' possível que a cholesterina dos tumores atheromatosos, nâo exprima somente o desdobramento das gorduras cerebraes ou nervosas que se infiltrarão, mas também uma verdadeira in- filtração da cholesterina do sangue quando ella não pôde ser eliminada pelo fígado em estado mórbido adiantado. Todas as observações clinicas provão que o álcool, sobre o tecido conjunctivo, determina uma inflammacào adhesiva, de que tirao partido os cirurgiões no tratamento das feridas, ulce- ras e hydroceles. 0 álcool, como toda a substancia que faz parte do sangue ar- - 17 — terial, é por este levado ao mercado geral das trocas nutritivas, os espaços lymphaticos, onde necessariamente ha de demorar-se mais do que qualquer substancia nutriente, a qual nenhum em- bargo encontra em sua translação. Ahi o álcool obra de um modo análogo ao das substancias que, por sua qualidade e quan- tidade, na mucosa gastro intestinal determinão não a absorpção, mas a catharse. A precipitação da exosmose precedida e acom- panhada de turgencia dos vasos é nessa superfície o meio mais eficaz de prohibir a absorpção ; donde a quasi inocuidade das altas doses de substancias tóxicas, como os mercuriaes, arseni- caes, etc. Assim, quando as cellulas parenchymatosas são banha- das por um plasma contendo uma substancia irritante, não po- dendo ellas suspender totalmente seu funccionalismo, a desassi- millação retarda-se o mais possível, porque, diminuindo-se assim as necessidades nutritivas, ellas não absorvem a impureza do plasma,a qual pôde, neste meio tempo, entrar de novo em circu- lação pelos lymphaticos e sahir pelos emunctorios. E' claro que com o álcool demoram-se nos espaços lymphati- cos muitas outras substancias, porém elle é de todas a única que irrita, a única que pôde determinar uma inflammação. Além disso, a proporção das substancias nutritivas que em parte dil- luem o álcool, vai-se, bem que lentamente, diminuindo pela pouca da assimilação em disponibilidade, ao passo que o álcool relativamente augmenta. Este motivo de concentração do álcool no plasma, torna ainda maior o traumatismo que elle causa no tecido conjunctivo. O tecido conjunctivo, já por sua cathegoria, como por suas condições, é o que primeiro soffre e mais que todos se sugeita ás lesões levadas pelo liquido nutritivo. O plasma que transuda dos capillares, não se põe em contacto immediato, como já dis- semos, com a trama dos tecidos, porém enche os espaços lympha- ticos ; e é atravez do diaphragma das paredes dos ditos espaços que se dão as trocas, a proporção das necessidades dos tecidos superiores. O tecido conjuntívo, este nutre-se directamente do plasma. Attendendo-se ás circumstancias que já forão expostas, prin- cipalmente a diminuição dos movimentos nutritivos, a abun- dância do plasma e a demora dão occasião ao tecido conjunc- tivo de nutrir-se absoluta e relativamente mais do que os tecidos superiores que ficão além ; contando para isso com o apoio dos vasos lymphaticos que dão franca sahida aos seus productos de desassimilação. Como conseqüência desta nutrição insólita, o tecido conjunc- tivo prolifera tecido embryonario que, pouco a pouco, se trans- forma em tecido adulto e depois em retractil que estrangula as cellulas parenchymatosas. Eis o processo geral das scleroses al- coólicas. As mesmas condições que exagerão a nutrição do te- cido conjunctivo a difficultão nos tecidos superiores; podendo-se N, 1 3 - 18 - dizer que o augmento da massa do tecido conjunctivo se faz com detrimento dos outros tecidos. Em presença das cellulas embryonarias da medulla dos ossos, incumbidas da" reconstituição do mesmo tecido, o álcool desvia a evolução natural d ses* elementos fazendo-os passar para as cellulas adiposas, determinando uma rarefacção do tecido ósseo, que se gasta sem se reconstituir. A medida que o álcool vai arruinando a economia, a evolu- ção dos phenomenos vitaes vai se fazendo do melhor modo pos- sível ás novas condições. A tolerância, é facto incontestável, está dependentedgf dose/A dose de álcool que produzio a embriaguez pela primeira vez, não é suficiente para produzil-a ulterior- mente. Portanto, sempre que se quer reproduzir o mesmo phe- nomeno tem-se necessidade de tomar uma dose maior. Este phenomeno que se conhece ha muito tempo por tolerância (Consuetudo est altera nalura) só ultimamente é que teve explica- ção scientifica. O individuo que nasceu e que tem vivido em um clima pa- lustre, já não acha mais na atmosphera miasmas sufficientes para determinar-lhe um accesso francamente agudo. Esta atmosphera, que é compatível com a vida dos habitan- tes das regiões paludosas, constituirá uma adaptação difficil, se não impossível, banhando um individuo sadio de clima puro ou não paludoso. O alcoolista tem, pois, necessidade de beber cada vez mais para, qualquer que seja o íim a que se proponha, quer para excitar o appetite ou dispôr-se ao trabalho, quer para embria- gar-se. Por esse tempo ainda o alcoolista é um bêbado sem re- serva ; é um homem immoral, sem brios ; é encontrado cahido pelas ruas; em summa é susceptível ainda de embriagar-se. Depois deste período o individuo affecta uma apparente re- generação, não se embriaga tacilmente porque está quilotado na expressão vulgar; agora o alcoolista só é susceptível da em- briaguez comatosa. Por este tempo, em que as funcções digestivas enlanguecem, o alcoolista se procura excital-as, já não o consegue mais; a dose que necessita ingerir é tão grande que a estupefacção se produz em vez da estimulação agradável das pequenas doses de álcool diluído. A dose do álcool que exige o organismo do bac- chante neste período da entoxicação, é tão grande que em mui- tos paizes torna-se inaccessivel aos ganhos da classe operaria. Eis uma das occasiões mais propicias á explosão do deliriam tremens, o qual marca justamente o estabelecimento da diath^se alcoólica. Agora o organismo já não pôde mais passar sem ál- cool. O mundo physico tem triumphado do physiologico, tDr- nando necessário uma adaptação difficil. E o paciente não é simplesmente um alcoolista, é também um dipsomaniaco. Como, pois, uma substancia que era útil ao organismo tor- — 19 — nou-se agora necessária 1 Como adquiriu o organismo esta nova propriedade de assimilar uma substancia que.não fazia parte da sua essência ? Na lucta do physico com o physiologico é sempre este quem cede. Esta subjugação pôde incompatibilisar a vida ou não; nosso caso é o ultimo. As cellulas ou os elementos anatômicos cercados continua- mente de ura plasma em que entra uma substancia estranha, soffrem uma modificação no modo de nutrir-se que tem por fim accommodal-os do melhor modo possível ás condições do meio. Esta variação ou modificação dos elementos anatômicos é, como quer Ernesto Haeckel, determinada pelas posições respectivas que occupão os átomos; e na composição atômica infinitamente complexa e variada das molleculas vivas (plastidulos), na sua extraordinária instabilidade e sua tendência a se decompor, ha um vasto campo para as producções de novas fôrmas de adap- " A diathese alcoólica como todas as diatheses, consiste pois, em um Estado allotropico dos elementos anatômicos. Este allotro- pismo exprime a raais perfeita accommodação dos elementos anatômicos com a dyscrasia alcoólica, e constitue uma segunda natureza do nosso organismo ; para cuja conservação, é mister a persistência da dyscrasia : donde a dipsomania como a mani- festação de uma perniciosa necessidade dessa constituição vi- ciosa . ,/.,,.»- i, i A continuação deste estado se faz pela proliferação cellular, herdando as cellulas filhas as propriedades novas das cellulas mães. Esta experiência que us tecidos adquirem a força de viver com o álcool, é tardia e já encontra o organismo em precipi- tada decadência. Agora não temos que vêr somente com uma simples dyscrasia, temos uma perfeita cachexia. Na accão physiologica das substancias que entrão em circu- lação, convém considerar separadamente os effeitos produzidos durante o caminho que vai da superfície de absorpção aos pul- mões, e do ventriculo esquerdo aos capillares geraes. No caso do álcool, a estimulaçào geral que se sente depois que a primeira systole de sangue alcoolisada é lançada na cir- culação geral, torna-se mais intensa precisamente depois da se- gunda systole. Na primeira systole o álcool determina uma hyperhemia dos capillares geraes, paralysando os elementos con- tracteis. Porém, como os vasos coronnarios só recebem o sangue na diastole, só se congestionão depois dos capillares geraes. Ora, o relaxamento dos vasos coronnarios por paralysia reflexa dos vasos motores, traz a hyperhemia intersticial do músculo cardíaco ; o qual tem agora duas causas de excitação : a maior quantidade de sangue que recebe, e a irritação alcoólica. Eis como explicamos a precipitação das palpitações. - 20 — Como o phenomeno da hypertrophia tem por causa directa um execesso de nutrição, julguei necessário pôr isto era claro para se coraprehender o como o coração se hypertrophia. E\ pois, pela plethora dos vasos coronnarios nutritivos, que começa na segunda systole de sangue alcoolisado e que se re- pete milhares de vezes na primeira metade do alcoolismo chro- nico que se hypertrophia o coração. Convém lembrar que uma das conseqüências destas excitações cardíacas é o augmento do sangue arterial. De sorte que, emquanto o álcool tem acção excitante sobre o coração, ha sempre em circulação maior quantidade de sangue arterial. Como a atheromasia dos capillares do cérebro é uma lesão que não tarda nos alcoolistas chronicos, é pois no reinado da excitabilidade cardíaca que se dão maior numero de vezes os infarctus e as hemorrhagias cerebraes. A observação clinica tem mostrado que a acção do álcool é mais manifesta nos vasos de pequeno calibre. Este facto acha sua explicação natural na proporção dos differentes elementos anatômicos que entrão na composição da túnica média. Desde Hunter que se sabe, que a contractilidade das artérias quasi nulla nos grossos troncos da proximidade do coração, augmenta progressivamente até as arteriolas. (Sapey, II vol. pag535). Esta túnica que, na expressão do ür. Fort, é elástica a principio, elástica e musculosa em seguida e mais tarde somente muscu- losa ao nível das pequenas artérias, vai também recebendo em progressão crescente os filetes vaso-motores. E como a acção anesthesica do álcool está na razão directa da massa nervosa que se lhe apresenta, é claro que as arteriolas devem soffrer mais. As artérias mais ricas em nerv os são incontestavelmente as do abdômen, da bacia, do thorax e as da cabeça (Fort). Sendo o sangue das veias e venulas menos alcoolisado do que o das ar- térias de igual calibre, é manifesto que aquelles vasos, excep- tuando-se a veia-porta e a artéria pulmonar, se achão menos sujeitos ás lesões do álcool, ou pelo menos ellas são ahi muito mais leves. A quantidade do álcool no sangue arterial é igual ao álcool absorvido menos o que evaporou-se nos pulmões ; ao passo que o álcool nas veias da circulação geral é igual ao do sangue arterial menos o que t.ransudou-se nos capillares para os espaços lymphaticos e ainda menos o que eliminou-se pelos diversos emunctorios. D'onde se vê que o sangue venoso é. em um momento dado, muito menos alcoolisado do que o arterial: o que comprova a nossa asserção. As substancias que, como b álcool, são pelo sangue impune- mente supportadas, por motivo combinado de sua qualidade com certa quantidade, e que não podem fazer corpo com as albuminas, e não teem utilidade nutritiva alguma, assestão seus arraiaes morbigenos no território da jurisdicção arterial, o - 21 - qual se estende dos grossos troncos do ventriculo esquerdo ás delicadas escomilhas dos vasa-vasorum que involvem as arte- riolas e as venulas. Os pontos de partida das lesões do alcoolismo chronico são primitivamente nos espaços lymphaticos e nas túnicas vasculares atravessadas pelos vasa-vasorum. Mas, como a resistência vital dos vasos está na razão directa da proporção do tecido elástico, (que quasi não permitte lesão alguma se asseste em si), e na inversa dos elementos contracteis, são portanto as venulas e as arteriolas a parte do systema circulatório mais susceptível á acção do álcool. Attendendo se, porém á diluição do álcool nas veias da circulação geral, como já ficou provado, restão somente as arteriolas e as venulas portaes cujas paredes se achâo por assim dizer entre dous inten sos fogos: o álcool que circula no seu interior, e o que lhes nutre pelos vasa-vasorum da túnica externa. Porém, como o tecido epithelial tem uma resistência para os agentes chimicos igual si nao maior á do tecido elástico, é claro que só a túnica externa dos pequenos vasos é em ultima analyse o ponto mais vulnerável ou a porta mais accessivel ao álcool para as lesões iniciaes da entoxicação chronica. E' o caso da cirrhose alcoólica do figado que tem seu ponto de partida n'uma inflammação adhesiva perivascular dos vasos sangüíneos dos espaços trian- gulares interlobulares de Kiernan; a qual é primitivamente uma verdadeira sclerose vascular sangüínea. A hepatite intersticial que é uma localisação muito commum e importante do alcoolismo chronico no apparelho digestivo, torna-se ainda mais freqüente se a entoxicação se faz por espí- ritos fortes, especialmente tomados em jejum em um paiz quente, onde as funcções digestivas são relativamente lan- guidas. Se bem considerarmos, grande numero de scleroses hepaticas, deve ser tido por alcoolismo chronico complicado de um estado mórbido chronico do apparelho digestivo. Porque o Gin drin- ker's liver sendo uma conseqüência quasi exclusiva e mathematica dos que abusão da genebra, e sendo esta bebida a preferida pelos que soffrem das funcções digestivas, é natural suppor-se que a localisação ou concentração do alcoolismo quasi que só a glanidula hepática, seja porque o álcool, encontrando este órgão já doente ou predisposto, não fez mais do que apressar uma evolução mórbida começada ; de sorte que a cirrhose se com- pleta muito antes das outras manifestações alcoólicas. Em geral o processo scleroso é acompanhado de steatose hepática ; estado que, por si só, é muito mais grave do que o cirrhotico, por isso que ataca intus et extra as cellulas paren- chymatosas ; riscando o figado do inundo physiologico muito antes do que o pôde fazer as lesões do tecido connectivo. O figado é de todas as vísceras a que está mais sujeita á steatose ; no alcoolismo chronico esse estado é devido a dous - 22 - factores -. a degenerescencia gordurosa, e a infiltração da mesma espécie, processos que se disingutm já por sua natureza, como pelos sentidos que seguem. O primeiro é, centrifugo e quanto a sua natureza transcrevemos aqui as palavras de Rindefleiscn, cuja opinião adoptamos. « A hypothese mais provável para explicar esta methamorphose, é a que considera a degeneres- cencia gordurosa como um phenomeno de ordem inversa ao da formação das cellulas. A composição da gemma dovo nos mostra que as matérias que servem para a formação das cellulas, são compostos proteicos combinados com uma grande quanti- dade de gordura. Além d'isso sabemos pela analyse chimica que a fibra muscular encerra em estado invisível uma notável quantidade de gordura. Portanto, temos razão para admitdr nas cellulas a existência de uma como amálgama de gordura e corpos proteicos A degenerescencia gordurosa consiste pois na decomposição desta como amálgama, libertando-se a gordura que então apresenta-se emgotticulas no interior do protoplasma. Comprehende-se, continua o mesmo autor, que disto resulta um augmento notável do volume da cellula, porque as mesmas quantidades de gordura e dalbumina para existir separada- mente, exigem um espaço muito maior do que quando estavão intimamente combinadas. » O segundo processo é ceatripeto, começa na peripheria dos acini, e é a conseqüência da dyscrasia gordurosa alcoólica ; de cujo vicio nutritivo está o fígado mais sujeito do que qualquer órgão, já pela parte activa que toma nas funcções vegetativas, como por serem suas cellulas destituídas de membrana. (Cornil e Ranvier 2.° vol. pag. 360). A infiltração gordurosa como factor da steatose alcoólica, incrementa-se e torna-se predominante nas pessoas de trabalhos liberaes. E, como o melhor meio de combater a adiposidade é o exercício muscular forçado e prolongado, comprehende-se a razão por que os alcolistas das classes operárias morrem mais de sclerose do que deseteatose. E'inútil dizer que, nas mesmas condições, a steatose mata muito mais cedo do que a sclerose ; porque esta ultima lesão é systema Usada ou localisada ao tecido conjunctivo que só depois de retractil é que estrangula as cellulas parenchymatosas, de cuja violência muitas escapão. Ao passo que a steatose é uma lesão que se diffunde igualmente a todos os tecidos, inclusive o próprio tecido conjunctivo. De mais, o estado gorduroso da túnica média das arteriolas, é um pheno- meno cuja gravidade não tem termo de comparação com o do estado scleroso da túnica externa. Do que precede, distinguem-se claramente dous typos alcoó- licos ; um marasmatico, acitico, em que predomina a sclerose ; outro obeso, volumoso e demaciado, em que predomina a stea- tose generalisada. Sobre este ultimo typo publicou o professor Torres Homem um excellente artigo, na Gazeta Medica Brazikira, - 23 - que transcrevemos textualmente : « Ha três annos que a minha attenção tem sido attrahída para alguns casos observados na enfermaria de clinica, em que os doentes, todos elles habitua- dos ao abuso das bebidas alcoólicas, apresentão um grupo va- riável de symptomas para os diversos apparelhos orgânicos, sempre acompanhado de profunda adynamia, que não autorisa outro diagnostico mesmo depois da autópsia, senão o de al- coolismo chronico. O exame anatomo-pathologico nesses casos, tanto o microscópico como o que é feito com o auxilio do mi- croscópio, tem sempre revelado a existência de grande accumu- lo de gorduras no tecido cellular sub-cutaneo e no que occupa a cavidade abdominal, bem como a degenerescencia gordurosa do tecido do figado, dos rins e do coração. E' a este conjuncto de alterações anatômicas que o Dr. Perroud, medico do Hotel Dieu de Lyon, chama muito apropriadamente — Polysteatose vis- ceral. No corrente anno os alumnos de clinica tiverão occasião de observar dous exemplos deste typo pathologico complexo. — O primeiro refere-se a um portuguez de 48 annos de idade, mora- dor em uma localidade muito pantanosa e devoto fervoroso de Baccho. Entrou para o hospital extremamente anêmico e depaupe- rado, com anasarca e acite. Não tinha albumina nas ourinas, não tossia nem tinha dyspnéa.—O seu coração, muito augmen- tado do volume, estava tão enfraquecido que mal era percebido em seus batimentos pela auscultação ; a apalpação da região precordial não apreciava o choque da ponta do órgão. —A aus- cultação não revelava ruido algum anormal no centro cardíaco ; de vez em quando o coração parava e tornava-se depois muito accelerado nos seus movimentos ; havia bulha de sopro nas artérias do pescoço. O pulso era pequeno, miserável, irregular e muito depres- sivel. Os pulmões estavão edema tosos em grande extensão ; o doen- te tossia um pouco, porém não expectorava. O figado estava extraordinariamente augmenta do de volume; chegava inferiormente ao nível da cicatriz umbilical e attingia nos limites superiores o quinto espaço intercostal.— A superfície da glândula hepática, na pane que excedia o bordo da costella, era lisa, uniforme, depressivel e indolente, e cedia á compres- são exercida pelos dedos exp.oradcres. Não havia ictericia. O baço estava muito crescido. -- Ausência de dôr no epigas- tro, anorexia absoluta, sede, constipação de ventre. — Duzentas a trezentas grammas de ourina, t< rmo médio, em 24 horas ; esse liquido se apresentava descora Io, com a densidade dimi- nuída ; não continha albumina, como já ficou dito. — Preguiça intellectual. tendência ao sôpor, constante somnolencia, indif- — 24 — ferença para o mundo exterior e adynamia pronunciada com- pletavão o quadro symptomatico do doente de que trato. pelo que fica exposto claramente se vê que neste caso havia, além da cachexia paludosa, uma paresia do coração, ligada a uma steatose, sem que phenomeno algum nos autorisasse a crer na existência de uma lesão cardíaca oro-valvular. — Havia tam- bém uma alteração profunda do fígado, sem ictericia, que não podia ser referida senão a uma degenerescencia gordurosa do parenchyma do órgão, attendendo-se sobretudo aos resultados da apalpação, á depressibilidade do tecido hepatico. Havia também indubitavelmente insufficiencia renal; os rins funccio- navão de um modo muito incompleto, o que era demonstrado, não só pela quantidade de ourina secretada em 24 horas, cinco vezes menor que a normal, mas também pela qualidade dessa ourina, pobre de princípios extractivos, privada em grande parte dos seus attributos de secreção depuradora.—Havia final- mente uma depressão muito accentuada na excitabilidade dos centros nervosos, que não se explicava satisfactoriamente pela influencia exclusiva da alteração da crase do sangue que carac- terisa a cachexia paiustre, havendo mesmo concomitância de hypoalbuminose. Não permittindo o bom senso clinico que eu admittisse nesse caso tantas moléstias distinctas quantos eráo os órgãos compro- mettidos em sua integridade anatomo-physiologica, e tendo-se submettido o doente por longo tempo á influencia de duas cau- sas poderosas que actuão lentamente sobre o organismo, alte- rando de um modo radical e a infecção paludosa, — fiz o diag- nostico de cachexia alcoólica e impaludismo ; reconhecendo, todavia, que as lesões visceraes representavão um papel prepon- derante na maior parte dos symptomas observados. Depois de ter estado 8 dias no hospital, o doente falleceu. Vejamos o que revelou a autópsia : Degenerescencia gordurosa do coração ; nota-se, não só uma espessa camada de gordura sobre este órgão, como também uma alteração de suas fibras musculares, que se apresentão pallidas, amarelladas e pouco resistentes. — Ha placas de atherbma na membrana interna d'aorta, em toda a sua extensão.—As válvulas e os orifícios cardíacos estão intactos. —• Algum derramamento de liquido hydropico no interior do pericardio, na proporção de 100 grammas, bem como nas pleuras, na proporção de 500 grammas na direita e de 200 na esquerda. — Edema na base de ambos os pulmões. — Derramamento ascitrico moderado. —De- generescencia gordurosa muito adiantada em todo o fígado: este órgão, muito augmentado de volume, apresenta-se com uma côr amarella em toda a sua superfície externa, mais accen- tuada no lobo esquerdo, onde essa côr se assemelha á do rhui- bardo. Cortando o parenchyma hepatico, nota-se que as super- fícies d* secção, amarelladas e seccas, — cobrem-se, depois de — 25 - alguns momentos, de uma camada de um liquido unctuoso, com todos os caracteres physicos dos oleos. —Os epiploons estão revestidos de um cochim de gordupa de dous centímetros de es- pessura ; entre as duas folhas do mesenterio existe uma camada uniforme de tecido adiposo muito espessa. — A não ser algum amollecimento da mucosa do estômago, nada de notável se observa no tubo gastro-intestinal. — Baço augmentado de volu- me e amollecido. — Rins volumosos, muito pallidos e anêmicos ; a substancia cortical apresenta-se com uma côr amarellada e aspecto oleoso ; o tecido cellular que envolve estas duas glându- las encerra uma espessa camada de gordura. — Cérebro muito descorado, com a substancia branca levemente amollecida e edematosa ; algum derramamento nos ventriculos lateraes. N'este caso, os symptomas revelados durante a vida pelos diversos apparelhos orgânicos estavão em perfeita harmonia com as lesões visceraes encontradas no cadáver.—Não havia um órgão em perfeito estado physiologico senão o tubo intestinal, o qual apparentemente parecia intacto.—A medulla, que não foi examinada, provavelmente devia estar como o cérebro, anêmica e fora das condições de poder funccionar normalmente quando o individuo estava vivo.— Durante todo o tempo que elle esteve na enfermaria nao sahio do leito ; difíicilmente procurava a caixa de retrete que estava a seu lado, para ourinar e evacuar ; nos quatro dias que precederão a morte nem isso mesmo fazia.— Pondo de parte a anemia profunda que se encontrou em todas as vísceras e o atheroma da aorta, as outras alterações reveladas pela necropsia pertencem á steatose. No outro caso clinico a que me refiro no começo deste artigo, comquanto os symptomas fossem diversos, as lesões anatomo- pathologicas forão as mesmas. (A continuação deste artigo acha-se no n. 11 da mesma gazeta.) O segundo caso observado na enfermaria de clinica e a que me referi no artigo anterior, diz respeito a um homem de 38 annos de idade, carroceiro, que entrou para o hospital com os symptomas de uma gastro-ente- rite aguda. Tinha uma temperatura febril de 38°,4, tinha vômi- tos e diarrhéa; havia sede intensa, os lábios e a língua estavão sêccos e rubros, havia descamação epithelial da face superior d'este ultimo órgão. O epigastro êra muito sensível á apalpação e a percussão, o estômago estava muito dilatado por gazes; o ventre, tenso, deprimido e excavado, era muito doloroso. O figado estava muito augmentado de volume, o baço tinha as dimensões normaes. Havia atheroma na aorta e fraca impul- são do coração, algum catarrho bronchico, acompanhado de tosse humida. As ourinas muito vermelhas e escassas não conti- nhão albumina. Apezar do tratamento empregado, o doente, que estava pro- fundamente abatido, que tinha uma verdadeira adynamia, começou a ter sub-delirio, ficou comatoso, e morreu quatro dias — 26 — depois de ter sido admittido na enfermaria, onde occupou o leito ri jIO A'autópsia n'esse caso demonstrou para o lado do coração, do figado, dos rins e do mesenterio, a mesma alteração gordu- rosa, com o mesmo aspecto e os mesmos caracteres com que se apresentarão esses órgãos no outro indivíduo affectado de cacne- A mucosâ do estômago estav a ecbymosada em vários pontos e amollecida em outros, porém não ulcerada ; a mesma altera- ção encontrou-se no tubo intestinal ; só o colon transverso apre- sentou duas ulcerações superficiaes. O doente, cuja historia acabo de contar, era dado desde longo tempo ao abuso das bebidas alcoólicas ; tinha steatose cardíaca, além de atheroma da aorta, steatose do figado, do mesenterio e dos rins • Estou intimamente convencido de que, se não fossem as lesões produzidas pelo alcoolismo, a gastro-interite que acommetteu o doente não assumiria a gravidade de que se revestio, resistindo aos meios therapeuticos os mais enérgicos, complicando se desde o seu começo de advnamia profunda e terminando pela morte dentro do curto período de oito dias, quatro dos quaes passa- rão-se fora do hospital. O que se deu com a cachexia paludosa do doente mencio- nado no primeiro artigo e o que se deu com a gastro-interite do carroceiro, de que me estou occupando actualmente, dá-se com qualquer outro estado pathologico, agudo ou chronico, por mais benigno que pareça ser, desde que sobrevenha em um individuo que tenha polysteatose visceral. São as alterações múltiplas desta entidade pathologica que dão á moléstia accidental uma physionomia symptomatica especial, que imprimem-lhe desde o principio um cunho evidente de gravidade e concorrem para que ella termine de um modo fatal. Para a casa de saúde de Nossa Senhora d'Ajuda entrou um moço de 30 annos de idade, com uma febre remittente apparen- temente benigna. Tudo indicava que o doente em poucos dias entraria em convalescença. Apezar de uma medicação muito racional e enérgica, de que lançou mão o Dr. Martins Costa e da qual os saes de quinina constituirão a base, apparecerão sympto- mas de ataxia e uma adynamia pronunciadissima, que recla- mou durante todo o tratamento o emprego de poções excitantes diffusas e fortemente alcoolisadas. Tudo foi baldado, o moço morreu do mesmo modo por que morrerão os dois doentes da enfermaria de clinica. Quando en o vi, a pedido do seo hábil medico assistente, notei desde logo a semelhança dos plienomenos geraes com os que apresentarão os outros do hospital da Misericórdia. Comquanto n'esse caso do Dr. Martins Costa a autópsia não — 27 — tivesse sido praticada, não tenho a menor duvida em considerar a morte do doente como conseqüência da polysteatose visceral. Tanto o meu joven collega como eu sabíamos que o infeliz moço, levado por uma paixão invencível, tinha se entregue desde muitos annos a excessos alcoólicos, a tal ponto que havia roto todos os laços que o prendião á sua família e á sociedade. Terminando o que eu tinha a dizer sobre o assumpto dos dous artigos que figurão na Gazeta Medica, chamo attenção dos collegas para a influencia perniciosa que a polysteatose visceral, como o considera o Dr. Perroud, exerce sobre as moléstias agudas ou chronicas que com ella coincidem,—circumstancia esta muito importante em relação ao prognostico das mesmas moléstias. Attendendo-se á importância dos órgãos compromettidos em sua integridade anatômica e physiologica ; attendendo ás des- ordens profundas por que passa o organismo, em relação á hematopoiese e á nutrição, não admira que um individuo a quem o alcoolismo produzio a polysteatose visceral, não possa resistir á invasão de qualquer affecção nova, não tenha sufi- cientes recursos em seu organismo, para lutar.contra as causas que tendem a aniquilal-o. (Torres Homem.) O cérebro é o órgão que primeiro revela a luz de toda a evidencia a presença do álcool no liquido nutritivo; e todos estão de accôrdo em considerai-o como o órgão de mais susceptibili- dade para o álcool, visto como é elle quem primeiro se resente da influencia d'este agente. Como é pois que sendo o cérebro o prim*iro atacado na intoxicação alcoólica, a encephalite diffusa não é a terminação ordinária do alcoolista? A importância do es-tudo particular do typo alcoolismo chro- nico simples para o perfeito conhecimento pathogenico de todas as conseqüências d'esta intoxicação, e de sua influencia sobre os outros estados mórbidos, é igual á do estudo perfeito do homem absolutamente sadio para os estados pathologicos em geral. A raridade d'essesdous typos não lhes faz perder um triz de sua importância Os phenomenos pathologicos evoluindo tão regularmente quanto os physicos, e terminando sempre do mesmo modo para cada espécie, são de rara observação justamente porque são raras as constituições orgânicas que devião apresental-os. Nos casos genuínos de alcoolismo chronico simples, o cérebro é o primeiro que sofíre uma lesão dynamica, e effectivãmente é quem primeiro apresenta-se mais tarde estaticamente lesado ; como provo com um exemplo que dou aqui junto, extrahido da these de Gambus (Pariz 1873). A hyperhemia do cérebro alcoolisado que, passageira a prin- cipio, determina uma superaclividade das funcções intellectuaes, vae pouco a pouco se tornando permanente e, um dia, ostenta- — 28 — se o delirium tremens; primeiro ponto de reparo do alcoolismo que chronica. O álcool que não nos pôde envenenar directamente, porque não tem ingresso nos recintos parenchymatosos, trazendo a atonia dos vasos, por paralysia e degenerescencia de seus ele- mentos contracteis, congestiona permanentemente o encephalo e converte em arma morbigena o nosso próprio sangue que, como se sabe, em excesso, não só produz inflammações chro- nicas, porém até a morte dos tecidos. A observação deste facto não escapou a Contesse que consi- dera a congestão chronica do encephalo e suas meningeas,como um precedente constante da paralysia geral, ultima phase do alcoolismo chronico simples,cuja evolução natural tem por alpha o delirium tremens, e a meningo-encephalite diffusa por omega. Agora que temos os dois pontos de reparo do caminho normal do alcoolismo chronico simples, não nos é permittido considerar como um verdadeiro specimen do typo mórbido que estudamos, um alcoolista cuja morte seja causada por qualquer outra lesão que não a paralysia geral adquirida ou directamente alcoólica. (Dou este epitheto porque, como provarei adiante, a paralysia geral, dita essencial, só se manifesta na descendência do alcoo- lista ; é uma conseqüência do alcoolismo chronico do typo al- coolismo hereditário simples, a que eu dou o nome de paralysia geral indirectamente alcoólica). A terminação do alcoolismo chronico pela paralysia geral é frustrada pela menor predisposição fluxionaria de qualquer vis- cera do tronco. Porque, como é notório, o cérebro é de todos os órgãos o de mais fácil revulsâo. Basta por conseqüência a mínima susceptibilidade visceral para descongestionar o cérebro, e desviar assim o ponto terminal do alcoolismo puro. Em conclusão, a demência prematura em que termina o alcoolista, prova cathegoricamente que o álcool não é no epi- theto poético quão vasio de Gubler, um dynamoforo, ou um antideperditor, mais um esbanjador das forças nervosas que se transformarão, durante o noviciado do bacchante, na ligeireza dos movimentos e na fluencia das idéas. - 29 — EXEMPLO 00 ALCOOLISMO CIOU (Excellente obse rvação extrahida da these de Gambus) (O estado mórbido é igual ás adaptações realizadas, mais a adaptação actual, que aqui são da mesma natureza, sendo nulla a herança pathologíca). Le Ujuin 1869, est entre à 1'asile Sainte-Anne, le nommé B... (Gabriel-Adolphe), marchand de vin, âgé de 42 ans, avec un certiíicat de M. La segue portant : « Delire alcoolique sub- aigu datant de six jours. excitation nocturne, une attaque épi- leptique. » L'examen direct et 1'interrogatoire de ce malade, lors de cette première entrée, ont fait reconnaitre les caracteres de 1'alcoolisme subaigu. Cétaient principalement des hallucinations terrifiantes de Ia vue : ainsi il voyait des animaux de loute espèce. des chats, des rats, des serpents, des gens qui voulaient 1'assassiner, des flammes rouges qui passaient devant ses yeux, et il croyait voir sortir de sa bouche une fumée épaisse qui se répandait dans Ia chambre. Avec cela, il accusait de Ia céphalalgie et présentait un tremblement prononcé des mains, de Ia langue, des lèvres et une teinte subictérique de Ia peau. Sa vue étaient notablement affaiblie, et 1'examen ophthal- moscopique montra dans loeil gaúche le fond très-tacheté, mais sans interruption des vaisseaux ; Ia papille pâle et à pourtour un peu inégal; dans le droit, le fond aussi très-inégalement pigmenté, mais Ia papille normale. La femme donna les renseignements suivants: son mari, dit-elle, faisait des excès de boissons principalement de bitter, de vermouth, de vin; et cela depuis 1'année 1856, c'est-à-dire depuis 13 ans. Son sommeil était assez souvent troublé. II tremblait un peu et était sujet à des sueurs abondantes. Le matin, à son réveii, il avait de Ia petuite. Dès 1'année 1860, son médecin, voyant là des symptômes d'alcoolisme, 1'avait engagé à ne plus boire ; mais il ne cessait réellement que lorsqull se sentait trop malade; s'améliorait alors, mais reprenait aussitôt ses funestes habitudes. 1106 — 30 — Au commencement du móis de mai dernier, il y a environ six semaines. il présenta une grande excitation avec hallucina- tions nocturnes; il vovait des chats, des rats, trois ou quatre cents personnes qui voulaient 1'assassiner. Quelque temps plus tard, trois semaines a peu près avant son entrée, il eut une attaque convulsive, accompagnée de p^rle de connaissance et sa langue resta embarrassée pendant trois heures. Sous 1'influence d'hallucinations et dldées de persécution, il se livrait à des menaces contre sa femme. Enfin tout derniò- rement, en lisant son journal, il a remarque qu'il voyait cinq lignes à Ia fois. Sa femme fournit encore les renseignements suivants, relati- vement aux antécédents: Le père de ce malade était mort à 74 ans, hémiplégique. Sa mêre, après Ia mort de son mari, avait vécu maritalement avec un militaire de 47 ans, et mourut elle même à 71 ans. Sa femme, qui est âgée de 40 ans, a eu cinq grossesses. Les trois premiers eufants sont morts de convulsions en bas âge. Le quatrième est une jeune filie de 13 ans, bien portante. Enfin ia cinquiême grossesse il y a bien trois ans, s'est terminée vers le quatrième móis par une fausse couche de deux foetus. Le 16 juin, c'est-à-dire le deuxième jour après son entrée dans le service de M. M. Magnan et Bouchereau, à Sainte-Anne, ce malade présenta un peu d'excitation. II va et vien de côté et d'autre, croit qu'on 1'inlerpelle, qu'on le pousse à marcher. 11 ^imagine que des individus le prennent linjurient, l'em- pêchent de dormir ■. il présent encore un tremblemente marque de Ia langue, des mains. Le lendemain, 17 juin, il fut envoyé à Tasile de Vaucluse, ou il s'ameliora três vite, et put en sortir dans les derniers jours de juillet de Ia même année. De retour chez lui, il reprit son travail : mais il était devenu três économe, avare même. Aussi était-on obligé de lui cacher les moindres dépenses de Ia maison. Dès quiT arrivait des clients. il allait vite au comptoir calculer les recettes. II disait à sã femme: « J'ai beaucoup dépensé, mais cela ne m'arrivera plus; je vais être plus économe. » A cette époque, il ne bégayait pas du tout et n'avait pas même le moindre embarras de Ia parole. Deuxième entrée —Le 19 avrii de 1871, c'est-à-dir'e près de deux ans après sa première sortie, cet homme rentra à Sainte- Anne (bureau d'admission) avec un certificai portant encore : « Atteint d'alcoolisme aigu, désordre dans les idées et dans les actes, hallucinations terrifiantes de Fouie et de Ia vue, frayeurs tremblement générale du corps. » En 1'examinant, on trouve qu'il presente en effet du delire al- coolique avec des hallucinations. II voit des francs maçons qui le poursuivent; des hommes-armés de couteaux qui courent après - 31 — lui. Il voit des oiseaux, des chats. des rats, des arbres, etc. Avec cela, il presente un léger tremblement des mains. On obtient, du reste, de sa femme, les renseignements sui- vants: Depuis sa dernière sortie, dit-elle, son mari paraissait bien et s'était remis au travail; mais, depuis un móis, il s'eni- vrait presque tous les jours, surtout avec de l'eau-de vie. Cétait un désordre complet; il enlevait de sa demeure argent, effets et vendait tout. Depuis huit jours même il Ta quittée pour aller, avec une jeune filie de 18 ans, boire dune façon encore plus exaggerée. Cest alors que le delire a éclaté. Le 2i aoüt. ce malade croit entendre des francs-maçons invi- sibles qui menacent de le tuer II n'a presque conscience de toutes les sotlises qu^l a faites. Sa tênue est peu en rapport avec son âge. II dit en souriant, et avec un certain contentement, qu'il pourrait bien recommencer. Pour Ia première fois, il se manifeste chez lui quelques idées de satisfaction, sinon d'ambitionet de grandeur. Ainsi il dit qu'il va aller acheter des chevaux,des bottines vernies, un chapeau de feutre blanc qu il mangera des huitres et vivra de ses rentes. 11 a au moins 2 OuO ir. à lui. Sa mère ajoute-t-il, a un amoureux de 3o ans, qui possède 30.000 fr. // lui daguera tout cela. Peu à peu, tous ces symptômes aigus de 1'alcoolisme dispa- raissent. et il sort pour Ia deuxième fois, vers Ia fin du móis de septembre de Ia même année, conservant un peu d'aífaiblis- sement de l'intelligence, de Fapathie, de 1'indifférence. Toutefois, il est calme et on le rend, à titre d'essai, à sa femme. Troisième entrée.—II rentre pour Ia troisième foisle 11 octobre 1871, ou douze jours après sa sortie. Au moment de son entrée, on constate un affaiblissement des facultes mentales, de Ia diminution de Ia mémoire, une légère excitation avec hallucinations; il voit des fantômes, des têtes de betes féroces avec des cornes, des choses effrayantes enfin. II presente un tremblement des mains bien prononcé. Sa femme aprend que pendant les quelques jours qu'il est reste en liberte, il n'avait aucime conscience de ses actes ; il avait un peu d'agitation et de delire Le huitième jour, pendant quil était à table, il devint subitement très-pâle, et il resta sans pouvoir proférer une seule parole. Dans le courant de Ia nuit du même jour,sa femme remarqua à plusieurs reprises de petites secousses de Ia face, avec des grimaces et déviation de Ia bouche (sorte d'attaque épileptiforme). Le lendemain, il eut un accès de delire. II avait les yeux hagards, injuriait son entourage et voulait absolument sortir ; il paraissait fréquemment en proie à des hallucinations. Sa femme affirma que, depuis sa sortie, il n'avait pas fait de nouveaux excès. — 32 - Le 13 octobre, surlendemain de son entrée, il va et vient dana Ia salle sans bien savoirce qu'il fait. II chiffonne, et i;amassf les objects les plus divers qui tombent sous sa maiu, sem et de l nei ne d Ia boulonuière. Il voit des ombres, des oiseaux. etc, et en gene ral, reste iudifférent à ce qui 1'entoure. II ne se plauit q«e(ljn peu de pesauteur de lête. II niange avec gloutonnene, et n a, a an- leurs, aucune conscience de sa situation. Le 17. II éprouve, au milieu de Ia uuit, une vive frayeur et se mel à pousser de grands eris. II a toules sortes ^hallucinationsi de Ia vue, voit des ours blancs, noirs, des cmbrages, etc. Let etat reste sensiblement le même jusqu'au móis de mars 18/2. Au móis d'avril, étant devenu beaucoup plus calme, on le rend encore, à titre d'essai, à sa femme. Mais il conservait alors un afFaiblissement trè^-marqué de Piutelligeuce, et une diminution con- sidérable de Ia niéaioire. Quatrième entrée.—-II arrive à Sainte-Anne dans le service de MM M.ignan et Bau) Mucosa e túnicas subjacentes do estômago. O contado repetido do álcool com a superfície interna do estômago especial- mente encontrando-o vasio, é r-ausa de uma gnstrite eatharral que se revela por um estado suburral, dyspeptico, apresentando-se sempre no dia depois do deboche ; este estado chronica, e a elle se prendem as dyspepsias rebeldes, freqüentemente observadas nos que abusão do álcool. A má qualidade do sueco gástrico peiorada pela mistura do catarrho, explica as digestões imperfeitas ; a aslhe- nia consecutiva ás exortações não só do aicool como de outros estimulantes usados para'combater o fastio, dá a razão do labor e da demora dos alimentos n'esta cavidade ; e as vomituracões de gosma são devidas a má impressão de uma secreção imperfeita e abundante das glândulas do estômago, ligada ao estado congestivo em que se achão, sobre as extremidades do pneumogastrico. A mis- tura dos alimentos sólidos com este liquido evita os vômitos ; de sorte que o estado de vacuidade do estômago torna-se uma circumstancia adjuvante ; o que explica as petuitas matinaes. O catharro chronico do estômago acha ainda uma causa effeciente no embaraço da circulação nos vasos da mucosa gástrica. O obstáculo que se opõe a volta do sangue, e provoca esta plethora local pode ter sua sede na veia porta; e todas as moléstias do figado que dão lugar a uma compressão da veia porta e de suas ramificações (cirrhose alcoólica) se complicão de catharrho chronico do estômago ( Nie- — 49 - meyer). Portanto as relações physiologicas do estômago com o figado fazem com que as lesães que o álcool vai produzindo n'este, sejão concurrentes mórbidas das d'aquelle. A mucosa apresenta-se freqüentemente com uma côr de borra de vinho ou ardosea : esta coloração é devida ás pequenas hemor- rhagias capillares no tecido da membrana, e a uma transformação da hematina em outros pigmentos (Niemeyer ). Ulcera do estômago.—Virchow attribue a ulcera perfurante a uma abliteração dos vasos arteriaes, em virtude da qual a parede do estômago se mortifica em toda a estensão das ramificações capilares da artéria obstruída; concorrendo o sueco gástrico para apressar o sphacello da porção gangrenada. Em muitos casos a ulcera cicatriza antes de ter perfurado todas as camadas do estômago. Se a perda de substancia estende-se somente até a túnica celulosa, o espaço enche-se de granuUçõe> que se transformão em tecido cicatricial, o qual, se retrahind o, aproxima os bordos da ulcera dando-lhe uma forma estrellada. Este phenomeno é de observação muito commum nas au- tópsias. Quando a ulceração tem invadido a túnica muscullosa, a túnica poritonial é repuchada por dentro do estômago, se o processo de cicatrização, tem lugar. Tal seja o tamanho e a sede da ulcera, que a sua cicatrização dividindo o estômago em dois ventres por um estrangulamento extremo, torna-se um mal peior, não permettindo a passagem do seu contendo para o intestino. Quando o processo ulcerativo tem tendência a perfurar,a inflam- mação chronica da túnica serosa, determinando adhereucias com os órgãos visiuhos, não permitte o derramamento das matérias contidas no estômago na cavidade peritonial, Gastrite intersticial chronica, linite plástica de Brinton.— Estas lesão é anatomicamente caraterisada por hyperplasias do tecido conjunctivo e hypertrophia do muscular. Quando a lesão está plenamente constituída, a parade do estômago tem perdido a sua brandura natural ese apresenta rija e de consistência lardacea. Pelo corte vê-se, entre a túnica mucosa e a serosa, uma camada de tecido fibroide sobre a qual faz relevo os elementos musculares hypertrophiados. Esta extrema hypertrophia com hyperplasia numerosa dos ele- mentos musculares, desenvolve-se ordinariamente sob um catarrho chronico alcoólico (Brudd e Brinton). N'estas circumstancias, a dureza das paredes do estômago, é tal que pode simular um cancro N. 1 % — 50 — á apalpação, mesmo na autópsia, estes dois estados se confundem, maxime se o cancro toma uma forma diffusa, e só o microscópio nos habilitará a estabelecer a differença, quando d'outras circum- stancias não tirarmos ensinamentos bastantes. Figado.—A irritação constante do álcool n'essa glândula traz um estado congestivo chronico e permanente que é o ponto de par- tida para a hepatite intersticial. e também para degenerescencia gor- durosa do parenchyma. Este estado se externa por urna coloração subiterica dos tesgumentos, dureza no epigastro, ascite, emfim, por todos os symptomas próprios da cirrhose e degenerescencia hepa- ticas. O álcool ataca ou irrita todos os elementos da glândula indisc- tintamente, accentuando, porém, sua acção no tecido conjunctivo que cerca os pequenos vasos, (maxime quando a intoxicação é chro- nica), por ser este tecido o mais vulnerável, como ficou provado no começo d'este trabalho. A intoxicação chronica do álcool não pode ser causa de infla- mações supurativas ; porque a pyogeuia exige do órgão um esfurço superior ao que elle pode dar na asthemia em que foi deixado pelas excitações alcoólicas. Não acontece o mesmo com a proliferação conjunctiva, que se pode dar sem intervenção alguma das forças activas dos parenchymas. Por conseguinte os casos de hepatite supurada que se observam, não podem ser tidos como alcoolismo chronico, (porque n'esta hy- pothese o órgão, no estado de fraqueza em que se acha, não per- mitte que a flegmasia termine por supuração) e sim por alcoolismo agudo por altas doses de álcool concentrado. A prudente obser- vação clinica comprova o que acabamos de dizer. O próprio Lan- ceraux define o alcoolismo chronico como se segue : — « Sous Ia dénominaiion d'alcoolisme chronique, nous entendons une maladie á evolution ordinairement lente et progressive,causée par Tabus pro- longo des hoissons spiritueuses, caractérisée anatomiquement par inflamations spéciales non suppuratives, ou par des dégénérescences graiseuses des organes; symptomatiquement pas des troubles fonc- tionnels divers, portant principalement sur les systemes nerveuse et disgestif. » Mas adiante o mesmo auctor na pag. 632 do vol. do Dic. de Dechanbre, que traz o seu artigo, oppondo-se a opinião de varies observadores das moléstias dos paizes quentes, diz :—II est difficile d'affirmer, sans doute, que Thepatite supurée puisse provenir, dans les régions intertropicales, de Ia seule influence des excéss de boissons alcooliques, quand dans nos contrées Thepatite alcooliques est pour ainsi dire toujours adhésive. — 51 — Coração direito e artéria pulmonar.—Tenho autopsiado muitos alcoolistas e nada lenho encontrado que se possa referir particular- mente ao álcool: e se fossem freqüentes as lesões d'estes órgãos ligadas ao alcoolismo, necessariamente eu as teria encontrado, como tenho encontrado, as dos outros órgãos. Não vejo fundamento para Lanceraux admittir a inflamação adhesiva com formação de mem- branas concentricas, tendendo a diminuir o calibre da* artéria pul- monar, como tendo sido produzida pelo facto do alcoolismo chronico, quando elle próprio confessa ter observado apenas cinco casos. Quando isso uão seja uma simples coincidência, os cinco casos d'esta natureza na longa e numerosa clinica de Lanceraux, provão pelo contrario, que o alcoolismo n'esta producção, não tem a impor- tância que lhe quer dar este observador. Pulmões.—A evaporação constante do álcool na superfície dos alveolos pulmonares, é um estimulo fluxionario que, unido a ectasia oapillar por paralysia dos elementos contracteis, augmenta e pro- longa o estado hyperhemico do campo hematosico. A asthenia con- secutiva a estas excitações reiteradas diminuea aptidão do apparelho respiratório para ás moléstias agudas. Assim pois, a chronicidade é, ainda aqui, o apanágio de todas as moléstias do apparelho respi- ratório ás quaes os alcoolistas, aliás, estão muito sujeitos. No alcoo- lismo chronico a recrudescencia de uma localização qualquer, só attinge a um estado sub-agudo, que é quasi sempre acompanhado de delirium tremens, e sempre de insomnia ou de sonhos, que per- lurbão sobre modo a tranqüilidade do somno, os quaes são de uma extravagância característica. A pneumonia a que Trouseaux chamou de bastarda, quando não matta no período congestivo, termina sempre pela phtisica caseiosa. Esta pneumonia chronica dos alcoolistas localiza-se de preferencia nas regiões iufero-posteriores dos pulmões: isto é o que eu tenho observado. Quando a localização é para os vértices, isto quer dizer que uma herança phimica achou no alcoolismo terreno apropriado para a sua manifestação. Na nossa opinião, (a que não chamamos fraca, porque se apoia nos factos) se se pode ter algum signal caracteristico da genuína herança tuberculosa, é com certeza a sua localização ab nitio nos ápices pulmonares.Portaulo toda a moléstia do apparelho respiratório que se localiza de preferencia e primitivamente nos vértices dos pulmões, tem para nós um apoio no vicio hereditário tuberscrofuloso. Em resumo, o alcoolismo não determina a genuína tuberculose em quem não tem a respectiva inclinação. - 52 - Coração esquerdo, orifício e crossa da aorta.—A hypertrophia do ventriculo esquerdo, encarquilhamento dos synoideas, e rugo- sidades da superfície interna da crossa da aorta por atheromasia, eis as lesões mais freqüentes que o alcoolismo produz n'essas partes. Rins.—O alcoolismo só por si não produz as lesões renaes, capituladas de Mal de Bright, porque se assim fora, as nephrites devião incontestavelmente ser mais freqüentes e mais distribuídas no globo. Além das predisposições individuaes, a accentuação geograpgica do Mal de Bright nos paizes frios das zonas temperadas, faz crer que o alcoolismo também acha motivo de localização no maior funccionalismo d'estas glândulas n'essas regiões, maxime se a into- xicação fôr pela cerveja. ^Encephalo, bulòo rachidiano e meãulla.— O centro cephalo- rachidiano é o ponto electivo de acção do álcool. As localizações encephalicas que são as mais freqüentes, por motivos que já forão dados, se patenteão nas autópsias por pachymeningite e todas as formas de encephalite chronica que constituem a parle somática da paralysia geral. As congestões da medulla alongada em que, afora alguma predisposição, tomão grande parte as essências que acom- panhão os licores, como o absinthio, etc, manifestão-se por verda- deiros ataques de epilepsia. Quando as localizações espinhaes tomão um certo gráo de inten- sidade, ellas explicão os menos freqüentes casos em que as pertur- bações da motilidade se antepõem às da sensibilidade. Trama intersticial eparenchymas.—Sitiando os parenchymas nos espaços lymphaticos, o álcool, aqui, determina hypertrophias e hyperplasias, ali, degenerescencia e infiltração gordurosas; cuja conseqüência é a rarefacção de todos os tecidos parenchymatosos, até do próprio osso. A freqüência das inílammações das serosas nos alcoolistas, tem sido objecto de aceurado estudo de Lanceraux e seus discípulos, os quaes tentão provar a existência de uma perilonite dependente ex- clusivamente do alcoolismo chronico. Superfície cutânea.—Muitos fazem depender certas modifica- ções da côr da pelle no alcoolista da qualidade da bebida. Assim, ha quem diga que os vinhos generosos, como os do Porto, provocão a coloração vermelha do pescoço e do rosto ; a cerveja dá uma côr pallida assetinada a toda a pelle, pela facilidade dos depósitos subeutaneos de gordura que esta bebida produz mais do que outra ; a aguardente por sua maior energia sobre o appa- — 53 — relho biliar, devida a sua concentração alcoólica, determina uma coloração subterica permanente. No ultimo período do alcoolismo chronico observa-se sempre a côr subterica pelas lesões do appa- relho digestivo, e especialmente das glândulas hematopoieticas. O acne rosaceo, localisado de preferencia na face, e sobretudo no nariz, onde, juntando-se a dilatacão dos pequenos vasos da ponta deste órgão, forma o cunho crapuloso do bacchante, que se chama nariz de caparrosa. DIAGNOSTICO De todos os symptomas apresentados pelos alcoolistas, ha um que, pela sua constância e fácil filliação a causa efíiciente, nos habilita a asseverar a existência da intoxicação alcoólica : — é a loquacidade. Durham estudando as condições do somno, chegou a con- clusão seguinte : — Tudo que augmenta a actividade da circu- lação cerebral tende a causar e garantir e estado de vigília ; e tudo que diminue esta actividade, não alterando ao mesmo tempo a saúde geral, tende a determinar o somno. As causas desta ordem podem obrar primitivamente sobre o systema nervoso e sobre o systema vascular. Entre as que obrão sobre o systema nervoso, póde-se citar a presença ou a ausência de impressões exercidas sobre os sentidos, e a presença ou a au- sência de idéas excitantes. Entre as que obrão sobre o systema vascular, póde-se men- cionar as modificações naturaes ou accidentaes da força e da freqüência da acção cardíaca. Ora, quem conhece a acção chronica do álcool sobre o orga- nismo humano, verá facilmente que o alcoolista reúne em si grande numero de condições perturbadoras do somno : a maior impressionabilidade nervosa, as hallucinações dos sentidos prin- cipalmente do ouvido, as idéas fixas, e um nevrosismo caprichoso com uma correlativa irregularidade circulatória. A ligação da ideação á articulação das palavras é tão intima, que se pôde dizer que cada idéa que se forma é o substratum de um movimento articular que se prepara simultaneamente, o qual se traduz por uma tonicidade constante dos músculos dos órgãos vocaes. A suspensão súbita da ideação pela estupefacção revela-se justamente pelo estado boquiaberto. Esse movimento articular se manifesta ou se aniquila habitualmente pela von- tade, mas tende a externar-se sempre que não encontra o obstá- culo — vontade automática ou não. E' o caso das crianças, dos soliloquistas, dos dementes, de todo estado, emfim, em que a vontade é nulla ou fraca. Se a condição physiologica do sommo natural é uma ane- mia relativa da massa encephalica, tendo por conseqüência uma diminuição da ideação, não é menos verdade que este estado é promovido por uma diminuição da actividade ou enfraqueci- mento da vontade. H — 55 — A susceptibilidade congestiva do cérebro alcoolisado, o tor- nando sujeito a inundações sangüíneas superiores ao coefiiciente hematico do somno, e estas augmentando o trabalho de cere- bração, ha uma perturbação da necessária reconstituição ner- vosa ; d'ahi o cançaço e o maior enfraquecimento da vontade. A ideação, não encontrando obstáculo algum em sua transfor- mação em movimento sensível, exteriorisa-se pela loquacidade do sonho. A loquacidade do sonho é um phenomeno que se observa mesmo na primeira embriaguez ; é de todos o mais prematuro, porque elle se manifesta nas primeiras hyperhemias corticaes que inaugurão infailivelmente a periencephalite diíTusa ; o mais freqüente, porque se reproduz com o menor fluxo hy- perhemico, a que estão muito sujeitos os alcoolistas ; o mais du- radouro, pela marcha chronica dos processos cerebraes. Quando entro na enfermaria-aula de clinica do Professor Torres-Homem, a minha primeira pergunta é sobre os que fal- lão quando dormem ; e tenho sempre verificado que todos que fallão são verdadeiros alcoolistas ; comprovados já pela anam- nese, já pelas lesões de que soffrem, mas também pelo diagnos- tico prudentemente estabelecido pelo nosso Professor. A facilidade com que se exclue a loquacidade dependente de outras causas retempera a importância que damos a este phenomeno na diagnose da intoxicação alcoólica. Assim, o fal- íamos sonhos das crianças, devido a grande impressionabili- dade unida a tenuidade da vontade, se exclue por si; no mesmo caso se achào os adultos que, sob uma grande preoccupação moral, fallão quando dormem ; e as moléstias mentaes que, in- dependentes do alcoolismo, podem trazer este symptoma, tam- bém nenhum obstáculo oppõem a nossa descriminação. A loquacidade do sonho, pois, convenientemente descrimi- nada é um signal da mais alta probabilidade da intoxicação al- coólica. A coexistência de lesões em cuja etiologia entra o alcoolismo, transforma de logo esta probabilidade em certeza mathematica. Isto é o resultado de nossa observação própria ; os authores, em geral, ligão a máxima importância as vomituracões e ao tremor matutinos. Sem negar o grande auxilio que nos prestão estes phenome- nos na pesquiza da verdade, força é confessar que elles são de valor inferior a loquacidade no sonho; não só pela difficil ex- clusão de outras causas efficientes, como por sua inconstância. Quandu éramos interno na ambulância de variolosos, á Ilha dê Santa Barbara, nunca observamos o tremor e as pituitas em dous alcoolistas que exercião o papel de criado, aos quaes nós mesmo viamos beber : porém balbuciavão quando dormião. — 56 — O valor deste signal não fica bem comprehendido na pala- vra loquacidade, porquanto elle varia desde a pronunciação clara de uma palavra, até um simples movimento articulativo dos lá- bios. Em geral a articulação é confusa, obscura, imperfeita, inintellegivel, outras vezes não ha producção de sons, porém, simples movimentos articulativos dos lábios. Esta variação do phenomeno não muda de modo algum o valor do signal diag- nostico, porque, mesmo quando não haja producção de sons, a fôrma característica dos movimentos labiaes nenhuma duvida deixa no espirito de quem os vê, que elles são movimentos arti- culativos de palavras mudas. Esta loquacidade é acompanhada de uma inquietude do pa- ciente que dorme, o que estorva ainda mais o somno. Depois deste signal temos, ao despertar da manhã o tremor dos dedos, e uma tosse seguida de vomituracões. Ura artificio que me tem dado muito bons* resultados, para a confirmação ou iniciação do diagnostico, é o de perguntar ao doente se tonteia facilmente quando bebe ; o paciente, em geral re- misso á confissão, ligando a idéa de tontear a de embriagar-se, apressa-se em dizer que mesmo bebendo um pouco mais nunca cahio. Esta resposta é a expressão mais eloqüente da tolerância, e nos previne de que falíamos a um alcoolista chronico. A confusão do alcoolismo chronico com algumas intoxica- ções profissionaes se dissipa ou augmenta pela resposta da occu- pação do paciente. Se o paciente é um empregado de algum estabelecimento de productos chimicos, se é pintor, dourador, mineiro de arsênico, chumbo, cobre, mercúrio, petróleo, con- vém ter-se alguma reserva, porque pôde haver uma pluralidade de intoxicações, cujo diagnostico differencial é muito possível. Se, ao contrario, elle diz ser marinheiro, soldado, trabalhador, cavoqueiro, augmentão-se as probabilidades de uma intoxica- ção alcoólica. A nacionalidade ás vezes é bastante para inclinar o espirito do medico. O tremor dos dedos com alteração do tacto de marcha ascendente, e o tremor dos lábios e da ponta da lingua, trazendo uma irregularidade na articulação das pa- lavras, que são titubiadas, ou pronunciadas com uma* brevidade insólita, constituem um importante signal diagnostico do alcoo- lismo chronico, Actualmente se acha na 4a enfermaria de medicina,occupando o leito n. 23, um hespanhol de 30 e poucos annos de idade, de nome João Gonçalves que entrou para o hospital no dia 13 de Março de 1883. Este individuo, magro e de uma côr pallida subiterica, é paciente de uma hepatite interstical com algum derramen, e de uma tuberculose que começa a fazer explosão no ápice do pul- mão direito. Qual é a causa que determinou a hepatite e que $eu occasião a manifestação tuberculosa ? -51- Pela loquacidade dos sonhos que são de característica extra- vagância, pelo tremor dos dedos e dos lábios, com certa pertur- bação na articulação das palavras (phenomenos que felizmente se observão neste doente), affirmo positivamente que se trata de una caso de alcoolismo chronico,diagnose meramente scientifica, pois para o seu estabelecimento não precisamos de pedir ao aoente, nos forneça sua anamnese. Quereis a confirmação? o doente diz que, quando ha trez annos soffreu de varíola, teve grande accesso de delírio loquaz. Quem tem estudado o valor do delírio loquaz no curso das affecçoes agudas, verá que grande ensinamento podemos tirar deste facto, dispensando assim a clássica pergunta etiologica:— Usa e abusa do álcool ? No leito n. 15 da mesma enfermaria, existe actualmente, J6 de Abril, um portuguez robusto de 45 annos, entrado em 31 de Março, trabalhador, de nome Francisco de Macedo ; ao entrar trouxe uma bronchite fétida e ultimamente se acha com gan- grena diffusa dos pulmões, accentuada á parte inferior do pulmão esquerdo, (onde pela autópsia encontramos 3 grandes cavernas), sobre o qual se deita de preferencia. Qual o fundo etiologico deste estado ? O doente tem cicatrizes de ventosas escarificadas em ambos os lados da base do thorax ; memória indelével de uma passada affecçào aguda das partes inferiores dos pulmões, não tuber- culosa. « Queixa-se de que não pôde dormir em conseqüência de sonhos estravagantes, pertinazes, incommodo e loquazes. » As manifestações espontâneas do doente são para mim de muito mais valor do que as suggeridas pelo interrogatório do medico ; porque as primeiras se achào inteiramente nas condi- ções dos phenomenos de pura observação natural, ao passo que as segundas são de alguma sorte experimentaes; pois é inegável a influencia do espirito do medico sobre o doente, obrigando intellectualmente a que o paciente responda o que elle quer, ou muitas vezes respondendo por comprazer, apezar de não ter en- tendido. Quem quizer se convencer das modificações do espirito do interrogado, e do pouco valor scientifico das respostas nestas condições, assista a um tribunal, que verá como testemunhas de intelligencia bem esclarecidas, interrogadas sobre o mesmo assumpto pelos advogados da defeza e o da aceusação, fornecem respostas convenientes a ambos os lados. Portanto, da esponta- neidade da declaração do doente temos o critério, das circum- stancias que a cercáo, a diagnose. Não ha hesitar,—é o alcoolismo chronico a constituição do estado actual do nosso doente. Accrescentare1' que a bronchite fétida que precedeu a este estado de gangrena pulmonar, é para a maioria dos observadores produzida pelo alcoolismo chronico, em cujo numero se acha o próprio professor Torres Homem quando na pagina 283 do primeiro volume da sua clínica de 1882', assim se exprime: « Limitar-me-hei a lembrar-vos que N. 1 8 — P.8 — todos os pathologistas que mais se tem occupado desta espécie de gangrena do apparelho pulmonar, attnbuem ao alcolismo uma grande influencia etiologica no apparecimento da moléstia. Briquet, Traube, Laycock. Lasègue e Empis fallão do abuso do álcool em todas as observações que publicarão, e dao lhe muita importância como causa predisponente. Em um caso que vi em Janeiro do anno passado juntamente com o Sr. Dr. ttomêo, na 5a enfermaria, havia alcoolismo inveterado. » Se para o estabelecimento do diagnostico entendemos que o devemos fazer, sempre que fôr possível, sem o auxilio do que propriamente chamamos anamnese, e observando o doente na sua inércia natural, para a comprovação do nosso juizoe satis- fação da critica, necessitamos de algum testemunho do doente : O paciente confessa alcoolismo e accrescenta que não se em- briaga facilmente. ■ O alcoolismo fornece uma grnde parcella dos comatosos que entrão para os nossos hospitaes, os quaes constituem o martyrio dos clínicos que nada invidão fazer sem a historia pregressa. Felizmente o professor Macewen Glasgow depois de prudente e minucioso estudo sobre uma serie de 50 casos de coma indubita- velmente alcoólico, nos dá um excellente maio de diagnostico etiologico. Transcrevemos aqui a sua communicação, publicada em Fevereiro de 1879 no Glasgow medicai joumal e em ou iras muitas gazetas médicas da Europa. « Tem-se admittido até aqui que no coma alcoólico, as pupillas se achão dilatadas. Sobre este ponto todos os auctores estão de accordo, não só na Ingla- terra como no continente. Todavia o professor de Glasgow, na sua longa pratica hospitalar não tem encontrado em taes casos, senão pupillas contrahidas Julgou a principio que a divergência entre a opinião dos auctores e o resultado de suas próprias obser- vaçães, se prendia a natureza do álcool ingerido ; porém a cons- tância desta constricção pupillar, qualquer que fosse o liquido que tivesse produzido a embriaguez, lhe fez regeitar com razão esta hypothese. Um dia pela primeira vez na sua vida, achando urna pupilla dilatada em um individuo de embriaguez comatosa, chamou os seus colegas do hospital para observarem o pheno- meno, eeiso ensinamento que tiverâo. Alguns momentos antes o doente havia dado uma queda violenta sobre a cabeça. Mace- wen acreditou puder explicar a dilatacão pupillar por esse trau- matismo que se dera no curso do coma alcoólico. Estudou então com mais cuidado o estado das pupillas n'uma serie de 50 casos de coma-alcoolico que elle observou depois disto,e éis o resultado importante deste estudo : nestes 50 doentes achou 49 vezes as pupillas contrahidas. Esta contracção era sempre muito accín- tuada, o mais das vezes as pupillas tinhão o diâmetro de una cabeça de alfinete, outras vezes se achavão completamente obli- teradas. O único que no momento do exame apresentava as pupillas dilatadas, recebera violenta contusão na cabeça e - 59 — poder-se-hia mesmo suppôr uma fractura do craneo. E' conve- niente accrescentar que todos estes doentes forão observados depois de algum repouso completo no leito. Nos 49 que tinhão todos as pupillas contrahidas e que estavão todos em coma com- pleto, forão applicados diversos meios de estimulação para fazel-os dispertar. Dava-se uma pancada no craneo ou sacudia-se um pouco a cabeça, as vezes contentava-se mesmo em puxar-se com força os cabellos ou os pellos. Cinco ou seis minutos depois destas tentativas de dispertar via-se as pupillas reanimarem-se, dilatarem se, chagarem ás suas dimensões normaes, depois exce- dei as e no fim de um tempo variando entre 10 e 30 minutos produzia-se um movimento inverso ; as pupillas voltavão ao seu estado de contracção extrema. De sorte que desde que o doente ficava sentado e completa- mente tranquillo pelo menos durante meia hora em seu leito, reencontrava-se com as pupillas coutractas. Póde-se pois explicar o erro dos outros clássicos ; de facto poderião ter visto pupillas dilatadas, porém, essa dilatacão era accidental e transitória Este phenomeno de dilatacão e con- tracção consecutiva foi observado em 47 doentes, só em $ as pupillas permanecerão em contracção apezar dos mais variados meios de estimulo. Quando elles se restabelecerão, verificou-se que soffriâo de uma iritis antiga seguida de adherencias. De todos estes factos Macewen não tem direito de concluir que te- mos ahi um signal pathognomonico do coma alcoólico ? Nos vários casos de coma que tenho observado, tenho no- tado a contracção das pupillas em alguns dos que entrão para o hospital já em estado de coma. Em um portuguez que occu- pou o leito n. 17 da 4a enfermaria, observei o extrema contrac- ção das pupillas, este mesmo phenomeno também foi observado no preto Germano que actualmente occupa o leito n. 7 da 4a enfermaria, para cujo facto chamei a attenção dos meus colle- gas, Parga Nina e Cupertino que se achavão presentes, tendo o primeiro a lembrança de mandar medir com exactidão a aber- tura pupillar. Accrescento que do mesmo lado em que se achava o doente, (que era no momento da observação o lado mais es- curo da enfermaria) todos os demais doentes forão por mim ob- servados e notei que todos apresentavão nas pupillas um diâ- metro duas e três vezes maior do que o das pupillas do preto Germano. Aguardamos, para a primeira occasião, verificar o phenomeno de dilatacão e retracçào consecutiva, para com a própria experimentação asseverarmos também a completa ob- servação de Macewen, na qual depositamos toda a confiança. Como o alcoolismo chronico é um estado essencialmente as- thenico, a demonstração de asthenia em ura estado pothologico qualquer é já umo probabilidade em favor desta intoxicação. Com este fim, tenho feito experiências injectandoum centímetro cúbico de ether sulfurico nos alcoolistas da enfermaria da aula — 60 - de clinica; e, tenho contado com o máximo cuidado o pulso an- tes da experiência e depois que sinto o cheiro do ether na expi- ração do paciente, e não tenho notado alteração alguma que me indique uma estimulação. Esta falta de excitabilidade do appa- relho circulatório que se demonstra pela nullidade dos effeitos de uma substancia estimulante, pesa em favor do diagnostico do alcoolismo chronico, e é mais um meio de que se pôde lançar mão para facilitar a solução do problema. Tendo escolhido um ponto clinico para nossa prova de doutorado, é o nosso maior empenho mostrar aos nossos juizes de que estamos mais ou menos habilitado para vencer as difii- culdades que, o maior numero de vezes, se encontrão na vida pratica. Assim, quando não nos seja possível chegar directa- mente ao diagnostico do alcoolismo chronico, tenho o recurso da exclusão para o fazer. Ainda uns exemplos tirados da enferma- ria de clinica d'onde temos a honra de ser interno, nos serviráõ paro o nosso tentaraen. No leito n. 18 existe um preto de 30 e poucos annos, de nome João Baptista da Cruz, enviado da enfermaria do Barão de Maceió, para onde foi no dia 12 de Agosto de 82 ; tendo sido transportado poucos dias depois de sua entrada, para 4* enfer- maria de medicina, onde ainda se acha (20 de Abril 83), tra- zendo uma papelleta em que se lê o diagnostico — Erysipella phlegmonosa da perna direita, Sclerose atrophica do figado. O diagnostico foi aceito e confirmado. No leito 24 da mesma enfermaria existe um doente de nome João Hermogenes Ribeiro, de 40 annos de idade, natural da Bahia, também cirrhotico, no qual fiz a Ia parasenthese a pe- dido do Dr. Teixeira Brandão. O primeiro já tem sido operado 8 vezes, tendo eu praticado a maior parte. Vejamos como po- demos remontar a causa da sclerose hepática nestes dous pa- cientes. Limito-me a observar e comparar : O Io tem a denta- dura perfeita, o 2o tem os dentes podres, com falta de todos os incisivos superiores; o fundo da bocca do Io nada offerece de notável, a bocca posterior do 2° tem a uvula deformada, com perda de substancia tonsilar; o esqueleto em ambos nada offe- rece de notável, não se sente deformação óssea; nas partes ge- nitaes do primeiro nada se observa que faça suspeitar ou que lembre a infecção syphilitica, nos órgãos do 2o nota-se cicatri- zes, com uma considerável perda de substancia no lado direito do contorno saliente da glande na extensão de 1 centímetro ; o baço augmentado em ambos, não tem dimensões que faça crer n'uma cachexia paludosa; nenhum tem lesão cardíaca, nem edema dos membros inferiores ; o primeiro tem perturbações gástricas muito accentuadas com uma tal atonia intestinal a ponto de só poder obrar por meio de clysteres, o segundo nada disto ; o primeiro necessita de morphina para dormir: o se- gundo dorme naturalmente ; em ambos a sensibilidade e a mo- — 61 — tilidade nada offerecem de notável; apenas nota-se que o pri- meiro é muito pusillanime : o primeiro diz que custa muito a embriagar-se. o segundo diz que tonteia facilmente. Ora, as causas mais vulgares da sclerose hepática, e reconhe- cidas por todos os observadores, são na ordem de sua maior fre- qüência, o impalludismo, as cardiopathias, a syphilis e o alcoo- lismo chronico. Pelo que observamos e comparamos nos nossos dous doentes, excluímos facilmente as duas primeiras causas. O problema está portanto limitadíssimo. Das duas causas restantes nem uma pôde ser excluída, porque a somma dos phenomenos observados em ambos os casos não pôde absolutamente se refe- rir a uma só causa. Isto posto, vejamos a quem compete uma e outra. A syphilis explica bem os phenomenos apresentados por João Hermogenes, e a sorte fatal de João Baptista é irrefutavel- mente o alcoolismo chronico. • — 62 — CAPITULO III mm imitas n alcoolismo chi ou SUA CONTINUAÇÃO NA ESPÉCIE Nos estados pathologicos adquiridos o principal factor é a adaptabdidade ; nos innatos, porém, é a heriditariedade a maior forca que os produz. A pathogenia do alcoolismo hereditário, simples não é mais do que a continuação da do alcoolismo chronico simples ad querido, em que o factor, adaptabilidade, cede o principal lugar á hereditariedade. Cada adaptação que se realisa é physiologicaraente uma nova experiência que adquirem as cellulas parenchymatosas, que então supportão indifferentes o plasma que as cerca. Esta nova faculdade é morphologicaraente explicada por um allotropismo dos átomos componentes das moléculas das cellulas, determi- nado como já se disse) pela influencia prolongada do plasma alcoolisado. Comprehende-se facilmente que para a conservação deste novo modo de ser no mesmo individuo, basta dar-se a pro- liferação cellular : herdando 'como normalmente) as cellulas filhas as propriedades das cellulas mães, que se prendem á uma modificação de estructura que se tornou permanente pela perti- nácia do meio. Porém para explicarmos a continuação deste allotropismo na espécie ou na descendência, somos obrigados a appellar para uma importantissicia propriedade geral da ma- téria organisada—a memnrii, sem a qual não podemos compre- hender a differenciaçso dos tecidos na evolução embryologica para a divisão econômica dos processos vitaes Em uma vista physiologioa geral quem diz memória diz con- servação, e a nossi conservação physiologica individual liga-se immediatamente á reprodução cellular. A evolução embryolo- gica não desvia as tendências das moléculas do spermatozoide, como a solução não faz esquecer a um sal seu typ» de crystali- sação. As diferentes fôrmas da memória cerebral ou psychica estão justamente ligadas á intensidade da modificação soffrida - 63 — pela associação dynamica das cellulas nervosas. A memória consciente, que é mais ou mt nos fugitiva, é devida a uma mo- dificação também transitória das cellulas nervosas; ao passo que o automatismo ou memória inconsciente se prende a uma modificação persistente, no individuo, como na espécie, das maleculas das cellulas çerebraes. Considerando, como com razão quer E. Haeckel, a heredih riedade, como a memória incon- sciente das moléculas organcas vivas (plastidulosi, vemos que os estados mórbidos curaveis não podem ser transrnittidos á prole ; por isso que as modificações soffridas pelos tecidos não são tão profundas que se perpetuem pela reproducção cellular. Portanto, só podemos affirmar a transmissibilidad de um estaco á descendência, quando a causa mórbida tem firmado a diathese com um allotropismo dos elementos anatômicos. O facto da herança, que é hoje universalmente aceito, nunca deve ser confundido com a força que o determina. Uma simples cocção, por exemplo, é bastante para anniquillar a hereditarie- dade nos ovos e nas sementes, *em a qual não ha reproducção possível. Este poder reproductivo, que uma simples cozedura anniquilla, se conserva por longo tempo nos ovos, e por annos, nas sementes vegetaes- A esterilisação das sementes pela cocção mostra claramente que a faculdade reproductiva se liga a um estado molecular que mudou pelo facto do calor. O poder repro- ductivo das sementes não é mais do que a memória morpholo- gica dos typos paternos. Vê-se, pois, que a memória a heredi- tariedade, a reproducção e portanto a nutrição, são phenomenos co-relativos, simultâneos; um não pôde se apresentar sem os outros, e em nada importa a ordem. A transmissibilidade das affecções pela intoxicação só é possí- vel no estado chronico da mesma intoxicação. Porque no estado agudo as modificações cellulares não se achão aiiida essencia- lisadas ; isto é, não são tão profundas a ponto de se constituí- rem em um novo modo de sêr das cellulas. As propriedades das cellulas são de duas origens : Propriedades impostas pelo meio em que vivem, e as'pro- priedades essenciaes, as quaes representão a somma de todas as adaptações realisadas na espécie transmittidas pela hereditarie- dade. As primeiras propriedades cessão logo com o meio, as segundas só com a morte das cellulas. As propriedades essen- ciaes são verdadeiras memórias organisadas das profundas mu- danças operadas na espécie, e são as únicas que têm direito de representação no spermatozoide. Para que uma propriedade imposta pelo meio possa ser representada no óvulo humano é mister que ella se tenha essencializado pela pertinácia do pró- prio meio. E' pois sem fundamento a asserção de que a copula durante o estado de embriaguez, pôde dar origem a uma prole soffredora. E' possível o facto, e eu o acceito, não como tendo -64- sido causado pela embriaguez, mas como uma conseqüência do alcoolismo chronico confirmado As conseqüências mediatas mais aproximadas do alcoolismo chronico simples é a dipsomania essencial e a paralysia geral essencial ou indirectamente alcoólica. Na ordem, na co-existen- cia e na fôrma destes dous phenomenos mórbidos, tenho a prova mais eloqüente da herança alcoólica, onde claramente se retrata a physionomia paterna do alcoolismo chronico adquirido. Na fôrma adquirida ou paterna, a dipsomania marca a época do allotropismo cellular on afixação morphologica da diathese. EUa divide a intoxicação allcoolica era dous grandes períodos : 1o, período das manifestações dynamicas ou período dyscrasico ; 2U, período das manifestações staticas ou período cachetico. Na herança, o grande período das manifestações dynamicas é muito rudimentar; elle prorompe pela dipsomania como se vê das palavras autorisadas de Augusto Voisin : « Un fait qui s'observe fréquemment à Ia période prodomique de Ia paralysie general, c'est 1'exagération dans les besoins de boire et de raanger ; les individus raangent comme quatre; c'est une expression qu'ils emploient souvent; et leur appetit pour les beissons excitantes est en raport, il atteint même les proportions d'une véritable dipsomanie, ils peuvent même devenir alcoolisés (Voisin, Traité de Ia paralysie general de alienes, pag. 12). E. Gendron, depois de um estudo minucioso e prudente so- bre 31 observações insertas em sua these inaugural de 1880, chega ás seguintes conclusões : O alcoolismo não se extingue com o individuo que o adquire, mas se transmitte á seus descendentes sob fôrmas múltiplas, a saber: 1.° Tendência a beber licores fortes. 2.° Convulsões nas crianças determinadas pelas mais leves excitações. 3.° Asymetria do craneo e microcephalia. 4.° Enfraquecimento do desenvolvimento geral do indivíduo, ou revestindo a forma hemiplegica. 5.° Intelligencia fraca e idiotia. 6.° Perversidade e crueldade precoces. 7.° Tendência á loucura e á mania. 8.° Tremores principalmente dos membros superiores. 9.° Formigamentos e picadas lembrando as do alcoolismo agudo. 10.u Perturbações gástricas. 11.° Vertigens e epilepsia. 12.° Freqüência de morte dos recém-nascidos, ou em tenra — 65 — THERAPEUTICA A therapeüüca do alcoolismo, como a de todas as moléstias que se transmittem á geração, só pôde ser realizada efficazmente com o auxilio da sociedade inteira. Mesmo quando a medicina tivesse o poder de reintegrar as propriedades normaes dos pa- rencnymas lesados pela intoxicação chronica, isto não seria bastaüte para garantir á humanidade postera de um novo pec- cado original, o alcoolismo paterno, que se poderia transmittir antes que a sciencia medica lhe tivesse cortado o fio. No período theocratico, em que se temia não só a morte do corpo, mas a morte d'alma, o pleno conhecimento da influencia do moral sobre o physico e as conveniências econômicas e so- ciaes, obrigando o exercício duplo da medicina e da religião, facilitavão de alguma sorte o tratamento e augmentavão um tanto a efficacia dos poucos meios therapeuticos de que dispu- nhào. Como o inferno então tinha grandes vallas, a esphera therapeutica da alma foi se dilatando tanto que, na idade média, apenas deixou espaço para um granulo homcepathico na Alle- manha, e, obstruindo o resto do infinito, forçou a innocente me- dicina ao limbo, onde por algum tempo ahi ficou espectante. A reacção não tardou : a medicina rediviva, mas isolada, continua a trabalhar em prol da humanidade I Os grandes fossos cavados nos nossos cemitérios pela syphilis e suas congêneres, pelo impaludismo e pelo alcoolismo, que uni- dos tentão transformal-os em infernos das gerações futuras, a medicina só não os pôde transpor, e, receiosa de sua antiga al- uada, pede auxilio á jurisprudência e aos governos para a reali- zação desta importante empreza em beneficio dos povos. Limitando o nosso assumpto ao alcoolismo, pedimos ao go- verno o augmento dos impostos sobre as bebidas alcoólicas; o que é muito praticavel no estado actual da nossa sociedade, on- de não ha ainda muitos proselytos. Que a embriaguez, consi- derada como um ataque ao bem estar futuro da espécie humana, seja severamente punida. Que quem fornecer álcool em dose embriagante esteja no caso de quem concorre para um envene- namento mais grave do que pelas substancias havidas por tóxi- cas ; pois, neste ultimo caso, a lesão é individual, ao passo que no primeiro caso o ataque se estende á prole. Que se prohiba o casamento aos bacchantes, para que não dêem origem a uma descendência soffredora; para a diminuição dos loucos; dos N. 1 9 - 66 — idiotas e principalmente dos malvados: pois é notório que a crueldade allia-se muita vez á embriaguez, e esta encobre aquel- la (Nero, Alexandre da Macedonia, etc). As estatísticas provão que o maior numero de malvados são filhos de alcoolistas. Os impostos sobre licores espirituosos são tantos em Nova York que, no Bowery, avenida onde tudo se compra barato, um pequeno calix de cognac custava, ha 10 annos passados, um quarto de dollar (500 rs.); coma seguinte particularidade:— Na licença caríssima, que habilita o negociante a vender lico- res, nào se incluem os domingos. De sorte que, ou elle tira nova licença, Sunday licence, por alto preço, para vender bebidas aos domingos e, nesta hypothese, as vende muito caro, ou, com a licença commum, fica privado de vendel-as justamente nos dias preferidos para a crápula. E, assim, o fisco e as numerosas so- ciedades de temperança — que aproveitão propositalmente os domingos para a propaganda moralisadora, por meio de pam- phletos, etc, que se distribuem a mãos largas pelas esquinas— conseguem attenuar muito a embriaguez, que começou a ter grande voga depois da independência. A acçáo do governo sobre a saúde e o bem publico, em Nova York, onde podemos affirmar, é tão grande, que chega a ponto de prohibir pela policia a entrada de rapazes de 15 annos, mais ou menos, em casas suspeitas, e de não admittir que mulheres publicas morem nos quarteirões das ruas, em que se achão as escolas primarias. Os effeitos do alcoolismo chronico no individuo que o adqui- riu náo estão sugeitos a um tratamento especial. Todavia nos casos de delírio, por falta do estimulante habitual, as poções alcoolisadas dão excellentes resultados. A abstinência forçada em que se acha, nos hospitaes, o alcoolista com uma complica- ção qualquer, e o estado asthenico do seu organismo, pertur- bando de alguma sorte o seu restabelecimento, exigem muitas vezes o emprego do álcool para facilitar a cura. Nestes casos, nunca devemos dar um licor puro, preferimos e ■ aconselhamos o leite com cognac. Para as perturbações gástricas; os tônicos, os alcalinos taes como, a magnesia fluida de Murray, a quassia e a calumba. Luton preconisa muito a strychnina no tratamento dos effeitos do alcoolismo chronico em geral, e até certo ponto justifica-se este seu exclusivismo. Nos casos de paralysia, o phosphoro, o oxydo de zinco, phosphureto de zinco. Nas excitações cerebraes, o chloral, a morphina, etc. Em summa, cada symptoma con- stitue uma indicação especial. PROPOSIÇÕES SCIENCIAS ACCESSORIAS CADEIRA de chimica medica e mineralogia AZOTO I 0 azoto ó um gaz que constituo os quatro quintos do ar atmos- pherico, onde elle representa um vehiculo inerte do oxigeno como principio activo. n O seu poder chimico-dynamico não está bem conhecido, o que explica a dissenção entre os chimicos de o considerarem uns tria- tomico, outros pentatomico. iii Nas condições normaes, não se combina directamente com os outros elementos, e ó com razão considerado como tendo pouca força de affinidade. IV A presença do azoto em um composto é signal de instabilidade chimica. v O poder absolutamente explosivo das polvoras é sanccionado pela presença do nitrogeno. vi A instabilidade dos phenomenos vitaes se ligão de alguma sorte aos deslocamentos do azoto nas moléculas vivas. Vil O azoto não é comburente nem combustível. - 68 — vin Gomo um corpo de atomicidade impar, sua molécula ó represen- tada por dous centros de attracção. IX Esta condição é indispensável para se explicar os desdobramen- tos de uma molécula dos compostos oxigenados, em presença d'agua, em outros dous corpos também azotados. x Para se obter o azoto, em um estado mais ou menos puro, basta fixar o oxigeno do ar preso em uma campanula, sobre água, no phosphoro; o qual ao estado de anhydro phosphorico dissolve-se n'agua, constituindo-se em ácido metaphosphorico. XI O azoto é um gaz permanente (?) incolor, inodor, insipido e de uma densidade igual a 0,972. XII Inspirado em estado de pureza, elle suffoca promptamente os animaes, sem, comtudo, exercer uma acção deletéria. SECÇÃO DE SCIENCIAS CIRÚRGICAS CADEIRA DE ANATOMIA TOPOGRAPHICA E MEDICINA OPERATORIA EXPERIMENTAL DAS CDITIU-IlOlGACDES DA JUSSTIUSli CI1UKG1CA i Em geral, nem um estado contra-indica absulutamente a anes- thesia. n Os aneslhesiados morrem em geral por syncope, por asphyxia ou congestão cerebral. 111 Todo o estado iudividual que predispuzer a syncope, e asphyxia e a congestão cerebral exige portanto alguma cautela na anesthe- siacão. IV Isto posto, a pneumonia dupla contra-indica a anesthesia. v Na degenerescencia gordurosa do myocardio não devemos anes- thesiar. vi As contra-indicações da anesthesia nas operações da cavidade bucal desapparecerão com a descoberta do apparelho de Tren- delemburg. VII A efficacia e possibilidade da anesthesia local dispensão a anes- thesia geral. VIII O estado de colapso contra-indica formalmente a anesthesia. IX A infância não impede absolutamente a anesthesia. x A anesthesia levada até a resolução muscular não tem acção sobre as fibras lisas. XI O trabalho do parto não impede por motivo algum a anesthesia. XII A plenitude do estamago constituo um obstáculo á anesthesia. SECÇÃO DE SCIENCIAS MÉDICAS CADEIRA DE MATÉRIA MEDICA E THERAPEUTICA, ESPECIALMENTE BRAZILEIRA I 0 principal agente dos licores espirituosos é e álcool ethylico. n A acção physiologica e therapeutica dos licores é a resultante das influencias parciaes dos seus variados componentes. hi A acção dos licores alcoólicos depende muito da dose e da pro- porção de seus princípios coastituiates. IV Nos effeitos finaes do licor, tomão grande parte as essências que o acompanhão. v O álcool isoladamente não tem acção alguma reconstituinte. vi As aguardentes em pequena dose excitão as funcções digestivas e estimulão o organismo. VII A cessação ou diminuição do appetite, sobrevindo algum tempo depois da ingestão do álcool, é apeuas uma reacção nervosa. VIII A conseqüência das repetidas excitações alcoólicas é uma as- thenia. IX Na acção physiologica dos alcoólicos distingue-se perfeitameute dous tempos: Io, período de excitação ; £% período de depressão. x A depressão alcoólica está na razão directa da dose ; a qual pôde ser de ordem que só produza depressão. XI Nos estados asthenicos, podemos tirar proveito therapeutico do primeiro tempo da acção do álcool. XII Pela depressão que produz em altas doses, o álcool tem sido empregado nas hyperthermias. i||ijjotmlte Jljtf útfemi Fauiem vini merio potio solvit. ii Potu quam cibo refíci proclivius est. in Ex multo potu rigor et delirium, malum, (Sect. II. Aph. 21°). (Sect. II. Aph. 11«). (Sect. VII. Aph. 7° IV Anxietudinem, oscitatiouem, horrorem, vinum cequali aqua temperatura epotum solvit. fSect. VII. Aph. 56»). Urina3 stillicidium. stran^uriam vocant, et meiendi difficultatem, vini meri potio et venae sectio olvit. Secanda autem sunt inte- riores, (Sect. VII. Aph. 48»). VI Si ebrium quempiam vox deficiat derepente, convulsus mori- tur, nisi eum febris prehendat aul qua hora crápula solvi solet ad vocem redeat. (Sect. V. Aph. õ°). Esta these está conforme os Estatutos. Rio de Janeiro, 24 de Abril de 1883. 0Í)^.. ^Caetano tle cJDriwieú/a* \