THESE M CONCISO 1)0 DOUTOR HENRIQUE FERREIRA SANTOS REIS CONCURSO A UM LORAR DE 0PP0SII0R DA SECÇÃO ACCESSORIA APRESENTADA Á FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA E PERANTE ELLA PUBLICASIENTE SUSTENTADA em Julho de 1872 PELO DR. HENRIQUE FERREIRA SANTOS REIS J§|(il)ta TYPOGRAPHIA DO «DIÁRIO» 1872 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA DIRECTOR VICE-DIRECTOR 0 EXM. SR. CONSELHEIRO DR. VICENTE FERREIRA DE MAGALHÃES. LENTES PROPRIETÁRIOS. Os Srs. Doutores S° amio Matérias que leccionão Physica em geral, e particularmente em suas applicacões á Medicina. Cons. Vicente Ferreira de Magalhães Francisco Rodrigues da Silva Chimica e Mineralogia. Barão de Itapoan Anatomia descriptiva. ÍI0 anno Antonio de Cerqueira Pinto Chimica organica. .Lronymo Sodré Pereira Physiologia. Antonio Mariano do Bomfim Botanica e Zoologia. Barão de Itapoan Repetição de Anatomia descriptiva. 3° anno Cons. Elias José Pedrosa ...... Anatomia geral e pathologica. José de Goes Siqueira Pathologia geral. Jeronymo Sodré Pereira .' Phisiologia. -8° anno Cons. Manuel Ladislau Aranha Dantas . . Pathologia externa. Demetrio Cvriaco Tourinho Pathologia interna. Cons. Mathias Moreira Sampaio o Partos, moléstias de mulheres pejadas c de meninos recemnascidos. 5” anno Demetrio Cyriaco Tourinho Continuação de Pathologia interna. Luiz Alvares dos Santos Matéria medica e therapeutica. Anatomia topographica, Medicina operatória e apparelhos. José Antonio de Freitas í>" anno RozenJo Aprigio Pereira Guimarães . . . Pharmacia. Salustia.no Ferreira Souto Medicina legal. Ooimngos Rodrigues Seixas Hygiene e Historia da Medicina. José Afionso Paraizo de Moura .... Clinica externa do 3.° e 4.° anno. Antonio Januario de Iraria Clinica interna do 5.° e 6.° anno. 0PP0S1T0RES Ignacio José da Cunha Pedro Ribeiro de Araújo José Ignacio de Rarros Pimentel. . . .1 Virgílio Climaco Damazio I Secção Accessoria. Augusto Gonsalves Martins Domingos Carlos da Silva Antonio Pacifico Pereira Secção Cirúrgica. llamiro Afifonso Monteiro Figas Carlos Moniz Sodré...... ' Claudemiro Augusto de Moraes Caídas . . | Secção Medica. SECRETARIO O SR. DR. CINCINNATO PINTO DA SILVA. OFFICIAL DA SECRETARTA O SR. DR. TIIOMAZ DE AQUINO GASPAR. A Faculdade não approva nem reprova as opiniões cmitlidas nesta lliesc. CONGDRREMIES 0 ILLH. SR. DJEt. JOSÉ ALVES IDE MELLO E 0 AUTOR CORPOS GORDUROSOS SUA CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES I flBSfi OS YEGETAES e animaes extrahera-se substancias sempre- g® ]m muito ricas de carbono e hydrogeno, pobres do oxygeno e desprovidas de azoto, insolúveis na agua, ora liquidas, ora so- lidas, que queimão com chamma brilhante e fuliginosa e que se denominão corpos gordurosos: estas substancias tornão o papel translúcido e sobre elle formão uma mancha, que não desapparece pela acção do calor. Os corpos gordurosos são geralmente neutros: expostos ao ar muitos se acidificão e os ácidos produzidos ou não têm cheiro como o proprio corpo gorduroso á cuja custa se formarão, ou apresentão um cheiro forte e des- agradável, e então se diz que a substancia gordurosa ranceou-se. Os corpos gordurosos não são homogéneos: os diversos principios imme- diatos, que os formão, se podem separar uns dos outros até por simples acções mechanicas: tomemos para exemplo o oleo de oliveira: si o submet- ermos á acção de uma temperatura, vizinha de 0o, poderemos separal-o em duas partes, uma liquida chamada oleina, outra solida, que, pelo seu as- pecto de nacar, chamou-se margarina. Os sebos contêm um outro princi- pio solido — a stearina, que se encontra associada à margarina eá oleina em proporções variaveis segundo a especie de animal, que forneceu o sebo. Submettidos á uma temperatura próxima de 300° estes diversos corpos se decompõem: tornão-se escuros e dão como prociuctos de sua decomposição 1 2 corpos ácidos — acido oleico e margarico e productos secundários, entre outros a acroleina e o acido sebacico: sob a influencia da mesma tempera- tura c do vapor dagua, durante algum tempo, desdobrão-se em um prin- cipio doce — a glycerina e um acido — o oleico, o margarico ou o stearico. II 0 Sr. Berthelot, tão merecidamente admirado por seus trabalhos so- bre as syntheses dos álcoois, combinou directamente a glycerina com ácidos gordurosos e reconstituio por synthese os princípios graxos verificando as idéas, emittidas por Chevreul, sobre a constituição destes corpos. Comeffeito, a maior parte dos corpos gordurosos resulta da união da glycerina c um acido gorduroso com eliminação d’um certo numero de equivalentes d’agua. Difficil como era á principio obter estes compostos completamente puros, não se podia ter certeza sobre suas verdadeiras formulas. Berthelot, fazendo actuar glycerina sobre acido margarico (pezos iguaes) em pequenos tubos, fechados á lampada e aquecidos durante 24 horas em uma temperatura approximado de 200°, obteve o composto, que chamou monoinargarina, e ao qual a analyse dá por formula C40 H40 O8 e que se póde considerar formado d um equivalente de acido margarico e um de glycerina com eliminação de dous equivalentes dagua: Cso Hi0 O8 = C34 H34 O4 + G6 H8 Oc — 2 HO: poder-se-hia escrever esta formula C40 H40 O8 = C34 H33 O3, G6 H7 O3 para mostrar a analogia, que ha entre ella e a dos etlieres compostos. Do mesmo modo que um ether composto, em presença dagua, reconsti- tue o acido hydratado e o álcool, a monomorgarina, nas mesmas circumstan- cias, reproduz o acido gorduroso com sua molécula de agua bazica C34 H33 O3, HO e glycerina C6 H8 0G: ha ainda outra analogia: o acido margarico fôrma um ether vinico composto C4 H3 0, C34 H33 O3: tratando-o pelo ammo- niaco se obtem margaramide e álcool: C4 IP 0, C34 H 33 O3 -f" Az H3 = C34 H33 Az O2 + C6 H8 O6 3 Da acção da monomargarina sobre o acido margarico em excesso e na temperatura de 270° resulta um novo composto, ao qual Berthelot deu a formula C108 H104 O12, e se póde considerar formado d’um equivalente de glycerina unido a trez de acido margarico com eliminação de seis equiva- lentes d’agua: C108 H KIÍ 012 = 3 (C34 || !i 04) _|_ c» H8 o6 — 6 HO: é a trimargarina, que apresenta completa analogia com a margarina natural. Substituindo o acido margarico pelo stearico, Berthelot obteve trez stea- rinas artifieiaes: Monostearina — C42 H42 O8 = C3G H3G O4 + CG H8 O6 — 2Ho Distearina — C78 H78 O12 = 2(C3G H3G O4) + CG H8 0G — 2Ho Tristearina — C114 H110 O12 = 3(C3G H3G O4) + C6 H8 0G — 6Ho: é ainda a ultima, que mais se approxima da stearina natural. A substituição do acido oleico aos dous ácidos precedentes permitte obter, nas mesmas condições de experiencia, trez oleinas artifieiaes, tendo todas sensivelmente os mesmos caracteres e differindo somente pela com- posição: Monoleina — C42 H40 O8 — C36 H34 O4 + CG H8 0G — 2 Ho Dioleina — C78 II74 O12 = 2(C3G H34 O4) -f CG H8 0G — 2 IIo Trioleina — G114 H104 O42 = 3(G3G H34 O4) + CG H8 Oc — 6 Ho a trioleina é a que parece idêntica com a oleina natural: todavia seria te- merário affirmal-o pela impossibilidade em que se está de obtel-a pura á um ponto tal, que se accordem os resultados da analyse. Daremos pois aos princípios graxos taes quaes se os extrahe dos corpos gordurosos as mesmas formulas que aos princípios creados synthetica- mente, por isso que, si, por um lado, estes apresentão com aquelles iden- tidade quasi completa de caracteres, por outro lado têem uma composição da qual se approximão os princípios naturaes tanto mais quanto são obtidos 4 em maior estado de pureza. Assim com Berthelot adoptamos as formulas: Oleina — C114 H104 O12 Margarina — G108 H10i O12 Stearina — C114 II110 O12 Iíí O desdobramento dos princípios graxos em ácidos gordurosos e glyce- rina também se produz sob a influencia do acido sulfurico, que se apossa, ao menos momentaneamente, c se a temperatura não fôr muito elevada, da glycerina e do acido gorduroso para formar ácidos duplos, chamados — sulfoglycerico, sulfooleico, sulfomargarico e sulfostearico: a elevação da temperatura ou a simples ebullição com agua libertão a glycerina e os ácidos, que readquirem sua molécula dãagua de composição. O desdobra- mento ainda se faz sob a influencia dos alcalis hydratados, que unem-se ao acido gorduroso, ficando a glycerina; a monomargarina dá: CÍ0 H50 q8 + KOj HO = KO, G3i II33 O3 + C6 ll8 0G Do que havemos exposto conclue-se que a transformação dos princípios graxos em glycerina e ácidos gordurosos effectua-se por influencias muito diversas, porém sempre com fixação d’agua sobre a glycerina anhydra, e fixação d5agua ou d’uma baze sobre o acido graxo. É o que chama-se dJum modo geral — a saponificação dos corpos gordurosos: mas, na linguagem industrial se entende mais particularmente por saponificação a decomposi" ção produzida pelos alcalis, dando em resultado o sabão — verdadeiro sal ou mistura de saes alcalinos. Todos os corpos gordurosos não têm a mesma facilidade de saponifica- rem-se: fundado ifiesta consideração, o Sr. Malaguli os dividiu em duas classes—primeira, corpos facilmente saponificaveis; segunda, corpos difli- cil mente saponificaveis: os da primeira classe produzem, saponificando-se, glycerina: os da segunda engendrão um corpo diverso da glycerina, mas que parece represental-a em seu funccionalismo chimico. 5 IV Os ácidos gordurosos fundem em temperaturas mais elevedas do que os princípios, dos quaes se os retirou: a margarina funde á 49°, o acido margarico, á 60°, a stearina á 66° o acido stearico á 70: o acido oleico é liquido como a oleina. O acido stearico submettido á acção do acido azotico se transforma par- cialmente em acido margarico: basta comparar as duas formulas para ver que, relativamente, o acido margarico é mais rico de oxigeno do que o stearico. Se o acido azotico actuar sobre os ácidos margarico e oleico ob- tém-se muitos princípios ácidos, uns voláteis como o for mico, o acético, o valerianico, etc., outros fixos como o succinico, o sebacico, etc.: as for- mulas dos primeiros entrão no typo geral C2m H2m O4, as dos segundos no typo C2m + 2H2m O4. Os ácidos stearico e margarico, os stearatos e margaratos alcalinos dão, sob a influencia do calor, dous corpos neutros, analogos por seu modo de formação com a acetona, e que denominão-se margarona Cti,; H6(i O2 e stea- rona G70 H70 O2. A stearona obtem-se difficiimente, porque o acido stearico transforma-se pela acção do calor em acido margarico, e desde então, com- prehende-se, só pode fornecer a margarona: não se conhece a oleona. V A oleina, a margarina e a stearina não são os únicos princípios graxos: conhecem-se muitos outros, cuja historia chimica, por ser quasi a mesma que a (Taquelles, nos dispensamos de fazel-a; taes são: a caproina, a hir- cina, a palmitina, etc. Berthelot reproduziu a maior parte d’clles combi- nando a glycerina com o acido gorduroso correspondente pelo contacto prolongado dos dous corpos em vasos fechados e temperatura mais ou menos elevada. Na cavidade craneana de muitos cetáceos encontra-se uma substancia branca, cristallina, denominada spermaçete, que encerra grande quantidade 6 d5um principio conhecido, sob o nome de cetina: distillada ao contacto do ar, esta substancia decompõe-se completamente: fórma-se acido ethalico e cetena: os alcalis com o concurso dAgua a desdobrão em acido ethalico e ethal: sob a influencia do calor os ácidos dão resultados idênticos: o acido azotico ataca lentamente a cetina, e desprendem-se vapores nitrosos: produ- zem-se nesta circumstancia os mesmos ácidos, que se obtêm com o sebo, oleo de oliveira e diversos corpos gordurosos. A composição da cetina é representada pela formula C04 H64 O4 = C32 H31 O3, C32 H33 0. As ceras, productos immediatas muito espalhados no reino vegetal, são classificadas entre os corpos gordurosos: todas não apresentão a mesma composição: a cera das abelhas, que é considerada typo do grupo, é for- mada de dous princípios particulares, que se podem separar por meio do álcool fervendo: um delles é o acido cerotico C34 H54 O4, chamado a prin- cipio cerina, o outro constitue um ether composto, opalmitato de myricyla, que antigamente chamava-se miricina: saponificado pela potassa, se desdo- bra em acido palmitico e álcool myricico ou hydrato de myricyla: C60 H62 O2 = CC0 H61 H O2 VI Quando descoberta por Scheele, a glycerina foi considerada uma matéria accidental e particular a certos oleos: mais tarde os trabalhos de Chevreul demonstrarão que esta substancia separa-se constantemente na saponificação dos oleos e das gorduras solidas neutras: facilmente se a pode isolar tra- tando, á quente, o oleo de oliveira pelo oxydo de chumbo, que fórma com os ácidos gordurosos sabões insolúveis, chamados emplastros: decanta-se a parte liquida, passão-se atravez d elia algumas bolhas de acido sulphydrico para desembaraçal-a de pequena quantidade de oxydo de chumbo, que po- deria ficar dissolvida, depois se a filtra e evapora-se ao banho-maria. Os corpos gordurosos neutros submettidos á acção do vapor d’agua, superaque- cido em uma temperatura de 240 á 250°, desdobrão-se em um acido e glycerina, que condensa-se no recipiente: concentrando a parte aquosa do producto distillado, obtem-se glycerina pura e completamente incolora. 7 Por mais variados que sejão os processos para sua preparação, a glyce- rina pura apresenta os caracteres seguintes: sem côr, sem cheiro, dJum sabor francamente assucarado e consistência de xarope: na temperatura de 15° seu pezo especifico é 1,28: solúvel em todas as proporções na agua e no álcool, insolúvel no ether, dissolve muitos saes, deliquescentes e oxydos metallicos: dístillada em vaso fechado, altera-se fracamente: a porção alte- rada dá gazes inflammaveis, acido carbonico, productos empyreumaticos e acroleina: o contacto da levadura da cerveja com uma dissolução aquosa de glyçerina, na temperatura de 15 á 30°, por espaço de alguns mezes, pro- duz grande quantidade de acido propionico. C6 Hs Q6 = 2 Ho + C6 H6 O4 Á frio, o acido sulfurico concentrado, o acido phosphorico e o tartrico formão combinações analogas aos ácidos sulfo-phospho e tartrovinico, quando actuão sobre a glycerina. Derramando glycerina, gotta á gotta, em uma mistura de acido sulfu- rico e azotico, antecedentemente resfriada, e depois ajuntando agua, preci- pita-se um oleo amarellado, solúvel no álcool e ether, de sabor assucarado e aromatico, e que detona quando se eleva convenientemente a temperatura: este oleo é a glycerina trinitrica: sua formula é (C6 H5 (Az O4) 306): tra- tado pela potassa, fórma azotato de potassa e regenera a glycerina: actua energicamente sobre a economia de tal modo que uma só gotta, deposta sobre a lingua, produz violentas hemicranias. A oxydação lenta da glycerina dá logar á formação do acido glycerico, que no estado de hydrato é representado pela formula G(í H6 O8: a com- posição de seus saes é expressa por C6 Hs 3VI O8: entre a glycerina e o acido glycerico ha uma relação semelhante á que existe entre o álcool e o acido acético, o propylglycol e o acido láctico; e do mesmo modo que o ultimo, o acido glycerico se transforma em anhydride pela acção do calor com eliminação de agua. O iodureto de phosphoro ataca energicamente a glycerina: forma-se a propylcna iodada. Pode-se reproduzir artificialmente a glycerina fazendo reagir a potassa 8 ou o oxydo de prata sobre o bromureto triatomico CG H8 Br3: ter-se-ha: C6 Hs Br3 + 3 (KHo2) = 3 K Br + G6 ll3 H3 O6 VII Os trabalhos do Sr. Chevreul levarão-no a considerar as gorduras como etheres, nos quaes a glycerina representava o papel do álcool nos etlieres ordinários: posteriormente outros chimicos, e muito especialmente o Sr. Ber- thelot, comprovarão as idéas emittidas por Chevreul, mostrando que a gly- cerina era um álcool triatomico, que com os álcoois ordinários apresenta as mesmas relações, que o acido phosphorico com o acido nitrico; com effeito: quando trata-se um cther composto por uma baze energica, esta baze se apossa do acido, e o ether, combinando-se com um equivalente dagua, re- produz o álcool d'onde proveio: quando sobre um glyceride, como uma gor- dura, actua um alcali ou outra baze energica, os ácidos gordurosos se com- binão com a baze, e a glycerina se reproduz fixando dous equivalentes d'agua: d'esta combinação com dous únicos equivalentes d'agua poder-se-hia inferir que a glycerina, como o glycol, é um alccol diatomico: porém suas combinações com os ácidos provão que ella é triacida e portanto triatomica. Nas combinações que a glycerina fôrma para produzir etheres, as pro- priedades do acido e da glycerina desapparecem, ou antes, como diz Ber- thelot, ficão latentes, á maneira do que se dá nos etheres dos álcoois ordi- nários. A glycerina se combina em trez proporções diversas com os ácidos mo- nobasicos, o que produz trez series de compostos: na primeira, a glycerina se combina com um equivalente de acido monobasico e perde dous equi- valeetes d’agua: assim, por exemplo, a monochlorhydrina, que tem por for- mula C6 H" Cl O4, é formada pela união de um equivalente de acido chlo- rhydrico, H Cl, com um equivalente de glycerina, C6 H8 O6, menos dous equivalentes d’agua, ou H2 O2. À mesma eliminação d’agua tem logar na producção das combinações com os oxacidos: assim a monobenzoicina, C20 H12 O8, é produzida por um equivalente de glycerina, mais um equi- valente de acido benzoico, menos dous equivalentes d'agua. 9 Berthelot denominou estes compostos—glycerides primários de primeira ordem, e os representou pela formula G 4“ a — H, na qual o G representa a glycerina, a um acido qualquer, e H dous equivalentes d agua. Na segunda serie, que comprchende os glycerides secundários de segunda ordem, um equivalente de glycerina se combina com dous equivalentes de um mesmo acido monobasico após a eliminação de quatro equivalentes de agua, ou com um equivalente de dous ácidos diversos: ao primeiro caso serve de exemplo a dichlorhydrina C6 H6 Cl2 O2CG H8 O6 -|- 2 (H Cl) — 4 HO ou H4 O4: no segundo caso, isto é, aquelle em que lia dous ácidos diversos, como na benzochlorhydrina, C20 H11 Cl Oc, acha-se, em logar de dous equivalentes de acido chlorhydrico, um só deste acido e um de acido benzoico: CG II8 0° + H Cl + C14 HG O4 — 4 HO. O primeiro exemplo é representado pela formula G -f 2 a — 2 H: o segundo por G a —|— aJ 7 — 2 H. Na terceira serie, em que estão incluídos os glycerides terciários de ter- ceira ordem, um equivalente de glycerina se acha combinado com trez equi- valentes d’um acido monobasico, depois da eliminação de seis equivalentes d agua: sua formula geral é G -f- 3 a — 3 H. Os corpos gordurosos na- turaes pertencem, quasi todos, á esta serie, porque a oleina, a margarina e a stearina entre as gorduras animaes, a arachina, a palmitina, etc., entre os oleos vegetaes, são — trioleina, tristearina, tripalmitina, etc. Nesta se- rie, em vez de trez equivalentes dum mesmo acido, se podem encontrar dous d’um acido e um d’outro, o que dífa formula G-j-2a-j-a’ — 3H, ou um equivalente de trez ácidos diversos, ao que corresponde G -f* a + a’ -f- a” — 3 H; exemplos: acetodichlorhydrina, C10 H8 Cl2 O4 — C6 H8 O6 -f- C4 H4 O4 -f- 2 (H Cl) — 6 HO, acetodichlorhydro-bromhydrina C10 H8 Cl Br O4 = CG H8 0(! + C4 H4 O4 + H Cl + H Br — 6 HO. As gorduras e oleos gordurosos apresentão exemplos destes dous últimos casos: o sebo é uma oleomargarostearina. Berthelot estabeleceu glycerides de segunda ordem, nos quaes a glyce- rina, ainda que combinada com um só equivalente de acido, perde entre- tanto quatro equivalentes d'agua, isto é, o duplo da quantidade eliminada nos glycerides primários de primeira ordem: a formula geral destes glyce- rides primários de segunda ordem é G + a — 2 H: os dous únicos exem- plos conhecidos deste genero são a epiclorhydrina e a epibromhydrina: a iormula da primeira é C6 H5 Cl O2 — CG H8 0G -f- H Cl — 4 HO: a se- gunda tem a mesma formula, substituindo Cl por Br. Conhecem-se também 10 combinações da glycerina com dons equivalentes de acido, e eliminação de dons equivalentes d’agua, chamadas por Berthelot—glycerides secundários de primeira ordem, cuja formula é G -|- 2 a — H: taes são a distearina, a divalerina: a distearina (por exemplo) C78 H78 O12 = CG H8 0° -j- 2 (G3G H3G O4) — 2 HO. Os glycerides secundários de terceira ordem resultão da combinação de um equivalente de glycerina com dous equivalentes d’um acido e elimina- ção de seis equivalentes d’agua: sua formula geral torna-se G -j- 2 a — 3 H: a epidichlorhydrina é deste genero CG H4 Cl2 = CG ll8 O6 -j- 2 (H Cl) — 6 HO. Na opinião do Sr. Berthelot, ainda se podem conceber glycerides terciá- rios de primeira e segunda ordem, representados pelas formulas G -f- 3 a — 2 H e G-fa — 2H: pensa 0 mesmo chimico que 0 acido glyceributy- rico é deste genero, e que os ácidos hydromargarico e hydroleico de Fremy são realmente ácidos glycerioleico e glycerimargarico, 0 que poder-se-hia verificar reproduzindo os ácidos e a glycerina sob a influencia dos alcalis. Conhecem-se dous exemplos de glycerides, resultantes da união de dous equivalentes de glycerina e um equivalente de acido: no primeiro, que ó um glyceride primário de terceira ordem, eliminão-se seis equivalentes de agua: é a iodhydrina G12 H11 I 0G = 2 (CG II8 O6) -f- H I — 6 HO, cuja formula è 2 G -f a — 3 II. 0 segundo, que é um glyceride primário de quarta ordem, é a liemibromhydrina, cuja formula geral é 2 G a — 4 H. Pensa 0 Sr. Berthelot que podem-se construir formulas para os corpos gordurosos, parallelas ás dos etheres, por dous systemas diversos: em um representão-se nas formulas os ácidos hydratados e os hydracidos: a notação corresponde á do hydrogeno bicabornado; no outro, collocando nas formu- las os ácidos anhydros, corresponde-se á notação do ether hydrico: Primeiro systema Ether acético — C8 II8 O4 = C4 H4 O4, C4 H4 Diaeetina — C14 H12 O10 = 2 (C4 H4 O4), C6 H4 O2 = 2 (C4 H4 0'*), C6 H2, 2 (HO) Monoacetina — C4° H10 O8 = C4 H4 O4, (7> IF> O5 = C4 H4 O4, Cfi II2, 4 (HO) Triacetina — C48 H14 0»* — 3 (C4 H‘ O4), C6 H2 Segundo systema Monoacetina — C40 H10 O8 = C4 H3 O3, C6 H7 O5 = C4 II3 O3, C6 II3 O3, 2 (HO) Ether acético — C8 ll8 O4 = C4 II3 O3. C4 H5 0 Diaeetina — C»4 II42 O10 = 2 (C4 II3 O3), C6 II6 O4 = 2 (C4 H3 O3), C6 li5 O3 (IIO) Triac-otina — Ct8 O42 = 3 (C4 II3 O5) C6 H5 O3 11 As combinaçõos da glycerina com um acido bibasico podem ser acidas ou neutras: d'entre ellas só se conhece uma neutra, a sebina, C32 H30 01G = C20 H18 O8 + 2 (C6 H8 O6) — 4 HO. A formula geral é 2 G -]- B — 4H e 2G-J-B — 6 H: podem-se presu- mir compostos neutros da segunda serie, derivados quer dJum mesmo acido bibasico, quer de dous, quer d’um acido bibasico e dous equivalentes d5um monobasico: não ha exemplos: mas, conjecturada a sua existência, se lhes póde assignar por formulas geraes para os secundários de segunda ordem: 2 G + 2 B — 4 II 2G + B + B’ — 4 H 2G + B+ 2a — 4 H para os secundários de primeira ordem, 2G + 2B — 2 II, e para os de terceira ordem, 2 G + 2B — 6H: representão-se como se vê no seguinte quadro as formulas geraes de todos os glycerides terciários, que se podem suppor: 2G + 3B — 6H 2G4-2B + B—6H 2 G + B + B -j- B” — 6 H 2G + 2B + 2a — 6H 2 G + B + B’ + 2 a — 8 H 2 G + B 4" 4 a — 6 H 2 G -j- B + 2 a + 2 a — 6 H À penúltima destas formulas corresponde a dibutyro sulfurina, represen- tada por C44 II38 S2 O24, que se decompõe em 2(C6 H8 O6) -f* S2 O6, II2 O2 + 4 C8 H8 O4 — 12 IIO. Os compostos ácidos são constituídos por um só equivalente de glycerina, como nas series dos ácidos monobasicos, mas o acido é substituído por um outro bibasico: assim tem-se na primeira serie a formula geral G + B — H. O acido glycerimonotartrico lhe corresponde: sua formula é C14 H12 0IC = C6 H8 O6 ± C8 II6 O12 — 2 (Ho): é um glyceride primário de primeira 12 ordem. Os da segunda ordem têm por formula geral G -f- B — 2 H: os da terceira G + B — 3 H. A segunda serie dá compostos, nos quaes um equivalente de glycerina é unido a dous equivalentes dJum acido bibazico com eliminação de quatro equivalentes d’agua: sua formula geral é G + 2 B — 2H: mas os dous equivalentes de acido bibazico podem ser substituídos por um equivalente de ácidos bibazicos diversos, ou por um de acido bibazico e dous d’um acido monobazico — 2 B por B -f- B' ou por B -f- 2 a: á primeira destas nota- ções corresponde o acido glyceritartrico, C22 H16 O26 = G6 H8 0G —|— 2 (G8 H6 O12) = 4 (Ho). Se conhece um acido que é um monoglyceride secundário de terceira or- dem, cuja formula geral é G -f- 2 B — 3 II; é o acido epiglyceriditartrico, C22 H14 QM = C6 H8 O6 + 2 (C8 H6 O12) — 6 Ho. A terceira serie comprehende ácidos que terião por formulas geraes — G -j~ 3 B — 3 H, G ~|- 2 B -f- B” — 3 H, G -j- B -f B' -f B” — 3 11, G-j-2B-f-2a — 3 H, G —(— B —}— B' + 2 a — 3H, etc. IX As combinações da glycerina com os ácidos tribazicos, chamadas trigly- eerides, formão egualmente muitas series: os ácidos tribazicos representão-se nas formulas geraes por T, T, T’, etc.: ter-se-ha, pois, para os ghjcerides primários de primeira ordem, 3 G T — 3 11; para os de segunda or- dem, 3 G + T — 6 H; para os de terceira, 3 G + T — 9 II. Os triglycerides secundários de primeira ordem serão representados por 3 G + 2 T — 3 H; os de segunda por 3 G -J- 2 T — 6 H, 3 G + T 4- T — 0 H, 3 G + T + 3 a — 6 II; os de terceira por 3G-J- 2 T — 9 H. Todas estas combinações, cujos tvpos principaes forão indicados, produ- zidas por synthese, se desdobrão em glycerina e um acido fixando os ele- mentos cfagua em circumstancias variadas. Reacções directas e reciprocas estabelecem a equivalência da glycerina e do álcool em presença dos ácidos: pode-se ou decompor certos etheres pela glycerina e produzir um verdadeiro corpo gorduroso, ou decompor um corpo gofduroso neutro pelo álcool e formar um ether. 13 A glycerina, álcool triatoinico, deve produzir trez series de ammoniacos, que serão representados pelas formulas: C6 H3 H2 (Az H2) O4 = CG H9 Az o4 CG H3 i H (Az H2)2! O2 = CG II 10 Az2 O2 CG H3 (Az H2)3 CG H11 Az A realisação destes productos deve-se effectuar pela acção reciproca, em vasos fechados, d'uma dissolução alcoolica de ammoniaco e das diversas chlorhydrinas. X Relativamente ao seu gráo de consistência e fusibilidade, os corpos gor- durosos dividem-se em oleos, gorduras, sebos e ceras. Os oleos são líqui- dos na temperatura ordinaria e coagulão-se em temperaturas mais ou me- nos baixas: as gorduras são molles na temperatura ordinaria e fundem-se á 20 ou 25°; os sebos só fundem de 35 á 40°; as cêras de 60 á 70°: as manteigas podem-se collocar entre as gorduras e os sebos. Os oleos se encontrão mais particularmente nos vegetaes: entretanto os ha animaes, taes são o oleo de fígado de bacalháo, de peixe, etc. Se os acha mais habitualmente nas sementes ou nas partes carnudas dos fructos, raras vezes nas raizes e outras partes do vegetal. A proporção de matéria gordurosa, fornecida pelo orgão vegetal, que a encerra, é muito variavel: obtem-se os oleos por expressão á frio, e á quente: o oleo ex- presso á frio, ou oleo virgem, é de primeira qualidade; o que se obtem depois, diluindo na agua fervendo a polpa, que forneceu o oleo virgem, e depois submettendo-a á prensa, é de qualidade inferior: finalmente, abandonando á um começo de fermentação a borra, que resulta das operações precedentes, a pôlpa se desorganisa, e sob a prensa ainda se obtem um oleo de terceira qualidade. Quando os oleos são destinados para a illuminação e forão obti- 14 dos por expressão á quente trazem comsigo certa quantidade de matéria al- buminosa ou mucilaginosa, tirada a polpa dilacerada, por cuja causa ran- ceião-se facilmente, alterão-se e queimão mal: então é preciso purificai-os: para este fim se os agita fortemente com pequena proporção de acido sul- furico concentrado: deixa-se repousar o oleo, que pouco á pouco torna-se límpido, á medida que as mucilagens, destruídas e carbonificadas pelo acido sulfurico, se depõem. Os oleos de peixe preparão-se aquecendo n’agua a gordura do peixe, cortada em pequenos pedaços: o oleo sobrenada e se o separa por decan- tação. Ha alguns oleos alimentares; outros só são empregados para a illumina- ção. Os oleos de ricino e croton-tiglium são muito purgativos; os de fígado de bacalháo o arraia são empregados em medicina. Submettidos bruscamente á aeçáo de uma temperatura elevada, os oleos se decompõem e dão grande quantidade de gaz de illuminação: aquecidos menos bruscamente, os oleos se decompoem sem volátilisarem-se: tornão-se pardos e deixão desprenderem-se, como productos de sua decomposição, ácidos voláteis e uma substancia neutra, de cheiro muito acre — a acroleina. Expostos ao ar, no fim de um tempo mais ou menos longo os oleos experimentão uma sorte de fermentação particular sob a influencia dos fer- mentos albuminosos, dos quaes numa se os desembaraça inteiramente. Ha alguns que experimentão uma alteração mais ou menos rapida, se dessecão e formão por fim verdadeiras matérias resinosas: Se os chama siccativos: esta alteração resulta duma oxydação, porque ha, e Saussure o provou, desprendimento de acido carbonico. Estes oleos siccativos são os empregados na pintura: se lhes accelera a desseccação addiccionando uma pequena quantidade de lithargirio ou de bioxydo de manganese. Para dis- tinguir os oleos siccativos dos não siccativos não é necessário esperar que os primeiros se resinifiquem: ha um agente chimico que os faz distinguir immediatamente: é o acido hypoazotico, que em poucos instantes endurece os oleos não siccativos, determinando a formação d’um principio solido, chamado acido elaidico, isomero com o acido oleico: o azotato de sub- oxvdo de mercúrio, preparado á frio, presta-se mais facilmente e dá os mesmos resultados que o acido hypoazotico, quando empregado para o mesmo fim. Os sebos ou gorduras solidas estão alojados no tecido cellular, que se- para as diversas camadas musculares, ou que existe entre a pelle e os mus- 15 cnios superficiaes: para obtel-os destacão-se dos másculos os envolucros cellulares, que os encerrão. depois se os submette á acção do calor: o aci- do sulfurico, dilacerando e carbonisando o tecido cellular sem dar em re- sultado productos infectos, pode muito vantajosamente, e deve, ser empre- gado em vez do calor. Os sêbos ranceião-se como os oleos, desenvolvendo cheiro acre e desagra- dável: a gordura de porco, purificada por fusões successivas com agua, é empregada em pharmacia sob o nome de unto de porco como vehiculo nas pomadas, unguentos, cerôtos, etc. Além da util applicação industrial, que tem os corpos gordurosos neu- tros na fabricação das velas stearicas, já, entre os antigos, estes mesmos corpos erão empregados na preparação dos sabões. Os sabões são misturas de saes, formados pela combinação dos ácidos gordurosos com os alcalis: os obtidos com a soda são duros: ao contrario os preparados com a potassa são molles. Os ácidos mineraes, mesmo diluídos, decompoem os sabões, se apossão de sua baze e poem em liberdade os ácidos gordurosos: esta acção é apro- veitada para se determinar a quantidade de matéria gordurosa, contida em um sabão. Os sabões são saes de reacção alcalina: são, pois, proprios para dissolve- rem as substancias gordurosas, ou ao menos tornal-as misciveis n agua. O ammoniaco saponifica difficilmente as substancias graxas, e por isso não se fabricão sabões ammoniacaes. As dissoluções de sabão precipitão quasi todos os saes metallicos, por- que a maior parte dos stearatos, margaratos e oleatos é insolúvel. PROPOSICOIS * PHYSICA PRINCÍPIOS FUNDAMENTAES da theoria dynamica DO CALOR, APPLICAÇÕES ÁS SCIENCIAS PHYSICAS E Á PHYSIOLOGIA À experiencia provou que: Ia—O calor se muda, sob nossas vistas, em força mechanica. 2a—A qnantidade de calor que pode elevar de Io centigrado a tempe- ratura d’um kilogrammo d’agua distilllada, produz um trabalho mechanico, representado pela elevação, á um metro, d’um pezo de 425 kilogrammos, no espaço dhim segundo. 3a—Neste dado experimental bazeão-se todos os cálculos, relativos á theoria mechanica do calor. CHIMICA MINERAL TRATAR, EM GERAL, DOS RADICAES ORGANO-METALLICO, ASSIGNAR O LUGAR QUE LHES COMPETE NAS CLASSIFICAÇÕES CHIMICAS MODERNAS Ia—Os radicaes organo-metallicos derivão dos etheres iodhydricos pela substituição d'um*metal ao iodo. 2a—O zinco-ethylado foi o primeiro radical organo-metallico conhecido. 3a—Os radicaes organo-metallicos se podem considerar como etheres dos compostos hydrogenados. 18 CHIMICA ORGANICA ESTUDO CHIMieo DOS ALCOOLS MONOATOMICOS Ia—Os álcoois monoatomicos só encerrão dons equivalentes de oxygeno, e, reagindo sobre os ácidos monobasicos, só dão um ether. 2a—Se os pode obter: Io, pela oxydação dos hydrocarburetros; 2o, fi- xando os elementos d’agua sobre os derivados monochlorados, monobro- mados e monoiodados destes hydrocarburetos; 3o, fixando os elementos d'agua directamente sobre os hydrocarburetos. 3a—Cinco são as series dos álcoois monoatomicos: suas formulas geraes são: para a Ia, C2[l H2n -|- 202, para a 2a, C2a H2a O2, para a 3a, C2a H2n — 202, para a 4a, C2a H2[f~fi02, para a 5a, C2a H2n — S()2. BOTANICA assimilação vegetal; seus productos em geral, theoria da formação delles. Ia—A funcção, pela qual formão-se, renovão-se e conservão-se as ma- térias constitutivas do vegetal, chama-se assimilação. 2a—Para este acto concorrem tres acções diversas, chimica, physiolo- gica, ou organica e physica. 3a—Todo o carbono, que um vegetal fixa, não se deve consi Arar como exclusivamente resultante da decomposição do acido carbonico pelas folhas. MEDICINA LEGAL QUAL O MELHOR PROCESSO PARA RECONHECER-SE O PHOSPHORO NOS ENVENENAMENTOS POR ESTE AGENTE? Ia—O processo de Mitsclierlicli é o mais commodo e preciso para reco- nhecer-se o phosphoro nos envenenamentos por este agente. 2a—Funda-se este processo na propriedade, que tem o phosphoro, ain- da em quantidades mininas, de luzir na obscuridade. 19 3a—Dusart aproveitou para a pesquiza do phosphoro a propriedade, que tem este corpo de corar em verde a chamma do hydrogeno. PHARMACIA CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS EXTRACTOS, E JUIZO CRITICO ACERCA DOS EXTRACTOS AQUOSOS, ALCOOLICOS E ETHEREOS Ia—Os extractos são productos officinaes, obtidos tratando uma substan- cia vegetal ou animal por um dissolvente conveniente, e evaporando depois o vehiculo até que se obtenha um residuo molle ou solido. 2a—O extractivo é uma mistura de diversas substancias modificadas pela influencia do ar, do calor, dos ácidos, etc. 3a—O methodo de Stoerck deve ser preferido para a preparação dos ex- tractos de plantas de alcaloides. ANATOMIA DESCRIPTIVA APPARELHO DIGESTIVO 1"—O apparelho digestivo é sero-muco-muscido-mPMbranoso. 2a—Compõe-se da bocca, pharinge, esophago, estomago, intestinos —del- gado e grosso. 3a—As glandulas salivares e muciparas, o fígado e o pancreas devem se considerar orgãos annexos ao apparelho digestivo. ANATOMIA GERAL HISTOLOGIA DAS CARTILAGENS, SUAS PROPRIEDADES PHYSICAS, SUA IMPORTÂNCIA PHYSIOLOGICA, SUA NATUREZA CHIMICA E ALTERAÇÕES PATHOLOGICAS Ia—0 tecido cartilagiuoso se apresenta sob dous aspectos muito diver- sos — o de cartilagem hyalina ou verdadeira e o de fibro-cartilagem. . 2a—As cartilagens exercem na economia o papel importante de presi- direm á formação dos ossos. 20 3a—As cartilagens estão sujeitas á inflammação, necrose, ossificaeãoy íiypertrophia etc. PARTOS CASOS EM QUE SE DEVE PROVOCAR O ABORTO Ia—As indicações do aborto provocado são ou absolutas ou relativas, 2a—As absolutas comprehendem os estreitamentos excessivos da bacia, ou elles provenhão d’um vicio de conformação dos proprios ossos, ou sejão produzidos pela presença d'um tumor osseo inamovivel ou inoperável. 3a—As relativas dizem respeito á certas moléstias, estranhas ou inhe- rentes ao estado da gestação, e que ameação gravemente a vida da mulher. OPERAÇÕES QUE MEDIDAS DEVEM SER ACONSELHADAS PARA EVITAR-SE A INFECÇÃO PURULENTA ? Ia—Previnindo a formação do pus, ou na impossibilidade de fazel-o, fa- cilitando o escoamento deste liquido e a cicatrisação da ferida, poderá o ci- rurgião previnir a manifestação da pyohemia. 2a—Em todo o caso o pratico deve procurar aífastar todas as causas predisponentes deste terrivel accidente. 3a—Dos meios prophylaticos, até boje empregados, não ha um, em que absolutamente se possa confiar. CLINICA EXTERNA ÍERIDAS PENETRANTES DO ABDÓMEN, E SEU TRATAMENTO Ia—As feridas penetrantes do abdómen são ou peritoneaes, ou peritoneo- visceraes, ou simplesmente visceraes. 2a—Tal seja a viscera compromettida, tal a natureza do instrumento of- fensor, tal será a gravidade do ferimento. 21 3a—Nas lesões intestinaes, sendo necessária a costura, deve-se preferir o processo de Gely nos ferimentos longitudinaes, e, nas divisões circulares, o processo de invaginação, proposto por Jobert. PATHOLOGIA EXTERNA HYDARTHROSE Ia—Quando não é consequência de pancadas, quedas, marchas forçadas ou qualquer outra violência externa, a hydropisia articular ataca de prefe- rencia os indivíduos escrophulosos e lympliaticos. 2a—No principio não se a distingue facilmente da arthrite, e se a mo- léstia é adiantada, se a póde confundir com um tumor branco. 3a—As hydartroses clironicas são de difficil cura. PHYSIOLOGIA QUAL A ACCÃO EXERCIDA SOBRE AS SUBSTANCIAS ALIMENTARES PELOS DIFFERENTES SUCCOS DIGESTIVOS? Ia—A saliva transforma o amido em dextrina e glucose: o sueco pan- creatico completa esta acção no intestino. 2a—O sueco gástrico exerce sobre os alimentos albuminoides acção ana- loga á que exerceria a ebullição prolongada. 3a—A bilis e o sueco pancreatico emulsionão as gorduras. PATHOLOGIA GERAL ALTERAÇÕESJDO SANGUE Ia-—Nas moléstias phlegmasicas é notável o augmento do fibrina no sangue. 2a—A fibrina diminue de quantidade nas febres graves, na purpura he- morrhagica e no escorbuto. 3a—Nas hydropisias consecutivas á certas lesões cardíacas e na moléstia de Bright a albumina diminue de proporção no sangue. 22 PATHOLOGIA INTERNA CONSIDERAÇÕES SOBRE A ETIOLOGIA E TRATAMENTO DA MOLÉSTIA DE ADDISON Ia—Designa-se sob o nome de moléstia de Addison uma doença cache- tica, caracterisada por uma lesão das capsulas suprarenaes e dos ganglios semilunares, pela coloração parda ou bronzeada da pelle, por perturbações gastricas e por uma asthenia, que vae crescendo até que mata. 2a—A anatomia pathologica e a interpretação pathogenica estabelecem que os phenomenos clínicos da moléstia de Addison têm por ponto de par- tida uma excitação anormal dos plexus sympathicos abdominaes, dos gan- glios semilunares e nervos trophicos, que nelles se originão. 3a—A caseificação e tuberculisação das capsulas suprarenaes, são, entre outras, as lesões mais ordinariamente ligadas á asthenia suprarenal e á melanodermia. HYGIENE DAS PROFISSÕES Ia—Cada profissão, pelos hábitos, que origina, pelo genero de exercícios intellectuaes e corporaes á que obriga, póde direcla ou indirectamente de- terminar o apparecimento de certos estados morbidos. 2a—E grande a influencia que exercem, sobre as funcções cerebraes, a digestão e nutrição, as profissões sedentárias, que sujeitão o homem aos trabalhos de gabinete, ás vigílias e aos esforços da imaginação. 3*—Pelo estudo das causas de insalubridade d’uma profissão póde o hy- gienista aconselhar os meios de garantia contra ellas. CLINICA INTERNA QUAL O MELHOR TRATAMENTO DA MOLÉSTIA DE ADDISON? 1*—Na moléstia de Addison os tonicos e os estimulantes sâo a baze da medicação. 23 2a—0 oleo de fígado de bacalháo é bem indicado si a moléstia é symi ptomatica de escrophulose ou de tuberculose. 3a—A genese dos symptomas autorisa, ao menos no principio, a com- bater o processo local por meio de vesicatórios e cautérios, applicados na região das capsulas suprarenaes. MATÉRIA MEDICA QUAL A ACÇÃO THERAPEUTICA DA COCA OU IPADÚ (ERYTROXYLON COCA-ERYTROXYLEAS) ? Ia—Das folhas da Coca extrahirão-se muitos alcaloides, d'entre os quaes o mais importante é a cocaína, pouco solúvel n agua, solúvel no álcool e no ether. 2a—Além de ser corroborante e própria á nutrição, a coca tem a pro- priedade de curar as estomatites aphtosas e escorbuticas, e é também em- pregada nos rheumatismos e febres intermittentes. 3a—Póde-se utilmente, applical-a no marasmo, consecutivo á uma affecção dos orgãos digestivos ou á qualquer esgotamento nervoso. HYPPOORATIS APHOPJSMI 1° Quibus pars aliqua corporis dolet neque fere dolorem senti unt, lis mens cegrotat. (Sec. 2a, Aph. 6°) 2° Neque satietas, neque fames, neque aliud quiequam bonum, quod supra naturae modum fuerit. (Sec. 2a, Aph. 4°) 3o Natura corporis est in medicina principium studii. (Sec. 2a, Aph. 1°) 4o Omnia secundum rationem facienti, si non succedant secundum rationem non est transeundum ad aliud, manente eo quod a principiis visum fuit. (Sec. 2a, Aph. 52) 5o Per anni tempestates quando eodem die modo calor, modo frigus fit, autumnales morbos exspectare convenit. (Sec. 3a, Aph. 4°) 6° Morborum acutordm non in totum certoe sunt proenuntiationes neque salutis, neque mortis. (Sec. 2a, Aph. 19) Tjpograpliia.. do « Diário da Bahia » —4872.