FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO 
THESE 
DO 
Dr* Francisco Coelho! Gomes 
RIO DE JANEIRO 
Typ. d.e G-. Lèuzinger <fe ITillios, Ouvidor 31 
1883 THESE THESE 
APRESENTADA Á 
FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO 
I?m 29 de Setembro de 7883 
E 
DEFENDIDA A 13 DE DEZEMBRO 
(SENDO APPROVADA COM DISTINCÇÂO) 
POF^ 
Francisco Coelho Gomes 
NATURAL DO RIO GRANDE DO SUL 
DOUTOR EM MEDICINA PELA MESMA FACULDADE 
EX-INTERNO, POR CONCURSO, DA CLINICA OPHTHALMOLOGICA DA FACULDADE 
DE MEDICINA DA CÔRTE 
DISSERTAÇÃO 
CADEIRA DE CLINICA OPHTHALMOLOGICA 
ESTUDO CLINICO DA CONJUNCTIVITE GRANULOSA 
PROPOSIÇ0ES 
CADEIRA DE CHIMICA ORGANICA 
ATROPINA 
CADEIRA DE ANATOMIA TOPOGRAPHICA E 
MEDICINA OPERATÓRIA 
ESTUDO CRITICO DOS TRATAMENTOS EMPREGADOS CONTRA OS TUMORES DO SEIO 
CADEIRA DE CLINICA MEDICA 
QUAL 0 TRATAMENTO QUE MAIS APROVEITA NOS CASOS DE ANEURISMAS 
DA AORTA? 
RIO DE JANEIRO 
Typ. de 6. Leuzinger & Filhos, Rua do Ouvidor 31 
1883 FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO 
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iV. B. — A Faculdade não approva nem reprova as opiniões emittidas nas theses que lhe são apresentadas A’ MEMÓRIA 
DE MEU EXTREMOSO PAI 
e 
DE MEUS QUERIDOS IRMÃOS 
Saudade eterna. A MINHA ADORADA MÃI 
A MEUS IRMÃOS 
AO MEU CUNHADO 
A MEUS PRIMOS E BONS AMIGOS 
Lniz Gonçalves de Azevedo 
«Toaqnim Teixeira da Costa Leite 
e suas Ex.”“ familias. 
Gratidão eterna. 
AOS MEUS PARENTES AMIGOS 
AOS MEUS SINCEROS AMIGOS 
AO MEU MESTRE E AMIGO 
0 Ex.mo Sr. Dr. Hilário Soares de Gouvêa. 
Homenagem á sciencia e gratidão. INTRODUCÇÂO 
A conjunctivite granulosa também é conhecida sob os nomes 
de granulações da conjunctiva, trachoma, e em uma epocha muito 
mais remota, a denominavam de ophthalmia egypcia, ophthalmia 
contagiosa dos exercitos, etc., etc. 
Esta moléstia chamou a attenção pela primeira vez em 1791, 
epocha em que o exercito francez desembarcado no Egypto foi 
por ella atacado. 
Mais tarde foi por elle levada para França, ahi apparecendo 
sob a fórma de uma grave epidemia, passando em seguida ao es- 
tado endemico. Propagou-se também até a Bélgica, onde grassou 
com grande intensidade nas fileiras do exercito, produzindo estragos 
incalculáveis. 
A devastação foi tão considerável, que em 1833 o governo 
Belga nomeou uma commissão dos vultos mais eminentes da classe 
medica, com o fim de estudar cuidadosamente o mal. 
O seu apparecimento não limitou-se sómente a estes pontos; 
extendeu-se dentro de pouco tempo por toda a Europa. Os exér- 
citos eram as maiores vietimas da conjunctivite granulosa. 
O desenvolvimento da conjunctivite granulosa entre nós, 
coincide com a importação dos infelizes Africanos, parecendo por- 
tanto ter vindo junctamente com elles. 
Em 1798, entre outras epidemias apontadas pela commissão 
de médicos mais distinctos desta cidade, encarregada de estudar 
as moléstias epidemicas do Rio de Janeiro, figura entre as de 
sarampão, variola, sarna, etc., a de graves ophthalmias nos depositos 
de Africanos do Vallongo, que se propagava pela cidade, levada 
pelos escravos alli comprados. 
Õ440 1 2 
Depois desta data, varias outras epidemias appareceram nas 
epochas da maior actividade do trafico; sendo que as mais notá- 
veis, foram as de 1831 e 1846, que fizeram grande numero de 
victimas. 
Tudo indica que estas conjunctivites epidemicas, eram con- 
junctivites granulosas. 
Depois do appareciinento desta moléstia na Europa, foi que 
importantes estudos começaram a ser feitos, com o fim de des- 
cobrir-se a sua origem, natureza e o meio de combatel-a. 
Sobre estes pontos em questão, reinou durante muito tempo 
grande duvida e confusão; hoje porém, graças á alguns vultos 
eminentes da sciencia, como Sattler, Iwanoff e outros, parece que 
a questão, se não está de todo resolvida, ao menos o está em 
grande parte. 
Discutiremos cada um destes pontos interessantes nos capitulos 
competentes. 
Para marcharmos de accôrdo com o enunciado do nosso ponto, 
occupar-nos-emos em um primeiro capitulo da descripção da mo- 
léstia e sua marcha; procuraremos depois differençal-a de outras 
com que se possa confundil-a, e em seguida estudaremos seu 
prognostico; terminado isto, discutiremos a parte anatomo-patho- 
logica e depois as causas capazes de produzir as granulações. 
Concluiremos a nossa tarefa com o tratamento. Nesta ultima 
parte faremos destacar o jequirity, medicamento nacional e muito 
recentemente empregado, e a quem está reservado na therapeutica 
ocular um pedestal de gloria. DISSERTAÇÃO DESCRIPÇÃO 
Grande confusão ainda reina na descripção desta moléstia. 
Quasi todos os antliores apresentam divisão diíferente. 
Uns têm dividido a conjunctivite granulosa em granulações 
vesicidosas e carnudas. Outros em secretantes e não secr et antes. 
Têm ainda outros a descripto sob as denominações de granu- 
lações miliares, papillares, avelludadas, fungosas, molles, duras, folli- 
culares, etc., etc. Finalmente tem-se ainda dividido em trez periodos: 
agudo, super-agudo e chronico. 
Por este sem numero de divisões vê-se a anarchia que existe 
ainda neste ponto da patliologia ophthalmologica. 
Como E. Meyer dividiremos a conjunctivite granulosa em 
aguda e chronica. Esta é a que parece melhor se adaptar á obser- 
vação clinica. 
de Wecker em seu tratado de ophthalmologia adopta a 
classificação de Saemisch, descrevendo o trachoma como a unica 
forma da verdadeira granulação. Não consideramos o trachoma 
como uma entidade mórbida, mas sim como uma phase da mo- 
léstia, isto é, como a representante da chronicidade, da indolência. 
Saemisch, de Wecker e outros, que excluem a granulação 
aguda, procuram mostrar a diíferença que ha entre ella, que dizem 
ser verdadeiros folliculos, e o trachoma. 
Não contestamos esta diíferença porque admittimos as pliases. 
/ 
E certo porém que o nome de granulações veio dos folliculos ou 
pequenos grânulos, que se mostram na conjunctiva, quer no estado 
agudo, quer no chronico. 
Conjunctivite granulosa aguda.— Observando um doente de 
conjunctivite granulosa, e interrogando-o sobre os seus soífrimentos, 
ouvimol-o queixar-se de sensação de corpo estranho e de fortes 6 
dores no olho, qne se propagam para a fronte e a metade da cabeça. 
A primeira manifestação da moléstia é uma considerável in- 
jecção, não só do tecido conjunctival como também do sub-con- 
junctival. As palpebras apresentam um edema bastante considerável. 
Esta injecção não se limita só a invadir a eonjunctiva pal- 
pebral, mas ataca também a bulbar, prolongando-se até o limbo 
conjunctival. 
Quando isto acontece, vemos a cornea completamente cercada 
por este tecido conjunctival fortemente edemaciado, e se apresen- 
tando como se estivesse incravada no seu centro. 
Se voltarmos as palpebras, notaremos a vascularisação conside- 
ravelmente desenvolvida. A mucosa torna-se escarlate, túrgida e 
coberta de papillas pouco proeminentes, como se nota na conjunctivite 
catarrahal e purulenta. Esta intumecencia resulta duma leve tran- 
sudação serosa, e do desenvolvimento do systema vascular da 
eonjunctiva. 
Examinando attentamente, veremos entre estas papillas mode- 
radamente desenvolvidas, pequenas manchas arredondadas e es- 
branquiçadas, cuja grandeza varia e que se tem comparado a uma 
cabeça de alfinete. 
Elias se elevam muito pouco acima da eonjunctiva. Para con- 
seguirmos vel as de um modo mais facil e patente, basta intro- 
duzirmos debaixo da palpebra superior virada a ponta de um dos 
dedos no fundo de sacco, e com os outros com que sustentamos 
a palpebra, a comprimiremos de encontro ao que está por baixo. 
Produzimos deste modo uma ischemia na palpebra, e observamos 
então perfeitamente as taes manchas. 
Estes grânulos que acabamos de descrever, são o caracter 
pathognomico da conjunctivite granulosa aguda. 
Nesta phase existe ordinarimente uma secreção pouco abun- 
dante, que póde por uma eircumstancia qualquer tornar-se muito 
intensa e servir de meio para atalhar a moléstia. 
Os doentes conservam constantemente seus olhos fechados, por 
causa da photophobia que acompanha esta aífecção. Ha um lacryme- 
jamento constante, e quando se separam as bordas palpebraes, que 7 
se aeham fortemente applieadas uma contra a outra, vê-se correr 
uma certa quantidade de liquido lacrymal accumulado dentro das 
palpebras, e que os doentes dizem produzir a mesma sensação que 
um liquido quente. 
Já dissemos que havia nesta moléstia uma forte hyperhemia 
generalisada. Esta generalisação tende sempre a progredir. 
A cornea apresenta quasi sempre diminuição no seu brilho, 
ás vezes mesmo desfraldada do seu epithelio, nos pontos em con- 
tacto mais constante com a conjunctiva alterada; e em muitos 
casos verdadeiros pannus, mais ou menos vascularisados. 
Para observarmos este phenomeno não precisamos sempre de 
recorrer á illuminação obliqua, aliás o melhor meio de o fazer, pois 
que ha occasiões em que os vasos são tão desenvolvidos, que se obser- 
vam á distancia; não são raros estes casos, que já temos tido 
occasíão de ver em numero considerável. 
Recorrendo também á illuminação obliqua, podemos ver opa- 
cidades sub-epitheliaes, e além disto, notam-se nas partes periphericas 
da cornea pequenas perdas esparsas de epithelio, que não tardam 
muito a se desenvolver e se transformar em ulcerações de dimensões 
variaveis, que adquirem logo uma vascularisação particular. 
A conjunctivite granulosa aguda pode terminar de duas ma- 
neiras : ou as granulações vão pouco a pouco desapparecendo, sem 
deixar vestígio algum depois de sua cura completa; ou pelo con- 
trario, vão tornando-se de mais a mais accentuadas, passando ao 
estado chronico ou trachoma. 
Conjunctivite granulosa ciironica ou trachoma. — É esta forma 
da conjunctivite granulosa que ordinariamente é conhecida sob a 
denominação de trachoma, que exprime como já dissemos, a idéa 
de chronicidade. 
O trachoma percorre differentes phases que á primeira vista 
poderiam parecer outras tantas formas de moléstia; entretanto um 
observador experimentado não poderá enganar-se. Estas phases não 
são mais do que o resultado da evolução da mesma moléstia, com- 
binando-se com diversos gráos de inflammação. 8 
Trez são as phases que ordinariamente percorre o trachoma; 
delias nos occuparemos successivamente. 
Na primeira, a que alguns têm denominado de granulações 
simples, os phenomenos inflammatorios são muito pouco sensíveis, 
e algumas vezes faltam completamente durante toda a evolução 
mórbida. 
Torna-se desta maneira pois, imperceptivel, a evolução do mal 
que apresenta-se insidiosa e traiçoeiramente. Muitas vezes os olhos 
se acham atacados pelas granulações, e os indivíduos de nada se 
queixam, a não ser, o que póde acontecer, um certo incommodo sob 
a influencia da luz, ou de certos outros agentes mais ou menos 
irritantes, taes como o pó, a fumaça, etc. 
A evolução póde tornar-se muito mais traiçoeira nas pessoas 
que têm as palpebras muito laxas, em que as granulações podem 
dcsenvolver-se á vontade, se denunciando sómente em um estado 
de exuberância exagerado. 
A secreção que existe nesta pliase é quasi nulla, e apparece 
quando os olhos se conservam durante muito tempo fechados. Pela 
manhã encontram-se as palpebras ligeiramente colladas. 
A palpebra superior ressente-se de uma certa difficuldade em 
levantar-se, e a inferior não adapta-se tão perfeitamente ao globo 
do olho como de ordinário sóe acontecer. Por causa da diminuição da 
fenda oculo-palpebral determinada por este mechanismo, os olhos 
trachomatosos parecem menores. 
As granulações apparecem, ora isoladas, ora em grupos irre- 
gulares, e tomam o aspecto de tapioca cosida. Se desenvolvem com 
mais intensidade sobre a conjunctiva do tarso superior, e muito 
raramente sobre a bulbar, proximo aos ângulos dos olhos. 
Durante muito tempo passa o doente sem que phenomeno 
algum lhe denuncie esta terrível moléstia ; quando, porém, as gra- 
nulações têm attingido a um alto gráo de desenvolvimento, as con- 
junctivas palpebral e bulbar se vascularisam mais ou menos , e do 
limbo conjunctival partem finos vasos que vão ter á camada sub- 
epithelial da cornea, formando desfarte um pannus, que constitue 
uma complicação constante do trachoma. 9 
/ 
E neste estado adiantado da moléstia, que os doentes quei- 
xam-se de peso, ardor, sensação de corpo estranho muito desagra- 
dável, e que recorrem aos soccorros da sciencia. 
Logo que as granulações têm chegado a um certo gráo de 
desenvolvimento, a conjunctiva se resente e se inflamma; as pa- 
pillas se intumecem e tornam-se proeminentes. Com esta meta- 
morphose da conjunctiva, termina a primeira phase e começa a 
segunda, que tem sido chamada granulações mixtas de Stellwag. 
Nesta segunda, já não encontramos sómente as granulações 
trachomatosas, mas ao lado delias vemos papillas bem desenvol- 
vidas, constituindo a conjunctivite papillar de alguns authores. 
Quando se falia de granulações mixtas, não quer dizer que 
as granulações simples tenham rigorosamente precedido áquellas. 
Mais vezes acontece que as granulações são acompanhadas desde 
o começo do seu desenvolvimento de uma fraca inflâmmação, que 
traz como consequência a intumecencia das papillas hypertrophiadas, 
que se misturam com as granulações. 
Ainda é nesta phase que observamos que as granulações che- 
gando a um certo gráo de desenvolvimento, se cobrem de uma 
rede vascular mais ou menos pronunciada, conforme a intensidade 
da moléstia, e formam deste modo um grande numero de proemi- 
nências vermelhas sobre a mucosa palpebral, e d’ahi se propagando 
sobre muitos outros pontos, taes como a dobra conjunctival, a 
conjunctiva bulbar, caruncula e a prega semi-lunar. Nota se emfim 
neste periodo uma pequena secreção muco purulenta. 
A terceira phase é caracterisada pela invasão de novas gra- 
nulações, que vêm reforçar as primeiras que já tem perdido sua 
forma redonda bem circumscripta, tornando-se diffusas, e se dis- 
tinguindo com uma certa difhculdade das papillas, sómente por 
uma cor mais clara. 
Ha tal intumecencia e achatamento das papillas, que fazem 
corpo com as granulações. Depois desta fusão das papillas e gra- 
nulações, não se pode mais distinguil-as no meio de massas ver- 
melhas e gelatinosas ou carnudas, que se observam na conjunctiva. 
As granulações e papillas tomam um aspecto muito variavelj 10 
algumas vezes são excrescencias pediculadas, cujos pediculos são 
largos, e se vão perder no meio da mucosa degenerada. 
Estas excrescencias por vezes tem a forma cónica ou polyposa, 
e formam vellosidades isoladas ou em filas separadas por sulcos, 
que se tornam visiveis pela distensão da conjunctiva. Outras vezes 
esta mucosa toma o aspecto de fungosidades vegetantes. As granu- 
lações perdem o seu aspecto acinzentado, que vai ser substituido 
pelo vermelho mais ou menos intenso. As papillas tomam a cor 
vermelha acinzentada, assemelhando-se deste modo, muitíssimo ás 
granulações. Em taes condições é muito difficil senão impossivel a 
distincção entre si. 
A conjunctiva sofíre uma infiltração lymphoide, que attinge a 
proporções taes, que as palpebras augmentam notavelmente de es- 
pessura. A superfície interna torna-se lisa, naturalmente pela pressão 
das palpebras, que são mantidas sobre o globo ocular. 
Desde que observamos, como acabamos de expor, alterações pro- 
fundas, quer para o lado das granulações, quer para o das papillas, 
devemos suppor que a mucosa onde estes elementos estão implan- 
tados, é também campo de alterações. Estas consistem em dege- 
nerecencia fibrosa, atrophiando-se depois e deixando como conse- 
quência um tecido cicatricial muito consistente, de uma cor branca 
acinzentada, lusidio e privado de vasos. 
Estas cicatrizes consecutivas ás granulações são de uma grande 
importância no estudo das complicações corneanas, que existem 
no trachoma. São companheiras inseparáveis das granulações chro- 
nicas ou trachoma, e como se desenvolvem com mais frequência 
na conjunctiva da palpebra superior, é ahi que encontra-se maior 
numero de cicatrizes, que extendem-se até o fundo de sacco. 
Estas cicatrizes são mais ou menos parallelas á borda livre 
do tarso, e se prolongam até aos ângulos dos olhos. Quando as 
granulações tem sido muito abundantes, as cicatrizes resultantes são 
tão fortes que produzem verdadeiros sulcos, também parallelos á 
borda livre da palpebra, levando-a para dentro de encontro ao 
globo do olho, dando desta sorte logar a formação do entropion 
trachomatoso. 11 
Destas cicatrizes longitudinaes partem outras, que se irradiam 
para o fundo de sacco, e produzem tracções sobre a conjunctivá 
bulbar, de modo a fazel-o desapparecer. 
A desorganisação de que é victima o tarso, attinge ás vezes a 
um gráo tão considerável, que póde ser reduzida a uma facha de 
mui pequena espessura. 
MARCHA E TERMINAÇÃO 
Quando nos occupámos, na descripção, com a conjunctivite 
granulosa aguda, dissemos que de dois modos podia ella terminar : 
ou pela cura, ou pela passagem ao estado chronico ou trachoma. 
A primeira hypothese é a que mais vezes tem logar e dentro 
de um periodo pouco longo, que póde ainda ser diminuido, pela 
invasão de uma inflammação muito considerável, que facilita 
a absorpção das granulações. 
Nem sempre esta marcha tão regular dá-se; acontece ás vezes 
que o processo inflammatorio, indispensável para produzir a absorpção 
das granulações, torna-se insuficiente, e então ellas tornam se de 
mais a mais proeminentes na conjunctivá, passando á forma tra- 
chomatosa. 
A conjunctivite granulosa aguda não deixa depois de sua cura 
vestigio algum de cicatriz na conjunctivá. Este caracter distingue 
perfeitamente o periodo agudo do chronico. 
Da exposição que fizemos do trachoma, podemos concluir que 
sua marcha é essencialmente chronica. 
O trachoma desenvolve-se, como já tivemos occasião de dizer, 
de uma maneira insidiosa, e passa no seu começo quasi sempre 
desapercebido do doente. 
Esta marcha chronica e indolente póde muitas vezes ser in- 
terrompida no principio do mal por uma inflammação aguda, que 
perturbando a marcha habitual da moléstia, favorece o seu desappa- 
recimento quasi sempre. O mais commum porem, é seguir a marcha 
chronica e percorrer as diversas phases já descriptas. 12 
* No curso das granulações chronicas vemos que as transforma- 
ções por que passam, não são uniformes, isto é, que, ao passo que 
um certo numero delias chega á phase final, outras conservam-se 
em sua phase inicial; de modo que, em uma mesma palpebra obser- 
vamos granulações em via de eicatrisação, ao lado de outras já 
cicatrisadas ; transformação fibrosa da conjunctiva, ao mesmo tempo 
que em outros pontos notamos hypertrophias papillares e nova 
invasão de granulações. 
A marcha do trachoma é muitas vezes interrompida por succes- 
sivas recahidas; de modo que, quando nos parece que o mal vai 
chegar ao seu termo, novo reforço de granulações apparece. 
A eicatrisação é a consequência infallivel e irremediável do 
trachoma. 
DIAGNOSTICO DIFFERENCIAL 
Ila algumas moléstias com que a conjunctivite granulosa póde 
confundir-se, mas felizmente temos caracteres entre umas e outras 
que nos permittem distinguil-as. 
Na forma aguda, a conjunctivite granulosa póde ser tomada 
por uma conjunctivite purulenta; nesta aífecção a injecção con- 
junctival e o desenvolvimento papillar são muito mais pronunciados 
que na granulosa. Além disto a infiltração serosa é menos intensa 
nesta do que n’aquella. 
A secreção também vem em auxilio deste diagnostico ; ella é 
ordinariamente menos exagerada nas granulações agudas, do que 
na conjunctivite purulenta. Acontece porém, algumas vezes que a 
secreção que existe na forma aguda, de ordinário insufificiente a 
produzir a absorpção das granulações agudas, deixando-as passar 
ao estado clironico, exagera-se a tal ponto que é muito difficil 
distinguir-se esta purulencia da de uma verdadeira conjunctivite 
purulenta. 
O ponto capital do nosso diagnostico difíerencial é a pre- 
sença das granulações, que são como já dissemos, pequenas ele- 13 
vações palidas, lenticulares, que são mais abundantes na conjunctiva 
do tarso superior, e alii mais facilmente observadas. Poderia pa- 
recer á primeira vista que existindo as granulações, nenhuma 
confusão mais haveria entre a conjunctivite granulosa e a purulenta. 
Isto não dá-se, porque na conjunctivite purulenta, as papillas se 
hypertrophiam muito, e seriam tomadas por granulações se não se 
examinassem cuidadosamente. 
Encontramos logo diíferença na fôrma das granulações, que 
são arredondadas, semi-esphericas e de base larga, emquanto que 
as papillas hypertrophiadas são mais allongadas. A papilla hyper- 
trophiada é muito rica de vasos que vão até a sua superfície, 
communicando-lhe a cor rubra, que não tem as granulações. Por 
mais descoradas que sejam as papillas nunca attingem a diapha- 
neidade das granulações. 
Finalmente as granulações se desenvolvem nas conjunctivas 
palpebral e bulbar, e também sobre a cornea, emquanto que nos 
casos de conjunctivite purulenta com hypertrophia papillar, encon- 
tra-se esta sómente na conjunctiva palpebral. 
Nos casos de trachoma encontramos sempre cicatrizes; na con- 
junctivite purulenta que tem sido submettida a cauterisações enér- 
gicas, também podemos encontral-as. Quando existem ainda algumas 
granulações, distinguem-se estas por seus caracteres, daquelle es- 
tado cicatricial da conjunctivite purulenta, mas quando observamos 
conjunctivas cicatrizadas e onde a moléstia, que determinou este 
estado tenha totalmente desapparecido, não podemos saber qual foi 
a natureza desta entidade mórbida. 
O catarrho da conjunctiva póde dar lugar a uma hypertrophia 
papillar, que só por grande descuido, poderia ser confundida com 
as granulações. A diíferença entre estas e as papillas são as mesmas 
estabelecidas. 
A conjunctivite granulosa assemelha-se muito á degenerescencia 
amyloide da conjunctiva, mas apezar desta semelhança temos 
caracteres pelos quaes podemos distinguil-a. 
A degenerescencia amyloide é caracterisada por uma hyper- 
trophia da conjunctiva muito considerável, deixando ver nos pontos 14 
doentes uma cor amarellada, diaphana e gelatinosa. Na espessura 
da mucosa doente notam-se massas arredondadas, diaphanas e 
muito semelhantes ás granulações diffusas, onde tenha havido uma 
forte infiltração lymphoide generalisada. 
A conjunctiva atacada de degenerescencia amyloide, apresenta 
uma uniformidade e igualdade admiráveis no seu espessamento, o 
que não se encontra nas granulações. 
Segundo observou Leber, esta massa gelatinosa é coberta de 
uma rede continua de capillares, que podem deixar de existir; 
neste caso esta massa toma o aspecto, como diz (Ettigen, de uma 
camada de cera que tivesse corrido sobre os tarsos, offerecendo a 
mesma consistência que esta matéria. 
Além da regularidade da vascularisação capillar, que cobre 
esta massa gelatinosa, temos aquelle caracter descripto por (Ettin- 
gen, para distinguir as granulações da degenerescencia amyloide. 
Esta tende sempre a se localisar, preferindo a metade superior do 
fundo de sacco e prega semi-lunar; a conjunctivite granulosa pelo 
contrario se generalisa immediatamente. 
As palpebras na degenerescencia amyloide se apresentam 
muito mais intumecidas e duras do que nas granulações; a con- 
junctiva atacada se hypertrophia de tal modo, que pode fazer 
hérnia entre as bordas palpebraes, o que não se observa nas gra- 
nulações. Nestas não se encontra tendeneia á hemorrhagias, que 
existe na degenerescencia, por causa de sua grande vascularisação. 
Finalmente, a conjunctivite granulosa é muito contagiosa, não 
existindo num olho que não passe immediatamente para o outro; a 
degenerescencia amyloide não é contagiosa e se limita quasi sempre 
a um olho não se propagando para o outro. Existe muito tempo 
em tratamento com o nosso professor, uma doente de degeneres- 
cencia amyloide no olho direito, sem que o esquerdo se resinta 
deste mal. 
Vem-nos tirar toda e qualquer duvida sobre a diíferença destas 
duas moléstias, o exame microscopico, que nos demonstra que esta 
degenerescencia amyloide é constituída por uma massa composta 
de uma substancia branca, na qual existem corpúsculos de gran- 15 
deza variavel, de um aspecto luzidio, dando pelo iodo e acido sul- 
furico a reacção dos corpos amyloides. 
Quando se abusa de certos collyrios, principalmente dos de 
atropina e ezerina, apparece uma conjunctivite follicular, que se 
differença da granulosa aguda não só por sua causa, como também 
por sua marcha. 
PROGNOSTICO 
O prognostico desta moléstia é muito variavel. 
Para o fazermos devemos ter em vista o periodo da moléstia. 
Assim, se observarmos um individuo no primeiro periodo, isto é, 
no periodo de granulações agudas, devemos fazer um prognostico 
mais favoravel do que no segundo, pois que no primeiro caso 
termina-se sempre pela cura e sem cicatrisação. 
Deve-se porém, ter em vista combater radicalmente todas as 
granulações, pois uma só que fique dá origem a novas. 
É muito grave o prognostico no periodo trachomatoso, não só 
porque a moléstia torna-se muito pertinaz, como também pelas 
graves alterações que soffrem as palpebras e as corneas, que se 
transformam mais ou menos, e podem ser totalmente destruídas, 
determinando perturbações mais ou menos pronunciadas da visão, 
e mesmo cegueira completa. 
COMPLICAÇÕES 
Não é limitado o numero de complicações que encontramos na 
marcha das granulações. 
As conjunctivas palpebraes, cuja superfície lisa e escorregadia, 
têm como uma de suas mais nobres funcções lubrificar o globo 
ocular e a cornea, tornam-se asperas, se transformando em ver- 
dadeiras lixas, já pela exuberância das papillas, já pelo desenvol- 
vimento das granulações, já finalmente pela formação de cicatrizes ; 
de sorte que longe de preencherem este grato mister, irritam, 16 
limam por assim dizer a superfície da cornea, dando lugar a in- 
flammações com ulcerações mais ou menos extensas. 
Estas ulceraçõos cicatrisando-se, deixam em seguida leucomas 
simples ou adherentes, que representam uma grave complicação, 
pela grande perturbação que algumas vezes produzem na visão. 
No fim de algum tempo apparece uma vascularisação muito 
notável sobre a cornea, sobretudo na sua metade superior. Ha em 
seguida uma proliferação de cellulas epitheliaes, e um grande nu- 
mero de cellulas novas se desenvolve entre a camada epithelial 
e a membrana de Bowman, dando lugar ao pannus. A séde de pre- 
dilecçâo deste, é na metade superior da cornea, e se explica pelo 
desenvolvimento mais considerável das granulações na palpebra 
superior e pelo contacto constante da parte superior da cornea 
com a conjunctiva alterada. 
Sua frequência ahi é tão importante, que sómente pelo pannus 
limitado na parte superior da cornea, póde-se diagnosticar, com 
todas as probabilidades de acertar, uma conjunctivite granulosa. Não 
leva muito tempo limitado neste ponto, propagando-se em seguida 
para todo o resto da cornea, que até então se conservava intacto. 
A resistência da cornea, diminuida em consequência de ulce- 
rações, exsudações inflammatorias, etc., deixa-se levar pela pressão 
intra-ocular e determina staphyloinas. Quando a perda de subs- 
tancia é circumscripta e marcha rapidamente, póde dar-se uma 
perfuração, acompanhada ou não de prolapso da iris. 
Estas desordens para o lado da cornea, não são sómente pro- 
duzidas pelas conjunctivas palpebraes alteradas, mas também pelo 
desenvolvimento de verdadeiras granulações que se formam in-loco e 
se generalisam em toda sua superfície. 
Segundo observações feitas pelo nosso muito distincto pro- 
fessor, o Sr. Dr. Hilário de Gouvêa, em suas lições, frequentemente 
observam-se complicações de irites, nos casos de serias complicações 
corneanas, filiadas, segundo elle pensa, ás affinidades de nutrição, 
que existem entre a cornea e a iris. Estas irites não raramente 
terminam por synechias circulares, quando os mydriaticos não são 
applicados opportunamente. 17 
A conjunctiva é substituida por uma larga cicatriz, que póde 
obliterar os conductos exeretores da mucosa da glandula lacrymal, 
favorecendo desfarte, o apparecimento de um xerosis da con- 
junctiva ocular e da cornea, mais ou menos alteradas em sua con- 
stituição anatómica. 
As granulações são algumas vezes complicadas em sua marcha, 
por um catarrho agudo ou chronico, ou por uma conjunctivite pu- 
rulenta. Apparecem algumas vezes também abcessos na cornea. 
Yamos encontrar repercussão dos effeitos maléficos desta mo- 
léstia, até nos orgâos lacrymaes. As cicatrizes conjunctivaes se 
extendem até a glandula lacrymal, produzindo alterações na elimi- 
nação das lagrimas. 
Sobre as vias lacrymaes ou nas proximidades dos conductos, 
sobre a préga semi-lunar, encontra-se um verdadeiro tecido neo- 
plasico que pelo obstáculo que produz na sucção das lagrimas por 
estes conductos, dá logar a um lacrymejamento constante. 
Uma complicação que se observa bastantes vezes é o desvio 
da borda livre da palpebra, dando logar ao entropion. Algumas 
vezes não ha desvio completo da borda e sim parcial, em conse- 
quência de cicatrisações limitadas. Quando isto acontece alguns 
bulbos pilosos e cilios são desviados, produzindo o trichiasis. 
ANATOMIA PATHOLOGICA 
Sobre a natureza da conjunctivite granulosa, reinavam na sciencia 
e ainda reinam hoje, grandes duvidas, entre os authores, que delia 
se têm occupado. 
Querem alguns que as granulações se desenvolvam á custa 
dos elementos physiologicos da conjunctiva, emquanto que outros 
consideram-na como uma verdadeira neoplasia, e por conseguinte 
inteiramente independente destes elementos physiologicos. 
Dividiremos este capitulo em duas partes ; na primeira, occu- 
par-nos-emos rapidamente do estado pathologico da fórmâ aguda, 
5440-2 18 
que pouco de interessante nos ofíerece; na segunda da chronica, 
que é muito importante. 
Na fórma aguda, notam-se sobre as conjunctivas edemaciadas, 
folliculos lymphaticos mui numerosos. Estes grânulos folliculares 
têm uma superfície lisa, são semi-transparentes e têm uma fórma 
ovalar, de que o grande eixo é parallelo á borda palpebral. A ex- 
tensão destes grânulos é variavel. São dispostos em filas lineares 
que acompanham as pregas da conjunctiva; são achatados, e este 
achatamento é devido provavelmente á pressão da palpebra sobre 
o globo ocular, apresentando-se sob a fórma de manchas esbran- 
quiçadas, arredondadas e ligeiramente elevadas ao nivel da mucosa. 
Estes grânulos folliculares são separados por um involucro 
especial do resto da conjunctiva. São pallidos e desprovidos de vasos. 
Saemisch examinando microscopicamente estes folliculos, notou 
que elles eram formados por um accumulo de cellulas lymphoides, 
dispostas em grupos de 2 a 4 millimetros de diâmetro. 
Neste estado agudo, o exame anatomo-pathologico nos mostra 
que tudo depende dos elementos physiologicos da conjunctiva alte- 
rados. Estes grânulos não são mais do que folliculos lympathicos 
hypertrophiados e fechados. 
Nenhuma modificação encontramos na conjunctiva, depois da 
cura de uma conjunctivite granulosa aguda. Não vemos cicatrizes, 
nem deformações das palpebras, nem tão pouco perturbações phy- 
siologicas da mucosa. 
Feito muito resumidamente o estudo da primeira parte, isto 
é, da fórma aguda das granulações, passaremos ao da segunda, 
que apresenta muitissimo interesse sob muitos pontos de vista. 
Como infelizmente nada temos de pessoal sobre esta parte, 
procuraremos seguir os estudos muito interessantes feitos sobre o 
trachoma por Ywanoff, no Egypto, onde elle encontrou material 
abundante, pois que, ahi pode-se dizer que raro é o cadaver que 
não tenha vestígios de trachoma. 
Ywanoff observou glandulas tubulosas nas conjunctivas destas 
palpebras, na proporção de setenta por cento. O numero e o desen- 
volvimento destas glandulas eram variaveis. 19 
Elias existem em todos os casos pathologicos, e são compa- 
nheiras inseparáveis do trachoma, existindo sempre ao lado das 
granulações, Quando existem cercadas de numerosas cellulas, o que 
póde acontecer, o exame microscopico nos mostra grande analogia 
entre ellas e as granulações. 
Nem todos os authores que se têm occupado deste ponto da 
anatomia pathologica, estão de accordo com Ywanoff, isto é, que 
estas glandulas tubulosas por elle descriptas, não são verdadeiras 
glandulas, mas sim, sulcos profundos formados por papillas hyper- 
trophiadas. Sattler, Horner e outros são desta opinião. 
Nuel compartilha da opinião de Ywanoff; observou estas glan- 
dulas tubulosas na conjunctiva de um doente de sarcoma choroi- 
diano por elle operado. Deu conta destas observações ao congresso 
de Amsterdam. 
Estas glandulas tubulosas são allongadas, revestidas de epi- 
thelio, composto de duas camadas de cellulas redondas, e de cellulas 
cylindricas curvadas superficialmente. 
Nuel diz ter observado no caso por elle examinado, grandes 
cellulas de conteúdo hyalino, e outras menores do que as precedentes, 
cylindroides e contendo elementos granulados. Algumas destas podem 
attingir maior volume que as de conteúdo hyalino, e reverter a 
forma polygonal. 
« O conteúdo das glandulas tubulosas é formado de uma massa 
fmamente granulosa, graxa, com detritos de cellulas, analoga pelo 
aspecto, ás glandulas de Meibomius. Estas glandulas são cercadas 
por grande numero de cellulas lymphoides, que infiltram os tecidos 
visinhos, sobretudo perto do conducto excretor e no fundo da glân- 
dula. Ellas se encontram na camada snb-epithelial de nova formação 
da conjunctiva; sua espessura attinge a do tarso algumas vezes. 
Seu numero é variavel. A superfície da conjunctiva nenhuma alte- 
ração soffre com a presença destas glandulas; o epithelio cobre 
todos os conductos excretores. Levantando-se o epithelio, se des- 
cobre com o auxilio da lente, uratos sob a fórma de pontos, e 
algumas vezes de pequenas fendas. 
O aspecto destas glandulas lembra o das tubulosas, sobretudo 20 
do grosso intestino. Quando existem na conjunctiva, esta é atra- 
vessada em toda a sua espessura por tubos epitheliaes, que se 
mostram perfeitamente circulares por uma secção transversal, o 
que seria muito bastante para se diagnosticar glandulas tubulosas. 
« Negar a natureza glandular dos nossos tubos, diz Nuel, é tão 
arbitrário como contestar a mesma dignidade aos cryptos esto- 
macaes de natureza glandular. Demais, são glandulas secretando 
um producto mucoso.» 
Todos os authores não estão de accordo sobre o ponto de 
partida destas glandulas, isto é, si são elementos de nova formação 
ou se são sómente hypertrophia de formações preexistentes. 
Alguns pensam que estas glandulas existem normalmente na 
conjuctiva. Nuel julga que uma parte do epithelio conjunctival da 
palpebra normal tem o valor de um epithelio glandular, e que a 
causa efficiente desta formação, deve ser procurada nas condições 
mechanicas, estabelecidas pelo enorme desenvolvimento das papillas, 
e partindo dos valles interpapillares muito profundos. 
Iwanoíf nega a influencia papillar no desenvolvimento glan- 
dular, e que tenham um ponto de partida em glandulas preexis- 
tentes ; finalmente diz que apparecem no pannus trachomatoso, o 
que prova sua dependencia intima com o processo trachomatoso. 
« Notou também Iwanoíf sobre a palpebra superior, depressões 
superficiaes da onde todas as camadas epitheliaes desta 
mucosa penetram. As camadas superficiaes do epithelio cylin- 
drico são as mais das vezes modificadas, as cellulas são compri- 
midas e arredondadas; no seu interior achou grandes vesículas 
transparentes, que se reúnem ás vezes em uma maior, repellindo 
o núcleo e deixando o protoplasma de lado. As glandulas são 
cercadas de uma rede capillar. 
Além disto, Iwanoíf encontrou também sobre a conjunctiva 
pequenos kystos, a que elle denominou kystos de retenção. Não só 
elle como Berlin explicam a formação destes kystos no trachoma, 
pela formação de cicatrizes sobre os conductos efferentes das 
glandulas. Ora estas cicatrizes comprimem de tal maneira estes con- 
ductos, que é impossível a eliminação da secreção glandular, que 21 
é retida e accumulada, dando lugar em seguida á distenção da 
glandula, que forma assim o kgsto de retenção. Levantando-se o 
epithelio que reveste estes conductos eíferentes estreitados, se 
mostram debaixo da fôrma de um ponto que não é sempre central. 
O conteúdo varia; apresenta ás vezes grânulos semelhantes pelo 
seu aspecto aos corpúsculos amyloides. Estes kystos soffrem ás 
vezes infiltração densa de cellulas, que lhe dão grande semelhança 
com as granulações trachomatosas. 
Finalmente ainda Iwanoíf descreveu umas glandulas que se 
communicam entre si por, canaliculos que vão a vários pontos e 
são revestidos de epithelio. Estas glandulas tomaram o nome de 
glandulas recticuladas (agminées). 
Quando acontece uma conjunctiva trachomatosa ser atacada 
por uma blenorrhagia, vemos a mucosa infiltrada em toda a sua 
espessura, por cellulas de pus. Quando esta infiltração não se tiver 
dado totalmente, vamos encontrar as cellulas purulentas grupadas 
em redor das glandulas, tendo um ou outro globulo de pus pene- 
trado em sua espessura. 
Com esta invasão de pus, o epithelio que reveste as glan- 
dulas é alterado; as cellulas cylindricas transformam-se em vesí- 
culas, cujos limites não são bem determinados, e que vão occupar 
o interior das glandulas. O epithelio redondo altera-se mais diffi- 
cilmente, dando lugar sómente a subdivisão de núcleos. 
Quando a infiltração é bastante intensa, todo o epithelio é 
destruído ; as glandulas também o são, dando lugar a substituição 
de seu conteúdo por uma massa amorpha com globulos puru- 
lentos. Elias diminuem dentro de pouco tempo e mesmo des- 
apparecem totalmente. 
A granulação trachomatosa fórma uma proeminência na mu- 
cosa conjunctival, continuando por sua base, sem limites precisos, 
com o stroma da conjunctiva. Ella é coberta em sua superfície por 
uma camada epithelial. Sua base é composta de um stroma de 
tecido cellular, que partindo da conjunctiva, vai diminuindo á 
proporção que se approxima da superfície da granulação. 
Este stroma conjunctival desapparece em certo ponto, pi«ra 22 
ser substituído por uma massa de cellulas, que tornam-se de mais 
a mais compactas, á medida que se approximam da superfície, não 
deixando ver no seu interior outros elementos a não ser alguns 
vasos em diversos pontos. Um ou muitos delles partem do stroma 
conjunctival, se dirigem para a granulação, se ramificando até perto 
da sua superfície epithelial. 
Estas cellulas que partem do stroma conjunctival, e que vão-se 
accumular debaixo do epithelio, são arredondadas, e parecem re- 
resultar da diapedese da rede vascular da granulação. O numero 
de cellulas augmenta, á medida que as granulações também aug- 
mentam, e os elementos fibrillares do stroma desapparecem. 
Quanto mais compacta torna-se esta massa de cellulas, menor 
é o numero de vasos, e par conseguinte mais pallida torna-se a 
granulação, chegando mesmo a ficar cinzenta. 
Ha um momento em que as granulações vão diminuindo, e 
então nova invasão de tecido cellular apparece em todos os pontos 
desta granulação em diminuição. E neste momento que o tecido 
de cellulas arredondadas é substituído por um de cellulas muito 
densas, dando lugar desta maneira á cicatrisação. 
As conjunctivas, como já dissemos na descripção, apresentam 
cicatrizes em todas as direcções, que em um estado muito adian- 
tado da moléstia, quasi que substituem a mucosa. As alterações mais 
notáveis são na palpebra superior. 
Os tarsos também apresentam alterações anatomo-pathologicas, 
de que a atrophia é a principal. Quando as conjunctivas tem uma 
grande abundancia de granulações, soffrem uma infiltração lym- 
phoide, que se propaga até as camadas do tarso mais vizinhas da 
mucosa infiltrada. 
Saemisch demonstrou que se desenvolvem no tarso focos de 
cellulas graxas, que se apresentam debaixo da conjunctiva pallida, 
sob a forma de manchas amarellas de extensão variavel. « As 
glandulas de Meibomius se atrophiam, tornando-se a séde de in- 
farctus, e á medida que as partes degeneradas se absorvem, o 
tarso se encolhe e mostra uma deformação de mais á mais pro- 
nunciada. Esta desorganisação do tarso póde ir até fazel-o des- 23 
apparecer quasi completamente, reduzindo-o a uma tira arre- 
dondada de muito pouca espessura. » Esta atrophia dos tarsos dá 
lugar a varias deformações das palpebras, de que já nos occupamos 
n outro lugar. 
ETIOLOGIA 
A conjunctivite granulosa não escolhe idade nem sexo para o 
seu desenvolvimento; não obstante faz notar de Wecker que antes 
dos dez annos e depois dos cincoenta o seu apparecimento é 
raro. (*) 
Ella faz uma grande distincção entre a opulência e a pobreza; 
desenvolve-se com grande frequência nesta e muito raramente 
naquella. 
de Wecker observa que os casos de granulações são raros 
em sua clinica particular, a mais aristocratica possivel. O mesmo 
facto observa o nosso professor, aqui na nossa capital, onde 
esta moléstia se desenvolve felizmente com pouca frequência. 
O accutnulo de grande numero de pessoas em um pequeno 
aposento, respirando um ar muito viciado, já pelas exhalações 
organicas, já pelas más condições hygienicas, são as causas que 
nos pobres predispõem a conjunctiva a contrabir esta moléstia 
nimiamente contagiosa. 
Desde que haja accumulo ha mais facilidade no contagio, e 
por conseguinte transmissão mais rapida do mal. Muitas vezes 
observam-se familias inteiras atacadas pela conjunctivite granulosa. 
Esta moléstia assim como qualquer outra, se desenvolve mais 
facilmente nos individuos depauperados do que nos que se acham 
em pleno vigor de saude. Apezar disto, os individuos fortes não 
são por ella poupados. 
As estações não gozam de influencia alguma sobre a moléstia. 
As condições telluricas, porém, não tem pequena influencia sobre 
(*) Saemisch indica de um a dez annos 6,9 °L, de dez a vinte annos 39,5 °/0, de 
vinte a trinta e cinco annos 44,4 °/0 e alem desta idade 9,1%. 24 
o seu desenvolvimento. Ha logares, como entre nós, onde existe 
em pequena quantidade, emquanto que em outros abunda muito. 
O contagio é a causa primordial desta moléstia e a unica 
bem definida. 
Decondé e muitos outros authores o tem dividido em imme- 
diato e mediato. 
O immediato, isto é, o que se dá pela applicação directa da 
secreção proveniente de uma conjunctivite granulosa sobre um 
olho são, não deixa a menor duvida, e todos estão de unanime 
accordo. Grande numero de factos vem provar isto. Ora são 
doentes que achando-se em enfermarias tratando-se de moléstias 
inteiramente diversas desta, e onde existem granulosos, acabam 
por contrahil-a; ora são experiencias feitas propositalmente. 
Rara é a familia em que havendo um doente de granulações, 
não veja o mal se propagar aos outros membros, desde que não 
haja o mais rigoroso cuidado no isolamento dos doentes. 
Desde as mãos, até o mais insignificante objecto de que nos 
cercamos, podem ser portadores do agente morbigeno. 
O contagio mediato não é adoptado por todos. Hoje, porém, 
está fora de duvida que este contagio pode dar-se perfeitamente, 
porque está provado por Sattler, que esta moléstia é parasitaria, 
e por conseguinte os microbios facilmente transportados pelo ar. 
É na secreção que encontram-se os elementos de transmissão 
da moléstia. Tem-se procurado [saber em qual dos períodos ella 
transmitte-se mais facilmente. Ora como a secreção é o agente 
principal da transmissão, e ella existe em todas as pliases 
da moléstia, é claro que a transmittirá em todas ellas, mas 
com muito menos probabilidade nos casos de simples secreção. 
Assim como se observa muitas vezes, que a inoculação do 
pus da conjunctivite blenorrhagica e purulenta não produz o mesmo 
mal, e que o catarrho inversamente pode determinar o appare- 
cimento de uma conjunctivite purulenta, assim também a secreção 
da granulação, não deve rigorosamente produzir a mesma moléstia. 
As granulações transmittem-se tanto mais facilmente, quanto 
mais predisposto estiver o terreno. 25 
Existe em certos indivíduos uma tendencia a contrahir esta 
moléstia; a ella, de Wecker classifica ao lado das diatheses, e não 
encontra ligação alguma entre as granulações, a tuberculose e a 
escrofulose, pois, diz elle, em grandes epidemias de granulações, 
indistinctamente esta moléstia ataca os escrofulosos e os indivíduos 
fortes. 
Arlt, Gulz e outros authores suppõem que a escrofulose e a 
tuberculose influem no apparecimento das granulações; pensam 
deste modo naturalmente, porque encontram os indivíduos por 
ellas atacados, muito depauperados. 
Este estado é determinado, não pela tuberculose e escrofulose, 
mas sim pelas causas deprimentes moraes, como também pelos 
soífrimentos de que são victimas os doentes de granulações. 
Como já dissemos, foi Sattler que em 1881 procurando a 
patbogenia das granulações, chegou a provar que eram produzidas 
por um micrococcus. 
Depois de um grande numero de tentativas infructiferas, elle 
eonseguio cultival-os seguindo o novo methodo de cultura em 
terreno solido, usado por Koch. 
Para ter-se um bom resultado desta cultura, diz Sattler, de- 
vemos ter um cuidado extremo na escolha do material de que 
vamos nos servir. 
Elle exclue a priori os casos de simples secreção, porque estes 
em geral são considerados pouco ou nada transmissíveis, e em- 
quanto aos casos em que existe secreção purulenta ou mucco pu- 
rulento, muitos não prestam-se também a taes pesquizas, pois, a 
não haver como na conjunctivite purulenta aguda, abundante se- 
creção que corre continuadamente, o producto secretado escasso é 
retido nos ângulos das palpebras, onde amontoa-se e altera-se 
frequentemente. Além disto encontra-se em taes secretos as bactérias 
bacilliformes communs, que levadas ao terreno de cultura, desen- 
volvem-se com grande rapidez e estragam-na. 
Prestam-se pois melhor ás pesquizas os casos em observação 
em clinica estacionaria (enfermaria), porque pode-se retirar total- 26 
mente a secreção e esperar que nova se forme diante do obser- 
✓ 
vador. E esta que se deve utilisar como objecto de cultura. 
Sattler para a colheita do pus servio-se de tubos de vidros 
especialmente preparados para tal fim. 
Para cultura destes organismos tão delicados e sensíveis, este 
observador recommenda que se empregue o terreno o mais apro- 
priado até hoje conhecido, que é sem duvida o sero do sangue. 
É exactamente na preparação do sero sanguíneo, que não deve 
ser esterilisado na temperatura de ebulição, mas sim de 56 a 58°, 
e gelatinisação na temperatura de 65 e 68°, que se encontram 
grandes difficuldades. A gelatina deve possuir um certo gráo de 
succulencia necessária; logo que ella seque-se ou não consegue-se 
cultura alguma ou uma insignificantissima se obtem. 
Também não considera indifferente tomar para tal fim o 
sangue deste ou daquelle animal, preferindo o do homem. 
Vencidas todas as difficuldades apontadas faz-se com todas 
as cautelas a inoculação com uma secreção conveniente, como já 
indicámos. No fim de 7 a 8 dias observam-se nos logares ino- 
culadas pontinhos opacos de uma cor amarello-palida, e são vistos 
a olho desarmado ou perfeitamente com uma lente de fraco au- 
gmento; crescem lenta e gradualmente á temperatura de incubação. 
Depois de alguns dias o desenvolvimento é tal que permitte 
transportar parte da cultura para um outro terreno. Desde que a 
cultura está neste ponto, o augmento gradual da parte inoculada 
é tão considerável, que no fim de 2 ou 3 dias póde-se pensar 
em effectuar nova transplantação. O experimentador deve com todo 
o cuidado procurar verificar se a primeira cultura está ou não 
inteiramente pura, porque vencida a primeira em boas condições, 
as outras seguintes não apresentam as mesmas difficuldades que 
a primitiva. 
Referindo se a morphologia destes micro-organismos Sattler diz, 
que elles nunca se reúnem em cadeias nem tão pouco em grandes 
massas de zooglêa, mas apresentam-se sempre ou isolados, ou aos 
pares (pelo que no estado de completo desenvolvimento os elementos 27 
nunca tocam-se immediatamente, mas são separados por um espaço 
intermediário) ou finalmente em pequenos grupos separados. 
Depois de obtidos estes micro-organismos por este processo 
de cultura descripto, este experimentador teve eserupulo, por es- 
pirito de humanidade, de praticar a inoculação no homem. Pra- 
ticou em animaes mas sem algum resultado. 
Este eserupulo de um homem avido de experiencias materiaes 
convincentes, não foi muito longe, pois que, o fez mais tarde com 
os elementos obtidos por uma cultura de fragmentos de tecido 
trachomatoso, visto como por este modo se manifestaria melhor a 
natureza da moléstia. 
Depois de muitos insuccessos consecutivos, com a cultura das 
novas sementes representadas por fragmentos da conjunctiva, chegou 
a obter resultados tão positivos que não acreditava possivel pol-os 
em duvida. 
Recommenda aqui neste processo ainda maiores cuidados do 
que no primeiro, no que diz respeito á escolha do material, por- 
que não se póde esperar que uma transplantação de uma porção 
da conjunctiva dê um resultado positivo na substancia gelatinosa, 
por não se poder ter certeza alguma, que os micro-organismos en- 
cerrados especialmente nas granulações gelatiniformes, se ponham 
em contacto com o novo território que se lhes offerece. 
Também não offerece alguma vantagem abrir as granulações 
ou comprimil-as, para delias retirar a sementeira. 
Sattler para esta cultura prefere as granulações das bordas da 
palpebra superior, onde existem tão confluentes, que as vezes se 
fundem umas nas outras, de sorte que cortando-se uma porção 
com uma tesoura, a massa gelatiniforme se apresenta immedia- 
tamente á superfície sangrenta. 
Feita a inoculação no sero sanguíneo previamente preparado, 
com o principio obtido das granulações incisadas, Sattler observou 
a principio uma orla mais ou menos delgada, palida e opaca, no 
oitavo até o decimo dia de transplantação, em certas porções do 
fragmento da mucosa. 
Depois de passados alguns dias, esta orla chegou a superfície 28 
fazendo-se em seguida nova transplantação de uma pequena porção 
desta orla, com auxilio de um fio de platina, previamente aque- 
cido á temperatura branca. 
Aqui a cultura cresceu visivelmente, de modo que dentro de 
poucos dias, novas transplantações podiam ser feitas. 
Sobre esta orla foi que Sattler observou, como em outros 
logares, os micrococcus, ora isolados, ora aos pares, ora em grupos 
mais ou menos disseminados, se extendendo do ponto de partida 
para a superfície do sero sanguineo, e indo mesmo a pontos mais 
ou menos distantes. 
Obtendo nesta 3.a geração somente micrococcus puros, elle 
collocou uma boa porção sobre a conjunctiva de uma moça, fric- 
cionando em seguida as palpebras. Em logar de uma forte reacção 
consecutiva a esta inoculação, appareceram depois de um periodo 
de incubação de cinco dias os primeiros grânulos vesiculiformes 
de um trachoina, cuja marcha foi tão branda que a paciente nada 
sentio e nem se apercebeu da moléstia. 
Não obstante isto não podia haver a menor duvida sobre a 
natureza da afíecção. 
As granulações produzidas por Sattler nesta moça, pela ino- 
culação de micrococcus por elle cultivados, attingiram a um des- 
envolvimento muito pouco considerável. Esta benignidade da infecção 
por inoculação, a virulência pouco considerável do material culti- 
vado não deve causar sorpreza, pois que, sabe-se que estes micro- 
organismos são extremamente sensiveis e delicados, muito mais 
mesmo do que os bacillos do tubérculo. 
Estes últimos se desenvolvem muito facilmente no sero do sangue 
na temperatura de incubação, e a infecção é possivel em uma 
serie de animaes. Já isto não acontece com os micrococcus do 
trachoma que se desenvolvem mui diffieilmente no sero do sangue do 
carneiro, do boi, etc., e além disto, o sueco conjunctival dos ma- 
míferos de que se pode dispor é refractario á infecção. 
Sattler, emfim, recommenda que para se obter uma boa cul- 
tura destes micro-organismos, se a faça no sero do sangue humano. 29 
Lembra que se o procure obter em hospitaes onde se pratiquem 
grandes sangrias. 
Depois deste importante estudo feito por este grande obser- 
vador, não se póde negar a origem parasitaria á conjunctivite 
granulosa. 
Já temos tido occasião de observar os micrococcus em pre- 
parações feitas pelo nosso mestre, o Sr. Dr. Hilário de Gouvêa, 
em fragmentos das fijsas membranas que se formam á custa do 
jequirity, quando se lança mão delle para o tratamento do trachoma. 
TRATAMENTO 
Muitos e vários têm sido os meios therapeuticos empregados 
com o fim de curar a conjunctivite granulosa. 
Como perfeitamente diz Eduardo Meyer em seu tratado pra- 
tico de moléstias de olhos, o tratamento racional da conjunctivite 
granulosa pede muito tacto e prudência, devendo-nos oceupar do 
estado local, do geral e da hygiene do doente. 
Occupar-nos-emos em primeiro lugar do tratamento geral e 
da hygiene, passando em seguida a estudar os diversos meios 
locaes que têm sido empregados para debcllar a moléstia, até 
chegar ao jequirity, medicamento nacional, e que está sendo objecto 
de importantes estudos pelos magníficos resultados que tem dado. 
Como já tivemos occasião de manifestar noutro lugar, a con- 
junctivite granulosa é essencialmente contagiosa sobretudo quando 
ha secreção abundante. 
O primeiro cuidado, pois, que devemos ter quando tratarmos 
de um granuloso, é recommendar o isolamento dos outros indi- 
viduos com quem convivem. Assim devemos procurar afastal-os 
de lugares onde exista grande accumulo, como em collegios, hos- 
pitaes, etc. 
Algumas vezes as granulações de marcha chronica podem 
apresentar-se sem secreção alguma, e neste caso, pareceria que 
não haveria necessidade deste isolamento, por simular não ser 30 
contagiosa. E isto exacto até certo ponto, mas é certo também 
que ella é susceptivel de, por uma causa qualquer ou por uma 
nova invasão de granulações, apresentar secreção mais ou menos 
abundante, tornando-se deste modo facilmente transmissível. 
Devemos recommendar com todo rigor que os objectos que 
servem para o uso dos granulosos, não sejam de modo algum uti- 
lisados por outros individuos sãos. 
Tem-se suscitado algumas duvidas sobre a conveniência ou 
inconveniência do accumulo de grande numero de granulosos em 
uma mesma sala e sua permanência ahi. A pratica tem demonstrado 
que o tratamento é mais difíicil e demorado, devido isto a repe- 
tidas recahidas. Mesmo na clinica civil, quando em uma mesma 
familia temos mais de um doente de granulações, não devemos 
reunil-os em um mesmo aposento, e sim separal-os. 
Uma boa hygiene, é um dos melhores auxiliares no tratamento 
das granulações e mesmo para alguns authores é mais vantajosa 
que qualquer outro meio (!) 
O granuloso evitará tanto quanto fôr possivel a acção de 
agentes irritantes, como sejam a fumaça, o pó, o trabalho que 
demande muita applicação da vista, mormente á noite com o au- 
xilio da luz artificial. Póde evitar em parte a acção desses agentes 
irritantes, usando conservas enfumaçadas ou azues. 
O tratamento geral consistirá em uma diéta succulenta, acom- 
panhada de um regimem tonico. A quina, os ferruginosos, o oleo de 
figado de bacalháo etc. têm sido empregados com grande vantagem. 
Tratamento local. — Quando a natureza não se encarrega 
de produzir uma inflammação tal na conjunctiva, que traga um 
certo gráo de suppuração e a cura das granulações, temos que 
lançar mão de certos agentes cáusticos e irritantes, que a produzam 
artificialmente e com o mesmo fim. 
Os cáusticos mais usados até hoje, têm sido o sub-acetato 
de chumbo, o sulfato de cobre e as soluções de nitrato de prata. 
Têm alguns também empregado cáusticos mais fortes, taes 
como o nitrato de prata puro ou mitigado, o acido chromico ou 
nitrico, o galvano-caustico, etc. 31 
Chega-se com effeito obter a cura com estes meios, mas ha 
cicatrizes considerareis, consecutivas a escharas mais ou menos 
notáveis, podendo ainda aggravar as produzidas pelas granulações. 
O sub-acetato de chumbo liquido em partes iguaes com agua 
distillada, tem dado muitos bons resultados. Quando a moléstia 
apparece com pouca intensidade, e se acha no principio e sem 
complicações para o lado das palpebras e cornea, esta proporção 
do chumbo póde ser reduzida; assim para 15 grammas d’agua 
distillada, podemos usar, como Abadie, 10 e mesmo 5 grammas de 
sub-acetato de chumbo. 
Preparada a solução como acabamos de indicar, devemos nos 
munir de um pequeno pincel de cabellos, de um vaso com agua 
limpa, e finalmente de uma pequena vasilha, onde lançaremos a 
cubstancia medicamentosa. 
Dispostas as cousas desta maneira, viramos as palpebras o 
mais que nos fôr possivel, para bem descobrirmos a conjunctiva 
atacada e principalmente as dobras oculo-palpebraes, onde as gra- 
nulações existem em maior quantidade. Devemos proteger bem a 
cornea, fazendo para isto approximar as pregas formadas pelas 
palpebras voltadas, e recommendar ao doente que olhe para baixo 
ou para cima ou tente fechar os olhos. 
Tomamos em seguida o pincel embebido na solução, e passamos 
ligeiramente sobre as conjunctivas, procurando tocar em todos os 
pontos doentes. 
Terminada esta operação, com o mesmo pincel faremos imme- 
diatamente uma grande lavagem com agua pura, com o fim de 
eliminar-se todo o excesso de cáustico insolúvel que tenha ficado 
sobre a conjunctiva. 
Esta recommendação da lavagem depois da cauterisação tem 
grande importância, porque despresada haverá depositos muito 
consideráveis de sal de chumbo sobre as conjunctivas, formando-se 
mesmo concreções, que não poucas vezes se tem observado, vindo 
em seguida produzir graves complicações sobre a cornea. Fazendo-se 
porém as lavagens nenhum destes inconvenientes se observará. 
Alguns práticos têm muito medo de empregar o sub-acetato 32 
de chumbo, quer haja complicação para o lado da cornea, quer 
não, com receio de sua impregnação na cornea, produzindo manchas 
indeleveis. Desde que se observe rigorosamente o que acabamos de 
indicar, isto é, as grandes lavagens e a proteção da cornea com as 
palpebras, não devemos nos privar deste meio therapeutico tão 
poderoso no tratamento das granulações agudas, muito embora haja 
complicações da cornea, e sem temer accidentes de qualquer quali- 
dade. 
Estas cauterisações devem ser feitas todas as vinte quatro 
horas, ou de dois em dois dias. Geralmente podem ser espaçadas 
á proporção que a moléstia vai desapparecendo. 
Sob a influencia desta medicação, a secreção mórbida da con- 
junctiva diminue consideravelmente. O pannus, quando existe, vai 
pouco a pouco desapparecendo, á medida que as granulações tam- 
bém desapparecem, de modo que não devemos nos occupar delle, 
mas sim de sua causa que são as granulações e algumas vezes cilios 
que tocam a cornea. Este pannus também póde ser produzido pelo 
desenvolvimento das granulações na cornea. Ainda neste caso não 
devemos nos occupar delias e sim das da conjunctiva, porque 
aquellas desapparecem junctamente com estas. 
Com este tratamento bem dirigido, vemos as mais das vezes 
o restabelecimento dos nossos doentes. As conjunctivas, quando a 
moléstia não se acha ainda no estado trachomatoso, restabelecem-se 
sem deixar cicatriz alguma, o que já não acontece no ultimo pe- 
ríodo. A cornea que já se achava coberta de pannus, vai gradati- 
vamente cobrando suas funcções normaes. 
O sub-acetato de chumbo não tem sido sómente usado sob a 
fórma liquida, mas também pulverisado. Elle se accumula na con- 
junctiva e cobre as granulações. Nestas condições, é que os adeptos 
deste systema julgam o doente curado, ou pelo menos incapaz de 
transmittir a moléstia. 
Ora, se quando nos occupámos das cauterisações com o sub- 
acetato de chumbo liquido, recommendamos as lavagens para retirar 
o excesso do sal insolúvel e evitar o seu accumulo, com receio das 
complicações que póde produzir para o lado da cornea, de modo 33 
algum podemos adoptar este meio de tratamento, que mais facil- 
mente as produzirá. 
Suppunha-se que este processo evitava o desenvolvimento de 
novas granulações; hoje porém está provado que não só não evita, 
como também não combate as recahidas a que estão sujeitos os 
doentes. 
Depois do sub-acetato de chumbo liquido, o medicamento mais 
usado é o sulfato de cobre ciystallisado; é mais vezes indicado na 
conjunctivite no periodo trachomatoso. 
Para fazer-se uso delle, toma-se um crystal bem liso deste 
sal, e depois de voltadas as palpebras, como já indicámos, passa-se 
de leve sobre a mucosa doente, tendo-se o cuidado de introduzir 
a ponta no fundo de sacco superior, com o fim de attingir as 
granulações que ahi se desenvolvem em maior abundancia. Alguns 
clinicos aconselham que depois desta cauterisação se façam lavagens 
com agua commum. O fim delias é alliviar as dores que são muito 
intensas nas primeiras cauterisações. Estas dores são menos consi- 
deráveis, depois de um tratamento mais ou menos longô. 
Deve-se ter muita prudência na repetição destas cauterisações; 
não as devemos praticar sem que a irritação produzida pelas pri- 
meiras tenha completamente desapparecido. 
As cauterisações são feitas todas as vinte quatro horas, ou de 
dois em dois dias ou com intervallos maiores, e de accordo com a 
intensidade da moléstia. 
de Wecker recommenda que se espere depois de cada cau- 
terisação, pelo periodo de calma nas dores e secreção para só então 
reiteral-a. 
Quando no curso deste tratamento os doentes accusam muitas 
dores, recorremos ás compressas geladas, quer sejam de agua 
commum, quer de soluções anti-septicas, de acido borico ou saly- 
cilico. Na enfermaria de clinica ophthalmologica usamos, não só 
para estas como para todos os curativos de uma solução de 4 % 
de acido borico. 
O tannino também veio á scena no tratamento das granulações. 
Foi em 1851 que Hairion de Louvain estabeleceu suas bases. 
5440 -3 34 
Tirou bons resultados na applicação das conjunctivites catarrhaes 
agudas e chronicas, granulosas, etc.; e apregoou a sua efficacia 
no pannus e nas blenorrhéas antigas. 
Meyer aconselha o emprego do glyceroleo de tannino, cujo 
eífeito é muito fraco, mas tem a vantagem de poder ser empre- 
gado pelo proprio doente, quando não póde ser examinado diaria- 
mente. A formula por elle usada é composta de 50 centigrammas 
de tannino para 10 grammas de glyceroleo de amido. 
Wolfe em sua obra publicada este anno, aconselha o seguinte 
tratamento, usado por elle desde 1871 com grande vantagem. 
Depois de voltadas as palpebras, faz com o escarificador de 
Desmarres, tres incisões nas conjunctivas das palpebras, incluindo 
o fundo de sacco. 
Estas incisões não devem attingir as superfícies tarsos, limi- 
tando-as sómente ás granulações, e com os dedos exerce-se pressão 
sobre a conjunctiva palpebral para fazer sahir os grânulos. As 
superfícies são esponjadas com agua quente, com o fim de alliviar 
as dores que acompanham esta operação. Uma solução de atropina 
é empregada em seguida, e depois loções de borax trez vezes ao dia. 
Dois dias depois, lança-se sobre as palpebras o xarope de 
tannino, e em seguida são de novo attritadas uma contra a outra, 
com o fim de destacar alguns depositos que ahi tenham per- 
manecido 
Dentro de 15 dias ou tres semanas, repetem-se estas scarifi- 
cações, se a urgência do caso assim o exigir, não interrompendo 
o emprego do xarope de tannino, acompanhado das fricções. 
Com este tratamento, diz Wolfe, ter observado a eliminação 
das granulações, o desapparecimento do pannus, e a cornea cobrar 
gradualmente sua transparência. 
Nada podemos dizer baseados em observações, sobre suas van- 
tagens ; parece-nos, entretanto, que produzirá o mesmo eífeito que 
qualquer que tenha por fim determinar uma irritação e inflam- 
mação, dando logar á absorpção dos grânulos, e por conseguinte 
seu desapparecimento. 
Não convém persistir durante muito tempo só com um meio 35 
therapeutico, porque «a mucosa doente parece no fim (le certo 
tempo habituar-se, e conservar-se inerte ás suas solicitações. De- 
vemos, portanto, variar a therapeutica. 
Em certos casos a variação destes meios já não nos presta 
mais auxilio, vendo-nos então obrigados a suspendêl-os por algum 
tempo, durante o qual nos limitamos a prescripções hygienicas e 
tratamento geral, até recorrer-se á outros mais energicos. 
A reacção consecutiva a cada cauterisação é ordinariamente 
moderada. Acontece algumas, porém, que é muito exagerada e 
produz inflammações muito consideráveis, exigindo que se inter- 
venha energicamente para moderal-as. Para este fim usa-se de 
compressas geladas, de agua commum ou de uma solução anti- 
septica. 
Nem sempre as granulações respondem ás irritações produzi- 
das pelas cauterisações, e conservam-se indolentes, sem apresentar 
reacção inflammatoria. de Graefe aconselha nestes casos, a substi- 
tuição das cauterisações pelas compressas d’agua quente a 40° ou 
45°, emqregadas durante um tempo mais ou menos prolongado. 
Costumam-se empregar estas compressas durante oito ou doze 
horas por dia. De duas ou de tres em tres horas, deixa-se o 
doente repousar quinze ou trinta minutos. Suspende-se a applica- 
ção depois de declarada a inflammação, e se esta torna a desap- 
parecer, sem produzir os effeitos desejados, reapplicam-se de novo 
as compressas. 
As incisões ou escarificações e as excisões, também têm sido 
empregadas no tratamento das granulações. Quando nas mixtas 
ou diffusas, houver grande intumecencia da mucosa, podemos fazer 
desapparecer com rapidez este excesso de inflammação, que póde 
trazer graves complicações, por meio de escarificações no logar de 
maior desenvolvimento granular. As melhoras são rapidas e muito 
sensíveis. 
Tem-se querido estabelecer estas escarificações como methodo 
invariável no tratamento das granulações chronicas, o que de 
modo algum pode-se adoptar, porque nem sempre encontramos 
conjunctivas congestas, acontecendo encontrar-se pallidas e pouco 36 
inflammadas, contraindicando, por conseguinte as escarificações. 
Além disto, ellas muito repetidas deixariam cicatrizes, que com as 
deixadas pelas granulações complicariam o mal, mérmente se forem 
feitas eauterisações logo após ellas. 
Estas escarificações podem ser substituídas por attritos enér- 
gicos, feitos com uma esponja um pouco dura sobre a mucosa 
doente. Ila escoamento de sangue da mesma maneira que com as 
escarificações ; retira-se o epithelio por este meio, e produz-se uma 
actividade na circulação que favorece a absorpção das granulações. 
Observa-se algumas vezes que as granulações são isoladas 
mas muito desenvolvidas, pediculadas e assemelhando-se aos polypos 
da conjunctiva, e neste caso recorre-se ás excisões. Outras, acon- 
tece que a conjunctiva se acha coberta por uma camada espessa, 
fungosa ou gelatinosa, extendendo-se até á caruncula, que é por 
ella coberta totalmente. As excisões são também indicadas nestas 
condições. 
Praticando as excisões, devemos ter o maior cuidado possível 
em não offender o tecido são; e se isto succede, o doente dá logo 
demonstrações aceusando fértes dores. 
Esta pequena operação não offerece grande difficuldade em 
sua pratica. O operador deve munir-se de uma boa tesoura, uma 
pinça de fixação e de um ou dois ajudantes. 
Depois de voltadas as palpebras e sustentadas por um aju- 
dante, o operador toma com a pinça a parte affectada e que deseja 
excisar, evitando o mais possível tomar grande porção de tecido 
de uma só vez e de apanhar tecido normal. Feito isto, elle 
separa, com um só golpe de tesoura, a parte tomada pela pinça, 
por sua base. 
As superfícies sangrentas são esponjadas com uma solução de 
acido borico, ou com agua gelada, para sustar qualquer hemorrha- 
gia pequena que possa haver. Depois de feitas as lavagens con- 
venientes, com o fim de retirar-se qualquer coagulo que ahi possa 
ter ficado, voltam-se as palpebras. É conveniente que o doente 
use de compressas geladas durante algum tempo, com o fim de 
previnir qualquer reacção inflammatoria. 37 
Além destes tratamentos que acabamos de estudar, ha muito 
pouco tempo empregava-se e ainda hoje alguns usam, como o 
mais poderoso e ultimo recurso, a inoculação do pus blenor- 
rhagico. 
Começou-se a empregar o pus blenorrhagico como meio the- 
rapeutico, depois que os factos clínicos demonstraram, que olhos 
granulosos onde incidentemente apparecia purulencia restabeleciam-se. 
Quando nos occupámos da anatomia pathologica, dissemos 
que IwanofF tinha observado que em olhos trachomatosos atacados 
de blenorrhéa, o pus destruía o epithelio das glandulas, e que 
estas depois de terem diminuído pouco a pouco, acabam por desap- 
parecer totalmente. 
Animados por estas observações, os clínicos achando-se na 
presença de casos graves, com pannus espesso, rebelde, inveterado, 
onde todos os outros tratamentos tinham baqueado, lançavam mão 
do pus blenorrhagico. Foi Frederico Joeger, de Yienna, quem pri- 
meiro o empregou. 
Durante algum tempo considerou-se barbaro este methodo; 
depois, porém, dos bons successos colhidos por alguns práticos, 
generalisou-se e tornou-se universal. 
Não se contavam somente victorias com este methodo de tra- 
tamento mas também alguns desastres. Procurando-se estudar o 
meio de os evitar, notou-se que ha casos em que elle é indicado 
e outros contra-indicado. 
Abadie, referindo-se a este meio therapeutico, diz que no 
principio observou em mãos de outros resultados tão desastrosos 
que tinha repugnância em empregal-o. Mais tarde cercou-se de 
todas as cautellas e empregou-o; obteve optimos resultados que 
o levaram a tornar-se um dos mais ardentes adeptos deste 
processo. 
Apezar dos benefícios colhidos com a inoculação do pus ble- 
norrhagico, hoje, parece tender a desapparecer da therapeutica 
ocular, para ser substituído pelo jequirity, que dá idênticos resul- 
tados, sem fazer o doente incorrer nos graves perigos a que está 
sujeito com o pus. 38 
Para alguns não deve ser empregada a inoculação, senão 
quando a cornea se achar convenientemente protegida por um 
espesso pannus, occupando suas camadas superficiaes, e consti- 
tuindo ahi uma sorte de exsudatos membraniforme e vasculares, 
que impedem que a acção inflammatoria se extenda até á cornea 
e ahi produza seus eífeitos maléficos. 
Deve evitar-se empregal-a todas as vezes que a cornea se 
apresentar turva, adelgaçada, e sulcada por poucos vasos sem 
constituir um verdadeiro pannus. De modo algum se inoculará 
quando houver perda de epithelio da cornea. 
Abadie usa este meio, mesmo quando a cornea não está protegida 
por pannus, porque julga-se capaz de subjugar a conjunctivite pu- 
rulenta, quando fôr muito exagerada, com as cauterisações de 
nitrato de prata na proporção de 3 °j0 todas as doze horas, auxi- 
liadas pelas compressas geladas. Teríamos receio de lançar mão 
deste meio nestas condições. 
Ao principio utilisava-se o pus blenorrhagico e com successo, 
hoje, porém, está-se de accôrdo que é mais prudente inocular-se 
o pus da conjunctivite dos recem-nascidos, porque é menos sus- 
ceptivel de ir além dos limites desejados. 
Para fazer-se a inoculação do pus, toma-se um pincel pe- 
queno embebido em algumas gottas d’esta substancia e passa-se 
ligeiramente sobre a conjunctiva das palpebras préviamente vol- 
tadas. 
Inoculado o pus, observa-se um periodo de incubação que 
dura ordinariamente de 34 á 48 horas; no fim d’este tempo appa- 
rece a suppuração com intensidade variavel. A palpebra superior 
é a primeira a denunciar a invasão da inflammação, apresenta-se 
no fim de certo tempo muito intumecida, e com um rubor muito 
forte. 
Declaradas a suppuração e a inflammação, limitar-nos-emos 
a vigiar muito cuidadosamente todos os phenomenos que ahi se 
passam. Se ellas não ultrapassam os limites desejados, nada fa- 
remos senão observar o doente; caso contrario, faremos energicas 
cauterisações com nitrato de prata, usaremos das compressas ge- 39 
ladas, e finalmente praticaremos lavagens com soluções anti-septicas. 
É preciso algumas vezes recorrer ás escarificações. 
Um dos primeiros cuidados que devemos ter quando a ino- 
culação fôr indicada a um só olho, é isolarmos o que está são, 
por meio de apparelhos isoladores ou pelo monoculo de caoutchouc 
do Dr. Maurel. Este monoculo é munido de um grosso vidro de 
relogio, guarnecido por um annel de borracha que o permitte 
adaptar-se ao rebordo orbitario e assim garantir ao olho normal 
de ser atacado pelo pus. 
Logo que se tenha passado o periodo perigoso, isto é, o da 
inflammação violenta, abandonaremos a moléstia á sua evolução 
natural, conservando a suppuração que vai pouco á pouco modi- 
ficando o estado da mucosa, favorecendo a absorpção gradual das 
granulações. Obtem-se por este modo a cura, que se faz em um 
tempo variavel; a conjunctiva torna mais ou menos ao estado 
normal, apresentando, comtudo, cicatrizes que são relativas a 
quantidade de granulações. 
Apezar dos bons resultados d’este tratamento, teriamos es- 
crúpulo em empregal-o, mórmente hoje, que temos o poderoso 
jequirity, não só porque não ha meio seguro de regularisar a in- 
tensidade dos phenomenos inflammatorios, como também não o ha 
para garantir-se o olho normal da suppuração. 
Para explicar-se a acção do pus blenorrhagico ou purulento 
na conjunctivite granulosa, appellou-se para os micro-organismos 
que produzem a conjunctivite purulenta e granulosa. 
Pasteur em suas pesquizas de cultura dos micro-organismos, 
estudando o seu desenvolvimento e transformações, provou que 
se em um meio proprio para cultura do microbio introduzirmos 
um outro, um d’elles é prejudicado em seu desenvolvimento. 
Ora, segundo Abadie, na conjunctiva, estes micro-organismos 
acham vasto campo para o seu desenvolvimento, quer os da con- 
junctivite purulenta quer os da granulosa. Assim, depois de se 
achar esgotado o sólo conjunctival, se fizer invadir em todos os 
sentidos e profundidade os microbios da conjunctivite purulenta, 
elle torna-se incapaz de fornecer elementos aos da granulosa. 40 
Desde que estes deixem de progredir, e tendam pelo contrario a 
desapparecer por não poderem lutar com os outros, chega-se a 
obter a cura. 
Achamos muito phantastica esta theoria, parece-nos mais ra- 
zoável admittir que o pus, sendo em grande copia, altera os ele- 
mentos intimos das granulações, desaggregando-as, tornando d’este 
modo facil a absorpção e eliminação d’estes elementos. 
No curso do tratamento da conjunctive granulosa, temos 
algumas vezes que recorrer á alguns processos operatorios como 
meios auxiliares. 
Ila indicação para estas operações fcantoplastia e blcpharo- 
raphiaj, quando houver estreitamento da fenda palpebral e en- 
tropion. 
O adoptado pelo nosso professor de clinica ophthalmologica 
para a cantoplastia, consiste em introduzir um dos ramos de 
uma tesoura recta no fundo de sacco, e o oulro ficando em relação 
com a parte externa da commissura, praticando-se em seguida a 
incisão com um só golpe. Cortada assim a commissura externa 
afastam-se for temente os lábios da ferida. 
A extensão da incisão deve ser de 12 a 15 millimetros ; a 
sua direcção é horisontal e perpendicular á commissura palpebral. 
Feito isto passam-se tres pontos de sutura, um na parte média 
da ferida (angulo) e os outros um em cima e o outro em baixo. 
Deve -se ter muito cuidado em applicar-se a mucosa seccionada 
sobre os lábios sangrentos da pelle. Quando não se tiver seccio- 
nado bem o ligamento externo, que vai do tarso superior ao 
rebordo temporal externo, se o corta em um segundo tempo. 
Quando houver escassez de retalho por causa de uma atro- 
phia da conjunctiva, consecutiva ao processo morbido, a sutura 
não se manterá por causa de fortes tracções que soffre para o 
lado da cornea. A consequência d’esta complicação é a reapplicação 
dos lábios da ferida cutanea e sua cicatrisação, tornando-se d’este 
modo as cousas ao antigo estado, sem haver alargamento senão 
momentâneo. 
Para evitar isto, Abadie aconselha que antes da incisão do 41 
angulo externo do olho, se pratique uma na conjunctiva bulbar 
concêntrica á cornea, que facilitará o seu deslocamento, evitando 
por este modo as tracções. 
Quando existe entropion, se pratica a 3 millimetros da borda 
livre da palpebra uma incisão, interessando sómente a pelle e 
occupando toda extensão da palpebra. Esta incisão deve ser pa- 
rallela, á borda livre da palpebra. Descobre-se o orbicular, se 
excisa uma tira da extensão de dois millimetros mais ou menos. 
O tarso sendo assim descoberto, se excisa uma pequena porção 
da forma de uma cunha cuja base olha para conjunctiva. Feito 
isto se applicam tres suturas da maneira seguinte: o fio munido 
em cada extremidade de uma agulha, atravessa o tarso acima da 
perda da parte excisada; as agulhas vão sahir na pelle da pal- 
pebra pouco acima dos cilios. Os pontos devem distar um do 
outro mais ou menos 8 millimetros. As extremidades dos fios 
são amarradas sobre contas. Devem-se approximar muito bem os 
lábios da ferida (Snellen). 
Nos casos em que houver complicações para as vias lacry- 
maes com estreitamento dos canaes, devemos dilatal-os por meio 
da incisão e das sondagens. 
Quando acharmos-nos deante de um caso de granulações, 
complicado de vasta ulceração da cornea, com ameaça de prolapso 
da iris, usaremos da ezerina, banhos de vapor e apparelho con- 
tentivo. Quando houver leucomas consecutivos, que perturbem 
a visão, praticar-se-á, a iridectomia com o fim optico. 
Nos logares sujeitos a diphteria, como no Egypto, etc., o que 
não ha felizmente entre nós, havendo complicações das granulações 
com esta moléstia procura-se combatel-a com os meios apro- 
priados. DO JEQUIRITY 
Occupando-nos do tratamento da conjunctivite granulosa, englo- 
bamos em um só capitulo todos os processos empregados com o fim 
de debellar este mal; excluímos, porem, deste grupo considerável, 
o jequirity de que vamos tratar em capitulo separado, não só 
por ser o medicamento mais recentemente empregado, e com os 
melhores resultados possíveis, como também, por ser medicamento 
nacional, e do nosso paiz terem partido as primeiras applicações, 
embora mesmo populares. 
de Wecker, chama sobre si a prioridade de ter levado o 
jequirity para o campo da sciencia; diz que chegou ao conheci- 
mento deste meio therapeutico tão poderoso, por intermédio de um 
antigo doente seu de granulações, que durante muito tempo esteve 
submettido a tratamento, obtendo sensíveis melhoras. Este indi- 
individuo vindo ao Brazil, desembarcára a 10 de Novembro de 1881 
em Therezina, onde pouco tempo depois foi de novo atacado de 
granulações. Achando-se então quasi cégo, resolveu submetter-se 
ao tratamento popular que era feito com o jequirity, que o resta- 
beleceu dentro de pouco tempo. 
Enthusiasmado com este resultado tão brilhante procurou 
obter grande numero de sementes, unica parte usada do vegetal, 
e remetteu a de Wecker, com a descripção do modo que era ahi 
usado pelos curandeiros, este remedio. 
de Wecker, seguindo rigorosamente a prescripção indicada 
pelo seu ex-doente, fez as primeiras experiencias deste remedio 
tão apregoado, obtendo desde o principio os melhores resultados. 
Continuou de Wecker em suas pesquizas, prevendo desde logo um 
lugar de honra ao jequirity na therapeutica ocular. 44 
Em uma memória publicada em Outubro do anno passado 
sobre o jequirity, pelo Snr. Dr. Moura Brazil, um dos nossos 
oculistas, diz que havia mais de um anno fazia estudos sobre a 
acção do jequirity na conjunctivite granulosa. Deixa ver, portanto, 
este clinico, que antes de de Wecker, já tinha ensaiado este meio 
therapeutico. 
O que parece certo é que esta substancia é empregada popu- 
larmente desde muitos annos, em algumas provincias do norte do 
Brazil, com o fim de combater as affecções oculares, attingindo 
mesmo aos limites do abuso. 
« O jequirity ou gequirity é popularmente conhecido sob este 
/ 
nome no norte do Brazil. E da classe das di-cotyledones, da fa- 
mília das leguminosas, tribu das papillonaceas (4.a sub-familia) do 
genero abrus e da especie abrus precatorius. » 
O jequirity é também conhecido popularmente pelos nomes 
de olho de pombo, olho de cabra, tento, etc. 
Frei Velloso na sua Flora Fluminense, descreveu tres especies 
de abrus : o abrus precatorius, o abrus lusorius, e o abrus arborius. 
A semente do abrus precatorius é pequena, ovolar, pouco 
mais ou menos do tamanho de uma ervilha secca, de um vermelho 
muito vivo e brilhante, tendo uma mancha negra também brilhante 
na extremidade mais fina do oval. Esta mancha occupa quasi um 
terço da sèmente. O hilo se acha collocado na cireumferencia desta 
mancha. 
A segunda especie é o abrus-lusorius. A semente desta especie 
é semelhante á primeira mas muito maior. O vermelho não é tão 
/ 
vivo como o das pequenas. E achatada e tem duas faces e uma 
borda, a forma desta semente é ligeiramente ovolar. A mancha 
negra em lugar de occupar a extremidade como no precatorius, 
occupa a borda e extende-se para as faces igualmente, comprehen- 
dendo quasi a metade da semente. O hilo fica no ponto mais fino 
da semente e fóra da mancha negra. 
Finalmente, frei Velloso falia no abrus-arborius que diz ser 
muito semelhante á segunda especie. Desta não temos conheci- 
mento. 45 
Estas sementes são contidas em vagens e dispostas em lojas. 
São muito duras, e com alguma difficuldade é que se consegue 
reduzil-as a pó fino. 
O jequirity é encontrado em todo Brazil, sendo, porém, muito 
mais abundante no norte. 
Destas duas especies que conhecemos, sómente nos oceupa- 
remos do abrus-precatorius, por ser a unica empregada na thera- 
peutica ocular. A outra se tem conservado inerte nas nossas ex- 
periências. 
Até hoje ainda não se conseguio retirar alcaloide algum do 
jequirity, quer aqui, quer na Europa. 
O nosso distincto collega, o Snr. Mello e Oliveira, tirou, se- 
gundo nos informa, um oleo essencial e vários prineipios resinosos 
que nenhum resultado tem dado nas mãos do Snr. Dr. Moura 
Brazil, que os experimentou, a não ser um extracto esverdeado, 
que segundo este clinico, aproveita muito na dóse de 20 centi- 
grammas para 10 grammas d’agua. Os chimicos europeus que se 
têm occupado com este estudo, negam a existência de semelhante 
extracto. 
Na enfermaria de clinica de olhos da faculdade, bem assim na 
clinica particular do nosso professor, temos visto sómente empregar 
o jequirity com resultados maravilhosos, sob a forma usada popu- 
larmente mas já muito modificada. O mesmo diz de Wecker na 
memória publicada sobre este assumpto. 
Usava-se popularmente no Piauhy, pulverisar-se bem 32 se- 
mentes de jequirity, e macerar este pó durante 24 horas, em 500 
grammas d’agua; no fim deste tempo ajuntava-se á esta maceração 
500 grammas d’agua fervendo, deixava-se esfriar e filtrava-se im- 
mediatamente depois de frio. 
Preparado o macerado por esta fórma indicada, o doente la- 
vava os olhos tres vezes no dia. Se houvesse depois desta primeira 
applicação, irritação conjunctival considerável, nada mais se fazia; 
em caso contrario se empregava a mesma maceração no segundo e 
terceiro dia, até que a inflammação apparecesse. O paciente du- 
rante o tempo da applicação conservava-se em um quarto escuro. 46 
Colheu-se algum resultado com a maceração assim preparada, 
mas logo notou-se que elle ficava em geral muito aquem do de- 
sejado. Passou-se então a experimentar as macerações feitas com 
menor quantidade de vehieulo e maior de substancia medicamentosa. 
A proporção estabelecida por de Wecker foi de 2 °/0 de jequi- 
rity. Faz-se a maceração durante 24 horas, no fim das quaes 
filtra-se. 
Esta proporção estabelecida por de Wecker não é invariável, 
e até pelo contrario é muito susceptivel da soífrer alterações. 
Desde o principio do emprego do jequirity pelo Dr. Hilário 
de Gouvea, fez-nos notar que a acção deste medicamento varia 
muito, segundo a constituição de cada individuo ; de modo que a 
dóse capaz de produzir inflammação notável em um, podendo mesmo 
ultrapassar os limites desejados, dando lugar á suppuração e des- 
truição da cornea, n’outro nenhum effeito produz, tornando-se mesmo 
inerte. 
Dois casos muito importantes vêm-nos provar esta proposição. 
Em Março deste anno, o Snr. Dr. Hilário de Gouvea tratava 
de dois doentes de granulações chronicas, com punnus espesso; 
um no hospital da Misericórdia e o outro na sua clinica civil. Foi 
feita uma maceração na proporção de 2 0/o sob as vistas do Dr. Hi- 
lário, com o pó das sementes sem casca. No fim de 24 horas foi 
filtrada a maceração e applicada em ambos os olhos do doente do 
hospital, em gottas de 2 em 2 horas, e a mesma applicação deste 
macerado, foi mandada fazer por este mesmo clinico em sua doente 
particular. 
No dia seguinte á applicação ambos os doentes foram vistos ; 
emquanto que no do hospital, que era um individuo moço, nenhuma 
reacção inflannnatoria notava-se, na doente particular, senhora 
idosa, de idade muito avançada, e na qual se tinha instillado em 
um só olho a maceração, não só havia edema muito considerável 
das palpebras, infiltração das conjunctivas, secreção abundante de 
mucco-pus, e, o que era muito grave, infiltração de toda a cornea, 
apezar do espesso pannus que a cobria. 
Não houve meio algum energico capaz de salvar a cornea, 47 
poupando-se apenas as camadas profundas, e formando-se uma 
adherencia da palpebra superior á cornea (symblepharon). 
Ainda para confirmar mais que o jequirity actúa de accbrdo 
com a constituição individual, mencionaremos o que se passou com 
este mesmo doente, a que nos referimos. Depois desta primeira 
tentativa, esteve este doente durante algum tempo submettido ao 
tratamento com o sub-acetato de chumbo, que nenhuma melhora 
lhe produzio. 
Nova tentativa foi feita com o jequirity preparado nas mesmas 
condições que a primeira vez, e novo insuccesso teve-se, pois que 
nenhuma reacção inflammatoria houve, e por conseguinte nenhuma 
melhora. 
Retirou-se do hospital este individuo, e continuou raras vezes 
a apparecer no consultorio do Sr. Dr. Hilário de Gouvêa, onde 
lhe eram feitas cauterisações com o sub-acetato de chumbo liquido. 
Começou a sentir-se peior porque o pannus do olho esquerdo con- 
tinuou a augmentar. Desaminado pela persistência do mal, resolveu- 
se entrar de novo para a enfermaria de olhos, com o fim de uma 
terceira tentativa ser-lhe feita com o jequirity. 
Encarregamos-nos desta vez de preparar a maceração, não 
com 2 °/0 mas sim com 5 °/0. Descascamos e pulverisamos as se- 
mentes e fizemos a maceração immediatamente, e 24 horas depois 
filtramos. Applicou-se esta maceração por meio de um pincel, tres 
vezes em 24 horas. No dia seguinte, á hora da visita, encontramos 
o doente com as palpebras bastante inflammadas e alguma secreção 
muco-purulenta'; neste segundo dia fez-se applicação quatro vezes 
com o pincel, e 24 horas depois o doente tinha as palpebras extra- 
ordinariamente inflammadas, não podendo abrir os olhos, uma 
secreção muco-purulenta abundantissiina e falsas membranas sobre 
as conjunctivas palpebraes. 
Por mais dois dias applicou-se uma vez por dia a mesma 
maceração, e a inflammação conservou-se muito considerável durante 
quatro dias, cedendo em seguida pouco á pouco. 
Este doente que ainda se acha em observação na enfermaria, 
apresenta melhoras consideráveis; as granulações estão muito 48 
diminuídas juntamente o jiannus. Parece-nos pela marcha da mo- 
léstia que dentro de muito pouco tempo, elle se achará completa- 
mente restabelecido. 
O que nos prova a resistência deste individuo para a mace- 
ração de 2 °/0 e ceder á de 5 °/0? Isto nos prova perfeitamente que 
o jequirity actúa segundo a constituição de cada um. 
Poderia ser-nos objectado que a maceração foi feita de um 
modo diverso da primeira, isto é, que as sementes foram descas- 
cadas e recentemente pulverisadas; mas nós lembramas que na 
primeira applicação feita neste individuo, a maeereção que nenhum 
effeito lhe produzio, determinou a destruição do olho da doente 
que mencionamos. 
Depois destas observações, devemos proceder pois, com toda 
prudência e tacto no emprego deste medicamento tão poderoso, 
mas ainda insufficientemente estudado. Começaremos por dóses 
fracas e augmentaremos conforme a resistência que apresentar o 
doente. Principiaremos pela proporção de 1 % e iremos até 5 %, 
dóse maxima que temos empregado na enfermaria. Talvez que 
algumas vezes se tenha de augmentar esta porcentagem. 
As macerações podem ser feitas com o pó com casca ou não. As 
cascas parecem diminuir a acção do pó, mas cremos ser isto devido a 
que nas proporções estabelecidas para o pó, ellas influam no peso, 
diminuindo por conseguinte a quantidade da matéria que nos 
fornece os elementos capazes de produzir a infecção. As cascas 
são inertes. 
As macerações feitas com as sementes descascadas, são muito 
mais activas do que as outras. Temos na enfermaria um doente, 
no qual foi empregado o jequirity. A maceração foi feita pelo 
Sr. Sampaio, pharmaceutico da Santa Casa da Misericórdia, com o 
pó do jequirity do laboratorio do Sr. Hollanda. 
Apezar do applicação regular de uma gotta de duas em duas 
horas, não se obteve resultado inflammatorio considerável. Esteve 
durante tres dias no uso desta maceração, sem proveito algum. 
Passados alguns dias, nova applicação foi feita por intermédio 
de um pincel, de uma maceração feita pelo Sr. Dr. Hilário de 49 
Gouvêa, mas com o pó, da mesma casa, também com cascas. Ainda 
desta vez não houve inflammação senão muito mediocre, desappa- 
recendo rapidamente. 
Encarregamos-nos de preparar um macerado para uma terceira 
tentativa. Descascamos e pulverisamos as sementes e fizemos a 
maceração na proporção de 2 %• No fim de dezenove horas e 
antes de ser filtrada, fez-se a primeira applicação com um pincel, 
continuando-se depois tres vezes ao dia. A inflammação 24 horas 
depois era muito intensa. 
Parece que podemos concluir que as macerações feitas com 
as sementes pulverisadas sem casca, são rnais efificazes do que as 
outras obtidas com o pó com casca, como o que foi usado para 
as primeiras macerações empregadas no caso precedente. 
O liquido resultante desta maceração é opalino, e á proporção 
que fica velha torna-se de mais a mais opaca, chegando mesmo 
a tomar um aspecto leitoso. O cheiro é especial (um pouco se- 
melhante ao da pimenta secca socada); este cheiro é mais pro- 
nunciado quando se trituram as sementes. O liquido é neutro. 
Passados seis á oito dias, a maceração decompõe-se e exhala um 
cheiro muito fétido; quando se tira a rolha do vidro, ha despren- 
dimento muito abundante de gazes. 
Depois de feita a maceração durante as 24 horas e filtrada 
em seguida, e examinada ao microscopio, encontra-se : l.°, bacillos 
bem desenvolvidos (n.° 1) ; 2.°, bacillos em via de formação (n.° 2); 
3.°, esporos (n.° 3). (Vide a estampa) 
Estes micro-organismos acham-se perfeitamente figurados, no 
desenho aqui juncto, feito pelo Sr. Dr. Azevedo Macedo, á pedido 
do Sr. Dr. Hilário de Gouvêa, logo depois das primeiras observações 
feitas por este ultimo clinico, o anno passado. 
Os bacillos perfeitamente desenvolvidos, como aqui figuramos, 
apresentam na sua parte media uma porção mais transparente, 
como se as duas extremidades tivessem sido unidas por uma ma- 
téria differente. 
Elles têm movimentos muito rápidos, ora se movem na di- 
recção de uma linha recta e voltam sem que mudem de rumo, ora 
5410 — 4 50 
fazem movimentos giratórios, unindo suas extremidades de maneira 
a formar um circulo perfeito. A mobilidade dos bacillos em via de 
formaçfio não é tão considerável. Os esporos conservam-se comple- 
tamente immoveis. 
Nas macerações simplesmente coadas e feitas com agua fer- 
vendo, como no principio usava-se, notam-se cellulas de grandeza e 
de fórma variaveis (n.° 4). Estas cellulas não tem sido observadas 
nas macerações cuidadosamente filtradas, o que nos leva a crer 
que sejam de origem vegetal. 
Nas maceraçães muito antigas, notam-se bacillos extraordina- 
riamente desenvolvidos (n.° 5) e tendo no seu centro corpúsculos 
arredondados. Estes bacillos têm movimentos serpentinos muito 
lentos. 
De tres modos se póde applicar a maceração do jequirity : 
l.° por meio de instillações de gottas; 2.° com um pincel pequeno 
directamente sobre as conjunctivas; 3.°, finalmente, por meio de 
compressas. 
O numero de gottas varia conforme a constituição individual; 
ordinariamente tres por dia da maceração de 2 0/°, determinam 
inflammação bem considerável. Algumas vezes precisamos continuar 
a applicação por mais de um dia, para conseguirmos o resultado 
desejado. Ha occasiões em que o numero de gottas precisa ser 
elevado, uma de duas em duas horas, para poder attingir a um 
estado inflammatorio intenso. O numero de pinceladas varia como 
o das gottas. 
As compressas são feitas tres vezes por dia e durante meia 
hora cada vez, deixando o doente descançar entre uma e outra 
applicação trinta minutos. 
Com qualquer destes processos póde-se obter a conjunetivite 
jequirity que vai substituir a granulosa. 
A applicação por meio do pincel é a que empregamos de pre- 
ferencia na enfermaria, e com ella temos obtido optimos resul- 
tados. Para fazer se esta applicação, imbebe-se um pincel no 
macerado e passa-se duas ou tres vezes sobre as conjunctivas 
depois de se terem voltado as palpebras. 51 
Passadas vinte e quatro lioras depois das primeiras appli- 
cações, nota-se ordinariamente rubor da conjunctiva muito forte, 
palpebras inflammadas, augmento da secreção que é muco-puru- 
lenta e lacrymejamento constante. Ou com estas applicações os 
phenomenos vão se tornando de mais a mais pronunciados, ou 
novas são precisas. De qualquer modo, observam-se, quando a 
inflammação tem attingido o seu máximo, os phenomenos já des- 
criptos mas muito mais exgerados, isto é, as conjunctivas muito 
edemaciadas, com o seu epithelio destruido, e substituido por uma 
membrana bastante espessa e algumas vezes facilmente destacável. 
Pelo exame microscopieo que fizemos nesta membrana com o 
nosso professor o Snr. Dr. Hilário de Gouvêa, observamos micro- 
coccus, bacittos, muitos corpúsculos de pus e algumas hematias. 
As palpebras, quando a inflammação tem attingido ao seu 
máximo, tornam-se excessivamente edemaciadas, rijas a tal ponto, 
que lucta-se com uma difficuklade extraordinária para voltal-as, 
tornándo-se algumas vezes mesmo quasi impossivel. A secreção 
augmenta consideravelmente, chegando algumas vezes a correr 
pela face. 
Todos estes phenomenos que acabamos de descrever são 
acompanhados de dores fortíssimas nos olhos, na região peri- 
orbitaria, e alguns doentes accusam dores nos ganglios da região paro- 
tidiana, que algumas vezes se intumecem em gráo variavel. Q 
doente conserva os olhos fechados por causa da forte photophobia, 
e accusam muitas dores quando se tenta abril-os. 
Quando os phenomenos têm attingido a este ponto, deve-se 
suspender toda applicação e limitar-se a observar a evolução da 
conjunctivite jequirity, — que tende naturalmente a desapparecer 
no fim de seis a oito dias. Póde acontecer algumas vezes que ella 
exceda aos limites desejados, e neste caso lançar-se-á mão das 
compressas geladas, das lavagens anti-septicas e das cauterisações 
fracas de nitrato de prata. 
Logo que cessem os phenomenos inflammatorios, vêm-se as 
granulações irem diminuindo progressivamente ; o pannus quando 
existe, também desapparece simultaneamente com sua causa que 
são as granulações. 52 
Os factos clínicos nos têm demonstrado que as conjunctivas 
não readquirem immediatamente o seu estado normal, mas sim 
em um tempo não muito remoto mas variavel. Neste periodo de 
declínio das granulações, se as comprimirmos, deixam facilmente 
extrahir uma matéria semi-transparente, que examinada ao micros- 
copio, é constituída por grande numero de elementos lymphoides 
e ephiteliaes. 
Diagnosticada uma conjunctivite granulosa chronica, podemos 
sem o menor escrupulo empregar o jequirity sem attender-se o 
estado da cornea? 
Àpezar da segunda proposição estabelecida por de Wecker, 
em sua memória publicada em Novembro do anno passado, nos 
annaes de oculistica, isto é, que a cornea nenhum risco corre du- 
rante a evolução da conjunctive jequirity, não ousaríamos em- 
pregal-o, em casos de granulações complicadas de perda de epithelio 
da cornea, sem grande precaução em relação á tolerância do 
doente, 
Este nosso temor não é sem fundamento, pois que, já obser- 
vamos o facto citado da senhora idosa e muito depauperada, onde 
houve destruição da cornea, apezar delia estar protegida por um 
espesso pannus. Ora, se neste caso a cornea deixou-se destruir 
sómente pela influencia da constituição individual, é muito pro- 
vável que nos casos onde houver ulcerações, com mais facilidade 
a cornea deixar-se-á penetrar pelo exsudato que póde compro- 
metter para sempre a sua transparência, quando não detruil-a. 
O jequirity actua de um modo analogo a inoculação do pus 
blenorragico, determinando conjunctivite pseudo-membranosa e 
purulenta, cuja influencia sobre a destruição das granulações já 
foi estudada sob o ponto de vista clinico e anatomo-pathologico. A 
ultima palavra sobre a acção intima do jequirity ainda não foi dita, 
mas temos esperança que em muito breve tempo esteja esta questão 
completamente resolvida. OBSERVAÇÕES 
Observação n.° 1. — O doente J. M. R., de 17 annos de 
idade, esteve em tratamento de conjunctivite granulosa mais de 
um anno pelos meios ordinários, isto é, por cauterisações com o 
sulfato de cobre, o sub-acetato de cliuinbo ; foi feita tarso-raphia, 
por se achar a cornea muito compromettida. Melhorou muito o 
estado com esta operação, mas ainda via-se grande turvor na me- 
tade superior da cornea, principalmente do olho direito. Tinha forte 
photophobia, lacrymejamento, etc. 
Não progredindo as melhoras com o tratamento a que tinha-se 
sumettido este doente até o dia 23 de Outubro de 1882, o 
Sr. Dr. Hilário de Gouvêa resolveu empregar o jequirity no olho 
direito que era o peior. 
A maceração foi feita pelo Sr. Sampaio, pharmaceutico da 
Santa Casa da Misericórdia, segundo se usava popularmente no 
Piauhy. 
No dia 25 de Outubro empregou-se no olho direito por meio 
de um pincel, a maceração preparada 24 horas antes. No olho 
esquerdo fez-se o curativo com o sub-acetato de chumbo liquido. 
A 26 o paciente queixou-se de ter sentido picadas no olho 
direito, e de ter mesmo purgado um pouco, o que não aconteceu 
no outro. Examinando o olho notou-se infecção e intumeeencia da 
conjunetiva palpebral, e uma secreção muco-purulenta pouco 
abundante. 
A 27 nenhuma applicação se fez. 
No dia 28 a reacção inflammatoria era quasi nulla. Mandou-se 
então fazer lavagens e compressas 2 vezes por dia. 
29 e 30 : existia reacção considerável, tumefacção das pál- 
pebras e suppuração muito abundante. 54 
A 3 de Novembro já não havia secreção alguma e o estado 
da cornea melhorava. 
No dia 11 havia melhoras muito consideráveis no olho direito 
e não notavam-se mais as granulações ; a cornea estava quasi in- 
teiramente transparente. 
A differença que existia nesta data entre este olho submet- 
tido ao tratamento pelo jequirity, e o outro sob a acção do sub- 
acetato de chumbo liquido, era enorme. Applicou-se neste mesmo 
dia no olho esquerdo a maceração antiga, que tinha servido ao 
direito. Notavam-se granulações e pannus espesso na metade superior 
da cornea. 
Esta primeira applicação feita com a maceração velha (de 
17 dias), determinou uma inflammação pouco intensa, que entre- 
tanto perdurou até o dia 18 do mesmo, e teve uma influencia 
notável sobre o pannm, fazendo-o diminuir consideravelmente. 
No dia 18 mandou-se pingar uma gotta, de 2 em 2 horas, 
da maceração feita a frio, na proporção de 1 °/0. 24 horas depois 
havia grande inflammação e secreção abundante; suspenderam-se 
as applicações. 
Alguns dias depois, este doente estava completamente resta- 
belecido desta moléstia que havia muito tempo o perseguia. 
Observarão n.° 2. — M. C. S. A., portugueza, com 30 annos 
de idade. Havia quasi dous annos que estava doente e mais de 
um que se tratava, quando veio ao consultorio do Sr. Dr. Hilário 
de Gouvêa. 
Foi dignosticada uma conjunctivite granulosa chronica e kera- 
tite ulcerada em ambos os olhos. 
Tratou-se com o sulfito de cobre e o sub-acetato de chumbo. 
Sob a influencia d’este tratamento e de loções de acido borico, 
restabeleceu-se inteiramente do olho esquerdo, mas continuando 
sempre a soffrer do direito, cuja cornea apresentava uma ulcera 
na parte superior e keratite pannosa. Ilesistindo a moléstia ao 
tratamento, fez-se no dia 25 de Outubro de 1882 a primeira, 
applicação do macerado de jequirity (de 2 °/0) 'no olho direito. 
No dia 27 mandou-se applicar em casa 2 gottas por dia. 55 
Dia 28 : grande rubor das palpebras e tumefacção, o que não 
existia, secreção abundante e laerymejamento. As conjunctivas 
palpebraes estavam cobertas por membranas tenues, e existia 
grande rubor da conjunctiva bulbar. A doente accusava dores peri- 
orbitarias e muito ardor no olho. 
A 30 a tumefacção, bem como a suppuração tinham augmen- 
tado. As palpebras estavam cobertas por uma camada esbranqui- 
çada. Notava-se no centro da cornea uma perda de substancia 
superficial, sobre a qual estava depositada uma matéria pultacea. 
Havia grande augmento do pannus, mandou-se suspender a appli- 
cação do jequirity e fazer lavagens com acido borico. 
O exame feito no dia 31 revelou melhoras para o lado da 
cornea; o pannus tinha augmentado muito, a perda de substancia 
da cornea pareceu um pouco menos extensa e o fundo mais trans- 
parente. A secreção continuou abundante; o rubor e infiltração 
pelpebraes foram bastante intensos. Queixou-se de muitas dores 
na testa e têmpora do lado doente. Continuou a usar o acido borico. 
2 de Novembro: Reparou-se inteiramente o epithelio da cornea 
e apenas havia rubor da conjunctiva palpebral e bulbar, e turvor 
da metade superior da cornea, com vasos de nova formação. Ainda 
neste dia o olho amanheceu um pouco pegado. 
3 de Novembro : Diz não haver nenhuma secreção. Havia 
ligeiro rubor da conjuctiva, mancha central da cornea e pannus 
muito tenues. A paciente diz sentir-se muito melhor do que antes 
do emprego de jequirity. Mandou-se continuar com as loções de 
acido borico. 
As melhoras foram se succedendo progressivamente até o seu 
completo restabelecimento. 
Observação n.° 3. — José de Souza Santos, portuguez, 
com 39 annos de idade. Esteve em tratamento mais de dez mezes, 
com os meios ordinários, restabelecendo-se do olho esquerdo com 
elles, sem cicatrização da conjunctiva palpebral. 
Nos primeiros dias a moléstia foi qualificada de conjunctivite 
follicular, pois apenas se viam os folliculos conjunctivaes Iryper- 
trophiados. Mais tarde, tendo-se restabelecido o olho esquerdo 56 
(no fim de quatro mezes), continuou a soffrer do outro, que apre- 
sentava então todos os caracteristicos da conjuntivite granulosa 
cfironica, com começo de alteração da cornea. 
A 25 de Outubro fez-se a primeira applicação de jequirity. 
O doente disse ter tido durante o dia sensação de argueiros, 
ardor e lacrymejamento constante. 
No dia 26 as granulações tornaram-se mais injectadas e mais 
facilmente visiveis. Nova applicação por meio do pincel foi feita, 
não produzindo grande reacção até o dia 27, em que mandou-se 
o doente usar compressas embebidas na maceração. 
Dia 28 : Havia grande edema das palpebras e lacrymejamento 
abundante 5 as granulações estavam mais visiveis pela sua cor 
branca em fundo carmesim. 
Mandou-se continuar a applicação no dia 26; augmentou a 
inflammação e suppuração. 
Suspendeu-se 0 tratamento no dia 30. 
A conjunctivite jequirity desappareceu 110 fim de poucos dias 
e com ella a granulosa. PROPOSIÇOES Cadeira de chimiea organica 
Atropina 
I 
A atropina ê o principio activo da atropa-belladona. 
II 
Os crystaes da atropina se apresentam sob a fôrma de agu- 
lhas' sedosas, inodoras, incolores, de um sabor acre e amargo. 
III 
A atropina é muito solúvel no álcool. 
IV 
35 partes d’ether frio e 6 d’ether fervendo dissolvem a 
atropina. 
V 
Difficilmente a atropina se dissolve nagua fria. 
YI 
Ajuntando-se, á uma mistura de 1 parte de acido sulfurieo 
e 10 de alçool, uma solução de 10 partes de atropina, feita no 
ether puro e secco, obtemos o sulfato de atropina. 
VII 
O sulfato de atropina crystallisa em agulhas separadas. VIII 
0 sulfato de atropina se dissolve facilmente na agua e álcool e 
é insolúvel no ether. 
IX 
A atropina é um veneno violento mesmo em fracas dóses. 
X 
O sulfato neutro de atropina é muito usado na therapeutica 
ocular. 
XI 
A pupilla augmenta sob a influencia da atropina. 
XII 
Com dois fins é empregada a atropina na ophtalmologia: para 
facilitar o exame ophthalmoscopico e com o fim therapeutico. Cadeira de anathomia topograpliica e medicina 
operatória 
Estudo critico dos tratamentos empregados 
oontra os tumores do seio 
I 
«. 
A expectação pura e simples nos casos de tumores do seio, 
deve ser exeluida da therapeutica desta parte da cirurgia. 
II 
O tratamento palliativo impõe*se, nos casos em que os doentes 
não sujeitam-se aos meios curativos. 
III 
As injecções hypodermicas calmantes, representam um papel 
importante, no tratamento palliativo dos tumores dolorosos do seio. 
IV 
O iodureto de potássio nenhum resultado dá nos casos de 
tumores do seio. 
V 
Quer a cauterisação em superfície, quer a linear, devem ser 
empregadas com muita cautella no tratamento dos tumores do seio. 
VI 
O esmagamento aconselhado no tratamento dos tumores do 
seio, consiste em comprimil-os fortemente atravez da pelle, com o 62 
fim de produzir rupturas múltiplas no seu interior e facilitar a 
sua absorpção. 
VII 
De todos os tratamentos dos tumores do seio, o que inspira 
mais confiança é o cirúrgico, quando empregado em tempo. 
VIII 
O esmagamento linear não oíferece grandes vantagens na 
extirpação dos tumores do seio. 
IX 
A ligadura elastioa empregada para seccionar tumores do 
seio, tem o inconveniente de ser muito dolorosa e actuar muito 
lentamente. 
O Bisturi é o melhor instrumento para extirpar-se òs tu- 
mores do seio. 
XI • : : « • 
A amputação parcial da glandula mamaria tem muita indi- 
cação no tratamento dos tumores do seio. 
XII 
A importância da glandula mamaria sob muitos pontos de 
vista, obriga respeital-a muitissimo, poupal-a o mais possivel, evi- 
tar a sua amputação total, a não ser em caso extremo. Cadeira de clinica medica 
Qual o tratamento que mais aproveita nos casos de 
aneurisma da aorta ? 
I 
Nos casos de aneurysma da aorta, procura-se combater mais 
os symptomas do que mesmo a moléstia. 
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II 
A dieta rigorosa acompanhada de sangrias repetidas, concor- 
reria antes para a morte dos doentes de aneurysma da aorta, do 
que para sua cura. 
III 
A compressão não aproveita nos casos de aneurysma da 
aorta, tornando-se mesmo perigosa. 
IV 
As injecções hypodermicas de ergotina, nas proximidades do 
tumor aneurysmal têm dado algum resultado. 
V 
As applicações refrigerantes nos aneurysmas da aorta, trazem 
quasi sempre complicações para os orgãos respiratórios. 
VI 
De todos os tratamentos empregados internamente, o iodureto 
de potássio é o que melhores resultados têm dado no tratamento 
dos aneurysmas aorticos. 64 
VII 
A acumpunctura é o methodo de tratamento dos aneurys- 
mas da aorta, pela introducção de corpos estranhos no sacco. 
VIII 
A electrolyse póde produzir muito bons resultados no trata- 
mento dos aneurysmas da aorta. 
IX 
A electro-punctura é um dos meios mais heroicos para 
combater-se os tumores aneurysmaticos. 
X 
A electro-punctura consiste em mergulhar uma agulha no 
interior do tumor aneurysmatico, e por ella fazer-se passar a cor- 
rente electrica. 
XI 
Não é indiíferente a applicação dos polos em relação com 
o tumor. 
XII 
O pólo positivo é o que deve estar em relação com a agulha 
mergulhada no tumor. HIPPOCRATIS APHORÍSMI 
I 
Ars longa, vita brevis, occasio prseeeps, experientia fallax, ju- 
dicium difficile. 
(Sect. I. Aph. l.°) 
II 
Ophtalmia laborantem ab alvi proíluvio corripi bonum. 
(Sect. VI. Aph. 17.°) 
III 
Quibus oculi in morbis sponte illacrimant, bonum, quibus 
vero non sponte, malum. 
(Sect. VII. Aph. 83.°) 
IV 
In doloribus oculorum, postquam merum bibendum dederis, 
et multa calida lavaveris, venam secato. 
(Sect. VIí. Aph. 56.°) 
V 
Oculorum dolores mer potio aut balneum aut fomentium, aut 
ven sectio aut medicamentum purgant exhibitum solvit. 
(Sect. VI. Aph. 31.°) 
VI 
Somnus, vigilia, utraque modum excedentia malum denunciat. 
(Sect. II. Aph. 43.°) 
5440 — 5 Esta these está conforme os Estatutos. 
Rio, 5 de Outubro de 1883 
Dr. Caetano de Almeida. 
Dr. Benicio de Abreu. 
Dr. Oscar Bulhões.