DISSERTAÇÃO Sobre as bactérias do pus azul SCIENCTAS CIRÚRGICAS THESE APRESENTADA Á mm 1 medicim m mo m mm Km 28 PARA SER S&s/ÉNTADA POR J\SV& LIBA j^LORENCE Dr. em Medicina, Cirurgia e Partos pela Universidade de Wurzburgo, Natural da Provinda de S. Paulo, aíim de poder exercer a sua profissão no Império d" Brazll. RIO DE JANEIRO Typographia Universal de K. & II. Laemmert 71, Rua dos Inválidos, 7! 1879 THESE DISSERTAÇÃO Sobre as bactérias do pús azul SCIENCIAS CIRÚRGICAS THESE APRESENTADA Á FACULDADE DE UM DO RIO DE JANEIRO Em 9H de Outubro de 1899 PARA SER SUSTENTADA POR JpYoRENCE Dr. em Medicina, Cirurgia e Partos pela Universidade de Wurzburgo Natural da Província de S. Paulo afim de poder exercer a sua profissão no Império do Brazii. RIO DE JANEIRO Typogràphia Universal de E. & H. Laemmert 71, Rua dos Inválidos, 71 1879 «mui i mm oo mo n miíio DIRECTOH Conselheiro Dr. Visconde de Santa Izabel. TK E DIIIECTOU Conselheiro Dr. Barão de Theresopolis. SECUETíIKIO Dr. Carlos Ferreira de Souza Fernandes. EENTES CATIIEDRATIC©S Doutore» ■ PRUUEIItO ANNO Conselheiro F. J. do Canto e Mello Castro Mascarenhas (Ia cadeira.) Physica em geral, e particularmente em suas applicações á medicina. Conselheiro Manoel Maria de Moraes e Valle. 2a » Chimica e Mineralogia. Luiz Pientznauer ........ 3a » Anatomia descriptiva. SEGUINDO ANNO Joaquim Monteiro Caminhoá (Ia cadeira.) Botanica e Zoologia. Domingos José Freire Júnior .... 2a » Chimica organica. José Joaquim da Silva 3a » Physiologia. Luiz Pientznauer 4a » Anatomia descriptiva. TERCEIRO ANNO José Joaquim da Silva (Ia cadeira.) Physiologia. Conselheiro Barão de Maceió 2a » Anatomia geral e pathologica. João José da Silva 3a » Pathologia geral. Vicente Cândido Figueira de Saboia. . . 4a » Clinica externa. . QUARTO anko Antonio Ferreira França .... . (Ia cadeira.) Pathologia externa. João Damasceno Peçanha da Silva ... 2a » Pathologia interna. Luiz da Cunha Feijó Júnior 3a » Partos, moléstias de mulheres pejadas e paridas, e de crianças recem-nascidas. Vicente Cândido Figueira de Saboia. . . 4a » Clinica externa. QUINTO V\\o João Damasceno Peçanha da Silva . . . (Ia cadeira.) Pathologia interna. Francisco Praxedes de Andrade Pertence. 2a » Anatomia topographica, medicina operatória e apparelhos. Albino Rodrigues de Alvarenga .... 3a » Matéria medica e therapeutica. João Vicente Torres-Homem 4a » Clinica interna. SEXTO AN1NO Antonio Corrêa de Souza Costa. . „ . (la cadeira.) Hygiene e historia da medicina. Agostinho José de Souza Lima .... 2a » Medicina legal. Conselheiro Ezequiel Corrêa dos Santos. . 3a » Pharmacia. João Yicente Torres-Homem 4a » Clinica interna (S° e 6o anno.) LENTES SUBSTITUTOS Benjamin Franklin Ramiz Galvão. João Joaquim Pizarro. João Martins Teixeira. . . Augusto Ferreira dos Santos . Secção de Scíencias Accessorias. Cláudio Yelho da Motta Maia. José Pereira Guimarães. . Pedro Affonso de Carvalho Franco. Antonio Caetano de Almeida . Secção de Scíencias Cirúrgicas. João Baptista Kossuth Yinelli. Nuno Ferreira de Andrade . José Benicio de Abreu. . . Secção de Scíencias Medicas. N.B, A Faculdade nào approva nem reprova as opiniões emittidas nasTheses que lhe sào apresentadas. SOBRE AS BACTÉRIAS DO PUS AZUL Desde que os médicos começaram a considerar a presença de or- ganismos microscopicos como causa de muilas doenças do corpo humano, tanto das chamadas internas como também de uma serie das mais importantes complicações das feridas, ganhou cada dia maior importância pratica a questão do ser, do desenvolvimento, e das variedades morphologicas e funccionaes de taes organismos. Por mais desejável que seja esclarecer aquelles processos mórbi- dos por estudo profundado nesta direcção, a sua pesquiza encontra tão grandes obstáculos na pequenez daquelles mesmos organismos, desafiando os melhores instrumentos opticos, e na dificuldade, muitas vezes até impossibilidade, de serem observados isolados fóra do corpo, que o fim almejado ficará longo tempo por alcançar. Quanto á relação morphologica respectiva ás formas de cogu- melos de que tratamos, duas opiniões contrarias se apresentam, ambas defendidas por competentes autoridades. Segundo uma, que entre os mycetologos actuaes tem Naegeli por principal re- presentante, nenhuma differença especifica existe entre ellas. Nae- geli, em sua mais recente obra sobre os cogumelos, estabelece tres grupos naturaes: cogumelos de bolor (Schimmelpilze), cogumelos desenvolvendo renovos (Sprosspilze) e cogumelos reproduzindo-se por segmentação (Spaltpilze). Justamente entre os últimos mencio- nados contam-se os perigosos inimigos do organismo humano. Emquanto que os dous primeiros grupos têm grande intimidade, os cogumelos do outro, denunciados por Naegeli schizomycetas, ficam dislinctos e não podem se transformar nos dous primeiros, nem delles se derivar. 6 Mas Naegeli considera suas fôrmas particulares como inconstantes, podendo cada schizomyceta apresentar-se successivamenle como micrococcus, bacterium vibrio, e spirillus. Estas modificações se- riam consequência de accommodação ás circumslancias externas e de acclimação; e se um sichzomyceta prefere principalmenle uma das fôrmas possíveis, dever-se-hia atlribuir isso a ler elle passado por muitas gerações nas mesmas circumslancias externas e desta maneira ter perdido temporariamente a opporlunidade a uma outra accommodação. Como na fôrma devem também os schizomycetas ser incon- stantes em suas funcções physiologicas, e effectuam esta sua pro- priedade, tanto nas doenças infecciosas como em todas as outras decomposições fóra do corpo causadas por elles. « O mesmo schizomyceta, diz Naegeli na pagina 23 de seu livro, viveria uma vez no leite formando o acido láctico, uma outra vez na càrne e causar então sua pulrefacção ; depois no vinho, e aqui pro- duzir gomma, mais tarde na terra sem eíTectuar fermentação, emfim no corpo humano para tomar parte em qualquer pro- cesso pathologico ; » e em outro logar, pagina 64, onde trata das matérias infectanles: « Se minha opinião sobre a natureza dos schizomycetas é justa, a mesma especie toma no curso das ge- rações successivamente diversas fôrmas morphologica e physiolo- gicamente differentes, que, durante annos e decennios, ora fazem azedar o leite, ora produzem a formação de acido butyrico na couve azedada, ora a alteração do vinho, ora a putrefacção das matérias albuminosas, ora a decomposição da uréa, ora colo- ração dos meios feculentos, e determinar, ora diphtheria, ora typho, ora febre recurrente, ora cholera, ora febre intermit- tente. » De passagem, e para evitar confusões, devo accrescentar que Naegeli não quer explicar os respectivos processos pathologicos só pela actividade especifica das bactérias, mas que suppõe além disso ao mesmo tempo uma immigração de certas matérias in- fectantes para o corpo. Do mesmo modo os cirurgiões referem uma serie das mais temidas complicações de feridas á presença, tanto de micrococcos especificamente infeccionantes, como de pro- ductos de decomposição. 7 Também á inconstância nas funcções physiologicas dos schizomy- cetas attribue Naegeli a aceommodação ás circumstancias exter- nas. Um cogumelo, « cuja origem genealógica alcança muitas generações na mesma fôrma de doença, seria sempre o mais apto para sua determinação, » emquanto que elle enfraquece-se ou perde inteiramente suas qualidades especificas em troca de outras, logo que entra em corpos ou meios, que não póde in- feccionar como dantes. O que Naegeli expõe a respeito dos schizomycetas em geral, pre- tende Biilroth especialmente para todas aquellas fôrmas dos mesmos, que achamos em decompostos secretos das feridas e em tecidos em mortificação, os quaes são designados pelos nomes de micrococcos (monada Hueter, microsporos Klebs) vibrio, bacteiium termo, etc., etc. Elle sujeitou-as a um exame geral e chegou a concluir que são todos sómente fôrma de vegetação de uma e mesma planta, que elle chama coccobacleria séptica, e que transformam-se continua- mente uma na outra, conforme as circumstancias externas. A esta opinião sobre a natureza dos schisomycetas oppõe-se um outro partido, o qual pretende que tantas sortes especificamente differentes correspondem a quantas fôrmas e funcções physiologicas ellas nos mostram. Cohn, que principalmente avançou e defende esta opinião, estatue, conforme a configuração destes organismos, um systema de quatro tribus, tendo um ou alguns generos especiaes: I Sphacrobacterium Classe 1 Micrococcus II Microbacterium Classe 2 Bacterium III 2 Uesmobacteria Classe 3 Bacillus » 4 Vibrio IV Spirobacteria Classe 5 Spiriílum • » 6 Spirochaete e nega que uma das fôrmas mencionadas possa transformar-se na 8 outra ou mudar suas funcções. Attribue a cada fôrma, que se dis- tingue por signaes sensíveis, nomes de classe, e chama cada variedade menos distincta uma especie. Entretanto não lhe escapa aquella imperfeição no seu systema, que resulta da circumstancia de demonstrarem em suas funcções grandes differenças, fôrmas que em respeito da morphologia não po- demos separar. Por isso acha elle plausível a proposição de Pasteur de classificar os schizomycetas conforme suas funcções physiologicas ; mas também este recurso não solve todas as diíficuldades, achando-se o conheci- mento dos eííeitos destes organismos imperfeito. Adoptou-se-o, porém, provisoriamente, e designa-se, por exemplo, os micrococcos pigmenlosos, que não deixam-se differençar peio microscopio, por nomes de especie que são referidas á côr, que communicam aos meios nos quaes se acham ; Cohn suppõe que talvez existam comtudo entre todas estas especies, impossíveis de discriminar pelo aspecto, differenças morphologicas que somente nos escapam por causa dos instrumentos opticos acluaes. Conforme este autor, é provável que os micrococcos se com- portem do mesmo modo que algumas vezes os animaes superiores e as plantas, principalmente as plantas de cultura; existem variedades e raças que, descendendo de origens communs, lornaram-se, no curso do tempo, typos constantes pela selecção natural e artificial, para o que elles serião justamenle muito aptos pela maneira de sua geração, por divisão transversa. Das fôrmas em que elles se apresentam, e do seu desenvolvi- mento observável em curtos períodos, diz, porém, Cohn expressa- mente ainda em um artigo ultimamente publicado: «Asfôrmas de schizomycetas designados por mim pelo nome de generos mostram-se em gerações innumeraveis e nas condições as mais variadas tão con- stantes, como quaesquer famílias de animaes e plantas superiores, e deixam-se cultivar puras sem mostrar transições.» Aos tantos exemplos e experimentos citados em suas primeiras publicações para confirmar suas sentenças, accrescenta elle neste ar- tigo, que represenfh uma curta réplica âs asserções do livro de Naegeli, alguns novose muito interessantes; a constância da coloração na transplantação de micrococcos pigmenlosos de um meio para 9 onlro, o brilho quando se propaga o micrococcus-phosphoreus. Cohn, a respeito das outras fôrmas, mantém suas afíirmações tam- bém anteriormenle estatuídas por elle e repelidamenle examina- das de novo, bacillus, bacterium termo, spirillum, e lembra que os mesmos phenomenos se manifestam nas doenças infecciosas cau- sadas por schizomycelas, que a fôrma de cogumelos achada no sangue de pessoas que soffrem de febres reeurrentes é semprespi- rochaete. Obermeieri, em qualquer paiz, que mostre-se a doença, que o bacillus anthracis é sempre o mesmo, assim lambem, conforme as ultimas pesquizas de Koch, aconteceria com os schizomy cetas das complicações das feridas, da pyemia, da septicemia, da erysipela. Resulta da natureza do objecto que a controvérsia sobre o ser e as funcções destes organismos não limitou-se aos especialistas, aos botânicos, mas tomaram nella parle lambem os médicos, porquanto surgio a idéa da sua perniciosidade para o corpo humano, e parli- cularmente ella interessa aos cirurgiões, que os encontrão a cada passo. As suas opiniões, porém, sobre a importância dos micrococcos para o apparecimento das complicações accidentaes das feridas, ainda estão muito longe de chegar a um accordo. Emquanto um partido a nega absolutamente e considera a pre- sença dos micrococcos, como casual e sem importância, uma outra afíirma que elles são os únicos portadores e produclores da matéria infeccionante ; conforme uma terceira opinião, já antes citada, que conta maior numero de partidários, communica-se à infecção não só pelos schizomycetas, como pelos secretos decompostos e putre- factos das feridas que lhes fornecem a nutrição. Parecem avançar demais aquelles autores que querem ter acha- do pelo microscopio, para cada fôrma de complicação de feridas clinicamente dislinctas, uma fôrma respectiva e própria de cogu- melo ; estas asserções carecem muito de confirmação. Micrococcos, aos quaes attribue-se a determinação das mais violentas affecções, mostram no microscopio tanta semelhança em fôrma, tamanho e movimentos, com outros inleiramente inoffensivos, que todo o dis- cernimento é impossível. Diversamente acontece, quando uma das especies deixa-se reco- nhecer por eífeitos secundários, como por formação de pigmento. Encontramos tal exemplo interessante nos micrococcos do pús azul. Estes schizomycelas, que por si mesmos nunca aggravam. a prognose de uma ferida, igualam em fôrma e tamanho inteiramenle com as perniciosas especies, que, por exemplo, foram reconhecidas por Klebs, llueter e outros autores na dipheteria das feridas, so- mente têm a particularidade de revelar-se logo que se acham nas peças de curativo, pela côr azul que lhes communicam, assim como á epiderme dos bordos da ferida. Conhecemo-los por isso logo que mostram-se um pouco numerosos nas compressas e por si mesmos, apezar da inocuidade do phenomeno, despertam a nossa attenção. Já ha longo tempo que o chamado pús azul attrahio a attenção dos cirurgiões. As primeiras publicações a seu respeito vieram de França no principio deste século, seguiram-se logo outras, parle também de lá, parte da Allemanha. As explicações do phenomeno então aventadas, a admissão de uma coloração accidental da roupa, de combinações de ferro e de anil, de derivados do pigmento do sangue e da bilis, eram todas erróneas. Foi só nos dous últimos decennios que os trabalhos exactos de Fordosede Lúcke esclare- ceram o facto. Fordos examinou principalmenle a matéria corante do pús azul, emquanto que Lúcke dirigio particularmente sua al- tenção para seus caracteres microscopicos e clínicos. Nos últimos tempos, novos e minuciosos estudos foram publicados por Girard, e íinalmente por Bergmann, estes em lingua russa. Liicke foi o primeiro que referio o facto â presença de certos micrococcos nos apparelhos, vistos já antes delles, mas não interpretados, indicando ao mesmo tempo a analogia da formação do leite azul. Por experiencias que fez, chegou a suppôr uma especificidade destes micrococcos; sempre quando transportados de uma ferida a uma outra, vio formar-se outra vez pús azul sempre com a mesma fórma de micrococcos. Também julgou caracteristico um cheiro particular, aromalico e um tanto doce das compressas impregnadas de pús azul, o que foi confirmado por diversos au- tores. Não faltaram protestos da parte de outros observadores; alguns diziam não ler visto micrococco algum no pús azul, apenas granu- lações immoveis; outros nem uma, nem outra cousa. Hcine observou algumas vezes suppuração azul em occasiões de gan- grena nosocoininal, e reconheceu a presença de micrococcos, mas nega a sua influencia na producção da còr azul, e crê ser esta sò consequência da decomposição dos tecidos. Girard repetio e ampliou, de uma. maneira minuciosa, os es- tudos de Fordos e de Lucke, chegando em geral aos mesmos resultados. Abraça especialmente as asserções de Lucke sobre a fórma e o caracter especifico dos micrococcos, fundamentando-as em novos experimentos. Emprehendeu no Hospital de Strasburgo uma longa serie de transplantações por meio de compressas infeccionadas recente- mente, . ora por meio de escamas da epiderme tiradas do bordo de feridas com suppuração azul, e conservadas por mezes e annos ; obteve sempre o mesmo resultado, suppuração azul e a mesma fórma de micrococcos. Quanto ao odor caracteristico, pôde elle. reconhece-lo todas as vezes que a secreção das feridas não era demasiada, e uma vez, guiado sómente por este phenomeno mesmo antes da remoção do apparelho, foi levado á diagnose de sup- puração azul em um caso de origem espontânea. Ao mesmo tempo confirmou que o apparecimento dos micrococcos em questão não limita-se a feridas suppurantes, mas que também tem logar espontaneamente, em casos de emprego de compressas húmidas, sobre a própria epiderme e no apparelho, communicando-lhes a côr azul, observação esta sobre a qual de novo fatiarei mais tarde. Asexperiencias emprehendidaspor Bergmann, e por mim repeti- das por meio de transplantação e cultura em uma estufa, deram sem- pre a mesma especie de micrococcos, mas sua fórma não era aquella que descreveram Liicke e Girard. Ambos faliam de fôrmas de bis- couto com extremidades entumecidas, e justamente sem movi- mentos muito aclivos, emquanto que Be.gmann conta-os entre as verdadeiras bactérias esphericas, e attribue-lhe$ movimentos viva- zes, asserções que devo aceitar. Estas eontradicções nos resultados das observações dos vários auctores deixam-se explicar talvez pelas circumstancias de que Liicke e Gfirard não examinaram as bactérias no estado de repouso, mas no de movimentos ameboides; neste caso, é verdade, tomam ellas a fôrma de biscoulo pelo alongamento do corpo; mas, paradas, são sempre esphericas. Não posso confirmar serem seus movimentos sempre lentos; o mais frequente vi-as moverem-se vivamenle, e algumas vezes mu- dando de loDar vum ligeireza no campo do microscopi > para um e outro lado. Colin lambem contesta a fórma espherica destes micrococcos, di- zendo: « os organismos que produzem o leite azul e amarello, e o pús da côr de azinhavre, não podem ser contados entre os micro- coccos esphericos, pois têm fórma debacillus; mas accrescenta, o que é de importância: « Eu mesmo ainda não examinei minuciosa- mente estes pigmentos.» Bem que Cohn falle de pús da côr de azinhavre, é evidente que se refere ao mesmo phenomeno; de vez em quando encontra-se esta expressão; Schroeler chama a côr « verde de azinhavre passando a •azul.» Nos experimentos que fiz para verificar a doutrina adoptada pelos auctores citados sobre o caracler especifico das bactérias de suppu- ração azul, achei-as de grande constância em fórma e funcção. folhesse-as eu de qualquer meio empregado para sua trans- plantação, quer de apparelhos de curativo frescos ou seccos, quer da solução de Pasleur, quer de pedaços de clara de ovo cozida, sempre mostrou-se a mesma fórma de micrococcos, e, quando feita a transplantação para meios solidos, a mesma pigmentação. Logo que desenvolviam-se bactérias de fórma de bacillus, ou outros cogumelos, desappareeiam os micrococcos esphericos, e com elles a possibilidade de novamente produzir por translação a côr azul. Antes de referir meus experimentos, seja-roe permillido dizer algumas ' palavras sobre a maneira por que foram feilos, e dos meios applicados. Notoriamente são obtidas com facilidade bactérias de todas as fôrmas quando se deixa decomporem-se substancias organicas no ar húmido. Para as bactérias pigmentosas os meios mais apro- priados são: fatias de batata, carne, pão, clara de ovo cozida; basta expôr estas cousas ao ar em um prato contendo agua, mas sómente em porção que não allinja sua metade superior. Toda vez que não se eflectuar podridão cedo de mais por copioso desenvolvimento de outros-cogumelos, vê-se dentro de poucos dias uma coloração na superfície, que ora se mostra em pontos um pouco elevados, ora difusa, formando uma camada mueilagi- nosa, vê-se sobre uma tal superfície todas as côres ao mesmo tempo, ou sómente uma unica, estendendo-se sobre ella; algumas vezes esplendidas colorações se mostram. De um semelhante meio pigmentado vermelho, verde, azul, etc., transportam-se pequenas porções para um outro, e em breve percebe-se também neste a côr respectiva. Pedaços de albumina endurecida são muito vantajosos para estas transplantações, não absorvem tanta humidade, e por isso não apodrecem tão facilmente. Infeccionados pelos micrococcos pigmenlosos, são collocados em uma estufa; no fim de pouco tempo coram-se completamente, e, fazendo-os depois seccar, póde-se nelles conservar activos os germens destes organismos durante mezes e annos. Foi delles que me servi para as transplantações das bactérias de pús azul. Um segundo meio no qual a estudei foi a solução dos saes nutriti- vos de Pasteur e a de Mayer, esta ultima com algumas modificações. A solução de Pasteur tem a composição seguinte: Agua distillada 100,0 Assucar cande 10,0 Tartrato de ammoniaco 1,0 Phosphato de potassa 0,1 Sulphato de magnesia 0,1 Phosphato tribasico de cal . 0,01 A segunda solução dos saes nutritivos que foi empregada em parle dos experimentos com igual resultado compõe-se da seguinte maneira: ♦ Agua distillada 16,0 Solução concentrada de tarlrato de potassa 2,0 Acetato de ammoniaco 2,0 Phosphato de potassa 0,02 Sulphato de magnesia 0,02 Phosphato tribasico de cal 0,002 Cheios destas soluções diversos vidros de reacção alé o meio, depois de inoculadas com as bactérias do pús azul, foram postos abertos ou tapados com algodão dentro de uma estufa; mais tarde foram empregados vidros maiores fechados com tampa de parafuso e munidos de um annel de gomma elaslica, os quaes forneciam maior segurança contra a entrada do ar. Os vidros eram fortemente aquecidos antes de serem cheios. A estufa ligeiramente fechada, era aquecida dia e noite, conservando-se em uma temperatura de 35* a 38° C., sendo esta regulada por meio de um thermometro conve- nientemente collocado em sua cavidade. O material primitivo empregado nos experimentos consislio em pedaços de albumina endurecida e peças de apparelhos, que ti- nham sido, havia algum tempo, impregnados de pús azul. No dia 4 de Julho de 1878 foram postos na estufa sete vidros cheios de solução de Pasleur: 1) Tres destes, inffeccionados por meio de compressas. 2) Tres outros, pela albumina cozida. 3) Um por ambos os meios. O terceiro ficou mais tempo na estufa, para verificar se o liquido nelle contido tomaria a côr azul, o que não aconteceu, durante uma observação de tres semanas. A solução turvou-se muito depressa em todos sete vidros, e dous dias depois tornou-se de côr leitosa. No mesmo tempo o exame mi- croscópico mostrou, nos vidros Io e 2o, innumeras espliero-bacte- rias movendo-se vivazmente. No dia 6 de Julho foram diversas compressas borrifadas com al- gumas gottas do conteúdo do vidro 2o e applicadas: 4) Sobre duas ulceras cruraes em bom estado de granulação, de pacientes occupando os quartos 183 e 187 do Hospital Juliano de Wierzburgo. O apparelhodo paciente do quarto 183 foi removido no fim de 36 horas. No centro da compressa achava-se pús espesso e de côr commum, nas outras partes estava tinta de azul, bem como a epiderme nas bordas da ferida. Sentia-se dislinctamente o cheiro aromatico. Os micrococcos da compressa eram inteiramente idênticos, em fôrma, tamanho e movimento, aos cultivados na solução de Pasteur; a maior parte movia-se continuamente, sómente poucos estavam em repouso, conservando-se esphericos. O mesmo resultado forneceu o segundo apparelho do paciente do quarto 187, retirado dous dias depois de applicado. Em 9 de Julho foi novamente uma compressa, impregnada do liquido dos vidros Io e 2o, applicada sobre uma ulcera crural em suppuração assas copiosa, em um doente no quarto 183. Removida 36 horas depois,'achava-se azulada, sendo os micrococcos outra vez os mesmos, mas faltava o cheiro aromatico. Do mesmo modo em 9 de Julho. 6) Foi collocado na estufa um pedaço de clara de ovo cozida, infeccionada pelo pús azul de uma compressa; 24 horas depois, mostrou-se uma ligeira eôr azulada, tornando-se até ao dia seguinte completamente azul. Triturado um pequeno fragmento de albumina com uma gotta d’agua sobre a lamina porta-objectos, mostravam-se immedialamente as bactérias nella contidas, as quaes tinham fôr- ma espherica e começavam a mover-se. O odor aromatico só é per- cebido em peças de apparelhos, faltando em lodos os outros meios infeccionados. 7) Em 18 de Julho foram postos novos pedaços de albumina cozida, borrifados com a solução de Pasleur contida nos vidros 2; dous dias depois appareceu nelles a côr azul, sendo a fórma de bac- térias sempre a mesma. 8) Poucas semanas mais tarde foi collocado aberto no forno um vidro maior com liquido de Pasteur, igualmente infeccionado. A solução turvou-se gradualmente e no fim de nove dias pequenas membranas unidas umas ás outras appareceram na sua superfície, as quaes representavam colonias de micrococcos do pús azul. (Coc- coglia ou Gliacoccos Billroth, Zooglaca Cohn). Alguns pedacinhos desta membrana foram transportados para compressas, com as quaes fez-se o curativo de duas ulceras da perna de doentes do hospital Juliano, então livre do casos de suppuração azul; 24 horas depois estavam azuladas, cheias de es- pherobaclerias, e apresentavam o odor caracterislico. O mesmo successo tiveram dous outros experimentos de trans- plantação para feridas, emprehendidos por um medico clinico fóra do hospital. Em todos estes casos de inoculação nenhuma influenica preju- dicial ao curso da cicalrização das feridas foi notada. O exame microspieo, com um augmento de 700 vez :s, deu o resultado seguinte : tanto nas compressas como na albumina co- zida e no liquido encontraram-se innumeraveis micrococcos e só da fôrma espherica ; pela maior parte manifestavam movimentos ameboides vivazes, outros poucos em repouso permittiam uma medição, que indicou um tamanho de 0,001 millimrnclro. Apenas via-se poucas fôrmas de torula, os organismos moviam-se quasi sempre livres e isolados, distendiam-se tomando configuração alongada e de novo se retrahiam; quando em repouso, eram sem- pre esphcricos. As membranas que formaram se na superfície do liquido cm um dos vidros correspondiam inleiramente no exame microscopico á figura da coccoglia que Billorth apresenta na pag. 114 do sua Cirurgia Geral, emquanlo que os micrococcos moviam-se livres nas camadas inferiores do liquido. As bactérias, que desenvolvem-se em uma infusão de feno e de tabaco em decomposição, são idenlieas em fôrma, tamar.ho e movi- mento ás do pús azul, de maneira que o microscopio não nos for- nece critério para discrimina-las. Occorre então naturalmenle a idéa de cultivar também estes micrococcos e de transplanta-los para meios como albumina, compressas, etc., nos quaes pudessem desenvolver sua faculdade eventual de produzir pigmento azul, para por esse modo ainda melhor provar, no caso que isso não aconte- cesse, aespecifidade das bactérias do pús azul. Infelizmente os ex- perimentos neste sentido ficaram imperfeitos; só os micrococcos da infusão de tabaco foram transplantados puros para feridas, mas não consegui cultiva-los no liquido de Pasleur, nem tão pouco os micro- coccos da infusão de feno. Ultimamente, todas as vezes que guardei estes líquidos, desenvolveram-se logo bactérias de fôrma de bacillos, e mais vezes ainda cogumelos ramificados, que inteiramente supplan- taram as bactérias esphericas. Os experimentos de transplantação dos organismos da infusão do tabaco foram feitos pela maneira seguinte: algumas compressas, parte embebidas, parte apenas humedecidas de tal infusão, guardada por quatro dias em ura quarto na temperatura ambiente, contendo só bactérias esphericas, fôrani applicadas em tres curativos. 1) Em uma ulcera com pouca secreção na perna de um moço de!8annos. 2) Em uma ulcera atonica da perna direita, com o osso desco- berto, em um trabalhador de 24 annos. 3) Em uma ferida contusa, de um pé de comprimento, na côxa esquerda de um homem de 50 annos. Os apparelhos fôrão remo- vidos nos tres dias seguintes; em nenhum achou-se a côr azul, nem o cheiro aromatico; as bactérias eram idênticas ás da infusão em- pregada. Este experimento prova que os micrococcos do pús azul e os da infusão de tabaco são na realidade diversos. Para demonstrar que não ha também transição entre elles, seria necessário prolongar por algum tempo a sua cultura nos meios citados, uma tal transição, que, porém, não admittimos, mostrar-se- hia immediatamente pela producção de pigmento. Ha varias respostas à questão de como a coloração dos meios effeclua-se pelas bactérias. Lúcke e Girard mostram-se inclinados a suppôr que no pús azul o corpo mesmo das bactérias é azulado; Girard diz que teve esta impressão examinando-as muitas vezes pelo microseopio e accrescenta que applicou todas as cautelas contra illusões oplicas. Imagina que a presença destes organismos, só ligeiramente azu- lados, produz a pigmentação da mesma maneira, como os innume- raveis corpúsculos corados do • sangue causam a côr vermelha carregada do sangue, emquanto que por si mesmos são apenas pallidus. A supposição de um pigmento no corpo das próprias bactérias tem certamente sua razão, mas não explica inteiramente a colora- ção intensa e tão rapida dos meios; é mais plausível suppôr que o pigmento se separa das bactérias para os meios ambientes; assim pensam Cohn e Schroeter acontecer com todas as côres produzidas por semelhantes organismos. Seriam então efleitos de uma propriedade especifica do corpo das cellulas, transmittindo-se por herança nas raças ou especies. Uns pigmentos são solúveis na agua, outros insolúveis, estes limi- tam-se ao protoplasma, aquelles coram também os meios. Conforme Cohn, os pigmentos amarello e vermelho são insolúveis, solúveis o alaranjado, o verde e o azul. Transplantando bactérias de pig- mento azul, desenvolvidas espontaneamente em falias de batatas, para a solução de Pasteur, e cultivando-as na estufa, o mesmo au- tor conseguio vêr no flui de nove dias uma coloração azul de lodo o liquido. A mim não aconteceu o mesmo com as bactérias do pús azul; se fôsse possível obte-lo em repetidas experiencias, seria interes- sante verificar se, depois de mortos os organismos e seus germens, o transporte do liquido poderia corar de azul outros meios, ou me- lhor dito, se a coloração se reproduzisse nestes. Provavelmente, considerando as observações referidas, pòde-se duvidar da realidade desta supposição. Já ficou mencionado que Fordos examinou chimicamente o pig. mento do pús azul ; separou a matéria corante em dous corpos crystallinos, que chamou pyocyanina e pyoxanthose, aífirmando transformar-se com o tempo o primeiro no ultimo. Girard repetio estes experimentos e confirmou o resultado de Fordos, e além disso pôde obter ambas as matérias corantes como combinações de sulphalo, de fórma pulverulenta. Vê-se com facilidade crystaes de pyocyanina em apparelhos sêccos, impregnados de pús azul. Quanto á importância do phenomeno de que tratamos, como complicação das feridas, os cirurgiões estão de accôrdo sobre a sua inocuidade ; o mesmo confirmam também os experimen- tos mencionados. Para fazê-lo desapparecer é preciso desinfeecionar as feridas com uma solução phenicada de 4/0—5/0 ; soluções mais fracas, permittem a vegetação e propagação das bactérias, como prova- ram os experimentos de Girard. Infelizmente não foi-me possível emprehender uma pesquiza comparativa dos micrococcos do pús azul, e dos que apparecem espontaneamente no pão, em fatias de batatas, etc., porquanto não pude obter dos últimos. Sempre que expuz estes objectos ao ar húmido, appareceram bactérias pigmentosas de todas as côres, verde, amarella, etc., mas nunca justamanle as desejadas, de côr azul. 0 Sr. professor Sachs, em Wúrgburgo, também não vio-os mais em suas culturas desde quatro annos. Parece justamente que de grande valor seria uma comparação dos micrococcos do pigmento azul quanto á fôrma, tamanho, movimento e possibilidade de transplantação para os meios ha- bituaes, e especialmente para feridas. Uma pesquiza geral, feita em tal sentido, ainda não foi emprehendida ; os cirurgiões exa- minaram a fôrma que apresenta-se no pús azul, os botânicos a de suas culturas. Talvez que de um exame generico resulte a prova de iden- tidade de ambas. A priori nada oppõ-se a esta supposição. Ambas as fôrmas pos- suem igualmente a faculdade de propagar-se em vários meios, e de cora-los da mesma maneira; por que razão as bactérias do pigmento azul, que apparecem nas culturas, não hão de apresen- tar-se também em apparelhos, nos quaes acham perfeitamente o alimento e a humidade necessários para a sua vegetação e propa- gação ? Se Cohn e Schroeter affirmam que as bactérias do pigmento azul, que observaram em meios expostos ao ar e nas suas cul- turas, são immoveis, também os vêmos attribuirem aos micro- coccos do pús azul a fôrma de bacilius, a qual evidentemente não lhes pertence. No correr da dissertação ficou demonstrado que existem nesta questão ainda tantas semelhantes contradicções explicáveis pela pequenez das bactérias, e pela diversidade dos meios e methodos applicados nas pesquizas, que não pôde ainda ser reprovada de modo absoluto a idéa da identidade dos mi- crococcos pigmentosos azues, desenvolvidos espontaneamente nos apparelhos de curativo das feridas, e daquelles que apparecem em meios taes como batata, pão, carne, etc. De nenhum modo a especifidade das bactérias do pús azul se acha negada, por esta supposição; deve-se por ella entender que os caracteres destes organismos são sempre os mesmos, mas elles não são ligados exclusivamente ao pús azul. Girard e outros cirurgiões antes delle já fizeram a observação, que o proprio pús nunca mostra côr azul, mas só as compressas e a epiderme na circumvizinhança das feridas; que além disso as bactérias, e com ellas a côr azul, apparecem ás vezes independentemente de feridas em compressas hydropathicas, e que por isso a designação pãs azul devia ser abandonada como expressão imprópria. Ádmittida a hypothese da identidade acima alludiiia, fica por explicar a razão por que dentre todas as bactérias pigmentosas, de preferencia as azues se apresentam sobre as peças de cura- tivo,—também as amarellas já têm sido observadas, emquanto que apparecem simultaneamente com ellas em outros meios. Talvez seja isso puramente devido a condições dependentes das incógnitas variedades especificas dos seus corpos cellulares e da sua diversa nutrição. Emquanto que um terreno ou um am- biente tem tal composição, que satisfaz a todas as condições de nu- trição e propagação de todas as especies de bactérias, um outro permitte a nutrição necessária a uma só especie, e neste mos- tra-se então só esta unica. PROPOSIÇÕES PHYSICA A quantidade de electricidade, que passa por um determinado conductor em tempo dado, é proporcional, em razão directa, á força electro-motriz, e inversa á resistência de conduclibilidade. CHIMICA INORGÂNICA O phosphoro, em suas combinações, entra com tres e com cinco equivalentes. MINERALOGIA Como causa de formação do acido carbonico das aguas mineraes, deve-se considerar a acção do acido silicico sobre o car- bonato de cal e sobre outros carbonatos de bases terreas, e não a decomposição de substancias organicas. ANATOMIA DESCRIPTIVA Devemos distinguir no perinêo tres aponevroses: a aponevrose perineal superficial, a perineal média ou própria, e a profunda ou pelviana, esta com uma lamina parietal e outra visceral, cada uma das duas primeiras com uma folha superficial e outra profunda. CHIMICA ORGAN1CA Os álcoois são substancias hydro-carbonadas, nas quaes um ou alguns átomos de hydrogeneo foram substituídos pelo grupo de hydroxylo. BOTA NICA \ As pétalas e as sepalas devem ser consideradas como folhas metamorphoseadas. ZOOLOGIA O orgão productor de electricidade nos peixes electricos con- siste em uma porção de pequenos pilares, comparáveis por sua conformação á pilha de Volta. PHYSIOLOGIA A parte dos olhos humanos, sensível aos raios luminosos, con- siste nos bacillos e nos cones. ANATOMIA GERAL As glandulas secretoras são intussucepções da superfície livre do corpo. ANATOMIA PATHOLOGICA A ulcera perforante do estomago apresenta-se com uma perda de substancia de fórma afunilada nas paredes do orgão, e desen- volve-se ás mais das vezes de erosões hemorrhagicas. PATHOLOGIA GERAL O carcinoma é uma fórma de tumor que tem origem no tecido epithelial. PATHOLOGIA EXTERNA A possibilidade da entrada de ar nas veias do pescoço, quando feridas, torna perigosissima a lesão destes vasos. PATHOLOGIA INTERNA As hypertrophias do coração são occasionadas por embaraços â circulação sanguínea. Esforços demasiados produzem algumas vezes o mesmo resultado, principalmente em indivíduos moços, no periodo de desenvolvimento. PARTOS A applicação do fórceps para a extracção da cabeça do feto depois da sabida do corpo nos casos de parlos pela extremidade podalica é, nào só permittida, como até em certos casos necessária. MOLÉSTIAS DAS MULHERES PEJADAS A frequência da atrophia amarella aguda do fígado nas mulheres pejadas provalvelmente tem por causa uma icterícia catarrhal primitiva, dando logar a uma intoxicação geral do sangue pelos ácidos biliares, cuja eliminação pelos rins é difficultada. MOLÉSTIAS DOS RECEM-NASCIDOS A atelectasia puhno.iar nos recem-nascidos tem por symptomas a côr livida da superfície cutanea, fraqueza de vôz, respiração ligeira e superficial, e som obscuro revelado pela percussão, limitado a partes circumscriptas do peito. ANATOMIA TOPOGRAPHICA A altura do grande trochanter é determinada por uma. linha traçada da espinha antero-superior do osso iliaco ao ischion. MEDICINA OPERATÓRIA Tara as resecções articulares deve m-se preferir as incisões longi- tudinaes a todas as outras. APPARELHOS A applicação do apparelho de gesso para corrigir o genu valgum, podendo dar logar â frouxidão da articulação, merece ser reprovada MATÉRIA MEDICA Os medicamentos obtidos da familia das solaneas são quasi todos narcolicos. THERAPEUTICA A applicação do mercúrio em fórma de banhos substitue em certos casos todos os outros methodos de incorporação deste medi- camento de uma maneira excellente. HYGIENE A composisão do solo, os processos orgânicos que se effectuam no seu seio, bem como na sua superfície, os ajuntamentos de homens em recintos fechados, a illuminação e o aquecimento destes logares, a poeira, os estabelecimentos industriaes são as causas que cor- rompem o ar almospherico. HISTORIA DA MEDICINA Em Hippocrates, cujas obras representam sem duvida os esforços reunidos de alguns séculos, o que admiramos é a circumstancia de conservar elle a sua sciencia separada da philosophia, e ter sempre procedido segundo o melhodo de observação completamente inde- pendente de todo systema hypolhetico. MEDICINA LEGAL O melhor melhodo para o exame de manchas de sangue consiste na prova pelos cryslaes de hemina, a qual póde ser applicada a quan- tidades diminutas de sangue. PHARMACIA Na escolha de um correctivo devemos evitar que sua acção contrarie a do medicamento base da fórmula, e mesmo procurar que lhe seja adjuvante, se possível fôr. CLINICA EXTERNA Em casos de lesões sanguinolentas da larynge, mesmo quando não sejam graves os phenomenos, deve-se praticar a tracheotomia pro- phylatica, por causa do perigo de intumescência inflammatoria, de- terminando rapidamente a morte por asphyxia. CLINICA INTERNA Em casos de tuberculose meningilica, com symptomas pouco ma- nifestos, o apparecimento de tubérculos na choroide fornece um critério diagnostico seguro. HIPPOCRATIS APHORISMI I Vila brevis, ars longa, occasio preeceps, experimentum fallax judiciam difficile. (Secl. I, Aph. 1.) II Lassiludines sponle abortse morbos denuncianl. (Sect. I, Aph. G.) III Naturam morborum curaliones ostendunl. (Sect. II, Aph. 18.) IV Duobus doloribus simul obortis, non eadem lamcn in parle, ve- hemenlior obscural minorem. (Secl. II, Aph. 46.) V Caro livida, ex osse scgrolante, malum denunciat. (Sect. VI, Aph. 2.) VI Ex erysipelale putredo, aut suppuratio. (Secl. VII, Aph. 20.) Esta lhese está conforme os eslatulos.-Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 7 de Novembro de 1879. í)r. Motta Maia. Du. Caetano de Almeida. Dn. Kossuth Vinelli. Rio de Janeiro, 1879. — Typograpliia Universal de K. & H. Lai jimi rt, 71. Rua dos Inválidos, 71