DO DOUTOR C. G. DENNEIIY. PS & 6# *J> tSÍ?^^ ' -**x •£-' í« THESE APRESENTADA k FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA EM DE JUNHO DE 1864, PARA SER SUSTENTADA Pelo Dr. C. G. Dennehy* Natural da Inglaterra. * ••"''*** ^ BAHIA TYPOGRAPHIÀ DE CAMILLO DE LELUS MASSON & Cv Rua de Santa Barbar» n. 9, 1861 FACLLDVDE DE MEDICIM DA IÍVIIIA. DI11CCTOK 0 E\.m0 Sr. Conselheiro Dr. João Daplista dos Anjos, vit i-i>Diie:< tor. 0 EXM.™ SR. CONSELHEIRO DR. VICENTE FERREIRA DE MAGALHÃES. LENTES PROPRIETÁRIOS. l.« ANNO. os sns. doutores: matérias que i.f.ccionam. n ,r. , r ...» iu- - 1 Physica em geral, c particularmente em sua* Con«. Vicente Ferreira de Magalhães......J Jpplicaç£cs á SiAlicina. Francisco Rodrigues da Silva.........Chimica e Mineralogia. Adriano Alves de Lima Gordllho.......Anatomia descriptiva. 2.» ANNO. Antônio Mariano do Bomfim........Botânica e Zoologia. Antônio de Cerqueira Pinto........Chimica orgânica. .................. Physiologia. Adriano Alves de Lima Gordilho.......Repetirão de Anatomia descriptiva. 3.° ANNO. .................Continuação de Physiologia. Elias José Pedrosa............Anatomia geral e patuologica. José de Góes Siqueira...........Palhologia geral. 4." ANNO. Cons. Manoel Ladislau Aranha Dantas.....Palhologia externa. Alexandre José de Queiroz.........Palhologia interna. Malhias Moreira Sampaio.........1 Partos, moléstias de mulheres pejadas, e de . I meninos rcccm-nascidos. 5.» ANNO. Alexandre José de Queiroz.........Continuação de Palhologia interna. José Antônio de Freitas...... 1 Anatomia topographica, medicina opcrale- ) na, e apparelhos. Joaquim Antônio de Oliveira Botelho......Maleria medica, e therapeulica. 6." ANNO. Domingos Rodrigues Scixas.........Hygicne, c historia de medicina. Salustiano Ferreira Souto.........Medicina legal. Antônio José Ozorio...........Pharmacia. Antônio José Alves............Clinica externa do 3.» e 4.o armo Antônio Januário de Faria.........Clinica interna do 5.° e 6.° anno. OPPOSITORES. José AfTonso de Moura..........\ Augusto Gonçalves Martins........./ Domingos Carlos da Silva.........i Secção Cirúrgica. Ignacio José da Cunha.......... Pedro Ribeiro de Araújo.......... Rosendo Aprigio Pereira Guimarães......\ Secção Accessoria. José Ignacio de Barros Pimentel....... Virgílio Climaco Damasio......... Antônio Alvares da Silva.......... Demetrio Cyriaco Tourinho........./ Luiz Alvares dos Santos........• • / Secção Medica. Juao Pedro da (.unha > alie.........I Jeronymo Sodré Pereira.......! ! ! ) SECRETARIO INTERINO. O Sr. Dr. Thomaz de Aqui no Gaspar, OFFICIAL DA SECRETARIA. O Sr. Dr. José Thcotonio Martins A Faculdade nAo approva, nem reprova ai ldelat «nuocladai neeta Theae. DISSERTAÇÃO SOBRE FISSURA DO ÂNUS OU ÜLCERA DOLOROSA DO RECTUSI. G-S-^ A enfermidade geralmente conhecida debaixo do nome de Fissura do ânus - ou ulcera dolorosa do rectum é uma das que merecem especial attenção, por que é muitas vezes complicada com moléstias liemorrhodaes e as vezes erro- neamente tomada por cilas ou outras moléstias; e por não haver talvez molés- tia de tão pequena extensão produetora de maiores soíTrimentos do doente. A Palhologia da ulcera do recto não é muito clara, pois uns considerão-a co- mo uma conseqüência de reseceação habitual, a qual requerendo muito esfor- ço na delTeracão causa uma ruptura da mucosa, ruptura estaque ó impedida de cicatrizar pelos movimentos periódicos do intestino e pela passagem de fe- zes endurecidas, tornando-se assim uma ulcera. Outros a considerão causada n.-la estruclura da parte inferior do* intestino que possue certas sinuosidades ou saccos, que dão entrada á matérias fecaes ou outras estranhas que produ- zem um «mio de irritação qu^ muitas vezes acaba em ulceração, mormente quando existem tumores heinorrhoidacs que impedem a sahida desses corpos estranhos. \ A opinião que a ulcera dolorosa do recto é causada por reseceação parece ser corroborada pelo facto da moléstia ter sido observada mais vezes em mu- lheres de que em homens, aquellas soífrendo em geral mais freqüentemente de retardada aeção do intestino do~que estes. As mulheres que tem mais de que os homens uma vida sedentária sof- frem mais vezes deste estado do intestino, que é em alto gráo favorável ao desenvolvimento do mal, e são ellas portanto que mais vezes padecem desse mal de que tratamos.—Também em homens que pelos affazeres particulares da sua vocação tem uma vida sedentária ou são obrigados a ficar por muitas horas assentados, a ulcera dolorosa do recto não é moléstia rara, e o que isto em parte me parece provar, é que uma degestâo fraca, vagarosa, imperfeita de que taes pessoas tantas vezes são victimas é a fonte mais freqüente desta mo- léstia. Os symptomas pelos quaes se pode inferir a presença do mal são bem cla- ros e particulares, de maneira que apresentando-se um doente e aceusando os seus padecimentos o medico pode desde já, sem exame intimo, declarar-lhe qual a causa dos seus soffrimentos, mormente seja forem de longa duração. Na maioria dos casos os doentes queixão-se de uma dor muito aguda na oceasião da deffecação, que ainda augmenta depois da evacuação do recto e continua por uma ou duas horas, diminuindo gradualmente até que de toda passa.—Em alguns casos essa dor é tão aguda que se torna precisa a applica- ção de grandes doses de ópio ou morphia para mitigal-a. Em principio a saúde geral não padece muito, mas tendo a moléstia durado algum tempo, ella soffre gravemente e o doente torna-se pallido e desfigurado e queixa-se de dores obtusos nos lombos que se estendem até as coxas. Nas mulheres os symptomas simulão de tal forma as moléstias do ulero, que tem havido enganos no diagnostico e que se tem tratado o utero com remédios lo- caes, sendo a verdadeira sede do mal desprezada. Em homens também enganos análogas se tem feito tomando-se os sympto- mas por aquellas de alguma moléstia genito-urinaria. Torna-se por isso sobre tudo necessário que quando um medico é cônsul- 5 tado por um doente que padece dos symptomas acima descriptos, que se ins- titue um cuidadoso exame, porque ha casos em que o verdadeiro mal pode deixar de dcscubrir-se. Para esse fim o doente se for homem ou ha de deitar- se de costas ou ajoelhar-se, se for mulher pode se pôl-ade um ou outro lado; separão-se bem as nádegas paia expor o ânus, e então manda-se ao doente que faça esforço como se estivesse obrando. Se houver ulceração, a sua estre- midade inferior manifestar-se-ha como simples rachadura ou fenda, se a mu- cosa for ainda mais impellida para fora e se uma força pouco maior for em- pregada na separação das nádegas, torna-se patente uma verdadeira ulcera. A situação desta ulcera dolorosa é na maioria dos casos na margem poste- rior do ânus, as vezes achão-se duas em um lado; também em tamanho e configuração a ulcera varia, sendo ora triangular, ora ovada, e tendo uma oi- tava parte de uma pollegada até pollegada e meia de comprimento. Em alguns casos a moléstia implica pouco o músculo sphincter, em outros as fibras do músculo mesmo estão implicadas na ulcera que as atrevessa, porem em alguns a sede do mal é toda externa, para fora do músculo, nestes os symptomas são menos afllictivos e elles admittem cura muito mais íacil. Muitos casos desta moléstia vem á observação do cirurgião, cm os quaes o pretendido exame causa tantos soífrimentos quec preciso applicar-se chloroformio ao doente para po- der-se introduzir o dedo ou o speculum, e as vezes em semelhantes casos mes- mo assim se encontra diíficuldadc em descobrir ou ver a ulcera, mormente quando esta se acha toda interior do sphincter externo ou por detraz d'algum tumor hemorrhoidal, o que não é raro. Em taes casos é com o dedo que me- lhor se examina, sua introducção sendo acompanhada de muita dor, que ainda se agrava quando a ponta do dedo entra em contacto com a ulcera, o que se pode fazer volvendo o dedo devagar no intestino sobre seu eixo. Quanto á uma sensação particular que se possa obter dada pela ulcera, salvo em casos antigos quando os seus bordos são mais altos e endurecidos não tenho muita fé nesse tacto. A superfície da ulcera é as vezes de uma cor vermelha muito viva, outros de uma cor cinzenta, em casos recentes os seus bordos são bai- xos mas em casos antigos elles tornão-se altos e cartilaginosos. Quando o ei- 6 rumião tiver se convencido da existência da ulcera deverá tratar do seu cura- tivo. Felizmente não ha mal que causa tanto tormento que possa curar-se tão facilmente como este. Nos casos em os quaes o mal é situado muito embaixo, pode ser bem visto pe- lo Cirurgião, e é recente, deve o ânus ser lavado duas até três vezes por dia com água e sabão, e depois de cada defecção poder-se-ha fazer uma injecção de uma libra de água fria, e deitada que seja esta, pode-se curar a ulcera com um pouco de fios unctados com um linimento feito de licor de Ópio Sedativo e acetato de chumbo. Se existir muito spasmo do sphincter achar-se-ha o ex- tractodebelladonna unido a algum unguento adstringente, bem como de chum- bo ou zinco de muita utilidade; e tenho visto o nitrato de prata fundido nas< mãos de alguns cirurgiões effectuor uma cura, bastando poucas applicaçõcs para isto. Em quanto se empregar esses meios deve se conservar o ventre de- sembaraçado todos os dias por meio de brandos aperitivos, taes como a pílula de Rhuibarbo composta ou o electuario de senna. Todos os alimentos estimulan- tes devem ser proscriptos. A maioria dos casos desta enfermidade pode ser cu- rada assim, mormente quando ainda são recentes e a ulcera é situada mais para fora. Porem casos ha em que pela posição elevada da ulcera e pelas consiricções espasmodicas do sphincter que ella provoca, reclamão uma operação cirúr- gica, porem esta simples e sempre eíficaz. É ao Sr. Boyer, o celebre cirurgião francez, que devemos a introducção deste methodo de tratamento baseado no solido principio de que o perfeito socego das partes affectadas é necessário para a cura, e na convicção de que muitos dos soffrimentos que accompanhão esta enfermidade como também as difüculdades que se encontrãa no seu tratamen- to, são devidas ao movimento muscular das partes, elle dividia o sphincter do ânus. Porem achou-se que esta operação do Sr. Boyer era desnecessariamente rigorosa, e foi introduzida urna modificação delia por um cirurgião inglez o Sr. Copeland, que reconhecendo o principio que impunha a Boyer a completa di- visão do sphincter, suggerio que era sufficiente cortar tão somente pelas fibras superficiaes do musculo, tal é agora a operação d'aquelles cirurgiões que tem 7 leito das moléstias do recló um estudo. O modo de fazer a operação é bem simples; o doente estando na necessária posição o cirurgião introduz o dedo indicador unclado de óleo no recto e procura sentir a ulcera, tendo-a achado clle conduz sobre o mesmo dedo um bistouri abotoado até o seu botão passar alem da ulcera, vira o fio para ella e faz o golpe ao mesmo tempo que retira o instrumento. A ferida cura-se com fios saturadas de azeite para que ella sare desde o seu fundo, depois dá-se um hausto sedativo ao doente, que não deverá obrar por alguns dias. Na maioria dos casos é isto tudo o que será preciso, e cífectuar-se-ha o curativo em dez até quinze dias. Em conclusão direi que passando revista nas obras cirúrgicas parece estra- nho achar quam pouco caso se tem feito desta moléstia, e de facto é só de- pois dos últimos annos que ella tem merecido a attenção que lhe parece com- petir dos cirurgiões. Nas obras de Bretonneau e Trousseau o tratamento re- commcndado é mais paliativo de que radical, porque estes senhores pensam que a moléstia c curavel por meio de ingecções; outros cirurgiões francezes fazem uso de unguentos adstringentes com o mesmo fim. Se'dillat na sua obra traité de medicine operatoire tão bem faz menção desta moléstia e dá diffe- rentes methodos de tratal-a; o único que me parece merecer menção é o que elle chama « meision superficielle de Ia maquease, » e esta é pelo que eu en- tendo nada mais de que a operação acima por mim descripta, que pela sua simplicidade e bom suecesso me parece preferivel mesmo á «incision sons-ca- tavéc. » IBM. HYPPOCRATIS APHORISMI. I. Ad extremos morbos extrema remedia exquisite. II. In morbis acutis extremarum partium frigus, malum. III. Somnus, vigilia utraque excedentia, malum» IV. Per aestatem e autumnum cibos gravissime ferunt, per hiemem facillime, Bahia—Typ. de CamiJIo de Lellis Masson g C—1864.