THESE DE FRANCISCO JOAQUIM D'OLIVEIRA SANTOS. 1867. THESE QUE DEVE SUSTENTAR EM NOVEMBRO DE 1867 PIRA OBTER <» GRÁO DE DOUTOR EM MEDICINA PELA FACLUDADE DA BAHIA FRANCISCO JOAQUIM D'OLIVE!RA SANTOS, (NATURAL D'ESTA PROVÍNCIA) 8 A (Maúct A&WoíykVs S.oaAas. Edidi quce potui, non ut volui; sed ut me temporis augustice coegerunt. (Cic. DE BAHIA: TYP. DO-PHAROL-RUA DIREITA DA MIZERICORDIA N. 4. .1867. FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA. DIRECTOR O EXM. SR. CONSELHEIRO DR. JOÃO BAPTISTA DOS ANJOS. 0 EXM. SNR. CONSELHEIRO DR. VICENTE FERREIRA DE MAGALHÃES» os SRS. DOUTORES L° ANNO. MATÉRIAS QUE LECCIONAO Cons. Vicente Ferreira de Magalhães. I Physica em geral,e particularmente em suas í applicaçòes á Medicina. Francisco Rodrigues da SilvaChimiea e Mineralogia. Adriano Alves de Lima Gordilho . . . Anatomia descriptiva. 2. ANNO. Antonio de Cerqueira PintoChimiea organica. Jeronimo Sodré PereiraPhysiologia. Antonio Mariano do BomfimBotanica e Zoologia. Adriano Alves de Lima Gordilho . . . Repetição de Anatomia descriptiva. 3. ANNO. Cons. Elias José PedrozaAnatomia geral e pathologica. José de Góes SiqueiraPathologia geral. Jeronimo Sodré PereiraPhysiologia. 4. ANNO. Cons. Manoel Ladisláo Aranha Dantas. . Pathologia externa. Pathologia interna. Mathias Moreira Sampaio. . . . Partos, moléstias de mulheres pejadas e de meninos recemnascidos. 5.° ANNO. . Continuação de Pathologia interna. Joaquim Antonio d'Oliveira Botelho . . Matéria medica e therapeutica. José Antonio de Freitas 6.° ANNO. Antonio José OzorioPharmacia. Salustiano Ferreira SoutoMedicina legal. Domingos Rodrigues SeixasHygiene, e Historia da Medicina. Clinica externa do 3.° e 4.° anno. Antonio Januario de FariaClinica interna do 5.° e 6.° anno. Anatomia topographica, Medicina operató- ria, e apparelhos. Rozendo Aprigio Pereira Guimarães . Tgnacio José da Cunha. Pedro Ribeiro de Araújo José Ignacio de Barros Pimentel. . . Virgílio Climaco Damazio .... José Affonso Paraizo de Moura . . . Augusto Gonçalves Martins .... Domingos Carlos da Silva Demetrio Cyriaco Tourinho .... Luiz Alvares dôs Santos João Pedro da Cunha Valle .... Secção Accessoria. Secção Cirúrgica. Secção Medica. RECRETAKIO 0 SR. DR. G1NCINNAT0 PINTO DA SILVA. OU IUAI. I>.1 SEÍRITARIA 0 SR. DR. THOMAZ D AQUfNO GASPAR. A Facudade não approva nem reprova as opiniões emittidas nas theses que Jhe eão apresentadas. DISSERTAÇÃO O VANTAGENS DA ESCUTAÇAO E PERCUSSÃO PARA 0 DIAGNOSTICO, ©ITOA© 1. Da escutação em geral. II. Da percussão em geral. III. Diagnostico de algumas moléstias do apparellio respiratório. PROPOSIÇÕES saatjll© J22DMA Contagio. sitiiiâ© mim Fracturas em geral. Fxtractos em geral. 7 ■e DA ESCUTAÇÃO EM GERAL, Savoir observer cst le plus precieUx talent <lu Médécin. puisque notre art est là preaque toute entière. ( J. Arnould.) >. ti ESCUTAÇÃO é este poderosíssimo meio de exploração, que consiste em applicar-se quer directa, quer indirecta- mente, o ouvido sobre uma parte sã ou doente do corpo 'com o fim especial de perceber-se os ruidos physiologicos ou pathologicos, que se dão no interior do organismo. Descoberta em 1816 pelo illustrado e eminente Laenneo a escutação é para nós uma das mais uleis e vantajosas producções, que tem appare- cido no século desanove ao estudo da grande sciencia de Hippocrates, devendo entre as demais producções modernas occupar o primeiro lugar, por isso que deo nascimento á uma nova epocha para a medicina propria- mente dita, fazendo desapparecer para sempre a dolorosa exclamação de de Baglivi, que até então eeboava por todo o globo: «O' quantum difficile est curare morbos pidmonum! O' quanto difíiciliíis eosdem cognosceret* E na verdade, se é exacto, como julgamos, que não ha tratamento racional sem verdadeiro diagnostico, a escutação, por isso que na grande maioria dos casos leva-nos á exactidão do diagnostico, faz com que também a therapeutica partecipe d'este melhoramento, e conseguintemente ahi temol-a prestando muitíssima utilidade, directamente ao primeiro, e indirectamente á segunda. 2 Antes de seo completo descobrimento já muitos práticos, alias génios emprehendedores, como Coelius Aurelianus, Paul d'Ègine, Ambroise Paré, Corvisart e outros fazião uso da escutação imtnediata, servindo de base para isto as seguintes palavras de Hippocrates-«Se applicardes o ouvido ao peito, ouvireis»; porem que vacuo para nós, se nos fossemos guiar no diagnostico das moléstias dos orgãos thoracicos pelas suas incompletas e improfícuas observações, que não erão mais do que germens, que ficarião para sempre estereis, se pelo genio não tivessem sido fecundados! Foi preciso, pois, que estas palavras de Hippocrates em verdadeira peregrinação atravessassem o immenso espaço de vinte e dois séculos, para que chegassem ao seo completo desenvolvimento; e na verdade mar- chava a medicina a passos lentos, quando apresentou-se o eminente Laen- neccomo seo preciosothesouro scientifico intitulado-Tractadoda escutação mediata-fazendo-a progredir rapidamente, por isso que rasgou de chofre o espesso véo, que encobria, o que até então havia de mais util c provei- toso na mais nobre das sciencias. Quem ler esta obra monumental de Laennec, quem vir a verdadeira interpretação que elle soube dar ás palavras de Hippocrates, já ligando á cada lesão dos orgãos thoracicos os differontes e variados ruidos, que lhe descobria o seo ouvido, já creando uma linguagem toda nova para expri- mil-os, já creando também e descrevendo o seo precioso instrumento acústico, já emíim formando uma sciencia toda especial, por certo que não duvidará da grande utilidade, quo na maioria dos casos nos presta este magnifico meio exploratorio, que conhecemos sob a denominação de escutação. Quimporta que estes descrentes da sciencia de Cós não lhe deem o apreço devido, quando para convencel-os temos as observações e os factos constantemente repetidos? Laennec não contente com o estudo aprofundado que fez da escu- tação applicada aos orgãos thoracicos, indicou, se bem que accessoriamente, as vantagens que cKella se poderia tirar no diagnostico da prenhez, certos casos de fractura, cálculos vesicaes, aneurismas, abscessos do fígado, etc.; e na realidade este meio de exploração íoi depois convenientemente appli- cado. aos casos acima mencionados, graças aos sérios e aturados estudos de M. Mayor, Paul Dubois, Noegeíé filho, Depaul e outros. Por termos dito a principib que a escutação devia occupar o primeiro 3 lugar entre as demais producções modernas, não se conclua que ella por si só nos poderá levar sempre á exaclidão do diagnostico, porém o que é absolutamente incontestável, é, que ella ás rnais das vezes fornece-nos dados os mais precisos para reconhecermos as moléstias dos orgãos tho- racicos, c para distinguirmos umas das outras; podemos por ella diagnos- ticar lesões, que se não traduzem por nenhum dos symptômas racionaes; e finalmente faz-nos também descobrir moléstias, que, sem o seo soccorro ficarião inteiramente desconhecidas para nós. Pelos symptômas ordinários, que se julgava antigamente suíficientes também podemos, é verdade, diagnosticar algumas vezes certas moléstias dos orgãos thoracicos, sendo porém absolutamente indubitável, que elles adquirirão maior gráo de probabilidade, se lhes ajuntarmos os signaes fornecidos pela escu- tação. A escutação pode ser immediata ou mediata, conforme é praticada simplesmente com o ouvido, ou com este, armado de um instrumento acústico de fornia especial, que conhecemos com a denominação de sthe- toscopio. A proposilo deste instrumento não daremos sua discripção, por isso, que sendo por todos nós mui conhecido, escusado será que nos occupemos d'elle minuciosamente: entretanto diremos que cahindo em desuso o de Laennec pela complicação de sua composição, máos resulta- dos obtidos, etc. adoptou-se o de M. Luiz não só pela simplicidade quo apresenta, senão também pelos bellos resultados que com elle obtemos, conforme provão as observações de todos os práticos hodiernos. Laennec ligava muita importância ao emprego do sthetoscopio, e até entendia, que mui poucas vezes se deveria empregar a escutação im- mediata em vista dos máos resultados com ella obtidos; porém, posto que curvemos a fronte á sua alta e cultivada intelligencia, não achamos razão n'este seo modo de pensar, por isso que não, estando no emprego do sthetoscopio o mérito da escutação, quer estudemo-la immediata, quer mediatamente, os resultados obtidos serão idênticos, conforme temexhube- rantemente provado as observações e os factos. Elle allega certas razões, que, sendo para nós pouco plausíveis, não emittiremos em nosso myrrha- do escripto, não só por serem já muito sabidas, senão também para não nos tornar mui prolixo e fastidioso. Não devemos nem proscrever nem adoptar exclusivamente um ou outro modo de exploração, ao contrario nos devemos educar com ambos indistinctamente, por isso que elles tem 4 suas vantagens especiaes, cuja escolha depende de condicções inteiramente differcntes. Em conclusão diremos, que a escutação mediata só levará vantagem sobre a outra, quando tivermos de observar um ruido anormal, que esteja circumscripto n'esle ou naquelle ponto; quando os escrúpulos de pudor opponhão-se, a que o pratico applique o ouvido directamente sobre a re- gião anterior do thorax de uma senhora; quando tivermos de escutar cer- tos pontos em que o ruido não possa bem adaptar-se, como thorax mal conformado, axilla, regiões super e sub-claviculares, grossos vasos, e quando finalmante em certas partes do corpo houverem ulceras, soluções de continuidade, infiltrações, etc., e applicação de substancias medicamen- tosas, como visicatorios, cataplasmas, pelo que salvas estas condicções deveremos ás mais das vezes empregar a escutação immedíata. Regras gf.raes,-Como todos os outros meios de exploração, a es- cutação, quer immediata, quer mediata, tem suas regras que o practico deverá sempre seguir, afim de com facilidade poder obter um resultado satisfactorio. Assim quando o clinico tiver de examinar um doente, que elle supponha ter uma moléstia na caixa thoracica, logo que chegar á sua ca- beceira, em quanto não passar a impressão mais ou menos forte de que esto se apodera ordinariamente com a presença do mesmo, deverá primeira- mente observar o cortejo de symptômas ordinários, que quase sempre acom- panhão a mesma, e depois examinando convenientemente os outros meios de exploração mais fáceis, e bem conhecidos para nós, empregará a escu- tação como mais diflicil, por isso que partindo do simples para o compos- to, com mais probabilidade chegará ao seu desideratum. Escusado será observar também, que todo o silencio possível tornar-se-ha absolutamente indispensável, e que todo a sua altenção deverá convergir para o que elle vai perceber. A parte que o clinico tiver de examinar deverá melhor achar-se in- teiramente descoberta, ou, dadas certas circumstancias, coberta com um panno fino, e bem flexível, excepluando porem a seda ou lã; os musculos que cobrirem o ponto que tivermos de explorar deveráõ também estar em completo estado de relaxamento, por isso que, pela sua contracção augmen- tando-se a espessura da parte explorante, os ruidos serão menos per- ceptiveis pelo grande espaço que teráõ de percorrer para chegarem ao ouvido do observador, e mesmo pelos ruidos proprios dos musculos em 5 contracção, os quaes confundindo-se com os que elle deseja obter darão um resultado pouco satisfactorio. Deverá também o practico estar exercitado com ambos os ouvidos egualmente; se porem acontecer (o que não é muito raro) que um ouvido seja mais delicado que o outro servir-se-ha do melhor, e tomará a posição mais conveniente. Querendo escutar o peito, empregando o sthetoscopio, util se torna, que este seja collocado como uma penna de escrever, applicado perpendi- cularmente de modo, que a sua extremidade inferior se ache bem adapta- da á parte explorante por todos os pontos de sua circumferencia, e a superior bem ajustada também com o pavilhão do ouvido, estando o con- ducto auditivo na mesmadirecção que o do instrumento, que deverá ou estar abandonado e mantido somente pela unica pressão da cabeça, afim de evitar todo o attrito possível, ou então seguro com os dedos, sendo porem isto indifferente, e dependendo exclusivamente do habito do clinico. O doente poderá estar no leito, ou assentado em uma cadeira. Sc estiver no leito, para a exploração da parle anterior o practico fal-o-ha deitar-se sobre o dorso, ou assentar-se, conforme certas circumstancias re- lativas á aquelle, e ao doente, tendo também o cuidado de dispor o corpo d'este symetricamente. Tomada que seja esta precaução escutará a região anterior dos dois lados comparativamente, e do vertice para a base, par- tindo sempre do lado que elle suppuser são, afim de poder conveniente- mente apreciar as mais insignificantes modificações, que houverem, e melhor formar um juizo seguro. Se porem tiver de examinar os lados do thorax, deverá deital-o do lado opposto ao explorante, ou assental-o com o braço correspondente sobre a cabeça. Quanto ao exame da parte pos- terior convirá também que o doente esteja assentado com o dorso volvido para o practico; os braços deveráõ estar bem crusados, e o corpo incli- nado para a parte anterior. O doente poderá mesmo estar deitado sobre o ventre, porem esta posição sendo muito incommoda para elle, melhor será que fique assentado, e, em certos casos, seguro por um ou dois aju- dantes. Para a exploração de todas estas partes o practico deverá quasi sempre ficar do lado que tiver do explorar, e conseguintemente applicar o ouvido correspondente. Acontecerá também, que a respiração natural não seja sufficiente para tornar sallientes os ruidos anormaes; n'este caso então o observador 6 fará o doente respirar mais fortemente: outrosim, nunca deverá satisfa- zer-se com um exame somente, por isso que, por alguma circumstancia qne lhe passe desappercebida, o resultado não sendo concludente, é de restricta obrigação, que elle a pratique duas e mais vezes. Quando o mesmo tiver de escutar uma pessoa de baixa estatura, ou uma criança, convirá pol-as em uma posição tal, que não se torne neces- sária também uma posição difficultosa para aquelle, e mesmo que não abaixe muito a cabeça, por quanto, havendo affluxo de sangue para este ponto, não poderá ouvir claramente os ruidos anormaes que possão existir no doente. Quer o practico empregue a escutação mediata, quer a immediata deverá observar as precauções acima ditas. Quanto finalmente á escutação do coração e grossos vasos, salvas poucas circumstancias, as precauções acima mencionadas serão as mesmas. ■■ DA PERCUSSÃO EM GERAL. Entre os meios de exploração que devem achar-se ligados á escu- tação, e que de concumitancia com ella ainda mais contribuem para a exactidão do diagnostico, como a pressão, palpação, inspecção, tacto, mensuração etc., um existe absolutamente inseparável d'ella, o qual con- siste em obter-se de uma parte qualquer do corpo a resonancia normal ou pathologica, que n'ella se encontra; queremos fallar da percussão. Posto que alguém diga, que este magnifico meio de exploração dacta de poucos annos, encontramos todavia nos authores antigos trechos pro- vando que a percussão já era empregada por Hippocrates, Aretée, Galeno, Paul d'Egine e outros. Verdade é, que não erão sinão factos inteiramente isolados, e que mui pouca utilidade podião prestar á estes e outros pra- clicos, por isso que não estavão ainda ligados em corpo de doctrina. Assim pois permanecia a sciencia de Cós neste ponto, quando em 1762 Awenbrugger deo publicidade à sua importantíssima obra intitulada -Inventum novum ex percussione thoracis humani-Apezar d'isto porem ainda teria ella ficado sepultada na obscuridade, se em 1808 Gorvisart não a tivesse naturalisado francesa, e assim podesse vulgarisar-se entre os filhos de Hippocrates, como realmente aconteceo. Estes importantes trabalhos, se bem que utilíssimos, não deixavão de ter seos inconvenientes, e conseguintemente de apresentar resultados pouco satisfactorios; muito faltava ainda para o seo completo desenvolvi- mento, quando em 1828 apresentou-se M. Piorry com grandes aperfei- çoamentos n'este meio de exploração, fazendo uso da percussão mediata. Foi elle quem applicou-a de uma maneira a mais precisa, e estendeo-a a um grande numero de casos, que até então havião passado desapperce- 8 bidos por Awenbrugger; finalmente foi elle também, quem fez, com que a percussão fosse presentemente uma das bases solidas para o esclarecimento do diagnostico de um grande uumero de moléstias, não tirando entretanto á Awenbrugger o direito de descobridor da percussão. A percussão, como a escutação, pode ser immediata ou mediata, conforme queremos por meio dos dedos directamente apreciar a resonancia de uma parte do corpo, ou indirectamente, interpondo um corpo de natu- resa variavel aos dedos que percutem, e à parte que queremos percutir. Este corpo intermediário do qual acabamos de fallar é o que conhecemos sob a denominação do plessimetro, cuja discripção deixamos de apre- sentar, visto como é por todos nós bem conhecida. Como a escutação, também a percussão mediata era antigamente mais empregada, por isso que, diz ião os practicos, os seos resultados erão muito mais precisos; a applicação do plessimetro não martyrisava tanto o doente; o som que se percebia era muito mais claro etc., emfimsó empre- gavão a percussão immediata, quando o doente estava em grande estado de magresa, quando havia deformação sensível da parte, e finalmente nos casos em que o plessimetro não se podia bem adaptar com a parte á per- cutir, entretanto os factos comprovados pelas innumeras observações de- monstrão hoje inteiramente o contrario, pelo que salvos os casos em que tenhamos de percutir orgãos muito profundos, como o baço, rins etc., devemos dar preferencia á percussão immediata. Sectário, pois, como somos, da percussão immediata, não podemos todavia proscrever a percussão mediata, se bem que em raríssimos casos seja ella empregada, ou melhor não se faça uso delia entre nós; devemos ao contrario nos familiarisar com um e outro modo de exploração, e com especialidade com o primeiro, [jor ser mais fácil, mais commum, e dar-nos esclarecimentos mais precisos. Para podermos bem practicar a percussão, e obter bons resultados, devemos, como na escutação ter certas precauções, que se lornão absoluta- mente indispensáveis para o seo bom exito. Sendo ordinariamente oindex ou o medio da mão esquerda os dedos que são empregados como plessimetro, devemos collocal-os indifferente- mente na supinação ou pronação, segundo a posição do doente, preferindo todavia a ultima, porquanto a face palmar sendo mais molle e flexível melhor se poderá adaptar aos intervallos costaes, c mesmo percutiremos 9 sobre um ponto mais resistente como a face dorsal. O index e o medioda mão direita collocados em uma posição tal, que suas extremidades estejão no mesmo nivcl, serviráõ para percutir sobre um dos mesmos da mão esquerda. A mão que percute, é quem deve somente executar os movi- mentos necessários á este acto, os quaes deveráõ ser limitados ao. punho do practico, afim de que o choque seja muito secco e curto. Ha quem supponha que, quanto mais forte for o choque impresso pela mão que percute á parte percutida, maior sonoridade deverá esta sempre apresen- tar, porem julgamos o contrario; estamos de accordo neste ponto com a theoria de M. Mailliot, que diz, que uma percussão leve permitte apre- ciar melhor a sonoridade das camadas superficiaes, e que tornando-a pro- gressivamente mais forte poder-se-ha apreciar a densidade dos pulmões em differentes profundidades, pelo que em regra geral podemos affirmar, que sempre que tivermos de percutir um orgão qualquer da economia humana deveremos principiar por pequenos choques, e augmental-os progressiva- mente conforme a moléstia esteja menos ou mais profundamente situada. Sempre que tivermos de empregar a percussão, deveremos como na escutação principiar pelo lado supposto são para depois apreciarmos pela percussão da parte doente as mais leves modificações entre uma e outra, observando também que não deveremos nos contentar com uma exploração somente; duas e trez tornar-se-hão indispensáveis para o bom exito do diagnostico. A parte submettida á exploração deve ser descoberta ou coberta com um panno fino e flexível, como para a escutação. Outro sim cabe-nos também observar, que todo o silencio se faz muito necessário, como também toda a attenção do practico fixa para o ponto que elle vae explorar, A posição a darmos ao doente será variavel, conforme o ponto, que quizermos percutir. Para o thorax o doente deverá estar assentado em uma cadeira, ou melhor deitado, variando mesmo n'esta parte, conforme tenhamos de percurtir anterior, lateral ou posteriormente. Quando tivermos de percutir a parede anterior o doente deverá estar com o dorso descansado no encosto de uma cadeira, ou melhor no decú- bito dorsal; o observador também ficará do lado que melhor lhe permittir o exercício da mão que percutir; o dedo que serve de plessimetro estará collocado de preferencia paralellamente aos espaços intercostaes. Quanto á exploração das partes lateraes o practico fará, com que o doente esteja 10 assentado com o braço do lado á percutir descansado sobre a cabeça, ou se o seo estado não permittir, deitado sobre o lado opposto ao explorado. A percussão da parte posterior convirá ser feita, estando o doente assen- tado com os braços crusados. Faz-se necessário algumas vezes collocar o mesmo deitado ora sobre o ventre, ora sobre o dorso, afim de podermos apreciar, se um som observado, estando o doente deitado de um lado, persiste, estando do outro, ou soffre modificações, como acontece nos derramamentos pleurilicos, pericardicos, etc. Se tivermos de percutir a parede anterior do abdómen, o doente deverá estar no decúbito dorsal, e em posição symetrica, os braços esten- didos ao longo do corpo, os joelhos levantados e dobrados, afim de que os musculos do abdómen fiquem em estado de relaxamento. Quanto ao lado do abdómen o doente deitar-se-ha do lado opposto. Finalmente quer empreguemos a percussão immediata, quer a me- diata as regras acima prescriptas seráõ as mesmas. ttt ■aoMas* DIAGNOSTICO DE ALGUMAS MOLÉSTIAS DO APPARELHO RESPIRATÓRIO. Uma das moléstias mais frequentes entre nós é a inflammação da membrana mucosa dos bronchios. No estado agudo apresenta-se ella com symptômas tão insignificantes, que melhor seria lhe darmos o nome de indisposição, que o de moléstia, por isso que os seos symptômas são os seguintes; uma tosse medíocre, pouco dolorosa, expectoração de alguns catharros variando de côr, e um pouco de rouquidão; outras vezes porem não acontece assim, ao contrario é tão intensa, que pode até comprometter a vida do doente. A bronchite, quando intensa, apresenta-se ordinariamente com um cortejo dos symptômas seguintes; tosse frequente, dôr viva, sensação de calor atraz do sterno, calefrios, oppressão as vezes muito pronunciada, febre mais ou menos intensa, cephalalgia etc. A tosse que, n'esta moléstia é o mais notável e frequente dos symptômas reproduz-se as mais das vezes sob a forma de accessos, que são acompanhados de vermelhidão da face, cephalalgia ainda mais intensa, dôres agudíssimas no peito, vomitos, etc,; à principio secca, no fim de dois ou trcz dias é acompanhada da expecto- ração de um muco tenue, espumoso, viscoso, e striado de sangue; mais tarde porem esta torna-se mais abundante, espessa, e ainda mais viscosa; finalmente no ultimo periodo os catharros são opacos, de côr amarella desmaiada, ou esverdinhada, e menos abundantes. Sendo geralmente mui facil discernir a bronchite de qualquer outra affecção thoracica, casos ha porem, em que esta distincção torna-se diffi- cillima, e até impossível, se nos contentamos tão somente com o exame 12 (Tos symptômas, que acabamos de enumerar; vemos portanto, que entre olles um só não existe, que possamos considerar pathognomonico; assim pois a tosse é coinmum em quasi todas as moléstias dos orgãos respira- tórios; os calharros podem cm alguns casos ser confundidos com os da pneumonia, ou phtysica pulmonar; finalmente a dor, oppressão, febre, etc., encontrão-se em muitas outras affecções. Se porem á estes symptômas, (jue acabamos de expor, reunirmos os importantíssimos signaes fornecidos pela escutarão e percussão, não só poderemos discernir a bronchite das outras affecções thoracicas. sinão também medir sua extensão, e apreciar seo maior ou menor gráo de gravidade, etc. SigiiacM pJiyHicoM da Itronetiiíe aguda. Qoando a bronchite é simples, por muito intensa que seja,' a per- cussão dá um som claro em toda a extensão do peito. Este signal, se bem que de grande importância em uma affecção acompanhada de tosse, e oppressão, não é entretanto tão interessante, quanto os que obtemos pela escuta ção. Se applicarmos o ouvido directamente, ou armado do sthetoscopio sobre o peito de um doente, ouviremos um stertor, que apresenta modi- ficações particulares, segundo a epocha em que fazemos este exame: no começo da moléstia, quando a secrecção da mucosa bronchica é suppri- mida, este stertor é sonoro, grave, e algumas vezes sibilante; consiste em um ruído, que assemelha-se ao som, que produz uma corda de tripa, que se faz vibrar com o dedo, e quando sibilante ao grito de pequenos pás- saros. Este stertor que M. Andral designou sob a denominação de-stertor bronchico secco-parece-nos devido á difficuldade, que o ar experimenta- em penetrar nos tubos bron<*hicos estreitados pela tumefacção da mem- brana mucosa; é tanto mais grave e mais sonoro, quanto mais considerá- vel é a tumefacção, e occupa os mais grossos ramos bronchicos. O stertor sibilante pode igualmente depender do estreitamento de um pequeno bronchio, ou de sua obslrucção por uma pequena quantidade de muco muito viscoso. A proporção que a secrecção mucosa se vae restabelecendo o stertor toma pouco e pouco o caracter, que Laennec descreveo sob a denominação de-stertor mucoso-; dá ao ouvido a sensação de uma successão de bo- 13 lhas, cujo numero e volume são muito variaveis, sendo estas formadas pela passagem do ar atravez das mucosidades accumuladas nos bronchios; assemelha-se muito ao ruido, que se produz soprando com um tubo nagoa de sabão. Este stertor que M. Andral denominou-stertor bronchico hú- mido-é mais ou menos abundante, segundo a quantidade de matérias secretadas; quando a bronchite é muito passageira, este não se faz ouvir, sinão pela manhã, antes da expectoração, edesapparece depois durante o resto do dia. Finalmente differe do que observamos nas escavações tuber- culosas, em que não é tão estrondoso, e mesmo permitte-nos ouvir dis- tinctamente o ruido natural da respiração, ou respiração vesicular. O gráo de intensidade da bronchite pode ser facilmente apreciado pelo stertor; esta é tanto mais grave, quanto maior extensão da mucosa bronchica occupa a inflammação; ora o estertor não se fazendo ouvir sinão no lugar affectado, claro está que a extensão do peito, em que o encontramos mede o espaço, que occupa a inflammação. Accontece algumas vezes, quando escutamos o doente, que observa- mos a suspensão do ruido respiratório no lugar affectado. Esta suspensão que é devida á obstrucção momentânea de algum ramo bronchico, appa- rece muitas vezes repentinamente, e cessa depois de alguns exforços de tosse ou da expectoração de alguns catharros; em alguns casos o ruido da respiração não deixa completamente de ser ouvido, ha somente uma diminuição notável cm sua intensidade, e o stertor mucoso torna-se muito obscuro. Alem d'isto concebe-se facilmente, que esta suspensão do ruido respiratório, ainda mesmo que completa, não pode ser confundida com a que observamos no caso de impermeabilidade do pulmão, ou de derra- mamento na cavidade da pleura, á principio porque ella não é momentâ- nea, depois porque a percussão dá um som claro cm toda a extensão do peito. Da bronchite clirouica. Os symptômas da bronchite chronica nflo differem dos que ella apresenta no estado agudo, sinão pela sua menor intensidade: consistem em uma tosse mais ou menos frequente, expectoração de catharros mu- cosos, um pouco de dyspnèa, e em alguns casos uma reacção febril pouco pronunciada. A percussão dá quasi sempre um som claro, se a moléstia 14 não é complicada, e pela escutação observamos o stertor mucoso mais ou menos abundante. A bronchite chronica nem sempre se apresenta tão benigna, quanto acabamos de expor. Em alguns casos, raros, é verdade, a expectoração augmenta, os catharros tornão-se puriformes, o doente emmagrece, a febre torna-se continua com accessos durante a tarde, a pelle ardente e arida, sobrevema diarrhea, o doente apresenta em summa um cortejo desymptô- mas, que teem a maior analogia com os da phtysica pulmonar. N'estes casos, como apresentarmos caracteres distlnctivos para uma e outra mo- léstia, se o simples exame dos symptômas racionaes não nos pode levar ao gráo de elucidação, que desejamos? Ficaríamos portanto na duvida, se ao nosso alcance não tivéssemos os signaes distinctivos revelados pela percussão, c principalmente pela escutação, como abaixo se vê: o stertor mucoso na bronchite chronica é o unico signal, que nos revela a escutação e apesar da sua existência ouvimos perfeitamente a respiração normal, sendo ella até muitas vezes mais energica que no estado normal, e adqui- rindo portanto o caracter pueril. Na phtysica pulmonar os signaes physicos são em maior numero, e apresentão algumas modificações, segundo a epocha em que examinamos o doente. Quando os tubérculos estão em estado de cruêsa, e teem sua séde no vertice do pulmão, observamos ordinariamente (o que não acontece na bronchite chronica) uma dimi- nuição de sonoridade do peito nos pontos correspondentes ao engurgita- mento tuberculoso; o ruido da respiração c muito mais fraco, que no estado physiologico, tornando-se o da expiração muito mais sensível e prolongado, que o da inspiração; em epocha mais avançada da moléstia, ou melhor, quando os tubérculos principião o seo trabalho de amolleci- mento ouvimos um stertor mucoso ou gargarejo produsido pela passagem do ar atravez da matéria tuberculosa amollecida; cmfim quando uma excavação se tem formado no tecido pulmonar a respiração e a tosse tomão o caracter cavernoso, e manifesta-se ao mesmo tempo a pectorilo- quia. Portanto por este pouco que temos dito, podemos, sem medo de errar, affirmar as immensas vantagens dos signaes physicos revelados pela percussão e escutação, fazendo de chofre desapparecer todas as du- vidas, que nos pode trazer a reunião dos symptômas ordinários. Pode ainda acontecer, que uma dilatação dos bronchios exista con- junctamente cóm a bronchite chronica, e n'este caso a distincção entre 15 ella e a phtysica pulmonar ainda mais difficil se torna. Na realidade nos pontos em que as mais fortes dilatações existem, ouvimos uma pectori- loqtiia mais ou menos perfeita, e um stertor de grossas bolhas, seme- lhante ao stertor cavernoso dos phtysicos; a respiração e a tosse também apresentão o caracter cavernoso, porem n'este caso a combinação dos symptômas com os signaes physicos, e a marcha da moléstia bastão ordi- nariamente para estabelecer a distincção; assim na bronchite chronica com dilatação dos bronchios a febre não é continua, a respiração não é embaraçada sinão quando o doente faz exercícios violentos, não ha em- magrecimento bem pronunciado, e a expectoração sempre mucosa nada apresenta de caracteristico. na pneumonia. A inflammação do parenchyma pulmonar é uma moléstia, que observamos constantemente, e que se desenvolve em qualquer parte, e debaixo de qualquer estação, não poupando nem edade, nem constituição, e tendo muitas vezes terminação funesta. Se bem que descripta pelos authores os mais antigos, não foi entretanto bem conhecida sinão d'esde a descoberta da escutação. A pneumonia apresenta ordinariamente os symptômas seguintes: dôr profunda em um dos lados do peito, ou em ambos, uma dyspnéa mais ou menos pronunciada, tosse, expectoração decatharros sanguinolentos, cale- frios, rubefacção da face, febre, etc. Se encontrássemos sempre estes symptômas reunidos, nada seria mais facil, que diagnosticar esta moléstia, porem assim não acontece sempre. Vejamos pois, examinando cada um d'estes symptômas em particular, que não só elles são muito variaveis, sinão também podem faltar em alguns casos. Assim a dôr è algumas vezes tão pouco pronunciada, que o doente não a accusa; pode até faltar completamente, o que observamos principal- mente, quando a pneumonia existe sem complicação. Segundo Andral, esta não existe, sinão quando a pleura partecipa d'este estado inflamma- torio, alem d'isto como poderíamos affirmal-a em uma criança, que não falia, ou em um indivíduo que delira? A dyspnéa não é um indicio sempre fiel da extenção da pneumonia; assim vemos casos, em que ella é pouco considerável, ainda que se ache 16 hepatisada uma grande parte do pulmão; outras vozes porem a escutarão nos demonstra, que a inílammação occupa uma pequena parte do pulmão, entretanto que a difficuldade da respiração é excessiva. Quanto a tosse, não apresenta caracler algum notável; sua frequência e força raramente estão em relação com a intensidade da inílammação; secca á principio, torna-se depois húmida, e dá lugar do segundo ao ter- ceiro dia á uma expectoração, que apresenta muita importância. Na verdade os catharros pneumonicos em alguns casos são tão caracterislicos, que basta vel-os para reconhecer-se a moléstia. São viscosos, transparentes, e intei- ramente misturados com pequenas bolhas de ar, e muito adherentes ás paredes do vaso, que os contem; sua còr é amarella, esverdinhada, ferru- ginosa, ou avermelhada, entretanto esta diversidade de côres apresenta-se algumas vezes no mesmo calharro, e resulta da maior ou menor quantidade de sangue, que se acha de mistura com a matéria expectorada. Se encontrássemos sempre estes catharros na pneumonia nada seria mais facil, que o seo diagnostico, porem as vezes são tão dilíerentes, que nada apresentão de caracteristico; umas vezes são pouco numerosos, eo doente não tem o cuidado de guardal-os, outras porem, como entre os meninos, e os velhos, é quasi impossível observal-os, por quanto os pri- meiros fazem-nos passar ás vias digestivas, e os segundos expectorão muito difficilmente. Posto que a pneumonia seja ordinariamente acompanhada de um movimento febril mais ou menos intenso, não é entretanto raro vermos doentes, que mui pouca alteração apresentão no pulso. Depois do exame que acabamos de fazer, vê-se, que symptômas da pneumonia podem apresentar numerosas modificações, e que cada um d'elles pode faltar por sua vez, ou quasi todos ao mesmo tempo. Assim vemos muitas vezes nma pneumonia desenvolver-se no curso de uma aíTecção extranha aos orgãos da respiração, sem que sua existência seja revelada por algum dos symptômas ordinários. E como n'este caso pode- ríamos reconhecel-a, se não tivéssemos ao nosso alcance estes dois pode- rosíssimos meios de exploração, que fazem o objecto de nosso escripto? Estamos pois bem convencidos, de que a pneumonia devia ter sido muitas vezes desconhecida, em quanto fundado o seo diagnostico somente sobre o exame dos symptômas ordinários; hoje porem, d'esde que propagou-se o uso da escutação e percussão entre todos os practicos, d'esde que combi- 17 namos os signaes fornecidos por estes dois auxiliares poderosos com o exame dos symptômas, não só esta moléstia é facilmente diagnosticada na grande maioria dos casos, sinão lambem podemos ainda acompanhar sua marcha, medir seo gráo de intensidade, e assim prevermos sua termi- nação favoravel ou fatal. Signaes pbysicos da pneumonia. Signaes fornecidos pela percussão.-Depois de termos enumerado todos os symptômas que revestem a entidade mórbida acima descripta, vemos que nem sempre podemos affirmar a sua existência, por isso que em muitos casos, ou faltão alguns d'estes sxmptômas, ou quasi todos; 11'estas condicções porem em que o practico fica vacillante, como afflrmal-a? recorrendo também aos importantes meios exploratorios de que dispomos, graças aos seos eminentes c illuslrados descobridores: assim é que o peito de um indivíduo aílectado de pneumonia no primeiro gráo (engouement) resôa bem em toda a sua extensão; algumas vezes porem n'esla epocha já encontramos menos som nos pontos çorrespondentes ao engurgitamento pulmonar; a proporção que este augmenta, p som torna-se de mais á mais obscuro; íinaimente quando a pneumonia tem passado ao gráo de hepati- sação obtemos no lugar correspondente um som completamente massiço. Devemos entretanto observar, que quando a inílammação do pulmão é disseminada (pneumonia lobular) e quando mesmo occupa a base, o centro, ou a raiz d'este orgão a percussão não nos olferece signal algum preciso; o peito n'estas circumstancias apresenta uma sonoridade egual em todos os pontos. Signaes que obtemos pela escutaçâo-primeiro gráo-engouement. -O stertor crepitante é o signal o mais precoce da pneumonia; maniíes- ta-se d'esde os primeiros momentos da inílammação, e dá-nos ao ouvido a sensação de uma multidão de bolhas mui pequenas, e eguaes, e cujas paredes delgadas rompem-se subitamente, produzindo um ruido, que Laennec comparou com o que produz o chlorureto do sodio sobre o fogo, e ainda melhor com o que apresenta o tecido pulmonar são o cheio de ar, quando comprimimol-o entre os dedos. Este stertor resulta evidentemente da penetração do ar nas vesículas pulmonares, que estão n'esto epocha cheias de uma serosidade sanguinolenta. E' o signal o mais importante da 18 pneumonia; não só elle faz reconhecel-a d esde o seo começo, como até mede a sua gravidade, e indica precisamente a sua séde. Assim o slertor crepitante é tanto mais abundante, quanto mais grave é a moléstia; não se faz ouvir sinão na base ouverticedo pulmão; é portanto nestes pontos, que a moléstia existe sempre. Segundo gráo-hepatisação vermelha.-Se escutamos o peito de um doente n'este periodo, nem ouvimos mais o stertor crepitante, nem o murmurio da expansão vesicular; e assim deve ser, por isso que as vesí- culas pulmonares estão obstruídas, porem em substituição ouvimos um ruido muito forte produsido pela passagem do ar atravez dos tubos bron- chicos, phenomeno este, que foi designado por Laennec sob a denominação de respiração bronchica, o que outros authores teem denominado-sopro bronchico, ou sòpro tubario,-por quanto apresenta a maior semelhança com o ruido que se produz, quando sopramos em um tubo de madeira, ou arame. A causa principal da respiração bronchica consiste, em que o ar não podendo mais penetrar nas vesículas pulmonares acha-se brusca- mente detido na extremidade dos tubos bronchicos, e vibra mais fortemente contra suas paredes; forma-se então este ruido particular que é transmit- tido ao ouvido do observador pelo pulmão hepatisado, que mais denso, que no estado normal torna-se melhor conductor do som. Um outro phenomeno designado por Laennec sob a denominação de bronchophonia acompanha a respiração bronchica. Só podemosaprecial-o, quando mandamos o doente fallar; consiste em uma resonancia particular da voz, e esta resonancia que se forma nos bronchios é transmittida pelo pulmão hepatisado ao ouvido do observador. A bronchophonia é tanto mais manifesta, quanto se passa nos tubos bronchicos mais volumosos, e approximados das paredes thoracicas. Entre os indivíduos magros, e prmcipalmente nos meninos existe no angulo superior e interno do omoplata uma bronchophonia natural, que não devemos confundir com a que sobrevem no caso de moléstia, e que melhor podemos denominar bronchophonia mórbida. A tosse apresenta também n'esta epocha alguma coisa de caracteristico; se escutamos o doente em quanto ella tem lugar ouvimos um retumbamento particular, que parece passar-se nos grossos bronchios; temos neste caso a tosse bronchica ou tosse tubaria. Os signaes physicos dos dois primeiros gráos da pneumonia achão-se 19 algumas vezes reunidos no mesmo indivíduo, e no mesmo pulmão; assim observamos em um ponto o som massiço, e ausência completa do ruido da expansão vesicular; não muito distante deste ponto existe o stertor crepitante, e a percussão dá um som claro ou pouco obscuro. Finalmentc se, (piando o grão de hepatisação é bem caracterisado, escutamos o pulmão do lado são, vemos que a respiração ahi se dá com mais força que no eslado normal, c na verdade este pulmão suppre o outro, que tem deixado de ser permeável, e conseguintemente a quantidade do ar que n'elle penetra em um tempo dado sendo mais considerável, o ruido respiratório ahi deve ser mais forte. Terceiro grao da pneumonia-hepatisação parda; suppuração pul- monar.-Os signaes que acabamos de indicar para a pneumonia no segundo grão são ainda os que observamos n'este periodo. Se o pus infil- trado no tecido pulmonar apresenta-se nos bronchios, ouvimos alem d'isso o stertor mucoso; se ao contrario forma uma collecção, então, dizLaennec, o stertor mucoso toma o caracter cavernoso, a bronchophonia que existia precedentemente transforma-se em pectoriloquia, a respiração e a tosse tornão-se cavernosas, observamos em summa todos os signaes physicos, qne revelão e existência de uma caverna no tecido pulmonar. E' porem difficil de concebermos, que phenomenos cavernosos possão manifeslar-se em uma pneumonia isempta de toda complicação, por isso que não se tem observado a expectoração purulenta coincidindo com estes pheno- menos, e não sabemos até hoje, que se tenhão encontrado, em consequên- cia de uma simples pneumonia, fócos purulentos do pulmão communicando com os bronchios, e semi-vasios; ora é claro, que, se a collecção puru- lenta não communica com os bronchios, não pode ahi haver nem pecto- ríloquia, nem stertor cavernoso. Finalmente os abscessos do pulmão são muitíssimo raros. Signaes da resolução da pneumonia.-Se a resolução da pneumonia principia á dar-se antes que o pulmão esteja hepalisado, o stertor crepi- tante torna-se de dia em dia menos sensível, e finalmente o ruido natural da respiração acaba por se fazer ouvir só. Se ao contrario a resolução não principia sinão, quando a pneumonia tem attingido o segundo grão, então o desengorgitamento das vésiculas pulmonares é annunciado pela volta do stertor crepitante, rhonchus crepitans redux de Laennec. Este stertor, que reapparece é a principio miudo, muito fino, e acommodado á pequena 20 capacidade das vesículas pulmonares, porem de dia em dia torna-se mais volumoso, e menos abundante, até que se confunde por gradações insen- síveis com o murmurio natural da respiração. Finalmente, se empregamos a percussão n'este periodo da moléstia, achamos que o som massiço diminue á proporção que effectua-se o desengurgitamenlo, e desapparece inteiramente, quando o ruido da expansão vesicular se faz ouvir. De tudo que temos dito podemos concluir que o stertor crepitante é o signal o mais preciso, que nos apresenta a pneumonia, e na realidade temos observado que é elle quem nos indica a invasão da moléstia, antes que se apresente qualquer outro symplôma; que é elle o verdadeiro thermometro de sua intensidade, e séde, e finalmente que é elle, quem nos faz apreciar a marcha da moléstia, e sua terminação favoravel ou funesta. Convém observar que este stertor, se bem que se encontre quasi constantemente no primeiro gráo da pneumonia, cremos todavia com M. Andral, que não deve ser considerado como um signal patbognomonico d'esta moléstia. Observamol-o em muitos casos, em que só existe uma simples bronchite, quando esta inílammação occupa as pequenas ramifi- cações bronchicas, e que um liquido viscoso e difficilmente permeável ao ar enche estes conductos aereos. Os signaes physicos da pneumonia apresentão-se sempre de uma maneira a mais concludente, quando uma grande extensão do tecido pulmonar è occupada pela inílammação; encontramos ao contrario diffi- culdade em percebel-os, quando a inílammação é circumscripta; emfim podem mesmo faltar em alguns casos de pneumonias centraes, ou lobu- lares; nestas circunstancias porem é tão pouco pronunciada a inílamma- ção, e conseguintemente tão passageira a moléstia, que quasi nunca se nos oíferece occasião de sentirmos tel-a desconhecido. • Da pleurcMia aguda. Os practicos antigos designavão sob o nome de pleuresia toda a especie de dôr de lado, e principalmente a que era aguda, e acompanhada de reacção febril; era n'esta accepção geral que Hippocrates mesmo empre- gava a palavra pleuresia em seus escriptos. D'esde este author até o fim do século passado tem se suscitado a questão de saber se esta dôr tinha sua séde na pleura ou no pulmão, e se conseguintemente a pleura podia 21 ser inflammada independentemente do pulmão, e vice-versâ. Estas tão renhidas questões teem sido decididas pelos trabalhos de Pinei, que classi- ficou a pleuresía entre as inflammações das membranas sorosas, e a pneumonia entre as phlegmasias parenchymatosas; d'esde então a palavra pleuresia só foi empregada para designar a inflammação da pleura. Sanou-se, é verdade, quasi toda difficuldade, porque toda ella não consistia em distinguir-se theoricamente a pleuresia da pneumonia; faltava ainda um auxiliar seguro para distinguir-se estas duas moléstias practica- mente. Pois bem, este auxiliar, aliás mui poderoso, foi offerecido a sciencia pelo sempre lembrado Laennec d'esde a publicação da sua immorredoura obra sobre a escutação, pelo que podemos affirmar, que por meio dos signaes physicos fornecidos por este meio de exploração podemos quasi sempre reconhecer a pleuresia, e differençal-a das outras moléstias, dos orgãos thoracicos. Uma dôr em um dos lados do peito, uma difficuldade mais o.u menos pronunciada da respiração, uma tosse secca. febre, etc., taes são os symptômas, que mais ordinariamente a pleuresia apresenta. Se bem que quasi sempre encontremos estes symptômas reunidos, todavia não podemos chegar á certesa do diagnostico; casos ha em que poucos d'estes symptô- mas se nos apresentão, e as vezes mesmo mui pouco pronunciados; e vejamos pois como cada um por sua vez pode apresentar modificações notáveis. A dôr do lado (point pleurétique) é um dos symptômas mais constantes, augmentando pela respiração, tosse e pressão. Quanto a sède é mais ordinariamente abaixo do mamillo, podendo entretanto existir em outros pontos do thorax. Relativamente a intensidade ella é variavel; em alguns doentes é tão viva, que o menor movimento para elles torna-se impossível; em outros porem só se manifesta nas grandes inspirações, e é pouco augmentado pela pressão. Finalmente ha certos casos de pleuresia designadas sob a denomi- nação de latentes, por isso que não são reveladas por symptôma algum manifesto, ainda mesmo no momento de sua invasão, nem durante sua marcha; estas pleuresias erão difficillimas de diagnosticar-se antes da descoberta da escutação e percussão. A respiração é ordinariamente curta, frequente, e algumas vezes entrecortada no momento da respiração. Em quanto não existe derrama- 22 mento na cavidade da pleura, a dyspnéa não é devida sinão á dòr, que oppondo-se a contracção dos musculos inspiradores, impossibilita a dila- tação livre do peito; desde porem que o derramamento se apresenta, a dyspnéa é proporcionada á quantidade do liquido contido na cavidade da pleura. Convém entretanto observar, que esta dyspnéa não está sempre em relação com a intensidade da inflammação; em alguns casos ella é tão pouco pronunciada, que não é accusada pelo doente. Finalmente M. .An- dral apresenta em sua clinica medica observações de indivíduos que não tinhão difficuldade na respiração, posto que um dos lados do peito íosse a séde de um derramamento considerável. A tosse na pleuresia aguda é pouca, secca, e nunca tem lugar por accessos. E' algumas vezes tão dolorosa, que os doentes exforção-se o mais que podem para comprimil-a; outras vezes ao contrario, não é acom- panhada de dòr alguma, entretanto que a inflammação é bastante intensa. Finalmente ha casos em que ella falta completamentc. A impossibilidade do toque sobre o lado doloroso tem sido observada por alguns aulhores, como um signal proprio da pleuresia, porem isto é muito variavel, e podemos aflirmar que o decúbito, que se observa as mais das vezes, é o dorsal. A febre é mais ou menos intensa, segundo o gráo de inflammação da pleura. Não persiste ordinariamente, sinão poucos dias, e desapparece com os symptômas, de que acabamos de fallar, ainda mesmo que haja um derramamento considerável na cavidade da pleura. Que erro palpavel não commetteriamos pois, se nos contentássemos com o simples exame dos symptômas, que acabamos de expor, e variaveis como são? Teríamos como curado um indivíduo, que tivesse um derra- mamento abundante na pleura, derramamento este, que se não dissiparia sinão no fim do um tempo muito longo, suppondo mesmo que nenhum incidente viesse perturbar a absorpção. Estes erros pois, que indubitavel- mente devião ter sido commettidos, quando desconhecidas a escutacão e percussão, podem presentemente ser com muita facilidade evitados; e na verdade, como mostramos abaixo, por meio dos valiosos signaes for- necidos pela escutação e percussão [iodemos não só reconhecer a pleu- resia d'esde o seo começo, sinão lambem seguir os seos progressos dia por dia, e apreciar a quantidade de liquido contido na cavidade da pleura, etc. 23 Signaes physicos <la pleuresia. SlGNAES REVELADOS PELA PERCUSSÃO. - Desde que U(B (161731113- mento começa á formar-se, a sonoridade das paredes thoracicas diminuo no no lado correspondente; a proporção que elle augmenta, o som que se obtem pela percussão torna-se de mais á mais massiço. Este signal é algumas vezes tão precoce, que por si só pode-nos fazer suspeitar a exis- tência de uma pleuresia; e na verdade um som obscuro muito estendido, apparecendo de chofre no espaço de dose a vinte e quatro horas, como acontece frequentemonte, não pode depender sinão de um derramamento na pleura. O som obscuro não existe, sinão na parte inferior e posterior do peito, em quanto o derramamento é pouco considerável, por isso que o liquido tende sempre a occupar a parte mais declive, porem, a medida que o derramamento augmenta, encontra-se em uma extensão de mais á mais considerável. Convém entretanto observar que a sonoridade das paredes thoraxicas não é diminuída em alguns casos de pleuresias interlobulares e diaphragmaticas; o mesmo acontece, quando a inllammação é limitada á porção da pleura, que forra a face do pulmão, e os mediastinos. Signaes sthetoscopicos da pleuresia.-Se escutamos o peito de um indivíduo aíTectado de pleuresia observamos o seguinte; no começo da moléstia, quando o derramamento não se tem ainda formado, o ruido natural da respiração é mais fraco do lado aíTectado, que do lado são, se todavia a dôr é intensa; na verdade o doente não pode dilatar ampla- mente a parede thoracica do lado doloroso, e conseguintemente a quanti- dade do ar que penetra no pulmão d'este lado sendo menor o ruido respiratório deve ahi ser menos forte. D'esde que o derramamento começa a formar-se, o ruido respiratório torna-se de mais â mais obscuro. Finalmente quando o derramamento é muito pronunciado, a respiração deixa de se fazer ouvir no lado aíTectado, excepto ao longo da columna vertebral, lugar, para o qual o pulmão é ordinariamente recuado. Se, quando o derramamento é pouco abundante, fazemos fallar o doente, sua voz, que não oíTerece modificação alguma para os assistentes, apresenta, ao que escuta, uma mudança notável; é aguda e entrecortada, tremula, como a voz de uma cabra; temos neste caso a egophonia. Este phenomeno é devido, segundo Laennec, á resonancia natural da voz nos tubos bronchicos, transmittida ao ouvido do practico por intermédio de 24 uma pequena porção de liquido. A egophonia apparece, quando o derramamento começa a tornar-se um pouco notável; deixa-se de se fazer ouvir, se este derramamento torna-se mais abundante, e final mente reappa- rece, quando este vae diminuindo. Encontramol-a mais frequentemente no espaço comprehendido entre a columna vertebral, e o bordo interno do omoplata. A respiração broncbica ou sôpro tubario manifesta-se muitas vezes na pleuresia com derramamento, ainda mesmo pouco pronunciado. Vimos que este phenomeno encontra-se egulmente na pneumonia no segundo gráo, porem o mecanismo, que o produz nos dois casos, é muito diverso. Na pneumonia no segtfndo gráo a respiração broncbica tem lugar, porque o ar percorre os bronchios sem penetrar nas vesiculas pulmonares, e na pleuresia com derramamento ella é devida a condensação toda mecanica, que o liquido contido na cavidade da pleura faz experimentar ao tecido pulmonar, condensação esta, que apresenta de alguma sorte a hepatisação do pulmão; o ar não penetra mais nas vesiculas pulmonares, não porque ellas estejão obstruídas, como na pneumonia, porem porque se achão comprimidas, e achatadas pelo liquido derramado. SlGNAES DA REABSORPÇÂO DO DERRAMAMENTO.-Quando O liquido contido na cavidade da pleura começa a ser absorvido, o ruido respiratório torna-se mais forte ao longo da columna vertebral, lugar em que elle inteiramente nunca tinha deixado de se fazer ouvir; começa-se logo á percebel-o na parte anterior e superior do thorax; alguns dias depois ouve-se abaixo do omoplata, e finalmente elle reapparece pouco e pouco nas partes inferiores do peito. Se a egophonia tinha existido no começo da moléstia, e tinha desapparecido em consequência da abundancia do derramamento, reapparece» quando este tem diminuído por effeito da absorpção: n'este caso temos a egophonia de volta, ou egophonia redux de Laennec. Finalmente se n'este periodo da moléstia practicamos a per- cussão, observamos que o som massiço torna-se pouco e pouco considerável, entretanto que a sonoridade do peito, e o ruido respiratório não reappa- recem, sinão muito lentamente, e mesmo é raro observar indivíduos, que, em consequência de uma pleuresia, apresentem uma diminuição notável do ruido respiratório, e um som massiço mais ou menos pronunciado no lado do peito, que muitos annos antes tinha sido o signal do derra- mamento. 25 Para completarmos o estudo dos signaes physicos da pleuresia, resta-nos fallar do ruido de attrito, dados estes que podemos obter pela applicação da mão sobre o peito, e da mensuração d'esta cavidade. O ruido de attrito observa-se todas as vezes que a face interna da pleura torna->se desigual e rugosa; dá então a sensação de dois corpos, que se chocão um contra o outro nos movimentos de inspiração e expiração. Este ruido designado por Laennec no emphysema interlobular do pulmão, e nos casos de rugosidades da pleura foi depois convenientemente estudado por M. Reynaud. Encontramol-o na pleuresia, quando não existe, ou ha pouco derramamento, e quando a pleura é coberta por falsas mem- branas. Existe ainda, quando o derramamento é um pouco abun- dante, e que antigas adherencias não impedem o pulmão, em certas posições do corpo, de elevar-se acima do nivel do liquido, e de vir bater contra as paredes lhoracicas, nos pontos correspondentes ao em que escutamos. O ruido de attrito ascendente ou descendente é algumas vezes tão pronunciado, que pode ser ouvido em uma certa distancia das paredes thoracicas, e percebido mesmo pelo doente. Deixa porem de se fazer ouvir, quando o derramamento torna-se muito conside- rável, para de novo reapparecer, quando ellediminue. Em alguns casos elle não persiste, sinão muito pouco tempo, em outros porem dura muitos mezes. A applicação da mão sobre as paredes thoracicas fornece dados uteis na pleuresia. M. Reynaud demonstrou, que se pode por este meio reconhecer em que lado do peito existe um derramamento, a altura a que este eleva-se, e as variações de nivel que elle pode apresentar. Na realidade, quando um indivíduo.pleuritico falia, sua voz produz nas paredes thora- cicas um leve tremido, que se pode bem distinguir pela applicação da mão; ora este tremido não existe, sinão quando ha um derramamento na cavidade da pleura, logo a sua ausência pode fazer reconhecer, em que ponto ou pontos o mesmo existe, e a que altura pode elevar-se. Devemos porem observar, que este signal, para que mereça algum valor, deve ser acompanhado dos que são fornecidos pela escutação, por isso que ou pode elle resultar de um derramamento pleuritico, ou de um engorgitamento inílammatorio do pulmão. 26 Da pleuresia chronica, Raramente primitiva, esta aíTecção succede ás mais das vezes á pleuresia aguda, e tem por symptômas communs, dôr obscura em um ponto do thorax, tosse ligeira, ás vezes secca, outras porem acompanhada de expectoração mucosa, oppressão, quando o doente faz o menor exercício, decúbito sobre o lado affectado, febre, etc. Não poderia haver a menor difficuldade no soo diagnostico se se apresentassem sempre os symptômas acima mencionados; nem sempre porem assim acontece; em muitos casos a maior parte das funcções não apresentão perturbação alguma notável; ha tão somente indisposição da parte do doente, e este pode até entregar-se aos seos trabalhos. Os signaes fornecidos pela percussão e escutação são os principaes meios de diagnostico na pleuresia chronica; não differem dos que encontramos no estado agudo, senão pela falta quasi constante da egophonia, por issso que o derramamento é quasi sempre muito abundante, o som massiço é muito pronunciado, e até encontramol-o em alguns casos d'esde a clavícula até a base do thorax, e a ausência do ruido respiratório é completa, excepto na parte posterior, aos lados da columna vertebral. Aqui fazemos nosso ponto final, por quanto causas moraes e materiaes actuando de chofre a isso nos obrigárão. Esperamos portanto indulgência da parte dos nossos illustrados Mestres, visto como apesar disto julgamos ler provado mais ou menos as vantagens da escutação e percussão para o diagnostico. SECÇÃO CIRLRG1C4. FRACTURAS EM GERAL. PROPOSIÇÕES I. -Fractura é toda solução de continuidade de um osso, dando lugar a sua completa ou incompleta separação em duas ou mais partes. II. -Conforme a direcção do osso fracturado, a fractura pode ser transversal, obliqua, etc. III. -Em relação ás partes lesadas pode também a fractura ser simples, composta ou complicada. IV. -Segundo as causas que as produzem, as fracturas são trauma- licas, quando resultão de uma violência exterior, exforço, ou queda. V. -Podem estas também ser espontâneas, quando uma necrose, carie, tumor, ou amollecimento se manisfesta em um osso, e n'este caso ellas apparecem debaixo da influencia de um movimento o menos pronun- ciado, ou pela acção mesmo do peso do corpo sobre o osso doente. VI. -Todas as fracturas traumaticas são acompanhadas de contusão em diversos grãos. VIL-Os ossos esponjosos são quasi sempre esmagados, os longos são fracturados obliqua ou transversalmente, e com dentaduras mais ou menos irregulares. VIII.-As fracturas transversaes dos ossos longos se dão mais fre- quentemente nos moços. 28 IX. -As causas das fracturas podem ser directas, e resultantes con- seguintemente de violências levadas immediatarnente sobre o ponto fractu- rado, ou indirectas e. resultantes de choques levados sobre um ponto do osso mui distante da fractura. X. -Um derramamento de sangue com ou sem eccbymose, defor- mação das partes, encurtamento ou tumefacção limitada de um osso, a dôr pela pressão ou movimento, a crepitação, mobilidade anormal, e saliência dos fragmentos, taes são os signaes anatómicos das fracturas. XI. -A dôr, a impossibilidade do movimento da parte fracturada. movimentos anormaes do membro, relação entre o traumatismo, e a lesão produzida, taes são os signaes physiologicos das fracturas. XII. -A compressão e a ferida das partes molles pelos ossos fractu- rados, contusões superficiaes sobre o membro ferido, complicações inílam- matorias são os signaes pathologicos das fracturas. XIII. -Todas as fracturas, exceplo as do craneo, se manifeslão por este grupo de symptômas. XIV. -Como todas as contusões as fracturas podem complicar-se de phlegmasias suppurativas e gangrena. XV. -Uma fractura da extremidade de um osso pode ser confundida com uma contusão, torcedura, ou luxação, porem a integridade do osso sempre apreciada, e a reunião de todos os symptômas que caracterisão. uma fractura fazem desappareccr incontinente todas as duvidas. SECÇÃO JIEDICÃ. CONTAGIO. PROPOSIÇÕES. I. -A propriedade, que tem certas moléstias de transmittir-se directa ou indirectamente de um indivíduo a outro constitue o contagio. II. -O contagio pode ser virulento, miasmatico, etc. quando produ- zido por um virus, miasma, etc. III. -Directamente se pode dar o contagio quer pelo toque, quer pela inoculação, como na variola, vaccina, etc. ou indirectamente pela influencia dos miasmas espalhados na athmosphera, como na mesma variola, anginas gangrenosas, typho, etc. IV. -Ora evidente e incontestável, o contagio torna-se ás vezes duvidoso, porque a inoculação, que experimentalmente demonstra o facto para certas moléstias, como a syphilis, etc. não é acompanhada de resul- tado algum nocivo nos typhos, anginas gangrenosas, etc. que aliás são moléstias contagiosas. V. -O contagio se dá quer pelo contacto da pelle intacta, ou escoriada com um agente contagioso (virus, pus, miasmas), quer pelo contacto dos mesmos agentes com as mucosas gastro-intestinal, pulmonar, genital, etc. precisando ordinariamente para a sua manifestação, que a absorpção faça levar á torrente circulatória o principio contagioso morbifico. VI. -Os princípios contagiosos teem uma activídade muito variavel, que lhes é inherente, ou que depende da idiosyncrasia dos indivíduos á sua influencia. 30 VII. -Os agentes do contagio são fixos e inoculáveis, como o viros vaccinico, rábico, etc. ou voláteis e não inoculáveis como os miasmas da scarlatina, etc. VIII. -Podem também ser sol idos ou líquidos como as crostas da variola, ou o pus da bleunorrhagia; mortos ou vivos como o pus da ophtalmia purulenta, e os epizoarios das moléstias parasitarias. IX. -A acção dos agentes contagiosos depende da idiosyncrasia e immunidade dos indivíduos, que natural ou accidentalmente, por inoculação anterior ou por familiaridade com o veneno morbido são refractarios á sua acção prejudicial. X. -Em muitas circumstancias os agentes contagiosos exercem sua acção local antes de serem absorvidos e só depois de alguns accidentes de inflammação tegumentar circumscripta elles produzem a infecção da economia. XI. -Entre as moléstias contagiosas umas são a principio localisadas, e só se tornão geraes depois de algum tempo, como a syphilis, carbúnculo, etc.; outras porem são logo de principio moléstias geraes, como a variola, typho, etc.; outras finalmente são sempre locaes como a bleunorrhogia, ophtalmia purulenta. XII. -Salvos os agentes contagiosos parasitarios, que são seres vivos, os virus e miasmas são fermentos, que, sendo collocados no organismo, reproduzem-se provocando um estado constitucional mais ou menos grave. XIII. -Em geral os agentes contagiosos não produzem duas vezes o mesmo effeito no mesmo indivíduo. SECÇÃO ACCESSORIX. EXTRACTOS EM GERAL PROPOSIÇÕES- I. -Extractos são medicamentos, que se obtem, tractando substancias animaes ou vegetaes pela agoa fria, quente ou em ebulíição, álcool quente ou frio, ou ether, fazendo-se depois evaporar o vehiculo até a consistência molle, pillular, ou solida. II. -Segundo o vehiculo empregado na preparação dos extractos, estes podem ser aquosos, alcoolicos, ou ethereos. III. -As partes que servem para a sua extraeção, os vehiculos empregados, e modo de applicação dos mesmos offerecem differenças mui notáveis no modo de preparação dos extractos. % IV. -Obtida que seja a dissolução, o processo empregado para a evaporação do vehiculo é commum em qualquer circumstancia. V. -Para evitar-se a alteração dos licores, que devem fornecer extractos, convém obtel-os em grande estado de concentracção, evaporal-os cm baixa temperatura, e apressar tanto, quanto possível for, esta evaporação. VI. -Um dos melhores melhodos empregados consiste em agilar-se continuadamente os licores aquecidos ao banho-maria, servindo-se para isto de um apparelho especial. VII. -Duas operações se tornão indispensáveis para a preparação de 32 um extracto; a primeira consiste na preparação do licor que deve fornecel-o, e a segunda na concentração d'este pela evaporação. VIII. -Quando para a preparação de um extracto empregão-se as plantas frescas, deverá o sueco ser obtido sem addição d'agoa, afim de expol-o pouco tempo ao fogo; se ao contrario emprega-se a planta secca recorre-se a lixiviação, maceração, digestão, ou infusão. ■W IX. -A preparação dos extractos seccos feita no vasio previne, é verdade, a sua hygrometicidade, porem a complicação do apparelho empregado, e o seo difficil manejo tem feito com que ospharmaceulicos proscrevão-na. X. -Quanto á consistência que se deve dar ao extracto, varia conforme a substancia empregada. XI. -Alguns extractos contem sáes ou matérias resinosas, que lhes dão um aspecto grumoso, ainda que estes sejão bem preparados. XII. -Para não augmental-os com a addição de outros contidos no vehiculo, convém dar preferencia á agoa distillada para a sua preparação. XIII. -Os extractos attrahem na maioria dos casos a humidade do ar, qualquer que seja o seo modo de preparação, não só porque a matéria empregada gosa d'esta propriedade, como também porque contem sáes deliquescentes. XIV. -Para evitar-se çste mal convém conserval-os em vasos herme- ticamente fechados. XV. -Dada uma substancia, que deve servir para a preparação de um extracto, o processo á seguir será determinado pelo conhecimento da substancia em questão. XVI. -Os extractos, apezar da sua variedade de composição, são medicamentos muito empregados, e de muita utilidade, porquanto reúnem em si todos os princípios activos da substancia, que os compõe, e em mui pequeno volume. HIPPOCRATIS ÃPH0RISM1. I. -Vila brevis, ars longa, occasio praeceps, experientia fallax, judicium difficile. II. -Sornnus, vigilia, ulraque modum excedentia, malum. - III. -Vulneri convulsiosuperveniens, laetale. IV. -Quicumque aliqua corporis parte dolente, dolorum ferè sentiunt, íis mens aegrotat. V. -Mulieri menses decolores, neque secundum eadem prodeuntes purgatione opus esse significant. VI. In morbis acutio extremaram parlium frigus, malum. Bania typ. <lo-1'barol-iSGí. A AaaAkAah. &4wu a ofxwJAaAt At <MtAi- âna 5 At $aàaiyyAaa At 4 861 GamAnwAq SmAq. a.gK GUaAmIm. At cÍWAuÀaau Aa $a)xAAa 2$ Ax At à86T At wWóAAÀO. GaajvAxu G, Gilaívwvúa. âímJ|úAma-k. a AmJAaAt At oMaxAcÁmo 'òô At GaAaaLich At 4861