FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO TÉTANO THESE DO gr. Joaquim, ®meira k Posquita 1878 DISSERTAÇÃO Primeiro Ponto—Secção de Sciencias Medicas—Cadeira de Pathologia Interna TETAJSTO PROPOSIÇÕES Segundo ponto—Secção Accessoria—Cadeira de Medicina Legal Terceiro ponto — Secção Cirúrgica — Cadeira de Pathologia Externa DOS SIGrNAES DE MORTE DAS VARICES Quarto ponto—Secção Medica—Cadeira de Pathologia Interna NEPHRITE PARENCHYMATOSA THESE APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDIQÍNA DO RIO DE JANEIRO EM 20 DBf AGOSTO DE 1878 E PERANTE ELLA SUSTENTADA NO DIA 11 DE DEZEMBRO DO MESMO ANNO POR J TTeixeiía de @ííc e.xjiuLa Doutor em medina pela mesma faculdade, ex-interno de medicina e cirurgia (por concurso) do Hospital de Marinha da Corte e ex-interno do Hospital de Policia da Còrte NATURAL. DO RIO DE JANEIRO (PIRAHY) FILHO LEGITIMO O-A-lvCIi-Z-O JOSÉ TEI2DZZ MESWITA. BE D. Anna Teixeira de Mesquita E 1)E RIO DE JANEIRO TYP. CENTRAL DE EVARISTO R. RA COSTA 28 Rua Nova do Ouvidor 28 1878 FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO DIRECTOR Conselheiro Dr. Visconde df: Santa Izaiwíl Conselheiro Dií. Barão de Tukrksopolis VICE-L1RECTOR SECRETARIO Dií. Carlos Ferreira df: Souza Fernandks LENTES CATHEDRÁTICOS PR1MEIRO ANNO F. .1. do C. e MelloCastro Mascarenhas C.r» Manoel Maria de Moraes e Valle Chimica e mineralogia. Luiz Pientznauer Anatomia descripliva. Physica em geral e pai licularmen- te em suas applicações á medic. Joaquim Monteiro Caminhoá Botanica e zoologia. Domingos José Freire Júnior Chimica organica. José Joaquim da Silva Physiologia. Luiz Pientznauer Anatomia descripliva. SEGUNDO ANNO TEHCEIBO AN XO José Joaquim da Silva Physiologia. C.r» Barão de Maceió Anatomia geral e pathologica. João José da Silva Pathologia geral. Vicente C. Figueira de Saboia Clinica externa. QUARTO ANNO Antonio Ferreira França Pathologia externa. João Damasceno Peçanha da Silva Pathologia interna. Luiz da Cunha Feijó Júnior Partos, mol. de mulheres pej. e pa- ridas e das crianças recem-nasc. Vicente Cândido Figueira de Saboia Clinica externa. QUINTO ANNO Francisco P. de Andrade Pertence João Damasceno Peçanha da Silva Pathologia interna. Anatomia topographica, medicina 1 operatória e apparelhos. Albino Rodrigues de Alvarenga Matéria Medica e therapeutica. João Vicente Torres Homem Clinica interna. SEXTO ANNO Antonio Corrêa fle Souza Costa llygiene e historia da medicina. Agostinho José de Souza Lima Medicina legal. Ezequiel Corrêa dos Santos Pharmacia. João Vicente Torres Ilomem (Presid.) Clinica interna. Benjamim Franklin Ramiz Galvão João Joaquim Pizarro (Exam.) João Martins Teixeira (Exam ) Augusto Ferreira dos Santos LENTES SUBSTITUTOS Secção de sciencias accessorias. Cláudio Velho da Moita Maia José Pereira Guimarães Pedro Affonso de Carvalho Franco Antonio Caetano de Almeida Secção de sciencias cirúrgicas. João Baptista Kossuth Vinelli (Exam.) Nuno Ferreira de Andrade Secção de sciencias medicas. N. B. A Faculdade não approva nem reprova as opiniões emittidas nas llieses que lhe são apresentadas. A7 SAGRADA lIlâMOIUA DE MINHA IDOLATRADA MÀI D. Anna Teixeira de Mesquita A’ MEMÓRIA DE IVUSTLTS iie^ivc-A-OS A’ MEU BOM PA! O ILLM. SR. €amSM@ J[©sé T©tx©tra dl© M©sK0I>0S!CÕMS Segundo Ponto Sciencias Accessorias CADEIRA DE MEDICINA LEGAL DOS SIGNAES DE MORTE PROPOSIÇÕES I Morto é a cessação da vida. II Ha signaes que nos levam com segurança ao conheci- mento da morte. III A ausência prolongada das bateduras cardíacas á auscul- tação indica com certeza a cessação das funcções do centro circulatório e portanto a morte. IV Além do um ou dous minutos o coração não póde deixar de pulsar sem acarretar a morte. 48 V No momento da morte ha relaxamento simultâneo do esphineter do anus, da vulva, das palpebras, dos lábios e da íris. O conjuncto destes phenomenos dá-nos um signal certo da morte immediata. VI Ordinariamente as queimaduras do primeiro e segundo gráo no vivo apresentam uma phlyctena cercada de uma aureola infiammatoria ou sómente de uma aureola ao passo que as do mesmo gráo depois da morte não nos offerecem em geral nada de semelhante. VII A pupilla se dilata muito umas v 'zes alguns momentos antes da morte, outras immediatamente depois e conserva-se dilatada durante duas ou tres horas voltando no fim deste tempo ao diâmetro ordinário ou quasi ordinário. VIII A dilatação da pupilla nos limites que acabamos de encerrar é um signal diagnostico da morte de um grande valor. IX A morte do encephalo produz a dilatação pupillar. X Nos últimos momentos da vida e na occasião da morte em geral os olhos perdem o seu brilho e forma-se sobre a cornea transparente um empannamento. 49 Os olhos se amoilecem e tornam-se encovados no momento da morte. Estes phenomenos, pois que são constantes, constituem signaes de morte de um grande valor. XI XII Dentre os signaes remotos da morte, destaca-se o resfria- mento que se opéra no fim de 15 á 20 horas. XIII O resfriamento se faz mais ou menos rapidamente conforme o genero da moléstia, o estado de obesidade ou emmagreci- mônto, a idade, a estação, o clima e o estado de vacuidade ou plenitude do estomago. XIV De dez minutos até sete horas depois da morte produz-se a rigidez cadavérica. XV A rigidez cessa com o apparecimento da putrefacção. XVI A ausência absoluta de contractilidade muscular sob a in- fluencia dos estimulantes electricos ou galvanicos é um signal certo de morte. Terceiro Poeto Sciencias Cirúrgicas CADEIRA DE PATHOLOGIA EXTERNA DAS VARICES l»Bl0I»0*14Òr* I Varices são dilatações permanentes e mórbidas das veias II A herança, a profissão e uma predisposição particular que apresentam certos indivíduos ás varices taes são as causas mais conhecidas. III As varices podem ser superficiaes e profundas. IV Esta afíecção começa em geral pelas veias situadas profun- de mente e propaga-se ao depois ás superficiaes. 52 V A sua séde de predilecção são os membros inferiores VI Em um primeiro gráo as veias são sómente dilatadas sem alteração de structura das suas túnicas; em um segundo ha lesões das paredes com deformação, porém a tunica interna é em geral intacta ; em um terceiro gráo as alterações invadem as tres túnicas e estendein-se ao tecido cellular circumvisinh -o VII Nas varices superficiaes as veias apresentam-se alongadas, ílexuosas, sinuosas e mais volumosas quando o doente se acha na posição vertical e depois de qualquer exercicio á pé. VIII Pela pressão e apalpação nota-se que a saliência formada pelas veias ó inolle, indolente, reductivel, fluctuante © sem pulsação. IX A compressão das veias entre o coração e as varices augmenta o volume destas; o contrario se dá quando a compressão ó exercida entre as varices e os capillares. X As varices profundas podem existir isoladamente. 53 XI Os symptomas das variees profundas ou superficiaes desap- parecem quando se colloca o doente na posição horisontal. XII A duração das variees não se póde limitar ; tendo attingido um certo volume pódem ficar estacionarias. XIII A erysipella, o phlegmão, a ulceração, a hemorrhagia e sobretudo a phlebite são accidentes que pódem complicar a phlebectasia. XIV O diagnostico desta affecção não offerece dificuldade. XV A gravidade do prognostico depende da profissão do indi- víduo e das complicações. XVI Póde-se dividir o tratamento em prophylactico, palliativo e curativo ; o prophylactico consiste em evitar as causas das vari- ces ; o palliativo em uma compressão uniforme, forte porém tole- rável por meio de um apparelho apropriado á séde e extensão da affecção. O curativo não tem dado resultado. Ouarto Ponto Sciencias Medicas CADEIRA DE PATHOLOGIA INTERNA NEPHRITE PARENCHYMATOSA PROPOSIÇOES I A nephrite parenchymatosa é uma aifecção renal caraeteri- sada symptomaticamente por albuminúria, hydropisias e suas consequências e anatomicamente por uma inflammação dos lubuli contorti e dos glomerulos de Malpighi. II A idade, o sexo, o temperamento e a profissão do indivíduo, póde-se considerar como causas predisponentes da nephrite parenchymatosa. III A. maior parte das vezes a nephrite parenchymatosa se mostra em indivíduos nos quaes a nutrição geral é já alterada, quer por affecçòes chronicas tendo produzido um empobreci- mento de sangue em princípios solidos, quer por moléstias agudas que trazem rapidamente o mesmo resultado. 56 IV Os alcoolicos, bem como outras substancias como sejam o mercúrio, o chumbo, o arsénico, o phosphoro, e o acido sulfu- rico, exercem uma grande influencia na producção da nephrite parenchy matosa. V A cantbaridina, cuja influencia é tão manifesta no desen- volvimento da nephrite catarrhal, parece também concorrer para produzir a parenchymatosa. VI O resfriamento, os exanthemas febris, as febres intermit- tentes e as cachexias palustre, cancerosa, syphlitica e cardíaca occupam um lugar importante na etiologia da nephrite paren- chy matosa. VII Â duas se pódem reduzir as opiniões emittidas para explicar a passagem da albumina na urina. Os partidários da primeira professam que a albumina não póde se mostrar na urina senão sob a influencia de uma modificação sempre apre- ciável do orgam secretor; os que sustentam a outra affirmam que a albuminúria se produz sem ser precedida de mudança alguma nas condições anatómicas ordinárias do rim, que ella constitue uma perturbação puramente funccional á principio, e que se lesões se desenvolvem sob esta influencia, devem ser consideradas secundarias, não sómente quanto á época de sua formação, mas também quanto á sua importância. 57 VIII Ambas estas theorias pódem ser admittidas ; ora as lesões renaes, ora a modificação dos princípios constituintes do sangue precedem e dão lugar á albuminúria; ha de uma parte um grande numero de probabilidades, de outra factos positivos. Os factos são para as lesões venaes, as probabilidades para as mo- dificações do sangue. IX As alterações anatómicas que carecterisam a nephrite paren- chymatosa pódem ser divididas em tres periodos : o periodo congestivo ou de hyperemia, periodo exudativo e periodo atro- phico ou regressivo. X Além das alterações renaes, nos outros orgãos pódem existir lesões anatómicas muito intensas. Estas lesões são de tres ordens : phlegmasia das membranas serosas, inílammações catarrhaes e ulcerativas das mucosas e lesões visceraes. XI Primitiva ou secundaria a nephrite parenchymatosa póde re vestir já um caracter de agudeza já um caracter de chro- nicidade. XII A differença semeiotica entre as íormas aguda e clironica, entre os periodos iniciaes ou últimos da moléstia, repousa sobre 58 os phenomenos locaes da uropoiese. Estes signaes locaes tem de um lado, um certo valor, segundo ellos são accusados pelos doentes, tal é a sensibilidade dolorosa da região renal ou segundo são objectivamente perccptiveis, taes são as modificações da urina. XIII Nem sempre a fórma ou o periodo chronico é consecutivo ao agudo ; muitas vezes a nephrite parenchymatosa desde o seu começo é chronica. XIV A marcha e a duração da nephrite parenchymatosa variam segundo diversas circumstancias. XV Seu desenvolvimento com symptomas agudos ou chronicos e latentes, as condições etiologicas que lhe tem dado nasci- mento, as moléstias intcrcurrentcs ou consecutivas, os hábitos, o estado dos doentes e o tratamento muito influem sobre sua evolução. XVI A terminação da nephrite parenchymatosa ó raramente favo- rável, e isto particularmente si a moléstia apresenta uma fórma aguda. XVII É preciso aceitar com muito escrupulo a cura de um caso chronico, pois que intervallos existem durante os quaes não se produz nem a albumina na urina, nem hydropsias, e que podem simular uma cura. XVIII A morte resulta quer da uremia, quer de uma extravasação sanguinea no cerebro, ou de inílammações secundarias (pleu- risias, pericardite, peritonite), ou emfim de um hydrothorax e cedema pulmonar ou de um oedema glotte. XIX A presença da albumina na urina é um signal de grande valor, principalmente quando concumitantemente com ella appa- recer a anasarca e elemento epithelial microscopico dos lubuli dos rins ou cylindros fibrinosos de exsudação na urina. XX O diagnostico da nephrite parenchymatosa se decompõe cm diversas partes : Io reconhecer a presença da albumina e as variedades desta substancia ; 2o avaliar sua quantidade e variação diurnas ou periódicas ; 3o distinguir a especio da nephrite paren- chymatosa segundo ella é primitiva ou secundaria, aguda ou chronica. XXI 0 tratamento da neplirite parenchymatosa é preventivo ou curativo. O curativo varia conforme o periodo da moléstia. H1PP0CRATIS APHORISMI i Somnus, vigilia, utraque modum excedentia, malum de- nunciant. (Sect. II, Aph. 3.) II Frigidum ossibus adversum, dentibus, nervis, cerebro, dor- sali medulloe, calidum vero utile. (Sect. V, Aph. 18.) III Qui nervorum distentione corripiunt entra quatuor dies pereunt, quos si effugerint, sanescunt. (Sect. V, Aph. 6.) IV Frigidum vero convulsiones, nervorum distentiones, deni- gritiones et rigores febris. (Sect. V, Aph. 17.) V Adolescentibus autem, sanguinis sputationes, tabes, febrea acutoe, comitiales, aliique morbi, prcecipue tarnen proedicti. (Sect. III, Aph. 29.) VI Lassitudines aponte obortoe morbos denuntiant. (Sect. II, Aph. &.) lista riicsc está conforme os Estatutos. Rio, 26 de Agosto de 1878. Dr. José Pereira-Guimarães Dr. João Martins Teixeira Dr. Nuno de Andrade