FACULDADE DE IJEDICIITA DA BAHIA THESE DE um mo uim 18TS. THESE APRESENTADA A }»ai b oimm ida ibajuha PAIIA SEK STJSTEIS JTyVD.V POR JOAÕ DAS J3hA(xAS pOSA. FILHO LEGITIMO DE FRANCISCO DAS CHAGAS DO BOMFIM E D. ANNA GARCIA DAS CHAGAS ROSA. Socio effectivo do Conservatorio Dramatico da Bahia, orador reeleito da Sociedade Beneficente-Fraternidade Sergipana, e Director da Sociedade Libertadora-Sete de Setembro.- PARA OBTER 0 GRÃO DE DOUTOR EM MEDICINA. Typogvapliia-Constitucional AO ALJUBE-N.° 1. 1S73. FACULDADE DE MEDICINADA DAHIA DIREGTOR VICE-DJRECTOR . 0 Exm. Sr. Conselheiro Dr. Vicente Ferreira de Magalhães. Lentes proprietários. 1. ANNO. Os Srs. Doutores Matérias que leccionão Cons. Vicente Ferreira de Magalhães . . . Physica em geral, e particularmente em suas ap- plicações á Medicina. Francisco Rodrigues da SilvaChimica c Mine alogia O Exm. Barão de ItapoanAnatomia descripliva. 2. ANNO. Antonio de Cerqueira PintoChimica organica. Jeronymo Sodré PereiraPhysiologia. Antonio Mariano do BomfimBotanica e Zoologia. O Exm. Barão de IlopoanRepetição de Anatomia descriptiva. 3. ANNO. Cons. Elias José Pedrosa . ,Anatomia geral e patbologica. José de Goes SiqueiraPhatología geral, Jeronymo Sodré PereiraPhisiologia. 4. ANNO. Cons. Manoel Ladislau Aranha Dantas . . . Pathologia externa. Demetrio Cyriaco TourinhoPathologia interna. Cons. Mathias Moreira SampaioPartos, moléstias de mulheres pejadas e de meni- nos recemnascido». 5. ANNO. Demetrio Cyriaco TourinhoContinuação de Pathologia interna. Luiz Alvares dos Santos .'Matéria medica e lherapeutica. José Antonio de FreitasAnatomia topographica, Medicina operatória e ap» • parelhos. < 6. ANNO. Rozendo Aprigio Pereira Guimarães . . . Pharmacia. Salustiano Ferreira SoutoMedicina legaí. Domingos Rodrigues SeixasHygiene e Historia de Medicina. José Affonso Paraizo de Moura. .... Clinica externa do 3.° e 4.° anno Antonio Januario do Farias Clinica interna do 5.° e 6.® anno.. OPPOSITORES. Ignacío Jasé da Cunha Pedro Ribeiro de Araújo José Ignacio de Barros Pimentel Virgilio Climaco Damazio Secção Accessoria. Augusto Gonsalves Martins Domingos Carlos da Silva Antonio Pacifico Pereira Alexandre Affonso de Carvalho Secção Cirúrgica. Egas Carlos Moniz Sodré Ramiro Affonso Monteiro Claudemiro Augusto de Moraes Caídas . . . Manoel Joaquim Saraiva Secção Medica. SECRETARIO 0 Sr. Dr. Cincinnato Pinto da Silva. OFFICIAL DA SECRETARIA 0 Sr. Dr. Tomaz de Aquino Gaspar. Á Faculdade não approva nem reprova as opiniões emitlidas n'esta tbese. MEMÓRIA DE MINHA IDOLATRADA E EXTREMOSA ESPOSA. PRECES E SAUDADES AOS MANES I> E JIEOS PABENTES DE fflEOS AMIGOS NCOS COLLEfilS A.' MEOS PAES. r- -t \ s 1ZZZ2TLT aTJXTE-Z.A.OO- A' MEOS SOBRINHOS A'0S PAHE1TTE2 ÇUE 1ÍS TSM AU1SADZ. A? MEOS AMIGOS W%> ÁGS COLLEGAS DOUTORANDOS. DIAGNOSTICO DIFFERENCIAl ENTRE 0 CANCRO DO ESTOMAGO, A ULCERA REDONDA E 0 CATARRO CHONICO 00 MESMO ORGÃO. SA1TCR0 DO EST01UG0. í CANCRO do estomago é uma moléstia diathesica, incurável, [ que consiste em uma degenerescencia especifica das paredes gastricas, e uma das determinações internas mais frequen- , tes da diathese cancerosa. Etiologia. São numerosas as causas á que se lem attribuido o carcimoma do esto- mago; aquellas, porem, cuja influencia é geralmente acceila pelos gistas que são auctoridade n'este assumpto, são:-a herança; a idade alem de quarenta annos, principalmente de cincoenta a setenta; a dialhese, que é na opinião insuspeita de Boyer a verdadeira causa; o sexo masculino, e o temperamento lymphalico. .Viiatoniia patliologioa. O cancro pode manifestar-se em quaesquer dos pontos da cavidade do estomago, tendo sua séde mais commum no pyloro, cardia « pequena cur- vadura. A parede estomacal pode ser total ou parcialmenle alterada nos 10 elementos anatómicos que a constituem. Quando a mucosa éa unica inte- ressada na degenerescencia carcimomatosa, o exame cadavérico apresenta vegetações fungosas, azuladas ou vermelhas, friáveis, de formas e tamanho que variam; mâs, si accommelte as regiões do pyloro ou do cardia, nota-se o estreitamento d'estes orifícios. O tecido cellular submucoso nem sempre se apresenta alterado; de or- dinário, porem, se hypertrophia, offerecendo m<»is tarde os caracteres do scirrho. A camada muscular pode egualmente conservar-se intacta, sendo mais frequente vèl-a desapparecer pelos progressos da degenerescencia can- cerosa, ou pela alrophia de suas fibras, que algumas vezes também se hy- pertrophiam. Nos casos em que as diíferentes camadas do tecido do eslomago se alte- ram, incisando-as successivamente, nota-se o seguinte:-a alteração da mu- cosa apresenta uma cor branca acinzentada; o tecido cellular submucoso uma côr leitosa; a camada muscular uma côr azulada; e ainda a mesma cor leitosa se observa devida á modificação do tecido cellular, que existe entre a parede muscular do eslomago e o peritoneo, quando a este ultimo orgão se estende a degenerescencia cancerosa. Alguns fílêtes do pneumo-gastrico se hyperlrophiam, as veias se in- flammam, os ganglios mesenlericos e os do epiploo-gastro-hepatico se alte- ram, não participando todavia da mesma alteração os ganglios da pequena e grande curva do eslomago. As alterações, que se encontram na cavidade do estomago, são: o scir- rho, o cancro cncephaloide, massa coloide, vegetações fungosas, e as ulce- ras cancerosas, que umas vezes são primitivas, e outras, dividas ao amolle- cimento dos tecidos schirroso eencephaloide. Não raramente estas ulceras motivam a perfuração do eslomago, e ad- herencias se formam entre este orgão e as vísceras adjacentes, quendo cilas progridem lentamente. O volume d'esie orgão varia com a séde da lesão. Apresenla-se estrei- tado no cancro do cardia e do corpo da visccra, e dilatado no cancro do pyloro, pela razão de que nos dois primeiros casos os alimentos ingeridos chegam cm quantidade que não basta para distendeho, ou a alteração de suas paredes não lhe pcrmitle dilatar-se como no estado physiologico; sendo que no terceiro caso as substancias alimentícias ingeridas, não passando para o duodeno em virtude do estreitamento do pyloro, n'elle se accumu- lam, e o dilatam consideravelmente. 11 0 pyloro e o cardia, que são ordinariamente estreitados, quando o can- cro localisa-se ríumaou ifoulra d'eslas regiões, podem depois se apresentar mais largos do que primilivamenle pela destruição do tecido pathologico, o que raras vezes se observa na pratica pela razão de que são raros os do- entes que chegam á esse período. Symptoniathologia. Em geral insignificantes perturbações digestivas abrem a scena lúgu- bre da fatal moléstia, cujos symptomas passamos a descrever.-Diminui- ção mais ou menos notável do appelile; digestões diíliceis; clor epigastrica espontânea, quasi sempre'viva, ou simplesmente nevrálgica, exacerbando se com a ingestão dos alimentos, ou pela pressão no epigastro, mas nunca allingindo á intensidade das cardialgias violentas, caracteristicas das ulce- ras redondas;, nauseas e vomitos ácidos, mucosos ou de uma matéria ane- grada, tendo o aspecto da borra do café, excepcionalmenle sanguinolentos ou biliosos, se apresentam de ordinário no meio da moléstia, e de raros que são a principio, amiudam-se progressivamente a ponto de repetirem-se muitas vezes no mesmo dia. Alguns doentes toleram melhor os alimentos indigestos, do que os de facil digestão; e cousa mais notável ainda é vel-os vomitar mais ou menos modificados os alimentos, ingeridos um, e ás vezes oito dias antes, não se encontrando na matéria do vomito nem um d'aquelles ingeridos depois. Pela apalpação sente se um tumor no epigastro, de tamanho variavel, tendo sua séde ordinaria ao nivel do umbigo, mas podendo occupar ora a direita, ora a esquerda da linha alva, segundo o estado de plenitude ou vacuidade do estomago. Alem d'estes symptomas, a moléstia apresenta os seguintes:-a dilata- ção do estomago, o edema dos maleolos, a phlebite obliterante no braço ou na perna, o engurgitamento dos ganglios cervicaes, a coloração das faces emamarello palha,cor caraclerislica dacachexia cancerosa, einmagrecimen- to rápido e considerável, prostração, marasmo, e lodosos symptomas que revelam uma alteração profunda da nutrição. A marcha da moléstia é rapida e progressiva: dura, na maioria dos casos, dezoito raezes, terminando-se sempre pela morte, que mais depressa chega, quando uma peritonile aguda, ou outro estado morbido consecutivo 12 complica a situação, já tão lastimosa, do doente a despeito de todo o regí- men e Iractamenlo empregados. lJLCEFJ. redojtda do ESTOIÍAGO. A ulcera redonda consiste em uma ulceração não cancerosa da cavidade do estomago, susceplivel de curar-se. Etiologia. Cruveilhier, á cujos talentos deve a sciencia luminosos trabalhos sobre este assumpto, e cuja auctoridade reconhecem todos os pathologistas, con- fessa que reina ainda muita obscuridade na historia das causas da ulcera redonda, e diz que ella tem a mesma etiologia da gastrite. Entretanto se tem notado que a ulcera redonda accommelte de prefe- rencia os indivíduos na idade á quem de quarenta annos, e que o sexo fe- minino, a anemia ea chlorose são, entre outras, as causas mais frequentes da moléstia. Anatomia patliologica. Examinando-se a cavidade do estomago, encontra-se ordinariamente uma ulcera, raras vezes mais de uma, assentando-se mais commummente na metade pylorica. A ulcera tem primitivamente a forma circular, torna-se depois elliptica, e mais tarde apresenta-se irregular pela reunião dos bordos de duas ulceras vizinhas. E' ainda facto controverso nà sciencia que ella provenha da queda de uma escara, como pensam alguns auctores. Nos casos em que a ulcera se termina pela cicalrisação, observa-se uma superfície branca, lisa, apresentando depressões e uma constricção dos te- cidos que muito concorre para o estreitamento da viscera, quando a ulcera é extensa e profunda. O seu trabalho ulcerativo chega algumas vezes a destruir todas as luni- 13 cas da parede do estomago, dando em resultado a sua perfuração e uma pe- rito ni te consecutiva. No entretanto não é sempre fatal esse terrível acciden- te, pela razão de que formam-se adherencias entre as paredes d'este orgão e os tecidos circumvizinlios. A base da ulcera não apresenta nem um dos altributos do cancro molle ou duro, nem a hypertrophia circumscripta que se nota no cancro. Seus bordos são acinzentados, tumefeitos e cortados a pico. Quando a ulcera cura se antes de perfurar o eslomago ea perda de sub- stancia comprehende as túnicas mucosa e muscular, d'ella resulta uma relracção cicalricial que pode produzir accidentes incuráveis, como o estrei- tamento do diâmetro transverso do eslomago. Os vasos lesados são:-as artérias coronárias, a pylorica, a gastro-epi- ployca esquerda, a gastro-duodenal, a splenica, e pancrealico-duodenal. Sivmiptomatliòlogia. Os individuos accommetlidos d*esta moléstia apresentam pertubações da digestão estomacal, indisposição, digestões difficeis,dor epigastrica, apresen- tando paroxismos depois da comida e tornando-se intensissima durante o trabalho da digestão, e que somente se alivia, quando o vomito expelle todo o conteúdo estomacal. Esta dor torna-se caracleristica, quando se apre- senta com seus pontos substernai e rachidiano correspondente. A cardialgia manifesta-se tanto mais violenta, quanto mais indigestos são os alimentos ingeridos. Dão-se excepcionalmente vomilos negros, apparecem regurgitações aci- das, pallidez, fraqueza extrema, devida não só á perdas continuadas de sangue pelos vomitos e pelas dejecções frequentes, como também á rejeição dos alimentos. A ulcera tem uma marcha'ordinariamente chronica: os doentes podem viver annos, apresentando alternativas de melhora ou peiora, e curar-se mes- mo, como muitos vezes acontece, mediante uma diela racional e um tracta- mentobem dirigido; outras vezes, porem, apresenta-se aguda, e pode em poucos dias, como tem succedido, produzira perfuração do estomngo, a morte sobrevir em consequência de uma perilonite, ou de uma gaslrorrha- gia fulminante accompanhada ou não de dejecções negras, que são ás veses o primeiro e ultimo symptoma da moléstia. 14 CASTRITZ CHROHICA OU CATARRHO CHRONICO. 0 catarrho chronico é uma inflamação chronica do estomago. Etiologia. O catarrho chronico é uma moléstia raramente espontânea, que suc- cede ordinariamente ao catarrho agudo, e se manifesta no curso das molés- tias chronicas. zlnatomia patliologica. A mucosa do estomago apresenta no catarrho chronico uma cor escu- ra, que pode apresentar-se em forma de manchas arredondadas, irregular ou uniformemente espalhadas sobre uma maior ou menor superfície. O aspecto vermelho escuro que offerece a mucosa, é devido a pequenas hemorrhagias que se fazem no seu tecido, e á transformação da hematina Notasse também hyperlrophia, dureza e espessura da mucosa, onde se encontram pequenas proeminências separadas por sulcos superficiaes, for- mando o estado mamelonado, devido á hypetrophia superficial da mucosa gaslrica pelo augmento de volume de algumas glandulas e seu tecido inter- mediário. Encontram-se estas modificações com mais frequência, e mais notáveis na porção pylorica. Ao mesmo tempo "a superfície interna coberta de um muco branco a- cinzentado e viscoso, e o augmento de espessura e a dureza não se limitam somente á mucosa: casos ha em que o tecido submucoso e a camada mucosa se transformam em uma massa lardacea e muito espessa. O espessamento da parede do estomago pela hyperlrophia pode dar em resultado o estreitamento do pyloro, e este por seu turno pode produzir a dilatação do estomago. 15 Sjrmptomas. Ocalarrho chronico do estomago caracterisa-se pelos seguintes sympto- mas: digestões difficeis, nauseas, dores epigastricas que se irradiam pelo tronco; diminuição de appetite, algumas vezes febres, vomitos alimentícios, pituitosos, sêde augmentada durante e depois da comida, appetite geralmen- te diminuído, mas nunca pervertido, constipação alternando com diarrhea, aboulamento do epigastro, rarissismas vezes vomitos negros e hematemezes, vomitos biliosos e alterações psychicas de caracter deprimente, tonturas, per- turbações da vista, ourinas sedimentosas, emmagrecimento. Alem d'esses symptomas observa-se no indivíduo que soffre do catarrho chronico do estomago, a cor vermelha intensa que apresentam algumas ve- zes a lingua e seus bordos, e outras vezes nota-se o estado saburroso. O do- ente ordinariamente não soffre fome. O catarrho chronico do estomago apresenta alternativa de melhora e peiora, conforme a dieta e o traclamento á que se submettem os doentes, e se termina commummente pela cura, a menos que não seja o principio de outras lesões graves do estomago, ou seja complicada por outra moléstia. DIAGNOSTICO DIFFEUENCIAL ENTRE 0 CANCRO, A ULCERA REDONDA E 0 CATARRHO CHRONICO DO ESTOMAGO. Todos os pathologistas, que tem escriplo sobre o assumpto importante que faz o objcclo do nosso imperfeito trabalho, unanimemente reconhecem e proclamam a impossibilidade absoluta de estabelecer-se em certos casos o diagnostico differencial positivo entre estas affecções. Não é para admirar que assim succeda, quando sabemos que, embora excepcionaes, a sciencia registra casos, em que o carcimoma do estomago percorreu todos os periodos de sua funesta evolução sem que se podesse re- conhecel-o, na ausência dos symptomas afflictivos quede ordinário o cara- c tensa m. Casos igualmente notáveis, e ainda destituidos de toda a explicação plausível são esses, em que a cruel enfermidade se tem apresentado na pra- ora disfarçando-se sob a apparencia enganosa de uma benignidade symptomalica, que não se compadece de forma alguma com a sua reconhe- cida malignidade, ora desenhando-se num quadro phenomenal confuso e apagado, de tal sorte que se torna difíicil, e até impossível aos práticos os mais abalisados apanharem-lhe os traços physionomicos caracteristicos. Outra cousa que muito concorre para a difficuldade do diagnostico differencial entre estas affecções, é a similhança de symptomas que cada uma d'ellas pode apresentar por sua vez, tornando-se em casos laes diffi- cilimo saber-se quaes as differenças que as separam. Afóra estas excepções, o diagnostico differencial entre as especies no- sologicas de que tractamos, nem é tão difíicil, como acreditam uns, nem tãofacil, como julgam outros. Discutamos agora, ainda que resumidamente, o valor dos caracteres differenciacs, afim de que melhor possamos dizer as condições em que o diag- nostico differencial entre o cancro, a ulcera e o catarrho chronico pode ser certo, provável, ou duvidoso. A diminuição do appetite, embora seja um symploma commum ao cancro e á ulcera do estomago, figura como um elemento importante do diagnostico do cancro, onde Brinton o encontrou oitenta e cinco vezes em 17 eem casos: o que não se dá na ulcera redonda, em que os doentes se privam de alimentar-se, mais receiosos de provocar as gastralgias violentas, de quesão victimas, do que por falta de appelite, jjue n'elles ás vezes é augmentado. A dor epigastrica, que se manifesta noventa e duas vezes sobre cem, é mais caracteristica do que a perda do appelite (Brinlon). A dor epigastrica lancinante, não apresentando inlermittencias, pode confundir-se com a dor epigastrica da ulcera (Trousseau); todavia não se pode negar o valor diagnostico da dor epigastrica carcimomatosa, que não tem a violência da ulcera, nem se localisa nos pontos subslernal e rachi- diano correspondente. O vomito de matéria anegrada, similhante á borra do café, que se apresenta n'um estado adiantado da moléstia oitenta e sete vezes sobre cem casos, apesar de ser um symptoma importante, não tem valor absoluto, se- não quando o microscopio revela a existência de matéria cancerosa, por isso que, embora raramente, a ulcera redonda e o catarrho chronico apre- sentam vomito negro, constituído pelo sangue alterado pelos ácidos do es- tômago, como se dá no cancro, ou devido á presença de um parasita vege- tal-a sarciva. O tumor epigastrico, que é incontestavelmente um symptoma impor- tantíssimo do carcimoma do estomago, não pode ser reputado signal patho- gnomonico, visto como pode deixar de existir algumas vezes, existir sem que possa ser apreciado em consequência de sua situação profunda, como succede quando o tumor localisa-se na pequena curvadura, nas proximida- des do cardia e na face posterior do estomago, e ainda porque a ulcera re- donda dá logar á exsudações plasticas entre as folhas adherentes do perito- neo, produzindo uma renitência, que se impõe por um tumor canceroso. Trousseau cita um facto de ulcera simples, em que a infíammação adhesiva se propagou ao colon transverso, cujo arco, enormemente dilatado, occupava a região epigastrica, formando um tumor saliente, em tudo simi' lhante ao tumor canceroso. O aspecto cachetico mostra-se noventa e oito vezes sobre cem (Brinton). A coloração emamarello palha das faces e do corpo do doente torna-se as vezes tão caracteristica, que por si só nos pode indicar a natureza da moléstia; mas Trousseau diz ainda, que a mesma coloração podem apresen- tar alguns doentes de ulcera simples, que tem soffrido consideráveis e repe- tidas perdas sanguíneas pelas hematemeses e melenas que são frequentes n'esta ultima moléstia. 18 0 emmagrecimenlo é também um symptoma commum a estes dous estados morbidos de que nos occupamos; mas tem alguma cousa de cara- clerisco, e nos faz presumir a exislencia do cancro, quando dá se rapida- mente, e não é salisfactoriamenle explicado pelos symplomas concomi- tantes. A marcha continua e progressiva do cancro, á despeito de todo o re- gimem e traclamenlo empregados, é em verdade um elemento preciosis- simo do diagnostico do carcimoma do estomago. Entretanto, por mais im- portante que se o considere, como faz Curveilhier, não tem o valor que se lhe tem altribuido. Trousseau cila também um caso de cancro, que apresentou as mesmas alternativas, que se mostram na ulcera simples. O mesmo acontece à duração da moléstia, que sendo geralmente curta e terminando sempre pela morte dentro de dezoito mezes, pode também ser longa, si a moléstia, como no caso citado, apresenta alternativas, de me- lhoramento e aggravação. Trousseau considera signal palhognomonico a phlegmasia alba-dolens, que se manifesta no braço e na perna; e Grisolle assevera que os vomilos de alimentos, ingeridos ás vezes oito dias antes, pertencem exclusivamente ao cancro, e nunca se dão na ulcera, nem no calarrho. A etiologia e a historia preegressa são auxiliares importantes do diag- nostico diíferencial. Isto quanto aos symplomas que são mais ou menos ca- racleiislicos do cancro. Os elementos diagnósticos fundamentaes da ulcera, isto é a marcha fa- vorável, a hematemese accompanhada ou não de melenas, as gaslralgias violentas, a sensibilidade exagerada do epigaslro, a dor epigastrica com seus pontos subslernal e rachidiano correspondente, aincurvação do tronco para diante (Herard), ou faltam, ou se produzem, ainda que excepcionalmente. no catarrho chronico. Isto posto, passemos ás condições em que o diagnostico diíferencial entre o cancro e a ulcera redonda d'esle orgão pode ser certo, provável ou duvidoso. Quando o indivíduo maior de quarenta annos apresenta vomitos ne- gros, tumor epigastrico com signaes proprios da cachexia cancerosa, pode se afíirmar que se tracla do cancro, e não da ulcera. Quando os vomilos negros existem sem o tumor epigastrico aprecia-. vel, o diognostico torna-se duvidoso. 19 Sí estes mesmos symplomas se observam n'um indivíduo menor de trinta annos, e cujo estado geral não se altera rapidamente, a existência da ulcera é neste caso provável. Si, porem, o emmagrecimento é rápido e os symptommas gástricos não se melhoram por um tempo mais ou menos longo, deve-se presumir a existência do cancro. Quando nos vomitos, no indivíduo de qualquer idade, forem encon- trados fragmentos de matéria cancerosa, pode se dizer sem medo de errar que existe um cancro. Quando a affecção é de longa dacta, deve-se de preferencia diagnosti- car ulcera simples. Quando o diagnostico difíerenciai entre o cancro, a ulcera e o catarrho chronico estiver indeciso, uma phlegmasia alba-dolens sobrevindo na perna ou no braço, dissipará as duvidas, trata-se do cancro. Quando o tumor se apresenta sem vomitos negros, tanto se pode dia- gnosticar a ulcera redonda, como o çancro. Entretanto se excluirá a ulcera, quando ao tumor se juntar o aspecto cachetico da degenerescencia cancerosa. Em resumo, se deverá diagnosticar com certeza a ulcera, quando he- morrhagias estomacaes rapelidas, e accompanhadas ou não de melenas, gaslralgias violentas com os pontosxiphoidiano e racbidiano corresponden- te se manifestarem n'uma idade de trinta annos, sem tumor epigaslrico apre- ciável. • Se deverá igualmente diagnosticar o cancro, quando o tumor epigas- trico, os vomitos negros, o emmagrecimento rápido, a cor amarello-palha suja, o aspecto cachetico, a phlegmasia alba-dolens, os vomitos de alimentos ingeridos dias antes, a preexistencia ou exislencia simultânea de um tumor canceroso forem encontrados num indivíduo maior de quarenta annos, cujos paes foram viclimas do cancro. O catarrho chronico pode confundir-se muito facilmente, quando o cancro é de marcha lenta. Embora não apresente as mesmas difficuldades, o diagnostico diffe- rencial offerece tambcm sérios embaraços ás vezes. Comprehende-se que seja mais facil diílerençal-o do cancro, do que da ulcera, com a qual mais se assemelha. Os vomitos piluilosos são, na opinião de Trousseau, o caracler mais 20 importante da moléstia,fe pelo qual esta se diflerença do cancro e da ulce- ra, onde taes vomitos são excepcionaes. Ao terminar-mos, confessamos em desencargo de nossa consciência, descontente do dever mal cumprido, que ao nosso trabalho faltam todas as bellesas e sobejam imperfeições de lodo genero, para as quaes nos apressa- mos em solicitar principalmente a benevola indulgência de nossos juises. secção aCCESSOIIIA T111SWS ALSOOUCAS _ . ;. ' /• ' j >• • Tincluras alcoólicas são medicamentos officinacs, resultantes da solu- ção de substancias medicamentosas no álcool. jl São simples, quando contem uma só substancia; e compostas, si encerram duas ou mais. III O álcool n'estas preparações faz simultaneamente o papel de exci- piente, adjuvante c conservador. IV São geralmente empregadas cinco partes de álcool para dissolver uma de substancia medicamentosa. V As substancias devem ser perfeitamente seccas, e bem divididas. VI O gráo de concentração do álcool não deve ser o mesmo para todas as substancias. VII O.álcool deve ser tanto mais concentrado quanto menos solúvel n'agua for a substancia dada. 22 VIII Da-se o nome de alcoolalura à solução alcoolica de substancias frescas. IX Preparam-se por simples solução as lincturas em que as substancias medicamentosas se dissolvem inteiramente no álcool. . X Convém, para obler-se uma boa tinclura composta, submelter se, em primeiro logar, à acção do álcool aquellaou aquellasdas substancias menos solúveis n'clle. XI As lincturas alcoólicas são medicamentos usualmente applicados, quer interna, quer externamente. XII Os vasos escuros, bem tapados, são os mais proprios para conservação d'eslas lincturas. SECÇÃO (VltlRGICA FZRIDÂS POR /.RIM. DE FO3O b'íl *í' . U( f o í j( . < < r ' . 'n 1 São soluções de continuidade produzidas por projeclís arremessados pela conflagração da polvora. II As feridas por arma de fogo são cssencialmenle contusas. III A forma e direcção d'estas feridas variam com o volume, velocidade e direcção do projectil. IV A existência de uma só abertura suppõe a permanência, mas não exclue a possibilidade da sahida do projectil. V A contrario sensu, a exislencia de duas aberturas suppõe a sahida, mas não exclue a permanência, VI A extracção dos corpos estranhos é uma das principaes indicações no tractamento d'eslas feridas. VII Deve se pratical-a o mais cedo que possa ser. 24 VIII A commoção é um dos symplomas mais frequentes d'estas feridas. IX A retraeção das túnicas media e interna dos vasos lesados explica-nos o porque não são ellas sempre accompanhadas de hemorrhagia immediata. v X „ As feridas por arma de fogo são sugèitas a muitos dos accidentes que soem sobrevir á lesões traumaticas. XI O diagnostico varia com a séde da lesão e gravidade dos accidentes. XII Deve se amputar um membro sempre que o projectil o houver fractu- rado comminutivamente, ou arrancado os tecidos molles. SECÇÃO MEDIÇA ALEJlíIirJF.IA 1 A albuminúria é uma perturbação da secrecção urinaria, caraclerizada pela presefiça de albumina na urina. II A presença anormal de albumina na urina, por si só, não constitue a yerdadeira albuminúria. III O que caracteriza o phenomeno, qual o estudamos, é a perturbação da uropoesia. IV Os auclores comprehendem sob a denominação de pseudu-albuminuria, todos os casos em que o estado albuminoso da urina não provém de uma anormalidade funccional ou anatómica dos rins. V A albuminúria é um symptoma commum a muitas especies nosologi- cas diversas. VI Chama-se temporária a albuminúria que apparece no curso de uma moléstia, e desapparece com as desordens occasionadas pela causa palho- genica que a produziu. 26 VII E' permamente aquelle que sobrevive a essas desordens, e continua a subsistir independente de qualquer estado morbido. VIII A albumina absolutamente excessiva, ou relalivamenle supérflua éa causa constitucional determinante da albuminúria. XI O excesso relativo ou absoluto de albumina no sangue por si só não basta para determinal-a. X A congestão e as lesões parenchymatosas das glandulas renaes são a condição instrumental do phenomeno. XI A hyperleucomacia sanguínea, as alterações parenchymatosaS e a pres- são intravascular-são as condições pathogenicas principaes da albuminúria. XII O acido nitrico e o calor são os agentes mais empregados para reco- nhecer-se a presença da albumina na urina. BÍPPOtMS APlfORISMI. I Ad extremos morbos extrema remedia, exquisilè óptima. (S. l.aA.6.°) II Ubi somnus delirium sedat, bonum. (S. 2.a A. 2.°) III -r • . ' Lassitudines spontè obortce morbos denuntiant. (S. 2/ A. 5.*) IV Duobus doloribus simul obortis, non in eodem loco, vehementior obs- curat alterum. (S. 2.a A. 46.°) Xulneri convulsio superveniens, lethale. (5. 5,a A. 2.°) VI Sanguine multo effuso, convulsio aut singultus superveniens, malum. ($. 5.a A. 3.°) Remettida á commissão revisora. Bahia e Faculdade de Medicina em vinte e oito de seplembro de mil oitocentos setenta e dous. Cincinnalo Pinto Está conforme os estatutos. Bahia 18 de Outubro deWft. Dr. Claudimiro Caídas. Dr. Augusto Martins. Dr. Virgílio D amasio. Imprima-se. Bahia e Faculdade de Medicina 26 de Outubro de 1872. Dr. Magalhães. 1 -p.i ) rO:X)í 11 • . ) íli • ,í *» • » Jf ■; < •; > -" ■*••• - - Typograpnia Constitucional.