FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO 
THESE 
DO 
Dr. José fellinston Cabral ée Mello 
RIO DE JANEIRO 
Typ. Gr. Leuzinger <fe HJlllios, rua cPOuvidor 31 
1883 THESE DISSERTAÇÃO 
CADEIRA DE PATHOLOGIA CIRÚRGICA 
DOS ANEURYSMAS EM GERAL 
PROPOSIÇÕES 
1.* CADEIRA DE CLINICA CIRÚRGICA 
DAS RELAÇÕES QUE EXISTEM ENTRE 0 ADENOMA, O SARCOMA E O CARCINOMA 
DA GLANDULA MAMARIA NA MULHER E DO DIAGNOSTICO 
EM SUA EVOLUÇÃO INICIAL. 
CADEIRA DE MATÉRIA MEDICA E THERAPEUTICA 
ESPECIALMENTE A BRAZILEIRA 
ACÇÃO PHYSIOLOGICA E THERAPEUTICA DO SALICILATO DE SODA. 
CADEIRA DE PHARMACOLOGIA E ARTE DE FORMULAR 
DO OPIO CHIMICO, PH A R M A COLOGIC A MENTE CONSIDERADO 
THESE 
APRESENTADA A 
FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO 
J?m 28 de Setembro de /883 
E PERANTE ELLA 
SUSTENTADA A 18 DE DEZEMBRO 
PELO 
Dr. José W. Cabral de Mello 
NATURAL DA PROVÍNCIA DO CEARÁ 
PILHO LEGITIMO DO 
Commendador ANTONIO CABRAL DE MELLO 
E DE 
D. Henriqueta Herminia Cabral 
RIO DE JANEIRO 
Typ. de G. Leuzinger & Filhos, Rua do Ouvidor 31 
1883 FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO 
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sileira. 
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perimeutal, apparellios e pequena cirurgia. 
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Clinica oplitlialmologica 
Clinica psycbiatrica. 
N. B. — A Faculdade não approva nem reprova as opiniões emittidas nas theses que lhe são apresentadas. A 
Indelevel memória de meu Irmão 
FRANCISCO CABRAL DE MELLO 
Foi doloroso — terrível — tão moço e morreres. ... A tua 
lembrança persistirá sempre gravada em minha alma, e sobre 
a pedra, que oceulta o teu corpo deponho as lagrimas, que 
correm dos meus olhos. 
A 
eterna memória de meu innocente irmão 
CONST A NTINO 
Pede a Deus para prolongar a vida 
de nossos Paes. 
A MEMÓRIA 
de 
Meus Parentes 
de 
Meus Amigos 
e de 
Meus Collegas A meu Pae e verdadeiro amigo 
Eis-me medico, meu Pae; realizadas estão as minhas aspirações académicas, satis- 
feitos um dos nossos mais ardentes anhelos. Aceitai a minha these e abençoai a vosso 
filho. 
A MINHA EXTREMOSA MÃE 
AOS MEUS PRESADOS IRMÃOS 
Antonio Cabral de Mello Júnior 
Manoel Herminio Cabral 
D. Maria C. da Costa e Silva 
D. Raymunda C. Theophilo 
AOS MEUS CUNHADOS 
Juvenal Galeno da Costa e Silva 
Pharmaceutico Rodolpho Marcos Theophilo 
A MINIIA CUNHADA 
Adelina Cabral e aos meus innocentes sobrinhos 
Luiz, Francisco e Henriqueta 
A MINHA IRMÃ E MADRINHA 
D. Antonia Cabral da Silva 
Offereço-vos a minha these como signal de eterna 
gratidão e vivo reconhecimento que vos consagro. 
ÁS MINHAS TIAS 
AOS MEUS PRIMOS AO ILL.M0 SNR. 
Major Chrisanto Pinheiro de Almeida e Mello 
e a sua Ex.ma Familia 
Verdadeira estima e consideração. 
AO EX.M0 SNR. 
Coronel José Emygdio Leal 
e a sua Ex.ma Familia 
E COM ESPECIALIDADE AOS SEUS FILHOS 
Dr. Emygdio José Leal 
e 
Dr. Adolpho Emygdio Leal 
Kecordação e amisade 
AO MEU ROM E ESPECIAL AMIGO 
Aristides da Rocha Galvão 
e a sua Ex.ma Familia 
Aceitai a minha these, como signal de verdadeira amisade, que te consagro, e para 
qualquer parte que me conduzir o destino, affirmo-te que encontrarás sempre um amigo 
AOS DILECTOS AMIGOS 
Dr. Bellarmino Ricardo Costa 
Dr. Perminio de Abreu e Lima Figueiredo 
Dr. Francisco Muniz Barreto 
Dr. João Baptista Malheiro 
Pharmaceutico João dos Santos Cardoso 
e suas Ex.mas Familias 
Muita gratidão e amisade. AO EX.”° R.“° SNR. ARCEBISPO DA BAIIIA 
D, Luiz Antonio dos Santos 
Profundo respeito, alta consideração e amisade AO MEU BOM AMIGO 
Dr. Alfredo de Freitas Reis 
e a sua Ex.ma Familia 
AOS AMIGOS,"COLLEGAS E PATRÍCIOS 
Dr. Leonel Nogueira Jaguaribe 
Dr. Antonio Ferreira da Costa Lima 
Dr. Francisco M. de Mello e Oliveira 
Dr. Joaquim Anselmo Nogueira 
Dr. João Marinho de Andrade 
Lembranças 
AOS MEUS BONS AMIGOS E COLLEGAS 
Dr. M. C. de Barros Carneiro 
Dr. José Elias de Avila Lins 
Dr. Pedro A. Nabuco de Araújo 
Dr. Paulo J. da Fonseca 
Sincera amisade. 
AOS MEUS ILLUSTRADOS MESTRES 
Padre Dr. Urbano da Silva Monte 
Dr. Gustavo Adolpho de Sá 
AOS MEUS COMPANHEIROS DE CASA 
AOS AMIGOS DE MEU PAE 
AOS COLLEGAS DOUTORANDOS 
com especialidade o 111.mo Snr. 
Dr. Luiz Joaquim da Costa Leite DISSERTAÇÃO 
Je désire que mes juges voyent en moi, 
non 1'homme qui éerit, mais celui qui est 
foreé d’écrire. 
Montesquieu. DOS ANEURYSMAS EM GERAL 
La médecine se délivre de ses fausses 
théories, de sa routine meurtrière, de sa sou 
missions servile à 1’autorité des hommes et aux- 
doctrines des Facultes ; elle apprend à ne plus 
croire qu’à l’expérience. 
CONDORCET. 
HISTORICO 
As primeiras noções sobre aneurysmas datam da mais remota 
antiguidade. Galeno, chamando attenção dos cirurgiões de seu 
tempo sobre esta perigosa aífecção, nos descreveu os seus princi- 
paes caracteres. 
Antyllus, porém, foi o verdadeiro creador da cirurgia dos 
aneurysmas, e a elle se deve também a fundação do methodo 
antigo attribuido por uns a Paulo de Egina, e por outros a Actio. 
Antyllus distinguia o aneurysma por dilatação de aneurysma por 
derramamento ou ruptura das artérias, e operava diíferentemente 
segundo o aneurysma pertencia a uma ou outra das duas classes ; 
já tendo pois uma idéa mui exacta do aneurysma espontâneo e 
de aneurysma traumático. Fernel nos descreve a primeira indicação 
acceitavel sobre a doctrina das dilatações das túnicas arteriaes 
dos aneurysmas, doctrina que foi quasi geralmente adoptada; 
Fabricio de Hildin, porém, não a admitte para os aneurysmas 
traumáticos; Senner chegou mesmo a estabelecer que na evolução 
do aneurysma espontâneo a túnica fibrosa se rompe mais não se 
dilata. 4 
A questão não estava ainda resolvida entre os cirurgiões, 
quando surge á luz da publicidade a importante obra de Scarpa. 
O illustrado professor de Pavia negou a existência do aneurysma 
verdadeiro. A escola de Scarpa fez época. Hoje quasi todos os 
cirurgiões são concordes em admittir a existência do aneurysma 
verdadeiro. 
O começo d’este século marca um importante periodo na his- 
toria dos aneurysmas. 
São os importantes trabalhos dos cirurgiões inglezes, italianos 
e francezes. Hodgson em 1815 comparando os factos já conhecidos 
com os resultados de sua própria experiencia chegou a descobrir 
o mecanismo da cura natural de certos aneurysmas. Em 1819 a 
importante descoberta de Laennec trouxe-nos o mais valioso ele- 
mento para o diagnostico dos aneurysmas. 
Em 1829 surge aos cirurgiões inglezes a idéa de applicar a 
electricidade no tratamento dos aneurysmas. Em 1856 apparecem 
os grandes trabalhos de Broca, Petrequin e Cinizelli que reunidos 
aos trabalhos de Desault, Iíunter, Anel e mais modernamente 
aos interessantes estudos sobre a compressão cirúrgica fizeram a 
therapeutica dos aneurysmas passar por uma verdadeira reforma. 
Entretanto algumas das partes de que se compoem o estudo d’esta 
aftecção (como vemos no correr do nossa dissertação), ainda não 
estão bem elucidadas. DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO 
Definir en général, et en médecine peut- 
être plus que dans tout autre Science, c’est 
cliose difiicile. 
Trousseau. 
Reina entre os pathologistas antigos e modernos grande diver- 
gência sobre a verdadeira significação nosologica da palavra aneu- 
rysma; e as difmições variam para cada um d’estes pathologistas. 
Na grande variedade de definições apresentadas não encontra 
a sciencia uma única que satisfaça todas as condições necessárias 
a uma boa definição. Não tendo nós a pretenção de fazer a critica 
de todas as definições apresentadas adoptamos a seguinte apresen- 
tada pelo Professor Broca: aneurysma é um tumor circumscripto 
cheio de sangue liquido ou concreto, communicando directamente, 
com o canal de uma artéria e limitado por uma membrana, que 
toma o nome de sacco. Esta definição é a unica capaz de distinguir 
scientificamente os aneurysmas de outros tumores com os quaes 
por suas relações com a circulação arterial apresentam alguns pontos 
de contacto; entretanto como bem declara o seu author ella não 
preenche todas as necessidades exigidas pela pratica, porque não 
abrange em uma só classe todas as especies pathologicas reconhe- 
cidas hoje como pertencentes a ella. 
Nada ha mais confuso e imperfeito do que as diversas classi- 
ficações dos aneurysmas, que tem sido apresentadas pelos patholo- 
gistas. Póde-se dizer que sobre este ponto existe ainda hoje a 
mais perfeita confusão. Nos parece impossível estabelecer uma clas- 
sificação acceitavel tomando por ponto de partida bases differentes 
como a etiologia e anatomia-pathologica. Ha uma classificação que 
sendo geralmente acceita na sciencia e adoptada pela maioria dos authores que se têm occupado do estudo d’esta entidade mórbida, 
não corresponde todavia aos nossos conhecimentos actuaes sobre a 
physiologia-pathologica dos aneurysmas. 
Esta classificação consiste em fazer dos aneurysmas duas grandes 
classes : aneurysmas espontâneos e traumáticos. Os primeiros foram 
subdivididos segundo certas particularidades do sacco aneurysmal; 
os segundos em diífusos, falsas primitivas, falsas consecutivas e em 
arterias-venosas, formando estes últimos duas especies distinctas; 
varice aneurysmal e aneurysma artero-venoso. 
Os progressos da anatomia pathologica demonstram, porém, que 
nem todas os aneurysmas artero-venosos se originâm do traumatismo 
como querem os que abraçam esta classificação. Debaixo do ponto 
de vista de sua séde os aneurysmas eram considerados externos 
e internos: externos são aquelles que se desenvolvem sobre as 
artérias dos membros e são accessiveis aos meios cirúrgicos; in- 
ternos aquelles que se desenvolvem nas cavidades splanchnicas 
e não admittem a intervenção d’esses meios. O professor Broca 
no intuito de sanar os defeitos provenientes das classificações 
apresentadas até então pelos pathologistas apresentou a seguinte: 
divide primeiramente os aneurysmas em duas classes : arteriaes e 
artero-venosos, depois subdivide os primeiros em circumscriptos 
(comprehendendo o verdadeiro, o mixto externo, falso ou enkis- 
tado e o kistogenico) e em diífusos, que comprehendem o diífuso 
primitivo e o diífuso consecutivo. Os aneurysmas artero-venosos 
elle subdivide por sua vez em phlebarteria simples ou varice 
aneurysmal e em aneurysma varicoso. Não seguiremos em sua 
totalidade a classificação apresentada pelo distincto cirurgião, 
porque é muito diverso o nosso modo de pensar em relação aos 
aneurysmas diífusos. 
Como a maioria dos praeticos modernos nós dividiremos os 
aneurysmas em duas grandes classes aneurysmas arteriaes e 
artero-venosos. 
A primeira classe subdividida em duas ordens, espontâneos e 
traumáticos; e a segunda classe em varice aneurysmal e aneurysma 
artero-venoso. ETIOLOGIA 
Todos os pathologistàs que se têm occupado do estudo d’esta 
afíecção, dividem as causas dos aneurysmas em causas predispo- 
nentes e occasionaes. 
Causas peedisponentes. — Sexo. Crisp diz que os casos de 
aneurysmas observados em mulheres formam um pouco menos de 
uma oitava parte do numero total dos aneurysmas. Le Fort em 
114 casos observados na carotida e no tronco bronchio-cephalico 
verificou sómente 25 casos em mulheres e 89 em homens. Hodgson 
em 63 casos diz que 56 foram observados em homens e só 7 em 
mulheres. A frequência d’esta affecção no sexo masculino se explica 
facilmente pelos esforços musculares violentos a que os homens 
são obrigados pelo genero de vida laboriosa muito differente da 
vida tranquilla e sedentária da mulher e principalmente pelos 
abusos a que mui particularmente se entregam em todos os paizes. 
Idade. — Não ha pathologista que conteste a influencia que 
tem a idade sobre o apparecimento dos aneurysmas. Lisfranc em 
uma estatistica de 120 casos, prova que a maior frequência d’esta 
moléstia se dá na idade de 30 a 50 annos. 
O professor Broca depois de um exame minucioso das di- 
versas estatisticas chegou á seguinte conclusão: que a medida que 
o homem avança em idade a disposição para os aneurysmas au- 
gmenta nas artérias supra-diaphragmaticas e diminue nas sub-dia- 
phragmaticas. Em geral os individuos mais sujeitos a esta affecção 
são os que se acham na maior força de idade e que possuem 
maior energia muscular. 
Herança. — Não acreditamos na existência de uma predis- posição hereditária para o aneurysma como admittem alguns 
autores. 
Profissões. — São ordinariamente os individuos da classe pobre, 
que se entregam a trabalhos, que reclamam grandes esforços, 
aquelles que mais vezes são aecommettidos desta aífecção. 
Ha certas profissões, que parecem constituir uma predispo- 
sição especial ao apparecimento d’esta moléstia: assim os alfaiates, 
sapateiros, cocheiros, exigindo a flexão permanente das pernas 
parecem constituir uma predisposição para os aneurysmas das ar- 
térias d’esta região. Os remadores, tropeiros, carpinteiros, calde- 
reiros, cozinheiros, exigindo grandes exercícios com os membros 
thoracicos, parecem constituir uma predisposição para os aneu- 
rysmas thoracicos. 
Climas e raças. — Os aneurysmas não têm a mesma fre- 
quência em todos os paizes; assim a Irlanda é de todos os 
paizes do mundo aquelle em que os aneurysmas são mais fre- 
quentes. Depois observa-se que esta aífecção é muito frequente 
nos Estados Unidos, e diz o professor Broca que neste paiz esta 
moléstia é muito rara nos negros e nas famílias já acclimatadas, 
emquanto que se observa que ella é muito commum nos emigrados 
inglezes. 
Para se explicar estes resultados tem-se recorrido a muitas 
hypotheses. 
Alcoolismo. — Sebert sustenta que o alcoolismo não pode ser 
causa predisponente dos aneurysmas. Outros, porém, como Gueneau, 
Broca admittem ou dão ao álcool uma acção capaz de enfraquecer 
e depauperar o organismo determinando muitas vezes a athero- 
masia e por consequência predispondo as artérias para contrahir 
os aneurysmas. O alcoolismo é com efíeito uma causa predispo- 
nente importante e muito frequente. 
Syphilis. — Nem todos os autores, que se têm occupado do 
estudo d’esta importante parte da pathologia, consideram a syphilis 
como causa predisponente dos aneurysmas. Broca depois de ter 
estabelecido que a causa mais frequente d’esta aífecção é sem 
contestação o traumatismo, chega a dizer que a influencia da syphilis sobre a producção d’esta aífecção é toda hypothetica. 
Sabemos que a syphilis póde produzir a alteração da artéria e 
alteração consecutiva do orgão alimentado por este vaso. 
Leon Lefort admitte que as alterações das paredes vascu- 
lares, qualquer que seja sua causa ou sua natureza, influem no- 
tavelmente sobre a ruptura parcial de suas túnicas, ruptura que 
marca o primeiro período do aneurysma. E se a syphilis póde 
produzir o atheroma e sendo este uma causa predisponente por 
excellencia do aneurysma, é justo que a syphilis seja considerada 
como causa ainda que indirecta desta aífecção. Segundo Werch, a 
syphilis deve ser considerada uma causa de aneurysma mais fre- 
quente e poderosa do que o álcool e rheumatismo. Estudando a 
influencia da syphilis sobre o desenvolvimento d’esta moléstia 
Dupret chegou a seguinte conclusão: Nous croyons que la cy- 
pliilis ãoit prendre place dans Vêtiologie de Vanévrisme mais elle 
doite y prendre place pour une proportion numérique encore in- 
connue et que quelques recherches ultérieures seules pourront dê- 
terminer. As curvaturas e a situação superficial das artérias, 
as degenerescencias calcareas e gordurosas, o abuso dos prazeres 
venereos, o uso prolongado do mercúrio, os ataques de cólera, a 
gotta e certos estados morbidos são outras tantas causas capazes 
de predispor o organismo a producção do aneurysma. 
Causas occasionaes. — São considerados como causas occa- 
sionaes, os esforços violentos e prolongados, os saltos, as emoções, 
as quedas de um lugar elevado, reducções de luxação, extensão 
brusca de um membro, contusões e picadas provenientes de san- 
grias, etc., etc. Nestes casos a parede arterial não podendo resistir 
a pressão intra-vascular é subitamente distendida. ANATOMIA E PHYSIOLOGIA 
PATHOLOGICAS 
0 estudo anatomo-pathologico dos aneurysmas é muito impor- 
tante e os progressos realizados pela sciencia moderna sobre esta 
parte são de grande valor. Tractaremos em 1.® lugar do sacco 
aneurysmal— 2.° de seu conteúdo: — 3.° das modificações por que 
passam os tecidos que cercam o sacco aneurysmatico e em ultimo 
nos occuparemos da sua physiologia pathologica. 
l.° Sacco aneurysmal. — Quando o sacco é constituido ou limi- 
tado pela dilatação de todas as túnicas arteriaes tem-se o aneu- 
rysma verdadeiro. 
Durante muito tempo acreditou-se que os aneurysmas espon- 
tâneos começavam sempre por uma dilatação simples da artéria, 
sem ulceração, nem ruptura das paredes, e que só mais tarde 
quando a dilatação arterial attingia a um gráo considerável, as 
membranas interna e media rompiam-se, e que a externa mais 
estensivel dilatava-se, e que o aneurysma mixto externo succedia 
sempre ao aneurysma verdadeiro. Esta era a doctrina da epoca, 
contra ella porém protestavam Lennert, Barbeth, Dumerbrock, 
Gouy, Maure e outros que não a quizeram aceitar completamente; 
apezar d’isto, ella continuou a ser a doutrina corrente até o appa- 
recimento da grande obra de Scarpa; o eminente cirurgião de 
Pavia reagindo contra a opinião geral excedeu-se, elle negou a 
existência do aneurysma verdadeiro, admittido hoje por quasi todos 
os autores. Elle não confundio a dilatação arterial com o aneu- 
rysma como haviam feito todos os autores que o precederam, porém 
sustentou que a dilatação arterial não podia dar lugar a um tumor 12 
aneurysmal. Factos numerosos demonstram que o aneurysma espon- 
tâneo póde começar por uma simples dilatação parcial e circum- 
scripta das túnicas arteriaes e que esta dilatação constitue as vezes 
um sacco, no qual se depositam verdadeiros coágulos. Quando o 
sacco é formado pela dilatação da túnica interna adherente á externa 
atravez da media, o aneurisma recebe o nome de mixto interno. 
Scarpa e muitos outros cirurgiões não acreditam na existência d’essa 
variedade de aneurysmas. Em uma peça apresentada a Faculdade 
de Medicina de Paris pelos professores Dubois e Dupuytren julgou- 
se ver confirmada a disposição do aneurysma mixto-interno; Beclard, 
porém, que examinou com muito cuidado a peça, não acceitou as 
conclusões tiradas, e, para elle a pretendida túnica interna não era 
mais que uma membrana de nova formação. Haller, dizia que 
obtinha a vontade aneurysmas mixto-internos, retirando em uma 
pequena extensão a membrana externa das artérias mesentericas 
das rãs. Hunter, porém, experimentou na caro tida e na fumeral do 
cão e nada conseguio. Sabemos que a túnica interna das artérias 
é uma membrana tão friável e de estructura tal que não resiste a 
uma vasta dilatação; comprehende-se pois que ella por si só não póde 
constituir o sacco de um aneurysma. As membranas em que se 
tem visto os caracteres das túnicas media e interna são com mais 
probabilidades constituidas por uma camada de tecido epithelial, 
que se tem formado no interior do sacco, e que se une ao epithelio 
da túnica interna da artéria. Quando o sacco é constituido a custa 
da dilatação da túnica externa, o tumor toma o nome de aneu- 
rysma mixto-externo. 
Certamente é o mais frequente de todas as variedades de 
aneurysmas, descoberta por Lennert, ella foi mais tarde minucio- 
samente estudada e descripta por Scarpa que demonstrou perfei- 
tamente o seu mecanismo e frequência. N’esta variedade as túnicas 
interna e media destruidas por um processo pathologico qualquer, 
o sangue introduz-se e vai-se pôr em contacto immediato com a 
túnica externa; esta não podendo, apezar de espessada, resistir a 
pressão da onda sanguinea distende-se dando em resultado a for- 
mação do sacco aneurysmal. Quando o sacco é constituido por uma 13 
membrana de formação inteiramente nova o aneurysma recebe o 
nome de falso primitivo. Quando em uma ferida arterial se applica 
uma compressão incapaz de parar o corrimento do sangue, este se 
derrama e se infiltra na espessura dos tecidos constituindo durante 
os primeiros dias um tumor, pouco reductivel e sómente pulsátil 
na sua parte central; mas, pouco a pouco o sangue infiltrado se 
reabsorve, e o que se derramou na vizinhança da ferida se enkista 
em uma membrana de nova formação. O tumor que no começo era 
um simples derramamento sanguineo, apresenta-se depois com todos 
os caracteres dos aneurysmas, recebendo o nome de aneurysma 
falso primitivo. E um aneurysma, porque, nesse caso temos um 
tumor sanguineo arterial circumscripto e limitado por um sacco, 
falso, porque, o sacco é de nova formação ; finalmente primitivo 
porque succedeu insensivelmente a um tumor, que se produzio no 
momento do accidente. Quando o sacco é constituido pelo tecido 
circumvizinho depois da ruptura de todas as túnicas arteriaes, o 
aneurysma é falso consecutivo. Quando se applica uma compressão 
methodica sobre uma parte ferida, o sangue se reabsorve, a ferida 
se cicatriza em poucos dias, não ha nivel da lesão traumatica, 
pulsação alguma anormal, no fim, porém, de um certo tempo, um 
pequeno tumor se manifesta, que crescendo gradualmente, fôrma 
/ 
um aneurysma. E o aneurysma falso consecutivo, aneurysma dis- 
secante. Esta variedade muito rara entrevista por Mansoir e 
discripta depois por Laennec pertence quasi exclusivamente a aorta 
e occupa de preferencia a porção ascendente do vaso. Nesta fórma 
de aneurysma o sangue se introduz num canal formado pelo des- 
collamento das túnicas media e externa e ahi permanece formando 
um tumor parallelo ao canal da artéria. As vezes existe apenas 
uma abertura, a da entrada; é, porém, mais commum observar-se 
uma outra pela qual o sangue cahe de novo na torrente circulatória. 
Ha uma variedade de aneurysma descoberta por Corvisart e 
a que elle deu o nome de aneurysma kistogenico, não é mais que 
um kisto de paredes muito densas, cartilaginosas ou calcareas, que 
se fórma na espessura das paredes arteriaes e se desenvolvem 
constituindo um tumor cujo volume mui pequeno, varia, porém, com 14 
o calibre da artéria doente. Situado entre a túnica cellulosa e a 
média o kisto póde depois de um certo tempo abrir-se na cavi- 
dade do vaso. O orifício de communicação do kisto com a artéria 
é a principio muito estreito, porém, pouco a pouco elle se alarga 
acabando por formar um sacco regular hemispherico, que com- 
munica por uma larga abertura com a artéria. Estes kistos 
descobertos por Corvisart e estudados por Sleizil, têm sido 
contestados por alguns auctores e em particular por Hodgson. 
Este auctor fez notar que certos aneurysmas curados podiam si- 
mular perfeitamente kistos arteriaes ; factos (não muito numerosos) 
demonstram que estes pódem ser primitivos; podendo se abrir 
consecutivamente na artéria correspondente, tornando-se assim a 
causa d’essa mui rara variedade de aneurysma. Em relação a 
fórma, que póde apresentar o sacco, os aneurysmas arteriaes pódem 
ser fusiformes ou saxiformes. 
Na producção do aneurysma fusiforme as túnicas internas 
das artérias em lugar de se romperem em um ponto, como é na- 
tural no mixto externo, rompem-se ao contrario em toda a sua 
circumferencia, e como o sangue continua a exercer pressão em todos 
os pontos d’esta, a túnica externa se dilata, e um tumor no canal 
arterial se fórma, que por seu intermédio mantém a continuidade 
d’este. 
O aneurysma fusiforme apresenta duas aberturas, collocadas 
uma na parte superior e outra na inferior, de modo que, 
quando o sangue penetra pela extremidade superior a elasti- 
cidade do sacco posta em jogo reage sobre elle e o faz passar 
á abertura inferior. O aneurysma saxiforme communica com o canal 
arterial, ou directamente por uma abertura, ou por intermédio de 
um pediculo canaliculado. No aneurysma saxiforme o desenvolvi- 
mento do sacco é rápido e as modificações, que se passam entre a 
abertura do sacco e o fundo d’esta cavidade são, como mostraremos 
mais adiante, importantissimas para explicar a formação de coágulos. 
Os aneurysmas saxiformes não constituem, diz o Professor 
Broca, uma especie a parte. 
Todas as vezes que o sacco é perfeitamente distincto da ar- 15 
teria, com a qual elle se communica por uma abertura lateral o 
aneurysma qualquer que seja a sua origem merece o nome de 
saxiforme. Os aneurysmas artero-venosos são os resultantes dá 
communicação de uma artéria com uma veia, esta communicação 
póde estabelecer-se directamente entre a artéria e a veia ou ter 
lugar por intermédio de um tumor. Estes aneurysmas pódem ser 
algumas vezes espontâneos, geralmente, porém, elles resultam de 
uma causa traumatica qualquer ou de um ferimento, que interesse 
simultaneamente uma artéria e uma veia contiguas. A artéria e 
a veia abertas ao mesmo tempo dam lugar immediatamente a urna 
hemorrhagia, que se póde facilmente sustar pela compressão, principal- 
mente quando a solução de continuidade externa fôr obliqua. As 
vezes succede que o sangue, que se infiltra nos tecidos é absorvido 
em totalidade e as aberturas vasculares se cicatrizam solidamente, 
não havendo portanto formação de aneurysma. As vezes a solução 
de continuidade da veia se fecha e a da artéria fica aberta 
ou não se fecha senão momentaneamente por um coagulo ou por 
uma exsudaçâo, que cede mais tarde ao esforço do sangue. N’estes 
casos ha formação de um aneurysma traumático simples sem com- 
municação com as veias. Estes casos são mui frequentes na pratica. 
Finalmente póde acontecer que o esforço do sangue não permitta 
a cicatrização da artéria e a da veia, havendo portanto uma com- 
municação permanente entre os dous vasos, e portanto o appare- 
cimento de aneurysma artero-venoso. 
O orifício de communicação d’esses aneurysmas dependem da 
maneira por que o instrumento ferio a artéria e a veia. Uma dis- 
posição anatómica, que, nos parece merecer importância real, é a 
existência do sacco ao nivel do ponto de communicação dos dous 
vasos. 
Algumas vezes o instrumento passou entre a veia e a artéria; 
outras vezes o sacco aneurysmal está collocado sobre a artéria do 
lado opposto a anastomose; outras vezes está collocado sobre a 
artéria do lado opposto ao orifício de communicação dos dous vasos; 
finalmente, quando os dous vasos são completamente divididos, 
elles communicam entre si por um kisto. 16 
0 orifício de communicação do sacco com a artéria é muito 
variavel, não sd em relação á artéria, á sua forma, como á sua 
grandeza. 
Quando o tumor ainda não apresenta grande desenvolvimento 
este orifício é estreito e apresenta bordas muito regulares, quando, 
porém, o seu desenvolvimento já é muito considerável o orifício é 
então largo e apresenta as bordas regularmente talhadas e encon- 
tram-se quasi sempre ao redor do orifício vestígios das diversas 
degenerações que provocaram a sua producção. 
2. Do conteúdo do sacco.—Existem no interior do sacco quasi 
sempre coágulos de consistência e de formas variaveis conforme a 
região que occupam. Nos aneurysmas que estão em começo e quando 
a túnica interna está ainda intacta, encontra-se no sacco sangue 
liquido, porém, mais tarde em virtude de modificações que soffre a 
membrana interna a formação de coágulos no interior do sacco tem 
lugar. Encontra-se no sacco aneurysmal duas especies de coágulos, 
que o enchem mais ou menos completamente, uns duros, mais ou 
menos descorados, fibrinosos, occupando a circumferencia do tumor 
elles são mais ou menos adherentes ao sacco e dispostos em laminas; 
outros molles empregnados de liquidos de cor vermelha escura 
occupando de preferencia o centro do tumor. 
Os coágulos concorrendo para augmentar a densidade das pa- 
redes do sacco aneurysmal, fazem com que estes resistam a acção 
energica do coração e obstam o seu desenvolvimento progressivo; 
são elles ainda que, pelo augmento de densidade e espessura do 
sacco, o fazem retrahir-se e concorrer assim para a obliteração de 
sua cavidade. 
3. Modificações dos tecidos visinkos de um sacco aneurysmal.— 
Os aneurysmas crescendo determinam alterações notáveis sobre as 
partes, que o cercam. As artérias situadas abaixo do aneurysma 
tendem a crescer a medida que este se desenvolve, suas anasto- 
moses nascem por conseguinte abaixo do tumor, também se dilatam 
e se anastomosam com as artérias situadas acima do tumor; devemos, 
porém, accrescentar que a circulação nestes casos se faz em sentido 
inverso do estado physiologieo, isto é, a circulação se faz dos 17 
capillares para os troncos. A pelle, que reveste o aneurysma 
distende-se, adelgaça-se, podendo contrahir adherencias intimas 
com o sacco. 
O tecido cellular visinho póde se inflammar e suppurar. Os 
muscnlos são desviados, achatados e atrophiados. As veias podem 
ser comprimidas e d’esta compressão resulta o oedeina muito frequente 
nestes casos, os nervos podem ser mais ou menos comprimidos 
ou atrophiados e dar lugar a dores nevrálgicas mais ou menos 
intensas. Os ossos podem ser perfurados e destruidos ou podem 
mesmo desapparecer em parte por um phenomeno de absorpção 
sem necrose e sem carie. As articulações visinhas do tumor podem 
ser luxadas. 
Corvisart cita uma observação, em que a clavicula comprimida 
pelo tumor de dentro para fóra, foi luxada pela sua extremidade 
externa. Muitas outras modificações se podem dar e que depen- 
dem da grandeza e posição do tumor aneurysmal. 
4° Physiologia pathologica. — O sacco aneurysmal a maior 
parte das vezes apresenta um só orifício, que o põe em communi- 
cação com o canal arterial. Ha nos aneurysmas uma diástole e uma 
systole, que coincidem exactamente com a systole e diástole arterial. 
Em cada diástole arterial o sangue, que passa pelo orifício superior 
da artéria ao nivel do tumor, entra, parte d’este sangue no sacco 
aneurysmal, outra parte segue a direcção, que lhe imprime a força 
impulsiva do coração. A quantidade de sangue, que atravessa o orifício 
superior da artéria, é portanto maior do que a que chega ao ori- 
fício inferior, a pressão que se exerce n’aquelle é mais forte do 
que neste; na systole arterial, porém, o orifício inferior deve rece- 
ber maior quantidade de sangue, porque a quantidade de sangue, 
que passa pelo orifício inferior, é augmentada pelo sangue contido 
no sacco, o qual em virtude de sua elasticidade se retrahe e ex- 
pelle o sangue para a artéria, justamente no momento em que 
nova columna sanguinea se dirige ao orifício inferior, onde a pressão 
era durante a diástole arterial menor, porém, maior agora em con- 
sequência do impulso transmittido pela elasticidade do sacco a pouco 
retrahido. Toda a quantidade de sangue, que vae ter ao sacco 18 
durante a diástole, não reflue para a artéria durante a systole de 
maneira que na diástole seguinte a quantidade de sangue, que pe- 
netra no sacco é menor e não se mistura a precedente senão em 
sua parte mais próxima do orifício no emtanto, a que se acha 
em contacto com as paredes do sacco experimenta apenas movi- 
mentos oscillatorios. Já se vê portanto que nem todo o sangue 
contido na cavidade do aneurysma participa da mesma quantidade 
de movimentos; sabemos que o movimento é indispensável para 
que não se precipite a fibrina do sangue, ora sendo mui lento o 
movimento nas camadas mais próximas das paredes do sacco, é 
claro que a coagulação nestes pontos é um facto, que deve sempre 
existir a maior parte das vezes e não nos é dado evitar. 
A circulação consiste em um movimento continuo e incessante 
do sangue, em um circulo completamente fechado e formado, a 
principio pelo systema arterial que de mais a mais se ramifica 
terminando pelo systhema venoso, cujas ramificações se reduzem 
de mais em numero até o coração havendo entre um e outro um 
systhema mixto, o dos capillares, movimento esse communicado ao 
sangue pelas contracções cardiacas, que o impellem a seguir ao longo 
das artérias, e essa impulsão e mais outras forças o obrigam a 
mover-se e voltar pelo systhema venoso até ao seu ponto de par- 
tida. Esse movimento continuo e incessante é condicção necessária 
para a fluidez do sangue não existindo aquelle o sangue ha de 
necessariamente coagular. A superfície interna das artérias é liza 
e forrada de epithelio, condicções necessárias para o livre curso do 
sangue. 
Quando houver alteração ou destruição das membranas, que 
revestem a superfície interna da artéria, apparecerá mais uma con- 
dição favoravel a coagulação do sangue. Ainda mais a inflammação 
é capaz de produzir também a coagulação do sangue e haja a vista 
os casos de aneurysmas por ella occasionados. A abertura do sacco 
aneurysmal, quer seja ella feita no vivo, ou post mortem, tem posto 
fora de duvida a existência de duas qualidades de coágulos ; uns 
brancos, stractificados, fibrinosos, outros molles contendo globulos 
sanguineos em grande quantidade. Como se formaram estas duas 19 
especies de coagidos ? Hodgson foi o primeiro a distinguir estas 
duas especies de coágulos e indicar as condições favoráveis ou não 
a sua formação. Wasdrop pensa que os coágulos preisphericos se 
formam em consequência de depositos successivos do lympha-plas- 
tico que se coagula no interior do sacco. Bellinghan, ao contrario, 
julga que os coágulos íibrinosos são provenientes da solidificação 
lenta da fibrina do sangue não encerrando senão uma diminuta 
quantidade de globulos sanguineos ; e que os coágulos gelatinosos, 
molles se originam de uma coagulação rapida do sangue e encer- 
rando todos os elementos d’esse liquido com fibrina, albumina, etc. 
Broca desenvolvendo a tbeoria de Bellinghan dividio os coágulos 
em activos e passivos. Os primeiros são os que se formam debaixo 
de uma influencia vital; os segundos são aquelles que se formam 
quando o sangue cessa de obedecer as leis da vida. Richet divide 
as condições de formação dos coágulos em duas classes. l.a Con- 
dições physiologicas devidas a demora do curso do sangue e a irre- 
gularidade das paredes do aneurysma; 2.a condições pathologicas 
devidas a inflammação. Elle sustenta que os coágulos activos não 
são primitivamente taes, mas sim uma transformação dos coágulos 
passivos e suppõe sem razão conhecida que isto se dá em conse- 
quência de um trabalho inflammatorio pouco intenso; assim diz elle 
a demora do curso do sangue no sacco de um aneurysma, sua re- 
novação incompleta, sua stagnação e a irregularidade de suas pa- 
redes não são senão as condições physiologicas da formação dos 
coágulos : ha uma outra ainda mais poderosa talvez, a que cha- 
marei voluntariamente pathologica ; é a inflammação, não a inflam- 
mação levada aos últimos limites, até a supuração e a gangrena; 
mas esta inflammação sub-aguda que Hunter chama adhesiva. Um 
estudo completo e minucioso da formação d’estes coágulos é indis- 
pensável para bem comprehender a acção therapeutica dos diversos 
tratamentos empregados nos tumores aneurysmaes. SYMPTOMATOLOGIA 
Os signaes caracteristicos dos anenrysmas resultam de suas 
relações com a circulação arterial. O aneurysma, no começo de seu 
desenvolvimento é cercado de phenomenos insidiosos ; é assim que 
muitas vezes o tumor se forma sem causa appreciavel, seu cres- 
cimento se faz lentamente, de maneira que passa desapercebido do 
proprio doente, que só vem a dar pela sua presença quando elle 
já tem adquirido um volume notável principalmente se o tumor 
se acha situado, nas partes mais profundas de um membro. Quando 
o tumor é superficial os seus caracteres serão com facilidade reco- 
nhecidos. Quando o aneurysma é o resultado de qualquer violência 
ou traumatismo, o tumor póde se manifestar no momento mesmo 
do accidente ou algum tempo depois. 
Ha casos em que a existência de um aneurysma incipiente é 
com facilidade reconhecida pelo cirurgião ; assim um indivíduo em 
consequência de um esforço de um movimento violento, sente imme- 
diatamente uma viva dor, uma sensação de ruptura em um membro, 
este se apresentando augmentando de volume, são signaes, que a 
maior parte das vezes bastam, para se formar um juizo sobre a natu- 
reza da affecção. Qualquer que seja o começo d’esta moléstia, o aneu- 
rysma é um tumor situado sobre o trajecto das artérias, mas menos 
circumscripto, sem mudança de cor na pelle, molle, indolente, reduc- 
tivel á pressão, animado de pulsação isochrona ao pulso, dando lugar 
a um ruido de sopro intermittente, que se percebe quando se applica 
o ouvido só ou armado de sthetoscopio a qualquer parte do tumor. 
A força e duração d’este sopro variam em diversas condições, 
e em particular segundo o estado da abertura que faz communicar 22 
o sacco com a cavidade da artéria. O ruido péde deixar de ser 
percebido, ou não existir. Em outros casos, porém, a escuta nos 
dá dous rui dos de sopro nos aneurysmas, o primeiro corresponde 
a diástole do sacco aneurysmal, e o segundo se produz durante a 
systole aneurysmal 5 isto é, no momento em que 0 sangue passa do 
sacco para a artéria. Notando-se sempre que 0 segundo ruido é 
sempre mais fraco que 0 primeiro. Quando se applica os dedos 
sobre 0 tumor sente-se em geral em cada pulsação, que os dedos 
se afastam uns dos outros por um movimento de expansão. 
A mão collocada sobre 0 tumor, 110 momento da diástole, nos 
dá a sensação de um frémito vibratório. Quando 0 tumor aneurysmal 
é comprimido por algum tempo, elle diminue de volume, desappa- 
rece; mais logo que cessar a compressão elle se reproduz e volta 
ao estado primitivo. 
Quando a compressão é feita na artéria acima do tumor, entre 
este e 0 coração, 0 tumor cessa de pulsar e perde 0 seu volume ; 
sendo, porém, exercido abaixo do tumor, entre este e os capillares, 
0 tumor torna-se mais tenso, túrgido e as pulsações mais fortes. 
A estes symptomas proprios de aneurysma se juntam outros que 
são designados debaixo do nome de symptomas de visinhança. Assim 
0 tumor em consequência de seu crescimento progressivo, distende, 
comprime e chega a destruir mais ou menos os tecidos em que se 
acham collocados. Os ossos podem ser perfurados, ou destruidos, as 
articulações visinhas do aneurysma podem tornar-se a sede de alte- 
rações extremamente graves, as veias satellites da artéria doente, 
sendo comprimidas ou mesmo obliteradas produzem 0 apparecimento 
do oedema, que se estende da extremidade do membro até 0 nivel 
do tumor. Da compressão dos ramos nervosos resultam dores in- 
tensas, nevralgias, paralysias, etc., e a perda da acção do membro. 
Certos aneurysmas em razão de sua sede especial dão lugar a outros 
symptomas, que resultam da compressão de diversos orgãos ; assim 
os aneurysmas da carotida comprimem a trachéa, 0 esophago, as 
vertebras cervicaes. Os aneurysmas da aorta são os que mais fre- 
quentes vezes apresentam estes symptomas. Ha alterações que 
passando-se 110 interior do sacco aneurysmal modificam de tal forma 23 
os symptomas proprios d’esta affecção, que o seu diagnostico torna-se 
bastante difficil; assim o tumor achando-se em parte solidificado 
póde perder a maior parte de sens caracteres; este deixa de ser 
reductivel, torna-se endurecido, as pulsações são muito fracas, a 
compressão exercida sobre a artéria não produz mais mudanças 
appreciaveis, o movimento de expressão e o ruido de sopro podem 
desapparecer completamente. DIAGNOSTICO 
0 diagnostico dos aneurysmas em geral é facil principalmente 
quando elles se manifestam acompanhados dos signaes que lhe são 
caracteristicos, casos ha, porém, em que o diagnostico póde apre- 
sentar grandes embaraços e sérias diíficuldades. 
Os elementos principaes para o diagnostico dos aneurysmas 
são dous: o 1.° consiste em distinguir os aneurysmas dos outros 
tumores; o 2.° em distinguir ou determinar a especie do aneu- 
rysma. 
No primeiro caso o diagnostico é ás vezes extraordinariamente 
difficil, porque certos tumores pódem offerecer os caracteres proprios 
dos aneurysmas e estes acabam muitas vezes por perder os sym- 
ptomas que servem ordinariamente a esclarecer o diagnostico. 
Erros irreparáveis têm sido commettidos por distinctos cirurgiões. 
Quantas vezes tem acontecido abrir-se aneurysmas, por uma 
supposta semelhança com abcessos. Entre outros figuram os casos, 
tão notáveis de Dupuytren, Boyer e Roux, cuja experiencia cli- 
nica tão longa quanto illustrada constitue as glorias da cirurgia 
franceza. 
Pelletan abriu um tumor canceroso pulsátil quando elle acre- 
ditava operar um tumor aneurysmal pela abertura do sacco. Erros 
d’esta ordem têm sido muitas vezes commettidos entre nós por 
abalisados práticos e illustrados professores. Se o aneurysma se 
apresentasse sempre acompanhado do cortejo de symptomas, que 
lhe são proprios, o diagnostico, como dissemos, não oífereceria a 
menor difficuldade, o tumor aneurysmal, porém, soífre certas modi- 
ficações; assim elle póde apresentar-se irreductivel, duro, quasi 26 
sólido perdendo a maior parte dos caracteres que lhe são 
proprios cercando portanto o diagnostico de grande incerteza; 
outras vezes o aneurysma póde se inflammar ou determinar uma 
inflammação dos tecidos visinhos; abcessos podem existir na visi- 
nhança d’estes tecidos, ou em contacto com o proprio aneurysma, 
d’ahi difficuldades que é necessário bem conhecer afim de evitar 
erros, que nestes casos são sempre fataes para o doente. Entre 
as affecções com que se confundem os aneurysmas encontramos em 
primeira linha os abcessos é com estes que se confundem mais vezes 
os aneurysmas, elles pódem revestir fôrmas variadas, acompanhan- 
do-se de dor intensa, tumefacção, que se estende muito ao longe, 
tensão dos tecidos e conseguintemente difficuldades dos movimentos 
da parte. 
A inflammação do sacco aneurysmal ou do tecido cellular, 
que o cerca póde ter por consequência depositos de coágulos molles 
e a cessação dos batimentos. O tumor assim modificado parece-se 
tanto mais com um abcesso, quanto elle é rubro, quente e doloroso. 
E difficil portanto distinguir um aneurysma inflammado fluctuante 
e sem pulsação de um simples tumor purulento. 
Geralmente pelo exame da parte não se póde chegar ao co- 
nhecimento da natureza da moléstia, é necessário pois interrogar 
minuciosamente o doente sobre os seus antecedentes, sobre a data 
da affecção, examinar com muito cuidado o estado da artéria, 
empregar a compressão manual acima e abaixo do tumor, procurar 
a existência dos batimentos e finalmente recorrer a escuta ao 
nivel do tumor; a ella pertence o principal papel porque é sempre 
com o concurso dos phenomenos revelados por este meio que nos 
será dado a certeza diagnostica. 
Se apezar da investigação a mais rigorosa não se poder esta- 
belecer desde logo o diagnostico é necessário esperar e observar 
a marcha da moléstia por alguns dias, e não intervir senão quando 
o tumor estiver ameaçado de romper-se. 
Sabemos que de um erro de diagnostico se deriva uma indi- 
cação therapeutica falsa, a qual satisfeita dá lugar a um resultado 
inesperado. Apresentam-se depois os tumores erectis arteriaes, 27 
que clifferem dos aneurysmas pela sua fôrma achatada e em geral 
pelo estado erectil da pelle, occupando partes do corpo, em que 
de ordinário os aneurysmas não se desenvolvem, são reductiveis, 
a apalpação descobre uma certa massa sólida abaixo do tumor, as 
pulsações são fracas e lentas, o sopro mais brando e mais fraco 
que nos tumores aneurysmaticos. 
Os tumores pulsáteis dos ossos têm sido e pódem ser con- 
fundidos com os tumores aneurysmaticos; aquelles têm sua sede 
ordinariamente nas extremidades esponjosas dos ossos; sua redu- 
ctilidade incompleta, sua molleza, sua fluctuação, seu fraco ruido 
de sopro, e o pouco movimento de expressão do tumor e a sen- 
sação de crepitação, que muitas vezes sentimos quando comprimimos 
estes tumores nos dará uma idéa bastante clara sobre a natureza 
da aífecção. 
Os aneurysmas têm sido muitas vezes confundidos com os 
tumores hematicos ou hematomas. Estes tumores as vezes apre- 
sentam os caracteres, que são proprios dos aneurysmas, trazendo 
duvidas ao espirito do cirurgião relativamente ao diagnostico 
differencial. 
As vezes póde-se aífastar estes tumores da artéria e d’essa 
fórma reconhecer que elles são completamente independentes d’ella; 
outras vezes, porém, o vastíssimo volume do tumor não permitte 
este aífastamento, resultando difficuldades immensas para se chegar 
ao diagnostico exacto da aífecção. Glanglios endurecidos, tumores 
sólidos pódem também ser tomados como aneurysmas, quando 
elles transmittem os batimentos da artéria sobre o trajecto da qual 
elles se acham implantados ; aneurysmas curados têm sido muitas 
vezes considerados tumores sólidos e operados como taes. 
O clinico deve ser muito cauteloso quando tiver deformular 
um diagnostico sobre um tumor eollocado no trajecto de uma 
artéria. Ordinariamente depois de um exame minucioso no estudo 
attento dos commemorativos, com emprego dos diversos meios 
de exploração elle chega ao conhecimento da natureza do mal. 
Varice arterial—é muito facil distinguil-a de aneurysma, o tumor 
por ella formado é diííuso, desigual, constituído de artérias tor- 28 
tuosas e dilatadas que se desenham e se sentem atravez da pelle. 
Estes caracteres difíerem perfeitamente d’aquelles que se observam 
nos aneurysmas. Ella portanto só poderá ser confundida com 
os aneurysmas artero-venosos. Estes aneurysmas são em geral, 
quando espontâneos, situados nas cavidades splanclinicas. Os que 
tem sua sede nos membros são quasi sempre resultantes de 
causas traumaticas, e apresentam a dilatação varicosa das veias, 
as pulsações, ao contrario dos aneurysmas arteriaes, depassam os 
limites do tumor e se estendem as veias visinhas. O diagnostico 
nestes casos não oíferece a menor difficuldade. 
Para completar o diagnostico dos aneurysmas é necessário 
determinar a especie de aneurysina e distinguir as numerosas 
variedades uma das outras ; isto nem sempre é possivel, e o erro 
nestes casos é raramente prejudicial ao doente, porque elle não 
exerce quasi nenhuma influencia sobre a therapeutica. 
Para se satisfazer a todas as exigências do diagnostico é 
necessário não só distinguir os tumores aneurysmaticos dos outros 
tumores, mais ainda determinar a especie de aneurysma como também 
precisar a sede anatómica do aneurysma, seu ponto de partida, 
suas relações com tal ou tal artéria ou com as collateraes. 
Para os aneurysmas arteriaes, esta determinação é em geral 
facil, porque o tumor occupa quasi sempre uma região, onde existe 
uma só artéria importante. Iía casos, porem, èm que a precisão do 
diagnostico anatomico oíferece a mais acurada attenção do ci- 
rurgião ; assim os aneurysmas mais ou menos volumosos, que se 
apresentam sobre o lado da trachea, immediatamente acima da 
clavicula; estes aneurysmas podem pertencer a aorta ou ao tronco 
brachio-cephalico, a carotida ou a sub-clavia. A séde precisa do 
tumor, a origem indicada pelo doente, a auscultação, o estado da 
circulação da cabeça e do membro thoracico, e finalmente a in- 
fluencia, que exerce sobre o tumor a compressão nos fornece geral- 
mente os elementos proprios a estabelecer um diagnostico exacto. 
Graças aos esforços de Marey, o arsenal cirúrgico adquiriu mais 
um instrumento, que é susceptivel de attingir um certo gráo de 
sensibilidade. Infelizmente, porém, não tem o sphygmographo 29 
realizado os sonhos de seu notável inventor e dos que pretendem 
ver tudo esclarecido pelo critério infallivel do instrumento. De 
todos os meios que empregamos na practica o sphygmographo é 
o mais infiel e o mais capaz de nos conduzir a erro se quizermos 
dar mais importância do que merece realmente. 
O professor Richet demonstrou que o sphygmographo em 
relação aos aneurysmas representa um papel por demais modesto. MARCHA. TERMINAÇÃO. 
PROGNOSTICO 
0 aneurysma é uma affecção cuja marcha é continua e 
gradual. Muitas vezes succede que a marcha dos aneurysmas é 
lenta e casos ha, em que estes tumores permanecem annos em 
estado estacionário, isto, porém, é muito raro. Os aneurysmas ten- 
dem sempre a crescer e este crescimento se faz com uma rapidez, 
que varia segundo o calibre da artéria, a dimensão do orifício e 
a natureza das paredes do sacco. Abandonados aos simples re- 
cursos da natureza o aneurysma tennina-se ordinariamente pela 
ruptura do sacco; esta se faz para a superfície cutanea ou mucosa, 
para o interior de uma articulação ou para os canaes venosos. Os 
aneurysmas internos podem se abrir na cavidade de uma membrana 
serosa, na pleura, no pericárdio, no peritoneo, na arachinoide e 
nestes casos a morte é quasi sempre instantanea; podem ainda 
se abrir na trachea, no oesophago e no tubo digestivo; os aneu- 
rysmas externos, porém, se abrem geralmente para o lado da 
pelle. 
O augmento de volume do tumor, os battimentos incessantes, 
que o agitam provocam nos tecidos circumvizinhos uma inflam- 
mação, que dá lugar a formação de abcessos. A inflammação e a 
suppuração peri-aneurysmaes constituem um accidente dos mais 
graves. 
Os abcessos formados tendem a se abrir para o exterior, 
como os abcessos ordinários; elles se abrem dando sabida ao pús, 
mas, a parede do sacco denudada e amollecida pela suppuração 
não tarda a se romper, esta ruptura pode ter lugar alguns instantes, 32 
horas ou dias depois da abertura do abcesso e uma hemorrhagia 
quasi sempre fatal se apresenta. Algumas vezes o sueco crescendo 
chega até a pelle, esta se adelgaça e toma uma cor azulada mais 
ou menos intensa até que pela sua ulceração o tumor se rompe. 
Outras vezes a pelle sendo comprimida pelo tumor, se esphacela 
e ha formação de uma eschara sobre a superfície do tumor. A 
queda d’esta eschara produz quasi sempre uma hemorrhagia exces- 
sivamente grave. 
Quando em casos rarissimos o aneurysma não tendo sua 
terminação natural, isto é, a ruptura do sacco, ou a morte, e pelo 
contrario os seus symptomas parecem declinar, é que a natureza 
por si sé encarregou-se de lhe dar a melhor das terminações, a 
cura espontânea. 
De diversos modos tem sido interpretado pelos auctores a 
cura espontânea dos aneurysmas. 
Iíodgson deixando-se dominar pelas theorias de seu tempo, 
deu a certos factos uma interpretação inexacta. Apezar d’estas 
imperfeições elle realizou um progresso considerável, ao qual os 
trabalhos modernos sobre a compressão indirecta lhe dão cada dia 
uma nova importância. Para este autor a cura expontânea dos 
aneurysmas se realiza de tres maneiras: l.a, pela gangrena do 
tumor; 2.a, pela pressão que o sacco exerce sobre a artéria, pressão 
que tem como resultado fazer adherir entre si as paredes oppostas 
do vaso e interceptar a passagem do sangue; 3.a, pelo deposito 
gradual da fibrina até a completa obliteração do sacco, com ou 
sem obliteração da artéria doente. 
Para A. Cooper, quando um aneurysma se rompe sem he- 
morrhagia exterior, o sangue que se infiltra na aponevrose e na 
bainha do vaso péde comprimir a artéria e a obliterar. 
Para Crisp a abertura superior da artéria péde se inflammar 
isoladamente e se obliterar. 
Para Richet um coagulo fibrinoso péde se destacar das pa- 
redes do sacco sobre uma influencia qualquer e vir fechar a abertura 
de communicação com o vaso. 33 
Os casos de cura observados pelo emprego da malaxação, diz 
elle, vem em apoio de sua theoria. 
O professor Broca estudando ou apreciando esta questão fez 
ver que se podiam reduzir os diversos modos de terminações a 
dous processos principaes traduzidos pela formação dô coágulos 
activos e pela inflammação. A inflammação, diz elle, muitas vezes 
cercada de grandes perigos produz curas espontâneas accidentaes ; 
ao passo que, a coagulação fibrinosa, resultado de um trabalho lento 
mais duradouro, produz curas naturaes. A inflammação desenvolvida, 
em um aneurysma cheio de sangue liquido, tem por fim modificar 
a consistência do tumor, que torna-se mais duro e cujas pulsações 
diminuem ou cessam completamente. 
Estes phenomenos são devidos a formação de coágulos negros, 
molles, friáveis, coágulos passivos, que existem ora sós, ora mis- 
turados a coágulos fibrinosos mais duros. A cura pela inflammação 
póde ser observada nos tres periodos de terminação do processo 
inflammatorio, caracterisados pela suppuração, pela gangrena e pela 
resolução. 
A suppuração póde se produzir quer no sacco aneurysmal, 
quer no tecido cellular, que o cerca, e muitas vezes ella se apre- 
senta n’estes dous pontos ao mesmo tempo. A suppuração que se 
origina em torno do sacco póde, como já tivemos occasião de dizer, 
causar ruptura do sacco resultando quasi sempre hemorrhagias fataes ; 
succede, porém, se a inflammação fôr bastante intensa para chegar 
a suppuração, esta é sufficiente para fazer coagular o sangue con- 
tido no tumor, este resistindo a ella, a hemorrhagia póde não se 
apresentar e a cura tem lugar. 
On voit, diz Broca, combien est redoutable une terminaison 
qui compense à peine, par quelques chances de guêrison dêfinitive, 
les chances bien autrement nombreuses d'une mort plus ou moins 
prompte. A gangrena não produz senão em casos muito exce- 
pcionaes a cura dos aneurysmas, e este resultado só tem lugar 
depois de sérios accidentes. 
A mais favoravel terminação da inflammação aneurysmal é a 
resolução. Algumas vezes o tumor invadido pelo processo inflam- 34 
matorio não soífre alteração e não perde os sens signaes caracte- 
risticos ; outras vezes, porém, o aneurysma torna-se duro, irreductivel, 
não apresenta pulsações, nem ruido de sopro. A moléstia não deve 
ser considerada como curada, isto não depende da causa, que pro- 
duzio a coagulação do sangue, nem da natureza d’esta coagulação, 
que é constituída pelos coágulos passivos. Estes coágulos, ainda que 
formados em condições favoráveis não dão sempre um resultado satis- 
factorio. Assim o tumor depois de ter cessado de pulsar durante 
algum tempo, póde se apresentar ou tornar ao seu estado primitivo ; 
é que os coágulos passivos pouco susceptiveis de adherencia foram 
separados e arrastados pela corrente sanguinea. A cura devida aos 
coágulos passivos pela inflammação obtem-se as vezes fazendo o 
doente passar por grandes perigos no fim de um tempo mais ou 
menos longo. A cura espontânea dos aneurysmas pela coagulação 
fibrinosa é designada pelo professor Broca debaixo do nome de 
cura natural dos aneurysmas. Com efíeito a face interna do sacco 
se reveste de uma camada densa de coágulos fibrinosos e a me- 
dida que este deposito se faz a cavidade do aneurysma diminue, 
as pulsações cessam e a cura se realiza. Este deposito lento de 
coágulos aetivos não se traduz geralmente por phenomeno algum 
extraordinário. A estagnação incompleta do sangue, no sacco aneu- 
rysmal, favorece o deposito natural dos coágulos fibrinosos. A sub- 
stancia fibrinosa, que oblitera os aneurysmas é disposta em laminas, 
sendo as internas mais espessas e molles e as externas finas e 
seccas. A cura pela formação e organisação dos coágulos aetivos 
não apresenta accidentes e constitue o melhor e mais importante 
de todos os meios de cura conhecidos e todos os nossos methodos 
de tratamento deveriam ter sempre por fim esta coagulação, e a 
nossa arte teria chegado a perfeição si independente de qualquer 
intervenção cirúrgica se alcançasse este resultado. O aneurysma é 
sempre uma affecção grave, quando attinge mesmo as artérias de 
pequeno calibre, pois o tratamento que é obrigado a recorrer 
póde occasionar accidentes sérios. Entretanto é precizo dizer-se, de 
uma maneira geral, que quanto mais volumosa é a artéria em que 
elle se assesta, tanto mais perigoso. Os aneurysmas, que se acham 35 
situados nas cavidades splanchncas e que mio são accessiveis aos 
meios cirúrgicos, como os aneurysmas externos são extremamente 
graves e acarretam a morte do doente em pouco tempo. Entre os 
aneurysmas externos, aquelles que se acham situados nmis proximos 
do tronco offerecem mais perigos, porque não se pode empregar 
para os combater senão certos e determinados meios. O prognostico 
dos aneurysmas varia ainda em relação a artéria, a situação do 
tumor, a multiplicidade de aneurysmas e ainda em relação a certas 
circumstancias, que é difficil determinar. TRATAMENTO 
Numerosos são os meios therapeuticos aconselhados no trata- 
mento dos aneurysmas, variadíssimos são os methodos descriptos 
pelos auetores; não obstante nem todos se assentam em bases ra- 
cionaes, como as exige a physiologia patbologica. Antigamente se 
dividia o tratamento dos aneurysmas em tratamentos medico e cirúr- 
gico ou em meios internos e meios externos, divisão esta que está 
hoje completamente banida da practica. Outros cirurgiões dividiram 
o tratamento dos aneurysmas em tres methodos : o primeiro com- 
prehendendo os meios, que determinam a coagulação do san- 
gue no sacco, o segundo a abertura do sacco e o terceiro a sua 
extracção. Na desoripção, que vamos fazer dos diíferentes methodos 
empregados hoje no tratamento dos aneurysmas, seguiremos a di- 
visão e classificação apresentadas pelo professor Broca. Este dividiu 
em dous grandes grupos : methodos directos e methodos indirectos; 
os primeiros actuam immediatamente sobre a parte doente, os se- 
gundos por intermédio das modificações sobre a circulação. Dentre 
os directos, uns realisam a destruição do tumor por meio de uma 
operação, outros actuam sobre o sangue nelle contido, favorecendo 
a sua coagulação; outros emfim pelas modificações, na circulação 
do sangue no sacco, obrando ao mesmo tempo sobre o proprio aneu- 
rysma. Dos indirectos, uns exercem sua acção sobre o sangue e sobre 
a circulação, outros sómente modificam temporária ou permanente- 
mente a circulação da artéria doente. 
METHODOS DIRECTOS 
Metiiodo de Antyllus. — Este metliodo era designado outrora 
com o nome de metliodo de Actio e de Paulo de Egina; quando 38 
os trabalhos de Oribaso vieram com razão dar-lhe o nome de An- 
tyllus que havia sido o seu inventor. 
Este cirurgião operava o aneurysma practicando a ligadura da 
artéria acima e abaixo do tumor depois do que abria o sacco aneu- 
rysmal dando sahida aos coágulos ahi existentes. 
Durante muito tempo a dous se limitaram os recursos do 
cirurgião para o tratamento dos aneurysmas, a abertura do sacco 
e a amputação do membro, onde se desenvolviam estes tumores. 
Até o começo do século XVI nenhuma idéa nova pareceu modi- 
ficar o methodo de Antyllus, elle foi pouco a pouco cahindo em 
completo esquecimento. Em 1619, porém, Guillemeuse, discipulo de 
A. Paré o poz de novo em practica deixando, porém, de practicar a 
ligadura logo abaixo do tumor, abrindo assim a porta a hemorrha- 
gias consecutivas. Algumas modificações se fizeram ainda no me- 
thodo de Antyllus, que conseguiram elevai-o ao gráo de generalidade 
de que gozou no tempo de seu inventor. Não obstante os nume- 
rosos casos de cura de aneurysmas obtidos pelo methodo de An- 
tyllus, ainda que notáveis cirurgiões o tenham empregado com bom 
exito, estou certo que hoje nenhum cirurgião se lembraria de o 
praticar. Este methodo longo e de difficil execução está hoje 
quasi que inteiramente banido da practica, em consequência dos 
graves accidentes, que podem sobrevir. Assim tem se observado 
hemorrhagias consecutivas a queda das ligaduras, a gangrena, uma 
suppuração longa e abundante, que vae consumindo as forças do 
doente, que difficilmente póde escapar, phlebitis, arterites, eryzipelas, 
fleugmões diffusos, a gangrena do membro e outras gravissimas 
complicações constituem motivos de grande valor para o cirurgião 
não pensar em empregal-o, principalmente hoje que a therapeutica 
dos aneurysmas apresenta meios diversos e outros methodos mais 
bem constituídos. 
Extirpação.—Este methodo é uma simples modificação do me- 
thodo de Antyllus. Conhecido de longa data estava em completo 
abandono, quando Purman, cirurgião allemão, o fez reviver e deu-lhe 
o seu nome. Este cirurgião tendo de tratar um aneurysma da 
dobra do braço o fez da maneira seguinte : incisou a pelle longi- 39 
tudinalmente, poz a descoberto o tumor, procurou e isolou a artéria 
ligando-a em suas extremidades, cortou-a acima e abaixo do aneu- 
rysma e terminou a operação fazendo a extirpação do sacco sem 
o abrir. Chapei, distincto cirurgião do Hospital de Saint-Malo, 
practicou a mesma operação com resultado feliz em um doente de 
aneurysma do radio-palmar. Este methodo apresenta mais difficul- 
dades e expõe o doente aos mesmos accidentes do methodo de 
Antyllus. 
Cauterisação.— Quod remedium non sanat, ferrum sanat, quod 
ferrwn non sanat, ignis sanat, quod ignis non sanat, insanabile dici 
debet. Percebe-se por este aphorismo do sublime Pae da medicina, que 
elle tinha a maior confiança no emprego de fogo para curar um certo 
numero de moléstias; seu successores continuaram a fazer uso da 
cauterisação e a empregaram em larga escala, chegando ao ponto de 
não inspirar mais confiança este meio de tratamento. Nenhum 
cirurgião, porém, antes de Marco Aurélio Severino se lembrou de 
applicar a cauterisação no tratamento dos aneurysmas. O primeiro 
caso pertence, pois á este cirurgião e data de 1641. Tratava-se de 
um aneurysma da crural complicado de inflammação gangrenosa, a 
cauterisação pelo ferro em braza, como foi practicada, não conse- 
guiu realizar o intento d’aquelle cirurgião. Hoje cirurgião algum 
em idênticas circumstancias se lembraria de applicar ou imitar 
este tratamento. Este methodo só poderia ser lembrado hoje em 
aneurysmas superficiaes, extremamente pequenos de varias e de- 
terminadas artérias. Teerlinch o empregou em um pequeno aneu- 
rysma da artéria palatina superior. 
O emprego do ferro em braza sobre o tumor aneurysmal além 
de barbaro tem a desvantagem de não poder ser effectuado nos 
aneurysmas situados um pouco profundamente e expõe o doente a 
hemorrhagias fataes. A applicação dos cáusticos foi também posta 
em practica no tratamento dos aneurysmas por Gironard de Chartes, 
em 1841 em um doente de aneurysma da dobra do braço, elle 
attacou o tumor por meio da massa caustica de Conquain, e com 
quanto sobreviesse uma forte hemorrhagia fazendo o doente correr 
grande perigo, elle conseguiu curar a moléstia. O professor Bonnet 40 
de Lião empregou também a cauterisação com o chlorureto de 
zinco em um doente de aneurysma da sub-clavia, em que não era 
possível fazer a ligadura da artéria para dentro dos scalenos. 
O doente depois de ter soffrido seis grandes hemorrhagias con- 
seguiu curar-se. Raríssimas vezes a cauterisação tem sido empregada 
como meio therapeutico nos aneurysmas; os grandes inconvenientes, 
que accarreta a acção céga dos cáusticos obrigam a rejeitar este 
methodo de tratamento. 
Acupunctura. — Este methodo de tratamento imaginado em 
1830 pelo professor Velpeau foi pela primeira vez empregado em 
uma aneurysma da região parotidiana por Beny Philips, cirurgião 
inglez. Este methodo consiste na introducção de agulhas no tumor 
aneurysma! onde ficam durante um ou dous dias, afim de provo- 
carem a coagulação do sangue, obrando como corpos extranhos. 
Rizzoli em dous casos em que empregou este methodo os resultados 
foram desfavoráveis. Velpeau em um aneurysma da poplitéa depois 
de ter introduzido as agulhas por espaço de onze dias sobreveio 
uma inflammação violenta acompanhada de hemorrhagia, que fez 
necessário amputação do membro, em consequência da gangrena, 
o doente veio a fallecer pouco depois da operação. 
Quasi todos os cirurgiões que se serviram d’este methodo de 
tratamento, tiveram sempre iguaes decepções. O coagulo formado 
pela presença da agulha não possue as condições necessárias para 
obliterar o aneurysma. Os factos apresentados demonstram a im- 
portância d’este methodo de tratamento e a sua perigosa applicação. 
Actualmente nenhum, pratico se lembra mais de recorrer a este 
methodo no tratamento dos aneurysmas. 
Sutura entortilhada. — Este meio cirúrgico, proposto por 
Malgaine, foi por elle empregado em um caso de aneurysma da 
região frontal, conseguindo curar completamente o seu doente. 
Este methodo de tratamento consiste em atravessar o tumor 
com dous alfinetes dispostos em cruz, e praticar sobre elles a su- 
tura entortilhada. 
Um terceiro alfinete, collocado por baixo da artéria será igual- 
mente fixado por uma sutura entortilhada. Os alfinetes obrando 41 
como corpos extranhos dão lugar a uma inflammação que acarreta 
a formação de coágulos. Nos pequenos aneurysmas superficiaes é 
este methodo preferivel á acupunctura, é também até onde chega 
o seu emprego. 
Malaxação. — Este methodo de tratamento consiste em amassar 
o tumor aneurysmatico em todos os sentidos, de maneira a pro- 
duzir coágulos, que irão obturar a artéria no ponto em que ella 
communica com o sacco, dando em resultado a cura. 
Applicado por William Fergusson em dous casos de aneurysma 
da sub-clavia, os resultados não foram satisfactorios. O celebre in- 
ventor da eschenia cirúrgica, Esmarch, teve a felicidade de alcançar 
a cura de um aneurysma da artéria axillar por meio da malaxação; 
mas em um caso de aneurysma do tronco brachio-cephalico em 
que elle lançou mão d’este methodo, o doente teve uma congestão 
cerebral seguida de hemorrhagia do lado direito. 
O Dr. See alcançou a cura de um aneurysma do pescoço em 
um individuo de 52 annos por meio da malaxação. O prefessor 
Blakman apresenta um caso de aneurysma da femural tratado pelo 
mesmo methodo combinado com a compressão indirecta de que 
ficou o doente completamente curado. William Fergusson praticava 
a malaxação da maneira seguinte : o doente estando sentado elle 
collocava a extremidade do pollex sobre o tumor, de maneira 
que descobria a parte saliente, comprimia depois até que o sangue 
liquido fosse expellido do sacco e que elle sentisse a parede 
superior do aneurysma unida com á inferior, imprimia então 
com o pollex movimentos lateraes, de modo a triturar ligei- 
ramente as paredes uma contra a outra. Insuccessos e successos 
foram publicados, não se podendo attribuir estes á malaxação ex- 
clusivamente, visto como a ella se combinavam outros meios. Serias 
diíficuldades apresenta este methodo, a principal é a incerteza de 
que os fragmentos tenham o volume necessário para obturar com- 
pletamente a capacidade do orifício superior. 
Os grandes perigos resultantes do emprego d’este meio de 
tratamento, como as embolias, gangrena nos membros, phenomenos 42 
cerebraes, etc., forçaram os práticos a abandonar este methodo de 
tratamento dos aneurysmas. 
Stypticos. — Applicação de certas substancias, como o tannino, 
vinho, vinagre, agua de Babel, incenso e muitas outras substancias 
da ordem styptica, sobre a pelle, que reveste o sacco aneurysmal, 
constitue este methodo de tratamento. 
Conhecido da mais alta antiguidade, foi empregado por Actio 
nos aneurysmas do pescoço. Gay de Chanliac, Pierre de Langeletto 
e muitos outros têm fallado no emprego dos adstringentes no tra- 
tamento dos aneurysmas. Este methodo tem uma acção muito 
incerta, e se algumas vezes elle parece dar bons resultados, é 
antes, como bem diz o professor Broca, devido a compressão ou 
aos refrigerantes. 
Methodo endermico. — Este meio de tratamento consiste na 
applicação local do perchlorureto de ferro sobre o tumor, depois de 
ter sido este demudado da epiderme por meio de um vesicatório. 
Applicado por Thyrey no tratamento das varices, este methodo 
conseguio dar bons resultados produzindo a coagulação do sangue 
e obliteração das veias. O professor Broca pensando que o per- 
chlorureto de ferro seria capaz de produzir a obliteração das arté- 
rias como a das veias, o applicou em um pequeno aneurysma do 
couro cabelludo, o resultado foi satisfactorio. Alguns outros cirur- 
giões têm lançado mão d’este meio, porém, sem resultado. 
Moxas. — O methodo directo que consiste em fazer applicação 
de moxas sobre a pelle que cobre o aneurysma foi introduzido por 
Larrey que o applicou em um aneurysma da illiaca externa. 
As moxas foram applicadas sobre o tumor aneurysmal com 
o fim de determinar uma inflammação, que se propagando ás 
paredes do sacco, produzisse a coagulação do sangue. E muito 
perigoso o emprego d’este methodo, e os seus resultados desastrosos; 
a elle por tanto nfio se deve recorrer para curar-se os aneurys- 
mas, seria lucta debalde. 
Refrigerantes. — A origem d’este methodo perde-se nas 
brumas da antiguidade. Si a Guerin de Bordeaux, não pertence a iniciativa d’este 
meio de tratamento, cabe-lhe, porém, a gloria de tel-o feito conhe- 
cido. Os refrigerantes mais empregados são : compressas embebidas 
em uma mistura de agua com vinagre, bexigas cheias de gelo e as 
misturas refrigerantes. O methodo de Guerin era applicado no 
intuito de produzir a coagulação no interior do sacco aneurysmal; 
sabemos, porém, que o frio longe de favorecer a coagulação a re- 
tarda. Nos casos felizes recorre-se a um trabalho inflammatorio 
para explicar a coagulação, que estabelecendo-se no interior do 
sacco traz como resultado a cura do tumor. A sciencia apresenta 
numerosos casos de cura pela refrigeração, mas não se contam 
também poucos casos em que este methodo tem sido inefficaz. 
Calori-punctura. — A idéa de applicar o calor com o fim de 
obter a coagulação do sangue, pertence a Everard Home. Este 
methodo consiste na introducção de uma agulha de acupunctura 
no interior do sacco aneurysmal; a extremidade externa desta 
agulha é depois aquecida por meio de uma lampada de álcool até 
a temperatura branca. Foi empregada uma unica vez pelo seu in- 
ventor em caso de aneurysma da illiaca externa, o resultado foi 
acarretar a morte do doente. 
Este methodo não tem attrahido a attenção dos cirurgiões, 
está quasi em completo esquecimento. 
Flexão. — Este meio cirúrgico parece destinado a certos casos 
clinicos, cuja simplicidade demanda uma applicação simples. Desde 
o anno de 1838 que a flexão era empregada como recurso hemos- 
tatico. 
Foi, porém, em 1858 que Ernest Hont, cirurgião inglez, o 
empregou pela primeira vez em um caso de aneurysma da artéria 
poplitéa, conseguindo curar completamente o seu doente. Para este 
resultado convergio a attenção de grande numero de cirurgiões. 
N’esse mesmo anno Schaw de Middlesse Hospital, o pôz em 
practica em um caso semelhante, alcançando um feliz resultado. 
Malgaigne, Spence, Thierry, Crosson e outros practicos colheram 
bons resultados com o emprego da flexão. O seu emprego, porém, 
tem sido limitado aos aneurysmas da poplitéa e da dobra do coto- 44 
vello. Quando se trata de um tumor aneurysmatico de pequenas 
dimensões, se relacionando com uma articulação da qual occupa a 
face flexora, de sorte que em um movimento de flexão o tumor 
seja comprimido, e conseguintemente impedido o accesso do sangue 
em sua cavidade, a tentativa de um tal meio therapeutico é auto- 
risada antes do emprego de outro qualquer recurso curativo. 
Infelizmente estas condições são raras na practica, onde, ao 
contrario, abundam os casos, em que o estado da moléstia se tem 
aggravado pela occurrencia de complicação e accidentes. A cura 
pela flexão, segundo Hart, se effectua pela compressão, que exerce 
o membro dobrado sobre o sacco aneurysmal. Para Le Fort a 
flexão participa dos dous methodos de compressão, parecendo sobre- 
tudo ligar-se á compressão directa. Julgamos que a cura pela flexão 
consiste no dobramento da artéria e na compressão directa do 
tumor. Ha circuinstancias que frustram o emprego da flexão for- 
çada, as quaes dependem da posição do membro, com a qual o 
doente não se acha habituado, podendo ser-lhe, além de incommoda 
e fatigante, não raras vezes dolorosa, a ponto de não ser suppor- 
tada. Para se prevenir estes inconvenientes é necessário que a flexão 
seja feita progressivamente, de modo que o doente vá pouco a 
pouco se habituando ao seu emprego. Methodo simples e ao alcance 
de todos, a flexão tem apresentado resultados realmente anima- 
dores ; entre nós, porém, os cirurgiões dão preferencia á compressão 
digital de que nos occuparemos mais tarde. 
Injecções coagulantes. — Foi no começo d’este século que 
Monteggia, distincto cirurgião italiano, imaginou carar os aneurysmas 
fazendo injecções de liquidos capazes de coagular o sangue con- 
tido no interior do sacco. As primeiras substancias empregadas 
foram o álcool, o tannino, o acetato de chumbo e outras substancias 
de acção coagulante. Em 1835 Leroy d’Etille empregou o álcool 
sem obter resultado satisfatório. Wardrop em 1841 lembrou o em- 
prego do acido acético e Bouchut em 1848, o do acido sulfurico. 
Foi, porém, em 1852 que este methodo foi firmado na pratica, 
graças aos esforços empregados por Pravaz, que, mostrando as 
propriededes eminentemente coagulantes do perchlorureto de ferro, 45 
aconselhou o seu emprego na cura dos aneurysmas. Ao mesmo 
tempo elle inventou uma seringa para se executarem sem accid entes 
ás injecções e para medir ao mesmo tempo as quantidades de per- 
chlorureto, que se desejava injectar no sacco aneurysmal. 
A 6 de Fevereiro de 1853 Deslongchamps conseguio curar 
um aneurysma traumático super-orbitario. Algum tempo depois 
Nieper o empregou em um aneurysma da artéria poplitéa, e Serris 
em um aneurysma da dobra do braço, tendo os dous conseguido 
o mais completo successo. Não obstante, Malgaigne, atemorisado 
pelos numerosos casos seguidos de máos resultados, apresentou á 
Academia de Medicina uma memória, em que dava o resultado de 
11 casos tratados por este methodo, dos quaes 2 com resultado 
feliz, 5 revezes e 4 mortes. A quantidade de perchlorureto de ferro 
necessária para produzir a coagulação do sangue varia segundo o 
volume do tumor e o gráo de concentração do perchlorureto. O 
manual operatorio é dos mais simples. Comprimida a artéria aífe- 
ctada acima e abaixo do tumor, penetra-se neste com a agulha 
de que se acha armada a seringa de Pravaz, em seguida injecta-se 
uma solução de perchlorureto de ferro, que se deve achar no interior 
da seringa. Depois da injecção sacode-se o tumor, retirando 15 a 
20 minutos depois a compressão da artéria. Não se póde contar 
com o effeito immediato, que é a coagulação do sangue contido 
no sacco aneurysmatico. Em outros casos a coagulação é incom- 
pleta e a organisação não se realisa ou então póde provocar uma 
inflammação mais ou menos intensa acompanhada ás vezes de 
suppuração, abertura do tumor com todas as suas consequências. 
Este methodo, que tem sido applicado em todas as especies de 
aneurysmas, não tem vantagem sobre os demais methodos e só 
deve ser tentado em casos excepcionaes. 
Injecções sub-cutaneas de ergotina. — Longembeck baseando-se 
na acção da ergotina sobre as paredes vasculares, pensou que, 
injectando esta substancia sobre o aneurysma no tecido cellular 
sub-cutâneo, poderia conseguir a retracção do sacco e d’ahi uma 
diminuição mais ou menos notável do volume do tumor. Elle 
applicou pela primeira vez em um caso de aneurysma da sub-clavia 
direita com feliz resultado. 46 
Em outro caso de aneurysma da radial direita tratado por 
este meio o resultado foi também satisfatório. Os resultados co- 
lhidos pelo novo meio de tratamento dos aneurysmas despertavam 
a attenção dos practicos e a este meio não faltavam experimen- 
tadores. Gersuny explica do seguinte modo a acção da ergotina : 
cada injecção produz uma inflammação limitada que deixa uma 
induração do tecido conjunctivo de nova formação. A superfície 
callosa que resulta e que rodeia o sacco aneurysmal protege-o do 
embate do sangue. O processo inflammatorio propagando-se á pa- 
rede do aneurysma concorre para a coagulação do sangue. Entre 
nós este meio de tratamento só tem tido applicação nos aneu- 
rysmas da aorta e os resultados colhidos não nos convidam a 
lançar mão d’este meio. Além de outros accidentes, que este meio 
de tratamento produz, quasi sempre a inflammação do tecido cel- 
lular e abcessos apparecem, accidentes estes que se devem evitar 
com muito cuidado nas proximidades do sacco aneurysmal, elle 
é portanto inferior a outros meios que tem hoje o cirurgião á 
sua disposição para curar os aneurysmas. O seu emprego, porém, 
é justificável nos aneurysmas da aorta. 
Compressão directa. — Este methodo imaginado e applicado 
pelos arabes estava quasi em completo abandono ; quando Bourdelot 
o applicou em si proprio livrando-se assim de um aneurysma da 
dobra do braço. O seu emprego, porém, foi durante muito tempo 
restricto e applicado sómente aos aneurysmas d’esta região, foi 
Guatom quem pela primeira vez o applicou em um aneurysma 
popliteo. Os cirurgiões inglezes nos dão numerosos casos de aneu- 
rysmas tratados por este methodo. 
A compressão directa tem sido usada no tratamento dos 
aneurysmas como meio palliativo e curativo. A compressão pal- 
liativa dá lugar ao desenvolvimento do tumor em profundidade, 
assim como a sua prompta adherencia á pelle. Como meio cura- 
tivo tem sido empregada, ora ajudando a acção de um outro me- 
thodo, ora como methodo principal, neste caso o seu emprego se 
limita aos aneurysmas traumáticos recentes e aos aneurysmas ar- 
tero-venosos. O professor Broca nega a possibilidade de cura por 47 
esse methodo não só porque a compressão directa expelle o sangue 
do interior do sacco, como porque obsta á sua renovação. 
Follin diz que nos casos em que se chega a conseguir a cura, 
ella é devida, ou a uma inflammação desenvolvida no tumor, ou 
ao accumulo de camadas fibrinosas que enchem o sacco. Este 
methodo acarreta sérios inconvenientes, como dores atrozes, for- 
mação de escharas e outros. 
Dupla ligadura. — É uma modificação do methodo de Antyllus, 
com a unica differença da não abertura do sacco. O professor 
Broca diz que este processo foi posto em pratica pela primeira 
vez por Pasquier em 1812. Malgaigne o empregou com a seguinte 
modificação, em vez de practicar uma longa incisão sobre o tumor 
elle fez duas pequenas incisões uma acima e outra abaixo do 
sacco conseguindo ligar a artéria n’esses dous pontos sem des- 
cobrir o aneurysma. É preferivel ao methodo antigo, mas expõe 
o doente aos mesmos accidentes. 
Galvano-punctura. — Em 1740 foi que os eífeitos da electri- 
cidade começaram a ser objectos de estudos acurados sobre o 
ponto de vista therapeutico. A idéa de ser a electricidade appli- 
cada aos aneurysmas com o fim de coagular o sangue pertence 
aos cirurgiões inglezes. As experiencias de Pravaz feitas em 1831 
levaram, porém, Aph. Guerar a apontar e fazer conhecido este 
methodo de tratamento. 
Durante muitos annos diversas tentativas foram feitas, sendo, 
porém, constantes os insuccessos; até que em 1845 Petrequin 
communicou á Academia de Sciencias a observação de um caso 
de successo obtido pela primeira vez por este methodo. Depois 
d’esta época muitas tentativas têm sido feitas. 
Em 1847 Abeille curou um aneurysma da sub-clavia lançando 
mão d’este meio. N’esse mesmo anno, na Italia, Lessio, Semmola 
e Derchia, e no anno seguinte, na França, Amussart, publi- 
caram observações sobre a acção do galvanismo no tratamento 
dos aneurysmas. A principio o seu emprego se limitava aos aneu- 
rysmas cirúrgicos; foi Cinizelli quem primeiro applicou-o aos 
aneurysmas situados nas cavidades splanchnicas. Este distincto 48 
medico apresentou á Academia de Medicina uma Memória, na 
qual dá o resultado de cincoenta casos tratados por este methodo, 
dos quaes foram vinte e tres seguidos de cura, vinte sem resul- 
tado e sete fataes. Sobre os factos seguintes foi baseado o emprego 
da galvano-punctura no tratamento dos aneurysmas. Quando se 
submette uma solução albuminosa á acção de uma corrente galva- 
nica, a albumina não vae sempre ao mesmo polo, tudo depende da 
reacção empregada; se ella é alcalina, a albumina se depõe ao 
pólo positivo, se acida o deposito se faz no pólo negativo. Quando 
o sangue é contido nos vasos vivos o principal eífeito da cor- 
rente constante é a formação de um coagulo unico e homogeneo, 
que adhere as paredes vasculares, é preciso de dez a trinta mi- 
nutos para que o coagulo seja solido e oblitere o vaso. Os coágulos, 
que se formam no sacco aneurysmal dando em resultado o endu- 
recimento do tumor, a cessação de seus batimentos, sua cura, em 
summa, são, segundo o professor Broca, denominados Galvanicos. 
São inteiramente parecidos com os coágulos passivos pela sua 
molleza, pouca estabilidade e facil dissociação. 
Constituidos por fibrinas, globulos sanguineos e albumina 
coagulada, podem dissolver-se facilmente, do que resulta uma re- 
cidiva ; dando além d’isso lugar em outras occasiões a apparição 
de um processo inflaminatorio no sacco, onde um corpo estranho 
se formou. É só pela inflammação consecutiva do sacco aneurys- 
mal, que se pode explicar a solidificação lenta do tumor; esta 
inflammação parece positivamente determinada pela acção da elec- 
tricidade. Algumas vezes, em lugar de diminuir o tumor adquire 
um augmento de volume ; este facto ainda não teve cabal expli- 
cação. Iía dous processos para a applicação da Galvanopun- 
ctura. O primeiro, que é o processo ordinário, consiste em 
introduzir-se no tumor duas, quatro ou mais agulhas de aço, 
ferro doce ou platina muito finas e revestidas de uma camada de 
verniz, com a metade das quaes se communica o pólo positivo de 
uma pilha e com a outra metade o pólo negativo, tendo o cuidado 
de fazer uma ligeira compressão na artéria acima e abaixo do 
tumor. O segundo processo de Hamilton, consiste em applicar o 49 
pólo positivo sobre cada uma das agulhas e o negativo sobre um 
ponto da superfície do corpo. O modo de applicação da Galvano- 
punctura no tratamento dos aneurysmas tem provocado discussões 
importantes; assim tem-se procurado saber qual o apparelho elec- 
trico, que se deve lançar mão, quanto tempo deve durar a sessão, 
o numero, a natureza e a forma das agulhas e a maneira de es- 
tabelecer a corrente electrica. Malgaigne com o fim de evitar os 
accidentes, que podem sobrevir ao emprego da Galvano-punctura 
nos aneurysmas, apresenta algumas precauções formuladas nas 
seguintes leis : 
1. a Servir-se de apparelhos de uma medíocre intensidade, pilha 
de Volta, um ou dous elementos de Collat Trouvi ou de Marin. 
2. a Servir-se de agulhas finas, polidas, espaçal-as e collocal-as 
em uma direcção parallelas, antes divergentes do lado das pontas 
do que convergentes. 
3. a Não deixar as agulhas no sacco durante o intervallo de 
uma sessão a outra. 
4. a Não renovar as sessões, se existirem symptomas inflam- 
matorios. 
5. a Não fazer passar a electricidade negativa em nenhuma das 
agulhas, sem préviamente passar a corrente positiva e sem ter 
determinado em roda d’ellas a formação de uma pequena areola 
denegrida; mudar-se o contacto de dous em tres minutos, appli- 
cando o pólo negativo ás agulhas a principio em contacto com o 
positivo. 
Esta operação não é izenta de accidentes mais ou menos 
compromettedores. A hemorrhagia e a formação de escharas são, 
com effeito, duas graves complicações. A hemorrhagia póde apre- 
sentar-se immediatamente á extracção das agulhas, quando ellas 
são volumosas ou em grande numero ou em consequência da 
quéda das escharas, quando ellas têm compromettido os tecidos 
até ás paredes do sacco. Com o fim de evitar a formação de 
escharas Cinizelli revestiu as agulhas de uma substancia isoladora, 
mas os resultados não foram satisfactorios e as escharas conti- 
nuavam a appareeer. 50 
Às estatísticas dos aneurysmas tratados pela galvano-punctura 
não são favoráveis ao emprego d’este meio. 
Ollier diz : que as estatísticas têm todas o grande inconve- 
niente de não serem integraes, publicam-se muitos successos, mas 
os insuccessos não são publicados; não se péde, pois, apoiar sobre 
as estatísticas para saber até que ponto se póde contar com 
a cura. 
O Dr. Bunret sustenta que os casos fataes são devidos a 
applicação tardia da galvano-punctura. 
A galvano-punctura apezar de suas incertezas e accidentes 
graves, a que pode dar lugar é um meio que deve ser tentado no 
tratamento dos aneurysmas. 
Methodo de applicar a electricidade no tratamento dos aneu- 
rysmas, sem a intervenção de agulhas. — Este methodo foi ima- 
ginado em 1874 pelo distincto cirurgião e illustrado professor 
Dr. Pereira Guimarães. Consiste em applicar os dous electrodos 
de uma machina electrica sobre o aneurysma, collocando al- 
ternativamente os polos positivo e negativo em diversos pontos 
do tumor, ora approximando-os, ora afastando-os. Este me- 
thodo que é a applicação exclusiva da electricidade foi pela 
primeira vez empregado por seu auctor com successo a um doente 
de aneurysma da carotida primitiva do lado esquerdo. Muitas ex- 
periências têm sido feitas da applicação d’este methodo, os resul- 
tados, porém, não convidam a lançar mão d’este meio com confiança 
no tratamento dos aneurysmas. 
METHODOS INDIRECTOS 
Methodo de Valsara. — Este methodo de tratamento consiste 
no emprego de uma serie de meios tendentes a produzirem pelo 
enfraquecimento da circulação, a coagulação do sangue contido no 
sacco aneurysmal. Os meios aconselhados por Valsara consistiam na 
applicação de sangrias repetidas e em pequenos intervallos, em 51 
regimen dietetico dos mais severos, repouso absoluto no leito sem 
o menor movimento. 
A idéa de sangrar os individuos affectados de aneurysma é 
certamente anterior a Valsara; Lancisi já o tinba empregado em 
vários casos de aneurysmas internos, mais nestes casos era em- 
pregado sempre como meio palliativo. A Valsara, porém, coube a 
gloria de erigir a dieta e a sangria a um methodo regular, methodo 
que foi algumas vezes applicado pelo seu auctor com verdadeiro 
successo. Os individuos submettidos a este methodo de tratamento 
deviam, com as expoliações sanguineas repetidas ficarem em taes 
condições que não tivessem forças para se levantarem do leito 
chegado a este estado aconselhava-se então um regimen reparador. 
Luke pensa que a sangria deve ser pequena e muitas vezes repe- 
tida para não produzir syncope. Chomel, ao contrario, aconselha 
as grandes sangrias. Stokes abraça o emprego das sangrias dimi- 
nutas e repetidas, mas, em vez de uma dieta rigorosa, elle acon- 
selha uma alimentação reparadora, juntando-se mesmo o uso do 
vinho e de estimulantes digestivos. Para explicar a cura pelo me- 
thodo de Valsara, apparecem em campo duas theorias; em uma, 
a cura resulta da morosidade da circulação, em outra, é o eífeito 
de modificações na plastecidade do sángue. O professor Broca 
admitte que para a formação dos coágulos fibrinosos tornam-se ne- 
cessárias duas condições ; lentidão de circulação e a abundancia de 
fibrina no sangue. 
Segumdo elle, o methodo de Valsara preenche a primeira 
condição e é eminentemente prejudicial em relação ao segundo, 
porque faz desapparecer a fibrina d’aquelle liquido. Nenhum cirur- 
gião hoje sugeita um doente a uma dieta tão rigorosa. 
Ligadura. — A ligadura, applicada sobre uma artéria como 
meio de tratamento dos aneurysmas, tem sido empregada de diífe- 
rentes modos. Em 1710, Anel, cirurgião francez, empregou pela 
primeira vez esta operação no tratamento de um aneurysma da 
dobra do braço, obtendo a cura completa, e, por isso, é este me- 
thodo geralmente conhecido com o nome de methodo de Anel. O 
methodo consiste em interceptar o curso do sangue na artéria, que 52 
dá origem ao aneurysma por meio de uma operação sanguinolenta 
e de uma acção mecanica, que é a ligadura exercida immediata- 
mente sobre o vaso. Depois de experimentar grande opposição, 
este methodo foi substituído pelo de Antyllus, então em voga, ca- 
liindo depois em um completo esquecimento. Dous distinctos ci- 
rurgiões, o fizeram reviver quando achava-se de todo abandonado 
na pratica. Hunter e Desault, empregando a ligadura não seguiram 
entretanto o mesmo processo ; este, distincto cirurgião francez pra- 
ticou a ligadura da artéria poplitéa immediatamente acima de um 
aneurysma d’esta artéria seguindo o processo de Anel; ao passo 
que Hunter, cirurgião inglez, praticou a mesma operação, afas- 
tando-se o mais possível da séde do tumor. Do que precede se 
infere que o methodo de ligadura outro não é que o de Antyllus, 
sem abertura do sacco aneurysmal e da ligadura abaixo do tumor. 
Os dous processos obram da mesma maneira sobre as paredes ar- 
teriaes, e se differem um do outro em algum pouto, é pela sua 
acção sobre o sacco aneurysmal e sobre a circulação do membro. 
No processo de Anel não se deixa collateral entre a ligadura e o 
sacco ; no processo de Hunter ao contrario, a parte da artéria com- 
prehendida entre estes dous pontos emitte em geral um ou muitos 
ramos de calibres variaveis mais sufficientes para levar ao aneu- 
rysma uma certa quantidade de sangue por meio de anastomoses. 
A distancia, que existe entre o sacco e a ligadura, não exerce por 
si só nenhuma influencia nem sobre o tumor nem sobre a circu- 
lação geral do membro. Tudo depende da presença ou da ausência 
de collateraes intermediárias. No processo de Hunter, o sangue, 
passando pelas collateraes entra na artéria entre a ligadura e o 
sacco e torna a tomar a sua direcção natural; passando pelo tumor 
elle continua a circular exactamente da mesma maneira que antes 
da operação, com a unica differença, que sua marcha é então muito 
mais lenta. No processo de Anel se dá o inverso, não ha colla- 
teral entre a ligadura e o tumor aneurysmal, o sangue não póde, 
pois, chegar até o sacco sinão pela extremidade inferior do vaso. 
Um e outro tem por fim tornar mais lenta a marcha do sangue 
no aneurysma e favorecer a coagulação d’este liquido. O processo 53 
de Anel, diz o professor Broca, dando lugar a uma estagnação 
quasi completa produz de preferencia uma coagulação passiva, ao 
passo que, o processo de Hunter se presta melhor á obliteração 
do sangue pelos coágulos activos. Quanto á execução, o processo de 
Hunter é geralmente mais facil do que o de Anel. O resltado d’esse ul- 
timo processo é, porém, mais vezes favoravel. Vamos apreciar os 
resultados da ligadura com relação á artéria ligada, aos tecidos 
circumvisinhos, á circulação do membro do ponto ligado para baixo 
e o que se passa no sacco aneurysmal depois da applicação d’este 
methodo. 
Conforme é o fio mais ou menos apertado, rompem-se, ou não 
as túnicas internas do vaso. Em ambos os casos ha formação de 
um coagulo acima e outro abaixo do ponto ligado, coágulos pyra- 
midaes de bases voltadas uma para outra. São estes coágulos, que 
dão lugar a obliteração da artéria e não a adhesão de suas túnicas 
por um trabalho inflammatorio, como alguns pretendem. A queda 
do fio e por conseguinte a sua reparação ou corte do vaso entre 
as bases tem lugar de dez a vinte e cinco dias duas vezes antes 
ou depois. Os tecidos circumvisinhos, principalmente aquelles que 
ficam para a peripheria, não deixam de soffrer algumas modifica- 
ções, modificações estas que mais vezes consistem no abaixamento 
de temperatura da parte, até que a circulação supplementar venha 
em auxilio da principal que deixa de existir. 
Esta especie de substituição tem lugar, já pelo augmento 
gradual do diâmetro das collateraes, já pela formação de novos 
vasos, communicando a parte superior da artéria com a inferior, 
cuja continuidade foi pela ligadura interrompida. Pode ainda, em 
vez de abaixamento de temperatura, observar-se elevação sensivel 
da mesma. Este facto é de máo presagio, porque indica que não 
ha anastomoses arteriaes suffieientes para a circulação do membro. 
A diminuição no volume do tumor aneurysmal é um facto, que não 
escapa a attenção do cirurgião que pratica a ligadura com o fim 
de curar um aneurysma. Logo que o curso de sangue pára no 
sacco aneurysmal, este se deprime em consequência da elasticidade 
de suas paredes e da pressão, que sobre estas exercem os tecidos 54 
molles superpostos. Parte do sangue que existe no interior do 
sacco passa para a artéria, e parte se deposita em forma de coá- 
gulos molles, cujo soro, ou entra de novo na torrente circulatória, 
ou é absorvido. Quando, porém, restabelece-se a circulação, o tumor 
eleva-se. Si n’estas condições os coágulos já têm perdido sua parte 
liquida e obliturado completamente o sacco aneurysmal, este dei- 
xará de pulsar e a cura será diffinitiva. Nem sempre, porém, se 
póde verificar um tal resultado... Assim, os coágulos, não tendo 
se desembaraçado de sua parte liquida, não soífrendo a transfor- 
mação fibrinosa acabarão por dissolver-se no sangue, que entra no 
tumor, o qual continua a pulsar. Quando a dissolução dos coágulos 
não tem lugar, elles podem actuar sobre as paredes aneurysmaes 
dando lugar a terriveis accidentes. 
Complicações e accidentes. — A esta operação além de todos 
os accidentes ordinários da solução da continuidade podem sobrevir, 
hemorrhagias, gangrenas, phlebites, paralysias, angeoleucites, tétanos, 
erysipelas, etc., o sacco póde inflammar-se, suppurar e romper-se, 
dando lugar a uma inflammação intensa e suppuração abundante, 
complicação muito frequente e talvez a mais terrivel da ligadura. 
A hemorrhagia é um dos accidentes mais frequente e que mais 
vezes complica a ligadura, ella tem lugar geralmente pela extre- 
midade da artéria quando o fio tem cahido antes de haver produzido 
o coagulo obliterador ; outras vezes ella manifesta-se em consequência 
da ruptura do sacco aneurysmal. N’estas condições o cirurgião 
deverá ou empregar uma nova ligadura, ou a compressão ajudada 
dos hemostaticos e as vezes é necessário ainda a amputação da 
parte correspondente á ligadura apezar dos innumeros perigos por 
que faz passar o infeliz doente. Um outro aceidente extremamente 
grave é a phlebite, não só porque no caso que nos occupa como 
também porque, quando suppurativa, ella determina a infecção pu- 
rulenta seguida sempre de morte. 
Quando ella se limita a obliturar a veia pelos coágulos, diz 
Lyme, elle oppõe á circulação um obstáculo novo, que favorece a 
producção de gangrena. 55 
A nevrite consecutiva â ligadura é bastante rara e o menos 
frequente de todos os accidentes d’esta operação. 
A gangrena depois da operação da ligadura é bastante fre- 
quente e é sempre um accidente excessivamente grave; como dis- 
semos o seu apparecimento se faz quando as anastomoses arteriaes 
não são sufficientes para a circulação do membro. 
Dos operados em que manifesta-se a inflammação do sacco 
aneurysmal, uns morrem esgotados pela abundancia da suppuração, 
outros sucumbem á erysipela, aos phleigmões diífusos e ás phle- 
bites que se originam d’este accidente ; e outros emfim são victimas 
de hemorrhagias, que tão frequente e gravemente complica a in- 
flammação suppurativa do sacco aneurysmal. São estes os acci- 
dentes que costumam sobrevir ao emprego da ligadura no tratamento 
dos aneurysmas. 
Em 389 casos de ligadura pelo methodo de Anel reunidos 
por Benjamin Phillips, elle conta 112 casos de morte, o que dá 
uma media de 28 °/0. 
Em 600 casos de ligadura reunidos por Porto, fez-se a he- 
morrhagia pela ferida da operação 73 vezes. 
A estatistica de Norris em 204 casos de ligadura elle notou 
em 31 casos a gangrena. E difíicillimo saber-se os casos, que de- 
mandam o emprego da ligadura; seria necessário especificar cada 
caso em particular para poder se chegar a resultados geraes. Em 
muitos casos só a pratica e a experieneia poderão esclarecer o 
cirurgião. Apezar de todos os accidentes a que expõe o methodo 
da ligadura no tratamento dos aneurysmas, consideramos como um 
meio seguro e entre nós e elle geralmente o preferido. 
Methodo de Brasdor. — Este consiste na ligadura da artéria 
abaixo do tumor, entre este e os capillares : é o inverso do me- 
thodo de Anel. Como no de Anel existem dois processos o de 
Brasdor e o de Wardrop. No primeiro a ligadura é feita imme- 
diatamente abaixo do sacco aneurysmatico; no segundo é ella 
applicada distante do tumor, ficando como no processo de Hunter, 
ramos collateraes. 56 
Deschamps qne foi o primeiro cirurgião a pôl-o em execução 
em um doente de aneurysma da femural teve o mais deplorável 
resultado. 
Astly Couper o applicou depois em um caso de aneurysma da 
illiaca externa e foi também infeliz quanto ao resultado da operação. 
Wardrop estudando o mecanismo da cura pelo processo de 
Brasdor indicou as condições necessárias de seu bom exito, ao 
mesmo tempo, elle apresentava um caso de aneurysma carotidiano 
curado por este methodo. Rarissimas vezes empregado elle só tem 
applicação para os casos, em que não é possivel empregar-se ou 
seguir o methodo de Anel. 
Compressão indirecta. — A compressão indirecta consiste na 
applicação da mão ou de um apparelho destinado a comprimir a 
artéria sede do aneurysma em um ponto afastado do tumor. Co- 
nhecido desde a mais remota antiguidade a compressão indirecta 
foi empregada sempre como adjuvante a outros meios Hoje, porém, 
graças aos esforços e estudos dos cirurgiões irlandezes a compressão 
indirecta occupa um dos primeiros lugares na therapeutica dos 
aneurysmas. 
O professor Broca distingue na evolução d’esse methodo tres pe- 
ríodos históricos : periodo italiano, periodo francez e periodo irlandez. 
No primeiro periodo a compressão indirecta apezar dos esforços 
de B. Genger, Goncy e sobretudo de Gualtani distincto medico do 
hospital do Espirito Santo em Roma, era sempre empregada como 
meio aecessorio ou adjuvante da compressão directa. O seguinte 
periodo assignala o emprego isolado da compressão indirecta. As 
experiencias de Bagard e Eschards, os esforços de Desault, Hunter, 
Bruckner, Chopart deram a este methodo um grande impulso. A 
complicação dos apparelhos e sua imperfeição quanto ao fim a que 
eram destinados ; sua applicação dolorosa longa e sem regras bem 
estabelecidas, fatigante e desanimadora para o doente e para o 
cirurgião, a pouca frequência dos aneurysmas externos, na França, 
foram segundo Richet as causas do profundo esquecimento em 
que cahio a compressão indirecta. O terceiro periodo marca o 
reapparecimento d’este methodo e graças aos cirurgiões irlandezes 57 
que melhor estudando e melhor applicando este methodo fizeram 
com que ellc occupasse um importante lugar na therapeutica dos 
aneurysmas. 
A compressão indirecta é praticada, ora com instrumentos ou 
compressores, chamada compressão mecanica ou instrumental, ora 
com os dedos chamada compressão digital. Digital, ou instrumental 
a compressão pode ser total ou parcial, segundo se supprime comple- 
tamente a circulação no sacco ou apenas se a enfraquece. Continua 
ou alternativa. N’este ultimo se comprime alternadamente diversos 
pontos da artéria. Póde ainda ser intermittente e interrompida se- 
gundo decorre um intervallo de tempo entre uma ou outra com- 
pressão. A compressão indirecta tem sido praticada ora acima, ora 
abaixo do tumor. Não nos occuparemos d’ella neste ultimo caso, 
pois os resultados não têm sido favoráveis. Hunter já havia de- 
monstrado que para obter a cura de um aneurysma não precisava 
mais que diminuir o affluxo, ou a força da circulação sanguínea, 
de maneira a collocar ou estabelecer o equilíbrio exacto entre a 
propulsão do sangue e a contracção das paredes do sacco. O resul- 
tado da coagulação do sangue, pela diminuição de intensidade da 
circulação aneurysmal, e a transformação ulterior d’esses coágulos 
nos dão uma idéa mui clara da cura realizada por este methodo 
de tratamento. Innumeraveis são os agentes compressores instru- 
mentaes destinados a exercer a compressão indirecta. O limite 
d’este trabalho não nos permitte fazer a descripção da enorme 
quantidade d’esses apparelhos, que se acham a disposição do ci- 
rurgião para quasi todos os casos clínicos. A compressão dupla e 
alternativa praticada segundo o processo de Belmus e a exercida 
pelas ataduras elasticas segundo o processo de Esmarch tem apre- 
sentado magníficos resultados em certas especies de aneurysmas. 
Os accidentes occasionados pela compressão indirecta por meio da 
compressão fazem com que muitos cirurgiões aconselhassem de pre- 
ferencia à compressão por meio dos dedos. 
Compressão digital. — Era empregada pelos antigos para 
sustar as hemorrhagias traumaticas. Foi o Professor Vanzetti de 
Padua quem primeiro chamou attenção de todos os práticos para 58 
observarem os resultados pela compressão digital na cura dos 
tumores aneurysmaes, conseguindo d’este modo generalisar este 
methodo de tratamento. 
Entre os numerosos meios que tem o clinico á sua disposição 
para curar os aneurysmas, é certamente a compressão digital a 
que mais vantagens offerece e menos inconvenientes produz. Alguns 
cirurgiões a julgam de difíicil execução, pelo grande numero de 
ajudantes intelligentes que requer. Os doentes, porém, pódem 
muitas vezes ajudar o cirurgião, e em muitos casos a compressão 
digital exercida pelo proprio doente é sufficiente para cural-o. 
Entre nós a compressão indirecta digital, bem como a mecâ- 
nica, têm sido muitas vezes postas em pratica; o illustrado Pro- 
fessor da l.a cadeira de clinica cirúrgica d’esta Faculdade, o 
Conselheiro Saboia, a tem por diversas vezes empregado com feliz 
resultado. 
A compressão digital é mais vezes seguida de cura que a 
mecanica; ella attinge certas artérias com mais facilidade e segu- 
rança do que com a compressão mecanica; de sorte que pode este 
methodo ser empregado em alguns aneurysmas, em que é quasi 
inapplicavel a compressão mecanica. Elle tem sobre a compressão 
a vantagem de não encommodar o doente e tão sómente fatigar o 
operador e seus assistentes e sem tornar incompativel a applicação 
de outro qualquer meio operatorio é comtudo sómente aconselhada 
nos aneurysmas de volume regular, cujas paredes oífereçam um 
certo gráo de resistência, podendo-se operar sem receio de preju- 
dicar a sorte do doente; o que quer dizer que nem sempre é 
possivel o seu emprego na pratica. 
Diversos são os accidentes que costumam sobrevir ao emprego 
da compressão indirecta. Uma dor mais ou menos viva pode 
fazer-se sentir ao nivel do ponto comprimido e sobre o trajecto 
dos troncos nervosos, dor que em alguns casos torna-se intolerável, 
e impossibilita o doente de gozar dos beneficos effeitos da com- 
pressão indirecta. 
Muitas vezes se tem observado inflainmação e a suppuração 
do sacco aneurysmal após o emprego da compressão indirecta. 59 
A gangrena, complicação tão frequente da ligadura, foi em 
340 casos de aneurysmas tratados pela compressão indirecta, apenas 
quatro vezes observada pelo Professor Broca. 
Escharas, escoriações e erysipelas apparecem algumas vezes 
sobre a pressão da pelota e muito mais raramente sobre a pressão 
do dedo. 
Os partidários ou enthusiastas da compressão indirecta attri- 
buem estes resultados a uma má applicação do instrumento com- 
pressor ; portanto não é a ella, mas sim ao cirurgião que de tal 
meio serviu-se. Estes accidentes, porém, pódem sobrevir quando 
o emprego da compressão indirecta fôr dirigida pelos mais hábeis 
práticos. 
A compressão indirecta póde também produzir oedema e en- 
gorgitamento doloroso do membro, accidentes que muitas vezes 
cedem facilmente, cessando a compressão. Os eífeitos da com- 
pressão indirecta são demorados, ella não exige menos de 15 dias 
de tratamento, e em muitos casos tem sido necessário 60 a 
90 dias. 
Broca estabelece que o tempo de tratamento pela compressão 
é menor que o da ligadura. Segundo este auctor aquelle methodo 
além de não expor o doente ás consequências das feridas, 
elle obsta o reapparecimento do tumor; em 155 casos tratados por 
elle apenas refere quatro recidivas. Este methodo não tem ap- 
plicação em todos os casos de aneurysmas. Em certas regiões 
elle não póde ser empregado e circumstancias pathologicas o 
pódem contra-indicar. A ruptura de um aneurysma ou a exis- 
tência de um aneurysma diífuso contra-indicam o emprego d’este 
methodo. 
Na therapeutica dos aneurysmas a ligadura e a compressão 
têm sua razão de ser e sua esphera de applicação. Não ha me- 
thodo algum de tratamento dos aneurysmas, que possa ser collo- 
cado em parallelo com a compressão indirecta, na opinião de 
Follin. 
Depois da ligadura é o methodo que mais se recommenda 60 
pela estatística do Professor Broca, que registra 67 curas em 100 
casos. 
Segundo os dados de Malgaigne os casos de cura produzida 
pela compressão são observados na proporção de 57 e para o 
Professor Itichet de 61 por 100, ao passo que na ligadura são de 
65 por 100, d’onde se conclue que em relação aos resultados a 
compressão indirecta se acha collocada logo depois da ligadura. PROPOSIÇÕES Caieira de clinica cirnrpa 
Das relações que existem entre o adenoma, o sarcoma e o carcinoma da 
glandula mamaria na mulher e do diagnostico em sua 
evolução inicial 
I 
0 adenoma é um tumor benigno do seio, que ataca de pre- 
ferencia as mulheres na idade da puberdade, desenvolvendo-se 
quasi sempre na parte externa e anterior da glandula. 
II 
O sarcoma benigno também desenvolve-se mais vezes nas mu- 
lheres, que já teem excedido os 30 annos. 
III 
O carcinoma é um tumor maligno, que localisando-se nos seios 
não escolhe lugar para se desenvolver, e veem-se em presa com 
elle as mulheres que já teem passado os 50 annos. 
IY 
O adenoma goza de uma mobilidade absoluta na glandula ma- 
maria e não contrahe adherencias com a pelle. 
Y 
No sarcoma, que de todos é o que maiores proporções póde 
adquirir, a pelle que cobre-o adelga-se, mas não adhere a elle, 
salvo quando se ulcera. 64 
VI 
0 sarcoma, desde muito pequeno, prende-se intimamente á 
pelle, e é completamente immovel. 
VII 
Entre as causas d’estes tumores notao-se o traumatismo, o 
attrito prolongado das roupas, alterações de menstruação e do func- 
cionalismo do apparelho mamario. 
VIII 
A herança é um elemento diagnostico de grande valor para o 
carcinoma. 
IX 
Alguns autores teem dado muita importância á dor, que pre- 
cede ou acompanha estas aífecções, considerando-a em geral como 
indicativa do carcinoma. 
X 
Dá-se ás vezes também um corrimento seroso ou sero-san- 
guineo pelo bico do seio, que, está provado, p<5de manifestar-se nos 
tumores benignos e malignos sem nada indicar de positivo. 
XI 
No sarcoma que tem adquirido grandes proporções o bico do 
seio volta-se como dedo de luva sem soífrer alteração real. 
XII 
No carcinoma o processo pathologico invade o bico do seio e 
elle torna-se retrahido e rugoso. Cafleira de matéria medica e tlerapeitica especialmente a taileira 
Acção physiologica e therapeutica do salycilato de soda 
I 
0 salycilato de soda introduzido no organismo produz dimi- 
nuição da respiração, do pulso, abaixamento de pressão sanguinea 
e da temperatura. 
II 
Suas propriedades toxicas são pouco notáveis, mas em alta 
dose produz a morte pela paralysia da respiração. 
III 
O salycilato de soda elimina-se principalmente pelas urinas e 
suor sob a forma de acido salycilico. 
IV 
O salycilato de soda não tem as propriedades anti-fermenti- 
civeis e anti-putridas do acido salycilico. 
V 
As propriedades anti-febris do salycilato de soda o tornão 
superior a todos os outros febrífugos. 
VI 
O emprego do salycilato de soda no rheumatismo articular 
asudo é de maior valor. 66 
VII 
Elle combate não só a febre, mas também a dor e inchação. 
VIII 
A utilidade do salycilato de soda nas complicações do rheu- 
matismo agudo, é ainda incerta. 
IX 
O salycilato de soda é perfeitamente indicado nos casos, em 
que se quer fazer baixar a temperatura elevada do organismo. 
X 
As propriedades febrífugas do salycilato de soda são iguaes 
ou superiores as dos saes de quinina. 
XI 
O salycilato de soda também tem sido empregado em muitas 
moléstias como o diabete, diphteria, etc. 
XII 
O salycilato de soda empregado só em uso interno dá-se na 
dose de 1 a 8 grammas em pó ou em solução. Caieira ie plarmacoloiia e arte fte formular 
Do opio chimieo — pharmacologicamente considerado 
I 
0 opio é um sueco gommo-resinoso concentrado, extrahido 
das capsulas da papaver somniferum, planta da familia das papa- 
veraceas. 
II 
Em geral, avalia-se o opio pela quantidade de morphina, que 
elle encerra. , 
III 
Existe no commercio muitas especies de opio ; os mais çonhe- 
cidos são : o de Smyrna, o de Constantinopla e o do Egypto. 
IV 
A composição do opio é extremamente complexa. Ella 
contém: morphina, codeina, narcotina, narceina, thebaina, papave- 
rina, paramorphina, pseudomorphina, paraphyseina, meconina, opa- 
nina, etc., etc. 
V 
O mais importante de todos os alcaloides do opio é a mor- 
phina, cuja acção comparada com a dos outros alcaloides apresenta 
algumas particularidades interessantes. YI 
A maxima proporção de morphina contido no opio de boa 
qualidade oscilla entre 10 a 12 °/0. 
VII 
Um grande numero de processos tem sido indicado para a 
dosagem da morphina; o melhor e o mais seguido é o de Guillier- 
mont, que consiste em tratar o opio pelo álcool, a ammonea e 
o ether. 
VIII 
Além dos caracteres geraes dos alcaloides a morphina apre- 
senta em contacto com certos compostos chimicos, reacções espe- 
ciaes que facilitam o seu reconhecimento. 
IX 
Conhecido desde a mais remota antiguidade o opio era 
empregado com muita restricção pelos Gregos ; foram os Árabes, 
e depois d’estes, Paracelso e Sydenham que generalisaram as suas 
applicações. 
X 
Numerosas são as preparações pharinaceuticas que têm por 
base o opio. O opio é muitas vezes associado a certos medica- 
mentos como correctivo de substancias irritantes, acres ou cáus- 
ticas. 
XI 
De todos os preparados do opio obtidos pela agua, o mais 
importante é o extracto gommoso de opio. 
XII 
Dos preparados do opio, tendo por vehiculo substancias 
alcoólicas, as mais ricas são: o Laudano de Sydenham e o de 
Roussau. HIPPOCRATIS APHORISMI 
I 
Sanguine multo effiiso, convulsio aut singultus superveniens, 
malum. 
(Sect. V. Aph. 3.°) 
II 
Ilis quoe non secundum rationem levant, creclere non appartit; 
neque tirnere valdi; quoe protor rationem prova fiumt. Horum 
erum multa inconstantia sunt nec, admodum permanere, neque 
durare salunt. 
(Sect. II. Aph. 27.°) 
III 
Ad extremos morbos extrema remedia exquisite óptima. 
(Sect. I. Aph. 6.°) 
IV 
Articulorum tumores et dolores ahsque ulcere et podagricas 
aílectiones et convulsa, hoc magna ex parte frigida large effusa 
levat et mimit, dolorem que solvit. Moderator namque torpor 
dorem solvendi facultatem habet. 
(Sect. V. Aph. 25.°) 
V 
Natura corporis est in medicina principium studii. 
(Sect. II. Aph. 7.°) 
VI 
Tenuis et exquisitus victus, et in longis morbis semper et in 
acutis, ubi non convenit, periculosus. Et rursus ad extremum 
tennitatis progressus victus difficilis. Nam et repletiones ad 
extremum pogressoe diííiciles sunt. 
(Sect. I. Aph. 4.°) Esta these está conforme os Estatutos. 
Rio 3 de Outubro de 1883 
Dr. Caetano de Almeida. 
Dr. Benicio de Abreu. 
Dr. Oscar Buliiões.