5. -é<}M" jaà P Y R E X I A S * í^»- %D [)K CO.XCldlSD DR. MANUEL JOAQUIM SARAIVA X ■ ,u ~£-:->:~éi*': i fe ■>■;■< 4- \ P y R E X I A s DE CONCURSO A CADEIRA DE PATHOLOGIA GERAL DA façtitclitde di? fjeátáwt íà Jfete j /.. PELO DR. MANUEL JOAQUIM SARAIVA ex-intorno do Hospital da Caridade, OppoBltor da Secçao de Sciencias Médicas, Primeiro Cirurgião d'Armada, Cavalleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro, Cavalleiro e Offlcial da Imperial Ordem da Rosa, Cavalleiro da Ordem de Christo, condecorado com a medalha da batalha naval de Riachuelo, com a medalha da passagem de Humaitá, com a medalha dos Argentinos « Aos Vencedores de Corrientea », com a medalha da campanha do Paraguay, a qual inscreve-lhe quatro annos de guerra BAHIA IMPRENSA ECONÔMICA 22 — Rua dos Algibebes — 22 1874 í FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA DIRECTOR O Exm. Sn. CONPKLHEino Dn. ANTÔNIO JANUÁRIO DR FARIA VICE-DIRECTOR O Exm. Sr. Conselheiro Dr. VICENTE FERREIRA DE MAGALHÃES LENTES PROPRIETÁRIOS Os Illms. Srs. Drs. 1" Anno ^ _ , ,r ... ) Physica em geral, c particularmente Cous. Vicente Ferreira de Magalhães . j (;m guaB api)licaçõea & modioina. Francisco Rodrigues da Silva....... Chimica e mineralogia. Barão de Itapoan................ Anatomia descrlptlva. 2o Anno Antônio de Cerqueira Pinto........ Chimica orgânica. Jeronymo Sodré Pereira........... Physiologia. Antônio Mariano do Bomfim........ Botânica e Zoologia. Barão de Itapoau................ Repetição de Anatomia desciiptiva. 3o Anno Cons. Elias José Pedroza.......... Anatomia geral e Pathologica. .............................. Pathologia geral. Jeronymo Sodró Pereira.......... Continuação de Physiologia. 4o Anno Domingos Carlos da Silva......... Pathologia externa. Demetrio Cyriaco Tourinho........ Pathologia interna. Cons. Mathias Moreira Sampaio.....j Partos, moléstias de mulheres pejadas 1 ) e de meninos recemnascidos. 5o Anno Demetrio Cyriaco Tourinho . . ,..... Continuação de Pathologia interna. Luiz Alvares dos Santos........... Matéria medica e therapeutica. t„„a a +„„•„/!., rs.n<+,„ ) Anatomia topographica, Medicina José Antônio de Freitas.......... . j opei.atoria £ |pp^relhos. 6o Anno Rozendo Aprigio Pereira Guimarães. . Pharmacia. Cons. Salustiano Ferreira Souto..... Medicina legal. Domingos Rodrigues Seixas........ Hygiene, e Historia da Medicina. José Affonso Paraizo do Moura...... Clinica externa, do 3o e 4o anno. Cons. Antônio Januário de Faria..... Clinica interna, do 5o o 6o anno. OPPOSITORES Ignacio José da Cunha............ \ Pedro Ribeiro d'Araújo............ / José Ignacio de Barros Pimentel.....) Seoçao Accessoria. ViigilioClimaco Damazio.......... \ José Alves de Mello.............. I Augusto Gonçalves Martins........I Antônio Pacifico Pereira..........> Secçao cirúrgica. Alexandre Affonso de Carvalho.....\ José Pedro de Souza Braga........ / Claudemiro Augusto de Moraes Caldas. \ Ramiro Affonso Monteiro.........I Egas Muniz d'Aragao............. > Secçao Medica. Manuel Joaquim Saraiva..........\ José Luiz de Almeida Couto ...'.... I SECRETARIO O Sk. Dr. CINCINNATO PINTO DA SFLVA OFFICIAL DA SECRETARIA O Sr. Dr. THOMAZ D'AQUINO GASPAR A Faculdade não approva nem reprova as opiniões emittidas na3 theses que lhe são apresentadas. .CONCURRENTES OS ILLMS. SRS. DR. RAMIRO AFFONSO MONTEIRO DR. EGAS MUXIZ DARAGÀO E O AUTHOR PYREXIAS % I iníraátttçãff utrora o raciocínio sobre as sensações e pa- lavras vagas vedava aos médicos o conhe- cimento das relações mutuas das sciencias, conhe- cimento bem necessário para conduzir a generali- sações da mais alta importância em relação á ac- ção vital nas suas modalidades. Mas o espirito positivo da actualidade medica subjuga a fé á demonstração scientifica ; com ef- feito, hoje, a philosophia medica repelle o ideal pelo actual. Por mais seductora que possa ser uma hypothe- se, se na historia real da natureza um só pheno- u meiio a ella s.? oppíV, a hvpothese ó, de direito e expressamente, abandonada. Para certos espirites este abandono pode ser rima dor ; todavia quem é fiel ás verdades susee- ptiveis do demonstração a< eira e^ta o-.. O organismo animai, preso por laços Íntimos ao exterior, ê o laboratório onde a mao^i;?. em sua circulação parras, attin^e anua gerarei si a superior de organização, lealmente o ò sen de^rmo ser al- ternativamente morta o viva. « E se a matéria revele a.cada instanie a fôr- ma viva. fazendo a."cada nioxnento do aeânal um animal novo, o estudo da origem e íim dos maíe- ivaos, do continuo renovados, não poderiam' sei* -o listões estranhas (\ seJeneia da vida 2» (jkcJard). Qnom desconheço na actualidade que a p]»3rsjo- m logia normal e a plrysiologia paíhologica não tem outro raethodo senão a chimica, o esta outro senão a physica? Importa, pois, ao medico aeeitar o-; problemas de estado das sciencias fmxlamcntaes, e ^Juntar a solncão dallcs. Imporia qne, antes de ronidgm er-se qualquer ponto de limite traçado na sremeia !dcd:.»gica, se dmermiae sua 'dgailicação n<> domínio de puysiolo-.- gia geral: tomamos aqui esta ultima OAoro^ão ao sentido de sua ctymologia grega —searaes-ea. Seria, joniamo, apr-posito acabar com o vita- lismode ■ 'neencuo, m; and asm a que não eorrespori- de nem a uma doutrma nem a urna hypothese. -W uma victoria íaeil aquella que se adquire negando o principio \iícJ-7 ou ou-ro ser de creação imagina* IV ria em busca de domicilio, fiuctuando extrinseco acima ou abaixo da matéria. A physiologia experimental prova peremptoria- mente que não existe propriedades vitaes extrinse- cas independentes da matéria organisada. Toda propriedade, sendo inherente á matéria or- ganisada e não podendo existir, nem mesmo ser eoncebida pelo espirito fora d'ella, o conhecimento da matéria organisada implica o conhecimento de suas propriedades. Toda a força é de sua natureza indestructivel ; daqui é manifesto que nada se crêa na natureza, nada se destroe. A sciencia renunciou conceber o começo e a aniquilação das propriedades ou aftecções das quaes a matéria não pôde ser despojada. A força não pôde surgir do nada nem se perder. Ella não actua, não opera senão quando passa quer em parte, quer em totalidade d'um corpo para um outro, apparecendo neste ultimo na medida, segundo a qual desappareceu do primeiro. Lancemos a vista para a importância dos factos que precedem e nos será permittido lembrar então uma das leis mais importantes da natureza — a lei da permanência das forças, uma das maiores questões da sciencia hodierna. Esta lei tem sido o ponto de partida de muitos phenomenos de que o organismo é o theatro. É fallando deste principio que imprimiu a mar- cha do movimento luminoso na sciencia do orga- nismo que o sábio presidente da academia de Vien- na, de Braungartner, dizia em plena sessão, « este TI t principio exercerá na sciencia uma acção lorte e regeríeradora; suas perspectivas sãoíminensas ». O principio que acabamos de resumir, sendo absoluto, vçjanms corno ne applica á matéria viva. Physiologicamente, materiae» a estado de tensão, c preparados pelo movimento chimico, são cons- tantemente introduzidos na economia pela nutrição e pelo ar. A quantidade do forca activa ou latente que entra assim, deve exactamente contrabalançar a quantidade que sae, fazendo-se a deducção da por- ção que resta latente nas substancias chimicas, ou que torna-se activa na calorifieação do próprio corpo. Esses nmvimentos se efíectuam por grandes maswfis-; trabalho meehanieo ; por pequenas massas Vil ou a estado molecular : calor, electricidade, nu- trição. A força latente da nutrição se mede pela quan- tidade de calor latente que contém a nutrição. O equivalente mecânico do calor sendo conhe- cido, se pôde calcular assim a proporção do traba- lho que cada substancia alimentar pode produzir. O movimento, qualquer que seja, tem por ori- gem obrigada um movimento equivalente que o tem precedido. E. pois, saliente a relação mutua das sciencias, relação que conduz ao infinito ^euoralisações do mais subido valor: a demonstração de Grove, en- trevista simultaneamente per nina das notabilida- des mediías entre nó?:, não tardou a estender-se ás forças vitaes ou ás kas que presidiem ao desenvol- VIII vimento, a nutrição, a contractilidade e a excita- bilidade. Prendeu-se desta arte o animal á cadeia do universo. O conflicto, velho quanto o mundo, entre a me- cânica e a vida, sujeita-se agora a outra ordem de idéas. Sendo dado o movimento, tão complexo quanto se o possa imaginar, resta investigar o seu motor : a physiologia aqui contrafaz-se ante o horror do mysticismo, declara a indagação quasi perigosa, voltando-lhe prudentemente os olhos. Mas, ninguém se desprende facilmente de simi- lhantes problemas, quando é obrigado a estabele- cel-os. Ou o ser vivo tem propriedades que não perten- cem aos aggregados materiaes ( aos quaes nós re- IX cusamos abertamente o nome de organismos), e que por mais forte razão não pertencem ás molé- culas separadas, ou a distincção entre o orgânico e o não orgânico é desprovida de sentido. É nesta ordem de idéas que affirmamos e sus- tentámos a existência da irritabilidade. Ella não é uma força independente da matéria. Sem a idéa da irritabilidade não ha medicina pratica possivel : estaríamos fora do estado de en- tendermos a acção dos medicamentos. Wirchow proclamando esta propriedade orgânica não fez mais do que consagrar uma destas verdades, que se pode chamar de senso commum, tanto ellas es- capam á contradicção : deu um logar á demonstra- ção da funcção. Custa tanto ao entendimento admittir a irrita- X bilidade, como a conoactilidade ; quem acceita uma, abandona o melhor d seu direito para negar a outra. Offerece-se a occasião de generalisarmos estes princípios (alguns dos quaes são axiomaticos presentemente) até a pathologia. Tomemos, por exemplo, a febre, esse alvo de tantas concepções doutrinárias e de todos os syste- mas na medicina e conforme as predilecções da sciencia actual. Este processo liga-se ao augmento insólito do calor e constitue-se no organismo uma modali- dade anormal da nutrição (accrescimo nas oxida- ções). Estas duas forças são em relação directa : uma certa quantidade de calor, produzindo uma certa XI quantidade de nutrição, e vice-versa, mas nem uma, nem outra pôde ser creada do nada. Cada uma tem por antecedente algum outro movimento mecânico, chimico ou vital (no senti- do da irritabilidade) , que exagera os movimentos constantes e normaes que se fazem no estado são. A febre será em proporção ao excesso do movi- mento ; continuará até que o movimento nutritivo insólito se transforme em calor. Não sendo mais aquelle em excesso, entra então na medida do que se chama saúde. Aquelles que crêem ter da matéria e da força uma noção mais profunda, condemnarão estas vistas achando-as eivadas de materalismo. Comtudo, consignaremos neste logar que o espiritualismo do nosso tempo, e de igual modo o XII materialismo, só difterem porque o primeiro admit- te, e o segundo nega a existência d'uma matéria imponderável; nenhum consente suppor-se uma força, actuando sem matéria, como não consenti- ria-nos acreditar nos phantasmas impalpaveis. Nestas linhas expendemos em largos traços o testemunho das idéas que nos guiam nos estudos. A rapidez obrigada da composição autoriza por vezes certo arrojo e incorrecção que se desculpa em todos os improvisos. Os trabalhos das theses sem o tempo de uma sufíiciente madurez, offere- cem, comtudo, um real interesse ; acha-se nelles as tendências de cada um e os signaes de cada epocha. Mas é tempo de terminar esta introducção, que teve por fim o desenvolvimento, ainda que succinto, XIII de algumas opiniões que abraçamos, e cujo valor não é fora de propósito previamente precisar. Somos, pois, chegados ao assumpto que escolhe- mos, como objecto deste trabalho, assumpto que, além de ter muita cousa de especulativo, é princi- palmente notável pelo interesse pratico que des- perta. A applicação do estudo do movimento febril nas suas manifestações próprias e sua natureza intima aos caracteres geraes das differentes pyre- xias, é de uma necessidade real. Nós faremos, pois, preceder o estudo do movi- mento febril ao das pyrexias, consagrando a cada um d'elles uma parte distincta em nossa these. PRIMEIRA PARTE ESTUDO ANALITYCO DA FEBRE febre é um estado mórbido complexo. O augmen- to da temperatura é o seu phenomeno constante; os outros : a displicência, a cephalalgia, a diminuição das secrecções, variam conforme a natureza da moléstia productora da febre. Todo mundo de accordo unanime admitte hoje que ha uma elevação de temperatura na febre. As apreciações exactas, por meio da exploração d'uma simplicidade elementar, forneceram para os interesses da sciencia, provas que em vão se poderia inquirir de outro methodo ; o thermometro oíferece á investigação medica um meio de observação cuja solidez é legitima. Pvii. 1 — 2 — Junto as noções de ordem scientifica, relativamente ao estado febril, os antigos tinham bem reconhecido o augmento da temperatura ; e, se durante certo tempo, se ligou mediocre attençáo a esse facto, para pôl-o no primeiro plano dos outros symptomas, é porque faltava um instrumento d'uma sensibilidade delicada, como o thermometro aperfeiçoado de nossos dias, que tem con- vencido a todos da constância do excesso de temperatura em todas as moléstias febris. « Somente este excesso " basta para especificar e para definir a febre. » A observação methodica pelo thermometro, tornan- do-se habitual, dissipou todas as duvidas que existiam a este respeito. Por toda parte a temperatura tem sido contrabalan- çada nas moléstias, e os resultados precisos tem sido o phenomeno constante. O numero e a conformidade das observações pozeram em evidencia leis thermometricas de um grande valor. Não só a elevação da temperatura é constante, como ainda o gráo d'essa elevação pôde servir de medida á intensidade da febre; a extineção desse augmento insóli- to é pararello á extineção do processo febril; a volta á temperatura normal coincide com a convalescença. Por outro lado, se chegou a ver que da combustão exa- gerada traduzida pelo calor anormal, decorre a serie de accidentes diversos ; d'aqui provem o perigo das febres — 3 — intensas, pois que nossos órgãos não podem supportar essas altas temperaturas. Em uma palavra, toda questão da febre, a despeito das lacunas que a acercam, gira ao redor da questão da temperatura. Esta anomalia primordial é um facto tão capital que por ella se define a febre. A febre é o augmento insólito e durável da tempera- tura. « Tal é, diz o Dr. Jaccoud, a restricta justeza desta definição que ella pôde ser invertida sem nada perder de sua exatidão, e ser expressa debaixo desta outra fôrma: todo indivíduo, cuja temperatura soffre um accreseimo durável, tem febre. » Pouco preoccupa o desarranjo, que suppõe no organis- mo uma elevação da temperatura, a quem, no estudo des- te phenomeno, não pretende se collocar em um ponto de vista restricto, como tem feito a maior parte dos autores, nas varias tentativas para explicar a essência da febre. Pôr a questão : sobre que base repousa a elevação thermometrica da temperatura ? diverge muito destfou- tra : qual é a causa essencial da febre ? Ora, como diz o Dr. Jaccoud, « seria contra a lógica assentar uma definição sobre um phenomeno desconhe- cido ; esta desordem primitiva não cahiria, provavelmen- te, debaixo da observação directa ». O que a experiência demonstra é que a elevação da temperatura, aliás susceptível de medidas precisas, ê um ponto de apoio muito mais seguro para julgarmos da marcha geral d'uma moléstia, que qualquer outro phe- nomeno, ou mesmo que o ajuntamento dos symptomas febris. Se bem que nos escape a traducçâo do facto em- pírico, comtudo elle não constitue-se com legitimidade menor para dissipar delicados escrúpulos. Em resumo, a explicação theorica da causa da febre viria a se partir contra o impossível. Cumpre, no estudo analytico da febre, passar em re- vista desordens da calorificação, desordens da nutrição, desordens da circulação, desordens da enervação. CALORIFICAÇÃO E impossível não reconhecer-se presentemente que a producção do calor animal é o resultado de oxidações lentas que se executam no organismo. O sangue, o foco do calor, atêa o calor por toda a parte onde penetra, mediante seus glóbulos, os agentes moveis da respiração peripherica. Houve um tempo em que os iatro-mecanicos attribui- ram ao attrito o desenvolvimento d'uma parte deste ca- lor ; não é necessário hoje refutar longamente simi- Ihãntes theorias. Lembraremos, apenas, que elles partiam de dado» inexactos. É verdade que o attrito do sangue nas artérias desen- volve o calor ; mas dispensa trabalho útil: reduz a velocidade do sangue. Ora, esta mesma ligeireza não tem sido obtida senão graças ao calor transformado ; o calorico não é, pois, produzido, é simplesmente resti. tuido. Quaes são os limites da temperatura normal do ho- mem ? Póde-se dizer d'uma maneira geral que os limi- tes entre os quaes são comprehendidas as temperaturas da axilla no homem, no estado de saúde, são 36° a 38° centígrados. Diversos observadores têm procurado estabelecer ci- fras mais precisas e chegaram, quanto a temperatura media da axilla, aos resultados seguintes : 37°,8 segundo Brerensprung 36°,9 » Frcelich 36°,9 » Lichtenfels 37°, » Wunderlich 37°,2 » Dr. Jaccoud As oscillações no estado de saúde variam entre : 36°,25 e 37°,9 (Wunderlich) 36°,3 » 37°,9 (Billroth) 35°,9 » 37°.5 (Damrosch) 36°,7 ]>> 37°,5 (Brorensprung) — 6 — Nem a idade, nem o sexo produzem uma notável dif- ferença ha temperatura do corpo humano. A influencia das raças é ineffectiva. Ohomem tem o poder de accommodar-se aos altos cli- mas e ás estações : isto prova a independência da sua temperatura das mudanças externas. O somno e o exer- cício imprimem modificações temporárias. E, pois, o homem possue uma temperatura fixa no seu estado de saúde, quaesquer que sejam as condições externas, debaixo de todas as influencias, com tanto que não lhe promovam doenças. Ora, se isto succede no estado de saúde, observamos, por outro lado, oscillações marcadas da temperatura no homem doente : em outros termos, vemos o calor do indivíduo soffrer notáveis desvios, que tornam-se mais ou menos duráveis. A temperatura geral do corpo, tal qual observamol-a, tal qual é indicada pelo thermometro nas partes super- ficiaes, é o producto de dous factores, um positivo e outro negativo : o factor positivo é o ajuntamento de processos chimicos, oxidações, trocas nutritivas; ofactor negativo realisa-se na dispersão do calorico (refrigera- ção por differentes apparelhos) e no acto da transfor- mação do calor em movimento : seria a propósito lem- brar os processos de solidificação no acto nutritivo, como consignara Bichai Quando dissemos, neste ultimo periodo : « a tempe- ratura tal qual é indicada pelo thermometro nas partes superjíciaes, etc. », evitamos intencionalmente um erro infringido contra a physiologia : com effeito, o corpo dos animaes a sangue quente pôde ser, debaixo do ponto de vista da distribuição do calor, dividido em três zonas concentricas. A zona externa apresenta a temperatura a mais baixa, submettida que é directamente á perda de calorico ; a Eona interna, ao contrario, fôrma uma sorte de núcleo central onde a temperatura attinge seu máximo ; entre estas duas zonas reina uma outra, estabelecendo a transição entre o calor central e o peripherico. A espessura da zona intermediária varia com as os- cillações do ambiente e o gráo de distensão ou constric- ção dos vasos cutâneos ; mas a temperatura central per- manece invariável. O que resulta d'ahi? Resulta que um thermometro collocado na zona intermediária pôde registrar variações, oscillando, na verdade, em estreitos limites quando, entretanto, a temperatura geral do ani- mal não varia. A temperatura febril, constituída por um accrescimo durarei acima do máximo physiologico — 38° e 38°,5 pôde ser determinada por muitas condições, se exercen- do de harmonia ou não. E reflectindo-se na cooperação simultânea de muitas causas, que se pôde acreditar, que em dous casos difiV rentes, ou em dous períodos diversos de um mesmo caso, uma só e uma mesma elevação da temperatura mórbida possa ter diversa interpretação, como distincta- mente formulou Wunderlich. Este estudo é um dos padrões de gloria da physio- pathologia moderna. Elle tem projectado muita luz so- bre a linguagem dos factos nas febres intensas graves. A elevação da temperatura pôde ser o resultado de uma « stase thermica » : a perda do calorico é menor, e d'ahi o calorico se accumula no corpo e a temperatura do sangue se eleva. Traube teve o grande mérito de fixar a attenção so- bre a possibilidade d'uma mudança das condições que presidem á perda do calorico. O calor proveniente da stase representa aqui um papel accessorio. Entretanto muita gente é do parecer de considerar o phenomeno da temperatura constante dependente da contracção dos vasos cutâneos, de tal sorte que, debaixo da influencia do frio, as artérias, sendo contrahidas, pe- netra menos sangue durante um tempo dado, uo interior da pelle, e que, por conseguinte, o corpo cejie menos calor ao ar ambiente do que nas condições oppostas, cs vasos sendo dilatados pelo calor. Ora, é evidente que se uma contracção de vasos cutâ- neos continuasse durante um certo tempo, o meio am- biente, achando-se com uma temperatura elevada, o ac- cumulo de calorico, que neste caso se deveria produzir no interior do organismo, ultrapassaria a medida nor- mal ; reciprocamente : se uma dilatação de vasos se fizesse no meio d'uma temperatura fria, resultaria infal- livelmente um resfriamento da massa total do sangue. A elevação geral da temperatura pôde ser o resulta- do de um foco local de hypergenese thermica. Ora, na ordem chronologíca dos accidentes, nas moléstias em que pro- rompe e mantem-se a elevação geral da temperatura, nós vemos que em certo grupo de casos a febre precede á desordem local : bastaria isto para enfraquecer a hypo- these da hyperthermogene.se. O crescimento do calor de origem local representará, pois, um papel também ac- eessf'rio. Produzem-se no sangue, fora de toda participação dos ner- vos, transformações ch Únicas, dando togar a sua combustão exageraria : parece verosimil que as cousas se passara d'este modo em certas febres. O calor febril ainda pode ser o resultado d'uma de- composição orgânica rápida. Este modo de producção do calor será muito excepcional ; dá-se em casos raros es- pecificados; está na mesma cathegoria dos outros ; é se- cundário e a-xí dental. Misturam-xn no sangue corpos que fornecem e entre tem transformações chi/nia/s, dando togar a combustões exagêra- í'vk. ; — 10 — das. Não é bem simples admittir-se que os líquidos pú- tridos injectudos, sem intervenção do systema nervoso, devam augmentar e entreter os processos da oxidação no sangue ? .4 adividade mórbida do centro medular pôde em certos casos cooperar para elevar o calor pyretico. Todas estas diversas influencias podem associar-se, e complicar-se, de modo que não possamos apreciar a resultante final. Em resumo, a producção anormal do calorico, que é ligada á exageração das combustões nutritivas, é o ele- mento gerador capital da temperatura febril ; é o ele- mento constante. A ascenção, quer brusca, (píer progressiva, do nivel do thermometro, sua elevação complicada, quer de re- missões, quer de intervallos, variam segundo as molés- tias. Em cada uma esta marcha faz-se segundo um typo dado, do qual pouco se aífasta, e isto nos conduz a ser- virmo-nos de curvas da temperatura : da representação graphica de todos estes elemertos, para auxiliar a dis- linceão d'ellas. Este simples facto bastaria para justificar a esterili- dade de uma só observação thernrometrica para caracte- risar uma evolução febril no seu ajuntamento. Estabeleçamos, pois, clinicamente que o cvclo ther- — 11 — mometrico oíferece um período de invasão, de augmen- to, um período de estádio, um período terminal. An- tes, porém, de tratarmos deste assumpto, deixaremos impressas algumas direcções concernentes á pratica ap- plicação do thermometro. Clinicamente o calor só pôde ser medido com o ther- mometro a álcool ou a mercúrio. Os instrumentos mais precisos, taes quaes o thermo- grapho de Marey, e os diversos apparelhos thermo-ele- etricos, são daima grande utilidade em certas indagações scientíficas, mas devem ser regeitados d'uma maneira absoluta á cabeceira do doente. Niederkorn fez uma applicação útil do thermometro a máxima e a minima nestes últimos tempos, e sobre a qual não insistiremos. A exploração pôde ser feita na axilla e no recto. Em clinica, logo que se falia da temperatura, trata- se da temperatura tomada na axilla. E com effeito o lugar de applicação o mais commodo e o mais seguro. Entretanto, em certos casos, se intro- duz o thermometro na vagina, ou no recto. Importa, pois, saber que entre essa temperatura pro- funda e a da axilla a differença é notável. Segundo Wunderlich, seria de 0o, 1 a 0°,4 ; maa Bil- let diz que esta differença attinge 0°,8 a 1°,4 e mesmo a 1°,6, e que o thermometro marcando 37° na axilla deve subir perto de 38° e 30°,2 no recto. Portanto é de cerca de um gráo. O thermometro deverá sempre se collocar na axilla do mesmo lado. Quanto for possível, o mesmo thermometro servirá ao mesmo doente. A applicação do thermometro deverá durar ao menos dez minutos. A temperatura toma-se duas vezes por dia, e o mais que for possível nas mesmas condições. As cifras obtidas são transportadas em cada observa- ção sobre um papel methodicamente dividido, afim de organisar o traço graphico. Uma descripção desse traço seria deslocada neste trabalho. Continuemos, pois, com o estudo dos períodos do ey- clo thermometrico. Augmento — Estádio pirogenetico ou período inicial — Este primeiro período é d'uma duração variá- vel; elle precede toda sensação subjectiva : Hirtz, por observações próprias, allega que esta antecipação do ca- lor ao calefrio pôde ser d'uma hora. Ha um completo antagonismo então entre a tempe- ratura interna e externa. A' medida que a temperatura interna sobe, diz este celebre escriptor, o thermometro — 13 — desce á superfície ; á medida que o caleírio diminue, uma e outra temperatura tendem ao equilíbrio. Concebe-se que este período possa subtrahir-se á observação ; ou porque os doentes são vistos muito tarde, ou porque o typo possa se obscurecer, a moléstia ata- cando um indivíduo muito febrieitaute. Este período termina com o apparecimento das loca- lisações mórbidas ; ou, para fallar de um modo mais absoluto, quando a temperatura aftinge o gráo mais alto no curso d'uma febre. Este primeiro período pôde ser curto, de duas a três horas, e a invasão é brusca (fig. I) ; outras vezes a temperatura tem uma ascenção gradual. Este ultimo modo de invasão é ainda agudo, mas não é rápido nem brusco : ê o modo de invasão da febre typhoidea e do typho exanthematico * . O primeiro typo é interrompido p< >r pequenas remis- sões que variam de algumas horas a um dia, e dia e meio. Ao contrario, o segundo typo conduz ao máximo por oscillações vespertinas e matinaes, cuja reunião per- corre de três a seis dias. É o que o Dr. Jaccoud denomina de augmento a oscilla- ções ascendentes (fig. II). A ascensão é ás vezes lenta e ir- * Oa traços graplilcos eobre a marcha da temperatura f>âo do Tract. de Path. Int. do Dr. Jaccoud. Os traço» graphicos sobre o» typoo da deferTe»- cencia «ao do Koy. Dic, t. VI. — 14 — regular, constituindo um terceiro typo do estádio pyroge- netico ; dá-se isto nas moléstias a cyclo ma1 definido, taes quaes o rheumatismo articular agudo, a pleurisia, a pericardite (fig. III). Fastigio — Período de estádio—Este período, que é possível observar-se completamente, tanto na cli- nica nosocomial, como na hospitalar, comprehende o in- tervallo que decorre entre o momento em que o calor at- tinge seu máximo e a primeira descida do thermometro : em outros termos, a temperatura permanece durante este período, e com uma intensidade que diversifica conforme a natureza da moléstia. Não se trata aqui d'uma con- tinuidade absoluta : no sentido da thermometria, não ha febre continua ; exacerbações vespertinas e matinaes são um phenomeno constante, mesmo no auge de certas febres. D'uma hora, e menos ainda nas febres de acces- so (fig. IV), de alguns dias na pneumonia, escarlatina e typho ; durando um a dous septenarios na febre ty- phoidea e o rheumatismo agudo (fig. V), este período excepcionalmente excede nestas duas moléstias de 39° a 40°. Esta cifra é um pouco mais elevada na pneumonia, ao passo que na erysipela, typho, escarlatina ultrapas- sa 31°. Jamais o calor mantem-se, em rigor, na mesma jdtnra, dissemos ; isto é tanto mais verídico, quando Tirf.l. Ti§2 --- 41? 40? 39° 38? 37° MS / / \ Kl V i Fl 0 . 3. MS _._ - — -- -- .._. SX~ — (; | /i h r, I * — 1 1 /' 1 l' ./ i Firf. 5 MS /^ . A iA i_j rt ' i ' } / V ^, ;~/ \/ / — - - — MS " T / -^ t S^ \l T_S 2 A j 4^ pj r V S-J f\ «-J I ÊJ y v / Fig. 4 41o 40° 39° 38° 37° MS , L A V i k \ \ Fig. 6 41 o MS 7^ -£«-L^ -=-3-^5ÍS-== 40° -«-/W 25 3 39° ■IO O T 0170 IZ ' " -36? ":: _: t — 15 — succede que é n^sse período que se produzem as mani- festações pneumonicas, miliares e erysipelatosas. No fim d'um tempo variável opera-se uma nova evo- lução na temperatura, seguudo o typo ; ou pôde acon- tecer que a febre se aggrave, encaminhando-se a uma fatal terminação; é o caso em que faltam as remissões matinaes, ou em que são fracas, e então o fastigio se mantém muito alto e o calor pôde fazer uma ultra ascenção, isto é, do 40° a 41° e alem (fig. VI) ; ou suc- cede que a terminação tenda a ser favorável, e assim as remissões naturaes augmentam (temporariamente no começo) muitas vezes até a remisssão defmittva. Como diz Hirtz : «Ora a exacerbação volta, muitas vezes viva, mas transitória; ora a remissão é precedida d'uma ele- vação precritica que sua, brevidade impedirá confundil-a com uma aogravação.» A atira ascenção é uni signa! fatal, quasi sempre pre- lúdio da agonia : entretanto nem sempre, porque não sendo este signal absoluto, ha mais o que attender-se, ella deve ser julgada pelos outros elementos de diagnos- tico, como pelos seus próprios elementos. As hemorrhagias. perforações intestinaes, gangrenas. podem substituir o grande calor (Peste período pelo es- tado syncopal com al.uidez real no qual succumbe o doente. — 16 — Terminação — Período descendente or de- fervescencia — É estabelecido que ha uma certa rela- ção de proporcionalidade entre a duração do primeiro e a do ultimo período: a rapidez da descida succede ordi- nariamente a uma ascenção igualmente rápida e á vice- rersa ; ora, pôde deixar de ser assim em alguns casos : na febre intermittente, se o máximo realisa-se no fim d'uma hora, nós vemos, por outro lado, que a descida durará muitas horas. Na pneumonia, e outras phlegma- sias, dá-se, as vezes, a mesma desproporcionalidade. A terminação d'uma moléstia é fatal ou favorável : assim, o período final differe numa ou noutra eircum- stancia ; elle é fatal ou favorável. Terminação favorável — Ha duas formas, a brusca ou gradual, segundo a natureza da moléstia. A defer- vescencia brusca é o que os antigas chamavam a crise. Pedimos permissão para intercidlar aqui uma breve di- gressão : Ha crises ? O que é crise ? A despeito da authoridade da tradi- c.ção, devemos primeiramente pôr esta questão. Estudos presentes apoiam esta verdade fundamental, a saber, a existência das crises. Considere-se a moléstia como uma luta do organismo vivo contra a influencia (Puma matéria morbifica, con- sidere-se como uma successão de phenomenos rompen- do o equilíbrio physiologico, cuja estabilidade produz a saúde, ha um facto que fica saliente na scena patholo- gica — . e o da cessação da luta, aquella da volta ao estado normal. Renunciando tomar em consideração a idéia abstracta da matéria morbifica que corresponde antes a uma tosca hvpothese que a uma realidade, recusando seguir no or- ganismo doente as aventuras e peripécias de humor pec- cante, é mister acceitar o que ha e proclamar que a moléstia é constituída por uma serie de actos tendo um começo, um desenvolvimento e um fim. Este facto recommenda-se a si próprio pela obser- vação. A divisão d'uma moléstia em períodos distinctos, liga- dos uns aos outros por laços necessários e fataes, é uma necessidade do ensino fundada sobre a interpretação rigorosa dos factos ; com effeito, quer uma perturbação funccional, quer uma lesão, não é menos certo que esta perturbação, que esta desordem tem leis ás quaes resta as mais das vezes subordinada. Porque o medico não fica como um simples testemu- nho, sem previsão e sem esperança ante o que se passa debaixo dos seus olhos ? Porque a experiência lhe ensina que ha leis physiologicas e pathoiogicas ? Que fazemos Pvn. 3 — 18 — em todas as nossas observações, senão .procurar o espi- rito das leis da economia humana ? Não ha prova mais clara da realidade da evolução coordenada da moléstia, que a existência incontestada do cyclo thermometrico. Cada período tem seu valor próprio e é caracterisado por tendências determinadas; o facto das crises é uma destas tendências da economia viva e doente, facto con- siderável, que tem tanto mais exercido a sagacidade dos médicos, quanto elle toca áhistoria da phase amais interessante da moléstia—a historia do regresso á saúde. Os partidários da crise avultam : é que a physica e a chimica médicas, se harmonisando com a clinica, tem offerecido á observação dos phenomcnos críticos um rigor notável. Quando o thermometro faz ver em que momento a temperatura febril é trazida para a normal ; quando o sphygmographo demonstra a diminuição da freqüência do pulso e as modificações de tensão vascular que acompanham essa freqüência; quando a analyse chi- mica permitte verificar que os princípios constituintes da urina, momentaneamente mudados na sua proporção relativa, tornam pouco a pouco ao equilíbrio physiolo- gico, se é authorisado a reconhecer que ha phenome- nos críticos, pois que elles julgam as moléstias. Que é pois a crise? A palavra derivada do grego si- — 19 — gnifica juizo. Em medicina, crise corresponde ao momen- to em que o organismo manifesta sua tendência a en- trar no estado normal. Tal é a accepção mais geral da palavra. As definições de todos os authores são unanimes em reconhecer que a crise tem logar para a terminação das moléstias. Era reservado á sciencia dos nossos dias precisar os dados do problema, e dizer em que consiste principal- mente a crise. « A crise, clinicamente demonstrada, não é outra cousa physiologicamente senão uma defervescen- cia rápida, diz Hirtz. » « Os symptomas da crise pode- rão ser tomados por equivalentes áquelles da deferves- cencia febril ; e realmente elles se confundem com esta ultima debaixo d'um grande numero de pontos »: ainda o mesmo author. Definiremos, pois, ,a crise : a reunião de actos que jul- gam rapidamente a febre nas moléstias agudas. Não se po- derá negar que a defervescencia seja um phenomeno no- tável ; e não se poderá desconhecer que constitue uma grande mudança, que inílue sobre a terminação das moléstias. Em resumo, se ha um acto final da febre poj- excel- lencia, não é a defervescencia ? — 20 — Poremos termo a esta digressão assumindo o estudo da defervescencia brusca ou critica. Definindo a crise, fizemos presentir o papel immen- so que representa a defervescencia na producção dos phe- nomenos críticos. Este papel preponderante assignado á queda da temperatura se explica por este facto, a saber, que a doutrina moderna da febre apoiou-se sobre numerosas observações thermometricas. Este estudo permittiu reconhecer nas oscillações do movimento febril sua significativa importância; per- mittiu ainda descobrir a relação d'ellas com a mani- festação das crises. A defervescencia deve occupar na reunião de todos os phenomenos críticos o primeiro logar. Que vemos nós, com effeito, no momento da termi- nação d'uma pyrexia? Quaes são os factos observados pelo thermometro ? Nós vemos : Io, que a defervescencia pode existir só, sem suor notável, sem fluxo ; 2°, que em certas cir- cumstancias em que estes fluxos se produzem, são ge- ralmente precedidos pela defervescencia. Logo, a reso- lução d'uma pyrexia é subordinada á defervescencia. Outr'ora se observava, sobretudo no declinar das mo- léstias, a queda do pulso: a medida da temperatura não podendo ser apreciada senão d'uma maneira superficial. — 21 — Hoje se concede uma significação ainda maior á queda da temperatura. A crise se annuncia quer pela diminuição da exacer- bação vesperal, quer pelo augmento da remissão da manhã. Esta differença na modificação precritiea da tempe- ratura deve necessariamente despertar novas observa- ções, afim de que seu modo de ser receba uma solução clara. Na defervescencia critica lia um abaixamento da tem- peratura d'um gráo e meio (Hirtz); de dous a três gráos (Dr. Jaccoud). Todo abaixamento inferior a um gráo e meio não é mais uma defervescencia critica, mas uma remissão, a qual tem as mais das vezes logar de manhã, a tem- peratura vesperal soffrendo ao contrario quasi sem- pre uma exacerbação. Por outro lado, o desvio entre a exacerbação da tarde e a remissão da manhã pode se estender de 1 a 3 gráos. Se poderia, pois, crer numa defervescencia real, quando se trata apenas d'uma remissão ; não se deverá então reconhecer a defervescencia senão na condição que o thermometro caia na cifra physíologica ou abaixo da normal, sendo a defervescencia essencialmente uma volta á medida normal da temperatura. __ 22 __ Ainda não está definitivamente determinado o espaço de tempo, durante o qual deva permanecer o abaixa- mento da temperatura que permitte caracterisar o pe- ríodo critico. Hirtz quer que este espaço seja menor de vinte e quatro horas, o Dr. Jaccoud quer que seja de doze a trinta e seis horas. Os typos da defervescencia são em numero de três * : Ha defervescencia muito rápida (2 a 4 horas), que se encontra na febre intermittente, na febre ephemera ; Ha o typo rápido (24 a 48 horas) que se observa nas inflammações francas, febres eruptivas, pyemia, e na febre puerperal; Ha o typo a oscillações descendentes (3 a 5 dias). A convalescença começa com a extineção da crise. A passagem d'um ao outro estado faz-se de modo tão insensível que torna-se difficultoso, muita vez, separal-a por um traço. Todavia a temperatura hyponormal, trinta e sete, e até trinta e seis, (■. o indicio da convalescença. Mas seja dito que a fixação da cifra normal da tempe- ratura é o signal cabal d'uma convalescença completa. Em quanto a temperatura oscilla abaixo da normal, durante o curso da convalescença, pôde soffrer desvios * Veja-se a representação grapbica, íncluida neste trabalho, relativa á defervescencia, — 23 — debaixo das causas as mais ligeiras; assim é que os exforços physicos e intellectuaes, irregularidades de regimen, tornam-se commummente circumstancias que bastam para elevar o gráo do calor. Não é raro vêr-se a primeira alimentação produzir uma ascensão súbita, mas passageira, no thermometro. Se a ascensão puder ser legitimamente attribuida á qualquer das influencias fortuitas referidas, não deve causar apprehensões; tanto mais se é temporária (de um ou dous dias). Terminação fatal — Typo ascendente — A marcha da temperatara do período preagonico, tal qual observamol-a por meio do thermometro, é deter- minada em grande parte pela moléstia essencial e seu desenvolvimento : ha também numerosas complicações e lesões ultimas inherentes aos processos mórbidos graves ou mortaes, das quaes também depende a temperatura d'este período. Assim julga-se perfeita- mente do estado preagonico por meio do thermome- tro ; importando, comtudo, tomar em consideração outros phenomenos que apresente o caso, phenomenos affeetando a marcha thermometrica. Este período, baseando-se na evolução thermome- trica, permitte que qualifiquemos seus typos : Typo ascendente—é o caso em que se vê a tempera- tura subir sempre até a manifestação da agonia (fôrma ascendente do estado preagonico) : mas esta ascensão é interrompida por pequenas remissões matinaes. O começo do período preagonico pôde ser obscu- recido conforme o caracter do período precedente: se este ultimo houver sido progressivo, ou amphibolo, obscurecerá o começo do outro. É a ascensão ultima do período em questão que conduz a temperatura ás graves cifras de 41°,8, 42°, 42°,5 e até a mais, 42°,8. Em muitos casos em que a columna tliermometrica attinge a estas enormes cifras, tem partido, muitas vezes, d'uma cifra indicando uma temperatura pouco febril, e d'ahi cresce com uma elevação extremamente rápida. Quando o período preagonico apresenta-se com este modo, com rápida ascensão, dissipa as duvidas sobre seu começo, que é, como acabamos de dizer, obscurecido por certas circumstancias. Resulta, muitas vezes, que a continuidade d'esta ascensão é tal que seu traço é representado então por uma linha pouco afastada da vertical. Esta marcha não é excepcional no perioclo de agonia, ao envez é apresentada por Wunderlich como normal. Em opposição a estes factos, em conseqüência de accidentes que não são inherentes á moléstia, nota-se a ascensão na agonia quebrar-se de súbito e cair pro- — 25 - fundamente ; taes são os arcideutes de que falíamos, a hemorrhagia pulmonar, a intestinal, ou uma perfuração no mesmo órgão. A violência de qualquer d'elles pode proporcionar a morte, e o doente morre no meio d'este abaixamento rápido. Logo que não é assim, se a terminação da vida é pro- telada, o thermometro assume o gráo que marcava antes da queda accidental. O Dr. Jaccoud dá a esta forma do período ago- nico o nome de typo ascendente quebrado. Muitas ve- zes, o período agonico apresenta outros caracteres que especificam typos distinctos, taes são o typo des- cendente e o irregular. Typo descendente — Esta forma caracterisa-se do modo que se segue : nenhum symptoma tende a me- lhorar, mas a temperatura segue fatalmente, por mui- tos dias, sua marcha por uma queda gradual até a morte. No momento prévio á este ultimo resultado, as cousas se passam d "'este modo : ou o doente morre no meio da descida progressiva até o collapso ; ou no meio d'uma elevação, que faz-se subitamente, tocando mais um gráo, e um gráo e meio, na columna thermometrica. Uma similhante evolução é freqüente no typho abdo- Pvh. 4 -*■ 26 — minai e exanthematico, nos exanthemas agudos com algumas complicações, na escarlatina sobretudo, rara- mente nas pneumonias. Typo irregular — Elle é bem caracterisado. Com effeito, vê-se, muitas vezes, enormes elevações que al- ternam com rapidez descommunal com descidas, se re- petindo no decorrer de vinte e quatro horas. As cousas encaminham-se d'um modo crescente por dous a três dias, dirigindo-se a uma terminação fatal, que realisa-se no momento d'uma queda da temperatura mais sensí- vel que as outras, ou mesmo n'uma elevação. As affec- ções pyemicas offerecem este typo. Estádio amphilobo — O fim do fastigio nem sempre é distincto e limitado ; por vezes vago, inde- ciso, encadeia-se a um estado particular designado por Wunderlich sob o titulo de estádio amphibolo. Mais ou menos apparente, o estádio amphibolo é visto nos casos graves com ou sem terminação fatal. O estádio amphibolo é todo irregular ; suas manifes- tações thermometricas exhibem exacerbações e remis- sões de proporções variáveis e inconstantes; ora as remissões dão-se pela manhã, ora em outros momentos; depara-se com exacerbações sem razão de ser em quaes- quer horas do dia. Qual é a cansa de toda esta incohe- rencia ? Esta causa é as vezes despojada de confusão : — 27 — as influencias therapeuticas e certos processos, tendo logar na economia durante similhante estádio, dão a solução do motivo, que promove tal irregularidade. O estádio amphibolo desenha-se na febre typhoidea grave, onde é mais intenso e duradouro; manifesta-se além disto nas pneumonias graves d'uma resolução re- tardada, no typho exanthematico, no rheumatismo arti- cular agudo -e na meningite epidêmica. Se sua duração é de alguns dias, pode também ampliar-se até algumas semanas. O desenvolvimento dos phenomenos capitães da ca- lorificação offerecm uma fonte fecunda e inexgotavel de ensino! Se o calor é um agente indispensável a actividade da vida, o excesso torna-se um agente tóxico, que tem so- bre o organismo uma acção tanto mais funesta quanto dura mais tempo e sempre com a mesma intensidade! Ora, supponhamos que a febre seja violenta, que a temperatura permaneça elevada de manhã e a tarde, sem remissão notável de manhã, que este estado dure muitos dias, veremos o doente gastar sua própria sub- stancia e esgotar-se ; em uma palavra, seus órgãos sofTrerão a dcgeneração gordurosa : coração, músculos, fígado, rins, serão atacados, c o doente morrerá no meio de accidentes convulsivos, ou de um coma pro- fundo. — 28 — Mas o medico guiado pelos ensinos da observação thermometrica, que interpreta estes factos, com os ele- mentos de apreciação por ella ministrados, poderá exercer um juizo solido em relação ao diagnostico, ao prognostico e os resultados therapeuticos. NUTRIÇÃO Funeeões digestivas — A febre diminue ou modifica de uma maneira particular a energia physíolo- gica dos órgãos da digestão. Ante a experimentação esta asserção constituiu-se um problema até data bem recente (71 a 74); todavia a clinica desde as eras primitivas da medicina consignou como phenomenos principaes observados do lado das funcções digestivas no começo de toda febre, a anore- xia, o augmento da sede, náuseas, vômitos. As desordens da nutrição são das mais notáveis, e traduzem-se por modificações nas seccressões, sobretudo da urina, e por emmagrecimento. Seccressões—Urina—A febre sendo essencial- mente constituída por uma superoxidação geral dos elementos orgânicos, concebe-se toda importância que tomou nestes últimos annos, o estudo das variações que soffre a composição da urina nos düTerentes perio- — 29 — dos das moléstias agudas ; com effeito, por analyses successivas se tinha o meio efficaz de seguir nas suas gradações as mais delicadas as oscillações do movimento febril. De todos os tempos a urina tinha sido o objecto da attenção dos doentes e dos médicos. Seu aspecto exterior, sua consistência, os sedimentos de côr variada, que n'ella se encontra, tudo passava debaixo do rigor do exame. Além d'isto, quem não se lembra das praticas ridí- culas da uromancia outr'ora? Hoje numerosos trabalhos têm sido emprehendidos no fim de estabelecer-se de mais em mais as relações da febre com as alterações qualitativas e quantitativas da urina, trabalhos que têm esclarecido vivamente esta interessante questão. Os conhecimentos adquiridos, que á ella ligam-se, devem ser actualmente familiares a todos os médicos. A urina é modificada na febre desde o momento da invasão até a defervescencia. Das modificações, as prin- cipaes são: a diminuição da quantidade, o crescimento da densidade, o augmento de uréa e de ácido urico, a diminuição dos chloruretos ; de 28 a 32 grammas, limi- tes normaes, a cifra quotidiana da uréa pôde elevar-se, a despeito da dieta, a 35, 40, 50 grammas ; a do ácido — 30 — urico sobe de 50 ou 55 centigrammas a 80 centigram- mas ou a 1 gramma ; e os chloruretos que, avaliados cm chlorureto de sódio, têm uma proporção media de 11 ^grammas durante vinte e quatro horas, caem a uma gramma, a algumas centigrammas, ou mesmo a zero. A dystrophia febril dando conta das alterações da urina torna-se evidente que durante o fastigio estas alterações sejam bem pronunciadas. A seccressão do sueco gástrico resentê-se do estado febril. Eis as conclusões deduzidas da physio-patholo- gia experimental: « O sueco gástrico tem muita actividade por si pró- prio, mas perde-a em totalidade ou em parte pela addição de ácido. « O sueco dos animaes anêmicos tem um poder digestivo fraco, que augmenta debaixo da influencia de um ácido. « Nos animaes atacados de febre, a acção do sueco gástrico é assaz fraca; torna-se mais intensa quando se acerescenta um ácido (Manassein). » A experimentação confirma que a quantidade de ácido excretada não é em relação com a da pepsina. As seccressões intestinaes também são diminuídas. A constipação que existe de ordinário no começo e durante o fastigio da febre tem uma explicação cabal n'estes factos. — 31 — Entretanto, observa-se que um ou outro febricitante apresenta dyarrhea em qualquer dos dous períodos mencionados : é o caso em que se pôde admittir uma lesão do intestino, ou alguma perturbação funccional enérgica e accidental ao processo febril, se passando dentro dos seus limites. Uma perturbação da mesma ordem em um órgão visinho, como o fígado, pôde pro- duzir também a dyarrhea. A seccressão sudoral é diminuída. A noção que temos sobre a modificação chimica do suor na febre é quasi nulla. Sabemos que a seccressão da pelle não dá logar a um producto alcalino no estado da moléstia; n'isto se afasta ella da seccressão urinaria: mas sua acidez pôde ser diminuída e a reacção torna-se neutra. Viscosidade e reacção neutra são cousas equivalentes : póde-se, pois, concluir que o regresso á acidez normal, quando esta acidez tenha sido suspensa, é um bom signal. A diminuição da quantidade de uréa em um caso de febre typhoídea e em outro de rheumatismo polyarticular agudo, é um facto muito particular indicado por Meis- ner. O suor não é a crise da febre; mas pôde se dizer com Hirtz que é de alguma sorte a crise do calor : uão é a crise da febre, porque é uma influencia tempo- rária, toda incompleta para ter acção sobre a combus- tão molecular. A relação do suor com a defervescencia parece, pois, — 32 — muito claramente descriminada. Elle precede a defer- vescencia tornando-a mais prompta e mais eíficaz. A observação clinica demonstra, com effeito, que o suor artificial está longe de fazer cair sempre a febre. Final- mente o suor é um moderador da temperatura, e como tal, um symptoma favorável nas pyrexias. Os suores profusos do primeiro período e do fastigio são de máo agouro. Os suores críticos têm alguns ca- racteres physicos, que são úteis quanto á sua signifi- cação : devem ser de alguma abundância, mas não ex- cessivos. É mister também que apresentem uma notável flui- dez, sendo a viscosidade um symptoma faltai. O emmagrecimento é a conseqüência necessária do augmento insólito de todas as combustões orgânicas, das quaes as alterações da urina sobretudo, e as do ar expirado dão a medida exacta. Ora, se não ha lesão de equilíbrio no calor physiolo- gíco, pode-se dizer com Hirtz que a febre é um incêndio que consome rapidamente os elementos do corpo. A ruptura deste equilíbrio no sentido do calor no movimento febril, tendendo a conduzir lentamente o organismo a ruina, ainda é aggravada efficazmente por sua alliança com a abstinência que faz o febricitante de quasi todo alimento. — 33 — Em termos bem definidos, o emmagrecimento é a equação entre o calor mórbido e os productos da com- bustão, como disse-o com toda justeza o mesmo es- criptor. As analyses de Traube Leyden e Liebermeister des- criminaram a parte que tomam os rins e os pulmões na eliminação dos diíferentes elementos excrementicios da combustão pyretíca ; e é inútil accrescentar que por ellas vio-se que todos os elementos do corpo tomam parte neste ultimo movimento essencialmente des- truidor. Por estes dados adquiridos na sciencia, estabeleceu- se com todo rigor scientifico a simples relação que exis- te entre a temperatura e os productos da combustão eliminados — e o emmagrecimento. Ao terminarmos esta parte consignaremos o facto de não haver distincção entre uma febre chronica e uma febre de processo agudo no que diz respeito a existên- cia da consumpção ; pois que esta é a expressão de um acto applicavel a todas as febres, a saber—a combustão. CIRCULAÇÃO O valor dos phenomenos da circulação é todo subor- dinado, contrariamente as crenças de Harvey, Boerhaa- ve e Marey, ao apoio dos quaes vieram muito recente- Pyh. s — 34 — mente as theorias da febre de Huter e Bich-Hir- schfeld. Estabelecida a questão nestes termos : o sphygmo- grapho pôde realmente registrar o movimento febril em todo caso de sua existência ? respondemos: não, porque a temperatura e o pulso não correspondem sempre : pôde haver febre sem acceleração e impulsão forte do órgão motor, e com um pulso mediano e até lento ; tal é o caso da meningite indicado por Hirtz. E inversa- mente, batimentos do coração accelerados, com uma impulsão forte apreciada pela palpação, juntos a tons normaes claros e bem distinctos, podem existir na ane- mia e certas nevroses vasculares. Em parallelo a estes factos vem o da asystolia car- díaca no meio da febre, e a modificação do coração daria um ensino negativo sobre a existência d'este processo. A própria asystolia de outra origem determinará uma freqüência insólita do pulso e por muitos dias, e entre- I auto este phenomeno não caracterisa a febre : a obser- vação thermometrica solveria a questão. Apezar d'estas divergências que provam a subordi- nação do valor semeiotico das modificações do pulso e do coração, e que, demais, a desordem da calorificação é o symptoma pathognomonico do estado de febre, acha- se estabelecido que a temperatura e o pulso marcham, em geral, simultaneamente na força da febre. — 35 — Existe mesmo uma relação regular entre a freqüên- cia do pulso e a temperatura, ao menos nos principaes períodos, que estes elementos contribuem a formar : ambos augmentam ou diminuem de áccordo. Assim no caleírio as artérias periphericas são con- trahidas, sua tensão augmenta; a pelle no estado de eschemia, sem distensão, toma uma côr azulada. É então quando nos vasos profundos constitue-se uma congestão collateral, e acha-se o sangue em augmento até o coração, que bate freqüente e com energia. Logo que o calefrio falta, ou quando termina, as con- dições tornam-se inversas: ao tetanos arterial, permit- ta-se-nos a expressão, succede a atonia vascular, cuja conseqüência é o calor peripherico. A tensão sangüínea acha-se enfraquecida e os vasos turgidos; d'aqui a substituição da pallidez por uma colorisação de um ru- bro vivo ; a do pulso profundo por uma artéria cheia e dura. Emfim, na defervescencia estabelece-se um pulso mole, largo, sem exageração de dicrotismo. O coração é accelerado durante a concentração vas- cular, como no momento da abundante irrigação san- güínea dos tegumentos; é impossível, pois, submetter sua accelerarão ás condições mecânicas da circulação superficial. — 36 — [MERVAÇÃO As perturbações nervosas exprimem-se de modo va- riável : são desordens ccrebraes, a cephalalgia e outras sensações penosas, taes quaes a insomnia, o peso, as vertigens, a surdez, a photophobia, o delírio, o estupor, e o coma ; desordens espinhaes, dores na columna ver- tebral associadas a perturbações spasmodicas, canceira muscular ligeira ou profunda; são ainda acções dias- talticas, taes quaes os movimentos automáticos que os doentes prostrados executam com as mãos quasi para- lyticas. Estas desordens são constantes ou inconstantes. As hyperesthesias e anesthesias fortes comprehen- dem estas ultimas, que dependem da impressibilidade do sujeito, da natureza e vigor da causa pyretogenica, e sobretudo do gráo da temperatura febril. Acreditamos com Liebermeister que a elevação ex- cessiva e demorada da temperatura explica a maligni- dade de todas as moléstias febris. Todo mundo sabe que as moléstias acompanhadas d'uma elevação consi- derável d'esse elemento comportam um prognostico grave; e resulta de um grande numero de observações de authores que a morte surge rapidamente quando o calor attinge 42°. Estes factos lembram os effeitos da insolação. Os effeitos da elevação da temperatura são univer- saes na economia animal ; assim o systema nervoso não pode subtrahir-se d'elles. Accidentes nervosos se produzem em todos os gráos na febre typhoídea —; mas são observados também em outras moléstias febris, ás quaes elles imprimem o caracter typhico. Esta explicação de certas desordens nervosas nas fe- bres graves e intensas já houvera sido indicada por au- thores antigos, e presentemente Traube e Niemeyer juntaram-lhe todo prestigio de sua authoridade. A thermometria demonstra a relação simples entre a ascenção da temperatura e os phenomenos em questão: aos gráos do thermometro correspondem os gráos da excitação nervosa ; com pequena excitação, como sen- sação de frio, fadiga muscular, dores vagas, agitação intellectual, susceptibidade viva dos sentidos e ligeira insomnia, coincide pequena ascensão; com excitação forte, como sobresaltos, prostração, delírio, estupor, coma e agonia, coincide a elevação ao máximo d'este instrumento. Fora desnecessário accrescentar que para isto é mis- ter que a elevação do calor seja durável. Este modo de considerarmos os effeitos das altas temperaturas demoradas não obsta a que encaremos — 38 — o elemento pernicioso das febres como uni syndromo clinico. Pelas desordens nervosas terminaremos a analyse dos phenomenos principaes do movimento febril, no que elles tem de essencial; mas convém estabelecer o en- cadeiamento successivo de todos os phenomenos repre- sentando o quadro completo da febre, cujo estudo, ap- plicado áquelle dos caracteres geraes das pyrexias, nos permittirá penetral-os. ANATOMIA PATHOLOGICA As lesões inflammatorias, taes quaes a pneumonia e a pleurisia, não constituem a anatomia pathologica da febre ; pois que ellas não são a lesão primordial, podendo obrigal-a, impol-a. Ha casos em que cada lesão deste gênero manifesta- se e não ha febre. Se esta é uma combustão como nos ensina a physio- logia, e a thermometria confirma, é no sangue, nos tecidos, e nas seccressões que se deve procurar seus traços. Similhante estudo, aliás árduo, requereria toda per- feição da analyse chimica e microscópica ainda defficien- te no presente. — 39 — Se fosse possível determinar-se cada ama modifica- ção celliúar e chimica que permanecem como destro- ços da febre na economia,' seria fácil talvez surprehen- der o agente pyrogeno primordial — dynamico, chimico ou miasmatico. Apezar da incompetência dos meios de investigação, já nós possuímos algum ensino, mediante o programma traçado ao estudo moderno da febre : ensino incomple- to, é real, e todo provisório no presente. Para fazer-se uma idéa dos traços deixados pela combustão febril, no intento de construir-se a anatomia mórbida sobre as bases que indicamos, lembraremos que ha pyrexias que se tornam mortaes depois das mais altas temperaturas, e que estes traços são suas lesões únicas, accusando sua influencia deletéria. Consignemos os resultados dos trabalhos realizados afferentes as determinações chimicas e anatômicas da febre, pondo em relevo o valor de alguns. O augmento da fibrina indicado por Andral e Gavarret, é um dado que se applica somente a febre inflammatoria : é consecutivo. e. pois, não dá revelação do processo da febre primitiva. A quantidade dos glóbulos e sua qualidade consti- tuem dados inconstantes. As erupções diversas, (mando muito indicam a espécie da febre. — 40 — Os músculos orgânicos, os músculos estriados sofírem em sua textura : os primeiros degeneram, as vezes, em gordura ou em outra formação orgânica, os segundos, como demonstrou Zenker, tornam-se colloi- des. O tecido nervoso se atrophia, se amollece. O sangue pôde coagular-se durante a vida ; parece mais rico em carbono, em uréa (Hepp ) ; encerra menos albumina (Andral e Gavarret, Huppert e Riess ) ; encerra traços mais evidentes de leucina, creatina, creatinina, thyrosina, hypoxantina, productos de forma- ções regressivas, detritos da desintegração molecular orgânica. A maior parte destas lesões demonstra a evidencia a combustão febril ; justifica a desordem nutritiva mani- festando-se desde a degeneração gordurosa até o au- gmento de carbono. Taes destroços podem ser achados como lesões únicas nas pyrexias mortaes em conseqüência das altas temperaturas ; são os vestígios legítimos da febre, caracterisando sua anatomia pathologica real, unidos as lesões que a sciencia tem consignado pelos trabalhos de Louis, Andral, Giett. Mas qual é o corpo pyrogeno primordial, o que accende a febre, perturbando a destribuição normal do curso sangüíneo? É um agente dynamico, chimico, ou miasmatico? Esta, questão que parece resolvida para — 41 — certos espíritos, permanece em escuridão condensada. Todos os meios de analyse conhecidos têm sido incapa- zes de determinar a composição e a natureza do agente virulento ou infectuoso. O objectivo do microscópio, o cadinho do laboratório não descriminaram ainda um elemento d'este gênero lançado intencionalmente n'um vehiculo. « Invocar a catalyse, os protozoarios, ou a fermenta- ção é invocar uma palavra, porque ha na reproducção dos germens de certas pyrexias alguma cousa mais ra- pidamente especifica do que um acto da chimica orgâ- nica ( Hirtz ) » . CAUSAS Não queremos assignalar aqui as visões creadas pelos antigos para explicarem as causas da febre, mas as causas directas, geraes, lesões, ou princípios morbi- ficos. A febre pode originar-se de uma affecção primitiva- mente local, sendo ou não de natureza inflammatoria : irritações reflexas, impressões periphericas, ou a inflam- macão e a supuração, são seus pontos de partida muito communs. A febre pôde originar-se de causas miasmaticas, con- Pyb. * — 42 — tagiosas, da alteração do sangue por productos abun- dantes da oxidação. Ficam, pois, dous grupos salientes nas causas da febre. Ignora-se ainda de que maneira obram estas causas para produzirem o movimento febril. Não podemos em uma palavra, surprehender "esta relação de causa a effeito na febre ; todas as explicações propostas até hoje são banaes, ou de uma demonstração impossível, e não devem occupar os espíritos. THEORIAS A moléstia não é um estado em antagonismo por sua natureza com a saúde. Não existe differença essencial entre os phenomenos pathologicos e physiologicos; entre a matéria e a força que entretem a vida na saúde e na moléstia; entre as leis pathologicas e physiologicas. Estes phenomenos nos conduzem a lembrar o modo pelo qual se acceita hoje os problemas da pathologia : estabelece-se uma lei da physiologia : prosegue-se suas evoluções nas suas applicações sobre a perturbação das funcções e dos órgãos, em uma palavra, faz-st a alliança do phenomeno mórbido e da physiologia, faz- se a physiologia dos symptomas. — 43 — É evidente que o methodo scientifico moderno re- pelle as formulos puramente abstractas da pathologia geral systematica, e que é elle o único capaz de tornar férteis as considerações theoricas e as concepções da pratica. Cheguemos á theoria da febre. Sabe-se positivamente hoje que a fonte do calor que produzem os animaes é a combustão das matérias or- gânicas operando-se, não exclusivamente nos capillares pulmonares, como se suppoz outr'ora, mas por toda parte onde circula o sangue, pondo-se em contacto com os tecidos. Cada gênero de trabalho interno, quer mental, nervo-vascular, electrico, ou nutritivo, exceptuando-se os processos dissolventes, afinal resolvem-se em calor na economia. Ensinam alguns autores que o trabalho mecânico puramente externo é uma excepção ; porem não é in- teiramente assim : a excepção será no caso do movi- mento communicar-se á matéria externa. Se os princípios que acabamos de expor não sofírem os assaltos da duvida, se o calor deriva da combustão orgânica, em outros termos, se todas as fontes do ca- lor derivam, em ultima analyse, de um acto chimico, se, alem disto, se tem medido o estado normal das com- bustões orgânicas pelos seus resíduos, a uréa, o ácido carbônico e água, logo que os productos das exccressões _ 44— augmentarem na febre, é que ha com effeito combustão exagerada, e esta exageração pode ser medida por aquell'outra dos productos da própria combustão. Pode-se, mediante estas ultimas noções, desde já condemnar as theorias mecânicas a respeito da febre ; com effeito, todas as fontes do calor derivando, em ul- tima analyse, de um acto chimico, as theorias mecâ- nicas só explicam o equiubrio do calor central para superfície, e de nenhuma sorte dão conta da sua pro- ducção insólita. Lancemos um olhar fixo sobre o ajuntamento d'estes últimos factos, accrescentando-lhes ainda um outro de summo valor entre os phenomenos biológicos, a saber, que o calor suscitado por um trabalho mecânico se perde o se consome por outros movimentos equivalen- tes, e nos será permittido justificar com todas as pro- vas a negação das theorias mecânicas que Marey e outros têm imaginado sobre a febre. Estamos vendo que é á luz da physiologia que se elucida as questões da pathologia, em these geral. A theoria de Mãrey, que consiste em ver na elevação da temperatura da febre antes um nivellamento da tem- peratura nos diíferentes pontos da economia, do que um aquecimento absoluto, ó condemnada pelas leis da phy- siologia. t O calor augmeníado, diz Marey, recae principal- mente sobre a peripheria do corpo, o que prova que o — 45 — mesmo calor consiste, sobretudo, de um nivellamento da temperatura debaixo da influencia de um movimen- to mais rápido do sangue (pag. 363). » A rapidez do pulso e da circulação, a experimentação o prova, não produz calorico livre ; demais, já tivemos occasião no decurso d'este trabalho de fazer a analyse rápida da opinião dos iatro-mecanicos. A outra proposição do author « existe também na febre um ligeiro augmento de calor central, o que se pôde explicar por um augmento ligeiro da producção do calor quando a circulação se accelera », quebra-se con- tra as mesmas objecções. Até aqui póde-se concluir que o calor mórbido é o resultado d'uma combustão augmentada; e, ahi estão as provas, os testemunhos vivos d'esta combustão, as cinzas do foco ; aquelles destroços que apontamos na parte consignada á anatomia pathologica, uns atacados de necrobiose, outros incinerados pela oxidação violenta, attestando a natureza da febre. Não deve ser omittido no momento que ha uma perda manifesta de peso do corpo para completarmos os elementos d'uma demons- tração cabal — que o calor febril é o resultado da oxi- dação insólita dos elementos orgânicos. O que a physiologia estabeleceu sobre bases theori- cas a thermometria clinica demonstrou practicamente. Dous factos capitães ficam em relevo nas breves — 46 — apreciações de physiologia pathologica que acabamos de fazer sobre a febre : a elevação constante da tempera- tura resultando d'uma destruição mais rápida dos ele- mentos pela combustão exagerada e a passagem pela urina dos materiaes decompostos ; elles formam a base da opinião que o Dr. Jaccoud mantém sobre a febre, e que abraçamos francamente. Reproduzimos aqui esta opinião do author : «O que é certo, o que é colhido pela observação,'é que a causa py- retogena crea no organismo uma modalidade anormal de nutrição (augmento das oxidações) ; é que este modo nutritivo tem por conseqüência um augmento pa- rallelo do calor ; é que debaixo da influencia d'este ca- lor febril a acção do coração se exagera ; é que esta temperatura anormal provoca muitas vezes uma convul- são reflexa temporária que constitue o episódio do ca- leírio e da algidez.» Convém não substituirmos esta formula, susceptível de interpretação no presente, porhypotheses innovadas. Hypotheses tanto mais inúteis quanto a indicação cli- nica invocando a pathogenia encontra na que assigna- lamos á febre uma garantia legitima. E certo que chegamos a verdade absoluta rara- mente : mesmo na ordem das idéias moraes, sua in- vestigação é sempre subordinada aos tempos e logares; na medicina ella é principalmente submettida aos gráos — 47 — de excellencia dos meios das sciencias que lhe são fundamentaes. A opinião contemporânea sobre a explicação da febre está longe de ser uniforme para todos : ao lado da que abraçamos, e que parece na mais estreita alliança com a physiologia, assignalaremos outras que não resistem a um exame severo baseado sobre a sã interpretação dos factos-, umas attribuem os phenomenos febris a uma perturbação primordial do systema nervoso; ou- tras invocam uma alteração do sangue. As primeiras são conhecidas debaixo do nome de theoria nervosa e reduzem-se na theoria dos vaso-mo- tores e na theoria dos centros nervosos calorificos. A theoria dos vaso-motores enumera vários modos possíveis de excitação febril. Eis a formula abstracta das theorias nervosas: O agente primitivo da febre excita os centros nervosos e d?ahi resulta a febre. Segundo nos collocamos debaixo do ponto de vista d'uma ou d'outra hypothese, a saber, da theoria dos va- so-motores ou da theoria dos centros nervosos calorifi- cos, podemos admittir aqui as probabilidades seguinte i: O agente pyretogeno excita o ajuntamento dos centros nervosos vaso-motores. O resultado d'esta excitação é uma contracção das pequenas artérias ; a troca orga- — 48 — nica é diminuída, e a temperatura do corpo eleva-se, porque as condições, que presidem a perda do calorico, tornam-se desfavoráveis ( hypothes© de Draube ). Outros, tentando também explicar os phenomenos febris pela perturbação primitiva do systema nervoso vaso-motor, utilisaram-se do resultado das indagações de C. Bernard sobre os effeitos da secçao do sympathico. São assim levados a considerar a elevação da tempera- tura como um phenomeno puramente nervoso devido a uma paralysia incompleta e passageira do nervo func- cional. Em conseqüência d'uma influencia qualquer, se produz a sensação do calefrio. A este período de excitação succede um augmento dos phenomenos cir- culatórios e do calor. Nesta, opinião o calor é já um facto subordinado, em relação ao calefrio; este é um facto activo, real; o ca- lor um phenomeno subsequente, um esgotamento con- secutivo. Deixemos estas opiniões que só parecem conceder á febre o valor de um phenomeno reflexo, e que são in- compatíveis com factos adquiridos e recentes descober- tas ; o augmento da combustão precede o augmento do calor ; este é anterior ao calefrio, segundo as obser- vações de Hirtz, conforme a de todos os experimenta- dores ; as perturbações nervosas, entre as quaes acha- se o calefrio, são como todos os phenomenos d'esta — 49 — ordem inconstantes e variáveis de intensidade e não excluem aparte das idiosyncrasias, dos temperamentos, nem os elementos de intoxicação. Já a acceleração do coração durante a concentração do sangue no calefrio e continuando no período paraly- tico do systema sympathico faria, surgir difficuldades a theoria de C. Bernard. Emtím, a relação estabelecida entre a febre e os effeitos da secçao do sympathico, não é acceitavel, como lembra muito bem o Dr. Jaccoud. O effeito da secçao do sympathico é a congestão ; a febre é mais do que isto: O que é a febre? é a combustão geueralisada, uma anomalia de nutrição. O que é a congestão ? o accu- ■■, mulo anormal de sangue em um órgão. ^4 excitarão dos apparelhos produetores, ou bem a parah/.si.a dos apparelhos reguladores debaixo da influen- cia da causa mórbida é o ponfo-de partida, das modi/ica- çõe* da. nutrirão e da caloricidade chronica. Os escríptores modernos limitam-se a reco- nhecer a febre intermittente quotidiana, a terça e a quarta. No estudo da calorificação allegamos*os caracteres communs das intermittentes. Febres eruptivas (herpes, varíola, sarampo, es- carlatina, suar miliar) — A 'therapeutica reclama a juncção das febres eruptivas em um grupo separado ; a phisionomia commum que estas febres manifestam na sua caracterisação clinica muito interessa. Ha um grupo de febres no domínio das febres es- senciaes, sobre seus limites indecisos, cujo caracter não offerece um typo pyretico regular, como os typos cias- — 62 — sicos das febres infectuosas continuas mencionadas na primeira classe, e que provêm d'uma matéria tóxica morta ; nós queremos recordar um certo grupo de py- rexias conhecidas da pratica, dependendo da inoculação de certos virus animaes, a pústula maligna, o mormo e o pus alterado. Seu começo de evolução é tal qual o da varíola, pois que ellas resultam primitivamente de elementos penetrando no .organismo por um orifício de inoculação, e o sangue contamina-se subseqüentemente; ora, é o que succede na varíola inoculãda. Não se lhes pôde, pois, negar os caracteres d'uma pyrexia primitiva. DIAGNOSTICO Em presença de um estado febril tem o medico de deduzir conclusões sobre a natureza das lesões existen- tes, e de estabelecer, alem d'isto, a coordenação e enca- deiamento dos phenomenos como faria ante qualquer estado mórbido. Poremos saliente que pôde haver obscuridade dos symptomas, que é toda relativa: com effeito, como a maior parte d'entre elles somente podem ser descober- tos a soccornr de certos methodos, ou por via de de- ducção, resulta que a possibilidade do diagnostico de- pende do gráo de aptidão do observador : assim, pois, — 63 — a arte e o habito de surprehender as phisionomias pôde achar-se em deficiência onde o tino na sua arbitrarie- dade muitas vezes triumpha. Tratando-se de estabelecer um diagnostico, incumbe ao observador determinar a existência da febre, sua espécie, seu typo, sua fôrma. O methodo por excellencia para verificar-se a colori- cidade mórbida é o thermometro : por sua sensibilidade e precisão elle imprime a certeza da existência da febre ao mesmo tempo que registra sua intensidade. A clinica enumera muitos factos de uma apparencia fluctuante e indecisa, e até bem illusoria, em que o thermometro dissipou fundados escrúpulos. Que valor podem offerecer os signaes subjectivos inconstantes e incertos, dependendo da impressibilidade individual? Elles podem faltar na febre ou accitsarem- se na sua ausência. E o pulso, dirão, que sempre occupou o primeiro plano na semeiotica febril, não é de um legitimo valor? Este valor é apenas apparente : o que é certo, o que a observação demonstra, é que estados contrários, como certas nevroses, e até estados mórbidos inteiramente oppostos, como a anemia, manifestam a acceleração do pulso ; o que é certo é que fortes febres exhibem uni pulso pouco accelerado. O frio externo, assim como o calor elevado da mão, dão sensações susceptíveis de erro. — 64 — O thermometro, pois, como um instrumento sensível e instructivo, offerece uma legitima garantia as inves- tigações clinicas. A escala da febre, que é entre 37° e 4Í°, é um ele- mento de rigorosa precisão; a escala do pulso febril podendo variar de quinze a vinte pulsações, segundo os indivíduos, não permitte que se possa concluir nenhum augmento na intensidade da febre : sente-se então o valor do thermometro ! Quem quer adquire a convicção, que é somente com a pratica applicação d'este instrumento que se pôde seguir com certeza a evolução de muitas febres. Com os dados precedentes podemos deduzir o typo e a espécie da febre. Debaixo d'este ponto de vista deve-se reter algumas proposições fundamentaes, que têm por garantia seus authores, Wunderlich, Griesinger, Thomas e alguns outros dedicados ao estudo da thermometria, hoje de tanta predilecção. Uma moléstia que no primeiro ou segundo dia appresenta uma, temperatura de 40 gráos, não é uma febre typhoídea, porque esta não au- gmenta tão rapidamente. Uma moléstia que depois do quarto dia manifesta uma temperatura inferior a :-í9 gráos não é igualmente uma febre typhoídea. Se o calor febril sobe lentamente até o quinto ou sexto dia e decae neste tempo á 3íí°,5, não ha febre typhoídea. — 65 — Se succede que a evolução do calor é lenta e de muitos dias e sobe gradualmente, de modo que o calor em cada tarde seja mais forte do que na precedente, sendo as remissões fracas, pode-se crer na existência de uma febre typhoídea. O doente em que se acha uma temperatura de 39 a 40 gráos, algumas horas depois que estreou a febre, tem uma febre intermittente, se a temperatura tende a descer logo no fim de uma ou duas horas. Em ultima analyse, o diagnostico das febres repousa ainda sobre circumstancias antecedentes, os symptomas concomitantes, e os signaes anatômicos que lhes podem determinar a espécie ; e depende da arte e do habito de differençar as phisionomias mórbidas. As regras a este respeito na sua insuffieiencia falham muita vez. PROGNOSTICO O estudo da febre deixa impresso em cada pagina a gravidade do processo que a constitue. Expondo anteriormente a anatomia pathologica, sub- mettemo-nos ao sentimento de evidenciar esta demons- tração, assígnalando os traços deixados no sangue, nos tecidos e nas seccressões por esta anomalia nutritiva. Será mister ainda fallar dos effeitos da temperatura febril permanecendo no organismo por muitos dias ? Pyu. 9 — 66 — Em todo o curso d'este trabalho, a caria momento, mostramos, segundo a opinião de grandes authores, o perigo culminante das pyrexias intensas. Parece inútil insistir-se, no estado actual da sciencia, na demonstração d'esta verdade, vefuctando as doutri- nas de Boerhaave, Bagliví, Fred. Hoffmann, Strack, Pujol e outros, que por uma apreciação inexacta citam casos de moléstias chronicas que se dissipariam no meio de estados febris accidentaes. Haveria provavelmente uma confusão da febre com uma simples excitação orgânica, quando se affirmou o curativo de engorgitamentos chronicos, nevroses, e algumas affecções dolorosas, etc, mediante aquelle estado. Para Pujol os tônicos, a gymnastica, o regimen, os banhos, as docas, os tópicos, obrariam suscitando um movimento febril: ora, o engano é palpável; o resultado d'estes meios é a excitação Orgânica. A febre está longe de ser um acto salutar. Em todo o caso é um perigo, é um inimigo, que im- porta vencer e debellar. Ella arruina os elementos do sangue e dos tecidos ; enfraquece as forças e os princi- paes motores da circulação e da respiração ; em uma pa- lavra, é muita vez a única condição causai da morte. Tomar a febre por uma reacção salutar, é desconhecer as leis da caloriíicação no estado mórbido. Á opinião que ~- 67 — mantemos subscrevem os authores systematicos a seguinte rubrica pela qual — febre e meio de salvação são causas equivalentes—a febre tem por effeito, dizem elles, lançar para a superfície cutânea o principio mór- bido. Entretanto as idéas que adoptamos não terão por isso um valor menos absoluto na pathologia : sustenta- mol-o com toda a convicção. Será permittido afürmar que ainda é a avaliação thermometrica a base do píognostico ? Sem duvida ; mas devemos tomar em toda a consideração dados se- meioticos firmados pela clinica, aos quaes recorremos para consultar o gráo de confiança que devemos depo- sitar na diminuição do movimento febril em estados graves da economia. A prostração nervosa, a accelera- ção da respiração, e do pulso, constituem-se guias se- guros no interpretação do prognostico. Figuremos uma elevação da temperatura marchando em parallelo com um pulso que se precipita com rapi- dez, ao mesmo tempo que a respiração torna-se rápida e ruidosa : teríamos fundadas desconfianças do pro- gnostico. Figuremos ainda, como succede em certas fôrmas de febres typhoideas, que o pulso perca sua freqüência, e a pelle torne-se fria (face e extremidades), banhada de suor profuso ;. crer-ae-hia em uma defervescencia. — 68 — Entretanto se notarmos a aggravação dos demais phenomenos mórbidos e o collapso existente, nos con- venceremos do perigo culminante, que é a paralysia vascular e cardíaca. Em qualquer d'estes casos o olho reflectido do pratico traduz ainda o perigo pela expres- são da face, pela attitude, e pelos movimentos irregu- lares, parciaes, que executa o paciente de um modo quasi insensível. Estamos, pois, bem distantes das idéias, que, do co- meço d'este século, lançaranr a febre em um plano de segunda cathegoria, como um accessorío. Mas voltemos ao estudo da temperatura para guiar- mo-nos no estudo do prognostico. Se a simples ascensão da columna thermometrica indica o estado da febre, este dado é estéril para ca- racterisar-se o movimento febril no seu ajuntamento ; não é por uma cifra destacada, mas pela marcha, a pro- gressão do calor que devemos regular o prognostico. Uma elevação temporária á 42°, como succede em um violento accesso de febre intermittente, não tem va- lor, em quanto que o calor oscillando em 40 gráos, mas durável por uma serie de dias, é de um fatal agouro. O período terminal da temperatura sendo caracteri- sado por uma elevação continua, interrompida por fracas remissões, é ainda um máo signal; as remissões breves não attenuam o prognostico. O pulso, até então pouco — 69 — freqüente, se precipita de mais a mais, e vê-se cami- nharem de accordo a acceleração da respiração, a pros- tração nervosa e outros phenomenos que são precursores. E esta ultima ascensão que attinge ás cifras formi- dáveis de 4P,8, 42°, 42°,5, e até a mais. Tal é a mar- cha que se pode considerar como a normal para o pe- ríodo de agonia. Completaremos esta parte com o estudo que ficou dedicado ás crises em outro logar neste trabalho. Em ultima analyse, no esclarecimento do prognosti- co, a temperatura tem a preeminencia. Mas nada pode prevalecer contra uma reunião symptomatica indicando a ruina do organismo, e sua condemnação fatal : a fra- queza, a prostração pronunciada das forças, a agitação muscular, a perversão intellectual bem accentuada, a perturbação das seccressões, tendendo algumas á esta- gnação, outras ao excesso, o pulso accelerado, a respi- ração precipitada, a fraqueza da impulsão do motor da circulação, ou sua assystolia, constituem o prelúdio da morte. TRATAMENTO O tratamento que exigem as pyrexias não pode ser indicado em seu ajuntamento de um modo abs- tracto. — 70 — A therapeutiea é modificada segundo os caracteres, a natureza, o typo e a intensidade de cada febre, e ain- da segundo suas complicações e seus accidentes. As febres de origem paludosa, quer de typo inter- mittente, quer de typo remittente, indicam a quina e seus saes; a acção aqui é dirigida contra o elemento pyrogeno ; o tratamento, como diz o Dr. Jaccoud, ani- quila a causa. Nas outras pyrexias devemos nos occu- par sobretudo dos caracteres do estado febril; esta pratica é toda coherente com as idéias modernas, mos- trando o risco das combustões intimas ligadas á per- sistência de uma caloricidade anormal. E, pois, bem evidente que os meios efficazes de salvação devem ser tomados entre os agentes defer- vescentes. Um estudo especial, baseado sobre a analyse de ob- servações numerosas, colloca em todo o prestigio as propriedades da digitatis, da veratrina e do veratrum viride. A digitatis empregada muito cedo não dá resultados; a defervescencia se faz em sua hora, e, segundo a ex- pressão do professor Hirtz, « nas tentativas ante-febris, é necessário cair de accordo com a natureza ». Lem- brando as idéas do Dr. Forget, faremos notar que o começo da defervescencia é marcado por um vomito, quer provocado pela digitatis, quer pelo veratrum. — 71 —- A digital abaixa o calor, diminue o numero dos bati- mentos cardíacos e a quantidade da uréa excretada. A veratrina determina effeitos análogos : veneno do cora- ção, ella excita a principio, e paralysa depois todos os elementos nervosos e musculares do apparelho circula- tório geral. Não se deve temer o defeito de accumulação d'este agente: toda tempestade dos symptomas nas expe- riências, tem se dissipado logo depois que prorompe. Comtudo, o veratrum vi ride differe da digital pela rapidez dos seus effeitos e pela sua pouca duração. A febre moderada requer os meios temperantes, repouso, e a observância dos preceitos da hygiene. A fôrma gástrica reclama a prescripção dos vomi- tivos, e dos evacuantes, que devem preceder á prescri- pção dos ácidos vegetaes e mineraes. A fôrma ataxica reclama os banhos tepidos, os seda- tivos, alguns narcóticos ligeiros : o castoreo, a valeriana, o meimendro, a água de louro cereja, o bromureto de potássio, o chloral, podem responder as suas indicações. A adynamica lembra a quina, o vinho, a cafeína, o chá, os alcoólicos, a noz-vomica, a strychnina, e a tere- binthina. A fôrma hemorrhagica indica os ácidos mineraes e as loções frias, a ingestão do gelo ; a ergotina em alta — 72 — dose nos casos graves, o acetato de chumbo, podem fornecer aqui resultados coroados do melhor êxito. O tympanismo indica'os clysteres de infusões bran- damente estimulantes como a de camomilla, os clyste- res frios, chloruretados ou não, e o uso dos absorventes. E impossível formular-se, de um modo geral, as indicações que se deve oppor as manifestações nervosas; a sua diversidade de origem, nas pyrexias, interpretada a luz da physiologia moderna, não permittiria, de nenhuma sorte, uma deducção therapeutica uniforme. PROPOSIÇÕES I SECÇAO DAS SCIENCIAS MÉDICAS PHISIOLOGIA • Sanguinificação A unidade da composição do sangue no seu estado de metamorphose perpetua, graças á sanguinificação, é um facto de sorprehender. 3 Existe nos vertebrados certos órgãos peculiares em obvia connexjio com os processos da sanguinificação. Taes são as glândulas sangüíneas, glândulas vascu- lares, sem orifícios seccretores, sem canaes, sem duetos, abrindo-se, quer na superfície, quer nas cavidades. Es- tes órgãos incluem : o baço, a porção anterior do corpo pituitario, o corpo tyroideo, o thymo, os foliculos da lingua, das amygdalas, do pharinge, do estômago, e do canal intestinal ; em uma palavra, todo o systema das — 76 — glândulas lymphaticas. Juntemos a todos elles, tendo uma similhan ça genérica,, outro órgão diverso, o fígado. PATHOLOGIA GERAL Xevroses Cullen foi o primeiro author que creou, por assim dizer, a classe das nevroses, as quaes designam molés- tias apyreticas caracterisadas por perturbações da in- telligencia, da sensibilidade e da motilidade sem lesão material apreciarei. Não se acha lesões anatômicas na matéria organisada, dizem os médicos vitalistas; logo, o substratum não es- tava doente,—somente a força vital achava-se pertur- bada, doente. Este argumento nem é serio, nem scientifico : para se racicionar assim era mister se estar de posse da ul- tima palavra da sciencia, era preciso se ter, por exem- plo, a possibilidade de examinar um cadáver com uma exactidão de alguma sorte mathematica. PATHOLOGIA INTERNA Infecção palustre As moléstias engendradas pela infecção palustre são 77 — intimamente ligadas relativamente ao processo mór- bido. E o ponto essencial de sua historia — que ellas se desenvolvem sob a influencia de causas especificas, não contagiosas, miasmaticas ; demais, são moléstias exhi- bindo paroxismos rythmicos. É estabelecer-se uma synthese forçada reunir-se febre amarella, cholera e dysenteria debaixo d'esta causa pathogenica. MATÉRIA MEDICA Os effeitos que constituem a medicação analeptica por meio do tratamento ferruginoso são a conse- qüência de maior quantidade de ferro na composi- ção do glóbulo rubro. O ferro é o typo dos medicamentos hematinicos, por causa do seu poder sanguinificador. O ferro absorvido fornece um dos materiaes indis- pensáveis á constituição dos glóbulos sangüíneos, e fa- vorece a metamorphose dos glóbulos da lympha em hematias perfeitas. — 78 — Sem nos fixar exclusivamente nesta opinião limita- da, acreditamos também que os preparadoo de ferro chegando nos diíferentes emunctorios, sendo separados da albumina do soro, recuperam então todo o seu poder styptico, o que lhes permitte diminuir a congestão san- güínea das glândulas, torrificar os tecidos, moderar as seccressões, em uma palavra, exercer um estimulo po- deroso sobre as grandes funcções. HIGIENE Da saúde A idéia da saúde deve exprimir simultaneamente a idéia da integridade da composição do corpo no seu ajuntamento, e a de calma e uniformidade dos actos da vida, realisando a sensação de bem-estar. A saúde não é uma generalidade ; ella constitue-se individualidades. A definição de saúde — o exercício livre e fácil das funcções — é similhante á opinião extra-scientifica so- bre este assumpto e envolve o absurdo. — 79 — CLINICA MEDICA Diagnostico e tratamento do beri-beri A caracterisação clinica que distingue o beri-beri decompõe-se nos seguintes symptomas principaes : dor- mencia das extremidades, fraqueza geral do movimen- to, torpor da insensibilidade cutânea, oppressão epi- gastrica, dores a pressão nos músculos da perna (Da- mann), paralysía ordinariamente gradual, incompleta, de caracter ascendente, acompanhada de constricção a roda do tronco, vômitos, dyspnea, anemia e suffusões serosas que podem fazer omissão. No tratamento do beri-beri convém, sobretudo, indi- vidualisar-se. Nenhum dos meios, que a therapeutica prescreve, offerece á clinica bons gráos de probabilida- des de salvação. A viagem fora do foco, em que contrahe-se a molés- tia, é um meio heróico de cura. SECÇAO DAS SCIENCIAS CIRÚRGICAS ANATOMIA DESCRIPTIVA Qual a origem do nervo grande sympathico O grande sympatihco não é uma simples ramificação do systema cerebro-espinhal. Nem é independente d'este, cuja influencia elle re- vela de continuo. A physiologia experimental tem demonstrado gran- de parte das connexões intimas dos dous systemas, quando o microscópio não tem podido seguil-as até a sua origem. ryR. 11 — 82 — ANATOMIA GERAL Alterações patliologicas do tecido próprio dos pulmões A dilatação vesicular com a atrophia, como se vê nc emphysema, constítue uma alteração pathologica do tecido próprio dos pulmões. As outras alterações são : a congestão, a infiltração sangüínea, a pneumonia, a grangrena, o cancro e os tu- berculos. A abundante irrigação sangüínea do pulmão, por dous systemas de vasos, uns destinados á funcção, outros á nutrição do órgão, explica o motivo das suas freqüentes hyperemias. PATHOLOGIA EXTERNA Do carbúnculo e da pústula maligna Estas affccções têm sido confundidas na practica e nos livros por alguns authores. — 83 — Na pústula maligna o primeiro facto na ordem chro- nologica dos accidentes é o tumor. No carbúnculo os accidentes geraes precedem a for- mação do tumor. MEDICINA OPERATORIA Da região permeai e talhas perineaes A região perineal é uma região triangular compre- hendida entre o ânus e as partes genitaes. A talha perineal pôde ser practicada sobre a linha media, ou sobre os lados d'esta linha: estas duas ma- neiras se decompõem ainda em methodos particulares. A applicação da talha, além das indicações locaes, está dependente do estado geral do paciente. PARTOS Dos casos em que o parto prematuro é indicado O parto prematuro é um precioso recurso da tocolo- gia ; a humanidade e as necessidades sociaes tornam — 84 — urgente que se tome em plena consideração esta opinião dã sciencia legitimada pela moral e pela religião. Esta operação admittida para remediar alguns acci- dentes graves, taes quaes, metrorrhagias, estreitamentos da bacia, deve ser acceita também para os vômitos in- coerciveis. ■A opportunidade d'esta operação é tanto menos con- testável, quanto o feto tem mais probabilidade de vida. CLINICA EXTERNA Diagnostico differencial entre a carie e a necrose Carie, osteite chronica e fusão óssea, são denomina- ções synonimas. A connexão que existe entre a inflammação chronica e a ulceração se mostra igualmente entre a osteite chronica e a carie. — 85 — Gangrena, sphacelo, necrose e necrobiose são expres- sões que devem ser tidas por equivalentes ; indicam a morte da parte. I / SECÇAO DAS SCIENCIAS ACCESSOR1AS PHYSICA Que soccorro presta a physica á medicina ? Sem a physica não existiria physiologia possível. Suas leis capitães têm sido o ponto de partida na in- vestigação cie muitos phenomenos de (pie o organismo é o theatro. Verificou-se hoje a força que corresponde ao movi- mento do coração, a que corresponde ao movimento continuo do sangue e do apparelho respiratório, a força consumida pelos músculos da vida animal no trabalho do equilíbrio e da locomoção, verificou-se a velocidade da corrente nervosa, o mecanismo da audição, da visão, — 88 — as condições da diffusão porosa nos tubos vascula- res, etc, etc, graças á physica. CHIMICA MINERAL Ozona, sua natureza e propriedades O ozona é incontestavelmente oxygenio electrisado. Ao Sr. Schcenbein deve a chimica mineral o estudo d'esta substancia. Se o ozona se caracterisa por suas propriedades nimiamente oxydantes, é facto também conhecido — que em muitos casos obra elle como um desoxydante. CHIMICA ORGÂNICA Isomeria do ácido tartrico Graças aos recentes progressos da chimica orgânica, é o ácido tartrico um ácido polybasico e de funcções complexas. — 89 — Além de seus estados naturaes, pôde elle ser hoje obtido por via synthetica. 0 ácido tartrico pôde existir sob quatro modificações. a saber : ácido tartrico mactivo, direito, esquerdo, e neutro. BOTÂNICA Respiração vegetal Se tem conhecido quaes os princípios que as plantas colhem na atmosphera, no acto da respiração, quaes os que na mesma atmosphera desprendem. As plantas verdes, expostas á luz solar, fixam mais carbono e desprendem mais oxygenio. Todas as partes não verdes, e as partes verdes pri- vadas de luz, produzem ácido carbônico em pequena quantidade. Pvn. 12 — 90 — MEDICINA LEGAL Envenenamento pelo phosphoro O processo de Mitseherlich é o meio mais preciso e seguro da chimica legal nos envenenamentos pelo phosphoro. Funda-se este processo na singular propriedade que tem o phosphoro de luzir na obscuridade. No entretanto, o methodo ultimamente apresentado pelos Srs. Woehler e Dusart pode ser com vantagem appl içado. PHARMACIA O vinho de quininni leva alguma vantagem aos vinhos de quinas ? Quaes as razões d'cssas vantagens'.' O quiniuni é mais rico do que todos os extractos or- dinários da quina (Dorvaut). Os vinhos de quinas ordinariamente empregados em — 91 — medicina se preparam com cascas de quina, cuja rique- za em princípios activos é extremamente variável. O vinho de quinium constítue, ao contrario, um me- dicamento fértil em princípios activos. Bahia — Imprensa Econômica, rua rios Alglb«bos— 1874 Fij, 7-Typ o muito rápido, .ti. s. "roT"^ m. <£ fn. s. íyT í m. sS rrT s. m. s. Fi^ 8 - Typo rapido-saramp o. "_3iaí, jia^3"' hj, -y_dj_:j ^iii1 ^ij! -ril? ^Alí1 -9**'dia 1ü"dta 11" d! aludia 12°8ia d. *. .r. "?: ,7i s rr, s' m. i. nr,. iSrj^s. nvT'™' ? nT^'$. "a, & TtS""? m. ""s SHBKSp^wIBMH Ml SHH 1 n&fliiHisSB lia éééüb f(á^Mi iriUI Mit2-a mài aiÉtt c^mm v»*.^» m •tMt- IM SHBll|^HE9| Fij, 9-Typo rápido varíola. 10 dia t dia 3^Jui 4* üia 5'di& S^dj_a £dj 8*dia9'jjia li/dio 1V_üia 1£di_a ^dia Wdia 1 Sr^ia 1J£dia 17"dia1B° d i & 19%Jia 2jT_dia 2Vdia fíT^^s) ^írT^ v m á m. s. "rrT^? m s. m. i m. s. 'm.'~~s. "uT s. írT' l- m. í m. s. oi. s iri ? 'ST* s.'ríT^í fn" s~. m. s. m. V. frT s ZJEkVi i Vapor de JouTeia.n.jj' Fig, lü " Tvíc tscillaii.le-iaLr« Ivplioilea Àrf' #ée; f M et**** <^m£r^