&IÜÜ ^O^Çgí <5-XÍ>§5"<5"£-< > DO Dr. Ciaudemiro Augusto de Moraes Caldas. %L s XX x>: •■~<£\ v*. •J3M FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA. CONCURSO MM BI W&W M «P«f M DA SECCÀO MEDICA. FUNCÇÕES DO FÍGADO. SUSTENTADA EM FEYEREIRO DE 1871 PELO Í>sds sa période aatéscíenUflqae, Ia inédecine a pu exister en dehors de Ia physioíogie.; et il l'a bien faliu, puisque Ia phjsiologie n'était pas encore née. Mais aiijoiird'hui que Ia médecine a Ia prcteotion de devenir une sciencc vcritablc, il fant absoluiueHt qu'cllc ait recours à Ia plijsio- logie, soit pour coniprcndre le inécanisuie des Htalftdieag--- soit, pour expliquei' 1'action des nie- íic|ments. Cest qu'au foud, dansla medicine, il u'y a q"i'une seule scicnce: Ia scieuce de Ia >ie ou Ia plijsiologie. CL. BF.RNARD.-l/ÈTolalionde Ia médiciue scienUfique. IK''\ ■ v Tf»-ir V*. C - ' ■ 1 TYPOGRAPUIA DE J (i. TÜUMMIO 4§?s, FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA. =5E£>©<3E= DIRECTOR O Ex.rao Snr. Conselheiro Dr. Vicente Ferreira de Magalhães. OSflRS. DOUTORKS f.*ANNO. MATÉRIAS QUE LECCIONAM «Cons. Vicente Ferreira de Magalhães . { ^IffiicZggl^S^*™1™* ^ 8UM Francisco Rodrigues da Silva.....Chimica e Mineralogia. Adriano Alves de Lima Gordilho . . . Anatomia descriptiva. ü.« ANNO. Antoniode Cerqueira Pinto.....Chimica orgânica. Jeronymo Sodré Pereira .... . Physiologia. Antônio Mariano do Homflm.....Botânica e Zoologia. Adriano Alves de Lima Gordilho. . . . Repetição de Anatomia descriptiva) 3." ANNO. •Cons. Elias José Pcdroza......Anatomia geral epathologica. José de Góes Sequeira.......Pathologia geral. Jeronymo Sodré Pereira......Physiologia. i.° ANNO; Cons. Manoel Ladlslào Aranha Dantas. . Pathologia externa. ................Pathologia interna. Con.elheiro Mathias Moreira Sampaio , j Pa/cÇâiinasíldos!d6 mulheres pCja(las e de men,I:os S.» ANNO. ..........•.....Continuação de Pathologia interna. José Antônio de Freitas...... j A%peahoTgraphÍCa' Medicina «Peratorla. e .........,......Matéria medica, e therapeutica. 6.» ANNO. „...............Pharmacia. Salustiano Ferreira Souto . ..... Medicina legal. Domingos Rodrigues Seixas.....Hygiene, e llisloria da Medicina. „...............Clinica externa do 3.* e i,° nnno, Antônio Januário de Faria......Clinica interna do 5.* e 6.' anão. . Ignacio José da Cunha......./ Pedro Itibeiro de Araújo......) Secçao Accessoria. José Ignacio de Darros Pimenlel. • .1 Virgílio Clymaco Damazio...../ José AiTonso Paraizo de Moura. . . .\ Augusto Gonçalves Martins...../ Domingos Carlos da Silva......> Secçao Cirúrgica. PemctrioCyriacoTourinho.....j Luiz Alvares dos Santos......r Secçao Medica. O Sr. I>r. Ciiicinnatc Pinto nn»innio falciforme ou suspensorio do .fígado (grande fouce do peri- 9 __ toneu, foace da veia umbilical), formado por duas lâminas da seroso peri- toneal, unidas por tecido cellular assás denso, ao passo que pela sua metade inferior tem por principal destinação premunir a veia umbilical do feto de ser estrangulada pelas circumvoluções intestinaes, o que, por certo, poderia acontecer, se, acaso, ella permanecesse livre e fluctuante na cavidade abdominal; pela sua metade superior contribue poderosa- mente para fixar a glândula hepatica na sua situação physiologica, con- servando as suas relações normaes com o baço e o estômago, e obstan- do ás deslocações rotatórias, que occasionariam os decubitos, dorsal e lateral direito. O ligamento coronario, constituído também por duas lâminas do peri- toneu, não encostadas, mas separadas por um intervallo de dois a três centrimetros, as quaes descem do diaphragma para as faces superior e inferior do fígado, concorre egualmente para fixar a posição d'este orgam e impedir as deslocações que se poderiam dar nas direcções, vertical antero-posterior e transversa. Os ligamentos lateraes, provenientes do encostamento das mesmas lâminas peritoneaes que formam o ligamento coronario, cujas dependên- cias elles parecem ser, apresentam, segundo o Sr. Sappey, a configuração d'um triângulo isosceles, adherindo pelo vértice ao ligamento coronario, por um lado ao diaphragma, pelo outro ao fígado, mas conservando a base livre e fluctuante. Durante as vidas embryonaria, fetal e infantil, o fígado, em comparação com as vísceras abdominaes, offerece um notável predomínio de volume, o qnal vae-se reduzindo com os progressos da edade, até que aos sete annos, pouco mais ou menos, attinge as suas proporções definitivas. Sob este aspecto se poderia dizer que o volume do fígado está em razão in- versa da idade, mas absolutamente faltando, deve-se, ao contrario, admittir, que o volume desta víscera vae grudual e progressivamente augmentando desde o primeiro instante do seu apparecimento no seio do organismo até a idade de trinta annos. O volume do fígado muito depende do estado da sua circulação; assim elle cresce ou decresce em proporção da plenitude ou vacuidade dos vasos que o percorrem. A hyperhemia hepatica, que pode resultar d'uma causa physiologica, como no período da digestão, quando se activa a fluxão da systema venoso abdominal, procede muitas vezes, também, duma origem mórbida, como são as que oceasionam a estasc sarmuinca nas cavidades cardíacas direitas e nos grossos troncos que ahi desembo- cam, as que estorvam a passagem do sangue atravez da trama pulmonar e, finalmente, as que, residindo no próprio orgam, lhe alteram o paren- chyma ou lhe perturbam as funcções. A configuração da glândula hepatica nos apresenta o seguinte: duas faces, uma antério-superior, convexa, outra postero-inferior, concava; dois bordos que se distinguem em antero-inferior, muito delgado, e pos- tero-superior, mui espesso; e, finalmente, duas extremidades, situadas á direita e á esquerda da glândula. A face superior é dividida pelo ligamento falciforme que, segundo a maioria dos anatomistas, demarca os limites entre os lobos esquerdo e direito do fígado, demarcação que, para o Sr. Cruveilhier, é puramente nominal. Por esta face o fígado se relaciona com o diaphragma, que o reveste quasi completamente, separando-o da face inferior do coração, da base do pulmão direito e das seis ou sete ultimas costellas direitas. As relações que esta face entretem com a parede abdominal anterior são variáveis; algumas vezes apenas se correspondem na parte superior do epigastrio* e, neste caso, o fígado permanece por detraz do rebordo das falsas costellas direitas, outras vezes se correspondem tanto mais exten- samente quanto mais desce o fígado do rebordo das falsas costellas cor- respondentes. E' pela face postero-inferior qüe a glândula hepatica recebe os vasos encarregados de lhe subministrarem os elementos necessários para suas attribuições physiologicas e nutrição própria. Distinguem-se nesta face trez regiões: a lateral esquerda, a lateral direita e a media ou central. A primeira, que abrange todaaface iníeriordolobo esquerdo do fígado, está em relação com o bordo superior e a face anterior do estômago, e com o epiploon gastro-hepatico que a separa do pancreas, A segunda occupa os dois terços externos da face inferior do lobo hepatico direito, e apre- senta trez facetas, denominadas, supra-renal, renal, e eólica; a primeira mantém relações com a cápsula supra-renal direita; a segunda applica-se sobre a face anterior do rim direito, e a ultima descança sobre o angulo formado pela porção ascendente com a porção transversa do colon. A região media apresenta uma depressão, de seis a oito centímetros de comprimento e de doze a quinze millimetros de largura, designada _ .4 — pelos nomes de: sulco da veia porta, sulco transverso, fenda transversal, grande fenda. E' por este sulco, verdadeiro hilo do fígado, que a glândula recebe, não soo seio da veia porta hepatica, a artéria hepatica, e os nervos que acompanham estes dois troncos vasculares, mas também emitte as raizes principaes do seu conducto excretor e numerosos vasos lympha- ticos que emergem da sua espessura. O epiploon gastro-hepatico tam- bém se insere neste sulco. Perpendicularmente á extremidade esquerda do sulco transverso vê-se o sulco antero-poslerior, que se estende do bordo anterior ao bordo poste- rior do fígado, conhecido, também, pelo nome de sulco da veia umbilical e do canal venoso ou sulco longitudinal. Este sulco é dividido pelo hilo do fígado em duas porções: a anterior aloja a veia umbilical no feto, e no adulto ao cordão fibroso resultante da obliteração deste vaso, a posterior recebe o canal venoso no feto e o cordão fibroso que o substitue depois do nascimento. Pararellamente ao sulco antero-posterior nota-se a gotteira da vesicu- la biliar e da veia cava inferior, cruzando perpendicularmente o sulco transverso e sendo por este dividida em duas partes: a anterior é occu- pada pela bexiga do fel, d'onde o nome de fossula da vesicula biliar, pela qual a conhecemos; a posterior recebe a veia cava inferior. Para diante da fenda transversal, entre o sulco longitudinal e a fossula da vesicula felea, encontra-se uma saliência rectangular, em relação com a primeira porção do duodeno; é a eminência porta anterior, o lobulo in- ferior do fígado, o lobo quadrado. Para traz da fenda transversal e para diante da embocadura das veias hepaticas, entre o sulco do canal venoso e o da veia cava inferior, observa-se uma saliência, muito mais accusada que a precedente, é a eminência porta posterior, ou lobo de Espigelio, que pela sua face posterior descança sobre os pilares do diaphragma; para a esquerda está em relação com o cardia, para baixo com o pancreas, o tronco celiaco e também com a pequena curvatura do estômago, durante o período da repleção deste. A circumferencia do fígado apresenta no seu bordo anterior duas chan- fraduras, uma que precede o sulco da veia umbilical, outra mais super- ficial situada ao nivel do fundo da vesicula felea; no seu bordo posterior, semelhantemente, oíferece duas chanfraduras; a maior corresponde a confluência das veias cava e hepaticas, a menor ao esophago. .Independentemente do systema venoso umbilical, que é peculiar ao — r> — feto, mas cujos vestígios ainda se descobrem no adulto, o fígado recebi os seguintes vasos afferentes: a artéria hepatica, a porção divergente da porta ou veia porta hepatica, e emitte duas ordens de vasos efferentes: as veias hepaticas ou supra-hepaticas (Chaussier) e os canaes biliares. A glândula hepatica, considerada sob o aspecto angiologico, differença- se de todas as demais glândulas da economia. De feito, ao passo que todos os corpos glandulares se limitam a receber sangue arterial, o fígado, exi- mindo-se desta lei, recebe, a um tempo, não somente sangue arterioso,. senão também sangue venoso, o qual apresenta notáveis particularida- des na sua constituição, dependentes das origens diversas em que o vac buscar a porção convergente da porta ventral, a saber: toda a porção sub-diaphragmatica do tubo digestivo, o pancreas, o baço, e numerosos glanglios lymphatieos do abdômen. A artéria hepatica, depois de collocar-se adiante do tronco da veia porta, costeando o seu lado esquerdo, penetra no fígado os seus ramos terminaes, pelas extremidades do sulco transverso. Estes ramos distri- buem-se por toda a víscera, onde completamente se esgotam, acompa- nhando sempre as divisões da veia porta e do canal excretor da glândula. A porção divergente da veia porta, bifurcando-se, também, entra no» fígado pelas extremidades do sulco transverso. Cada um dos seus ramos^ horisontalmente se dirige para o lobo que lhe corresponde, em cuja es- pessura vae-se dividindo e subdividindo dichotomicamente á maneira das artérias, de tal sorte que envia ramusculos para todos os lobulos da glândula. As divisõos successivas e progressivamente decrescentes da veia porta percorrem os canaes que lhes são fornecidos pela cápsula de Glisson^ sempre em companhia da artéria hepatica e dos conductos biliares. Estas divisões, que apresentam durante o seu transito uma direcção parallela a superfície inferior do fígado, nunca se anastomosam. As primeiras radiculas das veias hepaticas, nascendo da espessura dos lobulos do fígado, onde se communicam com as divisões terminaes da artéria e da veia porta hepatica, vam convergindo de diante para traz e fbrmanio pela sua reunião canaes tanto mais calibrosos quanto menos numerosos sam. A semelhança das ramificações da veia porta ellas cami- nham pela espessura da glândula sem offerecerem anastomoses c despro- vidas, também, de válvulas. — ti — As veias porta c hepaticas mutuamente se destinguem pelos seguintes caracteres: 1.» porque a direcção das divisões da primeira é transversal, ao passo que a das segundas é antero-posterior; 2.« porque as ramificações venosas porlaes são envaginadas pela cápsula de Glisson, em quanto que as divisões venosas hepaticas estam em contacto immediato com o paren- chyma glandular, ao qual adherem não só pela venulas que recebem, mas também por um tecido cellular fino e denso; de modo que incisando-se o fígado, observa-se que as paredes das ramificações da veia porta se aba- tem em razão de adherirem frouxamente ás bainhas que percorrem, e, pelo contrario, as das veias hepaticas permanecem hiantes, á semelhança de tubos, cujas paredes fossem inflexíveis. A glândula mais rica em vasos lymphaticos, depois das glândulas mammaria ó testicular, é o fígado. Os vasos lymphaticos desta glândula nascem da peripheria de cada um dos seus lobulos, e formam pelas suas multiplicadas anastomoses um vastíssimo plexo,que apresenta tantos va- cuolos, quantos são os lobulos hepaticos respectivos Estes vasos se distinguem em superficiaes e profundos. Aquelles mui- to numerosos, partindo dos lobulos periphericos, serpeam por toda a su- perfície da glândula, estes mais volumosos se subdividem em descendentes ou satellites da veia porta c ascendentes ou satellites das veias hepaticas. Os descendentes se estendem pela cápsula de Glisson, que os separa da veia porta, da artéria hepatica dos conductos biliares e dos nervos corres- pondentes, os ascendentes mais numerosos e muito mais volumosos que os descendentes fornecem para cada uma das divisões das veias hepaticas uma bainha plexiforme,que se presta muito a injecção. Os nervos do fígado procedem do pneumogastico esquerdo e do plexo solar. O pueumogastrico esquerdo, logo depois de entrar no abdômen emitte muitos fíletes nervosos, os quaes, inclinando-se para direita e para baixo e caminhando por entre as duas lâminas do epiploon-gastro-hepatico, introduzem-se no fígado pelo sulco transverso, seguindo as divisões da veia porta até a peripheria dos lobulos. Do plexo solar,que é constituído pelo entrelaçamento de copioso numero de ramificações nervosas plexíformes, provenientes dos quatros nervos splanchnicos, de muitas divisões dos nervos phrenicos e da parte termi- nal do pneumogastrico direito, depois de terem conjunetamentç através- sado os gânglios semi-lunares, partem, como d'um centro, nove plexos secundários, um dos quaes é o plexo hepatico. Deste plexo emanam não só os raminhos nervosos que formam o plexo hepatico anterior de Lobstein ou o plexo hepatico esquerdo de Scemme- ring, que abraça a artéria hepatica e as suas principaes divisões, mas também os ramos nervosos, pouco volumosos, conhecidos pelos nomes de plexo hepatico posterior, de plexo hepatico direito, de plexo da veia porta, que se dirigem para o fígado, caminhando entre a artéria hepatica e a veia porta, sobre a face anterior do tronco da qual se applicam, até o ponto em que ella se bifurca para mergulhar no fígado suas ramificações, a cuja distribuição, egualmente, acompanham. O plexo da veia porta, se anastoma, a principio, com o plexo da artéria hepatica, depois, ao nivel do sulco transverso, com alguns filetes do pneu- mogastrico esquerdo, e, por fim, na cápsula de Glisson com filetes das duas origens que acabamos de mencionar. Em resumo: os plexos da artéria hepatica e da veia porta, sendo no seu começo distinctos, se entretecem ao depois por tal forma, que, afinal, se confundem inextricavelmente na espessura da glândula hepatica n'um só plexo, que a cada lobulo fornece uma ou mais divisões, mas cuja termi- nação ainda é desconhecida (Sappey). Muitos anatomistas também admit- tem que alguns filetes do nervo diaphragmatico direito vam-se derramar no fígado. II La slructure du foie exerce lasagaeilé dei analomisies depuis plusieurs siècles, et telleg sont cependant les diíHcultés dont s'enloure son étude, que tant d'elI'orts réun s seinblent n'avoir produil jusqu'à présent qu'un déda- led'opinions ccntradktnires. A voir ce fea croisé d'afflrmations si conlraires, de propo- sitions si disparates, de conclusions si oppoíées, qui divisenl Ia plupart des observateurs ou serait preíque tente de croire en tflet que Ia science est reslée stéiile surce point, et que toute Ia slructure du foie est encore à refaire. Mais en reunissant à une observaiion atlen- live des faits un examen plus approfondi des travaux publiés par nos prédécesseurs, on nc tarde pas à rcconnailre que 1'histoire de Ia strueture du foie sesi enrichie depuis trente ans d'un grand nombre d'acquisitions im- portantes, et que si le problème de cette slru- cture n'esi pas complélemeni résolue, les dou- nées principales du moins en sont déjá ras- semblées. Sappey. Traité d'Anatomie descriplice T. 3., pag. S6S. Duas são as túnicas que envolvem a glândula hepatica; a peritoneal ou commum e a fibrosa ou túnica própria. A primeira, cuja dependên- cia é claramente indicada pela sua denominação, tem a dupla destinação de isolar a víscera e facilitar-lhe os movimentos, e a envolveria comple- tamente, se o bordo superior desta, ao nivel do ligamento coronario, assim como a sua face inferior, ao nivel do sulco transverso, da gotteira da veia cava, da fossula da vesicula felea e da faceta supra-renal, delia se não achassem desprovidos. A segunda, composta de fasciculos de tecido con- junetivo que reciprocamente se cruzam, e de numerosas fibras elásticas m uiío finas (Cruveilhier), é uma membrana extremamente delgada, bastante resis- tente, semi-transparente, fibrosa ou antes fibro-cellulosa (Sappey), que re- veste toda a superfície da glândula, entretendo pela face externa relações tão intimas com a membrana peritoneal, que com ella se confunde, e adherindo pela face interna ao tecido próprio da víscera, a cuja expessu- ra envia vários prolongamentos. — 10 — Ao passo que a túnica própria do fígado no ponto de emergência daá veias supra-hepaticas adhere aos seus contornos, por forma que se dei- xa por ellas perforar, na região central da face inferior, porém, se compor- ta de modo inteiramente diverso, por quanto, depois de entapizar o sulco transverso, envia um prolongamento canaliculado que envolve a veia porta, a artéria hepatica, os nervos do plexo hepatico, os vasos lymphaticos do fígado e os canaes biliares, prolongamento que, logo no hilo da glân- dula, biparte-se em direito e esquerdo, os quaes por seu turno vão passando pelas divisões e subdivisões dos elementos vasculares e nervosos que acompanham atravez do parenchyma hepatico. Estes prolongamentos são collectivamenle conhecidos pelo nome de cápsula de Glisson. Esta cápsula pela sua superfície interna adhere por um tecido frouxo e filamentoso aos conductos que envagina, e pela sua superfície externa contactêa immediata e intimamente o parenchyma da glândula. No fígado de certos animaes, por exemplo: o porco e o urso, a cápsula de Glisson, alem de proteger os conductos vasculares com os nervos corresponden- tes, forma com os prolongamentos, lâminas, e trabeculas que emitte, pe- quenas areolas, que distinctamente dividem a substancia própria do figa- do em pequenas porções, que receberam o nome de ilhotas, lobulos ou lobolinos, os quaes medem um a dois millimetros de diâmetro. Segundo o Sr. Sappey alguns vestígios desta disposição observa-se ainda no cavallo e no boi, mas nos outros animaes e especialmente no homem a cápsula de Glisson, depois de soffrer um adelgaçamento gra- dual e progressivo, desapparece de todo antes de chegar a peripheria dos lobulos. Mas para o Snr. Gh. Robin, ha, entre os lobulos, delgados septos de fibras laminosas, muitas das quaes se acham em estado fusiforme, e acompanhadas de matéria amorpha, cuja quantidade diminue no tecido laminoso que cinge a veia porta e os conductos hepaticos, com o qual tecido o dos septos esta em continuidade de substancia. O parenchyma do figado é constituído por lobulos que se acham im- plantados nas malhas da trama ricamente vascular da víscera. Na com- posição de cada lobulo (lobulino ou ilhota do figado) concorrem além dos septos fibrosos que os circumscrevem (Ch. Robin), ramificações das veias porta e supra-hepaticas, da artéria hepatica, dos canaliculos biliares e de considerável multidão de acinos (cellulas ou corpusculos hepa- ticos), cujo numero, segundo o Sr. Sappey, eleva-se aproximativamente a 300,000. — 11 — O Sr. Nathalis Guillot não crê que os acinos hepaticos sejam ocos, e por issò os denomina—partículas, opinião que justamente é condemnada pela moderna microscopia. Cada acino do figado é uma verdadeira cellula, e como tal constituído por uma membrana hyalina ou sacco completamente fechado, encerrando na sua cavidade, alem definas granulações de cor escura ou amarellada,cha- madas por uns micrographos moleculares e por outros poeira orgânica, em razão das diminutas dimensões que apresentam entre 0,mm0005 e 0mm003 e de algumas gottasinhas de gordura d'um amarello esverdinhado (Robin), um núcleo, em cujo interior ha um ou mais nucleolos. As cellulas hepaticas enfileiradas em series lineares convergem da cir- cumferencia do lobulo para o centro, disposição que em geral se não observam nas glândulas acinosas, cujas granulações irregularmente se agrupam em derredor das primeiras radiculas dos seus conductos ex- cretores. Para muitos micrographos a capa exterior dos acinos hepaticos é de natureza epithelial, mas um illustre anatomista, cuja valiosa com- petência no presente assumpto ninguém lhe pode contestar, em vista das suas aceuradas e bem dirigidas investigações acerca da anatomia inti- ma do figado, contra esta opinião assim se exprime: « Ia membrane propre des acini hépatiques est d'une nature toute spéciale, comme celle de chaque glande considerée isolérnent; et c'est à cette différence de na- ture dans les glandes les plus identiques en apparence, quelle est rede- vable de Ia différence de ses proprietés physiologiques. Au premier rang, parmi les éléments qui entrent dans sa constitution, il faut placer Ia ma- tière glycogène, dont elle paraít être essentiellement composée, d'après les recherches de M. Cl. Bcrnard (I). No interior da cellula hepatica encontram-se algumas gottasinhas olea- ginosas, que em certos estados pathologicos, augmentam de volume, e tor- nam-se mui numerosas, enchendo as cellulas a ponto de as distenderem consideravelmente, produzindo, d'est'arte, a steatose hepatica ou degene- rescencia gordurosa do fígado. A natureza das granulações coloradas que se observam na cavidade de cellula hepatica não está perfeitamente determinada. O Sr. Carter entende que essas granulações são formadas de amido animal, o Sr. Schiff não só (1) Syppey.— Trailú (Tanulomie desci iplive T. 'V pa?. 273. ^ _. 12 — observou no interior das cellulas do figado, granulações amilaceas, senão também uma matéria xaroposa, que para elle é dextrina liquida; isto é, a phase intermediária pela qual passa a matéria glycogenica antes de se transformar em assucar. Esta observação foi comprovada pelos Snrs. Nasse e Weber. Também o Sr. Beéiard assevera que nas cellulas hepaticas de todos os mammiferosconstantemente existem granulos de amido animal, exceptuan- do-se, porém, a primeira metade da vida intra-uterina e alguns estados mórbidos. O modo pelo qual as ridiculas primitivas dos conductos biliares se comportam com as cellulas hepaticas tem sido objecto cie grande contro- vérsia entre os mais sábios e hábeis micrographos. Os Srs. Handfield Jo- nes e Kolliker, não podendo acompanhar os conductos biliares alem da peripheria dos lobulos hepaticos, pretendem que estes conductos não se originam no interior dos lobulos, e sim de plexos que os últimos ca- naliculos formam nos espaços interlobulares. Segundo esta opinião, que também é abraçada pelos Srs. Dujardin e Yerger, Hüss e Morei, os conductos biliares originariamente constituídos por canaliculos inter- lobulares reticularmente entresachados, não entreteem connexão algu- ma com as cellulas hepaticas. De passagem, diremos que esta disposição dos canaliculos primitivos dos conductos biliares plenamente justifica a separação do figado em duas glândulas inteiramente distinctas: a glândula glycogena e a glândula biliar; importante separação anatomo-physiologica que a principio admit- tida pelo Sr. Cl. Bernard, tem sido ao depois propugnada pelos Srs. Ch. Robin, Henle, Morei, Yillemin, Liégeois e Paulet. Outros micrographos não menos eminentes que os primeiros poderam «•econhecere seguir os canaliculos biliares até no interior dos lobulos he- paticos; mas não se coadunam quanto ao modo por que terminam. Assim, para os Srs. Henle, Gerlach, Hyrtl, Nathalis Guillot, Lereboullet eReichert, os canaliculos biliares, no interior dos lobulos não apresentam paredes próprias, de forma que são simplesmente constituídos pelos es- paços lacunares formados pelas cellulas hepaticas; ao passo que para os Srs. Milne-Edwards, Kiernan, Leidy, Leonel Beale, Andrejewicz, Mac- Gillavry, Budge e Schmidt, estes canaliculos possuem paredes distinctas no interior dos lobolos e formam pelo seu entrelaçamento reciproco uma !>equcna rede no seio de cada lobulo. — í>i — Quanto as relações que os candiculos biliares intralobulares teem com- as cellulas hepaticas é uma questão que também ainda não está definiti- tivamente resolvida. A maioria dos auctores que sobre esteassumpto temos citado entendem que estes caniliculos são completamente independentes, em quanto que os Srs. Krukenberg, Backer, Retzius, Theile, Weja, A. Kra- mer julgam que cada canaliculo libiar termina-se por uma dilatação am- polliforme, contendo em sua cavidade cellulas hepaticas. O Sr. Sappey inclina-se a crer que esta ampolla terminal é constituída por um acino hepatico, que para elle é uma cellula, ao passo que para Burdach ella é formada pelas reunião de muitos utriculos, appensos todos a um só canaliculo. O Sr. LoHget presume que actualmente está bem demonstrado que os conductos biliares interlobulares enviam para o interior dos lobulos ra- mificações, jque, se anastomosando entre si, formam uma rede de canaliculos extremamente finos, abraçando em cada uma das suas estreitíssimas ma- lhas uma cellula hepatica; comtudo o actual professor de Anatomia descriptiva na Faculdade de Medicina de Paris, depois de pacientes inves- tigações ácêrca da histologia hepatica, francamente declara, que o modo porque se comportam os dez ou doze conductos bibiares que nascem de cada lobulo relativamente aos acinos destes lobulos, no estado presente da sciencia, é uma questão insoluvel. A veia porta attingindo os espaços interlobulares se divide em quatro ou cinco venulas (Kolliker, Cruveilhiep e Sappey), cada uma das quaes se lança, a um tempo, sobre muitos lobulos, formando-lhes, d'est'arte, uma es- pécie de coroa vascular (veias perilobulares ou interlobulares déKiernan). Desta coroa partem ramusculos em numero de 8 a 12 e de 0,mm 0 2a 0,mm 0 3 de diâmetro (Sappey), que se espraiam sobre o lobulo, conver- gindo da circumferencia.para o centro,, onde formam eom as numerosas ramificações capillares que da sua peripheria se destacam em angulo recto*., para logo se anastormosarem entre si,.uma rede extremamento delicada (rede capillar do íobulo)^em cujas diminutissimas malhasse alojam as cel- lulas hepaticas. Á cada venula interlobular corresponde sempre um ramusculo arterial, o qual se divide em três ou quatro ramificações muito finas, que se iri- troduzem no lobulo, onde por fim desapparecem na rede capillar fornecida, §>cla veia porta. Das ramificações extremas da veia porta e da artéria hepatica, pela pe- — u — ripheria e espessura de cada lobulo, surgem innumcraveis radiculas que a principio convergem para três ou quatro tronculos, os quaes formam, reunindo-se, uma pequena veia que occupa o centro do lobulo (veia intro- lobular de Kiernan, veia central de Krukenberg), a qual despeja-se ao sahir do lobulo no primeiro ramusculo interlobular que depara. Os ra- musculos interlobulares dão nascimento a outros mais volumosos, dos quaes se originam ramos que suecessivamente vão sendo menos nume- rosos e cada vez mais calibrosos. Alguns destes ramos, emanados do lobo direito, de calibre muito variável, abrem-se na veia cava ao nivel da got- teira que o bordo posterior do figado lhe offerece, outros, porém, formam dous a três troncos mui volumosos, os quaes, convergindo para a metade superior da gotteira referida, desembocam na veia cava immediatamente abaixo da abertura do diaphragma. Os vasos lymphaticos dos lobulos hepaticos permaneceram ignotos até 1852, epocha em que o Sr. Sappey em uma memória dirigida a Academia de Sciencias de Paris, delles manifestamente assignalou a existência. Se- gundo este eximio anatomista cada lobulo apresenta na sua peripheria uma profusa rede lymphatica, superposta a dos vasos sangüíneos, formada pelas radiculas summamente tênues que affluem do âmago do lobulo, largamente anastomosando-se entre si. Das ligeiras considerações angiologicas que tentamos fazer ácêrca da da anatomia intima do figado, deprehende-se o seguinte: 1.° Que os vasos venosos afTerentes e efferentes da glândula hepatica communicam-se por meio d'uma immensa multidão de capillares, que liga as radiculas terminaes de uns ás primitivas radiculas dos outros; 2.o que as derradeiras ramificações da artéria hepatica eda veia porta formam com as radiculas originárias das veias hepaticas uma profusa rede vas- cular em cujas delicadíssimas malhas repousam os lobulos hepaticos; 3.° que em cada lobulo póde-se distinguir três planos vasculares: um pro- fundo ou central formado pelas primeiras veniculas hepaticas, um médio, constituído pelas subdivisões extremas da veia porta e da artéria hepatica e das conductos biliares, e, finalmente, um superficial composto de ca- pillares lymphaticos. Funcções do fígado. SEGUNDA PARTE. I LIGEIRAS CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS. The tree of knotf ledge, wld its flowers and fruits, appears less strange to us, when we lollow itsroots, as they branch out, at one lime more decply, and ai olher limes les* so, into tlie region of bistory, and when wc senrch out lhe springs which have mnde It bear fruit. That which at presont day Is brougbt forward as new bas not unfrequcn- lly been known centuries ago. Wilh ivgard to no organdoes history aliest a change of views ia a more remarkabla manner than in the case of lhe ltver. Fiiericus.—A.clinical treatise ondesease ofthe liver. V. 1 p. i. Desde a mais remota antigüidade o figado tem sido successivamente objeclo de muita conjectura aventurosa, de muita investigação paciente e de muito estudo consciencioso e profundo. Os antigos, levados mais pelos devaneos da imaginativa do que pelos sãos discursos da razão, graciosa- mente deram ao fígado a investidura de varias funcções, elevando-o até a categoria d'um orgam central, presidente da vida vegetativa. Hippocrates presumia que o figado era a origem anatômica das veias, e que também preparava a bile, que tinha o prestimo de aquecer o ven- triculo ou estômago. Para Platão o figado era um verdadeiro espelho, em que a alma instinetiva mirava as imagens que lhe enviava o espirito, imagens que, segundo o grau de impressionabilidade que o amargor da bile e os suecos doces causavam no figado, revestiam um caracter, ora perturbador e tristonho, ora tranquillisador e alegre. Para Aristóteles o figado, alem de ser o sustentaculo das veias, que a não ser o seu apoio, -- IO -- associado ao do baço e dos rins, jazeriam pendentes no precinto abdomi- nal, promovia, também, a cocção dos alimentos (1). Seria, por certo, fastidioso e improficuo, passar uma revista retrospe- ctiva, ainda que ligeira e circumscripta ao nosso assumpto,aos desvarios da physiologia romântica e absurda, e da anatomia superficial e grosseira do dogmatismo hippocratico, do anti-dogmatismo de Erasistrato e de Hero- philo, e das seitas dos ernpericos, dos eclecticos dos methodistas e outras, que por longo tempo reinaram nos domínios da antiga medicina. Não podemos, todavia, deixar em silencio as vistas que desta famosa entranha concebera o grande Cláudio Galeno, cuja auctoridade soberana, pelo decurso de quatorze séculos, despoticamente imperara em todas as escholas médicas de então. O celebre medico de Pergamo entendia que o figado não somente era o foco do calor animal, senão também a víscera incumbida de completar a formação do sangue, que, segundo a sua opinião, principiava na veia porta pela mctamorphose que ahi soffriam os suecos nutritivos, para ir terminar-se no figado, onde se realisava a extracção da bile amarella, que passava para a vesicula do fel e a da bile negra, que era depositada no baço. Galeno, negou a existência de vasos chyleferos, ja entrevista pelos dois mais notáveis anatomistas da eschola de Alexandria, Erasistrato e Hero- philo; mas vendo que os suecos reparadores fornecidos pela alimentação eram do tubo digestivo transportados para a torrente sangüínea, profes- sara que as veias mesaraicas depois de haurirem pelas suas radiculas os suecos nutrientes na mucosa do canal alimentar, os conduziam ao seio da viscera hepatica, onde, passando por intimas modificações, adquiriam as propriedades características do liquido sangüíneo. Nesta theoria, portanto, o systema da veia das portas representava o papel de orgam de absorpção e de assimilação, e o figado o de orgam de hematose. As doutrinas galenicas ligeiramente modificadas pelos médicos árabes permaneceram em voga até o meado do século XVII. Bem que Yesalius com as suas pesquizas anatômicas muito concorresse para infirmar o galenismo, todavia, não se abalançou a impugna-lo no tocante as funcções do figado, limitando-se tão somente a refutar as pro- (1) Broussais. Examen des doctrines médicales. 1829, 3.e édilior», T. 1. pag. 15r 49, 69. — 17 — ipriedades assimiladoras de que a veia porta se achava gratuitamente in- vestida. É verdade que Argentieri muitas tentativas fizera para desapossar o figado das importantíssimas attribuições que o physiologismo de então lhe attribuia, mas foram, de todo o ponto, infructiferas. Em 1622 o famoso anatomista italiano Gaspard Aselli, claramente de- monstrando a existência dos vasos lymphaticos do tubo intestinal, aos quaes denominara veias lácteas, não hesitou em proclama-los agentes da absorpção do chylo. A vista disto os sectários de Galeno viram-se con- strangidos a reconhecer a destituição das propridades absorventes da veia porta, apezar das enérgicas contestações de Riolan e de Harvey. No em- tanto o fígado continuava a gozar de seu poder elaborador. Mas em 1649 Jean Pecquet descobrindo a verdadeira terminação dos vasos absorventes, perfeitamente verificou-se que o chylo não atravessava o glândula hepatica, e que, pelo contrario, ia, directamente conduzido pelo canal thoracico, lançar-se na torrente sangüínea, penetrando na veia sub- clavia esquerda. Foi, então, que o galenismo vendo, a principio, Aselli privar a veia porta das suas propriedades assimiladoras e por fim Pecquet, peremptoriamente, -despojar o figado das suas funcções sanguificativas, tombou do pedestal em que por tantos séculos absolutamente dominara. Estabelecido que o ehylo passava da mucosa intestinal para a corrente sangüínea sem a intervenção directa nem da veia porta, nem do fígado, Bartholin e Glisson foram os primeiros a conclamar a não-interferencia absoluta destes órgãos nos phenomenos da sanguificação; opinião que prevaleceu por quasi dois séculos, a despeito da viva opposição que suc- cessivamente lhe fizeram, Riolan, de Bils e Swammerdamm. Até a epocha em que Pecquet demonstrara a continuidade dos vasos lvmphaticos com o canal thoracico, todas as noções, a este respeito, se ^ircumscreviam exclusivamente aos chylíferos, mas, a final, em 1651 Olaus Rudbeek, depois de aturadas investigações, descobrindo vasos lymphaticos no thorax, na superfície dos pulmões etc, foi naturalmente levado a erigi-los em systema, generalisando, assim, a existência destes vasos, até então restringida aos intestinos, á todas as partes do organismo. João Hunter em 1780 investigando com todo o esmero quaes eram as funcções do systema lymphatico, julgou-se, por fim, habilitado a resumi-las simplesmente com o termo—absorpção, considerando synonymos os sys- — 18 — temas absorvente e lymphatico, cm virtude, da communidade ou antes identidade das suas funcções. A theoria hunteriana, com quanto se oppuzesse as ideas physiologicas de ha muito vigentes, foi, todavia, bastante festejada. Mas no começo do presente século Magendie experimentalmente pro- vando que a absorpção das matérias alibiles não somente era feita pelos chyliferos, senão também pelo systema portal, deu o primeiro impulso para reintegrar as veias nas suas funcções absorventes, sendo, neste empenho,imitado por Delille na França,Tiedemann e Gmelin na Allemanha e Flandrin e Emmer na Inglaterra. Os trabalhos dos Srs. Blondlot e Claude Bernard e de muitos ontros investigadores ainda mais plenamente vieram confirmar a participação das veias na absorpção intestinal; ficando só em litígio a determinação do grau de extensão e de importância, que as veias e os vasos lym- phaticos, respectivamente, possuíam, como agentes da absorpção. Depois de muitas indagações experimtntaes tem-se, ultimamente, esta- belecido que os chyliferos se encarregam com especialidade de absorver as matérias graxas; ao passo que as veias principalmente recebem os producíos resultantes da transformação dos alimentos feculentos e albu- minosos, a água com os saes alimentares em dissolução, o alcohol, e outras bebidas. Alem disto tem-se verificado que é quasi exclusivamente pelas veias que se effectua a absorpção das substancias não alimentares, indif- erentes ou tóxicas, odoriferas ou coloramos. A physiologia moderna depois de rehabilitar o systema da veia das portas nas suas funcções absorventes procurou saber, como para diante veremos, qual a influencia que a poderosa glândula hepatica exercia sobre os pro- ductos da absorpção digestiva, levados ao seu parenchyma pela abundante circulação portal. « On est de Ia sorte, escreve um profundo physiologista, ramené vers l'opinion qui fut celle de toute fautiquité, à savoir, que le foie est un orga- nc épuratoiro du sang; opinion que les modernes ont précisée davantage en regardant le foie comme 1'auxiliaire du poumon, en signalant des rapports inverses d'activité entre ces deux organes dans les divers â^es de Ia vie ou suivant les diffcrents degrcs de 1'échelle animale (1). (I) Longet.—Trailé de physiulogic. 18(59, T. '1% pag'. 311. II FUNCÇÃO BILIAR. La bile n'est pas sécrelée par Ia masse principale du foie, dont le Tolume est disproporlionné avec celui des condulis hépatlques eicréteuri et avec le volume du reservoir camparativcment a ce qu'on peut observer dans le rein, par exemple, ou dans les glandes, comme le pancreas, etc. La bile esl forme par les acini, qui sont disperses le long des canaux ex- créleurs bilialres, méme dans le cpats- seur úu foie, acini qu'autrefoU on con- sidérait comme étant chargés de fournlr le mucus. Ch. robin. Diclionnaire encyclo- pcdique ãet tciencet médicales 1868. T. 9.', p. 315. A primeira funcção que se conheceu na glândula hepatica foi a da se- creção da bile, cuja attribuição physiologica é, de harmonia com os pro- ductos secretorios das glândulas salivares, estomachaes, intestinaes e pan- creatica, provocar nos alimentos destinados a restaurar as perdas inces- santes do organismo, as mutações diversas, que elles teem de soffrer, antes de se transformarem nos suecos assimiláveis, que a torrente circulatória se encarrega de distribuir por todas as moléculas orgânicas da economia animal. O estudo sobre a origem physiologica da bile deve ser feito a três luzes diversas: pelo que, indagaremos, em primeiro logar, qual dos dois vasos afferentes da glândula hepatica é preposto a secreção biliar; em segundo, qual das duas ordens de elementos secretorios que esta entranha contem, a saber: cellulas hepaticas e utriculos glandulares abundosamente derra- mados pelos seus conductos excretores, está particularmente incumbido da producção da bile; e, finalmente, se os princípios que entram na con- stituição deste humor animal se acham preformados no sangue ou se, ao 4 — 20 — contrario, são passíveis de modificações espcciaes no seu transito physio- logico pelo parenchyma glandular. A determinação da espécie do sangue que preside a secreçâo biliar tem sido assumpto assás controvertido por mui hábeis experimentalistas. Pondo a margem as tentativas infructuosas de Bichat e as incompletas experiências de Malpighi, é, propriamente, de 1828 que datam as mais re- gulares investigações que, a este respeito, foram emprehendidas por Simon (de Metz). Essas experiências, perfunctoriamente examinadas, parecem, lo- gicamente, attribuir a formação da bile á circulação portal; ellas, porém, são, na realidade, improcedentes, em virtude do seu auctor ignorar que nos animaes (pombos) de que se servira nas suas observações, ha constante- mente mais de uma artéria hepatica, fazendo elle, ao contrario, menção somente de uma. Cinco annos depois, B. Philip, ligando a artéria hepatica em cães, viu que a fabricação do bile continuava a consummar-se, obtendo idêntico resul- tado com a ligadura da veia porta, e, o que é ainda mais singular, com a ligadura semultanea de ambos estes vasos. Este facto exuberantemente .prova que este experimentalista olvidára-se das imprescindíveis cautelas que exigem pesquizas dessa natureza. Além disto, como judiciosamente observou Valentin, as veias da vesicula felea e das vias biliares, abrindo-se nas divisões intra-hepaticas da veia porta, ainda mais difficultavam a so- lução deste obscuro problema. Este estado de duvida e de incerteza se protráhiu-se pelo período de vinte e três annos; até que o Sr. Oré (de Bordeaux) deparando em um exame necroscopico com uma obliteração da veia porta, que não havia cau- sado notáveis perturbações na producção dabile, despertou-se-lhe o desejo de reconsiderar o assumpto; e, depois de muitas experiências em cães, julgou-se habilitado para proclamar, de um modo absoluto, que a elabo- ração da bile não dependia do sangue da veia porta, e sim do sangue da artéria hepatica. Kuthe,porém, provando que nas experiências do Sr. Oré as veias biliares de Valentin haviam permanecido permeáveis, infirmára, as de- ducções physiologicas deste distincto investigador, e propugnava com Kottmeier pela opinião de Simon, ao passo que Chassagne tenazmente de- fendia a opinião contraria. As numerosas experiências destes auctores, longe de elucidarem a ques- tão, cada vez mais a obscureciam. Nesta conjunctura um preclaro expe- fimentalista allemão, o Sr. Morítz SchiíT, arcou de novo a questão em 1862, - 21 - e procurou remover todas as difficuldades, premunindo-se de todos os requisitos physiologicos indispensáveis para o cabal desempenho de suas observações. Dos seus trabalhos experimentaes o Sr. Schiff aufere a illação que a secreção do bile, no estado normal, está debaixo de exclusiva dependência da veia porta. Esta opinião, que foi definitivamente abraçada pelo Sr. Jaccoud, é, comtudo passível de objecções mui ponderosas, fornecidas por observa- ções de indivíduos, em que a secreção biliar persistiu, apesar da veia porta não atravessar o figado, indo por anomalia, despejar-se directamente na veia cava perto das renaes. Estas observações, testificadas por Abernethy e Lawrcnce, homens de grande mérito scientifico, estabelecem, de modo inconcusso, a influencia do sangue arterial na producção da bile. Quando o Sr. Cl. Bernard patenteou ao mundo scientifico a sua brilhante descoberta da funcção glycogenica do figado, procurou determinar qual o elemento anatômico desta glândula que se incumbia de fabricar a bile, a fim de poder demarcar a sede histologica de cada uma destas elaborações. As experiências que, com este intento, fizera em mammiferos com fis- tulas biliares effectivamente confirmaram a independência physiologica ■, entre as funcções glycogenica e biliar; porquanto reconheceu que o es- coamento da bile se tornava mais copioso, quando o trabalho digestivo chegava ao seu termo; isto é, sete horas depois da ingestão dos alimentos e que, pelo contrario, a maior actividade na producção do assucar coin- cidia com a epocha em que a digestão intestinal attingia ao seu pleno exercício; isto é, 3 ou 4 horas depois da ingestão alimentar. Estas expe- riências foram ratificadas por Muller e Kòlliker. Conseguintemente a elaboração do bile não se realisa quando, por oc- casião da digestão, o systema da circulação portal apresenta-se turgido pelos sueco nutriente absorvido na mucosa intestinal, e sim quando esse sueco, depois de despejado no canal de sangue vermelho, promover o augmento da tensão sanguirtea geral, e, nomeadamente, a da artéria hepatica. O Sr. Cl. Bernard inferiu das suas observações que é nas radiculas biliares que se consumma a secreção biliar e nas cellulas hepaticas onde se effectua a producção da matéria glycogenica. Segundo este engenhoso experimentador esta separação physiologica se acha bem aceusada nos - 22 — articulados, mormente nos insecíos, cujos appcndices tubulares do estô- mago, terminados por extremidades cegas, são physiologicamente mui semelhantes aos conductos biliares, ao passo que as cellulas que lhes eri- tapizam as paredes intestinaés representam as cellulas hepaticas dos ver- tebrados. De mais: quando se impelle pela artéria hepatica uma injécçõó pene- trante convenientemente dirigida, observa-se que as glaridulas dos con- ductos biliares se ostentam üríiformemémènte coloradas, o que denuncia a profusão das artericulas que rastejam pela sua superfície; em quárítô que as ramificações terminaes do vèiá pòrtá, pérmanecéridó separadas destas glândulas por septos laminosos, apenas cóni ellàs mariteem relações mediatas. A idéia de que as duas füricçõés da glândula hepatica eram desempe- nhadas por elementos anatômicos distiríctòs a principio aventada pelo Sr. Bernard foi ao depois calorosamente defendida pelo famoso micrographo francez o Sr. Robin, que, em definitiva, considera no figado dois appare- lhos anatomicamente differentes, um destinado a secreção da bile (figado cholegenico), outro preposto a preparação do assúcar (figado glycogenico). Esta nova theoriá tem ja conquistado muitos ádhererttes, d'entré os quaes sobresaém os Srs. Morei, Henle, Villemih é Liégeois. Resta-nos, emfim, inquirir se os materiaes componentes da bile saó preformados no sangue e ao depois simplesmente expellidos pelo figado ou se as glândulas biliares, fabricam, realmente, estes materiaes a custa dos princípios immediatos da circulação geral. Até ao presente não se tem encontrado os saes biliares no sangue, apezàr da precisão minuciosa com que áctualmente era semelhantes investigações se os pode distinguir por meio do reactivo de Pettenkòfer. A matéria colorante da bile apenas se tem encontrado no sangue em condições inteiramente accideritaes, sobretudo quando ha estase biliar. Os elementos característicos da bile, por tanto, não sé acham prefor- mados no sangue; pelo contrario, são o resultado d'um trabalho physio- logico realisádo nas glândulas biliares. Esta opinião é plenamente corroborada pelas concludentes experiências dos Srs. Kunde e Moleschott. Estes eminentes physiologisfas nunca verificaram no sangue dos ani- maes (rans) que sobreviveram alguns dias á extirpação do figado, à pre- sença dos saes constitutivos e da matéria calorante da bile, A águas e os saes anarganicos da bile, são indubitavelmente elementos não modificados do sangue que a secreção biliar se encarrega apenas de eliminar. Actualmente, também é fora de questão que as glândulas biliares sejam verdadeiros emunctorios de cholesterina, que, segundo os recentes trabalhos do Sr. Flint, é um producto de desassimulação do cérebro e dos nervos. A determinação dos elementos sangüíneos de que procedem os saes biliares permancem ainda tenebrosa.Presume-seque o ácido cholico (Strce- cker) ou glycocholico (Lehmann) provenha das matérias graxas do sangue e o ácido choleico (Demarçay) ou taurocholico (Lehmann) dos princípios albuminoides. A theoria que admitte que a biliverdina provenha da matéria colorante do sangue fundamenta-se na relação de composição que existe entre es- tes dous princípios, nas modificações de cor, mui semelhantes entre si, que cada um destes princípios apresentam sob a influencia do ácido nitrico, como o Sr. Gubler demonstrara, e, finalmente, nos crystaes que a biliver- dina forma quando soffre longo estacionamento na vesicula felea, inteira- mente idênticos aos fornecidos pela hematoidina, quando, poroccasião de extravasamento de sangue no seio dos orgams, ha estagnações sangüíneas. v^^ví5^=:-'/ III FUNCÇÃO GLYCOGENICA' I consider the qucslion scttled, tliat sugar is not conlained In the blood of the portal vein in animais confined to nitrogenized food, but is always conlained in the blood of lhe hepatic veins. It secms to me lhat I have setled the ques- lion, also, thal sugar is not containcd in tho substance of the liver during life; but lhalitis none the less formed In lhe liver during life, being washed out by the currenl of blood as it passes througb, appearing, of course, in tbe blood of the hepalic veins. These facts harmonize lhe apparenlly discordanl observatfons of líer- nard and of Pavy and give the fist accuratc nction of the exact mechanism of glycogenesis which is in accordance vwlh ali the vell-establi- shcd experimental facts. Austin Flint. New-YorK Medicai Journal,.luly, 1870, p. 572. Em 1848, o Sr. Claude Bernard, depois de memoráveis experiências, an- nunciava pela primeira vez ao mundo scientifico, que o figado, quer hu- mano, quer animal, tinha a propriedade de produzir assucar, a custa dos elementos albuminoides contidos nos alimentos e no sangue, em opposição á antiga theoria que professava que os princípios immediatos existentes no organismo provinham exclusivamente do reino vegetal. A nova doutrina physiologica do illustre professor do Collegio de França fora geralmente applaudida. Ella, de feito, surgitava promettedora de resultados fecundos, especificadamente para a pathogenia da diabete, que ainda permanecia em profunda obscuridade; por quanto, estatuído que a glândula hepatica era preposta á fabricação da glycose animal era de in- tuição que no exaggero ultra-physiologico desta funcção residisse a causa próxima desta entidade mórbida. Os resultados de numerosos trabalhos experimentaes publicados na França, Inglaterra, Hollanda, Allemanha e America, por notáveis obser- — 26 — vadores, plenamente confirmaram a doutrina da glycogenia hepatica. O triumpho do eminente plysiologista francez era, na verdade, esplendido. Apenas o Sr. Schmidt (de Dorpat) em uma memória que publicara em 1850, estribando-se em experiências, destituídas das condições physiolo- gicas requeridas, julgava inadmissível a nova funcção do figado: para elle a glycose alimal era comparável á urea, de fôrma que o figado vinha a ser para a matéria assucarada, o que o rim é para á urea; isto é, um mero orgam de expulsão ou de excreção. Convém, todavia, notar que o Sr. Schmidt, repetindo as suas experiências com as precauções indicadas pelo Sr. Bernard, abnegou, promptamente, as suas as primitivas idéas, proclamando-se apologista da nova funcção glycogenica do figado. O Sr. Figuier, porém, em 1855 declarára-se acerrimo antagonista da moderna theoria sobre a formação do assucar no organismo animal, in- dependentemente da alimentação amilacea, reputando o fígado, não como um orgam creador, e sim como um orgam, á semelhança dos rins, separador do assucar, que, para elle, era, unicamente.resultante das modi- ficações por que passavam os alimentos feculentos no canal intestinal. Mas o Sr. Lehmann, procedendo com toda a mestria a analyse compa- rativa entre a composição do sangue da veia porta e o das veias supra- hepaticas, estabeleceu, de um modo peremptório, não só que o sangue portal é privado de assucar, se não também que o sangue incomparavel- mente mais assucarado de toda a economia era o que o figado projecta pelas veias hepaticas para a torrente da circulação geral, e que a propor- ção do assucar era tanto menor quanto mais se apartava da glândula he* patica, foco da sua origem. A diffusão do assucar no sangue, que já em 1846 havia sido indicada por Magendie explica cabalmente a possibilidade de se encontrar esta substancia em qualquer parte do organismo. D'est'arteas valiosissimas analyses do insigne chimico de Leipzíg bri- + lhantemente sanecionaram os resultados que o Sr. Bernard havia colhido das suas bellas experiências acerca do glycogenia animal. Os curiosos trabalhos experimentaes dos Srs. Poggiale, Leconte eMoles- chott que suecessivamente sobrevieram, continuaram a roborar as novas idéas physiologicas, emittidas pelo Sr. Cl. Bernard. Finalmente a com- missão, composta dos Srs. Pelouze Rayer e Dumas, que a Academia de Scicncias de Paris, nomeara para ouvir o seu parecer a respeito das me- — 27 — ftiorias üttinentes ás verdadeiras funcções do figado, que lhe foram apre- sentadas pelos Srs. Figuier, Poggiale e Leconte, assim se exprime, em sessão de 18 de Junho de 1855, pelo orgam do seu distincto relator o Sr. Dumas: « Tous les fàits annoncés par notre cpnfrère M. Claude Bernard, au sujet de Ia fonction qu'il attribue au foie, ont été verífiés par nous, et nous. ne pouvons quapplaudir à Ia rare habilite du savant physiologiste qui: lesa mis le premier en évidence. » De feito, todas aspesquizas até então empreiiendidas se conspiravam em confirmara realidade da nova theoria scientitica, que a profunda sagacidade do Sr. Cl. Bernard havia conquistado nos ubertosos domínios da physiologia experimental, e assim, este preclaro physiologista podia, legitimamente, exclamar, nas glorias do seu triumpho-: « Toutes les experiences s'enchainent naturellement pour établir que le sucre, véritable produit d'une sécrétion intérieure, à laquelle j'ai "donné le nom de glycogénie, prend naissance dans le foie aux dépens des éléments du sang et independamment de 1'alimentation féculente et sucrée, pour se répandre ensuite dans tout 1'organisme ou il se détruit successivemeiH en s'éloignant de son lieli d'origine (1}.» Não estando mais em litígio a producção do assucar hepatico, as at*< tenções dos experimentadores se concentraram na averiguação do seu me- chanismo physiologico. Uns pretendiam que neste mechanismo intervinha directamente o sangue pela subministração de alguns dos seus elementos immediatos: assim para o Sr. Schmidt a formação da glycose animal dependia da oxydação das ma- térias gordas do sangue, para o Sr. Lehmann o figado desdobrava certas substancias albuminoides do sangue em assucar e em matérias azotadas, que concorreriam para a formação da bile, e para o Sr. Frerichs (de Breslau)> em fim, a glândula hepatica decompunha os princípios proteicos do sangue em assucar e em uréa. O Sr. Ci. Bernard, a principio, também, suppoz que a substancia engen- dradora do assucar do figado fosse um principio albuminoide, alteravel pelo calor; mas ulteriores experiências, melhormente dirigidas, lhe reve- laram que a producção da glycose animal não se realisava de chofre no parenchyma hepatico pela metamorphose directa de algum dos elementos (1) Lcçons de pliysiologie expcrimcntalc—18o5—T. l,p. 472. >âo sangue, e que, pelo contrario, era sempre precedida por uma substan- cia-especial, tornaria, não azotada, análoga ao amido vegetal e normal- mente existente no próprio tecido do fígado. Este incançavel investigador conseguira por fim em 1857 isolar esta substancia, dando-lhe a denomina- ção de matéria glycogenica ou amido animal. O glycogenio tractado pela tkictura de iodo acidulada'(l) offerece uma cor violete ou rubra vinosa, que jà^eção de calor faz desapparecer, mas que pode reapparecer pelo esfria- mento; ao passo que o amido vegetal em presença dos mesmos reagentes ostenta a bella e bem conhecida cor azul do iodureto de amido. Ambas ^stas espécies de amido tem de commum a propriedade de se transfor- Suarem, pela acção dos ácidos em ebullição e das diastases, em dextrina e .assucar. Desde que foi perfeitamente reconhecida a existência do amido animal rtiP^parenchyma do figado, o Sr. Bernard, considerou a formação do assucar hepatico nãò como um phenomeno de desdobramento chimico directo dos «elementos do sangue, poroccasião da sua passagem atravez do tecido glan- dular,mas oóm uma funcção essencialmente constituída, por dous actos idistinctos que successiva e physiologicamente se concatenam. O primeira, puramente vital, por que não apparece sem a interferência da vida, cob- •sisté na creação de glycogenio no tecido hepatico vivo. O segundo, pura- mente chimico, porque também se dá depois da morte e até fora do indi- víduo, consiste na transformação da matéria glycogenica em assucar pela Sacção d'um fermento. O glycogenio é formado, como todos os productos de creação orgânica, por phenomenos de circulação lenta, concomitantes com os actos da nu- trição, e a sua conversão em assucar é devida á acção õ"um fermento, que a principio o Sr. Bernard julgou ser especial ao figado, mas, depois, no- íando que o liquido sangüíneo possuía a propriedade de energicamente transformar a glycogenio em assucar, não mais procurou localisa-Io; e ao envez considerou-o commum a todo organismo, e podendo ser represen- tado pelo sangue (2). Com o isolamento da matéria glycogenica que preexiste constantemen- te ao assucar fabricado pelo figado, o exímio auctor da glycogenia he- (1) Esta trnctura consiste em ama mistura recente de partes eguaes de ácido acetico crystalisavel e de tinctura alcoholica de iodo saturada. Cl. Bernard, Journ. de Ia physiol. de 1'honu et des anim, 1859—p. 333. (2) Gazct. hebd. de méd. et "de chir., 18S7—pag. 240. — 29 — gatica attraíra muitos adeptos para a sua doutrina. De mais: nas suas proficientes experimentações, conseguindo, ora superactivar a funcção, glycogenica pelo ferimento da parede inferior do quarto ventriculo cere- bral, entre as origens visíveis dos nervos auditivos e as dos nervos vagos;. ora paralysa-la com a secçao dos pneumogastricos no collo, demonstrou,, d'est'arte, de modo irrefragavel, a poderosa influencia que sobre os, phenomenos glycogenicos exercia o systema nervosa geral., Um insigne physiologista allemão, o Sr. Morítz SchifF, emprehendenda. sobre o mesmo assumpto» experiências, caracterisadas de rara ingenio- sidade, que foram dignamente analysadas pelos Srs. Lucien Coryisart e, Jules Worms, ratificou os bellos trabalhos do illustre experimentaüsta; franeez, lhes addionando novos collorarios, felizmente suggestiyos e aproveitáveis. No entretanto novos adversários se alevantanx contra a. glycogenia he- patica. O Sr. Ch. Rouget, encarando o amido animal, a que chamara zoamy* Una, como um elemento histologico dos tecidos orgânicos, pretende que a glycogenia seja uma propriedade geral de toda a economia animal, resultante da desassimilação da zoamylina, como a urea. o-é das sub-» stancias proteicas. Esta opinião é seguida também pelo* Sr. Longet. De outra parte, o Sr. Sanson, reiterando em substancia as objecções do Sr. Figuier coma única difterença de que a glucose deste auctor era por elle substituída pela presença da matéria glycogenica no sangue e nos tecidos vivos, egualmente, proclamava que a glycogenia era apagana- gio de todo o organismo, filiando exclusivamente a sua procedência do§ princípios amilaceos ingeridos pela alimentação* O Sr. Cl. Bernard replicara que a matéria glycogenica que o Sr. Sanson presumira, ter encontrado no sangue e nos músculos era verdadeira dex- trina, proveniente d?uma alimentação, ricamente amidonada, e circulando no sangue antes de se transformar em-assucar. Esta replica era baseada em varias experiências sobre cavallos nutridos cam aveia e outros alimentos amilaceos, no sangue e nos tecidos dos quaes, o auctor, é verdade, verifica- ra a presença da dextrina, a qual, porém, não mais encontrava, logo que- conservava esses animaes, em jejum por muitos dias antes da expe^ riencia. Em summa; a dextrina vegetal não se encontra no sangue e nos tecido* musculares nem dos animaes carnívoros, nem dos herbívoros de consumo^ — 30 — raes como, o boi e o carneiro, e si se encontra no sangue e nos músculos do cavallo, é em virtude de certos princípios amidonados, particular- mente a aveia, que, de ordinário, faz parte da alimentação desses animaes. Nesta conjunctura foi de novo submettida a questão á Academia de Me- dicina de Paris, sendo encarregada do assumpto uma commissão especial, composta dos Srs. Bouley, Longet e Poggiale. O relatório desta commissão elaborado pelo Sr. Poggiale foi favorável a doutrina do Sr. Bernard. A theoria da gyclogenia hepatica, sendo, então, propugnada pela maio- ria dos physiologistos, attingia definitivamente, ao. apogeu do seu pre- stigio. Não obstante algum tempo depois recrudesceram as impugnações, por- ventura, as mais fortes, que a doutrina glycogenica teve de arrostar. Um distincto physiologista inglez o Sr. Pavy, que testemunha presen- cial no collegio de França, das notáveis experiências do inventor da gly- cogenia hepatica, delia, então, se declarara partidário, em 1860, porém, solemnemente retratava-se das primitivas crenças physiologicas que so- bre o assumpto vertente professava e dava a lume a uma serie de obser- vações, em que concordemente admittia a exactidão e a veracidade dos trabalhos experimentaes do Sr. Bernard, mas deduzia conclusões que, de todo, encontravam as deste auctor. O Sr. Pavy assevera que quando se examina o fígado de um animal, ímmediatamente depois da morte, com as cautelas necessárias, a fim de impedir a conversão do glycogenio, não se descobre assucar no fígado; donde elle infere que o Sr. Bernard julgara ser producção physiologica o que, em realidade, é mero resultado post-mortem. Toda a divergência versa, portanto, em que, ao passo que o Sr. Bernard entende que a formação do assucar hepatico effectua-se em conseqüên- cia d'üm trabalho vital, o Sr. Pavy, pelo contrario, o considera simples- mente originário d'uma producção posthuma do fígado. Assim diz elle, alludindo as conseqüências que o Sr. Bernard auferira das suas experiências: (( It is to be observed that these results, looked at strictly, only fur- nish evidence of the condition actually existing afler death, but they have becn taken as representing the ante-mortem or physiological state (1). (1) On the nature and treatment of diabetes. 1868, pag. 59» — 31 — Com o intento de por em harmonia os resultados discrepantes, obtitlos por estes dois eminentes observadores, o Sr. Austin Flint suggere uma engenhosa solução colhida das suas mui interessantes experiências a este respeito. Este eximio professor sustenta que durante a vida ha no figado uma constante formação de glycogenio, independentemente dos constituintes farinaceos ou albuminosos da alimentação, mas que apenas formado é ra- pidamente acarretado pela grande onda sangüínea que sem cessar per- corre a enorme glândula hepatica. Por conseguinte o figado, em seu per- feito estado physiologico, contém somente a matéria glycogenica, e não as- sucar, como o Sr. Pavy pretende; cumprindo notar, entretanto, que por occasião da circulação ser embaraçada, e, principalmente, depois da morte, progredindo lá no seio do orgam a transformação do glycogenio em assucar, que em semelhantes condições, não é removido, torna-se possível encon- tra-lo no figado, como o Sr. Cl. Bernard havia estabelecido. Esta explicação é sobremaneira razoável. Em concluzão: a physiologia experimental e a histologia hodiernas unissonantes conclamam que a rainha das glândulas da economia animal, o figado, goza legitimamente de duas importantíssimas funcções, que se intitulam, biliar e glycogenica. SECÇAO DE SCIENCIAS ACCESSORIAS. Chimica mineral. Phenomenos chimicos dependentes da acção da luz. í.a—O poder reductor do espectro chimico, segundo os raios lumino- sos procederem de luz solar, directa ou indirecta, de luz artificial ou lu- nar, vae successivamente diminuindo de intensidade. 2.»—A privação da benéfica influencia da irradiação solar sobre o or- ganismo humano produz terríveis conseqüências: taes como fôrmas estio- ladas, escrofulas, rachitismo, phthisica etc. 3.a—A variação da córdapelle deve ser attribuida á influencia chiaii- «ca da luz, e não á do calorico. Physica. Oual será o tractamenlo medico que esteja fora do domiuio da physica ? l.a—Todo o tractamento medico se basea em indicações puramente physiologicas. 2.a—Um medicamento, não é um antagonista de lesões mórbidas, é meramente o modificador de um orgam ou de uma funcção. 3.a—O tractamento verdadeiramente medico não faz mais do que col- locar a economia doente nas condições mais favoráveis, que é possível, para que ella readquira o seu funecionalismo regular. Botânica e zoologia. Respiração vegetal. J.a—A acção decomponente que o vegetal exerce por meio da chio- - 34 — ropbylla sobre o ácido carbônico, cxhalando o oxigênio e fixando o corpo reduzido, não tem análoga no animal. 2.a—A doutrina que admitte que a respiração vegetal é constituída pela fixação do carbonio é invalidada pelas recentes investigações de Garreau e de Sachs. 3.a—A verdadeira respiração vegetal é constituída pela inhalação do oxygenio, que constantemente effectua-se por todas as partes da planta, especialmente pelas flores e gemmas, indo em seguida unir-se ás sub- stancias que se acham em dissolução na seiva. Chimica orgânica* Theoria cbifuica da digestão e da respiração. l.a—É nas vesiculas pulmonares que os glóbulos rubros do sangue re- cebem o oxygenio que teem de acarretar ao intimo dos tecidos; é Ia que de novo elles vão recuperar o oxigênio gasto nos diversos misteres da nutrição. 2.a—A inhalação do oxigênio e a absorpção do chylo são os dois actos dominantes do mechanismo physio-chimico das funcções, respiratória e digestiva. 3.a—A differença existente entre os apparelhos,respiratorio e digestivo, depende do oxygenio ser um alimento gazoso. Medicina legal. Do envenenamento pelo phosphoro. l.a—O phosphoro, quer seja propinado em substancia, querem massa de lumes promptos ou de qualquer outro preparado, logo que fica exposto ao ar ou em contacto com substancia [orgânica, passa ao estado de ácido phosphoroso ou phosphorico, e combina-se com as matérias orgânicas, formando phosphatos. 2.a—-Para que o resultado das investigações chimicas possa constituir prova é mister, não só que se descubra o phosphoro livre em substancia, i— 35 —* ou no estado de oxydação ou de phosphatos, mas também que a quanti- dade de phosphoro descoberta seja ultra-normal e esteja em harmonia com os symptomas e as alterações toxicologicas. 3.a—O processe de Mitscherlich é tão vantajoso para descobrir o phos-j phoro quanto o apparelho de Marsh o-é para o arsênico. Pharmacia* Pharmacia galena, historia delia, modificações que tem soffrido por parte kÁ estudos modernos, influencia destes na sciencia medica. l.a—A pharmacia galena oecupava-se da preparação dos medicamentos sem se importar com a acção chimica dos seus princípios. 2.a—A pharmacia e a chimica devem estar sempre em harmonia: é por- tanto absolutamente inadmissível o pretender separa-las. 3.a—A pharmacia tem de constantemente soecorrer-se aos conheci- mentos das sciencias physico-chimicas e da historia natural, afim de po- der não só distinguir as substancias medicinaes, e de lhes verificar a pu- reza, mas também de dirigir as reacções por que se effectua a combinação de taes substancias, e de apreciar os resultados das operações pharma- cologicas. SECCÀO DAS SGIENCIÀS MÉDICAS. Physiologia. Sensibilidade recnrreule. 1 .a—Nas manifestações da sensibilidade recurrente, como nas da sen- sibilidade geral, a impressão é constantemente transmittida aos centros da innervação, com a differença de que nesta a transmissão é directa, em quanto que naquella é sempi'e indirecta. ^.a—A sensibilidade recurrente evidencia a ligação physiologica que existe entre as raizes, anterior e posterior de cada nervo espinal. 3.a—A sensibilidade da medulla procede dos seus cordões posteriores por interferência das raizes nervosas espinaes posteriores e anteriores c des nervos correspondentes. Pathologia geral. Contagio. 1 .£—Ás moléstias que se transmittem de um indivíduo doente a outro são, reproduzindo-se neste do mesmo modo e conservando o mesmo ca- racter, dá-se o nome de contagiosas. 2.a—Distinguimos quatro espécies de contagio, o miasmatico, o viru- lento, (transmissível por inoculação) o parasitário, e o de imitação. 3.a—A natureza de contagio é um mysterio impenetrável. Matéria medica. Qual c a acção da dígilalina, como meio tlierapeutico. l.a—No augmento da tensão vascular e da tonicidade arterial se fun- damenta a acção therapeutica da digitalina. — 37 — á>—À sedação circulatória produzida pela dígilalina, não pode ser ex- plicada pela hyposthenia da circulação cardíaca. 3.a—A verdadeira theoria pharmacodynamica da digitalina considera este agente tlierapeutico como um galvanisante do systema nervoso» cardi o- vaso-motor. Pathologia interna. Qual a natureza o o tractamento mais racional da glvçosnria? l.a—V natureza da glycosuria depende do estado mórbido que lhe dtí origem. 2.»—A melituria diabética é essencialmente ligada a uma perturbação na innervação da glândula hepatica. 3.a—O emprego muito racional do arsênico na glycosuria diabética tem sido chimicamente coroado de felizes resultados, como recentemente pro- varam os Srs. Divergie e Fovillc. Sffygiene. Dos systemas penitenciários l.a—A sociedade humana não poderia subsistir se o crime podesse im- punemente conculcar a justiça, e o erro livremente suffocar a verdade; d abi a necessidade evidente que elle tem de, apoiando-se na força do di- reito e no direito da força, lançar mão das penitenciárias, afim de prevenir e punir o erro e crime, e de fazer reinar a justiça e paz na ordem civil. 2.a—O systema penitenciário de Pensylvania, encarado sob o duplo aspecto da theoria e da pratica, é preferível ao de Auburn. 3.a—Assim como ao medico clinico é permittido escolher, com plena liberdade, os meios convenientes para tractar os seus doentes, semelhan- temente, importa que o jury penitenciário goze de um certo alvedrio para modificar, segundo as circumstancias em que os criminosos, verdadeiros enfermos moraes, tenham delinquido, osyst-emn a que damos preferencia, — 38 — Clinica medica. Quaes são os melhores meios therapeuticos para combater o heriberií l.a O beriberi é um estado mórbido proteiforme, pelo que as suas indicações therapeuticas devem necessariamente de variar, segundo as formas que elle revestir. 2.a O tractamento do beriberi se devide em hygienico e therapeutico. 3.a O tractamento hygienico consiste na mudança para fora dos trópi- cos, e o therapeutico, é, em geral, representado pela medicação tônica, e» especificadamente, pela arsenical. SECÇAO DAS SC1ENGIAS CIRÚRGICAS. í Anatomia descrintiva. Quaes são as analogias entre os apparelhos da audição c da visão comparando-os respectivamente? l.a Os apparelhos da audição e da visão gozam do singular privilegio de respectivamente receberem as ondas sonoras e luminosas emanadas de corpos mais ou menos distantes por intermédio dum fluido subtil. 2.a É na camada das cellulas ganglionares da retina que o nervo óptico distribue os seus tubos teru.inaes. 3.a O nervo acústico apresenta uma disposição análoga, porque os seus tubos depois de se distribuirem pela lamina espiral da cocchlea terminam-se nos corpusculos cellulares que existem na superfície da mem- brana. Anatomia geral. Histologia da producção cancerosa c seus elementos característicos. l.a Os carcinomas ou neoplasias cancrosas pela sua estructura e tex- tura facilmente se extremam não só dos tecidos normaes, senão também dos pathologicos. 2.a Os caracteres fundamentaes e constantes do tecido cancroso são representados por uma massa, de aspecto geralmente fibroso, em que se encontra um sueco turvo, lactescente e amarellado. 3.a A especialidade da cellula cancrosa (macrocyto) negada pelo Sr. Wirchow e pelos sectários da escola alleman, é tenazmente defen- dida por mui eminentes micrographos. — Kl — Pathologia externa. Pyohemia «sccpticcmia. l.a Os estados mórbidos em que ha uma tendência manifeste para* formação de collecções purulentas, são genericamente designados pelo termo pyohemia. 2.a A hypothese, que admitte que a pyohemia é devida a presença de pus no sangue, é insustentável. 3.a A alteração do sangue por matérias pútridas se denomina scepte- cemia. Partos. Morte súbita durante o parto e immedialamente depois l.a A morte súbita durante o parto pode ser explicada por um profun- do abalo nos eentros da innervação. 2.a Quando a morte sobrevem immediatamente depois do parto é or- dinariamente motivada por syncope, 3.a A chloro-anemia das mulheres grávidas que, por certo, é, uma predisposição para syncope, deve ser, portanto, cuidadosamente debellada. Operações. Tractamento dos aneurysmas. l.a A compressão applicada, tanto directa como indirectamente, de maneira que produza a sustação, não rápida, mas gradual, da circulação é o methodo mais efficaz no tractamento dos aneurysmas. 2.a O emprego do iodureto de potássio nos aneurysmas internos offe- rece um grande numero de bons êxitos, — 41 3.a A acção do ether pulverisado, combinada com a presssão digital muito apressa a consolidação do tumor aneurysmal. Clinica externa* A blenorrhagia é um symptoma primitivo da syphilis? l.a A moderna syphilographia irremissivelmênte condemnou a theoria que admitte que a blenorrhagia é um symptoma primitivo do syphilis. 2.a Quando a blenorrhagia parece ser o exordio do syphilis, é de obser- vação, que ha sempre de concomitância um cancro lavrado, de natureza syphilitica, 3.a A blenorrhagia é uma moléstia puramente venerea. Bahia—Typographia de J. G. Tourhiho—1871.