de Jwncwaae J^pím / Y±~i*e* ^ a l \ THESE APRESENTADA A FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA • PARA SER SUSTEMADA EM NOVEMRRO DE 1871 Francisco Gome $ de Andrade JLhua NATURAL DE PERNAMBUCO íftfôo fcqitmio 2c %i\z D. 2c J\Du2ta2c %ma c 2). ^tauàóca 2a íftíva Xlaòcouccuoò 2c tfouòtoiòe PARA OBTER 0 GRAU DE DOUTOR EM MEDICINA. Honra ao medico, porque a medicina vem de Deos, e Deos foi quem a creou. (Do Evangelho.) BAHIA Typograiihia de •!• G. Tourinho 1371 / FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA. DIRECTOU O Ex.mo Snr. Conselheiro Dr. Vicente Ferreira de Magalhães. os sns. Dotronits í.*ANNO. si atraias quh leccionjui ,. „ ... , ,, , .,___„-ní < Physica cm geral, e particularmente em suas Cons. Vicente lerrcira de Magalhães . j aplicações à Medicina. Francisco Rodrigues da Silva. . . . . Chimicu e Mineralogia. Adriano Alves de Lima Gordilho . . . Anatomia dcscripliva. U.° ANNO. Antônio de Cerqueíra Pinto.....Chimica orgânica. Jcronymo Sodrê Pereira . ... . Physiologia. Antônio Mariano do liomlim.....líolaniea e Zoologia. Adriano Alves de Lima Gordilho. . . . Repetição de Anatomia descriptiva, 5.° ANNO. Cons. Elias José Pcdroza......Anatomia geral epalhologica. José de Góes Sequeira.......Pathologia geral. JeronymoSodré Pereira......Physiologia. k.° ANNO. Cons. Manoel Ladisláo Aranha Dantas . Pathologia externa, ................Pathologia interna. Conselheiro Mathias Moreira Sampaio j ''*;,;;£ de mulheres pejadas e de meninos 3.» ANNO. .........•.....Continuação de Pathologia interna. José Antônio de Freitas.....; .( Al|1iJ,l;í,,íShS.,08rí,phica' M^lciiiaoperotoria.e .........,......Matéria medica, e therapeulica. G.° ANNO, ................Pharmacia. Salustiano Ferreira Souto......Medicina legal. Domingos Rodrigues Seixas.....Uygieue, e Hisloria da Medicina. JosèAtTonso de Moura........Clinica e:terna do 3.* e 4° anno. Antônio Januário de Faria......Clinica interna do 5.* e C* anuo» Rozcndo Aprigio Pereira Guimarães. .\ Ignacio José da Cunha......./ Pedro Ribeiro de Araújo......) Secção Accessoria. José Ignaro de Uarros Pimentel. . \ Virgílio Clymaco üamazio...../ Augusto Gonçalves Martins...../ Domingos Carlos da Silva......> Secção Cirúrgica- Antônio Pacifico Pereira......\ DernetrioCyriacoTourinho.....". Luiz Alvares dos Santos......{ Ramiro AÍTonso Monteiro......> Secção Medica, Egas Carlos Moniz Sodré de Aragão . ,\ Claudemiro Augusto de Moraes caldas .- O Kr. Dr. Cincinuato Pinto ria Silv». D3"JfIQ3â!L 3)ü QiaoavüHüiü O Sr. Eír. Tliomaz d'A«iuiuo '«aspar. A Faculdade não approva, nem reprova as opiniões emittidas nas Ihcscs i\2ía2c Tma João Xomoeo 2c Jvu2ta2e llmia Itobl 2e íBattoô 2c Jvii2ta2c Tima utuano Xomoeo 2c Jbu2ta2c Tima Xuiz 3quacio 2c Jbu2ta2e Tuna iBeuafcmuio Uiitmpio 2c Jva2ia2c Tima £D. Jlbatia õhimvia 2c Jhn2ia2c Tima £D. «Anuía 7oa<|iúua 2c Jbu2ici2c Tima Amor fraternal. A. L. A MEUS PAREUTSS E ESPECIALMENTE Á 31 EUS TIOS JOSÉ DE BARROS DE ANDRADE LIMA E SUA PRESADISSIMA ESPOSA A EXMA. SENHORA D. Angela Maria Yieira de Araújo E A MEU PRIMO DR. LUDOVICO CORREIA DE OLIVEIRA E SUA EXCELLENTISSIMA CONSORTE A SENHORA d, wvsllí de ahdradb somes correu Retribuição de amisadé, AO MEU AMIGO O PHARMACEUT1CO FRANCISCO CAVALCANTI MANGABEIRA E A SUA EXCELLENTISSIMA FAMÍLIA Amisade e consideração, l, v, AOS MEUS DEDICADOS AMIGOS Dr. Constando dos Santos Pontual Dr. José Antônio Ribeiro de Araújo Dr. Antônio Herraenegildo de Castro Dr. Júlio César de Castro Jesus Joaquim Israel de Cisneiro Dr. Manoel Pires de Carvalho Dr. Manoel Leite de Novaes Mello Cordial amisade. A MEU TIO E AMIGO DE INFÂNCIA Amisade Á MEU PROFESSOR E AMIGO O ILLUSTRISSIMO SENHOR DR. DEMETRIO CYRIACO TOURINIIO Homenagem ao mérito. AOS COLLEGAS DOCTORANDOS E EM PARTICULAR AOS SENHORES DOUTORES Jbfjoudo Jbttfotu. CÚHieao 2c Jxolvuauctaue 0>jcxuat2o fóodeuüuo Ciòueito 2a Coòta v\,e\ò iôboxnaz v\o2iianeô 2a Ciuz £c2io t&Seho 2c Jbíiiieuta ífantoí Jllbaüaiio loaauítu 2a Coóla $exu'ixa Um adeus do collega. AS ILUSTRADAS FACULDADES DE MEDICINA DA BAHIA E DA CORTE Profundo respeito. A. L. < Hgãa mansa FEBRE ÀMARELIA DISSERTAÇÃO HISTORIA Les épidemies sont, dans 1'histoire medícale des peuplcs les évènemcnls principaux, les accidentes les plus re- marquables. II faiit eu perpèluer le sotivenir, aíin que les tristes leçons de ces étranges calaiüités ne soient pas entit-rement perdnes pour les générations qui suiyent, aliii que les médecins n'eiitreut pas tout neufs daus Ia pcnible carrière de cc geme d'éludes. iFiEURY COURS D HYGIE3ÍE.) FEBRE-AMÀRELLA era desconhecida dos antigos: oriunda dos paizes que marginão o golpho Mexicano e das grandes Antilhas, só depois da volta de Colombo da America, on- de ella foi vista em Izabella—primeira povoação fundada pelos Hespanhóes em 1494, os quaes tiverão de abandonal-a pela sua insalubridade, foi ella conhecida depois no velho mundo; e os primeiros escriptos que failão delia são os de Oviedo, e Herrera que mui vagamente a descreveu, e só do meiado do século XVII para cá foi claramente distinguida de outras moléstias pestilenciaes. Destas regiões originárias tem ella invadido á propor- ção que os conquistadores se estabelecem, as pequenas Antilhas. Este terrível flagello não limitou a esphera de seu extermínio ás gran- des e pequenas Antilhas; em breve foi manifestar-se nas costas de Portu- gal, Hespanha e Itália: Cadix, Barcelona, Livurno, Gibraltar, Porto, Lis- boa e ultimamente na França (Saint-Nazaire) tem sido theatro d'esta devastadora moléstia. Logo depois, a America do Norte foi também invadida, assim Boston, Philadelphia, New-York, Baltimore soffrerâo a sua acção exterminadora que se estendeu segundo o Sr. Griesinger até Quebec á 46» de lat. Na America do Sul chegou até Montevidéo á 35° de lat. No Brasil foi no anno de 168G, quando então reinava também no México, segundo o relatório do Dr. Gouin que F. da Rosa observou uma epidemia em Pernambuco, que durou até 1692, causando mais de 2000 victimas: esta epidemia se transmittio, segundo Rocha Pita, á Bahia donde só desappareceo em 1688. Durante século e meio todo o littoral do Brasil esteve isento desta mo- léstia; porém o brigue americano Brasil de viagem de Nova Orleans, tendo tocado em Havana onde reinava então a febre amarella com a maior intensidade, e tendo perdido em viagem alguns marinheiros, che- gado aqui a 30 de Setembro de 1849, foi logo admittido a livre prati- ca, e pouco depois manifestou-se a epidemia da febre amarella que co- meçando pelos navios mais próximos ao brigue e pela casa do negocian- te Sauville, onde dormia o capitão, estendeu-se a toda cidade e villas do interior até 12 léguas de distancia pouco mais ou menos. Depois de ter flagellado com muita intensidade de Dezembro a Abril foi diminuindo pouco e pouco até terminar-se completamente em Agosto. D'aqui é transmittida ao Rio de Janeiro pelos navios Navarre e D. Pedro que fornecem os primeiros casos: tendo-se limitado ao porto e algumas ruas próximas ao mar durante todo o mez de Janeiro, invade toda cidade com uma intensidade terrível, durante os mezes de Fevereiro e Março, quando propagou- se d'ahi á Santos e Santa Catharina pelo Margareth-Oppung. Em Julho estava terminada a epidemia na corte, porem reinava ainda nos povoados do centro (Macahé, Campos e S. João da Barra). Em Santos e Santa Catharina extinguiu-se em Setembro. Não se propagou a moléstia só. ao sul; por uma outra linha a partir da Bahia, a moléstia estendeu-se ao norte até o Pará. - Na província de Alagoas ataca principalmente a capital, e S. Miguel, e alguns casos manifestão-se no Penedo, Alagoas e Passo de Camaragi- be: e tendo começado em Dezembro, terminou-se em Julho, tendo sido sua maior intensidade de Fevereiro á Abril. Em Pernambuco e Parahyba também a moléstia fez a sua invasão de- pois da chegada áquella provincia, em Dezembro, do navio Alcion, prin- cipiando pelos navios ancorados no porto, e pelo bairro da Boa-Yista — 5 — onde existia uma casa de saúde em que se tratavão os marinheiros in- glezes: destes pontos se estende a toda cidade e toma grande desenvol- vimento nos mezes de Fevereiro á Abril: então é transmittida ao Cabo, Páo-d'Alho, Nazareth e Goianna. Em Maio se achava quasi extincta na capital; porem reinava com muita intensidade nas ultimas localidades, terminando-se de todo em Junho, epocha em que também os últimos casos da Parahyba se observavão em Mamanguape. No Pará é também depois da chegada do Pollux procedente de Per- nambuco, á 24 de Janeiro de 1850 que os primeiros casos são forneci- dos pelos marinheiros deste navio: os logares mais atacados são Belém e Vigia, tendo tomado grande intensidade nos mezes de Março a Junho: ella se achava completamente extincta em Agosto. Nos annos de 1851 a 1852 reappareceu a febre amarella no Rio de Janeiro. Em 1853 reappareceu na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, e Mara- ranhão que, por uma quarentena rigorosa, não tinha soífrido em 1850, teve de pagar desta vez o seu tributo. D'então até o anno de 1859 tem- se manifestado todos os annos na Bahia, de Fevereiro a Agosto, offerecen- do maior intensidade nos mezes de Março e Abril; porem tem-se limitado sua invasão aos navios ancorados no porto. Em 1869 desenvolveo-se uma epidemia no Rio de Janeiro, cuja origem não foi procurada; esta durou até Agosto de 1870. Neste anno (1870) apparecerão alguns casos aqui de febre amarella, no Gymnasio Bahiano que, segundo nos informou o Sr. Dr. Demetrio, come- çarão por um menino que fora a rouparia onde se tinha aberto um bahü de um outro vindo do Rio de Janeiro. Em Dezembro de 1870 começarão em Pernambuco a manifestar-se no porto alguns casos desta moléstia, que ainda continua a grassar n'aquella provincia, fazendo felizmente muito poucas victimas. A 29 de Janeiro deste anno, o vapor Douro procedente da Europa por Pernambuco, chega aqui e é admittido a livre pratica: no dia seguinte 2 marinheiros d'aquelle navio forão recolhidos ao Hospital da Caridade atacados de febre amarella. Em 20deMarçooSr. Dr. José de Góes, inspector da saúde publica, com- munica a presidência que do dia 18 áquella data entrarão 10 doentes no Hospital da Caridade. A casa de saúde de S. Francisco recebeu durante o mez de Abril — G — 68 doentes. O hospital de Mont-Serrat, então aberto por ordem do Yice-Presidente recebeu os doentes atacados desta pseudo-epidemia que limitou-se aos marinheiros recém-chegados. PATHQGENIA E ETiOLOGIA Duas grandes questões se aprésentão a nossa apreciação na etiologia da febre amarella: Primeira, quaes as causas que presidem ao desenvolvimento desta mo- léstia? Segunda, qual seu modo de transmissão? A despeito dos estudos os mais sérios ainda não foi possível descobrir- se a causa determinante da febre amarella. Alguns authores, como Tho- maz e Chervin, dão como indispensável ao seu desenvolvimento a exis- tência de lagoas, pântanos ou uma certa quantidade de detritus animaes ou vegetaes que, reunidos ao calor e humidade devem dar em resul- tado ou as febres palustres, ou a febre amarella, segundo for menor ou maior a intensidade de sua acção. Esta doutrina da identidade de causa entre a febre amarella e as intermittentes não pode ser aceita: com eftei- to se assim fosse, porque não se apresentaria a febre amarella em todas as regiões ricas em pântanos, e nas quaes a febre intermittente é en- dêmica? Por que rasão portos como alguns dos nossos são poupados e entretanto que nelles existem pântanos, calor, humidade e resíduos orgânicos animaes e vegetaes em decomposição? Por que rasão teria a fe- bre amarella um berço limitado ás grandes Antilhas e golpho mexicano? Alem disto suas manifestações symptomaticas, marcha, lesões anatô- micas são totalmente difFerentes. « Les foyers endémiques (diz Dutroulau) du miasme de Ia fièvre jaune sont dits ses foyers d'infection, et pour tout le monde ils jouent le premier role dans 1'étiologie de Ia maladie. Mais foyer d'infection n'est pas ici synonime de foyer infect, malgré le soin que prennent Ia plupart de ceux qui en par- lent de decrire les éléments de fermentation putride qu'ils placent. II est bien certain que Ia fiòvre jaune se declare aussi bien sur les plages ou dans les ports les mieux entretenus que sur les points quisont dans des condi- tions tout opposées; et que Ia obsorvation Ia plus attentive ne sauraitsigna. ler dans ces foyers aucun changement qui puisse expliquer 1'apparition d'épidémie.)) Qualquer que seja o seu modo de formação, este miasma,virus ou germen, como quizerem* chamar, causa determinante da febre amarella e que existe nos focos deinfecção, pode fixar-se a certos objectose conservar-se por um tempo muito longo sem por isso perder de suas propriedades: se assim é, porque nãoadmittir a hypothese de um organismo parasita vegetal ou ani- mal desenvolvido nestes focos como causa da moléstia? Somos tanto mais levados a admittir esta hypothese, quanto o Dr. Mélier referindo-se a causa da geração espontânea da febre amarella nos diz «II est toutefois cer- tames particularitcs qui semblent de nature à mettre sur Ia voie. Telle serait entre autres, cette remarque faite par beaucoup de voyageurs qu'il est cer- tains points des Antilles, Cuba, par exemple, et très-expressément Ia Hava- ne, dont les eaux présententune phosphorescence qu'on ne voit pas ailleurs au même degré, et que ces eaux ont une extraordinaire disposition à se putréfier.» O Dr. Lemattre referindo-se a esta phosphorescencia das agoas diz: « authores modernos considerão esta producção de luz como o re- sultado de uma oxidação que tinha por sede myriades de animaculos. » Admittimos, pois, como provável a hypothese dos miasmas organisados. Quanto ao desenvolvimento espontâneo da moléstia abordo dos na- vios, de que fallão alguns authores, pretendendo explical-o pela má cons- trucção dos navios, e algumas vezes por certos carregamentos que pela sua natureza íavorecerião aos processos de putrefacção das matérias orgâni- cas nelles contidas, não tem rasão de ser e é contrario a observação dos factos: não tem rasão de ser porque os navios que fazem a longa nave- gação das índias e da China, e que não são de meihor construcção que os que navegão pelas Antilhas,nunca apresentão esta moléstia, não obstante se acharem nas mesmas ou em peiores condições de salubridade, em quanto que os das Antilhas, mesmo os de guerra sabidos dos portos de armação e sem carregamento outro, que os viveres necessários para alimentação dos tripolantes, e por tanto nas melhores condições hygienicas a molés- tia se manifesta. Dutroulau não observou durante as epidemias, que gras- sarão em Cayenna e nas Antilhas, em grande numero de navios que fo- râo invadidos por esta moléstia, um só caso em que se tenha desenvol- vido espontaneamente, e sobre este ponto estão unanimes os médicos da — 8 — marinha franceza; por tanto só na facilidade que ha muitas vezes em con- siderar-se um porto sadio, quando de facto elle não é, e no cuidado que tomão alguns maritimos em occultar suas communicações com portos infeccionados, se pode achar a explicação de seu pretenço desenvolvi- mento espontâneo. Se, porem, estas condições anti-hygienicas não são suf- ficientes para produzir o miasma, são, quando os navios teem tocado em portos infeccionados, capazes de mantel-o e augmentar a intensidade, de modo que chegando estes focos ambulantes em qualquer logar que encontrem condições geraes, que favoreção seu desenvolvimento, ella se propaga a toda localidade, Meteorologia»—Os elementos meteorológicos, não podendo por si sós produzir a moléstia, são, como causa geral secundaria, as que mais influem no seu desenvolvimento e extensão: não poderemos rigorosamen- te separar a acção de cada um de seus elementos, ou ao menos elles per- dem muito de seu valor quando tomados isoladamente: com effeito o ca- lor, que nos offereceu uma relação quasi directa com o desenvolvimento e incremento da moléstia, como observou o Barão de Petropolis na epi- demia de 1849, na Corte, não pareceu ter influencia alguma na epide- mia que grassou em Philadelphia em 1703, que se desenvolveu com a temperatura a zero (Cornilliac). Segundo Griesinger o calor seria necessário para o desenvolvimento da moléstia, porem não seria indispensável para a continuação da epidemia. A humidade por si só não tem influencia, pois que é quasi sempre depois, ou durante os grandes estios que a moléstia se ma- nifesta. A electricidade, porem, a julgar pelos effeitos das tempestades parece-nos de grande perigo para os doentes. Dutroulau, Saint-Yel, Ba- rão de Petropolis fallão do augmentodos casos e da gravidade que toma a moléstia por estas occasiões, e seu effeito produz-se tão rapidamente que, segundo Cornilliac, apenas as detonações do raio fazem-se ouvir, logo o delírio, o vomito negro e outros symptomas apparecem, os ataxicos se- guem-os e a morte sobrevem de um modo surprehendedor. Se não po- demos apreciar a influencia de todos os elementos meteorológicos toma- dos isoladamente, é com tudo fora de duvida que o conjuncto dos três elementos (calor, electricidade e humidade) não só actua como causa ac- cidental bem manifesta, e influe poderosamente para gravidade dos doentes, como também pela acção deprimente do calor sobre a circula- ção e o systema nervoso, trazendo atonia e o abatimento do organismo, e pela perturbação da perspiração tegumentaria que a humidade pode — 9 — occasionar, subtrahindo assim uma das suas fontes de depuração, colloca o indivíduo em condições próprias á recepção da moléstia. Causas i»retlis|>oiicntes.— A idade e o sexo não constituem uma predisposição para febre amarella: assim os velhos, os adultos e as creanças, o homem e a mulher, estão todos sujeitos a esta moléstia: com tudo na epidemia que grassou entre nós em 1819 observou-se que era mais freqüente na idade de 15 á 30 annos que em outra qualquer; que era mais freqüente nos homens que nas mulheres, o que ?em duvida não abala de nenhuma sorte a verdade de nossa proposição, quando se reflete que os marinheiros são os que fornecem maior contingente a esta moléstia. Em todas as constituições e temperamentos está-se sujeito a esta mo- léstia, e se de alguma sorte a constituição forte e temperamento sangüí- neo parecem fornecer um maior numero, é porque os estrangeiros occupa- dos na marinhagem apresentão este estado physiologico. A falta de acclimação é a principal causa das que predispõe o organis- mo á esta moléstia. O tempo necessário para considerar-se um indivíduo acelimado não é ainda conhecido; porém, segundo observa o Barão de Petropolis, com 5 annos de residência no Brasil, o estrangeiro se acha nas mesmas condições que o nacional. A immunidade, porém, só é adqui- rida por aquelles que tiverem sofírido um ataque completo desta moléstia: ha alem desta a immunidade congênita de que gosão alguns individuos? facto este que não é peculiar a esta moléstia; porém que é commum á to- das aquellas que são contagiosas: esta immunidade pode cessar, e então são atacados indivíduos que já tinhão atravessado, incólumes, epidemias anteriores. Causas ©ccasioroaes.—As emoções moraes deprimentes, o terror em geral, o medo da moléstia em particular, a melancolia, a cólera, a nostalgia, as fadigas corporaes, a exposição ao ar frio e humido, o abuso das refeições, o uso de má alimentação e a morada nos logares immun- dos, são consideradas como causas que podem dar logar ao apparecimen- to da febre amarella, toda vez que os indivíduos se acharem em certas condições, taes como a permanência no meio de um foco epidêmico. Traiisanissiliilidade.—A transmissão da febre amarella é hoje um facto adquirido pela sciencia. Os immensos tactos de importação desta moléstia, já pelos navios, já por outros meios quaesquer, provão-na exu- berantemente; porém o modo pelo qual esta importação se faz, soffre in- — 10 — terpretações differentes: para uns ella é sempre o resultado de uma in- íecção, para outros ao contrario ella se faz por contagio, divergência esta que depende não só da significação que se dá a palavra—contagio, como lambem do modo vicioso pelo qual se tem feito as investigações. Digamos, por tanto, antes de apreciarmos os factos, o que entendemos por moléstia contagiosa epor moléstia de infecção. Para nós moléstia con- tagiosa é áquella que se transmitte do indivíduo doente ao indivíduo são por um principio material íixo, ou volátil e susceptível de ser disseminado no ar athmospherico. Moléstia infectuosa é a que, dependendo de causas locaes, não estende sua influencia alem do logar de seu apparecimento, e é sempre o resultado de um effluvio ou miasma. Estes dous gêneros de moléstias se aproximão, pois, por um dos meios de sua transmissão—o ar ambiente—,e separão-se pela proveniencia doger- men transmissor, que é sempre e só um foco local de infecção para as in- fectuosas; e os doentes e objectos que tenhão estado no foco para as con- tagiosas, ainda que estas tenhão se desenvolvido primitivamente sob a influencia de um foco qualquer. Exposta a nossa opinião sobre o contagio, vejamos o que se dá á respeito delle. Não é sem duvida nomeio dos focos que as inocuíações devião ter sido procedidas; porém sim fora dclles e em grande numero. O que provão,de facto, as inocuíações de Fíirih,Cher- vin e Parker praticadas em si sem resultado algum? Provarão, como pre- tendião estes incansáveis observadores, o não contagio desta moléstia? Não. Estas experiências feitas em pequeno numero e em pessoas que vivião desde muito no meio dos doentes, mergulhadas no centro do uma atmosphera infectuosa não podião prometter outro resultado. Todos sabem que a residência de um indivíduo qualquer nos focos das molés- tias contagiosas concede-lhe a immunidade, alem de que esta é con- gênita em muitos indivíduos. Não vemos todos os dias inocuíações com o pus virulento da varíola nullificadas pelos organismos refractarios; e esta immunidade não se observa para tantas outras moléstias irrecusa- velmente contagiosas? Como negal-ana febre amarella? As experiências, pois, destes observadores não tem a força de negar o contagio por inocu- lação. O Dr. E. Yalli tendo escapado a inoeulação que em si tinha feito em Constantinopla em 1803, e sabendo que em Havana grassava a febre amarella, partio para alli em 1818 e foi victima da experiência seguinte: Despio o cadáver ainda quente de um indivíduo que acabava de ser vi- ctima desta moléstia e poz-se em contacto com elle; depois de muito tem- — li — po veste a camisa do cadáver e vae jantar á casa de seu hospede, onde morreo 3 dias depois, victima do seu excessivo zelo pela sciencia, tendo provado com o sacrifício de sua vida e fora de toda duvida a contagiosi- dade daquella febre (Dr. Treschi). Nillalba, Lind, Moreau de Jonnes, Townsend e Hasac mostrão-nos que o grande numero de epidemias, que teem grassado na Hespanha e Italiano principio deste século, toem coincidido com a chegada de navios proceden- tes de lugares infeccionados, trazendo abordo enfermos do vomito negro, communicando seu desenvolvimento, ou pelos navios mais próximos, ou pelas pessoas que visitavão áquelles. A febre amarella é communicada de Tortoza a Asco por um criado que fora d'aquella a esta localidade para trazer um cavallo a seu amo; elle foi a primeira victima, scguirão-se os de sua casa, e emfim de toda cidade. Entre nós a epidemia de 1849 se manifestou em cada província pos- teriormente á chegada de um navio de um porto infecto. Em algumas lo- calidades, como no Rio de Janeiro onde foi ella bem observada, vemos fa- dos irrecusáveis de contagio, taes são os seguintes referidos pelo Dr. Pe- reira Rego. Este observador diz-nos que retirando sua familia para lagoa de Rodrigues de Freitas, logar situado além do Jardim Botânico, adoecera no dia seguinte seu filho, o qual elle trouxera logo para cidade, e que não obs- tante isso a febre continuara a apparecer no resto da familia, assim como em dous pretos que já lá estavão e em uma menina de uma familia que alli residia. E' indubitavcl que os primeiros doentes tivessem levado o germen da cidade, porém os pretos e a menina que já lá moravão e que não forão á cidade, forão sem duvida alguma contagionados. Um ou- tro facto referido pelo mesmo aulhor é o seguinte: O Sr. A... negociante em Iguassu, tratando do seu guarda-livros que fora á Corte e que d'ahi le- vara a moléstia da qual foi victima, cahio logo apoz á morte d'este grave- mente enfermo, chegando a ter o vomito preto. Mais adiante diz o mesmo author: O Sr. E... residente no Morro de Santa Thereza não tinha pessoa alguma com a moléstia; porém mandando uma sua criada á cidade, voltou esta doente e succumbiu em poucos dias;logo após adoeceu uma sua filha, c d'ahi a moléstia passou á outras pessoas. Esta localidade é bastante ele- vada e reconhecida pelos médicos corno uma das mais saudáveis da Corte: não havia alli febre amarella. Factos idênticos a estes são citados por Dutroulau, Jules Cédont, Lé- gris e Smith, quer refirindo-se ao desenvolvimento dê epidemias nas An- — 12 — tilhas, quer á bordo de navios que receberão passageiros doentes ou con- valescentes. Wiblin e Harvey referem acerca da epidemia desenvolvida á bordo do La Plata, em 1852, que, tendo este navio communicado com S. Thomaz, e tomado ahi grande numero de convalescentes, e um indiví- duo já adoentado que morreu dous dias depois, perdera em sua travessia 7 indivíduos de 14 atacados, que estes tinhão todos ou communicado com os passageiros ou desembarcado. Um medico que, 8 dias depois de sua chegada a Southampton, foi prestar seus cuidados a um dos doentes des- embarcados, e com elle residir na mesma casa, fôra atacado pela moléstia e succumbira: e destes factos concluirão que a moléstia tinha sido trazida pelos doentes, e que se desenvolvera por contagio. A epidemia de Saint-Nazaire, desenvolvida nos últimos dias de Julho de 1861, por occasião da chegada do Anne Marie de Havana, offerece-nos exemplo de todos os modos de transmissão desta moléstia: assim os tra- balhadores occupados na descarga do navio, a marinhagem de um outro navio, que se achava sob os ventos d'aquelle, uma mulher que recebera objectos do navio infecto, como fossem pannos, roupas, etc, são todos atacados, pouco depois, desta moléstia. O Dr. Chaillon, que residia em Montoir, e que não tinha lido nenhuma relação com o Anne Marie, é chamado a 5 de Agosto para tratar de dous doentes dos que tinhão tra- balhado na descarga d'aquelle navio, a 10 é chamado para um outro na aldeia de Prinac, elle o vê uma segunda vez no dia 11, demora-se a fazer fricções pelo corpo do doente, no dia 13 oahiu gravemente enfermo, e succumbiu depois de quatro dias, apresentando os symptomas caracterís- ticos da febre amarella. Do que fica dito se conclue: l.o—que um navio sahido de um foco de febre amarella pode transmittil-a ao logar de sua chegada, maxime se a moléstia se tiver declarado á bordo; 2.o—que o carregamento do navio e os objectos vindos do logar em que grassa a moléstia podem dar logar ao seu desenvolvimento; 3.o—que a febre amarella pode ser transmittida do indivíduo doente ao indivíduo são, que tiver respirado a atmosphera con- taminada por aquelle, em uma palavra, que ella é contagiosa. - 13 — ANOTOMIA PATHOLOGICA As investigações necroscopicas, praticadas em indivíduos que tem sue- cumbido á febre amarella, nos dois primeiros dias da moléstia, não mostrão lesões que expliquem os symptomasobservados durante a vida. Entretanto órgãos ha em que desde o 4.o dia, e sobretudo nos períodos ulteriores, notão-se modificações tão constantes, invariáveis, extensas e tão profun- das, que corre-nos o dever de estudal-as; porque não só mostrão a predi- lecção de acção do principio morbigeno desta moléstia, como também guia-nos, se não ao conhecimento de sua natureza e a explicação physio- pathologiea de todos os seus symptomas, ao menos ao seu diagnostico. Estudemol-as, pois, na ordem que se segue. Iffabito externo.—O exame do habito externo impressiona desde logo o observador pela cor amarella da pelle. Esta coloração mostra-se mais pronunciada no plano antero-lateral, no thorax, abdômen e regiões axillar e inguinal; e apresenta-se mesmo n'aquelles indivíduos que não li- verão-n'a durante a vida. Nas partes declives, como o plano posterior, assim como n'aquellas cuja circulação é mais acliva, como a face, o pescoço e scrotum não é raro observar-se, ao em vez da cor amarella característica ou conjunetamente com ella, apellecyanosada,ou povoada de manchas mais ou menos extensas, completamente denegridas, devidas provavelmente a hypostases e extravasações sangüíneas no tecido cellular subeutaneo, como mostrão os focos hemorrhagicos ahi encontrados. Estes phenomenos não podem ser considerados como simplesmente cadavericos, porque ap- parecem muito tempo antes da morte, e são observados também em alguns indivíduos que curão-se. A estes phenomenos vem-se juntar hemorrha- gias diversas, que se effectuando pelas mucosas bucal e nasal, pelas di- versas soluções de continuidade, que estão mais ou menos denegridas vão manchar o cadáver, que de olhos ordinariamente abertos, bocca semi-aberta e suja de sangue em breve tempo é preza de rigidez cadaverica bem pro- nunciada, e apresentando algumas vezes parotides suppuradas, e abcessos diversos, offerece um aspecto verdadeiramente horrendo aos olhos do observador. — 14 — Ccrcbro.—0 cérebro é na maioria dos casos normal: a dura-mater apresenta-se sempre, como os demais tecidos da economia, com o colo- rido amarello característico; os seus seios, ordinariamente cheios de uma serosidade da mesma côr,são algumas vezes a sede de derramamentos san- güíneos, que, ora limitados, tingem apenas a serosidade nelles contida, ora mais extensos e de um sangue negro, enchem-os completamente. A ara- chnoide então congesta tanto em sua face parietal, como encephalica in- filtra-se de serosidade ou sangue que tornão-n a mais espessa; phenomenos estes tanto mais apreciáveis quanto o indivíduo tem apresentado durante a vida phenomenos cerebraes, e autópsia tem sido praticada mais proxima- mente do começo da moléstia. A consistência do cérebro quasi nunca é modificada: apresenta-se, porem, algumas vezes um pouco diminuída quando existe derramamentos serosos em seus ventriculos. Medula.—Em geral não se nota alteração alguma, e aquellas que raras vezes se apresentão varião tanto, que perdem toda significação patho- logica. São modificações de consistência para mais ou para menos, e al- guns focos hemorrhagicos que mais se observão. Coração.—O pericardio é na generalidade dos casos amarello em toda sua extensão, algumas vezes apresenta manchas ecchymoticas se- meadas na sua superfície, como as que se observão no exterior; sua capa- cidade é algumas vezes occupada por um liquido de côr citrina ou aver- melhada, como observou o Dr. Alvarenga na epidemia de Lisboa , em 1859, e outros práticos. O músculo cardíaco, cuja superfície exterior é de ordinário normal, apresenta-se algumas vezes com manchas negras, outras com uma pallidez extrema, e neste caso elle é um pouco amolle- cido: suas cavidades, principalmente as direitas, contém sangue, ou no es- tado de liquefação e negro apresentado segundo Blair e Davy a reacção ácida e o desenvolvimento de ammoniaco, ou sob a forma de coaçulos mais ou menos amollecidos, amarellados, e de ordinário prezos ás colum- nas carnudas. O endocardio, assim como as válvulas quefeixão os orifícios cardíacos e os grossos vasos todos apresentão de ordinário a côr amarella e algumas vezes a preta, em virtude do sangue decomposto, contido nas cavidades cardíacas. I*ulmao.—As pleuras apresentão as mesmas alterações que o peri- cardio. Quasi sempre normal, a trachéa apresenta-se algumas vezes com injecções sangüíneas em toda a extensão de sua inucosa, e deposito de mucosidades que se estendem até os bronchios. — 15 — Os pulmões que são de ordinário intactos apresentão algumas vezes in- farctos hemorrhagicos em alguns de seus pontos, porém o que é mais constante á observação é a congestão hypostatíca para as partes declíves do pulmão, e o sangue apresenta-se espumoso como o do indivíduo, que tem succumbido a asphyxia. O Dr. Alvarenga tem observado verdadeira apoplexia com derramamento, ou circumscripto por pequenas porções de tecido são, ou no centro de um parenchyma todo hyperhemiado, e outras vezes uma exhalação sangüínea, tendo sido feita em toda superfície pul- monar, c o sangue tendo sido embebido por todos os pontos do órgão, apresenta-se com a colorisação negra geral. Tubo digestivo.—O pharinge e esophago são de ordinário sãos: com tudo alguns observadores tem notado hyperhemias, e mais raramente algumas ulcerações devidas á acção irritante local das matérias vomita- das. O estômago, a excepção da cor amarella característica e algumas manchas ecchymoticas, não apresenta alteração alguma em sua superfície externa; sua cavidade, porém, contém, ainda mesmo que não tenha havi- do vômitos durante a vida, a matéria que o constitue, a qual pode oífere- cer cores variadas: assim pode ser amarella, esverdeada, preta, etc. Este contento é devido ao sangue decomposto pelos ácidos do estômago, e apresenta, ora o aspecto homogêneo, assemelhando-se a tinta de escre- ver, ora o contrario, separando-se em duas porções bem distinetas, uma liquida, semelhante a infusão de café, outra pulverulenta ou flocosa, que nada na primeira, e que, em contacto com a mucosa estomacal, tinge-a de preto. 1^ muito raro que se encontre o sangue formando grandes coá- gulos; é mais commum encontrar-se liquido e rutilante. Hassall diz ter en- contrado (nos casos que observou em Southampton em 1852) uma vegeta- ção microscópica, de natureza particular e desconhecida até então. A mucosa estomacal é muitas vezes hyperhemiada, ou uniformemente ou por vascularisações, e em muitos casos por placas ecchymoticas, e en- tão não é raro encontrar-se área ou contornos mais ou menos amollecidos. Quando a mucosa torna-se mais espessa, revestt a forma mamillar. Os intestinos poucas modificações apresentão; côr amarella exterior- mente, contentos sangüíneos em maior ou menor estado de decomposição; hyperhemia da mucosa duodenal em arborisações ou em placas, taes tem sido as alterações mais geralmente observadas. A consistência e espessura dos intestinos são ordinariamente normaes; só mui raramente se nota o augmento da primeira e diminuição da segunda. — 16 - Os folliculos insulados e as glândulas de Peyer são intumescidas (Has- tings, Blaier), e Dutroulau viu não só estas apresentarem-se cobertas de erosões, pontilhadas, duras e salientes, mas ainda observou uma erupção varjoliforme nas glândulas de Brunner. O grosso intestino, só quando a moléstia tem durado muito tempo, apresenta algumas ulcerações (Grie- singer). O baço é sempre normal; illeso no meio de tantas perturbações parece protestar contra a theoria que pretende dar a mesma origem e natureza a febre amarella e as paluslres. JFifga«So.—Este órgão manifesta alterações em sua côr, volume, fria- bilidade, consistência e densidade. A côr que apresenta o fígado é a ama- rella mais ou menos intensa, que tem sido comparada a do limão maduro, a do açafrão, a do aloés das pharmacias, a do café com leite, etc. Não é raro que no meio destes diversos matizes encontrem-se manchas ennegre- cidas ou violaceas; alterações estas que apresentão seu máximo de inten- sidade no lobulo de Spigel, depois na face concava, sendo mais desvane- cida no lobulo direito, face convexa, e desmerecendo pouco do bordo del- gado para o grosso, onde ellas são menos pronunciadas (Alvarenga), e des- apparecem na ordem inversa. O seu volume, que em geral é normal, al- gumas vezes é um pouco augmentado e quasi nunca diminuído; o tecido deste órgão, quasi anêmico, não dá sangue por mais incisão que se lhe faça. O tecido deste órgão, de ordinário normal em sua consistência e fria- bilidade, offerece algumas vezes augmento d'aquella e diminuição desta; ofterecendo então maior resistência ao toque, elle rompe-se mais facil- mente á acção do instrumento com que se pretende penetrar em seu pa- renchyma. Sua densidade é as vezes, senão sempre, diminuída. Em trinta e duas autópsias o Dr. May Figueira (de Lisboa) só encontrou duas vezes a media normal (1,080), tendo sido a media de suas observações 1,040, entre os extremos 1,012 e anormal; donde se deprehende que as lesões produ- zidas no fígado pela febre amarella não participão da natureza inflam- matoria. Qual será a natureza da lesão hepatica? Já, em 1821,Louis a prevíra, quando a comparava ao fígado gorduroso dos phthiscos; porém só mais tarde foi que Bache e Laroche, pelas observações feitas em Philadelphia em 1853, fizerão conhecer a verdadeira natureza destas lesões: assim as cellulas hepaticas, pallidas, de contornos pouco visíveis e sem nu- — 17 - cleo, mostrão-se completamente cheias de glóbulos gordurosos. As analyses chimicas e microscópicas do Dr. May Figueira comprovão os resultados obtidos por aquelles distinctos americanos; e, como demais, foi observado em Lisboa que esta alteração se manifestava desde o terceiro dia de moléstia, e desapparecia do vigésimo dia por diante, como mostra- rão as autópsias praticadas nos indivíduos que suecumbião a moléstias intercurrentes, podemos concluir com o Dr. Alvarenga que a lesão anatô- mica do fígado é a degeneração gordurosa aguda. Avesicula do fel, do mesmo modo que o fígado, apresenta-se muitas vezes alterada; algumas vezes diminuída de volume e retrahida com as paredes espessas, contendo pouca ou nenhuma bile; em outras oceasiões, porém, augmentada de volume, com as paredes distendidas e adelgaçadas apresenta-se cheia de bile, alterada pelo sangue, ou simplesmente liquido e anegrado ou formando coágulos. Rins»—Desde tempos remotos tem-se notado o augmento de volume deste órgão, que os modernos, estudando com mais attenção, tem reco- nhecido ser devido a hyperhemia e degeneração gordurosa de sua parte cortical, que nesta circumstancia parece invadir a tubular: e o Dr. Chapuis nota que, em alguns casos, pequenos abcessos infiltrão todo parenchyma do órgão. Sua côr varia, quando o doente tem suecumbido com anuria elle é pallido, vermelho, quando a hyperemia tem srdo muito intensa, sua côr ordinária é a amarella: Dutroulau tem notado que osbassinetes e tu- bos uriniferos se encontrão algumas vezes com urina espessa. A sua con- sistência é diminuída sempre que tem sido extensa a degeneração gordu- rosa, no caso contrario é normal. A bexiga urinaria apresenta-se ordinaria- mente retrahida, com as paredes espessas e vasia, ou contendo mui pouca urina, cujos caracteres principaes são:—côr amarellada, citrina, cinzenta ou preta devida a presença de sangue'alterado, e é albuminosa; algumas vezes, porém, encontra-se a bexiga destendida e com as paredes adelgaçadas, contendo uma grande quantidade de urina deteriorada pela presença de sangue, e mesmo sangue puro. Sangue.—O sangue retirado pela sangria nos dous primeiros dias de moléstia não differe do normal: coagula-se facilmente e não forma crus- ta; passados, porém, estes primeiros dias, e antes que a moléstia tenha attingido seu período adynamico, começa logo a íluidificaçâo do sangue. Seu coagulo não se forma com tanta brevidade e já a crusta é bem ma- nifesta em sua superfície. Segundo Rochoux, esta crusta apresenta-se ou — 18 — com a forma de simples geléa, acinzentada e tremula, ou como uma rede de malhas finas, deixando entrever o coagulo. No periodo adynamico a fiuidificação torna-se extrema: demonstrão-na estas hemorrhagias feitas pelas denudações dos vesicatorios, pelas picadas das sanguesugas e da lanceta. Neste estado o sangue é aquoso, negro e não envermelhece mais á acção do oxigeneo. A analyse do Dr. Oliveira deu os resultados seguintes: densidade 1,041; glóbulos 98; parte solúvel do serum 60; fibri- na 2; água 830; e Dutroulau tem encontrado maior quantidade de uréa no sangue dos indivíduos que tinhão soffrido a suppressão das urinas, e apresentado os phenomenos característicos da uremia; assim como também encontrou bile no serum do sangue, tratando-o pelo ácido-azotico. SYMPTOMATGLOGIA A febre amarella ataca ordinariamente d'um modo súbito, sem ser precedida de prodromos: os indivíduos no usofrueto de perfeita saúde, e oecupados em seus trabalhos ou durante o somno, e, o que é mais com- mum, ao levantar-se pela manhã, são surprehendidos pelos pheno- menos que mareão a invasão desta moléstia. Todavia tem-se observa- do casos em que alguns symptomas prodromicos precedem sua in- vasão, taes são indisposição geral, inaptidão tanto para os traba- lhos physicos, como intellectuaes, prostração, dores vagas nas per- nas, lumbago, cephalalgia pouco intensa, ou sensação de pezo para cabeça, incommodo no epigastrio, anorexia, sede, algumas vezes peque- na diarrhéa, em outras constipação de ventre; phenomenos estes cuja duração varia de algumas horas a dous ou três dias e são seguidos de outros que mareão a invasão desta terrível moléstia. Antes de entrarmos na exposição dos symptomas que caracterisão esta entidade mórbida cumpre notar que algumas vezes ella apresenta mani- festações symptomaticas tão diversas, quer devidas a constituições indi- viduaes differentes, quer a c msas outras, que nos escapâo, quer a com- plicações diversas e entre estas as que provem de infecção palustre que se torna por demais diiíicil fazer uma descripção geral que os compre- - 19 - henda. O grau de gravidade desta moléstia, assim como as complicações, podem modificar de tal modo sua marcha, que será muito difficil, impossí- vel mesmo em alguns casos delinear seus períodos; porem na maioria dos casos é possível reconhecer-se dous períodos bem distinctos, cara- cterisando-se um (o primeiro) pelos symptomas de uma reacção febril bem pronunciada e que se tem comparado a febre angiotenica, outro (o segundo) pela coloração amarella da pelle e das conjunctivas, vomito negro, hemorrhagias e phenomenos ataxo-adynamicos. Primeiro neriotl©.—Precedão ou não os symptomas precurso- res, a invasão da febre amarella se assignala por calafrios ou horripilla- ções alternando com calores e suores; algumas vezes é um calafrio úni- co que assignala sua invasão; outras, ao contrario, falta este symptoma e então sua invasão se denuncia, ou pelo augmento dos phenomenos pre- cursores, ou pelo apparecimento súbito d'uma cephaialgia intensa, oc- cupando principalmente as regiões frontal, supra orbitaria e occiptal, pelas dores no globo ocular, pela raehialgia, pela dor renal e pela dor contusiva dos membros. A face, que desde já é a sede de uma congestão, torna-se vultuosa e rubra, tendo alguma cousa de expressivo que não podemos des- crever, porem que não escapa a quem uma vez observou; a parede do thorax é também congesta; os olhos são injectados, vitreos e muitas vezes photophobieos: tal é o quadro que nos offerece o habito externo do doente. Uma febre intensa e continua apresenta-se desde logo e permanece por cinco ou seis dias como se vê dos registros juntos que representão a maioria dos casos. Com effeito o pulso forte, cheio, duro e mui freqüente pode marcar de 90 a 100 pulsações emais por minuto (vid. registro n.° 1 e2) desde o primeiro dia de moléstia: o calor da pelle é sensivelmente augmen- tado; á mão do observador a pelle é secca e urente umas vezes e outras um pouco humida, porém o calor está sempre elevado, como mostra o ther- mometro collocado na axilla. A assenção do thermometro offerece, na febre amarella, o typo denominado pelos thermologistas allemães—rápi- do—e pode exceder de 40° (vid. os reg. n.o I, 2e 3) desde o primeiro dia de moléstia, podendo continuar ainda a subir até attingir 41«. O Dr. La- cerda disse-nos que tinha observado um caso, na casa de saúde de Nossa Senhora da Gloria, em que elle calculava em 42o; porem não pôde certi- ficar-se pelo thermometro por causa do delírio de que era preza o doen- te. Este infeliz suecumbio no primeiro dia de sua moléstia, tendo vômi- tos pretos copiosissimos. Depois de atlingida esta alta elevação a tempe- — 20 - ratura mantem-se ordinariamente por dous á quatro dias, no fim dos quaes faz sua defervencia, ou rápida como a assenção e acompanhada de profusos suores, ou lenta sem regularidade, ou ainda a defervencia não se dá e o doente succumbe aos phenomenos ataxo-adynamicos. Um outro symptoma que não deixa de ter alguma freqüência são os vô- mitos: são elles quasi sempre precedidos de náuseas e epigastralgia e podem dar-se ou com espaçosos intervallos e serem seguidos de um al- livio, ou ao contrario dão-se muito aproximados uns dos outros a ponto de tornarem-se insupportaveis ao doente, tanto mais por que a este sym- ptoma vem juntar-se sede intensa e que os líquidos ingeridos para miti- gal-a vão ainda mais provocaí-o. Por isso não é raro vér-se alguns doen- tes queixando-se de sede insupportavel recusarem água ou qualquer outro liquido que se lhes offereça. As matérias que constituem o vomito neste periodo ordinariamente são, os alimentos ou bebidas ultimamente ingeridas, mucosidades, subs- tancias esverdinhadas pela presença de bile, mucos com strias de sangue ou mui raramente sangue rutilante ou preto. A respiração é accelerada, anciosa algumas vezes, acompanhando or- dinariamente as alterações thermo-sphygmometricas. A língua quasi sempre larga e humida é coberta de inducto branco no centro e tem os bordos e a ponta vermelhos; outas vezes porem tem grande tendência a seccar-se, e está coberta de saburra amarella; pode também ser intumecidae vermelha ou áspera, e neste caso sangra a menor pressão mostrando assim a grande tendência hemorrhagica que ha nesta moléstia: muitas vezes com effeito a hemorrhagia não se faz esperar por muito tempo. As gengivas apresentão ora um inducto nacarado, ao qual o Dr. Yal- leti liga máxima importância e considera como único signal valivel nos primeiios dias de moléstia, ora intumecida e muito rubra sangrando a qualquer pressão. A secreção urinaria e desde a invasão da moléstia é consideravelmen- te diminuída; algumas vezes á esta diminuição de secreção se ajuntão es- pasmos no collo da bexiga que impedem a sua excreção, outras a ex- creção não existe por falta de secreção, isto é, ha verdadeira anuria. Quando a urina é somente diminuída, o que felizmente é mais freqüen- te, ella apresenta os caracteres seguintes: é mais espessa, avermelhada, outras vezes cinzenta ou turva, ordinariamente apresenta a reacção aci- — 21 — da, e por excepção a alcalina; tratada pelo fogo ou pelo ácido nitrico ma- nifesta a presença de albumina em quasi todos os casos em que a mo- léstia tem de percorrer todos os períodos. Ja desde o primeiro periodo podem apresentar-se alguns phenomenos nervosos: taes são insomnia, uma agitação extrema, de modo que em nenhuma posição o doente está a commodo; outras vezes a agitação suc- cede ao delírio manso ou tão furioso a ponto de reclamar a camisola de força; porem na maioria dos casos estes symptomas nervosos não appa- recem no !.° periodo, e fallão em alguns casos durante toda moléstia. Este período dura de dous a quatro dias, no fim dos quaes pode a mo- léstia remettir; então apparece a melhora verdadeira ou apparente que muitas vezes separa o primeiro do segundo periodo, ou é annunciadora da terminação definitiva da moléstia. No caso de melhora verdadeira os symptomas vão sucessivamente des- apparecendo; as forças se levantão; a cephalalgia, epigastralgia e dores lom- bares diminuem consideravelmente ou desapparecem de todo; a albumina que se tinha manifestado desapparece da urina; a febre entra em defer- vencia rápida e é acompanhada de diaphorese abundante, e a mo- léstia termina-se sem apresentar outros symptomas, ou se manifestando a amarellidão das conjunctivas e da peripheria. Se, porem, ella tem de passar ao segundo período pode dar-se o se- guinte: ou ha simples remissão de alguns symptomas do primeiro perio- do coincidindo com a persistência ou augmento de outros, taes como, febre, a presença de albumina nas urinas, anxiedade epigastrica etc, ou desapparecem todos, excepto a albumina das urinas, e o doente parece entrar em convalescença até que no fim de dous ou três dias inopina- damente manifestão-se os symptomas graves que caracterisão o segundo periodo. — 22 — Registro n. 1 15 ANNOS, CONSTITUIÇÃO FORTE, TEMPERAMENTO SANGÜÍNEO. Dias Tcmp. Pulso Observações 2 40 112 Entrou com dous dias de moléstia. 3 39,3 104 4 38,2 88 5 39 96 Vomito preto. 6 38,2 84 7 38,4 96 Teve alta completamente restabelecido 8 38,1 80 no dia 9 de Julho com 12 dias de 9 38 76 moléstia. 10 37,5 64 Registro ai. *& 24 ANNOS, CONSTITUIÇÃO FORTE, TEMPERAMENTO SANGÜÍNEO. Dias Temp. Pulso 100 80 72 64 80 88 136 Observações 1 2 3 4 5 6 7 40,8 40,8 40 39,5 39,5 38,6 40 Entrou no primeiro dia de moléstia. Vômitos pretos. Idem. Idem e anuria. Falleceu as 4 horas da tarde deste dia. Registro n. & 45 ANNOS, CONSTITUIÇÃO FRACA, TEMPERAMENTO NERVOSO. Dias Temp. 39,1 40 40 36,5 37 Pulso 72 80 80 64 60 Observações Entrou com 3 dias de moletia. Melhoras notáveis e transpiração copiosa, Teve alta no dia 9 completamente res- tabelecido. — 23 - Negcftt.elo periodo.—É neste periodo sobre tudo que vemos a moléstia mostrar grandes variedades de phenomenos; porem é também nelle que se manifestão os seos symptomas característicos: é assim que ao estado congesto da conjuncliva e da pelle vem se juntar ou substituir a amarellidão destas partes, que segundo Gilbert Blané e Keramlren é devida aos glóbulos vermelhos do sangue alterados ou dissolvidos que se introduzem nos vasos incolores. É por tanto na maioria dos casos uma ictericia hematogena a que se observa na febre amarella, com quanto possa também ser hepatogena, como prova a presença da bile no sangue e nas urinas nos últimos dias de moléstia: e Saint-Vel que aceita o primei- ro modo de formação da ictericia, não nega a possibilidade do segundo. Esta colorisação cutânea é ora limitada a face, conjunctivas, a parede anterior do tliorax, outras vezes ao contrario invadindo primeiramente es- tes pontos, ella se estende em breve a toda superfície do corpo, sendo comtudo mais pronunciada nos pontos primeiramente invadidos, na axil- la e no scrotum; é do quarto ao sexto dia que apparece este importante symptoma; tem-se, comtudo, observado em alguns casos, cuja marcha era muito rápida, seu apparecimento desde o primeiro dia de moléstia, em outros ao contratrio só na convalescença; em muitos casos, é verdade, tem se visto que só post-mortem este phenomeno era notado. A cephalalgia, se não tinha cessado de todo, continua com mais ou me- nos intensidade, e seja tinha desapparecido, reapparece e persiste até os últimos dias de moléstia. Os phenomenos offerecidos pela lingua são muito variáveis: ora é ella como no l.o periodo, hunida, larga e coberta de inducto alvacento no cen- tro, sendo vermelha nos bordos e na ponta, ora em vez do inducto alvacento é o amarellado que occupa o centro deste órgão, outras vezes a lingua é estreita, tremula, preta e gretada, podendo ser ou viscosa ou completa- mente secca. Vimos na casa de saüde do Sr. Dr. Seixas três doentes que apresentavão pela manhã a lingua perfeitamente limpa e humida, em quanto que á tarde tinhão-n'a secca, tremula e preta; em alguns temos visto não só a lingua, mas também as gengivas tintas pelo sangue assim alterado. As hemorrhagias são, depois da côr icterica, um dos symptomas muito freqüente; em algumas epidemias sua manifestação é quasi geral; em ou- tras, porém, não é tão commum: sua sede é muito variável; a epistaxis de ordinário sem significação no 1.° período é quasi sempre muito grave quando __ 24 __ sobrevém no 2.o, de ordinário é continua, copiosae muito rebelde aos meios empregados; outras vezes, porém, offerece remittencia e cede a um trata- mento conveniente: a stomatorrhagia é uma outra espécie que acompanha quasi sempre a primeira, e tem por sede ordinária a lingua e as gengivas; porém de todas é a gastrorrhagia que é mais commum; é ella que provo- ca o vomito característico desta moléstia. Os doentes vomitão o sangue, ora reunido a um pouco de mucosidade, porém sem alteração alguma; ora o sangue sem mistura e rutilante, o que só tem logar quando a hemor- rhagia é considerável, e o estômago é muito irritavel; ora, o que é com- mum, o sangue alterado pelos ácidos do estômago é preto e constitue o vomito característico desta moléstia. O contento estomacal assim formado tem sido comparado a infusão de café, em que se tem deixado o pó em suspensão, ao chocolate quando era mais espesso; sendo o seu cheiro algumas vezes nauzeabundo. Já vimos na enfermaria de clinica medica do Rio de Janeiro um doente, cujo vo- mito cheirava a ovos batidos. Não é, porém, commum que estes vômitos não sejão precedidos pelos mucosos, biliosos, etc, que vimos apresentarem-se no 1.° periodo. Elles se effectuão ordinariamente com muita facilidade; algumas vezes, porém, são annunciados pela anxiedade epigastríca, dão-se com muito esforço, e o doente conserva a sensação de esfolladura.no pharínge e esophago; outras vezes terminado o vomito o doente fica alliviado. Elle appa- rece de ordinário do 4.o ao 6.° dia; algumas vezes, porém, tem-se apre- • sentado desde os primeiros dias de moléstia, em toda força do movimento febril, o que sempre é signal de máu prognostico; porque denotão a des- organisação rápida dos elementos morphologicos do sangue. A enterorrhagia é também freqüente em algumas epidemias; manifes- ta-se pelas dejecções, e, segundo o Dr. Alvarenga, é mais commum obser- var-se o sangue puro, fornecido pela hemorrhagia intestinal, que pela estomacal. Na pelle e no tecido cellular não é raro que ella se manifeste sob a forma de petechias ou echymosis, e outras vezes formão-se verda- deiros tumores sangüíneos, cuja ruptura dá logar a hemorrhagias re- beldes. Tivemos occasião de observar um caso destes, na casa de saúde do Dr. Seixas. As denudações dos vesicatorios, as picadas de sanguesugas, as cesuras de lancetas são outros tantos pontos que freqüentemente dão logar a gran- des perdas de sangue, que podem trazer a morte; a metrorrhagia não é — 25 - lambem mui pouco freqüente, e pode ser causa de aborto; o que é, porém, mui raro são as hemorrhagias pelos olhos, ouvidos e uretra. A temperatura, se tinha descido, como ordinariamente acontece, como apparecimento dos symptomas do 2.« periodo, sobe de novo e mantem- se entre 38.° e 40.o (Vid. o reg.) até os fim da moléstia; o pulso tomado nesta occasião é algumas vezes cheio, depressivel (pulso gazoso) e de freqüência normal; outras vezes filiforme e mui pouco freqüente; tem- se visto alguns casos em que o pulso chegava a bater 36 á 40 pancadas por minuto, o que coincidindo com a temperatura elevada era sempre de mau signal. A urina diminuída em sua secreção desde o principio da moléstia pode deixar de ser excretada, quer por spasmos do collo da bexiga, quer pela falta de secreção, o que constitue um signal da mais alta gravidade: te- mos visto em casos sempre terminados pela morte. Quando porém, ella é só diminuída, apresenta a côr amarellada, ver- melha ou escura, contendo albumina e o Dr. Figueira alem destes cara- cteres, encontrou biliverdina, cylindros de fibrina, cellulas epitheliaes, leucocitos, globos vermelhos de sangue e urato de ammonia. É neste periodo que os phenomenos nervosos geralmente apparecem: a intelligencia,quede ordinário é intacta, deixa desêl-o,e então vê-se sobrevir o delírio manso ou tão furioso que reclama meios enérgicos. Os mais com- muns dos symptomas nervosos são, a insomnia, a agitação, algumas ve- zes pequena somnolencia; a carphologia, os sobresaltos dos tendões, as convulsões são symptomas últimos e que são seguidos de perto pelo co- ma, se é que este não veio feixar a scena sem a manifestação d'aquelle. As parotides não são egualmente freqüentes em todas as epidemias, e quando apparecem, são sempre uma complicação incommoda e que pode retardar á cura do doente. MARCHA; DURAÇÃO E TERMINAÇÃO A febre amarella é uma moléstia de marcha ordinariamente continua. Algumas vezes, porém, as complicações com as moléstias endêmicas, de — 26 — origem palustre, fazem com que a febre amarella seja precedida de alguns accessosintermittentes bem francos, ou declarem-se durante seu curso phe- nomenos com este caracter. É nos logares pantanosos que ordinariamente se observa esta alteração no curso da febre amarella. Em Lisboa foi ra- rissima, nas Antilhas é de Novembro á Maio, quando tornão-se freqüentes os casos de febres palustres, que se observão os phenomenos de inter- mittencia (Dutroulau e Rufz); no Rio de Janeiro é também no principio do inverno que a remittencia torna-se mais commum. Os casos que vimos aqui forão todos de marcha continua. Na forma completa e de marcha regular é sempre possível descriminar dous pe- ríodos; nos casos abortivos não ha senão o primeiro; nos casos muito graves e em que a moléstia percorre todos os seus períodos em dous á três dias, os symptomas do l.o confundindo-se por assim dizer com os do 2.o, não deixão separal-os. ISsaraeSo.—-Nos casos muito benignos e em que a moléstia não ex- cede o l.o periodo, sua duração é de três a quatro dias; nos casos extre- mamente graves a morte pode sobrevir desde algumas horas até 3 dias; porém ordinariamente a moléstia percorre seus períodos no es- paço de 7 á 10 dias, exceptuando a convalescença, que é mais ou menos longa, segundo tem ou não apparecido complicações, taes como abcessos, parotides etc, e quando a febre amarella reveste desde seu começo a forma typhoidéa, torna-se de mais longa duração e pode atlingir 18, á 24 dias e mais. Terminações,—As terminações da febre amarella são: ou pela cu- ra completa, ou pela morte: cm um e outro caso porém podem offerecer-se certas particularidades: na terminação feliz não ha convalescença para os doentes que só passarão pelo l.o periodo; em quanto que a convalescen- ça é bem longa para aquelles que passarão por todos, maxime se elles forão atormentados por hemorrhagias copiosas e rebeldes, vômitos pretos ou os phenomenos typhoideos, ou apresentarão parotides e abcessos di- versos etc. Na terminação pela morte, esta sobrevém de ordinário pelo augmento successivo dos symptomas, e pelo apparecimento de novos, como sejão os cerebraes etc. Neste caso os doentes são tomados de delí- rio brando ou furioso, convulsões, sobresaltos dos tendões, carphologia e terminão a vida mergulhados em um coma profundo, pela asphyxia, ou por syncope no meio dos phenomenos ataxicos; em outros é a uremia com seu cortejo symptomatico que Yem feixar a scena, ou finalmente — 27 — suecumbem exhauridos por hemorrhagias copiosas, apresentando o corpo, era inundado de sangue, ora coberto de suor frio e viscoso. As recahidas são pouco freqüentes e de ordinário tem logar por desvio de regimen. As reincidências, se as ha, são muito raras: o Sr. Dutroulau diz não ter ob- servado uma só vez quando o ataque anterior tinha sido completo, os ca- sos incompletos não trazem porém immunidade áquelles que tem soffrido uma vez: o Sr. Bellot é da mesma opinião, e segundo Pugnet são sempre mais leves os ataques ulteriores. NATUREZA Diversas tem sido as hypothcses emittidas para estabelecer a natureza da febre amarella. Apontaremos algumas, aceitando porém a ultima por nos parecer mais consentanea com os factos. Uns, tendo em consideração o facto da febre amarella desenvolver-se nos paizes em que mais reinão as febres palustres, augmentando-se com o calor e humidade; e obser- vando demais que as febres palustres precedião e seguião muitas vezes as epidemias de febre amarella, teem admittido a identidade de origem, sendo esta o grau mais forte daquellas; desta opinião são Pugnet, Cher- vin e Thomaz. Um estudo mais profundo faz desapparecer esta identidade apparente das condições etiologicas. Com effeito em todo logar que ha pântanos, matérias vegetaes em decomposição, calor e humidade, e em que as fe- bres palustres são endêmicas, deveria, segundo esta hypothese, ser fre- qüente a febre amarella; porém assim não acontece. Se as febres palus- tres manifeslão-se em qualquer ponto do globo em que se encontra o con- curso das condições acima mencionadas; a febre amarella ao contrario conserva seus focos endêmicos limitados as grandes Antilhas e golpho Mexicano; as primeiras não se transmittem fora do foco por nenhum mo- do, a segunda ao contrario desenvolvida por infecção nos focos endêmi- cos é transmittida, já pelas mercadorias, já pelos doentes que contagião directamente aos indivíduos sãos, e creão novos focos, os quaes não levão sua acção a localidades muito distantes das costas por mais pântano- — 28 — sas que estas sejão; ella tem sua forma benigna que nada tem de análoga com as febres inmittentes, do mesmo modo que estas tém também suas formas graves, tão terríveis como a febre amarella e da qual é sempre possível distinguir-se, o que não aconteceria se uma fosse a forma leve, e outra a grave da mesma moléstia. As lesões anatômicas ainda vêm trazer um elemento distinctivo na ausên- cia de toda lesão splenica na febre amarella, o que nunca acontece nas fe- bres palustres graves. Para nós a febre amarella é uma moléstia infecto-contagiosa, devida ao en- venenamento do sangue por miasmas ainda desconhecidos; porém que pro- vavelmente são parasitas, originários das regiões em que ella é endêmica, os quaes transportados para localidades em que encontrão condições pró- prias á seu desenvolvimento, e sendo absorvidos pelas vias respiratórias e outras, provocão, pela sua presença na economia, uma reação, alterão os elementos morphologicos do sangue, estendendo sua acção aos sólidos, principalmente ao ligado, rins e tubo gastro-intestinal. D'ahi a ictericia, os symptomas geraes de decomposição, as hemorrhagias e as grandes per- turbações nervosas. DIAGNOSTICO Em seu primeiro periodo a febre amarella leve pode ser confundida com a febre angiotenica, a qual segundo a expressão de Dutroulau só lhe falta a causa epidêmica. Não é fácil também distinguir-se em seu principio a nossa febre das eruptivas em seu periodo de invasão, quasi todos os symptomas do l.o período d'aquella, podem ser encontrados nestas e vice-versa; todavia a epigastralgia com falta de meteorismo abdominal, a côr de nacar e a tu- mefação gengival, que Humboldt considera como privativa da febre ama- rella, porém que Manzini tem encontrado na variola, são symptomas que fallão em favor da febre amarella. Esta difficuldade de diagnostico só pode existir para com a l.a, quando o typho-icteroide não attinge o 2.« periodo, e para com as segundas cessa — 29 — desde o 3.° dia de moléstia pelo apparecimento da erupção, ou pelo dos symptomas característicos da febre amarella. Em seu 2.o periodo ainda pode ser confundida com a remittente biliosa grave, também denominada biliosa hcmaturica, não só porque manifestão-se em condições etiologicas apparentemente análogas, como também porque certos symptomas que caracterisão áquella moléstia, como o vomito preto, a côr amarella da pelle e da conjunetiva assemelhão-se ao vomito escuro e côr icterica da remittente biliosa; porém um exame mais aprofundado das duas moléstias permitte sempre distinguil-as. Se alguns pontos de contado existem en- tre os caracteres destas moléstias, as differenças não são menos capitães: l.a do lado etiologico as causas não são as mesmas: a da febre biliosa grave é sempre o miasma palustre, o qual não produz a febre amarella como já deixamos provado: 2.o os symptomas de invasão da remittente biliosa hemorrhagica não são tão pronunciados como os da febre ama- rella: a ictericia que não falta e é quasi sempre o l.o symptoma d'aquella não apparece ordinariamente nesta senão do 4.o ao 6.° dia e falta algumas vezes durante toda moléstia; o vomito escuro da primeira é devido a pre- sença da bile em quanto que o vomito preto da segunda é constituído por sangue alterado, as hemorrhagias tão freqüentes e de sede tão variada na febre amarella são raras na biliosa hematurica e tem por sede as vias uri- nai ias, onde quasi nunca se observa na primeira; as urinas são biliosas desde a invasão da moléstia, nunca ha suppressão da secreção urinaria e quasi nunca são albuminosas nesta; ellas são n'aquellas, ao contrario, al- buminosas desde o fim do l.o periodo, quasi nunca são biliosase quando são, é no fim da moléstia e nunca no principio; sua secreção é sempre di- minuída e muitas vezes completamente supprimida.3o Os estados anatô- micos do figado e do baço são completamente differentes nestas duas moléstias (Vid. anat. patb). Em uma outra moléstia, que também por apresentar alguns symptomas communs com a febre amarella, tem-se tratado de estabelecer o diagnos- tico differencial, é a ictericia grave. Se, como a febre amarella, ella apre- senta a côr icterica da pelle e o estado gorduroso do figado, as suas dif- ferenças ainda são maiores: com effeito alem de que a etiologia é toda differente, os symptomas intensos da invasão da febre amarella, a alta elevação de temperatura, a rachialgia, as dores contusivas dos membros nunca se encontrão na ictericia maligna', as hemorrhagias múltiplas e o vomito negro tão communs na primeira são raros e pouco abundantes na - 30 — segunda; a côr icterica pronunciada e precoce que é um caracter inva- riável da ictericia maligna, ao contrario na febre amarella é pouco pro- nunciada, falta algumas vezes, e de ordinário apparece do 4.o ao 5.o dia, substituindo o estado congestivo que se nota no l.o periodo desta molés- tia. Com quanto o estado gorduroso do figado exista em uma e outra mo- léstia, ha comtudo esta diííerença, que na febre amarella, as cellulas he- paticas murchão-se, enchem-se de gordura e persistem; em quanto que na ictericia grave ellas se rasgão e desapparecem. A typhoide biliosa do Egypto é uma outra entidade que pela sua inva- são análoga a da febre amarella, pela ictericia que segue de perto sua in- vasão e pelos vômitos escuros, pode ser confundida com esta moléstia; porém differença-se pela côr icterica que se manifesta mais cedo, e so- bretudo pelas suas localisações mórbidas, as quaes nunca se observão na febre amarella; taes são a pharingite com exsudato membranoso, a ulcera laringéa, o rápido e considerável desenvolvimento do baço, estado dolo- roso da região splenica. O baço é infiltrado por exsudatos fibrinosos e muitas vezes suppura na typhoide biliosa do Egypto, o que não se dá nun- ca na febre amarella. PROGNOSTICO E MORTALIDADE O prognostico da febre amarella é em geral considerado como dos mais graves; porém varia com o gênio epidêmico de que se tratar: varia ainda consideravelmente com a forma da moléstia. As formas incompletas, que não excedem o 1.° periodo terminão-se sempre pela cura do 4.o ao 5.o dia, e as formas completas, em que os symptomas do l.o periodo se con- fundem com os do 2.o, são quasi sempre funestas. A constituição do indi- víduo, o logar em que reside o doente, o estado de adiantamento da mo- léstia ainda são circumstancias que influem poderosamente para sua ter- minação. A violência dos symptomas do l.o periodo nem sempre indicão que o prognostico seja desfavorável, assim como o inverso não pode ser base se- gura para um favorável; por quanto se tem visto, após a violência extre- — 31 — ma de sua invasão a moléstia terminar-se no l.o periodo, ou seguir o 2.« sem grande gravidade; e, ao contrario, casos cuja invasão tinha sido mui benigna revestirem formas graves e manifestarem os symptomas os mais assustadores, terminando-se pela morte. Alguns symptomas devem ser considerados como de mau signal, taes são: no 1 .o periodo a irregularidade e tremor do pulso, a elevação considerá- vel da temperatura (iO.o a 4l.o) continuada por alguns dias (Vid. os reg.), o apparecimento precoce da ictericia e do vomito preto, quando ainda ha reacção febril intensa: no 2.o período as hemorrhagias consideráveis e rebeldes, a suppressão da secreção urinaria, ou quando ella persiste, a grande quantidade de albumina nas urinas. Resulta dos estudos thermo-sphymographicos do Dr. Lacerda que a dis- cordância entre as variações thermicas e a freqüência do pulso quando esta discordância coincidia com uma temperatura muito elevada, os pheneme- nos mórbidos se aggravavão e a morte era precedida de symptomas ataxicos ou adynamicos. Enfim, segundo Frederic Thomaz, o coma, os sobresaltos dos tendões, o resfriamento do corpo, o pulso nullo, ou vermicular ou muito lento quando o caracter da moléstia é nervoso, são signaes d'uma morte próxima e certa. Mortalidade*—A mortalidade da febre amarella varia com as condi- ções de malignidade e de benignidade desta moléstia, com o maior ou me nor numero de acelimados enão acelimados no local em que reina a epide- mia, etc: assim nas enfermarias do hospital da Misericórdia, no Rio de Janeiro cm 1850, para onde affluia maior numero de estrangeiros, e gran- de numero delles já no 2.o periodo desta moléstia, a mortalidade foi de 1036 em 2086 doentes c 50 por cento pouco mais ou menos»; em outras enfermarias, em que não predominou o numero dos estrangeiros, a mor- talidade variou entre 10 e 30 porcento. No lazareto de Mont-Serrat, de 1853 a 1859, a mortalidade tem oscilla- do entre 30 e 50 por cento: na casa de saúde do Sr. Dr. Seixas entrarão do fim de Março a Abril 68 doentes; suecumbirão 18, dos quaes 2 entrarão moribundos, e 2 suecumbirão á pneumonia secundaria desenvolvida du- rante a convalescença; os mais sahirão curados, tendo tido ataques com- pletos todos elles. — 32 — TRATAMENTO A therapeutiea da febre amarella, como de todas as moléstias da grande classe das infecto-contagiosas, não tem base segura; o tratamento, que melhor lhe convém, é sem duvia aquelle que tem por fim ajudar a natu- reza em lucta contra o principio morbigeno, e combater os symptomas graves que se manifestarem durante o curso da moléstia. No primeiro periodo, sendo os meios de resolução indicados pela própria moléstia, os suores copiosos, as evacuações mais ou menos abundautes, as indicações therapeuticas se resumem a estabelecer e activar a transpiração, logo que os primeiros symptomas manifestão sua invasão; o que se obtém pelos pediluvios quentes e pelas infusões de flores de sabugueiro, de cascas de limão, de melissa, ás quaes se addicionão os preparados de ammonia, a tintura de aconito e a de belladona, ou água de louro-cerejo, se os sym- ptomas cerebraes se desenvolvem desde a invasão com muita intensidade. Vimos o aconito e os preparados de ammonia empregados pelo Dr. Tor- res Homem manifestar uma acção prompta e enérgica, provocando uma sudação copiosa, que era de ordinário seguida pela calma sensível do movimento febril e diminuição considerável da cephalalgia, maxime quan- do reunidos a tintura de belladoua. Se estes meios não bastão para provocar a transpiração, pode-se re- correr com proveito aos meios hydrotherapicos: os banhos de vapor, os banhos frios seguidos do envoltório em cobertores de lã, a água fria be- bida aos copos e repetidas vezes, são meios capazes de provocar uma transpiração abundante, trazer o abaixamento da temperatura e diminui- ção dos batimentos da radial, phenomenos estes que são seguidos de um bem estar relativo, que não se obteria por certo por nenhum outro meio. A sangria geral deve ser completamente banida do tratamento da febre amarella: inútil nos casos leves, e que se curão pelo único esforço da na- tureza, ella é perigosa nos de grande gravidade, em que o 2.o período se manifesta cedo, nas formas torpidas e em todas as formas, quando o pulso é pequeno, duro, muito freqüente e a lingua é tremula; e só achan- do sua applicação, segundo os melhores observadores, no começo da mo- — 33 — lestia, quando os indivíduos são de constituição forte, e que os sympto- mas congestivos são francamente pronunciados; e como estas condições de nenhum modo indicão que o 2.o período não esteja eminente, a sangria geral é hoje justamente banida pela maioria dos práticos modernos por ser uma medicação, cuja utilidade é mais que problemática, e que na maioria dos casos, apressando a adynamia que está imminente, torna-se de perigosas conseqüências. As sangrias locaes, de que se utiliza com o fim de obter uma derivação, e para acalmar a cephalalgia e epigastralgia são vantajosamente substituídas pelas compressas d'agua fria in loco dolente, pelas fricções com talhadas de limão sobre o corpo, pelos banhos com água tepida e suco de limão, que, promovendo a exsudação cutânea, obrão como calmantes, pelos se- napismos nas extremidades, que, produzindo todos os seus bons effeitos, não expõem os doentes ás hemorrhagias passivas consideráveis, como o fazem as picadas das sanguesugas e as escarificaçõcs das ventosas. Obtida a transpiração, trata-se de entreter a liberdade do ventre por meio dos laxativos: o óleo de ricino, as limonadas de citrato de magne- sia, de cremor de tartaro, a magnesia fluida de Murray, os sulfatos de soda edemagnesia são meios quotidianamente empregados. Escolhem-se estes meios conforme o estado das vias digestivas, preferindo-se sempre os mais brandos, quando ha grande susceptibilidade para o estômago; se porém este não tolera nem os laxativos brandos recorrer-se-ha aos clysteis laxativos ou irritantes; o de herva de bicho tem merecido preferencia sobre os outros ao Dr. Pereira Rego, quando havia stupor ou desarranjos da inervação, com tendência ao coma, bem assim quando existia dysuria. Pode-se recorrer aos vomitivos, quando houver embaraço gástrico; é preferível a ipecacuanha ao emetico, que muitas vezes provoca o vomito preto e apressa os phenomenos adynamicos. Todos estas meios oppõem uma dirivação ás congestões sangüíneas, acalmando deste modo a excita- ção nervosa que soe acompanhar a invasão desta moléstia. Se os vômitos se manifestão desde o principio e conservão-se obstinados, recorre-se ás compressas quentes sobre o epigastrio, ventosas seccas, ás bebidas geladas, ao gelo em fragmentos, aos saes de morfina, ao elixir paregorico e ás po- ções com água de louro-cerejo. O sulfato de quinina tem sido applicado em conformidade com a doctrí- na palustre, como especifico desta moléstia, desde que apparece a remis- são do l.o periodo; este modo de proceder, porém, é reprovado pelos me- — 3! — Ihores práticos modernos (Dutroulau, Saint-Yel e outros), os quaes não só notarão que os saes de quinino não influião favoravelmente sobre a mar- cha ou gravidade da moléstia, como ainda que augmentavão muitas vezes a agitação e anxiedade dos doentes, e que dados em alta dose produzião seus effeitos conhecidos: zunidos no ouvido, eufraquecimento da vista, e que predispunhão a adynamia irremediável. Yimos o Dr. Torres Homem, nes- tas condições, com o intento de fazer abortar a moléstia, applical-o sem resultado. No 2.o periodo os meios therapeuticos empregados devem preencher o duplo fim de combater os symptomas graves ou mitigal-os, e sustentar as forças do organismo; os vômitos, as hemorrhagias, a diminuição ou sup- pressão da secreção urinaria e os accidentes nervosos, sendo os princi- paes symptomas que trazem gravidade á moléstia, devemos procurar os meios próprios de combatel-os, ao mesmo tempo que tonificamos os doen- tes. Se os vômitos são simplesmente nervosos e não são acompanhados de soluços, as bebidas geladas, o vinho de Rordeaux com água de Seltz, o vinho de Champagne, a cerveja, são meios muito bem preconisados; se, porém, ha soluço, não convém as bebidas geladas, então são de grande proveito as pérolas de ether, de chloroformio, os preparados de morfina quer internamente, quer pela injecção hypodermica; pode-se recorrer ainda ao emplasto de losna, e aos sinapismos applieados sobre o epigastrio. Se são os vômitos hemorrhagicos que se tem de combater, pode-se re- correr ás compressas frias que se applicão sobre o epigastrio, ao uso inter- no das limonadas vegetaes frias, e algumas vezes geladas; as preparadas com o suco de limão são muito empregadas; assim como os adstringentes —o tanino, o perchlorureto de ferro, etc. são os meios que mais tem apro- veitado. As hemorrhagias, sendo a expressão da difluencia do sangue, e pela sua abundância, podendo determinar a morte do doente, requerem ao mesmo tempo um tratamento local, que obre directamente sobre o escorrimento, cujos agentes são o frio e todos os adstringentes, o perchlorureto de ferro, o alumen, o pó de quina, o nitrato de prata e os ácidos concentrados, se- gundo se trata de hemorrhagias interna ou externa e outro que actua sobre o estado geral, tonificando o organismo e corrigindo a dyscrasia do sangue* preenchem esta indicação os tônicos e excitantes: o cosimento de quina, o antifebril de Lewis, as infusões de valeriana, de arnica, de serpentaria, a água ingleza e as bebidas vinhosas. Por meio deste tratamento applicado — 35 — com perseverança tem-se podido chegar ao mesmo tempo a deter as he- morrhagias e a levantar as forças do organismo salvando desta sorte aos doente, que parecião condemnados á uma morte certa, contra a suppres- são da secressâo urinaria fazem-se ordinariamente as fricções com talha- das de limão, com therebentina sobre a região, e applicão-se clysteis corn camphora, nitro, herva de bicbo, etc Algumas vezes todos estes meios falhão, e então á renal anúria vem-se reunir os phenomenos nervosos de forma ataxica, como o tremor da lingua, o delírio, as convulsões, o sobresalto dos tendões, constituindo um estado verdadeiramente desesperado. Nestas condições, segundo o Rarão de Petro- polis, pode-se ainda salvar a quinta parte dos doentes pelo emprego d'agua fria em affusões, segundo o methodo de Curie. Apoz o seu emprego vê-se muitas vezes a pelle se humedecer, ou ter logar uma transpiração abun- dante, restabelecer-se a secreção urinaria, acalmar-se os symptomas ner- vosos, o que permitte continuar com o tratamento tônico, que nunca deve ser despresado durante o segundo periodo. A diarrhea e o estado adyna- mico sós contra indicão o emprego hydrotherapico; em todos os mais es- tados elle é proveitoso. Contra a adynamia tem-se applicado o chá aleoolisado, o café preto, aconselhado por Arnoux, fricções com vinagre quente, sinapismos volan- tes, etc. Quando a adynamia for caracterisada pela prostração sem resfria- mento, haja ou não delirio, deve-se recorrer a quina em poção ou clystel, ao sulfato e valerianato de quinina em pequena dose. Neste estado vimos o Dr. Torres Homem applicar o ácido phenico, a creosota, a água de Labarraque e a camphora em poção, assim como em clysteis; estes meios, porém, tendo sido applicados em pequeno numero de doentes, e quando a moléstia já se achava muito adiantada, não podemos por isso apreciar sua utilidade. Roannet aconselha o sulfato de strychnina na dose de 1 a 2 cent. nestas adynamias com tendancia á paralysia. Taes são os meios que mais tem aproveitado no tratamento da febre amarella. Propliylaxia.—Não tendo-se até hoje descoberto, apezar de todas as tentativas, um meio preservativo contra a febre amarella, tudo o que ha a fazer pela prophilaxia é, de uma parte, evitar nos logares em que ella reina as causas que podem contribuir para seu augmento e propagação, e de outra parte por em uso medidas regulamentares que obstem sua im- portação aos portos ainda isentos. Se uma epidemia se desenvolve em — 36 — uma localidade qualquer, e a deserção de toda população ou de grande parte é possível, ella deve ser feita por ser um dos meios mais efficazes para limitar a febre amarella. Os fugitivos só deveráõ voltar na estação fria, e os estrangeiros devem conservar-se arredados do local infecto por todo tempo que durar a epidemia. Se, porém, como de ordinário acontece, este meio é impraticável, con- vém então que as autoridades competentes não renunciem empregar meio algum dos aconselhados pela hygiene publica. É conveniente, portanto, (pie procure affastar ou melhor destruir todas as causas de insalubridade: assim as ruas devem ser varridas e regadas, quando houverem grandes calores; devem as autoridades impedir que, nos quintaes e pateos das casas, se lancem animaes mortos, matérias fecaes e urinarias ou águas servidas; todas as casas devem ter canos de esgoto e latrinas, que func- cionem com toda regularidade, sendo as ultimas desinfectadas todos os síias com soluções de chlorureto de cálcio ou sulfato de ferro. Ao mesmo tempo cada indivíduo deve seguir uma hygiene severa, mas que não o affaste consideravelmente do seu modo de vida habitual: assim não fará uso de uma alimentação muito abundante, ou de má qua- lidade; não expor-se-ha a insolações prolongadas, evitará, emfim, os resfria- mentos, a humidade da noite, e os excessos de qualquer natureza que elles sejão. Reconhecida, como está hoje, a propriedade contagiosa na febre ama- rella, a questão das quarentenas não deve ser menoscabada, como tem sido entre nós, pelas autoridades competentes: convém, pois, que o navio chegado d'um porto em que grassa esta moléstia, e com mais razão aquelle em que ella se tiver declarado a bordo, seja sujeito a medidas sanitárias convenientes. O navio suspeito deve fundear em um ponto distante dos outros navios, e tal que os ventos por elle contaminados não passem sobre a população, ou sobre os outros navios fundeados no porto: sua tripolaçâo, como os pas- sageiros, devem desembarcar logo e ser conduzidos para um logar de observação por alguns dias, onde todos os cuidados de limpeza sejão pos- tos em pratica, e, aquelles que enfermarem, sejão tratados em lazaretos para este fim preparados. As mercadorias, antes de serem entregues ao commercio, devem ser submettidas a desinfecção. Os navios devem ser lavados e veiitillados tanto quanto for possível — 37 — A necessidade das quarentenas sobe de ponto, quando o navio vindo de um logar em que grassa uma epidemia de febre amarella com intensida- de, e tendo-se declarado a moléstia á bordo durante a viagem, chega em um porto que, como os nossos, encontra as condições hygienicas as mais deploráveis, reunidas á uma alta temperatura e á grande humidade que nelles se observa. Cumpridos rigorosamente estes meios que apontamos, acreditamos que a febre amarella, que sempre nos tem sido presentes do estrangeiro, des- ^ apparecerá do nosso solo. SECÇÃO MEDICA Vantagens da escutação e percussão para o diagnostico PROPOSIÇÕES I.—A escutação é a operação por meio da qual o observador procura assenhorear-se dos diversos ruidos que se passão nos órgãos, quer sãos, quer doentes. II.—A escutação não foi descoberta por Laennec, ella data dos tempos primitivos da medicina, como se vê nas obras de Hippocrates. III.—Laennec aperfeiçoando a escutação no estudo das moléstias, apre- sentou a escutação mediata, que era feita por meio de um instrumento cylindrico—o stethoscopio. VI.—Não é indiftérente empregar-se a escutação mediata ou immedia- ta, casos ha em que esta avantaja áquella e vice-versa. V.—A sciencia do diagnostico tanto em medicina, como em cirurgia, assenta sobre bases mais sólidas desde que se aperfeiçoou a escutação. VI.—A escutação é o único meio capaz de fazer diagnosticar com cer- teza uma prenhez simples ou dupla. VII.—A escutação por si só fornece os dados necessários para o dia- gnostico preciso das lesões valvulares. VIII.—A ignorância das vantagens da escutação fez com que na antiga nosologia se considerasse a hemopthise como moléstia protopatica. IX.—A percussão é o meio de chegar-se ao conhecimento dos sons que pioduzem as differentes partes do organismo, quer physiologico, quer pa- thologico. X.—A percussão, assim como a escutação, datando dos tempos de Hip- pocrates foi aperfeiçoada por Avenbrugger, e mais tarde Piorry apresen- tou a percussão mediata, a qual deo melhores resultados que a immediata até então empregada. XI.—A percussão permitte avaliar o augmento ou diminuição do figado e do baço. — 40 — XII.—O diagnostico da pneumonia recebe um poderoso auxilio da es- cutação e percussão. XIII.—A percussão e a escutação reunidas fornecem dados para o dia- gnostico differencial entre a pneumonia e a pleuresia. XIY.—Os diversos gráos da tuberculose pulmonar são revelados pela escutação e percussão. XY.—O diagnostico das moléstia do coração e do pulmão deve o seu brilhantismo a escutação e a percussão, SECÇÃO CIRÚRGICA Asphyxia dos recém-nascidos, snas cansas, formas, diagnostico e tratamento PROPOSIÇÕES L—Dá-se o nome de asphyxia ás perturbações da hematose provoca- das pela suspensão mais ou menos completa dos movimentos respiratórios (Bouchut.) II.—A ruptura do cordão umbilical, a sua compressão entre as pare- des da bacia e a cabeça ou o corpo do feto, as circumvoluções que o cordão pode fazer em roda do pescoço do feto, o despego prematuro da placenta e o parto longo e penoso, são as causas mais communs da as- phyxia dos recém-nascidos. III.—A compressão da cabeça do feto pelo forceps, os derramamentos sangüíneos no cérebro e nas meninges, a presença de mucosidades nas fossas nasaes, na cavidade buccal e no larynge do feto, o seu nascimento prematuro, a fraqueza congênita ou adquirida pelo mau estado de saúde da mulher durante a gestação, são outras tantas causas de asphyxia nos recém-nascidos. IV.—Duas são as formas d'asphyxia: a forma apopletica e a forma simples. Y.—A tumefação e a côr azulada da superficie cutânea, sobre tudo na face, a lividez dos lábios, as pulsações fracas ou obscuras do coração ou do cordão umbilical, conservando o corpo sua temperatura normal, ca- racterisão a forma apopletica da asphyxia dos recém-nascidos. VI.—A pallidez das mucosas e da pelle, as manchas de meconio sobre ella, a relaxação dos membros, dos lábios e da maxilla inferior, os bati- mentos fracos ou nullos do cordão umbilical e do coração caracterisão a forma simples. VII.—No diagnostico da asphyxia dos recém-nascidos é de summa im- portância a escutação do tborax, principalmente a da região precordial. VIII.—A forma apopletica tendo sido reconhecida, o parteiro deve sem demora cortar o cordão imbilical e deixar' correr uma a trez colheres de 6 — 42 — sangue; em seguida examinar a cavidade buccal e as fossas nasaes e ex- trahir dellas as mucosidades que possão obstruil-as. IX.—Se não se pode obter sangue pela secção do cordão umbilical*; deve se mergulhar o menino doente em um banho tepido para facilitar o escorrimento d'aquelle liquido, e se o resultado for ainda negativo, ap- plicar-se-ha uma sanguesuga em cada apophyse mastoidéa. X.—Na forma simples é contra indicada e perigosa a secção do cordão umbilical. XI.—Convém nessa forma as fricções seccas, as fricções com flanella embebida em vinagre ou em aguardente camphorada, e a excitação das mucosas buccal e nasal com líquidos irritantes. XII.—Em ambas as formas da asphyxia dos recém-nascidos, os banhos quentes com líquidos irritantes ou folhas aromaticas, são aconselhados por muitos práticos. XIII.—Se a asphyxia continua, far-se-hão aspersões com água fria sobre o corpo do recém-nascido, que logo depois deve ser envolvido em pan- nos quentes. XIV.—O emprego da electricidade é aconselhado por muitos práticos. XV.—Um dos meios mais prompto e seguro para cura da asphyxia dos recém-nascidos é a insufflação pulmonar continuada até o restabeleci- mento completo da respiração. -&h~ SECÇÃO ACCESSORIA Gomo reconhecer-se que houve aborto em um caso medieo-Iegal? PROPOSIÇÕES 1.—Considerado sob o ponto de vista medico legal, aborto é a expulsão violenta e prematura do producto da concepção. II.—As variadas e numerosas causas do aborto natural devem ser pre- sentes ao espirito do medico-legista, quando tiver de verificar se um aborto dado foi ou não provocado. III.—Nas multiparas, a repetição do aborto nas gestações anteriores e nas mesmas epochas deve ser tomada em muita consideração. IV.—O aborto pode ser provocado por substancias medicamentosas ou por processos cirúrgicos. Y.—As sangrias geraes e locaes, ospediluvios sinapisados, os semicu- pios quentes, os drásticos, a sabina, a arruda e o açafrão são os meios de que primeiro se lança mão para provocar o aborto. VI.—O uso destas medicações, durante a gestação, sem causa que jus- tifique o seu emprego, é um elemento que deve actuar no espirito do medico-legista. VII.—Os diversos processos cirúrgicos empregados para provocar o aborto reduzem-se a duas classes principaes: a d'aquelles que despegâo o ovo, e a dos que perfurão suas membranas. VIII.—A narração das circumstancias, que precederão e acompanharão o aborto, pode esclarecer o perito no juizo que tiver de formar acerca da questão vertente. IX.—O exame do producto da concepção, posto que não seja indispen- sável, concorre muito para o esclarecimento desta questão. X.—O exame da mulher é indispensável para verificação do aborto. XI.—A autópsia da mulher, que tiver succumbido a um aborto, é de absoluta necessidade, não só para o reconhecimento do gênero de morte, como para o dos meios empregados para provocação do aborto. — 44 — XII.—Quando forem encontradas, no collo do utero e vagina, feridas, perfurações e dilacerações, e lesões análogas no feto, pode o perito affirmar que houve aborto provocado. XIII.—Se a autópsia revellar a presença do ovo no utero, com suas membranas despegadas em certa extensão, e o collo francamente dilata- do, é evidente que houve tentativa de aborto. XIV.—Se o aborto tem logar nos três primeiros mezes de gestação, os seus vestígios são insignificantes ou nullos: desta epocha por diante deixa signaes, que o denuncião. XV.—Em qualquer epocha da gestação é tanto mais difficil reconhecer que houve aborto, quanto mais remota é a epocha em que se procede o exame. Cj^c^ HIPPOCRATIS APHORISMI I. Lassitudines spontè obortce morbos denuntiant. (Sect. 2.*, Aph. 5.) II. Ubi in febre nonintermittente difficultas spirandi et delirium fit, lethale* (Sect. 4.a, Aph. 50.) III. In morbis acutis extremarum partium frigus, malum. (Sect. 7.a, Áph. 1.) IY. Ubi somnus delirium sedat, bonum. (Sect. 2.* aph. 2.J. V. In febribus acutis convulsiones, et circa víscera dolores vehementes, malum. (Sect. 4.% Aph. 66.) VI. A vigiliâ convulsio, aut delirium, malum. (Sect. 7.a, Aph. 18.) Typographia de J. G. Tourinbo. Z&ernetáVa â &omtnedí'- cena /'4 o/e ótffaodfo a^ *êjs. * <£/)*. ^aé/ta*. $