CONCURSO PARA A CADEIRA DE PHYSIOLOGIA. THÉSE NA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA EM MAIO DE 1865. PEL-0 Dr< £m\ Sltoaris fcos Santos Alumno da Eschola de Medicina da Bahia laureado duas vezes (no fim » appli cações a Medicina. Francisco Rodrigues da Silva . . . . Cbimica e Mineralogia. Adriano Alves de Lima Gordilho. . . Anatomia descriptiva. 2." AXXO. Anlonio Mariano do Bomfim . . . : Botânica e Zoologia Antônio de Cerqueira Pinto.....Chimica orgânica. .............Physiologia. Adriano Alves de Liuia Gordilho. . . Anatomia descriptiva, sendo os alumuos obii- gados dissecções anatômicas. 3." AXXO. .............Physiologia. Elias José Pedroza ......Anatomia geral e pathologica. J.)sé de Góes Siqueira.......Pathologia geral. 4." AXXO. Cons. Manoel í.ilislán Aranha Uantas . Pathologia externa. An xandre Jo-e de Queiroz . .... Pathologia interna. Mathi.ts Moreira Sampaio.....Partos, moléstias de mulhcies pejais e de menino recém-nascidos. 5." AXXO. Alexandre José de Queír>z .... Pathologia interna. Jom Antônio de Freitas......Anatomia topogiaphica, Medicina operatoii.: . apparelhos. Joaquim Antônio d'01iveira Botelho . . Matéria medica e therapeutica. 6.° AXXO. i)imin:n« Rodrigues Seixas.....Hvgiene, e Historia da Medir mi. >alu>tiano Ferreira Souto.....Medicina legal. Antônio José Ozorio.......Pharmacia. Antônio Jo«è Alves.......Clinica externa cio 3. c. 4. Ant mio Januário de Faria.....Clinica interna do 5. e 6. LENTES OPPOSITORE9. Jn*é Affonso Paraizo de Moura. . . .] Augusto Gonsalves Martins ./ Domingos Carlos da Silva . . . .> Secção Cirúrgica. Unscio José da Canha.....\ Pedro Ribeiro de Araújo.....I i'>ozendo Aprigio Pereira Guimarães, .r Secção Accessona. José Ignacio de Barros Piincntel. . .1 Virgílio Climaco Damazio . . • Demttrio Cyriaco Toarinho . . . Luiz Alvares dos Santos......{ Secção Medica. João Pedro da Cunha Valle. . . JrrcuirjQo Sodré Pereira. . . . SECRETARIO—O Sr. Dr. Cincinnato Pinto da Silva. OFFICIAL DA SECRETARIA—O Sr. Pr. Tliomaz .1 Aqulno Ciasnnr CONCÜRRENTES Dr. Dcmetrio Cyriaco Tourinho. Dr. Joáo Pedro da Cunha Vallc. Dr. Jeronymo Sodré Pereira AO ILLM. E EXM. SR. CONSELHEIRO Professor jubilado de Physiologia. Senhor! Estais bem longe dos bancos de meu* juizes. Posso pois dar-vns agora um testemunho publico de minha profunda estima e sincera consideração. Ninguém poderá inlerpretal-o de modo pouco airoso para mim. A idade, essa mestra e guia do homem, me tem feito comprehcnder quanto é indiscreto e louco o ardor da pneu tu.de. Desculpai as minhas loucuras de moço. Reconheço que la- do quanto sou em minha, humilde posição social dexo aos meus mestres, em cujo numero vos conto, Sr, Conselheiro, .{recitai a pobre offerta Do discípulo agradecido. Lnz Alvahev Cest, en effet, dans le sang et dans les Ikuií- des qui en dérivent que Ia ph\siuk^ie Hou- ve Ia plupart des conditions pour raccotu- plisscment des actes physico-chimiques de Ia vie, et c'est dans les alterations de ccs mènies li- quides que Ia medicine cherche les causes dun três grand nombres de maladies. Cláudio Bep.nard. I. vida é a independência. Todas as propriedades or- gânicas ou vitaes de um orgam estão adstrictas a sua vida própria e individual. A doutrina da indepen- dência da circulação capillar é uma grande verdade. Os vasos são dotados da propriedade de crescer e de dilatar-se, e es- sa propriedade é de todo o ponto independente dosystema vascular LtTal, e de seu orgam central. O desenvolvimento do systema vascu- lar no feto dá a mais peremptória demonstração do que estou af- firmando. As partes as mais diminutas, as mais tênues são as primei- ras formadas. A gênesis começa pelos capülares: d'ahi se estende ás 1 »» Secrcçòes. arlenolas, e ás venulas: depois aos grossos troncos: até que emfim es- leja a obra completa pelo coração, que simples ao principio, não lar- da a apresentar uma disposição muito complexa. A vida do indivíduo, a organisaião, é o archetypoda vida das nações, a sociedade. Hplu- rilmsunum. O desenvolvimento cenlripeto dos nervos (Theoria de Serres) é outra prova. A therapeutica, a acção electiva dos medicamentos corrobora a doutrina que quero estabelecer. A unidade não é o syslema da na- turesa. Os indivíduos são tudo. As partes valem mais que o lodo. II. Será um paradoxo? Que valor temn'estecasoo grande principio acceilo ha tantos séculos na sciencia, e repetido sempre e sempre pe- los sábios cm relação ao organismo vivo—Conscnsus unus, conscnticn- tia úmida? E' que a acção intima do systema nervoso é única, por mais variadas que sejam as manifestações dos actos a que presi- de. O systema nervoso é com elleito o apparelho orgânico que serve constantemente de intermediário a todas as reacções que se passam entre os líquidos e os sólidos do organismo. O systema nervoso de- termina e regula por sua influencia motora sobre a circulação capil- lar Iodos os phenomenos chimicos das secrecções, phenomenos chi- micos que se derivam d'esse fado, como resultados necessários dos contados novos que tem sido determinados entre os princípios do sangue eos elementos histologicos dos differentes tecidos orgânicos. Entendamo-nos. Essas influencias chimicas dos nervos são antago- nistas nos órgãos secretores. Certos nervos por sua acção diminuem a intensidade da circulação, e presidem á elaboração orgânica, re- tendo por mais tempo o sangue em contado com os tecidos. Outros nervos glandulares presidem á expulsão secretora, adivando a circu- lação e augmentando consideravelmente a quantidade de sangue que passa pelo orgam. Logo, independentes das condições da circulação 'jeral (sobre que tem assentado até agora todo o edifício da phy- siologia) concorremj?ara a vida todas as circulações locaes ou wjani- Secreções. II ctn, as quaes, por sua alliança com o systema nervoso, podem tornar os órgãos physiologicamente, e pathologicamente independentes uns dos outros,ao passo que se acham ligados ao todo pelas condições da gran- de circulação. (Cláudio Bernard.) E' nas secreções que émais patente este fado. III. As condições de separação ou de expulsão dos líquidos tornam- se communs aos órgãos secretores e aos órgãos excretores, por isso que são mudanças na circulação capillar do orgam que produzem a íiltração elecliva dos elementos communs do sangue que servem de dissolvente aos produdos segrcgados. Ha uma restricção. As substan- cias caraderisticas dos líquidos excretados encontram-se no sangue, e n'elle se accumulam quando são tirados os órgãos excretores. Os produdos característicos das secrecçoes não existem no sangue e se produzem na occasião com as propriedades especiaes que lhes dá cada orgam secretor.Berzelio concluiu de suas observações sobre esse ponto que a reacção alcalina era característica das secreções, e que a reacrão ácida era característica dos líquidos excretados. Berzelio não tinha ra- zão. Se procurarmos uma lei na reacção dos líquidos orgânicos que es- teja de accordo com todos os fados observados ha de ser outra. Repre- sentam uns reacção fixa, quer ácida, quer alcalina: outros, ora áci- dos, ora alcalinos, offerecem movei a reacção. Os primeiros geral- mente mais importantes em respeito á harmonia das funcções são produdos de secreção. Os outros, de reacção variável, são geralmente produdos excretados. O sangue, a lympha, o chylo, a saliva, a bilis, o sueco pancrea- lico, o sueco intestinal, o sperma apresentam reacção alcalina. O sueco gástrico é sempre ácido, e não pôde satisfazer aos seus usos se deixar de sel-o. A urina e o suor, ao contrario, são ora ácidos, ora alcalinos. Está de accordo com o papel que têm elles de preen- cher a reacção constante dos produdos de secreção? E perderia ao contrario de importância esta condição quando se trata das excreções, 4 Secreções. cuja variabiüdade na reacção é relativa ás necessidades funceionaes de eliminações variadas, servindo de manter o organismo nas condições de equilíbrio physiologico? IV. Representa a nutrição um circulo cm que dous phenomenos fazem ao mesmo tempo em frente um do outro o papel de causa c o ! effeito. E' o sangue um verdadeiro meio orgânico,intermédio entre o meio exterior em que vive o indivíduo, como um todo, e as moléculas vi- vas que não poderiam ser impunemente postas cm relação direc' com esse meio exterior. E' o vehiculo de todas as influencias que vin- das do exterior obram sobre as fibras dos tecidos—oxygeno, subs- tancias nutritivas, condições de temperatura etc. Por outro lado to- dos os produdos de decomposição orgânica que resultam da realiso- ção dos phenomenos da nutrição são lançados no turbilhão do sangue, e com elle circulam para ser derramados no exterior, quer sob a for- ma gazosa pela pelle e pelos pulmões, quer sob a forma liquida pelos rins. O sangue não forma os órgãos. No circulo das influencias recipro- cas que entretem a vida, tem cada uma dellas uma parte distineta. Os tecidos acham no sangue os materiaes de sua nutrição,mas é pre- ciso que saibam elles tirai-os d'ahi. O papel adivo é o dos tecidos: é inteiramente passivo o sangue. Cede o sangue o que lhe tomam, o para isso são precisos órgãos, que lhe tomem aquillo de que precisa- rem na sua regularidade de funecionar. Epithelios, glândulas que sempre da mesma maneira elaboram, produzem os elementos do sangue, modificam para isso integralmen- te os elementos das substancias alimentares, antes de constituir o pro- dueto desses trabalhos subsidiários que tem por fim a secreção final do sangue—ultimo ratio—do movimento instersticial. E' tudo como uma glândula elabora, constitue os produdos de uma secreção. Pari aquelle fim em redor do sangue se ajuntam todos os líquidos do or- ganismo ou nelle entram, oudelle sanem. Emquanto uns preparam- Secreções. 5 lhe a regeneração por novos materiaes que vão trazendo para esta es- pécie de secreção, são outros abandonados como detritos tornados inúteis. Uns o reconstituem: purificam-no outros. O sangue nada mais é do que um producto de secreção: a união de todas as secreções inlimasdo organismo: é a synthese dellas: é o resultado do movimen- to de composição e decomposição de todos os tecidos: é em ultima ana- iyse uma secreção que presta os elementos para as outras secreções. Os órgãos são ao mesmo tempo meio e fim das funcções no corpo vivo. V. Nos phenomenos de nutrição o orgam que se nutre alrahe e fixa materiaes análogos a sua própria substancia. Nos phenomenos de se- creção, o orgam secretor não altrae somente materiaes semelhantes a si. Não ha identidade de composição entre a substancia da glândula e o producto que ella segrega. Completam-se os dous ados sem se confundirem em cada órgão de secreção. E' insensível porém a tran- siceão entre as funcções de secreção e as funcções nutritivas. Tudos os tecidos que se nutrem deveriam ser considerados como glândulas. Dando o nome de secreção á sanidade certos princípios do san- gue alravez de seus canaes, não ha tecido provido de vasos que não seja capaz de secreção. O sangue, circulando na rede capillar dos ór- gãos, atravessando o trama intersticial, deixa filtrar, atra vez das de- licadíssimas paredes dos vasos e no trama de todos os tecidos, o plas- ma nutritivo. As sorosas splanchnieas, as membranas synoviaes ;irti- cnlares e outras, apresentando-se sob a forma de sacos membranosos, providas em sua superfície externa de uma rede vascular mais ou me- nos abundante, contem em seu interior líquidos que se podem enca- rar lambem como secreções. Ha outros órgãos,que ricos em vasos san- güíneos recebem e restituem grande quantidade de sangue. Pare- cem-se com as glândulas pela forma, não tendo entretanto o elemen- to essencial das glândulas, o canal excretor. Taes são o ihymus, o cuipo thyroide, as cápsulas superrenaes. Ha certos órgãos porém determinados, de forma arredondada, a 6 Secreções. que se dá o nome de glândulas, que, providos de um canal, ou de muitos canaes excretores, depõem o producto liquido formado em seu interior, quer sobre a superfície mucosa, quer sobre a superfície cutâ- nea. Taessão o pancreas, as glândulas, salivares, e lacrimaes, as mammas, os testículos, o fígado, e o rim. A classe das glândulas é uma daquellas que uma sciencia crea le- vianamente quando ainda está na infância, custando-lhe muito tra- balho para justifical-a depois e assignar-lhe os limites. Ao principio attenderão ás formas exteriores, e todo órgão mole, arredondado, semeiado de vasos foi chamado glândula, e ao tecido dessa espécie de órgãos deu-se o nome de tecido glanduloso. Como porém pela maior parte as glândulas são deslinadas a derramar líquidos, e providas para esse effeito de conduetos excretores, esse caracter não tardou com rasão a adquirir mais importância que a configuração. Separaram do numero das glândulas os órgãos em que não se percebia canal excretor. Ainda isso não baslou. Eu não vejo outro caracter commum ás glândulas senão sua energia physiologica, isso é, o poder de sublrahir do sangue certas substancias, c até de metamorphosear es- sas substancias, não cm interesse da própria nutrição sua, mas para iransmittil-as mais longe. Esse mesmo caracter não me parece sa- tisfatório para uma linha de demarcação. Masque importa? A scien- cia não precisa de classificações para estudar os phenomenos no que ha de mais importante. A túnica própria das glândulas é permeiavel unicamente ás partes constituintes dissolvidas do sangue; mas o liquido que chega á visi- cula glandular engendra ahi immediatamente novas cellulas, e pro- cede como cytoblastema a respeito d ellas. Quando se vê uma parede de glândula revestida de um epithelio de cellulas torna-se provável que são estas cellulas que attraem do sangue as substancias especi- ficas, e as depõe na cavidade, tanto mais quanto o liquido secretorio deve penetral-as para chegar somente á cavidade glandular. Mas a natureza dessas cellulas endogenas depende do cytoblastema, c a natureza do cytoblastema depende da parede glandular. Qual- quer que seja pois a parte que as cellulas endogenas possam tomar Secreções i mais tarde no trabalho da secreção não se pode consideral-as senão como secundarias. No testiculo, e no ovario, as cellulas endogenas, ou seu producto constituem a parte essencial da secreção, e ahi seu papel não pode- ria ser nunca duvidoso. A parede glandular tem mais importância ainda nessas glândulas do que nas glândulas permanentes. O pró- prio desenvolvimento typico da secreção a ella se prende. Não se pode saber se as substancias a custa das quaes se formam os líqui- dos procreadores, nascem ou não no sangue, na epocha da puber- dade porque não são reconhecidos senão por seus elementos mi- croscópicos. Mas a extirpação das glândulas impede a manifestação da puberdade, o que prova que sua existência é necessária a dos lí- quidos. Qual será porém o papel das cellulas endogenas? Eu não duvidarei em considerar os pulmões como glândulas. Sob o aspecto anatômico, as ramificações dos bronchios podem ser comparadas ás dos conductos excredores das glândulas grandes. Sob a relação physiologica, o pulmão, como órgão secretor d'acido carbônico e d'agua, approxima-se muito das glândulas. Mas a se- creção que elle realisa tem lugar de um modo muito differente do das outras glândulas. Essa secreção se faz em virtude de leis pura- ramente physicas: por uma troca de gases contidos no sangue pe- los gases contidos na athmosphera. Não ha no pulmão outros ele- mentos alem das cellulas de epithelio, das fibras musculares dos bronchios, e do tecido cellular que os envolve no exterior. Entretanto tenho como elemento morphologico do tecido glan- dular as vesiculas que Henle descreve, dando-lhes o nome de vc- siculas glandulares. A parede das menores é completamente clara e sem estrudura. Outras maiores são providas de muitas camadas de núcleos de cel- lulas que se prolongam em corpusculos obscuros, arqueados, ondu- lados, pontudosnas duas extremidades. Nas que ainda tem maior volume a substancia comprehendida entre os núcleos é manifesta- mente íibrosa e assignalada por strias concentricas ao redor. A passagem de uma membrana homogênea e sem estrudura a outra composta de feixes de fibras, realisa-se aqui, como nos vasos por 8 Secreções. um deposito de núcleos, pelo allongamento desses mesmos núcleos, e pela disposição particular que toma a substancia fundamental separando-se sob a forma de feixes que tomam a direcção dos nú- cleos. Essa membrana é a túnica própria. VI. A producção dos phenomenos chimicos das secreções exige cerl- tempo. Seria impossível com uma circulação muito rápida. Como ia estabeleci acima, ha duas circulações. E pois é necessário que a cir- culação geral não seja interrompida pelas exigências locaes da se- creção. 1/ lenta a circulação local: é rápida a geral. A cada onda -ia ultima a circulação capillar cedec toma pequena quantidade de sangue, renovando assim pouco a pouco os materiaes de sua acção O sangue, «pie a circulação geral no órgão abandona á circulação len- ta, presta-se aos phenomenos chimicos, que se devem realisar no irama iutersiicial. No fado da pressão a que fica submcltido o san- gue no systema arterial ha lambem dous phenomenos importantes —pressão constante—e oscillações inconstantes. A pressão constan- te é o faclo da elasticidade eda resistência das paredes arleriaes. As oscillações variáveis representão a impulsão do coração. A'sartciias pertence o papel mais especialmente mechanico: ao coração <■ physiologico, bem que manifeste lambem uma acção por actos mr chanicos. A pressão do sangue, reconhecendo esses dous elementos, nm fixo, outro movei, realisa uma grande influencia sobre as se- creções. Obrando os nervos sobre o coração efTeituam grandes mo- dificações nos phenomenos mechanicos da circulação. Esses pheno- menos podem lambem realisar-se em conseqüência da acção do s\> tema nervoso dirigindo-se exclusivamente ao systema capillar no lr« ma intimo dos tecidos. A contradilidade dos vasos debaixo da in- fluencia nervosa foi por muito tempo contestada em physiologia. Hoje negal-a fora um erro imperdoável. Ainda os que admittiam que o estreitamento das artérias era devido a acção dos nervos sobre oelc- n.euto muscular desses va-os, sustentavam que a dilatarão seria o Secreções. 9 resultado da elasticidade physica que possuem as paredes delles. Para mim essa dilatação adiva, que repellem ainda como anti-racio- nal, é uma realidade. A theoria da inflammação para ser verdadei- ra ha de ser assentada sobre tal baze. Independente da pressão geral devida á acção do coração podem sobrevir localmente modificações de pressão, que ninguém certamente poderia prever a priori em um systema continuo de canaes em relação com um propulsor único. (Ganot—Tratado de physica.) E' entretanto esse o laço que une os phe- nomenos nervosos aos phenomenos physico-chimicos do organismo nas secreções. Os phenomenos hemodynamicos não são regulados no organismo por uma causa única. Podem variar nos apparelhos particulares e mostrar-se differentes em cada orgam, cujo exercício o systema ner- voso modifica e regula. Até os phenomenos da coloração do sangue não estão, como se pensa em geral, ligados exclusivamente ao com- plemento de duas únicas acções capülares—a funcção pulmonar e os tecidos geraes—variam debaixo da influencia das acções nervosas. O sangue venoso pôde ser escarlate, ou negro nos órgãos secre- tores, segundo estiverem esses órgãos no estado de exercício, ou em repouso. Esta mudança de côr corresponde ao estado statico ou dy- namico do orgam. Cada tecido poderá ser caraderisado por modifi- cações muito diversas impressas ao sangue, que o atravessa, por sua adividade funccional própria. E' nesse ponto de contado entre os tecidos orgânicos e o sangue que se deve procurar fundar a idéa do papel especial do systema nervoso nos phenomenos physico- chimicos da vida que constituem as secreções. Quando as veias glandulares contem sangue escarlate, está consideravelmente adivadaa circulação. Porque será escarlate o sangue de uma glân- dula em adividade? Será porque fica então arterial o sangue? E por que fica negro quando a glândula não segrega, quando não ha emis- são do liquido segregado? Haverá nas glândulas duas espécies de nervos, uma deixando o sangue escarlate, outra deixando-o negro? Ha na glândula uma espécie de equilíbrio physiologico instável. E' um balanço funccional incessante determinado pelo antagonismo do nervo dilatador, e do nervo constridor dos vasos capülares sangui- 10 Secreções. neos. O aperto extremo do systema capillar coincide com um derra- me traquissimo do sangue, e com a cor negra delle. A dilatação ex- trema coincide com a passagem direda do sangue pulsalivo e escar- late. Ha entre a acção physiologica primitiva do nervo e o pheno- meno chimicoque se segue um intermédio que modifica mechaniea- mente a circulação especial do orgam glandular. VII. Para que se produza um phenomeno chimico, é necessário que um phenomeno mechanico, ou physico ponha em relação os elemen- tos que devem reagir: esse phenomeno physico ou motor está sob a de- pendência do systema nervoso. E' verosimil que a influencia nervosa seja a mesma em todas as glândulas, e que seu papel consista em despertar no tecido próprio da glândula as propriedades especiaes que possue esse tecido. Mas o como? E mudando o grau de permeabilidade das mem- branas que o sangue deve atravessar ? E' obrando sobre os vasos ca- pülares, modificando4hes a propriedade condradü? A corrente de uma mesma pilha produz phenomenos chimicos variados, confor- me os dous pólos se mergulhão em meios de composição differente. Os nervos influem especialmente sobre a circulação capillar, func- cional, intermittente das glândulas. VIII. A observação e a critica dos fados mostrão claramente que é no pulmão que o glóbulo sangüíneo toma o oxigeneo; mas, se é verda- de que o sangue venoso deva sua coloração negra ao ácido carbô- nico, a modificação, em virtude da qual se transforma o seu oxige- neo em ácido carbônico, pode effectuar-se diredamente nelle e não necessariamente ao contado immediáto dos tecidos. O sangue, que tendo atravessado os capiüares sae delles escarlate, torna-se negro Secreções. 11 mais depressa do que se não tivesse atravessado o tecido. Quando sai negro do systhema capillar da glândula é quando se faz lenta* mente a circulação. A transformação do sangue arterial em sangue venoso, negro, teve tempo de effeituar-se, entretanto que já não se pode mais faser no órgão quando é muito rápida a circulação, e o sangue fica então no estado de sangue venoso escarlate. Se ao systhema dos vasos capülares abandonasse o sangue seu oxigeneo, e tomasse ácido carbônico, tornar-se-hia sempre negro instanta- neamente. Ao menos é o que acontece fora do organismo quando é o sangue posto nas condições de temperatura visinhas das que se encontrão no ente vivo. Se pois, como disia eu, houvesse no te- cido troca do oxygeneo do sangue pelo ácido carbônico do teci- do, não comprehendo como poderia o sangue sahir escarlate do systhema capillar, quando a temperatura se acha mais elevada do que nas condicções funccionaes que coincidem com a sahida do sangue venoso negro. Mas como pode então servir á nutrição o oxygeneo quando no glóbulo sangüíneo ? Mas donde vem o ácido carbônico que se troca no pulmão? Quando o sangue atravessa os capülares ha entre elle e os tecidos não troca de gases, mas sim troca de líquidos talvez. O oxygeneo do glóbulo seria empregado em oxydar o carbono do próprio glóbulo. Quando as glândulas se- gregão e deixão passar sangue venoso escarlate, estão em uma con- dição differente daquella que caraderisa o estado de não secreção, que ao mesmo tempo as approxima do pulmão: expellem água. No pulmão, ao contado do ar o sangue venoso, ha expulsão do ácido carbônico e do vapor d'agua. Passão-se as cousas dífferentemente como acima dissemos, se- gundo está a glândula em repouso ou adividade. Quando a glândula está em repouso atravessa o sangue um órgão que nada regeita para fora. No segundo caso tem lugar o contrario. Se é justo pensar que no pulmão o estado rutilante do sangue deve ser attribuido é expulsão do ácido carbônico, ácido carbônico deve ser expellido pelas glândulas com produdos da secreção. E com effeito todos osliquidoá expellidos pelos órgãos glandulares contem muito ácido carbônico. Assim certos órgãos obrão como o pulmão expellindo ácido carbônico, não no tt Secreções. estado gasoso, mas ou em dissolução, ou em combinação, no estado de carbonatos, e de bicarbonatos. Asourinas, os líquidos salivares etc. são muito carregados de áci- do carbônico. O sangue que atravessou um órgão glandular, desembaraçou-se de certa quantidade de ácido carbônico e conserva todavia o oxigeneo que lhe permitte formar depois ácido carbônico e tornar-se negro. Todos os produdos de secreção apparecem no estado de dissolução em um vehiculo aquoso. E' pois a água um elemento geral, commum a todas as secreções. Donde vem ella? E' separada do sangue? Ou é antes o resultado de ações chimicas que se tenhão passado no próprio órgão/ São questões de máximo interesse. IX. São também separados do sangue no órgão glandular outros produdos que nas secreções se encontrão? Pondo de parte os produdos especiaes particulares a uma se- creção determinada, nos elementos geraes communs a muitas ou a todas as secreções, achão-se substancias que na glândula são sim- plesmente separadas do sangue como por um filtro. A quantidade dos saes contidos nos produdos de secreção varia segundo certas condições physiologicas. As glândulas não são permeiaveis para to- dos os saes que podem se achar no sangue. Ha certas aptidões para excreções determinadas. O assucar por ex. que existe normalmen- te no sangue pode passar nas secreções de certas glândulas e não passar nas de outras. O mesmo acontece com a maior parte das substancias mine- raes. O prussiato amarello de potassa que pode circular impune- mente em mui grande proporção no sangue não é eliminado por todos os órgãos filtradores. O iodo é eliminado nas urinas, na sa- liva, no sueco pancreatico, e na bilis, mas não é eliminado com a mesma facilidade por essas dififerentes vias. O iodo é filtrado mais Seereções 13 facilmente pelas glândulas salivares do que por outro qualquer ap- parelho secretor. Os gases que se achão nos líquidos segregados são tomados ao sangue. Entre os corpos inorgânicos que existem no sangue o ferro não se acha geralmente nas secreções, apesar do papel importante que representa entrando na composição dos glóbulos sangüíneos. Como é elle absorvido? Como é elle eliminado? A quantidade de ferro absorvida é extremamente mínima. Quando nas affecções que re- clamão o emprego dos marciaes (na chlorose por ex.) se chega a curar pela absorpção do ferro, se cura, não é á absorpção do medi- camento ingerido que deve ser attribuido esse resultado. Por mí- nima que seja a quantidade absorvida é ella eliminada. E' na bilis e nos cabellos que se acha o ferro. X. Substancias que occupão o meio entre a naturesa orgânica e a naturesa mineral, que provem de matérias organisadas, que tem chegado a um estado de indifferença chimica, dando-lhes qualida- des especiaes, existem normalmente no sangue e são eliminadas, não por todas as secrecçoes, porém mais especialmente pelos rins. Foi erro considerar a excreção normal da uréa como o resultado de uma formação própria ao rim. A uréa existe no sangue. Mas esta faculdade especial a algumas secreções de eliminar certos produc- tos è absoluta ou relativa ? Não está subordinada a certas condições íunccionaes? Ha uma metasthase secretoria? XI. Comparando-se, em respeito a fibrina, o sangue, que entra em um órgão secretor, ao que delle sae, acha-se que a passagem a tra- vez do órgão produsiu no sangue diminuição e até suppressão da t-1 Secreções. librina. Mas normalmente não se encontra fibrina em secreção nenhuma. Na adividade funcional da glândula perde o sangue a li- brina, e conserva o oxigeneo. Também a albumina no estado physiologico é destinada a ficar no sangue. A matéria secretada encontrada em algumas secreções enovam-se incessantemente por suas ca- madas inferiores. No leite parece a secreção ser uma secreção epi- thelial que se torna alimentar pela formação de gordura, de assucar, caseina etc. Essa analogia da secreção mamaria e das secreções epi- theliaes acha-se de alguma forma confirmada por um fado interes- sante da physiologia comparada. Hunter tinha observado que no pombo, tanto no macho, como na fêmea, desenvolve-se no papo no momento da ecclosão dos fi- lhotes uma espécie de secreção análoga ao leite coalhado. Essa se- creção começa três ou quatro dias antes da ecclosão e dura outros 18 Secreções. tantos dias depois. Forma-se pois um verdadeiro orgam glandular, no papo do pombo, análogo a uma superfície mammaria. A secreção é análoga ao leite coalhado. Os pombos pai e mãe ingurgitam essas substancias nos biquinhos de seus filhotes durante os primeiros dias depois da ecclosão. (Claude Bernard.) Ainda mais. A glycogenia mamaria teria, como a glycogenia hepatica, mais analogias com o reino negetal. A chimica orgânica tem assignalado a presença do assucar de leite cm certas grãs. Deriva-se o assucar de leite de uma espécie de matéria amylacea, como a glycose, ou forma-se por uma espé- cie de desdobramento análogo ao que tem lugar na formação do as- sucar com a emul>ãoe a amygdalina. A secreção láctea distingue-se muito das outras por seu destino physiologico, c por seu mechanismo. E' uma secreção alimentar. E' esse alimento que o organismo materno dos mammiferos pre- para para o filhinho que não pode immediatamente tomar sua nu- trição no mundo que o rodeia. E' uma secreção essencialmente in- termittente: dura normalmente o tempo necessário que exige a aii- mcnlação materna do ente novo. XVIII. Secreções, ou excreções tomam no sangue os seos elementos. Os órgãos secretores ou derramam fora do sangue os seos produdos, ou derramam-nos dentro do próprio sangue. E' o que constitue as secreções externas, e as internas. Esses órgãos modificam o sangue, encontrando-se naquelle que d'elles sai produdos que nelle antes não se achavam. E' a união de todas as secreções internas que constitue o sangue, o qual por sua vez hade ser considerado um ver- dadeiro producto de secreção interna. A formação do sangue não se pode oxplicar so pelos fados dos phenomenos da digestão. Na ecconomia viva não ha a formação direda de nenhum liquido orgâ- nico por absorpção simples de materiaes vindos de fora. Antes de constituir o sangue cada um desses elementos alimentares, é modifi- Secreções. 19 cado por glândulas, que élaborão sempre da mesma maneira os pro- dudos do sangue, qualquer que seja a natureza dos alimentos, abso- lutamente como uma glândula elabora os productos,de sua secrecção. XVIV. De tudo isso resultarão três corollarios para a therapeutica, des- tino social dos estudos médicos. Não é permettido crer que possamos nunca modificar diredamente a composição permanente do sangue. E' dirigindo-nos sempre aos órgãos secretores desse liquido que po- deremos modifical-o. Para obrar sobre uma secreção determinada,re- leva sempre agir sobre o órgão secretor, ou sobre os nervos que a in- fluenciam porque cada parte na organisação se individualisa physiolo- gicamente. O binomo de Blainille—A+E—é em resumo o da secreção,e cons- titue a vida. M+F-f A+E é o vegetal. M+F+A+E+S+M é o animal. Leis diversas regularão entes diversos. PROPOSIÇÕES. ---- iMBMMUnrr- ---- SECÇÃO DAS SGIENGIAS MÉDICAS. Alterações do sangue. l.a—A albumina e a fibrina não podem, em razão da quantidade que-dellas encerra o sangue, tornar-se causa de moléstia senão quan- do suas relações de quantidade tem-se mudado de tal sorte que se tenham também mudado as aptidões physicas da massa do sangue. 2.a—Os elementos do sangue oppõem obstáculo invencível ao livre exercício das affinidades que poderiam determinar a combina- ção das substancias inorgânicas. 3.a—O sangue é um meio eminentemente favorável ás acções ca- talypticas, ou ás fermentações: são não só possíveis, mas até muito fáceis. PHYSIOLOGIA. Sensibilidade recurrente. 1 .a—A simplicidade da theoria do systema nervoso expessa nes- ta formula M. A. S. P, ou P. A. S. M. só poderá ser sustentada acei- ta como verdade a sensibilidade recurrente. j>.a—A idéa de que as impressões sensitivas sobem aoencephalo ao longo das columnas posteriores é inteiramente errônea. 3/—A communicação das propriedades da raiz posterior para a raiz anterior é especial, e só estabelece a solidariedade physiologica entre as duas raizes correspondentes do mesmo par. 6 »1 Proposições. MATÉRIA MEDICA. Acçào physiologica e tlierapeutica do Iodo, c seus pre- parados. l.a—E' irritante a acção local, e pôde ser até cáustica. São todos iie uxcitaçãoos eíTeitos geraes. Ha uma certa alegria conhecida pelo nome de embriaguez iodica. -.*—Spanoemicos, o iodo e seus preparados são resolvenles, e dhrophicos especialmente do systema lymphaticoe ganglionar. 3.a—E' muito notável a acção desses medicamentos como anli- siphiliticos,devendo ser preferidos ao mercúrio para os symtomas ler- ciarios. CLINICA MEDICA. Qual deve ser o tratamento da moléstia de Addison'.' I.-'—A cór bronzeada da pelle, a debilidade, a emaciação, a dor l m bar,caraderisam a moléstia das cápsulas super-renaes,e são asba- / >, únicas para o lratamento:quando forem conhecidas as relações en- tre o systema cerebro-spinhal e as cápsulas super-renaes terá o tra- tamento bazes mais seguras. 2a—O uso do mercúrio em pequenas dozes, ou do iodurelo de pohssio, sustentando as forças do doente,por uma dieta nutrilivajmas não estimulante êo tratamento mais racional, por ora. 3.a—Depois que a verdadeira côr bronzeada da pelle determinar um prognostico desfavorável não ha tratamento digno de tal nome. Quando as experiências de Brown-Sequard forem continuadas, pôde sei que seja sobre a medulla dirigido o tratamento com efficacia. HYGIENE. Será conveniente [nos hospitaes o isolamento dos doentes accominettidos de varíola? 1 .a—E' conveniente nos hospitaes a separação dos doentes accom- mettidos de varíola. Isso não pede mais entrar em duvida. Proposições 22 2.a—Em toda a moléstia infecciosa, ou contagiosa é o ar o vehicu- lo de transmissão do principio morbifico. 3.°—Quanto mais concentrados os doentes em taes casos, tanto maior a acção do elemento mórbido. PATHOLOGIA INTERNA. Diagnostico differencial das lesões orgânicas do coração. 1 .'—Se o ruido de sopro de folie, de lima, ou de serra substituir ao ruido normal do Io tempo, tem logar na contracção de V + V: ele- vação de a + c: obstrucção de a + c': afastamento de b + d: aber- tura de b' + d\ Logo depende Ia da insuficiência de a + c. 2o do es- treitamento de b' + d'. 2.a—Se o ruido de sopro de folie, de lima, ou de serra substituir ao normal do 2o tempo, tem logar na düatação de V -f V: depressão dca + c: abertura de a'+ c': contado deb + d: obstrução de b' -f d'. Logo depende Ia da insufficiencia deb + d. 2° do estreita- mento de a' + c\ 3.a—Se o ruido de sopro de folie, de lima, ou de serra substituir aosnormaesdo Io e2° tempos tem logar na contracção e düatação de V + V: elevação e depressão de a + c: obstrucção e abertura de a' +c': afastamento e contracto de b-f d: abertura e obstrucção de b'-f d'. Logo depende Ia da insufficiencia dea+couno estreita- mento de a' + c'. 2o do estreitamento de b' -f- d' ou da insufficien- cia deb + d. 3odo estreitamento de a' + c' e de b' -f d'. i° da in- sufficiencia de a -f c e de b + d. Seholio. O duplo ruido de sopro de folie, de lima, ou de serra in- dica de ordinário a lesão de d + d'. (*) SEGÇÀO DAS SCIENCIAS CIRÚRGICAS. CLINICA EXTERNA. Kistos do o vario. 1.a—Os kislos compostos são em parte uniloculares, em parte areolares, ou vesiculares, oumultiloculares. ("} As lettras ívlerem-se ao^ ventriculos, ás válvulas triglochina e mitral, os orilicios auriculo-ventriculares, ás válvulas sygmoides,eorifícios ventriculo-arteriae-. 2 3 Proposições. 21—Os kislos iinieolares devem soíírer o tratamento, curativo enérgico. iMethodoe processo de Demarquay e Barth.) 3.a—A proscripção absoluta de toda a tentativa de cura radical des- sa moléstia, estabelecida como regra geral deve ser substituída pela consideração seria dos meios curativos propostos e postos em pratica recentemente. ANATOMIA GERAL. Theoria do desenvolvimento do tecido osseo e de sua re- producçào. 1 .a—Em respeito a estrudura microscópica não ha differença nenhuma entre as cartilagens de ossificação e as cartilagens perma- nentes. 2.a—O primeiro passo para a ossificação é a formação de canaes anastomosados no interior da cartilagem solida. 3.°—Os corpusculos ósseos são cavidades de cellulas, cujas pare- des espessas e confundidas com a substancia intercellular formam a substancia fundamental do tecido osseo. MEDICINA OPPERATORIA. Extracçào da cataracta: qual o melhor processo. l.a—Tres são os methodos para essa opperação—Abaixamento- Kxtra cção—Esmaga mento. 2.a—O methodo para extracção da cataracta consiste em incisar a cornea transparente, e extrahir pela feridinhao cristallino e sua membrana. 3.°—O melhor processo é este—enterrar o keratotomo na parte superior externa da cornea transparente, a meio millimetro da scle- rotica, dirigindo-odemodoqueaponta do instrumento saia abai- xo da extremidade interna do diâmetro transverso da cornea, inci- >ando o gume toda a circumferencia inferior delia do angulo exterior para o interior. Incisão da cápsula cristalina com o kystotomo de Lafaye &c. Proposições. 24 PARTOS. Febre pucrperal e seu tratamento. 1 .a—A febre puerperal é moléstia de origem miasmatica, de lo- calisações inflammatorias muito variadas, de caracter anatômico que consiste em uma alteração especial do sangue com formação rápida de pus, de transmissibilidade por infecção e por contagio: é uma spticemia. 2.°—O verdadeiro tratamento è ainda um desideratum. O uso do veratrum vir ide é o melhor meio therapeutico. 3.°—Não convém de fôrma alguma deixar reunidas as mulheres de parto nas casas de maternidade, quando se apresentar em alguma a febre puerperal. ANATOMIA DESCRIPTIVA. Estudo comparativo entre o rim e o testículo. 1.°— O rim e o testículo pertencem a classe das glândulas rcli- formes. 2.°—Os canaliculos urinados e seminiferos tem uma membrana própria, completamente hyalina e desprovida de estrudura. 3.0—os rjns e os testículos são cobertos por uma membrana 11- brosaque reverte o epithelio pavimentoso da túnica vaginal. PATHOLOGIA EXTERNA. Aneurismas traumáticos. l.a—Dividem-se em falsos primitivo*, falsos consecutivos, variee* aneurimaes e aneurismas varicosos. 2.°—A origem da classificação depende do tempo da ferida da artéria, e da dupla lesão da artéria e da veia correspondente. 3.°—A idéa que se deve ligar ás palavras anearisma por anastotnose já não é como foi até certo tempo a de aneurismas varicosos. 7 Proposições. SECÇÃO DAS SCIENCIAS ACCESSORIAS CHIMICA ORGÂNICA. Fermentação. I.'—Os chimicos tem chamado fermentações â diversos aclos cala- lylicos muito differentes das fermentações. 2.a—A fermentação consiste em uma reacção espontânea effe - luando-sc cm um composto de origem orgânica só pela presença de uma outra substancia, (o fermento) que não toma nem cede nada ao corpo que decompõe. 3.°—Conforme os differentes produdos ha a fermentação acclusa amyhm, benzoica, butyrica, lactica, saligenica, etc. MEDICINA LEGAL. Pode se assegurar peremptória e conscienciosamente que um recemnascido clicgou a respirar? l.a—Pode-se assegurar peremptória e conscienciosamente que um recemnascido chegou a respirar. 2.a—Para esse fim cumpre resolver a questão atlendendo ao esla- do anatômico dos diversos órgãos, e ainda ás experiências feitas com os mesmos órgãos. 3.a—De todas essas provas a docimazia pulmonar é a mais con- vincente. BOTÂNICA E ZOOLOGIA. Theoria da respiração vegetal. l.a—Pelos estomates das folhas e pelas raizes, radiculas, c ra- dicellas absorvem as plantas o ácido carbônico da athmosphera, e do solo. 2.°—Ao influxo da luz do sol decompõem as folhas e as [artes verdes do vegetal o ácido carbônico absorvido. Proposições 26 3.°—Então expellem as plantas o oxigeno e fixam o carbono. D'ahi a correspondência harmônica entre o vegetal e o animal. PHYSICA Com o soccorro das leis physicas se poderá achar um trata- mento racional para os atacados pela cholera-morbus? l.a—0 estudo da eledricidade, feito aprofundamente será o úni- co meio para chegar-se á esse fim. 2.°—E' no systema nervoso que se acha a causa próxima da cho- lera morbus, pela modificação que experimenta a secreção albumi- nosa. 3.°—Xeutralisar por meio da eledricidade aproveitando a dou- 1 • ina de Pallas, essa alteração do systema nervoso será o soccorro effi- caz das leis physicas é therapeutica cm tal moléstia. PHARMACIA. Óleos csscnciacs. 1 .a—E' ainda uma questão por estudar o emprego do vapor co- mo processo para a preparação dos óleos essenciaes. 2.°—Os óleos voláteis contidos nas plantas experimentam, quando passam cá distülação mais difficuldade do que deveria fazer pensar a volatilidade delles. 3.°—Toda a epocha não é indiffcrente para a colheita das plan- las destinadas á fabricação dos óleos essenciaes. CHIMICA. Historia cliimica dágua. 1 .«_As correntes cio ar frio que passam por alturas suecessivas são a causa formadora das camadas de nuvens, que no estado ve- Hcular tem em suspenção nos ares um grande numero de milhões de toneladas d'agua. 2."—A aguacahindo da athmosphera é purificada pela acção de Proposições. superfície tendente á accelerar aoxidação da matéria orgânica acarre- tada, convertendo-a em ácido carbônico,em ammoniaco, e em água. 3.°—O resultado da purificação d'agua nos laboratórios, consti- tuindo o que se chama água distillada, dá um protoxido de hydroge- no que é a ultima palavra na historia chimica d'agua, sendo um com- posto de 88, 91 partes de oxygeno com 11,09 de hydrogeno, podendo esses elementos ser separados pela pilha eledrica. BAHIA—TYPOGRAPHU DA « CONSTITUIÇÃO,» DE F. A. DE FREITAS.—1863.