2* THÉSE APRESENTADA A FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA E PERANTE A MESMA SUSTENTADA EM NOVEMBRO DE 1865 POR FRANCISCO ROMANO DE SOUZA Natural da Villa da Barra (Província da Bahia) Filho legitimo de Joaquim Pereira de Souza e D. Emygdia Valledice Leoni de Souza AFIM DE OBTER O GRÃO DE DOUTOR EM MEDICINA. BAHIA: TYPOGRAPHIA DA «CONSTITUIÇÃO» DE F. A. DE FREITAS Rua das Campellas n, 40. 1865. FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA. O E\ui. Sr. Cõiis.Dr. João Baptista dos Anjos. VICE-DIRECTOR O E\m. Sr. Conselherè Vicente Ferreira dê Magalhães. LENTES PROPRIETÁRIOS *.• ANNO. OS SENHORES DOUTORES. MATÉRIAS QUE LECCIONÃO. Cous. Vicente Ferreira de Magalhães . Physica em geral, e particularmente cm su:j« appfícações a Medicina. Francisco Rodrigues da Silva .... Chimica e Mineralogia, Adriano Alves de Lima Gordilho. . . Anatomia descriptiva. 2." ANNO. Antônio Mariano do Bomfim .... Botânica e Zoologia Antônio de Ccrqueira Pinto. .... Ohimica ôrgahlca. ......Physiólogia. Adriano Alves'de'Lima Gordilho. . . Anatomia descriptiva, sendo os aluamos ..bri- gados a dissecções anatômicas. O." ANNO. Elias José Pedroza.......Anatomia geral e.pathologica. José de Gocs Siqueira.......Pathologia geral. .... 'Physiólogia. 4.°A NNO. Cons. Manoel Ladisláo Aranlra Dantas . Pathologia externa. ÂSBÍSiS-ISSE-: :: : : K^ÍJSS^-.^ *-- -* menino reccm-nasoidos. 5.° ANNO. Alexandre José de Queiroz .... Pathologia interna. ...... nnPratoria e 4osc Antônio de Freitas......Anatomia topographica, Med.c.na operator.a c apparelhos. Joaquim Antônio d'01iveira Botelho . . Matéria medica e thcrapcutica. 6.° ANNO. Domingos Rodrigues Seixas.....Hygiene, e Historia da Medicina. Salustiano Ferreira Souto.....Medicina legal. Antônio José Ozorio.......Pharmacia. Autonio José Alves.......Clinica externa do 3. e». Antônio Januário de Faria.....Clinica interna do 5. e 6. X.ENTSS OPPOSITORES. José Affonso Paraizo de Moura. . . Augusto Gonsalves Martins - Domingos Carlos da Silva . . . -\ Sccçao Cirúrgica. Tgnacio José da Cunha .... Pedro Ribeiro de Araújo .... Rozendo Aprigio Pereira Guimarães. .? Secçâo Acccssoria. José Ignacio de Barros Piincntel. . Virgilio Climaco Damazio . . . • Demetrio Cyriaco Touiinho . . Luiz Alvares dos Santos.......\ Secçao Mi aio.i T(Âx> Pikto'ââ Cunha Valte. . . , j\ Jeronimo Sodré Pereira. SECRETARIO INTERINOS Sr.Hv. fhohiaz dAquino Gaspar. OFFICIAL DA SECRETARIA-O Sr. Dr. José Theotonio Martins. A Faculdade não approva, nem reprova as ileas cmitti indicações. mos dias de suaprenhez, dividiu-lhe a sua symphyso pubiana com uma navalha para desembaraçar mais facilmente o menino. Em um caso análogo fez Plenck, em 1766, a operação cesariana, não tendo conseguido resultado favorável, pois que a cabeça do feio achava-se muito introduzida no canal pelviano, recorreu ásecçãoin- ter-pubiana com vantagem, sendo, porém, digno de notar-se—que este feliz resultado, em vez de o conduzir á pratica desta operarão na mulher viva, ao contrario, de semelhante tentativa o arredas^e inteiramente. Mas, convém confessar uma verdade sanecionada nos tratados da arte obstreticia—que a Sigault,ainda estudante de medicina,tendo em mira sanar tantos inconvenientes perigosos, de que eram quasi sem- pre victimaso feto ea mulher, pertence a iniciativa de apresentar cá academia de cirurgia de Pariz em 1768 uma memória sobre a proficuidade da symphyseotomia, ainda que, segundo Ramsbothan, nesta mesma épocha o Dr. Demnan com João Hunter conferencia- vam sobre o mesmo assumpto, não obstante, recebeu ella o baplis- mo de sigaulteana. E' pena dizer-se—que tão distineta corporação, em vez de reflectir e proferir sabiamente uma sentença condigna de sua illustração, es- carnecesse e repellisse inconsideradamente a proposição de Sigault, como apropriada de uma joven cabeça trestampada. Nem por isso o joven estudante trepidou na senda, que começava a trilhar. Abrasadono amor de sua invenção, que divisava sua futura glo- ria, firme e inabalável na crença de suas idéas, sustentou-as em sua thése inaugural, apresentada em 1773 á escola de medicina de Anger. Investido do titulo, que acabava de adquirir, considerou-se ha- bilitado a pôr em pratica pela primeira vez, em 1777, a secção da symphyse pubiana na mulher Souchot, ajudado por A. Leroy, que tornou-se fervido partidário desta operação. O feliz acontecimento,que desta vez procedeu da operação sigual- teana, concedeu ao seu author numerosos apologistas e o culto de um dos maiores bemfeitores da humanidade, tendo sido agraciado com uma pensão do governo, assim como a mulher, que acabava de sofírer a operação. A faculdade de medicina de Pariz, querendo celebrar este des- cobrimento, mandou gravar em honra de Sigault uma medalha, ten- do esta em uma das faces o retrato do Decano dessa Faculdade, na mtra a inscripção seguinte:—Sectio symphys, oss. pub. lucina nova, anno 1768, invenit, proposuit, 1777, fecit feliciter J. II. Sigault, D. M. P.juvit A. Leroy. D. M.P. Abraçada esta operação por um grande numero de médicos e cirurgiões da Europa, e até por pessoas estranhas á arte de curar, foi praticada, em muito pouco tempo, mais vezes que outra qualquer, mas com suecesso sempre opposto ao que se esperava. Levantou-se, então, uma celeuma no mundo medico; surgiram Symphyseotomia e suas indicações. 3 dc repente duas seitas inteiramente oppostas, cada qual mais forte e cheia de enthusiasmo; os lidadores da sciencia dividiram-se em ^ymphyscotomistase cesarianos; as discussões scientificas retumba- ram nos prelos, resaltadas de ultrajes, que de parte á parte ende- reçavam-se. Serenado o clamor, reconheceram quede parte á parte houvera exageração, e, as duas operações obtendo os foros de úteis na pra- tica, trataram de precisar as condicções, que reclamam o emprego de cada uma d'ellas. O parto prematuro artificial, esta bella conquista da arte obs- treticia, que, levantada do seio dos médicos da Gran-Bretanha, foi logo depois abraçada pelos médicos dos mais cultos paizes da Euro- pa e da America, veio banir da pratica a operação sigaulteana, que já vacillava em ceifar tantas vidas preciosas. Eis, em resumo, mal esboçada a historia da symphyseotomia. II. A relaxação das symphyses da bacia, nos últimos mezes da pre- iihez, é uma verdade reconhecida por numerosos factos.—E' claro, portanto, que este estado favorece o affastamento d'esses ossos. Mas até que ponto pôde elle ser levado sem ruptura das symphyses sacro- iliacas? Muitas experiências teem sido feitas com resultados bem differentes. Não existem documentos que provem que Sigault na oceasião, em que praticou a sua primeira operação na mulher Sou- chot, soubesse exactamente quanto os púbis affastavam-se depois da secção de sua symphyse; algumas experiências feitas sobre o ca- dáver, antes de sustentar a sua thèse na eschola de medicina de Anger, não lhe deram mais do que uma pollegada e algumas linhas de affastamento, de maneira que n'ella exarou o seguinte trecho-.— Quo facto (simphyse secta)ossu púbis súbito plusquam pollice á se m- ncem recedunt, tuneque fatus naturm artisque viribus solticitus per cana- lem ampliatum in lucem incolumis ediicetur. Tal era o alicerce, em que eslava assentada a sua futura gloria! Beaudeloque, em numerosas experiências, que fez na presença de muitos cirurgiões do Hotel-Dieu, não obteve, depois da secção pubiana,sinão trez aseis linhas de afTastamento inter-pubiano, e só poude leval-o a duas pollegadas e meia, trazendo fortemente as co- xas para fora, até que ellas formassem com o tronco—ângulos rectos, ou a letra—T—,sendo ainda preciso carregar no mesmo sentido so- bre os ossos innominados; notando, porém, que esta ultima tentativa não teve logar em uma só mulher sem ruptura das symphyses sacro- süacas. A. Leroy e seus sectários foram tão felizes que, em suasexpe- 1 Symphyseotomia e suas indicações. riencias, conseguiram duas pollegadas e meia de affastamento entre os púbis, até três e mais sem esforço e perigo! Jacquemierdiz que—procedendo lentamente c sem abalos, le- va-se esse affastamento a duas pollegadas, sem offender as symphy- ses posteriores, e mesmo em muitas circumstancias a duas pollega- das e meia, sem produzir lesões graves; mas é um grau extremo, diz o mesmo autor, que não se deve attingir com violência. Casseaux diz—que,depois da secção da cartilagem inter-pubiana, resulta da retracção dos ligamentos sacro-iliacos posteriores um a ilous centimentros de affastamento entre os púbis, mas que este po- de ir além, si o parteiro, apoderando-se das cristas iliacas, leval-as para fora; tendo, porém, o cuidado de nunca exceder de cinco cen- tímetros para não dilacerar os ligamentos sacro-iliacos anteriores e expol-os a graves inflammações. Não abraçando nenhuma d'estas opiniões, limitamos, com al- guns autores, a duas pollegadas o maior grau de affastamento, que entermeia os púbis sem lesão das symphyses posteriores. Tratemos, agora, de examinar qual o augmento, que adquire, nestes graus de affastamento, o diâmetro sacro-pubiano, o qual, em geral, é que traz obstáculo á passagem da cabeça do feto, por isso que mais especialmente nos oecupamos d'elle. Apreciemos, ainda, as experiências dos auetores. Segundo Ripping, que fez varias experiências no Hotel-Dieu de Paris, nota-se que de uma pollegada de affastamento entre os púbis resulta uma linha e meia de augmento para o pequeno diâmetro da bacia; que de uma pollegada e nove linhas desse affastamento, em outro caso, obteve-se o mesmo resultado; que o mesmo affastamen- to de duas pollegadas e um quarto produsio trez linhas e meia de augmento para o mesmo diâmetro. Serrin, cirurgião-parteiro de Strasburgo, tendo levado o affasta- mento a duas pollegadas e meia, conseguio um augmento de trez linhas para o pequeno diâmetro; a trez pollegadas, obteve seis linhas para o mesmo diâmetro. Chevreux obteve duas linhas como resultado de um affastamento de'duas pollegadas, tendo sempre o mesmo numero de linhas em um affastamento de trez pollegadas. Todos estes auetores notaram, nessas experiências, lesões mais ou menos graves para as symphy- ses posteriores. Jacquemier diz, que,segundo Lauverjat, duas pollegadas de affas- tamento entre os púbis dão em resultado cinco linhas para o peque- no diâmetro do estreito superior. Em quanto a Gaseaux cinco centimetros produzem dez millime- tros de augmento para o pequeno diâmetro da bacia. As experiências feitas por Giraud em uma bacia de trez pollega- das de diâmetro sacro-pubiano deram-lhe os resultados "seguintes- em uma pollegada de afastamento inter-pubiano, duas linhas de aug- Symphyseotomia e suas indicações. mento; levando-o a duas, quatro linhas; a trez, oito linhas; a qua- tro, doze linhas. Ansiaux, em outra bacia de duas pollegadas e um quarto de diâmetro sacro-pubiano, obteve para este mais seis linhas em trez pollegadas de affastamento entre os púbis. Nenhum destes dous últimos auetores menciona, que as sym- physes posteriores dessas bacias soffressem lesões, pelo'contrario, ficaram incólumes. Destas experiências concluio o Doutor Gardien: «1.° que trez pol- legadas de affastamento entre os ossos púbis augmentam ao pequeno diâmetro do estreito superior seis a oito linhas; 2.° que este affasta- mento, levado além, faz crescer o mesmo diâmetro muito mais; 3.° emfim, que o crescimento desse diâmetro é tanto maior, quanto mais viciada for a bacia;» de sorte que, neste ultimo caso, a symphyseo- tomia seria melhor indicada; mas, si isto fosse exacto,como querem os partidários da secção inter-pubiana, como comprehender-se que ella, em bacias de uma pollegada, e de seis linhas, como citam-se exemplos, trouxesse vantagem para dessipar o obstáculo á passa- gem de uma cabeça regular? Tornando ao Doutor Gardien, que com aquelles principios pretendeu provar que a secção do púbis podia fa- cilitar a passagem de uma cabeça de trez pollegadas e meia de diâ- metro bi-parietal através de uma bacia de duas pollegadas de pe- queno diâmetro, vejamos como elle raciocina: «o beneficio da sym- physeotomia, diz elle, depende muito da extensão do diâmetro an- tero-posterior da bacia, ainda mais da precaução de introduzir uma das bossas parietaes no espaço inter-pubiano, elevar a outra ao en- contro das symphyses sacro-iíiacas. E' assim que, de um lado, pela extensão do diâmetro antero-posterior do estreito superior, ganham- se seis ou oito linhas, e que, de um outro lado, a diminuição do diâ- metro da cabeça por causa de sua direcção diagonal pôde ser ava- liada a cinco ou seis linhas por cada uma de suas extremidades, isto é: pela espessura das duas bossas parietaes, por que uma se acha fo- ra da cavidade pelviana, em quanto a outra se apresenta ao encon- tro de uma chanfradurasciatica, o queda cm tudo uma pollegada e meia, quanto era necessário para ceder o obstáculo da passagem da cabeça.» Este descobrimento é muito bello cm theoria, mas cahe na pra- tica fulminado perante a sciencia. Será possivel, sem lutar-se com grandes difficuIdades, exe- cutar esta manobra, cm que funda-se a vantagem desta operação? Em uma bacia assás viciada não encontra-se grande embaraço para girar a cabeça do feto,quo é mais ou menos apertada pelo ulero, de sorte a dar-lhe a posição diagonal, encaixando uma de suas bos- sas parietaes entre os púbis? Com esta posição è possivel aquelle en- raixamenlo sem ruptura de uma das symphyses sarco-iiiacas? <; Symphyseotomia e suas indicações* Não receamos responder a todas estas perguntas pela negativa. Nós acceilamos quatro linhas como o resultado das duas pollega- das do affastamento interpubiano,queadmittimos. Antes de terminar este capitulo convém dizer, que o diâmetro sacro-pubiano não é o único, que augmenta pela secção inter-pu- hiana; os diâmetros oblíquo e transverso, segundo as experiências de Desgranges, gozam de um augmento muito superior ao d'aquelle. III. Alguns parteiros , c cm particular os Srs. Osborne, Demnan e M. Dcwes disseram—que symphyseotomia em caso nenhum deve ser indicada, c nós, mais ou menos sectário desta opinião, não receiamos dizer que, na mulher viva, ella é completamente inútil, sinão pre- judicial, e havemos de provar, como o permittirem nossas débeis forças, nossa asserção; todavia não nos eximimos de, neste humilde trabalho, mencionar, ainda que abreviadamente, as circunstancias, que desgraçadamente teem influído no animo dos symphyseotomis- lãs para praticar esta operação. Os partidários da secção inter-pubiana teem dito que deve-se recorrer a esta operação, quando sete até nove linhas, unidas ao diâmetro estreitado,forem sufficientes para permittir o parto espon- tâneo ou ao menos por meio de forceps; e apresentaram como li- mites á ella uma bacia de duas pollegadas e meia ao minimo, e de Ircz pollegadas e um quarto ao máximo de diâmetro sacro-iliaco. Os tumores desenvolvidos na exeavação da bacia, um volume excessivo da cabeça do feto, a retroversão do utero sobre-vinda a prenhez—são outras tantas causas, que reclamam esta operação. Convém, ainda, para praticar a symphyseotomia, dizem os parti- dários delia, que o feto esteja vivo; que a apresentação seja natural; que ocollo uterino esteja bastante dilatado; que a mulher seja mui- to moça. IV. Ainda que a nossa adhesão seja inteiramente avessa a symphy- seotomia, descreveremos, com tudo, o processo operatorio mai> ge- ralmente seguido. Depois de se ter tido o cuidado de esvasiar o recto, a mulher será collocada em posição conveniente. Esta posição varia, confor- me o paiz. Em França é geralmente preferida a seguinte: a mulher è collocada atravessada sobre o leito, que deve ser encostado á pa- rede por um de seos bordos. Symphyseotomia e suas indicações. 1 Entre a parede e o dorso da mulher são postos muitos traves- seiros; deita-se um coxim resistente em baixo do colchão no ponto, sobre que deverá repousar o assento. E' bom collocar um panno com muitas dobras em baixo do assento, afim de que este não se aprofunde no colchão, e um outro dobrado ao comprido, cuja uti- lidade ê receber os liquidos, que correrem, ficará pendente até o chão. A commissura anterior do perinêo deve corresponder exacta- mente ao bordo do leito; si, porém, o cirurgião previr algumas dif- ficuldades, deverá o assento da mulher exceder o bordo do colchão. Os membros inferiores da mulher ficarão em flexão e os calcanha- res serão apoiados e mantidos sobre os joelhos de dous ajudantes assentados de cada lado da mulher, bastante afastados um do ou- tro para não embaraçarem o operador. Um terceiro ajudante será collocado junto a mulher para lhe prodigalisar os cuidados necessá- rios. Si a mulher for indócil, um quarto ajudante firmará a bacia para não executar movimentos, que poderiam compromelter a ope- ração. Collocada a mulher assim, se introduzirá uma sonda na bexiga, não só para evacual-a, como também para collocar, durante a ope- ração, o meato urinario do lado direito e para baixo, afim depol-o a abrigo do instrumento cortante. Um ajudante conservará a sonda na mesma posição, em quanto outro puxará a pelle do púbis para cima. O operador, depois de ter reconhecido exactamente o lugar onde se acha a symphyse, fará uma incisão, que comprehenda todas as partes molles, começando a um centimetro acima do púbis, e es- tendendo-se um pouco á esquerda acima do clitores. Sendo, por meio desta incisão, posta a descoberto a fibro-cartilagem inter-pu- biana, será esta incisada com cuidado, afim de não offender a be- xiga. Feito isto, os ossos se affastarão, e si as contrações forem enérgicas, o parto se effectuará espontaneamente. Em caso contra- rio recorrer-se-ha ao forceps. Depois do parto, o cirurgião approximará os ossos, reunirá os tegumentos por meio de tiras agglutinativas, e manterá tudo por meio de uma atadura de corpo sufíicientemente apertada. Deve ficar subentendida a obrigação, que o cirurgião tem de ligar os va- sos, cuja secção faça recear uma hemorrhagia. V. Compete-nos, antes de quebrar o bico de nossa penna, satisfa- zer o compromisso, que contrahimos, tendo em mira demonstrar a inutilidade da symphyseotomia. s Symphyseotomia e suas indicações. Não desconhecemos que è sobremaneira difiicil para nós, baldo de habilitações necessárias para irmos de encontro á saneção dada á esta operação por homens eminentes, a tarefa, que commeltida a outro abastado de cabedaes scientificos seria plenamente preenchi- da; todavia arrimado em bases, cujo apoio é o resultado de reite- radas experiências feitas por homens proeminentes na 'matéria, aventurar-nos-hemos a comprovar a nossa proposição, contra ;; qual, estamos convencido, teremos de arcar com barreiras insu- peráveis, que levantadas de novo pôr-nos-hão indubitavelmente na estacada; mas não ficará abafada a voz de nossa consciência, que não olvida-se de, um só momento, protestar energicamente contra tão perigosa e deshumana operação. Não nos encarregaremos de reproduzir os tristes factos, a que tem desgraçadamente dado lugar a symphyseotomia. Não nos é preciso fazer reviver esse quadro horroroso para de- monstrarmos que, tendo sido essa operação proposta com o intuito de salvar a mulher e o feto, não tem preenchido este desígnio. As estatísticas estão demonstrando que de quarenta c uma mu- lheres submettidas á secção pubiana, quatorze suecumbiram e vinte e oito meninos morreram. Compenetrados, pois, os sectários da secção pubiana dos fataes suecessos desta operação, que até então era praticada em todo e qualquer grau de estreitamento da bacia, estabeleceram como limi- tes duas pollegadas e meia ao minimo e trez e um quarto ao má- ximo. Não nos oecuparemos com este ultimo gráo de estreitamento, porque o forceps, nesta circunstancia, tem sido coroado pelos mais brilhantes suecessos. Mas, abaixo desse termo até duas pollegadas e meia, quaes são as vantagens da symphyseotomia? Ora, sendo duas pollegadas o maior gráo de affastamento entre os ossos púbis, que dá quatro linhas de augmento para o diâmetro sacro-pubiano,e ajunc- te-se mais trez linhas dadas pela introducção de uma bossa parietal n'aquelle intervallo, o que dá em tudo sete linhas de augmento para o pequeno diâmetro do estreito superior. Si applicarmos este augmento a uma bacia de trez pollegada> de diâmetro sacro-pubiano, o parto poderá ser espontâneo; mas si se fosse obrigado a recorrer ao forceps, a introducção da cabeça do leto poderia effectuar-se sem um affastamento das symphyses pos- teriores mais ou menos prejudicial para parturiente? Figuremos, agora, uma bacia de duas pollegadas e nove linhas de diâmetro sacro-pubiano, ajuncte-se á este o producto obtido pela secção pubiana; ficará, então, a cabeça do feto isenta de, por meio de forceps, soffrer esforços consideráveis, e a operação não será, oeste caso, mais perigosa para a mulher e o feto? Figuremos, ainda, outra bacia de duas pollegadas e meia de diâ- metro sacro-pubiano, ajuncte-se o mesmo producto , neste caso o Symphyseotomia e suas indicações. 9 forceps não c muitas vezes insufficiente; e então tanto a mulher co- mo o feto não ficarão, não obstante a symphyseotomia, nas vascas da morte? A vista, pois, desses inconvenientes, a que estão sujeitos o teto e a mulher, ninguém, de boa fé, hesitará em dizer que a symphy- seotomia, além de inútil, é perigosa. E ainda mais para corroborar estas palavras, está a serie de accidentes que, depois d'ella, teem logar, enumerados por Beaudeloque: a contusão, a ruptura das partes exteriores, a injlammação, a suppuração destas mesmas partes, e da subs- tancia ligamento-carlilagiuosa, que constituía a mesma symphysc pubia- na; a desnudação das extremidades destes ossos, sua carie, sua fcdta de reunião, a lezão do canal da urcthra, a ulceração da bexiga, siuf destrui- rão parcial, sua hérnia através dos ossos separados e a incontinencia da urina; o ajfastamento, a dilacerarão das symphyses sacro-iliacas, a in- jlammação, a gangrena, a ruptura do utero; os depósitos de matérias purulentas e ichorosas no mesmo logar das symphyses despedaçadas e todo o tecido cellular da bacia e na extensão dos músculos, psoas, etc, a injlammação do peritoneo, dos intestinos, etc. Si por acaso, o feto fòr extrahido vivo, não se deve suppór que isso dependesse do affastamento brusca e repentinamente feito; mas de circumstancias, que são muito raras de encontrarem-se reunidas: quero fallar do pequeno volume da cabeça, sua reduetibilidade, a relaxação natural das symphyses sacro-iliacas. São, pois, á estas circumstancias, que se deve attribuir o suecesso accidental conse- guido por Sigault na mulher Souchol; e uma prova, que muito pre- valece, é ter cila sido operada, quando o feto eslava a vencer a re- sistência do estreito inferior, não obstante ficou ella incapaz de po- der conter a urina. As circumstancias, que melhor se prestam á operação sigaultea- na, são também as mais favoráveis ao parto prematuro artificial que, tendo por fim salvar o feto e a mulher, tem prestado serviços úteis á humanidade. Compulsando as estatísticas ver-se-ha que, so- bre dusentos e cincoenta|casos colleccionados pela Senhora Lacour, mais da metade dos meninos viveram, suecumbindo apenas uma mulher sobre dezaseis; cotejem-se estes resultados com os acima mencionados, ficar-se-ha convencido de que todas as vezes que uma mulher estiver nessas condições será submettida á observação du- rante os dous últimos mezes da prenhez, devendo o medico pra- ticar o parto prematuro. Si, porém, fõr chamado o medico no momento do trabalho, não havendo duvida da vitabilidade do feto, deverá elle esperar algu- mas horas e confiar a expulsão do feto aos esforços da natureza, porque nessas circumstancias se teem dado numerosos exemplos de expulsão espontânea; mas, verificada bem a impotência das con- tracções uterinas, applicará o forceps. Si as tracções feitas conve- nientemente forem sem proveito, retirará o parte?.ro o insiram mto, IO Symphyseotomia c suas indicações. e deixará ainda as contracções uterinas se exerceorm por espaço de uma ou duas horas, si a mulher não estiver muito abatida; depois introduzirá de novo o instrumento; si esta segunda tentativa fôr sem proveito, verificada a insufficiencia das contracções uterinas, considerará o feto como morto, ainda que esteja vivo, praticando a embryotomia; porque, procedendo assim, sacrifica uma vida incerta em beneficio de outra mais preciosa e útil á sociedade. Mas, sendo chamado o parteiro em uma occasião, em que a vida do feto estiver compromettida, perdida a esperança de o salvar, procederá ainda como si elle estivesse morto, praticando logo a em- bryotomia, afim de poupar a parturiente a graves conseqüências de um trabalho delonga duração. São, pois, estas as regras, que os mais distinctos parteiros acon- selham em semelhantes condições, e que nós abraçamos. ^Ü£@ PROPOSIÇÕES. SECÇÃO ACCESSORIA. Ha signaes certos de prcnhez? Em que cast>s e com que fun- damentos poderá o illedico legista aflirmar que uma mu- lher está grávida? I. Nos quatro primeiros mezes não ha signaes certos de prenhez. II. A reunião da maior parte dos signaes durante os quatro primei- ros mezes pode produzir apenas uma suspeita no espirito do me- dico. III. Os signaes racionaes, reunidos aos signaes sensiveis, tornam o diagnostico infallivel depois do quarto mei. IV. Os signaes fornecidos pelas mammas nas mulheres nulliparas são de grande valor para o diagnostico da prenhez. V. Os movimentos activos e passivos do feto são signaes presumpti- vos de prenhez. VI Um dos signaes positivos fornecidos pela auscultação—os bati- mentos do coração do feto—é reputado infallivel. 1£ Proposições. VII. 0 mesmo signal negativo, porém, irão exclue a possibilidade uY existência de uma prenhez. VIU. A presença das regras não indica que a mulher não está grávida. IX A presença do hymen não prova sempre contra a não existência da prenhez. X. A idade da mulher é um auxiliar para um diagnostico negativo da prenhez. XI. A ausência de muitos signaes racionaese sensíveis nenhuma du- vida deixará no espirito do medico para affirmar que uma mulher não está grávida. XII. Cumpre reiterar o exame em diversas epochas para adquirir-se completa certeza. ■^^&§^)^^m^ SECÇÃO CIRÚRGICA. Vícios da conformação da bacia e suas indicações. I. Bacia viciada é aquella que affasta-se de suas dimensões nor- maes. II. Não se deve reputar viciada relativamente ao parto a bacia que tiver algumas linhas de mais ou de menos em suas dimensões. III. A bacia é viciada por excesso de amplidão ou por excesso de es- treiteza. IV. O rachitismo e a osteomalicia não são, como outr'ora se pensa- va, as únicas causas de deformação da bacia. V. A bacia viciada por excesso de amplidão pôde expor a mulher a graves accidentes, quer no estado de vacuidade, quer de prenhez, quer enfim durante o trabalho do parto. VI. A bacia viciada por excesso de estreiteza subdivide-se em duas espécies relativamente á sua forma e à sua configuração exterior,— estreiteza absoluta e relativa. VII Os signaes, por meio dos quaes o medico pôde reconhecer a má 4 Kl Proposições. conformação de uma bacia, são distinctos em racionaese sensíveis VIII. Os primeiros são adquiridos pela, historia progressa da mulher, seu exame geral, sua constituição, etc.; os segundos pela mensura- ção externa e interna da bacia. IX. As indicações, que oparteiro deve preencher nos estreitamentos da bacia durante o trabalho do parto, variam segundo a sua defor- midade. X. Os vícios de conformação da bacia requerem no maior numero das vezes na occasião da parturição a versão ou o forceps. XI. Sempre que o estreitamento reduz a bacia a menos de duas pol- legadas e meia, a craneotomia, a applicação do forceps cephalotribo e a operação cesariana devem ser indicadas. XII. Em epochas anteriores ao parto os estreitamentos indicam o aborto ou o parto prematuro, conforme o grau em que elles se acham. SECÇÃO MEDICA. Dos banhos. I. 0 uso dos banhos foi sempre uma necessidade de todos os tempos. II. O desaceio do corpo pôde ser causa de muitas moléstias. III. Os banhos privando a pelle das impurezas, que a revestem, fa- cilitam a respiração supplementar, de que ella é encarregada prin- cipalmente nos animaes inferiores. IV. Tiram os banhos o resíduo solido deixado pela evaporação do suor, facilitando assim as impressões sensitivas da pelle pelo contac- to immediato dos agentes exteriores sobre ella. V. Conforme a temperatura do banho augmentam ou diminuem a absorpção e a exhalação cutâneas. VI. A cima de trinta e trez graus de exhalação cutânea augmenta tornando o corpo mais leve; abaixo do mesmo grau a absorpção pelo contrario augmenta igualmente com o peso do corpo. VII. Os effeitos do banho sobre todo o organismo variam conforme a sua temperatura. M> Proposições. VIII. Os banhos podem ser frios, lépidos, quentes, de estufa secca ou humida e russos. IX. Como a temperatura; a pressão o movimento; a densidade e a composição da água modificam os effeítos do banho sobre o orga- nismo. X. E' por alguma destas circumstancias que os banhos de mar diffe- ivm em seos effeítos dos banhos de águas doces correntes e estes d'aquelles cuja água se acha em espaços mui circimscriptos. XI. Os climas e as estações requerem banhos de uma temperatura especial. XII. A idade, a constituição, o temperamento, as profissões e certos estados especiaes da economia devem fazer variar a qualidade dos banhos. XIII. 0> banhos além de serem um poderosíssimo meiohygienicj são muitas vezes um meio therapeutico de muita proficuidade. HYPOCRATIS ÂPHORISMI. -*.«*■*>**-?-*■ I. Vita brevis, ars longa, occasio praeceps, experientia fallax, ju- dicium difficile. Sed. l.a aph. l.° II. Mulieri in utero gerentí, si alvus multum fluxerit, perículum ne abortiat. Sect. i.a aph. 34. III. In morbis acutis , extremarum partium frigus , malum. Sect. 7.* aph. l.° IV. Mulieri, menstruis deflcientibus, è naribus sanguinem fluere, bonum. Sect. 5.a aph. 33. v. Cibi, putus, venus, omnia moderat sint. Sect. 2.a aph. 6.° VI. Lassitudines sponte abortoe morbos denuntiant. Sect. 2.a aph. 5.' Remettlda á eommissào revisora. Bahia e Faculdade de Medicina 30 de Setembro de 1865. Dr. Gaspar. Está conforme os Estatutos. Bahia 3 de Outubro de 1S«5. Valle *Jt€ttior. Dr. Jffawra. Dr. *T. Soaré. Imprima-se. Bahia e Faculdade de Medicina 11 de Outu bro de 184>5. Bapfitfa. 5