THESE DE COXCliRSO DO gt Wkfilw ÍÍJMÍ0 glIWW 18 7 5 ESTUDO PYROGNOSTIGO DOS MINERAES TÍÍESE RE CONCURSO Á CADEIRA. DE GHIMICA MINERAL E MINERALOGIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA APRESENTADA PELO Dii. VIRGÍLIO CLIMACO DAMAZIO OPPOSITOil Dl MESMA FACULDADE l/azione chiniica è la sorgenle prima dolla potonza nolle nostre macchinc ca- lorichc. II calore è uno de’ mezzi piú potcnti di analisi che possegga la chi- raica. (Secchi—Lunità delle fnrze fisiche.) BAHIA TYPOGRAPHIA DO «DIÁRIO» 101 — Largo do Thcatro —101 18 75 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA DIRECTOR O EXM. SR. CONSELHEIRO DR. ANTONIO JANUARIO DE FARIA VICE-DIRECTOR O EXM. SR. CONSELHEIRO DR. VICENTE FERREIRA DE MAGALHÃES LENTES PROPRIETÁRIOS Os Srs. Doutores Io amio Matérias que leccionâo Cons. Vicente Ferreira de MagalMes . . H>ysiç« «n geral., oporticutorroentecm sum Chimica e Mineralogia. Barão de Itapoan . Anatomia descripliva. Antonio de Cerqueira Pinto Chimica organica. Jeronymo Sodré Pereira Physiologia. Rotanica e Zoologia. Barão de Itapoan Repetição de Anatomia descripliva. S° anno íí° anno Cons. Elias José Pedrosa Anatomia geral e pathologica. Egas Carlos Moniz Sodré de Aragão. . , Pathologia geral. Jeronymo Sodré Pereira Continuação de Phisiologia. 4" anuo Dr. Domingos Carlos da Silva .... Pathologia externa. Demetrio Cyriaco Tourinho ..... Pathologia interna. Partos, moléstias de mulheres pejadas e de meninos recemnascidos. 3° anno Demetrio Cyriaco Tourinho Continuação de Pathologia interna. Luiz Alvares dos Santos Matéria medica e thcrapeutica. José Antonio do Mas **** “P”10' "1 Rozendo Aprigio Pereira Guimarães . . . Pharmac.a. Francisco Rodrigues da Silva Medicina legal. Domingos Rodrigues Seixas Hygiene e Historia da Medicina. José Affonso Paraizo de Moura .... Clinica externa do 3.° e 4.° anuo. Cons. Antonio Januario de Faria . . . Clinica interna do 5.° e 6.° anno. íí° anno OPPOSITORES Augusto Gonsalves Martins . Antonio Pacifico Pereira . Alexandre Affonso de Carvalho Jc sé Pedro de Souza Braga . Secção Cirúrgica. Ignacio José da Cunha .... Pedro Ribeiro de Araújo .... José Ignacio de Rarros Pimentel. Virgílio Climaco Damazio. José Alves de Mello Claudemiro Augusto de Moraes Caldas Ramiro Aífonso Monteiro. . . . Secção Accessoria. Manuel Joaquim Saraiva . José Luiz de Almeida Couto Secção Medica. SECRETARIO O SR. DR. CINCINNATO PINTO DA SILVA OFFICIAL DA SECRETARIA O SR. DR. THOMAZ DE AQUINO GASPAR A Faculdade uão approva, nem reprova as opiniões emillidas nas lheses qnc lhe são apresentadas CONCORRENTES OS DOUTORES JOSE ALVES DE MELLO e VIRGÍLIO CLIMACO DAMAZIO CONSIDERACOES PRELIMINARES O Forsitan et rosca Sol alto lampade lacens Possideat multum coecis fervoribus ignem Circum se, nullo qui sit fulgoro notatus, iEstifer ul tantum radiorum exaugeat iclura. (Lucretius). Luz e calor c força chimica: eis o trinomio synoptico da energia que o sol a todo instante envia á terra em cada um de seus raios. Mas aos esplendores da luz, fugaz, incoercível na sua prodigiosa velocb dade, succede a treva nocturna. Quanto ao calor e ã força cbimica, parte embebem-se e íixam-se na terra, e parle evolam-se de novo pelos espaços infindos. O homem, porém, corpo terreno, é certo, mas, acima d’isto, espirito formado á imagem do Espirito creador d’elle e do sol, não devia, não podia continuar inerte e indifferente a observar a successão dos pheno- rnenos, com que a natureza comprazia-se em desafiar-lhe a admiração ou o assombro. Sentiu que, nos seus limites de creatura, cabia-lhe também ser creador. Reflectiu, trabalhou, e caminhou de victoria cm victoria. As in- dustrias, as artes, as sciencias: eis os fundamentos, que seus esforços lan- çaram ao magestoso edifício da civilisação; edificio cada dia mais perfeito, mas a que o fim dos séculos não verá talvez remate. Foi a producção do fogo porventura a primeira, e por certo a mais fe- cunda conquista do trabalho. A primeira labareda provocada por artificio humano era como a reproducção, na terra, de um sol em miniatura. E que foi esse o sentimento despertado pelo espectáculo de tal maravilha, mostra-o a historia dos cultos primitivos da Asia; dil-o bem claro a lenda de Prometheu, conto profundamente allegorico como quasi todos quantos a mithologia grega encerra. Tres elementos, mas verdadeiros elementos de seu progresso, já pos- suía o homem, que llfos dera Deus todos formados: a terra, a agua, o ar. Mas não bastavam-lhe: o quarto, diz a poética ficção, roubou-o elle ao Céo. E d’essa data é que começou rcalmente a sua dominação sobre a ma- téria. A sciencia, a esphera de applicação intellectual do sabio dos primeiros tempos, do mago (como o chamavam no Oriente), do philosopho (como começou a denominal-o a Grécia), abrangia todos os conhecimentos efentão. D’enlre estes, na ordem physica, uns resultavam da observação altenta, paciente e repelida dos phenoraenos, que espontâneos succediam-se na na- luresa; os mais eram fructos da experimentação, na qual ás mais das vezes recorria-se á intervenção do fogo, a cujo influxo poderoso eram submet- tidos, por todos os modos então imagináveis, os productos da terra, quer os existentes na superfície d’e!la, quer aquelles que em seu seio eram bus- cados, á proporção que a experiencia já havida ia tornando os homens mais ousados e emprehendedores. Duplo, como é natural, era o filo a que miravam aquellas laboriosas investigações: havia ao mesmo tempo um fim especulativo, theorico, se posso assim chamal-o, e um fim utilitário e practico. Mas, quer proviessem cTesle, quer cVaquelle incentivo, os factos accu- mulavam-se; e foi a somma d'essas parcellas de saber, enlhesouradas dia por dia nos recessos dos templos da Pérsia, Phenicia, Egypto e, depois, da Greda, o terreno fecundo, d'onde mais tarde brotaram as sciencias phy- dcas e naluraes. Data a mctallurgia das mais remotas eras. O ouro, a prata, o cobre, (me-* laes que não raro encontram-se nativos), depois a liga d’este metal com o- estanho, conhecida pelo nome de bronze, o chumbo, que c facil extrahir do minério que o contêm, e mais tarde o ferro, também obtido de seus mineraes, eram conhecidos e foram empregados desde os primeiros tempos históricos. Ao lado dos trabalhos melallurgicos, outros não menos uteis emprehen- diam-se. Sob o nome generico de terras comprehendia-se um grupo mal definido de corpos (argilas, cal, areia, etc.); e ao tratamento d’elles pelo fogo devem origem a industria do oleiro, e toda a arte ceramica. O conhecimento dos caracteres physicos mais communs e apparente- mente dislinctivos de cada um dos mineraes, achados ou procurados e ex- plorados para alimentar aquellas industrias incipientes, foi conservado, aos poucos ampliado, e por fim coordenado. Somente, porém, ha vinte e dous séculos desenham-se os primeiros lineamentos, traçados melhodicamente, de um ramo da sciencia, que occupa-sc dislinctamente do estudo dos mi- neraes. Tal é o berço da Mineralogia, auspiciada com o grande nome do Arisloteles. A Cliimica e a Mineralogia são irmans gemeas: a raiz etymologica' d’aquella palavra, dizem os lexicographos, é chéo ou cheyo, fundir, vasar em molde. Do tratamento dos mineraes pelo fogo derivaram naturalmente, além do resultado procurado, e obtido ou não, da aequisição dos metaes uteis, as observações dos variados plienomenos determinados por aquelle agente; as quaes foram multiplicando-se com o correr dos tempos, procu- rando a rasão interprelal-as, ó inda natural, de accordo e na medida dos* conhecimentos já adquiridos. As primeiras proclucções cia industria do oleiro facilitaram e augmen- taram o numero das operações pelo fogo, e permittiram as que começaram a ser praticadas por intervenção de líquidos. A' agua commnm, quer só, quer misturada com certos suecos ácidos de origem vegetal, vieram ajun- tar-se alguns produetos de dislillação, provenientes do tratamento pelo fogo de certos mineraes, ou misturas de mineraes, contidos dentro dos vasos para esse fim empregados. E’ de crer que a data muito mais antiga do que aos Árabes, que primeiro d’elles faliam, remonte o conhecimento- v. g. do acido sulfurico e azolico, por elles chamados oleo do vitriolo, & agua forte. Oriundas do mesmo berço, cultivadas pela mesma classe de homens, a Mineralogia e a Chimica, que então appellidava-se do arte divina e sacrada (téchne téia kai ierà), caminhavam lado a lado na senda do progresso. Mais pratica a primeira, modesta em suas aspirações, prudente e rasoavel cm seus commettimentos, adiantava-se lentamente, vingando pouco caminho, porque buscava seguil-o em linha recta, mas evitando transviar-se nos ar- raiaes do erro na ardência de phantasticos tentamens. Assim, durante o longo espaço de mais de vinte séculos, o plano, a feição geral da sciencia, se posso assim exprimir-me, era sempre a mesma. Modificações de pro- menor nos commodos do ediíicio, digamos assim, maior abundancia de materiaes, disposição de logar para os novos achados: eis a summa das alterações feitas á Mineralogia até além do meiado do século passado; ás quaes {readem-se desde Aristoteles, dentre muitos, os nomes de Theo- pbraslo, Dioscorides, Plinio, Avicennes, Alberto Magno, Jorge Agrícola, Becher, Boyle, e Yallerius. Mais pretenciosa porém em suas ambições, mais arrojada em suas ten- tativas, fascinada pelo variado e maravilhoso espectáculo das mutuas acções, e reacções determinadas pela collisão dos corpos em certas condições; en- ganada pelas visíveis modificações de formas, cores, e outras qualidades physicas que ibelles então observava, parecendo que uns em outros trans- mudavam-se; e cuidando, de accordo com as noções ontologicas correntes, que das metamorphoses de uma só matéria provinha a immensa variedade das substancias existentes na superfície da terra; balda emfim da distinc- ção capital, que sò devia conhecer muitos séculos mais tarde, da simplici- dade de certas substancias, e composição de outras; a Chimica, a arte di- vina, a arte sagrada, a arte real, affastou-se quasi desde a infanda da trilha da verdade, que só encontra-se pela observação dos factos altenta, desprevenida, e assisada. E ébria de presumidas esperanças, abrindo as azas cá imaginação, de mãos dadas de um lado á Astrologia, uma falsidade, e de outro á Arte cabalística, uma impostura, consagrou grande parte de seus esforços á tarefa, ingrata e falua, de roubar á natureza o segredo da creação dos corpos, e d'ahi o poder de metamorphoseal-os á vontade uns nos outros, c, mais que tudo, dé obter por tal arte o rei dos metaes, a mais perfeita das substancias, a quem como tal tinham posto o nome de sol, porque da acção dos raios d’esse astro sobre a terra é que provinham, no crer d’elles, as transmutações dos vários corpos mineraes, uns cm outros, successivamenle, e afinal em ouro, idtima ratio da pureza, perfei- ção e incorruptibilidade (!) Foi no seio das theocracias orientaes, em cujas mãos concentravam-se todos os conhecimentos physicos e todos os estudos rnoraes, tanto as sciencias dos homens como as sciencias de Deus, que desenvolvéu-se o fermento da vaidosa concepção, que trazida ao Sul da Europa pelos Árabes alguns séculos mais tarde, imprimiu ás investigações e estudos da sciencia, denominada por elles Alchimia, uma direcção indefinida ou incerta, como a de quem buscasse o absurdo por meio da verdade; e um espirito de for- abstruso e mystico, de que ainda no fim do século passado não estava a Chimica expurgada. Não obstante, porém, as theorias erróneas c tentativas baldadas dos adeptos da pedra philosophal. constituiu-se aChimica, a verdadeira Chimica, A verdade transparece sempre apesar e através dos embaraços, que lhe antepõe as falsas crenças, por mais arraigadas que sejam. Laboriosos, pacientes, lenaces, incançaveis, os alchimistas haviam sub- metliclo ás operações dos seus laboralot ios todas as substancias, pode-se dizel-o, cuja aequisição podiam obter. Faziam-n’as dissolver, ou macerar, digerir, infundir, ferver; punhara-rhas a disliilar em alambiques e retortas em temperaturas mais ou menos elevadas; fundiam, calcinavam. Faziam variar cada uma destas operações de todos os modos imagináveis. A agua, os variados vehiculos líquidos que denominavam menstruos, e sobre tudo o fogo: eram as suas armas para a grande conquista dos segredos da na- tureza. Secundariamente, vinham ás vezes as formulas cabalísticas, as prescripções astrologicas, e as invocações e evocações da Magia. Mas, se bem que falhasse o fim principal, o complemento da grande obra, do grande magistério, os phenomenos manifestados cm cada opera- ção eram cuidadosamente observados, e minuciosa, quasi sempre prolixa- mente descriptos, e transmitíidos zelosamente de paes a filhos como um património; e taes factos, posto que muitas vezes mal interpretados, eram 2 6 verdadeiros em si, e accumulavam-se, variados e numerosos, formando imj- menso cabedal para a sciencia do futuro. Quando pois, desenganados por innumeras decepções sobre a inexequi- bilidade da empresa da transmutação dos metaes, os philosophos volveram os olhos para esses productos desordenadamente amontoados de tantas e tamanhas fadigas, conheceram maravilhados que acolá esparsos estavam os- elementos de uma riqueza immensuravel, que só restava computar e or- denar. Tarefa, ainda assim, enorme e grandiosa: rever os factos, notar cuidadosamente as condições de sua manifestação, inquirir do complexo d'ellas as leis que os subordinam, ligar a estas pelos laços da theoria; em- uma palavra, observar, comparar, generalisar, ordenar, systematisar, clas- sificar, e afinal crear uma nomenclatura, que fosse a chave e o fio craquelle labyrinlho colossal: tal foi a obra de tres séculos, e de grandes e nume- rosas intelligencias. Mas o grande operário, o mestre que levou-a a cabo, o genio creador, que, unindo os seus estudos e trabalhos aos traba- lhos e estudos de seus predecessores e contemporâneos, soube inlerpre- tal-os, resumindo-os na synthese brilhante, onde assentam os fundamentos da Chimica moderna; esse, (tentem embora escurecel-o hoje dous ou tres chimicos, a quem dominam sentimentos que não sei se mais censure que lamente;) esse, sabe-o o mundo, foi Lavoisier, a cuja memória veneranda consagra a posteridade a tríplice laureola de patriota, sabio, e martyr. Todos conhecem a memorável experiencia, pela qual Lavoisier determi- nou ao mesmo tempo a composição do ar almospherico e a de um oxido metallico {cal, como então chamava se), a sua lheoria da combustão, e a discussão renhida, que travou-se entre os seus adherentes e os que sus- tentavam a doutrina, então reinante, do phlogistico. A quem lè pela primeira vez a narração daqueila lucla, qne durou tan- to tempo, e em que tão calorosamente tomaram parte, pró e contra, os homens mais eminentes por seu saber, afigura-se que só extrema cia, ou amor-proprio injustificável podiam contestar o valor de factos, que todos podiam repetir e verificar á vontade. O augmento do peso dos me- taes pela calcinação, a diminuição de peso das cdcs melalllcas pela revifi- cação dos metaes, eram questões de balança, permilta-se-mc a expressão: contcslal-o, era negar a evidencia. Mas nem contestavam os factos os adversários de Lavoisicr: outro era o motivo da importância, que ligavam á questão dos combustões, e em ge- ral das combinações. Hoje que, depois de ura século, é a luz da sciencia actual, apreciamos e julgamos aquella lueta, conhecemos que se uns aífastavam-se da verdade na interpretação dos phenomenos de combustão, outros, os adversários do phlogistico, no estudo e apreciação d’elles também não ifa abrangiam toda, deixando de tomar na devida conta um elemento, que era aquelle justamenle que mais fixara a altenção dos contrários: o elemento thermico, as condições pyrogenicas dos phenomenos. Com eífeilo, por um lado, são innumeras as operações chimicas, que se não realisam sem intervenção ou emprego do calor. Nos laboratorios dos antigos chimicos o fogo ardia dia e noite, aquecendo alambiques e retortas, e enrubecendo cadinhos, em fornos de variadas formas e dimensões. Por outro lado, nas próprias operações que se fazem a frio ha, não raro, um desenvolvimento mais ou menos elevado de temperatura. Ora, semelhante observação não escapara de certo á reflexão dos experimentadores. Meditaram, é natural, sobre o papel representado pelo fogo na deter- minação d’essas acções cliimicas, e sobre a origem d’esse calor, ás vezes fogo. que em outras condições manifestava-se. Complemento e consequência d'essas meditações, formaram-se as th eo rias. Uns limilavam-se a ver no fogo o elemento da actividade na natureza, o principio agitador, que ora exaltava as aííinidades morosas determinando as combinações, ora desunia os compostos despertando novas affmidades em seus elementos. (*) Outros, como Robert Boyle, pensavam que a substancia do fogo, atra- vessando as paredes das retortas e cadinhos, ia combinar-se com os metaes n’elles contidos, que assim deviam-llie o tornarem-se mais pesados, con- ver tendo-se era cães. Outros, finalmente, como George Stahl, sustentavam, ao inverso desses, que pela calcinação perdiam os raetaes a substancia ignea [verbrennliche Wesen), que entrava em sua constituição, ficando então uma cal, que era (*) Non novas antehac non existentes producit ignis substantias; sed principia corporum, mire inter se intricata, ab igne a se invicem separantur, vel separata, eodem auxiliante, variis modis tantura conjunguntur ( Barchusen, 1’yrosophia). o metal menos o principio igneo, a que os seus partidários chamavam phlogistico (de flox, chamma). A theoria dos primeiros nada explicava. A explicação de Boyle era errónea. Quanto á observação de Slahl do desprendimento de calor pela oxidação dos melaes, era verdadeira; mas a interpretação do facto em si era também errada. Lavoisier, porém, enganava-se também, quando attribuia o desenvolvi- mento do calor nas oxidações ao facto puramenle physico da condensação d’um gaz, o oxigénio, que passava então a ser parte de um solido. Com effeiio, quando o chloro e o hydrogenio se combinam pela acção da luz, não ha condensação; e no entanto a somraa de calor que então despren- de-se é enorme. O problema das acções pyrogenicas, considerado em relação á Chimica, não está ainda resolvido, é certo; mas nem só não é insolúvel, como até devemos esperar que não longe esteja o dia em que tal solução se mani- feste como a consequência natural de dados numerosos e positivos adqui- ridos á sciencia, sobretudo de cerca de meio século para cá. A analyse, digamol-o assirn, do fogo, é cousa já hoje feita e sabida. Na irradiação d'um corpo incandescente, já vimol-o, ha calor c luz e força chi mi ca. Ainda maE: essas tres acções são idênticas em seu modo de producção. Devem origem todas a uma agitação intima, molecular, a um movimento vibratório do corpo candente, transnailtidò em todas as direcções, por intermédio de um fluido material, o ether, que enche o espaço, e cujas ondas embatem e penetram, modificando-os c sendo modificadas, por todos os corpos que encontram em caminho. E assim como nas vibrações de maiores dimensões, se posso assim chamal-o, que d’um corpo propagam-se por intermédio da matéria pon- derável, se produzem desde as deslocações, em movimento oscillatorio, sensíveis á vista ou ao tacto, até á extensissima serio dos sons do mais grave ao agudissimo, ou mesmo além quando não mais affectem o ouvido ; assim também as vibrações mais e mais rapidas dum corpo em ignição produzem, transmittidas pelo ether, primeiro o calor que também affecta o lacto, depois a luz que vae fazer resoar, seja-me licito dizc!-o, o nervo optico, e finalmente as acções chimicas que em si são inapreciáveis dire- ctamente pelos sentidos. Vibrações, pois, de minutíssimas dimensões, transmissão ondulatória pelo ether, maior ou menor cumprimento, maior on menor velocidade de ondas: eis as causas e rasões, efíicientes e suííicientes, dos phenomenos lhermico, optico e chimico. E bem como, num instrumento sonoro, coexistem, em um som qual- quer que d’elle tire-se, não só a nota ou som fundamental como um cortejo mais ou menos numeroso de harmónicos, que é o que dá o timbre a cada instrumento; e, portanto, a mesma vibração complexa pode trans- mitlir simultaneamente pelo ar muitas ondas de vários comprimentos e velocidades; assim também se comprehende que na mesma vibração com- plexa, que ao ether communica um corpo em fogo, coexistam numerosas ondas caloríficas, luminosas e chimicas. Gomprehende-se igualmente o como o embate de ondas de um só genero, v. g. puramente caloríficas (calor obscuro) possam provocar ondas chimicas, mais curtas e velozes do que aquellas; ou vice versa, o como dispertem ondas chimicas a formação de ondas caloríficas. Facto analogo nos ensina a Acústica, Facto analogo podemos tornar apreciável á vista, com uma serie de pêndulos de vários cumprimentos: a oscillação de um delles, guardadas certas condições determinará por influencia a oscillação, successivamente, de todos aquelles, cujo cumprimento fôr igual, ou uma parte aliquota, ou um múltiplo exacto do primeiro. Ura corollario natural d este modo de ver as cousas é a explicação ra- cional de muitos factos, como no exemplo seguinte: Todos sabem que cada acção chimica effectua-se dentro de certos limites, mais ou menos restrictos, de temperatura, mas que são sempre os mesmos em egualdade das demais condições physicas. Por exemplo, o chloro e o antimonio não combinam.se na temperatura de 80 grãos abaixo de zero; o oxigénio e o hydrogenio, misturados mesmo na proporção em volume de 1 para 2, supportam indifferentes ura calor de 200 grãos, entretanto que combi- nam-se immediata e violentamente peia applicação de 500 grãos de calor; e como assim em centenas de outros exemplos. Parece-me que taes factos são analogos a outros que estuda a Acústica. Com effeito, figuremos que temos duas cordas tensas sobre uma caixa de harmonia, ambas eguaes em densidade e diâmetro, e soíírendo tensões eguaes; mas uma lendo G unidades de comprimento (decimelros, por exemplo) e outra 4 unidades. Se próxima delias tizermos vibrar terceira corda, ainda egual cm tensão, diâmetro e densidade ás duas primeiras, e que tenha 4 unidades de comprimento, a segunda entrará immediatamcnte em vibração por influencia, soando unisona com ella, ao passo que a pri- meira conservar-se-ha muda. Agora, encurtemos a terceira corda, redu- zindo o seu comprimento a 3 unidades: a corda que vibrava por influencia, d’esta vez ficará silenciosa; mas a primeira, que tem G unidades, isto é, duplo comprimento, soará immediatamenle, produzindo, primeiramenle, o mesmo som que ella, e depois também a oitava grave, que neste caso é o seu som fundamental, do qual o da terceira corda é o l.° harmonico. Agora, encurtemos ainda mais, sempre a terceira corda, reduzindo-a a 2 unidades: d'esta vez vibrarão por influencia as outras duas cordas, pro- duzindo, simultaneamente, a de G decimelros o seu 2.° harmonico, o 4.° e afinal o som fundamental; e a de 4 decimctros o seu l.° harmonico, e lambem o som fundamental. Ora, se nós admitlirmos (e não é licito negal-o depois das memoráveis experiencias de Melloni) um espectro calorífico invisível, composto de nu- merosas radiações, cada uma tendo um determinado comprimento c velo- cidade de onda; se egualmente admitlirmos (e é innegavel ante a pbysica hodierna), que não ha corpo, cujas moléculas não estejam em mais ou menos ampla vibração, d’onde se originam também ondas de certo com- primento e velocidade ; comprehenderernos de certo o porque certa tem- peratura, isto c, ondas caloríficas de certo comprimento ou não vibrara syncbronicamcnte, ou não fazem vibrar por influencia e simultaneamente as moléculas de dous corpos em presença (v. g. a temperatura do 80 grãos abaixo de zero para o chloro e o antimonio). Se porém elevarmos a tem- peratura, isto equivalerá a diminuirmos o comprimento das ondas calorí- ficas; e quando este chegar a ser o maior commum divisor entre os com- primentos das ondas devidas ás vibrações moleculares de cada um dos dous corpos; então, digamol-o assim, estes resoarão por influencia: e a tal facto, que em Acústica diríamos que determina uma resonancia, bem po- demos dizer em Chimica que determina uma combinação. Ha unia serie de observações muito curiosas de eífeitos decomponentes do calor sobre alguns corpos compostos, as quaes estão comprehendidas sob o nome generico de dissociações: se o vapor d’agua, por exemplo, for sendo submetlido successivamente a temperaturas sempre crescentes de 1000 grãos. 1200, 1300, etc., irá pouco a pouco decompondo-se cm-, seus elementos; e afinal a decomposição será total. Ora, se comparando o phenomeno com o que se dá em Acústica, lem- brarmo-nos que um accordo entre dons ou mais sons diminue, quando lambem diminue a simplicidade da rasão, que exprime a relação numé- rica de vibrações dos sons, de sorte que, por egual motivo, tanto menos distinguem-se os harmónicos de cada som fundamental, quanto mais ele- vados são, ou, por outra, quanto maior é o quociente da divisão do com- primento de onda do som fundamental pelo comprimento de onda de um som seu harmonico; podemos explicar a dissociação pelo decrescimenlo de influencia da onda calorífica, sendo esta cada vez menor em proporção da elevação de temperatura, e menos capaz portanto de provocar ou manter as vibrações consonantes das moléculas de dous corpos, cujas ondulações de totalidade ou fundamentaes, digamol-o assim, vão distanciando-se em comprimento do d’aquella. Poderia dilatar mais, muito mais, as considerações de analogia entre os phenonienos sonoros, e os de origem ignea. Estou convencido de que será este o caminho que ha de seguir aquelle que chegar a explicar o modo pelo qual iníluem-se mu tua mente as acções chimicas, luminosas c calo- ríficas. E não decorrerão porventura muitos annos sem que assim se torne a Chimica um simples ramo da Physica, como são a Óptica, ou a Acústica; ramo aliás que só por si valerá urna arvore frondosissima. (*) E’ assim que cada dia mais se acccntua o movimento das sciencias physicas para a unificação. A unidade harmónica sob a diversidade apparente; simplificar-se en- grandecendo-se: eis a mira, eis a progressão da sciencia; progressão irre- sislivel, segundo a bclla phrase de Tyndall, como as vagas do Oceano ou a corrente do Gulf-slream. (**) (*) Comparando os phenonienos de condensação e vaporisação com os de combi- nação e dissociação, II. Sainte-Claire Deville diz o seguinte: «La combinaison des corps entre eux presente tons les caracteres de la condensation des vapeurs: c’est un phénomène susceptible d’ôtre rapproché par tous ses détails du phénomène de la condensation de la vapeur d’eau, par exemple. (**) Science must grow. Its developraent is as necessary ancTas irresistiblc as the m«otion of the tides, or the ílowing of the Gulf-Stream, Qualquer qne seja, entretanto, a theoria que a sciencia acceile no futuro para explicar as acções igneas em face da Chimica, devo agora limilar-me a consignar os factos. Quando um corpo é submettido á acção das radiações igneas, cuja in- tensidade vá gradualmente augmentando, observam-se successivamente mo- dificações chamadas physicas, e outras chamadas chimicas. (Com um certo numero porém de corpos compostos, em que baste a menor elevação de temperatura acima da ambiente, e ás vezes esta mesma, para determinar a decomposição com explosão, é claro que não se observará a primeira serie de phenomenos.) Começa, porém a acção, no geral dos corpos, pela sua dilatação, que chega até á mudança de estado, se já o corpo não é gazoso, ou se tal mu- dança póde dar-se antes de modificação chimica. Ao mesmo tempo tem-se augrnentado o aquecimento do corpo, ou, para exprirnil-o em linguagem menos scientifica, parte do calor applicado ao corpo trasborda, e diffun- de-se pelos que o tocam e pelo ambiente. Um corpo aquecido até certa temperatura (cerca de 500° centig.) tor- na-se luminoso. Ha entretanto certos corpos, que, aquecidos muito menos do que isso, adquirem a singular propriedade, que conservam durante algum tempo, de serem fracamente luminosos, phosphorecentes, quando observados em logar escuro : por exemplo, o íluorurelo de cálcio. O aquecimento desegual de alguns corpos, dadas certas condições, de- termina a manifestação de correntes eléctricas. Em tal facto funda-se a construcção das pilhas thermo-elcctricas. Outras vezes, a applicação do calor dá logar a desenvolvimento de electricidade statica. Ainda, a semelhante applicação nos corpos solidos succedem frequente- mente, e notam-se depois de frios, modificações de densidade, duresa, tena- cidade, fragilidade, etc. Uma modificação, muito notável e apparente em certos corpos, é a que se refere á sua forma crystallina, que não sò pode variar no mesmo corpo, quando crystallisa em temperaturas diversas, como também, uma vez crystallisado em certa temperatura, pode cada crystal, guardando a mesma fórma geral, soílrer pelo esfriamento uma mudança pro- funda na fórma dos crystaesinhos cuja reunião o constilne: é assim que no enxofre, que crystallisa por fusão em longos prismas translúcidos, verifica-se que pelo esfriamento cada um d’elles é formado por um grande numero de pequenos octaedros, que d'antes não haviam. A essa alteração na fórma crystallina é devida a opacidade, que ao mesmo tempo dá-se nos cryslaes. primitivamente translúcidos. Outras vezes, como no vidro, a exposição por algum tempo a um forte calor, que porém não baste para fundil-o, tira- lhe a transparência, dando-lhe a textura crystallina. Entre os phenomenos chamados physicos e os denominados chimicos ha um grupo limilrophe, que fórma a natural transição de uma para outra sciencia. Nestes, só um agente é empregado, e, pois, os determina: o calor. Também o corpo em que se manifestam, simples ou composto, está só; não ha a presença de outro, a cuja acção próxima, ou affinidade, allribua-se a influencia ou causalidade dos phenomenos. Com effeito, aqueçamos em um cadinho um pouco de enxofre nativo, ou enxofre octaedrico de qualquer proveniência: se, depois de fundido, e levada a temperatura até cerca de 140 graus, deixarmol-o esfriar de novo, veremos as seguintes modificações de propriedades, que a Chimica avoca como suas:—O enxofre empregado era cm totalidade solúvel no sulfureto de carbono; agora parte o não é. O primeiro actuava difficilmente sobre o acido nitrico; parte agora facilmente. O primeiro, porém, combina-se mais facilmente com os melaes, o segundo mais difficilmente: o inverso disso nota-se para com os metalloides. Uma transformação da mesma ordem, descripta também, e conhecida por todos os chimicos, soffre o phosphoro, quando por longo tempo ô exposto aos raios do sol, ou aquecido, ao principio gradualmente, e depois na tem- peratura de 170 graus por espaço de uma dezena de dias. A Sciencia chama a esse facto, de alteração nas propriedades chimicas de um corpo simples, allotropia. Mas é o caso de perguntar: qual foi o instante preciso, o ponto limite, a modificação característica, em que a acção do calor sobre o enxofre deixou de ser physica para começar a ser chimica? Inteira analogia dá-se entre semelhantes factos, e os que se passam com alguns corpos compostos sob a acção do calor. Por exemplo o protoxido de estranho anhydro apresenta-se-nos em tres modificações, uma das quaes parece ser aquella em que as outras se transformam por acção do calor. Dos tres bi-hydralos de alumina, obtidos em diversas epochas e por diversos processos por Péan de Saint-Gilles, Waller Crum, e Graham, parece que, por acção gradual do calor, podem transformar-se successiva- 4 mente o ultimo no segundo, e este no primeiro. O acido arsenioso vilreo e o opaco tem a mesma composição, mas não idênticas propriedades; e este transforma-se naquelle pela fusão, ou por ebullição prolongada. A estes factos de modificações profundas nas propriedades de um corpo, cuja composição conserva-se a mesma, chama a Ghimica isomeria. Yê-se que esta é a allotropia dos corpos compostos, como a allotropia é a iso- meria dos corpos simples. Taes factos, porém, verificam-se não só, como os que apontei e alguns outros, por acção directa do calor, como também dadas outras condições, nas quaes aliás é bem de crer que o elemento lhermico desempenhe func- ção importante, se não capital, na evolução do phenomeno. Estudando a acção do calor sobre cada um dos corpos compostos, vemos que (afora os casos de isomeria, que só notam-se em alguns c dadas cer- tas condições, e que deve entender-se que consistem em variedades de equilíbrio molecular) os elementos constituintes tendem a separar-se. Umas vezes, menor numero, a desunião é total: vemos isto, por exemplo nos oxidos de ouro, prata, mercúrio, nas amalgamas binarias, no gaz ammo- niaco e hydrogenio arseniado, no vapor aquoso submettido a mui altas tem- peraturas, etc. Em grau de calor muito mais elevado do que o homem pode, e do que jamais poderá obter, a razão authorisa-nos a crer, que todos os compostos se dissociariam em seus elementos, ficando afinal reduzidas as sub- stancias ao estado em que provavelmente estão nas nebulosas irresoluveis. A maior parte das vezes a acção decornponente do calor é gradual, exer- ce-se por phases successivas, em cada uma das quaes formam-se edifícios moleculares menos complexos do que o original; em alguns casos ainda estes podem por nova addição de calor separar-se em grupos mais simples, ou mesmo em seus elementos chimicos. A Ghimica organica, a Ghimica dos compostos do carbono, como já cha- mou-a alguém, íora abundante manancial de exemplos em casos desta or- dem. Mas sem sahirmos dos limites da Ghimica mineral, podemos en- contrai-os n’um sem numero: assim, comprehendem-se Aeste caso, v. g. as anhydrides azolica, chlorica, bromica, iodica, toda a seria thionica, o bioxido de azoto, os ácidos hypophosphoroso, phosphoroso, phosphorico e pyrophosphorico, o acido arsénico, todos os oxidos hydratados, todos os oxidos chamados singulares, e a maior parte dos saes. Quando estiverem em presença dous ou mais corpos simples, capazes de constituir um ou mais compostos, a intervenção do calor determi- nará quasi sempre tal ou taes combinações, e tanto mais prompta e facil- mente, quanto mais se approximarem as proporções ponderáveis dos cor- pos presentes d’aquellas em que se combinam. Nenhuma acção porém dar-se-ha, se a temperatura empregada fôr a mesma ou exceder a da dissociação total de qualquer dos compostos possíveis para aquelles corpos. Quando os corpos acluantes forem um simples e um composto, poderá a intervenção do calor dar lugar a vários effeitos, cuja realisação depen- derá de muitas condições; mas principalmente ainda das proporções ponderáveis dos corpos presentes, e gráo de temperatura empregada. Os effeitos podem ser: combinação entre o composto e o simples, como dá-se v. g, entre a baryla e o oxigénio em temperatura rubro-escura; ou duas ou mais combinações do simples com os elementos do composto, como verifica-se, por exemplo, entre o enxofre e grande numero de oxidos, entre o oxigénio e a maior parte dos sulfuretos, etc.; ou, finalmente, libertação de um dos elementos do composto, e combinação do resto com o corpo simples, como vê-se, v. g,, em todas as reducções obtidas carvão c pelo hydrogenio, etc. Se os dous corpos reagentes forem ambos compostos, os eíleitos prin- cipacs são os seguintes: combinação integral dos dous compostos (exem- plo: cal e anhydride silicica); combinação de um dos compostos com parte do outro, da qual separa-se outra parto (exemplo: um oxido de manganez ou de chrorno, calcinado com um nitrato alcalino); ou ainda, simples permuta, parcial ou total, de elementos ou grupos de elementos, realisada entre os dous compostos (exemplo: um silicato calcario c um carbonato alcalino, e em uma palavra, quasi sempre que acham-se pre- sentes dous saes, diversos no genero ou na especie). Quando os compostos presentes, sobre que actua o calor, são muitos, então os eíleitos são mais complexos; e, se bem que possam prever-se para cada hypolhese figurada, não me fôra possível apontar essas hypo- theses, tão grande é o seu numero. Do que já vai dicto, porém, colligern- se os pbenomenos realisaveis. E’ escusado observar que ffestas acções provocadas pelo calor, como cm geral em toda acção chimica, tudo quanto pode tornar mais intimo e completo o contacto dos corpos reagentes, facilita, e precipita os eífeilos, e pode até ser essencial para a realisação d^ellcs. Como complemento ao estudo das acções chimicas de origem pyroge- nica, não podem deixar de mencionar-se aquellas que determina a luz, quer a que provém do sol, quer a que produz-se artificialmente; se bem que, em certos limites, notem-se variações e differenças de intensidade nos eíleilos produzidos, dependentes da proveniência luminosa. O estudo das relações de posição das parles do tríplice espectro das radiações dos corpos em ignição separadas pela retracção nos prismas, mostra-nos que a faixa do espectro thermico eslende-se pelo espaço occu- pado pela faixa luminosa, mas desmaiando, digamos assim, em intensidade tanto mais quanto mais proximo da extremidade violète. Por este lado, porém, penetra o espectro chimico, que vai até os confins do azul. A faixa do espectro luminoso não tem pois, pode-se dizel-o, posição sua própria. As radiações caloríficas mais refrangiveis tocara as radiações chimicas. *Pode-se, pois, duvidar de que a luz por si, só como luz, determine algu- ma cousa mais no universo, do que o effeito physíologico especial da sensação visual. A solução, porém, d’esla duvida é porventura impossível; porquanto, ao passo que pode-se isolar o espectro calorífico, (ou, o que é mais provável, a sua parte obscura) filtrando por assim dizer as radiações complexas atravez de um corpo opaco e ao mesmo tempo diathcrmano, não parece possível obter o mesmo para o feixe luminoso, do qual cada raio é simultaneamente ou calorífico ou chimico. Feitas estas reservas, posso empregar a linguagem commum, dizendo que acções, ás vezes muito energicas, se produzem, na temperatura ordi- nária, sob o influxo da luz directa; e outras mesmo da luz diíTusa. Assim, todos sabem que numa mistura de chloro e hydrogenio, exposta aos raios solares, dá-se a combinação inslantanea e violenta. Ainda conservada á luz diffusa, a combinação se dá, posto que lenta- mente. A agua de chloro altera-se em pouco tempo; ha decomposição da agua, e combinação do hydrogenio d’essa com o chloro, e, segundo algnns, de parte d’este com o oxigénio, do qual o resto se separa. Os saes de prata não podem conservar-se sem alteração, senão na obscuridade. Facto semelhante, posto que muito mais lentamsnte, realisa-se com muitos com- postos mercuriaes. E assim em vários outros casos. Em todos os pbenomenos, de cujo estudo occupa-se a Cbimica (factos de allotropia e isomeria, combinações, decomposições, substituições, du- plas trocas,) manifesta-se sempre alteração do estado thermico preexis- tente ao phenoraeno, abstrabindo de cffeito physico comcomitante, o qual pode ser compensador. Consiste essa alteração umas vezes em desenvolvimento de calor, e outras em sua absorpção. A's vezes é necessária, e muitas ó ulil, a intervenção de calor externo, para determinar uma certa acção cbimica; outras vezes não. Mas haja ou não o emprego d’este agente, dar-se-ha pelo proprio facto da acção cbimica elevação ou abaixamento de temperatura, dependente em geral da natureza d'ella e particularmente da sua especie. Pode, pois, dar-se desprendimento abundante de calor era uma reacção cbimica, provocada por calor. Pode, ao inverso, dar-se a frio uma reacção, que não se effectue sem grande absorpção calorífica. E’, pois, mister distinguir n’aquellas reacções o calor, que as excita e determina, daquelle que por cilas se produz. E’ o caso de dizer, repelindo a comparação do illustre Tyndall, que o primeiro é a força que precipita os átomos inclinados na borda do abysmo, o segundo a força desenvolvida pela sua queda. Deve-se ainda distinguir na somma de calor observado em uma reacção a parte, que delia se origina, da parte que se explica por phenomenos physicos accessorios. Convém ainda, se a acção cbimica é complexa, (v. g. quando dá-so simultaneamente uma decomposição e uma combinação, etc.) separar cada uma das partes, absorpção ou desprendimento thermico, que locam a cada acção simples; as quaes não tem sempre o mesmo signal algébrico: por exemplo no caso figurado. Guardando estas condições, na interpretação das observações calorime- tricas, e apesar da impossibilidade actual de cstendel-as a um numero avul- tadissimo de acções chimicas, pela deficiência dos methodos e apparelhos até hoje empregados; não obstante existe, importante e fecundo, um ramo í) da Chimica, estudada cm relação ás modificações caloríficas effecluadas nas reacções, o qual constitue a Thermo-chimica. Sem ter o proposito de demorar-me na exposição dos admiráveis resul- tados, a que, em semelhante ordem de estudos, tem chegado os observa- dores, eu não prescindirei, todavia, de citar os Ires princípios que, na phrase de Berlhelot, constituem os theoremas fundamentaes da Thermo- chimica. São elles: Io «A quantidade de calor, desenvolvida em qualquer reac- ção iguala asomma dos trabalhos chimicos e physicos effectuados n’essa re- acção. 2o Se um systema de corpos simples ou compostos, em condições determinadas, soffrer mudanças physicas ou chimicas, capazes de leval-o a um novo estado, sem produzir effeito algum mecânico anterior ao systema, a quantidade de calor, desprendido ou absorvido por effeito d’essas mudan- ças, dependerá unicamente do estado inicial e do estado final do systema. Ella será a mesma, quaesquer que sejam a natureza e a serie de estados intermediários. 3o Toda a mudança chimica, effectuada sem a intervenção do uma energia estranha, tenderá para a producção do corpo ou do syste- ma que desprender mais calor.» Corollario: «Toda a reacção chimica susceptível de effectuar-se sem o concurso de um trabalho preliminar, e independente da intervenção de uma energia extrínseca, produzir-se-ha necessariamente, se por ella se des- prender calor.» Portanto, é de razão também, os compostos resistirão tanto mais á separação em seus elementos, quanto maior for a quantidade de calor que tiverem abandonado estes no acto da sua combinação. A experiencia já veio, neste ponto, confirmar as previsões da rasão. Os primeiros lineamentos da Thermo chimica remontam a Lavoisier ; antes do sabio francez ninguém applicara a calorimetria á medida da quan- tidade de calor desenvolvido nas combinações. Depois delle, os conheci- mentos adquiridos neste assumpto são devidos, principalmente, aos traba- lhos de Rumford, Dnlong e Despretz, Fabre e Silbermann, Hess, H. Dcville, Thomsen, e Berlhelot. Oilo annos depois da morte do illustre fundador da sciencia chimica, Wollaston na Inglaterra notava, mas sem prestar a isso maior importância, que a fita multicor, que constituo o espectro da luz solar, é cortada trans- versalmente por linhas negras, que de espaço a espaço substituem a radiação luminosa. Trese annos mais tarde, na Alleraanha, Fraúnhofer estudou mais accuradamente o facto, assignalou a constância de posição d’essas linhas no espectro, no qual contou para mais de COO, a oito das quaes, por mais apparentes, designou, a começar do rubro, com as pri- meiras letlras do alphabeto, em maiusculo, accrescentando-lhes, depois, mais uma, a minusculo, entre A e B, e outra, b, entre E e F. Hoje as linhas ou riscas de Fraúnhofer dislinctas, sobem a mais de 3000. Em 1822, sete annos depois d’elle, Herschell annunciou que uma chamma, que contivesse certas substancias cm vapor, produziria espectros, contendo somente uma ou muitas linhas coradas brilhantes separadas por intervallos escuros, occupando posições invariáveis, e características para cada sub- stancia. Depois delle, muitos sábios occuparam-se da matéria e dilataram o do- mínio dos conhecimentos adquiridos a respeito, estudando o espectro de vapores metallicos, que só podem obter-se em altas temperaturas; para o que recorreram á vaporisação de taes corpos no arco voltaico, no maçarico oxi-hydrogenado, e ultimamente na lampada ou bico de Bunsen. (Este é um bico ordinário de gaz, ao qual aquelle chimico ajuntou uma pequena cha- miné fixa de cerca de um centímetro de diâmetro, que o cerca elevan- do -se a pouco menos de um decimetro, e tendo na sua base, fronteiros ao combuslor, dous orifícios, que podem, fechando-se mais ou menos por uma disposição particular, permillir maior ou menor tiragem da pequena chaminé, e portanto combustão mais ou menos completa do gaz, que for- nece o combuslor. Em pouco tempo as observações espectroscopicas tornaram-se um ver- dadeiro methodo de analyse cbimica: melhodo qualitativo sensibilissimo, e que já hoje manifesta talvez bem fundadas aspirações de vir a ser mais tarde também um dos methodos de analyse quantitativa. Foi por meio delle que Bunsen e Kirchoff descobriram de 1859 a 18G0 dous novos metaes, o coesio e o rubidio; Crookes c Lamy, em 18G0, o thallio; Reicb e Richter, em 18G3, o indio (*). (*) A lista de novos corpos descobertos pela analyse espectral ha de certamcnte vir a estender-se mais. Em 1869, um chiniico inglez, Sorby, annunciou a existência do um novo metal o jargonio; c annos antes, Church affirmára o descobrimento de um Graças a este methodo, fecundado também pelos estudos e trabalhos, entre outros, de Draper, Becquerel, Angstroem, Wheatstone, Plueker, Foucault, que observou pela primeira vez o facto da inversão dos espectros, Brewster, Gladstone, Miller, que accrescentaram-lhe o estudo dos espectros de absorpção, Stockes, a quem deve-se o conhecimento dos phenomenos de fluorescência, Tyndall que descobriu os de calorescencia, etc., constituiu-se com sobejos materiaes a Photo-chimica. E' mais um laço de união, será lambem um meio de unificação no futuro, entre as sciencias hoje distinctas sob os nomes de Chimica e Physica. Mas não c tudo. Os conhecimentos resultantes das investigações desta ordem tem dado logar a suscitarem-se e resolverem-se questões do mais alto interesse para as sciencias que occupam-se do estudo da matéria. A Physica, já de ha muito, prendia a terra ao sol e ao firmamento pela Astronomia. Agora, armada com o espectroscopio, estende a Chimica tam- bém a legitimidade de suas pretenções até os sóes longínquos, com tanto que mandem-lhe um raio de luz, no qual o sabio vae decifrando tranquil- lamenle a composição daquelles montões de matérias, dos quaes está separado por milhares de milhões de léguas. De Secchi, de Faye, do Miller, e outros que taes pode-se dizer que realisam a emphatica lo- cução do poeta, quando diz que: do quieto aposento o sabio, em mente, segue no ar o som, a luz no ether; busca subordinar a leis seguras prodí- gios de assombrar, filhos do acaso; e ao correr dos phenomenos que pas- sam, visa o polo immutavel da verdade (*). Muito antes que a Philosophia chimica começasse a inquirir das re- lações entretidas entre os phenomcnos de que se occupa e as condições lhermicas que lhes dizem respeito, empregava o chimico o calor como um meio poderoso para a realisação das suas operações. Meio exclusivo. oxido desconhecido a que denominou nigria, e Svanberg a de outro oxido a que dou o nome do noria. Estudos do porvir trarão a elucidação da verdade dessas affirmativas» (•) Aber in stillen Gemach sinnend der Weise Folgt durch die Luefle dem Klang, folgt durch den Aether dem Strahl; Sucht das vertraute Gesetz ia des Zufalls grausenden Wundern, Sucht dcn ruhcnden Pol in der Erscheinungen Flucht. (ScHILLEU ) ao principio, como vimos; auxiliar indispensável ainda na Ghimica hodierna, que só dellc prescinde em um numero de casos relalivamente pequeno. A maior parle, porém, hoje das reacções, ou determinadas ou favorecidas pelo calor, produzem-se por intervenção de líquidos, que são quer os mesmos corpos reagentes, se são líquidos, ou se não suas soluções, quer vários liquido?, (activos ou neutros na reacção provocada), em cujo seio está o corpo ou corpos solidos, ás mais das vezes pulverisados; e tudo é assim submettido á acção do calor, pela applicação directa do fogo, ou pela de um corpo intermediário, que fórma ura banho quente, variavel conforme a temperatura que se deseja obter: banho-maria, banho de oleo, de areia, de uma liga fusível. As operações que se fazem empregando somente corpos que não estão líquidos na temperatura ordinaria, ou sem a intervenção de líquidos, são hoje menos, posto que ainda numerosas. Tanto estas operações, que por isto dizem-se feitas a secco ou por via secca, como aquellas, que dizem-se feitas a liquido ou por via húmida, podem ter por fim a realisação ou de uma synlhese ou de uma analyse. Uma operação de analyse, feita a secco, empregando altas temperaturas, que só obtem-se pela intervenção ignea directa, diz-se uma operação py- rognostica. E por ter esta quasi sempre por mira a verificação da quali- dade da substancia ou substancias componentes de um corpo, do qual ape- nas uma amostra ou pequena quantidade é fornecida, e basta para as ex- periências, são ellas chamadas ensaios pyrognosticos. Quando além da qualidade, deseja o chimico conhecer com exactidão, ou mesmo muito approximadamente a quantidade, em que n’um composto, que analysa, entram as substancias que o constituem, então não bastam os meios pyrognosticos, salvo para um pequeno numero de metaes, principal- mente o ouro e a prata. A Ghimica analytica, pois, não pode contentar-se com os recursos das operações pyrognosticas, que offerecem-lhe apenas o meio de desempenhar uma parle da tarefa que lhe incumbe; e essa, mesmo assim, deve corapre- hender também, sempre que fôr possível, os ensaios qualilativos por via húmida. Entretanto o mineralogista pode, era rigor, satisfazer-se muitas vezes cora os ensaios pyrognosticos, além de tres grupos genericos de ensaios por via húmida ; que consistem na verificação do modo por que um mineral analysado comporta-se com a agua, com os alcalis, com os ácidos (sulfu- c rico, chlorhydrico e azotico), e, em casos especiaes, do uso de mais dez ou doze reagentes para operações a liquido. O sabio Dufrenoy, que publicou um dos mais completos Tratados de Mi- neralogia, e cuja palavra é por todos venerada, como a de aulhoridade na matéria, exprime-se do seguinte modo: «Nós comprehendemos sob a denominação de caracteres chimicos as provas promptas e fáceis que dão indicações sobre a natureza dos elementos dos mineraes, sem dar a conhe- cer exactamente as suas proporções. Dentro d’estes limites, os caracte- res chimicos são do dorninio essencial do mineralogista, e seu estudo é abso- lutamente indispensável para o reconhecimento de certos mineraes, quando para estes não bastem os caracteres exteriores. Notaremos, todavia, que, sendo a Mineralogia um dos ramos da Historia Natural, o estudo d’estes caracteres deve fazer-se o mais que fôr possível, e não recorrer-se a ex- periências chimicas, senão quando forem ellas indispensáveis, ou seu em- prego der um resultado immediato, etc.» Frederico Mohs, que não só tem sido citado, como mineralogista de pri- meira plana, na Allemanha. como também na Inglaterra, ia mais longe: tanta importância mereciam-lhe os caracteres exteriores dos mineraes, qne dizia affoutamente que a analyse chirnica não era necessária á Mine- ralogia. Isso não importava, claro é, a negação da utilidade d’aquella, e até de sua indispensabilidade, fóra da esphera de estudos do minera- logista. Aquelle modo de exprimir-se, que á primeira impressão parece desassis- tido de razão e fundamento, explica-se no entanto perfeitamente pela consi- deração do terreno diverso, em que assentam os edifícios das duas sciencias, pela estructura, se podemos dizei o, pelo destino, pela repartição differentes cTelles, cujas operações, cujos estudos tem um objectivo, que é idêntico na matéria mas dissemelhante na fórma. Com effeito, tanto o chimico como o mineralogista occupam-se em suas investigações dos corpos chamados brutos. Diverso porém é o objecto, o methodo, e o fim dos estudos a que se entrega um, ou outro. 0 primeiro estuda as substancias, o segundo os mineraes. Ao primeiro importa a entidade, simples ou complexa, e as funcções que desempenha, em face de outras substancias, e dos agentes pbysícos, qner no grande 1a- boratorio da natureza, quer no seu proprio laboralorio; ao segundo im- porta o indivíduo, as suas qualidades physicas, os seus attributos exterio- res, e subsidiariamente a sua composição, mas quanto baste para firmar a sua identidade como variedade de uma certa especie, que pertence a tal ge- nero, familia, ou classe natural. A base da Ghimica é a experimentação; a da Mineralogia é a. observação. Aquella é um ramo das sciencias physicas; esta um ramo da Historia Natural. Pouco importa ao chimico a proveniência, ou modo de formação do corpo que estuda; o giz, o mármore, o spalho calcareo, o alabastro, a aragonite, chamam-se carbonato de cal; a areia, o silex, o crystal de rocha, são sempre acido silicico. Não assim para o mineralogista: cada uma daquellas formas d’uma substancia, secundarias para o chimico, são essenciaes para elle, e constituem indivíduos difíerenles. Igual e profunda divergência observa-se nos íins a que miram as duas sciencias. Quando o mineralogista inquire quando muito da causa próxi- ma, ou antes das condições da producção dos mineraesquc estuda, o chi- mico tenta investigar os elementos intimos dos phenomenos que se mani- festaram n'aquella producção, provoca a manifestação de outros; submette a matéria, que fornece-lhe o mineralogista, a todas as provas que imagina, pela agua e pelo fogo, pelo contacto intimo de uns com outros corpos, por modos e artifícios múltiplos que inventa; e, no seu laboratorio, como n’um pequeno cosmos, cria, separa, e dispõe ordenadamenlc novos compostos sem conta, que o mineralogista não encontra em algumas cen- tenas de especies, que para seu estudo busca e apanha já formadas por ac- ções seculares na superfície da terra. Ainda mais: ao passo que para chegar á perfeição no estudo de Minera- logia, basta, pode em rigor dizer-se, o exercício melhodico e criterioso dos cinco sentidos, auxiliados ou não com alguns instrumentos, (como a lente, a balança, o goniomelro, etc.,) o chimico, remontando-se a regiões mais elevadas do que as da simples observação, recorre, por assim dizer, a um sexto sentido. E’ ellc a imaginação, mas a imaginação scientifica: re- curso precioso, em que pese aos ultrapositivistas. (*) Por seu intermédio (*) Não posso furtar-me ao desejo de transcrever as bellas palavras de Tyudall a respeito ; « There are tories in scienee who regard imagination as a faculty to be feared and avoided ralher than employed. They had observed its action in weak vessels, and were unduly impressed by its disasters. But they might with equal justice point to exploded boylers as an argument against the use of steam. Nourished by knowledge patienlly won; bounded and conditioned by co-operant Reason, imagination becomes lho raightiest instrument of the pbysical discovcrcr. elle, o chimico, penetra até as mais minutas divisões, os mais profundos recessos dos corpos; concebe e descreve, como se as visse, as suas ultimas parcellas, os átomos elementares, os grupos em que devem estar reunidos nas substancias simples, a concorrência dos grupos ou moléculas em outras mais ou menos complexas, a disposição e arranjo d'estas formando os cor- pos, que nos affectam os sentidos physicos, e cujas formas, fóra de exce- pções perturbadoras, são sempre regulares e symetricas. E comparando os phenomenos que estuda com os que altrahem a attenção do physico, ambos, por um esforço admiravel de generalisação, concebem, vêem pelos olhos da imaginação, o como por modos de ser variados de uma mesma causa, como quer que a chamem, força, energia, movimento, que agita e impelia os átomos, as moléculas, as massas dos corpos, dôem-se em condições diííe- rentes, ora combinações ou desagregações chimicas, ora pheuomenos de calor, de luz, de electricidade; umas vezes o movimento mais amplo da vibração da corda que revela-se pelo som que fere o ouvido, outras o da polaridade da bússola que oscilla buscando sempre o norte, outras final- mente o da gravitação da pedra que desapega-se e rola pela encosta da montanha. As aspirações philosophicas das sciencias physicas ainda não tem hori- sonte limitado: as lucubrações, porém, das sciencias naturaes, estão cir- cumscriptas nos limites da observação. E’ bem verdade que, quando os chimicos do século passado, augmen- tando com importantes e numerosos trabalhos o património da sciencia legado por seus predecessores, preparavam materiaes para a grande reforma do fim do século; e o espirito de methodo e classificação dominava, por assim dizer, todas as intelligencias; quando quasi ao mesmo tempo Tour- ]Newton’s passage from a falling apple to a falling raoon was, at the outset, a leap of the prepared iraagination In fact, without this power, our knowiedgc of nature would be a mere tabulation of co-existences and sequences. We should still believe in the succession of day and night, of sumnier and winter; but the soul of Force would be dislodgod from our uni- verso; causal relations would disappear, and with them that Science which is now binding the parts of nature to an organic whole. (Tyndall-Scicntiíic use of iraagination). nefort, Linnôo, os de Jussieu e BuíTon, aformoseavam e engrandeciam os domínios da Historia Natural dos corpos organisados; aquelles sábios que se dedicavam mais particularraente ao estudo da Mineralogia tentavam, assimilando as novas idéas e conhecimentos, reformar a classificação cor- rente, que, em substancia, era ainda a de Avicenne. Uns, porém, queriam fundal-a exclusivamente na Chimica. da qual seria a Mineralogia apenas um capitulo ; outros, contrários, de todo ponto, a esse modo de ver, assentavam-n'a tão somente nos caracteres exteriores dos mineraes. Outros, íinalmente, com mais senso, propuzerarn a adopção de um methodo mixto. D'entre estes, distinguiu-se principalmente Vallerius, em 1747; masquem, conseguindo harmomsar as exigências de um methodo natural com a im- portância do conhecimento d’aquelles caracteres mineralógicos que só a Chimica pode fornecer, produziu a classificação, que tem sido ò modelo, em que se inspiraram aquelles que depois outras propuzerarn, foi o ce- lebre Werner (Abraham Gottlob), o fundador da escola de Freyberg. Fôra demorada e mal a proposilo n’este escripto a tarefa de demonstrar a superioridade do methodo eclectico ou Werneriano: limito-me pois a adoptal-o, com a feição sob a qual Leymerie d’elle serve-se em sua clas- sificação. Uma especie mineral é caracterisada: Io pelo typo mineralógico, cuja dislineção tunda-se nos dous caracteres superiores ou attributus: a forma fundamental, e a substancia. Estes dons caracteres tem igual importância cm Mineralogia: o primeiro deve-a mais que tudo ao abbade d’Haúy, o principal senão unico funda- dor da Crystallographia, e a Mitscherlich, o descobridor da lei do isomor- phismo. 2.° A’ esses caracteres devem ajunlar-se os chamados essenciaes: densidade, duresa, fusibilidade, propriedades ópticas. Uma especie comprehendc sortes e variedades. Além d'aquelles caracteres, os demais, que servem ao mineralogista para o reconhecimento de um indivíduo, são relativos á sua slructura, formas irregulares (nodulos, dentrites, etc.), superfície de fractura, transparência, brilho, côr, propriedades thermicas (dilatabilidade, con- ductibilidade), phosphorecencia. electricidade, magnetismo, propriedades organolepticas (sabor, cheiro, unctuosidade ou asperesa ao tacto), etc. Quando tem de proceder á classificação do tal ou tal producto natural, o mineralogista examina-o, successivamente, cm referencia a esses vários caracteres; a analysc chimica qualitativa é a ultima cousa empregada. Se tem á disposição quantidade sufficiente do matéria, deve começal-a por ensaios geraes por meio liquido, tendentes a averiguar da sua solubi- lidade, parcial ou total, na agua, nos ácidos, nas soluções alcalinas. Seguem-se os ensaios qualitativos especiaes. Alguns mineralogistas preferem, para isso, um raethodo mixto, ora a secco, ora com intervenção de reagentes liquidos, á medida que a marcha da analyse vai mostrando a opportunidade de uma ou outra d’estas ordens de operações, que d’esl'arte mutuamente contraprovam-se. Acho tal systema vantajoso na practica, c como tal merecedor de toda acccitação, tanto mais quanto não importa nem muito maior e nem mais longo trabalho. Havendo-se o analysta com a necessária limpesa e pericia, bastarão ás mais das vezes para cada opera- ção algumas goltas de um reagente liquido, pelo qual tratar-se-ha uma pequeníssima quantidade de matéria. Esta regra de parcimónia a guardar, ó, alias, geral para todos os ensaios mineralógicos. Dão entretanto alguns exclusiva preferencia aos ensaios pyrognosticos, que entre mãos adextradas, e a olhos conhecedores, dizem que «possuem a sensibilidade das onalyses com o espectroscopio.» Seja como for, quasi sempre os resultados d’esses ensaios, juntos aos do exame dos caracteres pbysicos d’um mineral, bastarão para classifical-o. Poucas vezes, porém, ainda restará duvida sobre a proporção ponderai das substancias, que o compõem, já reconhecidas qualitativamenle. N’estc caso, é mister que se proceda à sua analyse quantitativa: cessa então a tarefa do mineralogista, e começa a do chimico. DO ESTUDO PYROGNOSTICO DOS MINERAES L’ou pcnt avec un clvalumeau, un spcctro- sc.ope et quelques réactifs peu nombreux, dé- terminer en peu dãnstanls la nature des éléments d’une foule de minéraux. ( PlSANI—MlNÉRALOGIE) Antes que deva alguém tentar, e para que possa levar a cabo uma analyse pyrognostica, é indispensável que conheça: l.° os vários meios pyrogenicos de que pode lançar mão, e as differenças de aptidão, que offe- reçam para a obtenção do fim desejado, c por tanto as rasões determi- nantes da escolha feita entre elles; 2.° os instrumentos e utensílios empregados, o uso de cada um, e o modo de haver-se com elles; 3.° os reagentes, suas propriedades, e importância relativa d’ellas, e condições requeridas para que bem possam aquilatar-se as reacções. Conseguido isto, restará somente assentar na ordem era que devam succeder-se as diversas operações, a que será mister recorrer em cada caso. Tal plano, porém, pode deixar de ser assentado de antemão; e um analysta perito vai seguindo em cada occasião aquelle, cuja ordem vai-lhe sendo suggerida pelo resultado particular de cada operação que se vai succedendo. O que se quer, como diz um analysta francez, é executar uma analyse, prompla, e correctamente; n’ella não ha regras, que sejam abso- lutamente fixas; aqui a iniciativa pessoal do expeiimentador é muito mais larga, do que nos methodos de Chimica analytica por via liquida. O meio pyrogenico empregado é sempre uma chamma, isto é, um gaz ou um vapor que queima. Um corpo que abrasa-se sem chamma só pode ser util em um caso : é quando for subraettido a exame espectroscopico um mineral, em que suspeite-se a existência de substancias, que não pro- duzem espectro proprio senão sob o excessivo calor do foco photo- clectrico. E como convem que uma chamma seja constante em sua intensidade durante o tempo que dura ao menos cada operação, a lista das empregadas não é grande, e reduz-se ás seguintes. Io Emprega-se a chamma d’uma véla. As de sebo não devem empre- gar-se, salvo em falta de outra: dão, é verdade, uma temperatura regular; mas, além do inconveniente do mau cheiro e do desaceio, têem o de der- reterem-se mui depressa, e portanto obrigarem o operador a estar de vez era quando a apparar-lhes a torcida. As de céra peccam pelo excesso con- trario: a parte delias que derrete-se mais perto da torcida, (o que augmcnta na occasião do ensaio) não vaporisa-se, decompondo-se na chamma, na mesma proporção; de sorte que alaga a base da torcida, e a chamma, mais pequena, também torna-se menos quente. Para obviar a isto Galm. um dos patriarchas da analyse pyrognostica, mandava fazer umas velinhas de torcida grossa e pouca cera, com que andava sempre munido, e que usava em feixes de Ires a um tempo. As que encontram-se no commercio com o nome de velas do stearina, servem perfeilamente na maior parte dos casos. Ha uns castiçaes, formados por um tubo ôco, em que se mette a vela mantida sempre na mesma altura por uma mola espiral. Alguns empregam-nos; mas têem um inconveniente: sendo, como são, de metal, roubam uma grande parte do calor da chamma nas operações com o maçarico. 2o Emprega-se a chamma de uma lampada de álcool. Esta chamma é menos quente do que a precedente, e por isso o seu emprego limita-se a certas operações. Para diminuir este inconveniente, e também o de não prestar-se a ensaios dereducção (de que daqui a pouco tratarei), pode-se empregar uma solução alcoolica, saturada de essencia de terebentina (*). Era casos taes é.preferível, havendo uma vela stearica, servir-se delia. Quando o fim principal é a obtenção de temperatura mais elevada, pode empregar-se uma lampada-eolypilo. 3o Emprega-se a chamma de uma lampada de oleo. Esta chamma é mais quente do que as precedentes, e presta-se bem aos ensaios pyrognos- licos. Tem, porém, os inconvenientes: do desaceio inseparável do contacto constante com o azeite; do cheiro que não deixa de ser desagradavei; de ser um pouco fuliginosa, e de consumir-se a torcida formando um morrão, mais ou menos volumoso (tanto mais, quanto mais velha é a torcida), o qual quando assim é, rouba muito calor á chamma; sem contar com o in- commodo frequente de espivitar e aparar torcida. O oleo preferido é o azeite doce, servindo igualmente o oleo de colza, nabos, coco, etc. O in- troduetor da lampada de oleo nos ensaios ao maçarico foi Gahn; Berzelius fez construir uma lampada d’este genero, a qual tem o seu nome, offere- cendo como principal vantagem a sua portatilidade. 4o Emprega-se a chamma do gaz ordinário de illuminação. Esta chamma é a melhor de todas. lufeiizmente não lem-n'a o mineralogista á sua disposição em toda localidade onde tenha de fazer uma analyse. Mas, inda que a tenha, é mister para empregal-a ter um dispositivo especial, que aliás é hoje commum em todo laboratorio; o qual ó a lampada ou bico de Bunsen, que já em outra parte mencionei; cuja construcção tem soffrido vários aperfeiçoamentos, parecendo melhor até hoje o realisado por um constructor de Paris, Wiesnegg. (*) E’ obvio quo, em caso do necessidade, podcr-se-liia empregar o kerosenc ; que, porém, também tem inconvenientes, que fazem-n’o proscrever do uso ordinário. Entretanto, quando é mister servir-se do maçarico com esta chamma, essa operação torna-se difíicil de executar e fatigante para o operador, que tem de por esforço de insufílação vencer a pressão ordinaria de quatro ou cinco centímetros d’agua, que exerce o gaz na extremidade do combustor. Tem sido imaginados diversos meios de solver esta diíficuldade; aquelle, que parece mais eííicaz, consiste em adaptar ao bico de Bunsen um tubo de alguns centímetros, achatado superiormente de modo a dar sahida ao gaz por uma fenda, de um centímetro de cumprimento para um e meio a dous millimelros de largura, sendo o tubo cortado por uma secção de 68 graus de inclinação sobre o seu eixo. 5o — Em alguns casos de analyse espectral, quando nem a chamma do bico de Bunsen fornece calor suíficiente para que maniíesle-se o espectro de uma substancia, poderá recorrer-se á chamma, cuja temperatura é de 2800 graus, do maçarico oxi-hydrogenado; cuja construcção primitiva de- ve-se ao professor Hare, de Philadelphia, lendo sido depois aperfeiçoado, e empregado com summo proveito, entre todos, por St. Cl. Deville. Ha algumas operações pyrognosticas, que consistem apenas em submetter um mineral á acção de uma temperatura não muito elevada, afim de ob- servar os eíTeitos que então produzem-se. NVste caso usa-se uma das especies de chamma mencionadas; porém de preferencia a da lampada de álcool ou a do bico de Bunsen. Outras vezes, porém, será indispensável obter, concenlrando-o sobre a matéria ensaiada, um calor excessivo; ou ainda, produzir eíTeitos de oxidação ou reducção, como ver-se-ha dentro em pouco. Então será indispensável o emprego do maçarico. Os instrumentos e utensílios, que constituem o indispensável cTura mi- neralogista (*), para a execução de uma analyse pelo fogo, são os seguintes: Io Maçarico — E’ um instrumento, por meio do qual projecta-se uma corrente de ar, moderada mas continua, em uma chamraa, havendo-se o operador como adiante será dito. (*) Sob os nomes de indispensável para trabalhos com o maçarico, necessário do mineralogista, etc , fabricam-se, e vendem-se em algumas cidades, caixas muito por- táteis, onde acham-se bem acondicionados instrumentos, e reagentes usados nestas analyses pyrognosticas; salvo, bem entendido, o espectroscopio. Usam-sc hoje, para as operações de analyse, maçaricos principalmente de duas formas. Uns constam das seguintes partes: um tubo de folha, latão, ou ainds de prata, ligeiramente conico, terminando cm uma das extremi- dades (de cerca de oito a dez millimetros de diâmetro) por uma emboca- dura (de osso, marfim, ambar, e que tem a fórma de um bocal de pis- ton, ou a de uma ponteira de cigarros), e na outra (que tem cerca de quatro millimetros de diâmetro) encravando-se em uma das bases de um cylindro ôco (do qual ordinariamente pode separar-se) de cerca de quinze millimetros de diâmetro sobre vinte e cinco de altura, o qual lateral- mente, e a meia altura, recebe a inserção de outro tubo de quatro ou seis centímetros de comprimento, que estreitando-se gradualmente, acaba por um orifício de um a um e meio millimetro, e em cuja extremidade, que tem de estar em contacto com a chamma, adapta-se um bico de cobre, ou melhor de platina, pelo qual o ar insufílado sabe por um pequeníssimo furo. O comprimento total do maçarico é, em media, de 22 centímetros; mas pode, e deve mesmo, ser mais curto ou mais comprido para experi- mentadores, para quem não soja a mesma o distancia da visão distincta. O maçarico da segunda fórma consiste em um tubo conico, cuja base é de cerca de dous centímetros de diâmetro, e vai, afunilando-se em um comprimento médio de vinte centímetros, terminar com menos de um centímetro de diâmetro em uma embocadura, cuja fórma varia como a do, outro maçarico; a um lado do tubo, e perto da base, entra o tubo de in- sufflação que também é como o do outro. A vantagem das formas de am- bos, que dí(Terem do simples tubo recurvado que conslitue o maçarico dos ourives, está, primeiramente em evitar que a humidade contida no hálito do operador, e que condensa-se no instrumento, vá obturar o tubo de insufflação, e, em segundo logar, cm tornar a esta mais regular, (por uma rasão physica analoga a que explica a acção das caixas d’ar em algu- mas bombas hydraulicas), e menos fatigante. 2.°—Pinças — Empregam-se: i.a uma pinça com pontas de platina, que serve para sustentar, em tal ou tal região da cliamma, uma estilha de mineral, cuja fusibilidade, v. g., se quer observar (*), ou afim de verifi- car effeitos de colorisação de chamraa, etc. (Estas pinças estão por si mesmas fechadas, e para abril-as é preciso calcar em 2 botões fronteiros, cada um {•) Nunca deve ser empregada em casos, cm que possam pela reducçso de alguns metaes formar-se ligas que inutilisam a pinça. dos quaes tem um pé que atravessa um dos ramos, fixando se no outro); 2.° uma, ou duas pinças de aço, que servem para apanhar uma parcella de substancia, que se queira collocar v. g- sobre um carvão, ou aliás para tomar um botãosinho de metal alli reduzido, etc.; 3.° um alicate cortante e outro de pontas chatas ; 4.° uma ou duas pinças de ferro ou aço para segurar capsulas, cadinhos, laminas de platina sobre a chamma. (Estas ul- timas pinças são vantajosamente substituídas por sustentadores fixos, como os que se acham descriptos e estampados, v. g., nas obras de manipulações chimicas de Violette, de Analyse qualitativa de Eresenius, ou como os mados, não sei por que, monges de Plattner). 3.°—Laminas de platina — De 6 ou 8 centímetros de comprimento, e 2 a 3 de largura, e da espessura de uma folha ordinaria de papel, servem : para reconhecimento dos compostos do chromo e do manganez com o carbonato de soda; para verificar a presença de bases fixas insolúveis na soda; para ver se um liquido deixa residuo pela evaporação; para re- conhecer se fica um residuo mineral fixo depois da calcinação de matérias organicas, etc. Antigamenle usavam-se colheres de platina; Wollaston foi o primeiro que aconselhou a sua substituição por laminas, que offerecem de facto grandes vantagens sobre aquellas. 4.°—Fios de platina — Pedaços da grossura de uma prima de viola, c do comprimento de 8 ou 10 centímetros. Depois de cada ensaio aparam-se, c quando ficam tão curtos que não podem mais segurar-se directamente sem aquecer os dedos, espetam-se em rolhas do cortiça, ou seguram-se com uma pinça. Não havendo fio de sobreselente, o que já tiver servido deve ser aquecido á temperatura vermelha, depois immerso em acido sul- furico concentrado, e íinalmenle lavado em agua dislillada. O mesmo en- tende-se com as laminas: estas prescnpções são uma condição de certesa na apreciação de um ensaio. Servem: para caracterisar muitos metaes, quer por meio do borax ou do phosphalo ammonio-sodico, quer por meio do carbonato sodico; e para observar as colorisações produzidas nãima chamma por certos corpos. Empregando-os para este fim, dobra-se-lhes uma extremidade, formando um ganchinho, ou um annel inteiro (quando empregam-se com os fundentes). 5.°— Carvão — Um dos sustentadores mais frequentemente empregados, e que, salvos poucos casos, é preferido quando trata-se de operar uma re- ducção. Deve-se escolher o que for menos denso, e deixar menos residuo por incineração, e cuja cinza não for ferruginosa ou manganezifera. O carvão de pinho é em geral preferido; mas, em caso de necessidade, e guardadas então as necessárias reservas e contraprovas, qualquer carvão poderá servir. Um mmeralogista deve ter sempre guardados alguns toros de carvão, que no geral são cortados em fórma de parallelipipedos de 10 a 15 centímetros de comprimento sobre 4 a 5 de largura, e o mesmo de espessura. Podem-se preparar artificialmenle, e que são muito bons, sec- cando e depois calcinando em cadinho coberto, parallelipipedos d’aquellas dimensões d’uma massa feita de carvão bem pulverisado com um pouco de colla de amido (vulgò, grude de gornma). No carvão, que deve servir de sustentador, faz-se, com uma faca do ponta um pouco romba ou com uma broca própria, uma covinha pouco profunda (3 a 4 millimetros para 5 a 10 de diâmetro), na qual deita-se a matéria do ensaio. Berzelius recommendava que se preferisse, para fazer essas covinhas, a face do carvão perpendicular ás fibras da madeira, afim de evitar que os fundentes alastrassem sobre o carvão: será bom, quando poder ser. 6.°—Tubos de vidro, fechados e abertos — Os primeiros (de 50 ou GO millimetros de comprimento para 2 ou 3 de diâmetro), servem: ou para aquecer as substancias sós (reconhecimento d’agua, alterações, desprendi- mento de gazes, ácidos ou não, etc.); ou, com outros reagentes, por exem- plo o bisulfato de potassa para reconhecimento de alguns ácidos. Os tubos abertos (60 a 70 millimetros de comprimento) rectos, ou ligeiramente dobrados perlo de uma de suas extremidades, onde colloca-se a matéria de ensaio, servem para a grelhagern (*) desta, e verificação n’ella de en- xofre livre, ou formando sulfurelos, de arsénico, etc. Uns e outros devem ser bem enxutos e limpos, depois de introduzida a matéria de ensaio e antes d’esle, o que faz-se com um rôlosinho de papel de filtro, ou, o que é melhor, com um arame ou uma agulha de crochet envolvida no papel. Devem ser egualmente examinados com uma lente antes e depois da ope- ração : é o meio de evitar enganos. 7.°— Vidros de relogio— De 25 a 40 millimetros de diâmetro, servem quer para deitar em um delles um pouco da matéria a analysar, que esteja em pó, e que assim examina-se melhor, quer mesmo para aquecel-a bran- damente, em a’guns casos, quer para tratar um pouquinho por algum (•) Temos cm portugucz o rerbo grelhar; não vejo inconveniente em adoptar, em falta do outra, a palavra que empreguei. veaclivo (principalmente liquido, como, v. g.f parú distinguir um azolito dc um azolalo por uma golta de acido sulfurico concentrado), etc. 8.°—Lamina de prata — Um mineral que contenha, v. g., um sele- mato, um sulfato, sendo fundido sobre carvão com soda, e depois posto cm contacto com a lamina, e humedecido, ennegrece-a naquelle logar. 9.°— Qtpelias — Ha duas sortes de copellas. Umas, também chamadas capsulas Lebaillif, de barro de porcellana, da mesma fórma dos vidros de felogio, e do diâmetro de 8 a 10 millimetros, servem, collocadas sobre uma covinha praticada em um carvão, para receberem um pouco de um fundente, que extendendo se, ao vitrificar-se sobre sua superfície, per- mille qiie melhor veja-se a reacção que dá-se com a addição da matéria d'ensaio, e que ás vezes é mal observada, quando emprega-se como sus- tentador um fio de platina ou o carvão. As outras copellas são feitas de cinza de ossos, pura ou misturada com um pouco de carbonato de soda. Como são mui frágeis, é melhor fazel-as na occasião de servir-se d’ellas. Preparam-se, amassando o pó com uma golta d'agua, e amoldando-as pela mão do gralsinho de agatha, de que vou fallar e que na extremidade mais grossa arredonda-se em calotte espherica: depois deixam-se seccar bem, sem o que podem dar logar á projecções da rnateria densaio. Uma co- vinha no carvão, na qual deita-se a cinza necessária, acamando-a bem com a mão do gral, sem precisar de agua, fórma uma boa copella, que pre- para-se mesmo no momento de servir-se d’el!a. N’estas copellas tratam-se os mineraes que suppõe-se auríferos ou argentiferos, c cujo metal reduz-se pe'a intervenção de um pouco de chumbo pobre (não argenlifero), ou do lilhar girio. 10 — Gral de agatha ou calccdonea. — De 4 a 6 centímetros de diâmetro; serve para pulverisar as matérias, e ás vezes mixlural as inti- mamente com os reagentes, antes de submeltel-as aos ensaios. 11 —Bigorna. — Chapa de aço ordinariamente quadrada, de 40 ou 45 millimetros de lado e 0 ou 8 de espessura; serve para quebrar mineraes, verificar a malleabilidade de um globulo mctaílico ou sua fragilidade; etc. 12—Martellos.— Gral de Abich.—Este gral de aço, em cuja cavidade, que é cylindrica, entra quasi justa a mão lambem cylindrica, (sobro cuja extremidade externa, que tem a forma de uma bola, bale-se com um martello), serve principalmente para quebrar mineraes muito duros, e de que não deseja-se perder parcelia alguma, o que dar-se-ia com a bigorna. 13 — Barra magnética. — Em forma de prisma quadrado de cerca de 1 decimétro, c base de 5 mi-Himolros de lado: serve para verificar a pro- priedade magnética de certos mineraes, e a presença de ferro, uickel, cobalto, obtidos por uma reducção. 14 — Agulha magnética. — Serve para verificar a polaridade manifes- tada era alguns mineraes, observando a allracção ou repulsão que solíre aquella com a sua approximação. 15 — Agulha eléctrica de Haiig.— Agulha melallka movei sobre um pé isolador: carregada de electricidade communicada, ajuda a levai-nos ao conhecimento de certos mineraes, em que, dadas certas condições, de- nuncia a presença não só de fluido livre, como a especie (Tosto. 16 — Lente. — A's vezes indispensável, e sempre ulil para o exame das matérias antes, e depois de terem tido submetlidas aos ensaios. 17— Laminas de vidro. — Um vidro azul e um verde, são os mais necessários. Servem para distinguir as colorisações, que certas substancias produzem em uma chamma, e que são modificadas, ou mesmo impossíveis de distinguir, em presença de outras substancias que tenha a chamma. Com o vidro azul reconhece-se a cor da chamma do potássio ou a do lilhio, as quaes a do sodio domina e encobre; dislingue-se a do slrondo da do cálcio; com o vidro verde caraclerisa-se bem a do cálcio, do -baryo ou do slroncio ; etc. 18 — x\lém d’estes objectos, algumas limas (uma triangular, umachala, uma redonda e uma de meia cana), papéis de lixa de esmeril (ma, o algu- mas agulhas de crochet (estas cujo uso foi especificado no n. 6, e aquellas, cuja serventia é obvia) completam o instrumental mais usado nas opera- ções pyrognosticas do mineralogisla. Alguns ajuntam ainda um pequeno cadinho de platina, ao qual serve de tampa uma capsula rasa do mesmo metal; c capsulasinhas de porcelana: estas peças não são inúteis, mas somente dispensáveis. Para que possa alguém servir-sc do maçarico, é necessário que conheça a constituição e propriedades da chamma, a que vai recorrer como meio pyrognostico. Qualquer chamma é, como disse, nm gaz ou um vapor cm combustão, que eleva-se vertical mente, do accordo com o principio de Ârcbimedes ; e diminuindo em quantidade, á proporção que sobe, a chamma toma a forma fusiíorme, que todos conhecemos. Se observarmos com atlcnção a chamma dc uma lampada de álcool, distinguiremos nella, a partir da torcida, dons fusos concêntricos, um, o interior, escuro e pouco quente; o outro luminoso, e tendo o máximo de calor a alguma distancia da ponta. O primeiro contêm só vapor dc álcool; no segundo é que dá-se a sua combustão. No exterior, a base da chamma, como aliás a d aquellas do que vou occupar-me, c azulada: o que devo allrihuir-sc á queima do um pouco de oxido dc carbono, resultante da combustão incompleta n’essa parte da chamma, devida ao esfriamento produzido pelo contacto da cohimna ascendente de ar. A chamma duma vela das chamadas de stearina é mais complexa. N’clla a espessura do fuso externo é tenuissima; entre este e o interno obscuro, ha um cone luminoso, brilhantíssimo; o que por contraste, torna pouco visível a capa exterior, que senão fôra isso, pareceria tão brilhante quanto a da chamma do álcool. O composto gazoso, que enche o espaço obscuro, diversifica conforme a altura: logo acima da torcida ha vapor do acido stearico, o- qual, á proporção que expande-se, decompõe-se, formando-sc principalmente vários carhuretos hydrogenados, cada vez mais ricos em carbono, e de mixtura com crescente quantidade de hydrogenio livre, c por fim, ao tocar a parle brilhante, lambem carbono livre. Nesse espaço brilhante encontram-se estes produetos com o ar, mas rarefeito e empo- brecido de oxigénio pela sua passagem atravez da camada externa. Então o hydrogenio livre queima-se e lambem aquello que fazia parte dos com- postos hydrocarhonados. Quanto ao carbono, uma certa porção, conforme as circurnstancias, queima-se lambem, mas a maior parle separa-se ene partículas solidas e incandescentes pela elevada temperatura, em que acham-se, o tal è a causa do brilhantismo efesse espaço da chamma. A capa exterior está em livre contacto com o oxigénio do ar; n'clla, por- tanto, a combustão é completa. A chamma de uma lampada de Hunsen, cuja tiragem fôr interceptada pela occlusão dos orifícios, que vimos haverem aos lados do combustor, terá exactamente as mesmas partes, que a precedente. Somente a parte obscura será formada pelo gaz de illuminação. Se, porém, abrimiol-os gradualmente, veremos que a parle brilhante vai diminuindo ao passo que a exterior torna-se mais espessa ganhando o espaço- que a outra vai per- dendo; até desaparecer esta de todo, ficando então a chamma constituída como a da lampada de álcool. No entanto é esta, dentre as tres chammas estudadas, aquclla em qao a temperatura é mais fraca, e a de Bunsen, c mais ainda quando a sus tiragem é completa, aquella em que produz-se calor mais intenso. Dou» motivos, principalmente, concorrera para isto: em primeiro lugar, dado volume igual da massa gazosa do espaço escuro nas tres chammas, é a ultima a que contêm maior quantidade dos elementos combustíveis. Em segundo lugar, com a mudança de estado, para a evaporação do combus- tível das duas primeiras, ha grande absorpção de calor, o que não dá-se com a ultima. Podiam porém observar-me, ainda, que a chamma do acido stearico, solido e que portanto mudando de estado duas vezes, absorve duas vezes calor, é, não obstante, mais quente que a do álcool. Mas, para invalidar a objecção, bastará ponderar que, quando uma molécula de álcool, decompondo-se, fornece á combustão 2 átomos de car- bono e 4 de hydrogenio (descontando os 2 restantes de hydrogenio, que podemos figurar como já queimados e satisfeitos pelo atomo de oxigénio da molécula) uma molécula de acido stearico fornece 18 átomos de car- bono, e 32 de hydrogenio; (não contando igualmente os elementos de 2 moléculas d’agua existentes no acido stearico). Gomprehende-se, pois, mui bem como a combustão do segundo deve produzir calor, que compense e exceda aquelle que (em linguagem antiga), pela sua fusão passa ao estado latente. Sendo tal, como vemos, a composição das parles d’uma chamma, e at- tendendo ao máximo do temperatura que em cada uma delias produz-se, podemos prever o eíTeilo determinado em cada caso, prescindindo por em- quanto de cogitarmos do auxilio do maçarico. Assim, na chamma de álcool obteremos: Io—effeitos de temperatura, (fusão, volalilisação) quando um corpo ensaiado não exija para isto calor muito elevado; 2o—effeitos de oxidação na parle externa da chamma, e tanto mais, quanto mais approximar-se o corpo do ponto máximo de calor entre a ponta da chamma e a do cone obscuro. Na chamma d’uma vèla os mesmos j henomenos realisar-se-hão, e na mesma ordem. Na porção brilhante da chamma, claro é que não pode- riam esperar-se oxidações; antes dar-se-iam reducções pela acção sobretudo do carbono, que n’ella está em liberdade e quente. Não é porém ahi sufficiente o calor a produzil-as. E’ a semelhante deficiência que suppre o emprego do maçarico. A chamma d'unia lampada de Bunsen tem cerca de 12 centímetros de altura. Quando estão abertos os orifícios, pelos quaes o ar peneira, mis- turando-se com o gaz antes de queimar-se, obtem-se d'ella o máximo de calor, não se formando cone brilhante, porque a combustão è completa: portanto, assim não se presta ella a reducções. Fechando porém gradual- mente os orifícios, começa esse a mostrar-se acima do cone obscuro. Quan- do entre os dous verlices medeia a distancia de cerca de um centímetro, podem-se, segundo Bunsen, obter os seguintes eíTeilos: 4o—na base da chamma, na capa exterior, onde a temperatura é relativamenle fraca, dá- se a volatilisação de substancias, em que esta se der facilmente; e se ellas communicarem á chamma uma côr característica, será este um meio de distinguil-as de oulras com que estejam misturadas, e que só poderão sof- frer mais demoradamente o eííeito do calor; 2o—pouco acima do terço in- ferior da altura da chamma. e a meio da espessara ainda do invólucro ex- terno está a região de fusão, onde o calor sobe a 2300 graus: é ahi que fazem-se aquellas operações pyrognosticas, que só visam aos effeitos physi- cos do calor sobre a matéria do ensaio; 3o—na mesma altura, mas na su- perfície da chamma obtem-se o effeito máximo de oxidação; 4o—perto da ponta d'este mesmo invólucro e da chamma os effeitos são ainda os de oxidação, porém menores; ahi a chamma é menos quente do que na re- gião antecedente; 5o—na base do cone brilhante, onde este prolonga o cone obscuro, e a tocar no envolucro, está situada a região de reducção mí- nima, empregada para as reducções no carvão com a soda, no borax sustentado no fio de platina, ou no sal de phosphoro (como adiante vere- mos); 6o—finalmente logo abaixo do vertice do cone brilhante acha-se a região de reducção maxima. «Gom tal chamma, (*) pode-se obter uma temperatura tanto ou mais elevada do que com o maçarico, e operar mais facilmente, havendo habi- lidade em servir-se das diversas parles da chamma, todas as reducções e oxidações.» Empregando o dispositivo qne já mencionei, adaptado a um bico de Bunsen, se produzem com o maçarico effeitos analogos, mas muito mais intensos do que os que podem produzir-se v. g. com a chamma da lam- pada de Berzelins, ou com a de uma véla. Como porém o modo de operar é o mesmo nos dous casos, e o mineralogista tem ordinariamente vélas ou oleo á disposição, sendo que não dá-se o mesmo quanto ao ma- (*j Frosonius. Anal. qualit. - Trad. p. Forthomrae. çarico com o gaz; estudemos o modo de servirmo-nos deste instrumento com uma vela. Das partes descri pias da chamma d’uma vela, duas somente podem ser uteis, segundo o que vimos, nos ensaios pyrognosticos: a capa exterior, pouco luminosa, chamada chamma oxidante; c a parle brilhante, que lhe está sotoposta, chamada chamma redactora. Se n’uma vela assim accesa, depois de inclinarmos mais a torcida para o lado a que ellajá naturalmente s’encurva, dirigirmos no mesmo sentido e um pouco obliquamente para baixo a ponta do maçarico, conservada em tal altura que o esguicho de ar insufflado seja apenas tangente á curva da torcida, e tocando apenas a superfície da chamma, veremos que, soprando, esta, de vertical que era, agora deita-se, alongando-se em ponta mui fina* na direcção da corrente insuíílada; e então toma o nome de dardo. Nas condições que figuramos, o aspecto do dardo c o seguinte: da parle mais chegada á torcida, (e isso ainda mais na parte inferior do dardo,) a pequena llamma azul. que normalmenle cerca a base da chamma, estende- se, substituindo quasi todo o cone obscuro; envolvendo-a e alongando-se adiante delia, vé-se uma lingua de chamma b ilhante. menos volumosa do que era; e, terminando o dardo, uma ponta maior e mais distincta do cone pouco luminoso, que envolve a chamma em tenuissima espessura. Com o dardo assim obtido produz-se o fogo de reducção, posto que para a extremidade seja elle também allamente oxidante. A região rcdu- ctora d’esse dardo está na parte brilhante da chamma, e não na parte azul, como tem dito muitos apesar da opinião contraria que vem desde Bcrze- lius. Para produzir o fogo de oxidação, introduz-se um pouco na chamma a ponta do maçarico: então os productos gazosos combustíveis, que occu- pam o centro da chamma, chegando já misturados com o ar á região em que dá-se a sua combustão, esta faz-se completa, sem haver a língua de chamma brilhante. Assim o dardo é então constituído por um cone alon- gado e azulado, envolto em outro mui pouco luminoso, o qual prolongas- se muito além d’elle em ponta muito aguda. Nada mais facil do que elíecluar-se uma oxidação com o maçarico; o mesmo porém não dá-se com uma operação do reducção. A razão. dõsto é obvia: é diíTicillimo conservar por muito tempo a parte brilhante, a ilni- ca rednctora do dardo, sempre na mesma posição, envolvendo a matéria d’ensaio e interceptando lhe cornpletamenle o contacto com o ar. Para ob- tel-o é necessário soprar com pouca força, e sempre com o mesmo grau de força, e isto, repito, ás vezes por longo tempo. Parecia, á vista d isto, que o trabalho com o maçarico devia ser muito fatigante; poderia crer-se que um peito robusto, e um pulmão bem são» depressa expor-se-ião a soffrer, em consequência d'esse trabalho. Feliz- menle assim não é: durante todo o tempo da insufflação respira-se livrc- mente, ao mesmo tempo que sustenta-se o sôpro. Basta adquirir o habito de conservar a bocca cheia de ar, que, tão somente pela contracção das bochechas, penetra pelo maçarico, independente da inspiração e expiração que faz-se pelo nariz. Quando a quantidade de ar vae diminuindo na cavi- dade buccal, com um pequeno movimento do fundo das fauces, introduz-se nova porção de ar. Esse habito adquire-se facilmente com a pratica. Nunca ó preciso, aliás, injectar o ar com grande esforço ; pelo contrario, uma corrente de ar muito intensa rouba na passagem calor á charnma, e o res- friamento d’esla póde ser tal que impeça o eíTeito desejado. Ainda aqui, somente a pratica ensinará a evitar os dous extremos, da falta e do excesso. Os reagentes empregados nos ensaios chimicos do mineralogista sobem a uns vinte, incluindo ires ácidos concentrados, que é verdade que são lí- quidos, mas que, quando servem em operação não pyrognostica, são em- pregados na dóse de uma, duas goltas, que bastam para produzir uma reacção com a matéria ensaiada primitiva, ou com a resultante de ensaio pyrognoslico anterior. São elles os seguintes : l.°—Bórax— E’ o nome commnm do biborato de soda. Submcttido ao calor, perde a agua de cristallisação, limiefazendo-se em uma massa es- ponjosa, que depois soílrc a fusão viscosa, e transforma-se, esfriando, em um vidro incolor e transparente. Se, depois de enrubescermos a extremi- dade, curvada em annel, de um fio de platina, mergulharmol-a em um pouco de borax (pulverisado de ordinário e previamente secco), o sal adhe- i irá, e levado o fio novamente á charnma, teremos afinal um vidro globu- liformc ou lenlicular, que se denomina uma pérola dc borax. Para obtermos maior cortesã em algumas operaçoes de colorisação fun- de-se o borax em uma Copella Lebaillif, em cuja superfície elle estende-se, ficando pelo esfriamento um vidro de mui pouca espessura, e que sobresahe no fundo branco da copella. O borax dissolve, sob a intervenção do calor, os oxidos metallicos, com os quaes forma saes duplos, muitos dos quaes são corados, e ás vezes com cores características. Se for considerável a quantidade de oxido dis- solvido, o vidro será opaco depois de frio; se não, ficará transparente, (salvo com poucos corpos). Por isso, é conveniente não addicionar á pé- rola de borax, senão uma quantidade diminútissima de matéria; repelindo a addição, se for preciso. Alguns corpos, existentes em uma pérola, dão-lhe a propriedade de tor- nar-se opaca (umas vezes com o aspecto do esmalte branco, outras diver- samente corado), quando é posta, algumas vezes mas rapidamente, em contacto com a parle exterior da chamma, Esta operação de tocar, rapida e inlermillentemente, o corpo e a chamma, é o que chama-se chamuscar: diz-se que uma pérola lornou-se opaca do chamuscar (*). N’esse caso estão, por exemplo, os compostos de baryta, slronciana, cal, magfiesia, glucina, zirconio, cerio, titanio, etc., salvo se estão combinados com o acido sili- cico, que impede o phenomeno. As cores, que os oxidos commnnicam ás pérolas de borax, diversificam muitas vezes, conforme são eslas submellidas ao fugo de oxidação ou ao de reducção, e conforme são examinadas em quanto actua aquella tempera- tura, ou aliás depois de frias. Os casos principacs são os seguintes t Os oxidos de potássio, sodio, riibidb, coesío, lithio, thallio, baryo, slroncio, cálcio, magnésio, alumínio, glucinio, zirconio, thorio, yttrio, erbio, lerbio, tantalio, lanthanio, estanho, zinco e mercnrio, não coram as pérolas de borax, nem na chamma oxidante nem na reductora, a quenle nem a frio. Os oxidos seguintes, dissolvendo-se no borax, determinam : o de dydimo, com ambas as chammas, côr azul-violacea a quente e roseo-víolacea a frio. De certo, somente com a chamma oxidante, cor rubro-escura a quenle. (•) Não vejo outra, equivalente á expressão fraixceza opa que au flamber. amarello-clara a frio. Do manganez, a quente e a frio, com a chamma oxi- clante cor violéte-escura ou tirando a avermelhada; com a redactora al- gumas vezes cor de rosa, outras nenhuma. De ferro, com a chamma oxi- dante e a quente, cor amarella de ferrugem e ás vezes vesmelho-escura; a frio, amarello-clara, (ou incolor); com a chamma redactora, a quente ver- de-suja, a frio verde-garrafa ou verde-anegrada. De chromo, com o fogo oxidante, a quente amarello-esverdeada e a frio verde-amarellada; com o fogo de reducção, a quente verde-suja e a frio verde-esmeralda. De nickel, por oxidação e a quente, vermelho-amarellada trigueira, semelhante á madeira de cajueiro, e a frio mais clara, ou mesmo pérola incolor ; pela chamma de reducção, a quente amarello-acinzenta la e a frio cinzenta. De cobalto, em ambas as chammas, azul intensa a quente, azul de cobalto a frio. De urano, ao fogo oxidante, amarello-alaranjada a quente, e amarella d ouro a frio; ao fogo reduclor, verde-suja a quente, e verde a frio. De niob:o (-omente ao fogo de reducção), azul-clara ou violacea tanto a quente como a frio. De titanio, amarellada (só a quente) na chamma oxidante, e castanho-clara a quente e castanho-violacea a fiio, pela chamma reduetora. De vanadio, por oxidação, amarella ás vezes acastanhada a quente, e ama- rello-clara a frio; pela reducção, verde-suja a quente, e a frio verde-cs- meralda. De molybdene, com o fogo oxidante (somente a quente) amarcl- lada; com o reduclor castanho-clara a quente e castanho-escura a frio (tornando-se a pérola opaca). De tungslene, amarello-clara por oxidação (somente a quente); e pela reducção incolor ou amarellada a quente, e amarello-acinzenlada a frio. De indio, cor de cinza em todos os casos. De cádmio, amarello-clara somente ao fogo de oxidação e a quente. De anli- monio, o mesmo (a quente) pelo fogo de oxidação; pelo de reducção cin- zento-clara a quente e a frio. De chumbo, pela chamma de oxidação, ama- rello-clara, só a quente; pela de reducção cinzenta, mais ou menos escura até negra. De bismulho, por oxidação e a quente amarello-clara, ou tirando a amarello de ferrugem, e a frio incolor ou amarello-clara; pela chamma de reducção, cinzenta a quente e a frio. De cobre, com a chamma oxi- dante, verde a quente, azul-clara a frio; com a chamma redactora, verde suja a quente, vermelha a frio (a pérola torna-se opaca). De prata, por oxidação e a quente, amarello-clara, e a frio amarella com reflexos irisados; pelo fogo de reducção, cinzenta a quente c a frio. De ouro, incolor em todos os casos, e mostrando o ouro em suspensão. De platina, palladio, iridio, rhodio, osmio, ruthemo, pérola conservando-se incolor, mas mos- trando em suspensão partículas cinzentas de metal, n'uma e noutra chamma, e a frio como a quente (*). 2.°—Sal de phosphoro — E’ por este nome que é designado o phos- phato hydro-sodio-ammoniacal. Pela acção do calor, este sal perde, suc- cessivamente, a agua de crystallisação, o oxido amraoniacal, e a agua de constituição, fi ando assim transformado em metaphosphato de soda; de- pois este funde, tomando depois de frio o aspecto de um vidro incolor e transparente. Com o sal de phosphoro obtem-se, como com o borax, no fio de pla- tina uma pérola, que serve também para fins analogos. Tem sobre o borax a vantagem de atacar mesmo os silicatos; e como a siliça não é solúvel n’clle, vê-se o esqueleto da matéria d’ensaio (como cha- mam-no os mineralogislas), nadando na pérola fundida com o aspecto de uma massa gelatinosa, opaca, e branca pelo esfriamento do fundente. Fundido, em presença de compostos metallicos oxidados, o metaphos- phato sodico passa ao estado de pyrophosphato, e talvez phosphato tri- basico, pela addicção dos oxidos metallicos. (As matérias, que contêm sulfuretos, arseniuretos, etc., devem soffrer uma grelhagem prévia, antes de submetlidas á acção quer do sal de phosphoro, quer do borax). As pé- rolas, assim obtidas, manifestam colorisações, quasi sempre semelhantes ás que vimos, ha pouco, com o borax; sendo para notar porém que as cores são mais vivas quando quentes, e mais desmaiadas quando esfriam as pérolas; e além disto, para que tenham então a mesma intensidade as cores, será mister que seja addicionada ao fundente maior quantidade de qualquer substancia, do que a que bastaria com o borax. As colorisações communicadas por alguns oxidos ao sal de phosphoro são entretanto diíTerentes das que vimos com o primeiro fundente, o que permitte distinguir alguns entre si. Assim uma pérola de sal de phosphoro mostra com os oxidos de: (*) Alguns authores qualificam diversamente os matizes, ou cores compostas; di- versidade, que parece provir de uma pequena differença funccional dos orgãos visuacs de cada ura. Ja Berzelius, ha cerca de 40 annos, dizia: « Nem sempre duas pessoas tem a mesma maneira de ver e denoramar as cores; por exemplo, havia certos matizes que sempre Gahn designava com o nome de amarello ou amarello-escuro, e que eu obstinava-me em qualificar de vermelho, entretanto que estavamos do accordo sobre o amarello puro ou o vermelho puro, isto é, as cores fundamentaes». chromo, com a chamma de oxidação, uma cor violete-suja a quente e verde-esmeralda a frio. Com o cerio a pérola, submettida ao fogo oxidante, é as vezes incolor depois de fria. Com o urânio, a pérola é, pela chamma oxidante, amarcllada a quente, e verde-amarellada depois de fria; pela chamma reduetora, verde-suja aquente, e esfriando verde-esmeralda. Com o mobybdene, e tratada por oxidação, a pérola é amarello-esverdeada a quente, e verde a frio; e, depois de reducção, verde-suja a quente, e verde esmeralda a frio. 3o Soda — E’ o nome que em analyse pyrognostica designa, por abre- viatura, o carbonato neutro de soda (*). Serve para fundir e desaggregar mineraes silicados, e outros compostos infusiveis. Os smtenladores empregados para submelter ao fogo o sal de soda, e com elle os mineraes a ensaiar, são o carvão, a lamina e também o fio de platina, e, em alguns casos, um tubo fechado em uma extremidade: (quando, v. g, addicionando-se-lhe um pedacinho de carvão, deseja-se ve- rificar a presença de arsénico n’uma substancia). Serve também para reconhecer sulfatos, que em presença do carvão reduz a sulfureto alcalino, que, sendo humedecido, mancha a lamina de prata. Com um pouco de nitro, serve para reconhecer o manganez e o chromo. Com os ácidos silicico, phosphorico, horico, e titânico fórma compostos, que se conservam sobre o carvão com o aspecto de glohulos vitreos. E’, finalmente, empregado como poderoso agente de reducção. Por meio cio sal de soda, pode separar-se uma quantidade minima de metaes reducliveis, ainda quando estejam em presença de muito maior quantidade de substancias estranhas. Emprega-se então a soda, ajuntando-a aos poucos, mas a final em excesso, sobre o mineral exposto na covinha do carvão á chamma oxidante. A soda fundindo, acaba por levar também aos poucos toda a matéria de ensaio, que cora ella penetra, para dentro do carvão. Então apaga-se este com algumas goltas dJagua, tira-se com a faca a porção de carvão assim impregnada; a qual é triturada no gral- zinho de agatha. Então separa-se por levigações repetidas, e feitas cuida- dosamente, o carvão do metal ou metaes reduzidos, que ficam no fundo do gral ora na fórma de palhetasinhas brilhantes, quando o metal for fu- (*) Em caso de necessidade, em falta do sal neutro, pode-se lançar mão do bicais bonato de soda: o que é mister é que um e outro sejam puros. sivel e malleavel, ora de pó, quando clle for frágil, ou não tiver chegado a fundir. Dá-se muitas vezes, o que acabamos de ver, que o carvão absorve o sal em fusão; isto, porém, não impede que afinai dê-se a acção d’elle sobre a matéria ensaiada; a qual, se é fusível, como que reaspira (quando não se addiciona um grande excesso de soda) o que tinha entrado no carvão, ao mesmo tempo que n'ella manifesta-se um certo fervor, seus bordos retra- hem-se e arredondam-se, e por fim, em determinados casos, reduz-se tudo a um giobulo vitreo liquido. Cyanureto de potássio — E' um forte agente reduetor; mas nunca em- prega-se só: é demasiadamente fusível, muito deliquescente, e desprende pelos ensaios acido cyanhydrico, que, posto que cm pequena quantidade, não deixa de ser nocivo. Serve, pois, apenas afim de ajudar a acção reduetora do sal de soda, misturando-se a peso duplo d'este; por meio desta mistura podem-se des- cobrir nos mineraes quantidades de metaes tão pequenas, que escapam ás mais bem feitas analyses por via húmida. O carvão embebe-se d’esta mistura, como da soda só; quando desejar- mos impedií-o, ajuntar-lhe-hemos um pouco de borax, cuja acção e pro- priedades já conhecemos. Estanho — E’ eminentemente oxidavel e portanto reduetor; e como tal é utilisado, mas somente no caso seguinte. Quando, em uma pérola de borax ou de sal de phosphoro, deseja-se julgar do effeito corante da chamma de reducção sobre um oxido, que existe em parte mui diminuta na matéria de ensaio, addiciona-se áquella um grãozinho, ou uma pequena parcella de folha de estanho, que concorre no mesmo sentido que a chamma reduetora. Nesla operação é mister ter o cuidado de evitar não só que a re- ducção và mais longe do que se pretende (o que dar-se-ha, se ajuntarmos demasiado estanho, ou demorarmos muito a acção do maçarico), como que, quando emprega-se como sustentador o fio de platina, o estanho chegue a tocal-o, porque ligar-se-hiam instantaneamente em temperatura rubra. (Isto è evitado, conservando horisontal durante a fusão o anncl do fio de pla- tina, bem no meio do qual tem sido posta a parcella de estanho). Sulfato de protoxido de ferro — Outr ora era empregado para o mesmo fim, que acabamos de ver; mas, ainda em pequena porção, seu uso tem inconveniente: com eíTeito, sabemos que os oxidos de ferro coram as pé- rolas. Hoje é utilisado unicamente para verificar a presença, cm uma pe- rola de sal de phosphoro, de niobio, tilanio, tungstene, ou antimonio; em qualquer doestes casos a pérola tomará a cor vermelha de sangue, pelo fogo de reducção. Chumbo pobre, e lithargirio — Empregados na copellação. O segundo é preferível, se um mineral argentico ou aurico é sulfuretado ou arsenifero: de mistura sobre o carvão, o enxofre ou o arsénico reduzem o lithargirio; e o chumbo proveniente encerra os outros metaes reduzidos ao mesmo tempo, os quaes então separam-se por copellação. Nitro — Já vimos que serve para reconhecer num mineral a presença do manganez, ou do chromo. Serve também para auxiliar a acção da chamma oxidante, principalmente quando trata-se de um mineral sulfuroso ou arsenifero, que deixasse de ser ou tivesse sido mal submellido previa- mente á grelhagem: comprehende-se que em casos taes a acção reduetora do arsénico ou enxofre contraria a da chamma exterior. Bisulfato —Em ensaios pyrognosticos designa-se simplesmente por este nome o bisulfato de potassa. Por meio d’elle reconhece-se um grande nu- mero de ácidos dos saes. Quasi sempre é collocado com a matéria de en- saio em tubo fechado. Azotato de cobalto — Serve para caracterisar a presença: da alumina (que cora em lindo azul); da magnesia (á qual communica uma cor roseo- clara); do oxido de zinco (a quem cora em verde); e da glucina (a qual, comtanto que esteja pura, dá a cor violête tirando para cinzenta). Releva notar que os phosphatos, boratos, e silicatos alcalinos, ou fusí- veis, formam com o mesmo reagente pérolas transparentes azues; e os áci- dos do niobio, o acido titânico, o oxido de antimonio e o de estanho, são por elle corados em verde: (não tão vivo e puro, é verdade, como o que dá-se com o oxido de zinco). Sempre que ficar um residuo fixo branco, fusivel ou não, depois de aquecido um corpo sobre carvão, ou lamina de platina, deve ser ensaiado peto azotato de cobalto; mas deve-se-lhe ajuntar apenas uma pequenís- sima gotta, e depois ser fortemente aquecido; sem o que manifestar-se-hia apenas uma colorisação negra. Oxido de cobre.—Se a uma pérola de sal de phosphoro ajuntarmos este reagente, aquecendo-a de novo, e ajuntando ainda reagente, se é pre- ciso, até que fique opaca, bem negra, e com um aspecto semi-metallico; e depois de verificar que a chamma de oxidação não cora-se de verde por seu contacto, addicionarmos-lhe então um pouco de matéria de ensaio: se esta contiver um chlorureto, sendo applicada á chamma exterior, commu- nicar-lhe-ha uma côr azul levemente purpurea; se contiver ura bromureto, a côr será azul tarjada de verde; e se um iodureto, será uma linda côr verde-esmeralda. Oxido de nickel.—Dissolvido em borax (se o oxido fôr bem puro), e ajuntando-se a matéria ensaiada, se n'esta houver potassa, dará ao vidro de borax uma côr azul purpurea, ainda quando haja também soda na mistura. Spath-fluor.—Hoje emprega-se exclusivamente para o reconhecimento do acido borico; e para o da lithina, ou quando esta exista em mui dimi- nuta proporção n’um mineral, ou quando n'elle esteja no estado v. g. de phosphato ou arseniato. Para isto, mistura-se bem o spath-ílnor pulverisado com o triplo ou quadruplo de seu peso de bisulfato, e ajunta-se a substan- cia que queremos ensaiar. Tomando um pouco do mixto n'um fio de pla- tina, e levando-o á chamma, num caso formar-se-ha fluorurelo de boro, que dará á chamma uma côr verde intensa; e na outra separar-se-ha íluo- rureto de lithio, que produzirá uma colorisação rubro-purpurea. Papéis reagentes.—Os papéis de tonrnesol, pau-hrazil, e curcuma, cor- tados em tirinhas estreitas de cerca de 4 centímetros de cumprimento ser- vem para reconhecer as reacções de alguns gazes ou vapores, produzidos quando aquece-se um corpo em um tubo fechado ou aberto. Acidos concentrados.—Empregam-se: Io—o sulfurico (no qual molha-se o annel terminal de um fio de platina, tocando-se depois com elle uma parcella de substancia a ensaiar, a qual, se tiver acido borico, molybdico ou phosphorico, dará então á chamma uma côr verde); serve, como já vimos, para distinguir os azotatos dos azotitos, os chloratos dos perchlo- ratos (*), (para o que bastará uma gotta num vidro de relogio); 2o—o azo- tico, serve para dissolver os botões de prata obtidos por copellação, a vêr se contêm ouro; 3o—o chlorhydrico, serve misturado com o precedente (agua regia) para dissolver o ouro; e ainda para reconhecer os carbonatos, (em vidrinhos de relogio), e se um silicato é attacavel ou não, etc. Nos phenomenos de colorisação d’uma chamma, determinados pela pre- (•) Um azolito desprende n’esias condições vapores bem conhecidos de hypoazo- tide; e um chlorato, de pcroxido de chloro. sença de certos corpos tem a analyse pyrognostica um gencro de indícios valioso: vimol-o, ha pouco, no reconhecimento dos chloruretos, bromure- tos, e ioduretos pelo oxido de cobre; dos boratos e dos saes de lithio, pelo spalh-íluor com o bisulfalo. A lista dos corpos, cuja presença é as- sim denunciada é mais extensa. Uns coram a chamma em vermelho, outros em amarello, uns em verde, outros em azul, outros finalmente em violéte. E a côr geral, em muitos cVelIes, distingue-se por particularidades de matiz, que por serem menos descriptiveis, nem por isso são menos im- portantes; por isso que, ao cabo de pouco tempo de pratica, não confundi- rá facilmente o analysta, uma com as outras, essas gradações ou meias tin- tas diversas de uma mesma côr geral. Goram a chamma em vermelho os compostos de:—Lithio, em vermelho cramesira intenso, que mostra-se facilmente com o chlon.relo, e o íluo- rureto: a presença de um composto sodico dissimula essa colorisação, que pode então distinguir-se através de um vidro azul, e então a côr tira um pouco para o rôxo. Stroncio, em vermelho de carmim: a côr também é dissimulada pela presença do sodio, e então, vista através do vidro azul. a chammaofferece todos os matizes que vão da côr de rosa até á de purpura; através do vidro verde, a côr é amarella pallida. Cálcio, em vermelho-ala- ranjado: vista por um vidro azul, a chamma parece cinzento-esverdeada; por um vidro verde mostra uma côr verde-canario. Goram a chamma em amarello somente os compostos de sodio; é um amarello intenso, e a chamma parece muito maior. Goram a chamma em verde os compostos de:—Cobre, excepto o chlo- rureto e bromureto (vimos o modo de caraclerisar os ioduretos): verde-es- meralda, um pouco mais azulado com alguns. Tallio: verde-esmeralda in- tenso. Mobybdene: verde-amarellado. Baryo: verdc-amarcllado, um pouco li vido; (vista por vidro verde a chamma é verde azulada). Osmio: verde livido. Compostos ritrosos, e alguns saes ammoniacaes: verde livido. Acido borico, e boratos, molhados com acido sulfurico concentrado: verde e verde-amarellado; (já vimos a colorisação provocada com o spathíluor e bi- sulfato, e que distingue os boratos dos phosphalos). Compostos de phosphoro e phosphatos, molhados com acido sulfurico: verde-amarellado um tanto livido. Goram a chamma em azul os compostos de :—Selenio. chumbo: azul- celeste. índio: azul. Arsénico, e antimonio: azul li vido, muito desmaiado. Tellurio: azul esverdeado. Brorauretos (já vimos como, pela formação de bromureto de cobre): azul tarjado de verde. Chlorurctos (também do mesmo modo e por igual reacção): azul purpúreo. Goram a chamma em violôte os compostos de :—Potássio, coesio, e ru- bidio: violôte claro, um pouco axulado para os dous últimos: os compostos de sodio, ainda em pequena quantidade, dissimulam complelamente a côr; a qual deixa-se ver pela interposição de um vidro azul, parecendo então de um vermelho-purpura. Os saes ammoniacaes, que não coram a chamma em verde-livido, communicam-lhe uma colorisação violête-azulada. Com o protochlorureto de murmurio, a côr é violôte intenso. As observações de colorisação da chamma são muito delicadas, e ás vezes difficeis de verificar: exigem a maior attenção e critério. Com effeilo, umas vezes, somente era cerlc momento do ensaio ma- nifestam-se e podem durar mui pouco tempo; outras vezes, a presença de mais de um corpo corante pode trazer confusão ao operador, se este não souber discriminar pela successão dos matizes que se seguem, e cuja or- dem é proporcional ao grau de volatilisação das substancias corantes, a qualidade e numero delias. Vimos que lambem a presença de uma sub- stancia pode disfarçar a de outra, a ponto de fazer crer em sua ausência: em tal caso vale muito o auxilio dos vidros corados. Alguns compostos manifestara a colorisação de uma chamma, mesmo ulfalo — A' excepção dos sul- falos, phosphatos, boralos, silicatos e saes de ácidos metallicos (menos os osmiatos c osmilos), todos os mais generos salinos são reconhecidos pelas propriedades do acido que desprende-se, e que em todo o caso é facil de caracterisar-se com mais uma ou duas reacções comprobativas. 5.°— Ensaio cm um tubo aberto — As diíTerenças enlre o qfte se observa n’esta operação e na segunda mencionada, deprehendem-se da consideração de que n'esta o que ha de mais é apenas o passar-se a acção em presença do ar, cuja correnteza pelo tubo é menor ou maior, conforme conserva-se este mais ou menos inclinado em quanto é submellido á acção da chamma, só ao principio, e depois projectando-se com o maçarico pela abertura do tubo o dardo contra a matéria ensaiada. Ve-se portanto, que havendo aqui as condições precisas para as oxidações, os sublimados pro- duzidos são diíTerentos muitas vezes dos alli observados. Os sublimados provenientes de oxidação são todos brancos; mas além d'estes ha outros da mesma cor que não são oxidos. Ahi ainda valeraõ as observações acces- sorias, que mencionei a proposilo dos sublimados nos tubos fechados. (•) Semelhante desprendimento também dar-se-ha, quando cm uma substancia houver de mistura alguma matéria organica azotada. G.°—Ensaio sobre um carvão—Na covinha que, como já foi diclo, pra- tica-se em um carvão, colloca-se a matéria a ensaiar, que, se estiver em pó, deverá humedecer-se afim de que não seja levada pelo sopro do ma- çarico, e, se decrepitar, deverá ser pulverisada. Então nota-se: primeiramente, se desenvolve-se algum cheiro; depois, se ha deflagração da matéria (azolitos, azotatos, chloratos, etc.); e, caso dé-se a sua fusão (todas as observações sobre a fusibilidade da matéria ensaiada podem ser agora repetidas), se a substancia é absorvida pelo carvão (alcalis fixos e seus saes); se, não havendo fusão, fica um resíduo fixo branco, a quente e a frio (alumina, magnesia, cal, baryla, stronciana); se ha formação de uma aureola ou incrustação (branca ou amarello-cas- tanha a frio, a qual, por influencia da chamma de reducção, desprende vapores e muda de lugar (a branca tornando-se amarella emquanlo quente) sem que fique metal reduzido (oxido de zinco, de cádmio); se ha reducção de um metal e formação de uma aureola (amarella, e globulo malleavel; chumbo; amarella trigueira, e metal frágil: bismulho; branca, e metal também quebradiço: antimonio); se, pela chamma reductora, obtem-se um globulo metallico sem aureola (estanho (*), cobre, prata, ouro); se oblem-se um metal, sem aureola, com o aspecto esponjoso, cinzento ou negro, e infusivel (platina, iridio. palladio, rhodio, rulhenio). 7.°— Ensaio sobre carvão, com a soda, ou com a mistura de soda c cyanureto—-.Fazem-se n'esta operação observações analogas ás relativas á precedente; com a addição das seguintes. Com os silicatos, phosphatos, boralos fusíveis, acido titânico, formar-se-ha uma pérola, cpie, conforme o mineral em que for observada, poderá ser transparente ou opaca, e corada ou não. Com os sulfatos forma-se uma massa, de côr hepatica, que, humedecida, ennegrece a lamina de prata. Com os compostos de chromo ou vanadio, e com os de manganez, forma-se por oxidação uma massa, amarella no primeiro caso, e verde no segundo: reacção, que é facilitada pela addição de uma parcella de nitro; e que pode fazer-se em uma lamina de platina, ou em uma copella Lebaillif. Além dos saes alcalinos, são absorvidos com a soda pelo carvão os de (*) Dífficil de obter pela promptipão com que reoxida se. Para couserval-o, depois de conseguida a reducção, é preciso esfrial-o de repente ; para o que vira-se o carvão, quando ainda sobre elle está a chamma, deixando cahir o globulo sobre um corpo frio. baryta c stronciana. Os oxidos de ferro, nickel, c cobalto são reduzidos, e ficam cm um pó negro ou cinzento, que lava-se e secca-se, e é altrahido pelo iman. 8.° — Ensaio com o azotalo de cobalto — Já vimos como por este meio reconhece-se a presença de alumina, magnesia, glucina, oxido de zinco, em um residuo branco, que fique sobre um carvão depois da calcinação d’uma substancia. E vimos também as reservas, que devem fazer-se quanto ao valor do resultado da operação. 9.° — Ensaio com a soda, ou com uma mistura d'esta e nitro, em uma lamina, ou annel d'um fio de platina—Podia, esta operação, em rigor, ser dispensada, e o é muitas vezes; algumas porem é ulil. Com cila verifica-se, sobretudo, se uma substancia dissolve-se na soda em fusão. As que estão neste caso, (para o que a chamma empregada é a oxidanle), são: além de outros ha pouco mencionados, os ácidos tungstico, molybdico, vanadico, anlimonioso, telluroso, e os oxidos de manganez, chromo, cobalto, cobre, chumbo, baryo, slroncio, e o spath-fluor. 10° — Ensaios com uma pérola de borax ou de sal de phosphoro — Já vimos a importância das observações feitas n’estes ensaios; e o modo de comportar-se então, um grande numero de corpos, com a chamma de oxi- dação ou com a de roducção, a quente e a frio. (*) I Io — Ensaio de uma substancia, para verificar a colorisação que commwiique d chamma—Esla observação já tem sido, de ordinário, feita no correr das operações precedentes. Pode ser repelida, entretanto, to- mando a matéria no extremo da pinça de pontas de platina, ou prenden- do-a em um fio de platina, e locando com ella a chamma como já foi dito. Havendo ura especlroscopio, será occasião de solver as duvidas subsistentes após este ensaio. 12° — Outros ensaios por colorisaçào da chamma — Vimos como a presença dos chloruretos, e seus congeneres é caracterisada com o oxido de cobre em uma pérola de sal de phosphoro; como com o acido sul- furico reconhecera-se os ácidos borico, phosphorico, e molybdico; como (¥) Quando houver cm uma substancia pouco cobalto de mixtura com muito nickelj a reacção própria do cobalto só poderá mostrar-se depois da addicçSo de um fragmentosinho de estanho. Semelhante addição permilte também reconhecer a pre- sença do tungslene e titanio em uma substancia, a que o ferro tenha communicado, como já vimos em outro legar, uma côr vermelha de sangue., que então desapparecc. com obisulfato polassico e o spath-íluor dislingue-se, dentre estes, o acido borico; (e portanto, com o borax e o bisulfato, por uma reacção analoga a presença do íluor). Escusa-se accresceutar que, para que possa uma observação d’estas indu- zo- a um juízo seguro, é mister: l.° que os sustentadores empregados num ensaio pyrognoslico (fios, laminas de platina, carvões), não tenham apegada a miuima parcella de substancia estranha, que poderia modificar a reacção esperada, ou dar logar a outra, que induza a etigano; 2.° que todos os reagentes empregados sejam puros, (Não me cumpre expor o modo como se aquilata essa puresa. Parlicularmente, no que respeita á colorisação de uma chamma pelas substancias sob a acção de reagentes, convirá submetter á chamma primeiraraenle este se aquellas, sós por sós, e, então, só misturados. Se no primeiro caso se manifestar cor idêntica á que viria a dar-se pela mis- tura, a interpretação deverá ser outra; e o analysta deverá saber achal-a. 13 — Gopvllação — E' a operação pela qual, como já foi dito. separa-se o ouro ou a prata dos mineraes que os contêm. Funda-se esta operação: l.° na inoxidabilidade cVelles, fundidos ao ar, ao mesmo tempo que oxi- dam-se os rnelaes que possam acompanhal-os (*); %° na propriedade que tem o oxido de chumbo fundido de dissolver os demais oxidos metallicos presentes; e na absorpção pela copella dos oxidos fundidos, ao passo que os rnelaes nobres ficam inalterados sobre ella. Umas vezes, sobretudo quando um mineral é rico, poderá ser immedia- lamente copellado; para o que será envolvido em uma lamina de chumbo mui delgada, de peso decuplo d‘elle, (pesando tudo cerca de tres a quatro grammas), e collocado n'uma copella assentada em um carvão; (ou feita, de momento, do modo porque foi dito em outro logar. Algumas vezes, como já vimos, será preferível empregar lithargirio em vez de chumbo). Outras vezes é conveniente preparar, por uma operação prévia, a matéria aurífera ou argenlifera, reduzindo-a a nm globulo metallico mais ou menos complexo ; o qual é então submettido á copellação. Eis aqui, em resumo, em que consiste essa operação preliminar .' — Co- meça-se por bem pulverisar o mineral, e seccal-o. (Se for dúctil, em vez d‘isto, será achatado na bigorna e cortado á thesoura em pedacinhos). Depois pesa-se um decigrammo da substancia, que mixtura-se com outro {*) Pode obter-sc por copollação lambem a platina, o palladio, o rhodio, c o irldio; todavia, o processo náo é usado. ‘latito cm peso de bórax, e n decuplo, em mrdia, de chumbo. Deila-se a mixtura em ura carluxiuho feito com papel de filtro (liras de 35 milli- melros para 25) que tenha sido preparado, embebendo o papel em uma solução contendo a metade de seu peso de carbonato de soda, e deixando o seccar. Colloca-se enlão o embrulinlio em uma cova praticada em um carvão (o cartuxo deve ficar raso com a cova. o não entrar apertado ). Então aquece-se gradualmenle, á chamma de reílucção, de modo que esla actue successivameute sobre toda a snperlicie da substancia. l)*sde que a parle metallica está reunida em um só globulo, cercado pela escoria fun- dida, passa-se a applicar sobre a massa a chamim de oxidação; sob cuja influencia oxidara-se o ferro, o estanho, o cobalto, e parte do uickel e cobre, que alli estejam, os quaes dissolvem-se na escoria, ao mesmo tempo que volalilisam-se oxidados o arsénico, o enxofre, o antimonio e o zinco. Quando o globulo começa a mover-se, e a escoria a ferver (pelo que conhece-se que o chumbo começa por sua vez a oxidar-se), suspende-se a operação, c deixa-se esfriar a maioria. Enlão separa-se da escoria o glo- bulo melallico, que acaba-se de limpar, batendo-o na bigorna, embrulhado em um pedacinho de papel ; e ó submettido á copellação. E’ raro que esla operação faça-se de uma só vez, na mesma copella, ou porque seja muito ditlicil conseguir e sus'enlar a temperatura necessá- ria para conservar em fusão os oxidos formados, que cercam o botão central e, não sendo assim absorvidos pela copella, alagarn-no; ou porque (quando não tiver um mineral solTrido a operação preliminar acima des- cripla) contenha-se ua matéria exces-o de siliça, que forma com o oxido de chumbo um silicalo muito .fusível, mas que não ò absorvido pela co- pella. O melhor é fazer a operação em dous tempos. Primeiramenle, em uma ■copella, ó o globulo submettido á chamma oxidante em temperatura não muito elevada: o metal não deve fumegar, mas apenas mostrar um aspecto irisado característico. O globulo pouco a pouco diminuo, augrnenlando a massa de lithargirio solidificado que o cerca. Então retira-se lentamenle a copella da acção da chamma; separa-se o globulo, que é limpo na bigorna, como ba pouco foi dicto; c acaba a operação em outra copella. Conhece-se que ella esla terminada, quando não observa-se mais movi- mento giralorio na superfície do globulo; e, algumas vezes, vê-se distin- clamenle o plienomeno chamado do rclawpago, que acompanha a separação da ultima molécula de chumbo. Quando o globulo enlão não fica esphcrico, é porque contêm ainda um metal estranho, provavelmente cobre: ajunta- se-lhe de novo 25 miiligrammos a 1 decigrammo de chumbo, e termina-se- a copeilação. Hem vé-se, pelo que fica (lido, que as operações ao maçarico não podem constituir um melhodo de analyse quantitativa. Com alguns metaes facilmente reductiveis, porém, pode-se julgar approxrmadãmenle da proporção em que entram na constituição de tal ou tal mineral. E’ o que pode fazer-se, e tem sido feito, além dos metaes nobres, principalmente com o cobre, o chumbo, o estanho, o nickel e o cobalto. Quanto ás particularidades das operações executadas, não acho que seja nem necessário, nem opportuno descrevel-as, até porque o fun- damento theorico de cada uma d essas já nos é conhecido, e é o mesmo de operações já descriptas. Cabia agora entrar nos promenores do estudo pyrognostico de cada uma das especies das centenas de mineraes conhecidos e estudados; pa- rece-me, porém, que ninguém poderia exigil-o com justiça de um trabalho como este. Fôra mister escrever um livro, um tratado: e, nos limites do estreito praso que a lei marca, não me sobrava tempo para tanto; e nem talvez alentos. P R 0 P 0 S I C Õ E S J PHYSIGA HTGROMETRIA 1.a—Dos methodos hygrometricos o mais deficiente é o chamado de absorpção. 2.a—O methodo de condensação é quasi sempre sufliciente, com as mo- dificações de Regnault ao hygromelro de Daniell, que assim mesmo é pre- ferivel ao psychrometro de August. 3.a—Quando for preciso determinar com exactidão o grau de humidade de certo volume de ar, só o melhodo chimico merecerá a primazia. CHIMICA MINERAL NITRIFICAÇÃO i.a—Nenhuma das theorias propostas até hoje é sufliciente para explicar exclusivamenle a nitrificação. 2.*—Deve crer-se, que dê-se ella em cada localidade pelo concurso de duas ou mais das causas capazes de por si sós delerminal-a. 3.a—A theoria de Millon, de accordo com a doutrina do arrastamento de Liebig, é inacceitavel ante o espirito da sciencia hodierna. CHIMICA ORGÂNICA QUE INFLUENCIA TEM EXERCIDO NA PHYSIOLOGIA O ESTUDO DE CHIMICA ORGANTGA ? l.a—Para provar quão grande é tal influencia bastaria lembrar o numero de tratados extensos e proficientes, escriptos modernamente sobre chimica biologica e analyse zoo-chimica; a creação de laboratorios nos hospitaes» v. g., de Pariz, e a do laboralorio de chimica biológica na Eschola pratica da Faculdade de Medicina d’aquella cidade; sem contar com alguns institutos semelhantes em outras cidades da Europa, etc. 2.a—Na impossibilidade de enumerar a longa lista de contribuições feitas á Physiologia pela Ghimica organica, eu mencionarei, como exemplos, os estudos dos corpos gordurosos, dos assacares, das substancias protheicas, das substancias azotadas não albuminóides, etc. 3,a—Sem os elementos fornecidos pela Ghimica organica, não poderia a Physiologia estudar completamente, v. g., a digestão buccal. estomacal, intestinal, as funeções secretorias, que lhe são annexas e succursaes, a ÍUncção renal, a cutanea, etc. MEDICINA LEGAL INTERVALLOS LÚCIDOS i.a—A alienação mental, como qualquer moléstia, pode repetir-se no mesmo indivíduo, depois de um intervallo de cura, mais ou menos longo; mas então esses intervallos não podem chamar-se lúcidos, e ifelles é, e deve ser, elfectiva a responsabilidade criminal, e capacidade civil do in- di\ iduo. 2.a—0 que, porém, appellida-se de intervallo Incido, não deve ser re- putado pelo medico-legisla senão um estado de remissão da moléstia, in- compatível com a integridade das funeções psychicas, e portanto com o exercício do livre arbítrio. 3.®—Logo, exige a sciencia, que se elimine a condição restrícliva do final do § 2.° do art. 10 do Godigo Criminal, e quesitos do Formulário que se lhe relerem. BOTANICA E ZOOLOGIA INSECTOS NOCIVOS Á VEGETAÇÃO l.a—Os insectos, que confirmam esse péssimo conceito, pertencem so- bretudo ás ordens dos lepidopleros, liymenopleros, orlhopleros, hemipleros, e coleopleros. 2.a—Os lepidopleros não prejudicam senão no estado de larva. 3.a—Os orlhopteros e hymenopteros exercem suas devastações, sobretudo depois de terminadas suas metamorphoses; dos últimos, o mais temível é, incontestavelmente, a formiga. PHARMACIA OS CONHECIMENTOS PHARMACOLOGICOS ACONSELHAM A PREPARAÇÃO DENOMINADA «MOSTARDA EM FOLHA » (SINAPISMO RIGOLLOI’) ? É ELLA CAPAZ DE CONSERVAR-SE NO NOSSO PA1Z, SEM INCONVENIENTES DE ALTERAÇÕES ? l.a—A humidade, que abunda constantemente em nossa almosphcra, altera em pouco tempo o sinapismo Rigollot. 2.a—Prefiro o sinapismo, feito na occasião, com a farinha de mostarda que o pharmaceulico prepara á medida do consumo, e que é muito mais facil de guardar preservada de alteração. 3.a—E’, porém, ainda preferível o emprego do oleo linaprsado (mistura do oleo essencial e um oleo fixo), applicado por meio de uma cataplasma, por exemplo, de farinha. ANATOMIA DESGRIPTIVA APPARELHO VISUAL 4,®—Neste apparelho podem considerar-se: uma parle essencial (o gloho ocular); uma parte auxiliar (os musculos), e uma parte protectora (o coxim cellulo-adiposo, a glandula lacrimal e as palpebras). 2.a—A anatomia explica a frequência do vicio da funcção visual, co- nhecido pelo nome de astigmatismo. 3.a—Com o reconhecimento do muscnlo de crisfallíno a anatomia for- neceu o meio indispensável para a verdadeira theoria da accommodação. ANATOMIA GERAL OSTEOGENIA E REGENERAÇÃO OU REPRODUCÇÂO DOS OSSOS 1."—No tecido osseo, como em geral em todos os tecidos que se rege- neram, o processo da regeneração reproduz as mesmas pliases da geração embryonaria. 2.a—Na regeneração de um osso, o periosteo conlribue sim para esse resultado, mas nem é o seu unico motor, nem é indispensável. 3.a—O tecido osseo pode formar-se em qualquer orgao que não seja e nem tenha periosteo. PAUÍOLOGIA EXTERNA Podridão do hospital 1 .a—Esta temivel complicação das feridas dá-se ordinariamente nos bos- pitaes sem aceio, e mal arejados, em que as prescripções preventivas da hygiene não são seguidas, e onde ha agglomeração de doentes: em uma palavra onde existem condições, que favoreçam a germinação de produclos sépticos. 2.a—A semente diphlerica que desenvolve-se n'uma ferida pode ser levada pelo ar, e assim propagar a moléstia de um a outro ou a muitos feridos. 3.*—O tratamento da podridão do hospital deve satisfazer ás seguintes indicações: aniquilar o agente séptico na ferida; promover a eliminação do tecido mortificado; levantar as forças abatidas com os tonicos nevrostenicos; activar as secreções, sobretudo a cutanea; e, ao mesmo tempo, atacar directamenle o mal pelo uso dos antisépticos (acido phenico, sulfilos alca- linos, etc.) PARTOS DYSTOCIA PROVENIENTE DO PETO 1.*—As apresentações viciosas do feto constituem causas de dystocia, que a natureza muitas vezes corrige por si mesma. 2.a—As monstruosidades fetaes difflcultara o parto de modo que exigem muitas vezes a intervenção da arte. 3.*—Das causas de dystocia provenientes dos annexos do feto a mais perigosa é a que é devida á inserção anormal da placenta. MEDICINA OPERATÓRIA HEMOSTASIA CIRÚRGICA Ua—Os hemostaticos cm geral promovem a formação d’um thrombo, ■que é o meio physiologico de obstar á sabida do sangue num vaso ferido. 2.a—Dos hemostaticos directos, a compressão digital ou instrumental é o de mais frequente applicação, e muitas vezes sufficientc para estancar a hemorrhagia. 3.a—Dos hemostaticos indirectos, a ligadura é o que inspira ao cirur- gião mais confiança nas hcmorrhagias de grossos vasos. CLINICA CIRÚRGICA INDICAÇÕES E GONTRÂIND1CAÇÕES DA TALHA l.a—Um estado geral que vai deteriorando-se por acccssos de intoxi- cação urinosa, com exacerbações a cada sondagem ou introducção de instrumentos de litholricia, spasmos violentos da urethra e da bexiga, justificam a operação da talha. 2.a—Havendo suppuração persistente da bexiga, ou sobrevindo esta no curso de uma litholricia, deverá o cirurgião abandonar o esmagamento da pedra, e praticar a talha. 3,a—O volume ou duresa excessivos de um calculo, seu cngaslamento ou adherencia invencível ás paredes da bexiga, justificam a talha. Um estado geral favoravel, a indolência da urethra e da bexiga pela passagem de instrumentos, um calculo relaíivamenle pequeno, pouco resistente, e solto na bexiga, devem determinar a preferencia da litholricia. PHYSIOLOGIA CIRCULAÇÃO CAPILLAR 1.®—Os phenomenos osmoticos, de que é sede a parede dos capillares, constituem um dos principaes factores do movimento circulatório especial d’esta ordem de vasos. 2."—A velocidade dos globuíos vermelhos c nos capillares muito maior do que a dos globuíos brancos. 3.a—A existência, demonstrada por micrographos dislinclos, de capil- lares com um diâmetro muito menor do que o dos globulos do sangue, prova que estes não podem seguir por elles sem se deformarem. I 4TH0L0GIA GERAL DA MALIGNIDADE NAS MOI ESTIAS l.a—Os palhologislas antigos altribuiam as moléstias irregulares e insidiosas era sua marcha a um elemento maligno, desconhecido cm sua natureza e caprichoso em seu modo de obrar. 2.a—A malignidade é devida, ora a disposições organicas individuaes, ora á actividade mesma da causa morbigena, ora a ambos os factores. 3.a—Em toda a classe de moléstias da malária, o elemento pernicioso não conslitue por si só a malignidade; mas é seu factor principal. PATIIOLOGIA INTERNA DAS TEMPERATUPAS ELEVADAS N*S MOLÉSTIAS l.a—Os centros nervosos, por sua influencia sobre a circulação, exer- cem o principal papel como reguladores do equilíbrio entre a producção e as perdas do calor animal. 2.®—A mensuração thermometrica offerece um recurso precioso para estabelecer o diagnostico, e prognostico, e também regular o tratamento, em muitas moléstias. 3.a—Quando na evolução de uma febre continua o lliermometio eleva-sc, e mantém-se acima de 41 gráos, o prognostico é quasi sempre fatal. MATÉRIA MEDICA E TIIERAPEUTIGA HISTORIA NATURAL DAS PLANTAS DE QUE É PREPARADO O GUARANÁ ; E SUAS APPLICAÇÕES THERAPEUT1GAS l.a—A massa conhecida com o nome de guaraná é preparada por indios do valle do Amazonas com as sementes da paulinia sorbilis, da familia das sapindaceas. São seus princípios- activos: o tannino e a cafeina. 2'.a—O primeiro justifica a sua prescripção cm casos de dispepsia estomacal atonica, de diarrhea, e dysenteria benigna. Quando esta fôr grave, a utilidade do guaraná será muito inferior á de outros muitos me- dicamentos. 3.a—0 segundo authorisa o seu uso na enxaqueca: a cfficacia, porém, do tratamento depende essencialmente da sua continuação durante muitos mezes seguidos. IIYGIENE DA ACCLIMAÇÃO l .a—Sáude e robustez regular de um emigrante são condições para a sua acclimação: por isso, é esta mais difficil nos indivíduos debeis, nos velhos; e lambem, por motivo aoalogo, nas creanças. 2.a—O emigrante deve preferir para sua nova residência um paiz, cujas medias thermomelricas estival e hibernal não sejam muito differentes das do paiz que vae deixar; deve, ainda mais, evitar o eslabelecer-se em localidade onde exerça-se permanentemente a acção de causas endemicas. 3.a—A acclimação c mais facil em paizes, cujos habitantes tenham, no geral, temperamentos semelhantes aos que são mais communs no paiz do emigrante. Por isso, na vastíssima extensão do Brazil, não é indifferente que a colonisação artificial estrangeira, promovida para esta ou aquella província, provenha de tal ou tal paiz, escolhendo-se os emigrantes sem o preciso critério. CLINICA MEDICA T)0 TRATAMENTO PREFERÍVEL NA GLYCOSURIA l.a—Causas differentes, que promovem umas o augmento de producção do assucar no organismo, e outras a diminuição da decomposição do que c ingerido, concorrem para determinar a glycosuna. 2,a—O licor de Tromraer é o reagente mais sensível dos que a clinica súc empregar para verificar a presença de assucar lYuma urina. 3.a— O pcrmanganato de potassa e o acido phenico têm dado algum resultado, embora transitório, no tratamento da glycosuria; mas, qualquer que seja este, não deve prescindir-se da observância rigorosa de um re- gimen especial. Bahia — Tjpographia do «Diário» —1875