Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro THESE DO Dr. Canuto Silva 1892 DISSEFIT A CÃO O SEGUNDA CADEIRA DE CLINICA MEDICA Symptomatologia e tratamento das Caríiopathias arteriaes PROPOSIÇÕES Tres sobre cada uma das cadeiras da Faculdade THESE SUSTENTADA PERANTE A Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro IVo dia 9 de Janeiro de 1892 POK 3mè 0®aml© fis, 0-©ssfe © SIIts DOUTOR EM SCIENCIAS MEDICO-CIRÚRGICAS PFLÀ MESMA FACULDADE NATURAL DO ESTADO DO RIO DE JANFIRO Ex-interno da Segunda Cadeira de Cliniea Medica. Filho legitimo de José da Costa e Siloa e de D. Maria Ignacia da Costa e Siloa Approvailo <*om (li^tincyão RIO DE JANETOO Imprensa Mont’Alverne — Ferreira & C., rua da Uruguayana n. 47 1892 Faculdade de Medicina dn Rio de Janeiro DIRECTOR—Conselheiro Dr. Visconde de Alvarenga VICE-DIRECTOR—Dr. João Joaquim Pizarro. SECRETARIO—Dr. Antonio de Mello Muniz Maia. LENTES CATHEDRATICOS Drs : João Martins Teixeira Phvsica medica. Conselheiro Augusto Ferreira dos Santos Chimica inorgânica medica. João Joaquim Pizarro Botanica e zoologia medicas. Ernesto de Freitas Crissiuma Anatomia descriptiva. Eduardo Chapot Prevost Histologia theorica e pratica. Domingos José Freire Chimica organiea e biologiea. João Paulo de JTarvalho Fhvsiologia theorica e experiTi ntai. José Maria Teixeira... ;...... Pharmacologia e arte de formu "r. Pedro Severiano de Magalhães Pathologis cirúrgica. Henrique Ladislau de Souza Lopes Chimica analytica e toxicologia. Augusto Brant 1‘aes Leme... Anatomia medico-cirurgica e com^.ra Marcos Bezerra Cavalcanti Operações e apparelhos. João Damasceno Peçanha da Silva Pathologia medica. Cyprumo de Souza Freitas Anatomia e phvsiologia pathologicas. Conselheiro Visconde de Alvarenga Matéria medica" e therapeutica. Luiz da Cunha Feijó Júnior.,.. Obstetrícia. Agostinho José de Souza I.ima Medicina legal. Benjamim Antonio da Bocha Faria Hygiene e mesologia. Carlos Rodrigues de Vasconcellos Pãthologia geral e historia da medicina. João da Costa Lima e Castro Clinica cirúrgica—2» cadeira. João Pizarro Gabizo Clinica dermatológica esyphiligraphica Francisco de Castro Clinica propedêutica. Oscar Adolphode Bulhões Ribeiro Clinica cirúrgica—1« cadeira. Érico Marinho da Gama Coelho Clinica obstétrica e gynecologica. Hilário Soares do Gouvèa Clinica ophthalmologíca. JoséBeniçio de Abreu Clinica medica -v* cadeira. João Carlos Teixeira Brandão Clinica psychiatrica e de moléstias nervosas Cândido Barata Ribeiro ( linica pediátrica. Conselheiro Nuno de Andrade Clinica medica - Ia cadeira. LENTES SUBSTITUTOS Drs : Ia secção Arthur Fernandes Campos da Paz. ‘Ja ,, Joaquim Caminhoá. 3” ,, Genuino Marques Mancebo.. 4a 5» ,, Ernesto do Nascimento Silva. 6» Domingos de Góes e Vasconcellos. 7» ,, Antonio Augusto Azevedo Sodré. 8a 7'.......TT.TT.' Augusto'de Souza Brandão, 9» ,, Francisco Simões Corrêa. 10a „ Joaquim Xavier Pereira da Cunha. 11" Luiz da Costa Chaves Faria. —12a ,, Domingos Jacy Monteiro Júnior. que lhesâo apresentadas^6 n^oflPProTa nem reprova as opiniões emittidas nas theses INTRODUCÇAO As cardiopathias arteriaes são moléstias que se desenvolvem sob a dependencia do processo morbido geral — arlerio-esclerose e que se ca- racterisam principalmente pela hypertensão arterial. A sua evolução póde ser dividida em tres períodos perfeitamente distinctos : No primeiro periodo ou arterial, caracterisado pelo augmento per- manente da tensão arterial, estas moléstias ainda não têm as suas lesões anatómicas realisadas, ou são apenas representadas por um espas- mo arterio-capillar generalisado, que constitue a causa da hypertensão e que 6 seguido, no fim de um tempo mais ou menos longo, das primeiras lesões periphéricas da arterio-esclerose. No segundo periodo ou cardio-arterial, ainda caracterisado pela hypertensão arterial, estas moléstias attingem ao seu desenvolvimento completo, pela confirmação franca da arterio-esclerose peripherica e sua propagação consecutiva ás diversas vísceras da economia e em seguida ao myocardio. Finalmente, no terceiro periodo ou mitro-arterial, estas moles-* tias entram em sua phase de decadência ou de declínio, caracterisada pelo enfraquecimento progressivo do myocardio, pela dilatação dos ori- fícios auriculo-ventriculares e das cavidades cardíacas, e sobretudo pelo abaixamento da tensão arterial. E’ então que as cardiopathias arteriaes perdem a sua individua- lidade, deixam de ser moléstias arteriaes, para confundir-se inteiramente com as outras cardiopathias chronicas, denominadas valvulares. Independentemente, porem, desta approximação final, ellas consti- tuem um grupo de moléstias inteiramente distincto sob todos os pontos de vista. Sob o ponto de vista nosologico, ellas devem ser consideradas como moléstias localisadas e não locaes, primitivamente periphericas e não centraes, Sob o ponto de vista anatomo-pathologico, as suas lesões caracte- risadas pela arterio-esclerose cardíaca, evolvem-se da peripheria para o centro, dos vasos para o myocardio, do myocardio para as valvulas. Sob o ponto de vista etiologico, ellas prendem-se a causas muito nu- merosas e variadas, taes como a velhice, o alcoolismo, a gotta, o rheu- matismo, o tabagismo, o impaludismo, etc. e distinguem-se pricipal- mente pela hereditariedade franca e directa que oílerecem. Sob o ponto de vista pathogenico, ellas repousam sobre a constricção vascular, que, como já tivemos occasiâo de dizer, constitue o ponto de partida da hypertensão arterial e consecutivamente da arterio-esclerose peripherica e visceral. Sob o ponto de vista therapeutico, ellas são combatidas pelos diver- sos agentes vaso-dilatadores ou depressores da tensão arterial, e n’este sentido, divergem radicalmente das cardiopathias valvulares, que ten- dendo desde o principio para a hypotensão arteiial, são, de preferencia, combatidas pelos agentes cardio-tonicos, taes como a digitalis e cafeina, o strophantus, etc. Sob o ponto de vista do prognostico, ellas procedem como moléstias períeitamente curáveis, emquanto a arterio-esclerose ainda não attingio ao segundo periodo ou visceral, ou ainda não determinou lesões anato- micas irreparáveis no parenehyma dos orgãos. Finalmente, sob o ponto de vista clinico, ellas oílerecem uma physio- nomia toda especial e caracteristica. São latentes em sua evolução, lentas em sua marcha, acciden- tadas 6 complicadas em sua symptomatologia. Nenhuma ordem ou regularidade oílerecem em suas manifestações iniciaes. Tributarias de um processo geral, a arterio-esclerose, cujas predomi- nâncias mórbidas podem variar de indivíduo a indivíduo, têm o seu começo intimamente filiado aos diíferentes medos de evolução d’esta moléstia. Supponhamos que a arterio-esclerose limite-se por muito tempo á peripheria e ás outras vísceras que não o myorcadio. O coração, neste caso, não soffrerá senão seeundariamente; as desordens dependentes dos outros nrgãos serão as primeiras em data, e a cardiopathia terá um de- senvolvimento lento, serà insidiosa em seu começo e mal desenhada em seus symptomas. Supponhamos, ao contrario, que a artcrio-esclerose venha inte- ressar, desde logo e de uma maneira preponderante, as artérias nutri- tivas do myocardio. A scena então será inteiramente diversa; a car- diapathia poderá ter um começo írancamente brutal, annunciando-se, desde logo, por violento accesso de dyspnéa ou de pseudo-asthma, por ataques repetidos do congestões pulmonares aclivas, por ac- cessos de arythmia ou de tachycardia, por peniveis paroxismos an- ginosos, e emfim, por violentas palpitações. Todos estes accidentes apresentarão um caracter paroxisíico, desapparecendo hoje para reappa- recer d’aqui a um, dois ou tres mezes, até reahsar, por fim, um estado de arythmia permanente ou de dyspnéa subintrante. Frequentes vezes, mesmo, estas cardiopathias complicam-se de phonomenos asysto- licos de tal sorte graves, que, bem antes de se realisarem os edemas pe- riphericos e as congestões visceraes passivas tributarias das lesões car- díacas adiantadas, são ínopinadamente seguidas de morte. Este modo todo particular de revelar-se a asystolia n’estas molésti- as constitue inquestionavelmente um dos seus caracteres clínicos mais im- portantes e uma de suas differenças mais notáveis das cardiopathias de origem valvular. N’estas, com eííeito, a asystolia é quasi sempre lenta e progressiva; a moléstia cardíaca percorre com certa regularidade as di- versas phasés de sua evolução, e só mais tarde, em seus períodos úl- timos, é que começam a desenhar-se aos poucos os phenomenos da im- potência do myocardio ou da asthenia cardio-vascular. Segundo bem diz o professor Iluchard, o myocardio, nas cardiopathias arteriaes, acha-se a todo o momento em imminencia mórbida de dilatação ou asystolia. Prejudicado em sua nutrição pelos progressos da esclerose que in- vade as suas artérias, restringindo o coefficiente da irrigação sanguínea, ou simplesmente sobrecarregado pelos obstáculos circulatórios da arte- rio-esclerose peripherica, elle acha-se, por assim dizer, na espectativa de uma opportunidade ou de uma causa qualquer que venha actuar, embora de leve, sobro a circulação, para declarar-se írancamente impotente, revelando rapidamente os mais graves plienomenos de asystolia aguda. As cardiopathias arteriaes podem mesmo ser desmascaradas por estes plienomenos asystolicos, e começam entào, justamente, por onde acabam as cardiopathias valvulares. Alèm d’estes íactos que acabamos de assignalar, as cardiopathias arteriaes distinguem-se ainda pela frequência com que se associam a le- sões dos outros orgãos, e pela condição geradora especial das diversas desordens visceraes que as acompanham. Rcalmente, não são os embaraços mechanicos da circulação, ou a êx- tase resultante do enfraquecimento cardíaco, que, neste caso, representam o principal elemento productor d’essas desordens. Aqui, a influencia da extase é muito menos importante do que nas cardiopathias valvulares e a causa principal das desordens dos diversos orgãos deve ser antes procu- rada nas escleroses hepaticas, renaes,cerebraes, medullares, pulmonares, etc., produzidas pelas determinações múltiplas e variaveis da arterio- esclerose. São estas escleroses que cedo se associam á esclerose cardíaca, imprimindo, desde logo, a estas moléstias, uma de suas formas clinicas cardio-hepatica, cardio-renal, cardio-cerebral, cardio-medullar, cardio pulmonar e cardio-aortica. De todas estas fómas as duas primeiras são as mais frequentes. A primeira determina no fim de certo tempo os phenomenos da im- permeabilidade ou insuíficiencia-hepatica, caracterisados por perturbações diversas para o lado das vias digestivas, por accidentes dyspneicos, por dilirio, somnolencia, movimentos convulsivos generalisados ou parciaes, e sobretudo, pelo coma hepático que é importante distinguir-se do coma renal, tanto mais quanto ambos são acompanhados de uma diminuição no- tável na excreção da uréa. Quanto á segunda, também é acompanhada da insuííiciencia ou impermeabilidade renal, cuja consequência ultima é a uremia, resultante da accumulação no sangue de todos os princípios toxicos da urina. E’ esíafoima que constituo a nephrite intersticial, moléstia que consideramos como uma das muitas determinações locaes da ar- terio-esclerose, sem comtudo negar a sua independencia em todos os casos.(*) Taes são as considerações geraes que julgamos necessário fazer sobre as moléstias que constituem o objecto do nosso estudo. A nossa these comprehenderátres partes: Na primeira parte, apresentaremos os symptomas mais geraes da arterio-esclerose, symptomas estes que constituem o acompanhamento, quasique obrigado, de todas as cardiopathias arteriaes. Na segunda parte, estudaremos as diversas modalidades clinicas que estas moléstias podem offerecer segundo certas predominâncias sympto- raaticas, e apresentaremos, ao mesmo tempo, as observações que pude- mos colher, durante o nosso tirocínio hospitalar. Finalmente, na terceira parte, estudaremos as regras therapeuticas que devem ser instituídas contra estas moléstias, até ao momento em que ellas perdem o seu caracter arterial, para entrar no periodo franco da mitralidade, (*) Relativamente a esta questão, as nossas vistas são inteiramente ecclcticas. Acreditamos que a nephrite intersticial não só póde apparecer secundariamente como uma das manifestações visceraes da arterio-esclerose, como também constituir uma moléstia primitivamente renal e n’estas condicções, representar a causa e não o effeito da arterio-esclerose, pelo obstáculo que oppõe á eliminação de certos princí- pios, dotados de propriedades convulsivantes sobre a musculatura vascular. DISSERTAÇÃO PRIMEIRA PARTE A arterio-esclerose apresenta, como vimos, um pericdo, mais ou menos longo, em que suas lesões vasculares ou não existem absoluta- mente, ou se acham apenas esboçadas. São os symptomas d’este periodo primitivo ou arterial que vamos aqui descrever, e para entrar desde já em matéria comecemos pelos symptomas funccionaes. Ora, d’entre estes, convém notar, em primeiro logar, a oppressão, a dyspnéa do estorço, os accessos nocturnos de polyuria ou de pollakiuria e as palpitações cardiacas, tendo em geral um caracter penivele doloroso e podendo vir acompanhadas de alguns accessos de arythmia ou de tachycardia. A estes symptomas vêm reunir-se os accessos depallidez da face e dos tegumentos em geral, as syncopes e as asphyxias das extremidades, as anemias locaes. os resfriamentos parciaes, as epistaxes e as herno- ptyses dos adolescentes, os accessos de fadiga physica e intellectual, as vertigens, a tendencia para a somnolencia, certas dores musculares per- sistentes ou transitórias, e finalmente, certas nevralgias ou pseudo-nevral- gias arteriaes, caracterisadas por violentos batimentos das artérias das têmporas, do pescoço e da cabeça, produzindo uma cephalalgia pulsátil extremamente penivel, e que só póde ser combatida pelos agentes de- pressores da tensão arterial. Todos estes symptomas, attribuidos por muito tempo á moléstia renal, correm por conta do espasmo do systema arterial ou da liyper- tensão que lhe é correspondente. Esta hypertensão produz muitas vezes um sopro post-systolico breve no orifício mitral, sopro que póde desapparecer com o espasmo arterial, e que é acompanhado algumas vezes de dilatação aguda do coração. Tuese 4 Fls* 2 Este sopro já constituo um signal physico importante, porém outros mais constantes apparecem. Na hypertensão arterial, todo o esforço do liquido sanguíneo se i‘az sentir sobre a aorta, que se alarga e suffre alternativas de dilatação e retracção, segundo as variações da pressão arterial. Produz-se, d’este modo, uma eclasia aórhca, que a principio não constituo ainda uma mo- léstia, é simplesmente um symptoma. Mais tarde, porém, a aórta, forçada pela acção constante da columna sanguínea, experimenta uma dilatação permanente, e então, um novo signal physico apresenta-se: — a elevação das artérias sub-claoias. Estas artérias podem ser perfeitamente sentidas, introduzindo-se o dedo pela parte porterior da íurcula esternal. Um dos signaes, porém, mais importantes é o retumbamento diaslo- lico da aórta, imitando a pancada de um martello ou semelhando, ás vezes, uma corda vibrante ou um ruido metailico. Observa-se ordinariamente este signal no segundo ou terceiro espaço intercostal direito, algumas vezes diante do esterno, e mais raramente, ao nivel da ponta,do co- ração. E’ necessário distinguir o retumbamento diastolico da aórta, que é apenas um exaggero ou uma modificação na intensidade da segunda bulha, do ruido clangoroso ou tympanico, assim chamado por Gueneau de Mussy, e que é, ao mesmo tempo, uma modificação na intensidade e no timbre desta bulha. O retumbamento diastolico da aórta indica simplesmente a liypcr- tensão arterial, o ruido tympanico é ordinariamente symptomatUo de uma dilatação considerável ou de um aneurisma da aórta. Algumas vezes, entretanto, quando a aórta se dilata sob a influencia das resistências periphericas, produzidas pelo espasmo arterial, o retum- bamento diastolico póde tomar um timbre sensivelmente semelhante ao ruido clangoroso ou tympanico. A estes phenomenos é preciso ainda reunir a impulsão forte do coração, com ch®que precordial sobre uma larga superfície, dando ao orgão o caracter do coração impulsivo; a hypcrtrophia cardíaca com o ruido de galope e os accessos de dilatação aguda do coração ou hyposys- tolia passageira, que se apresenta quando a pressão arterial cresce de um modo brusco e transitório. Finalmente, o pulso é forte,vibrante e concentrado,ou duro, serrado, cheio e persistente, não se abaixando convenientemente durante a diástole e parecendo prolongal-a ; os seus traçados sphygmographicos são consi- deravelmente amplos, apresentando um vertice horisontal, uma ascenção brusca e uma linha de descida com ondulaçòes. For esses traçados vô-se que o pulso é anaehrotico, catachrotico e polychrotico, apresentando o caractcr do pulsas tardas planus e revelam-se laramente a hyperteoção arterial e as lesões vasculares da arterio- esclecrose. SEGUNDA PARTE As eardiopathias arteriaes affectam modalidades clinicas differentes, segundo a predominância de certas desordensmais ou menos importantes- Comecemos pelas desordens respiratórias : D’entre estas, interressa-nos particularmente a dyspnéa, não só pela frequência com que se manifesta, como também pela gravidade que em certos casos offerece. Algumas vezes, a dyspnéa é branda, benigna e só apparece por occasião da marcha, de uma fadiga, de uma emoção ou de *m esforço qualquer. Ella constitue então a fórma denominada dyspnéa do esforço,que é particularmente própria aos primeiros periodos da cardio- esclerose. Outras vezes ella é igualmente branda, porém manifesta-se expontaneamente sob a fórma de accessos, que í>e repetem regularmente todas as tardes, todas as noites, ou mesmo varias vezes nas 24 horas. Finalmente, em certos casos, a dyspnéa póde manifestar-se sob uma fórma francamente intensa e paroxistica, caracterisada por accessos extremamente violentos, acompanhados de uma sensação de peso epigas- trico, de angustia respiratória ou de compressão thoraxica das mais pe- niveis. Estes accessos constituem uma das variedades da asthma cardíaca e offerecem muitas vezes um rythmo respiratório inteiramente simi- lhantea dyspnéa uremica de Cheyne Stokes. Em certos casos, elles complicam-se de bronchites repetidas ou de congestões pulmonares activas, congestões estas que offerecem caracteres muito particulares. Elias são bruscas, moveis, não affectam de ordinário senão um dos pulmões e caracterisam-se á auscultação por ligeiros estertores crepitan- tes, quasi que localisados na parte anterior de um dos pulmões, São estas congestões que frequentemente são attribuidas ao frio ou a outra qualquer causa, porém que encaradas bem de perto, devem ser ligadas ao desenvolvimento lento e insidioso da arterio-esclerose. Elias podem declarar-se com todos os caracteres de uma affecção aguda, com ou sem febre, são de ordinário rapidas em sua evolução e podem apparecer em uma época ainda muito atrazada das cardiopathias arteriaes, bem antes que certas desordens importantes tenham chamado a attenção para o apparelho circulatório. Estas congestões assemelham- se bastante ao edema agudo do pulmão que também apparece no curso das cardiopathias; porém d’este ellas se distinguem, não só porque o edema não vem acompanhado de expectoração sanguinolenta caracte- ristica, como também porque os seus estertores são mais finos, mais seccos e mais francamente inspiratorios e as suas localisações menos estreitas e menos precisas. Quanto ás bronchites de que fallámos, caracterisam-se pela ausência quasi completa de tosse e expectoração, pela tenacidade que muitas vezes offerecem, pela frequência com que se manifestam, e muito parti- cularmente pela forma bastarda e mixta que apresentam ás vezes, dando á auscultação verdadeira chuva de estertores que indicam a combinação dos elementos hyperemico e fiegmasico em diversos pontos do apparelho broncho-pulmonar. Não ô raro encontrar nessas bronchites (denominadas de Lasògue) uma vasta zona de attriío pleural, que gosa de extrema mobilidade. Além disso, ellas distinguem-se também pela oppressão e dyspnéa paroxistica que írequentemente trazem. Esta dyspnéa paroxistica que aqui se observa, não deve ser con- fundida com a dyspnéa paroxistica da verdadeira asthma. Aqui trata-se antes de uma pseudo-asthma de origem aortica ou de uma dyspnéa inspi- ratoria, em que a respiração é anhelante, a inspiração laboriosa, difficil e as desordens circulatórias muito accentuadas; na verdadeira asthma ao contrario, trata-se de uma dyspnéa expiratoria cm que as desordens circulatórias são pouco notáveis ou mesmo nufias, a inspiração relativa- mente facil e a expiração sibilante, espasmódica e tres ou quatro vezes mais demorada que a inspiração. Além d’issq, é mister distinguir 3 pseudo-aslhma dos cardiopathas arteriaes, da pseudo-asthma dos cardio- palhas valvulares. A primeira ou pseudo-aslhma aorlica devida ao exaggero da tensão arterial, augmentado ainda pelo espasmo intermittente das artérias vis- ceraes e periphcricas,é earacterisada por uma retumbancia da segunda bulha aortica no momento do aceesso. «E’ esta a asthma dos cardíacos, ou antes, dos dyspneicos brancos, de face pallida e anemiada, de pulso forte e vibrante. A dyspnéa entre estes últimos é paroxistica e nocturna ; acompa- nha-se de uma sensação de barra ou de peso cpigastrico, algumas vezes de sensações anginosas retro-esternaes, e offerece períodos de cal- maria, durante os quaes, ella só se manifesta por occasião do esforço.» Á segunda ou pseudo-aslhma cardíaca, ao contrario, é devida ao au- gmento da tensão pulmonar, com accentuação do ruido diastolico á es- querda do esterno e apresenta-se constituída por um fundo continuo de dyspnéa, entrecortado de episodios paroxisticos, que não attingem nunca á intensidade da primeira especie. «E’ esta a asthma dos cardíacos ou dos dyspneicos vermelhos, de face cyanosada, de membros infiltrados e de congestões passivas.» Estas diíTerenças mantòm-se ordinariamente nos primeiros pe- ríodos da cardio-esclerose ; em uma época já bastante adiantada da moléstia, a asthma póde ser mixta e tomar alternativamente os carac- teres das duas fôrmas que assignalamos. Uma outra variedade das desordens do apparelho respiratório é re- lativa ao emphysema pulmonar. Este emphysema offerece também caracteres muito particulares. EIIe não resulta, como os emphysemas de origem cardíaca, do augmento de tensão na pequena circulação. Tributário do processo morbido geral — arterio-esclerose, elle nasce directa e expontaneamente de uma dystrophia do pulmão, duzida pela endarterite ou endo-periarterite dos seus vasos e dos vasos bronchicos* Elle é, pois, primitivo e não seccundario, constitucional e não mechanico. Estas diílerenças não param porém aqui ; ellas estendem-se ainda pelo terreno clinico. No emphysema puramente mechanico todo o perigo resido no augmento de tensão da pequena circulação, caracterisado pelo retumbamento diastolico á esquerda do esterno ou no loco pulmonar ; no emphysema constitu ional, ao contrario, o perigo reside antes no augmento de tensão da grande circulação, caracterisado pelo retumba- mento diastolico á direita do esterno ou no foco aortico. Taes são os diííerentes phenomenos respiratórios por que se manifestam as cardiopa- thias arteriaes. Passemos agora ao estudo das desordens que estas moléstias apre- sentam, para o lado do apparelho cardio-vascular. Estas desordens affectam caracteres muito variaveis e podem ser divididas em cinco especies principaes, que representam respectivamente cinco fôrmas clinicas das cardiopathias arteriaes. São estas : anginosas, arythmicas, tachycardicas, bradycardicas e asystolicas. De todas ellas, as primeiras constituem uma das mais frequentes, mais graves e mais caracteristicas. Pódem offerecer todas as nuanças e todos os grãos imagináveis, desde a angina do peito a mais severa, que condemna o paciente a uma vida verdadeiramente miserável, toda atormentada por violentos paroxismos dolorosos e terríveis inquietações e receios, até os pequenos accessos anginosos, que apenas determinam um ligeiro ineom- modo de occasião e desapparecem sem deixar vestígios. Ordinariamente, é sob esta ultima fôrma que se inicia a angina do peito. Os seus accessos são, a principio, ligeiros, fugazes, espaçados uns dos outros por largos intervallos e sem consequências notáveis para as íuncções da economia; mais tarde, porém, á proporção que se repetem, \ão ganhando em intensidade e duração e approximando-se cada vez mais uns dos outros, até tornar-se, em certos casos, quasi subin- trantes ou mesmo subintrantes, e de uma violência assombrosa. Em todo o caso, quer se trate da angina do peito grave, quer se trate da angina do peito branda, o caracter do accesso é sempre o mesmo. Quasi nunca elle vem acompanhado de phenomenos precursores ou premonitorios ; a sua apparição faz-se, súbita e inopinadamente, no meio da saúde, appa- rentemente, a mais perfeita. De um momento para outro (e quasi sempre por occasião da marcha, de uma emoção, de uma fadiga ou de um esforço qualquer) o doente expe- rimenta, na região do coração, uma dôr pungente, angustiante e constri- cliva, que se póde irradiar em diversos sentidos — para o pescoço, para a face, para os braços, para os ramos extracardiacos do pneumogastrico, para o trajecto dos nervos intercostaes e diaphragmaticos, ou mesmo para a região hypogastrica e para as côxas. Estas irradiações appara- tosas não são, entretanto, caracterislicas da verdadeira angina do peito. N’esta, a dôr é quasi sempre fixa em um ponto, e, geralmente, só se irradia para o braço esquerdo, tornando os dedos entorpecidos e a pelle da mão pallida e exangue. Quando o accesso ó violento a sensação de angustia e de constricção que acompanha a dôr, é das mais terríveis ; e o doente, pallido, aterrado, muitas vezes coberto de um suor írio e viscoso, sem poder proferir uma syllaba nem articular um gemido, mantem-se inteiramente immovel, esperando, com anciedade extrema, o termo dos seus sofírimentos, que lhe dão a sensação pavorosa da vida que se extingue. E’ como uma pausa da vida, dizia Elsner, para exprimir esta sensação de angustia extrema de morte imminente, que cara- cterisa o accesso anginoso. Ordinariamente este dura pouco : no fim de alguns segundos ou de alguns minutos, o doente faz umas duas ou tres inspirações profundas, a sua face retoma a serenidade e a calma, e o accesso termina, deixando algumas vezes como consequências de sua passagem ligeiro entorpecimento do braço esquerdo, abundante emissão de urina, algumas eructações gazosas e grande lassidão. Tal é em seus traços mais geraes o accesso completo da angina do peito. Frequentemente elle vem acompanhado de certas desordens visce- raes importantes, que devem ser grupadas ao lado das manifestações da dòr irradiada, e que representam as diversas synergias mórbidas do pneumogastrico. Antes de descrevel-as, vamos porém estudar a séde da dòr, os seus caracteres e as diversas altitudes apresentadas pelos doentes durante a crise anginosa. A séde da dôr é quasi sempre á esquerda do esterno, ou mais precisamente ainda, na união do terço superior com os dois terços inferiores d’este osso. Esta localisação póde, entretanto, variar : algumas vezes, a dôr occupa a extremidade inferior do esterno, outras vezes, o seu bordo direito, ou mesmo a ponta do coração, ao nivel do quarto ou do quinto espaço intercostal, finalmente, a dôr, em logar de ter um começo central, póde ler um começo periplierico e iniciar-se, á maneirado um aura, pelo braço, pela cspaduaou pela face. Os caracteres da dôr são sempre os mesmos, ella é angustiante e constrictiva, como já dissemos. Os doentes comparam-n’a a um peso enorme, a uma compressão extremamente violenta, tendendo a approximar a parede thoraxica da co- lumna vertebral, a um esmagamento do esterno, ou íinolmente, a um cinto ou mão de ferro apertando o peito. As attitudes oííerecidas pelos doentes são variaveis. Alguns mantêm-se de pé com o corpo inclinado para a frente ou para traz. Outros abaixam-se, e ficam apoiados nos joelhos c nos cotovellos durante todo o accesso. Finalmente, certos doentes, para encontrar algum allivio, elevam os braços ou comprimem o peito contra um corpo qualquer. Quanto ás perturbações Osceraes que acompanham a crise, elias podem manifestar-se para o lado dos apparelhos, circulatório, respira- tório e digestivo. Sobre as desordens do apparelho digestivo já tivemos occasião de fallar na descripção succinta que lizemos do accesso. Elias consistem, sobretudo, na flatulência, nas vomituraeões, nas eruítações gazozas, e pódem apparecer tanto antes como depois do accesso. As desordens que se passam para o lado do apparelho circulatório são muito mais importantes e variaveis. Na grande maioria dos casos, observa-se um retardamento notável dos batimentos cardíacos, que pódem baixar atéá cifra de 40,30 ou mesmo 20 por minuto. Outras vezes produz-se um phenomeno diametralmente opposto e o coração, ao mesmo tempo, póde ser a séde de violentas pal- pitações, ou de uma arythmia pronunciada. Um phenomeno, porém, im- portantíssimo que se observa em grande numero de accessos anginosos ó a pequenez extraordinária de um ou de ambos os pulsos radiaes e sobre- tudo do radial esquerdo, que se póde tornar quasi imperceptivel ou mesmo desapparecer inteiramente. Este phenomeno póde ser anterior ou contemporâneo ao accesso, e deve ser referido a um espasmo exaggerado das artérias radiaes, Igual espasmo realisa-se também em todos os outros departamentos do organismo, e d’ahi, a elevação súbita da pressão arterial que se produz em quasi todos os accessos anginosos, e que con- stitue sempre um phenomeno perigoso, pela facilidade com que póde de- terminar um esgotamento rápido das forças do myocardio, já lesado, em sua nutrição intima, pela deficiência de sua irregação sanguínea. Observa-se principalmente este ultimo facto, nos casos de mal angi- noso, quando os accessos brilham uns atraz dos outros, quasi que sem interrupção. Finalmente, ao lado de todas estas desordens do apparelho circulatório, precisamos ainda reunir a ectasia aorlica que constantemente acompanha a angina do peito. Esta ectasia é a principio simplesmente passageira. Mais tarde, porém, ella determina uma insudiciencia funccio- nal do orifício aortico, insufficieneia esta, que póde, finalmente tornar-se organica pelos progressos da moléstia. Observa-se, então, um sopro diastolico persistente á direita do externo. Quanto ás desordens do apparelho respiratório, a mais importante de todas é sem duvida a apnéa. O doente instinctivamante retem os movimentos respiratórios, para minorar, de alguma sorte, a dôr intensa, paroxistica, que lhe con- stringe a base do peito. A esta apnéa ligam-se ás vezos outras desordens, como sejam—o edema agudo do pulmão, as congestões, as hemoptises, etc., as quaes devem ser antes consideradas como complicações possíveis do accesso. O mesmo póde dizer-se da dyspnéa, que, segundo Huchard, deve ser intei- ramente eliminada da symptomatologia da angina do peito. Até aqui só nos temos referido aos accessos completos de stenocardia; nem sempre, porém, estes accessos apresentam-se com todo o apparato que assignalámos. Muitas vezes elles são incompletos, attenuados ou es- boçados : ora, todo o accesso é constituído pela dôr rectro-esternal ou cardíaca, sem irradiação de espccie alguma ; ora, a dôr Iimita-SQ, unica- mente ao braço esquerdo,e, então, o accesso só é reconhecido pela sensa- ção de anciedade ou de desfalleeimento caracteristico ; ora, toda sensação dolorosa falta e o accesso caracterisa-se por uma angustia inexprimível, por um estado syncopal, por uma suffocíição imminente, ou por violentas palpitações acompanhadas de anciedade precordial. Finalmente, a angina do peito póde ter, em certos casos, uma séde epigastrica e manifestar-se durante muito tempo por accessos de gastral- gia, acompanhados de flatulência, de dilatação do estomago, do erutacções etc. Trata-se então da pseudo-gastralgia anginosa, íórma esta que varias vezes já tivemos occasião de observar. * Do mesmo modo que a angina do peito, a arythmia figura também como uma das manifestações frequentes das cardíopathias arteriaes. Algumas vezes a arythmia apresenta-se com uma physionomia ex- plosiva e brutal, sob a fórma de accessos caracterisados por um perfeito estado de loucura do coração, por batimentos cardíacos precipitados, desiguaes e numerosíssimos. Estes accessos brilham de tempos em tempos, sem obedecer a nenhuma regra, tanto no que diz respeito á sua duração como ao inter- vallo que os separa. Outras vezes a arythmia não é nem paroxistica nem temporária, mas permanente, e, mestas condições, póde perfeitamento constituir uma desordem desconhecida pelo doente e uma sorpreza de auscultação para o clinico. Esta fórma de arythmia apresenta uma importância toda particular, porque, quasi sempre, é symptomatica da arterio-esclerose cardíaca. Mezes e mesmo annos, ella póde existir como phenomeno indiílerente, sem que o myocardio, cuja historia intima ella traduz silenciosamente, ma- nifeste os seus soffrimentos por ouíras desordens mais patentes e mais graves. Em um momento dado, porém, sob a influencia de uma causa, ás vezes bem insignificante, elle é profundamente ferido na intimidade do seu funccionalismo, e declaram-se, rapidamente, os mais graves pheno- menos da ruptura de compensação. Tal é o carader traiçoeiio, explosivo e latente, que já varias vezes tivemos occasião de assignalar,como a feição mais distincta das cardiopa- thias arteriaes. Nem todas as arythmia s, porém, correm por conta da arterio-esclerose. Algumas ha de origem nervosa ou funccional, taes como as que apparecem entre os dyspepticos, os nevropathas, os tabagistas etc. Estas ultimas, entretanto, são muito menos frequentes do que as primeiras, e a razão d’este facto apresenta-se-nos perfeitamente clara, se considerarmos que o rythmo dos movimentos do coração é, antes de tudo, uma propriedade inherente a este musculo, e, por consequência, muito mais difficil de ser alterado nos casos em que o myocardio não é direotamente affectado, do que nos casos contrários ou quando ha arterio- esclerose cardíaca. Uma outra variedade das manifestações clinicas das cardiopathias arteriaes é relativa a tachycardia. Esta desordem caracterisa-se por uma acceleração notável dos batimentos cardíacos ou das pulsações radiaes, que se podem elevar até á cifra de 140, 150 ou mesmo 160 por minuto. A tachycardia póde ser permanente ou transitória. IVeste ultimo caso ella manifesta-se por accessos, de uma duração variavel, acompanhados, muitas vezes de violentas palpitações, de pro- nunciada arythmia, ou de uma sensação de angustia, de tal sorte grave, que inspira ao doente o receio de uma morte imminente. Apaziguada esta tormenta, o pulso volta inteiramente ao seu estado normal ou só retoma a sua regularidade, nos casos em que a arythmia é permanente. Apos vários mezes de intervallo, os mesmos accessos apparecem com a mesma ntensidade ou com uma intensidade ainda maior. Ao lado da íachycardia devemos collocar a bradycardia, que se cara- cterisa por uma lentidão extraordinária das pulsações radiaes, que pódem baixar alé a cifra de 30, 20,10 ou mesmo 5 por minuto. Esta lentidão do pulso manifesta-se ordinariamente por accessos, mais ou menos afastados uns dos outros e que se complicam quasi sempre de accidentes syncopaes, epileptiformes ou pseudo-apopleticos, consti- tuindo o conjuncto clinico denominado por Iluchard — moleslia de Adams ou de Slokes-Adams. Estes accessos são muitas vezes annunciados por sensações no epi- gastro, no pescoço ou na cabeça, as quaes apresentam muita similhança com o aura-epileptico. Em certos casos ligeiros, o accesso é apenas constituido por uma incerteza na marcha, por uma lipothymia rapida ou por uma sensação de máo estar indefinível, que póde durar cêrca de quinze ou trinta minutos. Nos casos graves, porém, o accesso póde declarar-se subitamente por uma apoplexia seguida de coma e de respiração esteríorosa, ou por uma syncope prolongada, de uma duração de cinco ou dez minutos, acompanhada muitas vezes de movimentos espasmódicos. Segundo o professor Stokes (de Dublin), os primeiros accessos começam geralmente pela fórma syncopal, emquanto que mais tarde é a fórma pseudo-apopletica que predomina. Não é porém a lentidão, o unico phenomeno interessante que se passa para o lado do pulso, durante estes accessos. Além de lento, o pulso póde aprescntar-sc fraco, irregular,intermit- tente, e oflerecer, muitas vezes, um caracter todo particular de reptação, pela primeira vez assignalado por Stokes. Quanto á pathogenia de todas estas desordens, acredita Stokes que ellas corram por conta de uma degenerescencia graxa do coração. Para nós, a sua genesis é complexa, e não só levamos em conta a alteração do myocardio, como também a esclerose disseminada pelos centros encephalicos e sobretudo bulhares e ainda á entoxicação uremica devida a um certo grau de impermeabilidade renal. Para completarmos o nosso estudo, precisamos por fim lembrar os phenomenos de asyslolia ou cardiedasia, que apparecem frequentemente no curso das cardiopathias arteriaes. Como dissemos em nossa introducção, o myocardio, n’estas molés- tias, acha-se, a todo momento, em imminencia mórbida de dilatação ou asystolia, o que se comprehende perfeitamente, em razão da degeneres- cencia íacile rapida que elle pôde experimenta r, consequência inevitável dos obstáculos á sua irrigação sanguínea, Sobrevem uma causa ligeira no curso de uma cardiopathia arterial, uma simples bronchite, por exemplo, uma emoção, algumas perturba- ções digestivas, um pouco de surmenage cerebral ou pliysica, e logo, em poucos dias ou mesmo em poucas horas, o coração se enfraquece, as suas contracções tornam-se irregulares, a sua matidez transversal augmenta, a sua ponta bate fóra da linha mamillar, um sopro systolico doce e difluso apparece no orifício mitral, emfim uma verdadeira crise de asystolia se declara. Esta asystolia, como vemos, apresenta-se aqui com todos os cara- cteres de um phenomeno francamente agudo, e sob uma forma explosiva e brutal, que não se encontra no mesmo gráo nas cardiopathias de origem valvular. N’estas ultimas, a asystolia quasi que póde ser prevista com plena segurança, e se mede sempre pelo cortejo ordinariamente lento e successivo de todos os signaes da asthenia cardio-vascular, taes como os edemas periphericos, a ascite, as congestões visceraes passivas etc. Aqui, pelo contrario, é a asystolia a mais aguda, que brilha de uma maneira súbita, imprevista e algumas vezes mesmo fulminante. Ella pôde, como nas cardiopathias valvulares, acompanhar-se de hy- dropisias periphericas e visceraes, mas também póde declarar-se sem nenhum d’estes phenomenos, e entretanto, não deixa de ser uma asys- tolia no verdadeiro sentido da palavra, porque o coração se enfraquece, succumbe, perde a energia natural de suas systoles. No primeiro caso, a asystolia é realisada pelo abaixamento da tensão arterial, pelo enfraquecimento progressivo do myocardio e da contracti- bilidade dos vasos, e traduz-se, em uma palavra, por uma asthenia cardio- vascular. No segundo, pelo contrario, é o exaggero da contractibilidade dos vasos que predomina, é a hypertensão arterial, é o coração peripherico que, retumba sobre o coração central, è finalmente o espasmo vascular que, augmentando subitamente as resistências periphericas da circulação, obriga o coração central a um excesso de trabalho, ao qual elle succumbe, porque já de ha muito é alterddo em sua estructura intima, pelas lesões insidiosas e latentes da arterio-esclerose. 24 Como se vê, a diííerença é grande entre estas duas especies de asvs- tolias, consideradas sob o ponto de vista clinico. Sob o ponto vista tlie- rapeutico, a diííerença não é menor. Em ambas estas asystolias, a medi- cação tem por fim manter o equilíbrio roto das duas tensões vasculares. Mas, na primeira, trata-se de levanfar a tensão arterial enfraquecida; na segunda, pelo contrario, deve-se abaixal-a; n’aquella, os tonicos do coração e dos vasos, a digitalis e os principaes medicamentos cardio- vasculares constituem a base da therapeutica; n’esta, pelo contrario, são os agentes vaso-dilatadores ou depressores da tensão arterial que devem ser empregados. OBSERVAÇÃO N. 1 SERVIÇO CLINICO DO PROFESSOR CARLOS DE VASCONCELLOS Cordiopathia arterial: — Accessos de sfenocardia e congestiío pulmonar. Morte por syneope. Autopsia. í)a enfermaria — Leito n. 13 M. S. M., portuguez, trabalhador, com 54 annos deidade, entrou para a 9a enfermaria no dia 3 de Junho de 1891. Refere que seu pai, homem sadio, de constituição forte, morrera subitamente de um ataque, que sua mãe ainda é viva e que soflre de um incommodo uterino bastante antigo. Accusa antecedentes syphiliticos, é alcoolista, tem tido accessos de polyuria e frequentes escarros sanguinolentos» Segundo refere, ha uns seis mezes, pouco mais ou menos, tem experimentado falia de ar durante o seu trabalho, palpitações e alguns accessos dolorosos no coração. Estes incommodos foram progredindo sempre, até que se tornaram de tal sorte insupfortaveis, que o obrigaram a procurar o hospital. Quando vimos o doente pela primeira vez, elle achava-se muito inquieto no leito e sob a iníluencia de uma crise dyspneica bastante intensa. Os membros inferiores apresentavam um edema perimalleolar pouco pronunciado; a lingua era ligeiramente saburrosa, o figado um pouco augmentado e sensível á pressão, e as urinas continham albumina. No apparelho respiratório encontrámos ligeira matidez na parte postero-superior de ambos os pulmões e enfraquecimento notável do murmurio vesicular, sobretudo no apice do pulmão direito. 0 pulso era duro, serrado, e o coração manifestamente hypertro- phiado, balendo a sua ponta no sexío espaço intercostal. Pela auscultação, não pudemos perceber nenhum sopro em nenhum dos orifícios, nem o roido de galope, mas a segunda bulha aortica era írancamente clangorosa. Prescreveu-se-lhe, no dia da entrada, um drástico, seis ventosas sarjadas na parte posterior de ambos os pulmões e, em seguida, embro- cação de oleo de croton. No dia seguinte, o doente achava-se mais ou menos no mesmo estado e, além d’isto queixava-se de uma dor fortíssima na região precordial, a qual o obrigava a manter-se sentado, inteiramente quieto. Prescreveu- se-lhe a dieta lactea exclusiva e um gramma de iodureto de potássio por dia. Dia 5— 0 doente apresenta-se extremamente pallido, tem o pulso irregular e enfraquecido e refere ter experimentado durante a noite um accesso fortíssimo e prolongado de angina do peito. Prescreveu-se-lhe, n’este dia, 60 centigrs. do cafeina, á tarde, e uma injecção de morfina, de que elle não chegou a fazer uso. Quando entrámos na enfermaria, às 4 horas da tarde, jà encon- trámos o doente morto. Rcferio-nos um seu visinho de cama que, mo- mentos antes, elle fallecera subitamente, no meio de um accesso de stenocardia. Autopsia—Pulmões congestos, augmentados de volume e pesando, o direito 680 grams. eo esquerdo 652. Aórta—Dilatada, com placas atheromatosas duras e calcareas. Artérias coronárias endurecidas, atheromatosas e apresentando os orifícios bastante estreitados. Coração— Ilypertrophiado, com os músculos papillares muito de- senvolvidos e rijo ao córte. Valvulas — Normaes, excepto as aorticas que se acham um pouco deformadas. Figado — Volumoso, pesando 2050 grams. Itins — Avermelhados e resistentes ao córte. OBSERVAÇÃO N. 2 SERVIÇO CLINICO DO PROFESSOR CARLOS DE VASCONCELLOS Cardiopathia arterial: Accessos noctnrnos de dyspnéa, bronchite assystolia—Morte or uremia — Autopsia. í)a enfermaria. — Leito n. 5 V. M. da C., carpinteiro, com 50annos deidade entrou para o Hos- pital no die 30 de Junho. Nenhum dado fornece a respeito dos seus an- tecedentes hereditários. Já teve febres intermittentes, mas nunca abusou do álcool e nunca teve syphilis, nem rheumatismo, nem outras moléstias chronieas. Refere que ha muito tempo não póde deitar-se do lado esquerdo e que tem sempre urinado abundantemente, tanto de dia, como de noite, porém muito mais de noite. Tem tido dyspnéa do esforço e, ultimamente, ver- dadeiros accessos de snffocação, que lhe apparecem expontaneamente durante a noite acompanhados ao mesmo tempo de fortes dores no peito. O doente não tem edema, nem albumina nas urinas, mas apresenta uma atheromasia bastante adiantada de todas as artérias superficiaes. As artérias subclávias acham-se elevadas. O coração hypertrophiado bate fortemente no sexto espaço intercostal e dá a impressão táctil do ruido de galope, que é confirmado pela escuta. No orifício aortico ensontramos a primeira bulha um pouco aspera ou rugosa e a segunda um pouco clangorosa. Nenhuma anormalidade apresentam os apparelhos respiratório e digestivo. Prescreve-se-lhe ; 28 I nfuso de lupulo 120 grs. Iodureto de potássio 2 grs. Xarope de CC de laranjas 30 grs. Para tomar em tres dóses. Sob a influencia d’esta alta dóse de iodureto de potássio, o doente experimenta consideráveis melhoras. A sua dyspnéa paroxistica noclurna á não o incommoda tanto e, até ao dia 11, as dores anginosas apresen- tão-se muito attenuadas. No dia 11 encontramos o doente muito agitado, dyspneico e com tosse frequente. A temperatura axilar marca 39°, o pulso é frequente, irre- gular, e as urinas, tratadas pelo reativo pricro-aeetico, revelam traços bem salientes de albumina. Pela auscultação encontramos a respiração bastante difficil e estertores sibilantes e catarrhaes disseminados por ambos os pulmões. A’ hora da visita prescreve-se-lhe : Julepo gommoso 120 grs. Kermes mineral 25 centigrs. Sulfato de morfina •.... 25 milligrs. Xarope de Tolú 30 grs. Para tomar uma colher de sopa de duas em duas horas. Mais : Sulfato de qq 1 gr. Para tomar cm duas dóses. O estado do doente vai se aggravando sempre a partir d’este dia. As suas urinas vão se tornandoescassas e cada vez mais albuminosas, um edema invade-lhe os membros inferiores, as bases dos pulmões se congestionam e, no dia 17, o doente expira depois de um violento accesso de suílocação. Authopsia— Pulmões odemaciados, augmentados de volume, pe- sando, o direito 695 grammas e o esquerdo 678. Coração— Hypertrophiado pesando sem coágulos 590 grammas, e deixando ver, pela secção numerosos orifícios abertos, das pequenas ra- mificações das artérias coronárias, durase esclerosadas. Yalvulas— Normaes, excepto as aorticas, que se acham deformadas e insuficientes. Aorta— Dilatada e atheromatosa. Figado —Volumoso e rijo ao córte. Baço — Ligeiramente 'augmentado de volume e também um pouco resistente á secção. Rins — Avermelhados e duros ao córte. O direito pesa 170 gram- mas e o esquerdo 182. OBSERVAÇÃO N- 3 (SERVIÇO CLINICO DO PROFESSOR CARLOS DE VASCONCELLOS Cardiopotliia arterial: Aaystolia, dyspnéa. Morte por uremia. Autopsia. 9a enfermaria. — Leito n. 33 J. J. A. de P., cosinheiro, com 48 annos de idade, entrou para a 9a enfermaria no dia 26 de Junho. Os seus antecedentes hereditários são negativos. Não tem antece- dentes syphiliticos nem rheumatismaes. Ila tres mezes pouco mais ou menos que tem experimentado violentas palpitações e dyspnéa que se ma- nifesta por accessos. Refere que esta dyspnéa tem progredido sempre e que ao mesmo tempo, um edema tein invadido os seus membros inferiores. No dia em que entrou para o Hospital, elle achava-se em franca asystolia, tinha a face pallidacyanosada, grande oppressão, batimentos tumultuosos das artérias cervicaes e o pulso írancamente atheromaíoso. As urinas eram albuminosas e as duas bases dos pulmões achavam-se congestiona- das. O coração enormemente hypertrophiado batia no sétimo espaço ín- tercostal e apresentava um sopro systolico bem manifesto nos oribeios mitral e tricuspide. Prescreveu-se-lhe: Digitalis em pó 7 1 gr. Agua fervendo 150 grs. Infunda, coe e ajunte : Tintura de canella 4 grs. Xarope de cascas de laranja 30 grs. i Para tomar uma colher de sopa de duas em duas horas. Sob a influencia desta medicação, o doente melhorou um pouco no primeiro, segundo e terceiro dias, porém, no quarto dia morreu rapida- mente por accidentes complexos de asystolia e uremia. Autopsia: Pulmõ s edemaciados e muito pesados; liquido na cavi- dade pleuritica. Coração—Volumoso, duro, pesando 810 grammas e apresentando um espessamento notável da parede ventricular esquerda. Orifícios — Mitral e tricuspide dilatados. Aorta — Apresenta uma atheromasia muito adiantada. Figado — A hypertrophiado e resistente ao córte. Rins —Vermelhos, granulosos e endurecidos. 32 OBSERVAÇÃO N. 4 SERVIÇO CLINICO DO PROFESSOR CARLOS DE VASCONCELLOS Cardiopathia arterial : Accessos de angina do peito. Tratamentop-lo iodureto de poe tas3Ío. Melhora notável. O1 enfermaria — Leito n. li J. C., allemão, com 48 annos de idade, entrou para a 9a aenfer- maria no dia 6 de Maio. Desconhece inteiramente os seus antecedentes hereditários. Relativamente a antecedentes pessoaes, refere que se tem entregado a alguns excessos alcoolicos, porém nunca teve moléstias que o prostrassem por muito tempo no leito. Afóra certas perturbações di- gestivas ligeiras ou uma bronchite, de tempos em tempos, a sua saude sempre tem sido bôa. Segundo rtfere, a sua moléstia data verdadeiramente de uns quatro mezes. De então para cá, já teve duas epistaxes bem abundantes e tem ex- perimentado fortes palpitações e oppressão durante o trabalho. Não são estes, porém, os incommodos que o obrigaram a procurar o hospital. Do que mais se queixa, é de uma sensação de barra ou de compressão thoracica, semelhando uma forte mão de ferro que lhe aperta fortemente o peito. Este soffrimento a principio apparecia-lhe só por occasião de algum esforço muscular, porém agora é espontâneo, manifesta-se por accessose colloca-o na impossibilidade de trabalhar. Taes são os dados anamneticos fornecidos pelo doente. Trata-se de um indivíduo de organisação robusta. Nenhum edema apresenta nos membros inferiores. As suas urinas são claras e, tratadas pelo reactivo picro-acetico, não revelam o menor traço de albumina. O doente queixa-se de constipação ; a sua lingua acha-se ligeiramente saburrosa e o abdo- mem urn pouco duro á palpação. Nenlmm phenomeno anormal encontra-so no apparelho respiratório. O pulso é um pouco forte, vibrante e concen- trado. O coração, hypertrophiado, bate no sexto espaço intercostal e apre- senta um caracter impulsivo bem notável. Nenhum sopro encontra-se nos o-ificios; entretanto, na ponta, percebe-se claramente o ruido de galope e, na base, a segunda bulha aortica é retumbante e tympanica. No dia 7, prescreve-se-lhe um purgativo de sulfato de sódio e, no immediato, 1 gramma diário deiodureto de pofassio, sob a seguinte fór mula : Infuso de lupulo 120 grs. lodureto de potássio.., 1 gr. Xarope de casca de laranjas 30 grs. Para tomar cm 3 dóses. O iodureto de potássio foi administrado com todo o rigor até 29 de Maio, dia em que houve necessidade de ser substituído por uma poção kermetisada, porque o doente apresentou-se com uma bronchite diffusa. E’ de notar-se que, até essa data, elle só teve dois accessos violentos de an- gina do peito, os quaes se effectuaram um no dia 9, á tarde, e o outro no dia 17 ás 8 1/2 da manhã c em nassa presença. A bronchite trouxe uma ligeira recrudescência dos phenomenos anginosos, porém, no dia 14 de Junho, desappareceu inteiramente e o doente voltou de novo ao iodu- reto. Sob a influencia d’este medicamento, os accessos anginosos foram-se attenuando progressivamente até desapparccer de todo no dia 9 de Julho. Finalmente, a 6 de Agosto, o doente, sentindo-se inteiramente bom, retirou-se do hospital. 34 OBSERVAÇÃO N. 5 SERVIÇO CLINICO 1)0 PROFESSOR CARLOS DE VASCONCELLOS Cardiopathia artherial : Accessos asthmaticos, arythmia, tacbycardia ~ Trata- mento pelo iodureto de potássio. Sensíveis melhoras. 9a enfermaria.— Leito n. A J. R. do S., brazileiro, alfaiate, com 40 annos, entrou para a 0a en- fermaria no dia Io de Maio. Nada soube dizer a respeito dos seus ante- cedentes hereditários. Nunca teve syphilis, porém abusava maniíestament e do álcool, o que se conhecia pelo desenvolvimento notável dos vasos do nariz e pelo tremor particular das mãos. Ila muito tempo que sentia li- geiras dores nas pernas, formigamentos, phenomenos de syncope e as- pliixia das extremidades. Tinha tido accessos de polyuria e, utlimamente palpitações violentas eaccessos de oppressão, que lhe apparcciam quasi todas as tardes. Os membros inferiores apresentavam ligeira infiltração edematosa e varices muito desenvolvidas. As urinas eram claras e albuminosas. Nenhum phencmeao anormal encontrava-se no apparelho digestivo, a lingua era boa e o figado não excedia o rebordo das falsas costellas. Pela escuta, notava-se que a res- piração era sibilante, dilíicil, francamente asthmatica. O pulso era pequeno, muito apressado e bastante irregular, A area da matidez cardiaca achava-se um pouco augmentada transversalmante. O choque preeordial era pouco sensível, de sorte que não se pódia per- ceber bem onde batia a ponta. Não havia sopro em nenhum dos orifícios. Na base, as duas bulhas diastolicas eram bastante accentuadas; so- bretudo a segunda bulha aortica. 0 doente aecusava grande oppressào e achava-se muito inquieto no leito. Este estado aealmou-se com uma injecção de 2 centigrs. de sulfato de morphina. A’ hora da visita prescreveu-se-lhe : Infuso de lupulo 120 grs. Iodureto de potássio 1 gr. Xarope de CC de laranjas. 30 grs. Para íomar em 3 dóses. Sob a influencia d’esta medicação, os accessos de oppressão foram desapparecendo progressivamente, e, após dois mezes e dez dias de trata- mento, o doente retirou-se do hospital consideravelmente alliviado e com uma quantidade minima de albumina nas urinas. TERCEIRA PARTE Sabemos que as cardiopathias arteriaes se caracterisam durante a maior parte de sua evolução pela hypertensão arterial e que esta hyper- tensão corre por conta de um estado espasmódico do systema vascular ou das lesões generalisadas da arterio-esclerose. Estabelecidas estas noções, vemos que a indicação fundamen ta n’estas moléstias consiste em abaixar-se a tensão arterial e que, em seu tratamento, não só se deve ter em vista a constricção vascular, co mo também as lesões materiaes ou pathologicas da arterio-esclerose. Ora, esta? indicações, para serem amplamente preenchidas, reque- rem o concurso simultâneo de dois íactores — a therapeutica e a hygiene. Dividimos, pois, o tratamento das cardiopathias arteriaes, em tra- tamento hygienico e tratamento medicamentoso. O tratamento refere-se sobretudo ás profissões, ao meio de vida, ao regimen ali- mentar etc. Elle é extremamente importante e póde ser formulado nos seguintes ermos : Devem evitar-se as profissões que requeiram grande dispêndio de forcas, as fadigas, as emoções fortes» os trabalhos intellectuaes exagge- rados, emfim a surmenage sob todas as suas fôrmas, os excessos de mesa, o abuso de uma alimentação muito rica em princípios azotados e extractivos, as bebidas alcoólicas fortes e, finalmente, certas substancias excitantes, como o café, o chá, o tabaco etc. Deve dar-se preferencia a uma alimentação mixta, facilmente diges- tiva, composta principalmente de carnes brancas e legumes frescos, da qual faça parte uma certa quantidade de leite, que, alem de poderoso alimento, tem a vantagem de assegurar a diurese. Em certos casos, quando a plenitude vascular torna-se exaggerada, é necessário prescrever-se um regimen secco mitigado. Finalmente, as 38 íuncções da pello devem ser estimuladas por meio dos banhos, das loções frias e das fricções excitantes sobre os membros, praticadas regularmente todas as manhãs. O tratamento medicamentoso é preenchido pelos diversos agentes da medicação arterial, d’entre os quaes uns produzem simplesmente a vaso- dilatação, deprimindo a tensão arterial, outros, não só combatem a vaso- constricção, como também resolvem as lesões materiaes ou pathologicas da arterio-esclerose. Ao primeiro grupo, pertencem principalmente a nitroglycerina e os nitritos de amyla e de sodio ; ao segundo grupos os ioduretos de potássio e de sodio. Comecemos pela nitroglycerina.—Esta substancia, também cha- mada trinitrina por Berthelot, deve ser administrada logo que apparcçam os primeiros signaes de hypertensao vascular. Ordinariamente, emprega-se a tintura ou solução alcoolica ao cen- tésimo, na dóse de duas gottas por dia ou de duas colheres de sôpa, da seguinte fórmula: Agua distillado 300 grs. , Solução alcoolica de trinitrina a 0,01 30 gottas Essa dóm póde ser elevada até dez colheres por dia, e, segundo aconselha Huchard, o medicamento só deve ser administrado durante os dez últimos dias de cada mez, sendo os vinte primeiros consagrados ao uso dos ioduretos. Nitritode amyla, —Este medicamento possue exactamente as mesmas propriedades da trinitrina. Elle abaixa a tensão arterial, dilatando os vasos periphericos, favorece a circulação intra-myocardica e augmenta a energia contractil do coração pela diminuição das resistências periphericas. O seu emprego é sobretudo reservado para os casos, em que se deseja obter uma depressão prompta da tensão arterial, ou, mais particular mente ainda, para os accessos de stenocardia, sobre os quaes o nitrito de amyla tem acção quasi que instantanea. Administra-se este me- dicamento na dóse de 2 a 10 gottas, que se deitam em um lenço para o doente aspirar. Elle também póde ser prescripto em injecções subcutâneas, na dóse de quatro meias seringas de Pravaz por dia, na seguinte solução, proposta por Iíuchard. Agua distillada 10 grs. Nitrito de amyla., 40 gottas Quanto ao nitrito de sódio, emprega-se na dóse diaria de 15 a 20 centigrs. Elle é particularmento recommendado por Mattheu Ilay para o tratamento da angina de peito, mas o seu uso deve ser bastante restricto, em virtude da acção toxica que elle exerce sobre os globulos vermelhos do sangue. Ioduretos de potássio 'e sodio.— São estes os agentes iundamentaes da medicação cardio-arterial. Elles acceleram a circulação peripherica, activam a nutrição dos orgãos, abaixam a tensão arterial, reabsorvem os cxudatos pathologicos e apresentam emíim uma acção resolutiva das mais energicas sobre o tecido escleroso e sobre as paredes vasculares. Preenchem pois todas as indicações do tratamento das cardiopathias arteriaes, tanto no primeiro periodo ou arterial, como no segundo ou cardio-arterial. Entretanto, para que se possa obter dos ioduretos todos os resultados que elles são capazes de dar, é preciso, em primeiro logar, que sejam administrados desde o primeiro periodo das cardiopathias arte- riaes, emquanto estas molest as são ainda simplesmente constituídas pela hypertensão arterial ; e em segundo logar, que o tratamento seja conti- nuado com toda a perseverança durante bastante tempo. Além d’isto, se- gundo Iíuchard, a escolha do medicamento não é indifferente. Todas as vezes que se resolver lançar mão do uso prolongado da medicação iodu- rada, aconselha elle que se prefira o iodureto de sodio ao iodureto de potássio, não só porque aquelle é mais tolerado pelas vias digestivas e expõe menos aos accidentes do iodismo, como também porque os saes de potássio, longamente administrados, podem accumular-se no organismo e trazer phenomenos de intoxicação cardíaca ou de toda a economia. Estas razões não deixam de ter o seu valor; comtudo, contra ellas, oppõe-se a energia therapeutica do medicamento que, segundo Dujardin 40 Beaumetz e a maioria dos clínicos, 6 em favor do iodureto de potássio. Pre- ferimos pois este ultimo, todas as vezes que o doente tolerai-o bem, e quanto aos perigos de intoxicação, removemol-os períeitamente, estabe- lecendo todos os mezes uma ligeira interrupção do medicamento. No primeiro periodo das cardiopathias arteriaes, os ioduretos devem ser administrados na dóse de 15 a 25 centigrs., e nas dóses de um, dois ou trcs grammas, quando se manifestarem todos os signaes francos da localisação cardíaca da arterio-esclerose. Para corrigir a intolerância que apresentam certos doentes, lluchard aconselha que se associe ao iodureto um pouco de arsénico ou de extracto thebaico. Pode-se também corrigil-a administrando o medicamento com uma certa quantidade de leite ou na hora das refeições, ou á noite, com um granulo de atropina, que impede a sua eliminação pelas mucosas. Além disto, os induretos só devem ser administrados durante os vinte primeiros dias de cada mez, sendo a sua acção vaso-dilatadora entretida nos dez dias restantes pela solução alcoolica de trinitrina de que já fal- íamos. Esta pratica, como jà dissemos, tem a vantagem de prevenir os accidentes de intoxicação e também a intolerância que quasi sempre re- sulta do uso continuo da medicação iodurada. Tal è em seus traços maisgeraes, o tratamento que deve ser insti- tuído no primeiro e segundo períodos das cardiopathias arteriaes. No terceiro periodo ou mitro-arterial, caracterisado pela dilatação dos orifícios e das cavid ides cardíacas, e sobretudo pelo abaixamento da tensão arterial, o tratamento confunde-se exactamente com o das cardio- pathias de origem valvular. E’ então que se deve recorrer aos tonicos do coração, á digitalis, á cafeina, ás preparações de convallaria maiallis, ao strophantus, á espar- teina, etc. Esta ultima substancia, como nào tem acção constrictiva sobre c systema vascular, deve m»‘smo ser empregada, de mistura com o íodu- reto, em uma época intermediária ao segundo e terceiro periodo das car- diopathias arteriaes, quando se torna necessário, não só olhar para as desordens arteriaes periphericas, como também para o coração central ou o myocardio, que tende a declinar e a enfraquecer. Quanto ás diversas complicações que pódem apparecer, ellas serão combatidas pelos meios que forem opportunamente indicados, não se per- dendo porém nunca de vista o elemento pathogenico mais importante d’estas moléstias, o qual vem a ser—a hypertensão arterial. Ha, entre- tanto, dois recursos therapeuticos, sobre os quaes não podemos passarem silencio; queremos nos referir ao regimen lácteo exclusivo e á sangria geral. O regimen lácteo é particularmente indicado para prevenir os ac- cidentes uremicos, nos casos de localisação renal da arterio-esclerose. Independentemente d’esta indicacão particular, o regimen lácteo exclusivo deve ser prescripto, por espaço de uma quinzena, todas as vezes que se declararem estes violentos accessos dyspnéa, de pseudo-asthma, de arilhmia, de stenocardia, que complicam a evolução das cardiopathias arteriaes. Quanto á sangria geral, constitue ella um recurso preciosís- simo de que se deve lançar mão em certos casos extremos, quando a vida acha-se fortemente ameaçada pelos terríveis accidentes da dilatação aguda do coração, pelos accessos de pseudo-asthma ou de dyspnéa, to- mando, algumas vezes, o caracter grave da respiração da Cheyne- Stokes. N'estas condições, a extracção de uns 200, 300 ou mesmo 400 grammas de sangue consegue muitas vezes produzir verdadeiras resur- reições. Cadeira de Pliysica Medica I A saccharimetria optica tem por fim a dosagem do assucar por meio de apparelhos chamados saccharimetros, II A saccharimetria optica basea-se na propriedade que tem o assucar de desviar o plano da luz polarisada. III Na clinica ella presta relevantes serviços para a dosagem da glycose na urina. Cadeira de Chimica Mineral e Mineralógica I O oxygeno é um metalloide bi-atomico, gazoso e comburente. II O oxygeno livre íaz parte do ar atmospherico. III O oxygeno no estado allotropico é o -ozona. Cadeira de ISotanica e Zoologia I A .acção beneíica dos vegetaes sobre o meio ambiente depende prinoipalmente de sua íuncção chlorophiliana. II Esta íuncção executa-se durante o dia, sob a influencia dos raios solares. III Durante a noite, a íuncção chlorophiliana é interrompida e os vegetaes desprendem gaz carbonico. 46 Cadeira de chimica organiea e biologíca I A cafeina (C8 H10 AZ4 O2) é um alcaloide extraindo do café (Cofléa arabica). II A cafeina crystallisa em agulhas finas e sedosas, ê uma base pouco energica e facilmente atacavel pelos ácidos. III Emprega-se a cafeina, com grandes resultados, no periodo de hyposystolia das diversas cardiopathias. Cadeira de anatomia descriptiva I O coração é um musculo oco, de fôrma cónica, dividido em quatro cavidades : duas superiores chamadas aurículas e duas inferiores cha- madas veutriculos. II O coração está eollocado no mediastino anterior, entre os pulmões, sobre o diaphragma, adiante do esophago e da aórta, atraz do externo e das cartilagens costaes. III A base do coração acha-se voltada para cima, para traz, e para' a direita, e o vertice, para baixo, para diante e para a esquerda. Cadeira de histologia I 0 que earacterisa o epithelio é revestir toda a superfície livre do organismo. II Os globulos epitheliaes são os primeiros que apparecem no embryão como elemento diílerenciado. III As modificações morphologicas dos epitbelios dependem da funcçâo e perpetuam-se pela herança. Cadeira de pliysiologia I O coração, contrahindo-se, envia pela artéria aórta o sangue que deve irrigar toda a economia e pela artéria pulmonar o sangue que deve soíírer, no pulmão, a acção do exigeno do ar. II As systoles ventriculares são isochronas com as diástoles auri- culares e arteriaes. III O tempo que vae de uma systole a outra, chama-se grande silencio eoquevaede uma systole à diástole, pequeno silencio. Cadeira de pliarmacologia e arte de formular I Entre os productos que as papaveraceas fornecem á pliarmacia, sobresae, por sua importância, o opio. II Este producto entra nas fórmulas, ora como medicamento prin- cipal, ora como correctivo. III Sendo a morphina um dos seus alcaloides mais energicos e n’elle existindo em maior proporção, a sua acção domina a dos outros. Cadeira de patliologia cirúrgica I A pyoemía é produzida pelo vibrião pyogenico, descoberto por Pasteur. II Este micro-organismo é ao mesmo tempo aerobio eanaerobio. III O meio de prevenir a infecção purulenta consiste no curativo an- tiseptico rigoroso. Cadeira de pathologia medica I A febre amarella é uma moléstia infecto-contagiosa. II O salicylato de sodio é um medicamento poderoso no primeiro periodo. III A medicação do segundo periodo é toda symptomatica. Cadeira de anatomia c physiologia pathologicas I No sangue dos individuos mortos de moléstias infectuosas pul- lulam micro-organismos ou microbios. II Os agentes productores d’estas moléstias são os microbios, porque, cultivados e innoculados nos animaes sãos, elles determinam as mesmas alterações mórbidas. III As alterações dos orgãos determinadas pelos micro-organismos quasi sempre inflammações especificas. Cadeira de matéria medica e therapeutiea I A digitalis constitue um agente importantíssimo da medicação cardio vascular. II Ella augmenta a contractibilidade e a tensão arteriaes, atrazd, regularisa e reforça as systoles ventriculares. III As indicações ou contra indicações da digitalis, nas diversas car- diopathias chronicas estão subordinadas ao estado do myocardio. Cadeira de Obstetrícia I A septicemia puerperal é devida á absorpção dos productos to- xicos. resultantes da pullulação nos orgãos da geração do microbio séptico de Pasteur. i II Os micro-organismos ou vém do exterior ou são trazidos pelo sangue. III Como meio prophylatico e curativo são indicadas as injecções antisepticas. Cadeira de medicina legal I Dá-se o nome de aborto criminoso á expulsão, prematura e violen- tamente provocada, do producto da concepção, independente de todas as circumstancias de idade, de viabilidade, de vida e, até mesmo, de for- mação regular. II O aborto é raro nos dois primeiros mezes da gestação. III Este crime ê um dos mais frequentes, porque é extremamente facil de ser dissimulado, quando accidentes graves ou a morte da mulher, não venham chamar a attenção da justiça. Cadeira de hygiene e mcsologia I As camadas superficiaes do sólo são um reservatório de germens pathogenos que ahi vivem normal ou accidentalmente, á custa de um certo gráo de calor e humidade. II O enxugo completo do sólo, attenuando ou destruindo a vitalidade destes germens, constitue um bom meio de saneamento de uma cidade. III A arborisação, o calçamento estanque, a abundante ventilação, a modificação das habitações insalubres e a grande provisão d’agua são medidas complementares de subido alcance hygienico. Cadeira de patliologia geral c historia da medicina I A herança é um factor etiologico de uma importância extraor- dinária. II «Os phenomenos da herança devem ser considerados factos parti- culares da reproducção, devidos a causas mechanicas resultantes de movi- mentos molleculares, efíectuando-sc nos corpos organizados.— Hceckel.» III Os vicios de evolução que constituem a herança mórbida, podem interessar todo o organismo ou limitar-se simplesmente a um apparelho, a um orgão ou a um tecido. Cadeira de chimica analvtiea e toxicologica I A analyse e a dosagem dos gazes do sangue podem ser feitas por differentes processos. II O processo de Claude Bernard, por meio do deslocamento do oxigeno pelo oxido de carbono, é um dos melhores. III O excellente apparelho conhecido pelo nome de Machina de Àlverguiat facilita consideravelmente este estudo. Cadeira de anatomia medico-cirurgica comparada I A topographia craneo cerebral consiste na determinação exacta das relações que guardam certos pontos do cérebro com a abobada craneana. II Uma das relações perfeitamente estabelecidas é a do centro da linguagem articulada. III Elle corresponde a um ponto do craneo, situado à distancia de 2 centímetros para cima da extremidade posterior de uma linha de 5 centímetros, firada horisontalmente da apophyse orbitaria externa. Cadeira de operações e apparelhos I As resecções do cotovello com o fim meramante orthopedico sào indicadas nos casos de ankylose confirmada. II Nos casos de ankilose confirmada com abundante ossificação peri- pherica, a osteotomia e resecções parciaes não deão resultado persistente e, se o periosteo é muito activo em suas funeções osteogenicas, é preciso fazer a resecçào descontinua. III Obtem-se, á vontade, a mobilidade da nova articulação, conforme a extensão dos segmentos reseccados, Cadeira de clinica cirúrgica I O emprego dos agentes antisepticos tem diminuido consideravel- mente as complicações graves que occorriam na evolução das feridas acci- dentaes e cirúrgicas. II ; Guardando-se rigorosamente todas as prescripções anti-septicas, as feridas cicatrisair, cm sua maioria, por primeira intensão e sem sup- puração, III t Com a applicação do methodo antiseptico deve-se tentar a todo transe a cirurgia conservadora. Cadeira de clinica medica I A dor cervíco-thoraco-brachial, a dispnéa, a tosse, a disphagia e a voz bitonal, constituem symptomas racionaes de grande valor para o diagnostico dos aneurismas da aorta thoraeica. II A pequenez, a desigualdade, o retardamento ou mesmo o desap- parecimento completo de um dos pulsos radiaes, sobretudo do radial esquerdo, e a proeminência de um tumor m parte lateral direita das duas primeiras peças do externo, com batimentos expansivos isochronos com os do pulsos, são os symptomas physicos que mais concorrem para a fixação do dignostico. III Nos casos cm que os aneurismas têm a sua séde na porção descen- dente daaórta thoraeica, os symptomas que os denunciam são poucos evi- dentes e, algumas vezes mesmo, a lesão póde passar despercebida até a hora da morte. Cadeira de clinica obstétrica e gynecologica I Logo depois do parto, o pulso torna-se lento e a temperatura cahe ou conserva-se normal. II Esta lentidão do pulso é, em geral, mais durável nas multiparas do que nas priniparas. III A acceleração do pulso e elevação da temperatura são signaes reveladores de uma infecção. Cadeira de clinica dermatológica e syphi- ligraphica I A transmissão da syphilis ao producto da concepção constitue um facto perfeitamente estabelecido. II Esta transmissão póde se fazer ou por intermédio do pae ou por intermédio da mãe. III O homem que não tiver accidentes siphiliticos contagiosos, póde transmittir a syphilis á mulher por intermédio do feto. Cadeira de clinica ophtalmologica I As keratites iníectuosas são as inflammações da cornea, produzidas pelos germens sépticos. II As perdas do epithelio ou as lesões directas da cornea por violências exteriores, são causas occasionaes das keratites iníectuosas. III As loções antisepticas, a applicação do apparelho compressivo, as instillações de eserina, as paracenteses e sobretudo as eauterisações com sublimado, na proporção de 1 para 300, constituem a base do tratamento das keratites iníectuosas. Cadeira de clinica psychiatrica I O delirio relativamente a sua fôrma deve ser dividido em delí- rio geral e delirio parcial. II O primeiro caracterisa-se por uma dissociação ou perversão com- pleta de todas as funeções que constituem a unidade psychica ; o segundo versa simplesmente sobre certas idéas, sentimentos ou determi- nações. III O desarranjo mental que determina esta ultima fôrma de delirio embora não prejudique sensivelmente a livre actividade do eu humano, sobre todos os pontos que não estejam em relação com a concepção deli- rante, deve, entretanto, interessar, mais ou menos, todas as operações do espirito. Cadeira de clinica medica e cirúrgica de crianças I A coqueluche é uma moléstia infecto-contagioso, constituída por um catarrho laringo-bronchico, mais ou menos intenso, e por accessos de tosse convulsiva, entrecortados e terminados por inspirações profundas e sibilantes. II A duração de cada um d’estes paroxismos varia de alguns segun- dos a alguns minutos, e o seu numero, nos casos de média intensidade, oscilla entre vinte e trinta por dia. III 0 diagnostico da coqueluche, em seu periodo inicial, só póde ser feito depois da noção de uma epidemia reinante ou da possibilidade de pma influencia contagiosa. HYPPOCRATIS APHORISMI I Natura corporis est in medicina principium studii. II Natura, morborum curationes ostendunt. III Ad extremos morbos, extrema remedia exquisite óptima. IV Vita brevis, ars longa, occasio proeceps, experientia íallax, ]udi— cium difficile. V Cibus, potus, vénus omnia moderata sint. VI Somnus, vigilia utraque modum excedentia maíurn denunciant. ERRATAS PAGINAS LINHAS ONDE SE LÊ LEIA-SE 4 11 extase estase 4 14 extase estase 53 31 eserina atropina