FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA EDUARDO JOSÉ DE ARAÚJO 187«. jja^^rttgirarj^arTTOS^^-yraggKl?1 w &? ^ THESE APRESENTADA PARA SER SUSTENTADA NA FACILMDE DE MEDHM M BAHIA SM EfOVSIuIBE© DE ISZ2 POR | SATURAI D'CSTA PBOVISCI.1 Filho lfiçilimo do Major Antônio José de Arauj) Lima e D. Luiza Carolina lí"mh's de Araújo. PARA OBTER O GRAU DOUTOR EM MEDICINA. Lex jubet, et Iegi parere debemus. u...... '•o' BAHFA lYPOGRAPHIA DO «CORREIO DA BAHIA » Bua d'Alfândega, n. SO I872. FACULMÜE DS I2MCINA DA BAHIA DIRECTOR VICE-DIRECTOR 0 EXM SR. CONSELHEIRO DR. VICENTE FERREIRA DE MAGALHÃES. LENTES PROPRIETÁRIOS. OS SRS. DOUTORES JL.° íillllO. MATÉRIAS QUE LECCIQXAM Cons. Vicente Ferreira de Magalhães..........fPhysica em geral e particularmente cm suas ap- ° ) phcaçoes a Medicina. Francisco Rodrigues da Silva................. Chimica e Mineralogia. Baião de Itapoan............................ Anatomia descriptiva. %£.° amio. Antônio de Cerqueira Pinto.................. Chimica orgânica. .leionimo Sodré Pereira..................... Physiologia. Antônio Mariano do Bomfitn................. Botânica e Zoologia. Barão de Itapoan............................ Repetição de Anatomia descriptiva. 3.° anuo. Cons. Elias José Pedroza.................... Anatomia geral e pathologica. José de Góes Siqueira....................... Pathologia geral. Jeronimo Sodré Pereira...................... Physiologia. 4." anno. Cons. Manoel Ladisláo Aranha Dantas.......... Pathologia externa. Demetrio Cyriaco Tourinho................... Pathologia interna. Cons. Mathias Moreira Sampaio............... í Partos, moléstias de mulheres pejadas e d- me- 5 ninos recemnascidos. í>.° anno. Demetrio Cyriaco Tourinho.................. Continuação de Pathologia interna. Luiz Alvares dos Sanetos.................... Matéria medica e therapeutica. José Antônio de Freitas............... I Anatomia topographica, Medicina operat oria c ) apparelhos. O.0 anuo. P.^zendo Aprigio Pereira Guimarães............ Pharmacia. ^alustiano Ferreira Souto..................... Medicina le<*al. Domingos Rodrigues Seixas................... Hygiene, e Historia da Medicina. José Affonso Paraizo de Moura............... Clinica externa do 3.° e 4.° anno. Antônio Januário de Faria.................... Clinica interna do 5.° e 6.» anno. Icnacio José da Cunha...................... Pedro Ribeiro d'Araujo..................... José Ignacio deBarros Pimentel.............'... ] Secção Accessoria. \ jrgilio Climaco Damazio..................... { Augusto Gonçalves Martins.................... \ Domingos Carlos da Silva..................... j Antonto Pacifico Pereira...................... \ Seccão Cirúrgica. Alexandre Aííonso de Carvalho............... i Claudemíro Augusto de Moraes Caldas......... Bamiro Affonso Monteiro.................... Egas Muniz Sodré d'Aragão................... \ Secção Medica. SECRETARIO 0 SR. DR. CINCINNATO PINTO DA SILVA. OFFICIAL BA KECBETARU 0 SR. DR. TIIOMAZ D'AQUINO GASPAR. A Faculdade não approva nem reprova as opiniões emiUidas nas theses que lhe são apresentadas SECÇÃO ORURGÍCA HEMORRHAGIA PUERPERAL E SEU TRATAMENTO Anatomia dcscripliva e geral. ^Mpf^-M NCETANDO o nosso obscuro trabalho, conhecemos o dever de %M^3 *"azer Dreves considerações, cá respeito do órgão no qual esta per- tfiiS^ ^ turbaçâo tem logar bem como da natureza intima de seu tecido. fí% Assim vejamos o que seja o utero; qual a sua forma e direcção; em quantos comparlimentos se acha dividido; qual o seu volume e verda- deira collocação; e que camadas enlrão na composição deste órgão. O utero, músculo ouço, constituido de paredes espessas e fibrosas, des- tinado para receber o ovo fecundado, e conserval-c em sua cavidade até a epocha de completa maturidade, é não só o órgão da gestação como ainda do parto; é á este órgão, que foi conferido o papel de encarregado do fluxo ca- tamenial. Apresenta-se com a forma de um cone achatado de diante para traz, em cuja superfície nota-se um ponto como que estrangulado, resultado da di- visão do mesmo órgão em corpo e eólio uterinos; obliquamente dirigido de cima para baixo e de diante para traz, encontra a vagina cujo eixo tendo di- recção inversa forma com o uterino um angulo obtuso aberto para diante, o que deixa portanto conceber-se perfeitamente a presença do fundo do utero para cima e para diante, bem como o seu vértice para traz e para baixo; esta direc- ção normal do utero varia segundo o estado de plenitude ou vacuidade da be- = 4 = xíga. Muitos anatomistas eminentes como os Srs. Boulard, Verneuil, Follin, Richet e Aran descobrirão, por meio de suas pesquizas minuciosas, a direcção normal do utero que, ao em vez de ser rectilinea, é curvilinea, porquanto o seu eixo como que se dobra em sua parte media, direcção, que .se torna mais acccssivel, quando a bexiga está completamente vazia. Divide-se o utero em duas secções; a superior, constituinte do corpo, é formada por mais de dous terços do órgão; a inferior, que constitue o eólio, é confeccionada pelo restante (quasi um terço-.) apresentam ellas cavidades, asquaes revestem fôrmas differentes; si a do corpo uterino é larga e achatada de diante para traz, a do collo é fusiforme, e depende isto, como já vimos, da desigualdade de dimensão e de outras circumstancias, que nós não procurare- mos ventilar. Seu volume varia segundo a idade, e segundo certas condições phisiolo- gicas inherentes á este órgão: muito pequeno antes dos quinze annos, onde o eólio predomina sobre o corpo; torna-se nesta epocha extraordinário, depen- dendo isto da approximação do momento da erupção das regras; situado na exeavação da bacia entre o recto e a bexiga, acha-se collocado para cima da va- gina e abaixo dos intestinos: mantido e suspenso por seis meios de fixidade, que são os ligamentos largos, redondos e utero-sacros, o utero conserva-se em certa e determinada posição, e se esta não se pode encontrar sempre, é porque em virtude de certas cauzas, que se não podem explicar, algumas vezes o fundo do órgão se dirige totalmente para diante, formando a ante-versão; outras ve- zes para traz constituindo a retro-versão, e muita vez também paro o lado, constituindo a Iatero-versão. Encontramos ainda, relativamente a direcção do eixo do corpo e eólio uterinos, uma anomalia, constituindo as trez variedades: anteflexão, retroílexão e lateroflexão. O utero fluctúa na exeavação da bacia, em razão da natureza ter pro- porcionado aos meios unitivos, que o suspendem, a extensibilidade necessária para lhe poder accompanhar nos movimentos mais on menos amplos, para os quaes foi destina ío; e a prova do que digo, está na facilidade com a qual se pode trazel-o para a vulva, em certas operações cirúrgicas, e o deslo- camento que elle soffre durante a prenhez elevando-se no abdômen. Os elementos que entrão na confecção d'este órgão achão-se dispostos da maneira seguinte : 1.° um envolucro seroso, que reveste em quasi sua to- talidade o utero, constituido por uma dobra do peritonêo, que na sua reflexão esconde os trez quartos superiores da face anterior do mesmo, deixando de fazel-o no quarto inferior, em virtude da relação intima em que se acha o fundo da bexiga para elle, e que chegando ao fundo desse órgão desce procu- rando esconder toda sua face posterior; 2.° um tecido composto de fibras mus- culares que se aprezentão formando trez planos sobrepostos, superficial, mé- dio e profundo, e que conslitue a parede principal do órgão; 3.o finalmente a membrana mucosa ou interna, composta no corpo do utero de duas camadas differentes: uma epithelial, outra fundamental, encerrando glândulas, vazos e nervos; não acontecendo o mesmo com a do eólio, por quanto quasi que é formada exclusivamente de tecido conjunetivo, e de um epithelium muito de- licado. Esta camada mucosa, descoberta por Mr. Coste, e estudada cuidado- samente por Ch Robin, é organizada pelos seguintes elementos: núcleos em- bryo-plasticos em numero considerável, feixes de fibras laminosas, corpos fi- bro-plasticos, cellulas que vão se espessando e multiplicando á medida que a prenhez váe-se adiantando, fibras-cellulas, matéria amorphi, unindo estes di- versos elementos, glândulas que se compõem de um só tubo ou de dous reu- nidos a um canal excretor commum, efolliculos particulares. Apor ão á est • órgão os seguintes vazos e nervos: as artérias, que chegão ao utero, reconhecem origens diversas; umas emanão da hypogaslrica e rece- bem o nome de uterinas; outras, destinadas ao corpo do utero, vem dãs ova- riannas, que o r. Cruveilhier entend a denominar utero-ovariannas; estas, depois de chegarem aos ângulos s,;; ;vs do utero, descem por sobre os seus bordos, e auastomosão-se com asu>im.is; e ainda a epigastrica fornece um pequeno ramo, que, dirigindo-se ao utero, procura fixar-se áí» acima citadas. As veias, que ahi se formão, aprezentão tal desenvolvimento que podem ser comparadas com canaes largos, os quaes procurão collocar-se no intimo da substancia muscular, recebendo assim o nome de seios uterinos ; estes seios tomão grandes proporções não só com approximação das regras, mais ainda com os progressos da prenhez= Os lymphaticos tirão sua origem das camadas mucosa e muscular formando dous grupos, que vão ter aos gânglios lombares e peWiannos. Os nervos também aprezentão origens diversas; uns são prove- 9 = G = nieiites dos plexos renaes e mesenterieo; outros do plexo hypogastrico, cuja formação é determinada pelo entrelaçamento de alguns ramos anteriores dos nervos sacros e dos glanglios lombares do nervo sympathico. Sendo também de nosso dever entrar no estudo da hemorrhagia, que tem lugar nos vazos dos annexos do feto, conhecemos a necessidade de dizer algu- mas palavras á respeito da natureza mtima d'estes órgãos, afim de melhor comprehendermos o seu mecanismo na producção da mesma. Os annexos dò feto são conslituidos por membranas denominadas caduca, chorion e amnios, pela placenta, e pelo cordão umbilical. Não entraremos no estudo da organização d'estas membranas, por quanto, sendo ellas desprovidas de vazos, não está na nossa competência tratarmos senão d'aquillo que diz res- peito a hemorrhagia; nos contentaremos, porém, em dizer que a chorion apre- zenta-se debaixo de trez formas diversas, e que a amnios não é outra couza que um epithelium diaphano. A placenta porem, órgão importantíssimo, onde se eífectuão as mais complicadas funcções, quer da hematose, quer da nutrição do feto, essencialmente vascular, é constituída pelo cruzamento dos vazos uterinos e umbilicaes ramificados, formando uma massa, que, como entende o Sr. Dr. Fort, é de 10 á 12 centimetros de diâmetro, e 2 á 4 de espessura, e lendo a conformação de uma rede, que é preza por uma de suas faces ao ute- ro, e pela outra, por meio do cordão umbilical, ao feto. Este órgão aprezenta a nossa observação trez parles distinctas, que se achão dispostas pela manei- ra seguinte : em primeiro lugar encontramos a porção adherente da caduca, conhecida pelo aspecto cinzento que aprezenta na superfície uterina da pla- centa, e contendo em si matéria amorpha, granulações moleculares de natu- reza differente e cellulas, que se hypertrophião consideravelmente; succede logo a esta parle outra constituída por cotyledos, cujo complexo é nutrido exclusivamente pelo sangue dos vazos umbilicaes, e finalmente encontramos a anmios de que já falíamos. E' variável a inserção da placenta; ella tem lugar em todos os pontos da cavidade uterina, e se as mais das vezes a encontramos no fundo do órgão, é porque quando o ovo, depois de ter percorrido todo o trajecto da trompa, chega ao utero, procura immediatamente collocar-se no ponto, que lhe oíTerece mais vantagens e menos resistência: este é justamente a parte do fundo do utero próxima da trompa; ahi com effeito parece que a placenta busca de pre- íbrencia implantar-se, porquanto encontrando o ovo difíiculdade em descer pelas numerosas dobras formadas em virtude da tumefacção que soffreu a mucosa uterina, arrastando comsigo um amollecimento de toda cavidade, procura ahi se alojar amoldando-se n'uma das dobras já referidas. E' porém mais difficil, (para não dizer impossível), dar-se a razão da implantação da placenta na secção inferior do utero, aliás suspeitando-se que a fecundação se operou depois da chegada do ôvo na cavidade uterina: esta inserção placentaria, que chamaremos viciosa, se produz em algumas mulhe- res, repetindo-«e em successivas prenhezes. O cordão umbilical, meio de união entre o feto e a placenta, constituído de trez vazos sangüíneos, as artérias e veia umbilicaes, apresenta em seu aspecto exterior uma espécie de membrana, que reveste estes vazos, e cuja estructura é idêntica a da membrana amnios, porquanto ella não ó senão um prolongamento d'esta mesma membrana. Existe entre estes vazos uma espécie de substancia gelatinosa, á que denominarão gelatina de Warthon. DISSERT Dentre os accidentes mais freqüentes e ao mesmo tempo mais sérios da prenhez, destaca-se um, que, pela sua importância e gravidade, tem merecido a attenção de todos aquelles que se destinão a pratica dos partos, (quero fallar da hemorrhagia que tem lugar não só durante a prenhez, eomo ainda durante o trabalho e as conseqüências do parto, e que se intitula puerperal). E' este phenomeno de tanta importância para complicar a vida do feto nos primeiros mezes da prenhez, como para trazer modificações extraordiná- rias á vida da mulher, qualquer que seja a epocha em que elle se aprezente, antes, durante, ou depois do trabalho do parto; e se n'este accidente são com- prehendidas as hemorrhagias como sabemos, que lirão sua origem dos órgãos genitaes, do intimo do tecido das vísceras, da vulva, da vagina etc, nós não entraremos na descriminação d'ellas, collocando-as de parte, e procuraremos dirigir nossa attenção para aquellas que tem lugar nos últimos mezes da pre- nhez, e que se effectuão nos vazos do utero, nos do feto, e seus annexos. As hemorrhagias forão classificadas, conforme se manifestavão antes, durante e depois do trabalho do parto; as que se aprezentavão antes do traba- lho do parto soffrerão ainda por sua vez uma subdivisão, pela qual tornou-se possível precisar a epocha do aborto, separando-a assim d'aquellas perdas, que apparecião nos trez últimos mezes da prenhez; portanto vê-se que se a hemorrhagia tiver lugar antes do sexto mez constituirá o aborto; e as que se apresentarem nos trez últimos mezes serão denominadas propriamente taes. AÇÃO = 10 = Deixando o aborto, tratarei de accuradamente estudar as hemorrhagias, que lêem lugar nos trez últimos mezes da prenhez, bem como aquellas que se orígínão durante o trabalho do parto, o que certamente fará o objecto da nossa presente dissertação, sem que nos comprometíamos á deixar a margem qualquer questão incidente, importante, que por ventura sobrevenha no cor- rer de nosso trabalho, e que nos imponha o dever de desenvolvel-a ainda que perfunctoriamente. Segundo a porção de sangue perdido, as hemorrhagias ainda foram divi- didas em ligeiras, médias e graves; e conforme o sangue distendia a cavidade uterina ou era expellido para fora, foram ellas ainda consideradas como inter- nas ou externas. Procuraremos agora se permittirem as nossas forças, occuparrjo-nos se- paradamente do estudo das cauzas, symptomas, diagnostico, prognostico e tra- tamento.. ETIOLOGIA Entrando no estudo das causas, que dão logar ao apparecimento ífós/a: terrível enfermidade, que muita vez zomba e escarnece dos poderes da arte, não encontrando quem lhe possa servir de obstáculo aos seus impetuosos es* tragos, nós as dividiremos, comprehendendo-as melhor, em causas predispo- nentes, accidentaes, especiaes e efficientes; e, desejando se nos fôr possível, tra- tar particularmente da descripção de cada uma dellas. Si acompanharmos com attenção a marcha da prenhez, havemos de no* tar que ella determina na circulação geral modificações, que são traduzidas por palpitações, enchimento do pulso e dificuldade na respiração; si descendo = 11 =-- ainda, quizermos encarar o facto sublime da concepção, d-jvemos notar que o utero nesta occasião é accommetlido de uma espécie de orgasmo, que determi- na neste mesmo órgão, um affluxo mais considerável de sangue, e que, se nas mulheres pouco sangüíneas, traz somente uma hypertrophia da mucosa, nas que o são muito deverá trazer uma hemorrhagia, que obstará o desenvolvi- mento do félo. ' Quando, com os progressos da prenhez, a placenta se vae tiesenvolvendo, e que portanto seus vazos vão necessitando de meios para funccionarem, apre- sentar-se-ha na circulação destes mesmos vazos uma actividade tão extraordi- nária, que poderá determinar uma hemorrhagia. E' o mesmo que se observa quando a puerpera recebe uma impressão moral ou uma commoçlo phisica violenta, t^que^não seguindo-se algumas vezes a hemorrhagia, são aliás, qua- si sempre, cauzas provocadôras d'este accidente tão terrível quanto assustador. Organizada porém a placenta, as funeções que n'ella se executam, sendo completas, explicão muito facilmente a producção d'esta importantíssima des- ordem, por quanto devemos saber que os vazos chegaram ao seu ultimo desen- volvimento. Jacquimier, procurando provar o mecanismo da hemorrhagia quando a placenta tem chegado á esse estado, assim diz: O utero chegando a seu comple- to desenvolvimento tem acarretado comsigo o dos vazos; os troncos arleriaes, que teem adquirido volumes extraordinários, são compensados pela multipli- cí^scle suas ramificações e divisões, que se estendem nas paredes do órgão; as que existião antes da prenhez, apresentão o dobro de seu calibre, e as que não erão perceptíveis têem augmentado á ponto de parecerem equiparar-se ás primeiras. As veias porém, apezar de apresentarem também um desenvolvi- mento extraordinário, não são compensadas pela divisão de seus ramos, o que permitte ao sangue passar de logares muito espaçosos para outros mais estrei- tos, phenomeno este,que assim retardando a circulação produziria a estaze ve- noza, determinando também um engorgitamento, que traria a rotura dos vazos, e conseguintemente a hemorrhagia. Para nós este retardamento existente, que o Sr. Jacquimier quer que seja considerável, não passa de uma simples compensação, onde, se os seios são mais largos que as veias nas quaes elles se esgotão, as artérias uterinas, que vão ter á estes seios são de muito menor calibre. O contrario seria descrer da = 12 = natureza, que tendo dado ao utero as funcções destinadas a creação eao des • envolvimento da espécie, deixasse de prodígalisar todos os meios para que ellas ato- fossem interrompidas em sua marcha. Ainda comprehendemos n'esta ordem de cauzas uma outra que o Sr. Jac- quimier apresenta, eque em alguns cazospóde determinar a hemorrhagia; as- sim diz elle; que um embaraço na circulação da veia cava inferior, pôde dar logar ao apparecimento da hemorrhagia, e que a explicação respectiva está baseada no seguinte facto: auzencia de válvulas no interior das veias; e prose- guindo assim raciocina. Havendo um obstáculo a livre circulação da cava in- ferior, o sangue, que existe no seu interior, procura dirigir-se para o logar onde acha mais facilidade o seu curso; si qualquer obstáculo impedir a mar- cha natural do sangue, elle retrogradará, provocando congestões nos diíferen- tes órgãos; sendo o que justamente se dá no utero para onde, neste caso, todo o sangue reflue, e consequentemente congestionando o mesmo órgão, pôde muito facilmente permittir a rotura das veias. Se acceitamos a cauza e sua explicação, devemos limitar-mo-Ia á poucos cazos. Quando a mulher se acha predisposta á ser accommettida de uma hemor- rhagia, e que emoções moraes ou physicas a surprehendem repentinamente, desprende-se dos vazos, que circundão o utero, uma quantidad3 de sangue tão exagerada, que determina a presença do phenomeno pathologico. Estas cauzas, que se podem dividir em moraes ou physicas, obrão da se- guinte maneira: as primeiras impressionando o systhema nervoso que por sua vez tem necessidade de transmittir a todo o organismo a excitação que soffreo; e se a transmissão se distribue igualmente á todos os órgãos, o utero sendo obrigado a res^entir-se d'ella, também dará lugar a um phenomeno cuja traducção é a presença da hemorrhagia, proveniente do affluxo mais conside- rável de sangue que determinou o engorgitamento dos vazos, e conseguin- temente a sua rotura. = 13 = N'esta ordem estão as tristezas violentas, a presença repentina de uma pessoa, que se achava á muito tempo auzente, uma paixão, etc. As segundas levão sua acção directamente sobre o utero, que recebenSô o choque que ellas lhe communicão por contiguidade de tecido, visto como elle tem lugar nas paredes do abdômen, provoca a destruição das relações que exislião entre o órgão e o feto: é assim que uma queda, uma pancada, um golpe determinam a hemorrhagia, que será antes dependente da rotura dos vazos do que do descollamento da placenta que se effectuará consecutiva- mente. Eminentes parteiros apresentão factos de queda, pancada, etc., onde não se tem produzido hemorrhagia; e dentre elles o Sr. Yerrier, diz ter visto uma mulher, pejada de seis mezes, cahir, por descuido, de um terceiro andar de uma casa sobre uma grade de ferro, ficar toda contusa e ferida, e no entretan- to depois de seis semanas de cama, dar á luz a um menino fraco porém vivo. Estas excepções não constituem a regra geral. Estas cauzas, de que acabamos de tratar, não trazem sempre como resul- tado uma hemorrhagia; por quanto devemos notar que muitas dellas podem passar desapercebidas, e que quando dão logar a producção da perda são quasi sempre em concumitancia com uma predisposição. As causas especiaes são as que mais particularmente provocão a hemor- rhagia : entre ellas se achão collocadas a inserção viciosa da placenta; a re- tracção súbita do utero; a curleza do cordão umbilical e o dilaceramento de um dos vazos do cordão umbilical ou do cordão inteiro. Sabemos que a placenta insere-se normalmente no fundo do utero, algu- mas vezes porém cila desce para o orifício superior do eólio e ahi se fixa, constituindo uma cauza constante de hemorrhagia, durante as ultimas epochas l.i prenhez e durante o trabalho do parto. Os parteiros modernos têem procurado a razão d'esta hemorrhagia, e a maior parte d'elles tem opinado que o utero nos trez últimos mezes de seu 4 -= 14 = desenvolvimento communica ao eólio um crescimento tão rápido, qne csíe, so- guindo-o nas suas rápidas evoluções, vae-se dilatando, diminuindo de com- primento, ao passo que ganha em largura, de tal sorte que o orifício interno do eólio abre-se-, porém a placinla, que se acha fixa sobre este ponto, não pode accompanhar a abertura do orifício; logo se desorganisaráõ os meios que unem os vazos do utero aos da placenta, e a hemorrhagia não se deixa es- perar. Esta explicação não procede desde que sabemos que o orifício do eólio fica fechado até nas ultimas semanas do parto. A que nos parece mais razoável e está de accordo com os estudos dos me- lhores práticos é a seguinte : o fundo do utero nos primeiros mezes da pre- nhez se desenvolve consideravelmente; coincide com es?e desenvolvimento a formação e organisação da placenta, de tal sorte que, quando se acha nor- malmente collocada, a medida que o fundo do órgão vae-se distendendo ella também vae participando d'esta disiensão; notando se o contrario quando a placenta se acha na parte inferior do corpo. Ahi o desenvolvimento das fibras uterinas, tendo sua maior actividade nos últimos mezes da prenhez já en- contra a placenta organizada; o que dá lugar a um desvio dos lobulos placen- íarios, um estiramento dos vazos placento-uterinos, e muita vez a destruição da coherencia, que existia entre ella e o utero, e conseguintemente a hemor- rhagia achando-se o orifício interno do eólio ainda fechado. Quando o utero se retrahe bruscamente, em uma epocha pouco adiantada do trabalho do parto e que consequentemente encontra a placenta sem a sua completa organisação, deverá produzir uma destruição nas inserções cellulo- vasculares da placenta, cuja traducção será o apparecimento do phenomeno hemorrhagico; e pode-se facilmente verificar o que aeixo dito quando existe hydropisia da amnios ou prenhez gêmea. Quando o cordão umbilical, sendo de pouca dimensão, não pode acom- panhar a expulsão do feto, sem que se produza um estiramento, deverá pro- vocar do lado da placenta um despegamento, que se fazendo em parte ou em totalidade, permittirá a presença da hemorrhagia. E' o que quasi sempre se dá quando se entrega a puerpera aos cuidados de uma parteira inexperiente, que, sem ter conhecimento do que vae praticar, provoca j descollamento da placenta por meio de íraeçõüs exageradas. •=-. to — Se Boivin, Velpeau, Lachapelle negão a veracidade desta explicação pro- curando fazei-a pela falta de resistência da cadêa, que cerca os vazos, ou pela fraqueza anormal das paredes vasculares, nós não duvidamos em affir- mal-a, apoiando-nos nas observações judiciosas dos Srs. Cazeaux e Joulin. A rotura de um dos vazos do cordão ou do cordão inteiro, são cauzas, cuja authenticidade tem sido perfeitamente reconhecida pelas observações es- crupulosas dos Srs. Delamotle, Ncegele e Levret; e que não só se explicão pelas diversas affeccões que podem soffrer as túnicas vasculares, como ainda pelo encurlamento natural ou artificial do cordão, que n'este cazo será pouco re- sistente. Terminando o estudo das causas especiaes, não podemos deixar de men- cionar como fazendo parte d'ellas a rotura do utero. Finalmente devemos comprehender que uma queda pode dispertar com a maior facilidade as contracções uterinas, e que estas, se fazendo sem inter- rupção, poderáõ produzir uma hemorrhagia. Estão no mesmo cazo as moléstias agudas, a morte do feto, etc. SYMPTOMATOLOGIA A hemorrhagia puerperal denuncia-se por symptomas geraes e locaes: quando ella se reveste d'aquelles symptomas, aprezenta algumas vezes uma confusão tal, que chega á zombar da perícia e tino d'aquelles que se encar- regão da debellação d'esta terrível enfermidade, em virtude de não se poder com certeza assegurar a presença sempre d'estes symptom.s, acompanhando-a, = 16 = visto como havendo em alguns cazos completa auzencia delles, a hemorrhagia se mostra brusca e repentinamente. Comprehende-se perfeitamente, o que acabo de proferir, quando uma cauza externa qualquer actúa violentamente sobre o órgão uterino; porém na maior parte das vezes os symptomas geraes são os iniciadores desta moléstia, que, sendo tão freqüente e perigoza, de- manda sérios cuidado» da parte do Medico, por quanto a elle compete o per- feito conhecimento dos signaes que a denuncião. Er assim que se aprezentão antes do phenomeno hemorrhagico, as inquie- tações nos membros, indisposiçã® geral, pezo no baixo-ventre, sensação obtusa e gravativa nos quadris, nas verilhas e na parte superior das coxas, a qual se torna mais activa quando a mulher se acha na posição vertical ou faz o mais simples esforço. Estes symptomas, que caracterizão a existência de uma pletóra local ute- rina, são as mais das vezes acompanhados d'aquelles, que se manifestão, quando a pletóra invade todo o organismo : é assim que apparecem freqüente- mente cephalalgias, syncopes, vermelhidão da pelle e da face, principalmen- te, congestão nas conjunctivas, pulso duro, cheio e freqüente, e augmento de calor animal. Tratando da descripção dos symptomas lo^aes, devemos para maior cla- reza de nosso estudo, considerar a hemorrhagia segundo o modo de sua ma- nifestação, que, podendo ser externa ou internamente, exige que se escrupu- lize no exame dos symptomas que lhe são peculiares. Quando a perda tiver lugar nos últimos mezes da prenhez, epocha em que as mulheres não podem ser menstruadas, em virtude de não se poder efíecluar o mysterio da ovulação, basta um simples corrimenlo sangüíneo franquear a vulva e se mostrar no exterior, para nos convencer que se trata de uma perda sangüínea; o contrario se hade dar quando a hemorrhagia se desenvolver in- ternamente, por quanto luctando nós com serias dificuldades para diagnosli- cal-a em começo, a reconheceremos somente quando ella quiçá estiver já pres^ tes a cauzar grave damno a mãe, e ao feto particularmente. E' muito difficil reconhecer-se a perda interna quando ella é em pequena quantidade; porém logo que attinge proporções consideráveis, pôde chegar á ponto de despegar as membranas que se achão em contado com o globo ute- rino, e tornar-se externa; outras vezes porém o sangue, que se acha espalhado - 17 = na cavidade uterina, rcune-se formando um coalho que se transformando em corpo estranho, provoca o apparecimento de eólicas, dores renaes e uma sen- sação gravativa; si porém a perda é copiosa, coincidindo com a prenhez já em um gráo mui adiantado, nós notaremos além dos symptomas acima mencio- nados, um crescimento extraordinário do ventre, uma resistência, tensão e dureza maiores no utero Quando as perdas são internas, o lugar em que ellas se eíTectuão é muiíô Yariavel: assim vê-se que a'gumas Yezes o sangue procura derramar-se entre a face uterina da placenta e a parede uterina, que lhe corresponde. Concebe- se desde já perfeitamente que ou a placenta, despegando-se em seu centro e conservando a inserção periférica, limita o foco hemorrhagico, constituindo uma espécie de tumor, cuja elevação está da parte da cavidade uterina, ou não podendo resistir deixa-se descollar em um dos pontos de sua circumferencia, delerminando assim um fluxo de sangue em torno do feto, que n'este cazo morrerá rapidamente; outras vezes o sangue, espalhando-se no tecido placen- tario, provoca uma perturbação nas funeções d'este órgão de tal sorte que destróe, aniquilla-o, tornando-o impotente para os mysteres á que elle estava destinado. O sangue nos diflerentes lugares, em que se dissemina, pôde ainda esco- lher a face fetal da placenta, e ahi se circumscrever, prejudicando d'esta sorte mais de perto o feto; outras vezes tendo lugar longe do órgão placentario, ani- nha-se entre as membranas que constituem o sacco amniotico. Vê-se portanto por este simples esboço, quão diversos são os lugares em que o sangue, rompendo os vazos, se pôde espargir. Quando o sangue derramando-se no cul-de-sac, formado pelo despega- mento do centro da placenta, que conserva sua inserção periférica, attinge cer- tas proporções, póde-se, quasi com certeza, assegurar que a morte da mulher será inevitável; e constituirá base, do que acabo de dizer, o seguinte fado apreciado pelo JYetr medicai and physical Journal, que transcreveremos tex- tualmente. 5 = 18 = « On examination after death, it was found that a separation of lhe ccn- « Ire of lhe placenta from the parites of the uterus had taken place, whilsf «its edges were completely adherent, forming a kind of cul-dc-sac, mio « which blood had been pourred, etc. (Uma mulher de constituição fraca e delicada, chegada ao mez ultimo de sua prenhez, teve pela vulva um simples corrimento sangüíneo : logo queest e chegou á 32 grammas, a mulher foi preza de uma syncope; ocôllo do utero apenas dilatado offerecia a largura de um centímetro, e aprezen" tava uma tal rigidez, que foi completamente impossível a introducção da mão. A doente morreo, e na autópsia encontrou-se o centro da placenta unicamente descollado das paredes uterinas, em quanto que os bordos erão ainda total- mente adherentes, de maneira á formar um sacco sem abertura no qual per- to de uma canada de sangue coagulado se achava encarcerado.) DIAGNOSTICO Os embaraços, com que ludamos no começo da prenhez, para distinguir uma hemorrhagia puerperal, da hemorrhagia que é symptomatica de uma af- fecção uterina, d'aquella que forma o primeiro symptoma do aborto e da que finalmente constitue a volta das regras, são maiores e muito mais complica- dos do que aquelles. que se apresentão nos trez últimos mezes da prenhez; ifestes a duvida se dissipará desde que lembrarmo-nos do que anteriormente dissemos, que as mulheres não são menslruadas no fim da prenhez, e que portanto todo corrimento sai: aiineo, que se apresentar n'esta epocha pela vul- va, nos denunciará a presença do terrível accidente. Mas nos trez últimos me- zes da prenhez e durante o tiabalho do parto, diversas são as cauzas, que dão logar a esta hemorrhagia; e se no estudo d'estas dissemos que a inserção vi- ciosa da placenta, ou, na falta delia, o despegamento da mesma e a rotura de algup- vazos utero-placentarios erão as produdoras da perda sangüínea, de- = 19 = vemos com toda attenção tratar de diflerençar por meio dos signaes, que a sciencia nos offerece, as hemorrhagias provenientes d'estas diversas origens. Quando a hemorrhagia tiver por cauza a inserção vicioza da placenta, apre- zentão-se duas ordens de signaes para reconhecêl-a: estes, ou são racionaes ou sensíveis; entre os primeiros temos á observar—o apparecimento súbito do san- gue, surprehendendo a mulher durante á noite ou mesmo quando ella se acha em repouzo, sem que se possa verificar as cauzas que determinarão-no; sua re- petição com intervallos irregulares sem ser precedida de eólicas, e sendo á prin- cipio o corrimento sangüíneo pouco abundante e de pouca duração, vae-se tornando pouco e pouco mais considerável e também se retardando, até que finalmente se aprezenta abundante. Quando porém a hemorrhagia apparece sem que as membranas se tenhão rompido e quo. o trabalho do parto tem principiado, ás conlracções ulerinas suecede a expulsão de uma quantidade extraordinária de sangue, que dimi- nuirá no intervallo das mesmas, o que se não daria se a placenta estivesse col- locada em outro ponto, uslo como ou a contracção do utero á custa de seu pró- prio tecido, ou a compressão que devem exercer as partes do feto sobre os va- zos determinarião a obliteração dos mesmos. Quanto aos signaes fornecidos pela sensibilidade, estes demandão sérios cuidados da parte do Medico que tem de aprecial-os: e entre outros menciona- remos os seguintes, como mais importantes. Quando pelo toque nós encontramos um diâmetro insólito coincidindo com o crescimento já muito adiantado da parte inferior do utero, e que com a extre- midade do dedo procuramos o feto para determinar o seu movimento de ascen- são ou contra-quéda sem que o achemos, conjecturamos logo que a inserção da placenta é vicioza, presumpção, que se transformará em certeza quando conhe- cermos claramente as anfractuosidades próprias da face uterina da placenta. Si encontrarmos um coalho que impreterivelmente se confundirá com a placenta, scr-nos-ha fácil dissipar esta confusão pela sua menor resistência, íiiabilidade e mobilidade. Quando o eólio principia a dilatar-se e que a placenta, se lixando no segmento inferior do corpo do utero, offerece seu centro ao orifício superior do eólio, o dedo então perceberá uma superfície áspera e rugoza, que cerca o ori- fício interno, esta é evidentemente a face uterina da placenta. Algumas vezes, = 20 =-r porém, apezarda placenta inserir-se viciozamente, não encontrar-se-ha no lugar cm que ella se devera achar; e tem-se verificado isto quando ella se acha um pouco mais distante do orifício interno, deixando n'este cazo conhecer a sua existência pela espessura que soffrem as membranas que ahi jazem. Os signaes das hemorrhagias, por dilaceração dos vazos umbilicaes, são quasi idênticos aos da inserção vicioza da placenta, com a grande differença porém de não se poder encontral-a, porquanto ella se acha no lugar habitual de sua inserção; auzencia placentaria esta, que, si distingue claramente estas hemorrhagias d'aquellas, nos traz a verdadeira luz para o diagnostico das su- pramencionadas. Benckiser diz que entre outros signaes notou, pelo toque, uma corda quo cruzava em angulo agudo o orificio interno, e que não aprezentava banimen- tos. Si com effeito se deu tal encontro e estes não sefizerão sentir, era porque em lugar de uma das ramificações das artérias umbilicaes se tinha aprezentado um ramusculo venozo. Ainda existe um signal sensivel dos mais importantes, a que se deve pres- tar seria consideração, que vem á ser—a não formação do sacco das águas quando a placenta se insere directamente sobre o eólio. A hemorrhagia interna aprezenta assaz difficuldade quanto ao seu diag- nostico; os signaes indicados pela sciencia com o fim de reconhecêl-a, são to- pos falliveis; no entretanto suspeitando se a existência de uma perda interna, e coincidindo esta com a dôr nos quadris, crescimento rápido do ventre, e com bossas irregulares, que dão ao utero uma forma toda particular, dizemos, esta suspeita se transformará em certeza quando se effeduar o dilaceramento das membranas que cereão o feto. Quando o sacco das águas tem-se rompido, as perdas internas, que se manifestão, (sempre de terrivel agouro para a vida da mulher) são de fácil diagnostico; porque, ou o sangue se espalha no intimo do ovo ou espargia jio-se entre o utero e as membranas, desrlo, quando o orifício uterino já se acha um pouco dilatado, e que a apre- sentação e favorável, deve-se immediatamente romper as membranas, porque, provoeando-se o parto; póde-se salvar as vidas do feto e da parturiente. Tendo-se recorrido ao parto forçado para obstar uma perda sangüínea con- siderável, que zombava de todos os meios empregados para debellal-a, Puzos imaginou que pan isso seria necessário disperlar as contracções uterinas por = 28 = meio da titillação do eólio. Dubois não duvida acceitar a opinião de Puxos, substituindo porém a titillação pela era vagem do centeio na dose de uma á duas grammas, deixando se as membranas intactas até que appareção manifesta- mente as contracções. Quando a hemorrhagia é provocada pela presença da placenta no eólio, á não achar-se inserida centro por centro, a rotura das membranas é sempre pre- ferivel á qualquer outro meio; porquanto, depois do corrimento das águas, a cabeça do feto, necessitando descer, deve por força comprimir aquella parte da placenta, que se acha descollada e que tem permittido o apparecimento da he- morrhagia. Quando a perda fô: interna e muito grave, dous estados diversos se apre- zentão, por meio dos quaes nós podemos empregar facilmente os meios neces- sários a sua cessação. Assim se encontrarmos o eólio amollecido, mais ou menos entre-aberto, promoveremos a rotura das membranas, provocando simultaneamente as con- tracções uterinas por meio das fricções, cravagem do centeio, etc. Si observar- mos que o eólio se acha dilataao, procuraremos terminar o parto por meio da versão ou do forceps; si, ao contrario, o eólio não se achar dilatado, deveremos esperar que isto se faça ainda que seja depois de algum tempo. Quando porém não tem começado o trabalho do parto, econseguintemente achando-se o eólio completamente fechado, será muito difficil não só ter-se co- nhecimento da quantidade de sangue perdido, como também poder-se obstar a hemorrhagia; visto que nem a mão, nem a introducção do menor instrumento, poderá ter lugar. Feste caso, apezar de todas estas difficuldades, ainda procu. raremos interromper o derramamento sanguineo, que tem sua sede na parte in- terna da cavidade uterina, pelos numerosos meios que a sciencia ministra para dispertar as contracções; e logo que estas tenhão apparecido, se recorrerá a per- furação das membranas, que, não sendo todavia suíficiente para determinar 3 estaze da hemorrhagia, é porém o ultimo recurso de que podemos lançar mão, (quero fallar da introducção manual forçada). As indicações para a perda ligeira, durante o trabalho do parto, dependem não só da maior ou menor abundância da mesma, como também da attitude que tem tomado o eólio, quanto a sua dilatação. Si o sangue correr em pe- quena quantidade se preconisará todos os meios, de que mais acima falíamos, quando tratamos da perda ligeira nos últimos mezes da gestação, não hesi- tando em abstrahir d'entre elles, da sangria, que aliás, como dissemos, mui- to particularmente se emprega, e do ópio, que n'este caso traz o grave incon- veniente de sustar as contracções. Achando-se o eólio completamente amolle- cido, então será nimiamente fácil parar-se a hemorrhagia, visto como pode- mos com promptidão romper as membranas e determinar as contracções ute- rinas, que, si são fracas ou vão decreseendo, se activará pela cravagem do centeio. Quando a hemorrhagia, grave, se aprezenta durante o trabalho do parto, não existindo da parte do eólio dilatação ou sendo quasi que impossivel dila- íal-o, os meios destinados a sustar as perdas são os mesmos, que se empregao contra aquellas que se manifestão nos últimos mezes da prenhez : n'este caso os refrigerantes, a cravagem do centeio, a rolha, a rotura das membranos po~ deráõ ter sua legitima indicação. Muita vez, porém, notamos nós que apezar da dilaceração das membra- nas, a hemorrhagia continua de uma maneira considerável, collocando por- tanto o medico em circumstancias muito criticas; n'este caso se terá o cuidado de applicar a rolha auxiliada pela compressão da parte anterior do ventre, afim de evitar, se houver inércia uterina, accumulação de sangue no interior do mesmo órgão. Devemos, tanto quanto for possivel, abstermo-nos de forçar o parto, por- quanto, acontecendo quasi sempre lesar o eólio uterino, expomos a mulher á =, 30 = ser affedada de outras moléstias, que certamente não deverião apparecer, sem que fosse posto em pratica o meio de tão terríveis conseqüências. Si porém a perda aprezentar-se no íim do trabalho do parto, quando o eólio já se achar dilatado, nos será simples n'este caso parar a hemorrhagia; visto como podemos com facilidade romper immediatamente as membranas; e quando ella continue ministraremos a cravagem do centeio, procurando d'esta sorte extrahir o feto pela versão, quando a cabeça estiver no estreito superior; pelo forceps, quando ella chegar ao orificio uterino. Quando se reconhecer que a placenta se acha inserida viciozamente, e que a perda se patenteia, sendo a maior parte da vezes em pequena quanti- dade no começo, porém tornando-se logo depois copiosa em virtude da fre ■ quencia com que apparece, aconselha-se immediatamente a applicacão do ar- rolhamento, de que, para tirar-se melhor resultado, se addicionará ao appare- Iho, que o constilúe, a tinclura do perchlorureto de ferro. Porém quando o trabalho do parto tem começado, e que portanto o ori- licio do eólio já se acha dilatado, deve-se retirar a rolha, afim de, procuran- do-se rasgar as membranas, provocar a retracção do órgão, que deve trazer em resultado a desapparição da hemorrhagia. Não se deve conservar a rolha por muito tempo, visto que a mulher tendo necessidade de á cada momento ourinar, precisa achar liberdade nas funeções d'este apparelho; e o medico tem a restricta obrigação de apreciar os progres- sos do trabalho, o que não se eftectuaria, demorando-se a applicacão d'este meio. Quando porém a hemorrhagia reappareça, apezar da administração de todos estes meios, nos parece razoável seguir a opinião do Sr. Puzos, que consiste « em passar uma sonda de mulher entre as membranas e o utero, afim de se evacuar o liquido amniotico». Conseguindo-se isto desperta-se o utero, que não tardará em si retraldr, e d'esta retracção deve resultar a cessação da hemorrhagia, que, si ainda for re- belde, nos levará a praticar a perfuração da placenta e a extracção do feto por meio da versão, quando não for possivel descollar-se a placenta em sua circumferencia e procurar-se os pés do feto. A placenta pôde achar-se de tal sorte inserida a parede uterina que offereça a maior difliculdade de seu despegamento aos pés do feto; n'esle caso = 31 = nós procuraremos o meio mais simples, que vem á ser: o descollamento do lado da cabeça fetal, e nos esforçaremos em extrahil-o, applicando o forceps pelo processo de Hatin, que consiste no que vou expor:—Introduz-se uma mão inteira na cavidade uterina para guiar a collocação dos ramos do forceps, não se servindo da outra mão senão para sua introducção; na occasião de intro- duzir-se e collocar-se o ramo esquerdo, a mão que se acha no utero, e que suppomos ser a esquerda, se conservará na supinação forçada e passará a meia pronação, quando si fizer a introducção e collocação do ramo direito, passan- do pela parte posterior da cabeça do feto. Si tivéssemos introduzido a mão di- reita no utero, ella passaria de meia pronação á supinação forçada.— Finalmente a prezença de fados, que provão a expulsão da placenta effec- tuando-se antes da expulsão do feto, levou o Sr. Simpson á dizer, que quando ella se achar inserida centro por centro, o meio mais conveniente é extrahil-a primeiramente; visto como succedendo a retracção do órgão, a perda cessará. Terminamos aqui, pedindo indulgência por termos emprehendido ta- refa tão árdua. SECÇÃO CIRÚRGICA FERIDAS POR ARMAS DE FOGO PROPOSIÇÕES I As feridas por armas de fogo são soluções de continuidade, que resultão do movimento, que soffrem os projectis com a explosão da pólvora. II A contusão seguida de uma serie toda particular de phenomenos, que se apresentão no mesmo tempo, fôrma 0 caracter essencial d'estas feridas, onde o esmagamenló predomina. III As. cauzas que desafião a presença d'estes terríveis accidentes são os pro- jectis arremessados por quaesquer bocas de fogo. IV Quando a ferida deixa de ser, como acontece muita vez, o resultado do projectil primitivo, ella é certamente o effeito de fragmentos de pedra, de fer- ro, de madeira, etc, arrastados pelo mesmo projectil em seu rápido curso. V A pólvora pode obrar isoladamente, óra queimando, óra contundindo e dilacerando os tecidos pela expansão que soffrem os gazes em virtude de sua deflagração: os grãos de pólvora que escapão a combustão constituem verda- deiros projectis, que penetrão nos corpos mais ou menos profundamente, se- gundo a distancia d'onde foi dada a descarga. 31 - VI Os efíeitos que produzem os diversos projectis quando arremessados so- bre os corpos, varião, conforme elles aclúão sobre as partes molles ou sobre os ossos. VII Quando elles obrão sobre as partes molles provocão o apparecimento de feridas, que varião segundo a direcção d'estes mesmos projectis; se adúão so- bre os ossos, seus efíeitos não são menos variados. VIII Duas aberturas de bordos seccos, negros, echymosados, com pequeno cor- rimento sanguineo e irregulares, principalmente na abertura de sahida, são os caracteres essenciaes d'estes ferimentos. IX A presença de uma única abertura não nos leva a certeza da existência d'uma bala na ferida; nem também devemos concluir da presença de duas aberturas o facto de não se achar o projectil n'estas soluções de continuidade. X O prognostico d'estas feridas é sempre muito grave, qualquer que seja a epocha em que se queira fazêl-o, no principio, (logo que a pessoa foi ferida), quando se aprezenta a reacção geral, ou durante a formação da membrana pyogenica. XI D'entre as indicações necessárias para o curativo d'estes ferimentos, a mais importante é a extração dos corpos estranhos. = 35 = XII O apalpar, e o dedo, como explorador, nos cazos em que a ferida é larga, são meios necessários para a pesquiza dos corpos estranhos. XIII Quando o canal promovido pelo projectil impossibilita a entrada do dedo, existem outros instrumentos de que com vantagem podemos lançar mão, e es- tes são : os styletes, as sondas e o saca-bala, que necessitão ser manejados por mãos hábeis, afim de prestarem seu valiosissimo contingente: a exploração deve ser feita com muito cuidado, e à par das regras recommendadas pela pra- tica; regeitada se as feridas forem penetrantes. XIV O desbridamento, a contra-abertura, a amputação, a resseção e a trepa- nação, sendo em certas occasiões meios indispensáveis para o tratamento des- tas feridas, demandão sérios cuidados da parte do cyrurgião; as complicações que accompanhão estas afíecções são sempre graves. SECÇÃO MEDICA HYPOEMIA iNTERTROPICAL PROPOSIÇÕES I A hypoemia intertropical, ainda denominada, mal de estômago, cachexia africana, cachexia aquosa etc, é uma moléstia constitucional, que resulta de uma perturbação geral da nutrição. II Este estado mórbido especial dos climas tropicaes, que costuma debellar particularmente a classe indigente, apresenta uma alteração sanguinea especial ;e quasi análoga a dos hydremicos. III As origens, d'onde em ma a hypoemia dos trópicos, têem sido descobertas nos lugares humidos e na u\á alimentação, de que fazem uso os individuos accomettidos d'esla aff.vrão, accompanhando-as provavelmente outra cauza que nos é inteiramente desconhecida. IV Quando uma d'essas cauzas adúa violentamente sobre o organismo, torna-o nimiamente susceptível de ser accomettido d'este agente mórbido, e de tal sorte que penetrão no seu interior os anchylostomos determinando a moléstia e des? envolvendo-se com espantosa rapidez. 10 = 38 = V A água e talvez os alimentos são os vehiculos d'esses vermes, que, intro- duzindo-se no organismo, procurão de preferencia aninhar-se na parte do in- testino delgado denominada duodeno. VI E' infallivel a presença d'esses vermes nos cadáveres de individuos hy- poemicos. VII Os dentes, que adquirem estes vermes, (depois de terem soffrido uma me- tamorphose no interior do organismo), a natureza intima dos músculos pha- ryngeos, e ainda a matéria que encontramos, occupando totalmente o seu tubo intestinal, nos levão a certeza de que seu alimento é o sangue. VIII Divergindo da opinião de alguns práticos, admittimos, na hypoemia in- tertropical, a existência dos anchylostomos duodenaes como cauza determi- nante; e não effeito. IX O symptoma, que predomina n'esta affecção, é a malacia, traducção dó estado de desorganização em que se acha a mucosa gastro-intestinaí. X Quando a hypoemia, deixando o seu periodo inicial, passa á ser determi- nada pela acção dos anchylostomos duodenaes, é impossível o seu curativo pela é preparações ferruginosas. = 39 => XI A medicação anthelmintica é a que obtém melhores resultados na cura da hypoemia. XII O leite da gamelleira é o especifico d'esta moléstia. SECÇÃO ACCESSORIA VINHOS MEDICINAES PROPOSIÇÕES I Dá-se o nome de vinho medicinal ao medicamento que resulta da acção dissolvente do vinho sobre osprincipios medicamentosos. II As vantagens d'estes vinhos é o fornecimento constante de soluções sempre promptas. III Os vinhos que se aprezentão em maior escala para confecção d'esles medi- camentos são: os tinctos, os brancos, e os licores. IV A variabilidade do poder dissolvente do vinho está em relação com a maior ou menor quantidade de espirito que elle contém. V O cheiro caracteristico do vinho é devido a prezença d'um elher, que foi denominado por Deleschamps—ether pelargonico (C - H 22 O4.) VI Não nos sendo conveniente entrar agora na descriminação dos corpos, que 11 = 42 =* confeccíonão os vinhos t,inclos, diremos somente: que elles devem a sua côr a dous principios que se achão em dissolução—a rosite e a purpurite. Vtl Tendo estas trez espécies de vinho, de que mais acima fallei, a mesma composição, resta-nos somente dizer, que nos brancos ha diminuição de tan- nino e matéria corante, e que nos vinhos de licores ha tanta abundância de assurar que apezar da fermentação não se pôde destruil-o. VIII O meio mais importante para a escolha de um vinho generoso é o paladar bem avezado. IX A ligeira modificação que soffreu o apparelho de Gay-Lussac por Salleron é que tem perfeitamente calculado a força alcoometra dos vinhos. X Quando a occasião der lugar á que os principios medicamentosos sejão dissolvidos em vinhos muito alcoólicos, como os de Malaga e os de Madeira, convém n'este cazo eliminar-se, quanto se possa, o álcool excedente. XI A- boa qualidade e a pureza dos vinhos são condições exigidas para a pre- paração d'estes medicamentos; o contrario promoverá a sophisticacão dos mesmos. = 43 = XII A maeeraoão é o processo mais seguido para a preparação dos vinhos me- dicinaes. XIII Geralmente, os vinhos de quinio, genciana, quina, ferro etc, são aquel- les que mais indicações preenchem na pratica. IIYPP0CR4TIS APHOMSNI 1.° Vita brevis, ars longa, occasio preeceps, experientia fallax, judicium diífi- (Sect. 1.», ApL i.') 2.- Sanguine multo effuso, convulsio aut singultus superveniens malum. (Sect. 5.a, Aph. 3..J 3.' Si fluxui muliebri convulsio et animi deliquium superveniat, malum. (Sect. 5.», Aph. 56.•) Mulieri, menstruis deficientibus é naribus sanguinem flure, bonum. (Seã. 5.', Aph. 33..J 5.- Mulieri in utero gerenti, tenesmus superveniens, abortire facit. (Sect. 7.-, Aph. 27.»; 6.' l'bi somnus delirium sedat, bonum. (Sect. %.\Aph. V 11 c7t?c-me//tc/a ei féimmúdão- Slev/jaia. Marfta e //ctcrfic/ac/e c/e ^f&c- câc/na st4 c/e ú/vc-j/o c/e **/&. «J2&. ócncômce/a c/Zn/a. &j/á co-nAtmc od &A