<4f <&- S : /"C- v7^;/ / ei c*. ^ . JAH / 8 1935 j V ' ' - T S tr lÜ^a 8 % CONCURSO PARA A CADEIRA DE PHARMACIA. SUSTENTADA EM JULHO DE 1871 NA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA PELO Di'. Rozcndo Aprigio Pereira Guimarães Oj*i*»MÍtor tia Secçã* tie Sciencias Accessori**. BAHIA l> |M»<|i ;i|>hiii ilc «T. G. Tourlnlio 1871 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA. DIRECTOR VD©ü-®DIRI©T@lll O Ex.rao Snr. Conselheiro Dr. Yicenle Ferreira de Magalhães. 08 SUS. D0UT0RKS «.'ANNO. MATUSIAS QUK LECCIOMAM /vv„„ «•»^.„i7„,.n;,.oH«H,„!,ii,;oc í Physica em geral,eparticularmente em suas Cons. Vicente Ferreira de Magalhães . j apulinições â Medicina. Francisco Rodrigues da Silva. . . . ." Chimica e Mim-valogia. Adriano Alves de Lima Gordilho . . . Anatomia dcscriptiva. 2.* ANNO. Antônio de Cerqueira Pinlo.....Chimica orgânica. Jeronymo Sodré Pereira . ... . Physiologia. Antônio Muriano do liomfim.....lioianica c Zoologia. Adriano Alves de Lima Gordilho. . . . Repetição de Anatomia dcscriptiva. 5.* ANNO. Cons. EUas José Pcdroza......Anatomia geral epalhologica. José de Góes Sequeira.......Pathologia geral. Jeronymo Sodré Pereira......Physiologia. ÂS ANNO. Cons. Manoel Ladisláo Aranha Dantas . Pa thologia externa. ................Pathologia interna. Conselheiro Malhias Moreira Sampaio j Pa^Scidos! ^ mu,heres peJadas e dc men,f!0" S.» ANNO. ..........•.....Continuação de Pathologia interna. José Antônio de Freitas......\ An^l\^°iravhlMt Medicina operatorla, a ....,....,......Matéria medica, e therapeulica. 6.' ANNO, ................Phnwnacia. Salustiano Ferreira Souto......Medicina legal. Domingos Rodrigues Seixas.....Uygiene, e Historiada Medicina. ................Clinica externa do 3.* e+.• anno. Antônio Januário de Faria......Clinica interna do 5.* e 6.* anno, Secçao Accessoria. José Ignacio de. Barros Pimenlel. . .1 Virgílio Clymaco Damazio...../ José AlTonso de Moura.......\ Augusto Gonçalves Martins.....i Domingos Carlos da Silva......> Secção Cirúrgica. Antônio Pacifico Pereira......\ DemetrioCyriacoTourinho.....\ Luiz Alvares dos Santos......( Ramiro AlTonso Monteiro......> Secçao Medica. Egas Carlos Moniz Sodré de Aragão . ,\ Claudemiro Augusto de Moraes i.aldas .- O Nr. Dr. 1'iiiciimnto Pinto fia Silva, O Sr* Dr. Thouiaz (1'Aquiuo Gaspar. A Faculdade não approva, nem reprova as opiniões eunttidas nas theses que lhe suo apresentada*. s É de um mau século o meiado do século em que vivemos! Por certo, uma luta constante mire ;» verdade, que esclarece, e o erro, que cc- gu, entre a crença, que conforta, e a duvida, que debilita; entre a intelii- gencia, que enobrece, e a estupidez, que avilta; entre a seiencia, que ex- alta, e a ignorância, que deprime; entre o trabalho, que produz, e o ócio, que esteriliza; entre a propriedade, que conserva, e a usurpação que ani- quilla; entre o amor, que congraça, e o ódio, que alucina; entre a virtude, que protege, e o vicio, que afeia; entre a moral, que respeita, e a corru- pção, que deprava; entre a religiã), que consola, e a heresia, que deses- pera; entre a luz, que realça, e as trevas, que atraiçoão, é o contraste sin- gular, que já observávamos, quando não havia ainda attingido sua primeira ametade, este excepcional século, que, por causa de uma anegrada chapa de Daguerreotypo, de um frágil cordão de telegrapho, de uma grosseira caldeira de vapor, havia sido, antes de tempo, appellidado século das luzes! Século das luzes! de chãos, de trevas, de maldição, te chamarei eu sem- pre! Não bastara para qualificar-te assim a titanica guerra dos Estados l nidos, que tantos rios de sangue derramou? Não bastara o assassinato politico-selvagem de Maximiliano no México? Ahi estavão de sobra as es- pingardas de agulha, os Chassepôts, para matar de longe, as bailas explo- sivas para matar os feridos, as ametralhadeiras para matar maior numero! _ 4 — Será pouco isso tudo, te parece, século maldito? pois ahi tens essa guerra medonha, feroz, encarniçada, cruel, da França e da Prússia, com todos seus horrores e calamidades; será bastante espesso para escurecer- te a luz todo esse fumo anegrado da pólvora, todo esse denso vapor de mares de sangue, toda essa fuligem dos incêndios do petróleo, e dos mo- numentos do saber e da arte! Não te escurece ainda? Te entenebrecera de todo e para sempre o negrume dessa barbara degollação de sessenta e um martyres da Fé christã, praticada na praça da cidade, que quiz primar de mais civilisada do mundo, de cidade das luzes! Sim, século de modernos Sarracenos, serás o século das trevas, e te fará de maldição essa usurpa- ção cobarde, á falsa fé, do throno do Successor de S. Pedro, do Príncipe da Christandade, da Santidade da Igreja Catholica!!.... Também tive a infelicidade de viver no meiado, e portanto, debaixo da influencia dos contrastes deste século endemoninhado, no qual, parece, que o erro, a duvida, a estupidez, a ignorância, o ócio, a usurpação, o ódio, o vicio, a corrupção, a heresia, as trevas subjugão e levão de vencida a verdade, a crença, a intelligencia, a seiencia, o trabalho, a propriedade, o amor, a virtude, a moral, a religião e a luz! Mercê de Deus, não poderá ser, não será assim; porta inferi non prozvalebit! A verdade triumpbará sempre do erro; a crença, da duvida; a intelligencia, da estupidez; a scien- cia, da ignorância; o trabalho, do ócio; a propriedade, da usurpação; o amor, do ódio; a virtude, do vicio; a moral, da corrupção; a religião, da heresia; a luz, das trevas! Era eu ainda de idade juvenil, quando no templo de Hippocrates os dou- tores da seiencia poserão-me sobre a fronte minha primeira e única coroa de louro, primeira e única, que não mereço eu outra; que me engrande- ceu, e que tenho até hoje sabido honrar, porque foi paga de meu trium- pho acadêmico! Filho de pai e mãi pobres, sahi do templo pobre de dinheiro, como en- trara; a seiencia não alchimia ouro! A riqueza do saber contrastava com a pobreza da moeda; e como era medico joven, não inspirava a confiança das idades maduras. Necessitas urgebat! Uma familia materna e fraterna, crescida e necessitada, era carga collonha que me arrimarão nos hombros os assassinos de meu pai. Sem que eu saiba porque, sem motivos, na maior innocencia, encontrei sempre a adversidade, e o que mais doía, as más vontades gratuitas! Não havia para onde appellar, virlus laboris honor, appellei para minhas forças, não tive a cobardia de desalentar; porque me fortalecia na fé d'Aquelle que nos fica muito acima. Alistei-me de soldado no corpo sanitário do exercito de minha nação, encontrando com os impulsos de minha alma, sempre mansa, de meu co- ração, sempre sensível, e avesso ás armas! Urgebat necessitas! Ingrata ne- cessidade, que me atiraste n'um inferno de sofírimentos, que foste causa, Deus o sabe, de minhas infelicidades todas! Disfarcei por treze annos, todos de contrastes, minha natureza, que nunca pôde harmonisar-se com as scenas dos quartéis; e lá um dia resolvi deixar uma vida, para que não linha propensão. Quem ama as lettras não maneja armas! Appellei então para o professorado acadêmico, e vim, confiado em Deus, disputar em concurso um logar. Deus me ajudou, e eu estou oppositor da Faculdade, ha quatorze annos! Não é por culpa minha, não havião vagas de professores. Os oppositores das Faculdades de Medicina são uma espécie de hybridos indeclináveis, de engeitados! Desventurados, estão sujeitos a todos os pre- calços, mas não gozão de prós! São verdadeiros jornaleiros de 10#000 por lição, e se expõem a saúde, e a vida nos ampliiteatros de anatomia, e nos reverberos das preparações chimicas, então ganhãoa mesquinha gratificação de cem mil réis por mez; quantia inferior a que ganha um cosinheiro de hotel em Montevidéo, e mesmo um porteiro de repartição d'aqui! A mão da morte suspendeo da vida alguns dos professores, que descan- são na paz do sepulchro ! Vagou uma cadeira na secçao a que pertenço, propuz-me ao concurso, uma vez que a lei, que deve ser sempre respeita- da, não permitte que o oppositor passe a professor, ainda que regesse cem ~ 6 — núl vezes as cadeiras respectivas! -Imperem sempre as leis, não se realizem nas Faculdades as lutas dos contrastes, sejão os templos das lettras, como os templos sagrados; aos hymnos que entoão, recuão, e prostrão-se os in- vasores! Porta inferi non pravalebil! A Faculdade mandou-me, por intermédio de seu secretario, um envol- tório contendo ^90 pontos. Nove que recebera, deixaria ainda de sobra oito; porque sobre um devia dissertar em these. Escolhi, conforme a lei, um ponto relativo á matéria da cadeira em con- curso de—Pharmacia—e foi elle—Vehiculos pharmaceuticos. Abri o mappa dos vehiculos pharmaceuticos e vi água, álcool e etkcr. Podia escrever a these sobre todos três, mas fallaria pouco e mal de cada um, e a these, assim, não ficaria lá cousa que prestasse. Pareceu-me melhor tratar de um só, e a escolha recahiu sobre água. Água, nossa bebida habitual, e de todos os viventes, água principal e mais importante vehiculo da pharmacia, com que extrae os princípios ac- livos das plantas, de que faz excepiente de suas tisanas, de seus banhos, com que prepara seus xaropes; água ainda de que se aproveita amedicina, prescrevendo quente para excitar, morna para acalmar, fresca para des- alterar, e fria para vigorar. Julguei assim de valia o ponto. Não me custaria escrever sobre álcool, sobre ether; mas minha these iria empoeirar-se na prateleira de alguma botica. Tive a vaidade de querer dar-lhe mais foros; e mesmo porque, sempre que produzo algum trabalho, desejo que aproveite d'elle, ainda que não seja grande cousa, o povo. Grãos que se encerrão nos cclleiros, não germinão, não vegetão, não fructificão. Faltarão-me conhecimentos, que de poucos disponho eu; faltou-me tem- po, porque derão-me os 45 dias fataes da lei, e sobre tudo, faltou-me di- nheiro para impressão de these volumosa e completa. A imprensa é muito cara para essas tolices litterarias e*scientificas, todo mundo sabe. Abi vai a these para que a julgue o competente Tribunal. Quod scripsi, scripsi. 2)t. &0ieuh &. £., Çmmat«*. mm, Spiritus DEI ferebatur super aquas I ÁGUA CHIMICA—ÁGUA PURA. vj§\gâf QUA cst omitiam rerum principiam—diziaThales—A água WÈPQffi é o principio de todas as cousas. l^raj^j) Defeito, como o ar que respiramos, tem este liquido \/ uma acção immensa, incomprehensivel em todos o^ phenomenos que se realisão na natureza. jC> É a água, que por sua preciosa propriedade de dissolução, trans- ia' porta em todas as partes do organismo vegetal as matérias térreas extrahidas do solo, Algumas moléculas dágua, e algumas moléculas de carvão, convenientemente associadas, gerão debaixo da influencia da mis- teriosa chimica do organismo, esses viçosos corymbos de variadas flores que esmaltão os jardins; essa espessa e basta folhagem com quefrondeão as arvores; essas florestas densas, cerradas, e ricas de madeiras tão diver- sas, cuja immensa classificação tanto pieoccupa os Botânicos. Fonte de toda animação, a água entretem a vida dos animaes, favore- cendo o desenvolvimento de seus órgãos. Admiravelmente identificada com as moléculas das substancias mineraes, lhes communica cores vivas, preciosas, encantadoras. Quereis uma prova? colhei do fundo de sua água mr jtn cjystal de acetato de cobre, olhai-o, apreciai-o; tão lindo é seu ve: (? ;,.; os chimicos de enamorados da belleza, appellidarão no—Crystal de \!.iíus—Aquecei o crystal na chamma de uma vela, a água desquita-se deli; oelleza desmaia, e um pedaço de massa térrea, porosa, exaWiçada, w. — 8 - e mortiça é o que resta! Mergulhai n'agua a massa feia e deforme, resurge Venus das escumas do mar, o crystal revivifica-se e alinda côr verde transparece em todo seu primitivo esmalte. Considerada chimicamente a água não é um corpo simples, um elemento na rigorosa expressão da seiencia; é um corpo composto de dois elemen- tos—Hydrogenio e Oxygenio. Como prova-lo? Procedamos do simples para o composto. Tomemos para dilucidar a questão a água mais pura que a natureza nos oíTerece, seja, no quanto possível, a água de chuva, e estudemos si é um corpo simples, um elemento. Huma experiência de- cisiva vai provar que o não é. Se a água de chuva é submettida á temperatura de 100 gráos centí- grados, não se decompõe, passa ao estado de vapor, e pode por condensa- ção, retomar o estado liquido. Se, cm vez de ser submettido á condensa- ção, o vapor atravessa um tubo, contendo fragmentos de ferro candente, os resultados tornão-se tão frisantes, que importa analysalos. Em 178i Lavoisier em companhia do General Meunier poz em com- municação um frasco cheio d'agua com um tubo contendo rasüras de íerro que forão aquentadas até tornarem-se vermelhas; o frasco que continha água foi aquecido também, e o vapor se expandio no tubo. Apenas teve lugar o contacto, um gaz desprendêu-se pela extremidade opposta do tubo; este gaz era sem côr, sem cheiro, mui combustível, era—hydrogenio, —corpo elementar já conhecido desde os primeiros annos do século 17. Quanto ao ferro contido no tubo, viu-se que se enferrujou, isto é, es- tava oxydado, e augmentou de pezo. O pezo do oxygenio fixado pelo ferro, addicionado ao do hydrogemo desprendido deu exactamente o pezo d'agua vaporisada. Fica pois provado que a água é constituída pela combinação do hydrogenio com o oxigênio. ' Examinemos os phenomenos que se passão durante a combustão do hydrogenio, e faremos a synthese d'agua. Armemos um apparelho de obter hydrogenio. Produzido por meio dos reactivos necessários, seja bem enxuto por corpos ávidos d'agua, e humidade, postos em communicação com o tudo de desprendimento e inflamemo-lo no interior de uma redoma; não tardará o notar-se que as paredes da redoma empanão-se com um órvalho mui tênue. Esta humidade, este vapor condensado, este orvalho que rocia as paredes da redoma, nenhuma cousa outra é senão água per- feitamente pura. A combustão do hydrogenio, isto é, sua combinação — 9 — rom o oxigênio gerou pois água. A analyse deu a prova, a synthese a contra prova. Em 1\ de junho de 1783, Lavoisier e Laplace introduzindo successi vã- mente hydrogenio e oxygenio em vasos bem tapados fizerão 19 grammas ei" centg. de água pura, e reconhecerão por suas experiências que ;< água era composta de 100 de oxygenio e 12,50 de hydrogenio. Dois gazes, portanto, um mui combustível, o hydrogenio, outro mui próprio para activar a combustão, o oxygenio, são os elementos que cons- tituem a água! A affinidade destes dois gazes um para o outro dissimula por tal maneira soas propriedades respectivas, que nos servimos para ex- tinguir os incêndios de um corpo formado de substancias essencialmente próprias para desenvolver calor! Platão tinha, talvez, entrevisto a composição d'agua quando dizia—A água dividida pelo fogo pode tornar-se um corpo de fogo, ou dois corpos de ar. A natureza deste trabalho, e particularmente o estado nada lisongeiro dos meos teres e haveres, não permittem particularisar analyses e synthe- ses para provar, por demais, a composição dágua. Os trabalhos clássicos de Dumas ahi estão nas obras clássicas, não ha a desejar. As experiências citadas nos revelão os elementos d'agua; mas não garan- tem suas proporções. Certiíiquemo-nos. lntroduzamos em um instrumen- to, chamado eudiometro, com as precauções requeridas, um volume de oxygenio e um de hydrogenio, fulminemos a mistura com uma faísca ele- ctrica, e ver-se-ha que 3 quartos da mistura hão desapparecido, resol- vendo-se em água. O quarto de gaz que sobra se reconhece que é oxy- genio. Ergo, um volume de oxygenio e dois de hydrogenio gerão água; se fossem introduzidos, um volume de oxygenio e dois de hydrogenio, de- pois da combustão pela faísca, o resto de qualquer dos dois gazes seria igual a zero. Sabida uma vez a composição dágua, isto é, as proporções de hydrc- genio e oxygenio, fácil torna-se saber sua composição centesimal, isto c, quanto ha, em peso, de cada um destes corpos em 100 partes delia. O peso de um composto é igual á somma dos pesos de seos componentes: ora, dois litros de hydrogenio, que, na temperatura normal e pressão, pe- são grão 0,17896, e um litro de oxygenio que, em condições eguaes, pesa grão J,i2970 devem produzir, por sua combinação gr. 1,00872 de 2 — IO — água. Estabelecidas as proporções 160872:100:: I42976:X X=88,87— 160872:100::0,17896:X. X=ll,13. Cem partes de água contém 88,87 de oxygenio e 11,13 de hydrogenio. Para estabelecer a tormula chimica d'agua, armaremos esta proporção: U,13:88,87::l:8, sendo 8 o equivalente de oxygenio, a formula chimica d'agua será representada por um equivalente de oxygenio e um de hydro- genio; e pois que o symbolo de hydrogenio éH e o do oxygenio O—H O será sua expressão symbolica; e porque, como accontece com os pesos, o equivalente de um composto é egual á somma dos equivalentes dos ele- n-1 mentos, o numero 9 será o numero proporcional, ou equivalente d'aguaüzí Quando é tomado por unidade o oxygenio (na proporção acima toma- mos o hydrogenio), a formula symbolica não muda; o numero proporcio- nal ou quivalente é outro então. Passa a ser 112,50.0 calculo é feito inver- tendo os dois primeiros termos da proporção, e pondo no terceiro o nu- mero 100, equivalente do oxygenio; acharemos que o quarto termo é 12,50; Assim 88,87:11,13::100:12,50, d'onde "=i»q?° ■Má.ftO Quando é inscripta a formula H20, é que é representada em relação aos volumes dos gazes elementares componentes, isto é, hydrogenio dois volumes, oxygenio vm. Também pode ser encontrada a formula ou ex- pressão KJO é a atômica, ou a dos unitários.. II PROPRIEDADES CHIM1CAS DÁGUA DITA PURA. A água dita pura, e que na rigorosa expressão da seiencia deve ser a água chimica, não existe na natureza, nem mesmo no laboratório do ehi- mico mais sagaz e amestrado. Aquellas que poderião ser reputadas mais puras* a de chuva, que chove dos céos, e a distillada, que distilla dos alambiques, não são puras; quando muito poderamos conceder que não contém saes. Todas conteráõ necessária e eternamente oxygenio, azoto, ácido carbônico, identificados com ellas. Não ha poder physico, e muito menos ehimico, capazesde manter a água pura, a água chimica, aquella que — 11 — gera-se no instnnte infinitamente pequeno da combustão do hydrogenio pelo oxygenio. As propriedades chimicas d'agua mais pura, isto é, daquella que repu- tamos como tal nos laboratórios, a que é em regra bem distillada, são mui limitadas. Tanta é a soberba, a supremacia do poder physico d'agua, quanta é a humildade, e indifferença chimica delia! Sem acção sobre os reactivos corados, deixa-se decompor por muitos corpos simples. Uns rou- bão-lhe o hydrogenio como o chloro, outros apossão-se do oxygenio, como o potássio, e o ferro. Obedece aos ácidos, condescende com as bazes, naturalisa-se com os saes, e não lhes modifica os caracteres chimicos distinctivos. Sua acção particular, mais apparente, que não pode ser chamada acção chimica, é permittir que se realisem por sua presença, combinações, des- combinações ou decomposições. Vesses casos cila ('inteiramente passiva, e não passa de um meio, de uma atmosphera devida, de um mundo novo, onde possão viver certos entes conforme sua natureza. Eu me explico. í\ o caso do ácido tartarico, e do carbonato de soda. O ácido carbônico é um gaz, um corpo gerado no fogo, e pode pois existir no fogo, porque nelle foi gerado, e pode existir no ar, porque é da natureza delle, gaz; mas não pode existir n água sem estar apadrinhado ou prezo por outro, e pois suas combinações mantêm-se no ar, mundo de sua vida: o ácido tirtarico ao contrario é gerado n'agua, pode existir n'ella, mas não pode existir no fogo; quando concorre, supponhamos, com o carbonato de soda n'agua, o espirito silvestre, o ácido carbônico, que existia abi obrigado pela soda, transmigra para o mundo de sua existência, e a soda, avessa á viuvez, con- trae novo consórcio com o ácido tartarico presente. Levemos agora o sal tartro-sodico para o fogo, abi não pode existir, a- braza-se, consome-se, e de suas cinzas renasce o ácido carbônico, que rei- vindica scos foros conjugaes; retoma a soda da qual foi obrigado a divor- ciar-se, e o carbonato de soda é outra vez. Nos phenomenos de decomposição dos saes n'agua, sejam margaricos, bismuthicos, hydrargyricos, as cousas devem passar-se da mesma maneira. A água é portanto o mundo, permittão a figura, onde se realisa a metem- psicose da matéria. Passemos agora ao estudo das águas, que tem existência real, d'aquel- las com que contamos em todos os misteres da vida, as águas natur^es. — 12 — III FORMAS PRINCIPAIS DÁGUA NA NATURESA, A pbservaçãp de tempos immemoriaes reconheceu sempre três estados indifterentes n'agua. O solido, o liquido e o vaporoso. De feito, sãp estas as formas principaes debaixo das quaes se nos apre- senta na natureza este elemento. Qual é a forma primitiva,ou mais natural á água? Este problema, em épocas diversas formulado, jamais foi até hoje satis- factoriamente resolvido. Considerando que sempre os estados, liquido, soli- do, e vaporoso têm existido concurrentemente na natureza, que as variações de temperatura e pressão athmospherica tem por effeito obrigal-a a cada passo a tomar um destes estados, ou o outro, conclue-se que são elles pri- mitivos, por igual titulo, e que não é mais natural um do que o outro. Água liquida.—No estado liquido a água cobre mais de três quartas partes do Planeta que habitamos: é a prodigalidade da natureza. Alagando a su- perfície do solo, enche os poços, os lagos, os regatos, os rios eaudalosos,. os mares. Sumida nas entranhas da terra, ou rebentando de lá, constitue as cor- rentes subterrâneas, as vertentes, as fontes. Coada dos altos dos céus em gottas, ou partículas, ou suspensa nos ares em espherrculas diminutissi- mas, ella é por seu todo chuva, cerração, nuvens. No estado liquido occupa portanto a água, não só a superfície, mas tam- bém as entranhas da terra, e ainda os espaços dos céus. Seos caracteres genéricos são, fjuidez na temperatura media, diaphanei- dade, insipidez, inodor, elasticidade, incompressibilidadelimitada, solidifi- cação pelo frio, e vaporisação pelo calor. Água solida.—Água solida chamamos, conforme o seu modo de ser— geada, graniso, saraiva gelo etc. Debaixo d'estas variedades, ella equilibra- se nas regiões altas da athmosphera, ou caramella nos campos, lagos e rios; nunca porém jaz no âmago da terra. Producto do abaixamento de tempe- ratura, a água solida mantem-se até zero: um calor maior volve-a água li- quida e depois vapor. Acpii amorpha, ali crystallisada, agora transparente depois opaca, leve, insipida, sem cheiro, elástica, ella refracta fortemente a luz; compacta e dura no gelo; é esponjosae frágil na neve^ - 13 — Água em Vapor. - A água em estado de vapor é de variedade única. Difíun- dida no espaço, sua origem liga-se a evaporação incessante d'agua liquida, o mesmo solida, sob a influencia da elevação de temperatura do ambiente, das correntes aérias,e das variações de pressão athmóspherica. ReluCtan- te no interior da terra, alimenta-lhe a existência a água liquida escaldada pelo fogo central do globo, ou pelas correntes electricas que serpeiam nas veias. A água liquida, primeiro e mais importante dos typos em todos os ca- sos não é uma simples combinação de hydrogenio com oxigênio.' Seja (piai for a localidade em que exista, e d'onde provenha, na superfície, ou nas profundezas, da terra difíundida no espaço, está sempre impregnada de matérias inineraes,e outras que mudando sensivelmente suas propriedades phisicas, importão também modificações notáveis em suas propriedades chimicas, hygienicas, therapeuticas, e ainda industriaes. Do conjuncto destas difíerenças de propriedades d'agua no estado lí- quido originou-se a divisão que fazem os hydcologos de—água dòce—c água mineral— ou simples e composta. Diz-se que é doce quando contem poucas matérias mineraes em dissolução, quando sua temperatura é pouco mais ou menos a mesma, que a do ar ambiente, e emfim quando não é empregada como medicamento. Esta secçao soffre uma divisão em—água potável, ou não potável, conforme pode ou não servir de bebida ao homem. É mineral a água liquida (pie contém em dissolução substancias mine- raes particulares e cm quantidade notável, ou que mede gráo de calor superior ao do ar e d'agua doce. A seu turno subdivide-se em mineral fria, temperada ou t/termal conforme é fria, tepida, ou quente. Na classe das águas mineraes colloca-se naturalmente a água do mar, cuja proporção de matérias salinas é sempre mui considerável relativa- mente ás das águas que jorrão do solo. Os corpos simples, empenhados nas combinações salinas, e reconhe- cidos até hoje nas águas, são os seguintes. O.vggenio, Fluor, Chloro, Bromo, Iodo, Enxofre, Azo to, Phosphoro, Ar- sênico, Bòro, Carbomo, Antimonio, Silício, Hydrogenio, Prata Cobri1, Es- tanho, Chumbo, Cobalto, Ferro, Manganesio, Alumínio, Magnesio, Cálcio, Stroiuio, Bario, Lithio, Sódio, Potássio. Posto de parte o oxygenio e azoto, que se achão, muitas vezes nas águas, no estado de corpos simples, os outros todos unindo-se ao Oxygenio e hydrogenio, produzem os principioè elementares seguintes 1.° 1/ydroge- . 'TO' ; ? ' — 14 — nios carbonetados, 2.o Oxydo de carbonio, 3.o Ácido carbônico, Sulfurico, Nitrico, Silicico, Arsenicoso, Arseniaco, Phosphorico, Bórico, Hyposulfu- roso, Sulphydrico, Chlorhydrico, Fluorhydrico, Bromhydrico, Iodhydrico, 4.o Potassa, Soda, Lithina, Barita, Slronciana, Cal, Magnesia, Aluminu, 5.o Oxydo de manganesio, de fervo, de cobalto, de chumbo, de estanho, de cobre, de antimonio, de prata. Estes princípios elementares uninio-se uns com os outros formão saes das denominações abaixo. —Carbonatos neutros, bicarbonatos, Sul fatos, Nitratos, Phosphatos, Arsenitos, Arseniatos,Hyposulfitos, Sulfurelos eSulfhydratosde sulfuretos, Chloruretos, Bromuretos, Ioduretos, Fluoruretos, Silicatos, Boratos. Taes são os differentes saes, cuja existência tem sido reconhecida pelos chimicos, nas águas doces e mineraes. Além destas substancias, que tem recebido desde muito tempo o nome de mineralisantes, as analyses tem ainda revelado matérias orgânicas ou derivadas dellas, e são. Matéria orgânica azotada,—Ulmina, Ácido almico, crenico, e apocrc- nico—Matérias organisadas,—Algas, Corfervas etc. Animaes iufusorios— Ácidos orgânicos voláteis, Butyrico, Acetico, Formico, e Propionico. Os corpos enumerados não encontrão-se todos em uma mesma água doce, ou mineral. Assim, por exemplo, nenhum ehimico poude demonstrar Baryta,Stronciana, nas águas doces, como tem accontecido com as mine- raes; nem Prata nestas, como Malagutti e Sarzeau acharão na do mar. De outra parte está fora de duvida que todos estes corpos não estão combinados nas águas da mesma maneira. É o que explica a razão porque, aparte as águas doces e do mar, cada água mineral propriamente dita forma de alguma sorte uma variedade distineta. IV PROPRIEDADES PHISICAS DAS ÁGUAS DOCES EM GERAL. Côr.—As águas doces líquidas, vistas em pequena massa, parecem sem- pre perfeitamente sem cor quando são puras. Examinadas ao contrario em grandes massas possuem urn subtil matiz azul esverdinhado. Alguns sábios pensão que a côr primitiva d'agua é o bello azul dos lagos da Suissa. A ausência de cor em uma agoa doce — 15 — é jà um indicio de que não contem matérias extranhas, principalmente de natureza orgânica. Limpidez.—A limpidez das águas doces está subordinada á posição que occupão na superfície do solo. Assim, por ex., aquellas que estão em re- pouzo quasi absoluto nos lagos e tanques, ou que correm por leito argi- loso e depois de algum tempo e dias serenos, mostrão-se de uma limpidez perfeita. As águas das vertentes que rebentão das rochas graniticas são notáveis por sua limpidez, e eonservão geralmente sua transparência em todas as épocas do anno. Aquellas ao contrario que reçumão de terrenos sedimen- mentarios são as mais das vezes branquiças, particularmente por occa- rião de tempestades. Esta differença provém de que as agoas das verten- tes de terrenos argilosos e cretáceos, são mais do que as primeiras su- geitas ás infiltrações das águas pluviaes, que tem já lavado o terreno an- tes de penetrarem as camadas inferiores. Cheiro.—As águas doces em geral quando estão em continua presença do ar, não tem cheiro apreciável. Em tal cazo estão as águas correntes de rios, de chuva, e de neve. As das vertentes não tem igualmente chei- ro pronunciado. Aquellas, pelo contrario, que não tem curso, e particu- larmente as que contém matérias orgânicas, mineraes, vegetaes, como certas águas de cacimbas, poços, e sobre tudo de pântanos, possuem as mais das vezes um cheiro nauseoso que deriva do acido sulphvdrico e dos sulfuretos. As matérias orgânicas actuando sobre os sulfates alca- linos, e térreos dissolvidos, produzem a principio sulfuretos, que em con- tado do ar se decompõem libertando o acido sulphydríco. As melhores águas conservadas por muito tempo, em vazos, desprendem insensivel- mente um cheiro forte, desagradável, em relação harmônica com a quan- tidade de matéria orgânica que contém. Sabor.—Bem que seja o gosto um indicio seguro da pureza de uma água doce, é contudo insufficiente, quando trata-se de saber se ella é ou não potável. Um sabor enjoatívo e desagradável é uma primeira prova de que a água contem substancias extranhas, principalmente orgânicas, e já alteradas, ou que é pouco arejada. N'esta condição, não pode servir para a maior parte dos usos da vida. Para que seja potável uma água é necessário que tenha um sabor fran- co, e não deixe mau gosto no paladar. Como bem diz Dupasquier, um — 16 — sabor picante não ê um signal de impureza=« Uma água pôde ser pi- cante em virtude de uma grande quantidade de acido carbônico, e ser todavia muito própria para bebida ordinária, bem que não convenha á todos os misteres. Os habitantes dos paizes em que existem águas acidu- las gazozas, usão-nas habitualmente sem o menor inconveniente, e até mesmo vantajosamente. » Certos saes podem existir em uma água doce em quantidade avultada, sem que o gosto os denuncie. Sirvão de exemplo, as agoas selenitosas, que não tem sabor pronunciado, e que todavia, é sabido, são pouco pró- prias para os usos ordinários da vida. O mesmo Bicarbonato de cal que os hydrologos são unanimes em considerar como elemento essensial das melhores águas potáveis, não lhes communica sabor sensivelmente apre- ciável. Afora o cheiro desagradável, a analyse chimica é o mais seguro meio de firmar a qualidade de uma agoa potável. Unctuosidade.—Algumas águas possuem a propriedade de produzir sobre a epiderme e ao tacto uma sensação de substancia graxosa, ou glutinosa, e por que não poderei dizer escorregadia? Este caracter falta nas águas correntes. As águas paradas, ou estagnadas, que contém substancias ve- getaes e animaes em decomposição, são muitas vezes unetuosas e tèm per- dido por isso suas propriedades fundamentaes. Densidade.—As águas doces em geral, em razão da mínima proporção de matérias salinas que contém relativamente á massa liquida, têm, na tem- peratura normal (15o-f-0) e debaixo da pressão de 0,760, um peso especi- fico, mui pouco diflerente d'agua distillada. Experiências feitas, com o fim de conhecer o peso especifico das águas em todas as epochas do an- no, por Mr. Marchand derão em resultado o seguinte. No verão, as águas doces de vertentes, de fontes, são mais densas do que no inverno (bem entendido, na referida temperatura normal), o que leva a admittir que no verão a proporção das matérias salinas está em seu máximo. Temperatura.—O grau de temperatura das águas doces é na razão dire- çta da natureza do leito em que jazem, da profundidade do solo donde manão, da qualidade dos terrenos que vasão, do tempo que gastão até apontarem no ar, e emfim de seu volume. As águas doces têm uma temperatura variável desde zero até 28 ou 30 graus do thermometro centígrado. É absorvendo os raios calorificos e frigoríficos, se frigoríficos ha, que as águas fluentes na superfície da terra, ou disseminadas na atmosphera. — 17 — adquirem todos os graus intermediários dos pontos notados, o que nao é diflficil de comprehender; pois que soffrem sempre a influencia do ar am- biente. As águas das vertentes, que não recebem águas de infiltração, senão á profundidades mui grandes de seu ponto de emergência, têm, em geral, uma temperatura constante em todas as epochas do anno; porque as correntes, que as produzem, estão situadas em uma zona da crosta terrestre, onde a temperatura não varia. As fontes que pelo contrario recebem perto de seus esguichos naturaes as águas infiltradas têm um grau de calor mui variá- vel, segundo a epocha do anno. As águas paradas, ou encharcadas, consideradas em toda sua massa, absorvem o calorico do ambiente mais lenta, e menos uniformemente do que as águas correntes, que perdem-no mais facilmente. Sabe-se por ex- periência que no verão as águas dos lagos e regatos, de fraco escoamento, são mais frias, exceptuando a camada superficial, do que as águas dos grandes rios; que as agitas que, durante o inverno, correm no solo, des- congelão primeiro que as dos lagos, pântanos c açudes. A razão physica não é de difficil aceesso. V VERTENTES DÁGUA DOCE. Os physicos do décimo sexto, septimo e oitavo séculos emiltirão opi- niões as mais contradictorias e oppostas ás que prevalecem actualmente na seiencia, sobre a origem das vertentes d'agua doce. A maioria havia supposto que as águas dos mares, filtrando por todas as partes interiores e porosas do globo, alimpavão-se da maior parte das matérias mineraes, que tinhão dissolvidas, e que isentas das leis "da gravi- dade, descião ou subião á vontade. Um contra todos elles, Bernardo Palissy, sustentou que as vertentes pro- vinhão das águas atmosphericas. Os tempos confirmarão a opinião de Palissy, e todos os que têm atten- tamente observado a relação que une as águas atmosphericas com as que correm na superfície ou no interior da terra, reconhecem hoje que as ver- tentes derivão das águas pluviaes. — 18 — De feito, chegadas estas a seu destino,á terra, penetrão-lhe as entranhas, accumulão-se, e produzem as correntes subterrâneas. Os regatos são exem- plos frisantes. Certas observações, não occultemos, farião crer que á uma certa dis- tancia das costas, as águas dos mares tem um accesso directo com as correntes subterrâneas. Fontes artesianas vizinhas do mar augmentão, ou diminuem nas enchentes, ou vasantes. Arago cita uma fonte de esquicho perto do Tamiza, a qual, em baixa- mar, fornecia 273 litros d água, e na enchente 363, em tempos iguaes. Estes factos,até agora inexplicados, não enfraquecem a opinião de Palissy. Effectivãmente, se as correntes subterrâneas fossem alimentadas por águas do mar, deverião ser mais numerosas, e a quantidade d'agua fornecida, maior n'uma pequena distancia das costas, do que no interior das terras; o contrario, porém, se observa. Demais, como comprehender o porque nos chegão as águas das vertentes, contendo apenas algumas matérias sa- linas tão solúveis, os bromuretos, por exemplo, que as águas do mar têm em dissolução, e abundantemente? Ora, a composição das águas doces de vertentes, comparadas com a d'agua domar é mui differente, para sup- por-se que as cousas possão dar-se deste modo; admittindo mesmo que em virtude de reacções especiaes, os saes marítimos se tenhão inteira- mente modificado na travessa. Além de tudo, como negar, que as águas de fonte provenhão das pluviaes, quando verdadeiras vertentes apparecem logo após invernos e chuvas continuas? As correntes subterrâneas d'agua doce, depois de haverem percorrido distancias muitas vezes consideráveis, vêm apontar por toda parte onde encontrão sitios favoráveis. É nesse momente que a água toma o nome de vertente, e em algumas localidades o de fonte, ainda que seja mais de cos- tume reservar este ultimo nome para a bacia, que recebe a água prove- niente das vertentes. O volume d'agua que fornecem as vertentes é mui variável, e as mais das vezes subordinado ao estado da atmosphera: assim nota-se que após chuvas continuas, o escôo augmenta de maneira sensivel; porém a água que brotão, tem perdido uma parte de sua limpidez, por tanto, de suas propriedades, e isto em virtude das matérias estranhas, que as águas plu- viaes lhe têm trazido. Sabe todo mundo que, na epocha de chuvas, as águas são muitas vezes turvas, e carregadas de carbonato, de sulfato de cal, siliça, argilas etc. - 19 - Quando porém as águas pluviaes têm-se reunido ás correntes subter- râneas, as vertentes tornão ao seu desaguo normal, e a água retoma a lim- pidez ordinária. A composição dos terrenos por entre os quaes deriva-se a vertente até apontar, tem também uma influencia de valor sobre o volume e natureza d'agua. Todas as vezes que tira origem de terrenos graniticos, onde as águas pluviaes tem acesso mais difficil, as vertentes são menos sujeitas ás variações de augmento e diminuição, e de mais suas águas são menos al- teradas em sua constituição, do que aquellas que filtrão atravéz de terrenos cretáceos. A terra não se aquecendo, ou se resfriando senão a uma certa distancia de sua superfície, a água que rebenta das vertentes, sobretudo daquellas que não recebem directamente a acção das águas pluviaes, conserva sua temperatura em todas as epochas do anno. As vertentes, porém, que são alimentadas pelas águas pluviaes, e á pequena distancia da superfície do solo, descarregão água, cuja temperatura não é absolutamente invariável. Este phenomeno se observa sobre tudo n'aquellas, que cessão de correr em certas epochas do anno ou cujo descargo não é regular. Todas estas considerações levão a estabelecer, como principio, que as águas de vertentes de terrenos siliciosos são de melhor qualidade, que as de terrenos calcarcos, e que as águas provindas directamente das correntes subterrâneas mui profundas, tem um descargo, e uma temperatura pouco mais ou menos uniformes, seja qual for a estação; em fim que aquellas que recebem á profundidades menores e a travez de fendas, ou exeavações da terra, as águas atmosphericas, jamais têm um volume constante, e uma temperatura invariável. Carregadas de gaz carbônico que mantém alguns de seus saes em estado de bicarbonatos, certas águas de vertentes emanando principalmente de rochas granitieas, dão ao paladar um sabor particular, agradável, que não se encontra nas águas correntes. Esta propriedade, junta a um arêjo sufficiente, a uma grande frescura, á diminuta quantidade de matérias mineraes em dissolução, á ausência de orgânicas, e finalmente á uma extrema limpidez, as torna mui próprias para o uso da bebida, e são tidas e havidas, como águas potáveis de pri- meira ordem. Os homens bebem-na com maior prazer. As águas ao contrario que reçumãode terrenos modernos, permeáveis, e cretáceos não <ão sufticienlementearejadas,contêm proporções notáveis de matérias ter- — 20 - rosas, que lhes communicão um sabor enjoativo, alcalino; e seu emprego não é sem inconvenientes. VI ÁGUAS POTÁVEIS. Para que possa merecer a qualidade de ser potável no grau requerido, deve a água ter as seguintes condições—ser mui límpida, sem cor, sem cheiro, fria no verão, temperada no inverno, de sabor agradável, e de fácil digestão; deve dissolver o sabão sem corta-lo, (precipita-lo), turvando- se apenas perceptivelrnente, emfim deve cozer bem os legumes sem en- durece-los. Nem todas aquellas que servem de bebida habitual ao homem são do- tadas de tão felizes qualidades; muitas vezes um, ou muitos desses carac- teres faltão, sem que por isso resultem inconvenientes sérios. Se, propriamente fallando, todos os saes dissolvidos nas águas concor- rem para tornalas potáveis, um ha que parece gozar no mais alto grau desta propriedade, é o bicarbonato de cal. Dupasquier divide em duas clas- ses as substancias dissolvidas ordinariamente nas águas—substancias Úteis, e substancias nocivas. São úteis, o oxygenio atmospherico, 2.o o acido carbônico, 3.° o chlo- rureto de sódio, cuja propriedade digestiva é demonstrada pela experiên- cia diária 4.o bicarbonato de cal. Entrão no numero das nocivas, l.oas matérias orgânicas em abundância, e particularmente em estado de putre- fação 2.o sulfato de cal 3.° chlorureto de cálcio, e nitrato de cal, quando existem em quantidade notável, em relação aos outros saes. As interessantess expeiiencia de Dupasquier têm demonstrado que nas águas doces o bicarbonato de cal, salvo raras excepções, encontra-se constantemente, e que entra em media por trez quartos, ou quatro quintos da matéria calcarea; seria elle ainda o único sal de cal que não tornaria as águas selennitosas, cruas, ou pesadas. Foi em virtude disso que Fontan e Loyet proposerão o salutar conse- lho de ajuntar soluções desse sal n'agua distillada do mar, afim de tornal-a potável. O bicarbonato de cal, tido em dissolução n'agua por favor de um ex- — 21 - cesso de acido carbônico, actuaria como excitante, durante o trabalho da digestão, como fazem os bicarbonatosalcalinos; depois, decomponlo-se Ia no labyrintho do organismo, fixaria seu elemento calcário no systema ósseo. As observações de Dupasquier, reconsideradas por Boussingault nesse ponto, tem tido cabal confirmação. Os outros saes calcários, como sulfato, nitrato, chlorureto, são capazes como o bicarbonato de ceder aos ossos a cal que a água lhes dá; porém, como são sempre menos abundantes nas ditas potáveis, pode concluir-se que o bicarbonato é a substancia que ajuda mais ao trabalho da ossifi- cação. Para distinguir as águas potáveis d'aquellas que não são, ou são menos, empregão-se expressões, que lembrão logo sua composição aproximativa, e suas propriedades hygienicas. Assim a expressão—leves—exprime águas suficientemente arejadas, contendo particularmente bicarbonato de cal, e chloruretos alcalinos, taes são as águas potáveis de primeiro grau. As águas pesadas, pelo contrario, provenientes de açudes, poços e de certas vertentes, são menos arejadas; o sulfato de cal, e os chloruretos tér- reos predominão nellas; e são saes que os líquidos do estômago não che- gão a decompor. São águas não habitualmente potáveis, e appellidadas ainda de cruas, duras ou sclenitosas. As águas doces leves tem-se deslizado serenas sobre leito silicioso; as pesadas, duras, cruas, etc, rolarão por terrenos cretáceos. Os sabores são também differentes, em quanto que as primeiras são agradáveis de beber, as segundas deixão no paladar um resabio pronunciado de terra. Vejamos agora a influencia dos logares sobre a qualidade das águas di- tas potáveis. A' pouco ficou dito que as águas, que gosão no mais subido grau da propriedade de serem potáveis, não se tinhão desusado senão por terrenos siliciosos; taes são as águas dos rios e das vertentes todas, porém, não são igualmente boas: as dos regatos, porex., apresentão differenças, que de- pendem do estado da atmosphera, da estação, do logar donde são ordi- nariamente tomadas. Por oceasião das chuvas continuas são sempre branquiças fazendo in- dispensável a íiltração; e demais contêm em solução saes calcários, e maté- rias orgânicas, arrastadas das terras movediças que tem lavado. - 22 — Nas visinhanças de cidades, lá para além das bandas para onde cor- rem, adquirem ellas um cheiro e sabor desagradáveis, que influem de- sastrosamente sobre a economia, e que são communicados por matérias solúveis, orgânicas em putrefação ou de esgotos, ou de deposito de im- -mundicias. A água de um regato quanto mais tem curso rápido, um leito silicioso, distancia afastada de povoados, mais é própria para beber-se. Em movi- mento incessante por sua gravidade própria ella absorve em todas as suas partes os elementos do ar e perde por effeito de uma combustão es- pontânea, as matérias orgânicas, recebidas do ar e das margens que ba- nha. Ao depois os saes calcários, em virtude de reacções múltiplas que se realisão em seu seio, convertem-se em bicabornato de cal, solúvel á custa do acido carbônico da atmosphera. Pelo contrario, se um regato tem um curso lento, por baixante de águas e favorecendo uma temperatura quente, a água clarifica-se mais, é verda- de, porém ha perdido uma parte da frescura que apraz-nos, e demais as matérias orgânicas vegetaes e animaes abundão muito, sobre tudo se repousa em leito de lodo, e atravessa centros de população. Conforme a opinião de valia de um autorisado hydrologo o Sr. Fauré, para ser potável, não deve uma agoa conter mais de 0,60 gram. de ma- térias salinas ou terrosas; e nem mais de 0,01 de matérias orgânicas. Uma questão muito discutida, mais até agora não decidida, é a da po- tabilidade das águas de chuva. Opinão uns que é eminentemente potável, reputão-nas outros, como não habitualmente potáveis. Os que as conside- rão por este lado arrazoão de que não contém uma quantidade assás gran- de de princípios salinos, e ainda porque não podem ser utilisadas, sem haverem sido conservadas durante algum tempo; e ajuntão mais que chegadas nas cisternas, bem que em verdade ahi dissolvão algumas substancias mineraes, não tendo curso, se alterão pbysica e chimicamente. E' raro, accrescentão por fim estes, que as cisternas forneção boas águas. Inscrevo-me entre os primeiros partidistas das águas de chuva, e estou prompto para defender a potabilidade dellas, convenientemente acondicio- nadas em cisternas ou algibes. Quando não prevalecessem as razões theoricas que são sobejas, os fa- ctos por demais convencem. Quem viajou as terras das Republicas do Rio da Prata sabe, porque vio, que as populações alimentão-se de águas de — 23 - chuva recolhidas em algibes. Cada casa tem o seu algibe. Estive quasi cinco annos no Estado Oriental, fiz muito de propósito estudo sobre o effei- to destas águas, e não pude colligir inconveniente algum do uso dellas. Por todo esse espaço de quasi cinco annos, bebi exclusivamente água de chuva; não ha outras; e se alguma cousa senti foi em favor de minha saúde, que ali tive sempre boa e vigorosa. Lindas cores, viçosa tez, rijas formas, robustas forças, invejável agilidade, foi sempre o que vi, o que me prendeu a attenção. Ali as águas das chuvas são recebidas das sotéas em algibes, que são espécies de cisternas, bem acabadas, com fundo e paredes de oplima al- venaria. N'elles conservão-se as águas em todas as estações sem altera- ção sensível. No verão mais quente, a água tirada do algibe está sempre fresca e Iria. Também as famílias não usão e nem precisão de resfriadei- ras no verão; nos dias calorosos, cada vez que necessitão de saciar a sede, ou que uma visita pede água, mandão sacar en ei ah/ibe, y viene un vaso de água tan fresca y fria que dá gusto bebersela; seja o calor de abra- zar, esteja o sol em pino, a água está fria de quebrar os dentes; é a razão por que não se altera. É verdade que poderião objcctar-me que só nos paizes frios as águas de chuva prestarião sem inconveniente. Não concedo; porque no verão do Rio da Prata, também o calor não é pequeno. Exceptuo, de bom grado, o nosso em, que'a desastrada temperatura de 30 e tantos graus centígrados no verão, e 20 tantos no que chamão aqui inverno, reunida á essa descom- munal humidade, e a desmedida copia de matéria orgânica, dessiminada na atmosphera, e que vegeta mofenta no forro do chapéo, na golla da casa- ca, no pão da mesa, no fundo dos bahús cerrados, seria de sobra para corromper a água mais crystalina e pura que os céos chovessem! VII ÁGUAS NÃO POTÁVEIS E INSALUBRES. As águas dos poços de águas vivas e estagnadas, dos tanques, dos açudes, dos pântanos são todas não potáveis e insalubres, e não podem ser- vir para bebida, Cavados quasi sempre cm terrenos modernos, argilosos e — 24 — cretáceos, todas estas espécies de poços têm em reserva águas geralmente insalubres. Accumulando-se ahi, as águas tendo arrastado durante seo curso, atravez das camadas dos terrenos, substancias mineraes particula- res, são de sabor térreo e antidigestivas. Não tendo directamente o contacto do ar em todas suas partes, não sen- do, como as águas correntes, convenientemente arejadas, são estas águas cruas e pesadas. Em epochas de calores, em virtude da evaporação, espontânea, os saes que contém em dissolução, duplicão,triplicão, e quadruplicão.Não ó só esse o maior inconveniente; soalheiras, são a sede de reacções múltiplas entre os saes solúveis e as matérias orgânicas e organisadas; e são emfim viveiros de myriadas de vegetaes e animaes microscópicos, que ahi percorrem todas as phases de sua existência. Concebe-se então que nesses estados as águas se achão quasi desnatura- das; seu cheiro é desagradável, seu sabor enjoativo, sua frescura nulla, emfim não possuem caracteres que pertenção ás águas potáveis propria- mente ditas. O uso de similhantes águas assim alteradas tem sobre a saúde publica conseqüências deploráveis, e bem dignas de merecer a attenção dos governos encarregados de cuidar do bem estar dos povos. IX INFLUENCIA DAS ÁGUAS UTILISADAS COMO BEBIDA SOBRE 0 DESENVOLVIMENTO DE CERTAS ENFERMIDADES. Desde tempos, que M.r Grange deu noticias de suas observações, ten- dentes a demonstrar que muitas enfermidades endêmicas, como a papeira (bocio) o cretinismo, erão dividos a composição particular das águas doces. Conforme este attentado pratico, as águas doces potáveis ou outras que contém quantidades notáveis de magnesia, terião o triste previlegio de desenvolver a papeira ou bocio. Os factos annunciados por Grange têm sido reconhecidos exactos em grande numero de localidades, onde faz-se uso dessas águas. Uma excepção apenas da-se em Rodez no Aveiron, onde existem, conforme Blondeau, águas magnesicas, mas onde não é freqüente a papeira. O caso excepcional de Blondeau não dismente os geraes de Grange., — 25 — Muitos physiologistassãode parecer que essa moléstia resulta da auzencia de ioduretos nas águas. Se não fora minha timidez, eu me arriscaria a discr que pelo contrario parece que a papeira é conseqüência dos ioduretos nas águas. Conheço trez famílias em cujos membros o iodureto produz uma papeira, ou bocio, que persiste durante o tempo em que estão debaixo do tratamento ioduretado, prescripto para enfermidades outras que não esta. As pessoas que fazem uso do iodureto de potássio sentem todas, quasi sem excepção, incommodos na garganta. O bocio ou papeira deve ser en- tão uma inflamação sympathica dos gânglios da parte anterior do pesco- ço, como são muitas outras desses órgãos por causa de moléstias visinhas. Neste presupposto, a acção do iodo no bocio deve ser homeopática; quem sabe? FONTES DA CIDADE D* BAHIA. Existem nesta cidade muitas fontes que fornecem águas para o consu- mo da população. Umas propriamente potáveis, outras podendo servirem casos de necessidade. Estão no primeiro caso as águas chamadas—do Forte de S. Pedro, as do Tororô, de propriedade particular do Sr. Lacerda, e as do Queimado, que o povo appellida dos chafarizes. No segundo, estão as do Coqueiro, Fonte dos Padres, da Ladeira da Misericórdia, as de Água de Meninos, as da Munqanga e outras. O sábio pharmaceutico, o honrado Sr. Manuel Rodrigues da Silva (1) cuja autoridade, em matéria de analyse chimica tem sido até hoje reco- nhecida, sempre propenso a dispender o cabedal de seus conhecimentos, das sciencias chimicas, que tanto o illustrão, em favor do bem commum, (1) Seja-me licito oíTertar aqui um voto de gratidão a este honrado e venerando ancião, de quem recebi lições, que depois de 20 e tantos annos de bons serviços no logar de eollaborador dos trabalhos chimicos e pharmaceuticos desta Faculdade, onde assentou a pedra fundamental da chimica pratica, e onde deixou discípulos illustrados, a ingrati- dão e a injustiça, sem motivo, o despedirão para seus Penates, onde vive sem recom- pensas, e sem mais títulos e honras, do que os títulos de seu saber, e as honras de siu honra. — 20 — praticou analvscs nas asuas da fonte do Forte de S. Pedro, e nas das ver- tentes do Queimado. Os resultados destas analyses derão de productos sólidos para as águas do Forte de S. Pedro, por cinco litros— 0,340 grm., sendo de Carbonato de cal..................... 0,065 Chlorureto de magnesio...............■ 0,007 Dito de sódio........................ 0,123 Sulfato de soda...................... 0,058 Siliça............................... 0,023 Matéria orgânica...................... 0,057 Ferro............................... vestígios Perda.............................. 0,007 0,340 Para as águas das vertentes do Queimado, por cinco litros também,. (1>320 grm. sendo de Carbonato de cal..................... 0,052 Chlorureto de magnesio............... 0,027 Dito de sódio........................ 0,136 Sulfato de magnesia................... 0,038 Siliça e matéria orgânica............... 0,035 Ferro............................... átomos Perda............................... 0,012 Somma (em que faltão 0,020) (1)....... 0,300 Resulta destas analyses, bem comparadas, que as águas do Forte de S. Pedro são muito superiores ás águas do Queimado. Apreciemos, com- parando, verba por verba. í.o Carbonato de cal—Conforme deixei escripto em outro logar, Dupas- quier considerou nas águas, substancias úteis, e substancias nocivas. Nas úteis estão oxygenio, acido carbônico, chlorureto de sódio, cuja proprieda- de digestiva é reconhecida, e o bicarbonato de cal. Com quanto não re- zem as analyses bicarbonatos de cal, creio que sejão esses que o sábio ehi- mico o Sr. Rodrigues nomeou carbonatos, como se praticou até certa epo- (1) Esta taboa foi extrahida exactamente da do relatório que, acerca das águas do Queimado, apresentou ao governo da província, em 21 de fevereiro de 1865, o illustre Sr. Dr. José de Góes Sequeira. t lia próxima; sendo unanimes os chimicos modernos em inscrever bicar- bonato de cal nas águas; e então comparadas as duas verbas desse cor- po salutar, a das do Forte de S. Pedro, têm sobre a das do Queimado a vantagem de 0,013 grm. 2.o Chlorureto de sódio—O chlorureto de sódio n'agua do Queimado é de cifra superior á do das águas do Forte de S. Pedro. A desvantagem é ainda aqui para ellas. Vejamos. Physiologicamente considerando sabe-se que o chlorureto de sódio, com quanto substancia útil por digestiva, pre- judica a saúde em excesso, porque é qualidade dos chloruretos todos lique fazerem muito,e descorarem o sangue, amollecerem e destruírem os tecidos vivos ou mortos, em virtude do chloro que contém, e que possue estas propriedades. Quem não sabe, qual a pessoa do povo que não conheça que as comidas salgadas repetidas, que o vicio de comer sal concorre para as hydrohe- mias, o escorbuto, a oppilação, o cansaço? ^ 3.o Saes dr magnesia—A quantidade de saes de magnesia nas águas do Queimado é tão grande, tão fora do permittido, do commum, que estas águas poderião ser reputadas não habitualmente potáveis e magnesirus. Defeito, vè-se que na verba chlorureto de magnesio tem 20 millesimas de mais sobre as do Forte S. Pedro, e de sulfato da mesma base 38, de (pie são privadas as do Forte de S. Pedro; ao todo 0,065 em saes de magnesia, somma muito superior á do elemento útil bicarbonato de cal, que conta nellas 0,052. As águas habitualmente potáveis não devem ter em relação ao elemento útil, o bicarbonato de cal, mais de um sexto, ou de um quinto de chlorureto de magnesio. Nas do Queimado está para mais de ametade. Nas do Forte de S. Pedro a cifra deste corpo está até abaixo da tolerância, por menos de um nono. Como devera-se ter lido no capitulo antecedente, as águas magnesicas são damnosas á saúde. Tem as águas do Forte de S. Pedro uma substancia, que a analyse não encontrou nas do Queimado—O sulfato de soda—He mais um corpo salutar que tem; pois que a therapeutica tem-no como um purificante do sangue de primeira ordem, e de resultados favoráveis nas moléstias ehronieas da pelle; o que é fácil de explicar, sabendo que da acção das substancias do organismo sobre os sulfatos resultão os sulfuretos e d ahi o enxofre, tão commum, e effieazmente empregado nessas moléstias. í.o Ferro—No elemento ferro as águas de uma e outra fonte estão em - 28 — par, conforme a analyse do sábio e asisado ehimico ja nomeado. Não ha que comparar. 5.o Siliça e matéria orgânica—Na verba siliça e matéria orgânica é onde as águas do Queimado parecem levar vantajem ás do Forte de S. Pedro; pois que, em quanto que tem 35 millesimas, as do Forte de S. Pedro tem 80. Amatería orgânica é na verdade elemento de insalubridade nas águas e particularmente quando ellas contém saes impropnos para sua potabilidade, como os de magnesia. Raciocinemos de boa fé e veremos que a desvantagem, neste ponto, das águas do Forte de S. Pedro desapparece. Toda esta cidade em pezo sabe que as águas do Forte de S. Pedro não tem recebido benefícios alguns. Os poderes públicos da terra, em geralr mais atarefados sempre com emprezas de imis vulto, têm reputado as necessidades mais vitaes do povo, a alimentação e a saúde, como cousas muito secundarias, ou que não valem a pena, esquecidos ou zombando do aphorismo—Salus populi, suprema lex estor—e assim não tomão o incom- modo de descerem do espaldar, onde os assentou a boa sorte, para cui- darem da ninharia de beneficiar fontes publicas, para dar água boa ao povo, e sobre tudo porque é de parecer que a cornmandita do Queimado, senhora de baraço e cutello, que cerra as pennas dágua, sem piedade e despoticamente, que não consente, nem quer que venda ou dê água quem a comprou e cuja propriedade é, não deve ter competidores, nem mesmo nas fontes publicas do povo, porque é privilegiada por dentro e por fora! É daqui que resulta desvantagem para as águas do Forte de S. Pedro, em relação somente á matéria orgânica, comparadas com as do Queimado, que lhes ficão inferiores em tudo mais. A água que o venerando ancião analysou tomada da fonte de S. Pedro, não beneficiada, necessariamente devia conter substancia desta ordem; mettida, como está, dentro dos matos, donde cahem folhas, ramas, etc. que apodrecidas nos terrenos, por certo, communicão-lhe princípios or- gânicos; no entretanto que no Queimado forão analysadas águas de ver- tentes beneficiadas, e que a cornmandita ia pela primeira vez expor a vendagem publica, e devião, em sua lua de mel, possuir os predicados da boa acceitação. Isto somente bastava para tirar essa pecha que por ventura quizessem impor ás águas do Forte de S. Pedro, ainda hoje preferidas por muita» famílias, que mandão tomal-a mesmo com sacrifício e custo maior.. — 29 — No mappa de analyse ja referido, vê-se (como disse) que faltão para eompletar 0,320 grm., total do resíduo achado nas águas do Queimado, 0,020; si esta cifra for carregada em algumas das outras verbas, é em desfavor da água, que ficará mais mineralisada, e si, como é provável, deve pertencer á matéria orgânica, então mais desapparece a desvanta- gem mui sanavel das águas do Forte de S. Pedro, que não têm saes ma- imesicos em abundância, como as do Queimado; pois é mais fácil puri- ficar as águas que tem substancias orgânicas, do que as que são salinas ou mineraes. Apezar de tudo quauto hei dito, não julgo as águas das vertentes do Queimado, como não habitualmente potáveis, devo porém dizer com fran- queza que as águas que são vendidas á população, de certo tempo para cá, de I86i, não são de boa qualidade, antes poderião ser consideradas como de inferior, senão de péssima. Tem máo gosto, são pesadas, não tem frescura, pouco eshião-se, e dão ao olfato um sensível cheiro que não é agradável, basta a demora de uma noite nas quartinhas. Devo confessar aqui que não sou inimigo dos commanditaiios, os quaes não conheço. Desfallecido de títulos, de graças, de favores, que mesmo nunca ambicionei, nem ambiciono hoje, que a vaidade, que pouca sempre tive, se arrefecêo na passagem do equador para além dos trópicos da idade, vivo contente e satisfeito no canto escuro de minha humildade, e bem consolado, ja que nas aspirações nobres da juventude, as refegas da fortuna soprarão-me sempre ponteiras. Não tenho enfados a desabafar, nem resentimentos a vingar; porque não recebi offcnsas dessa gente, quem ella seja, nem civis, nem políticas, não tive dares nem tomares, não pedi nem solicitei de ninguém, em boa hora diga, até agora, ainda uma faxa de inspector de quarteirão, lugares de subdelegado de freguezia, de camarista,de deputado, que são tão ambicionados de certos tempos para cá. Professando medicina, cabe-me o direito de estudar os meios necessá- rios á manutenção da saúde, e da vida physica, do próximo, e minha também, e emittir meo parecer scientifico, particularmente quando é sa- salutar, em prol do bem commum, embora contra interesses pessoaes de poucos. Deve estar na lembrança de muitos, senão de todos, que em 1864, o povo clamava com rasão contra a má qualidade das águas dos chafari- zes vendidas á elle. . Era presidente desta Província, o honrado Sr. Dr. Luiz Antônio -Bar- — 30 — bosa de Almeida. O eeho do povo reflectio no gabinete official, e S. Ex\, honra lhe seja feita, descêo da altura presidencial para attender o povo. S. Ex. nomeou uma commissão, cujo presidente foi o honrado e incan- sável inspector de saúde publica, o Sr. Dr. José de Góes Sequeira para examinar as águas do Queimado, e dar seo parecer sobre os cinco que- titos, Io Situação geológica e hydrographica das vertentes, que alimen- tão as reprezas, 2o Idem das reprczas, escoamente d'agua, e estado nos reservatórios. 3o Analyse das águas nos reservatórios e a distribuição delia. 4» Preenchimento de condições hygienicas, processos de purificação etc. 5o Processos depuradores em relação com o volume d'agua distribuída dentro de um tempo dado ao consumo publico. Aqui foi Troya!... São resentimentos, enfados, vingança politica, proromperão os interes- sados; porque desgraçadamente nesta terra a politica, que tudo tem pros- tituído e vai invadindo, lobriga no acto mais meritorio, uma vez contrario a interesses pessoaes illegilimos, a desforra, e a vindicta de partido! Sem embargo, a resolução presidencial proseguio. A commissão fez seos exames, e apresentou um relatório, sete mezes depois, ao governo da provincia, que então parava em mãos de pessoa outra, em 21 de Fe- vereiro de 1865. É deste relatório elaborado pelo illustre inspector de saúde publica acima nomeado, que, prudente, circunspecto, e profundo pensador, como é notó- rio, não emitte opinião senão depois de madura reflexão, que exhibire- mos provas de que effectivamente nas águas do Queimado, vendidas ao povo não existem aquellas qualidades requeridas e desejadas; pode bem ser, quem sabe, pelo pouco caso da companhia em beneficiar águas que, sem benefícios, são sempre consumidas, é produzem avultados lucros. Com quanto pareça aos que lerem de passagem o bem elaborado rela- tório, que as águas do Queimado são de excellente qualidade, todavia, a attenção calma, e o espirito despreocupado encontraráõ razões ao en- vez. Eu transcreverei, ipsis verbis, alguns trechos do relatório, e os cri- ticarei; pedindo venia ao generoso relator. Respondendo ao primeiro quisito, diz o sábio professor: «E' assas sim- ples a formação ou disposição geológica do terreno d'onde manão as ver- tentes. A crosta é de terreno vegetal, em geral silico argiloso, e em alguns pontos mais remotos das margens do açude ou repreza é puramente ve- getal; as camadas immediatas ou inferiores a esta, cuja espessura é variá- vel são em alguns lugares argilo silicosos, e em outros silico-argilosos, e — 31 — noutras ainda inteiramente argilosos: acamada situada logo após estas é de natureza granitica. A foimação dos valles do açude ou represa pode *er classificada do mesmo modo que a do terreno das colinas; havendo entretanto no fundo destes como é naíural uma camada de terreno de aluvião. » Ora todos os hydrologos, á uma, dizem, c o repete o illustre relator du eommissão, que as águas que passão por terrenos como esses, isto é, do 5o gi upo orgânico, acluaes de aluvião, quaternário e terciario, devem conter em dissolução matérias quer mineraes, quer vegelaes de más qualidades para ellas. Encaremos agora para o quadro da analyse chymica praticada pelos dois distinguidos collegas, Drs. Virgílio Damazio, e Cunha. Em dois litros de água encontrarão, 0,149 gram. de resíduo solido, cujas verbas são: Carbonato de cal............... 0,018 Idem de ferro.................. 0,023 Chlorureto de sódio............. 0,060 Idem do magnesio............. 0,017 Matéria orgânica e siliça ........ 0,013 Perda........................ 0,007 Somma inexacta (I)..... 0,149 Nesta analyse, na qual, peço desculpa para dize-lo, encontro um defeito que é de não rezar o ar, e o acido carbônico nella contido, em suas natureza e proporções, sobresahe umaavultadissima cifra de ferro, demais para cons- tituir uma água férrea, olhando-se para os mais corpos, que a excepção do chlorureto de sódio, lhe ficão inferiores. Na anlayse do sábio ehimico, o ferro deixou-se descobrir em átomos. Donde esta difTerença tão sen- sível0 Por sem duvida que provirá do puysard velho, de cuja água so- mente servirão-se para a analyse, como diz o relatório. E' notável ainda a falta de sulfato de magnesia, que na analyse minuciosa do Sr. Rodri- gues, concorre em valor crescido 0.038 grm.! que é delle? No que diz respeito ao exame ehimico das águas, particularmente nessa oeeasião, tão critica, o trabalho foi por demais imperfeito, perdoem-me a ou- sadia. Para ser perfeito, era de rigor o exame das águas, das vertentes, das do açude, das dos taes puysards, e ainda das águas, depois de derramadas (l) Neste mappa que copiei do relatório, falta a eifra 0,011 para completo da somma, U. 149 do resíduo solido -achado. — 32 — dos chafarises principalmente.Em questões de águas potáveis a analyse chi- mica é tudo, porque em ultima analyse, só as substancias mineraes contidas nas águas dão sentença final, e sem appellação: é tribunal de ultima ins- tância. Quisera enchugar a penna, mas poderia passar por leviano; porque os meos dizeres sós não serão bastantes para contentar e convencer. Conti- nuarei expondo as bem pensadas rasões do honrado Sr. Dr Góes, rela- tor da Commissão. Sua Senhoria, nunca tímido no desempenho de seos deveres, com aquel- la franqueza e independência que o caracterisão, diz tudo o que segue. « A commissão sem negar absolutamente a opinião d'aqueltes que vão buscar a causa da turvação das águas em alguns chafarises (porque não em todos?) e em certas pcnnasd'ellas, somente n'aquella simples mistura (falia das águas do açude misturadas com as que reçumão das vertentes) e no desaceio do interior dos tubos de canalisação entende comtudo, que outras rasões{ quantas mais, melhor (que passa a expor com toda a franqueza e lealdade, melhor e mais satisfactoriamenle explicão o facto. » I.o «Os terrenos argilo arenosos, que foramutilisados como filtros natu- raes já não podem preencher esse fim, em conseqüência dos depósitos de matérias, que n'elles foram ficando em cada filtração, e que se tornaram parte componente d'esses terrenos. Esses terrenos são os que constituem o valle situado entre o açude, e os puysards ou collectores. Similhantes terrenos durante o longo período de mais de 9 annos prestarão um serviço de filtro natural: já não podem satisfaser a um fim tão útil. Acontece com este valle por onde passão as águas do açude ou repreza o mesmo que a- çonteceu com um banco de areia e pedra qne servia de filtro ás águas de Toulouse......etc. Importa faser observar que as águas carregam as maté- rias solúveis que encontram eque a água obtida com o segundo filtro, es- tabelecido em Toulouse, tinha um ligeiro gosto de lama. (>, e nos quentes somente 12, receiando a putrefacção, e d'ahi a febre puerperal. III.—Sc houver hemorrhagia, facilitem-se as difficuldades e seja extra- liida a placenta. Operações Corpos estranhos na bexiga e seu tratamento. I.—O tratamento exigido, em conseqüência de corpos estranhos na be- xiga, deve variar, conforme elíes, II.—Nos casos de pedra, preferirei sempre a lithotripsia á talha. III.—No caso de corpos introduzidos, que não cedão ao lithoclastro, e de perigar o doente, então e só então se praticará a perigosissima opera- ção da talha. Clinica externa Estrangulamentos herniaiios. I.—O estrangulamento herniario é um paroxismo da morte. II.—A idade, o temperamento, o estado do doente, a natureza da causa que motiva o estrangulamento, devem ser tomados em consideração para final resolução do tratamento, líf.—Uma vez julgada impossível a taxis, pratique-se o desalbgamcuto com o instrumento cortante, Bahia—Tvp. de J. G. Toiiriaüo—1871. < 4