Esta these está conforme aos Estatutos. Rio de Janeiro 1.° de Novembro de 1847. » Dr. João José de Carvalho. i. wy^/f . <, 7 'cJ&flS /^^^ ^Sé/t&et&írttS^ CONSIDERAÇÕES SOBRE mi .irrucicit \ uu do cincm THESE APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO E SUSTENTADA EM 11 DE DEZEMBRO DE 1848 POR \ NATURAL DA CIDADE DE S. SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO FILHO LEGITIMO DE I IIIVKSOI I »E SA1T&ES I E I," DOUTOR EM MEDÍCINA PELA MESMA FACULDADE. ■ ^ » Com trabalho e um estudo bem dirigido chegaremos a formar uma matéria medica, valente, e puramente Brasileira. » Do Autor. RIO DE JANEIRO TYP. IMPARCIAL DE FRANCISCO DE PAULA BRITO Praça da Constituição N. 64. 1848. FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO. DIRECTOR O Snr. Dr. José' Martins da Cruz Jobim. LENTES PROPRIETÁRIOS. Os Srs. Drs. I—ANNO. Francisco de Paula Cândido, Examinador......... Physica Medica. Francisco Freire Allemâo........................ Ç Botânica Medica, e princípios elementares de Zoo- II—ANNO. Joaquim Vicente Torres Homem................. < Chimica Medica, e princípios elementares de Mine- ^ ( ralogia. José Maurício Nunes Garcia...................... Anatomia geral e descriptiva. III—ANNO. José Maurício Nunes Garcia, Presidente........... Anatomia Geral e descriptiva. Lourenço de Assis Pereira da Cunha............... Physiologia. IV—ANNO. Luiz Francisco Ferreira.......................... Pathologia externa. Joaquim José da Silva........................••• Pathologia interna. João José de Carvalho.......................... S Pharmacia, Matéria Medica, especialmeute » tira „ t sileira, Therap., e Arte de formular. V—ANNO. r Cândido Borges Monteiro....................... Operações, Anatomia topogr. e Apparelhw. Francisco Júlio Xavier, Examinador............ Partos, Moléstias das mulheres pejadas e paridas, t dos meninos recém-nascidos. VI—ANNO. Thomaz Gomes dos Santos........................ Hygiene, e historia da Medicina. José Martins da Cruz Jobim....................... Medicina legal. 2.° ao 4.° Manoel Felioiano Pereira de Carvalho .... Clinica externa, e Anat. pathol. respectiva. 5.° ao 6.° Manoel de ValladãoPimentel.............. Clinica interna, e Anat. pathol. respectiva. LENTES SUBSTITUTOS. Francisco Gabriel da Rocha Freire, Examinador... ) g - d ,ciencia, accessoI.ias A ntonio Maria de Miranda Castro................. S &ecÇa0 ae scienc,ds accessoi ias. José Bento daRosa.............................. 5C _- .. Antônio Felix Martins........................... JSecçao medica. Domingos Marinho de Azevedo Americano, Exam. > o-_»s« «•-.._»•_ Luizdí Cunha Feijó............................. £ Secçao cirúrgica. SECRETARIO O Snr. Dr. Luiz Carlos da Fonceca. A Faculdade não approva nem desapprova as opiniões emittidas nas Theses, que lhe são apresentada. AOS MANES DE MEU PAE E DE MINHA MAE Lagrimas !... e só lagrimas ! Á MEMÓRIA DE MINHA MADRASTA A SENHORA D. EULAL1A ISABEL DE SAULES BARRETO. É bem triste a primeira pagina deste meu trabalho ! Quando, ao receber o prêmio de suas fadigas, correm os outros a deposita-lo aos pés de seus pães, e estreitados de encontro ao seu coração, recebem um prêmio maior ainda: o abraço de um pae, o osculo de uma carinhosa mãe; eu choro, porque não os receberei nunca! Para allivio das minhas magoas, existieis vós, Snra., que Unheis para comigo essas attenções, esses cari- nhos, que só um coração de mãe sabe prodigalizar, e eu esperava retribui-los nesse dia de honra e prazer para mim, e que o era também para vós. Deos o não quiz porém, e chamou-vos para seu lado; mas deixou- me a mim neste mundo para apregoar vossas virtudes, para mostrar que uma madrasta, quando tem uma alma e um coração como o vosso, é uma segunda mãe, tão carinhosa e tão meiga, como a que nos deu o ser. AO MEU MELHOR AMIGO E PADRINHO O ILL.mo SNR. DOMINGOS MATHEÜS BARRETO. Os cuidados e desvelos, que tendes tido para comigo e meu irmão, não seriam por certo maiores se üvesseis sido o autor de nossos dias. Não o esqueceremos nunca. A MEU QUERIDO MANO HENRIQUE JOSÉ DE SAULES. É nobre a carreira que encetaste ! e que em breve o gráo de Bacharel coroe teus esforços, satisfazendo assim os desejos dos que te amam. A MEUS TIOS E TIAS, E A MINHAS ESTIMADAS PRIMAS. Prova de verdadeira amizade. A ILLUSTRISSIMA SENHORA D. MARIA DA GRAÇA SILVA MEDÉLLA Respeito, amizade e gratidão. AO ILLM. SNR. JOÃO MIDOSI E SUA ILLUSTRE FAMÍLIA Pequena prova de sincera amizade e consideração. AO ILLM. SNR. COMMENDADOR JOSÉ DOMINGUES DE ATTAYDE MONCORVO Gratidão e amizade ao amigo de meu pai, a quem elle tão acertadamente entregou a tutela de seu filho. AOS ILLMS. SRS. DRS. : JOSÉ MAURÍCIO NUNES GARCIA. FRANCISCO DE PAULA CÂNDIDO. JOÃO JOSÉ DE CARVALHO. LUIZ DA CUNHA FEIJO'. ANTÔNIO MARIA DE MIRANDA CASTRO. Homenagem ao seu saber e illustração. AOS MEUS AMIGOS E EM PARTICULAR AOS SRS. JOÃO ESTEVÃO DA CRUZ E SUA FAMÍLIA. BERNARDO JOSÉ DE FIGUEIREDO E SUA FAMÍLIA. MIGUEL JOSÉ GOMES DA ROCHA E SUA SRA. CONEGO GERALDO LEITE BASTOS E SUA MÃI. JOSÉ DOMINGUES DE ATTAYDE MONCORVO JÚNIOR. BENTO FERNANDES DAS MERCÊS E SUA SRA. MANOEL HILÁRIO PIRES FERRÃO. AOS MEUS COLLEGAS, E EM PARTICULAR AOS SRS. DRS. LA1 RINDO MARQUES DE ATTAYDE MONCORVO. JOSÉ XAVIER LOPES DE ARAÚJO. JOSÉ FELIS CORDEIRO. FERNANDO ANTÔNIO LEAL. A MEMÓRIA DO MEU PARTICULAR AMIGO E COLLEGA JOÃO JOSÉ DOS SANTOS BANDEIRA. Tão joven ainda, dotado de tantas virtudes, e já na Eternidade! É rápida a passagem dos corações benéficos por este mundo; maselles deixam, como deixaste, familiasque os abençoem sempre, e amigos que os admirem e chorem sobre seu túmulo! C. L. de Saides. Tínhamos de escolher um ponto para sobre elle dissertarmos com a pe- quenhez dos nossos recursos; olhámos para o que viamos ao redor de nós, e deparámos com grandiosos objectos que nos convidavam e attrahiam; mas era tão pequeno o cabedal de que dispunhamos, que essa mesma magnitude nos fazia recuar! Os grandes objectos devem ser tratados pelos grandes talen- tos—que só assim se apresentam elles em todas as suas faces, interessantes sempre e sempre magestosos. A vegetação do nosso paiz, que podemos mos- trar com orgulho ao estrangeiro, e que tanta riqueza nos trará ainda, fixou principalmente nossa attenção, e nella fomos buscar o objecto para esta these. E quando a escreviamos, mais e mais nos convenciamos de que nós, nação de pouca existência ainda, tínhamos em nosso solo, contra as enfer- midades, meios tão seguros e tão valentes como os que nos são importados dos paizes estrangeiros; falta-nos porem o estudo delles, não por mingoa de desejos, mas pelas difficuldades que a cada passo se encontram na analyse de qualquer substancia. Não existe n'esta corte um verdadeiro laboratório chimico,*onde se possam fazer as analyses com a perfeição requerida. Se nossas vozes de estudante, fracas e de tão baixo collocadas, podessem chegar até o Governo, pedir-lhe- iamos que lançasse suas vistas sobre este importante objecto, que seaclia quasi em abandono entre nós; esta falta é muito sensível também nas ana- lyses a que se tenha de proceder nos casos de medicina legal. É esta a occasião de agradecermos ao Illm. Snr. Dr. Frederico Leopoldo Cezar Burlamaque o obsequioso offerecimento que nos fez do laboratório de chimica no Musêo Nacional; igual agradecimento damos ao nosso collega o Snr. Ezequiel Corrêa dos Santos pela sua coadjuvação na mesma analyse. Sendo o principal objecto da nossa these a applicação da—Ambayba—á cura do cancro, julgámos conveniente fazer preceder este nosso trabalho de uma breve descripção da planta; para isso recorremos aos autores que es- creveram sobre plantas do Brasil, bem como á pessoas conhecidas no paiz pelas suas luzes e pelos seus trabalhos. Encontrámos nas pessoas dos Snrs. Riedel, Sigaud, e Maia tantas attenções, que ficámos summamentc penho- rados, e lhes damos os nossos agradecimentos. Dividimos a nossa these em três partes: Ambayba e sua descripção: cancro em geral: Applicação da Ambayba á cura do cancro. PRIMEIRA PARTE. AMBAYBA, SUA DESCRIPÇÃO, ÀNALYSE E USOS. Ambayba, Anibauba, Imbayba, Umbauba; Arvore da preguiça etc. Le Brésil est en quelque sorte Ia terre promise des naturalistes. Ach. Richard. FAM: URTICEAS: GEN: CECROPIA: linn. Arvore bastante alta, dioica, e não lactescente. Suas raizes são ramosas e fibrosas. Tronco erecto e fistuloso. Epiderme côr de cinza. Sua madeira éesbranquiçada, secca e leve Ramos alternos, arredondados, nodosos e listulosos, offerecendo septos no seu interior. As folhas são alternas, pecioladas, palma- to-lobadas, verdes e ásperas na face supe- Arbor praealta, dioica, nonlactifera. Radices ramosse, fibrosae, Truncus erectus, fistulosus. Cortex cinereus. Lignum álbum, exsiccatum et laeve, Rami alterni, teretes, nodosi, inter nodos fistulosi, et isthmis intersepti. Folia alterna, petiolata, palmato-lobata, supra viridia, áspera; subtüs albo-tomentosa rior, e na inferior cobertas de um tomento esbranquiçado, apresentando as suas nervu- ras uma côr avermelhada e ferruginosa. As folhas novas e que se acham contidas ainda na spatha, estão ahi dobradas com muita ele gancia, e tem uma côr sangüínea. Flores dioicas, em fasciculos, com uma spatha caduca. As masc: Calixpyramidal, obtuso, apre- sentando duas aberturas no seu cume. Esta- mes, dous, sahindo d'esses poros. Filetes curtos, oppostos ás divisões do calix, fixos pela sua base. Antheras bi-loculares, abrindo- se por uma fenda longitudinal. Fem: Calix persistente, campanulado ebi- tlentado no seu cume. Dousestames stereis. Stigma capitalo, rente Seu fructo é uma akena envolvida no calix, monosperma, car- nosa.Semente (erecla?) Embrião curvado. (nervis. venisque rufo vel ferrugineo-tomen- tosis) lobis 9-11. Folia juniora in spatham adhuc recôndita elegantissimè plicata suntet sansruinea. Flores dioici, densè spicato-fasciculati, é spatha caduca. Masc: Calix turbinatus, obtusus, ápice biporosus. Stamina 2 per poros exserta. Filamenta brevia, perigonii laciniisopposita, basi affixa. Antheroz biloculares, loculis rima longitudinali dehiscentibus. Fem: Perigonium persistens, campanula- tum, bi-dentatum. Stamina 2 sterilia. Sli- gma capitatum, sessile. Achenium cálice te- ctum, monospermum, carnosum. Sêmen (erectum?) Embrio curvatus. HISTORIA NATURAL. A arvore que faz o objecto desse nosso estudo, foi provavelmente chamada Ambayba pelos indígenas do Brasil. Para nos podermos convencer de que tal era o nome por elles dado a essa planta, recorremos aos diccionarios que possuímos de sua língua, e deparámos com a palavra—Ambayba— ; mas infelizmente nenhum esclarecimento nos davam da origem d'esse termo, contentando-se unicamente em da-lo como nome de uma arvore do Brasil. Decompuzemos pois a palavra, e tendo em vista que os indígenas, sem instrucção própria para descripçôes d'essa ordem, teriam talvez dado o nome de Ambayba á arvore de que tra- tamos, levados unicamente pelo que ella lhes apresentasse de mais saliente, achamos provável a etymologia dos dous termos—Ambo: mão de cinco dedos; e yba ou uba: fructo ; pela se- melhança que seus fructos apresentam com os 5 dedos de uma mão; e como o termo ybaoü uba era por elles usado lambem para designar grande quantidade, quereria o termo Ambayba dizer: Arvore de muitas mãos. Outra etymologia nos foi apontada, e é a que faria a palavra derivada dos termos : Imbai e hyba, que quereriam dizer máu ensino, má experiência, em razão preparações de ferro, preconisadas por Mr. Richard de Dublin, que assevera ter cu- rado com o carbonato de ferro cinco ulceras cancrosas ; as preparações mercuriaes, a que uns attribuiam propriedades anti-cancrosas, e que outros, entre elles o barão Boyer, regeitam como nocivo sempre aos verdadeiros cancros, vieram provar, que os médicos consienciososnão tinham ainda desesperado de encontrar um remédio para esta enfermidade. Para nos não tornarmos fastidiosos com a enumeração extraordinariamente longa dos meios até hoje empregados, será sufficiente dizer, que desde a água pura, recommendada por Pou- teau, e a compressão tão preconisada por Mr. Recamier, até os venenos os mais enérgicos, tudo tem sido debalde empregado. Resta pois para o pratico um meio seguro, não de curar radicalmente o cancro, mas de prolongar a vida do seu enfermo : é a extirpação. E ainda as- sim, práticos ha que se oppõem a ella, fundando-se em que extirpado o cancro uma vez, o seu reapparecimenlo, que é quasi sempre constante, marcha de uma maneira muito mais rá- pida e terrível, e abrevia-se assim a existência que se procurara prolongar. Hyppocrates pare- ce ter sido da mesma opinião relativamente aos cancros occultos, quando no seu aphorismo 38° da secção 6a diz: «Quibuscumque oceulti cancri fiunt, eos non curare melius est; si enim curantur, citius moriuntur; si vero non curantur, multum tempus perdurant. * Não podemos nos furtar de reproduzir aqui a theoria da escola Italianna sobre a diathese cancrosa, e os meios de combatel-a. para que a operação tenha o desejado effeito. Parece tão racional esta theoria, tão conforme aos sãos preceitos da lógica, que nos sentimos attrahidos a admilti-la em quasi todos os seus pontos. Examinando-se um indivíduo, que apresente um tumor de natureza cancrosa, por mais sim- ples e menos adiantado que pareça, a sua constituição offerece á nossa observação alguma cousa de anormal, e que se não pode bem definir. Será essa alteração resultado da presença do tu- — 12 — mor, ou será este resultado daquella? Nem uma cousa nem outra se deve admittir exclusivi mente, melhor será admittir-se que tudo isso não é senão um, e que o tumor e esse estado d\- namico começam, e marcham ao mesmo tempo ; que esta condição do organismo continua nn sua marcha, apezar da extirpação do mesmo tumor. Se assim é, se a ablação do tumor não tira do seio do organismo este principio, que allerava a sua constituição, claro está que esta alteração deve continuar, e mesmo progredir, senão se lhe oppuzerem os meios dynamiccs próprios a combatel-a; e mais, a ablação do tumor, em conseqüência da reacção que determina, parece apressar até um certo ponto o progresso deste estado constitucional. Para resolver-se pois este ponto importante, preciso é que indaguemos qual é a natureza desta diathese, equaes os meios e mais próprios a combatel-a. Segundo a observação clinica vè-se, mesmo no primeiro período do cancro, quer scirro» quer encephaloide, que localmente existe um tumor circunscriplo, de nova formação, com dores lancinantes, ou sem ellas, acompanhado, ou não, de infiammação nas partes visinhas. 0 es- tado geral do individuo apresenta o seguinte :—a acção do coração acha-se exaltada, o pulso é forte, as artérias battem com maior ou menor violência, apparecem cephalalgiascongestivas, stases sangüíneas em differentes órgãos, predisposição para as moléstias inflammalorias e congestivas, allivio quando alguma hemorrhagia tem logar, emfim todos os symptomas de uma verdadeira hypersthenia vascular. No segundo período do cancro mais pronunciada é ainda esta condição hypersthenica: pal- lidez, magreza e lassitude, emfim a cachexia icterica progressiva. Examinando-se os grossos vasos, acham-se elles espessos, duros, resistentes como nas affecções hypersthenicas, e é também de observação, que tudo o que pôde excitar o systema vascular, como por exemplo as bebidas alcoólicas, augmenta essa pallidez e essa magreza, e são de um effeito verdadeira- mente prejudicial, Estabelecido fica pois que, em seu começo, o cancro é acompanhado de um estadohypers- thenico da arvore vascular, principalmente arterial; que a diathese é constituída por este estado, e que ella tem de seguir os progressos do mal em suas differentes phases. A principio oceulto, este estado desenvolve-se apezar da ablação do tumor. Não se deve inferir d'ahi que se deva excluir aidéa dessa operação, não; ella porém não terá oseffeitos desejados, apressará mesmo a marcha da enfermidade, se esta diathese não tiver sido, e não fôr combalida pelos meios apro- priados a combater a condição hypersthenica vascular. E quaes são esses meios? São aquelles, que introduzidos na assimillação orgânica, mudam de tal modo o organismo vivo, que sua força vital desce abaixo do rythmo normal, ou do gráo em que se ella achava antes da sua appli- cação, e que vão exercer sua acção especialmente sobre o centro circulatório : são os hypos- thenisantes vasculares. TERCEIRA PARTE. APPLICAÇÃO DA AMBAYBA I GURA DO CANCRO. ■Temos para nós: que o facto da applicação de um medicamento, bem estudado e analysado, e cujos resultados tenham sido satisfaclorios, é um grande incentivo para a renovação de sua applicação.i De todos os autores, que alguma cousa escreveram a respeito da Ambayba, só um tratou do seu emprego contra o cancro. Descourtiltz, na sua Flora das Antilhas, diz que os negros em- pregam a pellicula interna do tronco como adstringente, e attribuem-lhe a maravilhosa pro- priedade de curar, em menos de nove dias, os cancros que não são venereos, renovando a sua applicação de manhã e á noute. Tentámos remontar á primeira applicação da Ambayba contra o cancro feita entre nós, e oblivemos as seguintes informações: Manoel Dias de Lima, quando no tempo do Senhor D. João VI, arrematou, de sociedade com alguns outros negociantes, o contrato do aseite de peixe, teve de partir para Santa Catharina; ahi uma curandeira lhe deu a noticia do emprego da massa da Ambayba contra o cancro, o que elle empregou com muito proveito em um caso desse gênero. Fez o objecto dessa cura um cancro de que padecia a Sra. D. F....., que ficou livre do seu mal. Este facto, cujos detalhes não pudemos obter, foi-nos confirmado pelo Illm. Sr. Dr. Miranda e Castro, digno substituto desta Eschola, e sobrinho dessa senhora. D'ahi de Santa Catharina foi essa receita mandada para Vassouras, onde foi posta em pratica no Ma- çambará em um cancro em caroço, que se curou com muita suavidade, servindo-nos da expressão da pessoa, que se dignou enviar-nos essa noticia. O Ulm. Sr. Dr. José Mauricro — li — Nunes Garcia houve-a d'ahi, segundo o que elle mssmo nos referio, e publicou nos Annaes de Medicina Brasiliense, anno 2.u. n. 7. Permitta-nos S.S. que transcrevamos as suas próprias palavras: « Em 1843, diz S.S., estando eu em a fazenda do Sr. Manoel de Azevedo Barboza » Vernek, que é do município de Vassouras, a conversar acerca dos remédios indígenas, me i referio elle que vira extrahir cancros manifestos com a massa ou sedimento (como por aqui » lhe chamam) da imbaúba, e delia deo-me uma porção (que entreguei ao Sr. Ezequiel Corrêa » dos Santos) afim de que me servisse delia com confiança, no primeiro caso que tivesse. Não » podia deixar de dar toda a fé a um homem que é meu amigo, que tanto se interessa pelo » bem da humanidade soffredôra. que faz gosto e despende tanto para conhecer os agente > therapeuticos, de que abundam nossas matas, etc. » Depois de termos mostrado, pela maneira porque nos foi possível fazê-lo. as primeira applicações da massa da Ambayba sobre o cancro, parece-nos opportuno apresentar alguns fados que venham em apoio do seu emprego. Esses fados, da clinica do nosso distineto professor o lllm. Sr. Dr. José Maurício, não podem ser contestados, não só pela boa fé e honradez do distineto medico Brasileiro, como pelo seu saber por todos conhecido e apreciado. E como nossas palavras ficariam muito áquem da descripção dessas observações por S.S. feitas, nós transcreveremos em seguida esses im- portantes fados. PRIMEIRO FACTO: «Uma senhora, cujo nome esqueci, e que teria de 25 a ÕOannosde > idade, viuva, era de uma constituição lymphatica e deteriorada por muitos outrospadecimentos, > de que se havia tratado por ultimo na Santa Casa da Misericórdia, e d'onde havia muito » pouco tempo tinha sahido, já com um cancro oceulto na parte inferior de cada um braço, > sobre o trajedo da veia cephalica. Esta doente disse-me mais, que havia muito tempo tinha » em taes pontos uns tumores do tamanho de uma noz, nos quaes sentia dores e picadas, que » se irradiavam pelo braço alé os dedos; mas que, por não serem muito insuportáveis, epor » falta de meios, não se tratara, nem lhes prestara muita attenção. Que se recolhera aohos- » pitai com febres, quasi a morrer; e que saindo, achou-se peior dos braços, offerecendoo » tumor esquerdo muito crescido e por fim ulcerado ; e o direito do tamanho de uma tan- » gerina, no qual soffria de mais um sentimento de queimadura. O habito externo desta » senhora era côr de palha; sua magreza extrema; e o braço esquerdo apresentava um tumor > que parecia fluduar sobre a aponevrose brachial, e coberto por uma ulcera muito desigual » e sangrenta em alguns pontos, com as margens mui altas, recortadas, voltadas para fora, e • nimiamente sensíveis. O braço direito porém era a sede de um tumor adherente á pelle já » livida, mas fluduando com ella sobre os tecidos profundos, e sobremaneira duro e sensível, » com algumas desigualdades e varizes. » Applicou-se a massa da embahiba estendida em panno, sobre os cancros, tanto oceulto, » como manifesto, as dores e picadas desapparecêram em ambos, como o sentimento de ustão » notado no do braço direito, sendo isto substituído por cócegas e prurido que duraram por • espaço de duas a três horas depois da applicação, e se reproduziram nos primeiros dias em * todos os curativos. t Não se teriam passado quinze dias, já o cancro ulcerado tinha mudado de aspecto, isto i é, a superfície ulcerada tornou-se igual e convexa ; as bordas se tornaram iguaes e volta- — 15 — » das para o centro; em lugar da sanie muito sanguinolenta e corrosiva, deixava ver-se » uma exudação albuminosa e escura; e por ultimo todo o tumor se destacava dos tecidos » sãos, ao mesmo tempo que proeminava ; a pelle sãa. apertando-o, como que o exprimia; » e ao fim de um mez tinha cahido a massa cancerosa, deixando uma ulcera simples, que > occupava um quarto da superfície, em que existira aquella degeneração. O do braço > direito porem, só depois de um mez é que principiou a destacar-se das partes sãs. tendo-se » abatido e enrugado no centro, e de dia a dia mumificando-se cada vez mais, depois de mez » e meio mais ou menos, cahio, deixando uma pequena ulcera que foi coberta como a do d outro braço primeiramente com pranchetas de ceroto simples e depois com fios seccos. Ao i cabo de dous mezes a doente estava completamente boa, como se poderá ainda vêr pelas » cicatrizes. SEGUXDO FACTO: « No segundo caso (cancro da mama esquerda) alguma differença » houve do que se passou no precedente; e por isso ainda lamento que só tivesse visto a doente » por três vezes. Era ella uma moça de 26 a 30 annos, solteira e sem filhos, de um temperamento » sangüíneo, loira, e trajada de modo, que certificava muita indigencia, bem como tinha no » rosto bem pintados oseífeitos das dores terríveis que soffria no peito doente. D'estes órgãos, » o direito era pequeno, de mamellâo ponfagudo e areola côr de rosa seca; o esquerdo » porém, tinha o volume e configuração de uma grande lima d'umbigo; era muito duro e » sensível, e todo côr de palha, com algumas nodosidades venosas verde-mar. A glândula » mamaria era a sede da lesão: mas a pelle já lhe estava adherente, e muito próxima a romper-se i ou ulcerar-se, na parle externa do lugar em que se notava a areola. < Indicando a esta pobre moça o remédio que a curaria, se tivesse constância de o empregar, t marquei-lhe o lugar para isto (meia pollegada para fora da areola) sem dissimular o que i tinha de succeder a similhante applicação. Não obstante, passado um mez, mais ou menos, « voltou ella a mostrar-se, por ter notado máo cheiro na ferida, que o remédio produzio, e » trazendo sobre ella o emplasto da embahiba. Com effeito, toda a pelle circumscripta pelo » emplasto tinha gangrenado, mas a massa do tumor endurecida e secca proeminava do fundo » do seio, tendo em derredor um pus verdoengo e mesclado de sangue negro muitíssimo fétido; » mas as margens dos tegumentos sãos começavam de voltar-se para dentro ou para o tumor. » Não tinha dôr alguma, e somente ardor na pelle sã, quando fazia a renovação dos emplastos; » e da primeira vez que o empregou, notou ella que, com quanto lhe tirasse as dores que » tinha, todavia o prurido que as substituio foi seguido de ligeiras picadas, que lhe duraram - por mais de 24 horas, « Fazendo continuar o mesmo tratamento, esta senhora só me appareceo quando lhe tinha > cahido toda a massa cancerosa, e a ferida estava quasi rasa. Creio por tanto que, com o » peito defeituoso, isto é; sem mamellâo, ella ficou boa, porque até hoje nem tive d'ella mais » noticia, j TERCEIRO FACTO: «D. J... mulher do Sr. S. F. de Medeiros, moradores no municipio » deValença, senhora de um temperamento sangüíneo e de fraca compleição, de 28 annos de »idade, e no terceiro período da sua quarta gestação, soffria, havia sete annos, de um tumor » no peito direito que, nos dous últimos mezes não lhe deixava socegar, com dores atrozes » que se irradiavam pelo braço, pescoço e thorax; e principiando de começar a escoriar-se 5 — 16 — »junto do ponto inferior da areola, me consultou (em a fazenda do Sr. E. D. S.) para o furar aem meados de julho de 1843. Este tumor, de natureza cancerosa, tinha sua sede na glrn-» » dula mamaria ; mas já adherente á pelle da parte inferior do seio ; tinha o volume de uma » grande laranja, e apresentava desigualdades junto do mamellâo, o qual eslava todo escon- » dido nas elevações e raízes d'areola, que era da côr de tijolo, sendo o resto do peito branco » amarellado, e livido todo o ponto inferior e posterior ao mamellâo. em o qual se notava «outro tumor mais pequeno, molle, e muito mais sensível, que todo o peito, ao toque de » qualquer corpo, d'onde partiam dores lancinantes para todos os pontos do tronco e braço » direitos tão fortes, que produziam lipolhymias, e arrancavam gritos agudissimos adoente1!*1^ » sol a sol, pelo que. havia muito tempo que não podia comer nem dormir. «Foi a simples applicação da massa da embahiba sobre todo o tumor canceroso o único » meio, que aconselhei á doente. D'esti applicação resultou que. no fim de três a quatro lio- n ras, o emplasto fez desapparecer todas as dores, substituindo-as no momento por um piu- » rido e cócegas iguaes (dizem todos os doentes em que elle tem sido empregado) ás que pro- » duziria uma porção de formigas sobre a pélle. Ao cabo de 36 horas abriu-se o tumor mai-; » pequeno, que deixei notado, dando sabida a um humor escuro, viscoso. etão irritante, que » queimava (expressão da doente) por onde passava, deixando logo ferida. Este corrimentn » durou oito a dez dias ; e a continuação do mesmo remédio, duranle um mez, resolveu com- » pletamente o tumor; restituiu a pelle e glândula mamaria a seu estado natural, cicatrizando » a ferida ao décimo dia da applicação!.. Ainda hoje (28 de janeiro de 18í-G) sei que esta Sra. » tem passado bem, nada soíTre. Soube depois que tendo o seu parto, o peito ficara em lão » perfeito estado, que não foi privada de amamentar sua filha, tanto com o peito que fora a » sede de tão cruenta doença, como com o que nada havia soíTrido. » (*) Da clinica do mesmo Sr. outros fados existem, e entre elles um, de um cancro da mama direita, na pessoa de uma irmã do Sr. Bernardo José de Figueiredo, a quem não foi possível. por circumslanciasque occorreram, continuar-se na applicação da massa da Ambayba. Se esta Sra. se não curou pela Ambayba, não devemos altribuir esse facto ao medicamento, masá circumstancia de se ter applicado o sueco dos grelos da mesma arvore; esse facto porem, ape- zar de não ter sido completo, é assaz importante ao menos por mostrar o desapparecimento das dores, alguma diminuição no volume do tumor, menor dureza na glândula mamaria e gânglios lymphaticos da axilla, parlicularidades estas que foram vistas igualmente pelo Sr. Dr. F. Júlio Xavier, um dos nossos primeiros parteiros. E mais, tendo essa senhora continuado coma applicação dos grelos da Ambayba, não sendo ella feita pelo Sr. Dr. José Maurício, mas sim por um pharmaceutico que, verdadeiro charlatão, fazia mysterio do medicamento que empre- gava, abundante suppuraçâo se estabeleceu no tumor, que fui depois penetrado pelo lllm. Sr. Dr. Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, distineto operador nesta corte. Não são unicamente fados da clinica do Sr. Dr. José Maurício que podemos apresentar. O Sr. Dr. Miranda e Castro está adualmente applicando a massa da Ambayba em um cancro de seio, em uma senhora, irmã da doente curada por Manoel Dias de Lima em Santa Catharina. (') Até novembro de 1848 tem essa Sra. gozado perfeita saúde. — 17 — Ha 10 para 12 annos que esta senhora apresentou um pequeno caroço no seio direito, conseqüência de unia pancada que ahi dera de encontro a uma chave; pouca altençãoporém lhe prestou. Esteve assim estacionado este pequeno tumor, no volume de uma amêndoa, durante 6 ou 8 annos. Tendo soffrido esta senhora bastantes e pungentes desgostos de então para cá, co- meçou o tumor a auginenlar de volume, e ser a sede de algumas dures lancinantes, que se irra- diavam pelo braço correspondente. Resistindo a todos os meios, que eram contra elleompregados, progredio em sua marcha, e ulcerou-se ha 8 mezes. Então as dores tornaram-se excessivamente fortes, e a irradiação foi levada a tal ponto, que o braço direito dessa senhora estava comple- tamente inutilisado. Foi o tumor diagnosticado cancroso pelos Srs. Drs. Miranda e Castro e Joaquim José da Silva. Começou-se ha quatro mezes com a applicação da Ambayba, e as dores pouco e pouco desapparecêram, e a ulceração se não tem propagado aos tecidos sãos. Esta senhora continua ainda com o uso da mesma massa. CANCRO DO UTERO—APPLICAÇÃO D\ AMBAYBA.— Não é unicamente sobre cancros do seio que tem sido applicada a massa da Ambayba; um facto existe de sua applicação em um cancro do utero, que vem confirmar, de uma maneira poderosa, a acção sedativa do medicamento. A Sra. D. F.... natural do Rio de Janeiro, residindo em Caravellas, começou a padecer de um cancro de utero ha 10 annos pouco mais ou menos. Tendo ficado viuva, veio para esta corte no anno de 184-6 e foi residir na rua do Costa, onde foi vista por Mme Pascal, parteira desta corte; e a quem a doente referio: que atüibuia sua moléstia á manobras imprudentes e á applicação do forceps no ultimo parto que tivera. Foi convidado o Sr. Dr. Antônio da Costa para operar esta doente ; porém examinando-a, vio que: a moléstia tinha invadido não só o utero como a vagina; o collo do utero tinha já desapparecido, e o seu corpo em grande extensão se achava ulcerado ; a extirpação do utero, que parecia a única operação possível, além de muito perigosa, nenhuma esperança de cura dava á doente, pois a vagina também se achava já affectada do mesmo mal A pelle da doente era de uma côr de palha muito pronunciada, seu abatimento immenso, horríveis e continuadas as dores que soffria. Foi nessa oceasião, em setembro de 1847, que a um irmão dessa senhora, que se lamentava do estado desgraçado de sua irmã, indiquei o emprego da Ambayba, offerecendo-me para ir fallar ao Sr. Dr. José Mau- rício; concordando-se n'isso, dirigi-me ao mesmo Sr., expuz-lhe a moléstia, e de accordo com o Sr. Dr. Antônio da Costa, foi resolvida a applicação da Ambayba, introduzin- do-se ate o utero, por intermédio do speculo. pequenas rodellas depanno cobertas da massa em questão, e conservadas ahi por meio de um tampão de fios. Nos primeiros dias pouca alteração se notou com essas applicações, que eram renovadas pelo Sr. Dr. Costa e por uma enfermeira, que nesta casa existia. No fim porém de alguns dias as dores começaram a diminuir gradualmente, e a doente, que antes dessas applicações poucos instantes tinha de socego, agora passava 12 horas e mais inteiramente socegada. Não foi possível porém continuar-se com o tratamento; um tumor na fossa iliaca sobreveio, rompeu-se para a vagina, e foi a morte a conseqüência desta terrível complicação, que levou a doente á sepultura no dia 17 de no- vembro de 1847. Este facto falia bastante alto a favor da propriedade sedativa da Ambayba, propriedade muito mais enérgica do que a de todos os sedativos que foram enpregados. O Sr. Dr. Costa — 18 — disse-nos então que não duvidaria acreditar, que se essas applicações tivessem sido feitas no começo da moléstia, talvez se houvessem obtido resultados satisfactorios; e não é de pouca monta a opinião de um operador como o Sr. Dr. Antônio da Costa. De todos esses fados que apontámos, uma conclusão se pôde tirar que, se não se pôde dar como infaUivel. aproxima-se ao menos muito da certeza: falíamos do desapparecimcnto das dores. E com verdade, em todos esses doentes, quer se achasse a moléstia ainda em seu começo, quer desenvolvida e prupagando-se aos tecidos visinhos de uma maneira espantosa, teve lugar o desapparecimento das dores; e quando mais não fosse, quando mesmo a moléstia cancrosa per- sistisse e levasse á sepultura os doentes submettidos ao tratamento pela Ambayba. não seria um recurso poderoso, esse que faria desapparecer, de uma maneira rápida e certa, o maior sofih- mento do indivíduo? Não seria então um dever, e bem imperioso, para o pratico a applicaçk d'esse meio até o momento da operação? Felizmente porém, não é só o desapparecimento d» dores o que se observa nesses fados apontados ; nos do Sr. Dr. José Maurício a cura teve lugar, pelo seqüestro em um caso, pela gangrena em outro, e pela resolução no terceiro; no quarto mesmo parece que a suppuraçào foi o resultado, fundindo-se o tumor nesse liquido. S> pela cura do cancro se entendesse só o desapparecimento do tumor, nenhuma duvida que ella teve lugar; mas para que se dê a cura radical de um cancro preciso é que se debelle esseguid, essa diathese cancrosa ;e como saber se nesses casos citados essa diathese fui também com- battida? Só o reapparecimento do mal nesses indivíduos no-lo poderá provar. Em um desses fados, no primeiro cilado, o reapparecimento da moléstia cancrosa não teve lugar; soubemos que a doente que fez o objecto dessa observação, falleceu de outras molesti.is bem diversas, em novembro de 1848, cinco annos depois de tratada pela Ambayba, e durante lodo esse tempo nenhum symptoma apresentou, que fizesse acreditar que a dialhese cancrosa existia na sua economia. E seria impossível admittir-se, que pela sua acção imminentemente hypostk- nisante esse agente therapeutico podesse imprimir na economia modificações taes, que dessem em resultado o desapparecimento da diathese cancrosa? Temos para nós : que o facto da applicação de um medicamento, bem estudado e analysado, é um grande incentivo para a renovação de sua applicação, muito embora não conheçamos a acção intima desse agente therapeutico, muito embora não tenhamos descoberto na sua analyse principio nenhum pelo qual possamos explicar seus effeitos; ahi estará porém o fado para nos assegurar que alguma acçãu tem elle, que algum principio deve existir entre os seus elementos que o torne capaz de produzir esses effeitos; não o devemos pois desprezar, antes estuda-lo. analysa-lo e procurarmos confirmar a sua acção pela juncção de novos fados. E quando a reno- vação de sua applicação nos fornecer outros fados, em appoio do primeiro, não teremos nós feito já alguma cousa á bem da humanidade? Não queremos com isso dizer, que não dêmos valor ás lheorias. não: mas a theoria deve vir depois dos fados, porque então não será ella puramente hypothelica, terá alguma cousa sobre que assente as suas bases, e estudando esses fados ella nos aplainará o caminho, e muito nos ajudará no emprego desse agente. Seriamos ingratos se, ao fecharmos a nossa these, não dirigíssemos os mais sinceros agradecimentos ao lllm. Sr. Dr. José Maurício Nunes Garcia, já pelos fados com que se dignou obsequiar-nos, já pela maneira allenciosa com que se encarregou da presidência de tão imperfeito trabalho, como é o que oflerecemos á rectidão dos nossos Juizes. HIPP0CR4TIS APHORISMI. i. Vita brevis, ars longa, occasio proaceps, experientia fallax, judicium difficile. Opor- tet autcm non modo se ipsum exhibere, quce oportet facientem, sed etiam a3grum, et presentes, et externa. (Secc. l.a Apli. 1.°) II. Ad extremos morbos extrema remedia exquisitè optinia. (Secc. l.aAph. 6.°) III. Somnus, vigília, utraque modum excedentia, malum. (Secc. 2.a Aph. 3.°) IV. Laxi tumores boni: crudi vero mali. (Secc. 5." Aph. 67.°) V. Quibuscumque oceulti cancri fiunt, eos non curare melius est; si enim curantur, citius moriuntur; si vero non curantur, multum lempus perdurant. (Secc. 6." Aph. 38.°) VI. Ouse medicamenta non sanant, ca ferrum sanat: Quae ferrum non sanat, ea ignis anat: Qux vero ignis non sanat, insanabilia existiinarc oportet. (Secc. 8.a Aph. 6.°) TYP. D1P. DK FRANCISCO DE PAI LA nr.TTO. Esta These esta conforme os Estatutos. Rio, 10 de dezembro de l8/»8. Dr. José Maurício Nunes Garcia.