FACULDADE DE MEDICINA E DE PHARMACIA DD RIO DE JANEIRO ' JLt jisO JE® Jwi DE RIO DE JANEIRO Papelaria Mendes, Marques & C., Rua do Ouvidor n. 38 i897 DISSERTAÇÃO C-A_T?JSITÒ^. 2D2E HYGIE>E CONTRIBUIÇÃO PARA A CLIMATOLOGIA BRAZILEIRA Estudo do clima dos estados do Amazonas, Pará, Peroamlmco, Matto Grosso e Rio de Janeiro PROPOSIÇOES Tres sobre cada uma das cadeiras da Faculdade THESE APRESENTADA Á U DE MEDIEI E DE PHARMACIA DO RIO DE JANEIRO EZvd: se 20e ixe 1S97 PARA S^^TENTADA POR Eurieof ^onçaíves {^asfos___ FILHO LEGITIMO DE ^^matôino ^000 Sotiçafve^ aBastos E DE G&nóytança S&a&a AFIM DE OBTER 0 GRAO DE DOUTOR EM MEDICINA RIO DE JANEIRO Papelaria Mendes, Marques & C.-Rua do Ouvidor n. 38 1897 Faculdade ta Medicina o ta Fharmacia ta Rio ta Janeiro DIRECTOR - Dr. Albino Rodrigues de Alvarenga. VICE-DIRECTOR - Dr. Francisco de Castro. SECRETARIO - Dr. Antonio de Mello Muniz Maia. LENTES CATHEDRATICOS Drs. : João Martins Teixeira Physica medica. Augusto Ferreira dos Santos Chimica inorgânica medica. João Joaquim Pizarro Botanica e zoologia medicas. Ernesto de Freitas Crissiuma Anatomia descri ptiva. Eduardo Chapot Prevost Histologia theorica e pratica. Arthur Fernandes Campos da Paz Chimica organica e biologica. João Paulo de Carvalho Physiologia theorica e experimental. Antonio Maria Teixeira.... Matéria medica, Pharmacologia e arte de formular. Pedro Severiano de Magalhães Pathologia cirúrgica. Henrique Ladisláo de Souza Lopes Chimica analytica e toxicologica. Augusto Brant Paes Leme Anatomia medico cirúrgica. Marcos Bezerra Cavalcanti. Operações e apparelhos. Antonio Augusto de Azevedo Sodré Pathologia medica. Cypriano de Souza Freitas Anatomia e physiologia pathologicas. Albino Rodrigues de Alvarenga Therapeutica. Luiz da Cunha Feijó Júnior Obstetrícia. Agostinho José de Souza Lima Medicina legal. Benjamin Antonio da Rocha Faria Hygiene e mesologia. Antonio Rodrigues Lima Pathologia geral. João da Costa Lima e Castro Clinica cirúrgica - 2? cadeira. João Pizarro Gabizo Clinica dermatológica e syphiligraphica. Francisco de Castro Clinica propedêutica. Oscar Adolpho de Bulhões Ribeiro..... Clinica cirúrgica -1? cadeira. Erico Marinho da Gama Coelho Clinica obstétrica e gynecologica. Hilário Soares de Gouvêa Clinica ophthalmologica. José Benicio de Abreu Clinica medica - 2? cadeira. João Carlos Teixeira Brandão Clinica psychiatrica e de moléstias ner- vosas. Cândido Barata Ribeiro Clinica pedriatica. Nuno de Andrade Clinica medica-1? cadeira. D RS. : 1? Secção Tiburcio Valeriano Pecegneiro do Amaral. 2? ,, Oscar Frederico de Souza. 3? ,, Genuino Marques Mancebo e Luiz Antonio da Silva. Santos. 4? ,, Philogonio Lopes Utinguassú e Luiz Ri- beiro de Souza Fontes. 5? ,, Ernesto do Nascimento Silva. 6? ,, Domingos de Góes e Vasconcellos e Fran- cisco de Paula Valladares. 7? ,, Bernardo Alves Pereira. 8? ,, Augusto de Souza Brandão. 9" ,, Francisco Simões Corrêa. 10? „ Joaquim Xavier Pereira da Cunha. 11? ,, ............................ Luiz da Costa Chaves Faria. 12? „ Mareio Filaphiano Nery. N. B. A Faculdade não approva nem reprova as opiniões emittidas nas theses que lhe são apresentadas. LENTES SUBSTITUTOS INTRODUCÇÃO f nosso intuito ao iniciar este trabalho era recolhendo aqui e alli com mais ou menos esforço, as observações meteorológicas existentes, escrever sobre a climatolagia do Brazil. Em breve vimos que era tarefa demasiado pesada ás nossas forças. A falta quasi geral das observações meteorológicas, e mesmo as que existem completa- mente esparsas, demoveram a nossa pretenção. Ajunte-se a esses contratempos a falta de saude e estará explicada porque resolvemos apenas dar uma pallida idéa dos climas dos estados do Amazonas, Pará, Pernambuco, Matto-Grosso e Rio de Janeiro. E bem de ver-se, que não escrvemos sobre o clima de todas as localidades destes estados e sim daquellas cujas observações podemos recolher. 2 Assim pois, o nosso trabalho se comporá de dons capítulos : no primeiro, fazemos uma explanação geo- graphica seguida do regimem dos ventos no Brazil; no ultimo procuramos estudar o clima de cada um dos estados acima referidos, fazendo em seguida um rápido estudo sobre as suas endo-epidemias. DISSERTAÇÃO BREVES NOÇÕES GEOGRAPHICAS Considerações sobre a anemoiogia brazileira Lançando os olhos sobre a carta Sul Americana vemos, na sua parte mais oriental, a uniformidade do colorido desenhar entre 50 10' de latitude norte e 33o 46' de latitude sul a vasta extensão territorial, denominada primeiro, Terra de Santa Cruz, pelos luzi- tanos garradas da rota indiana e mais tarde, ainda pelos luzitanos traficantes, appellidado de Brazil. Da serra Paracaina ao rio Chuy extende-se o seu território, isto é 4.390 kilometros, emquanto em sentido opposto dirige-se do Cabo Branco, no estado da Pa- rahyba, ao rio Javary, em um percurso de 4.060 ki- lometros. Todo território brazileiro abrange a enorme area de 8.307.218 kilometros quadrados, o que quer dizer Tps da superfície do globo e do grande conti- nente Americano. A sua enorme costa, de impor- tância notável no estudo que fazemos, desdobra-se em 7.920 kilometros de extensão apresentando grande 6 numero de bahias e portos, aos quaes a natureza brindou com florescentes ilhas. Se, baseados nas clasificações geographicas pro- curamos estudar o clima do Brazil, vemos que devido á sua posição, acha-se elle encravado nas zonas tórrida e temperada. Deixando de parte a geographia e se procurarmos a classificação de Rochard, incluil-o-hemos nas zonas tórrida e quente deste auctor por estar limitado pelas isothermicas de 26 e 15 C. Sabemos que no estudo do clima de uma locali- dade entram factores diversos, como sejam, a tem- peratura, pressão barométrica, humidade, chuvas, ventos, electricidade, nebulosidade, proximidade de massas d'agua, etc., etc.; e no entanto o elemento de maior importância ou antes o melhor estudado é a temperatura média. A ella consagram os investigadores toda a sua attenção e ainda é a escalla por onde se afere todas as classificações existentes. Talvez que, depois de melhor estudados os outros elementos componentes do clima, elementos estes que na grande maioria dos casos, modificam o actual factor considerado prin- cipal, tenha o estudo da climatologia de refundir-se baseado em novos alicerces. Quem nega a poderosa influencia que os ventos trazem á temperatura, transformando-a completa- mente, já elevando, já fazendo cahir a escalla ther- mometrica. E já que falíamos na acção dos ventos sobre as modificações impressas por elles á columna 7 thermica, não devemos esquecer-nos do conjuncto de transformações que acarretam aos outros elementos meteorologicos, como sejam a evaporação, a humidade, as chuvas, etc. Retomemos o assumpto principal. A unica dominante que caracterisa o clima é a temperatura e assim teremos de estudai a tão de- talhaclamente quanto nos permitta o escasso mate- rial, que alcançamos lançar mão. Sobre a climatologia do Brazil tem-se eseripto pouco, attendendo a magni- tude do assumpto e é mesmo de admirar que em um paiz como o nosso, que despende annualmente cente- nas de contos do erário publico com o serviço de co- lonisação; não tivesse iniciado de modo regular a crea- ção de estações meteorológicas. Só depois do advento do governo republicano e consequente reanimação das antigas províncias, é que os actuaes governos estadoaes, principalmente no Sul, têm ligado a atten- ção devida ao estudo das condições climáticas de seus respectivos estados, procurando base firme para a creação de futuros núcleos coloniaes. Assim, é-nos agradavel registrar o facto do es- tabelecimento de escolas agricolas e estações agronó- micas nos estados do Rio de Janeiro, S. Paulo e Minas, onde as observações meteorológicas devem em breve constituir valioso cabedal para o estudo dos respectivos climas. Dentre os observadores que tem clescripto o clima brazileiro, devemos salientar Sigaud, Liais, Se- yeriano da Fonseca, Wappoeus, Pompeu, etc. Mas 8 todos escreveram fragmentos que foram bem colligi- dos e publicados em 1891 pelo illustre astronomo do observatorio do Rio de Janeiro o Dr. Morise, cujo bello exemplo foi seguido um anno depois, em rela- ção á Capital Federal, pelo sabio e incansável dire- ctor do mesmo observatorio Dr. Cruls, com a publica- ção do seu "Clima do Rio de Janeiro." E' principalmente no livro do Dr. H. Morise que vamos achar grande cópia de material para este nosso modesto quão despretencioso trabalho. Se- guindo o trabalho acima citado vamos procurar dar ligeira idéa da acção dos ventos. O Brazil, como dissemos, possue uma longa costa, não sendo o interior do paiz protegido de tal forma por cadeias de montanhas, que possam nullificar a acção dos ventos marítimos sobre essas regiões. Assim sendo, vejamos qual o regimen dos ventos que varrem a costa brazileira e as modificações que produzem em seu clima e no do interior do paiz. O desequilíbrio de temperatura entre o equador e os polos, sabemos, geram as correntes aereas, os chama- dos ventos alizeos e contra alizeos que theoricamente se dirigem uns do sul para o norte e outros do norte para o hemispherio austral. Entretanto esta direcção não se passa realmente assim, pelo facto da intervenção do movimento de que se acha animada a terra; estes ventos não sopram do Sul ou do Norte, mas sim de N. E. ou de S. E. Segundo Arnould, na região equatorial o alizeo de S.E. 9 e o de N. E. se acham separados por uma facha de calma de 6 o, mais ou menos extensa. Vejamos o que se passa na zona meridional do Atlântico, influindo portanto sobre a costa do Brazil. Aquelles que tem estudado o regímen dos ventos nesta região, dizem que os alizeos que ahi se notam tão regulares, parecem mover-se em expirai diver- gente ao redor de um centro, que também se moveria conforme a estação. Este centro é o triângulo cujos vertices são constituídos pelas ilhas de Tristão da Cunha, Santa Helena e Trindade. O centro deste triângulo seria o ponto de divergência dos ventos, que seguiriam direcção opposta ás tempestades que se fazem sentir na mesma latitude. Como dissemos acima este centro sendo movei estaria collocado no mez de Janeiro, entre Tristão da Cunha e Santa Helena. Os ventos, que tem sua origem ao norte da po- sição, dirigem-se para o equador com rumo de S. E., porém ao approximar-se do nosso littoral variam para E. na costa bahiana e passando pelo Rio de Janeiro tomam a direcção de N. E. para seguir a direcção de N. á entrada do Rio da Prata. Os alizeos de S. E. não vão além do equador du- rante o estio, emquanto que no inverno passam além do decimo parallelo. Também nessa época, o centro de divergência acha-se approximado das costas brazileiras, entre Trindade e Tristão da Cunha. 10 Toda a longa costa do Brazil é bafejada por bri- sas que sopram periodicamente durante o dia do mar e á noite provindas de terra. Diz o Dr. Morise, tratanto destes ventos: que não é raro observal-os no Rio de Janeiro com a velo- cidade de 10 a 12 metros; mais adiante o mesmo au- ctor refere "O regímen dos ventos desta localidade apresenta uma anormalidade que deve reproduzir-se em outras estações. Os ventos dominantes são o S. S. E. durante a estação quente e N. N. E. no resto do anno, emquanto que no largo e na mesma latitude o vento sopra con- stantemente de N. E. Parece que a causa desta irregularidade provém de que a briza diurna é muito intensa e que o vento que se observa é a resultante desta briza e do alizeo do largo. A briza do mar que sopra todo o verão, porém cuja intensidade varia fortemente com a declinação do sol, deveria vir normalmente á direcção da costa, isto é, pouco mais ou menos do Sul; porém como o pro- prio alizeo tem a direcção E. N. E., disto provém um vento que sopra segundo sua resultante geométrica e cuja direcção deve variar com a intensidade dos dous ventos primordiaes. " Apezar da costa do Brazil ser enorme, entretanto ahi não notamos os costumeiros cyclones que devas- tam as costas da grande Republica do Norte. E' certo que a nossa costa é açoutada por tempestades, que na grande maioria dos casos, concorrem para a purifica- 11 ção da atmosphera e nota se mesmo nas costas do Rio Grande do Sul ventos perigosos, que devas- tam-n'a em certas épocas. Estes fortes vendavaes têm sua origem na chamada região dos Pampas, que, como sabemos, são vastas campinas cobertas de vege- tação pouco desenvolvida e semeiadas de coxilhas. Ahi corre o pampeiro arrastando comsigo tudo que se oppõe á sua passagem, e depois, lançando-se vertigi- nosamente no oceano, caminha parallelo á costa e se em sua passagem encontra alguma quilha, é cila empolgada e submergida. São estas, ainda que resu- midas, as observações geraes sobre os ventos da costa brazileira. Seja-nos agora permittido accrescentar o que se observa a respeito do regimen dos ventos nos estados que não possuem littoral. O estado de Matto Grosso, ainda que collocado na zona central da America do Sul, soffre comtudo a influencia dos ventos que tem sua origem, já no triângulo commutador dos ventos de que temos fallado, já nos celebres pampas. O Dr. Severiano da Fonseca, na memória apre- sentada á Academia de Medicina e intitulada a Apon- tamentos para a climatologia medica de Matto Grosso" diz-nos : " os ventos geraes sopram de N. O. e S. E., estes frios e fazendo baixar rapidamente a tempera- tura, aquelles elevando e rarefazendo a atmosphera ; ambos desejados, se vêm mitigar as asperesas da es- tação, ambos temidos; estes se chegam na força do frio augmentando e trazendo as geadas e friagens, ou se, inopinadamente, na força do verão determinando 12 grandes perturbações para os orgâos respiratórios e locomotores, e aquelles, os ventos do norte, se com seu hálito de fogo vêm ainda mais abrazar a atmos- phera augmentando o calor e o máo estar já produzi- dos por este. " Mais adiante continúa : " E' no verão que são frequentes as tempestades, trazidas quasi sempre pelo sudoeste, o vento dos pampas, o qual em minutos modifica de tal modo o estado thermico do ambiente que o thermometro salta rapidamente de muitos gráos. Passemos em revista o que succede na bacia do Amazonas : " Os ventos alizeos, diz o Dr. Tapajoz, penetram profundamente na bacia do Amazonas e ahi reinam todo o anno até o Rio Negro. Deste affluente em diante até os Andes da Columbia, é menos constante a influencia destes ventos, que são por vezes substi- tuídos por calmas prolongadas que Grissebach com- para ás calmas equatoriaes sobre o mar e que lhe pa- recem produzidas como aquellas pelo movimento as- cencional do ar; mas em todo o valle do Amazonas até a embocadura sopram os ventos constantemente de Este e póde-se dizer que os dous alizeos, o de N. E. e o de S. E., reunem-se ahi formando uma corrente unica que toma a direcção média de Este. O grande naturalista Agassiz, citado pelo autor acima, dizia- " .. . .um vento que sopra constantemen- te de Este para Oeste e que aliás nada mais é do que a grande corrente dos ventos geraes. Esta corrente 13 entra na immensa abertura formada pelo Amazonas e sobe o valle do grande rio. " Sobre o planalto central do Brazil eis o que nos diz o Dr. Azevedo Pimentel, quando estuda o regimen dos ventos: "Os ventos deste periodo do anno (re- fere-se ao tempo seccoj são fracos, seccos e frios e quasi sempre vêm do rumo dos rumos E., S. E. e S., depois de terem, os dous primeiros especialmente, atra- vessado larga superfície plana do paiz secco e terem transposto as cadeias de montanhas da Serra Canas- tra, da Matta da Corda e suas ramificações e da Serra Geral que para o norte se dirige com diversos nomes. No periodo das chuvas são estes ventos substituídos pelos ventos equatoriaes quentes, húmidos, de origem marítima, de direcção Norte e Sul, através de exten- sas planícies quasi sem accidentes, regadas por cau- dalosos e numerosos rios, com affluentes de cursos vários, em numero infinito, comprehendidas entre o Amazonas ao norte e a serra Geral ao sul. Mas em virtude da rotação da terra, os referidos ventos che- gam ás regiões centraes do Brazil pelo rumo de N.W., acompanhando-se não poucas vezes de tormentas e borrascas. Assim aquecidos e carregados de vapor d'agua os ventos se elevam na athmosphera, resvalando pelo plano inclinado ou encostas das terras altas do interior e pela dupla razão de chegarem á regiões altas da atmosphera com temperatura inferior ás suas e se dilatarem em virtude de mais fraca pressão do ar, a humidade se condensa, formam-se as nuvens, ao 14 mesmo tempo que grande producção de electricidade tem logar ; e é no meio de relâmpagos e trovões que estas nuvens quasi sempre se desfazem em diluvianas chuvas, tão communs no interior do Brazil de Outubro a Março." Pelo que temos exposto parece poder concluir-se que tanto o littoral, como a vasta zona central do Brazil encontra-se na dependencia de duas cerrentes ane- mologicas, qual das duas mais importante ; uma tendo sua origem na zona equatorial e percorrendo na direc- ção do N. E. toda a costa brazileira e penetrando pelo Amazonas, vai fazer sentir seus effeitos até regiões bem afastadas da costa. A outra central, toma nasci- mento nas planuras enormes que se extendem entre a cordilheira andina e o estuário platense. Dos ventos, nascidos na zona equatorial, ja vimos que a producção é devida a differença de temperatura entre a corrente fria do polo e a ventilação quente do equador. Somos de opinião que as correntes frias que descem dos píncaros e chapadões andinos, projectando- se sobre os pampas, fazem refluir para o seu habitat a camada aereaque circula em tangente sobre os pampas. D'ahi a producção destes ventos animados de maior ou menor velocidade, provavelmente ainda in- fluenciados pelas correntes que penetram no Ama- zonas. A ser assim, podemos dizer, que toda a ane- mologia do Brazil acha-se submettida ás mudanças de que acima falíamos, operadas no triângulo commu- tador formado pelas ilhas da Trindade, Santa Helena e Tristão da Cunha. 15 Acabamos de estudar ainda que descriptivamente a anemologia do Brazil. Procuremos agora, se bem que de modo imperfeito e com a difficiencia de dados que todos reconhecemos, levar a nossa contingente de esforços para o estudo a que nos propomos; apresentando antes algumas classificações adoptadas para o clima do Brazil. Pela sua posição geographica o Brazil acha-se situado nas zonas tórrida e temperada dos geo- graphos, ou tórrida e quente, subtropical e temperada de Rochard, também nas zonas hyperthemica, ther- mica e mesothermica por Fonsagrive. Pelo Dr. Morize porém, estas classificações climáticas do Brazil foram modificadas sendo por elle considerado todo o clima do Brazil, em relação a sua thermalidade, em zona torpical, sub-tropical e temperada doce. A temperatura média de 25 o, é o critério que nos indica a zona tropical e a sua fronteira estende-se pelo sul de Pernambuco, envolvendo Sergipe e Alagoas, atravessa Goyaz e declina em Matto Grosso, abaixo de Cuyabá. Nesta grande zona vemos incluídos os estados do Amazonas, Pará, Ceará, Maranhão, Piauhy, Rio Grande do Norte Parahyda do Norte e Pernambuco. Entre a isothermica de 25o e 26o C incluiu Morise a zona sub-tropical tendo como limite inferior o sul de S. Paulo e parte do Paraná; sendo que a terceira zona ou temperava doce é formada pelo sul de S. Paulo, grande região do Paraná e os estados de Santa Catharina e Rio Grande do Sul. 16 O Dr. Morise, auxiliado pelos trabalhos do Dr. Draenert, sub-dividiu a zona tropical em tres outras, baseado nas épocas de chuva. Assim, o Alto Amazonas constitue a primeira, o interior de todos os estados do Maranhão, Pará, Matto Grosso, Piauhy, (mesmo a Bahia e uma parte de Minas Geraes) fórma a segunda subdivisão, emquanto a região littoral do Pará, Maranhão, Piauhy, Ceará, Rio Grande do Norte e Parahyba do Norte é consi- derada a terceira sub-divisão. Amazonas Apezar do estado do Amazonas achar-se muito proximamente situado do equador themico, entretanto o seu clima, pelo que se deprehende da leitura da excellente obra do Dr. Tapajoz, offerece as condições necessárias para ser bem supportado, apezar da média thermica oscillar entre 24o a 26o C, pois outros factores meteorologicos amenisam esta temperatura. Pelo celebre naturalista Aagassiz, foi considerado "um clima agradavel e até mesmo - dos mais agra- daveis A tempetura média da cidade de Manáos é de 26o, 5 53 C, sendo o periodo de observações de cinco annos. Pelo quadro seguinte verifica-se que os mezes de maior calor são os de Outubro, Novembro e Dezembro, sendo que depois das grandes cheias se observa natural abaixamento da temperatura, somente por pousos dias -e coincidindo com os ventos do sul. MANAOS-TABELLA DA TEMPERATURA MÉDIA MENSAL DEDUZIDA POR DIVERSOS MODOS g JO p O 2 H W u w W O peratura média. . 16, 22 X DA ÍPERATURA MÉDIA 'ERMINAÇÃO RAS PARA A ,26.60 26.87 to o <01 LO 35 O 4^ O TEMPERATURA MÉDIA 26.08 26.50 O 35 5 25.77 O 3° X JANEIRO 25.886 25.82 25.87 á X o 25.82 25 42 FEVEREIRO <© d w 25.76 25.83 26.20 to to p po GO -<1 O< <35 MARÇO r 26.25 25.99 1 o 35 O 01 o X O o ABRIL to c <© 25.983 26.03 25.97 O 35 Oi o 01 o o 35 ? 3 MAIO d >- H 25,67 25,77 O 35 O X 25°67 25 87 JUNHO 26.59 26.39 o 35 01 O 35 01 o 01 o JULHO co o 26.576 26.21 26.42 27,14 o to Po o to O 1-» AGOSTO <© d w H 26.93 26.62 27.63 27.08 *0 D X) SETEMBRO td r 27.73 27.51 O X o to 30 ^0 O O Cú OUTUBRO o <© 27.693 28,03 28.23 o X o oi 28?03 28 14 NOVEMBRO w td 27.32 27.82 LO co LO p h- O X 3 o DEZEMBRO 17 Também pela inspecção do quadro de maximas e mínimas deprehendemos que a amplitude das oscilações entre a maxima e a mínima é de 15 o, sendo a tempe- ratura minima média observada em Janeiro de 20o e a maxima em Outubro de 35°o C. Maxima Minima Amplitude h t t h f c £ 8 3 d ti > ti > 15.2 12.9 12.2 12.2 o 32.9 20.7 Janeiro 1° QUARTEL 1° SEMESTRE T'OI 0 31.7 21.6 Fevereiro GO • 0 30.8 22.8 Março 11.5 O 0 30.6 23.0 Abril 2o QUARTEL GO 0 31.2 23.2 Maio 11.5 0 31.5 20.0 Junho 15.2 12.4 O o 31.5 22.5 Julho 3o QUARTEL 2° SEMESTRE 11.6 o 32.7 21.1 Agosto 11.9 0 33.5 21.6 Setembro 15.2 15.2 0 35.0 19.8 Outubro 4o QUARTEL 11.9 o 34.1 22.2 Novembro 11.5 0 32.5 21.0 Dezembro MANÃOS - MAXIMA E MÍNIMA TEMPERATURA MENSAL E SUA AMPLITUDE 18 Na mesma localidade a maxima absoluta foi de 35°o e a mínima absoluta i9°8 no mesmo periodo de observação. Assim pois resumindo temos : MANÁOS Maxima absoluta 35°o Mínima idem iç°8 Média geral 2Ó°53 Idem das maximas 32°3i Idem das mínimas 3i°Ó2 Para concluirmos diremos: que a curva da tem- peratura eleva-se desde 6 horas da manhã ao meio-dia, começando nessa hora a declinar até 6 da tarde, con- tinuando esse declínio pela noite. Como prova do que affirmamos, extrahimos do livro do Dr. Tapajoz as seguintes notas : A média durante 8 annos de observações realizadas ás 6 horas da manhã de todos os dias foi de 24°68 A média ao mesmo tempo realizada ás 12 horas do dia foi 28o28 A média, sempre no mesmo tempo de obser- vações realizadas ás 6 horas da tarde foi de 27°2i A média, finalmente das observações realizadas ás 12 horas de todas as noites foi de. . . . 25°28 19 Altura barométrica Pela inspecção das observações contendo mais de 14.000 notas em Manáos, verifica-se que a média barométrica reduzida a zero é de 756,527; a maxima mensal mais elevada foi em Junho, marcando o baró- metro 759,958 e a minima 755,363, notada em No- vembro. O quadro junto guiará o leitor: MANÃOS-TABELLA DAS ALTURAS BAROMÉTRICAS, MÉDIAS MENSAES A ZERO DE TEMPERATURA NA MATRIZ DE MANÁOS 1° SEMESTRE 2° SEMESTRE 1° QUARTEL 2o QUARTEL 1° QUARTEL 2o QUARTEL Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro 756.379 756.479 756.331 756.478 757.153 757.067 759.959 758.056 756.764 755.906 755.353 755.401 756.396 756.566 757.593 755.555 756.418 756.574 756.527 20 Na tabella seguinte da maxima e mínima pressão mensal e suas amplitudes, podemos apreciar as va- riações barométricas mensaes, cuja amplitude annual média é de 7,318. A maior amplitude verifica-se em Junho 8,058 e a menor em Julho (6,564). A' primeira vista, esta tabella parece estar em contradicção com a que lhe precede, a respeito das maximas e minimas observadas, mas é necessário attender-se que, na segunda não foram feitas as cor- recções da temperatura. M ANÃOS-TABELLA DA MAXIMA E MÍNIMA PRESSÃO BAROMÉTRICA MENSAL E SUAS AMPLITUDES PRESSÃO 1° SEMESTRE 2 3 SEMESTRE 1° QUARTEL 2o QUARTEL 1° QUARTEL 2o QUARTEL Janeiro Fevereiro OÔJBJÇ Abril Maio Junho j Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Maxima Minima Amplitude 760.172 753.350 760.689 753.200 760.913 752.967 760.666 753.299 760.716 753.072 762.213 754.155 761.817 755.253 761.685 754.620 000.396 753.363 759.971 752.238 759.008 751.988 759.437 752.250 6.822 7.489 7.946 7.367 7.644 8.058 6.564 7.065 7.028 7.733 7.020 7.187 7.419 7.689 6.852 7.313 7.554 7.082 7.318 21 Humidade relativa Para escrever sobre a humidade relativa de Ma- náos, soccorremo-nos das observações feitas pelo al- mirante Costa Azevedo, de 1861 a 1868. Na tabella que segue-se encontrar-se-ha as médias mensaes e bem assim as maximas e minimas com as respectivas amplitudes. MEZ MAXIMA MÍNIMA MÉDIA Janeiro 98.5 70.5 88.73 Fevereiro 95.0 71.0 87.19 Março 97.7 73.5 88.40 Abril 98.0 72.0 88.14 Maio 98.0 71.0 85.20 Junho 99.0 72.0 87.70 Julho 98.0 68.0 84.50 Agosto .... 96.0 65.0 88.70 Setembro 98.0 65.0 82.20 Outubro 99.0 63.0 83.80 Novembro. 99.0 67.0 87.30 Dezembro 99.0 65.0 85.60 99.00 63.0 86.45 Maxima absoluta. Minima absoluta Por este quadro observamos que a média oscilla entre 88 73 e 82.20. Comquanto esta média seja bas- tante elevada, comtudo a amplitude é de 6.53. O máximo absoluto observado em Junho é 99.00 e o minimo também absoluto verificado em Outubro é 63.00; havendo portanto a awiplitude de 36.00. Emfim a média annual é 86.45. 22 O quadro abaixo transcripto da obra, já tantas vezes citada, do illustrado Dr. Tapajoz, mostra a co- meçar dos mezes mais frescos para os mais quentes a evolução da temperatura e também em relação á hu- midade relativa, a ordem em que se acha collocada é a de minima para maxima. NUMEROS DE ORDEM SEGUNDO A TEMPARATURA SEGUNDO A HUMIDADE RELATIVA 1 Junho Outubro 2 Março Novembro 3 Fevereiro Dezembro 4 Maio Agosto 5 Janeiro Setembro 6 Agesto Julho 7 Abril Junho 8 Julho Maio 9 Setembro Janeiro 10 Dezembro Abril 11 Outubro Fevereiro 12 Novembro Março Pluviometria De observações do Dr. Joaquim Leovigildo de Souza Coelho, feitas durante os annos de 1872 a 1874, resultou que a média pluviometrica chegou a 2,1917; agora, se combinarmos com a que nos dá o almirante Costa Azevedo 2,522, concluiremos que a média plu- viometrica de Manáos é 2,3753. Si não fosse o temor de alongar o nosso resnmido trabalho aqui estamparíamos o quadro pluviometrico 23 cio Dr. Coelho e de sua inspecção poderíamos con- cluir que o mez menos chuvoso é Setembro. Em Outubro começam as chuvas e sempre em progressão chegam ao auge em Abril, para decrescer regularmente até Setembro. Entre os maiores feudatarios do Amazonas ha difíerenças de quasi 15o de latitude, de sorte numa mesma época estar sujeitos a estações diversas e razão também porque suas enchentes se verificam em datas differentes. "As chuvas que caminham do sul para o norte alimentam, com os desgelos que se operam na altura da cordilheira dos Andes, o grande rio quasi com um mesmo volume na maior parte do anno E' por isso que, também na parte do rio conhecido por Solimões e em alguma extensão das outras duas, se notam duas enchentes e duas vasantes annuaes. E' um phenomeno realmente digno de nota. Segundo Bates, em Teffé, a elevação das aguas começa em Fevereiro e continúa até Junho e vai de polegada em polegada ; nos últimos dias deste mez o rio se ostenta soberbo, acima do nivel da vasante cerca de 70 palmos. Vai declinando até Outubro, com a unica interrupção do repiquete de algumas polegadas em Setembro, em virtude da contribuição de algum afluente. Do meiado de Outubro a principio de Janeiro^ vem a segunda época da enchente ; a ascenção é apenas de 22 palmos (4A84). A segunda época da vasante apparece em Janeiro para acabar logo em Fevereiro ; mez este em que, 24 principalmente na parte baixa do Amazonas apparecem com frequência as tempestades de Oeste." Nestas regiões notamos duas estações, a das chuvas e a das seccas ou o inverno e o verão. Entre uma e outra nota-se a differença de tres a quatro mezes. Vimos atraz, que o Dr. Tapajoz nos diz ser devido ás chuvas e ao desgelo dos Andes, as causas primordiaes das enchentes do rio. Tardy de Montravel e Lartique, citados pelo mesmo actor, acreditam na influencia poderosa dos ventos que, dizem, soprando de N. e N. E. recalcam o Amazonas, fazendo-o espraiar sobre as suas margens. Em 1824 e 1825 conforme observou Lartique, poucas chuvas se deram no Amazonas e apezar disso houve innundações, ainda que não muito extensas. Também o almirante Costa Azevedo relata que os habitantes de Tabatinga consideram como causa unica das enchentes do grande estuário, a frequência das chuvas, opinando porém elle ser de considerável influencia as ventanias que sopram na foz com a direcção de nordeste e de leste, produzindo o repreza- mento das aguas e consequente transbordamento. Quanto á tensão do vapor d'agua nada podemos expender sobre o assumpto ; pois as fontes onde pro- curámos colher os dados necessários não nol-os for- neceram. Para completar o nosso estudo sobre a climato- logia deste futuroso estado, damos em seguida as médias thermometricas e barométricas de diversas localidades. 25 Tabatinga Média Thermometrica 28.1 mm Barométrica 755-577 S. Paulo de Olivença Thermometrica 29-5 mm Barométrica 753-834 Média. Thermometrica 29.28 mm Barométrica 754.148 Tocantins Média Fonte Boa Média Thermometrica 31.6 mm Barométrica 757-37 Teffé Thermometrica 32.88 mm Barométrica 757-95 Média. Thermometrica 30.65 mm Barométrica 756.301 Coany Média Reunindo as médias dadas, ás de Manáos, temos as seguintes médias geraes em Outubro, que como já vimos, occupa logar immediato ao de Novembro, mez mais quente em todo o estado: Thermometrica 2 7°-95 mm Barométrica 756.27 Média 26 Entre a Capital, Itacoatiara e Parintins temos: Parintins Thermometrica 29.9 mm Barométrica 759-77 Média Itacoatiara Thermometrica 31.7 mm Barométrica 760.55 Média Juntando estas médias as de Manáos temos : Thermometrica 29.3 mm Barométrica 759.04 Média Médias geraes da zona comprehendida entre Rio Branco e o Rio Negro. Rio Branco Médiageral 28 Rio Negro Thermometrica 26.88 mm Barométrica 768.29 Média Addicionando á estas as temperaturas médias de Manáos, temos as seguintes: Média Thermometrica 26.88 , , . . mm Barométrica 757-55 27 Rio Madeira (Affluente da margem direita) Média Thermometrica 28.1 mm Barométrica 761.06 que junta ás de Manáos, dá Thermometrica 27.31 mm Barométrica 758.93 Média Donde, concluindo, deduzimos as seguintes médias geraes absolutas : Thermometrica 29.86 Barométrica 754.04 Epdemo-epiderçologia Á pagina 112 do trabalho do Dr. Tapajoz, encon- tramos os seguintes apontamentos, para cuja tran- scripção pedimos venia. " Em 1853 pela primeira vez na província appa- receu a variola, importada do Pará. Poucos casos deram-se, não se propagou e aquelles mesmos que a trouxeram foram curados. Em Junho de 1855 invadiu o cholera morbus a província, levado do Pará pelo vapor Marajó. Não obstante as péssimas condições em que a província se achava, a qual, na phrase de um dos seus mais judiciosos admiradores, faltava abso- lutamente - facultativos, medicamentos, hospitaes, medidas hygienicas, tudo em fim que é necessário para prevenir a invasão, das moléstias ou attenuar lhe os estragos apenas foram atacadas 46 pessoas, fallecendo uma e isso mesmo em consequência de uma febre violenta que lhe sobreveio no terceiro periodo da moléstia. Em Villa Bella o numero de cholericos foi de 78 ; em Andirá e Serpa de 64. 30 Desse total de 142 e nas inevitáveis condições de abandono em que se achavam aquelles logares como o declaravam os presidentes da província, apenas fallece- ram duas pessoas: uma em Serpa e outra no Andirá. Em Outubro e Novembro foram invadidas pela epidemia os dous rios Mamuru e Moicurapá. De muitas pessoas, acommettidas apenas falle- ceram duas, victimas ambas, mais do deleixo que da moléstia, diz o presidente. Infelizmente, recrudes- cendo a peste no anno de 1856, novos estragos foram feitos, embora muito benevolo em sua intensidade e extensão se apresentasse o flagello. A capital foi poupada e Serpa e Silves foram invadidas. De Janeiro á 15 de Fevereiro, quando cessou, de 50 pessoas ata- cadas em Serpa, foram victimas 14 e das 21 atacadas em Silves succumbiram duas. E assim terminou o terrível flagello que, se en- lutou alguns corações, foi todavia prova poderosa e eloquente de que naquella província não encontrou o cholera-morbus elemento de vida que o levasse a perpetuar-se no devastamento da população. Foi também em 1856, logo após o cholera ou antes, tendo começado ainda com elle, que se deu o primeiro caso de febre amarella no dia 2 de Fevereiro. Esse também foi importado. Foram atacadas proxima- mente dous terços da população da capital que, como dissemos, era de 5.000 habitantes, fallecendo 142 pessoas. Facto curioso : a moléstia atacou e levou á morte de preferencia os naturaes da província. 31 Dos 142 fallecidos, eram estrangeiros apenas 21 e filhos de outras províncias 13, ao todo 34. Assim os naturaes do Amazonas concorreram com a cifra de (108) cento e oito. De Março a fins de Abril ,em Parintins, foram atacadas 37 pessoas: falleceram quatro. Em 1861, de novo apparece a febre amarella: importada ainda. Em 1867, alguns casos de variola discreta e de caracter esporádico apparecem na Capital, Andirá e Parintins. Em 1868, ainda esta enfermidade invadiu a província: na Capital, de 13 de Fevereiro em que se deu o primeiro caso, a 29 de Março em que o ultimo se manifestou, foram atacadas 11 pessoas, das quaes falleceram tres. E dos extractos que propositalmente, fizemos dos relatórios presidenciaes, se vê que não tinha havido, de então, vaccinação regular na população da cidade, nem havia vaccinador. Em Novembro de 1873, uma nova invasão de variola accommette a província, trazida como sempre do Pará. Appareceu o primeiro caso a bordo do vapor Ma- rajó vindo da capital daquella província. Até 31 de Janeiro de 1874, foram recolhidos ao hospital 353 enfermos, dos quaes 177 se restabele- ceram e 168 falleceram : á data do relatorio, oito es- tavam em tratamento, tendo a epidemia desappare- cido em Fevereiro. 32 No rio Madeira foram atacadas 146 pessoas ; restabeleceram-se 108 ; fallecendo conseguintemente trinta e oito. Em 1879, a Capital torna a ser visitada pela terrivel enfermidade e 55 pessoas foram recolhidas ao hospital, das quaes falleceram 21. Na colonia de Santa Izabel, de 36 atacados, falleceram cinco. Em Teffé falleceram 14. Em 1884 apresenta-sa ainda com mais intensi- dade a variola : na Capital, de 310 pessoas que foram atacadas, falleceram 92." Eis os dados epidemologicos que possuímos sobre, o estado do Amazonas ou antes sobre o valle do Alto Amazonas. Quanto a endemologia deste estado podemos dizer que ella se resume no paludismo em suas múl- tiplas fôrmas ; a dysentiria, o beri-beri, a grippe, a diarrhéa das crianças, (Rio Negro) ophtalmias, sa- rampão, coqueluche (Solimões) e lepra em pontos diversos do estado. Pernambuco Este estado acha-se situado entre 7 RÍ e 90 de latitude sul. Apresenta a sua superfície duas declividades ; a de oeste dirigida para o rio S. Francisco e a de este in- clina-se para o mar. A primeira é mais elevada que a 33 segunda e é atravessada por cadeias de altura mais ou menos uniforme, sendo que a maxima altura sobre o planalto que as supporta é calculada em 1100 metros acima do nível do mar. Um recife de cerca de 50 metros de largura segue o littoral em toda a sua extensão. Em alguns logares, este recife é formado de uma só rocha; n'outros, porém, compõe-se de diversas, em camadas parallelas entre si e apresentando varias chanfraduras que são outros tantos portos. Divide-se este estado em relação ao seu clima em duas regiões: a matta e o sertão. Aquella acompanha o littoral em toda a sua extensão e apresenta uma largura uniforme de 60 kilometros, exceptuando para o sul onde prolonga-se para o interior. Apresenta-se á superfície do solo uma successão de collinas, argilo- arenosas, cobertas de mattas, separadas por ferteis valles e dizem ser a parte realmente habitada do estado. A' matta, segue-se o sertão com uma elevação de 500 a 600 metros sobre o nivel marítimo. Na superfície nota-se micaschitos e gneiss, a ve- getação é rachitica e as fontes seccam no verão. Entre estas duas regiões a transicção não é brusca, existindo zonas intermediárias e mesmo nos planatos do sertão é commum encontrar-se pequenas regiões com os caracteres da zona da matta. Passemos agora em revista o clima do Recife. A' 8o e 3' e 32" de latitude sul e edificada sobre uma planície de alluvião acha-se a capital de Pernam- 34 buco; ao norte e ao sul da cidade pantanos de agua doce e salobra banham a costa, notando-se mangaes que limitam esta zona perigosa para a salubridade. Cerca de tres kilometros cessa a planície e começa então uma série de collinas argilo-arenosas de 8o me- tros de altura. Temperatura O anno meteorologico nesta cidade se divide em duas estações: secca e quente e húmida ou menos quente. Esta ultima tem começo em Abril e a primeira em Outubro. As temperaturas médias das diversas estações annuaes descriminam-se assim : Primavera Setembro Outubro Novembro 25.9 Verão Dezembro Janeiro Fevereiro 26.9 26.4 para a es- tação com secca. 24.9 para a esta* ção húmida. Outono Março Abril Maio 25.8 Inverno Junho Julho Agosto 24.0 Vemos por este quadro, extrahido do trabalho do engenheiro Beringer, que a oscillação entre as duas estações é apenas de i.°5 C. E' preciso attender que as observações acima citadas são apenas relativas aos dous annos de 1876 e 1877. 35 Pela inspecção do quadro abaixo comprehendendo um periodo de cinco annos verificamos que os mezes de média mais elevada são : 1886 1887 1888 1889 1890 Médias Janeiro 28?6 O 28.1 O 27.5 O 28.0 O 28.2 28<'08 Fevereii o 28.4 28.3 27.7 27.9 28.5 28.16 Março 28.5 27.6 27.4 28.4 28.1 28.00 Abril 28.2 26.8 27.5 28.3 27.5 27.66 Maio 26.60 26.6 6.7 27.6 26.6 26.70 Junho 26.4 25.5 25.3 26.3 25.8 25.86 Julho 26.0 24.6 24.4 25.9 25.1 25.20 Agosto 25.6 24.8 25.3 26.0 25.1 25.36 Setembro 26.7 26.3 26.4 26.8 25.6 26.36 Outubro. 27.4 26.6 26.8 27.7 26.5 27.00 Novembro 27.7 27.2 27.5 28.1 27.3 27.56 Dezembro 27.9 27.3 27.9 28.3 27.6 27.80 A temperatura média desta cidade obtida de accordo com o quadro respectivo e abrangendo um periodo de 14 annos, 1877 a 1890, orça em 26,80 C. Pelo quadro geral que adiante estampamos ve- mos que a maxima absoluta occorreu a 4 de Janeiro 36 de 1878, marcando o thermometro 37.3, emquanto a minima absoluta observada em 6 de Setembro foi de 11.4. Esta ultima parte das observações corresponde ao periodo de 1877 a 1886 e por ella apreciamos a amplitude de 25.0 entre os dous extremos. De Julho em diante a temperatura sobe regu- larmente até meiado de Novembro e fica depois esta- cionaria durante os mezes de Dezembro a Fevereiro, descendo de Março a Junho. A marcha da temperatura está de accordo com o movimento do sol sobre a eclyptica. De Agosto a Outubro augmenta a temperatura e a altura do sol. A 1 3 de Outubro, passa elle a primeira vez pelo ze- nith do Recife e a temperatura quasi attinge 26. Até 21 de Dezembro a altura do sol diminue, mas os dias são mais longos e a temperatura se con- serva quasi estacionaria. Depois desta data a altura do sol augmenta até 28 de Fevereiro, data da se- gunda passagem pelo zenith. De Maio em diante a temperatura baixa, os dias diminuem e apparece a es- tação chuvosa e o sol tem passado para o hemispherio do Norte. A 21 de Junho volta o sol para o hemispherio do sul; mas as chuvas dessa época fazem ainda baixar a temperatura. Em Agosto diminuindo as chuvas e ele- vando-se a altura do sol começa de novo o calor. O Sr. Beringer diz-que a temperatura diaria é bastante regular em toda a estação estival. O minimo tem lo- gar uma hora antes do nascer do sol, depois o ther 37 mométro sóbe rapidamente até 10 horas da manhã, o maxi.no é attingido entre 1 e 2 horas da tarde, expe- rimentando fraca oscillação até 4 da tarde, quando começa o abaixamento até a hora do minimo. Na estação chuvosa a temperatura soffre as variações impressas pelos aguaceiros, cuja duração, intensidade e intervallos são variaveis. A hora da mi- nim 1 tem logar antes do nascimento do sol, a maxima muitas vezes tem logar proximo do meio dia e a queda começa logo após esta ultima hora. Para o Sr. Beringer o facto da temperatura mi- nima observar-se antes do nascimento do sol, em logar de coincidir com este, parece ser devida, a que a brisa da terra é substituída pelo vento do mar, que susta a irradiação nocturna e provoca um augmento de temperatura. Pressão barométrica Ainda pelo referido quadro notamos que a pres- são barométrica média durante o espaço de 14 annos foi de 759.36, quasi a pressão normal. Pelos dados que obtivemos sabemos que a maxi- ma barométrica attingiu 767.55 em 7 de Julho de 1882, emquanto a minima de 755.94 foi registrada a 8 de Fevereiro de 1886, havendo portanto uma amplitude de 11.61. No decurso de 1877 a 1890, as médias annuaes oscillaram entre 759.17 em 1886 e 761.72 em 1887, sendo portanto a amplitude de 17.45. 38 Segundo o engenheiro Beringer, as horas de ma- xima oscillação têm logar das 9 e 15 ás 10 e 20 da manhã e as de minima de 3 e 15 ás 4 e 30 da tarde. Se trasladássemos para o nosso trabalho o quadro das pressões barométricas mensaes veríamos que o anuo póde ser dividido em tres períodos: um ascen- dente até Julho ou Agosto, outro descendente que se prolonga até Novembro ou Dezembro e finalmente o terceiro estacionário que se prolonga até Abril e algu- mas vezes até Maio. Pluviometria A média pluviometrica obtida de accôrdo com as observações de que temos fallado foi de 2,m32 77 e comquanto ignoremos o numero de dias de chuva, de 1886 a 1890, podemos entretanto dizer que elles são bastante numerosos, a ajuizar pelas notas relativas ao periodo de 1879 a 1886. A estação começa no fim de Dezembro ou prin- cipio de Janeiro. Em Fevereiro as chuvas diminuem ; de Marão em diante augmentam de intensidade e cos- tumam cahir abundantemente até Agosto. Os mezes mais chuvosos são: Agosto, Maio e Julho. O periodo relativamente secco estende-se de Setembro a De- zembro. Humidade relativa Quanto á humidade relativa, só podemos obter as médias referentes ao periodo das observações ci- tadas e calculamos a média geral de 74.30. 39 Em relação ao regímen anemologico diremos: que os ventos sopram do sul durante a estação chu- vosa ; em Outubro predominam os ventos de E. e de NE. em Novembro e Dezembro; para tornar para o sul em Março e Abril. ANNOS 1877-78 1878-79 1879-80 1880-81 1881-82 1882-83 1883-84 1884-85 1885-86 1886 1887 1888 1889 1890 Temperatura média 26°40 28?00 26°80 26°90 26°57 O 25.72 26°26 26°07 O 27.44 27?36 26°64 26?78 O 27.44 26°82 26?80 Tmperatura maxima média 30.20 30.60 31.00 29.34 29.71 28.88 29 20 30 59 32 12 31 15 99 16 98 80 9Q 71 29 09 Temperatura minima média 22.70 21.30 22.0 23.25 23.44 22.56 23.32 21 55 22 76 23.50 23.78 23.71 24.17 23 80 Temperatura maxima absoluta 37.30 36.40 35.80 36.50 36.80 34.70 33.40 34.06 36.00 37 30 Temperatura minima absoluta 20.00 16.30 17.90 17.50 19.00 19?30 18.70 15.08 11.40 11.40 Amplitude entre maxima e minima absoluta. 17.30 20.10 17.90 19.00 17.80 15.40 14.70 18.08 24.60 Pressão barométrica média 761.3 761.4 760.9 761.10 760.86 761.26 761.53 761 49 760 91 759.17 760.73 761 72 7^0 QQ 760.05 759 36 Pressão barométrica maxima 766.7 765.7 765.7 765.34 765.02 767.55 766.30 765.45 765.91 767.55 Pressão barométrica minima 757.6 756.6 756'5 756.3 757.10 756.25 757.48 756.71 755 94 755.94 73 30 72 90 76 10 76 20 72 90 76 40 74. 74 3(1 ■ Altura da chuva.... mm 1742.6 4657.0 3221.9 4342.8 4044.8 2648.2 1378.2 1601 0 2062.0 1888.7 1523.4 1288.4 937.9 1251.0 2327.7 Numero de dias de chuva 78 143 170 180 219 270 186 151 - RESUMO DAS OBSERVAÇÕES METEOROLÓGICAS DA CIDADE DO RECIFE DE 1877 A 1990 QUADRO DAS OBSERVAÇÕES METEOROLÓGICAS FEITAS NA COLONIA IZABEL (1876 - 1883) 1876-77 1877-78 1878-79 1879-80 1880-81 1881-82 1882-83 OBESERVAÇoES Temperatura média 24.0 24.5 24.0 23.62 23.65 23.79 22.99 23.79 Média geral " maxima 34.1 34.9 33.2 32.5 32.9 33.8 31.6 34.9 Temp. maxima absol. " minima 14.8 15.4 13.3 11.6 14.3 14.5 13.3 11.6 (i minima il Pressão barométrica médica. 742.2 742.0 742.1 741.61 - 741 61 741.86 741.89 Pressão média geral. " maxima 747.2 747.0 747.2 746.61 - 742.02 747.29 748.02 " maxima absoluta " minima - 736.4 737.0 736.13 - 736.39 735.25 735.25 " minima " Tensão do vapor d'agua... 17.52 18.29 17.34 17.76 17.88 18.13 17.82 18.29 Média geral. Humidade relativa 78.3 69.03 69.1 74.1 72.4 70.7 74.6 72.60 (( í( Quantidade de chuva 940.6 781.9 596.7 1477.6 1140.3 1850.3 1012.3 1020.9 Numero de dias de chuva. ( 158 155 136 192 184 146 179 164 : 41 Colonia Izabel Situada a cerca de 65 kilometros do littoral na altitude de 224 metros e a 69 kilometros do sul do- Recife. A temperatura média, observada durante o tempo de observações de que consta o quadro junto foi de 23.79. O Dr. Morise diz que o mez mais quente é o de Março, sendo mais fresco o de Agosto. A tempera- tura mais elevada occorreu em 10 de Abril de 1878, marcando o thermometro 34.9, sendo observada em 3 de Agosto de 1879, a minima absoluta de 11.6, o menor gráo thermometrico registrado. Por estas considerações vemos que a amplitude entre as duas maximas é de 23.3. A pressão barométrica média, excluído o período de Outubro de 1880 a Setembro de 1881, foi de 741.89; sendo notada a maxima absoluta de 748 02 em 5 de Agosto de 1882 e a minima de 735.25 em 13 de Dezembro de 1881, existindo portanto a ampli- tude de 1 2.77. A tensão média do vapor d'agua orçou em 17.82, sendo a maior média annual 18.29. A média da humidade relativa não excedeu de 72.60, sendo a maior média annual 78.3 e a mi- nima 69.03. Quanto ao regímen das chuvas, temos a dizer que a média obtida foi de 1020.9 millimetros e 164 42 dias de chuva. Se consultarmos o quadro seguinte veremos que o mez que conta mais dias de chuva é o de Julho, emquanto Dezembro é o menos pluvial. Podemos dizer que de Março até Julho vai augmen- tando o numero de dias de chuva, decrescendo até Dezembro, estacionando até Março, quando começa de novo a estação chuvosa. DIAS DE CHUVA MEZES ANNOS 76 77 78 79 80 81 82 83 Média Janeiro 7 9 10 8 3 7 19 63 Fevereiro 8 16 1 13 9 3 11 61 Março 24 9 6 19 16 5 16 95 Abril 13 10 9 20 23 16 20 111 Maio 16 13 17 20 18 19 19 122 J unho 15 27 16 21 20 25 19 143 Julho 15 25 28 23 27 24 21 163 Agosto 22 24 20 26 26 25 12 155 Setembro. 13 14 14 16 20 9 18 104 Outubro 13 2 9 1 4 4 5 7 55 Novembro 0 5 2 18 10 8 11 4 48 Dezembro 12 1 4 9 8 2 8 3 47 A predominância cios ventos do sul se faz sentir em toda a estação chuvosa e no resto do armo sopram ventos de N. E. 43 Victoria A terceira localidade deste estado, da qual pos- suímos observações, é a cidade de Victoria, situada a 8°9' de latitude sul e bastante afastada do littoral. Junto publicamos o quadro de resumidas observa- ções meteorológicas, no periodo de 1876 a 1886 e feitas por diversos observadores; a média thermica ahi notada foi de 25°29, sendo a maxima temperatura registrada 39o5 e a minima 11.6 ; existindo por con- sequência a amplitude de 27.9. Se compararmos estas notas com as obtidas para a capital, vemos que, ape- zar da temperatura média desta ser mais elevada,, entretanto a maxima absoluta não excedeu de 37,3, podendo-se attribuir este facto á acção do oceano. A pressão barométrica média, registrada, foi 747.46, emquanto a maxima absoluta attingiu apenas 753,60 e a minima 738,96. Pelo quadro de que acima falíamos e pela inspecção das médias, vemos que a pressão atmospherica faz-se sentir com bastante re- gularidade não havendo as grandes depressões da columna barométrica, pois, entre a maxima e a minima absoluta do periodo de observações de que estamos tratando, a maior amplitude foi 14,75. A média de tensão do vapor d'agua, 17.45, é in- ferior á obtida para a colonia Isabel, onde encontra- mos a média observada de 18,29. Em relação á humidade relativa, não excedeu de 73o, 1 a maior média annual e a média geral calculada foi de 69,7. 44 Quanto ao regímen udometrico, podemos dizer que na cidade de Victoria a quantidade de chuva ca- hida não é abundante. Assim, pela consulta do quadro de observações, vemos que a quantidade média ahi é representada por 914"™. 3 e 156 dias de chuva. Pelo quadro que se segue vemos que o mez mais chuvoso é o de Julho, emquanto Novembro e Dezembro são os menos chuvosos. MEZES ANNOS 1876 1877 1878 1879 1880 1881 1 1882 1 1883 00 00 1885 1886 TOTAL Janeiro 15 8 13 14 10 9 10 4 1 10 94 Fevereiro .... 18 23 3 16 12 3 12 3 4 6 100 Março 24 13 9 25 17 13 10 4 8 128 Abril 13 11 11 19 27 18 11 15 14 11 150 Maio 19 15 23 24 18 11 14 10 12 17 163 Junho 28 26 22 27 21 22 17 11 7 15 196 Julho 22 28 24 28 29 21 20 13 8 11 204 Agosto 19 24 04 29 29 26 19 9 1 ] 11 201 Setembro 18 18 17 18 18 13 12 3 7 7 131 Outubro 17 2 13 11 7 2 4 11 3 4 74 Novembro. ... 9 8 3 õ 14 7 8 3 3 2 62 Dezembro.... 12 3 7 10 9 3 10 4 1 3 62 1876-77 1877-78 1878-79 1879-80 1880-81 1881-82 1882-83 1883-84 1884-85 1885-86 MÉDIAS Temperatura média 0 25.5 O 26.2 O 25.1 O 25.17 24°96 0 25.04 O 24.74 24?85 O 25.19 25?17 25?29 Temperatura maxima. 38.2 39.3 36.5 36.4 37.7 38.4 36.2 39.0 39.5 36.7 39.5 Temperatura mínima 14.8 14.7 14.9 15.2 13.6 13.2 11.6 11.9 13.7 15.0 11.6 Pressão barométrica média 747.5 747.4 747.2 746.9 747.32 747.30 747'59 747.42 747.93 748.05 747.46 Pressão barométrica maxima 752.4 753.6 751.9 751.97 751.97 753.26 752.69 752.10 752.22 751.36 753.60 Pressão barométrica minima 742.8 741.7 741.9 741.9 742.76 742.70 741.72 741.70 742.78 738.96 738.96 Tensão do vapor d'agua 17.24 17.50 16.67 17.14 18.26 18.0 17.02 17.69 17.05 18.02 17.45 Humidade relativa...., 68.5 62.7 61.9 66.0 69.3 67.4 73.1 67.3 63.3 68.4 66.7 Quantidade de chuva cabida 823.1 890.7 644.4 1257.6 1250.5 928.4 1194.6 811.1 635.4 707.4 914.3 Dias de chuva 204 179 169 233 211 140 151 87 75 111 156 QUADRO DAS OBSERVAÇÕES METEOROLÓGICAS DA CIDADE DE VICT0R1A (1876- 1886) Enderço-epidemologia Pelas estatísticas publicadas a respeito da ende- mologia e epidemologia deste estado, podemos asse- gurar que a unica epidemia ahi reinante na época commum é a variola. A febre amarella tem atacado diversas vezes a cidade do Recife, mas não com a in- tensidade que se nota nas outras localidades do littoral e a sua apparição é bastante espaçada. A va- riola, como disso, é a verdadeira epidemia, não só desta como da maioria dos estados da União. Ainda no anno passado pezou consideravelmente no numero de obitos da cidade do Recife. E provável que, com a disseminação da vaccina ante-variolica, em breves annos, seja reduzido o numero de obitos, por este modo, facil de evitar. O paludismo sob suas differentes fôrmas assola as margens dos pequenos rios, emquanto faz-se pouco sentir na região alta do estado. Mesmo na cidade do Recife, que tem elementos para a sua manutenção, se- gundo uma estatística publicada, o numero de obitos foi 21 fallecimentos por 1000 habitantes. Como factor importantes da pathologia tropical, temos a consi- derar a dysenteria, cuja média fornece-nos cinco obi- 46 tos por 1000, atacando adultos e velhos, emquanto em outras moléstias do apparelho gastro-intestinal, a maioria dos obitos é fornecida pela infancia. A anchylostomiase ataca de preferencia os adultos talvez devido á natureza das profissões. Grande con- tingente fornece a tuberculose pulmonar, pois numa estatística alcançando dous annos-1875 e 1876, a média foi-5,2 obitos por 1000 habitantes na cidade do Recife. Como soe acontecer os indivíduos de 18 a 30 annos são os que mais contribuíram para esta mor- talidade. Por estatística, que temos a vista, da mortalidade, por idades, da cidade do Recife, verificamos que o nu- mero do obitos da população infantil e senil é muito reduzido, em comparação com o de diversas outras localidades; emquanto a mortalidade de indivíduos de 18 a 40 annos é o dobro do dessas mesmas locali- dades. Em relação a este facto podemos dizer, que o clima do Recife está èm verdadeira contraposição com o clima do Egypto ; pois emquanto o infante não en- contra neste paiz um meio apropriado ao seu desen- volvimento, o contrario se dá na capital de Pernam- buco. Quanto á mortalidade de indivíduos moços, deve- mos considerar, que em grande parte o desprezo de cuidados hygíenicos deve concorrer para esse resul- tado. No que se refere ao beri-beri temos a dizer que comquanto faça victimas, entretanto o seu numero 47 não é notável e a therapeutica empregada-mudança de domicilio- produz o almejado fim. A respeito do acclimamento neste estado,podemos assegurar que elle dá-se perfeitamente e para prova basta citarmos o facto historico da occupação hollan- deza, cujos expedicionários ahi estabeleceram-se e pro- grediram. Matto Grosso O Dr. Morise collocou este estado na 2? subdi- visão da zona tropical. O Dr. Severiano da Fonseca, em cujos traba- lhos nos louvamos para escrever grande parte da climatologia desta região, considerou o seu clima, se- gundo se trata da baixada ou da região alta. Em am- bas, as condições climatéricas modificam-se conside- ravelmente de accordo com a nutureza do solo : na baixada encontram-se os grandes alagadiços e os pantanos favoráveis ao desenvolvimento de moléstias. O solo destes pantanos, é em grande parte argiloso e impermeável até certo ponto, como no valle do Gua- poré e Mamoré. Mas o calcareo, é a rocha predomi- nante nas outras regiões não menos vastas do estado e todo o sertão alagadiço de oeste, é constituído por esse terreno, que, essencialmente poroso e permeável, favorece o escoamento das aguas. D'ahi o alagamento constante da região chamada dos Pantanos e as inun- dações periódicas do solo das corixas, 48 Duas estações se fazem sentir: a das seccas e a das chuvas ; estas começam em Setembro ou Outubro e finalizam em Abril ou Maio e coincidem com o ve- rão. Estas chuvas, a começo, de pouca duração, ainda que em quantidade considerável, vão se amiudando, a ponto de chover semanas inteiras. Accrescente-se a estes grandes aguaceiros, o concomittante degelo dos Andes e teremos explicado a formação dos grandes alagadiços : "formando esses incomparáveis oceanos de agua doce, onde se navega em todas as direcções por cima de campos inundados e sobre as franças das florestas submergidas," na phrase do Dr. Severiano. Outras vezes as chuvas são copiosas e fortes e o ter- reno absorvendo-as de prompto se enxuga, fazendo-as emergir em ponto mais afastados, cuja altitude é me- nor, formando em outros logares grandes lamaçaes. As observações tomadas pelo general Hermes de Maio de 1875 a Março de 1878, registram a média annual de 135 dias de chuva e calculada em 3,"'o a sua média udometrica. Nesta região a quantidade de vapor d'agua es- palhado na atmosphera é extraordinário " Nos nossos acampamentos demorados e onde o solo das barracas ficava, ao cabo de dias completamente secco, as ar- vores e pequenos arbustos que germinavam debaixo dos leitos, ou ainda, os amarellados por estiolamento, que brotavam debaixo de qualquer caixa ou objecto semelhante voltado de bocca para o chão e que assim os isolayam completamente do ar externo, amanhe- ciam litteralmente cobertos de orvalho, isto quando a 49 atmosphera parecia secca e a tolda do abarracamento apenas de leve humedecida". Sobre a humidade relativa, o Dr. Severiano cita as observações da commissão russiana que em 1827 andou em exploração pelo Brazil. Segundo estas observações, ahygrometro marcou em Cuyabá a 287.m acima do mar, 95o como maxima geral diaria e 46o como minima e isto nos mezes de Fevereiro a Agosto. A' 16 de Junho do mesmo anno o hygrometro elevou-se a 97o estando a atmosphera cerrada de densa neblina ; a média geral de 1875 a 1878 foi de 761.69, sendo a maior pressão em 772. 13. Em 30 de Julho, foi observada a maxima ther- mometrica de 29.600, soprando as ardentes brisas do norte, sendo que em 29 de Fevereiro, foi observada a minima de 29.400. Na parte relativa á anemologia ja expusemos o regimen dos ventos nesta região matto- grossense. Diz o Dr. Severiano, que a quantidade de ozona atmospherica notada durante as tempestades é ex- traordinária sendo que as preparações de iodureto de potássio feitas na occasião, mudavam de cor devido a affinidade do oxygenio electrisado para o iodo. Nesta região já foram observados quatro tre- mores de terras : sendo o primeiro a 24 de Setembro de 1749, 0 segundo, a-18 de Setembro de 1832, o ter- ceiro em 1 de Outubro de 1869 e finalmente o quarto em 26 de Junho de 1876. A temperatura média de Cuyabá segundo os 50 dados de que acima falíamos (Junho de 1875 a Março de 1878J orçou 011126.89. A maior temperatura re- gistrada em 1876 foi a de 34.37, ás duas horas da tarde de 24 de Dezembro, seguindo-se-lhe trovoada e chuva de S. O. Na noite de 18 de Agosto observou se a minima de 7o, 5. Na Coxilha das Mercês, o thermometro marcou o°, na madrugada de 20 de Agosto. Em 1877 observou-se a maxima de 35o, 6 á uma hora da tarde de 23 de Setembro e a minima 12o, 5 ás sete horas da manhã de 15 de Junho. Nas regiões altas conhecidas por chapadões o clima é agradavel ; quente no verão e frio no inverno. Nos mezes de Julho e Agosto, como algumas vezes, em Junho e Setembro, cahem geadas. Ha nestas regiões um outro phenomeno interes- sante: as friagens\ que, mesmo em pleno verão, ap- parecem eo abaixamento da temperatura é tão consi- derável, que determina grangrena e mesmo a morte. Cita-se, para exemplificar, a morte de 20 homens de uma comitiva e que fora envolvida por uma friagem, em Março de 1822. Diz o Dr. Severiano, que em quanto a columna thermica soffre modificações extremas, o barometro conserva mais fixidade na escalla e no verão a va- riação diaria, devido ao excessivo callor, não passa de cinco a seis millimetros. A curva thermica diaria começa a ascender de madrugada até meio dia, continuando sua elevação até quatro ou quatro e 51 meia da tarde. Dessa hora começa o decrescimento, observando-se a mínima á meia noite. Commummente, a differença entre a temperatura da manhã e a do meio dia é de 4° a 6o, entretanto existem excepções como foi observada em 28 de Maio de 1875, que das nove á uma hora da tarde subiu quad 16o; em 3 de Julho, que das sete ás tres da tarde elevou-se mais de 13o; em 16 de Julho de 1877, em que entre uma e outra temperatura notou-se 12o de differença e em 20 e 24 de Junho desse anno e 18 de Agosto de 1876, em que a elevação notada attingiu a 10o. A cidade de Corumbá, eleva-se i2i,mó acima do nivel do mar e cuja latitude é soffre igual- mente bruscas variações em seus factores climáticos. Nos mezes de frio, influenciada pelas quentes brizas do norte, torna-se bastante quente sua atmos- phera, emquanto que o vento frio do sul, abaixa con- sideravelmente sua temperatura no verão. Em 13 de Junho de 1875 ao meio dia, marcava o thermometro 23o; onze horas depois cahia a 11° e as duas da ma- drugada accentuava-se esta queda para 7°,25. As manhãs daquelle mez eram quentes, regis- trando o thermometro 23o,25 as seis horas da manhã de 12 e a 13, 21o,48. No dia seguinte marcava o thermometro a essa mesma hora 10o, 2500 dia conservava-se frio. Eis em resumidas phrases o que podemos colher das observações meteorológicas do estado da Matto Grosso. Eridemo-epidemologia Entre as moléstias que são particulares ao estado que serve-nos de estudo, destacamos em primeiro logar o chamado mal cephelico ou emetismo que é uma verdadeira intoxicação profissional. Os indi- víduos atacados são os empregados na colheita da medicamentosa rubiacea. O Dr. Severiano diz, que encommodos do esto- mago semelhantes áquelles que produz a embriaguez nicocianica, se produzem nos indivíduos que pela primeira vez entregam-se a esse trabalho. Mas se no tabagismo agudo os symptomas em breve cessam, o mesmo não se dá com o emetismo, pois além das perturbações nervosas, existem outros symptomas, taes como : cephalalgia, anorexia, vomitos, dys- pepsia, accessos periódicos de febre " e outros sym- ptomas partilhando do envenenamento saturnino e do esgotismo" e que caracterisam o mal cephelico. Este estado pode não progredir e então o orga- nismo como que. se habitua ao novo meio em que é collocado. Outras vezes, porém, apezar do primitivo ataque ter sido debellado ficam no entanto lesões que são de 54 novo aggravadas pela volta do indivíduo ao trabalho e então, além da predominância dos symptomas que demonstram perturbações no systema nervoso, appa- rece uma verdadeira anemia toxica. Nas regiões baixas e alagadiças, campeia o pa- ludismo nas épocas de vazantes, emquanto que no verão, ha predominância de moléstias do apparelho respiratório e das affecções rheumaticas. Sabemos que as mudanças bruscas de temperatura concorrem como factor occasional daquellas moléstias, ora. se considerar-mos que neste estado e em pleno verão, á uma temperatura que medeia entre 30o, e 34o, C, re- pentinamente se faz sentir uma baixa de 20o, ou pouco menos, muitas vezes seguida de copiosos aguaceiros ; não é de admirar que indivíduos expostos a estas in- temperies contraiam bronchites, pneumonias ou outra qualquer moléstia do apparelho respiratório. Entretanto, no seu trabalho, diz o Dr. Severiano da Fonseca, que a tuberculose não é frequente. As moléstias do apparelho gastro-hepatico se fazem sentir em qualquer época do anno. No sexo feminino abunda a chlorose ; e a hys- teria é frequente, não só nas mulheres das zonas po- voadas, como também nas que habitam a campo. O pytialismo é muito observado sendo talvez symptoma de moléstia gastro-intestinal. A titulo de curiosidade não podemos deixar de citar uma moléstia que grassou neste estado durante o século passado, cuja pathogenia não foi bem esclare- cida e que era denominada pelos habitantes corrupção 55 da maculo. Esta moléstia é também conhecida nas republicas do Prata pelo nome de él-bicho. Os seus symptomas principaes, segundo o que se acha exarado na memória de que temos fallado, são : congestões venosas e as vezes transudações sanguíneas na mucosa rectal, diarrhéa, dor gravativa na região cervical, febre, anorexia, somnolencia, ten- dência syncopal, constricções para o thorax e epigas- tro, dilatação pathognomonica do sphincter anal, in- sensibilidade, cyanose e prostação do pulso nos casos fataes. A dilatação do sphincter attingiu muitas vezes 10 centímetros de diâmetro e era seguida de evacua- ções alvinas abundantes. Esta moléstia apezar de atacar todas as raças, no entanto de preferencia escolhia para suas victimas os indivíduos de raça africana e indígena. Também não faz falta á pathologia mattogrossense o bocío, que predomina na região do planalto. Dentre as chamadas febres exanthematicas, as que têm assolado o estado são o sarampão e a va- ríola. O sarampão fez sua apparição em 1789, produ- zindo grande devastação em differentes pontos da an- tiga capitania. Dahi em diante e em épocas diversas tem reap- parecido, verdade é, com menos intensidade. E' pre- ciso notar que foi elle levado a Matto Grosso das mis- sões hespanholas. Até 1867 a variola não se propagou, apezar de va- rias vezes, variolosos terem aportado a Corumbá, onde foram tratados. Nessa época, porém, desenvolveu-se 56 nesta localidade e irradiou-se pelo estado, inclusive a capital, apenas exceptuando S. Luiz de Cacere, de- vido ás medidas sanitarias adoptadas. A epidemia alastrou-se e aquelles que fugiam ao terrivel flagello, iam disseminando, não só pelos po- voados, como também pelas habitações dos campos ; dizendo o Dr. Severiano, que também foram victimas da cruel enfermidade, não só os indios mansos que tinham suas aldéas á beira dos rios, como também os servicolas em suas tabas. Diz mais o mesmo illustre medico que a epidemia de 1867 nem mesmo aos ani- maes autochtones popou, pois que nas florestas en- contraram-se cadaveres de veados, antas, onças, jaca- rés e garças com o stygma da epidemia. E' realmente um facto digno de nota. Sobre a febre amarella vamos referir o que a respeito se encontra na memória de que tantas vezes nos temos occupado. Refere-se seu illustre auctor a um trabalho do Dr. Alexandre Ferreira, intitulado "Enfermidades en- démicas da capitania de Matto Grosso" escripta na ul- tima década do século passado. Nesta obra o seu au- ctor queria attribuir á parte solida do sangue 0 papel de produzir melancolias, lepra, vomitos pretos, escarros de saugue, febre ardente, etc. Mais adiante o mesmo Dr. Alexandre parece associar o vomito preto com o que elle chama febre ardente e cuja symptomatologia é por elle assim descripta "exacerbação precedida de maiores ou menores frios, violenta "cephalalgia, inso- mnia, delirio e abumas vezes ancias, cardialodae con- O J o 57 vulsões; o pulso, de duro que é e frequente passa a fraco e irregular, sêde implacável e rebelde a todos os refrigerantes, com um extraordinário calor intenso e amargores de bocca. Lábios e lingua seccos e negros, vomitos de uma bilis ferruginosa e alguns tão acre e urente que lhes estimula o oesophago e desbota os dentes: urinas incendidas e tanto ellas como as de- jecções ás vezes biliosas como a dos ictéricos." Pelo que acabamos de referir parece-nos que a febre amarella já era conhecida no estado de Matto Grosso no século passado. Ahi ficam as considerações que julgamos mais interessantes a respeito da pathologia do vasto estado de Matto Grosso. Estado do Rio do Janeiro O estado do Rio de Janeiro acha-se situado entre 2O°5O/ e 23oi9z de latitude sul. Para estudarmos o seu clima devemos considerar o aspecto de seu território. O solo é desigual; para este e suéste apresenta muitas lagoas; ao sul poucas serras de grande elevação, mesmo na parte em que confina com o Estado de S. Paulo; no centro é percorrido pela grande serra do Mar. E' cortado por muitos rios, sobresahindo o Parahyba, que em seu trajecto recebe numerosos tri- butários. Podemos estudar a sua climatologia con- forme se trata do clima da região montanhosa ou da 58 parte baixa; quer esta baixada orle as aguas marítimas, quer extenda-se ao longo das margens dos rios. No começo do nosso trabalho falíamos das esta- ções meteorológicas creadas pelo governo estadoal, e esta medida é digna da maior animação, tanto mais quanto as escassas observações que existem de poucas localidades são defficientes e essas mesmas acham-se esparsas. Assim é, que apenas de Nova Friburgo e da baixada do estado que circunda a bahia do Rio de Janeiro, podemos obter alguns dados numéricos sobre o seu clima Aquella florescente cidade está situada sobre a cadeia de Macahé, ramificação da serra do Mar, a 876 metros acima do nivel marítimo. Naturalmente devido a esse facto póde ser explicado a amenidade do seu clima como o de toda a região das terras altas do estado. A temperatura média annual é i7°4 e no mez de Janeiro considerado o mais quente do anuo a média não tem ultrapassado 23°3 sendo a sua maxima 24°o C. Os mezes mais frios são Julho e Agosto em que a temperatura média resgistrada foi de 14% sendo a minima habitual ç°4 C. A maxima observada durante quatro annos de observações attingiu a 2ç°o C, emquanto a minima cahiu a i°o C. A média udometrica annual é 1814 millimetros sendo os mezes de Outubro a Março os mais chuvosos, 59 isto é, os cio verão, emquanto o mez cie Agosto é considerado o mais secco. São estas as resumidissimas defificientes observações meteorológicas que pudemos obter a respeito da antiga colonia do Morro Queimado. Petropolis, a actual capital do estado, uma das cidades mais bellas e florescentes do Brazil, está a 760 meiros de altitude. O seu clima é semelhante ao de Friburgo, porém a sua temperatura é ainda inferior á desta ultima cidade e nestes dois últimos annos tem havido fortes trombas d'a£ua. O Talvez que a sua temperatura seja inferior a de Friburgo devido as correntes anemologicas que sopram do oceano. No mez de Março corrente, na sua primeira quin- zena, a maxima observada na estação metereologica foi 2i°o e a minima i3°o C. Uma outra cidade de grande futuro se acha em construcção e cujo clima dizem ser mais salubre e mais agradavel do que o das duas precedentes, quero re- ferir-me a Theresopolis, cuja altitude ainda é mais notável do que a de Friburgo e de Petropolis. A parte territorial do estado denominada serra- abaixo é pontilhada de lagoas e pantanaes e cortada por muitos rios, alguns sem terem volume d'agua bas- tante para cobrir o leito em certas épocas e outros completamente obstruídos. A grande zona que circunda a bahia de Guana- bara e delia estende-se até a raiz da serra do Mar, é coberta por vastos alagadiços, pantanos e manganaes. 60 A sua supercie da foz do rio Macacú ao rio Merity foi calculada em 1,500 kilometros quadrados. Uma outra zona, semelhante á primeira em seu aspecto e constituição, é a que fica situada entre os rios Macahé e Parahyba, da qual faz parte a lagoa Feia e seus tributários e occupando uma superfície de 4,300 kilometros quadrados. Do relatorio apresentado o anno passado pelo chefe de commissão de saneamento retiramos os dados meteorologicos seguintes referentes á "baixada do lit- toral do estado do Rio de Janeiro de Julho de 1895 a Junho de 1896." Registrou-se a temperatura média annual de 2 2.079 C, tendo a maxima absoluta notada se elevado a 42.°5, em Dezembro ; emquanto cahiu a ó.°5 a mí- nima absoluta nos mezes de Julho e Agosto. E' bastante notável essa temperatura elevada pois qualquer que fosse a localidade onde foi observada não dista muito desta cidade, onde a temperatura nessa época apezar de elevada nem para lá caminhou ;. mesmo nas localidades mais próximas do equador thermico ou naquellas em que outros factores meteo- rologicos não modificam a temperatura e as quaes temos estudado, nenhuma revelou-nos uma tempera- tura tão alta. Percorrendo o livro do Dr. Morise achamos ahi consignado 41.°C, como a temperatura maxima abso- luta observada em um arrabalde de Cuyabá. E' esta a mais alta temperatura registrada nesse trabalho. 61 Devemos mais considerar que a região de que estamos tratando acha-se sujeita a constantes correntes anemologicas, predominando os ventos de S.E., sendo que tal temperatura foi observada os ventos sopravam dos quadrantes S.E. e S. e por consequência ventos frescos. A amplitude entre a maxima e a mínima abso- luta foi de 36. °o, o que já é bastante considerável. Quanto á cifra de 6 °5 C para a minima absoluta podemos explical-a pela influencia dos ventos e dos nevoeiros húmidos. A pressão barométrica dá-nos a média annual de 761.96, tendo sido a maxima absoluta observada em Julho 778.02 e a minima 747,52 em Janeiro. A maior amplitude mensal observada foi em Ju- lho, sendo a variação 19,40. E' pena não terem sido publicadas as observa- ções horarias para assim podermos aquilatar das modi- ficações barométricas diarias. A respeito da quantidade de chuva cahidaasua altura elevou-se a ió57.7otendo havido 84 dias chuvosos, sendo Janeiro, Fevereiro e Março os mezes em que as chuvas se tornaram mais abundantes. Em Janeiro a quantidade recolhida foi 377.m,nóo e em Fevereiro 2oó-mni4o e em Março 205.00, Em Ju- nho, Julho e Agosto as chuvas escassearam não só em relação aos dias como á quantidade cahida. O nu- mero de dias foi tres para cada um e no primeiro a quantidade apenas attingiu a 25, 40, no segundo ã 55.mmóo e no terceiro a 87.mm8o. Se as observações, donde colhemos os resumos- 62 acima exarados, apresentam lacunas, estas se fazem ainda mais sentir em relação á humidade relativa, pois que só nos informa a respeito das médias men- saes. O mesmo facto se reproduz no que toca á tensão do vapor d'agua. A humidade relativa, média annual, é represen- tada por 82.00 emquanto a tensão do vapor d'agua por 1 7.03. Noventa e tres dias claros e duzentos e setenta e tres encobertos foram observados sendo a hora da observação ás 2 horas da tarde. Finalmente, quanto ao regimen anemologico os ventos que ahi sopram são os do SE. S. SO e NO. Os ventos de SE. reinam todo o anno com excepção dos mezes de Novembro, Maio e Junlio. A maior velocidade observada foi 3.'"82, no en- tanto os ventos do quadrante do sul no mez de Junho apresentam um deslocamento de 5."'70. Também no mesmo mez o vento de NO tinha a velocidade de tres metros. Eis M ligeiro esboço que pudemos architectar sobre a climatologia de parte da zona baixa deste estado, baseado em informações bastantes deffi- cientes. Concluindo, podemos dizer: o clima da região alta do estado do Rio de Janeiro é bastante salubre e agradavel, para proval-o ahi estão diversas cidades desta zona servindo de estação de verão e diversas outras localidades, como Mendes, Palmeiras, etc.; procuradas por convalescentes. 63 A parte baixa, com excepção de uma ou outra localidade já não é tão salubre, sendo entretanto remo- víveis as causas que concorrem para a sua não com- pleta salubridade. E' de esperar que, com os traba- lhos de deseccamento da vasta circumscripção pan- tanosa, toda esta grande area retome o seu antigo as • pecto e constituição fornecendo assim elementos de riqueza e concorrendo para a saneamento do estado. Da parte baixa, que é banhada pela bahia de Gua- nabara, devemos fazer excepção do que temos dito, quando se trata de Nictheroy, que é uma cidade bas- tante salubre. O seu clima é semelhante ao da Capital Federal e os seus habitantes podem ser considerados como moradores de um suburbio da cidade do Rio. Eçderço-epidemologia Ainda que de modo imperfeito vamos procurar resumir o que a respeito pudemos encontrar nas di- versas publicações a respeito, chamando em nosso auxilio o trabalho do infatigável Dr. Augusto Ferreira do Silva, intitulado " A Capital do Estado do Rio" Janeiro de 1893 ; e dos relatórios da Assistência Publica estadoal. O livro do Dr. Ferreira da Silva sobejamente conhecido por aquelles que se dedicam ao estudo da demographia sanitaria, trata especialmente da antiga capital do estado em suas relações demographo-sa- nitarias, e ahi vêm naturalmente estampadas as es- tatísticas dos hospitaes de Nictheroy. Ora, quem souber que a grande maioria dos doentes dos di- versos municipios, na época a que se refere as ditas estatísticas procuravam esse hospital já poderá ter os dados attinentes ás diversas moléstias que nelles grassavam. Os relatórios da Assistência Publica nos fornecem as informações sobre as diversas endemo-epidemias que assolaram vários municipios. 66 Do livro do Dr. Ferreira da Silva extractamos o seguinte: em 36.085 obitos contaram-se 13.833 por moléstias infectuosas ou 38, 3 °/0 da mortalidade geral em 34 annos, de 1857 a 1890. Tuberculose - A tuberculose em geral con- correu com o elevado coefficiente de 7291 obitos sendo a porcentagem em 1857 22 °/0 ; porém em 1890 havia decrescido para 18, 3 °{0. A phymatose pulmonar que em 1857 apresen- tava 27 °{0 do obituário geral, também decrescera a 14,9 °j0 no ultimo anno considerado. Segundo o Dr. Ferreira da Silva emquanto na Capital Federal davam-se 38 obitos por 10.000 ha- bitantes, em Nictheroy o numero de victimas ele- vava-se a 63 para a mesma somma de habitantes. De 222 fallecidos de tuberculose em 1890, 85eram de cor branca, 78 pardos e 52 pretos e 12 de cor igno- rada. O sexo feminino concorreu com 94 indivíduos. Varíola - A variola entrou no obituário geral como coefficiente de 1.562 victimas, tendo havido no primeiro anno das estatísticas, apenas 11 obitos e d'ahi até 1890, exceptuando 1869, tem sempre flagellado a população nictheroyense. O anno de maior mortalidade foi 1887, cujo nu- mero de obitos attingiu a 263. Como acontece com a febre amarella e as outras moléstias infectuosas é, quasi sempre, este exanthema transmittido á esta florescente cidade por intermédio da Capital Federal. A maior ou menor intensidade de 67 suas epidemias varia conforme o ççráo de intensidade elas epidemias do Rio. Emquanto a mortalidade nesta ultima é 6,9 por io.ooo habitantes em Nictheroy ella eleva-se a 23,9. Devemos esperar que em breve essa mortalidade esteja bastante reduzida, sendo de esperar que o go- verno estadoal estabeleça um ou mais institutos vac- cinicos de modo que a vaccinação seja feita em todo o estado, em grande escalla. Esta medida é tanto mais necessária quanto todos os annos municípios diverscs são assolados pelo terrível examthema. Febre Amarella - O mal de Sião neste longo período fez 1.208 victimas, sendo os estrangeiros tra- balhadores braçaes, habitantes das ilhas próximas do littoral, a parte da população em que mais devastações fez elle. Em 1857 deram-se 35 obitos pela terrível mo- léstia, em 1863 apenas foi registrado um, em 1864 não deu-se obito algum, mas, no anno seguinte registrou nove obitos, havendo um interregno até 1869, época em que foi verificado novo obito. D'ahi em diante exceptuando o anno de 1872, em que não houve fallecimento por tal moléstia, a febre amarella tem todos os annos feito victimas na ex-capital do es- tado. Se compararmos a mortalidade por este morbus entre Nictheroye a Capital Federal, cotejando as res- pectivas populações, a balança penderá a favor de Nictheroy que teve de porcentagem 3, 3 da morta- lidade geral. 68 Esta cidade soffre as influencias boas e más que provêm da visinha cidade, não só na ordem social, como na ordem physica e ainda o seu estado sani- tário depende em grande parte do da Capital Federal. Assim o Dr. Ferreirada Silva prova que a febre amarella é toda importada da cidade do Rio e nos annos em que esta é poupada também Nictheroy não apresenta caso algum. Tanto o que dizemos é a expressão da verdade, que durante a revolta de Setembro de 1893, flue in- terceptou as communicações rapidas entre as duas capitaes e emquanto o Rio de Janeiro era devastado pela maior epidemia de typho-icteroide, que se tem assignalado, Nictheroy, apezar de ter a sua população agglomerada em seus arrabaldes e soffrendo os horrores da guerra, não foi accommettida pelo vomito negro. Se a febre amarella não é endemica no Rio de Janeiro, como querem illustres hygienistas, também, pelo que antes expuzemos, não o é, não só em Nicthe- roy como em qualquer outra localidade do estado em que já tenha feito sua apparição. Paludismo - De um modo geral podemos dizer que o paludismo é a unica endemia do estado, fazendo bastantes victimas em quasi toda a região baixa. Mes- mo em Petropolis e Friburgo que, como dissemos, gozam de clima salubérrimo, elle faz-se notar e pelos relatórios do director do hospital de Santa Thereza de Petropolis, abrangendo o periodo de Julho de 1895 a Junho de 1896, deram entrada naquelle hospital 47 doentes accommettidos de paludismo. 69 O Dr. Ferreira da Silva dedica no seu livro um capitulo á febre typhoide e outro ao paludismo. Pre- ferimos considerar a supposta febre typhoide como o paludismo apresentando o syndroma typhoide; por- que, ao que nos conste, ainda felizmente nos preten- didos casos de febre typhoide não foi encontrado o bacillo de Eberth, seu agente causal. O paludismo sob suas diversas formas produziu 2.607 obitos, isto é, 7,2 da mortalidade geral, sendo que o syndroma typhoide concorreu com 2,2 para o obituário geral. As modalidades intermittentes e remittentes ti- veram predomínio atacando especialmente os grupos de 20 a 50 annos e de o a 1 anno. A fórma chronica é muito rara até 50 annos, sendo mais frequente dessa idade em diante. Erysipela e septicemia - Determinou a pri- meira 109 e a segunda 410 obitos, no largo pe- ríodo de 34 annos. Segundo o Dr. Silva, foram feitas, no hospital de S. João Baptista, de 1886 a 1889, T.252 operações, havendo apenas 2 obitos por septicemia; porém os indivíduos já haviam entrado infeccionados. Beriberi - Fez a sua apparição em 1877 em Ni- ctheroy, anno em que registraram-se 3 obitos, produ- zindo 47 em 1889. O estado da Penitenciaria do Fonseca, da Casa de Detenção e do quartel de policia, que não pri- mavam pelo conjuncto de condições hygienicas que deviam ter presidido ás suas construcções e ao regi- 70 men de taes estabelecimentos, muito concorreu para que o mal de Ceylão se incrementasse, sendo justa- mente o primeiro destes estabelecimentos o principal fóco. O sexo masculino forneceu a quasí totalidade dos obitos e o grupo de 15 a 6o annos foi o mais atacado, sendo nulla a mortalidade na puberdade. Coqueluche e sarampo - A coqueluche e o sa- rampo reinam com mais ou menos intensidade entre a população infantil, apresentando caracter benigno ; sendo a média annual da primeira 5 obitos e um do segundo. Angina diphtherica - A angina diphtherica fez no largo periodo das observações do Dr. Ferreira da Silva 136 obitos, tendo felizmente no ultimo anno sof- frido notável decrescimento a mortalidade por esta moléstia. Cholera-morbus-No anno de 1857 fez uma victima, apparecendo de novo em 1861, 1863 e 1864, porém produzindo poucos obitos. Em 1867 a mortalidade elevou se a 10 indivíduos e no anno seguinte ascendeu a 37 para baixar a 3 em 1869. Dessa época em diante até 1894 não houve caso algum de cholera morbus, quando nesse anno explo- diu a epidemia do valle do Parahyba, a qual fez vi- ctimas nesta cidade. 71 Vamos agora tratar da endemo-epidemologia do interior do Estado. Repetindo, diremos que a unica endemia deste estado é o paludismo, que se faz sentir nas zonas baixas. Em apoio do que asseguramos basta transcre- vermos o seguinte periodo do chefe da commissão de saneamento do Estado : " Durante o periodo de i° de Julho de 1895 a 30 de Junho de 1896, o numero do pessoal empregado nos trabalhos da commissão foi de 2.391, sendo 301 pertencentes ao pessoal technico e 2.090 ao pessoal operário. A totalidade dos doentes atacados de febres pa- lustres foi de 1.076, dos quaes 28 do pessoal technico e 1.048 do operário, sendo a porcentagem dos doentes 45 °Io". Do relatorio apresentado o annó passado pelo Dr. Julio Vahia Durão, illustrado director da Assis- tência Publica, extrahimos as seguintes linhas sobre o estado sanitario da região fluminense : " Não foram das mais favoráveis as condições sa- nitarias do estado durante aquelle periodo. Muitos dos municípios assollados, ora pela variola e ora pela febre amarella, exigiam a intervenção desta repartição, e occasião houve em que, como por mim fora previsto no meu ultimo relatorio, poderia realizar o seu apparecimento com todos os seus horrores o terrível filho do Ganges. No município de Campos manifestaram-se alguns casos desta enfermidade, mas graças aos esforços em- pregados foi limitado o numero delles. 72 No município de S. João da Barra, na usina Bar- cellos, alguns casos também appareceram que foram logo suffocados. Medidas sérias e rigorosas postas em pratica determinaram esse resultado. Não apresentando a enfermidade um dos seus apanagios - a grande e rapida diffusão, como no anno anterior succedeu, não deixou entretanto de ter marcha veloz e com lethalidade que lhe é peculiar. Dias depois de irromper o flagello nestes dous municipios, recebi de S. Fidelis telegramma commu- nicando o apparecimento de casos que, embora não confirmados, foram considerados suspeitos." " Em Maxambomba, Paraty, Dores do Pirahy, Maricá, Sant'Anna de Macacú e Parahyba do Sul teve-se de intervir já com medidas de prophylaxia geral, já com assistência aos enfermos, por grassar nestes pontos a variola." Também os municipios de Sapucaia e S. João da Barra foram atacados, recusando-se a população deste ultimo, diz-noso illuste director, sujeitar-se á vaccinação e revaccinação e demais medidas de prophylaxia deffensiva. "Não foi só a variola que exigiu por diversas vezes e em differentes localidades a intervenção da Assis- tência, a febre amarella manifestou-se também". " Na Barrado Pirahy, na estação da Parahybuna, Enseada de Abrahão e em Cantagallo estiveram com- BELÉM - TABELLA DA TEMPERATURA MÉDIA MENSAL DEDUZIDA POR DIVERSOS MODOS Geral 21 2, 6, 18 4, 10, 16, 22 Temperatura média. HORAS PARAA DETERMINAÇÃO DA TEMPERATURA MÉDIA 27?35 27.45 27.53 27.44 TEMPERATURA MÉDIA 26/747 26.74 0 26.74 26.88 27.03 26.69 1 JANEIRO THLSVHÒ ol 26.47 o 26.47 26.59 26.52 26.44 FEVEREIRO 27.03 27?03 27.01 27.21 27.27 MARÇO 27.257 26.58 26°38 26.52 27.15 26.84 1 ABRIL 2o QUARTEL 27.16 0 27.16 27.31 27.28 27.29 MAIO 28,03 28°03 27.48 28,17 28,27 JUNHO to CD co 28.26 tO IO tO tO GO GO GO GO Q 4^ bi to to oi Oi -1 o JULHO 3o QUARTEL 27.98 27?98 27.78 28,27 28.02 AGOSTO 27.57 o 27.57 27.42 27.70 27.73 SETEMBRO tO 2 27.83 27°83 28.08 27.83 27.90 OUTUBRO 4o QUARTEL 27,35 27?3õ 28,02 27.18 27.49 NOVEMBRO 27.37 0 27.37 28.05 27.19 27.50 DEZEMBRO 73 missões que lograram debellar em prazo mais ou menos curto, a enfermidade." "Em outros pontos manifestaram-se casos sus- peitos da moléstia dominante e em todos elles os dignos auxiliares estabeleceram o diagnostico de febre biliosa e outras modalidades clinicas da malaria." Estado do Pará Quem attentar para a carta deste estado da União brazileira, deverá logo considerar em relação ao seu clima duas zonas: a das terras altas mais para o norte e a das terras baixas. Esta ultima, poderá ser dividida em terras baixas interiores ou fluviaes e terras baixas do littoral ou marítimas. Nas terras altas o clima é temperado, influindo ahi a altitude como factor prepoderante. Este estado foi considerado pelo Dr. Morise na sua terceira subdivisão da zona tropical. Nas linhas que se seguem procuramos dar os dados de alguns factores meteorologicos principaes, para nelles baseados, estabelecermos o seu clima. Em Belém, nos quatro quartéis do anno de 1863, foi a temperatura tomada todos os dias nas 21 horas, pelo Dr. Brum na escola agricola, dando o seguinte resultado : i° trimestre 26.733 2o ,, 26.633 3° ,, 27.027 4o » 28.513 74 A temperatura média notada por este observador foi calculada em 27.23. No quadro annexo damos as temperaturas médias mensaes e por ellas deduzindo a média annual con- cluímos ser igual a 27.364. São observações feitas durante cinco annos na cidade de Belém, segundo affirma o Dr. Tapajoz. 75 Maximas e minimas e amplitudes Pelo quadro junto verificamos que a maxima observada elevou-se a 34,5, emquanto a mínima nunca desceu de 22 o,o, havendo portanto a amplitude de 12o,5o. Esta maxima absoluta teve logar em Janeiro, emquanto a temperatura minima foi anotada em Ou- tubro e Novembro. O mez em que a oscillação thermica se fez sentir com maior amplitude foi o de Janeiro (10o,9) e o de menor o de Maio, apenas com 5°,8. Maxima Minima Amplitude t É 1- t h 5 h c h- p 4 d 3 > 8 3 > 12.5 11.5 11.5 10.9 o 34.5 23.6 Janeiro 1° QUARTEL 1° SEMESTRE 10.4 o 34.0 23.6 Fevereiro CD O o 32.6 23.0 Março 00 co CD 0 31.5 23.6 Abril 2o QUARTEL Ot 00 0 30.7 24.9 Maio CD o 31.9 25.0 Junho 11.1 CD CD o 33.0 24.0 Julho 3o QUARTEL 2° SEMESTRE O cd o 32.0 25.1 Agosto O o 31.5 23.9 Setembro 11.1 CD IO io oo IO IO • • o GO O Outubro 4o QUARTEL 1 10.0 0 32.0 22.8 Novembro 9'0I 0 33.1 22.5 Dezembro BELEM - MAXIMA E MÍNIMA TEMPERATURA MENSAL E SUA AMPLITUDE 76 Resumindo, podemos dizer: Maxima absoluta 34,5 Minima absoluta 22,0 Média geral 27,364 Idem das maximas 32,49 Idem das minimas 23,76 Quanto ás variações diarias que soffre a tempe- ratura, podemos dizer que, das 6 horas da manhã ao meio-dia, ella vai se elevando, para, dessa hora em diante modificar-se sensivelmente, sendo as tardes e noites muito agradaveis. Para este resultado não são estranhos os alizeos, que sopram constantemente de éste a nordeste e as chuvas que cahem ordinariamente á tarde. Pressão atmospherica De varias observações colhemos que a pressão barométrica média, observada em Belém, foi 759,4102. As médias observadas durante cinco annos foram em Janeiro 759-758 Fevereiro 759,289 Março 759.515 Abril 759.827 Maio 761,010 Junho 760,694 Julho 760,604 Agosto 761,110 77 Setembro 760,121 Outubro 759,154 Novembro 759,260 Dezembro 759,040 Se publicássemos a tabelladas maximas e minimas confeccionada pelo almirante Azevedo, veríamos que a maior altura barométrica dá-se em Agosto e a minima em Fevereiro, sendo que a maior amplitude entre a maxima e a minima teve logar em Fevereiro (2.940) e a menor em Agosto. Ainda ella nos mostra a perfeita regularidade com que se passa este phenomeno meteorologico. Se não temessemos alongar o assumpto, publicaríamos o quadro das variações diarias da pressão atmospherica, entretanto diremos, que ob- serva-se duas maximas e duas minimas. Maximas io horas 50"-2 2h5oz Minimás 3hoo-i6hio' Resumindo temos: Amplitude annual ... 5.1300 Média annual.... 759.4102 Maxima absoluta. •. 761.6000 Minima absoluta.......... 756.5700 Amplitude maxima mensal. 2.940 ,, • minima mensal.. 1.1 70 78 Humidade relativa Comquanto seja de grande importância o seu estudo, comtudo, para não alongarmos esta parte, apenas diremos que a média da humidade relativa orça em 80. 1 7 a maxima observada 99.0 (Fevereiro, Março e Abril) e a minima 54.6 ; sendo a maior amplitude mensal (Novembro) 39.8 e a menor (Ja- neiro) 26.7. O quadro que abaixo vê-se, mostra na primeira columna os mezes em que a temperatura vai augmen- tando e na segunda, também os mezes em relação á humidade relativa, collocados em ordem crescente: 1? Columna Abril Fevereiro. Janeiro.... Março. Maio Novembro. Dezembro . Setembro. Outubro... Agosto. Junho Julho. 2? Columna Agosto.... Junho. Julho Outubro. Novembro.. Dezembro. Setembro.. Maio. Janeiro.... Março. Abril Fevereiro. Segundo observações do almirante Costa Aze- vedo, a pluviómetro recolheu durante todo o anno de 1863, 3,m87 ; tendo havido 208 dias chuvosos e na obra do Dr. Morise vem consignada, como média an- nual, 1790 millimetros de chuva. Os ventos que reinam nesta cidade e quiçá em todo o estado, são aquelles de que já atrás fallámos, como principaes causadores das cheias do grande rio, 79 Não devemos esquecer-nos que a temperatura das aguas do rio, é menor que a do ar que a tangencia e d'ahi a formação de duas correntes, uma quente, vinda da cidade e outra fresca que, tendo sua origem no rio e derramando-se pela cidade, tornam as suas tardes e noites bastantes agradaveis. Sobre os demais factores meteorologieos nada podemos adiantar por não termos observações se- guras. Do que fica exposto podemos concluir que, se a temperatura média da capital do Pará é algum tanto elevada, entretanto, é esta mesma temperatura miti- gada em seus effeitos, pelos demais factores climáti- cos. Enfim, a cidade de Bélem possue um clima cuja nota dominante é a constância. Endemo-epidemias Debalde procuramos as fontes de informações quer officiaes quer particulares que nos podessem orientar sobre o assumpto. Infelizmente nada obtivemos que nos satisfizesse, pois os relatórios da repartição sanitaria do Pará, como da maioria dos estados, não são conhecidos nas nossas bibliothecas. Mesmo os annaes publicados pelo extincto Insti- tuto Sanitario Federal nada adiantam a tal res- peito. Assim sendo, e para cumprir o que dissemos na nossa introducção, vamos expor em ligeiros traços o que pudemos obter. No que diz respeito ás epidemias devemos nos regular pelo que se lê na parte relativa ao estado do Amazonas no periodo por nós estudado. Ahi vemos a febre amarella, o cholera-morbus e a variola invadindo em épocas diversas, pontos diffe- rentes do estado e todas estas invasões ficavam pro- vadas serem devidas á importação do Pará. Por estas considerações podemos, pois, asse- gurar que pelo menos nas épocas em que epidemias 82 diversas lavraram no Amazonas, também se fizeram sentir no Pará. Quando ás endemias apenas sobre o paludismo encontramos algumas referencias, em um livro do Dr. José Veríssimo, intitulado a Amazónia. " O impaludismo é o principal e mais vulgar ca- pitulo de accusação contra o rio Amazonas e regiões que elle banha ; pois bem, eu vou de certo sorpre- hender o leitor, affirmando, sem o minimo receio de contestação, que em toda a margem do Amazonas pro- priamente dito, do Oceano a Manáos, as febres palus- tres se não são desconhecidas, são apenas tão frequen- tes como nos melhores e mais bem reputados climas. Taes febres é nas cabeceiras dos rios affluentes e comfluentes, na parte superior do seu curso, que reinam. Mesmo nos mais assolados pelo impaludismo, como o Madeira e o Tocantins, têm o seu curso médio e inferior livre delias. De muitas regiões também hão quasi desapparecido. Assim Macapá, que depois de haver sido um dos pontos mais saudaveis do estado do Pará, tornou-se, em virtude dos pantanos formados pelas escavações feitas para a construcção de sua celebre fortaleza e dos fossos e outras obras imcompletas que o rodeiam, um fóco de impaludismo, voltou a ser hoje logar saudavel e onde rareiam de dia a dia os casos dessa infecção. O mesmo dá-se com o município deCametá, onde tem sensivelmente diminuído nos últimos annos as febres palustres. 83 Cumpre ainda advertir que rarissimamente af- fecta o impaludismo amazonico outra forma que não o das febres intermittentes ou sesões, sendo que as perniciosas e typhica são tão pouco vulgares, que em muitas partes da região são desconhecidas. Certo, o impaludismo de Alto Madeira é terrível; affecta os centros nervosos, mata ou inutilisa por pouco tempo e perdura por longos annos, resistindo muitas vezes aos mais bem dirigidos e energicos tra- tamentos. O mesmo dá-se com as do Juruá do Majú, do Cairary e de outros logares; mas são excepções. Se são endemicas as febres intermitentes na região, já descripta das ilhas, no curso superior do Tocantins e do Tapajós, no Xingú, em parte do Trombetas, no Alto Madeira, no Juruá, no Alto Rio Negro, e em mais alguns rios; raro apparecem, e isso mesmo como benigna endemia na magnifica região marítima oriental, em toda a região Occidental onde é excellente o clima dos municípios do Monte Alegre, Óbidos, Alemquer e Santarém ; nas comarcas de Pa- rintins e Itaticoára, e mesmo nade Manáos. Na própria região da borracha em geral a mais sugeita ao impaludismo, no rio Purus, não ha febres e o curso médio e superior do Madeira, graças aos progressos da civilisação ahi, melhores habitações e mais respeito aos preceitos hygienicos, está quasi livre delias". PROPOSIÇÕES Cadeira de physica medica I A hygrometria estuda a quantidade de vapor d'agua contido na atmosphera. II O gráo de humidade atmospherica não depende da quantidade absoluta de vapor d'agua nelle contido e sim de sua tensão. III Estado hygrometrico ou fracção de saturação é a relação que existe entre a quantidade de vapor d'agua que o ar contém no momento considerado e aquella que encerraria se estivesse saturado. Cadeira de chimica inorgânica medica I O ar é um corpo composto, cujos elementos são: oxygenio, azoto e argon. II Este ultimo componente foi descoberto em 1894 pelos chimicos inglezes Rayleigh e Ransay. 88 III Volumetricamente os seus elementos guardam a seguinte proporção : oxygeneo 21.0, azoto 78,06 e argon 0,94. Cadeira de totanica e zoologia medicas I A' familia das myrtaceas pertence o eucalyptus globulos, originário da Australia. II São vegetaes de grande altura e de crescimento rápido. III Nas zonas palustres o seu plantio é recommen- dado por haurir a humidade do solo e purificar a a atmosphera. Cadeira de anatomia descriptiva I O fígado, também chamado pulmão dos habi- tantes dos paizes quentes, é um dos mais importan- tes orgãos do apparelho gastro-intestinal e acha-se situado no hypochondro direito. ii E' constituído por lobulos hepáticos em numero de 1.200.000 e recebe duas ordens de vasos: afferentes e efferentes. , 89 III A artéria hepatica, vaso de nutrição e a veia porta, que conduz á viscera o sangue venoso dos intestinos, do estomago e do baço, constituem a sua circulação afferente; emquanto as veias supra-hepaticas, que lançam na veia cava o sangue proveniente do fígado, são os seus vasos efferentes. Cadeira de histologia theorica e pratica I A cellula hepatica constitue o elemento essencial,, o elemento nobre do fígado. II E' constituída por protoplasma granuloso, pos- suindo um ou dous núcleos, contendo granulações amarellas de pigmento biliar, granulações vermelhas de pigmento sanguíneo e granulações gordurosas. III O protoplasma da cellula hepatica encerra sub- stancia glycogenica e matéria fermentecivel pelo qual esta se transforma em assucar. 90 Cadeira de chimica organica e tiologica I O ether sulfurico é obtido pela acção do acido sulfurico sobre o álcool e tem por formula C2 H" O. II E' empregado quotidianamente em inhalações afim de prodnzir anesthesia geral. III Desde que seja chimicamente puro o seu em- prego não acarreta inconvenientes. Cadeira de phisiologia theorica e experimental I Na funcção respiratória consideramos duas pha- ses principaes : a introducção de ar no cone respira- tório e a hematose. II A introducção e expulsão do ar na arvore respi- ratória se fazem pelos movimentos inspiratorios e ex- piratorios, que sob a pressão atmospherica normal, e no indivíduo hygido, são em numero de 16 por minuto. III A hematose se passa no interior dos capillares pulmonares dando-se a troca do gaz carbonico do san- gue pelo oxygenio do ar. 91 Cadeira de anatomia e phisiologia pathologica I O hematozoario de Laveran é o agente causal O do paludismo. II Não está provado que a infecção se faça pelo ar; ao contrario da opinião geralmente acceita; a trans- missão á distancia pelo ar do agente do paludismo é difficil, senão mesmo impossível ; porquanto numero regular de factos tendam a demonstrar que a infecção possa se fazer pela agua de bebida. III A hypothese emittida por Laveran sobre o pa- pel dos mosquitos ganha terreno ; é considerada por numerosos observadores competentes como sendo a mais verosimel e a que melhor se accommoda com que sabemos sobre as circumstancias em que se produz a infecção palustre. (Rev. de Hygiene. 20 -12-96.) Cadeira de chimica analytica e toxicologica I A atropina, alcaloide muito empregada na clinica ophtalmologica, pode dar logar a envenenamentos. II A ruborisação cutanea e a dilatação pupillar fazem parte do quadro symptomatologico do enve- nenamento pela atropina. 92 III Na pesquisa da atropina considera-se a coloração violeta que este alcaloide apresenta, quando oxydado pelo acido azotico concentrado, fervendo e tratado em seguida por uma solução concentrada de hydrato de potássio, como caracteristica. Cadeira de pathologia geral I A receptividade é condição essencial para o de- senvolvimento das moléstias infectuosas. II Sem ella o germen não pullula no organismo. III Ella varia de um indivíduo para outro e também no mesma indivíduo. Cadeira de pathologia interna I A febre amarella é moléstia infectuosa sendo seu berço o continente africano. II O germem especifico ainda é desconhecido. III Dons períodos caracterisam a moléstia : con- gestivo e ataxico adymnamico. 93 Cadeira de pharmacologia I Os extractos obtem-se pela evaporação do sueco de uma substancia animal ou vegetal, o II São aquosos ou alcoolicos conforme são obtidos pela solução da substancia na agua ou no álcool. III Na preparação dos primeiros se empregam sub- stancias frescas na dos segundos substancias seccas. O Cadeira cie pathologia cirúrgica I O tétano é uma das complicações cirúrgicas mais graves. II Sua natureza infectuosa está fóra de duvida graças aos trabalhos de Verneuil. III Por emquanto o tratamento do tétano é sympto- matíco ; não tendo a sua serumtherapia conseguido os resultados esperados. 94 Caieira de therapeutica I A introducção no organismo, com o fim geral- mente curador, dos seruns, quer naturaes quer arti- ficiaes, normaes ou pathologicos ; constitue a serum- therapia. II Para a sua administração usamos as vias hypo- dermica, intra muscular e intra venosa. III Quer na preparação, quer na administração destas substancias medicamentosas devemos manter a mais rigorosa anti-asepcia. Cadeira de operações e apparelhos I A paracenthese é a operação que tem por fim retirar collecções liquidas do peritoneo. II O instrumento empregado é otrocat. III O logar de eleição é o meio de uma linha tirada 'da espinha iliaca antero-superior esquerda ao umbigo. 95 Cadeira de anatomia medico-cirnrgica I A região axiílar é a cavidade situada entre o thorax a raiz do membro superior. II Tem a fórma de uma pyramide quadrangular e é limitada por quatro paredes, uma base e um apice. III As paredes são : anterior ou peitoral, interna ou thoraxica ; externa ou scapulo humeral; posterior ou scapular. A base corresponde á pellc e o apice á apo- physe coracoide. Cadeira de medicina legal I Os crystaes de virispermina descobertos por Albert Florence em 1895 caracterisam de modo po- sitivo as manchas de esperma humano. II Revelando o microscopio cabeças de espermato- zóides e crystaes de virispermina, póde o perito affirmar com certeza tratar-se de uma mancha de esperma humano; não sendo mais necessário a pre- sença do espermatosoide no campo do microscopio para uma tal affirmação. 96 III A reacção micro-chimica de Albert Florence ou dos crystaes de virispermina é grandemente sensível, dá-se sómente com esperma do homem e òbtem-sé pela simples addição de uma gotta do liquido de Florence (K I3) a uma gotta do macerato da mancha. Cadeira de hygiene I Clima é a formula meteorologica de uma loca- lidade (Fonsagrives). II O factor meteorologico que caracteriza o clima é a temperatura. III Chama-se linhas isothermicas aquellas que unem localidades de igual temperatura. Cadeira de obstetrícia I Symphyseotomia é operação que tem por fim sec- cionar a symphyse pubiana e obter pelo afastamento dos ossos iliacos, um augmento momentâneo da bacia. II Praticado primeiramente por Sigauld foi mais tarde abandonada, porém graças aos trabalhos de Morisani é hoje universalmente acceita. 97 III Quando o diâmetro util da bacia for de 7 % centímetros e o emprego do fórceps, da versão e do parto prematuro não forem indicados; para salvar o feto devemos praticar esta operação. Cadeira, de clinica dermatológica e syphilographca I Tres são as variedades de lepra : nodosa ou tu- berculosa, anesthesica ou trophoneurotica e a mixta. II O bacillo de Hensen é a causa productora da lepra. III O seu tratamento ainda é um problema não re- solvido. Cadeira de clinica propedêutica I Laennec creou a ascultação como meio de dia- gnostico e deixou-a quasi no estado actual. ii E' um poderoso recurso de exploração. III O conhecimento da ascultação mediata e imme- diata é indispensável ao clinico. 98 2- Cadeira de clinica cirúrgica I As fracturas são sub-cutaneas ou expostas. II A immobilisação e a reducção são indicações es- peciaes no tratamento das fracturas. III Nas fracturas expostas o tratamento da ferida constitue uma questão da maior importância. Clinica ophtalmologica I As ulceras da cornea têm marcha lenta. II Taes ulceras provocam photophobia e lacryme- jamento intensos. III Em casos de ulcera da cornea cumpre evitar que se produzam as synechias anteriores da iris. 99 1? Cadeira de clinica cirúrgica I As fracturas por arma de fogo são geralmente comminutivas. II As esquirolas destacadas e todos os corpos extranhos que a inspecção da ferida faz descobrir devem ser retirados com o maior cuidado. III Em caso de projectis fortemente encravados nos ossos não se deve fazer muitos esforços para sua ex- tração, podendo-se provocar osteites muito graves. Cadeira de clinica pediátrica I A tuberculose hereditária é commummente en- contrada na infancia. II A sua transmissão pode ser por via paterna ou materna. III A modalidade clinica da tuberculose infantil mais frequente é a coxalgia. 100 2- Cadeira de clinica medica I A chyluria é uma moléstia que se desenvolve entre 30o de latitude norte e 35o de latitude sul. II Não temos bases sufficientes para provar que a chyluria seja importada ou oriunda do Brazil. III O symptoma pathognomonico desta moléstia parasitaria é a ourina leitosa. r Cadeira de clinica medica I O paludismo é o factor dominante da pathologia medica brazileira. II As suas modalidades clinicas revestem as mais variadas fôrmas. III Os saes de quinino são considerados como especí- ficos desta inffecção. 101 Clinica obstétrica e gynecologica I A versão póde ser feita por manobras internas e por manobras externas. II O conhecimento prévio da posição do feto é indispensável aos dois processos. III Para a pratica da versão por manobras internas é necessário que o collo do utero esteja dilatado e que haja mobilidade sufficiente do feto. Clinica psychiatrica e de moléstias nervosas I Os asylos de alienados satisfazem a uma das mais imperiosas exigoncias medicas. II Os habitantes de taes estabelecimentos têm ne- cessidade de condições muito especiaes que não se encontram em outro estabelecimento hospitalar. III Só nestes asylos é que o isolamento pode ser feito convenientemente. WWTIS fflfflí I Vita brevis, ars longa, occasio prceceps, expe- riencia fallax, judictum difficile. Sect. Ia, aph. I. II Cibus, potus, venus, omnia moderata sint. Sect. 2 a, aph. VI. III Cibus et potus paulo pejor, suavisor tamen melio- ribus quidem, sed minus grátis anteponendus. Sect. 2a, aph. XXXVIII. IV Tempestatuui anni mutationes potissimum morbos partunt, et m ipsis anni tempestatibus magnae muta- tiones frigòris et caloris aliaque pro ratione ad hunc modum. Sect. 3a, aph. I. N Sub canis ortum, et ante canis ortum molestae semper medicamenta purgationes. Sect. 3a, aph. XVI. VI Calidum eo frequentes uterotibus has affest no- xias, carnium effeminationem nervorum impotentiam, mentes stuporem, sanguines profluvius, animi defec- tione, ad quae mors sequitur. Sect. 5a, aph. XVI. Visto - Secretaria da Faculdade de Medicina e de Pharmacia do Rio de Janeiro, em 26 de Março de 1897. Dr. Eugênio de Menezes.