r > '/^r THESE DE FRANCISCO DIAS CEZAR. CÜ Li 12 xN„ :3$ THESE yiai-âHaaisiaiiatDsr i FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA PARA SEU SUSTENTADA EI« NOVEMBRO »E 1S?1 AFIM DE OBTER O GRÃO DE DOUTOR Eli KEDICfflA./ £xanÚBto B\ Secçao Cirúrgica. Anlonio,PaciBco Pereira......1 Ramlro A(TonsofMonteiro!.....> Secçao Medica. Egas Carlos Muoiz Sodré de Aragão . .\ Claudeiniro Augusto de Moraes < .aldas ..- O Hr. Dr. Ciitcinuato l*inlo «Ia Kllva» UViriItflill 0)Ú 8'2B-Ji3'Jü'JtJü O Sr. Dr. Tbomaz ilMqtiino 4-nspnr. A faculdade não approva, aem reprova «* ovüúve» euiUttdué uai luesee que lhe suu aprçwuiauos ««SSOCSCQ»^ D. C. >;«*©*:;-',« t! A MEMÓRIA DE MINHA SEMPRE CHORADA IA1ÃE i Minha Mãe 1 Já que e destino roubou-me a felicidade de, n'este momento cm que cinge-me a fronte a coroa de Doutor em Medicina, estreitar-vos em meos braços, seja-me permittido ao menos, depor em vosso túmulo essa pallida coroa em honra á vossa me- mória; e para que o vosso infeliz filho trilhe com afinco o duvidoso caminho do futuro, abençoae-o, Minha Mãe! *\\v\\\\v A MEU SEMPRE LEMBRADO E CHARO FILHO FFilUICC DIAS CEZAR JII1TI0E Linda flor, que levemente, Por subtil brisa abalada, Cahistc, desparecendo Nas rozas da madrugada; Que aroma, viço e belleza Roubando as ao peito meo, Fôste em haste mais segura Brilhar nos jardins do Céo; Flor de minha alma nascida, Que no mundo não medraste; Pede a Deos, meo charo Filho, Por quem no mundo deixaste. S ' Á MEMÓRIA DE MINHA INNOCENTE FILHINHA Anua Josepha Boêmia Cezar Eterna saudade. rwvwviv A' MEMÓRIA DE MEO PRESADO IRMÃO O Capitão Antônio Mas César Meo Irmão! A sorte não quiz que hoje vos «streitasse em meos braços; concedei pois, meo Irmão, que sobre o vosso túmulo derrame as saudosas lagrimas da tristeza profunda que me opprime. wvvwuv Á MEMÓRIA OE MINHAS CHARAS IRMÃS Eterna recordação. fcVVWVVW A' MEMÓRIA DE MEOS ESTIMADOS PRIMOS O Juíjaeá tAuaitoel uemiuíaiio Ceiafc 0loaetío flioòiiaueò Cetax, Saudades IWVWVW A MOSOKI1 »E 1HEOS AVÓS Vivo pesar. *\V»VV\\V V MEMÓRIA DE MEOS PARENTES Lembrança. Á MEO PAE E AMIGO © <&m\. $v. Baxào Í»jc IJtapotanga Meo Pae! Vós que souhestes eultivar níiuha alma Com acções benignas, com palavras sãs, Se desse bem recolho agora a palma Ornae com ella as respeitáveis cãs. U. César. As forças de que disponho, meo Pae, são fracas; e por isso me é impossível traduzir- vos em linguagem tosca do quanto vos sou devedor. O laurel de Doutor em Medicina, que neste feliz momento circumda-me a fronte, per- tence-vos; e é a vós somente, Senhor, que, depois de Deos, devo-o. A vossa sagrada missão está cumprida: resta agora a vossa benção para encaminhar o vosso filho e verdadeiro amigo Francisco. A' MINHA CHARA ESPOSA H). 11MLIM (EDÜSf £3P IfómSMíOT (BMB Senhora ! O meo futuro vos pertence: por vós e por nossos Filhinhos o animo jamais falleceo-me para a lucta. Prasa aos Céos, que nossas esperanças não s'illudão, e que as bênçãos da felicidade cada vez estreitem os laços da nossa eterna amisade, e se der- ramem sobre o futuro de vosso esposo e amigo Francisco, A MEOS INNOCENTES E AMADOS FILHINHOS \oaetto Ç£í'aâ &zai S^oi/una^o zètaà c<êe^al Amor e amisade eterna. wwwwww D. C. Amisade, estima e consideração. A' MEO SOGRO E AMIGO o illm. sn. FORTUNATO BENSABATH E A SLA CHARA FAMÍLIA Amisade e respeita. A' MUTUA WSTZfflMiA T1EL a exccllcntissima senliora E A' SEOS CI1AR0S FILHOS Sincera amisade. A0SAM1COSDEMEOPAE O ILLM. SR. COM1UENDA.DOR SEBASTIÃO GASPAR D'ALMEIDA BOTTO E A' SUA PRESADA FAMÍLIA Altenção e amisade. E O ILLM. SU. GSIA«3@IR FHAKI©Di©© ®©Nl<£AILWia ®& (DUJ3HA E a' sua exma. família Amisade e reconhecimento. & MIM 3>álDMB3I(Dâ 2 àSlllIrD^ E A' SUAS EXCKLI ENTISSIMAS FAMÍLIAS Respeito e amisade. /VVr\/\/\/">. r\/\/^./\f\ A MEOS ILLUSTRES MESTRES OSILLIWS. SRS. DOUTORES (UmA. oevaitião sinto De CaKvufoo LfcmittqoA íRoDtiaiuA &ioca» Sanado loèc 3a Cunha Amisade e gratidão. s\/\/\r^s\ aaaaa /v/\ AMEOSAMIGOS os illuslrissimos senhores doutores FIL.1NCISC0 DOS SAÜTOS PEREIRA AMOMO GARCIA ROZA e a's suas ciiakas famílias Sincera amisade. /\/\/\/\/\/\/,> ^ *>/\s\ Á ILLUSTRAÜA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Honra ao mérito. «WWNAAAAA mm csa&gs gos&sqàs mmo&ashws Um adeos. DISSERTAÇÃO QUEIMADURAS DEFINIÇÃO ueimaduras, com diz o Exm. Snr. Cons. Aranha Dantas,—são lesões dos tecidos, determidas pela acção muito concentrada do calorico, ou pelo contacto de muitos agentes chimicos, igual- mente capazes de alterar-lhes as propriedades ou destruir- lhes a organisação. Alguns authores modernos considerão as esões occasionadas pelos agentes chimicos cáusticos como distinctas das produzidas pelo calorico concentrado; mas estas lesões assemelhão-se tanto pelos seus symptomas geraes e lo- caes, e por seu tratamento com as lesões produzidas pela ac- ção do calor, que julgamos dever comprehendel-as na defini- ção de queimaduras. ETIOLOGIA É sempre o calorico elevado a um certo gráo de acção a causa deter- minante da queimadura. Este pode obrar sobre os tecidos, e produzir desorganisações por três modos diíferentes: ou pela emissão dos raios, ou pela chamma, ou final- mente pela applicação dos corpos que contêm calor. Os raios do sol po- dem algumas vezes occasionar queimaduras mais ou menos intensas, se- gundo o seu gráo de concentração, e o tempo durante o qual obrão so~ — 4 - bre os tecidos; mas ordinariamente essa espécie de queimadura é mui li- geira; "porque as partes vivas são por pouco tempo expostas á sua acção. Os raios solares, eos que partem dos corpos em ignição, determinando nas partes sobre que obrão, affluxo de sangue, as enrubecem, e, se sua acção continua, podem chegar a desorganisal-as. Os primeiros phenomenos são communs nas pessoas que durante os rigores do estio expõem-se á insolação, principalmente se ellas tem a pelle delicada, e é sobretudo na parte superior da cabeça, na face, no pescoço e mãos que se manifestão os effeitos dos raios solares. Se cl- les exercem a sua acção por muito tempo sobre a cabeça descoberta, ainda que não cheguem a produzir grandes alterações externamente, po- dem todavia trazer conseqüências fataes; porque a irrritação, transmittin- do-se ás meninges e ao cérebro, pode determinar grandes effeitos. Se a acção dos raios do calor for fraca,os seus resultados não serão logo apreciáveis; todavia as partes que lhes são habitualmente expostas vem a soffrer certas modificações, a que Dupuytren chamava queimaduras chro- nicas, e a que o mesmo author dava os seguintes caracteres: a epiderme espessa-se, a pelle torna-se secca, desigual, de côr escura, como que tostada; côr uniforme, se for effeito dos raios solares; mas, si devida aos raios do calor artificial, será então desigual, e a pelle ficará como que manchada. Algumas vezes mesmo a epiderme se fenderá, cobrir-se-ha de crostas, on ulcerar-se-ha; e isto é mui freqüente nas pernas dos fer- reiros e carvoeiros. A chamma, diz Dnpuytren, não só queima instantaneamente, como os corpos comburentes immediatamente applicados sobre as partes, mas faz com que as substancias animaes participem do movimento de combus- tão que ella produziu. Estas partes submettidas á sua acção dessecão-se com promptidão, como que fervem, encoscorão-se, e em breve se conso- mem, produzindo uma nova flamma, que ajuntando-se á primeira, au- gmenta-lhe a actividade e os estragos. Sabe-se, continua o mesmo author, com que prodigiosa rapidez as rou- pas inflammadas queimão profundamente as partes que ellas cobrem; a lesão é muitas vezes levada ao uliimo gráo de gravidade, e a morte é muitas vezes a sua conseqüência, e tem-se mesmo visto corpos inteiros de indivíduos ebrios ou apoplecticos, ou de creanças a quem não se pôde acudir, serem consumidos em poucas horas. Os gazes em temperatura elevada produzem os mesmos effeitos que a chamma, podendo por sua natureza facilmente introduzir-se por certas cavidades como a bocca e fossas nasaes, e ahi occasionar graves alterações. Os corpos capazes de produsir queimaduras obrão com tanto mais in- tensidade quanto maior é a quantidade de calor que contêm, e esta quanti- dade está na rasão da capacidade calorifica dos corpos, ou na rasão directa de sua densidade. Os corpos sólidos mui densos, como são os metaes, aqueci- dos até a temperatura vermelha, produsem queimaduras mais profundas que os líquidos, mesmo contendo todo calor de que são susceptíveis. Os cor- pos sólidos que entrão em combustão rapidamente, e fundem-se ardendo, como são o phosphoro, o enxofre, as resinas, etc. produsem em mui pouco tempo queimaduras mui largas e profundas. Os corpos sólidos não fusíveis queimão só as partes com que se põem em contacto, d'onde vem que suas queimaduras são mais profundas do que extensas. As queima- duras produsidas pelos corpos líquidos varião também em intensidade segundo a densidade d'estes; assim a água simples em ebullição queima muito rnenos violentamente do que a mesma água contendo em dissolu- ção um sal que lhe augmente a densidade; e é também de observação que os liquides gordos queimão muito mais, do que os que não contêm gorduras: assim queima o óleo mais do que o caldo, este mais do que o leite, e o leite mais do que a água. A intensidade das queimaduras ocea- sionadas pelos corpos líquidos é ainda subordinada á propriedade que têm alguns de adherirem ao corpo, como são as gorduras e o mel. A du- ração da apnlicação dos corpos líquidos, assim como dos não líquidos, influe também sobre a gravidade da queimadura; e d'ahi vem que as produsidas pelos corpos líquidos são mais graves e mais extensas, se elles são derramados sobre as partes do corpo vestidas; porque as roupas, em- bebendo se d'eiles, fazem-os não só ficarem por mais tempo applicados sobre a pelle, como também concorrem para que elles levem a sua acção á uma grande superfície. Finalmente convém ainda notar que o gráo [de delica- desa da parte influe sobre as queimaduras: assim as partes cobertas por uma epiderme muito espessa são rnenos susceptíveis de se deixarem queimar do que aquellas que são cobertas por uma epiderme fina; e esta circumstancia pode mesmo fazer com que um liquido de certa tempera- tura capaz de produsir queimadura do segundo gráo nas de epiderme fina, não occasione nas outras senão uma do primeiro gráo. A prova d'esta differença nós a ternos nas pessoas que, pelo gênero de seos tra- balhos habituaes, têm a epiderme das mãos mui espessa, de modo que — 6 — podem conservar n'ellas uma brasa quasi sem dôr alguma, entretanto que em mãos delicadas produsiria certamente uma queimadura. As queima- duras produsidas pelos agentes chimicos são por tal forma semelhante» ás que produsem os corpos de que acabamos de fallar, que julgamos des- necessário accrescentar cousa alguma á respeito do modo de obrar de taes corpos. CLASSIFICAÇÃO Por varias mudanças tem passado a classificação das queimaduras; convém, porem, observar que estes ensaios de classificação tem variado mais quanto ao fundamento d*ellas, isto é, quanto aos elementos anatômi- cos que lhes tem servido de base, como vamos ver pela breve exposição das quatro principaes classificações mais conhecidas na sciencia. Marjo- lin e Ollivier dizem que, considerados em geral, poderião os effeitos da queimadura referir-se a duas ordens: l.o inflammação; 2.o desorganisação immediata. Fabricio de Hilden e Boyer admittião três gráos nas queima- duras: No l.o, o eífeito do corpo comburente limitava-se a produsir uma irritação na pelle, affluxo de humores á esta parte, e cPahi uma inflam- mação da pelle com caracter de erysipela. Obrando, porem, os ditos cor- pos com mais energia e por mais tempo, determinão phlyctenas, deixando a pelle sem epiderme, como faz um vesicatorio: tal era o 2.o gráo d'esses authores. Finalmente se os mesmos corpos obrão ainda com mais energia, e ficão também por mais tempo em contado com as partes, asdesorganisão e as convertem em esearas: isto constituía o 3.o gráo de Hilden e Boyer. Assim resumindo, temos: l.o gráo simples, inflammação erysipelatosa da pelle sem phlyctenas; 2.°, inflammação com phlyctenas e perda da epiderme; 3.o, desorganisação completa dos tecidos. Heister e Callisen addicionarão-lhe um 4.o gráo, caracterisado pelo ennegrecimento, e car- bonisação completa do tecido dermoide. Dupuytren, tomando em con- sideração os elementos orgânicos lesados, descreve os 6 gráos seguin- tes,—classificação adoptada pelos Pathologistas modernos: O l.o gráo é caracterisado por uma leve irritação da pelle; o 2.o por uma irritação mais intensa acompanhada da formação de phlyctenas; o 3.o por uma desor- ganisação das camadas superficiaesdo derma; o 4.° por uma destruição* — 7 - de toda espessura da pelle e do tecido cellular subjacente; o 5.° por uma desorganisação da pelle comprehendendo as aponevroses e os músculos; o G.o finalmente, pela carbonisação de toda espessura de um membro. SYMPTOMATOLOGIA Assim como em todas as affecçõcs traumáticas, existem nas queima- duras duas ordens de symptomas: uns locaes, e outros geraes. Os primei- ros resultão da acção do agente comburente sobre as partes; os segundos consistem nas reacções do organismo, provocadas pela transmissão da irritação local ao systema nervoso geral. Trataremos d'aquelles em pri- meiro logar, por isso que são elles que estabelecem a differença de cada um dos cráos. Primeiro gráo.—N'este gráo da queimadura a pelle torna-se vermelha, a parte secca, uma dôr pungente se manifesta: estes symptomas podem desapparecer depois de poucas horas, se a parte tiver sido logo subtrahi- da ao calor; se, porém, a acção deste agente tiver sido prolongada por mais tempo, elles perduraráõ por mais horas ou dias, e então vem a epi- derme á cahir em forma de escamas de extensão variável. O calorico irradiante, a impressão dos vapores inflammados, a água ou outros corpos quentes, cuja acção tem sido prolongada, produzem este primeiro gráo. Segundo gráo.—N'este gráo já se passão as cousas com mais gravidade. Ha formação immediata de phlyctenas; a dôr é a principio viva, acre, ar- dente, ao depois intensa; a pelle torna-se tensiva e quente. As phlyctenas contêm um liquido de côr citrina, e algumas vezes de uma côr mais car- regada; furando-se essas bolhas, e deixando correr o liquido conteúdo, a pellicula epidérmica se colla ao corpo papillar; mas bem depressa vem ella a cahir, formando-se por debaixo uma nova epiderme para substi- tuil-a, e por esta admirável economia da natureza, no fim de dez ou dose dias, tudo volta ao estado normal; porém as vezes, o que é mais commum, a suppuração persiste por maior numero de dias, o que agoura que a pelle virá a perder sua côr e textura natural. Terceiro gráo.—O phenomeno dominante neste gráo é a formação das cscaras. Estas apresentão-se delgadas debaixo da forma de manchas par- S — das. amarellas ou escuras, molles, insensíveis* Muitas vezes phlyctenas eo- brem as manchas gangrenosas, e então uma sorosidade escura, lactescente ou sanguinolenta é que levanta a epiderme. As queimaduras d'cste gráo são a principio acompanhadas de dôr vivíssima, que logo se dissipa; ma- nifestando-se de novo para o 3.o ou 4.° dia, quando principia o trabalha eliminalivo. Quarto gráo.—É a carbonisação completa de toda pclie, c algumas vezes a do tecido subjacente, que caracterisa o 4.° gráo. Escuras mais ou menos vastas, variáveis em consistência e côr, pouco dolorosas, formão-se então. No fim de 3 ou 4 dias manifesta-se a dôr que indica o apparecimento da inflammação eliminadora das escaras, e geralmente no fim de 15 a 20 dias está este trabalho completo, uma abundante suppuração se origina, e o fundo da solução começa a cobrir-se de botões carnosos que devem concorrer para substituir a parte perdida. O tecido cicatricial, que a natureza forma, é mais branco do que as partes visinhas sãs, quasi insen- sível aos irritantes; tecido que, gosando de uma força retractil enérgica, pode deformar mais ou menos as partes, perturbando suas funcções pró- prias; d'onde vem que o cirurgião deve ter o maior cuidado em acompa- nhar esse trabalho de cicatrisação, modificando as tendências da natureza. Quinto gráo.—Todos os phenomenos que acabamos de mencionar como caracterisando o 4.o gráo, pertencem também ao 5.o; mas aqui como todos os tecidos até o osso exclusivamente são desorganisados, isto é, o teeidu cellular, aponevroses, vasos e nervos são lesados, apparecem alguns phe- nomenos de mais; d'estes o mais importante é a hemorragia, a que está ex- posto o doente, quando houver de operar-se a eliminação das escaras, hemorragia que será tanto mais para temer-se, quanto mais cedo tiver lo- gar a eliminação das partes queimadas. Sexto gráo.—É este o ultimo gráo das queimaduras, segundo a classifi- cação de Dupuytren, o qual elle caracteriza pela carbonisação completa de um membro; e cita como exemplo o facto d'aquelle infeliz moço que, passeando por uma fundição, pizára dentro de um dueto por onde passa- va o metal em fusão, e só tirou d'esse rio de fogo um membro, ao qual faltava o pé e a parte inferior da perna, e de tão horrível mutilação quasi dôr nenhuma soffrou esse infeliz. Taes são em geral os phenomenos locaes que acompanhão as quei- maduras. - 9 - SYMPTOMAS GERAES Três importantes symptomas geraes acompanhão os locaes: dôr, reac- ções mtlammatorias, e suppuração, cuja gravidade depende da extensão das queimaduras. A dôr é um dos symptomas mais predominantes, e que mais incommoda os doentes; ella acompanha principalmente o 1.° e 2.o gráos, onde se manifesta excessivamente viva e atroz, principalmente se a ignorância, ou o descuido tiverem produzido o arrancamento da epi- derme; nas queimaduras mui extensas ella só basta muitas vezes para produzir a morte. N'estas circumstancias manifestão-se muitas vezes con- vulsões horríveis, ou o tétano, ou finalmente uma espécie de stupor sé apodera do doente; elle torna-se indiflerente a tudo que o rodeia, respon- de brevemente ás perguntas que se lhe faz; os membros tornão-se como massas inertes, e conservão a posição que se lhes dá; a face torna-se pal- lida e decomposta, a respiração vagarosa, o pulso linear, um frigidissimo suor banha o doente, e a morte vem terminar todos estes padecimentosj Sc a queimadura for vasta, e sobretudo se occupar o ventre ou o peito, a irritação transmittindo-se ao systema nervoso geral, manifesta-se uma febre intensa logo depois, acompanhada de vivíssima sede, um calor in- tenso, pulso duro e freqüente, e diminuição notável nas secreções. Um phenomeno notável, que a mór parte dos doentes apresenta^ e que Dupuytren fez conhecer, é a vontade freqüente que têm elles de urinar, o que os obriga a fazer laboriosos esforços para satisfazel-a, e apenas lan- ção algumas gottas de urina, que não existe na bexiga; com effeito, se nessa circumstancia se pratica o catbeterismo, rcconhece-se que a bexiga está vasia. Inflamniações profundas se desenvolvem muitas vezes; se a queimadura occupar, por exemplo, o peito, não será raro ver-se appare- cer uma pneumonia ou uma pleurizia; se o ventre for a parte queimada, uma peritoníte, uma gastro-ínterite interna se desenvolverá. Vômitos do sangue, evacuações sangúinolentas acompanhão muitas vezes estas quei- maduras; o que apressa consideravelmente a morte dos doentes. Se elles poderem atravessar estes dois períodos, por assim dizer ha ainda um ter- ceiro, no qual muitas vezes succumbem, e é o de suppuração; a gravida- de deste svmptoma está em relação com a extensão da queimadura, e é principalmente aos três últimos gráos que elle pertence. u. c. 2 — 10 — Formao-se também, ás vezes, focos purulentos em variadas direcçÕes$ os músculos e a pelle são descollados pelo puz que os mina, e esta fatal terminação não se pode ás veses obstar, ainda que a amputação da parte tenha sido feita para prevenil-a. Mas o que é mui notável, disem Marjo- lin e Ollivier, é que se vê muitas veses morrerem subitamente quando a ferida já estava cicatrisada ou quasi cicatrisada iudividuos que tinhão si- do aftectados de vastas queimaduras; e Delpech,que fisera autópsia de taes indivíduos, assegura não ter encontrado n elles nenhuma lesão orgânica capaz de explicar a morte, que este cirurgião parece attribuir em taes casos á perturbação das funcções da pelle; todavia não o assevera, mas pa^ receu-lhe certo que o uso dos diaphoreticos enérgicos conservou grande numero de doentes, que segundo as apparencias corrião o mesmo risco. ANATOMIA PATHOLOGICA O exame anatômico de cadáveres de queimadura mostra uma verme- lhidão mui viva no tubo intestinal, que ora se apresenta inteiramente secco, ora contendo fluidos sanguinolentos. A mucosa pulmonar tem tam-* bem sido encontrada rubra, e acompanhada de exsudatos sangüíneos» São estas as lesões mais constantes. Encontra-se também muitas veses derramamentos sanguinolentos e purulentos nas articulações dos mem- bros queimados congestões sangüíneas nos vasos do cérebro, e signaes inflammatorios nas membranas sorosas. Eis as principaes lesões que se co- nhecem pela necropsia de taes cadáveres. DIAGNOSTICO É geralmente facilimo o diagnostico das desordens produsidas pelo ca* lôr: assim o estado de vermelhidão, de vesicação das escaras, etc. etc» junto aos commemorativos, basta para diagnosticar uma queimadura. Não é, porém, tão fácil o diagnostico differencial dos seus gráos; aqui o cirur- gião attenderá bem á natureza, extensão, e profundidade dos tecidos desor- ganisados, á natureza do corpo comburente, assim como ao gráo de ca- lor que continha, e ao tempo durante o qual esteve applicado ás partes — 11 vivas; mas ainda tudo isto não basta muitas veses para chegar-se a difíe> rençar praticamente alguns dos gráos que os authores têm theoricamente admittido. Assim por ex: como distinguir com precisão uma queimadu- ra do 3.o gráo de uma do 4.o ? Yê-se que aqui as cousas se distinguem simplesmente pela maior ou menor espessura dos tecidos, e esta difficul- dade se eleva quasi á impossibilidade, se se pretende fazer a distincção logo depois do accidente, pois que a desorganisação não se opera sem- pre nos mesmos instantes do accidente; tal escara que parecia á primeira vista não interessar sinão áface externa do derma,virá a comprehender, quando se estabelecer a inffammação eliminadora, a totalidade do tegmen- to; porque o derma, que no momento do accidente tinha já sido mais ou. menos compromettido, virá a ser agora completamente destruído e elimina- do: e d'ahi vem a opinião do povo que a queimadura fazprogressos por nove dias, entretanto que o mal estava realmente produsido desde o primeiro dia; somente nem sempre é possível reconhecel-o, e nisto, diz Boyer, devem os cirurgiões ter muita circumspecção afim de não darem aos doentes uma certesa que não podem ter; felismente, porem, isto não traz embaraço al- gum real no tratamento; porque só depois da queda das escaras, epocha, em que é então impossível o diagnostico, começa o tratamento local pro- priamente dito. PROGNOSTICO Os resultados das queimaduras varião em relação á certas circumstan- eias, que são: I.° o gráo e a extensão; 2.o a região em que existem; 3.o a idade e a constituição. Uma queimadura de l.o e 2.o gráo, de pequena ex- tensão, não tem commummente perigo, e seus, effeitos tamhem limitão-se ordinariamente ás partes queimadas; mas se ella for extensa, phenome- uos geraes graves se declararão, uma dor atroz levará o doente ao maior desespero, e poderá só por si matal-o tirando-lhe toda força nervosa; por isso disia Dupuytren que as perdas nervosas podem enfraquecer, e ma- tar como as sangüíneas, Se a queimadura for de 3.o ou 4.o gráo, ella será sobretudo para te- mer-se na epocha da suppuração; pois que tal poderá ser sua extensão e- profundeza que exhaura as forças do doente pela grande quantidade de? — 12 — puz, accidente que é muito para receiar-se, se elle for de constituição fra- ca. As queimaduras n'estes gráos têm ainda máos resultados por causa das cicatrises mais ou menos viciosas que podem deixar nos indivíduos, so-r bretudo se o tratamento não tiver sido dirigido com habilidade. A quei- madura do 5.o gráo compromette muitas veses a vida do doente, quer por seus effeitos immediatos, quer pelos consecutivos, reclamando algumas veses a amputaçãa de uma parte, produsindo ordinariamente cicatrises deformes, e sempre copiosa suppuração; são estas queimaduras de um pro- gnostico geralmente grave. Finalmente as do 6.° gráo destruindo sempre os membros do indivíduo,quando lhe não roubem a vida, como é ordiná- rio, causão-lhe sempre um grande damno, deixando-o sem uma parte im- portantíssima de seu corpo. Quanto ás regiões, é de observação que as queimaduras, que occupão as paredes do thorax, ou do abdômen, trans- mittindo com facilidade a irritação aos órgãos, cujas funcções são mui importantes, são cwteris paribus mais graves do que as que occupão, por ex, os membros. As da face são também de prognostico mais grave, porque, por leves que sejão, se interessão por ex. os olhos, podem ser se- guidas de cegueira, da perda completa d'esses órgãos, ou pelo menos dei- xar n'elles albugos mais ou menos difíiceís de curar-se. Se ellas occupão os lábios, podem deformar a abertura buccal, produzindo uma cicatriz que desarranja mais ou menos as funcções d'este órgão, ou que pelo me- nos lhes tira aquella côr rosada natural que lhes da tanta graça. As queimaduras do pescoço, das mãos, dos pés, são em geral de máos resul- tados, porque deixão quasi sempre as cicatrises deformes; o que n'essas partes é mais sensível do que em outras que vivem habitualmente occultas. Finalmente pelo que respeita á idade e á constituição dos doen- tes, é bem conhecido que as queimaduras são mais perigosas nas crean- ças e nos velhos do que no adulto vigoroso; que os indivíduos nervosos e de sensibilidade exagerada soffrem mais, principalmente no l.o 2. o gráos, do que os que estiverem em circumstancias oppostas; que nos cacochymos e escorbuticos muitas veses ligeiras queimaduras degenerão cm ulceras mais ou menos rebeldes. Finalmente é também de observação que as queimaduras nas pessoas dadas ao abuso de bebidas alcoólicas têm qua- si sempre conseqüências funestas. — 13 - TRATA3IENTO O primeiro cuidado que se deve prestar ao queimado é despil-o,' e n'isto se deve ter a maior attenção para poupar dores aos doentes, epara isto conseguir-se corta-se com uma tesoura as roupas, que se devem tirar devagar para não arrancar a epiderme. Segue-se em segundo lugar a indicação suggerida pela dôr: immedia- tamente se deve mergulhar n'agua fria a parte queimada, se isso for pos- sível; e 110 caso de o não ser, applicar-se-ha sobre ella compressas mo- lhadas: este meio é muito simples, muito natural, prompto, e produz opü- mos effeitos. Vários outros tem sido aconselhados pelos práticos: o sub- acetato de chumbo diluído n'agua (água vegeto-mineral), por exemplo, produz um grande allivio ao doente. Se a forma da parte não permitte ser mergulhada n'esse liquido, como a face, então deverá o medico conten- tar-se com molhar pranchetas no liquido e applical-as sobre as partes. O ether, o álcool, as soluções de sulfato de ferro, a tinta ele, tem também sido applicadas; mas estes líquidos só devem ser empregados se a epi- derme cobrir a pelle. Um dos tópicos mais preciosos para abrandar as dores é o algodão cardado, proposto pelo Dr. Anderson de Glascow; o qual não é só em- pregado nas queimaduras do \.° gráo, mas também em todos, e até na completa desorganisação, offerecendo sempre optimos resultados; elle não só modera a dôr, mas ainda previne ou demora a inflammação, o que é de uma grande vantagem. Muitas observações importantes refere o Dr. An- derson, que são os melhores argumentos em favor do emprego d'este meio. Um trabalhador de Minas em uma explosão repentina de hydrogeneo car- bonado ficou com as mãos, parte dos braços e pernas, assim como a face completamente queimadas. Todas estas partes forão cobertas de algodão que ficou applicado por 15 dias, e sendo retirado n'essa epocha forão achadas as feridas em muito bom principio de cicatrisação, e no cabo de um mez o doente estava inteiramente bom e sem deformidade. Em uma moça que tinha as duas pernas queimadas no mesmo gráo, empregou o Dr. Anderson, em uma algodão, e na outra óleo e água de cal; no fim de vinte e um dias estava a primeira completamente curada, e a segunda ainda nesta epocha estava em inflammação, e as feridas só cicatrisarão _ tí __ ao cabo de três rnezes. O algodão appliea-se cm finas pastas. Se a quei- madura tiver produsido vesiculas,. o mesmo medico aconselha abril-as e laval-as com água, ou óleo essencial de therebentina em loção cobrindo depois com muitas pastas de algodão, que se segura com uma atadura, se a forma da parte o exigir. Se a suppuração for muito abundante, mudar- se-ha o algodão, sem deixar todavia as partes por muite tempo expostas ao ar; mas diz o Dr. Anderson, como é sempre importante aconselhar ao doente que conserve o repouso absoluto* durante os primeiros tempos,, deve-se em geral conservar o apparelho tanto tempo quanto for possível, ainda que o doente se queixe do máo cheiro que exhalão as feridas. O tratamento do medico inglez é hoje geralmente seguido com bons resul- tados, em quasi todas as partes; mas não se deve pensar que este trata- mento é infallivel, e que todos os outros devão ser proscriptos: seme- lhante opinião, diz Maijolin, á qual o Dr. Anderson parece ser levado por suas observações, é tanto menos admissível quanto os effeitos dos diífe- rentes tópicos aconselhados e applicadbs nas queimaduras até hoje não* tem sido estudados comparativamente com os do algodão, de modo que- fique bem demonstrado que este ultimo meio lhes é superior em todos- os casos possíveis. Segundo Marjolin, o linimento oleo-calcareo é um excellente tópico; moderando as dores elle apressa também a cicatrisação. Depois de ter espalhado este liquido sobre as partes ulceraias, co- brem-se estas com pastas de algodão, se ha grande abundância de pus, deve-se substituir o algodão por outro. Linsfranc aconselhava o empre- go da solução do chlorureto de cal, e asseverava que elle apressava con- sideravelmente a cura das queimaduras: molhava n'este liquido chumaços de fios, e applicava-os sobre as partes, tendo o cuidado de os molhar de tempos em tempos com a mesma solução,- e ainda mais útil se torna este meio, quando ha suppuração fétida. Alguns cirurgiões limitão-se a untar as partes com óleo de amêndoas doces ou de oliveira misturado com clara de ovo, e se a dôr é muito forte recommendão que ajunte-se a esse liquido balsamo tranquillo, ou ópio em pó. Brétonneau e Yelpeau aconselhão, e dizem que tem optimos resultados a compressão, quer como meio sedativo, quer ainda como meio efficaz para prevenir o des- envolvimento da inflammação: applicão primeiro o tafetá encerado sobre a parte queimada, e depois a enrolão com uma atadura convenientemente apertada. - 15 - Âsseverao esses authores que, qualquer que seja ò gráo da queimadura, a compressão faz cessar immediatamente a dôr, e impede ou dissipa a inflammação. Quando a queimadura for occasionada pela explosão da pólvora, será conveniente limpal-a primeiramente dos grãos da pólvora cuja presença augnienta a irritação deixando ordinariamente marcas feias; convém pois, principalmente se a queimadura for no rosto, pescoço, mãos, etc, tirar estes grãos com a ponta de uma agulha o mais cedo que for possível. Quando a queimadura tiver deixado escaras dever-se-ha favorecer com es meios emollientes de toda espécie a sua eliminação, a qual nunca deve ser tentada por meio mecânico, pois é de absoluta necessidade respeitar o trabalho eliminador da naturesa; todavia, se o cirurgião reconhecer que por baixo d'éllas existem focos purulentos, deve, seguindo o conselho da maior parte dos práticos, abril-os com o ferro para dar sahida ao pus, e prevenir por este modo todos os estragos de que elle é capaz. Se a suppuração for muito abundante, o curativo das feridas deverá ser feito duas e três vezes por dia, prevenindo-se para que o contacto do ar não obre por muito tempo sobre as superfícies das feridas. Para apressar a cicatrisação das feridas não ha melhor meio, segundo Delpech, do que o ceroto opiado; e ainda aqui são applicaveis alguns dos meios de que te- mos fallado, como sejão: o linimenro oleo-calcareo, o óleo de amêndoas doces com clara de ovo, etc; pode-se também empregar o ceroto de Sa- turno ou de Goulard; convém, porem, notar que, se a superfície ulcerada for vasta, o emprego deste ultimo meio deve ser feito com muita cautela, porque podem ter máo resultado os phenomenos que acompanhão a absorpção do chumbo. Velpeau aconselha no curativo destas feridas o tratamento chamado par occlusion que consiste em cobrir as ulceras com tiras de diachylão gommado. Muitas vezes nas queimaduras dos dois últimos gráos todos os meios de que temos fallado, de nada valem, e o cirurgião é obrigado a lançar mão de um meio mais enérgico, isto é, da amputação. Se a queimadura tiver por sede os dedos, muitas vezes elles cahiráõ como escaras, ou bastará em outras apenas cortar com a thesoura certos appendices ligamentosos que permaneção. Convém então esperar que todos os accidentes primitivos tenhão desapparecido, e que os limites da mortificação tenhão sido distinctamente traçados para então se recorrer á amputação; mas não convém dilatar por muito tempo o emprego d'este — Í6 — meio; porque o doente poderá achar-se muito enfraquecido pela abun- dância da suppuração, e não resistir á operação. Também algumas vezes não poderá resistir, se outras partes do corpo forem sede de vastas queimaduras, porque a natureza parece então ser impotente para satisfazer á tantas exigências. Entretanto, algumas vezes a economia é tão cheia de recursos, que, ainda n'esses casos, consegue o cirurgião salvar o doente, como foi, por exemplo, no caso que refere Marjoün—do epiléptico que, tendo cahido no fogo, ficou com o antebraço carbonizado, e com vários outros estragos pelo rosto, pescoço, espaduas, etc; e este cirurgião, amputando-lhe no segundo dia o antebraço, conse- guiu cural-o, vindo as outras feridas a cicatrizar muito depois de estar sã a que resultou da amputação. Mas não é só n'esíes casos que a amputação é indicada; os authores a considerão ainda de urgente necessidade naquelles casos em que, depois da queda das escaras, vem a ficar aberta uma grande articulação, ou também quando as feridas são de tal sorte vastas, profundas e irregula- res que não se pode rasoavelmente esperar uma cicatrisação. Agora diga- mos alguma cousa sobre os meios geraes, que servem de auxiliares aos primeiros, e terminaremos o nosso trabalho pelos cuidados que deve ter o cirurgião, afim de previnir as cicatrizes viciosas. Nas queimaduras superficiaes e pequenas não ha ordinariamente ne- cessidade de recorrer aos meios internos, nem de mudar o regimen do doente; mas assim não acontece se a queimadura for grande; então uma febre interna se declara, e convém recorrer aos meios antiphlogisticos, ás bebidas emollientes e refrigerantes; se o doente for vigoroso, uma e mais sangrias deverão ser praticadas; e este meio é sobretudo urgente se a in- flammação communicar-se ás vísceras, ou membranas que as cobrem, de- vendo o doente guardar o repouso absoluto, e ser submettido a regimen brando. As preparações opiadas são muitas vezes administradas interna- mente com proveito para acalmar as dores. Desapparecendo a febre, e manifestando-se suppuração abundante, convém dar aos doentes alimentos analepticos para ir supprindo o que perdem com a suppuração. Deve-se recorrer também ás preparações tô- nicas, como as de ferro, quina, etc. Se o doente cahe em marasmo, se uma grande diarrhea sobrevem, pode-se empregar com proveito as pílu- las de Dupuytren, que são compostas de extracto de ópio e sulfato de zinco, com as quaes elle diz que pode muitas vezes debellar as díarrheas — 17 — colliquativas. A ipecacuanha, o bismutho, etc, podem ainda ser empre- gados com proveito. Depois de haver segurado a vida do doente, o cirurgião deve procurar conservar ás partes suas formas, belleza e movimentos próprios. Se a queimadura tiver por sede uma abertura natural, dever-se-ha in- troduzir nella mechas, sondas ou esponjas, até que a cicatrísação se tenha formado, afim de previnir a reunião de suas bordas. Se a queimadura occupar, por exemplo, a mão, introduzir-se-ha entre os dedos compressas untadas de corpos gordurosos para evitar que elles se ponhão em contacto; para obstar a flexão dos dedos empregar-se-ha talas, que tenhão a forma da mão, para conservar os dedos ligeiramente estendidos; as talas serão também empregadas se a queimadura occupar a superfície de flexão de um membro. Para obter uma cicatriz regular e bem lisa é muitas vezes o cirurgião obrigado a recorrer á pedra infernal para destruir as granulações exuberantes. A cicatrísação das feridas das queimaduras não se faz sempre regularmente, como nas feridas ordiná- rias, da circumferencia para o centro; mas formão-se muitas vezes vários pontos cicatriciaes. Emfim, o cirurgião, variando de meios, segundo seus recursos práticos, deve esforçar-se para que o órgão, depois de curado, se assemelhe o mais que for possível, do estado natural, <^fj)^^ D. C. ;cçio cmüneiCA Hcmorrhaglas traumáticas. PROPOSIÇÕES o I.—0 derramamento de sangue devido á acção de uma causa externa no apparelho vascular, é o que se chama hemorrhagia traumática. II.—A hemorrhagia pode ser immediata ou consecutiva. III.—A hemorrhagia pode ser arterial, venosa ou capillar. IV.—A hemorrhagia traumática distingue-se da espontânea pela sua causa puramente physica. V.—As causas mais freqüentes desta hemorrhagia, são os instrumen- tos cortantes. VI.—Nem sempre é fácil diagnosticar-se uma hemorrhagia traumá- tica. VII.—Um vaso arterial pode ser lesado sem que a pelle seja offendida. VIII.—Muito influem no prognostico da hemorrhagia traumática a idade, temperamento, constituição e sede da lesão. IX.—Tanto mais grave torna-se a hemorrhagia, quanto mais perto do tronco é o vaso lesado. X.—As hemorrhagias capillares consecutivas são mais freqüentes que as immediatas. XI.—Os meios de que se serve o cirurgião no tratamento das hemor- rhagias traumáticas, são: ligadura, compressão, torsão, hemostaticos, cau- terisação e o frio. XII.—De todos estes meios a ligadura é o mais seguro e definitivo. I>a febre aanarclla e seo tratamento* PROPOSIÇÕES. !•—A febre amarella é uma pyrexia própria de certos climas, caracte- risada por uma côr icterica da pelle e pelos vômitos negros. II.—Em geral a invasão da febre amarella é violenta, acommettendo os indivíduos no meio de suas oecupações ordinárias. HI.—No segundo período da febre amarella nota-se especialmente a anciedade dos doentes, a côr amarella dos tegumentos, as hemorrhagias, principalmente a que se dá no estômago. IV.—Na febre amarella o typo intermittente é raro, e só se observa no começo da moléstia. V.—Nos casos graves a duração da febre amarella, é de 5 a G dias; e nos casos benignos é menor. VI.—Indubitavelmente é fatal a terminação da febre amarella, se os seos symptomas se aggravão. VIL—Quando, pelo contrario, para o quinto dia os symptomas geraes e locaes perdem de sua intensidade, o resultado da moléstia é feliz. VIII.—Segundo a opinião de alguns authores, um primeiro ataque de frebre amarella, não reserva certamente de um segundo. IX.—O diagnostico da febre amarella não apresenta geralmente diffi- culdade alguma. X.—A transmissão da febre amarella é um ponto sobre o qual muito se tem descutido, e que resta ainda duvidoso. XI.—Certos indivíduos que, ou pelo seo estado, ou por dever, não podem fugir dos rigores de uma epidemia de febre amarella, deverão observar rigorosamente uma boa hygiene. XII.—Contra os vômitos negros, que são um symptoma dos mais pe- niveis, tem se aconselhado o emprego das bebidas acidulas e geladas to- madas em pequena quantidade. Vinhos nietlicinaes PROPOSIÇÕES o 1—Chamâo-se vinhos medicinaes aquelles que têm em dissolução um ou muitos princípios medicamentosos. II—Os vinhos de mais uso na medicina, são: os vermelhos, brancos e generosos. III—O vinho vermelho differe do branco pela maior quantidade de ta- nino e matéria corante. IV—Assim como as tineturas alcoólicas, os vinhos apresentão soluções sempre promptas. V—A falsificação dos vinhos os torna sempre impróprios para o uso Ma medicina. Yi—-O vinh*» generoso differe do branco por conter grande porção de álcool, glycerina, gly^ose e pouco tartaro. VII—O apparelho -:1o Gay—Lussac, modificado por Salleron, é empre- gado para conhecer a :■ ça alcoólica do vinho. VIII—O cheiro particular do vinho é devido á presença do ether cenantico. IX«—Todas as vezes que se fizer uso em medicina de um vinho, deve- se ter em consideração a sua força alcoometrica. X—Deve-se usar de preferencia do vinho generoso, quando se tratar de substancias ricas em princípios mui alteraveis. XI—A macei ação e a addição das tineturas alcoólicas são os dois pro- cessos empregados para a preparação dos vinhos medicinaes. XII—Para a conservação dos vinhos medicinaes emprega-se a colla de peixe. HYPPOCRATIS APHORISMI ia o i» I. Vita brevis, ars longa, occasio proeceps, experientia fallax, judicium difficile. (Sect. 1», aph. I.°) II. Quoe medicamenta non sanant, ea ferrum sanat. Quoe ferrum non sa- nat, ea ignis sanat. Quce vero ignis non sanat, ea insanabilia existimare oportet. (Sect. 8.\ aph. 6.0) III. Ubi somnum dèlirium sedat, bonum. (Sect. 2.a, aph. 2.o) IV. Ad extremos morbos, extrema remedia. (Sect. l.a, aph. 6.0) V. Yulneri convulsio superveniens, Iethale. (Sect. 5.a, aph. 2.o) VI. A sanguinis fluxu dèlirium, aut etiam convulsio, malum. (Sect. 7.a, aph. 9.°) Bahia—Typ. de J. G. Toarinho—1871. D. c. 4 £&emeSá'c/a « lêommüdaa £/bevt'jola. £3a4e'a e §/acu/ctac/e c/e i^&ec/t cw?